Imperialismo
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Ideias de Esquerda
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tecnologia capazes de captar calor, que de nada serviram. Os corpos das
vítimas da Vale já estavam frios.
Que Bolsonaro quer colocar o país cada vez mais à mercê do imperialismo
estadunidense não é segredo para ninguém. Israel, enclave imperialista no
coração do Oriente Médio, surge assim como mais um amo ao qual o
atual governo brasileiro quer prestar loas. No entanto, existem também
motivações internas que estão relacionadas com a proximidade cada vez
maior entre neopentecostais e sionistas, como se expressou de forma
patente no pequeno teatro de Damares, cujas cenas descrevemos acima.
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A parcela com renda familiar mensal de até 2 salários mínimos representa
53% dos evangélicos, ante 49% entre os brasileiros. Uma fatia de 33%
tem renda entre 2 e 5 salários (no Brasil, 36%), e 9% obtém mais do que 5
salários (na população, são 10%). Dos que se declaram evangélicos, 34%
pertencem atualmente à Assembleia de Deus, e num patamar abaixo
aparecem, na sequência, Igreja Batista (11%), Universal do Reino de Deus
(8%), Congregação Cristã no Brasil (6%), Quadrangular (5%), Deus é Amor
(3%), Adventista (3%), Presbiteriana (2%), Internacional da Graça de Deus
(2%), Mundial do Poder de Deus (2%), entre outras menos citadas.
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alguns elementos de modo a lançar luzes sobre essa relação, é preciso
retomar aspectos contidos no movimento de organizações de cristãos
pré-milenistas nos Estados Unidos, onde se deu a unidade entre esses
setores e parte do movimento sionista político e religioso. Tais correntes
cristãs são conhecidas como dispencionalistas, tem como marca uma
escatologia marcada pela “distinção entre Israel e a Igreja, o
arrebatamento pré-tribulacionista, o retorno dos judeus para a Palestina,
a reconstrução do templo, a ascensão do Anticristo, os sete anos da
Grande Tribulação, a salvação nacional dos judeus, o retorno de Cristo
para Jerusalém e o reino de mil anos de Cristo na terra”. (WILKINSON, p.
13). Assim, a própria fundação do Estado de Israel em 1948 foi encarada
por esses setores como parte do cumprimento de profecias contidas em
sua escatologia, que já defendia a fundação de um Estado judeu na
Palestina pelo menos desde o fim do século XIX, quando William
Blackstone, um teólogo dispencionalista impulsionou um abaixo-assinado
em 1891 endereçado ao presidente norte-americano, Benjamin Harrison,
defendendo a imigração de judeus à Palestina. Após a Guerra dos Seis
Dias em 1967 os cristãos dispensacionalistas passaram a assumir para si
de maneira ainda mais evidente a defesa política do Estado de Israel e sua
agenda (REINKE, p. 76). Desde então, se fortalece o lobby cristão-judaico
no interior dos Estados Unidos para eleger membros alinhados com suas
crenças, que traduzidas em política externa levaria ao realinhamento da
aliança entre o governo estadunidense e Israel, tendo seu ponto
culminante coincidido com a escalada neoliberal e o Consenso de
Washington. Durante o governo de Ronald Reagan, portanto, junto com o
auge dos ataques neoliberais contra os trabalhadores, os
dispensacionalistas encontraram uma via de acesso mais direta ao poder.
Cabe lembrar, inclusive, que Reagan por mais de uma ocasião usou a
retórica religiosa para realizar a ofensiva neoliberal ao longo de sua
campanha presidencial de 1980, mencionando que poderia fazer parte da
geração que veria o Armagedom.
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Internacional em Jerusalém, com o intuito de seguir promovendo o lobby
sobre a questão. Desde então, várias organizações protestantes e
pentecostais e contrárias às demandas palestinas foram criadas para
defender os sionistas e a ida da embaixada dos EUA para Jerusalém ao
longo do final das últimas décadas. Dentre elas, podemos destacar a Unity
Coalition for Israel (Unidade de Coalizão por Israel) fundada em 1991, que
é um dos lobbies judaico-cristãos mais ativos, Christian Friends of Israeli
Communities (Amigos cristãos da Comunidade de Israela) fundada em
1995 e ligada a cerca de 40 igrejas estadunidenses, que apoiou a
expansão colonial israelense em territórios palestinos, levando para lá
mais de 220 mil judeus, a Christians for Israel (Cristãos por Israel) de 1979,
que publica artigos contrários à causa palestina, e a mais recente e uma
das mais beligerantes Christians United for Israel (Cristãos Unidos por
Israel) fundada em 2006, que se autodefine como a maior congregação
pró-israelense dos EUA, e diz defender uma estratégia inspirada nas
forças militares de Israel para combater aqueles que consideram
oponentes de sua causa, como os palestinos e todos os povos árabes
oprimidos pela existência do Estado de Israel na região.
Breve conclusão
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venezuelana, tenta ao mesmo tempo atender a sua base constituída pela
“bancada evangélica” que congrega 91 parlamentares, num aspecto
escatológico, enquanto prepara enormes ataques às condições de vida da
base dos trabalhadores frequentadores dessas igrejas. Ainda não
podemos prever até onde essa concatenação de interesses levará a uma
mudança concreta da agenda de política externa do Brasil. Mas os
elementos que antecipa sugerem que se acelera uma situação de crise, na
qual a instrumentalização de elementos da crença cristã sionista está a
serviço de garantir interesses totalmente alheios aos dos trabalhadores e
do povo, isto é, interesses imperialistas, opressores, como os palestinos
bem o sabem, e que se reverterão em mais crise e ataques em nosso país.
Desvendar essa ligação é, portanto, uma tarefa fundamental.
Referências