Produção de tambaqui (Colossoma macropomum) utilizando ração orgânica no

Instituto Federal de Rondônia – Campus Ariquemes

Production of organic tambaqui (Colossoma macropomum) using organic feed in the

Federal Institute of Rondônia – Campus Ariquemes

Juliana Minardi Galo1* RESUMO: O projeto teve por finalidade produzir tambaqui orgânico respeitando os
Débora Francielly Oliveira2 preceitos da responsabilidade ambiental e social, viabilidade econômica e eficiência
Geninho Rodrigues Milan1 zootécnica. O desenvolvimento a campo do projeto foi realizado na área de piscicultura
Angélica Lago Carvalho1 do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO) – Campus
Roberto Luís da Silva Carvalho1
Ariquemes. Para o sistema orgânico de produção de tambaqui foram utilizados três
Tauana Daniele Pereira da Silva1
Bruna de Souza Andrade1 viveiros escavados com área média de 475 m² e profundidade 1,50 metros, com sistema
de abastecimento e escoamento individual. Foi fabricada uma ração artesanal, com
1
Instituto Federal de Rondônia, produtos oriundos da região amazônica, visando a produção familiar de pescado. O
76870-003, Ariquemes, Brasil. arraçoamento foi realizado duas vezes ao dia, sendo a ração distribuída de forma
2
Universidade Federal da Rondônia,
uniforme pelos viveiros. Quando os animais atingiram peso médio de 100 g, foi
76872-848, Ariquemes, Brasil. realizado uma despesca, contabilizando os índices zootécnicos como biomassa total
(kg), sobrevivência (%) e conversão alimentar, para posterior avaliação do custo de
* Autor Correspondente: produção. Como resultado, obteve-se um peixe orgânico de média 115,8 gramas, com
juliana.galo@ifro.edu.br.
um custo de produção de R$ 11,78/Kg, ou seja, cada peixe de 100 g apresentou um
custo de produção de R$ 1,18, com uma conversão alimentar de 1:2,9 e sobrevivência
Palavras-chave: de 100%. Conclui-se que o pequeno produtor poderá desenvolver duas safras de
Peixe tambaqui orgânico durante o ano, para comercialização desse peixe para a produção de
Produção familiar enlatados.
Ração orgânica
Sustentabilidade ABSTRACT: The project aimed to produce organic tambaqui respecting the
precepts of environmental and social responsibility, economic viability and
Keywords:
Fish zootechnical efficiency. The development in the field of the project was carried out in
Family production the fish farming area of the Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Organic food Rondônia (IFRO) - Campus Ariquemes. For the organic system of tambaqui production,
Sustainability three nurseries were excavated with an average area of 475 m² and a depth of 1.50
meters, with an individual supply and drainage system. It was made a ration craft, with
Histórico do artigo: products from the Amazon region, aimed at the family production of fish. Feeding was
Recebido: 23/09/2021 done twice a day, with the ration distributed uniformly by nurseries. When the animals
Aceito: 27/03/2022 reached an average weight of 100 g, an outlay was performed, accounting for the
zootechnical indexes as total biomass (kg), survival (%) and feed conversion, for later
evaluation of the cost of production. As a result, an organic fish of 115.8 grams average
was obtained, with a production cost of R$ 11.78/kg, that is, each fish of 100 grams
presented a cost of production of R$ 1.18, with a feed conversion of 1:2.9 and survival
of 100%. It is concluded that the small producer can develop two harvests of organic
tambaqui during the year, for the commercialization of this fish for canning production.

Revista Edutec, Ariquemes-RO, v.03, n.01, p.25-36, Jan. - Jun. 2022.

 Galo et al.

1. INTRODUÇÃO Interministerial No28, publicada no dia 8 de

A produção orgânica no Brasil teve início na junho de 2011 pelo Ministério da Agricultura,
década de 70 (BOSCOLO et al., 2010). A Pecuária e Abastecimento (MAPA) juntamente
princípio, foi vista como um movimento com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA,
filosófico que buscava alternativas de produção 2011).
em contraposição às vertentes consumistas da Os sistemas de produção de alimentos
sociedade moderna (ORMOND et al., 2002). orgânicos são importantes para geração e
Assim como a convencional, a piscicultura manutenção de emprego no campo e atende a
orgânica tem importância econômica na medida uma crescente demanda dos consumidores. O
em que gera renda para o meio rural, fixa o mercado de orgânicos está em plena expansão no
homem no campo, produz proteína animal de alta Brasil e exterior, e é um mercado de grande
qualidade e com baixo custo, gera divisas através importância principalmente para os agricultores
da exportação e auxilia no manejo ambiental de familiares (BOSCOLO et al., 2012).
outras culturas. Difere da aquicultura De acordo com os princípios da agricultura
convencional também, pois prima pela produção orgânica, a atividade animal deve estar, tanto
em perfeita harmonia com o meio ambiente, quanto possível, integrada à produção vegetal,
utilizando práticas que procuram se assemelhar visando à otimização da reciclagem dos
às condições naturais dos organismos. Há, nutrientes (dejetos animais, biomassa vegetal), à
porém, muitas questões que devem ser menor dependência de insumos externos (rações,
elucidadas para que se alcance uma eficiência volumosos) e à potencialização de todos os
produtiva, caso da alimentação, do manejo, do benefícios diretos e indiretos advindos dessa
bem estar animal e do controle do efluente integração (SOARES et al., 2006).
produzido (MELLO; AMBROSANO, 2007). O produto orgânico tem maior valor de
A piscicultura orgânica apresenta-se como um mercado do que o produzido de forma
mercado inovador, inclusive para o piscicultor convencional, todavia, em piscicultura a maior
familiar, em decorrência da baixa dependência dificuldade está no fato de não existir no mercado
por insumos externos, ou seja, utiliza produtos da ração orgânica comercial, sendo necessário que
região para formulação da ração, além do os próprios piscicultores produzam a ração
aumento do valor agregado ao produto com orgânica para uso em seus cultivos. As rações
consequente aumento de renda para o agricultor com inclusão de farinhas de peixes obtidas de
e por propiciar a conservação dos recursos resíduos da industrialização de pescado e peixes
naturais. não adequados ao consumo humano são
A piscicultura no Brasil é praticada em permitidas pelas certificadoras de produtos de
diferentes sistemas de criação e com diversas origem orgânica, desde que não sejam resíduos
espécies, tanto nativas, como exóticas, e segundo do processamento da mesma espécie a ser criada
Godinho (2007) são cerca de 40 espécies que (NATURLAND, 2004).
podem ser criadas. Devido às variações Atualmente, são poucos os grãos e
climáticas regionais, várias espécies têm sido subprodutos da agroindústria de origem vegetal
criadas comercialmente em sistema certificados como orgânicos. Ao considerar que
convencional com sucesso. De forma geral, todas os sistemas orgânicos de produção animal devem
as espécies criadas no sistema convencional buscar a oferta de alimentação nutritiva,
podem ser convertidas para o sistema orgânico saudável, de qualidade e em quantidade
(BOSCOLO et al., 2012). adequada de acordo com as exigências
Na produção animal ainda é muito restrita, nutricionais de cada espécie, para atender a
constituindo uma das áreas com grandes legislação específica do MAPA (BRASIL,
possibilidades de retorno no mercado de 2009), se faz necessária a utilização de alimentos
produtos orgânicos (KHATOUANIAN, 2001). de origem animal, pois aminoácidos industriais
No Brasil, a normatização para criação de não são aceitos pelos órgãos certificadores.
animais é bastante recente e sua regulamentação Como a sustentabilidade é um pré-requisito
foi consolidada por meio da Instrução Normativa para o sistema orgânico, a utilização de farinha

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de resíduos do processamento de peixes e de geneticamente modificada. O projeto teve como

espécies, não adequadas ao consumo humano, objetivo difundir o conceito de produção
são alimentos liberados. Boscolo et al. (2005), orgânica do tambaqui (Colossoma
complementam que normalmente, com inclusões macropomum) com responsabilidade ambiental,
de cerca de 15% de farinha de resíduos de peixes, viabilidade econômica e eficiência zootécnica,
não se necessita de inclusão de fosfato bicálcico oferecendo ao pequeno produtor uma alternativa
ou outra fonte suplementar de fósforo. Ainda, de comercialização do pescado. Além disso,
segundo a Instrução Normativa Interministerial demonstrar que a produção orgânica além de
No 28 de 8 de junho de 2011 do MAPA/MPA agregar valor ao produto, é uma forma
(MPA, 2011) e o plano de manejo orgânico sustentável da produção do pescado.
acordado entre produtor e o Organismo de
Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC) e 2. MATERIAL E MÉTODOS
Organização de Controle Social (OCS), em casos 2.1 LOCAL
de escassez ou em condições especiais, será O desenvolvimento a campo do projeto foi
permitida a utilização de alimentos realizado na área de piscicultura do Instituto
convencionais na proporção de ingesta diária, Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
com base na matéria seca de 20% para Rondônia (IFRO) – Campus Ariquemes (RO).
monogástricos. O município localiza-se em latitude 09° 5’ 48”
O cultivo de peixes nativos se destaca na Sul, longitude 63º 02’ 27” Oeste e altitude de
região Norte, tendo o tambaqui Colossoma 142 metros.
macropomum (CUVIER, 1818) como a principal Para o sistema orgânico de produção de
espécie produzida. Segundo o IBGE, na região tambaqui foram utilizados três viveiros
Norte existem quase 13 mil estabelecimentos de escavados com área média de 475 m² e
criação de tambaqui (IBGE, 2017), onde o estado profundidade 1,50 metros, com sistema de
de Rondônia lidera a produção com 69.800 t abastecimento e escoamento individual. O
(LEAL et at., 2020). Este peixe representa uma sistema de escoamento foi do tipo “cachimbo”
das espécies mais populares da Amazônia e de pois oferecia condições para o controle do nível
maior expressão na alimentação na região Norte do volume da água dos viveiros.
(ARAÚJO-LIMA et al., 1998). A produção de
tambaqui em cativeiro segue em amplo 2.2 ANÁLISES DE SOLO E ÁGUA
desenvolvimento por todo o país, isso se deve, Realizou-se análise de solo dos três viveiros,
principalmente, pela facilidade em obter juvenis, para diagnosticar possíveis deficiências de
além disso, essa espécie apresenta grande minerais como fósforo ou até mesmo o excesso
potencial de crescimento, alta rusticidade, de ferro e alumínio característicos de terras
aceitação de ração, boa conversão alimentar e ácidas, e assim realizar a devidas correções.
alta demanda por sua carne pelo mercado Além disso, realizou-se as análises da
consumidor. Todas essas características água de abastecimento dos viveiros, a fim de
representam algumas das razões que verificar os valores de parâmetros químicos
incentivaram pesquisadores e produtores a como dureza total e alcalinidade, que
intensificar esforços para estabelecer um pacote foram utilizados no cálculo da dose de
tecnológico para essa espécie (PEDROSA calcário utilizado na correção do pH do solo e
FILHO et al., 2016; LEAL et al., 2020), podendo água.
ser para a piscicultura convencional, e também A água utilizada para o abastecimento dos
para a piscicultura orgânica. viveiros foi de uma nascente, e a mesma foi
A piscicultura orgânica se caracteriza como analisada. Conforme a Instrução Normativa
importante nicho de mercado, com grandes Interministerial No28, de 8 de junho de 2011, art.
chances de expansão, uma vez que cresce 6º, o destino da água utilizado no cultivo dos
continuamente o interesse mundial pelo pescado peixes, ou seja, os resíduos da produção foram
produzido sem compostos sintéticos ou dietas destinados a irrigação de pastagens, prezando
fabricadas a partir de matéria-prima o princípio sustentável e ambientalmente

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correto. Para isso, utilizou-se um sistema de de água remanescente e irrigação das pastagens
bombeamento dos viveiros, ou seja, captação (Sistema de Irrigação) (Figura 1).
Figura 1 - A - Irrigação de pastagem com água remanescente dos viveiros. B – Pastagem irrigada.

Fonte: Galo (2016).

A calagem dos viveiros seguiu as mesmas do próprio setor de bovinocultura do Campus

recomendações da produção convencional, pois na proporção de 200 g/m2, e farelo de arroz
utilizou-se produto natural (Tabela 1). na proporção de 10 g/m2, sendo realizado
adubações corretivas dependendo dos valores
2.3 ADUBAÇÃO de transparência (cm) dos viveiros. A
A adubação dos viveiros foi orgânica, sendo transparência foi mensurada através do Disco de
utilizado esterco bovino seco proveniente Secchi.

Tabela 1 - Recomendação de calcário dolomítico (kg/ha) de acordo com o pH e com a característica física do solo,
argiloso ou arenoso.
Exigências de calagem kg/hectare de calcário dolomítico (*PRNT 90%)

pHdosolo Argiloso Franco arenoso Arenoso

Menor 4,0 14.320,00 7.160,00 4.475,00

4,0-4,5 10.740,00 5.370,00 4.475,00

4,6-5,0 8.950,00 4.475,00 3.580,00

5,1-5,5 5.370,00 3.580,00 1.790,00

5,6-6,0 3.570,00 1.790,00 895,00

6,1-6,5 1.790,00 1.790,00 0,00

Maior 6,5 0,00 0,00 0,00

Fonte: Boyd e Queiroz (2004);* poder relativo de neutralização total 90%

2.4 ALEVINOS E DENSIDADE DE genética. Além deste critério, os lotes de

ESTOCAGEM alevinos possuíam as seguintes característica:
Os alevinos utilizados foram produzidos no Lotes homogêneos (mesmo padrão de
estado de Rondônia a partir de plantéis de tamanho). Os alevinos utilizados na fase de
matrizes e reprodutores que possuíam recria possuíam peso médio de 02 (dois)
rastreabilidade e informações de caracterização gramas.

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A soltura dos alevinos, foi realizada apenas 2.4 RAÇÃO ORGÂNICA

quando os viveiros atenderam as seguintes O arraçoamento foi realizado duas vezes ao
exigências de condições ambientais: pH da dia sempre pela manhã (7:00 h) e tarde (17:00
água entre 6,5 e 8,0, oxigênio dissolvido maior h), sendo a ração distribuída de forma uniforme
que 4 mg/L e temperatura da água inferior que pelos viveiros. A quantidade de ração fornecida
30°C. Outro procedimento que foi realizado foi foi conforme o peso dos animais, concedido
a aclimatação dos peixes a temperatura da água através das biometrias.
dos viveiros. Desta forma foi aferida tanto a Segundo a Instrução Normativa
º
temperatura da água dos viveiros que Interministerial n 28, de 8 de junho de 2011, é
receberam os peixes como a água dos sacos permitida a utilização de alimentos não-
plásticos onde os alevinos foram transportados. orgânicos, na proporção da ingestão diária, de até
A densidade de estocagem foi diferenciada da 20% (vinte por cento) com base na matéria seca.
produção convencional, sendo de 400 g/m2, ou Devido a essa instrução foi formulado uma ração
seja, a densidade foi menor prezando o bem estar com produtos regionais, ou seja, aproveitando o
animal. máximo dos subprodutos da região para
viabilizar o custo de produção dessa ração, pois
Tabela 2 - Quantidade de peixes alocados (inicial). importar produtos orgânicos de outros estados
Viveiro No de Peixes (Inicial) brasileiros seria inviável para os pequenos
piscicultores do Vale do Jamari. Além disso, os
1 1075,00 produtos regionais não possuem agrotóxicos,
sendo produzido pelos próprios produtores da
2 1290,00 região, considerados orgânicos. Todos os
3 1870,00
produtos foram enviados para análise de proteína
bruta no laboratório de Análise de Alimentos
Total 4.235 peixes Qualittá Ambiental - Ji-Paraná/Rondônia
(Tabela 3).

Tabela 3 - Ingredientes e porcentagem de proteína bruta.

Ingredientes Porcentagem na ração (%) % Proteína Bruta

Farinha de peixe 52,00 a 40,00 55,00

Farelo de soja (não orgânico) 20,00 44,00

Mandioca 35,00 a 10,00 1,70

Folha de mandioca 03,00 a 08,00 18,00

Babaçu (polpa) 02,00 a 10,00 13,00

Porcentagem (%) 100

Devido à dificuldade na confecção da ração PB (durante 40 dias), a ração de 38% PB

orgânica, essa foi fabricada de forma artesanal, (durante 30 dias), a ração de 36% de PB
visando a produção familiar. Formulou-se (durante 40 dias) e a ração de 32% de PB
quatro rações: uma com 40%, uma de 38%, uma (restante do experimento).
de 36%, e uma de 32% de proteína bruta. Os Os produtos vegetais (folha, raiz da mandioca
ingredientes utilizados em cada ração foram os e babaçu) foram triturados e secos em estufa de
mesmos, sendo manipulado somente a circulação de ar, a 60º C, por um período de
quantidade de cada ingrediente para se chegar 72 horas, e posteriormente moídos. Já a farinha
a proteína indicada. Todos os viveiros de peixe, o farelo de soja (20% não orgânico) e o
receberam as 4 rações, sendo iniciado suplemento vitamínico / mineral, foram
o experimento com a ração com 40% de comprados em empresas idôneas (Figura 2).
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 Galo et al.

Figura 2 - Produção de ração orgânica. A – Secagem da folha da mandioca. B – Secagem dos ingredientes em estufa de
circulação de ar.

Fonte: Galo (2016).

A ração fornecida foi uma ração farelada em Secchi.

todo o período do projeto, devido à falta de Foram avaliados quinzenalmente a
uma máquina extrusora para transformar essa alcalinidade (mg/CaCO3/L), dureza e a amônia
ração farelada em pellets. total (mg/L) através do kit de análise de água.

2.5 ANÁLISE DE ÁGUA 2.6 BIOMETRIAS

O monitoramento da água dos viveiros foi Foram realizadas biometrias quinzenais,
realizado uma vez por semana, sempre em para o aferimento das medidas de
pontos pré – estabelecidos. Os parâmetros comprimento total (cm-medida do início da
monitorados foram os seguintes: cabeça até o término da nadadeira caudal),
✓ Oxigênio dissolvido (mg/L) e tempera- comprimento padrão (cm–medida do início da
tura (ºC), com auxílio de oxímetro digital; cabeça até o término do pedúnculo caudal),
✓ pH, através de potenciômetro digital para largura (cm), altura (cm) e peso (g), através de
hidrogênio, previamente calibrado; amostragem de peixes (2%) de cada viveiro
✓ Transparência (cm), aferida por Disco de (Figura 3).

Figura 3 - Biometria. A – Comprimento padrão; B – Altura.

Fonte: Galo (2016).

Quando os animais atingiram o peso em cada viveiro experimental, calculada de

(aproximadamente 100 g), foi realizado uma acordo com a expressão abaixo:
despesca, contabilizando os seguintes índices
zootécnicos: Sobrevivência (%) = (Nº Peixe f ÷ Nº Peixe i) x 100
✓ Biomassa total – ao final do experimento
todos os animais foram pesados, e a soma Peixe i: número de peixes inicial; Peixe f: nú-
desse total foi a biomassa do viveiro; mero de peixes final;
✓ Sobrevivência - ao final do experimento ✓ Conversão alimentar aparente (C.A.A) -
foi determinada a taxa de sobrevivência (%) Através do peso total do alimento oferecido
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aos peixes durante o período experimental e Silva e Carneiro (2007) é grande a adaptabilidade
da biomassa total obtida será calculada a con- do Tambaqui á águas com baixos níveis de
versão alimentar aparente: oxigênio dissolvido.
C. A.A= Peso total do alimento oferecido
(g)/biomassa total (g); 3.2 CUSTO DE PRODUÇÃO
O custo de produção do viveiro 1 e 2 encon-
2.7 CUSTO DE PRODUÇÃO tram-se nas Quadros 1 e 2. Porém, o viveiro 3 não
Para o cálculo do custo de produção foram foi possível ser analisado, devido a uma infesta-
considerados: ção de peixes invasores que interferiu na análise
✓ Custos com ração; do custo da produção orgânica.
✓ Alevinos; O presente projeto obteve como resultado um
✓ Insumos - para correção e adubação dos pescado de peso médio de 115,8 gramas, com o
viveiros (uréia, fosfato, cal hidratada, calcário custo médio de produção de R$ 11,78/Kg, ou
e farelo de arroz). seja, cada peixe apresentou um custo de R$ 1,18
Para as análises de dados foram considerados: (Tabela 4).
✓ Custo por kg (R$); Não foi possível chegar ao peso médio de
✓ Custo por peixe (R$); abate (2 Kg), pois a dificuldade na produção
✓ Sobrevivência (%); de uma ração extrusada dificultou o
✓ Conversão alimentar (C.A.). desenvolvimento dos animais.
O tempo de cultivo para os peixes atingirem o
2.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA peso médio de 115,8 g foi de sete meses, com
A quantidade de viveiros na pesquisa foi uma sobrevivência de 100%. A conversão
reduzida, com isso, não foi utilizada a ANOVA alimentar foi de 1:2,9 sendo considerada elevada.
para a comparação entre médias. Para tal Porém, a conversão é justificada devido a
comparação, optou-se em fazer somente as utilização de ração somente farelada. Os gastos
médias entre os parâmetros estabelecidos entre foram em sua maior parte ocasionados pela
os dois viveiros de produção orgânica de aquisição de produtos para fabricação da ração
tambaqui. orgânica, e pela falta de uma máquina extrusora.
De acordo com a EMATER/RO (2006) a
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES alimentação pode representar de 60% a 80% dos
3.1 ANÁLISE DE ÁGUA custos de produção de pescado.
Os parâmetros de qualidade da água foram A máquina extrusora é responsável pelo
compatíveis com os exigidos para a prática da cozimento dos ingredientes sob alta pressão,
piscicultura (KUBITZA, 1999). Os valores de umidade e temperatura, em um curto espaço de
temperatura encontraram-se na faixa entre 28 e tempo. Este processo propicia maior
31oC, ideais para o desenvolvimento dos peixes. digestibilidade do alimento, além de melhorar a
Já o pH ficou entre 6,5 a 8,0, e a alcalinidade e palatabilidade da ração. Outra vantagem é a
dureza ficaram acima de 20 mg/L CaCO3, sendo versatilidade em relação ao controle da textura,
realizada correção com calcário dolomítico densidade (grau de expansão) e formato do
quando estavam abaixo desse valor. A alimento. Os produtos extrusados podem ser
concentração média de amônia ficou por volta de oferecidos em diversas formas e tamanhos, o que
0,05 a 0,1 mg/L. Os valores mantiveram-se, no traz vantagens também em relação à atratividade,
entanto, dentro dos níveis toleráveis à criação de fazendo com que os peixes tenham um maior
peixes (PROENÇA; BITTENCOURT, 1994). As aproveitamento da ração e se tenha uma menor
análises de oxigênio dissolvido ficaram acima de perda da ração no viveiro.
2,0 mg/L, variando conforme a insolação diária, Segundo Boscolo et al. (2012) em seu trabalho
visto que a produção do oxigênio na coluna realizado em sistema orgânico de produção de
d’água esta ligada diretamente a luz solar. O teor pescado de água doce, obteve um ganho de peso
de oxigênio dissolvido manteve-se a um nível de 107,8 g para tilápias alimentadas com uma
seguro (2,0 a 12 mg/L) tanto para a sobrevivência ração orgânica extrusada com 32% de PB
quanto para a produção do Tambaqui. Segundo produzida a partir de farelo de soja, milho, trigo
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 Galo et al.

integral, farelo de trigo, farinha de tilápias, ao estado de Rondônia, e com alto valor
farinha de peixes, calcário calcítico, premix e sal agregado, que encareceria o custo de produção
comum. do pequeno piscicultor. Por isso a importância de
No trabalho de Boscolo et al. (2012) os se utilizar produtos regionais, como babaçu,
ingredientes utilizados foram de origem mandioca e folha de mandioca, onde o próprio
orgânica, porém, são produtos de difícil acesso produtor poderá produzir em sua área de terra.
Quadro 1 - Custo de produção do tambaqui orgânico do Viveiro 01.
CUSTO DE PRODUÇÃO - VIVEIRO 01
CUSTOS VARIÁVEIS
ALEVINOS UNID QUANT. V. UNIT. VALOR TOTAL
Alevinos de tambaqui milheiro 1290 R$ 90,00 R$ 116,10
TOTAL R$ 116,10
TRATAMENTO DA ÁGUA E
DO SOLO UNID QUANT. V. UNIT. VALOR TOTAL
Calcário Kg 280 R$ 0,04 R$ 11,20
Cal Virgem SC 15 Kg SC 3 R$ 15,00 R$ 45,00
Esterco Bovino Kg 900 R$ 0,00 R$ 0,00
Farelo de Arroz Kg 46,32 R$ 25,50 R$ 39,37
TOTAL R$ 95,57
RAÇÃO KG Sacos Preço/Kg de ração VALOR TOTAL
Ração 40% 28,123 1,12492 2,83 R$ 79,59
Ração 38% 46,108 1,84432 3,35 R$ 154,46
Ração 36% 193,76 7,7504 3,48 R$ 674,28
Ração 32% 212,296 8,49184 3,88 R$ 823,71
TOTAL R$ 1.732,04
PRODUÇÃO ESTIMADA (KG) 190,52
CUSTO DE PRODUÇÃO R$ 1.943,71
CUSTO DO KILO DO PEIXE (R$) R$ 10,20
CUSTO (R$)/PEIXE 100 g R$ 1,02

Os inconvenientes da ração orgânica são os completamente ingerida, ou seja, boa parte não
custos desses alimentos, a variação na foi aproveitada. Por isso, é interessante que se
composição química, e a qualidade, tenha um grupo de piscicultores, através de
principalmente, quanto aos índices de peróxidos associações ou cooperativas, que queiram
e acidez. Portanto, o produtor deve ficar atento à investir na área de piscicultura orgânica, para que
qualidade dos subprodutos da aquicultura e juntos possam adquirir uma máquina extrusora
trabalhar com fornecedores idôneos e ocasionando assim um maior aproveitamento da
certificados (BOSCOLO et al., 2012). ração pelos peixes.
No presente projeto, o aumento da quantidade Na literatura, são escassos os trabalhos com
de mandioca na ração para diminuir a porcenta- piscicultura orgânica, mas de acordo com
gem de farinha de peixe oriunda de outro estado os dados disponíveis, a criação de espécies
acabou encarecendo a ração. O valor pago por como a tilápia (Oreochromis niloticus)
quilo de mandioca in natura foi de R$ 1,25/Kg, (BOSCOLO et al., 2010; BOSCOLO et al.,
com rendimento de 21%, totalizando um custo 2012), pacu (Piaractus mesopotamicus) e jundiá
médio deR$ 5,95/Kg da mandioca seca. (Rhamdia sp.) (FEIDEN et al., 2010; NEU et al.,
A falta de uma máquina extrusora para a 2011) alimentados com rações orgânicas, em
transformação da ração farelada em pellets diferentes sistemas de cultivo, demonstram
ocasionou um grande desperdício de ração, pois resultados bastante otimistas (BOSCOLO et al.,
a ração farelada jogada aos peixes, não foi 2012).
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Quadro 2. Custo de produção do tambaqui orgânico do Viveiro 02.

CUSTO DE PRODUÇÃO - VIVEIRO 02
CUSTOS VARIÁVEIS
ALEVINOS UNID QUANT. V. UNIT. VALOR TOTAL
Alevinos de tambaqui milheiro 1075 R$ 90,00 R$ 96,75
TOTAL R$ 96,75
TRATAMENTO DA ÁGUA E DO
SOLO UNID QUANT. V. UNIT. VALOR TOTAL
Calcário Kg 200 R$ 0,04 R$ 8,00
Cal Virgem SC 15 Kg SC 3 R$ 15,00 R$ 45,00
Esterco Bovino Kg 605 R$ 0,00 R$ 0,00
Farelo de Arroz Kg 30,23 R$ 25,50 R$ 25,70
TOTAL R$ 78,70
RAÇÃO KG Sacos Preço/Kg de ração VALOR TOTAL
Ração 40% 19,976 0,79904 2,83 R$ 56,53
Ração 38% 32,008 1,28032 3,35 R$ 107,23
Ração 36% 150,136 6,00544 3,48 R$ 522,47
Ração 32% 259,104 10,36416 3,88 R$ 1.005,32
TOTAL R$ 1.691,56
PRODUÇÃO ESTIMADA (KG) 139,721
CUSTO DE PRODUÇÃO R$ 1.867,01
CUSTO DO KILO DO PEIXE (R$) R$ 13,36
CUSTO (R$)/PEIXE 100 g R$ 1,34

Borba et al. (2014) avaliou o desempenho de alimentados com ração orgânica e com a ração
juvenis de jundiá (Rhamdia sp.) alimentados com comercial. Com isso, o cultivo orgânico obteve
ração orgânica e comercial, durante 14 meses. Os uma resposta positiva, podendo ser uma ótima
peixes foram cultivados em 8 viveiros escavados, alternativa para agregar valor ao produto final e
povoados na densidade de 1,5 peixes/m2, com também fornecer um produto com qualidade
peso inicial de 2 g. Os resultados mostraram que superior, visto que este é um mercado exigente e
não houve diferença significativa entre o ganho o cultivo recebe auditorias frequentes para
de peso e a sobrevivência dos jundiás fiscalização.

Tabela 4. Custo de produção total do pescado orgânico.

CUSTO DE PRODUÇÃO DO PEIXE ORGÂNICO DE 100 g - UNIDADE DO IFRO
Custo/Kg Custo/Peixe Sobrevivência Peso Médio CA* Biomassa
Viveiros
(R$) (R$) (%) Final (g) (1:1) (Kg)
1 10,20 1,02 100% 115,0 2,50 190,50
2 13,36 1,34 100% 116,5 3,30 139,70
MÉDIA 11,78 1,18 100% 115,8 2,90 165,1
*CA – Conversão alimentar.

A certificação do pescado como orgânico é demonstra ser proveitoso (PINHO, 2015), sendo
bastante discutível e trabalhosa, principalmente o caso do tambaqui. O cultivo orgânico é a
do pescado proveniente da pesca extrativa, na criação de organismos aquáticos em água isenta
qual o produtor não tem o controle total do de contaminantes ou poluentes, que devem ser
processo. alimentados naturalmente (com plâncton, nécton,
Em sistemas convencionais de produção de bentos, vegetais) ou receber ração "orgânica",
peixes marinhos, o gasto energético já é preferencialmente alevinos e pós-larvas de
questionável, assim como nos orgânicos. No cultivos "orgânicos". Além disso, para receber o
entanto, em aquicultura de água doce, sobretudo, selo de certificação orgânica, a relação da
na criação de peixes onívoros, o sistema indústria com os trabalhadores envolvidos no
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Revista Edutec, Ariquemes-RO, v.03, n.01, p.25-36, Jan. - Jun. 2022.
 Galo et al.

processo deve ser baseada nos conceitos do Cadernos de Agroecologia, Recife - PE, v.09,
comércio justo (PINHO, 2015). n.4, 2014. Disponível em: https://revistas.aba-
Como já citado, o número de trabalhos agroecologia.org.br/cad/article/view/16619
realizados na área de piscicultura orgânica é Acesso em: 03 jun. 2022
reduzido, o que dificultou a realização do
presente projeto. Porém, é uma área aconselhável BOSCOLO, W.R. et al. Farinha de Resíduos da
para novas pesquisas, para tornar-se viável a Filetagem de Tilápia em Rações para Alevinos
produção de pescado orgânico ao pequeno de Piauçu (Leporinus macrocephalus). Revista
agricultor, principalmente pescado nativo Brasileira de Zootecnia Viçosa - MG, v.34,
brasileiro. n.6, p.1819-1827, 2005. Disponível em:
Os sistemas de produção de alimentos https://www.scielo.br/j/rbz/a/rQNTcndNx9sTy8
orgânicos são importantes para geração e XYYN8gJKP/?lang=pt Acesso em: 03 maio
manutenção de empregos no campo, 2022
representando um mercado em plena expansão.
Destaque é dado para a piscicultura orgânica, que BOSCOLO, W.R. et al. Rações orgânicas
pode ser uma alternativa muito interessante para suplementadas com farinha de resíduos de peixe
produtores familiares rurais, pois possui uma para juvenis da tilápia do Nilo (Oreochromis
agregação financeira que varia de 30 a 40% com niloticus). Revista Ciência Agronômica,
relação a produtos convencionais (FEIDEN et Fortaleza - CE, v.41, n.4, p.686-692, 2010. .
al., 2010). Disponível em:
Estudos na área de produção orgânica de https://www.scielo.br/j/rca/a/M7FHFCXcS3DL
pescado devem ser mais aprofundados utilizando TYbcMyW7WPs/?lang=pt Acesso em: 03 maio
equipamentos apropriados para a produção de 2022
uma ração orgânica própria para o tambaqui, que
obtenha um melhor desempenho, BOSCOLO, W.R. et al. Sistema orgânico de
consequentemente em um menor tempo de produção de pescado de água doce. Revista
cultivo. A produção orgânica de peixes além de Brasileira de Saúde e Produção Animal,
preservar o meio ambiente, agrega valor ao Salvador – BA, v.13, n.2, p.578-590, 2012. .
pescado e contribui para uma alimentação Disponível em:
humana mais saudável. https://www.scielo.br/j/rbspa/a/ZX9WzP9bQQ7
CBBxkGgRm8nK/abstract/?lang=pt Acesso em:
4. CONCLUSÕES 03 maio 2022
O custo de produção do tambaqui orgânico de
115,8 g foi de R$ 1,18, em um período de sete BOYD, C.E. et al. Manejo das condições do
meses. Mesmo não chegando ao peso sedimento do fundo e da qualidade da água e
estabelecido no projeto, conclui-se que o dos efluentes de viveiros. In: CYRINO, J.E.P.;
pequeno produtor poderá desenvolver duas safras URBINATI, E.C.; FRACALOSSI, D.M. et al.
de tambaqui orgânico durante o ano, para (Eds.) Tópicos especiais em piscicultura de água
comercialização desse peixe (100 g) para a doce tropical intensiva. Jaboticabal: Sociedade
produção de enlatados. Brasileira de Aquacultura e Biologia Aquática,
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CAPRINOCULTURA E DA 1 CD-ROM.

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