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Profa. Dra. Alessandra Da Rocha Arrais: Brasília 25 Novembro de 2015

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Profa. Dra.

Alessandra da Rocha Arrais

Brasília 25 novembro de 2015


 Nem tudo é alegria e contentamento quando a mulher torna-se
mãe.
 Admitir a existência não só de sentimentos positivos, como de
negativos, permeados por culpa, sacrifícios e redirecionamentos na
carreira profissional, significa desconstruir o papel materno
idealizado baseado na representação social e construir um novo,
alicerçado na ratificação de sentimentos ambivalentes, mais real.

(ARRAIS, 2015,
PARKER, 1995).
A incidência de transtornos
depressivos no puerpério é alta.
De 10 a 16% das puérperas
preenchem critérios para o
diagnóstico de depressão-pós
parto (DPP).

Segundo o DSM-V (APA, 2014), a


depressão pós-parto é um episódio
de depressão maior, que ocorre
dentro das quatro primeiras
semanas após o parto, durante as
quais observa-se presença de um
humor deprimido ou perda de
interesse ou prazer por quase todas
as atividades.
De acordo com Arrais
(2005), a puérpera pode
apresentar um profundo
retraimento e isolamento
social, principalmente se
ocorrer um distanciamento
muito grande entre aquilo
que a gestante imaginava
ser, tanto em relação ao
bebê idealizado quanto à
sua própria figura materna
e aquilo que advém no
parto.
 É um acompanhamento da evolução
normal da gravidez, parto e do
puerpério, em geral realizado pelo
obstetra, que visa identificar possíveis
riscos e prevenir complicações
frequentes na gravidez.
Geralmente é conduzido
por uma enfermeira,
possui caráter
informativo, com
duração variada, sobre
temas relacionados à
gestação, parto, nutrição,
amamentação e cuidados
com o bebê.
 É complementar ao pré-
natal tradicional
realizado pelo médico.
É uma abordagem
preventiva para evitar
transtornos emocionais
como a depressão pós-
parto e dificuldades de
relacionamento entre o
casal e sua família, que
podem surgir durante a
gravidez ou no pós-
parto.
 Sexualidade na gravidez e no
pós-parto
 Desmitificação da maternidade
e paternidade
 Representação social da
maternidade
 Auto-imagem corporal
 Expectativas em relação ao
filho
 Alimentação na gestação
 Intercorrências na gestação
 Tipos de parto (preparação)
 Medos: dor, laceração, morte
 Parto escolhido (postura ativa)
 Acompanhante na sala de parto
 Amamentação
 O que é ser mãe
 Culpa materna
 Estados emocionais no pós-parto
 Distúrbios emocionais do
puerpério
 Ajuda qualificada
 Trabalho X maternidade
 A vivência da maternidade
 Avosidade
 Paternidade
 A ansiedade é também entendida
como sendo um componente
emocional que acompanha todo o
período gestacional até o momento
do parto e é caracterizada por um
estado de insatisfação,
intranqüilidade, insegurança,
incerteza, medo da experiência
desconhecida (Tedesco, Zugayb & Quayle,
1997).

 As sensações de medo,
sentimentos de incompetência,
transtornos do sono, tensão
muscular que causa dor, tremor,  Ansiedade gestacional apontada
inquietação fazem parte deste como um importante fator de risco
quadro (Nina, 1997; Santos, Martins & Pasqualli, à DPP
2000).
 A prevalência de depressão maior na gravidez
varia de 10 a 16% sendo que 25% das depressões
pós-parto têm início na própria gestação.
 Apesar da alta frequência de queixas depressivas
na gravidez, a percepção e o manejo dos sintomas
psiquiátricos na gestação estão longe de receber a
devida atenção dos ginecologistas e obstetras,
tornando a questão preocupante na medida em
que pode haver consequências negativas para a
mãe e seu bebê.
 Depressão gestacional apontada como um
importante fator de risco à DPP

(YAMAGUCHI et al, 2007; BORTOLETTI, 2007; PEREIRA; LOVISI, 2008,


ARRAIS, 2005)
 Geral
 Avaliar a eficácia do PNP na prevenção à DPP em gestantes de
um hospital público, em Brasília

 Específicos
 Descrever os fatores de risco de ansiedade e depressão
gestacional para a DPP
 Identificar os níveis de DDP destas mulheres encontrados no
puerpério
 Relacionar os níveis de ansiedade e depressão gestacional e o
risco de depressão pós -parto
 Identificar a eficácia do PNP na redução dos fatores de risco ou
na proteção para o aparecimento da DPP
 Escolha metodológica
 Método: Pesquisa-ação : uma estratégia de investigação que visa
compreender e intervir proposital ou intencionalmente na situação,
com vistas à modificá-la.

 Essa metodologia divide-se em três fases:


 Fase I: elaboração do diagnóstico da situação (levantamento dos
fatores de risco e de proteção para a DPP);
 Fase II: proposta de intervenção e implantação (implantação do
grupo de PNP);
 Fase III: avaliação (rastreamento da DPP e avaliação do PNP).

 Participantes
 76 gestantes que participaram da pesquisa, sendo que 47
participaram do pré-natal psicológico ( grupo intervenção) e 29 não
participaram (grupo controle).
(THIOLLENT, 1992)
 Instrumentos
 Perfil gestacional
 Perfil puerperal
 Questionário avaliativo
 Sessões do PNP
 Inventário Beck (BDI; BAI) (BECK; STEER, 1993)
 Escala COX (COX; HOLDEN, 2003)

 Procedimento de coleta de dados


 Aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética
 Divulgação para as gestantes, familiares e equipe médica
 Assinatura Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
 Aplicação dos instrumentos das fases I e III
 Formação dos grupos intervenção ( 47 participantes) e controle
(29 participantes)
 Procedimento para análise de dados
 Análise quantitativa:
 Analisou-se a associação entre a chance de depressão pós-
parto (escala COX) e os níveis de ansiedade (escalas BAI) e e
de depressão gestacional (escala BDI).

 Foi testada a associação das escalas DAI e BDI com a


depressão pós parto tanto no grupo intervenção e quanto no
grupo controle.

 O teste utilizado para testar a associação da DPP com as


escalas foi o Qui-quadrado e o resultado do teste mostrou que
existem evidências de associação entre essas variáveis.
Grupo controle
 93% das gestantes com menor chance de ter depressão pós-parto, foram
classificadas com nível de ansiedade mínimo ou leve.
 65% das gestantes com maior chance de ter depressão pós-parto, foram
classificadas com nível de ansiedade moderado ou grave.
 100% das gestantes com menor chance de ter DPP tinham nível de depressão gestacional
mínimo ou leve.
 46% das gestantes com maior chance de ter DPP tinham nível de depressão gestacional
moderado ou grave.
 54% das gestantes com maior chance de ter DPP foram classificadas com nível leve de
depressão gestacional.

Figura 2 – Nível de depressão gestacional vs Rastreamento de depressão pós-parto – grupo controle


 Há evidencias de que há associação entre o nível de ansiedade e
BDI - nível de depressão gestacional e a depressão pós-parto para o
grupo controle.
Escalas Testee P-valor Decisão do teste
Evidências que há
Níveis de ansiedade - BAI Qui-quadrado* 0,0015
associação
Evidências que há
Níveis de depressão gestacional - BDI Qui-quadrado* 0,0045
associação

Tabela 1 – Teste de associação das escalas BAI e BDI com a DPP – grupo controle

 Nota-se que, para ambas as escalas, o p-valor encontrado é


menor que o nível de significância de 0,05. Assim, rejeita-se a
hipótese que as escalas e a DPP são independentes, tendo
evidências de que há associação entre elas
Grupo Intervenção
 55% das gestantes com menor chance de ter DPP, foram classificadas com
nível de ansiedade mínimo ou leve.
 19% das gestantes com maior chance de ter DPP, foram classificadas com
nível de ansiedade grave.
 Todas as mulheres classificadas com nível de ansiedade moderada,
apresentaram menor chance de ter de DPP

Figura 3 – Nível de ansiedade vs Rastreamento de depressão pós-parto – grupo intervenção


 Nota-se que entre as 10 mulheres classificadas com nível de
depressão gestacional grave ou moderado, apenas 2 tiveram maior
chance de ter DPP.

Figura 4 – Nível de depressão vs Rastreamento de depressão pós-parto – grupo interveção


 Nota-se que, para ambas as escalas, o p-valor encontrado é maior
que o nível de significância de 0,05. Assim, não rejeita-se a hipótese
de independência entre as variáveis.

Escalas Teste P-valor Decisão do teste


Evidências que não há
Níveis de ansiedade Qui-quadrado* 0,4983
associação
Evidências que não há
Níveis de depressão gestacional Qui-quadrado* 0,3023
associação
Tabela 2 – Teste de associação das escalas BAI e BDI com a DPP – Grupo intervenção

 Tem-se evidências de que não há associação entre os níveis de


ansiedade e depressão gestacional e a Depressão pós-parto.
 No grupo intervenção, a depressão gestacional moderada ou
grave foi diagnosticada em 10 gestantes (21,27%), contra 6
gestantes (20,68%) no grupo controle.
 Já ansiedade gestacional foi diagnosticada em 21 gestantes
(44,67%) do grupo intervenção contra 9 gestantes (31,02%) do
grupo controle.
 Somando-se os valores de depressão e ansiedade gestacional de
cada grupo, obtém-se 31 gestantes ou 65,94% de incidências no
grupo intervenção e 15 gestantes ou 51,7% no grupo controle.
 Ou seja, o grupo intervenção apresentou um percentual maior
de gestantes em risco de desenvolver a DPP. Entretanto, ao
contrário do esperado, apenas 5 puérperas ou 10,64%
apresentaram a DPP contra 13 puérperas ou 44,82% no grupo
controle.
 Observou-se que as mulheres que não participaram do pré-natal
psicológico, as escalas de BDI e BAI estão associadas com maior chance de
ter depressão pós-parto.
 Assim, essas escalas são um bom parâmetro para prever a DPP e para a
gestante, a família e os médicos terem mais cuidado com as gestantes que
foram classificadas com nível de ansiedade e depressão gestacional grave ou
moderada.
 O p-valor encontrado para a escalada BAI foi menor que o p-valor para
escala BDI, logo, para este estudo, o nível de ansiedade pode ser a escala
mais usada para identificar possíveis chances de desenvolver a DPP.
 Por outro lado, os resultados dos testes para as gestantes que participaram do
pré-natal psicológico mostram que a classificação do nível de ansiedade e de
depressão gestacional não está associado com o fato da gestante ter
depressão ou não.
 Assim, mesmo que a gestante seja classificada com nível de depressão
gestacional e ansiedade grave ou moderado, a chance de ter DPP é muito
menor com o pré-natal psicológico.
 Portanto, pode-se inferir que o pré-natal psicológico atuou como um fator de
proteção minimizando os riscos que a ansiedade e a depressão gestacional
podem trazer para aumentar a chance da DPP.
 Concluiu-se que o Pré-Natal Psicológico
atuou de forma positiva na prevenção da
depressão pós-parto, em gestantes e pode
ser considerado um fator de proteção
adicional, na medida em que proporciona
um espaço de escuta emocional e apoio,
onde o tema da DPP pode ser
adequadamente abordado, permitindo a
livre expressão de temores e ansiedades.
 Defende-se que a assistência psicológica na
gestação, por meio da utilização do PNP, é
um importante instrumento psicoprofilático
que deve ser implementado como uma
política pública em postos de saúde e
serviços de pré-natal no Brasil.
 Este estudo possui relevância social e
científica, na medida em que pode ser
utilizado como ponto de partida para
iniciativas públicas e privadas de apoio à
mulher e seu bebê durante seu ciclo
gravídico-puerperal.
 O Pré-Natal Psicológico, atrelado ao
Programa de Pré-Natal Médico, constitui-se
em ferramenta de baixo custo, que pode ser
implementada por equipes
multidisciplinares, em hospitais públicos e
privados, clínicas da mulher e outros
espaços, abrigando possibilidades de
intervenção multidisciplinar.
 Arrais, A. R. (2005). As configurações subjetivas da depressão
pós-parto: para além da padronização patologizante. Tese de
Doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília,
Brasília.
 Arrais, A. R.; Mourão, M. A.; Fragalle, B. (2013). O pré-natal
psicológico como programa de prevenção à depressão pós-parto.
Saúde Sociedade, 23(1); 251-264.
 Bortoletti, F. F. (2007). Psicoprofilaxia no Ciclo Gravídico
Puerperal. In: Bortoletti, F. F.; Moron, A. F.; Bortoletti Filho, J.;
Nakamura, M. U.; Santana, R. M. & Mattar, R. Psicologia na
prática obstétrica: abordagem interdisciplinar (pp. 37-46).
Barueri, SP: Manole.
 Zinga, D.; Phillips, S. D.; Born, L. (2012). Depressão pós-parto:
sabemos os riscos, mas podemos preveni-la? Rev. Bras.
Psiquiatria, São Paulo.

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