Estudo de Caso - Fraude em Licitações de Obras Públicas: Autora
Estudo de Caso - Fraude em Licitações de Obras Públicas: Autora
Estudo de Caso - Fraude em Licitações de Obras Públicas: Autora
FRAUDE EM LICITAÇÕES DE
OBRAS PÚBLICAS
Autora:
NEUSA COUTINHO AFFONSO1
Colaboradores
FABIO COUTINHO CLEMENTE 2
JOSÉ REINALDO DA MOTTA 3
LUCIANO EUSTÁQUIO BUENO RINALDI
Supervisão:
Elsio Jeová dos Santos
Secretário de Controle Externo em Minas Gerais
OBJETIVO DO TRABALHO
Colaborar para a eficácia do controle, com a divulgação de um estudo de
caso: fiscalização de obras públicas executadas mediante convênios com a União.
1
Assessora da SECEX-MG, Graduada em Administração de Empresas pela União de Negócios e
Administração- UNA/MG, Pós-Graduação em Controle Externo pela Escola de Contas Prof. Pedro
Aleixo-TCMG.
2
Analista de Controle Externo da SECEX-MG, Graduado em Engenharia Química e Mestrado em
Ciências em Química, ambos pelo Instituto Militar de Engenharia-IME.
3
Diretor da 3ª Diretoria Técnica da SECEX-MG, Graduado em Ciências Sociais e Mestrando em
Administração Pública na Fundação Getúlio Vargas-FGV.
FRAUDE EM LICITAÇÕES DE OBRAS PÚBLICAS
TCU – SECEX-MG
RESUMO
Com o objetivo de prestar uma pequena colaboração para a eficácia do
controle externo, elaborou-se este trabalho, fundamentado na experiência adquirida
nas fiscalizações a cargo da SECEX-MG – Secretaria de Controle Externo do
Tribunal de Contas da União em Minas Gerais.
Estima-se que a disseminação de práticas inovadoras de auditoria possa
contribuir para que as ações dos órgãos de controle resultem na restituição, aos
cofres públicos, dos recursos desviados de obras públicas. Espera-se, também, que
seja restringida a participação de empresas fraudulentas nos processos licitatórios e,
ainda, fortalecido o controle dos órgãos repassadores sobre os recursos
transferidos.
Este trabalho apresenta a experiência adquirida nas fiscalizações realizadas
em 30 municípios mineiros, em decorrência de denúncias na imprensa.
Na oportunidade em questão, foram analisados 121 convênios, envolvendo
um volume de recursos da ordem de 10 milhões de reais. Recursos transferidos,
principalmente, pelos Ministério da Integração Nacional, Ministério da Previdência e
Assistência Social, Ministério da Saúde e Ministério do Esporte, para a construção
de obras de saneamento básico, unidades de saúde, quadras poliesportivas e
outras.
Dos 30 municípios auditados, 23 se encontravam relacionados com
esquemas de fraude em licitações, evidenciada, principalmente, por montagem de
documentos e participação de empresas inexistentes.
Apresentaram-se, também, desvio de recursos federais, verificado na análise
de cheques e notas fiscais emitidas, e conluio entre empresas, prefeitos municipais
e comissões de licitação, no percentual de 55% dos convênios firmados com órgãos
da Administração Federal.
Grande parte das obras contratadas encontrava-se paralisada ou concluída
com alterações nos projetos, não previamente autorizadas pelos órgãos
repassadores. Constataram-se graves vícios construtivos, como utilização de
materiais de baixa qualidade e/ou supressão de etapas da obra, descumprindo o
objeto dos convênios.
1
Dessas obras, cerca de 53% tiveram as respectivas prestações de contas
aprovadas pelos órgãos repassadores, a despeito das irregularidades apresentadas.
Nas obras fiscalizadas pela CEF, verificaram-se formas eficientes de controle,
as quais resultaram em menor incidência de irregularidades.
Destacam-se, nesta apresentação, as técnicas desenvolvidas para a
execução da fiscalização de convênios com repasse de recursos públicos, no
sentido de se detectar e coibir fraudes nas contratações de obras públicas.
Ressaltam-se, também, as boas práticas encontradas, as quais podem
contribuir para ações preventivas de gestão.
INTRODUÇÃO
4
De modo geral, será usado neste trabalho a nomenclatura convênio.
2
Em seguida à demonstração da situação encontrada nas fiscalizações em
apreço, são abordados os resultados alcançados, os fatores positivos do controle e
as ações que podem contribuir para inibir a prática dos atos ilícitos. Por fim,
aspectos relativos às técnicas e ferramentas de trabalho disponíveis no TCU.
O trabalho apresenta a seguinte estrutura:
Parte I – Avaliação da fiscalização realizada pela SECEX-MG em
municípios do Estado de Minas Gerais;
Parte II – Roteiro de Verificações;
Parte III – Considerações finais – o que pode ser feito para melhorar a
aplicação dos recursos públicos;
Apêndice – Instrumentos de Apoio nas Fiscalizações de Obras Públicas.
PARTE I
3
O que foi avaliado
O escopo das fiscalizações efetuadas junto aos municípios foi delineado com
base na materialidade e representatividade dos recursos federais envolvidos,
repassados pela União, mediante convênios e contratos de repasse. Assim, foram
selecionados 121 convênios, com média de 2 a 5 convênios por município.
4
idoneidade das notas fiscais emitidas, constituiu o elemento principal para a
detecção das irregularidades. É fato que uma vez constatada a inexistência da
empresa, vencedora ou participante do certame licitatório, todo o processo se torna
comprometido.
5
• constituição forjada de empresas, ante a ausência de registro das empresas
na Junta Comercial do Estado de Minas Gerais e montagem dos contratos de
constituição de empresas e das propostas apresentadas por elas, em
licitações;
• abandono de grande parte das obras, algumas sendo reiniciadas com pessoal
contratado pelos municípios, sem qualquer vinculação com a empresa
inicialmente contratada;
• realização de obras com materiais inferiores, tanto em qualidade quanto em
quantidade, divergindo dos planos de trabalho e planilhas aprovados pelos
órgãos repassadores;
5
Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia.
6
Acórdãos Plenários 892, 1240, 1550 e 1745, todos de 2003.
6
• percentual elevado de convênios atrasados e paralisados;
• prorrogação, sem motivação, da vigência dos convênios;
• falta de acompanhamento da execução do objeto dos convênios;
7
Ver Acórdão nº 1936/2003-TCU-Plenário.
7
Fig. 1 – Situação dos Municípios Fiscalizados.
Irregularidades
Esquema de formais - 1,5%
fraude - 83,0%
Outras
irregularidades
graves - 15,5%
Concluídas 34%
Alteradas 41%
Inacabadas 25%
8
Boas práticas
8
Inicialmente, foi formalizado um processo para cada um dos 30 municípios auditados.
9
PARTE II
ROTEIRO DE VERIFICAÇÕES
ENTIDADE INTERVENIENTE
ÓRGÃO EXECUTOR
DOMICÍLIO DAS
JUCEMG
EMPRESAS
RECEITAS FEDERAL,
LOCAL DAS OBRAS ESTADUAL OU MUNICIPAIS
10
2- NO SIAFI E SIAPE9: verificar a situação dos convênios e levantar o rol
dos gestores responsáveis (nome, CPF, endereço e período de gestão),
certificando o registro da situação dos convênios e identificando os
responsáveis e respectivos períodos de gestão.
3- NA ENTIDADE INTERVENIENTE (Caixa Econômica Federal ou outro):
solicitar contratos de repasse, cópia dos processos e relatórios de acompanhamento
das obras, certificando o registro da situação dos convênios e identificando os
responsáveis e respectivos períodos de gestão.
4- NO ÓRGÃO EXECUTOR: a) analisar formalmente os procedimentos
licitatórios, bem como a compatibilidade entre as datas e o local do recebimento dos
convites, o domicílio das empresas convidadas, as datas do início da execução da
obra e/ou data dos pagamentos, analisando a compatibilidade cronológica dos
fatos; b) verificar os contratos firmados, listando os dados da empresa executante,
bem como de seus sócios proprietários e representantes (realizar os mesmos
procedimentos no caso de sub-rogação de contratos), confirmando o real executor
da obra; c) listar, em planilha, os dados dos participantes das licitações, relativos a:
nome das empresas participantes; endereço e área de atuação; composição
acionária; data da constituição e do registro na Junta Comercial; identificação
completa dos sócios proprietários e dos representantes legais (nome, CPF e
endereço), apurando a existência de pessoas coincidentes nas sociedades; d)
levantar a identificação completa dos membros da Comissão de Licitação e do
responsável pelo Termo de Aceitação da Obra (nome, CPF, endereço), avaliando a
sua participação em eventuais irregularidades apuradas; e) comparar os
contratos com os projetos básicos e executivos e a situação física da obra, bem
como os pagamentos efetuados, verificando a compatibilidade dos itens
contratados com os executados e os preços de mercado destes à época da
execução; f) listar os pagamentos efetuados e os beneficiários dos pagamentos,
bem como os números dos cheques emitidos, agência bancária e conta-corrente,
por beneficiário, e comparar com os extratos bancários, apurando se a
movimentação financeira corresponde aos pagamentos efetuados.
5- NOS ESTABELECIMENTOS BANCÁRIOS: solicitar cópias, de frente e
verso, dos cheques relacionados, analisando a pertinência dos beneficiários e,
ainda, possíveis endossos para outras empresas ou pessoas físicas.
9
Sistema Integrado de Administração Financeira e Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos.
11
6- NA JUNTA COMERCIAL DO ESTADO: solicitar o extrato da situação
jurídica das empresas listadas, com as alterações de sócios, de endereço e de área
de atuação, verificando a regularidade de sua constituição e do funcionamento
à época das licitações e execução das obras.
7- NO DOMICÍLIO DAS EMPRESAS: visitar os endereços das empresas,
indicados nos documentos apresentados nas licitações e na Junta Comercial
(atentando para a possibilidade de mudança de endereços), e, em caso de
inexistência física no local indicado, solicitar informações de moradores e fotografar
os locais indicados como endereços, documentando a inexistência física ou
incapacidade operacional das empresas.
8- NAS RECEITAS FEDERAL, ESTADUAL OU MUNICIPAL: solicitar a
data da inscrição das empresas nos respectivos cadastros e a situação de
funcionamento, no período analisado, verificando a idoneidade das Notas Fiscais.
9- NO LOCAL DAS OBRAS: identificar os reais executores das obras, o
estágio de construção, o material empregado e a compatibilidade da execução com
os projetos aprovados, apurando se a apresentação física corresponde aos
pagamentos efetuados, aos termos contratuais e às cláusulas dos convênios.
10- JUNTO AOS BENEFICIÁRIOS: fazer entrevistas sobre a utilização das
obras, avaliando o cumprimento do objeto dos convênios.
12
• acompanhar e fiscalizar rigorosamente a execução dos objetos dos
repasses efetuados;
NO CREA:
NO ÂMBITO DA SOCIEDADE:
13
APÊNDICE
INSTRUMENTOS DE APOIO NAS FISCALIZAÇÕES
O sucesso no resultado das fiscalizações depende da cuidadosa preparação
dos papéis de trabalho, que auxiliam no planejamento e execução das auditorias,
orientado, ainda, para o adequado encaminhamento das propostas.
As fiscalizações do TCU são apoiadas por instrumentos10 criados pela
Secretaria de Fiscalização, com a participação das unidades técnicas e aprovadas
pela Presidência, por intermédio da Secretaria-Geral de Controle Externo. Alguns
desses papéis de trabalho são as Matrizes de Auditoria, nas quais se procuram
contemplar todos os itens necessários a cada fase da fiscalização, realizando-se,
ainda, uma verificação das questões analisadas e da qualidade da auditoria.
Matrizes de Auditoria
a) Matriz de Planejamento – Documento que relaciona, a partir do enunciado do
objetivo da auditoria, as diversas questões de auditoria e, para responder a cada
uma, quais as informações requeridas, as fontes de informações, as técnicas de
auditoria, as limitações e o que se espera que a análise permita dizer ao final dos
trabalhos. A Matriz de Planejamento não é inflexível, visto ser um instrumento para
que o objetivo da auditoria seja atingido e portanto passível de mudanças durante
a realização dos trabalhos, caso ocorram situações inesperadas.
b) Matriz de Procedimentos – Documento que contém, para cada questão de
auditoria, os itens de verificação a serem aplicados durante a execução da
auditoria, além da indicação do membro da equipe responsável pela verificação, do
período em que os procedimentos deverão ser aplicados e da estimativa de custo
da auditoria. A Matriz de Procedimento é elaborada em consonância com a matriz
de planejamento.
c) Matriz de Achados – Documento que estrutura o desenvolvimento dos achados,
explicitando, para cada um, a situação encontrada, o critério adotado, as causas,
os efeitos, as evidências e as propostas de encaminhamento.
d) Matriz de Responsabilização – Documento que permite a verificação da
responsabilidade pelo achado. Apresenta, para cada achado, o nome e a função do
responsável, a conduta por ele praticada, o nexo de causalidade entre a conduta e o
achado, e,por fim, a correspondente análise.
10
Roteiro de Auditoria de Conformidade – TCU, mar/2003.
14
ÍNDICE
Resumo..................................................................................................................... 1
Introdução ................................................................................................................ 2
Parte I – Avaliação da Fiscalização Realizada Pela SECEX-MG em Municípios
de Minas Gerais.................................................................................................. . 3
Parte II – Roteiro de Verificações........................................................ ...................... 10
Parte III – Considerações Finais – o que pode ser feito para melhorar a aplicação
dos recursos públicos ............................................................................................. 12
Apêndice – Instrumentos de Apoio às Fiscalizações ............................................. 14
——————————————————————————
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de
outubro de 1988; atualizada até a emenda constitucional nº 20, de 15-12-1998,
acompanhada de novas notas remissivas e dos textos, integrais, das emendas
constitucionais e das emendas constitucionais de revisão. 21. ed. atual. e ampl. São
Paulo: Saraiva, 1999. (Coleção Saraiva de Legislação).
15