A Sociedade em Rede
A Sociedade em Rede
A Sociedade em Rede
PROPÓSITO
Apresentar criticamente os caminhos e descaminhos que vieram a constituir o mundo que hoje compartilhamos, mostrando possibilidades de
mudança e de construção de novos futuros.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
Fonte: Por TheVisualsYouNeed / Shutterstock
Reconhecer os problemas e as oportunidades trazidas pela consolidação das Sociedades em Rede no século XX
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Desde pequenos, nós aprendemos que vivemos em sociedade. Convivemos com nossa família (em suas diferentes composições) e, com ela,
nós:
Fonte: Por Yuganov Konstantin / Shutterstock.
Aprendemos a respeitar regras e descobrimos os tipos de comportamento que devemos ter para uma boa convivência social.
Fonte: Imagem:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/5f/Norbert_Elias%2C_1987_%28cropped%29.jpg/800px-
Norbert_Elias%2C_1987_%28cropped%29.jpg
Foi um autor que ficou anos em ostracismo, sendo reconhecido após sua morte. Ele dedicou seus estudos e sua vida ao entendimento
da dinâmica social.
Fonte: Shutterstock
Ao longo da vida, inicialmente com nosso núcleo familiar e, depois, na escola, até a fase adulta, vamos desenvolvendo uma série de
competências que nos permitem viver e trabalhar coletivamente. Como isso tudo parece um processo natural, dificilmente paramos para nos
perguntar:
Não há, porém, uma definição última e fechada desse conceito – que
pode, também, ser explicado como um espaço familiar no qual se
inscrevem práticas individuais e coletivas (sempre em relação) e todas
as suas representações, ou seja, os imaginários, visões de mundo etc.
As análises sociológicas e antropológicas podem estudar as
sociedades a partir de diferentes níveis de realidade social, ou de
sistema de relações: enfocando o ordenamento político, econômico,
religioso ou, de modo geral, cultural.
Nossa própria vida também é subdividida em espaços e períodos diversos. Temos o tempo do trabalho, o tempo do lazer, o tempo da família
e, em cada um desses períodos, convivemos com pessoas diferentes.
Mas, ao longo da história humana, nem sempre as coisas funcionaram assim. Como vocês devem saber, a nossa espécie, como todas as
espécies de animais, tem um nome: somos os Homo sapiens sapiens:
HOMO SAPIENS SAPIENS
É o nome usado para denominar a subespécie humana que caracteriza o homem moderno.
O significado de homo sapiens sapiens é homem que sabe o que sabe. Faz referência à sua característica mais marcante: o cérebro
desenvolvido.
Ao longo do que chamamos, convencionalmente, de Pré-história (aqueles milhares de anos em que a humanidade não tinha desenvolvido
formas de escrita), diversos tipos do gênero homo viveram, inclusive nas mesmas épocas, já que o processo evolutivo nunca foi linear. No
interior desse gênero, a espécie que se perpetuou, a que conseguiu desenvolver mais tecnologias e cujo cérebro mais cresceu foi a nossa,
sapiens sapiens.
Os primeiros bandos de homo sapiens eram caçadores-coletores, pois ainda não se sabia como plantar alimentos. Segundo Harari (2015), no
livro Sapiens: uma breve história da humanidade, esses bandos eram relativamente pequenos, pois a necessidade de deslocamento
constante em busca de abrigo e alimentos não permitia a articulação e organização de muitas de pessoas. Além disso, a mortalidade era
grande, tanto por doenças e acidentes, quanto por ataques de animais.
Essa situação mudaria completamente a partir do desenvolvimento da agricultura e da contínua sedentarização da espécie humana. Depois
de muitas migrações e da povoação de todo o planeta, vários desses grupos foram se assentando, especialmente nas margens de rios e
locais de solos férteis. Ainda de acordo com Harari (2015), atualmente, já se sabe que as práticas agrícolas de variados alimentos começaram
mais ou menos simultaneamente em diversos lugares do mundo, entre diferentes grupos de homo sapiens. No entanto, essa interpretação
difere de outra, mais antiga, que dizia que a agricultura teria começado em um único ponto e, a partir dele, se expandido para outras regiões,
com o conhecimento passado através dos grupos populacionais.
ATENÇÃO
Importante dizer que, ao contrário do que se imagina, a sedentarização e a agricultura, inicialmente, não representaram uma melhora
significativa na vida dos homens, que passaram a trabalhar mais horas por dia e a ter uma alimentação muito menos variada, totalmente
dependente do produto da estação. Ao mesmo tempo, pode-se dizer que a sedentarização lançou as sementes do que viria a ser o mundo
atual (em sua maior parte), com o progressivo desenvolvimento da divisão do trabalho, das hierarquias sociais e da exploração de alguns
grupos sobre outros.
A sedentarização também permitiu o gradual desenvolvimento de novas tecnologias, visto que, em alguns grupos foi possível o período do
estudo e da contemplação. O aumento demográfico e o crescimento dos sistemas de troca (posteriormente, do comércio) lançariam as bases
da contínua relação entre os diversos grupos humanos do planeta.
Fonte: Por Evdoha_spb / Shutterstock
É preciso lembrar, no entanto, que durante muitos séculos de sedentarização do homo sapiens e de trocas culturais e comerciais entre
populações, não houve internet, telefone, televisão, imprensa ou meios de transporte velozes. Isso quer dizer que, de aproximadamente 5000
anos a.C. até as Grandes Navegações dos séculos XV e XVI (das quais falaremos), as trocas eram, sobretudo, locais, de poucas distâncias, e
o mundo conhecido era aquele que se conseguia percorrer a pé ou fazendo uso de pequenas embarcações, cavalos ou camelos. Os povos
que habitavam o que hoje chamamos continente americano não conheciam as populações da Europa e vice-versa.
Importante enfatizar, ainda, que as unidades regionais, populacionais e políticas que se relacionavam tinham formas de funcionamento muito
diferentes das nossas. Até, aproximadamente, o século XVI, não havia na Europa a organização (por isso mesmo chamada de moderna) dos
Estados nacionais. O território repartia-se em unidades feudais durante a Idade Média, pequenos reinos sem uma estrutura política forte, ou
cidades-estados. No norte da África e no Oriente Médio, as estruturas também não eram as mesmas que hoje conhecemos. Militares,
comerciantes e religiosos eram categorias profissionais que circulavam bem mais que os outros, em campanhas de conversão, guerras e
trocas (muitas vezes intensas) de produtos.
As notícias circulavam de uma região a outra de forma bem lenta. Como veremos, a seguir, a imprensa desenvolve-se na Europa apenas no
século XV, momento a partir do qual cada vez mais papéis e informações começariam a circular pelas diversas regiões do mundo. Aliás, além
da invenção da imprensa, os séculos XV e XVI compõem o período temporal considerado por muitos historiadores como um dos primeiros
momentos da constituição de um mundo globalizado (ainda que, claro, não nos mesmos moldes do século XX). A chegada do europeu,
inicialmente em toda a costa africana e, mais tarde, nas Américas, mudaria o mundo para sempre.
A FORMAÇÃO DO SISTEMA-MUNDO-COLONIAL-MODERNO
Para entendermos as modificações no nível de circulação de pessoas, objetos, papéis e culturas a partir do século XVI, é necessário que nos
recordemos de uma série de mudanças que vinha acontecendo na Europa desde o fim do século XV. A partir, aproximadamente, do século X,
a população europeia começa a aumentar em função do desenvolvimento de técnicas agrícolas e da diminuição da violência do mundo feudal.
No interior do cristianismo, embora o catolicismo ainda seja muito poderoso, agora está em disputa com as vertentes protestantes em diversas
regiões da Europa. Sendo assim, no território europeu, o catolicismo vai, aos poucos, perdendo a hegemonia de visões e explicações do
mundo. As universidades, que já existiam na Europa, desde o século XII, começam a se secularizar – isto é, começam a ser assumidas por
estudiosos que não são, necessariamente, parte da hierarquia eclesiástica.
A educação deixa, aos poucos, de ser monopólio da Igreja Católica. Os estudos feitos no âmbito do que se denominou de Renascimento –
estudos de Física, Química, Astronomia, Anatomia – favorecem o desenvolvimento de novas tecnologias – tecnologias de transporte,
navegação e comunicação, mas, também, abrem caminhos para novas análises botânicas, de fauna, análises médicas, históricas, linguísticas
e antropológicas.
A chegada no novo mundo – já impulsionada e possibilitada pelos estudos mencionados anteriormente – é o encontro com outro clima, com
outras formas de vida, outros tipos de fauna e flora, outras centenas de línguas que os europeus, árabes e orientais não imaginavam existir.
Esse encontro, aliado com as transformações que já vinham acontecendo, fomentará, definitivamente, o desenvolvimento do capitalismo –
especialmente a partir dos processos de colonização das Américas e, posteriormente, do estabelecimento da escravidão africana. A partir do
século XVI, portanto, o mundo se modificaria para sempre, e a circulação de culturas, visões de mundo, pessoas, objetos, comidas, sementes,
animais e saberes se tornaria cada vez mais intensa.
Fonte: Shutterstock
Foi um sociólogo estadunidense, mais conhecido pela sua contribuição fundadora para a teoria do sistema-mundo.
A sua crítica ao capitalismo global e o apoio aos movimentos antissistêmicos espalharam a sua fama e tornaram-no um arauto.
Define-se como a especialização produtiva de países e regiões em fases de intensificação de troca comercial. Essa especialização se
consolida, assim, em momentos de expansão da globalização.
Nessa divisão, cada região passaria a ocupar uma função na nova ordem capitalista, de modo que os centros passariam a fabricar os
produtos de maior valor agregado (que exigem mais tecnologia) e as periferias e semiperiferias, produtos agrários e matérias-primas, em
geral. A colonização (externa) das Américas, com exploração de produtos e mão de obra pela Europa, bem como a colonização interna na
própria Europa, com a expropriação de terras e marginalização dos mais pobres, permitiu o que se chama de acumulação primitiva de capital,
que serviu ao financiamento da industrialização nesse território. A partir desse momento, portanto, a interdependência entre as diversas
regiões do planeta se acentuaria progressivamente, porém sempre de forma desigual.
CAPITAL
Acumulação primitiva de capital foi um conceito elaborado por Karl Marx e, até hoje, é largamente utilizado nos estudos sobre o
capitalismo.
Prosseguindo nosso panorama histórico, devemos lembrar da Revolução Industrial na Europa no século XVIII. Mas você pode se perguntar: O
que a Revolução Industrial na Europa tem a ver com o estreitamento de relações e conexões entre todas as partes do mundo? Ora, a história
desse estreitamento de relações está intrinsecamente relacionada com a história do capitalismo. Bom, o que os historiadores chamam de
Revolução Industrial – que se desenrolou, inicialmente, na Inglaterra, e depois se consolidou em diversos países da Europa – foi um conjunto
de transformações especialmente nos processos produtivos e nas relações de trabalho.
O desenvolvimento de novas máquinas acelerou enormemente o ritmo de produção nas fábricas e as relações salariais de trabalho, com a
expropriação de terras dos camponeses foram se generalizando, substituindo outras formas de existência e subsistência. No século XIX, esse
movimento se intensificou, agregando novas tecnologias de comunicação e de transporte (que serviam ao escoamento de produtos e à
circulação de pessoas).
Comércio de Escravos.
Por outro lado, como dito, nas primeiras décadas do século XIX, a maior parte das colônias latino-americanas conquistou sua independência
política, a qual não significou, de modo algum, uma independência econômica e cultural. No interior dos debates decoloniais, autores como
Aníbal Quijano e Ramón Grosfoguel (2007), entre outros, desenvolveram o conceito de colonialidade, para caracterizar um tipo de dominação
diferente da dominação política e territorial do colonialismo. A colonialidade é a nossa colonização enquanto sujeitos, inseridos num mundo
hierarquizado e racializado.
DECOLONIAIS
Os debates decoloniais desenvolveram-se como desdobramento crítico dos debates pós-coloniais – engendrados, por sua vez, por
intelectuais originários de países africanos e asiáticos no período pós-independência política.
O movimento decolonial denuncia a continuidade da colonialidade do poder, do saber e do ser mesmo após a fase de dominação
política. Além disso, o grupo de intelectuais decoloniais propõe novas formas de análise do mundo a partir do diálogo entre variadas
formas de pensamento (como o pensamento indígena, além do europeu).
ATENÇÃO
Segundo os estudiosos citados, isso significa que nós fomos formados – nossos hábitos, gestos, gostos, nossas formas de pensar – a partir
da cultura e da racionalidade europeia que, por sua vez, era altamente racista e patriarcal. A colonização e a formação nacional da América
Latina a partir dos parâmetros europeus marginalizou todos os grupos não brancos. Ou seja, de modo geral, todas as formas de vida, culturas
e línguas que não se enquadravam no ideal de homem branco, saudável, chefe de família.
PATRIARCAL
É um conceito que designa uma ordem social centrada na descendência patrilinear e no controle dos homens sobre as mulheres.
Desse modo, a partir da metade do século XIX, período de expansão do neocolonialismo, até a metade do século XX, o sistema capitalista se
impôs (sempre de forma desigual) no mundo todo, da mesma forma que a cultura europeia se impôs como hegemônica.
Existe outro processo histórico que acompanha o desenvolvimento do capitalismo e que nos ajuda a compreender as formas de vida e de
relação das sociedades globais: a formação da ideia de indivíduo e da ideia de sociedade como soma de indivíduos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. (UESC/BA) ENTRE OS SÉCULOS XVI E XVII, A ECONOMIA EUROPEIA EXPANDIU SUAS FRONTEIRAS POR
MEIO DE:
A) A política imperialista era justificada com base na ideia de que os europeus levavam o progresso e, consequentemente, melhores
condições de vida para onde se dirigiam. O ideal de expansão da fé cristã do século XVI foi substituído pela ideia de missão civilizadora do
século XIX.
B) Para as regiões colonizadas, o imperialismo representou a sua desestruturação política e cultural e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento
socioeconômico expressado na educação e industrialização.
C) A dominação imperialista era realizada de forma direta, com a ocupação dos principais cargos governamentais por agentes metropolitanos
que deveriam respeitar as tradições locais. Dessa forma, verificaram-se avanços sociais nos países coloniais.
D) A unificação da Alemanha e da Itália favoreceu um relativo equilíbrio nas disputas imperiais, uma vez que alemães e italianos propunham a
incorporação efetiva dos nativos das colônias como cidadãos plenos.
GABARITO
1. (UESC/BA) Entre os séculos XVI e XVII, a economia europeia expandiu suas fronteiras por meio de:
A alternativa "B " está correta.
O processo designado por historiadores e sociólogos como o primeiro movimento de mundialização, teve início no século XVI e foi
caracterizado pela chegada dos europeus no Novo Mundo, com a subsequente colonização dessas terras.
2. (UEG 2005) As nações imperialistas tiveram enormes lucros na expansão colonialista do século XIX, solucionando parcialmente
suas crises de mercado e de superpopulação e propiciando a intensificação de seu desenvolvimento.
O imperialismo, ou neocolonialismo do século XIX – que significou a difusão do sistema capitalista e da cultura europeia em todo o mundo –
teve motivações e justificativas econômicas e ideológicas, como, por exemplo, a de levar civilização e progresso para as regiões e povos
dominados, considerados inferiores pelos europeus. No entanto, isso não significou, efetivamente, uma melhoria da qualidade de vida dessas
populações, que tiveram sua força de trabalho explorada e sua cultura desprezada.
O processo de colonização e de espoliação das colônias, por sua vez, acelerou o curso de industrialização no continente europeu, de
modo que, no século XVIII, a Inglaterra passou pela primeira Revolução Industrial, seguida, ao final do século, por outras potências europeias,
tais como França e Alemanha.
COLONIZAÇÃO DE ESPOLIAÇÃO DAS COLÔNIAS
O sistema de colonização tinha como pressuposto lucrar com a colônia. A ideia de desenvolvimento ou continuidade de terra vai surgir
muito mais tarde.
SÉCULO XIX
No século XIX, essas potências europeias competiam entre si por poder e mercados para seus produtos, cada uma delas tentando proteger e
fortalecer a própria economia. Desse modo, os Estados nacionais ainda detinham muito poder e estabeleciam medidas protecionistas para
suas indústrias. É nesse momento, também, que o capital financeiro (dos bancos) se une ao capital industrial na Europa, gerando crédito e
facilitando o aumento acelerado da produção. Por outro lado, a população europeia não tinha condições de consumir tudo que estava sendo
produzido.
MEDIDAS PROTECIONISTAS
Protecionismo: Sistema que protege a indústria e o comércio de um país, através da criação de leis que não autorizam, ou dificultam, a
importação de certos produtos, geralmente pela aplicação de altas taxas aos produtos estrangeiros. (DICIO, 2020)
A necessidade de novos mercados para produtos europeus é um dos fatores que explica o processo de colonização ou neocolonização de
grande parte dos territórios africano e asiático por países europeus. Havia, claro, uma série de outras circunstâncias e motivos
culturais/ideológicos – como a crença na superioridade europeia e o racismo. Assim sendo, é a partir desse momento que as indústrias
começarão a ser transferidas para além do território europeu.
As relações salariais, o modo capitalista de produção e a cultura ocidental vão se impondo em regiões que ainda não haviam sido dominadas
por completo. Ao final do século XIX, o sonho europeu de dominação parecia haver se concretizado, se não fossem as tensões cada vez
maiores entre as diferentes nações. Como se sabe, essas tensões (disputas por poder e territórios) resultarão na Primeira Guerra Mundial em
1914 e, posteriormente, na Segunda Guerra, marcada não apenas pela violência dos combates, mas pelo genocídio nazista na Alemanha.
GENOCÍDIO NAZISTA NA ALEMANHA
O nazismo é um dos temas mais estudados na história do ocidente, e foi representado em uma infinidade de livros, filmes e séries. É
preciso, sempre, relembrar os horrores desse fenômeno, para que não nos acostumemos com a barbárie.
Com o fim da Segunda Guerra e com o território europeu devastado, teve início um esforço internacional para promoção de um conjunto de
pautas construídas por movimentos políticos e organizações da sociedade civil na Europa e fora dela, visando a um novo contrato de paz
mundial. Em todo o globo buscava-se a criação de um outro modo de estabelecimento das relações internacionais, edificava-se uma crítica
contundente ao racismo e à xenofobia, procurava-se afirmar um mundo de alianças multilaterais e multiculturais.
Fonte: Por KUCO / Shutterstock
XENOFOBIA
Aversão a pessoas ou coisas provenientes de países estrangeiros: Refugiados sofriam xenofobia em alguns países. (DICIO, 2020)
1948
Segundo a ONU, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é: “Um documento marco na história dos direitos humanos. Elaborada
por representantes de diferentes origens jurídicas e culturais de todas as regiões do mundo, a Declaração foi proclamada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris, em 10 de dezembro de 1948”. (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2020)
1955
Em 1955, a Conferência de Bandung reuniu 29 países africanos e asiáticos com o objetivo de costurar, para o futuro, uma nova força política
global, terceiro-mundista. Tratava-se de combater o colonialismo e os neocolonialismos, além de reafirmar direitos fundamentais, soberania e
autodeterminação dos povos.
Nesse mesmo período, começou a se pensar e construir as chamadas zonas de livre comércio, como a Comunidade Europeia do Carvão e do
Aço (CECA) e a Comunidade Econômica Europeia (CEE). Esses órgãos deram origem à atual União Europeia (EU) que, além de representar
uma zona de livre comércio com moeda unificada, também facilita a circulação de pessoas entre os países-membros e estabelece legislação
em comum sobre certo número de questões. As zonas de livre comércio e circulação foram fundamentais para o aprofundamento do processo
de internacionalização de empresas e capitais no século XX.
O período situado entre as décadas de 1950 e 1970 foi de grande crescimento econômico em todo mundo, mesmo para os países periféricos,
os quais conheceram um período de maior industrialização e melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores formais. Pelo menos três
fatores podem ser elencados para explicar essa (considerada por muitos) como a Idade de Ouro do capitalismo no Ocidente:
1
O esforço de guerra tanto entre 1914 e 1918, quanto entre 1939 e 1945, com grande parte das indústrias e das pesquisas convertidas para a
fabricação de material bélico, impulsionou o desenvolvimento de novas tecnologias – como, por exemplo, de transporte e comunicação. Essas
tecnologias passaram a ser utilizadas para aumentar a produtividade de fábricas.
2
Outro fator importante foi a grande intervenção econômica dos Estados Nacionais nesse momento, promovendo políticas públicas para
reerguer a Europa – e, tanto na Europa quanto nos EUA, para competir com a URSS. Ao final da Segunda Guerra Mundial, o mundo
conheceu duas novas potências militares e econômicas: os EUA e a URSS. Durante décadas, EUA e URSS disputaram zonas de influência
no mundo, sem que isso desencadeasse uma guerra, efetivamente.
3
Depois da quebra da bolsa de valores norte-americana em 1929 e das Guerras, era preciso construir um capitalismo que permitisse a
interferência do Estado e que desse espaço para a proteção e o aumento da qualidade de vida dos trabalhadores. Desse modo, acreditava-se,
a chance de uma adesão desses trabalhadores ao discurso socialista seria menor.
O Pós-Segunda Guerra seria o momento de ascensão dos EUA sobre a economia e a cultura mundial. Como assim? Após a crise de 1929, os
Estados Unidos estabeleceram um programa de recuperação econômica chamado New Deal, que consistia em alto investimento estatal para
mitigar a onda de desemprego e falências. Esse projeto bem sucedido, somado ao fato de que os EUA não sofreram tão fortemente os efeitos
devastadores da Primeira e Segunda Guerras (já que os combates não ocorreram em seu território), favoreceram-no enormemente na
conjuntura pós-guerra.
O país tornou-se o maior credor da reconstrução europeia e estabilizou-se como a principal potência do Ocidente capitalista. Além disso, como
dito anteriormente, o esforço de guerra impulsionou o desenvolvimento de tecnologias que passaram a ser utilizadas não apenas na indústria,
mas na comunicação e na publicidade. É nesse período, a partir dos anos 1950, que o marketing e a publicidade começam a desenvolver-se
como campo autônomo no país, utilizando os recursos da chamada comunicação de massa – rádio, TV, cinema.
SELF-MADE MAN
Self-Made Man é uma expressão que designa o homem que constrói a si mesmo, que vence por conta própria, muito associada à ideia
de empreendedorismo e que a prosperidade e a felicidade dependem apenas de nós mesmos. Essa ideia pode ser bastante falaciosa
quando se considera as enormes desigualdades de acesso a recursos materiais, educacionais e culturais entre os diferentes grupos
sociais.
1960
Nos anos de 1960, o professor de Literatura e teórico da comunicação canadense Herbert Marshall McLuhan cunhou, nos textos A galáxia de
Gutenberg e Os meios de comunicação como extensão do homem, o termo Aldeia Global.
Estudando os meios de comunicação de massa, especialmente a televisão, ele afirmava que estávamos sendo retribalizados, ou seja,
caminhávamos para o compartilhamento de uma cultura global, com pessoas, em todo o planeta, desenvolvendo os mesmos hábitos,
comportamentos etc.
ALDEIA GLOBAL
O autor acreditava que, devido à diminuição das distâncias e barreiras geográficas, o planeta se reduziria a uma organização
semelhante a aldeias, onde tudo e todos estariam interconectados.
1980
Tendo sido criticado, posteriormente, por atentar mais ao veículo emissor do que às diversas recepções possivelmente criativas dessas
informações e padrões transmitidos pelos meios de comunicação, ele passou a ser relido a partir dos anos 1980, período de ascensão da
internet e do auge da difusão e da propaganda do termo globalização.
SAIBA MAIS
Há muito material disponível sobre esse período da história norte-americana. Dentre os mais recentes e bem feitos, está a série Mad Men, que
retrata a expansão de uma agência de publicidade nos anos de 1950 e 1960. A série está disponível na Netflix.
Também é interessante conhecer um pouco mais das estratégias de aproximação econômica e cultural dos EUA com a América Latina. Nesse
sentido, a criação do personagem Zé Carioca por Walt Disney, é emblemática. Veja a história do Zé Carioca no DiariodoRio.com.
Para superar a crise desencadeada pelo aumento dos preços do petróleo em 1973, os organismos internacionais de economia (FMI – Fundo
Monetário Internacional, Banco Mundial, entre outros) criaram uma espécie de cartilha econômica que deveria ser seguida por todos os
países.
• Disciplina fiscal;
• Reforma tributária;
• Abertura comercial;
Essas regras seriam extremamente pesadas principalmente para os países mais pobres, cujos Estados ficaram impedidos de investir em
políticas de assistência social. Ao mesmo tempo, as prescrições facilitavam a instalação de empresas multinacionais nesses países. Ao
instalarem-se nos países periféricos, essas empresas puderam aproveitar os baixos salários e normas trabalhistas e ambientais muito menos
rígidas do que nos países centrais.
A transnacionalização das empresas aprofundou a Divisão Internacional do Trabalho, de modo que cada país se especializava na produção
de uma determinada peça de um produto. Sendo assim, atualmente, cada parte de um carro é feita em um lugar, até que ele seja montado. Se
comprarmos uma roupa de marca norte-americana conhecida, veremos que, raramente, ela terá sido feita nos EUA, mas, provavelmente, na
Índia ou na China. Geralmente, a parte do trabalho mais qualificada e com maior uso de tecnologia de ponta, ainda se encontra nos países
centrais.
TRANSNACIONALIZAÇÃO
Transnacional: Que vai além das fronteiras nacionais, sendo comum a vários países, unidos política e economicamente; corporação
transnacional. (DICIO, 2020)
O discurso vendido pelos defensores da globalização era o de um mundo unido pelo império da técnica, da circulação de informações e pelo
desenvolvimento de uma espécie de cidadania universal. A ideia de Aldeia Global, interpretada incorretamente, foi utilizada para difundir a
possibilidade de um afrouxamento de fronteiras, para desenhar um mundo de liberdade.
O cientista político canadense Francis Fukuyama, em artigos e livros escritos nos anos 1990, afirmaria que a história seria conduzida por um
embate entre duas ideologias e que após a Queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, teria triunfado um consenso sobre a
democracia liberal como forma política ideal em todo mundo, o que configuraria o fim dos grandes embates da história.
GLOBALIZAÇÃO
Perspectiva social a partir da Nova Ordem Mundial, com o fim da Guerra Fria, em uma sociedade mais integrada. Tem diversas nuances
e explicações, mas como fim, o princípio de redimensionamento das fronteiras políticas e sociais a partir dos fenômenos de integração
mundial.
FRANCIS FUKUYAMA
Yoshihiro Francis Fukuyama é um filósofo e economista político nipo-estadunidense, que ficou mundialmente conhecido em 1989, ao
lançar um artigo intitulado O Fim da História, transformado em livro em 1992. Para ele, a maior fonte de problemas são os Estados
falidos.
Foi devido a esse discurso que o geógrafo brasileiro Milton Santos (2001), em sua teoria crítica, falou de uma globalização como fábula, uma
globalização como perversidade e uma globalização como possibilidade.
Foi um geógrafo brasileiro, um dos grandes nomes da renovação da Geografia no Brasil ocorrida na década de 1970. Também se
destacou por seus trabalhos sobre a globalização nos anos 1990. Sua obra caracterizou-se por apresentar um posicionamento crítico ao
sistema capitalista e seus pressupostos teóricos dominantes na Geografia de seu tempo.
A fábula, como história narrada oralmente e passada de geração em geração, tende a tornar-se senso comum, parte de um arcabouço cultural
amplamente compartilhado e aceito. Sendo assim, Milton Santos (2001) chama a atenção para o discurso da globalização enquanto fábula ou
ideologia, que se difunde como caminho único e inevitável para todos os povos, mas tende a mascarar as mazelas que produz.
GLOBALIZAÇÃO COMO PERVERSIDADE
Seria a globalização tal como ela é. De acordo com o autor, o avanço técnico-científico-informacional dominado pelos Estados (enfraquecidos)
e, principalmente, pelas grandes empresas e corporações transnacionais, serviu à propagação de um discurso único, imposto pelos atores
econômicos de maior poder (hegemônicos).
COMENTÁRIO
No entanto, assim como Santos (2001), outros intelectuais críticos da globalização nesses moldes ressaltam que o livre mercado nunca
existiu, já que era monopolizado por um pequeno número de empresas, cujas ações estavam concentradas nas mãos de empresários de um
pequeno número de países (os países centrais).
Uma competitividade nesse contexto, seja entre empresas ou entre indivíduos, por sua vez, torna-se apenas uma fábula, visto que as
disparidades sociais e regionais em termos de escolaridade, saúde, qualidade de vida e acesso a recursos não foram sanadas – ao contrário,
muitas foram aprofundadas com o processo de globalização do capital. Onde chegaram, como dito, as transnacionais desmantelaram
territorialidades representando uma nova dinâmica para as Sociedades em Rede, para além da globalização.
SOCIEDADES EM REDE
Termo que nos remete à estrutura física de uma rede de integração, primeiro remetido a uma rede, como a de pesca, depois ampliado
para redes complexas, como uma teia, e hoje a ideia de rede de computadores, em que é possível que todo o mundo se interconecte.
Néstor García Canclini é um antropólogo argentino contemporâneo. O foco de seu trabalho é a pós-modernidade e a cultura a partir de
ponto de vista latino-americano. É considerado um dos maiores investigadores em Comunicação, Estudos Culturais e Sociologia da
América Latina.
Assim como Santos (2001), Canclini (2014) acredita ser possível transformar a globalização em algo melhor, especialmente pelos processos
de hibridação – diálogo contínuo e criativo entre culturas.
Para os dois intelectuais, o mais importante é que os povos sigam buscando criar e recriar seus caminhos e futuros coletivos, não aceitando
que as formas de vida e relações de trabalho atuais sejam as únicas possíveis.
SAIBA MAIS
Sobre o neoliberalismo e as mencionadas escolas, leia o texto super didático do historiador Perry Anderson chamado Balanço do
Neoliberalismo.
Desde os anos de 1960, década de fundação da expressão Aldeia Global, até hoje, os países mais ricos jamais deixaram de proteger
suas economias, especialmente nas áreas em que os países periféricos são mais competitivos, como a agricultura. A Divisão
Internacional do Trabalho segue tendo uma estrutura similar à do século XVI, com países periféricos e semiperiféricos produzindo
matérias-primas, e países centrais produzindo objetos de alto valor tecnológico e agregado. A toda essa configuração, que se tornou
impositiva, Milton Santos chamou globaritarismo ou – como dito – globalização perversa.
Para saber mais sobre os efeitos da globalização na América Latina e sobre o pensamento de Milton Santos, recomento o documentário
O mundo global visto do lado de cá, dirigido por Silvio Tendler, disponível no Youtube.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
ATENÇÃO!
Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que você responda corretamente a uma das seguintes questões.
1. (ENEM 2009) CERTO CARRO ESPORTE É DESENHADO NA CALIFÓRNIA, FINANCIADO POR TÓQUIO, O
PROTÓTIPO CRIADO EM WORTHING (INGLATERRA) E A MONTAGEM É FEITA NOS EUA E MÉXICO, COM
COMPONENTES ELETRÔNICOS INVENTADOS EM NOVA JÉRSEI (EUA), FABRICADOS NO JAPÃO. (…). JÁ A
INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO NORTE-AMERICANA, QUANDO INSCREVE EM SEUS PRODUTOS MADE IN USA,
ESQUECE DE MENCIONAR QUE ELES FORAM PRODUZIDOS NO MÉXICO, CARIBE OU FILIPINAS. (RENATO
ORTIZ, MUNDIALIZAÇÃO E CULTURA)
O TEXTO ILUSTRA COMO EM CERTOS PAÍSES PRODUZ-SE TANTO UM CARRO ESPORTE CARO E
SOFISTICADO, QUANTO ROUPAS QUE NEM SEQUER LEVAM UMA ETIQUETA IDENTIFICANDO O PAÍS
PRODUTOR. DE FATO, TAIS ROUPAS COSTUMAM SER FEITAS EM FÁBRICAS — CHAMADAS
MAQUILADORAS — SITUADAS EM ZONAS-FRANCAS, ONDE OS TRABALHADORES NEM SEMPRE TÊM
DIREITOS TRABALHISTAS GARANTIDOS.
A) Fortalece os Estados Nacionais e diminui as disparidades econômicas entre eles pela aproximação entre um centro rico e uma periferia
pobre.
B) Fortalece igualmente os Estados Nacionais por meio da circulação de bens e capitais e do intercâmbio de tecnologia.
C) Compensa as disparidades econômicas pela socialização de novas tecnologias e pela circulação globalizada da mão de obra.
D) Reafirma as diferenças entre um centro rico e uma periferia pobre, tanto dentro como fora das fronteiras dos Estados Nacionais.
GABARITO
1. (ENEM 2009) Certo carro esporte é desenhado na Califórnia, financiado por Tóquio, o protótipo criado em Worthing (Inglaterra) e a
montagem é feita nos EUA e México, com componentes eletrônicos inventados em Nova Jérsei (EUA), fabricados no Japão. (…). Já a
indústria de confecção norte-americana, quando inscreve em seus produtos Made in USA, esquece de mencionar que eles foram
produzidos no México, Caribe ou Filipinas. (Renato Ortiz, Mundialização e Cultura)
O texto ilustra como em certos países produz-se tanto um carro esporte caro e sofisticado, quanto roupas que nem sequer levam
uma etiqueta identificando o país produtor. De fato, tais roupas costumam ser feitas em fábricas — chamadas maquiladoras —
situadas em zonas-francas, onde os trabalhadores nem sempre têm direitos trabalhistas garantidos.
O processo de transnacionalização de empresas e de difusão de meios de comunicação em massa não significou uma equalização de
poderes no mundo – ao contrário, reforçou estruturas de centro e periferia que já estavam configuradas desde o século XVI.
A crítica feita nos quadrinhos se relaciona com uma contradição do capitalismo globalizado, o qual se caracteriza simultaneamente
por:
A globalização foi caracterizada, muitas vezes, por enorme exploração do trabalho nos países periféricos, barateando os custos de produção –
o que, por sua vez, possibilitou que grande parte da população mundial pudesse consumir os novos produtos da tecnologia informacional,
como os smartphones.
INTRODUÇÃO
Em um primeiro momento, vamos compreender de que modos e em que medidas, cada vez mais, esses fluxos de informação definem nossa
atuação no mundo, nossas práticas, nosso consumo, nossa cosmovisão. Em um segundo momento, analisaremos as formas pelas quais
podemos usar esse fluxo de informações e essa conexão pelas redes para difundir material de qualidade sobre temas pertinentes à vida e
para construir redes de solidariedade nas diversas comunidades das quais fazemos parte. Antes, porém, vamos relembrar como chegamos
até aqui.
COSMOVISÃO
Modo particular de perceber o mundo, geralmente, tendo em conta as relações humanas, buscando entender questões filosóficas
(existência humana, vida após a morte etc.). (DICIO, 2020)
COMMODITIES
Tudo aquilo que, se apresentando em seu estado bruto (mineral, vegetal etc.), pode ser produzido em larga escala; geralmente se
destina ao comércio exterior e seu preço deve ser baseado na relação entre oferta e procura. (DICIO, 2020)
Por outro lado, os dois autores também nos chamaram a atenção para as transformações culturais ocasionadas por esse processo. Essas
mudanças, embora tenham tendido à homogeneização e ao compartilhamento global de símbolos e estilos de vida, também possibilitaram
apropriações criativas por parte de grupos sociais diversos, que agora tinham acesso um pouco maior à informação e à tecnologia. Tanto
Santos (2001), quanto Canclini (2014), analisaram algumas dessas apropriações no Brasil e na América Latina, vendo nelas possibilidades de
criação ou invenção de uma outra globalização.
ATENÇÃO
Para Santos (2001), era importante que os povos não se deixassem convencer de que o mundo globalizado-hierarquizado-neoliberal e
altamente desigual seria o único caminho possível. Era importante, assim, reinventar a utopia – desacreditada em função dos crimes da União
Soviética e da Queda do Muro de Berlim – em novos moldes.
As redes sociais, em especial o Facebook, foram recebidas com entusiasmo em todo o mundo, não apenas pelo seu caráter de
entretenimento, mas, sobretudo, pela percepção de que essas redes poderiam democratizar o acesso à informação e ao
conhecimento, considerando-se que a chamada grande mídia, ou seja, as grandes redes de televisão e jornais em todo o mundo,
sempre foram dominadas por um pequeno número de famílias e grandes corporações.
Além disso, os jornais televisivos, impressos ou digitais, representam uma difusão vertical da informação, com pouca ou nenhuma interação.
Nas redes sociais, por sua vez, não apenas recebemos as informações, mas podemos comentar, compartilhar com textos críticos/analíticos,
debater com outras pessoas, participar de grupos de discussão etc.
Com essa fluidez e rapidez, as redes sociais, tornando-se parte fundamental do ciberespaço transformaram-se em um lugar de encontro para
uma grande massa de pessoas que, há muito tempo, não se sentia mais representada pela política institucional. Propaga-se, rapidamente, no
Brasil e no mundo, o chamado ciberativismo.
Ciberativismo é, geralmente, definido como uma forma de utilização da internet por movimentos politicamente motivados. O autor Sándor
Végh, em texto de 2003 denominado Classifying forms of online activism: the case of cyberprotests against the World Bank dividiu o ativismo
digital em três categorias:
A segunda seria o uso da internet para a organização e mobilização de uma ação política.
A terceira seria representada pelo ativismo hacker, com invasão ou congestionamento de sites.
Esse tipo de mobilização pela internet foi fundamental para a estruturação de uma série de movimentos políticos da sociedade civil, em todo o
globo, a partir da primeira década dos anos 2000. Que movimentos foram esses, exatamente?
As eleições ocorridas entre 2016 e 2018 expuseram ao mundo o poder das novas tecnologias, em especial das redes sociais, em detrimento
do antigo poder dos grandes veículos de imprensa. O momento posterior à eleição de Trump nos EUA foi permeado por uma série de
investigações em torno do bombardeamento de fake news via redes sociais, e como essas notícias falsas teriam afetado os resultados da
corrida eleitoral. Embora boatos e notícias falsas sempre tenham existido, agora elas passaram a circular em uma velocidade sem
precedentes na história, e atingindo uma massa incalculável de pessoas.
AS INVESTIGAÇÕES INICIADAS NO ESTADOS UNIDOS DESCOBRIRAM QUE ESSE
TIPO DE NOTÍCIA DIFUNDIU-SE MUITO MAIS A PARTIR DE
COMPARTILHAMENTOS, TENDO ALCANÇADO UM NÚMERO MUITO MAIOR DE
PESSOAS DO QUE AS NOTÍCIAS VEICULADAS NOS CANAIS TRADICIONAIS DA
MÍDIA – QUE, POR REPRESENTAREM O JORNALISMO PROFISSIONAL, TÊM UM
COMPROMISSO COM OS FATOS, POR MAIS QUE OS MODOS DE CONSTRUÇÃO
DAS NARRATIVAS, COMO SABEMOS, POSSAM SER BASTANTE TENDENCIOSOS.
É justamente aí que entram em cena o poder dos algoritmos e do Big Data em nossas vidas, nossos comportamentos, nas propagandas,
discursos e notícias que chegam até nós. O advento da internet doméstica, dos smartphones e das mídias sociais gera um aumento contínuo
de número de dados que circula nas redes. Cada vez que interagimos nas redes, reproduzimos mais informações sobre nós e sobre os que
interagem por nós. Essas informações estão sendo computadas, analisadas e cruzadas por softwares muito poderosos – que, ao fim das
análises, geram quadros que servem a tomadas de decisão, especialmente na área de marketing. Não por acaso, se digitamos sofá na busca
do Google, poucos segundos depois somos bombardeados por uma verdadeira avalanche de propagandas de sofá em nossas redes sociais.
Foi exatamente esse tipo de análise de dados que passou a ser usado no mundo da política. Nos EUA, a empresa de dados Cambridge
Analytica, que trabalhou para a campanha de Donald Trump, foi acusada de ter obtido acesso ilegal de dados pessoais de, aproximadamente,
50 milhões de usuários do Facebook. Esses dados teriam sido utilizados não apenas para direcionar notícias, mas para produzir notícias
falsas que pudessem gerar engajamento e mobilização de públicos determinados, em favor das pautas de campanha do então candidato.
COMENTÁRIO
Segundo o jornal El País (2018), o ex-diretor de Tecnologia da empresa, Christopher Wylie, denunciou que a informação obtida foi usada para
traçar perfis de eleitores e lhes dirigir propaganda política personalizada e notícias falsas. Isso lhes permitiu, segundo ele, influenciar nas
eleições norte-americanas e, também, por intermédio de empresas vinculadas, em outros processos eleitorais, como o referendo do Brexit.
Esse escândalo teve impacto também sobre a rede Facebook, cujo idealizador, Mark Zuckerberg enfrentou inúmeros processos nos EUA em
função desse vazamento de dados.
BREXIT
Brexit é uma forma como a mídia chamou a intenção dos ingleses em abandonar a União Europeia (exit – saída da Grã-bretanha).
Em 2018, as eleições presidenciais no Brasil também foram alvo desse tipo de investigação. O número de fake news em fluxo nas diversas
redes sociais, em especial no WhatsApp, aumentou exponencialmente durante as campanhas. Foram descobertas enormes quantidades de
perfis falsos, criados unicamente para repassar informações mentirosas e produzir mobilização e engajamento no WhatsApp e no Twitter.
Posteriormente, foi constatado que algumas empresas estavam comprando pacotes de disparos em massa contra os opositores de Bolsonaro.
Esses disparos eram feitos, em parte, a partir de bases de dados vendidas por agências de estratégia digital.
ATENÇÃO
Considerando esses fenômenos, percebemos que não foi ao acaso a escolha da palavra do ano pela Universidade de Oxford, em 2016: Pós-
verdade. Na Era da informação, sabe-se que as pessoas estão mais condicionadas a acreditar em algo que, de certa forma, já esteja alinhado
com suas próprias visões de mundo. Segundo o historiador Leandro Karnal (2017), trata-se de uma seleção afetiva de identidade. Desse
modo, a Pós-verdade se manifesta quando os dados gerados pelos indivíduos são analisados e manipulados, aproveitando-se dessa
seletividade, para direcionar informações. As fake news tornam-se, assim, uma ferramenta da Pós-verdade.
De todo modo, nós seguimos usando as redes e nossos dados circulam por aí. Há maneiras de mitigar as consequências do uso do Big Data
e de usar as ferramentas da tecnologia para a construção de novos caminhos de solidariedade e ação política. Sabemos de inúmeros casos
em que as redes sociais são usadas para ativar projetos solidários e promover ações de saúde, autogestão, entre outras.
EXEMPLO
Em meio à pandemia do Coronavírus, podemos acompanhar, por exemplo, a imensa mobilização na favela de Paraisópolis, em São Paulo,
onde líderes comunitários e moradores se organizam em um projeto de autogestão para proteção da comunidade em meio ao caos sanitário.
Esse tipo de ação seria muito mais difícil de ser executado sem o auxílio das redes – que, inclusive, servem para divulgação e arrecadação de
doações.
Por fim, ao analisarmos a Era da Informação, não podemos deixar de citar o autor dessa expressão, o sociólogo Manuel Castells. Castells
(2002) analisou os impactos da tecnologia digital nas empresas, no mundo do trabalho e, também, na gestão pública. Segundo ele, vivemos
uma cultura da virtualidade real, em que todas as nossas interações, sejam nas relações pessoais ou de trabalho, são completamente
mediadas pela internet – ou seja, pela realidade virtual –, o que tem um impacto no nosso imaginário coletivo e em nossas representações de
mundo.
As formas de trabalho e, até mesmo, as relações afetivas, também são cada vez mais impactadas e mediadas pelas redes sociais e
aplicativos. Em um mundo em que a busca da felicidade individual e a capacidade de consumo são valores máximos, ao mesmo tempo que o
trabalho torna-se, a cada dia mais, gestão de si mesmo, sem vínculos ou proteção social, a solidão torna-se fenômeno social e deve-se
prestar atenção em nossas condições de saúde mental nessas novas circunstâncias. As redes de solidariedade expostas anteriormente
podem, nesse sentido, ser uma forma de amenizar esses novos tipos de sofrimento.
MANUEL CASTELLS
Manuel Castells Oliván é um sociólogo espanhol. No livro A Sociedade em Rede, o autor defende o conceito de capitalismo
informacional.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. (COPESE - UFT 2017) O ANO DE 2016 FOI MARCADO POR GRANDE MOVIMENTAÇÃO POLÍTICA NO MUNDO
E NO BRASIL, PAUTANDO-SE, EM GRANDE MEDIDA, AS DISCUSSÕES NAS REDES SOCIAIS. A
PROLIFERAÇÃO DE BOATOS GANHOU DIMENSÕES INIMAGINÁVEIS COM FERRAMENTAS COMO O
FACEBOOK E O WHATSAPP, O QUE FOI DECISIVO, COMO AVALIAM ESPECIALISTAS, PARA QUE
INFORMAÇÕES FALSAS TIVESSEM ALCANCE E LEGITIMIDADE. NESSE CONTEXTO, O TERMO PÓS-
VERDADE FOI REGISTRADO PELO OXFORD DICTIONARIES, TORNANDO-SE A PALAVRA DO ANO (2016),
SEGUNDO A UNIVERSIDADE DE OXFORD.
A) Está associada ao universo político e diz respeito a mentiras utilizadas como estratégias de marketing.
B) Denota a ideia de que os fatos objetivos têm menos influência na formação da opinião pública do que apelos emocionais, crenças pessoais
que são, principalmente, compartilhados nas redes sociais.
C) É um novo termo para designar a forma como a imprensa escrita analisa e divulga os discursos políticos.
D) A campanha eleitoral de Donald Trump (EUA) e o referendo que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia, conforme apontam
acadêmicos e analistas políticos, são exemplos emblemáticos do uso da Pós-verdade.
A) A tecnologia da informação é, para esta revolução, o que as novas fontes de energia foram para as revoluções industriais sucessivas, visto
que a geração e a distribuição de energia foram elementos essenciais na base da sociedade industrial.
B) O cerne da transformação que a sociedade está vivendo na atual revolução tecnológica está ligado aos produtos, à ciência e à
comunicação.
GABARITO
1. (COPESE - UFT 2017) O ano de 2016 foi marcado por grande movimentação política no mundo e no Brasil, pautando-se, em grande
medida, as discussões nas redes sociais. A proliferação de boatos ganhou dimensões inimagináveis com ferramentas como o
Facebook e o WhatsApp, o que foi decisivo, como avaliam especialistas, para que informações falsas tivessem alcance e
legitimidade. Nesse contexto, o termo Pós-verdade foi registrado pelo Oxford Dictionaries, tornando-se a palavra do ano (2016),
segundo a Universidade de Oxford.
A Pós-verdade baseia-se na análise de dados para direcionar informações de acordo com nosso perfil. Não se trata de uma forma de análise
de discursos políticos, mas de distorção e manipulação de notícias falsas.
2. (CESPE UNB – 2010) O processo atual de transformação tecnológica expande-se exponencialmente, em razão de sua capacidade
criar uma interface na qual a informação é gerada, armazenada, recuperada, processada e transmitida. Esse é, no mínimo, um evento
histórico da mesma importância da Revolução Industrial do século XVIII, induzindo um padrão de descontinuidade nas bases
materiais da economia, sociedade e cultura.
Essa é uma questão interpretativa. No trecho destacado, Castells compara a importância da tecnologia da informação para o mundo atual com
o impacto da Revolução Industrial no século XVIII. O tema de Castells são as tecnologias digitais de informação e suas formas de mediação
dos nossos imaginários coletivos.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Afinal, quando surgiram as Sociedades em Rede? Desde sempre! A variação é o tamanho. Pode ser uma redinha, ou uma enorme rede
complexa. O que vivemos no Século XXI, filho de movimentos do século XVI até o XX, é que estamos nos estruturando em uma grande rede,
e cada vez mais complexa. Visamos provocá-los à clareza, a construir a dinâmica dessas redes em sua mente, em seu cotidiano, para que ela
continue crescendo e se diversificando, bem como amplifique a tecnologia nesse processo.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
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CONTEUDISTA