Estacio-2019 - 1-Educacao Alimentar e Nutricional - Web
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NUTRICIONAL
autora
CLAUDIA OLSIESKI DA CRUZ
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2019
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2019.
isbn: 978-85-5548-670-8.
Nutrição comportamental 33
Prezados(as) alunos(as),
5
objetivos, conteúdo e meios, a Implementação, que é quando se coloca o planeja-
mento em prática, e a Avaliação, que é a previsão de como entender se os objetivos
foram alcançados. O quinto capítulo é dedicado à diversas sugestões de estratégias
para práticas educativas em EAN.
Bons estudos!
1
Comportamento
alimentar e sua
complexidade
Comportamento alimentar e sua
complexidade
Já parou para pensar por que nós comemos da forma que comemos? Que
fatores determinam como uma pessoa, grupo social e/ou uma sociedade inteira
escolhe, prepara e come seus alimentos? Nossas escolhas nem sempre acontecem
de forma racional. Duas características do comportamento alimentar são a sua
complexidade e a subjetividade, e o nutricionista precisa entender como acontece
esse processo para que possa orientar os clientes/pacientes e grupos sob sua super-
visão, visando a alimentação saudável.
Neste capítulo, entenderemos os componentes e determinantes que compõe o
comportamento alimentar, e como podemos analisá-los. As mudanças no padrão
alimentar do brasileiro, nos últimos anos, também são avaliadas, bem como seus
impactos na saúde coletiva.
OBJETIVOS
• Compreender a complexidade do comportamento alimentar individual e de coletividades;
• Entender os determinantes do comportamento alimentar;
• Identificar formas de analisar o comportamento alimentar;
• Verificar as mudanças no padrão alimentar do brasileiro nas últimas décadas.
capítulo 1 •8
Segundo Freitas et al. (2017), o primeiro instinto de alimentação que o ser hu-
mano possui é o de sucção. A partir da sua vivência, o ser humano passa a se “alimen-
tar no cotidiano da cultura que pertence”. Logo, hábito alimentar é “a percepção que
se tem sobre a comida e a escolha de alimentos no contexto social em que se vive”.
Se localizamos que o hábito alimentar não depende apenas dos alimentos que estão
disponíveis em seu meio, mas também considera que a cultura em que se encontra
envolvo é parte indissociável deste, passamos então a compreender que existem de-
terminantes subjetivos para sua construção (FREITAS, 2017).
Comer não significa apenas ingerir nutrientes ou “combustível” para o bom
funcionamento das células e sistemas orgânicos. Se somos seres imersos em am-
biente social, a forma como nos alimentamos acaba perpassando por questões per-
mitidas ou proibidas no meio onde estamos. Podemos ter pleno entendimento
sobre o que significa o conceito de uma “alimentação saudável”, mas dependen-
do do meu lugar na sociedade, nem sempre será possível manter seus princípios.
O guia alimentar para a população brasileira (BRASIL, 2014), reforça esse ideal, afir-
mando em um de seus princípios que “alimentação é mais que ingestão de nutrientes”.
É de extrema importância identificar que o meio ambiente é um fator pre-
ponderante no comportamento alimentar individual. Nunca tivemos tanta infor-
mação sobre alimentação saudável, mas também nunca tivemos uma população
com índices de obesidade tão alarmantes na história. Isso denota que as propos-
tas atuais de combate à obesidade, bem como de outras Doenças Crônicas Não
Transmissíveis (DCNT), são ineficazes. Normalmente os profissionais de saúde
focam apenas em metas para o peso ideal, sempre responsabilizando e culpabili-
zando o indivíduo quando o mesmo não atinge tal objetivo.
capítulo 1 •9
Quando um indivíduo se mobiliza para mudar seu comportamento alimen-
tar, deve-se levar em consideração quais fatores auxiliarão ou dificultarão suas
novas atitudes. O nutricionista não pode prescrever uma dieta com base apenas
nas questões biológicas do indivíduo (necessidades e recomendações), mas deve
também auxiliar nos modos que ele irá operacionalizar a mesma em sua vida. O
profissional é corresponsável pelo sucesso ou fracasso nas mudanças alimentares
dos indivíduos sob sua supervisão. Diez-Garcia (1997) nos diz que “independen-
temente do nosso interesse pelos princípios teóricos construídos pela ciência, nós
comemos comida e não nutrientes”. Abordaremos mais detalhes sobre a conduta
do nutricionista nos próximos capítulos.
O ato de comer para os seres humanos é um ato social e o ato de comer junto com ou-
tras pessoas transcende o comer e a comida porque os alimentos e bebidas funcionam
como mediadores das relações sociais e afetivas [...]. O ato de comer em companhia,
trocando ideias e afetos, é denominado comensalidade e é um dos mais importantes
pilares das relações sociais, senão o mais (BOOG, 2013).
capítulo 1 • 10
• Componente situacional: está relacionado com as normas e valores sociais,
culturais e econômicos que se refletem na alimentação. Significa nossa conexão
pessoal com o grupo social que queremos nos integrar, e suas regras e padrões
explícitos ou implícitos. Os fatores econômicos são importantes nas práticas ali-
mentares, tanto na relação do gasto com alimentos no núcleo familiar, quanto da
disponibilidade de alimentos.
Comida de alma é aquela que consola, que escorre garganta abaixo quase sem precisar
ser mastigada, na hora de dor, de depressão, de tristeza pequena. Não é, com certeza,
um leitão pururuca, nem um menu nouvelle seguido à risca. Dá segurança, enche o estô-
mago, conforta a alma, lembra a infância e o costume. É a canja da mãe judia, panaceia
sagrada a resolver os problemas de náusea existencial. O macarrão cabelo de anjo co-
zido mole e passado na manteiga. O caldo de galinha gelatinoso, tomado às colheradas.
São as sopas. O leite quente com canela, o arroz doce, os ovos nevados, a banana cozida
na casca, as gelatinas, o pudim de leite.
Nora Ephron, autora de A difícil arte de amar, com o casamento acabado, grávida, enjoada,
traída, vota pelo consolo da batata: "Nada como um bom purê quando se está deprimido.
Nada como ir para a cama com um prato fundo de purê de batata já saturado de manteiga e
metodicamente ir adicionando mais uma fatia fina de manteiga a cada garfada".
Comida de alma tem de ser neutra. Sorvete é comida de alma? Não é. Tem um pique
gelado que a tristeza não suporta. A temperatura deve estar entre ambiente e morna.
Chocolate vale? Não, nem pensar. É sexy, sedutor, pressupõe prazer e culpa. Tudo tem
de ser especial na comida de alma. A tia Léonie, de Proust, comia seus ovos com creme
em pratos rasos, com desenhos e legendas. Punha os óculos e decifrava contente: "Ali
Babá e os quarenta ladrões", ou "Aladim e a lâmpada maravilhosa".
O mingau de aveia ou fubá pode ser em prato fundo, o quadrado de manteiga se derreten-
do por cima. O leite em boa caneca grossa, o chá em xícara inglesa florida, e, para casos
extremos, a mamadeira, é claro. A comida, de preferência, deve ser bebida aos goles ou
tomada de colher. A faca é quase sempre supérflua. Um livro português trata do assunto,
mostrando que a preocupação com comidas de alma vem de longe. É O Cozinheiro In-
dispensável (PORTO,1844), que traz um subtítulo enigmático: Guia prático dos enfermos
pobres, dos doentes ricos e dos convalescentes remediados. Dá receitas como o caldo
confortativo, uma papinha pastosa, de se comer com lágrimas nos olhos.
capítulo 1 • 11
A crônica nos remete a tantas lembranças, muitas da infância, a pessoas que-
ridas, a superação de momentos difíceis mediados pela comida. Durante a leitura,
provavelmente, o leitor se recordou de uma ou mais delas. Temos tantos afetos
associados às lembranças sobre comidas.
Existe uma dissociação básica que nossa formação essencialmente biomédica
faz: conseguimos associar comidas com memórias afetivas nossas, mas muitas vezes
não nos permitimos compreender que nossos pacientes/clientes também tem as suas
memórias. Tendemos a olhar apenas requerimentos nutricionais, e não percebemos
que a restrição alimentar que estamos propondo pode significar um corte do laço de
alguma memória afetiva do indivíduo. Não afirmamos que as restrições não possam
ser propostas, mas o profissional precisa refletir sobre como isso deve ser feito.
Vamos a um outro exemplo: faça uma lista com o primeiro alimento ou pre-
paração que você come e que estão relacionados às seguintes situações:
• Natal;
• Festa de aniversário;
• Almoço de domingo;
• Jantar romântico;
• Alimentação saudável;
• “Comida de pobre”;
• “Comida de rico”;
• Festa de Nutricionista.
capítulo 1 • 12
• Com quem?
• O que gostamos e o que não gostamos?
• O que devemos e o que não devemos comer?
capítulo 1 • 13
Determinante econômico de disponibilidade e sazonalidade
Família
Segundo Laus et al. (2017), no início de sua vida o bebê é totalmente de-
pendente dos cuidados dos pais ou responsáveis para sua alimentação. Quando
este ambiente possui hábitos saudáveis, existe uma boa chance desta criança não
desenvolver problemas futuros. Esse é o primeiro contato onde aprende-se sobre o
que comer, quando, com quem e em qual situação. Logo, pensa-se que o que essa
família sabe sobre alimentação será a referência para suas crianças, estando certo
ou errado (ESTIMA; PHILLIPPI; ALVARENGA, 2009).
capítulo 1 • 14
A medida que vai crescendo, as escolhas alimentares passam a fazer parte do seu
comportamento alimentar. Na infância a dependência é maior, mas na fase da ado-
lescência esta relação se inverte, visto que este indivíduo passa a conviver mais com
outros grupos sociais. A família e os pares (amigos, namorados) “interferem no com-
portamento alimentar por meio da modelagem, da pressão exercida por eles e de suas
próprias crenças acerca do que é uma alimentação saudável (LAUS et al., 2017)”.
O ambiente escolar
É no ambiente escolar que as crianças passam boa parte do seu dia. São diver-
sos os atores envolvidos no processo educativo, como diretores e coordenadores,
professores, merendeiras, cantineiros, além de pais e responsáveis. Estes deveriam
garantir um ambiente de aprendizado sobre práticas saudáveis de alimentação.
Muitos estudos mostram que não é exatamente isso o que acontece, em especial
dentro de escolas particulares, que muitas vezes terceirizam o serviço de alimenta-
ção, e pouco interferem no que é servido aos estudantes.
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) “oferece alimentação
escolar e ações de educação alimentar e nutricional a estudantes de todas as etapas
da educação básica pública. O governo federal repassa, a estados, municípios e
escolas federais, valores financeiros de caráter suplementar para garantir a alimen-
tação”. (BRASIL, 2008). Mesmo assim, nem todas as escolas aderem ao programa,
como mostra o estudo de Teo et al. (2009).
O nível de escolaridade e informação das pessoas também são fatores que influen-
ciam diretamente no comportamento alimentar. Quanto maior o grau de escolarida-
de e informação, melhor será a informação que o indivíduo terá sobre alimentação.
Ressaltamos que, o fato de ter a informação correta não implica necessariamente em
aquisição de novos hábitos (LOCATELLI; CANELLA; BANDONI, 2017).
Determinantes psicossocioculturais
Abordamos no tópico anterior toda a relação que a comida tem com as ques-
tões sociais e culturais de um indivíduo. Tudo o que é biologicamente comestí-
vel nem sempre é culturalmente comestível. Veja a crônica Nojo Seletivo de Luís
Fernando Veríssimo:
capítulo 1 • 15
Já ouvi homens sóbrios recorrerem a imagens parnasianas para descrever a textura e
a maciez de carne de rã. Não me convenceram. É um preconceito como qualquer outro,
inclusive de cor. Nenhum animal verde me merece confiança – ainda mais no prato.
Também resisto a qualquer tipo de miúdos. Menos o coração, talvez porque tão nobre
órgão não mereça o nome de miúdo.
A verdade é que nossa repugnância seletiva com algumas comidas não tem
explicação racional. Não há nenhuma diferença formal, por exemplo, entre o muçum
e a cobra, que em certos países é uma iguaria. Mas não posso imaginar uma situação
tão extrema que me obrigasse a comer cobra. (...)
- Há quem coma gafanhotos caramelados. Formigas fritas com tempero verde e... Está
bem, sem detalhes. Tudo depende de nossa formação cultural, dos nojos que
aprendemos. Por que comemos leitões e ovelhas sem hesitação ou piedade e nos hor-
rorizamos com a ideia de comer um cachorrinho? Ou um bom gato? (...) (grifos nossos)
capítulo 1 • 16
Monteiro (2011) afirma que
O Brasil é um país com extensa área territorial, onde incidem diversos tipos de
climas, topografias, fauna e flora. Isso traz uma imensa biodiversidade alimentar.
Segundo o Ministério da Cultura, divide-se essa diversidade por biomas, que são
áreas diferentes do mapa político do IBGE (figura 1.1), e que possuem caracte-
rísticas similares por conta de sua vegetação e clima. O Brasil é formado por seis
biomas de características distintas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica,
Pampa e Pantanal (figura 1.2).
capítulo 1 • 17
Político
-70° -60° -50° -40° -30°
BOGOTÁ
VENEZUELA CAIENA
SURINAME GUIANA
Oiapoque
FRANCESA
COLÔMBIA
Boa Vista GUIANA Calçoene
O
Caracaraí C
AMAPÁ E
A
Serra do Navio N
RORAIMA O Arquipélago
de São Pedro
Macapá e São Paulo
Equador
0° A 0°
São Gabriel
da Cachoeira Bragança
T
Barcelos Castanhal
L
N
Â
Breves Capanema
Óbidos Belém T
São Luís I
Fonte Boa Parintins C
Parnaíba O
Itacoatiara Santarém Acaraú
Tefé Altamira
Manaus Sobral Fortaleza Atol
Coari Itaituba Tucuruí MARANHÃO das Rocas
Tabatinga Bacabal Codó Piripiri CEARÁ RIO GRANDE Arquip. de
Benjamin Constant AMAZONAS Pedreiras Campo
Russas D O NO RT E Fernando
P A R Á Imperatriz Caxias
Maior
Mossoró
de Noronha
Manicoré
Marabá Teresina Ceará-Mirim
Açu
Jacareacanga Natal
São Félix Tocantinópolis Icó Caicó
Eirunepé Iguatu Currais Novos
do Xingu Floriano
Araguaína Guarabira PARAÍBA
Lábrea Novo Carolina
Humaitá Picos Crato Juazeiro Patos João
Progresso do Norte
Balsas PIAUÍ Campina Pessoa
Cruzeiro do Sul
Conceição
do Araguaia
PERNAMBUCO Grande
Boca do Acre São Raimundo
Cabrobó Recife
Porto Garanhuns Caruaru
ACRE Velho TOCANTINS
Nonato
Petrolina
Cotriguaçu
Ariquemes Alta Juazeiro Palmeira ALAGOAS
Floresta Palmas dos Índios
Maceió
-10° Rio Branco
Assis Brasil
Ji-Paraná
Aripuanã
Colíder B R A S I L Porto
Nacional
Xique-Xique Senhor
do Bonfim Aracaju -10°
Guajará-Mirim
Estância
RONDÔNIA Juína Sinop São Félix
do Araguaia
Gurupi
Barreiras
Irecê Jacobina São Cristóvão
S E RG I P E
Costa Marques Sorriso Feira de
Vilhena BAHIA Santana
M ATO G R O S S O Santa Maria
Camaçari
da Vitória Bom Jesus Salvador
Porangatu
PERU Tangará Água Boa da Lapa
Jequié
da Serra
G O IÁ S Itabuna
Cuiabá Vitória da
BRASÍLIA Januária Conquista Ilhéus
Várzea Grande Barra
Cáceres do Garças DF
Anápolis Unaí
LA PAZ Poconé
Rondonópolis Trindade Goiânia Montes Claros
Porto Seguro
BOLÍVIA Jataí
Pires do Rio
Teófilo
Coxim
Goiatuba M IN A S G E RA I S Otoni Teixeira de Freitas
CHILE
CAPITAL DE PAÍS
Ivaiporã
Santos
Capital de Estado ASSUNÇÃO
Cascavel PARANÁ Ponta Grossa
Trópic
Sedes Municipais Foz do Iguaçu Paranaguá o de C
Curitiba apricó
rnio
Vias de Acesso ARGENTINA
Joinville
Blumenau O
rodovias pavimentadas Chapecó
SANTA CATARINA A
N
E
terra Ijuí Passo
Fundo
Lages
Florianópolis C
ferrovias
O
São Borja
RIO GRANDE Criciúma
DO SUL Caxias do Sul
Limites Uruguaiana
Santa Gravataí
estadual Maria
Porto Alegre
internacional Santana do
Bagé
Livramento Pelotas
-30°
12 milhas (Mar Territorial) Rio Grande
120 0 240 km
URUGUAI
Meridiano de Referência: -54º W. Gr
Exclusiva - ZEE) Paralelo de Referência: 0 º
Chuí -30°
-70° -60° -50° -40° -30°
BUENOS AIRES
Fonte: IBGE, Diretoria de Geociências, Coordenação de Cartografia. www.ibge.gov.br 0800 721 8181
Amazônia
Amazon Caa�nga
Scrublands
Pantanal
Wetlands Mata Atlân�ca
Cerrado
Atlan�c Rainforest
Savannah
Pampas
Grasslands
capítulo 1 • 18
Além da questão da biodiversidade, também temos a questão histórica de in-
fluências de outros países e povos começando com os indígenas, os europeus e os
africanos.
A culinária originária de tanta história e características naturais do
país é retratada na publicação do Ministério da Saúde (BRASIL, 2015),
“Alimentos Regionais Brasileiros”. Ela tem acesso gratuito através do link:
http:<//dab.saude.gov.br/portaldab/biblioteca.php?conteudo=publicacoes/livro_
alimentos_regionais_brasileiros>. Você pode explorar a mesma, que está dividida
por regiões, apresentando alimentos e preparações típicas, bem como as caracte-
rísticas, usos culinários, composição nutricional e curiosidades.
Mesmo com uma biodiversidade de alimentos tão grandes, se pudermos ele-
ger alimentos comuns a todos os brasileiros, o arroz e o feijão certamente encabe-
çariam a lista. Segundo Barbosa (2007), encontrou em seu estudo que 94% dos
participantes relatam o consumo quase que diário dos dois.
Por tudo o que se discutiu até o momento, percebe-se que a análise do compor-
tamento alimentar é uma questão complexa, e que muitas vezes extrapola a objeti-
vidade ao atender um indivíduo. Não existe um teste bioquímico que indique quais
determinantes estão influenciando mais ou menos a pessoa naquele momento.
Um dos objetivos de estudar o comportamento alimentar é entender quais de-
terminantes importam para o indivíduo em questão, aumentando assim a adesão do
mesmo à dieta. Um dos modelos que podem ser utilizados é chamado modelo trans-
teórico do comportamento alimentar. Ele foi adaptado do modelo similar aplicado ao
combate ao tabagismo. Sua limitação é que, enquanto no tabagismo é necessário que
o indivíduo cesse o consumo apenas do cigarro, no comportamento alimentar estamos
lidando com centenas de alimentos diariamente (TORAL; SLATER, 2007).
O modelo se caracteriza por 5 estágios (tabela 1.1), que retratam a motivação
do indivíduo em modificar seu comportamento.
capítulo 1 • 19
CONTEMPLAÇÃO PRÉ-CONTEMPLAÇÃO ESTÁGIO
CARACTERÍSTICAS DO INDIVÍDUO
Não há intenção de realizar mudanças nos próximos 6 meses. Muitas vezes reconhece
que suas práticas alimentares são inadequadas, mas não está disposto a modificar sua
alimentação. O indivíduo encontra-se desmotivado e tende a apresentar maior resistência
para seguir orientações nutricionais.
Existe uma intenção de realizar mudanças nos próximos 6 meses. O indivíduo está de-
cidido a mudar seu comportamento, mas sem um comprometimento decisivo. São reco-
nhecidos os possíveis benefícios decorrentes de uma mudança alimentar, mas diversas
barreiras são percebidas, como a falta de tempo, o sabor, o preço dos alimentos, a falta de
habilidades na cozinha etc.
(OU DECISÃO)
Existe uma intenção de realizar mudanças no próximo mês. Muitas vezes o indivíduo prevê
PREPARAÇÃO
um plano de ação, como começar uma dieta de emagrecimento, mas as mudanças ainda
são pequenas e inconsistentes.
divíduo colocou em prática o plano de ação previsto para modificar sua alimentação e
superou, de alguma forma, as barreiras antes percebidas em um período recente.
consolidação dos ganhos obtidos até o momento, adotando uma alimentação saudável
como hábito.
capítulo 1 • 20
A partir de uma análise inicial, pode-se traçar propostas de intervenção con-
forme observamos na tabela 1.2.
ESTÁGIO
própria habilidade do indi- reiras que impedem a mu- lência do indivíduo: di-
víduo para adotar as reco- dança, segundo o indivíduo, versas barreiras podem
mendações nutricionais em e traçar meios de superá-las. ser apresentadas em
sua alimentação. diferentes momentos.
Definir o plano de ação Estimular o alcance dos ob- Não menosprezar pe-
PREPARAÇÃO (OU
que será implementado jetivos específicos, sem so- quenas mudanças reali-
DECISÃO)
em curto prazo (como nos brecarregar o indivíduo com zadas pelo indivíduo em
próximos 30 dias). várias metas. sua alimentação.
Tabela 1.2 – Estratégias de intervenção propostas para cada estágio de mudança, visando
a modificação do comportamento alimentar. Fonte: DIEZ-GARCIA; CERVATO-MANCUSO,
2011. Adaptado.
capítulo 1 • 21
Outra limitação deste modelo é que o profissional tende a jogar toda a culpa
por recaídas e insucessos em cima do indivíduo. Como já situamos anteriormente
“as práticas alimentares são práticas sociais, considerando a inserção e o contexto
do grupo social em que estão inseridos”. É necessário que se faça a análise do
contexto ampliado, e para isso são necessários mais estudos para que se validem
instrumentos fidedignos para abordagem e intervenções em Educação Alimentar
e Nutricional (DIEZ-GARCIA, 2017).
MULTIMÍDIA
Assista ao seguinte vídeo da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável:
<https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=PFxwtzf8XW0>.
Com o passar dos anos, as formas de adquirir nossos alimentos mudaram, mas isso não
significa que essa mudança foi benéfica. Antigamente tínhamos total segurança sobre
o que comíamos e hoje praticamente não temos nenhum controle sobre o que consu-
mimos (ALIANÇA, 2017).
O vídeo nos ajuda a compreender que nas últimas quatro décadas o padrão
alimentar do brasileiro mudou radicalmente. Esses dados passaram a ser analisado
com o Estudo Nacional de Despesas Familiares (ENDEF), realizado pelo IBGE
em 1974, que consistiu no primeiro estudo de âmbito nacional a identificar dados
sobre orçamento familiar e consumo alimentar (BRASIL, 2018).
Depois do ENDEF, o IBGE passou a realizar a Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POF) nos seguintes períodos: 1987/1988, 1995/1996, 2002/2003,
2008/2009. Desta forma é possível comparar quais mudanças aconteceram no
período entre o ENDEF e a última POF.
Segundo Bleil (1998), os fenômenos da urbanização e da globalização pro-
duziram uma série de transformações, especialmente no que tange a qualidade
dos alimentos produzidos e industrializados. Ao passo que tivemos progressos na
agricultura, na tecnologia e no comércio, a indústria de alimentos foi uma das
responsáveis por mudanças radicais na alimentação, especialmente dos norte-a-
mericanos. “A indústria prosperou num sistema em que a ética foi submetida aos
interesses do mercado”.
capítulo 1 • 22
Em países ricos com tradições culinárias menos acentuadas, como Estados Unidos,
Canadá, Reino Unido e Austrália, produtos prontos para consumo já são hegemônicos
na alimentação. Em outros países de alta renda e, de modo geral nos países de média
e baixa renda, a substituição de alimentos minimamente processados e preparações
culinárias por produtos prontos para consumo é crescente. Essas mudanças no padrão
alimentar da população têm sido acompanhadas de correspondentes e intensos aumen-
tos na prevalência de obesidade, de diabetes e de várias outras enfermidades crônicas
relacionadas à alimentação (MONTEIRO et al., 2016).
capítulo 1 • 23
AUMENTOU NA PARTICIPAÇÃO DA DIETA DIMINUIU NA PARTICIPAÇÃO DA DIETA
carnes em geral (aumento de quase 50%) arroz (- 23%)
carne bovina (+22%) feijões e outras leguminosas ( -30%)
carne de frango (+100%) raízes e tubérculos ( -30%)
embutidos (+300%) peixes ( -50%)
leite e derivados (+36%) ovos ( -84%)
óleos e gorduras vegetais (+16%) gordura animal ( -65%).
biscoitos (+400%)
refeições prontas (+80%)
Refrigerantes (+400%)
MANTEVE-SE ESTÁVEL
Frutas, verduras e legumes (entre 3% e 4%)
capítulo 1 • 24
Desta forma, temos mudanças significativas na prevalência de déficit de peso,
excesso de peso e obesidade na população, como mostram as figuras 1.3.
Masculino Feminino
50,1
48,0
41,4
41,4
40,9
29,9
28,7
18,5
16,9
13,5
13,2
12,4
11,8
9,0
8,0
8,0
6,4
5,6
5,4
4,4
3,6
3,1
2,8
1,8
Déficit de peso Excesso de peso Obesidade Déficit de peso Excesso de peso Obesidade
Masculino Feminino
34,8
32,0
29,3
26,7
16,6
15,0
14,7
12,6
11,9
11,8
10,9
8,6
7,2
6,3
5,7
5,4
4,3
4,1
3,9
2,9
2,4
2,2
1,8
1,5
(1) Exclusive as áreas rurais das Regiões Norte e Centro-Oeste. (2) Exclusive a área rural da região Norte.
capítulo 1 • 25
Com essas mudanças no padrão alimentar da população brasileira e os im-
pactos nos indicadores antropométricos, passamos a entender a importância do
nutricionista realizar a educação alimentar e nutricional nos mais diversos espaços
que forem possíveis. Importante lembrar que não basta apenas, “passar a informa-
ção”, sendo preciso levar em consideração todas as questões relacionadas com o
comportamento alimentar.
ATIVIDADE
01. Assista ao documentário “Muito Além do Peso”, disponível em: <http://www.muitoa-
lemdopeso.com.br/>, e liste os determinantes do comportamento alimentar que você con-
seguir identificar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aliança pela alimentação adequada e saudável. O que é Alimentação Saudável? Publicado em: 27
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capítulo 1 • 26
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capítulo 1 • 28
2
Comunicação em
saúde e influência
da mídia na
alimentação
Comunicação em saúde e influência da mídia
na alimentação
OBJETIVOS
• Apresentar a importância da comunicação na área de saúde;
• Identificar os tipos e níveis de comunicação;
• Entender como a nutrição comportamental impacta no processo de comunicação do nutricionista;
• Posicionar o papel do nutricionista na mídia;
• Conceituar mídia e veículos de comunicação;
• Entender o cenário do setor de publicidade de alimentos no Brasil;
• Apresentar as estratégias de vendas utilizadas na publicidade de alimentos;
• Analisar a influência das redes sociais na alimentação.
A comunicação em saúde
capítulo 2 • 32
maior o grupo e/ou quanto maior fosse a frase, as chances de dar tudo errado eram
enormes. E este é um ótimo exemplo para começar a falar sobre comunicação.
Segundo o dicionário Michaelis (2015), a palavra pode significar, dentre ou-
tras coisas, o “ato que envolve a transmissão e a recepção de mensagens entre o
transmissor e o receptor, através da linguagem oral, escrita ou gestual, por meio de
sistemas convencionados de signos e símbolos.” Será baseado neste conceito que
discutiremos a comunicação em saúde.
Somos seres sociais e com necessidade de interação. Esta, se dá por meio da
comunicação, que pode ocorrer de diversas maneiras:
É muito interessante observar que para manter uma comunicação não é preciso usar a
fala e, sim, utilizar uma linguagem, que pode ser verbal ou não verbal. A linguagem verbal
constitui-se do uso da escrita ou da fala e ocorre quando um grupo de indivíduos com
interesses comuns ou correlatos se reúne para troca de informações. A não verbal com-
preende o uso de símbolos, imagens, cores, postura corporal, gestos, a arte, a música, a
fotografia, entre outras, e tem também por objetivo transmitir determinada informação.
Cabe destacar que uma complementa a outra, sendo ambas determinantes na relação
interpessoal dos indivíduos (ZIMMERMANN, 2016).
Muitas barreiras dificultam a comunicação, que gera significados relevantes tanto para
o trabalhador de saúde como para o usuário, sendo objeto de vários estudos que abor-
dam essa temática. Essas dificuldades decorrem de linguagens e saberes diferentes,
nem sempre compartilhados entre os interlocutores, limitações orgânicas do receptor
ou emissor (afasias, déficit auditivo, déficit visual), imposição de valores e influência de
mecanismos inconscientes. Acrescidos a esses fatores, diferenças de ordem sociocul-
tural e o estágio de desenvolvimento cognitivo e intelectual dos diversos atores sociais
influenciam a comunicação (CORIOLANO-MARINUS et al., 2014).
capítulo 2 • 33
da pessoa que nos procura. As autoras ainda citam que são necessárias “atitudes de
sensibilidade, aceitação e empatia entre os sujeitos”, e principalmente, deve haver
interesse mútuo, para que as mensagens – de ambos lados – possam ser claras.
Montoro (2008), faz uma dura crítica ao que ele chama de “modelo de comuni-
cação monológico”, onde o profissional de saúde impõe comportamentos e apenas
repassa informações de forma vertical e impositiva. Todos os determinantes de com-
portamento alimentar estudados no capítulo 1 são relegados, dando importância
apenas ao Biológico. Este modelo é frágil, e deixa de fora diversas informações im-
portantes que subsidiam o nutricionista em apontar soluções para quem o procura.
De onde vem essa dificuldade da maioria dos profissionais de saúde em se
comunicar adequadamente? Coriolano-Marinus et al. (2014) apontam
capítulo 2 • 34
determinados alimentos denominados funcionais. São agrupados e identificados por
sua composição e função nutricional: probióticos e prebióticos, alimentos sulfurados
e nitrogenados, pigmentos e vitaminas, compostos fenólicos, ácidos graxos poliinsa-
turados e fibras. A indústria de alimentos aliada ao marketing e a publicidade também
participa colocando no mercado uma gama de alimentos modificados e alimentos cul-
turalmente não referenciados.
Esta questão vem ao encontro do que foi discutido no capítulo 1 deste livro
sobre como os fatores externos influenciam, não só o comportamento alimentar,
bem como a forma do nutricionista se posicionar perante seus pacientes.
Se entendemos que nossa formação pode ser falha, como podemos compensar
e buscar formas efetivas de comunicação com nossos pacientes/clientes? Veremos
no tópico a seguir.
Nutrição comportamental
Esse olhar biologicista, que enxerga a doença como um mero “desvio”, e que
traz uma visão pequena e reducionista sobre “alimentos saudáveis e não saudáveis”,
não promove mudança no comportamento alimentar. Os números alarmantes de
pessoas com DCNT também nos dizem que a população não está saudável. Ao
mesmo tempo que temos tanta informação circulando em vários meios de comu-
nicação, por que continuamos doentes? (ALVARENGA, et al., 2015).
capítulo 2 • 35
• Ao conceder entrevistas, procure saber antecipadamente se a pauta contemplará as-
suntos que poderão ser abordados com evidências científicas. Caso os temas sejam
polêmicos, procure direcionar a entrevista de modo que o público receba informações
respaldadas cientificamente, destacando os riscos, benefícios e a importância de acom-
panhamento nutricional individualizado;
• Considere que a imprensa se dirige a um público bastante heterogêneo e, portanto,
transmita todas as orientações com cautela e de forma atualizada. Por mais que tenha
domínio sobre o assunto, revise-o quanto a números, estatísticas, legislação entre outros;
• Caso não tenha conhecimento a respeito de algum assunto específico, não hesite em
esclarecer que o tema está fora de sua área de atuação e oriente o jornalista a consultar
um profissional especializado no assunto;
• Consulte sites oficiais, como os da Anvisa, IBGE, CFN, CRN, Ministério da Saúde,
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, OMS/ONU, FNDE, além das
tabelas de composição nutricional, guias alimentares, diretrizes e consensos, antes de
emitir qualquer pronunciamento (CFN, 2015).
Este modelo de prescrição de dieta contribui para a elaboração de novas práticas ali-
mentares, moldadas na busca por um aumento de performance humana, baseadas em
determinadas características de alguns nutrientes ou compostos funcionais específicos,
seguindo um modelo de alimentação medicalizado e farmacologizado. Este modelo é
cada vez mais amparado e apoiado pela atuação do nutricionista, profissional responsá-
vel pela transmissão ao público leigo dos conhecimentos científicos que subsidiam este
novo modelo de alimentação, cada vez mais distanciado de sua multidimensionalidade
original.
capítulo 2 • 36
norteiam as práticas alimentares parecem se legitimar na ideia de que a alimentação ba-
lanceada é o resultado apenas de consumo de nutrientes adequados, sem considerar os
aspectos que envolvem o preparo e o consumo de comidas. A ideia-força que fundamen-
ta o conceito ora estudado não considera o aspecto socioantropológico da alimentação,
aspecto que tem despertado grandes e profícuas discussões e que mostram sua “íntima
relação com a reprodução biológica e social dos grupos humanos”.
Por essa conceituação, percebe-se que um profissional que valorize apenas as ques-
tões biológicas em detrimento das demais, terá uma enorme dificuldade em aconselhar
capítulo 2 • 37
seus pacientes a atingir esses constructos. São mudanças de médio e longo prazos, e
que necessitam de suporte intensivo para que ocorram de maneira saudável.
A nutrição comportamental traz muitos e diferentes conceitos, e não temos
a intenção de esgotar todos nesta obra. Mas deixamos a indicação de abordagem
que merecem atenção do nutricionista, como: comportamento do consumidor,
aconselhamento nutricional x prescrição, entrevista motivacional, comer com
atenção plena (Mindful eating), terapia cognitivo-comportamental em nutrição e
competências alimentares.
capítulo 2 • 38
Silva (2014), fala do conceito do composto de marketing, ou os 4ps: produ-
to (é o produto ou serviço a ser trocado), o preço (que será um dos diferenciais
competitivos do mesmo), a praça ou ponto de distribuição (local ou região onde
o produto e serviço será entregue) e a promoção (que envolvem as atividades re-
lacionadas à comunicação deste produto ou serviço). Assim, é errôneo confundir
marketing, propaganda e publicidade! Os dois últimos são apenas uma parte (pro-
moção) do todo chamado marketing, destinados a informar sobre os produtos ou
serviços.
Borges (2016), define propaganda como uma ferramenta para
Usa veículos de massa, é voltada para públicos maiores e é bastante impessoal, assim
como a propaganda. As principais características são que não é paga, não repete e a
mensagem não está relacionada a um anunciante. Entretanto, diferentemente dela, não
é repetitiva, não é paga e seu conteúdo não é determinado pelo anunciante. Aparece
naturalmente em depoimentos, matérias de jornais, TV e rádio.
Mais de dois terços dos comerciais sobre alimentos veiculados na televisão se referem
a produtos comercializados nas redes de fast food, salgadinhos “de pacote”, biscoitos,
bolos, cereais matinais, balas e outras guloseimas, refrigerantes, sucos adoçados e re-
frescos em pó, todos esses ultraprocessados. A maioria desses anúncios é dirigida di-
retamente a crianças e adolescentes. O estímulo ao consumo diário e em grande quan-
tidade desses produtos é claro nos anúncios. Além disso, com base no que veem nos
comerciais, crianças e adolescentes, e a população em geral, são levados a acreditar
que os alimentos ultraprocessados têm qualidade superior à dos demais ou que torna-
rão as pessoas mais felizes, atraentes, fortes, “supersaudáveis” e socialmente aceitas ou,
ainda, que suas calorias seriam necessárias para a prática de esportes (BRASIL, 2014).
capítulo 2 • 39
O IBOPE divulga semestralmente os valores investidos em publicidade no
Brasil. Veja na tabela a seguir.
Tabela 2.1 – Investimento em publicitário por setor econômico – Janeiro a Dezembro 2016.
Fonte: KANTAR IBOPE MEDIA (2017).
Segundo essa mesma pesquisa, o setor que mais recebeu esse investimento
anterior citado foi a TV aberta, com 55,1% de participação.
E qual a razão de conhecermos esses números? Para entender o atual cenário
que estamos envolvidos. A grande questão é que esses altos valores são investidos
em produtos ultraprocessados, que, segundo o guia alimentar (BRASIL, 2014),
deve ter seu consumo evitado.
capítulo 2 • 40
economia voltada para o consumidor ficaria sem combustível”. Este é o conceito
de obsolescência embutida.
Barbosa e Campbell (2006), confirmam a ideia explicando que desejamos ter
domínio sobre o mundo do consumo, mas apenas olhar o produto não nos leva a
comprá-lo. É necessário ter “algo a mais” para tornar esse “objeto sem vida”, desejável.
E o que faz com que o consumidor tenha a “atitude de compra”? Que meca-
nismos agem para que ele saia do estado de inércia e efetive uma compra? Augras
(1974), explica que é a opinião de um indivíduo que o faz ou não ser aceito por
um grupo social. Ele se identifica, reconhecendo no outro semelhanças e diferen-
ças. Ou não. Esses mecanismos de identificação, projeção e rejeição são ampla-
mente utilizados pela publicidade (figura 2.1).
É possível identificar-se com uma marca, um
produto, uma situação, um personagem, Iden�ficação
capítulo 2 • 41
Outro elemento presente na publicidade é o estereótipo. A psicologia social o
define como um “conceito classificatório”, ao qual está sempre ligada uma intensa
tonalidade afetiva de agrado ou desagrado. A função deles é:
• Simplificar as qualidades: cada produto ou serviço possui inúmeras qualida-
des, impossíveis de serem comunicadas em apenas um anúncio. Logo, se esquemati-
zam e escolhem as melhores qualidades, de acordo com os mecanismos de projeção,
identificação e rejeição que melhor sirvam à tônica afetiva que se quer dar.
• Apresentar imagens idealizadas: as regras de idealização seguem os mes-
mos princípios dos mecanismos afetivos. O objetivo é apresentar ao grupo uma
imagem idealizada dele próprio. O que nos leva a situar o estereótipo no plano da
fantasia. Fantasia esta que pode levar a uma atitude, a uma ação. (CRUZ, 2011).
Na sequência, analisaremos as estratégias utilizadas em alguns anúncios de
alimentos e bebidas. Deixamos claro que, não se trata de estimular (ou não) seu
consumo, serve apenas como instrumento didático.
capítulo 2 • 42
Figura 2.3 – Novo Ades Soy Force.
Mais uma vez a importância dos nutrientes e calorias aparecem. Como existe a
recomendação para que se reduzam a quantidade de açúcar que utilizamos na alimen-
tação, o anúncio mostra que houve uma redução de 50% deste nutriente, sendo mais
vantajoso. Também apresenta uma variedade de sabores, e mostra um ambiente pa-
recido com uma cozinha doméstica, para criar identificação com o consumo de casa.
O anúncio associa a ideia que a proteção do seu filho pode ser algo divertido.
Traz o produto em forma de bala que, caso haja algum descuido, pode levar a
criança a consumir como se fosse um confeito. Mostra um personagem infantil
simpático e disposto a brincar.
A medicalização da comida tem sido discutida atualmente. Este produto pos-
sui gomas com 30mg de vitamina C, que representa 100% da ingestão diária
recomendada para crianças de 4 a 6 anos. Lembramos sempre que, o nutricionista
é o profissional habilitado a utilizar os alimentos para garantir a ingestão de todos
os nutrientes. A suplementação só deve acontecer em casos específicos, e por tem-
po determinado.
capítulo 2 • 43
Relevante acentuar o papel que a indústria de alimentos/farmacêutica desempenha em
fomentar a medicalização da comida ao apresentar seus compostos funcionais com o
propósito de atender às novas necessidades de saúde, baseadas na tríade beleza-vigor-
juventude, criando um nicho mercadológico muito lucrativo para estas indústrias. Com o
propósito de aumentar a performance dos consumidores (enhancement, segundo Peter
Conrad), alimentos ou suplementos nutricionais são comercializados com intenso pro-
cesso de marketing direto a eles ou através da orientação profissional, secundada por
processo de marketing direcionado a este, em processo similar ao desenvolvido pela
indústria farmacêutica para estimular o consumo de medicamentos (VIANA et al., 2017).
capítulo 2 • 44
com tom de tristeza. Ignora a diversi-
dade de biotipos e constrói uma
ideia de corpo inatingível para a
maior parte da população. Não só a
obesidade, mas os “corpos diferen-
tes”, como o idoso, o portador de
deficiência, o doente e a diferença
étnica é vista pela publicidade como
uma “oportunidade de mercado”, e
nem sempre representa necessaria-
mente a inclusão desses grupos.
Muitas vezes esta imagem vendida se
restringe a estereótipos e “apropria-
ção indevida – quando não deturpa-
da – de sua identidade” (SILVA;
COVALESKI, 2014).
Figura 2.5 – Perca peso bebendo Camp Light.
capítulo 2 • 45
O uso de imagem de figuras públicas e conhecidas do público remonta o iní-
cio da publicidade. As cores também aparecem dando destaque aos produtos, e o
prato pronto “saindo fumaça” sugerem formas de preparo dos mesmos.
Neto e Silva (2014), falam que as “figuras midiáticas” trazem diversos significados
para o consumidor, pois sua personalidade e estilo de vida são transportados para o
produto anunciado. Os autores ainda as definem como “fontes de credibilidade” que
tem como propósito a definição de três dimensões de uma celebridade (fonte de infor-
mação) confiável, e como essas dimensões afetam o consumidor no processo de co-
municação. Essas dimensões são: confiabilidade (pode ser entendida como substan-
cial pelos consumidores, que podem associar a ação de anunciar uma marca, feita por
uma personalidade, com uma mera compensação monetária); experiência ou perícia e
atratividade, sendo que para se criar um anúncio eficiente com a presença de figuras
midiáticas o autor acredita que é necessário um processo de congruência (match-ups)
entre personalidade e produto anunciado, entre celebridade e mensagem apresentada
e entre personalidade e consumidor, levando em conta as dimensões citadas.
capítulo 2 • 46
As promoções são estratégias que alavancam vendas, estimulando o consu-
midor a comprar mais, supostamente aumentando as chances de ser premiado.
A frase “achou, gastou” confirma o que já foi discutido anteriormente sobre a
sociedade de consumo: ele não sugere que você “guarde” ou “invista” o que você
ganhou, ele fala para “gastar”.
O uso de cores na publicidade é emblemático. Nossa percepção, isto é, a interpre-
tação que nossa mente faz do que vê, é influenciada por fatores sociológicos, psicoló-
gicos, fisiológicos e culturais. Por exemplo, a cor vermelha pode, em um determinado
contexto trazer alegria por ser uma cor vibrante, por lembrar o amor, mas para outros
pode trazer tristeza, por lembrar sangue e violência (SANTOS, et al., 2014).
Algumas cores são consideradas coringas por serem vibrantes e terem uma
alta facilidade de chamar a atenção como o vermelho, o amarelo, o laranja etc. O
vermelho e o amarelo juntos podem trazer sensações que para pessoas que desco-
nhecem sobre as cores, nunca imaginariam que elas trariam a sensação de fome e
inclusive a compra por impulso. Recurso muito utilizado por grandes empresas de
fast-food. Pois ao chamar mais atenção e ainda dar a sensação de fome, sua estra-
tégia mercadológica é cumprida (SANTOS, et al., 2014).
Algumas cores são consideradas coringas por serem vibrantes e terem uma alta faci-
lidade de chamar a atenção como o vermelho, o amarelo, o laranja etc. O vermelho e
o amarelo juntos podem trazer sensações que para pessoas que desconhecem sobre
as cores, nunca imaginariam que elas trariam a sensação de fome e inclusive a com-
pra por impulso. Recurso muito utilizado por grandes empresas de fast-food. Pois ao
chamar mais atenção e ainda dar a sensação de fome, sua estratégia mercadológica
é cumprida (SANTOS, et al., 2014).
capítulo 2 • 47
Figura 2.8 – Infográfico psicologia das cores. Fonte: WE DO LOGOS (2016)
capítulo 2 • 48
Figura 2.9 – Slogan McDonalds – Amo muito tudo isso.
O guia alimentar para a população brasileira (BRASIL, 2014), traz em seu 10º
passo para uma alimentação adequada e saudável uma importante informação,
sobre nossa capacidade crítica de olhar um anúncio publicitário de forma crítica:
capítulo 2 • 49
As figuras 2.10 e 2.11 trazem a tirinha do menino Armandinho, criação de
Alexandre Beck, que trazem uma crítica bem humorada ao assunto discutido nes-
te capítulo.
ATIVIDADE
01. Leia os capítulos IV e V do “Novo Código de Ética e Conduta do Nutricionista” e
diga o que se espera do nutricionista na relação com o público através da mídia.
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ZIMMERMANN, Lucia Maria Panezi. Comunicação integrada na saúde. Rio de Janeiro: SESES,
2016.
capítulo 2 • 53
capítulo 2 • 54
3
Conceitos e teorias
da educação,
educação em
saúde e educação
alimentar e
nutricional
Conceitos e teorias da educação, educação
em saúde e educação alimentar e nutricional
Todos nós encontramos pontos de contato com a educação. Não apenas com
a educação formal e escolar, mas a educação de vários saberes, desde nossa infância
até o dia de nossa morte. Mas será que existe uma única forma de educar as pessoas?
Ser nutricionista implica em misturar nosso conhecimento técnico com edu-
cação, para que os conceitos de saúde, alimentação e nutrição sejam disseminados
para todos. E a educação alimentar e nutricional (EAN) possui características e
recursos que vão muito além das palestras e exposições orais. O nutricionista tem
papel de educador, e é sob essa ótica que abordaremos os assuntos deste capítulo.
Neste capítulo, entenderemos sobre como a educação está presente no coti-
diano do nutricionista, e quais instrumentos podem ajudar o profissional a fazer
EAN de forma efetiva.
OBJETIVOS
• Conceituar educação;
• Compreender os espaços onde a educação pode acontecer;
• Conceituar metodologias ativas;
• Identificar as características das tendências pedagógicas tradicional, nova, tecnicista e crítica;
• Conceituar educação em saúde;
• Desenvolver uma visão crítica da educação nutricional voltada para a prática do profissio-
nal Nutricionista.
O que é educação?
Para conceituar educação, utilizaremos uma carta escrita pelos índios das seis
nações, dos Estados Unidos, em resposta ao convite dos governantes dos estados
da Virgínia e Maryland para que as tribos enviassem jovens indígenas para serem
educados nas escolas dos brancos (BRANDÃO, 2013):
capítulo 3 • 56
"[...] Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e
agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que dife-
rentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não
ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa.
[...] Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e
aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltavam para nós, eles eram maus
corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome.
Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam
a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como
guerreiros, como caçadores ou como conselheiros.
Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos acei-
tá-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores de Virgínia que
nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e
faremos, deles, homens."
capítulo 3 • 57
Além do ensino regular, integram a educação formal: a educação especial, para os
portadores de necessidades especiais; a educação de jovens e adultos, destinada
àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e
médio na idade apropriada. A educação profissional, integrada às diferentes formas de
educação, ao trabalho, a ciências e à tecnologia, com o objetivo de conduzir ao perma-
nente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. O ensino de nível técnico é
ministrado de forma independente do ensino médio regular. Este, entretanto, é requisi-
to para a obtenção do diploma de técnico (MENEZES; SANTOS, 2001).
Mas o que esperar da educação que temos hoje? Se ela deve refletir nossa so-
ciedade e cultura, o que será que temos refletido então? Será que a educação pode,
de alguma forma, tornar esse reflexo mais positivo? O docente pode ter um papel
fundamental nesse aspecto. Segundo Paulo Freire (2011), “ensinar exige segurança,
competência profissional e generosidade”. Logo, não basta apenas que o docente te-
nha um profundo conhecimento técnico da disciplina se for uma pessoa autoritária.
capítulo 3 • 58
Tendência tradicional
Tendência nova
capítulo 3 • 59
Segundo Saviani (2003), finalmente percebeu-se o óbvio: “os homens são essencial-
mente diferentes; não se repetem; cada indivíduo é único”. E o autor continua:
Compreende-se, então, que essa maneira de entender a educação, por referência à pe-
dagogia tradicional tenha deslocado o eixo da questão pedagógica do intelecto para o
sentimento; do aspecto lógico para o psicológico; dos conteúdos cognitivos para os mé-
todos ou processos pedagógicos; do professor para o aluno; do esforço para o interesse;
da disciplina para a espontaneidade; do diretivismo para o não-diretivismo; da quanti-
dade para a qualidade; de uma pedagogia de inspiração filosófica centrada na ciência
da lógica para uma pedagogia de inspiração experimental baseada principalmente nas
contribuições da biologia e da psicologia. Em suma, trata-se de uma teoria pedagógica
que considera que o importante não é aprender, mas aprender a aprender.
Claro que, para tal tendência funcionar, seria necessário alterar a organização
escolar para que se desse conta dessa concepção.
O papel da escola seria de formação de atitudes. Os conteúdos se baseiam
na busca do conhecimento pelos próprios alunos. Os métodos em sala de aula
eram baseados na facilitação da aprendizagem, e a relação do professor com o
aluno era centralizada no aluno; cabia ao professor apenas manter um clima de
relacionamento pessoal e autêntico, baseado no respeito. A aprendizagem tinha
como objetivo aprender a modificar as percepções da realidade (SANTOS, 2012).
No entanto essa tendência também falhou na universalização do conhecimen-
to, principalmente por seu alto custo. Logo, ficou reduzida a escolas experimentais
muito bem equipadas e restrito a pequenos grupos de elite, agravando ainda mais
a questão da marginalidade (SAVIANI, 2003).
Tendência tecnicista
capítulo 3 • 60
procedimentos e técnicas para a transmissão e recepção de informações, e a relação
do professor com o aluno era objetiva em que o professor transmite informações e
o aluno deve fixá-las. A aprendizagem é baseada no desempenho (SANTOS, 2012).
Cumpre notar que, embora a pedagogia nova também dê grande importância aos meios,
há, porém, uma diferença fundamental: enquanto na pedagogia nova os meios são dispos-
tos e estão à disposição da relação professor-aluno, estando, pois, a serviço dessa relação,
na pedagogia tecnicista a situação se inverte. Enquanto na pedagogia nova são os profes-
sores e alunos que decidem se utilizam ou não determinados meios, bem como quando
e como o farão, na pedagogia tecnicista dir-se-ia que é o processo que define o que pro-
fessores e alunos devem fazer, e assim também quando e como o farão (SAVIANI, 2003).
Tendência crítica
capítulo 3 • 61
O que são metodologias ativas?
Aluno:
Professor: Centro de ensino e
mediador, de aprendizagem
facilitador, Autonomia
ativador
Metodologias
ativas de ensino
Inovação Reflexão
Trabalho em Problematização
equipe da realidade
Figura 3.1 – Princípios das metodologias ativas de ensino. Fonte: (DIESEL; BALDEZ;
MARTINS, 2017).
capítulo 3 • 62
E como essas metodologias se encaixariam na área de saúde? Primeiro é preciso
entender um pouco sobre como somos formados, para então refletir sobre o assunto.
Mitre et al. (2008), sugerem que é necessário rever estratégias e papéis para
a formação na área de saúde, com a produção de novos saberes que abarquem a
curiosidade, a intuição, a emoção e a responsabilização, além de capacidade crítica
de observar. Para tanto, é necessário um processo de reconstrução do aprender
para que o mesmo se torne significativo. É necessário que haja um equilíbrio com
“movimentos de continuidade/ruptura”. Continuidade, pois é necessário que os
novos conteúdos tenham base em estruturas cognitivas já existentes e organizadas.
Ruptura, pois é necessário que surjam novos conhecimentos e desafios, que são
construídos com base em vivências próprias e alheias.
A problematização é uma das estratégias de ensino-aprendizagem das meto-
dologias ativas. Tem como princípio a “transformação da sociedade, por meio da
transformação do homem nela inserido, de modo que atue informado, de forma
consciente, mais política e criativa”. A prática é indissociável da teoria, mas seu
processo de construção-desconstrução-reconstrução é constante.
Uma forma de entender a metodologia da problematização e sua aplicação na
área de saúde é através do Arco de Marguerez, representado na figura 3.2:
capítulo 3 • 63
Teorização
REALIDADE
Figura 3.2 – Etapas do arco de Marguerez. Fonte: VILLARDI; CYRINO; BERBEL, 2015.
A ABP nos traz a consciência que, uma vez que nos tornamos protagonistas do
aprendizado, e que ele acontecerá o resto da vida, inclusive após a vida universitá-
ria. A tabela 3.1 mostra esse sistema aberto a qual nos referimos:
VIDA PÓS-
VIDA VIDA UNIVERSITÁRIA UNIVERSITÁRIA
PRÉ-UNIVERSITÁRIA (PROFISSIONAL)
∆t = 18 anos ∆t = 6 anos ∆t = 40 anos ou mais
capítulo 3 • 64
Segundo Bender (2014), a ABP pode ser definida pela
No final do capítulo deste livro você terá uma atividade com uma
situação-problema.
O Ensino Híbrido acontece quando, dentro do modelo educacional formal,
existe a combinação de experiências presenciais e online. Existe a sala de aula física,
onde os pontos positivos do ensino presencial devem ser valorizados, como deba-
tes, pesquisas e sistematização do conhecimento, mas os recursos tecnológicos e
o conteúdo digital se tornam parte do contexto. Parte-se do pressuposto que “à
medida que o ensino online assume a função de entregar conteúdo e instrução,
isto liberará as escolas para se focarem em ter um bom desempenho nas outras
funções” (CHRISTENSEN; HORN; STAKER, 2013).
Dentro do conceito de Ensino Híbrido, está a Sala de Aula Invertida.
Bergmann e Sams (2017), explicam que, enquanto no modelo tradicional o aluno
apenas vem para a aula, assiste a explicação expositiva, faz exercícios e às vezes
consegue debater e refletir sobre o conteúdo, no modelo de sala de aula invertida
os alunos precisam estudar o conteúdo da aula em casa, muitas vezes por meios
capítulo 3 • 65
digitais, fazer os exercícios e anotar suas dúvidas e o momento da aula é destinado
a tirar dúvidas dos alunos e atividades de ordem prática. Os autores ainda enume-
ram as razões para adoção da sala de aula invertida:
• A inversão fala a língua dos estudantes hoje (mundo digital);
• A inversão ajuda os estudantes ocupados ou que trabalham (acessam no
horário desejado);
• A inversão ajuda os estudantes que enfrentam dificuldades;
• A inversão ajuda alunos com diferentes habilidades a se superarem;
• A inversão cria condições para que os alunos “pausem e rebobinem”
o professor;
• A inversão intensifica a interação aluno-professor;
• A inversão possibilita que os professores conheçam melhor seus alunos;
• A inversão aumenta a interação aluno-aluno;
• A inversão muda o gerenciamento da sala de aula;
• A inversão torna a aula mais transparente.
capítulo 3 • 66
A diretriz curricular nacional (DCN), do curso de nutrição deixa muito claro que
devemos ser profissionais formados para contemplar as necessidades sociais da saúde,
com ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS). Ao falar de educação em saúde, estamos
nos referindo a todas as práticas desenvolvidas no âmbito do SUS (BRASIL, 2007).
As práticas da educação em saúde pressupõem a participação social, envolven-
do todos os sujeitos daquele território:
capítulo 3 • 67
O que é educação alimentar e nutricional (EAN)?
Nas décadas de 1970 e 1980, com a expansão da cultura da soja, foram realizadas
diversas campanhas de promoção desse produto e seus derivados. Foi um período onde
a rejeição à educação nutricional prevaleceu, pois foi “acusada de ensinar para o pobre
‘como apertar o cinto sem doer’ e ‘comer cascas de batata, ratos ou outros alimentos
disponíveis e de alto valor nutricional’”. (BOOG, 1997). Até a década de 1990 a EAN
foi muito pouco valorizada como disciplina ou como estratégia de política pública.
O encontro de educação alimentar e nutricional – discutindo diretrizes, reali-
zado em 2011 para dar subsídios para a elaboração do marco de referência, criou
uma linha do tempo com a história da EAN, apresentada nas figuras 3.3, 3.4 e 3.5.
capítulo 3 • 68
‘a partir da década de 80’
Tendências construtivistas
na formulação de
políticas públicas
Extensão rural, Referencial: Paulo freire
na eng. agronômica
1934
Livro
Josué de Castro
O que é cesta básica? Educação Nutricional
resultado pesquisa
Ainda a mesma de 30? Boog. M.C.F.
estado nutricional
capítulo 3
0 Programa Nacional de Congresso
EDUCAÇÃO ALIMENTAR os 5 aleitamento materno
an Educação de 1986
para o trabalhador Criação de grupo técnico COBRAN-SSA
• 69
brasileiro (modelo nutricional para e comitê na área
desenvolvimentalista) aproveitamento de de atuação á criança
alimentos ENDEF 74 1986
Visitadoras 1 os brasileiros tem 1ª Conferência Nacional
domésticas de ↓ kcal e PIN de Alimentação e Nutrição
‘industrialização’
alimentação e MERCADO DE
nutrição TRABALHO
1978 1976 1986 1986
‘papel da mulher/ 8ª Conferência 1ª Conferência Internacional
inserção’ 1ª Conferência Programa de
Internacional de alimentação Nacional de Saúde de Promoção da saúde
Atenção Primária do trabalhador Carta Ottawa: Campos
á Saúde Alma-Ata
Figura 3.3 – História da EAN, das décadas de 1930 a 1990. Fonte: CGEAN; DEISP; SESAN, 2011.
1990 Consolidação das ideias
Criação do Sistema de sustentabilidade 2003
1992(?)
Único de Saúde 1995 → RESGATE AO NATURAL Programa Bolsa Família
NBCAL econômica, ambiental,
Lei 8080 décadas da publicidade valorização rural, Unificação de
social e agroecologia
Lei Orgânica da Saúde maior influência da mídia resgate cultural políticas públicas
1993 propaganda nos 2003 de transferência de renda
Campanha contra processos alimentares Fome Zero
a fome - Betinho
1995 → 2001 2003 2004
1995 Coord. geral de
Novas tecnologias Diretrizes currículares Retomada do
Artigo ‘Presente, EAN/MDS
da informação nacionais CONSEA
Passado, Futuro’
Boog. M.C.F 2003
Conceito cesta 2000 → PRÓSAÚDE
básica Reforço do papel
1996 Reorientação da
X salário mínimo regulador do Estado
Lei das diretrizes e formação
X DIEESE
bases da educação
X custo de vida 2000 →
1998 → Guia alimentar para
Efeitos da globalização a população brasileira 2006
Estudos populacionais TRANSIÇÃO
nas formulações menor de 2 anos PNAB
capítulo 3
(VIGITIEL, INCA, POF...) NUTRICIONAL
de políticas públicas 2006
‘Qualidade’ dieta convivência de
desigualdade LOSAN
2000
• 70
1999 + Obesidade e DCNT 2006
Imposição de padrão de
PNAN mantém desnutrição valorização de alimento
imagem corporal MAGRA
1999 guia alimentar 2006
Criação da pop. brasileira PNPS
ANVISA Criação dos conselhos Lei federal
de controle social nº 11.265/06
Educação transformação da
ambiental Mobilização do
Consumo consciente NBCAL em lei
Sustentabilidade
PNATER
Figura 3.4 – História da EAN, da década de 1990 aos anos 2000. Fonte: CGEAN; DEISP; SESAN, 2011.
2007
PSE
2005
Inclusão do DHAA
Educando
na constituição
com a horta
direito do cidadão
(FNDE/FAO) 2007 SAUDÁVEL? dever do Estado
RES 380/2005 Criação dos multiplicidade
Conselho Federal de CECANEs de conceito
Nutricionistas (FNDE/OGPAE)
Brasília, 19-21/10/2011
EAN: Discutindo diretrizes
QUALIDADE?
Que critério para definir? Novos
Diversidade de
O que é isso? encontros
2006 políticas conflitantes
Quem define?
POLÍTICA NACIONAL DE Ex: RES CD/FNDE 32/2009
Por que?
EDUCAÇÃO PERMANENTE e legislação dos transgênicos
EM SAÚDE
A realidade pauta o
processo educativo 2011
futu
Aprendizagem significativa (PNAE) IV CNSAN
r o ...
Lei: 11.947/2009 Salvador
RES CD/FNDE 38/2009 011
RES CFN 2012
0/2 465/2010
capítulo 3
2008 1 World
Núcleo de apoio 2010 20 Nutrition
a saúde da família PNSAN
(avaliação)
Formulação da PNSAN
• 71
e os conflitos com políticas de
alimentação saudável:
o que é adequado e saudável
MODISMOS
pode ou não pode?
chá / cápsula ADEQUADO?
ração humana?
NUTRIÇÃO indefinição
ovo? manteiga?
FUNCIONAL? conceitual
gordura trans?
medicalização
café?
do nutriente
Figura 3.5 – História da EAN, dos anos 2000 ao futuro. Fonte: CGEAN; DEISP; SESAN, 2011.
Os princípios para as ações de EAN propostas no Marco de Referência são
(BRASIL, 2012):
1. Sustentabilidade Social, ambiental e econômica;
2. Abordagem do sistema alimentar, na sua integralidade;
3. Valorização da cultura alimentar local e respeito à diversidade de opiniões e
perspectivas, considerando a legitimidade dos saberes de diferentes naturezas;
4. A comida e o alimento como referência. Valorização da culinária enquanto
prática emancipatória;
5. A promoção do autocuidado e da autonomia;
6. A Educação enquanto processo permanente e gerador de autonomia e partici-
pação ativa e informada dos sujeitos;
7. A diversidade nos cenários de prática;
8. Intersetorialidade;
9. Planejamento, avaliação e monitoramento das ações.
Boog (1997), traz uma importante diferenciação sobre o que é educação nu-
tricional (aquela que é atividade privativa do nutricionista) para orientação nu-
tricional (aquela que serve para momentos pontuais ou emergenciais, não pres-
supondo uma mudança profunda na alimentação da pessoa. A tabela mostra as
diferenças entre EAN e orientação nutricional.
capítulo 3 • 72
EAN ORIENTAÇÃO NUTRICIONAL
• As mudanças necessárias ao controle das doen- • Não se aceita Transgressões e frequen-
ças, entre elas as relativas à alimentação, devem temente elas se tornam motivo de censura.
ser buscadas numa perspectiva de integração e de • Ênfase na prescrição dietética.
harmonização nos diversos níveis: físico, emocional
• Predominância ou uso exclusivo de méto-
e intelectual.
dos objetivos de avaliação.
• A descontinuidade no processo de mudança nos
• O objetivo do processo é estabelecido em
hábitos alimentares e as transgressões são conside-
função de metas definidas pelo profissional,
radas etapas previsíveis e pertinentes a um processo
para controle dos processos patológicos.
difícil e lento.
• Ênfase nos aspectos de relacionamento profissio-
nal/cliente ou paciente e na dialogicidade.
• Avaliação objetiva e subjetiva da evolução
do paciente.
• O objetivo do processo é estabelecido em função
das necessidades detectadas que são discutidas
com o paciente e das perspectivas e esperanças do
cliente ou paciente.
Tabela 3.2 – Diferença entre EAN e orientação nutricional. Fonte: BOOG, 1997.
ATIVIDADE
01. Pense em projetos para solucionar a seguinte situação-problema (SP):
Em uma roda de conversa feita com usuários de uma clínica da família, um aluno do
curso de nutrição citou o exemplo do refrigerante como um produto não saudável para a
alimentação. Uma senhora de 62 anos disse que era muito difícil deixar de tomar a bebida,
capítulo 3 • 73
pois já estava acostumada, além de dizer que dava muito trabalho e era caro fazer suco de
frutas natural. Iniciou-se uma discussão sobre a quantidade de refrigerante que deveria ser
consumida para ser considerada não saudável. Outro usuário disse que bebia apenas 1 copo
no almoço do final de semana, e que não considerava isso como algo prejudicial a sua saúde.
Como definir alimentação saudável para usuários de um serviço de saúde? Quais os proble-
mas no consumo do refrigerante? E a relação da quantidade ingerida que foi discutida? Que
alternativas podem ser dadas para a possível substituição do refrigerante na alimentação das
pessoas? O que influencia as pessoas a tomar refrigerantes?
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capítulo 3 • 75
capítulo 3 • 76
4
Planejamento de
ações educativas
e programas em
educação alimentar
e nutricional
Planejamento de ações educativas e
programas em educação alimentar e
nutricional
Não há educação alimentar e nutricional (EAN) sem ação. É necessário que o
profissional de saúde se mova, intencionalmente ou não, para que o conhecimento
sobre alimentação e saúde circule na população.
Mas agir significa planejar de modo a evitar improvisos. Neste capítulo, abor-
daremos cada etapa de um planejamento de ações educativas, e tudo o que se deve
levar em conta para que as mesmas tenham êxito.
OBJETIVOS
• Identificar as etapas do planejamento de uma ação educativa e programas de EAN;
• Planejar atividades educativas com base nas necessidades identificadas no diagnóstico e
interesse de um público alvo;
• Selecionar material educativo dirigido a um plano de ação educativa.
Quando há real interesse em alcançar um objetivo, por mais simples que seja,
o planejamento favorece esta realização, pois elimina ou contorna alguns obstácu-
los e ajuda a lidar com os imprevistos.
Quando várias pessoas irão participar de uma ação educativa (AE), por exem-
plo, uma capacitação para profissionais de uma empresa, o planejamento per-
mite a uniformização dos objetivos e de como fazer para alcançá-los. Por ser um
capítulo 4 • 76
documento que registra a AE, também possibilita a reprodução ou a adaptação
daquela atividade por diferentes pessoas para diferentes grupos.
O planejamento propicia a otimização de recursos. Não é à toa que as agên-
cias de fomento a pesquisadores solicitam o envio dos projetos de pesquisa (que
também é um planejamento) para concorrer ao financiamento. O planejamento
indica que recursos (quanto e quais) serão necessários e como serão alocados no
tempo para que se alcance determinado objetivo.
O resultado do plano não depende somente de meu plano, depende das circunstâncias
beta que não controlo nem posso predizer. Como essas circunstâncias são variadas e não
são completamente enumeráveis, devo trabalhar com a técnica de cenários, isto é, com
vários planos que me preparem para atuar distintas circunstâncias (HUERTAS, 1995).
capítulo 4 • 77
A FAO (1999) nos mostra um esquema geral do planejamento, na figura 4.1:
Fase 1: Concepção
• Identificação dos problemas nutricionais
• Determinação das causas
• Diagnóstico educativo
Fase 2: Formulação
• Estabelecimento de objetivos
• Elaboração das mensagens
• Seleção do plano de multimeios
Fase 3: Organização
• Produção de matériais de apoio
• Treinamento de agentes de execução
• Execução da Intervenção
Fase 4: Avaliação
• Cumprimento dos objetivos
• Satisfação dos participantes
capítulo 4 • 78
Importante ressaltar que o planejamento de uma AE não deve estar centrado
apenas no profissional de saúde. Se ele é dirigido a uma comunidade, todos devem
ser envolvidos no processo de construção da AE (BRASIL, 2012).
Como agir sobre uma realidade, para transformá-la, sem conhecê-la? E como conhecê-
-la sem estudá-la? A ação participativa, portanto, se inicia e se fundamenta na investi-
gação da realidade feita pelos sujeitos dessa realidade. É, pois, uma atividade coletiva,
feita não pelos técnicos sobre a população, mas pelos técnicos e a população sobre a
realidade compartilhada (SÃO PAULO, 2001).
Esta afirmação é confirmada por Boog (2013), quando diz que “o ponto de
partida da educação alimentar e nutricional não é a informação, mas a sensibili-
zação. Para educar em alimentação é preciso primeiro ir até onde o educando está,
compreender seu contexto e, então, convidá-lo a transitar conosco pelas nossas
ideias e preocupações”.
Como a EAN pode ser utilizada em diversos setores é necessário observar
os princípios preconizados no Marco de Referência para EAN (BRASIL, 2012;
BRASIL, 2016):
• Sustentabilidade social, ambiental e econômica;
• Abordagem do sistema alimentar, na sua integralidade;
• Valorização da cultura alimentar local e respeito à diversidade de opiniões
e perspectivas, considerando a legitimidade dos saberes de diferentes naturezas;
• A comida e o alimento como referências: valorização da culinária como
prática emancipatória;
• Promoção do autocuidado e da autonomia;
• Educação como processo permanente e gerador de autonomia e participa-
ção ativa e informada dos sujeitos;
• A diversidade nos cenários de prática;
• Intersetorialidade;
• Planejamento, avaliação e monitoramento das ações.
capítulo 4 • 79
Linden (2011, p.128), traça um mapa conceitual desta etapa (figura 4.2), que
ela chama de “fase de sondagem”:
I – Fase de sondagem
Fazendo o reconhecimento
Conhecendo
a realidade
Motivando e/ou
sensibilizando.
Fase chave em todo
o processo de ensino.
capítulo 4 • 80
A. TIPO B. NÍVEL DE C. TEMPO E. POSSÍVEIS
DE DADOS COMPETÊNCIA D. CUSTO F. LIMITAÇÕES
NECESSÁRIO DIFICULDADES
COLETADOS REQUERIDO
Os dados disponí- Bom conhecimento do Poucos dias ou Baixo Às vezes, as informa- Nem sempre se
veis na literatura tema no qual se realiza semanas, depen- ções não são muito pode determinar
variam de um país a revisão dendo do tema acessíveis, especial- a validez e a con-
1. REVISÃO DA para outro, mas em questão mente em áreas foras fiabilidade dos
LITERATURA podem dar muito da cidade dados obtidos
mais informações
do que o esperado
Os dados podem Os entrevistadores Poucos dias, em Baixo Falta de disposi- Não são esta-
2. ENTREVISTAS ser colhidos de um devem ter recebido tempo integral ção das pessoas tisticamente
número significa- treinamento básico. para participar das representativas,
REALIZADAS EM
tivo de pessoas, Supervisores capazes entrevistas apesar da valiosa
UM LOCAL DE
capítulo 4
em um lugar muito de assessorá-los e informação que
CONCENTRAÇÃO DE frequentado pela de analisar os dados se pode coletar.
PESSOAS população-alvo colhidos Os dados podem
• 81
ser superficiais
Dados colhidos de Os entrevistadores Poucos dias ou Bastante Identificar “bons” Enfoques subjeti-
um grupo limitado devem ter um bom semanas, depen- caro entrevistadores vos da situação
de pessoas conhecimento sobre o dendo do número
3. ENTREVISTAS
tema, serem capazes de pessoas a
INDIVIDUAIS EM de conduzir entrevistas entrevistar
PROFUNDIDADE em profundidade e
de analisar os dados
colhidos
A. TIPO B. NÍVEL DE C. TEMPO E. POSSÍVEIS
DE DADOS COMPETÊNCIA D. CUSTO F. LIMITAÇÕES
NECESSÁRIO DIFICULDADES
COLETADOS REQUERIDO
Dados colhidos de Facilitadores e rela- Poucas semanas Econômico, Determinar o número Não são estatis-
grupos de pessoas tores treinados para se não se e a composição dos ticamente repre-
da população-alvo moderar a discussão, a realizam mui- grupos. Recrutar os sentativos, seja
4. GRUPOS FOCAIS observação e o regis- tas sessões participantes. Favore- qual for o número
tro, assim como para cer a livre expressão. de entrevistados
análise dos dados Interpretar os dados
Dados obtidos Os pesquisadores Várias semanas, Muito caras Poder enfocar Viés devido à
da observação devem estar bem trei- inclusive meses pelo nível adequadamente percepção que
direta de domicílios nados; necessita-se de requerido e os elementos de as pessoas
5. TÉCNICAS DE selecionados e antropólogos sociais pela duração observação entrevistadas têm
OBSERVAÇÃO interpretados junto caso se requeira um do trabalho do entrevistador
com as informa- perfil etnográfico
ções colhidas nas
capítulo 4
entrevistas
Dados obtidos Destreza para elaborar Vários meses Muito caros Conclusão do proces- Viés devido
• 82
de uma amostra os questionários, so sem omissão dos a desejos de
estatisticamente definir a composição e passos necessários prestígio social. A
6. INQUÉRITOS DE representativa da o tamanho da amostra, informação pode
CAMPO população-alvo conduzir o inquérito e ser superficial
para a organização e
análise estatística dos
dados
Tabela 4.2 – Comparação de seis métodos de coleta de dados para o diagnóstico nutricional. Fonte: FAO, 1999.
Busca-se realizar um amplo levantamento de informações, mesclando dados
objetivos e subjetivos. Este diagnóstico também deve ser contínuo, pois a realida-
de está em constante modificação. São exemplos de dados objetivos: idade; sexo;
nível de escolaridade; renda ou extrato socioeconômico; dados sobre moradia;
dados sobre trabalho; dados sobre estilo de vida; estado nutricional etc. Os dados
subjetivos referem-se a como pessoas ou grupos concebem determinadas questões,
por exemplo: o aleitamento materno é importante? A alimentação interfere na
saúde? O que é saúde? O que é alimentação saudável? Dizem respeito às experiên-
cias, atitudes, valores e crenças pessoais?
É nesta etapa, que devem ser identificadas as necessidades do grupo, as de-
mandas que gostariam que fossem atendidas com a AE. Por exemplo, o nutricio-
nista gostaria de abordar os grupos alimentares, mas durante a fase de diagnóstico,
descobriu que o grupo está interessado em montar uma horta. Ao abordar um
tema definido como importante/interessante/útil, maiores chances de participa-
ção e interesse do grupo. Este cuidado é fundamental se está sendo iniciado um
processo de longo prazo, pois favorece a formação rápida do vínculo de confiança
entre o grupo. Assim, levantam-se as situações-problemas para nortear a AE.
capítulo 4 • 83
Os objetivos definem ações e, por isso, são iniciados por verbo no infinito
(identificar, relacionar, conhecer, diferenciar etc.), que denotem as bases da con-
cepção pedagógica que será utilizada na AE. Os objetivos são divididos em geral e
específicos. O objetivo geral é o norte do planejamento, permitindo uma visão do
todo. Os objetivos específicos são “os passos” para que se alcance o objetivo geral
(LINDEN, 2011; CERVATO-MANCUSO, 2017).
A escolha dos verbos para cada tipo de objetivo é importante para denotar
se ele é geral ou específico. como o objetivo geral “implica em um processo mais
complexo e dificilmente será possível redigi-los com precisão”, pode-se usar o que
Linden (2011) chama de “verbos abertos” para sua formulação, como por exem-
plo: adquirir, apreciar, aperfeiçoar, capacitar, compreender, conhecer, desenvolver,
dominar, entender, conduzir, julgar, melhorar, motivar, saber, adquirir”.
Para tornar a redação de um objetivo ainda mais precisa, pode-se utilizar a explicitação
da situação e da adequação. A situação indica em qual circunstância deve ser apresen-
tado um comportamento. A adequação indica com maior precisão qual nível é satisfatório
para que o comportamento tenha atingido o objetivo (CERVATO-MANCUSO, 2017).
EXEMPLO 1
O objetivo deste trabalho é que ao final da ação os pacientes possam ter suas dúvidas
esclarecidas sobre a importância de uma alimentação saudável e uma boa hidratação no
verão utilizando sucos e saladas.
Sugestão: Identificar mudanças no hábito alimentar durante o verão.
Compor uma refeição nutritiva e saborosa para o verão.
Reconhecer a função da água na alimentação.
capítulo 4 • 84
EXEMPLO 2
Reconhecer as diferenças entre produtos diet e light e os edulcorantes recomendados
na gestação e lactação.
Sugestão: Reconhecer as diferenças entre produtos diet e light.
Identificar os edulcorantes recomendados na gestação e na lactação.
EXEMPLO 3
Desenvolver os conhecimentos das crianças acerca das formas, cheiros, sabor, aparên-
cia, tamanhos e cores das frutas.
Sugestão: Diferenciar as frutas quanto à forma, cheiro, sabor, aparência, tamanho e cores.
EXEMPLO 4
Aumentar o consumo de frutas.
Este objetivo não é factível em curto espaço de tempo. Além disso, a AE irá medir o
consumo de frutas antes e depois dos participantes para saber se o objetivo foi alcançado?
Provavelmente, reflete o objetivo do coordenador em desenvolver a AE, não denotando inte-
ração com o grupo. É isso que se espera alcançar com a AE?
Sugestão: Reconhecer o valor nutritivo das frutas.
capítulo 4 • 85
Ao planejar uma AE, não podemos perder de vista tudo o que já foi discu-
tido em capítulos anteriores deste livro, especialmente as questões relacionadas
ao comportamento alimentar. Cervato-Mancuso (2017), traz uma divisão inte-
ressante dos objetivos educativos divididos por áreas: cognitivo, afetivo e ativo/
situacional, que está demonstrado na tabela 4.3:
OBJETIVOS COGNITIVOS
Incluem desde a assimilação do conteúdo até a combinação e síntese de novas ideias e
materiais. Os comportamentos na área cognitiva são expressos por verbos como: rela-
cionar, comparar, interpretar, distinguir, resumir, enumerar.
OBJETIVOS AFETIVOS
Se referem ao grau de aceitação ou de internalização de um conceito, comportamento
ou fato. Referem-se a uma atitude ou sentimento em relação a alguma coisa. Os com-
portamentos na área afetiva são expressos por verbos como: aceitar, responsabilizar-se,
reconhecer, perceber, tolerar, apreciar.
Tabela 4.3 – Objetivos educativos divididos por área. Fonte: (CERVATO-MANCUSO, 2017).
A partir dos primeiros resultados do diagnóstico (uma vez que está em cons-
tante produção, pois cada vez se conhece mais sobre o grupo), da definição do
tema ou temas a serem desenvolvidos e dos objetivos, seleciona-se os conteúdos a
serem abordados na AE, em uma sequência lógica.
Os conteúdos devem ser pertinentes à realidade daquele grupo, por isso, a im-
portância do diagnóstico. Devem estar atrelados ao cotidiano do grupo para que
favoreçam a participação com relatos de experiências particulares.
A quantidade de informações a serem discutidas deve estar adequada ao tempo
planejado para a duração da AE, aos objetivos propostos e à estratégia selecionada. O
profissional que coordena a AE deve buscar sempre atualizar seus conhecimentos em
fontes fidedignas de informação e adequar tanto o grau de complexidade dos conteú-
dos quanto a linguagem à demanda colocada pelo grupo. O nível de complexidade
baixo ou elevado demais pode levar ao desinteresse do grupo e a baixa participação.
capítulo 4 • 86
É fundamental refletir sobre apresentar uma proposta lógica de encadeamento
dos conteúdos, o que não pode significar falta de espaço para discussão, para troca
de experiências ou centralização no coordenador.
O guia metodológico de comunicação social em nutrição (FAO, 1999), traz
conceitos e observações sobre a questão da escolha de linguagem a ser utilizada.
CONCEITOS
• Mensagem: é a formulação de uma ideia ou conceito a ser transmitida a uma popula-
ção específica (exemplo: “o peixe é um alimento saudável para a criança”).
• Meios: são os canais de comunicação através dos quais se transmite as mensagens.
• Materiais de apoio: são os recursos utilizados para a transmissão das mensagens
(exemplos: manuais, cartazes, vídeos, filmes, flanelógrafo etc.)
capítulo 4 • 87
fantoches, tinta, tesoura, cola, fita crepe, jogos, mesas, cadeiras etc. (LINDEN, 2011;
CERVATO-MANCUSO; VINCHA; SANTIAGO, 2016; SÃO PAULO, 2001).
Em qualquer planejamento de uma AE, sugere-se que se faça uma descrição
detalhada de como as atividades planejadas acontecerão ao longo da AE, desde sua
abertura até o encerramento. Listar os recursos no planejamento facilita a iden-
tificação do material que deverá ser levado para a AE e ajuda a minimizar alguns
imprevistos como “com que material o cartaz será afixado e em que local?” Um
detalhe importante: o planejamento é realizado antes da AE e, por isso, deve ser
descrito utilizando-se o futuro como tempo verbal.
Cervato-Mancuso (2017), diz que a “seleção de meios e de materiais de apoio deve
ser feita mediante diagnóstico realizado na fase de concepção do programa, quando se
identificam os canais e as redes ativas de comunicação existentes na comunidade”. A coe-
rência deve ser a palavra de ordem. Alguns critérios devem ser observados (FAO, 1999):
• Custo. Pode-se arcar com o custo financeiro da utilização deste meio? (cus-
to pelo uso do meio, treinamento de pessoas para a retransmissão, compra e pro-
dução do material de apoio);
• Acessibilidade. Em que medida o público alvo tem acesso ao meio?
• Facilidade de “uso” do meio (considerando a competência adquirida pelo
pessoal responsável pela intervenção). Este meio é fácil de usar?
• Credibilidade de cada tipo de meio. Este meio é confiável?
• Participação da comunidade. Este meio estimula a participação?
• Difusão da mensagem no tempo. Este meio permite estender a difusão da
mensagem por longo prazo?
• Relação com os objetivos da intervenção. Pode-se utilizar este meio para
alcançar os objetivos?
capítulo 4 • 88
compreensão, interpretação e aplicação, evitando símbolos confusos, deformações
artificiais e fora da realidade dos educandos;
• As condições ambientais também podem facilitar ou, ao contrário, dificultar
a utilização de certos recursos. A inexistência de tomadas de energia elétrica (ou com
a voltagem incorreta, ou com o plug incorreto), por exemplo, exclui a possibilidade
de utilização de materiais mais sofisticados que exigem a presença da eletricidade.
A tabela 4.5 mostra o potencial de combinação desses meios:
AQUISIÇÃO DE
DESTREZAS PSICOMOTORAS
CONHECIMENTO DE FATOS
HABILIDADES VERBAIS
IMAGENS MENTAIS
PROCEDIMENTOS
ATITUDES
SOMENTE COMUNICAÇÃO VERBAL * 0 * * * 0 *
TELEVISÃO ** * ** * ** * **
IMPRENSA ESCRITA * 0 * * 0 0 *
CARTAZ * * 0 * 0 0 *
Tabela 4.5 – Força relativa dos meios para modificar vários parâmetros de educação nutri-
cional. Fonte: FAO, 1999.
capítulo 4 • 89
De qualquer forma, nenhum recurso pode substituir a figura do educador.
Qualquer AE pressupõe uma avaliação constante para ajustes, e o recurso, por
si só, não é capaz de promover a mesma. Também é necessário observar que um
recurso pode ter possibilidades não pensadas anteriormente, e apenas durante a
AE ela surge. Também deve-se pensar em utilizar uma combinação de recursos
(LINDEN, 2011; CERVATO-MANCUSO, 2017).
Para a construção de mensagens persuasivas pode-se utilizar os seguintes pon-
tos (FAO, 1999):
• Faça-a breve e simples; inclua somente algumas ideias-chave;
• Dê informação confiável, completa;
• Repita a ideia várias vezes;
• Recomende uma mudança de conduta precisa;
• Mostre a relação entre o problema nutricional e a conduta recomendada;
• Use um “slogan” ou palavra de ordem;
• Assegure-se de que a mensagem seja apresentada por uma fonte confiável
(segundo a percepção da população alvo);
• Apresente os fatos de uma forma direta;
• Use sempre expressões positivas;
• Use o humor sem ser ofensivo com ninguém.
capítulo 4 • 90
• Valorização do conhecimento, da cultura e do patrimônio alimentar;
• Comunicação realizada para atender às necessidades dos indivíduos e grupos;
• Formação de vínculo entre os diferentes sujeitos que integram o processo;
• Busca de soluções contextualizadas;
• Relações horizontais;
• Monitoramento permanente dos resultados;
• Formação de rede para profissionais e para setores envolvidos, visando tro-
cas de experiências e discussões.
COMO?
A meta da avaliação deve ser clara para todas as pessoas envolvidas. Realiza-se a ava-
liação de uma intervenção a partir de duas perspectivas:
• Verificar se os objetivos foram alcançados;
• Determinar se os procedimentos foram realizados conforme o esperado.
Os agentes de desenvolvimento em educação nutricional não devem se colocar em po-
sição defensiva em relação à avaliação. Qualquer membro da comissão de planejamento
deverá estar em condições de responder às perguntas relacionadas com os dois pontos
mencionados anteriormente.
capítulo 4 • 91
COM QUEM?
As pessoas envolvidas com a avaliação podem ser divididas em quatro categorias:
• A população-alvo da intervenção deve ser convidada a participar, já que as ações que
serão avaliadas lhes atingem diretamente.
• Os agentes de desenvolvimento jogam um importante papel na avaliação. E mais do
que isso, a avaliação ajudará a melhorar seu desempenho.
• Os especialistas em avaliação, internos ou externos à comissão de planejamento, os
quais possuem a experiência técnica.
• A participação dos patrocinadores e dos representantes governamentais permitirá
que apreciem o impacto das atividades que promoveram e considerem a eventual ex-
pansão do programa.
QUANDO?
O ideal é planejar a avaliação de uma intervenção em comunicação social desde a fase
de concepção. A análise causal e o diagnóstico preliminar são partes da avaliação. Tam-
bém se pode abordar a avaliação durante a fase de formulação de uma intervenção em
comunicação. Nesse momento, ainda há tempo para refletir, não somente sobre a per-
tinência da intervenção, mas também sobre a ordem em que se deveria desenvolver as
atividades, os resultados esperados e as ações que se deve realizar antes de qualquer
atividade de comunicação.
Os conhecimentos, atitudes e práticas da população-alvo precisam ser medidos antes
da intervenção, para proporcionar uma base de comparação posterior. Nunca é muito
tarde para pensar na avaliação: ainda na fase de execução, pode-se aprender lições da
experiência.
capítulo 4 • 92
O registro da AE nos traz os elementos da avaliação, pois ali está a ação reali-
zada no concreto. Pelos nossos registros, poderemos analisar nossa ação e avaliá-la
quanto ao aspecto metodológico, de conteúdo, de processo, da participação das
pessoas (LINDEN, 2011):
• Número de participantes;
• Qualidade da participação;
• Contribuições;
• Dispersões;
• Surgimento de debates relevantes;
• Capacidade reflexiva do grupo;
• Qualidade da coordenação;
• Erros de percepção do coordenador;
• Sínteses adequadas;
• Análise da condução e do caminho tomado pelo grupo;
• Oportunidades perdidas;
• Intervenção demasiada não permitindo a fala dos participantes, ou irrele-
vante, permitindo conversas paralelas;
• Distanciamento do tema;
• Permitir o esvaziamento do debate.
Sempre faça o registro das atividades educativas, pois sem registro não há
avaliação nem reflexão sobre o processo educativo como um todo. O registro é
história. Lendo os registros, podemos superar dificuldades, erros, frustrações e
avaliar o sucesso de grandes ideias.
Caneta, papel e máquina fotográfica são algumas sugestões para o registro.
Considerações finais
capítulo 4 • 93
c) Saber como perguntar, o que perguntar e quando perguntar;
d) Saber opinar e calar;
e) Prestar atenção à linguagem utilizada.
ATIVIDADE
01. Veja a Situação-Problema (BRASIL, 2014): No Brasil, o indivíduo que tem 60 anos ou
mais de idade é definido como pessoa idosa. O envelhecimento é um processo natural, po-
rém como outros momentos da vida, traz consigo peculiaridades que devem ser observadas
para a garantia do Direito Humano a Alimentação Adequada. O avanço da idade pode trazer o
acometimento por doenças, incapacidades funcionais e dependência de outras pessoas. Mui-
tas vezes, também vem acompanhado da fragilização de vínculos afetivos e exclusão social
(discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras). O processo de
envelhecimento acarreta mudanças no consumo de alimentos, as quais resultam da combi-
nação de várias alterações corporais, fisiológicas, psicológicas. Problemas relacionados com
digestão, dentição, alteração de apetite, diminuição do paladar costumam interferir no consumo
de alimentos podendo levar à desnutrição e deficiências nutricionais específicas. Em outros
casos, a diminuição do gasto de energia pelo organismo, deixa a pessoa idosa mais suscetível
ao aumento de seu peso corporal.
Com base na situação-problema anterior, imagine que você foi solicitado a montar uma
ação educativa para um grupo de idosos em uma Unidade Básica de Saúde do bairro, para
falar sobre o tema “Alimentação na Terceira Idade”. Quais passos para a construção do pla-
nejamento você faria?
capítulo 4 • 94
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Educação Alimentar e Nutricional:
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capítulo 4 • 95
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em: 30 Set.2018.
capítulo 4 • 96
5
Estratégias para
práticas educativas
em educação
alimentar e
nutricional
Estratégias para práticas educativas em
educação alimentar e nutricional
OBJETIVOS
• Identificar o processo de geração de novas ideias;
• Conhecer estratégias de práticas educativas alinhadas à tendência crítica de educação;
• Identificar estratégias de práticas educativas para grupos específicos.
Quem nunca passou pela seguinte situação: “nossa, tive uma ideia ótima, mas
esqueci!”. As ideias não marcam hora para surgir, então é necessário estar atento
e, sempre que possível, anotá-las para seu posterior desenvolvimento. Importante
saber que elas também não “surgem do nada”, é necessário algum conhecimento
anterior. No nosso caso, os dados coletados na fase do diagnóstico do planeja-
mento da prática educativa (PE) fazem parte do conhecimento que desejamos.
capítulo 5 • 98
A figura 5.1 nos mostra a diferença que é simplesmente um dado sozinho (por
exemplo, o peso e a altura de uma pessoa) até como transformá-lo em sabedoria.
Figura 5.1 – Diferença entre dados, informação, conhecimento, ideia e sabedoria. Fonte:
MOBI MAIS, 2016.
Pensar coletivamente faz com que o processo anterior seja catalisado. Muitas
vezes não pensamos em todos os aspectos que precisam ser abordados, ou acaba-
mos esquecendo detalhes fundamentais para o sucesso da nossa PE.
Vamos relembrar algumas questões importantes já vistas em capítulos anterio-
res deste livro para a construção de PEs participativas?
• É fundamental que quem organiza a PE conheça a realidade dos participan-
tes para qual a mesma será direcionada. Caso não faça parte desta realidade, en-
volva membros da comunidade na construção da PE. A mesma deve ser elaborada
COM eles, e não PARA eles;
• O direito humano à alimentação adequada (DHAA) (BURITY, 2010) e
garantia da segurança alimentar e nutricional (SAN) (BRASIL, 2010), deve se
fazer sempre presente, bem como os princípios do guia alimentar para a população
capítulo 5 • 99
brasileira (BRASIL, 2014) e o marco de referência para educação alimentar e nu-
tricional para políticas públicas (BRASIL, 2012);
• A participação da comunidade é desejada antes, durante e depois da PE;
• Os objetivos da PE devem sair do campo teórico e sempre trazer alternativas
de como a situação-problema pode ser resolvida. Procurar não entregar a solução
pronta para os participantes, mas sim, promover a construção coletiva desse co-
nhecimento, estimulando que o mesmo exerça sua autonomia;
• Escolha com cuidado o espaço físico onde a PE irá acontecer para garantir
que tudo transcorra sem tropeços. Deve-se considerar o número de pessoas que
participarão e o tipo de atividade que será desenvolvida;
• Lembrar que a aprendizagem significativa pressupõe um processo de conti-
nuidade (é necessário que exista um conteúdo prévio para apoiar os novos conteú-
dos aprendidos) e um processo de ruptura (ampliação do conhecimento, cedendo
espaço a novos conteúdos, mas levando em consideração sua experiência);
• O arco de Maguerez é uma excelente ferramenta para problematizar as
questões que devem ser trabalhadas na PE. Veja na figura 5.2, como o ponto de
partida dele começa na realidade dos participantes, e na observação dos problemas
aí encontrados, o foco das ações tendem a sair de quem está idealizando a PE e dar
espaço às situações-problema que existem na comunidade.
Teorização
REALIDADE
Figura 5.2 – Etapas do arco de Maguerez. Fonte: VILLARDI; CYRINO; BERBEL, 2015.
capítulo 5 • 100
2 - Pontos
como as pessoas se chave
eleger organizam em torno
recorte da alimentação
encorajar a
1 - Observação da
reflexão
realidade
ARCO DE MAGUEREZ
visitas, explicar
determinantes
reuniões, problemas
registrar do problema
etapas
rodas de observados
impressões
conversas
como como
5 - Aplicação à
mudar aprofundar
realidade
3 - Teorização
desenvolvimento de
competências e
habilidades investigação realizar
inclusão de mais detalhada visitas e
representantes
mudança de empoderar entrevistas
ações diversos
realidade a comunidade teia de
4 - Hipóteses
interrelações buscar
documentos,
de solução
livros,
participação relatos,
ativa dos fontes
sujeitos estratégia de criatividade
trabalho e criticidade
foco estritamente biológico que marca o discurso sobre alimentação saudável seja no
âmbito técnico-científico, seja nos meios de comunicação, isto é, colocaria o foco na
comida e em tudo o que ela significa, em vez de valorizar as características nutricionais
de cada alimento (CASTRO et al., 2007; ROTEMBERG et al., 2017).
capítulo 5 • 101
que é possível ter uma alimentação saudável acessível e prática, falar sobre segurança
sanitária, dentre tantas outras possibilidades (ROTEMBERG et al., 2017).
Através das oficinas e vivências culinárias é possível “traduzir” nosso conheci-
mento científico em elementos práticos do contexto de vida das pessoas.
No planejamento de oficinas culinárias, devemos levar em conta as seguintes
etapas e observações da tabela 5.1:
ETAPAS OBSERVAÇÕES
Definição do grupo de inte- Comunidade escolar, rede de saúde, lideranças comunitárias, do-
resse (para quem? Quantos centes e estudantes de graduação e pós-graduação, trabalhadores,
participantes?) comunidade em geral, grupos específicos (portadores de condições
como diabetes, hipertensão arterial, alergias alimentares etc.).
Definição dos objetivos e te- Depende do perfil do grupo de interesse e suas questões relaciona-
mas (para quê?) das aos alimentos.
Definição das estratégias Como estamos utilizando a perspectiva da EAN crítica, deve-se utili-
pedagógicas, das dinâmicas zar dinâmicas de grupo. O tempo previsto, o número de preparações
de grupo, da ambientação e por oficina, o número de participantes por oficina e o espaço físico
do tempo previsto para cada são variáveis intimamente relacionadas. Caso haja manipulação de
atividade alimentos pelos participantes, sugere-se um grupo de 20 pessoas.
Se forem crianças, 10.
Seleção de receitas, textos, Buscar receitas em livros de culinária e gastronomia, além da própria
livros, vídeos, músicas, sites e internet, que possui diversas páginas especializadas. Recomenda-se
outros materiais de apoio sempre testar a receitas antes de levá-la para uma oficina culinária.
As receitas também podem ser criadas pelo grupo.
capítulo 5 • 102
ETAPAS OBSERVAÇÕES
Aquisição dos gêneros ali- Trata-se do “antes, durante e depois” das oficinas e vivências culi-
mentícios e pré-preparo (hi- nárias. Há possibilidade de guarda dos alimentos adquiridos até a
gienização, arrumação dos realização da oficina, levando em conta a segurança alimentar e nu-
gêneros). tricional? No dia, quem irá organizar as bancadas? Quem arruma o
local ao final da atividade?
Rotemberg et al. (2017), apontam que uma oficina pode ser estruturada em
cinco momentos:
• Acolhimento, incluindo a ambientação, apresentação dos participantes e a
proposta da oficina ou vivência culinária;
• Aquecimento para a introdução do tema, normalmente realizado através
de dinâmicas;
• A produção coletiva;
• Reflexão e debate;
• Avaliação da atividade.
Cabe destacar, entretanto, que a realização de oficinas culinárias deve ser flexível e adap-
tada a cada realidade, pois nem sempre se pode contar com todos os recursos necessários
ao desenvolvimento de uma oficina como a referida anteriormente (p. ex., a existência de
uma cozinha experimental). Assim, podem ser desenvolvidas vivências culinárias com pre-
parações simples ou somente com degustação (ROTEMBERG et al., 2017)
capítulo 5 • 103
Dinâmicas de grupos
As dinâmicas podem ser utilizadas para qualquer faixa etária. São diversas estra-
tégias possíveis, sempre organizadas de forma a estimular a participação do grupo.
Ele é mais que um aglomerado de pessoas: é uma entidade com leis e mecanismos
próprios, um conjunto de pessoas com interesses mútuos que cumprem tarefas es-
pecíficas. Os participantes têm direito a fala, opinião, ponto de vista ou ao silêncio.
A função do coordenador do grupo é fundamental para que os objetivos se-
jam atingidos. Então, o que é necessário saber para moderar uma dinâmica de
grupo em educação em saúde (PINHEIRO, 2014; RH PORTAL, 2015; DIAS;
SILVEIRA; WITT, 2009)?
• Gostar de trabalhar com grupos;
• Saber lidar com as verdades, pois nem sempre ouvimos as opiniões que
já possuímos;
capítulo 5 • 104
• Ter coerência com o que se fala e o que se faz, sem contradições;
• Ter senso de ética;
• Estabelecer um contrato de trabalho, isto é, combinar todo o processo e
as regras da dinâmica do início ao fim, dando a oportunidade aos participantes
aceitarem ou não as atividades;
• Ter respeito e paciência;
• Atenção com a comunicação (discutida no capítulo 2 deste livro);
• Ter empatia, afinal as pessoas são diferentes, e é necessário se colocar no
lugar do outro para compreender seu ponto de vista;
• Capacidade de síntese e integração;
• Ressaltar que a dinâmica não se trata de uma competição, apesar das re-
gras estabelecidas.
DINÂMICA FUNÇÃO
Ajudam a quebrar a ansiedade e a tensão, desinibindo as pessoas
“Quebra gelo”
para a PE.
Ajuda a apresentar-se uns aos outros, possibilitando descobrir: quem
sou, de onde venho, o que faço, como e onde vivo, o que gosto, sonho,
Apresentação
sinto e penso. É aconselhável que sejam utilizadas dinâmicas rápidas,
de curta duração.
Permitem analisar o comportamento pessoal e de grupo. Trabalha a
Integração
interação, comunicação, encontros e desencontros do grupo.
Tem como objetivo eliminar as tensões, soltar o corpo, voltar-se para
si e dar-se conta da situação em que se encontra, focalizando cansa-
Relaxamento
ço, ansiedade, fadigas etc. Facilita um encontro entre pessoas que se
conhecem pouco e quando o clima de grupo é muito frio e impessoal.
Possibilita a revisão, a comunicação e a percepção do que fazem os
participantes, a realidade que os rodeia. Amplia a capacidade de es-
Capacitação cutar e observar. Facilita e clareia as atitudes dos animadores para
que orientem melhor seu trabalho de grupo, de forma mais clara e
livre com os grupos.
Ideais para finalizar a PE, e coletar a avaliação do grupo sobre a
Encerramento
mesma.
Tabela 5.2 – Tipos de dinâmicas de grupos. Fonte: PINHEIRO, 2014; RH PORTAL, 2015;
DIAS; SILVEIRA; WITT, 2009.
capítulo 5 • 105
Seguem três exemplos de dinâmicas de grupos na tabela 5.5, ressaltando que
existem inúmeras disponíveis para diversas finalidades.
FINALIDADE FUNÇÃO
DA DINÂMICA
Dinâmica da troca de crachás
Material para a dinâmica: crachás para todos, contendo os nomes de cada um.
Se for em um serviço ou empresa onde as pessoas já possuam crachá funcional,
podem ser utilizados.
Procedimento: no início do encontro, distribuem-se os crachás normalmente,
de forma que cada um receba o seu próprio nome. Após algum tempo, recolher
“Quebra gelo” novamente os crachás e colocá-los na mesa ou no chão, com os nomes voltados
para baixo. Cada participante pega um para si; caso pegue o próprio nome, deve
trocar. Colocar o crachá com outro nome e usá-lo enquanto passeia pela sala.
Enfim, procurar o verdadeiro dono do nome (crachá) e entregar a ele seu crachá.
Aproveitar para uma pequena conversa informal; procurar conhecer algo que
ainda não conhece do colega. Partilhar a experiência com o grupo.
Limitação: presença de pessoas analfabetas.
Dinâmica do fósforo
Material para a dinâmica: 1 caixa de fósforo
Procedimento: a pessoa deve riscar e acender um fósforo e fazer uma apresen-
tação de si enquanto o fósforo estiver aceso. Ao apagar a chama deve-se parar
de falar imediatamente e passar a caixa de fósforo para o participante ao lado
que fará a mesma coisa.
Apresentação A coordenação solicita que na apresentação se fale: nome, profissão, interesses,
motivo pelo qual participa do grupo entre outras coisas.
Após todos se apresentarem a coordenação inicia a discussão sobre como
foi utilizado o tempo, estratégias usadas para manter a chama acesa ou para
apagá-la, o que foi priorizado naquele espaço de tempo. Abrir espaço para quem
quiser acrescentar alguma coisa a sua apresentação ou perguntar alguma coisa
que deseje saber do outro.
capítulo 5 • 106
A avaliação da dinâmica pode ser feita de maneira formal (com um questioná-
rio de satisfação, por exemplo) ou informal (com uma dinâmica de encerramen-
to). Além das questões colocadas pelo grupo, o coordenador também deve fazer a
sua avaliação sobre o desempenho do grupo de forma coletiva.
capítulo 5 • 107
compete ao nutricionista, no exercício de suas atribuições em nutrição em alimentação
coletiva: planejar, organizar, dirigir, supervisionar e avaliar os serviços de alimentação e
nutrição; realizar assistência e educação alimentar e nutricional à coletividade ou a
indivíduos sadios ou enfermos em instituições públicas e privadas.
capítulo 5 • 108
Pode-se construir um cronograma mensal afixado em local comum, mas que
deve ser flexível, caso algum assunto tenha necessidade de ser discutido com ur-
gência. Este formato aumenta o comprometimento do trabalhador, não o deixan-
do passivo a longos treinamentos pontuais, muitas vezes de curta eficácia.
É importante deixar um espaço, no final, para dúvidas ou sugestões. Como os
treinamentos precisam ser registrados, aconselha-se, que ao final de cada DDS, os
trabalhadores assinem o registro para arquivo.
Especificamente para trabalhadores de UANs, pode-se também fazer concur-
sos culinários com criação de receitas que passam a compor o cardápio oferecido
nas Unidades.
capítulo 5 • 109
São textos que mantêm uma estrutura fixa, partindo de um problema (como estado de
penúria, carência afetiva, conflito entre mãe e filho), que desequilibra a tranquilidade ini-
cial. O desenvolvimento é uma busca de soluções, no plano da fantasia, com introdução
de elementos mágicos: fadas, bruxas, duendes, gigantes entre outros. A restauração da
ordem acontece no final da narrativa, quando se volta a uma situação de tranquilidade.
As histórias podem ser lidas ou contadas; o contador deve levar vida às histórias, preo-
cupando-se com a entonação de voz e a postura do corpo.
Utilizar acessórios e utensílios como, por exemplo, fantoches, que é um excelente recurso
para o ouvinte e para o contador lembrar a sequência da história, mas é preciso que seja
simples, porém atrativo, principalmente para aguçar a curiosidade de crianças menores.
capítulo 5 • 110
• Nem todos os conceitos podem ser explicados por meio dos jogos;
• Se o coordenador interferir com frequência, perde a ludicidade; se o aluno
for obrigado a jogar por exigência do professor, o aluno fica contrariado; se as re-
gras não forem bem entendidas pelos alunos, eles ficam desorientados.
Recomenda-se a leitura do material “Jogos na Mesa – Como criar jogos para pro-
mover a alimentação adequada e saudável” (OPSAN/UnB, 2016b), que explica o pro-
cesso de criação de um jogo e todos os elementos que devem ser considerados (design,
objetivo, conceitos, cenários, personagens, objetos, regras e fluxo do jogo etc.).
É possível fazer EAN dentro de sala de aula no ensino infantil, fundamental e
médio. A articulação entre os componentes curriculares e os conteúdos de alimen-
tação e nutrição para o Ensino Fundamental I, desenvolvidas pelo Ministério da
Saúde (BRASIL, 2018b) identificou
conteúdos relativos ao tema alimentação e nutrição que apresentam interface com todos
os componentes curriculares: Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Arte e
Educação Física. Entre os conteúdos pautados neste material, estão: direito humano à ali-
mentação adequada, classificação dos alimentos, grupos de alimentos, aspectos culturais
da alimentação, valorização das práticas culinárias, sistema alimentar, ciclo da água, água
como alimento, produção de resíduo, desperdício e a relação entre a mídia e o consumo.
Pretende-se que esses conteúdos sejam trabalhados transversalmente, de forma colabo-
rativa, a fim de superar o enfoque fragmentado dos saberes a eles relacionados.
capítulo 5 • 111
Educação alimentar e nutricional no território de atuação
• Agricultura/abastecimento;
• Consumo;
EXPERIÊNCIA
• Desenvolvimento/assistência social;
ÁREA DA
• Educação;
• Saúde;
• Trabalho;
• Outra.
• Crianças: de 0 a 10 anos;
ETÁRIA
FAIXA
• Adolescentes: de 11 a 19 anos;
• Adultos: de 20 a 59 anos;
• Idosos: 60 ou mais.
capítulo 5 • 112
Indivíduos e grupos:
• Comunidade em geral;
• Estudantes;
• Famílias;
CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES
• Gestantes/nutrizes;
• Mulheres;
• Pessoas com necessidades alimentares especiais;
• Público atendido por Programas Sociais;
• Povos Indígenas e povos e comunidades tradicionais;
• Trabalhadores;
• Outros.
Profissionais:
• Agricultores;
• Conselheiros ou gestores de programas públicos;
• Profissionais da educação;
• Profissionais da assistência social;
• Profissionais da saúde;
• Manipuladores de alimentos/cozinheiros/merendeiros/gastrólogos;
• Professores;
• Outros.
PARTICIPANTES DA EXPERIÊNCIA
NÚMERO APROXIMADO DE
• 0-50;
• 51-100;
• 101-500;
• 501-1.000;
• Mais de 1.000;
• Variável.
LOCAL ONDE A EXPERIÊNCIA
capítulo 5 • 113
• Atividade lúdica e artística;
• Aula;
• Curso;
• Dinâmica em grupo;
TIPO DA EXPERIÊNCIA
• Exposição;
• Feira;
• Material audiovisual;
• Material impresso;
• Oficina/workshop;
• Painel;
• Palestra;
• Roda de conversa;
• Simpósio/seminário;
• Visita orientada/saída de campo;
• Outros.
• Agricultura familiar;
• Produção agroecológica;
• Alimentos orgânicos;
• Agricultura urbana e hortas;
PRINCIPAL TEMÁTICA ABORDADA NA EXPERIÊNCIA
capítulo 5 • 114
EAN sob a ótica da teoria crítica da educação, apenas iniciativas que buscam au-
mentar a aceitação da dieta hospitalar, ou pela utilização limitada do termo EAN,
como Souza et al. (2013) falam
Pensar na educação nutricional como uma das iniciativas humanizadoras implica refletir
sobre a concepção e a construção desta ação, bem como sua complexidade. Ao desta-
carem a educação nutricional como iniciativa humanizadora, os nutricionistas a referem
possivelmente dentro da lógica de transmissão de informações, e não por meio de “troca
e construção de saberes”, conforme previsto na Política Nacional de Humanização.
ATIVIDADE
01. Veja a situação-problema: você é nutricionista em uma universidade, e recebe uma
solicitação do campus para que seja desenvolvido um programa de alimentação e nutrição
para os funcionários que trabalham nos cargos administrativos da unidade. O campus oferta
diversos cursos de várias áreas, além de ser equipado com laboratórios e biblioteca. Que
estratégias você pensaria em utilizar?
capítulo 5 • 115
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GABARITO
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
01. A utilização das SP para construção de projetos, pressupõe que não haja apenas uma
única solução para as mesmas. Especialmente se tratando de alimentação e comportamen-
to alimentar, conforme vimos nos capítulos 1 e 2, pois temos diversos fatores atuando ao
mesmo tempo, e com graus diferentes de interferência, tornando as soluções complexas. De
qualquer forma, podemos criar propostas, inclusive junto com o público para o qual a mesma
é dirigida, isto é, deve-se pensar na participação popular para solução de problemas.
capítulo 5 • 118
Capítulo 4
Capítulo 5
01. Inicialmente, é necessário fazer um diagnóstico mais amplo, que dê mais elementos
para a construção do projeto de EAN. Pode-se formar uma comissão com funcionários, pelo
menos um de cada setor, e inicialmente entender quais as principais dúvidas e dificuldades
do grupo. De posse dessas informações, é hora de escolher as estratégias. Nesse capítulo,
vimos algumas delas, que são possíveis, como as oficinas culinárias, a implantação do diá-
logo diário de segurança (DDS), mas aplicado à alimentação e nutrição, jogos corporativos,
gincanas, pesquisas na biblioteca etc.
capítulo 5 • 119
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 120