Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Download

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 12

Psicologia & Sociedade; 22 (3): 507-518, 2010

PROMOÇÃO DE SAÚDE E ADOLESCÊNCIA: UM EXEMPLO DE


INTERVENÇÃO COM ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RUA*
HEALTH PROMOTION AND ADOLESCENCE: AN EXAMPLE OF
INTERVENTION WITH STREET-YOUTH

Normanda Araujo de Morais


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil

Camila de Aquino Morais


Universidade de Brasília, Brasília-DF, Brasil

Sílvia Reis
Ministério da Saúde, Brasília-DF, Brasil

Sílvia Helena Koller


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil

RESUMO
O artigo discute o conceito de promoção de saúde e sua relação com as práticas de saúde direcionadas à adolescência
em situação de vulnerabilidade social e pessoal. Nas últimas décadas, os crescentes indicadores de morbimortalidade
nesse grupo social, sobretudo devido às chamadas causas externas, reiteram a importância de uma maior atenção das
políticas de saúde direcionadas à adolescência. Nesse sentido, o artigo expõe as diretrizes do Ministério de Saúde
para o atendimento integral à saúde dessa população e ilustra, com o relato de uma intervenção direcionada à saúde
de adolescentes em situação de rua, como os princípios de promoção de saúde podem ser colocados em prática. Por
fim, sugere-se que a atuação dos psicólogos deve alicerçar-se nos princípios propostos pelo campo da promoção
da saúde, tanto em termos de concepção do processo saúde-doença enquanto produção social quanto de objetivo
da prática terapêutica - promoção de autonomia, co-responsabilização, empoderamento e conscientização.
Palavras-chave: promoção de saúde; adolescência; situação de rua.

ABSTRACT
The paper discusses the concept of promotion of health and the relationship with the practices of health addressed
to the adolescence in situation of social and personal vulnerability. In the last decades, the crescent indicatives of
morbimortality in that social group, above all due to external causes, reiterate the importance of a larger attention
of the politics of health addressed to the adolescence. In that sense, this study exposes the guidelines of the Minis-
try of Health for the integral service to the health of that population and illustrates by the report of an intervention
addressed to the adolescents’ health in street situation, as the beginnings of promotion they can be put in practice.
Finally, suggests that the psychologists’ performance must be found in the beginnings proposed by the field of the
promotion of the health, so much in terms of conception of the process health-disease while a social production
as of objective of the therapeutic practice - autonomy promotion, co-responsibility, empowerment and awareness.
Keywords: health promotion; adolescence; street-youth.

Durante as últimas décadas, sobretudo, a temá- saúde. Tal fato tem ocorrido por se perceber que manter
tica da promoção de saúde tem recebido destaque. A um sistema de saúde centrado em formas de cuidado
partir de um entendimento ampliado do conceito de exclusivamente curativas não viabiliza a melhoria da
saúde, da implementação do Sistema Único de Saúde atenção, não diminui a sobrecarga de atendimentos, e,
e das discussões acerca de novas políticas no setor, tampouco, incentiva a população à tomada de decisões
diversas áreas do conhecimento começam a estruturar em vista de aderir aos comportamentos de saúde.
suas práticas em torno da prevenção e da promoção de

507
Morais, N.A., Aquino Morais, C. , Reis, S., & Koller, S. H. “Promoção de saúde e adolescência: um exemplo de intervenção com adolescentes em situação de rua”

A psicologia também entrou nesse debate, e o(a) no qual cada adolescente se situa. Nesse sentido, a priori,
psicólogo(a) tem sido importante no processo de cons- não existe uma adolescência, mas adolescências que se
trução e fortalecimento de práticas e “modos de viver” configuram de formas singulares a partir de determinados
mais saudáveis. Já podemos perceber uma expansão condicionantes, tais como: gênero, classe social, configu-
dos espaços de atuação desse profissional para além ração familiar etc. (Traverso-Yépez & Pinheiro, 2002).
da tradicional e elitista clínica particular, prática essa No que se refere à saúde dessa população, veri-
que por algumas décadas manteve-se como principal fica-se que há alguns anos a adolescência era descrita
universo de atuação dos psicólogos (Dimenstein, 1998). como o período do ciclo vital caracterizado como de
Cada vez mais se verifica a inserção de psicólogos na menor risco de adoecimento e morte. No entanto, nas
rede pública de saúde, na assistência social e em orga- duas últimas décadas, observou-se um aumento da
nizações não-governamentais (ONGs) que trabalham morbimortalidade nesse grupo populacional (Claro,
com diferentes perfis de população em situação de March, Mascarenhas, Castro, & Rosa, 2006). Essa,
vulnerabilidade pessoal e social, especialmente crianças por sua vez, tem sido relacionada, sobretudo, às con-
e adolescentes. Alguns exemplos de programas fede- sequências da violência (ferimentos, deficiências e
rais que incluem o psicólogo em seus quadros são: o homicídios), suicídios, acidentes e contaminação por
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), doenças, resultantes das precárias condições de vida
o Programa de Atendimento Integral à Família (PAIF), e iniquidade social a qual os jovens estão submetidos.
o Serviço Sentinela e o Pró-Jovem, todos voltados para De acordo com Moreira, Neto e Sucena (2003, p. 163),
a atuação junto a crianças e adolescentes em situação “a conjunção diária entre a ausência de perspectivas
de vulnerabilidade social e suas famílias. Diante dessa de futuro, a pobreza, a exclusão social, delinqüência e
realidade, surgem algumas questões: que práticas o psi- violência estrutural” são as principais influências para
cólogo tem desenvolvido ao estar inserido no campo da a morte de cidadãos adolescentes.
promoção da saúde? Como ele contribui com a criação Dados do Ministério da Saúde mostram que são
desses novos fazeres? persistentes e crescentes os índices de mortalidade por
Este artigo tem como objetivo fomentar a discus- causas externas, sendo que nos grupos etários de 5 a 14
são acerca da temática da promoção de saúde, de seus anos e 15 a 24 anos causas externas são o principal grupo
conceitos e do relato de uma intervenção realizada por de causas de morte nesta população infanto-juvenil. En-
um serviço de saúde com adolescentes em situação de tretanto, a incidência entre o sexo masculino é superior
rua na cidade de Porto Alegre. Por fim, buscar-se-á ao feminino (IBGE, 2009; Ministério da Saúde, 2004a).
enfatizar a importância do conceito de promoção de No entanto, apesar da constatação da influência
saúde para as práticas de intervenção psi, ressaltando das “causas externas” e dos aspectos socioemocionais
o papel dos psicólogos como importantes atores nesse na morbimortalidade dos adolescentes brasileiros,
campo, como educadores sociais e agentes de saúde. ressalta-se a fragilidade do sistema de saúde vigente
no Brasil para atender às demandas dessa população
Adolescência e saúde: um relato da situação atual (Formigli, Costa, & Porto, 2000; Muza & Costa, 2002;
No Brasil, dados da Fundação Instituto Brasileiro Saggese & Leite,1999; Soares, Salvetti, & Ávila, 2003;
de Geografia e Estatística (IBGE) de 2000 revelaram um Traverso-Yépez & Pinheiro, 2002). Esses mesmos au-
total de 35.287.882 milhões de crianças e adolescentes tores destacam que a maior procura dos adolescentes
entre 10 e 19 anos, fato que representa 20% da popu- segue sendo por ações curativas. Esse fato revela a
lação total do Brasil (IBGE, 2000). Além do critério persistência do modelo assistencial clínico, assim como
de magnitude, a adolescência tem recebido bastante a existência de uma grande lacuna na assistência à saúde
destaque no cenário social e científico devido a outros do adolescente brasileiro, a qual esteja baseada numa
fatores, tais como: a sua importância social e política, a visão mais integral e ampla de saúde.
sua condição especial de desenvolvimento biopsicosso- Outra característica dos serviços direcionados à
cial e também pela obrigatoriedade posta pelo Estatuto saúde do adolescente, de acordo com Maddaleno, Mo-
da Criança e do Adolescente (ECA) da necessidade rello, e Infante-Espínola (2003), é a tendência dos mes-
de que Estado e sociedade atuem na garantia dos seus mos a enfocarem os comportamentos de risco (gravidez,
direitos (Moreira, Neto, & Sucena, 2003). uso de drogas, problemas escolares e delinquência, por
Para além da definição etária do que vem a ser exemplo). Dessa forma, perde-se de vista a integralidade
adolescência, a qual varia de acordo com os parâmetros da saúde dos adolescentes e se negligencia um conjunto
utilizados (Estatuto da Criança e do Adolescente e Or- de fatores intrinsecamente relacionados a tais comporta-
ganização Mundial de Saúde, por exemplo), ressalta-se mentos, como por exemplo: qualidade do relacionamento
aqui a necessidade de considerar essa etapa do desenvol- familiar, concepções e valores, autoestima etc. Reconhe-
vimento humano a partir do contexto histórico-cultural ce-se que programas centrados em condutas- problema e

508
Psicologia & Sociedade; 22 (3): 507-518, 2010

no indivíduo não são capazes de mudar a vida dos jovens, e serem realizadas de forma intersetorial, integrada às
além de resultarem em altos custos. escolas, projetos e comunidade em geral. Dessa forma,
No Brasil, o Ministério da Saúde não preconiza termina-se por não alcançar a maior “fatia” de adoles-
que o psicólogo seja integrante das equipes de saúde centes, que são justamente aqueles que não expressam
da família, mas sim que integre, juntamente com ou- em demanda ao serviço de saúde as suas necessidades
tros profissionais que não compõem a equipe de saúde de saúde. Não porque não as tenha, mas porque entre
da família, os Núcleos de Apoio à Saúde da Família o reconhecimento de sua necessidade e o “pedido de
(NASF), potencializando essas equipes e dando-lhes o ajuda” há um longo caminho. A esse respeito, Traverso-
suporte necessário (Ministério da Saúde, 2004b, 2008a) Yépez e Pinheiro (2002) fazem uma crítica ao modelo
ou, ainda, que seja alocado nos serviços que chamamos de intervenção hegemônico no sistema de saúde, o qual
de atenção secundária ou especializada - ambulatórios reforça a violência simbólica, através de intervenções
de saúde mental e Centro de Atenção Psicossocial- verticalizadas, que pouco espaço dá à subjetividade e ao
CAPS. Também não há uma proposta de atenção à saúde protagonismo dos usuários adolescentes. Esses tendem a
mental de crianças e adolescentes, exceto nos casos ser vistos a partir de estereótipos desqualificadores e são
de transtornos mentais graves (CAPS-infantil). Uma alijados do poder que possuem de atuar como agentes de
importante questão, portanto, surge quando o paciente transformação de sua própria vida e condição de saúde.
adolescente traz uma queixa que não justifique um Apesar do quadro negativo relatado (baixa deman-
atendimento psiquiátrico, nem a inserção em um CAPSi, da, pouca atenção das políticas oficiais, dificuldade de
mas indique a necessidade de aprofundar uma avaliação, acolhimento por parte dos serviços), verifica-se que em
receber atendimento psicoterápico ou aconselhamento termos oficiais, o Ministério da Saúde brasileiro apresen-
psicológico. De fato, como destaca Santos (2006), esse tou um documento no ano de 2005 com orientações para
aspecto constitui-se de ampla relevância, uma vez que a implantação de ações e serviços de saúde que atendam
as maiores queixas verificadas em clínicas-escola e aos adolescentes e jovens de forma integral, resolutiva
serviços públicos de Psicologia Infantil relacionam-se e participativa. A seguir, são apresentadas as principais
ao mau desempenho acadêmico, comportamento agres- diretrizes de tal documento. É bastante relevante ler tais
sivo e desobediência (casa e escola), situações talvez diretrizes, confrontando-as com as principais críticas
não tão graves, mas que dizem de algum sofrimento do descritas, uma vez que teoricamente elas parecem res-
sujeito e/ou de sua família, o que denota uma demanda ponder totalmente às lacunas apontadas na atual situação
por atenção. Dada a inexistência de serviços de atenção de atendimento à saúde dos adolescentes.
a essas necessidades, Santos (2006) alerta para o risco
que essas situações (aparentemente “menores”) podem Saúde integral de adolescentes e jovens: orientações
ter para a saúde futura de crianças e adolescentes. para a organização dos serviços de saúde
De acordo com Maddaleno, Morello, e Infante- A fim de se alcançar os objetivos de integralidade,
Espínola (2003) e Muza e Costa (2002), os adolescentes resolutividade e garantir a participação dos adoles-
geram uma baixa demanda nos serviços de saúde. Eles centes, o documento do Ministério da Saúde (2005)
figuram como o grupo etário mais sadio, sofrendo de me- afirma que:
nos enfermidades se comparados ao grupo das crianças e
idosos. Além disso, os hábitos nocivos adquiridos nessa 1. É indispensável a organização da demanda e a
faixa etária não se traduzem em morbidade e mortalidade identificação dos grupos vulneráveis e em situação
durante a adolescência mesma. Esses fatores explicam especial de agravo, como as vítimas de exploração
de certa forma a omissão no que se refere às políticas de sexual comercial, os adolescentes soropositivos e/ou
saúde para a faixa etária da adolescência. Muza e Costa aidéticos, as vítimas de violência etc.
(2002) atestam tal hipótese afirmando que devido a “essa 2. A partir desse “diagnóstico” inicial, as atividades
baixa demanda, os adolescentes têm recebido pouca deverão ser planejadas com base no conhecimento
atenção das políticas públicas de saúde” (p.322). do contexto, das características das famílias, suas
Outro fator bastante citado na literatura diz res- condições de vida, recursos comunitários e condições
peito à resistência dos adolescentes a uma aproximação de atendimento disponíveis.
com as instituições de saúde, ao mesmo tempo em que 3. O atendimento deverá está baseado nos seguintes
estas têm dificuldade de acolherem os adolescentes que princípios: ética, privacidade e confidencialidade/
a procuram (Claro et al., 2006; Muza & Costa, 2002). sigilo.
Embora frequentemente se destaque a baixa procura aos 4. O trabalho deverá ser inter e multiprofissional, e a
serviços, quase nunca se vê o movimento dos profissio- equipe deverá buscar uma educação permanente.
nais de saúde em expandirem as suas atividades a fim 5. Buscar-se-á a articulação intersetorial, tanto intra
de tornarem-se extramuros, de agregarem as famílias quanto interinstitucionais, a fim de integrar grupos

509
Morais, N.A., Aquino Morais, C. , Reis, S., & Koller, S. H. “Promoção de saúde e adolescência: um exemplo de intervenção com adolescentes em situação de rua”

de intervenções. De acordo com Moysés, Moysés, sobretudo se se compreende este último como o acesso a
e Krempel (2004), a intersetorialidade, que é uma serviços de laboratório e medicação, exclusivamente.
das diretrizes do SUS, diz respeito à “articulação de A segunda característica central ao campo da
sujeitos de setores sociais diversos e com saberes, promoção de saúde é o reforço da capacidade dos
poderes e vontades diversos para enfrentar problemas indivíduos e da comunidade de atuarem no controle,
complexos” (p.630). Na prática, vê-se isso através implementação e manutenção do seu bem-estar, visto
do estabelecimento de alianças estratégicas entre nas suas múltiplas dimensões (física, mental, social e
agências governamentais, instituições de saúde, espiritual). Deste ponto, o sujeito é legitimado como
educação, justiça, legislação, transporte, cultura, ator social através de sua ação protagonista no contexto,
esporte, ONGs, mídia e igrejas, por exemplo. capacitando o desenvolvimento da autonomia, autoesti-
6. As ações não deverão se limitar ao espaço da unidade ma e cidadania (Ferretti, Zibas, & Tartuce, 2004).
de saúde, mas a equipe deverá desenvolver ações que Com base nas definições acerca de promoção de
tragam os jovens e adolescentes para as unidades. saúde, passa-se a seguir a um relato de uma experiência
Dentre as estratégias de captação (são assim mesmo brasileira sobre a promoção de saúde de adolescentes em
descritas: “captação”) estão: divulgação interna na situação de rua. Considera-se que tal proposta atende às
unidade, visitas domiciliares, divulgação na comuni- prerrogativas citadas na definição do conceito de pro-
dade (rádio, carro de som) e parcerias institucionais moção de saúde, assim como às diretrizes postas pelo
(escola, igreja, associações). Ministério da Saúde (2005), sendo por isso relevante
7. Por fim, as ações de participação juvenil são en- a sua descrição.
corajadas, uma vez que fortalecem a autoestima, a
assertividade e a construção do projeto de vida. Nos O atendimento à saúde de adolescentes em
serviços de saúde, a participação ativa e autônoma de situação de rua: relato de uma experiência
adolescentes e jovens no planejamento, na execução de Porto Alegre
e na avaliação das ações contribui decisivamente para
a eficácia, a resolução e o impacto social delas. A realidade de vida na rua expõe as crianças e
adolescentes a uma série de fatores de risco, como uso
Promoção de saúde e adolescência de drogas, sexo de sobrevivência, perda de apoio e de
abrigo seguro, além da falta de necessidades básicas de
A promoção de saúde está relacionada a todas as alimentação e higiene, que as colocam em situação de
práticas e condutas que procuram melhorar o nível de vulnerabilidade para muitas consequências negativas
saúde da população por meio de medidas que não se de saúde, dentre as quais: dependência química, DSTs,
restringem a resolver problemas de doenças ou qualquer infecção pelo HIV, má nutrição, déficits de crescimento,
desordem orgânica, mas sim que visam a aumentar a lesões por acidentes, gravidez indesejada e morte pre-
saúde e o bem-estar geral (Santos & Bógus, 2007). No matura resultante de suicídio e homicídio (Ensign &
entanto, é importante considerar outros dois importantes Bell, 2004; Farrow, Deisher, Brown, Kulig, & Kipke,
critérios relevantes ao entendimento do conceito de 1992; Mejía-Soto, Castañeda, González, Ramirez, &
promoção de saúde, sob pena de se usar o termo indis- Avendaño, 1998; Morais & Koller, 2010; Panter-Brick,
criminadamente, como se toda prática de intervenção 2001, 2002; Raffaelli, 1999).
fosse, por si só, promotora de saúde. De acordo com Ribeiro (2003), as consequências
O primeiro deles, de acordo com Moysés, Moysés, de viver na rua não tardam a aparecer, e é na saúde que
e Krempel (2004), é o de que a promoção de saúde está esse custo se faz sentir de várias formas e graus. Diante
baseada no paradigma da produção social do processo das condições de vida das crianças e adolescentes em
saúde-doença. A partir desse critério, entende-se que a situação de rua, assim como das suas formas particulares
saúde de cada indivíduo, grupos sociais e comunidades de conceber e acessar os serviços de saúde, é necessário
depende das ações humanas, interações sociais, polí- que ações de saúde específicas sejam planejadas e co-
ticas públicas e sociais, modelos de atenção à saúde, locadas em prática tendo em vista a melhoria do acesso
intervenções sobre o meio ambiente etc. Nesse sentido, desse grupo social.
Campos, Barros, e Castro (2004) afirmam que isso O relato que segue apresenta aspectos relevantes
exige que o Estado assuma a responsabilidade por uma do atendimento à saúde de adolescentes em situação de
política de saúde integrada às demais políticas sociais rua de Porto Alegre, RS. Ele é feito com base em uma
e econômicas e garanta a sua efetivação. Sendo assim, pesquisa com profissionais de saúde e educadores da
defende-se que saúde é o resultado do desfecho posi- rede de assistência dessa cidade, realizada por Morais
tivo da implementação de políticas públicas saudáveis (2005), acerca da condição de saúde de crianças e adoles-
e não exclusivamente de ações restritas ao setor saúde, centes em situação de rua (características do atendimento

510
Psicologia & Sociedade; 22 (3): 507-518, 2010

oferecido – rotina e objetivo, relacionamento com os fissionais, o critério de escolha dos participantes foi a
adolescentes, concepções de saúde e doença, encami- atividade exercida e a sua disponibilidade em participar
nhamentos e adesão ao tratamento e percepção sobre o da pesquisa. Buscou-se entrevistar um representante de
papel das instituições na vida dos adolescentes). cada função existente nesses locais e, nos casos em que
A pesquisa foi realizada em duas instituições a mesma função era ocupada por mais de um profissio-
destinadas a crianças e adolescentes em situação de nal, optou-se por entrevistar aquele com maior tempo
rua (abrigo diurno e serviço de atendimento à saúde) e de serviço na instituição.
teve como participantes cinco profissionais de saúde e Realizaram-se entrevistas com as profissionais
quatro educadoras. Sete das participantes tinham curso dos serviços, as quais aconteceram durante o processo
superior (medicina, enfermagem, psicologia e serviço de Inserção Ecológica da pesquisadora e sua equipe
social), uma possuía o magistério e estava concluindo nas instituições. A Inserção Ecológica é uma proposta
o curso de educação física e outra participante era de operacionalização da Abordagem Bioecológica do
técnica de enfermagem. No serviço de atendimento Desenvolvimento Humano, para o estudo do desen-
à saúde entrevistou-se: uma médica clínica, uma psi- volvimento humano no contexto (Bronfenbrenner,
quiatra, uma psicóloga, uma enfermeira e uma técnica 1979/1996; Cecconello & Koller, 2003). Esse método
de enfermagem. No abrigo diurno, por sua vez, foram privilegia a inserção do pesquisador no ambiente de
entrevistadas uma monitora e três assistentes sociais, pesquisa, com o objetivo de estabelecer proximidade
sendo que uma delas exercia o cargo de coordenação. A com o seu objeto de estudo e, assim, responder às
idade média das participantes foi de 36 anos (DP=9,75), questões de pesquisa. Os três meses em que a equipe
variando de 23 a 49 anos. O tempo de trabalho nas de pesquisa acompanhou as atividades das instituições
instituições variou de dois meses a quatro anos (M=2 favoreceram a vinculação entre equipe e profissionais
anos; DP=1,5 anos). e facilitaram o processo de realização das entrevistas.
Trata-se de dois serviços diferentes, os quais pos- Essas foram sempre realizadas após marcação prévia
suem um trabalho em rede visando a atender integral- de horários com os profissionais e depois dos mesmos
mente os adolescentes que dela fazem parte. O primeiro consentirem em participar. As entrevistas foram grava-
deles, um abrigo diurno, desenvolve atividades lúdicas, das e duraram em média quarenta minutos. Em seguida,
esportivas e pedagógicas nos dois turnos e funciona em essas entrevistas foram transcritas para a realização das
regime aberto, atendendo crianças e adolescentes até 15 análises. A análise seguiu o modelo de análise de conte-
anos de idade. Ele é composto por assistentes sociais, údo proposto por Bardin (1979/1977) e foi enriquecida
psicólogos e monitores. O segundo, um serviço de saúde pelos dados dos diários de campo elaborados durante a
específico à saúde de crianças e adolescentes em situa- inserção ecológica.
ção de rua, está ligado à Secretaria Municipal de Saúde A seguir, apresenta-se a descrição dos principais
e representava (desde 2001 até 2005, quando abriu as resultados das entrevistas.
portas para o atendimento de demandas de saúde mental 1. Rotina, objetivo do atendimento e relaciona-
de adolescentes de uma forma geral), a principal porta mento com os adolescentes:
de entrada das crianças e adolescentes em situação de No que se refere à rotina das profissionais,
rua ao serviço de saúde. Nesse serviço, encontrava-se percebe-se que, em ambas as instituições, além de de-
uma equipe de saúde composta por clínico geral, psi- sempenharem as atribuições específicas do seu cargo,
quiatra, enfermeira, técnicos de enfermagem, assistente elas também participam de outras atividades da insti-
social e psicóloga. Ambos os serviços foram escolhi- tuição, não necessariamente relacionadas à sua função.
dos a partir da pesquisa realizada por Santana (2002), Envolvem-se nisso pela proposta interdisciplinar dos
que identificou as quatro instituições mais citadas serviços, assim como pela consciência de que se trata
pelas crianças e adolescentes em situação de rua como de uma realidade diferenciada de atendimento. Nesse
fazendo parte do seu dia a dia. Dessas, julgou-se im- sentido, foi possível verificar-se profissionais de enfer-
portante a realização da pesquisa no serviço específico magem coordenando a oficina de pintura, profissional
ao atendimento à saúde dessa população. Já o abrigo da psiquiatria coordenando oficina de leitura, dentre
diurno representou a possibilidade de verificar como os outros exemplos. Ainda que não seja propondo outras
profissionais desse serviço percebiam questões de saúde atividades, a participação diferenciada da qual se fala
da clientela atendida. A escolha por duas instituições aqui envolve, sobretudo, um contato permanente en-
de características e objetivos diferenciados justifica-se tre equipe e adolescentes atendidos, seja durante os
pela proposta de se identificar semelhanças e diferenças momentos de refeição, seja em passeios, conversas
entre os discursos dos profissionais acerca da condição informais etc. Para essas profissionais, todos os es-
de saúde de crianças e adolescentes em situação de rua paços tornam-se espaços terapêuticos, de conversa e
atendidos em dois espaços distintos. Quanto aos pro- troca de informações.

511
Morais, N.A., Aquino Morais, C. , Reis, S., & Koller, S. H. “Promoção de saúde e adolescência: um exemplo de intervenção com adolescentes em situação de rua”

Sobre o objetivo da sua atuação, as profissionais família e na sociedade); e bem-estar da pessoa, ou seja,
tenderam a enfatizar nas suas respostas o desejo de dimensão “subjetiva” do conceito de saúde, para a qual
que possam contribuir para uma melhoria da qualida- o que importa é como a pessoa se sente, e não o diag-
de de vida das crianças e adolescentes em situação de nóstico médico. Pode-se concluir que a prática desses
rua. Muitas vezes, esse desejo vem acompanhado de profissionais é ampliada, justamente pelo entendimento
indignação e vontade de ver cumprida a justiça social, ampliado que possuem acerca do conceito de saúde,
tal como afirma a profissional de Serviço Social, por fazendo com que suas práticas não sejam estritamente
exemplo: “Sou muito indignada, eu não suporto ver curativas. A esse respeito, Sarriera et al. (2003) reiteram
o absurdo que é o jeito que a criança é tratada.”, e a importância de profissionais da saúde terem consciên-
a psicóloga do serviço de saúde: “Existencialmente e cia das concepções que orientam a sua ação, de forma
politicamente eu busco uma justiça social. ... Eu quero a poderem melhor avaliar a sua atuação.
ser uma formiguinha aí, uma gota nesse oceano, né, Nas definições de doença, percebeu-se uma maior
porque eu acho que as coisas têm que mudar.” diversidade de respostas, assim como um maior número
De acordo com as participantes, a sua atuação de pessoas que não responderam, fato que sugere uma
deve favorecer a criação de um espaço de ajuda e de maior dificuldade dos participantes em definirem esse
estabelecimento de vínculos positivos, capazes de fazer conceito. Algumas definições, porém, foram feitas a
com que os adolescentes permaneçam mais tempo nas partir da oposição com o conceito que as participantes já
instituições e, consequentemente, pensem sobre as suas haviam atribuído à saúde. A análise das respostas tornou
vidas e busquem novos caminhos para si. possível a elaboração das seguintes categorias: algo
Nada a ver, sabe, em achar que eu vou tirar eles dessa, que causa prejuízo, afeta e impossibilita a realização de
porque na verdade eu acho que tem que tentar cons- atividades; mal-estar/incômodo subjetivo; ausência de
cientizá-los disso e ajudá-los nessa descoberta, né, do condições adequadas de vida; disfunção na qualidade
caminho de vida deles. Não adianta a gente querer impor de vida; e algo passível de ser evitado.
projetos de vida pra eles. ... eu acho que eu tô aqui nesse Segundo as participantes, as doenças físicas mais
papel, de ajudar a buscar o caminho. (Enfermeira) comuns entre as crianças e adolescentes em situação de
A relação estabelecida com os adolescentes foi rua são: AIDS e outras DSTs; doenças de pele (sarna,
descrita por todas as participantes como sendo bastante escabiose, pediculose etc.) e doenças respiratórias;
positiva. As expressões “irmã mais velha” e “mãezona” tuberculose; e, por fim, os acidentes (atropelamentos,
foram comumente usadas para ilustrar o tipo de rela- queimaduras etc.) e vermes. É interessante verificar
ção “familiar” estabelecida entre eles. Essa relação foi o quanto as profissionais fazem referência à AIDS,
descrita como sendo marcada pela intimidade, muita como sendo uma patologia que tem afetado bastante
expressão de afeto positivo, mas também pela colocação as crianças e adolescentes em situação de rua. No en-
de limites. Como afirma a assistente social: “Sou super tanto, acrescentam que não é por falta de informação:
afetiva ... sabe assim, tipo mãe, sabe, porque eles preci- “se perguntar pra eles tá na boca de todos eles, eles
sam de controle, assim, sabe, controle não, é de limite conhecem preservativo, como é que usa, pra que que
com afeto sempre.” O estabelecimento de vínculos de protege. Tá na boca de todos eles. Mas eles não usam...”
confiança e respeito foi visto como fundamental ao de- (Enfermeira). Para justificar o não uso, elas recorrem à
senvolvimento do trabalho, uma vez que elas pretendem fala dos adolescentes afirmando que, durante a relação
ser uma referência diferenciada de cuidador para esses sexual, estavam sob o efeito da droga (“chapados”)
adolescentes e, principalmente, porque se entende que e aí não se lembraram de usar o preservativo. Outra
as crianças e adolescentes atendidos “têm uma história justificativa dada remete à questão de gênero, uma vez
de adultos traidores da confiança deles” (Psicóloga). que, segundo algumas profissionais, as meninas “têm
De acordo com a técnica de enfermagem: “A gente fun- muita essa questão de querer ter filhos” (Enfermeira)
ciona como irmão mais velho deles, apoiar eles quando e terminam por se expor a muitos riscos.
precisa e puxa a orelha quando precisa.” No que se refere aos transtornos mentais mais
2. Concepções de saúde e doença: comuns, as patologias mais citadas foram: a depen-
As concepções de saúde que as participantes dência química; transtorno de humor (depressão,
possuem podem ser classificadas em quatro categorias: principalmente); transtornos de conduta e deficiência
posse de “condições adequadas de vida” (lugar para mental. Assim como verificado nas falas dos próprios
morar, dinheiro, nutrição adequada, lazer etc.); bem- adolescentes, a questão da droga apareceu como sendo
estar físico, mental e social, conforme descrito pela a maior “rival” a ser vencida pelas instituições e pro-
Organização Mundial de Saúde em 1948; qualidade fissionais. Quase sempre a droga foi vista como uma
de vida (condições adequadas de vida somadas a um alternativa usada pelos adolescentes para “medicar
bem-estar emocional, relações positivas no trabalho, na sintoma”, como uma substância química que é usada

512
Psicologia & Sociedade; 22 (3): 507-518, 2010

para “preencher um vazio” e uma “carência emocio- Quanto à adesão ao tratamento por parte dos ado-
nal” anterior. O maior desafio, de acordo com uma lescentes, as profissionais destacaram que essa é “cheia
participante, está em descobrir: de altos e baixos, eles aderem e desaderem, aderem e
como é que tu tira essa... troca essa droga por outra, desaderem...” (Psicóloga). Os principais pontos positivos
preenche com outra coisa legal pra eles. O que que são a confiança que possuem no serviço e nos profissio-
é o legal pra eles? Do que eles precisariam mesmo? nais que lá trabalham. Logo, quando precisam de ajuda, a
... Tentar preencher aquele buraco ali é o mais difícil. buscam. Isso acontece, principalmente, quando eles estão
(Assistente Social) muito doentes e se sentindo muito mal. Muitas partici-
pantes fizeram, inclusive, uma diferenciação entre aderir
3. Encaminhamento e adesão ao tratamento:
ao tratamento e ao atendimento proposto pelo serviço de
A respeito do encaminhamento dado pelas pro-
saúde. Enquanto eles tendem a aderir ao atendimento,
fissionais aos casos de adolescentes que estão doentes
frequentando regularmente o serviço, eles mostram uma
e precisam de um atendimento médico, verificou-se
dificuldade maior em seguir o tratamento.
que todas as participantes do abrigo diurno afirmaram
Quanto ao tratamento, a principal dificuldade
encaminhar os adolescentes para o serviço de atendi-
sentida é a de fazê-los tomar a medicação nos horários
mento à saúde. Já as profissionais que trabalham nesse
recomendados e de fazê-los cumprir o tratamento até
serviço destacaram que a sua preocupação é a de tentar
o final, uma vez que é bastante comum entre os ado-
usar ao máximo os recursos de que dispõem para ver os
lescentes a atitude de abandonarem o tratamento assim
problemas solucionados ali mesmo. Quando isso não é
que se sentem um pouco melhores. De acordo com uma
suficiente ou possível, recorre-se a outros serviços da
participante: “É uma dificuldade fazer que eles façam
rede pública de saúde, principalmente os serviços de
tratamento. Eles largam o tratamento várias vezes, aí
atendimento às DSTs e AIDS, as especialidades médicas
eles só vão retornar e fazer até o fim quando já tá quase
e os casos que precisam de internação.
perto da morte” (Técnica de enfermagem). O fato de
É, sempre tentando resolver aqui, com medicações morarem na rua, não terem rotina, desaparecerem dos
daqui, porque eles não gostam de buscar remédio em
serviços por algum tempo e de perderem ou não toma-
outro local. E tentar também nas especialidades, o que
eu sei tratar aqui. Quando passa da minha capacida-
rem os remédios foram os principais aspectos citados
de, daí manda pra um especialista. Mas o problema para dificultarem o tratamento: “Ninguém consegue
do especialista é que não é pro dia, então às vezes a fazer um tratamento morando na rua. Os que ficam em
gente marca e eles não vão. Então tem que fazer de abrigos conseguem porque a gente que dá os remédios
tudo pra tratar todos eles aqui, com medicação, com nos horários. Os que tão na rua não, porque eles não
os recursos que nós temos aqui, e mandar o mínimo têm horário para acordar, não tem uma rotina.” (Técni-
pra fora. (Médica) ca de enfermagem). Outro importante empecilho citado
As participantes do serviço de saúde também foi a falta de perspectiva de vida dos adolescentes, a
destacaram outras atividades como sendo da sua respon- qual estaria relacionada à pergunta: “Por que que eu vou
sabilidade: acessar a rede de atendimento e tentar “cons- ficar bom? Pra quem eu vou ficar bom?” (Assistente
truir” a trajetória de vida e de vida de rua do adolescente social). Nesse caso, a falta de respostas satisfatórias
atendido, tentando, inclusive, matriculá-lo na escola e motivadoras para o adolescente o faria desistir de
ou levá-lo para fazer documentos etc. Além disso, elas investir no seu tratamento e recuperação.
costumam acompanhar os adolescentes até os serviços Apesar da maioria das participantes ter citado os
de saúde, quando os mesmos são encaminhados: empecilhos à adesão ao tratamento pelos adolescentes,
uma participante destacou que está satisfeita com a
E os encaminhamentos que a gente vai dar vai ser
adesão dos mesmos. Ela afirmou que aprendeu, com a
desde, hum, fazer acontecer a rede dentro da saúde,
sua prática profissional que, apesar deles não seguirem
por exemplo, encaminhando pra um especialista, tem
que fazer um eletro, a gente vai também acompanhar as recomendações conforme mandado, eles melhoram
essas idas e vindas dentro do sistema de saúde, mas mesmo assim. Além do mais, ela salientou que se trata
vai fazer coisas, hum, que envolvem mais assistência de capacitá-los a partir do que eles necessitam para
social, enfim, conhecer a história desse guri, uma viverem na rua, e não do que o profissional julga que
visita domiciliar, matricular no colégio, né, coisas de eles necessitam.
ordem prática que também vão significar tratar esse
Tu não pode querer mudar a vida deles nem a saúde
guri. Porque não adianta ele chegar aqui, a gente dar
deles. Não é a saúde que tu quer pra eles, é a saúde
um banho, deixar limpinho, não sei o quê, colocar
que eles necessitam. O bom pra se sair bem na rua é
dentro do consultório assepticamente, entrevistá-lo,
assim, tu não pode querer agredi-los. Certas coisas que
né, quando bom, ele não ta indo no colégio, ele não
eu posso tentar fazer aqui, que eu faço a nível de con-
sabe se a mãe tá viva ou morta... (Psicóloga)
sultório, como dar remédio de vermes pra todo mundo,

513
Morais, N.A., Aquino Morais, C. , Reis, S., & Koller, S. H. “Promoção de saúde e adolescência: um exemplo de intervenção com adolescentes em situação de rua”

aqui não pode ser assim pra todos, só quando eles têm mais, que poderia estar contribuindo para a permanência
sintoma. Então, os antibióticos, como eu te disse, a gen- dos adolescentes nas ruas, foram unânimes em afirmar
te vai usando, e em dois, três dias tá bom, não podemos que as instituições têm um papel muito importante na
exigir sete dias, dez dias. Eu nem dou remédio pra dez vida dos adolescentes, os quais viveriam muito pior se
dias porque vai fora, tentando não haver desperdício
não fosse a existência da rede de atendimento.
também pra Casa, eu não dou. (Médica)

Por outro lado, as participantes também afirmaram Considerações finais


que não se pode obrigá-los a nada, mas deve-se tentar
estabelecer um convívio harmonioso com os adoles- Pensar intervenções pautadas na promoção de saú-
centes e usar da conscientização e do tempo de cada de implica mudanças importantes na lógica assistencial.
um para que eles próprios percebam que necessitam de É o que percebemos nessa intervenção que trazemos
ajuda. A troca de informações e as combinações entre como exemplo, na qual os profissionais já não apostam
os médicos e os adolescentes foram vistos, inclusive, em ações cujo foco recai sobre a doença do adolescente.
como uma forma de diminuir fantasias acerca do uso Embora esse tipo de atendimento seja contemplado,
da medicação e de garantir uma maior adesão ao tra- busca-se, sobretudo, trabalhar sobre os determinantes
tamento prescrito. do processo saúde-doença, seja provendo alimentação e
Se tu quiser que eles se obriguem a fazer o que tu quer, higiene e/ou acolhendo as histórias de vida desses ado-
tu não consegue trabalhar. Tem que ser mais ou menos lescentes, que são vistos como sujeitos singulares, e não
um jogo assim, eles cedem de um lado, e a gente cede apenas a partir de seus sintomas. Por isso é que se percebe
um pouco do outro e aí tem um convívio harmonioso.
nos relatos das profissionais a preocupação em se discutir
Se nós formos assim tipo xerife, nós mandamos e eles
obedecem, não funciona. (Médica)
projetos de vida, solicitar auxílio de outros serviços da
Não medico nenhuma criança sem a criança aceitar, rede e em constituir os seus espaços de atendimento como
né. Então eu consulto a criança, ofereço, digo que espaços de convivência, de educação, de criação de novos
poderia haver alguma coisa pra ajudar e digo em quê, vínculos e de exercício de cidadania. Tal perspectiva de
ajudar na fissura com a droga, né, ajudar nas irrita- atuação é bastante coerente com a proposta de promoção
ções, ajudar a poder prestar mais atenção, pergunto se de saúde, discutida na parte inicial deste artigo.
aceita, né. E aí eles aceitam ou não. Eles aceitando eu No entanto, é importante situar as participantes
faço uma combinação de quando vão tomar e como vão deste estudo como um grupo de profissionais bastante
administrar a medicação e aí eu acompanho. ... Então diferenciadas, no que diz respeito à sua forma de con-
tem algumas crianças que no começo não aceitaram,
ceber a prática e atuar. Trata-se de profissionais muito
depois começaram a me ver sempre aqui, ver que eu
participo das coisas, né, já não, porque às vezes, uma engajadas politicamente e reconhecidas pelo seu grande
coisa normal, né, meio paranóide, assim, “Quem é essa comprometimento no trabalho com adolescentes em
que nunca veio aqui, né, e tá me oferecendo remédio, situação de rua. Inclusive, o próprio fato de trabalhar
que que é isso?”. Então tem sempre muito o pensamen- com essa população já diz algo a respeito das mesmas,
to que o remédio vai mudar a cabeça deles, que eu sou uma vez que a maioria dos profissionais de saúde e
poderosa, que eu vou estar dentro do pensamento... mesmo educadores sociais se recusam a trabalhar com
Com o tempo vão aliviando essas ansiedades. ... Nós a população em situação de rua.
temos crianças aqui que pediram, né. Tem um gurizinho Vale dizer que, embora nosso exemplo envolva
aqui que disse “Ué, tu não ia me dar um remédio?”, eu
serviços de atendimento à população de crianças e
digo “Ué, mas tu não aceitou”, “Ah, mas eu quero”.
E tá muito melhor, né. (Psiquiatra)
adolescentes em situação de rua, não é apenas nesse con-
texto que se apresentam as situações de vulnerabilidade.
4. Papel das instituições na vida dos adolescentes: A população adolescente em geral (seja ela oriunda de
Quanto à avaliação do papel que as instituições contextos sociais mais ou menos abastados) tem deman-
têm na vida dos adolescentes, verificou-se que as parti- dado maior atenção nos últimos anos devido ao aumento
cipantes do abrigo diurno enfatizaram questões relativas da incidência do uso de drogas, contaminação com HIV,
à “garantia de aspectos necessários à sobrevivência” dos homicídios, transtornos alimentares, suicídios, dentre
adolescentes, sobretudo alimentação e higiene. No ser- outros (Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas
viço de saúde, destacaram-se: a higiene, o fácil acesso Psicotrópicas, 2003; Centro Estadual de Vigilância em
a consultas e remédios, assim como o fato de se tratar Saúde, 2006), e, por isso, também merece receber um
de um “espaço de inclusão”, no qual os adolescentes olhar através da promoção da saúde. Faz-se necessário
podem desenvolver a sua autonomia e refletir sobre a olhar o adolescente em sua integralidade, considerando
sua vida. Apesar de muitas vezes as participantes terem a especificidade desta fase do ciclo de vida e as pecu-
questionado o papel das instituições como um fator a liaridades de cada contexto.

514
Psicologia & Sociedade; 22 (3): 507-518, 2010

Nesse sentido é que Morais (2009) propõe a os serviços clínicos regulares, o desenvolvimento de
existência de um continuum de vulnerabilidade social material educativo específico, sistema de abrigamento
entre fatores de risco e proteção na vida de adolescentes e moradias. Desse modo, a proposta de inovação nos
que vivem diferentes tipos de vulnerabilidade social modelos de serviços deve partir da escuta das neces-
nas comunidades, vilas e favelas das cidades e aqueles sidades da população à qual se busca favorecer com
que vivem em situação de rua. Estudando adolescentes melhorias das condições de cuidado. Os estudos que
pobres que moravam com suas famílias e outros ado- investigam crianças e adolescentes em situação de rua
lescentes em situação de rua, Morais (2009) mostrou subsidiam a proposição de novas atividades ao prover
que eventos estressores e resultados desenvolvimentais conhecimento do contexto desses e apresentar as con-
negativos já existiam anteriormente à vinda para a rua. dições da família e de vida.
Por isso, defendeu a necessidade de que maior visibili- A interlocução dos saberes, das instâncias gestoras
dade seja dada para a infância e adolescência que vive nas diversas áreas – educação, saúde, assistência social
em diferentes situações de vulnerabilidade social, seja –, bem como dos diferentes profissionais propicia o de-
trabalhando e/ou morando nas ruas ou aquela que está senvolvimento da integralidade ao buscar reconhecer a
invisível nas comunidades, vilas e favelas. Tal cons- potencialidade e singularidade com que cada área pode
tatação implica a necessidade de medidas preventivas contribuir no provimento das condições de assistência à
(ou seja, de promoção de saúde) que sejam anteriores saúde. Além disso, enfatiza-se a inserção e participação
à vinda para a rua e de medidas que atendam crianças da clientela assistida, como visto na atuação das pro-
e adolescentes que já estão na rua. fissionais deste estudo, as quais reformularam algumas
Certamente a situação de rua coloca algumas estratégias de cuidado a fim de adequar a realidade da
situações particulares ao atendimento e tratamento dos população de rua atendida.
adolescentes que vivem nessa condição, tais como: a Essa foi uma experiência diferenciada e em um
dificuldade de acesso ao serviço pela ausência de um contexto específico. Entretanto, vemos que a mudança
adulto responsável ou de um endereço residencial fixo; de comportamento dos profissionais frente ao modelo
algumas características comportamentais (humor, modo médico tradicional de atendimento foi eficiente e propor-
de vestir, linguajar, “barganhas” etc.), as quais deman- cionou a aproximação da relação médico-paciente. Essa
dam muito “traquejo” dos profissionais; assim como a estratégia de acolhimento (baseada na escuta do adoles-
falta de rotina e as condições precárias de sobrevivência cente, diálogo com outros profissionais, respeito pela
em que vivem. Em conjunto, esses fatores contribuem autonomia do adolescente, provisão de direitos básicos,
para a baixa frequência do acesso ao serviço de saúde dentre outras) favorece a construção de uma relação de
por parte desses jovens. Por isso é que alguns autores confiança e compromisso dos usuários com as equipes e
ajudam a propor importantes sugestões para o deline- serviços, podendo ser estendida a outros contextos, pois
amento dos serviços de atenção à saúde de crianças e o que a embasa é a escuta qualificada dos profissionais
adolescentes em situação de rua (ver Morais & Koller, através de uma atitude de inclusão. Essa é defendida e
2010; Oliveira & Ribeiro, 2006). Dentre os pontos propagada pela política nacional de humanização na
comuns mencionados estão: a defesa do espaço da rua atenção e gestão do Sistema Único de Saúde que visa a
como um espaço de assistência (profissionais de saúde proporcionar a adequação e melhoria dos atendimentos
e educadores sociais precisam ir aonde as crianças e ao potencializar protagonismo e vida no processo de
adolescentes estão); a valorização das capacidades e produção de saúde (Ministério da Saúde, 2008b).
potencialidades das crianças/adolescentes em situação A clientela das crianças e adolescentes em situ-
de rua (preservação do potencial saudável); e o atrela- ação de rua é uma população diferenciada dos demais
mento das intervenções em saúde ao contexto familiar jovens brasileiros, entretanto, seu espaço de assistência
e social da criança, assim como a outros programas que não deve ser negligenciado, pois o direito à saúde é uma
trabalham com essa população e sua família (educação, prerrogativa constitucional a todo cidadão. De acordo
moradia, assistência social etc.). com as diretrizes para gestores e trabalhadores da saúde,
Diante da constatação das sérias limitações im- “um SUS humanizado é aquele que reconhece o outro
postas pelo modelo médico tradicional ao atendimento como legítimo cidadão de direitos, valorizando os dife-
da população de crianças e adolescentes em situação de rentes sujeitos implicados no processo de produção de
rua, reconhece-se que é preciso desenvolver diferentes saúde” (Ministério da Saúde, 2008c, p.5). A promoção
modelos de serviços de cuidado à saúde dessa popula- de saúde para essa população em situação de rua deve
ção. Farrow et al. (1992) citam, por exemplo, as vans considerar as condições de adoecimento mais frequen-
de cuidado móveis que andariam nas ruas trazendo tes entre eles, como citado neste estudo - dependência
informação e cuidado para os adolescentes, assim como química, transtorno de humor (depressão, principalmen-

515
Morais, N.A., Aquino Morais, C. , Reis, S., & Koller, S. H. “Promoção de saúde e adolescência: um exemplo de intervenção com adolescentes em situação de rua”

te), transtornos de conduta e deficiência mental. Uma demais profissionais, permitindo a maior integração de
recente resposta à necessidade dessa população foi o esforços na efetivação de ações promotoras de saúde.
financiamento de “consultórios de rua” – compostos Em uma equipe de saúde, o psicólogo é um profissio-
de equipe multiprofissional - a fim de oferecer ações nal a mais a contribuir, e não o único. Sua ação deve
de promoção de saúde, cuidados básicos e redução caminhar, portanto, sempre em conjunto com os outros
de danos a estes que moram ou estão em situação de profissionais da instituição.
rua e são usuários ou dependentes de álcool e drogas. Este artigo veio ressaltar a relevância de práticas
Essa ação visa a minimizar os danos ocasionados pelo promotoras de saúde no campo da psicologia através,
problema da dependência química, principalmente do inicialmente, de uma discussão sobre esse conceito e
crack, que se tornou uma questão de saúde pública da ilustração com um modelo de intervenção na área
(Ministério da Saúde, 2009). da adolescência em situação de rua. No entanto, como
Entretanto, essa não é a única demanda da popu- dito anteriormente, reitera-se aqui o fato de que prá-
lação de rua. As estratégias de produção de saúde para ticas promotoras de saúde não devem se restringir às
atender à população de rua requerem discussão em intervenções em contextos de vulnerabilidade social.
diferentes esferas que integrem gestão e profissionais de Ao contrário, acredita-se que todas as práticas de in-
saúde e se pautem no reconhecimento das necessidades tervenção psi devem ser em essência “promotoras de
dessa população. saúde”, independente da faixa etária ou condição social
No que se refere à atuação do psicólogo, acre- da população alvo, assim como do contexto onde a in-
dita-se que essa deva estar alicerçada nos princípios tervenção ocorre (escolas, serviços de saúde, empresas,
propostos pelo campo da promoção da saúde, tanto etc.). Se para promover saúde é necessário entender e
em termos de concepção do processo saúde-doença intervir sobre as condições de vida de uma população,
enquanto uma produção social (perspectiva constru- precisamos estar atentos ao quê produz saúde na vida
tivista, tal como definido por Spink, 1992) quanto desses sujeitos, e trabalhar nesse sentido. É a isso que
de objetivo da prática terapêutica - promoção de devemos estar atentos para que possamos, de fato,
autonomia, corresponsabilização, empoderamento e construir práticas promotoras de saúde.
conscientização, por exemplo. Assim, de acordo com
Benevides (2005), trata-se de pensar e propor práticas Nota
psicológicas que estejam imediatamente comprometi-
das com o contexto no qual vivemos, com as condições *
Agência de financiamento: CNPq
de vida da população brasileira e que impliquem a
produção de sujeitos autônomos, protagonistas, copar-
tícipes e corresponsáveis por suas vidas. O psicólogo Referências
pode, dessa forma, potencializar a criação de ações
Bardin, L. (1979). Análise de conteúdo (L. A. Reto & A. Pinheiro,
adequadas a cada contexto, que levem em consideração
Trads.). São Paulo: Edições 70/ Martins Fontes. (Original
as demandas de cada grupo social, ao invés de partir de publicado em 1977)
conhecimentos clínicos descontextualizados, os quais Benevides, R. (2005). A psicologia e o Sistema Único de Saúde:
pressupõem uma visão naturalizada e universalista do quais interfaces? Psicologia & Sociedade, 17(2), 21-25.
ser humano (Dimenstein, 1998). Bronfenbrenner, U. (1996). A ecologia do desenvolvimento
No nível institucional, por sua vez, a atuação do humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre:
Artes Médicas. (Originalmente publicado em 1979)
psicólogo pode se dar no sentido de colocar em questão
Camargo-Borges, C. & Cardoso, C. L. (2005). A psicologia e a
os processos de trabalho, de abrir espaços mais demo- estratégia de saúde da família: compondo saberes e fazeres.
cráticos de convivência, de problematizar as relações Psicologia & Sociedade, 17(2), 26-32.
entre os profissionais e entre profissionais e usuários, Campos, G.W., Barros, R. B., & Castro, A. M. (2004). Avaliação
visando à potencialização de ações integrais e relações de política nacional de promoção da saúde. Ciência e Saúde
mais humanizadas (Camargo-Borges & Cardoso, 2005). Coletiva, 9(3), 745- 749.
Cecconello, A. M. & Koller, S. H. (2003). Inserção ecológica na co-
Por fim, embora se pense que a inserção do
munidade: uma proposta metodológica para o estudo de famílias
profissional psicólogo nos serviços seja relevante, em situação de risco. Psicologia Reflexão e Crítica, 16, 515-524.
lembramos que ações de promoção de saúde são Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas.
prioritariamente intersetoriais e, portanto, interdis- (2003). Apostila de treinamento: entrevistadores. Levanta-
ciplinares (Benevides, 2005; Dimenstein, 1998). Ao mento sobre o uso de drogas entre crianças e adolescentes
atuar em diversos contextos como escola, comunidade, em situação de rua nas 27 capitais brasileiras. São Paulo:
Universidade Federal de São Paulo.
rua, família, sistema de saúde, o psicólogo pode ser
Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS). Secretaria
um interlocutor entre esses microssistemas, junto aos Estadual da Saúde. Rede Estadual de Análise e Divulgação

516
Psicologia & Sociedade; 22 (3): 507-518, 2010

de indicadores para a saúde. (2006). A saúde da população Morais, N. A. (2005). Um estudo sobre a saúde de adolescentes
do estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Autor. em situação de rua: o ponto de vista dos adolescentes, pro-
Claro, L.B.L., March, C., Mascarenhas, M. T. M., Castro, I. A. fissionais de saúde e educadores. Dissertação de Mestrado,
B., & Rosa, M. L. G. (2006). Adolescentes e suas relações Curso de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento,
com serviços de saúde: estudo transversal em escolares de Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS.
Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Morais, N. A. (2009). Trajetórias de vida de crianças e adoles-
22(8), 1565-1574. centes em situação de vulnerabilidade social: entre o risco
Dimenstein, M. D. B.(1998). O psicólogo nas unidades básicas e a proteção. Tese de Doutorado, Curso de Pós-Graduação
de saúde: desafios para a formação e atuação profissionais. em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Estudos de Psicologia, 3(1), 53-81. Porto Alegre, RS.
Ensign, J. & Bell, M. (2004). Illness experiences of homeless Morais, N. A. & Koller, S. H. (2009). Aspectos biopsicossociais
youth. Qualitative Health Research, 9, 1239-1254. da saúde de crianças e adolescentes em situação de rua. In
Farrow, J. A., Deisher, R. W., Brown, R., Kulig, J. W., & Kipke, F. J. Penna & V. G. Haase (Eds.), Aspectos biopsicossocias
M. D. (1992). Health and health needs of homeless and runa- da saúde na infância e adolescência (pp. 185-198). Belo
way youth. Journal of Adolescent Health, 13, 717-726. Horizonte: Coopemed.
Ferretti C. J., Zibas D. M. L., & Tartuce, G. L. B. P. (2004). Pro- Morais, N. A. & Koller, S. H. (2010). Saúde de crianças e ado-
tagonismo juvenil na literatura especializada e na reforma do lescentes em situação de rua. In N. A. Morais, L. Neiva-Silva,
ensino médio. Cadernos de Pesquisa, 122 (34), 411-423. & S. H. Koller (Eds.), Endereço desconhecido: crianças e
Formigli, V. L. A., Costa, M. C. O., & Porto, L. A. (2000). Avalia- adolescentes em situação de rua (pp. 235- 262). São Paulo:
ção de um serviço de atenção integral à saúde do adolescente. Casa do Psicólogo.
Cadernos de Saúde Pública, 16(3), 831-841. Moreira, M. R., Neto, O. C., & Sucena, L. F. M. (2003). Um
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2000). Pesquisa olhar sobre condições de vida: mortalidade de crianças e
nacional por amostra de domicílios. Acesso em 15 de julho, adolescentes residentes em Manguinhos, Rio de Janeiro,
2008, em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/ Brasil. Cadernos Saúde Pública, 19(1),161-173.
trabalhorendimento/pnad2003/saude/saude2003.pdf Moysés, S. J., Moysés, S. T., & Krempel, M. C. (2004). Avaliando
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2009). Indicado- o processo de construção de políticas públicas de promoção de
res sociodemográficos e de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: saúde: a experiência de Curitiba. Ciência & Saúde Coletiva,
IBGE/Coordenação de população e indicadores sociais. 9(3), 627-641.
Maddaleno, M., Morello, P., & Infante-Espínola, F. (2003). Salud Muza, G. M. & Costa, M. P. (2002). Elementos para a elaboração
y desarrollo de adolescentes y jóvenes en Latinoamérica y El de um projeto de promoção à saúde e desenvolvimento dos
Caribe: desafios para la próxima década. Salud Pública de adolescentes – o olhar dos adolescentes. Cadernos de Saúde
México, 45, 132-139. Pública, 18(1), 321-328.
Mejía-Soto, G., Castañeda, R. R., González, M. A., Ramirez, A. Oliveira, A. & Ribeiro, M. (2006). O cuidar da criança de/na
G., & Avendaño, E. S. (1998). Índices de morbidade dos meni- rua na perspectiva dos graduandos de enfermagem. Texto e
nos de rua. Adolescência Latinoamericana, 1(3), 175-182. Contexto Enfermagem, 15, 246-253.
Ministério da Saúde. (2004a). Saúde Brasil 2004 – Uma análise Panter-Brick, C. (2001). Street children and their peers: Perspec-
da situação de saúde. Brasília, DF: Autor. tives on homelessness, poverty and health. In H. Schwartzman
Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. (2004b). (Ed.), Children and anthropology: Perspectives for the 21st
Saúde Mental no SUS: os Centros de Atenção Psicossocial. Century (pp. 83-97). Westport, CT: Greenwood Press.
Brasília, DF: Autor. Panter-Brick, C. (2002). Street children, human rights and public
Ministério da Saúde. (2005). Saúde integral de adolescentes e health: A critique and future directions. Annual Reviews of
jovens: orientações para a organização dos serviços de saúde. Anthropology, 31, 147-171.
Acesso em 29 de janeiro, 2007, em http://dtr2001.saude.gov. Raffaelli, M. (1999). Homeless and working street youth in Latin
br/editora/produtos/livros/pdf/06_0004_M.pdf America: A developmental review. Interamerican Journal of
Ministério da Saúde. (2008a). Portaria n° 154, de 24 de janeiro de Psychology, 33(2), 7-28.
2008. Cria os Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF. Ribeiro, M. O. (2003). A rua: um acolhimento falaz às crianças
Acesso em 02 de agosto, 2008, em http://dtr2004.saude.gov. que nela vivem. Revista Latino-americana de Enfermagem,
br/dab/docs/legislacao/portaria154_24_01_08.pdf 11, 622-629.
Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Saggese, E. G. & Leite, L. C. (1999). Saúde mental na adoles-
Técnico da Política Nacional de Humanização. (2008b). cência: um olhar sobre a reabilitação psicossocial. Cadernos,
Acolhimento nas práticas de produção de saúde (Textos Juventude, Saúde e Desenvolvimento, 1, 197-205.
Básicos de Saúde, Série B, 2ª ed.). Brasília, DF: Editora do Santos, K. F. & Bógus, C. M. (2007). A percepção de educadores
Ministério da Saúde. sobre a escola promotora de saúde: um estudo de caso. Re-
Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo vista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano,
Técnico da Política Nacional de Humanização. (2008c). Do- 17(3), 123-133.
cumento base para gestores e trabalhadores do SUS (Textos Santos, P. L. (2006). Problemas de saúde mental de crianças e
Básicos de Saúde, Série B, 4ª ed.). Brasília, DF: Editora do adolescentes atendidos em um serviço público de psicologia
Ministério da Saúde. infantil. Psicologia em Estudo, 11(2), 315-321.
Ministério da Saúde. (2009). Ministério investe R$ 700 mil em Sarriera, J. C., Moreira, M. C., Rocha, K. B., Bonato, T. N.,
Consultórios de Rua. Acesso em 16 de dezembro, 2009, em Duso, R., & Prikladnick, S. (2003). Paradigmas em psicologia:
http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/noticias/default. compreensões acerca da saúde e dos estudos epidemiológicos.
cfm?pg=dspDetalheNoticia&id_area=124&CO_NOTI- Psicologia & Sociedade, 15(2), 88-100.
CIA=10952

517
Morais, N.A., Aquino Morais, C. , Reis, S., & Koller, S. H. “Promoção de saúde e adolescência: um exemplo de intervenção com adolescentes em situação de rua”

Soares, C. B., Salvetti, M. de G., & Ávila, L. K. (2003). Opinião Camila de Aquino Morais é Psicóloga (UNIFOR),
de escolares e educadores sobre saúde: o ponto de vista da Especialista em terapia familiar e de casal, Mestre em
escola pública de uma região periférica do Município de São Psicologia (UFRGS), Doutoranda em Psicologia Clínica e
Paulo. Cadernos de Saúde Pública, 19(4),1153-1161. Cultura (UnB) e membro do CEP-Rua.
Spink. M. J. P. (1992). A construção social do saber sobre saúde
e doença: uma perspectiva psicossocial. Saúde e Sociedade, Sílvia Reis é Psicóloga (UFRGS) e Especialista em Saúde
1(2), 125-139. da Família e Comunidade (Grupo Hospitalar Conceição).
Traverso-Yépez, M. A. & Pinheiro, V. de S. (2002). Adolescência,
Consultora técnica do Departamento de Atenção Básica do
saúde e contexto social: esclarecendo práticas. Psicologia &
Ministério da Saúde.
Sociedade, 14(2), 133-147.

Sílvia Helena Koller é Professora do Curso de


Pós-Graduação em Psicologia da UFRGS, Pesquisadora do
Recebido em: 09/08/2008
CNPq e Coordenadora do CEP-Rua.
Revisão em: 04/01/2010
Aceite em: 05/08/2010

Como citar:
Normanda Araujo de Morais é Psicóloga (UFRN), Mestre Morais, N. A., Aquino Morais, C., Reis, S., & Koller, S.
e Doutora em Psicologia (UFRGS), membro do CEP-Rua - H. (2010). Promoção de saúde e adolescência: um exem-
Centro de Estudos Psicológicos sobre Meninos e Meninas plo de intervenção com adolescentes em situação de rua.
em Situação de Rua. Endereço: Instituto de Psicologia, Psicologia & Sociedade, 22(3), 507-518.
UFRGS. Rua Ramiro Barcelos, 2600/104.
Porto Alegre/RS, Brasil. CEP 90035-006.
Email: normandaaraujo@gmail.com

518

Você também pode gostar