Agravo Regimental
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Agravo Regimental
I – TEMPESTIVIDADE
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II – RELATÓRIO
rotina de proceder.
Ao julgador compete a análise do impulso, do fator determinante da
conduta objetivamente tratada, que lhe permita concluir tratar-se
mesmo de caso de um criminoso meramente ocasional, ou mesmo,
se vem tomando aquela conduta como estilo de vida, para que possa,
não apenas determinar a gradação da redução da pena, como até
mesmo o total afastamento da causa de redução.
No caso em apreço, embora o Apelante seja primário, além da
quantidade elevadíssima de drogas, incomum para aquele que inicia
sua vida no tráfico de drogas, circunstância já considerada, deve ser
destacado que houve delação anônima, em plena madrugada, com
transporte por quase todo o Estado de São Paulo, o que indica,
seguramente, a constância na prática delituosa, inviabilizando a
incidência do redutor.
Ainda, foi fixado o regime fechado, considerando as circunstâncias em
que o crime foi cometido, com delação anônima, em plena
madrugada, com transporte por quase todo o Estado de São Paulo,
que não autoriza a imposição de regime mais brando, revelando a
perigosidade incomum do Apelante.
Como antes analisado, nos termos do aludido dispositivo legal, o
agente poderá ser beneficiado com a redução de 1/6 (um sexto) a 2/3
(dois terços) da pena, desde que seja primário, portador de bons
antecedentes e não se dedique às atividades criminosas nem integre
organização criminosa. É evidente, portanto, que o benefício descrito
no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 tem como destinatário o
pequeno traficante, ou seja, aquele que inicia sua vida no comércio
ilícito de entorpecentes, muitas das vezes até para viabilizar seu
próprio consumo, e não os que, comprovadamente, fazem do crime
seu meio habitual de vida.
(…)
De outra parte, as instâncias antecedentes indeferiram a causa de
diminuição do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas apontando outros
dados concretos que evidenciavam a dedicação às atividades
criminosas. Não se verifica a dupla punição pelo mesmo fato, desse
modo, porque a Corte estadual fez mera menção à elevada
quantidade de estupefaciente no cálculo da terceira fase, mas
esclareceu que essa circunstância já havia sido sopesada. Ressaltou,
outrossim, que o privilégio foi afastado com base nas circunstâncias
da prisão em flagrante, com delação anônima em plena madrugada,
e no fato de o paciente percorrer quase todo o Estado de São Paulo
para entregar a droga no destino final, a indicar que não se trataria de
pequeno traficante.
Tal o contexto, para afastar as conclusões alcançadas na origem,
imperioso seria o revolvimento de fatos e provas, providência inviável
em tema de habeas corpus.
(…)
Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.
(…)
Como tenho dito, a previsão da redução de pena contida no § 4º do
artigo 33 tem como fundamento distinguir o traficante contumaz e
profissional daquele iniciante na vida criminosa, bem como do que se
aventura na vida da traficância por motivos que, por vezes,
confundem-se com a sua própria sobrevivência e/ou de sua família.
Assim, para legitimar a não aplicação do redutor é essencial
fundamentação corroborada em elementos capazes de afastar um
dos requisitos legais, sob pena de desrespeito ao princípio da
individualização da pena e de fundamentação das decisões judiciais.
Conforme assentado na doutrina: “A habitualidade e o pertencimento
a organizações criminosas deverão ser comprovados, não valendo a
simples presunção. Não havendo prova nesse sentido, o condenado
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11. A dosimetria da pena está ligada ao mérito da ação penal, ao juízo que
é realizado pelo Magistrado sentenciante após a análise do acervo probatório
amealhado ao longo da instrução criminal (RHC 203549 AgR / SP, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, Primeira Turma, DJe 26/8/2021).
reconhecer a dedicação do réu à atividade criminosa (RHC 116926 / DF, Rel. Min.
Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 3/9/2013).
IV – CONCLUSÃO
ALCIDES MARTINS
Subprocurador-Geral da República
GB