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Hic Et Nunc

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“Maturidade tem mais a ver com o tipo de experiência que você teve na vida,

do que com quantas velas você apagou.” William Shakespeare

Hic et nunc
Maria Ferreira

Nota-se, hediondamente, adultos se portando como crianças, vitimismo, queixas e
impulsos foram normalizados graças a inúmeros fatores da sociedade atual. Deixa-se
claro, portanto, a escassez de maturidade advindo de quem tem um papel importante
para cumprir. Ao longo desse texto, mostrarei causas e consequências desses fatores,
e não obstante, apontarei os erros cometidos e como repará-los.

No século XX, Sigmund Freud apresentou sua tese psicanalítica, que dizia que nosso
inconsciente apresentava vontades do ID (pulsões), que criam necessidades de modo a
que tenhamos de fazer, entretanto o Ego equilibra a restrição do Superego e as
vontades do ID. Adler, aluno de Freud, dizia que o que move o homem é o desejo de
poder. Já Victor Frankl apresenta uma nova tese, na qual diz que o ser humano precisa
de um sentido de vida, pois o que o move é o sentido. O homem moderno por ter
abandonado as suas tradições que lhe diziam o que fazer e nem mesmo sabe o que
deve ser feito, visto que desejos são emoções que se movem, não são sólidos e os
seres humanos precisam de algo sólido para se agarrarem.

A maturidade é mover-se nas circunstâncias certas. Perdemos essa visão atualmente e


consequentemente vivemos em uma geração entediada, que é totalmente míope
frente aos valores que deviam ser buscados exteriormente. O que se espera de
pessoas maduras é que frente a uma dificuldade, parem e pensem sobre o seu
marcador exterior, aquilo que seria seus valores inegociáveis, o sentido de suas vidas,
uma moral solida e não relativa. René Descartes com sua frase “penso, logo existo’’
reduziu o homem a sua racionalidade, decapitando sua parte afetiva, fazendo com que
não existisse mais verdade, existe apenas a sua verdade e a minha verdade, mas não
uma absoluta. Se eu penso e logo existo, então todos somos reis, e se realmente
somos, é de um reino em que só nós existimos, um reino onde a realidade não é
aplicada a todos e que tem como conselheiro do reino o egoísmo.

A ideia de Descartes teve como consequência o relativismo, que abre caminho ao


hedonismo, uma incessante busca por prazer pelo prazer, o que resulta na perda de
eixo moral. Seres humanos não podem ser hedonistas porque, biologicamente
falando, se viciam em dopamina (neurotransmissor do prazer, que não é liberada em
grandes quantidades frequentemente) na pornografia e quando veem que uma
mulher real não lhes oferece tanto, o prazer lhes é tirado (por estarem viciados em
dopamina) e consequentemente cai no niilismo. Relativismo, hedonismo e niilismo,
consequências das escolas psicanalíticas de Adler e Freud.

A falta de eixo moral agrava a crise, como dizia Mário Ferreira dos Santos, e ela é
inerente ao ser humano que, por ser limitado, tem de escolher e é precisamente
quando ele escolhe o imediato que se abre mais o abismo e cai fatalmente no nada.
Fica perdido nos vales e nem sequer tenta chegar ao cume, fica; portanto, na crise (do
grego crisis), mais profunda. E a única solução para sair dela é transcender.


Resolução:
Para a resolução dos problemas criados atualmente:
• Estar bem instalado na realidade e fugir do “penso logo existo”, o homem não
foi criado para estar sozinho, para ser egoísta e nem mesmo para a
aleatoriedade. Pode-se observar, principalmente nos tempos de pandemia a
sensação que a falta de rotina e hábitos causam, a angústia de uma vida sem
história, sem narrativa, como uma lista de coisas sem sentido. É preciso sentir
que cada dia tem seu valor, para construir sua história.
• Evitar desconexões de si, como: Não ter paz com o passado, fazendo
suposições “se o meu pai fosse rico eu não passaria por isso”, como diária
Teresa D’ Ávila “A imaginação é a louca da casa”. E não idealizar o futuro, como
“só serei feliz quando tiver filhos”, em suma é aceitar suas circunstâncias, como
dizia Ortega “eu sou eu e minhas circunstâncias”. Olhar os elementos a sua
volta e melhorá-los, ter responsabilidade para olhar para a realidade e
responder a ela, tomar posse da caneta que escreverá sua narrativa.

Há duas desconexões sobre si, a qual causam vários danos:


A primeira é quando tudo dá certo e pensamos que somos reis (4° camada),
pensamos que tudo gira ao nosso redor e que tudo depende da nossa
aceitação, ao invés de receber, guardar e maturar aquilo que nos foi dado.
Tudo isso resulta em soberba, com a imagem de adolescentes que não tem
seus quartos arrumados, mas que estão certos de que seriam bons presidentes
para os EUA. Qualquer pessoa a sua frente é um obstáculo, ou as derrubam ou
as usam. A segunda, não menos importante, mas menos aparente é pensar
que somos as piores pessoas do mundo, queremos mérito, nem que seja para
ser o pior, no fim das contas somos mais ou menos para tudo, e essa ideia é
insuportável aos soberbos.

No fim, para sair e tudo isso e amadurecermos, nos cabe sair da fantasia e viver
a realidade. O dia começa quando vemos aquilo que nos foi dado, pois a vida é
um dom, uma doação, não somos causa de nós mesmos. A existência não
acontece porque existimos, é o contrário. Para a compreensão de tudo resta
nos a virtude ordenadora, a temperança. Quando vemos o nosso tamanho na
existência temos ordem nas escolhas. Assim nos adequamos a quem pensamos
que somos e a quem somos, que resulta na verdadeira humildade, que
reconhece suas limitações.

Devemos matar as ilusões para amadurecer, ter consciência de nossas


inclinações, ter temperança e humildade para se instalar na realidade. E assim
tem a magnanimidade, que é um fruto da temperança e implica tem um
coração bom, ordenado a sua história.

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