Artigo Morfologia
Artigo Morfologia
Artigo Morfologia
Instituto de Letras – IL
Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas – LIP
Programa de Pós-graduação em Linguística – PPGL
RESUMO
Neste artigo, apresentamos uma breve análise das estruturas morfológicas de algumas línguas faladas no mundo.
Desse modo, na organização e desenvolvimento da discussão deste estudo, selecionamos o português brasileiro,
o inglês, o katu, o Nheengatu, o Suaíli e o Terêna, línguas que são faladas por centenas de falantes em suas
comunidades linguísticas. As metodologias utilizadas foram à abordagem qualitativa e pesquisa exploratória, e
as técnicas empregadas foram de metapesquisa com foco na triangulação de dados das estruturas morfológicas
das línguas pesquisadas. O estudo envolveu tipos de expressões lexicais, morfológicas e sintáticas, dados de
flexão e derivação, análises de processos morfológicos de prefixação, sufixação, circunfixação, transfixação ou
morfologia não-concatenativa, infixação, alternância vocálica ou modificação da raiz das estruturas linguísticas
das línguas pesquisadas.
ABSTRACT
In this article, we present a brief analysis of the morphological structures of some languages spoken in the world.
Thus, in the organization and development of the discussion of this study, we selected Brazilian Portuguese,
English, Katu, Nheengatu, Swahili and Terêna, languages that are spoken by hundreds of speakers in their lin-
guistics communities. The methodologies used were the qualitative approach and exploratory research, and the
techniques used were meta-research with a focus on data triangulation of the morphological structures of the re-
searched languages. The study involved types of lexical, morphological and syntactic expressions, inflection and
derivation data, analysis of morphological processes of prefixing, suffixation, circumfixation, transfixation or
non-concatenative morphology, infixation, vowel alternation or modification of the root of the linguistic struc-
tures of the researched languages.
1. Introdução
No caso da expressão lexical, é quando o processo requer que o falante consulte o seu
inventário léxico mental para expressar uma nuance particular de significado. Normalmente,
envolve a substituição de um item lexical por outro. Exemplo: boi / vaca. Mas há, também, os
subtipos de expressões lexicais, como: Supleção (forte) da raiz – usa uma raiz completamente
diferente (go→went); supleção fraca da raiz – usa um raiz um pouco diferente (buy→bought),
e isomorfismo – usa a mesma raiz (hit→hit). Já os processos morfológicos são aqueles que
expressam variações no significado ao alterar as formas das palavras de uma maneira
previsível. Exemplo: gato / gata.
No caso dos padrões sintáticos, eles expressam variações regulares no significado ao
combinar ou rearranjar itens lexicais relacionados uns aos outros. Exemplo: Meu irmão é
alto / meu irmão é muito alto. Para Fillmore apud Payne, 2006, P. 11), “O que distingue o
léxico da morfossintática é a diferença entre o que os falantes precisam saber imediatamente,
do que eles podem construir com base no que já sabem”. À medida que os itens do léxico de
uma língua passam por mudanças normais ao longo do tempo, normalmente, começam como
palavras lexicais plenas e tornam-se morfemas gramaticais (raramente ocorre o inverso).
Nesse sentido, é útil tentar classificar as entradas lexicais de uma língua entre as palavras
lexicais plenas por um lado e, entre os morfemas gramaticais por outro. Isso ajuda muito na
análise de línguas específicas e na contextualização de como as estruturas gramaticais
funcionam e mudam ao longo do tempo. Entre os idiomas do mundo, existem mais
substantivos em qualquer língua do que pronomes, e é mais fácil adicionar uma palavra
lexical plena ao vocabulário de uma língua do que adicionar um morfema gramatical. Como,
por exemplo: palavras lexicais plenas do inglês, como rabbit, Alice, fall e ramification.
Palavras lexicais plenas têm um certo grau de conteúdo semântico ou conteúdo lexical, se
comparado aos morfemas gramaticais. Por exemplo, uma palavra como rabbit (coelho) evoca
uma imagem bastante complexa com diversas características semânticas: mamífero, orelhas
longas, pele macia, nariz enrugado, se move pulando, e muito mais. Um pronome como she
(ela), por outro lado, evoca exatamente três características semânticas, ou seja, terceira
pessoa, singular e feminino (PAYNE, 2006).
No caso de morfemas gramaticais, os fenômenos linguísticos ocorrem em séries (ou
paradigmas) relativamente pequenos, tais como os pronomes: I, me, you, we, us, she, they, e
em preposições como: in, on, of, under etc. Também em afixos, tais como o passado com -ed,
e o plural com –s em inglês. Eles tendem, também, a ser menores do que as palavras lexicais
plenas, tanto em número de segmentos fonéticos quanto em número de componentes de
significado que expressam.
Logo, se pode sugerir que o “morfema” é uma forma mínima. Para a linguística, a
definição clássica de morfema é uma forma ou pedaço estrutural mínimo que expressa
significado. Por exemplo, a palavra inglesa dogs contém dois morfemas: dog que expressa o
significado principal de uma palavra e -s que expressa o significado de plural (mais de um).
Por esses aspectos, é adequado pensar a “morfologia” como um sistema estabelecido nas
formas das palavras, ao invés de simples fios de pedaços significativos.
Nesse sentido, podemos classificar os tipos de morfemas. Por exemplo: um morfema
preso é aquele que precisa estar unido a algum outro morfema para poder ser usado
naturalmente no discurso. Os morfemas confinados podem ser afixos, raízes ou clíticos. O -s
em dogs, é um exemplo de um morfema confinado, porque não tem um significado de plural
quando pronunciado isoladamente. A raiz, dog, por outro lado, é um morfema livre, pois não
precisa se unir a outra forma. Assim, em diversas línguas do mundo, as raízes são ligadas à
morfemas porque não podem ser usadas no discurso sem algo anexado a elas.
Os termos raiz e radical são, às vezes, usados um pelo outro. Entretanto, há uma sutil
diferença entre eles: uma raiz, por exemplo, é um morfema que expressa o significado básico
de uma palavra e não pode ser subdividida em morfemas menores. No entanto, uma raiz,
necessariamente, não constitui uma palavra completamente inteligível em si mesma. Outro
morfema pode ser necessário, como no exemplo da palavra struct do inglês, que é uma raiz
porque não pode ser dividida em partes menores significativas. Contudo, não pode ser,
também, usada no discurso sem um prefixo ou um sufixo adicionado a ela, como construct,
structural, destruction etc (PAYNE, 2006).
Já o radical, pode ser constituído de uma raiz apenas. Entretanto, pode ser também
analisado como uma raiz mais morfemas derivacionais. Como uma raiz, um radical pode ou
não ser uma palavra completamente inteligível. Como o exemplo em inglês das palavras
reduce e deduce, que são radicais, pois agem como qualquer outro verbo regular e podem
adotar o sufixo de passado. Contudo, não são raízes, pois podem ser analisados em duas
partes, -duce, mais um prefixo derivacional re- ou de-. Desse modo, podemos dizer que
algumas raízes são radicais e alguns radicais são raízes, como (dog-), mas raiz e radical não
são a mesma coisa, pois existem raízes que não são radicais, como (-duce) e radicais que não
são raízes, como (reduce).
Neste estudo, também, não poderíamos deixar de fora os clíticos que são morfemas
presos e que desempenham uma tarefa em uma unidade estrutural maior do que uma palavra,
mas ainda precisa se ligar fonologicamente à alguma outra palavra. Uma palavra à qual um
clítico se liga é conhecida como “hospedeiro”. Os clíticos, geralmente, se anexam à primeira
ou à última palavra de uma frase sintática, seja ela um substantivo, um verbo, um advérbio,
um auxiliar, ou qualquer outra classe de palavra. A palavra the em inglês, por exemplo, é um
clítico, pois não pode ser usado no discurso padrão sem ser anexada à alguma outra forma, e
seu hospedeiro pode ser qualquer uma das diversas partes de uma frase nominal, como: the
dog - the cliticizado a um nome; the big dog - the cliticizado a um modificador; e the two big
dogs - the cliticizado a um numeral (PAYNE, 2006).
Nas estruturas das línguas do mundo há, também, os tipos de palavras conhecidas
como protótipos e pinguins. Contudo, uma palavra é um conceito difícil de definir. Assim,
sugerimos que a definição mais aceitável é a menor unidade estrutural que pode ocorrer entre
as pausas. Contudo, não há estudos empíricos conclusivos quanto a essa definição de fato
corresponder a qualquer categoria linguística universal. As palavras podem conter um ou mais
morfemas, de forma, que os morfemas livres podem ser palavras, como (dog), mas nem todas
as palavras são morfemas livres, pois podem ser morfologicamente complexos, como em
(dogs). Por exemplo, um protótipo é o melhor exemplo de uma categoria (Coleman e Kay,
1981). Por exemplo, para a maioria dos anglófonos (aqueles que falam o inglês como língua
oficial ou dominante) um pardal está provavelmente próximo ao protótipo da categoria de
“pássaro”. Os pinguins, perus e galinhas também são pássaros, mas não são os melhores
exemplos dessa categoria na visão desses falantes.
Este artigo está estruturado a partir desta Introdução que apresenta uma breve
abordagem da morfologia das línguas; da Seção 2 que aborda sobre os procedimentos
metodológicos do estudo; Seção 3 que discute as análises das estruturas das línguas do
mundo; e a Seção 4 traz as considerações finais.
2. Procedimentos metodológicos
Desse modo, a hipótese mais plausível é que o estudo das estruturas morfológicas das
línguas contribui para o entendimento do funcionamento desses idiomas e das formações de
seus processos morfológicos. Assim, os objetivos propostos são: analisar as estruturas
morfológicas do português brasileiro, do inglês, do katu, do nheengatu, do suaíli e do terêna;
identificar como ocorre os processos morfológicos no português brasileiro, no inglês, no katu,
no nheengatu, no suaíli e no terêna; e explorar as particularidades das estruturas morfológicas
de cada uma dessas línguas.
Para tanto, o trabalho tem como base norteadora principal os textos de Payne (2006),
Merrifield (1987) e Mithun (1984). Entretanto, outras fontes são consultadas ao longo do
desenvolvimento do estudo. Os tópicos principais analisados são os tipos de expressões
lexicais, morfológicas e sintáticas, dados de flexão e derivação, análises de processos
morfológicos de prefixação, sufixação, circunfixação, transfixação ou morfologia não-
concatenativa, infixação, alternância vocálica ou modificação da raiz das estruturas
linguísticas dos idiomas pesquisados, conforme descritos na seção 3 deste trabalho.
3.1.1.1 Prefixação: P-
Feliz In-feliz
Por Trans-por
Conceito Pre-conceito
3.1.1.2 Sufixação: -S
Livro Livros
Não existe no português, pois à análise que parece ser infixação, na verdade, é um
processo lexical:
Tarde En-tard-ecer
Manhã A-manh-ecer
Flor Flor-escer
Gaveta En-gavet-ar
Verde Es-verd-ear
Vermelho A-vermelh-ar
Fábrica / Fabrica
Dúvida / Duvida
Secretária / Secretaria
3.1.1.7 Composição:
Cantando
Cant’canatar’
-a VT 1 CONJ
-ndo CONT (CONTÍNUO) (Aspecto)
Fugir
Fug ‘fugir’.
-i VT 3 CONJ
-r INF
Combinado
Combin ‘combinar’
-a VT 1 CONJ
-do PART /-d PART -o MASC - ɸ SING
Cartas
Cart ‘carta’
-a VT
-s PLU
Pentes
Pent ‘pente’
-e- VT
-s PLU
Pires
Pires ‘pires’ (Monomorfêmica)
Café
Café ‘café’
- ɸ MASC
- ɸ SING
Menino
Menin ‘menino’
- ɸ SING
Professor
Professor ‘professor’
- ɸ MASC
- ɸ SING
Descongelar
Des- OPO (OPOSIÇÃO)
Con- ASSOC (associativo)
Gel ‘gelo’
-a- V. T. 1 CONJ.
-r INF
Infelicidade
In- PREF NEG
Felic ‘feliz’
-iade SUBST (substantivador)
- ɸ SING
Lealdade
Leal ‘leal’
-dade SUBST (substantivador)
- ɸ SING
Flexibilizar
Flex ‘flexo’
-ível ADJET (adjetivador)
-iz VERBAL (verbalizador)
-a- VT 1 CONJ
-r INF
Amarelar
Amarel ‘ amarelo’
-a V T 1 CONJ
-r INF
Essas são algumas estruturas morfológicas da língua portuguesa que podem ser
estudas a partir de análise linguística através da morfologia das palavras. O termo
“morfologia” é proveniente do grego “morphe” significa (morfo = forma) e “logia” (logos =
estudo), ou seja, o estudo da forma, da estrutura, da formação e classificação das palavras.
1. ‘look’ lυk lυkt 10. ‘belong’ bəlɔŋ bəlɔŋd 1. olhar 10. pertencer
2. ‘float’ flout floutəd 11. ‘sip’ sɹp sɹpt 2. flutuar 11. sorver
3. ‘play’ pleі pleіd 12. ‘create’ kɹieit kɹieitəd 3. jogar 12. criar
4. ‘wash’ waʃ waʃt 13. ‘bomb’ bɔm bɔmd 4. lavar 13. bombear
5. ‘plod’ plɔd plɔdəd 14. ‘watch’ watʄ watʄt 5. arrastar-se 14. assistir
6. ‘peer’ piɹ piɹd 15. ‘want’ want wantəd 6. igualar 15. querer
7. ‘laugh’ læf læft 16. ‘breathe’ bɹið bɹiðd 7. rir 16. respirar
8. ‘draft’ dɹæft dɹæftəd 17. ‘grease’ gɹis gɹist 8. esboçar 17. lubrificar
9. ‘drag’ dɹæg dɹægd 18. ‘call’ kal kald 9. rebocar 18. chamar
[-t] / k, p, ʃ, f, ʧ, s_____
[-əd] / t, d ______
3.2.1.1 Generalização e análises explicativas das classes naturais de sons nos ambientes
em que estes ocorrem:
[-t] / C _____
[-sonora]
[-alveolar]
[-d] / C ______
[+sonora]
[-alveolar]
V
[-əd] / C ______
[+alveolar]
Solução 1:
{ -d } [-t] / C _____
[-sonora]
[-alveolar]
[-əd] / C _____
[alveolar]
Solução 2:
{ -d } [-t] / C _____
[-sonora]
[-alveolar]
Ø ə / C + __ d
[alveolar]
‘record’
as a verb: "Remember to recórd the show!".
as a noun: "I will keep a récord of that request."
‘permit’
as a verb: "I won't permít that."
as a noun: "We already have a pérmit."
Esse processo fonológico pode ser encontrado em dezenas de pares verbo-substantivo
e verbo-adjetivo e está, gradualmente, se tornando mais padronizado em algumas variantes do
inglês, mas não está presente em todas elas.
Quadro 2. Diagrama de classe da posição dos verbos suaíli representado nos dados abaixo
P3 P2 P1 RAIZ
ninasema ni- 1SG li- PASS wa- 3pl sema ‘falo’ Eu falo
wunasema wu- 2SG na- PRES ni- 1sg sema ‘fala’ Você fala
anasema a- 3SG taka- FUT wu- 2sg sema ‘fala’ Ele fala
wanasema wa- 3PL sema ‘falam’ Eles falam
ninaona ona ‘vejo’ Eu vejo
niliona ona ‘vi’ Eu vi
ninawaona ona ‘vejo’ Eu os vejo
niliwuona ona ‘vi’ Eu vi você
ananiona ona ‘vê’ Ele me vê
wutakaniona ona ‘verá’ Você me verá
aliwaona ona ‘viu’ Ele os viu
nitawuona ona ‘verei’ Eu verei você
aliniona ona ‘viu’ Ele me viu
Nota: Com base nas amostras analisadas, observamos que a estrutura da língua é organizada
da seguinte forma: sujeito/marcador de tempo verbal/objeto/verbo(raiz) e, que não há também
palavras diferentes para as pessoas do discurso a partir de sua classificação na oração. O
morfema “ni” significa “eu” (sujeito) e “me” (objeto), por exemplo. Esta diferenciação é
marcada na posição em que o morfema é colocado na construção.
Navarro (2016)
A língua Terêna é falada na região Sudoeste do estado de Mato Grosso do Sul, Brasil,
principalmente nos municípios de Aquidauana, Miranda, Nioaque, Sidrolândia e Anástácio. A
família linguística Terena são também encontradas em Porto Murtinho na terra indígena
Kadiweu, em Dourados, terra indígena Guarani-Kaiowá, e no estado de São Paulo, no Posto
Araribá, próximo a Avaí e Bauru. O idioma terêna é falado por aproximadamente 26,065 mil
pessoas, de acordo com a (SIASI/SESAI, 2014).
Nota: Uma das particularidades da língua terêna, é o uso do til sobre certas vogais que
indica sua nasalização. Exemplos:
Ao supormos que o padrão da estrutura morfológica nos dados analisados seja regular,
então, em língua Terêna o processo morfológico para "sua casa" e "a casa dele" seria:
Owoku - casa *Pelos exemplos parece que a raiz da palavra é igual a sua flexão de
posse para a 3ª pessoa. Ex: A palavra dele (7); o irmão dele (8); a casa
dele (9).
4. Considerações finais
Referências bibliográficas
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