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Quanto à sua notoriedade, ela ficou condensada num título que devol-
via a cidade à arquitectura segundo os seus termos disciplinares. Na
introdução à segunda edição italiana, escrita em 1969, Rossi reformulava
esta ideia como uma questão de tendência e de escolha pessoal:
A arquitectura e a teoria arquitectónica, como tudo o resto, só podem ser
descritas segundo conceitos que não são neutros nem absolutos. Estes,
de acordo com a sua importância, têm o potencial para modificar pro-
fundamente a maneira de ver as coisas. Em arquitectura, os problemas
de conhecimento estiveram sempre ligados a questões de tendência e
de uma escolha. Uma arquitectura sem tendência não tem campo nem
forma de se revelar.15
Com a crescente popularidade de Rossi, a Tendenza revelou-se a uma
audiência maior. Migrou, «através dos textos», como se o autor estivesse
a sempre escrever a mesma coisa. L’architettura della ragione come architet-
tura di tendenza, também de 1969, é disso exemplo. Esta introdução ao
catálogo da exposição Iluminismo e architettura del ‘700 Veneto, expandia
os horizontes da Tendenza. Ela viajava através do tempo como zeitgeist
de um outro período de clareza conceptual e identidade artística.
O interesse que estas obras nos suscitam está relacionado com os princí-
pios compositivos e a construção lógica com que foram feitas; sendo as suas
referências bem fundamentadas num processo racional, de construção da
arte, elas apresentam uma teoria da arquitectura onde a sucessão crono-
lógica dos factos perde importância. Em vez disso, a tendência adquire
maior significado; na sua contemporaneidade mostra as coincidências
singulares entre as construções de Girolame Frigimelica, as invenções de
Piranesi, Prato della Valle em Pádua, o templo de Possagno e outras obras
de outros artistas. A tendência constrói-se e explicita-se através destas
referências; onde acontece aquele misto de descrição e deformação, de
invenção e de conhecimento ao qual está ligada a melhor experiência da
arte moderna que se resolve numa vontade comum de estilo.16
A ubiquidade da Tendenza permitia a livre associação de referências,
lugares e cronologias. Rossi ilustrava essa possibilidade com o Capriccio
pintado por Canaletto entre 1755 e 1759 que juntava, na mesma vista
veneziana, três obras de Andrea Palladio: Ponte di Rialto, Palazzo Chie-
ricati e a Basilica di Vicenza. Nenhuma delas existia na Sereníssima—a
primeiro era uma proposta, as outros duas ficavam em Vicenza—e
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—Canaletto, Capriccio, 1755–1759—
notas
1 Roland barthes, «Qu’est-ce que la critique?» in Essais critiques, Paris, Seuil, 1964, p 256.
2 Raymond carver, What We Talk When We Talk About Love, New York, Knopf, 1981.
3 Ver, por exemplo, K. Michael hays (ed.), Architecture Theory since 1968, Cambridge, mit
Press, 1998, pp. 124–25.
4 Massimo scolari, «Avanguardia e nuova architettura» in Architettura razionale, Milan,
Franco Angeli, 1973, p. 162.
5 Constantino dardi, Il gioco sapiente, tendenze della nuova architettura, Padua, Marsilio,
1971, p. 21.
6 Scolari, op.cit., p. 133.
7 Ibid.., p. 144.
8 Manfredo tafuri, Storia dell’architettura italiana 1944–1985, Turin, Einaudi, 1986, p. 174 n. 3.
9 William burroughs, The Ticket That Exploded, Paris, Olympia, 1962.
10 Para uma leitura recente do contexto ideológico do jovem Aldo Rossi ver Pier Vittorio
aureli, «The Difficult Whole» in Log 9, Winter/Spring 2007, pp. 39–61.
11 Aldo rossi, I quaderni azzurri, Milan, Electa, 1999.
12 Ibid., QA1 ( June 19 1968).
13 Aldo rossi, L’architettura della città, Padua, Marsilio, 1966.
14 Carlo olmo, «Across the Texts: The Writings of Aldo Rossi» in Assemblage, n.º 5, Febru-
ary, 1988, pp. 91–121.
15 Aldo rossi, «Preface to the Second Italian Edition» in The Architecture of the City, Cam-
bridge, mit Press, 1982, p. 165. [Trad. Diane Ghirardo, Joan Ockman].
16 Aldo rossi, «L’architettura della ragione come architettura di tendenza» in Manlio bru-
satin (ed.), Illuminismo e architettura del ‘700 veneto, Veneto, Castelfranco, 1969, p. 7.
17 Aldo rossi, «La città analoga: tavola» in Lotus, n.º 13, December 1976, pp. 5–8.
18 Manfredo tafuri, «Ceci n’est pas une ville» in Lotus, n.º 13, December 1976, pp. 10–13.
19 Aldo rossi, A Scientific Autobiography, Cambridge, mit Press, 1981 [Trad. Lawrence
Venuti; postscript Vincent Scully].
20 Max planck, Scientific Autobiography and Other Papers, New York, Philosophical Library,
1949, p. 14.
21 Ibid., p. 1.
22 Este desencontro foi inicialmente referido por Jacques gubler, «Le jeu de l’autobiogra-
phie» in Aldo Rossi. Autobiographies partagées, Lausanne, ppur, 1998, pp. 7–9.
23 Aldo rossi, «Une éducation réaliste» in l’Architecture d’Aujourd’hui, n.º 191, 1977, p. 39.
24 Aldo rossi, «Entretien avec Aldo Rossi» in l’Architecture d’Aujourd’hui, n.º 191, 1977, p. 42.
25 Kenneth frampton, «Minimal Moralia: Reflections on Recent Swiss German Produc-
tion» in Labour, Work and Architecture. Collected Essays on Architecture and Design, Lon-
don, Phaidon, 2002, p. 328
26 Herbert muschamp, «A Message From a Poet Of Public and Private Memory» in New
York Times, 1 de Abril, 2001.