O Livro de Romanos
O Livro de Romanos
O Livro de Romanos
Entre as cartas do NT, a de Paulo aos Romanos aparece em primeiro lugar, não porque foi
a primeira que Paulo escreveu, mas porque é a mais longa de todas e também porque é
considerada a mais importante. Nessa carta, Paulo expõe, de maneira ordenada, com é
que ele entende o evangelho, tanto no que se refere às suas doutrinas como na sua
aplicação à vida diária dos seguidores de Cristo.
Uma questão de grande importância para o apóstolo era o lugar do povo de Israel no plano
de Deus. Os judeus eram o povo escolhido de Deus, mas, na sua grande maioria, eles não
haviam aceitado Jesus como o Messias que Deus tinha enviado. Será que isso queria
dizer que Deus os havia rejeitado? Com emoção e fervor Paulo rejeita essa ideia e
declara, firmemente, que, no fim, o povo de Israel será salvo. Tudo depende da
misericórdia de Deus e de o povo de Israel deixar a sua teimosia em rejeitar o evangelho
(11.25-26).
A mensagem principal dessa carta é que todos, judeus e não-judeus, são salvos pela
graça de Deus, por meio da fé em Cristo Jesus (1.16-17).
O s argumentos apresentados por Paulo na carta aos Romanos são complexos. O estudo
exige bastante atenção para entender o que ele disse, e não o que gostaríamos de ouvir.
Estudando assim, recebemos a grande recompensa de fortalecer a nossa fé e aumentar a
nossa apreciação pela graça de Deus. Este é o primeiro de uma série de artigos sobre
Romanos. É um estudo prático, em que procuraremos entender os pontos principais de
cada trecho, e faremos aplicações para ajudar no nosso dia-a-dia.
Circunstância do Livro
Romanos (1)
Paulo nos dá algumas informações sobre a circunstância da carta. Ele fala de planos para
visitar Roma depois de terminar a sua viagem (1:10-15). Estava se preparando para levar
as ofertas das igrejas da Macedônia e da Acaia aos santos necessitados em Jerusalém.
Depois de visitar Jerusalém, queria iniciar outra viagem para a Espanha, parando algum
tempo na Itália no caminho (15:22-33). Concluímos que Paulo teria escrito essa carta
durante o tempo citado em Atos 20:2-3, quando permaneceu na Grécia por três meses.
A Mensagem aos Romanos
Romanos é um livro de ensinamento profundo e rico. Nela Paulo mostra o problema de
todos os homens: “Não há justo, nem um sequer” (3:10); “...pois todos pecaram e
carecem da glória de Deus” (3:23); “...o salário do pecado é a morte” (6:23); “...a
morte passou a todos os homens, pois todos pecaram” (5:12).
Mas a mensagem é esperançosa, não pessimista. Paulo descreve o evangelho como “o
poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (1:16). Pecadores são
“justificados gratuitamente, por sua graça” (3:24). “Mas Deus prova o seu próprio
amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda
pecadores” (5:8). “...o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso
Senhor” (6:23).
A carta aos Romanos anima os santos nas suas batalhas diárias contra a tentação e
outras provações: “Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue,
seremos por ele salvos da ira.... muito mais, estando já reconciliados, seremos
salvos pela sua vida” (5:9-10). “...muito mais os que recebem a abundância da graça
e o dom da justiça reinarão em vida por meio de ... Jesus Cristo” (5:17).
Paulo afirma que todas as três pessoas divinas lutam para o nosso bem: “...o mesmo
Espírito intercede por nós” (8:26-27). “...Cristo Jesus...também intercede por nós”
(8:34). “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (8:31). A participação ativa de
Deus em nossa salvação leva a conclusão vitoriosa: “Em todas estas coisas, porém,
somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (8:37).
Mesmo tratando de alguns fatos complexos e difíceis de serem compreendidos pelos
leitores (até hoje), Paulo comunica sua confiança total na sabedoria de Deus: “Ó
profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão
insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos” (11:33).
Como é o costume nas cartas de Paulo, os últimos capítulos de Romanos oferecem
diversas aplicações práticas dos princípios apresentados. Reconhecendo a grandeza da
graça salvadora de Deus, devemos nos conduzir como servos fiéis, mostrando reverência
para com o Senhor, e bondade para com os outros homens.
Compartilhando o Evangelho (Romanos 1:1-15)
Paulo descreve a sua relação a todos em termos do evangelho. Deus o separou para o
evangelho (1) que é o poder divino para salvar os homens (16). Paulo se viu como
devedor a todos, e queria compartilhar as boas novas com todas as classes de homens
(14-15). Quando pensou nos irmãos romanos, ele queria anunciar o evangelho e ser
edificado por eles (15,12).
Fatos Fundamentais
Para comunicar bem a rica mensagem do evangelho, foi necessário definir alguns fatos.
Paulo introduz nos primeiros versículos de Romanos vários temas que serão explicados no
decorrer do livro. Ciente das dúvidas e até das divisões entre cristãos da época sobre o
valor do Velho Testamento, ele mostra que sua mensagem confirma, e não contradiz, as
profecias antigas. O evangelho foi prometido anteriormente por Deus e fala a respeito de
Jesus, o Filho de Deus.
Segundo a carne, Jesus foi descendente de Davi. Mas é também o Filho de Deus que se
ressuscitou de entre os mortos, se tornando o Cristo (Messias no hebraico, aquele que
veio para cumprir as profecias) e Senhor (com toda a autoridade sobre nós).
Paulo, como apóstolo, pregou por amor do nome de Jesus para mostrar aos gentios a
necessidade da obediência por fé (5). Ironicamente, algumas pessoas hoje usam o livro de
Romanos para defender doutrinas de salvação por fé sem nenhuma participação ativa
(obras) do homem. Paulo deixa claro desde o início do livro que a fé exige a obediência.
Os santos em Roma foram chamados para pertencer a Jesus. Deus os amou, e os
chamou para serem santos (6).
As Orações de Paulo
Este apóstolo falou das suas orações constantes em relação aos irmãos romanos (8-15).
Agadecia a Deus pela fé desses discípulos, que se tornou conhecida em todo o mundo.
Paulo pedia que Deus permitisse sua visita a Roma (10). Este exemplo nos ensina uma
lição importante sobre a oração. Paulo escreveu esta carta perto do final de sua terceira
viagem, pouco antes de levar ofertas dos gentios aos irmãos necessitados em Jerusalém.
Ele falou dos seus planos e da sua vontade de fazer outra viagem depois, passando por
Roma e continuando até a Espanha (15:25-28). Naturalmente, ele orava a respeito desses
planos. De fato, Paulo chegou a Roma aproximadamente três anos depois de enviar esta
carta, mas não da maneira que ele imaginava. Ele foi preso em Jerusalém, ficou mais dois
anos na prisão em Cesaréia, e chegou a Roma depois de uma viagem cheia de
calamidades e perigos. Quando oramos, devemos lembrar que Deus sempre atende as
orações dos fiéis, mas nem sempre da maneira que imaginamos!
Paulo também comunicou o motivo da visita que planejava: a edificação mútua (11-12).
Quando ele fala de dar e receber, descreve bem a natureza da relação entre irmãos em
Cristo (veja 1 Coríntios 12:14-27; Efésios 4:15-16; Hebreus 10:24-25).
Ele reafirmou o desejo que tinha durante muito tempo de fazer uma visita aos romanos,
pois queria lhes anunciar o evangelho (13-15). Considerou-se devedor aos gregos e
bárbaros (os não gregos, normalmente menosprezados pelas pessoas “cultas” da
sociedade grega), mostrando que o mesmo evangelho serve para os “sábios” e os
“ignorantes”.
A aplicação universal do evangelho é o tema que Paulo defenderá nos próximos capítulos.
A Necessidade Universal (Romanos 1:16-32)
Todos, sejam judeus ou gentios, precisam crer no evangelho de Jesus Cristo. É a tese
enunicada por Paulo em Romanos 1:16 e defendida nos capítulos seguintes. “Pois
não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de
todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego.”
O Evangelho para Todos
Nesse versículo chave, encontramos vários pontos essenciais para compreender a
carta aos Romanos e o propósito eterno de Deus para nossa salvação. Observe:
- O evangelho é o poder de Deus. A mensagem pregada por Paulo e outros, no
primeiro século, não foi invenção do homem. Veio de Deus como o meio escolhido
para salvar pecadores.
- A salvação é para aqueles que crêem. Embora o evangelho inclua mandamentos
para serem obedecidos (2 Tessalonicenses 1:7-9; 1 Pedro 4:17), ele não é um sistema
de justificação por obras de lei. O contraste que Paulo introduz aqui e explicará nos
próximos capítulos é entre lei e fé. Nenhuma lei jamais salvou um pecador. A salvação
vem pela fé.
- Para judeus e gentios. Deus trabalhou por meio da nação judaica para cumprir suas
promessas, e a pregação do evangelho começou entre os descendentes de Abraão.
Mas, o evangelho e a salvação que ele oferece são accessíveis a todos – judeus e
gregos.
A Ira de Deus contra o Pecado
O resto do primeiro capítulo mostra o motivo de Deus em ficar irado com o pecado do
homem. Note os pontos principais neste trecho:
Deus se revela. A vontade dele se revela na palavra das Escrituras, mas o caráter e o
poder de Deus se revelam pelas obras da criação (17-20). Este fato traz a
responsabilidade sobre todos de buscar a Deus, e deixa os desobedientes sem
desculpa.
- Um erro leva a outros. Uma vez que o homem nega a existência de Deus ou
perverte a verdade sobre a natureza do Criador, outros pecados brotam dessas raízes
(21-25). Pessoas impressionadas com a sua própria inteligência e capacidade de
raciocinar inventam deuses feitos à imagem de homens, ou até de animais. Assim,
negando a santidade e a perfeição do Deus justo, justificam todo tipo de perversidade,
incluindo relações homossexuais. Esses versículos mostram que falsas doutrinas
sobre Deus andam de mãos dadas com os pecados da carne.
- Deus deixa os pecadores caminharem para sua própria punição. Deus não
autoriza o pecado, mas deixa o homem praticá-lo, até piorando cada vez mais. A
justiça nem sempre é imediata, mas os pecadores que não voltam para Deus
receberão a merecida punição (26-27).
- Mentes corrompidas se entregam à morte. O primeiro passo foi desprezar o
conhecimento de Deus. O destino é a morte. Os passos intermediários são vários. Nos
versículos 29-31, Paulo cita vários exemplos das coisas inconvenientes que merecem
a sentença de morte. Muitas pessoas consideram alguns desses pecados comuns e
até aceitáveis, mas Deus disse que pessoas invejosas, avarentas ou desobedientes
aos pais merecem a morte. Devemos pensar bem sobre a nossa conduta diante do
Criador!
A resposta de Deus à necessidade de todos nós se encontra no evangelho.
O Justo Juízo de Deus (Romanos 2:1-16)
Lendo as fortes palavras do final do capítulo 1, alguns cristãos – especialmente judeus
– poderiam ser tentados a concordar com Paulo e condenar “aqueles pecadores” que
praticam e aprovam coisas dignas de morte. Esses religiosos facilmente lamentariam o
estado depravado dos outros, sem perceber que estavam no mesmo lamaçal do
pecado. Nos capítulos 2 e 3, Paulo afirma que o problema do pecado é universal,
atingindo igualmente judeus e gentios.
O Perigo de Auto-Justiça
É muito fácil enxergar e condenar as falhas dos outros. O homem que confia na sua
própria justiça não reconhece a sua própria necessidade da graça de Deus (1-4).
Durante o seu ministério na terra, Jesus batalhava contra a arrogância e auto-justiça
de seitas como os fariseus (veja Mateus 23:27-28). Paulo, um ex-fariseu, agora luta
contra o mesmo orgulho religioso de seus compatriotas.
A auto-justiça traz conseqüências gravíssimas. Quando a pessoa recusa a ajuda
oferecida por Deus, não há outro remédio. Vai caminhando para a morte, incapaz de
se livrar dos laços da iniqüidade. Tal pessoa acha algum conforto em ver os pecados
maiores dos outros, e não reconhece que o Deus justo rejeitará todos que praticam a
injustiça (5-11).
A Justiça de Deus
Ao mesmo tempo que Paulo tira as desculpas das pessoas que se julgam boas, ele
oferece esperança. Deus oferece a glória, honra, incorruptibilidade e paz (7,10). Mais
adiante explicará melhor as condições para receber essas bênçãos (veja 3:24; 4:16;
5:2; 6:14; 11:6; etc.). Por enquanto, ele simplesmente se refere à bondade, à
longanimidade e à tolerância de Deus para com os arrependidos (4). A esta altura, ele
enfatiza a igualdade de judeus e gentios. Os pecadores de qualquer nação serão
condenados, e os justos de qualquer povo serão glorificados. Deus julgará cada um
conforme os seus atos (6), e não mostra acepção de pessoas (11).
A Igualdade de Judeus e Gentios
Os judeus confiaram na lei que Deus lhes deu por intermédio de Moisés. Por terem
recebido essa revelação especial, acharam-se superiores aos gentios. Mas possuir a
lei não salva. Ser ouvinte da lei não salva. Para serem justificados, teriam de obedecer
à lei. Paulo ainda mostrará que nenhum judeu obedeceu a lei perfeitamente. Aqui ele
ousa dizer que um gentio que respeite os princípios de justiça, mesmo não tendo a lei
escrita, seria aceito por Deus. Tal afirmação seria, para muitos judeus, praticamente
blasfêmia! Para apreciar a importância e a necessidade do evangelho, é preciso
primeiro descartar falsas bases de confiança. O homem que confia em sua própria
justiça não será salvo. A pessoa que se acha segura por fazer parte do povo
“escolhido” sofrerá uma grande decepção. Cada um será julgado – não por ser judeu
ou gentio – mas de acordo com seu procedimento. O julgamento será feito por um
Deus onisciente, usando como base o mesmo evangelho pregado por Paulo (16; João
12:47-48).
O Justo Juiz
Com Deus, não há acepção de pessoas. Pedro entendeu esse fato quando pregou,
pela primeira vez, aos gentios (Atos 10:34). Aqui, Paulo reafirmou a mesma verdade
quando falou da necessidade universal do evangelho (11). Deus é um juiz justo. Cabe
ao homem se conformar com a vontade do Senhor.
A Culpa dos Judeus (Romanos 2:17-29)
Depois de mais de 1.500 anos de superioridade espiritual, os judeus não acharam fácil aceitar
as palavras de Paulo. Eles eram iguais aos gentios? Igualmente culpados diante de Deus?
Os Judeus Não Têm Desculpa
Mesmo tendo a lei especial que Deus lhes deu, se mostram desobedientes. Paulo descreve a
auto-justiça dos judeus, certamente a mesma confiança que ele tinha anteriormente quando era
fariseu:
● Tem por sobrenome judeu (17)
● Repousa na lei (17)
● Gloria-se em Deus (17)
● Conhece a vontade de Deus (18)
● Aprova as coisas excelentes (18; compare 2:3 e 1:32)
● É instruído na lei (18)
● Considera-se guia dos cegos (19)
● Luz aos que estão nas trevas (19)
● Instrutor de ignorantes (20)
● Mestre de crianças (20)
● Tem a sabedoria e a verdade na lei (20)
Os judeus receberam e até ensinaram os princípios da lei. O problema foi de não praticar o que
pregavam (21). Será que cometemos o mesmo erro? Ensinamos os outros que devem
respeitar a palavra de Deus, mas somos, de fato, obedientes?
Paulo mostrou a culpa dos judeus que pregavam que não se deve furtar, mas furtavam (21);
condenavam o adultério, mas o praticavam (22); abominavam os ídolos, mas roubavam os
templos deles (22; veja a proibição em Deteuronômio 7:25-26, a citação em Josué 6:18 e a
conseqüência da desobediência de Acã em Josué 7).
Judeu Carnal X Judeu Espiritual
Paulo define a diferença entre o judeu carnal e o judeu espiritual (25-29). Ele amplia o
argumento de Jesus sobre a necessidade de agir como o povo de Deus. Enquanto os judeus
geralmente confiavam muito na sua posição como descendentes de Abraão (João 8:33), a
verdadeira descendência é determinada pela atitude e a conduta espiritual (João 8:39-40,47).
A circuncisão – a marca de distinção do judeu – teria valor somente acompanhada por
obediência perfeita à lei (25).
O gentio que guarda a lei seria igual ao judeu (26), até capaz de julgar o judeu desobediente
(27).
O verdadeiro judeu não é aquele que fez a circuncisão da carne, e sim aquele que fez a
circuncisão do coração (28-29). Observe a série de contrastes aqui:
O Judeu Verdadeiro
O Judeu Falso
Um Judeu Interiormente
Um Judeu Exteriormente
Circuncisão do Coração
Circuncisão da Carne
Espírito
Letra
Louvor Procede de Deus
Louvor Procede dos Homens
Essa definição do judeu verdadeiro se torna importante no nosso estudo do resto do livro de
Romanos. Sempre devemos prestar bem atenção para discernir o sentido de palavras como
“judeu” e “israelita”.
Nós, hoje, devemos ser judeus verdadeiros!
Os Judeus Têm Vantagem? (Romanos 3:1-18)
Uma vez que Paulo mostrou que a atitude e a conduta de cada pessoa distingue entre
o judeu verdadeiro e o falso, poderia concluir que os judeus, os descendentes naturais
dos patriarcas, não gozaram nenhum benefício especial. Paulo negaria a posição
favorecida dos israelitas no plano de Deus? Qual a vantagem dos judeus? Paulo faz
praticamente a mesma pergunta duas vezes (versículos 1 e 9), e responde de dois
pontos de vista diferente. Primeiro, ele fala sobre a vantagem que Deus deu aos
judeus (1-8). Depois, ele olha da perspectiva da realidade do pecado (9-18). Qualquer
vantagem que Deus deu foi desperdiçada quando os judeus pecaram.
A Vantagem Dada por Deus (1-8)
Ao revelar a sua vontade numa aliança especial, Deus deu aos judeus uma grande
vantagem (2).
O problema dos judeus não veio da parte de Deus. A incredulidade deles trouxe a
condenação (3-5). Independente da falta de fé por parte dos homens, Deus continua
sendo fiel. Ele é verdadeiro, mesmo se todo homem for mentiroso. Quando
reconhecemos o nosso pecado, exaltamos a justiça de Deus. Se há alguma falha na
relação de Deus com os homens, a culpa certamente é dos homens. O final do
versículo 4 vem da versão grega de Salmo 51:4, uma passagem que mostra que a
confissão do pecado do homem glorifica a Deus e realça a santidade e a justiça dele
(compare Josué 7:19-20).
Deus é justo em castigar os judeus (5-8). Foi fácil para os israelitas enxergar a
injustiça dos gentios e concluir que aqueles pecadores merecessem o castigo.
Reconhecer o seu próprio pecado foi muito mais difícil. Se Deus não aplicar a sua lei
com justiça aos judeus, ele não teria direito de castigar os gentios (5-6). Entendendo
que a santidade de Deus fica mais evidente quando comparada à injustiça do homem,
alguém poderia tentar justificar o pecado para dar mais glória a Deus. Paulo rejeita tal
raciocínio, dizendo que pessoas que pensam assim merecem o castigo (7-8).
O Pecado Deixou o Judeu sem Vantagem (9-18)
Paulo pergunta outra vez sobre a vantagem do judeu (9). Mesmo recebendo
tratamento preferencial de Deus (3:2), o judeu não manteve a sua vantagem. Ele,
como também o gentio, se entregou ao pecado.
Paulo cita vários versículos do Antigo Testamento para mostrar que o homem – ou
melhor, todos os homens – se condena pelo pecado. Entre as citações são referências
aos Salmos (14:1-3; 53:1-3; 5:9; 140:3; 10:7; 36:1) e ao livro de Isaías (59:7-8).
Quando consideramos os contexto dessas citações, observamos que falam da
insensatez de homens que negam a Deus, até imaginando que os seus atos
pecaminosos não serão descobertos ou não receberão castigo.
Como os judeus, todos nós temos recebido vantagens imensas pela bondade de
Deus. Ele enviou o seu Filho, e revelou a sua palavra para o benefício de todos os
homens. Mas se nós nos enganarmos, ignorando os princípios de Deus ou achando
que os nossos pecados não terão conseqüências, anularemos estas grandes bênçãos.
Se continuarmos praticando pecados, imaginando que esses erros não trarão castigo,
negamos a justiça de Deus e a verdade da palavra dele. “Se alguns não creram, a
incredulidade deles virá desfazer a fidelidade de Deus? De maneira nenhuma!
Seja Deus verdadeiro, e mentiroso, todo homem...” (3:3-4).
Justo e Justificador (Romanos 3:19-31)
A justiça de Deus exige pagamento justo pelo pecado (e o salário do pecado é a morte
– 6:23). Pelo amor, ele paga o preço, oferece perdão e se torna justificador dos
pecadores.
O Que a Lei Faz? (19-20)
A lei não traz a salvação, pois ninguém consegue se justificar por obras de mérito. O
que, então, a lei faz? Ela cala a boca de todos os judeus; Mostra que todo o
mundo é culpável diante de Deus; Traz pleno conhecimento do pecado, mas não
resolve o problema. A lei pode ser comparada a um médico que diagnostica uma
doença, mas não dá nenhum remédio.
Jesus Cristo e a Justiça de Deus (21-26)
A lei e os profetas olharam para a justiça de Deus, mas ela se manifestou sem lei.
Mediante a fé em Cristo Jesus, todos que crêem têm acesso à justiça divina (21-22). E
todos – judeus e gentios – precisam da ajuda do Senhor, pois todos pecaram (22-23).
Paulo destaca a igualdade de judeus e gentios, mostrando que não há diferença:
Na culpa: Todos pecaram (23)
Na necessidade: Carecem da glória de Deus (23)
Na salvação pela graça: Sendo justificados gratuitamente (24)
Na salvação por Jesus: Mediante a redenção que há em Cristo Jesus (24)
A salvação em Jesus é maravilhosamente complicada. Deus ofereceu o sangue de
Jesus como propiciação (algo que satisfaz a ira divina) pelo pecado (25; veja
1:18,27,32). Mas, para ser eficaz contra o pecado, o sangue de Jesus ainda depende
da reação do homem: “mediante a fé” (25). A salvação se torna possível somente
quando junta a graça e a fé (Efésios 2:8-9). Em Jesus, Deus manifestou a sua justiça
(25). A tolerância não mostrou a justiça. Quando Deus deixou os pecados do homem
sem castigo, ele estava segurando a sua justiça. Na morte de Jesus, ele mostrou a
sua justiça pois seu Filho recebeu “a merecida punição” dos erros dos homens (veja
1:27).
Deus manifestou a sua justiça e, ao mesmo tempo, tornou-se justificador (26). Aqui
encontramos uma das mais ricas expressões do caráter de Deus: “para ele mesmo
ser justo e o justificador....” A santidade de Deus exige a justiça, e o amor dele
oferece a justificação. Em Cristo Jesus, ele conseguiu conciliar os dois lados
essenciais do seu caráter. Foi justo em insistir no pagamento de sangue. Torna-se
justificador em oferecer o sacrifício de Jesus no lugar dos homens pecadores.
Orgulho Excluído (27-31)
O homem não tem direito de se gabar, pois não merece nada (27-28). Se Deus é tanto
justo como justificador, o homem sem Deus não é nem um nem o outro. Nenhum
homem se justifica pelas suas próprias obras. A justificação vem pela fé, independente
das obras da leis. Ninguém se salva por obras de mérito em obediência perfeita à lei.
O único meio da salvação é a fé em Jesus Cristo. Para ser agradável a Deus, esta fé
tem de ser ativa e obediente (veja 1:5).
Paulo volta, mais uma vez, à igualdade de judeus e gentios (29-30). Se a lei não
justifica, Deus não é o Deus somente dos judeus. Ele oferece a salvação a todos nos
mesmos termos. Nem a lei nem a circuncisão justificará alguém. Deus justifica
mediante a fé.
A fé anula a lei? Não! A lei é confirmada pela fé. A lei mostrou o problema, e a fé traz a
solução!
A Justificação de Abraão (Romanos 4:1-25)
Paulo encerrou o capítulo 3 com a afirmação que a fé confirma e não anula a lei. Ele
continua o seu argumento, citando o exemplo do pai do povo da aliança, Abraão.
Todos os judeus respeitavam profundamente o pai de sua nação. Mostrando que
Abraão foi justificado por fé, e não por obras de lei, Paulo reforça a sua defesa do
evangelho entre os judeus.
Abraão justificado por fé (1-8)
Abraão foi justificado por obras de mérito, recebendo o salário justo por suas obras?
Não! Deus aceitou a fé dele no lugar de perfeita justiça. Assim Abraão recebeu o favor
(graça) de Deus, e não recebeu um salário devido por serviço prestado ao Senhor (1-
4). Quando a pessoa confia em Deus, crendo que ele justifica o ímpio, Deus aceita a
fé no lugar da justiça (5).
Davi, outro homem muito respeitado entre os judeus, entendeu que um homem
abençoado é aquele que recebe o benefício da graça de Deus, o perdão dos seus
pecados (6-8). Lembramos que Paulo citou vários salmos para mostrar a culpa do
homem (3:10-18); agora cita o salmista para mostrar a dependência de todos na graça
de Deus.
Gentios salvos pela fé (9-15)
O pai dos judeus foi justificado pela fé. Como, então, os gentios seriam justificados?
Pela lei? Não! Eles também podem ser salvos pela fé.
A circuncisão não salva (9-12). Abraão recebeu a graça de Deus pela fé antes de ser
circuncidado (veja Gênesis 12, onde recebeu as promessas, e Gênesis 17, onde
recebeu a ordenança da circuncisão 24 anos depois). A circuncisão por si só não serve
para nada diante de Deus. É necessária a obediência, andando “nas pisadas da fé
que teve Abraão...antes de ser circuncidado” (12).
A lei não salva (13-15). Nem Abraão nem sua descendência receberam o favor de
Deus mediante a lei. Se a herança pertencia exclusivamente aos da lei, a promessa e
a fé seriam anuladas (compare Gálatas 3:16-18). A lei suscita a ira (15), trazendo
conhecimento do pecado (3:20) e encerrando tudo sob o pecado (Gálatas 3:22).
Veremos mais sobre isso a partir de 5:13.
Pai daqueles que crêem (16-25)
Abraão é o pai de todos que são da fé, e não apenas daqueles que receberam a lei
(16-20). O mesmo Deus que levantou uma nação a um homem “amortecido” (19; veja
Hebreus 11:12) poderá levantar uma nação santa de povos já considerados mortos
pelos judeus. (O mesmo texto que traz a ordem original da circuncisão, também inclui
a promessa ao velho Abraão que seria pai do filho da promessa, e que seria pai de
muitas nações – Gênesis 17).
Abraão creu, mesmo nas promessas que pareciam impossíveis, porque confiou em
Deus Todo-Poderoso (20-21). Deus aceitou a fé de Abraão como justiça (22).
O mesmo princípio aplica a todos que crêem nas promessas “impossíveis” de Deus,
especificamente na ressurreição de Jesus Cristo (23-25). Ele foi: ➊ Entregue por
causa das nossas transgressões. ➋ Ressuscitado por causa de nossa justificação.
As nossas transgressões causaram a morte de Jesus. Num sentido, a nossa
justificação, feita pelo sacrifício dele, “causou” a sua ressurreição. Uma vez cumprida a
sua missão, ele foi ressuscitado de entre os mortos, mostrando para todos a base da
esperança dos crentes.
O servo de Cristo deve viver no pecado para que a graça se torne ainda mais abundante?
(1) Absolutamente não! O discípulo de Cristo já morreu para o pecado (2).
O processo de morrer para o pecado é o mesmo que possibilita a vida em Cristo (3-6).
Estes versículos são importantes para entender como Deus nos dá a vida, e como
participamos da nossa própria salvação. Paulo usa a morte, o sepultamento
e a ressurreição de Cristo para explicar a nossa salvação. Jesus morreu, foi sepultado e
depois ressurgiu para uma nova vida. Nós imitamos o exemplo dele. Morremos para o
pecado, somos sepultados no batismo e ressuscitados para uma nova vida.
Neste texto, o Espírito Santo colocou o batismo entre o pecado e a vida em Cristo. O
batismo não é obra de mérito pela qual a própria pessoa ganha a salvação. É obra de
obediência pela qual recebemos o perdão dos pecados pela graça de Deus. Isso não nos
surpreende, pois ele falou através do livro sobre a necessidade da obediência (1:5; 2:7-8;
6:16-17; 10:16; 15:18; 16:19,26). Outros textos mostram a importância do batismo para o
perdão dos pecados (Atos 2:38; 22:16), para obter a salvação (Marcos 16:16; 1 Pedro
3:21) e para entrar em comunhão com Cristo (Gálatas 3:27).
Esse ensinamento sobre o batismo é importante, mas o argumento principal aqui visa a
nova vida da pessoa já ressuscitada. Paulo escreve a cristãos, mostrando a importância
de viver como pessoas resgatadas do pecado. O velho homem do pecado foi crucificado
com Jesus (6). Deixamos a escravidão ao pecado quando recebemos a justificação (6-7).
Os que inclinam para a carne cogitam das Os que inclinam para o Espírito cogitam das
coisas carnais (5) coisas espirituais (5)
O pendor (inclinação ou tendência) da carne O pendor do Espírito leva à vida e à paz (6)
leva à morte (6)
Não sujeito à lei de Deus (7) Cristo habita nos fiéis (10)
Não agrada a Deus (8) Corpo morto por causa do pecado (10)
Não pertence a Cristo (9) O espírito é vida por causa da justiça (10)
Aqueles que, pelo Espírito, matam os feitos da Os filhos são guiados pelo Espírito (14)
carne, caminham para a vida (13)
Aqueles que andam segundo a carne são Os filhos andam segundo o Espírito e gozam
escravos, atemorizados (14) intimidade com Deus (14-16)
Os filhos são guiados pelo Espírito (14)
Os filhos de Deus são seus herdeiros, e serão
glorificados com Cristo (17)
Para os israelitas que procuravam ser justificados pela lei, a justiça ficou fora de seu
alcance (9:31). Mas em Cristo, a justiça chega perto e pode ser alcançada pela fé.
Paulo deseja a salvação dos israelitas, mas entende que é possível somente por meio
de Jesus.
Os israelitas mostraram zelo por Deus, mas não segundo o entendimento do plano do
Senhor. Ao invés de aceitar a justiça de Deus, eles procuraram, em vão, estabelecer o
seu próprio sistema
de justiça (2-3).
Essa descrição dos judeus se aplica bem a muitas pessoas religiosas hoje. Muitas
pessoas zelosas ainda andam conforme doutrinas humanas. Da mesma maneira que
os judeus precisavam abrir os seus corações para examinar as suas crenças, todos
nós devemos ser abertos para aprender melhor e mudar as nossas convicções para
fazer a vontade de Deus. Corações orgulhosos e mentes fechadas impedem a
salvação de muitos.
A mesma mensagem salvadora que vale para os judeus também vale para os gentios
(12-13). É questão da natureza de Deus. O mesmo Senhor bondoso oferece a
salvação a todos. Homens iguais com pecados iguais merecem a mesma morte. O
Senhor oferece um único meio para salvá-los: a fé em Cristo.
A fé em Cristo (16-21)
Se o Criador de todos oferece um único meio de salvação igualmente a todos,
podemos imaginar que todos seriam salvos? Não. Porque nem todos reagem ao
evangelho do mesmo modo. Até o Velho Testamento é testemunha a esse respeito
(16; veja as citações dos profetas, salmos e dos livros da Lei nos versículos
seguintes).
A fé cresce somente quando a palavra é pregada, e a palavra que precisa ser pregada
é a de Cristo (17). Todos ouvem a palavra de Deus através da criação (18; Salmo
19:4; Romanos 1:18-21).
Os israelitas não devem se admirar que Deus tenha oferecido a salvação aos gentios,
pois ele falou disso por meio das profecias do Velho Testamento (19- 20). Deus não
esqueceu Israel. Os israelitas se mostraram rebeldes e esqueceram de Deus
(21).
A Rejeição de Israel (Romanos 11:1-16)
Paulo continua a sua explicação da posição dos judeus diante de Deus.
O Remanescente (1-5)
Deus não rejeitou os judeus, porque um resto foi salvo. Os judeus não acharam Deus
injusto quando rejeitou a maioria na época do profeta Elias, pois sabiam que os
injustos não mereciam estar com Deus. Deus mostrou a sua bondade poupando 7.000
fiéis que não serviam aos ídolos. Aqueles que mostraram a sua fé foram poupados.
Em Cristo, os judeus que acreditam em Cristo são salvos. A eleição não foi aleatória,
um ato do capricho de Deus. Os eleitos são aqueles que aceitam a palavra de Deus.
A Eleição da Graça (5-10)
O remanescente alcançou a salvação pela graça (6). O ponto difícil para os judeus não
foi a idéia de eleição em si, pois gozavam a posição de “eleitos” desde as promessas a
Abraão e, mais ainda, desde a libertação do Egito. Eles tropeçaram em dois pontos:
(a) Quem seria eleito (a inclusão de gentios em igualdade com judeus), e (b) Qual
seria a base da eleição (graça X obras da lei).
Paulo divide os judeus em duas categorias (7): (a) A eleição e (b) Os endurecidos.
Este contraste mostra que a eleição é conforme a resposta do homem, e não pelo
capricho de Deus. Ele cita passagens do Velho Testamento para descrever os
endurecidos (8-10): Deuteronômio 29:4 fala dos corações duros, mesmo depois de
todas as provas que Deus lhes deu durante 40 anos no deserto; Salmo 69:22-23 fala
das atitudes erradas daqueles que crucificaram o Messias. Deus não rejeitou Israel.
Israel (com exceção do remanescente) rejeitou Deus.
A Esperança (11-16)
Ainda houve esperança pelos judeus que rejeitaram Jesus (11). Da mesma forma que
Deus usou a lei para conduzir o homem à fé, ele usou a rejeição pelos judeus para
conduzir muitos à salvação (11-12). Quando os judeus rejeitaram a palavra, a porta foi
aberta aos gentios. Quando os gentios aceitaram o evangelho, os judeus sentiram
ciúmes (11). Mas a história não terminou ali. Se a rejeição por parte dos judeus abriu
uma oportunidade para os gentios, a volta dos judeus mostraria ainda mais a grandeza
da graça de Deus (12). Paulo queria usar o exemplo da obediência dos gentios para
incentivar a obediência de alguns judeus (13-14). Mesmo sendo apóstolo aos gentios,
ele não esqueceu dos seus compatriotas (cf. 9:1-5).
A rejeição pelos judeus trouxe salvação ao mundo? Paulo se refere aqui (15) ao seu
próprio ministério de levar a palavra aos gentios. Quando os judeus o rejeitaram, ele
se dedicou à pregação aos gentios (cf. Atos 13:46-49; 28:24-29; Romanos 1:16).
Como seria maravilhosa a salvação dos judeus (15-16). Duas ilustrações mostram que
o povo ainda pode ser aceito: (a) A aceitação das primícias sugere a santificação da
massa toda; (b) Se a raiz for santa, os ramos também seriam santos.
Quem são as primícias ou a raiz aqui? Quando consideramos o argumento maior de
Paulo sobre a fé de Abraão (veja 4:1 em diante), parece provável que a raiz seja
Abraão e os patriarcas. Ele foi justificado por fé. Qualquer outro judeu justificado por fé
faria parte do ramo santificado. Novamente, o exemplo da fé de Abraão oferece
esperança a todos!