Pneumonias Adultos Adquirida Comunidade e No Hospital
Pneumonias Adultos Adquirida Comunidade e No Hospital
Pneumonias Adultos Adquirida Comunidade e No Hospital
Médica Assistente da Divisão de Pneumologia do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP.
Bolsista da Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do HCFMRP-USP.
CORRESPONDÊNCIA: Conceição Maria da Costa Santos e Fonseca – Divisão de Pneumologia, Hospital das Clínicas, FMRP-USP
CEP 14048-900, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil – Fone: (016) 602-2631 - FAX: (016) 633-6695 – E-mail: cmsantos@usp.br
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Gasometria arterial PaO2 < 60 mmHg e/ou PaCO2 Formas: Leve → Moderada
≥ 50 mmHg , em respiração de ar ambiente. 1ª sugestão: cefalosporina de 2ª geração.
Existência de doença crônica associada (co- 2ª sugestão: sulfametoxazol + trimetoprima
morbidade). (SMX/TMP).
Hospitalização no intervalo de um ano, anterior ao 3ª sugestão: betalactâmico + inibidor de β
quadro atual de pneumonia lactamase. Podem-se associar macrolídeos.
Paciente sem condições sociais para tratamento Grupo III: Indivíduos de qualquer idade com
ambulatorial(13). ou sem co-morbidades. Necessidade de Internação
A presença de três (3) desses critérios sugere que (vide critérios para internação). Taxa de mortalidade:
o paciente deva ser internado. 5 a 25%. A maioria dos óbitos ocorreram nos primei-
d) Há indicação de terapia intensiva? ros sete dias de internação.
A presença de pneumonia grave (5 a 25% de óbi- Formas: Moderada → Grave
tos) nos primeiros sete dias de internação ou muito 1ª sugestão: cefalosporina de 2ª geração ou de
grave (50% de óbitos) constitui indicação para in- 3ª geração (sem atividade antipseudomônica).
ternação em Centro de Terapia Intensiva (14,15). 2ª sugestão: betalactâmico + inibidor de beta-
lactamase. Podem-se associar macrolídeos na sus-
9. TRATAMENTO COM ANTIMICROBIANOS peita de agente atípico ou rifampicina, se legionella
for considerada.
A terapêutica empírica, para pneumonias ad- Observação: As cefalosporinas de 3ª geração com
quiridas na comunidade, é orientada segundo a faixa atividade antipseudomônica podem ser empregadas
etária, a presença de co-morbidade e o grau do com- quando há lesão estrutural pulmonar.
prometimento clínico(1,2,8,16,17). A duração do trata-
mento é de dez (10) dias, nas formas leve à modera- Grupo IV: Indivíduos com pneumonia muito
da, podendo atingir os vinte e um (21) dias, nas for- grave. Taxa de mortalidade: 50%.
mas moderada à grave e muito grave. Nos indivíduos 1ª sugestão: macrolídeo + rifampicina, se
que necessitam de internação, a terapêutica deve ser Legionella for confirmada, associados à: cefalospo-
instituída por via parenteral. Nesses casos, após qua- rina de 3ª geração, com atividade antipseudomonas,
tro (4) dias, havendo evidência de melhora clínica e (está a princípio, somente para pacientes com lesão
hematológica, podemos fazer a troca da via parente- estrutural pulmonar ou quando for confirmada a pre-
ral para a via oral (8,12,18,19). sença de pseudomonas) e aminoglicosideo.
2ª sugestão: imipenem - cilastatina
Grupo I: indivíduos sem co-morbidade com até
sessenta (60) anos de idade, excluídas as imunodefi- 3ª sugestão: Fluorquinolonas: levofloxacina,
ciências, tratamento ambulatorial taxa de mortalida- esparfloxacina, ciprofloxacina.
de: 1 a 5% (8).
Formas: Leve → Moderada 10. EVOLUÇÃO
1ªsugestão: Macrolídeos: eritromicina, claritro- A pneumonia, quando adequadamente tratada,
micina, roxitromicina e azitromicina. geralmente, evolui para cura. Entretanto, a presença
2ª sugestão: tetraciclina ou doxiciclina. de fatores de risco alerta o clínico para a possibilida-
3ª sugestão: amoxacilina + clavulanato, cefa- de de desenvolvimento de complicações e infecções
losporina 2ª geração (cefuroxima, cefpodoxime ou metastáticas, que ocorrem em cerca de 10% dos pa-
cefprozil). Não agem contra micoplasmas, chlamydia cientes com pneumonia pneumocócica e bacteremia.
e legionella. Tais pacientes, podem apresentar meningite, artrite,
endocardite, pericardite, peritonite e empiema. Além
Fatores modificantes: suspeita de agente resis- das infecções metastáticas, podem ocorrer insufici-
tente. fluorquinolonas: (levofloxacin, sparfloxacin, ência renal, insuficiência cardíaca, embolia pulmonar,
ciprofloxacin) com ou sem infarto, e até mesmo infarto agudo do
Grupo II: indivíduos com co-morbidade e ou miocárdio. A detecção precoce dos fatores de risco
com mais de sessenta (60) anos. Tratamento ambula- (Tabela XI) para o desenvolvimento de complicações,
torial. Taxa de mortalidade: 5%, porém 20% podem nas pneumonias, é uma forma de evitar a elevação
necessitar de internação durante a evolução. das taxas de mortalidade(13,14,15,20).
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habitualmente empregados, a intensidade do acometi- setenta e duas (72) horas da internação hospitalar, em
mento clínico variava de leve a moderado e se arras- indivíduo previamente livre de infecção respiratória,
tava por até quatro semanas, com persistência do qua- ou da súbita piora clínica e radiográfica em um quadro
dro de tosse, em geral, seca e, por vezes, produtiva, de pneumonia que evoluía favoravelmente (23).
febre, geralmente sem sintomas pleurais, e, notada- A mortalidade na pneumonia hospitalar é esti-
mente, ausência de resposta a agentes betalactâmi- mada em 70% dos casos, contudo, essa mortalidade,
cos(22). Finalmente, um agente foi isolado: Mycoplas- dependendo do agente, pode ser maior, como ocorre
ma pneumoniae e, portanto, pneumonia atípica tor- nos casos de pneumonia hospitalar por Pseudomonas
nou-se sinônimo de pneumonia por Mycoplasma aeruginosa ou Acinetobacter sp (9).
pneumoniae. Posteriormente, quadros de pneumoni- A pneumonia hospitalar é classificada, evoluti-
as atípicas foram descritos com outras espécies, como vamente, em precoce e tardia. Tal divisão tem o obje-
a Legionella sp ou Clamídia pneumoniae cepa Twar tivo de identificar os agentes etiológicos de acordo com
e, historicamente, o termo pneumonia atípica passou o local aquisição. Pneumonias hospitalares, diagnosti-
a ser referência para infecção pulmonar provocada cadas nos cinco (5) primeiros dias após a internação,
por um desses agentes. Contudo, o termo vem sendo são classificadas como precoces, e os agentes são,
utilizado, também, para descrever quadros de pneu- em geral, os mesmos da pneumonia adquirida na co-
monia cuja evolução se desvie do padrão comum e munidade. Após cinco (5) dias de internação, a pneu-
que não são necessariamente provocados por esses monia hospitalar é classificada como tardia e os agen-
agentes( 21,22). tes são, com maior freqüência, de origem hospitalar.
A pneumonia hospitalar é pouco diagnosticada,
13. DURAÇÃO DO TRATAMENTO por ser confundida com outras doenças e porque pode
se manifestar somente após a alta hospitalar (9).
A duração da antibioticoterapia depende da
presença de co-morbidades, de bacteremia, da gra-
2. ETIOLOGIA
vidade do acometimento provocado pela pneumonia
e da evolução clínica. Em geral, pneumonias bac- Os agentes etiológicos nas pneumonias hospi-
terianas devem ser tratadas por dez (10) dias em talares podem diferir nos diversos ambientes e embo-
média. Formas atípicas devem ser tratadas por quin- ra agentes bacterianos sejam os mais freqüentemen-
ze (15) dias em média (2,8,14).
te isolados, outros possíveis agentes como vírus,
A troca da via parenteral para a via oral para
Legionella sp., anaeróbios e fungos, não são pesqui-
administração da antibioticoterapia depende de fato-
sados de rotina.
res do paciente (se já pode deglutir, e se a absorção
As fontes de infecção se encontram no ambi-
intestinal está preservada) e do antimicrobiano (equi-
ente (hospital, os aparelhos), em outros pacientes e
potência parenteraloral ou não haver mais necessida-
na equipe de funcionários (médicos, enfermeiros, es-
de de níveis elevados. Contudo, após esterilização clí-
tudantes). Na Tabela XII, apresentamos os agentes
nica, com melhora e ausência de febre por mais de
etiológicos mais freqüentes, de acordo com a possível
24h, a troca pode ser feita do terceiro ao sexto dia de
fonte (9,23). Na Tabela XIII, apresentamos os fatores
antibioticoterapia (8).
de risco associados ao desenvolvimento de pneumo-
nias hospitalares.
Na suspeita da pneumonia hospitalar, devemos
II. PNEUMONIAS EM ADULTOS, ADQUI-
proceder à investigação de forma semelhante à de
RIDAS NO HOSPITAL
pneumonia comunitária, com radiografia de tórax nas
incidências póstero-anterior e perfil, hemograma,
1. CONCEITO E EPIDEMIOLOGIA
hemocultura e coleta de material pulmonar (escarro
As pneumonias adquiridas no ambiente hospi- espontâneo ou induzido, aspirado transtraqueal ou
talar representam a segunda principal causa de infec- brônquico, lavado brônquico e biópsia). Na suspeita
ção hospitalar nos Estados Unidos, e estão associadas de pneumonia hospitalar, essa bateria de exames para
a altas taxas de morbidade e mortalidade (4,9,23). E o a confirmação diagnóstica deve ser prontamente
que é pneumonia hospitalar? Por conceito, trata-se de realizada, pois a demora predispõe a evolução des-
infecção do trato respiratório inferior, que ocorre após favorável.
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3. CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA
Tabela XII - Fontes de infecção na pneumonia ad-
quirida no hospital e possíveis agentes A pneumonia adquirida no hospital é também
classificada em leve, moderada, grave, muito grave e
1) Ambiente
subdividida em grupos, de acordo com a presença de
– Ar = Aspergillus sp, Staphylococcus aureus, fatores de risco, o período de instalação, se precoce
vírus sincicial respiratório
ou tardio, o comprometimento físico do paciente e a
– Água = Legionella sp causa da internação, notadamente internação por mo-
– Alimentos = Bacilos entéricos gram-negativos tivos cirúrgicos e o seu porte (8,12,13,23,24).
– Aerossóis = M. tuberculosis Grupo I: São alocados os casos de pneumonia
2) Aparelhos hospitalar classificada de leve a moderada, em indiví-
– Tubos endotraqueais duos sem fatores de risco específicos. A instalação
– Cateteres de aspiração
da pneumonia pode ser precoce ou tardia. Também
fazem parte deste grupo os casos de pneumonia hos-
– Broncoscópios
pitalar muito grave, de instalação precoce. Os fatores
– Equipamentos de fisioterapia respiratória de risco são inespecíficos, entretanto, o tempo de in-
– Sondas nasogástricas ternação e a idade do indivíduo contribuem para o de-
3) Outros Pacientes senvolvimento do quadro. Os agentes de maior preva-
lência são: bacilos anaeróbios, enterobactérias
– Vírus: influenzae, Sincicial respiratório
(Escherichia coli, Klebsiella sp, Proteus sp,
– Haemophilus influenzae
Serratia marcescens, Enterobacter), Haemophilus
– Staphilococcus aureus (meticilinorresistentes) influenza, Staphylococcus aureus (meticilinorresis-
– Pseudomonas aeruginosa tente), Streptococcus pneumoniae, Pseudomonas
4) Corpo Clínico
aeruginosa, Acinetobacter.
– Vírus: Influenzae, Sincicial respiratório Grupo II: Estão classificados os casos de pneu-
– Haemophilus influenzae monia hospitalar classificada de leve a moderada, em
– Staphylococcus aureus (cepas resistentes) indivíduos com fatores de risco específicos, indepen-
dente do período da instalação (precoce ou tardia).
– Pseudomonas aeruginosa
Os agentes de maior prevalência são os anaeróbios,
quando os fatores de risco são cirurgia abdominal re-
cente ou aspiração do conteúdo gástrico. O
Staphylococcus aureus é o agente etiológico, quando
os fatores de risco são coma, traumatismo craniano, di-
Tabela XIII - Fatores de risco para desenvolvi-
mento da pneumonia hospitalar abetes mellitus e insuficiência renal. Quando o fator de
– Fatores do hospedeiro
risco é o uso de imunossupressores: Legionella sp.
Quando os fatores de risco são doença estrutural do
– Idade ≥ sessenta (60) anos,
pulmão (exemplo: bronquiectasia, cistos), uso de imu-
– Co-morbidade, DPOC/insuficiência respiratória/
alcoolismo/rinosinusopatias, nefropatias, cardio-
nossupressores, antibióticos por tempo prolongado e
patias, sinusopatia) longas internações nas unidades de terapia intensiva:
– Distúrbios da função consciente. Pseudomonas aeruginosa.
– Uso prévio de antibiótico(s)/corticosteroides/qui- Grupo III: Estão alocados os casos de pneu-
mioterápicos monia hospitalar muito grave, de instalação precoce
– Uso de bloqueadores H2/antiácidos em indivíduos nos quais os fatores de risco são lesões
– Colonização gástrica estruturais do pulmão, uso de antibióticos, imunossu-
– Choque pressores e longos períodos de assistência ventilatória.
– Cirurgias recentes (notadamente as abdomi- Também estão nesse grupo os casos de pneumonia
nais) hospitalar grave de instalação tardia. Os agentes de
– Assistência ventilatória por mais de quarenta e maior freqüência são a Pseudomonas aeruginosa, o
oito (48) horas Acinetobacter e o Staphylococcus aureus meticili-
norresistente.
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apresenta alta sensibilidade à droga e a de escolha Em nosso meio, como em outros centros, o tra-
deverá ser a penicilina G ou amoxicilina. Para cepas tamento de pneumonias comunitárias e hospitalares
de sensibilidade intermediária (CIM > 0,1/ < 1 µg/ml), também tem sido norteado pelos consensos, embora
penicilina G ou amoxicilina associada a drogas de com- muitos médicos ainda prefiram esquemas terapêuti-
provada resistência às β lactamases (ácido clavulâni- cos tradicionais(3,16,23,25).
co/ticarcilina). Para cepas resistentes (CIM ≥ 2 µg/ml),
vancomicina, fluoroquinolona ou outros agentes de sen- AGRADECIMENTOS : Aos Professores Doutores João
sibilidade comprovada. Carlos da Costa (Divisão de Moléstias Infecciosas) e José
O tratamento de pneumonia hospitalar, proposto Carlos Manço (Divisão de Pneumologia), pela revisão des-
pela ATS (9), necessita ser validado para que se possa te artigo, e às senhoras Rosa Maria Pereira Coquely e Ednéia
realmente avaliar a sua eficácia(9,20,23,25). Fabbris Verceze, pela digitação.
SANTOS e FONSECA CMC. Community acquired and hospital - acquired pneumonias in adults. Medicina,
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