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Saúde, Trabalho e Terapia Ocupacional

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Rev Ter Ocup Univ São Paulo. 2016 maio/ago.;27(2):i-ii.

EDITORIAL
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v27i2pi-ii

Saúde, Trabalho e Terapia Ocupacional, uma relação indissociável

Selma Lancman1, Juliana de Oliveira Barros2, Tatiana de Andrade Jardim3,


Elisabete Ferreira Mângia4

Apresentamos aos nossos leitores mais um fascículo da Revista de Terapia Ocupacional da USP. Trata-se do Dossiê
Temático “Terapia Ocupacional, Saúde e Trabalho: perspectivas e desafios” que conta com a colaboração de docentes
pesquisadores, pós-graduandos e alunos de graduação das principais instituições de pesquisa e ensino do Brasil.
A escolha dessa temática está relacionada ao I Colóquio Brasileiro de Terapia Ocupacional, Saúde e Trabalho,
ocorrido em maio de 2016 e ao reconhecimento da importância desse campo na Terapia Ocupacional contemporânea.
As evidências atuais comprovam os efeitos prejudiciais do trabalho na saúde e suas consequências no aumento dos
adoecimentos e crescentes afastamentos do trabalho. Além disso, atestam os obstáculos e dificuldades encontrados por
profissionais e trabalhadores nos processos de retorno e permanência no trabalho, em especial após períodos longos de
afastamento. Nesse contexto a atuação da Terapia Ocupacional tem sido reconhecida, ampliada e complexificada.
As ações de saúde e reabilitação no campo da saúde e trabalho tem caráter sistêmico e nelas a promoção e prevenção
à saúde no trabalho, a atenção aos trabalhadores adoecidos, a reabilitação profissional, o retorno e a permanência no trabalho
devem ser consideradas etapas de um processo único e indissociável, no qual o conteúdo do trabalho, as condições nas quais
ele é exercido e sua organização devem ser constantes alvos de ação.
Essa indissociabilidade é confirmada pelas novas políticas de saúde instituídas nesse campo, tal como a Política
Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho – PNSST (MS, 2011) e a Rede Intersetorial de Reabilitação Integral (MPS,
2016) que busca implementar a Rede Intersetorial de Reabilitação Integral, composta por ações integradas e articuladas entre
serviços e ações do conjunto das Políticas de Saúde, Previdência Social, Trabalho, Assistência Social, Educação, dentre
outras.
Ressalta-se também que o trabalho deve ser considerado um aspecto transversal no conjunto das práticas desenvolvidas
pela Terapia Ocupacional em todas as suas áreas de atuação. Para os indivíduos, trabalhar é se engajar, é participar do
mundo, é se inserir em redes sociais, é constituir-se a si próprio. É no trabalho e por meio dele que os indivíduos produzem
e reproduzem sua contratualidade, exercitam sua cidadania e inclusão social. A fragilidade das possibilidades de acesso e
engajamento no trabalho tendem á levar os indivíduos e grupos sociais e viverem situações de vulnerabilidade e desfiliação
social. Nessa direção este fascículo busca trazer aos leitores contribuições que refletem a importância do tema saúde e
trabalho e sua relevância para as práticas de pesquisa, ensino e assistência em Terapia Ocupacional.
Apresentamos com destaque neste fascículo a entrevista inédita com o Prof. Christophe Dejours, do Conservatoire
National des Arts et Metiers, França, intitulada a “Centralidade do trabalho para a construção da saúde” e a tradução
de um importante material sobre um programa de retorno e permanecia no trabalho: “Guia para um programa de práticas
integradas para apoiar o retorno ao trabalho e a promoção da permanência no emprego”, elaborado pela Profa. Louise
St-Arnaud, da Universidade de Laval, no Canadá.
Essas duas publicações evidenciam a centralidade do trabalho, as relações dele decorrentes na vida das pessoas e na
construção da sua saúde. Enfatizam também a importância da cooperação, do reconhecimento do fazer, da organização do
trabalho, de seu conteúdo e do próprio trabalhar, considerando a relação indissociável entre quem trabalha e o que se produz.

1. Profa.Titular do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP. Email:
lancman@usp.br
2. Terapeuta Ocupacional do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da
USP, doutora em Ciências da reabilitação pela FMUSP. Email: juliana.obarros@usp.br
3. Terapeuta Ocupacional do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da
USP, doutora em Ciências da reabilitação pela FMUSP. Email: tati.ajardim@usp.br.
4. Profa. do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP, Editora da
Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo. Email: mangeli@usp.br

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Rev Ter Ocup Univ São Paulo. 2016 maio/ago.;27(2):i-ii.

Neles de pode compreender a relevância do trabalho e seu lugar na constituição das identidades e pertencimento social.
Nessa direção, o fazer e os desafios engendrados no seu exercício, a visibilidade dos aspectos subjetivos mobilizados
no ato de trabalhar e dos esforços de cada um para produzir e contribuir com o seu saber-fazer na construção do mundo, situa
o trabalho como o principal contexto da vida dos indivíduos, que possibilita o exercício coletivo da democracia.
Trabalhar significa também pensar, conviver, agir, construir-se a si próprio e confrontar-se com as dificuldades do
real do trabalho.
O sofrimento vivenciado no trabalho é inerente aos desafios advindos do seu exercício e não será necessariamente
adoecedor, ao contrário, dependendo das condições que o trabalhador tem de superá-lo poderá ser fator de crescimento, de
desenvolvimento psíquico e de emancipação. Trabalhar, para além dos ganhos financeiros, significa participar da vida social,
promover a identificação com aquilo que se faz, a realização de si. Em suma, o trabalho é um elemento central na construção
da saúde.
Esperamos que esse dossiê estimule outras publicações assemelhadas de forma a assegurar a continuidade do debate.
Agradecemos a todos que colaboraram com esse número e, em especial, ao Prof. Christophe Dejours pela entrevista
e à Profa. Louise st-Arnaud que gentilmente cedeu o direito de tradução do Guia.

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