Colossesnses
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COLOSSENSES
Autoria
Os pais da igreja já consideravam Paulo como autor dessa carta à liderança da Igreja em Colossos.
No século XIX, entretanto, alguns pensadores, entendendo que a heresia tratada pelo apóstolo, no
capítulo dois, seria o gnosticismo do segundo século, levantaram suspeitas quanto à originalidade
da autoria paulina. Contudo, uma análise ainda mais profunda deixa claro que a heresia combatida
por Paulo era uma espécie de embrião do que viria a ser o gnosticismo delineado durante os séculos
II e III pelos mestres gnósticos.
A própria epístola aos Colossenses declara ter sido escrita por Paulo (1.1), e está cravejada pelas
marcantes verdades e idéias paulinas.
Propósitos
A Igreja em Colossos ainda alimentava uma preocupação errônea e exagerada em relação à
guarda religiosa e cerimonial dos ritos tradicionais judaicos do passado. Além disso, os cristãos de
Colossos eram muito vulneráveis às crenças místicas e superstições de todos os tipos. Essa falta de
confiança absoluta na fé cristã e no senhorio de Cristo criou um ambiente fértil para o surgimento
de uma heresia que juntava elementos judaicos com teorias e doutrinas de um gnosticismo ainda
em formação.
Paulo trata do problema dessa fé dúbia e volúvel dos colossenses, afirmando-lhes o incomparável
caráter de Jesus Cristo, o Messias e Filho de Deus. Em uma passagem notável, ele faz veemente
referência à obra de Cristo em relação à redenção e reconciliação do ser humano caído a Deus. O
apóstolo, ainda, defende a preeminência do Senhor, e afirma que Cristo é a perfeita imagem do Deus
invisível, por meio do qual tudo fora criado. Ele é o cabeça da Igreja.
Cristo, portanto, é totalmente suficiente e satisfatório. Dele, o crente recebe a plenitude do Seu
Espírito (2.10). Em absoluto contraste, a heresia que se difundia na comunidade cristã de Colossos
era uma filosofia totalmente insatisfatória, obscura, insegura e inverídica (2.8), sem a menor
capacidade de corrigir a inclinação maléfica do ser humano caído (2.23).
Sendo assim, o tema central de Colossenses pode ser resumido na plena suficiência de Jesus
Cristo, em oposição às limitações e incapacidades de qualquer filosofia ou crença produzida pelos
seres humanos.
1 A expressão “santo” é usada somente por causa da morte vicária de Jesus Cristo, o Filho de Deus, em benefício eterno de
todo aquele que crê (crente, cristão) que, portanto, passa a ser abençoado pela habitação do Espírito Santo em sua alma, seu
Advogado e Conselheiro. O Espírito de Cristo é também a nossa garantia (marca, selo) de filiação a Deus, e santificador do crente,
separando-o dia a dia (processo de santificação) das garras desse sistema mundial dominado por Satanás e seus comandados.
Portanto, “santo”, assim como “perfeito”, tem a ver com a maneira como Deus, nosso Pai, nos vê a partir da pessoa e da obra do
Senhor Jesus, além de serem alvos para nossas vidas cristãs (Jo 1.12; 14.16-24; 10.10; 1Co 13.13; 1Ts 1.3).
2 Paulo usa uma figura de linguagem (hipérbole), com o objetivo de destacar a rápida propagação das boas novas do
evangelho por todas as partes do vasto Império Romano, em apenas três décadas após o Pentecoste (v.23; At 2.1-4; Rm 1.8;
10.18; 16.19). Mais de 2000 anos depois, o cristianismo se tornou, de fato, a maior religião do planeta, e Jesus Cristo continua a
fazer discípulos em todo mundo por meio da graça do Espírito de Deus (Mt 28.18-20).
3 Paulo sempre demonstrou grande consideração por todos os seus cooperadores; apreciava chamá-los de “conservos”,
apresentando dessa maneira aqueles que compartilhavam com ele das bênçãos e lutas no ministério (v.4.7). Epafras estabeleceu
as igrejas de Colossos, Laodicéia e Hierápolis, durante a jornada do apóstolo em Éfeso (4.13; Fm 23; Ap 3.14; At 19.10). O amor
cristão, em toda a sua exuberância, somente é possível a partir da ação poderosa do Espírito Santo na vida do cristão humilde.
4 No original grego, a expressão “domínio ou império das trevas” tem a ver com o “poder total do Diabo e suas hostes malignas”
(Lc 22.53; Ef 2.2; 6.12; Gl 1.4).
5 Jesus Cristo é o nosso redentor, pois foi ele quem pagou, com sua morte vicária, o alto preço do resgate exigido pela Lei de
Deus para a absolvição de todo pecador que crê sinceramente na pessoa e obra de Cristo. Paulo usa um conhecido hino da igreja
primitiva (vv.15-20; 3.16) para ensinar sobre a supremacia de Cristo na Criação e na Redenção. Alguns teólogos, com base nesse
texto, têm ensinado erroneamente que Cristo foi criado. Ele, entretanto, é o próprio Criador; a expressão exata do ser de Deus,
sua imagem perfeita e resplendor, refletidos na pessoa do seu Filho, Deus-homem, o primogênito de toda a criação (herdeiro de
todas as coisas). Paulo usa a antiga tradição cultural oriental, para demonstrar que assim como o filho primogênito tinha certos
direitos e privilégios, semelhantemente Cristo, o Filho amado de Deus, herdou absoluta prioridade, preeminência e soberania (Gn
1.27; Mt 22.20; Rm 8.29; Cl 3.10; 2Co 4.4; Hb 1.3; Jo 1.18; 14.9).
6 Paulo ressalta a supremacia de Cristo sobre o universo, o tempo e tudo o que há, referindo-se aos direitos do Criador como
absoluto dono e mestre, em contraste com a doutrina herética sobre anjos ministradores que os pensadores gnósticos tentavam
ensinar aos colossenses, insistindo que Cristo era um anjo de luz de alto escalão na hierarquia angelical (Jo 1.1,2; 8.58).
7 A expressão grega pleroma era um termo técnico usado na filosofia, especialmente pelos gnósticos, para indicar a “plena
deidade”, cujo sentido era a soma total das forças sobrenaturais que controlavam o destino das pessoas. Paulo usa parte do
vocabulário gnóstico para afirmar que “plenitude”, na verdade, é a pessoa do Filho de Deus, Jesus Cristo (2.9).
8 Paulo não está dizendo que havia alguma falta no sacrifício expiatório de Cristo. Pelo contrário, o apóstolo está reafirmando
seu compromisso em cumprir sua cota de sacrifício, como cristão, para proclamar o Evangelho a um mundo hostil para com
Deus e a verdade.
9 O mistério cristão não é um “conhecimento secreto”, exclusivo dos iniciados como nas seitas pagãs ou ordens gnósticas. É
a revelação de verdades divinas, antes ocultas (especialmente aos não judeus), mas, agora, em Cristo, proclamada abertamente
para todos os povos e nações (Rm 16.25; Ef 1.9; 3.9).
10 O mais importante mistério revelado é o fato de Cristo morar nos corações dos não judeus (gentios) por intermédio do
Espírito Santo de Deus, que é a absoluta garantia da glória do céu (Ef 3.6).
11 Os gnósticos usavam a expressão grega teleios, “perfeito”, para distinguir os filósofos que haviam passado a conhecer e
praticar os grandes segredos da seita. Entretanto, Paulo assevera que todo cristão sincero tem a constante presença do Espírito
de Deus junto à sua alma, e portanto, é um dos “perfeitos” em Cristo (Mt 28.19-20).
por todos que ainda não me conhecem na falsa religiosidade deste mundo, e não
pessoalmente.1 em Cristo.3
2 Esforço-me a fim de que o coração de- 9 Pois somente em Cristo habita corpo-
les seja animado, estando vós unidos em ralmente toda a plenitude de Deus.
amor e juntos alcanceis toda a riqueza 10 Assim como, em Cristo, estais aperfei-
do pleno entendimento, para que possais çoados. Ele é o Cabeça de todo poder e
conhecer perfeitamente o mistério de autoridade.4
Deus, a saber, Cristo.2 11 Nele também fostes circuncidados,
3 Nele estão ocultos todos os tesouros da não por intermédio de mãos humanas,
sabedoria e do conhecimento. mas com a circuncisão feita por Cristo,
4 Falo dessa forma para que ninguém vos que é o despojar da carne pecaminosa.
engane com argumentos interessantes, 12 Isso aconteceu quando fostes sepul-
porém falsos. tados com Ele no batismo, e com Ele
5 Porquanto, apesar de estar fisicamente foram ressuscitados mediante a fé no
distante de vós, estou convosco em es- poder de Deus que o ressuscitou dentre
pírito, e me sinto feliz ao verificar que os mortos.5
estais vivendo em plena ordem, e como 13 E a vós outros, que estáveis mortos
está firme a vossa fé em Cristo. pelas vossas transgressões e pela incir-
cuncisão da vossa carne; vos deu vida
Cristãos livres do legalismo juntamente com Ele, perdoando todos
6 Sendo assim, da mesma forma como os nossos pecados;
recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, tam- 14 e cancelou a escrita de dívida, que
bém andai nele, consistia em ordenanças, e que nos era
7 alicerçados e edificados nele, transbor- contrária. Ele a removeu completamente,
dando em gratidão. pregando-a na cruz;6
8 Tende muito cuidado para que ninguém 15 e, despojando as autoridades e poderes
vos escravize a vãs e enganosas filosofias, malignos, fez deles um espetáculo públi-
que se baseiam nas tradições humanas e co, triunfando sobre todos eles na cruz.7
1 A expressão grega original agõna, que significa “grande batalha”, descreve bem a vida de oração e a dedicação ministerial
do apóstolo de Cristo por todas as igrejas sob sua responsabilidade direta. Essa carta tinha o propósito de ser lida publicamente,
como de costume, também diante da Igreja em Laodicéia, que ficava a apenas 9 km de Colossos, numa região da Turquia,
conhecida atualmente como Denizli.
2 Muitos pensadores gnósticos haviam se infiltrado na crescente comunidade cristã em Colossos, e tentavam influenciar os
crentes, gabando-se de suas doutrinas secretas, reservadas apenas aos iniciados. Paulo os confronta com a verdade bíblica e
assevera que toda a verdade está em Cristo, e portanto, perfeitamente acessível a todos (1.28).
3 A expressão “tradições humanas e na falsa religiosidade deste mundo”, ou “a tradição dos homens, conforme os rudimentos
do mundo”, como aparece em algumas versões, significa os “ensinos religiosos simplistas, falsos e mundanos” com os quais
os gnósticos estavam seduzindo os cristãos de Colossos, com o objetivo de receber glória e viver às custas de seus prováveis
seguidores (v.20; Gl 4.3,9; Hb 5.12). Paulo se insurge contra a heresia que já campeava entre os colossenses. Esta heresia
afirmava que uma pessoa para ser salva precisava combinar fé em Cristo com certos conhecimentos ocultos e com uma série de
regras da tradição judaica, como a circuncisão, restrição à ingestão de certos alimentos e bebidas, bem como a observância de
rituais, celebrações religiosas e dias especiais.
4 Cristo é o Cabeça da Igreja, seu Corpo, como nosso Senhor e maior exemplo de amor, obediência ao Pai e compaixão por
seus irmãos. Contudo, Cristo é também, em primazia e autoridade, sobre toda a criatura no universo. Portanto, ele não foi criado
por Deus como um “anjo de luz”, segundo pregavam os gnósticos; Cristo é Deus (1.18; Jo 14.6).
5 Na circuncisão da Lei, o corte da pele que cobre a glande do pênis era uma marca que simbolizava a propriedade exclusiva
de Deus e a separação do seu povo (Israel) do sistema pagão de valores (mundo). A perfeição (v.10; 1Pe 2.9), outorgada pela
circuncisão espiritual que Cristo experimentou e nos concede, vem por meio da sua morte e ressurreição (Dt 10.16; 30.6; Jr 4.4).
O valor e o poder desse ato transcendental é simbolizado pelo batismo (Rm 6.1-11), e, cada crente, se apropria dessa verdade e
garantia pelo dom da fé (v.12). Assim, o batismo cristão toma o lugar da circuncisão na Nova Aliança.
6 A “escrita de dívida” é o contrato de obrigação de guardar os mandamentos de Deus, juntamente com a estipulação da devida
penalidade de morte, contra aqueles que desonrassem o cumprimento deste acordo de paz e felicidade perene (Gn 3.13).
7 Paulo assevera que o cristão sincero é completo (perfeito) em Cristo, e não deficiente ou incompleto, como alegavam os
gnósticos. O próprio Deus se fez ser humano em Jesus Cristo, humilhou-se até a morte, e morte de cruz; despojando-se do corpo,
triunfou sobre todos as forças do universo e conquistou toda primazia e glória do Pai, tornando-se o Caminho e o exemplo para
todo cristão (vv.10-15; Mt 12.29; Lc 10.18; Rm 16.20; 2Co 2.14).
8 Paulo afirma que as leis cerimoniais do AT são como sinais (sombras) da vinda de Cristo, o Messias, por retratarem
simbolicamente a sua obra redentora entre os homens. Portanto, qualquer insistência em reviver e guardar esses rituais religiosos
é uma demonstração da falta de reconhecimento de que todos os sinais e profecias em relação à vinda de Deus à Terra para
resgate do seu povo, já se cumpriram em Cristo. Os hereges entre os colossenses ainda juntavam severas exigências ascéticas
à sua falsa teologia (vv.20,21).
9 A liberdade do cristão é regulada por sua relação direta com Cristo, por meio do Espírito Santo de Deus, como Cabeça con-
trolador e, em relação ao Corpo (que é a Igreja), como membro que é de um organismo vivo e que deve funcionar em harmonia
e cooperação. Quando qualquer membro do Corpo não se submete espontaneamente à Cabeça (Cristo), permite que heresias e
pecados afetem a saúde espiritual de toda a fraternidade (Igreja).
10 A morte do cristão com Cristo, para os valores do sistema mundial, destrói qualquer vínculo do pecado (Rm 6) e, ao mesmo
tempo, quebra todo possível laço de veneração ou serviço às potestades (autoridades angelicais cultuadas pelos gnósticos),
vencidos plenamente por Cristo. Paulo faz uso de uma verdade veterotestamentária, como registrada na Septuaginta (tradução
grega do AT – Is 29.13), para relembrar aos colossenses e a todos os cristãos que, Deus não faz questão de honras cerimoniais
religiosas, mas de corações que o adorem com sinceridade (Mc 7.6,7; Mt 15.8,9; Tt 1.14).
Capítulo 3
1 Paulo conclama os cristãos sinceros a exercerem na vida prática diária tudo o que eles já são posicionalmente em Cristo
(Rm 6.1-13).
2 Sendo que já morremos com Cristo, a nossa nova vida está oculta nele e Ele em Deus. Assim que Cristo retornar, o nosso
estado glorioso será manifesto (1Jo 3.2).
3 Quando o ser humano reconhece sua natureza pecaminosa (velho homem) e aceita o sacrifício de Cristo (Deus-homem) na
cruz do Calvário, crucificando sua “velha natureza” com Cristo e, simbolicamente, solidarizando-se com Ele no batismo (2.13),
que vem a ira de Deus sobre os que vi- protesto contra o outro, assim como
vem na desobediência. o Senhor vos perdoou, assim também
7 Nelas também andastes no passado, procedei.
quando ainda vivíeis com esses hábitos, 14 Acima de tudo, no entanto, revesti-vos
8 mas agora, livrai-vos de tudo isto: raiva, do amor que é o elo da perfeição.
ódio, maldade, difamação, palavras inde- 15 Seja a paz de Cristo o juiz em vossos co-
centes do falar. rações, tendo em vista que fostes convoca-
9 Não mintais uns aos outros, pois já dos para viver em paz, como membros de
vos despistes do velho homem com suas um só Corpo. E sede agradecidos.
atitudes, 16 Habite ricamente em vós a Palavra de
10 e vos revestistes do novo homem, que Cristo; ensinai e aconselhai uns aos outros
se renova para o pleno conhecimento, se- com toda a sabedoria, e cantai salmos,
gundo a imagem daquele que o criou;4 hinos e cânticos espirituais, louvando a
11 Nessa nova ordem de vida, não há Deus com gratidão no coração.
mais diferença entre grego e judeu, 17 E tudo quanto fizerdes, seja por meio
circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, de palavras ou ações, fazei em o Nome
escravo ou pessoa livre, mas, sim, Cristo do Senhor Jesus, oferecendo por inter-
é tudo e habita em todos vós.5 médio dele graças a Deus Pai.7
12 Assim, como povo escolhido de Deus,
santo e amado, revesti-vos de um cora- O cristão e seus relacionamentos
ção pleno de compaixão, bondade, hu- 18 Mulheres, cada uma de vós seja sub-
mildade, mansidão e paciência.6 missa ao próprio marido, pois assim
13 Zelai uns pelos outros e perdoai-vos deveis proceder por causa da vossa fé no
mutuamente; caso alguém tenha algum Senhor.8
recebe a graça do novo nascimento e da salvação eterna, cuja garantia é a habitação do Espírito de Deus em sua nova natureza
(novo homem – a Imagem de Deus é recriada no crente – Gn 1.27); aprenderá, então, a ser guiado pelo Espírito Santo, e não
apenas pela razão e emoções humanas. A expressão original grega nekrõsate indica que o “velho homem” deverá ser “morto”
(aniquilado) diariamente, em seu poder de determinar nosso estilo de vida. É sempre a “velha natureza” que se manifesta nos
desejos ilícitos e pecados da língua (vv.8,9; Tg 3.1-12), e sua mortificação se dá pela consagração da nossa “nova natureza” que,
vencendo o “velho homem”, pelo poder do Espírito, nos leva à obediência de Cristo e, portanto, a tomar nossa cruz e seguir nosso
Salvador, Senhor e Mestre: Jesus Cristo (Mc 8.34). Somente nos é possível despojar o “velho homem” porque Cristo despojou o
“corpo da carne” (2.11) e as autoridades e poderes malignos (2.15).
4 Paulo explica que a razão principal para o abandono dos maus caminhos está na simbologia do batismo. A frase original começa
com o particípio grego apekdusamenoi, “tendo despido” (v.9), que é complementado por um particípio aoristo correspondente endu-
samenoi, “tendo vestido” (v.10). Os verbos confirmam que há uma analogia em relação ao ato batismal, que pode ser compreendida
a partir do costume da época de despir-se para a cerimônia do batismo; quando o novo convertido entrava na água, e de vestir-se
logo depois (Gl 3.27; Rm 13.12,14; Ef 4.24). A personalidade de Cristo é criada no cristão sincero por meio do Espírito de Deus (Gl
2.20). Desta forma é recriada a Imagem de Deus (em latim Imago Dei), i segundo a qual Adão foi originalmente criado. O pecado,
entretanto, desfez essa imagem divina; a nova vida em Cristo (a perfeita imagem de Deus) a refaz na pessoa do crente fiel.
5 A expressão original “bárbaro” era usada, pelos gregos, para indicar uma pessoa que não falava grego e, portanto, era
considerada não civilizada para os padrões da época. Os “citas” eram provenientes de algumas tribos ao redor do mar Negro, ao
sul de onde, hoje, se localiza a Rússia, e considerados quase como animais selvagens. Em Cristo, todas essas distinções foram
abolidas, pois Jesus transcende todas as barreiras e unifica pessoas de todas as culturas, raças e nações.
6 O título outorgado a Israel passou também a significar a Igreja de Cristo (Dt 4.37; 1Pe 2.9). A eleição divina é sempre
apresentada nas cartas de Paulo, porém, as Escrituras, não deixam de destacar a responsabilidade de cada pessoa em relação
às suas decisões e atitudes. Paulo reforça que, exatamente por ter sido eleito, o cristão convicto e fiel deve dedicar todo o seu
esforço a fim de viver em conformidade com o chamado de Deus. Os apóstolos e principais discípulos de Cristo foram grandes
exemplos desse conceito teológico (Ef 1.4).
7 Esse versículo é melhor compreendido à luz do encorajamento oferecido aos escravos (e a todos aqueles que prestam
serviço a um patrão) nos versos 23 e 24. A frase no original grego significa falar e agir como representantes dignos do excelso
Nome de Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Messias; assim como um filho é reconhecido e deve dignificar o nome do seu pai e,
portanto, de sua família.
8 O temor (devoção e humilde obediência) ao Senhor deve regular a atitude e o relacionamento pessoal do crente com Deus,
19 Maridos, cada um de vós ame sua es- porta para nossa mensagem, a fim de
posa e não a trate com grosseria. que possamos proclamar o mistério de
20 Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, Cristo, pelo qual estou preso.
porquanto essa atitude é agradável ao 4 Orai para que eu consiga manifestá-lo
Senhor. francamente, como me cumpre fazê-lo.
21 Pais, não irriteis vossos filhos, para que 5 Portai-vos com sabedoria para com os
eles não fiquem desanimados. que são de fora; aproveitai ao máximo
22 Escravos, obedecei em tudo a vossos todas as oportunidades.
senhores terrenos, não servindo apenas 6 A vossa maneira de falar seja sempre
quando supervisionados, como quem agradável e bem temperada com sal, a
age somente para contentar os homens, fim de saberdes como deveis responder
mas trabalhando com sinceridade de a cada pessoa.
coração, por causa do vosso temor ao
Senhor. Paulo envia conservos em missão
23 E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo 7 Quanto à minha situação, Tíquico, ir-
o coração, como para o Senhor e não mão amado, fiel ministro, e conservo no
para homens, Senhor, de tudo vos informará.
24 conscientes de q que recebereis do Se- 8 Eu vo-lo envio com o objetivo principal
nhor a recompensa da herança. É a Cris- de vos colocar a par sobre como estamos
to, o Senhor, que estais servindo! vivendo, e para que ele possa confortar o
25 Pois quem agir de forma injusta re- vosso coração.
ceberá o devido pagamento da injustiça 9 Em sua companhia, vos envio Onési-
cometida; e nisto não há exceção para mo, leal e amado irmão, que é um de
pessoa alguma. vós. Eles vos farão saber tudo o que está
acontecendo por aqui.2
com sua família, em relação a todos os membros do Corpo de Cristo (a Igreja), e no modo de tratar os que “são de fora” (versos
de 18 a 4.6; Ef 5.21).
Capítulo 4
1 Paulo usa a palavra grega proskartereõ “perseverar” para comunicar à igreja a idéia de “caminhar na certeza da providência
do Senhor”. A oração (diálogo com o Espírito de Deus) é a mais importante preparação para o desempenho de qualquer projeto
(Mc 3.9; At 10.7; At 6.4; Rm 12.12).
2 Paulo escreveu uma carta a Filemom, que residia em Colossos, com o principal objetivo de pedir que ele aceitasse plenamen-
te, como irmão em Cristo, o seu antigo escravo Onésimo.
3 Aristarco era macedônio. Participou com Paulo do tumulto que houve em Éfeso por causa do Evangelho e, por isso,
era bem conhecido em Colossos (At 19.29). Tanto ele quanto Tíquico acompanharam Paulo na missão à Grécia (At 20.4), e
cooperaram com o apóstolo em Roma (At 27.2). Marcos, autor do evangelho que leva seu nome, depois de doze anos de sua
separação de Paulo na Panfília (At 15.38,39), agora faz parte da equipe missionária do apóstolo. Cinco anos depois dessa
carta, Paulo escreve a Timóteo, afirmando a importância do companheirismo e do ministério de Marcos (2Tm 4.11). Jesus
Justo (nome comum entre os judeus até o séc.II, seguido de nome helênico de significado semelhante) era um discípulo
de Paulo, que embora judeu, não fazia parte do grupo que exigia a circuncisão dos cristãos; pelo contrário, cooperava com
Paulo em seu indestrutível interesse de levar o Evangelho aos judeus, apesar de sua vocação para os gentios (Rm 1.16;
9.1-5; 10.1; 11.25).
4 Hierápolis era uma cidade da Ásia Menor (hoje Turquia) e ficava cerca de 9 km de Laodicéia e 23 km de Colossos. A igreja ali
foi formada a partir do ministério de discipulado de Paulo, por três anos em Éfeso (At 19).
5 Lucas, médico e autor do terceiro evangelho e do livro de Atos, era grande amigo de Paulo e companheiro de missões (At
16.10). Estava com Paulo em Roma na época da prisão do apóstolo, quando esta carta foi escrita (At 28). Demas, obreiro cristão,
todavia, mais tarde, preferindo o mundo, abandonaria Paulo (2Tm 4.10).
6 A Igreja primitiva, na maioria de seus grupos e comunidades, não possuía templos ou edifícios próprios para congregação
dos crentes, que só começaram a ser construídos com essa finalidade a partir do séc.III. De modo geral, os discípulos de Cristo
se reuniam para adoração, ensino da Palavra, oração e comunhão, nos lares, sob os auspícios de uma família cristã e de seus
colaboradores com visão missionária. Assim aconteceu, por exemplo, com Priscila e Áquila (Rm 16.5; 1Co16.19), Filemom (Fm
2) e Maria, mãe de João Marcos (At 12.12).
7 A Igreja primitiva tinha por hábito ler as cartas dos apóstolos em voz alta perante toda a assembléia. O intercâmbio e o estudo
das cartas serviu para guardar e formar, juntamente com os demais textos canônicos, o NT completo.
8 Paulo continua preocupado com as infiltrações teológicas judaizantes e heréticas na Igreja de Cristo. Por isso, pede que
Arquipo, um dos membros da igreja local em Colossos, aceite a responsabilidade pastoral como seu ministério pessoal e com a
mesma dedicação de Epafras.
9 Paulo preferia ditar suas cartas oficiais a um amanuense (copista profissional), conforme costume dos mestres de sua época.
Em algumas dessas cartas à Igreja, entretanto, Paulo escreveu saudações e bênçãos apostólicas de próprio punho, com a inten-
ção de demonstrar seu carinho e zelo pessoal para com os irmãos em Cristo (Rm 16.22; 1Co 16.21; Gl 6.11; 2Ts 3.17; Fm 19).