Cartografia Escolar - Almeida, Rosangela Doin de
Cartografia Escolar - Almeida, Rosangela Doin de
Cartografia Escolar - Almeida, Rosangela Doin de
(organizadora)
CARTOGRAFIA ESCOLAR
Copyright © 2007 Rosângela Doin de Almeida
Capa e diagramação
Gustavo S. Vilas Boas
Revisão
Cássio Dias Pelin
Lilian Aquino
Vários autores
ISBN 978-85-7244-374-6
EDITORA CONTEXTO
Diretor editorial: Jaime Pinsky
2010
APRESENTAÇÃO
ESTUDO METODOLÓGICO E COGNITIVO DO MAPA
Lívia de Oliveira
A ORGANIZADORA
OS AUTORES
APRESENTAÇÃO
A organizadora
Nota
[1] Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia (5ª a 8ª série) indicam um eixo do terceiro ciclo “A
cartografia como instrumento na aproximação dos lugares e do mundo”, destacando como “alfabetização
cartográfica” o ensino de mapas.
ESTUDO METODOLÓGICO
E COGNITIVO DO MAPA
Lívia de Oliveira
“Tú, mapa
mundi, objeto,
eres bello como
una paloma
verde opulenta,
o como una
transcendente
cebolla, pero no
eres la tierra,
no tienes frío,
sangre, fuego,
fertilidades.”
Pablo
Neruda,Oda
al Globo
Terráqueo.
Este capítulo[*] aborda o mapa do ponto de vista metodológico e
cognitivo. Foi concebido, portanto, com a finalidade de contribuir para as
bases de uma metodologia do mapa. Em primeiro lugar, não é um trabalho
de cartografia; versa sobre os fundamentos psicológicos e geográficos do
mapa como um meio de comunicação espacial. Em segundo lugar, não é um
estudo dos procedimentos da representação geográfica; ao contrário: a
abordagem é metodológica e cognitiva. O objetivo é propiciar uma
compreensão das bases do mapa e incentivar uma forma de pensar sobre os
problemas didáticos a ele concernentes. Esse objetivo representa a nossa
convicção profunda de que somente assim se pode preparar o professor para
crescer intelectualmente e desenvolver métodos para transformar o ensino
pelo mapa no ensino do mapa.
O mapa sempre foi um instrumento usado pelos homens para se
orientarem, se localizarem, se informarem, enfim, para se comunicarem. O
mapa é usado pelo cientista e pelo leigo, tanto em atividades profissionais
como sociais, culturais e turísticas. O mapa é empregado pelo administrador,
pelo planejador, pelo viajante e pelo professor. Todos, de alguma maneira,
em algum momento, com maior ou menor frequência, com as mais variadas
finalidades, recorrem ao mapa para se expressarem espacialmente.
Os geógrafos das mais diversas origens provavelmente são os
responsáveis, desde as mais recônditas épocas, pela criação, produção e
interpretação dos mapas. O mapa ocupa um lugar de destaque na Geografia,
porque é ao mesmo tempo instrumento de trabalho, registro e
armazenamento de informação, além de um modo de expressão e
comunicação, uma linguagem gráfica.
O mapa é uma forma de linguagem mais antiga que a própria escrita.
Povos préhistóricos, que não foram capazes de registrar os acontecimentos
em expressões escritas, o fizeram em expressões gráficas, recorrendo ao
mapa como modo de comunicação. O mesmo acontece na atualidade com
povos primitivos que não contam com um sistema de escrita, mas possuem
mapas de suas aldeias e vizinhanças.
O homem sempre desenvolveu uma atividade exploratória do espaço
circundante e sempre procurou representar esse espaço para os mais
diversos fins. Para movimentarse no espaço terrestre, mesmo em trajetos
curtos, houve necessidade de registrar os pontos de referência e armazenar o
conhecimento adquirido da região. O mapa surge, então, como uma forma de
expressão e comunicação entre os homens. Esse sistema de comunicação
exigiu, desde o início, uma “escrita” e, consequentemente, uma “leitura” dos
significantes expressos.
Entre o primeiro mapa de que temos conhecimento e os atuais, altamente
sofisticados, há toda uma evolução de métodos, técnicas, materiais e teorias,
que estão em acordo com o próprio desenvolvimento e progresso da ciência
e da tecnologia. Apesar de ser uma forma de expressão primária, ou talvez
por isso mesmo, e por ter surgido há milênios, o mapa atingiu um
desenvolvimento não alcançado pela própria escrita. Esse nível altamente
sofisticado exige um preparo do leitor para usufruir desse meio de
comunicação.
Enquanto a alfabetização sempre foi um problema que chamou a atenção
dos educadores, não se inclui nela o problema da leitura e escrita da
linguagem gráfica, particularmente do mapa: os professores não são
preparados para “alfabetizar” as crianças no que se refere ao mapeamento.
O que queremos dizer é que não há uma metodologia do mapa, que não tem
sido aproveitado como um modo de expressão e comunicação, como poderia
e mesmo deveria ser.
O objetivo do capítulo é o de colocar o problema didático do mapa não
como um recurso visual ou um material didático empregado pelo professor de
Geografia, ou de outras disciplinas escolares, para ilustrar suas exposições ou
como material para atividades de experiência dos alunos, quando necessitam
trabalhar com o espaço geográfico. Em outras palavras, não é analisar o
ensino pelo mapa; mas, sim, propor o problema do processo de
ensino/aprendizagem do mapa.
Como consequência das propostas apresentadas, lançamos as bases para
uma metodologia do mapa. Para isso, procurou-se examinar a teoria de
Piaget em relação à construção do espaço pela criança, incluindo a percepção
e a representação espaciais. Concordando com Piaget[1] quando preconiza
que a noção de espaço e a suarepresentação não derivam simplesmente
da percepção: é o sujeito, mediante a inteligência, que atribui significado
aos objetos percebidos, enriquecendo e desenvolvendo a atividade
perceptiva. Da mesma forma, foi aceita a explicação piagetiana do
desenvolvimento intelectual do espaço, que afirma que as relações
espaciais topológicas são as primeiras a serem estabelecidas pela
criança, tanto no plano perceptivo como no representativo; e é a partir das
relações topológicas que serão elaboradas as relações projetivas e
euclidianas.
Uma metodologia do mapa não pode se prender unicamente ao processo
perceptivo; também é preciso compreender e explicar o processo
representativo, ou seja, é necessário que o mapa, que é uma representação
espacial, seja abordado de um ângulo que se permita explicar a percepção e
a representação da realidade geográfica como parte de um conjunto maior,
que é o próprio pensamento do sujeito. O processo de mapear não pode se
desenvolver isoladamente, mas deve, sim, ser solidário com todo o
desenvolvimento mental do indivíduo.
Ainda como contribuição para as bases de uma metodologia do mapa, é
apresentado um estudo experimental sobre a transformação da orientação
corporal em orientação geográfica. Partiu-se do pressuposto de que é
necessário que a criança tenha adquirido a noção das relações projetivas de
ordem espacial para iniciar o trabalho com o mapa. Acredita-se que a criança
precisa ser capaz de estabelecer as relações de direita-esquerda e acima-
abaixo, em seu próprio corpo, no corpo de um interlocutor colocado de frente
e entre três objetos em posição horizontal e vertical, para começar a
estabelecer as direções de leste-oeste e norte-sul em uma superfície plana
como o mapa. É preciso que ela seja capaz de conceituar as direções
geográficas de maneira relativa, para poder ler e interpretar o mapa.
Espera-se que o conteúdo aqui exposto possa contribuir para que
geógrafos e educadores reflitam sobre uma metodologia de ensino do mapa.
Os mapas da criança
O estudo de como são os mapas da criança constitui um problema
psicológico. O processo de mapeamento do espaço pelas crianças está
inserido no processo geral do desenvolvimento, e em especial na construção
do espaço. Um exame da literatura revela explicações e experimentos sobre
representação em geral, e em particular sobre a representação espacial. O
mapa é definido, em educação, como um recurso visual a que o professor
deve recorrer para ensinar Geografia e que o aluno deve manipular para
aprender os fenômenos geográficos; ele não é concebido como um meio de
comunicação, nem como uma linguagem que permite ao aluno expressar
espacialmente um conjunto de fatos; não é apresentado ao aluno com uma
solução alternativa de representação espacial de variáveis que possam ser
manipuladas na tomada de decisões e na resolução de problemas.
Para que o mapa seja encarado como representação espacial, torna-se
necessário realizar investigações sobre como as crianças constroem seus
mapas. Pode-se perguntar: mapear resulta simplesmente da atividade
perceptiva ou também da sensório-motora? Ou, mais ainda, de uma
atividade operatória? Apesar de ser um campo fecundo, os mapas da criança
ainda permanecem quase inexplorados e à espera de investigações que
esclareçam o assunto, tanto para psicólogos como para educadores, e
principalmente para os professores.
O mapa é uma forma de comunicação gráfica que precede historicamente
a escrita, podemos inferir que também as crianças se comunicam entre si
através de representações gráficas, as quais podem grosso modo ser
consideradas mapas. Ainda mais, se a graficacia é o primeiro modo de
comunicação entre os seres humanos, justifica-se plenamente o estudo dessa
comunicação entre as crianças, através da evolução da noção de mapa. Essa
comunicação gráfica forçosamente estará em um contexto intelectual, mais
amplo. E, como a história do desenvolvimento intelectual da criança é
acompanhada pela história da socialização progressiva do pensamento
individual da própria criança, a representação espacial gráfica aparece desde
os primórdios de suas atividades sociais. Quando observamos os brinquedos
das crianças, isto é, quando elas jogam em grupos, podemos constatar que
traçam linhas imaginárias ou concretas para delimitar e separar as suas
atividades e os seus territórios.
O jogo é uma das ações concretas pelas quais se processa o
desenvolvimento da criança em seu sentido mais amplo. A atividade lúdica se
apresenta na conduta humana como manifestação espontânea.
O jogo e a imitação, como bem estudou Piaget (1973), são os polos do
equilíbrio intelectual, que implica uma coordenação entre a acomodação,
fonte da imitação, e a assimilação lúdica. A conduta humana se
apresenta sempre como uma adaptação ou mesmo como uma contínua
readaptação. Essa adaptação da criança ao mundo externo é realizada
através dos processos de assimilação do meio e acomodação a ele. Na
perspectiva piagetiana do desenvolvimento mental da criança, o jogo e a
imitação desempenham papel relevante, pois são atividades espontâneas e
que perduram por toda a vida do indivíduo.
O jogo e a imitação são atividades praticamente inseparáveis: a criança
joga imitando e imita jogando. Para compreender os mapas da criança, seria
recomendável estudar principalmente os jogos que incluem atividades
espaciais, observando os jogos usuais que as crianças praticam e as relações
ou noções espaciais por elas estabelecidas.
Os jogos infantis, como amarelinha, roda, bola, esconde-esconde, casinha,
ou “cavernas”, são universais. Essas brincadeiras são atividades que exigem
uma série de requisitos espaciais: representação gráfica concreta ou
imaginária; localização absoluta ou relativa; orientação em termos de
distância e direção; estabelecimento de relações espaciais, tanto topológicas
como projetivas ou euclidianas; enfim, um processo e um padrão espacial de
conduta.
Blaut (1969: 50) considera que as crianças necessitam desenvolver três
habilidades fundamentais que envolvem perceptos ambientais: constância de
forma, de tamanho e padrão de reconhecimento, ou generalização de
significado. Ele acrescenta ainda que, para preparar os mapas mais
sofisticados, o cartógrafo também necessita dessas mesmas habilidades. Por
conseguinte, a constância da forma, através da rotação, é homóloga ao
controle da projeção; a constância do tamanho, através da redução, é
homóloga ao controle da escala; e o padrão de reconhecimento ou
generalização de significado, através da abstração, é homólogo ao
sistema simbólico ou legenda do mapa. Por um lado, escala, projeção e
sistema simbólico são propriedades do mapa, e por outro, a redução, rotação
e abstração correspondem às operações cognitivas. Essas operações são
empregadas universalmente no mapeamento.
Bloom (1969: 29-44) observou padrões de jogos infantis de crianças com
quatro anos de idade em um ambiente microgeográfico, durante um
determinado período de tempo. A área de brinquedo correspondia ao
playground de um jardim de infância em Worcester, eua.
O estudo incluiu quatro elementos que as crianças utilizam para organizar
seu espaço de brinquedo: a) padrões espaciais, compreendendo distribuição
espacial, padrões de agrupamento e organização de leader-follower –
funcionando como a “patota”; b) padrões de exploração, isto é, pontos de
maior atividade, métodos de exploração espacial de territórios desconhecidos
ou novas maneiras de explorar territórios familiares, que se referem aos
aspectos fantasiosos do território; c) difusão da atividade, implicando
dispersão de interesse, sempre que estejam presentes pessoas com
capacidade para inovar e que disponham de objetos que facilitem a
inovação; e d) instrumentos que funcionem como brinquedos, quer sejam
aqueles que são encontrados prontos no comércio ou aqueles preparados
pelas crianças.
Os resultados dessas observações permitiram aventar as seguintes
conclusões: a) em termos de criatividade, uma área de brinquedo com
árvores, elevações, esconderijos naturais e arbustos satisfaz muito mais a
organização do espaço da criança; b) as crianças tendem a se organizar em
grupos de acordo com o brinquedo que realizam; esses grupos são
dinâmicos, transformando-se continuamente, ou às vezes as crianças brincam
individualmente; c) os recursos são usados pelas crianças para serem
aplicados no momento ao brinquedo, não apresentando outro valor senão o
temporal; o uso do espaço e o uso de implementos são quase inconscientes
na perseguição dos objetivos; além disso, cada recurso pode ser usado de
várias maneiras, de acordo com o aspecto-fantasia em que a criança está
envolvida; e d) as crianças, na área disponível para brincar, descrevem
trajetos e movimentos, traçam linhas, enfim, expressam espacialmente seus
padrões de comportamento.
Os trabalhos do grupo da Clark University são tão variados e sugestivos
que poderíamos continuar enumerando-os e descrevendo-os. poderíamos
continuar enumerando-os e descrevendo-os. 85); o objetivo desse estudo foi
conhecer como as crianças percebem e se comportam em um parque público.
Os procedimentos seguidos durante a pesquisa foram os seguintes:
observação de crianças de várias idades durante as atividades de brinquedo,
em um parque público na cidade de Worcester, eua, e entrevistas informais
com as crianças, durante os períodos de observação. Desde a entrada da
criança no parque até a sua saída foram registradas todas as suas atividades
e as respostas dadas às questões da entrevista.
Os resultados foram os seguintes: a) os períodos de pico durante a
semana, comparados com os fins de semana, não revelaram diferença.
Durante a semana predominam as crianças mais velhas, geralmente
desacompanhadas, tagarelando mais e jogando bola, e nos fins de semana
aparecem mais as crianças menores acompanhadas dos pais, as quais se
dedicam a alimentar os patos e se concentram na área do playground;
b) quanto aos padrões de atividade, foram encontrados os seguintes: as
crianças de idade entre 5 e 7 anos procuram mais brincar na balança, no
escorregador, no terreno com areia, correr com os adultos e alimentar os
patos; as de idade entre 8 e 14 anos dedicam-se a andar de bicicleta ao
redor do lago, a concentrarse em determinadas áreas, a caminhar, a
alimentar os patos, a pescar e a fantasias sem estruturações, como, por
exemplo, Robinson Crusoé na ilha. Observou-se que as crianças mais novas
procuram as balanças e os escorregadores, enquanto característica dos
pequenos, procurando realizar atividades mais espontâneas e improvisadas;
c) quanto às atividades peculiares a grupos particulares de idade, pôde-se
verificar que as crianças de 5 a 7 anos usualmente vêm acompanhadas dos
pais e desenvolvem atividades seguindo as sugestões dos adultos, ao passo
que as crianças entre 8 e 14 anos realizam atividades sem estruturações,
inventando brinquedos, desfrutando muito mais do parque, encontrando-se
com outras crianças e formando grupos de brinquedo; d) os lugares de
interação dos grupos foram, em ordem decrescente: o lugar onde os patos
são alimentados, o ponto mais distante do lugar onde os patos são
alimentados, a maior ponte sobre o lago, e a entrada principal do parque. O
parque, de uma maneira geral, é percebido pelas crianças como árvores,
gramados, lago, patos, amigos, brinquedos. Os resultados foram analisados
em termos espaciais, através dos pontos ocupados pelas crianças, das linhas
traçadas, e das áreas descritas em todas as atividades realizadas.
Essa série de pesquisas do grupo da Clark University é rica em sugestões e
principalmente é uma tentativa para elaborar uma teoria que possa explicar
as atividades espaciais da criança.
Diante disso, mas procurando maior clareza e mais detalhes, vamos
focalizar o problema didático do mapa desdobrando-o em suas duas
dimensões: o ensino e a aprendizagem.
O ensino do mapa
É difícil separar o ensino da aprendizagem, pois, sendo fases de um
mesmo processo, a um se segue o outro e um precede sempre o outro. Isso
equivale a dizer que não haverá ensino sem aprendizagem, nem esta sem
aquele. Acrescenta-se ainda que o ensino/aprendizagem sempre se refere a
algum conteúdo.
Inicialmente, podemos descrever os mapas escolares como aqueles que os
professores e os alunos têm possibilidade de manipular. Dentro dessa
concepção ampla, estão incluídos: os mapas murais, os mapas dos atlas
escolares, o próprio globo terrestre e todos os materiais cartográficos.
Como bem acentua Edwards (1968: 87-88), os alunos, quando consultam
os mapas murais, muitas vezes necessitam de assistência do professor,
através de perguntas em uma ordem sequencial predeterminada. O exemplo
citado no artigo é sobre localizações das correntes fluviais: o aluno, para
encontrar no mapa a direção de um determinado rio, necessita de que o
professor lhe explique os termos “nascente” e “foz”, “terras altas” e “terras
baixas”, onde em geral os rios deságuam. Na verdade, o que o professor faz,
pode-se acrescentar, é guiar as respostas das crianças mediante a divisão do
tema em pequenas partes – e, como professora, sei muito bem que dirigir as
respostas dos alunos não é o melhor processo de aprendizagem. Um
professor que utiliza o mapa mural esperando que a criança vá “concretizar”
a ideia de rio ou de cidade, e mesmo de cordilheira (nos mapas em alto
relevo), revela ter um otimismo exagerado sobre aprendizagem em geral, e
sobre mapas em particular. Não se compartilha tal otimismo.
O mesmo se pode afirmar sobre os mapas dos atlas e os cartogramas
temáticos. O mapa é uma representação gráfica da Terra ou de parte dela,
em uma superfície plana. Mas não podemos confundir o mapa, objeto
concreto, com a representação nele contida, que é uma abstração. No caso
do rio, é preciso esclarecer que a criança irá localizar uma linha que
representa um determinado rio e que o mapa não poderá fornecer
informações para que a criança experiencie a noção de rio.
O globo terrestre apresenta a forma como uma qualidade básica, pois é a
melhor e mais correta representação da Terra. Não importa o seu tamanho,
ele sempre representará a superfície toda do planeta: continentes e oceanos
em proporções corretas. Talvez a função mais importante do globo seja
ilustrar os movimentos da Terra e iniciar, desse modo, o ensino do tempo, da
alternância do dia e da noite e das mudanças de estações.
Além dos vários tipos de mapa e globo, devem ser lembrados os materiais
cartográficos que precisam ser incluídos no ensino do mapa.
Esses materiais são aqueles que ou o professor ou os alunos utilizam
quando trabalham com as representações espaciais gráficas. Pode-se citar,
entre alguns desses materiais: os mapas mudos; os contornos de mapas de
diversos materiais, principalmente os plásticos; as transparências para
retroprojetor; os moldes para contornos de mapas; os blocos-diagramas; os
mapas em relevo etc.
As funções e finalidades do uso do mapa na sala de aula são sempre
relativas ao ensino pelo mapa. Dentro dessa abordagem, Thralls (1965)
aponta como objetivos do ensino pelo mapa o desenvolvimento de
habilidades e compreensões, tais como: a) visualizar a paisagem
representada pelos símbolos do mapa; b) compreender os diferentes tipos de
informações; c) estabelecer relações de fatos revelados no mapa; e d)
traduzir para a linguagem dos mapas informações obtidas em pesquisas.
Esses objetivos são tão amplos e vagos que pouco podem auxiliar o professor
em sala de aula.
Como Mettenet (1968: 53-55) bem coloca, todo mapa é quase sempre
uma frustração para aqueles que desconhecem o processo de mapeamento.
Haverá sempre uma distorção no mapa, pois é impossível mostrar ou
desenrolar uma superfície esférica em uma superfície plana; o mapa pode
mostrar as várias combinações entre distância, direção, forma e área, mas
não pode representar os quatro aspectos corretamente ao mesmo tempo.
Como consequência, a função do mapa depende do uso que o professor quer
do mesmo; se o professor não sabe o que quer que o mapa mostre, nenhum
mapa se apresenta como bom: todos serão distorções da realidade.
O valor do mapa está naquilo que o professor se propõe a fazer com ele.
Portanto, o mapa é um instrumento na mão do professor; é um modelo da
realidade que ele aplicará e adaptará às diversas situações e necessidades
que se apresentem durante as suas aulas, durante as suas relações didáticas
com os alunos.
Basicamente, o mapa pode ser usado em sala de aula para atingir os
seguintes objetivos: localizar lugares e aspectos naturais e culturais na
superfície terrestre, tanto em termos absolutos como relativos; mostrar e
comparar as localizações; mostrar tamanhos e formas de aspectos da Terra;
encontrar distância e direções entre lugares; mostrar elevações e escarpas;
visualizar padrões e áreas de distribuição; permitir inferências dos dados
representados; mostrar fluxos, movimentos e difusões de pessoas,
mercadorias e informações; apresentar distribuição dos eventos naturais e
humanos que ocorrem na Terra. Diante desses objetivos, conclui-se que o
mapa não deverá ser planejado para ser usado uma vez ou duas, como em
geral acontece com os cartazes, gravuras ou slides durante o período letivo,
mas para ser usado constantemente.
Nas escolas, mais precisamente no estado de São Paulo, observa-se uma
carência de materiais didáticos, entre eles a de mapas. Quando a escola
dispõe de coleções de mapas, nem sempre os professores as utilizam em
suas aulas. As razões pelas quais não se usam os mapas se prendem a
fatores de várias ordens: a) econômico (a escola não conta com recursos
financeiros suficientes); b) material (a sala de aula não oferece condições
para a exposição dos mapas e os alunos não têm meios para adquirir atlas);
c) tempo (o professor não dispõe de tempo para retirar o material a ser
usado, pois este se encontra guardado em lugares de difícil acesso); d)
administrativo (o diretor não permite o uso porque danifica o mapa, e proíbe
colocar pregos nas paredes); e outros semelhantes.
Todos os autores consultados apresentam as características que devem
reunir um bom mapa para ser usado em sala de aula. Essas características
podem ser resumidas em uma frase: o bom mapa é aquele que apresenta
corretamente o que queremos mostrar. Os critérios básicos para selecionar
um bom mapa são os seguintes: legibilidade, simplicidade e utilidade do
conteúdo ou dos dados. Mas pode-se acrescentar que o mapa, como forma
de comunicação gráfica, precisa transmitir sua mensagem de maneira clara,
rápida e efetiva. Mais importante ainda é que os receptores dessa
mensagem, quando emitida em uma sala de aula, são crianças e
adolescentes que se encontram em diversas etapas de seu desenvolvimento
intelectual.
O problema didático do ensino do mapa, como não poderia deixa de ser,
recai sobre a formação básica do professor. É um truísmo afirmar que o
ensino depende do professor, mas queremos destacar que no tocante ao
mapa é preciso examinar mais de perto a questão.
Por conseguinte, é necessário que se inclua no currículo de formação do
professor a disciplina Cartografia Escolar. Essa cartografia deverá ser mais
voltada para a geografia do que para a matemática. Paralelamente, deverá o
professor contar em sua bagagem profissional com conhecimentos sobre o
desenvolvimento da criança e do adolescente. Para os professores que
trabalham com as classes iniciais, o preparo deveria ser mais cuidadoso; uma
metodologia do ensino do mapa deveria ser desenvolvida ao lado da
Metodologia Geral, tratando o mapa como uma forma de comunicação e de
expressão.
A aprendizagem do mapa
O processo de aprendizagem exige uma participação do sujeito no meio
externo, mediante experiência. Essa experiência pode ser diretamente sobre
os objetos – experiência física –, o que implica uma ação do sujeito no
sentido de descobrir as propriedades de tais objetos. A abstração, aqui, está
presa às propriedades do objeto. A experiência pode ser, também,
indiretamente sobre os objetos – experiência matemática
–, o que implica agir sobre as ações exercidas pelos sujeitos. A abstração,
nesse caso, prende-se não mais às propriedades dos objetos, mas às ações
exercidas sobre eles, isto é, às coordenações das ações, ou ainda às
estruturas mentais do sujeito.
A aprendizagem do mapa depende tanto de experiência física como da
experiência matemática. Na prática, é impossível, em relação ao mapa,
separar o objeto (mapa) da ação exercida pelo sujeito sobre o objeto
(representação espacial). Consequentemente, a aprendizagem do mapa é
um tipo diferente de aprendizagem, em muitos aspectos. O mapa, em
sentido psicológico, apresenta três atributos indissociáveis – redução, rotação
e abstração, que se traduzem na representação.
O representável no mapa caracteriza-se sempre: a) pelo seu tamanho, que
é grande em relação ao organismo daquele que aprende – e mais nítida
ainda é a diferença, considerando-se a criança; b) pela sua forma: pelo fato
de ser curva a superfície da Terra e pela complexidade das formas dos
objetos a serem incluídos na representação – o que se estende a todas as
formas de objetos perceptíveis, eventos, pessoas e relações entre esses
objetos; e c) pelo fato de que os objetos, dada a sua complexidade de
tamanho e forma, não permitem que o sujeito os perceba de uma só vez,
pois o seu organismo encontra-se mergulhado no mundo e não flutuando
sobre ele, exigindo, para aprender sobre o espaço terrestre como um todo,
trabalhar com a sua representação.
A criança, para conhecer um objeto e apreender as suas propriedades,
manipula-o mediante a experiência – tocando, vendo, ouvindo, sacudindo,
enfim, agindo sobre o mesmo. Mas para conhecer o espaço, a criança precisa
movimentar-se dentro dele, locomover-se através dele – espaço esse que
inclui, por sua vez, entidades animadas e inanimadas, e de muitos tipos. A
aprendizagem do espaço é fundamental para a sobrevivência do organismo
humano e, dadas as proporções do espaço terrestre, o homem necessita
manipular esse espaço de forma vicária ou simulada. A conduta espacial
também é diferente. Os eventos que ocorrem no espaço terrestre exigem
esquemas de ação e estratégias comportamentais diferentes das
experiências interpessoais. Eventos como incêndios, chuvas, terremotos ou
desorientação espacial são tão traumáticos quanto as relações humanas que
ocorrem entre grupos de pessoas.
Como mecanismo de sobrevivência, o indivíduo lança mão daquilo que
autores vêm denominando de mapeamento cognitivo. Para Blaut e
Stea (1971: 9-10), o mapa cognitivo é nitidamente mental e é pouco
conhecido do ponto de vista neurofisiológico, enquanto o mapeamento
cognitivo é um conjunto de observáveis de processos mensuráveis.
São reconhecidos dois tipos de mapeamento cognitivo: o icônico e o
linguístico. O mapeamento icônico ocorre em contextos nos quais o map
reader compreende os significados convencionais pelo sistema-sinal, sem
necessidade de tradução especial para outro sistema-sinal, como, por
exemplo, a linguagem escrita. A necessidade dessa tradução é o que
identifica o tipo linguístico. No mapeamento linguístico, o map reader
faz uso de sinais e regras que lhe são significantes somente se ele aprende
os significados convencionais e usa uma legenda, que funciona como um
dicionário.
Em geral, na aprendizagem geográfica de conceitos, o professor segue
dois caminhos: a) através do aumento sucessivo da escala, partindo da sala
de aula para a vizinhança, e daí para o bairro, a cidade, o estado ou a nação,
e assim por diante; ou b) mediante aprendizagem direta de conceitos não
familiares e não percebidos, através de habilidades no manuseio com mapas
e globos.
Ambos os modos têm-se mostrado como caminhos difíceis para as crianças
percorrerem. Assim, a barreira do horizonte entre a percepção do mundo
cotidiano e a representação do mundo geográfico continua como sério
obstáculo para a aprendizagem geral da Geografia, e em particular do mapa.
Na verdade, o obstáculo perceptual no tocante a fato tão óbvio, mas cuja
significação poucos professores consideram, é que a única maneira de
perceber qualquer área geográfica como um todo é vê-la de uma posição
mais alta, e essa perspectiva não é familiar para a criança, nem, talvez, para
muitos professores. Não se pode esquecer que somente no século xx a
humanidade pôde ver áreas da superfície terrestre de posições mais
elevadas, e que a oportunidade de observar a Terra como um todo ainda
está reservada aos tripulantes das viagens espaciais, que se iniciaram a
partir dos anos 1960.
A imagem que os homens tinham da Terra não era construída a partir de
uma percepção física direta, mas sim mediante uma representação deduzida
matematicamente.
E as crianças, além de se defrontarem com esses problemas humanos,
têm outras dificuldades, inerentes ao seu desenvolvimento, ao manipularem
a representação da Terra – fotografias vistas de satélites, fotografias aéreas
de porções terrestres, mapas e globos. A aprendizagem do mapa repousa,
consequentemente, entre a percepção dos observáveis geográficos e a
representação gráfica dos mesmos – entre o mapeamento icônico e o
linguístico.
O enfoque piagetiano pode contribuir em muito para resolver o problema
didático do mapa, principalmente em sala de aula. É na sala de aula que se
pode começar a investigar experimentalmente como as crianças manipulam
os mapas e quais os mecanismos por elas utilizados para trabalhar com eles.
Realização do estudo
O propósito da pesquisa sobre as relações projetivas de ordem espacial foi
estudar as suas aplicações à leitura do mapa, admitindo que, se
historicamente há evidências de que o homem tenha relacionado a sua
orientação corporal com referenciais externos para obter uma orientação
geográfica que lhe permitisse sobreviver no passado e viver de maneira
participante no presente, também deveria haver evidências psicológicas
dessa transformação. Além disso, supôs-se que essa transformação
psicológica ocorresse de maneira progressiva, por etapas, acompanhando o
desenvolvimento intelectual da construção do espaço pela criança, além de
que também haveria uma correlação entre as noções de direita/esquerda e
leste/oeste, e das noções de acima/abaixo e norte/sul; e essa correlação
permitiria à criança aprender a leitura de mapas.
O estudo foi realizado, em 1974/75, na cidade de Rio Claro. Todas as
crianças matriculadas no antigo primeiro grau dos 15 estabelecimentos de
ensino pertencentes à rede estadual oficial constituíram inicialmente a
população do estudo. Essas 15 escolas englobavam os antigos grupos
escolares, ginásios e o Instituto de Educação. Este último, dadas as
características originais, foi excluído da população da pesquisa.
Procedimentos
A população incluiu os 9.384 alunos do período diurno que frequentavam
as 14 escolas, da primeira à oitava série, e com idades variando entre 6 e 23
anos. Todas essas escolas tinham traços comuns, por serem públicas:
formação básica do corpo docente, programas de ensino, calendário escolar,
estrutura administrativa e, além disso, estudos locais revelaram que existia
certa homogeneidade na população escolar da cidade de Rio Claro, no
sentido de que a distribuição dos alunos quanto ao sexo e idade não oferecia
diferenças significativas entre as diversas escolas; a mesma observação é
válida em relação ao nível socioeconômico. Essa homogeneidade das
unidades da população – alunos em cada grupo de idade – permitiu trabalhar
com uma amostra relativamente pequena e conservar sua
representatividade. Foi adotada também a seleção randômica dos sujeitos,
bem como uma listagem precisa e detalhada da população. As informações
necessárias sobre as crianças (nome, data de nascimento, sexo, série, classe
e período – diurno ou noturno) foram obtidas dos livros de matrícula e/ou
fichas escolares. O mês de outubro de 1974 foi fixado como data limite para
os cálculos de idade.
Quanto à distribuição da população das 14 escolas por idade e série,
observou-se uma característica comum a todas as séries no que se refere à
idade; essa característica evidencia um número maior de alunos de uma
determinada idade em cada série. Em outras palavras, cada série apresenta
uma classe modal referente à idade, que no conjunto constitui uma faixa
modal.
Com base nesses dados e com assessoramento especializado em técnicas
de amostragem, decidiu-se que a população da pesquisa ficaria integrada
pelos alunos da faixa modal. Essa decisão permitiu que as duas variáveis,
idade e série, pudessem ser controladas simultaneamente; e também
permitiu reduzir a população de 9.384 alunos para 3.612, sem sacrificar os
critérios de representatividade.
Dos 3.612 alunos que compunham a população, 578 serviram como
população da pesquisa piloto. Portanto, a população propriamente dita da
pesquisa ficou constituída por 3.005 crianças, o que representava 38% dos
7.958 matriculados nas 12 escolas (as duas escolas utilizadas para realizar a
pesquisa piloto foram excluídas da pesquisa). Dos 3.005 sujeitos, 1.494 eram
meninos (49,71%) e 1.511 eram meninas (50,28%).
Amostra
A amostra ficou constituída por 321 crianças, que representavam 10,68%
da população total (3.005), e consequentemente de cada estrato, isto é, de
cada série e grupo de idade de meninos e meninas. Os nomes das crianças
foram ordenados por ordem alfabética, separando-se os meninos das
meninas, considerando a idade e a série. Um total de 16 listas foi preparado
como resultado dessa ordenação. A seleção randômica dos 321 alunos que
integrariam a amostra da pesquisa – 160 meninos e 161 meninas –
processou-se através da aplicação da Tábua de Acaso para cada grupo
integrante dos diferentes estratos de idade e série. Em uma amostra
randômica, cada unidade tem igual chance de ser escolhida, e a seleção de
uma criança não tem efeito sobre a seleção de qualquer outra. Como medida
de precaução, foi sorteado, em cada estrato, um número predeterminado de
alunos suplentes, que formariam parte da pesquisa caso algum dos titulares
estivesse ausente da escola no dia da aplicação das provas, ou tivesse
desistido de estudar.
O último passo consistiu em preparar uma lista para cada escola – 12
alunos – com nome, sexo, idade, série e classe dos alunos sorteados para
integrar a amostra de 321 crianças. Essas listas foram utilizadas pelas
aplicadoras para facilitar o controle das provas, no sentido de assegurar que
fossem aplicadas aos alunos sorteados.
Pesquisa piloto
A pesquisa piloto foi realizada com a finalidade de caracterizar a
população quanto ao problema a ser investigado; testar as provas; verificar o
questionário quanto à formulação das questões e reações das crianças;
preparar as aplicadoras para que se familiarizassem com as provas e com o
material a ser utilizado; e estimar o tempo necessário para a aplicação das
provas.
O Grupo Escolar “Marcelo Schmidt” (da primeira à quarta série) e o Colégio
Estadual “Professor João Batista Leme” (da quinta à oitava série) foram
sorteados ao acaso, entre as 14 escolas, para constituírem a população do
estudo piloto. Esses dois estabelecimentos de ensino (14% do total dos 14)
tinham 1.426 alunos, que representavam 15% do total dos 9.384 alunos
desse estudo, sendo 717 meninos e 709 meninas. A população da pesquisa
piloto ficou constituída por 578 sujeitos, 41% do total de 1.426 alunos, sendo
280 meninos e 298 meninas. Para que a amostra da pesquisa piloto seja
representativa da população, Chochran (1965: 152-60) recomenda que o seu
tamanho esteja entre 10 e 20%. O procedimento que se descreve a seguir foi
utilizado para selecionar a amostra da população piloto: os 578 sujeitos
foram separados por sexo, sendo listados por ordem alfabética os meninos e
as meninas, de acordo com a série e a idade. Uma vez calculado o número
de sujeitos, procedeu-se à seleção randômica dos alunos, através da
aplicação da Tábua de Acaso. A composição da amostra era 56 meninos e 60
meninas.
Instrumento de medida
Para verificar as noções projetivas de ordem espacial, foram preparadas
três provas, cada uma delas dividida em três seções. A prova A, referente às
noções de direita e esquerda, foi organizada de acordo com as propostas
apresentadas por Piaget, ao estudar a lógica das relações. As provas B e C
foram preparadas pelo grupo organizador da pesquisa também considerando
os passos propostos por Piaget nas provas de direita e esquerda.
Na primeira seção, solicita-se à criança que designe, em relação ao seu
próprio corpo, as noções de direita e esquerda, acima e abaixo, leste e oeste,
norte e sul. Na segunda seção, a criança indica as mesmas noções, mas
agora em relação à aplicadora, isto é, ao corpo do interlocutor colocado de
frente para o sujeito. Finalmente, a terceira seção compreendeu duas séries
de questões que solicitavam à criança a indicação da posição relativa de três
objetos colocados na sua frente. Para a primeira série de questões, os três
objetos permaneciam descobertos durante as provas, enquanto na segunda
série, a aplicadora, após trocar os objetos, cobria-os com uma folha de papel.
Coleta de dados
As provas que compunham o instrumento de medida foram aplicadas
durante a segunda quinzena de outubro de 1974 – nas 12 escolas – aos 321
alunos que integram a amostra da pesquisa. Para isso contou-se com a
colaboração dos diretores e professores, e
principalmentedascrianças.Graçasaessacolaboração,foipossívelaplicarasprovasd
operíododeaulas,eemumasalaisoladaeapropriadaparaexaminarindividualmente
criança. A aplicação das provas – a cada criança – durou em média 20
minutos, e esteve a
cargodeoitoaplicadoras:seisdelaseramalunasdaFaculdadedeFilosofia,CiênciaseL
de Rio Claro, e as outras duas já eram licenciadas.Todas as aplicadoras
foram previamente preparadas em várias sessões práticas, supervisionadas
pela pesquisadora, e foi solicitado que seguissem estritamente as instruções
das provas, a fim de assegurar uniformidade na aplicação e permitir a
comparação dos resultados.
Cada aplicadora recebeu uma caixa contendo o material necessário para a
aplicação das provas, e os formulários de instruções, de respostas e de
informações. Nos formulários de informações foram registrados os dados
pessoais da criança, incluindo data de nascimento e as médias das notas
bimestrais de Português, Matemática e Estudos Sociais ou Geografia. Antes
de começar as provas, a aplicadora cumprimentava afetuosamente as
crianças e se apresentava, a fim de estabelecer um bom relacionamento. Às
crianças mais novas, dizia que iam participar de alguns jogos; às crianças
mais velhas, que tinham sido escolhidas para participar de uma pesquisa. Um
ponto importante que foi esclarecido a todos os alunos teve a ver com o
caráter extracurricular das provas, isto é, que elas não iriam pesar na
avaliação final da escola. Durante as provas, a aplicadora tomou precauções
no sentido de se certificar de que a criança escutou as suas instruções e
prestou atenção ao material. Como se pode constatar, o experimento foi
conduzido em condições que procuraram manter a objetividade e a
uniformidade.
Técnica de análise
Na correção dos protocolos utilizou-se o critério de atribuição de pontos
previamente descritos. Os pontos obtidos nos diferentes itens de cada uma
das provas serviram de base para a classificação por estágios. Além da
classificação das crianças por estágio, empregaram-se as seguintes técnicas:
cálculo de porcentagem dos itens acertados pelas crianças nas diferentes
provas; cálculo das porcentagens brutas e acumuladas para facilitar a
comparação do desempenho das crianças em cada prova, de acordo com a
idade, e para computar as idades médias e as idades de acesso aos
diferentes estágios; cálculo das médias das notas de cada criança, partindo
das notas bimestrais de Português, Matemática e Estudos Sociais ou
Geografia; cálculo do coeficiente de contingência C para determinar a relação
entre as noções de direita/ esquerda e leste/oeste e entre as noções de
acima/abaixo e norte/sul.
Resultados
Piaget considera que uma questão é bem-sucedida em determinada idade
quando não menos de 75% das crianças respondem corretamente a ela.
Laurendeau e Pinard, por outro lado, consideram mais legítimo ser uma
questão bem-sucedida quando não menos de 50% respondem corretamente
a ela; entre as várias razões apresentadas para a escolha desse critério, está
a que se refere à determinação da idade de acesso aos diferentes estágios.
Observou-se que, quando se aplica o critério de 50%, as crianças respondem
corretamente a todos os itens das quatro provas de um ano antes (13 anos),
o que não acontece quando se aplica o critério de 75%; isso quer dizer que a
idade do acesso aos estágios ocorre mais cedo.
Para Piaget, a idade com que a criança responde acertadamente aos itens
não é o mais importante; o que importa é que seja observada a ordem
sequencial dos estágios. Os resultados confirmam que isso aconteceu com as
crianças de Rio Claro, apesar de começarem com uma idade cronológica mais
avançada.
É por isso que concordou-se com a proposição de Laurendeau e Pinard, de
começar quando 50% das crianças alcançam as noções de ordem espacial
para introduzir o ensino do mapa.
Os resultados permitiram extrair conclusões gerais que interessam ao
ensino/ aprendizagem do mapa. Pode-se considerar que crianças entre 7 e 8
anos resolvem o primeiro problema referente à designação das relações
projetivas de um ponto de vista próprio, neste caso, o da criança; as idades
entre 8 e 9 anos, como aquelas em que a criança é capaz de solucionar o
segundo problema, isto é, estabelecer as relações projetivas do ponto de
vista de outra pessoa colocada de frente para as crianças; e, finalmente, as
idades de 10 e 11 anos como aquelas nas quais os alunos dispõem de
estruturas mentais espaciais que lhes permitem a descentração, isto é,
estabelecer as relações projetivas de ordem espacial de outros pontos de
vista além do próprio, e do interlocutor entre objetos descobertos e mesmo
cobertos.
Os resultados descritos até agora se referem aos desempenhos das
crianças de acordo com as idades cronológicas. Outro aspecto que foi
considerado importante estudar foi o rendimento escolar das crianças de
cada grupo de idade em relação à realização alcançada em cada prova. O
rendimento escolar de cada um dos alunos representa o resultado das
médias das notas obtidas pelos mesmos durante os três primeiros bimestres
do ano, nas disciplinas de Língua Pátria, Matemática e Estudos Sociais, nas
séries do antigo curso primário; e Português, Matemática e Geografia, no
antigo ginasial.
Referentes aos rendimentos escolares das crianças de 7, 8 e 9 anos,
observa-se uma correspondência entre as médias e os estágios. As crianças,
no estágio I, apresentam as médias mais baixas em todas as provas, e o
contrário acontece com as que se acham no estágio III, as quais apresentam
também, em todas as provas, as médias mais altas. A partir do grupo de
idade de 10 anos, observam-se mudanças nesse padrão, no seguinte sentido:
a) diminuem as diferenças entre as médias; b) existem inversões, isto é,
médias mais altas no estágio I que no II; e c) em algumas provas as crianças
se agrupam somente nos estágios II e III.
Como foi dito anteriormente, supôs-se que existisse uma correlação entre
as noções de direita/esquerda e de leste/oeste, e entre as noções de
acima/abaixo e de norte/sul. Os resultados confirmam as suposições, e pode-
se afirmar que existe uma associação entre as noções de direita/esquerda e
de leste/oeste, e entre as noções de acima/abaixo e de norte/sul. A
correlação entre as noções de direita/esquerda e de leste/oeste explica por
que a criança primeiro relacionou seu sistema corporal de orientação com o
Sol, antes de estabelecer outros tipos de relações.
Conclusões
A seguir, algumas conclusões extraídas desse estudo metodológico e
cognitivo do mapa serão apresentadas. Conclusões que não podem ser
pensadas isoladamente, porque, ao contrário, elas constituem um conjunto
concatenado de proposições e decorrências.
Nota
[*] O capítulo originou-se da tese de livre-docência Estudo metodológico e cognitivo do
mapa, que foi apresentada no Departamento de Geografia e Planejamento do Instituto de Geociências e
Ciências Exatas da Unesp, campus Rio Claro, 1978.
[1] Piaget e seus colaboradores, há meio século, vêm desenvolvendo trabalhos teóricos e experimentais sobre
epistemologia, lógica, psicologia, filosofia, biologia e história das ciências. O Grupo de Genebra destaca-se
principalmente nos estudos sobre psicologia e epistemologia genéticas. Os trabalhos sobre o desenvolvimento
mental da criança abrangem todos os aspectos cognitivos, como espaço, número, linguagem, tempo,
causalidade, memória, estruturas mentais e outros.
[2] Bärbel Inhelder, Vinh-Bang, Constance Kamii, Edouard Rappe du Cher, Germaine Duparc, Lucy Banks-Leite,
entrevistas mantidas durante minha visita à Faculté de Psychologie et des Sciences de L’Education, Université
de Genève, junho-julho, 1976.
[3] Original inglês: “There is nothing which so keenly enlivens and excites as maps. They are the salt of
schools; and the teacher is dull indeed if they do not savour the other food”.
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PARA CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO
GEOGRÁFICO NA CRIANÇA
Tomoko Iyda Paganelli
a) saber orientar-se no espaço, isto é, saber, de acordo com um plano dado, encontrar um
lugar preciso na cidade e no campo; b) saber expressar-se: saber traçar a planta de um
povoado, de uma casa, de uma rua, de uma granja e de um jardim.
O programa levantava indagações sobre as condições necessárias para a
realização dessas atividades, tarefas que pressupõem conhecer sobre o
plano, a planta, mapas e escalas, mesmo que intuitivamente.
Sabem os alunos ler um “plano”, uma planta, um mapa? Expressar-se
graficamente também é um processo a ser construído. Desenhar uma casa,
uma rua, uma granja, um jardim ou a planta de um povoado exige
abstrações empíricas e reflexivas, coordenação de ponto de vista, em que
relações e operações topológicas, projetivas e/ou euclidianas devem ser
acionadas.
Os programas das primeiras séries escolares apresentavam certa
universalidade na ênfase do estudo do bairro, da localidade e do município,
ficando para as duas séries seguintes o estudo do estado, e muitas vezes do
Brasil. Os mapas utilizados para “concretização” do espaço enfocado já
apresentam abstrações na seletividade dos fenômenos, nem sempre
realizado pelas crianças nos espaços mais próximos. O bairro e a cidade –
realidade dinâmica e múltipla aos olhos da criança – passam a ser uma
pequena superfície delimitada ou mesmo desaparecem em mapas de escalas
menores.
Segundo Piaget (1972), o espaço representativo operatório constitui-se
definitivamente por volta dos 9 e 10 anos. O quadro 1 a seguir apresenta as
idades aproximadas, em que as operações e conservações se “equilibram”,
segundo dados das pesquisas realizadas por Piaget e seus colaboradores.
Poucos estudos foram realizados no Brasil sobre as operações
espaciaise o ensino da primeira à quarta série do ensino fundamental.
Aqueles realizados com base na teoria piagetiana dedicavam-se à analise das
operações lógicas, tanto em crianças como em adultos de baixa escolaridade
(até a década de 1980). Os guias curriculares indicavam que se fizesse a
passagem do local ao distante, sem considerar etapas da construção do
conhecimento, do desenvolvimento espacial e gráfico do espaço.
Os professores conhecem o espaço em que a criança se locomove? Sabem
interpretar os dados obtidos? Poderá o aluno debruçar-se, de maneira
compreensiva, sobre a planta ou mapa da cidade sem ter dominado o
processo de passagem do tridimensional ao bidimensional ou vice-versa? Até
que ponto a escola e os professores “inconscientemente” alienam o aluno de
seu próprio espaço, de sua realidade vivida? Não estarão, dessa maneira,
criando condições de negar sua realidade, criando condições para o não
questionamento das raízes de uma organização espacial discriminatória,
desumana ou mesmo subumana?
Buscou-se analisar o papel da percepção e locomoção no
espaço geográfico local no processo de operacionalização das
relações espaciais, por meio do desenho de um espaço urbano percorrido
pelas crianças. Com isso pretendeu-se chegar a um diagnóstico sobre o tipo
de conhecimento e domínio desse espaço por criança em faixa etária, na qual
pressupõe-se a equilibração das relações espaciais no nível das
operações concretas, uma vez que no nível formal essas operações não
diferem das operações formais do pensamento hipotético-dedutivo.
No estudo realizado foram testadas três hipóteses:
As relações espaciais
Piaget distingue, a partir da geometria contemporânea, três tipos principais de
relações espaciais:
Procedimentos metodológicos
“Há uma idade em que se ensina o que se sabe: mas
vem em seguida outra, em que se ensina o que não se
sabe: isso se chama pesquisar.” Barthes, Aula 89.
Os instrumentos da pesquisa
Quatro séries de instrumentos foram preparadas para o trabalho:
Resultados e conclusões
Optou-se por comentar alguns resultados de maior interesse para este
livro, dada a quantidade de dados levantados e sistematizados pela
pesquisa.
A representação do espaço
“O que conta na representação é o prefixo re-
presentação; implica uma retomada ativa do que se
apresenta; logo, uma atividade e uma unidade que se
distingue da passividade e da diversidade da
sensibilidade... É a própria representação que se define
como conhecimento, isto é, como uma síntese do que se
apresenta.” Deleuze, Para ler Kant.
Notas
[*] Este capítulo foi originado dePara a construção do espaço geográfico na criança,
dissertação de mestrado apresentada no Departamento de Psicologia da Educação do Instituto de Estudos
Avançados em Educação da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1982.
[1] Citado por R. Dottrens, Como mejorar los programas escolares, Buenos Aires, Ed. Kapeluz, 1961, pp. 28-9.
[2] Procurou-se, de posse das sínteses parciais dos resultados, trabalhar estatisticamente os resultados obtidos
para confirmação ou não das hipóteses. Utilizou-se, no tratamento estatístico, testes não-paramétricos para
verificação das hipóteses formuladas.
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O MAPA COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO E A ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA
Maria Elena Simielli
A comunicação cartográfica
Cartografia e comunicação
A cartografia, ao longo de sua existência, sofreu várias transformações
quanto à concepção, área de abrangência, competência e evolução
tecnológica. Pelas definições de cartografia, pode-se notar essa evolução de
forma bastante nítida. As primeiras definições colocam a cartografia como
disciplina cujo objeto é a representação da Terra.
Outras definições apresentam a cartografia como arte, na qual a
preocupação com a estética do mapa é fator primordial, evoluindo
posteriormente para a cartografia como técnica, em que a função do
cartógrafo ficou restrita a simples confecção dos mapas.
Algumas definições das décadas de 1970 e 1980 apresentam outros
elementos
– criação e uso de mapas –, enfocando importantes modificações ocorridas
na cartografia nesse período. Assim, segundo a Associação Cartográfica
Internacional, em seu Multilingual Dictionary (1973), a cartografia
é definida como teoria, técnica e prática de duas esferas de interesse: a
criação e o uso dos mapas.
As primeiras definições ora colocavam a cartografia como arte, ora como
técnica ou as duas em conjunto, porém a preocupação com o usuário do
mapa ou mesmo a menção sobre a utilização do mapa só vai aparecer, pela
primeira vez, nas definições encontradas, em 1996, pela Associação
Cartográfica Internacional, que, posteriormente, apresentou essa definição
anterior, mais simplificada.
Essas modificações no tratamento da cartografia retratam os diferentes
enfoques pelos quais essa disciplina passou nas décadas de 1970 e 1980.
Assim, como propõem alguns autores, a cartografia passa a se preocupar
com o usuário do mapa, com a mensagem transmitida e com a eficiência do
mapa como meio de comunicação.
Essas preocupações mantêm-se vivas na década de 1990 e no início do
século xxi, ampliadas pelo uso de computadores e o grande avanço
tecnológico em que a cartografia foi inserida, passando a preocupar-se com a
visualização cartográfica.
A comunicação cartográfica é analisada basicamente pelo tripé:
cartógrafo, mapa e usuário, daí a referência à teoria geral da comunicação
(figura 1).
Linguagem cartográfica
Na vida moderna, é cada dia mais notória e importante a utilização de
mapas; portanto, cada vez mais, o trabalho do cartógrafo deve ser baseado
nas necessidades e interesses dos usuários dos mapas. Por isso mesmo o
cartógrafo deve conhecer subjetivamente o indivíduo que vai utilizar os
mapas.
Fundamentalmente, isso nos leva a destacar a importância da criação de
uma linguagem cartográfica que seja realmente eficiente para que o mapa
atinja os objetivos a que se propõe.
Para tanto é necessário que o cartógrafo esteja capacitado a manipular da
maneira mais completa possível as informações iniciais sobre o mundo real,
generalizá-las e transformá-las em informações cartográficas, através de uma
linguagem cartográfica adequada, que por sua vez engloba a confecção e o
uso do mapa num só processo – o processo da comunicação da informação
cartográfica.
O mapa como meio de comunicação será realmente eficiente se esse
processo não for interrompido, ou seja, o uso de uma linguagem cartográfica
válida tanto para a transmissão da informação como para leitura ou consumo
do mapa.
A linguagem cartográfica adquire maior importância a partir do momento
em que o cartógrafo, já tendo realizado a observação seletiva da realidade e
já tendo produzido um efeito informativo no cartógrafo, transforma esse
modelo intelectual multidimensional (da realidade) numa forma intelectual
de informação cartográfica. É graças aos símbolos dessa linguagem que o
cartógrafo materializa a sua informação intelectual.
Estabelecer essa linguagem é uma grande responsabilidade para o
cartógrafo, pois o mapa não se baseia em uma “convenção” qualquer.
Ao pensar no mapa como transmissor de informações, deve-se ter em
mente os princípios da comunicação em cartografia. Se os mapas são
veículos no processo de comunicação, mediante símbolos cartográficos, é
preciso apresentar a informação adequadamente e, para tanto, conhecer as
regras da comunicação e assim expressar como dizer o quê?, como? e
para quem?.
Para se entender plenamente a linguagem cartográfica, é preciso destacar
aqui a importância da semiótica, ciência geral de todas as linguagens, mais
especialmente dos signos. O signo é algo que representa o seu próprio
objeto. Ele só é signo se tiver o poder de representar esse objeto, colocar-se
no lugar dele, e, então, ele só pode representar esse objeto de um certo
modo e com uma certa capacidade. O signo só pode representar seu objeto
para um intérprete, produzindo na mente deste um outro signo, considerando
o fato de que o significado de um signo é outro signo (figura 6).
O signo possui dois aspectos: o significante e o significado. O significante
constitui-se no aspecto concreto (material) do signo. Ele é audível e/ou
legível. O significado é o aspecto imaterial, conceitual do signo. O plano do
significante é o da expressão e o plano do significado é o do conteúdo. Esses
aspectos levam à significação que seria o produto final da relação entre os
dois.
A relação entre palavras e coisas é determinada pela necessidade de
designar as coisas pelas palavras. Disso deriva que o signo é sempre
arbitrário e seu significado é estabelecido simplesmente por uma convenção.
Por isso o signo é representativo, ocupando o lugar das coisas e não nas
coisas.
Leitura de mapas
O sucesso do uso do mapa repousa na sua eficácia quanto à transmissão
da informação espacial, sendo o ideal dessa transmissão a obtenção, pelo
leitor, da totalidade da informação contida no mapa.
É necessário aqui cuidar da subjetividade da percepção da informação
cartográfica, pois diferentes leitores obtêm diferentes tipos de informação a
partir dos mapas. Para Salichtchev isso ocorre não pela subjetividade da
percepção da informação cartográfica em si, ou da sua percepção, mas pelo
grau diferente de extração de informação dos leitores do mapa.
Nos modelos de comunicação cartográfica analisados nesse capítulo
destacase Kolacny, que se preocupou, de forma mais evidente, com a leitura
de mapas. Kolacny focaliza o retorno à realidade mapeada através do mapa,
apresentando todas as circunstâncias que envolvem tal processo, ou seja:
condições externas, processos psicológicos, habilidades e propriedades,
conhecimento e experiência, necessidades, interesses e objetivos, que,
agindo no “Conteúdo da mente do usuário”, permite um retorno à
“Realidade” através da “Realidade do usuário”, a qual coincidirá em parte
com a “Realidade do cartógrafo”, sendo, evidentemente, menor que a
“Realidade”, no sentido mais amplo. Sanchez (1981) analisa:
Para cada item do teste foi atribuído um ponto – quando a resposta era
correta, não ocorrendo uma situação de meio certo, portanto meio ponto,
uma vez que não havia outra alternativa em termos de respostas. Assim, o
total de pontos possível de ser obtido por cada aluno seria 10.
Representações cartográficas
As representações cartográficas são feitas a partir de elementos básicos,
que são: ponto, linha e área. Parte-se de desenhos mais elementares, mais
simples, do cotidiano da criança. Em um primeiro momento, representam-se
elementos como: copo de água, apontador, estojo escolar, enfim, elementos
que a criança tenha no seu cotidiano. Somente a partir daí iremos para áreas
maiores, ou seja, as fotos aéreas, com as quais a criança fará os diferentes
desenhos numa primeira etapa, simplesmente olhando o que tem na foto e
passando essa imagem para o espaço bidimensional; em uma segunda
etapa, ela fará a transposição desses diferentes espaços, fazendo a sua
representação cartográfica através de seleção dos elementos que ela tem na
foto.
As representações, portanto, partirão de elementos bastante simples do
dia a dia para as fotografias aéreas e posteriormente espaços mais amplos,
tais como a cidade, o estado e posteriormente o país.
Estruturação da legenda
Este item também é bastante problemático, perdendo em grau de
dificuldade apenas para as noções de tridimensão e bidimensão na
alfabetização cartográfica. O professor, para executá-lo, deverá ter como
base algumas noções que são fundamentais, principalmente: observação,
identificação, hierarquia, seleção e agrupamento na representação.
Para se trabalhar com a estruturação da legenda, deve-se inicialmente
observar e identificar os elementos da foto. Num segundo momento,
hierarquizar, selecionar, generalizar e agrupar o que se está trabalhando.
Num terceiro momento, faz-se a representação. Para essa noção,
estruturação da legenda, parte-se do mais simples, quando a criança
desenha os elementos em que trabalha no seu dia a dia, até os mais
complexos. Só então se pode estabelecer uma legenda a partir de fotografias
aéreas, com vários momentos a serem transpostos.
Proporção e escala
Para chegar a ter o conceito de escala, deve-se inicialmente trabalhar com
a noção de proporção, o que se pode começar a partir da 1ª série, em
desenhos nos quais a criança vai representar elementos em diferentes
tamanhos. O professor deverá sempre trabalhar com papel quadriculado de
várias proporções, para que a criança possa adquirir a percepção de que um
objeto pode ser desenhado em diversos tamanhos.
O professor deve trabalhar com a noção de proporção e somente na 3ª
série, com a introdução do sistema métrico, é que ele irá começar a dar ao
aluno subsídios para que da 5ª à 8ª série ele possa efetivamente entender
escala.
Lateralidade, referências e orientação espacial
Embora se considere que os itens mais problemáticos para trabalhar a
alfabetização cartográfica sejam a imagem tridimensional e a bidimensional,
aquela em que os professores têm demonstrado maior índice de dificuldade
quando da elaboração de representações em diferentes cursos em que
ministro no Brasil tem sido o da lateralidade, referência e orientação
espacial.
O conceito de orientação espacial deve, antes de qualquer coisa, ser
trabalhado pelas noções de lateralidade e referências. Muitas vezes, o
problema do aluno não está na orientação espacial e sim nas noções que
antecedem esse conceito, ou seja, nas noções de lateralidade e referências.
Outro problema que o aluno enfrenta no aprendizado dessas noções é que o
professor trabalha muitas vezes, logo no início, no espaço bidimensional,
quando na realidade esse item deveria ser trabalhado no espaço
tridimensional, e somente após o aluno ter efetivo domínio das referências e
de lateralidade. Nesse momento, devem-se trabalhar as relações topológicas,
as projetivas e as euclidianas.
Nota
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São Paulo.
METODOLOGIA PARA INTRODUZIR A GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL
Janine G. Le Sann
Hipóteses discutidas
Alunos e professores de Geografia apresentam dificuldades no aprendizado
da noção de escala. É sobre esse tema que trata este capítulo.[*] O
esquecimento do conceito e das operações com escalas podem ser
evidenciados, de um semestre para outro, tanto por parte dos alunos quanto
por parte dos professores. Dados de pesquisa do Ministério da Educação e
Cultura do Brasil (mec) revelaram, em 1985, uma alta ocorrência de
reprovações no final das duas primeiras séries do Ensino Fundamental
(49,5%). A partir desse fato, levantou-se a seguinte hipótese: as noções
básicas referentes ao aprendizado formal, em particular da Geografia, na
escola brasileira, não são corretamente trabalhadas.
Na Europa da década de 1980, no contexto do chamado “pensamento
educativo contemporâneo”, diversos pesquisadores discutiram esses
problemas e apontaram soluções.[1] A principal hipótese da pesquisa
descrita aqui originou-se das constatações desses especialistas: os métodos
educativos deveriam ser adequados à criança, considerada um ser em
evolução permanente no decorrer de sua vida escolar, o que pressupõe
necessidades e aptidões em constante mutação.
A semiologia gráfica e o tratamento gráfico da informação foram temas
dos trabalhos de Bertin e Gimeno e mostraram que a aquisição de
conhecimentos passa pela observação e pela organização lógica do
pensamento. Esses trabalhos fundamentaram uma hipótese da tese: a
semiologia gráfica e o tratamento gráfico da informação são instrumentos
privilegiados para o ensino, em geral, e para o ensino da Geografia, em
particular. Em síntese, a hipótese fundamental da tese pode ser assim
formulada: os problemas de assimilação observados nos estudantes e
professores e os problemas de adaptação dos alunos nas primeiras séries
(hoje, primeiro ciclo) do Ensino Fundamental teriam a mesma origem, a
saber: uma descontinuidade no processo de assimilação de certas noções ou
conceitos, para os adultos, e uma descontinuidade entre os saberes
socioculturais prévios das crianças e o nível conceitual dos Programas da
primeira série.
Objetivos
Foram formulados nove objetivos de pesquisa:
1. Verificar as condições materiais do trabalho dos professores de Geografia;
2. Verificar a aquisição de algumas noções prévias ao estudo da Geografia
pelos alunos de 5ª série;
3. Verificar a aquisição de algumas noções lógico-matemáticas pelos
estudantes do curso de Geografia da ufmg;
4. Resgatar as etapas da evolução psicogenética de crianças de 7 a 10-11 anos
de idade, a partir da teoria de Piaget;
5. Determinar os principais grupos de conceitos contidos nos Programas
oficiais de ensino da Geografia, em Minas Gerais, da 1ª à 8ª série do ensino
fundamental;
6. Analisar a participação das diferentes ciências, que intervêm no processo de
ensino-aprendizagem do saber geográfico;
7. Propor um material pedagógico para o ensino de algumas noções ou
cadeias de noções, em função da evolução psicogenética das crianças;
8. Testar esse material em salas de aula de três escolas diferentes, com
alunos de níveis sociais diferentes;
9. A partir dos resultados obtidos e de sua análise, estruturar um material
“evolutivo” para o ensino de algumas noções geográficas, nas primeiras
séries do ensino fundamental, no Brasil.
Pedagogia
“Todos nós
precisamos de
sua sabedoria.
Você tem algo
para mostrar:
você possui
uma
inteligência do
mundo, uma
sensibilidade
para a vida que
é só sua. Você
precisa
comunicá-la.
Nenhuma
desistência será
aceita, porque
não queremos
perder nada do
que é e merece
ser.”
Antoine de la
Garanderie,
Les profils
pédagogiques.
Nos anos 1980, na Europa, discutia-se o “Problema Educacional
Contemporâneo”. A ideia central dos debates focalizava-se na necessidade
da participação efetiva do aluno no processo de aprendizado. A ideia não era
nova. Alain, no livro Propos sur l’éducation, já recomendava a
participação efetiva do aluno: “Há muito tempo estou cansado de ouvir que
um é inteligente, o outro não [...] cada um tem a inteligência que quer [...].
Vontade, mas prefiro dizer trabalho, eis o que falta” (1932: 62-3).
Clarapède (1921), Montessori (1935), Wallon (1951), Decroly, Freinet,
Piaget (1935, 1965) já escreveram a respeito do espaço que o professor deve
deixar para o pensamento da criança. A revolução tecnológica ofuscou esses
pensadores com as técnicas de ensino programado (Montmollin, 1975).
Por que ideias como as de Clarapède (apud Ulmann, 1982), tão
claramente expostas na citação a seguir, parecem não ser entendidas pelos
professores?
O objetivo da educação deve ser o desenvolvimento das funções intelectuais e morais mais do
que encher a cabeça de uma massa de conhecimentos que (quando não são esquecidos)
permanecem, na maioria dos casos, conhecimentos mortos, alojados na memória como corpos
estranhos, sem ligação com a vida. (1921: 43)
Psicopedagogia
“A educação
tradicional
sempre tratou a
criança como
um pequeno
adulto, como
um ser que
sente e pensa
como nós, mas
sem
conhecimento e
sem
experiência.
Assim, sendo a
criança,
apenas, um
adulto
ignorante, a
tarefa do
educador
objetivava
enchê-lo de
conhecimentos,
no lugar de
formar-lhe o
pensamento.
Os
conhecimentos
trazidos de fora
deveriam ser
suficientes [...].
À nova escola
importa,
fundamentalmente,
saber qual é a
estrutura do
pensamento da
criança e quais
são as relações
entre a
mentalidade
infantil e a de
um adulto.”
Piaget,
Psychologie
et
Pédagogie
Em seus trabalhos, Piaget nunca se referiu à Geografia.Todavia, uma
leitura atenta de sua obra traz elementos preciosos para uma reflexão sobre
o ensino dessa disciplina. O primeiro é a base fundamental do pensamento
piagetiano, a saber, os estágios de desenvolvimento e estruturação do
pensamento da criança e do adolescente. Em pesquisas feitas na África
(Goze, 1976; Dasen, 1978; Salem, 1979; Guilleron, 1980) observou-se a
ordem dos estágios descrita por Piaget, mas com uma defasagem nas faixas
etárias. Essa mesma defasagem foi observada nas crianças brasileiras.
Pensando na estruturação de noções ligadas ao espaço, extrai-se do
pensamento piagetiano:
1. No decorrer do período sensório-motor, a criança de 0 a 2 anos descobre o
meio em que vive, povoado de seres e objetos móveis, ou não, num espaço
cuja exploração ela está começando;
2. No período seguinte, ela prepara e organiza as operações concretas. Essa
fase é dividida em dois tempos: o das representações pré-operatórias e o
das operações concretas (2 a 6-7 e 7-8 a 11-12 anos de idade, nas crianças
suíças observadas por Piaget);
a. No decorrer do primeiro tempo, a criança transforma suas percepções e os
movimentos num sistema de conceitos e esquemas mentais. É a fase da
evocação simbólica, constituída de imagens mentais de realidades ausentes:
É a situação das crianças entre 9-10 e 11-12 anos de idade, que estão
finalizando a estruturação dos sistemas ligados ao espaço e ao tempo,
passando das operações simples às operações complexas.
A criança alcança o período das operações formais quando pode
distanciarse do concreto para encontrar soluções para os problemas lógico-
matemáticos e espaço-temporais a partir da formação de hipóteses, cujos
resultados ela testa sistematicamente: o pensamento formal é,
essencialmente, hipotético-dedutivo. Isto é, o adolescente, diferentemente
da criança, pode desenvolver raciocínios abstratos e deduzir leis a partir de
experiências organizadas sistematicamente. Ele é capaz de emitir hipóteses,
de testá-las e de deduzir leis.
Esse fato pode explicar uma das causas dos problemas de aprendizado da
noção de escala. Faltaria uma (ou mais) estrutura que possibilitasse aos
estudantes a reconstrução das soluções para os problemas encontrados com
o conceito de escala. “O materialmente possível depende então do
estruturalmente possível” (Piaget, 1955: 230).
A principal aplicação pedagógica da psicologia genética é a lição de que
uma criança pode compreender (apreender = pegar, com = consigo) apenas
o que lhe é acessível por meio das estruturas mentais que já elaborou. Não
adianta querer que uma criança, nas primeiras séries do ensino fundamental,
entenda o ciclo das estações do ano a partir do movimento de translação da
Terra. Com certeza o assunto a instiga muito, porém, não está pronta para
entender o mecanismo que requer um raciocínio abstrato. Uma
representação teatral, na qual terá um papel concreto, ativo, na
representação do Sol, da Terra e de seu movimento, poderá proporcionarlhe
uma percepção aproximada do fenômeno. Todavia, o entendimento racional
não acontecerá. Isso acontece com muitas noções trabalhadas em sala de
aula e o fato escapa à percepção dos professores. A etapa não foi vencida e
as consequências aparecerão mais tarde, quando a memória vier a falhar.
Semiologia gráfica
A criança poderá dominar uma ferramenta e um método que o instrumentalizarão para abordar
com segurança um conjunto cada vez maior, cada vez mais complexo de dados sobre o
mundo que o cerca para descobrir-lhe a estrutura interna e suas relações. (1980: 11)
Os conceitos e a Geografia
Grande parte da obra de Piaget tem por tema a construção conceitual, na
criança e no adolescente. Esse autor reconheceu diversos níveis de
assimilação conceitual. O primeiro nível é intuitivo e se transforma, aos
poucos, em saber-fazer ou esquema de ação “equivalentes funcionais dos
conceitos, mas sem pensamento nem representação; são conceitos práticos”.
Mais do que o conceito, o psicólogo procura o processo, e, em geral, o
geógrafo procura o conceito através do processo. Por exemplo, a análise de
dados geomorfológicos de um lugar possibilita a definição de sua filiação a
tal categoria ou a tal conceito.
Barth (1987) recomenda tornar o conhecimento transmissível e, para
tanto, “delimitar o conteúdo no que é essencial para um dado público,
estruturá-lo numa hierarquia formal”. A delimitação do conteúdo é tarefa do
professor. Todavia, Piaget lembra que o conteúdo deve ser adaptado ao
aluno em função de sua maturidade. Barth, lembrando Bruner (A study
of thinking, 1956), reafirma que um “conceito não existe isoladamente,
mas sempre pertence a uma rede conceitual”, o que corresponde às árvores
conceituais de Piaget.
Em síntese, a construção de um conceito acontece em etapas diversas: da
percepção à imagem mental ou, ainda, às imagens mentais organizadas, das
quais o aluno tira um elemento central que contém significado, a “ideia geral
abstrata” (Larousse) ou a “etiqueta” (Bruner). Barth lembra o “caminho
intelectual que deve ser percorrido para adquirir o conceito”. Todavia esse
autor não esclarece o que seria esse caminho intelectual. O ato pedagógico
da transmissão do saber foi estudado por Garanderie, mais especificamente,
no nível das operações mentais do aluno. Na figura 1 propõe-se uma síntese
das etapas do ato de aprender.
São professores das universidades e professores dos ensinos fundamental e médio que
realizam pesquisa-ação. Não existe corte entre pesquisadores universitários e campo de
pesquisa na escola. Os professores dos ensinos Fundamental e Médio são atores do ensino, os
observadores de seus alunos, aqueles que experimentam e avaliam. No início, esses
professores não possuem as competências teóricas reconhecidas nos universitários: são as
equipes que vão, rapidamente, na ação concreta (1983: 200).
Conceitos estudados
O primeiro conceito escolhido foi o de escala, por ser um conceito
estruturador da geografia. Conceito de alto nível de abstração, sua gênese é
particularmente complexa e, por isso, precisa ser trabalhado por etapas ao
longo do currículo dos ensinos fundamental e médio. O conceito de escala é
formado por duas vertentes complementares, construídas paralelamente: as
noções de proporção não quantificada e de quantidade.
O conceito de espaço é a essência da Geografia. Sua construção começa
pela localização da criança no seu espaço de vida, conceito intermediário na
elaboração de espaço.
Os conceitos de localização e de espaço pertencem ao universo das noções
infralógicas – quantidade e escala – e ao das operações lógico-matemáticas.
A construção conceitual
Wittwer (1964) identificou quatro aspectos diferentes numa mesma
criança: o biológico, o social, o psicológico e o epistêmico. Esse último
envolve as características cognitivas da criança e a liga às demais, no mesmo
nível de desenvolvimento. É nesse aspecto que o aluno é identificado num
determinado nível operatório e no qual assimila os conceitos. Esses quatro
aspectos evoluem concomitantemente. Sanner observa que:
aprender não é um dado isolado! É um processo, cujos diferentes momentos mobilizam não
apenas o ser atual do aluno, o sistema cultural e o contexto científico, ou não, que ele traz,
mas também sua história, ou seja, da criança que foi, com seus potenciais biológicos,
epistêmicos e o meio no qual vive [...] (1983: 89).
As noções infralógicas
Piaget demonstrou que as noções ligadas ao espaço são topológicas,
projetivas e, finalmente, euclidianas. As evoluções psicogenéticas das noções
de localização, de espaço e de escala são descritas no livro A
representação do espaço pela criança (1947). Da percepção
egocêntrica das noções topológicas à estruturação de sistemas de referência,
por meio das mudanças de ponto de vista, as representações espaciais
amadurecem, na criança, até a superação do espaço euclidiano. O
entendimento do sistema de coordenadas desenvolve a percepção do espaço
com suas características matemáticas, através de paralelas, da conservação
dos ângulos, das proporções, das noções de distância e de ângulos retos.
O desenho de Lívia, menina de 7 anos de idade, ilustra bem o caminho a
ser percorrido, da representação topológica (na qual as posições estão
registradas) à representação euclidiana (a planta do bairro) (figura 4). O
prédio da escola está no centro do espaço a ser representado; os outros
elementos do espaço giram em torno desse centro. A passagem para a
representação, em planta, levará algum tempo.
Considerações finais
Refletindo sobre as principais conclusões da tese, defendida há mais de
quinze anos, percebe-se que muitas, ainda, são atuais. Após essa pesquisa,
reconhece-se como fundamentados os seguintes postulados:
1. A inteligência é construída pelo indivíduo ao longo de sua vida, mas,
principalmente, em idade da escolaridade formal fundamental. É necessário
e urgente repensar o ensino fundamental no Brasil. Seus objetivos
específicos foram esquecidos e alterados. As estruturas do pensamento, do
raciocínio, precisam ser trabalhadas, assim como os hábitos de estudo, de
pesquisa e de postura;
2. Existe uma ordem lógica na aquisição do conhecimento. Os conceitos são
interligados e estruturam-se dependentes uns dos outros. Esse fato é
fundamental na estruturação de uma grade curricular;
3. Qualquer um pode aprender. Todos têm o direito de aprender, consideradas
suas necessidades e potencialidades individuais;
4. A postura do professor e a avaliação escolar, baseadas no negativo
(tirarpontos), precisam ser mudadas para a avaliação do progresso, do
positivo, ou seja, a escola precisa operar uma “mudança de ponto de vista”,
no sentido piagetiano;
5. A criança passa por fases de amadurecimento cognitivo que precisam ser
reconhecidas e respeitadas;
6. A construção de habilidades (saber-fazer) alicerça a construção conceitual.
Na estruturação dos conceitos fundantes da geografia, a noção de
localização antecede à de espaço. A localização é o conjunto das
características de um ponto preciso no espaço. A noção de espaço é suporte
para qualquer estudo geográfico: não há geografia sem espaço, assim como
não há escala sem espaço. A escala precisa ser abordada, primeiramente, em
sua dimensão comparativa: o conhecimento geográfico nasce das
comparações. As comparações introduzem a dimensão temporal.
A coleção de fichas está sendo utilizada em redes de ensino particular. A
edição de 2005, revista e corrigida, tem o nome A caminho da
geografia.
[*] Neste capítulo, apresentamos de forma resumida a tese intitulada Elaboração de um material
pedagógico para o aprendizado de noções geográficas de base, no Ensino
Fundamental, no Brasil: uma proposta baseada em teorias da Geografia,
da Pedagogia, da Psicologia e da Semiologia Gráfica, que foi defendida em dezembro
de 1989, na École des Hautes Études en Sciences Sociales (ehess), em Paris. Os orientadores foram os
doutores Jean-Pierre Raison e Serge Bonin (coorientador). O texto original está depositado no Banco Nacional
de Teses da França. Os dois volumes que a compõem aprentam 269 e 182 páginas, respectivamente.
Diversos artigos foram publicados na Revista Geografia e Ensino (Le Sann, 1992 a e b), da ufmg,
no Caderno de Geografia (Le Sann, 1993), da puc-mg. O volume das fichas foi publicado pela Editora
Dimensão (Le Sann, 2001). Está, em 2006, na terceira edição.
[1] Ver entre outros: Ulmann, Rogers, Neill e Groupe Français D’Education Nouvelle.
[2] Ver: M. M. Duarte dos Santos e J. G. Le Sann, A cartografia do livro didático de geografia, Revista
Geografia e ensino, Belo Horizonte, 2 (3): 3-38, jun. 1985.
[3] Casa corresponde ao encontro de uma coluna com uma barra, ou seja, um quadrado; nó, ao de uma linha
vertical com uma linha horizontal: um ponto.
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Instrumento de Apoyo para la Mobilidad Espacial del Ciego”, ambos com apoio financeiro do Instituto
Panamericano de Geografia e História – ipgh.
[2] Equipe composta pelos pesquisadores: Waldirene R. do Carmo, técnica responsável pelo lemadi; Carla G.
Sena, doutoranda em Geografia Física; Aline A. Bittencourt e Marcelo Machado, graduandos em Geografia,
fflch/usp. Atualmente, participam também alunos e alunas do Curso de Lazer e Turismo da each/ usp, Campus
Leste.
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LUXTON, K. The New York mtaTactual Subway Project:
“Pensando
bem, um mapa
é algo
impossível”,
disse Mathew
(um
comandante de
navio), “porque
transforma algo
elevado em
algo plano”.
Sten Nadolny,
A
descoberta
da
lentidão.
Com a experiência no ensino de Geografia, notei grandes dificuldades dos
alunos para entender os mapas geográficos. Depois, ao lidar com a formação
de professores na disciplina Prática de Ensino para o curso de Licenciatura
em Geografia (Unesp), constatei a quase inexistência de publicações sobre a
representação espacial, o que indicava a necessidade de se realizar estudos
sobre esse tema. Decidi, então, que a construção da noção de espaço e sua
representação deveriam ser estudadas, o que resultou na publicação do livro
O espaço geográfico: ensino e representação (Almeida e
Passini, 1989).
Continuei a estudar o assunto na tese de doutoramento, na qual
apresentei uma orientação metodológica para o ensino de conceitos
cartográficos fundamentada na representação espacial pela criança. A
preocupação principal consistiu em saber como proceder no processo de
ensino para que o aluno pudesse construir formas de representação gráfica
do espaço, com vistas a posterior leitura e compreensão de mapas.
Elaborei um conjunto de situações de ensino, nas quais os alunos
deveriam lidar com problemas com o fim de mobilizá-los na direção de
noções cartográficas (escalas, localização, projeção no plano e legenda). A
proposta, inicialmente, foi organizada em três fases, sendo que cada uma
delas aborda as mesmas noções cartográficas, porém em níveis mais
complexos.
A primeira fase, “iniciação cartográfica”, foi detalhada e submetida a uma
avaliação em turmas do ensino fundamental. Hoje, sabe-se que a
complexidade das condições de ensino nas escolas pede um delineamento de
pesquisa que também leve em conta perspectivas como os saberes e as
práticas dos professores.
Selecionei do texto da tese os pressupostos teórico-metodológicos, a
pesquisa em sala de aula e seus resultados para serem apresentados neste
capítulo, porque parte da tese já foi publicada em outro livro (Almeida,
2002).[*]*
Pressupostos
Desde o início do século xx, o estudo da capacidade humana de localizar-
se e criar registros que facilitem a localização tem aproximado geografia e
psicologia, na tentativa de responder questões relativas ao domínio humano
sobre o espaço.
O estudo realizado por Hardy (1939) a respeito dos povos descritos em
obras sobre colonização traz uma revisão histórica da geografia desde a
Antiguidade, considerando-a como uma revisão psicológica dos povos e seu
ambiente. O autor apresenta a ideia da “paisagem psicológica dos povos”
como uma etnografia das paisagens.
Já um trabalho mais antigo, porém mais avançado, foi realizado por
Cornetz (1914), o qual relata um estudo sobre o senso de direção entre
nativos do Saara tunisiano. O autor constatou que a visão e a audição são
essenciais para o senso de direção.
Estudos mais recentes apontam que o domínio do espaço pelo homem é
influenciado por fatores psicofisiológicos bem como socioculturais. O trabalho
de Marie Germaine Pêcheux (1990) analisa a hipótese de que as experiências
espaciais e suas consequências são as mesmas para todos os homens. Após
uma discussão detalhada dos diversos aspectos que essas ideias envolvem,
Pêcheux apresenta um quadro do desenvolvimento das relações da criança
com o espaço, levando em conta, simultaneamente, as práticas da criança e
as práticas espaciais das sociedades humanas. A interação entre fatores
biológicos e sociais é essencial no desenvolvimento do domínio espacial do
indivíduo. No entanto, as performances espaciais individuais variam muito. A
autora pergunta, então, que componentes influem na variabilidade das
performances espaciais? E qual a trajetória do desenvolvimento dessas
performances?
Essas questões foram objeto de estudo de diversos pesquisadores na área
da psicologia, os quais tiveram como preocupação saber como se desenvolve
a compreensão das informações espaciais no homem. Os mecanismos
perceptivos são considerados básicos. Pêcheux trata de três modalidades
sensoriais: a visão, a audição e a propriocepção em relação ao tato.
Após discutir diversas pesquisas sobre a influência da visão e da audição
nas percepções do espaço, Pêcheux conclui que a percepção auditiva do
espaço é difícil de ser dissociada da percepção visual e das percepções
cinestésicas. A audição é considerada uma modalidade muito importante na
percepção da direção e da distância. Não serão detalhados esses aspectos,
uma vez que interessam especialmente aos estudos da percepção espacial
em crianças muito pequenas. A leitura da obra de Pêcheux, a qual apresenta
uma sequência de quadros que detalham o desenvolvimento motor e da
locomoção, da preensão e da precisão espaço-temporal dos movimentos,
todos referentes aos primeiros 24 meses de vida, é esclarecedora.
O trecho anterior ressalta a importância do sistema sensório-motor na
organização psicológica do espaço. As progressivas aquisições em nível
corporal ampliam o domínio do espaço, e a postura influi na apreensão das
informações sobre o entorno. Dessa forma, estabelecem-se, desde o início,
referenciais espaciais com relação ao próprio sujeito. Chega-se, então, ao
esquema corporal, cujo papel na organização espacial demanda certo
aprofundamento.
A noção de esquema corporal foi inicialmente elaborada por Schilder, que
a definiu como “unidade do corpo vivido, conhecido e utilizado nas relações
do sujeito com o mundo exterior”.[1] Essa noção é bastante complexa, razão
pela qual diversos pesquisadores têm formulado sua própria conceituação de
esquema corporal. Le Boulch (s.d.: 37) o definiu como: “intuição global ou
conhecimento imediato de nosso corpo, seja em estado de repouso ou em
movimento, em função da inter-relação com o espaço e os objetos que nos
rodeiam”.
Já Lurçat (Wallon e Lurçat, 1962: 1-33) apresenta uma concepção do
esquema corporal extraída de um trabalho que realizou com H. Wallon: o
esquema corporal não coincide com o corpo anatômico, mas há nele relações
de diversas ordens (no espaço, no espaço postural e no ambiente) e que no
estudo do esquema corporal devem ser levadas em conta as posições do
corpo no espaço, com relação aos objetos e às pessoas.
Lurçat estudou as relações entre o esquema corporal e o espaço sob a
perspectiva do desenvolvimento infantil, contribuindo para o entendimento
das relações espaciais e de suas implicações na lateralização, localização e
orientação. A autora adverte que o meio ambiente é “lateralizado” a partir
dos vetores do esquema corporal: frente/atrás, direita/esquerda,
acima/abaixo. Segundo ela, os lados direito e esquerdo são percebidos
simultaneamente pela criança, porém frente/atrás não, pois a passagem da
frente para trás supõe uma conversão. No esquema corporal, há uma
polarização do campo superior e da frente devido aos movimentos de
alimentação e à ação dos órgãos faciais. Lurçat constatou que o
amadurecimento da lateralidade ocorre pela projeção gradativa do esquema
corporal, primeiro do eixo frente/atrás, depois esquerda/direita.
Lurçat aborda um aspecto do conhecimento do espaço pela criança que é
a referência no objeto. A orientação espacial apresenta modalidades
específicas que dependem da linguagem e do meio ambiente. Na
familiarização com o espaço convergem duas fontes de conhecimento
interligadas que são: a atividade através da manipulação dos objetos e do
deslocamento, e o meio familiar, no qual a designação dos objetos e dos
lugares está impregnada de sentidos e valores próprios como crenças,
castigos e proibições. Apresentaremos, agora, as conclusões de Lurçat sobre
a relação entre o esquema corporal e a lateralização, pois elucidam algumas
de nossas constatações relatadas adiante.
A autora afirma que “o conhecimento do corpo procede do conhecimento
do espaço e ao mesmo tempo o torna possível” (Luçart, 1979: 23). A
projeção do esquema corporal como sistema de referência no espaço pode
tomar as formas de radiação ou de transferência. Na radiação, os planos
e eixos relativos ao esquema corporal determinam as orientações do espaço.
Na transferência relativa a um objeto, a organização dependerá desse
ser ou não ser orientado, e poderá ocorrer por translação, rotação ou
reflexão.
Lurçat também verificou que a projeção do esquema corporal ocorre de
modos diferentes, uma vez que se considerem lugares, seres vivos e objetos.
Os lugaresrecebem a projeção da lateralidade do sujeito; por exemplo,
quando se diz “2º piso à direita” (direita do sujeito). No caso dosseres
vivos, ocorre obrigatoriamente uma transposição, exigindo uma análise da
posição desse ser vivo em relação ao sujeito, para determinar o que está à
sua direita (do ser vivo), à sua esquerda etc. Quanto aos objetos, ocorrem
as mesmas operações anteriormente citadas.
Nos mecanismos de projeção dos referenciais do esquema corporal, o eixo
frente/ atrás determina o eixo esquerda/direita, o que os torna
necessariamente vinculados. É bom lembrar que há polarização do campo
superior e da frente devido à locomoção, à alimentação e à ação dos órgãos
faciais. As complicações nesse processo ocorrem porque há objetos que
possuem uma parte anterior e uma posterior, porém há outros que não as
possuem. Nesse caso, elas podem ser determinadas pelo uso, não
apresentando uma lateralidade definida.
Percebeu-se, então, a grande importância da atividade sensório-motora na
construção do espaço pela criança, e sua relação com o esquema corporal.
Este consiste no centro de referência sobre o qual será estabelecido o
domínio do espaço. Podemos perguntar se nossa cultura tira todo proveito
possível dessas constatações, pois na escola valoriza-se mais a inércia do
que o movimento.
Constatou-se ainda que a motricidade é a geradora da ordem espacial, a
qual se desenvolve com a idade. No entanto, a construção da representação
do espaço ocorre lentamente. Piaget atribui à ação um papel crucial no
desenvolvimento cognitivo. É através dela que são mobilizados os esquemas
adquiridos e os dados perceptivos são postos em relação.
A representação do espaço
A teoria que Jean Piaget, com o apoio de uma equipe de pesquisadores,
construiu permanece como aporte teórico fundamental para estudos sobre a
representação do espaço, principalmente porque trata da construção do
espaço matemático pela criança (relações topológicas, projetivas e
euclidianas), sobre a qual o espaço cartográfico se apoia. Para não repetir o
conteúdo do livro Do desenho ao mapa, serão citados pontos pouco
explorados da obra mais específica de Piaget sobre o assunto, escrita com
Barbel Inhelder: La Représentation de l’Espace chez
l’Enfant (1981),[2] enfocando aspectos que ainda não constam dos
capítulos anteriores deste livro.
A primeira parte dessa obra trata das relações topológicas elementares.
Os autores afirmam que a principal dificuldade na investigação do espaço se
refere ao fato de a construção das relações espaciais ocorrer em dois planos:
o plano perceptivo ou sensório-motor e o plano
representativo ou intelectual. O objetivo da obra é estudar o
desenvolvimento do espaço representativo, o qual se constrói a partir das
conquistas do espaço sensório-motor.
Sobre o espaço perceptivo destacam-se os aspectos que parecem ser mais
importantes para entender a construção do espaço representativo. O que
caracteriza o espaço perceptivo são as relações espaciais elementares, sendo
que a principal é a de vizinhança (elementos percebidos dentro de um
mesmo campo). A partir dela surgem as demais relações espaciais
elementares: separação, ordem (que se refere a percepções ordenadas tanto
no espaço como no tempo), circunscrição (envolvimento) e continuidade.
Seráporvoltados7-
8anosquesurgirãoestruturasdoespaçointelectual.Noentanto, este e o espaço
perceptivo são construídos com base na motricidade. Esta foi, aliás, a fonte
das percepções espaciais mais elementares e é, também, a fonte das
operações.
Na busca da reconstrução genética do espaço representativo (dissociar a
percepção e a representação), os autores, primeiro, fizeram um estudo sobre
o desenho, que foi usado porque confirma o predomínio das relações
topológicas antes da criança atingir as formas euclidianas de representação.
O estudo sobre o desenho infantil apresentado por Piaget apoiou-se nas
fases do desenho infantil de Luquet (1935).[3]
Nos capítulos subsequentes, Piaget e Inhelder tratam das relações
elementares de ordem, envolvimento e continuidade. A relação de
ordemfoi estudada entre crianças de 3 a 7 anos, às quais solicitaram que
ordenassem contas segundo um modelo linear ou
cíclico(umcolaremformade8).Aevoluçãodascorrespondênciasdeordemobservada
experimentomostrou-
secontínua,partindodesemelhançasdebaseperceptiva,atéatingir a operação de
ordem em sentido direto e inverso. Ela supõe a vizinhança, a separação e um
sentido constante de percurso. Nesse processo, a coordenação motora parece
ter um papel decisivo. A noção de ordem depende, então, da intervenção de
dois fatores: o restabelecimento das vizinhanças deslocadas pela separação e
a escolha de um percurso entre dois sentidos, que deve ser mantido sem
oscilação.
O envolvimento foi estudado através de uma sequência de nós
verdadeiros e falsos que a criança deveria identificar e reproduzir. A evolução
do envolvimento pode ser assim resumida: durante o estádio II as ações
descobertas no estádio I interiorizam-se em representações intuitivas e
articulam-se aos poucos.[4] A operação constrói-se com a representação
tridimensional da ação, possibilitando, finalmente, a reprodução do nó.
A noção de continuidade foi estudada através de um experimento em
que a criança era solicitada a dividir um quadrado em partes cada vez
menores e, num segundo momento, reconstituir uma linha a partir de vários
pontos. Concluem que “enquanto separação intelectual (e não mais
perceptiva ou intuitiva) dos pontos vizinhos, as operações de divisão
encontram no contínuo sua expressão generalizada e realizam a conciliação
entre as relações de vizinhança e de separação. Enquanto preenchendo as
vizinhanças de cada ponto, o contínuo permite às operações de ordem e de
envolvimento encontrar também sua forma geral aplicável às linhas,
superfícies e espaços em três dimensões, e fornece igualmente um
fundamento racional às suas manifestações intuitivas, das quais vimos a
precocidade a propósito das relações de fronteira” (Piaget e Inhelder, 1993:
163).
O espaço projetivo constitui o objeto da segunda parte do livro em
questão. A esse respeito destaca-se que a principal diferença entre as
relações topológicas e as relações projetivas e euclidianas está no modo de
coordenação das figuras entre si. O espaço topológico é interior a cada figura
e exprime suas propriedades intrínsecas, não há um espaço total que inclua
todas as figuras. Trata-se de uma análise de cada objeto considerado em si
mesmo, faltando um sistema de conjunto que organize todos os objetos em
uma única estrutura.
No espaço projetivo e no espaço euclidiano, ao contrário, os objetos são
situados uns em relação aos outros através de projeções ou perspectivas e
de coordenadas. Por isso, as estruturas projetivas e euclidianas são mais
complexas e de elaboração mais tardia.
Os autores abordaram o espaço projetivo a partir da construção da reta
projetiva e, em seguida, da projeção das sombras, das coordenações do
conjunto de perspectivas, das secções e, no último capítulo sobre esse
assunto, trataram do rebatimento de superfícies.
A descrição da gênese da reta projetiva foi feita a partir da ação de
“mirar” e de analisar a construção de perspectivas elementares. No
experimento realizado, os autores pediram às crianças que alinhassem
postes (fósforos plantados em uma rodela de massa de modelar) sobre uma
mesa quadrada ou retangular e uma mesa redonda. Os palitos
representavam postes que deveriam plantar para construir uma linha
telefônica bem reta ao longo de uma estrada também reta. O
experimentador plantava o primeiro e o último poste e pedia à criança para
plantar os demais. Constataram que, acima dos 5 anos, as crianças
apresentam reações intermediárias entre relações topológicas e projetivas; a
criança descobre que a visão não é a mesma de diferentes pontos de vista,
descobrindo a reta projetiva através da operação da “mirada”. Nessa
operação, a criança mira o último poste a partir do primeiro e alinha os
demais segundo esse ponto de vista. Há, pois, o início da coordenação de
pontos de vista. Por volta de 7 anos, surgem condutas de “miradas”,
chegando à reta euclidiana como o trajeto mais curto entre dois
pontos.
Os autores destacam que existem duas espécies de representações
espaciais: uma intuitiva, que não passa de uma imitação interior (imagem
mental), favorecida ou inibida pelas configurações perceptivas
(características dos estádios I e II A); outra fundada nas operações, não mais
submetida à influência perceptiva. A partir do estádio III, pode-se falar em
reta projetiva em oposição à linha topológica dos estádios anteriores. A linha
topológica apresenta características de ordem, de sucessão etc., ordenados
sob apenas um ponto de vista, que se sucede segundo a relação frente/atrás,
podendo dar lugar a linhas curvas. Já a reta projetiva, em oposição às curvas,
é a única linha que conserva sua forma, qualquer que seja o ponto de vista.
Ainda sobre a construção da perspectiva, realizaram um experimento para
verificar a representação de objetos isolados, sob vários pontos de vista.
Solicitaram às crianças que antecipassem sob que forma aparente um objeto,
colocado em diversas posições, deveria se apresentar.
Tomando o conjunto dos dois experimentos acima, os autores constataram
três fatos quanto à construção do espaço projetivo. O primeiro fato é a
construção da reta projetiva, o segundo refere-se à compreensão da lei das
transformações perspectivas, e o terceiro é a descoberta do ponto
de vista próprio.
Ainda sobre o espaço projetivo, Piaget e Inhelder investigaram o
relacionamento das perspectivas. Apoiaram esse estudo nas posições dos
objetos, uns em relação aos outros, e cada um em relação a diversos
observadores. São estudadas as relações frente/ atrás e direita/esquerda
(relações de ordem). Como técnica de estudo, eles utilizaram um maciço com
três montanhas que poderiam ser distinguidas por terem cores diferentes e
por apresentarem detalhes distintivos, como pico com neve, nascente etc.
Foram entrevistadas 100 crianças com idades entre 4 e 12 anos. A seguir, um
resumo dos resultados desse estudo.
No subestádio II A (4 a 5-6 anos) ocorre o seguinte: na primeira técnica,
quando o sujeito passa da posição A para a posição B e pode reproduzir,
através dos cartões, sua visão atual de B e sua visão anterior de A, ele
consegue coordenar uma intuição perceptiva e uma intuição representativa.
No entanto, como ainda não consegue antecipar uma perspectiva diferente
da sua, apresenta uma perspectiva espacial não descentralizada. No
comentário final sobre a primeira técnica, os autores consideram que a ilusão
egocêntrica impede as crianças desse estádio de inverter as relações de
esquerda e direita, de frente ou atrás etc., para mudar as perspectivas de
acordo com as mudanças do ponto de vista.
Segundo Lurçat, o desenvolvimento da lateralidade pode estar relacionado
com a coordenação da perspectiva, uma vez que somente aos 8-9 anos a
criança reconhece, com precisão, direita e esquerda no próprio corpo, não
podendo, pois, coordenar esses referenciais, para determinar perspectivas,
antes dessa idade, que corresponde ao estádio III.
Com relação às crianças do subestádio II A, as do nível II B apresentam
um progresso
queconsisteempreverqueumobservadoremumaposiçãodiferentedasuaveráosobj
de outra maneira. É apenas no subestádio III A que as crianças passam a
compreender que as mudanças de posição implicam transformações nas
relações internas do maciço. Porém, ainda ocorrem “erros residuais”, que se
referem às relações de esquerda e direita, uma vez que as relações frente e
atrás são modificadas com maior facilidade, tornando-se reversíveis mais
rapidamente do que esquerda e direita.
Retomando, mais uma vez, os estudos de Lurçat, julga-se pertinente
colocar a seguinte questão: a razão não estaria também no processo de
passagem do espaço postural ao espaço circundante, durante a qual se
realiza a construção do esquema corporal? Sabemos que os estudos de
Lurçat foram posteriores aos de Piaget e que seguiram outro eixo teórico,
porém a relação entre ambos amplia o entendimento de como o ser humano
desenvolve relações espaciais.
No subestádio III B, a correspondência entre as posições do observador e
as perspectivas assumidas torna-sebiunívoca, o que indica o
aparecimento de um esquema operatório de natureza antecipadora. Nesse
nível, conclui-se a construção das operações de coordenação de perspectivas.
Isso se dá devido, primeiro, à correspondência, para cada posição do
observador, de um sistema de relações esquerda/direita e frente/ atrás entre
as montanhas. E, segundo, devido à correspondência entre cada posição de
um observador (uma perspectiva) e a dos demais observadores, que se
traduz por uma transformação determinada das relações de esquerda e de
direita ou de frente e de trás.[5]
Ainda sobre a representação do espaço projetivo, Piaget e Inhelder
desenvolveram uma investigação sobre secções de volumes geométricos por
um plano através de um experimento, usando sólidos geométricos feitos de
massa de modelar, que eram cortados por uma faca larga e plana (fazendo a
vez de um plano). As crianças deveriam antecipar a secção a ser feita pela
faca no sólido através de um desenho que indicasse como o sólido ficaria
após o corte. Ao incluírem o corte feito pelo plano, os autores puderam
verificar a interação das operações euclidianas (um plano que corta o volume
do sólido) e das operações projetivas, que consistem em imaginar o sólido
sob certa perspectiva.
As crianças menores desenharam a superfície do corte considerando, e ao
mesmo tempo o conjunto do volume e a secção feita, representando-a com
uma “mistura de pontos de vista”. As crianças maiores já mostravam, no
desenho, uma representação mais sistemática do corte em relação ao sólido.
Verificaram ainda que a representação das superfícies de secção constitui
uma abstração que supõe a atividade do sujeito, pois implica não só a
intervenção de duas espécies de ações (uma relativa ao objeto e outra
relativa ao ponto de vista), mas também o relacionamento desses dois tipos
de ações ou operações.
Nos desenhos de crianças de 7-9 anos aparecem “transparências” e
“rebatimentos” que não podem ser considerados traços de representação
projetiva, mas são ainda traços da intuição topológica de envolvimento a três
dimensões. A análise da evolução desses aspectos foi objeto de mais um
experimento, no qual os autores pediam às crianças que desenhassem
volumes geométricos (um cubo, um cilindro, um cone e uma pirâmide) como
se tivessem sido desdobrados sobre um plano.
Antes de passarmos aos comentários dos resultados desse experimento,
gostaríamos de destacar um trecho muito curioso: “mas no caso do cubo
encontramos, às vezes desde os 6 anos e meio a 7 anos, isto é, desde os
inícios do estádio III A, sujeitos excepcionais que, em razão ou de aptidões
particulares ou de hábitos escolares (dobraduras, construção etc.),
encontram a solução exata” (Piaget e Inhelder, 1993: 307-8).
Esse trecho nos leva a pensar que os procedimentos usados no ensino
podem favorecer, ou não, a construção de um tipo de pensamento mais
avançado.
Piaget e Inhelder notaram que no subestádio II A, em relação à
representação com rebatimento e desenvolvimento de figuras, o desenho do
volume não desenvolvido e o do mesmo volume desenvolvido permanecem
idênticos. Falta para essas crianças a experiência das ações de dobrar e
desdobrar. Já no subestádio II B há um início de diferenciação de pontos de
vista entre o volume desenvolvido e o volume não desdobrado (incluem
linhas que indicam a intenção do desdobramento). O estádio III inaugura a
descoberta do desenvolvimento e do rebatimento corretos, que é feita em
duas etapas: no subestádio III A, a criança representa uma fase do
desdobramento, mas não chega à recomposição, ou, então, fica presa em
manter e ordenar a vizinhança, porém com rebatimentos incompletos, mas já
há um início de coordenação de pontos de vista, e, no subestádio III B,
atinge as soluções corretas para o cilindro e o cone. Apenas no estádio IV
chega à representação correta do desdobramento do cubo e da pirâmide.
Dessas constatações depreende-se que, para a criança passar da
percepção do volume para seu desdobramento, é necessário que ela, de
modo concomitante, execute mentalmente uma ação e coordene os pontos
de vista em pensamento. O êxito iniciado no estádio III só é possível devido
à coordenação dos pontos de vista, pois se trata de uma representação em
três dimensões. As ações, que precisam ser interiorizadas para resolver o
problema do rebatimento, são relativas ao objeto (ou ao deslocamento) e ao
sujeito. O ponto de vista único assumido resulta de ligar (uns aos outros) os
diversos pontos de vista de modo que correspondam a esse único ponto de
vista.
A forma do objeto representado também é importante para se obter o
sucesso no seu desdobramento. O cone e o cilindro são mais fáceis de
desenvolver porque, segundo os autores, a curvatura de sua superfície facilita
a ação de desdobrar.
Em suma, para conseguir imaginar corretamente o rebatimento de um
objeto não é suficiente percebê-lo em três dimensões de forma correta. Por
exemplo, a percepção das seis faces do cubo não é suficiente para desenhá-
las com rebatimento de forma acertada. Essa passagem implica, entre
outras, a da ação às operações coordenadas entre si.
Para finalizar o estudo da representação do espaço, falta estabelecer as
relações possíveis entre os objetos, ou melhor, abordar como se estabelecem
as coordenações entre os objetos, organizadas pela construção dos sistemas
de coordenadas, o que se refere ao espaço euclidiano, abordado por
Piaget e Inhelder através do estudo da construção das paralelas, das
semelhanças das proporções e das coordenadas (da horizontal e da vertical).
No estudo do desenvolvimento espontâneo do desenho, o paralelismo e as
proporções manifestam-se como formas de transição para chegar à
estruturação do espaço euclidiano. A figura do losango foi usada para o
estudo da conservação do paralelismo, porque figuras como o quadrado e o
retângulo (que também são formadas por retas paralelas) têm apenas
ângulos retos e são compostos por verticais e horizontais. Elas não ajudam
na verificação das transformações das figuras, necessária ao estudo da
conservação de retas paralelas, a qual implica a conservação dos ângulos e
das distâncias. Para estudar o paralelismo dos lados do losango, essa figura
deveria ser submetida a transformações “afins”, em que há conservação das
paralelas, mas modificações dos ângulos e das distâncias.
Em resumo, desse estudo depreende-se que o paralelismo constitui-se de
forma concomitante à noção de ângulo, e que essa noção não precede a de
paralelas. Além disso, o paralelismo não é percebido sem erros, mesmo por
adultos, o que confirma o caráter racional das noções geométricas. As noções
de reta e de paralelas constituem um início de coordenação dos sistemas de
coordenadas.
Agora é a vez do estudo das semelhanças e das proporções. A construção
geométrica das proporções implica as noções de ângulo e de semelhança. Os
autores estudaram como a criança reconhece as semelhanças de dois
triângulos encaixados a partir do paralelismo de seus lados, e como passa
desse paralelismo dos lados à igualdade dos ângulos.
Quanto ao desenvolvimento das proporções, os autores constataram que
no estádio II a criança não se preocupa com o comprimento, aumentando-o;
porém, tenta não modificar a altura. No estádio III, a criança descobre a
relação entre comprimento e altura do retângulo, e no nível III A isso ocorre
de modo perceptivo, aparecendo graficamente só no estádio III B, quando
também ocorre o equilíbrio da semelhança dos triângulos, fundada na
igualdade dos ângulos. No estádio IV, a criança generaliza sua descoberta
em todos os casos.
A descoberta do estádio III é a invariância da diferença entre as
medidas nas figuras proporcionais. Essa descoberta permite definir uma
proporção matemática.
A escala cartográfica expressa uma proporção entre as medidas do
mapa e as medidas reais. Sua compreensão, por parte das crianças, implica,
então, a equilibração da proporção, o que tem também uma implicação
pedagógica: o ensino da escala deve levar o aluno a estabelecer essa relação
de proporção como base para a compreensão da escala.
O penúltimo estudo sobre o espaço euclidiano, por Piaget e Inhelder, foi
sobre o sistema de referências: a horizontal e a vertical. A construção da
horizontal foi estudada através de um experimento em que as crianças
deveriam antecipar o nível da água contida em vidros de formas diferentes,
quando esses eram inclinados. A vertical foi estudada com o uso de um fio de
prumo preso na tampa dos vidros, e com o uso de outro material: uma
montanha de areia em cima da qual as crianças deveriam espetar postes,
árvores e casas. Em seguida, eram solicitadas a desenhar a montanha com
esses objetos espetados.
A principal preocupação dos autores, nesse estudo, foi investigar a gênese
das coordenadas, que têm a possibilidade de coordenar indefinidamente as
colocações dos objetos. Através de diversas técnicas combinadas de
questionamento sobre a horizontal e a vertical, estabeleceram o seguinte: no
estádio II A, já há abstração das superfícies e das linhas de nível, mas
quando a garrafa é inclinada o nível da água também varia, porém sem
referência externa (plano horizontal) e mesmo sem referência às paredes do
vidro. Conclui-se que, nesse nível, a criança não sabe utilizar os sistemas de
referência exteriores ou interiores à garrafa. Quanto à vertical, elas
desenham os postes perpendiculares aos flancos da montanha. No nível II B,
a criança indica corretamente a direção do líquido, mas ainda não coordena
esse nível previsto com um sistema de referência exterior ao vidro. Ela usa a
horizontal apenas quando o vidro é virado de boca para baixo. Quanto à
vertical, ela consegue plantar corretamente as árvores e postes no flanco da
montanha, mas desenha perpendicularmente aos lados e malogra na
previsão da direção do fio de prumo. No nível III A (7-8 a 9 anos), ocorre a
descoberta da horizontalidade e da verticalidade, porém as crianças fazem a
previsão de posições oblíquas por falta de referências aos sistemas imóveis
exteriores ao vidro. No nível III B (a partir de 9 anos, em média), ocorre a
antecipação da vertical e da horizontal, constituindo um sistema de conjunto
de coordenadas.
O atraso na construção da horizontal e da vertical (pois são atingidas, em
média, somente aos 9 anos) foi objeto de uma análise mais detalhada por
parte dos autores. No nível II A, a incapacidade para representar a horizontal
e a vertical, no desenho, já identificadas oralmente, acontece porque, nesse
nível, o sujeito ainda está centrado nas relações espaciais topológicas.
Mesmo no final do estádio II, há ausência de um sistema de referência que
englobe o conjunto dos elementos, o que é, em princípio, a causa do atraso
em questão.
O último bloco de experimentos realizado pelos autores foi feito sobre os
esquemas topográficos e o mapa da aldeia. Eles consideraram que o mapa
de uma área pequena seria um meio adequado para o estudo de dois
problemas decorrentes das constatações anteriores. O primeiro consiste em
situar um objeto em relação a um sistema de referência natural. O segundo,
refere-se a fazer reproduzir a área em questão através de peças de um
arranjo ou de um desenho. O primeiro problema foi estudado com o uso de
dois relevos exatamente iguais (modelo A e modelo B), e o segundo foi
invertido (rotação de 180°), os modelos eram separados por um anteparo. As
crianças eram solicitadas a colocar um boneco no modelo B, na mesma
posição que ocupava no modelo A. A segunda prova consistia em pedir às
crianças que desenhassem sobre uma folha de papel reduzida uma aldeia,
vista de 45° ou de cima.
O resultado da primeira prova apontou que crianças com menos de 4 anos
determinam as posições graças às relações topológicas de vizinhança e de
envolvimento. No curso de estádio II (de 4 a 7 anos), já interferem os fatores
perceptivos e intuitivos, e no subestádio II A há um início de coordenação
entre as posições de diversos elementos; as relações de esquerda e de
direita, de frente e de trás intervêm na escolha do sujeito, mas não há,
ainda, coordenação de conjunto por falta de compreensão dos efeitos de
rotação. No subestádio II B há uma coordenação progressiva tanto das
relações projetivas como euclidianas, mas ainda há falta de coordenação
entre o sistema interior dos objetos e o sistema exterior constituído pelo
enquadre retangular (base do modelo). O estádio III é marcado pelo sucesso
geral em todas as relações, o boneco é colocado, de imediato, em função de
um duplo sistema de referência segundo as duas dimensões do plano.
O experimento do mapa da aldeia apresentou os seguintes resultados: no
estádio II (de 4 a 6-7 anos), a criança coloca os objetos em correspondência
lógica, mas não chega à localização em função de um sistema de
coordenadas, por não saber “multiplicar” as relações de ordem e de
distâncias entre si segundo as três dimensões. No subestádio II B (5-7 anos),
as crianças começam a coordenar os conjuntos parciais de objetos entre si na
construção e a marcar as duas dimensões no desenho, mas não chegam às
coordenações de conjunto, nem euclidiana, nem projetivamente; as noções
de semelhança e de proporções também não aparecem ainda. No subestádio
III A, há o início das coordenadas de conjunto euclidianas e projetivas.
Aproximadamente aos 7-8 anos a criança reproduz os modelos pela técnica
da construção imitativa, abstração feita das distâncias exatas e reduções de
escala; nesse nível, apenas as distâncias métricas permanecem inexatas,
porém os sujeitos dispõem os objetos segundo as relações de esquerda ou
direita e de frente ou atrás. Além disso, o plano de visão perpendicular
começa a diferenciar-se do plano visto a 45º. Apresentam-se, entretanto,
planos intermediários com telhados cortados, vistos de lado e vistos de cima.
No subestádio III B há uma melhoria das distâncias e das proporções – as
crianças desse nível reduzem o conjunto das proporções, quer se trate do
tamanho dos objetos, quer do intervalo que os separam. O desenho
topográfico está resolvido no que se refere às posições e às distâncias, à
perspectiva e às proporções. Falta, no entanto, a esquematização capaz de
substituir a representação dos objetos concretos pelo desenho da superfície
ocupada. No estádio IV, o plano esquemático e as coordenadas métricas são
atingidos.
Pode-se estabelecer agora uma relação entre o desenvolvimento de
estruturas cognitivas e a aprendizagem escolar. Sobre os esquemas
topográficos, percebe-se uma passagem do concreto ao abstrato, o que torna
“possível a aquisição das noções escolares relativas aos esquemas
cartográficos e aos eixos de coordenadas”, mais adiante os autores afirmam
que os conhecimentos escolares presentes nas respostas indicam que
nenhuma aquisição de conhecimentos é possível a não ser por assimilação a
esquemas prévios (Piaget e Inhelder, 1993: 465-6).
Na escola, os alunos são submetidos ao ensino de uma série de conteúdos
que nem sempre são assimilados. A assimilação desses conteúdos requer
esquemas e estruturas prévios, cuja gênese prolonga-se através de alguns
anos, caracterizados por formas próprias de pensar. Mas ainda permanece
em nosso espírito a seguinte indagação: se o meio escolar pode favorecer o
desenvolvimento da inteligência, até que ponto esse favorecimento interfere
no processo natural de desenvolvimento cognitivo? Sabe-se que há outros
estudos, igualmente profundos, sérios e pertinentes sobre a psicologia da
inteligência (como os de Vygotsky e Wallon), que contribuem para o
esclarecimento das questões anteriores.
Conclusões
Através dos resultados quantitativos, das entrevistas e da análise dos
desenhos, podemos dizer que a metodologia de ensino que propusemos
favoreceu, nos grupos experimentais, a elaboração de aspectos mais
avançados na representação do espaço. Os testes estatísticos apontaram um
avanço também nos grupos de controle.
Cabem, agora, algumas conclusões acerca dos procedimentos usados na
pesquisa. A avaliação através da atribuição de pontos aos desenhos deixa
escapar uma visão de conjunto da produção da criança e detalhes que não
constam no protocolo de correção, revelando-se limitada para uma
comparação mais abrangente entre os desenhos.
Outra conclusão relevante refere-se à prova B. Esta, ao que parece,
contaminou a avaliação do pós-teste. No entanto, descobrimos nela os
efeitos de se apresentar um plano de base como pista para a projeção no
plano, podendo ser usada, então, como recurso de ensino, pois engendra a
representação projetiva do ponto de vista de cima.
A teoria psicogenética de Jean Piaget é um paradigma importante para os
estudos da representação espacial, pois possibilita entender o processo de
construção do pensamento, dando elementos para se delinear suas
implicações no processo de ensino. Em outras palavras, se no sistema
projetivo as operações coordenam os dados segundo relações de
reciprocidade, ligando as inúmeras projeções de um mesmo objeto, quando
uma criança diz que, ao ver a sala de aula de cima, só pode ver uma parte
dos objetos (a de cima), podemos dizer que ela pode pensar
simultaneamente mais de um sistema (visto de cima/visto de frente),
coordenando mais de um ponto de vista. Pode, então, entender outros
sistemas de referência, como as coordenadas geográficas.
Para finalizar, a prática do ensino foi retomada: a participação ativa da
criança na construção de formas de representar o espaço, resolvendo
problemas, consiste num caminho para a inteligência, a criatividade e a
autonomia na maîtrise sobre o espaço – “arquétipo da
realidade exterior – a qual é metáfora de toda forma
de maîtrise” (Pêcheux, 1990: 303).
Nota
[1] Schilder, The image and appearance of the human body, London; Kegan Paul, 1935, apud, Marie-Germaine
Pêcheux, Le développement des rapports des enfants a l’espace, Paris, Editions Nathan, 1990, p. 112.
[2] As citações foram extraídas da tradução brasileira de Bernardina Machado de Albuquerque, publicada pela
Editora Artes Médicas, em 1993.
[3] Elaborou-se um quadro comparativo entre essas abordagens (Almeida, 2002, pp. 60-1).
[4] Os estádios correspondem aproximadamente: estádio i, a menos de 4 anos; estádio ii, de 4 a 7 anos;
estádio iii, de 7 a 11 anos; e estádio iv acima de 11-12 anos. As idades correspondentes aos estádios podem
variar (ver o capítulo de Lívia de Oliveira, neste livro).
[5] Sobre as conclusões dos autores, destacam-se os seguintes pontos: 1) o ponto de vista próprio só poderá
dar lugar a uma representação verdadeira à medida que for diferenciado dos outros pontos de vista possíveis;
2) a construção das relações projetivas supõe uma coordenação do conjunto dos pontos de vista – pois um
ponto de vista não poderia existir isoladamente – e, também, a existência de um sistema ou coordenação de
todos os pontos de vista (isso diferencia o espaço projetivo das relações topológicas); 3) outra diferença entre
as relações projetivas e as topológicas refere-se à maneira pela qual as operações se integram às percepções.
No sistema de relações projetivas, as operações consistem em coordenar os dados segundo relações de
reciprocidade” (Almeida, 2002, pp. 66-7).
[6] O mesmo que mestria: “qualidade de mestre [...], perícia, habilidade, destreza”. Novo Dicionário Aurélio da
Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986. Considera-se o termo, também, no sentido de
domínio e controle do espaço quanto à localização, à orientação e ao deslocamento.
[7] Definiu-se a atribuição de valores numéricos em escala intervalar para poder-se aplicar métodos não-
paramétricos, porque podem ser aplicados a dados que não sejam numericamente exatos, isto é, estão
simplesmente em “postos” ou números de ordem. Em segundo lugar, essas técnicas podem ser aplicadas em
pequenas amostras, como é o caso dos grupos do experimento desta pesquisa. E, em terceiro lugar, para
aplicá-las não é necessário fazer suposições sobre a distribuição da população da qual foram extraídos os
grupos para análise, como, por exemplo, se a distribuição da população é normal etc.
[8] A prova “U de Mann-Whitney” foi usada porque é uma das mais poderosas provas não-paramétricas
quando se tem uma mensuração ordinal para comparação entre dois grupos independentes. Essa prova leva
em conta o sentido da diferença entre os grupos. E, no caso, era necessário verificar se o grupo experimental
apresentava melhor resultado do que o grupo de controle.
[9] Essa prova compara amostras relacionadas e exige que se tenha dados ordinais não somente dentro dos
pares, mas também em relação às diferenças entre pares, portanto, é indicada para a comparação desejada
(Siegel, 1977, pp. 85-93 e 131-44).
[10] O roteiro era composto por questões sobre a experiência prévia das crianças com brinquedos e jogos
relacionados com a noção de espaço (miniaturas, maquetes etc.), questões sobre o desenho da sala de aula
na prova A do pós- teste e questões sobre o desenho da sala de aula na prova B do pós-teste.
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APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DE GRÁFICOS NO ENSINO DE GEOGRAFIA
Elza Yasuko Passini
É uma nova leitura que ele consegue fazer, pois ao recortar e ordenar as
barras ele percebe a ordem, comparando as barras manualmente. Essa nova
forma que o gráfico passa a ter é um passo importante para que o aluno
consiga ver a informação e processá-la mentalmente após experiência
concreta. Solicitado aos alunos que façam grupos de muita e pouca chuva,
eles conseguem avançar para leitura de nível avançado, percebendo classes,
ou seja, a sazonalidade nas chuvas de Cuiabá.
Para concluir
Restam muitas indagações; no entanto, as pesquisas que realizei
confirmaram a hipótese de que professores e alunos têm dificuldades para
produzir e ler gráficos, assim como os gráficos nos livros didáticos pedem
uma revisão para melhorar a comunicação das informações.
Persegui as ideias de Piaget (apud Macedo s.d.) e de Bertin (1986) quanto
à construção do conhecimento como processo dinâmico, “vivo”, de interações
entre S ⇔O. Nesse processo, modifica o sujeito e seu equipamento cognitivo
que modifica o seu conhecimento anterior, melhorando-o. Conforme Bertin, o
sujeito precisa interagir com o objeto, impor-lhe a forma que melhor
comunique a informação. O objeto assim modificado passa a ser “significado”
e tem a marca do sujeito.
Acredito que na ótica “Piaget ⇔ Bertin” não há um ponto final nos
estudos, mas pretendo colocar aqui algumas constatações como ponto de
partida para novas investigações.
Na interação sujeito ⇔objeto no processo de ressignificação do
conhecimento, fundamentada nos estudos de “Piaget⇔ Bertin”, o gráfico
parece ser um objeto particularmente significativo por possibilitar ao sujeito
interagir em sua elaboração, e assim melhorar a compreensão de conteúdos
através da organização lógica dos componentes e formação da imagem. O
aluno conseguevera imagem sendo construída, as relações aparecerem ou
não. O aluno tem a resposta visual de sua intervenção.
Se idealizado em seus passos metodológicos, considerando as estruturas
do sujeito e do objeto, a “alfabetização para produção/leitura de gráficos”
pode se tornar um projeto significativo como auxiliar no desenvolvimento
cognitivo do aluno e abrir muitas possibilidades de melhoria de compreensão
do espaço, seus elementos e as relações nele existentes.
Por outro lado, considerando o sujeito dessa interação, pode-se perceber
vários caminhos para a continuidade de investigação, como:
⇒ Trabalhos para os ciclos iniciais do ensino fundamental. A aplicação de
trabalhos de vários autores que se dedicam à investigação da cartografia
para escolares pode ser um interessante projeto para avançar das sugestões
testadas para verificação do grau de “melhoramento” que os alunos
apresentam na habilidade de produzir e ler gráficos nas séries subsequentes.
Certamente esse é um projeto coletivo, pois exige um trabalho que
considere, além da aplicação, um acompanhamento sistemático e avaliação
dos resultados.
⇒ Estudo que considere trabalhos introduzindo o gráfico com mobilidade,
utilizando os recursos de informática. Ela muda a velocidade na resolução
gráfica, classificação, ordenação, mas o fornecimento de dados, a
organização dos parâmetros de classificação e o manejo dos dados ainda é
decisão do homem e a máquina é uma ferramenta alternativa para o
trabalho do cartógrafo. Uma pesquisa sistemática de softwares oferecidos
no mercado é nossa obrigação como educadores comprometidos em formar
cidadãos preparados para responder com habilidades e competências às
transformações do meio técnico científico.
⇒ Divulgação de trabalhos, para que haja socialização das investigações e
para que os problemas diagnosticados sejam refletidos coletivamente pela
comunidade envolvida na busca de soluções.
⇒ Ênfase nas funções pedagógicas das representações gráficas, na
disciplina Metodologia de Ensino de Geografia dos cursos de Pedagogia
destinados à formação de professores dos primeiros ciclos do ensino
fundamental.
⇒ Análise sistemática de todos os documentos cartográficos: livro
didático, atlas, caderno de exercícios, mapas murais, tanto impressos como
de mídia. Acredito que esses estudos, que ora proponho, não sejam um
projeto individual, mas coletivo, pois a literatura consultada mostra a
importância de não nos limitarmos a considerar o gráfico como instrumento
apenas da Geografia. Precisamos, sim, de uma discussão sem barreiras, ter
humildade em perceber as próprias limitações e buscar parcerias com
professores de Matemática, Língua Portuguesa, Geometria e todos quantos
se utilizem de gráficos para organizar seu conteúdo.
Acredito que as orientações metodológicas auxiliem os professores a
realizar trabalhos com seus alunos para utilizar gráficos de forma eficaz, uma
vez que aceita sua importância para o desenvolvimento da inteligência e
como ferramenta para participar da comunicação com o mundo, na era de
informação/informatização em que vivemos.
Sugiro que os professores levem em conta o sujeito e o objeto em suas
coordenações, e não transformem o aluno em mero usuário de gráficos
prontos para constatação das
informações.Insistimosqueascoordenaçõesentre[S⇔O]significam“açãosobre”oo
modificando-
o(elaborando/reelaborando).Essasmodificaçõesatuamcomo“melhoradoras”
das estruturas do sujeito, que passa de um estado de equilíbrio a um nível
melhorado.
Ousei chamar o trabalho com gráficos de estruturante, no sentido de
considerar que ele contribui para equilibração majorante do sujeito. Não
devemos esquecer que:
o sujeito pode mais.
explorar esse mais é nossa responsabilidade.
Nota
[*] A tese que deu origem a este capítulo, Os gráficos em livros didáticos de Geografia
de 5ª série: seu significado para alunos e professores, foi elaborada na Faculdade
de Educação da Universidade de São Paulo (feusp), Departamento de Metodologia de Ensino e Educação
Comparada, sob a orientação da Dra. Olga Molina, a quem agradeço ter sugerido esse desvendamento da
linguagem cartográfica como tema das investigações para contribuir na melhoria do ensino de Geografia. Ele foi
iniciado em 1992, com subsídio do cnpq, e a defesa ocorreu em junho de 1996.
[3] De 1ª a 4ª séries.
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A ORGANIZADORA
Janine G. Le Sann
É graduada e mestre em Geografia pela Université de Rouen e doutora em
Geografia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales. Foi professora
do Departamento de Cartografia da Universidade Federal de Minas Gerais.
Atualmente, desenvolve consultorias em Ensino de Geografia e formação
continuada de professores e é professora do mestrado em Turismo e Meio
Ambiente do Centro Universitário una (Belo Horizonte). Publicou diversos
atlas escolares e livros didáticos na área.
Lívia de Oliveira
Professora titular do Departamento de Geografia da Unesp, é doutora pela
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro (então integrante da
Unicamp) e livre-docente pelo Instituto de Geociências e Ciências Exatas da
Unesp, Rio Claro. Escreveu inúmeros artigos nas mais diversas revistas
brasileiras sobre educação geográfica, percepção e cognição do meio
ambiente e cartografia escolar.
Marcello Martinelli
Professor associado do Departamento de Geografia da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da usp, é doutor em Geografia Humana
e livre-docente em Cartografia Temática. Atualmente desenvolve pesquisas
de cunho metodológico e orienta graduandos e pós-graduandos em mestrado
e doutorado, com especial atenção à cartografia temática, ambiental, do
turismo e para atlas geográficos para escolares. É autor de atlas geográficos
e livros sobre cartografia temática, entre eles, Mapas da geografia
e cartografia temática, publicado pela Contexto.