TCC Claudio Mauricio
TCC Claudio Mauricio
TCC Claudio Mauricio
João Pessoa
2019
DIRETORIA DE DESENVOLVIMENTO DO ENSINO
DEPARTAMENTO DE ENSINO SUPERIOR
UNIDADE ACADÊMICA DE LICENCIATURAS E FORMAÇÃO GERAL
CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS A DISTÂNCIA COM HABILITAÇÃO EM
LÍNGUA PORTUGUESA
João Pessoa
2019
Com amor, DEDICO esta conquista à minha família, Esposa Gerlane Barbosa e filho
Cláudio Júnior
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer primeiramente a Deus, pela saúde, força e perseverança nas horas de
dificuldades no decorrer dessa jornada acadêmica.
Em segundo lugar, dedicar esse trabalho a minha mãe Maria das Neves Viana da Silva.
Mãe, obrigado por me proteger e desempenhar as funções de mãe e pai, simultaneamente, em
minha vida, com muita garra soube com sua simplicidade me amparar. E me fez entender que
o estudo é a base para ter uma vida digna.
A minha ilustríssima esposa, Gerlane Barbosa da Silva, por sempre me incentivar,
estar ao meu lado e me dar forças juntamente com meu filho, Cláudio Maurício da Silva
Júnior, ao longo dessa jornada. Obrigado por existirem em minha vida.
As minhas irmãs, Edilma Neves e Márcia Rejane, pelo apoio na minha caminhada.
À instituição do IFPB, seu corpo docente e discente do curso, por fazerem parte dessa
trajetória memorável em minha vida.
A minha orientadora, Professora Dra. Joselí Maria da Silva, pelo suporte, confiança,
correções, incentivos, paciência e por sempre estar disposta a sanar todas as minhas dúvidas,
tornando possível a conclusão deste trabalho.
Aos professores Dr. Neilson Alves de Medeiros e Dra. Marta Célia Feitosa Bezerra
por participarem da banca examinadora e contribuírem para sua melhoria.
A minha Supervisora escolar, Ana Paula Bastos Borges, por me acompanhar na
gratificante experiência que foram as fases dos Estágios Supervisionados I, II e III do Curso de
Licenciatura em Letras.
E a todos aqueles que, direta ou indiretamente, torceram e fizeram parte da minha
formação, os meus mais cordiais agradecimentos.
RESUMO
O presente trabalho busca refletir sobre o uso de Códigos na comunicação institucional. Para
tanto, discute sobre o uso do Código Q por profissionais da área da segurança pública no Estado
da Paraíba, em destaque a Polícia Militar, relacionando o referido Código às considerações
apresentadas pela Comunicação Organizacional e a Sociolinguística e suas variações.
Apresenta como objetivo compreender a importância da comunicação por meio de Códigos e,
em especial, a utilização do Código Q no contexto da Polícia Militar da Paraíba. Além disso,
pretende discutir sobre outras formas de registros típicos de classes sociais distintas, diferentes,
porém, do objeto que ora investigamos. Visando desmistificar a falácia de que a linguagem dos
Policiais seria gírias ou jargões, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, exploratória e
descritiva, de abordagem qualitativa, a fim de saber como se dá o processo de comunicação dos
Policiais e dos demais grupo de uma sociedade. Evidenciou-se que as variações são em
particular os maiores fomentadores do sistema linguístico em uma sociedade, a partir de suas
especificidades e uso nos diversos contextos sociais, porém essas variações não dizem respeito
ao Código Q. Percebeu-se a comunicação específica nas modulações, com o uso do Código em
destaque, na corporação da Polícia Militar da Paraíba, como forma de otimizar a comunicação
operacional.
PALAVRAS-CHAVE: Polícia Militar. Código “Q”. Linguagem. Comunicação.
ABSTRACT
The aim of this research is to discuss the use of codes in institutional communication. Therefore,
it discusses the use of the "Q" code by professionals from public security in the state of Paraíba,
in particular the Polícia Militar. We will relate this code with the considerations presented by
Organizational Comunication and Sociolinguistics and their variations. Besides that, it intends
to discuss other forms of registration that are typical of distinct social classes, but different
from the object we are investigating. This are done to demystify the fallacy that the language
of the police would be slang or jargon. We did a bibliographical, exploratory and descriptive
research with a qualitative approach, in order to know how the communication process of
policemen and the other groups of society works. Our founds has shown that the variations are
the major developers of the linguistic system in a society, from its specificities and use in the
diverse social contexts, however these variations do not concern the "Q" code. We observe that
the corporation of Polícia Militar in Paraíba uses the "Q" code (specific communication in the
modulations) to optimize their operational communication.
KEYWORDS: Polícia Militar. “Q" Code. Language. Communication.
LISTA DE QUADROS
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 09
5 O CÓDIGO Q ............................................................................................... 22
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 28
9
1 INTRODUÇÃO
esferas de atuação. Para atingir esse objetivo, em muitos casos, a administração deve buscar e
aplicar novas tecnologias, com o propósito de tornar sua comunicação mais eficiente e de maior
alcance, em virtude da necessidade da transparência das informações não só para sua própria
comunidade interna como também para a sociedade em geral.
Para garantir a qualidade na comunicação das organizações e em seus diversos
serviços prestados à sociedade, dos quais podemos citar saúde, educação, segurança pública,
entre outros, é necessário clareza e veracidade das informações. O problema de algumas
instituições, entretanto, não é apenas de divulgar claramente seus propósitos; muitas sequer
divulgam publicamente seus produtos ou serviços, políticas de funcionamento, serviços de
atendimento ao consumidor etc. Oliveira e Lima (2012, p. 57) refletem essa realidade quando
dizem: “[...] a atuação das organizações públicas são desconhecidas (sic) por parte considerável
da população [...]”. Desse modo, espera-se que tal situação seja resolvida, já que o público –
usuário ou beneficiário final de quaisquer empresas, públicas ou privadas – tem o direito de
saber com quem está lidando, a quem ou de quem compra ou vende. Trata-se da excelência
comunicativa e, para que essa excelência comunicativa se concretize, deve existir um
compromisso com os serviços prestados e com a sociedade como também uma boa
comunicação entre esses participantes.
tempo, com menos esforços, ou seja, primando pela qualidade de seus serviços, sempre em
benefício da sociedade civil.
Estamos nos referindo ao Código Q. Este código não tem a ver, como veremos ao
longo deste estudo, com os recursos de comunicação dos servidores da PMPB em todas as
situações diárias e rotineiras, mas sim com um instrumento comunicacional para uso em
situações específicas inerentes à sua profissão.
Este assunto nos despertou o interesse quando, estudando a disciplina
Sociolinguística, em especial o assunto “variantes linguísticas”, percebemos algumas
divergências conceituais.
Resolvemos, então, explorar mais a questão e, em janeiro deste ano de 2019,
realizamos uma pesquisa, com o objetivo de identificar publicações como artigos, teses, entre
outros trabalhos acadêmicos, que tratassem do tema Código Q ou algo a este assunto
relacionado. O levantamento foi feito em diversos sítios na internet, como, por exemplo, Google
Acadêmico e a Plataforma de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES). A partir daí, considerando todas as publicações, em todos os idiomas,
sem definições de periódicos, encontramos apenas descritores, isto é, termos referenciadores,
mas nenhuma pesquisa específica. Foram eles: “Código Q”; “Código Policial”; “Linguagem e
Operacionalidade Policial”; “Dialeto Policial”; “Jargão Policial” e “Gírias Policiais”. De
forma isolada e pela busca simples, o resultado total foi de 3.015 arquivos encontrados, como
pode ser observado no Quadro 1:
Refletindo um pouco sobre essas variações, que envolvem comunidades sociais bem
definidas, vemos que sua representação discursiva vai além de expressões próprias do
desenvolvimento profissional, ou seja, a vida do homem, em todos os seus aspectos, é
alimentada com e pela linguagem. É ela que lhe favorece a liberdade de se posicionar a favor
ou contra algo, defender-se, firmar-se e locupletar-se perante os grupos de que faça parte ou
com os quais convive. E isso se dá pela comunicação.
Na perspectiva da Sociolinguística, há uma ligação muito forte entre a comunicação e o
processo de emancipação dos sujeitos dentro dos grupos sociais, como o ensinar, o aprender e
o empregar a linguagem como fonte da mensagem, conforme declara Pinheiro (2009) ao
mencionar: “Esse sujeito se vale do conhecimento de enunciados anteriores para formular suas
falas e redigir seus textos”. Desse modo, em muitos casos, os envolvidos no processo de
comunicação tomam para si certos modos de falar que já foram utilizados por outras pessoas
ou grupos sociais existentes em nossa sociedade. Essa prática se reflete na produção de vários
gêneros orais e escritos e facilita o processo de interação entre os interlocutores, reconhecedores
que são da “quase” padronização de alguns artefatos e de sua eficácia quando da necessidade
comunicativa. Dizemos quase padronização, entretanto, pois sabemos que, assim como o
homem, a língua é dinâmica, flexível, esponjosa, ou seja, se deixa influenciar por diversos
fatores de ordem interna (pessoais, sentimentais, afetivos etc.) e externa (situação política,
econômica, intelectual etc.) – e os influencia também. Os homens se agrupam, a partir de pontos
convergentes, logo se identificam e criam, por sua vez, registros que os marcam, individualizam
de certa forma. Em se tratando da linguagem, criam-se variações de registro de uso da língua:
as variações linguísticas.
Os estudos sociolinguísticos oferecem o suporte para a análise de processo considerados
variações linguísticas, estas influenciadas (ou geradas), como já dito anteriormente, por fatores
internos ou externos (faixa etária, nível econômico, social, localizações geográficas, entre
outros).
Quando nos aprofundamos nos estudos e usos da língua, percebemos as diversas
variações linguísticas existentes. A produção oral é abundante nessas mudanças – tomem-se,
por exemplo as expressões “nós falamos”, “a gente fala”, “nós fala” e “a gente falamos”,
consideradas variações de ordem sintática. Vale dizer que a modalidade escrita não está imune
a influências dessas variações.
Temos expressões que revelam variáveis regionais (geográficas) em diferentes
localidades do Brasil. Exemplo; charque, carne-seca e jabá (Carne típica do Sertão do Brasil)
15
(DICIO, 2018). Ainda é possível verificar a existência da variação de registro (históricas), que
acaba por promover o confronto de variantes e suas circunstâncias diversas, como o da fala oral
com a escrita, do correio eletrônico, das mensagens por celular ou por rede social, da carta ou
do jornal. São exemplos dessa variação: kd (cadê), vc (você) e vdd (verdade), típicos das
interações na rede, ou seja, na internet. Também representam variações históricas, de mudança
linguística no sistema de evolução na estrutura interna da própria língua: “Em diversas palavras,
aconteceu um processo de ditongação: seysto (sexto), eyxercitar (exercitar), eycelente
(excelente) etc. O inverso também aconteceu, ou seja, a eliminação do ditongo: baxo,
embaxada, odiança (audiência)” (FERREIRA et al. 2018, p. 48).
Esses vários fatores variacionais da língua são diretamente responsáveis pela
pluralidade ou heterogeneidade da nossa fala. O tempo cronológico também interfere nesse
fenômeno, faz com que novas palavras sejam inseridas e outras sofram mudanças, configurando
variação de registro. Isso também se pode observar nas falas dos grupos que interagem nas
redes sociais da internet, por exemplo.
De que forma tais variações interferem em nossas relações sociais e profissionais?
Apesar de haver, ainda, muito preconceito em relação ao interlocutor que não domina
seguramente a língua padrão, ou prefere fazer uso de suas raízes lexicais, é necessário
considerar que
[...] a Sociolinguística descarta qualquer julgamento sobre o que é certo e errado na
língua, uma vez que ela entende que formas não padrão podem perfeitamente ocorrer
na fala de pessoas cultas, escolarizadas e de nível socioeconômico mais alto,
especialmente em momentos informais” (ALMEIDA, 2018, p. 13).
É fato que a observação acima não faz referência aos nossos estudos ou ao nosso
material de investigação – o Código Q –, afinal não estamos analisando o uso ou não uso da
norma culta padrão, mas sim uma forma de comunicação interna da PMPB, à luz da
Comunicação Organizacional e da Sociolinguística. Reiterando nossa perspectiva de análise,
apresentamos, a seguir, classificação das variações linguísticas1. Atentemos para a última delas,
em especial – as diastráticas.
1
Disponível em: https://www.estudopratico.com.br/variacoes-linguisticas-diafasica-diatopica-diastratica-e-
historica/ Consulta em 07 mai 2019.
16
2
Disponível em:
https://www.significados.com.br/jargao/. Consulta em: 07 mai 2019.
17
Antes de começarmos nossa discussão mais pontual, vamos apresentar alguns dados
da instituição que nos permitiu conhecer alguns dados sobre uso dessa ferramenta de
comunicação – o Código Q – para desenvolver nosso trabalho.
A instituição Polícia Militar tem sua origem no tempo do Império brasileiro, logo,
cronologicamente, é a instituição no Estado da Paraíba com a criação mais antiga em atividade.
Podemos confirmar essa informação pelo relato do Cel. PM Batista Lima (2018) registrado em
site do Governo do Estado, na página de seu Arquivo Eletrônico, sobre a História da PMPB:
Com 187 anos, a Polícia Militar tem diversas modalidades de policiamento empregado
no Estado da Paraíba. Sua missão constitucional é a de realizar o policiamento ostensivo e
preventivo e de manter a ordem pública. A Polícia Militar, um dos principais órgãos de
segurança pública da Paraíba, é uma instituição secular que se inova e se renova a partir de suas
demandas sociais, sendo assim, ela se faz mais presente no dia a dia dos cidadãos. Para tanto,
seus membros buscam manter-se em conexão, a fim de aprimorar seus serviços, entendendo
que “A comunicação é fator imprescindível para a perfeita sincronização das ações de
policiamento na manutenção da ordem pública” (MEIRELES; SILVA. 2018, p. 9). Esse
cuidado faz parte de seu respeitado modus operandi de telecomunicação operacional.
Sabendo que o contato com a população civil seja indispensável, a PMPB dispõe de seus
próprios códigos comunicacionais. Sua telecomunicação operacional utiliza o chamado Código
“Q”, especialmente moldado para a realidade laboral do profissional de segurança pública. Dito
de outro modo, trata-se de uma linguagem técnica operacional que não surge em meio aos
policiais por convivência ou influência de um sobre o outro:
As mensagens de rádio são profissionais, pouco tendo a ver com a identidade das
pessoas em operação. Sendo as mensagens curtas, claras, precisas e concisas, o PM
evitará colocar na voz a emoção do episódio que vai narrar, porque em assim agindo
a mensagem não são bem compreendidas [sic], dificultando a adoção de
procedimentos necessários ao fato” (MEIRELES; SILVA. 2018, p. 10).
18
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
19
Em relação à pesquisa descritiva, Prestes (2008) nos permite compreender que, de uma
forma geral, visa observar e registrar os acontecimentos sem que o pesquisador interfira no
objeto estudado.
Quando nos debruçamos nas várias formas de linguagem, tanto por meio da linguagem
verbal quanto da linguagem não verbal, vemos que o indivíduo representa o mundo e exprime
20
o seu pensamento através de Códigos. Assim, nos “[...] processos de comunicação, podemos
nos lembrar da comunicação gestual, dos sinais de trânsito, das cifras musicais, dos símbolos
matemáticos[...]” (SILVA; ARAÚJO, 2018, p. 06). Considerando uma situação real, por
exemplo, vamos imaginar um trabalhador que passa grande parte de seu tempo dirigindo nas
estradas e rodovias do Brasil. Inevitavelmente, ele terá de ler as placas de trânsito que se
apresentam, em sua maioria, numa linguagem não verbal. A compreensão da imagem dessas
placas será a garantia de uma “agilidade comunicativa”, pois dispensa o motorista/condutor do
esforço da descrição de cada um dos símbolos das placas. Vejamos algumas placas de
advertência que fazem parte do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
Esse foi apenas um exemplo de uma codificação em uma atividade laboral que usa a
Semiótica e que facilita a agilidade de comunicação, seja essa comunicação interna ou externa,
considerando os signos sob várias formas e manifestações. A comunicação com palavras
verbalizadas ou escritas sempre foi (e será) intensamente produzida. Expandir-se em outras
formas, como imagens, só comprova sua fecunda diversidade e força de expressão. Com a
dinâmica da vida em sociedade, as novas urgências da vida urbana (e, em muitos casos, também
no meio rural) e robustas tecnologias, a comunicação precisou inovar. E por que códigos? Ora,
“[...] a palavra em si era um meio eficaz de comunicação; entretanto, a sociedade cresceu e a
palavra, mesmo gritada, já não era suficiente para atender às necessidades de comunicações”
(MEIRELES; SILVA, 2018. p. 01), e, quando pensamos nesse atendimento, seja em
comunicação interna ou externa, estamos pensando em qualidade, em compreensão do
resultado final dessa comunicação, a fim de conseguir um bom desempenho social, afetivo,
profissional, entre outros. No que se refere ao trabalho, especialmente, não pode haver
21
5 O CÓDIGO Q
Quadro 2 - Códigos Q
Qap Escuta, escutar; (pertence a séria qaa a qnz –exclusivo do serviço aeronáutico)
Qra Prefixo da estação, nome do operador
Qrd Dirigir-se ª. Deslocando até...
Qrm Interferência
Qrl Ocupado
Qrv Pronto para receber
Qrx Aguarde, espere
Qrz Quem me chama?
Qsa Intensidade dos sinais
Qsj Dinheiro
Qsl Entendido, ciente da mensagem
Qsm Repita a mensagem
Qso Contato entre duas estações diretamente
Qsp Ponte entre duas estações
Qsy Mudar para outra frequência
Qta Cancelar mensagem, última forma
Qtc Mensagem
Qth Endereço, local
Qtr Hora exata
Qru Tens algo para mim, fato ocorrência
Tks Obrigado / tnx –agradecido
Fonte: Polícia Militar da Paraíba - Centro de Educação (2018).
Y = Yankee Z = Zulu
Fonte: Polícia Militar da Paraíba - Centro de Educação (2018).
Nº sequência - Ordinais
PRIMEIRO SEGUNDO TERCEIRO QUARTO QUINTO
SEXTO SÉTIMO OITAVO NONO NEGATIVO
Fonte: Polícia Militar da Paraíba - Centro de Educação (2018).
Decodificando a mensagem
Em todo caso, mesmo que algum civil, seja ou não um criminoso, faça uso de tal
código ou dele se aproprie, é necessário que seu acesso seja evitado ou, caso já em execução,
bloqueado, a fim de que não se copiem as frequências da polícia, de modo a impedir que as
informações obtidas sejam utilizadas em favor de pessoas ou ações adversas ao bem da
população. Levando-se em conta que tal Código é amplamente utilizado nas comunicações via
rádio, Meireles e Silva (2018, p. 10) aconselham: “Somente usar a rede rádio para assuntos de
serviço”. Sendo assim, o uso do Código Q não só ajuda no trabalho da corporação como também
é um meio de dificultar o entendimento das mensagens para pessoas alheias ao serviço desse
grupo de profissionais.
Para quem não precisa utilizar o sistema Código Q, seu entendimento parece ser
difícil. Embora não seja segredo mantido a “7 chaves”, há um certo grau de complexidade em
sua matéria, convenientemente criado para esmaecer qualquer interesse por aqueles que não
participam da atividade de policiamento profissionalmente. O conhecimento por si só não é
suficiente. É necessário praticá-lo. Não deve haver supressões, dúvidas, desconhecimento ou
confusão na interpretação das informações passadas via Código Q, porque “O hábito de usar ao
máximo a linguagem codificada facilita o fluxo na rede e reduz o tempo de seu uso por
mensagens” (MEIRELES; SILVA, 2018, p. 10). Na situação fictícia supracitada, vimos que a
agilidade é possível a partir da ligação e uso de três letras, que podem ser combinadas entre
consoantes e vogais, e, com essa aglutinação de letras, consegue-se transmitir uma mensagem
completa.
Um policial militar pode, com o uso de quatro Códigos, substituir uma mensagem
extensa. Vejamos os exemplos: “QAP” - “QRV” - “QRA”, adiante o “QTC”. Por meio dos
Códigos, foi evitado que esse policial falasse: “Estou na escuta” e “pronto para receber a
mensagem”, “qual o nome do operador que solicita esse policial” e “qual é a mensagem a ser
passada”.
Outro aspecto a ser destacado é quanto à entonação que acompanha o enunciado no
momento da comunicação. O operador impõe certa ênfase quando há necessidade de maior
expressividade na emissão do código. Há, ainda, o encadeamento de códigos, ou seja, a
combinação de vários códigos juntos, obtendo-se um diálogo, sendo possível formar
significados específicos. Esses dados convergem nosso entendimento de que, mesmo sendo um
código, não há como nos furtar à compreensão de que há subjetividade marcada nessa interação
entre os agentes de segurança pública da Paraíba. E agora já podemos afirmar que o Código Q
não é um jargão técnico, não é uma gíria. E, respondendo à pergunta posta na seção anterior: O
27
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
3
QSL = entendeu?
28
pesquisa, observar a existência de uma uniformidade no modus operandi na fala dos agentes de
segurança pública na Paraíba, fato que certamente não ocorre com os grupos sociais
diversificados em nossa sociedade, que são influenciados de forma direta por diversas variações
salutarmente discutidas pela Sociolinguística.
Devemos salientar que os policiais, fora das suas atividades laborais, são pessoas
comuns, falantes da língua portuguesa com todos os seus sotaques, acentos, mistérios e valores.
Esses profissionais têm consciência, entretanto, de que, em algumas circunstâncias, precisam
alterar seu universo vocabular e sintático para melhor localizar-se no grupo de que, naquele
momento, estão participando. Ainda assim, será fiel às suas origens sociais, geográficas,
econômicas, culturais, intelectuais, como qualquer cidadão. Coelho (2010, p 81) ressalta esse
pensamento de forma bem clara e objetiva, ao dizer: “E esse comportamento pode se mostrar
estável na comunidade. Nesse caso, o indivíduo muda seu comportamento linguístico durante
a sua vida, mas a comunidade à qual pertence permanece estável”, ou seja, os policiais militares
sofrem as interferências ou são influenciados igualmente como qualquer indivíduo inserido em
um grupo social, em suas vidas sociais e por qualquer grupo de que ele faça parte.
Nosso objetivo foi mostrar que é possível ter uma comunicação de qualidade fazendo
o uso de um código específico e restrito a uma categoria profissional, de modo a representar
uma realidade comunicativa desconhecida por grande parte da sociedade, mas que não é apenas
uma forma estética de falar, tratando-se, portanto, de uma estrutura enunciativa com objetivo
singularmente definido. Tal método, embora já utilizado há vários anos, ainda não dispõe de
um olhar mais apurado como importante forma de comunicação que, em momento algum, deve
ser considerada “gíria”. Assim, parece necessário promover trabalhos que abarquem essas
comunicações.
Acreditamos que é possível, em um trabalho futuro, continuar a desenvolver e
aperfeiçoar esse tema, a fim de que a comunidade e seus leitores se apropriem adequadamente
das potencialidades do uso dos vários códigos existentes em nossa sociedade, por se tratar de
importantes ferramentas que podem contribuir satisfatoriamente no processo de comunicação.
Enfim, constatamos que o Código Q se apresenta como uma ferramenta de uso comum no
trabalho dos profissionais de segurança pública do Estado da Paraíba, em busca de agilidade e
êxito no atendimento ao público em geral.
REFERÊNCIAS
29
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Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). João Pessoa, 2018.
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