Capitulo 8
Capitulo 8
Capitulo 8
SEPARAÇÃO MAGNÉTICA E
ELETROSTÁTICA
SEPARAÇÃO MAGNÉTICA
Introdução
Materiais magnéticos, que atuam como magnetos e são capazes de atrair
minerais de ferro, são conhecidos desde os primórdios da civilização. No entanto, a
prática da separação magnética só foi reconhecida no século XIX (SVOBODA e FUJITA,
2003).
Hoje, a separação magnética é um método consagrado na área de processamento
de minérios para concentração e/ou purificação de muitas substâncias minerais, sendo
amplamente utilizada na concentração de minerais ferrosos. A separação magnética
pode ser empregada na concentração de minerais, dependendo das diferentes
respostas ao campo magnético associadas às espécies mineralógicas individualmente,
no beneficiamento de minério e na remoção de sucata.
A propriedade de um mineral que determina sua resposta a um campo magnético
é chamada de susceptibilidade magnética. Com base nessa propriedade, os materiais ou
minerais são classificados em duas categorias: aqueles que são atraídos pelo campo
magnético e os que são repelidos por ele. No primeiro caso, incluem-se os minerais
magnéticos. Dentre estes, tem-se os minerais ferromagnéticos, que são atraídos
fortemente pelo campo, e os paramagnéticos, que são atraídos fracamente. No segundo
caso, incluem-se aqueles que são repelidos pelo campo, e são denominados
diamagnéticos ou não magnéticos.
Minerais ferromagnéticos compreendem aqueles que são fortemente atraídos
pelo ímã comum. O exemplo mais conhecido é a magnetita. Os paramagnéticos são
fracamente atraídos e o exemplo clássico é a hematita. Os minerais diamagnéticos
possuem susceptibilidade magnética negativa e, portanto, são repelidos quando
submetidos a um campo magnético. Entre outros, se destacam: quartzo, cerussita,
magnesita, calcita, barita, fluorita, esfalerita, etc.
A separação magnética é uma técnica ambientalmente amigável e pode ser usada
tanto a seco como a úmido, viabilizando o seu uso em regiões áridas ou onde há
disponibilidade de água. O método a seco é usado, em geral, para minérios de
granulometria grossa e o método a úmido para aqueles de granulometrias mais finas.
Na história da separação magnética verificam-se avanços em ambos os métodos, sem
contar a utilização da tecnologia dos supercondutores, que abriu um novo horizonte na
área de processamento de minérios (LAWVER e HOPSTOCK, 1974; MIHALK, 1979;
NORRGRAN, 1990; SVOBODA e FUJITA, 2003). São conhecidos separadores magnéticos
que operam industrialmente com campo que varia de 5 a 6 T, sendo 1 Tesla (T) = 10 4
Gauss, que corresponde a 1 N/A.m (ARVIDSON e NORRGRAN, 2014; BEHARELL, 2015).
342 Capítulo 8 Separação Magnética e Eletrostática
No vácuo, pode ser igual a o para fins práticos. Nas situações em que B e H
diferem somente pelo fator de proporcionalidade , indistintamente podem ser
chamadas de campo magnético.
A experiência mostra que, quando se coloca uma partícula mineral fracamente
magnética em determinado campo H de uma dada região do espaço, o fluxo magnético
B é acrescido do valor tal que:
B H [2]
= indução magnética do material.
O seu valor no ar é muito pequeno e, dessa forma, pode-se tomar o valor de B
igual a H . É muito comum referir-se apenas à magnetização J de um material, que é a
ação de criar linhas de indução magnética ou um campo magnético em uma substância
ou em uma região determinada do espaço. A relação entre a indução magnética e a
magnetização é expressa por:
4 J [3]
Conclui-se que a Equação [2] pode ser escrita da forma:
B H 4 J [4]
A razão adimensional entre J , magnetização, e H , intensidade de campo, é
chamada de susceptibilidade magnética k, ou seja:
k J/H [5]
Para materiais paramagnéticos, k é uma constante positiva e de baixo valor, não
ultrapassando normalmente ao valor de 10-3. Para os materiais diamagnéticos, k é uma
constante negativa, usualmente menor (em módulo) que 10-5. A susceptibilidade
magnética de um material ferromagnético é variável e depende do campo de
magnetização, da natureza e do manuseio da amostra.
Os materiais ferromagnéticos são, na sua maioria, referenciados em termos da
permeabilidade magnética e, de acordo com a Equação [1], tem-se:
B/ H [6]
Das relações [4], [5] e [6] conclui-se que:
1 4 k . [7]
344 Capítulo 8 Separação Magnética e Eletrostática
Quadro 1. Relação dos principais minerais com propriedades magnéticas, indicando a faixa de
campo magnético em que os mesmos podem ser separados por processo de separação
magnética.
Grupo 1 - Ferromagnéticos - Faixa de Campo de 0,05 a 0,5 T
Ferro Magnetita
Grupo 2 - Magnéticos - Faixa de Campo de 0,5 a 1 T
Ilmenita Pirrotita Franklenita
Grupo 3 - Fracamente Magnéticos - Faixa de Campo de 1 a 1,8 T
Hematita Mica Calcopirita
Siderita Molibdenita Molibdenita
Rodonita Cerargirita Talco
Limonita Huebnerita Titanita
Braunita Wolframita Calcocita
Corindon Bornita Cinábrio
Pirolusita Apatita Gesso
Manganita Tetrahedrita Zincita
Calamina Willemita Ortoclásio
Esfarelita Cerussita Epidoto
Siderita Dolomita Fluorita
Rodocrosita Psilomelana Augita
Granada Arsenopirita Hornblenda
Serpentinita
Grupo 4 - Muito Fracamente Magnéticos - Faixa de Campo acima de 1,8 T
Pirita Serpentinita Cobalita
Smithsonita Nicolita Safira
Esfalerita Diopsidio Cassiterita
Estibinita Turmalina Ortoclásio
Criolita Cuprita Dolomita
Enargita Galena Spinélio
Berílio Whiterita Rubi
Magnesita Crisocola Covelita
Azurita Rutilo Feldspato
Gesso Mica Zircão
Malaquita
Grupo 5 - Não Magnéticos e Diamagnéticos
Barita Corindon Apatita
Bismuto Topázio Aragonita
Calcita Galena Grafita
Fluorita Antimônio
Fonte: Eriez Magnetics
350 Capítulo 8 Separação Magnética e Eletrostática
Matrizes Ferromagnéticas
Há duas formas de se produzir um gradiente. A primeira, e mais simples, consiste
na construção de um polo de eletroímã com a área bem menor que a do polo oposto,
(Figura 3B). A segunda consiste na utilização de matrizes entre os polos do eletroímã.
A finalidade dessas matrizes é aumentar o gradiente, produzindo sítios dentro das
mesmas com campo de alta intensidade. Vários modelos foram propostos e/ou
utilizados, dentre os quais se destacam: esferas, hastes, placas sulcadas, grades, lã de
aço, etc. A matriz deve ser escolhida de modo a se ajustar às características do minério,
de forma a contribuir para o melhor desempenho da separação. No processo de seleção
da matriz devem ser feitas, entre outras, as seguintes considerações:
gradiente máximo de campo;
área superficial de captação por unidade de volume da zona da matriz;
facilidade de limpeza da matriz (remoção das partículas magnéticas) com
rapidez para manter o sistema de fluxo contínuo;
porosidade da matriz para permitir a vazão da polpa; matrizes pouco porosas
requerem maior pressão de bombeamento para obter a vazão ideal sem
obstrução;
o material usado na fabricação das matrizes deve reter o mínimo de
magnetização quando as mesmas são removidas do campo (no caso da matriz
reter quantidade significativa de magnetização, torna-se impossível a
remoção das partículas magnetizadas).
Separador Magnético a Úmido de Alta Intensidade
O desenvolvimento da separação magnética tomou grandes dimensões com o
advento das matrizes ferromagnéticas e, como consequência, a fabricação do separador
Jones. Por conseguinte, o sistema de matrizes e a grande eficiência de separação nas
faixas granulométricas finas (-75 μm) proporcionaram vantagens significativas desse
separador quando comparado aos demais. A sua aplicação restringe-se, em geral, aos
minerais paramagnéticos, devido à operação com campo magnético de alta intensidade,
acima de 20.000 G (MIHALK, 1979; JAIN, 1987; WILLS e FINCH, 2016).
Quando se trata de minerais ferromagnéticos, o método encontra sérias
limitações. A remoção das partículas magnéticas captadas pela matriz tornou-se um
obstáculo, em virtude da alta susceptibilidade magnética dessas partículas, mesmo
utilizando pressões de 40 a 50 psi na água de lavagem.
A Figura 5(A) ilustra, de forma esquemática, a operação de um separador
magnético tipo Jones (escala de laboratório); esse é, certamente, o equipamento mais
conhecido na separação magnética a úmido de alta intensidade. O princípio da
separação adotado é largamente utilizado na concepção da maioria dos separadores
magnéticos a úmido utilizados industrialmente (WILLS e FINCH, 2016).
CETEM Tratamento de Minérios – 6ª Edição 351
Figura 5. Diagrama representativo dos separadores a úmido de alta intensidade para laboratório
(A) e de carrossel (B) para circuito contínuo.
Na segunda fase da operação, as partículas captadas na matriz são lavadas por um
fluxo de água com baixa pressão, segundo o percurso (9 e 3). Durante a operação, os
dois pistões hidráulicos (2 e 3) são acionados, um após o outro. O procedimento permite
regular a pressão da água de lavagem, que é uma variável a ser controlada e que está
relacionada a outros fatores, como a susceptibilidade magnética dos minerais. O tempo
de lavagem na operação é estimado em 1,5 s para coleta das partículas paramagnéticas.
Na terceira e última fase da operação, o campo magnético é desligado,
iniciando-se a lavagem do concentrado com o fluxo de água por meio do acionamento
dos pistões (6 e 3). A faixa de pressão utilizada é de 40 a 50 psi, permitindo a coleta do
concentrado magnético.
Separador Magnético Tipo Carrossel
Na Figura 5(B) são ilustradas as características essenciais do separador magnético
a úmido de alta intensidade para circuito contínuo. O equipamento consta de um anel
rotativo, às vezes chamado de carrossel, que atravessa um campo magnético no qual
são instaladas as matrizes ferromagnéticas. A alimentação é feita de modo que a polpa
atravesse uma região com campo de alta intensidade. A fração magnética é captada pela
matriz ou, pelo menos, é retardada o suficiente para ser carregada pelo movimento do
anel rotativo até uma região de campo com baixa intensidade. Nesta região, as
partículas magnéticas remanescentes na matriz são descarregadas com auxílio de um
jato d'água e, assim, torna-se possível a coleta da fração magnética em um determinado
ponto da calha coletora. Com a remoção da fração magnética encerra-se um ciclo de
separação.
352 Capítulo 8 Separação Magnética e Eletrostática
Os minerais a serem separados são introduzidos sob a forma de uma camada fina
sobre a correia principal. Os minerais magnéticos são atraídos e retidos na correia
secundária, que se desloca transversalmente à principal, transportando-os para uma
região ausente de campo para deposição nas caixas coletoras. O material não magnético
permanece na correia principal, sendo depositado na caixa coletora situada na
extremidade da correia, conforme ilustrado na Figura 8.
É comum, nos modelos industriais, a existência de dois ou mais pares de polos em
série, entre os quais passa a correia principal, de uma extremidade a outra do
separador. Tais equipamentos permitem a operação com diferentes intensidades de
campo ao longo da correia principal. O valor de intensidade cresce desde a alimentação
até o final da correia. Como consequência, permite-se a separação seletiva de materiais,
com diferentes susceptibilidades magnéticas, em um mesmo separador.
Os principais parâmetros operacionais do separador são:
velocidade das correias, tamanho do gap entre os polos e a taxa de
alimentação;
fluxo magnético, que aumenta no sentido da alimentação à extremidade
oposta do separador.
Os equipamentos são fabricados desde o modelo mais simples, com um rolo, até
os modelos mais sofisticados, com rolos em série. A capacidade de alimentação varia em
função do processo. No entanto, a faixa de operação usual situa-se entre 17.700 a
35.400 kg/h.m de largura do rolo.
de partículas mais finas. O material também deve estar bem seco de modo que permita
um bom escoamento. Uma regulagem otimizada da vibração da calha e da quantidade
de material alimentado pelo funil farão grande diferença na eficiência de separação
(SAMPAIO et al., 2001).
Figura 10. Separador isodinâmico Frantz: vista do equipamento (A) e descarga dos produtos
magnético e não magnético (B).
Tubo Davis
É um concentrador eletromagnético em escala de bancada utilizado para estimar
o teor e a recuperação mássica (rendimento) no processo de separação de baixa
intensidade de campo magnético. O Tubo Davis (Figura 11) é constituído por um
eletroímã que pode gerar um campo magnético de até 4.000 G.
O equipamento possui um tubo de separação de vidro e um mecanismo de
agitação motorizado. O tubo é colocado entre os polos do ímã a um ângulo de
aproximadamente 45°, o qual pode ser variado. Durante a operação, um pequeno motor
elétrico aciona o mecanismo de agitação que suporta o tubo de vidro, de maneira que o
tubo move-se para frente e para trás enquanto gira. As partículas magnéticas presentes
na amostra são direcionadas para a zona de maior intensidade do campo, enquanto que
as partículas não magnéticas são direcionadas para fora do tubo. Um concentrado fica,
então, disponível para que seja determinada a percentagem de material magnético na
amostra ensaiada (MATIEU e SEROIS, 1988; GONZAGA, 2014).
Separador L4
É um concentrador eletromagnético de bancada que possui uma matriz de
separação fixa entre dois polos magnéticos induzidos, conforme ilustra a Figura 12.
É utilizado com boa eficiência na estimativa de qualidade e recuperação metalúrgica
para as etapas de separação com campos magnéticos de baixa, média e alta intensidade.
Utilizando uma matriz de separação com abertura de 1,5 mm, permite atingir
intensidade de campos magnéticos de até 13.000 G (MATHIEU e SEROIS, 1988;
GONZAGA, 2014).
Figura 13. Separador Magnético Rapid: (A) vista geral do equipamento e (B) matriz de separação.
CETEM Tratamento de Minérios – 6ª Edição 359
Nos últimos anos, os espinélios de ferro têm sido amplamente empregados como
adsorventes para captura de íons metálicos presentes em água de abastecimento
(REDDY e YUN, 2016; HUANG e KELLER, 2015), com ênfase na remoção de arsênio,
chumbo, cadmio, mercúrio e cromo, conhecidos por causar graves danos à saúde
humana. A utilização dos espinélios de ferro e seus compósitos na recuperação de
diversos poluentes tóxicos - catiônicos e aniônicos - de soluções aquosas deve-se à sua
moderada magnetização de saturação, além de elevada estabilidade física e química.
Avanços na Separação Magnética
No início dos anos 1980, a grande inovação na separação magnética se deu pela
produção e uso de imãs permanentes com ligas contendo elementos de terras raras,
como as ligas de samário-cobalto (Sm-Co) e de neodímio-ferro-boro (Nd-Fe-B); a
utilização desses elementospromoveu um aumento expressivo nos níveis de fluxo
magnético (WASHMUTH e UNKELBAC, 1991; ARVIDSON e NORRGRAN, 2014),
possibilitando a obtenção de um ímã permanente capaz de induzir um campo com
intensidade de 1,8 T.
362 Capítulo 8 Separação Magnética e Eletrostática
Figura 14. Desenvolvimento e avanços dos materiais magnéticos ao longo dos anos
(adaptado de Arvidson e Norrgran, 2014).
O uso da tecnologia de supercondutores, combinada ao princípio da separação
magnética em tambor, promoveu avanços significativos no processamento de materiais
paramagnéticos. Dessa forma, a combinação resultou na obtenção de um campo
magnético com intensidade elevada para promover a polarização do material, como
também em um gradiente elevado de campo, que proporciona forças magnéticas de
alta intensidade sobre o material submetido à separação. Tal tipo de separação
adequado ao tratamento de minerais com baixas susceptibilidades magnéticas, mesmo
em granulometrias finas, possui, entre outras, as seguintes vantagens (MURRAY, 1986;
ARVIDSON e NORRGRAN, 2014):
o emprego de campo magnético acima de 4,0 T, sem que haja a saturação
magnética do ferro, que constitui o separador na zona de separação;
elevada taxa de produção, tanto para material fino quanto grosso, devido à
flexibilidade do sistema em operar com uma camada espessa do material
sobre o tambor;
não há aprisionamento do material grosso ou fortemente magnético dentro
da área de maior densidade de fluxo magnético, portanto, não há necessidade
da pré-concentração para remoção do material ferromagnético;
pode-se operar um mesmo sistema tanto a seco quanto a úmido, modificando
apenas a posição do tambor.
Embora os separadores com supercondutores apresentem razões que justificam
sua utilização - podem gerar campos magnéticos com intensidade da ordem de 20 T,
ainda são encontradas dificuldades na sua aplicação em alta escala (NORRGRAN, 1990).
A economia real de energia não é tão elevada, pois as operações de resfriamento das
bobinas possuem alto consumo de energia. O uso do hélio líquido, apesar de confiável, é
CETEM Tratamento de Minérios – 6ª Edição 363
SEPARAÇÃO ELETROSTÁTICA
Introdução
A separação eletrostática é um processo de concentração de minérios que se
baseia nas diferenças entre algumas das propriedades dos minerais, tais como:
condutibilidade elétrica, susceptibilidade em adquirir cargas elétricas superficiais, forma
geométrica, densidade, entre outras. Para promover a separação, é necessária a
existência de dois fatores:
carga elétrica superficial das partículas ou polarização induzida que lhes
permitam sofrer a influência do campo elétrico;
um campo elétrico de intensidade suficiente para desviar uma partícula
eletricamente carregada, quando em movimento na região do campo.
Descreve-se, portanto, a separação eletrostática em duas etapas: o carregamento
elétrico das partículas e a separação.
O termo eletrostático é empregado com frequência, porque os primeiros
separadores eram de natureza puramente eletrostática, sem o chamado fluxo iônico.
Atualmente são usados equipamentos nos quais a energia elétrica é aplicada em forma
de fluxo iônico e denominada de eletrodinâmica.
Os primeiros equipamentos a serem utilizados em escala industrial datam de 1800
e foram empregados na separação de ouro e sulfetos metálicos da ganga silicosa com
baixa condutividade (INCULET, 1984). No período de 1920-1940, com o advento da
flotação, houve pouca utilização do processo. Somente a partir de 1940, com o
progresso obtido no uso de fontes de alta tensão e os aperfeiçoamentos nas áreas de
eletricidade e eletrônica, a separação eletrostática tornou-se competitiva, quando
comparada com outros processos na área do beneficiamento de minérios.
A separação eletrostática está condicionada, entre outros fatores, ao mecanismo
do sistema que produz as cargas superficiais nos diversos minerais a serem separados e
à granulometria de liberação, que deve proporcionar uma partícula com massa
suficiente para que haja uma atração efetiva por parte do campo elétrico aplicado
(ARVIDSON e BARNEA, 1982).
Neste trabalho, há uma descrição da eletrização das partículas dos minerais, dos
tipos de separadores utilizados, dos condicionantes ambientais do processo, da
granulometria da alimentação e de implicações industriais.
Eletrização de Partículas Minerais
O sucesso da separação eletrostática dos minerais está relacionado à eficiência do
mecanismo de eletrização dos mesmos. As espécies mineralógicas devem responder, de
forma diferente, tanto ao carregamento superficial de cargas como ao campo elétrico
aplicado a elas e, ainda, à sua natureza, composição química, etc.
CETEM Tratamento de Minérios – 6ª Edição 365
partículas, lembrando que não existem condutores e dielétricos perfeitos. Por meio da
indução, tanto o material condutor quanto o dielétrico adquirem cargas elétricas; no
entanto, os primeiros possuem uma superfície equipotencial quando em contato com a
superfície aterrada. As partículas dielétricas submetidas à indução tornam-se
polarizadas devido à transferência de cargas. As partículas condutoras deixam fluir suas
cargas por meio da superfície aterrada. Ficam, então, com carga de mesmo sinal ao da
superfície aterrada e são repelidas por ela. Já as não-condutoras sofrem apenas
polarização, conforme mostrado na Figura 15. Essas ficam então aderidas à superfície
como consequência da atração eletrostática.
Figura 15. Diagrama representativo de duas partículas após o carregamento por indução.
As diferentes respostas dadas pelas partículas minerais ao processo de indução de
cargas são utilizadas na separação das mesmas pelo método eletrostático.
Eletrização por Bombardeamento Iônico
Os gases, sob condições normais de temperatura e pressão (CNTP), não conduzem
a corrente elétrica, comportando-se como dielétricos. Por outro lado, se submetidos a
um potencial elevado, ocorre uma descarga iônica e, consequentemente, a condução da
corrente elétrica.
A intensidade da descarga depende da forma dos eletrodos, que estabelecem o
potencial. Na realidade, o que ocorre é um fluxo iônico entre os eletrodos de pequenas
dimensões. Na prática, os melhores resultados são obtidos usando-se eletrodo fabricado
com fio de tungstênio e diâmetro da ordem de 0,25 mm (LAWVER e HOPSTOK, 1985)
Denomina-se efeito corona o fluxo iônico obtido com tais eletrodos, quando submetidos
a potenciais elevados. O efeito corona é utilizado na eletrização de partículas de
minerais durante a separação eletrostática, e constitui-se em um dos mecanismos mais
eficientes de carregamento. Todas as partículas de formas e dimensões diferentes,
condutoras e não-condutoras, adquirem cargas com a mesma polaridade do eletrodo.
Tal mecanismo é usado no processamento de minérios, quase que exclusivamente para
separar os materiais condutores dos dielétricos. Trata-se de um processo que requer
equipamento de alta tensão e, na prática, os melhores resultados são obtidos quando o
mecanismo está associado a outro, como, por exemplo, a eletrização por contato e com
repetidas etapas de limpeza (INCULET, 1984).
CETEM Tratamento de Minérios – 6ª Edição 367
ALIMENTAÇÃO
CONCENTRAÇÃO
GRAVÍTICA
QUATZO
SMUBI
GRANADAS
SEPARAÇÃO DE SEPARAÇÃO DE
SECAGEM SECAGEM
ALTA TENSÃO ALTA TENSÃO
Figura 18. Diagrama simplificado de processo para recuperação de minerais pesados contidos em
areia de cordões litorâneos (adaptado de LAWVER e HOPSTOK, 1985; WILLS e FINCH, 2016).
A tecnologia triboelétrica também tem sido amplamente utilizada, desde 1995, no
beneficiamento de cinzas volantes de carvão, com cerca de 140 equipamentos em
operação na América do Norte e Europa (BITTNER et al., 2014).
enxofre de 1,7 para 0,5%. Youjun et al. (2015) reportam a eficiência do mesmo tipo de
separador para carvões com granulometria ainda menor, na faixa de 37 a 74 µm. Outro
ponto a ser ressaltado é que a operação a seco é bastante vantajosa, por eliminar a
necessidade de secagem do produto e a gestão de rejeitos aquosos.
A possibilidade de processamento de minérios cada vez mais finos tem permitido
a utilização eficiente da separação triboeletrostática no beneficiamento de uma
variedade de minérios, como o carbonato de cálcio, talco e sais de potássio.
Recentemente, a separação eletrostática a seco também foi aplicada, de forma
eficiente, no beneficiamento de minérios de fosfato (BITTNER et al., 2014)
Outro tipo de separador eletrostático, caracterizado por um determinado número
de eletrodos de coleta constituídos por tubos ocos com eletrodos de alta tensão ao
longo do eixo do tubo, foi proposto por Mesenyashin (2000). Esse separador
compreende vários tubos, com diâmetros variando de 80 a 200 mm. Comparando com o
separador eletrostático convencional tipo tambor, a vantagem do equipamento consiste
em aumentar a superfície de eletrodos de coleta e, como consequência, a capacidade
por unidade de volume.
O tratamento químico dos minerais também pode ser utilizado como uma etapa
auxiliar na separação eletrostática. A ativação de substâncias minerais contendo
feldspato e quartzo tem permitido a obtenção de concentrados com 82% de feldspato, a
partir de uma alimentação com 32% do mineral (MESENYASHIN, 2000).
Na área de minerais industriais, especialmente os de granulometria muito fina, de
1 a 300 µm, diversos autores apresentam a eficiência da separação triboeletrostática, a
saber: Lewandowski e Butler (2016) reportam aumento na pureza de concentrados de
barita, de 82% para 92% BaSO4, com recuperação em massa de 74%; Bittner et al. (2014)
apresentam resultados de separação de magnesita do talco, com produção de
concentrado de talco com 95% de pureza.
Moradi et al. (2017) utilizaram a separação eletrostática na purificação de
diatomita, visando a remoção de carbonato de cálcio e outros minerais de ganga.
Os autores concluiram que a tecnologia mostrou-se adequada à produção de diatomita
de alta pureza, aplicável como auxiliar de filtração na indústria alimentícia.
Outra área de aplicação crescente da separação triboeletrostática é a de
tratamento de resíduos sólidos contendo materiais poliméricos, como, por exemplo, na
reciclagem de baterias de íon lítio (SILVEIRA, 2016). Embora as baterias de íon lítio
apresentem composições variadas em seus catodos – LiFePO4, LiCo, LiMnO, etc. - o
processo de separação eletrostática mostrou-se eficiente, permitindo a obtenção de
uma fração condutora com 98,9% de metais e a fração não condutora com 99,6% de
polímeros, evidenciando a alta pureza dos produtos obtidos.
374 Capítulo 8 Separação Magnética e Eletrostática
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378 Capítulo 8 Separação Magnética e Eletrostática
APÊNDICE
Tabela A1 – Atratividade Relativa (AR) de Minerais.
MINERAL ORIGEM DA AMOSTRA AR* MINERAL ORIGEM DA AMOSTRA AR*
Grupo 1 – Ferromagnéticos (Campo magnético requerido para separação - 500 a 5.000 G)
Ferro 100 Magnetita Port Henry, N.Y. 14,18
Magnetita - 48,00 Franklinita Franklin Furnace, N.J. 13,09
Grupo 2 – Moderadamente magnéticos (Campo magnético requerido para separação - 5.000 a 10.000 G )
Ilmenita Edge Hill, Pa. 9,14 Franklinita Franklin Furnace, N.J. 1,48
Pirrotita Sudbury, Ontario 2,49
Grupo 3 – Fracamente magnéticos (Campo magnético requerido para separação - 10.000 a 18.000 G)
Hematita Lake Superior District 0,77 Bornita NS Wales, Australia 0,09
Siderita Roxbury, Conn. 0,74 Apatita Eganville, Ontario 0,08
Rodonita Franklin Furnace, N.J 0,56 Tetrahedrita Peru 0,08
Limonita Nova Escocia 0,31 Willemita Franklin Furnace, N.J. 0,08
Braunita Itália 0,30 Bornita Union Bridge, Maryland 0,07
Corindon Gaston County, N.C. 0,26 Esfarelita Lowa 0,06
Hematita Inglaterra 0,26 Cerussita Austrália 0,06
Pirolusita Bartow County, Ga. 0,25 Dolomita Sing Sing, N.Y 0,06
Manganita Nova Escocia 0,19 Psilomelana North Mt.Mine, Arkansas 0,06
Calamina Friedensville, Pa. 0,19 Arsenopirita Action, York Co., Maine 0,05
Esfarelita Frieburg, Alemanha 0,18 Sphene (Titanite) Ontario 0,05
Siderita Desconhecido 0,16 Calcoprita Austrália 0,05
Rodocrosita Argentina 0,15 Molibdenita NS Wales, Australia 0,05
Granada - 0,15 Talco Swain Co., N.C 0,04
Serpentinita - 0,14 Celestita Strontium Island 0,04
Molibdenita Frankford, Pa. 0,12 Calcocita Butte, Montana 0,04
Mica Bengal, India 0,12 Cinábrio New Almaden, California 0,04
Corindon Lehigh Co., Pa. 0,11 Gesso Derbyshire, England 0,04
Cerargyrita Novo México-USA 0,11 Zinco Franklin Furnace, N.J. 0,04
Huebnerita Henderson, N.C. 0,11 Ortoclásio Elam, Pa. 0,04
Wolframita Chochiwon, Kenya 0,11 Epidoto - 0,03
Wolframita Clima, Colorado 0,10 Hornblenda - 0,03
Grupo 4 – Debilmente magnéticos (Campo magnético requerido para separação - acima de 18.000 G)
Pirita Rio Tinto, Espanha 0,02 Chisocola Miami, Arizona 0,006
Smithsonita Kelly, N.M. 0,02 Rutilo Desconhecido 0,003
Esfalerita Joplin, Mo. 0,02 Mica, rubi Bengal, India 0,003
Estibinita Alemanha 0,02 Ortoclásio Alexandria, N.Y. 0,003
Criolita Greenland 0,02 Calcário - 0,002
Enargita Butte, Montana 0,02 Cobalita - 0,002
Senarmonita - 0,02 Safira - 0,002
Magnesita Lancaster Country, Texas 0,02 Pirita - 0,002
Azurita Chessy, França 0,02 Cassiterita Cornwall, Inglaterra 0,002
Gipsita Grand Rapids, Michigan 0,02 Turmalina - 0,001
Malaquita Katanga, Africa 0,02 Dolomita - 0,001
Fonte: Eriez Magnetic
CETEM Tratamento de Minérios – 6ª Edição 379