Saúde, Trabalho e Terapia Ocupacional
Saúde, Trabalho e Terapia Ocupacional
Saúde, Trabalho e Terapia Ocupacional
EDITORIAL
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v27i2pi-ii
Apresentamos aos nossos leitores mais um fascículo da Revista de Terapia Ocupacional da USP. Trata-se do Dossiê
Temático “Terapia Ocupacional, Saúde e Trabalho: perspectivas e desafios” que conta com a colaboração de docentes
pesquisadores, pós-graduandos e alunos de graduação das principais instituições de pesquisa e ensino do Brasil.
A escolha dessa temática está relacionada ao I Colóquio Brasileiro de Terapia Ocupacional, Saúde e Trabalho,
ocorrido em maio de 2016 e ao reconhecimento da importância desse campo na Terapia Ocupacional contemporânea.
As evidências atuais comprovam os efeitos prejudiciais do trabalho na saúde e suas consequências no aumento dos
adoecimentos e crescentes afastamentos do trabalho. Além disso, atestam os obstáculos e dificuldades encontrados por
profissionais e trabalhadores nos processos de retorno e permanência no trabalho, em especial após períodos longos de
afastamento. Nesse contexto a atuação da Terapia Ocupacional tem sido reconhecida, ampliada e complexificada.
As ações de saúde e reabilitação no campo da saúde e trabalho tem caráter sistêmico e nelas a promoção e prevenção
à saúde no trabalho, a atenção aos trabalhadores adoecidos, a reabilitação profissional, o retorno e a permanência no trabalho
devem ser consideradas etapas de um processo único e indissociável, no qual o conteúdo do trabalho, as condições nas quais
ele é exercido e sua organização devem ser constantes alvos de ação.
Essa indissociabilidade é confirmada pelas novas políticas de saúde instituídas nesse campo, tal como a Política
Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho – PNSST (MS, 2011) e a Rede Intersetorial de Reabilitação Integral (MPS,
2016) que busca implementar a Rede Intersetorial de Reabilitação Integral, composta por ações integradas e articuladas entre
serviços e ações do conjunto das Políticas de Saúde, Previdência Social, Trabalho, Assistência Social, Educação, dentre
outras.
Ressalta-se também que o trabalho deve ser considerado um aspecto transversal no conjunto das práticas desenvolvidas
pela Terapia Ocupacional em todas as suas áreas de atuação. Para os indivíduos, trabalhar é se engajar, é participar do
mundo, é se inserir em redes sociais, é constituir-se a si próprio. É no trabalho e por meio dele que os indivíduos produzem
e reproduzem sua contratualidade, exercitam sua cidadania e inclusão social. A fragilidade das possibilidades de acesso e
engajamento no trabalho tendem á levar os indivíduos e grupos sociais e viverem situações de vulnerabilidade e desfiliação
social. Nessa direção este fascículo busca trazer aos leitores contribuições que refletem a importância do tema saúde e
trabalho e sua relevância para as práticas de pesquisa, ensino e assistência em Terapia Ocupacional.
Apresentamos com destaque neste fascículo a entrevista inédita com o Prof. Christophe Dejours, do Conservatoire
National des Arts et Metiers, França, intitulada a “Centralidade do trabalho para a construção da saúde” e a tradução
de um importante material sobre um programa de retorno e permanecia no trabalho: “Guia para um programa de práticas
integradas para apoiar o retorno ao trabalho e a promoção da permanência no emprego”, elaborado pela Profa. Louise
St-Arnaud, da Universidade de Laval, no Canadá.
Essas duas publicações evidenciam a centralidade do trabalho, as relações dele decorrentes na vida das pessoas e na
construção da sua saúde. Enfatizam também a importância da cooperação, do reconhecimento do fazer, da organização do
trabalho, de seu conteúdo e do próprio trabalhar, considerando a relação indissociável entre quem trabalha e o que se produz.
1. Profa.Titular do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP. Email:
lancman@usp.br
2. Terapeuta Ocupacional do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da
USP, doutora em Ciências da reabilitação pela FMUSP. Email: juliana.obarros@usp.br
3. Terapeuta Ocupacional do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da
USP, doutora em Ciências da reabilitação pela FMUSP. Email: tati.ajardim@usp.br.
4. Profa. do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP, Editora da
Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo. Email: mangeli@usp.br
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Rev Ter Ocup Univ São Paulo. 2016 maio/ago.;27(2):i-ii.
Neles de pode compreender a relevância do trabalho e seu lugar na constituição das identidades e pertencimento social.
Nessa direção, o fazer e os desafios engendrados no seu exercício, a visibilidade dos aspectos subjetivos mobilizados
no ato de trabalhar e dos esforços de cada um para produzir e contribuir com o seu saber-fazer na construção do mundo, situa
o trabalho como o principal contexto da vida dos indivíduos, que possibilita o exercício coletivo da democracia.
Trabalhar significa também pensar, conviver, agir, construir-se a si próprio e confrontar-se com as dificuldades do
real do trabalho.
O sofrimento vivenciado no trabalho é inerente aos desafios advindos do seu exercício e não será necessariamente
adoecedor, ao contrário, dependendo das condições que o trabalhador tem de superá-lo poderá ser fator de crescimento, de
desenvolvimento psíquico e de emancipação. Trabalhar, para além dos ganhos financeiros, significa participar da vida social,
promover a identificação com aquilo que se faz, a realização de si. Em suma, o trabalho é um elemento central na construção
da saúde.
Esperamos que esse dossiê estimule outras publicações assemelhadas de forma a assegurar a continuidade do debate.
Agradecemos a todos que colaboraram com esse número e, em especial, ao Prof. Christophe Dejours pela entrevista
e à Profa. Louise st-Arnaud que gentilmente cedeu o direito de tradução do Guia.
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