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Direito Penal I - Anotações

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Introdução ao Direito Penal

1. Conceito

 Formal: conjunto de normas jurídicas que definem o delito e sua


respectiva sanção.
 Material: comportamentos de alto risco que afetam os bens jurídicos
mais importantes.
 Sociológico: forma mais acentuada de controle social.
O direito penal é a forma mais grave e violenta de controle social que
temos e traz as sanções mais acentuadas.

2. Alocação da Teoria Geral do Direito


Trata-se de um ramo do Direito Público, regulando a relação entre o cidadão e
o Estado. Portanto, atua de maneira imperativa, obrigatória, cogente.

3. Conteúdo e Divisão do Direito


a) Parte Geral: aborda as circunstâncias da prática de um crime.

- Teoria da Lei Penal (artigos 1° ao 12°)

- Teoria do Delito (artigos 13° ao 31°)

- Teoria da Pena (artigos 32° ao 120°)

b) Parte Especial (artigos 121° ao 361°)

Tipo Penal: crime em si; crime em espécie; artigo que define um crime;
descrição de um fato ilícito em um código ou lei e que, portanto, implica
a cominação de uma pena.

 Legislação Penal Especial: trata-se de um Direito Penal fora do


Código Penal. (p. ex. Lei Maria da Penha). Existe para tratar
situações específicas, em caso de conflito ela prevalece sobre a
geral.

4. Modalidades do Direito Penal


 Direito Penal Objetivo: norma jurídica penal positivada. (p. ex.
Código Penal).
 Direito Penal Subjetivo: direito de punir do Estado. Encontra-se
submetido ao Direito Penal Objetivo. Jus Puniendi é o
poder/dever de punir do Estado.
 Direito Penal Substantivo (material) e Direito Penal Adjetivo
(formal; formalização do processo penal). Classificação não mais
adotada; hoje são duas categorias autônomas: direito penal e
direito processual penal.
 Direito Penal Comum
 Direito Penal Especial: aplicado por uma Justiça especializada. (p.
ex. Justiça Eleitoral, Justiça Militar).
 Direito Penal Geral: aplica-se em todo território nacional.
 Direito Penal Local: aplica-se numa determinada localidade.
Ocorre excepcionalmente.

5. Funções do Direito Penal

a) Proteção dos bem jurídicos que são essenciais para sociedade, lembrando
que bens jurídicos não são meramente palpáveis, também estão relacionados
com valores.

b) Confirmação de reconhecimento normativo; Günther Jakobs afirma que o


direito penal age apenas quando os bens jurídicos do cidadão já foram
lesionados. Assim, o direito penal não é capaz de impedir que o crime
aconteça, de forma que sua função se torna uma reafirmação da norma, ou
seja, haverá consequências.

c) Controle social; não é sua função primária.


d) Garantia; o direito penal só vai incidir sobre aquilo que está previsto em lei.
(aquilo que não está proibido pode ser feito). Poder estatal de jus puniendi
limitado.

e) Função Motivadora; o medo da sanção jurídica penal motiva o cidadão a


buscar soluções legais.

O Direito Penal é um ramo autônomo, capaz de criar suas próprias


normas, no entanto deve sempre respeitar os ramos do direito, principalmente
o direito constitucional, já que toda e qualquer norma deve estar submetida à
Constituição Federal.

Responsabilidade penal não é o mesmo de responsabilidade civil,


quando o sujeito não age com dolo ou culpa, então não há responsabilidade
penal. Uma conduta ilícita é uma conduta contrária ao ordenamento jurídico;
nem todo ilícito é um ilícito penal. Ilícito não é sinônimo de crime. (p. ex. o não
pagamento do aluguel, mercadoria importada danificada).

6. Seleção de bens jurídicos penais;

Nem todo bem jurídico é protegido pelo direito penal, justamente por ser a
resposta estatal mais grave. É pela Constituição Federal que o legislador se
norteia.

CIÊNCIAS CRIMINAIS

1. DOGMÁTICA JURÍDICO -PENAL ; Estuda a norma jurídica penal e sua


interpretação.
2. CRIMINOLOGIA; Estuda o crime, a vítima, o delinquente, as
circunstâncias.
3. POLÍTICA CRIMINAL; Busca soluções para o índice de criminalidade.
Estuda os meios para que a criminalidade seja reduzida.
Observação:  Na desistência voluntária, o agente abandona a execução do
crime quando ainda lhe sobra, do ponto de vista objetivo, uma margem de
ação. No arrependimento eficaz, não há margem alguma, porque o processo
de execução está encerrado, e o agente atua então para evitar que sobrevenha
o resultado.

Uma medida de política criminal é amenizar a pena em casos envolvendo


arrependimento eficaz e/ou desistência voluntária, já que visa convencer o
sujeito delinquente que a licitude é um caminho sempre melhor do que
consumar o crime.

CRIMINALIZAÇÃO PRIMÁRIA, SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA;

A) CRIMINALIZAÇÃO PRIMÁRIA; Ato de criar a norma jurídico-penal, o tipo


penal.
B) CRIMINALIZAÇÃO SECUNDÁRIA ; É a aplicação concreta da lei, incidindo no
delinquente.
Zaffaroni afirma que a criminalização, principalmente a secundária, é
aplicada com seletividade, já que não incide de forma igual para todos na
sociedade, sendo mais acentuada na parcela vulnerável. (seletividade e
vulnerabilidade).

C) CRIMINALIZAÇÃO TERCIÁRIA; é o ingresso do condenado no sistema


penal, fase de execução da pena. É a forma de criminalização mais
estigmatizante que temos.

PRIVATIZAÇÃO DO SISTEMA PENAL

Tentativa de resgate da vítima para um centro de importância, uma vez que o


réu passa a ser o único foco do direito penal. Ouvir e analisar a vítima ao invés
de meramente punir o delinquente sob os parâmetros da lei. O interesse da
vítima pode ser diferente da do Estado.
PRINCÍPIOS PENAIS

1. Princípio da Legalidade;

Artigo constitucional e art. 1° do Código Penal. Somente a lei pode


prever o crime e determinada sanção e art. 5°, inciso XXXIX da
Constituição Federal de 1988.
“Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal”.
 Previsão Legal;
 Denominação: alguns autores questionam e preferem chamar de
princípio da reserva legal, pois poderia dar ideia que é legalidade
no sentido amplo.
 Materialização da máxima:
nullum crimen, nulla poena sine praevia lege - não há crime, não
há pena sem lei prévia.

2. Princípio da Anterioridade;

A lei precisa ser anterior ao fato que ela pretende punir. É necessário
que a lei preveja o crime, sua vigência só pode ser para frente, só é
crime se ocorrer depois da existência da lei. Portanto, lei não retroage
de uma maneira geral, somente se for benéfica ao réu. (p. ex. adultério
era crime até 2005, quando deixou de ser beneficiou todos que estavam
sendo ou foram condenados).
Art. 5, CF. XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
Previsão Legal; Segurança Jurídica.

3. Princípio da Intervenção Mínima (ultima ratio);

O direito penal só deve intervir quando for extremamente necessário.

4. Fragmentariedade;
Nem todo bem jurídico merece proteção penal, nem toda conduta lesiva
a bens jurídicos importam ao direito penal. O direito penal não se
preocupa com a totalidade das ilicitudes jurídicas, apenas com
fragmentos.

5. Princípio da Subsidiariedade;

Aplicação do direito penal quando os outros ramos do direito falharem,


não forem suficientes para resolver a questão. É subsidiário por não ser
a principal forma de controle, tendo sua aplicabilidade permitida apenas
em última instância.

6. Princípio da Humanidade das Penas;

- Art. 5°, XLVII. Proíbe a pena de morte (salvo estado de guerra


declarado), trabalho forçado, banimento, prisão perpétua, pena de
caráter cruel (cortar mão, por exemplo).
Observação: lembrar de detalhes para questões objetivas. Por exemplo,
é proibida a pena de morte pela Constituição Federal, apenas marcar
como falso se estiver escrito de forma absoluta.

A pena não pode trazer um tratamento desumano e degradante ao


condenado, uma vez que ela precisa respeitar o princípio da dignidade
da pessoa humana.
Serve de norte para observância da condição em que os cidadãos estão
cumprindo suas penas. O alto índice de reincidência está atrelado à
desumanidade enfrentada no cumprimento das penas.
Hoje, a utilização das algemas deve ser excepcional, como forma de
proteção do caráter do delinquente, devendo ser adotada somente
quando há um perigo claro aos cidadãos ao redor. Por exemplo, um
julgamento realizado com o sujeito algemado altera a percepção do júri.

7. Princípio da Pessoalidade ou Intranscendência;


- Art. 5°, XLV da Constituição Federal. “nenhuma pena passará da
pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas
aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido”.

Os efeitos extrapenais, ou seja, cíveis, da condenação podem ser


conferidos aos herdeiros na medida da transferência da herança. Após a
morte do condenado, caso haja a necessidade de pagamento de uma
indenização, cabe aos herdeiros o pagamento utilizando o patrimônio
adquirido através da morte. Lembrar que os herdeiros não podem pagar
com o dinheiro PRÓPRIO, ou seja não pode ser utilizado o patrimônio
individual, apenas da herança.

Nós temos três tipos de pena, no Brasil, a pena privativa de liberdade, a


pena de multa e penas restritivas de direitos.

O caso de pensão alimentícia é o único caso do ordenamento brasileiro,


cuja prisão não é uma prisão penal, mas sim civil. Não são regras de
direito penal ou direito processual penal.

8. Princípio da Individualização das Penas;

- Art. 5°, XLVI. Constituição Federal;


“a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as
seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c)
multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de
direitos;”

As penas precisam ser individualizadas, o Estado deve responder


individualmente ao crime cometido. Circunstâncias devem ser
analisadas de forma individualizada para que a dosimetria seja coerente
com os fatos. Então, além da análise do Poder Legislativo, ao pré-
estabelecer as penas para cada crime, é necessário que o Poder
Judiciário também faça o julgamento individual para cada crime,
adequando a pena.
O partícipe é julgado pelo mesmo crime, mas o fato dele ter sido um
mero cúmplice reflete na quantidade de pena. A medida da culpabilidade
deve ser analisada.
Plano abstrato cabe ao Poder Legislativo. Plano concreto cabe ao Poder
Judiciário.
Crime em abstrato cabe uma pena abstrata, prevista no Código Penal,
de caráter geral. Uma pena concreta incide de forma individualizada. Por
exemplo, a pena abstrata para o crime de furto é a privação de liberdade
de 1 ano a 4 anos, sendo que a pena concreta depende do julgamento
individual e pode ser 1 ano ou 1 ano e meio, 3 anos etc.

Exemplo: A lei de drogas proibia concessão de liberdade provisória, da


mesma forma que a lei crimes hediondos, nos quais não havia
progressão da pena. Essas leis foram declaradas inconstitucionais por
conta desse princípio pois generalizam, equiparam, afirmam que todos
aqueles que cometeram crimes hediondos merecem a mesma resposta
do Estado. Nesse caso, todo mundo que cometeria o crime de tráfico
merece a mesma resposta, como Fernadinho Beira-mar teria a mesma
pena que um “aviãozinho”. Cada caso é um caso. Então se duas
pessoas cometerem um crime, elas serão julgadas de maneira
individual.

9. Princípio do Non Bis In Idem;

Ne Bis Idem
- Vedação da dupla punição.
O sujeito não pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato ou ter
valorada duas vezes a mesma circunstância.
Exemplo: artigo 62 do Código Penal, consta agravantes de pena, sendo
uma delas o motivo do crime. Para o crime de homicídio, o motivo é uma
qualificadora, ou seja, muda a pena em abstrato para mais. O motivo
fútil é uma das qualificadoras. João comete um homicídio, por um motivo
fútil, então é julgado por homicídio qualificado, mas não pode ser
agravado por essa mesma valoração posteriormente. No entanto, pode
ter a agravante do meio utilizado para o homicídio. Uma vez usada a
circunstância como qualificadora, não poderá ser repetida como
agravante.

Existe uma linha tênue entre a reincidência e os maus antecedentes.


(assunto de Penal III). Para ser reincidente o caso precisa ter sido
concluído, ou seja, precisa ter o trânsito em julgado de uma sentença
condenatória por um crime anterior.
O non bis in idem cabe na mesma área, o que significa que o mesmo
fato pode ser julgado civil e criminalmente.
O termo jurídico “trânsito em julgado” refere-se ao momento em que
uma decisão - sentença ou acordão - torna-se definitiva, não podendo
mais ser objeto de recurso.

10. Princípio da Proporcionalidade;

Precisa ser analisado desde o plano abstrato até o plano concreto. A


pena deve ser avaliada de acordo com a gravidade do crime. Exige uma
proporcionalidade entre a pena e a gravidade da conduta.

Proporcionalidade em abstrato tem relação com a pena, segundo o


Código Penal. Além disso, há a necessidade de avaliar
proporcionalmente por parte do julgador (Poder Judiciário).

Surge com o Código de Hamurabi – “olho por olho, dente por dente”.

11. Princípio da Adequação Social;

Uma conduta não seria vista pelo olhar social um crime, ainda que
esteja tipificado no Código Penal.
No Brasil, a adequação social não é considerada legítima para revogar
um tipo penal. Tornando-se um norte para o legislador para criar ou
revogar tipos penais que estejam de acordo com a realidade social.
A jurisprudência tem uma resistência em tornar a adequação social
capaz de a-tipificar um crime.

Por exemplo: comercialização de filmes piratas.

12. Princípio da Lesividade;

Possui desdobramento em outros quatro princípios.

Limite material ao poder de punir do Estado; diz O QUE punir; apenas


condutas que causem lesões aos bens jurídicos.

12. 1. Princípio da Materialidade do Fato:

Há a necessidade da efetivação do crime. Atos preparatórios,


cogitações, idealizações, não são de matéria do Direito Penal. É preciso
externar o crime.

12. 2. Princípio da Alteridade:

O Direito Penal não se preocupa com a autolesão, apenas com lesão à


bens de terceiros. Por esse motivo, o suicídio e a automutilação não são
considerados como crime.
Observação: os defensores da descriminalização do uso de
alucinógenos utilizam-se desse princípio para dar embasamento aos
seus argumentos.

12. 3. Princípio do Direito Penal do Fato:

O Direito Penal pune o fato, não se preocupando com o caráter do


delinquente. No entanto, no Brasil, há uma consideração de quem o
autor no momento de dosimetria da pena. As circunstâncias judiciais
são oito, mas vale destacar as seguintes: antecedentes criminais,
personalidade do agente e conduta social.
12. 4. Princípio da Exclusiva Proteção de Bens-Jurídicos:
Apenas lesões aos bens jurídicos considerados importantes para
matéria penal, diferenciando ilícitos penais e ilícitos civis.

Crime de Dano x Crime de Perigo

O crime de dano causa uma lesão a um bem jurídico, como o homicídio, o


assalto.

O crime de perigo se dá quando há a exposição de dano a um bem jurídico. No


crime de perigo, não precisa que a lesão ocorra para que seja categorizado
como crime. Pode ser crime de perigo concreto ou crime de perigo abstrato. No
crime de perigo concreto, o crime de fato expôs um bem jurídico a um perigo.
No crime de perigo abstrato, basta que o indivíduo realize uma conduta
prevista em lei para que seja considerado um crime. (p. ex. dirigir sob influência
do álcool, ainda que tenha tido uma direção tranquila). No crime de perigo
abstrato, o próprio legislador presume a lesão que ocorrerá, não é possível
termos provas de que de fato o perigo irá se concretizar.

Uma parcela da doutrina acredita que esse tipo de crime de perigo abstrato não
deveria existir, porque feriria o Princípio da Lesividade, já que não há a
demonstração de um perigo no plano real.

A espiritualização do bem jurídico foi uma expressão criada pela doutrina para
criticar a tipificação de condutas que visam tutelar bens jurídicos de interesse
transindividual, isto é, aquilo que pertence a uma coletividade, (p. ex. crimes
ambientais) afirmando que tais bens são formulados de modo vago e impreciso
ensejando a denominada desmaterialização, espiritualização ou liquefação do
bem jurídico. Nesse sentido, há o aumento do número de crimes de perigo
abstratos.

13. Princípio da Insignificância

Conceito: o Direito Penal não se preocupa com bagatelas, ou seja, condutas


insignificantes.
Requisitos objetivos:

 Mínima ofensividade da conduta (minimamente lesiva);


 Ausência de periculosidade social da ação;
 Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
 Inexpressividade da lesão jurídica.

Crime: FATO TÍPICO + ILÍCITO + CULPÁVEL.

Para caracterizar o fato típico é preciso que haja a conduta, o nexo causal,
resultado e tipicidade. Tipicidade formal é a adequação perfeita da conduta à
norma. Tipicidade material analisa a lesão, o nível de lesão ao bem jurídico
tutelado.

Quando há a tipicidade formal, porém, não há a material, não há tipicidade.


Sendo assim, não há fato típico e o princípio da insignificância é aplicado.

Cabimento: nem todas as situações de pequeno valor cabem no princípio da


insignificância. Outros fatores são analisados, como o abalo psicológico no
caso do roubo, mesmo que de um material de menor valor.

NÃO cabe a aplicação do princípio em crimes (como regra, porém, pode ser
contestado pelo advogado): com violência ou grave ameaça; crimes contra a
administração pública; violência doméstica; uso de substância entorpecente;
crime ambiental.

A capacidade financeira daquele que pratica, é levada sim em consideração,


em caso de lesão ao patrimônio, no entanto não pode ser o único critério.

Momento da aplicação: pode ser aplicado a qualquer momento do processo.

Controvérsias:

 Reincidência;
 Reiteração delituosa; a repetição de uma conduta pelo agente.
 Lei Maria da Penha: súmula 589 do STJ; não é possível a aplicação
do princípio da insignificância nos casos de agressão contra a
mulher.
 Crimes contra administração pública, crimes a fé pública (p. ex.
utilização de moeda falsificada), crime de porte de drogas para uso
pessoal (crime de perigo abstrato à saúde pública): majoritariamente,
acredita-se que o princípio da insignificância não pode ser aplicado.
 Crimes Ambientais: majoritariamente, acredita-se que o princípio da
insignificância pode ser aplicado.
 Crimes contra a ordem tributária: até 20 mil reais não tem o processo
administrativo, logo até 20 mil reais também não haverá condenação
penal. [crimes de colarinho branco, nota-se que o princípio da
insignificância é utilizado como conveniência; seletividade do Direito
Penal].

TEORIAS LEGITIMADORAS E DESLEGITIMADORAS DO DIREITO PENAL

As teorias que legitimam o Direito Penal acreditam que há a paz social através
dele. As teorias que deslegitimam o Direito Penal afirmam que ele não é capaz
de assegurar esse controle social.

LEGITIMADORAS

I. Teorias Absolutas

As teorias absolutas são baseadas na ideia de retribuição. Assim, o Direito


Penal não prega o controle prévio do dano, mas sim como forma de retribuir
o mal causado. A pena seria um fim em si mesmo, não importando se ela é
útil.
Os maiores expoentes são Kant e Hegel:

 Kant prega o retribucionismo moral, não há acepção jurídica. A


moralidade seria um pilar da forma de justiça e ratifica os postulados
da Lei do Talião. É moralmente necessário que o Estado busque a
retribuição e a justiça, ou seja, a pena tem que incidir para que nós
sejamos moralmente corretos. (como se fosse frear no sinal
vermelho de madrugada).
 Hegel, no entanto, prega o retribucionismo jurídico, preocupando-se
com a ordem jurídica. A pena seria a negação da negação do Direito
– o sujeito negou o direito com o seu crime e o Estado irá reafirmar
esse direito (- * - = +). Direito e Penal seriam manifestações da
vontade racional.

II. Teorias Relativas

São contrárias às absolutas, baseadas na ideia de prevenção (primária,


secundária e terciária):

Prevenção Geral Negativa: coação psicológica, desenvolve o medo da infração


por conta da sanção.

Prevenção Geral Positiva: ideia de confirmação da norma, ou seja, é a


concretização da norma, exposição de sua validade.

 A Prevenção Geral Positiva para Roxin e para Jakobs:


Para Jakobs, a norma penal existe somente após o dano causado,
portanto, há a formação de exemplo ao posterior.

Prevenção Especial Negativa: neutralização. Tenta neutralizar o indivíduo para


que ele não cometa o crime novamente, tenta evitar a reincidência.

Prevenção Especial Positiva: reeducação.

III. Teorias Mistas, Unitárias ou Ecléticas


Entendem que o Direito Penal é retributivo e preventivo. No Código Penal,
consta que a norma penal tem que contemplar a retribuição e prevenção do
mal causado.

IV. Teorias Dialética Unificadora (Roxin)

Rechaça a concepção retributiva da pena. Pauta-se em critérios de prevenção


geral e especial. Congrega mais de uma teoria preventiva (previsão, aplicação
e execução da pena).

a) no momento da previsão do crime, em abstrato, ou seja, o tipo penal;


surge a ideia de prevenção geral.
b) no momento da aplicação da pena, há a ideia de prevenção geral e
especial; demonstrando à sociedade que há punição e mostra ao sujeito
sua consequência.
c) no momento da execução da pena, há a ideia de prevenção especial.

Portanto, Roxin reúne as prevenções em momentos distintos da aplicação


do direito penal.

V. Teorias Agnósticas da Pena

Raul Zaffaroni – ex defensor da teoria preventiva.

Pena é sinônimo de exercício de poder, sem aplicação jurídica racional, apenas


política. Hoje Zaffaroni não vê razão jurídica para existência de pena.

VI. Teoria das Janelas Quebradas e o Movimento de Tolerância Zero

Movimento que nasceu nos Estados Unidos, que pregava o Direito Penal
máximo, independente da gravidade do crime. Noção de Lei e Ordem.

Teoria das Janelas Quebradas: se uma janela é quebrada e não há o conserto,


há uma tendencia de que outras janelas serão quebradas.
Instaurado, em Nova York, durante uma ascensão econômica, fazendo com
que houvesse uma diminuição na criminalidade, então associou-se a Teoria
com esse avanço.

VII. Direito Penal do Inimigo

Teoria criada pelo alemão Günther Jakobs que separa o Direito Penal do
cidadão do Direito Penal “do Inimigo”. O do cidadão seria o Direito Penal formal
e correto, de acordo com os princípios e direitos fundamentais. O do
considerado inimigo seria violento, punitivo. Os inimigos seriam pessoas como
os terroristas ou o assassino baiano em Goiânia. Ainda que velada, no Brasil, é
visível a presença do Direito Penal do Inimigo.

DESLEGITIMADORAS

I. Abolicionismo Penal

Teoria que prega a abolição do sistema penal como um todo.

 O Abolicionismo de Louk Hulsman:

Foi preso pela polícia holandesa e passou a questionar os fins da pena.

Sustenta a primazia das leis naturais sobre as leis sociais, defendendo a


irrestrita abolição do sistema penal. Ele considera que os conflitos
devem ser resolvidos pela própria sociedade, ou seja, não é o Estado
que vai exercer a resolução.

Seriam três as razões principais para a abolição do sistema penal:

a) O sistema penal causa sofrimentos desnecessários que são


distribuídos de forma injusta, sob o ponto de vista social.

b) O sistema penal não fornece nenhum efeito positivo em relação as


pessoas que estão envolvidas no conflito.
c) É muito difícil manter o sistema penal sob o controle, o que provoca
abusos e excessos na persecução penal.

Hulsman defende duas formas de manifestação do abolicionismo: o


abolicionismo institucional e abolicionismo acadêmico. O abolicionismo
institucional fornece críticas à Justiça Criminal, enquanto o abolicionismo
acadêmico sugere uma mudança de linguagem, alterando os termos
Crime, Criminoso, Meliante, Delinquente...

 O Abolicionismo de Thomas Mathiesen:

Formação marxista, afirmando que o Estado é uma forma de


manipulação da classe dominante, então o Direito Penal seria o mais
forte instrumento de dominação classista.

A pena de prisão é uma forma de manipulação da classe dominante,


com destinatários certos, através de um sistema carcerário irracional.

Mathiesen dá uma acentuada ênfase a figura da vítima, segundo ele


deveria haver uma forma de compensação à vítima que poderia ter:

a) Natureza econômica;

b) Forma de um sistema de seguro simplificado;

c) Apoio simbólico nas situações de luto ou pesar;

d) Criação de abrigos destinados a pessoas que necessitem de apoio


especial para proteção;

e) Centro de apoio às mulheres espancadas;

f) Direta solução dos conflitos, quando possível.

 O abolicionismo de Nils Christie:

Discute a existência de uma indústria de controle da criminalidade, com


o expansionismo do punitivismo como forma de alcançar lucro.
Assim como Hulsman, defende que o Estado se apropriou de um conflito
que não lhe pertence, sendo que a solução do conflito poderia se dar de
duas formas:

a) Conferindo poder a determinada pessoa;

b) Não conferindo poder a quem quer que seja; defendendo a ideia de


que nem todo conflito precisa ser solucionado e que se pode conviver
com alguns.

Fontes do Direito Penal

1. Conceito
É a origem e a forma de manifestação do Direito Penal. É como nós vemos o
Direito Penal.

2. Fontes Materiais
Também chamada de fonte substancial ou de presunção; é a origem do Direito
Penal. É a União a fonte material; é a partir do Congresso Nacional que surgem
as novas leis do Direito Penal.

Uma lei estadual, via de regra, não pode criminalizar condutas, portanto os
estados não podem legislar matérias penais. Entretanto, excepcionalmente (art.
22, inciso I da CF88) essa legislação é permitida, desde que tenha uma lei
federal autorizando e seja um assunto de interesse apenas local.

3. Fontes Formais
Também chamada de cognição ou de conhecimento; forma de manifestação do
Direito Penal.

Pode ser dividida em duas classificações:


 Fonte Formal imediata: direta; a lei é a principal fonte formal imediata.
Atualmente, as doutrinas consideram as súmulas vinculantes fontes
formais imediatas.
 Fonte Formal mediata: indireta;
o Constituição Federal traz os mandados de criminalização -
previsões, premissas, que indicam punições específicas que o
legislador infraconstitucional terá que respeitar.
o Costumes: apesar de ter força de obrigatoriedade, NÃO revoga
artigo, não torna a conduta atípica, apenas auxilia o legislador;
contra legem (negativo, ou seja, para as pessoas aquela lei que
proíbe esse costume não tem adesão social), segundum legem
(interpretativos, como no caso de “mulher honesta” e “decoro”) e
praeter legem (integrativo, utilização dos costumes para
preencher lacunas quando não se tratar de uma norma
incriminadora, já que feriria a legalidade. Utilizado para uma
excludente de ilicitude, excludente de culpabilidade*).
o Princípios Gerais do Direito: equidade, isonomia etc.
o Tratados Internacionais
o Atos administrativos: servem de complemento para as normas
penais em branco. Por exemplo, a lei de drogas cita apenas a
palavra “drogas entorpecentes”, sendo a definição dessas drogas
advinda da portaria (documento oficial de ato administrativo,
baixado por autoridade pública e destinado a dar instruções ou
fazer determinações de várias ordens.) da ANVISA.
o Jurisprudência: majoritariamente, não é aceita a jurisprudência
como uma fonte formal mediata, no entanto a súmula vinculante
sim.

Observação: As normas penais incriminadoras definem as infrações penais


proibindo a prática de condutas (crimes comissivos) ou impondo a prática de
condutas (crimes omissivos), sob a ameaça expressa e específica de uma
pena.
Interpretação da Norma Penal

1. Conceito de Interpretação

Significa buscar o real alcance da norma.

2. Espécies de Interpretação

a) Objetiva (voluntas legis): busca entender a vontade da lei.

b) Subjetiva (voluntas legislatoris): busca entender a vontade do


legislador.

3. Modalidades de Interpretação

Quanto ao sujeito que realiza:

 Autêntica: feita pela própria lei. Assim, a lei descreve e define no próprio
artigo.
 Doutrinária: realizada pelos estudiosos do Direito. É importante, mas não
possui força vinculante.
 Jurisprudencial: realizada pelo Poder Judiciário nos tribunais.

Não existe exclusão entre as espécies, logo uma não invalida a outra.

Quanto ao meio:

 Gramatical: análise literal, “ao pé da letra”. Costuma ser bastante


criticada, como no caso da conceituação de mulher “honesta”, que era
mulher virgem, divergindo do conceito gramatical.
 Histórica: interpretação baseada no contexto histórico-social.
 Sistemática: interpretação da norma de acordo com o sistema no qual
ela está inserida. Como por exemplo, os crimes dolosos contra a vida
são julgados por júri popular, no entanto o latrocínio (roubo resultando
em morte) se encontra no rol de crimes contra o patrimônio, portanto
não vai ao júri popular.
 Teleológica: analisa a finalidade do dispositivo legal, ou seja, aquilo que
ele visa proteger. Exemplo claro é interpretar as normas do Estatuto do
Idoso beneficiando o idoso em questão, já que a lei existe para proteger
esse grupo.

Quanto ao resultado:

 Declaratória: é aquela em que, ao realizar a interpretação, o intérprete


apenas declara a vontade da lei. Por exemplo, o crime contra honra é
agravado quando realizado na frente de várias pessoas, ao definir o que
significa “várias pessoas”, exerce uma declaração.
 Restritiva: busca restringir o alcance da norma quando o legislador diz
mais do que deveria dizer. Exemplo: quando o legislador diz que a
embriaguez não exclui a responsabilidade penal, ele inseriu os
alcoólatras? Nesse caso, a embriaguez patológica não seria aplicável,
sendo necessário fazer a restrição. Essa interpretação é doutrinária e
jurisprudencial, ou seja, a interpretação literal não excluiria o alcoólatra.
 Extensiva: quando é necessário ampliar o alcance da norma. A bigamia
é um crime, no entanto a norma cita apenas dois casamentos, o que não
abrange o atual “poli amor”. Portanto, numa interpretação extensiva
compreende-se que vários casamentos fazem parte desse tipo penal.

Interpretação Analógica

Técnica de interpretação, na qual o legislador no próprio texto de lei traz uma


cláusula explicativa seguida de outra genérica para que seja possível abarcar
situações não previstas na lei. O legislador cita exemplos do que ele quer dizer
e, posteriormente, diz “qualquer outro ...”.

 Dúvidas em matéria de interpretação


Caso exista dúvida quanto a interpretação da norma, deve ser
aplicada aquela que beneficie o réu. O chamado in dubio pro reo.
Analogia: não há interpretação, mas sim uma forma de integrar a norma. Na
analogia existe uma lacuna na lei que será preenchida por outra norma de
situação parecida. Portanto, para ser utilizada a analogia em matéria penal
precisa de: i) uma similitude fática, ii) uma lacuna legislativa e iii) benefício ao
réu. Se utilizada para prejudicar o réu, haverá um desrespeito ao princípio da
reserva legal, assim a analogia em matéria penal somente pode ser feita para
beneficiar o réu.

a) Analogia in bonam partem: para benefício do réu.

b) Analogia in malam partem: não beneficia o réu.

Norma Penal

Classificação das Normas Penais

a. Incriminadoras: norma que prevê uma conduta delituosa e a sanção respectiva, ou seja, é
a norma que tipifica uma conduta.
Possuem dois preceitos: o primário – descrição da conduta delituosa e o secundário –
descreve a sanção imposta para o sujeito que cometer a conduta delituosa.
Artigo 121 do CP: matar algúem (preceito primário)
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. (preceito secundário)

b. Não Incriminadoras: são normas que não tipificam condutas delituosa.


i. Permissivas; Justificantes ou Exculpantes

Normas que permitem a prática de determinadas condutas. Sendo as justificantes aquelas


que excluem a ilicitude dos fatos, de forma que a conduta deixa de ser um crime (fato
típico + ilícito + culpável) já que afasta a ilicitude. (p.ex. legítima defesa). As normas
permissivas exculpantes são aquelas que excluem a culpabilidade, por exemplo o erro de
proibição, quando o sujeito não sabe que determinada conduta é proibida. Outro exemplo
de norma penal permissiva exculpante é a coação moral irresistível, quando um sujeito é
forçado moralmente a cometer uma conduta proibida. A doença mental (imputabilidade)
excluí a culpabilidade, porém não afasta a sanção já que o sujeito mentalmente enfermo
será submetido à contenção, visando a segurança populacional.

ii. Interpretativas
São aquelas que auxiliam na interpretação de determinados conceitos penais.
Artigo 327 – CP: Considera-se funcionário público, para os efeitos penais,
quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego
ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou
função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de
serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da
Administração Pública.   § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando
os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em
comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou
fundação instituída pelo poder público.

iii. Complementares
São aquelas normas que auxiliam na aplicação da lei penal. Regras e princípios gerais
para aplicação de uma norma penal incriminadora.
Artigo 59 – CP: Fixação da pena; O juiz, atendendo à culpabilidade, aos
antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às
circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da
vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime: I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; II - a
quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; III - o regime inicial
de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - a substituição da pena
privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. 

iv. Integrativas (ou de extensão)


Trazem uma espécie de integração ao ordenamento jurídico. Como por exemplo o
artigo 14 que é uma norma de extensão para o artigo 121.
Artigo 14 – CP:    Art. 14 - Diz-se o crime:  Crime consumado I - consumado,
quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; Tentativa  II
- tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias
alheias à vontade do agente.  Pena de tentativa; Parágrafo único - Salvo
disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao
crime consumado, diminuída de um a dois terços.

c. Completa: são normas “perfeitas”, que não exigem nenhum complemento.


d. Incompletas: são normas “imperfeitas”.
i. Tipo Penal Aberto: é o tipo penal que depende de uma valoração, interpretação por
parte do julgador. Como exemplo, artigo 121 parágrafo terceiro que exige análise por
se tratar da determinação de um homicídio culposo.
Dolo eventual (f*da-se) assume o risco x Culpa Consciente (f*deu) acredita que pode
evitar o risco.
ii. Norma Penal em Branco

Norma Penal Em Branco


É uma norma incompleta que precisa buscar seu complemento em outra norma, em outro
dispositivo.

I. Homogênea: busca seu complemento em um diploma de mesma hierarquia, ou seja, é


uma lei sendo complementada por uma lei. Exemplo: é um crime casar ciente de uma
causa de impedimento, sendo que essa causa de impedimento é encontrada no
Código Civil.
a. Homovitelina: o complemento é oriundo do mesmo ramo do direito que a
norma a ser complementada.
Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o
cumprimento da pena. (exige o conceito de território nacional que é
encontrado no artigo 5° do código penal).
b. Heterovitelina: o complemento é oriundo de outro ramo do direito.
Conhecimento prévio de impedimento- Art. 237 - Contrair casamento,
conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta:
Pena - detenção, de três meses a um ano. (exige complemento encontrado no
código civil).
II. Heterogênea: busca seu complemento em norma de hierarquia inferior, ou seja, não
há o mesmo rigor no momento de criação. Exemplos: decreto, portaria, regulamentos.
A lei de drogas é um exemplo clássico de norma penal em branco heterogênea, já que
exige o complemento encontrado na portaria da ANVISA que prevê quais são as
drogas ilícitas. Em 2005, o cloreto de etila (lança-perfume) foi retirado da portaria da
ANVISA por determinação de um diretor específico, no entanto, retornou em uma
semana.
Contrabando - Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida. (exige
complemento acerca das mercadorias proibidas encontradas numa portaria).
Constitucionalidade da norma penal em branco heterogênea: há uma discussão
quanto a constitucionalidade, já que surge o questionamento acerca de uma ofensa ao
princípio da legalidade por não ter um complemento num diploma normativo na
forma de lei. Esse não é o posicionamento majoritário, uma vez que a norma penal em
branco heterogênea prevê o núcleo essencial da conduta, ou seja, o verbo (conduta)
que não pode ser praticado está previsto em lei.

III. Inversa: exige complemento para o preceito secundário. (são raros).


A lei de genocídio possui seu preceito primário completo, no entanto, recorre ao CP
para seu preceito secundário.
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional,
étnico, racial ou religioso, como tal: a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave
à integridade física ou mental de membros do grupo; c) submeter intencionalmente o
grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou
parcial; d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e)
efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo;
Será punido: Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a; Com
as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b; Com as penas do art. 270, no caso da
letra c; Com as penas do art. 125, no caso da letra d; Com as penas do art. 148, no caso
da letra e.

IV. Ao Quadrado: é a norma penal a qual o complemento também exige complemento,


trata-se, portanto, de um dispositivo de lei que necessitará de dois artigos para
complementá-lo. A norma principal e o complemento buscam complemento.
A lei de crimes ambientais precisa ser complementada pelo Código Florestal e o Código
deve ser complementado por uma portaria do Poder Executivo.
Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente,
mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de
proteção.

Conflito Aparente de Normas Penais

Ocorre quando aparentemente há um conflito de leis penais. “O conflito


aparente de normas penais ocorre quando há duas ou mais normas
incriminadoras descrevendo o mesmo fato. Sendo assim, existe o conflito, pois
mais de uma norma pretende regular o fato, mas é aparente, porque, apenas
uma norma é aplicada à hipótese.”

Por exemplo, se uma mãe mata seu filho recém-nascido há a adequação à


duas normas penais: infanticídio e homicídio. Essa mulher não pode ser
julgada pelos dois tipos penais, devido ao bis in idem, assim haverá apenas
uma norma aplicada para a sanção.

Requisitos

1. Unidade de fatos.
2. Pluralidade de leis penais em vigor; as normas que aparentemente
poderiam ser aplicadas ao caso concreto devem estar vigendo durante o
julgamento.

Finalidade

 Evitar o bis in idem; punição dupla pelo mesmo fato.


 Manter a coerência do ordenamento jurídico;
Princípios para a solução do conflito aparente de normas

 Especialidade: a norma especial prevalece sobre a norma geral, trata-se


de uma análise abstrata; a norma especial contém tudo que a norma
geral tem, mas carrega um especializante.
Caso um funcionário público desvie dinheiro para si, ele pode ser
enquadrado tanto em furto, como em peculato
(Peculato é um crime que consiste na subtração ou desvio,
mediante abuso de confiança, de dinheiro público ou de coisa
móvel apreciável, para proveito próprio ou alheio, por funcionário
público que os administra ou guarda. É um dos tipos penais
próprios de funcionários públicos contra a administração em
geral).
No entanto por ser mais específico o crime de peculato deve ser
aplicada a sanção dessa norma. A partir desse princípio não interessa
se a norma aplicada é mais branda ou não, deve-se observar a
especialidade.

 Subsidiariedade: nesse caso há a relação de gravidade, à luz do fato,


sendo insuficiente a comparação abstrata dos tipos penais. A
subsidiariedade pode ser expressa ou tácita.
A norma subsidiária expressa – a própria norma reconhece
expressamente seu caráter subsidiário, admitindo incidir somente se não
ficar caracterizado fato de maior gravidade.
Norma tácita - a norma nada diz, mas, diante do caso concreto, verifica-
se sua subsidiariedade. Exemplo: mediante uso de violência, a vítima é
constrangida a entregar a sua carteira ao autor. Incide aparentemente o
tipo definidor do roubo (norma primária), art. 157 do CP, e o do
constrangimento ilegal (norma subsidiária), art. 146 do CP, e, assim,
sem que a lei nada diga, prevalece o primeiro. Essa subsidiariedade
somente é aplicada se não existir um crime mais grave.
 Consunção ou Absorção: aplicado em apenas em quatro hipóteses,
quando houver crime complexo, crime progressivo, progressão
criminosa e fatos impuníveis.
O crime complexo é aquele que reúne elementos de mais um tipo penal,
por exemplo um roubo absorve a noção de furto.
Crime progressivo é um crime de ação de passagem, obrigatoriamente
para alcançar um objetivo final deve-se passar por um crime anterior,
por exemplo a lesão corporal é um tipo penal, no entanto o crime de
homicídio irá absorver o crime lesivo. Necessariamente,
obrigatoriamente, o sujeito vai passar por um crime anterior, não é uma
opção.
A progressão criminosa é a mudança de dolo, o agente inicialmente
deseja produzir um resultado, após atingi-lo, decide prosseguir e
reiniciar sua agressão produzindo uma lesão mais grave. Nessa
progressão fala-se da pluralidade de desígnios e de fatos somada a
progressividade na lesão ao bem jurídico.
Os fatos impuníveis podem ser divididos entre o antem factum impunível
e o post factum impunível. O antefato pode ser observada quando um
agente invade um domicílio para efetuar um furto dessa forma há a
invasão de domicílio e o furto de fato. Observar que não se trata de um
crime progressivo, uma vez que não há a obrigatoriedade da invasão
para realizar um furto. Além disso, não há dolo de invadir domicílio, logo
o antes do fato (furto) é impunível. O pós-fato é considerada uma
consequência comum, por exemplo o furto é realizado visando uma
venda posterior, essa venda não será considerada, já que o agente
pratica novo ataque contra o mesmo bem jurídico, apenas para tirar
proveito da prática anterior.
Observação: a falsidade documental que repercute num estelionato será
absorvida, ainda que de maior gravidade, caso sua intenção criminosa
seja exaurida no estelionato. Se essa falsidade documental puder ter
continuidade não poderá existir a absorção.
STJ Súmula nº 17 – 20/11/1990. Estelionato. Potencialidade Lesiva.
Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade
lesiva, é por este absorvido.
Lei Penal no Tempo

 Teoria da Atividade: tempo do crime é o momento da ação ou omissão


independente do momento do resultado. Artigo 4º do Código Penal.
 Teoria do Resultado: tempo do crime dá se no momento do resultado,
independente do momento da ação ou omissão.
 Teoria da Ubiquidade (mista): o tempo do crime se dá na ação ou
omissão e no momento de seu resultado.

Conflito de Leis Penais no Tempo

 Extra atividade da lei penal: capacidade de se movimentar no tempo.


o Retroatividade: alcançar um fato ocorrido antes de sua vigência;
o Ultratividade: capacidade de ser aplicada mesmo depois de
revogada, ou seja, deve seguir a norma da época dos fatos, salvo
se uma nova lei se provar benéfica ao réu. Aplica-se a lei da
época dos fatos, já que é do tempo do crime, ainda que seja
revogada.
 Sucessão
o Novatio Legis Incriminadora: nova lei que cria um tipo penal.
Possui vigência para frente, não podendo retroagir.

o Novatio Legis In Pejus: nova lei que recrusdece a situação do


agente em relação ao crime cometido; traz um tratamento mais
rigoroso. Possui vigência para frente, impossibilitando a
retroatividade.
o Abolitio Criminis: ocorre frente a descriminalização de uma
conduta. O adultério, por exemplo, sofreu um abolitio criminis,
saindo da seara do direito penal. Os requisitos para sua
ocorrência são a a) revogação do artigo e b) supressão material
da conduta. A supressão material é exigida porque pode existir
uma revogação de um artigo, mas a conduta continua sendo
criminalizada por meio de outro artigo - Continuidade normativo
típica.
Todos os efeitos penais são encerrados com o abolitio criminis.
Abolitio criminis temporária: abolição de um crime por um tempo
determinado. Por exemplo: o estatuto do armamento que permitiu
o porte de armas não registradas fossem descriminalizadas para
que fosse viável o retorno das armas aos agentes estatais.
O complemento de uma norma penal em branco pode sofrer
abolitio criminis? Não, não há a descriminalização da conduta.

o Novatio Legis in Mellius: é uma lei nova que traz um tratamento


mais brando. Por esse motivo, é retroativa.
Juízo competente para aplicação: depende da fase do processo;
em processo de primeiro grau, quando ainda não foi julgado cabe
ao juiz de primeiro grau; se estiver em recurso é o tribunal que
aplicará; se o agente já foi condenado, será o juiz de execução.

Combinação de Lei Penal

Súmula 501 do STJ; não é permitida a combinação de leis penais, mesmo que
beneficie o réu. Isso significaria uma terceira lei, uma lei híbrida, criada pelo
Judiciário, sendo uma agressão à separação dos poderes.

Lei Penal Temporária e Lei Penal Excepcional


A lei temporária possui prazo determinado de vigência, por exemplo a
Lei Geral da Copa; a lei excepcional dura o tempo necessário para
regular uma situação excepcional.
Os efeitos das leis excepcionais e temporárias perduram se o fato
ocorreu durante sua vigência.
São auto revogáveis.

Lei Penal Intermediária


Aquela que está situada entre a lei da época dos fatos e a lei da época
do julgamento. Se for benéfica, será aplicada a retroatividade para
beneficiar o réu.

Crime Permanente e Crime Continuado

Um crime permanente é aquele cuja consumação se prolonga no tempo, como


por exemplo o crime de sequestro. Nesse sentido, segundo a súmula 711 do
STF, a permanência e a continuidade do crime, deve-se aplicar a norma mais
nova, mesmo que mais dura.

O crime continuado é um concurso de crimes, trata-se de uma ficção jurídica,


uma criação doutrinária. Seriam crimes únicos e isolados, no entanto, pelas
características são considerados crimes continuados. Por exemplo, o desvio de
dinheiro por uma pessoa ao longo do tempo, numa mesma empresa.
Requisitos: ocorrer numa mesma comarca, sem existir um lapso temporal muito
grande entre um crime e outro, ter mesmo modo de execução.

Lei Penal no Espaço

I. Eficácia da Lei Penal no Espaço; panorama geral

Lugar do Crime: no que tange ao conhecimento do lugar do crime, existem


três teorias: atividade, resultado, mista/ubiquidade.
O Código Penal no artigo 6° (Considera-se praticado o crime no lugar em que
ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu
ou deveria produzir-se o resultado .) adotou a teoria mista, de forma que se
considera praticado o crime no lugar da conduta ou do resultado. É importante
lembrar que se no Brasil ocorre somente o planejamento e/ou preparação do
crime, o fato, em regra não interessa ao direito brasileiro, salvo quando a
preparação, por si só, caracterizar crime. Artigo 288 do CP - Constituir,
organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia
particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos
crimes previstos neste Código.

Crime Plurilocal – crime percorrido em dois ou mais territórios do Brasil. Artigo


70 do CPP:

Art. 70.  A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que


se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for
praticado o último ato de execução. § 1o Se, iniciada a execução no
território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será
determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último
ato de execução. § 2o Quando o último ato de execução for praticado
fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o
crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu
resultado. § 3o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais
jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração
consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a
competência firmar-se-á pela prevenção. § 4º Nos crimes previstos
no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de
cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com
o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a
competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso
de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção
Principiologia: no ordenamento pátrio, com o intuito de solucionar a colisão de
jurisdições, emergem seis normas principiológicas:

a. Princípio da Territorialidade: aplica-se a lei penal do local do crime, não


importando a nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico
tutelado. Regra adota pelo Código brasileiro.
b. Princípio da Nacionalidade Ativa: aplica-se a lei penal da nacionalidade
do agente, não importando o local do crime, a nacionalidade da vítima
ou nacionalidade do bem jurídico tutelado.
c. Princípio da Defesa: leva em consideração a nacionalidade do bem
jurídico tutelado, não importando a nacionalidade dos envolvidos ou
local do crime.
d. Princípio da Nacionalidade Passiva: aplica-se a lei da nacionalidade da
vítima, não importando a nacionalidade do agente, do bem jurídico ou o
local do crime.
e. Princípio da Justiça Penal Universal / Justiça Cosmopolita: o agente fica
sujeito a lei penal do país em que ele for encontrado, não importando o
local do crime, a nacionalidade dos envolvidos ou bem jurídico tutelado.
Este princípio está normalmente presente nos tratados internacionais de
cooperação na repressão a determinados delitos de alcance
transnacional.
f. Princípio da Representação / da Bandeira: a lei penal nacional aplica-se
aos crimes cometidos em aeronaves e embarcações privadas, quando
praticados no estrangeiro e aí não sejam julgados (inércia do país
estrangeiro) – não importarão os sujeitos, a nacionalidade do bem
jurídico, nem o local do crime.

Conceitos Gerais

 Territorialidade: local do crime no Brasil. Lei aplicável será brasileira;


 Extraterritorialidade: local do crime no estrangeiro. Lei aplicável será a
brasileira.
 Intraterritorialidade: local do crime no Brasil. Lei aplicável será a
estrangeira. (exemplo: imunidade diplomática).
 Território Nacional: espaço geográfico + espaço jurídico (por ficção,
equiparação dada pelo código) – artigo 5° do Código Penal.
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no
território nacional. 

§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do


território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de
natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que
se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-
mar. 

Conclusões do Artigo 5° do Código Penal:

o Quando o navio ou aeronave brasileira for público ou estiver a


serviço do governo brasileiro, quer se encontrar em território
nacional ou estrangeiro, é considerado parte do nosso território.
o Se privado, quando em alto-mar ou espaço aéreo
correspondente, segue a lei da bandeira que ostenta.
o Quando estrangeiro, em território brasileiro, desde que privado, é
considerado parte do nosso território.
o Observação: teoria da inviolabilidade da embaixada (STF – Celso
de Mello); inviolabilidade diplomática significa que a pessoa não
está sujeita a prisão ou detenção, e o país hospedeiro deve tomar
as precauções necessárias para proteger o diplomata, inclusive
contra ataques à sua dignidade

§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo


de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada,
achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no
espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do
Brasil.
Artigo 7° do Código Brasileiro de Aeronáutica (As medidas
assecuratórias de direito regulam-se pela lei do país onde se encontrar a
aeronave.).

Um crime cometido numa embarcação militar brasileira, cabe à justiça militar.

Observação: se públicas ou a serviço do governo estrangeiro, não se aplica a


Lei Brasileira – princípio da reciprocidade.

Extraterritorialidade

Em casos excepcionais, a nossa lei poderá extrapolar os limites do território,


alcançando crimes cometidos exclusivamente no estrangeiro. Artigo 7° do
Código Penal.

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I -


os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b)
contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado,
de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia
mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a
administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio,
quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; II - os crimes: a)
que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados
por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí
não sejam julgados.

§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira,


ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.

§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do


concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime
incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d)
não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a
pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro
motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro


contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no
parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve

requisição do Ministro da Justiça. 

 Extraterritorialidade Incondicionada (artigo 7°, inciso I do Código Penal)


o Crimes contra a vida ou liberdade do Presidente da República
(princípio da defesa);
o Crimes contra o patrimônio público brasileiro (princípio da
defesa).
o Crimes contra a Administração Pública (princípio da defesa).
o Genocídio (princípio da nacionalidade ativa).

Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira,


ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.

 Extraterritorialidade Condicionada – artigo 7°, inciso II do Código Penal


o Crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a
reprimir (princípio da justiça universal);
o Crimes praticados por brasileiro (princípio da nacionalidade ativa);
o Crimes praticados em aeronaves ou embarcações e aí não sejam
julgados (princípio da representação).

Lembrar que extraterritorialidade não afasta a soberania do país, ela


possibilita a aplicação de uma lei brasileira.

Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das
seguintes condições:

 Entrar o agente no território nacional; o agente não precisa permanecer


no território nacional (espaço geográfico + jurídico);
 Ser o fato punível também no país em que foi praticado; deve ser o
crime no Brasil e no país em que foi praticado o ato;
 Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição; lei n° 13.445/2017 – Lei de Migração.
 Não ter sido agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a
pena; a extinção da punibilidade ocorre quando o sujeito pratica um
crime, porém por algum motivo não será punido, como por exemplo a
prescrição.

 Extraterritorialidade Hiper condicionada – artigo 7°, parágrafo 3° do


Código Penal
Crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil –
princípio da nacionalidade passiva. Além das características anteriores
ao parágrafo 3°, deve também reunir estas condições:
o Não foi pedida ou negada a extradição;
o Existir requisição do Ministro da Justiça.

Aplicação da Lei Penal em Relação às Pessoas

Imunidade

A imunidade nada mais é do que uma prerrogativa

Existem duas espécies de imunidades: material (substancial, real) e formal


(processual ou relativa).

Na imunidade material não existe o crime, no entanto, na imunidade formal não


descriminaliza a conduta praticada, mas o processo não recairá sobre o
agente.

Imunidade Diplomática

 Objetivo: exercício livre da função.


 Princípio da Reciprocidade: a imunidade é recíproca, ou seja, um
diplomata argentino terá imunidade no Brasil e um diplomata brasileiro
terá imunidade na Argentina.
 A Convenção de Viena: trouxe a noção de imunidade diplomática e suas
bases.
Artigo 29 da Convenção de Viena - A pessoa do agente diplomático é
inviolável. Não poderá ser objeto de nenhuma forma de detenção ou
prisão. O Estado acreditado tratá-lo-á com o devido respeito e adotará
todas as medidas adequadas para impedir qualquer ofensa à sua
pessoa, liberdade ou dignidade.

Artigo 31 da Convenção de Viena - O agente diplomático gozará de


imunidade de jurisdição penal do Estado acreditado. Gozará também da
imunidade de jurisdição civil e administrativa, a não ser que se trate de:
a) uma ação real sobre imóvel privado situado no território do Estado
acreditado, salvo se o agente diplomático o possuir por conta do Estado
acreditado para os fins da missão. b) uma ação sucessória na qual o
agente diplomático figure, a título privado e não em nome do Estado,
como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário. c)
uma ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial
exercida pelo agente diplomático no Estado acreditado fora de suas
funções oficiais.

2. O agente diplomático não é obrigado a prestar depoimento como


testemunha.

3. O agente diplomático não está sujeito a nenhuma medida de


execução a não ser nos casos previstos nas alíneas " a ", " b " e " c " do
parágrafo 1 deste artigo e desde que a execução possa realizar-se sem
afetar a inviolabilidade de sua pessoa ou residência.

4. A imunidade de jurisdição de um agente diplomático no Estado


acreditado não o isenta da jurisdição do Estado acreditante.
Essa imunidade não está limitada à crimes relacionados ao exercício da
função, desde que esteja no país devido uma função.

Há a extensão da imunidade aos Chefes de Governo Estrangeiro e os


respectivos ministros de relações exteriores.

A imunidade do diplomata é formal, o que não significa que ele não vai deixar
de julgado, mas somente poderá ser preso, condenado e processo no seu país
de origem. Além disso, a imunidade diplomática não é renunciável

Extensão da imunidade dos agentes diplomáticos aos:

o Membros da família que com ele vivam. Gozarão dos privilégios e


imunidades mencionados nos artigos 29 e 36 da Convenção de Viena,
desde que não sejam nacionais do Estado acreditado.

o Membros do pessoal administrativo e técnico da missão, assim como os


membros de suas famílias que com eles vivam, desde que não sejam
nacionais do Estado acreditado nem que tenham residência
permanente.

o Membros do pessoal de serviço da Missão, que não sejam nacionais do


Estado acreditado nem que nele tenham residência permanente,
gozarão de imunidades quanto aos atos praticados no exercício de suas
funções. IMUNIDADE MAIS RESTRITA.

Observação: a imunidade penal não se estende aos empregados


particulares dos agentes diplomáticos, ainda que não sejam brasileiros.

Imunidade em Relação ao Cônsul

Tem uma função mais restrita quando comparado ao diplomata, além disso sua
imunidade está relacionada somente ao exercício da função.
Conclusão

Possuem imunidades:

 Chefes de Governo ou de Estado Estrangeiro e sua família e membros


de sua comitiva.
 Embaixador e sua família.
 Funcionários do corpo diplomático e sua família.
 Cônsul, apenas em relação ao exercício das funções.

Imunidades Parlamentares

Imunidade material do parlamentar

Previsão no artigo 53 da Constituição Federal: os deputados e senadores, são


invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e
votos.

Inviolabilidade = Imunidade Material.

Os artigos 27, §1° e artigo 29, inciso VIII, estendem as imunidades dos
parlamentares federais aos deputados estaduais e vereadores,
respectivamente.

Artigo 27 § 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais,


aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral,
inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença,
impedimentos e incorporação às Forças Armadas.

Artigo 29 - VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões,


palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do
Município;

Observação: para que se possa falar em imunidade material é imprescindível


que a manifestação do parlamentar esteja relacionada ao exercício do seu
mandato. Sendo assim, o parlamentar que se afasta de sua função não
mantém a inviolabilidade.

Cancelamento da súmula n° 4 do STF que previa “Não perde a imunidade o


parlamentar o congressista nomeado Ministro do Estado”.

 Essa imunidade parlamentar se estende aos suplentes? Não. Se não há


o exercício da função, não há inviolabilidade.
 Se estende ao corréu? Não. Súmula 245 do STF: a imunidade
parlamentar não se estende ao corréu sem essa prerrogativa.
 A imunidade parlamentar não é renunciável.

A imunidade material do parlamentar está relacionada somente às palavras,


votos e reuniões sobre aqueles que estão em exercício da função.

Natureza Jurídica da imunidade material do parlamentar:

Teorias:

o Causa de exclusão do crime;


o Causa pessoal e funcional de isenção de pena;
o Causa de irresponsabilidade;
o Causa de incapacidade penal por razões políticas;
o Causa de atipicidade do fato – Essa teoria é aceita pelo STF.

Imunidade Formal do Parlamentar

 Para a prisão:
O Artigo 53, §2°: Desde a expedição do diploma, os membros do
Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de
crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de
vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria
de sus membros, resolva a prisão.

 Para o processo:
Artigo 53, §3°: Recebida a denúncia contra o Senador, ou Deputado, por
crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará
ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela
representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a
decisão final, sustar o andamento da ação.
o Não precisa de anuência para iniciar o processo; o STF não
precisa da autorização do Congresso para paralização da ação
em curso.
o Prazo para apreciar eventual pedido de sustação do processo; 45
dias.
o Crime ocorrido após a diplomação, sendo cometido no exercício
da função. O foro privilegiado é sobre a função e não com a vida
particular do parlamentar.

Imunidade Parlamentar e o Estado de Sítio

Precisa de votação para manutenção da imunidade, devendo ganhar por pelo


menos 2/3 dos votos.

Foro por Prerrogativa de Função

 Senador e Deputado Federal; STF


 Deputado Estadual; STJ
 Vereador? Não tem foro por prerrogativa de função, no entanto numa
constituição estadual pode estabelecê-la.

Súmula Vinculante 45 do STF

E em casos de crimes dolosos contra a vida?

A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por


prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição
Estadual.
Hoje para o sujeito ter o foro ele deve estar no exercício da função, caso
contrário será julgado pelo júri.

Introdução à Teoria do Crime

Conceito de Crime

o Formal: conduta que afronta a lei, ou seja, a conduta descrita pela lei.
o Material: conduta que lesiona bem jurídico. Há análise sob o ponto de
vista o bem jurídico.
o Analítico: todo fato típico, ilícito e culpável. Conceito de crime adotado,
de forma geral, pelo Direito Penal.
Dentro do fato típico, existe o estudo da conduta (comportamento
humano, voluntário e consciente destinado à um fim), nexo causal,
resultado e tipicidade.
Excludentes de ilicitude: legítima defesa, estado de necessidade,
exercício regular de direito e o estrito cumprimento do dever legal.
Culpabilidade considera a imputabilidade, potencial consciência da
ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa.

Infrações Penais: crime e contravenção

o Classificação bipartida: crime/delito e contravenção. Classificação


adotada pelo direito penal brasileiro, assim o gênero (infração penal)
possui duas espécies.
o Classificação tripartida: crime, delito e contravenção

Distinção entre crime e contravenção penal

As contravenções penais são todas encontradas na Lei de Contravenções


Penais, enquanto os crimes encontram-se dispostos em outros dispositivos
legais.
o Quanto a pena privativa de liberdade prevista: no crime é de detenção
ou reclusão; na contravenção penal é prisão simples.
o Quanto a admissibilidade da tentativa: crime admite tentativa;
contravenção penal somente admite a consumação.
o Quanto ao potencial lesivo: crime possui diversos graus de lesividade; a
contravenção penal são sempre de baixo potencial lesivos.
o Quanto a competência para julgamento: crime pode ser julgado pela
justiça estadual ou federal; a contravenção penal somente pode ser
julgada pela justiça estadual.
o Quanto ao limite de cumprimento de pena

Sujeitos do Crime

o Sujeito Ativo: aquele que pratica a conduta delituosa.


o Sujeito Passivo: aquele que tem seu bem jurídico lesionado pela
conduta delituosa.

Objetos do Crime

o Objeto Jurídico: bem jurídico tutelado pelo Estado.


o Objeto Material: pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta do sujeito.

Classificação dos Crimes

Quanto ao resultado naturalístico


o Crimes Materiais (de resultado): crime que exige o resultado
naturalístico para se consumar, caso contrário trata-se de uma
tentativa.
o Crimes Formais (de resultado antecipado): o tipo penal prevê um
resultado naturalístico, no entanto o resultado não precisa existir
para que o crime ser consumado.
Artigo 159: Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate.
– mesmo que o sujeito não consiga receber o valor do resgate,
ainda sim, o crime de sequestro foi consumado.
o Crimes de Mera Conduta (de mera atividade): não há o resultado
naturalístico. Se pune o fato de realizar determinada conduta e
não sua consequência. Crime de ato obsceno não traz nenhuma
modificação no mundo exterior.

Quanto ao sujeito ativo

o Crime Comum: grande maioria dos crimes; é aquele crime que


pode ser praticado por qualquer pessoa, já que não exige
especificidade do sujeito ativo.
o Crime Próprio: o próprio tipo penal exige uma qualidade especial;
crimes praticados por funcionários públicos contra a
administração pública. Admite coautoria.
o Crime de Mão Própria: não admite coautoria; são raros. O crime
de falso testemunho.

Quanto à conduta

o Crime Comissivo: é aquele que se pratica por meio de uma


conduta ativa; uma ação.
o Crime Omissivo: é aquele que se pratica por um não fazer;
omissão de socorro.
o Crimes Comissivos por Omissão: é um crime que o sujeito (o
garantidor) pratica uma conduta omissa, mas responde como se
fosse uma ação. Um salva-vidas que tem a obrigação legal de
evitar o resultado (morte) e é omissivo, então responde por
homicídio.
Quanto ao concurso de pessoas

o Monossubjetivos (de concurso eventual): é aquele que pode ser


praticado por uma pessoa só, ainda que admita várias.
o Plurissubjetivos (de concurso necessário): associação criminosa
(artigo 288 do Código Penal).

Quanto ao fracionamento da conduta

o Crimes Monossubsistentes: não há possibilidade de fracionar a


conduta. Não admite tentativa.
o Crimes Plurissubsistentes: há a possibilidade de fracionamento
da conduta.

Quanto ao resultado

o Crime de Dano: exige que haja uma lesão a um bem jurídico.


o Crime de Perigo: basta a exposição do bem jurídico à uma
situação de perigo para que seja estabelecido o crime;
embriaguez ao volante.

Quanto a duração do momento consumativo

o Crime Instantâneo: que se consuma no momento da execução do


crime; furto. (maioria).
o Crime Permanente: aquele crime cuja consumação se prolonga
no tempo; sequestro e ter em depósito substância entorpecente.
o Crime Instantâneo de Efeito Permanente: o crime se consuma
instantaneamente, no entanto o efeito não pode ser revertido;
homicídio.

Quanto aos vestígios materiais


o Crime Transeunte: aquele que não deixa vestígios, ou seja, não
precisa de perícia.
o Crime Não-Transeunte: exige perícia por deixar vestígios; crime
de estupro.

Quanto a quantidade de bens jurídicos tutelados

o Crimes Mono-ofensivos: ofendem apenas à um bem jurídico; furto


– patrimônio.
o Crimes Pluri-ofensivos: ofende mais de um bem jurídico; roubo –
patrimônio e integridade física e psíquica; crimes contra a
administração pública – moral da administração e patrimônio.

Crime a prazo: crime que exige a passagem do tempo para ser


estabelecido.
Artigo 169 CP - Apropriação de coisa achada: II - quem acha
coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente,
deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de
entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze
dias.

Crime Multitudinário: crime cometido em uma multidão; crimes em


estádios de futebol.

Crime de Ímpeto: sem premeditação.

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