Guerra Cognitiva ACT OTAN
Guerra Cognitiva ACT OTAN
Guerra Cognitiva ACT OTAN
François du Cluzel
1
Sumário Executivo ............................................................................................................................ 4
Introdução ........................................................................................................................................... 5
Conclusão ........................................................................................................................................... 36
Anexo 1 .............................................................................................................................................. 38
- Caso de Estudo de Estado-Nação 1: A utilização das neurociências para fins militares na
China ....................................................................................................................................................................... 38
Anexo 2 .............................................................................................................................................. 41
- Caso de Estudo do Estado-Nação 2: A Iniciativa Tecnológica Nacional Russa .................... 41
2
Este é um estudo patrocinado pela Allied Command Transformation (ACT), mas as
perspectivas e opiniões nesta publicação reflectem estritamente as discussões tidas
nos fóruns do Innovation Hub. Não reflectem as do ACT ou das suas Nações-membro,
portanto nenhuma delas pode ser citada como declaração oficial que lhes pertença.
3
Sumário Executivo
Conforme escrito no documento Warfighting 2040, a natureza da guerra mudou. A
maioria dos conflitos actuais permanece abaixo do limiar da definição tradicionalmente
aceite de fazer guerra, mas surgiram novas formas de guerra, como a Guerra Cognitiva
(GC), ao mesmo tempo que a mente humana está agora a ser considerada como um novo
domínio de guerra.
4
Introdução
As capacidades cognitivas individuais e organizacionais serão de suma importância
devido à velocidade e ao volume de informação disponível no espaço de batalha
moderno. Se a tecnologia moderna promete melhorar o desempenho cognitivo humano,
também contém as sementes de sérias ameaças para as organizações militares.
5
O advento da Guerra Cognitiva
A mudança mais marcante desta prática do mundo militar para o civil é a penetração
das actividades da GC na vida quotidiana que ficam situadas fora do constructo normal
6
de paz-crise-conflito (com efeitos prejudiciais). Mesmo que uma guerra cognitiva possa
ser conduzida para complementar um conflito militar, ela pode também ser conduzida
sozinha, sem qualquer vínculo com o compromisso das forças armadas. Além disso, a
guerra cognitiva é potencialmente interminável uma vez que não pode haver tratado de
paz ou rendição para este tipo de conflito.
A Guerra Cognitiva é uma guerra de ideologias que se esforça por corroer a confiança
que escora todas as sociedades.
7
A confiança é o alvo
Tem o potencial de fazer arruinar todo o contrato social que sustenta as sociedades.
É mais fácil e mais barato para os adversários minar a confiança nos nossos próprios
sistemas do que atacar as nossas redes eléctricas, fábricas ou complexos militares. Por
isso, é provável que num futuro próximo haja mais ataques, de um número crescente e
muito mais diversificado de potenciais jogadores com um maior risco de intensificação
ou erro de cálculo. As características do ciberespaço (falta de regulamentação,
dificuldades e riscos associados de atribuição de ataques em particular) significam que
devem ser esperados novos actores, estatais ou não estatais.7
Em muitos aspectos, a guerra cognitiva pode ser comparada à propaganda, que pode ser
definida como “um conjunto de métodos empregados por um grupo organizado que
quer provocar a participação activa ou passiva nas suas acções de uma massa de
indivíduos, psicologicamente unificados através de manipulações psicológicas e
incorporadas numa organização”.10
8
O propósito da propaganda não é “programar” mentes, mas influenciar atitudes e
comportamentos fazendo com que as pessoas adoptem a atitude correcta, que pode
consistir em fazer certas coisas ou, muitas vezes, deixar de fazê-las.
A diferença entre GC e a propaganda está no facto de que todos participam, na sua maior
parte inadvertidamente, do processamento da informação e da formação do
conhecimento de uma forma inaudita. Esta é uma mudança subtil, mas significativa.
Enquanto os indivíduos eram passivamente submetidos à propaganda, agora
contribuem activamente para ela.
Economia comportamental
“O capitalismo está a sofrer uma mutação radical. O que muitos descrevem como a
‘economia de dados’ é, de facto, melhor entendido como uma ‘economia
comportamental’”.
9
A economia comportamental (EC) é definida como um método de análise económica
que aplica conhecimentos psicológicos ao comportamento humano para explicar a
tomada de decisões económicas.
Como mostram as pesquisas sobre a tomada de decisões, o comportamento torna-se
cada vez mais computacional, a EC está na encruzilhada entre ciência dura e ciência
mole.12
Operacionalmente, isso significa o uso massivo e metódico de dados comportamentais
e o desenvolvimento de métodos para procurar agressivamente novas fontes de dados.
Com a grande quantidade de dados (comportamentais) que todos geram geralmente
sem o nosso consentimento e consciência, é facilmente praticável mais manipulação.
As grandes empresas de economia digital desenvolveram novos métodos de captura de
dados, permitindo a inferência de informações pessoais que os utilizadores podem não
necessariamente pretender divulgar. O excesso de dados tornou-se a base para novos
mercados de previsão chamados publicidade direccionada.
“Aqui está a origem do capitalismo de vigilância numa mistura sem precedentes e
lucrativa: excedente comportamental, ciência de dados, infraestrutura de materiais,
poder computacional, sistemas algorítmicos e plataformas automatizadas”, afirma
Soshanna Zuboff .13
Nas sociedades democráticas, a publicidade rapidamente se tornou tão importante
como a pesquisa. Tornou-se finalmente a pedra angular de um novo tipo de negócio que
depende da monitorização online em larga escala.
O alvo é o ser humano no sentido mais amplo e é
fácil desviar os dados obtidos apenas para fins “A tecnologia continua inabalável
comerciais, como demonstrou o escândalo da e continuará inabalável. […]
Cambridge Analytica (CA). Porque a tecnologia está a ir tão
Assim, a falta de regulação do espaço digital – o rápido e porque as pessoas não a
chamado "pântano de dados" – não beneficia compreendem, ia sempre haver
uma Cambridge Analytica.”
apenas os regimes da era digital, que "podem
Julian Wheatland
exercer notável controlo não apenas sobre redes
Ex-director de Operações da
de computadores e corpos humanos, mas também Cambridge
sobre as mentes dos seus cidadãos”.14
Também pode ser utilizado para fins malignos,
como mostrou o exemplo do escândalo da CA.
O modelo digital da CA descreveu como combinar dados pessoais com a aprendizagem
de máquinas para fins políticos, traçando os perfis de eleitores individuais para serem
alvos de anúncios políticos personalizados.
Usando as mais avançadas técnicas de sondagem de opinião e psicometria, a Cambridge
Analytica conseguiu de facto reunir uma vasta quantidade de dados de indivíduos que
os ajudaram a compreender por meio de informações económicas, demográficas, sociais
e comportamentais o que cada um deles pensava. Literalmente forneceu à empresa uma
janela para a mente das pessoas.
A gigantesca colecção de dados organizada por meio de tecnologias digitais é hoje usada
essencialmente para definir e antecipar o comportamento humano. O conhecimento
comportamental é um activo estratégico. “A economia comportamental adapta a
investigação em psicologia a modelos económicos, criando assim representações mais
precisas das interacções humanas.”15
“A Cambridge Analytica demonstrou como é possível […] alavancar ferramentas para
construir uma versão reduzida das máquinas de vigilância e manipulação massivas.”16
10
Como mostra o exemplo da Cambridge Analytica, pode-se utilizar esse conhecimento
para fins militares e desenvolver capacidades ofensivas e defensivas apropriadas,
preparando o caminho para uma guerra social virtual.17 O uso sistemático de métodos
de BE aplicados ao exército poderia levar a uma melhor compreensão de como
indivíduos e grupos se comportam e pensam, levando por fim a uma compreensão mais
ampla do ambiente de tomada de decisões dos adversários. Existe um risco real de que
o acesso a dados comportamentais que utilizam as ferramentas e técnicas do BE, como
mostrado pelo exemplo da Cambridge Analytica, possa permitir que qualquer actor mal-
intencionado – seja estatal ou não estatal – prejudique estrategicamente sociedades
abertas e os seus instrumentos de poder.
Ciberpsicologia
****
Paradoxalmente, o desenvolvimento da tecnologia da informação e a sua utilização para
fins manipulativos em particular salienta o papel cada vez mais predominante do
cérebro.
O cérebro é a parte mais complexa do corpo humano. Este órgão é a sede da inteligência,
o intérprete dos sentidos, o iniciador dos movimentos do corpo, o controlador do
comportamento e o centro de decisões.
11
A centralidade do cérebro humano
Durante séculos, cientistas e filósofos ficaram fascinados com o cérebro, mas até
recentemente, consideravam o cérebro quase incompreensível. Hoje, porém, o cérebro
está a começar a revelar seus segredos. Os cientistas aprenderam mais acerca do
cérebro na última década do que em qualquer século anterior, graças ao ritmo acelerado
das investigações nas ciências neurológicas e comportamentais e ao desenvolvimento
de novas técnicas de investigação. Para o exército, representa a última fronteira da
ciência, na medida em que pode trazer uma vantagem decisiva nas guerras de amanhã.
12
As vulnerabilidades do cérebro humano
Em particular, o cérebro:
- é incapaz de distinguir se determinada informação está certa ou errada;
- é levado a tomar atalhos na determinação da fidedignidade das mensagens em caso
de sobrecarga de informação;
- é levado a acreditar em declarações ou mensagens que já ouviu como verdadeiras,
mesmo que possam ser falsas;
- aceita declarações como verdadeiras, se apoiadas por provas, sem levar em conta a
autenticidade dessas provas.
13
Esses são, entre muitos outros, os vieses cognitivos, definidos como um padrão
sistemático de desvio da norma ou de racionalidade no julgamento.20
Os vieses cognitivos afetam toda a gente, desde soldados em campo a oficiais do estado-
maior, e em maior medida do que toda a gente admite.
14
Em última análise, as vantagens operacionais na guerra cognitiva virão primeiro da
melhoria da compreensão das capacidades e limitações cognitivas militares.
15
Chegou, portanto, a altura de adoptar as regras desta “economia da atenção”, de
dominar as tecnologias relacionadas com a “captologia”, de compreender como estes
desafios são completamente novos. Na verdade, esta batalha não se limita aos ecrãs e
ao design, também acontece nos cérebros, especialmente na maneira como são
enganados. É também uma questão de compreender por que é que, na era das redes
sociais, algumas “fake news”, teorias da conspiração ou “factos alternativos”, seduzem e
convencem, enquanto, ao mesmo tempo, tornam inaudíveis as suas vítimas.
A atenção, pelo contrário, é um recurso limitado e cada vez mais escasso. Não pode ser
partilhado: pode ser conquistado e mantido. A batalha pela atenção está agora a
funcionar, envolvendo empresas, estados e cidadãos.
As questões agora em jogo vão muito além da estrutura da pedagogia, da ética e da
dependência do ecrã. O ambiente de consumo, especialmente o marketing, está a liderar
o caminho. Os profissionais de marketing há muito compreenderam que a sede da
atenção e da tomada de decisões é o cérebro e, como tal, há muito procuraram
compreender, antecipar as suas escolhas e influenciá-lo.
Esta abordagem aplica-se naturalmente também aos assuntos militares e os adversários
já compreenderam isso.
16
Numa era em que a memória é delegada no Google, no GPS, nos alertas de calendário e
nas calculadoras, isso produzirá necessariamente uma perda generalizada de
conhecimento que não é apenas memória, mas antes memória motora. Por outras
palavras, um processo a longo prazo de desactivação de ligações no seu cérebro30 está
em curso. Ele apresentará tanto vulnerabilidades como oportunidades.
Contudo, também há muitas investigações que mostram os benefícios da tecnologia nas
nossas funções cognitivas. Por exemplo, um estudo da Universidade de Princeton31
descobriu que os jogadores de videogame experientes têm uma maior capacidade de
processar dados, de tomar decisões mais rapidamente ou mesmo de realizar
multitarefas simultâneas em comparação com não jogadores. Existe um consenso geral
entre os neurocientistas de que o uso racional da tecnologia da informação (e
particularmente dos jogos) é benéfico para o cérebro.
Ao turvar ainda mais a linha entre o real e o virtual, o desenvolvimento de tecnologias
como a Realidade Virtual (RV), a Realidade Aumentada (RA) ou a Realidade Mista (RM)
tem o potencial de transformar as capacidades do cérebro ainda mais radicalmente32.
Comportamentos em ambientes virtuais podem continuar a influenciar o
comportamento real muito depois de sair da RV.33
Contudo, os ambientes virtuais oferecem a oportunidade de complementar com
eficiência o treino ao vivo, uma vez que podem proporcionar uma experiência cognitiva
que um exercício ao vivo não pode replicar.
Embora existam preocupações e investigações sobre como os meios de comunicação
digitais estão a prejudicar as mentes em desenvolvimento, ainda é difícil prever como é
que a tecnologia afectará e mudará o cérebro, mas com a ubiquidade das TI, será cada
vez mais crucial detectar e antecipar cuidadosamente os impactos de tecnologia da
informação no cérebro e adaptar o uso da tecnologia da informação.
A longo prazo, há poucas dúvidas de que as Tecnologias de Informação transformarão
o cérebro, proporcionando assim mais oportunidades para aprender e apreender o
ambiente cibernético, mas também vulnerabilidades que exigirão uma monitorização a
fundo para as contrariar e defender delas e como melhor explorá-las.
17
Frequentemente convergentes, podem ser também competitivos.
****
18
A militarização da ciência do cérebro
Cientistas de todo o mundo estão a fazer a pergunta de como libertar a humanidade das
limitações do corpo. A linha entre cura e aumento torna-se indistinta. Além disso, a
progressão lógica da investigação é alcançar um ser humano perfeito através de novos
padrões tecnológicos.
19
Algumas Nações da OTAN já reconheceram que as técnicas e tecnologias
neurocientíficas têm elevado potencial para utilização operacional numa variedade de
empresas de segurança, defesa e informação, embora reconhecendo a necessidade de
abordar as questões éticas, legais e sociais actuais e a curto prazo geradas por essa
utilização.37
20
Este tipo de escalada representa uma possibilidade realista com potencial para afectar
a segurança internacional. Essa “diplomacia arriscada” deve ser reconhecida como um
potencial impedimento às tentativas de desenvolver análises e directrizes (que
informam ou incitam políticas) que procuram constranger ou restringir estas vias de
investigação e desenvolvimento.
De notar que todos e cada um podem contribuir para estabelecer um papel para a
ciência do cérebro no cenário de batalha do século XXI.
A definição formal de arma como “um meio de lutar contra outros” pode ser alargada
para incluir qualquer implemento “…usado para ferir, derrotar ou destruir”. Ambas as
definições se aplicam a produtos da investigação da NeuroC/T que podem ser
empregados em cenários militares/de guerra. Os objectivos para as neuroarmas na
guerra podem ser alcançados aumentando ou reduzindo funções do sistema nervoso,
de modo a afectar a actividade e capacidade cognitiva, emocional e/ou motora (por
exemplo, percepção, julgamento, moral, tolerância à dor ou capacidades físicas e
resistência) necessárias para combate. Muitas tecnologias podem ser usadas para
produzir esses efeitos e há uma utilidade demonstrada para as neuroarmas tanto em
cenários de guerra convencional como irregulares.
21
Os produtos da investigação neurocientífica e neurotecnológica podem ser utilizados
para afectar
1) memória, aprendizagem e velocidade cognitiva;
2) ciclos sono-vigília, fadiga e alerta;
3) controlo de impulsos;
4) humor, ansiedade e autopercepção;
5) tomada de decisões;
6) confiança e empatia;
7) e movimento e desempenho (por exemplo, velocidade, força, resistência,
aprendizagem motora, etc.).
Em cenários militares/de guerra, a modificação destas funções pode ser utilizada para
mitigar a agressão e promover cognições e emoções de afiliação ou passividade, induzir
morbidade, incapacidade ou sofrimento e “neutralizar” potenciais oponentes em
potencial ou provocar mortalidade.
Neurodados
A combinação de múltiplas disciplinas (por exemplo, as ciências físicas, sociais e
computacionais) e a "partilha de técnicas e tecnologia" intencional têm sido decisivas
para descobertas e desenvolvimentos rápidos e numerosos nas ciências do cérebro.
Este processo, convergência científica integrativa avançada (AISC), pode ser visto como
um paradigma para depurar as disciplinas para promover o uso inovador de diversos e
complementares conjuntos de conhecimentos, habilidades e ferramentas para delimitar
as abordagens existentes para a resolução de problemas e para desenvolver novos
meios de explorar e aprofundar os limites de compreensão e capacidade. Essencial para
a abordagem da AISC em neurociência é o uso de métodos e avanços computacionais
(ou seja, big data) para permitir uma visão aprofundada e uma intervenção mais
sofisticada na estrutura e função(ões) do cérebro e, por extensão, na cognição humana,
na emoção e no comportamento.39
22
os indivíduos são considerados e tratados socialmente e, destas formas, perturbar a
saúde pública e provocar uma mudança socioeconómica.
Assim, é provável que haja mais tentativas directas de aproveitar os neurodados para
obter capacidade informacional, social, legal e militar e vantagem(ns) de poder, uma vez
que vários países que actualmente são estrategicamente competitivos com os EUA e os
seus aliados investem fortemente tanto em programas de investigação neurocientífica
e de cibernética científica como em infraestruturas. A crescente força da presença
quantitativa e económica destes estados nestas áreas pode – e destina-se a – mudar a
liderança internacional, a hegemonia, e influenciar normas e padrões éticos, técnicos,
comerciais e político-militares de investigação e utilização. Por exemplo, a liderança
russa declarou interesse no emprego de “passaportes genéticos” de modo que aqueles
militares que apresentem indicações genéticas de alto desempenho cognitivo possam
ser direcionados para tarefas militares específicas.
A neurobioeconomia
23
1) avançar na compreensão dos substratos e mecanismos dos distúrbios
neuropsiquiátricos;
2) aprimorar o conhecimento dos processos de cognição, emoção e comportamento;
3) e aumentar os métodos para estudar, avaliar e afetar o cérebro e suas funções.
Será cada vez mais difícil regular e restringir as aplicações militares e de segurança da
NeuroC/T sem padrões estabelecidos e supervisão internacional adequada da
investigação e do potencial uso na prática.
*****
24
Rumo a um novo domínio operacional
O advento do conceito de “guerra cognitiva” (GC) traz uma terceira grande dimensão de
combate ao campo de batalha moderno: às dimensões física e informacional é agora
adicionada uma dimensão cognitiva. Cria um novo espaço de competição, para além dos
domínios terrestre, marítimo, aéreo, cibernético e espacial, que os adversários já
integraram.
Num mundo permeado de tecnologia, a guerra no domínio cognitivo mobiliza uma gama
mais ampla de espaços de batalha do que as dimensões físicas e informacionais
conseguem fazer. A sua própria essência é assumir o controlo de seres humanos (civis
e militares), organizações, nações, mas também de ideias, da psicologia, especialmente
comportamental, dos pensamentos, bem como do meio ambiente. Adicionalmente, os
avanços rápidos na ciência do cérebro, como parte de uma guerra cognitiva amplamente
definida, têm o potencial de expandir consideravelmente os conflitos tradicionais e
produzir efeitos a custos mais baixos.
Enquanto as acções tomadas nos cinco domínios são executadas para ter efeito no
domínio humano43, o objectivo da guerra cognitiva é fazer de todos uma arma.
Para reverter a situação, a OTAN tem de se esforçar para se definir num sentido muito
amplo e tem de ter uma consciência clara dos significados e avanços dos actores
internacionais que proporcionam à OTAN segurança estratégica específica e desafios
mais amplos no campo da guerra cognitiva.
25
Definição da Guerra Cognitiva Russa e Chinesa
Isto vai para além do “puro engano” porque usa múltiplas entradas para o decisor
usando tanto informações verdadeiras como falsas, em última análise com o objectivo
de fazer o alvo sentir que a decisão de mudar o seu comportamento foi sua:
O controlo reflexivo foi transformado num conceito mais amplo levando em conta as
oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias de TI denominado ‘Gestão da
Percepção’. Trata-se de controlar a percepção e não de gerir a percepção.
A GC russa baseia-se numa compreensão profunda dos alvos humanos graças ao estudo
da sociologia, da história, da psicologia, etc. do alvo e o uso extensivo da tecnologia da
informação.
****
26
Domínio da Guerra Cognitiva da China
A China adoptou uma definição ainda mais ampla de GC que inclui a utilização
sistemática da ciência cognitiva e da biotecnologia para alcançar a "superioridade
mental".
Abrange seis tecnologias, divididas em duas categorias (cognição, que inclui tecnologias
que afectam a capacidade de alguém de pensar e funcionar; e cognição subliminar que
abrange tecnologias que visam as emoções, o conhecimento, a força de vontade e as
crenças subjacentes de uma pessoa).
Em particular, “a inovação chinesa está preparada para procurar sinergias entre ciência
do cérebro, a inteligência artificial (IA) e a biotecnologia que podem ter implicações de
longo alcance para o seu futuro poder militar e total competitividade nacional.”46
Como parte do seu Domínio Cognitivo de Operações, a China definiu “Military Brain
Science (MBS) como uma ciência inovadora de ponta que usa a potencial aplicação
militar como orientação. Pode trazer uma série de mudanças fundamentais ao conceito
de combate e de métodos de combate, criando um estilo de combate de “guerra
cerebral” totalmente novo e redefinindo o campo de batalha.”49 A procura de avanços no
campo da MBS provavelmente proporcionará à China avanços pioneiros. O
desenvolvimento da MBS pela China beneficia de uma abordagem multidisciplinar entre
as ciências humanas, a medicina, a antropologia, a psicologia etc. e também beneficia de
avanços "civis" na área, a investigação civil beneficiando intencionalmente a
investigação militar.
27
É sobre Humanos
Um ataque cognitivo não é uma ameaça que possa ser combatida no ar, na terra, no mar,
no ciberespaço ou no espaço. Pode muito bem estar, antes, a acontecer em qualquer um
destes domínios, por uma simples razão: os humanos são o domínio disputado.
Conforme demonstrado anteriormente, o humano é muitas vezes a principal
vulnerabilidade e isso deve ser reconhecido
para proteger o capital humano da OTAN, mas “A vitória será definida mais em
também para sermos capazes de beneficiar das termos de capturar uma posição de
vulnerabilidades dos nossos adversários. vantagem psicocultural do que uma
geográfica. Compreensão e empatia
“A cognição está incluída naturalmente no serão importantes armas de
Domínio Humano, portanto, um domínio guerra.”
cognitivo seria muito restritivo”, afirmaram Major-General Robert H. Scales
August Cole e Hervé Le Guyader no “6º domínio
da OTAN” e:
“…o Domínio Humano é aquele que nos define como indivíduos e estrutura as nossas
sociedades. Tem a sua própria complexidade específica em comparação com outros
domínios, devido ao grande número de ciências em que se baseia (...) e estas são aquelas
em que os nossos adversários se focam para identificar os nossos centros de gravidade, as
nossas vulnerabilidades.”50
A prática da guerra mostra que, embora a guerra de domínio físico possa enfraquecer
as capacidades militares do inimigo, não consegue atingir todos os propósitos da guerra.
Diante de novas contradições e problemas de ideologia, crença religiosa e identidade
nacional, as armas e as tecnologias avançadas podem ser inúteis e os seus efeitos podem
até criar novos inimigos. É, por conseguinte, difícil, se não impossível, resolver o
problema do domínio cognitivo apenas pela guerra no domínio físico.
28
Para o historiador Alan Beyerchen, as ciências sociais serão o amplificador das guerras
do século XXI.52
Nas guerras passadas, o problema era que o factor humano não podia ser um
amplificador significativo simplesmente porque a sua influência era limitada e difícil de
explorar; os humanos eram considerados mais como constantes do que como variáveis.
Sem dúvida que os soldados poderiam ser melhorados por meio de treino, selecção,
adaptação psicológica e, mais recentemente, educação. Mas, no fim de contas, o factor
humano foi reduzido a números. Quanto maior o exército, maior a possibilidade de
vencer a guerra, embora a acção de um grande estratega pudesse contrabalançar este
argumento. Amanhã, ter melhores soldados e humanos mais eficazes será fundamental.
Por último, os recentes desenvolvimentos na ciência, em todos os tipos de ciência,
incluindo a ciência relacionada com o domínio humano, capacitaram qualquer pessoa,
quer indivíduos quer minorias comprometidas, com um poder devastador potencial à
sua disposição. Criou uma situação nunca antes vista na história da humanidade53, em
que indivíduos ou pequenos grupos podem comprometer o sucesso de operações
militares.
29
A psicologia e as ciências sociais sempre foram essenciais para a guerra e, embora a
guerra esteja a afastar-se das operações cinéticas, elas podem ser o novo divisor de
águas. A psicologia, por exemplo, pode ajudar a compreender os motivos pessoais dos
grupos terroristas e as dinâmicas sociais que os tornam tão atraentes para os
(principalmente) jovens que se juntam a eles.
Como exemplo, a figura abaixo representa uma metodologia (chamada Weber) aplicada
ao estudo de grupos terroristas no Sahel. Combina Ciências Sociais e Engenharia de
Sistemas para ajudar a prever os comportamentos de grupos terroristas. A ferramenta
permite que os decisores avaliem a evolução dos actores por meio de padrões
comportamentais de acordo com vários critérios e parâmetros das ciências sociais e, em
última análise, antecipem cursos de acção.57
A análise, voltada para a compreensão do outro em sentido amplo (e muitas vezes não
ocidental), não pode prescindir da antropologia. A antropologia social e cultural é uma
ferramenta formidável para o analista, a melhor maneira de evitar ceder a um dos
preconceitos mais comuns da informação, o etnocentrismo, isto é, a incapacidade de se
livrar das estruturas mentais e das representações do próprio ambiente cultural.
As ciências cognitivas podem ser aproveitadas para melhorar o treino a todos os níveis,
especialmente para melhorar a capacidade de tomar decisões em situações tácticas
complexas. As ciências cognitivas podem ser empregadas na criação de programas de
treino altamente eficientes e flexíveis que podem responder a problemas em rápida
mudança.
30
Aspectos legais e éticos
Aspectos legais
O desenvolvimento, produção e uso de Tecnologias Cognitivas para fins militares
levantam questões quanto a se, e em que medida, os instrumentos legais existentes se
aplicam. Isto é, como é que as disposições relevantes devem ser interpretadas e
aplicadas à luz das características tecnológicas específicas e em que medida o direito
internacional pode responder suficientemente aos desafios legais envolvidos no
advento dessa tecnologia.
É essencial garantir que o direito internacional e as normas aceites sejam capazes de
levar em conta o desenvolvimento das tecnologias cognitivas. Especificamente, para
garantir que essas tecnologias possam ser usadas de acordo com a lei aplicável e as
normas internacionais aceites. A OTAN, por meio de seus vários aparelhos, deve
trabalhar para estabelecer um entendimento comum de como as armas cognitivas
podem ser empregadas para cumprir a lei e as normas internacionais aceites.
Da mesma forma, a OTAN deve considerar como é que a Lei de Conflitos Armados
(LoAC) se aplicaria ao uso de tecnologias cognitivas em qualquer conflito armado a fim
de garantir que qualquer desenvolvimento futuro tenha uma estrutura a partir da qual
trabalhar. O cumprimento integral das regras e princípios da LoAC é essencial.
Dada a complexidade e a natureza contextual das potenciais questões jurídicas
levantadas pelas tecnologias e técnicas cognitivas, e os constrangimentos associados a
este estudo patrocinado pela OTAN, será necessário mais trabalho para analisar esta
questão de forma completa. Por conseguinte, recomenda-se que esse trabalho seja
conduzido por um órgão adequado e que as Nações da OTAN colaborem no
estabelecimento de um conjunto de normas e expectativas acerca do uso e
desenvolvimento de tecnologias cognitivas. O foco imediato é como podem ser usadas
dentro das estruturas legais existentes e da Lei de Conflitos Armados.
Ética
Esta área de investigação – melhoramento humano e armas cognitivas –será
provavelmente objecto de grandes desafios éticos e legais, mas não podemos dar-nos
ao luxo de ficar para trás quando os actores internacionais já estão e desenvolver
estratégias e capacidades para os empregar. Há uma necessidade de considerar estes
desafios, uma vez que não só há a possibilidade de que estas tecnologias de
melhoramento humano sejam deliberadamente usadas para fins maliciosos, como
também pode haver implicações na capacidade do pessoal militar de respeitar a lei do
conflito armado.
É igualmente importante reconhecer os potenciais efeitos colaterais (tais como
deficiência na fala, deficiência na memória, aumento da agressividade, depressão e
suicídio) dessas tecnologias. Por exemplo, se qualquer tecnologia de melhoramento
cognitivo minar a capacidade de um sujeito de cumprir a lei de conflito armado, isso
seria uma fonte de preocupação muito séria. O desenvolvimento e o uso de tecnologias
cognitivas apresentam inúmeros desafios éticos, bem como benefícios éticos, tais como
a recuperação da Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT). Os legisladores devem
considerar estes desafios seriamente à medida que desenvolvem políticas sobre
Tecnologias Cognitivas, exploram questões com maior profundidade e determinam se
podem surgir à medida que esta tecnologia e outras relacionadas se desenvolvem.
31
Recomendações para a OTAN
A necessidade de cooperação
Assim definido pelos grandes adversários da OTAN, o domínio do campo das percepções
é um espaço abstracto onde se misturam a compreensão de si (forças e fraquezas), do
outro (adversário, inimigo, ambiente humano), a dimensão psicológica, a recolha de
informação, a procura de ascendência (influência, tomada e conservação da iniciativa)
e a capacidade de reduzir a vontade do adversário.
32
A guerra cognitiva foi imposta às democracias liberais ocidentais ao desafiar os actores
internacionais que criaram estratégias para evitar o confronto militar, turvando assim
a linha entre a paz e a guerra ao visar o elemento mais fraco: os humanos. A GC, que
inclui o uso crescente das NBIC para fins militares, pode proporcionar um modo seguro
de domínio militar num futuro próximo.
O Domínio Humano das operações poderia ser provisoriamente definido como “a esfera
de interesse na qual estratégias e operações podem ser projectadas e
implementadas para que, visando as capacidades cognitivas de indivíduos e/ou
comunidades com um conjunto de ferramentas e técnicas específicas, em
particular as digitais, influenciarão a sua percepção e adulterarão as suas
capacidades de raciocínio, obtendo assim o controlo das suas alavancas de
tomada de decisão, percepção e comportamento para alcançarem os efeitos
desejados”.
Sensibilizar os Aliados
Antecipando as tendências
33
Atrasos em declarar o Domínio Humano como um domínio de operações podem levar
combater a última guerra.
Finalmente, deverão ser levantados problemas éticos. Uma vez que não existe um
quadro jurídico internacional acordado no campo das neurociências, a OTAN pode
desempenhar um papel importante na pressão do estabelecimento de um quadro
jurídico internacional que cumpra os padrões éticos das Nações da OTAN.
34
A ACT deveria conduzir um estudo mais aprofundado com foco em:
• Avanços em iniciativas da ciência do cérebro que possam ser desenvolvidas e
usadas para compromissos não cinéticos e cinéticos.
• Diferentes sistemas éticos que regem a investigação e o desenvolvimento
neurocientífico. Isto exigirá uma abordagem rigorosa, mais granular e dialética
para negociar e resolver questões e domínios de dissonância ética em muitos
discursos, e internacionais, de biossegurança.
• Revisão e avaliação contínuas das leis nacionais de propriedade intelectual, tanto
em relação à(s) lei(s) internacional(is), como no escrutínio de potencial ocultação
comercial de empresas de dupla utilização.
• Identificação e quantificação dos riscos e ameaças actuais e a curto prazo
colocados por essa(s) empresa(s)
• Reconhecer melhor o uso das ciências sociais e humanas em relação às ciências
“duras” para compreender melhor o ambiente humano (interno e externo)
• Incluir a dimensão cognitiva em todos os exercícios da OTAN, aproveitando novas
ferramentas e técnicas tais como as tecnologias imersivas
35
Conclusão
Deixar de frustrar os esforços cognitivos dos oponentes da OTAN condenaria as
sociedades liberais ocidentais a perder a próxima guerra sem lutar. Se a OTAN não
conseguir construir uma base sustentável e proactiva para o progresso no domínio
cognitivo, pode não ter outra opção senão o conflito cinético. As capacidades cinéticas
podem ditar um resultado táctico ou operacional, mas a vitória a longo prazo
permanecerá exclusivamente dependente da capacidade de influenciar, afectar, mudar
ou impactar o domínio cognitivo.
A preparação para a guerra de alta intensidade continua a ser altamente relevante, mas
os actores internacionais que proporcionam à OTAN desafios de segurança estratégicos
específicos criaram estratégias para evitar o confronto com a OTAN em conflitos
cinéticos e escolheram uma forma indirecta de guerra. A informação desempenha um
papel fundamental nesta forma indirecta de guerra, mas o advento da guerra cognitiva
é diferente da simples Guerra de Informação: é uma guerra através da informação,
sendo o verdadeiro alvo a mente humana, e para além do humano per si.
A guerra cognitiva pode muito bem ser o elemento em falta que permite a transição da
vitória militar no campo de batalha para o sucesso político duradouro. O domínio
humano pode muito bem ser o domínio decisivo, em que as operações multidomínios
alcançam o efeito do comandante. Os cinco primeiros domínios podem dar vitórias
tácticas e operacionais; só o domínio humano pode alcançar a vitória final e plena.
“Reconhecer o domínio humano e gerar conceitos e capacidades para daí obter
vantagem seria uma inovação disruptiva.”60
36
Bibliografia e Fontes
Ensaios
August Cole, Hervé Le Guyader, NATO 6th Domain of Operations, September 2020
Dr. James Giordano, Emerging Neuroscience and Technology (NeuroS/T): Current and
Near-Term Risks and Threats to NATO Biosecurity, October 2020
Artigo
Experiências
37
Anexo 1
Caso de Estudo de Estado-Nação 1: A utilização das neurociências para fins
militares na China
Este ambiente académico crescente foi aproveitado para atrair e solicitar colaboração
multinacional. Desta forma, a China está a usar a NeuroC/T internacional através de
1) turismo de investigação;
2) controlo da propriedade intelectual;
3) turismo médico;
4) e influência no pensamento científico global. Embora estas estratégias não sejam
exclusivas para a NeuroC/T, podem ser mais oportunistas nas ciências do cérebro
porque o campo é novo, expandindo-se rapidamente, e os seus mercados estão a
crescer e a ser definidos pelos interesses tanto dos acionistas como das partes
interessadas.
38
esforços de investigação cooperativa e colectiva permitem que a China consiga um
"campo de jogo" mais uniforme nas ciências do cérebro. A China aproveita a política e a
lei de propriedade intelectual (PI) para avançar (e ocultar) a NeuroC/T e outras
biotecnologias de diversas maneiras. Primeiro, por meio da exploração de seu processo
de patentes criando um "matagal de patentes". O sistema de patentes chinês foca-se na
utilidade final de um produto (por exemplo, uma função neurológica específica num
dispositivo), em vez de enfatizar a ideia inovadora inicial, a contrário do sistema dos
EUA. Isto permite que empresas e/ou instituições chinesas copiem ou usurpem
patentes e produtos estrangeiros.
Além disso, as leis de patentes chinesas permitem que produtos e ideias de investigação
internacional sejam usados na China “para o benefício da saúde pública” ou para “um
grande avanço tecnológico”. Em segundo lugar, a coordenação supracitada das
instituições de ciências do cérebro e do sector empresarial estabelece o licenciamento
obrigatório sob as leis chinesas de propriedade intelectual e patentes. Esta estratégia
(isto é, "uso da lei contra os inimigos") permite que as empresas académicas e
corporativas chinesas tenham apoio económico e jurídico, enquanto reciprocamente
permitem à China direcionar agendas e directrizes nacionais de investigação através
destas colaborações neurocientíficas e tecnológicas internacionais. A China impõe os
seus direitos de patente e PI ao mundo inteiro, o que pode criar uma saturação de
mercado de produtos significativos e inovadores, e poderia criar uma dependência
internacional da NeuroC/T chinesa. Além disso, as empresas chinesas têm investido
fortemente em indústrias de conhecimento, incluindo empresas de inteligência artificial
e parcerias em livros e revistas académicos. Por exemplo, a TenCent estabeleceu uma
parceria com a Springer Nature para se envolver em vários produtos educacionais. Isto
permitirá uma participação significativa em narrativas futuras e na divulgação de
descobertas científicas e tecnológicas.
A China pode visar especificamente tratamentos para doenças que podem ter um alto
impacto global e/ou poderiam oferecer procedimentos que não estão disponíveis
noutros países (por razões ou sociopolíticas ou éticas). Este turismo médico poderia
criar uma dependência internacional dos mercados chineses à medida que os indivíduos
se tornam confiantes nos produtos e serviços disponíveis apenas na China, juntamente
com aqueles que são "fabricados na China" para uso ubíquo em qualquer outro lugar. A
crescente indústria biomédica da China, o esforço contínuo pela inovação e a expansão
das capacidades de fabrico posicionaram as suas empresas farmacêuticas e de
tecnologia com notoriedade nos mercados mundiais. Esse posicionamento – e a ética
um tanto permissiva que permite aspectos e tipos particulares de experimentação –
pode ser sedutor para cientistas internacionais se lançarem na investigação e/ ou na
produção biomédica comercial dentro das fronteiras soberanas da China.
39
Por meio destas tácticas de infiltração e saturação económica, a China pode criar
hierarquias de poder que estrategicamente induzem efeitos “biopolíticos” latentes que
influenciam o domínio posicional real e percebido dos mercados globais.
A China não é o único país que tem códigos éticos diferentes para regular a investigação.
É digno de nota que a Rússia tem dedicado e continua a dedicar recursos à NeuroC/T e,
embora não uniformemente aliada com a China, desenvolveu projectos e programas que
permitem a utilização de neurodados para aplicações não cinéticas e/ou cinéticas. Esses
projetos, programas e operações podem ser conduzidos de forma independente e/ou
colaborativa para exercer influência sobre concorrentes e adversários, de modo a obter
maior hegemonia e poder.
40
Anexo 2
Caso de Estudo de Estado-Nação 2: A Iniciativa Tecnológica nacional da
Rússia61
41
Reconhecendo os problemas inerentes à monocultura dos ecossistemas económicos e
de C&T russos, o governo de Putin iniciou um processo de dirigir a Rússia para empresas
de alta tecnologia mais lucrativas. A ITN é ambiciosa, com metas para realizar
integralmente uma série de avanços em C&T/I&D até 2035. O objectivo central do NTI
é estabelecer "o programa para a criação de mercados fundamentalmente novos e a
criação de condições para a liderança tecnológica global da Rússia até 2035.” Para este
fim, os especialistas da ITN e a Agência de Iniciativas Estratégicas (AIE) identificaram
nove mercados emergentes de alta tecnologia para foco principal e penetração,
incluindo neurociência e tecnologia (isto e, o que a AIE denominou "NeuroNet").
42
Notas
1 P.Kozloski, https://www.realcleardefense.com/articles/2018/02/01/knowing_your-self_
is_key_in_cognitive_warfare_112992.html, February 2018
2 Green,
Stuart A. “Cognitive Warfare.” The Augean Stables , Joint Military Intelligence College, July
2008, www.theaugeanstables.com/wp-content/uploads/2014/04/Green-Cognitive-Warfare.pdf.
4 Asdefined by Wikipedia, a sock puppet or sockpuppet is an online identity used for purposes of
deception. It usually refers to the Russian online activism during the US electoral campaign 2016.
https://en.wikipedia.org/ wiki/Sock_puppet_account
5 https://www.belfercenter.org/sites/default/files/2019-11/CognitiveWarfare.pdf
8 Ibid.
9 Alicia
Wanless, Michael Berk (2017), Participatory Propaganda: The Engagement of Audiences in
the Spread of Persuasive Communications:
https://www.researchgate.net/publication/329281610_Participatory_Propaganda_The_Engageme
nt_of_Audiences_in_the_Spread_of_Persuasive_Communications
11 MattChessen, The MADCOM Future: How AI will enhance computational propaganda, The
Atlantic Council, Sep 2017
12 https://en.wikipedia.org/wiki/al_economics
14 PeterW. Singer, Emerson T. Brooking (2018) LikeWar The Weaponisation of Social Media, HMH
Edition page 95
15 Victoria
Fineberg, (August 2014 ) Behavioural Economics of Cyberspace Operations, Journal of
Cyber Security and Information Systems Volume: 2
17 Michael J Mazarr, (July 2020) Survival: Global Politics and Strategy, Virtual Territorial Integrity:
The Next International Norm, in Survival: Global Politics and Strategy, IISS
18 Bernard Claverie and Barbara Kowalczuk, Cyberpsychology, Study for the Innovation Hub, July
2018
19 Dr
Zac Rogers, in Mad Scientist 158, (July 2019), https://madsciblog.tradoc.army.mil/158-in-the-
cognitive-warthe-weapon-is-you/
20 Haselton
MG, Nettle D, Andrews PW (2005). "The evolution of cognitive bias.". In Buss DM (ed.).
The Handbook of Evolutionary Psychology
43
21 Wikipedialists more than 180 different cognitive biases:
https://en.wikipedia.org/wiki/Cognitive_bias
22 Lora
Pitman (2019) “The Trojan horse in your Head: Cognitive Threats and how to counter them”
ODU Digital Commons
24 PeterW. Singer, Emerson T. Brooking (2018) LikeWar The Weaponisation of Social Media, HMH
Edition page 165
27 Fogg,
B.J. (2003). Persuasive Technology: Using Computers to Change What We Think and Do.
Morgan Kaufmann Publishers.
28 https://mwi.usma.edu/mwi-video-brain-battlefield-future-dr-james-giordano/
29 Maryanne Wolf, (2007)“Proust and the Squid: The Story and Science of the Reading Brain”
HarperCollins
30 Bernard
Stiegler, https://www.observatoireb2vdesmemoires.fr/publications/video-minute-
memoire-vers-uneutilisation-raisonnee-du-big-data 2019
31 https://pphr.princeton.edu/2017/04/30/are-video-games-really-mindless/
32“Never has a medium been so potent for beauty and so vulnerable to creepiness. Virtual reality will
test us. It will amplify our character more than other media ever have.” Jaron Lanier, (2018) Dawn of
the New Everything: Encounters with Reality and Virtual Reality, Picador Edition
34 Gayannée Kedia, Lasana Harris, Gert-Jan Lelieveld and Lotte van Dillen, (2017) From the Brain to
the Field: The Applications of Social Neuroscience to Economics, Health and Law
35 Pr.
Li-Jun Hou, Director of People’s Liberation Army 202nd Hospital, (May 2018), Chinese Journal
of Traumatology,
36 For more on the definition of “dual use” in neuro S/T, see Dr. James Giordano’s essay October
2020
37 National Research Council and National Academy of Engineering. 2014. Emerging and Readily
Available Technologies and National Security: A Framework for Addressing Ethical, Legal, and
Societal Issues.
38 Ibid.
39 Giordano J. (2014). Intersections of “big data”, neuroscience and national security: Technical
issues and de-rivative concerns. In: Cabayan H et al. (eds.) A New Information Paradigm? From
Genes to “Big Data”, and Insta-grams to Persistent Surveillance: Implications for National Security, p.
46-48. Department of Defense; Strategic Multi-layer Assessment Group- Joint Staff/J-3/Pentagon
Strategic Studies Group.
44
41 DeFranco JP, DiEuliis D, Bremseth LR, Snow JJ. Giordano J. (2019). Emerging technologies for
disruptive effects in non-kinetic engagements. HDIAC Currents 6(2): 49-54.
42 Innovation Hub - Nov 2020Page of 44 45 Parag Khanna, Connectography: Mapping the Future of
Global Civilisation (New York Random House, 2016)
43 Megan Bell, An Approachable Look at the Human Domain and why we should care (2019),
https://othjournal.com/2019/06/17/an-approachable-look-at-the-human-domain-and-why-we-
should-care/
45 GILES,
SHERR et SEABOYER (2018), Russian Reflexive Control, Royal Military College of Canada,
Defence Research and Development Canada.
48 Ibid.
49 HaiJin, Li-Jun Hou, Zheng-Guo Wang, (May 2018 )Military Brain Science - How to influence future
wars, Chinese Journal of Traumatology
54 "Analysis
Facing Worldwide Jihadist Violence and Conflicts. What to do?” Article for the
Innovation Hub, Nicolas Israël and Sébastien-Yves LAURENT, September 2020
55 https://www.psychologytoday.com/us/blog/head-strong/201408/psychology-and-less-lethal-
military-strategy
56 Generals Odierno, Amos and Mc Raven, Strategic Landpower, NPS Publication 2014
57 "Analysis
Facing Worldwide Jihadist Violence and Conflicts. What to do?” Article for the
Innovation Hub, Nicolas Israël and Sébastien-Yves LAURENT, September 2020
58 August Cole, Hervé Le Guyader, NATO 6th Domain of Operations, September 2020
59 Hervé
Le Guyader, the Weaponisation of Neurosciences, Innovation Hub Warfighting Study
February 2020
60 Ibid.
61 Ibid.
45