Sistemática Vegetal
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Material Teórico
Classificação e Sistemática de Fungos
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Classificação e Sistemática de Fungos
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar a nomenclatura específica à morfologia e classificação
dos fungos, características da morfologia e biologia que diferem
fungos de plantas e animais, classificação atual e filogenia.
ORIENTAÇÕES
Nesta Unidade veremos um pouco mais sobre o que são fungos, como
evoluíram, sua biologia e classificação atual. Talvez você não saiba, mas os
fungos podem estar presentes na sua alimentação, no remédio utilizado para
infecção e tratamentos contra o câncer, ou mesmo causar doenças que vão
de um simples desconforto a tumores ou cegueira.
Contextualização
É comum associar os fungos à produção de bebidas – cerveja e vinho –, pães
e queijos, ou mesmo a doenças conhecidas como micoses. Há também o uso
disseminado de diferentes tipos de cogumelos na alimentação, como o champignon,
shimeji, shitake, trufa, entre outros. Mas o papel dos fungos na reciclagem dos
nutrientes em diferentes ecossistemas não pode ser deixado de lado. Com isso em
mente, que tal ler esta reportagem publicada na revista Scientific American Brasil?
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O Que São Fungos, Afinal?
Organismos eucariotos, que compartilham ancestral com as plantas, animais
e protistas. Portanto, não é estranho notar que existam semelhanças entre esses
grupos (Figura 1). Os fungos podem ser unicelulares – leveduras – ou multicelulares
e, neste caso, são constituídos de filamentos finos — as hifas — que se entrelaçam,
formando o micélio. Os fungos estão presentes em praticamente todos os
ambientes, inclusive marinho, e podem tolerar temperaturas bastante baixas –
abaixo de 0˚C, tais espécies são chamadas psicrófilas – ou altas – acima de 50˚C,
denominadas termófilas.
São heterótrofos
Produzem esporos
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Os esporos são produzidos em esporângios – angios: urna, proteção – ou em
células especializadas chamadas conidiogênicas. Os esporos produzidos nessas
células são solitários ou dispostos em cadeia, neste caso denominados conídios
(Figura 3). Os esporângios podem ser suportados por hastes, como na Figura 2,
que são chamadas de esporangióforos – spora: semente; pherein: carregar, portar.
Diferente de outros organismos, no ciclo de vida dos fungos a condição diploide ocorre
Explor
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No período siluriano (438-408 milhões de anos) foram encontrados
esporos de prováveis Ascomycota associados a formas terrestres
de microartrópodos (SHERWOOD-PIKE; GRAY, 1985 apud
ALEXOUPOULOS et al., 1996), assim como hifas fósseis associadas a
madeira deteriorada e vesículas de Endogonales, Glomales e quitrídios
associadas a sítio paleontológico em Rhynie, Escócia (ALEXOPOULOS
et al., 1996; SMITH; READ, 2008). Ao mesmo tempo, surgiam as
rinófitas, licófitas e progimnospermas, acarretando a diversificação de
plantas terrestres. Na Era paleozoica, a diversidade fúngica aumentou
consideravelmente e, na época pensilvaniana (320-286 milhões de anos),
todas as classes modernas de fungos já eram encontradas. Da mesma
forma, na Era paleozoica houve grande diversificação das gimnospermas,
licófitas, esfenófitas, Pterodermales e samambaias (ALEXOPOULOS et
al., 1996) (MAIA; CARVALHO JÚNIOR, 2010).
Talvez você esteja estranhando os nomes utilizados aqui, mas segundo o Código
de Nomenclatura de Algas, Fungos e Plantas, há um sufixo adequado para cada
grupo de organismos tratados pelo Código. Assim, uma divisão de plantas terminará
sempre com –phyta, é o caso de Briophyta; para algas utiliza-se a terminação
–phycota, como em Euglenophycota; e para fungos utiliza-se –mycota, como
em Ascomycota. A alteração segue para os demais níveis hierárquicos, portanto,
para fungos os subfilos terminam com –mycotina, classe –mycetes e subclasse –
mycetidae ( PRADO et al, 2011).
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Que no mundo estão descritas aproximadamente 99.000 espécies de fungos (KIRK et al.,
2008), das quais cerca de 13.800 existiriam no Brasil (LEWINSOHN; PRADO, 2006), ou
seja, aproximadamente 14% da diversidade mundial?
Entretanto, no mais recente catálogo de espécies de fungos do Brasil, estão registradas
78 ordens, 924 gêneros e 3.608 espécies, correspondendo a apenas 3,7% das descritas
mundialmente. Esse número está muito aquém dos 14% estimados por Lewinsohn e
Prado (2006). Independentemente dos problemas encontrados nas estimativas, esses
valores denotam que muito esforço ainda deve ser despendido na sistematização de dados
e na composição de coleções para se obter uma lista mais aproximada da condição real.
Que muitos ascomas são macroscópicos, ou seja, podem ser vistos a olho nu e seus
diferentes formatos recebem nomes distintos?
Assim, apotécio é o ascoma aberto em forma de xícara, cleistotécio é fechado e esférico –
como uma trufa –, peritécio tem forma de pera, com pequeno poro por onde os ascósporos
são liberados (Figura 5). A camada de ascos dentro do ascoma é chamada de himênio.
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O ciclo de vida de um ascomiceto (Figura 6) é semelhante ao explicado
anteriormente, porém há algumas particularidades que precisam ficar esclarecidas,
tanto na estrutura, como na nomenclatura. O micélio surge a partir da germinação
de um ascóporo em ambiente adequado. O micélio começa a produzir conídios e
se reproduzir assexuadamente, dispersando-se pelo ambiente. O mesmo micélio
que produziu os conídios produzirá os gametângios para a reprodução sexuada:
anterídio – masculino – e ascogônio – feminino. Os núcleos masculinos do anterídio
passam para o ascogônio através de uma ramificação do próprio ascogônio,
chamada tricógine, seguida da plasmogamia. Os núcleos masculinos e femininos
permanecem pareados, sem se fundir. As hifas ascógenas começam a crescer
para fora do ascogônio, os núcleos migram para dentro das hifas de tal modo
que as células resultantes são dicarióticas. Os ascos se formam na ponta das hifas
ascógenas dicarióticas, até formarem um gancho ou crozier. Nesta célula recurvada
ocorrem divisões celulares de tal modo que se formam três células dicarióticas,
mas apenas a célula intermediária sofrerá cariogamia, iniciando a meiose, seguida
de uma mitose, a qual produzirá, ao final, de quatro a oito ascósporos (RAVEN;
EVERT; EICHORN, 2007).
a. Sarcoscypha coccinea;
b. Morchella esculenta, as setas indicam os vários apotécios presentes no ascocarpo;
c. Peritécios de Nectria perithecia;
d. São esquemas de ascocarpos do tipo apotécio e peritécio, respectivamente.
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Você Sabia? Importante!
O micélio dos basidiomicetos é sempre septado e pode passar por duas fases
distintas — monocariótica – células com um núcleo – e dicariótica – dois núcleos —
durante o ciclo de vida do fungo.
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basídio permanece exposto na camada himenial mesmo antes dos esporos estarem
maduros para a dispersão. Os basidiocarpos, no entanto, são formados por um
micélio terciário, que consiste do encontro de dois micélios dicarióticos.
Em 2013 foi publicada uma revisão sobre bioluminescência em fungos por um grupo de
Explor
Neste filo ocorrem também espécies venenosas, das quais dá-se atenção à
Boletus satanas – Boletaceae –, assim como alucinógenas, caso das espécies dos
gêneros Psilocibe, Panaeolus, Capelandia e Amanita. No Brasil são encontrados
apenas Psilocibe e Panaeolus, porém, o tipo mais conhecido é a Amanita muscaria.
O gênero Amanita inclui algumas das espécies mais venenosas, como a A. virosa,
assim como outras comestíveis. A distinção entre espécies comestíveis e tóxicas
ou alucinógenas não é simples, sendo necessário o conhecimento aprofundado do
grupo para reconhecê-las.
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Demais Filos do Reino Fungi
Chytridiomycota teve sua circunscrição alterada com a transferência de alguns
táxons para novos filos, como o gênero Allomyces, o qual se tornou referência
para o filo Blastocladiomycota (HIBBETT et al., 2007). Chytridiomycota
conta com 706 espécies distribuídas atualmente em oito ordens: Chytridiales;
Cladochytriales; Lobulomycetales; Polychytriales; Rhizophlyctidales;
Rhizophydiales; Spizellomycetales e Monoblepharidales (JERÔNIMO et
al., 2015). Contudo, caracteriza-se pela presença de flagelos nos zoósporos e
gametas, inclui espécies saprófitas, parasitas e simbiontes, além de poder viver
no trato digestivo de animais herbívoros, solo e água. Acredita-se ser um filo basal
na história evolutiva dos fungos, especialmente pela manutenção de flagelos em
algum estágio do seu ciclo de vida.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Apesar de trazer uma classificação desatualizada, vale a leitura porque o seguinte autor
trata do conceito de espécie micológica, tipificação – escolha do material-tipo para a
classificação –, nomenclatura específica e características gerais dos ascomicetos
Sites
Os fungos foram os responsáveis pelo fim dos depósitos naturais de carvão. Isso porque em um
grupo mais recente na evolução dos fungos surgiu uma enzima capaz de decompor a lignina,
um polissacarídeo mais resistente que a celulose e de difícil digestão. O texto sobre este assunto
foi publicado no blog Cientistas descobriram que..., de modo que vale a pena a leitura:
Leitura
Moderna taxonomia dos Ascomycota
BEZERRA, J. L. Moderna taxonomia dos Ascomycota. In: CONGRESSO NACIONAL DE
BOTÂNICA, 56., São Paulo. Resumos... São Paulo, [20--].
https://goo.gl/4hsYW2
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Referências
ALEXOPOULOS, C. J.; MIMS, C. W.; BLACKWELL, M. Introductory mycology.
4th ed. New York: John Wiley & Sons, 1996.
Hibbett, D.S., James, T.Y. & Vilgalys, R. 2007. In D.S. Hibbett et al., Mycological
Research 111, 13 Mar 2007.
KIRK P. M. et al. (Ed.). Dictionary of the Fungi. 11th ed. Wallingford: CABI
Publishing, 2008.
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