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O Evangelho Segundo Marcos

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INTRODUÇÃO A

O EVANGELHO SEGUNDO

MARCOS
Autoria
Desde os primeiros séculos a Igreja Cristã atribui a autoria do segundo evangelho do Novo Tes-
tamento a João Marcos, filho de Maria, uma mulher de posses e muito prestígio em Jerusalém (At
12.12). Marcos era primo de Barnabé, amigo e companheiro de ministério dos apóstolos Paulo e Pe-
dro. A igreja primitiva também nos informa que Pedro teve participação decisiva na evangelização e
no discipulado de João Marcos, e que ambos desen-volveram laços de profunda amizade e respeito
mútuo. Pedro se referia a Marcos como “meu filho Marcos” ((1Pe 5.13).)
É de aceitação geral que Marcos recebeu de Pedro grande parte das informações contidas no
Evangelho que leva seu nome. Com a autoridade apostólica de Pedro subjazendo este livro sagrado,
ele jamais sofreu qualquer contestação à sua inclusão no cânon das Escrituras. Isso em muito coo-
perou para o rápido reconhecimento deste livro sagrado, bem como sua extraordinária disseminação
por toda a Itália e regiões do império romano. Segundo Papias (por volta do ano 140 d.C.), citando
uma fonte ainda mais antiga, Marcos foi grande cooperador de Pedro e seu amigo íntimo, de quem
ouviu sobre os ensinos e realizações de Jesus Cristo. O comitê de tradução da Bíblia King James
acredita que o Evangelho Segundo Marcos consiste, basicamente, na pregação e no ensino do
apóstolo Pedro, ordenada e interpretada por João Marcos (At 10.37).
Ainda muito jovem João Marcos teve o privilégio de acompanhar Paulo e Barnabé em sua primeira
viagem missionária. Depois viajou com Barnabé para Chipre, pregando a Palavra do Senhor (At
15.38-40). Cerca de doze anos mais tarde, é convidado por Paulo para acompanhá-lo (Cl 4.10; Fm
24). Pouco antes de ser executado pelo império romano, Paulo manda chamar João Marcos (2Tm
4.11) para seguir anunciando o Evangelho a todos os povos.

Propósitos
Enquanto Mateus teve como principal propósito levar o Evangelho aos judeus, Marcos escreveu
objetivando evangelizar e discipular os gentios, particularmente, ensinar os cristãos da Igreja de
Roma. Por isso Marcos se preocupa em explicar alguns dos costumes judaicos (Mc 7.2-4; 15.42),
traduz palavras aramaicas, idioma falado na Palestina na época de Jesus e muito diferente do he-
braico antigo (Mc 3.17; 5.41; 7.11-34; 15.22) e dá ênfase à perseguição e ao martírio dos crentes
ocorrida por volta dos anos 64 e 67 d.C. O grande incêndio de Roma, um plano diabólico do próprio
imperador romano Nero, para acentuar a adoração do seu povo à sua pessoa, lançando a culpa
sobre os cristãos e justificar uma perseguição que condenou sumariamente milhares de pessoas ao
martírio e à morte.
Marcos, antevendo essa chacina, procurou preparar os cristãos – de forma explícita e velada – du-
rante todo o seu texto do Evangelho (Mc 1.12,13; 3.22,30; 8.34-38; 10.30,33-45; 13.8-13).

Data da primeira publicação


Os primeiros estudiosos das Sagradas Escrituras acreditavam que o Evangelho Segundo Mateus
tinha sido escrito e publicado antes da obra de Marcos. Entretanto, atualmente, muitos teólogos e
biblistas são unânimes em afirmar que o Evangelho Segundo Marcos foi o primeiro dos Evangelhos
a chegar ao grande público leitor. Isso por volta do final da década de 50 d.C.
Devido ao fato de Marcos ter sido o intérprete do apóstolo Pedro, havendo preparado sua obra
sobre o Evangelho em estreita sintonia com os ensinos e orientações do seu querido mestre, tanto
Mateus quanto Lucas utilizaram os textos de Marcos como principal fonte documentária na produção
dos seus relatos sobre a vida e a obra de Jesus Cristo em seus Evangelhos.
De acordo com alguns pais da Igreja, como Irineu e Clemente de Alexandria, o Evangelho Segundo
Marcos foi escrito nas regiões da Itália, mais precisamente, em Roma. Pesquisas históricas indicam
que Pedro e Marcos estavam em Roma, pouco antes do martírio de Pedro que se deu na mesma
cidade e no qual o apóstolo teria solicitado que sua crucificação se desse de cabeça para baixo, pois
acreditava não ser digno do mesmo tipo de martírio e morte que foram impostos ao Senhor Jesus.

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No final de sua primeira carta, Pedro indica claramente que está com Marcos, em Roma, criptogra-
fando (codificando) a palavra “Roma” por “Babilônia” (1Pe 5.13) a fim de proteger a Igreja que se
reunia naquela cidade das perseguições do império.

Esboço Geral de Marcos


1. O ministério do Servo (1.1 –10.52)
A. A preparação para o ministério de Jesus (1.1-13)
B. Por meio da vida e obra de João Batista (1.1-8)
C. Por meio do seu próprio batismo (1.9-11)
D. Por meio da vitória sobre a tentação (1.12, 13)
2. Seu ensino e poder (1.14 – 3.12)
A. Sobre uma espécie de demônio (1.21-28)
B. Sobre a doença (1.29-39)
C. Sobre a impureza e a lepra (1.40-45)
D. Sobre toda a paralisia (2.1-12)
E. Sobre a corrupção (2.13-20)
F. Sobre doutrinas equivocadas (2.21, 22)
G. Sobre o uso do sábado (2.23-28)
H. Sobre as deformidades (3.1-6)
I. Sobre os demônios (3.7-12)
3. Ministério posterior na Galiléia (3.13-6.29)
A. Escolha e convocação dos Doze (3.13-21)
B. Condenação dos rejeitadores (3.22-30)
C. A família espiritual de Jesus (3.31-35)
4. As parábolas de Jesus (4.1-34)
A. O semeador (4.1-34)
B. A candeia (4.21-25)
C. O desenvolvimento do grão (4.26-29)
D. A semente de mostarda (4.30-34)
5. As virtudes do Senhor Jesus (4.35 – 9.1)
A. Sobre as tempestades (4.35-41)
B. Sobre os demônios (5.1-20)
C. Sobre a doença e a morte (5.21-43)
D. Ao comissionar os apóstolos (6.7-13)
E. Afetando o assassino Herodes (6.14-29)
F. Ao alimentar 5.000 homens (6.30-44)
G. Ao caminhar sobre as águas (6.45-52)
H. Sobre as enfermidades (6.53-56)
I. Sobre as tradições religiosas (7.1-23)
J. Para com uma mulher gentia (7.24-30)
K. Para com um homem surdo (7.31-37)
L. Ao alimentar mais 4.000 homens (8.1-9)
M. Ao condenar os fariseus (8.10-13)
N. Em seu ensino sobre o fermento (8.14-21)
O. Sobre a falta de visão (8.22-26)
P. Sobre a vida do apóstolo Pedro (8.27-33)
Q. Sobre todos os discípulos (8.34 – 9.1)
6. Suas profecias (9.2-50)
A. Quanto a Sua glória (9.2-29)
B. Quanto a Sua morte (9.30-32)
C. Quanto às recompensas (9.33-41)
D. Quanto ao inferno (9.42-50)
7. Seus ensinos na região da Peréia (10.1-52)
A. Sobre o divórcio (10.1-12)
B. Sobre os pequeninos (10.13-16)
C. Sobre a vida eterna (10.17-31)
D. Sobre Sua morte e ressurreição (10.32-34)

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E. Sobre a ambição humana (10.35-45)
F. Quando da cura do cego Bartimeu (10.46-52)
8. A Paixão de Cristo (11.1 – 15.47)
A. Domingo: A entrada triunfal (11.1-11)
B. Segunda-feira: Purificação (11.12-19)
C. Terça-feira: Ensinos (11.20 – 13.37)
D. Sobre a fé (11.20-26)
E. Sobre Israel (12.1-12)
F. Sobre os deveres cívicos (12.13-17)
G. Sobre a ressurreição (12.18-27)
H. Sobre o maior dos mandamentos (12.28-34)
I. Sobre a divindade de Jesus (12.35-37)
J. Sobre a questão da arrogância (12.38-40)
K. Sobre as ofertas e ajudas (12.41-44)
L. Sobre o futuro (13.1-37)
M. Quarta-feira: A unção e a traição (14.1-11)
N. Quinta-feira: A ceia e a traição (14.12-52)
O. Preparativos para a ceia (14.12-16)
P. A última Páscoa com Jesus (14.17-21)
Q. Rumo ao Getsêmani (14.26-31)
R. Oração e pranto no Getsêmani (14.32-42)
S. Traição e prisão no Getsêmani (14.43-52)
T. Sexta-feira: Juízo e execução (14.53 – 15.47)
U. Cristo julgado por Caifás (14.53-65)
V. Pedro nega a Jesus (14.66-72)
W. Cristo julgado por Pilatos (15.1-15)
X. O martírio de Cristo (15.16-20)
9. Crucificação, morte e ressurreição (15.21 – 16.20)
A. A crucificação do Senhor Jesus (15.21-32)
B. A morte de Jesus Cristo (15.33-41)
C. O sepultamento e o Sábado (15.42-47)
D. Domingo: A ressurreição de Jesus! (16.1-8)
E. Jesus prova que está vivo (16.9-18)
F. Jesus ascende ao Céu de onde voltará (16.19, 20)

Observaçãoç
O Evangelho Segundo Marcos também pode ser sumarizado a partir dos deslocamentos geográfi-
cos feitos por Jesus Cristo durante sua peregrinação na terra:
1. Os preparativos para a vinda de Deus encarnado (1.1-13)
2. A pregação do Filho de Deus na Galiléia (1.14 – 9.50)
3. A pregação de Jesus, o Cristo na Peréia (10.1-52)
4. A Paixão do Filho do homem em Jerusalém (11.1 – 16.20).

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O EVANGELHO SEGUNDO

MARCOS
João Batista revela o caminho de camelo, usava ao redor da cintura um
(Mt 3.1-12; Lc 3.1-18, Jo 1.19-28) cinto de couro e se alimentava de gafa-

1 Princípio do Evangelho de Jesus Cris-


to, o Filho de Deus.1
2 Conforme está escrito no livro do
nhotos e mel silvestre.4

A mensagem de João
profeta Isaías: “Eis que Eu envio o meu (Mt 3.11-12; Lc 3.15-17; Jo 1.19-28)
mensageiro diante de ti, a fim de prepa- 7 E esta era a pregação de João: “Depois
rar o teu caminho; voz do que clama no de mim vem aquele que é mais poderoso
deserto: do que eu, do qual não sou digno sequer
3 ‘Preparai o caminho do Senhor, tornai de curvar-me para desamarrar as cor-
retas as suas veredas’”.2 reias das suas sandálias.
4 E foi assim que chegou João, batizando 8 Eu vos batizei com água; Ele, entretan-
no deserto e pregando um batismo de ar- to, vos batizará com o Espírito Santo”.5
rependimento para perdão dos pecados.3
5 Vinham encontrar-se com ele pessoas Jesus é batizado
de toda a região da Judéia e todo o povo (Mt 3.13-17; Lc 3.21-22; Jo 1.32-34)
de Jerusalém, e eram batizados por ele no 9 Aconteceu, naqueles dias, que chegou
rio Jordão, confessando seus pecados. Jesus, vindo de Nazaré da Galiléia, e foi
6 João vestia roupas tecidas com pêlos batizado por João no rio Jordão.

1 A expressão “Evangelho” no grego mais antigo significa “um prêmio conferido a quem levava boas notícias”. Com o tempo,
essa palavra passou a significar “boas novas”. Cristo é em si a “boa notícia” para a humanidade e, ao mesmo tempo, é portador
das “boas novas” de Salvação (cada indivíduo precisa ser salvo, liberto, do poder do pecado original, do sistema mundial dirigido
por Satanás e do inferno eterno). A palavra “princípio” indica a introdução do Evangelho. O livro de Marcos teria sido o primeiro
a ser escrito, servindo como base para Mateus e Lucas, sendo os três, conhecidos como os “Sinóticos” (termo de origem grega
que significa: “análise dos fatos a partir de um determinado ponto de vista” ou “estudo comparativo”). A palavra “Cristo” é um
adjetivo de origem grega que significa “Ungido” (em hebraico, Messias). No AT, reis, sacerdotes e profetas foram “ungidos”, o que
confirmava sua escolha divina. “Filho de Deus” tem um sentido amplo no NT, mas quando aplicado a Jesus salienta sua Deidade
(Sl 2.7; Jo 10.38; 14.10; Hb 1.2) e sua Missão (10.45).
2 “Está escrito”, frase muito usada para lembrar ou citar passagens do AT. Marcos faz alusão às profecias de Is 40.3; Ml 3.1.
Conforme a tradição entre os mestres judaicos, citava-se apenas o nome do “profeta maior” ou mais antigo. Fica claro, no contex-
to, que o Senhor (Jeová ou Javé) do AT é plenamente identificado com Jesus Cristo no NT (Rm 10.9-13).
3 João é a forma simplificada do nome hebraico Johanen, que significa “dom de Jeová”. Era parente de Jesus, porquanto suas
mães eram primas (Lc 1.36). Seu ministério público teve início por volta do ano 27 a.C., proclamando a vinda iminente do Messias
e Seu Reino. João insistia na urgência do “arrependimento” (em grego, metanoia, quer dizer: “mudança radical de pensamento e
volta ao juízo”) devido à aproximação da vinda do Senhor. A mesma necessidade impreterível dos nossos dias. O ato simbólico
de João “mergulhar” (palavra derivada da expressão grega baptizô) as pessoas nas águas, após confissão pública e oral dos
pecados, entrou para a história da Igreja.
4 As roupas e o tipo de alimentação de João revelam sua austeridade e desprendimento dos interesses materiais deste mundo.
Seu jeito de vestir-se era típico dos profetas e lembrava Elias (2 Rs 1.8; Zc 13.4), a quem João muito se assemelha (9.13). Alimen-
tar-se de gafanhotos era uma prática comum entre as comunidades pobres (Lv 11.22), especialmente as que viviam a oeste do
mar Morto, entre cujos habitantes (a seita dos essênios) estão os que escreveram e preservaram os Rolos do mar Morto (a mais
importante descoberta arqueológica do século XX e que muito ajudou nesta tradução da Bíblia King James). Alguns grupos de
beduínos ainda hoje comem gafanhotos tostados ou salgados.
5 João batiza apenas com água, simbolizando a purificação dos pecados reconhecidos e renunciados. Entretanto, Jesus Cristo
oferecerá o dom do Espírito e com Ele a filiação adotiva e perene de Deus (em hebraico Yahweh), nosso Pai (em aramaico, Abba,
que significa: pai querido), conforme Jo 3.3-6. O batismo cristão é muito mais importante que o batismo judaico de prosélitos, dos
essênios (que batizavam os judeus que entravam para sua seita) e o praticado por João. Isso porque somente no batismo cristão
está implícito o ato simbólico de identificação do pecador restaurado com a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.

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5 MARCOS 1

10 E, imediatamente após deixar a água, 16 Caminhando pela praia do mar da


viu os céus rasgando-se e o Espírito des- Galiléia, viu Jesus a Simão e seu irmão
cendo até Ele na forma de uma pomba. André lançando suas redes ao mar, pois
11 Então houve uma voz vinda dos céus: eram pescadores.
“Tu és o meu Filho amado; em ti muito 17 Então, dirigiu-se a eles Jesus dizendo:
me agrado”.6 “Vinde em minha companhia, e Eu vos
tornarei pescadores de pessoas”.
Jesus é tentado 18 Naquele mesmo momento, eles aban-
(Mt 4.1-11; Lc 4.1-13) donaram as suas redes e seguiram Jesus.
12 Logo em seguida, o Espírito o dirigiu 19 Andando um pouco mais adiante,
para o deserto. Jesus avistou Tiago, filho de Zebedeu, e
13 Ali esteve Ele por quarenta dias sendo seu irmão João. Eles estavam num barco
tentado por Satanás; viveu entre as feras consertando as redes.
selvagens, e os anjos o serviram.7 20 Sem demora os chamou. E eles,
deixando o pai, Zebedeu, com os em-
Jesus convoca seus discípulos pregados no barco, partiram seguindo
(Mt 4.12-22; Lc 4.14,15; 5.1-11; Jo 1.35-42) a Jesus.10
14 E depois que João foi levado à prisão,
Jesus partiu para a Galiléia, pregando a Jesus ensina na sinagoga
todos as boas novas de Deus:8 (Lc 4.31-37)
15 “Cumpriu-se o tempo e está chegando 21 Dirigiram-se para Carfanaum e, assim
o Reino de Deus; arrependei-vos e crede que chegou o sábado, tendo entrado na
no Evangelho”.9 sinagoga, Jesus passou a ensinar.11

6 Jesus insistiu em ser batizado para endossar a autoridade de João; identificar-se com os pecadores que sinceramente busca-
vam o perdão de Deus (2 Co 5.21); anunciar e confirmar publicamente seu ministério; permitir que João o apresentasse ao mundo
como o Messias prometido (Jo 1.53) e que ele (Jesus) recebesse a plena unção do Espírito de Deus (Lc 3.22). A forma de pomba
era real e visível e não apenas uma analogia espiritualizada para descrever romanticamente o fenômeno, pois Lucas ainda é mais
preciso, usando a expressão “em forma corpórea” (Lc 3.22). Esse mesmo fenômeno ocorreu também por ocasião da Criação (Gn
1.2). O próprio Deus fala sobre o amor e a alegria que sente por Jesus, Seu Filho (Jo 12.28), e Suas palavras relembram Gn 22.2;
Sl 2.7 e Is 42.1. Temos aqui uma visão clara da Trindade, doutrina cristã que só pode ser bem aceita após o verdadeiro encontro
com a pessoa de Cristo, o Filho de Deus.
7 Sem dúvida foi o próprio Jesus quem relatou aos seus discípulos os detalhes desta batalha histórica (Mt 4.1-11; Lc 4.1-14).
Todos os sinóticos dão ênfase à relação existente entre o “batismo” e a “tentação” de Cristo. Jesus, dirigido (ou impelido) pelo
Espírito, foi ativo no Seu batismo e passivo na tentação. Por meio do batismo Ele cumpriu toda a justiça, e pela tentação Sua
justiça foi provada. Antes de iniciar seu ministério de destruir o poder de Satanás nas vidas dos seres humanos, foi necessário
que Ele vencesse o Inimigo no campo de batalha da sua própria vida na terra (Hb 2.18; 4.15). A magnitude de toda essa batalha
se observa no fato de que anjos vieram servi-lo (Mt 4.11, Lc 22.43). Em menor grau, cada discípulo que é chamado a uma missão
desafiadora no Reino e impactante no mundo deve estar preparado para semelhante conflito e vitória.
8 Entre a tentação de Jesus e a execução de João Batista ocorreram os eventos registrados em Jo 1.19 – 4.54. Os fatos que
levaram à prisão estão narrados em Mc 6.17-20.
9 A palavra grega metanoia (que significa mudar de mentalidade e voltar ao juízo correto) reflete a expressão hebraica shub
que freqüentemente (cerca de 120 vezes) ocorre no AT com a conotação espiritual de “retornar” a Deus. No contexto da
conversão cristã, aponta para uma mudança radical de vida, em conseqüência da fé depositada na pessoa e obra de Jesus
Cristo (At 3.19; 26.20; 1Ts 1.9).
10 Marcos emprega (cerca de 50 vezes) em seus escritos, como parte do seu estilo, uma palavra grega traduzida de várias
maneiras: “sem demora, logo, então, assim, em seguida, rapidamente” e outras semelhantes, que revelam seu senso de urgência
em comunicar o Evangelho ao mundo (especialmente aos gentios). Jesus ensina que a vocação do discípulo missionário implica:
no discipulado (“vinde em minha companhia” ou “após mim”); em ser capacitado por Cristo (“Eu vos tornarei”); num esforço
pessoal para explicar as boas novas às pessoas (“pescadores”) e na disposição de colocar as ambições e os interesses seculares
em segundo plano (“abandonaram as suas redes”).
11 A sinagoga sempre teve uma importância vital para as comunidades judaicas em todo o mundo desde sua fundação, na
época do exílio, até nossos dias. Uma sinagoga podia ser estabelecida em qualquer cidade ou povoado onde houvesse ao menos
dez homens judeus casados, e seu propósito maior era ensinar as Escrituras e adorar a Deus. Era costume entre os líderes das
sinagogas, convidar os mestres visitantes a participarem da adoração e ministrarem a Palavra na reunião do sábado (em hebraico

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MARCOS 1 6

22 E todos ficavam maravilhados com o muita febre, e logo falaram com Jesus a
seu ensino, pois lhes ministrava como al- respeito dela.
guém que possui autoridade e não como 31 Então, aproximando-se, Ele a tomou
os mestres da lei.12 pela mão e a levantou. A febre imediata-
23 Mas, naquele exato momento, levan- mente a deixou e ela se pôs a serví-los.
tou-se na sinagoga um homem possuído 32 Ao final da tarde, logo após o pôr-do-
de um espírito imundo, que vociferava: sol, o povo levou até Jesus todos os que
24 “O que queres de nós, Jesus Nazareno? estavam passando mal e os dominados
Vieste para nossa destruição? Conheço a por demônios.
ti, sei quem tu és: o Santo de Deus!” 33 E, assim, a cidade inteira se aglomerou
25 Mas Jesus o repreendeu severamente: à porta da casa.
“Fica quieto e sai dele!”13 34 Jesus curou a muitos de várias enfer-
26 Então, o espírito imundo, sacudindo midades, bem como expulsou diversos
aquele homem violentamente e gritando demônios. Entretanto, não permitia que
com poderosa voz, saiu dele. os demônios falassem, pois eles sabiam
27 Todos ficaram atônitos e assustados per- quem era Ele.15
guntavam uns aos outros: “O que é isto?
Novo ensinamento, e vejam quanta autori- Jesus retira-se para orar
dade! Aos espíritos imundos Ele dá ordens, (Lc 4.42-44)
e eles prontamente lhe obedecem!” 35 De madrugada, em meio a escuridão,
28 Assim, rapidamente as notícias sobre a Jesus levantou-se, saiu da casa e retirou-
sua pessoa se espalharam em várias dire- se para um lugar deserto, onde ficou
ções e por toda a região da Galiléia. orando.16
36 Simão e seus amigos saíram para pro-
O poder de Jesus sobre doenças curá-lo.
e demônios 37 Então, quando o acharam, informa-
(Mt 8.14-15; Lc 4.38-39) ram: “Todos estão te procurando!”
29 E assim que saíram da sinagoga, diri- 38 E Jesus os instruiu: “Vamos seguir para
giram-se para a casa de Simão e André, outros lugares, às aldeias vizinhas, a fim
juntamente com Tiago e João.14 de que Eu pregue ali também. Pois foi
30 A sogra de Simão estava deitada, com para isso que vim”.

shabbãth que significa: o dia do descanso). Jesus, assim como Paulo mais tarde (At 13.15; 14.1; 17.2; 18.4), aproveitou essa opor-
tunidade cultural para anunciar as novas e boas notícias do Reino de Deus (o Evangelho). Jesus escolheu Carfanaum, importante
centro de comércio e distribuição de peixes, como sede do seu ministério após a rejeição que sofreu em sua terra natal, Nazaré
(Lc 4.16-31). Os romanos mantinham um centurião na cidade (8.5) e uma coletoria de impostos (Mt 9.9).
12 Marcos dedica boa parte dos seus escritos a salientar o quanto os ensinos e as atitudes de Jesus tocavam os corações das
pessoas e as deixavam impressionadas (2.12; 5.20,42; 6.2,51; 7.37; 10.26; 11.26; 11.18; 15.5). Sua autoridade provinha direta e
absolutamente de Deus e por isso não citava os grandes mestres da Lei como era costume dos rabinos.
13 Com exceção do texto correspondente de Lc 4.34, o título “O Santo de Deus” foi usado apenas em Jo 6.69 e se refere à
origem divina de Jesus, mais do que ao seu messianato (Lc 1.35). Esse título foi usado pelos demônios com base na crença do
ocultismo de que o uso exato do nome de uma pessoa permitia certo controle sobre ela. O homem estava possesso de mais
de um demônio, mas apenas o líder deles gritou e falou. Entretanto, Jesus, em plena autoridade divina, ordena que o demônio
“fique impedido de expressar-se”, literalmente em grego que significa “seja amordaçado!” ou “fique imobilizado e
com a boca amarrada”.
14 Jesus e seus discípulos certamente foram almoçar com a família de Pedro (1Co 9.5), pois a refeição principal do sábado era
tradicionalmente servida logo após o encerramento do culto matinal das sinagogas.
15 O povo aguarda o final do pôr-do-sol e, conseqüentemente, o encerramento do sábado, para carregar seus enfermos e
possessos (Jr 17.21,22) e os levar à presença de Cristo a fim de serem curados e libertos. Marcos retrata com clareza a perfeita
humanidade e divindade de Jesus. Ele sentiu compaixão pelo povo (6.34) e os curou, mas sabia da Sua prioridade: anunciar
o Reino e a Salvação (1.15). Soube evitar a publicidade e não permitiu que pessoas nem o Inimigo o enganassem com falsa
adoração ou lisonja (1.24,34; 3.11; 5.7).
16 A expressão grega transliterada proii indica a última vigília da noite, das três às seis horas da manhã. Jesus reage ao crescen-
te aumento de sua popularidade e se retira para um lugar tranqüilo e isolado onde possa conversar a sós com o Pai.

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7 MARCOS 1, 2

39 E aconteceu que Ele percorreu toda a Jesus perdoa e cura


Galiléia, pregando nas sinagogas e expe- (Mt 9.1-8; Lc 5.17-26)
lindo os demônios.

A cura do leproso que creu


2 Chegando de novo em Cafarnaum,
depois de alguns dias, o povo ficou
sabendo que ele estava em casa.1
(Mt 8.1-4; Lc 5.12-16) 2 E foram tantos os que se aglomeraram
40 Certo leproso aproxima-se de Jesus ali, que já não havia lugar nem à porta; e
e suplica-lhe de joelhos: “Se for da tua Ele lhes pregava a Palavra.2
vontade, tens o poder de purificar-me!” 3 Vieram trazer-lhe um paralítico, carre-
41 Movido de grande compaixão, Jesus gado por quatro homens.
estendeu a mão e, tocando nele, excla- 4 Não conseguindo levá-lo até Jesus, por
mou: “Eu quero. Sê purificado!” causa da multidão, removeram parte
42 No mesmo instante toda a doença de- da cobertura sobre o lugar onde estava
sapareceu da pele daquele homem, e ele Jesus e, por essa abertura no teto, baixa-
foi purificado.17 ram a maca na qual se achava deitado o
43 Em seguida Jesus se despede dele com paralítico.3
forte recomendação: 5 Observando a fé que eles demonstra-
44 “Atenta, não digas nada a ninguém; vam, declarou Jesus ao paralítico: “Filho!
contudo vai, mostra-te ao sacerdote e Estão perdoados de ti os pecados”.
oferece pela tua purificação os sacrifícios 6 Entretanto, alguns dos mestres da lei
que Moisés prescreveu, para que sirvam que por ali estavam sentados, julgaram
de testemunho”.18 em seu íntimo:
45 Contudo, assim que o homem saiu, 7 “Como pode esse homem falar desse
começou a proclamar o que acontecera modo? Está blasfemando! Quem afinal
e a divulgar ainda muitas outras coisas, pode perdoar pecados, a não ser exclusi-
de modo que Jesus não mais conseguia vamente Deus?”4
entrar publicamente numa cidade, mas 8 Jesus imediatamente percebeu em seu
via-se obrigado a ficar fora, em lugares espírito que era isso o que eles estavam
desabitados. Mesmo assim, pessoas de urdindo e lhes questionou: “Por que co-
todas as partes iam ter com Ele.19 gitais desta maneira em vossos corações?

17 O termo grego usado no original não se refere apenas e especificamente à lepra ou hanseníase (como se conhece hoje), mas
a vários tipos de doenças e cânceres de pele. Todavia, como implicou em imundícia, segundo o AT (Lv 13 e 14), era natural que
se tornasse um símbolo do pecado: ambos são repugnantes; espalham-se pelo corpo e são contagiosos; são incuráveis, a não
ser pela misericórdia de Deus; só Cristo pode oferecer plena solução, e isso por causa do seu compadecimento, do seu poder
que vem de Deus (Jo 3.2) e porque foi para cumprir essa missão que Ele veio ao mundo (10.45).
18 Os sacrifícios serviam de comprovação diante dos sacerdotes e para o povo de que a cura era genuína (e que Jesus respei-
tava a Lei). A cura era um testemunho concreto e visível do poder divino de Jesus, pois os judeus acreditavam que somente Deus
podia curar uma doença de pele como a lepra (2Rs 5.1-4).
19 A inevitável popularidade de Jesus Cristo (1.28; 3.7,8; Lc 7.17) e a inveja e oposição cada vez mais intensa dos líderes
religiosos (2.6,7,16,23,24; 3.2,6,22) forçaram Jesus a se retirar da sua amada Galiléia e peregrinar pelos territórios circunvizinhos.
No entanto, o povo, sedento, viajava de todas as partes para receber a bênção da Sua Palavra e Poder.
Capítulo 2
1 Pedro e sua família (1Co 9.5) faziam questão de hospedar Jesus sempre que ele estava em Cafarnaum, e Jesus se sentia
em casa (1.21,29).
2 A Palavra é o Evangelho: Cristo e as boas novas da Salvação eterna (1.15). As multidões estavam à espera do Senhor e o
receberam com o mesmo entusiasmo de antes (1.32,33,37).
3 Uma casa típica da Palestina daqueles tempos tinha o telhado plano, onde se podia chegar por uma escada externa. O
telhado era geralmente coberto com uma camada de barro apoiada por esteiras feitas de ramos de palmeiras e sustentadas por
vigas de madeira.
4 Na teologia judaica, nem mesmo o Messias teria poder para perdoar pecados, somente e exclusivamente o Altíssimo (Deus,
em hebraico Yahweh). Jesus, de forma simples e natural, age como perfeito ser humano (compassivo e solidário em relação ao
próximo), e perfeitamente como Deus (oferecendo solução à mais profunda e dramática necessidade humana: o perdão). Essa
demonstração prática, pública e visual da deidade de Jesus foi considerada pelos teólogos locais (escribas ou mestres da lei)
como uma grave e escandalosa blasfêmia.

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MARCOS 2 8

9 O que é mais fácil dizer ao paralítico: Jesus à mesa com pecadores


‘Estão perdoados de ti os pecados’, ou (Mt 9.10-13; Lc 5.29-32)
falar: ‘Levanta-te, toma a tua maca e sai 15 Aconteceu que, em casa de Levi, pu-
andando’?5 blicanos e pessoas de má fama, que eram
10 Todavia, para que saibais que o Filho numerosas e seguiam Jesus, estavam à
do homem tem na terra autoridade mesa com Ele e seus discípulos.8
para perdoar pecados...” – dirigiu-se ao 16 Quando os mestres da lei que eram
paralítico – fariseus o viram comendo com os pu-
11 “Eu te ordeno: Levanta-te, toma tua blicanos e outras pessoas mal afamadas,
maca e vai para tua casa”. perguntaram aos discípulos de Jesus:
12 Então, ele se levantou e, no mesmo “Por que Ele se ali-menta na companhia
instante, tomando sua maca saiu andan- de publicanos e pecadores?”
do à frente de todos, que, estupefatos, 17 Ao ouvir tal juízo, Jesus lhes ponderou:
glorificaram a Deus, exclamando: “Nun- “Não são os que têm saúde que necessi-
ca vimos nada semelhante a isto!”6 tam de médico, mas, sim, os enfermos.
Eu não vim para convocar justos, mas
Jesus convoca Mateus sim pecadores”.9
(Mt 9.9-13; Lc 5.27-32)
13 Uma vez mais, saiu Jesus e foi cami- Jesus explica o jejum
nhar na praia, e toda a multidão vinha ao (Mt 9.14-17; Lc 5.33-39)
seu encontro, e Ele os ensinava. 18 Os discípulos de João e os fariseus estavam
14 Enquanto andava, viu a Levi, filho jejuando. Algumas pessoas vieram ter com
de Alfeu, sentado à mesa da coletoria, Jesus e inquiriram: “Por que os discípulos de
e o chamou: “Segue-me!” Ao que ele se João e os discípulos dos fariseus jejuam, mas
levantou e o seguiu.7 os teus discípulos não jejuam?”10

5 Para Jesus seria mais fácil apenas curar o paralítico e chamar a atenção do público para sua pessoa. Mas perdoar tinha a ver
com a glória de Deus e lhe custaria uma vida de sacrifício e seu próprio holocausto na cruz (10.45). E para os mestres? O que
seria mais fácil? Curar ou perdoar? A expressão de Jesus: “Estão perdoados de ti os pecados”, é a tradução literal dos melhores
originais, em grego .
6 Jesus intitulou a si mesmo de “Filho do homem” por cerca de 80 vezes nos evangelhos. Segundo o profeta Daniel (Dn
7.13,14), o filho de um ser humano é retratado como personagem celestial a quem, no final dos tempos, Deus confiou plena
autoridade, glória máxima e poder soberano. Fica claro que um dos propósitos dos muitos milagres, sinais e prodígios realizados
por Jesus era apresentar provas indiscutíveis da sua divindade (Jo 2.11; 20.30,31). Com certeza o paralítico e a multidão presente
compreenderam claramente quem era Jesus e sua atitude, pois glorificaram a Deus.
7 Levi era o nome de infância de Mateus e nome apostólico que significa “dádiva do Senhor” (Mt 9.9; 10.3). Levi era publicano e
cobrador de impostos (Lc 5.27), sujeito às ordens de Herodes Antipas, tetrarca da Galiléia. A coletoria era quase sempre uma es-
pécie de bilheteria onde eram cobrados pedágios para aqueles que transitassem pela estrada internacional que ligava Damasco
ao litoral do Mediterrâneo e ao Egito, passando por Cafarnaum. A maioria dos publicanos cobrava impostos além da lei e prestava
falsos relatórios ao governo de Roma. Eram odiados pelo povo; para os fariseus eram iguais aos pecadores (literalmente: gente
de má fama) que desprezavam a Lei. Em vista de viverem na companhia dos gentios eram excluídos da sinagoga.
8 Na cultura oriental e especialmente na judaica, fazer uma refeição na casa de alguém era um grande sinal de amizade entre os
participantes. O termo “pecadores” era em geral uma maneira de se referir aos cobradores de impostos, mentirosos, enganado-
res, adúlteros, assaltantes, criminosos, e pessoas de má reputação. Jesus e seus discípulos eram os convidados de honra de um
grupo com essas qualificações gerais. Jesus compartilha as bênçãos de sua mesa com os pecadores remidos (Ap 3.20).
9 Os fariseus eram um grupo de religiosos e sucessores dos hassidins, judeus piedosos que juntaram suas forças às dos
macabeus durante a guerra pela liberdade da Síria (166 a 142 a.C). Os fariseus surgiram no reinado de João Hircano, entre 135 e
105 a.C. Embora alguns realmente fossem homens de Deus, a maioria dos que conflitaram com Jesus eram hipócritas, invejosos,
formalistas e envenenados por sórdidos interesses políticos. Segundo o farisaísmo, a graça de Deus era oferecida somente para
aqueles que cumprissem a Lei.
10 Os discípulos de João jejuaram porque seu mestre estava preso, por estarem em oração pela redenção proclamada por
João e por causa da doutrina (ascetismo) de purificação e arrependimento pregada por João como preparação para a vinda de
Cristo. Entretanto, a Lei de Moisés prescrevia apenas um jejum obrigatório: no Dia da Expiação (Lv 16.29,31; 23.27-32; Nm 29.7).
Após o Exílio na Babilônia, quatro outros jejuns anuais eram observados (Zc 7.5; 8.9). Na época de Jesus os fariseus tinham o
costume de jejuar duas vezes por semana (Lc 18.12).

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9 MARCOS 2, 3

19 Explicou-lhes Jesus: “Como podem os 25 Mas Ele esclareceu: “Nunca lestes como
convidados do noivo jejuar enquanto o agiu Davi e seus companheiros, quando
têm consigo?11 sofreram necessidade e tiveram fome?
20 Contudo, virão dias quando o noivo 26 Na época do sumo sacerdote Abiatar,
lhes será arrancado; e então, nessa oca- Davi entrou na casa de Deus e se ali-
sião, jejuarão. mentou dos pães dedicados à oferta da
21 Ninguém costura remendo de pano Presença, que somente aos sacerdotes era
novo em roupa velha, porquanto o permitido comer, e os ofereceu também
remendo novo forçará o tecido velho aos seus companheiros”.14
e o rasgará ainda mais, aumentando a 27 E então concluiu: “O sábado foi criado
ruptura. por causa do ser humano, e não o ser
22 Assim como não há pessoa que depo- humano por causa do sábado.
site vinho novo em recipiente de couro 28 Assim sendo, o Filho do homem é Se-
velho; caso o faça, o vinho arrebentará o nhor inclusive do sábado”.15
recipiente, e dessa forma, tanto o vinho
novo quanto o recipiente se estragarão. Jesus cura as deformidades
Ao contrário, põe-se o vinho novo em (Mt 12.9-14; Lc 6.6-11)
um recipiente de couro novo”.12

Jesus é Senhor do Sábado


3 Em outra ocasião, Jesus entrou na
sinagoga e encontrou ali um homem
que tinha atrofiada uma das mãos.
(Mt 12.1-14; Lc 6.1-11) 2 Alguns dos fariseus estavam procuran-
23 E aconteceu que, passava Jesus num dia do uma razão para acusar Jesus; por isso
de sábado pelas plantações de cereal. Os o observavam com toda a atenção, a fim
seus discípulos, enquanto caminhavam, de constatar se Ele iria curá-lo em pleno
começaram a colher algumas espigas. sábado.
24 Então os fariseus advertiram-no: “Vê! 3 Então convidou Jesus ao homem da
Por que teus discípulos fazem o que não mão atrofiada: “Levanta-te e vem aqui
é permitido aos sábados?”13 para o meio”.

11 A expressão “noivo” refere-se a Cristo (Ef 5.23-32). No AT, o “noivo” é Deus (Os 1.1-11; Is 54.5; 62.45; Jr 2.2). Os casamentos
judaicos eram uma ocasião para alegria geral e a sua celebração chegava a durar uma semana. Não fazia o menor sentido pensar
em jejum durante essas festividades. O jejum sempre esteve relacionado a momentos de dificuldade, grandes desafios e tristeza.
Enquanto o “noivo” estava na festa era tempo de regozijo, o tempo triste e amargo chegaria, quando Jesus seria “tirado com
violência” (literalmente em grego aparthç)ç , e naqueles dias, sim, os discípulos jejuariam. Certamente que a analogia de Jesus foi
bem compreendida pelos inquiridores.
12 Estas duas parábolas (Mt 9.16,17; Lc 5.36) ensinam claramente sobre a impossibilidade de se misturar o velho ritualismo da Lei (o
Judaísmo em todas as suas formas e ramificações) com a Nova Aliança da graça e da liberdade em Cristo: o Evangelho (Gl 5.1,13).
13 A lei mosaica permitia a todo viajante colher espigas de trigo ao longo das estradas com o objetivo específico de comê-
las, na hora, para matar a fome (Dt 23.25). Os fariseus não estão criticando essa prática, mas, sim, o fazer isso no sábado. É
impressionante a calma e a segurança de Jesus diante das sucessivas investidas dos seus inquiridores, pois segundo o Talmude
judaico, a ofensa de trabalhar (colher) no sábado incorria em pena de morte por apedrejamento, desde que o acusado fosse
advertido e sua falta ficasse comprovada pelo testemunho de duas ou três autoridades religiosas, por isso o “Vê!” dos fariseus,
tem o sentido de: “Atenção! Foste pego em flagrante delito”.
14 Jesus busca em sua defesa um episódio ocorrido com o venerado (pelos judeus fariseus especialmente) rei Davi (1Sm 21.1-
6). A relação entre os acontecimentos está no fato de homens de Deus terem feito algo proibido pela Lei. Como no direito judaico
é sempre permitido praticar o bem e salvar vidas (ainda que seja no sábado), tanto Davi quanto os discípulos estavam dentro
do chamado “espírito da lei” (Is 58.6,7; Lc 6.6-11; 13.10-17; 17.1-6). Havia, portanto, uma jurisprudência formada e os fariseus
tiveram de aceitar a argumentação pública de Jesus. De acordo com 1 Sm 21.1-9, Aimeleque, pai de Abiatar, era sumo sacerdote
na ocasião (2Sm 8.17; Mt 12.4).
15 A tradição judaica havia criado tantas restrições e normas sobre a guarda do dia do sábado, que a maioria das pessoas
sentia-se culpada por não conseguir cumprir rigorosamente todas as ordenanças estabelecidas. Jesus enfatiza o propósito que
Deus tem para o sábado: um dia para descanso; restauração espiritual, mental e física. Jesus conclui sua alusão à história judaica,
mostrando que se a lei do sábado não tinha aplicação no caso do servo do templo, muito menos teria qualquer restrição sobre
Cristo, o Senhor do Templo. Somente no evangelho de Marcos encontramos a importante definição “O Filho do homem é Senhor
inclusive do sábado”, um dia especial consagrado a Deus.

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MARCOS 3 10

4 Em seguida Jesus indaga deles: “O que evitar que a massa de pessoas o apertasse,
nos é permitido fazer no sábado: o bem tirando-lhe os movimentos.
ou o mal? Salvar vidas ou matar as pesso- 10 Pois Ele havia curado grande multi-
as?” No entanto, eles ficaram calados.1 dão, de modo que todos os que padeciam
5 Indignado, olhou para os que estavam de alguma enfermidade se acotovelavam
ao seu redor e, profundamente entriste- na tentativa de vê-lo e tocá-lo.
cido com a dureza do coração deles, or- 11 E acontecia que todas as vezes que as
denou ao homem: “Estende a tua mão”. pessoas com espíritos imundos o viam,
Ele a estendeu, e eis que sua mão fora atiravam-se aos seus pés e berravam: “Tu
restaurada. és o Filho de Deus!”
6 Diante disso, retiraram-se os fariseus 12 Todavia, Jesus repreendia tais espíritos
e iniciaram, em acordo com os hero- severamente, ordenando que não reve-
dianos, uma conspiração contra Jesus, lassem quem era Ele.
e tramavam um meio de condená-lo à
morte.2 Jesus convoca os Doze
(Mt 10.1-4; Lc 6.12-16)
Jesus cura multidões na praia 13 Jesus subiu a um monte e convocou
7 Jesus retirou-se com seus discípulos e para si aqueles a quem ele queria. E eles
foi na direção do mar, e uma numerosa foram para junto dele.
multidão vinda da Galiléia o seguia. 14 E escolheu doze, qualificando-os como
8 E assim que ouviram a respeito de apóstolos, para que convivessem com ele
tudo o que Ele estava realizando, grande e os pudesse enviar a proclamar.
quantidade de pessoas provenientes da 15 E tivessem autoridade para expulsar
Judéia, de Jerusalém, da Iduméia, das demônios.4
regiões do outro lado do Jordão e das 16 Ele constituiu, pois, os Doze: Simão, a
cercanias das cidades de Tiro e Sidom, quem atribuiu o nome de Pedro.
veio ter com Jesus.3 17 Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu
9 Então, por causa das multidões, Ele irmão, aos quais deu o nome de Boaner-
pede aos discípulos que passem a manter ges, que quer dizer, “filhos do trovão”.
um pequeno barco à sua disposição, para 18 E depois, André; Filipe; Bartolomeu;

1 O argumento de Jesus é claro: ser capaz de fazer o bem e preferir fazer o mal é pecado (em aramaico o sentido geral da
palavra “pecar” é “errar”), pois há pouca diferença entre fazer o mal e deixar de fazer o bem (Tg 4.17). Os mestres judaicos
pregavam que o sábado era um dia dedicado ao descanso, amor e misericórdia, por isso, o socorro a quem estivesse em perigo
era permitido. Entretanto, Jesus os confronta com suas próprias e cruéis intenções, uma vez que estavam usando o sábado para
tramar o seu assassinato.
2 A partir desta controvérsia, os mestres e as autoridades eclesiásticas judaicas foram tomados por terrível ódio contra Jesus,
a ponto de se juntarem com os herodianos, um partido político nacionalista muito influente que apoiava Herodes e sua dinastia
contra Roma (Mt 22.16). Os fariseus (que significa “os separados”) formavam um partido do povo, com pessoas de classe baixa,
e se opunham aos herodianos e aos saduceus, ricos e aristocratas (12.18-23). Entretanto, para matar Jesus todo conchavo foi
aceito entre eles.
3 A popularidade de Jesus crescia assustadoramente. Essa rápida lista de Marcos mostra que as multidões vinham não apenas
das áreas adjacentes a Cafarnaum, mas também de longas distâncias. As regiões mencionadas incluem praticamente a totalida-
de das principais regiões de Israel e países vizinhos. Iduméia (forma grega da palavra hebraica Edom) aqui se refere a uma grande
área da Palestina ocidental ao sul da Judéia, e não ao antigo território edomita de Edom.
4 O próprio Jesus discipulou os Doze por meio do ensino constante e de estreita convivência, por isso foram designados
apóstolos (em grego appostellç forma verbal de “apóstolo”, ou seja “comissionado”, “designado para uma missão”). Além dos
discípulos esse termo se aplica à pessoa de Jesus (Hb 3.1), a Barnabé (At 14.14), a Paulo e a Matias (At 1.16-26), a Tiago, irmão
do Senhor (Gl 1.19), e a alguns outros discípulos (Rm 16.7). No NT essa palavra é usada muitas vezes com um sentido mais
genérico (Jo 13.16), sendo traduzida por “mensageiro”. O apostolado foi o dom principal concedido pelo Espírito Santo para
estabelecer a Igreja de Cristo. Era necessário que o apóstolo fosse testemunha ocular da ressurreição ou comissionado por Jesus
(1Co 1.1). Nem as Escrituras (AT e NT), nem a tradição da Igreja, desde os primórdios, apóiam a hierarquia eclesiástica com a
instituição de um papa soberano e infalível no comando de apóstolos, bispos e ministros paroquianos.

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11 MARCOS 3, 4

Mateus; Tomé; Tiago, filho de Alfeu; 28 Com toda a certeza Eu vos asseguro
Tadeu; Simão, o zelote; que todos os pecados e blasfêmias dos
19 e Judas Iscariotes, que o traiu. homens lhes serão perdoados.
29 Todavia, quem blasfemar contra o Es-
O pecado sem perdão pírito Santo jamais receberá perdão. Pelo
(Mt 12.22-32; Lc 11.14-23) contrário, é culpado de pecado eterno”.
20 Foi então Jesus para casa. E uma vez 30 Jesus explicou isso porque eles esta-
mais grande multidão se apinhou, de tal vam exclamando: “Ele está possesso de
maneira que Ele e os seus discípulos não um espírito imundo”.6
conseguiam nem ao menos comer pão.
21 Quando os familiares de Jesus to- Jesus, sua mãe e seus irmãos
maram conhecimento do que estava (Mt 12.46-50; Lc 8.19-21)
acontecendo, partiram para forçá-lo a 31 Foi quando chegaram a mãe e os ir-
voltar, pois comentavam: “Ele perdeu mãos de Jesus. E ficando do lado de fora,
o juízo!”5 mandaram alguém chamá-lo.
22 Mas os mestres da lei, que haviam des- 32 E havia grande número de pessoas
cido de Jerusalém exclamavam: “Ele está sentadas em torno dele; e lhe avisaram:
possuído por Belzebu!”, e mais: “É pelo “Olha! Tua mãe, teus irmãos e tuas irmãs
príncipe dos demônios que ele expulsa estão lá fora e buscam por ti”.
os demônios”. 33 Então, Ele lhes respondeu com uma
23 Foi então que Jesus os chamou mais questão: “Quem é minha mãe, ou meus
para perto e lhes admoestou por pará- irmãos?”
bolas: “Como é possível Satanás expulsar 34 E, repassando com o olhar a todos
Satanás? que estavam sentados ao seu redor de-
24 Se um reino estiver dividido contra si clarou: “Aqui estão minha mãe e meus
mesmo, não poderá subsistir. irmãos!
25 Se uma casa se dividir contra si mes- 35 Pois qualquer pessoa que fizer a von-
ma, igualmente não conseguirá manter- tade de Deus, esse é meu irmão, irmã e
se firme. mãe”.7
26 Portanto, se Satanás se atira contra si
próprio e se divide, não poderá subsistir, A parábola do semeador
mas se destruirá. (Mt 13.1-9; Lc 8.4-8)
27 De fato, ninguém pode entrar na casa
do homem forte e furtar dali os seus
bens, sem que primeiro o amarre. Só
4 Retornou Jesus à beira-mar para en-
sinar. E a multidão que se juntou ao
seu redor era tão numerosa que o forçou
depois conseguirá saquear a casa dele. a entrar num barco, onde assentou-se. O

5 Um grupo de parentes e amigos de Jesus parte de Nazaré (terra natal de Jesus e sua parentela) e viaja cerca de 48 km para
tentar levá-lo à força de volta para a casa de seus pais e irmãos (José já havia morrido nessa época), pois se preocupavam muito
com a maneira como ele se entregava ao ministério de servir às multidões (Mt 1.25; Mt 12.46-50; Lc 2.7; Lc 8.19). Em hebraico,
a maneira como Jesus responde não é agressiva, mas enaltece os laços espirituais que devem unir a família de Deus para que
sejam ainda mais seguros, leais e duradouros, pois devem ter como princípio a obediência à Palavra. Esse foi o conceito-base
que originou a Igreja.
6 Belzebu é uma antiga expressão hebraica (Baal-zebude significa “senhor das moscas”, 2Rs 1.2,16) ligada ao líder máximo
dos demônios. A declaração de Jesus sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo é das mais solenes. Entretanto, o pecado
imperdoável não é um pensamento, ato ou palavra isolada, mas sim a persistente atitude de arrogância, oposição intencional e
rejeição explícita a Jesus Cristo e Sua Palavra. Essa é a maneira de ser de todos aqueles que amam mais as trevas do que a Luz
(Jo 3.19). Jesus não declarou que os mestres e líderes religiosos haviam efetivamente cometido esse pecado, mas que estavam
em iminente perigo.
7 Os parentes de Jesus ainda não acreditavam na Sua pessoa como Filho de Deus e Senhor dos Senhores (Jo 7.5). Não há
razão para concluir que os irmãos e irmãs de Jesus pudessem ser primos, filhos de José antes de seu casamento com Maria.
Assim como não há base bíblica e histórica para se aceitar a doutrina da virgindade perpétua de Maria, mãe de Jesus, dogma
católico instituído pelo Papa Pio IX em 1854.

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MARCOS 4 12

barco estava no mar e todo o povo agru- Jesus explica a parábola


pava-se na praia.1 (Mt 13.10-23; Lc 8.9-15)
2 E, assim, Ele lhes transmitia muitos en- 10 Quando se afastaram das multidões,
sinamentos por parábolas, e enfatizava os Doze e alguns outros que o seguiam
ao ministrar:2 lhe pediram para elucidar as parábolas.
3 “Escutai! Eis que o semeador saiu a 11 Então, lhes revelou: “A vós foi conce-
semear. dido o mistério do Reino de Deus; aos
4 Enquanto lançava a semente, parte dela de fora, entretanto, tudo é pregado por
caiu à beira do caminho, e chegaram as parábolas,4
aves e a devoraram. 12 com o propósito de que: ‘mesmo que
5 Outra parte caiu em solo pedregoso vejam, não percebam; ainda que ouçam,
e, não havendo terra suficiente, nasceu não compreendam, e isso para que não
rapidamente, pois a terra não era pro- se convertam e sejam perdoados’”.5
funda. 13 Então Jesus os questionou: “Se não
6 Contudo, ao raiar do sol, as plantas se compreendeis essa parábola, como po-
queimaram; e porque não tinham raiz, dereis entender todas as outras?
secaram. 14 O semeador semeia a Palavra.
7 Outra parte ainda caiu entre os espi- 15 Algumas pessoas são como a semente à
nhos; estes espinhos cresceram e sufo- beira do caminho, onde a Palavra foi se-
caram as plantas, e por isso não pôde meada. Mas assim que a ouvem, Satanás
dar frutos. vem e toma a Palavra nelas semeada.
8 Finalmente, outras partes caíram em 16 Assim também ocorre com a que foi
terra boa, germinaram, cresceram e semeada em solo pedregoso: são as pes-
ofereceram grande colheita, a trinta, soas que, ao ouvirem a Palavra, logo a
sessenta e até cem por um”.3 recebem com alegria.
9 E alertou: “Aquele que tem ouvidos 17 Entretanto, visto que não têm raízes
para ouvir, ouça!” em si mesmas, são de pouca perseve-

1 Jesus posicionou-se de forma a facilitar a transmissão do ensino para um grande número de pessoas de uma só vez. Preci-
sava evitar também o assédio das massas que literalmente o sufocavam na busca exclusiva da cura física. Jesus deseja ensinar
seu povo a viver em plena comunhão com Deus, e esse era um desafio maior do que curar as enfermidades do corpo. Sentar-se
era a postura tradicional dos mestres judeus da época (Mt 5.1; Lc 5.3; Jo 8.2).
2 As parábolas eram histórias tiradas da vida diária e usadas para ilustrar verdades espirituais e morais (Mt 13.3). Muitas vezes
na forma de comparações, analogias ou ditos proverbiais. Essas histórias eram um valioso recurso didático usado pelos grandes
mestres (2Sm 12.1-7 e Talmude). Conquistavam a atenção, prendiam o interesse, tornavam concretas idéias abstratas, levavam
o ouvinte a uma decisão correta, e, no caso de Jesus, guardavam em sigilo o mistério do Reino para os desprovidos de interesse
em adorar sinceramente a Deus e desenvolver uma sociedade justa (Mt 4.11-12; Lc 4.23, 15.3).
3 As sementes eram lançadas com o auxílio das mãos naquela época, e isso para que caíssem exatamente nas covas prepa-
radas para o plantio. Entretanto, algumas caíam em terreno improdutivo. Todavia, Jesus anuncia uma colheita excepcional (Gn
26.12), chegando a render 100 plantas produtivas por semente plantada. A colheita sempre foi uma figura (símbolo) da consuma-
ção dos tempos e do Reino de Deus (Jl 3.13; Ap 14.14-20).
4 Em grego, a expressão “mistério” tem o sentido de “oculto”, “insondável”, “secreto”. No NT refere-se ao conhecimento do
verdadeiro Deus. Verdade essa, outrora oculta, mas agora revelada na pessoa e obra de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Porém,
esse mistério não é acessível exclusivamente à razão humana; mas, sim, ao mais profundo dos sentimentos humanos (simboliza-
do no ocidente pelo coração, por ser um órgão vital, além do cérebro). A vontade de buscar a Deus e submeter-se à Sua Palavra,
ilumina o coração do crente. O principal mistério é a revelação de Deus e Seus propósitos na pessoa de Cristo (Mt 16.17). Por
isso, todos nós que fomos contemplados com essa revelação, devemos sentir grande júbilo e comemorar a Salvação todos os
dias, agindo para com Deus e na sociedade como cidadãos do Reino: com amor e reverência, graça e justiça. Compreende-
se o “Reino” em dois momentos: o presente reino reconhecido pelos cristãos sinceros e que reside nos mesmos, os quais se
submetem à vontade de seu Rei, Jesus Cristo, e o chamado “Reino Milenar”, que será inaugurado por ocasião da segunda (e
iminente) volta de Cristo (Ap 20.2).
5 O estilo de pregação e ensino de Jesus se assemelha ao ministério de Isaías, o qual conquistou muitos discípulos (Is 8.16),
mas igualmente desmascarou a falsidade e a dureza de muitos corações incrédulos face aos inúmeros apelos de Deus.

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13 MARCOS 4

rança. Ao surgir alguma tribulação ou A parábola do Reino


perseguição por causa da Palavra, rapi- (Mt 13.31-35; Lc 13.18-21)
damente sucumbem. 26 Então contou-lhes que: “O Reino de
18 Outras ainda, como a semente lançada Deus é semelhante a um homem que
entre os espinhos, escutam a Palavra, lançou a semente sobre a terra.
19 porém, quando chegam as preocupa- 27 Enquanto ele dorme e acorda, durante
ções da vida diária, a sedução da riqueza noites e dias, a semente germina e cres-
e todas as demais ambições, agridem e ce, embora ele desconheça como isso
sufocam a Palavra, tornando-a infrutí- acontece.
fera.6 28 A terra por si mesma produz o fruto:
20 Todavia, outras pessoas são como as primeiro surge a planta, depois a espiga,
que foram semeadas em terra boa: estas e, mais tarde, os grãos que enchem a
ouvem a Palavra, acolhem-na e oferecem espiga.
farta colheita: a trinta, sessenta e até cem 29 Assim que as espigas amadurecem, o
por um”. homem imediatamente lhes passa a foi-
ce, pois é chegado o tempo da colheita”.8
A parábola da luz encoberta
(Lc 8.16-18) A parábola do grão de mostarda
21 E lhes propôs: “Quem, porventura, (Mt 13.31-35; Lc 13.18-21)
traz uma candeia para colocá-la sob uma 30 E contou-lhes mais: “Com o que com-
vasilha ou debaixo de uma cama? Ao pararemos o Reino de Deus? Que pará-
invés, não a traz para ser depositada no bola buscaremos para
p representá-lo?
p
candelabro? 31 É como um grão de mostarda, que é
22 Pois nada há de oculto que não venha a menor das sementes que se planta na
a ser revelado, e nada em segredo que terra.
não seja trazido à luz do dia. 32 Porém, uma vez semeada, cresce e se
23 Se alguém tem ouvidos para ouvir, transforma na maior das hortaliças, com
ouça!” ramos tão grandes, a ponto de as aves
24 E seguiu ensinando: “Ponderai aten- do céu poderem abrigar-se sob a sua
tamente o que tendes ouvido! Pois com sombra”.9
a medida com que tiverdes medido vos
medirão igualmente a vós; e ainda mais O ensino parabólico de Jesus
vos será acrescentado! (Mt 13.34-35)
25 Porquanto, ao que tem mais se lhe 33 Assim, por meio de muitas parábolas
dará; de quem não tem, até o que tem lhe semelhantes Jesus lhes comunicava a Pa-
será retirado”.7 lavra, conforme a medida das possibili-

6 A prosperidade, a cultura e a boa formação acadêmica podem oferecer uma falsa e temporária sensação de auto-suficiência
e segurança (10.17-25; Dt 8.17,18; 32.15; Ec 2.4-11; Tg 5.1-6). Por outro lado, a pobreza, as perdas e os sofrimentos, podem
produzir rancor e mágoas injustas contra Deus (Ec 7.29; Rm 8.28).
7 Aqui temos uma exortação para não ficarmos reclamando do que nos falta, mas juntarmos tudo o que temos – no sentido
de condições humanas e recursos vários – e investirmos em nosso crescimento espiritual e humano no Reino de Deus. Deus co-
nhece bem todas as nossas limitações e não espera que venhamos a ser perfeitos, ou consigamos isso ou aquilo, para vivermos
plenamente (Jo 10.10). Quanto mais nos apropriamos da Verdade (a Palavra) agora, tanto mais recebe-remos no futuro. Se não
valorizarmos e correspondermos ao pouco de revelação que temos recebido, aqui e agora, nem isso nos adiantará no futuro.
8 Esta parábola foi registrada apenas no livro de Marcos. Enquanto a história do semeador revela a importância de um solo
fértil para receber a boa semente (a Palavra); aqui se evidencia o poder misterioso da própria semente: com o passar do tempo,
vai realizando seu trabalho de fazer germinar, crescer e dar frutos (1Pe 1.23-25). Devemos, portanto, semear sempre e em todos
os corações humanos sobre a face da terra.
9 Embora possua uma das menores sementes dentre as hortaliças, a mostarda palestina pode crescer até uma altura de 4 me-
tros. A parábola ilustra a expansão poderosa e impressionante do Cristianismo em todo o mundo, apesar do seu humilde início:
um pobre mestre vindo de uma inexpressiva família e cidade da Galiléia que, seguido por um pequeno grupo de homens – quase
todos incultos – pregou durante alguns anos sobre a chegada do Reino, afirmando ser Deus encarnado.

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MARCOS 4, 5 14

dades de compreensão de seus ouvintes. Silencia-te!” E logo o vento serenou, e


34 E nada lhes transmitia sem usar algu- houve completa bonança.
ma parábola. Entretanto, quando estava 40 E indagou aos seus discípulos: “Por
em particular com os seus discípulos, que sois covardes? Ainda não tendes fé?”
explicava-lhes tudo clara-mente. 41 Os discípulos, contudo, estavam toma-
dos de terrível pavor e comentavam uns
A tempestade se submete a Jesus com os outros: “Quem é este que até o
(Mt 8.23-27; Lc 8.22-25) vento e o mar lhe obedecem?”13
35 Naquele mesmo dia, ao cair da tarde,
pediu aos seus discípulos: “Passemos A libertação de um possesso
para a outra margem”.10 (Mt 8.28-34; Lc 8.26-39)
36 Eles, então, despedindo-se da mul-
tidão, o levaram no barco, assim como
estava. E outros barcos o seguiam.
5 E assim, atravessaram o mar e foram
para a região dos gerasenos.1
2 Logo que Jesus desceu do barco, veio
37 Aconteceu que levantou-se um tre- dos sepulcros, caminhando ao seu en-
mendo vendaval, e as grandes ondas contro, um homem possuído por um
se jogavam para dentro do barco, de espírito imundo.
maneira que este foi se enchendo de 3 Esse homem vivia em meio aos sepul-
água.11 cros e não havia quem conseguisse do-
38 Jesus estava na popa, dormindo com a miná-lo, nem mesmo com correntes.
cabeça sobre um travesseiro. Os discípu- 4 Muitas vezes já haviam acorrentado
los o despertaram e suplicaram: “Mestre! seus pés e mãos, mas ele arrebentava os
Não te importas que pereçamos?”12 grilhões e estraçalhava algemas e corren-
39 Então, Ele se levantou, repreendeu o tes. Ninguém tinha força para detê-lo.
vento e ordenou ao mar: “Aquieta-te! 5 E, noite e dia, sem repouso, perambula-

10 Jesus partiu do território da Galiléia com o objetivo de ir até a margem leste do mar da Galiléia; a região dos gerasenos (5.1).
11 O mar (ou grande lago) da Galiléia, localizado numa bacia cercada por montanhas, onde se destaca o monte Hermon, ainda
hoje é sujeito a grandes tempestades, que descem às vezes dos altos montes e atingem com violência o lago de Quinerete (ou
Tiberíades), que fica 200 metros abaixo do nível do mar Mediterrâneo.
12 A impetuosidade e o temor dos discípulos ilustram claramente o comportamento humano diante das várias situações ad-
versas da vida. Temos a tendência de perguntar: Por quê? Ou de instigar a Deus como se Ele fosse nosso segurança pessoal:
O Senhor não está vendo? Em contraste, temos a segurança tranqüila de Jesus ao nosso lado (Lc 8.23). Mais tarde, a Igreja
Primitiva veria nesta experiência um grande consolo, diante das terríveis perseguições que sofreria por amor a Cristo e à evange-
lização dos povos. Por isso, desde os primórdios, a figura do barco passou a ser identificada como um dos símbolos da Igreja,
na arte cristã. É compreensível que sintamos medo e insegurança. Todavia, Jesus não admite que seus filhos sejam covardes
(literalmente em grego , pessoas que perdem o ânimo, a vontade de lutar, e se desesperam; tímidos - no sentido de
medrosos – pois não confiam em um amigo que os possa ajudar). Nossa fé deve ir além da certeza de que Jesus está conosco e
pode sanar qualquer dificuldade; devemos crer que – haja o que houver – Ele nos ajudará a atravessar os problemas e a chegar
em terra firme (Sl 23).
13 Esta é a grande e angustiante pergunta da humanidade. Todas as pessoas, um dia, terão de dar uma resposta objetiva a
essa questão. Se respondermos a ela como fez Marcos (1.1), devemos seguir a Jesus como Nosso Rei e Filho de Deus. Se nossa
resposta for qualquer coisa diferente disso, devemos assumir as conseqüências da incredulidade (3.28-29). Deus demonstrou Sua
presença em Cristo, e não apenas o Seu poder (Sl 65.7; 107.25-30; Pv 30.4). Jesus ainda investiria muito tempo e energia em ensino
e discipulado; realizaria também muitos outros milagres e sinais até que seus seguidores se dessem conta da Sua plena divindade;
de que eram pessoas salvas e cidadãos do Reino, e da missão para a qual foram escolhidos e chamados como discípulos.
Capítulo 5
1 Gerasa ficava cerca de 60 km a sudeste do mar da Galiléia e chegou a possuir terras no litoral leste do mar, dando seu nome
à pequena aldeia onde Jesus e seus discípulos aportaram. Hoje é conhecida como Khersa. Próximo dali, menos de 2 km ao sul,
há um precipício íngreme, e não distante encontram-se ruínas de cavernas que abrigaram antigos túmulos. Algumas pessoas,
especialmente gentios (não judeus), doentes e sem família costumavam viver nessas cavernas em meio aos sepulcros. Alguns
manuscritos gregos de Mateus (Mt 8.28-34), denominam os habitantes desse território de “gadarenos”, outros originais dizem
“gergesenos”. A maioria da população dessa região era formada por gentios, como revela a grande criação de porcos. Animais
considerados impuros pelos judeus e, portanto, proibidos de servirem como alimento ou sequer serem tocados.

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va por entre os sepulcros e pelas colinas, cipício abaixo, em direção ao mar, e nele
gritando e cortando-se com lascas de se afogaram.
rocha.2 14 As pessoas que apascentavam os por-
6 Ao avistar Jesus, ainda de longe, correu cos fugiram e relataram esses fatos na ci-
e atirou-se aos seus pés. dade e nos campos, e todo o povo correu
7 E clamou aos berros: “Que queres de para ver o que se havia passado.
mim, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? 15 Quando chegaram próximo de Jesus,
Suplico-te por Deus que não me ator- observaram ali o homem que fora toma-
mentes!”3 do por uma legião de demônios, assenta-
8 Pois Jesus já lhe havia ordenado: “Sai do, vestido e em perfeito juízo. E ficaram
deste homem, espírito imundo!” assustados.
9 Todavia, Jesus o interrogou: “Qual é o 16 Os que presenciaram os fatos narra-
teu nome?” Respondeu ele: “Meu nome é ram ao povo o que havia ocorrido com
Legião, porque somos muitos”.4 o endemoninhado, e contaram também
10 E implorava insistentemente para que sobre os porcos.
Jesus não os mandasse para fora daquela 17 Então o povo começou a implorar a
região.5 Jesus que se afastasse daquela região que
11 Enquanto isso, perto dali, numa colina lhes pertencia.
vizinha, uma grande manada de porcos 18 E, quando Jesus estava entrando no
estava pastando. barco, o homem que fora possuído pelos
12 Foi então que os demônios rogaram a espíritos imundos, rogava-lhe que o dei-
Jesus: “Manda-nos para os porcos, para xasse seguir com Ele.
que entremos neles”. 19 Jesus não consentiu; entretanto, orien-
13 E Jesus lhes deu permissão, e os es- tou-o: “Vai para tua casa, para a tua fa-
píritos imundos deixaram o homem e mília e anuncia a eles tudo quanto Deus
entraram nos porcos. E a manada com tem realizado a teu favor, e como teve
cerca de dois mil porcos atirou-se pre- misericórdia de ti”.6

2 A descrição do estado deste homem, invadido e dominado por um exército de demônios, representa em detalhes a situação
da humanidade em todas as partes do mundo. O propósito e a força de Satanás e seus espíritos fica igualmente bem evidente
(Jo 10.10). O ser humano é a mais preciosa obra de Deus; no qual projetou Sua própria imagem (em grego eikõn cujo significado
é “semelhança derivada, que implica num arquétipo” – Gn 1.27; 9.6). Os demônios têm a missão de atormentar e destruir a
semelhança divina (em latim imago Dei) nos seres humanos.
3 O sentido original da frase em hebraico traz a idéia de “O que temos a ver um com o outro?” Expressões semelhantes são
encontradas no AT (2Sm 16.10; 19.22), e que podem significar: “Cuide dos seus assuntos!” Ao perceber que seria castigado
severamente, o líder dos demônios ironizou um apelo, reconhecendo com precisão a majestade da pessoa de Cristo. A expressão
“Altíssimo” era um vocábulo muito especial, usado principalmente por gentios, para se referir à soberania de Deus. Em grego
transliterado Hupistos e, em hebraico Elyon (Gn 14.18-22; Nm 24.16; Is 14.14; Dn 3.26; 4.2).
4 A expressão latina “legião” era muito conhecida na época, pois representava uma força militar romana composta de até 6.000
soldados. O termo indica que o homem estava possuído por grande quantidade de demônios. Era comum entre os mestres em
exorcismo, procurar conhecer o nome individual dos espíritos que haviam tomado o corpo de determinada pessoa. Eles acredi-
tavam que só assim podiam dominar totalmente cada um desses demônios e expulsá-los. Jesus demonstrou que incorporava
em si o poder de Deus, expulsando milhares de espíritos sem lhes pedir qualquer identificação. Apenas mencionando o nome do
líder, que estava absolutamente fragilizado e apavorado com a simples presença de Jesus.
5 Satanás e seus demônios são estrategistas sagazes, podem se organizar em exércitos para tentar o domínio de territórios e
regiões (o termo grego chõran, foi traduzido em algumas versões da Bíblia como “país”, entretanto, sua tradução mais apropriada
é “região”). Porém, o grande temor desses espíritos é serem mandados para o castigo eterno. Ou seja, “para o abismo”, lugar de
confinamento destinado aos espíritos malignos e ao próprio Satanás (Ap 9.1-11).
6 Jesus envia o homem gentio, agora salvo, como missionário (Mt 28.19), para pregar aos seus. Entre os gentios pagãos não
havia necessidade de guardar temporariamente o segredo messiânico que tantas vezes Jesus pediu aos seus irmãos judeus (Mt
8.4; Mc 1.34,44; 3.12). A palavra “Senhor” (Lc 8.39), em hebraico e no dialeto aramaico, refere-se a “Deus” (nome que os judeus
não pronunciam em sinal de respeito, e quando o escrevem em português o fazem com um hífen no lugar da letra “e”, ou seja:
“D-us”, tendo em mente o tetragrama hebraico impronunciável do AT ).

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MARCOS 5 16

20 Então, partiu aquele homem, e come- 29 E, naquele instante, se lhe estancou a


çou a pregar por toda a Decápolis as coi- hemorragia, e a mulher sentiu em seu
sas que Jesus havia feito por ele. E todos corpo que estava liberta do seu sofri-
ficavam maravilhados.7 mento.
30 No mesmo momento, ao sentir que do
Jesus vence a doença e a morte seu interior fora liberado poder, Jesus vi-
(Mt 9.18-26; Lc 8.40-56) rando-se em meio à multidão, inquiriu:
21 E retornando Jesus de barco para a “Quem tocou em meu manto?”11
outra margem, numerosa multidão, 31 Ao que os discípulos alegaram-lhe:
uma vez mais, se formou ao seu redor, “Vês a multidão que te comprime de
enquanto estava na praia. todos os lados e perguntas: ‘Quem me
22 Foi quando chegou ali um dos dirigen- tocou?’”
tes da sinagoga local, chamado Jairo. Ao 32 No entanto, Jesus continuou olhando
ver Jesus, prostrou-se aos seus pés.8 ao seu redor, esperando ver quem havia
23 E lhe pediu aos prantos e com insis- feito aquilo.
tência: “Minha filha pequena está à beira 33 Então, a mulher, assustada e trêmula,
da morte! Vem, impõe tuas mãos sobre sabendo o que lhe tinha sucedido, apro-
ela, para que seja curada e viva”. ximou-se e prostrando-se aos seus pés
24 Então Jesus foi com ele. E uma enorme declarou-lhe toda a verdade.
multidão o acompanhava, apertando-o 34 E Jesus afirmou-lhe: “Minha filha, a
de todos os lados. tua fé te salvou! Vai-te em paz e estejas
25 E estava por ali certa mulher que, liberta do teu sofrimento”.
havia doze anos, vinha padecendo de 35 Enquanto Jesus ainda estava falando,
hemorragia. chegaram algumas pessoas vindas da casa
26 Ela já tinha sofrido demasiado sob os de Jairo, o dirigente da sinagoga, a quem
cuidados de vários médicos e gastara informaram: “Tua filha já está morta! Não
tudo o que possuía; porém, em vez de adianta mais incomodar o Mestre”.
melhorar, ia de mal a pior.9 36 Mas Jesus não deu atenção àquelas
27 Tendo ouvido falar a respeito de Jesus, notícias, e voltando-se para o dirigente
passou pelo aglomerado de pessoas e da sinagoga o encorajou: “Não temas,
conseguiu tocar em seu manto. tão somente continue crendo!”12
28 Pois dizia consigo mesma: “Se eu pu- 37 E ordenou que ninguém o acompa-
der ao menos tocar as suas vestes, ficarei nhasse a não ser Pedro, Tiago e João,
curada”.10 irmão de Tiago.13

7 Decápolis era uma confederação formada por dez cidades gregas, localizadas ao nordeste da Palestina, e incluía a famosa
cidade de Damasco.
8 O dirigente de uma sinagoga, ou numa forma arcaica: “o principal”, era comumente um leigo com habilidades e responsabi-
lidades administrativas, entre elas: zelar pelo patrimônio, atender às necessidades legais e sociais exigidas e cooperar para que
os rabinos pudessem dedicar-se completamente ao ministério pastoral e do ensino. Em grandes sinagogas podia haver até uma
equipe de “administradores” (At 13.15).
9 Além do sofrimento físico crônico, a mulher ainda sofria o desprezo da sociedade da época por ser considerada impura. Pela lei
qualquer pessoa que se aproximasse dela ficaria igualmente impura (Lv 15.25-33). O Talmude (interpretação e aplicação da Lei de Moi-
sés ao contexto da vida diária dos judeus) registrava uma série de remédios e tratamentos receitados para doenças de vários tipos.
10 Mateus especifica que o toque ocorreu “na orla” do manto (Mt 23.5).
11 A palavra grega aqui traduzida como “poder” é dunamis, o termo mais usado para designar “milagre” e significa o poder
sobrenatural e pessoal de Deus. Curiosamente, o termo grego, usado por Jesus, está no feminino, indicando assim que o Senhor
tinha conhecimento de “quem” o tocara, porém, desejava que a mulher testemunhasse e solidificasse sua fé em Deus. Embora a
cura tivesse sido importante (como sempre é), Jesus fez uso de um jogo de palavras para revelar claramente ao coração daquela
mulher que ainda mais importante do que a saúde física é a salvação eterna da alma, e por isso escolheu a palavra “salvou”
(vs.34), no original em grego .
12 Os tempos verbais no original grego formam a seguinte frase literal: “Pára de temer; continua crendo”.
13 Pedro, Tiago e João tinham um relacionamento especial, mais chegado com Jesus (At 3.1). Jesus permitiu a presença de

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17 MARCOS 5, 6

38 Assim que chegaram à casa do di- 2 Com a chegada do sábado, começou a


rigente da sinagoga, Jesus observou ensinar na sinagoga local, e muitos dos
grande agitação, com muitas pessoas que o escutavam ficavam admirados e
consternadas, chorando e se lamentando exclamavam: “De onde lhe vem tudo
em alta voz. isto? E que sabedoria é esta que lhe foi
39 Ao entrar na casa lhes questionou: “Por outorgada?
que estais em alvoroço e pranteais? A 3 Não é este o carpinteiro, filho de Maria
criança não morreu, mas está dormindo!” e irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E
40 E todos ali menosprezaram o juízo fei- não convivem conosco suas irmãs?” E fi-
to por Jesus. Ele, contudo, mandou que caram escandalizados por causa dele.1
saíssem, chamou para perto de si o pai 4 Contudo Jesus lhes afirmou: “Somente
e a mãe da criança, bem como os discí- em sua própria terra, junto aos seus pa-
pulos que estavam em sua companhia, e rentes e em sua própria casa, é que um
adentrou o recinto onde jazia a criança. profeta não é devidamente honrado”.2
41 Então, pegando na mão da menina, 5 E, por isso, não podia realizar ali ne-
ordenou em aramaico: “Talitha koum!”, nhum milagre, com exceção feita a alguns
que significa “Filhinha! Eu te ordeno, doentes, que ao impor de suas mãos fo-
levanta-te!”14 ram curados.
42 E no mesmo instante, a menina que 6 E perplexo com a falta de fé por parte
tinha doze anos de idade, ergueu-se do dos seus, passou a percorrer os povoados
leito e começou a andar. Diante disso, vizinhos e os ensinava.
todos ficaram assombrados.
43 Então Jesus lhes recomendou expres- Jesus envia os Doze em Missão
samente para que nenhuma outra pessoa (Mt 10.5-15; Lc 9.1-6)
viesse a saber do que haviam presencia- 7 Convocou então os Doze para junto
do. E mandou que dessem algo de comer de si e os enviou de dois em dois, conce-
à menina. dendo-lhes autoridade sobre os espíritos
imundos.3
Jesus é rejeitado pelos seus 8 E determinou que nada levassem pelo
(Mt 13.53-58; Lc 4.16-30) caminho, a não ser um cajado somente;

6 Então, partiu Jesus dali e foi para sua


terra natal, na companhia dos seus
discípulos.
nem pão, nem mochila de viagem, nem
dinheiro em seus cintos.
9 Que andassem calçados com sandálias,

apenas cinco testemunhas, na ocasião deste milagre. Isso para evitar uma divulgação imediata e incontrolável da notícia. Era de vital
importância, para sua Missão, que Jesus não fosse alvo da atenção das autoridades religiosas judaicas, especialmente na Judéia.
14 Marcos é o único dos Evangelhos que, nesse caso, conserva a expressão original em aramaico, dialeto hebraico falado mais
precisamente na cidade de Nazaré, por Jesus, seus familiares e discípulos. A expressão transliterada Talitha koum! (pronuncia-se
“Talita cumi!”), e significa literalmente “Cordeirinha, levante-se!”
Capítulo 6
1 Mateus apresenta Jesus como “o filho do carpinteiro” (Mt 13.55), Marcos informa que ele também foi carpinteiro. A palavra
grega usada por Marcos descreve o trabalho de um artesão, análise que leva à conclusão de que Jesus poderia igualmente ter
trabalhado como escultor, ferreiro ou marceneiro, juntamente com seus familiares. O termo “escândalo” foi literalmente usado
nos originais em grego para descrever a reação de alguns parentes e conhecidos de Jesus, que sabendo
que ele era um trabalhador braçal (como a maioria deles), nascido em uma família humilde, não conseguiam compreender, nem
aceitar, como Jesus podia pregar com tanta unção e sabedoria. Justino Mártir (por volta de 160 d.C.) relata em seus escritos que
em sua época era comum às pessoas procurarem artigos de madeira feitos por Jesus.
2 Jesus revelou várias profecias antigas que anteviam sua chegada e ministério messiânico, uma delas é sobre o Profeta de
Dt 18.15,18. O primeiro dos grandes sermões de Pedro, em Atos, mostra claramente que Jesus é o sucessor maior de Moisés
e Davi (At 3.22).
3 Os discípulos saíram para ministrar em duplas, isso reforçaria a credibilidade dos testemunhos, conforme a lei (Dt 17.6), além
de oferecer encorajamento mútuo durante o tempo de ministério no campo missionário. Eles receberam autoridade da mesma
fonte que abastecia Jesus (Jo 17.2), a qual Ele concede aos seus discípulos ainda hoje (Lc 9.1; Jo 20.21-23).

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MARCOS 6 18

mas não carregassem duas túnicas.4 mento do que se comentava, exclamou:


10 E recomendou-lhes: “Sempre que en- “João, a quem mandei decapitar, ressus-
trardes em uma casa, nela permanecei citou dos mortos!”.
até vos retirardes de lá. 17 Porque o próprio Herodes havia ex-
11 Contudo, se alguma aldeia não vos re- pedido as ordens para que prendessem
ceber nem vos quiser ouvir, ao partirdes João e o acorrentassem no cárcere por
desse lugar, sacudi a poeira de debaixo influência de Herodias, esposa de Filipe,
de vossos pés como testemunho contra seu irmão, com a qual viera a se casar.
eles”.5 18 Pois, na ocasião, João havia admoesta-
12 Eles partiram e pregavam que todos se do a Herodes: “Não te é lícito viver com a
arrependessem. mulher do teu irmão!”.8
13 E expulsavam muitos demônios; un- 19 E por esse motivo Herodias o odiava e
giam com óleo a inúmeros doentes e os tencionava matá-lo. Contudo não conse-
curavam.6 guia realizar seu intento.
20 Porquanto Herodes temia a João, e
João Batista é executado sabedor de que era um homem justo e
(Mt 14.1-12; Lc 9.7-9) santo, o protegia. E quando o ouvia fi-
14 E essas notícias chegaram aos ouvidos cava admirado, e o escutava com prazer.9
do rei Herodes, porquanto o nome de 21 Finalmente Herodias teve a ocasião
Jesus já havia se tornado célebre. Algu- oportuna que ansiava. No dia do aniver-
mas pessoas estavam comentando: “João sário dela, Herodes ofereceu um banque-
Batista ressuscitou dos mortos! Essa deve te aos seus líderes mais destacados, aos
ser a razão pela qual através dele se ope- comandantes militares e às principais
ram poderes milagrosos”. personalidades da Galiléia.
15 Entretanto, outros alegavam: “Ele é 22 E aconteceu que a filha de Herodias se
Elias!”. E ainda outros declaravam: “Ele apresentou dançando e muito agradou a
é profeta, como um daqueles profetas Herodes e aos convidados. Então, o rei
do passado”.7 brindou a jovem: “Pede-me o que dese-
16 Mas quando Herodes tomou conheci- jares, e eu te darei!”.

4 Ganhar a vida comunicando mensagens de otimismo e legalismo, sem uma sólida base bíblico-teológica não é uma invenção
do capitalismo, nem apenas prática comum nos dias de hoje. Na época de Cristo já havia muitos mestres que cobravam altos
cachês para pregar mensagens meramente humanas, mas apresentadas como divinas (2Co 2.17). Uma característica desses fal-
sos mestres era a preocupação exagerada com o próprio suprimento financeiro. Por isso, Jesus mandou que seus discípulos se
preocupassem exclusivamente em servir a Deus proclamando o Evangelho, e descansassem absolutamente na provisão divina
quanto à totalidade das suas demais necessidades (Mt 10.10; 1Co 9.7-11; Gl 6.6). Dependeriam da sua fé no Senhor, que tocaria
o coração dos seus ouvintes para suprí-los do pão, das vestes e do alojamento de cada dia. Uma túnica, extra, poderia servir de
cobertor durante as frias noites no deserto, mas Jesus prometeu-lhes uma família para compartilhar as Boas Novas, e uma casa
onde se alimentar e repousar. Não ficariam ao relento e sem amparo, como muitos falsos mestres.
5 Os pagãos eram tão repugnantes para os judeus, que até o pó de suas sandálias era motivo de rejeição. Jesus usa essa
metáfora para ilustrar o mal que a rejeição ao Evangelho e aos verdadeiros ministros do Evangelho pode causar. Recusar as Boas
Novas reduz qualquer pessoa, inclusive um judeu, ao nível do mais asqueroso dos pagãos. E essa é uma advertência igualmente
válida para os nossos dias. Isso aumenta a responsabilidade do povo de Deus de não dar motivos para que os que ainda não
crêem rejeitem a mensagem das Boas Novas.
6 Jesus curou inúmeras pessoas e multidões sem jamais ter usado óleo, mas recomendou aos discípulos que assim o fizessem,
pois era uma prática antiga dos judeus, e esse deveria ser mais um sinal de dependência do Senhor (Is 1.6; Lc 10.34; Tg 5.14).
7 João passou a vida pregando e preparando o coração das pessoas para a vinda de Jesus (Ml 4.5-6), sem nunca ter realizado
um milagre (Jo 10.41), mas havia o temor de que, se ele viesse a ressuscitar, todos os milagres lhe seriam possíveis (Mt 12.39-40).
Marcos usou o título popular de Herodes, uma vez que ele não era rei de fato, mas o tetrarca da região.
8 Flávio Josefo relata em seus escritos que João ficou encarcerado em Maquero, uma fortaleza localizada na Peréia, a leste
do mar Morto. Herodias era neta de Herodes, o grande, e Marianne; sobrinha de Herodes. Enquanto o irmão de Herodes vivia,
este último não podia se casar com sua cunhada ainda que divorciada do marido; visto que, pela lei, isso é considerado adultério
(Lv 18.16; 20.21).

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19 MARCOS 6

23 E sob juramento lhe assegurou: “Se era tão grande que eles sequer tinham
pedires, ainda que seja a metade do meu tempo para comer.
reino, eu te darei!”.10 32 E saindo de barco foram para um local
24 Diante disso, saiu a moça e consultou despovoado.
sua mãe: “O que devo pedir?”. Ao que ela 33 Entretanto, muitos dos que os viram
recomendou: “A cabeça de João Batista!”. retirar-se, tendo-os reconhecido, saíram
25 Sem demora, retornando imediata- correndo a pé de todas as cidades e che-
mente à presença do rei, formalizou seu garam lá antes deles.
pedido: “Quero que me dês agora mesmo 34 Quando Jesus desceu do barco e ob-
a cabeça de João Batista sobre um prato!” servou aquele enorme ajuntamento de
26 Então, grande angústia sobreveio ao pessoas, sentiu compaixão por elas, por-
rei, mas devido ao juramento que fize- quanto eram como ovelhas sem pastor.
ra e aos convivas que se reclinavam ao E, sem demora, passou a ministrar-lhes
redor da sua mesa, não quis deixar de muitas orientações.11
atendê-la. 35 Com o passar das horas, o final da
27 Mandou, portanto, imediatamente um tarde estava chegando, e por isso, os
carrasco com ordens para trazer a cabeça discípulos se aproximaram de Jesus e
de João. O executor foi e decapitou João avisaram: “Este lugar é deserto e a hora
na prisão. já muito avançada!12
28 E, trazendo a cabeça de João sobre um 36 Despede, pois, a multidão para que
prato, a entregou à jovem, e esta, em se- possam ir aos campos e povoados vizi-
guida, a ofereceu à sua mãe. nhos comprar para si o que comer”.
29 Assim que souberam do fato, os discí- 37 Jesus porém os instruiu: “Provede-lhes
pulos de João foram até lá, resgataram o vós mesmos de comer”. Ao que lhe repli-
corpo e o depositaram em um sepulcro. caram: “Devemos ir e comprar cerca de
duzentos denários de pão para dar-lhes
Jesus multiplica o pão de comer?”13
(Mt 14.13-21; Lc 9.10-17; Jo 6.1-15) 38 Mas Jesus lhes indaga: “Quantos pães
30 Retornaram os apóstolos e reuniram- tendes? Ide verificar!”. E tendo-se infor-
se com Jesus para lhe relatar tudo quanto mado, comunicaram: “Cinco pães e dois
haviam realizado e ensinado. peixes”.
31 Então convidou-lhes Jesus: “Vinde 39 Então Jesus determinou-lhes que
somente vós comigo, para um lugar fizessem com que todo o povo se acomo-
deserto, e descansai um pouco”. Pois, a dasse em grupos, reclinados sobre a relva
multidão dos que chegavam e partiam verde do campo.14

9 Herodes gostava de ouvir a mensagem de João e chegava a ficar confuso em relação à sua vida e à proposta do Reino. Entretan-
to, como infelizmente ocorre com muitas pessoas, seu coração não se arrependia e, portanto, não podia haver conversão (At 26.28).
Gostar dos princípios bíblicos ou acreditar que a vida cristã é um bom caminho não é o suficiente para salvar qualquer pessoa.
10 Oferecer metade do reino era uma força de expressão antiga e típica dos monarcas que durante celebrações especiais
gostavam de demonstrar sua generosidade com a finalidade de bem impressionar seus convidados (Et 5.3,6). Herodes não era
rei, embora apreciasse ser considerado assim, segundo os escritos de Josefo. Meio embriagado, prometeu a Salomé, filha de
Herodias, o que não podia dar, pois era vassalo de Roma.
11 Jesus viu as pessoas como ovelhas sem pastor (Sl 23.1,2), pois: 1) Carecem de alimento espiritual e da água da vida (Jo 6.35).
2) Necessitam de direção para encontrar o aprisco eterno (Jo 10.16) e 3) Precisam de proteção contra o Inimigo (Jo 10.28).
12 O vocábulo “deserto”, embora signifique apenas um lugar não habitado, e que se situava a nordeste do grande lago (chamado
de mar) da Galiléia, liga o milagre de Jesus à provisão de Deus para seu povo no deserto, quando lhes enviou o maná (Êx 16).
13 Um dia de trabalho braçal correspondia, em geral, a um denário (Mt 20.2). Os discípulos estavam calculando um valor
equivalente a cerca de oito meses de trabalho de uma pessoa.
14 Ao redor da Galiléia é comum a grama ficar bem verde nos finais de inverno. Jesus usou a expressão “reclinar”, que era a
maneira típica como os povos orientais da época se postavam às refeições. Era como se os discípulos estivessem avisando que
o almoço seria servido em breve.

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MARCOS 6 20

40 E assim o fizeram, assentando-se em 47 Chegando a noite, o barco estava no


grupos de cem em cem e de cinqüenta meio do mar, e Jesus encontrava-se sozi-
em cinqüenta.15 nho em terra.
41 E, tomando Ele os cinco pães e os dois 48 Ele notou que os discípulos remavam
peixes, elevou os olhos ao céu, rendeu com dificuldade, pois o vento soprava
graças e partiu os pães. A seguir, os en- contra eles. Em plena madrugada, Jesus
tregou aos seus discípulos para que os vinha na direção deles, andando sobre o
servissem ao povo. Da mesma maneira mar; e já estava prestes a passar por eles.18
repartiu os dois peixes entre toda a mul- 49 Assim que o viram caminhando sobre
tidão ali reunida. as águas, logo pensaram se tratar de um
42 Todas as pessoas comeram à vontade e fantasma. E por isso gritaram.19
ficaram satisfeitas.16 50 Pois todos o tinham visto e ficaram
43 Os discípulos ainda recolheram doze apavorados. Contudo, Jesus lhes anun-
cestos repletos de pedaços de pão e de ciou: “Tende coragem! Sou Eu! Não
peixe. tenhais medo!”.
44 E foram alimentados cinco mil ho- 51 Então logo subiu no barco para junto
mens naquele dia. deles, e o vento se acalmou; e eles ficaram
pasmos.
Jesus caminha sobre as águas 52 Afinal, eles nem tinham entendido o
(Mt 14.22-36; Jo 6.16-24) milagre dos pães, porquanto seus cora-
45 Logo em seguida, insistiu com os ções se mantinham endurecidos.20
discípulos para que entrassem no barco
e seguissem adiante dele para Betsaida, Muitos creram e foram curados
enquanto Ele se despedia do povo.17 (Mc 14.34-36)
46 Tendo-o despedido, subiu a um monte 53Depois de atravessarem o mar, chega-
para orar. ram a Genesaré e ali aportaram.21

15 Essa formação relembra a ordem do acampamento mosaico no deserto (Êx 18.21). A palavra “grupos” (em grego,
) significa: “canteiros de jardim”.
16 O antigo ato de graças judaico pelo pão era baseado na Torá: “Louvado sejas Tu, ó Senhor, nosso Deus, Rei do mundo, que
tiras pão da terra” (Lv 19.24). Os pães e os peixes passaram a representar a ceia do Senhor nas obras de arte da igreja primitiva,
e muitas delas foram encontradas nas catacumbas de Roma. Alguns historiadores e teólogos tentam diminuir o impacto deste
milagre de Jesus alegando que ele teria repartido seu almoço com os discípulos, e esses orientado os grupos para, da mesma
forma, dividir entre si o alimento que cada pessoa teria trazido. Entretanto é sugestivo que o próprio Jesus tenha pedido aos discí-
pulos para verificarem quantos pães e peixes havia entre eles (v.38); e foi a partir da multiplicação dessas poucas unidades que se
produziu o suficiente para fartar 5.000 homens (na época não se contavam as mulheres e crianças) a ponto de sobrar doze cestos
cheios de pedaços que, conforme a tradição judaica, deveriam ser recolhidos do chão (Mt 15.37). Além disso, havia profecias por
meio das quais Deus prometera que com a chegada do verdadeiro Pastor, o deserto se tornaria em pastagens verdejantes onde
as ovelhas seriam acolhidas e alimentadas (Ez 34.23-31), e aqui o Messias celebra um banquete com seus seguidores no deserto
(Is 25.6-9). Considerando que as cidades vizinhas, Cafarnaum e Betsaida, tinham uma população de cerca de 2500 pessoas cada,
a multidão que se reuniu com Jesus veio de vários lugares e representou um ajuntamento significativo para os padrões da época.
E essas notícias abalaram os líderes judaicos e romanos.
17 João informa que o povo estava disposto a levar Jesus à força, e coroá-lo rei dos judeus (Jo 6.14,15), por isso, ele mandou
seus discípulos para o outro lado do lago enquanto, sem ser notado, subia o monte para orar só.
18 A expressão “por volta da quarta vigília da noite”, como consta dos originais, significa um período de tempo que vai
das três às seis horas da manhã (Mt 14.25). Ao andar sobre as águas, Jesus demonstra uma vez mais o poder majestoso e
transcendente do Senhor, que reina sobre o mar (grande motivo de temor dos judeus) e todas as demais forças da natureza
(Sl 89.9; Is 51.10,15; Jr 31.35).
19 As lendas e superstições alimentadas entre a população judaica afirmavam que a visão de um fantasma perambulando durante
a noite, era sinal de grande desgraça iminente. Somado ao medo natural que os judeus tinham do mar, é certo que os discípulos
ficaram aterrorizados com a impressão de que estavam sendo atacados por um terrível espírito das profundezas das águas.
20 Para Deus é mais fácil dominar as forças da natureza e do cosmo, do que fazer o coração humano acreditar em Jesus com fé
e obediência amáveis. Como os israelitas no deserto, os discípulos presenciaram muitos milagres portentosos; mesmo assim, em
seu íntimo, eram incrédulos; seus corações estavam empedernidos, à semelhança dos opositores de Jesus (8.17-21; Êx 4.21).
21 Genesaré era uma planície muito fértil, localizada a sudoeste de Cafarnaum. Uma analogia à fertilidade da fé que as

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21 MARCOS 6, 7

54 Logo que desembarcaram o povo re- 5 Então os fariseus e os mestres da lei


conheceu Jesus. questionaram a Jesus: “Por qual razão os
55 Multidões viajavam por toda aquela seus discípulos não andam em confor-
região, levando seus enfermos em macas, midade com a tradição dos anciãos, mas
para onde ouviam que Ele estava. tomam o pão com mãos impuras?”
56 E onde quer que Ele fosse ministrar, 6 Ele, entretanto, lhes afirmou: “Bem
povoados, cidades ou campos, a popu- profetizou Isaías a respeito de vós, hipó-
lação trazia os doentes para as praças. E critas; pois assim está escrito: ‘Este povo
imploravam-lhe que pudessem ao menos me honra com os lábios, mas seu coração
tocar na borda do seu manto; e todos os está longe de mim.
que nele tocavam eram curados. 7 Em vão me adoram; as doutrinas que
ensinam não passam de ordenanças
humanas’.4
Jesus e os mestres da lei 8 E assim abandonais o mandamento
(Mt 15.1-20) de Deus, apegando-vos às tradições dos

7 E ocorreu que alguns mestres da lei e


fariseus, vindos de Jerusalém, reuni-
ram-se em volta de Jesus.1
homens”.5
9 E acrescentou-lhes: “Sabeis sempre
encontrar um meio de negligenciar os
2 Observaram que alguns dos seus dis- mandamentos de Deus, com o propó-
cípulos comiam os pães com as mãos sito de estabelecerdes a vossa própria
impuras, isto é, sem lavá-las.2 tradição!
3 Pois os fariseus e todos os judeus não se 10 Porquanto Moisés afirmou: ‘Honra
alimentam sem lavar as mãos de forma a teu pai e a tua mãe’. E mais: ‘Quem
cerimonial, preservando a tradição dos amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe será
antigos. condenado à pena de morte’.
4 Quando chegam da rua, não tocam 11 Contudo, vós afirmais: ‘Se uma pessoa
nos alimentos sem antes se banharem. disser a seu pai ou a sua mãe: ‘Os bens
Além disso há muitos outros costumes com os quais eu vos poderia ajudar são
que guardam, tais como o lavar de copos, Corbã’, isto é, uma oferta dedicada ao
jarros e vasilhas de metal.3 Senhor,

pessoas daquela região demonstraram em Jesus. Tanto que, ao tocar na borda do manto do Senhor, eram imediatamente
salvas de suas enfermidades.
Capítulo 7
1 Os líderes religiosos dos judeus na época, movidos principalmente por inveja e motivos políticos escusos, mandaram uma de-
legação de mestres da lei (fariseus) para fazer uma espécie de auditoria teológica e devassa no comportamento social e privado de
Jesus, com o objetivo de encontrar ou forjar um motivo pelo qual Jesus pudesse ser condenado à pena de morte (Mt 2.4; 15.1-11).
2 A visão dos judeus, notadamente os líderes religiosos, sobre a pureza espiritual era extremamente cerimonial. Portanto,
facilmente perdiam de vista o espírito da lei (o principal propósito) e restringiam-se ao cumprimento de ritos e procedimentos.
Assim, para eles, todo contato com pagãos (inclusive respirar muito próximo o mesmo ar), ou mesmo com outros judeus que não
guardavam as leis cerimoniais, se constituía numa imundícia (ou contaminação) espiritual; e, por isso, se fazia necessário passar
pelos ritos cerimoniais de lavar as mãos e os braços até os cotovelos, derramando sobre eles água pura e fresca (v.4). Portanto,
era comum nas festas prolongadas e com muitos hóspedes, reservarem-se grandes recipientes com água.
3 O cerimonial de purificação, realizado todas as vezes que um judeu retornava para casa, era repleto de detalhes ritualísticos.
Algumas versões da Bíblia trazem a expressão “se aspergirem” em vez de “se banharem”, cujo significado literal é “se batizarem”,
ou seja, observar um ritual de imersão.
4 A hipocrisia, ao lado da arrogância, é um dos mais perversos e sutis dos pecados; e ataca especialmente aos líderes reli-
giosos. Quanto maior expressão um líder granjeia, mais vulnerável se torna. Hipócrita é toda pessoa falsa e dissimulada, cujas
palavras de apologia à moral e ao cumprimento rígido das leis, normas, convenções e rituais (especialmente religiosos) não têm
qualquer respaldo ou correspondência direta com suas atitudes públicas e vida íntima. Isaías denunciou severamente os líderes
religiosos de sua época (Is 29.13). Malaquias, embora muitos pensem que seu principal tema fosse o dízimo, na verdade, era a
corrupção e a hipocrisia generalizada do povo de Israel, a começar por seus líderes e mestres (sacerdotes) religiosos.
5 Os mandamentos de Deus estão todos registrados na Bíblia e são obrigatórios. As tradições, normas de conduta e estatutos
dos antigos mestres, não são bíblicos e, portanto, não são autorizados, muito menos, obrigatórios. Os anciãos (líderes da religião

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MARCOS 7 22

12 vós o desobrigais do dever de prestar entre no homem tem o poder de torná-


qualquer ajuda de que seu pai ou sua lo impuro?
mãe necessite.6 19 Porque efetivamente não entra em seu
13 Assim, conseguis anular a eficácia da coração, mas sim em seu estômago, sen-
Palavra de Deus, por intermédio da tra- do digerido e depois expelido”. Ao fazer
dição que vós próprios tendes transmi- essa afirmação, Jesus proclamava puros
tido. E, dessa mesma maneira, procedeis todos os alimentos.9
em relação a vários outros assuntos”.7 20 E disse mais: “O que sai do ser humano
14 Jesus conclamou novamente a mul- é o que o torna impuro”.
tidão para junto de si e lhes anunciou: 21 Pois é de dentro do coração dos
“Ouvi-me, todos, e entendei! homens que procedem aos maus pen-
15 Nada existe fora da pessoa humana samentos, as imoralidades sexuais, os
que, entrando nela, a possa tornar impu- furtos, os homicídios, os adultérios,
ra. Ao contrário, o que sai do ser humano 22 as ambições desmedidas, as maldades,
é que o faz impuro. o engano, a devassidão, a inveja, a difa-
16 Se alguém tem ouvidos para ouvir, mação, a arrogância e a insensatez.
ouça!”. 23 Ora, todos esses males procedem do
17 Então, após haver deixado a multidão interior, contaminam a pessoa humana
e entrado em casa, os discípulos lhe e a tornam impura.10
pediram uma explanação sobre aquela
parábola.8 Uma gentia manisfesta sua fé
18 Ao que Ele lhes declarou: “Ora, pois (Mt 15.21-28)
nem vós tendes tal entendimento? Não 24 Então, partiu Jesus daquele lugar e foi
conseguis compreender que nada que para os arredores de Tiro e de Sidom.

judaica) se ocupavam da interpretação e exposição da Lei de Moisés, mais tarde codificada num manual chamado de Mishná,
que por sua vez, deu origem ao Talmude, que é um comentário extenso e detalhado da Mishná.
6 “Corbã” é a transliteração de uma palavra hebraica que significa “oferta”. Muitos judeus religiosos estavam afirmando que
haviam feito “Corbã” com seus bens, ou seja, doado o dinheiro da aposentadoria dos pais para Deus (mais propriamente para
os sacerdotes do Templo) e, por isso, não tinham como ajudá-los. Ocorre que a Lei não prescrevia que todo o dinheiro devia ser
doado. Além disso, muitos jovens judeus estabeleciam um acordo com os sacerdotes e recebiam parte da “oferta” de volta.
7 A mente humana é facilmente enredada por falsos juízos em função de suas muitas ambições. Por isso devemos agir sempre
como os cristãos bereanos (At 17.11). Os fariseus estavam recorrendo a um texto isolado da Lei (Nm 30.1,2) para defender o voto
do “Corbã”. Jesus aproveita para ensinar uma regra básica de interpretação bíblica: a obediência a um mandamento específico
das Escrituras jamais pode anular os outros mandamentos gerais de Deus. A conclusão tirada pelos anciãos sobre Nm 30.1,2
satisfazia a letra do texto bíblico, mas era contrário ao sentido (espírito) global da Lei.
8 Em hebraico, mashal, o termo traduzido aqui por “parábola”, significa “ilustração, figura, imagem” e tem o sentido de uma
expressão proverbial ou história de moral, que acompanha a vida de uma pessoa como um sinal luminoso. Este acende sempre
que necessário, para avisar de algum perigo iminente ou trazer à memória uma maneira sábia de agir.
9 Marcos, primo de Barnabé e grande amigo dos apóstolos Pedro e Paulo, preocupa-se em fazer comentários sobre a Lei, usos
e costumes dos judeus. Seu objetivo era esclarecer sua principal audiência: os gentios, mais precisamente, o número elevado
de romanos que estavam sendo convertidos pelo Espírito Santo (entre 50 e 70 d.C.). Os discípulos tiveram de aprender com
Jesus sobre a desobrigação de os cristãos guardarem as leis e cerimônias do AT referentes às comidas puras e impuras (Lv 11;
Dt 14; At 10.15).
10 Jesus ensina e adverte que a fonte do pecado humano é o coração (centro das emoções e da razão), e não o estômago. O
coração tem para o mundo ocidental o mesmo significado que “as entranhas” ou “os intestinos” têm no mundo oriental. Ou seja, re-
presentam o centro da personalidade, incluindo o intelecto, a volição, e todas as emoções e desejos humanos. Por isso, a comunhão
(amizade reverente) com Deus não pode ser interrompida por causa de mãos ou alimentos com impurezas, mas, sim, pelo pecado
consciente, intencional e renitente. Mais do que lavar as mãos, é necessário limpar (lavar, purificar) a mente, pois Deus não faz distin-
ção entre pecados elaborados e alimentados nos pensamentos, e os consumados por ação. Segue-se uma lista, como exemplo, de
alguns pecados comuns, mas que não deveriam fazer parte da vida diária de um cristão pleno do Espírito Santo. A palavra “inveja”
no original grego é: “olho mau”, cujo sentido não é apenas o desejo ardente pelas posses de outrem, mas igualmente a falta de
generosidade, literalmente, o ser “pão duro”. A palavra “insensatez”, traduzida em algumas versões por “loucura”, não tem o sentido
de uma enfermidade mental, mas sim, de total negligência do pecador (aquele que aprecia seu estilo de vida mundano) em relação
às suas responsabilidades para com Deus, com seu próximo e com a sociedade (religião e ética).

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23 MARCOS 7, 8

Entrou em uma casa e desejava que nin- 32 Então, algumas pessoas lhe apresenta-
guém o soubesse; porém, não foi possível ram um homem que era surdo e mal po-
manter sua presença em segredo.11 dia falar, e lhe suplicaram que impusesse
25 De fato, assim que ouviu falar sobre sua mão sobre ele.
Ele, certa mulher, cuja filha pequena 33 Jesus conduziu o homem, a sós, para
estava com um espírito imundo, chegou longe da multidão, e colocou os dedos
e atirou-se aos seus pés. nas orelhas dele. Em seguida, cuspiu e
26 A mulher era grega, de origem siro-fe- tocou na língua daquele homem.
nícia, e implorava a Jesus que expulsasse 34 Depois, levantando os olhos para o
o demônio de sua filha.12 céu e, com um profundo suspiro, orde-
27 Mas Jesus lhe explicou: “Deixa primei- nou: “Efatá!”, que quer dizer: “Abre-te!”15
ro que os filhos se alimentem até ficarem 35 Imediatamente, os ouvidos do homem
satisfeitos; pois não é justo tirar o pão se abriram, sua língua desprendeu-se e
dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos”.13 ele começou a falar fluentemente.16
28 Ao que replicou-lhe a mulher: “Sim, 36 Entretanto, Jesus ordenou-lhes que
Senhor, mas até os filhotes dos cães, de- não dissessem a ninguém o que ali se
baixo da mesa, comem das migalhas das passara. Contudo, quanto mais Ele reco-
crianças!”14 mendava, tanto mais eles o divulgavam.
29 Então Ele lhe declarou: “Por causa 37 As multidões ficavam sobremodo ma-
dessa tua resposta, podes ir em paz; o ravilhadas e proclamavam: “Ele faz tudo
demônio já saiu de tua filhinha”. de forma esplêndida! Faz tanto os surdos
30 Ao retornar ela para sua casa encon- ouvirem como os mudos falarem”.17
trou a criança jogada sobre a cama, pois
o demônio a havia abandonado. Nova multiplicação dos pães
(Mt 15.32-39)
A cura de um surdo-gago
31 Outra vez, saindo Jesus das terras de
Tiro, seguiu em direção ao mar da Gali-
8 Naqueles dias, uma grande multidão
novamente se ajuntou, e não tendo as
pessoas com o que se alimentar, chamou
léia, passando por Sidom e atravessando Jesus os discípulos e lhes compartilhou:1
a região de Decápolis. 2 “Tenho compaixão desta multidão; já

11 Tiro era uma cidade povoada por gentios. Localizada na Fenícia, onde hoje é o Líbano, fazia fronteira com a Galiléia, a no-
roeste. Jesus viajou cerca de 50 km de Cafarnaum até os arredores de Tiro. Desde o milagre da multiplicação dos pães e peixes
(6.30-44), Jesus e seus discípulos passaram a evitar os grandes centros e a ministrar nas periferias da Galiléia. Jesus procurava
evitar os confrontos infrutíferos com os fariseus e escribas, e dedicar-se cada vez mais ao discipulado dos Doze (9.30,31). A
palavra grega koinos, aqui traduzida por “contaminam”, significa “comum”, e seu sentido tem a ver com o fato de os pecados
poderem assumir a condição de parte integrante do ser humano, caso não haja arrependimento, confissão e perdão. O Espírito
Santo é o grande aliado dos cristãos na tarefa de manter suas mentes sensíveis e purificadas (Jo 14.16-27).
12 A mulher apresentada por Marcos falava grego e vivia numa cultura grega, mas era de nacionalidade siro-fenícia, uma vez
que naquele
q tempop a Fenícia pertencia
p administrativamente à Síria.
13 Jesus se refere aos israelitas que, pela primeira aliança eram os filhos prediletos de Deus (Êx 4.22; Dt 14.1). Jesus segue a
missão designada ao Servo (Is 49.6), trazendo, em primeiro lugar, Salvação aos judeus (Rm 15.8).
14 Essa é a única ocasião, no evangelho segundo Marcos, em que Jesus é chamado “Senhor”.
15 Jesus usa uma palavra do seu dialeto hebraico, o aramaico Efatá, que o próprio Marcos logo traduz em benefício da com-
preensão dos seus leitores gentios.
16 Jesus estava realizando, na prática, o que Deus prometera há muitos séculos por meio das profecias (Is 35.5,6). Ele procura-
va, porém, manter seu ministério, especialmente o de curas e sinais, longe da propaganda de massa, a fim de não atrair tão cedo
a perseguição dos líderes religiosos e políticos da época (Mt 8.4; 16,20; Mc 1.44; 5.19,43).
177 Tanto o Pai, quanto
q o Filho, fazem tudo muito bem (maravilhosamente
( perfeito
p – Gn 1.31; Jo 5.17).) Um dia toda a terra reco-
nhecerá esse fato. É importante lembrar que Deus criou a terra e o ser humano, mas o Diabo criou este mundo caótico no qual
vivemos. Hoje, pela fé, os cristãos devem assumir sua condição de embaixadores do Rei, cuja missão é proclamar a Salvação e
os valores do Reino de Deus por toda a terra.
Capítulo 8
1 O próprio Senhor nos afirma (vv.18-20) que este relato (8.1-10) é distinto do ocorrido anteriormente (6.34-44), muito embora
sejam notáveis as semelhanças dos fatos.

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MARCOS 8 24

se passaram três dias que estão comigo e e, para prová-lo, pediram que lhes apre-
não têm o que comer.2 sentasse um sinal miraculoso do céu.4
3 Se Eu os enviar de volta às suas casas, 12 No entanto, Jesus suspirou profunda-
em jejum, vão desfalecer pelo caminho, mente e lhes afirmou: “Por que pede esta
pois alguns deles vieram de longe”. geração um sinal dos céus? Com certeza
4 Entretanto, os discípulos alegaram: vos asseguro que para esta geração não
“Onde, neste lugar desabitado, seria haverá sinal algum”.
possível alguém conseguir pão suficiente 13 E, deixando-os, voltou a embarcar e
para alimentar a todos?” rumou para o outro lado.
5 Indagou-lhes Jesus: “Quantos pães ten-
des?” Ao que afirmaram eles: “Sete”. O perigo das más influências
6 Então Ele orientou o povo a reclinar-se (Mt 16.5-12)
sobre o chão. E, após tomar os sete pães 14 Aconteceu que os discípulos se esque-
e dar graças, partiu-os e os entregou aos ceram de levar pães e, no barco, tinham
seus discípulos, para que estes servissem consigo apenas um único pão.
à multidão; e assim foi repartido entre 15 E Jesus passou a recomendar a eles:
todas as pessoas. “Cuidado! Guardai-vos do fermento dos
7 Havia também alguns peixes pequenos; fariseus e do fermento de Herodes”.5
da mesma forma Ele deu graças e orde- 16 Eles, p
porém, especulavam
p entre si, ar-
nou aos discípulos que os distribuíssem. gumentando: “É por que não trouxemos
8 Todas as pessoas ali reunidas comeram pão!”
até se saciar; e ainda recolheram sete cestos 17 Ao notar a discussão, Jesus questio-
grandes, cheios de pedaços que sobraram. nou: “Por que discorreis sobre o não
9 Na multidão havia cerca de quatro mil terdes pão? Até agora não considerastes,
homens. Então, Jesus despediu-se do povo. nem ainda compreendestes? Permane-
10 Logo depois, entrou no barco com ceis com o coração petrificado?
seus discípulos e dirigiu-se para a região 18 Tendo olhos, não vedes? E, possuindo
de Dalmanuta.3 ouvidos, não escutais? Não vos recor-
dais?
Os fariseus querem um sinal 19 Quando dividi os cinco pães para os
(Mt 16.1-4) cinco mil homens, de quantos cestos
11Os fariseus se aproximaram e começa- cheios de pedaços que sobraram reco-
ram a questionar Jesus. Então o tentaram lhestes? E, afirmaram-lhe: ‘Doze!’

2 Como este episódio aconteceu na Decápolis (7.31), certamente havia um grande número de gentios na multidão. Jesus se
compadece (em grego: agapç) do povo que demonstrava grande fome da Palavra, pois há três dias o seguia e ouvia seus ensinos
sem se alimentar. Um grande exemplo para os cristãos atuais.
3 Dalmanuta ficava ao sul da Planície de Genesaré, local em que Jesus desembarcou. Mateus chama a região de Magadã ou
Magdala (Mt 15.39). Da mesma maneira como agiu na primeira multiplicação dos pães (Mt 14.13-21; Mc 6.30-44; Lc 9.10-17; Jo
6.1-15), Jesus usa uma expressão original (vs.6 – em grego: , “a reclinar-se”), que tem a ver com a atitude cultural
dos judeus daquela época de quase deitarem sobre almofadas diante de mesas baixas, um ao lado do outro, em círculos, para
fazerem suas refeições cotidianas. Ao solicitar que as pessoas “reclinassem sobre o chão” (se assentassem), Jesus estava
comunicando a todos que o desjejum seria servido em seguida.
4 O pedido dos fariseus brotava da incredulidade. Tentaram fazer com que Jesus provasse ser um profeta maior do que Elias
(1Rs 18.20-40). Queriam apenas ver um show cosmológico, mas Jesus apontou para o povo e sua longa história de fome espiritu-
al e de justiça; assim como ocorreu no deserto com Moisés. O pão partido e multiplicado era o maior sinal para aquela “geração”
(maneira de se referir a um tipo de gente mesquinha e hipócrita).
5 Os judeus, por causa dos mandamentos de Deus (Êx 13.7) evitam o uso de qualquer tipo de levedo (agentes de fermentação
empregados na preparação de algumas bebidas alcoólicas não destiladas, tipo cervejas, e na panificação) na semana imedia-
tamente após a Páscoa. Na época de Cristo a levedura era um símbolo comumente usado pelos mestres para se referir à má
inclinação humana. Jesus faz uso desta metáfora para mostrar a procedência maligna dos pedidos dos fariseus e de Herodes
Antipas (Lc 23.8) por um sinal espetacular nos céus para comprovação da sua divindade. Jesus enfatiza que o grande sinal estava
na terra, junto à vida das pessoas a quem Deus amava.

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25 MARCOS 8

20 E quando Eu parti sete pães para aque- de Filipe. No caminho, Ele lhes inquiriu:
les quatro mil, quantos cestos grandes, “Quem dizem as pessoas que Eu Sou?”8
repletos de sobras recolhestes do chão?” 28 Ao que eles informaram: “Alguns
Responderam eles: ‘Sete!’6 comentam que és João Batista, outros,
21 Ao que lhes concluiu Jesus: “E então, Elias; e ainda há quem afirme que és um
ainda não compreendeis?” dos profetas”.
29 Então lhes questionou: “Mas vós,
Um cego em Betsaida é curado quem dizeis que Eu Sou?” E, asseverando
22 E, chegando a Betsaida, algumas pes- Pedro, declarou: “Tu és o Cristo!”
soas trouxeram um cego à presença de 30 Jesus, por sua vez, lhes recomendou
Jesus e rogavam-lhe que o tocasse.7 que nada divulgassem a seu respeito.
23 Então, Ele tomou o cego pela mão e
o conduziu para fora da aldeia. Em se- Jesus anuncia sua Paixão
guida, cuspiu nos olhos daquele homem (Mt 16.21-23; Lc 9.22)
e lhe impôs as mãos. E indagou: “Vês 31 Então, passou Jesus a ensinar-lhes que
alguma coisa?” era imperioso que o Filho do homem
24 O homem levanta os olhos e afirma: fosse vítima de muitos sofrimentos, vies-
“Vejo pessoas; mas elas se parecem com se a ser rejeitado pelos líderes religiosos,
árvores caminhando”. pelos chefes dos sacerdotes e pelos mes-
25 Mais uma vez, Jesus colocou suas mãos tres da lei; então fosse assassinado, para
sobre os olhos do homem. E, no mesmo depois de três dias ressuscitar.9
instante, tendo sido completamente res- 32 E Jesus falou sobre esse assunto de
taurado, via com clareza, e podia discer- maneira clara. Mas Pedro, chamando-
nir todas as coisas. o em particular, começou a censurá-lo
26 Então Jesus enviou aquele homem energicamente.
para casa, recomendando-lhe: “Nem 33 Entretanto, Jesus voltou-se, olhou para
sequer no povoado entres!” seus discípulos e repreendeu severamen-
te a Pedro, exclamando: “Para trás de
Pedro confessa Jesus como Messias mim, Satanás! Pois não estais pensando
(Mt 16.13-20; Lc 9.18-21) na obra de Deus, mas sim nas ambições
27Jesus e seus discípulos partiram para humanas”.10
os povoados nas cercanias de Cesaréia 34 Em seguida, convocou Jesus a mul-

6 Mais uma prova de que Jesus fala de dois eventos parecidos, mas distintos é que no primeiro a palavra grega usada para
“cestos” indica um pequeno cesto da época, feito de junco; e no segundo, a palavra grega usada para “cestos”
refere-se a um tipo de cesto grande, feito de tecido e capaz de suportar o peso de uma pessoa, como foi o caso
ocorrido com o apóstolo Paulo (At 9.25).
7 Betsaida significa “casa de pesca” e se localizava numa planície ao norte do mar da Galiléia. Era a cidade natal de Pedro,
André e Filipe (Jo 1.44).
8 Com a confissão de Pedro tem início a segunda metade de Marcos. A partir de agora Jesus muda a direção principal dos
seus ensinos, deixa as grandes multidões e concentra-se no discipulado dos Doze. Ao grupo dos discípulos passa a revelar mais
e mais sobre sua missão, morte e ressurreição.
9 A necessidade do sofrimento expiatório de Jesus é claramente apresentada no AT (Sl 22, 69, 118; Is 50.4, 52.13-53.12;
Zc 13.7). Jesus costumava se referir a si mesmo como “Filho do homem” (81 vezes nos evangelhos). Título jamais usado por
qualquer outra pessoa. Em Daniel (Dn 7.13,14), o filho de um homem é retratado profeticamente como personagem celestial a
quem, no final dos tempos, Deus confiou autoridade, glória e poder soberano. O próprio Jesus passa a reforçar esse título junto
aos seus discípulos. Pedro compreendeu que Jesus era o Messias prometido pelo uso que faz do termo grego “Cristo” (Messias,
em hebraico). Os líderes religiosos eram os membros leigos (anciãos) do Sinédrio (Supremo Tribunal dos Judeus), os chefes
dos sacerdotes (Mt 2.4), entre eles o sumo sacerdote em exercício, Caifás; o sumo sacerdote anterior, Anás, e as respectivas
famílias sacerdotais.
10 O sofrimento e a humilhação não correspondiam ao “Messias” que estava na mente de Pedro: o Libertador de Israel. Ao
tentar persuadir Jesus a ter compaixão de si mesmo para não se entregar ao martírio e à morte, Pedro incorreu no mesmo dis-
curso usado por Satanás no início do ministério do Senhor (Mt 4.8-10), e por isso Jesus precisou mostrar a todos os discípulos

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MARCOS 8, 9 26

tidão e os discípulos, e os desafiou: “Se que aqui estão de modo algum passarão
alguém deseja seguir-me, negue-se a si pela morte, até que vejam o Reino de
mesmo, tome a sua cruz e venha após Deus chegando com poder”.
mim.11 2 Passados seis dias, tomou Jesus consigo
35 Quem quiser, pois, salvar a sua vida a Pedro, Tiago e João e os conduziu a
perdê-la-á; mas quem perder a sua vida um lugar retirado, no alto de um monte,
por minha causa e pelo Evangelho salva- onde puderam ficar a sós. E ali Ele foi
la-á! transfigurado diante deles.1
36 Portanto, de que adianta uma pessoa 3 Suas vestes tornaram-se alvas, de um
ganhar o mundo inteiro e perder a sua branco reluzente, como nenhum la-
alma? vandeiro em toda a terra seria capaz de
37 Ou ainda, o que uma pessoa pode-ria alvejá-las.
dar em troca de sua alma? 4 Então, apareceu à sua frente Elias com
38 Assim sendo, numa época como esta, Moisés, e estavam conversando com
de incredulidade e perversidade, se al- Jesus.
guém tiver vergonha de mim e dos meus 5 E Pedro, tomando a palavra, sugeriu:
ensinamentos, então o Filho do homem, “Rabi, é muito bom estarmos aqui! Va-
quando voltar na glória do seu Pai, jun- mos erguer três tabernáculos: um será
tamente com os santos anjos, também a teu, um para Moisés e um para Elias”.2
essa pessoa não oferecerá honra”.12 6 Pedro não sabia o que falar, pois eles
haviam ficado aterrorizados.
A transfiguração de Jesus 7 Em seguida, surgiu uma nuvem que
(Mt 17.1-8; Lc 9.28-36) os envolveu, e dela soou uma voz, que

9 Então lhes falou Jesus: “Com toda a


certeza vos asseguro que alguns dos
declarou: “Este é o Meu Filho amado, a
Ele dai ouvidos!”3

que tentar se desviar da vontade de Deus – não importa a razão – é cair nas artimanhas de Satanás e “errar o alvo” (expressão
que em hebraico significa: pecado).
11 Jesus faz um convite não apenas aos Doze, mas a todas as pessoas. Devemos permitir que o Espírito Santo assuma o
controle total das nossas vidas, antes dirigida pelo “eu” ou “ego” (fonte das nossas vontades, quase sempre contrárias à vontade
de Deus). Tomar a cruz é a disposição de começar a seguir ao Senhor do jeito que somos e com aquilo que temos; e depois,
aceitarmos a glória de vivermos e morrermos por Ele. Ao concluir, conclamando todos a segui-lo, Jesus estava dizendo que
mostraria pessoalmente o caminho da verdadeira entrega a Deus, do sofrimento, do martírio, da morte e da ressurreição para
uma vida eterna de comunhão com o Pai (Sl 49.8, Hb 9.27, Ap 21.8).
12 O mundo é um sistema globalizado de valores e princípios (filosóficos, políticos, econômicos e sociais) que, a cada geração,
se afasta mais e mais da Palavra de Deus. Por isso, desde a Queda (Gn 3), Deus tem procurado corrigir a rota dessa humanidade
perdida (Hb 1.1-2). Quem preferir se ajustar à sua geração (aos ditames do mundo de sua época) mais do que seguir a Cristo e
aos princípios da Sua Palavra não poderá fazer parte do Reino de Deus, tanto aqui e agora, como na Nova Jerusalém, na eternida-
de futura e iminente (Ap 21.1-4). Ter “vergonha” de Jesus é muito mais que um simples ato externo de usos e costumes, timidez ou
inabilidade de expressão. Esta palavra, em seu sentido original, tem a ver com a “honra de cultivar um caráter idôneo e amoroso
em relação a Deus e ao próximo em todas as atitudes pessoais”. Ou seja, envergonhar-se do Evangelho é não aceitar o compro-
misso com o discipulado de Cristo e preferir levar a vida conforme a ordem mundial impõe às pessoas de todas as culturas (Rm
1.16, 12.1). Entretanto, na volta triunfal de Cristo, todos aqueles que creram no Senhor o suficiente para enfrentar o mundo com
um estilo de vida verdadeiramente cristão, serão honrados por Jesus e participarão da Sua glória eterna (1Ts 1.6-10).
Capítulo 9
1 No NT, a palavra grega metamorphothe foi usada apenas em Mt 17.2, Rm 12.2 e 2Co 3.18, sempre com o sentido de transfor-
mação radical de um ser em outro ser. Em relação à vida diária dos cristãos, significa uma mudança total de caráter, abandonando
os costumes mundanos e adotando um estilo de vida próprio dos cidadãos do céu. O objetivo da transfiguração foi manifestar,
ainda que brevemente, aos discípulos mais chegados, a glória de Jesus encoberta por causa de sua encarnação. Jesus anteci-
pou a visão da sua ressurreição e do seu glorioso retorno.
2 Rabii ou Rabbii é a p
palavra hebraica comumente traduzida por
p “Mestre”. Pedro se prontificou,
p ainda que
q estarrecido, a recriar o
antigo ponto de encontro de Deus com seu povo (conhecido como tenda, cabana ou tabernáculo – Êx 29.42; Lv 23.42).
3 O sentido mais amplo da expressão: “a Ele dai ouvidos”, ou simplesmente, “a ele ouvi”, como aparece em algumas versões,
está relacionado à profecia de Dt 18.15, onde o termo “ouvir”, nos originais hebraicos significa “ouvir e obedecer”. Quando se
trata da voz de Deus a única maneira correta de ouvir é obedecendo (Tg 1.22-25).

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27 MARCOS 9

8 E, de repente, quando olharam ao redor, bas e os inquiriu: “O que discutíeis com


a ninguém mais viram, a não ser Jesus. eles?”
9 Durante a caminhada, descendo o 17 Contudo, um homem, no meio da
monte, Jesus lhes ordenou que a nin- multidão, replicou: “Mestre! Trouxe-te
guém revelassem o que haviam presen- o meu filho, que está tomado por um
ciado, até que o Filho do homem tivesse demônio que o impede de falar.5
ressuscitado dos mortos. 18 Onde quer que este o toma, joga-o no
10 Eles mantiveram esse assunto exclusi- chão. Então ele espuma pela boca, range
vamente entre si, mas comentavam sobre os dentes e fica todo enrijecido. Roguei
qual o significado da expressão “ressusci- aos teus discípulos que expulsassem o tal
tado dos mortos”. espírito,
p mas eles não conseguiram”.
g
11 Então questionaram-lhe: “Por que os 19 Admoestou-lhes Jesus: “Ó geração
mestres da lei afirmam que é preciso que sem fé, até quando estarei Eu junto a
Elias venha primeiro?” vós? Até quando vos supor-tarei? Trazei-
12 E Jesus lhes esclareceu: “Realmente, o a mim!”
Elias vindo primeiro, restaura todas as 20 E logo o trouxeram. Assim que o espí-
coisas. Agora, por que está escrito tam- rito viu Jesus, no mesmo instante provo-
bém que é necessário que o Filho do ho- cou uma convulsão no menino. Este caiu
mem sofra penosamente e seja rejeitado no chão e começou a rolar, espumando
com desprezo? pela boca.
13 Pois Eu lhes digo: Elias também já veio, 21 Então Jesus indagou ao pai do me-
e fizeram contra ele tudo o que deseja- nino: “Há quanto tempo isto lhe está
ram, como está escrito a respeito dele”.4 acontecendo?” E o pai declarou: “Desde
a infância.
Jesus cura um menino possesso 22 Muitas vezes esse demônio o tem
(Mt 17.14-23; Lc 9.37-45) jogado no fogo e na água, para matá-
14 Assim que chegaram onde estavam os lo. Todavia, se Tu podes fazer algo, tem
demais discípulos, observaram um gran- compaixão de nós e, de alguma maneira,
de aglomerado de pessoas ao redor deles ajuda-nos!”
e os mestres da lei discutindo com eles. 23 “Se podes?”, contestou-lhe Jesus: “Tudo
15 Logo que a multidão percebeu Jesus, é possível para aquele que crê!”6
tomada de surpresa correu para Ele e o 24 Imediatamente o pai do menino as-
saudava. severou: “Creio! Ajuda-me a vencer a
16 Então, Jesus dirigiu a palavra aos escri- minha falta de fé”.

4 Jesus faz referência à vinda de João Batista (Mt 17.10-13). João, assim como Elias, sofreu a oposição de um rei inseguro,
influenciado por uma rainha pagã e perversa. Elias realizou a obra de restauração do culto a Deus, especialmente no monte
Carmelo, e foi uma prefiguração de João, que veio iniciar (preparar o caminho) a restauração total do ser humano. Obra essa
concluída por Jesus (Ef 1.7-10). As ameaças de Jezabel em relação a Elias concretizaram-se na vida e no ministério de João e
preanunciaram a chegada do Messias (1Rs 19.1-10).
5 Possessão demoníaca é a ação de demônios (seres espirituais, anjos caídos, comandados por Satanás, e absolutamente
malévolos), que invadem e dominam o sistema nervoso, a consciência sensorial, a sede da vontade humana; e que, enfim,
tomam posse do corpo físico de uma pessoa, na qual ainda não habita o Espírito Santo, controlando suas ações e, por vezes,
submetendo esse corpo humano a todo tipo de humilhações e sofrimentos.
6 Os discípulos, que já haviam expelido vários espíritos malignos, não puderam expulsar aquele demônio por absoluta incre-
dulidade (Mt 17.14-21). Jesus adverte para o fato de que há graduação de poderes nas trevas, e que certa espécie de inimigos
espirituais só podem ser expulsos por meio de profunda comunhão com Deus em oração e persistente devoção, que inclui o
jejum. Apesar de a palavra “jejum” não aparecer em muitos originais gregos, é certo que Jesus e a Igreja primitiva praticavam o
jejum como disciplina espiritual. Jesus aproveita aquele momento tenso e constrangedor para evidenciar que todas as coisas são
realizáveis mediante a fé, e que a grande questão do ser humano é exatamente esta: a falta de fé. Deus pode tudo e a qualquer
momento, mas as pessoas costumam “crer duvidando” e, por isso, o Senhor não pode honrar uma “fé falsa” ou “incompleta”. A
verdadeira fé elimina todas as barreiras espirituais na vida (Tg 1.5-8).

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MARCOS 9 28

25 Percebendo que o povo estava se ajun- que no caminho haviam discutido sobre
tando, repreendeu o espírito imundo, quem era o maior.
determinando: “Espírito mudo e surdo, 35 Assentando-se, Jesus reuniu os Doze
Eu te ordeno: Deixa este jovem e jamais e lhes orientou: “Se alguém deseja ser
o tomes novamente!” o primeiro, será o último, e servo de
26 Então o demônio berrou, agitou o todos”.
jovem violentamente e o abandonou. 36 E, conduzindo uma criança, colocou-
O menino ficou desfalecido, a ponto de a no meio deles e, tomando-a nos braços,
todos afirmarem: “Ele morreu!” revelou-lhes:
27 Entretanto Jesus, pegando a mão do 37 “Quem recebe uma destas crianças,
menino, o levantou, e ele ficou em pé. por ser meu seguidor, do mesmo modo
28 Mais tarde, quando Jesus estava em estará a mim recebendo; e qualquer que
casa, seus discípulos o consultaram em me recebe, não está apenas me rece-
particular: “Por que razão não fomos bendo, mas igual-mente àquele que me
capazes de expulsá-lo?” enviou”.8
29 E Jesus lhes advertiu: “Essa espécie
de demônios só é expelida com oração Quem não é contra, está a favor
e jejum”. (Lc 9.49,50)
38 Contou-lhe João: “Mestre, vimos
O segundo anúncio da Paixão um homem que, em teu nome, estava
(Mt 17.22-23; Lc 9.43-45) expulsando demônios e procuramos
30 Eles partiram daquele lugar e atraves- impedi-lo; pois, afinal, ele não era um
saram a Galiléia. E Jesus evitava que qual- dos nossos”.
quer pessoa soubesse onde se achavam.7 39 “Não o impeçais!”- ponderou Jesus.
31 Pois estava dedicado ao ensino dos “Ninguém que realize um milagre em
seus discípulos e lhes revelava: “O Filho meu nome, é capaz de falar mal de mim
do homem está prestes a ser entregue nas logo em seguida.
mãos dos homens. Eles o matarão, mas 40 Portanto, quem não é contra nós, está
três dias depois ressuscitará”. a nosso favor.9
32 Todavia, eles não conseguiam entender 41 Com toda a certeza vos asseguro, qual-
o que Ele desejava comunicar, mas tinham quer pessoa que vos der de beber um
receio de inquiri-lo a este respeito. copo de água, pelo fato de pertencerdes a
Cristo, de maneira alguma perderá a sua
Quem é o maior no Reino? recompensa”.
(Mt 18.1-5; Lc 9.46-48)
33 Então chegaram a Cafarnaum. Quan- Evitar o pecado a todo custo
do já estavam em casa, indagou-lhes: (Mt 18.6-9)
“Sobre o que discorríeis pelo caminho?” 42 “Se alguém fizer tropeçar um destes pe-
34 Eles, porém, ficaram em silêncio; por- queninos que crêem em mim, seria me-

7 Jesus havia completado seu período de ministério às grandes massas na Galiléia e regiões vizinhas. Agora estava a caminho
do seu próprio holocausto em Jerusalém (10.32-34). Jesus passou então a concentrar, ainda mais, seus ensinos e discipulado na
vida dos seus Doze seguidores mais próximos.
8 Dúvidas sobre a posição hierárquica no Reino ocupavam a mente dos discípulos. A posição social sempre foi uma grande
ambição humana, especialmente na cultura judaica daquela época e em função da possibilidade da instauração de um novo “rei-
no” (sistema político-religioso). Entretanto, Jesus esclarece que a honra e o poder no Reino de Deus são conquistados por amor,
humildade, generosidade e serviço ao próximo. Como os bons pais cuidam de seus filhos pequenos (Lc 9.47). Por “pequeninos”
pode-se entender: as crianças, os novos convertidos e os cristãos em fase de amadurecimento espiritual (Rm 14; 1Co 8 e 9).
9 Jesus desaprova o sectarismo (partidarismo ferrenho das doutrinas e preceitos de uma seita) e o proselitismo (ação ostensiva
visando mover pessoas de uma seita para outra). Devemos manter comunhão com todos os cristãos que foram regenerados
pelo Espírito de Deus, isto é, com todos os Salvos, independentemente do seu grupo doutrinário. Por outro lado, é inadmissível

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29 MARCOS 9, 10

lhor que fosse lançado no mar com uma 50O sal é bom; mas se o sal perder o seu
pedra de asno amarrada ao pescoço.10 sabor, como restaurar as suas proprieda-
43 E, se a tua mão te fizer tropeçar, corta- des? Tende o bom sal em vós mesmos e
a, pois é melhor entrares para a Vida mu- vivei em paz uns com os outros”.13
tilado do que, possuindo as duas mãos,
ires para o inferno, onde o fogo que arde Casamento e Separação
jamais arrefece.11 (Mt 19.1-12)
44 Naquele lugar, os teus vermes devora-
dores não morrem, e as chamas nunca se
apagam.
10 Partindo dali, foi Jesus para a re-
gião da Judéia e para o outro lado
do Jordão. E, outra vez, grande multidão
45 E, se o teu pé te fizer tropeçar, corta- chegou-se a Ele e, como era seu costume,
o, pois é melhor entrares para a Vida passou a ensinar as pessoas ali reunidas.1
aleijado do que, tendo os dois pés, seres 2 Alguns fariseus se aproximaram de Je-
lançado no inferno. sus e, p
para colocá-lo à prova
p questiona-
q
46 Onde o teu verme não morre, e o fogo ram: “É permitido ao homem separar-se
é inextinguível. de sua esposa?”
47 E ainda, se um dos teus olhos te levar 3 Inquiriu-lhes Jesus: “O que lhes orde-
a pecar, arranca-o. É melhor entrares no nou Moisés?”
Reino de Deus com um dos teus olhos 4 E eles replicaram: “Moisés permitiu que
do que, possuindo os dois olhos, seres o homem desse à sua mulher uma certi-
atirado no inferno. dão de divórcio e a mandasse embora”.
48 Naquele lugar, os teus vermes devora- 5 Esclareceu-lhes Jesus: “Moisés vos dei-
dores não morrem, e as chamas nunca se xou escrita essa lei por causa da dureza
apagam. dos vossos corações!”2
6 Entretanto, no princípio da criação
Os cristãos são o sal da terra Deus ‘os fez homem e mulher’.
(Mt 5.13; Lc 14.34-35) 7 ‘Por esta razão, o homem deixará pai e
49 Pois todos serão salgados com fogo.12 mãe e se unirá à sua esposa,

que um cristão verdadeiro seja neutro em relação ao senhorio de Cristo. Ou se é, ou não se é cristão. Para Jesus não existe o
“cristão nominal”, ou seja, aquela pessoa que crê em Deus, mas não procura viver uma vida em comunhão com o Espírito Santo.
A unidade da Igreja nem sempre será obtida por meio de uma unanimidade teológica; porém, muitas vezes, no serviço humilde,
generoso e compreensível do amor fraternal em Cristo (Mt 25.34-46 conforme Mt 18.1-10 e Lc 17.1).
10 O amor de Deus por seus filhos é tão grande que o suicídio seria a melhor solução para alguém que deliberadamente
tentasse desviá-los do verdadeiro Caminho. Jesus usa literalmente o termo “pedra de asno”, para referir-se a uma grande placa
de pedra, comumente girada por jumentos, para moer grãos e cereais.
11 Jesus usa uma hipérbole (figura de linguagem que transmite um ensino por meio do exagero das afirmações ou compara-
ções) para ressaltar a necessidade de uma ação drástica. Muitas vezes o pecado ou um mau hábito só poderá ser vencido por
uma “cirurgia espiritual radical”. A palavra grega geenna é traduzida por “inferno” e aparece apenas nos Evangelhos e em Tg 3.6.
Seu sentido original corresponde a um “grande depósito de lixo”. Jesus cita a última palavra de advertência proferida por Isaías
em relação ao perigo da condenação eterna daqueles que teimam em viver rebeldes ao Espírito de Deus (Is 66.24). Num “grande
depósito de lixo” há sempre vermes se revolvendo (Mt 5.22).
12 No AT era exigido que se colocasse sal sobre o sacrifício (Lv 2.13 com Ez 43.24). Todo cristão deve ser um sacrifício para
Deus (Rm 12.1). Na vida cristã, o sal é representado, por provas, purificação pelo fogo da justiça divina, perseguições do Inimigo
e deste mundo (1Co 3.13; 1Pe 1.7; 4.12).
13 Na época de Jesus o sal era vital para temperar, dar sabor e conservar os alimentos, especialmente as carnes vermelhas e os
peixes. Ele se compara, portanto, à firme convicção do cristão que vive corajosa e intensamente o Evangelho (8.35-38).
Capítulo 10
1 Os capítulos de 1 a 9 relatam o ministério de Jesus na Galiléia. De 10 a 15 focalizam a outra parte da missão do Senhor, já
na Judéia.
2 O ser humano, por causa de sua pecaminosidade inata, tem a forte tendência de se ater mais ao teor da Lei do que ao seu
espírito. Tanto Jesus como todo judeu convicto reconhecem a plena autoridade da Bíblia. Cristo não nega o ensino registrado em
Dt 24.1, mas revela que a separação ou divórcio, jamais foi plano de Deus para os matrimônios. Os fariseus não estavam conse-
guindo discernir entre a vontade absoluta de Deus e Sua permissão, levando em conta a fraqueza humana diante do pecado. A

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MARCOS 10 30

8 e os dois se tornarão uma só carne’. Deus como uma criança, jamais terá
Dessa forma, eles já não são dois, mas acesso a ele”.
sim uma só carne.3 16 Em seguida, abraçou as crianças, im-
9 Portanto, o que Deus uniu, não o sepa- pôs-lhes as mãos e as abençoou.5
re o ser humano!”
10 Mais tarde, quando estavam em casa, O homem que deseja possuir tudo
uma vez mais os discípulos indagaram (Mt 19.16-30; Lc 18.18-30)
Jesus sobre o mesmo assunto. 17 E, colocando-se Jesus a caminho,
11 Então Ele lhes explicou: “Todo homem correu um homem ao seu encontro e,
que se separar de sua esposa e se unir a ajoelhando-se, indagou-lhe: “Bom Mes-
outra mulher, estará cometendo adulté- tre! O que devo fazer para herdar a vida
rio contra a sua esposa. eterna?”
12 Da mesma maneira, se uma mulher se 18 Replicou-lhe Jesus: “Por que me cha-
divorciar de seu marido e se casar com mas bom? Ninguém é bom, a não ser
outro homem, estará igual-mente caindo um, que é Deus!6
em adultério”.4 19 Tu conheces os mandamentos: ‘Não
matarás, não adulterarás, não furtarás,
Jesus abençoa as crianças não dirás falso testemunho, não engana-
(Mt 19.13-15; Lc 18.15-17) rás ninguém, honra a teu pai e tua mãe’”.7
13 E aconteceu que as pessoas traziam 20 Ao que o homem declarou: “Mestre,
crianças para que Jesus lhes impusesse tudo isso tenho obedecido desde minha
a mão, mas os discípulos repreendiam adolescência”.
o povo. 21 Então Jesus o olhou com compaixão e
14 Todavia, quando Jesus notou o que se lhe revelou: “Contudo, te falta algo mais
passava, ficou indignado e lhes adver- importante. Vai, vende tudo o que tens,
tiu: “Deixai vir a mim os pequeninos. entrega-o e receberás um tesouro no céu;
Não os impeçais, pois deles é o Reino então, vem e segue-me!”8
de Deus. 22 Diante disso, o homem abateu-se
15 Com toda a certeza vos asseguro: profundamente e retirou-se entristecido,
aquele que não receber o Reino de pois possuía muitos bens.

separação entre marido e mulher nunca contou com a aprovação de Deus, a não ser como o menor entre dois males. O termo
grego “sklerokardia”, sempre usado no sentido espiritual para denotar um tipo de “coração inflexível e arrogante”, traduz um estilo
de vida permanentemente em rebelião contra Deus e Sua Palavra.
3 O casamento cria um novo tipo de relação familiar (Gn 29.14), onde o amor e a vida conjugal são exclusivos (Ef 5.30). A
santidade no casamento faz parte do plano original de Deus para o homem e a mulher.
4 Jesus usa sua autoridade para invalidar a doutrina rabínica da época que não considerava o adultério do homem contra sua
esposa. Na prática judaica, o marido podia mandar sua mulher embora de casa, por qualquer motivo e sem qualquer direito ou
mediação jurídica. Por isso, Jesus salienta que Deus, nosso Juiz, é quem promove a união das pessoas. O homem, ao separar-se
de sua esposa, coloca-se igualmente sob condenação divina.
5 Só aquele que aceitar o Reino de Deus com o coração receptivo e puro de uma criança, como um dom gracioso do Senhor,
poderá desfrutar plenamente de todos os seus privilégios (Ef 2.8,9).
6 Jesus procura ajudar o homem a refletir sobre a soberania de Deus. Só Ele é bom no sentido absoluto. Assim, referir-se a Je-
sus como “bom” seria o mesmo que chamá-lo de Deus. Ele é o único caminho para todo ser humano, independentemente do seu
grau de instrução, nacionalidade, cultura ou poder econômico, político e financeiro. Lucas (18.18,19) informa que este homem era
“importante”, e a expressão no original nos leva a pensar em um membro do concílio ou do tribunal oficial dos judeus. Mateus diz
que era um “jovem rico” (Mt 19.20). Religioso, cheio de planos e vontade de acertar, pronto a pagar pelo que desejava adquirir.
7 Os judeus e cristãos são proibidos de cometer fraudes. Este mandamento tem a ver com a cobiça. Nesse trecho Jesus decidiu
mencionar seis ordenanças contra atitudes erradas em relação ao próximo (Êx 20.12-16; Dt 5.16-21).
8 Jesus não está interessado em que o homem se torne pobre, mas, sim, que humildemente se lembre de que a ordenança
mais importante é amar a Deus sobre todas as coisas. Exatamente o primeiro mandamento da Lei (Dt 6.4,5). O jovem tinha a idéia
de um tipo de obediência exterior (Fp 3.6), normalmente ensinada nas sinagogas aos meninos, a partir dos 13 anos, idade em
que passavam a assumir a responsabilidade de cumprir os mandamentos da Lei.

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31 MARCOS 10

Com Deus tudo é possível timos; e muitos últimos serão primei-


(Mt 19.23-30; Lc 18.24-30) ros”.10
23 Então, Jesus, observando ao redor, de-
clarou aos seus discípulos: “Quão difícil Jesus outra vez prediz sua Paixão
é para aqueles que possuem muitos bens (Mt 20.17-19; Lc 18.31-34)
ingressar no Reino de Deus!” 32 E sucedeu que estavam no caminho,
24 Os discípulos ficaram perplexos diante subindo para Jerusalém. Jesus à frente
de tais palavras; no entanto, Jesus insistiu os conduzia. Os discípulos estavam ad-
em lhes afirmar: “Filhos, entrar no Reino mirados, enquanto os demais seguidores
de Deus é, de fato, muito difícil! sentiam medo. Uma vez mais Ele reuniu
25 É mais fácil passar um camelo pelo à parte os Doze e compartilhou o que lhe
fundo de uma agulha do que um rico aconteceria:11
entrar no Reino de Deus”. 33 “Eis que subimos para Jerusalém, e o
26 Os discípulos ficaram muito assusta- filho do Homem será entregue nas mãos
dos e comentavam uns com os outros: dos chefes dos sacerdotes e dos mestres
“Sendo assim, quem conseguirá se sal- da lei. Eles o condenarão à morte e o
var?”9 entregarão aos gentios,
27 E Jesus, fixando neles o olhar lhes re- 34 que zombarão dele, lhe cuspirão, tor-
velou: “Para o homem isso é impossível; turarão e finalmente o matarão. Contu-
todavia, não para o Senhor. Pois para do, após três dias Ele ressucitará”.
Deus tudo é possível!”
28 Então Pedro começou a declarar para No Reino o servo é o mais poderoso
Jesus: “Eis que nós tudo abandonamos (Mt 20.20-28)
para te seguir”. 35 Foi então que Tiago e João, filhos de
29 Garantiu-lhes Jesus: “Com toda a cer- Zebedeu, chegaram mais perto dele e lhe
teza vos asseguro que ninguém há que solicitaram: “Mestre, desejamos que nos
tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, concedas o que vamos te pedir”.
pai, filhos ou bens, por causa de mim e 36 E lhes indagou Jesus: “Que quereis que
do Evangelho, Eu vos faça?”
30 que não receba, já no presente, cem 37 Ao que rogaram: “Permite-nos que,
vezes mais, em casas, irmãos, irmãs, na tua glória, nos assentemos um à tua
mães, filhos e propriedades, e com eles direita e o outro à tua esquerda”.
perseguições; mas no mundo futuro, a 38 Ponderou-lhes Jesus: “Não sabeis o
vida eterna. que estais pedindo. Podeis vós beber do
31 Todavia, muitos primeiros serão úl- cálice que Eu vou beber e ser batizados

9 Para alguns arqueólogos havia nos muros de Jerusalém uma porta muito pequena, chamada de “agulha”, através da qual um
camelo só conseguia passar de joelhos. Por outro lado, é evidente que Jesus procura mostrar o contraste que havia entre o maior
animal da Palestina, na época, e a abertura diminuta de uma agulha comum, usada na confecção das redes e roupas. Isso para
mostrar que não há obra ou habilidade humana que possa granjear mérito suficiente para que alguém tenha acesso ao Reino.
Isso só é possível a Deus, que, por sua vez, oferece esse dom graciosamente aos Seus (Jó 42.2; Zc 8.6; Jo 3.3-6).
10 Nenhuma obra ou ministério tem valor a menos que esse trabalho seja movido pelo amor a Deus e ao próximo (1Co 13.1-3).
A fraternidade produzida pelo Evangelho faz dos cristãos uma grande família (At 2.44-47; 4.32-35; Rm 16.13). Juntamente com as
imensas e deliciosas bênçãos, virão as provas, perseguições e o sofrimento, a fim de moldar o caráter do discípulo à imagem de
Cristo. O julgamento final trará muitas surpresas. É preciso ficarmos alertas em relação ao pecado da arrogância e do orgulho.
Lembremo-nos dos destinos finais de Judas Iscariotes, (que fora escolhido por Jesus como um dos seus Doze apóstolos), e
Paulo, anteriormente um perseguidor de cristãos, e que trocaram de posição no Reino, mesmo nesta vida. O importante não é
começar bem, mas terminar bem.
11 Esta é a última viagem de Jesus a Jerusalém. Iniciada na cidade de Efraim (Jo 11.54), indo para a Galiléia (Lc 17.11), mais
ao sul a Jericó, passando pela região da Peréia (Lc 18.35), depois até Betânia (Lc 19.29), chegando a Jerusalém (Lc 19.41). Jesus
estava sendo seguido por uma multidão de romeiros a caminho das celebrações da Páscoa em Jerusalém.
Comparando-se mais essa predição da Paixão de Cristo com as demais, encontramos vários detalhes proféticos, todos cum-
pridos nos últimos dias e horas do ministério de Jesus na terra.

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MARCOS 10, 11 32

com o batismo com que estou sendo multidão, estavam deixando a cidade,
batizado?”12 o filho de Timeu, chamado Bartimeu,
39 “Podemos!” Replicaram eles. Então que era cego, estava assentado à beira do
Jesus lhes revelou: “Sim, bebereis o cálice caminho, pedindo esmolas.
que Eu bebo e, de fato, recebereis o batis- 47 Assim que ouviu que era Jesus de Na-
mo com que Eu sou batizado; zaré, começou a gritar: “Jesus! Filho de
40 todavia, o assentar-se à minha direita Davi, tem misericórdia de mim!”
ou à minha esquerda não cabe a mim 48 Muitos o advertiam severamente para
conceder. Esses lugares pertencem àque- que se calasse, contudo ele gritava ainda
les para quem foram preparados”. mais: “Filho de Davi! Tem compaixão de
41 Assim que os outros dez ouviram esse mim!”14
assunto, ficaram indignados contra Tia- 49 Foi então que Jesus parou e pediu:
go e João. “Chamai-o!” E assim foram chamar o
42 Jesus, por sua vez, os convocou e cego: “Ânimo, homem! Levanta-te, Ele
orientou: “Sabeis que aqueles que são te chama”.
considerados governantes das nações as 50 Jogando sua capa para o lado, de um
dominam e as pessoas importantes exer- só salto colocou-se em pé e foi ao encon-
cem poder sobre elas. tro de Jesus.
43 Contudo, não é assim que ocorre entre 51 Indagou-lhe Jesus: “Que queres que Eu
vós. Ao contrário, quem desejar tornar- te faça?” Rogou-lhe o cego: “Raboni, que
se importante entre vós deverá ser servo; eu volte a enxergar!”15
44 e quem ambicionar ser o primeiro 52 E Jesus lhe ordenou: “Vai em frente,
entre vós que se disponha a ser o escravo a tua fé te salvou!” No mesmo instante
de todos. o homem recuperou a visão e passou a
45 Porquanto, nem mesmo o Filho do seguir a Jesus pelo caminho.
homem veio para ser servido, mas para
servir e dar a sua vida em resgate por A entrada triunfal de Jesus
muitos”.13 (Mt 21.1-11; Lc 19.28-40; Jo 12.12-19)

A cura do cego Bartimeu


(Mt 20.29-34; Lc 18.35-43)
11 Quando estavam se aproximando
de Jerusalém, chegando a Betfagé
e Betânia, perto do monte das Oliveiras,
46 Chegaram pois a Jericó. Quando Jesus enviou então Jesus dois dos seus discí-
e seus discípulos, e mais uma grande pulos,1

12 A expressão usada originalmente por Jesus, aqui traduzida por “beber do cálice”, significa em hebraico “compartilhar o mes-
mo destino de alguém”. No AT o cálice de vinho era sempre usado como uma metáfora em relação à ira de Deus contra o pecado
e, especialmente, contra a rebelião deliberada do ser humano (Sl 75.8; Is 51.17-23; Jr 25.15-28; 49.12; 51.7). Portanto, o cálice
que Jesus tinha de beber diz respeito ao castigo divino dos pecados que Ele mesmo suportou no lugar de toda a humanidade
condenada. Jesus usa a palavra “batismo”, cujo significado tem a ver com “mergulho na água”, para enfatizar seu “mergulho” no
mais profundo dos sofrimentos para nos salvar da pena do afastamento eterno do Pai (Lc 12.50; Rm 6.3,4).
13 Esse é considerado por muitos teólogos e exegetas como o versículo-chave de Marcos: Jesus veio ao mundo como o Único
Servo (só Ele é bom, Ele é a síntese do bem), que viveria e entregaria sua vida à morte para a redenção de todo ser humano
que nele crer; como profetizou claramente Isaías (Is 52.13 – 53.12). A palavra “resgate” em seu sentido original traz o significado
do preço total pago pela libertação de um escravo. No original grego, a palavra diakonos é usada para demonstrar essa atitude
de Jesus, bem como o serviço voluntário, movido por amor, de um cristão em ajuda ao seu próximo. A expressão grega doulos
significa o serviço obrigatório do “escravo” e tem a ver com nosso procedimento dentro da comunidade cristã.
14 Essa é a única passagem em Marcos em que o título messiânico é dirigido a Jesus de Nazaré como forma de tratamento (Is
11.1-3; Jr 23.5,6; Ez 34.23,24; Mt 1.1; 9.27).
15 Bartimeu, falando em aramaico, a língua familiar de Jesus, o chama de rabonii ou rabbúni, que significa: meu mestre.
Capítulo 11
1 Aqui tem início a etapa derradeira do ministério de Jesus, que acontecerá dentro dos limites de Jerusalém, chamada de
Cidade Sagrada. O monte das Oliveiras fica a leste de Jerusalém, chega a uma altura de 823 metros, um pouco mais alto do que
o monte Sião. Do seu cume é possível ter uma linda visão panorâmica da cidade, especialmente do templo.

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33 MARCOS 11

2 e lhes recomendou: “Ide ao povoado 10 Bendito seja o Reino vindouro de nos-


que está logo adiante de vós e, assim so pai Davi! Hosana nos mais elevados
que entrardes, achareis um jumentinho céus!”4
amarrado, sobre o qual ninguém ainda 11 Então, Jesus entrou em Jerusalém e
montou. Soltai-o e trazei-o aqui.2 dirigiu-se ao templo. Observou tudo à
3 Se alguém vos inquirir: ‘Por que fazeis sua volta e, como já era tarde, partiu para
isso?’ Replicai: ‘O Senhor precisa dele e Betânia com os Doze.
sem demora o enviará de volta para aqui’.
4 Eles partiram e logo encontraram um Jesus purifica o templo
jumentinho na rua, amarrado a um por- (Mt 21.12-17; Lc 19.45-48)
tão, e o desprenderam. 12 No dia seguinte, enquanto estavam
5 E alguns dos que ali estavam censu- saindo de Betânia, Jesus teve fome.
raram-lhes: “Que fazeis, soltando o 13 E, avistando ao longe uma figueira
jumentinho?” com folhas, foi verificar se encontraria
6 Eles, todavia, justificaram-se conforme nela algum fruto. Chegando perto dela,
Jesus os orientara; diante do que lhes nada encontrou, a não ser folhas, porque
permitiram seguir. não era a época de figos.
7 E, assim, trouxeram o jumentinho até 14 Então a repreendeu: “Nunca mais, em
onde estava Jesus, selaram-no com seus tempo algum, coma alguém fruto de ti!”
mantos, e Jesus o montou. E os discípulos escutaram quando pro-
8 Então, muitas pessoas estendiam seus feriu isso.5
mantos pelo caminho, outras espalhavam 15 Assim que chegou a Jerusalém, Jesus
ramos que tinham cortado nos campos.3 entrou no templo e começou a expulsar
9 Tanto os que caminhavam adiante dele, os que ali estavam apenas comprando e
como os que seguiam após, proclama- vendendo. Derrubou as mesas dos cam-
vam: “Hosana! Bendito é o que vem em bistas e as cadeiras dos que comercializa-
nome do Senhor! vam pombas.6

2 A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, evento assim conhecido pela maneira efusiva com que as multidões aclamaram
essa chegada de Jesus Cristo à Cidade Santa, abre a Semana da Paixão, lembrada dessa forma para marcar os dias em que
Jesus entregou sua própria vida em holocausto, por causa da sua paixão pela humanidade, e para resgatar todo aquele que nele
crer da sentença perpétua do abandono de Deus. Mais uma vez as profecias se cumprem até nos detalhes (Zc 9.9; Mt 21.5; Jo
12.15), como foi o caso de Jesus solicitar um jumentinho sobre o qual ninguém ainda houvesse montado, numa demonstração
do uso santificado dos elementos para o ritual do sacrifício (Nm 19.2; Dt 21.3). Esse foi um ato messiânico deliberado, de Jesus,
revelando-se claramente ao povo como o Messias prometido, e permitindo que os líderes religiosos e políticos que viviam tentan-
do surpreendê-lo em alguma falta, agora passassem a ter um pretexto.
3 Parte das vestes de Jesus foi colocada sobre o lombo do jumentinho. Os profetas do AT foram dirigidos por Deus para minis-
trarem ao povo por meio de atitudes de grande efeito visual e dramático (Jr 19; Ez 4.1-3). A entrada triunfal, como a purificação do
templo, a maldição da figueira, e a ceia do Senhor foram ações dessa natureza. Jesus se apresenta como o Messias. Entretanto,
diferentemente de como imaginavam muitos judeus, sem armas ou exércitos, nem mesmo a natural arrogância dos monarcas e
grandes líderes. Jesus foi o Messias da Paz (Lc 19.38-40).
4 A expressão hebraica hosana já era de uso comum (e por isso Marcos não a traduz para o grego) e proferida na aclamação
de reis e governadores. O verso 10 indica que o povo reconheceu plenamente em Jesus a pessoa do Messias. O vocábulo tem
origem na antigüidade judaica e foi usado por Davi em seus salmos de Hallell (Louvor). A passagem do Sl 118.25,26 era cantada
na ocasião da celebração da Páscoa e como expressão de boas-vindas proferida pelos sacerdotes aos peregrinos de todas as
partes que chegavam a Jerusalém. Portanto, muito adequada para aquele momento. Hosana tornou-se um grito de júbilo e louvor
a Deus por seus feitos maravilhosos.
5 As figueiras da região de Jerusalém costumam brotar folhas novas no final de março, mas só produzem frutos quando toda
folhagem está completa, por volta de junho. Essa figueira – como Israel – era uma exceção, já estava coberta de folhas muito an-
tes do tempo, na Páscoa, mas sem oferecer nenhum fruto. O episódio serviu de grande recurso didático para que Jesus revelasse
especialmente aos discípulos mais uma parábola sobre o Juízo, com a figueira servindo de perfeita ilustração (Os 9.10; Na 3.12).
O acontecimento no templo e o evento com a figueira explicam-se mutuamente.
6 Jesus dirigiu-se ao “átrio dos gentios”, a única parte do templo em que os gentios tinham acesso permitido para adorar a Deus
e reunir-se para as orações. Os romeiros que vinham de todas as partes da Palestina, para as celebrações da Páscoa, tinham de

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MARCOS 11 34

16 Também não permitia que ninguém oração pedirdes, tenhais fé que já o rece-
transportasse mercadorias pelo templo. bestes, e assim vos sucederá.
17 E os admoestava exclamando: “Não 25 Mas, quando estiverdes orando, se
está escrito: ‘A minha casa será chamada tiverdes algum ressentimento contra al-
casa de oração para todos os povos’? Vós, guma pessoa, perdoai-a, para que, igual-
contudo, a tendes transformado em ‘co- mente, vosso Pai celestial vos perdoe as
vil de ladrões’”. vossas ofensas.
18 Os chefes dos sacerdotes e os mestres 26 Entretanto, se não perdoardes, vosso
da lei escutaram essas críticas e começa- Pai que está nos céus também não vos
ram a tramar um meio para assassiná-lo, perdoará os vossos pecados”.
pois o temiam, haja vista que todo o
povo estava maravilhado com o seu sa- A autoridade de Jesus é divina
ber e ministração.7 (Mt 21.23-27; Lc 20.1-8)
19 E, ao pôr-do-sol, eles saíram da cidade. 27 Mais tarde, chegaram outra vez a Jeru-
salém. E Jesus, ao caminhar pelo templo,
O poder da oração de fé foi abordado pelos chefes dos sacerdotes,
(Mt 21.18-22) os mestres da lei e os líderes religiosos,
20 E, caminhando eles pela manhã, viram que lhe questionaram:
que a figueira secara desde as raízes.8 28 “Com que autoridade ages como vens
21 Pedro, recordando-se do ocorrido, in- agindo? Ou quem te outorgou tal autori-
formou a Jesus: “Rabbi! Eis que a figueira dade para fazeres o que fazes?10
que amaldiçoaste secou!” 29 Jesus lhes replicou: “Eu também vos
22 Observou-lhes Jesus: “Tende fé em proporei uma questão; respondei-me,
Deus!9 e Eu vos revelarei com que autoridade
23 E, com toda a certeza eu vos asseguro, tenho ministrado.
que se qualquer pessoa ordenar a este 30 O batismo de João provinha do céu ou
monte: ‘Levanta-te e lança-te no mar, e dos seres humanos? Replicai-me pois!”
não houver dúvida em seu coração, mas 31 E aconteceu que eles passaram a discu-
crer que se realizará o que pede, assim tir entre si: “Se afirmarmos: Do céu, ele
lhe será feito’. nos indagará: ‘Então, por qual razão não
24 Portanto, vos afirmo: Tudo quanto em acreditastes nele?’

comprar animais que satisfizessem as exigências rituais. Os sacerdotes mantinham um acordo com os vendedores e somente os
animais comprados (a preços exorbitantes) dentro dessa área do templo recebiam uma espécie de visto de aprovação sacerdotal:
“sem defeito” e, portanto eram aceitos na hora do sacrifício. Ao lado dos abrigos dos animais, os vendedores montavam mesas
para troca (câmbio) do dinheiro estrangeiro pela moeda local. As pombas eram oferecidas para a purificação das mulheres (Lv
12.6; Lc 2.22-24) e para determinadas doenças de pele (Lv 14.22), além de outros fins específicos (Lv 15.14,29). Havia também as
ofertas que deviam ser entregues pelos pobres (Lv 5.7), e vários outros tipos de sacrifícios. Jesus entrou no templo naquele dia
como o verdadeiro Sumo Sacerdote (Ml 3.1) e agiu como responsável que é sobre o Templo do Espírito de Deus.
7 A indignação dos líderes religiosos é compreensível. Afinal eram os sacerdotes e seus chefes, Anás e Caifás, que embolsavam
o lucro ilícito do comércio geral no templo.
8 Esta era a manhã de terça-feira da Paixão. O detalhe salientado por Marcos, informando que a figueira estava seca desde as
raízes, foi uma admoestação ao grave estado de corrupção do povo de Israel a partir dos seus líderes religiosos máximos, e o
aviso de que a destruição seria absoluta (Jo 18.16). Além disso, ninguém mais, em futuro algum, seria beneficiado pelos frutos
espirituais de Israel. Uma vívida ilustração do terrível juízo que ocorreria no ano 70 d.C. (Mt 24.2).
9 Pedro observa que a figueira secou completamente, de um dia para o outro, e se dirige a Jesus em hebraico usando a
expressão: Rabbi, que significa: “meu mestre”. Jesus ensina que a nossa fé (que em hebraico tem o sentido de depositar toda
a confiança), deve ser dedicada de forma pura e absoluta a Deus, o Pai. Mesmo a fé em Jesus é fé em Deus, que o enviou e o
declarou Seu Filho pleno em poder (Jo 5.24; Rm 1.4; Fl 2.9). Era comum entre os mestres judaicos da época o uso da expressão
“remover montes” em relação à solução de problemas muito complicados de interpretação e aplicação prática da Lei. Do alto do
monte das Oliveiras era possível avistar o mar Morto. Quem ora com verdadeira fé em Deus não enfrenta dificuldades insolúveis
nem insuportáveis; é vital não duvidar e não guardar rancor (Tg 1.6; 2.4).
10 O Sinédrio perguntava ao Senhor por que ele estava realizando um ato oficial sem reter cargo formal (Lc 20.2).

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35 MARCOS 11, 12

32 Se, por outro lado, declararmos: Dos 6 Finalmente, restava-lhe enviar seu
seres humanos...” Neste caso, temiam as próprio e amado filho; a este lhes enviou
multidões, pois todos realmente consi- com a seguinte intenção: ‘A meu filho
deravam João um profeta. respeitarão’.3
33 Finalmente responderam a Jesus: “Não 7 Todavia, aqueles lavradores combina-
sabemos!” E, Jesus, por sua vez, concluiu- ram entre si: ‘Este é o herdeiro! Ora, ve-
lhes: “Ora, nem Eu tampouco vos revela- nham, vamos matá-lo, e assim a herança
rei com que autoridade estou realizando será toda nossa’.4
estas obras!”11 8 Então o agarraram, assassinaram e o
jogaram para fora da vinha.
Parábola dos vinicultores maus 9 Diante disso o que fará o proprietá-
(Mt 21.33-46; Lc 20.9-19) rio da vinha? Virá, destruirá aqueles

12 Jesus então passou a ministrar-


lhes por meio de parábolas: “Cer-
to homem plantou uma vinha, ergueu
lavradores e outorgará a vinha a outros
vinicultores.
10 Ainda não lestes esta passagem nas
uma cerca ao redor dela, cavou um tanque Escrituras? ‘A pedra que os construtores
para esmagar as uvas e construiu uma tor- rejeitaram, essa veio a ser a pedra princi-
re de vigia. Depois arrendou a vinha para pal, angular;
alguns lavradores e partiu de viagem.1 11 isto procede do Senhor, e é obra de
2 Chegando a época da colheita, enviou um grande maravilha para todos nós’”.5
servo aos lavradores, com o objetivo de re- 12 Por isso começaram a tramar um jeito de
ceber deles sua parte do fruto da vinha.2 prendê-lo, pois perceberam que Ele havia
3 No entanto, eles o agarraram, o espan- narrado aquela história com o propósito
caram e o mandaram embora de mãos de acusá-los. Contudo, tinham receio da
vazias. multidão; e acharam melhor se afastarem.
4 Então lhes enviou um outro servo; e
também lhe bateram na cabeça e o hu- Adorar a Deus e honrar o Estado
milharam. (Mt 22.15-22; Lc 20.19-26)
5 E enviou outro ainda, o qual assassina- 13 Mais tarde enviaram a Jesus alguns dos
ram. Então enviou muitos outros; mas a fariseus e herodianos para tentar conde-
alguns agrediram e a outros mataram. ná-lo em alguma palavra que proferisse.6

11 Os jjudeus usavam a expressão


p “céu” ou “céus”, muitas vezes em substituição
ç ao vocábulo divino “Deus” ((ou como muitos
judeus grafam ainda hoje: “D-us”), procurando evitar, assim, um possível mau uso do nome de Deus (Êx 20.7). Com sua pergunta
Jesus deu a entender que sua autoridade provinha de Deus, da mesma maneira que o batismo de João.
Capítulo 12
1 Jesus continua a falar com os mesmos líderes religiosos de 11.27. Esta história ilustrativa e repleta de ensinamentos (pará-
bola) fala dos homens que desconfiam da autoridade divina de Jesus. As expressões hebraicas: “plantou uma vinha”, “cerca ao
redor”, “cavou um tanque”, “torre de vigia” vêm citadas na versão grega de Isaías 5.1,2, na tradução das Escrituras chamada
Septuaginta ou, simplesmente “LXX”.
2 A palavra “servo” aqui usada é doulos (em grego: escravo). Neste caso indica uma das grandes características do Profeta de
Jeová, do AT: “obediente e submisso a Deus” (Jr 7.25; Am 3.7; Zc 1.4).
3 A derradeira possibilidade de reconciliação dos seres humanos com o Criador está na intermediação de Cristo, o Filho
amado. A ênfase de todo o NT está na incomparabilidade de Jesus Cristo (Hb 1.1,2). Quem rejeitar o Filho fica sem qualquer
esperança de aceitação da parte de Deus, o Pai.
4 Pela lei judaica, em vigor na época, qualquer propriedade não reclamada por seu herdeiro legal passava a ser declarada
“terra sem dono”, e poderia ser outorgada propriedade da primeira pessoa que se identificasse como dono dessas terras. Os
vinicultores, embriagados pela avareza e cobiça, logo perceberam que assassinando o filho do dono poderiam tornar-se os novos
e ricos proprietários das terras.
5 Esta passagem é composta integralmente com expressões extraídas da tradução grega Septuaginta (LXX) do Salmo
118.22,23. A pedra principal ou angular era a pedra que unia e completava as grandes construções da época (At 4.11; 1Pe 2.7,8).
Deus permitiu o assassinato de seu Filho único, apenas para, em seguida, exaltá-lo como Senhor supremo e Juiz dos pecadores
inveterados (Fp 2.6-11).
6 Este episódio ocorreu na terça-feira da Paixão, em um dos átrios do templo. Os herodianos eram partidários de Herodes

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MARCOS 12 36

14 E, ao se aproximarem, lhe questiona- casou-se e faleceu sem deixar filhos.


ram: “Mestre, sabemos que és verdadei- 21 Então o segundo desposou a viúva,
ro e que não te deixas influenciar por mas também morreu sem deixar des-
ninguém, pois não te impressionas com cendentes. O mesmo ocorreu com o
a aparência exterior das pessoas, mas terceiro.
ensinas o caminho de Deus em confor- 22 E, dessa forma, nenhum dos sete ir-
midade com a mais pura verdade. Assim mãos deixou filhos. Finalmente, faleceu
sendo, diga-nos, é lícito pagar imposto a também a mulher.
César ou não? 23 Na ressurreição, de quem essa mulher
15 Devemos pagar ou podemos nos recu- será esposa, haja vista que os sete irmãos
sar?”. Jesus, porém, conhecendo o quão foram casados com ela?”.
hipócritas estavam sendo, lhes inquiriu: 24 Então Jesus os admoestou: “Não é
“Por que me tentais? Trazei-me um de- sem motivo que errais tanto, pois não
nário para que Eu o veja!” compreendeis as Escrituras nem o poder
16 E eles lhe trouxeram a moeda, ao que de Deus!9
Ele lhes indagou: “De quem é esta ima- 25 Quando os mortos ressuscitam não
gem e esta inscrição?” se casam mais, nem são dados em ca-
17 “Ora, de César”, replicaram eles. samento. Pois se tornam como os anjos
18 Então Jesus lhes asseverou: “Dai a Cé- nos céus.
sar o que é de César e a Deus o que é de 26 A respeito da ressurreição dos mortos,
Deus!” E todos ficaram pasmos com Ele.7 ainda não tendes lido no livro de Moisés,
no texto referente à sarça, como Deus lhe
A ressurreição de todos os mortos declarou: ‘Eu Sou o Deus de Abraão, o
(Mt 22.23-33; Lc 20.27-40) Deus de Isaque e o Deus de Jacó?’
18 Depois chegaram os saduceus, que 27 Ora, Ele não é Deus de mortos, e sim
pregam não haver qualquer ressurreição, o Deus dos vivos!’. Estais absolutamente
com a seguinte questão:8 enganados!”10
19 “Mestre, Moisés nos deixou escrito que,
se um homem morrer e deixar sua esposa O principal dos mandamentos
sem filhos, seu irmão deverá se casar com (Mt 22.34-40; Lc 10.25-28)
a viúva e gerar filhos para seu irmão. 28Um dos mestres da lei achegou-se e os
20 Ora, havia sete irmãos. O primeiro ouviu argumentando. Observando como

Antipas, rei da Galiléia. O plano para matar Jesus, tramado logo depois do início do seu ministério na Galiléia, estava agora
amadurecendo rapidamente e ganhava força nos meios religiosos e políticos de Jerusalém.
7 O NT apresenta alguns princípios básicos referentes à nossa obediência ao Estado: 1) O Estado não é maior nem mais
poderoso que o Senhor. Deve, portanto, ser submisso à vontade expressa de Deus (Rm 13.1). 2) O Estado tem deveres e direitos
para com seu povo que, por sua vez, também deve cumprir com suas responsabilidades cívicas. Existem obrigações para com
o Estado que não entram em choque com nossas obrigações prioritárias para com Deus (Rm 13.1-7; 1Tm 2.1-6; Tt 3.1,2; 1Pe
2.13-17). 3) O limite dessas responsabilidades para com o Estado não deve ultrapassar a vontade de Deus, claramente expressa
pelo Espírito Santo aos cristãos e escrita em Sua Palavra (At 4.19).
8 Os saduceus representavam o partido judaico aristocrata dos sacerdotes e das classes ricas, na época subordinado aos
romanos. Estabelecidos principalmente em Jerusalém, fizeram do templo e de sua administração seu interesse principal. Embora
pequeno em número, na época de Jesus, esse grupo exerceu poderosa e decisiva influência política e religiosa em Israel, e até
em Roma. Negavam a ressurreição dos mortos, aceitavam somente a autoridade divina dos primeiros cinco livros de Moisés
(o Pentateuco ou a Torá), e rejeitavam totalmente a tradição oral dos judeus. Essas doutrinas geravam grande conflito entre os
saduceus, os fariseus e a fé comum judaica.
9 As doutrinas e pressuposições teológicas dos saduceus os incapacitavam de entender coerentemente (conhecer) o AT como
um todo e não apenas o Pentateuco.
10 Era comum os mestres judeus referirem-se ao evento da “sarça” ao falar do maravilhoso encontro de Deus com Moisés
no deserto ou para lembrar o texto bíblico de Êx 3.1-6 (ver Rm 11.2, em que “Elias” se refere a 1Rs 19.1-10). Nesta passagem,
Jesus confirma a inspiração e a historicidade do texto de Êx 3. Os planos do Criador e Fonte da vida não serão vencidos pela

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37 MARCOS 12

Jesus lhes houvera respondido esplendida- Cristo é o Senhor de Davi


mente, perguntou-lhe: “De todos os man- (Mt 22.41-46; Lc 20.41-44)
damentos, qual é o mais importante?”11 35 Mais tarde, Jesus estava ensinando no
29 Esclareceu-lhe Jesus: “O mais impor- templo, quando levantou uma questão:
tante de todos os mandamentos é este: “Como podem os mestres da lei pregar
‘Ouve, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus é que o Cristo é filho de Davi?
o único Senhor. 36 Sendo que o próprio Davi, expressan-
30 Amarás, portanto, o Senhor, teu Deus, do-se pelo Espírito, afirmou: ‘O Senhor
de todo o teu coração, de toda a tua alma, disse ao meu Senhor: Senta-te à minha
de todo o teu entendimento e de toda a direita, até que Eu ponha os teus inimi-
tua força’.12 gos debaixo de teus pés’.13
31 E o segundo é: ‘Amarás o teu próximo 37 Se o próprio Davi o chama de ‘Se-
como a ti mesmo’. Não existe qualquer nhor’. Como é possível, então, ser Ele
outro mandamento maior do que estes”. seu filho?” E numeroso ajuntamento de
32 Então o escriba exaltou Jesus: “Muito pessoas o ouvia com grande deleite!
bem, Mestre! Estás absolutamente certo
ao afirmares que Deus é único e que não Jesus condena os escribas
existe outro que se compare a Ele. (Mt 23.1-7,14; Lc 20.45-47)
33 E que amar a Deus de todo o coração e 38 E, continuando seu ensino, advertia
de todo o entendimento, e com todas as Jesus: “Acautelai-vos dos escribas. Pois
forças, bem como amar ao próximo como eles fazem questão de andar com roupas
a si mesmo é muito mais importante do especiais e de receber saudações em pra-
que todos os sacrifícios e ofertas juntos”. ças públicas,14
34 Jesus, por sua vez, vendo que o ho- 39 de sentar nos lugares de maior des-
mem havia respondido com sabedoria, taque nas sinagogas, e ainda de ocupar
revelou-lhe: “Não estás distante do Rei- as posições mais honrosas à mesa dos
no de Deus!” E, a partir disto, não havia grandes banquetes.15
mais alguém que ousasse lhe questionar 40 Eles devoram as casas das viúvas e,
coisa alguma. para dissimular, fazem longas orações.

morte, nem pelo pecado (Sl 73.23). Deus é Senhor dos vivos, pois ainda que morramos, seremos ressuscitados e estaremos
vivos para sempre.
11 Os antigos rabinos judeus contavam 613 ordenanças da Lei e procuravam diferenciar entre mandamentos “pesados” ou
“mais importantes” (graves), e aqueles considerados “leves” ou “menos importantes”. Os escribas eram fariseus, teólogos e
eruditos da lei, criadores e transmissores da interpretação tradicional dos mandamentos de Deus.
12 Jesus recita o Shema, em razão de ser a primeira palavra hebraica de Dt 6.4, que significa “Ouve” (preste atenção para
praticar). Citar este trecho das Escrituras tornou-se uma espécie de confissão de fé judaica, recitada por judeus piedosos e con-
sagrados, todas as manhãs e ao pôr-do-sol. Até hoje é usada para iniciar os cultos nas sinagogas em todo o mundo. No entanto,
especialmente na vida dos líderes religiosos que combatiam Jesus, o Shema havia se tornado apenas uma “reza” ou “oráculo”,
repetição meramente ritualística de palavras, as quais se imagina que possam tocar a divindade. Jesus resgatou o verdadeiro
sentido do Shema e acrescentou-lhe o mandamento de Lv 19.18, para demonstrar que é impossível amar a Deus sem honrar ao
próximo com o mesmo sentimento de cuidado que devotamos a nós mesmos. O amor a Deus tem como expressão natural o
amor aos irmãos de raça e à terra em geral. O primeiro e o segundo mandamentos são inseparáveis (1Jo 4.20). Agostinho pro-
clamou: “Ama a Deus e faze o que queres”, pois o amor sincero a Deus purifica todas as nossas intenções. A ênfase na unidade
absoluta do Deus único é usada para negar qualquer idéia de politeísmo, comum a todos os povos não judeus da antigüidade.
13 Jesus usa habilmente as Sagradas Escrituras para mostrar que o Cristo (o Messias) era mais que descendente de Davi. Era
o Senhor de Davi (Sl 110.1).
14 Os escribas (mestres da lei) gostavam de usar túnicas compridas de linho branco com franjas que quase tocavam o chão.
Colocavam boa parte de sua respeitabilidade na aparência exterior.
15 Os lugares mais destacados e importantes nas sinagogas ficavam em frente a uma réplica da “Arca” que era usada para
guardar os rolos sagrados (cópias manuscritas dos originais). Aqueles que tinham o privilégio de sentar-se ali podiam ser vistos
na sinagoga por toda a congregação.

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MARCOS 12, 13 38

Estes, certamente, receberão condenação Os sinais do final dos tempos


ainda mais severa!”16 (Mt 24.1-35; Lc 21.5-37)

A valiosa oferta da viúva pobre


(Lc 21.1-4)
13 E ocorreu que ao sair Jesus do
templo, observou-lhe um de seus
discípulos: “Olhai Mestre! Que pedras
41 E Jesus foi sentar-se em frente ao local enormes. Que construções magníficas!”1
onde eram depositadas as contribuições 2 Entretanto Jesus lhe revelou: “Vês estas
financeiras e observava a multidão colo- suntuosas construções? Pois aqui não
cando o dinheiro nas caixas de coleta de restará pedra sobre pedra; serão todas
ofertas. Muitos ricos lançavam ali gran- derrubadas!”
des quantias.17 3 Então, havendo Jesus se assentado no
42 Foi então que uma viúva pobre se monte das Oliveiras, de frente para o
aproximou e depositou duas moedas templo, Pedro, Tiago, João e André o
bem pequenas, de cobre e, portanto, de consultaram em particular:
bem pouco valor.18 4 “Dize-nos quando acontecerão estes
43 E chamando para perto de si os seus eventos, e que sinal haverá quando todos
discípulos, Jesus lhes declarou: “Com toda eles estiverem prestes a cumprir-se?”
a certeza vos afirmo que esta viúva pobre 5 E Jesus passou a preveni-los: “Vede que
depositou no gazofilácio mais do que o pessoa alguma vos induza ao erro.2
fizeram todos os demais ofertantes. 6 Pois serão muitos os que virão em meu
44 Porquanto, todos eles ofertaram do nome, afirmando: ‘Sou eu’; e iludirão
que lhes sobrava; aquela senhora, entre- multidões.
tanto, da sua penúria deu tudo quanto 7 No entanto, assim que ouvirem notí-
possuía, todo o seu sustento”. cias sobre guerras e rumores de guerras,

16 Os mestres da lei não recebiam um salário fixo e regular. Dependiam de ofertas voluntárias dos irmãos judeus. As senhoras
viúvas eram, em geral, as mais generosas e muitas vezes vítimas de exploração.
177 Os gazofilácios ou caixas de ofertas ficavam no átrio das mulheres. Nele se achavam treze receptáculos em forma de trombe-
ta para receber as contribuições trazidas pelos adoradores. De maneira curiosa, os homens tinham permissão para entrar nesse
recinto, mas as mulheres não podiam ir a qualquer outra parte do templo.
18 As moedas de cobre (em grego, lepta, “finas”) eram as menores em circulação em toda a Palestina e correspondiam ao
mínimo valor monetário, valiam apenas 1/6 de um denário. Todavia Jesus observou o desprendimento da pobre senhora que
ofereceu ao Senhor tudo o que tinha (2Co 8.12).
Capítulo 13
1 Este capítulo é conhecido por muitos teólogos como “O Sermão Profético”, é também chamado de “Pequeno Apocalipse”.
Marcos consegue sintetizar as grandes e dramáticas verdades em relação aos sinais que surgirão na terra prenunciando o
iminente e glorioso retorno de Cristo, o final dos tempos e o início de uma nova era (Mt 24; Lc 21 e todo o Apocalipse). O
propósito de Marcos não é esclarecer os seus leitores sobre os eventos futuros, mas sim encorajar os cristãos a resistir ao mal;
permanecer firmes na fé em Jesus, não importa o quanto às circunstâncias possam ser adversas; manter sempre a Esperança
e estar pronto, a todo o momento, para o magnífico encontro com Cristo em glória. O Templo era uma construção suntuosa e
exemplar. Refletia o poder e a capacidade do gênio humano. Herodes, o Grande, começou sua reconstrução no século 19 a.C.,
tornando-a uma das maravilhas do mundo antigo. O historiador judeu Flavio Josefo dizia que as pedras talhadas e usadas na
construção eram brancas e muitas mediam até 11,5m de comprimento, 3,7m de altura e 5,5m de largura. Contudo, no ano 70
d.C., antes mesmo da sua conclusão (14.58; 15.29; Jo 2.19, Mt 23.38), o Templo foi completamente destruído, a ponto de não
ficar uma só pedra sobre outra. Jerusalém foi toda queimada, as praças públicas tornaram-se lagos de sangue e os soldados
romanos cobriram, com sal, os cadáveres e todo o chão da cidade. Esse foi o grande sinal do início dos eventos que marcarão
o final dos tempos e da humanidade como a conhecemos hoje. Portanto, a volta triunfal de Cristo pode ocorrer a qualquer
momento em nossos dias.
2 Um dos principais propósitos deste sermão é alertar os discípulos quanto ao perigo dos ataques místicos de enganadores
e falsos profetas. Durante séculos essas pessoas têm surgido em toda a terra, iludindo e destruindo inúmeras vidas humanas. À
medida que o final dos tempos se aproxima, mais defraudadores da verdade arrebanharão multidões de incautos. Por isso Jesus
enfatiza o cuidado e o zelo, usando expressões como “ficai vós alertas”, “estai vigilantes” e “vigiai” (9, 23, 33, 35, 37).

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39 MARCOS 13

não vos assusteis; é necessário que assim A grande tribulação


ocorra, contudo, ainda não é o fim.3 (Mt 24.15-28; Lc 21-24)
8 Porquanto nação se levantará contra 14 Então, quando virdes o sacrilégio
nação, e reino contra reino. Sucederão horrível posicionado no lugar onde não
terremotos em vários lugares e muita deve estar (aquele que lê as Escrituras
fome por toda parte. Esses acontecimen- entenderá), os que estiverem na Judéia
tos são o início das dores! fujam para os montes.
9 Ficai vós alertas, pois vos denuncia- 15 Quem estiver sobre a laje que cobre as
rão aos tribunais e sereis açoitados nas vossas casas, não desça nem entre para
sinagogas. Por minha causa vos farão retirar dela qualquer de vossos perten-
comparecer à presença de governadores ces.6
e reis, e isso se constituirá em testemu- 16 Quem estiver no campo não retorne
nho para eles.4 para apanhar seu manto.
10 Contudo, é indispensável que pri- 17 Como serão terríveis aqueles dias,
meiro o Evangelho seja anunciado para principalmente para as grávidas e para as
todas as nações.5 mães que estiverem amamentando!
11 Todas as vezes que fordes presos e le- 18 Orem para que estes eventos não ve-
vados a julgamento, não vos preocupeis nham a ocorrer no inverno.
com o que haveis de declarar, porém, o 19 Pois aqueles serão dias de tamanho
que vos for concedido naquele momen- sofrimento, como jamais houve desde
to, isso proclamai; porque não sois vós os que Deus criou o mundo até agora, nem
que falais, mas, sim, o Espírito Santo! nunca mais haverá.
12 E sucederá que um irmão trairá seu 20 Portanto, se o Senhor não tivesse re-
próprio irmão, entregando-o à morte, e duzido aquele período, nenhum ser de
dessa mesma maneira agirá o pai para carne e osso sobreviveria. Contudo, por
com seu filho. Filhos haverá que se re- causa dos eleitos por Ele escolhidos, tais
voltarão contra seus próprios pais e os dias foram abreviados pelo Senhor.7
assassinarão. 21 Se, todavia, alguém lhes anunciar: ‘Eis
13 Sereis odiados de todos por minha aqui o Cristo!’ Ou ainda: ‘Ei-lo logo ali!’
causa, todavia, aquele que permanecer Não deis qualquer crédito a isso!
firme até o seu fim receberá a glória da 22 Pois surgirão falsos cristos e falsos
salvação. profetas, realizando sinais e maravilhas,

3 Jesus se refere ao final da História da Criação e encoraja os cristãos a não se desesperarem, pois assim deve prosseguir a
História (Rm 8.22; Hb 12.26). Os falsos mestres e a própria perversão do sistema político, religioso, econômico e social mundial
apressarão a volta do Senhor. Entretanto, o cristão, por estar salvo, não deve pensar de forma egoísta: “quanto pior, melhor”. Mas,
sim, em tornar-se um canal de bênçãos para a salvação do maior número de pessoas possível.
4 Perseguições e incompreensões aguardam todos aqueles que se lançam ao desafio da proclamação do Evangelho em todo
o mundo. Os tribunais religiosos eram dirigidos pelos anciãos (administradores) das sinagogas. As infrações dos regulamentos e
estatutos judaicos eram sujeitos a uma punição de até 39 açoites (At 8.1; 9.1; 2Co 11.23,24). Contudo, governadores, reis e grandes
autoridades (judeus e gentios) terão a oportunidade de receber o Evangelho do Senhor por meio do testemunho dos cristãos.
5 Jesus prediz que o Evangelho será pregado em todas as nações (em grego: ethnç, a mesma palavra para “gentios”). Todos
os gentios sobre a face da terra terão ao menos uma oportunidade de ouvir e receber o Evangelho, e não apenas os judeus (Ap
7). Infelizmente, isso não quer dizer que o mundo se tornará melhor e mais cristão com o passar do tempo, mas que é missão
da Igreja ir e proclamar.
6 Aquele que perseverar será salvo do Juízo final, não das perseguições temporais em virtude da sua fé em Jesus Cristo. A
expressão aqui traduzida por “laje” tem a ver com um tipo especial de cobertura plana das casas judaicas na época de Cristo,
muito diferente dos tradicionais telhados brasileiros e europeus (Mt 24.17; Mc 2.4; Lc 17.31).
7 O Senhor toma o cuidado de não ser muito claro em suas profecias para que apenas aqueles fiéis, que se dedicam à oração
e ao estudo da Palavra, possam compreender o verdadeiro sentido das predições. Especialmente as dos versos 14 a 20, para as
quais, muitos anos mais tarde, Lucas nos legaria sua interpretação (Lc 21), tendo em vista os acontecimentos que culminaram
com a destruição de Jerusalém, entre os anos 66 e 70 d.C., de cujos fatos ele foi testemunha ocular. Os ídolos do imperador e as
atitudes bárbaras dos soldados romanos, absolutamente tomados pelo ódio, profanaram o Templo em 70 d.C. (Dn 9.27; 11.31;

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MARCOS 13, 14 40

com o objetivo de enganar, se possível, os passará esta geração até que todos esses
próprios eleitos.8 eventos ocorram.10
23 Desse modo estai vigilantes, pois sobre 31 Os céus e a terra passarão, contudo as
tudo isso vos avisei com antecedência! minhas palavras nunca passarão.

O glorioso retorno de Jesus Só Deus sabe o dia e a hora. Vigiai!


(Mt 24.29-31; Lc 21.25-28) (Mt 24.36-51)
24 Porém, naqueles dias, depois do referi- 32 Todavia, a respeito daquele dia ou hora
do período de tribulação, ‘o sol escurece- ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem
rá e a lua não dará a sua luz;9 o Filho do homem, senão apenas o Pai.
25 as estrelas cairão do céu e os poderes 33 Estai, pois, atentos e vigiai! Porquanto
celestes serão abalados’. não cabe a vós saber quando será este
26 Então o Filho do homem será visto tempo.
p
chegando nas nuvens, com grande poder 34 É como um homem que viaja para ou-
e glória. tro país e, deixando a sua casa, encarrega
27 Ele enviará os seus anjos e reunirá cada um de seus servos das suas tarefas e
os seus eleitos dos quatro ventos, das ordena ao porteiro que vigie.11
extremidades da terra até os confins 35 Vigiai, pois, uma vez que não sabeis
do céu. quando regressará o dono da casa: se à
tarde, à meia-noite, ao cantar do galo ou
A parábola da boa figueira mesmo ao raiar do dia.
(Mt 24.32-44; Lc 21.29-36) 36 E, em vindo repentinamente, que não
28 Portanto, aprendei com o ensino da fi- vos surpreenda dormindo.
gueira: Quando seus ramos se renovam e 37 O que vos tenho dito, proclamo a to-
suas folhas começam a brotar, sabeis que dos: Vigiai!”12
o verão vem chegando.
29 Dessa mesma maneira, assim que ob- Trama para matar Jesus
servardes esses eventos ocorrendo, sabei (Mt 26.1-5; Lc 22.1-2)
que o tempo está próximo, já às portas.
30 Com toda a certeza vos afirmo que não 14 Restavam somente dois dias para
a Páscoa e para a festa dos pães

12.11) e tornaram-se uma advertência explícita, quanto ao que, no futuro, o anticristo poderá fazer contra os cristãos e a Igreja, o
Templo de Deus na atualidade (2Ts 2.4; 1Pe 2.5).
8 Satanás é o pai da mentira, do engano e do ódio. Seu plano é, antes do final do seu domínio sobre o mundo, enganar e iludir
o maior número de seres humanos que puder. Com especial empenho em relação àqueles que foram chamados pelo Senhor
para a Salvação e uma nova vida em Cristo (Jo 8.44; 1Jo 2.26,27).
9 O foco dessa passagem está sobre o glorioso retorno de Jesus Cristo (Dn 7.13). As profecias anteriores são indicativos do
grande evento do fim. Os fenômenos astronômicos e climáticos são registrados sempre do ponto de vista do observador leigo
e sem preocupação científica. Pois era vital apresentar aos povos de todas as épocas, culturas e línguas as grandes pistas da
volta triunfal de Cristo, o final das eras, o Juízo e o estabelecimento de uma nova ordem na terra sob o governo de Jesus, o Rei
do Universo (Is 13.10; 24.4; Am 8.9; Dn 7.13; Ap 1.7; 21.1-4). Deus realizará seu sonho de reunir todo o seu povo disperso (seus
eleitos e amados), de todas as partes e épocas, em torno de si, em espírito de adoração e fraternidade absoluta (Gn 16.7; Ap
14.14-16 com Dt 30.3,4; Is 43.6; Jr 32.37; Ez 34.13; 36.24).
10 O cumprimento das profecias referentes à destruição total de Jerusalém foi visto pela geração contemporânea de Jesus
Cristo, inclusive por alguns dos seus discípulos. Além disso, o Senhor é o Deus dos vivos; e, portanto, aqueles que nele crêem
não morrem (no sentido de serem destruídos ou deixarem de existir), mas – como adormecidos – aguardam seguros o grande dia
da volta de Cristo e a ressurreição dos justos para a glória eterna (os ímpios, para o Juízo e a condenação sem fim).
11 Os verdadeiros cristãos recebem os dons do Espírito para capacitá-los a servir ao Senhor, aos irmãos e ao mundo perdido
(1Co 12; Rm 12; 1Pe 4.10). O termo “porteiro” tem o mesmo sentido do “mordomo” de Lc 12.42, e refere-se principal-mente aos
líderes espirituais da Igreja.
12 Jesus consegue resumir numa única e simples expressão: Vigiai, todas as principais obrigações que qualquer pessoa – que
o siga como discípulo (com fé e devoção) – deva cumprir até o seu glorioso retorno.

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41 MARCOS 14

sem fermento. Os chefes dos sacerdotes as vezes que o desejardes, todavia a mim
e os mestres da lei buscavam um meio nem sempre me tereis.
de surpreender Jesus em qualquer erro e 8 A mulher fez tudo que estava ao seu al-
assim poder condená-lo à morte.1 cance. Derramou o bálsamo sobre mim,
2 Entretanto, comentavam: “Que não antecipando a preparação do meu corpo
seja durante as festividades, para que o para o sepultamento.4
povo não se tumultue”. 9 Com toda a certeza Eu vos asseguro:
onde quer que o Evangelho for pregado,
Jesus é ungido em Betânia por todo o mundo, será também procla-
(Mt 26.6-13; Jo 12.1-8) mada a obra que esta mulher realizou, e
3E estando Jesus em Betânia, reclinado à isso para que ela seja sempre lembrada”.
mesa na casa de certo homem conhecido 10 E, depois disso, Judas Iscariotes, um
como Pedro, o leproso, achegou-se dele dos Doze, foi encontrar-se com os chefes
uma mulher portando um frasco de ala- dos sacerdotes com o propósito de lhes
bastro contendo valioso perfume, feito entregar Jesus.
de nardo puro; e, quebrando o alabastro, 11 Ao ouvirem a proposta, eles ficaram
derramou todo o bálsamo sobre a cabeça muito satisfeitos e se comprometeram
de Jesus.2 a lhe pagar algum dinheiro. E, por isso,
4 Diante disso, indignaram-se alguns dos ele procurava uma oportunidade para
presentes, e a criticavam entre si: “Para que entregá-lo.
este desperdício de tão valioso perfume?
5 Um bálsamo como este poderia ser A Ceia do Senhor
vendido por trezentos denários, e o di- (Mt 26.17-30: Lc 22.7-23; Jo 13.18-30)
nheiro ser doado aos pobres”. E a censu- 12 E, no primeiro dia da festa dos pães
ravam severamente.3 sem fermento, quando tradicionalmente
6 “Deixai-a em paz!”- ordenou-lhes Je- se sacrificava o cordeiro pascal, os dis-
sus. “Por que causais problemas a esta cípulos de Jesus o consultaram: “Onde
mulher? Ela realizou uma boa ministra- desejas que vamos e façamos os prepara-
ção para comigo”. tivos para ceares a Páscoa?”5
7 Quanto aos pobres, sempre os tendes 13 Então Ele enviou dois de seus discípu-
ao vosso lado, e os podeis ajudar todas los instruindo-lhes: “Ide à cidade, e certo

1 As celebrações da Páscoa (Êx 12.13,23,27) em Jerusalém reuniam até três milhões de pessoas. Considerando que a popu-
lação média da cidade era de apenas 50 mil habitantes, é compreensível a grande preocupação das autoridades israelenses e
romanas com possíveis tumultos e revoluções. A conhecida Festa dos Pães Asmos ou Festa dos Pães sem Fermento ocorria logo
após a Páscoa e durava sete dias (Êx 12.15-20; 23.15; 34.18; Dt 16.1-8).
2 A mulher era Maria, irmã de Marta e Lázaro. No evangelho de João, este evento ocorreu antes de começar a Semana
da Paixão (Jo 12.1-3). Mateus e Marcos enfatizam o contraste entre o ódio dos líderes religiosos, a covardia dos discípulos e
a traição de Judas Iscariotes, e o amor, coragem de se expor e desprendimento material de Maria. O alabastro era um frasco
lacrado, de gargalo longo, que continha valioso perfume, normalmente usado na unção de personalidades notáveis da época
ou no preparo mortuário de monarcas e pessoas ricas (Sl 23.5; Lc 7.46). Ao narrar este episódio, Marcos se refere a “alguns
dos presentes”, Mateus concentra-se nos “discípulos” (Mt 26.8) e João destaca a participação objetiva e comprometedora de
“Judas Iscariotes” (Jo 12.4,5).
3 Trezentos denários correspondiam a quase um ano de trabalho de um soldado romano. Jesus prevê que, até o seu retorno,
haverá muitas pessoas que dependerão da ajuda de seus semelhantes. Jesus sempre teve um coração compassivo em relação
aos pobres (Mt 6.2-4; Lc 4.18; 6.20; 14.13.21; 18.22; Jo 13.29).
4 Era costume judaico ungir um corpo com óleos aromáticos para o sepultamento (16.1). Entretanto, os corpos de pessoas
condenadas por crimes não mereciam tal atenção, cuidado e honra. A “antecipação” de Maria revela que Jesus percebeu que ela
tinha compreendido o propósito da vinda do Cristo (o Messias) ao mundo como Servo sofredor (Is 53).
5 Os cordeiros eram tradicionalmente sacrificados no dia anterior ao primeiro dia da Festa dos Pães sem Fermento (Êx 12.6),
ou seja, no dia 14 de Nisã (mês que corresponde a abril, quando celebramos nossa Páscoa). O cordeiro tinha de ser sacrificado
à tarde (por volta das 15h) e comido em grupos de pelo menos dez pessoas, entre o pôr-do-sol e a meia-noite.

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MARCOS 14 42

homem carregando um cântaro de água daquele que trai o Filho do homem! Me-
virá ao vosso encontro.6 lhor lhe fora jamais haver nascido!”
14 Segui-o e dizei ao proprietário da casa
onde ele entrar que o Mestre deseja saber: O ato de partilhar o pão e o cálice
‘Onde está a minha sala de jantar onde ce- (Mt 26.26-30; Lc 22.19-23; 1Co 11.23-25)
arei a Páscoa com os meus discípulos?’7 22 E, enquanto ceavam, tomou Jesus um
15 E aquele homem vos mostrará um pão e, tendo dado graças, o partiu, e o
amplo cenáculo todo mobiliado e pron- serviu aos seus discípulos, declarando:
to; ali fazei os preparativos”. “Tomai, isto é o meu corpo”.11
16 Partiram, pois, os discípulos e che- 23 Em seguida, tomou Jesus um cálice,
garam na entrada da cidade onde en- deu graças e o entregou aos discípulos, e
contraram tudo como Jesus lhes havia todos beberam dele.
predito. E ali prepararam a Páscoa.8 24 Então lhes revelou: “Isto é o meu san-
17 Ao pôr-do-sol chegou Jesus com seus gue da Aliança, o qual é derramado para
Doze. o bem de muitos.12
18 E quando estavam ceando, reclinados 25 Com toda a certeza vos afirmo que não
à mesa, Jesus lhes revelou: “Com toda a voltarei a beber do fruto da videira, até
certeza vos afirmo que um dentre vós, aquele dia em que beberei o vinho novo
este que come comigo, me trairá”.9 no Reino de Deus”.13
19 Eles ficaram consternados e lhe afir- 26 E, depois de haverem cantado um
mavam: “É certo que q não serei eu!” salmo, partiram para o monte das Oli-
20 Mas, asseverou-lhes Jesus: “É um dos veiras.
Doze, aquele que come comigo do mes-
mo prato.10 Jesus prediz a traição de Pedro
21 O Filho do homem vai, conforme está (Mt 26.31-35; Lc 22.31-34; Jo 13.36-38)
escrito a respeito dele. No entanto, infeliz 27 Então, Jesus lhes advertiu: “Todos vós

6 Um homem carregando um pote de água poderia ser facilmente reconhecido na cidade; pois, naquela época e região, apenas as
mulheres transportavam água dessa maneira. Pedro e João foram encarregados por Jesus para ir ao encontro previsto (Lc 22.8).
7 Outro costume judaico na época da Páscoa em Jerusalém era o de ceder uma grande sala (salão de hóspedes ou cenáculo),
disponível, mediante solicitação prévia, aos peregrinos, para que pudessem cear a Páscoa com seu grupo.
8 Uma grande casa judaica sempre tinha seus cenáculos, amplas e bem ventiladas salas no primeiro andar, cujo acesso se
dava por meio de uma escada externa. Em geral os preparativos para a ceia de Páscoa incluíam: O cordeiro pascal, lembrando
o sangue que protegeu os filhos de Israel do anjo da morte no Egito (Êx 12.2); os pães asmos, isto é, sem levedura (fermento),
como sinal de urgência e rapidez na saída do Egito; água salgada, uma recordação do pranto derramado no Egito e das águas
do mar Vermelho; ervas amargas, em memória das amarguras passadas na escravidão; uma sopa de frutas, como lembrança da
obrigação de produzir tijolos; quatro copos de vinho, recordando as quatro promessas de Êx 6.6,7.
9 No AT, a Páscoa era comida em pé (Êx 12.11), mas nos tempos de Jesus o costume havia mudado e os judeus, mesmo os
mais pobres, faziam suas refeições reclinados sobre almofadas, ao redor de uma mesa baixa, em sinal do direito à liberdade do
povo judeu.
10 Jesus se refere à sopa de frutas (em hebraico, charosheth) que ambos estavam degustando do mesmo prato, conforme o
costume judaico. Judas foi advertido por Jesus sem que os demais discípulos notassem.
11 A Ceia do Senhor é uma celebração dramática do evento do sacrifício do Senhor para nossa total e completa redenção (Jr
27.28; 10,11; Ez 4.1-8), da mesma maneira que a Páscoa judaica. São quatro os relatos da Ceia no NT (Mt 26.26-28; Mc 14.22-24;
Lc 22.19,20 e 1Co 11.23-25). A expressão “dado graças”, deriva da palavra eucaristia em grego.
12 A velha Aliança dependia dos israelitas (e dos gentios) guardarem a Lei (Êx 24.3-8). A nova Aliança, em Cristo, não está alicer-
çada na dependência das obras da lei, mas no sacrifício vicário de Jesus Cristo (Rm 4.23-31). Assim, todos aqueles que aceitam
e recebem pela fé, e para si, esse sacrifício expiatório do Filho de Deus, herdam o Reino e deveriam viver como cidadãos da Nova
Jerusalém. O cálice com o sumo do fruto da videira (as uvas são ricas em açúcares e por isso fermentam com rapidez, gerando o vi-
nho), representa o sangue de Jesus que significa sua vida derramada pela nossa salvação. As promessas de Deus ao povo da Nova
Aliança só podem ser válidas mediante a morte expiatória de Cristo (Jr 31.31-34; Hb 8.8-12; Lc 22.20 com Êx 24.6,8 e Rm 5.15).
13 Jesus entrega-se à morte por seu voto de nazireu (Nm 6.1-21), enquanto antevê sua ressurreição, após o que se reunirá com
seus discípulos em outras épocas festivas e ceará com eles (At 1.4; 10.41). A partir desses eventos, teve início a Ceia do Senhor.
Na igreja primitiva era costume a realização de uma grande ceia com muita comida para todos. Com o passar do tempo essa

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43 MARCOS 14

me abandonareis. Pois está escrito: ‘Feri- vel, àquela hora fosse afastada dele.
rei o pastor, e as ovelhas serão dispersas’. 36 E rogava: “Abba, Pai, todas as coisas
28 Contudo, depois da minha ressur- são possíveis para ti, afasta de mim este
reição, partirei adiante de vós rumo à cálice; todavia, não seja o que Eu desejo,
Galiléia”. mas sim o que Tu queres”.15
29 Pedro exclamou: “Mesmo que todos te 37 Ao voltar para seus discípulos, os sur-
abandonem, eu nunca te deixarei!” preendeu dormindo: “Simão!”- chamou
30 Replicou-lhe Jesus: “Com toda a cer- Ele a Pedro. “Estais dormindo? Não con-
teza te asseguro que ainda hoje, nesta seguistes vigiar nem por uma hora?
noite, antes que por duas vezes cante o 38 Vigiai e orai, para não cairdes em ten-
galo, tu me negarás três vezes”. tação, pois, de um lado, o espírito está
31 Entretanto, Pedro insistia com elo- pronto, mas, por outro lado, a carne é
qüência: “Ainda que seja preciso que eu fraca”.
morra ao teu lado, jamais te negarei!” E 39 E, uma vez mais, Ele se afastou e orou,
da mesma maneira responderam todos repetindo as mesmas expressões.16
os demais. 40 Ao regressar, novamente os encontrou
dormindo, porque seus olhos estavam
Jesus Cristo no Getsêmani pesados, mas não sabiam como justifi-
(Mt 26.36-46; Lc 22.39-46) car-se.
32 Então caminharam para um lugar 41 Voltando ainda uma terceira vez, Ele
chamado Getsêmani e, tendo chegado, lhes admoestou: “Ainda dormis e des-
solicitou Jesus aos seus discípulos: “As- cansais? Basta! Eis que a hora é chegada!
sentai-vos aqui, enquanto Eu vou orar”.14 O filho do Homem está sendo entregue
33 E levou consigo a Pedro, Tiago e João, nas mãos dos pecadores.
e começou a sentir grande temor e pro- 42 Levantai-vos, pois, e vamos! Eis que
funda angústia. chegou aquele que me está traindo!”
34 E compartilhou com eles: “Minha
alma está extremamente triste até à mor- Jesus é traído e preso
te; ficai pois aqui e vigiai”. (Mt 26.47-56; Lc 22.47-53; Jo 18.1-11)
35 Caminhou um pouco mais adiante e, 43 Jesus ainda não havia terminado de
prostrando-se, orava para que, se possí- falar, quando surgiu Judas, um dos Doze.

celebração restringiu-se mais ao seu simbolismo principal, o qual devemos preservar até a volta de Cristo. Antes das orações
finais da Páscoa, Jesus e seus discípulos cantaram trechos dos salmos 114, 118 e 136.
14 Um dos significados da expressão hebraica getsêmanii é “prensa de azeite”, e refere-se a um belo jardim, com pomar, situado
na encosta inferior do monte das Oliveiras. Um dos locais preferidos por Jesus para oração e meditação. Jesus sabia que Judas
iria para lá e foi ao encontro do seu destino. Jesus levou alguns dos seus discípulos mais chegados para que compartilhassem
de sua luta espiritual. Anos mais tarde esses discípulos testemunhariam ao mundo sobre esses fatos. Jesus previu claramente a
agonia espiritual e física que teria de suportar. Uma nova e decisiva batalha contra o príncipe deste mundo (Jo 12.31; 14.30), no
fim da qual, ainda teria de suportar, (sustentar sobre as costas), o castigo pelos pecados de toda a humanidade (Is 53.10).
15 A oração alerta, persistente e relevante é o único caminho para vencer as tentações (1Pe 5.8). Abba, que significa, “papai”
ou “meu pai querido”, é uma expressão aramaica, a língua natural de Jesus, e que denota um relacionamento fraterno, íntimo
e especialmente amigo, de pai para filho e vice-versa. A morte não horrorizava tanto Jesus quanto o motivo e o modo de sua
morte: como um criminoso, peçonhento e rejeitado por todos (Rm 8.15; Gl 4.6). Jesus jamais duvidou do amor de Seu Pai, nem
mesmo no Getsêmani.
16 Jesus previne os discípulos sobre o perigo de serem desleais, refere-se especialmente a Pedro que havia demonstrado certa
arrogância inconseqüente (vv. 29-31). Quando a parte espiritual do ser humano está em perfeita sintonia com o Espírito de Deus,
luta contra a carne, ou seja, contra as tendências egocêntricas e pervertidas das fomes (vontades) humanas. Essa expressão é
tirada do Sl 51.12. A solução é “vigiar” e para isso é necessário: que se conheça o inimigo e suas artimanhas (2Co 2.11); que nos
revistamos de toda a armadura de Deus (Ef 6.11-18); que permaneçamos acordados espiritualmente (Ef 5.14-16; 1Ts 5.6-10). Da
mesma forma, é vital “orar”, e isso requer: uma fé inabalável, com toda a confiança depositada em Deus (1Jo 5.14-15); certeza
dos propósitos de Deus comunicados a nós pelo Seu Espírito e Palavra (Rm 8.16; Ef 6.18; Jd 20).

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MARCOS 14 44

E com ele chegou uma multidão armada Jesus perante o Sinédrio


de espadas e cassetetes, vinda da parte (Mt 26.47-56; Lc 22.47-53; Jo 18.1-11)
dos chefes dos sacerdotes, mestres da lei 53 Levaram Jesus ao sumo sacerdote; e
e líderes religiosos.17 então se reuniram todos os chefes dos
44 Ora, o traidor tinha combinado um sacerdotes, os líderes religiosos e os mes-
sinal com eles: “Aquele a quem eu saudar tres da lei.22
com um beijo, é Ele: prendei-o e levai-o 54 Pedro o seguiu de longe até o pátio do
sob forte segurança”. sumo sacerdote. E permaneceu assenta-
45 Então, assim que chegou, dirigiu-se do entre os criados, aquecendo-se junto
imediatamente para Jesus e o saudou: ao fogo.
“Rabbi!” E o beijou.18 55 Os chefes dos sacerdotes e todo o Siné-
46 Em seguida, os homens agarraram drio estavam buscando denúncias contra
Jesus e o prenderam. Jesus, todavia não conseguiam encontrar
47 Nesse momento, um dos que estavam nenhuma.
bem próximos puxou da espada e feriu o 56 Várias pessoas também testemunha-
servo do sumo sacerdote, decepando-lhe ram falsamente contra Ele, contudo,
a orelha.19 suas declarações não se mostraram co-
48 Exclamou-lhes Jesus: “Acaso estou Eu erentes.23
liderando alguma rebelião, para virdes 57 Então, outros se levantaram para teste-
me prender com espadas e cassetetes? munhar inverdades contra Ele:
49 Pois diariamente tenho estado con- 58 Nós o ouvimos exclamar: “Eu des-
vosco no templo, vos ensinando, e não truirei este templo construído por mãos
me prendestes. Contudo, é para que se humanas e em três dias edificarei outro,
cumpram as Escrituras”. não erguido por mãos de homens”.
50 Logo em seguida, todos fugiram e o 59 Entretanto, nem mesmo quanto a
abandonaram.20 essa acusação o testemunho deles era
51 Certo jovem, vestindo apenas um congruente.
lençol de linho, estava seguindo Jesus, 60 Então o sumo sacerdote levantou-se
quando também tentaram prendê-lo. diante de todos e interrogou a Jesus:
52 Mas ele, largando o lençol, fugiu des- “Nada contestas à denúncia que estes
nudo.21 levantam contra ti?”

177 Um bando (ou turba) formado de guardas do templo, com ordens expressas do Tribunal Supremo dos Judeus (Sinédrio),
para prender a Jesus e manter a ordem pública; os escravos a serviço do sumo sacerdote, e mais alguns soldados romanos,
como nos informa João (18.3).
18 A expressão hebraica Rabbi, que significa “Meu Mestre”, juntamente com um ou mais beijos em cada lado do rosto era um
sinal de respeito e gratidão manifestados pelos discípulos judaicos em relação aos seus mestres (Lc 22.47).
19 João nos revela que era Pedro quem estava junto a Jesus e que ele decepou a orelha do servo, que se chamava Malco (Jo
18.10; Lc 22.51). Jesus protesta pela maneira como vieram prendê-lo, uma vez que apenas os revolucionários e criminosos eram
agredidos e presos com aquela brutalidade. Aos mestres era destinado um tratamento menos violento e mais respeitoso.
20 O ministério de Jesus em Jerusalém foi bem mais amplo do que Marcos apresenta. Entretanto, João nos oferece uma visão
mais completa e detalhada sobre a atividade ministerial do Senhor, na Judéia. Jesus faz uma referência a partes das Escrituras
que revelam os acontecimentos da sua missão e sacrifício (Is 53 com Zc 13.7).
21 Historiadores e outros estudiosos bíblicos crêem que este jovem de família rica seja o próprio autor deste evangelho, por-
tanto, João Marcos (At 12.12,25; 13.13; 15.37-39; Cl 4.10; 2Tm 4.11).Em geral, a roupa exterior era de lã, porém, Marcos não teve
tempo para vestir-se completamente.
22 O sumo sacerdote chamava-se Caifás e permaneceu nesse ofício desde o ano 18 até 36 d.C. O Supremo Tribunal Judaico
(Sinédrio), na época do NT, era composto por 71 membros, divididos em três categorias: os chefes (principais) dos sacerdotes,
líderes religiosos (anciãos) e os mestres da lei (escribas). Sob jurisdição do império romano, o Sinédrio tinha grande poder.
Entretanto, lhes era vedado o direito de decretar a pena de morte (Jo 18.31 com Mt 27.2).
23 No processo jurídico dos judeus da época, as testemunhas agiam como promotores de acusação. De acordo com a lei (Nm
25.30; Dt 17.6; 19.15), uma pessoa não podia ser jamais condenada à pena de morte a não ser mediante dois ou mais testemu-
nhos. Contudo, esses depoimentos precisavam ter total coerência entre si, sem contradições. O testemunho contra Jesus tinha
base falsa, apoiado em uma compreensão distorcida da profecia de Jesus em 15.29 e Jo 2.19.

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45 MARCOS 14, 15

61 Ele, contudo, permaneceu em silêncio 68 Todavia, ele o negou, assegurando:


e nada replicou.
p Mas o sumo sacerdote “Não o conheço, nem ao menos sei do
voltou a indagá-lo: “És tu o Messias, o que estás falando”. Então foi para fora,
Filho do Deus Bendito?”24 em direção ao pórtico. E um galo can-
62 Jesus asseverou: “Eu Sou! E vereis o tou.
Filho do homem assentado à direita do 69 Quando a criada o viu lá, começou no-
Poderoso e chegando com as nuvens do vamente a falar às pessoas que estavam
céu”.25 em derredor: “Este é um deles!”
63 Diante disto, o sumo sacerdote rasgou 70 Porém, uma vez mais, ele o negou. E,
suas vestes e esbravejou: “Por que ainda pouco tempo mais tarde, os que estavam
necessitamos de outras testemunhas?” sentados ali perto identificaram Pedro:
64 “Ouvistes a blasfêmia! Que vos pare- “Com toda a certeza, tu és um deles, pois
ce?” E todos o julgaram merecedor da és galileu também!”
pena de morte.26 71 Pedro começou a amaldiçoar-se e a
65 E assim alguns começaram a cuspir jurar: “Não conheço esse homem de
nele; encapuzaram-no, vendando seus quem falais!”29
olhos e, esmurrando-o, exclamavam: 72 E, em seguida, o galo cantou pela se-
“Profetiza!” E os guardas o levaram de- gunda vez. Então Pedro se lembrou da
baixo de bofetadas.27 palavra que Jesus lhe dissera: “Antes que
duas vezes cante o galo, tu me negarás
Pedro nega a Jesus três vezes”. E, percebendo o que fizera,
(Mt 26.69-75; Lc 22.54-62; Jo 18.15-18, 25-27) caiu em profundo pranto.
66 Continuando Pedro na parte de baixo,
no pátio, uma das criadas do sumo sacer- Jesus impressiona Pilatos
dote passou por ali.28 (Mt 27.1-2.11-26; Lc 23.1-7.13-25; Jo 18.28-19.16)
67 E, vendo a Pedro se aquecendo, fixou
bem seus olhos nele e afirmou: “Tu tam-
bém estavas com Jesus, o Nazareno!”
15 Ao raiar do dia, entraram em as-
sembléia os chefes dos sacerdotes
com os líderes religiosos, os mestres da lei

24 O sumo sacerdote usa a palavra “Messias” (Cristo, em grego) para fazer com que Jesus se autocondenasse, uma vez que a
maioria dos judeus não acreditava que o Messias seria divino e Jesus reivindicava sua plena divindade (v.62). “Bendito”, era uma
das maneiras de os judeus se referirem à excelsa pessoa de Deus, sem precisar mencionar o seu nome.
25 O Filho do homem, que estava sendo julgado e condenado por homens ímpios e pecadores, voltará um dia, após Seu
reinado à destra de Deus, para julgar definitivamente todos os incrédulos (Dn 7.13 com Sl 110.1 e At 2.34-36).
26 Um antigo costume dos reis e profetas judeus era rasgar as vestes, numa demonstração dramática de horror, escândalo ou
ultraje (Gn 37.29; 2Rs 18.37; 19.1). O Sinédrio tinha poder para condenar alguém à pena de morte por apedrejamento(At 7.59),
em especial nos casos de cunho religioso. Todavia, ainda assim, precisava de um “referendo” (palavra latina para “autorização”)
das autoridades romanas. O crime de blasfêmia incluía não somente a difamação do nome precioso de Deus (Lv 24.10-16), mas
também qualquer ofensa à sua majestade ou poder (Mc 2.7; 3.28,29; Jo 5.18; 10.33). Ao ouvir a declaração de Jesus, a multidão
presente foi incitada por Caifás para condená-lo à morte. Para Caifás, o fato de Jesus afirmar que era o Messias prometido e que
possuía os mesmos atributos de Deus eram razões mais que suficientes para sujeitar Jesus à penalidade estipulada na lei de
Moisés: a morte por apedrejamento (Lv 24.16).
27 Uma antiga interpretação judaica dos textos de Isaías (11.2-4) dizia que o Messias seria capaz de conhecer as pessoas e
julgá-las ainda que de olhos vendados, apenas pelo olfato. Por isso a zombaria de alguns mais exacerbados (Nm 12.14; Dt 25.9;
Jó 30.10; Is 50.6).
28 Enquanto Jesus estava sendo torturado num dos cômodos superiores da casa de Caifás, no pátio, na parte baixa da casa,
Pedro procurava não se afastar demais do seu amigo e Messias. A história da negação de Pedro é contada em todos os evange-
lhos para evidenciar a graça perdoadora e restauradora do Senhor desprezado.
29 Os galileus, como Jesus, eram facilmente identificáveis pelo dialeto marcante que falavam (aramaico). Sua presença no átrio
(alpendre) entre os cidadãos de Judá era mais uma evidência de que era um seguidor de Jesus de Nazaré. Essa parte do texto de
Marcos foi fornecida diretamente pelo próprio Pedro. As expressões gregas: anathematizein kai amnynai, não sugerem palavras
profanas, mas sim que ele teria invocado uma maldição ç divina sobre si mesmo, caso estivesse mentindo, e retirando-se chorou
amargamente (em grego: kai epibalon eklaien. É importante lembrar que essa maldição foi quebrada pelo próprio Jesus em um
dos seus aparecimentos após a ressurreição (Jo 21.15-19).

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MARCOS 15 46

e todo o Supremo Tribunal dos Judeus e chamais o rei dos judeus?”


tomaram uma decisão: amarraram Jesus, 13 Mas eles gritavam: “Crucifica-o!”
levaram-no e o entregaram
g a Pilatos.1 14 “Por quê? Que mal fez este homem?”
2 Então Pilatos o interrogou: “És tu o rei Inquiriu Pilatos. Todavia, eles clamavam
dos judeus?” Ao que Jesus lhe replicou: ainda mais decididos: “Crucifica-o!”
“Tu o dizes”. 15 Então, Pilatos, para satisfazer a todo
3 E os chefes dos sacerdotes passaram a aquele povo reunido, soltou-lhes Barra-
levantar várias outras acusações contra bás; ordenou que Jesus fosse açoitado e
Ele. depois o sentenciou à crucificação.
4 Por isso Pilatos indagou uma vez mais:
“Nada respondes? Vê quantas acusações Jesus é humilhado pelos soldados
te fazem!” (Mt 27.27-31)
5 Mas Jesus não respondeu uma só 16 Em seguida, os soldados agarraram
palavra, a ponto de Pilatos ficar muito Jesus e o conduziram para dentro do
impressionado.2 palácio, isto é, ao Pretório, e agruparam
6 Ora, por ocasião da festa, fazia parte toda a tropa.
da tradição libertar um prisioneiro por 17 Vestiram-no com um manto de cor
aclamação popular. púrpura real, depois teceram uma co-
7 Um homem conhecido por Barrabás roa de espinhos e a cravaram sobre sua
estava na prisão junto a rebeldes que cabeça.
ç
haviam cometido assassinato durante 18 E começaram a saudá-lo: “Salve! Ó rei
uma rebelião.3 dos judeus!”4
8 Concentrando-se a multidão, clama- 19 Espancavam-lhe a cabeça com uma
ram a Pilatos que lhes outorgasse o direi- vara e cuspiam sobre ele. Ajoelhavam-se
to de costume nessas ocasiões. e lhe rendiam adoração.
9 E Pilatos lhes ofereceu: “Quereis que eu 20 Depois de haverem zombado dele,
vos liberte o rei dos judeus?” despiram-lhe o manto de cor púrpura
10 Porquanto ele bem sabia que fora por e o vestiram com suas próprias roupas.
inveja que os chefes dos sacerdotes lhe Então o levaram para fora, a fim de cru-
haviam entregado Jesus. cificá-lo.
11 Então os chefes dos sacerdotes instiga-
ram a multidão a rogar a Pilatos que, ao O ato da crucificação
contrário, soltasse Barrabás. (Mt 27.32-44; Lc 23.26-43; Jo 19.16-27)
12 Contudo Pilatos lhes questionou: 21 E ocorreu que certo homem de Cirene,
“Assim sendo, que farei com este a quem chamado Simão, pai de Alexandre e de

1 A primeira reunião do Sinédrio (Supremo Tribunal dos Judeus) ocorreu informalmente durante a noite, envolvendo apenas
alguns integrantes pactuados com a idéia de eliminar Jesus. Logo ao amanhecer, quando começava o dia de trabalho de um
oficial romano, foi necessário formalizar, por escrito, a decisão de entregá-lo a Pilatos perante a maioria do Sinédrio reunido. Era
sexta-feira (da Paixão, como viria a ser conhecida até hoje) e o sumo sacerdote e alguns outros membros do Sinédrio resolveram
denunciar Jesus, a Pilatos, por traição e blasfêmia (Lc 23.1-14). Pilatos era o governador romano da Judéia (de 26 a.C. a 36 d.C.).
Sua residência oficial ficava em Cesaréia, no litoral do Mediterrâneo. Todos os anos, quando visitava Jerusalém, costumava hos-
pedar-se no suntuoso palácio construído por Herodes, o Grande, localizado próximo do Templo. Em uma das salas do palácio,
chamada Pretório, ocorreu o julgamento romano de Jesus sob a autoridade civil de Pilatos.
2 Conforme profetizado em Is 52.15 e Is 53.7.
3 Barrabás era membro dos zelotes, um grupo judaico revolucionário. Sob o governo dos prefeitos romanos, ações de insur-
gência e tumulto eram freqüentes, especialmente nos grandes ajuntamentos e festas nacionais como a Páscoa (Lc 13.1). Curio-
samente, alguns manuscritos de Mt 27.16 revelam que o outro nome de Barrabás era Jesus, o mesmo nome humano do Senhor.
Marcos fala sobre a insurreição liderada por Barrabás como sendo um fato histórico, bem conhecido dos judeus da época.
4 Os oficiais romanos vestiam uma capa, cuja cor, vermelho vivo, representava a realeza e o poder do império romano sobre
o mundo. Para zombar da majestade de Jesus, o vestiram com uma velha capa e sobre sua cabeça forçaram uma coroa feita
de uma planta (em grego significa “abrolhos”) venenosa e espinhosa comum na Palestina. E para completar a humilhação lhe
dirigiam uma paródia da tradicional saudação de reverência a César: “Salve, César!”

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47 MARCOS 15

Rufo, passava por ali, vindo do campo. 31 Da mesma maneira os chefes dos sa-
Eles o forçaram a carregar a cruz.5 cerdotes e os mestres da lei zombavam
22 Levaram Jesus para um lugar deno- dele entre si, exclamando: “Salvou a tan-
minado Gólgota, que significa local da tos, mas a si mesmo não pode salvar-se!
Caveira. 32 Que o Cristo, o Rei de Israel, desça
23 E lhe deram vinho misturado com agora da cruz, para que o vejamos e
mirra, mas Ele não o bebeu.6 creiamos!” E, de igual modo, os que com
24 Então o crucificaram. Dividindo suas Ele foram crucificados o insultavam.9
vestes, jogaram sortes para saber com
que parte cada um iria ficar. Jesus brada em sua morte
25 Eram nove horas da manhã quando o (Mt 27.45-56; Lc 23.44-49; Jo 19.28-30)
crucificaram.7 33 E aconteceu que toda a terra foi cober-
26 E assim ficou escrito na acusação con- ta pelas trevas, desde o meio-dia até às
tra Ele: O REI DOS JUDEUS. três horas da tarde.10
27 Junto a Jesus crucificaram dois cri- 34 Então, por volta das três horas da tar-
minosos, um à sua direita e outro à sua de, Jesus bradou em alta voz: “Elohi, Elo-
esquerda.8 hi! Lemá sabachtháni?”- que traduzido,
28 Cumpriu-se assim a Escritura que diz: quer dizer: “Meu Deus, meu Deus! Por
“Ele foi contado entre os malfeitores”. que me abandonaste?”11
29 Os transeuntes lançavam-lhe impro- 35 Alguns dos que presenciavam o que
périos, gesticulando a cabeça e excla- estava ocorrendo, ouvindo isso, comen-
mando: “Ah! Tu que destróis o templo e, tavam: “Vede, Ele clama por Elias!”12
em três dias, o reconstróis! 36 Então, um deles correu e ensopou uma
30 Agora desce da cruz e salva-te a ti mes- esponja em vinagre, colocou-a na ponta
mo!” de uma vara e a estendeu até Jesus para

5 Este Simão foi o pai do mesmo Rufo de Rm 16.13. Era natural de Cirene, importante cidade da Líbia, na África do norte (At
13.1), onde vivia uma grande população judaica. Era conhecido como “Níger” (negro).
6 Era um costume jjudaico amenizar a dor do martírio, oferecendo ao crucificado uma mistura de entorpecentes
p com vinho
(Pv 31.6). A mirra é uma especiaria extraída de plantas nativas dos desertos da Arábia e de partes da África (Gn 37.25). Jesus,
entretanto, preferiu suportar todo o sofrimento completamente lúcido, pois ninguém estava lhe tirando a vida. Em submissão
voluntária ao Pai, Ele a estava ofertando como holocausto pela remissão do pecado de todos aqueles que crêem no seu sacrifício
vicário (Zc 13.1; Mc 10.45; Rm 5.8).
7 Em algumas versões da Bíblia aparece a forma judaica usada na época para marcar as horas (traduzido do grego como:
“a hora terceira”), e que corresponde às nove horas da manhã (Lc 23.44; Jo 19.14). João, por sua vez, usa a maneira romana
(“a hora sexta” ou próximo ao “meio-dia”). Conforme o costume, escrevia-se a acusação numa tábua de madeira, que seguia à
frente do sentenciado até o local da execução, quando era então pregada na cruz logo acima da sua cabeça. Marcos sumariza a
inscrição, mas João percebe na frase acusatória um relevante dado teológico e profético (Jo 19.19-22).
8 Algumas versões trazem a expressão “ladrões”, todavia o termo grego: evoca o sentido de que aqueles homens
eram culpados por crimes de alta traição (insurgência), contra o império romano e por banditismo. O crime de latrocínio não era
considerado um delito capital, a não ser quando seguido de morte.
9 Sem perceber, o próprio sumo sacerdote e os principais teólogos da época, estavam afirmando com clareza o poder e a
missão do Cristo (o Messias) sobre todo o Israel, ou seja, todo o povo de Deus (Gl 6.16). A verdadeira fé salvadora não se apóia
em sinais e maravilhas visíveis, mas na firme convicção criada no coração de cada pessoa pelo próprio Espírito Santo (Jo 20.29).
E este é um milagre envolto em grande mistério, graça e maravilha.
10 Algumas versões preservam a maneira grego-judaica de contar as horas: “da hora sexta até a hora nona”.
11 Jesus falou no seu dialeto de família, uma mistura de aramaico com hebraico. Suas palavras, traduzidas aqui por Marcos,
continham as expressões proféticas do Salmo 22.1. Ao se identificar com nossos pecados e assumir os erros de cada ser humano
(2Co 5.21; Gl 3.13), Jesus, por um momento, teve de sentir a dor da separação do Pai. Enquanto o sacrifício vicário ia sendo
aceito por Deus, a humanidade era salva e restaurada. A separação do Pai é o maior sofrimento destinado àqueles que preferem
viver em pecado. Deus não pode ter qualquer comunhão com o pecado (o mal), embora ame o pecador e lhe ofereça a salvação
pela graça da fé em Cristo, Seu Filho.
12 Algumas pessoas compreenderam mal as palavras de Jesus e pensaram tê-lo ouvido dizer: “Eli, Eli!”, ou seja, “Elias, Elias”.
Os judeus, em momentos de grande necessidade, costumavam clamar por “Elias”, pois se cria que Elias, por haver sido arrebata-
do à presença de Deus, viria em socorro dos justos e inocentes, sempre que estes passassem por grandes aflições.

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MARCOS 15, 16 48

que sorvesse. E explicou: “Deixai! Veja- 43 E José de Arimatéia, membro honrado


mos se Elias vem para tirá-lo daí”. do Supremo Tribunal dos Judeus, que
37 Todavia, Jesus, com um forte brado, também aguardava o Reino de Deus,
expirou.13 dirigiu-se corajosamente a Pilatos e so-
38 Então, o véu do Lugar Santíssimo ras- licitou o corpo de Jesus.18
gou-se em duas partes, de alto a baixo.14 44 Pilatos recebeu com espanto a notícia
39 E, quando o centurião, que estava bem de que Jesus já havia falecido. E, chaman-
em frente de Jesus, ouviu o seu brado e do o centurião, perguntou-lhe se fazia
viu a maneira como expirou, exclamou: muito tempo que morrera.
“Verdadeiramente, este homem era o 45 Sendo informado pelo centurião, con-
Filho de Deus!”15 sentiu em ceder o corpo a José.
40 Algumas mulheres acompanhavam 46 Então José comprou um lençol de
tudo de longe. Entre elas estavam Maria linho, desceu o corpo da cruz, en-
Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tia- volveu-o no lençol e o colocou num
go, o mais jovem, e de José. sepulcro cavado na rocha. Depois, fez
41 Na Galiléia elas tinham seguido e ser- rolar uma pedra sobre a entrada do
vido a Jesus. Muitas outras mulheres ha- sepulcro.19
viam subido com Ele para Jerusalém e, 47 Ora, Maria Madalena e Maria, mãe de
de igual modo, estavam ali presentes.16 José, viram onde Ele fora depositado.

O sepultamento de Jesus Jesus é ressuscitado


(Mt 27.57-61; Lc 23.50-56; Jo 19.38-42) (Mt 28.1-10; Lc 24.1-12; Jo 20.1-9)
42Este era o Dia da Preparação, isto é, a
véspera do sábado.17 16 Ao encerrar-se o sábado, Maria
Madalena, Salomé e Maria, mãe

13 João nos revela que o grito de triunfo de Jesus foi: “assim está”, que em grego significa: “consumado” (Jo 19.30). O brado
de Jesus é mais uma demonstração de que Ele entregou sua vida e não foi consumido pela morte. Os crucificados passavam, em
geral, por longos períodos de intensa agonia, exaustão e perda dos sentidos até que a morte os vencesse.
14 O véu do santuário ou do Lugar Santíssimo (Hb 6.19; 9.3; 10.20) era a cortina que separava o Lugar Santo do Santo dos
Santos (Êx 26.31-33). O partir desse véu tem profundo significado para toda a humanidade. Cristo entra e abre as portas do céu,
a fim de que todo cristão sincero tenha acesso à presença de Deus Pai (Hb 9.8-10,12; 10.19,20). Os sacerdotes estavam no
templo para a liturgia das tardes.
15 Um centurião era um militar romano que respondia pelo comando de pelo menos cem soldados. O original grego indica que
este homem reconheceu Jesus como “O” Filho de Deus, e não apenas “um” filho de Deus (Mt 27.54; Lc 23.47). Seu testemunho
de espanto diante do poder de Jesus passou para a história da Igreja de muitas maneiras.
16 Por causa da compaixão e da dignidade com que Jesus tratava as mulheres (marginalizadas pela cultura do seu povo e
época), muitas foram salvas, tornaram-se discípulas e seguiram o Senhor. Em 16.9 e Lc 8.2, somos informados de que Jesus
expulsou sete demônios de Maria Madalena. Havia também Maria, mãe de Tiago, o mais jovem, e de José (de quem não se sabe
mais nada). Salomé era mãe de João e Tiago, mulher de Zebedeu (Mt 27.56).
177 Jesus morreu na sexta-feira (dia em que os judeus se preparam para o sábado), às três horas da tarde (v.34). Restavam
apenas três horas para o início do Shabbãth, sábado judaico, no qual todo trabalho era proibido. Por isso a urgência em retirar o
corpo da cruz e prepará-lo para o sepultamento. Mais uma forte alusão à urgência com que os judeus tiveram de comer a Páscoa
antes de saírem para a terra prometida, e a urgência que temos de nos prepararmos para a segunda vinda do Senhor e do Grande
Dia (Mt 22.1-14; 24.32-44; 25.1-13).
18 Muitos historiadores e teólogos afirmam que as informações sobre o julgamento forjado pelo Sinédrio contra Jesus chega-
ram a Marcos por intermédio de José. Um justo e eminente juiz, da cidade de Arimatéia (Ramataim, Sm 1.1), que ficava cerca de
30 km a noroeste de Jerusalém. José era também um discípulo de Jesus, que manteve sua fé em sigilo até este ato de grande
coragem (Mt 27.57; Lc 23.52). Os corpos dos crucificados por crimes de traição não eram liberados para os ritos judaicos de
sepultamento nem mesmo aos familiares mais próximos.
19 José ofereceu o próprio túmulo da família, nunca antes usado, cravado na rocha (Mt 27.60). Esse túmulo ficava num jardim,
próximo ao local da crucificação (Jo 19.41). No primeiro século esse lugar se transformou-se num cemitério, onde hoje está
situada a Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém. O sepulcro era fechado por uma grande pedra em forma de disco que girava
sobre um sulco e, no caso de Jesus, lacrada com o selo imperial romano.

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49 MARCOS 16

de Tiago, compraram especiarias aromá- do primeiro dia da semana, apareceu


ticas para ungir o corpo de Jesus.1 primeiramente a Maria Madalena, de
2 Ao raiar do primeiro dia da semana, quem havia expulsado sete demônios.6
elas caminharam até o sepulcro. 10 Então, ela foi e comunicou aos que
3 E questionavam umas às outras: “Quem com Ele tinham estado. Eles, porém,
poderá remover para nós a grande pedra estavam desolados e em prantos.
que fecha a entrada do sepulcro?”2 11 Quando receberam a notícia de que
4 Contudo, ao se aproximarem do local, Jesus estava vivo e fora visto por ela, não
viram que aquela enorme pedra, havia conseguiram acreditar.
sido removida da entrada.
5 E, entrando no sepulcro, viram um jo- Jesus aparece a outros dois discípulos
vem vestido de túnica branca, assentado (Lc 24.13-35)
à direita, e ficaram muito assustadas.3 12 Depois Jesus apareceu, em uma outra
6 “Não vos amedronteis”, disse ele. “Vós forma, a outros dois seguidores que esta-
buscais a Jesus, o Nazareno, que morreu vam a caminho do interior.7
na cruz. Pois Ele foi ressuscitado! Não 13 Então, eles retornaram e informaram
está mais aqui. Vede o lugar onde o ha- tudo isso aos demais. Contudo, também
viam depositado.4 no depoimento deles não creram.
7 Agora ide, dizei aos discípulos dele e a
Pedro que Ele está seguindo adiante de Jesus aparece e ordena aos discípulos
vós para a Galiléia. Lá vós o vereis, assim 14 Mais tarde Jesus apareceu aos Onze,
como Ele vos predisse”.5 enquanto estavam reclinados, ceando.
8 Apavoradas e trêmulas, as mulheres Repreendeu-lhes a falta de fé e a dureza
saíram e fugiram do sepulcro. E não in- dos corações, porque não acreditaram
formaram nada a ninguém, pois estavam no testemunho daqueles que o tinham
assombradas e com medo. visto depois de ressurreto.
15 E lhes ordenou: “Enquanto estiverdes
Jesus aparece primeiro a Madalena indo pelo mundo inteiro proclamai o
(Jo 20.11-18) Evangelho a toda criatura.
9 Quando Jesus ressuscitou, ao alvorecer 16 Aquele que crer e for batizado será

1 Os judeus não tinham o costume de embalsamar (como aparece em algumas versões) os corpos de seus mortos. Logo após as
18 horas, ao encerrar o Shabbãth (período do sábado judaico), as mulheres foram comprar especiarias para ungir o corpo de Jesus
como mais um ato de devoção, amor e luto. Entretanto, não havia entre elas qualquer expectativa da ressurreição de Jesus.
2 Rolar aquele tipo de pedra em forma de disco para fechar a entrada do sepulcro era uma ação relativamente fácil. Todavia,
depois que a grande pedra era encaixada no sulco cortado na rocha maciça, em frente da entrada, ficava muito difícil e pesado
qualquer deslocamento, ainda que mínimo.
3 Os sepulcros dos nobres da época eram espaçosos. Dentro da grande entrada, na frente do sepulcro, havia uma antecâmara
e, no fundo desta, uma abertura baixa e retangular que conduzia à câmara da sepultura. Mateus nos informa que um anjo, com a
aparência de um jovem humano, estava postado junto ao túmulo vazio do Senhor (Mt 28.2-5).
4 Nos originais gregos o verbo está na voz passiva “foi ressuscitado”, uma ênfase ao poder soberano de Deus Pai (At 3.15; Rm
4.24). O ponto alto da teologia de Marcos é a ressurreição de Jesus, sem a qual todo o trabalho e morte de Jesus teriam sido
inúteis à salvação de todos que nele crêem. Por causa da ressurreição, Jesus é declarado Filho de Deus (Rm 1.4).
5 Como já havia revelado, Jesus rumou para a Galiléia, com o propósito de manifestar-se o mais breve possível a muitos dos Seus
discípulos (14.28; Mt 28.9,16; 1Co 15.6). Jesus sabia que, apesar dos erros, Pedro o amava com sinceridade. E, por isso, estava
desanimado e necessitado de uma cura interior que somente o Senhor, com seu amor e perdão, poderia realizar (Jo 21.15-19).
6 Jesus apareceu em primeiro lugar a Maria Madalena que, juntamente com outras discípulas, foi demonstrar sua devoção e
consagrá-lo a Deus, conforme os rituais fúnebres judaicos, logo ao romper da manhã do domingo (Jo 20.11-18). Depois Jesus apa-
receu às demais mulheres que o seguiam (Mt 28.8-10); em seguida a Pedro (Lc 24.34; 1Co 15.5); aos dois discípulos no caminho de
Emaús (Lc 24.13-32); aos discípulos reunidos, mas sem Tomé (Lc 24.36-43; Jo 20.19-25); no domingo seguinte, com a presença de
Tomé (Jo 20.26-31); a sete discípulos, no mar da Galiléia (Jo 21); aos apóstolos e a mais de 500 seguidores (Mt 28.16-20; 1Co 15.6);
a Tiago, irmão de Jesus (1Co 15.7); e antes da ascensão aos céus, a um grupo de seguidores e discípulos (Lc 24.44-53; At 1.3-12).
7 Jesus assumiu a forma humana de um simples peregrino da época, mas o conteúdo de suas palavras foi revelando Sua pes-
soa e reanimando Seus desconsolados discípulos, no caminho de Emaús (Lc 24.16). Também a Maria Madalena, sua discípula,
surgiu como um humilde jardineiro, mas, ao falar, revelou-se o Cristo amado e poderoso (Jo 20.11-18).

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MARCOS 16 50

salvo. Todavia, quem não crer será con- Jesus sobe à direita do Pai
denado! (Lc 24.50-53; At 1.6-11)
17 E estes sinais acompanharão aos que 19 Concluindo, depois de lhes ter orien-
crerem: em meu nome expulsarão de- tado, o Senhor Jesus foi elevado aos céus
mônios; em línguas novas falarão.8 e assentou-se à direita de Deus.10
18 Pegarão serpentes com as mãos; e, se 20 Então, os discípulos saíram e prega-
algo mortífero beberem, de modo ne- ram por toda parte; e o Senhor coopera-
nhum a eles fará mal, sobre os enfermos va com eles, confirmando-lhes a Palavra
imporão as mãos e eles serão curados!”9 com os sinais que a acompanhavam.

8 Novas línguas e outros sinais chegaram para marcar uma nova época histórica. O tempo da Igreja de Cristo e a nova vida
dos salvos (2Co 5.17).
9 Jesus volta, na forma do Espírito Santo, para habitar com poder no corpo dos seus discípulos e apóstolos. E realiza muitas
maravilhas por meio deles ao estabelecer Sua Igreja em muitas partes do mundo, até os confins da terra (At 1.8; At 2.42-43;
At 28.3-6).
10 Como afirmou Calvino: “Assentar-se à direita do Pai, não se refere à posição do corpo físico de Jesus em algum lugar
específico do céu, mas sim à sua posição de majestade e poder como imperador do Universo ao lado de Deus, Seu Pai”, em
conformidade com o Sl 110.1 e a palavra profética de Jesus Cristo em Mc 14.62.

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