Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Contribuições Das Ciências Do Comportamento em Tempos de Pandemia 2021 Ed ABPMC

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 191

Contribuições das ciências do

comportamento em tempos de pandemia

Simone Martin Oliani


Catarine Santos Souza
Gabriela Gonçalves dos Santos Amor
Liane Dahás
Denis Roberto Zamignani
(Orgs.)
Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental – ABPMC
Curitiba, Paraná Brasil, 2021

Gestão 2021-2022 da ABPMC


Diretoria Executiva
Presidente: Giovana Munhoz da Rocha
Vice-presidente: Sulliane Teixeira Freitas
Primeira secretária: Angela de Loyola Silva Runnacles
Segunda secretária: Tatiany Honório Porto Aoki
Primeira tesoureira: Fernanda Chaves Pacheco Sorgatto Machado
Segunda tesoureira: Kátia Daniele Biscouto de Souza

Conselho Editorial da Editora ABPMC


Bruno Angelo Strapasson (Editor chefe)
Amilcar Rodrigues Fonseca Júnior
Claudia Kami Bastos Oshiro
Daniel Afonso Assaz
Hernando Borges Neves Filho
Bruna Rodrigues Lins (Secretária executiva)

Editoração: Conselho Editorial da Editora ABPMC (Gestão 2020-2023)


Capa: Denis Roberto Zamignani
Preparação do texto: Joana Figueredo
Diagramação: Carlos Rafael Fernandes Picanço
Revisão final: os organizadores Catalogação na publicação
Catalogação na publicação
Elaborada por Bibliotecária J anaina Ramos – CRB-8/9166

C764
Contribuições das ciências do comportamento em tempos de pandemia /
Simone Martin Oliani (Organizadora), Catarine Santos Souza (Organizadora),
Gabriela Gonçalves dos Santos Amor (Organizadora), et al. – Curitiba: ABPMC, 2021.

Outras organizadores
Liane Dahás
Denis Roberto Zamignani

Livro em PDF

189 p.

ISBN 978-65-87203-04-1

1. A valiação do comportamento. 2. Pandemia - COV ID-19. I. Souza, Catarine Santos


(Organizadora). II. Zamignani, Denis Roberto (Organizador). III. Amor, Gabriela
Gonçalves dos Santos (Organizadora). IV . Título.
CDD 616.89142
Sumário
Apresentação p. 7

Capítulo 1 p. 12
E quando a crise mundial transformar-se
em um problema meu?
Maíra Mello Silva

Capítulo 2 p. 18
Manejo de estresse em meio ao caos:
Como ser jornalista em plena pandemia?
Liane Dahás, Inaldo Jacinto da Silva Júnior,
Denis Roberto Zamignani, Roberto Alves Banaco e
Roberta Kovac

Capítulo 3 p. 28
Distanciamento social ou distanciamento
físico? Qual mensagem queremos passar?
Mauro Silva Júnior

Capítulo 4 p. 40
Habilidades sociais nas redes sociais
em tempos de pandemia
Talita Pereira Dias e Zilda Aparecida Pereira Del Prette
Capítulo 5 p. 50
Isolamento social e autocontrole
Fernanda Castanho Calixto

Capítulo 6 p. 57
Consumo de substâncias psicoativas
na pandemia
Alan Souza Aranha e Claudia Kami Bastos Oshiro

Capítulo 7 p. 71
Orientação on-line a pais no tratamento do
uso problemático de internet pela criança
Mariana Fortes de Sá Pianovski e
Jocelaine Martins da Silveira

Capítulo 8 p. 80
O papel da educação na redução da
criminalidade: aspectos familiares -
Comunicação não violenta dentro da família
Alessandra Turini Bolsoni-Silva
Capítulo 9 p. 89
A relação pais e filhos na pandemia da
Covid-19: Os desafios do “novo normal”
Caroline Encinas Aldibert e Beatriz Azem Correa

Capítulo 10 p. 97
Parentalidade em tempos de Covid- 19:
Dicas de como organizar a rotina da criança.
Lucas Polezi do Couto

Capítulo 11 p. 113
Hábitos de estudo: Apenas se sentar e estudar
é suficiente para uma aprendizagem saudável
e contínua?
Larissa Schafranski, Murilo Ramos e
Simone Martin Oliani

Capítulo 12 p. 129
Como lidar com rotinas familiares
interrompidas para pessoas com TEA
Oriana Comesanha e Silva
Capítulo 13 p. 135
Casamento em tempos de pandemia
Vera Regina Lignelli Otero

Capítulo 14 p. 143
Como manter a calma no relacionamento
conjugal em tempos de Covid-19
Stélios Sant’Anna Sdoukos

Capítulo 15 p. 156
Luto e um adeus sem despedidas em tempos
de Covid-19
Nione Torres

Sobre os autores e organizadores p. 181

6
Apresentação
Ao longo dos últimos 30 anos, a Asso-
ciação Brasileira de Ciências do Compor-
tamento (ABPMC) teve um crescimento
notável, tornando-se presente em diver-
sas regiões do país, diversificando suas
áreas de atuação e com isso alcançando
um número cada vez maior de analistas
do comportamento. Como fruto dos en-
contros e das discussões nele fomentadas,
mais pesquisas são realizadas, métodos
são desenvolvidos e técnicas são testadas.
Mais cursos e livros são oferecidos para
que os interessados aprimorem seus co-
nhecimentos e técnicas e tornem-se pro-
fissionais de excelência, reconhecidos pela
qualidade de seu trabalho. A análise do
comportamento em geral, e a ABPMC em
especial, representam toda essa diversida-
de de ações e possibilidades. No entanto,
há algo que move essa engrenagem e que
é o objetivo maior a ser alcançado: servir
à comunidade, oferecendo conhecimento,
ferramentas e serviços confiáveis e base-
ados em evidências científicas.
7
O projeto ABPMC Comunidade foi de-
senvolvido para lembrar a quem servimos
e qual é o nosso propósito. Todos os dias,
analistas do comportamento pensam em
novas soluções para problemas compor-
tamentais e queremos que essas soluções
cheguem ao maior número de pessoas
possível. O projeto ABPMC Comunidade
desafia profissionais a pensarem em como
levar essas soluções para todas as pesso-
as, oferecendo orientação e apoio.
Assim, são realizadas palestras, rodas
de conversa e entrevistas em programas
de rádio e televisão, traduzindo em lin-
guagem acessível os diversos temas de in-
teresse da comunidade. Tais eventos são
realizados por meio de parcerias com es-
colas, igrejas, associações, hospitais, inte-
grando os diversos atores da comunidade
na realização de objetivos comuns. Tam-
bém são publicados textos sobre assuntos
diversos e distribuídos para os grandes
parceiros do projeto: a Escola de Magistra-
tura do Paraná e a Receita Federal de Foz
do Iguaçu (PR), Bauru (SP) e São Luís (MA).
8
A principal intenção é sempre levar o que
temos de melhor a oferecer para o maior
número possível de pessoas.
Para fazer acontecer cada ação do pro-
jeto, profissionais especializados disponi-
bilizam voluntariamente seu conhecimen-
to, tornando possível que o Projeto ABPMC
Comunidade esteja em tantos lugares di-
ferentes do Brasil com atividades de qua-
lidade.
Nosso propósito, como analistas do
comportamento, e enquanto Associação
que os representa, é tornar o mundo um
lugar melhor por meio de soluções com-
portamentais acessíveis a todos. Esse pro-
jeto é mais do que um conjunto de ações
por todo o país, ele é um abraço da ABPMC
oferecido àqueles a quem servimos. Sabe-
mos que não é possível dar um abraço so-
zinho, pois todo abraço é uma demonstra-
ção de afeto recíproco. E por isso, a cada
ação em que podemos perceber nosso tra-
balho beneficiando a comunidade em que
vivemos, nos sentimos também repletos
de carinho e afeto.
9
Abraçamos, e agradecemos, portan-
to, à nossa Comunidade interna, que tor-
na esse projeto possível e que o faz tão es-
pecial. Projeto que ganha uma dimensão
ainda mais significativa nesse contexto de
pandemia da Covid-19, momento em que
precisamos refletir sobre nossas relações
e interações buscando otimizar nossos re-
cursos e nossa tecnologia em busca de pro-
teger os cidadãos e contribuir na busca de
alternativas sustentáveis para driblar as
dificuldades que nos são impostas.

10
Capítulo 1
E quando a crise mundial transformar-
-se em um problema meu?
Maíra Mello Silva

“a capacidade de estar em contato com o pre-


sente de maneira mais plena como ser humano
consciente e, com base no que a situação permi-
te, mudar ou persistir no comportamento para
atingir os ‘fins almejados’.” (Luoma).

Nos distanciar da realidade e não en-


carar o problema como “nosso” é uma es-
tratégia que pode funcionar trazendo um
alívio imediato. É possível, porém, que essa
forma de reagir não seja muito eficaz a mé-
dio e longo prazo, já que o problema pode
se escancarar na nossa frente e passar, en-
tão, a ser “nosso”. Desde o início da pande-
mia, notou-se que as pessoas estão com
dificuldade de observar o ambiente, per-
ceber suas sensações, necessidades, emo-
ções, mudanças de comportamento e de
se adaptar às novas exigências, que agora
mudam a cada dia. Atualmente, são ne-
cessárias diversas estratégias que devem
ser pensadas passo a passo e modificadas
12
de acordo com as informações do Minis-
tério da Saúde sobre o número de pesso-
as doentes. As mudanças constantes exi-
gem muita flexibilidade cognitiva, ou seja,
é necessário que tenhamos a capacidade
de mudar nossos cursos de ação, o que in-
clui pensamentos e meios que sejam mais
efetivos, abandonando aqueles que são
ineficazes. Caso contrário, perseveramos
naquilo que não nos faz bem.
Como neuropsicóloga, defendo que
tais habilidades, tão desejadas neste mo-
mento de crise, não são impossíveis de se-
rem treinadas, aprimoradas ou mesmo ad-
quiridas por quem não tenha o costume de
praticá-las. Não se trata de uma descrição
completamente idealizada de comporta-
mentos adequados a serem emitidos na
crise. Muito pelo contrário! Tudo faz parte
do que chamamos de funções executivas,
que envolvem planejamento, autodirecio-
namento, memória operacional, controle
inibitório, capacidade de fazer julgamen-
tos, flexibilidade cognitiva, comportamen-
tos direcionados a objetivos, bem como,
13
a avaliação destes comportamentos, ade-
quação e mudança, caso sejam necessá-
rios, tornando-nos capazes de resolver
problemas tanto imediatos como de mé-
dio e longo prazo, que são muito impor-
tantes para nos adaptarmos às demandas
do meio.
Há uma literatura extensa sobre o tema
e os aspectos gerais da neurociência, que
engloba também conteúdos de fácil aces-
so e compreensão por parte de leigos em
psicologia, por exemplo, o livro Mantenha
seu cérebro vivo, do neurocientista Larry
Katz, que propõe uma ginástica para o cé-
rebro (neuróbica), cujo objetivo é quebrar
padrões ao realizar atividades cotidianas
de formas diferentes. Há também o livro
Foco, do psicólogo e jornalista Daniel Go-
leman, que aborda temas relacionados a
conceitos gerais sobre atenção e atenção
plena; além da obra Teste do marshmallow,
que mostra o histórico de pesquisas do psi-
cólogo austríaco Walter Mishel sobre “au-
tocontrole” e adiamento de gratificações
e sua influência em nossas vidas. No en-
14
tanto, só entraremos em ação quando en-
tendermos que o problema é nosso.
No momento atual, além de lidarmos
com diferentes níveis de inflexibilidade
comportamental, estamos todos “à flor da
pele”: diante de uma ameaça real, nosso
corpo está constantemente pronto para
enfrentar, fugir, esquivar ou simplesmen-
te paralisar sem saber como reagir. Se não
buscarmos formas eficientes de mudan-
ças de comportamento –como regulação
emocional, resolução de problemas etc. –,
o medo estará no “comando” e todo seu
substrato neurológico . Se nos deixarmos
1

guiar por essas reações, certamente agire-


mos de forma agressiva e imediata, pouco
racional, e, em vez de resolver os proble-
mas, estaremos piorando cada vez mais a
situação.
Isso significa que, como estamos em
um momento de crise, a consequência do

1. Nosso sistema límbico, mais especificamente a


amígdala, que identifica o perigo e nos coloca em
posição de alerta com a função evolutiva de man-
ter a preservação.

15
nosso comportamento individual será fun-
damental para a coletividade. Assim sen-
do, quanto mais cedo conseguirmos aten-
tar à nossa forma de agir diante do nosso
comportamento, maior será o impacto de
nossas ações para o desfecho da Covid-19
no Brasil.
Momentos de crise geram mudanças
significativas em todos nós, exacerbam
emoções de medo, angústia, descrença,
desesperança, insegurança, deixam nos-
so cérebro super ativo. E o cérebro pode
ser ainda mais ativado quando buscamos
aumentar respostas de amor, empatia, fé
e cooperação que serão necessárias para
enfrentarmos, juntos, os desafios que sur-
girem.
E aí, quando o problema se tornará
seu?

16
Capítulo 2
Manejo de estresse em meio ao caos:
Como ser jornalista em plena pande-
mia?
Liane Dahás, Inaldo Jacinto da Silva Júnior,
Denis Roberto Zamignani, Roberto Alves Banaco e
Roberta Kovac

“Esta é uma corrida de revezamento, não uma


maratona ou um projeto com data definida para
acabar.” (News Nerdery).

Ser jornalista em tempos de pandemia


da Covid-19 não tem sido tarefa fácil. Os
especialistas em cobrir a área da saúde es-
tão estafados, e, os das outras áreas, estão
esgotados e perdidos. O linguajar médico
e científico não é simples, o que dificulta o
adequado escrutínio de figuras de autori-
dades e a tradução correta dos dados para
a população em geral. O portal de jornalis-
mo independente journalism.co.uk publi-
cou recentemente um apelo para que, em
tempos de crise, os jornalistas de todas as
áreas fiquem ainda mais atentos às conse-
quências do seu trabalho, evitando erros
na cobertura e ruídos na comunicação que
18
podem ser altamente danosos para a saú-
de pública, como a disseminação de notí-
cias ou declarações falsas (Green, 2020a).
Em uma publicação do mesmo portal,
Green (2020b) apresenta oito fontes con-
fiáveis para que seus colegas de profissão
verifiquem antes de repassar uma infor-
mação.
Em uma iniciativa ainda mais robus-
ta para instrumentalizar o profissional, a
Associação Brasileira de Jornalismo Infor-
mativo (Abraji) traduziu para o português
o Guia sobre a Covid-19 para as redações, e
disponibilizou seu conteúdo no seu site . O
2

Guia foi pensado, escrito e publicado por


colaboradores voluntários do portal News
Nerdery (rede de jornalistas de dados e de-
senvolvedores de mídia). Em todo o texto,
os eixos autocuidado e cuidado com o pró-
ximo são reunidos de maneira clara e ob-

2. O conteúdo completo do Guia sobre a Covid-19


para as redações está disponível em: https://abraji-bu-
cket-001.s3.sa-east-1.amazonaws.com/uploads/publication_
info/details_file/d51902de-a3fa-4b5d-81d7-aa3f213154ab/
Guia_sobre_a_covid-19_para_as_reda__es_-_Vers_o_Pt..pdf

19
jetiva, amparando o profissional para lidar
com os percalços da pandemia e, ao mes-
mo tempo, ser efetivo no seu trabalho de
informar a população sem contribuir para
uma piora do sentimento geral de caos so-
cial em que vivemos atualmente.
O Guia apresenta diretrizes para que
o exercício da profissão ocorra de maneira
a levar em conta as necessidades do jor-
nalista como indivíduo, e também de sua
equipe, de sua família (como as vivências
em home office) e, por fim, do público que
vai consumir seu produto de trabalho. É
um material elaborado com perspicácia
pelos autores que perceberam as armadi-
lhas para a saúde mental e física a que es-
ses profissionais estão expostos. No final,
o Guia frisa o papel social do trabalho do
jornalista, conectando-o com as necessi-
dades da população em geral e defenden-
do ações colaborativas como armas fun-
damentais na batalha contra a pandemia.
Este texto objetiva ir ao encontro do
Guia ao apresentar a ferramenta Kairós,
desenvolvida para ser utilizada nas reda-
20
ções (presenciais ou virtuais) para dirimir
o sofrimento do jornalista ao fazer seu tra-
balho nesse contexto de pandemia. Visa
também garantir que o produto desse tra-
balho seja capaz de gerar frutos relevan-
tes e socialmente responsáveis na constru-
ção de um mundo mais bem informado e,
assim, mais capacitado para enfrentar as
questões deste momento histórico. Acom-
panhe os passos a seguir.

Passo 1
Convide sua equipe para um bate-pa-
po sobre a atual situação. Abra a apresen-
tação “Kairós – Promovendo e apoiando
mudanças culturais” no programa Power
3

Point. Quando chegar ao segundo slide,


pergunte aos participantes: Quais signifi-
cados, emocionais e/ou racionais, a pala-
vra pandemia traz para mim agora? Peça
a todos que escrevam o que vier à men-
te (palavras, sentimentos, pensamentos);
3. O arquivo desta apresentação pode ser acessado
em: http://abpmc.org.br/arquivos/textos/158853326194949a-
f6c407.pdf

21
é importante que as respostas sejam ge-
nuínas e não julgadoras. Peça que leiam o
que colocaram no papel, um por vez. Con-
versem a respeito do assunto, buscando
manter a postura não julgadora e ainda
mais difícil deste momento, sem buscar re-
solver problema algum. A tarefa é simples:
primeiramente, deixar vir à tona os pró-
prios sofrimentos, e depois, ouça e acolha
os sofrimentos e preocupações alheias.

Passo 2
Depois que todos já conseguiram ex-
por seus sentimentos e pensamentos,
passe para o terceiro slide. Cada letra da
palavra pandemia esconde outra palavra
por baixo que virá à tona quando for pres-
sionada. Escolha uma das letras. Promova
uma discussão com os colegas sobre como
essa nova palavra impacta positiva ou ne-
gativamente sua percepção da situação
atual. Pergunte se algum deles concorda
com você ou tem outro ponto de vista. So-
licite que cada um faça o mesmo com as
outras letras, uma por vez. Quando todas
22
as letras forem pressionadas e as palavras
que surgirem forem discutidas, passe para
o próximo passo.

Passo 3
Ainda no slide três, leia a seguir o acrós-
tico da palavra pandemia . Faça todos os
participantes notarem que cada nova pa-
lavra formada com uma letra de pandemia
apresenta uma habilidade possível de ser
ensinada e/ou aprimorada em grupo.
P- estabelecer e fortalecer Parcerias e
colaboração
A- buscar novas Alternativas
N- atentar às Necessidades individu-
ais e coletivas
D- atentar aos Desafios individuais e
coletivos
E- alimentar a Esperança de que o fu-
turo pode ser melhor
M- praticar a Moderação e a serenida-
de em nossas ações
I- aceitar a existência da Individualida-
de de cada um, não como verdade única,

23
mas como ponto de vista modelado pela
ontogenia e cultura.
A- Desenvolver respostas de Amor
próprio, Amor aos entes queridos e à hu-
manidade como um todo.

Passo 4
Discuta com o grupo se as palavras for-
madas com as letras de pandemia foram
discutidas com o mesmo sentido das habi-
lidades propostas no acróstico. Pergunte
qual dessas habilidades cada um acredi-
ta ser necessário praticar mais na próxi-
ma semana. Relembre a todos que a situ-
ação é nova e, portanto, desafiadora para
a equipe como um todo; sendo assim, não
se espera que todos estejam plenamente
capacitados para desempenhar perfeita-
mente todas as habilidades de gerencia-
mento de crise possíveis. Como afirma o
próprio Guia: “Esta é uma corrida de reve-
zamento, não uma maratona ou um pro-
jeto com data definida para acabar”. Cada
um está fazendo seu melhor nessa situa-

24
ção, o que inclui tentar ser ainda melhor
no dia seguinte.
A apresentação conta ainda com ou-
tros slides autoexplicativos que propõem
atividades a serem realizadas em equipe.
Isso pode ser feito semanalmente, ou de
acordo com a periodicidade que o grupo
decidir. É importante que as vivências dos
slides dois e três sejam repetidas, mesmo
que mais brevemente, antes da realização
das outras vivências, para relembrar ao
grupo o compromisso de viver esse mo-
mento de crise considerando as habilida-
des – estabelecer parcerias, buscar alterna-
tivas, atentar às necessidades e desafios,
alimentar a esperança, praticar a mode-
ração, aceitar a própria individualidade e
a alheia, desenvolver amor próprio e aos
outros – necessárias para cumprir as pro-
postas do Guia.
Esperamos que essa ferramenta, em-
basada nas tecnologias de ensino prove-
nientes das ciências comportamentais e
adaptada para o manejo de crise atual,
funcione como uma bússola, orientando a
25
equipe da redação na resolução dos diver-
sos problemas que venham a surgir, ten-
do sempre claro quais são seus valores es-
senciais e, portanto, quais as habilidades
de gerência da vida pessoal e profissional
merecem maior atenção.

26
Capítulo 3
Distanciamento social ou distanciamen-
to físico? Qual é a mensagem que que-
remos passar?

Mauro Silva Júnior

Em dezembro de 2019, surgiu o pri-


meiro caso de coronavírus na cidade de
Wuhan, China, e, nos primeiros dias de
2020, os casos da doença, até então des-
conhecida, foram divulgados ao mundo.
O agente da doença foi identificado como
um vírus, o coronavírus (Sars-Cov-2, nome
científico), e a doença foi chamada de Co-
vid-19 (Corona Virus Disease, doença do co-
ronavírus 2019). Em 30 de janeiro de 2020,
a Organização Mundial de Saúde (OMS)
declarou estado de emergência de saúde
pública de interesse internacional, e, em
14 de março, decretou estado de pande-
mia – quando uma doença infecciosa se
espalha da região onde surgiu para todo
um continente ou até mesmo para todo o
planeta.
A primeira reação de muitas pessoas
foi buscar máscaras para se proteger e
28
estocar alimentos, com receio de um co-
lapso de distribuição. No entanto, as au-
toridades de diversos países informaram
que não havia necessidade de estocagem.
Além disso, a OMS passou a dar orienta-
ções específicas de como evitar a contami-
nação, como lavar as mãos constantemen-
te com água e sabão, usar álcool em gel
70%, utilizar máscaras e isolamento social.
Hábitos cotidianos, como lavar as mãos e
usar máscaras, apesar de aparentemente
simples podem se revelar mais complica-
dos, uma vez que exigem um procedimen-
to correto de como fazê-lo, caso contrário,
a mudança de comportamento é ineficien-
te, não protegendo contra o vírus.
Embora com algumas dificuldades, a
mudança desses hábitos pode ser menos
complexa que o isolamento social. Tanto
a população quanto os governos têm en-
contrado inúmeras dificuldades em esta-
belecer a quarentena. Entre as dificulda-
des da população podemos concluir que
permanecer em casa sem o contato físico
e social com as pessoas é uma situação
29
inteiramente nova para quase todos. A úl-
tima pandemia que obrigou o isolamen-
to social no Brasil aconteceu no início do
século XX, em decorrência da gripe espa-
nhola. Então, como indivíduos não temos
uma experiência prévia de como nos com-
portar e do que fazer.
Além disso, os termos utilizados nas
orientações governamentais, inclusive na
OMS, têm sido diversos e talvez impreci-
sos. Em geral, os termos como quarente-
na, lockdown, isolamento social, distancia-
mento social, auto isolamento, isolamento
físico e distanciamento físico. Em grande
parte, esses termos transmitem a ideia de
que as pessoas devem se afastar umas das
outras. De fato, o afastamento para evi-
tar a contaminação é uma resposta adap-
tativa no sentido biológico, o que leva o
indivíduo a diminuir as chances de conta-
minação, e assim sobreviver. No entanto,
respostas adaptativas, embora eficientes,
nem sempre são as únicas alternativas ou
as que produzem os melhores resultados
no ambiente atual em que vivemos. A ado-
30
ção de comportamentos novos, como lavar
as mãos, permitiram aos médicos no sécu-
lo XIX diminuir a propagação de doenças,
pois sem o conhecimento da existência de
micro-organismos, frequentemente, reali-
zavam partos após autópsias, transmitin-
do às mães e aos bebês infecções dos cor-
pos examinados.
Contudo, a orientação para o isola-
mento social vai na contramão de uma ne-
cessidade básica humana, o contato social.
Enquanto uma espécie social, os huma-
nos apresentam diversas adaptações psi-
cológicas para a interação social, entre as
quais: a busca pela reciprocidade, meca-
nismos voltados para a cooperação, ler e
interpretar as expressões emocionais na
face, prever e ajustar nosso comportamen-
to ao comportamento de terceiros, empa-
tia, favorecer o grupo ao qual pertence-
mos e competir com indivíduos de outros
grupos, coordenar nosso comportamento
com um grande número de pessoas para
atingir um objetivo comum, entre outros.

31
Estudos controlados demonstram que
o simples fato de uma pessoa saber que
existe outra pessoa na mesma sala que ela,
faz com que os níveis hormonais relaciona-
dos ao seu bem-estar aumentem. Nesses
estudos, também constatou-se que o efei-
to é semelhante quando a pessoa simples-
mente crê que existe outra pessoa na sala
com ela, mas na verdade ela está sozinha.
Entre outros exemplos, podemos citar a
participação política, por meio da realiza-
ção de eleições em um país com milhões
de pessoas, a mobilização em massa em
torno de causas sociais e humanitárias, e
até mesmo a realização de grandes even-
tos, como os Jogos Olímpicos. A lista de
adaptações psicológicas para a vida social
é extensa, o que nos leva à conclusão de
que seres humanos são indiscutivelmente
sociais, por natureza e pela cultura.
Cientes das nossas respostas adaptati-
vas e possuindo maior conhecimento cien-
tífico, podemos usar as respostas antigas
e as novas a nosso favor. O uso dos termos
isolamento social ou distanciamento social
32
passa a mensagem de que devemos nos
abster de interações sociais, mas de fato
nós devemos nos abster do contato físico.
É a aproximação física entre duas ou mais
pessoas que permite a transmissão de do-
enças infecciosas, por meio de apertos de
mão, abraços, beijos, tosses ou espirros.
Até a popularização do uso do telefone,
há poucas décadas, não era possível ter
contato social sem contato físico. Com o
avanço da tecnologia e da internet, a inte-
ração por meio digital cresceu e passou a
fazer parte do dia a dia de várias pessoas.
Hoje, utilizamos redes sociais, aplicativos
de mensagens instantâneas para compar-
tilhar conteúdo, notícias, fotos e uma infi-
nidade de informações que anteriormente
compartilhávamos em interações presen-
ciais face a face com um pequeno núme-
ro de pessoas. No entanto, atualmente, as
ferramentas que utilizam a internet permi-
tem interação social e compartilhamento
de informação em escalas planetárias.
Com o avançar da pandemia, que até
o momento contaminou mais de 4,55 mi-
33
lhões de pessoas no mundo todo, sendo
603 mil apenas no Brasil , as pessoas, além
4

de estarem privadas do contato físico, es-


tão experimentando alterações no sono,
ansiedade e depressão. Encontram ainda
dificuldades de se adaptar à nova rotina, o
que inclui o trabalho remoto em casa, ao
mesmo tempo em que cuidam dos filhos
e da rotina doméstica. O ambiente de for-
ma geral está mais hostil e o impacto so-
bre a saúde mental preocupa especialis-
tas. Felizmente, possuímos as ferramentas
para combater os impactos negativos do
distanciamento. Primeiramente, chamo a
atenção para a necessidade de substituir
os termos distanciamento ou isolamen-
to social pelo termo distanciamento físico,
haja vista que por meio de redes sociais
podemos manter o contato social sem ter
proximidade física. Por iniciativa própria,
as pessoas começaram a utilizar não só as
redes sociais, como plataformas digitais
desenvolvidas inicialmente para o traba-

4. Dados de 18/10/2021.

34
lho virtual, para realizar encontros virtuais
com o único objetivo de socializar. Segun-
do, por meio da empatia, temos a capaci-
dade de perceber quando as pessoas ao
redor precisam de ajuda, e podemos não
só perceber, como também somos capa-
zes de intervir, oferecendo suporte social.
Existem vários estudos que demons-
tram como as pessoas oferecem e rece-
bem suporte de familiares e amigos. Tra-
dicionalmente, o suporte social tem sido
classificado em suporte material, quando
envolve algum tipo de ajuda financeira ou
instrumental (por exemplo, vigiar a casa
quando alguém viaja, ou cuidar dos bi-
chos de estimação); e também em supor-
te emocional, quando envolve algum tipo
de comportamento que auxilie o outro na
solução de problemas pessoais ou em si-
tuações adversas. Os estudos também de-
monstram que oferecer e receber suporte
está relacionado com menores níveis de
ansiedade, depressão e solidão. Estudos
demonstram que esses sentimentos são
maiores em idosos que vivem sem o con-
35
vívio familiar. Embora sejam eficazes na
saúde física e mental como um todo, há-
bitos saudáveis, como boa alimentação,
prática de esportes e não abusar de álcool
e cigarro, parecem ter impacto menor so-
bre o aumento da longevidade e qualida-
de de vida do que as variáveis sociais, tais
como possuir relacionamentos com inti-
midade e se sentir socialmente integrado.
Existem teorias científicas, como a hipóte-
se do cérebro social, que investigam como
a dependência do contato social nos tor-
nou uma espécie com um cérebro grande
e inteligente. Essas investigações revelam
que o nosso cérebro não se alimenta uni-
camente de nutrientes, mas também de
boas relações sociais, nas quais é possí-
vel dar e receber suporte em momentos
de necessidade, compartilhar os bons e
maus momentos, contar piadas, e cuidar
uns dos outros. Embora muitos já estejam
realizando reuniões on-line com grupos
de pessoas, há também aquelas restri-
tas, com apenas duas pessoas. Isso pode
permitir que conteúdos, que dificilmente
36
compartilharíamos em grupo, possam ser
partilhados com quem temos mais intimi-
dade e segurança de dividir medos, dúvi-
das, pensamentos e emoções.
Se utilizarmos as ferramentas disponí-
veis para termos o cuidado uns com os ou-
tros, demonstrar preocupação, podemos
resistir aos efeitos negativos do distancia-
mento físico e reduzir os sentimentos de
solidão, ansiedade e depressão. Na minha
trajetória como pessoa e pesquisador da
psicologia social, não me privei de perce-
ber como pequenos atos podem ter efei-
tos positivos em nossas vidas. Um momen-
to de descontração e risos entre amigos e
em família, mesmo virtualmente, é uma
ocasião que fortalece laços e sedimenta
relacionamentos duradouros, nos quais o
suporte social vai emergir de maneira es-
pontânea quando alguém precisar.
Então a mensagem que eu quero pas-
sar é a seguinte. Devemos seguir as re-
comendações de proteção da OMS para
proteger não somente a nós e aos familia-
res e amigos, mas também aos profissio-
37
nais de saúde que estão combatendo o ví-
rus todos os dias. Devemos também estar
atentos às necessidades das pessoas que
nos cercam, não somente a esses grupos,
mas também aos indivíduos socialmente
isolados, que já possuem histórico de pro-
blemas com saúde mental e que possuem
uma pequena rede de apoio. Devemos ser
capazes de manter o contato social sem a
proximidade física, reduzindo o sentimen-
to de solidão. Se conseguirmos nos adap-
tar a essas mudanças, a disseminação da
doença vai cair e vamos poder voltar às
nossas vidas mais rapidamente.

38
Capítulo 4
Habilidades sociais e redes sociais em
tempos de pandemia
Talita Pereira Dias e
Zilda Aparecida Pereira Del Prette

O avanço e o impacto da tecnologia nas


interações sociais humanas têm sido foco
constante de atenção. Essa pauta ganha
novos e significativos contornos no atual
contexto de pandemia da Covid-19, situa-
ção sem precedentes históricos na era da
internet e das redes sociais. Se antes o cui-
dado era de que as interações virtuais não
atuassem como substituto das interações
presenciais, na atualidade, essas alterna-
tivas parecem constituir um dos poucos
meios seguros para se interagir socialmen-
te.
As interações sociais têm um papel-
-chave para a sobrevivência das pessoas e
da cultura, assim como para a construção
da subjetividade e o bem-estar físico e psi-
cológico. Elas constituem objeto de inves-
tigação de diferentes disciplinas científicas
como é o caso da psicologia. Nessa área, o
40
campo das habilidades sociais produz teo-
ria, pesquisa e intervenções a respeito de
comportamentos que ocorrem no contex-
to interpessoal.
As habilidades sociais são comporta-
mentos socialmente aprovados que utili-
zamos para comunicar o que pensamos
e sentimos, para resolver nossas necessi-
dades nas interações com outras pessoas
e para favorecer trocas positivas, melho-
ra da autoestima, equilíbrio, manuten-
ção e/ou melhora da relação, com respei-
to a todos os envolvidos (Del Prette & Del
Prette, 2017). Em geral, produzem conse-
quências positivas imediatas e a longo pra-
zo. Na infância e adolescência, de acordo
com Del Prette e Del Prette (2013), as habili-
dades sociais têm um impacto positivo so-
bre o desenvolvimento (bom rendimento
acadêmico, aceitação por pares e adultos
significativos). Na vida adulta, contribuem
para maior satisfação profissional, melho-
res relações conjugais, boas relações de
amizade, cooperação e melhor qualida-
de de vida (Del Prette & Del Prette, 2017).
41
Na terceira idade, as habilidades sociais
são indispensáveis para o idoso manter
vínculos e redes de apoio social que favo-
reçam sua autoestima e qualidade de vida
(Del Prette, Ferreira, Dias, & Del Prette,
2015). As pesquisas na área mostram que
um bom repertório de habilidades sociais
funciona como fator de proteção/antído-
to para uma série de problemas ao longo
do ciclo vital, como depressão, ansiedade,
fobia social, envolvimento com drogas e
grupos antissociais etc.
Longe de serem concebidas como um
dom, traço de personalidade ou algo inato,
as habilidades sociais são aprendidas por
meio de diferentes processos que ocorrem
ao longo da vida. Entre esses processos
destacam-se os modelos (ver outras pesso-
as se comportando), as instruções (quan-
do dizem o que fazer) e a consequenciação
(obtenção de consequências positivas e a
evitação de estimulações negativas) (Del
Prette & Del Prette, 2013; Gresham, 2013).
Esses processos usualmente ocorrem de
maneira natural nas interações que esta-
42
belecemos e aprimoramos com as pesso-
as à nossa volta, como familiares, grupos
de amigos, colegas de escola e de trabalho
(Del Prette & Del Prette, 2013).
No entanto, considerando o atual con-
texto de pandemia, com o isolamento so-
cial e a diminuição dos contatos presen-
ciais, essas condições foram ficando mais
restritas. Fomos naturalmente levados ao
ambiente virtual para manter nossas re-
lações, com uso cada vez mais frequente
de internet, redes sociais, como Whatsa-
pp, Instagram e outros tantos programas
e aplicativos que a cada dia se multiplicam.
Por isso, cabe refletir sobre como essas fer-
ramentas podem de fato cumprir seu pa-
pel de interconectar pessoas e contribuir,
em algum nível, para a qualidade de vida
e relações sociais saudáveis, necessidade
essencialmente humana como seres gre-
gários que somos. Para isso, é imperativa
a utilização consciente e produtiva das re-
des sociais e aplicativos de interações vir-
tuais, de modo a produzirem conexão e
não maior isolamento.
43
No caso das crianças e adolescentes
em casa, é extremamente importante que
os pais reconheçam que uma demanda so-
cial importante é a habilidade de fazer e
manter amizades. No entanto, atualmen-
te, essa parcela, distanciada dos amigos da
escola e de outros espaços sociais, vivencia
uma condição de restrição de oportunida-
des de interação e de modelos. Para atenu-
ar os efeitos da falta de trocas presenciais
com os pares, as crianças podem adotar
alternativas tecnológicas como chamadas
de vídeo, conversas e compartilhamento
de atividades, em aplicativos. Para os ado-
lescentes, desde sempre muito ávidos pelo
uso das redes sociais, deve-se lembrar de
que, nessa fase, eles estão construindo sua
própria identidade. E, na era das redes so-
ciais, podem utilizar esse recurso para ex-
pressarem seu posicionamento sobre as-
suntos variados, por meio do uso de suas
habilidades de comunicação, assertivida-
de, empatia etc., e para compartilharem
experiências emocionais em diferentes

44
graus. Por esses caminhos vão progressi-
vamente construindo seu “perfil virtual”.
É importante que os pais pratiquem a
monitoria positiva no uso das redes sociais,
com estabelecimento de limites de tempo
e regras de uso, atentando para qualquer
sinal de dependência. Outra recomenda-
ção é acompanhar como os filhos se com-
portam nas redes sociais e se eles preser-
vam, também nesse contexto, os valores
humanos de convivência como respeito,
justiça, dignidade, tolerância etc. Ainda,
deve-se atentar se as interações virtuais
envolvem a manutenção das relações que
antes eram presenciais com pessoas co-
nhecidas ou se elas estão se estabelecen-
do somente no ambiente virtual e apenas
com pessoas desconhecidas.
De qualquer modo, é importante lem-
brar que as interações virtuais não subs-
tituem a necessidade de os pais estarem
sensíveis ao momento atual de privação
social dos filhos e buscarem estabelecer
um ambiente interativo e afetivo em casa.
Nesse sentido, não se pode descuidar de
45
momentos de trocas e compartilhamento
familiar em interações face a face que in-
cluam a boa comunicação, a expressão de
sentimentos, de opinião e de condições
para aquisição de autocontrole (saber es-
perar, lidar com frustração, com as regras
etc.).
No caso dos adultos, se, por um lado,
as interações face a face tenderam a ter
uma menor variabilidade de interlocuto-
res e contextos (relações conjugais, fami-
liares ou de pessoas que convivem num
mesmo espaço), por outro, as interações
virtuais parecem ter reaproximado os ami-
gos fisicamente distantes, pelo uso mais
frequente das ferramentas para encontros
virtuais. No contexto profissional, muitas
das demandas interativas foram adapta-
das para a modalidade virtual. Essas novas
demandas tornaram ainda mais eviden-
tes a necessidade de diferentes classes de
habilidades sociais para o uso efetivo das
tecnologias de comunicação virtual. Para
atenuar a falta do contato presencial, as
pessoas estão reinventando suas habili-
46
dades de coordenar grupo, de se expres-
sar, ao participar de reuniões on-line, de
expressar empatia e afeto, ainda que sem
o toque e o abraço, com maior exploração
de recursos digitais.
Já a população idosa, a parcela de maior
vulnerabilidade à Covid-19 e, por isso, a
mais isolada também, teve que aprender
ou aprimorar habilidades tecnológicas
para manter a conexão com familiares e
amigos, nem sempre próximos fisicamen-
te. Nesse contexto, os idosos tiveram de
exercitar cada vez mais as habilidades de
conversação, ao relatarem e pedirem des-
crições do cotidiano, de expressividade
afetiva, de empatia, de demonstrar bom
humor por meio do uso das tecnologias
digitais. Para alguns, pode ter sido um de-
safio maior, porém, sem dúvida, está se
revertendo em novas aquisições interpes-
soais.
Por fim, em tempos de pandemia, de
sofrimento, restrições e perdas, as deman-
das advindas nos remetem à urgência da
empatia e solidariedade, frente às dife-
47
rentes necessidades, da compaixão dian-
te do luto, ao exercício da assertividade,
em termos de afirmação de direitos e de
luta por justiça e por uma sociedade mais
consciente e acolhedora. Esse panorama
tem um impacto significativo nas práticas
culturais e, possivelmente, culminará em
mudanças nas formas de relações sociais
humanas. Entre essas mudanças, o maior
uso das redes sociais como meio de inte-
ração social é uma realidade emergente
que, certamente, se consolidará. Sem su-
pervalorizar esses recursos, torna-se pre-
mente situá-los como um dos eixos de uma
rede de relações sociais. Essa rede de re-
lações deve ser tecida com direitos huma-
nos respeitados e com a consciência cole-
tiva de que cada ação humana individual
está interconectada aos quase 8 bilhões
de outros “nós” no mundo, cuja sobrevi-
vência depende de uma interdependência
solidária cada vez mais viva entre nós.

48
Capítulo 5
Isolamento social e autocontrole
Fernanda Castanho Calixto

Nos últimos meses, com o aumento


dos casos de Covid-19, surgiu o grande de-
safio de manter nossa qualidade de vida e
saúde mental mesmo em situação de iso-
lamento. A impossibilidade de sair de casa
e ter acesso a situações sociais gera ao me-
nos duas indagações: Como preencher o
tempo livre, antes ocupado pelas mais di-
versas interações sociais (como festas ou
até um simples café com alguém do tra-
balho)? e Como manter uma rotina sau-
dável estando em casa, muitas vezes com
excesso de trabalho?
Em relação à primeira questão, podem
surgir problemas quando o tempo livre
é preenchido com comportamentos que
passam a ocorrer em excesso. O consumo
de bebidas alcoólicas é um exemplo, as-
sim como o aumento do tempo gasto com
jogos on-line. Em nível nacional, dados da
Associação Brasileira de Estudos do Álcool
e outras Drogas (Abead) indicam um au-
50
mento de pelo menos 30% na venda de be-
bidas alcoólicas no período da pandemia.
Quanto aos jogos on-line, dados interna-
cionais obtidos pela Verizon indicam um
aumento de cerca de 75% no consumo.
As ciências comportamentais nos aju-
dam a especular os possíveis motivos re-
lacionados a esses aumentos nos últimos
meses. Bebidas alcoólicas causam altera-
ções fisiológicas responsáveis pela ativa-
ção do mecanismo de recompensa e libe-
ração de dopamina. Os jogos on-line, por
sua vez, muitas vezes permitem o contato
social com outros jogadores, bem como
disponibilizam recompensas e premiações
de forma muito bem planejada – desde os
pontos obtidos no jogo até a própria mu-
dança de fases. Considerando nossa atual
privação de contato social e, muitas vezes,
ansiedade e apreensão quanto ao futuro,
não é de se estranhar que muitas pessoas
façam uso de bebidas alcoólicas e jogos
online como válvulas de escape. A grande
problemática é que beber ou jogar em ex-
cesso são hábitos que podem ter consequ-
51
ências devastadoras a longo prazo. Bebi-
das trazem prejuízos claros à nossa saúde
e possíveis efeitos negativos à vida profis-
sional, social e afetiva. Já o consumo ex-
cessivo de jogos on-line, os prejuízos à vida
profissional, social e afetiva são potencial-
mente grandes e não devem ser despre-
zados. É comum que o jogador passe, por
exemplo, grande parte do seu dia jogando
em vez de realizar atividades profissionais
ou contatar pessoas queridas.
A respeito da segunda indagação, uma
dificuldade comumente relatada é man-
ter uma alimentação saudável em perío-
do de isolamento. Não é de se estranhar
que os pedidos de comida para entrega
tenham aumentado tanto nos últimos me-
ses. Ao comprar comida on-line, é possí-
vel que ocorra um aumento de consumo
de alimentos ricos em gordura, açúcar e
sal, ingredientes que tornam o consumo
deles particularmente prazerosos. A faci-
lidade da entrega de alimentos prontos e
extremamente apetitosos torna a prática
de pedir por delivery no final do dia (ou em
52
qualquer horário, para ser bem sincera)
especialmente sedutora. De maneira ge-
ral, preferimos o hambúrguer – pronto e
rápido – ao ato de preparar uma refeição
completa e balanceada (que ainda vai su-
jar louça!).
Assim como as ciências comportamen-
tais nos auxiliam a compreender os moti-
vos do aumento de hábitos não tão saudá-
veis, elas também nos fornecem indicações
de como manejar esses padrões e manter
nossa rotina o mais saudável possível em
um contexto tão extremo.
Uma primeira dica refere-se ao ato
de adotar medidas de monitoramento do
próprio comportamento. Por exemplo, as
seguintes perguntas podem ser respondi-
das: O quanto você passou a beber mais
drinks ou cerveja neste período? Quanto
tempo passou a jogar on-line diariamente?
Com que frequência pediu pizza e ham-
burguer para a entrega? O hábito de mo-
nitorar o próprio comportamento muitas
vezes é efetivo por tornar consciente práti-

53
cas que estejam gradualmente se tornan-
do excessivas.
Após o monitoramento, recomenda-
-se estabelecer um limite de consumo. Por
exemplo, limitar o consumo a uma dose
por dia, duas horas de jogo após a fina-
lização do trabalho e pedir comida para
entrega apenas aos finais de semana são
medidas que nos auxiliam a controlam pa-
drões excessivos. Obviamente, é necessá-
rio que criemos as condições que aumen-
tem nossa probabilidade de sucesso nessa
empreitada. Em relação às bebidas, uma
possibilidade seriam compras reduzidas,
evitando-se o estoque de grande quantida-
de de bebidas para além da definida para o
consumo. Em relação aos jogos, uma dica
seria informar a alguém querido sua nova
meta (um familiar ou cônjuge, por exem-
plo) e, no momento do trabalho, “tirar de
vista” os aplicativos ou equipamentos utili-
zados no jogo. Quanto à alimentação, uma
dica seria planejar receitas pouco elabo-
radas e comprar os ingredientes necessá-
rios para tornar possível que a preparação
54
ocorra sem dispensar grande quantidade
de tempo no processo.
Além de monitorar e definir limites
para o consumo, vale mencionar que a
manutenção de interações saudáveis e de
uma rotina, dentro do possível, prazero-
sa, é fundamental para reduzir estados
de ansiedade e depressão que acarretam
os excessos antes mencionados. Portanto,
manter uma rotina de contato com pesso-
as queridas (mesmo que on-line) e reservar
um tempinho para a sua atividade favorita
(uma boa leitura, aula de ioga ou assistir a
série que adora) são medidas de autocui-
dado que nos ajudam a evitar hábitos ex-
cessivos e não saudáveis neste período.

55
Capítulo 6
Consumo de substâncias psicoativas na
pandemia
Alan Souza Aranha e
Claudia Kami Bastos Oshiro

Substâncias psicoativas, naturais ou


sintetizadas atuam no sistema nervoso
central, alterando os comportamentos,
sentimentos, pensamentos e percepções
de quem as consome. A quinta edição do
Manual diagnóstico e estatístico de trans-
tornos mentais (DSM-5) lista dez drogas
com potencial de abuso: álcool, cafeína,
cannabis (maconha), alucinógenos, opiói-
des (por exemplo, heroína), sedativos, es-
timulantes (cocaína, anfetamina), tabaco e
um grupo de outras drogas. Apesar de os
efeitos serem diferentes, todas as substân-
cias psicoativas têm a característica de al-
terar o funcionamento do sistema nervoso
(American Psychiatric Association, 2013).
Os seres humanos consomem subs-
tâncias psicoativas há séculos. A grande
maioria das pessoas consome de manei-
ra esporádica, como beber aos finais de
57
semana ou cheirar cocaína em uma festa,
contudo uma parcela apresenta uso pro-
blemático. O sujeito pode deixar de traba-
lhar, parar de se divertir com os amigos e
não interagir com a família para usar dro-
gas. O acúmulo de prejuízos pode levar ao
despejo, isolamento social e até a morte
(Ferreira & Laranjeira, 1998). Devido à gra-
vidade do problema, a sociedade começou
a investigar os motivos que levaram certas
pessoas a deteriorar suas vidas com o con-
sumo de drogas, enquanto a maioria con-
tinuava vivendo sem grandes alterações.
Inicialmente, pensava-se que os usuá-
rios “não possuíam valores morais” e esco-
lhiam abertamente se intoxicarem. Quan-
do a medicina passou a estudar o consumo
de drogas, concluiu que se tratava de uma
doença e que o usuário não apresenta-
va tal padrão porque queria mas, ao con-
trário, deveria ser tratado como qualquer
paciente. A ciência evoluiu e atualmente
temos maior compreensão dos fatores li-
gados ao consumo problemático de dro-
gas, como genética, mudanças cerebrais,
58
qualidade das próprias substâncias, histó-
ria de vida dos indivíduos etc. (Perrenoud
& Ribeiro, 2011).
A Psicologia também contribuiu com
a explicação do uso problemático de subs-
tâncias, em especial a psicologia compor-
tamental, que o National Institute on Drug
Abuse – NIDA (2009) norte-americano consi-
derou um dos pilares do tratamento eficaz.
Analistas do comportamento estudam as
ações humanas (pensamentos, sentimen-
tos, comportamentos, delírios, previsões,
sonhos, desejos etc.) como manifestações
do indivíduo que ocorrem na relação com
o ambiente físico e, principalmente, social.
O ambiente influencia nossas ações a par-
tir de três níveis: nossa história de sobre-
vivência como espécie (filogênese), a qual
determinou a fisiologia e a anatomia do
corpo e comportamentos que indepen-
dem de aprendizagem prévia, como fugir
de temperaturas altas ou baixas, sensibili-
dade a atividade sexual, digerir alimentos
etc.; a história de vida de cada ser huma-
no (ontogênese), em que aprendemos ha-
59
bilidades, preferências, modos de pensar
etc.; e a história cultural (Skinner, 1981).
Apenas para exemplificar, o evento huma-
no “amor” possui influência dos três níveis
propostos: componentes eróticos, como a
excitação sexual (frutos da seleção como
espécie), padrões aprendidos durante a
vida (gostar ou não de características como
o corpo, cabelo etc., apreciar diferentes ati-
vidades sexuais, cuidar, tolerar divergên-
cias, sentir que é amado etc.) e padrões
aprendidos com outras pessoas e manti-
dos pela comunidade (Guilhardi, 2019).
5

Analistas do comportamento conside-


ram que o consumo de substâncias, seja
problemático ou não, também seja cons-
tituído de três níveis de seleção. A seleção
natural nos tornou sensíveis aos efeitos
das substâncias, não precisando de apren-
dizagem prévia para que o efeito farmaco-
lógico se manifestasse (ao ingerir álcool,

5. Por exemplo, na Palestina não existe “ficar” com


alguém. O homem deve se aproximar da preten-
dente para conhecê-la como amiga e, caso decidam
ficar juntos, devem pedir à família para noivar.

60
relaxamos). No nível cultural, diferentes
comunidades podem favorecer (universi-
tários da Irlanda) ou desincentivar o con-
sumo de drogas psicoativas (países islâmi-
cos) (Edwards et al., 2003).
Nessa discussão, o ponto relevante é
compreender como a ontogênese (a histó-
ria de interação com o ambiente ao longo
da vida) pode influenciar o aprendizado,
desenvolvimento, aumento ou diminuição
do consumo de substâncias psicoativas e,
especialmente, o impacto da pandemia de
Covid-19 sobre o consumo delas. Portan-
to, é importante aprendermos o conceito
de comportamento operante. O compor-
tamento operante é uma ação de um ser
(humano ou não) que produz mudanças
no ambiente e, a depender das mudanças
produzidas, altera sua probabilidade de
ocorrência futura. Por exemplo, posso me
engajar em procurar determinado amigo
porque essa ação (ligar, mandar mensa-
gem) me garante acesso a atenção, afe-
to, diálogo etc. Caso o ambiente mude, o
comportamento também tende a mudar.
61
No exemplo do amigo, se ele parar de me
responder ou começar a ser ríspido, pos-
so deixar de procurá-lo.
O comportamento operante também
muda a depender das suas condições an-
tecedentes. Quando as condições mudam,
o comportamento também tende a se al-
terar. Utilizando o exemplo do amigo do
parágrafo anterior, caso eu perca o celu-
lar ou o número do amigo (condições an-
teriores e que aumentam a chance de a
ação ocorrer), não terei a possibilidade de
mandar mensagem. Ao enviar a mensa-
gem, se o amigo for ríspido comigo, as-
pectos do ambiente, como o celular, a foto
do amigo, suas mensagens passadas etc.
(outras condições antecedentes), deixarão
de me influenciar para entrar em contato
e até poderão me trazer sentimentos ne-
gativos, como tristeza e raiva.
O comportamento de consumir subs-
tâncias psicoativas é considerado um
comportamento operante, pois ele muda
conforme as condições antecedentes e con-
sequentes (Schuster & Thompson, 1969).
62
Existem diferentes consequências de con-
sumir que podem manter esse comporta-
mento. Primeiro, o intenso efeito farmaco-
lógico da substância (ao fumar maconha,
fico “chapado”); segundo, posso chamar
atenção, ser aprovado ou não ser expulso
de um grupo (“Ele é o cara quando está lou-
co!”); terceiro, eliminar ou amenizar emo-
ções negativas que estou sentido (bebo
para eliminar o medo, angústia, insegu-
rança) ou estados corporais desagradáveis
(como a síndrome de abstinência, provo-
cada pelo próprio uso). Da mesma forma,
consequências punitivas podem modificá-
-lo, levando a consumir menos. Uma noi-
te de “bebedeira” no domingo que leve a
pessoa a não trabalhar na segunda-feira
poderia diminuir a chance de beber no-
vamente, beber no domingo ou naquela
quantidade em especial.
Mudanças antecedentes também po-
dem influenciar as pessoas a usarem mais
ou menos droga. Um ambiente badalado
no qual já tenha participado anteriormen-
te pode me predispor a beber (“Estou com
63
vontade de pegar uma cerveja”), enquanto
o escritório no qual trabalho inibirá minha
tendência ao consumo (“Se eu beber, en-
tão serei demitido”). Esse é o caso da pan-
demia da Covid-19 pela qual, infelizmen-
te, todos estamos passando. A existência
do coronavírus modificou abrupta e subs-
tancialmente o ambiente em que vivemos.
Analisemos alguns exemplos de mudan-
ças e como elas podem estar relacionadas
ao aumento no consumo de substâncias
psicoativas.
O isolamento social, medida de con-
tenção da propagação da Covid-19, res-
tringe o contato com amigos e parentes
e, consequentemente, o prazer, satisfa-
ção, atividade sexual, afeto, diálogo, des-
contração etc. O contato social é impor-
tantíssimo para o ser humano, sendo um
fator de proteção para diversas doenças.
Ao diminuir ou cessar a vida social, a pes-
soa pode procurar usar drogas como for-
ma de obter algum prazer.
O isolamento também diminui a pos-
sibilidade de atividades de lazer, como
64
exercícios físicos, cinema, shows, festas
etc. Nosso comportamento é distribuído
no tempo em diversas atividades de la-
zer e responsabilidade, como preparar o
café, trabalhar, cuidar dos filhos, divertir-
-se etc. Quando há uma restrição, nosso
comportamento é distribuído em menos
atividades e aumenta-se a frequência das
atividades que sobraram. Na pandemia,
comemos mais, assistimos mais filmes e
também podemos consumir mais drogas
em casa.
A diminuição nas fontes de prazer e
satisfação e a extensão da duração de ta-
refas árduas (trabalho, cuidado com os fi-
lhos) geram maior nível de estresse. Para
as famílias mais desfavorecidas ou para os
membros cujas atividades impossibilitam
o home office, a manutenção do trabalho
fora de casa gera medo e ansiedade pela
chance da própria contaminação e conta-
minação dos demais. Para as classes mé-
dia e alta, muitos profissionais que auxi-
liavam as famílias também não puderam
mais ajudar (empregada doméstica, cuida-
65
dora, enfermeira etc.), acumulando mais
trabalho para a família. Para aliviar-se do
medo, ansiedade, estresse, raiva e confli-
tos, sem as atividades que anteriormente
poderiam ser agradáveis, o consumo de
drogas torna-se uma alternativa.
Os problemas decorrentes do isola-
mento social, como a diminuição do tra-
balho, corte do salário, perda do empre-
go, inflação galopante, risco do despejo,
fome, medo de perder o convênio médico
e a escola particular do filho etc. levam a
condição de “não ver saída”. A intoxicação
pelo consumo de drogas diminui o contato
do indivíduo com situações tão adversas.
Outra questão importante é a perda
de pessoas queridas e todos os sentimen-
tos envolvidos (medo, ansiedade, tristeza).
Infelizmente, mais de 611 mil brasileiros
morreram durante a pandemia, o que sig-
nifica que centenas de milhares de pessoas
perderam parentes e amigos. A situação de
espera por um leito, aguardar o médico tra-
zer notícias e, principalmente, a despedida
em si, que muitas vezes não pode aconte-
66
cer de forma humanizada (presencialmen-
te) para que os parentes não se contami-
nem, é penosa, angustiante e lastimável!
Soma-se ao sentimento de injustiça, raiva
e impunidade de burocratas que, eleitos
para proteger a população, apegam-se ao
poder, dinheiro e ao negacionismo cien-
tífico (inclusive prescrevendo medicações
sem eficácia comprovada!). A situação, no
mínimo repugnante e no limite criminosa,
pode levar as pessoas a consumirem dro-
gas.
Além dos exemplos descritos (há mui-
tos outros), o aumento no consumo de
substâncias também pode nos alertar so-
bre outras dificuldades comportamentais
e afetivas que a pessoa já possuía, mas fi-
caram mais evidentes durante a pandemia
e o isolamento social. As festas clandesti-
nas são um exemplo claro. Jovens que têm
dificuldade de sentir empatia pelo outro,
sensibilidade ao que pode provocar na
sociedade e déficits de autopreservação,
autocontrole, autoestima etc. arriscam as
próprias vidas e as dos amigos por algu-
67
mas horas de comemoração (aliás, come-
morar o quê?). Pessoas que já possuíam
dificuldades sociais podem estar mais iso-
ladas e deprimidas; usuários de drogas po-
dem ter evoluído no seu processo de de-
pendência química; ansiosos respondem
de forma mais intensa aos riscos (reais)
que agora vivem etc.
Caso você perceba uma alteração no
seu consumo de drogas (e outros compor-
tamentos como alimentar-se, sono, estres-
se, irritabilidade etc.) fique atento para o
que pode estar produzindo essas mudan-
ças. São mudanças temporárias ou dificul-
dades que já existiam e estão mais eviden-
tes? Você pode alterá-las sozinho ou com
ajuda? A orientação básica é lavar as mãos,
usar máscara, distanciar-se socialmente e
sair apenas para o essencial, além de lavar
as roupas e tomar banho na volta. Tente
ligar para os amigos, fazer reuniões por
aplicativos, caminhar, conversar ao ar li-
vre usando máscara, organizar a casa, pla-
nejar, ler o que lhe agrada, não se cobrar
tanto. Caso o incômodo esteja lhe preocu-
68
pando, não hesite em procurar ajuda psico-
lógica em clínicas-escola, planos de saúde
e profissionais particulares. Ah! Opte pelo
serviço on-line e preserve sua saúde e das
pessoas que você ama.

69
Capítulo 7
Orientação on-line a pais no tratamen-
to do uso problemático de internet pela
criança
Mariana Fortes de Sá Pianovski e
Jocelaine Martins da Silveira

Os ambientes virtuais podem ajudar a


desenvolver importantes habilidades nas
crianças, como as de socialização. Contu-
do, o uso da internet pela criança pode
tornar-se excessivo ou impróprio, o que
tem acontecido, principalmente, durante
o distanciamento social, ocasionado pela
pandemia da Covid-19. Recentemente,
muitos pais têm se queixado dos compor-
tamentos de seus filhos quanto ao uso da
internet. Os pais queixam-se de que seus
filhos vêm negligenciando atividades es-
colares, tarefas da casa, autocuidado ou
até mesmo a convivência face a face com
familiares, por causa do uso excessivo da
internet. Alguns pais relatam que, quan-
do impedidas de usar a internet, as crian-
ças respondem com agressividade e com
raiva intensa. O uso da internet é conside-
71
rado problemático por alguns estudiosos
quando o usuário (criança ou adulto) perde
o senso temporal, enquanto fica nos am-
bientes virtuais; apresenta falhas na rea-
lização de tarefas da escola e/ou da casa
e, em decorrência disso, tem prejuízos em
uma ou mais dessas áreas, apresentando
mudanças na forma de se relacionar so-
cialmente, como conflitos e agressões ou
isolamento. Quando um ou mais desses
comportamentos aparecem e trazem pre-
juízos significativos para a vida das pes-
soas, considera-se que o comportamento
requer atenção, sendo chamado de uso
problemático da internet (Block, 2008).
No caso de crianças, sabe-se que o
uso problemático da internet pode estar
relacionado a padrões de comportamento
com seus pais (Valcke et al., 2010). Há da-
dos que indicam correlação positiva entre
estilo parental autoritário, caracterizado
pelo alto nível de controle e baixo afeto,
com o assim chamado vício em internet
(Hsieh et al., 2018). Além disso, observou-
-se correlação entre o estilo autoritário
72
dos pais, em resposta aos comportamen-
tos da criança relacionados à internet, e
o padrão de uso da internet pelos filhos
(Valcke et al., 2010). Já o estilo autorita-
tivo, relacionado com um maior nível de
controle e de afeto, foi negativamente
correlacionado com o vício em internet
(Hsieh et al., 2018). No que diz respeito a
aspectos do relacionamento entre pais e
filhos, características positivas do relacio-
namento entre eles foram negativamen-
te correlacionadas com o vício na internet
(Hsieh et al., 2018).
Assim, pareceu fazer sentido que uma
intervenção junto aos pais, orientando-os
quanto a repertórios de habilidades so-
ciais parentais ligados ao uso da internet
pelos filhos, pudesse auxiliar na diminui-
ção do uso problemático. Então, realiza-
mos um estudo de orientação a pais, ofe-
recida on-line. No treino de pais on-line,
que já havia sido estudado, observou-se
que a intervenção pela internet superou
dificuldades, se comparada com o treino
tradicional a pais, feito presencialmente
73
(Baumel et al, 2016). Por exemplo, a inter-
venção on-line tende a aumentar o acesso
dos pais aos tratamentos, já que o serviço
chega à casa deles em horários convenien-
tes. Uma revisão sistemática de estudos
randomizados, que avaliaram treinos on-
-line para pais de crianças pequenas com
comportamentos problemáticos, analisou
sete estudos. Todas as intervenções ava-
liadas utilizaram práticas baseadas em evi-
dência e focaram em alterar a percepção
dos pais quanto à disciplina e em promo-
ver práticas parentais positivas, em detri-
mento das negativas. Os resultados dos
estudos foram positivos em todos os fato-
res avaliados: comportamento da criança,
comportamento dos pais e confiança dos
pais em suas práticas (Baumel et al., 2016).
Diante de resultados animadores nas
orientações para pais, realizadas na mo-
dalidade on-line, Pianovski (2021) conduziu
um estudo da efetividade de um programa
de orientação on-line para pais que se quei-
xavam do uso que seus filhos estavam fa-
zendo da internet. A intervenção adaptou
74
um programa já avaliado com bons resul-
tados, o Promove-Pais, para uma modalida-
de mais curta, individual e on-line. Assim,
as mães que se voluntariaram como par-
ticipantes do estudo passaram por cinco
encontros, com duração de cerca de duas
horas cada, com uma terapeuta treinada.
Todos os encontros focaram em práticas e
habilidades parentais relacionadas ao uso
da internet pela criança. A intervenção foi
oferecida para três mães e o tempo de uso
problemático da internet pelo filho foi re-
gistrado por meio de um aplicativo insta-
lado nos dispositivos da criança e de um
software de monitoramento do próprio vi-
deogame.
O Promove-Pais, usado no estudo, é
fundamentado em dois pilares. O primeiro
deles preconiza uma intervenção individu-
al ou grupal realizada com pais e cuidado-
res, a fim de promover práticas parentais
positivas, que podem evitar ou reduzir o
surgimento de problemas de comporta-
mento (Bolsoni-Silva & Fogaça, 2018). O
segundo prevê que os conceitos vindos do
75
campo de estudo das habilidades sociais
representam uma boa forma de garantir
que as práticas parentais positivas sejam
estabelecidas em conjunto com o novo
ganho de repertório (Bolsoni-Silva et al.,
2003). O programa Promove-Pais é estru-
turado de modo que cada encontro apre-
sente uma discussão da tarefa de casa da
semana anterior, o tema do encontro atu-
al, treino de repertórios, apresentação da
próxima tarefa de casa e avaliação da ses-
são. Mudanças na estrutura dos encontros
e na sua quantidade e duração já haviam
sido estudadas, com resultados positivos
(Kanamota et al., 2017).
Os dados indicaram que, após a orien-
tação às mães, o tempo de uso da inter-
net pelas três crianças foi reduzido em me-
didas e em seguimento. Houve diferença
estatisticamente significava no tempo de
uso que as crianças fizeram do celular e
do computador. A redução do uso do vi-
deogame pelas crianças foi menor que a
do celular e do computador. Além disso,
observaram-se mudanças nos índices de
76
depressão, estresse e ansiedade das mães
(avaliados por instrumentos psicológicos
de autorrelato).
O estudo avança ao indicar a possi-
bilidade de bons resultados na aplicação
de uma intervenção on-line para pais de
crianças com problemas no uso da inter-
net. Além disso, o estudo contribui ao su-
gerir que o emprego de tecnologia para
monitoramento dos padrões de uso da in-
ternet pode ter vantagens metodológicas
e aplicadas. Assim, o uso do aplicativo ins-
talado nos aparelhos das crianças ajudou
a observar, com mais precisão, o tempo de
uso da internet, uma vez que a literatura
indica que o relato feito pelos pais quanto
a isso não costuma ser preciso (Bentley et
al., 2019; Hameker & Wichers, 2017). Um
aspecto evidente do estudo é que o tem-
po de uso da internet foi analisado como
uma medida indireta do efeito da interven-
ção sobre certas partes do repertório de
cuidado das mães. Assim, destaca-se a im-
portância de práticas parentais positivas
para tratar comportamentos problemáti-
77
cos das crianças em relação à internet. As
práticas das mães pareceram implicar no
fortalecimento de interações importantes
com seus filhos, como fazer elogios e de-
monstrar a expressão de necessidade de
atenção/afeto.

78
Capítulo 8
O papel da comunicação não violenta na
família para a redução da criminalidade
Alessandra Turini Bolsoni-Silva

A tarefa de educar filhos é difícil e exi-


ge um repertório sofisticado dos pais, mas
que pode ser aprendido. No entanto, o uso
de estratégias agressivas para ensinar o
que é certo e errado aos filhos é frequen-
temente utilizado e pode ser transmitido
de geração a geração, fazendo perpetuar
a violência dentro da família. Nesse senti-
do, é comum ouvir dos pais que é preciso
usar de palmada para educar ou então gri-
tar para garantir que a criança e o adoles-
cente obedeçam ou atendam a pedidos re-
queridos. O uso de estratégias agressivas,
como bater, xingar, gritar, ofender, invali-
dar, aumenta o risco de problemas com-
portamentais nos filhos, tanto os exter-
nalizantes (desobediência, agressividade)
quanto os internalizantes (ansiedade, de-
pressão). Especialmente os externalizan-
tes podem aumentar o risco de comporta-
mento antissocial (rebeldia, transgressão,
80
depredação de ambientes, insensibilida-
de ao outro etc.) que, por sua vez, podem
gerar problemas do ponto de vista legal,
envolvendo criminalidade. Desse modo,
ainda que a criminalidade seja multideter-
minada, o papel da família na sua preven-
ção parece claro.
A parentalidade é influenciada por di-
versos fatores, um deles, já mencionado,
é o histórico de agressividade na própria
vida. Isto é, as pessoas, cujas famílias utili-
zaram mais de estratégias agressivas para
educar, tendem a repetir o padrão com-
portamental, seja porque consideram que
funcionou com eles próprios, consideran-
do-as bons modelos, seja porque não tive-
ram chance de aprender comportamentos
alternativos de educação, ou por ambos os
motivos. O relacionamento conjugal con-
flituoso também aumenta o risco de pa-
rentalidade pouco eficaz, porque o casal
quando briga (aumentando tom de voz,
usando palavras ofensivas etc.) apresen-
ta esse modelo de resolução de proble-
mas, que pode ser seguido pelos filhos, e
81
também porque provavelmente falta con-
sistência entre eles, isto é, os pais podem
valorizar e incentivar comportamentos di-
ferentes (por exemplo a mãe permite sair
com amigos na semana e o pai não) e,
por vezes, incompatíveis, aumentando a
chance de a criança/jovem deixar de se-
guir regras e de emitir comportamentos
desafiantes, como desobediência/agres-
sividade. Famílias com baixa escolarida-
de, condições socioeconômicas precárias
e/ou que vivem diversos eventos adver-
sos também apresentam mais dificulda-
de em utilizar boas práticas de educação,
uma vez que o acesso à informação e as
dificuldades enfrentadas no seu dia a dia
podem prejudicar o uso de práticas posi-
tivas, como a comunicação não violenta,
a consistência e o autocontrole. A presen-
ça de psicopatologias também é fator de
risco, então, por exemplo, a mãe quando
está deprimida terá mais dificuldade de dar
atenção ao filho, podendo ser negligente
e inconsistente, tenderá a ter mais irritabi-
lidade, o que prejudicará suas interações.
82
Pais quando apresentam dificuldade de
controle de impulso também terão muita
dificuldade em autocontrolar-se em mo-
mentos em que a criança/adolescente de-
sobedecer a regras ou fizer birras. Como
a interações entre pais e filhos são bidi-
recionais, os comportamentos dos filhos
também são importantes nessa dinâmica;
cada pessoa é única e as crianças que são
mais difíceis de acalmar requerem dos pais
mais paciência e estratégias diversificadas
para conseguirem educar de maneira ha-
bilidosa, o que nem sempre é verificado.
Com base no exposto até o momento,
recomenda-se que os pais, antes mesmo
de cuidarem das suas estratégias de edu-
cação ou de maneira concomitante, apren-
dam a:
• Manejar o estresse.
• Lidar com as doenças crônicas.
• Resolver problemas existentes no tra-
balho e/ou no relacionamento conjugal.
• Administrar as dificuldades financei-
ras.

83
• Manejar as vulnerabilidades das crian-
ças/adolescentes, como temperamento,
presença de transtornos (por exemplo,
transtorno de déficit de atenção com hi-
peratividade).
• Manejar as próprias vulnerabilidades
como problemas de controle de impulso,
ansiedade, depressão e/ou abuso de subs-
tâncias.
Quanto à parentalidade, é possível in-
dicar algumas estratégias para a comuni-
cação não violenta:
• Desenvolver sensibilidade para ob-
servar os comportamentos dos filhos.
• Identificar os possíveis motivos para
os comportamentos de agressividade e
desobediência dos filhos, que são os que
mais incomodam e aumentam o risco de
violência.
• Promover interações positivas.
• Ensinar a seguir regras.
• Lidar diretamente com o comporta-
mento inapropriado.

84
A Tabela 1 sumariza algumas práticas
positivas para atingir tais objetivos, ainda
que não esgote o tema.

Tabela 1
Práticas positivas na prevenção da violên-
cia.
• ensinar comportamentos adequados: identificar e dar atenção;
• conversar sobre assuntos de interesse da criança;
• oferecer explicações;
• dar opiniões diversas, não apenas para estabelecer limites;
Promover
• negociar;
interações
• cumprir promessas;
positivas
• identificar erros e pedir desculpas;
• elogiar e demonstrar afeto
• valorizar a demonstração de afeto do filho
• monitorar positivamente

• estabelecer uma regra por vez;


• oferecer ajuda;
• negociar;
Ensinar
• explicitar as consequências;
a seguir
• valorizar pequenas conquistas;
regras
• aumentar aos poucos as exigências, de acordo com a idade;
• agir com consistência: consigo mesmo e cuidadores;
• ter autocontrole das emoções;

• ignorar eventos triviais;


• monitorar e supervisionar;
Lidar direta- • distrair a criança;
mente com • identificar e consequenciar comportamentos positivos;
o comporta- • solicitar mudança de comportamento;
mento ina- • dizer não com explicação;
propriado • fazer críticas de maneira habilidosa
• expressar sentimentos negativos de forma habilidosa: dialo-
gando em vez de gritar, xingar ou bater;

85
Com base no que foi discutido neste
capítulo, conclui-se que, ainda que não seja
fácil o exercício da parentalidade, sua ex-
periência traz novas aprendizagens e con-
quista de interações sociais agradáveis e
satisfatórias. Os pais podem promover o
desenvolvimento dos filhos, ajudando-os
a serem felizes e capazes de resolver pro-
blemas. Com frequência, os pais precisam
de orientação para conseguirem estabe-
lecer boas práticas educativas. Nesse sen-
tido, é possível encontrar livros que aju-
dam nessa tarefa, como o publicado pelo
nosso grupo de pesquisa (Orientação para
Pais e Mães - Como Melhorar o Relaciona-
mento com Seu Filho), que pode ser aces-
sado por familiares que queiram melho-
rar suas interações sociais com os filhos
(Bolsoni-Silva, et al., 2019). Para os profis-
sionais psicólogos interessados em traba-
lhar com orientação de pais, há o livro Pro-
move-Pais (Bolsoni-Silva & Fogaça, 2018)
que apresenta ampla revisão de literatura,
bem como descreve detalhadamente um
programa de intervenção com essa popu-
86
lação, de forma a promover interações po-
sitivas e reduzir problemas de comporta-
mento.

87
Capítulo 9
A relação entre pais e filhos na pande-
mia da Covid-19: os desafios do “novo
normal”
Caroline Encinas Audibert e
Beatriz Azem Correa

Desde março de 2020, muito se discu-


te sobre os impactos da pandemia da Co-
vid-19 sobre as relações humanas, e um
“novo normal” é frequentemente mencio-
nado. O que é o “novo normal” no contexto
das relações familiares? Será que consegui-
mos desenvolver as habilidades parentais
necessárias para esse contexto? Se você,
pai ou mãe, ainda não conseguiu se adap-
tar a todas as mudanças decorrentes da
pandemia, saiba que não está sozinho! Seja
bem-vindo ao time!
Salvador et al. (2020) em uma pesqui-
sa sobre os impactos do distanciamento
social na relação entre pais e filhos con-
cluíram que, de maneira geral, há uma
sobrecarga nos papéis parentais. Os pais
precisaram se responsabilizar pelas orien-
tações de atividades escolares dos filhos e
89
os cuidados com as crianças passaram a
ocorrer em tempo integral (Salvador, et al.,
2020). Além disso, as recorrentes mudan-
ças na disponibilidade de serviços, o cance-
lamento de eventos, o regime de trabalho
home office e a adoção do ensino remoto
resultaram na necessidade de uma reor-
ganização da rotina, uma vez que o traba-
lho, estudo e lazer passaram a ocorrer em
ambiente doméstico (Brooks et al., 2020).
Assim, um evidente desafio enfrenta-
do por pais e filhos na pandemia corren-
te é a hiperconvivência familiar. As famí-
lias têm passado muito mais tempo juntas
do que era comum nas últimas décadas
e tendo somente o ambiente doméstico
como espaço para existir, ou seja, tudo
o que acontece nesse lugar passou a re-
ceber atenção microscópica, fomentan-
do, muitas vezes, sentimentos de insatis-
fação, frustração e incapacidade nos pais
(Abjaude et al., 2020).
Também é preciso ressaltar que, se
pais e filhos estão hiper convivendo en-
tre si, eles estão convivendo pouco com
90
outras pessoas que são importantes em
sua vida, como amigos, colegas e ou-
tros familiares. Sabe-se que as medidas
de confinamento repercutem diretamen-
te na saúde mental das pessoas (Brooks
et al., 2020). Isso porque a privação, que
pode ser entendida como “impossibilida-
de de acesso a alguém ou alguma coisa”
(Skinner, 1953/2003), quando se refere a
pessoas (relacionamentos), momentos e
lugares que são muito importantes e pra-
zerosos, tem um efeito significativo so-
bre o comportamento humano, principal-
mente, se for uma privação prolongada
(período de meses, por exemplo) e se for
experienciada por uma criança ou adoles-
cente que não tem todas as funções cog-
nitivas e emocionais desenvolvidas (Skin-
ner,1953/2003). A tensão provocada pela
privação associada a uma constante ame-
aça trazida pela pandemia faz com que pais
e filhos se comportem de forma diferente
do habitual (Danese et al., 2020). Pesqui-
sas recentes mostram que é comum que
as crianças demonstrem maior agressivi-
91
dade e irritação, além de apego excessivo
às figuras parentais, alterações de apeti-
te, fácil distração, medo, ansiedade, apa-
tia, distanciamento emocional e desregu-
lação do sono (Comitê Científico do Núcleo
Ciência pela Infância, 2020).
Além dessas privações, existe uma
sensação de constante ameaça e insegu-
rança, em razão da própria Covid-19 e da
instabilidade de rotina que as medidas de
prevenção causam. Como reação fisioló-
gica, quando o ser humano se sente ame-
açado e inseguro há um aumento na pro-
dução de cortisol e adrenalina, que tem
como consequência a sobrecarga do sis-
tema cardiovascular e do córtex pré-fron-
tal, responsável por funções cognitivas im-
portantes, como autocontrole, regulação
emocional e planejamento (Perito & For-
tunato, 2012). Com base nisso, destaca-se
que as privações advindas das medidas
da prevenção da pandemia assim como a
percepção frequente de ameaças de con-
taminação e modificação da estrutura de
vida atuam como fatores estressores para
92
a criança e o adolescente (Comitê Científi-
co do Núcleo Ciência pela Infância, 2020).
Outro desafio enfrentado pelos pais
é a preocupação com questões financei-
ras, um estressor de grande impacto na
saúde mental. Sabe-se que estamos pas-
sando por uma recessão econômica, por
causa da necessidade de alocação massi-
va de recursos para a área da saúde, além
da grande queda do comércio de bens de
consumo e bens duráveis (Salvador et al.,
2020; World Bank, 2020).
Destarte, prejuízos na saúde mental de
pais e filhos têm sido observados. A Socie-
dade Brasileira de Pediatria (2020) desta-
ca a irritabilidade, transtornos de humor
e ansiedade e queda no rendimento esco-
lar como consequências do manejo da re-
lação familiar no contexto de pandemia.
Atualmente, não há uma solução prá-
tica e fácil para essa situação. Cada família
tem uma dinâmica e, além dos problemas
já enfrentados, há o agravamento causado
por mudanças recorrentes de rotina, priva-
ção de lazer e convívio social. Para enfren-
93
tar este momento da melhor maneira pos-
sível, é necessário esforço e colaboração
de todos. A aceitação das privações pode
ser muito difícil e suas consequências já
foram descritas. Ainda assim, a Sociedade
Brasileira de Pediatria (2020) e o Conselho
Federal de Psicologia (2020) apontam al-
gumas diretrizes, como práticas baseadas
em evidências, que podem colaborar para
um convívio familiar saudável. Essas práti-
cas incluem a realização de momentos de
diálogo diário, a organização de uma ro-
tina com respeito aos horários dos pais e
dos filhos, conversas sobre a situação atual
em linguagem simples e adequada, o ensi-
no dos cuidados exigidos pela pandemia,
o acolhimento e validação dos sentimen-
tos das crianças e adolescentes e a par-
tilha dos sentimentos dos próprios pais,
como forma de aumentar o vínculo entre
pais e filhos. Orienta-se também a manu-
tenção de uma dieta saudável, a prática
de atividades físicas em família, que ser
uma forma de interação positiva entre pais
e filhos, a definição de horários para uso
94
de telas e jogos, a inserção de crianças e
adolescentes nos afazeres domésticos, de
acordo com a idade e a capacidade deles,
o que pode contribuir para uma experiên-
cia mais positiva.
Em conjunto, essas práticas podem
reduzir os efeitos adversos do isolamen-
to social e convivência familiar intensa. No
entanto, em alguns casos, mesmo com o
auxílio das orientações descritas, a família
pode precisar de uma avaliação e orienta-
ção psicológica. A psicologia, enquanto ci-
ência e prática, tem se adaptado às novas
demandas da população desde o início da
pandemia da Covid-19, e pode ser um ser-
viço útil às famílias no atual contexto (Con-
selho Federal de Psicologia,  2020).

95
Capítulo 10
Parentalidade em tempos de Covid-19:
Dicas de como organizar a rotina da
criança

Lucas Polezi do Couto

A prática parental envolve uma série de


habilidades que as pessoas responsáveis
por criar uma criança precisarão durante
o processo de desenvolvimento infantil.
Parentalidade envolve ensinar repertórios
comportamentais variados à criança, mo-
delar esses repertórios, colocar em extin-
ção comportamentos socialmente inapro-
priados (isto é, não reforçá-los de modo
algum) e, em especial, reforçar e validar os
comportamentos socialmente relevantes.
Visto que o processo de desenvolvimento
infantil é contínuo, variável e não linear, as
práticas parentais são competências que

97
demandam revisão e atualização constan-
tes.
A prática parental envolve uma série
de comportamentos, sejam eles públicos
(pessoas externas no mesmo ambiente de
um indivíduo podem observar e ter acesso
aos comportamentos dele ou a produtos
decorrentes de seu repertório comporta-
mental) ou privados (ocorrem no univer-
so da pessoa ao qual só ela tem acesso
– pensamentos, sentimentos, emoções,
lembranças etc.). Alguns desses compor-
tamentos serão avaliados pelos pais como
agradáveis de se sentir e se pensar (como
sucesso, orgulho, alegria, amor, felicida-
de, “Eu sou um ótimo pai”, “Eu sou uma
ótima mãe”, “Nós somos um excelente ca-
sal”, “Meu filho é meu orgulho”, “Meu fi-
lho é muito calmo” etc.) ou desagradáveis
(como raiva, tristeza, preocupação, desa-
pontamento, “Eu sou um péssimo pai”, “Eu
sou uma péssima mãe”, “Meu parceiro não
me ajuda em nada”, “Meu filho só me dá
trabalho”, “Eu queria sumir”, “Onde eu es-

98
tava com a cabeça quando quis ser mãe/
pai” etc.).
Os pais poderão experienciar esses
eventos encobertos ao longo do proces-
so de desenvolvimento da criança, seja
ela típica (sem diagnóstico de transtorno
do neurodesenvolvimento) ou atípica (que
apresenta algum transtorno do neurode-
senvolvimento ). No entanto, no contexto
6

da pandemia do coronavírus (Covid-19), to-


dos os eventos encobertos mencionados,
e muitos outros, aumentam exponencial-
mente em frequência, duração, intensida-
de e severidade, em especial os eventos
privados avaliados como desagradáveis. 

6. Condições que aparecem no início do desenvol-


vimento infantil, geralmente antes de a criança in-
gressar no ambiente escolar, que acarretam prejuí-
zos significativos no funcionamento pessoal, social,
acadêmico e/ou profissional do indivíduo, como
por exemplo: deficiências intelectuais; transtornos
de comunicação; transtorno do espectro autista –
TEA; transtorno de déficit de atenção e hiperativi-
dade – TDAH; dentre outros (American Psychiatric
Association - APA, 2013).

99
O cenário atual é de total imprevisi-
bilidade, pois todas as nossas rotinas, or-
ganizadas até então, às quais estávamos
habituados, mudaram completamente de
uma hora para outra. Logo, é totalmente
compreensível que pais e mães sintam an-
gústia, preocupação, tristeza e vivenciem
níveis consideráveis de estresse, decorren-
tes de tantas mudanças.
Talvez a leitura deste texto gere outros
eventos encobertos em você, levando-o a
questionar: “Nossa, Lucas, você não está
sendo pessimista demais?” ou “Como pos-
so ficar tranquilo diante do caos que esta-
mos passando? O que posso fazer de di-
ferente?”. Infelizmente, não estou sendo
pessimista. Dadas as informações científi-
cas, estatísticas e midiáticas em relação à
Covid-19, esta é a realidade. No entanto,
isso não significa que não podemos apren-
der formas assertivas para lidar com essa
situação, com as informações que rece-
bemos e, em especial, aprender estraté-
gias para organizar a rotina infantil. Cabe
salientar que, quando pais e mães viven-
100
ciam níveis elevados de estresse, isso afe-
ta substancialmente a forma como lidam e
reagem aos comportamentos socialmen-
te apropriados e, particularmente, aos ina-
propriados apresentados pela criança.
O objetivo deste texto é ser claro e su-
cinto. Por esse motivo, a seguir são descri-
tas algumas dicas de estratégias que po-
dem ser implementadas por pais e mães,
no decorrer de sua rotina, em especial na
interação com os filhos:
Começo descrevendo os três princí-
pios da terapia de aceitação e compromis-
so (ACT – do inglês acceptance and com-
mitment therapy), que serão elementares
para que possa organizar e implementar a
rotina infantil, bem como melhorar a inte-
ração com os filhos e também com o par-
ceiro.
Aceitar não significa resignação, pas-
sividade ou conformismo, mas sim uma
postura de abertura a eventos privados,
sejam eles compreendidos como agradá-
veis ou desagradáveis. Aceitar envolve,
também, a habilidade de perceber como
101
os pensamentos de fato são, isto é, como
simples pensamentos, e de adotar um pa-
pel de observador deles, sem um viés crí-
tico ou reativo, e sim compassivo. Envolve
perceber que é normal ter pensamentos e
sentimentos desagradáveis, vivenciar es-
tresse, sentir-se inseguro, todavia a pessoa
e a vida dessa não se restringe aos pensa-
mentos e emoções que passam por seu
corpo.
Nesse sentido, aceitar inclui, também,
a habilidade de deixar que esses eventos
privados sigam seu rumo, sem ficar pre-
so a eles, assim como as nuvens passam
e migram pelo céu, nossos pensamentos
passam pela nossa cabeça. Se alguma “nu-
vem” chama nossa atenção, observamos
seu conteúdo e a deixamos seguir seu ca-
minho rumo ao horizonte.
Conectar-se e comprometer-se. É im-
portante ter clareza do momento presente
e dos seus valores (a pessoa que gostaria
de ser, como gostaria de interagir com as
pessoas que lhe cercam e com o mundo à
sua volta). Quando os pais e mães aceitam
102
seus eventos privados, têm consciência dos
seus valores e do que está acontecendo no
aqui e agora (fora do seu mundo particu-
lar), podendo perceber que algumas deci-
sões precisarão ser tomadas ou aplicadas
de forma consistente, mesmo que inicial-
mente se sinta desconfortável ou insegu-
ro, pois essas decisões estarão alinhadas
aos seus valores, ou seja, ao que é mais
importante para eles e não simplesmente
alinhadas à esquiva dos seus pensamen-
tos e sentimentos desagradáveis (proces-
so conhecido como esquiva experiencial).
Tomar decisões valorosas. A partir da
aceitação, bem como da conexão com o
momento presente e com os valores, é im-
portante identificar e se envolver em ações
que estejam alinhadas com os valores e
possibilitem que os experiencie. Cabe res-
saltar que valores não são objetivos e me-
tas que serão alcançados ao final de uma
trajetória ou logo após a pessoa fazer algo.
Valores são reforçadores a longo prazo que
serão vivenciados ao longo da jornada pa-
rental. Sendo assim, se para uma mãe é
103
valoroso que o filho aprenda habilidades
para uma vida independente ou melhorar
a interação dela com ele, será necessário
tomar algumas decisões alinhadas a es-
ses valores, por exemplo: envolver a (re)
organização da rotina familiar ou da rotina
da criança, manter de forma consistente e
continuada estratégias e manejo compor-
tamental , buscar ajuda profissional para
7

auxiliar o filho a aprender habilidades so-


cioemocionais, de comunicação funcional,
de vida independente ou outras habilida-
des, dentre outras ações que a mãe pode-
rá realizar conforme os seus valores.
A seguir há mais dicas que poderão ser
implementadas ao longo da rotina domici-
liar. As estratégias listadas têm sido utiliza-
das com êxito na ciência há muito tempo,
7. É importante que essas estratégias tenham sido
recomendadas por profissional competente e que
estejam pautadas na diminuição de comportamen-
tos socialmente inapropriados, na substituição por
comportamentos socialmente relevantes e signifi-
cativos, bem como na implementação de procedi-
mentos de reforçamento positivo, em detrimento
do uso de práticas aversivas e coercitivas.

104
portanto, acredito que serão úteis duran-
te esse período de pandemia da Covid-19
e, também, pós-pandemia:
• Criar e organizar as rotinas familia-
res. Pesquisas apontam que crianças res-
pondem muito bem à organização da roti-
na familiar, visto que isso torna mais claro
e previsível para elas quando cada rotina
irá ocorrer e quando será necessário tran-
sitar de uma rotina a outra. Para organizar
essa rotina, utilize recursos visuais como
quadro de horários com figuras ou gravu-
ras que representem as rotinas ou com es-
paços em branco para descrever as ativi-
dades. Além disso, é de suma importância
organizar a rotina diária da criança com
atividades fixas (que ocorrem diariamen-
te e no mesmo horário) e atividades flexí-
veis/variáveis (que podem ocorrer em ho-
rários diferenciados ou que não possuem
uma periodicidade, como fazer um pique-
nique no quintal). Após organizar a rotina
visual para a criança, disponha-a em um
local visível e de fácil acesso, como a sala
de estar.
105
• As rotinas que a criança deverá rea-
lizar devem estar dentro de seu nível de
compreensão e funcionamento. Sendo as-
sim, ao organizá-las, é importante que ava-
lie se a criança irá conseguir cumpri-las de
modo independente ou com o mínimo de
suporte de um adulto. Caso a criança pre-
cise de ajuda, avalie, também, qual será
o nível de suporte. Lembre-se: o nível de
suporte necessário e o nível de dificulda-
de da tarefa afetam consideravelmente a
noção de autoeficácia e autocompetência
da criança.
• Identificar itens preferidos para uti-
lizar como motivadores para que a crian-
ça inicie, permaneça engajada e conclua a
rotina visual preparada para ela.
• Apresentar a rotina de forma clara e
precisa. É importante especificar na rotina
o que a criança poderá obter após concluir
a tarefa proposta, por exemplo “Agora va-
mos pintar com a tinta, para depois brin-
carmos com a massinha”.
• Estabelecer regras e expectativas de
comportamentos socialmente relevantes,
106
isto é, que possibilitem que o filho funcio-
ne no ambiente familiar de modo coope-
rativo e com autorregulação emocional.
Essas regras e expectativas de comporta-
mentos devem ser acessíveis, para que a
criança consiga cumpri-las com o mínimo
de suporte adulto ou autonomamente. Por
exemplo, pode-se estabelecer expectati-
vas de que ela se sente e permaneça na
área indicada, pegue um item solicitado,
tolere o atraso no acesso a um item ou ati-
vidade preferida, consiga pegar seu estojo
com lápis de escrever, borracha, aponta-
dor e outros materiais para escrita, man-
tenha o contato visual, respeite o espaço
pessoal do outro etc. Antes de aplicar as
regras com vigor, avalie se estão no nível
de compreensão da criança e teste. Se es-
tiverem, isso pode indicar que está no ca-
minho certo, caso não esteja, seja flexível,
aceite a frustração e envolva-se em outras
ações que estejam de igual modo compro-
metidas com seus valores.
• É de fundamental importância que
a criança seja positivamente reforçada ao
107
apresentar comportamentos socialmente
relevantes, isto é, quando ela seguir a ins-
trução dada, realizar uma tarefa acadêmi-
ca, utilizar comunicação apropriada para
solicitar algo a alguém, conseguir identi-
ficar suas emoções e envolver-se em es-
tratégias de resolução de problemas ou
quando a criança seguir de modo coope-
rativo e calmo as rotinas que você organi-
zou etc.. O chamado reforço positivo en-
volve, portanto, aumento na frequência de
determinados comportamentos por meio
da apresentação de consequências agra-
dáveis para a criança, contingentemente
à ocorrência dos referidos comportamen-
tos. Pesquisas apontam que quanto mais
consistente e contingente for a disponibili-
zação do reforçador (isto é, mais temporal-
mente próximo do comportamento), mais
efetivo será o aumento da frequência dos
comportamentos positivamente reforça-
dos. Talvez você esteja se perguntando “O
que posso utilizar como reforçador?”. Uma
ferramenta extremamente importante é a
atenção social dada às outras pessoas e,
108
em especial, às nossas crianças. Posto isso,
você poderá utilizar sua atenção, na forma
de elogios descritivos, para reforçar com-
portamentos apropriados apresentados.
Além disso, pode também utilizar brinque-
dos ou brincadeiras preferidos pela crian-
ça.
No entanto, é essencial pontuar que
a atenção do pai e da mãe e o acesso a
itens ou rotinas do interesse da criança não
devem ser utilizados como suborno para
que um comportamento problema deixe
de ocorrer. Utilizar o processo de reforça-
mento positivo com esse propósito pode
ter um efeito iatrogênico, por isso é fun-
damental empregá-lo com cuidado.

Comentários finais

O objetivo deste texto foi apresentar


algumas dicas a implementar em sua roti-
na como pai, mãe ou responsável afetivo
por uma criança. Talvez nem todas sejam
aplicáveis à sua rotina ou à da criança, por
isso é importante que avalie qual é a aplica-
109
bilidade dessas estratégias e as recomen-
dações às suas necessidades. Além disso,
é de suma importância que busque ajuda
profissional se estiver lidando com muitas
complicações para organizar a rotina in-
fantil, ou caso seu filho esteja apresentan-
do comportamentos-problema que dife-
rem em nível de severidade, intensidade
e duração, e que estejam se configurando
como barreira para a participação na vida
familiar e em comunidade. 
Lembre-se de que você não está sozi-
nho! Talvez você tenha uma dificuldade ini-
cial em seguir algumas dessas dicas mas,
à medida que aplicá-las de modo asserti-
vo e consistente, perceberá mudanças sig-
nificativas na rotina da criança e, em es-
pecial, na sua interação com ela. Junto a
isso, espera-se que você se sinta inseguro
e com medo. Todos os pais e mães sen-
tem isso, passamos por essas experiên-
cias, mas cada um de nós irá vivenciá-las
de forma distinta. Isso não quer dizer que
você é um fracasso como pai, mãe ou cui-
dador, significa apenas que você é um ser
110
humano assim como eu, como seu parcei-
ro, como outros pais e mães que conhece,
e como sua criança.
Por fim, é importante destacar que,
ao implementar essas ou outras estraté-
gias, você poderá cometer alguns erros,
assim como vários acertos. É também
provável que você se concentre demais
em seus erros e tenha uma série de senti-
mentos e pensamentos de autoavaliação
e autocrítica. Caso isso aconteça, simples-
mente reconheça esses eventos priva-
dos e volte para sua jornada, reconecte-
-se com seus valores e com o que está
comprometido. Como sugerem Coyne
e Murrell (2009, s/p):
Lembre-se de que o curso da sua parentalidade
nem sempre será linear. Poderá ser necessário na-
vegar em uma tempestade ou passar por alguns
ventos traiçoeiros. No entanto, quando você se
afastar do curso, lembre-se de seu compromisso
com seus valores e volte à direção escolhida.

111
Capítulo 11
Hábitos de estudo: Apenas se sentar e
estudar é suficiente para uma aprendi-
zagem saudável e contínua?
Larissa Schafranski, Murilo Ramos e
Simone Martin Oliani

Uma das maiores preocupações dos


pais durante o crescimento dos filhos está
relacionada ao estudo e ao desempenho
escolar, tais queixas são as que mais che-
gam aos psicólogos quando se trata de
crianças e adolescentes (Hubner, 2002).
As demandas são diversas, mas a maioria
perpassa pelos chamados “comportamen-
tos de estudo”, sejam eles relacionados às
notas baixas ou a pouco comprometimen-
to com a educação.
O que a maioria das pessoas não ima-
ginam é que o estudo, ou o comportamen-
to de estudar, vai muito além de se sentar,
ler, fazer anotações ou resolver proble-
mas. Antes mesmo de o estudante se sen-
tar com os livros na mão, há muita coisa
acontecendo. Comportamentos relacio-
nados ao estudar são muito complexos e
113
exigem diversos pré-requisitos para que
aconteçam, entre os quais a habilidade de
atenção, por exemplo. Sem a habilidade
de manter o foco durante um período su-
ficiente, o aluno não é capaz de ler, com-
preender e relacionar os conhecimentos,
ou seja, não há uma aprendizagem satis-
fatória (Pergher et al., 2012).
Além da atenção, há outros fatores em
jogo quando o assunto é estudo, e, para
que uma real aprendizagem seja possível,
é necessário um manejo significativo do
ambiente.
Skinner (1904-1990), pesquisador e
teórico da psicologia, indica um papel ex-
pressivo do ambiente no comportamen-
to humano. Para o autor, todo compor-
tamento tem um estímulo anterior, uma
resposta ou ação e uma consequência. Os
estímulos anteriores e as consequências
seriam responsáveis por controlar o com-
portamento, sendo eles o foco do manejo
para aumentar ou diminuir a probabilida-
de de uma resposta de estudo.

114
Uma manipulação do estímulo torna
mais provável que o comportamento de
estudo inicia-se, evitando procrastinação,
e a manipulação na consequência aumen-
ta (ou diminui se usada incorretamente) a
chance de um comportamento de estudo
manter-se em alta frequência (Pessôa &
Velasco, 2012). Esse manejo começa antes
mesmo de estudar (estímulo) e mantém-se
até depois de o jovem, ou a criança, termi-
nar a matéria do dia (consequência). Sen-
do assim, é necessário lembrar que o alu-
no, muitas vezes, é incapaz de fazer tudo
isso sozinho, a manipulação do ambiente
é muito difícil e, por vezes, independente
do indivíduo, logo é necessária a ajuda de
pais e cuidadores nesse processo.
Um dos maiores compromissos dos
pais no processo de aprendizagem dos fi-
lhos é manter o estudo como algo praze-
roso, que pode ser divertido, e não algo
hostil, o qual se deve temer. O que aconte-
ce na maioria dos casos é que por excesso
de preocupação os pais tornam-se muito
rígidos com os hábitos de estudos dos fi-
115
lhos e acabam deixando esses momentos
algo nada apetitoso e, muitas vezes, aca-
bam despertando uma ansiedade muito
grande a qualquer assunto relacionado à
aprendizagem.
Um exemplo é o cuidador que dian-
te de uma tarefa não realizada, retira do
seu filho atividades extremamente praze-
rosas e que podem ser de grande impor-
tância para seu desenvolvimento pesso-
al, como sair ou brincar com os amigos.
Tal ação pode causar uma associação dos
sentimentos de frustração e raiva com o
comportamento de estudar e realizar ta-
refas escolares, deixando o estudante ain-
da mais avesso ao estudo. Uma consequ-
ência bem comum de usar essa forma de
controle por meio de punições são os fa-
mosos “brancos” na hora das provas, um
aumento significativo da ansiedade dian-
te de qualquer atividade escolar que exi-
ja nota, procrastinação e um medo muito
grande de ir mal na escola (Hubner, 2002).
Por essa razão, sugere-se que os pais e
cuidadores utilizem de incentivos e recom-
116
pensas que façam a criança, ou o jovem, a
desassociar o estudo de algo assustador
e ruim. Elogios quanto ao crescimento in-
dividual e à aprendizagem do aluno são
muito mais efetivos do que cobranças por
notas e apontamento de defeitos. Os filhos
buscam a aprovação dos pais com muita
frequência, logo, sinalizar essa aprovação
relacionada aos pequenos ganhos na es-
cola, demonstrações de aprendizagem e
interesse, ajudam na motivação do estu-
dante (Hubner, 2002).
Outro grande aliado dos cuidadores
nesse período escolar é a recompensa. Al-
gumas famílias trabalham com um méto-
do chamado “economia de fichas”, no qual
os pais oferecem uma recompensa arbitrá-
ria para os filhos diante de algum compor-
tamento considerado desejável, que pode
ser uma ficha ou uma estrelinha. Ao atin-
gir uma quantidade satisfatória de fichas
(ou estrelinhas), o filho pode ganhar algo
que deseja como recompensa pelos seus
bons comportamentos, como um passeio
a um parque, uma bola, ou um brinquedo.
117
Esse método pode ser usado com compor-
tamentos de estudo: toda vez que o alu-
no atinge um tempo x de estudo, ou reali-
za um número x de atividades, ele recebe
uma ficha, acumulando-as até poder rece-
ber seu “prêmio”.
Algo importante a ressaltar é que o
aluno não irá atingir muitas horas de dedi-
cação quando iniciar seus estudos, princi-
palmente se ele não possuir o hábito de es-
tudar. Como ele não irá resolver exercícios
complexos e estudar matérias difíceis logo
no início, se não aprendeu corretamente
a matéria anterior. Tudo o que se refere à
aprendizagem é gradual, e é de extrema
importância que o nível de exigência seja
compatível com o nível de habilidade do
aluno.
Atividades que demandam uma quan-
tidade discrepante de capacidade do que
o estudante vem apresentando geram ain-
da mais frustração e desmotivação. A pa-
ciência é um grande aliado dos pais nesse
momento, assim como prestar mais aten-
ção no progresso em vez dos resultados.
118
O aluno também passa por sentimentos
complexos e desilusões durante sua fase
de crescimento, principalmente na fase
escolar, e é comum que muitos deles não
tenham uma imagem positiva da escola,
mas isso não significa que essa relação seja
definitiva.
Como já mencionado anteriormente, o
comportamento de estudo exige diversos
pré-requisitos, entre os quais destacam-
-se: foco, autocontrole, autogerenciamen-
to e definição de prioridades. A necessi-
dade de aprender tais comportamentos
previamente pode ser um dos motivos re-
lacionados à dificuldade na aprendizagem
e na aquisição de uma rotina nos estudos.
Logo, dedicar um tempo para melhorar es-
sas habilidades pode ser um grande alia-
do.
Não obstante, o comportamento de
estudo, assim como qualquer outro com-
portamento, possui três momentos: o que
acontece antes, durante o estudo e o que
acontece depois dele. Falhas em qualquer

119
um desses momentos pode dificultar o en-
gajamento do estudante.
1. O que acontece antes: o estudante
precisa de uma boa sinalização que o per-
mita identificar que aquele é um momento
de estudo. Um lugar adequado, uma ilumi-
nação adequada, horários estabelecidos
e uma boa organização para que estudar
seja atraente.
2. Durante: a motivação do aluno é
importante, por isso o conteúdo a ser es-
tudado precisa estar no nível adequado,
tal qual o tempo de estudo. A prioridade
do que será estudado também precisa es-
tar de acordo com as demandas escolares
(provas, trabalhos).
3. O que acontece depois: consequên-
cias que aumentem a probabilidade de o
estudante continuar estudando, manten-
do-se motivado, são bem-vindas. A não uti-
lização de regras extremamente rígidas e
consequências de punição é essencial.
Diante das características do compor-
tamento de estudo indicadas anterior-
mente, há dez estratégias de como aplicar
120
esses princípios comportamentais e, por
fim, dar condições ao estudante para uma
melhor aprendizagem:
1. O lugar de estudo é de grande im-
portância. Ele precisa estar bem ilumina-
do, de preferência com uma luz branca,
limpo, organizado e longe de objetos que
possam distrair os estudantes. A mesa a
ser utilizada precisa ser grande o suficien-
te para caber todo o material. O silêncio é
muito importante, mesmo que o aluno es-
teja acostumado a ouvir músicas enquanto
estuda, manter o silêncio é uma forma de
direcionar o foco a apenas uma atividade,
treinando assim a habilidade de atenção.
A cadeira também precisa ser confortável
para não causar dores.
2. Computadores, videogames, apare-
lhos de televisão e celulares precisam ficar
a uma distância considerável para que não
chamem atenção, se possível em outro cô-
modo. Alguns aplicativos de celulares são
feitos para auxiliar nos estudos, mas eles
podem funcionar como uma forma de dis-
tração. Para evitar que notificações atrapa-
121
lhem durante o estudo é preferível ativar
o “modo avião” ou “não perturbe” do celu-
lar. Outra opção é se valer de aplicativos
que utilizam estratégias para evitar que o
usuário saia do aplicativo e perca o foco
(por exemplo, Forest).
3. Antes de iniciar os estudos, verificar
se todos os materiais necessários estão na
mesa, assim como uma garrafa de água.
Evitar que o estudante se levante para bus-
car algo que falta evita a quebra de foco e
a procrastinação.
4. Iniciar os estudos pela matéria pre-
ferida do estudante ou por aquela que tem
mais facilidade ajuda na motivação e evita
frustrações. Essa etapa é muito importan-
te para alunos que apresentam muita difi-
culdade na escola. Com o tempo, o próprio
aluno irá estabelecer novas prioridades
para os estudos de acordo com a urgên-
cia (provas e trabalhos) e o tempo estima-
do de estudo para cada matéria. Caso a
criança ou o adolescente ainda não seja
capaz de fazer esse autogerenciamento,
será necessário alguém orientá-lo (pais,
122
responsáveis e atendentes terapêuticos –
ATs).
5. Assuntos mais complexos e maté-
rias mais difíceis podem ser divididos em
unidades menores. Decompor conceitos
ou atividades e programar uma pequena
consequência ao final de cada uma delas
facilita na aprendizagem do conceito como
um todo e ainda pode acelerar a realiza-
ção da ação. Atividades muito exigentes
aumentam a probabilidade de procrasti-
nação e diminuem a motivação, por isso é
necessário manejá-las.
6. As matérias estudadas e as ativida-
des realizadas precisam estar em um nível
de exigência correspondente ao conheci-
mento do estudante. Se o tema estudado
precisa de conteúdos como pré-requisitos,
é necessário revisá-los, ponderar sobre sua
aprendizagem, e, se for possível, passar
para o próximo tema. O aumento gradati-
vo da dificuldade diminui a possibilidade
de erro e motiva ainda mais o estudante,
evitando frustrações. É importante que o

123
estudante avance apenas quando estiver
preparado.
7. Ler em voz alta, reler, grifar trechos
importantes, resumir, responder questões
sobre o tema e explicar a alguém o conteú-
do estudado são estratégias que auxiliam
na memorização e aprendizagem.
8. Manter a atividade de estudo por
um tempo compatível ao nível de concen-
tração e foco do aluno é essencial. No iní-
cio, será necessário exigir pouco tempo de
estudo e concentração, tendo em vista a
pouca familiaridade com o desgaste gera-
do pelo estudo. À medida que o aluno vai
se acostumando a manter o foco, pode-se
exigir mais tempo de estudo, sempre res-
peitando o crescimento gradual. É indicado
também encerrar as atividades de estudo
quando o aluno demonstrar aprendizado,
mesmo que seja em uma pequena unida-
de, mas na qual ele esteja satisfeito com
sua aprendizagem. Estudar muitas horas
ou quando está cansado causa um grande
desgaste físico e psíquico.

124
9. Apesar de a aprendizagem e o es-
tudo terem muitos benefícios, é muito co-
mum que crianças e adolescentes ainda
não se importem muito com eles. São be-
nefícios de longo prazo que elas irão de-
morar para colher os frutos. Por tal mo-
tivo, é indicado que pais e cuidadores
programem suas próprias consequências
para estimular o estudo dos filhos. Como
mencionado anteriormente, o método da
economia de fichas pode ser um grande
aliado. Pode parecer controverso dar re-
compensas ao seu filho pelo estudo, mas,
acredite, manter uma boa relação entre a
criança e a aprendizagem é muito impor-
tante para o desenvolvimento dela. A con-
sequência fará um dos maiores papéis na
manutenção do comportamento de estu-
do. A recompensa precisa ser próxima à
ação referente ao estudo e condizente com
ele, para que seja possível estabelecer a re-
lação entre as duas. Se o comportamento
de estudo está se mantendo, ou aumen-
tando, é sinal de que a consequência está
funcionando, mas, se não estiver se man-
125
tendo e diminuindo, é necessário trocar a
consequência. A atenção dos pais, elogios,
presentes e aceitação são boas consequ-
ências para serem usadas.
10. É importante que os pais ou cui-
dadores sejam motivação para estudo, e
não alguém para se temer no caso de uma
nota baixa acontecer. A participação dos
responsáveis no processo de aprendiza-
gem dos filhos precisa ser prazerosa para
ambos.
Todas as estratégias aqui descritas exi-
gem bastante tempo, tanto do estudante
quanto de quem auxilia o estudante em
suas atividades. Logo, se não for possível
para o cuidador disponibilizar todo o tem-
po exigido, sempre se pode recorrer a de-
mais recursos, como os ATs, que podem
auxiliar o estudante a manejar todo o am-
biente de estudos e avaliar seu processo
de evolução.
Caso o estudante ainda demonstre di-
ficuldade de aprendizagem, ou até mesmo
de colocar as estratégias em prática, reco-
menda-se o encaminhamento a um profis-
126
sional de saúde mental, como psicólogo,
psiquiatra e neurologista. Crianças e ado-
lescentes passam por momentos compli-
cados durante a fase de crescimento, prin-
cipalmente durante o período escolar. O
mau desempenho nos estudos pode ser
um indicativo de que o aluno esteja neces-
sitando de ajuda psicológica.

127
Capítulo 12
Como lidar com rotinas familiares inter-
rompidas para pessoas com transtorno
do espectro do autismo (TEA)

Oriana Comesanha e Silva

Sabe aquele dia em que você pegou o


caminho errado para a terapia e seu filho
ou filha não conseguiu sair do carro, cho-
rou, gritou, mordeu? Sabe aquele feriado
no meio da semana em que você não teve
descanso porque ele ou ela não conseguia
parar de chorar pedindo para colocar o uni-
forme?
Pois é, seu filho ou filha estava sofren-
do com a falta de previsibilidade. E, atual-
mente, todos nós estamos passando por
um período como esse.
Há pouco tempo, você estava seguin-
do sua rotina, olhando na agenda e sa-
bendo exatamente o que ia fazer daqui
a cinco minutos, cinco dias, cinco meses.
De repente, parece que a incerteza tomou
conta. Quando vai acabar essa quarente-
na? Quando vou poder fazer o que gosto?
Quando vou voltar a prever o dia de ama-
129
nhã? Quando terei novamente a seguran-
ça da minha rotina?
Com o fechamento das escolas e de
todos os ambientes públicos que antes
frequentávamos, as famílias voltaram-se
para uma nova e inesperada rotina. Isso
está sendo difícil para todos, porém as fa-
mílias de pessoas com TEA têm um desa-
fio a mais nestes tempos.
Muitas pessoas com TEA vivem em um
estado de alerta constante por não conse-
guirem abstrair com segurança os deta-
lhes dos eventos de seu dia a dia (seja por
uma dificuldade na linguagem, na comuni-
cação, ou seja por déficits sociais). Imagine
que você, de repente, acordou na Grécia.
Você não fala grego, eles não falam portu-
guês, você não sabe ler as placas, não en-
tende a cultura, não sabe como se portar
socialmente nesse país. Você ficaria com
medo? Ansioso? Agressivo? Deprimido?
Pense no que você gostaria de ter em
um dia de incertezas. O que você gostaria
que as pessoas pudessem lhe oferecer em
um dia como esse?
130
Carinho, afeto, cuidado, com certeza!
Mas, principalmente, previsibilidade!
Muitas dicas podem ser interessantes
para passar a quarentena sem distúrbios
comportamentais severos com seu filho
com TEA, mas se fosse preciso apontar por
onde começar, seguramente eu diria: “faça
uma rotina visual”.
As chamadas “rotinas visuais” fazem
parte de um conjunto de estratégias que
se utilizam de dicas concretas (visuais ou
táteis) para ensinar novas habilidades
(habilidades verbais, sociais, de vida diá-
ria entre outras) ou para lidar com exces-
sos comportamentais (comportamentos
disruptivos, estereotipias prejudiciais) na
intervenção de pessoas com TEA (Fialho,
2018).
Previsibilidade é uma recomendação
quase geral para diminuir a ansiedade e
comportamentos disruptivos de pessoas
com TEA em qualquer fase da vida e, em
tempos difíceis como o atual, ela dará se-
gurança não apenas a seu filho, mas tam-
bém a você e sua família.
131
O menor fio de segurança que puder-
mos alcançar neste momento será aquele
que nos manterá firme!
Organize o dia de sua família, planeje
dias de semana e finais de semana, faça
uma rotina visual para sua criança com di-
ficuldade de comunicação usando figuras,
fotos da rotina, desenhos ou pequenos ví-
deos. Eles podem ajudar você a montar a
rotina e decidir o que e quando farão cada
uma de suas atividades. Aproveite essa
fase para incluir seus filhos nas tarefas de
casa e para ensinar habilidades de vida di-
ária. Você pode incluir uma atividade que
eles consigam fazer e outras que você pos-
sa acompanhar para ensinar, use figuras
das ações que seus filhos precisarão fazer
para concluir uma tarefa, abuse das dicas
concretas no ensino. Você pode colocar os
mais velhos (neurotípicos ou atípicos) para
ensinar algo que sabem aos mais novos
(neurotípicos ou atípicos).
Não esqueça de planejar um tempo
para você, cuidadora. É difícil, quase im-
possível em alguns casos, mas às vezes a
132
louça pode ficar suja para que você tenha
tempo para “limpar a mente”. Estabeleça
novas prioridades e seja gentil com você
mesma.

133
Capítulo 13
Casamento em tempos de pandemia
Vera Regina Lignelli Otero

Rotineiramente, a maior parte dos par-


ceiros saía para trabalhar durante a se-
mana e ficavam quase o dia todo fora de
casa. Geralmente, tinham uma estrutura
para equacionar os afazeres domésticos e
os cuidados com os filhos. Programavam
as atividades de final de semana buscan-
do uma maior convivência familiar.
A pandemia da Covid-19 mexeu com a
vida de todos nós. Impediu-nos de sair de
casa, de receber visitas, e de fazer nossos
passeios. Entramos em estado de priva-
ção de convivência de toda ordem. Fomos
orientados pelos serviços de saúde para
sairmos de casa apenas quando absoluta-
mente necessário. Isto significou ficarmos
em isolamento, em reclusão.
Abruptamente, o modus vivendi fami-
liar teve que ser totalmente alterado. Os
casais passaram a conviver 24 horas por
dia. A pandemia pegou todos nós despre-
parados para enfrentar os novos contex-
135
tos familiares e profissionais, e nos trou-
xe inúmeros desafios.
Os parceiros tiveram que aprender a
trabalhar on-line, quando a natureza da
atividade permitia, e tiveram que otimizar
o uso do espaço físico da casa. Paralela-
mente, tiveram que equacionar as ativida-
des escolares dos filhos, também on-line,
conciliando-as com os próprios trabalhos.
Além disso, tiveram que passar a cuidar
do entretenimento e lazer diários dos pe-
quenos! E tudo isso, na maioria das vezes,
sem a assessoria da funcionária doméstica
que, habitualmente, auxiliava na limpeza
da casa, alimentação e higiene dos filhos,
entre outras coisas.
Como conduzir essa diversa e intensa
concomitância de afazeres pessoais, fami-
liares, profissionais e domésticos? Como
manter-se bem emocionalmente? Quais
sentimentos experimentamos? Como viver
e conviver na pandemia? Há pontos extre-
mamente relevantes para cada um de nós
considerarmos e, especialmente, os par-
ceiros. Dentre eles destaco o uso pessoal
136
de ‘tecnologia’. As circunstâncias a impu-
seram como meio relevante de interação.
A participação nas redes sociais requer e
merece muita atenção dos casais.
A tecnologia em si é neutra. Ela é uma
ferramenta extremamente útil para nos
conectar com o mundo, facilitar nossos
afazeres e o equacionamento das nossas
necessidades. Essa neutralidade pode se
transformar em um remédio ou em um ve-
neno para o relacionamento de parceiros,
dependendo de vários pontos, tais como o
tempo despendido com o celular ou com
qualquer outro dispositivo, a escolha do
tipo e a natureza do “uso”. Parceiros, ge-
ralmente, participam de grupos, postam
fotos ou textos, “curtem e/ou comentam”
postagens de outras pessoas. Essas são
atividades escolhidas livremente por cada
pessoa.
As escolhas de cada um dos parceiros
revelam seus valores de vida, tais como res-
peito, consideração, grau de importância
do bem-estar do outro, além do compro-
metimento pessoal com o relacionamen-
137
to. Se a escolha de uma atividade é boa
e divertida, do meu ponto de vista, mas,
para a outra pessoa, é desconfortável, e,
não é vista como legal, devo decidir o que
quero privilegiar: a mim, o outro ou o re-
lacionamento. Aqui, é preciso examinar o
entendimento que cada um dos parceiros
tem sobre o direito à privacidade. A decisão
indicará se o uso individual da tecnologia
será um remédio para facilitar o enfrenta-
mento dessa reclusão ou um veneno que
interferirá negativamente na qualidade da
parceria.
Temos de agradecer a existência da
tecnologia e fazer um bom uso dela.
Outro tópico fundamental é a comuni-
cação. Ela é um dos elementos-chaves da
qualidade dos relacionamentos. Através
dela expressamos o que pensamos e sen-
timos. Ao mesmo tempo, geramos senti-
mentos nas outras pessoas. Comunicação
é uma habilidade aprendida que pode ser
aprimorada. Ela engloba muitos compo-
nentes e ocorre através de palavras, olha-

138
res, expressões fisionômicas, posturas,
gestos, e outras formas de expressão.
O confinamento imposto pela pande-
mia da Covid-19 interfere de forma signi-
ficativa no “estado de espírito” dos parcei-
ros. É natural terem diminuído a paciência,
a tolerância, o cuidado com a escolha das
palavras e do melhor momento para inte-
ragir.
No entanto, parceiros atentos à qua-
lidade da comunicação poderão aprovei-
tar o contexto da pandemia e aprofundar
os laços, aumentando a proximidade. Esse
novo contexto pode ser uma oportunidade
para partilharem experiências pessoais de
vida, sentimentos ou desejos não expres-
sos até então.
Pode ser uma oportunidade para cons-
truírem projetos a serem conquistados.
Poderão rever e avaliar como estão con-
duzindo a educação dos filhos, e a distri-
buição das tarefas do tempo de pandemia.
Examinarem juntos esses e outros tópicos
do viver contribuirá para o aprimoramen-
to da vida em família. Essas experiências
139
aprofundam a intimidade e o vínculo do
casal.
São muitas as restrições a que temos
sido expostos na pandemia. Foi um tem-
po de muita aprendizagem, especialmen-
te para os casais. Um tempo de incontá-
veis descobertas pessoais, de aquisição de
habilidades que jamais imaginaram que
seriam capazes. Parceiros aprenderam a
cozinhar, lavar roupa, limpar casa, dividir
espaços físicos, cuidar melhor das emo-
ções, as agradáveis e/ou desagradáveis,
as desejáveis ou indesejáveis.
Neste momento, a mais importante e
significativa habilidade adquirida e apri-
morada foi o diálogo. A pandemia tem sido
um tempo no qual muitos parceiros estão
aprendendo a conversar. Ela é a chave para
a boa qualidade de vida.
Rubem Alves (1999, p 51), citando Niet-
zsche, afirma: “Ao pensar sobre a possibi-
lidade do casamento cada um deveria se
fazer a seguinte pergunta: Você crê que
seria capaz de conversar com prazer com
esta pessoa até a sua velhice? Tudo o mais
140
no casamento é transitório, mas as rela-
ções que desafiam o tempo são aquelas
construídas sobre a arte de conversar”.
Que o tempo da pandemia permita
que cada um dos parceiros descubra o en-
cantamento e os benefícios de uma boa
conversa.

141
Capítulo 14
Como manter a calma no relacionamen-
to conjugal em tempos de Covid-19
Stélios Sant’Anna Sdoukos

A pandemia de Covid-19, entre seus


diversos efeitos deletérios, também tem
prejudicado os relacionamentos conju-
gais por adicionar uma carga de estresse
nunca antes prevista para os casais (Pie-
tromonaco & Overall, 2021). A intensifica-
ção da convivência diária e a mudança nos
arranjos da dinâmica do casal (em decor-
rência de demissão ou escassez de traba-
lho, alteração para o modelo home office,
viagens canceladas de um dos parceiros,
que agora passaram a dividir muito mais
a rotina diária, o cuidado e tempo aumen-
tados de convívio e monitoramento dos fi-
lhos, por não frequentarem a escola como
usualmente, além da restrição das possibi-
lidades de diversão e atividades em geral)
foram determinantes para que os casais
experimentassem mais estresse, sofri-
mento e aumento dos conflitos.

143
Somado a esses efeitos comportamen-
tais, o próprio cenário da pandemia, com a
sua longínqua possibilidade de resolução,
deixando a população em contato prolon-
gado com o perigo sanitário, ou então com
a possibilidade (iminente ou concretizada)
de perder amigos e familiares para a do-
ença, constitui um dos piores contextos
possíveis para os relacionamentos. Nessa
situação caótica, os relacionamentos têm
muito a perder. Cada um dos parceiros está
lidando com mudanças súbitas e difíceis,
e por isso a chance das interações se tor-
narem mais coercitivas também aumenta
muito. Irritabilidade, críticas, gestos gros-
seiros e discussões podem agora ser mui-
to mais frequentes. Manter o autocontro-
le representa um desafio real. A pergunta
que fica é: como lidar com essas questões
tão importantes?
Com base nos princípios da Tera-
pia Comportamental Integrativa de
Casal (Christensen et al., 2016, 2020;
Christensen et al., 2018), conhecida pela
sigla IBCT (do inglês, Integrative Behavioral
144
Couple Therapy), propomos aqui o acrôni-
mo Calma, que pode ser útil para auxiliar
os casais a lidar com os momentos de es-
tresse no relacionamento. Como manter
a calma no seu relacionamento conjugal
em tempos de Covid-19? Vejamos.
Mantendo a Calma:
• Compreenda suas emoções.
• Aceite suas limitações.
• Lembre-se: vocês dois estão sofren-
do.
• Mostre real interesse no sofrimento
do seu parceiro.
• Aperfeiçoe a sua comunicação.

Compreenda suas emoções


O que isso significa exatamente? Ao
vivenciar uma situação desafiadora com
o seu parceiro ou parceira, emoções difí-
ceis e negativas costumam surgir. Recor-
de-se do último desentendimento que vo-
cês tiveram. Como você se sentiu? Numa
primeira resposta, você provavelmente di-
ria: raivoso, irritado, indignado, defensivo,
desrespeitado. Emoções bem difíceis, não
145
é mesmo? Chamamos essas emoções de
superficiais, por serem as primeiras des-
pertadas num conflito. No entanto, há ou-
tra parte de você que também foi tocada,
mas que provavelmente tem menos cons-
ciência. Uma parte mais vulnerável, na qual
residem os seus medos e frustrações.
Talvez você também tenha se senti-
do (ao vivenciar aquele mesmo conflito)
entristecido, cansado, sozinho, sobrecar-
regado ou ignorado. Essas são as nossas
emoções ocultas. Quando nossas sensibili-
dades emocionais são acionadas (tanto as
superficiais quanto as ocultas), podemos
reagir mal, tentar nos defender, culpar o
parceiro ou parceira, ou então nos afastar,
recusando-se a lidar efetivamente com a
situação. Tente descrever para si mesmo:
quais são as emoções ocultas que os con-
flitos conjugais despertam em mim?

Aceite suas limitações


A pandemia nos colocou em contato
com inúmeros estressores externos, como
comentamos no início deste texto. Tais es-
146
tressores podem acentuar diretamente as
diferenças e as sensibilidades emocionais
dos membros do casal. Vamos ver como
isso acontece. Imagine um casal em que
um dos parceiros é retraído e tímido. Já
a cônjuge é uma pessoa expansiva e ca-
lorosa. Em situações marcadamente es-
tressantes, o parceiro retraído pode ficar
ainda mais recluso e arredio de obter com-
panhia ou recusar-se a se engajar em con-
versações. Já a parceira mais expansiva
pode justamente querer obter mais apoio
ao procurar seu parceiro para conversar
e compartilhar suas emoções e dificulda-
des!
Nossas sensibilidades emocionais
também podem desempenhar um papel
nisso. Imagine que essa mesma parceira é
sensível à rejeição. Se seu parceiro se afas-
ta em situações de crise, ela pode reagir,
culpabilizando-o de nunca dar o suporte
que ela precisa. Já ele, que possui dificul-
dades com liderança, por exemplo, pode
sentir-se pressionado a ter que resolver a
situação a qualquer custo, e assim passa a
147
evitar tocar no assunto. Essa engrenagem
relacional não irá girar bem. Sendo assim,
nesses momentos difíceis, é necessário
salientar que vocês dois estão fazendo o
melhor que podem para lidar com tantas
dificuldades, e que será impossível deixar
de agir da maneira pela qual aprenderam
a lidar com essas situações. Perceba quais
são as suas limitações nesse cenário, assim
como as suas necessidades. Nesse contex-
to, investir em autocuidado poderá ser cru-
cial para lidar com os desafios do momen-
to. Isso significa responsabilizar-se pelas
suas próprias questões, entendendo que
nem todas as suas necessidades atuais se-
rão supridas pelo relacionamento.

Lembre-se: vocês dois estão sofrendo


“Eu estou sofrendo! Será que ele não
percebe?”. Essa é uma questão comum.
Normalmente nos apercebemos somente
do nosso próprio sofrimento, e, junto com
o sofrimento, reside um desejo intenso de
sermos compreendidos em nossas neces-
sidades. Isso é profundamente verdadeiro.
148
Mas não somente para você. Seu parcei-
ro ou parceira também está lidando com
emoções difíceis e sofrendo tanto quanto
você! Vamos então pensar de forma racio-
nal: vocês costumam discutir pelos mes-
mos motivos? O que costuma provocar um
desentendimento? Há algum assunto mais
“quente”? Existem gatilhos que acionam
discussões de maneira mais frequente ou
mais intensa? O que vocês fazem quando
notam que estão discutindo? Muitas vezes
é necessário parar a interação, se ela não
for produtiva, e só voltar a abordar o as-
sunto quando realmente estiverem dispo-
níveis emocionalmente.
Perguntem-se: por que esses tópicos
mexem tanto com vocês dois? Quais são as
dores particulares que estão relacionadas
a esses assuntos tão difíceis em comum?
Agora, pensando de forma um pouco di-
ferente: em outras ocasiões, quando nota-
rem que estão “pegando” a mesma antiga
estrada de desentendimentos, é possível
sinalizar isso preventiva e respeitosamen-
te para o seu parceiro ou parceira? Se uti-
149
lizarem de bom humor para lidar com o
assunto (desde que não sejam sarcásticos
um com o outro), isso pode aliviar a pressão
e facilitar abordar o assunto? Se você pre-
cisar tocar num assunto difícil com o seu
parceiro ou parceira, verifique antes se ele
ou ela está realmente disponível para lidar
com isso no momento. Faça uma introdu-
ção gentil primeiro (não jogue o assunto
como se fosse uma “bomba” ou com a in-
tenção de provocar): “Eu preciso conver-
sar com você sobre aquele nosso assunto
tão difícil. Não quero fazer isso para deixar
você mal, mas sinto que precisamos abor-
dar isso agora, em vista de...”. Tolere a re-
ação negativa do outro e tenha em mente
que nem sempre você será atendido. Ten-
tar outra vez será necessário. Lembre-se:
vocês dois estão sofrendo!

Mostre real interesse no sofrimento do


seu parceiro
De que forma o seu parceiro ou parcei-
ra reage durante um conflito entre vocês?
Provavelmente, você sabe elencar muitas
150
coisas, incluindo suposições (talvez nun-
ca antes confirmadas) sobre as “cruéis” in-
tenções dele ou dela em machucá-lo ou
desconsiderá-lo. Você pode até identificar
as “falhas de caráter” dele ou dela e usar
isso como explicação para a tamanha in-
sensibilidade que ele ou ela apresenta. No
entanto, essa é a parte inútil do conflito.
Envolver-se na discussão desses conteú-
dos, ou então enredar-se nessas suposi-
ções, apenas mantém vocês dois presos
em uma armadilha mútua.
Mas como é possível sair da armadi-
lha mútua e transformar os conflitos em
veículos para desenvolver real intimidade
entre um casal? A resposta a essa funda-
mental pergunta envolve aprender a com-
partilhar com o seu parceiro ou parceira
as suas emoções ocultas (lembra-se de que
falamos delas?). Um conflito é uma opor-
tunidade real para compreender quem é o
seu parceiro ou parceira e para entender
como as dificuldades apresentadas por vo-
cês estão conectadas com as pessoas que
vocês se tornaram, a partir das suas his-
151
tórias de vida. Expor essa parte vulnerável
(da melhor maneira que você conseguir fa-
zer) e dar atenção a essa parte no outro,
poderá habilitá-los a se conectarem emo-
cionalmente. Essa é uma conversa de co-
ração para coração. Mas como fazer isso?

Aperfeiçoe a sua comunicação


Para que essa conexão emocional sur-
ja entre vocês dois, vamos utilizar outro
acrônimo para ajudar nessa tarefa. Ao re-
velar-se para o seu parceiro ou parceira,
diga aquilo que é SEU (Sdoukos, 2020).
• Seja específico sobre o que você sen-
te: Muitas vezes, ao abordarmos um as-
sunto conflitivo, nosso foco pode ficar lo-
calizado somente no conteúdo objetivo da
questão (o problema em si mesmo) ou nas
diversas características do outro. Nesse
caso, experimente compartilhar um con-
teúdo emocional sobre o conflito.
• Expresse-se em primeira pessoa:
Para fazer isso, utilize afirmações em pri-
meira pessoa: “Eu sinto que...”, “Agora eu
entendo que...”, “Sobre esse assunto, eu
152
vejo que...”, “Quando você me diz isso, eu
me sinto...”, e assim por diante. Reconhe-
ça e expresse as suas necessidades e não
utilize as afirmações em primeira pessoa
como formas de acusações disfarçadas
(“Eu sinto que você quer destruir a nossa
relação!”). Se for falar do outro, descreva
comportamentos concretos (e não utili-
ze rótulos genéricos) e informe o impacto
emocional que causam em você.
• Utilize revelações suaves: Acima de
tudo, revele-se suavemente! Nesse caso,
informe as suas emoções ocultas (seus me-
dos, frustrações, limitações, pontos fracos
e vulnerabilidades). Alguns exemplos: “Eu
me sinto frustrada por não conseguir fa-
zer isso por nós dois”, “Eu penso que posso
perde-lo quando você age assim e me dói
a ideia de ficar sozinha”, “Eu me sinto in-
capacitado toda vez que abordamos esse
assunto”. Fazer isso é um processo contí-
nuo, e talvez seja necessário revelar-se su-
avemente várias vezes sobre os aspectos
emocionais do conflito para compartilhar
aquilo que é verdadeiramente SEU!
153
Para finalizar, manter a calma nas re-
lações é um exercício necessário para que
você possa melhorar sua interação com
seu parceiro ou parceira nesses tempos es-
tressantes de Covid-19. Volte a esses pon-
tos, sempre que precisar, e faça o seu me-
lhor!

154
Capítulo 15
Luto e um adeus sem despedidas em
tempos de Covid-19
Nione Torres

Nós, seres humanos, experienciamos


o viver através do estabelecimento de vín-
culos e, ao mesmo tempo, iremos expe-
rienciar as perdas que ocorrerão a partir
dele; ou seja, o morrer - uma experiência
inevitável que faz parte do jogo da vida.
Segundo Parkes (2009), a morte é consi-
derada um evento natural que vai gerar,
naquele que ficou, enorme vulnerabilida-
de diante do mundo. A perda pela morte
de alguém com quem tínhamos um víncu-
lo significativo traz um intenso sofrimen-
to denominado luto. Ele é visto como uma
experiência avassaladora e um fenômeno
universal diante da finitude da vida e vi-
venciá-lo não tem como propósito esque-
cermos aquele que foi tão importante em
nossa vida, e, sim, tão apenas aprender-
mos a viver apesar da perda (Torres, 2020).
Todavia, percebemos efetivamente
que essa experiência viva (como é chama-
156
da a vivência do luto) apresenta-se hoje
com muitos reveses. Ocorre que o mun-
do – o nosso mundo – mostra-nos o rosto
da pandemia gerada pela Covid-19 escan-
carando nossas perdas, tais como rotinas,
interações sociais face a face, segurança
financeira, autonomia de ir e vir, além de
arrastar perdas em massa de vidas huma-
nas. Tudo isso de forma assustadoramente
súbita e próxima de nós e do nosso cotidia-
no, trazendo-nos insegurança, incertezas,
medo, ansiedade e, ao mesmo tempo, a
dor avassaladora provocada pela perda
de pessoas com quem tínhamos um forte
vínculo afetivo (Crepaldi et al., 2020).
A experiência aflitiva de morte de um
ente amado causada pela Covid-19, além
de ser muito dolorosa, pode tornar o pro-
cesso do luto mais intensificado, uma vez
que alguns fatores estarão presentes de
forma cabal. Entre tantos, podemos citar:
a) a morte é abrupta e imprevisível; b) em
razão do contágio, as famílias são separa-
das de seu familiar enfermo; c) os familia-
res ficam impossibilitados de memorizar
157
e lamentar a perda através da não realiza-
ção dos rituais fúnebres de origem cultu-
ral e religiosa; d) a família recebe a notícia
da morte por alguém possivelmente des-
conhecido não tendo, muitas vezes, infor-
mações claras e precisas sobre a fatal ocor-
rência, assim como pode ela (família) não
ter acesso aos pertences do ente querido
(National Center for PTSD, 2020).
Cabe aqui dizer que a experiência do
enlutar-se pode ser amenizada pela pre-
sença dos ritos de passagem, os quais se
dão na despedida, no velório e no enter-
ro. Estes são amparados e mantidos por
nós através da religião e da cultura e, neste
momento, não estão sendo realizados por
conta do cenário pandêmico. Ou seja, não
há rituais de despedidas à beira do leito
(aqueles momentos em que podemos ex-
pressar afeto, gratidão, fazer reparações,
compartilhar lembranças com aquele fa-
miliar que está prestes a morrer), assim
como não há rituais fúnebres, que são re-
alizados no velório e no enterro se acon-

158
tecer, serão de forma restritiva em razão
das medidas sanitárias).
No entanto, inexistirá o encontro en-
tre familiares e amigos (suporte socioa-
fetivo) na despedida daquele familiar ou
amigo querido, abortando a possibilidade
de sermos validados e acolhidos em nos-
sa dor com um olhar e ou um abraço que
nos diz “Eu estou aqui, conte comigo” (Tor-
res, 2020; Arantes, 2020). Alguns resulta-
dos desse desamparo aos familiares são a
alta probabilidade de gerar um luto muito
desprotegido, e a sensação de que o sen-
so de realidade e a concretude da morte
não foram vivenciados; daí a percepção
de que a morte parece menos real ou, até
mesmo, que não ocorreu (Arantes, 2020).
Nesse cenário pandêmico, o potencial
da Covid-19 proporcionou um atravessa-
mento no processo de luto afetando, so-
bremaneira, as experiências de terminali-
dade, da morte e do enlutar-se. Será um
adeus sem despedidas! Um não adeus, di-
ga-se de passagem, que pode gerar con-
sequências no processo de enlutamento
159
daquele que ficou, entre tantas elencamos
algumas: o sofrimento da perda é persis-
tente e se prolonga significativamente; sen-
timento de vazio e saudades acentuados
(Mancini et al., 2015); desejo de estar/ver
a pessoa que se foi podendo desencade-
ar emoções, lembranças dolorosas e pen-
samentos intrusivos sobre morte, como
também comportamentos acentuados de
evitação relacionados a esses mesmos as-
pectos; alta frequência de sentimentos de
raiva, descrença, culpa, amargura; e, se
houver comorbidades psiquiátricas, como
ansiedade, depressão, suicídio, transtorno
de estresse pós-traumático e outros trans-
tornos, essas se sobreporão ao sofrimen-
to emocional (Parkes, 2009). Em poucas
palavras, houve uma fenda, um corte nes-
se processo resultando em uma dolorosa
realidade; ou seja, o luto não foi embora,
instaurando um comprometimento signi-
ficativo na qualidade de vida de quem fi-
cou.
Dado esse contexto hoje imposto, pre-
cisamos ir em busca de alternativas no sen-
160
tido de tornar a vivência desse luto menos
traumática do que naturalmente já é. Nes-
se sentido, Crepaldi et al. (2020) sinalizam
que, em ambos rituais (o de despedida e
os fúnebres), há necessidade de uma nova
configuração, sendo uma das possibilida-
des já constatadas para esse fim, o uso da
tecnologia. Quanto ao primeiro ritual, de-
pendendo das condições clínica e cognitiva
do enfermo, incentiva-se o contato entre
enfermo e familiares através de celulares/
tablets e o envio de mensagens de áudio,
cartas e objetos que representam vínculo
emocional entre o enfermo e sua rede so-
cioafetiva.
Com relação ao segundo ritual,
Crepaldi et al. (2020), sugerem ligações de
vídeos, mensagens de voz e e-mails de des-
pedida ao ente querido através de reuni-
ões on-line; criação de memoriais (on-line
ou em casa) com fotos, cartas ou mensa-
gens, além do acesso às redes sociais para
lembrar e homenagear aquele que se foi.
Vale lembrar que expressões de afeto, pe-
sar e espiritualidade não substituem os ri-
161
tuais sustentados pela nossa história cul-
tural e religiosa A única função é auxiliar
na resolução do luto, uma vez que eles (os
rituais) possibilitam caminhos emocionais
e cognitivos para lidar com a perda.
Não podemos reduzir a pessoa à hora da mor-
te, ou seja, realmente você não pode estar lá e,
é óbvio que tem o direito à dor de não estar no
velório e no enterro, então, lembre-se de todos
os momentos em que vocês estiveram juntos e
honre a memória dessa pessoa (Luz, comunica-
ção pessoal, 2020).

A busca de um suporte terapêutico


pode ser de extrema relevância nesse pro-
cesso. O terapeuta e o cliente poderão tra-
çar caminhos através de estratégias tera-
pêuticas no sentido de conduzir o enlutado
na vivência da sua dor com vistas à resolu-
ção do luto. O propósito é que, aquele que
perdeu seu ente de amor, aprenda habili-
dades para aceitar tanto a realidade da per-
da quanto à nova realidade da sua vida, ao
mesmo tempo em que experimenta sen-
timentos como pesar e saudade. Assim,
o enlutado retomará sua trajetória com
162
base nesse ressignificar, reorganizando-se
e aprendendo a conviver com a ausência
do ente de amor, o que trará, certamente,
um novo sentido à sua existência (Torres,
2020).

Referências

Abjaude, S. A. R., Pereira, L. B., Zanetti, M.


O. B., & Pereira, L. R. L. (2020). Como
as mídias sociais influenciam na saú-
de mental? MAD. Revista Eletrônica Saú-
de Mental Álcool e Drogas, 16(1), 1-3.
https://doi.org/10.11606//issn.1806-
6976.smad.2020.0089

Alves, R. (1999). O retorno e o terno: Crôni-


cas. Papirus

American Psychiatric Association.


(2013). Diagnostic and statistical ma-
nual of mental disorders (5th. ed.).
APA. https://doi.org/10.1176/appi.
books.9780890425596

163
Arantes, A. (2020). A morte na era da Co-
vid-19 é uma morte desamparada.
https://cbn.globoradio.globo.com/me
dia/audio/300135/morte-na-era-da-
covid-19-e-uma-morte-desamparada.
htm

Baumel, A., Pawar, A., Kane, J. M., & Cor-


rell, C. U. (2016). Digital parent training
for children with disruptive behaviors:
Systematic review and meta-analysis of
randomized trials. Journal of Child and
Adolescent Psychopharmacology, 26(8),
740-749.

Bentley, K. H., Kleiman, E. M., Elliott, G.,


Huffman, J. C., & Nock, M. K. (2019). Re-
al-time monitoring technology in sin-
gle-case experimental design research:
Opportunities and challenges. Beha-
viour Research and Therapy, 117, 87-96.

Block, J. J. (2008). Issues for DSM-V: Inter-


net addiction. The American Journal of
Psychiatry, 165, 306-307.
164
Bolsoni-Silva, A. T., Del Prette, A., & Oishi, J.
(2003). Habilidades sociais de pais e pro-
blemas de comportamento de filhos.
Revista Psicologia Argumento, 9, 11-29.

Bolsoni-Silva, A. T., & Fogaca, F. F. S. (2018).


Promove – Pais. Treinamento de habilida-
des sociais educativas: Guia teórico e prá-
tico. Hogrefe.

Bolsoni-Silva, A. T., Marturano, E. M., & Fo-


gaça, F. F. S. (2019). Orientação para pais
e mães: Como melhorar o relacionamen-
to com seu filho. Juruá.

Brooks, S. K., Webster, R. K., Smith, L. E.,


Woodland, L., Wessely, S., Greenberg,
N., & Rubin, G. J. (2020). The psychologi-
cal impact of quarantine and how to re-
duce it: rapid review of the evidence. The
Lancet, 395(10227), 912‑920. https://doi.
org/10.1016/S0140-6736(20)30460-8

165
Caminha, R. M. (2014). Educar crianças: As
bases de uma educação socioemocional
– Um guia para pais, educadores e tera-
peutas. Sinopsys.

Christensen, A., Doss, B. D., & Jacobson, N.


S. (2018). Diferenças reconciliáveis: Re-
construindo seu relacionamento ao re-
descobrir o parceiro que você ama, sem
se perder. Sinopsys.

Christensen, A., Doss, B. D., & Jacobson, N.


S. (2020). Integrative behavioral couple
therapy: A therapist’s guide to creating ac-
ceptance and change. Norton.

Christensen, A., Wheeler, J. G., Doss, B. D.,


& Jacobson, N. S. (2016). Problemas do
casal. Em D. H. Barlow (Org.), Manual clí-
nico dos transtornos psicológicos: Trata-
mento passo a passo (pp. 697‑724). Art-
med.

166
Coyne, L. W., & Murrell, A. R. (2009). The joy
of parenting: An acceptance and commit-
ment therapy guide to effective parenting
in the early years. New Harbinger.

Comitê Científico do Núcleo Ciência pela


Infância. (2020). Repercussões da Pan-
demia de COVID-19 no Desenvolvimento
Infantil – Edição Especial. Fundação Ma-
ria Cecilia Souto Vidigal. https://ncpi.
org.br/wp-content/uploads/2020/05/
Working-Paper-Repercussoes-da-pan
demia-no-desenvolvimento-infantil-3.
pdf.

Conselho Federal de Psicologia (2020). Reso-


lução 04/2020. https://atosoficiais.com.
br/cfp/resolucao-do-exercicio-profis
sional-n-4-2020-dispoe-sobre-regula
mentacao-de-servicos-psicologicos-
prestados-por-meio-de-tecnologia-da
informacao- e-da-comunicacao-duran-
te-a-pandemia-do-covid-19? origin=ins-
tituição &q=04/2020

167
Crepaldi, M. A., Schmidt, B., Noal, D. D. S.,
Bolze, S. D. A., & Gabarra, L. M. (2020).
Terminalidade, morte e luto na pande-
mia de COVID-19: Demandas psicológi-
cas emergentes e implicações práticas.
Estudos de Psicologia, 37. https://doi.or-
g/10.1590/1982-0275202037e200090

Danese, A., Smith, P., Chitsabesan, P., &


Dubicka, B. (2020). Child and adoles-
cent mental health amidst emergen-
cies and disasters. British Journal of
Psychiatry, 216(3), 159-162. https://doi.
org/10.1192/bjp.2019.244

Del Prette, Z. A. P., & Del Prette, A. (2013).


Psicologia das habilidades sociais na in-
fância: Teoria e prática (6a. ed.). Vozes.

168
Del Prette, Z. A. P., Ferreira, B. C., Dias, T.
P., & Del Prette, A. (2015). Habilidades
sociais ao longo do desenvolvimento:
Perspectivas de intervenção em saúde
mental. Em S. G. Murta, C. Leandro-Fran-
ça, K. B. dos Santos, K. B., & L. Polejack.
(Orgs.), Prevenção e promoção em saú-
de mental: Fundamentos, planejamento e
estratégias de intervenção (pp. 318-340).
Sinopsys.

Del Prette, A., & Del Prette, Z. A. P. (2017).


Competência social e habilidades sociais:
Manual teórico-prático. Vozes.

Dimidjian, S., & Linehan, M. M. (2009). Min-


dfulness practice. Em W. T. O´Donohue
& J. E. Fisher (Eds.), General principles
and empirically supported techniques of
cognitive behavior therapy (pp. 425‑434).
John Wiley & Sons

169
Fialho, J. P. G. (2018). Uso de pistas visuais.
Em C. P. Duarte, L. C. Silva, & R. L. Velo-
so (Orgs.), Estratégias da análise do com-
portamento aplicada para pessoas com
transtorno do espectro do autismo (pp.
195-217). Memnon.

Edwards, G., Marshall, E. J., & Cook, C. C.


H. (2003). The treatment of drinking pro-
blems: A guide for the helping professions
(4th ed.). Cambridge

Ferreira, M. P., & Laranjeira, R. (1998). De-


pendência de substâncias psicoativas.
Em L. M. Ito (Org.), Terapia cognitivo-
-comportamental para transtornos psi-
quiátricos (pp. 105-121). Artmed.

Fuentes, D., Malloy-Diniz, L. F., Camargo, C.


H. P., & Cosenza, R. M. (2014). Neuropsi-
cologia: Teoria e prática. (2a ed.) Artmed.

170
Guilhardi, H. J. (2019). Pero, y si no hay
amor. Em I. M. Rodrigues Jr., & J. M. G.
Rodríguez (Orgs.), Manual latinoameri-
cano de terapia de pareja, volumen 1: Te-
mas introductorios. (pp. 43-68). Inpasex.

Green, D. (2020a). How to report on the co-


ronavirus pandemic, whatever your beat.
https://www.journalism.co.uk/news/
how-to-report-on-the-coronavirus-cri
sis/s2/a753329/

Green, D. (2020b). International fact-che-


cking day: Eight resources for verifying
information. https://www.journalism.
co.uk/news/resources-to-help-with-ve
rification/s2/a753949/OMS (2020)/

Gresham, F. M. (2013). Análise do compor-


tamento aplicada às habilidades so-
ciais. Em Z.A.P. Del Prette & A. Del Prette
(Orgs.), Psicologia das habilidades so-
ciais: Diversidade teórica e suas implica-
ções (3a ed., pp.17-66). Vozes.

171
Goleman, D. (2014). Foco: A atenção e seu
papel fundamental para o sucesso. Obje-
tiva.

Hamaker, E. L., & Wichers, M. (2017). No


time like the present: Discovering the
hidden dynamics in intensive longitu-
dinal data. Current Directions in Psycho-
logical Science, 26(1), 10-15.

Hsieh, Y. P., Shen, A. C. T., Wei, H. S., Feng,


J. Y., Huang, S. C. Y., & Hwa, H. L. (2018).
Internet addiction: A closer look at mul-
tidimensional parenting practices and
child mental health. Cyberpsychology,
Behavior, and Social Networking, 21(12),
768-773.

172
Hubner, M. M. C. (2002). A importância da
participação dos pais no desempenho
escolar dos filhos: Ajudando sem atra-
palhar. Em F. C. S. Conte, M. Z. Brandão,
& S. Mezzaroba (Org.), Comportamento
humano: Tudo (ou quase tudo) que você
gostaria de saber para viver melhor. ESE-
Tec.

Kanamota, P. F., Bolsoni-Silva, A. T., & Kana-


mota, J. S. (2017). Efeitos do programa
Promove-Pais, uma terapia comporta-
mental aplicada a cuidadoras de ado-
lescentes com problemas de compor-
tamento. Acta Comportamentalia, 25(2),
197-214.

Katz, L. C., & Manning, R. (2011). Mantenha


seu cérebro vivo (2a ed.). Sextante.

Leahy, R. L., Tirch, D., & Napolitano, L. A.


(2013). Regulação emocional em psicote-
rapia: Um guia para o terapeuta cogniti-
vo-comportamental. Artmed.

173
Lee, R., Ruan, D., & Lai, G. (2005). Social
structure and social support in Beijing
and Hong Kong. Social Networks, 27, 249-
274.

Luoma, J. B., Hayes, S. C., & Walser, R. (2007).


Learning ACT: An acceptance and commit-
ment therapy skills-training manual for
therapists. New Harbinger.

Mancini, A. D., Sinan, B., & Bonanno, G. A.


(2015). Predictors of prolonged grief, re-
silience, and recovery among bereaved
spouses. Journal of Clinical Psychology,
71(12), 1245-1258.

Mischel, W. (2016). O teste do marshmallow:


Por que a força de vontade é a chave do
sucesso. Objetiva.

National Center for PTSD. (2020). Trea-


ting PTSD during the COVID-19 virus
outbreak. https://www.ptsd.va.gov/
professional/consult/2020lecture_ar-
chive/03182020_lecture_slides.pdf
174
National Institute on Drug Abuse. (2009).
Principles of drug addiction treatment: A
research based guide (3rd. ed.). National
Institutes of Health.

News Nerdery. The Newsroom Guide to CO-


VID-19. https://covid19.ops.guide/

News Nerdery. Guia sobre a covid-19


para as redações. (R. A. B. de Alencar &
M. Esperidião Trads.). Associação Bra-
sileira de Jornalismo Investigativo.
https://abraji-bucket-001.s3.sa-east-1.
amazonaws.com/uploads/publication_
info/details_file/d51902de-a3fa-4b5d-
-81d7-aa3f213154ab/Guia_sobre_a_co
vid-19_para_as_reda__es_-_Vers_o_Pt..
pdf

Parkes, C. M. (2009). Amor e perda: As raízes


do luto e suas complicações (trad. MHP
Franco). Sammus. (Obra original publi-
cada em 2006).
Perito, M. E. S, & Fortunato, J. J. (2012).
Marcadores biológicos da depressão:
Uma revisão sobre a expressão de fa-
tores neurotróficos. Revista de Neuroci-
ência, 20(4), 597-603. http://www.revis-
taneurociencias.com.br/edicoes/2012/
RN2004/revisao%2020%2004 /730%20
revisao.pdf

Pergher, N. K., Colombini, F., Chamati,


A. B. D., Figueiredo, S. A., & Camargo,
M. I. P. (2012). Desenvolvimento de há-
bitos de estudo. Em N. B. Borges, & F. A.
Cassas, Clínica analítico-comportamen-
tal: Aspectos teóricos e práticos (pp. 277-
286). Artmed.

Perrenoud, L. O., & Ribeiro, M. (2011). Etio-


logia dos transtornos relacionados ao
uso de substâncias psicoativas. Em A.
Diehl, D. C. Cordeiro, & R. Laranjeira
(Orgs.), Dependência química: Prevenção,
tratamento e políticas públicas (pp. 43-
48). Artmed.

176
Pessôa, C. V. B. B., & Velasco, S. M. (2012).
Comportamento operante. Em N. B. Bor-
ges & F. A. Cassas, Clínica analítico-com-
portamental: Aspectos teóricos e práticos
(cap. 2, pp. 24-32). Artmed.

Pietromonaco, P. R., & Overall, N. C. (2021).


Applying relationship science to evalua-
te how the COVID-19 pandemic may
impact couples’ relationships. American
Psychologist, 76(3), 438-450. https://doi.
org/10.1037/amp0000714

Salvador, A. P. V., Souza, A. M., Nardielo,


A. F. B., Senkiv, C. C., Almeida, J. M. G.,
Rampasso, L. A. M. … Lima, T. C. (2020).
Impactos do distanciamento social na
relação pais-filhos e reflexões sobre
possíveis intervenções. Cadernos de Psi-
cologias, 1/2020. https://cadernosdepsi
cologias.crppr.org.br/impactos-do-di
stanciamento-social-na-relacao-pais-
filhos-e-reflexoes-sobre-possiveis-
intervencoes

177
Seabra, A. G., Laros, J. A., Macedo, E. C., &
Abreu, N. (2014). Inteligência e funções
executivas: Avanços e desafios para a ava-
liação neuropsicológica. Memnon.

Seitz, B., Aktipis, A., Buss, D., Alcock, J.,


Bloom, P., & Haselton, H. (2020). The
pandemic exposes human nature: 10
evolutionary insights. Proceedings of the
National Academy of Sciences, 117 (45)
27767-27776. https://doi.org/10.1073/
pnas.2009787117

Schuster, C. R., & Thompson, T. (1969).


Self administration of and behavio-
ral dependence on drugs. Annual Re-
view of Pharmacology, 9, 483-502.
https://doi.org/10.1146/annurev.
pa.09.040169.002411

178
Sdoukos, S. S. (2020). Desenvolvendo a lin-
guagem da aceitação com o seu parcei-
ro ou parceira no contexto de um pro-
blema de relacionamento. Em L. Weber
& J. da Cunha (Orgs.), Relacionamentos
positivos na família (pp. 233-238). Juruá.

Skinner, B. F. (1953/2003). Ciência e com-


portamento humano. São Paulo: Mar-
tins Fontes.

Skinner, B. F. (1981). Selection by conse-


quences. Science, 213(4507), 501-504.
h t t p s : / / d o i . o rg / 1 0 . 1 1 2 6 / s c i e n c e .
7244649

Sociedade Brasileira de Pediatria (2020).


Pais e filhos em confinamento durante
a pandemia de COVID-19. Nota de Aler-
ta.

179
Torres, N. (2020). Vivenciar um adeus
sem despedida: A dor do luto na CO-
VID-19 (Parte 1). https://compor-
tese.com/2020/07/27/vivenciar-um-
adeus-sem-despedidas-a-dor-do-luto-
na-covid-19-parte-i

Valcke, M., Bonte, S., De Wever, B., & Rots,


I. (2010). Internet parenting styles and
the impact on internet use of primary
school children. Computers & Educa-
tion, 55(2), 454-464.

World Bank. (2020, 8 de junho). O CO-


VID-19 Lança a Economia Mundial na
Pior Recessão desde a Segunda Guer-
ra Mundial. Comunicado à Imprensa.
https://www.worldbank.org/pt/news/
press-release/2020/06/08/covid-19-to-
-plunge-global-economy-into-worst-
-recession-since-world-war-ii

180
Sobre os autores e organizadores

Alan Souza Aranha


Especialista pelo Instituto de Terapia por Contingên-
cias de Reforçamento (ITCR) de Campinas, mestre e
doutorando em Psicologia Clínica pela Universida-
de de São Paulo (USP).

Alessandra Turini Bolsoni-Silva


Livre-docente em Psicologia Clínica pela Universi-
dade Estadual Paulista (UNESP-Bauru).

Beatriz Azem Correa


Psicóloga clínica. Mestre em Análise do Compor-
tamento pela Universidade Estadual de Londrina
(UEL).

Caroline Encinas Audibert


Psicóloga clínica. Mestre e Doutoranda em Ciências
da Saúde pela UEL. Faz parte da equipe do Centro
Integrado de Neuropsiquiatria e Psicologia Com-
portamental (CINP).
181
Catarine Santos Souza
Psicóloga clínica e especialista em Análise do Com-
portamento e Terapia Analítico-Comportamental
pela Unipar-PR. Atualmente é cocoordenadora do
Projeto ABPMC Comunidade.

Claudia Kami Bastos Oshiro


Doutora em Psicologia clínica pela USP, mestre em
em Educação Especial pela Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar). Docente no Departamento de
Psicologia Clínica da USP. Pesquisadora afiliada à
Universidade de Washington. Vencedora do Prêmio
Capes de Tese 2012 na área da Psicologia.

Denis Roberto Zamignani


Psicólogo clínico. Doutor em Psicologia Clínica pela
USP, mestre em Psicologia Experimental: Análise do
Comportamento pela Pontifícia Universidade Cató-
lica de São Paulo (PUC-SP). Docente do mestrado
profissional em Análise do Comportamento Aplica-
da do Centro Paradigma.

182
Fernanda Castanho Calixto
Psicóloga clínica. Doutora em Psicologia pela UFS-
Car, mestre em Análise do Comportamento pela
UEL. Docente e supervisora no Centro Paradigma e
Evolucio. Desde 2020, atua como coordenadora da
comissão científica da ABPMC.

Gabriela Gonçalves dos Santos Amor


Psicóloga clínica pela Universidade Positivo (UP) e
cocoordenadora da Comissão ABPMC Comunidade.

Inaldo Jacinto da Silva Júnior


Psicólogo clínico pela Universidade Metodista de
São Paulo (UMESP), especialista em Clínica Analí-
tico-Comportamental e em Neuropsicologia pelo
CEPSIC e HC/FMUSP-SP, com formação em Terapias
Comportamentais Contextuais pelo Centro Paradig-
ma de Ciências e Tecnologia do Comportamento.

183
Jocelaine Martins da Silveira
Doutora em Psicologia Clínica. Professora associa-
da do Departamento de Psicologia da Universidade
Federal do Paraná (UFPR).

Larissa Schafranski
Psicóloga clínica. Cursando especialização em Tera-
pias Contextuais pelo Instituto Continuum. Faz par-
te da equipe do CINP.

Liane Dahás
Psicóloga clínica e experimental pela Universidade
Federal do Pará  (UFPA), mestre e doutora em Teo-
ria e Pesquisa do Comportamento pela UFPA. Coco-
ordenadora do Projeto ABPMC Comunidade.

184
Lucas Polezi do Couto
Psicólogo clínico. Mestrando em Psicologia pela
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Pós-
-graduando em Terapias Comportamentais de Ter-
ceira Geração (Instituto de Pós-Graduação e Gradu-
ação - IPOG) e em Terapia Comportamental Dialética
(Centro de Avaliação, Atendimento e Educação em
Saúde Mental - CAAESM).

Maíra Melo Silva


Psicóloga clínica, especialista em Neuropsicologia
pela Faculdade de Medicina do ABC e em Reabilita-
ção Neuropsicológica pelo Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP.

Mariana Fortes de Sá Pianovski


Psicóloga Infantil e mestre em Psicologia pela UFPR.

185
Mauro Silva Júnior
Psicólogo. Doutor e mestre em Teoria e Pesquisa
do Comportamento pela UFPA. Professor do Institu-
to de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB)e
professor orientador no Programa de Pós-Gradua-
ção em Ciências do Comportamento e no Programa
de Pós-Graduação em Neurociências e Comporta-
mento na UFPA.

Murilo Ramos
Psicólogo clínico. Mestre em Análise do Comporta-
mento pela UEL. Docente do curso de formação em
ACT e FAP do Instituto Continuum. Sócio-fundador
do CINP.

Nione Torres
Psicóloga clínica, especialista em Docência do Ensi-
no Superior pela UEL e mestre pela Pontifícia Uni-
versidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).
Formação em Terapia Comportamental Dialética-
-Behavioral pelo Tech/The Linehan Institute-Seattle
(EUA).

186
Oriana Comesanha e Silva
Psicóloga clínica. Especialista em Terapia por Con-
tingência de Reforçamento pelo ITCR e mestre em
Teoria e Pesquisa do Comportamento pela UFPA.

Roberta Kovac
Psicóloga clínica, mestre em Psicologia Experimen-
tal: Análise do Comportamento pela PUC-SP e dou-
tora em Psicologia Clínica pela USP. Docente do mes-
trado profissional em Análise do Comportamento
Aplicada do Centro Paradigma.

Roberto Alves Banaco


Psicólogo clínico. Doutor em Ciências pela USP. Pro-
fessor e pesquisador no Centro Paradigma.

Simone Martin Oliani


Psicóloga clínica. Mestre em Análise do Comporta-
mento e especialista em Psicoterapia Analítico Fun-
cional pela UEL. Atualmente é coordenadora nacio-
nal da ABPMC Comunidade e membro da diretoria
da ACBS Brasil.
187
Stélios Sant’Anna Sdoukos
Psicólogo clínico pela UFPR com formação em Tera-
pia Comportamental e Cognitiva pelo CETECC. Mes-
tre em Análise do Comportamento pela UEL. Res-
ponsável Técnico da Operantis - Psicologia e Análise
do Comportamento.

Talita Pereira Dias


Psicóloga clínica especialista em Terapia Compor-
tamental pelo ITCR (Campinas) e pós-doutoranda
pela UFSCar com estágio na Universidade de Gra-
nada, Espanha.

Vera Regina Lignelli Otero


Psicóloga clínica. Atua na Clínica ORTEC em Ribei-
rão Preto (SP). Docente do Instituto Continuum de
Londrina (PR) e do Instituto de Análise do Compor-
tamento de Ribeirão Preto (SP).

188
Zilda Aparecida Pereira Del Prette
Psicóloga. Mestre em Psicologia pela UFPB, doutora
em Psicologia pela USP e pós-doutora em Psicologia
das Habilidades Sociais pela Universidade da Cali-
fórnia. É pesquisadora nível IA do CNPq e professo-
ra titular da UFSCar, vinculada ao Programa de Pós-
-Graduação em Psicologia da mesma universidade e
ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre
Comportamento, Cognição e Ensino (INCT-ECCE).

189

Você também pode gostar