Contribuições Das Ciências Do Comportamento em Tempos de Pandemia 2021 Ed ABPMC
Contribuições Das Ciências Do Comportamento em Tempos de Pandemia 2021 Ed ABPMC
Contribuições Das Ciências Do Comportamento em Tempos de Pandemia 2021 Ed ABPMC
C764
Contribuições das ciências do comportamento em tempos de pandemia /
Simone Martin Oliani (Organizadora), Catarine Santos Souza (Organizadora),
Gabriela Gonçalves dos Santos Amor (Organizadora), et al. – Curitiba: ABPMC, 2021.
Outras organizadores
Liane Dahás
Denis Roberto Zamignani
Livro em PDF
189 p.
ISBN 978-65-87203-04-1
Capítulo 1 p. 12
E quando a crise mundial transformar-se
em um problema meu?
Maíra Mello Silva
Capítulo 2 p. 18
Manejo de estresse em meio ao caos:
Como ser jornalista em plena pandemia?
Liane Dahás, Inaldo Jacinto da Silva Júnior,
Denis Roberto Zamignani, Roberto Alves Banaco e
Roberta Kovac
Capítulo 3 p. 28
Distanciamento social ou distanciamento
físico? Qual mensagem queremos passar?
Mauro Silva Júnior
Capítulo 4 p. 40
Habilidades sociais nas redes sociais
em tempos de pandemia
Talita Pereira Dias e Zilda Aparecida Pereira Del Prette
Capítulo 5 p. 50
Isolamento social e autocontrole
Fernanda Castanho Calixto
Capítulo 6 p. 57
Consumo de substâncias psicoativas
na pandemia
Alan Souza Aranha e Claudia Kami Bastos Oshiro
Capítulo 7 p. 71
Orientação on-line a pais no tratamento do
uso problemático de internet pela criança
Mariana Fortes de Sá Pianovski e
Jocelaine Martins da Silveira
Capítulo 8 p. 80
O papel da educação na redução da
criminalidade: aspectos familiares -
Comunicação não violenta dentro da família
Alessandra Turini Bolsoni-Silva
Capítulo 9 p. 89
A relação pais e filhos na pandemia da
Covid-19: Os desafios do “novo normal”
Caroline Encinas Aldibert e Beatriz Azem Correa
Capítulo 10 p. 97
Parentalidade em tempos de Covid- 19:
Dicas de como organizar a rotina da criança.
Lucas Polezi do Couto
Capítulo 11 p. 113
Hábitos de estudo: Apenas se sentar e estudar
é suficiente para uma aprendizagem saudável
e contínua?
Larissa Schafranski, Murilo Ramos e
Simone Martin Oliani
Capítulo 12 p. 129
Como lidar com rotinas familiares
interrompidas para pessoas com TEA
Oriana Comesanha e Silva
Capítulo 13 p. 135
Casamento em tempos de pandemia
Vera Regina Lignelli Otero
Capítulo 14 p. 143
Como manter a calma no relacionamento
conjugal em tempos de Covid-19
Stélios Sant’Anna Sdoukos
Capítulo 15 p. 156
Luto e um adeus sem despedidas em tempos
de Covid-19
Nione Torres
6
Apresentação
Ao longo dos últimos 30 anos, a Asso-
ciação Brasileira de Ciências do Compor-
tamento (ABPMC) teve um crescimento
notável, tornando-se presente em diver-
sas regiões do país, diversificando suas
áreas de atuação e com isso alcançando
um número cada vez maior de analistas
do comportamento. Como fruto dos en-
contros e das discussões nele fomentadas,
mais pesquisas são realizadas, métodos
são desenvolvidos e técnicas são testadas.
Mais cursos e livros são oferecidos para
que os interessados aprimorem seus co-
nhecimentos e técnicas e tornem-se pro-
fissionais de excelência, reconhecidos pela
qualidade de seu trabalho. A análise do
comportamento em geral, e a ABPMC em
especial, representam toda essa diversida-
de de ações e possibilidades. No entanto,
há algo que move essa engrenagem e que
é o objetivo maior a ser alcançado: servir
à comunidade, oferecendo conhecimento,
ferramentas e serviços confiáveis e base-
ados em evidências científicas.
7
O projeto ABPMC Comunidade foi de-
senvolvido para lembrar a quem servimos
e qual é o nosso propósito. Todos os dias,
analistas do comportamento pensam em
novas soluções para problemas compor-
tamentais e queremos que essas soluções
cheguem ao maior número de pessoas
possível. O projeto ABPMC Comunidade
desafia profissionais a pensarem em como
levar essas soluções para todas as pesso-
as, oferecendo orientação e apoio.
Assim, são realizadas palestras, rodas
de conversa e entrevistas em programas
de rádio e televisão, traduzindo em lin-
guagem acessível os diversos temas de in-
teresse da comunidade. Tais eventos são
realizados por meio de parcerias com es-
colas, igrejas, associações, hospitais, inte-
grando os diversos atores da comunidade
na realização de objetivos comuns. Tam-
bém são publicados textos sobre assuntos
diversos e distribuídos para os grandes
parceiros do projeto: a Escola de Magistra-
tura do Paraná e a Receita Federal de Foz
do Iguaçu (PR), Bauru (SP) e São Luís (MA).
8
A principal intenção é sempre levar o que
temos de melhor a oferecer para o maior
número possível de pessoas.
Para fazer acontecer cada ação do pro-
jeto, profissionais especializados disponi-
bilizam voluntariamente seu conhecimen-
to, tornando possível que o Projeto ABPMC
Comunidade esteja em tantos lugares di-
ferentes do Brasil com atividades de qua-
lidade.
Nosso propósito, como analistas do
comportamento, e enquanto Associação
que os representa, é tornar o mundo um
lugar melhor por meio de soluções com-
portamentais acessíveis a todos. Esse pro-
jeto é mais do que um conjunto de ações
por todo o país, ele é um abraço da ABPMC
oferecido àqueles a quem servimos. Sabe-
mos que não é possível dar um abraço so-
zinho, pois todo abraço é uma demonstra-
ção de afeto recíproco. E por isso, a cada
ação em que podemos perceber nosso tra-
balho beneficiando a comunidade em que
vivemos, nos sentimos também repletos
de carinho e afeto.
9
Abraçamos, e agradecemos, portan-
to, à nossa Comunidade interna, que tor-
na esse projeto possível e que o faz tão es-
pecial. Projeto que ganha uma dimensão
ainda mais significativa nesse contexto de
pandemia da Covid-19, momento em que
precisamos refletir sobre nossas relações
e interações buscando otimizar nossos re-
cursos e nossa tecnologia em busca de pro-
teger os cidadãos e contribuir na busca de
alternativas sustentáveis para driblar as
dificuldades que nos são impostas.
10
Capítulo 1
E quando a crise mundial transformar-
-se em um problema meu?
Maíra Mello Silva
15
nosso comportamento individual será fun-
damental para a coletividade. Assim sen-
do, quanto mais cedo conseguirmos aten-
tar à nossa forma de agir diante do nosso
comportamento, maior será o impacto de
nossas ações para o desfecho da Covid-19
no Brasil.
Momentos de crise geram mudanças
significativas em todos nós, exacerbam
emoções de medo, angústia, descrença,
desesperança, insegurança, deixam nos-
so cérebro super ativo. E o cérebro pode
ser ainda mais ativado quando buscamos
aumentar respostas de amor, empatia, fé
e cooperação que serão necessárias para
enfrentarmos, juntos, os desafios que sur-
girem.
E aí, quando o problema se tornará
seu?
16
Capítulo 2
Manejo de estresse em meio ao caos:
Como ser jornalista em plena pande-
mia?
Liane Dahás, Inaldo Jacinto da Silva Júnior,
Denis Roberto Zamignani, Roberto Alves Banaco e
Roberta Kovac
19
jetiva, amparando o profissional para lidar
com os percalços da pandemia e, ao mes-
mo tempo, ser efetivo no seu trabalho de
informar a população sem contribuir para
uma piora do sentimento geral de caos so-
cial em que vivemos atualmente.
O Guia apresenta diretrizes para que
o exercício da profissão ocorra de maneira
a levar em conta as necessidades do jor-
nalista como indivíduo, e também de sua
equipe, de sua família (como as vivências
em home office) e, por fim, do público que
vai consumir seu produto de trabalho. É
um material elaborado com perspicácia
pelos autores que perceberam as armadi-
lhas para a saúde mental e física a que es-
ses profissionais estão expostos. No final,
o Guia frisa o papel social do trabalho do
jornalista, conectando-o com as necessi-
dades da população em geral e defenden-
do ações colaborativas como armas fun-
damentais na batalha contra a pandemia.
Este texto objetiva ir ao encontro do
Guia ao apresentar a ferramenta Kairós,
desenvolvida para ser utilizada nas reda-
20
ções (presenciais ou virtuais) para dirimir
o sofrimento do jornalista ao fazer seu tra-
balho nesse contexto de pandemia. Visa
também garantir que o produto desse tra-
balho seja capaz de gerar frutos relevan-
tes e socialmente responsáveis na constru-
ção de um mundo mais bem informado e,
assim, mais capacitado para enfrentar as
questões deste momento histórico. Acom-
panhe os passos a seguir.
Passo 1
Convide sua equipe para um bate-pa-
po sobre a atual situação. Abra a apresen-
tação “Kairós – Promovendo e apoiando
mudanças culturais” no programa Power
3
21
é importante que as respostas sejam ge-
nuínas e não julgadoras. Peça que leiam o
que colocaram no papel, um por vez. Con-
versem a respeito do assunto, buscando
manter a postura não julgadora e ainda
mais difícil deste momento, sem buscar re-
solver problema algum. A tarefa é simples:
primeiramente, deixar vir à tona os pró-
prios sofrimentos, e depois, ouça e acolha
os sofrimentos e preocupações alheias.
Passo 2
Depois que todos já conseguiram ex-
por seus sentimentos e pensamentos,
passe para o terceiro slide. Cada letra da
palavra pandemia esconde outra palavra
por baixo que virá à tona quando for pres-
sionada. Escolha uma das letras. Promova
uma discussão com os colegas sobre como
essa nova palavra impacta positiva ou ne-
gativamente sua percepção da situação
atual. Pergunte se algum deles concorda
com você ou tem outro ponto de vista. So-
licite que cada um faça o mesmo com as
outras letras, uma por vez. Quando todas
22
as letras forem pressionadas e as palavras
que surgirem forem discutidas, passe para
o próximo passo.
Passo 3
Ainda no slide três, leia a seguir o acrós-
tico da palavra pandemia . Faça todos os
participantes notarem que cada nova pa-
lavra formada com uma letra de pandemia
apresenta uma habilidade possível de ser
ensinada e/ou aprimorada em grupo.
P- estabelecer e fortalecer Parcerias e
colaboração
A- buscar novas Alternativas
N- atentar às Necessidades individu-
ais e coletivas
D- atentar aos Desafios individuais e
coletivos
E- alimentar a Esperança de que o fu-
turo pode ser melhor
M- praticar a Moderação e a serenida-
de em nossas ações
I- aceitar a existência da Individualida-
de de cada um, não como verdade única,
23
mas como ponto de vista modelado pela
ontogenia e cultura.
A- Desenvolver respostas de Amor
próprio, Amor aos entes queridos e à hu-
manidade como um todo.
Passo 4
Discuta com o grupo se as palavras for-
madas com as letras de pandemia foram
discutidas com o mesmo sentido das habi-
lidades propostas no acróstico. Pergunte
qual dessas habilidades cada um acredi-
ta ser necessário praticar mais na próxi-
ma semana. Relembre a todos que a situ-
ação é nova e, portanto, desafiadora para
a equipe como um todo; sendo assim, não
se espera que todos estejam plenamente
capacitados para desempenhar perfeita-
mente todas as habilidades de gerencia-
mento de crise possíveis. Como afirma o
próprio Guia: “Esta é uma corrida de reve-
zamento, não uma maratona ou um pro-
jeto com data definida para acabar”. Cada
um está fazendo seu melhor nessa situa-
24
ção, o que inclui tentar ser ainda melhor
no dia seguinte.
A apresentação conta ainda com ou-
tros slides autoexplicativos que propõem
atividades a serem realizadas em equipe.
Isso pode ser feito semanalmente, ou de
acordo com a periodicidade que o grupo
decidir. É importante que as vivências dos
slides dois e três sejam repetidas, mesmo
que mais brevemente, antes da realização
das outras vivências, para relembrar ao
grupo o compromisso de viver esse mo-
mento de crise considerando as habilida-
des – estabelecer parcerias, buscar alterna-
tivas, atentar às necessidades e desafios,
alimentar a esperança, praticar a mode-
ração, aceitar a própria individualidade e
a alheia, desenvolver amor próprio e aos
outros – necessárias para cumprir as pro-
postas do Guia.
Esperamos que essa ferramenta, em-
basada nas tecnologias de ensino prove-
nientes das ciências comportamentais e
adaptada para o manejo de crise atual,
funcione como uma bússola, orientando a
25
equipe da redação na resolução dos diver-
sos problemas que venham a surgir, ten-
do sempre claro quais são seus valores es-
senciais e, portanto, quais as habilidades
de gerência da vida pessoal e profissional
merecem maior atenção.
26
Capítulo 3
Distanciamento social ou distanciamen-
to físico? Qual é a mensagem que que-
remos passar?
31
Estudos controlados demonstram que
o simples fato de uma pessoa saber que
existe outra pessoa na mesma sala que ela,
faz com que os níveis hormonais relaciona-
dos ao seu bem-estar aumentem. Nesses
estudos, também constatou-se que o efei-
to é semelhante quando a pessoa simples-
mente crê que existe outra pessoa na sala
com ela, mas na verdade ela está sozinha.
Entre outros exemplos, podemos citar a
participação política, por meio da realiza-
ção de eleições em um país com milhões
de pessoas, a mobilização em massa em
torno de causas sociais e humanitárias, e
até mesmo a realização de grandes even-
tos, como os Jogos Olímpicos. A lista de
adaptações psicológicas para a vida social
é extensa, o que nos leva à conclusão de
que seres humanos são indiscutivelmente
sociais, por natureza e pela cultura.
Cientes das nossas respostas adaptati-
vas e possuindo maior conhecimento cien-
tífico, podemos usar as respostas antigas
e as novas a nosso favor. O uso dos termos
isolamento social ou distanciamento social
32
passa a mensagem de que devemos nos
abster de interações sociais, mas de fato
nós devemos nos abster do contato físico.
É a aproximação física entre duas ou mais
pessoas que permite a transmissão de do-
enças infecciosas, por meio de apertos de
mão, abraços, beijos, tosses ou espirros.
Até a popularização do uso do telefone,
há poucas décadas, não era possível ter
contato social sem contato físico. Com o
avanço da tecnologia e da internet, a inte-
ração por meio digital cresceu e passou a
fazer parte do dia a dia de várias pessoas.
Hoje, utilizamos redes sociais, aplicativos
de mensagens instantâneas para compar-
tilhar conteúdo, notícias, fotos e uma infi-
nidade de informações que anteriormente
compartilhávamos em interações presen-
ciais face a face com um pequeno núme-
ro de pessoas. No entanto, atualmente, as
ferramentas que utilizam a internet permi-
tem interação social e compartilhamento
de informação em escalas planetárias.
Com o avançar da pandemia, que até
o momento contaminou mais de 4,55 mi-
33
lhões de pessoas no mundo todo, sendo
603 mil apenas no Brasil , as pessoas, além
4
4. Dados de 18/10/2021.
34
lho virtual, para realizar encontros virtuais
com o único objetivo de socializar. Segun-
do, por meio da empatia, temos a capaci-
dade de perceber quando as pessoas ao
redor precisam de ajuda, e podemos não
só perceber, como também somos capa-
zes de intervir, oferecendo suporte social.
Existem vários estudos que demons-
tram como as pessoas oferecem e rece-
bem suporte de familiares e amigos. Tra-
dicionalmente, o suporte social tem sido
classificado em suporte material, quando
envolve algum tipo de ajuda financeira ou
instrumental (por exemplo, vigiar a casa
quando alguém viaja, ou cuidar dos bi-
chos de estimação); e também em supor-
te emocional, quando envolve algum tipo
de comportamento que auxilie o outro na
solução de problemas pessoais ou em si-
tuações adversas. Os estudos também de-
monstram que oferecer e receber suporte
está relacionado com menores níveis de
ansiedade, depressão e solidão. Estudos
demonstram que esses sentimentos são
maiores em idosos que vivem sem o con-
35
vívio familiar. Embora sejam eficazes na
saúde física e mental como um todo, há-
bitos saudáveis, como boa alimentação,
prática de esportes e não abusar de álcool
e cigarro, parecem ter impacto menor so-
bre o aumento da longevidade e qualida-
de de vida do que as variáveis sociais, tais
como possuir relacionamentos com inti-
midade e se sentir socialmente integrado.
Existem teorias científicas, como a hipóte-
se do cérebro social, que investigam como
a dependência do contato social nos tor-
nou uma espécie com um cérebro grande
e inteligente. Essas investigações revelam
que o nosso cérebro não se alimenta uni-
camente de nutrientes, mas também de
boas relações sociais, nas quais é possí-
vel dar e receber suporte em momentos
de necessidade, compartilhar os bons e
maus momentos, contar piadas, e cuidar
uns dos outros. Embora muitos já estejam
realizando reuniões on-line com grupos
de pessoas, há também aquelas restri-
tas, com apenas duas pessoas. Isso pode
permitir que conteúdos, que dificilmente
36
compartilharíamos em grupo, possam ser
partilhados com quem temos mais intimi-
dade e segurança de dividir medos, dúvi-
das, pensamentos e emoções.
Se utilizarmos as ferramentas disponí-
veis para termos o cuidado uns com os ou-
tros, demonstrar preocupação, podemos
resistir aos efeitos negativos do distancia-
mento físico e reduzir os sentimentos de
solidão, ansiedade e depressão. Na minha
trajetória como pessoa e pesquisador da
psicologia social, não me privei de perce-
ber como pequenos atos podem ter efei-
tos positivos em nossas vidas. Um momen-
to de descontração e risos entre amigos e
em família, mesmo virtualmente, é uma
ocasião que fortalece laços e sedimenta
relacionamentos duradouros, nos quais o
suporte social vai emergir de maneira es-
pontânea quando alguém precisar.
Então a mensagem que eu quero pas-
sar é a seguinte. Devemos seguir as re-
comendações de proteção da OMS para
proteger não somente a nós e aos familia-
res e amigos, mas também aos profissio-
37
nais de saúde que estão combatendo o ví-
rus todos os dias. Devemos também estar
atentos às necessidades das pessoas que
nos cercam, não somente a esses grupos,
mas também aos indivíduos socialmente
isolados, que já possuem histórico de pro-
blemas com saúde mental e que possuem
uma pequena rede de apoio. Devemos ser
capazes de manter o contato social sem a
proximidade física, reduzindo o sentimen-
to de solidão. Se conseguirmos nos adap-
tar a essas mudanças, a disseminação da
doença vai cair e vamos poder voltar às
nossas vidas mais rapidamente.
38
Capítulo 4
Habilidades sociais e redes sociais em
tempos de pandemia
Talita Pereira Dias e
Zilda Aparecida Pereira Del Prette
44
graus. Por esses caminhos vão progressi-
vamente construindo seu “perfil virtual”.
É importante que os pais pratiquem a
monitoria positiva no uso das redes sociais,
com estabelecimento de limites de tempo
e regras de uso, atentando para qualquer
sinal de dependência. Outra recomenda-
ção é acompanhar como os filhos se com-
portam nas redes sociais e se eles preser-
vam, também nesse contexto, os valores
humanos de convivência como respeito,
justiça, dignidade, tolerância etc. Ainda,
deve-se atentar se as interações virtuais
envolvem a manutenção das relações que
antes eram presenciais com pessoas co-
nhecidas ou se elas estão se estabelecen-
do somente no ambiente virtual e apenas
com pessoas desconhecidas.
De qualquer modo, é importante lem-
brar que as interações virtuais não subs-
tituem a necessidade de os pais estarem
sensíveis ao momento atual de privação
social dos filhos e buscarem estabelecer
um ambiente interativo e afetivo em casa.
Nesse sentido, não se pode descuidar de
45
momentos de trocas e compartilhamento
familiar em interações face a face que in-
cluam a boa comunicação, a expressão de
sentimentos, de opinião e de condições
para aquisição de autocontrole (saber es-
perar, lidar com frustração, com as regras
etc.).
No caso dos adultos, se, por um lado,
as interações face a face tenderam a ter
uma menor variabilidade de interlocuto-
res e contextos (relações conjugais, fami-
liares ou de pessoas que convivem num
mesmo espaço), por outro, as interações
virtuais parecem ter reaproximado os ami-
gos fisicamente distantes, pelo uso mais
frequente das ferramentas para encontros
virtuais. No contexto profissional, muitas
das demandas interativas foram adapta-
das para a modalidade virtual. Essas novas
demandas tornaram ainda mais eviden-
tes a necessidade de diferentes classes de
habilidades sociais para o uso efetivo das
tecnologias de comunicação virtual. Para
atenuar a falta do contato presencial, as
pessoas estão reinventando suas habili-
46
dades de coordenar grupo, de se expres-
sar, ao participar de reuniões on-line, de
expressar empatia e afeto, ainda que sem
o toque e o abraço, com maior exploração
de recursos digitais.
Já a população idosa, a parcela de maior
vulnerabilidade à Covid-19 e, por isso, a
mais isolada também, teve que aprender
ou aprimorar habilidades tecnológicas
para manter a conexão com familiares e
amigos, nem sempre próximos fisicamen-
te. Nesse contexto, os idosos tiveram de
exercitar cada vez mais as habilidades de
conversação, ao relatarem e pedirem des-
crições do cotidiano, de expressividade
afetiva, de empatia, de demonstrar bom
humor por meio do uso das tecnologias
digitais. Para alguns, pode ter sido um de-
safio maior, porém, sem dúvida, está se
revertendo em novas aquisições interpes-
soais.
Por fim, em tempos de pandemia, de
sofrimento, restrições e perdas, as deman-
das advindas nos remetem à urgência da
empatia e solidariedade, frente às dife-
47
rentes necessidades, da compaixão dian-
te do luto, ao exercício da assertividade,
em termos de afirmação de direitos e de
luta por justiça e por uma sociedade mais
consciente e acolhedora. Esse panorama
tem um impacto significativo nas práticas
culturais e, possivelmente, culminará em
mudanças nas formas de relações sociais
humanas. Entre essas mudanças, o maior
uso das redes sociais como meio de inte-
ração social é uma realidade emergente
que, certamente, se consolidará. Sem su-
pervalorizar esses recursos, torna-se pre-
mente situá-los como um dos eixos de uma
rede de relações sociais. Essa rede de re-
lações deve ser tecida com direitos huma-
nos respeitados e com a consciência cole-
tiva de que cada ação humana individual
está interconectada aos quase 8 bilhões
de outros “nós” no mundo, cuja sobrevi-
vência depende de uma interdependência
solidária cada vez mais viva entre nós.
48
Capítulo 5
Isolamento social e autocontrole
Fernanda Castanho Calixto
53
cas que estejam gradualmente se tornan-
do excessivas.
Após o monitoramento, recomenda-
-se estabelecer um limite de consumo. Por
exemplo, limitar o consumo a uma dose
por dia, duas horas de jogo após a fina-
lização do trabalho e pedir comida para
entrega apenas aos finais de semana são
medidas que nos auxiliam a controlam pa-
drões excessivos. Obviamente, é necessá-
rio que criemos as condições que aumen-
tem nossa probabilidade de sucesso nessa
empreitada. Em relação às bebidas, uma
possibilidade seriam compras reduzidas,
evitando-se o estoque de grande quantida-
de de bebidas para além da definida para o
consumo. Em relação aos jogos, uma dica
seria informar a alguém querido sua nova
meta (um familiar ou cônjuge, por exem-
plo) e, no momento do trabalho, “tirar de
vista” os aplicativos ou equipamentos utili-
zados no jogo. Quanto à alimentação, uma
dica seria planejar receitas pouco elabo-
radas e comprar os ingredientes necessá-
rios para tornar possível que a preparação
54
ocorra sem dispensar grande quantidade
de tempo no processo.
Além de monitorar e definir limites
para o consumo, vale mencionar que a
manutenção de interações saudáveis e de
uma rotina, dentro do possível, prazero-
sa, é fundamental para reduzir estados
de ansiedade e depressão que acarretam
os excessos antes mencionados. Portanto,
manter uma rotina de contato com pesso-
as queridas (mesmo que on-line) e reservar
um tempinho para a sua atividade favorita
(uma boa leitura, aula de ioga ou assistir a
série que adora) são medidas de autocui-
dado que nos ajudam a evitar hábitos ex-
cessivos e não saudáveis neste período.
55
Capítulo 6
Consumo de substâncias psicoativas na
pandemia
Alan Souza Aranha e
Claudia Kami Bastos Oshiro
60
relaxamos). No nível cultural, diferentes
comunidades podem favorecer (universi-
tários da Irlanda) ou desincentivar o con-
sumo de drogas psicoativas (países islâmi-
cos) (Edwards et al., 2003).
Nessa discussão, o ponto relevante é
compreender como a ontogênese (a histó-
ria de interação com o ambiente ao longo
da vida) pode influenciar o aprendizado,
desenvolvimento, aumento ou diminuição
do consumo de substâncias psicoativas e,
especialmente, o impacto da pandemia de
Covid-19 sobre o consumo delas. Portan-
to, é importante aprendermos o conceito
de comportamento operante. O compor-
tamento operante é uma ação de um ser
(humano ou não) que produz mudanças
no ambiente e, a depender das mudanças
produzidas, altera sua probabilidade de
ocorrência futura. Por exemplo, posso me
engajar em procurar determinado amigo
porque essa ação (ligar, mandar mensa-
gem) me garante acesso a atenção, afe-
to, diálogo etc. Caso o ambiente mude, o
comportamento também tende a mudar.
61
No exemplo do amigo, se ele parar de me
responder ou começar a ser ríspido, pos-
so deixar de procurá-lo.
O comportamento operante também
muda a depender das suas condições an-
tecedentes. Quando as condições mudam,
o comportamento também tende a se al-
terar. Utilizando o exemplo do amigo do
parágrafo anterior, caso eu perca o celu-
lar ou o número do amigo (condições an-
teriores e que aumentam a chance de a
ação ocorrer), não terei a possibilidade de
mandar mensagem. Ao enviar a mensa-
gem, se o amigo for ríspido comigo, as-
pectos do ambiente, como o celular, a foto
do amigo, suas mensagens passadas etc.
(outras condições antecedentes), deixarão
de me influenciar para entrar em contato
e até poderão me trazer sentimentos ne-
gativos, como tristeza e raiva.
O comportamento de consumir subs-
tâncias psicoativas é considerado um
comportamento operante, pois ele muda
conforme as condições antecedentes e con-
sequentes (Schuster & Thompson, 1969).
62
Existem diferentes consequências de con-
sumir que podem manter esse comporta-
mento. Primeiro, o intenso efeito farmaco-
lógico da substância (ao fumar maconha,
fico “chapado”); segundo, posso chamar
atenção, ser aprovado ou não ser expulso
de um grupo (“Ele é o cara quando está lou-
co!”); terceiro, eliminar ou amenizar emo-
ções negativas que estou sentido (bebo
para eliminar o medo, angústia, insegu-
rança) ou estados corporais desagradáveis
(como a síndrome de abstinência, provo-
cada pelo próprio uso). Da mesma forma,
consequências punitivas podem modificá-
-lo, levando a consumir menos. Uma noi-
te de “bebedeira” no domingo que leve a
pessoa a não trabalhar na segunda-feira
poderia diminuir a chance de beber no-
vamente, beber no domingo ou naquela
quantidade em especial.
Mudanças antecedentes também po-
dem influenciar as pessoas a usarem mais
ou menos droga. Um ambiente badalado
no qual já tenha participado anteriormen-
te pode me predispor a beber (“Estou com
63
vontade de pegar uma cerveja”), enquanto
o escritório no qual trabalho inibirá minha
tendência ao consumo (“Se eu beber, en-
tão serei demitido”). Esse é o caso da pan-
demia da Covid-19 pela qual, infelizmen-
te, todos estamos passando. A existência
do coronavírus modificou abrupta e subs-
tancialmente o ambiente em que vivemos.
Analisemos alguns exemplos de mudan-
ças e como elas podem estar relacionadas
ao aumento no consumo de substâncias
psicoativas.
O isolamento social, medida de con-
tenção da propagação da Covid-19, res-
tringe o contato com amigos e parentes
e, consequentemente, o prazer, satisfa-
ção, atividade sexual, afeto, diálogo, des-
contração etc. O contato social é impor-
tantíssimo para o ser humano, sendo um
fator de proteção para diversas doenças.
Ao diminuir ou cessar a vida social, a pes-
soa pode procurar usar drogas como for-
ma de obter algum prazer.
O isolamento também diminui a pos-
sibilidade de atividades de lazer, como
64
exercícios físicos, cinema, shows, festas
etc. Nosso comportamento é distribuído
no tempo em diversas atividades de la-
zer e responsabilidade, como preparar o
café, trabalhar, cuidar dos filhos, divertir-
-se etc. Quando há uma restrição, nosso
comportamento é distribuído em menos
atividades e aumenta-se a frequência das
atividades que sobraram. Na pandemia,
comemos mais, assistimos mais filmes e
também podemos consumir mais drogas
em casa.
A diminuição nas fontes de prazer e
satisfação e a extensão da duração de ta-
refas árduas (trabalho, cuidado com os fi-
lhos) geram maior nível de estresse. Para
as famílias mais desfavorecidas ou para os
membros cujas atividades impossibilitam
o home office, a manutenção do trabalho
fora de casa gera medo e ansiedade pela
chance da própria contaminação e conta-
minação dos demais. Para as classes mé-
dia e alta, muitos profissionais que auxi-
liavam as famílias também não puderam
mais ajudar (empregada doméstica, cuida-
65
dora, enfermeira etc.), acumulando mais
trabalho para a família. Para aliviar-se do
medo, ansiedade, estresse, raiva e confli-
tos, sem as atividades que anteriormente
poderiam ser agradáveis, o consumo de
drogas torna-se uma alternativa.
Os problemas decorrentes do isola-
mento social, como a diminuição do tra-
balho, corte do salário, perda do empre-
go, inflação galopante, risco do despejo,
fome, medo de perder o convênio médico
e a escola particular do filho etc. levam a
condição de “não ver saída”. A intoxicação
pelo consumo de drogas diminui o contato
do indivíduo com situações tão adversas.
Outra questão importante é a perda
de pessoas queridas e todos os sentimen-
tos envolvidos (medo, ansiedade, tristeza).
Infelizmente, mais de 611 mil brasileiros
morreram durante a pandemia, o que sig-
nifica que centenas de milhares de pessoas
perderam parentes e amigos. A situação de
espera por um leito, aguardar o médico tra-
zer notícias e, principalmente, a despedida
em si, que muitas vezes não pode aconte-
66
cer de forma humanizada (presencialmen-
te) para que os parentes não se contami-
nem, é penosa, angustiante e lastimável!
Soma-se ao sentimento de injustiça, raiva
e impunidade de burocratas que, eleitos
para proteger a população, apegam-se ao
poder, dinheiro e ao negacionismo cien-
tífico (inclusive prescrevendo medicações
sem eficácia comprovada!). A situação, no
mínimo repugnante e no limite criminosa,
pode levar as pessoas a consumirem dro-
gas.
Além dos exemplos descritos (há mui-
tos outros), o aumento no consumo de
substâncias também pode nos alertar so-
bre outras dificuldades comportamentais
e afetivas que a pessoa já possuía, mas fi-
caram mais evidentes durante a pandemia
e o isolamento social. As festas clandesti-
nas são um exemplo claro. Jovens que têm
dificuldade de sentir empatia pelo outro,
sensibilidade ao que pode provocar na
sociedade e déficits de autopreservação,
autocontrole, autoestima etc. arriscam as
próprias vidas e as dos amigos por algu-
67
mas horas de comemoração (aliás, come-
morar o quê?). Pessoas que já possuíam
dificuldades sociais podem estar mais iso-
ladas e deprimidas; usuários de drogas po-
dem ter evoluído no seu processo de de-
pendência química; ansiosos respondem
de forma mais intensa aos riscos (reais)
que agora vivem etc.
Caso você perceba uma alteração no
seu consumo de drogas (e outros compor-
tamentos como alimentar-se, sono, estres-
se, irritabilidade etc.) fique atento para o
que pode estar produzindo essas mudan-
ças. São mudanças temporárias ou dificul-
dades que já existiam e estão mais eviden-
tes? Você pode alterá-las sozinho ou com
ajuda? A orientação básica é lavar as mãos,
usar máscara, distanciar-se socialmente e
sair apenas para o essencial, além de lavar
as roupas e tomar banho na volta. Tente
ligar para os amigos, fazer reuniões por
aplicativos, caminhar, conversar ao ar li-
vre usando máscara, organizar a casa, pla-
nejar, ler o que lhe agrada, não se cobrar
tanto. Caso o incômodo esteja lhe preocu-
68
pando, não hesite em procurar ajuda psico-
lógica em clínicas-escola, planos de saúde
e profissionais particulares. Ah! Opte pelo
serviço on-line e preserve sua saúde e das
pessoas que você ama.
69
Capítulo 7
Orientação on-line a pais no tratamen-
to do uso problemático de internet pela
criança
Mariana Fortes de Sá Pianovski e
Jocelaine Martins da Silveira
78
Capítulo 8
O papel da comunicação não violenta na
família para a redução da criminalidade
Alessandra Turini Bolsoni-Silva
83
• Manejar as vulnerabilidades das crian-
ças/adolescentes, como temperamento,
presença de transtornos (por exemplo,
transtorno de déficit de atenção com hi-
peratividade).
• Manejar as próprias vulnerabilidades
como problemas de controle de impulso,
ansiedade, depressão e/ou abuso de subs-
tâncias.
Quanto à parentalidade, é possível in-
dicar algumas estratégias para a comuni-
cação não violenta:
• Desenvolver sensibilidade para ob-
servar os comportamentos dos filhos.
• Identificar os possíveis motivos para
os comportamentos de agressividade e
desobediência dos filhos, que são os que
mais incomodam e aumentam o risco de
violência.
• Promover interações positivas.
• Ensinar a seguir regras.
• Lidar diretamente com o comporta-
mento inapropriado.
84
A Tabela 1 sumariza algumas práticas
positivas para atingir tais objetivos, ainda
que não esgote o tema.
Tabela 1
Práticas positivas na prevenção da violên-
cia.
• ensinar comportamentos adequados: identificar e dar atenção;
• conversar sobre assuntos de interesse da criança;
• oferecer explicações;
• dar opiniões diversas, não apenas para estabelecer limites;
Promover
• negociar;
interações
• cumprir promessas;
positivas
• identificar erros e pedir desculpas;
• elogiar e demonstrar afeto
• valorizar a demonstração de afeto do filho
• monitorar positivamente
85
Com base no que foi discutido neste
capítulo, conclui-se que, ainda que não seja
fácil o exercício da parentalidade, sua ex-
periência traz novas aprendizagens e con-
quista de interações sociais agradáveis e
satisfatórias. Os pais podem promover o
desenvolvimento dos filhos, ajudando-os
a serem felizes e capazes de resolver pro-
blemas. Com frequência, os pais precisam
de orientação para conseguirem estabe-
lecer boas práticas educativas. Nesse sen-
tido, é possível encontrar livros que aju-
dam nessa tarefa, como o publicado pelo
nosso grupo de pesquisa (Orientação para
Pais e Mães - Como Melhorar o Relaciona-
mento com Seu Filho), que pode ser aces-
sado por familiares que queiram melho-
rar suas interações sociais com os filhos
(Bolsoni-Silva, et al., 2019). Para os profis-
sionais psicólogos interessados em traba-
lhar com orientação de pais, há o livro Pro-
move-Pais (Bolsoni-Silva & Fogaça, 2018)
que apresenta ampla revisão de literatura,
bem como descreve detalhadamente um
programa de intervenção com essa popu-
86
lação, de forma a promover interações po-
sitivas e reduzir problemas de comporta-
mento.
87
Capítulo 9
A relação entre pais e filhos na pande-
mia da Covid-19: os desafios do “novo
normal”
Caroline Encinas Audibert e
Beatriz Azem Correa
95
Capítulo 10
Parentalidade em tempos de Covid-19:
Dicas de como organizar a rotina da
criança
97
demandam revisão e atualização constan-
tes.
A prática parental envolve uma série
de comportamentos, sejam eles públicos
(pessoas externas no mesmo ambiente de
um indivíduo podem observar e ter acesso
aos comportamentos dele ou a produtos
decorrentes de seu repertório comporta-
mental) ou privados (ocorrem no univer-
so da pessoa ao qual só ela tem acesso
– pensamentos, sentimentos, emoções,
lembranças etc.). Alguns desses compor-
tamentos serão avaliados pelos pais como
agradáveis de se sentir e se pensar (como
sucesso, orgulho, alegria, amor, felicida-
de, “Eu sou um ótimo pai”, “Eu sou uma
ótima mãe”, “Nós somos um excelente ca-
sal”, “Meu filho é meu orgulho”, “Meu fi-
lho é muito calmo” etc.) ou desagradáveis
(como raiva, tristeza, preocupação, desa-
pontamento, “Eu sou um péssimo pai”, “Eu
sou uma péssima mãe”, “Meu parceiro não
me ajuda em nada”, “Meu filho só me dá
trabalho”, “Eu queria sumir”, “Onde eu es-
98
tava com a cabeça quando quis ser mãe/
pai” etc.).
Os pais poderão experienciar esses
eventos encobertos ao longo do proces-
so de desenvolvimento da criança, seja
ela típica (sem diagnóstico de transtorno
do neurodesenvolvimento) ou atípica (que
apresenta algum transtorno do neurode-
senvolvimento ). No entanto, no contexto
6
99
O cenário atual é de total imprevisi-
bilidade, pois todas as nossas rotinas, or-
ganizadas até então, às quais estávamos
habituados, mudaram completamente de
uma hora para outra. Logo, é totalmente
compreensível que pais e mães sintam an-
gústia, preocupação, tristeza e vivenciem
níveis consideráveis de estresse, decorren-
tes de tantas mudanças.
Talvez a leitura deste texto gere outros
eventos encobertos em você, levando-o a
questionar: “Nossa, Lucas, você não está
sendo pessimista demais?” ou “Como pos-
so ficar tranquilo diante do caos que esta-
mos passando? O que posso fazer de di-
ferente?”. Infelizmente, não estou sendo
pessimista. Dadas as informações científi-
cas, estatísticas e midiáticas em relação à
Covid-19, esta é a realidade. No entanto,
isso não significa que não podemos apren-
der formas assertivas para lidar com essa
situação, com as informações que rece-
bemos e, em especial, aprender estraté-
gias para organizar a rotina infantil. Cabe
salientar que, quando pais e mães viven-
100
ciam níveis elevados de estresse, isso afe-
ta substancialmente a forma como lidam e
reagem aos comportamentos socialmen-
te apropriados e, particularmente, aos ina-
propriados apresentados pela criança.
O objetivo deste texto é ser claro e su-
cinto. Por esse motivo, a seguir são descri-
tas algumas dicas de estratégias que po-
dem ser implementadas por pais e mães,
no decorrer de sua rotina, em especial na
interação com os filhos:
Começo descrevendo os três princí-
pios da terapia de aceitação e compromis-
so (ACT – do inglês acceptance and com-
mitment therapy), que serão elementares
para que possa organizar e implementar a
rotina infantil, bem como melhorar a inte-
ração com os filhos e também com o par-
ceiro.
Aceitar não significa resignação, pas-
sividade ou conformismo, mas sim uma
postura de abertura a eventos privados,
sejam eles compreendidos como agradá-
veis ou desagradáveis. Aceitar envolve,
também, a habilidade de perceber como
101
os pensamentos de fato são, isto é, como
simples pensamentos, e de adotar um pa-
pel de observador deles, sem um viés crí-
tico ou reativo, e sim compassivo. Envolve
perceber que é normal ter pensamentos e
sentimentos desagradáveis, vivenciar es-
tresse, sentir-se inseguro, todavia a pessoa
e a vida dessa não se restringe aos pensa-
mentos e emoções que passam por seu
corpo.
Nesse sentido, aceitar inclui, também,
a habilidade de deixar que esses eventos
privados sigam seu rumo, sem ficar pre-
so a eles, assim como as nuvens passam
e migram pelo céu, nossos pensamentos
passam pela nossa cabeça. Se alguma “nu-
vem” chama nossa atenção, observamos
seu conteúdo e a deixamos seguir seu ca-
minho rumo ao horizonte.
Conectar-se e comprometer-se. É im-
portante ter clareza do momento presente
e dos seus valores (a pessoa que gostaria
de ser, como gostaria de interagir com as
pessoas que lhe cercam e com o mundo à
sua volta). Quando os pais e mães aceitam
102
seus eventos privados, têm consciência dos
seus valores e do que está acontecendo no
aqui e agora (fora do seu mundo particu-
lar), podendo perceber que algumas deci-
sões precisarão ser tomadas ou aplicadas
de forma consistente, mesmo que inicial-
mente se sinta desconfortável ou insegu-
ro, pois essas decisões estarão alinhadas
aos seus valores, ou seja, ao que é mais
importante para eles e não simplesmente
alinhadas à esquiva dos seus pensamen-
tos e sentimentos desagradáveis (proces-
so conhecido como esquiva experiencial).
Tomar decisões valorosas. A partir da
aceitação, bem como da conexão com o
momento presente e com os valores, é im-
portante identificar e se envolver em ações
que estejam alinhadas com os valores e
possibilitem que os experiencie. Cabe res-
saltar que valores não são objetivos e me-
tas que serão alcançados ao final de uma
trajetória ou logo após a pessoa fazer algo.
Valores são reforçadores a longo prazo que
serão vivenciados ao longo da jornada pa-
rental. Sendo assim, se para uma mãe é
103
valoroso que o filho aprenda habilidades
para uma vida independente ou melhorar
a interação dela com ele, será necessário
tomar algumas decisões alinhadas a es-
ses valores, por exemplo: envolver a (re)
organização da rotina familiar ou da rotina
da criança, manter de forma consistente e
continuada estratégias e manejo compor-
tamental , buscar ajuda profissional para
7
104
portanto, acredito que serão úteis duran-
te esse período de pandemia da Covid-19
e, também, pós-pandemia:
• Criar e organizar as rotinas familia-
res. Pesquisas apontam que crianças res-
pondem muito bem à organização da roti-
na familiar, visto que isso torna mais claro
e previsível para elas quando cada rotina
irá ocorrer e quando será necessário tran-
sitar de uma rotina a outra. Para organizar
essa rotina, utilize recursos visuais como
quadro de horários com figuras ou gravu-
ras que representem as rotinas ou com es-
paços em branco para descrever as ativi-
dades. Além disso, é de suma importância
organizar a rotina diária da criança com
atividades fixas (que ocorrem diariamen-
te e no mesmo horário) e atividades flexí-
veis/variáveis (que podem ocorrer em ho-
rários diferenciados ou que não possuem
uma periodicidade, como fazer um pique-
nique no quintal). Após organizar a rotina
visual para a criança, disponha-a em um
local visível e de fácil acesso, como a sala
de estar.
105
• As rotinas que a criança deverá rea-
lizar devem estar dentro de seu nível de
compreensão e funcionamento. Sendo as-
sim, ao organizá-las, é importante que ava-
lie se a criança irá conseguir cumpri-las de
modo independente ou com o mínimo de
suporte de um adulto. Caso a criança pre-
cise de ajuda, avalie, também, qual será
o nível de suporte. Lembre-se: o nível de
suporte necessário e o nível de dificulda-
de da tarefa afetam consideravelmente a
noção de autoeficácia e autocompetência
da criança.
• Identificar itens preferidos para uti-
lizar como motivadores para que a crian-
ça inicie, permaneça engajada e conclua a
rotina visual preparada para ela.
• Apresentar a rotina de forma clara e
precisa. É importante especificar na rotina
o que a criança poderá obter após concluir
a tarefa proposta, por exemplo “Agora va-
mos pintar com a tinta, para depois brin-
carmos com a massinha”.
• Estabelecer regras e expectativas de
comportamentos socialmente relevantes,
106
isto é, que possibilitem que o filho funcio-
ne no ambiente familiar de modo coope-
rativo e com autorregulação emocional.
Essas regras e expectativas de comporta-
mentos devem ser acessíveis, para que a
criança consiga cumpri-las com o mínimo
de suporte adulto ou autonomamente. Por
exemplo, pode-se estabelecer expectati-
vas de que ela se sente e permaneça na
área indicada, pegue um item solicitado,
tolere o atraso no acesso a um item ou ati-
vidade preferida, consiga pegar seu estojo
com lápis de escrever, borracha, aponta-
dor e outros materiais para escrita, man-
tenha o contato visual, respeite o espaço
pessoal do outro etc. Antes de aplicar as
regras com vigor, avalie se estão no nível
de compreensão da criança e teste. Se es-
tiverem, isso pode indicar que está no ca-
minho certo, caso não esteja, seja flexível,
aceite a frustração e envolva-se em outras
ações que estejam de igual modo compro-
metidas com seus valores.
• É de fundamental importância que
a criança seja positivamente reforçada ao
107
apresentar comportamentos socialmente
relevantes, isto é, quando ela seguir a ins-
trução dada, realizar uma tarefa acadêmi-
ca, utilizar comunicação apropriada para
solicitar algo a alguém, conseguir identi-
ficar suas emoções e envolver-se em es-
tratégias de resolução de problemas ou
quando a criança seguir de modo coope-
rativo e calmo as rotinas que você organi-
zou etc.. O chamado reforço positivo en-
volve, portanto, aumento na frequência de
determinados comportamentos por meio
da apresentação de consequências agra-
dáveis para a criança, contingentemente
à ocorrência dos referidos comportamen-
tos. Pesquisas apontam que quanto mais
consistente e contingente for a disponibili-
zação do reforçador (isto é, mais temporal-
mente próximo do comportamento), mais
efetivo será o aumento da frequência dos
comportamentos positivamente reforça-
dos. Talvez você esteja se perguntando “O
que posso utilizar como reforçador?”. Uma
ferramenta extremamente importante é a
atenção social dada às outras pessoas e,
108
em especial, às nossas crianças. Posto isso,
você poderá utilizar sua atenção, na forma
de elogios descritivos, para reforçar com-
portamentos apropriados apresentados.
Além disso, pode também utilizar brinque-
dos ou brincadeiras preferidos pela crian-
ça.
No entanto, é essencial pontuar que
a atenção do pai e da mãe e o acesso a
itens ou rotinas do interesse da criança não
devem ser utilizados como suborno para
que um comportamento problema deixe
de ocorrer. Utilizar o processo de reforça-
mento positivo com esse propósito pode
ter um efeito iatrogênico, por isso é fun-
damental empregá-lo com cuidado.
Comentários finais
111
Capítulo 11
Hábitos de estudo: Apenas se sentar e
estudar é suficiente para uma aprendi-
zagem saudável e contínua?
Larissa Schafranski, Murilo Ramos e
Simone Martin Oliani
114
Uma manipulação do estímulo torna
mais provável que o comportamento de
estudo inicia-se, evitando procrastinação,
e a manipulação na consequência aumen-
ta (ou diminui se usada incorretamente) a
chance de um comportamento de estudo
manter-se em alta frequência (Pessôa &
Velasco, 2012). Esse manejo começa antes
mesmo de estudar (estímulo) e mantém-se
até depois de o jovem, ou a criança, termi-
nar a matéria do dia (consequência). Sen-
do assim, é necessário lembrar que o alu-
no, muitas vezes, é incapaz de fazer tudo
isso sozinho, a manipulação do ambiente
é muito difícil e, por vezes, independente
do indivíduo, logo é necessária a ajuda de
pais e cuidadores nesse processo.
Um dos maiores compromissos dos
pais no processo de aprendizagem dos fi-
lhos é manter o estudo como algo praze-
roso, que pode ser divertido, e não algo
hostil, o qual se deve temer. O que aconte-
ce na maioria dos casos é que por excesso
de preocupação os pais tornam-se muito
rígidos com os hábitos de estudos dos fi-
115
lhos e acabam deixando esses momentos
algo nada apetitoso e, muitas vezes, aca-
bam despertando uma ansiedade muito
grande a qualquer assunto relacionado à
aprendizagem.
Um exemplo é o cuidador que dian-
te de uma tarefa não realizada, retira do
seu filho atividades extremamente praze-
rosas e que podem ser de grande impor-
tância para seu desenvolvimento pesso-
al, como sair ou brincar com os amigos.
Tal ação pode causar uma associação dos
sentimentos de frustração e raiva com o
comportamento de estudar e realizar ta-
refas escolares, deixando o estudante ain-
da mais avesso ao estudo. Uma consequ-
ência bem comum de usar essa forma de
controle por meio de punições são os fa-
mosos “brancos” na hora das provas, um
aumento significativo da ansiedade dian-
te de qualquer atividade escolar que exi-
ja nota, procrastinação e um medo muito
grande de ir mal na escola (Hubner, 2002).
Por essa razão, sugere-se que os pais e
cuidadores utilizem de incentivos e recom-
116
pensas que façam a criança, ou o jovem, a
desassociar o estudo de algo assustador
e ruim. Elogios quanto ao crescimento in-
dividual e à aprendizagem do aluno são
muito mais efetivos do que cobranças por
notas e apontamento de defeitos. Os filhos
buscam a aprovação dos pais com muita
frequência, logo, sinalizar essa aprovação
relacionada aos pequenos ganhos na es-
cola, demonstrações de aprendizagem e
interesse, ajudam na motivação do estu-
dante (Hubner, 2002).
Outro grande aliado dos cuidadores
nesse período escolar é a recompensa. Al-
gumas famílias trabalham com um méto-
do chamado “economia de fichas”, no qual
os pais oferecem uma recompensa arbitrá-
ria para os filhos diante de algum compor-
tamento considerado desejável, que pode
ser uma ficha ou uma estrelinha. Ao atin-
gir uma quantidade satisfatória de fichas
(ou estrelinhas), o filho pode ganhar algo
que deseja como recompensa pelos seus
bons comportamentos, como um passeio
a um parque, uma bola, ou um brinquedo.
117
Esse método pode ser usado com compor-
tamentos de estudo: toda vez que o alu-
no atinge um tempo x de estudo, ou reali-
za um número x de atividades, ele recebe
uma ficha, acumulando-as até poder rece-
ber seu “prêmio”.
Algo importante a ressaltar é que o
aluno não irá atingir muitas horas de dedi-
cação quando iniciar seus estudos, princi-
palmente se ele não possuir o hábito de es-
tudar. Como ele não irá resolver exercícios
complexos e estudar matérias difíceis logo
no início, se não aprendeu corretamente
a matéria anterior. Tudo o que se refere à
aprendizagem é gradual, e é de extrema
importância que o nível de exigência seja
compatível com o nível de habilidade do
aluno.
Atividades que demandam uma quan-
tidade discrepante de capacidade do que
o estudante vem apresentando geram ain-
da mais frustração e desmotivação. A pa-
ciência é um grande aliado dos pais nesse
momento, assim como prestar mais aten-
ção no progresso em vez dos resultados.
118
O aluno também passa por sentimentos
complexos e desilusões durante sua fase
de crescimento, principalmente na fase
escolar, e é comum que muitos deles não
tenham uma imagem positiva da escola,
mas isso não significa que essa relação seja
definitiva.
Como já mencionado anteriormente, o
comportamento de estudo exige diversos
pré-requisitos, entre os quais destacam-
-se: foco, autocontrole, autogerenciamen-
to e definição de prioridades. A necessi-
dade de aprender tais comportamentos
previamente pode ser um dos motivos re-
lacionados à dificuldade na aprendizagem
e na aquisição de uma rotina nos estudos.
Logo, dedicar um tempo para melhorar es-
sas habilidades pode ser um grande alia-
do.
Não obstante, o comportamento de
estudo, assim como qualquer outro com-
portamento, possui três momentos: o que
acontece antes, durante o estudo e o que
acontece depois dele. Falhas em qualquer
119
um desses momentos pode dificultar o en-
gajamento do estudante.
1. O que acontece antes: o estudante
precisa de uma boa sinalização que o per-
mita identificar que aquele é um momento
de estudo. Um lugar adequado, uma ilumi-
nação adequada, horários estabelecidos
e uma boa organização para que estudar
seja atraente.
2. Durante: a motivação do aluno é
importante, por isso o conteúdo a ser es-
tudado precisa estar no nível adequado,
tal qual o tempo de estudo. A prioridade
do que será estudado também precisa es-
tar de acordo com as demandas escolares
(provas, trabalhos).
3. O que acontece depois: consequên-
cias que aumentem a probabilidade de o
estudante continuar estudando, manten-
do-se motivado, são bem-vindas. A não uti-
lização de regras extremamente rígidas e
consequências de punição é essencial.
Diante das características do compor-
tamento de estudo indicadas anterior-
mente, há dez estratégias de como aplicar
120
esses princípios comportamentais e, por
fim, dar condições ao estudante para uma
melhor aprendizagem:
1. O lugar de estudo é de grande im-
portância. Ele precisa estar bem ilumina-
do, de preferência com uma luz branca,
limpo, organizado e longe de objetos que
possam distrair os estudantes. A mesa a
ser utilizada precisa ser grande o suficien-
te para caber todo o material. O silêncio é
muito importante, mesmo que o aluno es-
teja acostumado a ouvir músicas enquanto
estuda, manter o silêncio é uma forma de
direcionar o foco a apenas uma atividade,
treinando assim a habilidade de atenção.
A cadeira também precisa ser confortável
para não causar dores.
2. Computadores, videogames, apare-
lhos de televisão e celulares precisam ficar
a uma distância considerável para que não
chamem atenção, se possível em outro cô-
modo. Alguns aplicativos de celulares são
feitos para auxiliar nos estudos, mas eles
podem funcionar como uma forma de dis-
tração. Para evitar que notificações atrapa-
121
lhem durante o estudo é preferível ativar
o “modo avião” ou “não perturbe” do celu-
lar. Outra opção é se valer de aplicativos
que utilizam estratégias para evitar que o
usuário saia do aplicativo e perca o foco
(por exemplo, Forest).
3. Antes de iniciar os estudos, verificar
se todos os materiais necessários estão na
mesa, assim como uma garrafa de água.
Evitar que o estudante se levante para bus-
car algo que falta evita a quebra de foco e
a procrastinação.
4. Iniciar os estudos pela matéria pre-
ferida do estudante ou por aquela que tem
mais facilidade ajuda na motivação e evita
frustrações. Essa etapa é muito importan-
te para alunos que apresentam muita difi-
culdade na escola. Com o tempo, o próprio
aluno irá estabelecer novas prioridades
para os estudos de acordo com a urgên-
cia (provas e trabalhos) e o tempo estima-
do de estudo para cada matéria. Caso a
criança ou o adolescente ainda não seja
capaz de fazer esse autogerenciamento,
será necessário alguém orientá-lo (pais,
122
responsáveis e atendentes terapêuticos –
ATs).
5. Assuntos mais complexos e maté-
rias mais difíceis podem ser divididos em
unidades menores. Decompor conceitos
ou atividades e programar uma pequena
consequência ao final de cada uma delas
facilita na aprendizagem do conceito como
um todo e ainda pode acelerar a realiza-
ção da ação. Atividades muito exigentes
aumentam a probabilidade de procrasti-
nação e diminuem a motivação, por isso é
necessário manejá-las.
6. As matérias estudadas e as ativida-
des realizadas precisam estar em um nível
de exigência correspondente ao conheci-
mento do estudante. Se o tema estudado
precisa de conteúdos como pré-requisitos,
é necessário revisá-los, ponderar sobre sua
aprendizagem, e, se for possível, passar
para o próximo tema. O aumento gradati-
vo da dificuldade diminui a possibilidade
de erro e motiva ainda mais o estudante,
evitando frustrações. É importante que o
123
estudante avance apenas quando estiver
preparado.
7. Ler em voz alta, reler, grifar trechos
importantes, resumir, responder questões
sobre o tema e explicar a alguém o conteú-
do estudado são estratégias que auxiliam
na memorização e aprendizagem.
8. Manter a atividade de estudo por
um tempo compatível ao nível de concen-
tração e foco do aluno é essencial. No iní-
cio, será necessário exigir pouco tempo de
estudo e concentração, tendo em vista a
pouca familiaridade com o desgaste gera-
do pelo estudo. À medida que o aluno vai
se acostumando a manter o foco, pode-se
exigir mais tempo de estudo, sempre res-
peitando o crescimento gradual. É indicado
também encerrar as atividades de estudo
quando o aluno demonstrar aprendizado,
mesmo que seja em uma pequena unida-
de, mas na qual ele esteja satisfeito com
sua aprendizagem. Estudar muitas horas
ou quando está cansado causa um grande
desgaste físico e psíquico.
124
9. Apesar de a aprendizagem e o es-
tudo terem muitos benefícios, é muito co-
mum que crianças e adolescentes ainda
não se importem muito com eles. São be-
nefícios de longo prazo que elas irão de-
morar para colher os frutos. Por tal mo-
tivo, é indicado que pais e cuidadores
programem suas próprias consequências
para estimular o estudo dos filhos. Como
mencionado anteriormente, o método da
economia de fichas pode ser um grande
aliado. Pode parecer controverso dar re-
compensas ao seu filho pelo estudo, mas,
acredite, manter uma boa relação entre a
criança e a aprendizagem é muito impor-
tante para o desenvolvimento dela. A con-
sequência fará um dos maiores papéis na
manutenção do comportamento de estu-
do. A recompensa precisa ser próxima à
ação referente ao estudo e condizente com
ele, para que seja possível estabelecer a re-
lação entre as duas. Se o comportamento
de estudo está se mantendo, ou aumen-
tando, é sinal de que a consequência está
funcionando, mas, se não estiver se man-
125
tendo e diminuindo, é necessário trocar a
consequência. A atenção dos pais, elogios,
presentes e aceitação são boas consequ-
ências para serem usadas.
10. É importante que os pais ou cui-
dadores sejam motivação para estudo, e
não alguém para se temer no caso de uma
nota baixa acontecer. A participação dos
responsáveis no processo de aprendiza-
gem dos filhos precisa ser prazerosa para
ambos.
Todas as estratégias aqui descritas exi-
gem bastante tempo, tanto do estudante
quanto de quem auxilia o estudante em
suas atividades. Logo, se não for possível
para o cuidador disponibilizar todo o tem-
po exigido, sempre se pode recorrer a de-
mais recursos, como os ATs, que podem
auxiliar o estudante a manejar todo o am-
biente de estudos e avaliar seu processo
de evolução.
Caso o estudante ainda demonstre di-
ficuldade de aprendizagem, ou até mesmo
de colocar as estratégias em prática, reco-
menda-se o encaminhamento a um profis-
126
sional de saúde mental, como psicólogo,
psiquiatra e neurologista. Crianças e ado-
lescentes passam por momentos compli-
cados durante a fase de crescimento, prin-
cipalmente durante o período escolar. O
mau desempenho nos estudos pode ser
um indicativo de que o aluno esteja neces-
sitando de ajuda psicológica.
127
Capítulo 12
Como lidar com rotinas familiares inter-
rompidas para pessoas com transtorno
do espectro do autismo (TEA)
133
Capítulo 13
Casamento em tempos de pandemia
Vera Regina Lignelli Otero
138
res, expressões fisionômicas, posturas,
gestos, e outras formas de expressão.
O confinamento imposto pela pande-
mia da Covid-19 interfere de forma signi-
ficativa no “estado de espírito” dos parcei-
ros. É natural terem diminuído a paciência,
a tolerância, o cuidado com a escolha das
palavras e do melhor momento para inte-
ragir.
No entanto, parceiros atentos à qua-
lidade da comunicação poderão aprovei-
tar o contexto da pandemia e aprofundar
os laços, aumentando a proximidade. Esse
novo contexto pode ser uma oportunidade
para partilharem experiências pessoais de
vida, sentimentos ou desejos não expres-
sos até então.
Pode ser uma oportunidade para cons-
truírem projetos a serem conquistados.
Poderão rever e avaliar como estão con-
duzindo a educação dos filhos, e a distri-
buição das tarefas do tempo de pandemia.
Examinarem juntos esses e outros tópicos
do viver contribuirá para o aprimoramen-
to da vida em família. Essas experiências
139
aprofundam a intimidade e o vínculo do
casal.
São muitas as restrições a que temos
sido expostos na pandemia. Foi um tem-
po de muita aprendizagem, especialmen-
te para os casais. Um tempo de incontá-
veis descobertas pessoais, de aquisição de
habilidades que jamais imaginaram que
seriam capazes. Parceiros aprenderam a
cozinhar, lavar roupa, limpar casa, dividir
espaços físicos, cuidar melhor das emo-
ções, as agradáveis e/ou desagradáveis,
as desejáveis ou indesejáveis.
Neste momento, a mais importante e
significativa habilidade adquirida e apri-
morada foi o diálogo. A pandemia tem sido
um tempo no qual muitos parceiros estão
aprendendo a conversar. Ela é a chave para
a boa qualidade de vida.
Rubem Alves (1999, p 51), citando Niet-
zsche, afirma: “Ao pensar sobre a possibi-
lidade do casamento cada um deveria se
fazer a seguinte pergunta: Você crê que
seria capaz de conversar com prazer com
esta pessoa até a sua velhice? Tudo o mais
140
no casamento é transitório, mas as rela-
ções que desafiam o tempo são aquelas
construídas sobre a arte de conversar”.
Que o tempo da pandemia permita
que cada um dos parceiros descubra o en-
cantamento e os benefícios de uma boa
conversa.
141
Capítulo 14
Como manter a calma no relacionamen-
to conjugal em tempos de Covid-19
Stélios Sant’Anna Sdoukos
143
Somado a esses efeitos comportamen-
tais, o próprio cenário da pandemia, com a
sua longínqua possibilidade de resolução,
deixando a população em contato prolon-
gado com o perigo sanitário, ou então com
a possibilidade (iminente ou concretizada)
de perder amigos e familiares para a do-
ença, constitui um dos piores contextos
possíveis para os relacionamentos. Nessa
situação caótica, os relacionamentos têm
muito a perder. Cada um dos parceiros está
lidando com mudanças súbitas e difíceis,
e por isso a chance das interações se tor-
narem mais coercitivas também aumenta
muito. Irritabilidade, críticas, gestos gros-
seiros e discussões podem agora ser mui-
to mais frequentes. Manter o autocontro-
le representa um desafio real. A pergunta
que fica é: como lidar com essas questões
tão importantes?
Com base nos princípios da Tera-
pia Comportamental Integrativa de
Casal (Christensen et al., 2016, 2020;
Christensen et al., 2018), conhecida pela
sigla IBCT (do inglês, Integrative Behavioral
144
Couple Therapy), propomos aqui o acrôni-
mo Calma, que pode ser útil para auxiliar
os casais a lidar com os momentos de es-
tresse no relacionamento. Como manter
a calma no seu relacionamento conjugal
em tempos de Covid-19? Vejamos.
Mantendo a Calma:
• Compreenda suas emoções.
• Aceite suas limitações.
• Lembre-se: vocês dois estão sofren-
do.
• Mostre real interesse no sofrimento
do seu parceiro.
• Aperfeiçoe a sua comunicação.
154
Capítulo 15
Luto e um adeus sem despedidas em
tempos de Covid-19
Nione Torres
158
tecer, serão de forma restritiva em razão
das medidas sanitárias).
No entanto, inexistirá o encontro en-
tre familiares e amigos (suporte socioa-
fetivo) na despedida daquele familiar ou
amigo querido, abortando a possibilidade
de sermos validados e acolhidos em nos-
sa dor com um olhar e ou um abraço que
nos diz “Eu estou aqui, conte comigo” (Tor-
res, 2020; Arantes, 2020). Alguns resulta-
dos desse desamparo aos familiares são a
alta probabilidade de gerar um luto muito
desprotegido, e a sensação de que o sen-
so de realidade e a concretude da morte
não foram vivenciados; daí a percepção
de que a morte parece menos real ou, até
mesmo, que não ocorreu (Arantes, 2020).
Nesse cenário pandêmico, o potencial
da Covid-19 proporcionou um atravessa-
mento no processo de luto afetando, so-
bremaneira, as experiências de terminali-
dade, da morte e do enlutar-se. Será um
adeus sem despedidas! Um não adeus, di-
ga-se de passagem, que pode gerar con-
sequências no processo de enlutamento
159
daquele que ficou, entre tantas elencamos
algumas: o sofrimento da perda é persis-
tente e se prolonga significativamente; sen-
timento de vazio e saudades acentuados
(Mancini et al., 2015); desejo de estar/ver
a pessoa que se foi podendo desencade-
ar emoções, lembranças dolorosas e pen-
samentos intrusivos sobre morte, como
também comportamentos acentuados de
evitação relacionados a esses mesmos as-
pectos; alta frequência de sentimentos de
raiva, descrença, culpa, amargura; e, se
houver comorbidades psiquiátricas, como
ansiedade, depressão, suicídio, transtorno
de estresse pós-traumático e outros trans-
tornos, essas se sobreporão ao sofrimen-
to emocional (Parkes, 2009). Em poucas
palavras, houve uma fenda, um corte nes-
se processo resultando em uma dolorosa
realidade; ou seja, o luto não foi embora,
instaurando um comprometimento signi-
ficativo na qualidade de vida de quem fi-
cou.
Dado esse contexto hoje imposto, pre-
cisamos ir em busca de alternativas no sen-
160
tido de tornar a vivência desse luto menos
traumática do que naturalmente já é. Nes-
se sentido, Crepaldi et al. (2020) sinalizam
que, em ambos rituais (o de despedida e
os fúnebres), há necessidade de uma nova
configuração, sendo uma das possibilida-
des já constatadas para esse fim, o uso da
tecnologia. Quanto ao primeiro ritual, de-
pendendo das condições clínica e cognitiva
do enfermo, incentiva-se o contato entre
enfermo e familiares através de celulares/
tablets e o envio de mensagens de áudio,
cartas e objetos que representam vínculo
emocional entre o enfermo e sua rede so-
cioafetiva.
Com relação ao segundo ritual,
Crepaldi et al. (2020), sugerem ligações de
vídeos, mensagens de voz e e-mails de des-
pedida ao ente querido através de reuni-
ões on-line; criação de memoriais (on-line
ou em casa) com fotos, cartas ou mensa-
gens, além do acesso às redes sociais para
lembrar e homenagear aquele que se foi.
Vale lembrar que expressões de afeto, pe-
sar e espiritualidade não substituem os ri-
161
tuais sustentados pela nossa história cul-
tural e religiosa A única função é auxiliar
na resolução do luto, uma vez que eles (os
rituais) possibilitam caminhos emocionais
e cognitivos para lidar com a perda.
Não podemos reduzir a pessoa à hora da mor-
te, ou seja, realmente você não pode estar lá e,
é óbvio que tem o direito à dor de não estar no
velório e no enterro, então, lembre-se de todos
os momentos em que vocês estiveram juntos e
honre a memória dessa pessoa (Luz, comunica-
ção pessoal, 2020).
Referências
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Arantes, A. (2020). A morte na era da Co-
vid-19 é uma morte desamparada.
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na-covid-19-parte-i
180
Sobre os autores e organizadores
182
Fernanda Castanho Calixto
Psicóloga clínica. Doutora em Psicologia pela UFS-
Car, mestre em Análise do Comportamento pela
UEL. Docente e supervisora no Centro Paradigma e
Evolucio. Desde 2020, atua como coordenadora da
comissão científica da ABPMC.
183
Jocelaine Martins da Silveira
Doutora em Psicologia Clínica. Professora associa-
da do Departamento de Psicologia da Universidade
Federal do Paraná (UFPR).
Larissa Schafranski
Psicóloga clínica. Cursando especialização em Tera-
pias Contextuais pelo Instituto Continuum. Faz par-
te da equipe do CINP.
Liane Dahás
Psicóloga clínica e experimental pela Universidade
Federal do Pará (UFPA), mestre e doutora em Teo-
ria e Pesquisa do Comportamento pela UFPA. Coco-
ordenadora do Projeto ABPMC Comunidade.
184
Lucas Polezi do Couto
Psicólogo clínico. Mestrando em Psicologia pela
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Pós-
-graduando em Terapias Comportamentais de Ter-
ceira Geração (Instituto de Pós-Graduação e Gradu-
ação - IPOG) e em Terapia Comportamental Dialética
(Centro de Avaliação, Atendimento e Educação em
Saúde Mental - CAAESM).
185
Mauro Silva Júnior
Psicólogo. Doutor e mestre em Teoria e Pesquisa
do Comportamento pela UFPA. Professor do Institu-
to de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB)e
professor orientador no Programa de Pós-Gradua-
ção em Ciências do Comportamento e no Programa
de Pós-Graduação em Neurociências e Comporta-
mento na UFPA.
Murilo Ramos
Psicólogo clínico. Mestre em Análise do Comporta-
mento pela UEL. Docente do curso de formação em
ACT e FAP do Instituto Continuum. Sócio-fundador
do CINP.
Nione Torres
Psicóloga clínica, especialista em Docência do Ensi-
no Superior pela UEL e mestre pela Pontifícia Uni-
versidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).
Formação em Terapia Comportamental Dialética-
-Behavioral pelo Tech/The Linehan Institute-Seattle
(EUA).
186
Oriana Comesanha e Silva
Psicóloga clínica. Especialista em Terapia por Con-
tingência de Reforçamento pelo ITCR e mestre em
Teoria e Pesquisa do Comportamento pela UFPA.
Roberta Kovac
Psicóloga clínica, mestre em Psicologia Experimen-
tal: Análise do Comportamento pela PUC-SP e dou-
tora em Psicologia Clínica pela USP. Docente do mes-
trado profissional em Análise do Comportamento
Aplicada do Centro Paradigma.
188
Zilda Aparecida Pereira Del Prette
Psicóloga. Mestre em Psicologia pela UFPB, doutora
em Psicologia pela USP e pós-doutora em Psicologia
das Habilidades Sociais pela Universidade da Cali-
fórnia. É pesquisadora nível IA do CNPq e professo-
ra titular da UFSCar, vinculada ao Programa de Pós-
-Graduação em Psicologia da mesma universidade e
ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre
Comportamento, Cognição e Ensino (INCT-ECCE).
189