Soja Do Plantio A Colheita 2° Edição - Felipe Silva
Soja Do Plantio A Colheita 2° Edição - Felipe Silva
Soja Do Plantio A Colheita 2° Edição - Felipe Silva
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PREFACIO
Os organizadores
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SUMARIO
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IMPORTÂNCIA ECONOMICA ............................................................................... 9
1.1 Origem da soja ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 9
1.2 Expansão da soja no Brasil ...................................................................................10
1.3 Aspectos econômicos ............................................................................................12
1.4 Perspectivas .........................................................................................................19
Referências bibliográficas ................................................................................... 20
..
2 BOTA NICA E FENOLOGIA ................................................................................... 23
spectos - .
taxonom1cos ........................................................................................ 23
2.1 A
2.2 Aspectos morfológicos ........................................................................................ 24
2.3 Aspectos fenológicos .......................................................................................... 35
2.4 Considerações finais ............................................................................................40
Referências bibliográficas ................................................................................... 40
9 - E SUCESSAO
ROTAÇAO - ................................................................................... 171
9.1 Rota cão
•
de culturas ............................................................................................172
9.2 Sucessão de culturas ..........................................................................................173
Referências bibliográficas ..................................................................................175
- ................................................................................. 176
10 MANEJO DA IRRIGAÇAO
10.1 Demanda da soja por água .................................................................................. 177
10.2 Interação solo, água, planta, clima e sistema .................................................... 179
10.3 Manejo da irrigação ............................................................................................ 188
10.4 Irrigação na produtividade da soja ..................................................................... 191
Referências bibliográficas ..................................................................................192
Tuneo Sediyama
EngenJ1eiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Uniuersidade Federal de Viçosa.
E-mail: tu11eo@ufu.br
Aluízio Borém
Engenheiro-Agrônomo, M.S., PJ1.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: borem@ufu.br
En1 40 anos de cultivo de soja nessa região, a produção cresceu quase sete vezes,
enquanto a área cultivada aumentou quatro vezes. Na safra 2018/19, a produção
brasileira foi de 115 milhões de toneladas, numa área cultivada de 35,8 milhões de
hectares, com produtividade média de 3.206 kg ha-1 • Esse progresso deve-se, em
grande parte, às pesquisas e às tecnologias desenvolvidas desde sua introdução
no País, garantindo lavouras de soja em grande extensão do território nacional.
100,0
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80,0 -
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Fig. 1.1 Evolução da pr?duçãa (em toneladas) e da área (er:r7 L~~C~(!res) de soja na Brasil .
1
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Apesar de não ser conhecida mundialment·e como alimento básico (ao contrário,
por exemplo, dos cereais trigo, arroz, milhq e aveia), a soja, uma oleaginosa, é
uma das culturas mais importantes do mundo, principalmente como fonte de
proteína e óleo vegetal. O grão de soja é rico e~ proteínas, cujo teor pode variar
entre 30% e 53%, sendo o teor médio dos cultivares brasileiros de 40%. Já o teor
de proteínas na semente de soja, em média de 20%, pode encontrar variações
entre 13% e 28%.
Essas características da planta de soja fazem dela importante matéria-prima
e possibilitam seu emprego como adubo verde e forrageiro na alimentação
animal. O óleo extraído de seu grão é utilizado na alimentação huma11a, na
produção de biodiesel, como desinfetante. como lubrificante e pa1·a outros fins.
O farelo é impo1·tante na alimentação l1umana e animal e na fabricação de
outros prod_utos.
Em razão da qualidade da proteína da soja e do baixo custo relativo de sua
produção, essa oleagi11osa tornou -se importante fonte proteica para a comple -
n1entação da die ta, JJrincipal1ne nte nos países en1 desenvolvime11to. Con10 se
ob se rv a na Fig. 1.2, a soja é a principal fonte de farelo proteico 110 mu11do. Ao todo,
1 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA 13
são produzidos quase 240 milhões de toneladas, o que representa mais de 70%
do total de farelo proteico ofertado no mundo. Outras fontes de farelo, como a
canola, o girassol e o algodão, representam significativa fatia, mas longe de supe-
rar a soja no médio e no longo prazo. Farinhas de origem animal, como a de
peixe, tendem a perder espaço, em virtude do risco de transmissão de zoonoses.
300
ca1·11es cresce num ritmo compatível com o da oferta de farelo. De 2003 a 2016 a
oferta de farelo aumentou 40%, enquanto a produção de carnes de aves e suínos
cresceu 30% e 70%, respectivamente, nesse mesmo período. Os incrementas na
produção de carne não resultam apenas da maior oferta de ração, devendo ser
considerados ainda os ganhos obtidos com o melhoramento genético dos plan-
téis e as melhorias na cadeia produtiva.
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desenvolvimento
Fonte: FAO (2013).
Países em desenvolvimento D Países desenvolvidos
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Fig. 1.4 Produção 7 .840 ••• • • • • • • •
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brasileira de farelo
2.697
de soja e carne de -----·-·· -- ---·······-·········--······-····-
-
aves e su1nas
Fonte: Ab.iove (2019)
e ABPA {2019). - - Farelo • • • Aves - - - Suír10s
possível obter de 486 kg ha-1 a 1.080 kg ha- 1, enquanto, numa mesma área de
1
canola, obtêm-se 504 kg ha- de girassol, 644 kg ha- e de algodão, 69 kg ha-
1; 1;
(Mourad, 2006).
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1 ~ Fonte: USDA (2019a).
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algodão. Nos primeiros dez meses de 2014, dos mais de 2 milhões de metros
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1
cúbicos de biodiesel produzidos, 74,8% o foram a partir de óleo de soja, 21,3%,
de gorduras animais, 2,2%, de óleo de algodão e o 1,7% restante, con1 base em
outras matérias-primas (Abiove, 2014).
A produção de oleaginosas é motivada basica1nente pela den1anda de f are-
los e óleos. Em consequência, a produção 1nundial de oleaginosas equivale a
aproximadan1ente 20%, e1n média, de toda a produção de grãos do planeta
(Tall. 1.1). No Brasil, a parcela de oleaginosas é igual a 50% da produção de grãos .
16 SOJA : DO PLANTIO A' CO LH EI TA •
IMPORTANCIA ECONOMICA 17
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1
que atingiu os Estados Unidos em 2012 e a redução da área de soja para o plantio
de milho, em atendimento à demanda americana por etanol, reforçando assim
as previsões de Dall'Agnol (2011). Outro aspecto importante do crescimento da
produção brasileira é que, além do incremento de áreas de pastagens degradadas
ao sistema produtivo, houve, também, aumento acima de 20% na produtividade
nos últimos dez anos. Sob tais circunstâncias, esse crescimento demonstra o
quanto o sistema produtivo da soja tem se preocupado com o aspecto ambiental.
Outros fatores de sucesso da soja podem ser atribuídos ao aumento da popu-
lação mundial, que cresce num ritmo de 70 milhões de habitantes por ano; ao
aumento da renda per capita, que se associa às mudanças nos hábitos alimenta-
res, com incrementas no consumo de proteína animal, a qual, em sua maioria, é
produzida a partir do farelo de soja; e à substituição de rações de origem animal
pelo farelo de soja, em face da iminência de riscos de transmissão de zoonoses.
Além disso, a partir da soja, podem ser feitos produtos alternativos que servirão
como matéria-prima para a indústria de biodiesel, de tintas, de lubrificantes, de
plásticos e outros.
os mais de 38 milhões de l1ectares utilizados para o cultivo da soja brasi-
leira na safra 2020/21 abrangem terras de 20 Estados, incluindo o Distrito
Federal (Tab. 1.3). O Estado de Mato Grosso é a principal referência do País em
cultivo desse grão. Com área plantada próxima de 10 1nill1ões de hectares, esse
Estado produziu, na safra 2020/21, 35,8 milhões de toneladas. A produção de
Mato Grosso corresponde a 26% do total do País e lhe confere o título de maior
produtor brasileiro de soja. Na sequência, Rio Grande do Sttl, Paraná, Goiás e
Mato Grosso do Sul con1pletam a lista dos cinco maiores produtores. Jt1ntos,
respondem por cerca de 80% da soja brasileira, estando os 20% 1·estantes distri-
buídos entre outros 15 Estados. Minas Gerais e Bal1ia l1á alguns anos revezam o
s exto lugar e ambos produzem acima dos cinco mill1ões de to11eladas do gr~10 .
18 SOJA: DO PL.ANTIO ,\ COLHEITA
1.4 PERSPECTIVAS
Nos próximos anos, a população mundial e o poder aquisitivo continuarão incre-
mentando as economias emergentes, principalmente as dos países asiáticos,
onde está o maior potencial de consumo. Segundo estudos, em 2050 a popula-
ção da Terra atingirá 9 bilhões, o que demandará 333,6 milhões de toneladas de
alimento (Alexandratos; Bruinsma, 2012).
Em virtude da grande importância da soja na alimentação humana e animal,
além de suas inúmeras aplicações industriais, a demanda por seu grão será cres-
cente nos próximos anos e, por essa razão, o cenário futuro para a soja é o melhor
possível. Projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United
States Department of Agriculture, USDA) estimam que, em 2022/23, a produção
I
mundial de soja deverá ser próxima de 345 milhões de toneladas (Tab. 1.4). O USDA
1
t previu também em 2012 que o incremento da safra 2022/23 seria da ordem de 29%
1
em relação à safra 2012. Para o período entre 2012 e 2022/23, foi estimado que
1 a produção brasileira deveria superar 115 milhões de toneladas, ou seja, 41% a
1
1
1 mais que a safra 2012/13. Mas essa previsão se concretizou três anos depois, de
1
•
1
maneira que em 2022/23 a produção brasileira de soja deverá alcançar novo pata-
t
mar. outra projeção em longo prazo estima que, em 2050, a produção de soja em
1
•
todo o mundo será de 390 mill1ões de to11eladas.
1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABIOVE - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE ÓLEOS VEGETAIS. Análise
me,-1sal do mercado de biodiesel: edição n. 23. dez. 2014. Disponível em: http://abiove.
org.br/publicacoes/?pagina=2&ordem=. Acesso em: 25 set. 2019.
ABIOVE -ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE ÓLEOS VEGETAIS. Estatísticas.
set. 2019. Disponível err1: http~//abiove.org.br/estatisticas/. Acesso em: 24 set. 2019.
ABPA - ASSOCIACÃO •
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set. 2019. Disponível em: l1ttp~//ab1Ja-br.con1.br/setores. Acesso em: 24 set. 2019.
ALEXANDRATOS. N .; BRUINSMA, J. World' Agriculture Totuards 2030/2050: Tl1e 2012
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1
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1 IMPORTANCIA ECONOMICA 21
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22 SOJA: DO PLANTIO A COLI-IEITA
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BOTÂNICA E FENOLOGIA
Éder Matsuo
Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Universidade Federal de Viçosa - Campus de Rio
Paranaíba. E-mail: edermatsuo@ufu.br
Tuneo Sediyama
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Uniuersidade Federal de Viçosa.
E-mail: tuneo@ufv.br
Sistema radicular
o sistema radicular da soja é constituído de raiz principal e secundária
(Sediyama et al., 1985). A radícula do embrião cresce para baixo, dando origem à
raiz principal, e, posteriormente, desenvolvem-se nela as ramificações (Müller,
1981). As raízes laterais originam-se em forma endógena, a partir de tecidos do
cilindro central, seguindo o padrão típico das eudicotiledôneas. Na raiz axial, as
ramificações crescem meio afastadas do ápice radicular e, nas laterais e nas de
ordens superiores, estas se desenvolvem mais próximas do ápice. Geralmente, a
nova raiz tem diâmetro menor que aquela que lhe deu origem (Lersten; Carlso~,
2004; Müller, 1981).
A planta pode utilizar grande quantidade de água armazenada em maiores
profundidades do solo, por isso o crescimento geotrópico positivo da raiz é consi-
derado .de suma importância para o desenvolvimento da planta (Müller, 1981).
.O aprofundamento do sistema radicular é possível porque as raízes sãc;, flexí-
veis, lubrificadas e podem alterar a direção· para ultrapassar obstáculos, como
agregados ou estruturas mais adensadas (Vepraskas, 1994). O desenvolvimento
radicular ocorre por meio de macrósporos ou dos espaços vazios entre os agre-
gados (Abreu; Reichert; Reinert, 2004). Portanto, a continuidade desses espaços
SOJ1\: DO PLANTIO À COLI-IEITA
1
vazios (estruturas frágeis, fendas e com canais formados pelas raízes em decom-
posição e pela atividade biológica da fauna do solo) é considerada fundamental
para o aprofundamento das raízes (Holland, 2004; Neves et al., 2003).
Em condições de campo, o desenvolvimento do sistema radicular pode ser
,
•
1
Fig. 2.2 Sistema radicular (A) de planta cultivada em fileira, (B) de planta isolada e (C) de planto de
soja cultivada em área com sola compactado
Fonte: {A, B) Müller (1981) e (C) Tuneo Sediyama.
Caule
O caule principal desenvolve-se a partir do eixo embrionário; o número e o tipo
de ramificações dependem das particularidades da constituição genética de
cada cultivar, bem como do espaço disponível para o desenvolvimento das plan-
tas {Müller, 1981). O crescimento do caule inicia-se com o desenvolvimento do
epicótilo, o que resulta na separação gradativa do nó cotiledonar e da plúmula
com os primórdios das folhas primárias. Após o epicótilo, são formados os-inter-
nódios em direção ao ápice da planta, ~, em cada nó, desenvolve-se uma folha e,
na axila desta, uma gema lateral, que pode se transformar em ramificações de
primeira ordem, como também em inflorescência (Müller, 1981). Na maioria dos
cultivares, o caule tem crescimento ortótropo; todavia, quando as plantas são 1
2 BOTÂNICA E FENOLOGIA 27
Fig. 2.3 Pigmentação antocianínica do hipocótilo: (A) ausente, com hipocátilo na cor verde,
(8) presente, com hipocátilo na cor bronze, e (C) presente, com h/pocótilo na cor púrpura ou roxa
Fonte: Mapa (2013a).
I
o cultivar SG795 foi registrado no Serviço Nacional de Proteção de Cultivares
(SNPC/Mapa) por Nidera Seeds Argentina S.A.U. (Mapa, 2019a, 2019b) em 26 de
dezembro de 2009 como de hipocótilo bronze.
Atualmente, são considerados três tipos de crescimento entre os cultivares
de soja: determinado, semideterminado e indeterminado. Os tipos de crescimento
indeterminado e determinado estão ilustrados na Fig. 2.4A,B. Quanto ao hábito de
crescimento (inclinação dos ramos laterais), os cultivares são classificados como
eretos, semieretos ou prostrados (Fig. 2.4C-E).
Folha
uma planta de soja, durante o seu desenvolvimento, pode apresentar quatro
tipos distintos de folhas: cotiledonares., unifolioladas, trifolioladas e prófilos
28 SOJA: DO PLANTIO À COLl-lEI'f A
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Fig. 2.4 Tipas e hábitos de crescimento: (A) tipo de crescimento indeterminada, (B) tipa de
crescimento determinada, (C) hábito de crescimento ereta, (D) hábito de crescimento semiereta e
(E) hábito de crescimento prostrada
Fonte: Mapa (2013a).
2 BOTANICA E FENOLOGIA 29
laterais têm somente uma estípula na base do pulvínulo (Müller, 1981; Judd
et al., 2009). Na base do pecíolo, em cada lado da inserção do pulvínulo, há uma
estípula, que é lanceolada e coberta de tricomas (Carlson, 1973).
Os prófilos encontram-se na base das ramificações. Cada ramo tem um par
de prófilos, de pequena dimensão (raramente maiores que 5 mm), simples e
destituídos de pulvínulo e pecíolo (Carlson, 1973).
As folhas, bem como o caule, as estípulas, o pecíolo, as flores e os demais
órgãos (com exceção dos cotilédones), na quase totalidade das variedades,
estão cobertas por pelos ou tricomas, denominados pubescência (Singh; Hardly;
Bernard, 1971). A cor e a densidade da pubescência na planta de soja também
são consideradas descritores. As cores são classificadas em cinza, marrom-clara
ou marrom-média e devem ser observadas contrapondo-se a haste a um fundo
branco, em situação de luminosidade sem insolação direta, com o auxílio de
lupa. Por sua vez, a densidade é classificada em baixa, média ou alta e deve ser
observada no terceiro entrenó a partir do ápice das plantas (Mapa, 2013a).
Os pecíolos são encontrados nas folhas unifolioladas e trifolioladas e podem
apresentar variado comprimento, dependendo da folha, da posição na planta, da
variedade, do vigor e da luz. As folhas primárias têm os pecíolos mais curtos,
que chegam a poucos centímetros de comprimento, e os cotilédones são sésseis
(Müller, 1981).
Desenvolvimento da óvulo
Para a formação do óvulo, são necessárias duas etapas: megaespogênese e
megagametogênese. O desenvolvimento inicià-se com a sutura da folha carpe-
lar; e posteriormente ocorre a formação dos tegumentos, a partir dos quais se
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2 BOTANICA E FENOLOGIA 31
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Desenvolvimento do pólen
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Os estames, estruturas responsáveis pela produção dos grãos de pólen, têm
.o desenvolvimento iniciado com a diferenciação de quatro microsporângios
(sacos polínicos), originando astecas, que,juntamente com o conectivo, _formam.
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•
•
a antera (Appezzato-da-Gloria; Carmello-Guerreiro, 2006). Por divisões suces-
1
Desenvolvimento da semente
As flores de soja apresentam protoginia e, dessa forma, os estames crescem até
alcançar a altura do estigma, que já se encontra receptivo dois a três dias antes
da antese, e, nesse momento, os grãos de pólen são liberados (Müller, 1981).
O grão de pólen, assim que entra em contato com o estigma, começa a germi-
nar, formando o tubo polínico. Em seguida, a célula geradora divide-se em duas,
que são os gametas masculinos. O tubo polínico cresce até encontrar a micró-
pila do óvulo. Em soja, os primeiros óvulos a serem fecundados são os distais;
posteriormente, o tubo polínico consegue atravessar a micrópila e penetra o
saco embrionário (Appezzato-da-Gloria; Carmello-Guerreiro, 2006). Dos dois
·g ametas masculinos formados, um irá fecundar a oosfera e o outro se unirá
ao núcleo secundário do saco embrionário, resultando em um núcleo triploide
(Appezzato-da-Gloria; Carmello-Guerreiro, 2006).
Após a fecundação, a oosfera transforma-se gradativamente em um
embrião. Este é constituído, inicialmente1 de uma célula diploide que se divide
logo em seguida, dando origem a duas células-filha. A célula basal vai se diferen-
ciar em uma estrutura chamada de suspensor, que, em soja, é caracteristicamente
curto quando comparado com o de outras espécies de angiospermas. Já a célula
apical diferencia-se e dá origem ao proembrião, que está coberto pela proto-
derme. o proembrião segue seu desenvolvimento dentro do ovário e é nutrido
através do suspensor ligado aos tecidos da planta-mãe (Müller, 1981).
o embrião, inicialmente, possui a forma globular e, nesse estágio, seus
tecidos ainda estão indiferenciadas. O próximo estágio, na soja, é o cordiforme,
em que, devido à presença dos dois cotilédones, o embrião adquire formato de
coração. Após esse período, o embrião sofre grande alongamento no sentido longi-
tudinal e distingue-se a região hipocotiledonar, na qual é possível diferenciar
34 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
Desenvolvimento da vagem
O fruto da soja é do tipo legume, comumente chamado de vagem, que resulta do
ovário completamente desenvolvido (Müller, 1981).
A parede da vagem é composta por uma camada mais externa, o exocarpo,
também chamado de epiderme, além do mesocarpo e do endocarpo (Müller,
1981). O crescimento da vagem cessa cerca de 20 a 25 dias após a floração, fase
em que as sementes alcançam seu tamanho máximo. Em seguida, as semen-
tes têm suas dimensões reduzidas, devido à perda de água e ao acúmulo de
substâncias de reserva. Vale ainda ressaltar que em uma vagem o desenvolvi-
mento dos óvulos não é uniforme, pois há ciclos de maior ou menor atividade
(Howell, 1963).
Uma vagem pode conter uma a cinco sementes; contudo, a maioria dos
cultivares apresenta vagens com duas ou três sementes (Sediyama et al., 1985).
Em alguns materiais genéticos, é possível observar vagens com quatro ou cinco
sementes (Fig. 2.9). O número de sementes por vagem pode ser aumentado
por técnicas de melhoramento genético, principalmente no tocante à escolha
correta dos parentais e à condução de·populações segregantes, por exemplo, por
meio de seleção recorrente. As condições amb~entais que ·interferem no resul-
tado produtivo da soja estão assoei.a das às variações no ~úmero de sementes,
porque esse é o primeir.o componente de produção a ser definido pela planta
2 BOTÂNICA E FENOLOGIA 35
•, t
Fig. 2.9 Vagens de soja: (A, B) com quatro sementes e (C) com cinco sementes
Fonte: (A, B) Éder Matsuo e (C) Carretero (2011).
indução floral. Ele absorve radiação dentro das faixas do vermelho e do vermelho
distante, apresentando alternadamente duas estruturas distintas, simbolizadas
por P660 e P730. Na presença da radiação solar, o fitocromo converte-se de P660
a P730, acumulando-se nesta forma. Na ausência da luz, reverte-se o processo e
o fitocromo acumula-se na forma de P660. Assim, na condição de dias longos, a
forma P730 acumula-se por longo tempo, o que induz plantas de dias longos ao
florescimento e suprime o florescimento das plantas de dias curtos. Ao contrá-
rio, na condição de dias curtos, a forma P660 se acumula por um longo tempo,
induzindo plantas de dias curtos a florescer e inibindo o florescimento de plan-
tas de dias longos. Então, na verdade, a duração do período escuro (nictoperíodo)
é a responsável por desencadear o processo de indução ao florescimento em
plantas sensíveis.
O tempo compreendido entre a emergência da plântula e o dia em que ela
está apta a receber o estímulo floral é denominado período juvenil (Sediyama et
al., 2009). As plantas de soja podem ser de período juvenil curto e longo.
Em cultivares de soja com característica de período juvenil curto, a percep-
ção fotoperiódica ocorre a partir da folha unifoliolada (estádio Vl, segundo Fehr
e Caviness, 1977). Caso o fotoperíodo máximo seja menor ou igual ao fotope-
riodo crítico do cultivar, o florescimento poderá ocorrer entre 15 e 20 dias após a
indução, ou seja, entre os estádios V3 e V4 (Barros; Sediyama, 2009).
No caso de cultivares de soja que apresentam característica de período juve-
nil longo, a percepção fotoperiódica ocorre a partir da Sª à 7ª folha trifoliolada,
isto é, até essa fase a planta é considerada juvenil e insensível ao fotoperíodo.
Portanto, mesmo submetida às condições de indução floral, a planta só será
induzida a partir da 5ª à 7ª folha trifoliolada (Barros; Sediyama, 2009). A soja
com característica de período juvenil longo foi introduzida no Brasil por meio
de melhoramento genético, utilizando-se a linhagem PI240664 (Kiihl; Bays;
Almeida, 1983). Geralmente, esses cultivares atingem alturas adequadas em
ampla época de semeadura, podendo inclusive ser plantados no período de
inverno, desde que a umidade do solo e a temperatura não sejam limitantes.
A maioria dos cultivares adaptados à Região Centro-Oeste do Brasil apresenta
o período juvenil longo (Sediyama et al., 2009).
O tema fotoperíodo é de extrema importância para o estudo da fenologia
da planta de soja, porque a indução ao florescimento está diretamente relacio-
nada com o comprimento do dia, .ou, mais especificamente, com o comprimento
da noite, em razão do acúmulo do fitocromo P660 (indutor ao florescimento).
Grupos de
Latitude
maturidade
relativa
8-9
8-9
7-8
20º
7-8
6-7 Fig. 2.10 Grupos de
maturidade relativa de
5-6
- - - - - - - - - ~~----=-:/f-------- 30º cultivares de soja no Brasil,
em quatro latitudes
Norte
Fonte: adaptado de
Nordeste . Sudeste
, Alli prandini et ai. (2009)
•
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2 BOTÂNICA E FENOLOGIA 43
..
- -· -
.
•
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1
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..
EXIGÊNCIAS EDAFOCLIMÁTICAS
Tuneo Sediyama
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
•
•
E-mail: tuneo@ufv.br
Aluízio Borém
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: borem@ufu.br
O cultivo da soja no Brasil inicialmente era restrito à Região Sul, por ser uma
planta originada e domesticada na China {30º a 45º de L norte), encontrando,
assim, condições semelhantes nessa região do País. Até os anos 1970, a principal
barreira era o fotoperíodo, uma vez que a soja é uma das espécies cultivadas
mais sensíveis ao comprimento do dia, que regula a indução floral e o cresci-
mento da cultura. Desse modo, os cultivares até essa época possuíam período
juvenil curto e floresciam muito precocemente sob baixas latitudes, o que limi-
tava, até então, o cultivo da soja nessas regiões. No entanto, a partir da década
de 1970, os programas de melhoramento genético conseguiram introduzir genes
que condicionaram as plantas a um período juvenil longo. possibilitando, assim,
o cultivo em baixas latitudes. l
Nas últimas décadas, com a correção da parte química dos solos
do Cerrado, aliada a boas características físicas e de topografia e com melho-
rias nas práticas de manejo da cultura, a soja encontrou condições favoráveis
para sua expansão e para a exploração de seu potencial produtivo. Sobre-
tudo, além do solo, as boas condições de temperatura e umidade também
foram fatores fundamentais~ Em razão disso, nas últimas safras, o Brasil vem
alca;nçando as maiores médias de produtividade do mundo, tendo se tornado
o maior produtor mundial dessa oleaginosa na safra 2019/20, ultr_a passa 11do
os Estados Unidos, até então o maior produtor mundial. Dessa maneira • 0 •
3.1 SOLOS
A cultura da soja exige solos profundos, que favorecem o desenvolvimento do
sistema radicular, possibilitando que a planta explore maior volume de solo e,
consequentemente, maior quantidade de nutrientes e água. Os solos de Cerrado
(predominantemente Latossolos) apresentam boa profundidade e, após as
correções necessárias, permitem que a cultura da soja alcance elevada produti-
vidade. Além disso, solos mais profundos também são mais tolerantes à perda
-
por erosao.
A textura deve ser média, sendo essa uma das mais importantes caracte-
rísticas do solo para o cultivo dessa cultura.- Aliado à textura, deve-se ter boa
estrutura (arranjo das partículas do solo), formando agregados, que estão dire-
tamente relacionados a absorção e movimentação de água no solo, aeração,
penetração de raízes, facilidade de cultivo e erosão. O sistema de plantio direto
da cultura da soja tem proporcionado a formação de boa estrutura na camada
superficial do solo, melhorando suas características físicas e químicas.
A topografia para o cultivo da soja deve ser plana ou com leve declividade,
o que facilita as técnicas mecânicas de cultivo, além de ser uma característica
importante para a conservação do solo. Também deve haver boa drenagem, pois
a soja não suporta encharcamento, e boa aeração para o desenvolvimento do
sistema radicular. Para evitar erosão em solos com determinada declividade,
é importante, além de boa cobertura, a construção de curvas de nível, o que
permite o cultivo em toda a sua extensão. Para solos com declividade < 8%, reco-
mendam-se terraços de base larga (G·m a 12 m), e, para solos com declividade de
8% a 13%, terraços de base média (3 m a 6 m).
3.2 Luz
3.2.1 Radiação
A disponibilidade de radiação solar é um dos fatores que mais limitam o cres-
cimento e o desenvolvimento das plantas, pois toda a energia necessária para a
realização da fotossíntese, processo que transform~ o C0 2 atmosférico.em ener-
gia metabólica, é proveniente da radiação solar (Taiz; Zeiger, 2004).
No caso da cultura da soja, a radiação solar está relacionada com fotossín-
tese, elongação de haste principal e ramificações, expansão foliar, pegamento
de vagens e grãos e fixação biológica de nitrogênio (Câmara, 2000). Maior
eficiência no uso da radiação solar é important~ pata o rendimento da cultura
da soja, principalmente durante o período de enchimento de grãos (Shibles;
Weber, 1966)~
46 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
3.2.2 Fotossíntese
A soja é classificada como espécie de ciclo C3, isto é, pertence ao grupo das espécies
de plantas cultivadas que fixam C02 pelo ciclo de Calvin, e os primeiros produ-
tos estáveis da sua fotossíntese são as triases denominadas ácido 3-fosfoglicérico
(3-PGA) e glicerato, constituídas por três átomos de carbono. A rubisco é a enzima
responsável pela carboxilação, portanto apresenta atividade carboxilase e, ainda,
oxigenase. Quando a concentração de C02 é alta e a de 0 2 é relativamente baixa, a
rubisco age como carboxilase. E, se a situação se inverte, ou seja, a concentração
de 0 2 é relativamente mais alta que a de C02 , a enzima opera como oxigenase.
No caso .da soja (planta C3) há uma concentração mínima ou crítica de C02
abaixo da qual a planta não consegue fotossintetizar o. 3-PGA, cessando a fotos-
síntese líquida e aumentando a respiração de suas reservas, que também serão
consumidas pela fotorrespiração, até que a planta morra por inanição. Essa
concentração mínima ou crítica de dióxido de carbono é denominada ponto de
compensação de C02 • Para a soja, considera-se que 40 ppm de C02 , em ambiente a
25 ºC, seja o ponto de compensação. Estima-se que 10% a 50% do total do carbono
fixado na fotossíntese seja perdido por intermédio da fotorrespiração (Müller,
1981; Shibles; Secar; Ford, 1987).
,
3.2.3 Fotoperíodo
o fotoperíodo (número de horas de luz por dia) é o fator mais importante para
determinar a proporção relativa entre os períodos vegetativos e reprodutivos
em plantas de soja. Além do crescimento, o fotoperíodo afeta a maturação, a
altura da planta, o peso das sementes, o número de ramificações e de vagens por
planta etc. (Barros; Sediyama, 2009).
A soja é uma planta de dias curtos (PDC), ou seja, floresce em fotoperíodos
menores que um máximo crítico. Ela é induzida a florescer se a duração do dia
é igual ou inferior àquele valor crítico que cara·c teriza· o cultivar. Dessa f9rma,
na ausência do comprimento de dia favorável para induzir a expressão dos
processos reprodutivos, a planta de soja pode continuar seu crescimento vege-
tativo. Ao contrário, sob influência _do fotoperíodo menor ou igual ao crítico, o
48 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
14h
Cultivar 1: Fotoperíodo crítico = 13,Sh
Fig. 3.1 Dois cultivares -,~.___---t---T--+ Cultivar 2: Fotoperíodo crítico = 13h
de soja semeadas o
] 12 h~----1--+-1---~-----+-----------
na mesma data, em 'C
(1)
p..
latitude de 3Dº. Cultivar 1 o
...., DEV
o
com fotoperíodo ~ 10h DEV 30º
crítica de 13,5 h (mais
precoce) e cultivar 2 com
fataperíada critico de
13 h (mais tardia). DEV 2'2/9 21/l2 21/3 21/6 22/9
Data de
= duração do estádio semeadura
Época do ano
vegetativa
3 EXIGENCIAS EDAFOCLIMATICAS 49
14h
.go 12 h o o
'C:
Q)
p..
o
,t-J
DEV
o
~
10h DEV
30º
2 9
'2/ Data de 21112 21/3 21/6 2'2/9
semeadura
Época do ano
Fig. 3.2 Cultivar de soja com fotoperíodo crítico de 13 h semeado na mesma época em duas latitudes
diferentes (quanto menor é a latitude, mais precocemente a planta é induzida ao florescimento)
DEV = duração do estádio vegetativa
de dias curtos, a forma P660 acumula-se por um longo tempo, induzindo plantas
a florescer (Taiz; Zeiger, 2004).
3.3 UMIDADE
A disponibilidade de água é importante durante todo o desenvolvimento da
cultura; no entanto, o período de germinação e emergência e o de floração e
enchimento de grãos são os mais críticos. Para que ocorra a germinação, a
semente p~ecisa absorver pelo menos 50% do seu peso em água. Nesse período,
a umidade no solo deve estar entre 50% e 85% da capacidade de campo.
A proporção que a planta se desenvolve, a necessidade de água vai aumen-
tando, chegando ao máximo durante a floração e o enchimento de grãos e
decrescendo após esse período. A necessidade total de água na cultura da soja,
para a obtenção do máximo ren_d imento, varia entre 450 mm/ciclo e 800 mm/
ciclo, dependendo das condições climáticas, do manejo da cultura e da duração
do ciclo do cultivar (Embrapa, 2013).
Déficits hídricos significativos durante a floração e o enchimento de grãos
provocam alterações fisiológicas na planta, como o fechamento estomático e o
enrolamento de folhas~ causando .queda prematura de folhas e de flores e abor-
tamento de vagens e, consequentemente, redl.lzindo o rendime~to de grãos
(Embrapa, 2013).
,
3
~
EXIGENCIAS EDAFOCLIMATICAS 51
3.4 TEMPERATURA
A soja é mais bem adaptada a temperaturas entre 20 ºC e 30 ºC, sendo a tempe-
ratura ideal para seu crescimento e desenvolvimento em torno de 30 ºC.
O crescimento vegetativo da soja é pequeno ou nulo a temperaturas menores ou
iguais a 10 ºC. Temperaturas acima de 40 ºC têm efeito adverso na taxa de cres-
cimento, pois provocam distúrbios na floração e diminuem a capacidade de
retenção de vagens (Embrapa, 2013).
A floração da soja somente é induzida em temperaturas acima de 13 ºC.
As diferenças de data de floração, entre anos, apresentadas por um cultivar
semeado numa mesma época são devidas às variações de temperatura. Assim, a
floração precoce acontece principalmente em decorrência de temperaturas mais
altas, podendo acarretar diminuição na altura de planta. Esse problema pode
se agravar se, paralelamente, houver insuficiência hídrica e/ou fotoperiódica
durante a fase de crescimento. Diferenças de data de floração entre cultivares
numa mesma época de semeadura são devidas, principalmente, à resposta dife-
rencial dos cultivares ao comprimento do dia (fotoperíodo) (Embrapa, 2013).
Em ambientes com fotoperíodo constante, é a temperatura que influencia
grandemente o tempo de florescimento {Garner; Allard, 1930), existindo uma
relação inversa entre a temperatura média e o número de dias necessários
para a floração (Rodrigues et al., 2001). Para qualquer cultivar, a taxa de desen-
volvimento da planta está diretamente relacionada à temperatura. Assim, o
intervalo de tempo entre os diferentes estádios será variável conforme as
mudanças de temperatura entre e dentro da estação de crescimento. A duração
desses subperíodos é determinada pelo grau de sensibilidade termofotoperió-
dica do genótipo. Dessa forma, em dias longos, a taxa de desenvolvimento dos
órgãos reprodutivos é menor e, em baixas temperaturas, há diminuição no
número de primórdios reprodutivos e na taxa de desenvolvimento (Rodrigues
et al., 2001).
A nodulação da soja também é influenciada pela temperatura. Maior massa
de nódulos e fixação de nitrogênio são observadas quando a temperatura do solo
está em torno de 27 ºC. As temperaturas elevadas e o estresse hídrico, muitas
vezes atuando juntos, são os principais fatores ambientais limitantes à fixação
biológica de nitrogênio nos trópicos, afetando a simbiose em todos os estádios
(Hungria; Campo; Mendes, 2001).
A maturação também pode ser acelerada pela ocorrência de altas tempe-
raturas. A qualidade das sementes é afetada negativamente quando a umidade
e a temperatura estão altas, mas temperaturas baixas na fase de maturação,
associadas aos períodos chuvosos ou de alta umidade, podem atrasar a data
de colheita, uma vez que as hastes ainda estão verdes e há retenção foliar
(Embrapa, 2013).
52 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
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A área agrícola de uma propriedade rural pode ser compreendida como aquela
destinada especificamente à produção vegetal e/ou animal, já consideradas à
parte e de direito as áreas de preservação permanente e de reserva legal, além
das superfícies destinadas à alocação das vias internas (estradas e carreadores).
É sobre a área agrícola que se concentram as operações manuais e mecanizadas
destinadas à instalação, à condução e à colheita das culturas, além do trans-
porte interno de insumos e da produção, segundo um planejamento logístico
operacional. Daí a importância dos ajustes prévios e dos preparas adequados,
visando atender às demandas operacionais da semeadura, dos tratos culturais
e da colheita.
4.1.2 Terraceamento
Deve-se aproveitar a etapa da sistematização da área, ou o momento imediata-
mente subsequente, para a implantação do sistema conservacionista mecânico
das áreas de produção, cuja eficiência será aumentada, posteriormente, por
meio da adoção de outros manejas culturais associados a boas práticas agríco-
las, que proporcionem rápida germinação das sementes e vigoroso crescimento
vegetativo das plantas.
o terraceamento e a correta dimensão das distâncias entre terraços não
devem ser negligenciados, mesmo havendo planejamento de instalação do SPD.
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 55
pois chuvas intensivas com alto potencial erosivo são imprevisíveis e podem
levar ''morro abaixo", já no primeiro verão, todo o investimento aplicado na
cultura. Áreas com declive inferior a 6% e com solos de média a alta capacidade
de infiltração de água podem receber terraços de base larga em nível ou com
suave desnível. Acima de 6% e com média a alta drenabilidade, sugerem-se terra-
ços de base larga em desnível, para canais escoadouros vegetados. Com menor
drenabilidade do solo, podem-se adotar terraços embutidos.
- -- --- -
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 57
torno de 20 cm a 40 cm. Nos solos mais secos, esse tipo de implemento forma
torrões, ao passo que, nos mais úmidos, perde a sua função de escarificador,
podendo agravar os problemas de natureza física no solo. Havendo a formação
de torrões de tamanho grande, torna-se necessária a operação de gradeação
destorroadora, que movimenta intensivamente o solo. Por essa razão, o termo
ºpreparo mínimo ou reduzido" nem sempre se aplica.
É importante avaliar as condições de umidade do solo antes do preparo.
Por exemplo, para usar o escarificador, a umidade do terreno pode ser superior
àquela recomendada para o preparo convencional, desde que o tracionamento
do trator não seja comprometido pela ocorrência de patinamento. Solo seco não
permite o aprofundamento das hastes. Na umidade adequada, a escarificação
provoca o afofamento do solo, quebrando o adensamento sem o revolvimento e
a destruição dos agregados da camada de solo trabalhada. Já os discos de corte
têm a função de cortar a palha sobre o terreno, para evitar a amontoa de resí-
duos e o embuchamento das hastes.
Quando bem regulado, o escarificador apresenta as seguintes vantagens:
a) desagrega menos o solo que o preparo convencional com arado e/ou grade;
b) deixa boa quantidade de resíduos de palha (até 70%) sobre a superfície do
solo; c) quebra as camadas compactadas entre 10 cm e 25 cm de profundidade;
d) aumenta a infiltração e a capacidade de retenção de água no solo; e) diminui
sensivelmente os riscos de erosão pela menor desagregação do solo e pelos
resíduos que ficam na superfície, bem como pela maior infiltração de água;
f) não forma o pé de grade; g) permite trabalhar em solo relativamente seco;
h) apresenta economia de combustível e rapidez de trabalho; i) é fácil de regu-
lar no campo; e j) não movimenta o solo lateralmente, como no caso da grade
aradora, evitando o acúmulo de terra nos terraços.
Desde a virada do milênio, a agricultura brasileira produtora de grãos vem
apresentando aumentos sistemáticos nos volumes de produção motivados por:
a) incremento nas áreas de produção de soja e de milho safrinha; b) ganhos de
produtividade agrícola devidos à melhoria genética de cultivares e de híbridos;
c) evolução e inovação tecnológica na área de insumos (sementes, inoculantes
biológicos, defensivos agrícolas e fertilizantes); e d) evolução e inovação tecno-
lógica das máquinas e dos implementas agrícolas associadas à agricultura de
precisão e aos recentes sistemas digitais de gestão dos fatores de produção.
Toda essa evolução proporcionou a expansão das culturas de soja e de
milho para as regiões das fronteiras Centro-Norte e Nordeste do Brasil e O surgi-
mento de máquinas e implementes agrícolas maiores e mais pesados. utilizados
duplamente dentro do mesmo ano agrícola, para atender às operações meca-
nizadas de pré-instalação, semeadura-adubação, tratos culturais e colheita,
principalmente nos sistemas de produção envolvendo a sucessão soja x milho.
l
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 59
Tab. 4.3 Principais modelos de escarificadores produzidos no Brasil para uso em áreas de
plantio direto produtoras de grãos
Potência máxima requerida
Número de Largura máxima no motor do trator
Marca Modelo
hastes de corte (mm)
(kW) (cv)
Garra
Baldan 7-13 2.100-3.900 66-143 90-195
300
Marchesan AST 3-11 690-2.650 40-110 55-150
Stara Fax 7-15 2.100-4.500 51-165 70-225
Fonte: Baldan (2019), Marchesan (2019) e Stara (2019).
sobre a palha, seja esta constituída por restos vegetais da cultura anterior, seja
pela resteva da vegetação natural da área. As situações mais comuns envolvem
as sucessões de culturas entre leguminosas e gramíneas, citando-se como prin-
cipais exemplos a sucessão soja x trigo e, sobretudo, a sucessão soja x milho,
atualmente realizada em 35% da área cultivada com soja no Brasil e com tendên-
cia de crescimento, motivada pelo aumento do consumo mundial de milho para
a próxima década e pela construção de destilarias de produção de etanol à base
de milho no País.
Já o plantio direto consiste em um sistema de produção mais complexo,
fundamentado nas seguintes premissas básicas e necessárias: a) exige nova
consciência do produtor rural de que alta produtividade agrícola, por si só, não
é a única meta; b) tecnicamente, antes da instalação definitiva do plantio direto,
há a necessidade de se corrigirem as deficiências de natureza física, química
e biológica na área agrícola; e e) é vital para a estabilidade técnica, econômica
e sustentável do sistema a execução de um programa plurianual de produção
vegetal, preferencialmente a rotação de culturas na área agrícola, envolvendo
espécies de retorno econômico imediato e culturas de cobertura formadoras de
palha, com alta relação carbono/nitrogênio (C/N).
As indicações do uso do plantio direto são seguidas desde que haja sufi-
ciente qualificação e motivação do agricultor. Outros fatores, porém, devem ser
levados em consideração. É recomendável a instalação do sistema em solo com
nível adequado de fertilidade ou que seja antecipadamente corrigido, pois, em
caso de necessidade futura, novas aplicações de calcário e de fertilizantes serão
realizadas sobre a sua superfície, sem incorporação. Da mesma forma, o solo
deve estar o menos infestado possível, para não dificultar o controle de plan-
tas daninhas. Espécies perenes na área, se não controladas convenientemente,
podem tornar antieconômica a adoção do plantio direto. Também o terreno
deve ser suficientemente plano, livre de sulcos de erosão e de camadas adensa-
das na base da parte arável.
Uma vez atendidas as premissas básicas, a diferença operacional no plantio
direto reside na substituição da mecanização das operações de preparo da área
agrícola pela utilização do manejo químico (dessecação) da cobertura vegetal
na área, imediatamente antes da instalação da cultura. Basicamente, tem-se o
manejo químico da cobertura vegetal através da aplicação de produtos desse-
cantes. O mato que surge após a emergência da cultura não pode ser cultivado
mecanicamente. Recomenda-se que seja controlado com herbicidas de ação
pós-emergente, seletivos à cultura da soja, cuja aplicação é feita em área total.
Dentro do programa plurianual de produção vegetal, é imprescindível
trabalhar com culturas formadoras de palha. Na colheita, o picador deve ser
regulado para cortar e distribuir uniformemente a pall1a sobre a superfície do
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 61
contendo massa de 40 kg ou 50 kg, com 12% a 13% de umidade. Seja pela base da
massa contida em uma saca de sementes ou pela quantidade média de semen-
tes consumida por hectare, os valores da tabela destacam a importância de
saber o número de sementes contidas por saca, relacionado às informações da
peneira e do PMS.
Tab. 4.4 Valores do peso de mil sementes (PMS) em função do tamanho das sementes e
relação com a quantidade de sementes de soja contida em sacas de 40 l<g ou 50 kg
Tamanho Sementes por Sementes em Sementes em
PMS (g) Peneiras
(mm) grama (nº) 40 kg (nº) 50 kg (nº)
92 ±4 5,0 5,0 a 5,5 10,9 436.000 545.000
115 ± 5 5,5 5,5 a 6,0 8,7 348.000 435.000
148 ± 6 6,0 6,0 a 6,5 6,8 272.000 340.000
182 ± 6 6,5 6,5 a 7,0 5,5 220.000 275.000
216 ± 6 7,0 7,0 a 7,5 4,6 184.000 230.000
244± 6 7,5 7,5 a 8,0 4,1 164.000 205.000
Fonte: baseado em Peske, Lucca Filho e Barros (2006).
Padrão de semente
Parâmetros Padrões
Categorias Básica C1 (2 51 ou 52
Pureza
Semente pura (0/o mínima) 99,0 99,0 99,0 99,0
_,
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 65
VC = (G · PF)/100 (4.1)
em que:
VC = valor cultural (%);
G = germinação das sementes (%);
PF = pureza física das sementes (%).
..
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 67
deixando a semente exposta por mais tempo a fungos habitantes do sol9, perten-
centes aos gêneros Rhizoctonia spp., Pythium spp., Fusarium spp. e Aspergillus spp.,
que podem causar a sua deterioração no solo ou a morte de plâ~tulas.
A semente de soja constitui excelente veículo de diss~minação para a
maioria de seus agentes fitopatogênicos. Esse fato, por si só, justifica o trata-
mento das sementes com fungicidas, principalmente quando hão se dispõe de
análise fitossanitária das sementes e/ou quando a cultura será instalada pela
primeira vez em uma área nova. Os principais patógenos de natureza fúngica
68 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
sol e do calor; c) não distribuir o inoculante sobre as sementes dentro dos depó-
sitos (caixas) de sementes da semeadora (isso não é inoculação); d) inocular e
semear de imediato; e) ao usar substâncias protetoras específicas dos rizóbios,
seguir orientação do fabricante; f) o volume de inoculante líquido não deve ser
inferior a 100 mL por saca de 50 kg de sementes; g) no uso de inoculante turfoso,
aumentar sua aderência mediante solução açucarada a 10% e volume de inocu-
lação de 300 mL por saca de 50 kg de sementes; h) distribuir da forma mais ,
1
Tab. 4.6 Ganhos de produtividade agrícola de grãos de soja, cultivar BRS 133, obtidos com a
reinoculação das sementes, com inoculantes turfosos e líquidos
Produtividade Valor de
Tratamentos
agrícola (l<g ha-1) referência (0/o)
Controle sem inoculação 3.007 a 100,0
4.5.2 Coinoculação
Todas as considerações e orientações apresentadas anteriormente para inocu-
lantes e inoculação com rizóbios são válidas para a coinoc-µlação das sementes
de soja, com exceção feita ao TSI.
Coinoculação ou inoculação mista corresponde à aplicação de rizóbios fixadores
do N em sementes de soja junto com outras bactérias promotoras de crescimento
2
de plantas (BPCP), com destaque para Azospirillum brasilense, estirpes Ab-VS e
Ab-V6 (Hungria; Nogueira; Araujo, 2013).
os benefícios advindos da coinoculação com Azospirillum brasilense são:
a) capacidade de fixar biologicamente o nitrogênio à razão de 3% a 10% da capa-
cidade fixadora dos bradirrizóbios, ou seja, de 10 kg a 30 kg de N a mais por
hectare; b) produção dos hormônios de ·C rescimento auxina, citocinina, gibere-
lina e etileno; c) aumento do volume radicular, com maior superfície radicular
e mais pelos absorventes, resultando em precocidade e maior potencial de
infectividade das raízes pelos rizóbios, com maior nodulação e FBN; d) indução
de resistência a estresse ambiental, devido à produção de hormônios e maior
crescimento radicular; e) capacidade de solubilizar fosfato, melhorando a absor-
ção de fósforo pelas raízes; e f) desenvolvimento de certa resistência a algumas
doenças (Hungria, 2011).
74 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
químicas de outros insun1os, levam à morte total das bactérias, perdendo-se por
completo os benefícios da FBN.
A grande maioria dos insumos agrícolas para TS se apresenta em formu-
lação fluida, de maneira que, quanto maior é o número de produtos em uma
sequência de tratamentos, maior tende a ser o volume de líquido na calda.
O volume total de líquido aplicado às sementes não deve ficar abaixo de
600 mL por 100 kg nem exceder esse valor. O excesso de umidade sobre as
sementes determina embebição rápida e parcial delas; em consequência, ocorre
inchaço dos cotilédones e do eixo hipocótilo-radícula, além de rupturas no tegu-
mento das sementes, as quais perderão a sua função antes ou durante a operação
de semeadura. No uso de produtos com pouco líquido, deve-se acrescentar água
até completar o volume máximo recomendado, visando à obtenção de uniformi-
dade de cobertura do tegumento da semente pelo tratamento aplicado.
4.6 SEMEADURA
,
E a operação agrícola que responde diretamente pela instalação da cultura.
Consiste em distribuir determinada quantidade de sementes no solo com o
objetivo de proporcionar boas condições para a germinação e o estabelecimento
de uma lavoura. Além das sementes, podem-se distribuir os fertilizantes, que
constituem a adubação de base da cultura.
Fig. 4.1 Seineadara-adubadara para plantio direta de sementes graúdas: (A) disco de corte de
palhada; (B) depósito de aduba; (C) disco duplo desencontrada para sulcação e distribuição da adubo;
(D) depósito de sementes; (E) disca dupla desencontrado para sulcoção e distribuição do semente:
(F) discos duplos para cobertura com terra sobre o sulco semeada; e (G) disca dupla em "V" paro
compressão da terra das bordos do sulca, visando ao melhor contato sala-semente
Fonte: Marchesan Implementas e Máquinas Agrícolas Tatu 5/A (www.marchesan.com.br).
Caixa de sementes
Sistema
panto áfico
Controle
de ressão Medidor de sementes
de alta precisão
Re~lagem de profundidade
Roda compactadora
Discos sulcadores
Roda controladora
de profundidade
Finalizador de sulco Discos cobridores
Fig. 4.3 Detalhes de uma unidade de semeadura (carrinho) com seus diversos componentes
Fonte: Case IH - catálogo de plantadeiras (www.caseih.com}.
4.6.3 Plantabilidade
A partir da data de instalação, espera-se a emergência plena da soja entre 5
e 7 dias após a semeadura, com plântulas uniformes quanto ao tamanho e à
distância entre fileiras e entre plantas na fileira. Define-se como plantabilidade
a execução técnica da semeadura com distribuição uniforme das sementes ao
longo do sulco, na profundidade correta, de maneira a obter o estande e a popu-
lação de plantas planejada (Mialhe, 2012).
Previamente à semeadura, é indispensável testar e regular a semeadora.
de modo a garantir a distribuição do número adequado de sementes por metro.
Esse teste é realizado mediante o deslocamento da máquina numa extensão de
10 m a 20 m, em faixa de terreno plenamente representativa das condições da
80 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
Bomba,.12V com
manometro
Filtro de linha
Bateria Mangueiras
mecânicos às sementes. 1
1
1
Tab. 4.7 Quantidade de sementes distribuídas por metro e porcentagens de duplas, falhas
e espaçamentos aceitáveis na fileira de plantas de soja, provenientes de duas
velocidades de semeadura - Cascavel (PR)
5% (*) e 1% (**).
Fonte: Zardo e Casimiro (2016).
. ~ .
Fig. 4.5 ConJunto maquina
semeadora de sementes graúdas
para plantio direto contendo 45
unidades de semeadura - Mato
Grosso, 2013
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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boas práticas de tratamento de sementes. Brasília, set. 2015. Disponível em: www.
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baixo custo. Londrina: Embrapa Soja, 2011. 36 p.
84 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
.
' '
'
•1
,
EPOCAS DE SEMEADURA E POPULAÇÃO
DE PLANTAS
Felipe Lopes da Silva
Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: felipe.silva@ufu.br
Tuneo Sediyama
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa. E-mail: tuneo@ufu.br
Aluízio Borém
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa. E-mail: borem@u.fu.br
1. Normál X X X ,
., - -. - .- -
2. Anteclpa~a X X . .
1
3. Tardia .X. X
__ ... _..,_.__ ....
-- - - -
•__. - - . - . -~-·-- _,.
4. Safrinha1 X X X
,
Quadro 5.2 Épocas preferenciais para semeadura de soja nos locais situados em baixas
latitudes nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil
Estados Região (município ou local) Épocas de semeadura
. - .
MA Sul (Balsas-Tasso Fragoso) Novembro a 15 de dezembro
MA Nordeste (Chapadinha) Janeiro
PI Sudoeste (Uruçui-Bom Jesus) ·Novembro a 15 de dezembro
TO Norte (Pedro Afonso) Novembro a 15 de dezembro
- - .... - - .'
PA Sul (Redenção) Novembro a 15 de dezembro
- -- - -~ -- - - .. - . -- ... -- ---
PA Nordeste (Paragominas-D. Eliseu) 15 de dezembro a janeiro
!
- - -- - - ,... - - -
PA Oeste
•
(Santarém) 10 de março a abril
.. _ - - - - ' - - -
RR Centro (Boa Vista) Abril/maio
Fonte: Embrapa Soja (2013).
'
5 ÉPOCAS DE SEMEADURA E POPULAÇÃO DE PLANTAS 89
..
90 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA
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s.2.1
-Epoca normal de semeadura
A definição técnica de época normal de semeadura (Quadro 5.1) corresponde
à semeadura dentro do período compreendido entre 15 de outubro e 25 de
novembro (Câmara, 2015). O conceito geral de época normal de semeadura deve
estar associado a determinado elenco de cultivares, devidamente adaptado à
região de produção considerada, que resulta na expressão de produtividade
agrícola máxima, desde que os demais fatores de produção relacionados ao
ambiente e ao manejo sejam plenamente favoráveis.
A justificativa para a abertura dessa janela de plantio na data técnica de
15 de outubro se deve ao início das chuvas regulares na segunda quinzena
de outubro, enquanto o fechamento técnico da janela em 25 de novembro tem
relação com a necessidade de se respeitar um mínimo de período de vegetação
para os cultivares de soja, cujo limite máximo de semeadura corresponde a,
aproximadamente, 30 dias antes do solstício de verão (Câmara; Heiffig, 2000).
Ao alocar um cultivar de soja antes ou depois da sua melhor época de
semeadura, em sua região de adaptação, espera-se que ocorram alterações
na expressão fenotípica do seu porte (altura de planta, altura de inserção da
primeira vagem e número de ramificações na haste principal), o que se reflete
no desempenho dos componentes da produção da planta (número de vagens por
planta, número de sementes por planta e peso dessas sementes), resultando em
alteração no desempenho da produtividade agrícola.
A duração do ciclo, o grau de sensibilidade ao fotoperíodo, a duração dq
período juvenil e o tipo de crescimento dos cultivares são fatores que influen-
ciam as respostas diferenciadas dos cultivares em face das diferentes épocas
de semeadura. Na região Central do Brasil, por exemplo, os cultivares com
período juvenil longo e os de tipo de crescimento indeterminado, de modo geral,
apresentam plantas mais altas em semeaduras de outubro, sendo, consequente-
mente, mais produtivos (Embrapa Soja, 2011).
Na região do Planalto do Rio Grande do Sul, as épocas recomendadas para
a semeadura são: de 25 de outubro a 30 de novembro, para os cultivares de ciclo
precoc.e; de 20 de outubro a 5 de dezembro, para os de ciclo médio; de 15 de outu-
bro a 10 de dezembro, para os de ciclo semitardio; e de 10 de outubro a 10 de
dezembro, para os de ciclo tardio (Re_u nião de Pesquisa de Soja da Região Sul~
.
1995, 2009). A definição dessas épocas baseou-se nas condições climáticas neces-
sárias para propiciar maiores rendjmentos de grãos dos cultivares usados, como
a temperatura do solo para a germinação, a temperatura do ar dura11te o ciclo da
. ----------
..
s.2.6 Epocas normais para as Regiões Norte e Nordeste
A época de semeadura nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil (Quadro 5.2)
varia de Estado para Estado, visto que as áreas se diferenciam muito quanto à
ocorrência de chuva, com as semeaduras nessas regiões acontecendo a partir
do mês de novembro (Silva et al., 2015).
Na Região Norte, o Estado do Pará, em função de sua grande extensão terri-
torial, apresenta distintamente três épocas preferenciais para a semeadura da
soja: a) novembro a 15 de dezembro para o Sul do Estado; b) 15 de dezembro
ao final de janeiro para o Nordeste; e c) 10 de março ao final de abril para o
Oeste. No Norte do Estado de Tocantins, a época preferencial de semeadura é de
novembro a 15 de dezembro. Já na região central do Estado de Roraima, é prefe-
rível a semeadura no mês de abril.
Na Região Nordeste de baixa latitude, destacam-se os Estados do Maranhão
e do Piauí. Ao Sul do Maranhão e no Sudoeste do Piauí, o período de novembro a
15 de dezembro corresponde à época preferencial de semeadura da soja, enquanto,
para o Nordeste do Maranhão, janeiro é o mês de preferência (Quadro 5.2).
O desempenho de dez cultivares de soja em duas épocas de semeadura,
novembro e dezembro, na região da Zona da Mata, no município de Rolim de
·M oura (RO), foi avaliado por Venturoso et al. (2009). Os autores concluíram que
a época de semeadura influenciou o número de vagens por planta, incremen-
tando esse componente da produtividade de grãos quando os cultivares foram
semeados em dezembro.
Tab. 5.1 Calendário internacional do vazio sanitário para a cultura da soja nas principais regiões
produtoras do Brasil e no Paraguai e calendarização da semeadura da soja em sete
Unidades da Federação para o ano agrícola 2019/20
Sudeste (Brasil)
MG 1°/7 a 15/9 77 -
SP 15,/ 6 a 15/9 93 -
PR 3 10/6 a 10/9 93 11/9 a 31/9
Sul (Brasil)
se 15/6 a 15/9 93 15/9 a 10/2
Paraguai - 1°/6 a 30/8 91 -
1PA (A): microrreglões de Conceição do Araguaia, Redenção, Marabá, São Félix do Xingu, Parauapebas, ltaituba
(com exceção dos municípios de Rurõpolls e Trairão) e Altamlra (distritos de Castelo dos Sonhos e Cachoeira da Serra).
PA (B): microrreglões de Paragominas, Bragantlna, Guamá, Tomé-Açu, Salgado, Tucuruí, Castanhal, Arari, Belém,
Cametá, Furos de Breves e Portel. PA (C): microrregiões de Santarém, Almeirim, Óbidos, ltaituba (municípios de
Rurópolis e Trairão) e Altamira (com exceção dos distritos de Castelo dos Sonhos e Cachoeira da Serra).
2 MA (A): microrregiões de Alto Mearim e Grajaú, Chapadas do Alto ltapecuru, Chapadas das Mangabeiras, Gerais de
Balsas, Imperatriz, Porto Franco. MA (B): microrregiões de Aglomeração Urbana de São Luís, Baixada Maranhense,
Baixo Parnaíba Maranhense, Caxias, Chapadinha, Codó, Coelho Neto, Gurupi, ltapecuru Mirim, Lençóis Maranhenses,
Litoral Ocidental Maranhense, Médio Mearim, Plndaré, Presidente Outra e Rosário.
3Estado_
s proibidos de realizarem safrinha de soja, Isto é, soja sobre soja no mesmo ano agrícola.
Fonte: Embrapa Soja (s.d.).
100 SOJA: DO PLANTIO À COI.. 1-IEl'T'A
Até o início dos anos 1990, o elenco varietal de soja no Brasil, com predo-
mínio quase absoluto do tipo de crescimento determinado e da época normal
de semeadura, era amplamente diversificado quanto aos grupos de maturação,
encontrando-se, para os principais Estados produtores daquela época, culti-
vares com os seguintes ciclos e respectivas durações (em dias): superprecoce
(< 105), precoce (106 a 115), semiprecoce (116 a 125), médio {126 a 135), semitardio
(136 a 145) .e tardio (> 145).
Essa diversificação possibilitava maior escalonamento das datas de semea-
dura e de colheita, com melhor capacidade das lavouras quanto ao escape de
adversidades climáticas e bióticas. De acordo com as condições particulares
102 SOJA: DO PLANTIO À COLHEI . rA
Tab. s.2 População de plantas de soja por h·ectare de acordo com o espaçamento.entre
fileiras e o número de plantas por metro de fileira
.• .
104 SOJA: DO Pl.ANTIO À COLHEl'fA
para a formação de pla11tas com peque110 porte, baixa inserção de vagens, maior
,
numero de ramificações e maior diâ1netro de hastes, com, obviamente, incidên-
cia mais elevada de plantas daninl1as, proporcionando também maiores perdas
de colheita (Sediyama, 2009; Embrapa Soja, 2011; Câmara, 2015).
s.3.3 Plasticidade t
A planta de soja apresenta ampla flexibilidade quanto ao aproveitamento do '
l
106 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
1
sumo de sementes (kg ha- ) de uma cultura de soja com popularão inicial
Tab . 5 . 3 Con -s
de 300 mil plantas por hectare, de acordo com o valor cultural (VC) do lote de
sementes e o peso variável de cem sementes
Peso de cem sementes (g)
vc
14 15 16 17 18 19 20
(º/o) 12 13
49,3 53,0 56,8 60,6 64,4 68,2 72,0 75,8
79.20 45,5
46,4 49,9 53,5 57,0 60,6 64,2 67,7 71,3
84,15 42,8
43,8 47,1 50,5 53,9 57,2 60,6 64.0 67,3
89,10 40,4
41,5 44,7 47,9 51,0 54,2 57,4 60,6 63,8
94,05 38,3
5 ( -
EPOCAS DE SEMEADURA E POPULAÇAO DE PLANTAS 107
Pedem-se:
1. A densidade de semeadura (número inteiro de sementes por metro) a ser
distribuída para atender à população inicial desejada, considerando-se
desprezíveis as perdas de sementes na semeadora corretamente regulada.
2. O consumo total de sementes para uma lavoura de 9.000 ha e o respectivo
custo considerando-se o preço de R$ 5,00 por quilograma de semente.
3. O consumo total de fungicida para TS e o respectivo custo total e
por hectare.
4. O consumo total de solução Co + Mo e o respectivo custo total e por hectare.
5. O consumo total de inoculante líquido e o respectivo custo total e
por hectare.
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.. '
1
-. -
,
1
. .
- .
'
ADUBAÇÃO
(6.1)
Tab. 6.1
Quantidades de macro e micronutrientes absorvidas em 1.000 kg de restos
culturais e exportadas com a produção de 1.000 l<g de grãos pela cultura da soja
em que:
M (adubo) = fornecimento, via fertilizante, de determinado nutriente mineral
"M,,(macro ou micro);
M (planta) = req-µerimentos nutricionais da cultura, quantitativamente, em relação
ao nutriente "M", essencial para a formação de sua matéria seca total;
M (solo) = quantidade do nutriente "M" contido no solo e pronta.m ente disponível
à planta;
6 ADUBAÇÃO 115
Atua na divisão e na elo.ngação celular Folhas novas com folíolos menores e com
Atua na germinação dos. grãos de pólen coloração verde-azulada .
Atua no crescimento do tubo polínico Folhas coriáceàs, rugosas e espessas
Boro Atua no.transporte de açúcares, amido, Mort~ da gema apical vegetativa
nitrogênio e fósforo Encurtamento dos entrenós·
Participa na formação·dos grãos. Nanis·mo da planta (p~rte red·uzido)
Importante p~ra a germinação da .se~ente Baixa fecundação de flores
Meno·r nodulação das raízes
Diagnose foliar
6.3.Z
Ao contrário da diagnose visual, a diagnose foliar possibilita identificar a defi-
ciência de determinado nutriente antes que o seu sintoma se manifeste, isto é,
permite diagnosticar a fome oculta do nutriente, definida como o início da defi-
ciência nutricional, correspondente ao teor do elemento no tecido foliar, com
valor pouco inferior ao seu valor de nível crítico interno, já causando perda de
produtividade agrícola.
o nível crítico interno, ou simplesmente nível crítico de um nutriente, pode
ser definido como o valor do nutriente na constituição química da planta, por
ocasião da coleta das amostras de folhas, correspondente a 90% da produtivi-
dade relativa da cultura.
A diagnose foliar deve ser compreendida como uma ferramenta complemen-
tar para a interpretação do estado nutricional atual de uma cultura (cultivar) e da
fertilidade do solo (talhão) onde se encontra, racionalizando a tomada de decisão
quanto à recomendação de adubação, principalmente para a próxima safra.
Fenologicamente, o auge do acúmulo de nutrientes nas folhas de soja corres-
ponde ao início do florescimento (R1) ou ao florescimento pleno (R2), variável de
acordo com a interação do cultivar c<;>m o ambiente de produção.
Como procedimento de amostr_agem, recomenda-se a coleta de 30 a·40 folhas
por t~lhão, cqrrespondentes ao terceiro ou ao quarto trifólio a part_ir do ápice. e
: ,. •• mz•~,~--··
Tab. 6.2 Teores de nutrientes utilizados na interpretação dos resultados das análises de
1
folhas de soja sem pecíolo coletadas no estádio R1
Deficiente ou •
Suficiente ou Excessivo ou
muito baixo Baixo Alto
Elemento médio muito alto
(g l<g-1)
N < 32,S 32,5-45,0 45,0-55,0 55,0-70,0 > 70,0
p < 1,6 > 8,0
1,6-2,5 2,5-5,0 5,0-8,0
K < 12,5 12,5-17,0 17,0-25,0 25,0-27,S > 27,5
Ca < 2,0 2,0-3,5 3,5-20,0 20,0-30,0 > 30,0
Mg < 1,0 1,0-2,5 2,5-10,0 10,0-15,0 > 15,0
s < 1,5 1,5-2,0 2,0-4,0 > 4,0 -
(mg kg-1)
8 <10 10-20 20-55 55-80 >80
Cu 2 - <6 6-14 >14 -
Fe <30 30-50 50-350 350-500 >500
Mn < 15 15-20 20-100 100-250 >250
Mo < 0,5 0,5-1 1-5 5-10 >10
Zn < 11 11-20 20-50 50-75 > 75
1Terceiro ou quarto trifólio sem o pecíolo, a partir do ápice da haste principal, coletado no início do floresci-
mento (R1).
2Segundo Sfredo et ai. (1999).
Fonte: Embrapa Soja (2013).
6 ADUBAÇÃO 121
,
122 SOJA: DO PLANl'IO À COLl-IEITA
a
6 ADUBAÇÃO 123
Amostragem
Uma boa análise química do solo é fundamental, pois sobre os resultados analí-
ticos é que se calculam as doses de corretivos e fertilizantes. Entretanto, é
primordial que seja representativa de grande área agrícola. É por essa razão que
se considera, como a tarefa mais importante em todo esse processo de tomada
de decisão, a adequada amostragem de solo das áreas de produção, seja pelos
métodos tradicionais (trado tipo holandês, sonda etc.), seja pelos métodos asso-
ciados às atuais ferramentas da agricultura de precisão.
Para que a operação da calagem atinja os seus objetivos, deve ser feita
com, pelo menos, três meses de antecedência à semeadura da próxima safra e,
_preferencialmente, em solo úmido. Considerando-se o tempo de espera entre a
entrega da amostra e a liberação da análise pelo laboratório, a interpretação dos
resultados e os cálculos das doses e das necessidades de fertilizantes, além do
tempo para aquisição, transporte e armazenamento temporário destes, chega-
-se ao prazo mínimo de cinco a seis meses antes da próxima semeadura.
O final da safra de verão, após a colheita, é uma boa época para amos-
trar o solo. As amostras devem ser coletadas em áreas homogêneas quanto às
propriedades do solo (classe pedológica, classe de textura, relevo, delimitações
geográficas etc.) e ao histórico de utilização (produtividades, cultivares etc.).
Considerando a amostragem com ferramentas tradicionais, orienta-se
para cada área homogênea (talhão, por exemplo) a coleta de 10 a 20 amostras
simples, em pontos aleatoriamente distribuídos, que constituirão uma amos-
tra composta. Após a homogeneização desta, uma fração de aproximadamente
SOO g deve ser separada e encaminhada ao laboratório. Neste, uma fração ainda
menor será utilizada nas análises de rotina, para a determinação dos teores de
macro e micronutrientes.
Quanto às profundidades de coleta por ponto de amostragem, devem-se
prospectar os primeiros 20 cm de solo, mais representativos da camada inten-
samente alterada pelo manejo do solo, aplicação de corretivos e fertilizantes,
deposição de restos culturais e conc_entração do maior volume de raízes de cultu-
ras anuais. Em áreas em consolidação (3 a 5 anos) ou já consolidadas com ·p lantio
direto (> s anos), recorpenda-se a est_ratificação da amostragem dos primeiros
20 cm de solo, nas profundidades de 0-10 cm e de 10-20 cm, avaliando-se a varia-
ção entre essas camadas dos valores de acidez e dos nutrientes Ca e Mg.
124 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA
6 ADUBAÇÃO 12 5
Tab. 6.3 Classes de acidez e de saturação por bases para interpretação da fertilidade de
solos do Estado de São Paulo
Acidez pH (CaCl 2) Saturação por bases V (0/o)
Muito alta até 4,3 Muito baixa 0-25
Alta 4,4-5,0 Baixa 26-50
Média 5,1-5,5 Média 51-70
Baixa 5,6-6,0 Alta 71-90
Muito baixa > 6,0 Muito alta > 90
Fonte: Raij et ai. (1996) e Raij (2011).
Tab. 6.5 Classes de teores dos macro nutrientes Ca, Mg e 5-50 4 para interpretação da
fertilidade de solos do Estado de São Paulo
Ca 2 + trocável Mg2 + trocável
Teores 50 4 2- (mg dm-3)
(mmolc dm-3) (mmolc dm-3)
Tab. 6.6 Classes de teores dos micronutrientes B, Cu, Fe, Mn e Zn para interpretação da
fertilidade de solos do Estado de São Paulo
e Cu Fe Mli Zn
Teores
(mg dm-3)
Baixo 0-0,20 0-0,2 0-4 0-1,4 0-0,5
Alto > 0,60 > 0,8 > 12 > 5,0 > 1,2
Fonte: Raij et ai. (1996) e Raij (2011).
126 SOJA: DO PLAN·r10 À COI.. 1·IEI1'A
Região do Cerrado
Nas Tabs. 6.7 e 6.8 enco11tram-se, respectivamente, os teores de P e de K extraí-
veis pelo método Mehlich I e as respectivas interpretações de fertilidade, que,
no caso do P, variam em função dos teores de argila do solo. Na Tab. 6.9 são
mostrados os valores-limites para a interpretação dos teores de micronutrien-
tes no solo, sendo o B extraído pelo método da água quente e os micronutrientes
metálicos, pelo método do DTPA.
Tab. 6.7 Classes de teores de argila e de p (extraído pelo método Mehlich 1) para
interpretação da fertilidade de solos do Cerrado
Tab. 6.8 Classes de teores de I< (extraído pelo método Mehlich 1) para interpretação da
fertilidade de solos do Cerrado
Teores de K extraível
Interpretação
(mg dm-3 ) (cmolc dm-1)
Baixo ~ 25 ~ 0,06
Médio 25-50 ;
I 0,06-0,13
Bom > 50 > 0,13
Fonte: Embrapa Soja (2013).
Baixo < 0,30 < 0,15 < ·5,0 < 1,0 < 0,30
Médio 0,30-0,49 0,15-0,33 5,0-11~9 1,0-1,9 0,30-0,69
Muito alto > 2,00 > 7,00 > 30,0 > 10,0 > 10,0
Fonte: Embrapa Soja (2013).
6 ADUBAÇÃO 12 7
Tab. 6.10 Classes de teores de P disponível com base nos teores de argila e de fósforo
remanescente (P-rem) no solo e classes de teores de K disponível, para
interpretação da fertilidade de solos do Estado de Minas Gerais
Teores
Parâmetros
para P Muito
Baixo Médio 3 Bom Muito bom
baixo
Unidades 1( disponível 1
'Método Mehlich 1.
2P-rem = fósforo remanescente, concentração de fósforo da solução de equilíbrio após agitar durant~ 1 h a
TFSA com solução de CaCl 2 10 mmol L·1, contendo 60 mg L- 1 de P, na relação 1:10.
30 limite superior desta ~lasse indica o nível crítico.
Fonte: Ribeiro, Guimarães e Alvarez (1999) e Embrapa Soja (2013).
. -- - -------------
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.....
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.....
e:o
~
......
CI)
(6.3)
em que:
NC = necessidade de calagem para a camada de 0-20 cm de profundidade (t ha-1);
V1 = saturação por bases atual do solo (revelada pela análise química) (%);
V2 = saturação por bases desejada para a soja (%);
CTC =capacidade de troca catiônica potencial do solo (mmolc dm-3);
PRNT = valor do poder relativo de neutralização total do calcário (%).
Nessa equação, o valor da saturação por bases desejada para a soja (V2)
corresponde à expectativa de obtenção de alta produtividade agrícola, sendo
variável de região para região, de acordo com as propriedades físicas (granulo-
metria) e químicas dos solos (Tab. 6.12).
Tab. 6.12 Valores desejados de saturação por bases utilizados em diferentes regiões do Brasil
Regiões v2 (/o)
0
Fontes
Tab. 6.13 Doses de calcário para áreas de rplantio direto nos Estados de São Paulo e Paraná
Solos Doses' Dose máxima (t ha-1)
Argiloso 1/3 a 1/2 2,5
Argiloarenoso e arenoso 1/2 2,0
1
Dose calculada pelo critério de saturação por bases (V%) na profundidade de amostragem de 0-20 cm.
Fonte: Sá (1998).
6.4.3 Gessagem
No Brasil, predominam solos altamente intemperizados e com alumínio tóxico
(Al3+) no .perfil, o que explica as dificuldades econômica e operacional de incorpo-
rar O calcário em profundidades além de 20 cm, pois as camadas mais profundas
do solo contêm, em muitas áreas, teores excessivos de Al 3+. Esse tipo de solo
dificulta O aprofundamento do sistema radicular das plantas, o que é mais agra-
vante nas áreas sujeitas à ocorrência de veranicos.
o gesso agrícola (CaS04) não é corretivo do solo, característica essa inerente
aos calcários que contêm teores variáveis de CaC0 3 e MgC03 • Entretanto, 0 s0 42-,
6 ADUBAÇÃO 1 31
Tab. 6.14 Recomendação de gesso agrícola de acordo com a textura do solo para culturas anuais
Textura do solo Argila (g l<g-1) Gesso (kg ha-1)
Arenosa <150 700
Média 160-350 1.200
Argilosa 360-600 2.200
,.,
j
132 SOJA: DO PLANTIO À COLI--IEITA
200-400 120 60 80 70
s 200 100 50 70 60
1
Fósforo solúvel em citrato de amônia neutro mais água, para os fosfatos acidulados; solúvel em ácido cítrico
2% (relação 1:100), para termofosfatos, fosfatos naturais e escórias.
2
Além da dose de correção total, usar adubação de manutenção, preferencialmente no sulco de semeadura.
3
No sulco de semeadura, em substituição ~ adubação de manutenção.
4
Classe de disponibilidade de P, conforme dados na Tab. 6.7.
Fonte: Embrapa Soja (2013).
Potassagem
Corresponde à adubação corretiva de potássio, visando-se elevar os níveis
baixos desse elemento no solo, para teores de disponibilidade compatíveis
com alta produtividade agrícola de grãos de soja. É feita predominantemente
em solos de Cerrado, a lanço, desde que os teores de argila sejam superiores
a 200 g kg-1 , caso contrário grandes quantidades do K aplicado serão perdidas
por lixiviação. As doses indicadas São apresentadas na Tab. 6.16.
Tab. 6.16 Aduba·ção corretiva de I< para solos de Cerrado com teor de argila > 200 g kg-1, de
acordo com dados de análise de solo
Teor de K K2 0 1
(mg dm· 3
) (cmolc dm-3 ) (l<g ha-1)
1
N/P N-MS PMG PA
Tratamentos (nº) (g) (g) (kg ha-1)
T1 17,98 b 0,088 a 151,8 b 2.583 ab
T2 7,80 e 0,030 b 152,8 b 2.359 b
Tab. 6.18 Produtividade agrícola (PA) e números de vagens (NV) e de nódulos (NN) por planta de soja.
cultivar NA 5909, em função da inoculação da cultura via sementes e via sulco de semeadura.
em áreas com e sem histórico de cultivo de soja - Pardinho (SP), ano agrícola 2014/15
Históricos das Inoculação da cultura de soja
, Variáveis
areas Sem inocular Via semente Via sulco1
PA (kg ha·1) 3.119,0 e 3.409,4 b 3.744,3 a
Cultivo de soja em
NV (nº) 46,0 e 56,0 b 66,0 a
SPD desde 2000
NN (nº) 21,0 e 29,0 b 37,0 a
136 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA
áreas Variáveis 1
,
1
Sem inocular Via semente Via sulco
Sem histórico de PA (l<g ha-1) 1.608,7 e 2.387,0 b 2.873,9 a
•
soJa, com pastagem NV (nº) 39,0 e 47,0 b 60,0 a
de braquiária
NN (nº) - 27,0 a 24,0 a
'Valores médios de 25 tratamentos com inoculação via sulco.
Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si (Tukey a 10%).
Fonte: Correia (2015).
Tab. 6.19 Produtividades agrícolas (kg ha-1) de grãos de soja, cultivar NA 5909, em função da
variação da taxa de aplicação de inoculante líquido via sulco de semeadura, em áreas
com e sem histórico de cultivo de soja - Pardinho (SP), ano agrícola 2014/15
. Taxas de aplicação (L ha-1) de inoculante via sulco de semeadura1
Históricos das áreas
10 20 30 40 50
Cultivo de soja em SPD
3.735,8 b 3.702,S b 3.702,6 b 3.759,7 ab 3.820,9 a
desde 2000
Sem histórico de soja, com
2.862,5 a 2.852,2 a 2.858,7 a 2.855,3 a 2.941,1 a
pastagem de braquiária
'Valores médios de cinco doses por taxa de aplicação de inoculante líquido via sulco.
Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si (Tukey a 10%).
Fonte: Correia (2015).
Tab. 6.20 Produtividades agrícolas (kg ha-1) de grãos de soja, cultivar NA 5909, em função da
variação das doses de aplicação de inoculante líquido via sulco de semeadura, em áreas
com e sem histórico de cultivo de soja - Pardinho (SP), ano agrícola 2014/15
Doses de aplicação (UFC semente-1) de inoculante via sulco de semeadura1
Históricos das áreas
1.200.000 2.400.000 3.600.000 4.800.000 6.000.000
Cultivo de soja em SPD
3.329,1 e 3.778,4 b 3.806,2 b 3.883,7 a 3.924,0 a
desde 2000
Sem histórico de soja, com
2.356,6 e 2.685,5 d 2.833,4 e 3.081,6 b 3.412,6 a
pastagem de braqulárla
Valores médios de cinco taxas de aplicação por dose de Inoculante líquido aplicado via sulco.
1
Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si (Tukey a 10%).
Fonte: Correia (2015).
1
Ano agrícola 2009/10
Tratamentos
Londrina Ponta Grossa
T1 2.663 e 1.976 e
T2 2.881 b 2.305 ab
T3 2.877 b 2.220 b
T4 2.959 a 2.496 a
TS 2.843 b 2.321 ab
T6 2.563 e 2.006 e
T1 = controle sem inoculação e sem nitrogênio.
1
T2 3.760 a 3.069 a
T3 3.512 b 2.877 b
T4 3.835 a 3.017 a
TS 3.446 bc 2.873 b
Tab. 6.23 Recomendação de adubação de manutenção com P e I< em função dos teores
de disponibilidade no solo, visando-se à produtividade agrícola de grãos de
soja de 3.000 l<g ha-1, para o Estado de Minas Gerais
120 80 40 120 80 40
1
Utilizar os critérios da Tab. 6.10 para a Interpretação da fertilidade do solo.
2
Não aplicar a fonte de K2O no sulco, em uma única vez, em quantidade superior a 50 kg ha-1•
Fonte: Ribeiro, Guimarães e Alvarez (1999).
Tab. 6.24 Adubação mineral de semeadura recomendada para a cultura da soja no Estado
de São Paulo, em função dos teores de disponibilidade de P e K e da produtividade
agrícola esperada
Produtividade P resina (mg dm-3) I(• trocável (mmolc dm-3)
esperada
(t ha-1) <7 7-16 16-40 >40 < 0,8 0,8-1,5 1,5-3,0 > 3,0
< 2,0 50 40 30 20 60 40 20 o
2,0-2,5 60 50 40 20 70 50 30 20
2,5-3,0 80 60 40 20 70 50 50 20
3,0-3,5 90 70 50 30 80 60 50 30
> 3,5
_, 80 50 40 80 60 60 40
'Não é possível obter essas produtividades com aplicação localizada de P em solos com teores muito baixos
desse nutriente.
Fonte: Raij et ai. (1996) e Ralj (2011).
.•
140 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA
6 ADUBAÇÃO
l
1
os pode ser fornecido para a cultura da soja das seguintes maneiras: a) gesso
t
1
l
agríçola {15% de S); b) superfosfato simples (12% de S); e) S elementar ·f ormulado
•
\
em pastilhas (90% de S); d) S elementar ou "flor" de S· {98% de S); e) várias fórmu-
j
las fertiliz~ntes que c9ntêm Sem suas .composições; e f) sulfato de amônio (24%
j
1
de S) aplicado como fertilizante nitrogenado em cultura de gramínea (milho,
f
sorgo ou trigo) como cultura antecedente (2ª safra e/ou de inverno), em rotação
ou em sucessão com a soja.
142 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
Tab. 6.26 Indicações de doses (l<g ha-1) de a·dubação com micronutrientes via solo para a
cultura da soja
e Cu Mn Zn
Teor
(l<g ha-1)
6 ADUBAÇÃO 143
r
sulco de semeadura.
1
1
1
300 g ha-1 a 350 g ha-1 desse nutriente, tendo como principais fontes no Brasil
1
i
1
formulações à base de sulfato ou com o elemento complexado em substâncias
orgânicas quelatizantes, estas últimas mais indicadas para caldas em mistu-
'
j
1
ras de tanque. No caso da aplicação do MnS0 4 , sugere-se a adição de 0,5% de
l
• ureia na calda de pulverização .
'
1
1
r
,•
\
144 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA
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1
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J
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CULTIVARES
Tuneo Sediyama
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: tuneo@ufv.br
Aluízio Borém
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: borem@ufu.br
A soja foi domesticada na China há cerca de 5.000 anos, mas somente nas últi-
mas cinco décadas tornou-se uma cultura de importância mundial. Antes de
chegar ao Brasil, foi cultivada primeiramente na Europa e, depois, nos Estados
Unidos, onde se iniciou a seleção de plantas mais adaptadas e produtivas.
No Brasil, os primeiros cultivares plantados, oriundos dos Estados Unidos, como
a Bragg e a Cobb, não eram adaptados às nossas condições de clima tropical,
estabelecendo-se inicialmente na Região Sul, onde havia condições climáticas
mais semelhantes às da sua região de origem.
~ A partir desses materiais genéticos, foram desenvolvidos os primeiros
G~ programas de melhoramento de soja para a obtenção de cultivares mais adap-
tados às nossas condições edafoclimáticas, aumentando, assim, seu potencial
produtivo. O progresso genético para a produtividade estimada entre as décadas
1 1
de 1950 a 1990 foi de 1,1% ao ano, ou 19 kg ha- ano- • Os maiores aumentos em
produtividade corresponderam às décadas de 1960 e 1970, com 24% e 11%, respec-
tivaz:nente. A partir de meados da década de 1970, o ganho de rendimento.reduziu
e passou a ser aproximadamente de 0,3% ano (Lange, 1998). Embora os avanços
genéticos tenham contribuído para o aumento da produtividade, os incrementas
objetivando um manejo mais adequado também foram significativos.
148 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
cultivar varia à medida que ele se desloca para o Sul ou para o Norte, ou seja,
quando varia a latitude. Portanto, os cultivares têm faixa limitada de adap-
tação (Embrapa Soja, 2013). Assim, para faciiitar o entendimento de técnicos
e agricultores foram criados os grupo~ de maturidade relativa, que predizem
a que faixa de latitude um cultivar está adaptado e apresenta maior estabili-
·d ade produtiva_.
7 CULTIVARES 1 49
tam período juvenil mais longo florescem mais tarde; portanto, mostram maior
período de crescimento antes de florescer e, por isso, exibem plantas mais altas.
Por·sua vez, nos.cultivares de tipo de crescimento indeterminado, o que defin~
o porte alt_o das plant~s é que elas continuam crescendo em altura por algum~s
semanas após o início do florescimento, poden.d o até dobrar .s ua altura nesse
150 SOJA: DO PLANTIO À c:OLl-IEITA
'i
(Nogueira et al., 2009; Sediyama; Teixeira; Barros, 2009). A maturação das vagens
't
,
1
também é semelhante à que ocorre nos cultivares do tipo determinado.
Nos cultivares do tipo indeterminado, o crescimento continua após o flores-
j cimento por um período relativamente longo. Esses cultivares não possuem
1
1
• inflorescência racemosa terminal, apenas axilar, o que garante a atividade
1
t vegetativa após o florescimento, desenvolvendo nós e alongando o caule.
1
Na ocasião do florescimento, eles ainda estão com cerca de 50% da sua altura
\ final (Sediyama; Teixeira; Reis, 2005). A maturação ocorre de baixo para cima e
1
'
•
as folhas superiores são menores que as do terço médio e inferior, conferindo
l
1
1 um aspecto mais delgado à parte terminal do caule.
1
quando se encontra entre 30º e 60º; e horizontal, quando é maior que 60º.
Essa característica deve ser conhecida para o cultivo, pois cultivares com
hábito mais ereto são mais interessantes, uma vez que se pode utilizar população
maior de plantas sem risco de acamamento e de alta competição intraespecí-
fica por luz. Deve-se considerar também que há cultivares que não apresentam
ramificações laterais, os quais são chamados de haste única. Esses cultivares
necessitam de maior cuidado com a população final de plantas, pois não têm
capacidade de compensar falhas na lavoura por meio da emissão de ramos
laterais, ao contrário dos cultivares ramificados, que apresentam maior plasti-
cidade, ou seja, conseguem compensar e/ou manter a produtividade mesmo em
populações um pouco menores.
Entre as práticas no campo que podem ser adotadas para obter melhor quali-
dade de sementes, destacam-se: antecipação da colheita ou colheita no momento
adequado, seleção de regiões mais propícias à qualidade de sementes e uso de
cultivares que produzam sementes de alta qualidade (França Neto et al., 2007).
No desenvolvimento de um cultivar, a maioria dos programas de melho-
ramento seleciona linhagens que produzem sementes com melhor qualidade
, .
genet1ca. Por exemplo, cultivares com mais de 5,0% de lignina no tegumento
têm propiciado a produção de semente de melhor qualidade, pois a lignina, além
de proporcionar maior resistência ao dano mecânico, confere à semente maior
tolerância à deterioração por umidade (França Neto et al., 2007).
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•
•
I
•
TECNOLOGIAS TRANSGÊNICAS
Aluízio Borém
Engenheiro-Agrônomo, M.S .., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: borem@ufu.br
Gene
identificado e
A isolado B
Agrobacteri um Biobalística
Esse fato pode ser observado na Fig. 8.2, que mostra o aumento da porcentagem
de adoção de culturas tolerantes a herbicidas nos Estados Unidos.
100
_so
- 60
~
~
ra
...., •••••
s::
-0.40
ro
ro
QJ
< 20
Fig. 8.2 Adoção de culturas GM nas Estadas Unidos de 1996 a 2018. HT = tolerância a herbicida
Fonte: adaptado de USDA (s.d.).
hppd,
Tolerante a herbicidas Bayer 2015
2mepsps, pat,
8 TECNOLOGIAS TRANSGENICAS
*** Cry1A.105,
Resistente a insetos Monsanto 2017
Cry2Ab ,
Cry1A.105,
Resistente a insetos e
1ntacta 2 Xtend Cry2Ab, Cry1Ac, Monsanto 2018
tolerante a herbicidas
dmo, cp4-epsps
(Hutchison et al., 2010; Edgerton et al., 2012; Lu et al., 2012; Dively et al., 2018).
No Brasil, o evento de soja MON 87701 x MON 89788, chamado comercial-
mente de Intacta RR2 PRO, foi o primeiro evento de biotecnologia a oferecer
proteção contra insetos-praga em soja. Esse evento de soja teve sua aprovação no
Brasil em 2010 pela CTNBio. com o lançamento comercial em 2013. Essa tecno-
logia combina o gene Bt crylAc (MON 87701), que expressa a proteína CrylAc e é
oriundo de B. thuringiensis, com o gene cp4 epsps (MON 89788), que fornece a tolerân-
cia ao glifosato (proteína CP4-EPSPs) e é oriundo de Agrobacterium sp. (Quadro 8.1).
A tecnologia Intacta RR2 PRO confere a proteção da cultura para as pragas
lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), falsa-medideira (Chrysodeixis includens),
lagarta-da-maçã (Chloridea uirescens) e broca-das-axilas (Crocidosema aporema).
Mais recentemente, foram aprovados outros eventos de soja Bt no Brasil, 0 evento
DAS 81419-2, que expressa as proteínas Cry1Ac e CrylF, e o evento MON 87751,
que expressa as proteínas CrylA.105 e Cry2Ab2 (CTNBio, s.d.). Este último evento
está presente na segunda geração de soja resistente a insetos-praga, denominada
Intacta 2 Xtend (MON 87751 x MON 87701 x MON87708 x MON 89788) (Quadro 8.1).
Não obstante, a tecnologia Intacta tem modificado os padrões da culttira, não
somente pela tolerância a herbicida e resistência a insetos, mas também pela
qualidade dos germoplasmas lançados pelas diversas empresas que trabalham
8 TECNOLOGIAS TRANSGÊNICAS i63
Se
8 TECNOLOGIAS TRANSGÊNICAS i65
"
(,
A expressão de duas ou mais proteínas na planta, também conhecida como
piramidação, é outra estratégia de MRI. O princípio de uma planta piramidada
é que, isoladamente, cada proteína deve ser altamente efetiva contra a mesma
praga-alvo de controle. Essa mortalidade redundante implica que um indivíduo
resistente à proteína A será eliminado pela proteína B e vice-versa (Carriere;
Crickmore; Tabashnik, 2015). Para que essa estratégia de piramidação seja
o·
efetiva no campo, é necessário que não haja resistência cruzada entre as proteí-
nas expressas na planta, ou seja, o mecanismo de resistência à proteína A não
•
seja o mesmo para a proteína B {Carriere; Crickmore; Tabashnik, 2015). Além
disso, o plantio de áreas de refúgio continua sendo necessário para plantas pira-
midadas. No milho, a piramidação de proteínas tem auxiliado na longevidade
das tecnologias por meio do controle dos heterozigotos (Bernardi et al., 2015;
Santos-Amaya et al., 2015; Burtet et al., 2017; Horikoshi et al., 2016).
A tecnologia Bt se tornou uma tática de controle imprescindível para o
manejo de pragas em um ambiente tropical, e sua durabilidade depende da
adoção correta das estratégias de MRI. Dentro do MIP, a tecnologia Bt repre-
senta apenas um pilar de manejo, portanto outras táticas de controle devem
igualmente ser consideradas para o controle de pragas no campo. As boas
práticas agronômicas também devem ser adotadas para auxiliar no manejo de
pragas, sendo elas: dessecação antecipada, tratamento de sementes, monitora-
mento de pragas, uso de sementes certificadas e manejo de plantas daninhas e
plantas voluntárias.
166 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
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1
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!
1
1
t
, ♦
'
1
ROTAÇÃO E SUCESSÃO
A soja pode ser utilizada também como alternativa de rotação para outras
culturas com problemas no manejo de plantas infestantes. Como exemplo, cita-
se o arroz-vermelho, principal planta infestante em áreas arrozícolas da Região
Sul do País. Semelhantemente ao ocorrido com a soja RR, a tecnologia Clearfield®
proporcionou facilidades ao manejo do arroz-vermelho por um período, mas a
não adoção das recomendações de uso da tecnologia originou condições para
que houvesse o cruzamento do arroz mutagênico com o arroz-vermelho, fazendo
surgir um arroz infestante, porém resistente ao grupo de herbicidas do pacote
CL. Nessas áreas, a rotação com a soja, onde é possível, tem favorecido o manejo
dessas superplantas, uma vez que, cultivando soja, pode-se reduzir o banco
de sementes do arroz-vermelho e, após algumas safras, devolver tais áreas ao
cultivo do arroz novamente.
Em áreas com ocorrência de nematoides, a rotação de espécies não hospedei-
ras de tais pragas é uma das poucas alternativas ao agricultor. Entre tais espécies,
as gramíneas podem ser viáveis, já que se dispõe de inúmeras opções de plantas
desse tipo para produção de grãos (milho, sorgo, milheto, arroz etc.) e para produ-
ção de forragem no sistema de integração, em que se faz o cultivo em sucessão
e se conduz a pastagem por um período que possa quebrar o ciclo do patógeno.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, C. A. O.; BORTOLON, L.; BORTOLON, E. S. O.; CAMARGO, F. P.; SIMON, J.;
BORGHI, E.; AVANZ, ]. C.; FIDELIS, R. R.; SILVA, R. R. Recuperação de pastagem
degradada por meio da integração lavoura-pecuária. ln: SILVA, R. R.; FREITAS,
G. A. (Ed). Capim Mombaça: correção da acidez, gessagem adubação, bioestimu-
lante, morfologia, qualidade e manejo da pastagem. Palmas, TO: EDUFT, 2018.
p. 189-197.
BARROS, H. B.; SILVA, A. A.; SEDIYAMA, T. Manejo de plantas daninhas. ln: SEDIYAMA,
T. (Ed.). Tecnologias de produção e usos da soja. Londrina, PR: Mecenas, 2009. p. 101-118.
EMBRAPA SOJA - CENTRO NACIONAL DE PESQUISA DE SOJA DA EMPRESA BRASILEIRA
DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Tecnologias de produção de soja: Região Central do Brasil
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TANCREDI, F. D.; SEDIYAMA, T.; BARROS, H. B. Manejo e conservação do solo. ln:
SEDIYAMA, T. (Ed.). Tecnologias de produção e usos da soja. Londrina, PR: Mecenas,
2009. p. 29-40.
1
•
-- · -· ,- · ·--· · ·· - · - - · -
- . •
'
,
' . '
.
1
MANEJO DA IRRIGAÇÃO
Tuneo Sediyama
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade
Federal de Viçosa. E-mail: tuneo@ufu.br
Aluízio Borém
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: borem@ufv.br
custos de implantação.
Nos dias atua.is, a soja é cultivada em diferentes épocas e praticamente em
todas as regiões do País, com os mais diversos tipos de clima. Sendo assim, na
maioria das lavouras brasileiras de soja, a disponibilidade hídrica durante os está-
dios de desenvolvimento da planta tem sido o g~rgalo de produtividade. Devido à
escassez de água e a períodos de veranicos, seu potencial produtivo não tem sido
alcançado. Mesmo as áreas mais produtivas do Brasil, com distribuição adequada
de chuvas, necessitam de complementação com irrigação para obter boa
10 MANEJO DA IRRIGAÇÃO 1 77
produtividade de soja. Dessa forma, a área irrigada de soja no Brasil tem crescido
consideravelmente. Esse fato é facilmente compreendido quando são considera-
dos os benefícios do sistema de irrigação em disponibilizar água à planta.
10.1.1 Germinação-emergência
Durante esse período, tanto o excesso como o déficit de água são prejudiciais
à obtenção de uma boa uniformidade na população de plantas. A semente de
soja necessita absorver, no mínimo, 50% de sua massa em água para assegurar
uma boa germinação. Nessa fase, o conteúdo de água no solo não deve exceder
85% do total de água disponível nem ser inferior a 50% (Pereira et al., 2016).
A baixa disponibilidade hídrica nessa fase pode acarretar baixa altura de plan-
tas, aumentando as perdas na colheita.
•.'•..
1
-
b •
1
178 SOJA: DO PLANTIO A COLHEITA
10.2.1 Solo
Na irrigação, o solo corresponde ao reservatório de água para as plantas, mas,
do total armazenado, a água disponível para as plantas encontra-se retida entre
a capacidade de campo (CC) e o ponto de murcha permanente (PM).
Capacidade de campo
,
Ea quantidade de água retida pelo solo após a drenagem de seu excesso, quando
l o fluxo vertical se torna desprezível (< 1 mm d-1).
l Uma forma de obtenção da capacidade de campo (CC) é pelo método da bacia
(mensurado em campo). Outro método para definir a CC é pela curva de tensão
(curva característica), que é estabelecida em laboratório. A tensão correspon-
dente à CC, dependendo do tipo de solo, pode variar de 10 kPa a 33 kPa. Em solos
típicos do Cerrado e em solos arenosos, é comum utilizar a tensão de 10 kPa, e,
em solos de textura fina, valores de 33 kPa.
PM = CC · k {10.1)
em que:
PM = ponto de murcha permanente (%);
CC = capacidade de campo (%);
k = constante igual a 0,55 para solo com CC entre 3% e 30%, 0,60 para solo com
cc ·entre 31% e 55% e 0,70 para Latossolo.
Densidade do ~o/o
A densidade do solo é a relação da massa das partícl:llas de solo e dos volumes
ocupados por essas p.a rtículas com a porosidade do solo.
'
I'l
'
180 SOJA: DO PLANTIO A COLHEITA
em que:
Ds = densidade do solo (g cm-3);
M = massa da amostra (g);
V = volume da amostra (cm 3).
10.2.2 Agua
A quantidade e a qualidade da água devem ser consideradas no manejo da irriga-
ção da soja e também no dimensionamento do sistema. Em projetos de irrigação
da cultura da soja, a vazão necessária pode variar entre 1.400 e 3.600 litros
por hora por hectare irrigado. Ou seja, em um projeto de 100 hectares, a vazão
bombeada será em média de 250.000 litros de água por hora (250 m 3 h-1).
Em relação à qualidade da água, realizar sua análise e lhe prover trata-
mentos adequados é a garantia de sucesso do projeto. Quanto às características
que determinam a qualidade da água para irrigação, de acordo com Bernardo,
Soares e Mantovani (2006), a água deve ser analisada com relação a seis parâ-
metros básicos: concentração total de sais solúveis ou salinidade; proporção
relativa de sódio em relação aos outros cátions ou capacidade de infiltração do
solo; concentração de elementos tóxicos; concentração de bicarbonatos; aspecto
de entupimento (rotor e tubulação); e aspecto sanitário.
10.2.3 Planta
Profundidade efetiva do sistema radicular
A profundidade efetiva do sistema radicular (Z) compreende a faixa de solo, a
partir da superfície, onde se encontram 80% das raízes da cultura.
No caso da cultura da soja irrigada, podem-se usar os seguintes valores
para Z (Ramos; Oliveira, 2009):
)( estádio I (da germinação até 10% de cobertura do solo): 15 cm;
)( estádio II (de 10% a 80% de cobertura do solo): 27 cm;
)( estádio III (a partir de 80% de cobertura do solo): 40 cm.
10 MANEJO DA IRRIGAÇÃO 181
10.2.4 Clima
De maneira geral, as variáveis climáticas mais importantes são aquelas
necessárias para a obtenção da precipitação efetiva (chuva) e da evapotrans-
piração de referência (temperatura do ar, umidade relativa, velocidade do
vento e radiação solar). Essas variáveis podem ser coletadas por uma estação
meteorológica completa, mas para manejo simplificado aceita-se a ausência de
alguns parâmetros.
Evapotranspiração
A evapotranspiração pode ser definida como a quantidade de água perdida para
a atmosfera devido à evaporação e à transpiração em uma superfície vegetada.
Sua determinação é essencial em programas de manejo da irrigação, uma vez que
representa a quantidade de água que deve ser reposta ao solo para manter o cres-
cimento e a produção em condições ideais (Pereira; Sediyama; Villa Nova, 2013).
Há diversas maneiras de calcular a evapotranspiração da soja, sendo a
~: mais comum por meio da evapotranspiraç:ão de referência (ETo) e de coeficien-
tes que dependem do estádio fenológico, da umidade do solo e da área molhada
ou sombreada:
em que:
1
ETc = evapotranspiração da cultura (mm d- );
ETo = evapotranspiração de referência (mm d-1);
Kc = coeficiente da cultura (adimensional);
Ks = coeficiente de umidade do solo (adimensional);
KL = coeficiente de localização (adimensional).
SOJA: DO PLANTIO À COLHEil'A
182
i
A ETo pode ser obtida por diferentes formas, destacando-se os métodos
evaporimétricos e as equações empíricas. Entre os métodos evaporimétricos,
ressaltam-se os métodos do tanque classe "A" e do irrigârnetro. Ambos apresentam
como princípio de funcionamento a evaporação da água para calcular a ETo. O irri- 1
I
gâmetro é um aparelho que pode ser ajustado para fornecer diretamente a ETo ou
a evapotranspiração da cultura (ETc) em qualquer estádio de seu desenvolvimento.
A operação desse aparelho é muito simples, consistindo na abertura e no fecha-
mento de válvulas existentes no aparelho, de acordo com uma sequência definida.
Entre os métodos de equações empíricas, destacam-se a equação de
Hargreaves-Samani e o método padrão recomendado pela Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura {FAO), de Penman-Monteith l
(Allen et al., 1998). A equação de Hargreaves-Samani relaciona dados de tempe- 1
1
1
ratura e radiação do topo da atmosfera em função da latitude do local. Essa
equação tende a superestimar o valor de ETo, principalmente em locais de
clima úmido ou com baixas velocidades de vento, sendo necessárias calibra-
ções regionais. É dada por:
em que:
ETo = evapotranspiração de referência (mm a-1);
Ra = radiação extraterrestre (mm d-1);
Tmáx = temperatura máxima (ºC);
Tmín = temperatura mínima (ºC);
Tméd = temperatura média (ºC).
900 (10.5)
0,408s (Rn - G) + y t + 273 U2 (es - eª)
ETo = - - - - - - - - - - - - -
s + y (1 + 0,34 U2 )
em que:
ETo = evapotranspiração de referência (mm d-1);
s = declividade da curva de pressão de vapor (kPa ºC-1);
Rn = radiação líquida total diária (MJ m-2 a-1);
G = fluxo total diário de calor no solo (MJ m-2 d-1);
1
r = constante psicométrica (0,063 kPa c- );
0
•
\
1
K = Ln (LM + 1)
s
(10.6)
Ln (CTA + 1)
. KL = 0,1./P (10.7)
em que:
K 5 = coeficiente de umidade do solo (adimensional);
LAA = lâmina atual de água no solo (mm);
CTA = capacidade total de água no solo {mm);
KL = coeficiente de localização (adimensional);
P = maior valor entre porcentagem de área molhada ou sombreada (%).
10.2.s Sistema
Métodos de irrigação para a cultura da soja
No Brasil, o cultivo da soja irrigada destaca-se principalmente nas Regiões Sul e
Centro-Oeste, onde se faz uso da irrigação por aspersão de forma suplementar
na primavera e no verão, e no Estado do Torc antins, onde a soja vem sendo culti-
vada no período de entressafra (de maio a setembro), sob regime de irrigação
subsuper:ficial (controle do lençol freático), principalmente na região de Formoso
do Araguaia (Conab, 2011).
Aspersão convencional
Os sistemas de irrigação por aspersão convencional podem ser móveis e fixos.
Todos têm vantagens e restrições, mas, em geral, funcionam satisfatoriamente,
,'
184 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
Conjunto 1
motobomba l
Linha principal
Pivô central
o pivô central é um sistema de irrigação por aspersão que possui movimenta-
ção circular. É constituído de uma linha lateral com emissores, ancorada em
uma das extremidades e suportada por torres dotadas de rodas equipadas com
unidades propulsaras (Fig. 10.2).
Cada torre tem um sistema de propulsão próprio, sendo o deslocamento
de toda a linha lateral do pivô central no campo comandado pelo andamento da
torre mais externa.
o sistema de irrigação por pivô central apresenta algumas vantagens:
i) economia de mão ele obra; ii) mantém o mesmo alinhamento e a mesma
lâmina em toda a área irrigada para cada evento de irrigação; iii) ao término de
uma irrigação, o sistema voltará ao ponto inicial para começar o~tra; e iv) boa
eficiência de irrigação, quando bem dimensionado.
1
'
10 MANEJO DA IRRIGAÇÃO 185
Poço ou linha
adutora enterrada
1• \
Pivô central
' ..
'
•
Conjunto de
1
motobomba
. ,
Areaim
' ''
Sistema linear
1
O sistema de irrigação linear tem estrutura e mecanismo de deslocamento
similares aos do pivô central, mas desloca-se continuamente em posição trans-
versal e na direção longitudinal da área. Todas as torres deslocam-se com a
mesma velocidade. O suprimento de água é feito por meio de canal ou linha
principal, dispostos no centro ou na extremidade da área (Fig. 10.3) (Bernardo;
Soares; Mantovani, 2006) .
•
Torres propulsoras
~~ - - Linha lateral
Fonte
de água
·' Conjunto de motobomba
Carretel enrolador
O carretel enrolador (autopropelido) é um sistema de irrigação constituído por um
aspersor do tipo canhão, montado sobre uma carreta e suprido de água por uma
mangueira flexível. É rebocado por um trator a determinada distância e, depois,
recolhido por um carretel enrolador acionado por um mecanismo hidráulico.
A irrigação é feita à medida que a carreta se aproxima do carretel (Fig. 10.4).
= =~----------.
- - - - - - - - - - - Zona com água perdida
1
1
1
1
1
1
1
1
---1----+--➔---+- Área irrigada por passagem
1 1 1 1
1
1
l Aspersor tipo canhão hidráulico
1 1
1
1
1 --
l1 -- Área a ser irrigada
1 1
1 , Mangueira flexível
Carretel enrolador
Tubulação principal
. Fonte de água
ConJunto
motobomba
Fig. 10.4 Esquema de
organização de um
carretel enrolador
Eficiência de irrigação
Ao realizar a irrigação, inevitavelmente certa quantidade de água não é forne-
cida para as plantas cultivadas, ou seja, é perdida por evaporação, por deriva,
por vazamento nas tubulações e por percolação decorrente de desuniformidade.
Uma das decisões mais importantes para o manejo adequado da irriga-
ção é maximizar a uniformidade de distribuição da água, que é um parâmetro
utilizado no cálculo da eficiência da irrigação. Atualmente, o conceito de unifor-
midade de distribuição da água tem tido um grande avanço devido à crescente
necessidade de conservação dos recursos hídricos, à competitividade pela água,
ao custo da energia e ao custo dos insumos.
Os fatores que afetam a uniformidade de distribuição da água podem
ser classificados em climáticos e não climáticos. Os fatores climáticos são:
evaporação, temperatura do ar, umidade relativa e condições locais do vento.
Os fatores não climáticos são os relacionados ao equipamento: ângulo de incli-
nação e diâmetro do bocal, pressão de operação, rotação, espaçamento e altura
de instalação do emissor, tipo do perfil de distribuição de água, velocidade e
alinhamento da linha lateral.
Um sistema de irrigação com 100% de eficiência é, portanto, impossível.
Entretanto, é possível alcançar, quando os sistemas são bem dimensionados,
eficiências de irrigação de 95% para o pivô central e o sistema linear, 85% para
)
a aspersão convencional e 75% para o carretel enrolador. Uma discussão deta-
lhada sobre o assunto é apresentada no Manual de irrigação (Bernardo; Soares;
Mantovani, 2006).
f
188 SOJA: DO PLANTIO À COLI-lEITA
l
momento adequado para realizar a irrigação. A utilização de sensores no solo ••
•
nêutrons, TDR e tensiômetros, entre outros. i'
11
..'
10 MANEJO DA IRRIGAÇÃO 189
em que:
Uc = umidade crítica (%);
CC = capacidade de campo (%);
PM = ponto de murcha permanente (%);
f = fator de disponibilidade de água no solo (adimensional).
o momento de realizar a irrigação deve ser até que a Ua iguale a Uc, dessa
forma, ~ lâmina de irrigação pode ser determinada pela seguinte equação:
1 ·,
'l
'l em que:
LB = lâmina bruta de irrigação (mm);
,~ 1
CC = capacidade de campo (% em peso);
Ua = u;midade atual do solo (% em massa);
3
Ds = densidade do solo (g cm- );
190 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
. LB • Ee • ELL (10.10)
Tt= - - -
q
em que:
Ti = tempo de irrigação (h);
LB = lâmina bruta de irrigação (mm);
Ee = espaçamento entre emissores (m);
ELL = espaçamento entre linhas laterais (m);
V= 100LP (10.11)
LB
em que:
V = velocidade de deslocamento do sistema (%);
LP = lâmina bruta do sistema para velocidade de 100% (mm);
LB = lâmina bruta de irrigação (mm).
É oportuno ressaltar que a soma dos valores de ETc não pode superar a capa-
cidade real de água no solo (CRA), pois, dessa forma, a umidade atual do solo será
menor que a umidade crítica. A CRA pode ser obtida pela seguinte equação:
LETc (10.13)
LB = Ei
em que:
LB = lâmina bruta de irrigação (mm);
IETc = somatório dos valores de evapotranspiração da cultura durante o período
correspondente ao turno de rega (mm);
1 Ei = eficiência de irrigação (decimal).
'
l
1
1
1
Em caso de ocorrência de chuvas entre duas irrigações consecutivas, o
1
volume precipitado deve ser reduzido do valor obtido pelo somatório da ETc.
Para calcular o tempo de irrigação ou a velocidade de deslocamento do
'
1
•
equipamento, deve-se proceder como no caso descrito anteriormente.
r
fator limitante, a produtividade pode ser superior a: 122,29% sobre a média b1·asi-
'
leira (Nunes, 2011), 162,55% em relação à média americàna (Dombek et al., 2009) e
· 87 99% sobre a média da Argentina (Confalone; Dujmovich. 1999).
. '
.
1
•
192 SOJA: DO PLANTIO À COLl·IEITA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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for Computing Crop Water Requirements. Rome: FAO, 1998. 297 p. (Irrigation and
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mento inicial de plantas de soja submetidas ao déficit hídrico. Global Science and
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MANEJO DE PLANTAS DANINHAS
Dirceu Agostinetto
Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Universidade Federal de Pelotas.
E-mail: agostinetto.d@gmail.com
Leandro Vargas
Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Pesquisador da Embrapa nigo. E-mail: leandro.uargas@embrapa.br
Plantas daninhas são espécies vegetais que se desenvolvem onde não são
desejadas e competem com as culturas pelos recursos naturais. Essa compe-
tição é notada principalmente nos estádios iniciais de desenvolvimento da
cultura, devido às perdas na produtividade, que podem ser superiores a 80%
ou, até mesmo, em casos extremos, inviabilizar a colheita. Além de prejudicar
a produção, a planta daninha pode causar vários problemas: reduz a quali-
dade dos grãos; causa maturação desuniforme; dificulta a operação da colheita;
serve de hospedeiro para pragas e doenças; e diminui o valor comercial da
terra. As plantas daninhas também podem liberar aleloquímicos que inibem
a germinação de sementes e/ou o desenvolvimento de culturas e outras espé-
cies, inclusive de outras plantas daninhas (Silva et al., 1999).
As principais características das plantas daninhas são: rápida germinação e
crescimento inicial; sistema radicular abundante; grande capacidade de absor-
ver água e nutrientes do solo; alta eficiência no uso da água; e elevada produção
e eficiente disseminação de propágulos. Essas características lhes conferem alta
capacidade de competir com as culturas pelos recursos do ambiente. A compe-
tição é a disputa que se estabelece entre a cultura e as plantas daninhas por
recursos (por exemplo, água, luz e nutrientes) disponíveis em determinado
nicho (local e tempo), cujo suprimento é escasso.
194 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
•
- - --- - .-..l'JNIIIJIU.M.,_F_ , - ~ - - - - - - - - --
-- lrn.rJl~'G _nJlfUllf.
I
daninhas desde a implantação da cultura; permite controlar as plantas dani-
nhas em época chuvosa, quando o controle físico/mecânico é impraticável;
não causa danos às raízes da cultura; não danifica a estrutura física do solo;
permite melhor distribuição das plantas da cultura na área; e controla as plan-
tas daninhas na linha da cultura. Entre as desvantagens estão: apresenta custo
geralmente mais elevado que em outros métodos; exige equipamentos adequa-
dos; pode ser tóxico ao meio ambiente; necessita de equipamentos de proteção;·
e pode deixar resíduos no solo e nos alimentos.
o número de herbicidas disponíveis para o controle de plantas daninhas çle
folhas largas e estreitas na cultura da soja convencional é grande, com mais
de 40 ingredientes ativo_s (Agrofit, s.d.). O uso de associações· de herbicidas é
importante para aumentar o espectro-de controle, reduzir o custo, minimizar
1
a pressão ·de seleção de plantas daninhas resistentes a herbicidas e reduzir a •
Aplicações em pré-emergência
Os herbicidas usados em pré-emergência, sem incorporação, são aplicados
imediatamente após a semeadura da cultura e alguns até mesmo após sua emer-
gência, mas sempre antes da emergência das plantas daninhas, pois a ação deles
se dá durante ou logo após a germinação. Normalmente, a aplicação é feita imedia-
tamente após a semeadura ou no máximo três dias após a última gradagem.
As vantagens dos herbicidas aplicados em pré-emergência são: permi-
tem o controle das plantas daninhas antes que elas possam competir com a
cultura e provocar redução na produtividade; podem ser usados no sistema de
cultivo convencional e de semeadura direta; podem ser aplicados na operação
de semeadura, com equipamentos acoplados à semeadora; e não necessitam 1
cas químicas e físicas dos solos, auxilia na escolha do herbicida a ser adotado, já l
1
que dificilmente toda a área da lavoura possui solo com as mesmas característi-
cas e tampouco estará infestada ou apresentará as mesmas espécies.
Aplicações em pós-emergência
A aplicação em pós-emergência é aquela realizada após a emergência das plan-
tas daninhas e antes que elas interfiram no desenvolvimento da cultura devido
à competição. A possibilidade de ocorrer prejuízo decorrente da competição
..
&
11 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS 201
Escolhido o herbicida, deve-se decidir a dose a ser usada, a qual, para produtos l
1
1
a
11 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS 203
'.
204 SOJA: DO PLANTIO A COLI-IEITA
Controle de azevém
11.s.1
O controle dos biótipos de azevém resistentes ao glyphosate, de forma geral, é
obtido com o uso dos herbicidas graminicidas "fops'' e ''dims'' (Quadro 11.1).
É importante o planejamento do controle antes da semeadura com (20 a 30 dias
de antecedência), de modo a permitir o controle do azevém em tempo suficiente
para evitar os efeitos negativos da competição e da alelopatia sobre a cultura.
Além disso, em caso de uso de graminicidas, deve-se levar em consideração que
alguns deles possuem efeito residual e podem afetar culturas como o milho, o
trigo e a cevada. Para evitar esses problemas, devem-se respeitar os períodos de
carência recomendados.
Para a definlçao da dose e da melhor alternativa a ser utlllzada, deve-se consultar um agrônomo.
206 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA
lodosulfuron-metil Hussar
Inibidor da ALS Sulfonilureia
Metsulfuron-metílico Ally
Homoalanina
Inibidor da GS Amõnio-glufosinato Finale
substituída
20
11 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS 7
Na pré-emergência em soja
Inibidor da ALS Triazolopirimidina Dlclosulam Spider 840 WG
Para a definição da dose e da melhor alternativa a ser utilizada, deve-se consultar um agrônomo.
,
Areas utilizadas para pastejo devem ser manejadas com cuidado para
evitar intoxicação dos animais, e, além disso, o pastejo mantém a forrageira
com baixa estatura, deixando espaço para a buva se estabelecer. Os animais
também podem danificar plantas de buva, quebrando caules e galhos, o que
dificulta a ação dos herbicidas.
O manejo antes da semeadura da soja (dessecação) tem sido realizado de
forma eficiente com 2,4-D ou clorimuron associados ao glyphosate (Quadro 11.2).
As aplicações sequenciais têm apresentado excelentes resultados. Nesse caso,
o glyphosate associado ao 2,4-D ou ao clorimuron é usado 10 a 15 dias antes da
segunda aplicação (Quadro 11.2). Aplicações sequenciais somente com produ-
tos de contato, como amônio-glufosinato, apresentam alta eficiência, desde que
usados em plantas pequenas. Nesses casos, pode-se utilizar o mesmo produto
na primeira e na segunda aplicação ou alternar produtos. Cabe destacar que
misturas de tanque não são permitidas; portanto, as associações devem ser
realizadas aplicando-se os produtos isoladamente.
o uso de herbicidas pré-emergentes, como flumioxazin, diclosulam e •
sulfentrazone, ocasiona controle satisfatório de buva, proveniente do banco de
sementes do solo (Quadro 11.2). Quando utilizados na pré-emergência da soja
(semear/aplicar ou aplicar/semear), esses herbicidas proporcionam controle
residual de 20 dias ou mais, dependendo das condições de solo e clima.
De forma geral, os biótipos resistentes, como azevém e buva, devem se~
manejados com mecanismos alternativos, não repetindo o uso em um mesmo
ano do mesmo mecanismo de ação e evitan~o o emprego de prqdutos para
os quais os biótipos possuem resistência. Por sua vez, o manejo de espécies
tolerantes , como leiteiro, corriola, trapoeraba e poaia-branca, deve ser feito .
Tab. 11.1 Produtividade e redução relativa da soja em função da presença de Digitaria ínsuloris r
das ao mesmo tempo com buva e capim-amargoso, pode ser necessário O uso de
( 11 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS 2 º9
1
atenção na tecnologia de aplicação dos herbicidas e, sobretudo, utilização do
1
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MANEJO DE PRAGAS
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Daniel Ricardo Sosa-Gómez
Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Pesquisador da Embrapa Soja.
E-mail: daniel.sosa-gomez@embrapa.br
Alexandre Specht
Biólogo, M.S., D.S. e Pesquisador da Embrapa Cerrados. E-mail: alexandre.~pecht@embrapa.br
. .. . - ..
A soja é uma cultura exótica, porém, desde a sua introdução no Brasil, no início
do século XX, tem sido atacada por diversos. insetos nativos que se associaram
ao seu cultivo. As mudanças nos tratos culturais, na arquitetura de plantas e
nos próprios agroecossistemas têm levado insetos que não eram importantes
na cultura a se tornarem pragas-chave ou secundárias e outros que anterior-
mente eram de grande importância a diminuírem ou perderem sua relevância.
Além disso, a frequência da introdução de insetos exóticos associados a essa
cultura em outros países ou continentes tem dificultado o manejo. Essa maior
complexidade, associada a tomadas de decisão de controle sem monitoramento,
falta da identificação adequada da praga, escolha de produtos com critérios
inapropriados e tecnologia de aplicação deficiente, tem conduzido a situações
de reduzida reversibilidade para solucionar as falhas de controle.
Análises comparativas da frequência de aplicações. para o controle de
pragas confirmaram que o número de aplicações é superior (de 1,3 a 2 vezes)
entre agricultores sem orientação quando comparado com aplicações feitas por
agricultores acompanhados por agentes de extensão.
No manejo das pragas, devem-se considerar os seguintes pontos-chave:
identificar corretamente a praga, porque a suscetibilidade aos produtos difere
de espécie para espécie; determinar a densidade da praga na qual há a neces-
sidade de aplicar medidas de controle; priorizar o uso de inseticidas seletivos,
principalmente no início do ciclo da cultura, pois, quanto maior for a seletivi-
dade, menores consequências deletérias ocorrerão ao longo do ciclo da cultura
212 SOJA : DO PLANTIO A COLI-IEITA
l'
•
Fig. 12.1 Proporção da abundância de cada espécie do complexo de percevejos pragas da soja no
Estada do Paraná, durante três safras .
•
Quadro 12.1 Inseticidas agrupados por modo de açao, agentes biológicos e seletividade
para inimigos naturais para o controle das principais lagartas (registrados
no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)
Grupo do Hellcoverpa sp.
Modo de ação Seletlvldade A, gemmatalis e. lncludens
Inseticida e H. armigera
lnfecçao do Blológlco - Altamente AgMNPV ChlnNPV HzSNPV
Intestino médio e baculovlrus seletivos
outros tecidos
lntoxlcaçao Biológico - bactéria Altamente Baclllus Baclllus Baclllus
lnlclalmente seletivos thuringlensls thuringlensls thurlngiensls
locallzada no
Intestino médio e
\
septicemia
Inibidores de Carbamatos e Nao seletivos Metomll. acef ato, Acefato, metomll. Acefato,
acetllcollnesterase organofosforados clorplrlfós, profenofós, clorplrlfós,
malationa, fenltrotlona, metomll.
1
• fenltrotiona. carbosulfano, tlodlcarbe
carbosulf ano clorplrlfós,
profenofós, tlodlcarbe
tlodlcarbe
1
1
Moduladores Avermectlna Nao seletivo ou Abamectlna Abamectlna Abamectlna,
.
1 pouco seletivo
1
1
alostérlcos de benzoato de
•
canais de cloro ecmamectlna
,•
•
mediados pelo
'
1 1lutamato
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1
1
l
216 SOJA: DO J>LANTIO À COLl-lEITA
A menção desses produtos não indica eficiência de controle. O Ingrediente ativo pode estar formulado em mistura com
outro ingrediente ativo.
Fig. 12.2 Impacto negativo da aplicação de plretroides na dessecaçãa em Diamantina (MT): (A) alta
mortalidade da besouro predador benéfica Calosoma sp. e (B) sobrevivência de lagartas do gênero
Spodoptera opôs a aplicação
Fonte: adaptado de Peel (2001).
.
222 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA
•
1
dade de controle. Devido à sua elevada capacidade reprodutiva (100 a 300 ovos
l
r
por fêmea), suas populações podem ser muito elevadas, podendo alcançar 200
a 250 ninfas por folíolo. Uma dificuldade adicional é a presença de populações
com elevadas taxas de resistência (l00x a 1.000x) em diversas regiões do Brasil,
para inseticidas como lambda-cialotrina, chlorantraniliprole, imidacloprido e
cartap (Dângelo et al., 2018). Portanto, para seu manejo, o controle deve ser feito
'
1 no momento oportuno para evitar que suas densidades alcancem níveis difíceis
lr
de serem manejados. Quintela E. (Embrapa Arroz e Feijão, comunicação pessoal)
I
'
•
1 recomenda realizar o controle quando são encontradas dez ninfas por folíolo
i
•
t
e tomar medidas preventivas como eliminar ervas daninhas hospedeiras de
l mosca-branca e suas viroses, respeitar o vazio sanitário e, nas áreas-problemas,
)
não fazer semeaduras sequenciais de culturas suscetíveis.
1
1
i
, o diagnóstico da resistência é de grande relevância, pois, na presença de
1
1
1
•
populações resistentes, além de escolher produtos de maior eficiência, deve
1
'i
'1 ser considerada a dose correta e o modo de ação diferente ao(s) produto(s) já
utilizado(s). Sempre deve ser realizado um registro do histórico de aplicações.
1
' produtos e doses utilizadas, frequência de aplicação, pragas presentes, densi-
1 dade da praga e eficiência de controle. Todas essas informações orientam e
• 1
1
complementam o diagnóstico, assim como as medidas a seren1 adotadas no
•
1nanejo da resistência .
224 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA
é uma espécie univoltina, isto é, com uma única geração por ano, cuja fase larval, .\
l
1
12 MANEJO DE PRAGAS 22 5
1
atacadas apresentam inicialmente desenvolvimento retardado, progredindo para
o amarelecimento e a murcha das folhas e evoluindo para a morte das plantas.
1
1
t
1
Outro besouro comum, o tamanduá-da-soja, Sternechus subsignatus
1
(Boheman, 1836) (Coleoptera: Curculionidae), é capaz de reduzir considera-
1
! velmente
,
o estande, afetando consequentemente a produtividade da lavoura.
( E encontrado nas regiões de soja dos Estados do Rio Grande do Sul e do Paraná,
•
1
1
Da mesma maneira, pragas como os percevejos-castanhos, Scaptocoris
'
'
1 castanea Perty, S. carualhoi Becker e S. buckupi Becker (Hemiptera: Cydnidae),
'\ apresentam aspectos comportamentais que tornam difícil o seu controle
I'
1 (Fernandes et al., 2004). Os percevejos-castanhos têm a capacidade de deslo-
car-se no perfil do solo a profundidades inatingíveis por práticas culturais ou
1
1
tratamento com inseticidas (Oliveira; Malaguido, 2004). Ataques dessas pragas
na cultura da soja têm sido relatados no interior dos Estados do Paraná (Cente-
nário do Sul, Bela Vista do Paraíso, Cafeara, Jaguapitã, Iguaraçú), de São Paulo
(Mirante do Paranapanema, Taciba, Itaberá), de Goiás (Morrinhas) e de Mato
Grosso (Campo Verde, Alto Graças, Sapezal, Lucas de Rio Verde, Primavera do
Leste). Essas espécies podem causar danos pela retirada de seiva das raízes, e
outro fator importante é que essas pragas são suspeitas de injetar saliva tóxica,
levando ao enfraquecimento e até à morte das plantas (Fernandes et al., 2004;
Oliveira et al., 2012). As principais limitações para o controle dessas espécies
são as dificuldades para sua amostragem e a eficiência de controle muito variá-
vel, seja com pirazóis, organofosforados, carbamatos ou biológicos (nematoides
Steirnematidae e fungos entomopatogênicos .Metarhizium anisopliae).
Para O manejo de pragas de solo, o planejamento e a escolha dos métodos de
controle devem iniciar nas safras anteriores, mapeando as áreas com ocorrência
226 SOJA: DO PLAN1' 10 À COLI-IEJTA
l
12 MANEJO DE PRAGAS 227
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cio brasileiro. Na safra 2018/2019, a produção nacional atingiu patamar recorde
de 113,823 milhões de toneladas de grãos (Conab, 2019), tornando cada vez mais
realista a projeção de que o Brasil se tornará o maior produtor mundial dessa
leguminosa nos próximos anos (Sediyama; Teixeira; Barros, 2009).
o aumento da produção de soja está relacionado com a redução de fatores
limitantes, por exemplo, a ocorrência de doenças. Estima-se que 15% a 20% das
perdas ocorridas na cultura sejam devidas ao ataque de fitopatógenos (Almeida
et al., 2005; Henning et al., 2009; Embrapa, 2013). No Brasil, 47 doenças já foram
relatadas na cultura, sendo 33 causadas por fungos, seis por nematoides, quatro
por vírus e quatro por bactérias (Embrapa, 2013). No entanto, tais números 1
Ferrugem 1
Crestamento de Cercospora 1
e septoriose (DFCs) 1
1
•
Antracnose
Mancha alvo
Míldio
Oídio
Mofo branco
Podridão de Macrophomina
Podridão de Ph}~ophthora
Fig. 13.1 Algumas das principais doenças da cultura da soja nas últimas safras, na Região Centro-Sul
de Mato Grosso do Sul, de acordo com as fases de desenvolvimento da planta, de maior possibilidade
de ocorrência
Fonte: Barros (2011).
Fig. 13.2 Sintomas da ferrugem-asiática em soja: (A) lesão da tipo TAN, (B) lesão do tipo RB e
(C) plantas altamente infectados com Phal<opsora pachyrhizi, com aspecto semelhante ao de
planta submetida à aplicação de herbicida dessecante
Fonte: Éder Matsuo.
Para facilitar a visualização das lesões, deve-se observar uma folha suspeita
pela face adaxial contra um fundo claro, por exemplo, o céu. Uma vez localizado
0 ponto escuro suspeito no limbo foliar, deve-se notar a presença de urédias na
face abaxial do folíolo com uma lupa de l0x a 30x de aumento ou sob microscó-
pio estereoscópico (Embrapa, 2013).
As condições que favorecem a doença são temperaturas entre 15 ºC e 22 ºC.
umidade relativa de 75% a 80% e 6-12 h de molhamente foliar. A dispersão do
patógeno ocorre sobretudo por meio de correntes de ventos, e sua sobrevivên-
cia depende essencialmente do parasitismo em plantas de soja, volt1ntárias ou
cultivadas (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009).
236 SOJA: DO PLANTIO À COLJ-IEITA
13.1.2 Oídio
O oídio, causado pelo fungo Microsphaera diffusa (sin. = Erysiphe diffusa), foi respon-
sável por perdas estimadas entre 30% e 40% em todo o Brasil na safra 1996/1997
(Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009; Embrapa, 2013). O fungo é capaz de se desen-
volver em toda a parte aérea da soja; por isso, é possível observar sintomas nas
hastes, nos pecíolos, nas folhas e nas vagens. Plantas atacadas são cobertas por
uma camada pulverulenta branca de micélio e conídios, que é mais facilmente
notada em ambas as faces dos folíolos,
reduzindo a eficiência fotossintética da
soja {Fig. 13.3). Em condições severas,
sintomas de crestamento foliar, simila-
res aos ocasionados por Cercospora kikuchii
(Almeida et al., 2005), e desfolha prema-
tura podem ser observados no campo
(Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009).
O oídio é favorecido por temperatu-
ras em torno de 20 ºC e umidade relativa
de 50% a 90%. A dispersão dos esporos
do fungo ocorre pela ação de ventos, e
a sobrevivência do patógeno acontece
em plantas de soja (Dhingra; Mendonça;
..
Fig. 13.3 Folíolo de soja altamente
Macedo, 2009).
Infectado com Mlcrosphaera dlffusa O método mais eficiente de controle
Fonte: Éder Matsuo. do oídio é o uso de cultivares resistentes. 1 '
\
'•
13 MANEJO DE DOENÇAS 237
Fig. 13.4 Mofo-branco em soja: (A) sementes contaminadas com escleródios de Sclerotinia
sclerotiorum e (B e C) micélio branco e denso do funga sobre as hastes
Fonte: (A) A. A. Henning (Henning et ai., 2009), (8) J. T. Vorinori (Siquerl; Yorinori; Yuyama, 2011) e
(C) Éder Matsuo.
l
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1
r
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•
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Fig. 13.6 Podridão-radicular causada por Phytophthora sojae: (A) plântulas de soja com haste e
f
cotilédones apodrecidos, (8) reboleira de plantas mortas em local com excesso de umidade no solo,
devido ao acúmulo de restos culturais, e (C) sintomas da doença na haste de plantas de soja.• com
•
tecido escurecido recoberto por micélio de fungos sapró(ltas
t.
' Fotos: (A e B) R. M. Soares (Costamilan; Soares: Bertagnolli. 2010) e (C) L. M. Costamllan (Costamilan:
1
•
1
l Soares; Bertagnolli, 2010) .
'
')
'
~ .
240 SOJA: DO PLANTIO À COLl·IEITA
13.1.6 Mancha-alvo
A mancha-alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola, ocorre em todas as
regiões sojicultoras do País (Almeida et al., 2005; Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009).
Os sintomas podem ser observados em toda a parte aérea da soja, independente-
mente do estádio de desenvolvimento {Siqueri; Yorinori; Yuyama, 2011). As lesões
iniciam-se por pontuações pardas, com halo amarelado, evoluindo para grandes
manchas circulares, de coloração castanho-clara a castanho-escura. As manchas
usualmente apresentam pontuações escuras no centro, semelhantes a um alvo
(Fig. 13.7A) (Henning et al., 2009), advindo daí o nome comum da doença (Almeida
et al., 2005). Nos pecíolos e nas hastes, as áreas afetadas exibem pontuações de
coloração marrom-escura. As manchas nas vagens geralmente são circulares, com
1 mm de diâmetro, centro preto-arroxeado e borda marrom (Fig. 13.7B).
13.1.7 Mela
A mela ou requeima, causada por Thanatephorus cucumeris (anamorfo Rhizoctonia
solani), ocorre principalmente nos Estados de Mato Grosso, Maranhão, Tocantins
13 MANEJO DE DOENÇAS 241
l...
!
•
242 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA
13.1.9 Nematoide-de-cisto
O nematoide-de-cisto-da-soja (NCS), Heterodera glycines, é um dos principais pató-
genos da cultura, podendo ocasionar perdas de 15% a 100% {Dhingra; Mendonça;
Macedo, 2009; Embrapa, 2013). A área infestada com o nematoide aumentou rapi-
damente logo após os primeiros relatos de sua ocorrência no Brasil (Lima; Ferraz;
Santos, 1992; Lordello; Lordello; Quaggio, 1992; Monteiro; Morais, 1992) e já supe-
rou os 2,0 milhões de hectares, distribuídos em dez Estados: Minas Gerais, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia,
Tocantins e Maranhão (Embrapa, 2013).
O nome comum da doença causada por H. glycines é nanismo amarelo da
soja, em decorrência dos sintomas reflexos induzidos pela interação do patógeno
com a planta. Nesse caso, o sistema radicular da soja é reduzido e torna-se menos
eficiente em absorver água e nutrientes, assim como a formação de nódulos de
Bradyrhizobium japonicum é prejudicada. Com isso, ocorre evidente redução do cres-
cimento e da produção de plantas doentes e acentuada clorose foliar. No sistema
radicular das plantas, é possível notar a presença de fêmeas limonifor1nes e de
coloração branca a amarelada {Fig. 13.8A) a partir de 35 dias após a semeadura.
No entanto, a correta diagnose requer análise de amostras de solo e/ou raiz em
laboratório de nematologia (Henning et al., 2009; Dias et al., 2010). Após a fertiliza-
ção, a fêmea produz os ovos e os retém no interior do próprio corpo. Em seguida,
ela morre, e o seu corpo adquire coloração amarronzada (Fig. 13.8B) e se desprende
das raízes, permanecendo viável no solo por até oito anos na ausência da planta
hospedeira. Tal estrutura de resistência do nematoide é denominada cisto
(Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009; Dias et al., 2009; Embrapa, 2013).
13.1.10 Nematoide-das-galhas
Entre as várias espécies do nematoide-das-galhas que atacam a cultura da
soja, Meloidogyne javanica e M. incognita são as de maior importância (Dhingra;
Mendonça; Macedo, 2009; Embrapa, 2013).
O sintoma característico do ataque de Meloidogyne spp. em soja é o desen-
volvimento de galhas no sistema radicular (Fig. 13.9), em número e tamanho
variados. Plantas doentes também apresentam sintomas reflexos na parte aérea,
por exemplo clorose foliar ou necrose internerval (folhas ''carijó''), abortamento
de vagens, redução do crescimento e senescência prematura (Henning et al., 2009;
Dias et al., 2010).
Amostras de solo infestado e de
raízes apresentando galhas devem ser
coletadas e enviadas para um laboratório
de nematologia, para que seja identifi-
cada a espécie predominante na área.
A partir dessa informação, é possível
definir a melhor estratégia integrada de
manejo. A rotação de culturas e a utili-
zação de genótipos resistentes estão
entre as medidas mais eficientes (Dias
et al., 2007), além, é claro, das medi-
das de exclusão. No entanto, a escolha
do cultivar resistente e da cultura a ser
incluída na rotação vai depender d~ espé-
cie hospedeira. Considerando a rotação stema rad;cular de soja com galhas,
Fig. 13.9 Si_
. . . ,
devido ao ataque de Meloldogyne sp.
de culturas, caso M. Jauantca seJa a espe-
cie a ser manejada, o agricultor poderia Fonte: Éder Matsuo.
244 SOJA: DO PLANTIO A COLI-IElTA
13.1.12 Nematoide-reniforme
O nematoide-reniforme, Rotylenchulus reniformis, vem se tornando cada vez mais
importante para a sojicultura, principalmente em Mato Grosso do Sul, onde
altas densidades populacionais do patógeno são observadas em 29% da área
cultivada com a leguminosa (Embrapa, 2013).
Em áreas infestadas, o crescimento das plantas é reduzido, resultando em
evidente desuniformidade da lavoura, que pode ser confundida com proble-
mas de deficiência nutricional ou de compactação do solo. O sistema radicular
das plantas sofre redução no desenvolvimento e, em alguns pontos das raízes,
nota-se fina camada de terra aderida às raízes. Nesse caso, o solo fica aderido às
massas de ovos de R. reniformis, produzidas externamente à raiz (Ribeiro; Dias;
Santos, 2010; Embrapa, 2013).
A rotação com culturas não hospedeiras (sorgo, milho, arroz, cana, milheto
e crotalária, entre outras) e a utilização de cultivares resistentes estão entre as
principais medidas de manejo do nematoide-reniforme (Ferraz et al., 2010).
d
13 MANEJO DE DOENÇAS 245
Fig. 13.10 Doenças de final de ciclo em soja. Sintomas da mancha-púrpura, causada por Cercospora
kikuchii, (A) na folha unifa/iolada e (B) nas sementes. Folhas (C) unifolialados e (D) trifalia/odas com
sintamas do mancho-parda, incitada por Septoria glycines
Fotos: (A, e e O) J. T. Vorinori (Siqueri: Vorinori: Vuyama, 2011) e (B) C. V. Godoy (Henning et ai., 2009).
Mofo-branco (Sc/erotinia sclerotiorum). As plantas Em área livre do patógeno, usar sementes sadias e
apresentam-se mais vulneráveis ao patógeno livres do patógeno e fungicidas e realizar a limpeza
no período de floração plena até a formação de equipamentos (Dhingra: Mendonça; Macedo,
das vagens (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009; 2009; Henning et ai., 2009; Siqueri; Vorinori:
Embrapa, 2013). Os sintomas iniciam-se com o Vuyama, 2011: Embrapa, 2013). Em áreas onde a
aparecimento de manchas encharcadas (anasarca) doença já ocorre, eliminar restos culturais infectados,
que resultam em micélio branco e denso (Siqueri: realizar rotação/sucessão de culturas (com culturas
Vorinori: Vuyama, 2011). Em poucos dias, o micélio não hospedeiras), aumentar o espaçamento entre
pode transformar-se em escleródios (Dhingra; linhas e adequar a irrigação (Henning et ai., 2009:
Mendonça; Macedo, 2009). Siqueri: Vorinori; Vuyama, 2011).
Cancro da haste (Diaporthe phaseolarum f. sp. Usar cultivares resistentes, tratar sementes, fazer
meridiana/is). Lesões, nas hastes, de coloração rotação de culturas com espécies não hospedeiras,
castanho-clara com bordas castanho- efetuar semeadura com maior espaçamento, manejo
-avermelhadas (Almeida et ai., 2005). Nas folhas, dos restos culturais e adubação e realizar calagem
é observada necrose internerval (folhas "carijó"). equilibrada (Dhíngra; Mendonça; Macedo, 2009;
(Almeida et ai., 2005: Henning et ai., 2009). Henning et ai., 2009).
Nematolde-renlforme (Ratylenchulus reniformis). Fazer rotação com culturas não hospedeiras e utilizar
Plantas infectadas apresentam redução no cultivares resistentes (Ferraz et ai., 2010).
crescimento (parte aérea e sistema radicular)
(Ribeiro; Dias: Santos, 2010: Embrapa, 2013).
13.3 BIOTECNOLOGIA
O uso da biotecnologia tem sido considerado no manejo de doenças em várias
culturas agrícolas, incluindo a soja. No melhoramento de soja, a aplicação da
moderna biotecnologia tem se concentrado nas áreas de genética molecular e
de transformação genética. A genética molecular estuda como a informação
genética é codificada dentro do DNA e traduzida no fenótipo. Por sua vez, a
transformação genética aborda a modificação genética das células ou indivíduos
(Sudaric et al., 2010).
A identificação de genótipos resistentes é primordial nas etapas iniciais do
melhoramento visando à resistência a doenças. Tal seleção pode ser feita por meio
de avaliação fenotípica, demandando inoculação do patógeno e classificação das
plantas em resistentes, moderadamente resistentes e suscetíveis. Outra maneira
é o uso de marcadores moleculares na seleção assistida, conhecida como sele-
ção assistida por marcadores moleculares (SAMM). Os marcadores moleculares
possuem várias vantagens em relação aos marcadores fenotípicos: maior acurácia,
confiabilidade e rapidez, não interferência das condições de cultivo e possibilidade
de detecção em todos os estádios de crescimento da planta (Sudaric et al., 2010).
Inúmeros marcadores moleculares ligados a genes/lócus de característica quan-
!
titativa (QTLs) de resistência a doenças da soja já foram identificados e podem ser
usados em programas de melhoramento dessa cultura, como, por exemplo, aque-
les associados à resistência a D. phaseolorum f. sp. meridionalis (Carvalho et al., 2002),
Fusarium solani (Njiti et al., 2002), H. glycines (Carvalho et al., 1999; Meksem et al.,
2001; Dias et al., 2009; Vieira et al., 2016}, M. jauanica (Silva et al., 2001), M. incognita
l
e M. hapla (Li et al., 2018), Phialophora gregata (Bachman et al., 2001), P. pachyrhizi •
J
(Morceli et al., 2008; Matsuo et al., 2014) e S. sclerotiorum (Arahana et al., 2001). 1
j
1
1
gênico, por meio de técnicas de RNA interferente ou interferência por RNA '
(RNAi), também é promissor quanto ao desenvolvimento de cultivares resis-
tentes a vários patógenos (Steeves et al., 2006; Ibrahim et al., 2011; Kim et al., t
2016). Com o uso dessa ferramenta, os cientistas podem desligar genes de pató- 1
........
MANEJO DE DOENÇAS 249
13
r
produzidas usando silenciamento gênico mediado por RNAi (Kim et al., 2016).
A biotecnologia terá papel cada vez mais decisivo no melhoramento genético
da soja nos próximos anos. Dentro dessa perspectiva, os agricultores possivel-
1
i mente terão à sua disposição cultivares com alto potencial de produção e com
1
resistência a vários patógenos.
1
1
1
1 13.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O manejo de doenças na cultura de soja envolve uma combinação de várias técni-
1 cas, as quais visam minimizar os danos causados pelos ataques dos patógenos.
'
Medidas preventivas sempre devem ser inicialmente consideradas, principal-
1
mente considerando patógenos de difícil controle e que não possuem expressiva
1
1
dispersão por vento, a exemplo dos nematoides e dos fungos habitantes de solo
1
• •
1
(Fusarium spp., M. phaseolina, R. solani, S. rolfsii e S. sclerotiorum). Cultivares resis-
1
l
1
tentes, quando disponíveis, devem ser priorizados, pois reduzem a demanda
1
por estratégias adicionais de controle. Avanços em biotecnologia diminuirão o
tempo para o desenvolvimento de cultivares• resistentes e ampliarão as possibi-
l 1
lidades de transferência de genes de interesse para a cultura da soja.
O uso de sementes sadias e tratadas, a rotação de culturas e o controle químico
são medidas que também merecem atenção especial dos produtores. O controle
químico, quando necessário, deve ser utilizado seguindo as recomendações
1
técnicas. Produtos de alta eficiência devem ser preferidos e estratégias antirre-
sistência de patógenos aos compostos ativos devem ser adotadas. A integração
de medidas de controle e a incorporação de novas abordagens biotecnológicas
podem permitir que o manejo de doenças da soja seja mais eficaz e ambiental-
mente sustentável.
1
•6
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252 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
1
'1• -- - •
~
• J
l
1
l
1
t AGRICULTURA DE PRECISÃO
1
'
1
14.1 VARIABILIDADE ESPACIAL NAS LAVOURAS
1
1
1
1
secas dentro delas. Entretanto, a avaliação visual humana e os ajustes manuais
1
1
nas operações não são mais possíveis, especialmente em grandes operações, e
'
r
1 assim passou-se a desenvolver técnicas e tecnologias que auxiliam nessa tarefa.
Ao conciliar a investigação da variabilidade com o conhecimento agronômico
1
já acumulado com o uso de máquinas cpm automação, é possível reproduzir
boa parte daquele detalhamento que o agricultor fazia no passado para geren-
ciar pequenas glebas.
•
t
Paralelamente, a agricultura moderna apresenta contradições, princi-
palmente de cunho ambiental. Especialmente os fertilizantes n1inerais, os
••
254 SOJA: DO l1 LANTIO À COLI-IEITA
14.3 DEFINIÇÃO DE AP
AAP tem várias formas de abordagem e mesmo definições, dependendo do ponto
de vista. A origem do termo advém do fato de as lavouras não serem uniformes
no espaço e no tempo. Assim, foram desenvolvidas estratégias com variados
níveis de complexidade para gerenciar os problemas advindos da desuniformi-
dade das lavouras. A Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão e Digital,
órgão consultivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, adota
uma definição para AP que estabelece que ''[...] trata-se de um conjunto de ferra-
mentas e tecnologias aplicadas para permitir um sistema de gerenciamento
agrícola baseado na variabilidade espacial e temporal da unidade produtiva e
visa ao aumento de retorno econômico e à redução do impacto ao ambiente''
{Mapa, 2017).
Bramley (2009) acrescenta um pequeno, mas importante componente,
sugerindo que AP é um conjunto de tecnologias que promovem melhorias na
gestão dos sistemas de produção com base no reconhecimento do fato de que o
''potencial produtivo'' das lavouras pode variar consideravelmente, mesmo em
pequenas distâncias (poucos metros). Assim, AP pode ser vista como a forma
de garantir que a estratégia gerencial mais correta seja adotada no local e no
momento correto.
A questão de incluir ou não o uso de Sistemas Globais de Navegação por
Satélites (GNSS) e suas derivações associadas aos sistemas guia e de direcio-
namento automatizado de. veículos agrícolas como parte da AP compreende
opiniões diferentes. Originalmente, AP está associada ao conceito de agricultura
com uso intensivo de informação (Fountas et al., 2005). O emprego de sistema de
direção automática e o controle de tráfego, por exemplo, não exigem e não estão
associados ao uso intensivo de informação espacializada do solo ou da.cultura e
não fariam parte desse contexto. No entanto, o mesmo Bramley {2009) defende
a ideia de que tais práticas e tecnologias podem ser consideradas dentro do
contexto da AP, na medida em que permitem ao usuário ~ aproximação com o
uso de recursos como GNSS, diminuindo sua dist-â ncia em relação aos conceitos
de mapeamento da produtividade e gerenciamento localizado das lavouras.
N
•
• • A
• • •
• • • • •
• • •
• • • • •
• • •
•• • • • Interpolação
• • • •
• • • •
•
• • P (mgdm·3)
• • • • Ponto amostral •~.- -
'
~
l <6
•
6 a 12
12 a 30
Fig. 14.1 Geração de um mapa de capacidade de troca de cátions (CTC) com base em amostragem de
solo em grade e interpolação das dados
•
1
• • •
•
• • •
• Ponto amostral teórico
• • • Subamostra
• • •
• •
Fig. 14.2 Grade amostral de pontos
e raio de coleta de subamostras
• • •
Dessa forma, cada uma pode ser gerida como uma unidade homogênea dentro da
lavoura, necessitando, portanto, apenas de uma ou poucas amostras compostas
para sua representação. As subamostras são então coletadas ao longo de toda a
área de cada UGD, formando uma amostra composta, e, assim, a UGD pode ser
vista como uma célula criteriosamente desenhada.
Essa abordagem visa medir, monitorar e ajustar os teores de nutrientes no
solo, mas, ao fazer a recomendação para uma dada aplicação, é necessário consi-
derar também os teores exportados pela(s) cultura(s) precedente(s). No caso da
soja, o destaque está nos teores de fósforo e de potássio. Se o mapa de produti-
vidade estiver disponível, é muito fácil e simples obter os valores especializados
desses teores, bastando adotar um valor de exportação compatível, obtido na
literatura especializada ou mesmo por análise de amostras locais, e utilizar
álgebra de mapas (operações matemáticas entre mapas). A Fig. 14.4 apresenta
o exemplo de um mapa de produtividade de soja e os consequentes mapas de
exportação de fósforo e de potássio, que, certamente, devem ser considerados
ao definir a próxima recomendação.
® ©
Fig. 14.4 (A) Mapa de produtividade de soja obtido com o monitor de produtividade na colhedara e
mapas de teores exportados de (B) fósforo e (C) potássio
® ©
4.4-4.S 3965-4034
. ~ ,i O- 201
...•'I
4.5-4.9 4034-4442 201-446 ~
446-942
Fig. 14.5 (A) Mapa de produtlvl~ade de soja obtido com o monitor de produtividade na colhedora. convertido
em .(B) fatu.ramento e (C) lucro
14 AGRICULTURA DE PRECISÃO 263
'
1
aplicar, em curtas distâncias; (b) aplicar calda em volumes variáveis em função
l• da maior ou da menor presença de biomassa; (e) realizar aplicação variada de
multiprodutos na forma de injeção direta dos seus princípios ativos. Nesse
contexto, também gradativamente entrarão em cena os veículos aéreos não
1 tripulados (VANTs/drones), de baixa autonomia, justamente para cobrir apenas
1
)
Outro desafio que recentemente tem sido apontado como limitante à produ-
tividade é a compactação do solo. Projeções de médio prazo dão conta de que
nossas máquinas ainda estão em fase de aumento de tamanho e, portanto, de
peso, indicando que os problemas tendem a se intensificar.
, . . . "
As tecn1cas de AP oferecem algumas alternativas para uma conv1venc1a
.
menos danosa com tais problemas. Uma dessas formas é a gestão dos níveis de
dureza do solo, tendo como referência intervenções localizadas - mecânicas e
biológicas. Para tanto, é necessário conhecer com detalhes a variabilidade espa-
cial de atributos físicos do solo, especialmente a textura, um investimento que
não necessita ser repetido. Uma das soluções mais recentes é a informação da
condutividade elétrica aparente do solo, que, normalmente, tem forte relação
com sua textura e é obtida com alta densidade espacial. Outra forma é inves-
tir diretamente na obtenção da informação relacionada à resistência do solo
à penetração, por meio de sensores denominados penetrômetros. Eles medem
o índice de cone, que é a relação entre a força aplicada para a penetração e a
área basal de um cone. A amostragem georreferenciada é uma alternativa para
o mapeamento desse parâmetro, mas tem apresentado algumas dificuldades.
É necessário fazer leituras em condição específica de teor de água no solo e
com alta quantidade de subamostras, pela dificuldade de representar o valor
do índice de cone para cada ponto amostral. Além disso, a alta variação desse
parâmetro em curtas distâncias, especialmente em razão do tráfego de máqui-
nas, demanda uma densidade amostral alta, o que pode inviabilizar a operação.
A medida preventiva mais promissora é o controle de tráfego com o auxílio de
sistemas de direção automática nos veículos agrícolas. O pressuposto é o planeja-
mento antecipado dos percursos e sua execução disciplinadamente repetida nos
mesmos locais. O planejamento visa reduzir impactos relacionados à sua opera-
ção, com minimização de tempos improdutivos em manobras, abastecimentos
e sobreposições. A execução objetiva produzir a menor área compactada de solo
pela passagem dos seus rodados. Esses rastros permanentes são mantidos como
faixas compactadas que também oferecem vantagens na melhor tração e desloca-
mento dos rodados. Sua implementação exige que as máquinas e suas operações
tenham a mesma largura ou, quando não for possível, múltiplos dela, de modo que
as passadas adjacentes estejam sempre nos mesmos lugares em todas as máqui-
nas que trabalham no campo. As bitolas de todas as máquinas devem coincidir,
perinitindo que passem exatamente no mesmo lugar ano após ano. Em sistema
de plantio direto, a colhedora define as bitolas dos rodados das demais máquinas,
0 que gera problemas relacionados à trafegabilidade entre as lavouras e em estra-
das. É evidente que essa técnica exige criterioso planejamento, investimento no
ajuste de larguras e bitolas das máquinas e em sistemas de direção automática em
todas elas e, acima de tudo, muita disciplina na equipe de operadores.
14 AGRICULTURA DE PRECISÃO 265
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAIO, F. H. R.; MOLIN, J. P.; POVH, F. P. Agricultura de precisão na adubação de grandes
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BRAMLEY, R. G. V. Lessons from Nearly 20 Years of Precision Agriculture Research,
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VISCA.RRA ROSSEL, R. A.; LOBSEY, C. Scoping Reuiew of Proximal Soil Sensors for Grain
Growing. Australia: CSIRO, 2016.
,.
COLHEITA
15.2 OESSECAÇÃO
Muitos produtores preferem iniciar a colheita quando a umidade dos grãos é
igual ou inferior a 13%, pois, dessa forma, não há necessidade de secagem antes
e
------- -- -
.
••
15 COLHEITA 267 1
1
do armazenamento, razão pela qual optam pela dessecação. Essa opção, apesar
de reduzir os custos, somente é favorável se não houver incidência de chuvas e
a temperatura permanecer amena após a maturidade (Câmara; Marques, 2001).
A dessecação da soja é obtida pela pulverização de substâncias químicas, 1
1
270 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
1 2 9
Terço superior
das plantas
I -· 0
Eixo do molinete 7
.• 1 1•
Barra de corte
l 1
15 a 30 cm
FIG. 15.2 Esquema parcial de uma plataforma FIG. 15.3 Barra de corte de uma colhedora: (A) vista
de corte ilustrando o posicionamento do eixo da geral de uma barra de corte, com 1) bqrra, 2) faca e
malinete de 15 cm a 3D cm à frente da barra de carte 3) condutor helicoidal; e (B) detalhe de construção
e a captação das plantas pelo molinete na terço da barro, com 1) guarda, 2) plo·ca de apoio, 3) placa
superior de desgaste, 4) barra da faca. 5) seção do faca, 6)
Fonte: Mesquita et ai. (1998). grampo e 7) barra de suporte
Fonte: Balastrelre (1987).
15 COLHEITA 271
l
1 1
de corte, e o molinete deve ser mais alto que as plantas, para permitir que os
travessões com os pentes toquem na metade superior delas, preferencialmente
no terço superior, no caso de lavouras uniformes. Dessa forma, o impacto dos 1
l
travessões contra as plantas será mais suave e evitará o seu tombamento na
frente da combinada no momento do corte (Fig. 15.2). 11
t
1 A altura do molinete varia de acordo com as condições das plantas nas (•
1
lavouras (eretas ou acamadas). Sua velocidade periférica deve ser 25% superior 1
1
à velocidade de deslocamento da combinada, o que corresponde, aproximada- 1
1
mente, a 14 a 21 rotações por minuto (rpm).
A barra de corte, acoplada na parte dianteira da plataforma, é composta por J
1
'
realiza o corte das plantas (Fig. 15.3). 1
1
\
A barra de corte deve estar alinhada, sem folgas, com as facas de corte 1
t
J
afiadas e funcionando livremente por entre as contrafacas, que devem estar '
!
retas, isto é, não entortadas nem quebradas. As pontas das facas devem tocar
levemente as guardas e, durante o seu curso, percorrer a distância de centro a .
'•
centro destas. A altura de trabalho das facas que proporciona o corte adequado
das plantas de soja oscila de 1,_5 cm a 10,0 cm. Já a altura da barra de corte deve 1
1
tram-se faixas de rotação desde 250 rpm Fonte: Mesquita et ai. (1998). 1
1
acordo com as diferentes horas do dia, ou seja, deve-se utilizar menores velo-
cidades nos períodos mais quentes do dia, quando as sementes se encontram
mais secas. Caso contrário, o índice de danificação por injúria mecânica sobre
as sementes será muito elevado (Ribeiro et al., 2007; Vieira; Silva; Vieira, 2006).
1
Atualmente, encontram-se colhe- '
doras combinadas, em que o sistema de Tab. 15.1 Perdas de sementes de soja por 1
1
r
(
274 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA
---
res, e a inferior, as impurezas miúdas.
A peneira superior permite a passa-
gem dos grãos trilhados e da palha
miúda (pedaços de vagens), vedando
....::::::::__,._ _ _ _ _.._~~------+---;:;-~~-(-
Ban e ão Peneira Extensao
a passagem das vagens não trilha-
ventilador inferior da pe~eira das e da palha graúda. Se a abertu.r a
su enor
dessa peneira for insuficiente, haverá
a condução de grãos para a retrilha;.
.
PIG. 15.6 Esquema do sistema de separação e limpeza de quando muito aberta, haverá sobre-
uma colhedara de grãos automotriz carga da peneira inferior.
Fonte: Mesquita et ai. (1998).
15 COLHEITA 275
Tab. 15.2 Alguns modelos de máquinas automotrizes disponíveis no Brasil para colheita de grãos
Capacidade
Plataforma Rotação do Rotação do Vazão de
Marcas1 Modelos do tanque
de corte (pés) rotor (~pm) cilindro (rpm) descarga (l/s)
graneleiro (L).
-
Capacidade
Plataforma Rotação do Rotação do Vazão de
Marcas 1 Modelos dotanque
de corte (pés) rotor (rpm) cilindro (rpm) descarga (L/s)
graneleiro (L)
1
JD =John Deere; NH =New Holland.
Fonte: Case IH Agriculture (s.d.), John Deere BR (s.d.) e New Holland Agrlculture (s.d.).
Tab. 15.3 Efeito do atraso da colheita sobre a qualidade das sementes de soja, expresso
pela emergência de plantas em casa de vegetação
Umidade das
Precipitação1 Emergência (0/o)
Datas de colheita sementes na colheita
(mm)
(º/o)
15 de março - 11,7 74,0
Tab. 15.4 Incidência (º/o) de microrganismos patogênicos em sementes de soja cuja colheita
foi sucessivamente atrasada
Datas de colheita
Microrganismos
15/3 17/3 19/3 22/3 26/3 1°/4
Phomopsis sojae 3,5 15,S 6,5 18,5 35,5 62,5
Fusaríum spp. 5,5 8,0 10,0 38,0 20,0 6,5
Cercospora kíkuchii 11,1 5,0 11,0 2,0 3,0 -
Alternaria spp. 2,5 1,0 0,5 - - -
Bacterioses 1,0 5,0 1,0 2,0 2,5 11,0
'
Portanto, devem ser considerados:
X O manejo da lavoura: compreende semeadura em terreno com topografia
adequada; bom preparo do solo; utilização de cultivares com características
favoráveis à colheita mecânica; emprego de espaçamento e densidade de
semeadura que possibilitem a formação de plantas com boas características,
permitindo o rápido sombreamento do terreno e o melhor rendimento das
combinadas; e controle adequado das plantas daninhas e adubação equi-
librada. É interessante, também, a diversificação de época de semeadura
associada ao manejo de diferentes cultivares, pois possibilita a ampliação
do período de colheita e o seu melhor planejamento. Entre os procedimen-
tos mais importantes para a redução das perdas, destaca-se a colheita no
momento adequado.
X A regulagem correta da máquina colhedora: engloba todos os seus componen-
tes, principalmente dos sistemas de corte e alimentação (molinete, barra
de corte, facas segadoras, condutor helicoidal ou de esteiras e esteira de
alimentação), de trilha (cilindro ou rotor, côncavo, cilindro batedor tr:aseiro)
e de separação e limpeza (bandejão, peneiras superior e inferior, saca-
-palhas, ventilador, condutores de grãos limpos e de retrilha, coletor de
pedras e tanque graneleiro). A velocidade de deslocamento mais adequada
é aquela que proporciona o melhor rendimento de trilha, associado aos
menores índices de perdas e danos mecânicos sobre as sementes.
15 COLHEITA 283
1
retangular são distribuídas de maneira que o lado maior seja transversal às linhas
colhidas, para melhor representatividade das perdas ocorridas. Sugerem-se pelo
menos cinco repetições por talhão colhido, considerando-se como talhão uma
área uniforme quanto ao cultivar, à data de semeadura e ao tipo de solo.
'
l
1
X Avaliação da produtividade agrícola: antes da passada da colhedora, monta-se
•
uma área de armação com 2,0 m x 0,5 m (1,0 m 2); coletam-se todas as plan-
tas que estão dentro dessa área; invertem-se as plantas (ponta-cabeça), as
quais são batidas (trilha manual) dentro de um saco de aniagem ou outro
recipiente de fundo fechado; separam-se os grãos das palhas; colocam-se
os grãos em um medidor pré-gabaritado ou pesam-se os grãos e determina-
-se o peso, com a transformação do valor em quilograma ou sacas de 60 kg
por hectare.
X Aualiação da perda total: monta-se uma área de armação na forma de retân-
gulo, cujo lado maior corresponde à largura da plataforma de corte, e o
lado menor, a 0,50 m. Dentro da área de armação, coletam-se todos os
grãos, livres ou presos às vagens, os quais são postos em um recipiente
í
e contados. Em seguida, é possível adotar três procedimentos: a) pesam-
-se os grãos colhidos, havendo para tanto necessidade de deslocamento até
uma balança de precisão, para detectar a massa em gramas; b) conhecendo
o cultivar colhido, contam-se os grãos na própria lavoura e, com base no
peso de cem sementes, calcula-se o peso dos grãos recolhidos na área de
armação; e c) trabalha-se com gabaritos de campo (copinhos medidores ou
' 1
[
tabelas de índices de perdas) previamente elaborados em escritório.
t1
Pedem-se:
1. Os valores de perdas de colheita em sacas por hectare e em porcenta-
gem(%).
2. As perdas totais de grãos em sacas.
3. O prejuízo unitário (por hectare) e total (lavoura).
Gabarito do exercício
1. 7,1 sacas ha-1 ou 12,2%.
2. 7.100 sacas totais.
3. R$ 532,50 ha-1 e R$ 532.500,00.
1
•
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15 COLHEITA 285
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... ..• .
• ... • ►
Para demonstrar a primeira parte descrita por Miceli (2008), na Fig. 16.1
apresenta-se um mapa que exemplifica a valoração da soja em relação a Peoria
(Illinois, EUA), um ponto de entrega para a Bolsa de Chicago.
FIG. 16.1 Valoração da soja do seu ponto de origem, em Peoria (EUA), até Roterdã (Holanda). CBOT =
Chicago Board of Trade; FOB = free on board; C/F = cost, insurance and freight
1
16 COMERCIALIZAÇÃO DE COMMODITIES AGRÍCOLAS E GESTÃO DE RISCOS 289
desviar a produção para um comprador que pague preço mais alto, deixando o
comprador original da produção sem o produto. Da mesma forma, o comprador
pode descumprir o contrato, não recebendo o produto previamente negociado
pelo vendedor, alegando problemas de qualidade, por exemplo, e posterior-
mente adquirir o mesmo produto de um terceiro com condições de preço mais
favoráveis. Fica claro que, para esses casos, existem remédios jurídicos que vão
,
desde as medidas de urgência, a exemplo das conhecidas ''cautelares de seques-
tro da produção'', até outras ações previstas no Código de Processo Civil, mas é
sempre recomendável fazer uma boa análise de crédito da outra parte antes de
negociar, pois esse mercado exige uma dose elevada de credibilidade entre os
seus operadores.
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O ..... , Ol·l7t1Cf
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1W1 l011 ...... ,..,_lt,.
no porto, carga no navio e efetivo recebi-
mento do pagamento do grão embarcado. FIG. 16.3 Tela de vencimentos da contrato de soja
Então, para não ficar exposto, ele deverá grão na CBOT
vender (posição short futuros) uma posi-
ção de igual valor no contrato futuro de maio. As posições comprado (Iong) físico e
vendido (short) futuros serão mais bem explicadas na seção seguinte.
No caso de um especulador, os ganhos podem ser obtidos através da opera-
ção de spread entre meses, decisão que deve ser tomada com base em técnicas
estatísticas, que não são objeto deste capítulo, mas que são operações bastante
comuns em todas as bolsas de futuros. Como exemplo, considere-se um especu-
lador que vende (posição short futuros) contrato futuro de julho a USD 877 ¼ bushel
e simultaneamente compra (posição long futuros) contrato futuro de novembro a
USD 880 ½, acreditando que o spread de +003 ¼ é estatisticamente pequeno e
deve se ''alargar". Se o spread abrir para +006, por exemplo, o especulador zera
as posições, realizando o ganho com a maior diferença. Uma situação real em
que esse spread poderia ser influenciado seria uma boa colheita das safras na
América do Sul, realizada entre fevereiro e abril, e uma quebra da safra nos
Estados Unidos, colhida em agosto a setembro.
Conceito de hedge
Um pouco mais sobre o que é hedge: se trata de um instrumento utilizado para
transferir a terceiros o risco de uma operação. Ou seja: é uma forma da empresa
ou o investidor se proteger contra as oscilações do mercado financeiro.
A prática é regulamentada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e só pode
ser aplicada em situações que realmente protejam o negócio da empresa ou
profissional. Investidores não podem fazer uso desta estratégia para fins espe-
culativos - apostas que objetivam ganhar lucros muito maiores do que a média .
•
significa fazer hedge no mercado financeiro
O que
Hedge é um termo muito utilizado no mercado financeiro, pois é um instru-
mento fundamental para proteger o investidor contra os riscos de mercado,
como variações de preços.
Neste caso, o investidor que utiliza este instrumento tem mais preocupação
em garantir o preço de um determinado ativo para uma compra ou venda
futura do que no lucro da operação. (O que é hedge ... , 2021).
de ·USD .1 75,00 e o pro.d utor vende cem contratos nesse nível de preço, travando
uma posição de USD 1.750.000,00.
- . - -- . - .--,,,,,.,n...,..._l!!IM:IS, I ldl ttz ....-- - ~
-
COMERCIALIZAÇAO DE COMMODITIES AGRICOLAS E GESTAO DE RISCOS
, - 295
•
e margem, sendo compensado pelos ganhos na bolsa .
O exemplo apresentado é o de um hedge perfeito, em que se excluíram
imperfeições que costumam afetar esse mecanismo de compensação. Além
disso, cabe mencionar que a convergência de preços entre o mercado futuro e o
mercado físico nem sempre culmina em um valor exatamente igual. Também
se excluíram taxas, emolumentos e corretagem, valores cobrados pela bolsa e
pelos corretores, e não se considerou nenhum ágio/deságio sobre a qualidade do
café, levando em conta uma qualidade idêntica à do contrato da bolsa.
Por fim, não se relataram os ajustes diários que ocorrem nas operações com
mercado futuro. Não se entrará neste último ponto, que não é relevante para este
capítulo, mas é importante que qualquer pessoa que pretenda operar em bolsa
entenda o mecanismo de ajuste diário, pois ele exigirá do hedger ou do e~pecula-
dor disponibilidade de caixa para contingências de mercado. Vale ressaltar que,
no caso das opções, não existe ajuste diário, mas paga-se um prêmio no início
da operação, que passa a ser mais previsível sob o ponto de vista da gestão de
caixa do hedger ou do especulador.
Derivativos são contratos que derivam a maior parte de .s~u v~lor de um ativo
subjacente, taxa de referência ou índice. O ativo subjacente pode ser físico (café,
ouro, etc.) ou financeiro (ações, taxas d~ juros, etc.), negociado no mercado à
vista ou não (é possível construir um derivativo sobre outro derivativo). Os
derivativos podem ser classificados em contratos a tern:io, contratos futuros,
opções de compra e venda, operações de swaps, e~tre <;>utros, cada qual com
, .
suas caractenst1cas.
Os derivativos, em geral, são negociados sob a forma de cc;,ntratos padroni-
zados, isto é, previamente especificados (qua·n tidade, qualidade, prazo de
liquidação e forma de cotação do ativo-objeto sobre os quais se efetuam as
• negociações), em mercados org~nizados, com o fim de proporcionar, aos agen-
l
tes econômicos, oportunidades_para a realizaçã9 de operações que viabilizem
a transferência de risco das ~utuações de preços de ativos e de vari.áveis
,. '
macroeconom1cas.
296 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
de preço do café físico). Por outro lado, se o mercado estiver em USD 140,00 no
vencimento, você simplesmente não exerce a put e perde o que pagou de prêmio.
Tab. 16.1 Precificação para a exportação direta de soj~ nos meses de m.arço e maio com base
nos valores empregados pela CBOT
Março de 2016 Maio de 2016
Cotação uso . 8,6875 uso 8,7125
Bushel
Prêmio (basis) uso 0,3400 uso '
0,2600
Conversão de bushe/ para Ton*
FOB estivado uso 331,72 uso 329,70
Ton
Fobbing uso 10,00
'
uso 10.00
•
298 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
5/ rodas porto
uso 19,30 uso 19,18
Saco
R$*** 70,77 RS 80,93
Valor líquido
uso 14,80 uso 14,66
Saco
RS 60,27 RS 61,01
*Multiplicar a soma da CB0T com a base por 36,7545.
**Multiplicar a subtração do fobbing com o F0B estivado por 0,06.
***Na conversão em R$, deve ser usado o cambio projetado para a data do embarque do lote, e não da sua
compra.
Fonte: Simconsult - elaborado por Agrosecurlty.
corretores do mercado físico. O cálculo que está sendo feito é para uma operação
no mercado a termo, pois se está calculando um preço de soja em janeiro para
ser entregue em março ou maio, de acordo com o que ficar negociado entre o
trader e o produtor rural. Cabe ao produtor escolher a melhor época para entre-
gar em função do cronograma de colheita e dos compromissos já assumidos
com esse ou outros compradores.
Então, sobre o valor de CBOT deve-se somar ou subtrair o prêmio que o
mercado está pagando naquele período de entrega. Note-se que existe uma redu-
ção no prêmio de maio em relação a março, o que se deve à maior oferta de produto
em maio, quando, além da soja de Cerrado, entram no mercado as safras dos Esta-
dos do Paraná e do Rio Grande do Sul, abastecendo todos os portos do Leste e do
Arco Norte. Depois de converter as cotações em toneladas, deduzem-se o fobbing,
que é o custo da estiva (serviço de movimentação de carga a bordo de navios nos
portos), e a documentação operada por despachantes aduaneiros. Posterior 1nente,
deduz-se o frete, que também varia de mês a mês em função da estimativa de
demanda por caminhões ou outro modal de que a compradora dispõe para operar.
Vale ressaltar, mais uma vez, a importância do frete para a empresa que
exporta, haja vista que não existe hedge de transporte rodoviário e a contratação
de caminhões é normalmente muito próxima do momento de transportar a carga.
urna alta no diesel, uma greve no porto ou um atraso na colheita por excesso de
chuva são exemplos do que pode dar errado para quem trabalha com projeção
de frete, o que representa a maioria dos exportadores. Contratos com ferrovia ou
hidrovia podem minimizar esse risco, mas estão disponíveis para poucas rotas
e poucas empresas, pois normalmente exigem um volume mínimo no formato
take or pay, o que ainda deixa uma parcela de risco para o contratantet mas ainda
menor do que para aqueles que dependem apenas do transporte rodoviário. Cabe
esclarecer que take or pay, no sentido estrito do transporte. são acordos entre um
transportador (ferrovias ou hidrovias) e uma empresa exportadora que obrigam
16 COMERCIALIZAÇÃO DE COMMODITI.ES AGRÍCOLAS E GESTÃO DE RISCOS 2 99
1s.10.2 Prefixação
É a prefixação de preço base CBOT + basis, definindo um preço que pode ser na
origem ou no porto. Mesmo se for sem pré-pagamento, trata-se de um contrato
a termo.
1&.10.3 Troca
Assemelha-se à prefixação com adiantamento em insumos agrícolas, configu-
rando, dessa forma, um contrato a termo pelo fato de já definir antecipadamente
o valor da commodity através da paridade insumo/produto. Por exemplo: 25 sacas
de soja por tonelada de fertilizantes 00.20.20 + 30 kg de zinco, a serem entregues
no Armazém XYZ na BR 163, km 153.
Cabe notar que, nos contratos de prefixação ou troca, podem ser usados
tanto a CPR e a CPR-F como contratos de compra e venda. No a fixar, somente é
viável a utilização de contrato de compra e venda.
'
A CPR-F é basicamente um instrumento para operações de crédito, não
envolvendo a comercialização da produção. Ela permite a liquidação financeira
(sem a entreg~ da produção) desde que sejam formalizados no título o preço ou
o índice de preços das mercadorias, a instituição responsável, o nome e as refe-
rências da sua publicação, e a praça ou o mercado de formação do preço.
Considerando os diferentes mer~ados orerados no Brasil, o Quadro 16.1
destaca os títulos e os contratos mais empregados em seus r_espectivos ambien-
tes de negócio.
Como o objetivo neste texto é abordar a comercialização das com,nodities,
não é possível concentrar-se demasiadamente nos tópicos relativos à gestão
de risco do preço, mas não houve como deixar de comentar os derivativos no
contexto do instrumento contratual das opções.
300 SOJA: DO PLANTIO A COLI-IEITA
,
Mercado
Tipos de contrato/título
•
mais comuns Risco relevante
13,5%
FIG. 16.4 Diferentes fontes de financiamento para a produção nas Regiões Centra-Oeste e Sul do Brasil
Fonte: Agrosecurity.
1
'
comum encontrar empresas que operam mais de 80% das suas vendas a prazo
safra (compreendendo os períodos de pré-plantio a pós-venda da safra). Nesse
contexto, as empresas comerciais brasileiras possuem, via de regra, estruturas
de crédito (recursos humanos e materiais) muito mais robustas do que as suas
congêneres em qualquer lugar do planeta. Como referência, empresas como
Monsanto, BASF e Bayer possuem equipes com 40 a 70 profissionais exclusiva-
, mente dedicados às ações de crédito, cobrança e barter. Dentro do ambiente de
distribuição de porte médio (faturamento entre R$ 75 milhões e R$150 milhões),
é comum encontrar equipes com três a sete profissionais envolvidos em work-
flow de crédito e cobrança. Essa realidade transforma empresas comerciais e sua
l
distribuição de revenda em verdadeiros bancos rurais e suas agências de varejo. '
.
Diante do exposto, resta a pergunta: por que, no Brasil, os bancos não assu- 1
i
mem a totalidade do crédito rural, como ocorre na Europa e nos Estados Unidos?
1
Isso acontece porque o Brasil não tem seguro rural para 90% das áreas cultiva-
das no País. As margens bancárias não justificam assumir os riscos clin1áticos
e/ou fitossanitários que são inerentes à atividade agrícola. Se houvesse 100%
de cobertura de risco por seguro, sem dúvida existiria uma matriz de financia-
mento mais próxima da que ocorre na Europa e nos Estados Unidos. ou seja.
bancos financiando 100% do crédito ao produtor.
... ...
302 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
,
larga escala tanto pelo sistema financeiro público e por cooperativas de crédito 1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CATANIA, P. J. Commodity Trading Manual. Chicago, IL: Chicago Board of Trade 1 1998.
410 p.
INTRODUÇÃO: o que são derivativos? .Portal do Investidor, [s.d.]. Disponível em: https://
1
www.investidor.gov.br/menu/Menu_lnvestidor/derivativos/Derivativos_introdu-
'
cao.html.
304 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
PRÊMIO para exportação fica negativo pela primeira vez na safra. Gazeta do Povo,
15 mar. 2013. Disponível em: https://www.gazetadopovo.corn.br/agronegocio/
agricultura/premio-para-exportacao-fica-negativo-pela-primeira-vez-na-safra
-333ov6iucyadr6 x4gwlfc82e0/.
'.
SILVA, F. P.; LAPO, L. E. R. Modelos de financiamento da cadeia de grãos no Brasil. ln:
CONFERÊNCIA EM GESTÃO DE RISCO E COMERCIALIZAÇÃO DE COMMODITIES,
2., BM&FBO VESPA, São Paulo, 2012.
SOUSA, E. L. L.; PIMENTEL, F. Study on Cédula de Produto Rural (CPR) - Farm Product
Bond in Brazil. Rural Finance Innovation Study. Washington: World Bank, 2005. •
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1
1
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