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Artigo Morfologia

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Universidade de Brasília - Unb

Instituto de Letras – IL
Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas – LIP
Programa de Pós-graduação em Linguística – PPGL

Morfologia: explorando as estruturas das línguas do mundo

Ademar dos Santos Lima/Unb/PPGL


Rosineide Magalhães de Sousa (LEdoC/FUP/UnB)

RESUMO

Neste artigo, apresentamos uma breve análise das estruturas morfológicas de algumas línguas faladas no mundo.
Desse modo, na organização e desenvolvimento da discussão deste estudo, selecionamos o português brasileiro,
o inglês, o katu, o Nheengatu, o Suaíli e o Terêna, línguas que são faladas por centenas de falantes em suas
comunidades linguísticas. As metodologias utilizadas foram à abordagem qualitativa e pesquisa exploratória, e
as técnicas empregadas foram de metapesquisa com foco na triangulação de dados das estruturas morfológicas
das línguas pesquisadas. O estudo envolveu tipos de expressões lexicais, morfológicas e sintáticas, dados de
flexão e derivação, análises de processos morfológicos de prefixação, sufixação, circunfixação, transfixação ou
morfologia não-concatenativa, infixação, alternância vocálica ou modificação da raiz das estruturas linguísticas
das línguas pesquisadas.

Palavras-chave: Linguagem; estrutura morfológica; análise linguística.

ABSTRACT

In this article, we present a brief analysis of the morphological structures of some languages spoken in the world.
Thus, in the organization and development of the discussion of this study, we selected Brazilian Portuguese,
English, Katu, Nheengatu, Swahili and Terêna, languages that are spoken by hundreds of speakers in their lin-
guistics communities. The methodologies used were the qualitative approach and exploratory research, and the
techniques used were meta-research with a focus on data triangulation of the morphological structures of the re-
searched languages. The study involved types of lexical, morphological and syntactic expressions, inflection and
derivation data, analysis of morphological processes of prefixing, suffixation, circumfixation, transfixation or
non-concatenative morphology, infixation, vowel alternation or modification of the root of the linguistic struc-
tures of the researched languages.

Keywords: Language; morphological structure; linguistics analysis.

1. Introdução

Você já parou para pensar quantas línguas há no mundo? Atualmente existem


aproximadamente 7.000 idiomas, mas apenas 23 deles são falados por mais da metade da
população do planeta terra, e entre esses estão o português, o inglês, o katu, o nheengatu, o
suaíli e o terêna, os quais, analisamos suas estruturas morfológicas neste trabalho. O processo
morfológico de explorar os diferentes tipos de expressões utilizadas pelas línguas para
permitir que seus falantes expressem variações de significados. Payne (2006) sugere que que
se deve considerar três tipos de expressões: “expressão lexical, processos morfológicos e
padrões sintáticos ou analíticos”.

No caso da expressão lexical, é quando o processo requer que o falante consulte o seu
inventário léxico mental para expressar uma nuance particular de significado. Normalmente,
envolve a substituição de um item lexical por outro. Exemplo: boi / vaca. Mas há, também, os
subtipos de expressões lexicais, como: Supleção (forte) da raiz – usa uma raiz completamente
diferente (go→went); supleção fraca da raiz – usa um raiz um pouco diferente (buy→bought),
e isomorfismo – usa a mesma raiz (hit→hit). Já os processos morfológicos são aqueles que
expressam variações no significado ao alterar as formas das palavras de uma maneira
previsível. Exemplo: gato / gata.
No caso dos padrões sintáticos, eles expressam variações regulares no significado ao
combinar ou rearranjar itens lexicais relacionados uns aos outros. Exemplo: Meu irmão é
alto / meu irmão é muito alto. Para Fillmore apud Payne, 2006, P. 11), “O que distingue o
léxico da morfossintática é a diferença entre o que os falantes precisam saber imediatamente,
do que eles podem construir com base no que já sabem”. À medida que os itens do léxico de
uma língua passam por mudanças normais ao longo do tempo, normalmente, começam como
palavras lexicais plenas e tornam-se morfemas gramaticais (raramente ocorre o inverso).
Nesse sentido, é útil tentar classificar as entradas lexicais de uma língua entre as palavras
lexicais plenas por um lado e, entre os morfemas gramaticais por outro. Isso ajuda muito na
análise de línguas específicas e na contextualização de como as estruturas gramaticais
funcionam e mudam ao longo do tempo. Entre os idiomas do mundo, existem mais
substantivos em qualquer língua do que pronomes, e é mais fácil adicionar uma palavra
lexical plena ao vocabulário de uma língua do que adicionar um morfema gramatical. Como,
por exemplo: palavras lexicais plenas do inglês, como rabbit, Alice, fall e ramification.

Palavras lexicais plenas têm um certo grau de conteúdo semântico ou conteúdo lexical, se
comparado aos morfemas gramaticais. Por exemplo, uma palavra como rabbit (coelho) evoca
uma imagem bastante complexa com diversas características semânticas: mamífero, orelhas
longas, pele macia, nariz enrugado, se move pulando, e muito mais. Um pronome como she
(ela), por outro lado, evoca exatamente três características semânticas, ou seja, terceira
pessoa, singular e feminino (PAYNE, 2006).
No caso de morfemas gramaticais, os fenômenos linguísticos ocorrem em séries (ou
paradigmas) relativamente pequenos, tais como os pronomes: I, me, you, we, us, she, they, e
em preposições como: in, on, of, under etc. Também em afixos, tais como o passado com -ed,
e o plural com –s em inglês. Eles tendem, também, a ser menores do que as palavras lexicais
plenas, tanto em número de segmentos fonéticos quanto em número de componentes de
significado que expressam.

Logo, se pode sugerir que o “morfema” é uma forma mínima. Para a linguística, a
definição clássica de morfema é uma forma ou pedaço estrutural mínimo que expressa
significado. Por exemplo, a palavra inglesa dogs contém dois morfemas: dog que expressa o
significado principal de uma palavra e -s que expressa o significado de plural (mais de um).
Por esses aspectos, é adequado pensar a “morfologia” como um sistema estabelecido nas
formas das palavras, ao invés de simples fios de pedaços significativos.
Nesse sentido, podemos classificar os tipos de morfemas. Por exemplo: um morfema
preso é aquele que precisa estar unido a algum outro morfema para poder ser usado
naturalmente no discurso. Os morfemas confinados podem ser afixos, raízes ou clíticos. O -s
em dogs, é um exemplo de um morfema confinado, porque não tem um significado de plural
quando pronunciado isoladamente. A raiz, dog, por outro lado, é um morfema livre, pois não
precisa se unir a outra forma. Assim, em diversas línguas do mundo, as raízes são ligadas à
morfemas porque não podem ser usadas no discurso sem algo anexado a elas.

Outro importante morfema da estrutura da língua é o “afixo”, um termo abrangente para


prefixo, sufixo e infixo. Os prefixos são morfemas presos que ocorrem no início de uma raiz.
Por exemplo, a forma in- de “infeliz” é um prefixo. Já os sufixos são morfemas presos que
ocorrem no final de uma raiz. Por exemplo: o -zal de “cafezal” é um sufixo. Os infixos são
elementos intercalados ou infixados nos radicais dos vocábulos, e geralmente, se figuram em
certos vocábulos derivados entre o radical e um sufixo, por exemplo, como em -l- de
“chaleira”, ou em -t- de “cafeteira”.

Os termos raiz e radical são, às vezes, usados um pelo outro. Entretanto, há uma sutil
diferença entre eles: uma raiz, por exemplo, é um morfema que expressa o significado básico
de uma palavra e não pode ser subdividida em morfemas menores. No entanto, uma raiz,
necessariamente, não constitui uma palavra completamente inteligível em si mesma. Outro
morfema pode ser necessário, como no exemplo da palavra struct do inglês, que é uma raiz
porque não pode ser dividida em partes menores significativas. Contudo, não pode ser,
também, usada no discurso sem um prefixo ou um sufixo adicionado a ela, como construct,
structural, destruction etc (PAYNE, 2006).

Já o radical, pode ser constituído de uma raiz apenas. Entretanto, pode ser também
analisado como uma raiz mais morfemas derivacionais. Como uma raiz, um radical pode ou
não ser uma palavra completamente inteligível. Como o exemplo em inglês das palavras
reduce e deduce, que são radicais, pois agem como qualquer outro verbo regular e podem
adotar o sufixo de passado. Contudo, não são raízes, pois podem ser analisados em duas
partes, -duce, mais um prefixo derivacional re- ou de-. Desse modo, podemos dizer que
algumas raízes são radicais e alguns radicais são raízes, como (dog-), mas raiz e radical não
são a mesma coisa, pois existem raízes que não são radicais, como (-duce) e radicais que não
são raízes, como (reduce).

Neste estudo, também, não poderíamos deixar de fora os clíticos que são morfemas
presos e que desempenham uma tarefa em uma unidade estrutural maior do que uma palavra,
mas ainda precisa se ligar fonologicamente à alguma outra palavra. Uma palavra à qual um
clítico se liga é conhecida como “hospedeiro”. Os clíticos, geralmente, se anexam à primeira
ou à última palavra de uma frase sintática, seja ela um substantivo, um verbo, um advérbio,
um auxiliar, ou qualquer outra classe de palavra. A palavra the em inglês, por exemplo, é um
clítico, pois não pode ser usado no discurso padrão sem ser anexada à alguma outra forma, e
seu hospedeiro pode ser qualquer uma das diversas partes de uma frase nominal, como: the
dog - the cliticizado a um nome; the big dog - the cliticizado a um modificador; e the two big
dogs - the cliticizado a um numeral (PAYNE, 2006).

Nas estruturas das línguas do mundo há, também, os tipos de palavras conhecidas
como protótipos e pinguins. Contudo, uma palavra é um conceito difícil de definir. Assim,
sugerimos que a definição mais aceitável é a menor unidade estrutural que pode ocorrer entre
as pausas. Contudo, não há estudos empíricos conclusivos quanto a essa definição de fato
corresponder a qualquer categoria linguística universal. As palavras podem conter um ou mais
morfemas, de forma, que os morfemas livres podem ser palavras, como (dog), mas nem todas
as palavras são morfemas livres, pois podem ser morfologicamente complexos, como em
(dogs). Por exemplo, um protótipo é o melhor exemplo de uma categoria (Coleman e Kay,
1981). Por exemplo, para a maioria dos anglófonos (aqueles que falam o inglês como língua
oficial ou dominante) um pardal está provavelmente próximo ao protótipo da categoria de
“pássaro”. Os pinguins, perus e galinhas também são pássaros, mas não são os melhores
exemplos dessa categoria na visão desses falantes.

Entre as formas de analisar as estruturas das línguas do mundo, a glosa de dados


linguísticos é um dos trabalhos relevantes de estudo das unidades linguísticas. Uma glosa é,
simplesmente, uma breve caracterização do significado de uma forma linguística,
normalmente em outra língua. Por exemplo, uma boa glosa em inglês para a palavra em
português brasileiro comer seria 'eat'. Uma vez que comer é uma palavra lexical plena
(pertencente à classe dos verbos). Logo, a glosa é dada em inglês em letras minúsculas.
Quando se glosa um morfema gramatical, no entanto, há uma tradição linguística de usar
letras maiúsculas, assim como um tipo de abreviação do significado. Por exemplo, uma glosa
para o sufixo -ed em inglês poderia ser PAST, ou PT (Past Tense). As glosas não devem
expressar os significados dos morfemas de maneira exaustiva, ou seja, elas não são feitas para
substituir um dicionário, mas sim permitir que os leitores compreendam mostras breves de
línguas com as quais eles não estão familiarizados.

Este artigo está estruturado a partir desta Introdução que apresenta uma breve
abordagem da morfologia das línguas; da Seção 2 que aborda sobre os procedimentos
metodológicos do estudo; Seção 3 que discute as análises das estruturas das línguas do
mundo; e a Seção 4 traz as considerações finais.

2. Procedimentos metodológicos

A metodologia utilizada é de abordagem qualitativa e pesquisa exploratória, e as


técnicas empregadas são de metapesquisa com foco na triangulação de dados das estruturas
morfológicas das línguas português brasileiro, inglês, katu, nheengatu, suaíli e terêna. Para a
exploração das estruturas morfológicas dessas línguas, propomos a seguinte questão: em que
medida as análises linguísticas são relevantes para o estudo das estruturas morfológicas das
línguas?

Desse modo, a hipótese mais plausível é que o estudo das estruturas morfológicas das
línguas contribui para o entendimento do funcionamento desses idiomas e das formações de
seus processos morfológicos. Assim, os objetivos propostos são: analisar as estruturas
morfológicas do português brasileiro, do inglês, do katu, do nheengatu, do suaíli e do terêna;
identificar como ocorre os processos morfológicos no português brasileiro, no inglês, no katu,
no nheengatu, no suaíli e no terêna; e explorar as particularidades das estruturas morfológicas
de cada uma dessas línguas.

Para tanto, o trabalho tem como base norteadora principal os textos de Payne (2006),
Merrifield (1987) e Mithun (1984). Entretanto, outras fontes são consultadas ao longo do
desenvolvimento do estudo. Os tópicos principais analisados são os tipos de expressões
lexicais, morfológicas e sintáticas, dados de flexão e derivação, análises de processos
morfológicos de prefixação, sufixação, circunfixação, transfixação ou morfologia não-
concatenativa, infixação, alternância vocálica ou modificação da raiz das estruturas
linguísticas dos idiomas pesquisados, conforme descritos na seção 3 deste trabalho.

3. Explorando as estruturas das línguas do mundo


“O que distingue o léxico da morfossintática é a diferença entre o
que os falantes precisam saber imediatamente, do que eles podem
construir com base no que já sabem” (CHARLES FILLMORE in
PAYNE, 2006, P. 11).

3.1 Explorando a estrutura do português brasileiro

3.1.1 Processos morfológicos

3.1.1.1 Prefixação: P-

Feliz In-feliz
Por  Trans-por
Conceito  Pre-conceito

3.1.1.2 Sufixação: -S
Livro  Livros

3.1.1.3 Infixação: -IN-

Não existe no português, pois à análise que parece ser infixação, na verdade, é um
processo lexical:

Cantar-te-ei  Hei de cantar


Dar-te-ei Dar hei ou hei de dar
Quaisquer  Qualquer
Sol  Soi-s

3.1.1.4 Circunfixação: C-....-O

Não existe no português, os exemplos abaixo são de prefixação e sufixação


simultâneas, como:

Tarde  En-tard-ecer
Manhã  A-manh-ecer
Flor  Flor-escer
Gaveta  En-gavet-ar
Verde  Es-verd-ear
Vermelho  A-vermelh-ar

3.1.1.5 Alternância vocálica ou modificação da raiz:

{Fiz ~ Fez (modificação da raiz)


Tive ~ Teve (modificação da raiz)
Fui ~ Foi (modificação da raiz)
Pus ~ Pôs (modificação da raiz)
Pude ~ Pode (modificação da raiz)
Avó ~ Avô (alternância)
Senhor-a ~ Senhor-ø (adição de sufixo e alternância)
Porc-a ~ Porc-o (adição de sufixo e alternância)

3.1.1.6 Suprassegmentação ou autossegmentação:

Fábrica / Fabrica
Dúvida / Duvida
Secretária / Secretaria

3.1.1.7 Composição:

O processo de composição junta uma base (um elemento independente do léxico) à


outra, com ou sem modificação de sua estrutura fônica, aglutinando-se, como em
“aguardente”, ou justapondo-se, como em “pentacampeão”. Em relação a forma, os elementos
do composto apresentam uma relação entre o núcleo e um modificador ou entre o núcleo e um
complemento:

N+N=N couve-flor, sofá-cama, mestre-sala, peixe-espada


V+N=N louva-a-Deus, guarda-chuva, guarda-roupa, porta-estandarte, beija-flor
N + ADJ = N planalto, amor-perfeito, caixa-alta, livre-arbítrio, belas-artes
Processo morfológico que utiliza mecanismos sintáticos para fins lexicais, isto é, a
criação de novas palavras, gerando sempre um nome:

Composição transparente: sofá-cama

Composição metafórica: olho-de-sogra

Em termos de função, a composição é feita por uma razão. Alguma entidade,


qualidade ou atividade é reconhecida com frequência suficiente para ser considerada digna de
nome por si só. Isso vale para compostos verbais que são cunhados como nomes de atividades
reconhecíveis e muito específicas, por meio do processo denominado de incorporação.
Exemplos:

Cantando
Cant’canatar’
-a VT 1 CONJ
-ndo CONT (CONTÍNUO) (Aspecto)
Fugir
Fug ‘fugir’.
-i VT 3 CONJ
-r INF
Combinado
Combin ‘combinar’
-a VT 1 CONJ
-do PART /-d PART -o MASC - ɸ SING
Cartas
Cart ‘carta’
-a VT
-s PLU
Pentes
Pent ‘pente’
-e- VT
-s PLU
Pires
Pires ‘pires’ (Monomorfêmica)
Café
Café ‘café’
- ɸ MASC
- ɸ SING

Menino
Menin ‘menino’
- ɸ SING
Professor
Professor ‘professor’
- ɸ MASC
- ɸ SING
Descongelar
Des- OPO (OPOSIÇÃO)
Con- ASSOC (associativo)
Gel ‘gelo’
-a- V. T. 1 CONJ.
-r INF
Infelicidade
In- PREF NEG
Felic ‘feliz’
-iade SUBST (substantivador)
- ɸ SING
Lealdade
Leal ‘leal’
-dade SUBST (substantivador)
- ɸ SING
Flexibilizar
Flex ‘flexo’
-ível ADJET (adjetivador)
-iz VERBAL (verbalizador)
-a- VT 1 CONJ
-r INF
Amarelar
Amarel ‘ amarelo’
-a V T 1 CONJ
-r INF
Essas são algumas estruturas morfológicas da língua portuguesa que podem ser
estudas a partir de análise linguística através da morfologia das palavras. O termo
“morfologia” é proveniente do grego “morphe” significa (morfo = forma) e “logia” (logos =
estudo), ou seja, o estudo da forma, da estrutura, da formação e classificação das palavras.

3.2 Explorando a estrutura da língua inglesa

A língua inglesa é um idioma da família linguística germânica ocidental e surgiu nos


reinos anglo-saxônicos da região da Inglaterra, e posteriormente, se espalhou para a Escócia,
Irlanda do Norte e País de Gales, sob a influência do reino anglo medieval da Nortúmbria.
Após séculos de extensa influência do Império Britânico em suas colônias, e dos Estados
Unidos desde meados do século XX, o inglês difundiu-se amplamente para todo o planeta
(ETHNOLOGUE, 2021).

3.2.1 Processos morfológicos e categorias conceituais em língua inglesa, conforme os


estudos de (PAYNE, 2006, p. 32 – 58).

As análises das estruturas morfológicas dos verbos em inglês no presente e no passado


do quadro abaixo foram desenvolvidas a partir de um exercício de morfologia propostos por
Payne (2006), em seu livro Exploring Language Structure, a Student's Guide (Explorando a
estrutura da língua, um guia do estudante).
Quadro 1. Explorando a estrutura dos verbos em inglês

MEANING PRESENT PAST MEANING PRESENT PAST TRADUÇÃO

1. ‘look’ lυk lυkt 10. ‘belong’ bəlɔŋ bəlɔŋd 1. olhar 10. pertencer
2. ‘float’ flout floutəd 11. ‘sip’ sɹp sɹpt 2. flutuar 11. sorver
3. ‘play’ pleі pleіd 12. ‘create’ kɹieit kɹieitəd 3. jogar 12. criar
4. ‘wash’ waʃ waʃt 13. ‘bomb’ bɔm bɔmd 4. lavar 13. bombear
5. ‘plod’ plɔd plɔdəd 14. ‘watch’ watʄ watʄt 5. arrastar-se 14. assistir
6. ‘peer’ piɹ piɹd 15. ‘want’ want wantəd 6. igualar 15. querer
7. ‘laugh’ læf læft 16. ‘breathe’ bɹið bɹiðd 7. rir 16. respirar
8. ‘draft’ dɹæft dɹæftəd 17. ‘grease’ gɹis gɹist 8. esboçar 17. lubrificar
9. ‘drag’ dɹæg dɹægd 18. ‘call’ kal kald 9. rebocar 18. chamar

Fonte: Adaptado de Payne (2006)

Os dados do Quadro 1 estão representados por 20 morfemas, sendo 18 raízes, mais Ø


'presente' e -d 'passado'. Também, encontramos neste quadro de palavras alomorfes e os
identificamos suas distribuições nos ambientes em que cada um ocorre:

[-t] / k, p, ʃ, f, ʧ, s_____

[-d] / ei, ɹ, g, ŋ, m, ð, l ______

[-əd] / t, d ______

3.2.1.1 Generalização e análises explicativas das classes naturais de sons nos ambientes
em que estes ocorrem:

[-t] / C _____
[-sonora]
[-alveolar]

[-d] / C ______
[+sonora]
[-alveolar]
V

[-əd] / C ______
[+alveolar]

3.2.1.2 Evidências para a forma subjacente do morfema de passado do inglês:


| -d | é a melhor forma subjacente porque ocorre nos ambientes mais complicados. É o
único alomorfe que ocorre após uma vogal e é aquele em que explica de maneira mais
fácil a derivação para as demais formas.

3.2.1.3 As regras morfofonêmicas finais dos alomorfes são:

Solução 1:

{ -d }  [-t] / C _____
[-sonora]
[-alveolar]

[-əd] / C _____
[alveolar]

[-d] / n.d.a (nos demais ambientes)

Solução 2:
{ -d }  [-t] / C _____
[-sonora]
[-alveolar]

{ -d }  [-d] / n.d.a (nos demais ambientes)

Ø  ə / C + __ d
[alveolar]

3.2.2 Adição de acentos para indicar a tonicidade e mudança de significado e de classe


de palavra:
As palavras em inglês na primeira coluna são enfatizadas (ou acentuadas) na segunda
sílaba, enquanto as da segunda coluna são enfatizadas na primeira. Como esses pares de
palavras têm a mesma grafia, adicionamos acentos para indicar a tonicidade e, assim, ocorre a
mudança de classe de palavra e de significado:

1. permít (verb) pérmit (sub.)


2. recórd (verb) récord (sub.)
3. convért (verb) convert (sub.)
4. rejéct (verb) reject (sub.)
5. prodúce (verb) produce (sub.)
É um processo fonológico em língua inglesa que move o acento para a primeira sílaba
dos verbos quando eles são usados como substantivos ou adjetivos. Esse processo é
denominado de autossegmental. Exemplos:

‘record’
as a verb: "Remember to recórd the show!".
as a noun: "I will keep a récord of that request."

‘permit’
as a verb: "I won't permít that."
as a noun: "We already have a pérmit."
Esse processo fonológico pode ser encontrado em dezenas de pares verbo-substantivo
e verbo-adjetivo e está, gradualmente, se tornando mais padronizado em algumas variantes do
inglês, mas não está presente em todas elas.

3.3 Explorando a estrutura da língua suaíli do Congo Oriental

A língua suaíli pertence a família linguística Nigero-congolesa e é falada por


aproximadamente 50 milhões de pessoas. Esse idioma possui diferentes variedades de fala
que se extende pela África Oriental e Austral. A variedade representada nesta análise é falada
por milhas de pessoas na região do Congo Oriental.

1. ninasema ‘Eu falo’


2. wunasema ‘Você fala’
3. anasema ‘Ele fala’
4. wanasema ‘Eles ou elas falam’
5. ninaona ‘Eu vejo’
6. niliona ‘Eu vi’
7. ninawaona ‘Eu vejo eles ou eu os vejo’
8. niliwuona ‘Eu vi você’
9. ananiona ‘Ele me vê’
10. wutakaniona ‘Você me verá’
11. aliwaona ‘Ele os viu’
12. nitakawuona ‘Eu o verei’
13. aliniona ‘Ele me viu’

Quadro 2. Diagrama de classe da posição dos verbos suaíli representado nos dados abaixo

P3 P2 P1 RAIZ

ni- 1SG li- PASS wa- 3pl sema ‘falar’


wu- 2SG na- PRES ni- 1sg ona ‘ver’
a- 3SG taka- FUT wu- 2sg
wa- 3PL

SUAÍLI SUJEITO TEMPO OBJETO RAIZ TRADUÇÃO

ninasema ni- 1SG li- PASS wa- 3pl sema ‘falo’ Eu falo
wunasema wu- 2SG na- PRES ni- 1sg sema ‘fala’ Você fala
anasema a- 3SG taka- FUT wu- 2sg sema ‘fala’ Ele fala
wanasema wa- 3PL sema ‘falam’ Eles falam
ninaona ona ‘vejo’ Eu vejo
niliona ona ‘vi’ Eu vi
ninawaona ona ‘vejo’ Eu os vejo
niliwuona ona ‘vi’ Eu vi você
ananiona ona ‘vê’ Ele me vê
wutakaniona ona ‘verá’ Você me verá
aliwaona ona ‘viu’ Ele os viu
nitawuona ona ‘verei’ Eu verei você
aliniona ona ‘viu’ Ele me viu

Fonte: Adaptado de Payne (2006)

Nota: Com base nas amostras analisadas, observamos que a estrutura da língua é organizada
da seguinte forma: sujeito/marcador de tempo verbal/objeto/verbo(raiz) e, que não há também
palavras diferentes para as pessoas do discurso a partir de sua classificação na oração. O
morfema “ni” significa “eu” (sujeito) e “me” (objeto), por exemplo. Esta diferenciação é
marcada na posição em que o morfema é colocado na construção.

3.4 Explorando a estrutura da língua katu


A língua katu é falada no Laos Oriental e no Vietnã Central e pertence as 15 línguas
katuicas que formam o ramo das línguas austro-asiáticas faladas por cerca de 1,3 milhão de
pessoas no sudeste da Ásia. As pessoas que falam as línguas Katuicas são chamadas de povos
Katuicos. Exemplos de palavras e construção da estrutura em língua katu, em que o processo
morfológico nesse idioma se dá por meio de infixação de an depois da primeira consoante:

1. gap ‘cortar’ 5. ganap ‘tesoura’


2. juut ‘esfregar’ 6. januut ‘pano’
3. panh ‘atirar’ 7. pananh ‘besta, arco medieval’
4. piih ‘varrer’ 8. paniih ‘vassoura’

O processo morfológico analisado nos dados indica que é um processo instrumental de


infixo usado para realizar uma ação expressa pelo verbo em língua katu. Desse modo, ao
descrevermos a categoria conceitual que distingue as palavras na segunda coluna das palavras
correspondentes na primeira coluna, temos na primeira coluna os verbos que foram
transformados em uma categoria de substantivos na segunda coluna por meio de infixação.
Nesse caso, os morfemas de cinco a oito mudam a raiz e de classe de palavras que passam a
ser substantivos.

3.5 Explorando a estrutura da língua nheengatu

A língua geral amazônica (LGA), atualmente chamada de Nheengatu pertence à


família linguística do Tupi-Guarani do subconjunto III, e sua origem se deu a partir do
Tupinambá que, para Métraux (1948, p. 95); Cruz (2011), foi uma língua falada por dois
grupos indígenas com mesmo nome de “Tupinambá” na costa do Oceano Atlântico, Brasil,
mais precisamente do grupo que vivia entre a província do Maranhão e a confluência do rio
Amazonas e rio Tapajós, província do Grão-Pará, no século XVI.

A língua nheengatu, atualmente possui aproximadamente 20 mil falantes, espalhados


por comunidades linguísticas que vai desde a região fronteiriça entre Brasil, Colômbia e
Venezuela. No Brasil, o nheengatu é falado nas regiões do Alto, Médio e Baixo Rio Negro, no
Rio Solimões e Madeira, e, no Baixo Rio Tapajós, no estado do Pará. A característica
gramatical do nheengatu é de uma língua nominativo-acusativa, ordem gramatical sujeito-
verbo-objeto (SVO), posposições determinate-Ql-nome-adjetivo (DQlNA), nome-genitivo
(gN), interrogação frontalizado – partícula interrogativa binária sem gênero, morfema de
plural opcional sem classificadores e sem artigo definido, com artigo indefinido. Exemplo de
conjugação verbal no modo indicativo presente, passado perfeito e futuro em nheengatu do
verbo iku (estar):

Quadro 3. A conjugação e os tempos verbais em nheengatu


Fon
P3 P2 RAIZ
te:
a- 1SG ana PASS iku ‘estar’
re- 2SG -iku PRES
u- 3SG Kuri FUT
ya- 1PL
pe- 2PL
tá- 3PL

NHEENGATU SUJEITO TEMPO RAIZ TRADUÇÃO

aiku ana a- 1SG ana PASS iku ‘estar’ Eu estive


reiku re- 2SG -iku PRES Tu estás
uiku kurí u- 3SG Ele ou ela estará
kurí FUT
yaiku
ya- 1PL Nós estamos
peiku ana
pe- 2PL Vós estivestes
táiku kurí
tá- 3PL Eles ou elas estarão

Navarro (2016)

3.6 Explorando a estrutura da língua terêna

A língua Terêna é falada na região Sudoeste do estado de Mato Grosso do Sul, Brasil,
principalmente nos municípios de Aquidauana, Miranda, Nioaque, Sidrolândia e Anástácio. A
família linguística Terena são também encontradas em Porto Murtinho na terra indígena
Kadiweu, em Dourados, terra indígena Guarani-Kaiowá, e no estado de São Paulo, no Posto
Araribá, próximo a Avaí e Bauru. O idioma terêna é falado por aproximadamente 26,065 mil
pessoas, de acordo com a (SIASI/SESAI, 2014).

Nota: Uma das particularidades da língua terêna, é o uso do til sobre certas vogais que
indica sua nasalização. Exemplos:

1. ẽmõʔῦ ‘minha palvra’ 6. ‘sua casa’


2. ãyõ ‘meu irmão’ 7. emoʔu ‘a palavra dele’
3. õwõkῦ ‘minha casa’ 8. ayo ‘o irmão dele’
4. yemoʔu ‘sua palvra’ 9. ‘a casa dele’
5. yayo ‘seu irmão’

Ao supormos que o padrão da estrutura morfológica nos dados analisados seja regular,
então, em língua Terêna o processo morfológico para "sua casa" e "a casa dele" seria:

yowoku ‘sua casa’


owoku ‘a casa dele’

No Quadro 4,listamos e analisamos os morfemas dos dados apresentados, e o processo


morfológico que é representado pelo morfema que significa "meu" é uma variação
suprassegmental.

Quadro 4. Variação suprassegmental.

RAIZ AFIXOS/ALTERNÂNCIA VOCÁLICA (NASALIZAÇÃO)

Emo?u - palavra Y – prefixo que indica “seu” “teu”/ 2sg/poss

Ayo - irmão ~ representa a nasalização de vogais e indica “meu” Ø- 3 sg/poss

Owoku - casa *Pelos exemplos parece que a raiz da palavra é igual a sua flexão de
posse para a 3ª pessoa. Ex: A palavra dele (7); o irmão dele (8); a casa
dele (9).

Fonte: Adaptado de Payne (2006)

Nota: O processo morfológico ocorre por meio suprassegmental e o emprego da


acentuação do til sobre certas vogais [ã]; [ẽ] and [õ] (my). Nasalização.

4. Considerações finais

Neste trabalho, apresentamos por meio de análises morfológicas as estruturas das


línguas português brasileiro, inglês, katu, nheengatu, suaíli e terêna, tendo como foco
principal os temas sobre expressões lexicais, expressões morfológicas e sintáticas, dados de
flexão e derivação, análises de processos morfológicos de prefixação, sufixação,
circunfixação, transfixação ou morfologia não-concatenativa, infixação, alternância vocálica
ou modificação da raiz das estruturas linguísticas dos idiomas estudados.
Nossa intenção foi de mostrar um pouco da morfologia das línguas analisadas neste
trabalho e a relevância dos estudos morfológicos para os idiomas do mundo. Assim, a
hipótese sugerida confere que o estudo das estruturas morfológicas das línguas contribui para
o entendimento do funcionamento desses idiomas e das formações de seus processos
morfológicos.
Desse modo, os objetivos propostos nas análises das estruturas morfológicas do
português brasileiro, do inglês, do katu, do nheengatu, do suaíli e do terêna, a identificação de
como ocorre os processos morfológicos nesses idiomas e a exploração das particularidades
das estruturas morfológicas de cada uma dessas línguas mostra que a pesquisa em morfologia
é essencial para o estudo e compreensão das estruturas das línguas do mundo.

Referências bibliográficas

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