Audiologia
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Emissões Otoacústicas
A energia biomecânica produzida pelas células auditivas externas durante sua atividade de
amplificação de vibração da membrana basilar, propaga-se até a membrana timpânica, onde é
transformada em sinal acústico que pode ser captado por meio de microfones sensíveis.
O registro desse fenômeno, em respostas a determinados estímulos sonoros, é chamado de otoemissão
acústica.
O mecanismo ativo de contração acontece com sons de baixa intensidade sonora. Pequenos transtornos
da audição são suficientes para inibir o funcionamento das células auditivas externas.
Por esta característica, que permite identificar uma população de ouvintes normais de outra com
distúrbios da audição pela facilidade e rapidez de sua aplicação. A otoemissão acústica é o teste de
escolha para triagem auditiva neonatal e para as situações de risco para audição, como por exemplo,
em trabalhadores expostos a ruído.
Tipos de Emissões
As EOA classificam-se em dois tipos básicos: as EOA espontâneas e as EOA evocadas.
As EOA são energias sonoras de baixa intensidade que, para serem captadas no MAE, necessitam da
integridade da orelha média. Qualquer alteração da transmissão poderá acarretar diminuição ou ausência
de respostas, comprometendo o exame.
Características básicas
• Nível de pressão sonora (-10 e 20dBNPS).
• Largura da banda (geralmente bandas estreitas).
• Intervalo de freqüência (faixa de 500 Hz a 6KHz, com maior concentração entre 1 e 2
KHz).
• Picos de freqüência (geralmente são registrados 1 a 10 picos).
• Binauralidade.
• Estão presentes em apenas 30 a 60% dos ouvidos com limiares auditivos melhores
que 25/30dB NA.
Emissões Otoacústicas Transitórias (EOAT)
Está relacionada com o tipo de estímulo utilizado, que é transitório e passageiro.
Representam uma subclasse das emissões otoacústicas evocadas, necessitando de um estímulo
acústico para ser desencadeado.
Latência absoluta
• É o intervalo de tempo decorrido entre o início do estímulo e a resposta da onda.
• A onda I situa-se normalmente entre 1,4 e 1,8 ms.
• A onda III próximo a 3,7 ms.
• A onda V próximo a 6 ms.
Latência interpico
É o intervalo de tempo decorrido entre duas ondas.
• Latência interpico I – III: representa a atividade entre o nervo auditivo e o tronco
encefálico baixo.
• Latência interpico III – V: reflete a atividade do tronco encefálico alto.
• Latência interpico I – V: é a mais importante, por representar toda a atividade, desde o
nervo auditivo até núcleos e tratos do tronco encefálico. Situa-se próximo a 4ms.
É importante a comparação da latência interpico I – V entre as duas orelhas, sendo que a diferença
entre elas não deve exceder a 0,3 ms em indivíduos normais. Quando não há a onda I, a diferença
interaural deve ser calculada entre as latências absolutas das ondas V, não ultrapassando 0,3ms nos
indivíduos normais.
Amplitude do potencial
Expressa em microvolts – é a medida do pico positivo até o pico negativo que se segue. Por ser um
parâmetro variável, a análise deve basear-se na comparação entre as ondas e não na amplitude de cada
componente isoladamente. A relação entre a amplitude da onda I e da onda V e o elemento mais
importante na interpretação do traçado. Em indivíduos normais, essa relação e inferior a um.
Eletrodos
• São de superfície, após a limpeza da pele e a aplicação de gel condutor, devem ser
colocados na seguinte derivação:
1. Eletrodo ativo (positivo): vértix do crânio ou fronte alta.
2. Eletrodo referência (negativo): mastóide ou lóbulo ipsilateral.
3. Eletrodos terra (neutro): mastóide, lóbulo contra-lateral ou região frontal.
Posição do paciente
• Deve posicionar o paciente de forma confortável, deitado ou reclinado com bom
relaxamento muscular, movimentos cérvico-faciais interferem de forma crítica na resposta obtida.
• Em crianças, o exame é feito de preferência durante o sono sob sedação (hidrato de cloral)
ou anestesia geral.
Tipos de Respostas
Condutiva
• Aumento da latência absoluta de todas as ondas.
• Limiar eletrofisiológico moderadamente elevado.
• Latência interpico I-V normal.
Coclear
• Latências absolutas de ondas I, III e V normais
• Latência interpicos normais.
• Limiar eletrofisiológico elevado, apresentando boa concordância com o limiar
psicoacústico em altas freqüências.
Retrococlear
Há vários tipos de traçado que indicam uma afecção retrococlear:
• Latência interpico I-V aumentada:
Se de forma uniforme (I –III e III-V prolongadas): indicam comprometimento difuso das vias
auditivas no tronco encefálico;
Se aumentada a custa de I-III: comprometimento de tronco encefálico baixo;
Se aumentada a custa de III-V: comprometimento de tronco encefálico alto.
• Presença somente de onda I, com ausência de ondas III e V.
• Ausência de todas as ondas com limiar psicoacústico melhor que 60dBNA nas
freqüências entre 2 e 4Khz .
• Falta de reprodutibilidade (ondas com latência e morfologias instáveis).
• Diferença interaural da latência interpico I - V, ou da latência absoluta da onda V,
maior que 0,3ms.
• Amplitude da onda V menor que a onda I.
• Mudança morfológica e ausência do potencial com a inversão de polaridade.
Aplicações clínicas
Em adultos
• Estimativa do limiar auditivo em pacientes que não podem ou não querem colaborar nos
testes audiológicos convencionais.
• Topodiagnóstico das deficiências auditivas sensórioneurais.
• Área neurológica (doenças desmielinizantes, como esclerose múltipla, evolução de coma,
monitoração de procedimentos cirúrgicos).
• Detecção do neuroma do acústico.
Em crianças
• Avaliação objetiva do limiar auditivo.
• Detecção de anormalidades ao nível do tronco encefálico, por imaturidade, lesões
degenerativas e/ou tumorais ao nível do SNC.
• Avaliação auditiva em RN de alto risco com história de prematuridade, baixo peso
corporal, hipoxemia, sepse e hiperbilirrubinemia (encefalopatia bilirrubínica).
• Indicação do ouvido adequado para AASI.
O ABR depende da maturação das vias auditivas centrais, sendo que aos 3 anos de idade alcançam o
padrão do adulto, logo na faixa etária de RN até 4 meses pode resultar em falso-positivos . O recém-
nascido apresenta ondas I, III e V, com a onda V mostrando amplitude menor. A onda I alcança a latência
do adulto com 3 meses de idade e a onda V mostra uma rápida diminuição da latência nos primeiros 3
meses de idade e continua gradualmente a mudar até os 3 anos de idade.
Eletrococleografia (ECochG)
A ECochG é um método de avaliação de potenciais eletrofisiológicos gerados na porção mais
periférica do sistema auditivo, isto é, cóclea e nervo auditivo. Esses potenciais incluem:
Potencial de Ação
Representa o mais importante potencial obtido por ECochG e reflete a resposta somada das descargas
síncronas das milhares de fibras neurais individuais, restritas a região de altas freqüências. Caracterizado
por uma grande deflexão negativa (N1), que é idêntica a onda I da ABR. Ambos, N1 da ECochG e da
onda I da ABR,originam-se na porção distal do nervo auditivo. Amplitude e latência do PA são
dependentes da intensidade do estímulo sonoro utilizado (quando se diminui a intensidade do estímulo
sonoro, a latência do PA aumenta e sua amplitude decresce). A latência de N1 (em torno de 1,5ms, com
estímulo de forte intensidade), reflete o tempo de propagação da onda na cóclea. A amplitude de N1 e
resultado da quantidade de elementos neurais ativados pelo estímulo sonoro; quanto maior a intensidade,
maior o número de fibras participantes da resposta síncrona formando N1.
O limiar eletrofisiológico determinado pela ECochG é a menor intensidade sonora em que se registra o
potencial de ação.
Processamento auditivo central (PAC) é o nome dado aos aspectos comportamentais humanos
relacionados ao conjunto de transformações que ocorrem na fibra nervosa auditiva. Isso inclui a chegada
de informações aos núcleos cocleares, passando por vários estágios intermediários de elaboração, com
destino ao córtex auditivo primário e de associação.
É consenso atual que o PAC permite ao indivíduo ter habilidades auditivas como: localização, síntese
binaural, figura-fundo, separação binaural, memória, discriminação, fechamento, atenção e associação.
Sinais e sintomas
Avaliação eletrofisiológica
O estudo dos potenciais evocados auditivos, associado à bateria de testes comportamentais, torna-se
cada vez mais frequente, com o objetivo de auxiliar e complementar o diagnóstico dos distúrbios auditivos
centrais e/ou cognitivos.
Um potencial evocado auditivo (PEA) refere-se a mudanças, na atividade elétrica cerebral, que
ocorrem ao longo da via auditiva (periférica e central), em resposta a uma dada estimulação.
Os PEA podem ser de curta, média e longa duração dependendo do seu local de origem:
• nervo acústico e vias auditivas do tronco cerebral – curta duração
• área primária do córtex auditivo – média duração
• áreas primária e secundária do córtex auditivo – longa duração
As respostas de média latência (MLR) são descritas como uma série de ondas observadas em um
intervalo de 10 a 80ms após o estímulo auditivo. As MLR são respostas objetivas, dependentes do padrão
do estímulo e dos parâmetros utilizados, que se mostram estáveis independente de mudanças no estado de
atenção do indivíduo. Refletem a atividade cortical envolvida nas habilidades de audição primária
(reconhecimento, discriminação, e figura-fundo) e não-primária (atenção seletiva, sequência auditiva e
integração audição/visão). No entanto, não é possível especificar, separadamente, quais são as habilidades
perjudicadas.
A pesquisa destes potenciais tem sido utilizada como instrumento de investigação de perdas auditivas
periféricas e centrais. Também pode ser útil na avaliação de lesões e disfunções corticais. Pode ser
aplicada em avaliações neuropsiquiátricas (autismo) ou quaisquer desordens sistêmicas que possam afetar
os sistemas auditivo periférico e central. É um método preciso na identificação de lesões discretas e
déficits funcionais sutis das vias auditivas. Pode ainda ser utilizado na avaliação de limiares elétricos em
pacientes com implante coclear.
As MLR em crianças também produzem respostas semelhantes às dos adultos, principalmente nas três
primeiras ondas. No entanto as amplitudes desses picos parecem aumentar até 3 ou 4 anos de idade e
diminuir na fase adulta.
Os potenciais evocados auditivos de longa latência (PEALL) ocorrem entre 80 e 750 ms pós-estímulo,
e refletem a atividade eletrofisiológica cortical envolvida nas habilidades de atenção, discriminação,
memória, integração e tomada de decisão.
São subdivididos em potenciais exógenos, influenciados principalmente pelas características físicas do
estímulo (intensidade, frequência), e potenciais endógenos, influenciados por eventos internos
relacionados à função cognitiva (habilidades cognitivas).
Os P300 e o MMN são chamados de potenciais cognitivos ou relacionados a eventos, pois refletem
processos cognitivos em um determinado evento ou tarefa.
O P300 é uma resposta objetiva, relacionada a aspectos fundamentais da função mental: percepção e
cognição. Na sua avaliação, deve-se discriminar dois estímulos acústicos diferentes, um apresentado de
forma frequente e o outro de forma aleatória ou infrequente.
O MMN é uma resposta automática do cérebro para mudanças no estímulo (frequência, intensidade,
duração ou fonêmica). É elicidado passivamente e não requer resposta comportamental ou atenção.
O P300 tem sido empregado no estudo dos distúrbios cognitivos, neurológicos, neuropsiquiátricos e
comportamentais.
Em crianças, as aplicações dos PEALL abrangem o estudo dos distúrbios de linguagem, de
aprendizagem e perceptuais (distúrbios do processamento auditivo central).
O MMN parece estar presente desde o nascimento e sua aparente estabilidade nos indivíduos
possibilita uma aplicação clínica, já que a ausência de resposta pode ser considerada anormal.
O MMN tem sido utilizado para estudo da percepção da fala, avaliação da memória auditiva, para
estudo da maturação neurológica e em crianças com cuja comunicação está prejudicada ou comprometida.
Bibliografia