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Soja Do Plantio A Colheita 2° Edição - Felipe Silva

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1
1

.1

PREFACIO

No ano de 2019 a produção brasileira de soja superou a americana, tornando-


-se a maior do mundo. Isso se deveu ao nível tecnológico alcançado pelo produtor
desde a introdução dessa espécie no País. O sucesso deste livro, em sua primeira
edição, superou até mesmo as melhores expectativas. Considerando que o livro
técnico-científico precisa ser dinâmico e acompanhar a evolução da ciência, os
editores aproveitaram o ensejo para lançar a segunda edição da obra, reunindo
especialistas de diferentes instituições em cada uma das áreas abordadas.
A obra apresenta aos leitores, de forma clara e de fácil entendimento, as mais
recentes e relevantes tecnologias para a produção da soja no Brasil. Aproveite!

Os organizadores
~

SUMARIO
, ..
IMPORTÂNCIA ECONOMICA ............................................................................... 9
1.1 Origem da soja ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 9
1.2 Expansão da soja no Brasil ...................................................................................10
1.3 Aspectos econômicos ............................................................................................12
1.4 Perspectivas .........................................................................................................19
Referências bibliográficas ................................................................................... 20
..
2 BOTA NICA E FENOLOGIA ................................................................................... 23
spectos - .
taxonom1cos ........................................................................................ 23
2.1 A
2.2 Aspectos morfológicos ........................................................................................ 24
2.3 Aspectos fenológicos .......................................................................................... 35
2.4 Considerações finais ............................................................................................40
Referências bibliográficas ................................................................................... 40

3 EXIGÊNCIAS EDAFOCLIMÁTICAS ..................................................................... 44


3.1 Solos .................................................................................................................... 45
3.2 Luz ······················································································································· 45
3.3 Umidade ............................................................................................................... 50
3.4 Temperatura ......................................................................................................... 51
Referências bibliográficas ................................................................................... 52

4 PREPARO DO SOLO E PLANTI0 .........................................................................53


4.1 Preparo da área agrícola ...................................................................................... 53
4.2 Épocas de semeadura e população de plantas ..................................................... 61
4.3 Escolha da semente .............................................................................................. 61
4.4 Tratamento de sementes .................................................................................... 65
4.5 Inoculação e coinoculação das sementes ............................................................ 70
4.6 Semeadura ...... ................................................... ••·· ··............................................ 75
· . b·b1·
Referencias 1 1ogra. fi cas .................................................................................. . 83

5 ÉPOCAS DE SEMEADURA E POPULAÇÃO DE PLANTAS ••••••••••••••••••••••••••••••••••• 85


5.1 Épocas de semeadura e melhoramento genético ........................................ ....... 88
5.2 Épocas de semeadura .............................................. . . ' .... ... ... ............. ... ........... .. 9 O
5.3 População de plantas .. ............... ........... .................. ............................... .... ..... ... 100
5.4 Exercício sobre semeadura (relativo aos Caps. 4 e 5) .... • 1 f t 1 ♦ • ♦ • 1 • 1 ♦ t • 1 f t • • • • • ••• 1 • • •••••• • 1o7
Aeferências bibliográficas .. ........ .... .. .. ..... ....... ..... ... ............ ... ... .............. ... ..... ...107
6 - ..................................................................................................... 112
ADUBAÇAO
6.1 Nutrição da soja .................................................................................................. 113
6.2 Conceito de adubação ......................................................................................... 114
6.3 Avaliação da fertilidade do solo .......................................................................... 115
6.4 Adubação de correção para a cultura da soja .....................................................128
6.5 Adubação de manutenção para a cultura da soja ............................................... 133
Referências bibliográficas ................................................................................. 144

7 CULTIVARES ................................................................................................... 147


7.1 Características agronômicas de cultivares ........................................................ 148
Referências bibliográficas .................................................................................. 153

8 TECNOLOGIAS TRANSGENICAS ...................................................................... 155
8.1 Obtenção de plantas geneticamente modificadas ............................................ 156
8.2 Cultivares tolerantes a herbicidas ......................................................................159
8.3 Cultivares resistentes a insetos-praga .............................................................. 162
8.4 Tendências de cultivares transgênicos para o mercado brasileiro ..................... 166
8.5 Considerações finais ...........................................................................................167
Referências bibliográficas .................................................................................. 167

9 - E SUCESSAO
ROTAÇAO - ................................................................................... 171
9.1 Rota cão

de culturas ............................................................................................172
9.2 Sucessão de culturas ..........................................................................................173
Referências bibliográficas ..................................................................................175
- ................................................................................. 176
10 MANEJO DA IRRIGAÇAO
10.1 Demanda da soja por água .................................................................................. 177
10.2 Interação solo, água, planta, clima e sistema .................................................... 179
10.3 Manejo da irrigação ............................................................................................ 188
10.4 Irrigação na produtividade da soja ..................................................................... 191
Referências bibliográficas ..................................................................................192

11 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS .................................................................. 193


11.1 Épocas de manejo das plantas dani'nhas na cultura da soja ..................... ..... .. ..195
11.2 Métodos de controle de plantas daninhas ......................................................... 196
11.3 Escolha do herbicida a ser aplicado ................................................................... 202
11.4 Manejo de plantas daninhas em soja resistente ao glyphosote ......... ............... 203
11.5 Manejo e controle das plantas resistentes ao glyphosote ..••.....•....•.....••..• 204
11.6 Manejo de plantas daninhas e as novas tecnologias ................................. ....... 209
Referências bibliográficas .... ............................................................... .. ......... .. 209

12 MANEJO DE PRAGAS ...................................................................................... 211


12.1 Principais pragas na cultura da soja ....................................... .. ....... .......... ......... 212
12.2 Considerações finais .. ... ............................... .. ......................... ............ .............. 226
Referências bibliográficas .............. .... ..................... ................. . ....... ... ...... ..... 227

13 MANEJO DE DOENÇAS ..................................................................................... 233


13.1 Principais doenças da cultura da soja .......... .. ............ ... ... .. ... ...... .... ..... ............ . 234
13.2 Resumo das principais doenças e s eu cor1trole .... . ... ..,.. .. .. . .... .. .. ..... .. ... ... ... ... 246
1
13.3 Biotecnologia ..................................................................................................... 248
13.4 Considerações finais .......................................................................................... 249
Ref erenc1as 1 1ogra'fi cas ................................................................................. 249
. . b·b1·

14 AGRICULTURA DE PRECISÃ0 .......................................................................... 253


14.1 Variabilidade espacial nas lavouras ................................................................... 253
14.2 Um pouco de história ......................................................................................... 254
14.3 Definição de AP .................................................................................................. 255
1
14.4 Oportunidades e desafios da AP ....................................................................... 255
14.5 Gestão da fertilidade do solo no contexto da AP .............................................. 257
14.6 Produtividade ou lucratividade'? ....................................................................... 262
14.7 E os demais limitantes à produtividade'? .......................................................... 263
14.8 Considerações finais .......................................................................................... 265
Referências bibliográficas ................................................................................. 265

15 COLHEITA ••....••.....•••....•.•..............••.•...•..••.••.•.•......•..•.......•...........•.•.•.•.....•.... 266


15.1 Momento de colheita ......................................................................................... 266
15.2 Dessecação ........................................................................................................ 266
15.3 Sistemas de colheita .......................................................................................... 268
15.4 Componentes básicos de colhedoras automotrizes .......................................... 269
15.5 Perdas de colheita ............................................................................................. 276
15.6 Exercício sobre perdas de colheita ..................................................................... 284
Referências bibliográficas ................................................................................. 284

16 COMERCIALIZAÇÃO DE COMMODITIES AGRÍCOLAS E GESTÃO DE RISCOS •.... 286


16.1 Definição de commodity agrícola ....................................................................... 286
16.2 Mercado físico .................................................................................................... 287
16.3 Mercado a termo ................................................................................................ 289
16.4 Mercado futuro .................................................................................................. 290
16.5 Conceito de hedge ······························································································ 293
16.6 E o que são os derivativos agrícolas? ................................................................ 295
16.7 o que são e para que servem as opções em bolsas de futuros'? ....................... 296
16.8 Importância da logística na formação de preços ............................................... 297
16.9 Formação de preços no mercado físico usando o mercado futuro ................... 297
16.10 Principais contratos operados no mercado brasileiro ....................................... 299
16.11 Crédito de custeio e comercialização de commoditles ...................................... 300
16.12 CPA, um case brasileiro ...... ............................................................................... 302
16.13 Considerações finais· ························································································· 303
· b·bt·
Referências ' ,ogra~ fi cas ··• ·············································································· 303
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

André Ricardo Gomes Bezerra


EngenJ,eiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Pesquisador da Fundação MS Para Pesquisa e Difusão de
Tecnologias Agropectlárias. E-mail: andrebezerra@fundacaoms.org.br

Tuneo Sediyama
EngenJ1eiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Uniuersidade Federal de Viçosa.
E-mail: tu11eo@ufu.br

Aluízio Borém
Engenheiro-Agrônomo, M.S., PJ1.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: borem@ufu.br

Marcos Morais Soares


Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor do Centro Universitário Luterano de Palmas.
E-mail: marcos.ms@ceulp.edu.br

1.1 ORIGEM DA SOJA


A soja cultivada (Glycine max [L.] Merril) é originária do leste da Asia. mais preci-
samente do nordeste da China. região conhecida tan1bém como Mancl1úria
(Hymowitz, 1970). Considerada uma das culturas mais antigas, a soja cl1egou ao
Ocidente no final do século XV e início do século XVI. Após seu surgime11to na
China, a soja cultivada permaneceu no Oriente pelos dois milênios seguintes. Isso
é atribuído ao fato de a agricultura chinesa não ter sido levada a outras partes do
mundo (Harlan, 1975). Com o aumento de sua importância e do comércio, essa
legumi11osa foi levada para o sul da Cl1ina, a Coreia, o Japão e o sudeste da Ásia.
Na Europa, a soja foi plantada pela primeira vez em 1739, no Jardim
Botânico de Paris, e, en1 1770, em Kew. na Inglaterra (Sediyama et al., 1985).
Sua c]1egada às Américas ocorreu entre o .final do século XVII e o início do século
XVIII, nos Estados Unidos, na região da Pensilvânia (Piper; Morse, 1923). Nos 50
ar10s seguintes, a soja foi introduzida em muitos jardir1s botânicos do Estado de
lv1assachusetts (Bonetti, 1981). A11os 111ais tarde, em 1882. uma soja de semente
arr1arela foi cultivada na Estação Experimental de Carolina do Norte Por voltJ de
]880, a mQioria das estações experimentais de agricultura realizava experi1nen -
to s com sojJ (Piper; Morse, 1923).
10 SOJA: DO PLl\NTIO A COLHEITA

Ainda no século XIX, a soja tornou-se conhecida no Canadá, nas Filipinas,


na Argentina, no Egito e em Cuba (Sediyama et al., 1985). No Canadá, foi cultivada
inicialmente em pequena escala, como forrageira. Assim como na Inglaterra, a
maioria dos cultivares testados no Canadá precisava de um período luminoso
maior para completar seu ciclo.
D'Utra, em 1882, fez o primeiro relato da soja no Brasil, na época cultivada
na Bahia. No entanto, os cultivares introduzidos, oriundos dos Estados Unidos,
não tiveram boa adaptação numa latitude em torno de 12º Sul (Sediyama;
Teixeira; Barros, 2009). Em 1908, imigrantes japoneses introduziram a soja em
São Paulo, em latitude em torno de 22º Sul, cujas primeiras observações foram
feitas no Instituto Agronômico de Campinas (IAC} (Embrapa, 1974; Sediyama
et al., 1985). Nessa região, a soja apresentou melhor desenvolvimento que na
Bahia (Sediyama; Teixeira; Barros, 2009).
Todavia, foi no Rio Grande do Sul que a soja encontrou condições climáticas
favoráveis a seu desenvolvimento, uma vez que eram semelhantes às de sua
região de origem, de onde esses cultivares foram trazidos. Sua introdução nas
terras gaúchas foi atribuída a E. C. Craig, então professor da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS) (Santos, 1988). Nas décadas seguintes, essa legu-
minosa serviu como cultura experimental em algumas instituições de pesquisa
e, provavelmente, como planta hortícola entre os descendentes de imigrantes
japoneses (Bonetti, 1981). Na década de 1960, a soja já era cultivada em todas as
regiões do Rio Grande do Sul (Conceição, 1986). Com o sucesso obtido na Região
Sul e graças aos investimentos em pesquisas de fertilidade do solo e implanta-
ção dos programas de melhoramento genético, a sojicultura pôde avançar run10
ao norte do País.

1.2 EXPANSÃO DA SOJA NO BRASIL


A produção de grãos de soja em escala comercial teve início no Rio Gra11de do
Sul, por volta de 1935. A Alemanha, em 1938, foi o primeiro país i1nportador
de soja brasileira. Em 1941, a soja constava pela primeira vez nas estatísticas
gaúchas, com uma área cultivada de 702 ha. A partir de 1950, essa leguminosa
expandiu-se para o Sudeste, o Norte e o Nordeste (Sediyama; Teixeira; Barros,
2009). No Sul do Brasil, ela era produzida unicamente com a fi11alidade de ser
utilizada in natura na alimentação de suínos. Na década de 1950, foi instalada no
País a primeira indústria de extração de óleo, com fins alin1e11tícios, que passou
a ser mais um atrativo à cadeia produtiva da soja.
o progresso da sojicultura não se deve somente à boa aclimatação dos
cultivares introduzidos às condições do Sul do Brasil, consideradas semelhan-
te:-s àq11 elas de origem. Outros fatores tiveram sua i1nportância e contribuíram
p ara a e Y.pan são da soja: i) aque cimento do n1ercado int e rnacional 11a década
1 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA 11

de 1970, que, posteriormente, avançou para o mercado interno; ii) estabeleci-


mento de parque industrial de processamento de soja, máquinas agrícolas e
insumos; iii) organização em redes de pesquisa dos setores público e privado;
iv) baixo valor da terra, devido à ampliação da fronteira agrícola; v) topografia
plana dos solos do Cerrado; vi) desenvolvimento de tecnologias para produção
em baixas latitudes, nos aspectos genéticos e de fertilidade do solo; vii) regime
pluviométrico favorável, coincidindo com o período de entressafra da produção
dos Estados Unidos; e viii) políticas governamentais {Embrapa Soja, 2005).
A pesquisa fitotécnica no melhoramento genético da soja foi fundamental
para sua expansão no território nacional. No Rio Grande do Sul, muitas institui-
ções estavam envolvidas, trabalhando em projetos semelhantes ou paralelos.
Entre esses órgãos encontravam-se aqueles da iniciativa privada, como o Insti-
tuto Privado de Fomento à Soja (Instisoja), e as instituições públicas, como
universidades, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e órgãos estaduais de pesquisa
agropecuária. Os principais objetivos das pesquisas foram aumento da produ-
tividade e da resistência a pragas e doenças, adubação, densidade e época de
semeadura. A Embrapa e o IAC tiveram papel fundamental no melhoramento
genético da soja, resultando no lançamento de vários cultivares, inclusive
aqueles com período juvenil longo, fundamentais para a expansão da soja para
o Cerrado e o Centro-Oeste brasileiro {Medina et al., 1981).
A soja pode ser considerada a cultura responsável por provocar impor-
tantes mudanças na base da produção brasileira a partir da década de 1960.
Em nenhuma outra cultura houve tamanho incentivo estatal por meio de polí-
ticas de financiamento e incentivo à cadeia produtiva. Até mesmo em políticas
não destinadas à soja, esta se beneficiava, como nos programas de incentivo à
ocupação da região dos Cerrados (Campos, 2010). Na década de 1960, por exem-
plo, a partir da lavoura colonial, quando se iniciou o cultivo sucessivo trigo-soja
no Rio G1·ande do Sul, foi implantado o projeto conl1ecido como Operação Tatu,
que realizava a calagem e a correção da fertilidade do solo. A política governa-
mental visando à expansão da cultura do trigo resultou, portanto, no incremento
da produção de soja. Em consequência. o Brasil partiu de uma participação de
0,5% na produção total de soja do mundo nos anos de 1954 a 1958 para atingir a
marca de quase 16% em 1976.
Em meados da década de 1970, quando as lavouras de soja se limitavam
apena s à Região Centro-Sul, a produção brasilei1·a dessa leguminosa e1~a supe-
ri o r a 12 milhões de toneladas (Fig. 1.1). A área cultivada já estava próxima de
sete mill1õe s de l1ectares, con1 produtivid.ade média de ;1.748 kg l1a-1 .
Con1 a consolidação da soja na região do Cerrado, o Brasil to1·nou-se o
seg u n do p rodutor mundial dessa cult ura, perdendo apenas dos Estados Unidos.
12 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

En1 40 anos de cultivo de soja nessa região, a produção cresceu quase sete vezes,
enquanto a área cultivada aumentou quatro vezes. Na safra 2018/19, a produção
brasileira foi de 115 milhões de toneladas, numa área cultivada de 35,8 milhões de
hectares, com produtividade média de 3.206 kg ha-1 • Esse progresso deve-se, em
grande parte, às pesquisas e às tecnologias desenvolvidas desde sua introdução
no País, garantindo lavouras de soja em grande extensão do território nacional.

120,0 - -Produção -Area

100,0

80,0 -

60,0

40,0

20,0


, .
.
Fig. 1.1 Evolução da pr?duçãa (em toneladas) e da área (er:r7 L~~C~(!res) de soja na Brasil .
1

Fonte: Conab (2020). · r


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1.3 ASPECTOS ECONÔMICOS '


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Apesar de não ser conhecida mundialment·e como alimento básico (ao contrário,
por exemplo, dos cereais trigo, arroz, milhq e aveia), a soja, uma oleaginosa, é
uma das culturas mais importantes do mundo, principalmente como fonte de
proteína e óleo vegetal. O grão de soja é rico e~ proteínas, cujo teor pode variar
entre 30% e 53%, sendo o teor médio dos cultivares brasileiros de 40%. Já o teor
de proteínas na semente de soja, em média de 20%, pode encontrar variações
entre 13% e 28%.
Essas características da planta de soja fazem dela importante matéria-prima
e possibilitam seu emprego como adubo verde e forrageiro na alimentação
animal. O óleo extraído de seu grão é utilizado na alimentação huma11a, na
produção de biodiesel, como desinfetante. como lubrificante e pa1·a outros fins.
O farelo é impo1·tante na alimentação l1umana e animal e na fabricação de
outros prod_utos.
Em razão da qualidade da proteína da soja e do baixo custo relativo de sua
produção, essa oleagi11osa tornou -se importante fonte proteica para a comple -
n1entação da die ta, JJrincipal1ne nte nos países en1 desenvolvime11to. Con10 se
ob se rv a na Fig. 1.2, a soja é a principal fonte de farelo proteico 110 mu11do. Ao todo,
1 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA 13

são produzidos quase 240 milhões de toneladas, o que representa mais de 70%
do total de farelo proteico ofertado no mundo. Outras fontes de farelo, como a
canola, o girassol e o algodão, representam significativa fatia, mas longe de supe-
rar a soja no médio e no longo prazo. Farinhas de origem animal, como a de
peixe, tendem a perder espaço, em virtude do risco de transmissão de zoonoses.

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Fig. 1.2 Fontes de farelo
proteico no mundo
Fonte: USOA (2019a).

Segundo a FAO (2013), a quantidade de proteína disponível por pessoa/dia no


mundo aumentou 13% entre 1990 e 1992 e entre 2007 e 2009. No entanto, a África
ainda continua com baixo índice desse indicador em comparação com outras
regiões. A participação dos produtos de origem animal no fornecimento de proteína
também tem crescido mundialmente, sobretudo em países em desenvolvimento.
O consumo per capita de proteína pela população dos países em desenvol-
vimento cresceu significativamente desde os anos 1990. De 61 g diários, passou
para 72 g em 2008, ou seja, houve incremento de 15% (Fig. 1.3). Nos países desen-
volvidos, o aumento referente ao mesmo período foi de 4,8%. Considerando-se o
maior poder aquisitivo da população desses países, o consumo de proteína em
praticamente duas décadas é muito pequeno. A n1elhoria da renda dos países
em desenvolvimento, a participação da proteína vegetal diretamente na dieta e
0 aumento da oferta de carnes de suínos e aves, a menor custo, fo1·an1 aspectos

importantes no incentivo ao maior consumo de proteína.


A produção de aves e suínos, que ten1 como base da ração o farelo de soja,
teve seu desenvolvin1ento atrelado à produção dessa oleaginosa, como ocorreu
no Brasil a partir da década de 1970. A demanda por farelos está diretamente
relacionada à den1anda de carnes. O farelo de soja garante a produção de carnes a
• custo mais baixo e, dessa forma, países produtores se benefician1 da oferta local
e de preços mais baixos. Como consequência direta, o preço da carne é 1·ecluzido.
Para exemplificar essa situação, na Fig. 1.4 constan1 os valores da produção
bra sileira de farelo de soja e Célrnes de aves e suínos. Verifica-se qt1e a [Jrodução de
14 SOJA: DO PLAN'flO À COLHE11'~f\ I

ca1·11es cresce num ritmo compatível com o da oferta de farelo. De 2003 a 2016 a
oferta de farelo aumentou 40%, enquanto a produção de carnes de aves e suínos
cresceu 30% e 70%, respectivamente, nesse mesmo período. Os incrementas na
produção de carne não resultam apenas da maior oferta de ração, devendo ser
considerados ainda os ganhos obtidos com o melhoramento genético dos plan-
téis e as melhorias na cadeia produtiva.

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Fig. 1.3 Consumo 20


·diário de proteína
-
nos pa1ses
desenvolvidos e em í

desenvolvimento
Fonte: FAO (2013).
Países em desenvolvimento D Países desenvolvidos

Produção em 1.000 t 30.229

21.407

12.900
••• •••• ••• ••• •••••••• •
Fig. 1.4 Produção 7 .840 ••• • • • • • • •
• • • • • • • • ••
• •• 3.731
brasileira de farelo
2.697
de soja e carne de -----·-·· -- ---·······-·········--······-····-
-
aves e su1nas
Fonte: Ab.iove (2019)
e ABPA {2019). - - Farelo • • • Aves - - - Suír10s

Entre as fontes de óleos vegetais disponíveis no mundo, a soja represe11ta


56% do total ofertado, o que corresponde a 3411nilhões de toneladas (Fig. 1.SA).
O óleo de outras fontes, como a canela, o algodão, o girassol e o amendoi1n,
equivale a quase 40% da oferta mundial de óleos vegetais.
No Brasil, o óleo de soja representa quase 90% da prodt1ção de óleos vege-
tais, e o de algodão, considerado a segunda maior fonte, equivale a ape11as
6% (Fig. 1.5B). A produção de óleo de soja tem suas va11tagens em relação às
den1ais culturas, co1no a maior produtividade. Por exe1nplo, em 1 l1a de soja é
,. ....
l 1 IMPORTANCIA ECONOMICA 15

possível obter de 486 kg ha-1 a 1.080 kg ha- 1, enquanto, numa mesma área de
1
canola, obtêm-se 504 kg ha- de girassol, 644 kg ha- e de algodão, 69 kg ha-
1; 1;

(Mourad, 2006).

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1 ~ Fonte: USDA (2019a).

Com a incorporação do biodiesel na matriz energética brasileira, a partir de


l
1 2013 tornou-se obrigatório o aumento de 2% para 5% de biodiesel no diesel
de petróleo. Até o n1omento, o óleo de soja tem sido a principal matéria-prima
1
I para a produção de biodiesel, seguido do sebo ou gordura animal e do óleo de
1

1
algodão. Nos primeiros dez meses de 2014, dos mais de 2 milhões de metros
'
1

1
1
cúbicos de biodiesel produzidos, 74,8% o foram a partir de óleo de soja, 21,3%,
de gorduras animais, 2,2%, de óleo de algodão e o 1,7% restante, con1 base em
outras matérias-primas (Abiove, 2014).
A produção de oleaginosas é motivada basica1nente pela den1anda de f are-
los e óleos. Em consequência, a produção 1nundial de oleaginosas equivale a
aproximadan1ente 20%, e1n média, de toda a produção de grãos do planeta
(Tall. 1.1). No Brasil, a parcela de oleaginosas é igual a 50% da produção de grãos .
16 SOJA : DO PLANTIO A' CO LH EI TA •

Entre as oleaginosas, a soja é considerada a de maior destaque, tanto mundial


quanto nacionalmente. Sua produção equivale a pouco mais de 60% do total
de culturas oleaginosas no mundo e quase 95% no Brasil, considerando as três 1

safras indicadas na tabela.

Tab. 1.1 Produção de grãos, oleaginosas e soja no mundo e no Brasil


Mundo -1.000 t Brasil - 1.000 t

2017/18 2018/19 2019/20 1 2017/18 2018/19 2019/20 1

Grãos+ 227.679 242.139 238.970


3.172.090 3.200.270 3.205.620
oleaginosas

Oleaginosas 556.090 575.270 553.620 125.680 121.800 127.600

Soja 341.620 362.070 341.830 119.281 115.030 123.000

1 Estimativa de setembro de 2019.


Fonte: USDA (2019b) e Conab (2020).

A produção de soja no mundo bateu recorde na safra 2018/19, com


362 milhões de toneladas em uma área de 124,95 milhões de hectares. Ela
restringe-se a praticamente três nações, Estados Unidos, Brasil e Argentina,
que, juntas, são responsáveis por cerca de 80% da soja consumida no mundo
(Tab. 1.2).

Tab. 1.2 Principais países produtores de soja no mundo



Area Produção
Produtividade média
(milhões de (milhões de toneladas)
(t ha-1)
País hectares)

2017/18 2018/19 2017/18 2018/19 2017/18 2018/19

Estados 120,1 123,7


36,2 35,7 3,3 3,5
Unidos

Brasil 35,2 35,9 3,5 3,3 122,0 117,0

Argentina 16,3 16,6 2,3 3,3 37,8 55,3

China 8,3 8,4 1,9 1, 9 15,3 15,9

fndia 10.4 11,0 0,8 1,1 8,4 11,S

Paraguai 3,4 3,3 3.0 2,7 10,3 9,0

Canadá 2,9 2,5 2,6 2,9 7,7 7,3

Outros 11, 9 14,6 - - 20,1 22 ,5

Mundo 124,6 128,0 2,7 2,9 341,6 362,1

ronte : USOA (20 19b) e Cona b (2 020)


1
A ,-.

IMPORTANCIA ECONOMICA 17
'

Nos últimos anos, a cadeia produtiva da soja teve grande participação na


balança comercial brasileira. A receita proveniente das exportações de deriva-
dos da soja em 2018 superou os US$ 40 bilhões, representando mais de 16% do
1

PIB do agronegócio desse ano (Mapa, 2013; Abiove, 2019).


O Brasil ocupa atualmente a posição de maior produtor mundial de soja,
com 135,9 milhões de toneladas produzidos na safra 2020/21 (Conab, 2021). Vale
ressaltar que o Brasil já havia liderado por alguns anos o ranking de produtivi-
1
dade de soja. Todavia, na safra 2018/19, essa produtividade foi de 3,206 kg ha- ,

em razão da ocorrência de veranicos durante a estação de cultivo, enquanto


Estados Unidos e Argentina tiveram suas médias de produtividade iguais a
3,470 kg ha-1 e 3,330 kg ha- 1 , respectivamente.
A aproximação dos números da produção brasileira aos dos Estados Unidos
tem sido possibilitada por uma série de fatores. Entre eles, uma forte estiagem

.
1
que atingiu os Estados Unidos em 2012 e a redução da área de soja para o plantio
de milho, em atendimento à demanda americana por etanol, reforçando assim
as previsões de Dall'Agnol (2011). Outro aspecto importante do crescimento da
produção brasileira é que, além do incremento de áreas de pastagens degradadas
ao sistema produtivo, houve, também, aumento acima de 20% na produtividade
nos últimos dez anos. Sob tais circunstâncias, esse crescimento demonstra o
quanto o sistema produtivo da soja tem se preocupado com o aspecto ambiental.
Outros fatores de sucesso da soja podem ser atribuídos ao aumento da popu-
lação mundial, que cresce num ritmo de 70 milhões de habitantes por ano; ao
aumento da renda per capita, que se associa às mudanças nos hábitos alimenta-
res, com incrementas no consumo de proteína animal, a qual, em sua maioria, é
produzida a partir do farelo de soja; e à substituição de rações de origem animal
pelo farelo de soja, em face da iminência de riscos de transmissão de zoonoses.
Além disso, a partir da soja, podem ser feitos produtos alternativos que servirão
como matéria-prima para a indústria de biodiesel, de tintas, de lubrificantes, de
plásticos e outros.
os mais de 38 milhões de l1ectares utilizados para o cultivo da soja brasi-
leira na safra 2020/21 abrangem terras de 20 Estados, incluindo o Distrito
Federal (Tab. 1.3). O Estado de Mato Grosso é a principal referência do País em
cultivo desse grão. Com área plantada próxima de 10 1nill1ões de hectares, esse
Estado produziu, na safra 2020/21, 35,8 milhões de toneladas. A produção de
Mato Grosso corresponde a 26% do total do País e lhe confere o título de maior
produtor brasileiro de soja. Na sequência, Rio Grande do Sttl, Paraná, Goiás e
Mato Grosso do Sul con1pletam a lista dos cinco maiores produtores. Jt1ntos,
respondem por cerca de 80% da soja brasileira, estando os 20% 1·estantes distri-
buídos entre outros 15 Estados. Minas Gerais e Bal1ia l1á alguns anos revezam o
s exto lugar e ambos produzem acima dos cinco mill1ões de to11eladas do gr~10 .
18 SOJA: DO PL.ANTIO ,\ COLHEITA

Tab. 1.3 Area cultivada e produção brasileira de soja por Estado


Safra 2019/20 Safra 2020/21
• •
UF Area Produtividade Produção Area Produtividade Produção
(milha) (kg ha- 1) (1.000 t) (milha) (l<g ha-1) (1.000 t)
MT 10.004,1 3.587 35.884,7 10.297,2 3.485 35.885,7
RS 5.901,8 1.939 11.443,6 6.055,2 3.433 20.787,5
PR 5.502,7 3.925 21.598,1 5623,8 3.535 19.880,1 ,
GO 3.545,1 3.712 13.159,4 3.697,0 3.715 13.723,2
MS 3.016,4 3.763 11.362,8 3.149,1 3.630 11.431,2
BA 1.620,0 3.779 6.122,0 1.701,0 4.020 6.838.0
MG 1.647,3 3.747 6.172,4 1.899,3 3.697 7.021, 7
SP 1.109,8 3.567 3.958,7 1.162,0 3.700 4.299,4
TO 1.078,0 3.322 3.581,1 1.119,0 3.151 3.526,0
MA 976 .4 3.206 3.130.3 1.005,7 3.267 3.285,6
se 680,6 3.310 2.252,8 696,3 3.395 2.363,9
PI 758,9 3.377 2.562,8 834,8 3.258 2.719,8
PA 607,4 3.061 1.859,3 731,9 3.048 2.230,8
RO 348,4 3.541 1.233,7 396,S 3.468 1.375,1
DF 74,50 3.900 290,6 78,50 3.720 292,0
RR 49,8 3.044 151,6 70,0 2.800 196,0
AP 20,9 2.837 59,3 5,3 2.420 12,8
AM 2,3 2.300 3,4 4,3 3.000 12,9
AL 1,3 3.430 4,5 2,1 3.600 7,6
AC 4,0 2.939 11,8 6,1 3.775 23,0
Brasil 35.973,3 3.314,3 121.712,6 38.535,1 3.405,85 129.074,3
Fonte: Conab (2020).

Apesar de ser o maior produtor nacional e detentor da mais avançada tecno-


logia de produção do País, Mato Grosso não possui de forma unânime a 1naior
média de produtividade, em razão do sistema produtivo adotado. Para a realização
da segunda safra, os produtores de soja plantam cultivares com ciclo mais curto
e, por conseguinte, produzem menos por unidade de área, oscilando, com isso,
a produtividade. Na última safra, a maior produtividade foi registrada na Bal1ia
1
(4.020 kg l1a- em razão da boa distribuição de cl1uvas durante o período de cultivo.
),

Apesar de a produção brasileira concentra1~-se basicamente nas Regiões Sul


e Centro-Oeste, os Estados do Norte e do Nordeste se destacan1 con10 pron1is-
sores para o cultivo da soja. Nos Estados do Sul e do Sudeste, a soja compete
com outras culturas de interesse econômico e dificilmente avançará sobre essas
lavouras . Dessa forma, surge a nova fronteira agrícola conhecida como Matopiba,
que reúne os Es tados de Maranh ão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde há a possibili-
dade de exp<.1nsão de ca mpos produtivos e1T1 terras agricultáveis e de baixo custo.
1 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA 19

Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab; série


histórica), nos Estados que compreendem essa nova fronteira agrícola, a área
plantada em 2000/01, que era de 1,03 milhão de hectares, passou para 4,4 milhões
em 2018/19, um incremento de 330%. A produção, que era de 2,2 milhões de
toneladas em 2000/01, saltou para 13,4 milhões em 2018/19, representando um
crescimento superior a 600%. Enquanto isso, no restante do Brasil, a área plantada
e a produção avançaram em menor ritmo. Logo, é notório que a nova fronteira
agrícola cresce em ritmo superior ao das demais áreas produtoras do País.

1.4 PERSPECTIVAS
Nos próximos anos, a população mundial e o poder aquisitivo continuarão incre-
mentando as economias emergentes, principalmente as dos países asiáticos,
onde está o maior potencial de consumo. Segundo estudos, em 2050 a popula-
ção da Terra atingirá 9 bilhões, o que demandará 333,6 milhões de toneladas de
alimento (Alexandratos; Bruinsma, 2012).
Em virtude da grande importância da soja na alimentação humana e animal,
além de suas inúmeras aplicações industriais, a demanda por seu grão será cres-
cente nos próximos anos e, por essa razão, o cenário futuro para a soja é o melhor
possível. Projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United
States Department of Agriculture, USDA) estimam que, em 2022/23, a produção
I
mundial de soja deverá ser próxima de 345 milhões de toneladas (Tab. 1.4). O USDA
1
t previu também em 2012 que o incremento da safra 2022/23 seria da ordem de 29%
1
em relação à safra 2012. Para o período entre 2012 e 2022/23, foi estimado que
1 a produção brasileira deveria superar 115 milhões de toneladas, ou seja, 41% a
1
1
1 mais que a safra 2012/13. Mas essa previsão se concretizou três anos depois, de
1

1
maneira que em 2022/23 a produção brasileira de soja deverá alcançar novo pata-
t

mar. outra projeção em longo prazo estima que, em 2050, a produção de soja em
1

todo o mundo será de 390 mill1ões de to11eladas.
1

Tab. 1.4 Oferta e demanda de farelo, óleo e soja em grão


2002/03 2012/13 2022/23 2050 1

Produção mundial (1.000 t} 196.869 267.483 345.153 390.000

Consumo mundial (1.000 t} 191 .095 257.910 344.361

Importações mundiais (1.000 t) 53.090 94 .832 144.292

Produção brasileira (1.000 t) 69.914 81.456 115 .512

Consumo mundial de f areia (1.000 t) 130.011 183. 389 242.858

Con s umo mundial de óleo (1 .000 t) 30.157 43 .907 58.154

'Proj eça o FAO ~ Alexandr al os e Brulnsma (2012)

Fon t t.: . tJ SOA (2 019) e Con ab (2020 , 20 21) .


1
.2 0 SOJA: DO PLAl\JTI O À COLH EITA

A demanda por farelo de soja também deverá crescer para atender ao


mercado de rações. Com a melhoria da renda per capita, o consumo de proteína
animal também deverá aumentar. Em 2022/23, o consumo de farelo de soja no
mundo está estimado em 242,8 milhões de toneladas, sendo que, atualmente,
são consumidos 231 milhões. Há também crescimento eminente na demanda
pelo óleo da soja para fins alimentícios e como matéria-prima na produção de
biodiesel. A demanda de óleo em 2022/23 deverá dobrar em comparação àquela
registrada na safra 2002/03.
Não há dúvidas de que a sojicultura será uma atividade lucrativa nos próxi-
mos anos, pois haverá demanda e poucos países aptos a atendê-la. Estados Unidos
e Argentina não terão capacidade de aumentar a área plantada como o Brasil.
Além disso, a necessidade de produzir outras culturas e a atividade pecuária os
impedem de expandir a área de soja. Segundo a FAO (2013), a produção agrícola
mundial cresceu em média 2% a 4% ao ano nas últimas cinco décadas, enquanto
a área cultivada (lavouras permanentes e terras aráveis) cresceu apenas 1%.
Entretanto, mais de 40% do aumento na produção de alimentos provém de áreas
irrigadas, que dobraram de tamanho. Nessas circunstâncias, poucos países
terão condições de produzir para suprir as necessidades do planeta, e o Brasil
estará nesse pequeno grupo.
No mundo, terras agrícolas potencialmente acessíveis estão desigual-
mente distribuídas entre regiões e países. Cerca de 90% localizam-se na
América Latina e na África Subsaariana, com metade concentrada em apenas
sete países: Brasil, República Democrática do Congo, Angola, Sudão, Argentina,
Colômbia e Bolívia. No outro extremo, não há praticamente nenhuma terra
livre disponível para expansão agrícola no sul da Ásia, na Ásia Ocidental e no
norte da África (FAO, 2013).
Considerando a agricultura irrigada como alternativa para aumentar a
produção de alimentos, os países com maior potencial de uso desse recurso são
índia, China, Brasil e alguns do Oriente Médio. Além disso, o Brasil tem co11di-
ções de aumentar a área plantada sem gerar passivo ambiental. já que as novas
áreas de soja têm avançado, principalmente, sobre pastagens degradadas.

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production.pdf. Acesso em: 24 set. 2019.
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1
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BOTÂNICA E FENOLOGIA

Éder Matsuo
Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Universidade Federal de Viçosa - Campus de Rio
Paranaíba. E-mail: edermatsuo@ufu.br

Siluana da Costa Ferreira


Bióloga, M.S., D.S. e Professora da Universidade Federal de Viçosa - Campus de Rio Paranaíba.
' E-mail: siluanacferreira@ufu.br

Tuneo Sediyama
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Uniuersidade Federal de Viçosa.
E-mail: tuneo@ufv.br

2.1 ASPECTOS TAXONÔMICOS


A taxonomia tem como objetivo classificar as plantas e facilitar os estudos nos
diferentes grupos taxonômicos. Glycine max (L.) Merr. ganhou grande atenção
dos pesquisadores em razão da sua importância econômica e, como consequên-
cia, houve maior interesse em entender suas relações taxonômicas com outras
espécies morfologicamente relacionadas. Um dos grandes entraves na taxono-
mia de Glycine Willd. é a sua descrição vaga, aliada ao fato de existirem gêneros
semelhantes morfologicamerite. Como consequência, muitas espécies de gêne-
\
1
ros relacionados foram inicialmente descritas como pertencentes à Glycine, o
que ocasionou problemas de delimitação da taxonomia no gênero (Müller, 1981).
Atualmente, a espécie G. max pertence ao gênero Glycine, circunscrito como
membro da família Fabaceae, subfamília Faboideae, tribo Phaseoleae, subtribo
Glycininae (Judd et al., 2009; Lewis et al., 2005}. A partir de uma compilação
de estudos filogenéticos, Lewis et al. (2005) reconheceram para Glycininae
19 gêneros: Glycine, Amphicarpaea Elliott., Calopogonium Desv., Cologania KuÍlth,
Dumasia DC., Eminia Taub., Herpyza C. Wright., Neocollettia Hernst., Neonotonia
Lackey, Neorautanenia Schinz, Nogra Merr., Pachyrhizus Rich. ex DC., Phylacium
Benn., Pseud_eminia Verde., Psedouigna Verde., Pueraria DC., Sinodolichos ve·rdc.,
Teramnus P.Br. e Teyle·ria Backer.
Viviani et al. (1991), ~o conduzir análises fenéticas para a tribo Phaseoleae,
observaram que Glycininae não forma um grupo monofi.lético, incluindo vários
24 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
(

gêneros, até esse momento, circunscritos a Clitoriinae, Diocleinae e Kennediinae.


O estudo ainda indica que o gênero mais relacionado à Glycine é o Pueraria.
Posteriormente, as relações filogenéticas dentro de Phaseoleae foram
investigadas com base em dados moleculares por Lee e Hymowitz (2001), e os '
resultados indicam que a subtribo Glycininae somente é monofilética se incluir
os gêneros Pachyrhizus e Calopogonium. O gênero Teramnus é o mais proxima-
mente relacionado à Glycine, e Amphicarpaea é o grupo irmão do clado formado
por Teramnus + Glycine, sendo esse o panorama atual da taxonomia de G. max
(Lee; Hymowitz, 2001; Lewis et al., 2005).

2.2 ASPECTOS MORFOLÓGICOS


2.2.1 Morfologia vegetativa
Descrição geral da planta
A soja é uma cultura herbácea anual com germinação epígea da semente,
r
ciclo de vida (emergência à maturação) de 70 a 200 dias, altura da inserção
da primeira vagem de 10 cm a 20 cm e da planta de 30 cm a 250 cm, hábito de
crescimento ereto a prostrado, tipo de crescimento determinado, semi-
determinado ou indeterminado, resistência à deiscência das vagens, grupo
de maturidade relativa (de 000 a 10 no mundo e de 5 a 10 no Brasil), hastes •

e vagens pubescentes na cor cinza ou marrom (em diversas intensidades


de cor), boa qualidade visual e fisiológica de sementes, resistência a pragas,
r
doenças e herbicidas, e alta produtividade (Sediyama; Teixeira; Barros, 2009;
Sediyama; Teixeira; Reis, 2005).
l
1

Germinação e estabelecimento da plântula


A germinação inicia-se com o contato da semente com o solo, que deve apresen-
tar boas condições de temperatura, arejamento e suprimento de água. A água é
1

absorvida por toda a superfície da semente, o que resulta no início do crescimento 1

e do desenvolvimento celular. A transformação e a mobilização das substâncias


de r~serva armazenadas nos cotilédones são acompanhadas pelo alongamento
da radícula e pela perfuração do tegumento (ou testa) da semente próxima à
região do hilo. A radícula desenvolve-se rapidamente, penetrando o solo no
sentido vertical (geotropismo positivo do ápice). Ao mesmo tempo, o hipocótilo
com~ça a _se elevar sobre a superfície do solo (germinação epígea), por meio de
um gancho próximo do nó cotiledonar. O tegumento, geralmente, desprende-se
1
da semente antes de emergir do solo. Então, assim que os cotilédones entram em '

contato com a luz, inicia-se a formação de pigmentos fotossinteticamente ativos


em seus plastídeos, proporcionando uma coloração e~verdeada; adicionalmente,
suprem a plântula com sua reserva acumulada. Antes de .os cotilédones se esten-
derem horizontalmente, surge o primeiro par de folhas jlint9 à plúmula, a q.u al se
2 BOTÂNICA E FENOLOGIA 25

separa gradativamente do nó cotiledonar, em razão do crescimento do epicótilo


(Fig. 2.1) (Lersten; Carlson, 2004; Müller, 1981).
Vários são os fatores que afetam a germinação. Nogueira et al. (2013) discar-
,, .
reram sobre o assunto, abordando os fatores intrínsecos à semente: genot1po,
vitalidade e longevidade, viabilidade e maturidade, potencial fisiológico e quali-
dade sanitária; e os extrínsecos: água, temperatura, luz, oxigênio, condições do
solo e profundidade de semeadura.

Fig. 2.1 Germinação e estabelecimento da


plântula: (A) semente recém-plantada,
(B) semente embebida e iniciação da
germinação, (C) crescimento da radícula e
iniciação das raízes laterais, (D) alongamento
do hipocótilo e liberação dos cotilédones da
tegumenta, (E) plântula com cotilédones
-- --- ----- -- --- ------ -------- ------
livres emergindo do sala, (F) entesamento
([) () do hipocótilo (entre os cotilédones surge
o par de folhas primárias), (G) plãntula
®®© com cotilédones estendidos e (H) plântula
na fase de alongamento do epicótilo
• @® ® e desenvolvimento das folhas primárias_
@ ® Fonte: Müller (1981).

Sistema radicular
o sistema radicular da soja é constituído de raiz principal e secundária
(Sediyama et al., 1985). A radícula do embrião cresce para baixo, dando origem à
raiz principal, e, posteriormente, desenvolvem-se nela as ramificações (Müller,
1981). As raízes laterais originam-se em forma endógena, a partir de tecidos do
cilindro central, seguindo o padrão típico das eudicotiledôneas. Na raiz axial, as
ramificações crescem meio afastadas do ápice radicular e, nas laterais e nas de
ordens superiores, estas se desenvolvem mais próximas do ápice. Geralmente, a
nova raiz tem diâmetro menor que aquela que lhe deu origem (Lersten; Carlso~,
2004; Müller, 1981).
A planta pode utilizar grande quantidade de água armazenada em maiores
profundidades do solo, por isso o crescimento geotrópico positivo da raiz é consi-
derado .de suma importância para o desenvolvimento da planta (Müller, 1981).
.O aprofundamento do sistema radicular é possível porque as raízes sãc;, flexí-
veis, lubrificadas e podem alterar a direção· para ultrapassar obstáculos, como
agregados ou estruturas mais adensadas (Vepraskas, 1994). O desenvolvimento
radicular ocorre por meio de macrósporos ou dos espaços vazios entre os agre-
gados (Abreu; Reichert; Reinert, 2004). Portanto, a continuidade desses espaços
SOJ1\: DO PLANTIO À COLI-IEITA
1
vazios (estruturas frágeis, fendas e com canais formados pelas raízes em decom-
posição e pela atividade biológica da fauna do solo) é considerada fundamental
para o aprofundamento das raízes (Holland, 2004; Neves et al., 2003).
Em condições de campo, o desenvolvimento do sistema radicular pode ser
,

1

influenciado pela disposição das plantas (espaçamento entre e dentro de filei-


ras) (Fig. 2.2A,B) {Müller, 1981; Carlson, 1973; Raper; Barber, 1970) e pelo nível de
compactação do solo (Fig. 2.2C).
1

Fig. 2.2 Sistema radicular (A) de planta cultivada em fileira, (B) de planta isolada e (C) de planto de
soja cultivada em área com sola compactado
Fonte: {A, B) Müller (1981) e (C) Tuneo Sediyama.

Nas raízes, podem ser encontrados nódulos resultantes da interação


simbiótica de bactérias do gênero Bradyrhizobium com o sistema radicular, que
fixam nitrogênio do ar atmosférico, fornecendo-o para a planta, e, na simbiose,
recebem em troca os hidratos de carbono (Nogueira et al., 2009). O processo de
nodulação inicia-se com a excreção, pela planta, de compostos que agem como
substâncias quimiotáticas e estimulam a multiplicação de bactérias na rizosfera
(Finoto; Sediyama; Barros, 2009). Fenologicamente, os primeiros nódulos são
visíveis nos estádios Vl a V2 (Câmara, 1998a) e os com o interior róseo, devido à
leg-hemoglobina, estão ativos na fixação de N {Finoto; Sediyama; Barros, 2009).

Caule
O caule principal desenvolve-se a partir do eixo embrionário; o número e o tipo
de ramificações dependem das particularidades da constituição genética de
cada cultivar, bem como do espaço disponível para o desenvolvimento das plan-
tas {Müller, 1981). O crescimento do caule inicia-se com o desenvolvimento do
epicótilo, o que resulta na separação gradativa do nó cotiledonar e da plúmula
com os primórdios das folhas primárias. Após o epicótilo, são formados os-inter-
nódios em direção ao ápice da planta, ~, em cada nó, desenvolve-se uma folha e,
na axila desta, uma gema lateral, que pode se transformar em ramificações de
primeira ordem, como também em inflorescência (Müller, 1981). Na maioria dos
cultivares, o caule tem crescimento ortótropo; todavia, quando as plantas são 1
2 BOTÂNICA E FENOLOGIA 27

cultivadas sob baixa luminosidade e, especialmente, em fotoperíodos longos,


os cultivares tornam-se volúveis, com caule delgado, podendo atingir mais
de 3 m de comprimento, necessitando de apoio para o crescimento vertical
(Nogueira et al., 2009).
A presença ou a ausência de pigmentação antocianínica no hipocótilo
(Fig. 2.3) e a sua intensidade (fraca, média ou forte) são descritores de plantas de
soja (Mapa, 2013a). A ausência da pigmentação é identificada fenotipicamente
pela coloração verde e a presença, pela coloração púrpura (roxa) ou bronze.
Cultivares com hipocótilo de coloração bronze devem apresentar cor de flor
branca e pubescência da haste na cor marrom ou marrom-clara (Mapa, 2013a).
Uma importância da pigmentação antocianínica do hipocótilo está relacionada
com a hibridação artificial em soja.

Ausente (verde) Presente (Bronze) Presente (púrpura)

Fig. 2.3 Pigmentação antocianínica do hipocótilo: (A) ausente, com hipocátilo na cor verde,
(8) presente, com hipocátilo na cor bronze, e (C) presente, com h/pocótilo na cor púrpura ou roxa
Fonte: Mapa (2013a).

I
o cultivar SG795 foi registrado no Serviço Nacional de Proteção de Cultivares
(SNPC/Mapa) por Nidera Seeds Argentina S.A.U. (Mapa, 2019a, 2019b) em 26 de
dezembro de 2009 como de hipocótilo bronze.
Atualmente, são considerados três tipos de crescimento entre os cultivares
de soja: determinado, semideterminado e indeterminado. Os tipos de crescimento
indeterminado e determinado estão ilustrados na Fig. 2.4A,B. Quanto ao hábito de
crescimento (inclinação dos ramos laterais), os cultivares são classificados como
eretos, semieretos ou prostrados (Fig. 2.4C-E).

Folha
uma planta de soja, durante o seu desenvolvimento, pode apresentar quatro
tipos distintos de folhas: cotiledonares., unifolioladas, trifolioladas e prófilos
28 SOJA: DO PLANTIO À COLl-lEI'f A

(Lersten; Carlson, 2004; Müller, 1981}. As folhas de soja variam de verde-claras


a verde-escuras, de acordo com a idade, a variedade e os fatores ambientais,
especialmente a nutrição nitrogenada e a provisão de ferro (Müller, 1981).
A intensidade da cor verde (fraca, média ou forte) é um descritor de planta de
soja (Mapa, 2013a).

@ ®

Fig. 2.4 Tipas e hábitos de crescimento: (A) tipo de crescimento indeterminada, (B) tipa de
crescimento determinada, (C) hábito de crescimento ereta, (D) hábito de crescimento semiereta e
(E) hábito de crescimento prostrada
Fonte: Mapa (2013a).

Os cotilédones, quando totalmente estendidos, têm forma elítica oval,


contêm reservas para o desenvolvimento da plântula e permanecem na planta
até que esgotem sua reserva, quando então amarelecem, murcham e caem
{Lersten; Carlson, 2004; Müller, 1981).
As folhas unifolioladas desenvolvem-se de maneira oposta, exatamente
no primeiro nó acima do nó cotiledonar (Lersten; Carlson, 2004; Müller, 1981).
São de base larga ou estreita, auriculadas, truncadas ou lanceoladas, com ápice
obtuso a acuminado (Fig. 2.5) (Brandão, 1961 apud Nogueira et al., 2009; Müller,
1981). Geralmente, possuem na base de cada folha um par de estípulas e um
pulvínulo no ponto de inserção da folha (Nogueira et al., 2009; Lersten; Carlson,
2004; Müller, 1981).

Fig. 2.5 Base da folha


unifalíolada: (A) ourlculada,
(B) truncada e (C) lanceolada
Fonte: Ana Paula Oliveira Nogueira.
A

2 BOTANICA E FENOLOGIA 29

As foll1as trifolioladas desenvolvem-se acima (subsequentemente) das


unifolioladas, apresentam filotaxia alterna, são compostas por três folíolos
(um tern1inal e dois laterais}, podem ser observadas no caule principal e nas
ramificações (Lersten; Carlson, 2004; Sediyama et al., 1985; Müller, 1981) e
têm estômatos em ambas as faces (folhas anfiestomáticas) (Ciha; Brun, 1975).
Os folíolos têm margem inteira e sua forma é variada: podem ser elípticos a
ovados ou quase lanceolados. o ápice varia de obtuso a agudo e até acuminado,
sendo a base obtusa a truncada. o folíolo terminal é simétrico, enquanto os
laterais frequentemente são assimétricos. As dimensões e a forma dos folío-
los são controladas geneticamente, mas podem ser influenciadas por fatores
ambientais e pela posição na planta (Müller, 1981).
Os folíolos laterais de uma folha podem ser classificados em cinco formas:
lanceolada estreita, lanceolada, triangular, oval-pontiaguda ou oval-arredondada
(Fig. 2.6). Em relação ao tamanho, podem ser classificados em pequeno, médio ou
grande (Mapa, 2013a).

Fig. 2.6 Forma de


folíolos laterais de
falhas trifolio/adas:
(A) lanceolada estreita,
(B) lanceolada, (C) triangular,
(D) oval-pontiaguda e
(E) aval-arredondada
Fonte: Mapa (2013a).

Na raque, a inserção dos folíolos laterais ocorre por meio de pecíolo de


comprimento geralmente inferior a 1 cm, sendo a maior parte de sua extensão
basal um pulvínulo. A raque tem extensão de 1 cm a 5 cm e as folhas são classi-
ficadas como trifolioladas ou ocasionalmente unifolioladas. O pulvínulo apical.
com os dois laterais, e o pulvínulo basal são responsáveis pelo movimento nicti-
nástico das folhas trifolioladas. O folíolo terminal tem duas estípulas no lugar
onde termina o pecíolo e começa o pulvínulo, uma em cada lado. Os folíolos
30 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

laterais têm somente uma estípula na base do pulvínulo (Müller, 1981; Judd
et al., 2009). Na base do pecíolo, em cada lado da inserção do pulvínulo, há uma
estípula, que é lanceolada e coberta de tricomas (Carlson, 1973).
Os prófilos encontram-se na base das ramificações. Cada ramo tem um par
de prófilos, de pequena dimensão (raramente maiores que 5 mm), simples e
destituídos de pulvínulo e pecíolo (Carlson, 1973).
As folhas, bem como o caule, as estípulas, o pecíolo, as flores e os demais
órgãos (com exceção dos cotilédones), na quase totalidade das variedades,
estão cobertas por pelos ou tricomas, denominados pubescência (Singh; Hardly;
Bernard, 1971). A cor e a densidade da pubescência na planta de soja também
são consideradas descritores. As cores são classificadas em cinza, marrom-clara
ou marrom-média e devem ser observadas contrapondo-se a haste a um fundo
branco, em situação de luminosidade sem insolação direta, com o auxílio de
lupa. Por sua vez, a densidade é classificada em baixa, média ou alta e deve ser
observada no terceiro entrenó a partir do ápice das plantas (Mapa, 2013a).
Os pecíolos são encontrados nas folhas unifolioladas e trifolioladas e podem
apresentar variado comprimento, dependendo da folha, da posição na planta, da
variedade, do vigor e da luz. As folhas primárias têm os pecíolos mais curtos,
que chegam a poucos centímetros de comprimento, e os cotilédones são sésseis
(Müller, 1981).

2.2.2 Morfologia reprodutiva


Descrição e desenvolvimento da flor
Primeiramente, é necessária a indução fisiológica para que ocorra a formação
da flor. A soja é uma planta de dia curto, isto é, só há indução ao florescimento
quando é exposta a uma condição em que o número de horas de luz (fotoperíodo)
é menor ou igual a um fotoperíodo crítico máximo, mas, para isso, é preciso que
a planta esteja apta à percepção da variação do comprimento do dia (Barros;
Sediyama, 2009).
As flores da soja desenvolvem-se em racemos axilares ou terminais, em
número de 2 a 35 por inflorescência, nas cores branca ou roxa (Fig. 2.7). Nelas
estão localizados os órgãos reprodutivos masculinos e femininos, protegi-
dos pela corola e pelo cálice, sendo, portanto, consideradas flores completas
(Nogueira et al., 2009; Sediyama; Teixeira; Reis, 2005; Sediyama et al., 1981, 1985,
1986; Müller, 1981).

Desenvolvimento da óvulo
Para a formação do óvulo, são necessárias duas etapas: megaespogênese e
megagametogênese. O desenvolvimento inicià-se com a sutura da folha carpe-
lar; e posteriormente ocorre a formação dos tegumentos, a partir dos quais se

......
,.
2 BOTANICA E FENOLOGIA 31

diferenciam células com dimensões maiores; no entanto, apenas uma delas


continua o seu desenvolvimento, dando origem à célula-mãe de megásporo ou
megaesporócito (Müller, 1981).
--
.
_• •

Fig. 2.7 Cor de flor


da soja: (A) branca
e (B) roxa
Fonte: (A) Tuneo
Sediyama e
(8) Éder Matsuo.

A primeira divisão do megaesporócito é uma meiose, seguida por duas divi-


sões mitóticas, das quais provêm quatro megásporos haploides (n = 20); destes, três
se degeneram e apenas a célula adjacente à placenta continua o seu desenvolvi-
mento, dando origem a um megásporo. Este sofre divisão, resultando em um saco
embrionário binucleado. Posteriormente, os núcleos se deslocam para as extremi-
dades do saco polínico e sofrem duas divisões consecutivas cada um, tendo como
consequência um saco embrionário com oito núcleos. Então, dois núcleos, um de
cada extremidade, migram para o centro e se fundem, formando o núcleo secun-
dário do saco embrionário (Appezzato-da-Gloria; Carmello-Guerreiro, 2006).
Na parte basal do saco embrionário, as três células restantes, chamadas
de antípodas, desintegram-se antes da fecundação. Na extremidade oposta,
próxima à micrópila (abertura do tegumento), podem-se observar três célu-
!
1 las, uma central à oosfera (o gameta feminino) ladeada pelas sinérgides, que,
I1
1 também, começam a se desintegrar antes da fecundação. Nesse momento, o
óvulo está completamente formado, apresentando orientação campilotrópica
(Appezzato-da-Gloria; Carmello-Guerreiro, 2006; Müller, 1981).

l!
Desenvolvimento do pólen
l
Os estames, estruturas responsáveis pela produção dos grãos de pólen, têm
.o desenvolvimento iniciado com a diferenciação de quatro microsporângios
(sacos polínicos), originando astecas, que,juntamente com o conectivo, _formam.
'


a antera (Appezzato-da-Gloria; Carmello-Guerreiro, 2006). Por divisões suces-
1

sivas, grupos de células férteis são circundados _p or células estéreis, as quais


formam a parede do saco polínico. As cél-µlas férteis, que constituem a camada
mais interna do saco polínico, denominada tapete, em sua diferenciaçã~
máxima, culminam na formação das células~mãe dos n1icrósporos. Pos~e-
riormente, cada célula-mãe inicia o proces_so de divisão nuclear (por meiose),
32 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEll'A

e cada um dos núcleos resultantes, haploides, terá 20 cromossomos (Müller,


1981). Os núcleos permanecem unidos, formando uma díade, e, em seguida,
ocorre uma segunda divisão nuclear mitótica que resulta em uma tétrade.
Após, originam-se as quatro paredes, separando cada núcleo com sua parte de
citoplasma. Desse modo, formam-se quatro micrósporos (Appezzato-da-Gloria;
Carmello-Guerreiro, 2006). Em cada micrósporo o núcleo se divide por mitose,
sem que ocorra a formação de parede celular. Um núcleo é chamado de gera-
dor (responsável pela fecundação) e o outro, de vegetativo (responsável pela
formação do tubo polínico), tendo como resultado o grão de pólen pronto para
dispersão (Appezzato-da-Gloria; Carmello-Guerreiro, 2006).

Hibridação natural e artificial


A soja é uma planta autógama e cleistógama. A autofecundação ocorre de maneira
natural, por meio de mecanismos físicos, químicos e biológicos. Apesar disso,
estudos têm demonstrado a ocorrência de hibridações artificiais, ocasionadas
principalmente por abelhas e tripes (Borém; Almeida; Kiihl, 2009). Foram verifi-
cadas taxas de hibridação artificial menores ou iguais a 1,27% (Borém; Almeida;
Kiihl, 2009; Pereira et al., 2007; Vernetti et al., 1972; Sediyama et al., 1970).
Uma das características da flor da soja que favorece as hibridações arti-
ficiais é a protoginia (maturação do pistilo antes das anteras). A flor de soja
potencial para ser o botão floral feminino ou genitor feminino na hibridação
artificial é aquela que irá se abrir na manhã seguinte do dia do cruzamento.
Para melhor identificação, é o botão floral que apresenta a coloração das pétalas
visíveis entre as sépalas (Fig. 2.8).
A flor, para ser utilizada como botão
floral masculino ou genitor masculino ou
flor doadora/polinizadora, deve estar em
bom estádio de desenvolvimento e ter o
estandarte expandido e que tenha sido
aberto no dia do cruzamento. Apesar de
esse ser o estádio ideal, é importante veri-
ficar se a flor está derriçando pólen e, para
Fig. 2.8 Flor de soja com coloração das isso, podem-se tocar as anteras na unha
pétalas visíveis entre as sépalas do polegar, na ponta do grafite do lápis ou
Fonte: Éder Matsuo. em outra estrutura que permita a visua-
lização do pólen derriçado. Ressalta-se a
necessidade de cuidados para evitar a contaminação com pólen de outro geni-
tor. Detalhes sobre o procedimento para realizar a hibridação artificial em soja
podem ser encontrados em Borém, Almeida e Kiihl (2009), Sediyama, Teixeira e
Reis (2005) e Sediyama et al. (1981, 1986). 1
1
2 BOTÂNICA E FENOLOGIA 33

A cor do hipocótilo e da flor é utilizada como característica fenotípica marca-


dora na hibridação artificial e é determinada por interações de diferentes lócus
gênicos, sendo o principal deles com alelos Wl_, que, na forma heterozigota ou
homozigota dominante, condiciona a cor roxa; o genótipo homozigoto recessivo
w1w1 apresenta flores brancas. Em razão do efeito pleiotrópico do alelo W1, as
plantas com flores roxas mostram hipocótilo roxo, e aquelas com flores bran-
cas exibem hipocótilo verde (Borém; Almeida; Kiihl, 2009}. Portanto, as plantas
híbridas podem ser identificadas pela cor do hipocótilo, caso seja utilizada como
genitor masculino uma planta de flor roxa (ou hipocótilo roxo) e como genitor
feminino uma planta de flor branca (ou hipocótilo verde).
Referências importantes em hibridação artificial são Borém, Almeida e
Kiihl (2009}, Lersten e Carlson (2004), Sediyama, Teixeira e Reis (2005), Sediyama
et al. (1981, 1986) e Fehr (1978).

Desenvolvimento da semente
As flores de soja apresentam protoginia e, dessa forma, os estames crescem até
alcançar a altura do estigma, que já se encontra receptivo dois a três dias antes
da antese, e, nesse momento, os grãos de pólen são liberados (Müller, 1981).
O grão de pólen, assim que entra em contato com o estigma, começa a germi-
nar, formando o tubo polínico. Em seguida, a célula geradora divide-se em duas,
que são os gametas masculinos. O tubo polínico cresce até encontrar a micró-
pila do óvulo. Em soja, os primeiros óvulos a serem fecundados são os distais;
posteriormente, o tubo polínico consegue atravessar a micrópila e penetra o
saco embrionário (Appezzato-da-Gloria; Carmello-Guerreiro, 2006). Dos dois
·g ametas masculinos formados, um irá fecundar a oosfera e o outro se unirá
ao núcleo secundário do saco embrionário, resultando em um núcleo triploide
(Appezzato-da-Gloria; Carmello-Guerreiro, 2006).
Após a fecundação, a oosfera transforma-se gradativamente em um
embrião. Este é constituído, inicialmente1 de uma célula diploide que se divide
logo em seguida, dando origem a duas células-filha. A célula basal vai se diferen-
ciar em uma estrutura chamada de suspensor, que, em soja, é caracteristicamente
curto quando comparado com o de outras espécies de angiospermas. Já a célula
apical diferencia-se e dá origem ao proembrião, que está coberto pela proto-
derme. o proembrião segue seu desenvolvimento dentro do ovário e é nutrido
através do suspensor ligado aos tecidos da planta-mãe (Müller, 1981).
o embrião, inicialmente, possui a forma globular e, nesse estágio, seus
tecidos ainda estão indiferenciadas. O próximo estágio, na soja, é o cordiforme,
em que, devido à presença dos dois cotilédones, o embrião adquire formato de
coração. Após esse período, o embrião sofre grande alongamento no sentido longi-
tudinal e distingue-se a região hipocotiledonar, na qual é possível diferenciar
34 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

os meristemas primários: protoderme, procâmbio e meristema fundamental


(Müller, 1981).
Em soja, o embrião maduro é constituído de um eixo com dois cotilédones,
do epicótilo, localizado acima dos cotilédones, e do hipocótilo-radicular, que se
refere ao eixo abaixo dos cotilédones. Quando ocorre a formação da radícula, é
feita a distinção entre hipocótilo e radícula (Pamplin, 1963). Simultaneamente
ao desenvolvimento do embrião, ocorrem alterações no saco embrionário, e o
núcleo secundário fecundado divide-se várias vezes, formando o endosperma
triploide (Pamplin, 1963).
As reservas nutricionais (endosperma) e o revestimento (tegumento) do
embrião quando maduro constituem a semente. O grão de soja contém uma
cicatriz em seu exterior, chamada de hilo, que é resultado da degeneração do
funículo {Müller, 1981). O bilo pode ter diferentes cores: cinza, amarela, marrom-
-clara, marrom-média, preta-imperfeita e preta. Já o tegumento da semente é
amarelo, amarelo-esverdeado, verde, marrom-claro, marrom-médio, marrom-
-escuro ou preto {Mapa, 2013a). A semente pode ser classificada em quatro
formas: esférica, esférica-achatada, alongada e alongada-achatada (Randall;
Peiying, 1989 apud Mapa, 2013a).
Em Mapa (2013a) é apresentada a tabela de descritores de soja.

Desenvolvimento da vagem
O fruto da soja é do tipo legume, comumente chamado de vagem, que resulta do
ovário completamente desenvolvido (Müller, 1981).
A parede da vagem é composta por uma camada mais externa, o exocarpo,
também chamado de epiderme, além do mesocarpo e do endocarpo (Müller,
1981). O crescimento da vagem cessa cerca de 20 a 25 dias após a floração, fase
em que as sementes alcançam seu tamanho máximo. Em seguida, as semen-
tes têm suas dimensões reduzidas, devido à perda de água e ao acúmulo de
substâncias de reserva. Vale ainda ressaltar que em uma vagem o desenvolvi-
mento dos óvulos não é uniforme, pois há ciclos de maior ou menor atividade
(Howell, 1963).
Uma vagem pode conter uma a cinco sementes; contudo, a maioria dos
cultivares apresenta vagens com duas ou três sementes (Sediyama et al., 1985).
Em alguns materiais genéticos, é possível observar vagens com quatro ou cinco
sementes (Fig. 2.9). O número de sementes por vagem pode ser aumentado
por técnicas de melhoramento genético, principalmente no tocante à escolha
correta dos parentais e à condução de·populações segregantes, por exemplo, por
meio de seleção recorrente. As condições amb~entais que ·interferem no resul-
tado produtivo da soja estão assoei.a das às variações no ~úmero de sementes,
porque esse é o primeir.o componente de produção a ser definido pela planta
2 BOTÂNICA E FENOLOGIA 35

(Carretero, 2011). Portanto, é necessário aplicar, na prática, os conhecimentos


teóricos, visando incrementar a frequência dessa característica no desenvolvi-
mento de cultivares mais produtivos.
-~ jl
. ·,r . .-. :
. . '
..
~ .. ;,-

•, t

Fig. 2.9 Vagens de soja: (A, B) com quatro sementes e (C) com cinco sementes
Fonte: (A, B) Éder Matsuo e (C) Carretero (2011).

2.3 ASPECTOS FENOLÓGICOS


2.3.1 Estádios de desenvolvimento
A caracterização dos estádios de desenvolvimento é fundamental para o esta-
belecimento de um organizado sistema de produção, por meio do manejo
adequado da lavoura. Portanto, a padronização da terminologia (Câmara,
1998b) utilizada para a descrição dos estádios de desenvolvimento da soja é
essencial para a melhor compreensão dos profissionais e dos produtores que
trabalham com a cultura (Nogueira et al., 2013). Além disso, outras razões,
como a possibilidade de comparações de estudos realizados em locais distin-
tos e a facilidade na orientação e na tomada de decisão no manejo, justificam
o uso de escalas de desenvolvimento de plantas (Nogueira et al., 2013). Nesse
contexto, a metodologia deve apresentar terminologia única, objetiva, precisa
e universal (Neumaier et al., 2000).
o desenvolvimento da soja compreende duas principais fases, a vegetativa e
a reprodutiva. A duração de cada uma delas é controlada geneticamente e influen-
ciada por condições ambientais. A classificação dessas fases é feita com base na
observação das folhas e das flores e no desenvolvimento da vagem e da s~mente
que se encontram nos nós da haste principal da planta (Nogueira et al., 2013).
Nogueira et al. {2013) apresentaram diferentes metodologias para identificar
os estádios de desenvolvimento de plantas de soja, as quais, segundo o.s autores,
embora sejam semelhantes, diferem quanto à terminologia adotada .e ao seu uso.
Apresentaram, também, a caracterização dos estádios de desenvolvimento da
soja, incluindo a identificação do nó e da folha complet·a mente desenvolvida; a
36 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

caracterização dos estádios vegetativos e reprodutivos; a determinação dos está-


dios de desenvolvimento da soja a campo (na lavoura); e o número de dias entre
os estádios de desenvolvimento. De acordo com esses autores, a escala fenológica
internacionalmente aceita para a classificação dos estádios de desenvolvimento da
soja é a de Fehr e Caviness (1977). Nos Quadros 2.1 e 2.2 apresentam-se as descri-
ções dos estádios vegetativos e reprodutivos segundo os autores em questão.

Quadro 2.1 Descrição dos estádios vegetativos da soja


Estádios Denominação Descrição
VE Emergência Cotilédones estão acima da superfície do solo
Folhas unifolioladas suficientemente estendidas. de tal modo que os
vc Cotiledonar
bordos não se tocam
V1 Primeiro nó Folhas unifolioladas completamente desenvolvidas
Folha trifoliolada completamente desenvolvida, localizada no nó acima
V2 Segundo nó
dos nós das folhas unifolioladas
Três nós sobre a haste principal com folhas completamente desenvolvidas,
V3 Terceiro nó
iniciando-se a contagem dos nós a partir dos nós das folhas unifolioladas
- - -
n número de nós sobre a haste principal com folhas completamente
Vn Enésimo nó desenvolvidas, iniciando-se a contagem dos nós a partir dos nós das
folhas unifolioladas
Fonte: Fehr e Caviness (1977).

Quadro 2.2 Descrição dos estádios reprodutivos da soja


Estádios Denominação Descrição
-
R1 Início da floração Uma flor aberta em qualquer nó da haste principal
Flor aberta e um dos dois últimos nós da haste principal com folha
R2 Floração plena
completamente desenvolvida
Início da
Vagem com 5 mm de comprimento em um dos quatro últimos nós
R3 formação da
superiores com folha completamente desenvolvida sobre.a haste principal
vagem
Vagem
Vagem com 20 mm de comprimento em um dos quatro últimos nós
R4 completamente
superiores com folha completamente desenvolvida sobre a haste principal
desenvolvida
lníci.o da Semente com 3 mm de comprimento em uma vagem localizada em um ,
RS formação da dos quatro últ.imos nQs superiores com folha completamente desenvolvida
semente sobre a haste principal
- ...
Semente Vagem contendo semente verde, preenchendo a cavidade da vagem
R6 completamente localizada em um dos quatro últimos nós superiores com folha
desenvolvida completa~ente ~esenvolvida sobre a haste principal
Início da V.ag_em normal sob.re a hast·e principal qu·e tf;!nha atingido a cor da
.R7
maturação. .- ,
vagem
., ..
mçidura
- . - -
95°/o de va~ens que tenha~ atingido a cor de vagem madura. Após RB.
R8 Maturação plena são necessarios de 5 a 10 dias de tempo seco para que a semente de soja
apresente menos de 15º/o de umidade
Fonte: Fehr e Cavlness (1977).
2 BOTÂNICA E FENOLOGIA 37

O Quadro 2.3, com os estádios de desenvolvimento da soja, foi disponibi-


lizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa, 2013b)
para ser utilizado nos ensaios de registro e proteção de cultivares.

Quadro 2.3 Descrição dos estadias vegetativos e reprodutivos da cultura da soja


Estádios de
Descrição
desenvolvimento
/. Fase vegetativa
VC Da emergência a cotilédones abertos
.
V1 Primeiro nó; folhas unifolloladas abertas
V2 Segundo nó: primeiro trifólio aberto
V3 Terceiro nó; segundo trifólio aberto
Vn Enésimo nó com trifólio aberto antes da floração
. . ,

li. Fase reprodutiva - observação na haste principal


R1 Início da floração: 50º/o das plantas com uma flor aberta
R2 Floração plena: maioria dos racemos com flores abertãs
Início de formação de vagens: vagens com 5 mm no quarto nó da parte
R3
superior das plantas
Etapa final de crescimento das vagens: vagens com 2 cm a 4 cm no quarto
R4
. nó da parte superior das plantas
L - -
Início do desenvolvimento dos grãos à etapa final, no quarto nó da parte
RS superior das plantas
. - - - -~
Enchimento completo das vage-ns: grãos enchendo.totalmente as lojas da·s
R6•
vagens no terço superior das plantas .
Maturação fisiológica: uma vagem madura e a maioria delas amareladas no
R7
terço superior das plantas
- -
RS _M~turaç_~o: 95º!o das vag~ns_maduras (setas) _ _,_
. -
Fonte: adaptado de Costa (1996 apud Mapa, 2013b) e Ritchie, Hanway e Thompson (1982 apud Mapa, 2013b).

2.3.2 Fotoperíodo e período juvenil /


/
Fotoperíodo (número de horas de luz) é o fator mais importante para determinar
a proporção relativa entre os estádios vegetativos e reprodutivos da planta de
soja, uma vez que influencia diretamente a indução floral e, consequentemente,
o crescimento, a maturação, a altura de planta, o peso de sementes, o nµmero
de ramificações e outras características agronômicas (Barros; Sediyama,.2009).
o fotoperíodo crítico é o número de horas de luz menor ou máximo capaz de
induzir uma planta ao florescimento, desde que esta esteja apta à percepç-ão da
variação do comprimento do dia (a variação do comprimento do dia seja p~rcep-
tível na folha). Ou seja, é o ponto em que o número de horas mínimo de n~ite foi
1

atingido, resultando na indução à floração (Bergamaschi, s.d.).


Bergamaschi (s.d.) discutiu, na sua revisão, o fotoperíodo em soja e mencio-
nou que o fitocromo é o pigmento responsável por desencadear o processo de
- -- - --------------- -

38 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

indução floral. Ele absorve radiação dentro das faixas do vermelho e do vermelho
distante, apresentando alternadamente duas estruturas distintas, simbolizadas
por P660 e P730. Na presença da radiação solar, o fitocromo converte-se de P660
a P730, acumulando-se nesta forma. Na ausência da luz, reverte-se o processo e
o fitocromo acumula-se na forma de P660. Assim, na condição de dias longos, a
forma P730 acumula-se por longo tempo, o que induz plantas de dias longos ao
florescimento e suprime o florescimento das plantas de dias curtos. Ao contrá-
rio, na condição de dias curtos, a forma P660 se acumula por um longo tempo,
induzindo plantas de dias curtos a florescer e inibindo o florescimento de plan-
tas de dias longos. Então, na verdade, a duração do período escuro (nictoperíodo)
é a responsável por desencadear o processo de indução ao florescimento em
plantas sensíveis.
O tempo compreendido entre a emergência da plântula e o dia em que ela
está apta a receber o estímulo floral é denominado período juvenil (Sediyama et
al., 2009). As plantas de soja podem ser de período juvenil curto e longo.
Em cultivares de soja com característica de período juvenil curto, a percep-
ção fotoperiódica ocorre a partir da folha unifoliolada (estádio Vl, segundo Fehr
e Caviness, 1977). Caso o fotoperíodo máximo seja menor ou igual ao fotope-
riodo crítico do cultivar, o florescimento poderá ocorrer entre 15 e 20 dias após a
indução, ou seja, entre os estádios V3 e V4 (Barros; Sediyama, 2009).
No caso de cultivares de soja que apresentam característica de período juve-
nil longo, a percepção fotoperiódica ocorre a partir da Sª à 7ª folha trifoliolada,
isto é, até essa fase a planta é considerada juvenil e insensível ao fotoperíodo.
Portanto, mesmo submetida às condições de indução floral, a planta só será
induzida a partir da 5ª à 7ª folha trifoliolada (Barros; Sediyama, 2009). A soja
com característica de período juvenil longo foi introduzida no Brasil por meio
de melhoramento genético, utilizando-se a linhagem PI240664 (Kiihl; Bays;
Almeida, 1983). Geralmente, esses cultivares atingem alturas adequadas em
ampla época de semeadura, podendo inclusive ser plantados no período de
inverno, desde que a umidade do solo e a temperatura não sejam limitantes.
A maioria dos cultivares adaptados à Região Centro-Oeste do Brasil apresenta
o período juvenil longo (Sediyama et al., 2009).
O tema fotoperíodo é de extrema importância para o estudo da fenologia
da planta de soja, porque a indução ao florescimento está diretamente relacio-
nada com o comprimento do dia, .ou, mais especificamente, com o comprimento
da noite, em razão do acúmulo do fitocromo P660 (indutor ao florescimento).

2.3.3 Ciclo e grupo de maturidade relativa


O ciclo do cultivar é o -número de dias da emergência da plântula à 1natura-
ção das vagens, que pode variar de aproximadamente ·7 0 a mais de 200 çlias,
2 BOTÂNICA E FENOLOGIA 39

dependendo do local e da época de semeadura. A maioria dos cultivares adap-


tados para as condições brasileiras apresenta o ciclo em torno de 90 a 150 dias
(Sediyama et al., 2009). Os cultivares podem ser classificados, quanto ao ciclo,
em superprecoce, precoce, semiprecoce, médio, semitardio e tardio. Essa classi-
ficação é válida dentro de cada faixa de adaptação do cultivar, isto é, o ciclo varia
quando a faixa é deslocada para o sul ou para o norte, em razão da sensibilidade
da soja ao fotoperíodo (Embrapa, 2011a).
Em outras palavras, observa-se que a adaptabilidade de cada cultivar varia
à medida que se altera a latitude da área de plantio, devido à sua sensibilidade
ao fotoperíodo. Logo, os cultivares têm faixa limitada de adaptação. A divisão
do país em faixas de latitude, em grupos de maturidade relativa (GMRs), foi
proposta inicialmente nos Estados Unidos (Embrapa, 2011b). Os GMRs predomi-
nantes em cada região do Brasil estão apresentados na Fig. 2.10.

Grupos de
Latitude
maturidade
relativa
8-9

8-9
7-8
20º
7-8
6-7 Fig. 2.10 Grupos de
maturidade relativa de
5-6
- - - - - - - - - ~~----=-:/f-------- 30º cultivares de soja no Brasil,
em quatro latitudes
Norte
Fonte: adaptado de
Nordeste . Sudeste
, Alli prandini et ai. (2009)

O Centro-Oeste LJ Sul e Embrapa (2011b).

2.3.4 Tipos e hábitos de crescimento


Os cultivares de soja, quanto ao tipo de crescimento, são classificados em deter-
minado, semideterminado e indeterminado. Essa classificação tem como base
a presença e a posição da inflorescência racemosa, podendo ser axilar o~ axilar
e terminal (Nogueira et al., 2009). Os cultivares de cre~cimento determinado
essencialme.n te completam seu ciclo vegetativo pouco antes da floração em
áreas de melhor adaptação. A hast~ pr~ncip_a l termina com uma inflore_scência
racemosa e, geralmente, as últimas fplhas apresent~m similaridaçle (de forma
e tamanho) com as demais. Os de crescimento semide~erminado co11tinuan1
40 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

diferenciando o número de nós da haste principal por um certo período; todavia,


cessa seu crescimento com uma inflorescência racemosa terminal. Já aqueles de
crescimento indeterminado continuam a aumentar sua altura por um período
relativamente longo após iniciado o florescimento; sua altura frequentemente
dobra depois do aparecimento da primeira flor {Sediyama et al., 2009). Segundo
Nogueira et al. (2009), a maturação das plantas de crescimento determinado e
semideterminado ocorre de cima para baixo, enquanto nas plantas de cresci-
mento indeterminado a maturação ocorre de baixo para cima.
O hábito de crescimento da planta de soja refere-se à inclinação dos ramos
laterais, sendo denominado ereto quando a inclinação é menor que 30º em rela-
ção à haste principal, semiereto quando é em torno de 30º a 60º, e horizontal
quando é maior que 60º (Sediyama et al., 2009).

2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS


O conhecimento da botânica e da fenologia de plantas de soja tem aplicabilidade
no planejamento e na execução das hibridações, nos ensaios de populações
segregantes, preliminares finais, VCU e DHE, na recomendação de cultivares
e na produção de sementes, entre outras atividades. Assim, o tema abordado
neste capítulo é de fundamental importância para o engenheiro-agrônomo que
atua em qualquer fase dos programas de melhoramento genético da soja.
Além das atividades de melhoramento genético, o entendimento da botâ-
nica e da fenologia também se aplica diretamente aos profissionais que atuam
em consultoria técnica de lavouras comerciais de soja.
De forma associada aos conhecimentos teóricos apresentados neste capí-
tulo, recomenda-se a observação em nível de campo, para melhor fixação das
possíveis variações fenotípicas observáveis em uma planta de soja.

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..
- -· -
.

.
- .
1
' '

-- . .
..

EXIGÊNCIAS EDAFOCLIMÁTICAS

Amilton Ferreira da Silva


Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Universidade Federal de São João dei-Rei - Campus
Sete Lagoas. E-mail: amiltonferreira@ufsj.edu.br

Tuneo Sediyama
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.

E-mail: tuneo@ufv.br

Aluízio Borém
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: borem@ufu.br

O cultivo da soja no Brasil inicialmente era restrito à Região Sul, por ser uma
planta originada e domesticada na China {30º a 45º de L norte), encontrando,
assim, condições semelhantes nessa região do País. Até os anos 1970, a principal
barreira era o fotoperíodo, uma vez que a soja é uma das espécies cultivadas
mais sensíveis ao comprimento do dia, que regula a indução floral e o cresci-
mento da cultura. Desse modo, os cultivares até essa época possuíam período
juvenil curto e floresciam muito precocemente sob baixas latitudes, o que limi-
tava, até então, o cultivo da soja nessas regiões. No entanto, a partir da década
de 1970, os programas de melhoramento genético conseguiram introduzir genes
que condicionaram as plantas a um período juvenil longo. possibilitando, assim,
o cultivo em baixas latitudes. l
Nas últimas décadas, com a correção da parte química dos solos
do Cerrado, aliada a boas características físicas e de topografia e com melho-
rias nas práticas de manejo da cultura, a soja encontrou condições favoráveis
para sua expansão e para a exploração de seu potencial produtivo. Sobre-
tudo, além do solo, as boas condições de temperatura e umidade também
foram fatores fundamentais~ Em razão disso, nas últimas safras, o Brasil vem
alca;nçando as maiores médias de produtividade do mundo, tendo se tornado
o maior produtor mundial dessa oleaginosa na safra 2019/20, ultr_a passa 11do
os Estados Unidos, até então o maior produtor mundial. Dessa maneira • 0 •

conhecimento das condições de fotoperíodo, temperatura e umidade é


3 EXIGÊNCIAS EDAFOCLIMÁTICAS 45

fundamental para a expressão da capacidade produtiva da soja na época e no


local adequados.

3.1 SOLOS
A cultura da soja exige solos profundos, que favorecem o desenvolvimento do
sistema radicular, possibilitando que a planta explore maior volume de solo e,
consequentemente, maior quantidade de nutrientes e água. Os solos de Cerrado
(predominantemente Latossolos) apresentam boa profundidade e, após as
correções necessárias, permitem que a cultura da soja alcance elevada produti-
vidade. Além disso, solos mais profundos também são mais tolerantes à perda
-
por erosao.
A textura deve ser média, sendo essa uma das mais importantes caracte-
rísticas do solo para o cultivo dessa cultura.- Aliado à textura, deve-se ter boa
estrutura (arranjo das partículas do solo), formando agregados, que estão dire-
tamente relacionados a absorção e movimentação de água no solo, aeração,
penetração de raízes, facilidade de cultivo e erosão. O sistema de plantio direto
da cultura da soja tem proporcionado a formação de boa estrutura na camada
superficial do solo, melhorando suas características físicas e químicas.
A topografia para o cultivo da soja deve ser plana ou com leve declividade,
o que facilita as técnicas mecânicas de cultivo, além de ser uma característica
importante para a conservação do solo. Também deve haver boa drenagem, pois
a soja não suporta encharcamento, e boa aeração para o desenvolvimento do
sistema radicular. Para evitar erosão em solos com determinada declividade,
é importante, além de boa cobertura, a construção de curvas de nível, o que
permite o cultivo em toda a sua extensão. Para solos com declividade < 8%, reco-
mendam-se terraços de base larga (G·m a 12 m), e, para solos com declividade de
8% a 13%, terraços de base média (3 m a 6 m).

3.2 Luz
3.2.1 Radiação
A disponibilidade de radiação solar é um dos fatores que mais limitam o cres-
cimento e o desenvolvimento das plantas, pois toda a energia necessária para a
realização da fotossíntese, processo que transform~ o C0 2 atmosférico.em ener-
gia metabólica, é proveniente da radiação solar (Taiz; Zeiger, 2004).
No caso da cultura da soja, a radiação solar está relacionada com fotossín-
tese, elongação de haste principal e ramificações, expansão foliar, pegamento
de vagens e grãos e fixação biológica de nitrogênio (Câmara, 2000). Maior
eficiência no uso da radiação solar é important~ pata o rendimento da cultura
da soja, principalmente durante o período de enchimento de grãos (Shibles;
Weber, 1966)~
46 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

Por ser uma planta C 3 , a soja é menos eficiente na utilização de radiação


solar e água, encontrando-se em desvantagem quando comparada com plan-
tas daninhas do tipo C 4 , que competem por esses recursos durante o ciclo de
desenvolvimento. A quantidade de luz e C0 2 determina a resposta fotossintética
das folhas. Em algumas situações, a fotossíntese é limitada por um suprimento
inadequado de luz e C0 2; em outras, a absorção demasiada de luz pode provocar
problemas sérios, razão pela qual mecanismos especiais protegem o sistema
fotossintético de luz excessiva (Taiz; Zeiger, 2004).
As folhas absorvem o máximo de luz quando o limbo está perpendicular
à luz incidente. A soja otimiza a absorção de luz ajustando seu limbo de forma
que ele fique perpendicular aos raios solares. Assim, a planta consegue manter
a máxima taxa fotossintética permitida ao longo do dia, inclusive pela manhã e
no final da tarde (Taiz; Zeiger, 2004).
A radiação solar, ao atingir a folha, pode ser refletida, absorvida ou transmitida,
sendo esse comportamento influenciado pela densidade das folhas e pelo modo
como essas folhas estão dispostas em relação à radiação incidente. Dessa forma,
apenas parte dessa radiação incidente é aproveitada pelas plantas, o que depende
j

de parâmetros físicos, biológicos e geométricos. Entre eles, o índice de área foliar é


um dos fatores que mais afetam a interceptação e o nível de atenuação da radiação.
O índice de áreafoliar (IAF) é definido pela soma de toda a superfície foliar em
determinada área de solo. O IAF deve proporcionar interceptação em torno de
95% da quantidade de radiação solar (Well, 1991), pois a produção de grãos vai
depender da taxa fotossintética do dossel. O IAF de soja necessário para garantir
rendimentos elevados varia entre 3,5 m 2 e 4,5 m 2 para cada metro quadrado de
área de solo, ou seja, uma relação aproximada de 4:1 (Gassen, 2001). Dessa forma,
deve-se cultivar soja com o objetivo de obter esse IAF o mais rápido possível,
para melhor aproveitamento dos recursos do ambiente e, consequentemente,
maior produtividade. Nesse sentido, fatores como temperatura e fotoperíodo
adequados estão ligados diretamente à época e ao local de semeadura, bem
como às características de cada genótipo, que são fundamentais.
A utili.z ação de cultivares de grupo de maturidade inadequado para
determinada região pode reduzir o tempo para o florescimento, o que reflete
negativamente no desenvolvimento da área foliar e, em consequência, na otimi-
zação dos fatores primários de produção orgânica (radiação solar, fotossíntese)
(Rodrigues .et al., ·2006).
Gassen (2002) afirma que, com base na biologia da planta, é preciso manter
a área foliar, estabelecer a dec.i são de controle de pragas ou doenças foliares a
partir das necessidades da planta e evitar índices de desfolhamento causados
'•
por insetos ou por doenças. Plantas de soja com IAF 7:1 toleram mais de 40% de
desfolhamento, enquanto aquelas com IAF 3:1 não o permitem.
,. ,
3 EXIGENCIAS EDAFOCLIMATICAS 47

A quantidade de área foliar ótima é complexa, pois os cultivares possuem


diferentes características. Dessa forma, o valor exato depende, além do culti-
var, da intensidade de luz e da forma e do ângulo da folha, entre outros fatores.
O número de foll1as, por sua vez, depende da taxa de desenvolvimento e da
manutenção dessas folhas verdes no caule e nos ramos laterais. O incremento
de carbono na planta de soja não está somente relacionado à taxa de troca de
C0 2 das folhas individualmente, mas também à área total de folhas da planta e
à duração da área foliar (Begonia et al., 1987).

3.2.2 Fotossíntese
A soja é classificada como espécie de ciclo C3, isto é, pertence ao grupo das espécies
de plantas cultivadas que fixam C02 pelo ciclo de Calvin, e os primeiros produ-
tos estáveis da sua fotossíntese são as triases denominadas ácido 3-fosfoglicérico
(3-PGA) e glicerato, constituídas por três átomos de carbono. A rubisco é a enzima
responsável pela carboxilação, portanto apresenta atividade carboxilase e, ainda,
oxigenase. Quando a concentração de C02 é alta e a de 0 2 é relativamente baixa, a
rubisco age como carboxilase. E, se a situação se inverte, ou seja, a concentração
de 0 2 é relativamente mais alta que a de C02 , a enzima opera como oxigenase.
No caso .da soja (planta C3) há uma concentração mínima ou crítica de C02
abaixo da qual a planta não consegue fotossintetizar o. 3-PGA, cessando a fotos-
síntese líquida e aumentando a respiração de suas reservas, que também serão
consumidas pela fotorrespiração, até que a planta morra por inanição. Essa
concentração mínima ou crítica de dióxido de carbono é denominada ponto de
compensação de C02 • Para a soja, considera-se que 40 ppm de C02 , em ambiente a
25 ºC, seja o ponto de compensação. Estima-se que 10% a 50% do total do carbono
fixado na fotossíntese seja perdido por intermédio da fotorrespiração (Müller,
1981; Shibles; Secar; Ford, 1987).
,

3.2.3 Fotoperíodo
o fotoperíodo (número de horas de luz por dia) é o fator mais importante para
determinar a proporção relativa entre os períodos vegetativos e reprodutivos
em plantas de soja. Além do crescimento, o fotoperíodo afeta a maturação, a
altura da planta, o peso das sementes, o número de ramificações e de vagens por
planta etc. (Barros; Sediyama, 2009).
A soja é uma planta de dias curtos (PDC), ou seja, floresce em fotoperíodos
menores que um máximo crítico. Ela é induzida a florescer se a duração do dia
é igual ou inferior àquele valor crítico que cara·c teriza· o cultivar. Dessa f9rma,
na ausência do comprimento de dia favorável para induzir a expressão dos
processos reprodutivos, a planta de soja pode continuar seu crescimento vege-
tativo. Ao contrário, sob influência _do fotoperíodo menor ou igual ao crítico, o
48 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

florescimento pode ser induzido mais precocemente. Em razão desses fatores,


considerando-se as estações do ano, a soja é semeada na primavera/verão e
r
floresce quando os dias já estão se encurtando no verão. 1
1
A diferença de resposta à luz pela planta de soja está relacionada ao
fotoperíodo crítico inerente a cada cultivar, ou seja, ao número de horas de luz
(fotoperíodo) menor ou máximo capaz de induzir uma planta ao florescimento,
desde que esta esteja apta a perceber a variação do comprimento do dia. Desse
modo, a indução floral provoca a transformação dos meristemas vegetativos em
reprodutivos (primórdios florais), determinando o tamanho final das plantas
(número de nós) e, portanto, seu potencial de rendimento.
Na cultura da soja, há uma diversidade de cultivares com exigências
fotoperiódicas diferentes. Isso é muito importante do ponto de vista agrícola,
pois possibilita ao melhoramento genético grande variabilidade de respostas
das plantas, podendo então adaptar os genótipos às disponibilidades de cada
região de cultivo. Assim, para uma mesma latitude, certos cultivares podem ser
de maturação precoce ou tardia, dependendo do fotoperíodo crítico exigido para
que ocorra a indução ao florescimento. Ou seja, se dois cultivares forem semea-
dos na mesma data, o que tiver fotoperíodo crítico maior irá florescer antes, pois
será induzido mais precocemente, enquanto o cultivar com fotoperíodo crítico
menor será induzido mais tardiamente (Fig. 3.1).

14h
Cultivar 1: Fotoperíodo crítico = 13,Sh
Fig. 3.1 Dois cultivares -,~.___---t---T--+ Cultivar 2: Fotoperíodo crítico = 13h
de soja semeadas o
] 12 h~----1--+-1---~-----+-----------
na mesma data, em 'C
(1)
p..
latitude de 3Dº. Cultivar 1 o
...., DEV
o
com fotoperíodo ~ 10h DEV 30º
crítica de 13,5 h (mais
precoce) e cultivar 2 com
fataperíada critico de
13 h (mais tardia). DEV 2'2/9 21/l2 21/3 21/6 22/9
Data de
= duração do estádio semeadura
Época do ano
vegetativa

No entanto, apesar de cada cultivar possuir fotoperíodo crítico específico,


a percepção do fotoperíodo crítico para que o cultivar seja induzido ao floresci-
mento depende do período juve.nil, que pode ser curto ou longo.
Nos cultivares com período juuenil curto {PJC), a percepção fotoperiódica
\
ocorre quando surge a folha unifoliolada (estádio V1). Ou seja, se a partir desse
estádio o fotoperíodo for menof ou igual ao fotoperíodo crítico desse cultivar, o
A ,

3 EXIGENCIAS EDAFOCLIMATICAS 49

florescimento poderá ocorrer entre 15 e 20 dias após a indução (estádios V3 e V4)


1
(Barros; Sediyama, 2009). Isso explica o fato de o PJC ser recomendado para a
Região Sul do Brasil, em latitudes superiores a 20º, onde, na época de semeadura,
os dias são mais longos, retardando assim a indução e proporcionando tempo
suficiente para que as plantas alcancem altura adequada e número de nós (gemas
reprodutivas) antes da percepção do fotoperíodo crítico, à medida que os dias se
tornam mais curtos. Dessa forma, se um cultivar de PJC for semeado em latitudes
menores, seu ciclo será reduzido (Fig. 3.2).

14h

- - - - -- ➔ Cultivar com fotoperiodo crítico = 13h

.go 12 h o o
'C:
Q)
p..
o
,t-J
DEV
o
~
10h DEV
30º

2 9
'2/ Data de 21112 21/3 21/6 2'2/9
semeadura
Época do ano

Fig. 3.2 Cultivar de soja com fotoperíodo crítico de 13 h semeado na mesma época em duas latitudes
diferentes (quanto menor é a latitude, mais precocemente a planta é induzida ao florescimento)
DEV = duração do estádio vegetativa

À proporção que a latitude diminui, a amplitude entre horas de luz e de


escuro é reduzida, isto é, na época de cultivo da soja, as regiões de Cerrado, por
exemplo, já possuem fotoperíodos menores em relação aos da Região Sul. Em
razão disso, seria antieconômica a adoção de cultivares de PJC, pois floresceriam
muito precocemente, resultando em plantas de porte baixo com pouca produ-
tividade de grãos e impossibilidade de colheita mecanizada. No entanto, par~
essas regiões, por meio do melhoramento genético, introduziu~se a caracterís-
tica de período juvenil longo.
Nos cultivares com período juvenil longo (PJL), a indução ao florescimento
ocorre a partir da 5ª à 7ª folha trifoliolada, ou seja, até esse estádio, mesmo na
condição de fotoperíodo crítico, as plantas não são induzidas a florescer, possi-
bilitando que tenham período vegetativo suficiente para atingir seu potencial
produtivo. Portanto, os cultivares de PJL são mais indicados para as regiões
50 SOJA: DO PLAN1'1O À COLHEITA

tropicais do Brasil. Esse foi, então, um dos principais fatores de sucesso da


soja no Cerrado, com destaque para o Centro-Oeste e Matopiba, com cultivares
adaptados às condições dessas regiões alcançando elevada produtividade.
t importante ressaltar que ciclo e juvenilidade podem ser independentes,
ou, em outros termos, existem cultivares com período juvenil curto de ciclo
precoce e tardio e também aqueles com período juvenil longo de ciclo precoce e
tardio. O fator que definirá o ciclo é a faixa de latitude onde o cultivar é semeado.
Por isso, recomendam-se cultivares por faixas de latitude (grupos de maturi-
dade), para que sejam semeados em local e época com fotoperíodo adequado
para o seu desenvolvimento vegetativo e reprodutivo. No Brasil, a época de
semeadura recomendada para a maioria dos Estados produtores é entre meados
de outubro e meados de dezembro, preferencialmente em novembro (mais deta-
lhes no Cap. 7).
O pigmento responsável por desencadear esse processo de indução na soja
é chamado de fitocromo. Ele absorve radiação dentro das faixas do vermelho
(500 nm a 600 nm de comprimento de onda) e do vermelho distante (600 nm a
700 nm de comprimento de onda), adquirindo alternadamente duas estruturas
.
distintas simbolizadas por P660 e P730. Na presença da radiação solar, o fito-
cromo converte-se de P660 a P730, acumulando-se nesta forma. Na ausência de
luz, ele reverte o processo e se acumula na forma de P660. Assim, na condição
1

de dias curtos, a forma P660 acumula-se por um longo tempo, induzindo plantas
a florescer (Taiz; Zeiger, 2004).

3.3 UMIDADE
A disponibilidade de água é importante durante todo o desenvolvimento da
cultura; no entanto, o período de germinação e emergência e o de floração e
enchimento de grãos são os mais críticos. Para que ocorra a germinação, a
semente p~ecisa absorver pelo menos 50% do seu peso em água. Nesse período,
a umidade no solo deve estar entre 50% e 85% da capacidade de campo.
A proporção que a planta se desenvolve, a necessidade de água vai aumen-
tando, chegando ao máximo durante a floração e o enchimento de grãos e
decrescendo após esse período. A necessidade total de água na cultura da soja,
para a obtenção do máximo ren_d imento, varia entre 450 mm/ciclo e 800 mm/
ciclo, dependendo das condições climáticas, do manejo da cultura e da duração
do ciclo do cultivar (Embrapa, 2013).
Déficits hídricos significativos durante a floração e o enchimento de grãos
provocam alterações fisiológicas na planta, como o fechamento estomático e o
enrolamento de folhas~ causando .queda prematura de folhas e de flores e abor-
tamento de vagens e, consequentemente, redl.lzindo o rendime~to de grãos
(Embrapa, 2013).
,
3
~

EXIGENCIAS EDAFOCLIMATICAS 51

3.4 TEMPERATURA
A soja é mais bem adaptada a temperaturas entre 20 ºC e 30 ºC, sendo a tempe-
ratura ideal para seu crescimento e desenvolvimento em torno de 30 ºC.
O crescimento vegetativo da soja é pequeno ou nulo a temperaturas menores ou
iguais a 10 ºC. Temperaturas acima de 40 ºC têm efeito adverso na taxa de cres-
cimento, pois provocam distúrbios na floração e diminuem a capacidade de
retenção de vagens (Embrapa, 2013).
A floração da soja somente é induzida em temperaturas acima de 13 ºC.
As diferenças de data de floração, entre anos, apresentadas por um cultivar
semeado numa mesma época são devidas às variações de temperatura. Assim, a
floração precoce acontece principalmente em decorrência de temperaturas mais
altas, podendo acarretar diminuição na altura de planta. Esse problema pode
se agravar se, paralelamente, houver insuficiência hídrica e/ou fotoperiódica
durante a fase de crescimento. Diferenças de data de floração entre cultivares
numa mesma época de semeadura são devidas, principalmente, à resposta dife-
rencial dos cultivares ao comprimento do dia (fotoperíodo) (Embrapa, 2013).
Em ambientes com fotoperíodo constante, é a temperatura que influencia
grandemente o tempo de florescimento {Garner; Allard, 1930), existindo uma
relação inversa entre a temperatura média e o número de dias necessários
para a floração (Rodrigues et al., 2001). Para qualquer cultivar, a taxa de desen-
volvimento da planta está diretamente relacionada à temperatura. Assim, o
intervalo de tempo entre os diferentes estádios será variável conforme as
mudanças de temperatura entre e dentro da estação de crescimento. A duração
desses subperíodos é determinada pelo grau de sensibilidade termofotoperió-
dica do genótipo. Dessa forma, em dias longos, a taxa de desenvolvimento dos
órgãos reprodutivos é menor e, em baixas temperaturas, há diminuição no
número de primórdios reprodutivos e na taxa de desenvolvimento (Rodrigues
et al., 2001).
A nodulação da soja também é influenciada pela temperatura. Maior massa
de nódulos e fixação de nitrogênio são observadas quando a temperatura do solo
está em torno de 27 ºC. As temperaturas elevadas e o estresse hídrico, muitas
vezes atuando juntos, são os principais fatores ambientais limitantes à fixação
biológica de nitrogênio nos trópicos, afetando a simbiose em todos os estádios
(Hungria; Campo; Mendes, 2001).
A maturação também pode ser acelerada pela ocorrência de altas tempe-
raturas. A qualidade das sementes é afetada negativamente quando a umidade
e a temperatura estão altas, mas temperaturas baixas na fase de maturação,
associadas aos períodos chuvosos ou de alta umidade, podem atrasar a data
de colheita, uma vez que as hastes ainda estão verdes e há retenção foliar
(Embrapa, 2013).
52 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1
1
- ..
:

r

1 ,

PREPARO DO SOLO E PLANTIO

Gil Miguel de Sousa Câmara


Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Escola Superior de Agricultura ''Luiz de Queiroz'',
da Uniuersidade de São Paulo. E-mail: gil.camara@usp.br

A área agrícola de uma propriedade rural pode ser compreendida como aquela
destinada especificamente à produção vegetal e/ou animal, já consideradas à
parte e de direito as áreas de preservação permanente e de reserva legal, além
das superfícies destinadas à alocação das vias internas (estradas e carreadores).
É sobre a área agrícola que se concentram as operações manuais e mecanizadas
destinadas à instalação, à condução e à colheita das culturas, além do trans-
porte interno de insumos e da produção, segundo um planejamento logístico
operacional. Daí a importância dos ajustes prévios e dos preparas adequados,
visando atender às demandas operacionais da semeadura, dos tratos culturais
e da colheita.

4.1 PREPARO DA ÁREA AGRÍCOLA


O preparo da área agrícola engloba planejamento, tomada de decisões e uma série
de operações agrícolas que visam sistematizar e preparar a área de produção,
objetivando a conservação do solo e da água, o aumento da eficiência opera-
cional das práticas agrícolas subsequentes e a contribuição para que as metas
sustentáveis de máxima produtividade agrícola e econômica sejam atingidas.
A área agrícola de produção de grãos deve ter como meta principal esta-
belecer um sistema conservacionista dos recursos naturais e dos fatores de
produção, com viabilidade econômica, resultando na conquista de melhor quali-
dade de vida e sustentabilidade. Nesse sentido, o sistema de plantio direto (SPD) é
o que melhor se aproxima dessa meta.
Em algumas situ~ções, como áreas novas de expansão da cultura, onde
todos os fatores de produção se encontram em fase inicial de estruturação, ou,
em outras, onde o estado de degradação da área atingiu um ponto em que não se
sustentam produtividades agrícolas ~conomicamente reptáveis, ~ melhor opção
é estabelecer um plano de operações agrjcolas que envolva a sistematizaçã9 da
54 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

área e o preparo convencional do solo associado à construção da fertilidade, até


chegar o momento adequado de instalação do SPD.
Independentemente do sistema de preparo da área agrícola adotado, deve-
-se atentar ao fato de a cultura da soja ser intensamente mecanizada, desde a
pré-instalação até a colheita dos grãos, além de estar associada a, pelo menos,
mais uma cultura em rotação ou em sucessão, também intensamente mecani-
zada, como trigo e cereais de inverno (Região Sul), algodão (Região do Cerrado) e
milho ou sorgo segunda safra (várias regiões do Brasil).
No planejamento do preparo de uma área agrícola, é preciso ter conhe-
cimento sobre as seguintes informações básicas: a) planta planialtimétrica
georreferenciada da área; b) mapeamento das áreas de preservação permanente
e da hidrologia da propriedade; c) mapeamento pedológico dos solos das áreas
efetivas de produção de grãos, para identificação dos ambientes de produção e das
zonas de manejo; d) mapeamento da fertilidade dos solos; e e) histórico de produ-
tividade da soja e/ou de outras culturas, preferencialmente com base em talhões.

4.1.1 Sistematização da área


A sistematização da área agrícola começa no escritório e termina no campo.
Com base nas informações sobre topografia das áreas, definem-se os ajustes
necessários para que as operações agrícolas mecanizadas em sequência, não só
as de preparo do solo, mas também as de instalação, tratos culturais e colheita
da cultura, tenham alto rendimento com a máxima segurança, não sendo reco-
mendadas, para a produção de soja, áreas com declive acima de 12%.
Fazem parte das operações de sistematização da área agrícola a limpeza
do terreno, via catação manual e/ou mecanizada de estruturas vegetais (tocas,
galhos, raízes etc.), e o nivelamento do solo, reduzindo ou eliminando sulcos
de erosão, trilhas, cupinzeiros e outros defeitos que são obstáculos à realização
das próximas operações mecanizadas e à conservação da água e do solo. Essas
atividades são demoradas, com rendimentos operacionais variando de 0,9 ha/h
a 1,6 ha/h, e realizadas por máquinas agrícolas com rodados pneumáticos ou de
esteira, demandando potência variável de 120 cv a 300 cv.

4.1.2 Terraceamento
Deve-se aproveitar a etapa da sistematização da área, ou o momento imediata-
mente subsequente, para a implantação do sistema conservacionista mecânico
das áreas de produção, cuja eficiência será aumentada, posteriormente, por
meio da adoção de outros manejas culturais associados a boas práticas agríco-
las, que proporcionem rápida germinação das sementes e vigoroso crescimento
vegetativo das plantas.
o terraceamento e a correta dimensão das distâncias entre terraços não
devem ser negligenciados, mesmo havendo planejamento de instalação do SPD.
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 55

pois chuvas intensivas com alto potencial erosivo são imprevisíveis e podem
levar ''morro abaixo", já no primeiro verão, todo o investimento aplicado na
cultura. Áreas com declive inferior a 6% e com solos de média a alta capacidade
de infiltração de água podem receber terraços de base larga em nível ou com
suave desnível. Acima de 6% e com média a alta drenabilidade, sugerem-se terra-
ços de base larga em desnível, para canais escoadouros vegetados. Com menor
drenabilidade do solo, podem-se adotar terraços embutidos.

4.1.3 Preparo convencional do solo


Como parte do preparo da área agrícola, o preparo convencional do solo carac-
teriza-se por intensa movimentação deste nos sentidos vertical e horizontal,
sendo subdividido em preparo primário e secundário. A expressão "intensa
movimentação" do solo refere-se à movimentação intensa em profundidade,
com número reduzido de operações (número de passadas de implemento), resul-
tando na obtenção de uma superfície rugosa (solo não pulverizado), mantendo
restos culturais parcialmente visíveis.
O preparo convencional possibilita corrigir os problemas do solo de natu-
reza química (correções de acidez e de fertilidade), física (eliminação de camadas
adensadas em subsuperfície) e biológica (diminuição das populações de pragas e
nematoides e do potencial de inóculo de agentes fitopatogênicos), de maneira a
adequá-lo a determinado sistema de produção, preferencialmente o SPD.
O preparo primário consiste na movimentação do solo em profundidade
variável de média (20 cm a 30 cm) a alta (30 cm a 50 cm), por meio das operações
de aração (arado de aiveca ou de disco), gradeação média (grades médias) ou,
em substituição ao arado, por uma sequência de operações com grades (Torres;
Saraiva; Galerani, 1993).
A presença do arado é a característica mais marcante nessa modalidade
de preparo periódico do solo. Sua função é revolver o solo em camadas mais
profundas. Entretanto, a efetiva profundidade irá depender das dimensões dos
órgãos ativos (discos ou aivecas), da regulagem do equipamento, da textura
do solo, das condições de umidade e do tipo de cobertura na área agrícola por
ocasião da aração (Torres; Saraiva; Galerani, 1993).
Devido a suas características, o arado presta-se muito bem à recuperação
de propriedades físicas do solo e à redução de problemas de natureza biológica,
ocasionando o enterrio das sementeiras de plantas daninhas e a morte delas por
exposição à radiação solar, bem como de inúmeros agentes bióticos prejudiciais
à cultura da soja, como fungos e ninfas de pragas mastigadoras e sugadoras que
atuam tanto na parte aérea como nas raízes das plantas. O arado pode também
reduzir drástica e temporariamente as populações de nematoides.
56 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

Ao mesmo tempo, a aração contribui para a adequada correção de proprie-


dades químicas do solo, ao incorporar de forma mais profunda o calcário. Assim,
no mínimo, a calagem dimensionada para os primeiros 20 cm de profundidade
terá condições de ser atendida.
No lugar da aração (lenta e onerosa), pode ser feita a gradeação da área,
que consta da passagem de pelo menos dois tipos diferentes de grades, sendo
o número de passadas determinado pelas condições do terreno e pelo grau de
nivelamento requisitado pelo produtor. Ao contrário do arado, que faz intensa
movimentação vertical do solo, a grade, seja qual for a sua dimensão, realiza
predominantemente movimentações horizontais ou laterais de terra, o que
limita a sua profundidade efetiva de trabalho. Conforme o uso, sérios proble-
mas de desagregação e compactação do solo poderão advir das gradagens,
por exemplo, a formação de uma camada endurecida, entre 10 cm e 15 cm de
profundidade, conhecida na prática como pé de grade.
A grade aradora faz o mesmo tipo de movimento que uma grade destor-
roadora, ou seja, predominam os movimentos laterais. Porém, em razão do
diâmetro de seus discos (71 cm a 86 cm) e de sua massa ativa, é capaz de atingir
profundidades de até 30 cm, desde que as condições de umidade no solo (ponto
de friabilidade) sejam favoráveis à operação. Nas mesmas condições, o arado de
discos ou de aiveca consegue atingir profundidades maiores.
As considerações feitas até aqui são de caráter geral, pois, na prática, há que se
levar em conta uma série de atributos e características na área agrícola por ocasião
das operações, como tipo de solo (classificação pedológica), seu estado atual de
cobertura (resteva verde ou dessecada), e umidade, além da natureza e do objetivo
do programa de operações mecanizadas subsequentes {Veiga; Milan, 2000).
Os implementas utilizados nas operações agrícolas pertinentes ao preparo
primário do solo requerem maior potência na barra de tração e, consequente-
mente, no motor dos tratores, conforme observado na Tab. 4.1.

Tab. 4.1 Potência requerida de alguns implementas agrícolas


Número de Largura máxima Potência máxima requerida
Descrição Modelo discos/aivecas/ de corte no motor do trator
hastes (mm) (kW) (cv)
Arado 3 900
AR-PR 44 60
reversível
Arado de 2.400
• AARP 5 162 220
a1veca
Arado de 6 2.880
AARP 176 240
aiveca

Grade GAi 20 2.570 96 130


Escarlftcador AST/MATICSS0 5 3.000 176 240
Fonte: Mllan (2002).
1

- -- --- -
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 57

O preparo secundário consiste no desterroamento e no nivelamento do


terreno, por meio de gradeações leves com grade niveladora. O objetivo é dimi-
nuir o tamanho dos torrões, sem jamais deixar o solo pulverizado.
Torrões de diferentes dimensões surgem após a aração ou a gradeação do
terreno, tornando o solo impróprio para a instalação mecanizada da cultura.
Além de destruir os torrões, o preparo secundário reduz a incidência de plantas
daninhas e uniformiza a superfície do terreno. O refinamento do trabalho é perti-
nente à grade niveladora, que, trabalhando com um pranchão ou rolão de madeira
em arrasto, estabelece uma superfície plana, rugosa e favorável às operações
mecanizadas subsequentes. Consegue-se melhor regulagem da profundidade de
semeadura, melhor uniformidade na distribuição das sementes e do fertilizante,
maior eficiência das máquinas para a colheita e menor perda de vagens, uma vez
que a altura de corte pode ser reduzida (Torres; Saraiva; Galerani, 1993).
Na Tab. 4.2 são apresentados os rendimentos operacionais de alguns
conjuntos de máquina e implementas avaliados por Yokoyama et al. (1995) no
Estado de Goiás, considerando-se o mesmo trator com potência de 100 ± 5 cv
para todos os conjuntos.

Tab. 4.2 Rendimento operacional de vários conjuntos de máquina e implementas agrícolas


Conjunto máquina x implementas Rendimento operacional (ha h-1)

Trator + arado (3 aivecas x 14") 0,37

Trator+ grade aradora (18 discos de 28") 0,84

Trator+ grade niveladora (36 discos de 20") 1,90

Trator+ semeadora (10 linhas) 1,75

Fonte: Yokoyama et ai. (1995).

4.1.4 Preparo mínimo ou reduzido do solo


Surgiu paralelamente à instalação dos primeiros sistemas de plantio direto
no Brasil, como um estágio intermediário entre este e o preparo convencional
do solo, motivado principalmente pela pequena oferta e pelo elevado custo de
aquisição das primeiras semeadoras-adubadoras para uso em plantio direto.
Preparo mínimo ou reduzido refere-se àquele com pouca movimentação de
solo, sem reduzir a profundidade de trabalho. No lugar da grade aradora, é
utilizado o arado escarificador ou, simplesmente, escarificador. Trata-se de um
implemento munido.de hastes de ferro .c om.forma p~rabólica ou semiparabólica,
contendo ou não discos de corte antecedendo as hastes escarificadoras. Estas,
com potência re_q ue_rida entre 10 cv e 15 cv por haste, devem ser posicionadas çle
forma inclinada a 2.0°, realizando o corte e a ruptura do solo a profundidades em
58 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

torno de 20 cm a 40 cm. Nos solos mais secos, esse tipo de implemento forma
torrões, ao passo que, nos mais úmidos, perde a sua função de escarificador,
podendo agravar os problemas de natureza física no solo. Havendo a formação
de torrões de tamanho grande, torna-se necessária a operação de gradeação
destorroadora, que movimenta intensivamente o solo. Por essa razão, o termo
ºpreparo mínimo ou reduzido" nem sempre se aplica.
É importante avaliar as condições de umidade do solo antes do preparo.
Por exemplo, para usar o escarificador, a umidade do terreno pode ser superior
àquela recomendada para o preparo convencional, desde que o tracionamento
do trator não seja comprometido pela ocorrência de patinamento. Solo seco não
permite o aprofundamento das hastes. Na umidade adequada, a escarificação
provoca o afofamento do solo, quebrando o adensamento sem o revolvimento e
a destruição dos agregados da camada de solo trabalhada. Já os discos de corte
têm a função de cortar a palha sobre o terreno, para evitar a amontoa de resí-
duos e o embuchamento das hastes.
Quando bem regulado, o escarificador apresenta as seguintes vantagens:
a) desagrega menos o solo que o preparo convencional com arado e/ou grade;
b) deixa boa quantidade de resíduos de palha (até 70%) sobre a superfície do
solo; c) quebra as camadas compactadas entre 10 cm e 25 cm de profundidade;
d) aumenta a infiltração e a capacidade de retenção de água no solo; e) diminui
sensivelmente os riscos de erosão pela menor desagregação do solo e pelos
resíduos que ficam na superfície, bem como pela maior infiltração de água;
f) não forma o pé de grade; g) permite trabalhar em solo relativamente seco;
h) apresenta economia de combustível e rapidez de trabalho; i) é fácil de regu-
lar no campo; e j) não movimenta o solo lateralmente, como no caso da grade
aradora, evitando o acúmulo de terra nos terraços.
Desde a virada do milênio, a agricultura brasileira produtora de grãos vem
apresentando aumentos sistemáticos nos volumes de produção motivados por:
a) incremento nas áreas de produção de soja e de milho safrinha; b) ganhos de
produtividade agrícola devidos à melhoria genética de cultivares e de híbridos;
c) evolução e inovação tecnológica na área de insumos (sementes, inoculantes
biológicos, defensivos agrícolas e fertilizantes); e d) evolução e inovação tecno-
lógica das máquinas e dos implementas agrícolas associadas à agricultura de
precisão e aos recentes sistemas digitais de gestão dos fatores de produção.
Toda essa evolução proporcionou a expansão das culturas de soja e de
milho para as regiões das fronteiras Centro-Norte e Nordeste do Brasil e O surgi-
mento de máquinas e implementes agrícolas maiores e mais pesados. utilizados
duplamente dentro do mesmo ano agrícola, para atender às operações meca-
nizadas de pré-instalação, semeadura-adubação, tratos culturais e colheita,
principalmente nos sistemas de produção envolvendo a sucessão soja x milho.

l
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 59

Consequentemente, nos últimos anos começaram a surgir problemas relacio-


nados à física de solo, especialmente à formação de camadas adensadas em
subsuperfície nas áreas de plantio direto, dificultando a infiltração da água e a
respiração das raízes.
Atualmente, o mercado nacional de máquinas e implementas agrícolas
dispõe de escarificadores modernos dotados de sistemas de desarme automá-
tico, que impedem ou reduzem o quebramento das hastes devido à resistência
oferecida pelo solo, quando da penetração e do deslocamento dos elementos
escarificadores (Tab. 4.3).

Tab. 4.3 Principais modelos de escarificadores produzidos no Brasil para uso em áreas de
plantio direto produtoras de grãos
Potência máxima requerida
Número de Largura máxima no motor do trator
Marca Modelo
hastes de corte (mm)
(kW) (cv)
Garra
Baldan 7-13 2.100-3.900 66-143 90-195
300
Marchesan AST 3-11 690-2.650 40-110 55-150
Stara Fax 7-15 2.100-4.500 51-165 70-225
Fonte: Baldan (2019), Marchesan (2019) e Stara (2019).

Projetados especialmente para a quebra do adensamento que ocorre nas


áreas cultivadas sob o SPD, trabalham na velocidade de 4 km/h a 8 km/h,
sendo que alguns modelos executam escarificação vibratória, promovendo o
afofamento da terra na profundidade de 20 cm a 30 cm, sem que haja desestru-
turação do solo, e possibilitando melhor aeração e infiltração de água no sistema.
Frontalmente às hastes encontram-se discos de corte de palha com 46 cm de
diâmetro {18'') e, posteriormente àquelas, rolos niveladores que proporcionam
o acabamento final do solo, mantendo a superfície adequada para a semeadura
direta ou o plantio direto da próxima cultura.

4.1.s Semeadura direta e plantio direto


Atualmente é o sistema de produção predominante no Brasil. De forma simples,
semeadura direta ou plantio direto consiste na colocação da semente em sulco
ou cova de solo não revolvido, com largura e profundidade suficientes para obter
cobertura adequada e permitir bom contato semente-solo.
Do ponto de vista acadêmico e com base em conceitos mais técnicos, a
semeadura direta difere do plantio direto. A primeira pode ser realizada sobre a
área agrícola sem que as premissas básicas do plantio direto sejam atendidas.
Assim, é suficiente dessecar a vegetação sobre o solo e fazer a semeadura direta
- - -- - - -- - - - -

60 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

sobre a palha, seja esta constituída por restos vegetais da cultura anterior, seja
pela resteva da vegetação natural da área. As situações mais comuns envolvem
as sucessões de culturas entre leguminosas e gramíneas, citando-se como prin-
cipais exemplos a sucessão soja x trigo e, sobretudo, a sucessão soja x milho,
atualmente realizada em 35% da área cultivada com soja no Brasil e com tendên-
cia de crescimento, motivada pelo aumento do consumo mundial de milho para
a próxima década e pela construção de destilarias de produção de etanol à base
de milho no País.
Já o plantio direto consiste em um sistema de produção mais complexo,
fundamentado nas seguintes premissas básicas e necessárias: a) exige nova
consciência do produtor rural de que alta produtividade agrícola, por si só, não
é a única meta; b) tecnicamente, antes da instalação definitiva do plantio direto,
há a necessidade de se corrigirem as deficiências de natureza física, química
e biológica na área agrícola; e e) é vital para a estabilidade técnica, econômica
e sustentável do sistema a execução de um programa plurianual de produção
vegetal, preferencialmente a rotação de culturas na área agrícola, envolvendo
espécies de retorno econômico imediato e culturas de cobertura formadoras de
palha, com alta relação carbono/nitrogênio (C/N).
As indicações do uso do plantio direto são seguidas desde que haja sufi-
ciente qualificação e motivação do agricultor. Outros fatores, porém, devem ser
levados em consideração. É recomendável a instalação do sistema em solo com
nível adequado de fertilidade ou que seja antecipadamente corrigido, pois, em
caso de necessidade futura, novas aplicações de calcário e de fertilizantes serão
realizadas sobre a sua superfície, sem incorporação. Da mesma forma, o solo
deve estar o menos infestado possível, para não dificultar o controle de plan-
tas daninhas. Espécies perenes na área, se não controladas convenientemente,
podem tornar antieconômica a adoção do plantio direto. Também o terreno
deve ser suficientemente plano, livre de sulcos de erosão e de camadas adensa-
das na base da parte arável.
Uma vez atendidas as premissas básicas, a diferença operacional no plantio
direto reside na substituição da mecanização das operações de preparo da área
agrícola pela utilização do manejo químico (dessecação) da cobertura vegetal
na área, imediatamente antes da instalação da cultura. Basicamente, tem-se o
manejo químico da cobertura vegetal através da aplicação de produtos desse-
cantes. O mato que surge após a emergência da cultura não pode ser cultivado
mecanicamente. Recomenda-se que seja controlado com herbicidas de ação
pós-emergente, seletivos à cultura da soja, cuja aplicação é feita em área total.
Dentro do programa plurianual de produção vegetal, é imprescindível
trabalhar com culturas formadoras de palha. Na colheita, o picador deve ser
regulado para cortar e distribuir uniformemente a pall1a sobre a superfície do
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 61

terreno. Convenientemente espalhada, ela protege o solo contra variações brus-


cas de temperatura e efeitos da erosão, reduz a evaporação e mantém o solo mais
úmido, além de controlar as plantas daninhas através do sombreamento (abafa-
mento) da sementeira. Sua distribuição desuniforme pode dificultar o trabalho
da semeadora-adubadora, não controlar eficientemente o mato e aumentar a
intensidade de evaporação da água do solo.
Em SPD bem instalado e consolidado, as produtividades agrícolas das cultu-
ras produtoras de grãos tendem a ser mais elevadas, se comparadas àquelas
obtidas em áreas com preparo convencional ou reduzido do solo.
Mesmo que se considerem produtividade e custo semelhantes, podem-
-se apontar as seguintes vantagens do plantio direto em relação ao preparo
convencional ou reduzido: a) presença de resíduos culturais na superfície do
solo, conferindo maior proteção contra a erosão, menor infestação do mato
e maior disponibilidade de água para as culturas; b) redução dos custos com
mão de obra e combustível; c) melhor emergência e desenvolvimento inicial da
cultura; d) redução da infestação do mato na linha de semeadura; e) economia
de tempo, possibilitando melhor aproveitamento da janela de plantio da cultura
em sequência, prevista no plano de rotação; f) proteção do solo contra varia-
ções de temperatura; g) maior taxa de sobrevivência dos rizóbios inoculados
via sementes ou sulcos de semeadura; e h) melhor desempenho fisiológico da
fixação biológica do nitrogênio.
As desvantagens são as seguintes: a) maior custo com herbicidas; b) possi-
bilidade de maior incidência de plantas daninhas e de insetos e microrganismos
considerados não problemáticos no sistema do preparo convencional ou redu-
zido; c) o ciclo do cultivar pode aumentar em alguns dias, com maior risco de
acamamento de plantas, devido à maior disponibilidade de água e ao aumento,
na camada superficial, da fertilidade do solo em matéria orgânica e em fósforo;
e d) maior probabilidade de aumento da indução mecânica de compactação do
solo em subsuperfície. Porém, nada que não possa ser resolvido sem comprome-
ter a estabilidade física do sistema.

4.2 ÉPOCAS DE SEMEADURA E POPULAÇÃO DE PLANTAS


A escolha da época de semeadura pode ser considerada o fator de manejo mais
impactante sobre a produtividade agrícola de uma cultura e está intrinseca-
mente relacionada ao manejo populacional de plantas, razão pela qual esses
assuntos são tratados em capítulo à parte neste livro.

4.3 ESCOLHA DA SEMENTE


O sucesso de uma cultura inicia-se pelo uso de semente de boa qualidade. Além
da importante missão de propagar a cultura, a semente encerra, no seu interior,
62 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

toda a informação genética necessária à expressão de elevada produtividade,


geralmente associada a, pelo menos, uma ou mais características desejáveis
em cultivares de soja. Com o advento das ferramentas de Engenharia Genética,
introduzindo genes de resistência a herbicidas, a lagartas mastigadoras de folhas
e a outros eventos, a semente passa a agregar alto valor tecnológico e financeiro.
,
Pode-se considerar a semente como o mais importante dos insumos agr1co-
las, pois, se não for de boa qualidade, não haverá estande adequado de plantas
nem produtividade econômica. Consequentemente, haverá desperdício e perda
de eficiência na utilização e no desempenho dos demais insumos.
Melhoramento genético e produção de sementes são atividades inter-rela-
cionadas. O sistema oficial de produção de sementes no Brasil é o de certificação,
regulamentado pelo Decreto nº 5.153, que aprova o regu~amento da Lei nº 10.711,
que dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas (SNSM). Este esta-
belece as seguintes categorias de sementes: a) semente genética; b) semente
básica; e) semente Cl; d) semente C2; e) semente S1; e f) semente S2.
Assim que um Programa de Melhoramento Genético {PMG) obtém novo
genótipo com elevado potencial para se transformar em novo cultivar comer-
cial, sua primeira preocupação é estabelecer a quantidade mínima de sementes
geneticamente puras que garanta a propagação do novo produto. A essa primeira
geração de sementes dá-se o nome de semente genética.
O volume de semente genética é aumentado pelo PMG ou por uma Empresa
Produtora de Sementes {EPS) conveniada, obtendo-se a geração de semente básica.
A partir desta, novas gerações são obtidas por meio da propagação do cultivar em
campos de produção de sementes pertencentes ou associados à EPS. A semente
básica dá origem à semente certgicada de primeira geração {Cl) e esta, à semente
certificada de segunda geração (C2). Como o volume produzido até a categoria C2 é
insuficiente para atender à demanda de plantio, o sistema avança mais duas gera-
ções, obtendo a semente de primeira geração (S1) e a semente de segunda geração (S2),
sendo estas duas últimas categorias produzidas fora do sistema de certificação.
Cabe ao agricultor a verificação cuidadosa das sementes antes de adquiri-las.
Sementes certificadas são produzidas sob normas rígidas e dentro de determina-
dos padrões de qualidade e, portanto, devem ser as preferidas. As informações
necessárias para a utilização correta encontram-se no laudo de análise de semen-
tes, além das informações básicas impressas nas etiquetas das embalagens que
acondicionam as sementes certificadas, representando a segurança não encon-
trada, quando o agricultor utiliza material próprio ou de ''comerciantes'' sem
garantias de idoneidade.
De acordo com Krzyzanowski et al. (2008), o conceito de qualidade da semente
envolve um conjunto de características importantes e inter-relacionadas, desta-
cando-se: a) a qualidade genética ou pureza genética, que é a garantia do potencial
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 63

produtivo do cultivar escoll1ido; b) a qualidade fisiológica, que reúne a viabilidade e


o vigor, os quais permitem a obtenção do número adequado e uniforme de plan-
tas (população) na área cultivada e o aumento de produtividade; c) a qualidade
física ou pureza física, que se traduz na integridade das sementes e informa sobre
a presença de material inerte e indesejável no lote de sementes; e d) a qualidade
. , .
san1tar1a, que garante que as sementes não atuem como estruturas de disse-
minação de patógenos, principalmente para áreas indenes. O lote de sementes
deve estar isento de cistos·do nematoide-do-cisto-da-soja (Heterodera glycines) e
de escleródios, estruturas de sobrevivência do fungo causador do mofo-branco
(Sclerotinia sclerotiorum).
O estabelecimento da população inicial de plantas na área de produção
possui relação direta com a viabilidade e o vigor das sementes. A viabilidade,
ou germinação, ou poder germinativo de um lote de sementes é expressa
percentualmente e se refere à quantidade de sementes vivas capazes de
germinar. O vigor diz respeito ao atributo das sementes que lhes confere, em
condições reais e variáveis de campo, emergência rápida e uniforme, com o
estabelecimento e o desenvolvimento de plântulas normais de soja (França
Neto; Krzyzanowski; Costa, 1998; Krzyzanowski et al., 1996; Peske; Lucca Filho;
Barros, 2006).
As sementes não devem apresentar rachaduras ou trincas (resultados de
danos mecânicos), de modo a diminuir a possibilidade de penetração de pató-
genos, que prejudicam a germinação e/ou o desenvolvimento das plantas.
A uniformidade de tamanho é outra característica desejável, pois realça as boas
características das sementes, facilita a regulagem das semeadoras, permite a
emergência mais uniforme das plântulas e constitui outra garantia para o agri-
cultor, indicando que o material adquirido foi submetido ao beneficiamento.
o tamanho da semente, expresso em milímetros, também é informado nas
etiquetas das embalagens e nas respectivas notas fiscais de comercialização.
As classes de tamanho são identificadas pela letra "P'' seguida de um índic~
numérico inteiro ou não, identificador do tamanho da semente em milímetros.
A escala de .t amanho varia de P4,5 a P7,0, com intervalos de 0,25 mm, 0,5 mm ou
1,0 mm (máximo permitido) entre as classes de diâmetro. Assumindo-se, por
exemplo, o intervalo de 0,5 mm, a classe PS,5 significa que as sementes possuem
diâmetro entre 5,5 mm e 6,0 mm, as quais passaram por peneira de orifícios
redondos com 6,0 mm de diâmetro e foram retidas por peneira de orifícios com
s,s mm. A nomenclatura Pzer_o identifica semente não classificada por tamanho.
o peso de mil sementes (PMS) possui relação direta com o tamanho
das sementes classificado em peneiras e, consequentemente, com o consumo de
sementes por unidade de área plantada,. fato realçado pelos valores apresenta-
dos na Tab. 4.4. No Brasil, as ·s ementes de soja são comercializadas em sacas
--- -

64 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

contendo massa de 40 kg ou 50 kg, com 12% a 13% de umidade. Seja pela base da
massa contida em uma saca de sementes ou pela quantidade média de semen-
tes consumida por hectare, os valores da tabela destacam a importância de
saber o número de sementes contidas por saca, relacionado às informações da
peneira e do PMS.

Tab. 4.4 Valores do peso de mil sementes (PMS) em função do tamanho das sementes e
relação com a quantidade de sementes de soja contida em sacas de 40 l<g ou 50 kg
Tamanho Sementes por Sementes em Sementes em
PMS (g) Peneiras
(mm) grama (nº) 40 kg (nº) 50 kg (nº)
92 ±4 5,0 5,0 a 5,5 10,9 436.000 545.000
115 ± 5 5,5 5,5 a 6,0 8,7 348.000 435.000
148 ± 6 6,0 6,0 a 6,5 6,8 272.000 340.000
182 ± 6 6,5 6,5 a 7,0 5,5 220.000 275.000
216 ± 6 7,0 7,0 a 7,5 4,6 184.000 230.000
244± 6 7,5 7,5 a 8,0 4,1 164.000 205.000
Fonte: baseado em Peske, Lucca Filho e Barros (2006).

A qualidade de um lote de sementes deve ser avaliada em um Laboratório


de Análise de Sementes (LAS), constituído de equipamentos específicos e equipe
técnica qualificada para realizar as análises de rotina, pertinentes à avaliação
da qualidade das sementes, de acordo com os padrões de qualidade definidos
para a espécie pelo SNSM. Na Tab. 4.5 são apresentados os padrões de qualidade
de sementes de soja para comercialização no Brasil.

Tab. 4.5 Padrões de qualidade de sementes de soja para comercialização no Brasil


Peso máximo do lote (kg) 30.000

Pesos mínimos das amostras


Amostra submetida ou média (g) 1.000

.Amostra de trabalho para análise de pureza (g) 500

Amostra de trabalho para determinação de outras


1.000
sementes por número (g)

Padrão de semente

Parâmetros Padrões

Categorias Básica C1 (2 51 ou 52

Pureza
Semente pura (0/o mínima) 99,0 99,0 99,0 99,0

Material iner.te (0/o) - - - ..


Outras sementes (0/o máxima) 0,0 0,1 0,1 0,1

_,
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 65

Tab. 4.5 (continuação)


Determinação de outras sementes por número (nº máximo)
Semente de outra espécie cultivada (outras) zero zero 1 2
Semente de outra espécie cultivada
zero zero zero zero
(Vigna unguiculata)
Semente silvestre zero 1 1 1
Semente nociva tolerada zero 1 1 2
Semente nociva proibida zero zero zero zero
Germinação (0/o mínima) 75 80 80 80
Validade do teste de germinação (máxima
6 6 6 6
em meses)
Validade da reanálise do teste de germinação
3 3 3 3
(máxima em meses)
Fonte: Mapa (2013).

No dimensionamento do consumo de sementes que serão utilizadas na


instalação da cultura, deve-se dar preferência para o uso do valor cultural delas,
cujo valor representa, com maior rigor, a presença de sementes viáveis no lote.
Valor cultural {VC) refere-se à ponderação da germinação com a pureza física
das sementes, de acordo com a seguinte expressão:

VC = (G · PF)/100 (4.1)

em que:
VC = valor cultural (%);
G = germinação das sementes (%);
PF = pureza física das sementes (%).

4.4 TRATAMENTO DE SEMENTES


A evolução tecnológica na área de insumos agrícolas, impulsionada pelo cresci-
mento da escala de produção da agricultura de grãos, intensificou o uso da semente
de soja como veículo de vários insumos de natureza química e/ou biológica.
Conceitualmente e sob a ótica didática, tratamento de sementes {TS) se refere
à aplicação, sobre a superfície das sementes, de substâncias químicas que visam
proteger e melhorar o desempenho agronômico do sistema semente-germinação-
-emergência quanto ao estabelecimento do estande inicial, ao desenvolvimento
vegetativo e à produtividade da cultura. Por sua vez, a inoculação das sementes de
soja se refere à aplicação, sobre a superfície das sementes, de substâncias biológicas,
portanto, substâncias que encerram vida.
Hoje, o conceito mais amplo de TS pode ser compreendido como a aplica-
ção de substâncias químicas e/ou biológicas sobre o tegumento das sementes,
66 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

visando conferir amplo espectro de proteção fitossanitária e melhoria nutricio-


nal e fisiológica aos processos diretamente relacionados ao estabelecimento de
plantas vigorosas em campo.
Os ingredientes químicos e/ou os organismos biológicos com função prote-
tora pertencem à classe dos fungicidas, inseticidas e nematicidas. Os primeiros
atuam protegendo contra a ação de fungos presentes no solo e/ou na semente.
Os inseticidas destinam-se à proteção da cultura contra a ação de pragas
iniciais. Alguns produtos para TS podem conter nematicida. Essas substân-
cias, conforme suas respectivas naturezas e mecanismos de ação, podem ser
efetivamente de controle, de supressão ou de repelência sobre fitopatógenos,
insetos e fitonematoides.
As substâncias químicas com função melhoradora pertencem às classes dos
nutrientes minerais e dos reguladores de crescimento. Os primeiros correspon-
dem às formulações químicas contendo, prevalentemente, os micronutrientes
essenciais ao processo de fixação biológica do nitrogênio, ou outros diretamente
envolvidos no metabolismo da germinação das sementes e da emergência de
plântulas. Os reguladores de crescimento são formulações à base de hormônios
sintéticos ou de substâncias orgânicas precursoras destes, que visam estimular
ou regular algum processo fisiológico relacionado ao crescimento e ao desenvol-
vimento vegetativo inicial da planta.
O TS pode ser feito na própria fazenda (on farm) ou em escala industrial,
denominando-se, no segundo caso, tratamento industrial de sementes (TIS) ou
tratamento de sementes industrial (TSI), sendo este último termo mais usual no Brasil.
Na fazenda, o TS deve ser realizado em local seguro em relação a pessoas,
animais e ambiente, ficando ao encargo de funcionário devidamente capacitado
quanto à manipulação e à dosificação dos diferentes produtos e à calibração dos
equipamentos. Deve-se trabalhar sempre com equipamento de proteção indivi-
dual (EPI) e com produtos registrados, usando preferencialmente aqueles que,
em uma única formulação, contenham os fungicidas de ação por contato e sistê-
mica e/ou os inseticidas (Abrasem, 2015).
o TSI apresenta relação direta com empresas produtoras de sementes
(produção, reembalagem e beneficiamento), as quais possuem máquinas e
implementas específicos que, sob gestão de tecnologia de informação e comu-
nicação eletrônica, realizam o tratamento das sementes, aplicando os produtos
com maior precisão de dose e elevada qualidade de recobrimento (Abrasem,
2015). Na tecnologia do TSI, é imprescindível o uso de polímeros, que promovem
a adesão dos produtos às sementes, sendo opcional a utilização de pó secante.
Sementes tratadas na fazenda ou adquiridas via TSI são para uso exclusivo
na semeadura da cultura e não devem ser destinadas à alimentação humana oti
à nutrição animal. Para que não haja sobras de sementes tratadas, que acabam

..
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 67

se tornando um passivo ambiental e financeiro, o TSI por parte das empresas


produtoras de sementes é realizado somente sob a encomenda de seus clientes.
Outro fato importante se refere aos cálculos e aos procedimentos de dosa-
gem dos ingredientes ativos contidos nas formulações comerciais. A maioria
dos produtos recomenda a dose para ser aplicada à base de 100 kg de sementes.
Entretanto, outros são recomendados à base de volume (mL) por hectare. Neste
último caso, o ideal é que a dose seja ajustada à quantidade de sementes (kg)
que será consumida por hectare, para que não ocorra sub ou supradosagem do
ingrediente ativo.
Obseruação: a lista de insumos de natureza química e biológica recomenda-
dos para o TS de soja no Brasil e registrados junto ao Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa) é muito ampla, sugerindo-se aos interessados
que as consultas sobre informações técnicas de qualquer ingrediente ativo e/ou
marca comercial sejam feitas por meio das seguintes formas: a) para os ingre-
dientes ativos relativos aos defensivos agrícolas, acesso ao website Agrofit, do
Mapa, e consulta direta à bula oficial de cada produto com registro no Mapa e/
ou consulta à Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico {FISPQ);
b) para os demais ingredientes relativos à nutrição, à regulação de processos
fisiológicos das plantas e à inoculação de organismos biológicos, consulta às
respectivas bulas específicas e/ou acesso às informações técnicas disponibi-
lizadas nos websites oficiais dos fornecedores desses insumos, devidamente
registrados no Mapa.

4.4.1 Tratamento de sementes com fungicidas


Os fungicidas para TS de soja podem atuar por contato ou de form~ sistê-
mica. Os primeiros protegem a semente contra fungos que habitam o solo e
aqueles existentes no tegumento da semente (infestação), enquanto os sistêmi-
cos controlam patógenos contidos internamente nas sementes, geralmente no
embrião delas (infecção).
o TS com fungicidas também é prática eficiente para assegurar populações
adequadas de plantas quando as condições edafoclimáticas durante ou logo
após a semeadura são desfavoráveis à germinação e à rápida emergência da soja,
'

deixando a semente exposta por mais tempo a fungos habitantes do sol9, perten-
centes aos gêneros Rhizoctonia spp., Pythium spp., Fusarium spp. e Aspergillus spp.,
que podem causar a sua deterioração no solo ou a morte de plâ~tulas.
A semente de soja constitui excelente veículo de diss~minação para a
maioria de seus agentes fitopatogênicos. Esse fato, por si só, justifica o trata-
mento das sementes com fungicidas, principalmente quando hão se dispõe de
análise fitossanitária das sementes e/ou quando a cultura será instalada pela
primeira vez em uma área nova. Os principais patógenos de natureza fúngica
68 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

potencialmente causadores de doenças na própria cultura e disseminados


pela semente de soja são: Cercospora kikuchii; Cercospora sojina; Septoria g1ycines;
Fusarium semitectum; Phomopsis spp. anamorfo de Diaporthe spp.; Co1letotrichum
truncatum; Corynespora cassiicola; e Sclerotinia sclerotiorum.
A escolha correta de um fungicida deve levar em conta a correta identi-
ficação do organismo-alvo do tratamento, pois os fungicidas diferem entre si
quanto ao espectro de ação ou à especificidade (Zambolin, 2005).

4.4.Z Tratamento de sementes com inseticidas e nematicidas


O TS com inseticidas em soja visa proteger a semente e a plântula em processo
de emergência, além das raízes e da parte aérea das plantas jovens, contra a
ação mastigadora ou sugadora por parte de formas larvais, ninfais e/ou adultas
de insetos-pragas, que podem reduzir ou impedir o estabelecimento do estande
inicial de plantas no campo, interferindo negativa e diretamente na expressão
da produtividade agrícola. No caso dos fitonematoides, o TS visa proteger as
raízes jovens de soja contra a ação deletéria de formas juvenis e adultas de algu-
. , .
mas importantes espec1es.
-
Entre as pragas iniciais e nematoides que atacam as plantas jovens
de soja, para as quais existem indicações de TS, citam-se: corós (Liogenys
fuscus; Liogenys suturalis; Phyllophaga cuyabana); cupim-de-montículo (Procorni-
termes triacifer); lagarta-elasmo (Elasmopa1pus Iignoseilus); lagarta-do-cartucho
(Spodoptera frugiperda); lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis); lagarta
Helicoverpa (Helicouerpa spp.); mosca-branca (Bemisia tabaci raça B); nematoide-
-das-lesões-radiculares (Pratylenchus brachiurus); nematoide-formador-de-galhas
(Meloidogyne jauanica; Meloidogyne incognita); piolho-de-cobra (Julus hesperus);
tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus); torrãozinho-da-soja (Aracanthus
mourei); e vaquinha-verde-amarela (Diabrotica speciosa).

4.4.3 Tratamento de sementes com cobalto, molibdênio e níquel


A utilização de micronutrientes no TS de soja pode ser realizada adicionalmente
aos fungicidas e aos inseticidas, como opção do produtor nas operações on farm,
ou no TSI sob a encomenda de clientes da empresa sementeira.
Cobalto (Co) e molibdênio (Mo) são os principais micronutrientes aplicados
na cultura da soja, via semente, com base em resultados favoráveis observados
em pesquisas desenvolvidas a partir dos anos 1990. Recentemente, o níquel (Ni)
vem sendo estudado quanto a sua respectiva eficiência via aplicação em TS.
Quando utilizados, normalmente entram como 3ª aplicação na sequên-
cia operacional, após o tratamento das sementes com fungicidas e i11seticidas.
Em função de suas relações bioquímicas diretamente envolvidas no processo de
fixação biológica de nitrogênio, Coe Mo são os mais emprega.dos, adicionando-se
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 69

pequenas doses de cada elemento, que variam de 2 g ha-1 a 3 g ha-1 para o Co e


de 12 g ha-1 a 15 g ha-1 para o Mo (Sfredo; Oliveira, 2010).
Como vantagens da aplicação de Coe Mo na soja, citam-se: a) maior desenvol-
vimento do sistema radicular, melhorando a capacidade das plantas em resistir
à seca; b) formação de nódulos maiores e em maior número, promovendo maior
fixação de N 2 e maior formação de proteína; c) maior desenvolvimento da parte
aérea das plantas, com folhas maiores; d) crescimento mais rápido das plan-
tas, ajudando na cobertura mais rápida do solo; e) maior quantidade de vagens
formadas por planta e com maior massa na semente; e f) maior produtividade.
A confirmação da essencialidade do Ni, especialmente para a família
Fabaceae, está fundamentada na sua participação como componente estrutu-
ral das enzimas urease (Dixon et al., 1975) e hidrogenase (Evans et al., 1987),
esta última diretamente relacionada à fixação biológica de nitrogênio.
Entretanto, ainda é pouco o volume de pesquisas com Ni no Brasil que
sustentem recomendação oficial de dose para a cultura, estimando-se que a
faixa de dose-resposta via TS de soja, quanto à eficiência para incremento
da atividade da nitrogenase, aumento do nitrogênio fixado biologicamente e
ganho de produtividade da cultura, seja similar àquela consolidada para o Co
(Franco, 2015).

4.4.4 Tratamento de sementes com bioestimuladores


Segundo Castro e Vieira (2001), o termo hormônio vegetal se refere a composto
orgânico de ocorrência natural, não nutriente, produzido na planta (endógeno),
que em baixas concentrações (10-4 M) promove, inibe ou altera processos morfo-
lógicos e :fisiológicos das plantas.
O termo regulador vegetal se refere à substância sintetizada que, aplicada
exogenamente (TS ou aplicação via foliar), exerce na planta ações semelhantes
ao hormônio vegetal correlato. O conceito se aplica ao retardador vegetal, que,
como o próprio termo sugere, é uma substância sintética que, aplicada exoge-
namente, retarda algum processo :fisiológico, como alongação e divisão celular
subapical (Castro; Vieira, 2001).
o conceito mais amplo de estimulante vegetal refere-se à mistura de regulado-
res vegetais ou de um ou mais reguladores com outras substâncias de natureza
química diferente, como nutrientes, aminoácidos, algas, extratos de algas etc.
Segundo Castro e Vieira (2001), Carvalho e Castro {2014) e Castro e Carvalho
{2014), conforme a composição dos ingredientes e a ação morfofisiológica, encon-
tram-se as seguintes denominações correlatas: a) biorregulador, um composto
orgânico não nutriente; b) bioestimulante, uma mistura de biorreguladores ou de
um ou mais biorreguladores com outros compostos quimicamente diferentes;
e) bioativador, uma substância orgânica que modifica processos morfológicos e
70 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

fisiológicos por meio da produção indireta de hormônios vegetais endógenos;


e d) efeito tô11ico, um composto orgânico modificador de processos morfológicos
e fisiológicos das plantas, resultando em "efeito verde'', que pode aumentar ou
reduzir a produtividade agrícola.
Até o momento, o TS de soja com esses tipos de substâncias tem sido
focado, predominantemente, em compostos sintéticos de natureza química e/
ou orgânica, visando à ação hormonal; alguns, à base de auxinas, giberelinas e
citocininas, e outros, à base de algas ou de extratos de algas que possuem precur-
sores hormonais, predominantemente associados à presença de nutrientes.
Não raro, preconizam-se para alguns produtos aplicações sequenciais
iniciando-se, ou não, pelo TS e seguindo-se com uma ou mais aplicações folia-
res. Dependendo da dose, da época e do modo de aplicação, são destinados à
promoção do crescimento radicular em volume e profundidade (enraizadores -
via TS) e do crescimento vegetativo da parte aérea (via TS + foliar), assim como à
fixação de estruturas reprodutivas e à melhoria da translocação de metabólitos
no floema (via foliar).
Como consequência de suas prescrições para uso foliar, ao contrário
dos fungicidas e dos inseticidas recomendados para TS, a maior parte das
recomendações de doses dos produtos comerciais se baseia em volume a
ser aplicado por unidade de área cultivada, variando, conforme natureza e
função, de 100 mL a 500 mL por hectare. O correto, para efeito de TS ou TSI,
é ajustar as doses para o consumo efetivo de massa ou número de sementes
por unidade de área semeada.
Os efeitos dessas substâncias nem sempre são detectados a campo, devido
a outros fatores do ambiente e/ou de manejo, que interferem no crescimento
e no desenvolvimento das plantas e que se encontram em níveis aquém da
suficiência para a nutrição da soja (nutrientes) ou em níveis extremamente
estressantes à fisiologia da planta (solo seco, temperatura alta, efeito de fitoto-
xicidade de herbicida etc.).

4.5 INOCULAÇÃO E COINOCULAÇÃO DAS SEMENTES


4.5.1 Inoculação
Embora faça parte da sequência de tratamentos da semente de soja, considera-.
-se pertinente conceituar pontual e didaticamente a inoculação de sementes.
Atualizando o conceito apresentado por Câmara {2014, 2015), a inoculação das
sementes de soja refere-se à operação agrícola manual ou mecanizada realizada
previamente à semeadura da cultura ou no momento dela, fundamentada na
aplicação de substância biológica nas sementes ou no sulco de semeadura,
visando estabelecer o necessário contato físico entre o veículo (inoculante) das
bactérias fixadoras do nitrogênio (rizóbios) e a planta hospedeira (semente), de
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 71

modo a desenvolver o processo simbionte da fixação biológica do nitrogênio


(FBN) no sistema radicular da soja.
A relação de simbiose mútua responsável pela nodulação das raízes da soja
e pela subsequente FBN ocorre pelas relações fisiológicas específicas entre os
cultivares de Glycine max (L.) Merrill e as estirpes de bactérias pertencentes
às espécies Bradyrhizobium japonicum (Semia 5079 e Semia 508} e Bradyrhizobium
elkanii (Semia 587 e Semia 5019).
Convém aqui esclarecer que Semia é a abreviatura de Seção de Microbiolo-
gia Agrícola da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro) do Estado
do Rio Grande do Sul, cujo Laboratório de Microbiologia Agrícola é, oficialmente,
responsável pela manutenção e distribuição de estirpes recomendadas para uso
em inoculantes comerciais, sendo considerada a "coleção de referência nacional
para rizóbios'' pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
do Brasil.
Os inoculantes podem ser formulados de forma sólida (inoculante turfoso)
ou fluida (inoculante líquido) e disponibilizados em diferentes formatos de
embalagens. Segundo a atual legislação brasileira, inoculantes comerciais
devem conter a concentração mínima de 1,0 x 109 células viáveis de rizóbios
(UFC) por grama ou mililitro de produto. Por ocasião da operação de inoculação
das sementes, a dose recomendada pelo fabricante deve estabelecer a popu-
lação mínima de 1,2 x 106 células bacterianas viáveis por semente inoculada.
Normalmente, a dose de inoculação das sementes tem por referência a massa
de 50 kg ou 100 kg de sementes.
Ao adquirir um inoculante, o produtor deve estar atento aos seguintes
aspectos: a) na embalagem comercial deve constar o número de registro do
produto no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o prazo
de validade, a concentração de bactérias por mililitro (inoculante líquido) ou por
grama (inoculante turfoso) e a identificação de uma ou duas das quatro estirpes
de bactérias recomendadas para o Brasil (Semia 587, Semia 5019, Semia 5079 e
Semia 5080); b) certificar-se de que as embalagens do inoculante se encontram
armazenadas em condições favoráveis de temperatura e arejamento; e e) trans-
portar e conservar o inoculante em ambiente fresco e bem arejado.
Na fazenda, dependendo do tamanho da área a ser semeada, a inoculaçijo
pode ser feita manualmente e/ou mecanicamente, através do uso preferencial
de máquina para tratamento e inoculação de sementes, com rendimento opera-
cional de 60 a 70 sacas inoculadas por hora.
Deve-se atentar aos seguintes cuidados durante a operação de inoculação:
a) abrir a quantidade de embalagens de inoculante proporcional à quantidade de
sementes a ser inoculada por turno de plantio (evit·a r desperdícios); ·b) inocular
preferencialmente à sombra, mantendo as sementes inoculadas protegidas do
72 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

sol e do calor; c) não distribuir o inoculante sobre as sementes dentro dos depó-
sitos (caixas) de sementes da semeadora (isso não é inoculação); d) inocular e
semear de imediato; e) ao usar substâncias protetoras específicas dos rizóbios,
seguir orientação do fabricante; f) o volume de inoculante líquido não deve ser
inferior a 100 mL por saca de 50 kg de sementes; g) no uso de inoculante turfoso,
aumentar sua aderência mediante solução açucarada a 10% e volume de inocu-
lação de 300 mL por saca de 50 kg de sementes; h) distribuir da forma mais ,
1

uniforme possível o inoculante sobre a superfície das sementes; e i) ao adotar


o tratamento químico das sementes, o inoculante deve ser sempre o último
produto aplicado.
Nas áreas com histórico de cultivo de soja, recomenda-se a inoculação
anual da cultura (reinoculação), aplicando-se a dose básica de inoculante por saca
de sementes. A excelente prática da reinoculação no Brasil tem proporcionado,
comprovadamente, ganhos de produtividade que podem variar, conforme culti-
var, ambiente de produção, manejo e ano climático, de 4% a 16% ao ano, com
média nacional de 8% (Hungria; Campo; Mendes, 2007). Na Tab. 4.6 são apresen-
tados alguns dos vários resultados obtidos com essa excelente prática agrícola.

Tab. 4.6 Ganhos de produtividade agrícola de grãos de soja, cultivar BRS 133, obtidos com a
reinoculação das sementes, com inoculantes turfosos e líquidos
Produtividade Valor de
Tratamentos
agrícola (l<g ha-1) referência (0/o)
Controle sem inoculação 3.007 a 100,0

Inoculante turfoso padrão (IAC) 3.289 a 109,4

Média de quatro inoculantes turfosos do mercado 3.365 a 111,9

Média de dois inoculantes líquidos do mercado 3.274 a 108,9

Média de sete inoculantes 3.328 110,7


Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si (Tukey a 5%).

Fonte: Câmara (2000, 2014).

Em áreas novas que receberão a cultura da soja pela primeira vez, é


recomendável a prática da inoculagem, definida como a aplicação de doses
elevadas de inoculante em ambientes de produção sem histórico de cultivo de
soja, visando ao estabelecimento de alta população de rizóbios no solo, para
promover nodulação nas raízes e FBN na primeira cultura de soja na área,
correspondente à adição de duas a três vezes a dose básica por saca de semen-
tes usada na reinoculação.
Nos dias de hoje, a inoculação industrial de sementes vem sendo atentamente
avaliada, com o intuito de adquirir sementes de soja previamente inoculadas ,
cuja operação é feita de modo industrial na Unidade Beneficiadora de Sementes
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 73

(UBS), por ocasião do TSI. Normalmente, a sequência operacional de aplicações


consiste em: 1º) inseticida; 2º) fungicida; 3º) substância específica contendo osmo-
protetores e antidessecantes para proteção dos rizóbios em relação ao inseticida
e ao fungicida; 4º) inoculante turfoso elaborado especialmente para inoculação
industrial das sementes; e 5º) polímero, que promove elevada qualidade de cober-
tura dos produtos sobre as sementes, associado ou não à aplicação de pó secante.
Nesse caso, a inoculação industrial também deve ser a última operação
na sequência dos tratamentos químicos, normalmente antes da aplicação dos
polímeros, com ou sem pó secante. Após o TSI com inoculação industrial, as
sementes são embaladas e encaminhadas ao armazém da empresa produtora
de sementes, até a data de entrega ao cliente.
O inoculante para essa finalidade é tecnicamente denominado inoculante
de longo prazo, comercialmente conhecido como inoculante longa uida (ILV), que
ainda se encontra em processo de avaliação das eficiências agronômica e micro-
biológica. No momento, há disponibilidade no mercado brasileiro de produtos
registrados junto ao Mapa cujas prescrições indicam inoculação prévia à
semeadura variável de 30 a 60 dias. Decorridos os respectivos prazos, a recon-
tagem da população de rizóbios sobre as sementes, realizada em laboratório de
microbiologia agrícola, deve apresentar, pelo menos, 1,0 x 105 UFC por semente
previamente inoculada (Hungria et al., 2020).

4.5.2 Coinoculação
Todas as considerações e orientações apresentadas anteriormente para inocu-
lantes e inoculação com rizóbios são válidas para a coinoc-µlação das sementes
de soja, com exceção feita ao TSI.
Coinoculação ou inoculação mista corresponde à aplicação de rizóbios fixadores
do N em sementes de soja junto com outras bactérias promotoras de crescimento
2
de plantas (BPCP), com destaque para Azospirillum brasilense, estirpes Ab-VS e
Ab-V6 (Hungria; Nogueira; Araujo, 2013).
os benefícios advindos da coinoculação com Azospirillum brasilense são:
a) capacidade de fixar biologicamente o nitrogênio à razão de 3% a 10% da capa-
cidade fixadora dos bradirrizóbios, ou seja, de 10 kg a 30 kg de N a mais por
hectare; b) produção dos hormônios de ·C rescimento auxina, citocinina, gibere-
lina e etileno; c) aumento do volume radicular, com maior superfície radicular
e mais pelos absorventes, resultando em precocidade e maior potencial de
infectividade das raízes pelos rizóbios, com maior nodulação e FBN; d) indução
de resistência a estresse ambiental, devido à produção de hormônios e maior
crescimento radicular; e) capacidade de solubilizar fosfato, melhorando a absor-
ção de fósforo pelas raízes; e f) desenvolvimento de certa resistência a algumas
doenças (Hungria, 2011).
74 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

Como existe compatibilidade funcional entre os microrganismos envol-


vidos, as doses preconizadas para rizóbios e Azospirillum brasilense podem ser
administradas juntas, porém observando que não se deve aumentar a parti-
cipação do Azospirillum além de uma dose por saca de sementes ou até duas
doses por hectare via sulco, em razão de sua elevada capacidade em promover
a produção de hormônios, principalmente auxínicos (AIA), cujo excesso pode se
refletir na perda dos benefícios advindos dessa prática.
Novamente, realça-se que, em uma sequência operacional de tratame~-
tos químicos e · inoculação ou coinoculação de sementes de soja, esta sempre
deve ser a última operação, após a qual a semeadura deve ser providenciada,
evitando-se a chamada ,.semeadura no pó". Solo seco e quente é letal para as
bactérias fixadoras do N 2 e também para Azospirillum brasiiense. Doses e outras
considerações são apresentadas no Cap. 6.
Possibilidades de coinoculações em sementes de soja envolvendo as bactérias
do gênero Bradyrhizobium e outras espécies de organismos têm sido estudadas.
A espécie Bacillus subtilis também é conhecida pela sua inibição sobre
fitopatógenos e exsudação radicular de fitormônios. Quando coinoculada em
sementes de soja junto com variantes das estirpes Semia 5019 (B. elkanii) e Semia
5080 (B. japonicum), proporcionou, perante o controle não coinoculado, 53% a 60%
de incremento na nodulação radicular de plantas em V 3; 76% a 145% de ocupação
dos nódulos pelas estirpes de Bradyrhizobium; e 22% a 24% de ganho de produti-
vidade de grãos (Araujo; Hungria, 1999).
Mais recentemente, estudando a combinação do fungo Pochonia chlamydos-
poria com Bradyrhizobium japonicum, Monteiro (2017) constatou que, além de ser
eficiente no controle dos nematoides, o fungo atua como promotor do cresci-
mento da planta, contribuindo para aumentar o número de nódulos nas raízes e
melhorando a aquisição de nitrogênio, fósforo, cálcio e ferro. Essa autora encon-
trou relação proporcional do aumento do acúmulo de ferro com o aumento do
número de nódulos nas raízes.

4.5.3 Sequência e volume de tratamento e de inoculação de sementes


As considerações aqui apresentadas são mais importantes para tratamentos,
inoculações e coinoculações de sementes executadas na fazenda (onfarm), onde
se procura seguir uma sequência racional de tratamentos químicos, evitando-se
a mistura de produtos com diferentes ingredientes ativos em uma mesma calda
(pejorativamente conhecida como "sopão") ou diretamente sobre as sementes já
depositadas nas caixas da semeadora.
Esse cuidado é primário quando também se fazem a inoculação e a coinocu-
lação das sementes com microrganismos fixadores de nitrogênio, pois reduções
de pH (< 6,0) na calda ou o aquecimento desta, advindos de algumas formulações
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 75

químicas de outros insun1os, levam à morte total das bactérias, perdendo-se por
completo os benefícios da FBN.
A grande maioria dos insumos agrícolas para TS se apresenta em formu-
lação fluida, de maneira que, quanto maior é o número de produtos em uma
sequência de tratamentos, maior tende a ser o volume de líquido na calda.
O volume total de líquido aplicado às sementes não deve ficar abaixo de
600 mL por 100 kg nem exceder esse valor. O excesso de umidade sobre as
sementes determina embebição rápida e parcial delas; em consequência, ocorre
inchaço dos cotilédones e do eixo hipocótilo-radícula, além de rupturas no tegu-
mento das sementes, as quais perderão a sua função antes ou durante a operação
de semeadura. No uso de produtos com pouco líquido, deve-se acrescentar água
até completar o volume máximo recomendado, visando à obtenção de uniformi-
dade de cobertura do tegumento da semente pelo tratamento aplicado.

4.6 SEMEADURA
,
E a operação agrícola que responde diretamente pela instalação da cultura.
Consiste em distribuir determinada quantidade de sementes no solo com o
objetivo de proporcionar boas condições para a germinação e o estabelecimento
de uma lavoura. Além das sementes, podem-se distribuir os fertilizantes, que
constituem a adubação de base da cultura.

4.6.1 Componentes básicos de semeadoras-adubadoras


Os implementas usados na instalação da cultura são as semeadoras ou as
semeadoras-adubadoras. Na Fig. 4.1 encontra-se o esquema de uma semea-
dora-adubadora para o SPD. Durante a passada desse implemento, ocorre
simultaneamente, em cada linha de semeadura, uma sequência ordenada de
eventos, que se inicia pelo corte da palhada, passa pela distribuição do fertili-
zante e pela distribuição das sementes, e termina com o fechamento dos sulcos
e a leve compressão da terra lateral sobre eles. Também se encontra um par de
discos marcadores de linha, situados nas laterais da barra de engate do imple-
mento, que mantém a uniformidade do espaçamento entre os sulcos.
o corte da palhada sobre o solo é feito pelo disco de corte, que deve ser
montado no barramento frontal do chassi, de maneira a ficar alinhado com o
mecanismo sulcador, por onde cai a semente. Esse disco possui movimento de
oscilação lateral para acompanhar curvas do terreno, além do movimento de
oscilação vertical ou de flutuação, que permite monitorar as variações do relevo
e transpor obstáculos.
Atrás do disco de corte encontra-se o sistema de distribuição do fertili-
zante, sobre o qual, na parte superior do chassi, há um depósito de fertilizantes.
o mecanismo de distribuição de fertilizantes pode ser constituído por discos
76 SOJA: DO PLANTIO A COLHEITA

duplos desencontrados com diâmetro variável de 25,4 cm a 40,6 cm {10" a 16")


ou haste escarificadora.

Fig. 4.1 Seineadara-adubadara para plantio direta de sementes graúdas: (A) disco de corte de
palhada; (B) depósito de aduba; (C) disco duplo desencontrada para sulcação e distribuição da adubo;
(D) depósito de sementes; (E) disca dupla desencontrado para sulcoção e distribuição do semente:
(F) discos duplos para cobertura com terra sobre o sulco semeada; e (G) disca dupla em "V" paro
compressão da terra das bordos do sulca, visando ao melhor contato sala-semente
Fonte: Marchesan Implementas e Máquinas Agrícolas Tatu 5/A (www.marchesan.com.br).

Os discos duplos possuem limpadores internos flexíveis e ajustáveis para


remover a terra que se acumula na parte interna deles. A haste escarificadora
ou facão de corte possui condutor de fertilizante em posição posterior à haste, a
qual termina com uma ponteira removível conhecida como ''botinha''. O ângulo
de trabalho das hastes pode ser alterado em função da resistência oferecida
pelo solo, orientando-se para um posicionamento mais vertical (em pé) em solos
mais duros. A ''botinha'' ajuda a romper a camada compactada de solo em subsu-
perfície, na projeção vertical da linha de adubação e de semeadura (Fig. 4.2).
Uma mangueira de borracha denominada condutor de adubo ou mangote
faz a ligação física entre o orifício situado na base do depósito de fertilizan-
tes e o mecanismo sulcador distribuidor. No caso dos discos duplos, o final do
mangote encontra-se entre eles e próximo do sulco de adubação. Na haste esca-
rificadora, a saída do mangote acopla-se ao condutor de adubo da própria haste,
de maneira que o fertilizante caia dentro e abaixo do nível do sulco. Conforme 0
modelo, o condutor de adubo da própria haste possui regulagem de altura inde-
pendente do facão de corte, possibilitando o posicionamento do fertilizante em
diferentes profundidades.
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 77

De acordo com o modelo da semeado-


ra-adubadora, o mecanismo de liberação
do adubo para o mangote, posicionado
embaixo do depósito de fertilizantes,
pode ser dos seguintes tipos: a) vareta
giratória posicionada no fundo do depó-
sito; b) prato giratório horizontal com
agitador, para garantir a queda constante
do fertilizante; nesse caso, encontra-se
associado ao prato giratório um interrup-
tor que faz a dosagem da quantidade de
adubo a ser lançada; e c) roscas helicoi-
dais sem-fim, cujas diferentes doses são Fig. 4.2 Detalhe de um mecanismo sulcador
para distribuição de fertilizantes. À esquerda,
determinadas por variadas combinações
discos duplas desencontradas. À direita, haste
entre as engrenagens de um eixo motor e
escariftcadaro ou facão de corte
as de um eixo movido. Fonte: Case IH - catálogo de plantadeiras
A potência no motor da máquina (www.caseih.com).
requerida pelo mecanismo distribui-
dor de fertilizantes no sulco varia de
acordo com a resistência oferecida pelo solo durante a operação, a veloci-
dade de deslocamento do conjunto máquina-implemento, as profundidades
efetivas de adubação e semeadura, o número de linhas plantadas por passada
(espaçamento desejado entre fileiras de plantas) e o conjunto máquina x
semeadora-adubadora. Com relação a este último quesito, uma semeadora-
-adubadora com discos duplos e capacidade para semear 11 a 13 linhas por
passada terá requerimento de potência no motor variável de 90 cv a 125 cv
(9,5 a 16 cv/disco duplo). Caso sejam utilizadas hastes escarificadoras, a
demanda de potência no motor para semear as mesmas 11 a 13 linhas varia
de 126 cv a 165 cv (13 a 21 cv/haste).
As últimas estruturas montadas na parte traseira do chassi do imple-
mento correspondem à unidade de semeadura, popularmente conhecida como
carrinho de semeadura. É constituída pelos discos sulcadores, sobre os quais
se encontra o depósito de sementes, seguidos pelos discos de cobertura, que
são sucedidos pela roda compactadora de disco simples ou discos duplos em
"V''. Alguns modelos possuem roda flutuante ao lado dos discos sulcadores, que
possibilita a regulagem da profundidade de semeadura (Fig. 4.3).
A abertura do sulco de semeadura é feita pelos discos duplos desencon-
trados com diâmetro variável de 28,0 cm a 38,1 cm (11" a 15,.). Quando em
condições favoráveis de umidade no solo, os sulcadores do tipo disco duplo
proporcionam um perfil de sulco com formato semelhante a um "V", diminuindo
78 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

o revolvimento do solo e favorecendo o melhor contato deste com a semente.


Entre os discos duplos ou do lado de fora deles, encontram-se os limpadores de
disco, que evitam o acúmulo de barro na sua face interior ou externa. Os limpa-
dores devem ser montados de modo que não travem o giro dos discos duplos.

Caixa de sementes
Sistema
panto áfico
Controle
de ressão Medidor de sementes
de alta precisão

Re~lagem de profundidade

Roda compactadora
Discos sulcadores

Roda controladora
de profundidade
Finalizador de sulco Discos cobridores

Fig. 4.3 Detalhes de uma unidade de semeadura (carrinho) com seus diversos componentes
Fonte: Case IH - catálogo de plantadeiras (www.caseih.com}.

Uma vez distribuídas as sementes, um par de discos côncavos e de diâme-


tro variável de 17,8 cm a 22,9 cm (7" a 9'') fecha o sulco, cobrindo a semente com
o solo úmido, recém-deslocado pelo sulcador de discos duplos. Na montagem
dos discos cobridores, estes são colocados atrás e p'r óximos dos discos duplos de
sulcação e juntos c.o m a_rod~ çompactadora simples ou d~ discos duplos . .
Do fundo do depósito, as sementes caem no mecanismo dosador, cuja
função é liberá-las para o mangote, que as conduz ao disco duplo sulcador, de
maneira que sejam distribuídas em quantidade por metro de sulco precisamente
igual ou muito próxima da densidade de semeadura desejada. Os implementas
disponíveis no mercado apresentam dois mecanismos básicos quanto ao tipo
de dosador de sementes: semeadoras com dosador de sementes em discos hori-
zontais e semeadoras com dosador pneumático. As primeiras podem apresentar
linha simples ou linhas duplas de furos (alvéolos), por onde são distribuídas
as sem·e ntes. Discos com fileira dupla de furos adequados ao tamanho das
sementes possibilitam melhor precisão, qualidade e rendimento operacional
da semeadura. As semeadoras com dosadores pneumáticos não causam danos
mecânicos às sementes e apresentam melhor precisão na sua distribuição;
, - .
porem, sao·mais caras.
As semepdoras também dispõem de mec~nismos limitadores de profun-
didade e compactador.e s de sulco. Os primeiros permitem a uniformidade da
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 79

semeadura em profundidade, por terem roda flutuante que acompanha as oscila-


ções do relevo. O compactador de sulco refere-se ao disco simples ou ao conjunto
de discos duplos em ccv". Sua função é exercer leve compressão sobre a linha de
semeadura (disco simples) ou sobre o solo nas laterais dos sulcos (discos duplos
em ..V,,), para eliminação das bolsas de ar, sem compactar a superfície sobre o
solo recém-semeado. Os discos duplos em "V" apresentam melhor desempenho.
A definição do sistema de preparo da área agrícola é essencial para o bom
desempenho da semeadora-adubadora. O preparo deficiente pode prejudicar a
uniformidade de distribuição das sementes e a profundidade de semeadura,
afetando negativamente a emergência das plântulas, o estande inicial de plan-
tas e o desenvolvimento da cultura.

4.6.2 Conjunto para inoculação via sulco de semeadura


Atualmente e em fase de crescimento, cerca de 7% de toda a área cultivada com
soja no Brasil adota a tecnologia de ino,culação da cultura via sulco de semea-
dura. O agricultor encontra à sua disposição diferentes marcas e modelos de
implementas, de fácil instalação sobre o chassi das semeadoras-adubadoras.
Segundo Correia (2015), um conjunto básico para inoculação via sulco de
semeadura é constituído de: a) tanque com capacidade para calda variável
de 100 L a 1.000 L, com sistema de isolamento térmico para preservação da
viabilidade dos rizóbios; b) bomba elétrica de 12 V para sucção e pressurização
das mangueiras e com comando regulador de pressão (vazão) com manômetro;
c) filtro de linha; e d) linhas de distribuição com mangueiras terminadas com
bicos e pontas de aplicação em jato sólido.
Na montagem do equipamento, cada unidade de semeadura deve conter
um bico com ponta de aplicação, que pode ser posicionado entre as rodas limi-
tadoras de profundidade da semeadora (Fig. 4.4) ou entre os discos duplos
desencontrados, por onde são distribuídas as sementes no fundo dos sulcos.

4.6.3 Plantabilidade
A partir da data de instalação, espera-se a emergência plena da soja entre 5
e 7 dias após a semeadura, com plântulas uniformes quanto ao tamanho e à
distância entre fileiras e entre plantas na fileira. Define-se como plantabilidade
a execução técnica da semeadura com distribuição uniforme das sementes ao
longo do sulco, na profundidade correta, de maneira a obter o estande e a popu-
lação de plantas planejada (Mialhe, 2012).
Previamente à semeadura, é indispensável testar e regular a semeadora.
de modo a garantir a distribuição do número adequado de sementes por metro.
Esse teste é realizado mediante o deslocamento da máquina numa extensão de
10 m a 20 m, em faixa de terreno plenamente representativa das condições da
80 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

Bomba,.12V com
manometro

Filtro de linha
Bateria Mangueiras

' ' ... ..


,t - ....
,, '
,,
, ''
, ' Unidade de
'' semeadura

Fig. 4.4 Esquema


ilustrativo de um conjunto
para inoculação via \
1

sulco de semeadura, Bico com ponta de


com posicionamento da pulverização no
sulco de semeadura
ponta aplicadora entre
as rodas reguladoras
de profundidade
Fonte: Correia (2015).

área agrícola em que a soja será instalada; determina-se, a seguir, o número de


sementes distribuídas na extensão percorrida, ou nos últimos 3 m a s m, por
sulco semeado. Caso a quantidade seja insuficiente ou excessiva, o mecanismo
distribuidor de sementes e/ou a velocidade de deslocamento deve(m) ser corri-
gido(s) ou alterado(s). Deve ser observada, também, a ocorrência de danos '
1

mecânicos às sementes. 1
1
1

Dependendo da antecedência de realização do teste em relação à data de 1


semeadura, aproveita-se esse mesmo teste para avaliar a germinação das semen-
tes em condições de campo. Nesse caso, deve ser providenciado algum mecanismo
de molhamente ou irrigação, pois o objetivo é auferir a capacidade de germina-
ção das sementes em condições reais de campo, fazendo-se posteriormente os
ajustes necessários, para cima ou para baixo, da quantidade de sementes a ser
distribuída por metro pelos mecanismos dosadores e distribuidores de sementes.
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 81

A regulagem da semeadora e a sua velocidade de deslocamento interferem na


qualidade da semeadura. As semeadoras são projetadas para trabalhar na velo-
cidade ideal de 5 km/h a 7 km/h, em solos adequadamente nivelados para essa
operação. Na prática, em algumas situações, já se observam velocidades excessi-
vas, acima dos 9 km/h, explicadas pela utilização de semeadoras-adubadoras de
grande porte (a partir de 30 linhas), que exigem maior potência de tração e visam
atender à pressão do aumento da área cultivada.
A densidade de semeadura tende a ser menor à medida que a velocidade
de deslocamento da máquina aumenta, acarretando maior desuniformidade
de distribuição das sementes e mais injúrias mecânicas sobre elas, principal-
mente pelos mecanismos dosadores de discos. O resultado é o estabelecimento
de sulcos mal fechados e estandes aquém do ideal, com a ocorrência de falhas
e/ou múltiplos (duplas, triplas ou tufos) de plantas na lavoura, favorecendo a
infestação tardia de plantas daninhas, além de diminuir a eficiência dos demais
insumos disponibilizados para a cultura, culminando com perdas de produtivi-
dade agrícola (Tab. 4.7).

Tab. 4.7 Quantidade de sementes distribuídas por metro e porcentagens de duplas, falhas
e espaçamentos aceitáveis na fileira de plantas de soja, provenientes de duas
velocidades de semeadura - Cascavel (PR)

Velocidades Densidade de semeadura Falhas (0/o) Aceitáveis (0/o)


Duplas ( /a)
0

(km h-1) (nª sem. m-1)

6,0 13,9 a 21,8 b 26,6 b 50,9 a

8,5 13,3 b 28,3 a 30,2 a 40,5 b

d.m.s.1•2 0,62* 2,57** 3,0* 2,8**


1 d.m.s. = diferença mínima significativa.
2 Médias seguidas de letras diferentes na coluna identificam diferenças significativas pelo teste de Tukey a

5% (*) e 1% (**).
Fonte: Zardo e Casimiro (2016).

A agricultura de precisão tem possibilitado o desenvolvimento de ferra-


mentas que, por meio de sensoriamento e mecanismos eletrônicos acoplados à
unidade de semeadura, possibilitam a distribuição das sementes em velocida-
des muito acima da faixa tida como ideal. Entretanto, há que se considerar que a
unidade de semeadura e de adubação não executa, exclusivamente, a distribui-
ção das sementes, mas sim uma sequência simultân.e a de operações, incluindo
abertura de sulco, distribuição de insumos e fechamento do mesmo sulco,
cuja uniformidade e eficiência serão seriamente comprometidas em função do
aumento da velocidade de deslocamento do conjunto máquina + semeadora ou
máquina + semeadora-adubadora.
82 SOJA: DO PLANTIO À COLHEl"fA

4.6.4 Profundidades de semeadura e de distribuição do fertilizante


As sementes devem ser distribuídas entre 3 cm e s cm de profundidade (leito de
semeadura) em solos adequadamente manejados. Profundidades maiores difi-
cultam a emergência das plantas, desviam a energia e aumentam o consumo
de reservas cotiledonáres para o-alongamento do hipocótilo em detrimento da
formação vigorosa da planta, além de aumentarem o tempo de permanência das
sementes dentro do solo, elevando o risco de sua infecção por fungos e a vanta-
gem competitiva da sementeira de plantas daninhas.
Em solos arenosos, o risco reside no assoreamento das linhas de semeadura
e na formação de crostas superficiais ("casquinhas"). Em solos argilosos, a movi-
mentação excessiva do solo pulveriza as partículas de argila, determinando o
efeito de selamento dos poros, resultando também na formação de crostas super-
ficiais. Em ambos os casos, ocorrem rupturas na alça hipocotiledonar, impedindo
a saída das plântulas ou permitindo a emergência de plântulas malformadas.
Define-se como adubação de base ou de plantio a distribuição no sulco de
adubação de fertilizantes simples ou formulados em mistura, geralmente cons-
tituída por uma fonte de fósforo solúvel e uma fonte de potássio. Fórmulas
fertilizantes para semeadura da soja podem conter ou não, em sua composi-
ção, baixos teores de nitrogênio mineral e de micronutrientes. O fertilizante de
plantio deve, preferencialmente, ser distribuído 5 cm ao lado e de 5 cm a 10 cm
abaixo do leito de semeadura.
A expansão da área agrícola, caracterizada pela conjunção de grandes
propriedades rurais em uma mesma região, associada à crescente adoção da
antecipação da data de semeadura e ao uso de cultivares cada vez mais precoces,
com a mesma duração ou até redução do período (janela) de plantio, aumentou
em muito a pressão sobre as atividades operacionais de plantio, de maneira a
concentrar-se o foco na atividade de abastecimento das semeadoras-adubado-
ras, ou somente semeadoras, exclusivamente com sementes (Figs. 4.5 e 4.6).

. ~ .
Fig. 4.5 ConJunto maquina
semeadora de sementes graúdas
para plantio direto contendo 45
unidades de semeadura - Mato
Grosso, 2013
4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO 83

Fig. 4.6 Vista lateral da sequência


inicial de 45 unidades de semeadura -
Mato Grosso, 2D13

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1 •

.
' '
'
•1

,
EPOCAS DE SEMEADURA E POPULAÇÃO
DE PLANTAS
Felipe Lopes da Silva
Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: felipe.silva@ufu.br

Gil Miguel de Sousa Câmara


Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Escola Superior de Agricultura ''Luiz de Queiroz'',
da Universidade de São Paulo. E-mail: gil.camara@usp.br

Marcos Morais Soares


Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor do Centro Universitário Luterano de Palmas.
E-mail: marcos.ms@ceulp.edu.br

Amilton Ferreira da Silua


Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Universidade Federal de São João dei-Rei - Campus
Sete Lagoas. E-mail: amiltonferreira@ufsj.edu.br

Tuneo Sediyama
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa. E-mail: tuneo@ufu.br

Aluízio Borém
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa. E-mail: borem@u.fu.br

Caracteres quantitativos, como a produtividade de grãos, são importantes na


escolha dos cultivares para cultivo e os mais influenciados pelo manejo (Peixoto
et al., 2000). Altas produtividades só são obtidas quando as condições ambien-
tais são favoráveis em todos os estádios de crescimento da soja (Oda; Sediyama;
Barros, 2009). Porém, para se obterem altas produtividades, é necessário conhe-
cer práticas culturais compatíveis com a produção econômica, aplicadas para
maximizar a taxa de acúmulo de matéria seca no grão (Ritchie et al., 1994).
A resposta da soja a épocas de semeadura depende principalmente do culti-
var, das condições ambientais e da interação do genótipo com o ambiente, sendo
temperatura, fotoperíodo e distribuição das precipitações pluviais os fatores mais
importantes. Dependendo da data de semeadura, o fotoperíodo geralmente atua
como fator limitante. Entretanto, para cultivares pouco fotossensíveis, as épocas
de florescimento e de maturidade são determinadas pelo acúmulo de so_m as
86 SOJA : DO PLANTIO À COLHEITA

térmicas. Já em condições tropicais de baixas latitudes, com ampla disponibili-


dade de luz e de temperatura, o início e a distribuição das chuvas passam a ser
mais importantes (Câmara, 1991; Câmara; Dourado Neto; Bernardes, 1996).
Barros et al. (2003) definiram época de semeadura como um conjunto de fato-
res ambientais que reagem entre si e interagem com a planta, causando variação
na produção e afetando outras características agronômicas. Esses mesmos auto-
res ainda relatam que os cultivares expressam suas potencialidades de acordo
com as condições do ambiente, as quais mudam no espaço e no tempo, quando
semeadas em diferentes épocas.
Época de semeadura, ou janela de plantio na linguagem rural, corresponde
a um período de tempo do ano agrícola dentro do qual a instalação da cultura
terá grande probabilidade de sucesso para a obtenção de elevadas produtivida-
des, desde que, simultaneamente ao desenvolvimento fenológico dos cultivares,
ocorram as condições favoráveis de um ano climático normal.
No Brasil, de dimensões continentais, o período anual de 15 de setembro
a 15 dezembro representa o amplo período em que a cultura da soja pode ser
semeada. Porém, os experimentos instalados em diferentes regiões do País
desde os anos 1960 mostram que o período mais indicado para a semeadura
da soja é, de maneira geral, entre meados de outubro e final de novembro. Pode
haver pequenas variações nessas datas, dependendo do cultivar, da região de
cultivo e das condições ambientais do ano agrícola.
É interessante mencionar aqui o conceito de ano climático normal para a
atividade agrícola, que pode ser compreendido como o ano em que os níveis
verificados para os principais elementos de clima (temperatura, regime de
distribuição e volume das chuvas etc.) correspondem às respectivas normais
climáticas (série histórica de dados climáticos de dez ou mais anos) de determi-
nada região de produção {Câmara, 2015).
Considerando esse conceito, tem-se que as diferenças básicas entre as
Regiões Sul-Sudeste e Centro-Oeste do Brasil residem na época em que se inicia
a estação chuvosa e na intensidade e no volume das precipitações. Nas Regiões
Sul-Sudeste, as chuvas regulares, isto é, aquelas que conferem segurança à
semeadura da soja e emergência das plântulas, iniciam-se na primeira quinzena
de outubro, regularizando-se a partir da segunda. Na Região Centro-Oeste, as
chuvas iniciam-se na segunda quinzena de outubro e regularizam-se a partir de
novembro. Nesta região e no Sudeste do Brasil, há decréscimo das precipitações
a partir de março e abril, enquanto na Região Sul têm-se o outono e o inverno
mais chuvosos, permitindo a sucessão contínua de culturas de verão seguidas
por culturas de safrinha ou de inverno (Câmara, 2015).
Embora geopoliticamente pertencentes à Região Nordeste, os municí-
pios localizados na sub-região latitudinal-longitudinal do Oeste da Bahia, com
5 ÉPOCAS DE SEMEADURA E POPULAÇÃO DE PLANTAS 87

destaque para Barreiras e Luís Eduardo Magall1ães, encontram-se sob regime


climático similar ao do biorna Cerrado do Brasil Central, portanto, com início das
chuvas em ano climático normal a partir da segunda quinzena de outubro. Já os
locais situados em latitudes menores (< 8º S) nas Regiões Norte e Nordeste apre-
sentam início da estação chuvosa a partir dos meses de novembro e dezembro,
enquanto outros, a partir de janeiro até abril.
A escolha da época de semeadura visa propiciar a desejada coincidência
entre a ocorrência de condições climáticas favoráveis e os estádios de desen-
volvimento da cultura em que tais condições sejam requeridas. No caso da soja,
a época de semeadura deve coincidir com o período do ano em que seja maior a
probabilidade de encontrar água armazenada no solo, em quantidade suficiente
para atender ao processo da germinação epígea e da emergência das plântulas,
que resultarão no estabelecimento da cultura no campo. Em seguida, o ambiente
deve proporcionar níveis de umidade, temperatura e radiação solar que atendam
à fase de crescimento e desenvolvimento vegetativo das plantas, de maneira que
o porte delas possibilite a expressão da produtividade do cultivar e seja compa-
tível com a colheita mecanizada (altura final de planta > 60 cm) (Câmara, 2015).
Com relação à fase reprodutiva da cultura, e~ que as estruturas repro-
dutivas da planta (componentes da produção) serão estabelecidas, a época de
semeadura deve proporcionar a simultaneidade entre ampla radiação solar
direta, temperaturas adequadas e precipitação apropriada, distribuídas ao longo
dos estádios de florescimento, frutificação e granação das vagens. Finalmente,
a maturidade fisiológica e a maturação de campo deverão ser favorecidas pela
diminuição das chuvas em ambiente térmico mais ameno (Câmara, 2015).
No Quadro 5.1 são apresentadas as diferentes opções para épocas de
semeadura de soja nas regiões Sul-Sudeste, Centro-Oeste, parte do Nordeste
(Oeste da Bahia) e regiões situadas no Hemisfério Norte dentro do Brasil, e, no
Quadro 5.2, as épocas preferenciais para semeadura de soja nos locais situados
em latitudes menores nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil.

Quadro s.1 Principais denominações de épocas. de semeadura de soja no Brasil,


apresentadas por quinzenas mensais, relativas às regiões Sul-Sudeste,
Centro-Oeste, Oeste da Bahia e Hemisfério Norte dentro do Brasil
Meses e respectivas quinzenas
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Denominação da -.
· Set. Out. Nov. De·z. Rev, Mar.
1,

Abr. Mai,o ··.


época - - - -

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1. Normál X X X ,

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2. Anteclpa~a X X . .
1

3. Tardia .X. X
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4. Safrinha1 X X X
,

88 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

Quadro 5.1 (continuação)


Meses e respectivas quinzenas
Denominação da
Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio
época
1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2
5. Tardia para
semente X X
6. Brasil HN 2 X X X
1
Atenção: época de semeadura não recomendada e proibida em muitos Estados (ver seção 5.2.4).
2
HN = Hemisfério Norte (regiões de Cerrado no Estado de Roraima e potencialmente no Estado do Amapá situadas
acima da linha do Equador).
Fonte: Câmara (2015).

Quadro 5.2 Épocas preferenciais para semeadura de soja nos locais situados em baixas
latitudes nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil
Estados Região (município ou local) Épocas de semeadura
. - .
MA Sul (Balsas-Tasso Fragoso) Novembro a 15 de dezembro
MA Nordeste (Chapadinha) Janeiro
PI Sudoeste (Uruçui-Bom Jesus) ·Novembro a 15 de dezembro
TO Norte (Pedro Afonso) Novembro a 15 de dezembro
- - .... - - .'
PA Sul (Redenção) Novembro a 15 de dezembro
- -- - -~ -- - - .. - . -- ... -- ---
PA Nordeste (Paragominas-D. Eliseu) 15 de dezembro a janeiro
!
- - -- - - ,... - - -

PA Oeste

(Santarém) 10 de março a abril
.. _ - - - - ' - - -
RR Centro (Boa Vista) Abril/maio
Fonte: Embrapa Soja (2013).

5.1 .É POCAS DE SEMEADURA E MELHORAMENTO GENÉTICO


A partir da China, centro de origem genética de Glycine max (L.) Merrill, a soja
inicialmente domesticada por aquela civilização foi difundida para seus vizinhos
asiáticos (Coreia e Japão no século III) e, posteriormente (séculos XVIII, XIX e XX),
para vários países do mundo ocidental, com destaque para os Estados Unidos,
onde se estabeleceu o primeiro e grande banco de germoplasma de soja fora d.o
continente asiático.
Genótipos provenientes da China e cultivares já desenvolvidos para as
condições ecofisiológicas norte~americanas passaram a ser difundidos para a
constituição dos primeiro.s bancos de germoplasma em países da América do sul,
com destaque para Brasil e Argentina, des·de o início do século XX até os dias
atuais, em que se registra a existência de vários Programas de Melhoramento
Genético (PMG) de soja no Brasil, tanto públicos como, principalmente, privados.

'
5 ÉPOCAS DE SEMEADURA E POPULAÇÃO DE PLANTAS 89

O princípio básico de desenvolvimento e adaptação de cultivares de soja


para uma nova região consiste na avaliação das complexas interações entre
genótipo e ambiente, buscando-se, sempre que possível, isolar os efeitos do
ambiente para o desenvolvimento de cultivares geneticamente superiores
quanto à produtividade agrícola, sendo esse caráter o mais desejado pelos
produtores de soja no mundo.
Até o ano de 1997, a etapa final de eleição de um novo genótipo à condi-
ção de cultivar comercial passava pela instalação e pela condução, nas regiões
de interesse do PMG obtentor do novo cultivar, do protocolo de avaliação do
valor de cultivo e uso (VCU}, que consiste em experimentação agronômica de
campo onde os novos genótipos promissores são submetidos à competição com
cultivares padrões ou de referência para a avaliação da produtividade agrícola,
agregada de outras características desejáveis em cultivares de soja, como resis-
tência a doenças e raças específicas de nematoides.
Vários ensaios de VCU realizados nas décadas de 1960 a 1990 revelaram que
os melhores desempenhos em produtividade agrícola da soja no Brasil ocorrem, de
maneira geral, como mencionado anteriormente, no período de 15 de setembro a
15 de dezembro, com melhor adaptabilidade para altas produtividades no período
de 15 de outubro a 25 de novembro, para a maioria dos grupos de maturidade rela-
tiva (GMR), independentemente do tipo de crescimento dos cultivares.
A criação, em 1997, da Lei de Proteção de Cultivares (LPC) e do Registro
Nacional de Cultivares (RNC) estabeleceu como critério mínimo que uma linha-
gem só poderia ser registrada como cultivar se fosse testada em pelo menos um
local, durante dois anos agrícolas, em cada região edafoclimática de expectativa
de adaptação.
Simultaneamente, a agricultura de grãos passou a crescer em extensão
territorial, dificultando operacional e financeiramente a execução de vários
ensaios de VCU em distintas e novas regiões de produção de soja no Brasil, ao
mesmo tempo que o novo sistema não definiu a abrangência das regiões edafo-
climáticas nacionais para os testes de VCU.
Para contribuir na elucidação dessas lacunas, surgiu a proposta de regiona-
lização dos testes de VCU em cinco macrorregiões sojícolas (MRS) e 20 regiões
edafoclimáticas (REC) para representar a geografia da soja no Brasil (Fig. 5.1),
fundamentadas nos trabalhos de zoneamento agrícola de risco climático para
a soja (ZARC-soja) e na classificaçã~ climática do País segundo o modelo de
Kõppen. As caracterizações das MRS e suas respectivas REC são apresentadas e
discutidas em Kaster e Farias (2012).
Com base nas considerações anteriores, apresentam-se a seguir as defi-
nições técnicas das principais épocas de semeadura pertinentes às principais
regiões produtoras .d~ soja no Brasil.

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90 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

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Fig. 5.1 Macrorregiões sojícalas da Brasil


(3ª aproximação)
Fonte: Kaster e Farias (2012).

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5.2 EPOCAS DE SEMEADURA


A escolha da época de semeadura pode ser considerada o fator de manejo mais
impactante sobre a produtividade agrícola de uma cultura (Barni; Bergamaschi,
1981; Costa et al., 1995; Nakagawa; Rosolem; Machado, 1983; Rocha et al., 1996;
Peixoto et al., 2000; Popp et al., 2002; Subedi; Ma; Xue, 2007).
Existe grande variabilidade entre cultivares de soja com relação a sensibi-
lidade, época e mudanças na região de cultivo (Peixoto et al., 2000). Contudo, as
épocas de semeadura da cultura da soja, para as condições brasileiras, variam
de acordo com as regiões e os cultivares, apresentando faixa recomendável de
outubro a dezembro (Nakagawa; Machado; Rosolem, 1986; Urben Filho; Souza,
1993). Em parte das Regiões Norte e Nordeste do País, a semeadura ocorre mais
tarde (Embrapa Soja, 2013).
De modo geral, semeaduras em época anterior ou posterior ao período
mais indicado para dada região reduzem o porte e o rendimento das plantas
(Embr_a pa Soja, 2011). Por se tratar de uma planta que apresenta sensível resposta
ao fotoperíodo, o local de semeadura é de valiosa importância, uma vez que 0
comprimento do dia é determinado pela latitude (Camargo, 1985).
Épocas de semeadura que coincidam os estádios reprodutivos com perío-
dos de maior luminosidade favorecem rendimentos mais elevados (Robinson
et al., 2009). Assim, o principal fator de adaptação de um cultivar de soja em
determinada regiao é sua resposta à duração do período luminoso, cuj_a sensibi-
lidade a esse estímulo varia entre os diferentes materiais genéticos, ot1 seja, cada
5 ÉPOCAS DE SEMEADURA E POPULAÇÃO DE PLANTAS 91

cultivai· apresenta seu fotoperíodo crítico, abaixo do qual é induzido o floresci-


mento; em razão dessa característica, a faixa de adaptabilidade de cada cultivar
varia conforme se desloca em direção ao Norte ou ao Sul (Hartwig, 1970).

s.2.1
-Epoca normal de semeadura
A definição técnica de época normal de semeadura (Quadro 5.1) corresponde
à semeadura dentro do período compreendido entre 15 de outubro e 25 de
novembro (Câmara, 2015). O conceito geral de época normal de semeadura deve
estar associado a determinado elenco de cultivares, devidamente adaptado à
região de produção considerada, que resulta na expressão de produtividade
agrícola máxima, desde que os demais fatores de produção relacionados ao
ambiente e ao manejo sejam plenamente favoráveis.
A justificativa para a abertura dessa janela de plantio na data técnica de
15 de outubro se deve ao início das chuvas regulares na segunda quinzena
de outubro, enquanto o fechamento técnico da janela em 25 de novembro tem
relação com a necessidade de se respeitar um mínimo de período de vegetação
para os cultivares de soja, cujo limite máximo de semeadura corresponde a,
aproximadamente, 30 dias antes do solstício de verão (Câmara; Heiffig, 2000).
Ao alocar um cultivar de soja antes ou depois da sua melhor época de
semeadura, em sua região de adaptação, espera-se que ocorram alterações
na expressão fenotípica do seu porte (altura de planta, altura de inserção da
primeira vagem e número de ramificações na haste principal), o que se reflete
no desempenho dos componentes da produção da planta (número de vagens por
planta, número de sementes por planta e peso dessas sementes), resultando em
alteração no desempenho da produtividade agrícola.
A duração do ciclo, o grau de sensibilidade ao fotoperíodo, a duração dq
período juvenil e o tipo de crescimento dos cultivares são fatores que influen-
ciam as respostas diferenciadas dos cultivares em face das diferentes épocas
de semeadura. Na região Central do Brasil, por exemplo, os cultivares com
período juvenil longo e os de tipo de crescimento indeterminado, de modo geral,
apresentam plantas mais altas em semeaduras de outubro, sendo, consequente-
mente, mais produtivos (Embrapa Soja, 2011).
Na região do Planalto do Rio Grande do Sul, as épocas recomendadas para
a semeadura são: de 25 de outubro a 30 de novembro, para os cultivares de ciclo
precoc.e; de 20 de outubro a 5 de dezembro, para os de ciclo médio; de 15 de outu-
bro a 10 de dezembro, para os de ciclo semitardio; e de 10 de outubro a 10 de
dezembro, para os de ciclo tardio (Re_u nião de Pesquisa de Soja da Região Sul~
.
1995, 2009). A definição dessas épocas baseou-se nas condições climáticas neces-
sárias para propiciar maiores rendjmentos de grãos dos cultivares usados, como
a temperatura do solo para a germinação, a temperatura do ar dura11te o ciclo da
. ----------

92 SOJA: DO PLANTIO A COLI-IEITA

planta, o fotoperíodo após a emergência e a u1nidade do solo na semeadura, na


floração, na maturação e na colheita (Berlato; Westphalen, 1971; Mota et al., 1973;
Barni; Bergamascl1i; Gomes, 1978; Barni; Bergamascl1i, 1981; Barni et al., 1985).
Em estudos visando avaliar o efeito de épocas de semeadura no desempe-
nho agronômico de cultivares de soja em São Domingos (SC}, Meotti et al. (2012}
concluíram que as semeaduras realizadas na segunda quinzena de outubro e na
primeira de novembro resultam em maior produtividade de grãos.
Na região de Ponta Grossa (PR), Silveira et al. (2008) avaliaram diferentes
cultivares de soja dos grupos de maturação superprecoce, precoce e semiprecoce,
quanto a' sua adaptação agronômica, em duas épocas de semeadura, 8 e 23 de
novembro. O atraso na semeadura acarretou redução no período de dias para o
florescimento, na maturação, na altura de plantas e na produtividade de grãos em
todos os cultivares avaliados.
Val, Gaudencio e Garcia (1985), trabalhando com nove cultivares de soja e
cinco épocas de semeadura, concluíram que, de maneira geral, o período de
meados de novembro destacou-se como a melhor época de semeadura para a
região de Londrina (PR), quando os cultivares, em sua maioria, alcançaram as
maiores produções e alturas de plantas. Constataram ainda que a antecipação
da semeadura para setembro prejudicou a maioria dos cultivares em estudo,
diminuindo o rendimento de grãos, a altura de plantas e a inserção das vagens.
Na Região Sudeste do Brasil, as maiores produtividades têm sido obtidas nas
semeaduras da segunda quinzena de outubro e do mês de novembro. No Estado
de Minas Gerais, cultivares semeados em meados a final de dezembro apresen-
taram baixas produtividades quando comparados aos semeados em outubro e
novembro (Freitas et al., 2010; Lélis et al., 2010; Amorim et al., 2011).
Com o objetivo de avaliar as características agronômicas de interesse
em seis linhagens de soja de ciclo semitardio, Freitas et al. (2010) utilizaram
duas épocas de semeadura, 3 de novembro e 18 de dezembro de 2007, sendo a
primeira, de modo geral, considerada a mais adequada para o melhor desenvol-
vimento vegetativo e produtivo dos cultivares avaliados.
Segundo Amorim et al. (2011), a época de semeadura, além do rendimento,
afeta também, e de modo acentuado, a arquitetura e o comportamento da planta.
Esses mesmos autores avaliaram cultivares de soja, quanto ao seu desempenho
agronôm·ico, em quatro épocas de semeadura, 30 de outubro, 15 de novembro, 14 de
dezembro e 31 de dezembro, visando à indicação do melhor período de semeadura
em Uberlândia (MG). Concluíram que, à medida que. se atrasa a semeadura, há
decréscimo de altura de planta e número de dias para floração.
Lélis et al. (2010), também em trabalho realizado em Uberlândia, estudaram o
efeito de três épocas de semeadura, 31 de outubro, ~2 de novembro e 14 de dezem-
bro de 2006, sobre características agronômicas e teor de óleo em sete genótipos
5 ÉI>OCAS DE SEMEADURA E POPULAÇÃO DE PLANTAS 93·

de soja. Os autores determinaram as duas primeiras épocas de semeadura como


as que proporcionaram as maiores médias de produtividade de grãos e óleo.
Silva Neto, Moreira e Silva (2010) relatam que a época ideal de plantio de
soja no Cerrado brasileiro é nas primeiras chuvas, cuja época varia de região
para região. Esses autores informam ainda que, em alguns locais de Mato
Grosso, as primeiras chuvas ocorrem na segunda quinzena de setembro, no
Sudoeste de Goiás e de Mato Grosso do Sul, na primeira quinzena de outubro
e, no Sudeste de Goiás e no Distrito Federal, na segunda quinzena de outu-
bro. Assim, é possível afirmar que, na Região Centro-Oeste do Brasil, a época
recomendada para semeadura é entre 10 de outubro e 15 de dezembro. Oda,
Sediyama e Barros {2009) relatam que a maior produtividade de grãos e a altura
de planta adequada são obtidas quando o semeio é feito em novembro.
Fietz e Rangel (2008) realizaram estudo com o objetivo de determinar a época
mais adequada de semeadura da soja para a região de Dourados {MS), com base
na deficiência hídrica e no fotoperíodo. Utilizaram três épocas de semeadura,
15 de outubro, 15 de novembro e 15 de dezembro, e cultivares de ciclos precoce
e médio. Os resultados obtidos pelos autores revelaram que as semeaduras da
soja em novembro são as mais indicadas para essa região, considerando-se os
fatores deficiência hídrica e fotoperíodo.
A primeira quinzena de novembro é a época de semeadura recomendada
para o Estado de Goiás. Silveira Neto et al. (2005) testaram diferentes genótipos
em relação a quatro épocas de ·semeadura distintas, 28 de novembro e 4, 11 e
18 de dezembro, nos municípios de Goiânia, Itumbiara e Jataí. Maiores produti-
vidades foram obtidas na semeadura de 28 de novembro para os municípios de
Goiânia e Jataí. Já para o município de Itumbiara, maiores produtividades foram
atingidas na época de semeadura de 4 de dezembro. Contudo, esses autores
relatam que as épocas de semeadura testadas são consideradas relativamente
atrasadas quando comparadas à época ideal para o Estado de Goiás. Assim,
a maior produtividade média alcançada foi na época de semeadura de 28 de
novembro no município de Goiânia, com ~.600 kg ha-1•

s_.z.2 Semeadura antecipada


Com base na definição técnica de época normal de semeadura, pode-se estabelecer
semeadura antecipada ou semeadura em época antecipada como a semeadura realizada
no período que antecede a data do início da época normal de semeadura de dada
região, ou seja, antes de 15 de outubro para a maioria das regiões produtoras do
Brasil (Câmara, 2015). Nesse caso, conforme a· região e o cultivar considerado, a
semeadura ocorre na primeira quinzena de outubro ou, até mesmo, na segunda
de setem1,ro (Quadro 5.1), respeitando-se obrigatoriament~ o vazio sanitário para
a ferrugem-asiática da soja.
---- - - --------
- - -

94 SOJA: DO PLANTIO À COLHEr·r·A

Embora não se tenl1am estatísticas oficiais, atualmente a semeadura anteci-


pada da soja, se não a primeira, é uma das mais utilizadas no País. As principais
justificativas para isso são: a) possibilidade de uescape" do período de maior
pressão da ferrugem-asiática com menor número de aplicações de fungicidas;
b) colheita mais cedo da soja (dezembro e janeiro), viabilizando a semeadura
também antecipada do milho safrinha, que por sua vez possibilita maior
potencial de produção de grãos em segunda safra; e c) maximização na utili-
zação da maquinaria agrícola com a execução de duas safras dentro do mesmo
ano agrícola. As mesmas justificativas são válidas para o sistema de produção
soja x algodão safrinha, mais comum no Estado de Mato Grosso .

Vários municípios do Brasil situados em regiões que não oferecem risco


climático (seca prolongada e/ou geada) para a cultura de segunda safra adotam
a época antecipada para a semeadura da soja. Com essa estratégia, muitos
produtores têm obtido melhor resultado econômico que instalando uma das
duas culturas em suas épocas normais, isoladamente. Entretanto, ao adotar
semeadura em época antecipada, há maior possibilidade de sucesso em solos
naturalmente férteis ou de fertilidade bem construída, associados ao uso
de cultivares precoces e/ou semiprecoces, com tipo de crescimento indeter-
minado. Cultivares precoces com tipo de crescimento determinado oferecem
maior risco de florescimento mais cedo, com inevitável redução de porte da
lavoura, que pode ser agravada com a ocorrência de estiagens (Câmara, 2015).
Genótipos de crescimento indeterminado apresentam plantas com
estaturas variadas, em razão da época de semeadura, além de serem mais
tolerantes à antecipação que os de crescimento determinado, o que resulta
em ampliaç·ã o do período indicado. · Porém, sob temperaturas altas, redu-
zem o período vegetativo e aumentam o reprodutivo, enquanto genótipos
de crescimento determinado se comportam de maneira contrária (Wilcox;
Frankenberger, 1987).
Antes de adotar a semeadura antecipada, é preciso avaliar muito bem o
elenco de cultivares que melhor se adapta a esse cenário. Os maiores riscos
pertinentes à antecipação da data de semeadura correspondem à ocorrência
de períodos secos em novembro e/ou dezembro, seguidos ou não de frequência
regular e relativamente constante de chuvas em dezembro e/ou janeiro, quando
a lavoura se encontra pronta para a colheita (Câmara, 2015).
outro problema sério verificado nos últimos anos agrícolas corresponde ao
exagero por parte de alguns produtores quanto à data de antecipação da semea-
dura da soja. Alguns cultivares modernos, especialmente os de ciclo mais curto,
mesmo com tipo de crescimento indete.r minado, não toleram semeaduras em
datas anteriores ao início da estação da primavera, que ocorre anualmente entre
21 e 23 de setembro. As consequências são florescimento muito cedo e porte
5 ÉPOCAS DE SEMEADURA E POPULAÇÃO DE PLANTAS 95

pequeno das plantas, resultando em baixa produtividade agrícola, da ordem de


25 a 40 sacas por hectare.

s.2.3 Semeadura tardia


A semeadura tardia ou semeadura em época tardia compreende o período posterior
à data final da época normal de semeadura especificada para determinada
região, ou seja, a partir de 26 de novembro para a maioria das regiões produto-
ras do Brasil (Câmara, 2015). A semeadura tardia ocorre em regiões de produção
de soja em que predomina o uso da ~poca normal de semeadura. Havendo
estiagem contínua nesse período, não há umidade no solo que garanta a
embebição da semente. Ao esperar pela chuva regular e evitar a ''semeadura
no pó'', o produtor atrasa o plantio para o final de novembro ou para o mês de
dezembro (Quadro 5.1).
De modo geral e independente do tipo de crescimento, o atraso da época
de semeadura provoca florescimento prematuro, principalmente dos cultivares
precoces, menor desenvolvimento vegetativo e consequente redução da altura
das plantas, da inserção das primeiras vagens e da produção. Cultivares que se
caracterizam por apresentar período juvenil longo e cultivares de maturação
média e tardia toleram melhor a semeadura tardia (Câmara, 2015).
Bonato et al. (1998), em estudos no início da década de 1990 na região
do Planalto Médio do Rio Grande do Sul, relataram que os cultivares de ciclo
precoce poderiam ser semeados a partir de meados de outubro. Já quando
semeados no período compreendido entre 10 e 30 de dezembro, nessa mesma
região, os cultivares apresentam rendimento de grãos, altura de planta e
inserção dos legumes inferiores semelhantes, independentemente de seu ciclo
(Bonato; Lange; Bertagnolli, 2001).
A semeadura no final de dezembro, na região de Uberlândia (MG), apresen-
tou as menores produtividades, tanto para os cultivares de ciclo precoce quanto
para os de ciclo tardio, evidenciando queda brusca no rendimento médio. Esse
fato foi esperado devido ao efeito da semeadura tardia, que proporciona flores-
cimento precoce com encurtamento do ciclo vegetativo, diminuição do porte e,
consequentemente, queda na produtividade (Amorim et al., 2011).
Ao avaliarem o efeito de épocas de semeadura no desempenho agronômico
de cultivares de soja em São Domingos (SC), Meotti et al. (2012) constataram que
os cultivares de ciclo médio ou ciclo precoce, de porte elevado, são mais adequa-
dos ao cultivo em épocas de semeadura tardias.

s.2.4 Safrinha de soja (não recomendada)


Motivados pela boa remuneração do preço pago .à saca de soja e/ou peran·t e a
expectativa de baixa remuneração da saca de milho a ser produzida em época
96 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

de safrinha, alguns produtores arriscam uma segunda safra da mesma espécie,


sen1eada logo após a coll1eita da lavoura de verão (Quadro 5.1). Essa época é
referenciada neste capítulo com o intuito de chamar a atenção para o fato de que
não são recomendadas duas safras consecutivas de soja no mesmo ano agrícola,
seja para a produção de grãos, seja para a produção de sementes. A segunda
safra começará com elevada pressão biótica, principalmente se, na primeira,
foi intensa a ocorrência de populações de mosca-branca, lagartas mastigadoras
de folhas e de vagens, percevejos sugadores de grãos, doenças de final de ciclo,
ferrugem-asiática, oídio, mancha-alvo e mofo-branco (Câmara, 2015).
Braccini et al. (2004) avaliaram o comportamento de cultivares de soja
semeados em meados de novembro, janeiro e fevereiro em Maringá (PR).
Observaram que o retardamento da época de semeadura provocou redução no
rendimento de sementes de todos os cultivares. Os autores relacionaram esse
fato às condições climáticas observadas no período de safrinha no Estado do
Paraná, em que as semeaduras mais tardias geralmente coincidem com os
períodos de estiagem e temperaturas mais amenas nos estádios mais críticos
da cultura, ou seja, do florescimento ao enchimento dos grãos.
A semeadura tardia pode acarretar perdas da ordem de 30% a 50% na
produtividade de grãos, enquanto semeaduras na época de safrinha podem
causar perdas de até 70% em relação à época recomendada (Rodrigues et al.,
2001; Braccini et al., 2004; Rodrigues et al., 2008; Stülp et al., 2009).

s.2.s Época tardia visando à produção de sementes


Para o setor de produção de sementes, a época normal de semeadura nem sempre
corresponde ao melhor período para a obtenção de sementes com elevada quali-
dade fisiológica. Excesso de chuva com temperaturas elevadas, durante a fase de
maturação das sementes, ocorre com maior frequência em áreas semeadas na
época normal e também na data antecipada. Esses eventos de clima que deterio-
ram a qualidade do grão podem condenar um campo de produção de sementes
certificadas, que não atenderá aos padrões de qualidade de sementes da espécie
(Câmara, 2015).
A semeadura propositadamente tardia constitui estratégia de manejo para
a obtenção de sementes com boa qualidade fisiológica, principalmente em
regiões de menor altitude (abaixo de 700 m), onde as temperaturas de verão
são mais elevadas. Por essa razão, os campos de produção de sementes podem
ser instalados no mês de dezembro (Quadro 5.1), visando-se à coincidência de
ocorrência de temperaturas mais amenas (temperatura média ~-22 ºC) durante 0
processo ele maturação das sementes, nos meses de abril ou maio, dependendo
da data de semeadura e do grupo de maturação do cultivar (Câmara, 2015).
5 ÉPOCAS DE SEMEADURA E POPULAÇÃO DE PLANTAS 97

É primordial que a data de i11ício do vazio sanitário seja respeitada, de maneira


que a colheita das sementes seja feita com ·a devida antecedência e com a melhor
regulagem possível da colhedora, objetivando-se o mínimo de perda e baixa ocor-
rência de tigueras, que devem ser prontamente eliminadas da área (Câmara, 2015).
Datas de semeadura a partir do mês de janeiro atualmente não são mais reco-
mendadas ou sugeridas, devido ao risco de ocorrência da ferrugem-asiática da
soja em elevado grau de severidade, aumentando o perigo do surgimento de raças
do agente causal da doença (Phakopsora pachyrhizi) resistentes ao reduzido elenco
de moléculas fungicidas disponível aos produtores do Brasil (Câmara, 2015) .

..
s.2.6 Epocas normais para as Regiões Norte e Nordeste
A época de semeadura nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil (Quadro 5.2)
varia de Estado para Estado, visto que as áreas se diferenciam muito quanto à
ocorrência de chuva, com as semeaduras nessas regiões acontecendo a partir
do mês de novembro (Silva et al., 2015).
Na Região Norte, o Estado do Pará, em função de sua grande extensão terri-
torial, apresenta distintamente três épocas preferenciais para a semeadura da
soja: a) novembro a 15 de dezembro para o Sul do Estado; b) 15 de dezembro
ao final de janeiro para o Nordeste; e c) 10 de março ao final de abril para o
Oeste. No Norte do Estado de Tocantins, a época preferencial de semeadura é de
novembro a 15 de dezembro. Já na região central do Estado de Roraima, é prefe-
rível a semeadura no mês de abril.
Na Região Nordeste de baixa latitude, destacam-se os Estados do Maranhão
e do Piauí. Ao Sul do Maranhão e no Sudoeste do Piauí, o período de novembro a
15 de dezembro corresponde à época preferencial de semeadura da soja, enquanto,
para o Nordeste do Maranhão, janeiro é o mês de preferência (Quadro 5.2).
O desempenho de dez cultivares de soja em duas épocas de semeadura,
novembro e dezembro, na região da Zona da Mata, no município de Rolim de
·M oura (RO), foi avaliado por Venturoso et al. (2009). Os autores concluíram que
a época de semeadura influenciou o número de vagens por planta, incremen-
tando esse componente da produtividade de grãos quando os cultivares foram
semeados em dezembro.

s.2.1 Soja no Extremo Norte do Brasil


A expansão da cultura da soja para a Região Norte do Brasil atingiu as latitu-
des do Hemisfério Norte na segunda metade dos anos 1990. Trata-se das novas
regiões produtoras locali~pdas entre os paralelos Oº e 4º N, principalmente na
Região Ce_n tral do Estado de Roraima e potencialmente no Estado do Amapá.
Devido ao regime diferenciado das chuvas, que nessa região retornam regu-
larmente a partir do final d~ março ou do início de abril, há a necessidade de
98 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

desenvolver a cultura em outra época do ano, sendo normalmente instalada


entre 15 de abril e 25 de maio (Quadro 5.1) (Câmara, 2015).
Em razão de temperaturas mais elevadas nessa região, associadas à intensa
radiação solar e à regularidade e à intensidade das precipitações, têm-se obser-
vado ciclos menores para a cultura da soja, variando de 90 a 110 dias. A soja
produzida nessa região do Brasil é colhida no segundo semestre do ano, com
concentração de colheita nos meses de agosto e setembro (Câmara, 2015).

s.2.a Epocas de semeadura x vazio sanitário


Antes da ocorrência da ferrugem-asiática da soja no Brasil, causada pelo fungo
Phakopsora pachyrhizi, era prática comum, principalmente nos Estados de Mato
Grosso, Goiás e Tocantins, a condução da cultura na entressafra (outono e
inverno) em épocas muito tardias (fevereiro a abril), visando à multiplicação
e à produção de sementes de soja na entressafra, pelo fato de a maturação da
planta e a colheita ocorrerem em período sem chuvas e com temperaturas mais
baixas, produzindo, consequentemente, sementes de alta qualidade fisiológica
(Silva et al., 2015).
Com o aumento da pressão da doença, surgiu a necessidade de elevar a
eficiência no seu controle, por meio de medida complementar ao manejo químico
com fungicidas, com vistas a reduzir a possibilidade de incidência precoce da
ferrugem nas lavouras produtoras de grãos semeadas em época normal. Assim,
foi estabelecido no ano de 2006, para aqueles Estados, o período de vazio sani-
tário da soja, objetivando a redução da quantidade de uredósporos no ambiente
durante a entressafra (Consórcio Antiferrugem, s.d.).
Entende-se por vazio sanitário o período de, no mínimo, 60 dias com ausência
total de plantas vivas de soja, cultivadas ou voluntárias (tigueras), nas áreas de
produção da cultura. Esse período mínimo foi estabelecido considerando-se que o
período máximo de viabilidade de uredósporos de Phakopsora pachyrhizi registrado
é de 55 dias. Na prática, o vazio sanitário tem a finalidade de reduzir a sobrevivên-
cia do fungo causador da ferrugem-asiática durante a entressafra e, assim, atrasar
a ocorrência da doença na safra subsequente (Consórcio Antiferrugem, s.d.).
Em 29 de janeiro de 2007, foi publicada pelo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa) a Instrução Normativa nº 2, instituindo o
Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja (PNCFS), no qual,
entre outras diretrizes, ficou estabelecido que os Estados deveriam criar seus
comitês Estaduais de Controle da Ferrugem Asiática da Soja e que as instân-
cias intermediárias do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária
(Suasa), em cada Estado, deveriam estabelecer um calendário de semeadura de
soja com um período de, pelo menos, 60 dias sem a presença de plantas cultiva-
das ou voluntárias (Consórcio Antiferrugem, s.d.).
5 É PO C: A S T) E SEMEADURA E POPULAÇÃO DE PLANTAS 99

Para a safra 2019/20, 13 Estaclos e o Distrito Federal adotaram o vazio sanitá-


rio. Além do Brasil, o Paraguai também estabeleceu seu programa de mitigação
da ferrugem-asiática, de11ominado pausa jitossanitária (Embrapa Soja, s.d.).
Na Tab. 5.1 são apresentados os períodos de vazio sanitário para os principais
Estados brasileiros produtores de soja e para o Paraguai. Também é mostrada a
calendarização da semeadura da soja em sete Unidades da Federação para o ano
agrícola 2019/20.

Tab. 5.1 Calendário internacional do vazio sanitário para a cultura da soja nas principais regiões
produtoras do Brasil e no Paraguai e calendarização da semeadura da soja em sete
Unidades da Federação para o ano agrícola 2019/20

Unidade da Vazio sanitário Calendário


Região
Federação Período Duração (dias) de semeadura

T0 3 1°/7 a 30/9 92 1°/10 a 15/1


PA (A) 15/7 a 15/9 62 -
Norte (Brasil) 1 PA (8) 1°/9 a 30/10 60 -
PA (C) 1°/10 a 30/11 61 -
RO 15/6 a 15/9 93 -
MA (A) 1°/8 a 30/9 61 -
MA {B) 15/9 a 15/11 62 -
Nordeste (Brasil) 2
PI 15/8 a 15/10 62 -
BA3 1°/7a7/10 99 8/10 a 15/1
DF 1°/7 a 30/9 92 -
Centro-Oeste GO 1°/7 a 30/9 92 25/9 a 31/12
(Brasil) MT3 15/6 a 15/9 93 16/9 a 31/12
MS 3 15/6 a 15/9 93 16/9 a 31/12

Sudeste (Brasil)
MG 1°/7 a 15/9 77 -
SP 15,/ 6 a 15/9 93 -
PR 3 10/6 a 10/9 93 11/9 a 31/9
Sul (Brasil)
se 15/6 a 15/9 93 15/9 a 10/2
Paraguai - 1°/6 a 30/8 91 -
1PA (A): microrreglões de Conceição do Araguaia, Redenção, Marabá, São Félix do Xingu, Parauapebas, ltaituba
(com exceção dos municípios de Rurõpolls e Trairão) e Altamlra (distritos de Castelo dos Sonhos e Cachoeira da Serra).
PA (B): microrreglões de Paragominas, Bragantlna, Guamá, Tomé-Açu, Salgado, Tucuruí, Castanhal, Arari, Belém,
Cametá, Furos de Breves e Portel. PA (C): microrregiões de Santarém, Almeirim, Óbidos, ltaituba (municípios de
Rurópolis e Trairão) e Altamira (com exceção dos distritos de Castelo dos Sonhos e Cachoeira da Serra).
2 MA (A): microrregiões de Alto Mearim e Grajaú, Chapadas do Alto ltapecuru, Chapadas das Mangabeiras, Gerais de
Balsas, Imperatriz, Porto Franco. MA (B): microrregiões de Aglomeração Urbana de São Luís, Baixada Maranhense,
Baixo Parnaíba Maranhense, Caxias, Chapadinha, Codó, Coelho Neto, Gurupi, ltapecuru Mirim, Lençóis Maranhenses,
Litoral Ocidental Maranhense, Médio Mearim, Plndaré, Presidente Outra e Rosário.
3Estado_
s proibidos de realizarem safrinha de soja, Isto é, soja sobre soja no mesmo ano agrícola.
Fonte: Embrapa Soja (s.d.).
100 SOJA: DO PLANTIO À COI.. 1-IEl'T'A

Entende-se por calendarização da semeadura da soja a determinação da data-


-limite para a semeadura de uma nova safra de soja, após o término do período
de vazio sanitário, estabelecida por normativas estaduais.
O principal objetivo dessa calendarização é reduzir o número de aplicações
de fungicidas ao longo da safra e, com isso, diminuir a pressão de seleção de
resistência do fungo aos fungicidas (Embrapa Soja, s.d.).

5.3 POPULAÇÃO DE PLANTAS


Em tese, para que uma planta atinja o seu potencial máximo de produção, deve-se
colocá-la em ambiente que lhe proporcione as melhores condições possíveis, na
época mais adequada, devidamente protegida contra a ação de pragas e doenças,
sem competição com plantas daninhas e com o mínimo de competição intraespe-
cífica, isto é, entre os próprios indivíduos que compõem uma dada população de
plantas da mesma espécie. Assim, pressupõe-se que a distribuição espacial equi-
distante entre as plantas proporciona maior produtividade agrícola {Ocepar, 1990).
Entretanto, grandes culturas como a soja são intensamente mecanizadas
em todas as etapas operacionais do processo de produção agrícola, o que impõe,
na sua instalação, a necessidade de um sistema de semeadura em linhas ou
fileiras, de maneira que a população de plantas no campo seja estabelecida
seguindo um espaçamento entre as fileiras e uma distância entre as plantas
dentro de cada fileira (Ocepar, 1990).
Portanto, para a obtenção de altas produtividades agrícolas de soja, é
imprescindível a execução da semeadura da cultura com as melhores condições
possíveis de plantabilidade, para estabelecer uma população inicial de plan-
tas com uniformidades de espaçamentos entre indivíduos e de crescimento e
desenvolvimento das plantas.
Assim, população de plantas pode ser definida como o número de indivíduos
distribuídos uniformemente por unidade de área, através do arranjo espacial
entre as plantas, determinado pela combinação do espaçamento entre .fileiras com
a densidade de plantas na fileira (Câmara, 2015). Quantitativamente, a população de
plantas é expressa como o número de plantas por metro quadrado, por hectare
ou por alqueire.
Define-se como estande ou densidade de plantas o número de indivíduos esta-
belecidos por metro de fileira ou de linha de cultivo. É resultado direto do número
de sementes viáveis distribuídas por metro de fileira (densidade de semeadura),
que deve ser dimensionado com base nas informações do valor cultural das
sementes e da população inicial de plantas planejada (Câmara, 2015).
Não menos importante é o conceito de população ideal, referenciada por
câmara (2015) e Silva et al. (2015) como aquela que: a) oferece condições p~ra
a cobertura foliar mais rápida do solo no espaço entre fileiras de plantas;
5 ÉPOCAS DE SEMEADURA E POPULAÇÃO DE PLANTAS 101

b) estabelece a mínima competitividade i11traespecífica e a máxima absorção de


, .
agua e nutrientes; c) possibilita que ocorra mais cedo o acúmulo de matéria seca
na parte aérea, refletindo-se em ganho de produtividade agrícola; d) promove o
rápido sombreamento do solo, limitando a utilização da luz pelas plantas dani-
nhas; e) facilita a penetração de defensivos agrícolas; f) proporciona microclima
desfavorável ao desenvolvimento de doenças; e g) estabelece plantas com carac-
terísticas adequadas para a colheita mecânica - altura da planta e da inserção
da primeira vagem, intensidade de ramificação e resistência ao acamamento,
diretamente relacionadas à redução de perdas.

s.3.1 Espaçamentos, estandes e populações


O espaçamento entre fileiras e a densidade de plantas na fileira utilizados para
a soja dependem, principalmente, das características do cultivar, da época de
semeadura, da altitude regional, da fertilidade do solo e do sistema de produção.
A soja pode ser cultivada entre fileiras de 40 cm, 50 cm, 60 cm e 70 cm.
Os espaçamentos mais abertos são recomendados para cultivares de ciclo
mais longo, que vegetam por mais tempo, e em áreas de altitude mais elevada
(> 700 m), onde o risco de acamamento e a probabilidade de desenvolvimento de
Sclerotinia sclerotiorum, agente causal do mofo-branco, são maiores. Os espaça-
mentos menores entre as fileiras de plantas são mais indicados para cultivares
de ciclo precoce, de porte médio e resistentes ao acamamento, em solos de média
a alta fertilidade e que tenham boa capacidade de armazenamento de água, loca-
lizados em áreas de menor altitude (< 700 m).
O estande de plantas na fileira mais adequado para a soja situa-se entre
10 e 25 plantas por metro de linha, dependendo do cultivar e do local de cultivo.
O melhor desempenho vegetativo e produtivo da soja é obtido dentro da faixa
populacional de 200.000 a 350.000 plantas por hectare, considerando-se as
possibilidades de combinações entre os espaçamentos e as densidades de plan-
tas. Em algumas situações, onde não há condições favoráveis ao acamamento, a
população pode ser aumentada para 400.000 plantas por hectare ou mais. •

Até o início dos anos 1990, o elenco varietal de soja no Brasil, com predo-
mínio quase absoluto do tipo de crescimento determinado e da época normal
de semeadura, era amplamente diversificado quanto aos grupos de maturação,
encontrando-se, para os principais Estados produtores daquela época, culti-
vares com os seguintes ciclos e respectivas durações (em dias): superprecoce
(< 105), precoce (106 a 115), semiprecoce (116 a 125), médio {126 a 135), semitardio
(136 a 145) .e tardio (> 145).
Essa diversificação possibilitava maior escalonamento das datas de semea-
dura e de colheita, com melhor capacidade das lavouras quanto ao escape de
adversidades climáticas e bióticas. De acordo com as condições particulares
102 SOJA: DO PLANTIO À COLHEI . rA

de cada fazenda e época de semeadura, eram utilizadas diferentes combina-


-
çoes entre espaçamentos e densidades, que proporcionavam populações entre
300.000 e 500.000 plantas por hectare.
No ano agrícola 1989/90, a ocorrência em escala nacional do cancro da haste,
doença vascular causada pelo fungo Diaporthe aspalathi, dizimou o elenco varie-
tal nacional. Em meados dos anos 1990, começou a surgir um novo elenco de
cultivares de soja, predominantemente com tipo de crescimento determinado,
, .
porem mais produtivos e com maior capacidade de ramificação. Entretanto,
simultaneamente subiram os preços dos herbicidas pós-emergentes e surgiu a
ferrugem-asiática da soja. Esses fatos estimularam a redução do espaçamento
entre fileiras de plantas para a faixa de 40 cm a 50 cm (menor competição com
0 mato), com a adoção de cultivares de ciclo precoce e semiprecoce, e cada vez

menos os de ciclo médio. Os de ciclo maior perderam espaço. As populações de


plantas passaram para valores iguais ou inferiores a 350.000 plantas por hectare.
Da virada do milênio para os dias atuais, aumentaram a pressão da ferru-
gem-asiática e a área cultivada com milho safrinha, promovendo a adoção em
larga escala da semeadura antecipada com uso de cultivares superprecoces e
precoces, menor emprego de semiprecoces e, praticamente, desaparecimento
dos médios. A soja transgênica enfim foi liberada, e simultaneamente começou
a surgir e a evoluir de forma rápida em área cultivada um novo elenco varietal
predominantemente com tipo de crescimento indeterminado.
Com a larga expansão do sistema de produção com sucessão soja x milho, o
espaçamento predominante entre fileiras de plantas passou a ser de 50 cm, que
atende a ambas as culturas. Assim, a variação populacional que se pratica nos
dias atuais nesse sistema de produção é mais função da variação do estande de
plantas nas fileiras, com valores que se situam entre 200.000 e 350.000 plantas
de soja por hectare.
Hoje e independentemente do sistema de produção, os espaçamentos mais
usuais adotados na cultura da soja são os de 40 cm a 50 cm entre fileiras, com
diferentes combinações de densidade de plantas na linha (Tab. 5.2).

Tab. s.2 População de plantas de soja por h·ectare de acordo com o espaçamento.entre
fileiras e o número de plantas por metro de fileira

Plantas por metro de fileira (nº)


Espaçamento entre
fileiras (cm) 10 12 14 16 18

40 250.000 300.000 350.000 400.000 450.000

45 222.222 266.666 311.111 355.555 400.000

50 200.000 240.000 280.000 320.000 360.000

Fonte: Oda, Sediyama e Barros (2009) e Embrapa Soja (2011).


5 ÉPOCA.S DE SEtvtEADURA E POPULAÇÃO DE PLANTAS 103

A população de plantas em un1a lavoura pode ser aumentada pela redu-


ção do espaçame11to entre fileiras e/ou pelo aumento do estande de plantas_
na fileira. Leguminosas de ciclo anual como a soja são mais responsivas, em
ganhos de produtividade agrícola, à redução do espaçamento entre fileiras de
planta do que ao aumento da densidade de plantas na fileira (Câmara, 1998;
Sediyama, 2009).
Com a simples alteração, dentro de certos limites, do espaçamento entre
fileiras e da densidade nas fileiras de semeadura,
.
é pos~ível variar a produti-
vidade de grãos, a altura de plantas e da inserção da primeira vagem, o grau
de acamamento, o número de ramificações da planta, o diâmetro do caule, o
número de vagens por planta e o peso médio das sementes. Com espaçamentos
maiores, há diminuição da altura da planta, da inserção da primeira vagem e
do grau de acamamento. Contudo, esses espaçamentos favorecem o aumento
do número de ramificações, de vagens e da produtividade por planta e do peso
médio das sementes. Já maiores densidades de plantas na fileira têm o efeito
inverso daquele proporcionado pelo aumento no espaçamento entre fileiras
(Sediyama, 2009).
Nas duas últimas décadas, foram verificadas reduções de espaçamento
entre linhas de 50 cm para até 40 cm, com possibilidade de diminuir ainda mais.
Porém, nem toda região poderá adotar redução de espaçamento entre fileiras,
principalmente as de maior altitude, onde também são maiores as propensões ao
acamamento de plantas e o risco de ocorrência de mofo-branco, além de outros
agentes causais de doenças que são plenamente favorecidos por um ambiente de
penumbra e alta umidade na microrregião do baixeiro das plantas (Câmara, 2015).
Espaçamentos menores que 40 cm resultam em sombreamento mais rápido
entre as linhas, melhor controle das plantas daninhas e maior captação da ener-
gia luminosa incidente, mas não permitem a realização de operações de cultivo
entre fileiras sem imprimir perdas significativas por amassamento das plantas
(Silva et al., 2015).
O manejo populacional da cultura não deve visar exclusivamente ao rendi-
mento. Há que se pensar na arquitetura da parte aérea das plantas, de maneira
que proporcione ampla sustentação à produtividade (número de vagens grana-
das por planta) e porte de lavoura diretamente associado ao mínimo de perdas
na operação de colheita (Heiffig; Câmara, 2006).
·P opulação muito alta (acima de 350.000 plantas por hectare) estimula a
competição entre indivíduos e favorece a formação de plantas estioladas, c·o m
haste de diâmetro reduzido, pouco ramificadas, com maior comprimento dos
entrenós e maior altura das plantas e d·a inserção das primeiras vagens, e mais
propensas ao acamamento, aumentando potencialmente as perdas de colheita.
Já populações reduzidas (abaixo de 250.000 plantas p9r hectare) co~tr~buem

.• .
104 SOJA: DO Pl.ANTIO À COLHEl'fA

para a formação de pla11tas com peque110 porte, baixa inserção de vagens, maior
,
numero de ramificações e maior diâ1netro de hastes, com, obviamente, incidên-
cia mais elevada de plantas daninl1as, proporcionando também maiores perdas
de colheita (Sediyama, 2009; Embrapa Soja, 2011; Câmara, 2015).

5.3.2 População de plantas x épocas de semeadura


A semeadura de um cultivar de soja em época desfavorável se reflete em perda
de produtividade. Em muitas situações, perante a decisão de alteração da época
de semeadura, essa perda pode ser evitada ou amenizada por meio de um novo
ajuste na população de plantas (Embrapa, 1993; Thomas; Costa; Pires, 2010; Silva
et al., 2015).
Quando eleito um novo cultivar de soja para certa região dé adapta-
ção, sua indicação normalmente está associada a uma faixa de população de
plantas intrinsecamente relacionada a um período específico (janela) de semea-
dura. Se posicionado antes ou depois da melhor época, espera-se redução de
produtividade, tanto maior quanto mais sensível ao fotoperíodo for o cultivar,
principalmente em regiões de latitudes superiores a 15º Sul.
Em semeadura tardia, o final do período juvenil desse cultivar acontecerá
mais próximo da ocorrência de dias curtos nesse ambiente, traduzindo-se em
redução da duração da fase vegetativa com encurtamento do ciclo e diminuição
do porte da planta (menor altura e menor inserção da primeira vagem) e da
produtividade. A melhor maneira de compensar parcialmente essas reduções
é aumentar a população de plantas (redução do espaçamento e/ou aumento do
estande na linha), para estimular maior competição intraespecífica entre elas
{Câmara, 1998; Sediyama, 2009).
Em semeadura antecipada, as interações entre genótipo e ambiente podem
ser bem mais complexas. Hoje, essa época de semeadura é muito utilizada no
Brasil para a sucessão soja x milho, com predominância no uso de cultivares
precoces a superprecoces. Nesse caso, o cultivar de soja deve ser do tipo de cres-
cimento indeterminado com baixa sensibilidade fotoperiódica. Dependendo da
data de semeadura (muito antecipada), o cultivar poderá apresentar desempe-
nho similar àquele relatado anteriormente para a semeadura em época tardia.

s.3.3 Plasticidade t
A planta de soja apresenta ampla flexibilidade quanto ao aproveitamento do '

espaço disponível. Essa característica de ajustar-se a diferentes arranjos espa-


ciais sem perder sua capacidade produtiva é denominada plasticidade. Em razão
disso, não mostra diferença significativa em rendimento numa considerável
faixa de população de plantas (Rubin, 1997; Câmara, 1998; Pires; Costa; Thomas,
4J.998; Silva et al., 2015).
; -
5 EPOCAS DE SEMEADURA E POPULAÇAO DE PLANTAS 105

Vários autores observaram efeito compensatório da planta quando da


modificação da população, relacionado à alteração de sua morfologia e compo-
nentes da produção (Peixoto et al., 2000; Linzmeyer Junior et al., 2008; Oz, 2008;
Thomas; Costa; Pires, 2010; Markos; Pal; Uragie, 2011).
Nota-se, por exemplo, que maiores populações têm conduzido a menor
produção de vagens e de sementes por planta e vice-versa. Uma das respostas
mais importantes utilizadas pela soja para se adaptar ao espaço adicional dispo-
nível, quando são adotadas baixas populações, é a produção de maior número dé
ramos; consequentemente há aumento do número de vagens e de sementes por
planta. Ao contrário, populações mais elevadas originam menores produções
por planta; assim, a massa de vagens e de sementes por unidade de área tende a
se manter constante, porém, dentro de certos limites de variação da população,
desde que esta tenha uniformidade de estande, ou seja, equidistância entre as
plantas na fileira (Câmara, 1998; Heiffig, 2002; Peixoto et al., 2000).
Nos casos em que o aumento da população causa efeito acentuado no acama-
mento das plantas, populações mais altas podem levar à redução no rendimento
de grãos. A recomendação média da população de plantas para a cultura da soja
é de 300 mil plantas ha-1 e, em condições favoráveis ao acamamento, de 200 mil
a 250 mil plantas ha-1 (Embrapa Soja, 2011). Além do risco de acamamento de
plantas na lavoura, a utilização de elevadas populações de plantas acarreta o
aumento dos gastos com sementes. Em contrapartida, baixas populações favo-
recem o desenvolvimento de daninhas, que resulta em perdas no momento da
colheita (Vasquez; Carvalho; Borba, 2008).
Entretanto, trabalhos mais recentes com diferentes arranjos espaciais de
plantas na lavoura demonstram que a soja não consegue compensar as produ-
ções perdidas em razão da ocorrência de falhas e de plantas duplas nas fileiras de
cultivo. Esse fato foi observado por Pinto (2010), que constatou que o aumento da
produção das plantas localizadas nas bordas das falhas (mais ramificadas) não
compensa a perda de produção causada pela falta de plantas. Ao mesmo tempo,
verificou que a ocorrência de até uma planta dupla por metro de fileira não dimi-
nuiu a produtividade do cultivar CD 226 RR.

s.3.4 Plantio cruzado


No ano agrícola 2009/10, o Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb, s.d.) organizou
o primeiro Desafio Nacional de Máxima Produtividade. Já no lançamento, um
agricultor paranaense alcançou a produtiviqade de 6.504 kg ha-1 utilizando a
semeadura cruzada e altas populações de plantas (511 mil plantas ha-1), o que
modifica a distribuição espacial de plantas da área. Na safra de 2010/11, outro
produtor atingiu a produtividade de 6.038 kg ha-1 na região Oeste da Bahia.
Ambos os recordes produtivos apresentavam características de cultivo bem

l
106 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

divergentes, embora se assemelhassem em alguns aspectos, sendo o mais


representativo a mudança de arranjo de plantas via semeadura cruzada. Nela,
metade das sen1entes é semeada em um sentido e o restante, em sentido trans-
versal, cruzando as fileiras (Balbinot Junior et al., 2012; Kappes et al., 2012).
A partir desses eventos, vários trabalhos científicos foram publicados no
Brasil com o objetivo de avaliar novos e diferentes arranjos espaciais em soja, com
destaque para o espaçamento cruzado entre fileiras de plantas. Entretanto, dúvi-
das persistem, pois parte dos resultados não conclui favoravelmente, enquanto
outra demonstra efeito positivo desse arranjo sobre a produtividade agrícola
(Câmara et al., 2012). Porém, em escala comercial, dificilmente será adotado o
plantio em fileiras cruzadas, devido ao curto intervalo para a melhor época de
semeadura e aos aumentos exigidos na intensidade de mecanização sobre o solo
(dupla passada cruzada) e no consumo de sementes, fertilizantes e óleo diesel.
Dependendo do ambiente de produção (textura de solo, umidade, altitude
etc.), o arranjo espacial definido por fileiras de plantas cruzadas a 90º e distan-
ciadas entre si de 40 cm a 45 cm pode estabelecer mais cedo, na área agrícola,
um microclima de baixeiro de plantas muito favorável ao desenvolvimento de
doenças da soja, principalmente as mais preocupantes, como mofo-branco,
mancha-alvo, ferrugem-asiática e doenças de final de ciclo.

s.3.5 Consumo de sementes


O consumo de sementes para a instalação de uma lavoura de soja vai depen-
der dos seguintes fatores: a) peso de cem sementes; b) germinação e vigor da
semente; e) pureza física da semente; d) grau de injúrias às sementes nos meca-
nismos dosadores das semeadoras; e) população inicial de plantas; e f) tamanho
da área a ser cultivada.
No Brasil, o consumo médio de sementes é de 50 kg por hectare, variando de
acordo com a população inicial de plantas, o valor cultural do lote de sementes e o
peso de cem sementes (função do cultivar e do tamanho da semente). Na Tab. 5.3
apresentam-se alguns valores de consumo de sementes para a instalação de uma
cultura de soja com população inicial de 300 mil plantas por hectare.

1
sumo de sementes (kg ha- ) de uma cultura de soja com popularão inicial
Tab . 5 . 3 Con -s
de 300 mil plantas por hectare, de acordo com o valor cultural (VC) do lote de
sementes e o peso variável de cem sementes
Peso de cem sementes (g)
vc
14 15 16 17 18 19 20
(º/o) 12 13
49,3 53,0 56,8 60,6 64,4 68,2 72,0 75,8
79.20 45,5
46,4 49,9 53,5 57,0 60,6 64,2 67,7 71,3
84,15 42,8
43,8 47,1 50,5 53,9 57,2 60,6 64.0 67,3
89,10 40,4
41,5 44,7 47,9 51,0 54,2 57,4 60,6 63,8
94,05 38,3
5 ( -
EPOCAS DE SEMEADURA E POPULAÇAO DE PLANTAS 107

5.4 EXERCÍCIO SOBRE SEMEADURA (RELATIVO AOS [APS. 4 E 5)


Considerem-se as seguintes informações:
I. Cultivar de soja cujas sementes disponíveis em sacas de 50 kg apresentam:
a) pureza física= 99%; b) germinação= 85%; c) peso de cem sementes= 15 g.
li. Fungicida para TS com: d) dose = 100 mL por 100 kg de sementes;
e) R$ 100,00 por litro de fungicida.
Ili. Solução de cobalto e molibdênio para TS com: f) dose = 100 mL por saca
de sementes; g) R$ 60,00 por litro do produto comercial.
IV. Inoculante líquido com: h) dose = 150 mL por saca de sementes; i) R$ 40,00
por embalagem comercial com dez doses.
,
V. Area de 9.000 ha em solos com histórico de soja inoculada, espaçamento
entre fileiras de 0,50 me população inicial de 280.000 plantas por hectare.

Pedem-se:
1. A densidade de semeadura (número inteiro de sementes por metro) a ser
distribuída para atender à população inicial desejada, considerando-se
desprezíveis as perdas de sementes na semeadora corretamente regulada.
2. O consumo total de sementes para uma lavoura de 9.000 ha e o respectivo
custo considerando-se o preço de R$ 5,00 por quilograma de semente.
3. O consumo total de fungicida para TS e o respectivo custo total e
por hectare.
4. O consumo total de solução Co + Mo e o respectivo custo total e por hectare.
5. O consumo total de inoculante líquido e o respectivo custo total e
por hectare.

Gabarito do exercício sobre semeadura


1. 17 sementes por metro.
2. 9.000 sacas; R$ 2.250.000,00.
3. 450 L de fungicida; R$ 45.000,00.
4. 900 L de Co + Mo; R$ 54.000,00.
5. 1.350 L de inoculante; R$ 36.000,00.

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1
-. -
,
1

. .

- .
'

ADUBAÇÃO

Gil Miguel de Sousa Câmara


Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Escola Superior de Agricultura ''Luiz de Queiroz'',
da Universidade de São Paulo. E-mail: gil.camara@usp.br

A vida na Terra depende da fotossíntese, por meio da qual o gás dióxido de


carbono {C02) presente na atmosfera é fixado organicamente, desde que haja
disponibilidade de água e luz no ambiente. De maneira simples, a reação da
fotossíntese líquida é assim expressa:

(6.1)

A respiração celular oxida os produtos da fotossíntese, reduzindo-os a C0 2


e H 2 0, liberando energia para a formação de compostos orgânicos intermediá-
rios. Estes, juntamente com a energia liberada, são utilizados na biossíntese
de novos e vários compostos orgânicos (aminoácidos, proteínas, carboidratos,
ácidos graxos e outros), que são usados pelas plantas para crescimento estrutu-
ral, manutenção, desenvolvimento reprodutivo e armazenamento de reservas,
que, no fim, serão empregadas em diversas cadeias tróficas, como fontes de
alimentos, energia e fibras (Câmara; Heiffig, 2000).
Ao longo de sua vida (fenologia), as plantas acumulam matéria seca (cres-
cimento em massa), que se diferencia fisiologicamente (desenvolvimento)
em tecidos e órgãos com funções específicas. No caso da soja (Glycine max (L.)
Merrill), toda essa diferenciação é visualizada, em sua parte aérea, na forma da
haste principal e de suas ramificações, que dão sustentação física e fisiológica
às folhas (unifólios e trifólios) e às flores (inflorescências), que, predominan-
temente via autofecundação, dão origem aos frutos (infrutescências) e às
sementes dentro destes. Na parte subterrânea, encontra-se o sistema radicular
com eixo principal (raiz pivotante) intensamente ramificado. Na raiz princi-
pal e na coroa radicular, tem-se a concentração de nódulos, dentro dos quais
as bactérias pertencentes ao gênero Bradyrhizobium realizam, eficientemente, a
fixação biológica do N2 atmosférico.
6 ADUBAÇÃO 11 3

6.1 NUTRIÇÃO DA SOJA


Cerca de 70% da composição mineral da pla11ta de soja corresponde à água. Os 30%
de matéria seca contêm 27% de matéria orgânica e 3% de substâncias mine-
rais. Em torno de 90% da matéria seca da soja são constituídos pelos elementos
carbono (C), oxigênio (O) e hidrogênio (H), obtidos a partir da água e do dióxido
de carbono, razão pela qual não são considerados nutrientes minerais. Os 10%
restantes são elementos químicos inorgânicos provenientes do solo e considera-
dos nutrientes minerais essenciais, por atenderem aos critérios direto e indireto
de essencialidade propostos por Arnon e Stout (1939 apud Epstein; Bloom, 2006;
Malavolta, 2006), que são:
)( Critério direto: o elemento deve estar diretamente envolvido no metabolismo
da planta como constituinte de um composto essencial ou ser necessário
para a ativação de um sistema enzimático.
)C Critérios indiretos: a) na ausência do elemento, a planta não completa o seu
ciclo de vida ou manifesta anormalidades severas no seu crescimento e
desenvolvimento vegetativo e/ou reprodutivo; b) o elemento não pode ser
substituído por nenhum outro; e c) o efeito do elemento não deve estar rela-
cionado a melhorias das condições desfavoráveis do ambiente, de natureza
física, química ou biológica, como compactação do solo, acidez excessiva ou
presença de nematoides nas raízes, respectivamente.

Devido às maiores concentrações nos tecidos vegetais, nitrogênio (N),


fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S) são denomi-
nados macronutrientes. Os que se encontram em menores concentrações são
chamados de micronutrientes e correspondem aos elementos boro (B), cloro (CI),
cobalto (Co), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), níquel (Ni) e
zinco (Zn). Todos atendem aos critérios de essencialidade.
A absorção e o acúmulo de nutrientes resultam no acúmulo de matéria
seca total das plantas de uma lavoura. Por meio da colheita dos grãos de soja,
parte considerável dos nutrientes absorvidos é exportada com a produção.
A quantidade de nutrientes absorvida por uma cultura depende da genética do
cultivar, das condições de clima do ano agrícola, do manejo fitotécnico aplicado
na lavoura e das condições de solo quanto aos seus atributos físicos, biológicos
, .
e qu1m1cos.
Na Tab. 6.1 são apresentadas as quantidades de macro e micronutrien-
tes absorvidas e exportadas pela cultura da soja. Os valores mostrados nessa
tabela representam as quantidades contidas em 1.000 kg de restos culturais
e em 1.000 kg de ·grãos de soja. rambém se observa que os elementos P e K
são expressos na forma de óxidos, para melhor correlação com os çálculos de
consumo e recomendação de adubos fosfatados e potássicos, respectivamente.
114 SOJA: DO PLANTIO À COLHEI'"fA

Tab. 6.1
Quantidades de macro e micronutrientes absorvidas em 1.000 kg de restos
culturais e exportadas com a produção de 1.000 l<g de grãos pela cultura da soja

Parte da planta Macronutrientes (kg 1.000 kg-1)


N P20s 1(20 Ca Mg s
Grãos 51 10,0 20,0 3,0 2,0 5,4
Restos culturais1 32 5,4 18,0 9,2 4,7 10,0
Total 83 15,4 38,0 12,2 6,7 15,4
Exportação (º/o) 61 65 53 25 30 35
Micronutrientes (g 1.000 kg-1)
B CI Cu Fe Mn Mo Zn
Grãos 20 237 10 70 5 40
30
Restos culturais 57 278 16 390 100 2 21
Total 77 515 26 460 130 7 61
Exportação (º/o) 26 46 38 15 23 71 66
1
1
Parte aérea (haste principal, ramificações, folhas, pecíolos e cascas das vagens) restituída ao solo.
Fonte: Embrapa Soja (2013).

Considerando-se os valores totais, notam-se as seguintes ordens decres-


centes de absorção de macro e micronutrientes, respectivamente:
X N > K > P = S > Ca > Mg;
X Fe > Mn > B > Zn > Cu > Mo.

Com relação ao percentual das quantidades de macro e micronutrientes


exportadas, observa-se:
X N > K > P > S > Ca > Mg;
)( Fe > Zn > Mn > B > Cu > Mo.

6.2 CONCEITO DE ADUBAÇÃO


Segundo Malavolta (2006), a equação geral da adubação de uma cultura agrícola
pode ser assim definida:

M (adubo) = {M (planta) - M (solo)] • F (6.2)

em que:
M (adubo) = fornecimento, via fertilizante, de determinado nutriente mineral
"M,,(macro ou micro);
M (planta) = req-µerimentos nutricionais da cultura, quantitativamente, em relação
ao nutriente "M", essencial para a formação de sua matéria seca total;
M (solo) = quantidade do nutriente "M" contido no solo e pronta.m ente disponível
à planta;
6 ADUBAÇÃO 115

F = eficiência da adubação, isto é, a fração do nutriente "M" contido no fertili-


zante que é absorvida pelas raízes e efetivamente transformada em matéria
seca pela planta.

Para compreender o termo uM (planta}", é preciso conhecer os fatores


diretamente relacionados à nutrição da cultura, como os seus requerimentos
nutricionais, as quantidades demandadas de nutrientes e a época e o local de
fornecimento destes.
O conhecimento do termo "M (solo)" fundamenta-se na avaliação da ferti-
lidade do solo, através da utilização, preferencialmente conjunta, das seguintes
ferramentas: a) diagnose visual; b) diagnose foliar; c) análise química do solo; e
d) histórico de fertilidade da área de produção, associado ao respectivo histórico
de produtividade agrícola.
O componente "F" tem relação direta com· os conhecimentos ligados ao
ambiente de produção, às condições climáticas do ano agrícola, ao sistema de
produção em uso, à adoção de práticas conservacionistas, às fontes de nutrien-
tes e ao método de aplicação.
Para adubar corretamente uma cultura, deve-se responder aos seguintes
. , .
questionamentos praticas:
)( O que fornecer? - Identificar qual nutriente é demandado pela planta e não
totalmente fornecido pelo solo.
)C Quanto fornecer? - Calcular a dose da fonte do nutriente (fertilizante) que
atenda à diferença entre a demanda da planta e a respectiva quantidade
disponível no solo.
)C Quando fornecer? - Saber em que momento da cultura (idade fisiológica) o
nutriente deve ser fornecido ou estar disponível, de maneira que a planta
o aproveite com a máxima eficiência.
)C Como fornecer? - Definir o método de aplicação do nutriente que resulte na
máxima eficiência de aproveitamento pela cultura.

6.3 AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO


6.3.1 Diagnose visual
Durante o processo de crescimento vegetal, as plantas atuam como extratores
de nutrientes do solo em que vivem, por meio da absorção radicular. Solos com
todos os nutrientes essenciais atingirão o padrão esperado de normalidade do
c:;rescimento da planta quanto à coloração de seus tecidos e órgãos, assim como
no que diz respeito à farma e ao tamanho destes.
Havendo deficiência ou excesso (níveis tóxicos) de nutrientes no solo,
o padrão de normalidade deixa de existir, surgindo nos tecidos e órgãos da
planta sinais visuais (sintomas) de anomalias, que caracterizam alterações
116 SOJA: DO PLANTIO A COLHEITA

morfológicas decorrentes de alterações fisiológicas. Considerando o princípio de


que todas as plantas necessitam dos mesmos nutrientes, tem-se que os sinto-
mas de deficiência ou de excesso são semelhantes e, portanto, possíveis de ser
identificados pela diagnose visual.
Além de suas funções específicas no metabolismo vegetal, cada nutriente
apresenta característica própria quanto à sua mobilidade dentro da planta.
Os elementos mais móveis são os nutrientes N e K, seguidos por P, Mg, CI, Co, Cu
e Ni, razão pela qual os sintomas de suas deficiências surgem, inicialmente, nas
partes mais velhas da planta. O Ca é imóvel e o B tem reduzidíssima mobilidade
na planta, enquanto o S e os demais micronutrientes são parcialmente móveis,
notando-se os sintomas iniciais de suas deficiências nas regiões mais novas da
planta (Malavolta, 2006; Levy, 2013; Santos Neto, 2017).
A caracterização correta de um sintoma de deficiência ou toxidez de um
nutriente é favorecida quando sua ocorrência é geral na área e se apresenta
com gradiente e simetria na planta, diferentemente dos sintomas assimétricos
e raramente em gradiente, relacionados ao ataque de pragas, à infestação de
doenças ou à ocorrência de adversidade climática, entre outros.
Nos Quadros 6.1 e 6.2 são apresentados, de forma resumida, as princi-
pais funções e os sintomas de deficiência em soja de macro e micronutrientes,
respectivamente.

Quadro 6.1 Macronutrientes em soja: funções na planta e sintomas de deficiência


Nutriente Funções na planta Sintomas de deficiência

Integra a molécula de clorofila


Clorose generalizada nas folhas mais velhas
Atua na fotossíntese
Progressão da clorose para as folhas
Atua na síntese e é Integrante de proteínas •
mais novas
Atua no pegamento de flores
Nitrogênio Folhas menores (pouco expandidas)
Aumenta o número e a retenção de vagens
Haste principal fina
Aumenta diretamente a produtividade
Plantas menores
Aumenta o peso (densidade) de grãos
Baixo desenvolvimento radicular
Aumenta a porcentagem de óleo

Integra a molécula de ATP


Atua no armazenamento e no fornecimento
Folhas mais velhas menores
de energia
Folhas mais velhas de coloração verde-
Atua na fotossíntese e na respiração
-escura azulada a púrpura
Estimula o crescimento e a nodulação das
Crescimento lento
Fósforo raízes e aumenta a eficiência da fixação
Plantas raquíticas (haste principal fina)
biológica do nitrogênio (FBN)
Grãos menores e malformados
Atua no enchimento de grãos e aumenta o
Redução no número de vagens par planta
teor de proteínas nestes
Sistema radicular pouco desenvolvido
Atua na altura de planta e de inserção da
primeira vagem
6 ADUBAÇÃO 11 7

Quadro 6.1 (continuação)


Nutriente Funções na planta Sintomas de deficiência

Ativa várias enzimas Folíolos com clorose marginal e aplcal


Atua na formação, na translocação e no Margens das folhas inferiores (velhas)
metabolismo de carboidratos amareladas, alaranjadas ou bronzeadas
É responsável pelo uso eficiente da água, Avanço da clorose para o centro do folíolo
regulando o movimento estomático Necrose foliar no mesmo sentido da clorose
Atua na translocação de água e nutrientes Grãos pequenos, enrugados e deformados
Potássio
Ajuda a planta a tolerar deficiência hídrica Atraso na maturação
Reduz o acamamento de planta e a Maturação desuniforme
deiscêncla de vagens Haste verde (mais retenção foliar)
Promove maturação mais uniforme Vagens chochas
da cultura Formação de frutos partenocárpicos
Reduz a Incidência de doenças fúnglcas

Atua na elongação e na divisão celular


Integra a parede celular Folhas novas menores, clorôticas e
Atua na permeabilidade da encarquilhadas
membrana celular Clorose foliar no sentido da borda para
Age no crescimento e na germinação dos
o centro
grãos de pólen Raízes pouco desenvolvidas
' Cálcio Atua no crescimento do tubo polínico Bronzeamento e morte das pontas
Ativa as enzimas reguladoras de
das raízes
senescência e abscisão foliar Colapso do pecíolo das folhas (dobra do
Atua na infecção da raiz e no pecíolo mais necrose e queda do folíolo)
desenvolvimento do nódulo radicular Queda acentuada de flores e de vagens
Essencial para o crescimento e o
aprofundamento das raízes

Integra a molécula de clorofila


Essencial para a fotossíntese
Clorose marginal em folhas mais velhas
Ativa várias enzimas Clorose evolui para o centro (internerval)
Magnésio Auxilia na absorção de P
das folhas mais velhas, com secamento
Aumenta a FBN
dos bordos
Aumenta N proteico e reduz N mineral
na planta

Componente dos aminoácidos sulfurados


(cistlna, cisterna e metionina)
Melhora a síntese e a qualidade
Clorose pálida em folhas mais novas e
das proteínas
jovens do ponteiro
Enxofre Melhora a síntese de enzimas e vitaminas
Sistema radicular pouco desenvolvido
Ativa a nitrogenase nos nódulos radiculares
Nodulação radicular deficiente
Aumenta a eficiência da FBN
Melhora a incorporação do N fixado
Atua na formação dos grãos

Fonte: Tanaka e Mascarenhas (1992) e Malavolta (2006).


118 SOJA: DO PLAN~ílO À COLI-íEI1 A 1

Quadro 6.2 Micronutrientes em soja: funções na planta e sintomas de deficiência


Nutriente Funções na planta Sintomas de deficiência

Atua na divisão e na elo.ngação celular Folhas novas com folíolos menores e com
Atua na germinação dos. grãos de pólen coloração verde-azulada .
Atua no crescimento do tubo polínico Folhas coriáceàs, rugosas e espessas
Boro Atua no.transporte de açúcares, amido, Mort~ da gema apical vegetativa
nitrogênio e fósforo Encurtamento dos entrenós·
Participa na formação·dos grãos. Nanis·mo da planta (p~rte red·uzido)
Importante p~ra a germinação da .se~ente Baixa fecundação de flores
Meno·r nodulação das raízes

Atua na evolução do oxigênio da água


(fotólise) no processo de fotossíntese
Cloro (fotossistema 11) Clorose foliar devida à redução na
Atua na turgescência celular através da fotossíntese
pressão osmótica

Essencial para os rizóbios (FBN)


Componente da vitamina 812
.
Componente da enzima cobamida Nódulos pequenos com coloração interna
Cobalto amarelo-pálida
. Atua na síntese da leg-hemoglobina
' Clorose nas folhas maisrnovas
Atua n_o·transporte de 0 2 para <:> interior..
dà nódulo
-- -· - - ... _ - - - - ..'

Deficiência nas folhas mais novas, com


coloração verde-acinzentada a verde-azulada
Ativador de enzimas da fotossíntese e
Necrose nas pontas dos folíolos das folhas
da respiração •
mais novas
Cobre Atua na distribuição de carboidratos
Folhas com aparência de folhas secas
Atua na redução e na fixação de N2 da FBN
Morte apical (ponteiro) da planta
Auxilia na resistência a doenças fúngicas
Encurtamento dos entrenós
Plantas mais baixas
.. -- - - .....

Atua n-a transf~rência de elétrons


1 ,
t
'
1 Ativador de enzimas . Diminuição no teor de·çloroftla foliar
-,;erro
·Participa da nitrogena_se, enz1m·.a7c~ave Clorose internerval de folhas ·mais novas
da FBN
J
l.._ _ __ .. -• - --- ·- - .. - . •

Participa como cofator da enzima redutase DeficiêncJa semelhante à cto nitrogênio


do nitrato Clorose das folhas mais velhas, com
Molibdénio Age como cofator da enzima nitrogenase posterior necrose das margens
daFBN Menor porte de planta
-. ... - - . • • •
l

Atua n~ evótução dó oxigênio d~ água '
1
1 (f~tólise). no processo çte fotoss1ntese
' C:lorose interherval·na~ folhas mais no.vas,
' ssistema 11) . . .
(foto_ •. com• nervuras (reticulad.o} mais grossas
Atua na formação da clorofiJa
Pla.n.t.ª s·com men.or porit~
Ativa yárlas enzJin~s , . r •
'

Áge na síntese de prote,~a~ -- -


- ... ~. - ., . - - . -- -·· -- - . .- ...... _- .... --
6 ADUBAÇÃO 119

Quadro 6.2 (continuação)


Nutriente Funções na planta
-
Sintomas de deficiência
Participa das enzimas urease em g·rãos de J
-
soja e hidrbgenase Manchas ·necróticas nas ·extremidades l
Níquel
Aumenta o peso dos nódu1os_radiculares
' '
dos folíolos
Aumenta o peso de grãos

Folhas novas cloróticas, pequenas


e lanceoladas
Ativa várias enzimas
Folhas adultas com coloração
Atua na síntese de proteínas
amarelo-castanha
Zinco Atua na síntese do triptofano, precursor do
Encurtamento dos entrenós
hormônio AIA (auxina)
Plantas mais baixas
Auxilia na formação dos grãos
Curvatura da haste principal
Redução no número de vagens
Fonte: Tanaka e Mascarenhas (1992) e Malavolta (2006).

A diagnose visual caracteriza, qualitativamente, o estado nutricional da


planta ou da lavoura naquele momento, sendo, portanto, incompleta. Porém,
quando bem realizada, permite certificar que o problema de deficiência nutri-
cional tem a sua origem no solo. Para quantificá-lo, é mais seguro recorrer às
análises químicas de tecido foliar e de solo.

Diagnose foliar
6.3.Z
Ao contrário da diagnose visual, a diagnose foliar possibilita identificar a defi-
ciência de determinado nutriente antes que o seu sintoma se manifeste, isto é,
permite diagnosticar a fome oculta do nutriente, definida como o início da defi-
ciência nutricional, correspondente ao teor do elemento no tecido foliar, com
valor pouco inferior ao seu valor de nível crítico interno, já causando perda de
produtividade agrícola.
o nível crítico interno, ou simplesmente nível crítico de um nutriente, pode
ser definido como o valor do nutriente na constituição química da planta, por
ocasião da coleta das amostras de folhas, correspondente a 90% da produtivi-
dade relativa da cultura.
A diagnose foliar deve ser compreendida como uma ferramenta complemen-
tar para a interpretação do estado nutricional atual de uma cultura (cultivar) e da
fertilidade do solo (talhão) onde se encontra, racionalizando a tomada de decisão
quanto à recomendação de adubação, principalmente para a próxima safra.
Fenologicamente, o auge do acúmulo de nutrientes nas folhas de soja corres-
ponde ao início do florescimento (R1) ou ao florescimento pleno (R2), variável de
acordo com a interação do cultivar c<;>m o ambiente de produção.
Como procedimento de amostr_agem, recomenda-se a coleta de 30 a·40 folhas
por t~lhão, cqrrespondentes ao terceiro ou ao quarto trifólio a part_ir do ápice. e
: ,. •• mz•~,~--··

120 SOJA: DO llLANTIO A COLI-IEITA

localizado na haste principal, sem o pecíolo, no início do florescimento das plan-


tas (estádio Rl). que são encaminhadas a um laboratório de análises químicas
de tecido vegetal. A diagnose foliar consiste na interpretação dos resultados da
análise de acordo com as classes de teores foliares dos macro e micronutrientes
apresentados na Tab. 6.2.

Tab. 6.2 Teores de nutrientes utilizados na interpretação dos resultados das análises de
1
folhas de soja sem pecíolo coletadas no estádio R1

Deficiente ou •
Suficiente ou Excessivo ou
muito baixo Baixo Alto
Elemento médio muito alto
(g l<g-1)
N < 32,S 32,5-45,0 45,0-55,0 55,0-70,0 > 70,0
p < 1,6 > 8,0
1,6-2,5 2,5-5,0 5,0-8,0
K < 12,5 12,5-17,0 17,0-25,0 25,0-27,S > 27,5
Ca < 2,0 2,0-3,5 3,5-20,0 20,0-30,0 > 30,0
Mg < 1,0 1,0-2,5 2,5-10,0 10,0-15,0 > 15,0
s < 1,5 1,5-2,0 2,0-4,0 > 4,0 -
(mg kg-1)
8 <10 10-20 20-55 55-80 >80
Cu 2 - <6 6-14 >14 -
Fe <30 30-50 50-350 350-500 >500
Mn < 15 15-20 20-100 100-250 >250
Mo < 0,5 0,5-1 1-5 5-10 >10
Zn < 11 11-20 20-50 50-75 > 75
1Terceiro ou quarto trifólio sem o pecíolo, a partir do ápice da haste principal, coletado no início do floresci-
mento (R1).
2Segundo Sfredo et ai. (1999).
Fonte: Embrapa Soja (2013).

6.3.3 Análise de solo


Produtividade relativa x tear de nutriente no solo
Trata-se de outra ferramenta técnica essencial para a tomada de decisão quanto
à construção da fertilidade de u·m solo e/ou à recomendação de adubação de
uma cultura. A análise química de um solo revela o estado atual de sua fertili-
dade, permitindo a identificação tanto dos elementos limitantes à obtenção de
boas produtividades agrícolas quanto da disponibilidade dos nutrientes.
Na Fig. 6.1 encont_ram-se as classes de interpretação dos teor~s de deter-
minado nutriente no solo, relacionadas ao rendimento (produtividade agrícola)
relativo de dada cultura, de acordo com a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo
- Núcleo Regional Sul (SBCS-NRS, 20,04).
- --- ----- - - - - - - - -

6 ADUBAÇÃO 121

Adubação de Adubação de Adt1bação de


-
correçao 111anutenção reposição
• (solo e planta) • ._
.. -i{.__so_l_o_e......p_la_n_t_a-'-)_.. •(planta) •
lOOT-----1--=;:;:::=-===;:::=:===;=~---

.....,,..-... ;.i,~~/~15'1 · .. • Fabca aâ~gtia~a _ .. Fig. 6.1 Relações


entre os classes de
R interpretação dos teores
de determinado nutriente
no solo e o rendimento
o (produtividade agrícola)
Muito Baixo Médio Alto Muito
relativo de dado cultura
baixo alto
Nutriente no solo (mg dm· 3) Fonte: SBCS-NRS (2004).

No eixo das abcissas dessa figura, o teor do nutriente no solo, revelado


pela sua análise química, pode se situar desde a classe de baixíssima disponi-
bilidade do elemento (teor muito baixo) até a classe de maior disponibilidade
do nutriente no solo (teor muito alto). No eixo das ordenadas encontram-se as
frações percentuais do rendimento relativo da cultura. A interação entre esses
parâmetros dá origem à curva de relação crescente, não linear e proporcional ao
crescimento de ambos os parâmetros.
Na parte superior da figura encontram-se as três orientações técnicas
básicas quanto à adubação do solo e da cultura, de acordo com o estado atual
de fertilidade revelado pela análise química do solo. Assim, para as classes de
teores muito ba~xo, baixo e médio, correspondentes a rendimentos relativos
de 10% a 90%, é recomendada a adubação de correção, com o objetivo de aumen-
tar o teor do nutriente no solo. Para as frações de 90% a 100% de rendimento
relativo, recomenda-se a adubação de manutenção, visando-se manter o teor do
nutriente no solo que garanta 90% do rendimento relativo, mas com ênfase na
nutrição da planta. No caso de elevadas produtividades agrícolas garantidas
em razão do alto teor do nutriente no solo, sugere-se a adubação de reposição,
com foco na planta, para a reposição ao solo do nutriente exportado com a
produtividade agrícola.
Analisando mais detalhadamente a figura, nota-se que, na faixa de teores
correspondentes à recomendação da adubação de correção, a curva é mais incli-
nada, demonstrando maior responsividade da produtividade agrícola à aplicação
do nutriente no solo. A partir da fração correspondente a 90% do rendimento
relativo, a inclinação da curva diminui, indicando que os ganhos advindos com
adubação da cultura, nos mesmos níveis praticados anteriormente, proporcio-
narão poucos acréscimos à produtividade agrícola, devendo-se então efetuar a
adubação de manutenção. Para alta produtividade associada à alta fertilidade

,
122 SOJA: DO PLANl'IO À COLl-IEITA

do nutriente no solo, a estabilidade da curva indica baixíssima probabilidade de


resposta à adubação, mas isso não justifica a sua negligência, pois as produti-
vidades sucessivas levarão à inevitável perda da fertilidade do solo, devido às

sucessivas exportações do nutriente com as produções.
Define-se como nível crítico de um nutriente no solo o teor desse elemento
que possibilita 90% do rendimento relativo. Normalmente, o nível crítico corres-
ponde ao limiar entre o final da faixa dos teores médios e o início da faixa
dos altos teores do nutriente no solo. Acima deste último e até o início da
faixa dos muito altos teores, tem-se a faixa adequada de fertilidade do solo e
nutrição da planta, que proporciona altas produtividades agrícolas (Fig. 6.1).
A adubação de correção, também referenciada como adubação de constru-
ção da fertilidade de um solo, engloba a utilização de grandes doses de corretivos
e de fertilizantes, normalmente aplicados com intensa movimentação do solo,
elevado consumo de energia e considerável aporte de recursos financeiros
(investimento). Corresponde às operações agrícolas mecanizadas efetuadas
com considerável antecedência à semeadura da soja, destinadas à correção da
acidez (pH) do solo, ao fornecimento de Ca e Mg (calagem) e ao condiciona-
mento químico do solo em subsuperfície, devido aos elevados teores de Al3+
e Mn 2• (gessagem) e à elevação acentuada da fertilidade do solo em fósforo
(fosfatagem) e potássio (potassagem). Quando bem realizadas, a expectativa
de duração dos benefícios dessas práticas na área de produção corresponde ao
horizonte temporal de cinco anos agrícolas.
A adubação de manutenção corresponde ao fornecimento de médias a
relativamente altas doses de fertilizantes, com o objetivo de manter a fertili-
dade conquistada com as adubações de correção, além de atender à demanda
nutricional da formação de uma lavoura com média a alta produtividade. Esse
tipo de adubação é feito por ocasião da semeadura, ou muito próxima a esta
(antes ou depois em cobertura), visando à aplicação de fósforo, potássio e
enxofre. Nitrogênio mineral pode ser aplicado, quando associado a fórmulas
fertilizantes de plantio, desde que em doses pequenas (~ 20 kg ha-1 de N) que
não comprometam a nodulação radicular e a fixação biológica do nitrogênio
(FBN). A demanda por micronutrientes pode ser atendida pela adubação de
manutenção ou, então, por posteriores aplicações via foliar, em associação aos
demais tratos culturais da lavoura.
A adubação de reposição ainda não é rotineira na imensa maioria da
área cultivada com soja no Brasil. Porém, tem aumen~ado o interesse pela sua
_a doção, simultaneamente à geração de m.a pas de colheita e de fertilidade do
solo, fornecidos pelas ferramentas da agricultura de precisão (AP}. Corres-
ponde à -adubação feita. na semeadura de uma nova safra ou próxima a esta
e fundamenta-se na reposição das quantidades de nutrientes exportados e

a
6 ADUBAÇÃO 123

contidos na produtividade agrícola de grãos de soja, por ocasião da colheita


da lavoura na última safra. Visa-se à reposição dos macro e micronutrientes
contidos nos grãos de soja, cujas quantidades são determinadas em laborató-
rio de análises químicas de tecido vegetal, por meio da amostragem de grãos
no momento da colheita.

Amostragem
Uma boa análise química do solo é fundamental, pois sobre os resultados analí-
ticos é que se calculam as doses de corretivos e fertilizantes. Entretanto, é
primordial que seja representativa de grande área agrícola. É por essa razão que
se considera, como a tarefa mais importante em todo esse processo de tomada
de decisão, a adequada amostragem de solo das áreas de produção, seja pelos
métodos tradicionais (trado tipo holandês, sonda etc.), seja pelos métodos asso-
ciados às atuais ferramentas da agricultura de precisão.
Para que a operação da calagem atinja os seus objetivos, deve ser feita
com, pelo menos, três meses de antecedência à semeadura da próxima safra e,
_preferencialmente, em solo úmido. Considerando-se o tempo de espera entre a
entrega da amostra e a liberação da análise pelo laboratório, a interpretação dos
resultados e os cálculos das doses e das necessidades de fertilizantes, além do
tempo para aquisição, transporte e armazenamento temporário destes, chega-
-se ao prazo mínimo de cinco a seis meses antes da próxima semeadura.
O final da safra de verão, após a colheita, é uma boa época para amos-
trar o solo. As amostras devem ser coletadas em áreas homogêneas quanto às
propriedades do solo (classe pedológica, classe de textura, relevo, delimitações
geográficas etc.) e ao histórico de utilização (produtividades, cultivares etc.).
Considerando a amostragem com ferramentas tradicionais, orienta-se
para cada área homogênea (talhão, por exemplo) a coleta de 10 a 20 amostras
simples, em pontos aleatoriamente distribuídos, que constituirão uma amos-
tra composta. Após a homogeneização desta, uma fração de aproximadamente
SOO g deve ser separada e encaminhada ao laboratório. Neste, uma fração ainda
menor será utilizada nas análises de rotina, para a determinação dos teores de
macro e micronutrientes.
Quanto às profundidades de coleta por ponto de amostragem, devem-se
prospectar os primeiros 20 cm de solo, mais representativos da camada inten-
samente alterada pelo manejo do solo, aplicação de corretivos e fertilizantes,
deposição de restos culturais e conc_entração do maior volume de raízes de cultu-
ras anuais. Em áreas em consolidação (3 a 5 anos) ou já consolidadas com ·p lantio
direto (> s anos), recorpenda-se a est_ratificação da amostragem dos primeiros
20 cm de solo, nas profundidades de 0-10 cm e de 10-20 cm, avaliando-se a varia-
ção entre essas camadas dos valores de acidez e dos nutrientes Ca e Mg.
124 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

A segunda profundidade, de 20 cm a 40 cm, pode e deve ser amostrada a


cada dois ou três anos, a partir da primeira, com o objetivo de avaliar a presença
de teor elevado e/ou a saturação de alumínio (AI), associando-o aos teores de Ca,
Mg e S. Os resultados destes últimos são importantes para o monitoramento e a
avaliação da qualidade das operações anteriores de calagem e gessagem.
As técnicas de amostragem de solo pertinentes à agricultura de precisão
são referenciadas em capítulo específico nesta obra.

Tabelas-referência para interpretação da fertilidade da solo


Nas próximas tabelas, apresentam-se as faixas de teores de disponibilidade
de nutrientes mais usuais para interpretação de análise de solo, adotadas por
várias instituições de pesquisa e de extensão, públicas e privadas, em diversas
regiões do Brasil.
O uso dessas tabelas para efeito de interpretação da fertilidade do solo e
recomendação de doses de corretivos e fertilizantes deve ser feito com parcimô-
nia, pois foram elaboradas a partir de várias pesquisas conduzidas em locais e
tempos diferentes. Deve-se lembrar que a responsividade da cultura às medidas
de correção e/ou adubação do solo não é uma ciência exata, havendo interferência
do ambiente em que as amostras foram obtidas. Zancanaro et al. {2018) ressaltam
que tabelas oficiais de interpretação e de recomendação não podem ser utilizadas
de foi ma isolada nem aplicadas pontualmente, sem levar em consideração o histó-
rico de manejo e de produtividade observado nas diferentes condições de campo.

Estado de São Paulo


O Estado de São Paulo adota rotineiramente, em suas análises químicas de
solo, os métodos analíticos desenvolvidos com a liderança da Seção de Fertili-
dade do Solo do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). As classes de teores
dos componentes de fertilidade do solo, suas interpretações e as respectivas
adubações para a cultura da soja encontram-se disponíveis em Raij et al. (1996)
e Raij {2011).
os limites de classes para interpretação de acidez do solo, expressos em
saturação por bases e em pH determinado em solução de CaC12 0,01 mol L-1 ,
são exibidos na Tab. 6.3. As extrações de P, K, Ca e Mg são feitas pelo método
da resina trocadora de íons, cujos limites de teores associados a frações da
produtividade relativa, para efeito de interpretação da fertilidade do solo, são
apresentados nas Tabs. 6.4 e 6.5. Nesta última também são mostrados os limi-
tes de clas~es de teores para o S, cuja extração se .dá pela solução de CaH 2PQ 4
0,01 mol L-1. Na Tab. 6.6 encontram-s·e as interpretações para os teores de
micronutrientes com base na. extração do B pelo método da água quente e dos
micronutrientes metálicos pelo complexant~ DTPA.
- - - ---------------

6 ADUBAÇÃO 12 5

Tab. 6.3 Classes de acidez e de saturação por bases para interpretação da fertilidade de
solos do Estado de São Paulo
Acidez pH (CaCl 2) Saturação por bases V (0/o)
Muito alta até 4,3 Muito baixa 0-25
Alta 4,4-5,0 Baixa 26-50
Média 5,1-5,5 Média 51-70
Baixa 5,6-6,0 Alta 71-90
Muito baixa > 6,0 Muito alta > 90
Fonte: Raij et ai. (1996) e Raij (2011).

Tab. 6.4 Classes de teores dos macronutrientes P e K para interpretação da fertilidade de


solos do Estado de São Paulo
Teores Produção relativa ( /o) 0
P-resina (mg dm- 3
) K+ trocável (mmol, dm-3)

Muito baixo 0-70 0-6 0,0-0,7

Baixo 71-90 7-15 0,8-1,5

Médio 91-100 16-40 1,6-3,0

Alto >100 41-80 3,1-6,_0

Muito alto >100 > 80 > 6,0

Fonte: Raij et ai. (1996) e Raij (2011).

Tab. 6.5 Classes de teores dos macro nutrientes Ca, Mg e 5-50 4 para interpretação da
fertilidade de solos do Estado de São Paulo
Ca 2 + trocável Mg2 + trocável
Teores 50 4 2- (mg dm-3)
(mmolc dm-3) (mmolc dm-3)

Baixo 0-3 0-4 0-4

Médio 4-7 5-8 5-10

Alto >7 >8 >10

Fonte: Raij et ai. (1996) e Ralj (2011).

Tab. 6.6 Classes de teores dos micronutrientes B, Cu, Fe, Mn e Zn para interpretação da
fertilidade de solos do Estado de São Paulo

e Cu Fe Mli Zn
Teores
(mg dm-3)
Baixo 0-0,20 0-0,2 0-4 0-1,4 0-0,5

Médio 0,21-0,60 o.3-o.s 5-12 1,5-5,0 0,6~1;2

Alto > 0,60 > 0,8 > 12 > 5,0 > 1,2
Fonte: Raij et ai. (1996) e Raij (2011).
126 SOJA: DO PLAN·r10 À COI.. 1·IEI1'A

Região do Cerrado
Nas Tabs. 6.7 e 6.8 enco11tram-se, respectivamente, os teores de P e de K extraí-
veis pelo método Mehlich I e as respectivas interpretações de fertilidade, que,
no caso do P, variam em função dos teores de argila do solo. Na Tab. 6.9 são
mostrados os valores-limites para a interpretação dos teores de micronutrien-
tes no solo, sendo o B extraído pelo método da água quente e os micronutrientes
metálicos, pelo método do DTPA.

Tab. 6.7 Classes de teores de argila e de p (extraído pelo método Mehlich 1) para
interpretação da fertilidade de solos do Cerrado

Teores de argila Teores de P (mg dm- 3)


(g l<g-1) Bom
Muito baixo Baixo1 Médio

> 600 s1 1-2 2-3 >3

400-600 ~3 3-6 6-8 >8

200-400 sS 5-10 10-14 >14

~ 200 ~6 6-12 12-18 >18


1
Ao atingir níveis de P extraível acima dos valores estabelecidos nesta classe, utilizar somente adubação de
manutenção, de acordo com Sousa e Lobato (1996).
Fonte: Embrapa Soja (2013}.
, )

Tab. 6.8 Classes de teores de I< (extraído pelo método Mehlich 1) para interpretação da
fertilidade de solos do Cerrado
Teores de K extraível
Interpretação
(mg dm-3 ) (cmolc dm-1)
Baixo ~ 25 ~ 0,06
Médio 25-50 ;
I 0,06-0,13
Bom > 50 > 0,13
Fonte: Embrapa Soja (2013).

Tab. 6.9 Valores-limites para interpretação dos teores de micronutrientes, extraídos


por água quente (8) e pelo método do DTPA {micronutrientes metálicos), para
culturas anuais, nos solos do Cerrado
B Cu Fe Mn Zn
Teores
(mg dm-3)

Baixo < 0,30 < 0,15 < ·5,0 < 1,0 < 0,30
Médio 0,30-0,49 0,15-0,33 5,0-11~9 1,0-1,9 0,30-0,69

Alto 0,50-2,00 0,34-7.00 12,0-30,0 2,0-10,0 0,70-10,0

Muito alto > 2,00 > 7,00 > 30,0 > 10,0 > 10,0
Fonte: Embrapa Soja (2013).
6 ADUBAÇÃO 12 7

Estado de Minas Gerais


São apresentados 11esta seção os critérios de interpretação da fertilidade do solo
de acordo com a proposta de Ribeiro, Guimarães e Alvarez (1999). Na Tab. 6.10
encontram-se as classes de interpretação da disponibilidade para P, segundo
o teor de argila do solo ou o valor de fósforo remanescente (P-rem), e para K.
Na Tab. 6.11 são mostradas as classes de interpretação da disponibilidade para
os micronutrientes, com o B extraído por água quente e os demais pelo método
Mehlich I.

Tab. 6.10 Classes de teores de P disponível com base nos teores de argila e de fósforo
remanescente (P-rem) no solo e classes de teores de K disponível, para
interpretação da fertilidade de solos do Estado de Minas Gerais

Teores
Parâmetros
para P Muito
Baixo Médio 3 Bom Muito bom
baixo

Argila (0/a) P disponível 1 (mg dm·3)

> 60 < 2,8 2,8-5,4 5,4-8,0 8,0-12,0 > 12,0

35-60 < 4,1 4,1-8,0 8,0-12,0 12,0-18,0 > 18,0

15-35 < 6,7 6,7-12,0 12,0-20,0 20,0-30,0 > 30,0

< 15 < 10,1 10,1-20,0 20,0-30,0 30,0-45,0 >45,0

P-rem 2 (mg L-1)

0-4 < 3,0 3,0-4,3 4,3-6,0 6,0-9,0 > 9,0

4-10 < 4,0 4,0-6,0 6,0-8,3 8,3-12,5 > 12,5

10-19 < 6,0 6,0-8,3 8,3-11,4 11,4-17,5 > 17,5

19-30 < 8,0 8,0-11,4 11,4-15,8 15,8-24,0 > 24,0

30-44 < 11,0 11,0-15,8 15,8-21,8 21,8-33,0 > 33,0

44-60 < 15,0 15,0-21,8 21,8-30,0 30,0-45,0 > 45,0

Unidades 1( disponível 1

cmol e dm-3 < 0,04 0,04-0,10 0,10-0,18 0,18-0,31 > 0,31

mg dm-3 < 15,0 15,0-40,0 40,0-70,0 70,0-120,0 > 120,0

'Método Mehlich 1.
2P-rem = fósforo remanescente, concentração de fósforo da solução de equilíbrio após agitar durant~ 1 h a
TFSA com solução de CaCl 2 10 mmol L·1, contendo 60 mg L- 1 de P, na relação 1:10.
30 limite superior desta ~lasse indica o nível crítico.
Fonte: Ribeiro, Guimarães e Alvarez (1999) e Embrapa Soja (2013).
. -- - -------------

128 SOJA: DO PLt\NTIO A COLHEI'fA

Tab. 6.11 Classes de teores de micronutrientes para interpretação da fertilidade de solos do


Estado de Minas Gerais
Teores
Micronutrientes
Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom
Zn disponível' < 0,4 0,5-0,9 1,0-1,5 1,6-2,2 > 2,2
Mn disponível 1 < 2,0 3,0-5,0 6,0-8,0 9,0-12,0 > 12,0
Fe disponível 1 < 8,0 9,0-18,0 19,0-30,0 31,0-45,0 > 45,0
Cu disponível 1 < 0,3 0,4-0,7 0,8-1,2 1,3-1,8 > 1,8
B disponível 2 < 0,15 0,16-0,35 0,36-0,60 0,61-0,90 > 0,90
1Método Mehlich 1.
2 Método da água quente.
Fonte: Ribeiro, Guimarães e Alvarez (1999),

6.4 ADUBAÇÃO DE CORREÇÃO PARA A CULTURA DA SOJA


Essa categoria de adubação se aplica aos solos de áreas que serão introduzi-
das ao sistema produtivo de grãos, como áreas novas da fronteira agrícola e/
ou de pastagens degradadas, que receberão a cultura da soja pela primeira vez.
Predominam solos com maior participação da fração areia em suas composi-
ções de textura e que apresentam baixos a muito baixos teores de macro e
micronutrientes. Normalmente, as adubações de correção desses solos corres-
pondem a calagem, gessagem, fosfatagem e potassagem.

6.4.1 Calagem convencional com incorporação ao solo


O calcário e as partículas de solo, na presença de umidade, liberam ânions
hidroxila (OH-), que reduzem a acidez do solo, criando um ambiente favorável
ao crescimento radicular da soja, à nodulação das raízes e à FBN.
A Fig. 6.2 ilustra os efeitos da correção do pH do solo para níveis menos ácidos
ou levemente alcalinos sobre a disponibilidade dos elementos químicos no solo.
Para a faixa de pH em água entre 6,0 e 6,5, observa-se neutralização do AI tóxico
(Al3+), aumento da disponibilidade de todos os macronutrientes e dos micronu-
trientes B, Cl e Mo, e redução da disponibilidade dos micronutrientes metálicos.
Para interpretações de acidez do solo com valores de pH determinados
em solução de CaC1 2 , deve-se considerar a diferença de 0,6 unidade a menos em
relação ao pH em água. Por exemplo, pH 6,5 em água = pH 5,9 em cacI2
(Malavolta, 2006).
A necessidade de calagem é revelada pela interpretação da análise química
do solo relativa aos primeiros 20 cm de. profundidade, com efeito residual de
cinco anos. o cálculo da necessidade de calagem, apresentado a seguir, funda-
menta-se na saturação por bases {V).
6 ADUBAÇÃO 129

t:-.......:-,......,......:::;.-- •
~
e:
Fe :..--:::
~ _,,...---
t::=:::-: .: ...... -- '
Cl
Q)
u n
CI)
Q)
~
u
Q)
"O
C'O
"O
:.-=
.....
,.o
.....
e:o
~
......
CI)

o Fig. 6.2 Relação entre


os valores do pH do solo
s.o 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5
determinados em água
pH(água) e a disponibilidade dos
elementos químicos no solo
Faixa adequada para a
maioria das culturas Fonte: Malavolta (2006).

Esse critério baseia-se na correlação positiva entre o valor de pH e a satu-


ração por bases, dimensionando a necessidade de calagem para a elevação da
saturação por bases trocáveis no solo até um valor desejado. É calculado pela
seguinte expressão:

(6.3)

em que:
NC = necessidade de calagem para a camada de 0-20 cm de profundidade (t ha-1);
V1 = saturação por bases atual do solo (revelada pela análise química) (%);
V2 = saturação por bases desejada para a soja (%);
CTC =capacidade de troca catiônica potencial do solo (mmolc dm-3);
PRNT = valor do poder relativo de neutralização total do calcário (%).

Nessa equação, o valor da saturação por bases desejada para a soja (V2)
corresponde à expectativa de obtenção de alta produtividade agrícola, sendo
variável de região para região, de acordo com as propriedades físicas (granulo-
metria) e químicas dos solos (Tab. 6.12).

Tab. 6.12 Valores desejados de saturação por bases utilizados em diferentes regiões do Brasil

Regiões v2 (/o)
0
Fontes

PR - arenito Caiuá 50 Embrapa Soja (2011)

Região do Cerrado 50 Sousa e Lobato (1996)


1

MG 50 Rib_eiro, Guimarães e Alvarez (1999)

SPeMS 60 Mascarenhas e Tanaka (1997)


.
PR 70 Embrapa Soja (2011)
6.4.2 Calagem em superfície para sistema de plantio direto
Quando da instalação do sistema de plantio direto, recomenda-se que a corre-
ção do solo seja convencional, com a incorporação do calcário pelo menos até os
primeiros 20 cm, procurando-se elevar a saturação por base para valores entre
GO% e 70%. Dependendo do tipo de solo, do manejo das culturas em rotação e das
condições de clima, a consolidação do plantio direto implantado poderá demo-
rar de quatro a cinco anos, ou mais. Durante esse período, elevam-se os teores
de matéria orgânica do solo, aumentando a capacidade desta em complexar os
íons metálicos (AP+, Fe2+, Mn 2+, Cu 2+e Zn 2+), podendo-se então reduzir a calagem,
conforme orientações encontradas em Lopes, Guilherme e Marques (1999).
As primeiras recomendações de calagem em superfície para áreas com
plantio direto consolidado foram indicadas para os Estados de São Paulo e
Paraná, segundo critérios e doses apresentados na Tab. 6.13. O calcário deve ser
aplicado a lanço e, preferencialmente, seis meses antes da semeadura da soja.

Tab. 6.13 Doses de calcário para áreas de rplantio direto nos Estados de São Paulo e Paraná
Solos Doses' Dose máxima (t ha-1)
Argiloso 1/3 a 1/2 2,5
Argiloarenoso e arenoso 1/2 2,0
1
Dose calculada pelo critério de saturação por bases (V%) na profundidade de amostragem de 0-20 cm.
Fonte: Sá (1998).

Com base no cálculo da calagem para incorporação ao solo na camada


de O a 20 cm, visando à elevação da saturação por bases a 70% para a cultura da
soja em sistema de plantio direto, Caires (2016) fez as seguintes considerações:
a) distribuir a dose calculada em até três anos; b) recomendar a calagem em
superfície somente para solos com pH em CaC12 < 5,6 ou V% < 65%, na profundi-
dade de O a 5 cm; e c) monitorar a acidez nessa profundidade superficial do solo
(0-5 cm) como ferramenta auxiliar na avaliação da frequência de aplicação do
calcário em superfície.

6.4.3 Gessagem
No Brasil, predominam solos altamente intemperizados e com alumínio tóxico
(Al3+) no .perfil, o que explica as dificuldades econômica e operacional de incorpo-
rar O calcário em profundidades além de 20 cm, pois as camadas mais profundas
do solo contêm, em muitas áreas, teores excessivos de Al 3+. Esse tipo de solo
dificulta O aprofundamento do sistema radicular das plantas, o que é mais agra-
vante nas áreas sujeitas à ocorrência de veranicos.
o gesso agrícola (CaS04) não é corretivo do solo, característica essa inerente
aos calcários que contêm teores variáveis de CaC0 3 e MgC03 • Entretanto, 0 s0 42-,
6 ADUBAÇÃO 1 31

uma vez dissociado, tem a peculiaridade de apresentar mobilidade no perfil do


solo abaixo da camada de. O a 20 cm, podendo carrear os cátions básicos, com
predomínio do próprio Ca2+ fornecido pela calagem realizada anteriormente.
Para a boa eficiência da prática de gessagem, deve-se realizá-la após a cala-
gem (um a três meses depois), também em área total, utilizando-se de preferência
equipamentos com dosador volumétrico tipo esteira, com distribuidor centrífugo
de dois discos. A dose deve ser calculada considerando-se os seguintes parâme-
tros de fertilidade na camada de 20 cm a 40 cm de profundidade do solo: a) teor de
Ca < 0,5 cmolc dm-3 e b) saturação por alumínio (m) > 20%.
Ao calcular a necessidade de gesso {NG, expressa em kg ha-1}, deve-se levar
em consideração o teor de argila no solo (g kg-1), conforme a Eq. 6.4, proposta por
Sousa, Lobato e Rein {1996), que também recoméndam a gessagem com base na
textura do solo (Tab. 6.14).

NG (kg ha-1) = 5 x teor de argila (g kg-1) (6.4)

Tab. 6.14 Recomendação de gesso agrícola de acordo com a textura do solo para culturas anuais
Textura do solo Argila (g l<g-1) Gesso (kg ha-1)
Arenosa <150 700
Média 160-350 1.200
Argilosa 360-600 2.200

Muito argilosa > 600 3.200


Fonte: Sousa, Lobato e Rein (1996).

6.4.4 Adubação corretiva com fósforo e potássio


Fosfatagem
A fosfatagem é indicada principalmente para os solos da Região do Cerrado,
visando-se à elevação dos baixíssimos teores de P no solo para níveis maiores,
mais adequados para sustentar alta produtividade agrícola de grãos. Também é
recomendada no processo de implantação do sistema de plantio direto e quando
os teores de P no solo encontram-se nos níveis muito baixo a baixo (Tab. 6.7).
Esse procedimento pode ser realizado de uma única vez, a lanço, sendo deno-
minado fosfatagem corretiva total, cujas doses são indicadas na Tab. 6.15, em função
dos teores de argila e de P do solo. Como se trata de alto investimento, pode ser
feita afosfatagem corretiva gradual, isto é, aplica-se no sulco de semeadura da soja
um excedente de P em qu·a ntidade superior à extração da cultura. Com o passar
do tempo (5 a 6 anos), espera-se que o acúmulo dos excedentes anuais atinja os
níveis mais altos de disponibilidade de P no solo (Tab. 6.7).

,.,
j
132 SOJA: DO PLANTIO À COLI--IEITA

Tab. 6.15 Recomendação de adubação fosfatada corretiva total, a lanço, e adubação


fosfatada corretiva gradual, no sulco de semeadura, de acordo com a classe
de disponibilidade de P e o teor de argila no solo
Teor de Adubação fosfatada (kg de P2 0 5 ha-1) 1
argila Corretiva total 2 Corretiva gradual 3
-
(g kg-1)
P muito baixo 4 P baixo 4 P muito baixo 4 P baixo 4
1
> 600 240 120 100 90
1
400-600 180 90 90 80 1

200-400 120 60 80 70
s 200 100 50 70 60
1
Fósforo solúvel em citrato de amônia neutro mais água, para os fosfatos acidulados; solúvel em ácido cítrico
2% (relação 1:100), para termofosfatos, fosfatos naturais e escórias.
2
Além da dose de correção total, usar adubação de manutenção, preferencialmente no sulco de semeadura.
3
No sulco de semeadura, em substituição ~ adubação de manutenção.
4
Classe de disponibilidade de P, conforme dados na Tab. 6.7.
Fonte: Embrapa Soja (2013).

Os benefícios da fosfatagem são potencializados pela calagem realizada


anteriormente. A fosfatagem contribui para a formação de maior volume de P
em contato com o solo, resultando em maior quantidade de solo explorado pelas
raízes e melhor absorção de água e de nutrientes, aumentando o volume e a
profundidade do sistema radicular e conferindo melhor sobrevivência das plan-
tas aos veranicos e melhor convivência com pragas de solo.

Potassagem
Corresponde à adubação corretiva de potássio, visando-se elevar os níveis
baixos desse elemento no solo, para teores de disponibilidade compatíveis
com alta produtividade agrícola de grãos de soja. É feita predominantemente
em solos de Cerrado, a lanço, desde que os teores de argila sejam superiores
a 200 g kg-1 , caso contrário grandes quantidades do K aplicado serão perdidas
por lixiviação. As doses indicadas São apresentadas na Tab. 6.16.

Tab. 6.16 Aduba·ção corretiva de I< para solos de Cerrado com teor de argila > 200 g kg-1, de
acordo com dados de análise de solo
Teor de K K2 0 1
(mg dm· 3
) (cmolc dm-3 ) (l<g ha-1)

s 25 < 0,06 100


-
25-50 0,06-0,13 50
> 50 > 0,13 02
'Aplicação parcelada de 1/3 na semeadura da soja e 2/3 em cobertura, entre os estádios vegetativos v e v3•
2
3
2e stand o O nível de K extraível acima ~o val~r crítico (50 mg dm- ou 0,13 emole dm~3), Indica-se a adu_
bação de
manutenção da ordem de 20 kg de K2 0 por tonelada de grãos ~ se.r produzida.
Fonte: Embrapa Soja (2013).-
6 ADUBAÇÃO 133

Atualmente. a correção da fertilidade de solos deficientes em K pode se


tornar mais interessante econôn1ica e operacionalmente, sob a ótica de aduba-
ção de sistemas de produção, com aplicação parcelada das doses maiores do
elemento, posicionando-se 70% em área total sobre culturas de cobertura (mix
de leguminosas + gramíneas) e os 30% restantes da dose na semeadura da soja
(Francisco, 2003; Segatelli, 2004).

6.5 ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO PARA A CULTURA DA SOJA


s.s.1 Adubação nitrogenada - inoculação e coinoculação
Juntos, soja e rizóbios são muito eficientes em suas interações simbióticas que
resultam na redução do N2 (ar do solo) a NH 3 (interior do nódulo), processo
conhecido como FBN. No Brasil, segundo Hungria, Campo e Mendes (2007),
cerca de 72% a 94% da demanda nutricional nitrogenada da soja é suprida pela
FBN, sendo os 6% a 28% restantes fornecidos pelo solo, principalmente pela
matéria orgânica. Essa situação não condiciona a necessidade de adubar a
cultura da soja com nitrogênio mineral, mas sim que os sistemas de produção
devem adotar, cada vez mais, tecnologias de manejo que levem em conside-
ração a rotação de culturas, visando-se às conservações do solo, da água e da
, . " .
mater1a organ1ca.
Estimuladas por substâncias orgânicas exsudadas pela raiz da soja, as
bactérias Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium elkanii multiplicam-se
na rizosfera da planta, entrando em contato com diversos pelos radiculares.
Simultaneamente, há a adesão das bactérias à epiderme dos pelos absorventes,
quando sinais moleculares são então estabelecidos entre planta hospedeira e
bactéria, que ativam o gene da nodulação desta, resultando na infecção das
raízes e na consequente formação dos nódulos (Câmara, 2000).
Os primeiros nódulos são visíveis a partir de 10 a 15 dias após a emergência
das plantas (estádios Vl a V2). A nodulação e a FBN intensificam-se até o período
de formação das sementes. No florescimento pleno da soja (estádio R2), é possí-
vel constatar 15 a 30 nódulos em plantas bem noduladas, o que corresponde à
massa seca de 100 mg a 200 mg (Hungria; Campo; Mendes, 2007).
Entre o início do florescimento (Rl) e o estádio de semente formada (R6),
ocorre a maior demanda por nutrientes e outros fatores de produção do meio.
Nesse intervalo, a soja apresenta dois picos de atividade fotossintética, nos está-
dios Rl e RS.1 (Shibles; Weber, 1965; Turner; Bidwell, 1965; Buttery, 1969; Koller;
Nyquist; Chorush, 1970), sucedidos por dois picos de nodulação. nos estádios Rl/
R2 e RS.2/RS.3 (Câmara, 2014).

Inoculação e coinoculaçã·o via semente


Em áreas com histórico de cultivo anual da soja, é recomendada a inocula-
ção anual da cultura, que pode ser definida como inoculação de manutenção ot1
134 SOJA: DO PLAN·1·10 À COLHEITA

reinoculação. A dose de reinoculação aplicada à massa de sementes de soja consu-


mida por hectare deve proporcionar a concentração mínima de 1,2 milhão de
unidades formadoras de colônias (UFCs) por semente inoculada.
Em se tratando de área nova que será cultivada pela primeira vez com a
cultura da soja, é recomendada a prática da inoculação de correção ou inoculagem,
que visa estabelecer alta população de bradirrizóbios no solo sem histórico de
inoculação. Nesse caso, a dose por hectare deve ser de duas a três vezes a dose
, .
min1ma recomendada para a inoculação de manutenção (2,4 x 106 UFCs a 3,6 x
6
10 UFCs por semente inoculada).
Ao optar pela coinoculação das sementes, é importante lembrar que se deve
usar dose única do inoculante contendo·células viáveis de Azospirillum brasilense.
Na Tab. 6.17 são apresentados resultados sobre a eficiência da coinocula-
ção das sementes de soja, cultivar Conquista, segundo pesquisa de Bárbaro et
al. (2009) conduzida em área com histórico de cultivo de soja. Comparada ao
controle absoluto (Tl) e ao padrão com N mineral (T2), a inoculação das semen-
tes com inoculante turfoso contendo rizóbios de ambas as espécies (T3) resultou
em aumento da nodulação das raízes, expressa em número e massa seca de
nódulos por planta. Porém, a coinoculação das sementes com Azospirillum
brasilense, também à base de inoculante turfoso (T4), proporcionou os maiores
valores para número de nódulos, peso de mil grãos e produtividade agrícola.
O uso de inoculantes líquidos como veículos de rizóbios e de A. brasilense (TS)
apresentou similaridade de resultados em relação ao tratamento com apenas
inoculação das sementes com rizóbios (T3). i'
Tab. 6.17 Efeito da coinoculação de sementes de soja sobre as variáveis número de nódulos
por planta (N/P), massa seca de nódulos por planta (N-MS), peso de mil grãos
(PMG) e produtividade agrícola (PA) - Colina (SP), 2007

1
N/P N-MS PMG PA
Tratamentos (nº) (g) (g) (kg ha-1)
T1 17,98 b 0,088 a 151,8 b 2.583 ab
T2 7,80 e 0,030 b 152,8 b 2.359 b

T3 22,75 a 0,108 a 157,0 b 2.718 ab


-

T4 25,10 a 0,093 a 175,8 a 2.987 a

TS 23,70 a 0,103 a 161,5 b 2.831 ab


1T1 = controle sem .inoculação e sem nitrogênio.
ri= aplicação parcelada de N (200 kg ha-1): 20% na semeadura+ 80% em cobertura no R1.
r 3 = sementes com B. Japonícum e 8. elkanii ~ inoculante turfoso = 2 g 1<g-1 semen·tes.
r4 = T3 + coinoculação com A. brasilense - i_noculante turfoso = (2 g + 2 g) kg-1 sementes.
TS = mesmo inoculante turfosó de rizóblos do T3 + inoculante líquido contendo Azaspirillum brasllense com·

doses = (2 g + 2 m L) kg-1 sementes.


Mé d.,as segu ld a5 da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre.si (Tukey a 5%).
F.onte: Bárbaro et ai. (2009).
6 ADUBAÇÃO 135

Inoculação e coinocu/ação via sulco de semeadura


O aumento da diversificação de substâncias químicas e biológicas que simul-
taneamente podem ser adicionadas às sementes de soja gerou um novo e sério
problema relacionado ao excesso de volume de calda nos tratamentos. Uma
primeira solução foi a retirada, com sucesso, das formulações fluidas contendo
os micronutrientes Coe Mo, posicionando-os, via pulverização foliar, nos está-
dios fenológicos vegetativos entre V3 e VS.
Outra solução, relativamente recente, foi a retirada dos inoculantes
contendo rizóbios do tratamento das sementes de soja, que passaram a ser
aplicados nos sulcos de semeadura, por ocasião do plantio, por meio de kits
especiais de aplicação acoplados ao conjunto trator x semeadora-adubadora.
Por esse procedimento, tanto a inoculagem como a reinoculação, com ou sem
coinoculação, podem ser executadas sulco a sulco.
Tendo por referência a dose mínima de reinoculação aplicada à massa de
sementes consumida por hectare, esta deve ser aumentada de três a quatro
vezes (3,6 x 106 UFCs a 4,8 x 106 UFCs por semente inoculada) para aplicação no
sulco de semeadura, visando à reinoculação de áreas historicamente cultivadas
com soja. No caso de áreas novas que receberão a cultura da soja pela primeira
vez, a inoculação de correção deve contemplar de seis a dez vezes (7,2 x 106 UFCs
a 1,2 x 107 UFCs por semente inoculada) a dose mínima por hectare.
Comparada à inoculação clássica das sementes e à ausência de inoculação, a
tecnologia de aplicação de inoculante via sulco de semeadura pode proporcionar
ganhos substanciais de produtividade agrícola, conforme ilustram os resultados
obtidos por Correia {2015) em experimentação agronômica conduzida em condi-
ções reais de campo na Fazenda Santa Fé, região de Pardinho (SP) (Tabs. 6.18 a 6.20).
Os resultados apresentados nessas tabelas evidenciam os seguintes fatos
importantes relacionados à inoculação de rizóbios via sulco de semeadura:
a) aumento significativo na produção de vagens pela planta, com reflexos dire-
tos na produtividade agrícola (Tab. 6.18); b) possibilidade de diminuir o volume
de calda aplicado por hectare sem comprometer a produtividade agrícola
(Tab. 6.19), com respectivo aumento de rendimento operacional; e e) efeito signi-
ficativo de doses crescentes sobre a produtividade agrícola da cultura (Tab. 6.20).

Tab. 6.18 Produtividade agrícola (PA) e números de vagens (NV) e de nódulos (NN) por planta de soja.
cultivar NA 5909, em função da inoculação da cultura via sementes e via sulco de semeadura.
em áreas com e sem histórico de cultivo de soja - Pardinho (SP), ano agrícola 2014/15
Históricos das Inoculação da cultura de soja
, Variáveis
areas Sem inocular Via semente Via sulco1
PA (kg ha·1) 3.119,0 e 3.409,4 b 3.744,3 a
Cultivo de soja em
NV (nº) 46,0 e 56,0 b 66,0 a
SPD desde 2000
NN (nº) 21,0 e 29,0 b 37,0 a
136 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

Tab. 6.18 (continuação)


t
1
1

Históricos das Inoculação da cultura de soja 1

áreas Variáveis 1

,
1
Sem inocular Via semente Via sulco
Sem histórico de PA (l<g ha-1) 1.608,7 e 2.387,0 b 2.873,9 a

soJa, com pastagem NV (nº) 39,0 e 47,0 b 60,0 a
de braquiária
NN (nº) - 27,0 a 24,0 a
'Valores médios de 25 tratamentos com inoculação via sulco.
Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si (Tukey a 10%).
Fonte: Correia (2015).

Tab. 6.19 Produtividades agrícolas (kg ha-1) de grãos de soja, cultivar NA 5909, em função da
variação da taxa de aplicação de inoculante líquido via sulco de semeadura, em áreas
com e sem histórico de cultivo de soja - Pardinho (SP), ano agrícola 2014/15
. Taxas de aplicação (L ha-1) de inoculante via sulco de semeadura1
Históricos das áreas
10 20 30 40 50
Cultivo de soja em SPD
3.735,8 b 3.702,S b 3.702,6 b 3.759,7 ab 3.820,9 a
desde 2000
Sem histórico de soja, com
2.862,5 a 2.852,2 a 2.858,7 a 2.855,3 a 2.941,1 a
pastagem de braquiária
'Valores médios de cinco doses por taxa de aplicação de inoculante líquido via sulco.
Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si (Tukey a 10%).
Fonte: Correia (2015).

Tab. 6.20 Produtividades agrícolas (kg ha-1) de grãos de soja, cultivar NA 5909, em função da
variação das doses de aplicação de inoculante líquido via sulco de semeadura, em áreas
com e sem histórico de cultivo de soja - Pardinho (SP), ano agrícola 2014/15
Doses de aplicação (UFC semente-1) de inoculante via sulco de semeadura1
Históricos das áreas
1.200.000 2.400.000 3.600.000 4.800.000 6.000.000
Cultivo de soja em SPD
3.329,1 e 3.778,4 b 3.806,2 b 3.883,7 a 3.924,0 a
desde 2000
Sem histórico de soja, com
2.356,6 e 2.685,5 d 2.833,4 e 3.081,6 b 3.412,6 a
pastagem de braqulárla
Valores médios de cinco taxas de aplicação por dose de Inoculante líquido aplicado via sulco.
1

Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si (Tukey a 10%).
Fonte: Correia (2015).

Com relação à coinoculação via sulco de ·semeadura, orienta-se que a dose


do inoculante contendo células viáveis de Azospirillum brasilense não seja maior
que a dose básica via sementes, equivalente a 2,5 x 105 células por semente
inoculada. Essa orientação fundamenta-se em pesquisas conduzidas a campo
_p or Hungria, Nogueira .e Araujo (2013) em áreas com histórico de cultivo de soja,
cujos resultados são apresentados nas Tabs. 6.21 e 6.22.
os resultados observad9s no primeiro ano de experimentação revelarc;1m
que doses crescentes por hect_are de Azospirillum brasil~nse no sulco de semeadura
6 ADUBAÇÃO 1 37

(Tab. 6.21) não proporcionam ganhos significativos de produtividade agrícola,


conforme observado por Correia (2015} para a inoculação de rizóbios em doses
crescentes via sulco (Tab. 6.20). A repetição do protocolo experimental no segundo
ano de experimentação confirmou a eficiência agronômica da dose única de 2,5 x
105 células de Azospirillum por hectare via sulco de semeadura (Tab. 6.22).

Tab. 6.21 Efeito da coinoculação (Bradyrhizobium japonicum via semente+ Azospiril/um


brasilense via sulco) na produtividade agrícola de grãos de soja, por meio de
experimentação agronômica realizada no ano agrícola 2009/10 nos municípios
de Londrina (PR) e Ponta Grossa (PR), em áreas com histórico de soja

1
Ano agrícola 2009/10
Tratamentos
Londrina Ponta Grossa
T1 2.663 e 1.976 e
T2 2.881 b 2.305 ab
T3 2.877 b 2.220 b
T4 2.959 a 2.496 a
TS 2.843 b 2.321 ab
T6 2.563 e 2.006 e
T1 = controle sem inoculação e sem nitrogênio.
1

T2 = aplicação parcelada de N (200 kg ha·1): 50% na semeadura + 50% em cobertura no R2•


T3 = sementes com B. japonicum - inoculante líquido= 1,2 milhão de células/semente.
T4 = sementes com (T3) + A. brasilense no sulco= (1,2 x 10 6 + 2,5 x 10 5) células/semente.
TS = sementes com (T3) + A. brasilense no sulco= (1,2 x 106 + 5,0 x 10 5) células/semente.
T6 = sementes com (T3) + A. brasilense no sulco= (1,2 x 10 6 + 7,5 x 10 5) células/semente.
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si (Tukey a 5%).
Fonte: Hungria, Nogueira e Araujo (2013).

Tab. 6.22 Efeito da coinoculação (Bradyrhizobium japonicum via semente+ Azospirillum


brasilense via sulco) na produtividade agrícola de grãos de soja, por meio de
experimentação agronômica realizada no ano agrícola 2010/11 nos municípios
de Londrina (PR) e Ponta Grossa {PR), em áreas com histórico de soja
Ano agrícola 2010/11
Tratamentos 1
Londrina Ponta Ci rossa
T1 3.360 e 2.599 e

T2 3.760 a 3.069 a

T3 3.512 b 2.877 b

T4 3.835 a 3.017 a

TS 3.446 bc 2.873 b

·1r1 = controle sem Inoculação e sem nitrogênio.


T2 = aplicação parcelada de N (200 kg ha·1): 50% na semeadura + 50% em cobertura no R2•
T3 = sementes com B. Japonicum - inoculante lfquldo = 1,2 milhão de células/semente.
6 5
T4 = sementes com (T3) + A. brosilen~e no sulco= (1,2 >< 10 + 2,5 x 10 ) células/semente.
TS = apenas A. brasilense no sulco= 2,5 x 10 5 células/semente~
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si (Tukey a 5%).
Fonte: Hungria, Nogueira e Araujo (2013).
138 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

A inoculação da cultura via sementes ou via sulco de semeadura traz uma


série de vantagens, como: melhor proteção da planta contra a carência de N;
aumento da produtividade agrícola; melhoria da qualidade do grão (teor de
proteína); preço do inoculante bem inferior ao dos fertilizantes nitrogenados;
e melhor assimilação de N fornecido através da fixação simbiótica em relação
ao proveniente de fertilizantes minerais ou da matéria orgânica; sendo que o
N resultante da FBN não é perdido por percolação no perfil do solo (lixiviação),
não se perde por volatilização e não promove acidificação do solo.
Com relação à adubação da cultura da soja com N mineral, apresenta-se
aqui a recomendação oficial da pesquisa brasileira sobre esse assunto, regis-
trada em ata no ano de 2000 e, posteriormente, referendada em várias Reuniões
Brasileiras de Pesquisa de Soja coordenadas pela Embrapa Soja:

Resultados obtidos em todas as regiões onde a soja é cultivada mostram que a


aplicação de fertilizante nitrogenado no plantio ou em cobertura em qualquer
estádio de desenvolvimento da planta, em sistemas de plantio direto ou conven-
cional, além de reduzir a nodulação e a eficiência de fixação biológica do N2, não
traz nenhum incremento de produtividade para a soja. Por isso, não se reco-
menda adubação nitrogenada para essa cultura. No entanto, se as fórmulas de
adubo que contêm nitrogênio forem mais econômicas do que as fórmulas sem
nitrogênio, essas poderão ser utilizadas, desde que não sejam aplicados mais
do que 20 kg de N ha-1 (Reunião de Pesquisa da Soja da Região Central do Brasil,
2000; Embrapa Soja, 2013; Câmara, 2014).

s.s.2 Adubação fosfatada e potássica


Região do Cerrado
Conforme o estado de fertilidade do solo, recomenda-se a aplicação de 20 kg ha-1
de p 2 0 5 por tonelada de grãos de soja, quando os teores de P do solo estiverem
nas classes de "P médio" e ''P bom'' (Tab. 6.7). Recomendam-se também 20 kg ha-1
de K 20 por tonelada de grãos de soja, quando os teores de K no solo estiverem
acima de 50 mg dm-3 (solos com argila > 200 g kg-1) (Tabs. 6.8 e 6.16). Quando o
teor de argila for inferior a 400 g kg-1 e a dose recomendada de K 20 for superior a
so kg ha-1 , sugere-se a aplicação de um terço da dose total indicada na semeadura
(redução do efeito salino sobre as sementes). Os dois terços restantes podem ser
aplicados em cobertura entre os estádios V3 e V4 ou, o que é mais comum atual-
mente, aplicados em área total entre 10 e 20 dias antes da semeadura.da soja.

Estado de Minas Gerais


Na Tab. 6.23 encontram-se as recomendações de adubações de manutenção de
p e K para OEstado de Minas Gerais, visando-se à produtividade agrícola
de 3.000 kg de grãos por hect-a re, de acordo com os níveis de disponibilidade
desses nutrientes no solo (Tab. 6.10).
------------~
6 ADUBAÇÃO 139

Tab. 6.23 Recomendação de adubação de manutenção com P e I< em função dos teores
de disponibilidade no solo, visando-se à produtividade agrícola de grãos de
soja de 3.000 l<g ha-1, para o Estado de Minas Gerais

Disponibilidade de P no solo1 Disponibilidade de I< no solo1

Baixa Média Boa Baixa Média Boa

Doses de P2 0 5 (l<g ha-1) Doses de 1(2 0 (kg ha-1) 2

120 80 40 120 80 40
1
Utilizar os critérios da Tab. 6.10 para a Interpretação da fertilidade do solo.
2
Não aplicar a fonte de K2O no sulco, em uma única vez, em quantidade superior a 50 kg ha-1•
Fonte: Ribeiro, Guimarães e Alvarez (1999).

Estado de São Paulo


Ao recomendar a adubação de manutenção com P e K para o Estado de São Paulo,
no sulco de semeadura, devem-se levar em consideração os teores de disponi-
bilidade desses nutrientes no solo, além dos níveis esperados de produtividade
agrícola (Tab. 6.24).

Tab. 6.24 Adubação mineral de semeadura recomendada para a cultura da soja no Estado
de São Paulo, em função dos teores de disponibilidade de P e K e da produtividade
agrícola esperada
Produtividade P resina (mg dm-3) I(• trocável (mmolc dm-3)
esperada
(t ha-1) <7 7-16 16-40 >40 < 0,8 0,8-1,5 1,5-3,0 > 3,0

P2 0 5 (l<g ha-1) K20 (kg ha-1)

< 2,0 50 40 30 20 60 40 20 o
2,0-2,5 60 50 40 20 70 50 30 20
2,5-3,0 80 60 40 20 70 50 50 20
3,0-3,5 90 70 50 30 80 60 50 30
> 3,5
_, 80 50 40 80 60 60 40
'Não é possível obter essas produtividades com aplicação localizada de P em solos com teores muito baixos
desse nutriente.
Fonte: Raij et ai. (1996) e Ralj (2011).

Adubação com P no sulco ou o lanço?


Não se .c onhece ao certo a estatística, mas sabe-se que grande parte da área
cultivada com soja no Brasil, principalment~ nas áreas de Cerrado, vem rece-
bendo adub·a ção ·fosfatada .de manutenção via aplicação de fontes solúveis em
área total a lanço. O principal motivo que provavelmente explica, mas não justi-
fica essa modalidade de distribuição, é a necessidade de a11mentar o rendimento
operacional da semeadura da soja, perante o crescimento da área cultivada a

.•
140 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

partir da virada do milênio, associada à semeadura antecipada da cultura sem o


correspondente aumento da janela de plantio (Francisco; Câmara, 2013}.
Em áreas historicamente corrigidas via fosfatagem, a distribuição de fontes
solúveis de P a lanço não exerce impacto sobre a produtividade agrícola. Entre-
tanto, em áreas novas e arenosas em fase inicial de construção da fertilidade do
solo, o uso contínuo dessa prática poderá incorrer em perdas de produtividade
agrícola, algumas safras depois. Além disso, a pouca cobertura vegetal sobre o solo
momentos antes ou na época do plantio favorece a erosão hídrica, que, além de
partículas de solo, também transporta os grânulos do fertilizante fosfatado, deter-
minando áreas desuniformes quanto à distribuição do adubo e à produtividade
agrícola alcançada (Kappes; Zancanaro; Francisco, 2013; Zancanaro et al., 2018).
As principais razões com fundamento científico que orientam para a não
prescrição dessa prática no campo são: a) imobilidade desse nutriente no perfil
do solo, com aumento da concentração, ano após ano, de fosfato na superfície
(camada de O a 5 cm); b) a aplicação localizada de P no sulco de semeadura tem
revelado maiores ganhos de produtividade, mesmo em solos com fertilidade
construída; e c) correlação direta entre o aumento dos teores de P na camada
subsuperficial de 10 cm a 20 cm e incrementas da produtividade de soja (Oliveira
Junior; Castro, 2013).
Associando-se a isso, as adições superficiais de calcário, gesso agrícola e/ou
S com o passar do tempo formarão estreita camada superficial (5 cm) extrema-
mente eutrófica, abaixo da qual as raízes encontrarão solo menos fértil e mais
ácido. Enquanto houver água fartamente disponível no solo, durante a estação
chuvosa e quente, os efeitos deletérios sobre o sistema radicular serão masca-
rados. O desbalanceamento de fertilidade entre as camadas superficiais do solo
pode estabelecer ambiente favorável ao aumento de populações de nematoides
(do cisto e das lesões) e ao desenvolvimento de doenças radiculares e na haste
das plantas causadas por fungos que habitam o solo, além do encurtamento e do
retorcimento do eixo principal do sistema radicular da soja, em função de maiores
teores de AI trocável, nem sempre revelados pela análise química relacionada à
amostragem do solo na camada de O a 20 cm de profundidade (Câmara, 2015).

6.5.3 Adubação com S


o uso de fertilizantes fosfatados mais concentrados, a elevada produtividade
agrícola aumentando a exportação de nutrientes e o avanço da soja para regiões
com solos mais arenosos e com menores teores de matéria orgânica têm expli-
cado O aumento da deficiência de S na cultura da soja no Brasil.
Para a correta avaliação da necessidade de S, deve-se realizar a análise
química do solo nas profundidades de O a 20 cm e de 20 cm a 40 cm, devido à
mobilidade do nutriente no perfil e ao seu acúmulo na segunda camada.
- -------- --

6 ADUBAÇÃO

Na Tab. 6.25, são apresentadas as indicações de adubação de correção e de


manutenção com S para a cultura da soja, considerando a textura e os teores
do elemento no solo nas duas camadas. Consideram-se os seguintes níveis
críticos de S para a profundidade de o a 20 cm: 10 mg dm-3 para solos argilosos
(argila > 400 g kg-1) e 3 mg dm-3 para solos arenosos (argila ~ 400 g kg-1). Para a
segunda camada (20-40 cm): 35 mg dm-3 para solos argilosos (argila > 400 g kg-1) e
9 mg dm-3 para solos arenosos (argila s; 400 g kg-1) (Sfredo et al., 2003). Para efeito
de recomendação de adubação de manutenção, considera-se, entre absorção e
exportação do nutriente, a dose de 10 kg de S para cada 1.000 kg de produção de
grãos (Embrapa Soja, 2013).

Tab. 6.25 Indicações de adubação de correção e de manutenção com S, conforme as faixas


l de teores desse nutriente no solo, em duas profundidades no perfil, para a cultura
l
1 da soja no Brasil - 2ª aproximação
Teor de S no solo (mg dm-3) 1
Faixas para Solo argiloso Solo arenoso
(argilas 400 g kg-1) Dose de S
interpretação (argila> 400 g kg-1)
(kg ha-1)
Profundidades (cm)
Oa 20 20 a40 Oa 20 20 a40 O a20 20 a40
Baixo Baixo <5 <20 <2 <6 80+M 2
Baixo Médio -< 5 20-35 <2 6-9 60+M
'
1 Baixo Alto <5 > 35 <2 >9 40+M
i1
1
Médio Baixo 5-10 <20 2-3 <6 60+M
',
1 Médio Médio 5-10 20-35 2-3 6-9 40+M
•'
1

i Médio Alto 5-10 > 35 2-3 >9 M


1
'l
1
i
• Alto Baixo >10 <20 >3 <6 40+M
(

t Alto Médio >10 20-35 >3 6-9 M
Alto Alto >10 >35 >3 >9 M
l
1
1
Métodos: extração com Ca{H 2P0 4) 2 0,01 M L-1; determinação: turbidlmetria.
1

2M = manutenção: 10 kg de S para cada 1.000 kg de produção esperada de grãos.


Fonte: Embrapa Soja (2013) .
•1
•1
\
\

l
1
os pode ser fornecido para a cultura da soja das seguintes maneiras: a) gesso
t
1
l
agríçola {15% de S); b) superfosfato simples (12% de S); e) S elementar ·f ormulado

\
em pastilhas (90% de S); d) S elementar ou "flor" de S· {98% de S); e) várias fórmu-
j
las fertiliz~ntes que c9ntêm Sem suas .composições; e f) sulfato de amônio (24%
j
1
de S) aplicado como fertilizante nitrogenado em cultura de gramínea (milho,
f
sorgo ou trigo) como cultura antecedente (2ª safra e/ou de inverno), em rotação
ou em sucessão com a soja.
142 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

6.5.4 Adubação com micronutrientes


Aumento da produtividade agrícola, ocupação de solos do Cerrado, avanço para
solos arenosos, redução da matéria orgânica, excesso de palha em plantio direto,
reação do solo (pH), material de origem do solo, aeração do solo, calagem, adubação
fosfatada, desbalanceamento entre cátions metálicos (Cu, Fe, Mn e Zn) e diferen-
, .
ças genet1cas entre cultivares são os principais fatores que explicam o aumento
na ocorrência de deficiência de micronutrientes na cultura da soja no Brasil.
Visando-se à prevenção ou à correção dessas deficiências, é possível fornecer
micronutrientes à cultura da soja das seguintes formas: a) via solo; b) via semente;
e c) via faliar.

Aplicação via solo


Aplicação preferencial para os micronutrientes B, Cu e Zn. Quando aplicados
via solo, os micronutrientes proporcionam correção lenta, gradual e preventiva.
Da mesma forma que para os macronutrientes, ao avaliar a fertilidade com o
objetivo de fornecer micronutrientes, deve-se levar em consideração a classe
de disponibilidade desses elementos no solo (Tabs. 6.6, 6.9 e 6.11). É impor-
tante ressaltar que, quando o teor de determinado micronutriente encontra-se
acima do nível ''alto'', este não deve ser aplicado para prevenir potencial efeito
de toxicidade.
Na Tab. 6.26 encontram-se as indicações de adubação com micronutrien-
tes via solo, aplicados a lanço, para as quais se espera efeito residual por um
período de cinco anos ou, provavelmente, de três anos quando se produzem
duas safras de grãos por ano agrícola.

Tab. 6.26 Indicações de doses (l<g ha-1) de a·dubação com micronutrientes via solo para a
cultura da soja
e Cu Mn Zn
Teor
(l<g ha-1)

Baixo 1,5 2.s 6.0 6,0


Médio 1,0 1,5 4,0 5,0

Alto 0,5 0,5 2,0 4,0

Muito alto 0,0 0,0 0,0 0,0


_
Fonte: Embrapa Soja (2013).

outra maneira, que não a lanço, é a aplicação dos micronutrientes no sulco . .

de semeadura junto com a adubaç_ão de manutenção, através de fórmula fertili-


zante que contenha micronutr,ientes em sua composição. Nesse_caso, aplica-se
via sulco, durante três anos sucessivos, um terço das doses indicadas a lanço
- - - - ----- ------- - - -

6 ADUBAÇÃO 143

(Tab. 6.26). As principais formas de viabilizar a adubação de micronutrientes


no sulco de semeadura são: a) mistura de grânulos (problemas de segregação);
b) mistura granulada (mais eficiente); c) micronutrientes na base, agregados às
fontes de macronutrientes, principalmente ao superfosfato simples; e d) fontes
de P20 5 contendo micronutrientes, como termofosfatos e multifosfatos.

Aplicação via semente


Co e Mo são os principais micronutrientes aplicados na cultura da soja via
semente. São incluídos no tratamento químico das sementes juntamente com
fungicidas e inseticidas, adicionando-se pequenas doses, que variam de 2 g ha-1
a 3 g ha-1 para o Co e de 12 g ha-1 a 15 g ha-1 para o Mo (Sfredo; Oliveira, 2010).
No tratamento das sementes (TS} na fazenda, deve-se atentar para a
aplicação correta da dose dos micronutrientes. O excesso de Co pode induzir
a deficiência de Fe, com sintoma característico e visível temporariamente na
lâmina foliar do par de folíolos e, às vezes, no primeiro trifólio.
Os volumes agregados de fungicida, inseticida e formulação de micronu-
• trientes podem reduzir drasticamente a sobrevivência dos rizóbios inoculados
1
' sobre as sementes, com reflexos negativos para a FBN. Nesse caso, sugerem-se
as seguintes estratégias alternativas de manejo: a) dobrar a dose de inoculante,
trabalhando-se, se possível, com uma dose de líquido seguida de uma dose de
turfoso; b) aplicar Co e Mo via foliar; e/ou c) efetuar a inoculação da cultura via
1

r
sulco de semeadura.
1
1

r Aplicação via foliar



Quando aplicados via folha, os micronutrientes proporcionam correção rápida,
t menos duradoura e menos efetiva. Esse tipo de aplicação pode fazer parte do
t
planejamento nutricional da cultura ou atender a uma demanda imediata
1
• 1

1 revelada pela diagnose visual e/ou foliar.
1

l Mn tem sido o micronutriente mais aplicado via foliar. Sua deficiência


1
t
~
nutricional é facilmente identificada pelá diagnose visual, em áreas arenosas
;
1

do Cerrado que recebem ·c alagem superficial ou, momentaneamente, após a
aplicação do herbicida glifosato em alguns cultivares transgênicos de soja do
i tipo BtRR.
t Confirmado o sintoma de deficiência em Mn, indica-~e a aplicação de
l

1
300 g ha-1 a 350 g ha-1 desse nutriente, tendo como principais fontes no Brasil
1
i
1
formulações à base de sulfato ou com o elemento complexado em substâncias
orgânicas quelatizantes, estas últimas mais indicadas para caldas em mistu-
'
j

1
ras de tanque. No caso da aplicação do MnS0 4 , sugere-se a adição de 0,5% de
l
• ureia na calda de pulverização .
'
1
1
r

,•

\
144 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

Aplicação via foliar de formulações multinutrientes e reguladores vegetais


Mais recentemente tem aumentado muito o número de produtos para aplica-
ção foliar formulados com mistura de macro e micronutrientes, veiculados em
diferentes meios minerais ou orgânicos, à base de algas, extratos de algas ou
substâncias húmicas e fúlvicas, com prováveis ações como reguladores do cres-
cimento vegetal.
Não raro, são preconizadas para alguns produtos aplicações sequenciais
iniciando-se, ou não, pelo TS e seguindo-se a uma ou mais aplicações folia-
res. Dependendo da dose, da época e do modo de aplicação, esses produtos são
destinados à promoção do crescimento radicular em volume e profundidade
(enraizadores - via TS); à promoção do crescimento vegetativo da parte aérea
(via TS + foliar); à potencialização da nodulação e da FBN (via TS + foliar); à
fixação de estruturas reprodutivas (via foliar); e à melhoria da translocação de
metabólitos no floema (via foliar).
Os efeitos dessas substâncias nem sempre são detectados a campo, devido
a outros fatores do ambiente e/ou de manejo que interferem no crescimento e
no desenvolvimento das plantas e que se encontram ora em níveis aquém da
suficiência para a nutrição da soja (nutrientes), ora em níveis extremamente
estressantes à fisiologia da planta (solo seco, temperatura alta, efeito de fitoxici-
dade de herbicida etc.).

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CULTIVARES

Amilton Ferreira da Silva


Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Universidade Federal de São João dei-Rei - Campus
Sete Lagoas. E-mail: amiltonferreira@ufsj.edu.br

Tuneo Sediyama
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: tuneo@ufv.br

Aluízio Borém
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: borem@ufu.br

Francisco Charles dos Santos Silva


Engenheiro-Agrônomo, Ph.D. e Professor da Universidade Estadual do Maranhão.
E-mail: fcsantossilua-ma@hotmail.com

A soja foi domesticada na China há cerca de 5.000 anos, mas somente nas últi-
mas cinco décadas tornou-se uma cultura de importância mundial. Antes de
chegar ao Brasil, foi cultivada primeiramente na Europa e, depois, nos Estados
Unidos, onde se iniciou a seleção de plantas mais adaptadas e produtivas.
No Brasil, os primeiros cultivares plantados, oriundos dos Estados Unidos, como
a Bragg e a Cobb, não eram adaptados às nossas condições de clima tropical,
estabelecendo-se inicialmente na Região Sul, onde havia condições climáticas
mais semelhantes às da sua região de origem.
~ A partir desses materiais genéticos, foram desenvolvidos os primeiros
G~ programas de melhoramento de soja para a obtenção de cultivares mais adap-
tados às nossas condições edafoclimáticas, aumentando, assim, seu potencial
produtivo. O progresso genético para a produtividade estimada entre as décadas
1 1
de 1950 a 1990 foi de 1,1% ao ano, ou 19 kg ha- ano- • Os maiores aumentos em
produtividade corresponderam às décadas de 1960 e 1970, com 24% e 11%, respec-
tivaz:nente. A partir de meados da década de 1970, o ganho de rendimento.reduziu
e passou a ser aproximadamente de 0,3% ano (Lange, 1998). Embora os avanços
genéticos tenham contribuído para o aumento da produtividade, os incrementas
objetivando um manejo mais adequado também foram significativos.
148 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

A introdução do gene de período juvenil longo, na década de 1970, possibili-


O
tou cultivo da soja em latitudes menores que 20º e, com isso, ela avançou nas
áreas de Cerrado, chegando a ser cultivada atualmente em latitudes próximas
ª Oº. Tal avanço impulsionou a entrada de novas empresas de melhoramento,
havendo, assim, grande aumento no lançamento de cultivares que, ante-

riormente, estavam restritos à Região Sul. Hoje em dia, já existem genótipos
adaptados a todas as faixas de latitude do País.
Inicialmente, o objetivo do melhoramento da soja era basicamente o rendi-
mento de grãos, com enfoque na modificação de características como altura das
plantas e ciclo dos cultivares. A partir de década de 1980, o aparecimento sobre-
tudo de doenças modificou o foco também para resistência, evitando perdas no
rendimento que já havia sido alcançado. Durante esse período, o lançamento
de cultivares esteve ligado a diferentes preocupações em cada época, desde o
cancro da haste, que dizimou lavouras no final da década de 1980, até, mais
recentemente, a ferrugem-asiática, que causou sérios prejuízos a partir dos anos
2000. Nematoides também são outros fatores considerados nos programas de
melhoramento e, nos últimos tempos, a resistência a pragas tem sido incluída
via transgenia em alguns cultivares.
O Brasil possui atualmente 2.105 registros de cultivares e materiais expe-
rimentais pré-comerciais de soja (Mapa, 2019a). Para serem indicados, eles são
primeiramente avaliados em diferentes safras, épocas e locais, para a deter-
minação da interação genótipos x ambientes, identificando, dessa forma, a
adaptabilidade e a estabilidade dos genótipos. Também são consideradas as
características agronômicas, como ciclo e reação a doenças, possibilitando,
assim, a recomendação de cultivares com comportamento previsível e respon-
sivos às variações ambientais, em condições específicas ou amplas, para melhor
exploração do potencial produtivo.
Os principais pontos a serem observados em um cultivar são sua região
de indicação, grupo de maturidade, tipo de crescimento, ciclo médio, altura da
planta, resistência ao acamamento, época de semeadura e reação a doenças.

7.1 CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS DE CULTIVARES


1.1.1 Grupo de maturidade relativa
Em razão da sensibilidade da soja ao fotoperíodo, a adaptabilidade de cada ..

cultivar varia à medida que ele se desloca para o Sul ou para o Norte, ou seja,
quando varia a latitude. Portanto, os cultivares têm faixa limitada de adap-
tação (Embrapa Soja, 2013). Assim, para faciiitar o entendimento de técnicos
e agricultores foram criados os grupo~ de maturidade relativa, que predizem
a que faixa de latitude um cultivar está adaptado e apresenta maior estabili-
·d ade produtiva_.
7 CULTIVARES 1 49

Existem 13 grupos de maturidade relativa estabelecidos mundialmente,


designados 000, 00, O e 1 a 10. Os cultivares dos grupos de matur~dade 000, 00
e O estão localizados no Norte dos Estados Unidos e no Sul do Canadá, que são
regiões de alta latitude. No Brasil, vão desde o grupo 5, no Rio Grande do Sul, até
o 10, nas regiões próximas à linha do Equador (ver Fig. 2.10).
O ciclo total dos cultivares dentro da mesma faixa de latitude pode ser clas-
sificado ainda, quanto à sua duração, como superprecoce, precoce, semiprecoce,
médio, semitardio e tardio. Dessa forma, a indicação de um cultivar pelo seu
ciclo só pode ser realizada dentro dessa faixa de adaptação, pois, em latitudes
maiores ou menores, há mudança no ciclo, podendo comprometer o desenvolvi-
mento adequado do cultivar e, consequentemente, sua produtividade.
O ciclo dos cultivares também pode ser influenciado pela altitude, ou seja,
quanto maior a altitude, menor a temperatura, o que influi no retardamento do
ciclo do cultivar. Para cada grau de temperatura há um prolongamento de cerca
de três dias no ciclo.

1.1.2 Número de dias para a maturidade


De maneira geral, o número de dias para a maturidade dos cultivares brasileiros
varia de 90 (superprecoces) a 150 dias (tardios). No entanto, a soja pode apre-
sentar de 70 a 200 dias de ciclo, dependendo do local e da época de semeadura
(Se.d iyama; Teixeira; Barros, 2009).
Os cultivares de ciclo muito precoce geralmente são menos produtivos,
devido ao menor período de desenvolvimento vegetativo e reprodutivo no
campo. Porém, a precocidade tem a vantagem de possibilitar uma segunda
safra na mesma área, a exemplo do milho safrinha no Cerrado, além do escape
de algumas doenças, como a ferrugem-asiática. Já os cultivares de ciclo tardio,
quando semeados na época adequada, podem formar mais folhas e desenvol-
ver-se mais lentamente, resultando em maior produtividade.

7.1.3 Altura de plantas e de inserção da primeira vagem


A altura de plantas e de inserção da primeira vagem de soja depende do tipo e do
hábito de crescimento e da época de semeadura, entre outros fatores. A altura
adequada resulta na colheita de forma mais eficiente e também pode influenciar
os componentes de produção, com efeito direto na produtividade.
l
Num grupo de cultivares com mesma· duração do ciclo, os que apresen-
'

tam período juvenil mais longo florescem mais tarde; portanto, mostram maior
período de crescimento antes de florescer e, por isso, exibem plantas mais altas.
Por·sua vez, nos.cultivares de tipo de crescimento indeterminado, o que defin~
o porte alt_o das plant~s é que elas continuam crescendo em altura por algum~s
semanas após o início do florescimento, poden.d o até dobrar .s ua altura nesse
150 SOJA: DO PLANTIO À c:OLl-IEITA

período. Mesmo nos cultivares de tipo determinado, o grau de determinação


é variável, havendo algumas plantas que, após iniciar o florescimento, podem
• • , A

emitir ate tres pares de foll1as na haste principal, aumentando significativa-


mente a altura durante esse período. Essas características e seus efeitos são
independentes da duração do ciclo do cultivar (Embrapa Soja, 2013).

7.1.4 Resistência ao acamamento


A resistência ao acamamento é fundamental para que um cultivar· alcance
elevada produtividade e está ligada à altura das plantas. Plantas muito altas e
de caules muito finos tendem ao acamamento com relativa facilidade, podendo
ocasionar perdas de grãos durante a operação de colheita (Sediyama; Teixeira;
Barros, 2009).
Apesar de os programas de melhoramento genético selecionarem plantas
com resistência ao acamamento, o ambiente de cultivo tem grande influência
nessa característica. Assim, deve-se trabalhar com uma população adequada
para cada cultivar, bem como com o local e a época indicados de semeadura, para
a obtenção de produtividade elevada com baixa intensidade de acamamento.

1.1.s Resistência à deiscência das vagens


A deiscência das vagens antes da colheita é uma característica indesejável nos
cultivares de soja, por isso é relativamente incomum nos cultivares moder-
nos. Após a maturação, é desejável que as plantas permaneçam por duas a três
semanas no campo sem abertura das vagens até alcançar umidade de colheita.
Variações na umidade ou na temperatura podem influenciar o nível de resistên-
cia à deiscência dos cultivares.

1.1.6 Tipo de crescimento


Os cultivares de soja são classificados quanto ao tipo de crescimento em deter-
minado, semideterminado e indeterminado. Essa classificação baseia-se na
presença e na posição da inflorescência racemosa, podendo ser axilar ou axila~
e terminal. Os do tipo de crescimento determinado são caracterizados por plantas
com inflorescência racemosa terminal e axilar, completando seu ciclo vegetativo
pouco antes_do florescimento ou, ainda, podendo crescer cerca de 10%. da sua
altura final. As folhas da parte .s uperior do caule são maiores ou semelhantes
às do restante da planta, conferindo ao dossel vegetativo aspecto·mais fechado.
A maturação das vagens ocorre de cima para baixo.
Os cultivares do tipo semideterminado continuam diferenciando o·número de
nós da haste principal após o florescimento por determinado período, crescendo
ainda cerca de 30% e cessando seu desenvolvimento com a emissão de uina inflo-
rescência racemosa. terminal, as·s im como nos cultivares do tipo determinado
7 CULTIVARES 151

'i
(Nogueira et al., 2009; Sediyama; Teixeira; Barros, 2009). A maturação das vagens
't
,
1
também é semelhante à que ocorre nos cultivares do tipo determinado.
Nos cultivares do tipo indeterminado, o crescimento continua após o flores-
j cimento por um período relativamente longo. Esses cultivares não possuem
1
1
• inflorescência racemosa terminal, apenas axilar, o que garante a atividade
1
t vegetativa após o florescimento, desenvolvendo nós e alongando o caule.
1
Na ocasião do florescimento, eles ainda estão com cerca de 50% da sua altura
\ final (Sediyama; Teixeira; Reis, 2005). A maturação ocorre de baixo para cima e
1
'

as folhas superiores são menores que as do terço médio e inferior, conferindo
l
1
1 um aspecto mais delgado à parte terminal do caule.
1

) 1.1.1 Hábito de crescimento


1
O hábito de crescimento das plantas de soja pode ser diferenciado pela incli-
nação dos ramos laterais em relação à haste principal, sendo classificado como
1
ereto, quando a inclinação dos ramos laterais é menor que 30º; semiereto,
t

quando se encontra entre 30º e 60º; e horizontal, quando é maior que 60º.
Essa característica deve ser conhecida para o cultivo, pois cultivares com
hábito mais ereto são mais interessantes, uma vez que se pode utilizar população
maior de plantas sem risco de acamamento e de alta competição intraespecí-
fica por luz. Deve-se considerar também que há cultivares que não apresentam
ramificações laterais, os quais são chamados de haste única. Esses cultivares
necessitam de maior cuidado com a população final de plantas, pois não têm
capacidade de compensar falhas na lavoura por meio da emissão de ramos
laterais, ao contrário dos cultivares ramificados, que apresentam maior plasti-
cidade, ou seja, conseguem compensar e/ou manter a produtividade mesmo em
populações um pouco menores.

1.1.e Forma da folha


Os cultivares de soja podem ter diferentes formatos de folha. Essa classificação
é realizada levando-se em consideração a forma do folíolo lateral: lanceolada
l estreita, lanceolada, triangular, oval-pontiaguda e oval-arredondada (Mapa,
·2019b). Os cultivares utilizados atualmente possuem, na sua maioria, folha oval.
No entanto, cultivares com tipo de folha lanceolada começaram a ser desenvol-
v.i dos nos últimos anos, com a vantagem de melhor penetração. de defensivos
até as folhas mais baixas da planta, e_m razão da menor sobreposição delas.

7.1.9 Qualid.ade da semente


~ As sementes de um cultivar d_e vem apres~ntar boa pureza genética e física, alto.
vigor e elevada sanidade. A utilização de sementes de qualid.a de é fundamental
. para alcançar elevadas produtividades.
152 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

Entre as práticas no campo que podem ser adotadas para obter melhor quali-
dade de sementes, destacam-se: antecipação da colheita ou colheita no momento
adequado, seleção de regiões mais propícias à qualidade de sementes e uso de
cultivares que produzam sementes de alta qualidade (França Neto et al., 2007).
No desenvolvimento de um cultivar, a maioria dos programas de melho-
ramento seleciona linhagens que produzem sementes com melhor qualidade
, .
genet1ca. Por exemplo, cultivares com mais de 5,0% de lignina no tegumento
têm propiciado a produção de semente de melhor qualidade, pois a lignina, além
de proporcionar maior resistência ao dano mecânico, confere à semente maior
tolerância à deterioração por umidade (França Neto et al., 2007).

1.1.10 Teor de óleo e proteína


A soja possui em torno de 40% de proteína e 20% de óleo, sendo o teor médio dos
cultivares brasileiros de 38% e 19% de proteína e óleo, respectivamente. Em geral,
a soja apresenta teor de óleo mais elevado quando cultivada em ambientes mais
quentes. Por sua vez, normalmente o conteúdo de proteína na semente de soja está
inversamente correlacionado com o teor de óleo (Sediyama; Teixeira; Barros, 2009).

1.1.11 Resistência a doenças


A resistência a patógenos em cultivares de soja está entre uma das maiores
contribuições do melhoramento de plantas. Para que os cultivares sejam lança-
dos, são realizados testes de reação a algumas doenças de importância para a
cultura. A maioria dos cultivares de soja comercializados atualmente possui resis-
tência a pústula-bacteriana (Xanthomonas axonopodis pv. glycines), fogo-selvagem
(Pseudomonas syringae pu. tabaci), mancha olho de rã (Cercospora sojina) e cancro da
haste (Phomopsis phaseoli var. meridionalis/Diaporthe phaseolorum uar. meridionalis).
Atualmente, a ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) é considerada a
principal doença da cultura da soja, e alguns poucos cultivares possuem resis-
tência a ela, prevalecendo ainda o manejo químico para controle. No entanto,
o controle genético através da introdução de resistência é uma estratégia mais
eficiente, juntamente com outras técnicas de manejo.
Os nematoides também são causadores de consideráveis perdas de
produtividade da soja no Brasil. Existem cultivares resistentes a algumas
raças de nematoide-de-cisto (Heterodera glycines) e aos nematoides-de-galhas
(Meloidogyne sp.). O nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchus brachyurus) é
0 mais disseminado nas regiões produtoras de soja atualmente, sobretudo do
centro-Oeste, e os cultivares apresentam diferentes níveis de tolerância a ele,
que, nesse caso, são conhecidos pelo fator de reprodução, o qual demonstra o
quanto cada cultivar é capaz de diminuir ou aumentar a população de nematoi•
des no seu sistema radicular durante seu ciclo.
7 CULTIVARES 1 53

1.1.12 Cultivares transgênicos


Os cultivares transgênicos são amplamente cultivados em todas as regiões do
Brasil. O principal evento transgênico utilizado é o da soja Roundup Ready (RR},
resistente ao herbicida glifosato, que facilitou o manejo de plantas daninhas na
lavoura. Outros eventos transgênicos aprovados para cultivo no Brasil são: soja
Cultivance®, tolerante aos herbicidas do grupo das imidazolinonas; soja Liberty
Link®, tolerante ao herbicida glufosinato de amônia; soja IPRO®, que combina
a resistência aos insetos da ordem dos lepidópteros com a tolerância a herbi-
cidas à base de glifosato; soja Enlist®, tolerante a 2,4-D, glifosato e glufosinato
de amônia, associados às proteínas Bts para controle de lagartas; e soja com
tolerância a seca, entre outros aprovados e em fase de aprovação (mais detalhes
no Cap. 8).

1.1.13 Adaptabilidade e estabilidade


Para registrar um cultivar, devem-se realizar testes de adaptabilidade e estabi-
lidade, que se referem à capacidade de se adaptar a um ou mais ambientes e à
estabilidade produtiva durante o tempo, respectivamente. Dessa forma, a indi-
cação de cultivares é realizada para determinado local em época apropriada,
que propicie as condições ambientais mais ideais, como fotoperíodo e tempera-
tura. Assim, têm-se desde cultivares com ampla adaptação até aqueles restritos
a determinado ambiente.
A época de semeadura é um dos fatores que mais interage com o genótipo,
pois, em cada época, a combinação desses fatores proporciona resposta fenotí-
pica diferenciada, podendo resultar ou não em elevada produtividade. Ao longo
da história do desenvolvimento de cultivares de soja no Brasil, alguns se destaca-
ram por sua ampla adaptabilidade e estabilidade produtiva, chegando a ocupar
grande parte das áreas de cultivo de soja no País em várias safras sucessivas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EMBRAPA SOJA - CENTRO NACIONAL DE PESQUISA DE SOJA DA EMPRESA BRASILEIRA
DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Tecnologias de produção de soja: Região Central do Brasil
2014. Londrina, PR, 2013. 268 p. (Sistemas de Produção, n. 16).
FRANÇA NETO, J. B.; KRZYZANOWSKI, F. C.; PÁDUA, G. P.; COSTA, N. P.; HENNING, A.
A. Tecnologia da produção de semente de soja de alta qualidade. Londrina, PR: Embrapa
Soja, 2007. 12 p. (Série Sementes - Circular Técnica, n. 40).
LANGE, e. E. Cultivares. ln: SILVA, M. T. B. A soja em rotação de culturas no plantio direto.
Cruz Alta, BA: Fundacep Fecontrigo, 1998. p. 97-113.
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registradas.php. Acesso em: 9 jul. 2019.
MAPA - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Instru-
ções para execução dos ensaios de distinguibilidade, homogeneidade e estabilidade de
cultivares de soja (Glycine max (L.) MerrillJ. 2019b. Disponível em: http://apps.
154 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

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pdf. Acesso em: 7 jul. 2019.
NOGUEIRA, A. P. O.; SEDIYAMA, T.; BARROS, H. B.; TEIXEIRA, R. C. T. Morfologia,
crescimento e desenvolvimento. ln: SEDIYAMA, T. (Ed.). Tecnologias de produção e
usos da soja. Londrina, PR: Mecenas, 2009. p. 7-16.
SEDIYAMA, T.; TEIXEIRA, R. C. T.; BARROS, H. B. Cultivares. ln: SEDIYAMA, T. (Ed.).
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SEDIYAMA, T.; TEIXEIRA, R. C. T.; REIS, M. S. Melhoramento da soja. In: BORÉM, A.
(Ed.). Melhoramento de espécies cultivadas. Viçosa, MG: Editora UFV, 2005. p. 553-604.


I

TECNOLOGIAS TRANSGÊNICAS

Pedro Patric Pinho Morais


Engenheiro-Agrônomo e pesquisador da Bayer. E-mail: pedro.morais@bayer.br

Gilmar José Picoli Junior


Engenheiro-Agrônomo e pesquisador da Bayer. E-mail: gilmar.junior@monsanto.com

Renato Jun Horikoshi


Engenheiro-Agrônomo e pesquisador da Bayer. E-mail: renato.jun.horikoshi@monsanto.com

Aluízio Borém
Engenheiro-Agrônomo, M.S .., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: borem@ufu.br

O período de comercialização de produtos agrícolas derivados de biotecnolo-


gia, ou culturas geneticamente modificadas (GM), iniciado em 1996, responde
por uma área cumulativa plantada no mundo de aproximadamente 2,3 bilhões
de hectares até o ano de 2017, englobando as principais culturas agrícolas (soja,
milho, algodão e canela GM). No período entre 1996 e 2016, as culturas GM foram
adotadas por mais de 18 milhões de agricultores, 90% deles pequenos agriculto-
res de países em desenvolvimento (ISAAA, 2017). Em 2017, 24 países plantaram
culturas GM, sendo 19 deles países em desenvolvimento. Ainda considerando
apenas 2017, a área cultivada com culturas GM no mundo cresceu 3% e totalizou
aproximadamente 190 milhões de hectares. Segundo o relatório do Internatio-
nal Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications (ISAAA) publicado
em 2017, um conjunto de três países possui mais de três quartos da área plan-
tada quando somados: Estados Unidos, com 73 milhões de hectares; Brasil, com
mais de 50 milhões de hectares; e Argentina, com aproximadamente 24 milhões
de hectares. No Brasil, foram registrados os maiores incrementas de área com
tecnologias GM (13%) no período entre 2015 e 2017. Assim, do total de 50,2 milhões
de hectares plantados no Brasil com culturas GM em 2017, quase 34 milhões de
hectares foram destinados à soja GM, sendo 40% destinados aos cultivares tole-
rantes a herbicidas {TH) e 60% aos cultivares resistentes a insetos/tolerantes a
herbicidas (RI/TH). A taxa de adoção da soja GM foi de 97% nesse período.
156 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

Essa rápida adoção de cultivares GM está fundamentada em fatores diretos


e indiretos à biotecnologia. Segundo o relatório da Céleres (2018), a introdução do
uso da biotecnologia, de modo direto, sobretudo de variedades com resistência
a insetos (RI), permitiu, além de um menor número de entradas com a pulve-
rização com químicos, a diminuição de ataques de insetos-alvos que possuem
capacidade de reduzir a produtividade dos cultivares. Essa resistência a insetos,
alinhada à melhoria e à adaptação dos germoplasmas às diferentes condições
edafoclimáticas brasileiras, teve reflexo no crescimento do potencial produtivo.
Indiretamente, a adoção da biotecnologia permitiu a associação de um modo de
produção mais tecnificado e produtivo com melhorias no desenvolvimento da
genética básica, práticas de fertilização e manejo mais modernas e sustentáveis,
maquinários inovadores e sementes de alta qualidade. Não obstante, o uso de
tecnologias transgênicas, inclusive na cultura da soja, segundo o mesmo rela-
tório da Céleres (2018), trouxe expressivos benefícios ambientais e econômicos
nos últimos 20 anos. Considera-se nesse cálculo que 131 mil toneladas de ingre-
dientes ativos deixaram de ser aplicadas no campo, 70 bilhões de litros de água
deixaram de ser utilizados nas operações agrícolas e 600 milhões de litros de óleo
diesel foram economizados, assim como 1,6 milhão de toneladas de C02 deixou
de ser emitido, em razão da redução do uso de maquinário nas operações agrí-
colas envolvendo tecnologias transgênicas. O benefício econômico envolvendo
a adoção de culturas GM, mais especificamente a soja GM, foi de US$ 20 bilhões
somente no Brasil ao longo dos anos pesquisados.
Os números e os dados citados são um resumo do sucesso de culturas GM
perante os agricultores, os pesquisadores e a sociedade. No entanto, os esforços
para a obtenção de um cultivar GM começam muito tempo antes e com grande
investimento em pesquisas. Assim, a seguir, serão abordados de forma geral a
obtenção de cultivares de soja GM, os aspectos mais importantes relacionados
àqueles cultivares com resistência a insetos e tolerantes a herbicidas e os desafios
futuros por meio das técnicas inovadoras de melhoramento de precisão (TIMPs).

8.1 OBTENÇÃO DE PLANTAS GENETICAMENTE MODIFICADAS


os organismos vivos, como plantas, animais e microrganismos, vêm sendo utili-
zados pelo homem há milhares de anos e, nas últimas décadas, começaram a ser
manipulados geneticamente. No caso de plantas, essa manipulação se baseava na
escolha visual (fenotípica) das melhores plantas e sementes. Até recentemente,
a única forma de introduzir uma característica de interesse em um indivíduo ou
espécie era por meio do melhoramento clássico, envolvendo cruzamentos e sele·
ção para a característica desejada. Essa seleção, em geral, era realizada apenas
com base no fenótipo ou na avaliação de progênies. No entanto, os métodos
convencionais de introdução de características desejáveis esbarram em uma
8 TECNOLOGIAS TRANSGÊNICAS 1 57

série de limitações, como as barreiras de isolamento reprodutivo entre e dentro


de grupos gênicos e a ligação gênica, além do tempo necessário para a transferên-
cia dos caracteres de interesse (Almeida; Salgado; Borém, 2011).
Com os avanços da biotecnologia, o melhoramento de plantas adotou
importantes ferramentas, a exemplo da engenharia genética aliada à cultura
de tecidos. Dentro desse contexto, a transformação de plantas empregada na
obtenção de cultivares transgênicos só foi possível com o entendimento do
seu mecanismo de infecção por Agrobacterium tumefaciens, fundamental para o
desenvolvimento do primeiro método de transfarmação genética em vegetal.
Mais à frente, a biobalística tornou-se protagonista e o método mais adotado na
obtenção de plantas GM. Mas, antes da utilização do método de transformação,
é necessário o emprego de passos iniciais básicos para a transformação de uma
planta, que são, por exemplo, o desenvolvimento de uma biblioteca genômica
e de sondas apropriadas para o reconhecimento desses genes. Tal processo se
baseia na tecnologia do DNA recombinante, que surgiu com a descoberta das
enzimas de restrição, das DNA ligases, dos vetores de clonagem e dos méto-
dos de transformação de bactérias, os quais são amplamente discutidos em
Almeida, Salgado e Borém (2011). Depois desses processos, pode-se, então,
proceder à etapa de transferência de genes para espécies de interesse, por meio
dos métodos indiretos ou diretos de transformação. Entre os diversos métodos,
dois deles têm sido utilizados com maior sucesso e são descritos nas seções
subsequentes: a transformação por vetor biológico via Agrobacterium (indireto) e
a transformação biobalística (direto).

a.1.1 Transformação mediada por Agrobacterium


A transformação de plantas por Agrobacterium inclui três etapas distintas (Brasi-
leiro; Dusi, 1999). Na primeira, é necessário obter as linhagens desarmadas
por meio de um processo de dupla recombinação. Na segunda etapa, é preciso
construir um vetor contendo no seu T-DNA os genes de interesse. Em razão do
seu tamanho, o plasmídio Ti não pode ser manipulado diretamente, e por isso
plasmídios menores, mais fáceis de manipular, foram desenvolvidos. Esses plas-
mídios menores são chamados de vetores binários e contêm as extremidades do
T-DNA, de onde os genes de interesse são clonados. Em uma última etapa, o
vetor binário deve ser transferido para a linhagem desarmada de Agrobacterium,
o que pode ser feito por métodos de conjugação triparenta!, eletroporação ou
choque térmico. O resumo desse processo está ilustrado na Fig. 8.1A.

e.1.2 Transformação direta por biobalística


A biobalística é um método físico que consiste na aceleração de micropartículas
de ouro ou de tungstênio para que atravessem a parede celular e a membrana
158 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

plasmática, carreando o transgene (DNA) para o interior da célula (Sanford,


1988). Esse método se baseia no uso de equipamento que produz uma força
propulsara, por meio de gás e choques elétricos, para acelerar micropartícu-
las, que serão introduzidas na espécie transformada, em velocidade superior
a 1.500 km/h. Esse processo ocorre sob vácuo, para evitar a redução da velo-
cidade das micropartículas, cujos danos ocasionados nos tecidos-alvo não são
considerados significativos, permitindo a sobrevivência das células. Uma vez
dentro da célula, o DNA impregnado sobre as partículas é dissociado das micro-
partículas pela ação do líquido celular e se integra ao genoma do organismo de
forma aleatória (Fig. 8.1B).

Gene
identificado e
A isolado B
Agrobacteri um Biobalística

Introdução em Ô Inserção do gene Replicação do gene


Agrobacterium -1_ no plasmídio ~
Fig. 8.1 Métodos cobertas com o DNA ):(
de transformação
genética em plantas:
\,_L ~ Bombardeamento e
Transferência para ~ introdução no genoma
(A) Agrobacterium; o genoma da planta ~ da planta
(B) biobalística;
e
e (C) seleção de Seleção de
células com genes
marcadores
células com o
gene de interesse ~- - ... ..
Células testadas Somente as células ... regeneram um novo
Fonte: adaptado de para a presença "'
que contem indivíduo, ou seja, uma
Peel (2001). do transgene o transgene ... planta transgênica

Para a conclusão de todo o processo, tanto pelo método com Agrobacterium


quanto pela biobalística, é necessário que se tenha a regeneração in uitro a partir
das células transformadas. Aliado a isso, utilizam-se os marcadores de seleção~
genes inseridos juntamente com o gene de interesse, o que permite o cresci-
mento preferencial das células transformadas na presença do agente seletivo.
Esses genes são conhecidos como genes marcadores e genes repórteres (Fig. 8.1C).

a.1.3 Obtenção de linhagens de soja transgênicas


Após os processos de transformação gênica e regeneração da planta in uitro,
realiza-se o processo de transferência do gene de interesse para as linhagens-elite
em fase de teste, par~ só entãq ser possível a obtenção de um cttltivar comer-
cial com O gene de tolerância a herbicidas e/ou resistência a insetos. Assin1 • o
método dos retrocruzamentos é o mais apropriado para a transferência de um ou
poucos genes (Borém; Miranda, 2013). Esse processo requer cruzamentos entre. o
8 TECNOLOGIAS TRANSGÊNICAS 1 59

genitor recorrente (variedade superior) e o genitor doador (linhagem portadora


do transgene de interesse). Em sequência, são feitos retrocruzamentos entre as
descendências selecionadas para o gene de interesse e o genitor recorrente até
a obtenção de 99% do genoma desse genitor (Carneiro et al., 2009}. Com o uso de
seleção assistida por marcadores, pode-se realizar essa etapa com apenas três
gerações de retrocruzamentos (Morris et al., 2003}.

8.2 CULTIVARES TOLERANTES A HERBICIDAS


As culturas agrícolas estão sujeitas a uma série de estresses bióticos e abió-
ticos que podem influenciar o seu desenvolvimento e a sua produção. Entre
os estresses bióticos, as plantas daninhas se destacam por acarretar seve-
ras perdas na produtividade devido à competição por luz, nutrientes e água,
além de dificultar a colheita, ocasionando perdas econômicas (Corrêa et al.,
2015; Swanton; Nkoa; Blackshaw, 2015). Adicionalmente, podem atuar como
hospedeiras de pragas, doenças, vírus e nematoides e exercer pressão de natu-
reza alelopática (Giraldeli et al., 2017; Aguiar et al., 2018; Gul; Ijaz; Khan, 2019).
O principal método de controle das plantas daninhas é através do uso de herbi-
cidas que afetam seu crescimento e desenvolvimento, levando-as à morte;
porém, quando elas se encontram dentro da cultura de interesse econômico já
instalada, há a necessidade de fazer o controle de forma seletiva, ou seja, sem
que afete a cultura. Isso é possível com o emprego de culturas GM tolerantes a
determinados herbicidas, que permitem a aplicação do ingrediente ativo sobre
a cultura, afetando apenas as infestantes.
Algumas vantagens podem ser obtidas na adoção de cultivares tolerantes
ao uso de herbicidas. Lyson (2002) citou como exemplos: i) facilidade no controle
das plantas daninhas; ii) facilidade para os produtores adotarem técnicas de
manejo integrado de plantas daninhas ou darem continuidade ao manejo
quando os controles cultural ou mecânico não forem eficientes; iii) aumento
nas opções de manejo de plantas daninhas; iv) redução de custos de produção,
tendo em vista o fato de os herbicidas aos quais os cultivares são tolerantes
serem mais baratos; e v) maior segurança para o ambiente, devido à substitui-
ção de herbicidas mais tóxicos e persistentes por outros menos poluentes. Como
pontos de atenção, pode-se mencionar: i) utilização de apenas um mecanismo
de ação aumentando a pressão de seleção e contribuindo, assim, para o cres-
cimento dos casos de resistência; e ii) presença de plantas voluntárias e seu
controle após a colheita da cultura (López-Ovejero et al., 2016).
As dificuldades em descobrir novos mecanismos de ação, associadas aos
altos custos em desenvolvê-los, têm elevado o interesse no desenvolvimento
•'
de culturas tolerantes aos herbicidas que já existem no mercado, per111itindo .
dessa maneira, flexibilizar as aplicações a11tes e/ou após o plantio da ct1ltura.
160 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

Esse fato pode ser observado na Fig. 8.2, que mostra o aumento da porcentagem
de adoção de culturas tolerantes a herbicidas nos Estados Unidos.
100

_so
- 60
~

~
ra
...., •••••
s::
-0.40
ro
ro
QJ

< 20

Fig. 8.2 Adoção de culturas GM nas Estadas Unidos de 1996 a 2018. HT = tolerância a herbicida
Fonte: adaptado de USDA (s.d.).

No Brasil, o primeiro evento aprovado para plantio comercial em território


nacional foi o GTS-40-3-2 (Roundup Ready), em 1998, desenvolvido pela Monsanto
(Quadro 8.1). No entanto, após a aprovação desse evento, houve extensos proces-
sos e embargos judiciais em torno da liberação dos cultivares transgênicos,
tendo, por fim, ocorrido a permissão efetiva para plantio na safra 2003/04 em
todo o território brasileiro. Desde então, foi aprovada pela Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança (CTNBio) mais de uma dezena de eventos dentro da
cultura da soja (Quadro 8.1).

Quadro a.1 Soja GM aprovada para comercialização


Nome comercial* Característica Proteína Requerente Ano de aprovação
Roundup Ready Tolerante a herblrida CP4-EPSRS Monsanto 1998
Cultivance Tolerante a herbicida Csr-1-2 Basf e Embrapa 2009
blber.ty Link™ Tolerante a herbi~lda PAli Bayer 20~0
Llberty LinkTM Tolerante a herbicida PAT Bayer 2010
Tolerante a herbicida e Gf?4-EPSPS,
Intacta RR2 ~R0 Monsanto 20~0
resistente a fnsetos Cry1Ac
Dow
Enllst1 M Tolerante a herbicidas aad12, pat 2015
Agrosclences
.... Tolerante a herbil!ldas hp~d, 2mepsps Bayeri 2015
aad-12 v1, pat, Dow
Enllst E3 Tolerante a herbicidas 2015
2mepsps Agrosclences

hppd,
Tolerante a herbicidas Bayer 2015
2mepsps, pat,

Tolerante a herbicida e cry1Ac, Dow


Conkesta cry1F, pat Agrosclences
2016
resistente a Insetos
A

8 TECNOLOGIAS TRANSGENICAS

Quadro 8.1 (continuação)


Nome comercial* Característica Proteína Requerente Ano de aprovação
Dicamba mono
*** Tolerante a herbicidas Monsanto 2016
oxlgenase (DMO)

*** Cry1A.105,
Resistente a insetos Monsanto 2017
Cry2Ab ,

Conkesta Enlist aad-12 vi,


Tolerante a herbicida e
2mepsps, pat, Dow 2017
E3 resistente a insetos
cry1Ac, cry1F v3
Xtend Tolerante a herbicidas EPSPS, DMO Monsanto 2017

Plenish™ x gm-hra, gm-fad2-1


PlenishTM; GMHRA, ***,
(sequência parcial), Ou Pont 2018
Plenish™ RR1 EPSPS
cp4 epsps (aroA:CP4)

Cry1A.105,
Resistente a insetos e
1ntacta 2 Xtend Cry2Ab, Cry1Ac, Monsanto 2018
tolerante a herbicidas
dmo, cp4-epsps

*Aprovados até fevereiro de 2019: ***aguardando denominações


Fonte: adaptado de CTNBio (s.d.).

a.2.1 Manejo para minimizar o risco do surgimento de plantas


daninhas resistentes
Os fatores que podem afetar a evolução da resistência estão relacionados a gené-
tica, bioecologia e aspectos agronômicos (Christoffoleti et al., 2009). De acordo
com os mesmos autores, os fatores relacionados ao manejo (agronômicos) são
os de fácil manipulação na implementação das estratégias para minimizar o
risco do surgimento de plantas daninhas resistentes. Christoffoleti et al. (2016)
classificam o risco de resistência em um sistema de cultivo em baixo, médio e
alto, de acordo com o Quadro 8.2.

Quadro s.2 Avaliação de risco de desenvolvimento de resistência por espécies-alvo


Risco
Opções de manejo . - .. - ,•
Moderado ~lto
> 2 modos. de ação
--
Mistura ou rotação de herbicidas 2 modos de ação 1 modo de ação
-
Formas de e:ontr.ole. êtas Eultural, meaâ·nfeo,
~ul.tural.e químico Somente guímie;o
glantas êlanl.nHas químico.e biológico
- .~ ----,.,,.__-.... ...
,...- __..,,,_ ~---~ -
Uso de igual modo de ação por ciclo Uma vez Mais de uma vez Multas vezes
SJstem Gultlvo R.otaçã.o gJena Ràtaçã.o limltadá Sem rota~ão
~---- ~- ---------- ~.- ' -
Resi stê ncla relativa ao modo de ação Desconhecida Limitada Comum
Modeiaéto-.... l\lto

Fonte: adaptado de Chrlstoffoletl et ai. (2016),


162 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

Entre esses fatores de fácil manipulação, pode-se citar: i) rotação no uso


de herbicidas com diferentes mecanismos de ação; ii) aplicações sequenciais de
herbicidas com diferentes mecanismos de ação; iii) associação de herbicidas
com diferentes mecanismos de ação e de detoxificação; iv) limitação de apli-
cações de um mesmo herbicida; v) uso de herbicidas com menor pressão de
seleção; vi) rotação de culturas; vii) rotação dos métodos de controle de plantas
daninhas; viii) uso de sementes certificadas; e ix) controle de plantas em áreas
adjacentes (terraços, pós-colheita) (Beckie; Harker, 2017).

8.3 CULTIVARES RESISTENTES A INSETOS-PRAGA


A cultura da soja possui inúmeras pragas que causam danos econômicos a ela.
Tradicionalmente, o manejo dessas pragas era realizado principalmente com
o uso de inseticidas. Entretanto, a dependência de apenas uma única tática
de controle pode acarretar problemas no manejo integrado de pragas (MIP), tais
como resistência de insetos, ressurgência de pragas e desequilíbrios no sistema
(Kogan, 1998).
Plantas transgênicas que expressam genes oriundos da bactéria Bacillus
thuringiensis {Bt}, também conhecidas como plantas Bt, têm auxiliado no manejo
de pragas no ambiente de produção agrícola. Entre os benefícios das plantas Bts,
é possível citar a redução no uso de inseticidas, a preservação de inimigos natu-
rais, a supressão regional de pragas e o aumento da rentabilidade de agricultores 1

(Hutchison et al., 2010; Edgerton et al., 2012; Lu et al., 2012; Dively et al., 2018).
No Brasil, o evento de soja MON 87701 x MON 89788, chamado comercial-
mente de Intacta RR2 PRO, foi o primeiro evento de biotecnologia a oferecer
proteção contra insetos-praga em soja. Esse evento de soja teve sua aprovação no
Brasil em 2010 pela CTNBio. com o lançamento comercial em 2013. Essa tecno-
logia combina o gene Bt crylAc (MON 87701), que expressa a proteína CrylAc e é
oriundo de B. thuringiensis, com o gene cp4 epsps (MON 89788), que fornece a tolerân-
cia ao glifosato (proteína CP4-EPSPs) e é oriundo de Agrobacterium sp. (Quadro 8.1).
A tecnologia Intacta RR2 PRO confere a proteção da cultura para as pragas
lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), falsa-medideira (Chrysodeixis includens),
lagarta-da-maçã (Chloridea uirescens) e broca-das-axilas (Crocidosema aporema).
Mais recentemente, foram aprovados outros eventos de soja Bt no Brasil, 0 evento
DAS 81419-2, que expressa as proteínas Cry1Ac e CrylF, e o evento MON 87751,
que expressa as proteínas CrylA.105 e Cry2Ab2 (CTNBio, s.d.). Este último evento
está presente na segunda geração de soja resistente a insetos-praga, denominada
Intacta 2 Xtend (MON 87751 x MON 87701 x MON87708 x MON 89788) (Quadro 8.1).
Não obstante, a tecnologia Intacta tem modificado os padrões da culttira, não
somente pela tolerância a herbicida e resistência a insetos, mas também pela
qualidade dos germoplasmas lançados pelas diversas empresas que trabalham
8 TECNOLOGIAS TRANSGÊNICAS i63

com essa tecnologia. O aumento de produtividade possibilitado pela integração


de traits (RI e TH) com a melhoria do germoplasma foi de 0,24 t/ha, em média, para
cada safra, em relação às tecnologias anteriores à Intacta {Fig. 8.3).

2.0 -- --- ---


Década de 1990 Década de 2000 Década de 2010

[_-J %GM ----- Tendência ex ante RR


'
··-·- Tendência. ex post RR • • • Tendência, ex ante Intacta
- Produtividade

Fig. 8.3 Evolução da produtividade da soja no Brasil


Fonte: Céleres (2018).

B.3.1 Modo de ação da proteína Cry


O modo de ação das proteínas Cry tem sido caracterizado, principalmente, em
lepidópteros. A ação primária dessas proteínas é a lise das células epiteliais do
intestino médio de insetos-praga pela formação de poros nas microvilosidades
apicais das membranas celulares. As proteínas Cry passam de protoxinas (inclu-
são cristalina) para oligômeros, que se inserem em membranas que causam o
vazamento de íons e a lise celular. As inclusões cristalinas são ingeridas pelas
lagartas e dissolvidas em meio alcalino do intestino, e as protoxinas inativas
são solubilizadas por proteases do intestino médio (Bravo; Gill; Soberón, 2005) .

ec
A ativação da toxina envolve a remoção proteolítica de um peptídeo N-terminal
(25-30 aminoácidos para proteínas Cryl, 58 para Cry3A e 49 para Cry2Aa) e apro-
ximadamente metade da proteína restante do e-terminal em longas protoxinas
Cry, de tal forma que, em todos os cultivares Bt comercialmente disponíveis e
que possuem proteínas Cry, a causa da morte é somente a toxina. Isso porque os
genes inseridos produzem diretamente a toxina ativa, a qual se liga aos recep-
tores da parede do intestino médio, induzindo a formação de poros, lise celular,
septicemia e morte do inseto.
Apesar dessa ação tóxica sobre insetos-praga, o Bt não apresenta histórico
de toxicidade, alergenicidade ou patogenicidade em mamíferos, uma vez que o
modo de ação dessas endotoxinas depende de pH alcalino {8-10) para elas serem
.. solubilizadas e da presença de receptores no trato digestivo, co11dições não
v
encontradas no intestino de mamíferos (Almeida et al., 2011).
164 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

a.3.2 Manejo de resistência a insetos em plantas Bt


A resistência é um caso de evolução darwiniana, em que ocorre a seleção de
indivíduos pré-adaptados presentes em uma determinada população da praga
,
(Georghiou, 1983). Esses indivíduos pré-adaptados estão presentes na area antes
mesmo da introdução de uma nova tática de controle, apresentando uma carac-
terística genética que permite que tolerem doses que seriam letais para a maior
parte da população (Tabashnik, 1994). O problema de resistência ocorre quando
há uma pressão de seleção em cima de uma população de campo, e a frequên-
cia relativa desses indivíduos pré-adaptados aumenta (Tabashnik; Rensburg;
Carriere, 2009).
Algumas estratégias podem ser tomadas para retardar a evolução dessa
resistência no campo, sendo esse conjunto denominado manejo da resistência de
insetos {MRI). A principal estratégia de MRI utilizada para plantas Bt é aquela de
alta dose e refúgio (Tabashnik; Brévault; Carriere, 2013). A planta de alta dose
expressa a proteína inseticida em uma concentração suficiente para eliminar
todos ou, pelo menos, a maior parte dos indivíduos heterozigotos (RS) (Gould,
1998). Entretanto, na maioria dos casos, devido à impossibilidade de testar
essa hipótese em razão da ausência de populações resistentes, o conceito de
alta dose pode ser definido alternativamente como uma planta que expressa
25 vezes a concentração letal que causa 99% de mortalidade de uma popu-
lação suscetível da praga (Andow, 2008). Essa estratégia atua em conjunto
com o refúgio, o qual compreende uma área de cultivo não Bt em que deter-
minada parcela da população de insetos não é exposta à pressão de seleção, 1

ou seja, os insetos suscetíveis (SS) se desenvolvem e posteriormente se repro-


duzem com os indivíduos resistentes (RR) sobreviventes da área Bt, gerando 1
os descendentes heterozigotos (RS) (Tabashnik; Rensburg; Carriere, 2009).
Esses descendentes heterozigotos seriam então eliminados quando expostos
a plantas de alta dose, retardando assim a evolução da resistência. o manejo
dos indivíduos heterozigotos é essencial no manejo de resistência, pois são
os principais carreadores do alelo de resistência quando este está em baixa
frequência no campo (Gould, 1998).
Para que ocorra efetividade do refúgio em manejar a resistência, algumas
recomendações devem ser seguidas: i) para a cultura da soja, a área plantada
com refúgio deve ser 20% da área total (Fig. 8.4); ii) o refúgio deve estar locali-
zado a uma distância máxima de 800 m da área de cultivo de soja Bt para que
os insetos possam se encontrar e acasalar; iii) não é recomendada a aplicação
de inseticidas à base de Bt nas áreas de refúgio, uma vez que isso implica sele-
ção de indivíduos resistentes no refúgio e menor efetividade da tecnologia ao
longo do tempo; e iv) a soja não Bt plantada no refúgio pode ser O mesmo cultivar
sem O gene Bt ou, então, um cultivar com características agronômicas similares

Se
8 TECNOLOGIAS TRANSGÊNICAS i65

às do cultivar Bt plantado, o que é importante para que ocorra a sincronia do


desenvolvimento e da emergência de insetos adultos das áreas de refúgio e de
Bt para garantir o acasalamento.

Fig. 8.4 Disposição


esquemático, com exemplas
reais, de áreas de refúgio em
lavouras tradicionais e em
pivô central
Fonte: Monsanto (s.d.).

"

(,
A expressão de duas ou mais proteínas na planta, também conhecida como
piramidação, é outra estratégia de MRI. O princípio de uma planta piramidada
é que, isoladamente, cada proteína deve ser altamente efetiva contra a mesma
praga-alvo de controle. Essa mortalidade redundante implica que um indivíduo
resistente à proteína A será eliminado pela proteína B e vice-versa (Carriere;
Crickmore; Tabashnik, 2015). Para que essa estratégia de piramidação seja

efetiva no campo, é necessário que não haja resistência cruzada entre as proteí-
nas expressas na planta, ou seja, o mecanismo de resistência à proteína A não

seja o mesmo para a proteína B {Carriere; Crickmore; Tabashnik, 2015). Além
disso, o plantio de áreas de refúgio continua sendo necessário para plantas pira-
midadas. No milho, a piramidação de proteínas tem auxiliado na longevidade
das tecnologias por meio do controle dos heterozigotos (Bernardi et al., 2015;
Santos-Amaya et al., 2015; Burtet et al., 2017; Horikoshi et al., 2016).
A tecnologia Bt se tornou uma tática de controle imprescindível para o
manejo de pragas em um ambiente tropical, e sua durabilidade depende da
adoção correta das estratégias de MRI. Dentro do MIP, a tecnologia Bt repre-
senta apenas um pilar de manejo, portanto outras táticas de controle devem
igualmente ser consideradas para o controle de pragas no campo. As boas
práticas agronômicas também devem ser adotadas para auxiliar no manejo de
pragas, sendo elas: dessecação antecipada, tratamento de sementes, monitora-
mento de pragas, uso de sementes certificadas e manejo de plantas daninhas e
plantas voluntárias.
166 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

8.4 TENDÊNCIAS DE CULTIVARES TRANSGÊNICOS PARA O


MERCADO BRASILEIRO
Eventos futuros nas culturas de interesse econômico aprovados para o Brasil
tendem a ser piramidados em direção à tolerância a outros herbicidas além do
glifosato (Quadro 8.1). Esse procedimento proporciona a utilização de produtos
com diferentes mecanismos de ação, o que deverá resultar em controle eficiente
por maior número de anos do que em ambos aplicados de forma isolada, já que
a probabilidade de uma planta daninha se tornar resistente aos dois mecanis-
mos, simultaneamente, é menor. Porém, o uso desses cultivares deve ser feito
de forma responsável para garantir a longevidade da tecnologia e dificultar a
ocorrência da resistência das plantas daninhas aos herbicidas.
Para eventos direcionados à resistência a insetos, buscam-se produtos que
atendam ao conceito de alta dose para as pragas-alvo da tecnologia combinado
com a piramidação de proteínas. Essa combinação de piramidação de proteí-
nas com eventos de alta dose vem para auxiliar no manejo da resistência de
insetos e garantir maior longevidade para as tecnologias futuras. É importante
ressaltar também que é cada vez mais difícil a descoberta de novos mecanis--
mos de ação para controle de lagartas, portanto é imprescindível preservar as
tecnologias atuais.
Outro cenário possível é o uso combinado de cultivares GM {RI, TH, RI/TH)
com as denominadas técnicas inovadoras de melhoramento de precisão (TIMPs,
ou new breeding technologies - NBTs). Segundo a CTNBio (RN 16, de 15 de janeiro
de 2018), as NBTs podem introduzir usos inovadores de ferramentas de biologia
molecular, que podem resultar: i) na edição precisa de genomas, por indução
de mutações específicas, gerando ou modificando alelos selvagens e/ou muta-
dos sem inserção de transgene(s); ii) em transformação genética e/ou controle de
expressão gênica (ativação/inativação); iii) em regulação epigenética da expressão
de genes por mecanismos naturais sem haver modificação genética no indivíduo;
iv) em transformação genética e/ou controle de expressão gênica com genes de
espécies sexualmente compatíveis; v) em transformação genética temporária e
não herdável de células e tecidos; vi) ,e m infecção permanente ou não no hospe-
deiro de elementos virais transformados geneticamente; vii) na criação de alelos
com herança autônoma e potencial de recombinação com possibilidade de alte-
rar toda uma população (gene drive); e viii) na construção de genes heterólogos
ou novas cópias de genes homólogos. Em suma, as NBTs podem ser usadas para
introduzir características desejadas com maior precisão e em menor tempo em
uma ampla variedade de culturas. Todavia, essas culturas não são considera-
das GM, desde que o produto da transformação não seja de origem transgênica.
É possível, assim, a criação de cultivares de soja com maior tolerância a doenças,
maior valor nutricional, elevada tolerância a estresses abióticos e maior eficiência
8 TECNOLOGIAS TRANSGÊNICAS t67

nutricional e do uso da água. Essas características, aliadas a cultivares RI, TH ou


RI/TH, possuirão grande potencial agronômico, econômico e ambiental. Por fim,
os desafios relacionados às crescentes demandas por alimento e proteína animal
imprimirão maior pressão por maiores níveis de produção e produtividade.
Associada a tudo isso, a utilização de ambientes e condições climáticas cada vez
mais desafiadoras, tais como a necessidade de melhoria da qualidade nutricional
do alimento, será talvez um cenário a ser desenhado para as próximas décadas.
A possível solução para tais desafios muito provavelmente passará pela contínua
melhoria do germoplasma de soja em convergência com a adoção de tecnologias
GM e técnicas inovadoras na área do melhoramento genético (NBTs).

8.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Após mais de duas décadas da aprovação da primeira soja (evento) GM, a adoção
de cultivares com tolerância a herbicidas, com resistência a insetos e com a
combinação dessas duas tecnologias aumentou a ponto de representar quase a
totalidade (97%) da soja plantada em território nacional. Esses níveis de adoção
das tecnologias GM não são inerentes apenas ao Brasil, mas também aos prin-
cipais países produtores dessa oleaginosa. Como anteriormente mostrado, as
vantagens intrínsecas (agronômicas, econômicas e ambientais) aos cultivares GM
foram e são os principais pontos atrelados ao grande crescimento da preferência
pela tecnologia GM na cultura da soja. No entanto, o correto uso da tecnologia,
embasado na ideia de que o cultivar GM é mais um componente no manejo inte-
grado da atividade agrícola, e não a solução final, deve ser respeitado a fim de
prologar a vida útil da tecnologia a campo, retardando o aparecimento de plantas
daninhas resistentes aos herbicidas e insetos resistentes às proteínas inseticidas.
Em razão disso, diferentes e novas combinações de traits (RI e TH) deverão ser
desenvolvidas a fim de garantir a continuidade dessa eficácia.

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ROTAÇÃO E SUCESSÃO

Hélio Bandeira Barros


Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Uniuersidade Federal do Tocantins.
E-maiJ: barroshb@uft.edu.br

O conceito de rotação de culturas fundamenta-se na hipótese de que o monocul-


tivo sucessivo empobrece o sistema como um todo, ou seja, o físico, o químico
e o biológico.
Cultivando-se uma única cultura produtora de grãos por períodos longos, há
naturalmente redução de material orgânico no solo. Isso ocorre principalmente
no Cerrado, uma vez que as condições climáticas só permitem, se não houver
irrigação, um cultivo por ano. Nesse caso, o solo permanece por longo período
sem nenhuma cobertura vegetal. Ao final da safra, isto é, logo após a colheita da
soja, ainda há condições climáticas para uma rápida decomposição dos restos
culturais. Normalmente a temperatura ambiente é elevada e, nesse período, o
solo ainda estará úmido, ou seja, em condições favoráveis para a rápida decom-
posição da palhada da soja. Deve-se considerar também que a palhada da soja,
naturalmente, possui predisposição a uma decomposição rápida, com relação
carbono/nitrogênio (C/N) baixa.
Para garantir uma cobertura de solo satisfatória e que resista a todo o
período de estiagem, o uso de espécies forrageiras se destaca como uma alter-
nativa viável e com potencial para implementar renda ao sistema produtivo por
meio da integração lavoura-pecuária.
A fertilidade do solo, para atender às exigências nutricionais da soja, natu-
ralmente será alterada por práticas de correção e adubação. Nesse caso, espécies
com exigências nutricionais diferentes serão suprimidas e, consequentemente,
ocorrerá diminuição da biodiversidade microbiológica do solo. O monocultivo,
principalmente no Cerrado, acelera a seleção de espécies e, assim, o desequi-
líbrio da fauna e da flora, culminando na maior suscetibilidade da espécie
cultivada (soja) ao ataque de pragas e doenças exóticas.
Diante disso, a alternância de culturas com foco em produção de grãos e/
ou carne é uma necessidade, uma vez que um sistema desequilibrado física,
química e biologicamente não é sustentável e, com isso, torna-se ao longo do
tempo economicamente inviável à produção de soja.
172 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

9.1 ROTAÇÃO DE CULTURAS


Segundo a Embrapa Soja (2011), rotação de culturas consiste em alternar espécies
vegetais ao longo do tempo numa mesma área agrícola. As espécies escolhi-
das devem ter propósito comercial e de manutenção ou recuperação do meio
ambiente. Produção de biomassa, quando em cultivo solteiro ou em consórcio,
deve ser considerada na seleção de espécies com foco em cobertura do solo.
Ainda a esse respeito, a permanência dessa cobertura no período de escassez
de chuvas no Cerrado deve ser tão importante quanto o volume de biomassa
produzido. Nesse caso, é fundamental levar em conta a relação C/N do material
que será utilizado como cobertura de solo.
É necessário considerar, também, que a adoção das práticas de rotação de
culturas, tendo a soja como cultura principal, sofre influência direta do mercado
internacional. Quando o mercado sinaliza para a valorização da soja, dificil-
mente essa cultura será substituída no campo por outra de valor de mercado
inferior. Assim, o plano de manejo do solo precisa ser definido previamente,
devendo ser básico, bem estruturado tecnicamente, respeitando a aptidão agrí-
cola de cada gleba da propriedade, flexível e com o início, o meio e o fim de cada
ciclo de rotação determinados.
Dessa forma, o plano de manejo do solo deve ser norteado pelo embasa-
mento técnico, com metas claras ao agricultor e que justifiquem a adoção da
prática de rotação de culturas com foco nos benefícios à soja quando cultivada
depois de outras espécies.
Algumas espécies de plantas cultivadas podem oferecer benefícios ao
cultivo da soja pela ciclagem de nutrientes, manejo de plantas infestantes,
manejo de pragas e doenças, descompactação de solo etc.
Espécies com sistema radicular agressivo, raiz pivotante e que se desenvol-
vam até o horizonte B da maioria dos solos podem favorecer a reintrodução de
elementos químicos carreados a zonas não exploráveis pela soja à superfície do
solo, de modo que o processo de decomposição e mineralização possa devolver
tais nutrientes ao sistema.
o manejo de plantas daninhas é um tema bastante complexo, uma vez que
a adoção da tecnologia Roundup Ready (RR), em um primeiro momento, facilitou
0 manejo das invasoras por utilizar apenas uma molécula herbicida, o glifo-
sato, mas, pela falta de critérios no uso da tecnologia (que preconiza a rotação
com pelo menos um ciclo de soja convencional a cada dois ciclos de soja RR),
contribuiu em muitas regiões para a ocorrência de plantas daninhas tolerantes
ao glifosato. A rotação de culturas, portanto, poderá viabilizar o manejo dessas
plantas tolerantes e reduzir de forma significativa suas populações, uma vez
que O pacote tecnológico adotado para outras culturas não poderá ser O mesmo
para a soja RR.
9 ROTAÇÃO E SUCESSÃO 173

A soja pode ser utilizada também como alternativa de rotação para outras
culturas com problemas no manejo de plantas infestantes. Como exemplo, cita-
se o arroz-vermelho, principal planta infestante em áreas arrozícolas da Região
Sul do País. Semelhantemente ao ocorrido com a soja RR, a tecnologia Clearfield®
proporcionou facilidades ao manejo do arroz-vermelho por um período, mas a
não adoção das recomendações de uso da tecnologia originou condições para
que houvesse o cruzamento do arroz mutagênico com o arroz-vermelho, fazendo
surgir um arroz infestante, porém resistente ao grupo de herbicidas do pacote
CL. Nessas áreas, a rotação com a soja, onde é possível, tem favorecido o manejo
dessas superplantas, uma vez que, cultivando soja, pode-se reduzir o banco
de sementes do arroz-vermelho e, após algumas safras, devolver tais áreas ao
cultivo do arroz novamente.
Em áreas com ocorrência de nematoides, a rotação de espécies não hospedei-
ras de tais pragas é uma das poucas alternativas ao agricultor. Entre tais espécies,
as gramíneas podem ser viáveis, já que se dispõe de inúmeras opções de plantas
desse tipo para produção de grãos (milho, sorgo, milheto, arroz etc.) e para produ-
ção de forragem no sistema de integração, em que se faz o cultivo em sucessão
e se conduz a pastagem por um período que possa quebrar o ciclo do patógeno.

9.2 SUCESSÃO DE CULTURAS


Na agricultura moderna, em que existe alto capital investido em máquinas e em
estrutura física e humana, há a necessidade de produzir cada vez mais em um
quantitativo fixo de área. Assim, o cultivo de mais de uma cultura na mesma
área e safra agrícola, também conhecido como sucessão de culturas, é prática
comum em todas as regiões em que as condições climáticas o permitem.
Sendo a soja a cultura principal em quase todas as regiões produtoras de
grãos do Brasil, desenvolveram-se, ao longo de algumas décadas, técnicas que
viabilizam o cultivo em sucessão à soja, ou seja, soja-milho, soja-sorgo, soja-
-milheto, soja-feijão, soja-girassol, soja-forrageira etc.
No Cerrado brasileiro, região com amplo potencial para a produção de grãos
e com algumas fronteiras agrícolas a serem ainda desbravadas, a prática da
sucessão de culturas pode ser considerada regra, uma vez que, para praticar
uma agricultura sustentável nesses solo,s, é necessário protegê-los durante o
p.e ríodo de estiagem, que dura em torno de 150 dias onde não há irrigação.
Nesse sistema, em que·o segundo cultivo é necessário, a soja deve, sempre
·q ue possível, ser cultivada no início do período chuvoso e ser d_e ciclo curto
(precoce). No Cap. 7, pode-se conferir a lista de cultivares disponíveis aos
agricultores. Dessa forma, após sua colheita ainda haverá umidade no solo sufi-
ciente para um segundo cultivo, que também deverá ser de ciclo curto, para que
os riscos dessa segunda safra não a inviabilizem.
174 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

O milho é a cultura em que essa prática é bastante difundida, e, em algu-


mas regiões, a grande maioria da produção é oriunda de lavouras de safrinha,
tendo a soja sempre como cultura principal ou primeira safra.
Por ser o milho uma cultura também muito exigente em água, os riscos
inerentes ao seu cultivo safrinha são maiores. Assim sendo, o pacote tecno-
lógico para a segunda safra deve ser criterioso, principalmente com relação
à possibilidade de ocorrência de chuvas ao longo do ciclo da cultura. Deve-se
trabalhar com previsões pluviométricas confiáveis, de forma a nortear a data-
-limite de segurança para a semeadura do milho.
Quando o cultivo de milho safrinha sobre palhada de soja torna-se inviável
pela escassez de chuvas, há a possibilidade de substituí-lo pelo girassol, que,
ao contrário do milho, necessita de pouco volume de água para completar o
ciclo biológico (400 mm), desde que bem distribuído. Via de regra, em algumas
regiões do Centro-Oeste e em Mato Grosso, a cultura de maior extensão em área
cultivada em safrinha ainda é o milho, mas, à medida que as previsões indicam
precipitações pluviométricas inferiores a 700 mm, o cultivo do milho safrinha
torna-se inviável. Ressalta-se que o maior entrave à expansão do cultivo de
girassol ainda é o transporte, uma vez que, por ter grão pouco denso (350 kg/ m 3),
o custo do frete inviabiliza o transporte rodoviário a longas distâncias.
Quando se comparam os ·e feitos benéficos ao solo, o girassol, por possuir
sistema radicular mais agressivo em relação ao do milho, propicia melhores
resultados, principalmente quanto à infiltração de água. Após a decomposição
da raiz principal do girassol, forma-se uma galeria, que permite a infiltração
de água no perfil do solo. Além do mais, a decomposição da haste do girassol é
bastante lenta,-semelhante à do milho, o que proporciona cobertura ao solo por
um período mais longo.
As gramíneas forrageiras são excelentes agentes cicladoras de nutrientes e
descompactadoras de solos, além do alto potencial para agregar valor ao sistema
produtivo, uma vez que, sobre a palhada de soja, o cres.c imento e o vigor das
gramíneas forrageiras são intensos, o que permite uma lotação animal superior,
quando comparado com a pastagem convencional.
Esse sistema de sucessão, conhecido como sobressemeadura, consiste na
distribuição das sementes da forrageira sobre a cultura da soja e é uma prática
realizada a partir do estádio fenológico R5 até o estádio R7• Caso a opção seja
pela antecipação da sobressemeadura (R5), deve-se estar ciente de que o uso de
dessecantes ou desfolhantes de ação total não é recomendado, uma vez que as
plântulas da espécie forrageira, na ocasião da aplicação do dessecante, prova;.
. ~ .
velmente Jª emergiram.
segundo Andrade et al. (2018), a sobressemeadura com as espécies forragei-
ras Urochloa ruziziensis, U. brizantha cv. Marandu, Megathyrsus maximum cv., Mombaça
9 ROTAÇÃO E SUCESSÃO 175

e M. infestans cv. Massai não diminui o potencial produtivo de grãos de soja e,


entre essas opções, o M. maximum cv. Mombaça é a mais eficiente no acúmulo de
matéria seca, podendo produzir por volta de 9,5 t ha-1 de matéria seca no período
de 150 dias (outono/primavera). Tal produção de matéria seca é suficiente para
alimentar 2,5 UA/ha, aproximadamente, nesse período (estiagem).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, C. A. O.; BORTOLON, L.; BORTOLON, E. S. O.; CAMARGO, F. P.; SIMON, J.;
BORGHI, E.; AVANZ, ]. C.; FIDELIS, R. R.; SILVA, R. R. Recuperação de pastagem
degradada por meio da integração lavoura-pecuária. ln: SILVA, R. R.; FREITAS,
G. A. (Ed). Capim Mombaça: correção da acidez, gessagem adubação, bioestimu-
lante, morfologia, qualidade e manejo da pastagem. Palmas, TO: EDUFT, 2018.
p. 189-197.
BARROS, H. B.; SILVA, A. A.; SEDIYAMA, T. Manejo de plantas daninhas. ln: SEDIYAMA,
T. (Ed.). Tecnologias de produção e usos da soja. Londrina, PR: Mecenas, 2009. p. 101-118.
EMBRAPA SOJA - CENTRO NACIONAL DE PESQUISA DE SOJA DA EMPRESA BRASILEIRA
DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Tecnologias de produção de soja: Região Central do Brasil
2012 e 2013. Londrina, PR, 2011. 264 p.
ODA, M.; DO, O.; SEDIYAMA, T.; BARROS, H. B. Manejo da cultura. ln: SEDIYAMA, T.
(Ed.). Tecnologias de produção e usos da soja. Londrina, PR: Mecenas, 2009. p. 93-99.
TANCREDI, F. D.; SEDIYAMA, T.; BARROS, H. B. Manejo e conservação do solo. ln:
SEDIYAMA, T. (Ed.). Tecnologias de produção e usos da soja. Londrina, PR: Mecenas,
2009. p. 29-40.

1

-- · -· ,- · ·--· · ·· - · - - · -

- . •
'
,
' . '

.
1

MANEJO DA IRRIGAÇÃO

Francisco Charles dos Santos Silva


Engenheiro-Agrônomo, Ph.D. e Professor da Universidade Estadual do Maranhão
E-mail: fcsantossilua-ma@hotmail.com

Fernando França da Cunha


Engenheiro-Agrônomo, Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: fernando.cunha@ufv.br

Tuneo Sediyama
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade
Federal de Viçosa. E-mail: tuneo@ufu.br

Gilberto Chohaku Sediyama


Engenheiro-Agrônomo, Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: g.sediyama@ufv.br

Aluízio Borém
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: borem@ufv.br

Amilton Ferreira da Silva


Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Universidade Federal de São
João del-Rei - Campus Sete Lagoas. E-mail: amiltonferreira@ufsj.edu.br

A irrigação consiste no fornecimento de água às plantas de forma artificial, a fim


de oferecer condições para que as culturas expressem seu potencial produtivo.
No passado, a área irrigada de soja no Brasil era pouco expressiva, pois
os cultivas desse grão eram realizados em regiões com distribuição regular de
chuvas ou a semeadura era feita de modo que o ciclo da cultura coincidisse com
0 período chuvoso. Além disso, os sistemas de irrigação apresentavam elevados

custos de implantação.
Nos dias atua.is, a soja é cultivada em diferentes épocas e praticamente em
todas as regiões do País, com os mais diversos tipos de clima. Sendo assim, na
maioria das lavouras brasileiras de soja, a disponibilidade hídrica durante os está-
dios de desenvolvimento da planta tem sido o g~rgalo de produtividade. Devido à
escassez de água e a períodos de veranicos, seu potencial produtivo não tem sido
alcançado. Mesmo as áreas mais produtivas do Brasil, com distribuição adequada
de chuvas, necessitam de complementação com irrigação para obter boa
10 MANEJO DA IRRIGAÇÃO 1 77

produtividade de soja. Dessa forma, a área irrigada de soja no Brasil tem crescido
consideravelmente. Esse fato é facilmente compreendido quando são considera-
dos os benefícios do sistema de irrigação em disponibilizar água à planta.

10.1 DEMANDA DA SOJA POR ÁGUA


A quantidade de água requerida pela cultura da soja não é fixa, pois essa quan-
tidade depende da evaporação da água do solo e da transpiração da planta, que,
somadas, resultam na evapotranspiração da cultura (ETc).
Para as condições do Brasil, a necessidade hídrica da cultura da soja varia
entre 450 mm e 800 mm por ciclo (Carvalho et al., 2013). Essa larga faixa deve-se em
especial à demanda evaporativa da atmosfera e à duração do seu ciclo. Além disso,
o consumo de água também é variável em cada estádio de desenvolvimento da
cultura. A disponibilidade hídrica é importante principalmente em dois períodos de
desenvolvimento da soja: germinação-emergência e floração-enchimento de grãos.

10.1.1 Germinação-emergência
Durante esse período, tanto o excesso como o déficit de água são prejudiciais
à obtenção de uma boa uniformidade na população de plantas. A semente de
soja necessita absorver, no mínimo, 50% de sua massa em água para assegurar
uma boa germinação. Nessa fase, o conteúdo de água no solo não deve exceder
85% do total de água disponível nem ser inferior a 50% (Pereira et al., 2016).
A baixa disponibilidade hídrica nessa fase pode acarretar baixa altura de plan-
tas, aumentando as perdas na colheita.

10.1.2 Fase vegetativa


Após a emergência, tem início o período vegetativo. Nessa fase, a exigência de água
é aumentada (Tab. 10.1), tendo em vista a ampliação da área foliar. Secas severas
nesse período determinam plantas de pequena estatura, devido à diminuição no
número de nós e no comprimento dos entrenós, raquíticas e com folhas pequenas.
Por outro lado, o excesso de água no solo durante o início do desenvolvimento
, vegetativo pode ocasionar acamamento, resultando em queda de produtividade.
6

Tab. 10.1 Valores de coeficiente de cultivo (l<c) em diferentes estádios de desenvolvimento


da cultura da soja
Períodos de cultivo Kc
Semeadura-emergência 0,30 a 0,40

Emergência-início do florescimento 0,70 a 0,93

Início do fl.orescimento-surgimento das vagens 1,10 a 1,23

Surgimento das vagens-50°/o das folhas amarelas 0,70 a 1,10

50º/o das folhas amarelas-maturação. 0,40 a 0,62

·Fonte: Doorenbos e Kassam (1979) e Fundação Mato Grosso (2004).

•.'•..
1

-
b •
1
178 SOJA: DO PLANTIO A COLHEITA

A irrigação da soja durante o período vegetativo tem influência direta sobre


a estatura da planta, a área foliar e a altura de inserção da vagem, além de outros
efeitos sobre a arquitetura da planta. Portanto, a irrigação será mais vantajosa
em condições ambientais que possam ser limitantes ao desenvolvimento das
plantas, como é o caso de semeaduras tardias.
Por outro lado, no cenário atual de semeadura antecipada da soja, também
é exigido atenção no monitoramento e no controle de umidade para uma boa
germinação das sementes. No Estado de Mato Grosso, maior produtor brasileiro,
a semeadura antecipada da soja já é realizada por produtores rurais com o fim do
vazio sanitário. A opção da semeadura antecipada visa, principalmente, ao escape
das infecções mais intensas da ferrugem-asiática, ao melhor escalonamento da
semeadura e da colheita, maximizando o uso do maquinário, e também ao retorno
econômico proporcionado pelos melhores preços do grão praticados no início da
colheita de soja, beneficiando, assim, a implantação da safrinha. Entretanto, a
antecipação da semeadura submete as plantas de soja a déficits hídricos no início
do ciclo, levando à ocorrência de plantas com pequena estatura e entrenós curtos
e, consequentemente, à perda de produtividade (Ferrari; Paz; Silva, 2015).

10.1.3 Floração-enchimento de grãos


Essa fase é a mais crítica da cultura, sendo que a necessidade de água pela
cultura da soja atinge o máximo durante a floração-enchimento de grãos
(podendo chegar a até 23% em relação à evapotranspiração de referência -
Tab. 10.1), decrescendo após esse período. Déficits hídricos expressivos durante
a floração e o enchimento de grãos provocam alterações fisiológicas na planta,
como o fechamento estomático e o enrolamento de folhas. Como consequên-
cia, causam a queda prematura de folhas, a queda de flores e o abortamento de
vagens, prejudicando o rendimento de grãos.
A cultura da soja é menos sensível ao estresse hídrico antes do floresci-
mento, visto que a produção de sementes é determinada pelo número total de
vagens (estádios Rl a R4), pelo número de sementes por vagem (estádios R4 a R6)
e pelo peso de sementes (estádios RS a R7). Um déficit hídrico no período entre os
estádios R4 a R6 geralmente reduz mais a produtividade que um estresse equi-
valente em qualquer outro período de desenvolvimento, por causa do aborto de
flores e sementes (Fernandes; Rodrigues, 1997).
o conhecimento dos efeitos negativos da restrição hídrica nos diferentes
estádios de desenvolvimento da cultura da soja, bem como a relação desses
efeitos com o solo, a água, o clima e o sistema de irrigação, é de fundamen-
tal importância para a implementação de um adequado programa de manejo
da água de irrigação. Dessa forma, faz-se necessário um maior entendimento da
relação solo-água-planta-clima-sistema.
10 MANEJO DA IRRIGAÇÃO 179

10.2 INTERAÇÃO SOLO, ÁGUA, PLANTA, CLIMA E SISTEMA


Antes de iniciar o estudo do manejo da irrigação na cultura da soja, é necessário
conhecer alguns parâmetros relacionados ao solo, à água, à cultura, ao clima e
ao equipamento de irrigação a ser utilizado.

10.2.1 Solo
Na irrigação, o solo corresponde ao reservatório de água para as plantas, mas,
do total armazenado, a água disponível para as plantas encontra-se retida entre
a capacidade de campo (CC) e o ponto de murcha permanente (PM).

Capacidade de campo
,
Ea quantidade de água retida pelo solo após a drenagem de seu excesso, quando
l o fluxo vertical se torna desprezível (< 1 mm d-1).
l Uma forma de obtenção da capacidade de campo (CC) é pelo método da bacia
(mensurado em campo). Outro método para definir a CC é pela curva de tensão
(curva característica), que é estabelecida em laboratório. A tensão correspon-
dente à CC, dependendo do tipo de solo, pode variar de 10 kPa a 33 kPa. Em solos
típicos do Cerrado e em solos arenosos, é comum utilizar a tensão de 10 kPa, e,
em solos de textura fina, valores de 33 kPa.

Ponto de murcha permanente


O ponto de murcha permanente (PM) é a quantidade de água armazenada no
solo abaixo da qual a planta não mais conseguirá absorvê-la. Sua determinação
é mais comum em laboratório, pelas mesmas metodologias utilizadas para a
CC, em que o PM é representado pela umidade em equilíbrio com a tensão de
1.500 kPa.
Outro método para encontrar o PM, de forma prática, é por meio da multi-
plicação da CC com o coeficiente do solo:

PM = CC · k {10.1)

em que:
PM = ponto de murcha permanente (%);
CC = capacidade de campo (%);
k = constante igual a 0,55 para solo com CC entre 3% e 30%, 0,60 para solo com
cc ·entre 31% e 55% e 0,70 para Latossolo.

Densidade do ~o/o
A densidade do solo é a relação da massa das partícl:llas de solo e dos volumes
ocupados por essas p.a rtículas com a porosidade do solo.
'
I'l
'
180 SOJA: DO PLANTIO A COLHEITA

A determinação da densidade do solo pelo método convencional consiste


na retirada de uma amostra indeformada de solo com o auxílio de um anel de
volume interno conhecido. Crava-se o anel na superfície do solo e procede-se
' .... -- ~ , .
a sua penetraçao, preenchendo-o, e, após a sua remoçao, e necessar1a a reti-
.
rada do excesso de solo que ficará na base. Posteriormente, a amostra deve ser
seca em estufa por 24 h, a uma temperatura de 105 ºC, para estimar sua massa.
Obtendo-se a massa da amostra calcula-se a densidade do solo:
'
M (10.2)
Ds= -
V

em que:
Ds = densidade do solo (g cm-3);
M = massa da amostra (g);
V = volume da amostra (cm 3).

10.2.2 Agua
A quantidade e a qualidade da água devem ser consideradas no manejo da irriga-
ção da soja e também no dimensionamento do sistema. Em projetos de irrigação
da cultura da soja, a vazão necessária pode variar entre 1.400 e 3.600 litros
por hora por hectare irrigado. Ou seja, em um projeto de 100 hectares, a vazão
bombeada será em média de 250.000 litros de água por hora (250 m 3 h-1).
Em relação à qualidade da água, realizar sua análise e lhe prover trata-
mentos adequados é a garantia de sucesso do projeto. Quanto às características
que determinam a qualidade da água para irrigação, de acordo com Bernardo,
Soares e Mantovani (2006), a água deve ser analisada com relação a seis parâ-
metros básicos: concentração total de sais solúveis ou salinidade; proporção
relativa de sódio em relação aos outros cátions ou capacidade de infiltração do
solo; concentração de elementos tóxicos; concentração de bicarbonatos; aspecto
de entupimento (rotor e tubulação); e aspecto sanitário.

10.2.3 Planta
Profundidade efetiva do sistema radicular
A profundidade efetiva do sistema radicular (Z) compreende a faixa de solo, a
partir da superfície, onde se encontram 80% das raízes da cultura.
No caso da cultura da soja irrigada, podem-se usar os seguintes valores
para Z (Ramos; Oliveira, 2009):
)( estádio I (da germinação até 10% de cobertura do solo): 15 cm;
)( estádio II (de 10% a 80% de cobertura do solo): 27 cm;
)( estádio III (a partir de 80% de cobertura do solo): 40 cm.
10 MANEJO DA IRRIGAÇÃO 181

Fator de disponibilidade de água


O fator de disponibilidade de água no solo (fator "f") determina a fração da água
entre a capacidade de campo e o ponto de murcha que pode ser utilizada pelas
plantas antes das irrigações, sem que ocorram prejuízos à produção (Bernardo;
Soares; Mantovani, 2006).
O fator "f" é adimensional e sempre menor que a unidade, podendo variar
de 0,4 a 0,8 para a cultura da soja. Menores valores de "f" devem ser assumidos
em condições de maior evapotranspiração, cultivas em solos com textura fina e
para materiais mais sensíveis ao déficit hídrico. o valor médio de "f" recomen-
dado para a cultura da soja é de 0,5 (Ramos; Oliveira, 2009).

10.2.4 Clima
De maneira geral, as variáveis climáticas mais importantes são aquelas
necessárias para a obtenção da precipitação efetiva (chuva) e da evapotrans-
piração de referência (temperatura do ar, umidade relativa, velocidade do
vento e radiação solar). Essas variáveis podem ser coletadas por uma estação
meteorológica completa, mas para manejo simplificado aceita-se a ausência de
alguns parâmetros.

Evapotranspiração
A evapotranspiração pode ser definida como a quantidade de água perdida para
a atmosfera devido à evaporação e à transpiração em uma superfície vegetada.
Sua determinação é essencial em programas de manejo da irrigação, uma vez que
representa a quantidade de água que deve ser reposta ao solo para manter o cres-
cimento e a produção em condições ideais (Pereira; Sediyama; Villa Nova, 2013).
Há diversas maneiras de calcular a evapotranspiração da soja, sendo a
~: mais comum por meio da evapotranspiraç:ão de referência (ETo) e de coeficien-
tes que dependem do estádio fenológico, da umidade do solo e da área molhada
ou sombreada:

ETc -- ETo · Kc · Ks · KL (10.3)

em que:
1
ETc = evapotranspiração da cultura (mm d- );
ETo = evapotranspiração de referência (mm d-1);
Kc = coeficiente da cultura (adimensional);
Ks = coeficiente de umidade do solo (adimensional);
KL = coeficiente de localização (adimensional).
SOJA: DO PLANTIO À COLHEil'A
182
i
A ETo pode ser obtida por diferentes formas, destacando-se os métodos
evaporimétricos e as equações empíricas. Entre os métodos evaporimétricos,
ressaltam-se os métodos do tanque classe "A" e do irrigârnetro. Ambos apresentam
como princípio de funcionamento a evaporação da água para calcular a ETo. O irri- 1
I
gâmetro é um aparelho que pode ser ajustado para fornecer diretamente a ETo ou
a evapotranspiração da cultura (ETc) em qualquer estádio de seu desenvolvimento.
A operação desse aparelho é muito simples, consistindo na abertura e no fecha-
mento de válvulas existentes no aparelho, de acordo com uma sequência definida.
Entre os métodos de equações empíricas, destacam-se a equação de
Hargreaves-Samani e o método padrão recomendado pela Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura {FAO), de Penman-Monteith l
(Allen et al., 1998). A equação de Hargreaves-Samani relaciona dados de tempe- 1
1
1
ratura e radiação do topo da atmosfera em função da latitude do local. Essa
equação tende a superestimar o valor de ETo, principalmente em locais de
clima úmido ou com baixas velocidades de vento, sendo necessárias calibra-
ções regionais. É dada por:

ETo = 0,0023Ra (Tmáx - Tmín)º·5(Tméd + 17,B) (10.4)

em que:
ETo = evapotranspiração de referência (mm a-1);
Ra = radiação extraterrestre (mm d-1);
Tmáx = temperatura máxima (ºC);
Tmín = temperatura mínima (ºC);
Tméd = temperatura média (ºC).

O método de Penman-Monteith (Allen et al., 1998) é recomendado pela FAO


como padrão por ser o mais adequado para a estimativa da ETo. Nesse método,
estão incorporados aspectos aerodinâmicos e termodinâmicos, incluindo a dedu-
ção da resistência ao fluxo de calor sensível e vapor da água, e a resistência da
superfície à transferência de vapor da água. Segue a equação de Penman-Monteith:

900 (10.5)
0,408s (Rn - G) + y t + 273 U2 (es - eª)
ETo = - - - - - - - - - - - - -
s + y (1 + 0,34 U2 )

em que:
ETo = evapotranspiração de referência (mm d-1);
s = declividade da curva de pressão de vapor (kPa ºC-1);
Rn = radiação líquida total diária (MJ m-2 a-1);
G = fluxo total diário de calor no solo (MJ m-2 d-1);
1
r = constante psicométrica (0,063 kPa c- );
0


\
1

10 MANEJO DA IRRIGAÇÃO 183


!

t = temperatura média diária do ar (ºC);


U2 = velocidade do vento a 2 m de altura (m 5 -1);
e 5 = pressão de saturação de vapor (kPa);
eª = pressão parcial de vapor (kPa).

O coeficiente de cultivo (Kc) varia de acordo com o estádio de desenvolvi-


mento fenológico da cultura (Bernardo; Soares; Mantovani, 2006). Os valores de
Kc recomendados para a cultura da soja estão apresentados na Tab. 10.1.
Os coeficientes de umidade do solo (K 8 ) e de localização (KJ são calculados
com as seguintes equações:

K = Ln (LM + 1)
s
(10.6)
Ln (CTA + 1)

. KL = 0,1./P (10.7)

em que:
K 5 = coeficiente de umidade do solo (adimensional);
LAA = lâmina atual de água no solo (mm);
CTA = capacidade total de água no solo {mm);
KL = coeficiente de localização (adimensional);
P = maior valor entre porcentagem de área molhada ou sombreada (%).

10.2.s Sistema
Métodos de irrigação para a cultura da soja
No Brasil, o cultivo da soja irrigada destaca-se principalmente nas Regiões Sul e
Centro-Oeste, onde se faz uso da irrigação por aspersão de forma suplementar
na primavera e no verão, e no Estado do Torc antins, onde a soja vem sendo culti-
vada no período de entressafra (de maio a setembro), sob regime de irrigação
subsuper:ficial (controle do lençol freático), principalmente na região de Formoso
do Araguaia (Conab, 2011).

Método de irrigação por aspersão


É o método em que a água é aspergida sob pressão sobre a superfície do solo,
fracionando-se o jato de água em gotas através de pequenos orifícios ou bocais
(Bernardo; Soares; Mantovani, 2006).
Os sistemas mais utilizados na irrigação por aspersão da soja são: aspersão
convencion.al, pivô central, sistema linear e carretel enrolador.

Aspersão convencional
Os sistemas de irrigação por aspersão convencional podem ser móveis e fixos.
Todos têm vantagens e restrições, mas, em geral, funcionam satisfatoriamente,

,'
184 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

permitindo obter adequada uniformid.ade de distribuição e eficiência de aplicação


de água, desde que bem dimensionados, bem instalados e manejados corretamente.
Em geral, os sistemas de irrigação convencional não irrigam toda a área
de uma só vez, de modo a obter redução do custo de instalação do sistema e
necessitar de menor vazão de água para irrigar a área desejada. Portanto, para
realizar uma irrigação por aspersão de forma eficiente, é preciso dividir a área
em subáreas.
Esses sistemas apresentam os seguintes componentes: sucção, sistema
motobomba, recalque, linha principal, linha secundária (não obrigatória) e linha
lateral. Nas linhas laterais estarão instalados os tubos de subida e os emissores
(Fig. 10.1).

Aspersores Válvula de tomada de linha

Conjunto 1

motobomba l

Linha principal

Fig. 10.1 Esquema de


organização de um sistema Linha lateral
Área já irrigada
de aspersão convencional

Pivô central
o pivô central é um sistema de irrigação por aspersão que possui movimenta-
ção circular. É constituído de uma linha lateral com emissores, ancorada em
uma das extremidades e suportada por torres dotadas de rodas equipadas com
unidades propulsaras (Fig. 10.2).
Cada torre tem um sistema de propulsão próprio, sendo o deslocamento
de toda a linha lateral do pivô central no campo comandado pelo andamento da
torre mais externa.
o sistema de irrigação por pivô central apresenta algumas vantagens:
i) economia de mão ele obra; ii) mantém o mesmo alinhamento e a mesma
lâmina em toda a área irrigada para cada evento de irrigação; iii) ao término de
uma irrigação, o sistema voltará ao ponto inicial para começar o~tra; e iv) boa
eficiência de irrigação, quando bem dimensionado.
1
'
10 MANEJO DA IRRIGAÇÃO 185

Poço ou linha
adutora enterrada

1• \
Pivô central
' ..
'

Conjunto de
1
motobomba

. ,
Areaim
' ''

Fig. 10.2 Esquema


de organização
easem
. -
.1mgaçao Fonte de de um sistema de
,
agua pivô central
1

Esse sistema apresenta algumas desvantagens: i) é difícil mudá-lo de área


quando o modelo é fixo; ii) não possuindo o braço articulado (torre corner), perde
20% da área, aproximadamente (com um raio de 400 m, irriga 50 ha a 54 ha de
cada 64 ha); iii) tem alta intensidade de aplicação na extremidade, o que limita
1
1
sua utilização em solos com menor capacidade de infiltração de água; e iv) apre-
1
senta elevado custo inicial com o projeto (Bernardo; Soares; Mantovani, 2006).
i
\

Sistema linear
1
O sistema de irrigação linear tem estrutura e mecanismo de deslocamento
similares aos do pivô central, mas desloca-se continuamente em posição trans-
versal e na direção longitudinal da área. Todas as torres deslocam-se com a
mesma velocidade. O suprimento de água é feito por meio de canal ou linha
principal, dispostos no centro ou na extremidade da área (Fig. 10.3) (Bernardo;
Soares; Mantovani, 2006) .

Torres propulsoras
~~ - - Linha lateral

Area a ser irrigada

Fonte
de água
·' Conjunto de motobomba

FlgL 10.3 Esquema


de organização de
'•
Linha principal um sistema linear
186 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

Uma vantagem do sistema linear em relação ao pivô central é o fato de irrigar


com a mesma taxa de aplicação ao longo da linha lateral, evitando o escoamento
superficial que pode ocorrer em pivô de maior área. A sua desvantagem é que,
após a irrigação, o equipamento não se encontra posicionado no início da área,
como acontece no pivô central, o que compromete a praticidade do sistema.

Carretel enrolador
O carretel enrolador (autopropelido) é um sistema de irrigação constituído por um
aspersor do tipo canhão, montado sobre uma carreta e suprido de água por uma
mangueira flexível. É rebocado por um trator a determinada distância e, depois,
recolhido por um carretel enrolador acionado por um mecanismo hidráulico.
A irrigação é feita à medida que a carreta se aproxima do carretel (Fig. 10.4).

= =~----------.
- - - - - - - - - - - Zona com água perdida
1
1
1
1
1
1
1
1
---1----+--➔---+- Área irrigada por passagem
1 1 1 1

1
1
l Aspersor tipo canhão hidráulico
1 1
1
1
1 --
l1 -- Área a ser irrigada
1 1
1 , Mangueira flexível
Carretel enrolador
Tubulação principal
. Fonte de água
ConJunto
motobomba
Fig. 10.4 Esquema de
organização de um
carretel enrolador

Esse sistema de irrigação apresenta algumas vantagens: i) flexibilidade


em áreas de qualquer formato; ii) facilidade de locomoção dos equipamentos,
podendo ser utilizado em diversas áreas; e iii) menor custo de implantação
do sistema.
Suas limitações se resumem a: i) alta pressão exigida, resultando em elevado
consumo de energia; ii) maior risco de erosão e compactação do solo, devido
às grandes gotas produzidas pelo j~to; iii) influência do vento na uniformidade
de distribuição e na eficiência de aplicação; iv) desuniformidade de aplicação de
água nas bordas da área; e v) elevada demanda de mão de obra.
No dimensionamento e no manejo da irrigação da soja por aspersão, uma
alternativa que deve ser considerada é a quimigação, que consiste na aplicação
de f~rtilizantes ou defensivos por meio do sistema de irrigação.
~ssa prática apresenta diversas vantagens, por exemplo: i) aumento da
velocidade de aplicação de produt·o s químicos e menor gasto com mão de obra;
ii) menor risco de contaminação Pª!ª os _o peradores; iii) menor custo e maior
uniformidade nas aplicações; iv) menor compactação do solo, uma vez que 11ão
10 MANEJO DA IRRIGAÇÃO t87

há tráfego de máquinas na área cultivada; v) menores danos mecânicos à soja,


pois permite a aplicação de produtos químicos em qualquer fase de desenvolvi-
mento da cultura, independentemente de sua altura ou do fechamento entre as
linhas de plantio; e vi) aplicação de produtos em menores concentrações e com
maior frequência, aumentando a eficiência do produto.

Método de irrigação subsuperficial ou por controle freático


É caracterizado pela aplicação de água na zona radicular, por meio do controle
do nível do lençol freático da área a ser irrigada. Geralmente, está associado a
um sistema de drenagem subsuperficial.
A irrigação da soja inicia-se com o fechamento de comportas instaladas nos
drenas, para que ocorra ascensão freática suficiente para umedecer a camada de
solo. Ao atingir o nível freático adequado, as comportas dos drenas são abertas,
possibilitando a retirada do excesso de água na zona radicular. O nível do lençol
freático pode ser monitorado por meio de poços de observação, que são cons-
truídos dentro da área a ser irrigada (Ramos; Oliveira, 2009).

Eficiência de irrigação
Ao realizar a irrigação, inevitavelmente certa quantidade de água não é forne-
cida para as plantas cultivadas, ou seja, é perdida por evaporação, por deriva,
por vazamento nas tubulações e por percolação decorrente de desuniformidade.
Uma das decisões mais importantes para o manejo adequado da irriga-
ção é maximizar a uniformidade de distribuição da água, que é um parâmetro
utilizado no cálculo da eficiência da irrigação. Atualmente, o conceito de unifor-
midade de distribuição da água tem tido um grande avanço devido à crescente
necessidade de conservação dos recursos hídricos, à competitividade pela água,
ao custo da energia e ao custo dos insumos.
Os fatores que afetam a uniformidade de distribuição da água podem
ser classificados em climáticos e não climáticos. Os fatores climáticos são:
evaporação, temperatura do ar, umidade relativa e condições locais do vento.
Os fatores não climáticos são os relacionados ao equipamento: ângulo de incli-
nação e diâmetro do bocal, pressão de operação, rotação, espaçamento e altura
de instalação do emissor, tipo do perfil de distribuição de água, velocidade e
alinhamento da linha lateral.
Um sistema de irrigação com 100% de eficiência é, portanto, impossível.
Entretanto, é possível alcançar, quando os sistemas são bem dimensionados,
eficiências de irrigação de 95% para o pivô central e o sistema linear, 85% para
)
a aspersão convencional e 75% para o carretel enrolador. Uma discussão deta-
lhada sobre o assunto é apresentada no Manual de irrigação (Bernardo; Soares;
Mantovani, 2006).

f
188 SOJA: DO PLANTIO À COLI-lEITA

10.3 MANEJO DA IRRIGAÇÃO


O manejo da irrigação corresponde a um conjunto de medidas tomadas com base
nas características da cultura, do solo, do clima, da água e do sistema de irriga-
ção, as quais determinarão o momento de irrigar e a quantidade de água a ser
aplicada, com o objetivo de obter o maior retorno econômico possível. Em nível
de propriedade agrícola, o monitoramento da umidade do solo e o balanço hídrico
utilizando variáveis climáticas são os mais empregados.

10.3.1 Manejo de irrigação via solo


O solo funciona como suporte físico e reservatório de água para as plantas,
l
além de fornecer nutrientes necessários ao seu crescimento e desenvolvimento.
ll
Existem inúmeros critérios que podem ser estabelecidos para determinar o I

l
momento adequado para realizar a irrigação. A utilização de sensores no solo ••

que indicam o momento e a quantidade adequada de água a ser aplicada é '


l

viável e prática para atender ao manejo da irrigação. A determinação prévia


da umidade do solo é importante para identificar as condições hídricas dele e
quanto de água deve ser aplicado.
Para o manejo das irrigações via solo, existem vários métodos e instru-
I

mentos que podem ser utilizados, como gravimétrico, Watermark, sonda de 1


nêutrons, TDR e tensiômetros, entre outros. i'
11

O método gravimétrico é a forma direta de determinação da umidade do 1


1
l
solo. Consiste na coleta de amostras deformadas do solo, que são pesadas para 't

a obtenção da massa úmida e posteriormente levadas a uma estufa com circu-


lação forçada de ar com temperatura de 105 ± 5 ºC para secagem da amostra.
O teor de umidade é obtido em base de massa.
Watermark são sensores baseados em princípios físicos e registram a varia-
ção de resistência elétrica entre os eletrodos do dispositivo, a qual é causada
pelo movimento de água entre o sensor e a matriz do solo. Essa variação de
resistência elétrica é convertida em potencial matricial do solo. Os sensores t

Watermark apresentam menores custos em relação aos demais sensores que


serão descritos a seguir e exigem calibração para cada tipo de solo.
Entre outros sensores, a sonda de nêutrons é um instrumento dotado de
fonte radioativa. A sonda é inserida no solo e emite nêutrons em função do teor
de água no solo. Já o time domain reflectometry (TDR) é um método que coleta
automaticamente o teor de água no solo por meio da constante dielétrica do
solo. Consiste em uma haste que deve ser inserida no solo e uma fonte que
armazena informações da sua umidade. O TDR e a sonda de nêutrons são os •

melhores sensores para a determinação da umidade, porém são de alto custo e


aplicados quase exclusivamente em pesquisas.

..'
10 MANEJO DA IRRIGAÇÃO 189

Por fim, o tensiômetro é um equipamento que determina, de forma direta,


a tensão de água do solo e, de forma indireta, a sua umidade. Seu princípio
de funcionamento baseia-se na troca da água que existe no seu interior com
o solo, por meio da cápsula porosa
- - - - Tampa (Fig. 10.5). Após o solo ser resti-
tuído de sua umidade ou entrar
Rolha
em capacidade de campo, inicia-se
um processo inverso do descrito
Vacuômetro anteriormente. O tensiômetro tem
a desvantagem de monitorar o
potencial matricial da água no solo
até o limite de -75 kPa.
Uma vez sendo possível deter-
Tubo plástico minar a umidade do solo, pode-se
realizar o acompanhamento dele,
não permitindo que a umidade
atual (Ua) seja inferior à umidade
crítica (Uc). A Uc é aquela umidade
Cápsula porosa
equivalente ao fator de disponibi-
lidade, podendo ser calculada pela
Fig. 10.5 Componentes de um tensiômetro
seguinte equação:

Uc = CC - (CC - PM) f (10.8)

em que:
Uc = umidade crítica (%);
CC = capacidade de campo (%);
PM = ponto de murcha permanente (%);
f = fator de disponibilidade de água no solo (adimensional).

o momento de realizar a irrigação deve ser até que a Ua iguale a Uc, dessa
forma, ~ lâmina de irrigação pode ser determinada pela seguinte equação:

(CC- Ua) (10.9)


LB = - - - Ds · Z - Pe
10 Ei

1 ·,
'l
'l em que:
LB = lâmina bruta de irrigação (mm);
,~ 1
CC = capacidade de campo (% em peso);
Ua = u;midade atual do solo (% em massa);
3
Ds = densidade do solo (g cm- );
190 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

Z = profundidade efetiva do sistema radicular (cm);


Ei = eficiência de irrigação (decimal);
Pe = precipitação ocorrida entre a determinação da Ua e o evento de irrigação (mm).

O tempo de irrigação para o sistema de aspersão convencional pode ser calculado


da seguinte forma:

. LB • Ee • ELL (10.10)
Tt= - - -
q

em que:
Ti = tempo de irrigação (h);
LB = lâmina bruta de irrigação (mm);
Ee = espaçamento entre emissores (m);
ELL = espaçamento entre linhas laterais (m);

q = vazão média dos aspersores (L h-1).

A velocidade de deslocamento do pivô central ou do sistema linear, para a


aplicação da lâmina de irrigação, é assim determinada:

V= 100LP (10.11)
LB
em que:
V = velocidade de deslocamento do sistema (%);
LP = lâmina bruta do sistema para velocidade de 100% (mm);
LB = lâmina bruta de irrigação (mm).

No caso de carretel enrolador, após calcular a lâmina total de irrigação,


deve-se consultar o catálogo do fabricante para obter a velocidade de desloca-
mento correspondente.

10.3.2 Manejo de irrigação via clima


o manejo racional via clima se baseia no balanço hídrico. Os principais compo-
nentes são a evapotranspiração e a precipitação pluvial. Esses compo~entes,
bem como a forma de obtê-los, foram descritos anteriormente.
. '

o balanço hídrico contabiliza as entradas de água por chuva ou irrigação


e a saída pelos processos de evapotranspiração e perda superficial ou dren_a-
gem. Nesse método, determina-se a quantidade de água consumida durante 0
período correspondente ao turno de rega, admitindo-se que esse valor é igual
à soma dos valores de evapot·r ~nspiração da cultura (ETc) durante. 0 período
correspondente, permitindo, assim, definir quanto de água deverá ser reposto
na próxima irrigação. 1
._-_-.JUQ~~ll-.A-----~----------

10 MANEJO DA IRRIGAÇÃO 191

É oportuno ressaltar que a soma dos valores de ETc não pode superar a capa-
cidade real de água no solo (CRA), pois, dessa forma, a umidade atual do solo será
menor que a umidade crítica. A CRA pode ser obtida pela seguinte equação:

CRA = (CC - PM) Ds · Z · f (10.12)


10
em que:
CRA = capacidade real de água no solo (mm);
1
. CC = capacidade de campo (% em massa);
\ PM = ponto de murcha permanente (% em massa);
Ds = densidade do solo (g cm-3);
Z = profundidade efetiva do sistema radicular (cm);
f = fator de disponibilidade de água no solo (adimensional).

A lâmina total de aplicação é determinada pela equação:

LETc (10.13)
LB = Ei

em que:
LB = lâmina bruta de irrigação (mm);
IETc = somatório dos valores de evapotranspiração da cultura durante o período
correspondente ao turno de rega (mm);
1 Ei = eficiência de irrigação (decimal).
'
l
1

1
1
Em caso de ocorrência de chuvas entre duas irrigações consecutivas, o
1
volume precipitado deve ser reduzido do valor obtido pelo somatório da ETc.
Para calcular o tempo de irrigação ou a velocidade de deslocamento do
'
1

equipamento, deve-se proceder como no caso descrito anteriormente.
r

No mercado existem vários softwares para a realização desses balanços


hídricos, com a decisão de irrigação ficando a critério do usuário. Para isso,
basta que o irrigante alimente esses softwares com os dados do equipamento, da
água, do solo, da cultura e do clima.

10.4 IRRIGAÇÃO NA PRODUTIVIDADE DA SOJA


A água é o fator que mais tem restringido o incren1ento na produtividade da soja
em todo o mundo.
Trabalhos realizados no Brasil, nos Estados Pnidos e na Argentina, que são
os maiores produtores mundiais de soja, demonstram qu~, onde a água não é 1

fator limitante, a produtividade pode ser superior a: 122,29% sobre a média b1·asi-
'
leira (Nunes, 2011), 162,55% em relação à média americàna (Dombek et al., 2009) e
· 87 99% sobre a média da Argentina (Confalone; Dujmovich. 1999).
. '
.
1


192 SOJA: DO PLANTIO À COLl·IEITA

O incremento no potencial de rendimento de grãos proporcionado pela irri-


gação é decorrente da redução no aborto de flores e na abscisão de legumes e
do aumento no peso dos grãos e no número de legumes por planta. Além desses
efeitos diretos, outros fatores que contribuem para que a irrigação proporcione
aumento na produtividade da soja são o uso mais eficiente de fertilizantes e a
possibilidade de utilizar maior densidade de plantio.
Apesar dos elevados acréscimos na produtividade observados na soja
irrigada, a decisão de irrigá-la dependerá de diversos outros fatores, como
viabilidade do uso do sistema em outras culturas no período da entressafra,
disponibilidade de recursos hídricos e mão de obra e, principalmente, possibili-
dade de retorno econômico com a atividade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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for Computing Crop Water Requirements. Rome: FAO, 1998. 297 p. (Irrigation and
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MG: Editora UFV, 2006. 625 p.
CARVALHO, I. R.; KORCELSKI, C.; PELISSARI, G.; HANUS, A. D.; ROSA, G. M.
Demanda hídrica das culturas de interesse agronômico. Enciclopédia Biosfera,
v.9,n. 17,p.969-985, 2013.
CONAB - COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. 2011. Disponível em: http://
www.conab.gov.br. Acesso em: 1° set. 2013.
CONFALONE, A.; DUJMOVICH, M. N. Influência do déficit hídrico sobre o desenvolvimento
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DOMBEK, D. G.; BOND, R. D.; ELDRIDGE, I. L.; PRYOR, R. M. Arkansas Soybean Performance
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FERNANDES, E.].; RODRIGUES, T. J. D. Desenvolvimento da cultura da soja submetida
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FERRARI, E.; PAZ, A.; SILVA, A. C. Déficit hídrico no metabolismo da soja em semeaduras
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NUNES, M. s. Desempenho e aplicabilidade do irrigâmetro para cultura da soja na região de
Bossoroca, RS. 2011. 90 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa
Maria, Santa Maria, RS, 2011.
PEREIRA, A. R.; SEDIYAMA, G. C.; VILLA NOVA, N. A. Evapotranspiração. Campinas, SP:
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PEREIRA, C. S.; SERAFIM, R. C.; ZANATTO, 1. B.; FIORINI, 1. V. Germinação e cresci-
mento inicial de plantas de soja submetidas ao déficit hídrico. Global Science and
Technology, v. 9, n. 1, p. 33-40, 2016.
RAMOS, M. M.; OLIVEIRA, R. A. Irrigação. ln: SEDIYAMA, T. (Ed.). Tecnologias de produção
e usos da soja. Londrina, PR: Mecenas, 2009. p. 175-196.
MANEJO DE PLANTAS DANINHAS

Dirceu Agostinetto
Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Universidade Federal de Pelotas.
E-mail: agostinetto.d@gmail.com

Leandro Vargas
Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Pesquisador da Embrapa nigo. E-mail: leandro.uargas@embrapa.br

Dionísio Luiz Pisa Gazziero


Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Pesquisador da Embrapa Soja.
E-mail: dionisio.gazziero@embrapa.br

Antonio Alberto da Silva


Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: aasiiuapd@gmaiI.com

Plantas daninhas são espécies vegetais que se desenvolvem onde não são
desejadas e competem com as culturas pelos recursos naturais. Essa compe-
tição é notada principalmente nos estádios iniciais de desenvolvimento da
cultura, devido às perdas na produtividade, que podem ser superiores a 80%
ou, até mesmo, em casos extremos, inviabilizar a colheita. Além de prejudicar
a produção, a planta daninha pode causar vários problemas: reduz a quali-
dade dos grãos; causa maturação desuniforme; dificulta a operação da colheita;
serve de hospedeiro para pragas e doenças; e diminui o valor comercial da
terra. As plantas daninhas também podem liberar aleloquímicos que inibem
a germinação de sementes e/ou o desenvolvimento de culturas e outras espé-
cies, inclusive de outras plantas daninhas (Silva et al., 1999).
As principais características das plantas daninhas são: rápida germinação e
crescimento inicial; sistema radicular abundante; grande capacidade de absor-
ver água e nutrientes do solo; alta eficiência no uso da água; e elevada produção
e eficiente disseminação de propágulos. Essas características lhes conferem alta
capacidade de competir com as culturas pelos recursos do ambiente. A compe-
tição é a disputa que se estabelece entre a cultura e as plantas daninhas por
recursos (por exemplo, água, luz e nutrientes) disponíveis em determinado
nicho (local e tempo), cujo suprimento é escasso.
194 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

O período em que as culturas são mais sensíveis à competição é denominado


período crítico de competição, que ocorre a partir da semeadura, da emergência
ou de outro estádio de desenvolvimento da cultura e em que as plantas daninhas
devem ser controladas com eficiência para evitar perda quantitativa e/ou quali-
tativa da produção.
O período crítico de competição de plantas daninhas na cultura da soja,
para Durigan et al. (1983), é de 30 a 50 dias após a emergência (DAE), variando-
-se com o cultivar. Para Harris e Ritter (1987), vai de 14 a 42 DAE, para Spadotto
et al. (1994), de 21 a 31 DAE, para Adelusi, Odufeko e Makinde (2006), de 28 a
38 DAE, para Agostinetto et al. (2014), de 23 a 50 DAE, e, para Van Acker, Swanton
e Weise (1993), em média, de 9 a 38 DAE, ou seja, quando ela se encontra entre os
estádios V2 e R3. Por sua vez, Zandoná et al. (2018) concluíram que o período de
competição, em função da época preferencial do fluxo de emergência de plan-
tas daninhas, variou de 14 a 48, de 15 a 26 e de 5 a 38 DAE para a primeira,
a segunda e a terceira época de cultivo da soja, respectivamente. Esses auto-
res ainda salientam que, normalmente, o período crítico é referido em dias ou
semanas, e não ao estádio da cultura, o que limita a sua aplicação. Observa-
-se, pelos resultados das pesquisas citadas, que o período crítico de competição
varia de acordo com o cultivar, o tipo de solo e clima, o tipo de análise usada, a
data de semeadura, e a época preferencial do fluxo de emergência das plantas
daninhas, entre outros fatores. Cada situação poderá significar período crítico
de competição diferente em número de dias, mas que deverá ser semelhante
quanto ao estádio de desenvolvimento da cultura. Dessa forma, a correlação
entre o período crítico e o estádio de desenvolvimento poderá reduzir a discor-
dância entre as pesquisas e aumentar a precisão da informação (Van Acker;
Swanton; Weise, 1993).
Nos ecossistemas agrícolas, as plantas daninhas, em geral, levam vanta-
gem competitiva sobre as plantas cultivadas, pois o melhoramento genético
das culturas objetiva obter acréscimo na produtividade econômica, e isso quase
sempre é acompanhado por decréscimo no potencial competitivo (Pitelli, 1985).
Assim, o controle das plantas daninhas, que consiste em suprimir o cresci-
mento e/ou reduzir o número dessas invasoras por área, até níveis aceitáveis
para convivência entre as espécies competidoras, sem prejuízos para estas, tem
importante função. Na cultura da soja, as plantas daninhas devem ser controla-
das usando-se um ou mais dos seguintes métodos: preventivo, cultural, físico/
mecânico, biológico e químico. O emprego conjunto dos métodos denomina-se
manejo integrado de plantas daninhas, o qual deve ser preconizado em detri-
mento do uso isolado de qualquer dos métodos.


- - --- - .-..l'JNIIIJIU.M.,_F_ , - ~ - - - - - - - - --
-- lrn.rJl~'G _nJlfUllf.

11 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS 1 95

11.1 ÉPOCAS DE MANEJO DAS PLANTAS DANINHAS NA CULTURA


DA SOJA
O controle de plantas daninhas consiste na adoção de práticas que resultam na
redução da competitividade das infestantes, sem necessariamente eliminá-las
por completo ou erradicá-las. A interferência das plantas daninhas, consi-
derando-se a cultura, deve ser reduzida até o nível em que as perdas sejam
iguais ao custo do controle, ou seja, de modo que não interfiram na produção
econômica da cultura (Silva et al., 1999). Contudo, é necessário cuidado especial
quanto à seleção de espécies daninhas tolerantes ou resistentes a herbicidas e
aquelas de difícil controle. Se as plantas remanescentes forem da mesma espé-
cie, isso pode ser indicativo de seleção de plantas resistentes, e, nesse caso, elas
devem ser eliminadas, para que não produzam sementes na área.
Existem vários métodos de controle, alguns indicados para serem utilizados
antes da semeadura e outros, após a semeadura.

11.1.1 Antes da semeadura


O agricultor deve conhecer as plantas daninhas que infestam a área para melhor
escolher as práticas e/ou os herbicidas a serem utilizados. Há estratégias que
1 podem ser adotadas para reduzir a infestação das plantas daninhas antes da
implantação da cultura, entre as quais se destacam:
)C Escolha da área: o agricultor deve dar preferência ao uso de áreas livres ou
com baixa infestação de plantas daninhas ou, ainda, àquelas com espécies
de fácil controle.
X Preparo do solo: essa prática elimina as plantas daninhas estabelecidas e toma
o ambiente favorável ao recebimento das sementes da cultura e à aplicação
de herbicidas usados em pré-emergência. Essa estratégia visa induzir a emer-
gência das plantas daninhas, que poderão ser controladas mecanicamente
ou com a aplicação de herbicidas totais antes da semeadura da cultura.
X Semeadura em época favorável à germinação: proporciona o estabelecimento
rápido da cultura e reduz a germinação de sementes de plantas daninhas.
X Uso de cobertura morta: em áreas onde se adota o sistema de semeadura
direta, a dessecação antes da semeadura elimina as plantas estabelecidas e
proporciona a formação da cobertura morta. A palhada exerce efeito físico
i I,
l" sobre a população de plantas daninhas, atuando sobre a passagem de luz,
a temperatura e a umidade do solo, e pode ainda liberar substâncias alelo-
páticas, criando condições adversas para a germinação e o estabelecimento
de~sas plantas.
A dessecação deve ser eficiente e controlar as plantas estabelecidas,
evitando-se que elas permaneçam vegetando no local e interferindo no
desenvolvimento da cultura. A época de aplicação dos dessecantes varia
196 SOJA: DO PLANTIO A COLI-IEITA

com a região, podendo ser necessária uma ou duas operações. A utilização


de herbicidas residuais junto com os dessecantes, para a redução da emer-
gência de plantas daninhas na área, é uma prática que tem sido utilizada
por muitos agricultores. Entretanto, é preciso ter conhecimento prévio dos
atributos do solo para garantir a eficiência agronômica dos herbicidas residu-
ais. Além disso, é muito importante que, no dia da semeadura, a área esteja
completamente livre de plantas daninhas.

11.1.2 Após a semeadura


Depois da semeadura da cultura, porém antes da emergência das plantas, em
áreas com histórico de infestação por espécies de difícil controle, o agricul-
tor poderá utilizar herbicidas residuais, seletivos para a cultura da soja, para
o controle em pré-emergência. Cabe destacar que a eficiência agronômica dos
herbicidas residuais, utilizados em pré-emergência, depende do conhecimento
das interações de suas moléculas com os coloides do solo.
Outra alternativa eficiente para o controle das plantas daninhas consiste
no emprego de herbicidas aplicados após a emergência das plantas daninhas.
A eficiência de herbicidas aplicados em pós-emergência depende da espécie
e do estádio de desenvolvimento das plantas daninhas e da cultura. O uso
de associações de herbicidas é comum em algumas regiões e é planejado em
função das espécies que compõem a comunidade infestante. Ao programar a
utilização de herbicida, deve-se avaliar a seletividade para a cultura e para o
espectro de controle.

11.2 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS


Os métodos de controle de plantas daninhas utilizados na cultura da soja são o
preventivo, o cultural, o físico/mecânico e o químico.

11.2.1 Controle preventivo


o controle preventivo preconiza a não introdução de propágulos oriundos de outros
locais ou o impedimento da reprodução de plantas daninhas em áreas não infes-
tadas. Essa prática é especialmente importante em casos de espécies resistent_es,
pois a introdução de espécie resistente significa acréscimo significativo no custo
de controle, além de outros problemas, por exemplo a perda de produtividade.
o objetivo desse tipo de controle é evitar a infestaçijo e/ou a reinfestação
das áreas em que as plantas daninhas sejam economicamente indesejáveis.
Essa prática visa apenas reduzir a infestação, e não programar o controle para
eliminar espécies que infestam a área.
A prevenção engloba todas as medidas adotadas para evitar a introdu-
ção, a reprodução e a disseminação das plantas daninhas na área. Para isso, é
11 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS 1 97

indispensável conhecer as características reprodutivas e as formas de disse-


minação das espécies. Plantas daninhas multiplicam-se de forma geométrica,
fazendo com que o banco de sementes cresça rapidamente. Assim, para qualquer
, . , . .
espec1e e importante evitar que as plantas consigam produzir novos propágulos.
Para colocar em prática o controle preventivo, o agricultor deverá usar
sementes certificadas, evitar trânsito de animais de áreas infestadas para áreas
livres de plantas daninhas, limpar os equipamentos após trabalho em áreas com
plantas daninhas indesejáveis e controlar essas espécies em canais, margens da
lavoura e caminhos {Silva et al., 1999).

11.2.2 Controle cultural


O controle cultural consiste em usar qualquer condição ambiental ou prática
e manejo que promovam o crescimento da cultura em detrimento das plan-
tas daninhas. De acordo com Fleck {1992), as primeiras plantas que ocupam a
área tendem a excluir as demais, e a espécie mais bem adaptada predominará
no ambiente. Dessa forma, é preciso criar todas as condições para que a soja
possa se desenvolver e ter condições de competir com as plantas daninhas, caso
ocorram falhas no controle. As práticas culturais devem ser utilizadas visando
beneficiar ao máximo a cultura e, em alguns casos, podem reduzir ou até mesmo
eliminar a necessidade do uso de outros métodos de controle.
É importante conhecer detalhadamente as características da cultura e
as das plantas daninhas presentes na área. Também é necessário observar a
resposta dessas espécies às práticas culturais a serem adotadas, pois as espé-
cies favorecidas por determinadas práticas tendem a se perpetuar. Contudo, se
as práticas culturais favorecem o crescimento rápido e vigoroso da cultura e
afetam negativamente as plantas daninhas, a tendência é de que estas sejam
eliminadas ou tenham seu desenvolvimento reduzido.
Deve-se selecionar a cultura a ser implantada na área para que aquela obtenha
a máxima vantagem sobre as plantas daninhas. Os tratos culturais devem ser reali-
zados de for111a a proporcionar o máximo benefício à cultura em relação às plantas
daninhas. A escolha do cultivar adequado para as condições de solo e clima da
região, a adubação correta e a adequação da densidade, da profundidade, do espa-
çamento entre linhas e da época de semeadura são fatores que podem proporcionar
vantagem para a cultura. A adubação do solo na linha de cultivo, a profundidade
e a época de semeadura devem ser favoráveis à rápida ger111inação das sementes,
à emergência das plântulas e ao estabelecimento vigoroso e unifor111e da cultura.
O espaçamento entre linhas deve ser reduzido o máximo possível, para aumentar
a cobertura do solo e diminuir o espaço para as plantas daninhas.
A rotação de culturas impede o aumento de determinada espécie que
ocorreria em razão da monocultura. Algumas espécies de plantas daninhas
198 SOJA: DO Pl.AN1~IO À COLI-IEITA

adaptam-se melhor a determinadas culturas; assim, se a mesma cultura for


cultivada em anos seguidos, a tendência é de que as espécies daninhas que
'
l
melhor se adaptam àquelas condições se tornem predominantes. A rotação,
além de criar diferentes dinâmicas competitivas na área, oportuniza o uso de
diferentes tipos de herbicidas, colaborando para o controle das plantas dani-
nhas na cultura da soja e nas culturas subsequentes.

11.2.3 Controle físico/mecânico


O controle físico das plantas daninhas, representado pelo uso de fogo e arran-
quio manual, é a forma mais antiga usada pelo homem. Por sua vez, o controle
mecânico consiste no uso de equipamentos que eliminam as plantas dani-
nhas, como a enxada e os cultivadores, que são bastante econômicos para o
agricultor. Mesmo após a introdução dos herbicidas no mercado, o uso desses
equipamentos é comum, principalmente em pequenas propriedades, onde a
utilização de outros métodos de controle é limitada devido à falta de equi-
pamentos e/ou à topografia do terreno. Em grandes propriedades, o controle
mecânico de plantas daninhas é pouco empregado, em razão da praticidade e
da eficiência dos herbicidas.
Os principais tipos de cultivador são a enxada fixa, arrastada por trator, e
a enxada rotativa, com acionamento por meio da tomada de força do trator ou
pela resistência do terreno ao deslocamento.
Segundo Fleck (1992), os principais mecanismos responsáveis pelo controle
das plantas daninhas por meio do método físico/mecânico são:
)C enterrio: as plantas morrem por falta de luz para fotossíntese;
)( corte: consiste na separação da parte aérea das raízes;
)( dessecação: as raízes, os rizomas e os estolões são expostos e morrem
por desidratação;
)( exaustão: a estimulação repetida da brotação das gemas leva à exaustão das
reservas e à morte das gemas (esse método é de grande importância para
plantas perenes);
)( supressão: a cobertura morta atua sobre a passagem de luz, a tempera-
tura e a umidade do solo e, ainda, pode liberar substâncias alelopáticas,
criando condições adversas para a germinação e o estabelecimento das
plantas daninhas.

As principais vantagens do método mecânico são: economicidade em rela-


1
ção ao químico; eficiência em condições ambientais que impeçam O uso de 1

herbicidas; quebra de crostas que eventualmente se formam na superfície do •

solo, aumentando a aeração e a infiltração da água; ausência de poss_ível conta-


minação ambiental pelo uso de herbicidas; controle de plantas daninhas nã.o
1
1 11 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS 1 99

combatidas por herbicidas; e menor necessidade de adoção de medidas de


segurança do trabalho. As principais desvantagens são: não controla as plan-
tas daninhas na linha da cultura; danifica o sistema radicular da cultura; pode
reduzir o estande; e, em período chuvoso, é inoperante e ineficiente, além de
favorecer a erosão (Fleck, 1992; Silva et ai., 1999).
Cabe ressaltar que o uso do controle físico/mecânico, devido ao baixo rendi-
mento operacional, requer planejamento para evitar que a competição entre a
cultura e as plantas daninhas resulte em redução da produtividade. A eficiência
desse método é bastante variável, principalmente para espécies com fácil enraiza-
mento e com vários fluxos de emergência. Para plantas anuais e bienais, o controle
físico/mecânico é eficiente, mas, quando se refere às perenes, que desenvolvem
sistema radicular profundo, a eficiência é comprometida.
No sistema de plantio direto, a cobertura morta exerce controle das plantas
daninhas pelo seu efeito físico e, adicionalmente, pelo efeito químico (alelopatia).
A palhada atua sobre a passagem de luz, a temperatura e a umidade do solo e,
ainda, pode liberar substâncias alelopáticas, criando condições adversas para a
1

germinação e o estabelecimento das plantas daninhas.

11.2.4 Controle químico


.•
1

Os herbicidas são a principal e mais eficiente ferramenta usada para o controle


de plantas daninhas na cultura da soja. O uso desses produtos em pré ou
pós-emergência, combinado com as práticas discutidas anteriormente, é sufi-
ciente para garantir vantagem competitiva para a cultura da soja nos estádios
iniciais e mesmo durante todo o ciclo.
Entre as vantagens do controle químico, podem ser destacadas: apresenta
eficiência, praticidade e rapidez na operação; evita a competição das plantas
r

I
daninhas desde a implantação da cultura; permite controlar as plantas dani-
nhas em época chuvosa, quando o controle físico/mecânico é impraticável;
não causa danos às raízes da cultura; não danifica a estrutura física do solo;
permite melhor distribuição das plantas da cultura na área; e controla as plan-
tas daninhas na linha da cultura. Entre as desvantagens estão: apresenta custo
geralmente mais elevado que em outros métodos; exige equipamentos adequa-
dos; pode ser tóxico ao meio ambiente; necessita de equipamentos de proteção;·
e pode deixar resíduos no solo e nos alimentos.
o número de herbicidas disponíveis para o controle de plantas daninhas çle
folhas largas e estreitas na cultura da soja convencional é grande, com mais
de 40 ingredientes ativo_s (Agrofit, s.d.). O uso de associações· de herbicidas é
importante para aumentar o espectro-de controle, reduzir o custo, minimizar
1
a pressão ·de seleção de plantas daninhas resistentes a herbicidas e reduzir a •

quantidade qe herbicidas no a1nbiente.


200 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

O controle seletivo de plantas daninhas na cultura da soja pode ser feito em


pré ou pós-emergência, salientando-se que o uso de herbicidas em pré-plantio
incorporado é prática em desuso no sistema agrícola brasileiro.

Aplicações em pré-emergência
Os herbicidas usados em pré-emergência, sem incorporação, são aplicados
imediatamente após a semeadura da cultura e alguns até mesmo após sua emer-
gência, mas sempre antes da emergência das plantas daninhas, pois a ação deles
se dá durante ou logo após a germinação. Normalmente, a aplicação é feita imedia-
tamente após a semeadura ou no máximo três dias após a última gradagem.
As vantagens dos herbicidas aplicados em pré-emergência são: permi-
tem o controle das plantas daninhas antes que elas possam competir com a
cultura e provocar redução na produtividade; podem ser usados no sistema de
cultivo convencional e de semeadura direta; podem ser aplicados na operação
de semeadura, com equipamentos acoplados à semeadora; e não necessitam 1

incorporação e, com isso, há economia de tempo, maquinaria e combustível e


expõem menos o solo à erosão, reduzindo, assim, o impacto ambiental.
A área deve estar livre de torrões, sendo o desempenho dos herbicidas
pré-emergentes dependente de fatores como: umidade no momento da apli-
cação; chuvas após a aplicação; temperatura; tipo de solo; características
físico-químicas das moléculas dos herbicidas; e espécies daninhas a serem
controladas. Em razão disso, em algumas situações esse tipo de herbicida pode
proporcionar controle insatisfatório.
A ocorrência de chuva ou irrigação após a aplicação é necessária para '''
incorporar o produto ao solo, o que aumenta a sua eficácia, pois, se ele não
1
atingir o local onde estão as sementes das plantas daninhas, o tratamento •

poderá ser ineficiente. A ocorrência de estiagem por período superior a uma 1


t
'
semana poderá afetar o desempenho do herbicida. pois haverá perdas por l
fotodecomposição e volatilização.
A falta desses conhecimentos pode resultar na ineficiência agronômica, ou
seja, na falha de controle ou na intoxicação da cultura. Nesses casos, o uso de
mapas, com a indicação das espécies em cada local, bem como das característi- ;

cas químicas e físicas dos solos, auxilia na escolha do herbicida a ser adotado, já l
1
que dificilmente toda a área da lavoura possui solo com as mesmas característi-
cas e tampouco estará infestada ou apresentará as mesmas espécies.

Aplicações em pós-emergência
A aplicação em pós-emergência é aquela realizada após a emergência das plan-
tas daninhas e antes que elas interfiram no desenvolvimento da cultura devido
à competição. A possibilidade de ocorrer prejuízo decorrente da competição

..
&
11 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS 201

é maior nesse tipo de tratamento herbicida comparativamente ao anterior.


1
A atenção para o estádio de desenvolvimento das plantas daninhas e da cultura
é fundamental para o sucesso da aplicação, pois alguns herbicidas são muito
exigentes quanto a esse fator.
As vantagens dos herbicidas utilizados em pós-emergência são: permitem
aplicação localizada; são pouco afetados pelas características do solo; podem ser
usados nos sistemas convencional e direto; a escolha do produto pode ser feita
de acordo com as plantas daninhas na área naquele momento; e auxiliam na
prevenção da erosão.
As condições de clima devem ser favoráveis à absorção e à translocação do
herbicida. Em geral, para a aplicação de herbicidas pós-emergentes, a tempera-
tura ideal varia de 20 ºC a 30 ºC, a umidade relativa do ar ideal é de 70% a 90% e
os ventos devem ter velocidade inferior a 10 km/h. Deve-se evitar a aplicação se
houver iminência de chuva e sobre plantas estressadas, sob pena de perda da
eficiência do tratamento ou danos à cultura.
Altas temperaturas podem ser responsáveis pela volatilização das molé-
culas do herbicida e pelo aumento da evaporação das gotas. Por outro lado,
temperaturas baixas podem reduzir o metabolismo das plantas e dificultar a
absorção do produto.
A baixa umidade relativa do ar desidrata a cutícula, e a consequente rápida
evaporação da gota sobre a superfície da folha, provocando a cristalização do
produto sobre ela, dificulta a absorção da molécula.
A aplicação em dias com vento forte poderá provocar deriva e as gotículas
não atingirão o alvo, podendo alcançar locais com culturas sensíveis.
A ocorrência de chuva logo após a aplicação pode lavar as moléculas do
herbicida da superfície da folha da planta e impedir a sua absorção. Algumas
formulações de herbicidas necessitam de até 6 h sem chuva, após a aplicação,
para serem absorvidas em quantidade suficiente para controlar a planta.
A aplicação sobre plantas estressadas reduz a absorção e a translocação do
produto e pode diminuir o metabolismo das moléculas herbicidas pela cultura,
reduzindo a seletividade do herbicida.
Esses herbicidas podem ser aplicados em pós-emergência precoce, normal
ou tardia. A aplicação em pós-emergência precoce ocorre quando as espécies
magnoliopsidas estiverem no máximo com duas folhas e as poaceas, ainda não
afilhadas. Baseia-se no fato de que as plantas daninhas são mais sensíveis aos
herbicidas em estádios iniciais de desenvolvimento. A aplicação em pós-emer-
gência normal acontece quando as espécies de folhas largas estão no máximo
no estádio 4-6 folhas e as poaceas contêm até 3-4 afilhas. pois nesses estádios
a sensibilidade das espécies daninhas aos herbicidas ainda é elevada. Na apli-
cação em pós-emergência tardia, os herbicidas são aspergidos sobre as plantas
202 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

daninhas em estádios avançados de desenvolvimento. Nesse caso, as espé-


cies magnoliopsidas estão em estádio acima de seis folhas e as poaceas, com
mais de três afilhas, e a eficiência dos herbicidas será menor do que quando apli-
cados em pós-emergência precoce ou normal. Em tais situações, normalmente,
a cultura já sofreu danos e terá o seu rendimento reduzido.
Para aplicações em pós-emergência, o uso de adjuvante é recomendado
para diversos herbicidas. Entretanto, o emprego inadequado de adjuvante
poderá comprometer a seletividade do herbicida para a cultura.
Para algumas espécies daninhas, como a trapoeraba (Commelina sp.) e o
capim-amargoso (Digitaria insularis) entouceirado, a aplicação sequencial de
pós-emergência melhora a eficiência de controle, reduzindo a rebrota das espé-
cies. Porém, essa segunda aplicação tem como inconveniente o aumento do
custo de controle.

11.2.s Manejo integrado de plantas daninhas


No programa de manejo integrado, utiliza-se a combinação de no mínimo dois
métodos de controle de plantas daninhas (preventivo, cultural, físico/mecânico e
químico) para obter controle eficiente dessas espécies. Nesse manejo, tentam-se
a complementação e o efeito aditivo dos métodos de controle. Não há método que
seja eficiente em todas as situações ou ambientes onde as culturas e as plantas
daninhas estão se desenvolvendo, ou seja, cada situação precisa ser analisada
individualmente e, de acordo com as suas características, devem ser definidas
quais práticas serão adotadas. O manejo integrado reduz os custos e protege o ''

ambiente, sem perda de produção.

11.3 ESCOLHA DO HERBICIDA A SER APLICADO i 1

o grande número de ingredientes ativos registrados para a cultura da soja


(Agrofit, s.d.) dificulta o momento de escolher a melhor opção de produto para
determinada situação. As dificuldades aumentam ainda mais com as possíveis '

associações desses compostos.


Os principais fatores que devem ser considerados na escolha do herbicida 'l •
1
'
\
são: eficiência sobre a planta daninha alvo, tolerância da cultura (seletividade),
residual do herbicida, custo, tipo de solo, sistema de cultivo, cultura qu.e será '
'
usada em sucessão e/ou rotação e culturas adjacentes. •

Escolhido o herbicida, deve-se decidir a dose a ser usada, a qual, para produtos l

absorvidos pelas raízes das plantas, aplicad~ em pré ou pós-emergência, depende,


além da cultura e das espécies daninhas, da textura do solo, da capacidade de
troca de cátions (CTC) efetiva, da matéria orgânic.a e do pH. Geralmen.te, solos com
textura leve e baixo teor de matéria orgânica requerem doses. menores de herbi- 1

1
cida, comparativamente a solos p_e sados e com maior teor de matéria orgânica, para I

1
1

a
11 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS 203

proporcionar controle eficiente das plantas daninhas. Para herbicidas derivados de


ácidos fracos, o pH do solo quase sempre é o atributo mais importante com relação
à dinâmica do herbicida no ambiente. A maioria dos herbicidas de solo traz reco-
mendação diferenciada para cada tipo de solo; por exemplo, a menor dose é usada
em solos arenosos, a dose intermediária, em solos médios, e a maior, em argilosos.
A persistência dos herbicidas é extremamente importante para proporcio-
nar controle das plantas daninhas durante o período crítico de competição e
para determinar quais culturas poderão ser instaladas na próxima safra. Alguns
'\
'
'
herbicidas possuem residual longo e podem causar danos a culturas implanta-
das em sucessão, problema comumente chamado de carryouer. A persistência
(meia-vida) de determinado herbicida no solo varia de acordo com os atributos
do solo e as condições climáticas, que irão influenciar sua decomposição micro-
biana, física e/ou química.
,
E importante que seja levada em consideração a persistência dos herbi-
cidas, principalmente em situações em que há a necessidade de reinstalar a
cultura. A ressemeadura da cultura ou a semeadura de outra cultura, após ocor-
rida a aplicação de herbicida, deve ser feita com cautela. Nesses casos, antes de
definir a cultura a ser instalada na área, deve-se verificar a sensibilidade dela
aos produtos que foram aplicados. O resíduo de alguns herbicidas pode perma-
necer durante longo período no solo, por exemplo, a atrazine, que apresenta
limitações para a cultura da soja.
De forma resumida, na primeira etapa, deve-se escolher o produto de
acordo com as espécies que infestam a área; na segunda, eliminar produtos
com restrições a culturas sucessivas que poderão ser implantadas; na terceira,
selecionar os produtos e as doses adequadas para uso de acordo com as caracte-
rísticas do solo (textura, teor de matéria orgânica, pH e CTC); e, na quarta etapa,
preferir herbicidas com ação sobre plantas estabelecidas (pós-emergente) e com
~:·. poder residual. Assim, o produto controlará as espécies já instaladas na área e
aquelas originadas de novos fluxos germinativos.

11.4 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS EM SOJA RESISTENTE


AO GLYPHDSATE
A tecnologia da soja transgênica resistente ao glyphosate (soja RR) permite
seu uso em pós-emergência da cultura sem afetá-la e representa, portanto, a
oportunidade de controlar as plantas daninhas de forma fácil, eficiente e com
relativo baixo custo. Há alguns casos em que o custo com herbicida foi reduzido
em mais de 80%. Para a comunidade científica, essa tecnologia apresentou-se
como importante alternativa para incrementar o manejo das plantas daninhas,
.J
principalmente de espécies resistentes aos inibidores da ALS, como o leiteiro
f,
(Euphorbia heterophylla) e o picão-preto (Bidens pilosa e B. subalternans).

'.
204 SOJA: DO PLANTIO A COLI-IEITA

O manejo de plantas daninhas em soja resistente ao glyphosate inicial-


mente foi realizado somente com o glyphosate aplicado em doses variáveis
1
entre 720 g ha- e 1.440 g ha-1 • Porém, tanto os produtores como os técnicos
foram surpreendidos com a rápida seleção de espécies daninhas resistentes,
em resposta ao uso repetido do herbicida. Depois disso, foram associados
ao glyphosate diferentes mecanismos de ação, dependendo da espécie a ser
controlada, como a associação de glyphosate com os inibidores da ACCase, para
controlar azevém (Lolium multiflorum) e capim-amargoso.
Uma visão global indica que, apesar dos argumentos e da classificação do
glyphosate como produto de baixo risco para a seleção de espécies daninhas resis-
tentes, hoje já existem 43 espécies resistentes a esse herbicida no mundo (Heap,
2019). O primeiro caso ocorreu com azevém (Lolium rigidum) na Austrália, em 1996,
e depois surgiram diversos outros casos de biótipos resistentes, como capim-pé-
-de-galinha (Eleusine indica), caruru (Amaranthus hybridus, A. palmeri, A. spinosus e
A. rudis), losna (Ambrosia artemisiifolia e A. trijida), buva (Conyza cana densis, C. bona-
riensis e C. sumatrensis), azevém, sorgo-de-alepo (Sorghum alepense), tanchagem
(Plantago Ianceolata) e capim-amargoso, entre outros (Heap, 2019).
Entre as espécies que possuem resistência ao glyphosate, a buva (Conyza sp.)
apresenta grande importância em algumas regiões do mundo e, também, no
Brasil, onde a resistência ao glyphosate já foi confirmada em populações de Conyza
bonariensis, C. canadensis e C. sumatrensis. Sabe-se que a buva é vista com grande
frequência na maioria das regiões de soja no País, o que aumenta ainda mais a
preocupação em relação a esse problema.
O número de plantas daninhas resistentes ao glyphosate está aumen-
tando rapidamente em áreas cultivadas com soja transgênica. No Brasil, foram (

identificadas seis espécies resistentes, azevém, capim-amargoso, buva, capim- 1


l
-de-rhodes (Chloris elata), capim-pé-de-galinha e caruru (Amaranthus palmeri), e '

várias tolerantes, como leiteiro, erva-quente (Spermacoce latifolia), vassourinha-


-de-botão (Spermace uertticilata), erva-de-santa-luzia (Chamaesyce hirta), murdania i
(Murdania nudi.flora), corriola (Ipomoea spp.), trapoeraba e poaia-branca (Richardia
brasiliensis), entre outras. A identificação de outras espécies dependerá do modo
como O glyphosate será utilizado nos próximos anos. O impacto da seleção de
espécies resistentes ao glyphosate está, principalmente, no custo de produção.

11.5 MANEJO E CONTROLE DAS PLANTAS RESISTENTES AO GLYPHOSATE


A planta é considerada resistente quando não é controlada pela dose registrada do t
herbicida para a espécie. Assim, o herbicida perde a eficiência de controle sobre a
espécie e O aumento da dose do produto não resulta em um controle satisfatório.
Para a prevenção e o manejo das plantas resistentes, recomenda-se: a) não
usar mais que duas vezes seguidas, na mesma área, herbicidas com idêntico
t
11 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS 20 5
f

mecanismo de ação, evitando seleção de resistência a outros mecanismos;


l
b) implantar sistemas de rotação de mecanismos de ação de herbicidas eficazes
sobre as espécies-problema; c) remover por arranquio, capina ou roçada as plan-
tas que sobreviverem após a aplicação do herbicida, para evitar a produção e a
disseminação de sementes na área; d) implantar programa de rotação de cultu-
ras, associada à rotação de herbicidas com maior número de mecanismos de
ação; e e) limpar máquinas e equipamentos para evitar a disseminação das plan-
tas daninhas resistentes, sendo que cuidados especiais devem ser tomados nos
condomínios agrícolas, em que as máquinas são usadas de forma comunitária.
A seguir são apresentadas alternativas de controle para as três principais
espécies daninhas com resistência a glyphosate no Brasil.

Controle de azevém
11.s.1
O controle dos biótipos de azevém resistentes ao glyphosate, de forma geral, é
obtido com o uso dos herbicidas graminicidas "fops'' e ''dims'' (Quadro 11.1).
É importante o planejamento do controle antes da semeadura com (20 a 30 dias
de antecedência), de modo a permitir o controle do azevém em tempo suficiente
para evitar os efeitos negativos da competição e da alelopatia sobre a cultura.
Além disso, em caso de uso de graminicidas, deve-se levar em consideração que
alguns deles possuem efeito residual e podem afetar culturas como o milho, o
trigo e a cevada. Para evitar esses problemas, devem-se respeitar os períodos de
carência recomendados.

Quadro 11.1 Herbicidas graminicidas e não seletivos que controlam azevém


resistente e senslvel ao glyphosate
Mecanismo de ação Grupo químico Ingrediente ativo Nome comum
- ...._ - - - - ~ - ..... _ -
Herbicidas gramlniclclas I
t . - -- . - - ~ -- ·- _.... -- - -- - - --
Flu az if o p-p Fusilade
Haloxyfop-r Verdict R. Gallant
Ariloxifenoxi-propionatos
Propaquizafop Shogun
(ufops")
Fenoxaprop Furore, Podium

Inibidores da Diclofop lloxan


ACCase Ciclo-hexanodionas Clethodim Select
("dims") Sethoxydim Poast
lodossulfuron Hussar
Sulfonilureia Nicossulfuron nortox
Nicossulfu ron
Sanson

Herbici.das nã_o seletivos


- - • . -
Amônio-
Inibidores da GS Acido fosfínico Finale
-glufosinato

Para a definlçao da dose e da melhor alternativa a ser utlllzada, deve-se consultar um agrônomo.
206 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

11.s.2 Controle de buva


De forma geral, recomenda-se que o manejo de buva resistente ao glyphosate
seja realizado continuamente e com ações comunitárias, como a eliminação de
plantas que crescem nas margens de estradas, pois suas minúsculas sementes
disseminam-se pelo vento com muita facilidade. Aproveitar as oportunidades
de manejo de buva no inverno e na dessecação pré-semeadura, bem como as
oportunidades de controle ou catação na pós-emergência da cultura de verão, é
fundamental para o sucesso do controle.
O cultivo da área com trigo, centeio ou aveia diminui o número de plantas
de buva quando comparado com o realizado em áreas não cultivadas, deixadas
em pousio. A implantação de culturas que permitam a colheita de grãos, como
trigo, ou espécies que possam ser utilizadas somente para cobertura do solo,
como aveia, ervilhaça ou nabo-forrageiro, entre outras, são boas alternativas.
A Brachiaria ruziziensis também o é para regiões mais quentes do Brasil, podendo
ser usada no sistema lavoura-pecuária, juntamente com o milho safrinha, ou
apenas para ocupação de área e formação de cobertura morta.
A associação do efeito supressor das culturas com o uso de herbicidas
proporciona controle satisfatório de buva, na maioria dos casos. Os herbicidas
usados na cultura do trigo, como iodosulfuron, metsulfuron e 2,4-D, controlam
buva, mas é preciso atender às recomendações de uso para a cultura e a planta
daninha com relação ao estádio, à época de aplicação e à dose (Quadro 11.2).
Metsulfuron deve ser utilizado, no mínimo, 60 dias antes da semeadura da soja
ou do milho, pois a decomposição desse herbicida no solo pode ser reduzida
pela falta de umidade ou por temperaturas muito baixas por longos períodos,
exigindo, assim, intervalo maior entre a sua aplicação e a semeadura da soja.

Quadro 11.2 Alternativas de herbicidas para uso em um programa de controle


qufmico de buva resi.stente e senslvel ao glyphosate

Grupo químico Ingrediente ativo Nome comercial


• Mecanismo de ação
(exemplo)
Controle no inverno
. .. - ..

lodosulfuron-metil Hussar
Inibidor da ALS Sulfonilureia
Metsulfuron-metílico Ally

Mimetizador de Aminol 806, DMA


Ácido ariloxialcanoico 2,4-D
auxinas 806 BR, Herbi
Na ~essecação pré-semeadura
..
Inibidor da ALS Sulfonilureia Clorimuron Classic

Homoalanina
Inibidor da GS Amõnio-glufosinato Finale
substituída
20
11 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS 7

Quadro 11.2 (continuação)


Nome comercial
Mecanismo de ação Grupo químico Ingrediente ativo (exemplo)

.
Na dessecação pré-semeadura
Mimetizador de Aminol 806, □ MA
Acido ariloxialcanoico 2,4-0
auxinas 806 BR, Herbi

Na pré-emergência em soja
Inibidor da ALS Triazolopirimidina Dlclosulam Spider 840 WG

Triazolona Sulfentrazone Boral soo se


Inibidor de PROTOX
Ftalimidas Flumioxazin Flumizyn 500

Para a definição da dose e da melhor alternativa a ser utilizada, deve-se consultar um agrônomo.

,
Areas utilizadas para pastejo devem ser manejadas com cuidado para
evitar intoxicação dos animais, e, além disso, o pastejo mantém a forrageira
com baixa estatura, deixando espaço para a buva se estabelecer. Os animais
também podem danificar plantas de buva, quebrando caules e galhos, o que
dificulta a ação dos herbicidas.
O manejo antes da semeadura da soja (dessecação) tem sido realizado de
forma eficiente com 2,4-D ou clorimuron associados ao glyphosate (Quadro 11.2).
As aplicações sequenciais têm apresentado excelentes resultados. Nesse caso,
o glyphosate associado ao 2,4-D ou ao clorimuron é usado 10 a 15 dias antes da
segunda aplicação (Quadro 11.2). Aplicações sequenciais somente com produ-
tos de contato, como amônio-glufosinato, apresentam alta eficiência, desde que
usados em plantas pequenas. Nesses casos, pode-se utilizar o mesmo produto
na primeira e na segunda aplicação ou alternar produtos. Cabe destacar que
misturas de tanque não são permitidas; portanto, as associações devem ser
realizadas aplicando-se os produtos isoladamente.
o uso de herbicidas pré-emergentes, como flumioxazin, diclosulam e •
sulfentrazone, ocasiona controle satisfatório de buva, proveniente do banco de
sementes do solo (Quadro 11.2). Quando utilizados na pré-emergência da soja
(semear/aplicar ou aplicar/semear), esses herbicidas proporcionam controle
residual de 20 dias ou mais, dependendo das condições de solo e clima.
De forma geral, os biótipos resistentes, como azevém e buva, devem se~
manejados com mecanismos alternativos, não repetindo o uso em um mesmo
ano do mesmo mecanismo de ação e evitan~o o emprego de prqdutos para
os quais os biótipos possuem resistência. Por sua vez, o manejo de espécies
tolerantes , como leiteiro, corriola, trapoeraba e poaia-branca, deve ser feito .

em .e stágios iniciais de desenvolvimento e co~ a utilização da dose co~reta,


indicada na bula dos produtos.
208 SOJA: DO \JLANTIO À COl.. 1-lEI.]'A

11.s.3 Controle de capim-amargoso


O capim-amargoso é uma poacea perene adaptada a diferentes ambientes agrí-
'
1

colas, reproduzindo-se por sementes e pequenos rizomas, com a formação de ( ·'

touceiras. O controle dessa planta daninha é complexo e exige diferentes estraté-


, . ~

gias de manejo, químicas e não químicas, tanto na pré como na pos-emergenc1a


das culturas. Segundo Gazziero et al. (2012), a competição do capim-amargoso
com a soja reduz a produtividade da cultura em cerca de 44%, na presença de
quatro a oito plantas por metro quadrado (Tab. 11.1).

Tab. 11.1 Produtividade e redução relativa da soja em função da presença de Digitaria ínsuloris r

População (plantas/m 2) Produtivi'dade (kg/ha) Redução relativa ( 0/o)


Ausente 3.392 (57 se) 0°/o (O se)
1a3 2.595 (43 se) 23°/o (13 se)
4a8 1.885 (31 se) 44°/o (25 se)
C.V. {0/o) 15,1 -
Fonte: Embrapa Soja, Londrina, PR.

O controle pode ser feito antes da emergência, com a aplicação de herbicidas


em pré-emergência (Gazziero et al., 2013). Na pós-emergência, essa infestante
tem maior sensibilidade para ser controlada até os 35-40 dias de desenvolvi-
mento, quando normalmente se encontra com três a quatro afilhas. Nessa
situação, o controle pode ser realizado com graminicidas, nas doses registradas ~·
nas bulas, quando não resistente a esses herbicidas. No entanto, o grande desa-
fio dos agricultores é o manejo das plantas adultas, que normalmente já estão
entouceiradas. Nessas condições, as aplicações de graminicidas nas doses de
bula não têm apresentado controle satisfatório, com a ocorrência de rebrotas.
Resultados de pesquisas têm indicado a necessidade de doses entre 50% e 80%
superiores às recomendadas na bula, sendo muitas vezes preciso até o dobro,
inclusive seguido de segunda aplicação, sendo esse procedimento denominado
controle sequencial.
Outras práticas podem ajudar no manejo do capim-amargoso, por exem-
plo não deixar áreas em pousio (Gazziero et al., 2013). A palhada das culturas de
entressafra, como o trigo e a aveia, no Sul, e as braquiárias, no Centro-Oeste, auxi-
lia no manejo do capim-amargoso. A aplicação de herbicidas em plantas roçadas
mecanicamente ou pela barra de corte da colhedora de grãos só deve ser feita
após intervalo de 20 a 30 dias ou quando as plantas apresentarem bom desen-
volvimento vegetativo, ou rebrota com aproximadamente 30 cm de estatura. "

sempre em condições climáticas adequadas. Para o controle em áreas infesta- \

das ao mesmo tempo com buva e capim-amargoso, pode ser necessário O uso de
( 11 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS 2 º9

latifolicidas, a exemplo de 2,4-D, e graminicidas; contudo, esses produtos podem


apresentar incompatibilidade quando em mistura, sendo recomendado evitá-la.
1

11.6 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS E AS NOVAS TECNOLOGIAS


As dificuldades para a obtenção de nova molécula e sua regulamentação, assim
como os custos para o desenvolvimento, retardam a disponibilização de novos
produtos. Apesar disso, a rápida seleção de plantas daninhas resistentes ao
glyphosate, causada pelo uso intensivo desse herbicida, estimulou a pesquisa
de novas alternativas, baseadas na biotecnologia, para desenvolver culturas
geneticamente modificadas para resistência ao amônio-glufosinato (LL), ao
2,4-D (Enlist) e ao dicamba (Xtend). Soja resistente aos herbicidas do grupo das
sulfonilureias e das imidazolinonas, sem modificação genética, mas obtida por
mutação, já é realidade no Brasil. Ainda, a soja resistente a isoxaflutole (HPPD)
também deverá chegar ao mercado em breve.
O herbicida glyphosate continuará a ser utilizado em larga escala, e o gene
de resistência também estará incluído nas novas tecnologias com organismos
geneticamente modificados (OGMs), possibilitando, assim, ser misturado com
outros herbicidas considerados até então não seletivos. O que se observa é que
nenhum dos futuros OGMs para resistência aos herbicidas será a solução impac-
tante no manejo de plantas daninhas. Desse modo, é de se esperar aumento de
problemas com plantas voluntárias e, em especial, com as poaceas.
Cabe destacar ainda que a disponibilidade de vários programas com
OGMs poderá provocar aumento de injúrias, causadas pela deriva para cultu-
ras sensíveis, especialmente com a utilização de produtos auxínicos. Assim,
é importante que haja aumento no uso de herbicidas convencionais, maior
•'
1

1
atenção na tecnologia de aplicação dos herbicidas e, sobretudo, utilização do
1

manejo integrado de plantas daninhas.

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.
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MANEJO DE PRAGAS

' .
Daniel Ricardo Sosa-Gómez
Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Pesquisador da Embrapa Soja.
E-mail: daniel.sosa-gomez@embrapa.br

Patrícia Elizabeth Husch


Bióloga, Dra. pela Universidade Federal do Paraná. E-mail: patihusch@gmaiI.com

Alexandre Specht
Biólogo, M.S., D.S. e Pesquisador da Embrapa Cerrados. E-mail: alexandre.~pecht@embrapa.br
. .. . - ..

A soja é uma cultura exótica, porém, desde a sua introdução no Brasil, no início
do século XX, tem sido atacada por diversos. insetos nativos que se associaram
ao seu cultivo. As mudanças nos tratos culturais, na arquitetura de plantas e
nos próprios agroecossistemas têm levado insetos que não eram importantes
na cultura a se tornarem pragas-chave ou secundárias e outros que anterior-
mente eram de grande importância a diminuírem ou perderem sua relevância.
Além disso, a frequência da introdução de insetos exóticos associados a essa
cultura em outros países ou continentes tem dificultado o manejo. Essa maior
complexidade, associada a tomadas de decisão de controle sem monitoramento,
falta da identificação adequada da praga, escolha de produtos com critérios
inapropriados e tecnologia de aplicação deficiente, tem conduzido a situações
de reduzida reversibilidade para solucionar as falhas de controle.
Análises comparativas da frequência de aplicações. para o controle de
pragas confirmaram que o número de aplicações é superior (de 1,3 a 2 vezes)
entre agricultores sem orientação quando comparado com aplicações feitas por
agricultores acompanhados por agentes de extensão.
No manejo das pragas, devem-se considerar os seguintes pontos-chave:
identificar corretamente a praga, porque a suscetibilidade aos produtos difere
de espécie para espécie; determinar a densidade da praga na qual há a neces-
sidade de aplicar medidas de controle; priorizar o uso de inseticidas seletivos,
principalmente no início do ciclo da cultura, pois, quanto maior for a seletivi-
dade, menores consequências deletérias ocorrerão ao longo do ciclo da cultura
212 SOJA : DO PLANTIO A COLI-IEITA

e sobre a preservação das técnicas de controle; aplicar a dose recomendada pela


pesquisa, independentemente de interesses comerciais; e verificar se o agro-
tóxico tem efeitos colaterais nocivos sobre inimigos naturais, pois tais efeitos
podem provocar ressurgência de pragas.

12.1 PRINCIPAIS PRAGAS NA CULTURA DA SOJA


Atualmente as espécies pragas mais importantes da cultura da soja são as lagar-
tas desfolhadoras, entre elas a lagarta-falsa-medideira, Chrysodeixis includens
(Walker) (Lepidoptera: Noctuidae), e a lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis
Hübner {Lepidoptera: Erebidae), ambas distribuídas em toda a região produtora
de soja, e, de menor prevalência, Helicouerpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: ,,
Noctuidae) (Conte et al., 2018).
As lagartas ocorrem principalmente durante a fase vegetativa, enquanto
o complexo de percevejos pentatomídeos é mais frequente durante o período
reprodutivo. Dentro deste grupo, o percevejo-marrom, Euschistus heros (F.)
(Heteroptera: Pentatomidae), é a espécie prevalente, como indicam os levan-
tamentos realizados no Estado do Paraná, seguido em importância por
Dichelops spp., Nezara uiridula e P. guiidinii (Fig. 12.1} (Conte et al., 2016, 2017, 2018). -. ·•

Mais recentemente, suas populações têm se tornado economicamente importan-


tes na Região Centro-Oeste, e, no Mato Grosso do Sul, um complexo de espécies,
-
que incluem as associadas à soja, tem sido relatado ocasionando problemas em .,
-
algodão, hospedeiro inusitado desses percevejos (Seria et al., 2009).

2015/16 2016/17 2017/18


l'

E. heros Diceraeus spp. N. uiridula P. guildinii

Fig. 12.1 Proporção da abundância de cada espécie do complexo de percevejos pragas da soja no
Estada do Paraná, durante três safras .

12.1.1 Lagartas desfolhadoras da cultura da soja


As espécies mais comuns causadoras de desfolha na cultura da soja são a
lagarta-da-soja, A. gemmatalis, e a lagarta-falsa-medideira, e. includens. que têm
12 MANEJO DE PRAGAS 213

se alternado em importância; por exemplo, nas safras 2017/18 e 2018/19, de


maneira geral, A. gemmatalis tornou-se mais relevante que e. includens.
Pragas secundárias tornando-se primárias é uma situação cada vez mais
1
comum nos sistemas agrícolas em que a disponibilidade de alimento (extensas
1
áreas cultivadas) e a forma de manejo podem ser consideradas fatores-chave
para essas ocorrências. No caso de e. includens, atribui-se o uso intensivo de
fungicidas para o controle da ferrugem-asiática, Phakopsora pachyrhizi 5yd. &
P. Syd., como o principal fator associado à supressão do inóculo dos fungos
entomopatogênicos, como Metarhizium rileyi (Farlow) Samson, Zoophthora spp.,
Pandora gammae (Weiser) Humber e Isaria tenuipes Peck, que em condições
normais apresentam elevada prevalência e controlam naturalmente essa
praga, evitando o seu aumento populacional {Sosa-Gómez; Lopez Lastra;
Humber, 2010), similar ao observado com a lagarta-da-soja {Sosa-Gómez et al.,
2003). Assim, desde 2002/2003, C. includens tem ocorrido em altas populações
em diversas regiões do Brasil, e o seu manejo é feito com a utilização de inse-
ticidas químicos, dada a dificuldade de controle por ser menos suscetível aos
produtos convencionais em geral, quando comparada a A. gemmatalis, deman-
dando doses maiores para seu controle (Braga et al., 2011). Além disso, sua
ocorrência se estende por um tempo maior que a lagarta-da-soja, quando a
planta está mais desenvolvida, geralmente durante e após a época de floração,
quando a entrelinha está coberta. As lagartas dessa praga têm o hábito de
permanecer em maior número nos terços médio e inferior das plantas, fazendo
com que haja maior dificuldade de serem atingidas pelas gotas durante as
pulverizações, as quais ficam retidas nas folhas do terço superior (Wisch et al.,
2012). Por isso, é necessário que o agricultor aplique oportunamente as medi-
das de controle, adotando tecnologia de aplicação com volume de calda, bicos
e manutenção dos equipamentos apropriados (Embrapa, 2008).
Vale ressaltar que numerosas espécies de lepidópteros estão associadas à
cultura da soja, e uma extensa lista tem sido detalhada por Formentini et al. (2015).
Entre essas espécies, pode-se citar o complexo de espécies do gênero Spodoptera
e a H. armigera, que, apesar de estarem amplamente distribuídas, apresentam
necessidade de controle localizada e restrita. Entretanto, a experiência da safra
2012/13, com surtos de H. armigera que causaram sérios prejuízos econômicos
em milho, algodão, soja, feijão comum, trigo, caupi, milheto e sorgo (Embrapa,
2013; Specht et al., 2013), é indicadora da possibilidade de novos surtos.
De maneira geral, nas últimas safras (2017/18 e 2018/19) não têm sido
observados problemas sérios com lagartas, sendo atribuída a redução desses
problemas ao aumento da área com soja Bt, a qual ocupa aproximadamente 60%
a 65% da área com a cultura da soja no País (Céleres, 2018; Rally da Soja, 2019).
Uma vez que espécies suscetíveis à toxina CrylAc são observadas com menos
214 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

frequência, as lagartas tolerantes à CrylAc ficam em evidência. Assim, espécies


de Spodoptera que estão associadas à soja podem ocasionar danos às vagens.
Embora sua ocorrência seja restrita, as espécies mais comuns são S. cosmioides
(Walker, 1858), S. eridania (Cramer, 1784) e, em menor proporção, S. frugiperda
(J. E. Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) (Panizzi; Bueno; Silva, 2012).

Manejo de lagartas desfolhadoras


O controle químico das lagartas desfolhadoras A. gemmatalis e C. includens deve
ser feito quando forem encontradas, em média, 20 lagartas grandes por pano
de batida ou se a desfolha atingir 30%, no período vegetativo, ou 15%, quando
a cultura estiver no período reprodutivo (Embrapa Soja, 2011; Moscardi et al.,
2012). Os níveis de ação para controle de H. armigera para as condições brasi-
leiras devem ser feitos a partir do grupo de pragas pertencentes à subfamília
Heliothinae, tendo em vista que é muito difícil a identificação dessa espécie no
campo. Sendo assim, a recomendação na fase vegetativa da cultura com o uso de
vírus entomopatogênicos ou inseticidas reguladores de crescimento é de quatro
lagartas pequenas (< 1,5 cm) por metro ou 30% de desfolha, e, na fase reprodutiva,
duas lagartas pequenas por metro ou 15% de desfolha. Com o uso de inseticidas
de ação rápida, o nível de ação é igual ao número estabelecido anteriormente,
mas deve-se considerar lagartas maiores que 1,5 cm (Conte et al., 2018).
Diferentes ingredientes ativos estão disponíveis no mercado nacional para
o controle químico das lagartas desfolhadoras. Dessa maneira, no momento da
tomada de decisão de qual produto aplicar, deve ser dado preferência àqueles que
sejam seletivos a inimigos naturais, entre eles os inseticidas biológicos, como
Bacillus thuringiensis, os vírus de poliedrose nuclear de A. gemmatalis (AgMNPV),
C. includens (ChinNPV) e H. armigera (HzSNPV) e os reguladores de crescimento
de insetos (Quadro 12.1).

Quadro 12.1 Inseticidas agrupados por modo de açao, agentes biológicos e seletividade
para inimigos naturais para o controle das principais lagartas (registrados
no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)
Grupo do Hellcoverpa sp.
Modo de ação Seletlvldade A, gemmatalis e. lncludens
Inseticida e H. armigera
lnfecçao do Blológlco - Altamente AgMNPV ChlnNPV HzSNPV
Intestino médio e baculovlrus seletivos
outros tecidos
lntoxlcaçao Biológico - bactéria Altamente Baclllus Baclllus Baclllus
lnlclalmente seletivos thuringlensls thuringlensls thurlngiensls
locallzada no
Intestino médio e
\

septicemia

Pirasltlsmo Blológlco - Altamente Trlchogramma Trlchogrammo


de ovos parasltolde seletivos pretlasum pretlosum
12 MANEJO DE PRAGAS · 215

Quadro 12.1 (continuação)



Modo de ação Grupo do Seletividade A. gemmatalls e. /ncludens Hellcaverpa sp.
inseticida e H. armlgera

Inibidores Benzollurelas Medianamente Clorfluazurom. Clorfluazurom, Clorfluazurom,


da formaç~o seletivos dlflubenzuron, lufenurom, dlflubenzurom,
de qultina flufenoxurom, dlflubenzurom. teflubenzurom
lufenurom, teflubenzuron
novalurom,
teflubenzurom,
trlflumurom

Agonistas de Dlacilhldrazlnas Medianamente Metoxlfenozlda, Metoxlfenozida Metoxlfenozlda


receptores de seletivos tebufenozlda,
ecdisteroides cromafenozlda

Moduladores Dlamldas Seletivo Clantranlllprole Ciantranlllprole. Clantranlllprole.


dos receptores clorantranlllprole, clorantranlliprole clorantranllfprole
da rianodlna flubendlamlda flubendlamlda flubendlamlda

Ativadores Splnosinas Baixa Espinosade Esplnosade.


alostéricos seletividade esplnetoram
dos receptores
nicotínicos da
acetllcollna ,

Moduladores dos Plretroides e Não seletivos Cipermetrina. Beta-clpermetrina. Lambda-cfalotrlna.


canais de sódio pi retrinas beta-clpermetrina, ct permetrina, zeta-clpermetrlna
permetrlna, blfentrlna,
blfentrlna, beta-ciflutrlna,
beta-clflutrlna, deltametrina,
fenpropatrina, alfa-clpermetrlna,
1 deltametrlna, permetrlnac
l
lambda-clalotrlna, esfenvalerato,
alfa-clpermetrlna, lambda-cfalo trina,
gama-clalotrlna. zeta-clpermetrina
zeta-clpermetrf na,
esfenvalerato,
etofenproxl,
fenpropatrlna

Inibidores de Carbamatos e Nao seletivos Metomll. acef ato, Acefato, metomll. Acefato,
acetllcollnesterase organofosforados clorplrlfós, profenofós, clorplrlfós,
malationa, fenltrotlona, metomll.
1
• fenltrotiona. carbosulfano, tlodlcarbe
carbosulf ano clorplrlfós,
profenofós, tlodlcarbe
tlodlcarbe
1

1
Moduladores Avermectlna Nao seletivo ou Abamectlna Abamectlna Abamectlna,
.
1 pouco seletivo
1
1
alostérlcos de benzoato de

canais de cloro ecmamectlna
,•

mediados pelo
'
1 1lutamato
I

t
1
1
l
216 SOJA: DO J>LANTIO À COLl-lEITA

Quadro 12.1 (continuação) '


Modo de ação Grupo do Seletividade A. gemmatalis e. lncludens Hellcoverpa sp. l
Inseticida e H. armígera
Moduladores Neonlcotlnoldes Nao seletivo lmldacloprldo, lmldacloprldo
competitivos tfametoxam
de receptores
nlcotínlcos da
acetllcollna

Desacopladores Análogo Medianamente Clorfenapir


da fosforilaçao do pirazol seletivo
oxidatlva via
1
dlsrupção
do gradiente
de próton •

Bloqueadores do Semlcarbazonas Medianamente Metafllmlzona Metafllmlzona


'
canal de sódio seletivo
dependente da 1
voltagem
1

Bloqueadores do Oxadiazlna Medianamente lndoxacarbe


canal de sódio seletivo
dependente da
voltagem

A menção desses produtos não indica eficiência de controle. O Ingrediente ativo pode estar formulado em mistura com
outro ingrediente ativo.

A presença de C. includens tem levado a uma maior utilização de insetici-


1
das químicos, devido à dificuldade de controle, em consequência de sua maior t
tolerância quando comparada com a da lagarta-da-soja. Os inseticidas têm sido
utilizados de forma preventiva, seguindo o calendário de aplicações, sem levar
'
em consideração o nível de ação de controle, ou misturados a herbicidas, para
aproveitar a operação de aplicação. Frequentemente, nesta forma de aplicação
são adicionados piretroides, por serem inseticidas de baixo custo e amplo espec-
tro de ação. Essa prática é prejudicial ao complexo de inimigos naturais e pode
estimular a ressurgência de pragas como C. includens e ácaros fitófagos (Trichilo;
Wilson, 1993). A ocorrência de populações de espécies de Spodoptera e H. armigera
no início do ciclo da cultura tem levado à aplicação de inseticidas não seletivos
ao complexo de inimigos naturais. A Fig. 12.2 ilustra alta mortalidade do preda-
dor Calosoma sp. e sobrevivência de lagartas após a aplicação de piretroides, no
momento da dessecação, resultando em uma prática contraproducente. Práticas
indevidas, como a aplicação frequente de inseticidas com modos de ação seme-
lhantes, aplicações preventivas antes que as populações alcancem os níveis
de dano econômico, e até mesmo misturas impróprias para uma obtenção de
controle satisfatório ou para aproveitar a operação de aplicação, podem promo-
ver a seleção de resistência a inseticidas (Georghiou, 1983).
12 MANEJO DE PRAGAS 217

Fig. 12.2 Impacto negativo da aplicação de plretroides na dessecaçãa em Diamantina (MT): (A) alta
mortalidade da besouro predador benéfica Calosoma sp. e (B) sobrevivência de lagartas do gênero
Spodoptera opôs a aplicação
Fonte: adaptado de Peel (2001).

No início da safra 2013/14, esse uso inadequado de inseticidas foi cons-


tatado em diversas localidades da Região Sul do Brasil, na maioria das vezes
com aplicações frequentes e desnecessárias em ausência de H. armigera. Esse
problema tem sido detectado principalmente em áreas em que os agricultores
não foram orientados pelo sistema de extensão dos Estados, como o Instituto
de Desenvolvimento Rural (IDR), ou por outras instituições isentas de inte-
resse comercial.
Chrysodeixis includens apresenta histórico de desenvolvimento de resistên-
cia a inseticidas químicos nos Estados Unidos (Felland et al .• 1990; Mascarenhas;
Boethel, 2000). Os primeiros casos de resistência a piretroides foram documen-
tados após oito anos de utilização, em Louisiana (Felland et al.t 1990). No Brasil,
populações de C. includens provenientes da Bahia apresentaram suscetibili-
dade reduzida a inseticidas organofosforados, indicando a importância do
monitoramento mais criterioso da suscetibilidade de populações geográficas
dessa espécie e a necessidade da implementação racional do uso de insetici-
das (Yano; Sosa-Gómez, não publicado). Populações de H. armigerat no Brasil, já
apresentam reduzida suscetibilidade aos piretroides deltametrina e fenvare-
lato (Durigan et al., 2017).
Para evitar que ocorra a seleção de fenótipos resistentes, é necessário que
seja feito o manejo da resistência, que tem por finalidade retardar ou reverter
esse processo de seleção. O sucesso de qualquer programa de manejo da resis-
tência está relacionado a meios rápidos e eficientes para detectar e monitorar as
alterações de suscetibilidade nas populações de campo {Bush et al., 1993).
O primeiro passo para um programa de monitoramento é a obten-
ção de dados da linha básica de suscetibilidade ou linhas discriminatórias
(screening dose). As linhas discriminatórias são definidas após a exposição das
218 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

populações de insetos de campo aos inseticidas, sendo que existe a possibi-


lidade da presença de indivíduos com alelos de resistência (Tabashnik et al.,
1993). É imprescindível o desenvolvimento de técnicas de bioensaios eficientes
na detecção de populações resistentes, pois possibilita a determinação de casos
de resistência (Siegfried; Spencer; Nearman, 2000; Cook et al., 2003).
Apesar do longo histórico de exposição das populações de A. gemmataiis aos
inseticidas, até o momento não existem relatos de falhas de controle ou de resis-
tênci_a. ~o entanto, suas infestações podem atingir níveis prejudiciais e causar
perdas econômicas se os inseticidas não forem aplicados adequadamente.
Estratégias de controle alternativo, tais como inseticidas biológicos e inimigos
naturais, estão disponíveis, mas são pouco ou não utilizadas {Luttrell et al., 1998;
Moscardi, 1999), e os esforços para desenvolver variedades de soja com carac-
terísticas agronômicas desejáveis por meio do melhoramento convencional não
foram bem-sucedidos {Boethel, 1999). Entretanto, as técnicas de transformação
em soja com genes inseticidas iniciadas por Stewart et al. (1996) conduziram à
obtenção da soja Bt, que pode ser utilizada comercialmente.
Entre as últimas tecnologias aplicadas no sistema agrícola brasileiro está o
uso de plantas geneticamente modificadas (GM). Desde a implantação de cultu-
-·.,.
J..

ras transgênicas no País, observa-se que houve redução do número de aplicações


de agroquímicos (Conte et al., 2016, 2017, 2018).

Implicações da soja que expressa a toxina Cry1Ac no manejo integrado


de pragas (MIP)
Avanços na biotecnologia agrícola oferecem uma alternativa aos inseticidas
químicos para o controle de lepidópteros pragas na cultura da soja. A introdu-
ção das variedades transgênicas expressando genes cry modificados de Bacillus
thuringiensis (Bt) torna-se uma importante ferramenta para um manejo eficaz de
pragas agrícolas.
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou em
2010 a comercialização de uma nova soja GM (Intacta RR2 PRO®) contendo dois
eventos, um que expressa a proteína inseticida (tecnologia Bt) e o segundo, a
tolerância ao herbicida glifosato (CTNBio, 2010). Esse material é comercializado
desde a safra 2013/14 e tem como principais pragas-alvo as lagartas e. includens
e A. gemmatalis. o sucesso dessa nova forma de controle depende do manejo
apropriado e de programas de monitoramento da resistência, principalmente
em relação à e. includens, pois lagartas dessa espécie são de 16 a 27 vezes mais
tolerantes à proteína Cry1Ac que as lagartas de A.. gemmatalis (Yano et al., 2012;
Bernardi et al., 2012).
Para preservar os benefícios da soja Bt, uma das recomendações da CTNBio
é O uso de áreas de refúgio, caso contrário essa tecnologia pode ser perdida
12 MANEJO DE PRAGAS 219

rapidamente. Entretanto, é importante destacar que as recomendações sobre


uso de refúgio para manejo da resistência são válidas somente para as pragas-
-alvo da soja Bt, isto é, C. includens e A. gemmatalis.
Para que o refúgio seja eficiente, é necessário que outras exigências sejam
atendidas: a frequência inicial de alelos resistentes deve ser baixa; a resistência
deve ser um caráter recessivo; a dose expressa na planta Bt deve ser suficiente
para causar alta mortalidade dos indivíduos suscetíveis e heterozigotos; e, por
último, a produção de indivíduos suscetíveis nas áreas de refúgio deve estar loca-
lizada a uma distância tal que permita acasalamentos ao acaso (Sosa-Gómez;
Ornato, 2012).
As áreas de refúgio devem ser semeadas com soja não Bt, cultivadas na·
proporção de, pelo menos, 20% da área total plantada com soja Bt na propriedade
rural, na distância máxima de 800 m da lavoura que expressa a toxina (Monsanto,
2013). A semeadura com o cultivar não Bt deve ter porte e fenologia similares
aos do transgênico. No refúgio, a praga-alvo terá condições de sobrevivência e
reprodução sem ser exposta à pressão de seleção da proteína inseticida expressa
na planta Bt. O objetivo do refúgio é proporcionar condições para a emergência
e os cruzamentos dos insetos suscetíveis com os possíveis adultos sobreviven-
tes provenientes das áreas com a proteína inseticida, num esforço de pres.e rvar,
na descendência desses cruzamentos, a suscetibilidade à proteína, com a conse-
quente manutenção dos benefícios dessa for111a de controle (Bourguet; Desquilbet;
Lemarie, 2005).
Adicionalmente, deve ser feito também o monitoramento da suscetibi-
lidade nas pragas-alvo para verificar as alterações nas frequências alélicas,
antecipando medidas proativas de manejo da resistência. Por meio do monitora-
mento, é possível avaliar os resultados das estratégias do manejo, para retardar
o surgimento de insetos resistentes e garantir a eficiência das plantas Bt no
controle de insetos-praga (Almeida et al., 2011). O objetivo do monitoramento é
antecipar a detecção de insetos resistentes no campo, antes que ocorram surtos
t· e não seja possível adotar medidas de manejo eficientes. Entretanto, méto-
dos adequados devem ser empregados para que a detecção seja feita quando
os alelos de resistência ocorrem ainda a uma frequência baixa, uma vez que o
método de dose-resposta por si só não detecta alelos recessivos de resistência,
até sua frequência ser alta (Liu et al., 2010).
A soja Bt ocasionará uma grande mudança no sistema produtivo da cultura
da soja. Ela controla de forma eficiente populações de A. gemmatalis, C. includens,
Crocidosema aporema (Walsingham) (Lepidoptera: Tortricidae), Rachiplusia nu
(Guenée) e Heliothis uirescens (Fabricitts) (Lepidoptera: Noctuidae) e causa a supres-
são de H. armigera (Macrae et al., 2005; Monsanto, 2013). Entretanto, não controla
espécies do gênero Spodoptera (Sosa-Gómez; Ornato, 2012; Braga et al. 2011).
220 SOJA: DO PLANTIO A COLI-IEITA

Outro fator a ser considerado é que surtos de C. includens em soja podem


ser maiores onde há algodão cultivado em áreas próximas. Estudos realizados
nos Estados Unidos mostram um aumento na longevidade, na oviposição e na
frequência de cópulas quando fornecido néctar de flores de algodoeiro para
adultos de C. includens (Jensen; Newson; Gibbens, 1974). Situação semelhante
pode ocorrer no Brasil em áreas em que houver sobreposição de cultivo de soja e
algodão Bt, resultando em um período adicional de exposição à proteína Cry1Ac,
o que pode favorecer a seleção de fenótipos resistentes {Bernardi et al. 2012;
Moscardi et al., 2012). Nesse caso, o risco da evolução de resistência é elevado,
uma vez que proteínas semelhantes estão sendo utilizadas em plantas com
insetos-praga em comum. Assim, as estratégias de manejo de resistência apre-
sentam maior importância, pois necessitam ser eficientes no retardamento da
evolução de resistência (Bernardi et al., 2011). Novas gerações de soja Bt contendo
o gene CrylF poderão contribuir para o controle da lagarta-falsa-medideira.
Em março de 2018, a CTNbio aprovou a liberação comercial da soja que expressa
os genes Cry lA.105 + Cry2Ab2 e CrylAc, a qual poderá contribuir com o manejo
de outras espécies de desfolhadores.

12.1.2 Principais insetos sugadores de soja


Os percevejos são os principais responsáveis pela redução no rendimento e
na qualidade das sementes de soja, e, dentro desse grupo, Euschistus heros,
conhecido como percevejo-marrom, tornou-se responsável pelos principais
danos e aplicações de inseticidas na cultura (Husch, 2016). O ataque de perce-
vejos gera sérias consequências, como sementes enrugadas, chochas, escuras
e menores, não amadurecimento uniforme das plantas e redução significativa
do rendimento, da qualidade e do potencial germinativo da planta {Corrêa-
-Ferreira; Kryzanowski; Minami, 2009). E. heros é de ampla distribuição,
causando problemas nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São
Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul {Panizzi, 2015), podendo também provocar
danos em culturas de milho e algodão após a colheita de soja (Bueno et al.,
2012). Durante a safra, podem ocorrer até três a quatro gerações do perce-
vejo-marrom, que, no período de colheita da soja, deslocam-se para outros
talhões ainda a serem colhidos. Nos Estados produtores de algodão, Mato
Grosso do Sul e Mato Grosso, essa movimentação acontece para o algodão
(Barros; Degrande, 2012). Nos Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul, a
quarta geração ocorre em outras plantas hospedeiras e posteriormente esses
insetos entram em oligopausa, permanecendo escondidos na palhada da
cultura anterior ou nas suas proximidades, até a safra seguinte (Panizzi; Niva,
1994). As populações de E. heros nos últimos anos têm sido excessivamente
elevadas, fato que tem dificultado seu controle.
MANEJO DE PRAGAS 221
12

A ocorrência de elevadas densidades populacionais dos percevejos, a resis-


tência comprovada de populações da praga a alguns inseticidas, o reduzido
número de ingredientes ativos disponíveis, falhas de controle por tecnologia
de aplicação inadequada e desequilíbrio ambiental são fatores que potenciali-
zam o ataque desses insetos, causando preocupações e sérios danos aos grãos e
às sementes de soja {Corrêa-Ferreira; Kryzanowski; Minami, 2009; Sosa-Gómez;
Silva, 2010).
Além dos percevejos, outro inseto sugador que pode danificar a cultura
da soja é a mosca-branca, Bemisia tabaci (Gennadius) {Hemiptera: Aleyrodidae),
ocasionando problemas a campo e, com muita frequência, em casas de vegeta-
ção. Na cultura da soja, de maneira geral, o dano mais importante é causado pela
abundante produção de honey dew, sobre o qual se desenvolve o fungo Çapnodium
spp., deixando as plantas cobertas de micélio preto e resultando, em conse-
quência, na "queima" das plantas pela radiação solar (Fig. 12.3). Essa espécie
apresenta diversos biótipos e sua identificação é de grande importância por ser
indicativa de sua agressividade e suscetibilidade a inseticidas. Amostras coleta-
das no interior de São Paulo, entre 2007 e 2008, indicavam a presença do biótipo
B {Rocha et al., 2011), entretanto a presença do biótipo Q ou Mediterrâneo {MED)
foi relatada, mais recentemente, no Rio Grande do Sul (Barbosa et al., 2015). Este
biótipo é conhecido por sua propensão ~ desenvolver resistência a reguladores
de crescimento e inseticidas neonicotinoides (Horowitz et al., 2005).

Manejo de insetos sugadores


As vistorias para avaliar a ocorrência dos
percevejos devem ser executadas desde
o início da formação das vagens (R3) até
a maturação fisiológica, pois apenas a
avaliação visual não representa a popu-
lação presente na lavoura. No período
de colonização da soja pelos percevejos,
recomenda-se a realização das amos-
tragens, com maior intensidade, nas Fig. 12.3 Presença de fumagina em cultura de soja
bordaduras da lavoura, que em geral são atacada par mosca-branca
• • • •
os locais em que os perceveJos 1n1c1am
seu ataque {Corrêa-Ferreira, 2012).
o nível de ação a partir do qual o controle químico dos percevejos deve
ser realizado é de dois percevejos por metro linear de soja (ninfas a partir do
terceiro instar e adultos). No caso de lavouras de sementes, esse nível deve ser
de um percevejo por metro de linha (Panizzi; Bueno; Silva, 2912). Embora os
percevejos possam estar presentes na cultura da soja em diferentes fases do

.
222 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

desenvolvimento da planta, o período de maior sensibilidade da soja ao ataque


desses insetos ocorre entre o começo da frutificação {R3) e o ponto de máxima
acumulação de matéria seca no grão (R7). Dentro desse intervalo, os estágios
mais críticos e vulneráveis às perdas encontram-se a partir de R4 (final do desen-
volvimento das vagens) até RS.5 (final do enchimento de grãos) (Panizzi et al.,
1979; Galileo; Heinrichs, 1979; Corrêa-Ferreira; Panizzi, 1999), embora popula-
ções elevadas dessa praga possam reduzir a qualidade da semente em ataques
durante R7 (Musser et al., 2011). Em função do uso de cultivares de soja perten-
centes a diferentes grupos de maturação e datas de semeadura antecipada, as
primeiras lavouras colhidas são fontes de indivíduos que se dispersam para as
lavouras vizinhas mais tardias que ainda estão desenvolvendo vagens e grãos.
Sendo assim, recomenda-se atenção, pois a intensa e rápida dispersão dos inse-
tos pode causar danos irreversíveis à soja (Sosa-Gómez; Ornato, 2012).
As principais causas dos problemas no manejo de percevejos são as apli-
cações preventivas de inseticida junto com o herbicida pós-emergente ou
com fungicidas ou, ao final do ciclo, com dessecantes. Essas práticas, bastante
comuns, visando à economia nas operações, aliadas às aplicações frequentes
de produtos de amplo espectro de ação, sobretudo na fase inicial do desen-
volvimento da soja, e ao não uso das amostragens de pragas, têm levado ao
desequilíbrio nas lavouras de soja, acarretando sérios problemas, como a elimi-
nação do complexo de inimigos naturais, o maior custo de produção e a poluição
ambiental (Corrêa-Ferreira et al., 2010).
Devido ao uso excessivo de inseticidas para o manejo de percevejos e à utili-
zação de produtos que estão há muito tempo no mercado, o seu controle tem sido
muitas vezes ineficaz {Panizzi, 2006). Desde o início da década de 1990, falhas no
controle de E. heros têm sido observadas, atribuindo-se a ineficiência à presença
de indivíduos resistentes a endosulfam e organofosforados (Sosa-Gómez; Corso;
Morales, 2001; Sosa-Gómez; Silva, 2010), problema que persiste até o presente.
Além disso, há o risco de ampliar esse problema para outros grupos de inseti-
cidas, como as misturas de neonicotinoides e piretroides (Husch; Sosa-Gómez,
2013). Atualmente, poucos são os produtos registrados no Brasil para o controle
de percevejos. Em 2004, foram recomendadas as primeiras misturas de neonico-
tinoides (imidacloprido) e piretroides (beta-ciflutrina), e, no ano seguinte, uma
nova mistura de tiametoxam mais larnbda-cialotrina foi recomendada para
essa finalidade (Sosa-Gómez; Silva, 2010). Por falta de alternativas, essas mistu-
ras e os produtos à base de acefato são atualmente os inseticidas mais usados no
controle de percevejos, aumentando o risco de seleção de populações resisten-
tes, cada vez mais frequentes. Portanto, desde aquela época o controle quín1ico
de percevejos encontra-se em situação de difícil solução, por não existirem


1

12 MANEJO DE PRAGAS 223

alternativas de produtos eficientes e seletivos. Esse fato é agravado pelas limita-


ções no uso de neonicotinoides em diversas culturas.
1
'
1
Os problemas de resistência a inseticidas são exacerbados por falta de diag-
nóstico e pela adoção de medidas que a intensificam. Ante a falha de controle,
1
as medidas adotadas são elevar a dose do produto, aplicá-lo repetidamente ou
substituí-lo por outro com igual modo de ação, aumentando a pressão de seleção,
o que resulta em indivíduos ainda mais resistentes. Indiretamente o fenômeno
de resistência tem como consequências a ineficiência de controle, a contamina-
ção ambiental, as perdas por amassamento da cultura pela entrada repetida de
1 máquinas pulverizadoras, a mortalidade elevada de organismos benéficos e a
.
1

l elevação nos custos de controle da praga.


Diversas práticas favorecem a seleção de biótipos resistentes, e, além das
1
1
1
mencionadas anteriormente, podem ser adicionadas: a adoção de recomen-
1
1 dações de profissionais comprometidos com a venda de agrotóxicos; a compra
f
1
antecipada de produtos com descontos; a carência de técnicos treinados na
1

1
1

identificação de pragas; a insegurança para decidir o nível de ação; e a falta de


programas de controle biológico eficientes e de baixo custo. As compras antecipa-
das com descontos tornam o produto facilmente disponível, levando a aplicações
desnecessárias, as quais podem ser mais prejudiciais que a ausência de aplicação.
Entre os insetos sugadores, as moscas-brancas também apresentam dificul-
1,

dade de controle. Devido à sua elevada capacidade reprodutiva (100 a 300 ovos
l
r
por fêmea), suas populações podem ser muito elevadas, podendo alcançar 200
a 250 ninfas por folíolo. Uma dificuldade adicional é a presença de populações
com elevadas taxas de resistência (l00x a 1.000x) em diversas regiões do Brasil,
para inseticidas como lambda-cialotrina, chlorantraniliprole, imidacloprido e
cartap (Dângelo et al., 2018). Portanto, para seu manejo, o controle deve ser feito
'
1 no momento oportuno para evitar que suas densidades alcancem níveis difíceis
lr
de serem manejados. Quintela E. (Embrapa Arroz e Feijão, comunicação pessoal)
I
'

1 recomenda realizar o controle quando são encontradas dez ninfas por folíolo
i

t
e tomar medidas preventivas como eliminar ervas daninhas hospedeiras de
l mosca-branca e suas viroses, respeitar o vazio sanitário e, nas áreas-problemas,
)
não fazer semeaduras sequenciais de culturas suscetíveis.
1
1
i
, o diagnóstico da resistência é de grande relevância, pois, na presença de
1

1
1


populações resistentes, além de escolher produtos de maior eficiência, deve
1

'i
'1 ser considerada a dose correta e o modo de ação diferente ao(s) produto(s) já
utilizado(s). Sempre deve ser realizado um registro do histórico de aplicações.
1
' produtos e doses utilizadas, frequência de aplicação, pragas presentes, densi-
1 dade da praga e eficiência de controle. Todas essas informações orientam e
• 1
1
complementam o diagnóstico, assim como as medidas a seren1 adotadas no

1nanejo da resistência .
224 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

Resistência da soja no manejo de percevejos


A resistência de plantas a insetos caracteriza-se pela complementariedade
harmônica com outras formas de controle. Estudos sobre resistência de plan-
tas a percevejos produziram linhagens e variedades com antibiose {Silva et al.,
2013), não preferência (Souza et al., 2013} e/ou características de escape, como
período de enchimento curto de vagens, rejeição de jovens vagens danifica-
das e substituição por novas vagens, senescência normal das folhas, elevado
número de sementes e resistência ao Eremothecium coryli (Rossetto et al., 1995).
Essas características estão presentes em variedades conhecidas como IAC-100 e
IAC-24 (Silva et al., 2013).
No entanto, a maioria das variedades resistentes obtidas foi de uso comercial
limitado devido à falta de um número de características agronômicas deseja-
das pelos agricultores (alto rendimento, estabilidade de rendimento, resistência
a doenças, resistência a nematoides, resistência a lepidópteros). A obtenção de
variedades resistentes leva tempo, principalmente por causa da baixa herdabili-
dade conjunta de suas características de resistência e componentes de produção.
Além disso, como a herança das características de resistência das plantas é
poligênica, vários ciclos de seleção são necessários para obter as características
agronômicas desejadas. Recentemente, a Embrapa Soja obteve melhores genóti-
pos de soja, como o BRS 391 não geneticamente modificado, que tolera densidades
mais elevadas de praga (quatro percevejos por metro) do que as variedades atual-
mente cultivadas, sem perda de produtividade ou declínio da qualidade das
sementes (Corrêa-Ferreira et al., 2016; Hoffmann-Campo et al., 2018). Entre as
linhagens geneticamente modificadas, há genótipos resistentes a percevejos com
tolerância ao glifosato, BRRI13-1533 e BRRO13-1462, e com expressão de CrylAc ao
controle de lepidópteros, BRBlS-232859 e BRB14-210725 {Arias et al., 2018}. Essas
características proporcionam maior flexibilidade no momento de adotar medidas
de controle, aspecto importante para o manejo em grandes áreas, possibilitando
também a redução do número de aplicações de inseticidas.

12.1.3 Pragas de solo e manejo


Insetos que permanecem durante a maior parte de seu ciclo de vida no solo,
via de regra, são de difícil detecção e quantificação, prejudicando seu manejo
!
tanto por aplicação de inseticidas químicos quanto por controle biológico. Entre
eles, destacam-se os percevejos-da-raiz (Hemiptera~ Cydnidae), as cochonilhas-
'
1

-das-raízes e as larvas de besouros (Coleoptera: Scarabaeidae: Melolonthinae),


popularmente conhecidas como corós, todos pragas que ocasionam danos às
raízes de soja.
o coró-da-soja, Phyllophaga cuyabana (Maser, 1918) (Coleoptera: Scarabaeidae).
1

é uma espécie univoltina, isto é, com uma única geração por ano, cuja fase larval, .\
l
1
12 MANEJO DE PRAGAS 22 5

de aproximadamente 250 dias (Oliveira et al., 2004), é responsável pelos danos à


cultura da soja. Devido ao longo período de desenvolvimento, essas pragas podem
ocorrer na cultura da soja desde a plântula até a maturação dos grãos, mas o
período crítico acontece nos primeiros 30 dias após sua emergência. As plantas
1

1
atacadas apresentam inicialmente desenvolvimento retardado, progredindo para
o amarelecimento e a murcha das folhas e evoluindo para a morte das plantas.
1
1
t
1
Outro besouro comum, o tamanduá-da-soja, Sternechus subsignatus
1
(Boheman, 1836) (Coleoptera: Curculionidae), é capaz de reduzir considera-
1

! velmente
,
o estande, afetando consequentemente a produtividade da lavoura.
( E encontrado nas regiões de soja dos Estados do Rio Grande do Sul e do Paraná,

do Oeste da Bahia e do Sul do Maranhão, e essas populações do Nordeste são


'
1
nativas desses locais (Sosa-Gómez et al., 2008). As plantas são atacadas na fase
inicial do desenvolvimento, durante o período crítico. Os adultos têm como
hábito realizar a raspagem em volta do caule, desfiando os tecidos. As fêmeas
realizam oviposição nesses tecidos, levando à formação de galhas durante o
desenvolvimento das larvas (Hoffmann-Campo et al., 2012). O controle pode
ser feito por meio de tratamento de sementes ou através da aplicação de inse-

1
1
1
ticidas granulados no sulco de semeadura, com eficiências variáveis para
1

1 inseticidas carbamatos, pirazóis e organofosforados. Em áreas com histórico


1
1 de ataque, pode ser aplicada a rotação de culturas com plantas não hospedeiras
1
1

1
{Hoffmann-Campo et al., 2012}.

1
1
Da mesma maneira, pragas como os percevejos-castanhos, Scaptocoris
'
'
1 castanea Perty, S. carualhoi Becker e S. buckupi Becker (Hemiptera: Cydnidae),
'\ apresentam aspectos comportamentais que tornam difícil o seu controle
I'
1 (Fernandes et al., 2004). Os percevejos-castanhos têm a capacidade de deslo-
car-se no perfil do solo a profundidades inatingíveis por práticas culturais ou
1
1
tratamento com inseticidas (Oliveira; Malaguido, 2004). Ataques dessas pragas
na cultura da soja têm sido relatados no interior dos Estados do Paraná (Cente-
nário do Sul, Bela Vista do Paraíso, Cafeara, Jaguapitã, Iguaraçú), de São Paulo
(Mirante do Paranapanema, Taciba, Itaberá), de Goiás (Morrinhas) e de Mato
Grosso (Campo Verde, Alto Graças, Sapezal, Lucas de Rio Verde, Primavera do
Leste). Essas espécies podem causar danos pela retirada de seiva das raízes, e
outro fator importante é que essas pragas são suspeitas de injetar saliva tóxica,
levando ao enfraquecimento e até à morte das plantas (Fernandes et al., 2004;
Oliveira et al., 2012). As principais limitações para o controle dessas espécies
são as dificuldades para sua amostragem e a eficiência de controle muito variá-
vel, seja com pirazóis, organofosforados, carbamatos ou biológicos (nematoides
Steirnematidae e fungos entomopatogênicos .Metarhizium anisopliae).
Para O manejo de pragas de solo, o planejamento e a escolha dos métodos de
controle devem iniciar nas safras anteriores, mapeando as áreas com ocorrência
226 SOJA: DO PLAN1' 10 À COLI-IEJTA

de sintomas e danos. Deve-se observar manchas com problemas de fertilidade


e compactação, realizar o diagnóstico e adotar as medidas de controle espe-
cíficas para cada caso, dando preferência por cultivares com desenvolvimento
radicular rápido, assim como considerando a rotação de culturas com plantas
tolerantes ou resistentes (Oliveira et al., 2004, 2012).

12.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS


A ocorrência de novas pragas e a incompatibilidade entre as medidas fitossa-
nitárias adotadas têm se tornado um desafio, uma vez que demanda maiores
conhecimentos das interações e suas consequências.
É necessária a avaliação do impacto real de fungicidas, herbicidas e inse-
ticidas e suas formulações sobre os inimigos naturais mais importantes nas
culturas componentes do sistema da soja. Da mesma maneira, é premente a
descoberta de agrotóxicos seletivos que preservem inimigos naturais chaves,
fungos entomopatogênicos, parasitoides e predadores mais abundantes, assim
como insetos polinizadores.
A ocorrência de casos de resistência a inseticidas pode ser agravada pelo ,,í
1
uso desordenado de produtos, se não for levado em consideração o modo de •
1
'
ação no momento da escolha do produto e os agrotóxicos aplicados, quando
estritamente necessários (Quadro 12.1). A decisão do momento de controle deve 1

ser tomada considerando as informações obtidas por meio do monitoramento.


'l
1
Os problemas de resistência a inseticidas podem ser exacerbados se o diagnós-
tico não é feito adequadamente. Espécies de importância econômica merecem
estudos sobre a variabilidade de sua suscetibilidade aos inseticidas, caracteri-
zando sua resposta nas diferentes regiões. Essa caracterização permitirá definir
os inseticidas com maiores probabilidades de controle.
Inseticidas e suas doses devem ser avaliados em rede para verificar a distri-
buição regional da eficiência dos produtos. Ao estudar o controle com agentes ~
biológicos, deve-se seguir premissas pragmáticas de eficácia e relações custo-
-benefício, envolvendo custos de suas criações massais, constância na eficiência
de controle e definições acuradas das densidades de liberação efetivas.
Entre as principais dificuldades para o controle de pragas de solo na cultura
da soja encontram-se a aplicação das técnicas de amostragem, que requerem 1
1

a escavação de trincheiras, o peneiramento do solo e a identificação dos inse-


tos. comparativamente, a utilização do pano de amostragem para a coleta e a
quantificação de lagartas é muito simples e rápida, entretanto pouco frequente.
Portanto, já é esperado que a amostragem de insetos do solo não seja utilizada.
Apesar de o MIP ser um programa desejável, com vantagens econômicas
e ambientais, sua adoção ainda é reduzida. Frequentemente, há demanda por
con11 ecer somente qual é o agrotóxico que controla uma detern1inada praga,

l
12 MANEJO DE PRAGAS 227

sem levar em consideração aspectos de sua bioecologia e as consequências em


longo prazo. As escolhas dos agricultores podem ser limitadas, e um exem-
plo atual é a visão empresarial dentro de algumas cooperativas, que visam ao
lucro imediato, e não à sustentabilidade, com a venda de pacotes antecipados à
safra agrícola com descontos, deixando os agricultores sem escolha. Portanto,
a compra do inseticida é realizada sem saber quais serão os problemas com
pragas na safra vindoura.
No mercado agrícola, existe uma grande diversidade de inseticidas disponí-
veis para o controle de pragas da soja, porém muitos deles são produtos antigos
e de baixa eficiência e segurança, ficando o agricultor suscetível à pressão
comercial exercida pelo mercado, que nem sempre atende às reais necessidades
técnicas do manejo de pragas. Um exemplo desse fato é o controle de percevejos
na cultura da soja com o uso de inseticidas muitas vezes ineficazes, em decor-
rência de problemas de resistência e densidades elevadas.
Os agricultores, de maneira geral, não têm acesso a informação adequada e,
em consequência, acreditam pouco nas vantagens do MIP. No início da implan-
tação do MIP-Soja, esse programa fazia parte da rotina de manejo de pragas
de boa parte dos agricultores. Hoje, essa situação se modificou, e, embora não
existam dados oficiais, levantamentos realizados pelas agências de extensão
indicam que o uso em excesso de inseticidas aumentou.
Adicionalmente, para dar ·continuidade e implementar ações de MIP, é
fundamental o incentivo de programas governamentais, como projetos de apoio
às agências de extensão rural. Para atender à escala atual da produção de soja,
precisam ser ampliados o corpo técnico e a infraestrutura das instituições de
extensão rural oficial, como o IDR, bem como de cooperativas, sindicatos rurais,
associações de agrônomos e programas de extensão nas universidades.

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' MANEJO DE DOENÇAS

Éder Matsuo
Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Uniuersidade Federal de Viçosa - Campus Rio
Paranaíba. E-mail: edermatsuo@ufu.br

Eueraldo Antônio Lopes


Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Universidade Federal de Viçosa - Campus Rio
Paranaíba. E-mail: eueraldolopes@ufu.br

Tuneo Sediyama
Engenheiro-Agrônomo, M.S.., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa. E-maíl: tuneo@ufu.br

A soja {Glycine max (L.) Merr.) é uma das mais importantes culturas do agronegó-
cio brasileiro. Na safra 2018/2019, a produção nacional atingiu patamar recorde
de 113,823 milhões de toneladas de grãos (Conab, 2019), tornando cada vez mais
realista a projeção de que o Brasil se tornará o maior produtor mundial dessa
leguminosa nos próximos anos (Sediyama; Teixeira; Barros, 2009).
o aumento da produção de soja está relacionado com a redução de fatores
limitantes, por exemplo, a ocorrência de doenças. Estima-se que 15% a 20% das
perdas ocorridas na cultura sejam devidas ao ataque de fitopatógenos (Almeida
et al., 2005; Henning et al., 2009; Embrapa, 2013). No Brasil, 47 doenças já foram
relatadas na cultura, sendo 33 causadas por fungos, seis por nematoides, quatro
por vírus e quatro por bactérias (Embrapa, 2013). No entanto, tais números 1

tendem a aumentar, em virtude da expansão da soja para novas áreas, da prefe- 1


l
rência pela monocultura em algumas regiões e do constante risco de introdução 1
, . 1!
de patógenos quarentenarias.
Atualmente, as doenças mais comuns na cultura da soja são ferrugem-
-asiática, oídio, mofo-branco, doenças de final de ciclo ·( mancha-púrpura e
mancha-parda), podridão de carvão, podridão de Phytophthora, mancha-alvo,
antracnose, mela, cancro da haste e manch~ olho de rã, além das nematoses
(Henning, 2009; Matsuo et al., 2012; Embrapa, 2013).
Algumas doenças ocorrem apenas em determinaq.os estádios de desenvolvi-
mento da cultura, por exemplo, o crestamento de Cercospora (ot1 mancha-púrpura)
e a septoriose, consideradas doenças de final de ciclo. Por· sua vez, outras
234 SOJA: DO PLANTIO A COLHEITA

enfermidades podem acontecer durante praticamente todo o ciclo de cultivo,


a exemplo da ferrugem-asiática (Fig. 13.1). p·o r isso, a caracterização dos está-
dios de desenvolvimento das plantas é importante para estabelecer o plano de
manejo adequado da lavoura. Detalhes sobre os estádios de desenvolvimento da
soja podem ser encontrados no Cap. 2.

' R1/R2 R3 R4 RS.1 RS.3

Ferrugem 1

Crestamento de Cercospora 1
e septoriose (DFCs) 1
1

Antracnose
Mancha alvo
Míldio
Oídio
Mofo branco
Podridão de Macrophomina
Podridão de Ph}~ophthora

Fig. 13.1 Algumas das principais doenças da cultura da soja nas últimas safras, na Região Centro-Sul
de Mato Grosso do Sul, de acordo com as fases de desenvolvimento da planta, de maior possibilidade
de ocorrência
Fonte: Barros (2011).

O manejo integrado de doenças é um dos pilares da agricultura moderna.


No entanto, para que seja eficiente, os técnicos devem ter conhecimentos sobre
a etiologia e a epidemiologia das principais doenças e sobre as tecnologias
disponíveis para o controle, além dos aspectos ambientais e sociais (Henning,
2009; Mizubuti; Maffia, 2009; Barros, 2011; Bergamin Filho; Amorim, 2011;
Rezende et al., 2011; Embrapa, 2013). Com base nessas premissas, pretende-se,
neste capítulo, relatar os aspectos mais relevantes das principais doenças da
soja no Brasil e a importância da biotecnologia no manejo dessas doenças.

13.1 PRINCIPAIS DOENÇAS DA CULTURA DA SOJA


13.1.1 Ferrugem-asiática
A primeira epidemia de ferrugem-asiática da soja (FAS), causada pelo fungo
Phakopsora pachyrhizi, ocorreu no Brasil na safra 2001/2002, nos Estados do
Para.ná e do Rio Grande do Sul (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009). Nos anos
seguintes, a doença foi disseminada para todos os Estados produtores do País.
causando elevadas perdas aos sojicultores. Estima-se que os custos envolvendo
13 MANEJO DE DOENÇAS 235

o controle da ferrugem-asiática tenham ultrapassado US$ 16 bilhões até a safra


2010/2011 (Lima et al., 2012).
Os sintomas da doença podem ser observados em qualquer estádio de
desenvolvimento da cultura, embora sejam mais frequentes a partir do flores-
cimento. Inicialmente, são notadas pequenas lesões nas folhas mais velhas,
de coloração esverdeada a cinza-esverdeada, na face abaxial do folíolo, com
correspondente protuberância (urédia). A medida que prossegue a esporulação,
o tecido do folíolo ao redor das primeiras urédias adquire coloração castanho-
-clara (lesão do tipo TAN) a castanho-avermelhada (lesão do tipo RB), formando
lesões que são facilmente visíveis em ambas as faces do folíolo (Fig. 13.2A,B).
As lesões do tipo TAN possuem abundante esporulação e diminutas áreas necró-
ticas e predominam em plantas suscetíveis. Por sua vez, as lesões do tipo RB
possuem poucos esporos e extensas áreas necróticas e são comuns em plantas
resistentes. Em casos mais severos, as plantas apresentam aspecto semelhante
ao das lavouras dessecadas com herbicida (Fig. 13.2C), abortamento de flores e
de vagens e deficiência na granação (Almeida et ai., 2005; Embrapa, 2013).

Fig. 13.2 Sintomas da ferrugem-asiática em soja: (A) lesão da tipo TAN, (B) lesão do tipo RB e
(C) plantas altamente infectados com Phal<opsora pachyrhizi, com aspecto semelhante ao de
planta submetida à aplicação de herbicida dessecante
Fonte: Éder Matsuo.

Para facilitar a visualização das lesões, deve-se observar uma folha suspeita
pela face adaxial contra um fundo claro, por exemplo, o céu. Uma vez localizado
0 ponto escuro suspeito no limbo foliar, deve-se notar a presença de urédias na
face abaxial do folíolo com uma lupa de l0x a 30x de aumento ou sob microscó-
pio estereoscópico (Embrapa, 2013).
As condições que favorecem a doença são temperaturas entre 15 ºC e 22 ºC.
umidade relativa de 75% a 80% e 6-12 h de molhamente foliar. A dispersão do
patógeno ocorre sobretudo por meio de correntes de ventos, e sua sobrevivên-
cia depende essencialmente do parasitismo em plantas de soja, volt1ntárias ou
cultivadas (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009).
236 SOJA: DO PLANTIO À COLJ-IEITA

A aplicação de fungicidas te1n sido um dos métodos mais utilizados no


controle da doença. principalmente incluindo produtos dos grupos dos triazóis,
estrobirulinas e benzimidazóis. No entanto, o uso indiscriminado de fungicidas,
associado à monocultura, pode reduzir a eficiência do controle, causar impactos
ambientais e ainda exercer pressão de seleção sobre o patógeno {Godoy; Canteri,
2004; Yorinori; Nunes Junior; Lazzarotto, 2004). Por isso, tem-se recomendado
a utilização de várias estratégias para limitar o desenvolvimento da doença
(Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009; Henning et al., 2009). Cultivares resistentes
estão disponíveis para os produtores; no entanto, recomenda-se a aplicação de
fungicida pelo menos uma vez durante o ciclo, com o objetivo de evitar que
a resistência seja suplantada, em razão da elevada variabilidade genética do
patógeno (Zambolim, 2006; Henning et al., 2009). Além disso, deve-se realizar
semeadura no início da época recomendada, utilizando preferencialmente culti-
vares precoces, eliminar plantas voluntárias (guaxas ou tigueras) e respeitar o
vazio sanitário (Henning et al., 2009; Embrapa, 2013).

13.1.2 Oídio
O oídio, causado pelo fungo Microsphaera diffusa (sin. = Erysiphe diffusa), foi respon-
sável por perdas estimadas entre 30% e 40% em todo o Brasil na safra 1996/1997
(Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009; Embrapa, 2013). O fungo é capaz de se desen-
volver em toda a parte aérea da soja; por isso, é possível observar sintomas nas
hastes, nos pecíolos, nas folhas e nas vagens. Plantas atacadas são cobertas por
uma camada pulverulenta branca de micélio e conídios, que é mais facilmente
notada em ambas as faces dos folíolos,
reduzindo a eficiência fotossintética da
soja {Fig. 13.3). Em condições severas,
sintomas de crestamento foliar, simila-
res aos ocasionados por Cercospora kikuchii
(Almeida et al., 2005), e desfolha prema-
tura podem ser observados no campo
(Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009).
O oídio é favorecido por temperatu-
ras em torno de 20 ºC e umidade relativa
de 50% a 90%. A dispersão dos esporos
do fungo ocorre pela ação de ventos, e
a sobrevivência do patógeno acontece
em plantas de soja (Dhingra; Mendonça;
..
Fig. 13.3 Folíolo de soja altamente
Macedo, 2009).
Infectado com Mlcrosphaera dlffusa O método mais eficiente de controle
Fonte: Éder Matsuo. do oídio é o uso de cultivares resistentes. 1 '
\

'•
13 MANEJO DE DOENÇAS 237

Aliado a isso, o agricultor deve evitar semeadura tardia e aplicar fungicidas


quando a severidade atingir 40% a 50% da área foliar das plantas (Dhingra;
Mendonça; Macedo, 2009; Embrapa, 2013).

13.1.3 Mofo-branco ou podridão-branca da haste


O mofo-branco ou podridão-branca da haste, causado pelo fungo Scleroti-
nia sc1erotiorum, é uma das doenças mais antigas da soja e ocorre em diversas
regiões produtoras do Brasil (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009; Embrapa, 2013).
Vários fatores favoreceram a disseminação e o aumento da doença no País, prin-
cipalmente no Cerrado, por exemplo: a) uso de sementes contaminadas com
escleródios do fungo (Fig. 13.4A); b) intensificação da semeadura direta sem
rotação de culturas; c) introdução de culturas altamente suscetíveis em áreas
infestadas, a exemplo de nabo-forrageiro, crotalária, girassol, algodão e feijão;
e d) cultivo de soja irrigada por aspersão (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009;
Siqueri; Yorinori; Yuyama, 2011).
O fungo infecta a planta em qualquer estádio de desenvolvimento. No entanto,
o período mais vulnerável compreende o estádio da floração plena até o início
da formação das vagens {Fig. 13.1) (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009; Embrapa,
2013). Os sintomas iniciam-se a partir das inflorescências e das axilas das folhas
e dos ramos laterais, com o aparecimento de manchas encharcadas (anasarca).
Em seguida, tais manchas adquirem coloração castanho-clara, resultando no
aparecimento de micélio branco e denso (Fig. 13.4B,C) (Siqueri; Yorinori; Yuyama,
2011). Em poucos dias, o micélio transforma-se em escleródios, estruturas negras
e rígidas capazes de aumentar a sobrevivência do fungo sob condições desfavorá-
veis. As folhas, quando infectadas, apresentam sintomas iniciais com coloração
verde-acinzentada passando para marrom (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009).

Fig. 13.4 Mofo-branco em soja: (A) sementes contaminadas com escleródios de Sclerotinia
sclerotiorum e (B e C) micélio branco e denso do funga sobre as hastes
Fonte: (A) A. A. Henning (Henning et ai., 2009), (8) J. T. Vorinori (Siquerl; Yorinori; Yuyama, 2011) e
(C) Éder Matsuo.

o fungo é favorecido por alta umidade relativa e temperaturas entre 10 ºC e 1

21 ºC. A dispersão ocorre por meio de sementes contan1inadas (longa distância)


.'
e ascósporos ejetados a partir de apotécios formados nos escleródios (curta
238 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

distância). A sobrevivência de s. sclerotiorum acontece principalmente na forma


de escleródios no solo e em restos de cultura (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009).
Para evitar a introdução do fungo na área, recomenda-se utilizar semen-
tes livres do patógeno e tratá-las com fungicidas (tiabendazol, carbendazin ou
tiofanato metílico), além de promover a limpeza de equipamentos provenien-
tes de áreas infestadas com o patógeno (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009;
Henning et al., 2009; Siqueri; Yorinori; Yuyama, 2011; Embrapa, 2013). Em áreas
onde a doença já ocorre, o agricultor deve eliminar restos culturais infectados,
fazer a rotação/sucessão de soja com espécies resistentes/não hospedeiras do
fungo (milho, aveia-branca ou trigo, por exemplo), aumentar o espaçamento
entre linhas (reduzindo a população ao mínimo recomendado) e adequar
a irrigação, de modo a diminuir a condição de umidade favorável ao fungo
(Henning et al., 2009; Siqueri; Yorinori; Yuyama, 2011).

13.1.4 Podridão de carvão


A podridão de carvão ou podridão negra da raiz é causada pelo fungo Macrophomina
phaseolina. A doença ocorre principalmente durante o verão e sob condições de
estresse hídrico das plantas (veranicos), podendo resultar em perdas maiores que
70% quando a infecção acontecer nos estádios iniciais de desenvolvimento da
cultura (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009; Embrapa, 2013). Solos compactados
ou rasos, que dificultam a penetração das raízes, são mais conducivos à doença.
O fungo é habitante de solo e pode infectar a soja em todos os estádios.
Radículas infectadas apresentam tecidos com escurecimento. Lesões no colo da
planta são de coloração marrom-avermelhada e superficial, ao contrário daque-
las profundas provocadas por Rhizoctonia solani. Após o florescimento, as plantas
infectadas exibem raízes de cor cinza (Fig. 13.5), cuja epiderme é facilmente
destacada, revelando a presença de inúmeros microescleródios negros, dando
aspecto de carvão às raízes (Almeida et al., 2010). O aparecimento dos sintomas
(murcha das plantas e/ou escurecimento do lenho da raiz) é mais comum após
o estádio inicial de formação dos grãos (RS.1) (Siqueri; Yorinori; Yuyama, 2011).

Fig. 13.5 Podridão de carvão em raízes


de soja
Fonte: Paulo Afonso Ferreira.
1
1

l
{

13 MANEJO DE DOENÇAS 239


1
O manejo integrado da doença envolve o preparo adequado do solo (elimi-
{
nação de camadas compactadas e correção da acidez no perfil de 25 cm a 30 cm
de profundidade) e a adubação equilibrada de fósforo e potássio, que auxiliam
1
f no desenvolvimento e na resistência das plantas e na manutenção da cobertura
vegetal do solo (Siqueri; Yorinori; Yuyama, 2011; Embrapa, 2013).

13.1.s Podridão-radicular de Phytophthora


A podridão-radicular de Phytophthora, causada por Phytophthora sojae, foi consta-
(
tada pela primeira vez no Brasil na safra 1994/1995, em Passo Fundo {RS). É uma
1

das doenças mais destrutivas da soja, podendo causar reduções de rendimento


t
de grãos de até 100% em genótipos altamente suscetíveis {Almeida et al., 2005;
Embrapa, 2013).
O patógeno pode infectar a planta em qualquer fase de desenvolvimento
(Embrapa, 2013). · No entanto, plantas jovens são mais sensíveis e morrem
1
í rapidamente (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009; Almeida et al., 2010).
Os sintomas iniciais da doença podem envolver o apodrecimento de sementes
! ou a flacidez na radícula e, em seguida, nos cotilédones. Os tecidos afetados
1
'
adquirem coloração amarronzada (Fig. 13.6A). No campo, reboleiras de plan-
J

1
r
tas infectadas podem ser observadas em locais onde há acúmulo de umidade
no solo {Fig. 13.6B). Fungos saprófitas, principalmente do gênero Fusarium,
1
podem recobrir a haste apodrecida por P. sojae (Fig. 13.6C), o que pode difi-
1
l( cultar a identificação do agente causal primário da doença (Costamilan;
Soares; Bertagnolli, 2010). A raiz principal adquire coloração marrom-escura,
enquanto as laterais ficam quase que completamente destruídas (Dhingra;
• Mendonça; Macedo, 2009) .
j
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Fig. 13.6 Podridão-radicular causada por Phytophthora sojae: (A) plântulas de soja com haste e
f
cotilédones apodrecidos, (8) reboleira de plantas mortas em local com excesso de umidade no solo,
devido ao acúmulo de restos culturais, e (C) sintomas da doença na haste de plantas de soja.• com

tecido escurecido recoberto por micélio de fungos sapró(ltas
t.
' Fotos: (A e B) R. M. Soares (Costamilan; Soares: Bertagnolli. 2010) e (C) L. M. Costamllan (Costamilan:
1

1
l Soares; Bertagnolli, 2010) .
'
')
'

~ .
240 SOJA: DO PLANTIO À COLl·IEITA

A doença é favorecida por condições de umidade excessiva no solo. Assim,


solos argilosos e compactados são mais conducivos à podridão de Phytophthora
(Embrapa, 2013). Dessa forma, o preparo adequado do solo é uma das alterna-
tivas para reduzir a possibilidade de ocorrência da doença, aliado ao uso de
cultivares resistentes (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009; Costamilan; Soares;
Bertagnolli, 2010; Embrapa, 2013).

13.1.6 Mancha-alvo
A mancha-alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola, ocorre em todas as
regiões sojicultoras do País (Almeida et al., 2005; Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009).
Os sintomas podem ser observados em toda a parte aérea da soja, independente-
mente do estádio de desenvolvimento {Siqueri; Yorinori; Yuyama, 2011). As lesões
iniciam-se por pontuações pardas, com halo amarelado, evoluindo para grandes
manchas circulares, de coloração castanho-clara a castanho-escura. As manchas
usualmente apresentam pontuações escuras no centro, semelhantes a um alvo
(Fig. 13.7A) (Henning et al., 2009), advindo daí o nome comum da doença (Almeida
et al., 2005). Nos pecíolos e nas hastes, as áreas afetadas exibem pontuações de
coloração marrom-escura. As manchas nas vagens geralmente são circulares, com
1 mm de diâmetro, centro preto-arroxeado e borda marrom (Fig. 13.7B).

Fig. 13.7 Sintomas do


mancha-alvo, causada por
Coynespora cassiicola,
(A) no folíolo e (B) nas vagens
Fonte: J. T. Vorinorl
(Siquerl; Vorlnori; Vuyama. 2011).

As principais medidas integradas de controle da doença envolvem O uso


de sementes sadias, cultivares resistentes/tolerantes, rotação/sucessão de
culturas com milho e espécies de gramíneas e aplicações de fungicidas entre
os estádios R4 e RS.2 (Almeida et al., 2005; Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009;
Siqueri; Yorinori; Yuyama, 2011; Embrapa, 2013).

13.1.7 Mela
A mela ou requeima, causada por Thanatephorus cucumeris (anamorfo Rhizoctonia
solani), ocorre principalmente nos Estados de Mato Grosso, Maranhão, Tocantins
13 MANEJO DE DOENÇAS 241

e Roraima, reduzindo a produtividade da cultura entre 30% e 60% (Embrapa, 2013).


Temperaturas entre 25 ºC e 30 ºC e longos períodos de umidade favorecem a
doença (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009).
O fungo ataca toda a parte aérea da planta, sobretudo as folhas dos terços
inferiores e médios. Os sintomas iniciais são caracterizados por lesões enchar-
cadas, de coloração pardo-avermelhada a roxa, que evoluem rapidamente para
marrom-escuro a preto. Em plantas doentes, é comum observar folhas aderi-
das entre si e à haste, unidas pelo micélio do fungo. Nos tecidos mortos, ocorre
abundante formação de microescleródios beges a castanho-escuros nas porções
da planta cobertas pelo micélio. Além da desfolha, a doença pode causar abor-
tamento de flores e de vagens (Almeida et al., 2005; Henning et ai., 2009; Siqueri;
Yorinori; Yuyama, 2011).
Os métodos integrados de controle da doença englobam manter cobertura
morta no solo, realizar nutrição equilibrada (especialmente K, S, Zn, Cu e Mn},
utilizar sementes com boa qualidade sanitária e fisiológica, efetuar a rotação e a
sucessão com culturas não hospedeiras, evitar o adensamento de plantas e reali-
zar a aplicação de fungicidas (mistura comercial de estrobirulina e triazol) antes
que a doença atinja 10% de severidade (Almeida et al., 2005; Dhingra; Mendonça;
Macedo, 2009; Henning et al., 2009; Siqueri; Yorinori; Yuyama, 2011).

13.1.8 Cancro da haste


O cancro da haste, causado pelo fungo Diaporthe phaseo1orum f. sp. meridionalis, foi
uma das principais doenças da soja no Brasil desde o primeiro relato de sua ocor-
rência, no final da década de 1980 (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009). Atualmente,
a maioria dos cultivares possui resistência ao patógeno (Embrapa, 2013).
Os sintomas iniciais da doença surgem na haste. São diminutas pontua-
ções negras que evoluem para manchas alongadas a elípticas de coloração
castanho-avermelhada. Por fim, as lesões aumentam de tamanho e adquirem
coloração castanho-clara, com bordas castanho-avermelhadas (Almeida et
al., 2005). As lesões são profundas e a coloração da medula necrosada varia de
castanho-avermelhada, em plantas ainda verdes, a castanho-clara a arroxeada,
em plantas secas.
Infecções severas causam quebra da haste.e acamamento. Folhas amareladas
e com necrose internerval (folhas "carijó'') também são observadas em plantas
em fase adiantada de infecção, embora tal sintoma possa ocorrer ainda em plan-
tas acometidas por podridões radiculares e da haste, além de meloidoginoses
(Almeida et al., 2005; Henning et al., 2009).
o uso de cultivares resistentes é o método mais recomendado. Além disso, o
'' tratamento de sementes, a rotação de culturas com espécies não hospedeiras, a
J

• semeadura com maior espaçamento, o manejo dos restos culturais e a adubação


l
1

l...
!

242 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

e a calagem equilibrada também podem ser utilizados {Dhingra; Mendonça;


Macedo, 2009; Henning et al., 2009).

13.1.9 Nematoide-de-cisto
O nematoide-de-cisto-da-soja (NCS), Heterodera glycines, é um dos principais pató-
genos da cultura, podendo ocasionar perdas de 15% a 100% {Dhingra; Mendonça;
Macedo, 2009; Embrapa, 2013). A área infestada com o nematoide aumentou rapi-
damente logo após os primeiros relatos de sua ocorrência no Brasil (Lima; Ferraz;
Santos, 1992; Lordello; Lordello; Quaggio, 1992; Monteiro; Morais, 1992) e já supe-
rou os 2,0 milhões de hectares, distribuídos em dez Estados: Minas Gerais, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia,
Tocantins e Maranhão (Embrapa, 2013).
O nome comum da doença causada por H. glycines é nanismo amarelo da
soja, em decorrência dos sintomas reflexos induzidos pela interação do patógeno
com a planta. Nesse caso, o sistema radicular da soja é reduzido e torna-se menos
eficiente em absorver água e nutrientes, assim como a formação de nódulos de
Bradyrhizobium japonicum é prejudicada. Com isso, ocorre evidente redução do cres-
cimento e da produção de plantas doentes e acentuada clorose foliar. No sistema
radicular das plantas, é possível notar a presença de fêmeas limonifor1nes e de
coloração branca a amarelada {Fig. 13.8A) a partir de 35 dias após a semeadura.
No entanto, a correta diagnose requer análise de amostras de solo e/ou raiz em
laboratório de nematologia (Henning et al., 2009; Dias et al., 2010). Após a fertiliza-
ção, a fêmea produz os ovos e os retém no interior do próprio corpo. Em seguida,
ela morre, e o seu corpo adquire coloração amarronzada (Fig. 13.8B) e se desprende
das raízes, permanecendo viável no solo por até oito anos na ausência da planta
hospedeira. Tal estrutura de resistência do nematoide é denominada cisto
(Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009; Dias et al., 2009; Embrapa, 2013).

Fig. 13.8 Sistema


radicular de soja com
(A) fêmeas limonifarmes
de Heterodera glycines e
(B) clstas do nematoide,
ambos observados
. ,..
em m1croscop1a
Fonte: Éder Matsuo.

Medidas de exclusão, ou seja, aquelas que evitam a entrada do patógeno


na área, são extremamente importantes para que não ocorram problemas com
fitonematoides, sendo válidas para todas as espécies discutidas neste capítulo.
13 MANEJO DE DOENÇAS 243

No caso do NCS, além de realizar a limpeza de máquinas e demais implementas,


o agricultor deve utilizar sementes isentas do patógeno. Em áreas já infestadas,
a melhor opção é a combinação da rotação de culturas com espécies não hospe-
deiras (milho, algodão, trigo e arroz, entre outras) com a utilização de cultivares
resistentes (Henning et al., 2009). No Brasil, atualmente estão disponíveis mais
de 60 cultivares de soja com resistência a diferentes raças de H. glycines. A maio-
ria dos genótipos é resistente apenas às raças 1 e 3, as mais prevalentes nas
regiões sojicultoras brasileiras (Embrapa, 2013). No entanto, outras nove raças
do NCS já foram detectadas no País (2, 4, 4+, s, 6, 9, 10, 14 e 14+) (Dias et al., 2009).
Em razão dessa elevada diversidade genética, o agricultor deve alternar as fontes
de resistência e incluir rotações com uma cultura não hospedeira, para que não
ocorra pressão de seleção entre raças do patógeno (Ferraz et al., 2010).

13.1.10 Nematoide-das-galhas
Entre as várias espécies do nematoide-das-galhas que atacam a cultura da
soja, Meloidogyne javanica e M. incognita são as de maior importância (Dhingra;
Mendonça; Macedo, 2009; Embrapa, 2013).
O sintoma característico do ataque de Meloidogyne spp. em soja é o desen-
volvimento de galhas no sistema radicular (Fig. 13.9), em número e tamanho
variados. Plantas doentes também apresentam sintomas reflexos na parte aérea,
por exemplo clorose foliar ou necrose internerval (folhas ''carijó''), abortamento
de vagens, redução do crescimento e senescência prematura (Henning et al., 2009;
Dias et al., 2010).
Amostras de solo infestado e de
raízes apresentando galhas devem ser
coletadas e enviadas para um laboratório
de nematologia, para que seja identifi-
cada a espécie predominante na área.
A partir dessa informação, é possível
definir a melhor estratégia integrada de
manejo. A rotação de culturas e a utili-
zação de genótipos resistentes estão
entre as medidas mais eficientes (Dias
et al., 2007), além, é claro, das medi-
das de exclusão. No entanto, a escolha
do cultivar resistente e da cultura a ser
incluída na rotação vai depender d~ espé-
cie hospedeira. Considerando a rotação stema rad;cular de soja com galhas,
Fig. 13.9 Si_
. . . ,
devido ao ataque de Meloldogyne sp.
de culturas, caso M. Jauantca seJa a espe-
cie a ser manejada, o agricultor poderia Fonte: Éder Matsuo.
244 SOJA: DO PLANTIO A COLI-IElTA

utilizar algodão, amendoim, braquiária e crotalária. Por sua vez, se M. incognita


estiver presente na área, amendoim, braquiária, crotalária e mucuna-preta
seriam algumas opções (Ferraz et al., 2010).

13 .1.11 Nem atai de-d as-1 esõ es-rad icu Ia res


O nematoide-das-lesões-radiculares, Pratylenchus brachyurus, é um dos principais
patógenos do atual cenário da sojicultora brasileira. No Estado de Mato Grosso,
por exemplo, o nematoide está amplamente disseminado em áreas produtoras de
soja {96% das áreas amostradas) e, nos últimos anos, tem causado danos elevados
e crescentes à cultura {Ribeiro; Dias; Santos, 2010).
O sistema radicular de plantas atacadas pelo nematoide é menos desenvolvido
e é caracterizado por lesões escuras {Henning et al., 2009). Esse sintoma é reflexo
do hábito de parasitismo do nematoide - endoparasito migrador. Os nematoi-
des-de-cisto e os nematoides-das-galhas penetram nas raízes e estabelecem sítios
especiais de alimentação (sincícios e células gigantes, respectivamente), tornando-
-se sedentários em seguida. Por sua vez, P. brachyurus não estabelece sítios especiais
de alimentação no interior das raízes, migrando constantemente em busca de
novas células para parasitar. Em razão disso, as células são destruídas e o tecido
fica desorganizado, favorecendo a colonização de fungos e bactérias, culminando
no surgimento de lesões necróticas no sistema radicular (Dias et al., 2007).
As principais medidas de manejo de P. brachyurus envolvem a rotação com
culturas não hospedeiras (milheto, crotalária e aveia-preta, por exemplo), o
revolvimento do solo e o uso de cultivares resistentes (Ferraz et al., 2010).

13.1.12 Nematoide-reniforme
O nematoide-reniforme, Rotylenchulus reniformis, vem se tornando cada vez mais
importante para a sojicultura, principalmente em Mato Grosso do Sul, onde
altas densidades populacionais do patógeno são observadas em 29% da área
cultivada com a leguminosa (Embrapa, 2013).
Em áreas infestadas, o crescimento das plantas é reduzido, resultando em
evidente desuniformidade da lavoura, que pode ser confundida com proble-
mas de deficiência nutricional ou de compactação do solo. O sistema radicular
das plantas sofre redução no desenvolvimento e, em alguns pontos das raízes,
nota-se fina camada de terra aderida às raízes. Nesse caso, o solo fica aderido às
massas de ovos de R. reniformis, produzidas externamente à raiz (Ribeiro; Dias;
Santos, 2010; Embrapa, 2013).
A rotação com culturas não hospedeiras (sorgo, milho, arroz, cana, milheto
e crotalária, entre outras) e a utilização de cultivares resistentes estão entre as
principais medidas de manejo do nematoide-reniforme (Ferraz et al., 2010).

d
13 MANEJO DE DOENÇAS 245

13.1.13 Doenças de final de ciclo (mancha-púrpura e mancha-parda)


A mancha-púrpura e a mancha-parda, causadas pelos fungos Cercospora kikuchii
e Septoria glycines, respectivamente, podem ocorrer simultaneamente no final do
ciclo da soja (Embrapa, 2013). A mancha-púrpura pode ser observada em todas
as partes da planta. Nas folhas, os sintomas aparecem a partir do período de
enchimento de grãos e são caracterizados por pontuações escuras, castanho-aver-
melhadas, as quais coalescem e formam grandes manchas escuras, culminando
com severo crestamento e desfolha prematura (Fig. 13.10A). Nas vagens, o fungo
atinge a semente, que adquire coloração púrpura em partes ou em todo o tegu-
mento (Fig. 13.10B). Nas hastes, o fungo causa manchas vermelhas superficiais
l (Almeida et ai., 2005}.

Fig. 13.10 Doenças de final de ciclo em soja. Sintomas da mancha-púrpura, causada por Cercospora
kikuchii, (A) na folha unifa/iolada e (B) nas sementes. Folhas (C) unifolialados e (D) trifalia/odas com
sintamas do mancho-parda, incitada por Septoria glycines
Fotos: (A, e e O) J. T. Vorinori (Siqueri: Vorinori: Vuyama, 2011) e (B) C. V. Godoy (Henning et ai., 2009).

os primeiros sintomas de mancha-parda surgem cerca de duas semanas


após a emergência, no caso de uso de sementes infectadas por S. glycines. Nessa
situação, pequenas pontuações ou manchas de contornos angulares e castanho-
-avermelhadas são observadas nas folhas unifolioladas (Fig. 13.l0C). Em plantas
no estádio reprodutivo, notam-se pontuações pardas, com menos de 1 mm de
diâmetro, as quais evoluem e formam manchas com halos amarelados e centros
de contornos angulares, de coloração parda na parte adaxial da folha e rosada na
parta abaxial (Fig. 13.10D). Desfolha e maturação prematura podem ocorrer em
situações de infecções severas (Almeida et al., 2005).
As práticas de manejo das doenças de final de ciclo incluem o uso de
sementes sadias e tratadas com fungicidas, o equilíbrio nutricional da cultura,
a eliminação de restos de cultura, a aplicação de fungicidas entre os estádios
RS.1 e RS.5 quando as condições climáticas forem favoráveis para as doenças
(chuvas frequentes e temperaturas entre 22 ºC e 30 ºC) e a rotação com culturas
não hospedeiras (Embrapa, 2013).
246 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

13.2 RESUMO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS E SEU CONTROLE


No Quadro 13.1 é apresentado o resumo das principais doenças e seu controle.
Descrições mais detalhadas e complementares podem ser encontradas ao longo
do texto.

Quadro 13.1 Principais doenças e seu controle


Principais doenças Manejo/controle
Ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi). Usar fungicidas, cultivares tolerantes/resistentes e
Os sintomas podem ser observados em qualquer precoces, semeadura em época recomendada e ações
estádio de desenvolvimento da cultura, embora relacionadas à eliminação de plantas voluntárias
sejam mais frequentes a partir do florescimento. e ao respeito ao vazio sanitário (Godoy; Canteri,
Plantas suscetíveis apresentam lesões do tipo 2004; Vorlnori; Nunes Junior; Lazzarotto, 2004;
TAN (castanho-claras), e as resistentes exibem Zambolim, 2006: Dhingra; Mendonça; Macedo,
lesões do tipo RB (castanho-avermelhadas) 2009; Henning et ai., 2009; Embrapa, 2013).
(Almeida et ai., 2005: Embrapa, 2013).

Oídio (Microsphaera diffusa). Desenvolve-se Usar cultivares resistentes, aplicar fungicidas


em toda a parte aérea. Plantas atacadas são (dependendo da severidade) e evitar semeadura
cobertas por uma camada pulverulenta branca de tardia (Dhingra: Mendonça; Macedo, 2009; Embrapa,
micélio e conídios (Almeida et ai., 2005; Dhingra; 2013).
Mendonça: Macedo, 2009).

Mofo-branco (Sc/erotinia sclerotiorum). As plantas Em área livre do patógeno, usar sementes sadias e
apresentam-se mais vulneráveis ao patógeno livres do patógeno e fungicidas e realizar a limpeza
no período de floração plena até a formação de equipamentos (Dhingra: Mendonça; Macedo,
das vagens (Dhingra; Mendonça; Macedo, 2009; 2009; Henning et ai., 2009; Siqueri; Vorinori:
Embrapa, 2013). Os sintomas iniciam-se com o Vuyama, 2011: Embrapa, 2013). Em áreas onde a
aparecimento de manchas encharcadas (anasarca) doença já ocorre, eliminar restos culturais infectados,
que resultam em micélio branco e denso (Siqueri: realizar rotação/sucessão de culturas (com culturas
Vorinori: Vuyama, 2011). Em poucos dias, o micélio não hospedeiras), aumentar o espaçamento entre
pode transformar-se em escleródios (Dhingra; linhas e adequar a irrigação (Henning et ai., 2009:
Mendonça; Macedo, 2009). Siqueri: Vorinori; Vuyama, 2011).

Podridão de carvão (Macrophomina phaseolina). Preparar adequadamente o solo (eliminar camadas


Ocorre principalmente durante o verão e sob compactadas e corrigir a acidez), fazer a manutenção
condições de veranicos (Dhingra; Mendonça; da cobertura vegetal e usar cultivares tolerantes e
Macedo, 2009: Embrapa, 2013). Plantas infectadas adubação equilibrada (fósforo e potássio) (Siqueri;
apresentam raízes de cor cinza, cuja epiderme é Vorinori; Vuyama, 2011; Embrapa, 2013).
facilmente destacada (Almeida et ai., 2010).

Podridão-radicular (Phytophthora soja e). Preparar adequadamente o solo e usar cultivares


Pode Infectar a planta em qualquer estádio de resistentes (Dhlngra: Mendonça; Macedo,
desenvolvimento, mas plantas jovens são mais 2009; Costamllan: Soares: Bertagnolli, 2010;
sensíveis (Dhingra: Mendonça: Macedo, 2009; Embrapa, 2013).
Almeida et ai., 2010: Embrapa, 2013).

Mancha-alvo (Carynespora cassiicola). Usar sementes sadias, cultivares resistentes/


Pode ser observada na planta em toda a parte tolerantes, rotação/sucessão de culturas e
aérea, Independentemente do estádio de fungicidas (Almeida et ai., 2005: Dhingra: Mendonça;
desenvolvimento (Siqueri: Yorinori; Yuyama. Macedo, 2009: Slqueri: Vorinori: Yuyama. 2011;
2011). As manchas usualmente apresentam Embrapa, 2013).
pontuações escuras no centro, semelhantes
a um alvo (Henning et ai., 2009).
13 MANEJO DE DOENÇAS 247

Quadro 13.1 (continuação)


Principais doenças Manejo/controle
Mela (Thanatephorus cucumeris). O fungo ataca, Manter a cobertura morta no solo, realizar nutrição
principalmente, as folhas dos terços inferiores equilibrada, utilizar sementes de qualidade, efetuar
e médios. É comum observar folhas aderidas rotação/sucessão de culturas com culturas não
entre si e à haste, unidas pelo micélio do fungo hospedeiras, aplicar fungicidas (observar severidade)
(Almeida et ai., 2005: Henning et ai., 2009; e evitar adensamento de plantas (Almeida et ai.,
Siqueri; Yorinori; Yuyama, 2011). 2005: Dhlngra: Mendonça: Macedo, 2009: Henning
et ai., 2009: Siqueri; Vorinori: Yuyama, 2011).

Cancro da haste (Diaporthe phaseolarum f. sp. Usar cultivares resistentes, tratar sementes, fazer
meridiana/is). Lesões, nas hastes, de coloração rotação de culturas com espécies não hospedeiras,
castanho-clara com bordas castanho- efetuar semeadura com maior espaçamento, manejo
-avermelhadas (Almeida et ai., 2005). Nas folhas, dos restos culturais e adubação e realizar calagem
é observada necrose internerval (folhas "carijó"). equilibrada (Dhíngra; Mendonça; Macedo, 2009;
(Almeida et ai., 2005: Henning et ai., 2009). Henning et ai., 2009).

Nematoide-de-cisto (Heterodera glycines). Em áreas não infestadas, realizar atividades para


Plantas com redução do crescimento, necrose evitar a entrada do patógeno. Nas já infestadas,
foliar, sistema radicular reduzido e presença fazer rotação de culturas com espécies não
de fêmeas limoniformes de coloração branca a hospedeiras e usar cultivares resistentes (atenção
amarelada {Henning et ai., 2009; Dias et ai., 2010). com as raças presentes na área e a resistência do
cultivar) (Henning et ai., 2009: Dias et ai., 2009:
Ferraz et ai., 2010; Embrapa, 2013).

Nematoide-das-galhas (Melaidogyne javanica Em áreas não infestadas, realizar atividades


e M. incognita). Sintoma característico é o para evitar a entrada do patógeno. Naquelas
desenvolvimento de galhas no sistema radicular já infestadas, fazer rotação de culturas e
(Henning et ai., 2009; Dias et ai., 2010). utilizar genótipos resistentes (Dias et ai., 2007:
Ferraz et ai., 2010).

Nematolde-das-lesões-radiculares (Pratylenchus Realizar rotação com culturas não hospedeiras,


brachyurus). Plantas infectadas apresentam revolver o solo e usar cultivares resistentes
sistema radicular menos desenvolvido e com (Ferraz et ai., 2010).
lesões escuras (Hennlng et ai., 2009).

Nematolde-renlforme (Ratylenchulus reniformis). Fazer rotação com culturas não hospedeiras e utilizar
Plantas infectadas apresentam redução no cultivares resistentes (Ferraz et ai., 2010).
crescimento (parte aérea e sistema radicular)
(Ribeiro; Dias: Santos, 2010: Embrapa, 2013).

Mancha-púrpura (Cercospora kikuchil). Ocorre no Usar sementes sadias e fungicidas, realizar


final do ciclo da soja (Embrapa, 2013). Os principais nutrição equilibrada, eliminar restos de culturas
sintomas são folhas com pontuações escuras e fazer rotação com culturas não hospedeiras
(castanho-avermelhadas) e sementes com (Embrapa, 2013).
coloração púrpura (Almeida et ai., 2005).
..
Mancha-parda (Septaria g/ycines). Ocorre no final Usar sementes sadias e fungicidas, realizar
do ciclo da soja (Embrapa, 2013). Os principais nutrição equilibrada, eliminar restos de culturas
sintomas são folhas com manchas (halos e fazer rotação com culturas não hospedeiras
amarelos e centros de coloração parda na parte (Embrapa, 2013).
adaxlal da folha e rosada na parte abaxlal)
(Almeida et ai., 2005).
248 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

13.3 BIOTECNOLOGIA
O uso da biotecnologia tem sido considerado no manejo de doenças em várias
culturas agrícolas, incluindo a soja. No melhoramento de soja, a aplicação da
moderna biotecnologia tem se concentrado nas áreas de genética molecular e
de transformação genética. A genética molecular estuda como a informação
genética é codificada dentro do DNA e traduzida no fenótipo. Por sua vez, a
transformação genética aborda a modificação genética das células ou indivíduos
(Sudaric et al., 2010).
A identificação de genótipos resistentes é primordial nas etapas iniciais do
melhoramento visando à resistência a doenças. Tal seleção pode ser feita por meio
de avaliação fenotípica, demandando inoculação do patógeno e classificação das
plantas em resistentes, moderadamente resistentes e suscetíveis. Outra maneira
é o uso de marcadores moleculares na seleção assistida, conhecida como sele-
ção assistida por marcadores moleculares (SAMM). Os marcadores moleculares
possuem várias vantagens em relação aos marcadores fenotípicos: maior acurácia,
confiabilidade e rapidez, não interferência das condições de cultivo e possibilidade
de detecção em todos os estádios de crescimento da planta (Sudaric et al., 2010).
Inúmeros marcadores moleculares ligados a genes/lócus de característica quan-
!
titativa (QTLs) de resistência a doenças da soja já foram identificados e podem ser
usados em programas de melhoramento dessa cultura, como, por exemplo, aque-
les associados à resistência a D. phaseolorum f. sp. meridionalis (Carvalho et al., 2002),
Fusarium solani (Njiti et al., 2002), H. glycines (Carvalho et al., 1999; Meksem et al.,
2001; Dias et al., 2009; Vieira et al., 2016}, M. jauanica (Silva et al., 2001), M. incognita
l
e M. hapla (Li et al., 2018), Phialophora gregata (Bachman et al., 2001), P. pachyrhizi •

J
(Morceli et al., 2008; Matsuo et al., 2014) e S. sclerotiorum (Arahana et al., 2001). 1
j

o desenvolvimento de cultivares com resistência transgênica é um 1

exemplo de aplicação da biotecnologia no melhoramento da soja. Pesquisa-


1
dores da Universidade Federal de Viçosa (UFV), por exemplo, clonaram o gene •
1

CcRppl de feijão-guandu {Cajanus cajan), que confere resistência a P. pachyrhizi,


e demonstraram que plantas transgênicas de soja portando o gene CcRppl
são resistentes à ferrugem-asiática (Kawashima et al., 2016). o silenciamento •

1
1
gênico, por meio de técnicas de RNA interferente ou interferência por RNA '
(RNAi), também é promissor quanto ao desenvolvimento de cultivares resis-
tentes a vários patógenos (Steeves et al., 2006; Ibrahim et al., 2011; Kim et al., t
2016). Com o uso dessa ferramenta, os cientistas podem desligar genes de pató- 1

genos e tornar as plantas resistentes. Genes envolvidos no desenvolvimento


de reprodução de nematoides, por exemplo, podem ser usados como alvos
para silenciamento. O silenciamento da proteína MSP (major sperm protein) de 1
1

H. glycines reduziu a reprodução do nematoide em soja (Steeves et al., 2006).


1
Plantas de soja resistentes ao soybean mosaic uirus (SMV) também já foram l
1

........
MANEJO DE DOENÇAS 249
13
r
produzidas usando silenciamento gênico mediado por RNAi (Kim et al., 2016).
A biotecnologia terá papel cada vez mais decisivo no melhoramento genético
da soja nos próximos anos. Dentro dessa perspectiva, os agricultores possivel-
1
i mente terão à sua disposição cultivares com alto potencial de produção e com
1
resistência a vários patógenos.
1
1
1
1 13.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O manejo de doenças na cultura de soja envolve uma combinação de várias técni-
1 cas, as quais visam minimizar os danos causados pelos ataques dos patógenos.
'
Medidas preventivas sempre devem ser inicialmente consideradas, principal-
1
mente considerando patógenos de difícil controle e que não possuem expressiva
1

1
dispersão por vento, a exemplo dos nematoides e dos fungos habitantes de solo
1
• •

1
(Fusarium spp., M. phaseolina, R. solani, S. rolfsii e S. sclerotiorum). Cultivares resis-
1
l
1
tentes, quando disponíveis, devem ser priorizados, pois reduzem a demanda
1
por estratégias adicionais de controle. Avanços em biotecnologia diminuirão o
tempo para o desenvolvimento de cultivares• resistentes e ampliarão as possibi-
l 1
lidades de transferência de genes de interesse para a cultura da soja.
O uso de sementes sadias e tratadas, a rotação de culturas e o controle químico
são medidas que também merecem atenção especial dos produtores. O controle
químico, quando necessário, deve ser utilizado seguindo as recomendações
1
técnicas. Produtos de alta eficiência devem ser preferidos e estratégias antirre-
sistência de patógenos aos compostos ativos devem ser adotadas. A integração
de medidas de controle e a incorporação de novas abordagens biotecnológicas
podem permitir que o manejo de doenças da soja seja mais eficaz e ambiental-
mente sustentável.

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l
1
l
1

t AGRICULTURA DE PRECISÃO

1 José Paulo Molin


Engenheiro Agrícola, M.S .., Ph.D. e Professor da Escola Superior de Agricultura ''Luiz de Queiroz'',
da Universidade de São Paulo. E-mail: jpmolin@usp.br

1
'
1
14.1 VARIABILIDADE ESPACIAL NAS LAVOURAS
1
1

1 As áreas utilizadas para a exploração agrícola não são obrigatoriamente unifor-


r
mes e a prática da agricultura numa visão mais ampla precisa ser minimamente
1
1 sustentável. Por isso, dentro da mesma porção de uma gleba, ocorrerão dife-
renças no solo e no relevo, que podem significar necessidade de tratamentos
1 diferenciados. Os agricultores, enquanto trabalhavam em pequenas áreas de
forma manual e com a mecanização primitiva, já tinham essa percepção.
1
O cenário mudou radicalmente em muitas regiões do mundo, onde as
1
1 máquinas utilizadas continuam aumentando em potência, largura de trabalho e
1
1
capacidade operacional. Assim, a agricultura passou a ser conduzida em escala,
induzindo o agricultor a simplificações e tratando grandes áreas de maneira
uniforme. Esse método não pode ser considerado otimizado, pois normalmente o
1
' solo e a cultura não são uniformes dentro dessas áreas, requerendo insumos em
! doses que variam e, como consequência, obtendo-se a resultados que também
não são unifarmes ao longo da lavoura.
l
1
Num dado momento, passou-se a observar isso com mais afinco, a resga-
tar a capacidade que o agricultor tinha no passado e a conciliar as grandes
' extensões de lavouras e suas operações mecanizadas com as diferenças intrín-
1

1
1
secas dentro delas. Entretanto, a avaliação visual humana e os ajustes manuais
1
1
nas operações não são mais possíveis, especialmente em grandes operações, e
'
r
1 assim passou-se a desenvolver técnicas e tecnologias que auxiliam nessa tarefa.
Ao conciliar a investigação da variabilidade com o conhecimento agronômico
1
já acumulado com o uso de máquinas cpm automação, é possível reproduzir
boa parte daquele detalhamento que o agricultor fazia no passado para geren-
ciar pequenas glebas.

t
Paralelamente, a agricultura moderna apresenta contradições, princi-
palmente de cunho ambiental. Especialmente os fertilizantes n1inerais, os

••
254 SOJA: DO l1 LANTIO À COLI-IEITA

herbicidas, os fungicidas e os inseticidas necessários para obter elevadas produ-


tividades, quando em excesso, são considerados contaminantes. No entanto, a
utilização racional desses insumos, de forma a aplicá-los apenas quanto, onde e
quando são necessários, significa um avanço muito recente e com grande poten-
cial. O mesmo procedimento pode ser considerado para energia, sementes e água.

14.2 UM POUCO DE HISTÓRIA


Há relatos, desde o início do século XX, mostrando a utilidade de gerenciar as
lavouras de forma detalhada e localizada, inclusive com a prática da aplicação
de calcário em taxas variáveis. Porém, as práticas efetivas dessa natureza foram
adotadas de fato a partir da década de 1980, quando foram gerados, na Europa,
os primeiros mapas de produtividade e, nos Estados Unidos, foram feitas as
primeiras adubações com doses variadas, de forma automatizada (Molin;
Amaral; Colaço, 2015).
No Brasil, essas atividades, ainda muito esparsas, começaram a ocorrer
a partir de meados da década de 1990, primeiramente com a importação de
equipamentos, especialmente colhedoras equipadas com monitores de produ-
tividade de grãos. Entretanto, não havia máquinas disponíveis para a aplicação
de fertilizantes em taxas variáveis, o que passou a ser praticado no final dos
anos 1990 com equipamentos importados. No início dos anos 2000, surgiram as
primeiras máquinas brasileiras aplicadoras para taxas variáveis de granulados
e pós, equipadas com controladores importados e, em seguida, com os primei-
ros controladores para taxas variáveis nacionais.
O termo agricultura de precisão (AP) somente se consolidou internacional-
mente na segunda metade da década de 1990. Havia vários outros nomes para
essas práticas, mas esse nome se firmou em torno de uma crescente comunidade
acadêmica e da expansão dos negócios de produtos e de serviços, especialmente
na América do Norte.
Em 2000, o governo norte-americano eliminou a degradação do sinal do
GPS, que causava enorme erro nos posicionamentos e que exigia investimento
e um custo operacional considerável decorrente do uso obrigatório de correção
diferencial. A partir de então, os receptores de navegação, de baixo custo, popu-
larizaram-se, com erros da ordem de poucos metros.
Essa combinação de fatores fez com que um mercado dedicado passasse
efetivamente a existir no Brasil, com o surgimento das primeiras empresas de
consultoria e de serviços. Nessa mesma época, as barras de luzes, que já equi-
pavam todos os aviões agrícolas, passaram a ser utilizadas em pulverizadores
autopropelidos e outros veículos terrestres. Na sequência, surgiram os siste-
mas de direção automática, e assim se estabeleceu o mercado de AP, associado
a duas grandes frentes: a amostragem de solo, com a consequente aplicação
14 AGRICULTURA DE PRECISÃO 255

de corretivos e fertilizantes em taxas variáveis, e o uso de sistemas de direção


automática e de automações embarcadas nas máquinas.

14.3 DEFINIÇÃO DE AP
AAP tem várias formas de abordagem e mesmo definições, dependendo do ponto
de vista. A origem do termo advém do fato de as lavouras não serem uniformes
no espaço e no tempo. Assim, foram desenvolvidas estratégias com variados
níveis de complexidade para gerenciar os problemas advindos da desuniformi-
dade das lavouras. A Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão e Digital,
órgão consultivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, adota
uma definição para AP que estabelece que ''[...] trata-se de um conjunto de ferra-
mentas e tecnologias aplicadas para permitir um sistema de gerenciamento
agrícola baseado na variabilidade espacial e temporal da unidade produtiva e
visa ao aumento de retorno econômico e à redução do impacto ao ambiente''
{Mapa, 2017).
Bramley (2009) acrescenta um pequeno, mas importante componente,
sugerindo que AP é um conjunto de tecnologias que promovem melhorias na
gestão dos sistemas de produção com base no reconhecimento do fato de que o
''potencial produtivo'' das lavouras pode variar consideravelmente, mesmo em
pequenas distâncias (poucos metros). Assim, AP pode ser vista como a forma
de garantir que a estratégia gerencial mais correta seja adotada no local e no
momento correto.
A questão de incluir ou não o uso de Sistemas Globais de Navegação por
Satélites (GNSS) e suas derivações associadas aos sistemas guia e de direcio-
namento automatizado de. veículos agrícolas como parte da AP compreende
opiniões diferentes. Originalmente, AP está associada ao conceito de agricultura
com uso intensivo de informação (Fountas et al., 2005). O emprego de sistema de
direção automática e o controle de tráfego, por exemplo, não exigem e não estão
associados ao uso intensivo de informação espacializada do solo ou da.cultura e
não fariam parte desse contexto. No entanto, o mesmo Bramley {2009) defende
a ideia de que tais práticas e tecnologias podem ser consideradas dentro do
contexto da AP, na medida em que permitem ao usuário ~ aproximação com o
uso de recursos como GNSS, diminuindo sua dist-â ncia em relação aos conceitos
de mapeamento da produtividade e gerenciamento localizado das lavouras.

i4.4 OPORTUNIDADES E DESAFIOS DA AP


A AP tem sua origem na g~stão .d a variabilidade espacial das lavouras e repre-
senta um grande desafio e avanços que a agricultura do século XXI pode
perseguir, buscando sustentabilidade e eficiência em todos os possíveis aspec-
.t _o s da ge.s t~o e da condução das lavouras. Porém, observa-se que, no Brasil, a.
256 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

prática predominante é a gestão da adubação química das lavouras com base


em amostragem georreferenciada de solo e aplicação de corretivos e fertilizan-
tes de forma localizada e em doses variáveis. A aplicação, prioritariamente, de
calcário, gesso, fósforo e potássio em taxas variáveis com base em diagnósticos
obtidos pela amostragem de solo em grade tem tido grande apelo comercial
porque, num primeiro momento, oferece chances de economia desses insumos.
Com a realocação ou redistribuição otimizada, os desequilíbrios são diminuídos
e pode-se esperar impacto positivo na produtividade das culturas, pois a técnica
permite a espacialização do conceito proposto por Liebig em meados do século
XIX, conhecido como a lei do mínimo.
Numa ótica mais avançada e desafiadora, essas intervenções podem ser
fundamentadas em algumas estratégias. Uma delas é a redução de custos, com
a diminuição do uso de insumos por meio da sua racionalização, orientada
pela variabilidade espacial dos teores no solo. Outra estratégia é aumentar a
produtividade, com possível aumento de custos, dentro dos limites do conceito
econômico da lucratividade.
Mantendo a abordagem na gestão da variabilidade, a estratégia pode e deve
ser mais elaborada. As ações devem priorizar a exploração do potencial produ-
tivo, o que se espera que vá além dos padrões usuais, com a aplicação de maior
quantidade de insumos onde a lavoura tem maior potencial, e sua redução a um
nível mínimo de manutenção das baixas produtividades onde os limitantes não
são diretamente associados à disponibilidade de nutrientes, sempre visando
maximizar o lucro.
A qualidade do diagnóstico referente à variabilidade existente nas lavouras
é função da quantidade e da qualidade dos dados disponíveis. Nesse contexto,
conhecer a variabilidade da produtividade histórica da lavoura por meio dos
mapas de produtividade é fundamental. A interpretação dessa variabilidade,
evidenciada nos mapas de produtividade, implica o estudo das relações entre
causas e efeito. Se as causas são facilmente sanáveis com a adição de insumos,
0 processo se torna fácil. No entanto, se as causas são definidas, por exemplo,
por manchas de textura mais arenosa ou de "cascalho'\ não é coerente elevar os
níveis de fertilidade do solo dessas manchas aos mesmos níveis do restante da
lavoura. Nesses casos, a solução é tratar as regiões onde a baixa produtividade
é causada pela variação na textura como regiões com baixo potencial, fazendo
menor aporte de insumos, visando obter lucro, mesmo que com baixa produtivi-
dade. Dessa forma, as regiões de maior potencial produtivo das lavouras devem
receber um aporte maior de insumos, realocados das regiões de baixo potencial,
objetivando explorar seu limite econômico.
Mas a AP é mais do que isso, envolvendo todo um elenco de insumos e
de operações, com foco na otimização. Portanto, a mesma importância deve
14 AGRICULTURA DE PRECISÃO 257

ser dada às demais práticas, como tratamento localizado de plantas invasoras,


pragas e doenças, num contexto moderno que contempla a aplicação minimi-
zada de insumos visando à economia e ao menor impacto ambiental possível.
Ainda sobre mapas de produtividade, em especial para o caso da soja,
em anos recentes tem se intensificado o uso de imagens de satélite na agri-
cultura, especialmente para monitoramentos e estimativa de produtividade.
As imagens permitem o cálculo de índices de vegetação, em especial o fndice
de Vegetação da Diferença Normalizada ou NDVI, que, para culturas como o
trigo, normalmente apresenta boa correlação com o mapa de produtividade.
Isso ocorre porque o NDVI é um bom estimador de biomassa, que geralmente
tem boa relação com a produtividade de grãos de trigo. No caso do milho, essa
relação é menor, mas ainda existe, e, para a soja, a relação nem sempre é a
esperada, pois o volume de biomassa e a presença de grão, ao longo da lavoura,
às vezes não apresentam correlação.
Isso adiciona um nível de dificuldade para automatizar os monitoramen-
tos e os diagnósticos que visem substituir os mapas de produtividade em soja.
1
1
É relevante destacar que esses mapas também têm contribuição importante no
l
'
1
1
entendimento da consistência temporal das manchas de baixa e alta produtivi-
1
1
1
dade numa lavoura. Como citado em Baio, Molin e Povh (2018), plantas de ciclo
I
1
fotossintético C4 tendem a produzir mapas de produtividade com variabilidade
1 espacial consistente ao longo dos anos, repetindo as regiões de maior e de menor
produtividade, o que não ocorre com mapas de produtividade de plantas de ciclo
fotossintético C3, como a soja. Isso tem sido observado em muitos conjuntos de
dados e leva ao entendimento de que fatores não estacionários, como pragas,
afetam mais a produtividade da soja do que fatores do solo.

14.5 GESTÃO DA FERTILIDADE DO SOLO NO CONTEXTO DA AP


A amostragem tem por objetivo representar um todo com base na avaliação
t
de apenas uma porção dele. Ela pode ser aplicada na investigação dos mais
/
1 diversos fatores de produção, e, certamente, a amostragem de solo é um dos
1
procedimentos mais adotados em AP, especialmente no mercado brasileiro, e o
:l mais lembrado quando se aborda amostragem.
l
' 1 No contexto da AP, na abordagem mais comum, a amostragem é georre-
1
ferenciada, ou seja, cada amostra tem sua posição no espaço definida em um
r sistema de localização, normalmente registrada com um receptor GNSS. Além
1
f
1 disso, o número de amostras necessárias para representar uma lavoura é expres-
1
!
1 sivamente maior. Na agricultura convencional, em cada unidade de manejo
1
(talhões ou glebas), é geralmente coletada apenas uma amostra. con1posta por
1
i
lr
subamostras retiradas aleatoriamente ao longo do campo. Na gestão com AP.
t
para representar a variabilidade espacial dos atributos avaliados, é necessária
it
258 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

a coleta de diversas amostras compostas, georreferenciadas e distribuídas ao


longo do campo, o que irá permitir o diagnóstico especializado pela interpola-
ção para estimar valores em locais não amostrados, gerando, assim, o mapa do
atributo (Fig. 14.1). Tendo esse mapa como referencial ou vários deles, depen-
dendo do objetivo da investigação, chega-se ao mapa de prescrição do insumo
escolhido para a intervenção em taxas variáveis em contraste com a investiga-
ção pela média com tratamento em dose única.

N

• • A
• • •
• • • • •
• • •
• • • • •
• • •
•• • • • Interpolação
• • • •
• • • •

• • P (mgdm·3)
• • • • Ponto amostral •~.- -
'
~
l <6

6 a 12
12 a 30

O 100 200 300 400 m > 30

Fig. 14.1 Geração de um mapa de capacidade de troca de cátions (CTC) com base em amostragem de
solo em grade e interpolação das dados


1

Na amostragem em grade por ponto, provavelmente a mais praticada no


Brasil, o campo é dividido em células e dentro de cada uma delas é coletada
uma amostra georreferenciada composta por subamostras. A grade amostral,
que pode ser regular ou não, é gerada em software dedicado ou em Sistema de
Informação Geográfica {SIG), onde se dimensionam o tamanho das células que
definem a densidade amostral e a posição do ponto amostral dentro de cada
célula. Recentemente, é usual no mercado a geração de grades não regulares,
com pontos direcionados por alguma informação preexistente da lavoura, como
mapas de produtividade, de condutividade elétrica aparente do solo ou de índi-
ces de vegetação obtidos por imagens. Alternativamente, em vez de coletar
amostras compostas nos pontos, pode-se fazer a coleta de subamostras ao longo
de toda a célula, o que caracteriza a amostragem por células.
Na primeira situação (amostragem por ponto), o primeiro passo é determi-
nar a densidade amostral ou o tamanho da grade. Essa é uma dúvida frequente
para quem pretende adotar a amostragem em grade e, certamente, uma questão
que gera polêmica entre acadêmicos e práticos, já que nem sempre a densidade
14 AGRICULTURA DE PRECISÃO 259

adequada é praticável econômica ou mesmo operacionalmente. Ao mesmo


tempo, uma amostragem pouco densa também pode não representar com vera-
cidade a variabilidade espacial da área.
A forma mais aceitável para definir o tamanho da grade é por meio da
análise geoestatística, que determina a distância máxima entre amostras para
uma interpolação adequada. A Geoestatística é uma área relativamente nova,
não originalmente desenvolvida na agricultura, mas que ganhou muito impulso
com o advento das práticas de AP. Esse é um tema muito extenso para ser
tratado aqui e sugere-se a busca por literatura específica, já abundante também
em língua portuguesa. Em síntese, chega-se a distâncias máximas entre amos-
tras a partir das quais as estimativas por interpolação já não são confiáveis. Essa
distância, denominada alcance, expressa, por exemplo, a dependência espacial
de um dado atributo do solo. Há muitos estudos disponíveis a esse respeito,
e uma revisão feita por Viscarra Rossel e Lobsey (2016) mostra que o alcance
da variabilidade espacial de atributos físicos e químicos em solos (O a 20 cm
de profundidade) oscila entre < 10 m e 100 m (Quadro 14.1). Com base nesses
estudos, é comum na literatura internacional a indicação ou recomendação de
densidade de amostragem para solo sempre superior a 1 amostra ha-1 , aborda-
gem pouco compatível com o operacional de coleta de amostras no campo e com
os custos das análises laboratoriais correntes do Brasil.

Quadro 14.1 Variabilidade espacial e temporal de atributos do solo


Atributo do solo Variabilidade espacial (amplitude) Variabilidade temporal
Textura Média-alta ·(entre 2 8 m) Baixa
Carbono orgânico Alta (entre 22 m e 78 m) Média (entre 5 e 10 anos)
crna ~édla-alta
~
Média
pH Média-alta (entre 30 me 100 m) Média-alta (entre safras)
P disponível Alta (entre< 10 m e 31 m) Alta (dentro e entre safras)
K disponível Alta (entre 18 me 68 m) Média-alta (dentro e entre safras)
Fonte: adaptado de Vlscarra Rossel e Lobsey (2016).

A amostragem georreferenciada de solo adotada no Brasil é normalmente


aplicada com grades em torno de 2 ha a 5 ha por amostra (0,5 a 0,2 amostra ha-1)
e, em alguns casos, até maiores. Obviamente, há um distanciamento entre o
desejado e o realizado, e a qualidade dos diagnósticos gerados (mapas) por esse
procedimento estará sempre sob suspeição.
Em cada ponto da grade amostral é obtida uma amostra composta por suba-
mostras, coletadas ao redor do ponto georreferenciado teórico. dentro de um
raio predefinido e limitado (Fig. 14.2), visando caracterizar os teores no ponto.
260 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

• • •

• • •
• Ponto amostral teórico
• • • Subamostra

• • •
• •
Fig. 14.2 Grade amostral de pontos
e raio de coleta de subamostras
• • •

Na amostragem por célula (Fig. 14.3), diferentemente da amostragem por


ponto, o objetivo não é representar o ponto, mas sim toda a área da célula da
grade, por meio de um valor médio. Ela é recomendada quando o número de
amostras demandado no método por ponto é muito alto e se torna uma opção
inviável para o produtor. Dessa forma, a grade utilizada pode ser maior, e as
subamostras são coletadas ao longo de toda a célula da maneira mais represen-
tativa possível para formar uma amostra composta para cada célula.
Ao contrário da amostragem por
ponto, nesse caso não há interpolação
para gerar o mapa final. A coleta ocorre
A ao longo de toda a área e, portanto,
N

não há lacunas no mapa para serem


preenchidas por interpolação.
Nesse contexto, é necessário fazer
uma rápida abordagem sobre unidades
de gestão diferenciada (UGD), comu-
mente denominadas zonas de manejo.
Essas zonas de manejo correspondem
a regiões com mínima variabilidade
dentro dos talhões, que podem ser
delimitadas segundo a avaliação de
- Caminhamento em zigue-zague
alguns fatores de produção levantados,
• Subamostra
tendo em vista dados georreferencia-
o 50 100 150 200 m dos (normalmente de fatores físicos de
solo e produtividade). Elas se caracteri-
Fig. 14.3 Amostragem par célula e coleta zam por ap_
r esentar baixa vari.
a bilidade
de subomostras espacial dentro delas e possuem repe-
Fonte: Molln, Amaral e Colaço (2015). titividade temporal de de-sempe11ho.
14 AGRICULTURA DE PRECISÃO

Dessa forma, cada uma pode ser gerida como uma unidade homogênea dentro da
lavoura, necessitando, portanto, apenas de uma ou poucas amostras compostas
para sua representação. As subamostras são então coletadas ao longo de toda a
área de cada UGD, formando uma amostra composta, e, assim, a UGD pode ser
vista como uma célula criteriosamente desenhada.
Essa abordagem visa medir, monitorar e ajustar os teores de nutrientes no
solo, mas, ao fazer a recomendação para uma dada aplicação, é necessário consi-
derar também os teores exportados pela(s) cultura(s) precedente(s). No caso da
soja, o destaque está nos teores de fósforo e de potássio. Se o mapa de produti-
vidade estiver disponível, é muito fácil e simples obter os valores especializados
desses teores, bastando adotar um valor de exportação compatível, obtido na
literatura especializada ou mesmo por análise de amostras locais, e utilizar
álgebra de mapas (operações matemáticas entre mapas). A Fig. 14.4 apresenta
o exemplo de um mapa de produtividade de soja e os consequentes mapas de
exportação de fósforo e de potássio, que, certamente, devem ser considerados
ao definir a próxima recomendação.

® ©

Soja P exportado K exportado


ton/ha kg/ha kglha
3.4-4.2 □ 20.6-25.5 □ 63.2-78.o
4.2-4.3 25.5 - 26.4 78.0- 81.1
1-----.1

4.3 -4.4 26.4- 26.9 81.1- 82.4


4.4-4.5 26.9- 27.3 82.4- 83.8
4.5 -4.9 27.3 - 30.1 83.8- 82.3

Fig. 14.4 (A) Mapa de produtividade de soja obtido com o monitor de produtividade na colhedara e
mapas de teores exportados de (B) fósforo e (C) potássio

o mapa de produtividade é essencial, pois pode guiar a aplicação de ferti-


lizantes tendo como base a exportação de nutrientes pela colheita anterior ou,
ainda, permitir um refinamento das recomendações, uma vez que a maioria
dos métodos de recomendação considera a produtividade esperada e a disponi-
bilidade dos nutrientes no solo. Além disso, as informações contidas no mapa
de produtividade podem permitir o ajuste da dose de fertilizantes aplicados em
taxa variável.
262 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

As recomendações podem ter como base um único mapa, como no caso do


teor de potássio no solo para aplicação de fertilizante potássico, por exemplo.
Também podem ser utilizadas informações contidas em vários mapas, como a
aplicação de fertilizante fosfatado em doses variadas, com base na sua expor-
tação pela colheita e sua retenção no solo. Para tanto, são necessários o mapa
de produtividade, o mapa de teor de fósforo no solo e o mapa de textura do solo,
por exemplo. Em todos os casos, deve-se recorrer à álgebra de mapas para obter
o mapa de recomendação mais exato possível.

14.6 PRODUTIVIDADE OU LUCRATIVIDADE?


Em muitos casos, as baixas produtividades observadas em determinadas regiões
de uma mesma lavoura podem estar associadas a aspectos totalmente fora da
possibilidade de intervenção, como manchas de textura mais arenosa ou de
''cascalho''. Nesses.casos, toda a abordagem gerencial deve estar focada no fator
limitante e provavelmente não seja adequado elevar os níveis de fertilidade do
solo dessas manchas aos mesmos níveis do restante da lavoura. Isso conduz auma.
necessidade de abordagem econômica mais detalhada. O detalhamento aqui é
apenas na forma, especializando os indicadores e os resultados. A Fig. 14.5 mostra
o mesmo mapa de produtividade apresentado anteriormente, agora convertido
em faturamento (R$ ha-1), e, nesse caso, considerando que o agricultor tratou a
lavoura de forma uniforme, os custos também serão uniformes. O mapa do lucro
dessa lavoura de soja será a diferença entre o faturamento e o custo de produção
e denuncia que há porções expressivas da lavoura que resultaram em prejuízo.

® ©

Soja Entrada Lucro


ton/ha R$/ha R$/ha
3.4-4.2 □ 3043-3755 -457- -199

4.2-4.3 L-~3755 - 3902


1
--199 - -102
- - .
..
'

\ 4_·3 _ 4.4 3902-3965 l l -102 - 0


•• •

)'

4.4-4.S 3965-4034
. ~ ,i O- 201
...•'I
4.5-4.9 4034-4442 201-446 ~

446-942

Fig. 14.5 (A) Mapa de produtlvl~ade de soja obtido com o monitor de produtividade na colhedora. convertido
em .(B) fatu.ramento e (C) lucro
14 AGRICULTURA DE PRECISÃO 263

A solução com abordagem econômica é tratar as regiões onde a baixa


produtividade é causada por limitações fora de controle como regiões com baixo
potencial, fazendo menor aporte de insumos, visando obter lucro, mesmo que
com baixa produtividade. Dessa forma, as regiões de maior potencial produ-
tivo das lavouras devem receber um aporte maior de insumos, realocados das
regiões de baixo potencial, objetivando explorar seu limite econômico.

14.7 E OS DEMAIS LIMITANTES À PRODUTIVIDADE?


1 A gestão de pragas e doenças nas lavouras pode ser extremamente beneficiada
1
1

1 com o uso de recursos de georreferenciamento e mapeamento da variabilidade


espacial. Vários fatores bióticos e abióticos podem influenciar o comporta-
mento da praga ou da doença, tornando sua distribuição heterogênea. Muitas
pragas e doenças apresentam alta variação no campo, especialmente aquelas
que ocorrem em reboleiras. Embora essa característica dificulte o mapeamento,
os tratamentos fitossanitários aplicados em taxas variáveis podem oferecer
.g anhos econômicos e ambientais significativos, não sendo utilizados onde os
problemas fitossanitários não ocorrem.
A coleta e o levantamento da ocorrência de pragas e doenças podem seguir,
sempre que possível, os mesmos métodos de amostragem georreferenciada
1
1 1
adotados para o solo. No entanto, recentemente, muitas técnicas com o uso de
imagens aéreas ou orbitais, refletância e outras têm sido estudadas para fazer
1
1
diagnósticos espacializados da condição fitossanitária da lavoura. Em doenças, os
desafios estão na detecção prematura de sintomas para diagnóstico. Em pragas,
um dos gargalos é a alta mobilidade de alguns insetos, que faz com que, muitas
vezes, o mapa gerado pela amostragem não represente a ocorrência da praga no
campo no momento da aplicação.
Os ganhos econômicos e ambientais do controle localizado de pragas e
doenças podem, com frequência, ser maiores do que na gestão localizada da
adubação, já que normalmente estão associados à economia ou à redução do
uso de insumos. Os produtos fitossanitários são responsáveis por uma porção
significativa dos custos de produção de grãos, e sua aplicação em excesso, além
de aumentar os custos, pode ser extremamente danosa ao meio ambiente.
As técnicas e tecnologias de aplicação para tal podem ser: (a) aplicar ou não

'
1
aplicar, em curtas distâncias; (b) aplicar calda em volumes variáveis em função
l• da maior ou da menor presença de biomassa; (e) realizar aplicação variada de
multiprodutos na forma de injeção direta dos seus princípios ativos. Nesse
contexto, também gradativamente entrarão em cena os veículos aéreos não
1 tripulados (VANTs/drones), de baixa autonomia, justamente para cobrir apenas
1
)

as reboleiras ou pontos de infestação.


264 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

Outro desafio que recentemente tem sido apontado como limitante à produ-
tividade é a compactação do solo. Projeções de médio prazo dão conta de que
nossas máquinas ainda estão em fase de aumento de tamanho e, portanto, de
peso, indicando que os problemas tendem a se intensificar.
, . . . "
As tecn1cas de AP oferecem algumas alternativas para uma conv1venc1a
.
menos danosa com tais problemas. Uma dessas formas é a gestão dos níveis de
dureza do solo, tendo como referência intervenções localizadas - mecânicas e
biológicas. Para tanto, é necessário conhecer com detalhes a variabilidade espa-
cial de atributos físicos do solo, especialmente a textura, um investimento que
não necessita ser repetido. Uma das soluções mais recentes é a informação da
condutividade elétrica aparente do solo, que, normalmente, tem forte relação
com sua textura e é obtida com alta densidade espacial. Outra forma é inves-
tir diretamente na obtenção da informação relacionada à resistência do solo
à penetração, por meio de sensores denominados penetrômetros. Eles medem
o índice de cone, que é a relação entre a força aplicada para a penetração e a
área basal de um cone. A amostragem georreferenciada é uma alternativa para
o mapeamento desse parâmetro, mas tem apresentado algumas dificuldades.
É necessário fazer leituras em condição específica de teor de água no solo e
com alta quantidade de subamostras, pela dificuldade de representar o valor
do índice de cone para cada ponto amostral. Além disso, a alta variação desse
parâmetro em curtas distâncias, especialmente em razão do tráfego de máqui-
nas, demanda uma densidade amostral alta, o que pode inviabilizar a operação.
A medida preventiva mais promissora é o controle de tráfego com o auxílio de
sistemas de direção automática nos veículos agrícolas. O pressuposto é o planeja-
mento antecipado dos percursos e sua execução disciplinadamente repetida nos
mesmos locais. O planejamento visa reduzir impactos relacionados à sua opera-
ção, com minimização de tempos improdutivos em manobras, abastecimentos
e sobreposições. A execução objetiva produzir a menor área compactada de solo
pela passagem dos seus rodados. Esses rastros permanentes são mantidos como
faixas compactadas que também oferecem vantagens na melhor tração e desloca-
mento dos rodados. Sua implementação exige que as máquinas e suas operações
tenham a mesma largura ou, quando não for possível, múltiplos dela, de modo que
as passadas adjacentes estejam sempre nos mesmos lugares em todas as máqui-
nas que trabalham no campo. As bitolas de todas as máquinas devem coincidir,
perinitindo que passem exatamente no mesmo lugar ano após ano. Em sistema
de plantio direto, a colhedora define as bitolas dos rodados das demais máquinas,
0 que gera problemas relacionados à trafegabilidade entre as lavouras e em estra-
das. É evidente que essa técnica exige criterioso planejamento, investimento no
ajuste de larguras e bitolas das máquinas e em sistemas de direção automática em
todas elas e, acima de tudo, muita disciplina na equipe de operadores.
14 AGRICULTURA DE PRECISÃO 265

14.8 CONSIDERAÇÕES FINAIS


A soja se caracteriza por ser cultivada em grandes extensões de áreas e por estar
limitada a valores de mercado, o que estabelece tetos de capacidades de inves-
timentos de seus produtores. As práticas, técnicas e tecnologias associadas à
AP são inúmeras e tendem a se expandir à medida que são desenvolvidas novas
abordagens para cada problema específico das lavouras. É de se esperar que nem
sempre as novas soluções técnicas tenham viabilidade econômica prontamente.
Além disso, há o permanente desafio da escala de produção, que faz com
que os pequenos produtores possam se considerar relegados. Mas a AP, na sua
essência, oferece facilidades e recursos que permitem o resgate das práticas
antigas, em que a variabilidade da lavoura era considerada, mesmo que de forma
empírica. A variabilidade presente nas lavouras pode ser medida e gerenciada
localizadamente em várias escalas e resoluções, dependendo da tecnologia
disponível, mas a técnica pode e deve ser adaptada às condições específicas de
investimento disponível.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAIO, F. H. R.; MOLIN, J. P.; POVH, F. P. Agricultura de precisão na adubação de grandes
• culturas. ln: Nutrição e adubação de grandes culturas. 1 ed. Jaboticabal: Unesp, 2018 .
4

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BRAMLEY, R. G. V. Lessons from Nearly 20 Years of Precision Agriculture Research,
Development, and Adoption as a Guide to its Appropriate Application. Crop & Pasture
' Science, v. 60, p. 197-217, 2009.
FOUNTAS, S.; BLACKMORE, S.; ESS, D. R.; HAUKINS, S. D.; BLUMHOFF, G. K.;
LOWENBERG-DEBOER, ]. M.; SORENSEN, C. G. Farmer Experience with Precision
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p. 121-141, 2005.
MAPA - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Agricultura
digital e de precisão. 2017. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/assuntos/
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de-precisao. Acesso em: ago. 2019.
MOLIN, J. P.; AMARAL, L. R.; COLAÇO, A. Agricultura de precisão. São Paulo: Oficina de
Textos, 2015. 238 p.
VISCA.RRA ROSSEL, R. A.; LOBSEY, C. Scoping Reuiew of Proximal Soil Sensors for Grain
Growing. Australia: CSIRO, 2016.
,.

COLHEITA

Gil Miguel de Sousa Câmara


Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Escola Superior de Agricultura ''Luiz de Queiroz'',
da Universidade de São Paulo. E-mail: gil.camara@usp.br

Os sistemas de produção vegetal caracterizam-se por uma sequência orde-


nada de operações agrícolas realizadas cronologicamente, acompanhando as
fases de instalação, tratos culturais e colheita das culturas. A colheita é a última
operação feita no campo e tem por objetivo retirar o produto agrícola da área de
produção com a máxima qualidade e o mínimo de perdas.

15.1 MOMENTO DE COLHEITA


De acordo com a Fertb1ógia de Fehr e Caviness (1977), o estádio R7 corresponde
ao ponto de maturidade fisiológica, quando surge na planta a primeira vagem,
:fisiologicamente madura, com o máximo acúmulo de matéria seca em suas
sementes. Entretanto, o teor de água é superior a 40%, impossibilitando assim a
colheita mecânica. O estádio R8 corresponde à maturidade de campo, quando,
pelo menos, 95% das vagens se encontram maduras. Entre esses estádios, os
grãos de soja estão armazenados no campo dentro das vagens, sujeitos às
variações ambientais de temperatura e umidade, que não contribuem para a
manutenção da qualidade do produto.
o ponto de colheita de uma lavoura de soja corresponde ao estádio de
maturidade a campo (RB), associado à faixa de umidade nos grãos (13% a 15%),
compatível com a trilha mecânica. A colheita deve ser iniciada tão logo possí-
vel, para minimizar a ocorrência de danos mecânicos aos grãos. Esses danos
geralmente aumentam quando o teor de água é superior a 15% (dano mecânico
latente) ou inferior a 13% (dano mecânico imediato). No momento indicado para a
colheita, as plantas apresentam-se praticamente sem folhas e com vagens secas.

15.2 OESSECAÇÃO
Muitos produtores preferem iniciar a colheita quando a umidade dos grãos é
igual ou inferior a 13%, pois, dessa forma, não há necessidade de secagem antes

e
------- -- -

.
••

15 COLHEITA 267 1
1

do armazenamento, razão pela qual optam pela dessecação. Essa opção, apesar
de reduzir os custos, somente é favorável se não houver incidência de chuvas e
a temperatura permanecer amena após a maturidade (Câmara; Marques, 2001).
A dessecação da soja é obtida pela pulverização de substâncias químicas, 1

predominantemente da classe dos herbicidas não seletivos, que facilita a seca- 1

gem, seguida ou não da queda das folhas, simultaneamente à perda de umidade


dos grãos, de preferência sem reduzir o peso da matéria seca. '
1

Hoje, pela legislação brasileira, são pouquíssimos os produtos registrados


1 e liberados como dessecantes em pré-colheita na cultura da soja, resumindo-
t -se praticamente aos ingredientes ativos (i.a.) diquate e dibrometo de diquate,
do grupo químico Bipiridílio. Trata-se de herbicida não seletivo· (grupo D)
'
pertencente aos níveis I e II quanto à classe toxicológica e de risco ambien-
1
1
l tal, respectivamente. Suas doses variam de 0,2 kg a 0,4 kg do i.a. por hectare,
'
1
variando de 1,0 L ha-1 a 2,0 L ha-1 para o produto comercial de várias marcas.
O intervalo de segurança (IS) entre aplicação e colheita é de sete dias e o limite
1
máximo de resíduos (LMR) no produto colhido é 0,2 mg kg-1 (Rodrigues; Almeida,
2011; Anvisa, 2016).
1 Para melhor eficiência na dessecação, o herbicida é aplicado juntamente
com um espalhante não iônico na concentração de 0,1% v/v. Os volumes de calda
aplicados via aérea variam de 30 L ha-1 a 40 L ha-1 e, via terrestre, de 100 L ha-1
a 200 L ha-1 , com tecnologia de aplicação que propicie boa cobertura das folhas.
A dessecação não deve ser uma prática de rotina, sendo indicada na pré-
1.
1
-colheita da soja apenas em situações extremas, por exemplo, no caso de excesso
de plantas daninhas que possam comprometer o desempenho operacional da
colhedora e aumentar o índice de perdas na colheita, ou para uniformizar plan-
tas de soja com maturação desigual, causada por ataque de percevejos ou outros
fatores que possam ocasionar desequilíbrio fisiológico na maturação.
Entretanto, observa-se que a dessecação de lavouras de soja tornou-se
atividade rotineira em muitas regiões devido aos seguintes argumentos: possibi-
lidade de acentuada antecipação da época de colheita; uniformização da umidade
e da maturação da lavoura; diminuição das perdas de colheita decorrentes da
exposição dos grãos a condições climáticas adversas após a maturidade; redu-
ção de impurezas no transporte dos grãos de soja; comercialização antecipada
da produção, captando melhores preços no mercado;· dessecação de plantas
daninhas adultas e eliminação de plant.a s daninhas em fase inicial de desenvol-
vimento; viabilização do plantio direto e instalação da segunda safra na melhor
época de semeadura; e redução do custo com herbicidas de manejo em áreas de
plantio direto e semeadura no limpo da cultura subsequente.
A dessecação é indicada quando a maior parte da população de plantas se
encontra em ple.n a fase de maturidade fisiológica, ·iaentificada quando o amare-
lecimento de folhas e de vagens está em torno de. 70% a 75% (entre os estádios
268 SOJA: DO PLANTIO A COLI--IEITA

R7.1 e R7.2). Dessecações precoces, quando a lavoura ainda está totalmente


verde (estádios RS.5 a R6), refletem-se em perdas de produtividade agrícola
variáveis de 420 kg ha-1 a 2.340 kg ha-1 • Além de perdas quantitativas, há o risco
de perdas qualitativas (grãos ardidos e mofados), principalmente se ocorrer
chuva após a dessecação.
A ação dessecante desejada pode ocorrer de quatro a sete dias após a
aplicação. Porém, o período de carência do produto utilizado deve ser respei-
tado pelo produtor, devendo-se esperar, pelo menos, sete dias para realizar
a colheita, para que os resíduos do produto nos grãos não estejam acima do
máximo permitido por lei.
A dessecação da soja na pré-colheita é indicada apenas para produção de
grãos. Não é recomendada para campos de produção de sementes, pois pode
acarretar redução da qualidade destas, diminuindo o vigor e a germinação.

15.3 SISTEMAS DE COLHEITA


Atingido o ponto de colheita, esta é realizada de dezembro a abril, dependendo
da época de semeadura e do grupo de maturação do cultivar. Segundo Heiffig e
Câmara (2006), a colheita consiste de: a) cortar- seccionar a parte aérea das plantas
onde estão contidos os grãos; b) trilhar - separar os grãos do material constituinte
da parte aérea cortada; e e) limpar - retirar da massa de grãos as impurezas que a
acompanham após a trilha. A colheita pode ser manual, semimecanizada e total-
mente mecanizada, confarme descrito subsequentemente.
X Colheita manual: é comum em pequenas propriedades, cuja produção é desti-
nada ao consumo próprio ou ao comércio. Também pode ser realizada em
universidades, institutos e empresas de pesquisa, na colheita de parcelas
experimentais. De baixa capacidade operacional, consiste do arrancamento
ou do corte das plantas, com enxada, ferro de cortar capim ou tesoura de
poda bem afiada. Posteriormente, batem-se as plantas com varas sobre um
terreiro revestido com lona plástica ou, então, acondicionam-se as plantas
secas no interior de sacos de aniagem para em seguida batê-las. Os grãos
caídos na lona ou no interior do saco de aniagem são abanados e armazena-
dos para posterior pesagem, consumo ou comercialização.
)( Colheita semimecanizada: inicia-se com o corte basal da planta, por meio
de uma roçadora motorizada costal provida de disco tipo .. serra" com 80
dentes. As plantas cortadas são enfeixadas e encaminhadas para secagem
em terreiro. Havendo ou não necessidade de secagem, as plantas colhi-
das dessa forma podem ser debulhadas mecanicamente em trilhadoras
estacionárias de alimentação manual. Os grãos trilhados são abanados e
armazenados para consumo próprio e/ou para posterior comercialização.
Esse sistema pode ser utilizado em pequenas propriedades, sendo mais
15 COLHEITA 269

comum em instituições oficiais e particulares que desenvolvem trabalhos


de pesquisa e melhoramento genético de soja e não possuem colhedoras
automotrizes de parcelas experimentais.
)C Colheita mecanizada: utiliza-se uma máquina tecnicamente denominada
colhedora combinada automotriz, que contém motor e transmissões que lhe
conferem autopropulsão. Em uma única passada faz as operações de corte,
alimentação (recolhimento), trilha e limpeza, além do armazenamento
temporário seguido do descarregamento dos grãos. Como não há processo
de secagem, o emprego desse sistema de colheita exige que a cultura esteja
uniformemente madura e livre de plantas daninhas e que os grãos apresen-
tem baixos teores de água (13% a 15%).

15.4 COMPONENTES BÁSICOS DE COLHEDORAS AUTOMOTRIZES


Da constituição de uma colhedora combinada de soja ou de cereais participam
vários sistemas mecânicos, elétricos e hidráulicos, relacionados aos subsiste-
mas ou unidades de corte, trilha e limpeza, cujos acionamentos obedecem a
comandos elétricos e hidráulicos. A energia necessária à operação combinada
dessas unidades é gerada pelo motor que a distribui para todos os componentes,
1
através do sistema de transmissão de potência (Heiffig; Câmara, 2006).
l A fim de compreender o funcionamento de uma colhedora combinada,
1

deve-se observar cuidadosamente a função de cada um de seus sistemas. Para


l efetivar a melhor regulagem dos componentes de uma colhedora, dois proce-
dimentos básicos são recomendados: a) ler atentamente o manual do próprio
fabricante; e b) providenciar o treinamento do operador de máquina, juntamente
ao próprio fabricante ou ao representante oficial deste, quanto à manutenção
básica e às regulagens da combinada.
os componentes ativos das colhedoras são diretamente manipulados pelo ·
operador e têm relação direta com a velocidade de deslocamento da máquina.
que deve se situar entre 4 km/h e 8 km/h, conforme o modelo da colhedora, a
cultura a ser colhida, o destino a ser dado à produção (grão ou semente) e as
condições agronômicas gerais da lavoura por ocasião da colheita. Atualmente,
alguns modelos de colhedoras possuem mecanismo eletrônico de manutenção
constante da rotação do motor, de maneira que os componentes acionados dire-
tamente pelo motor também tenham rotação constante, independentemente da
variação de velocidade de deslocamento da máquina. Na Fig. 15.1 é apresentado
0 esquema geral de uma colhedora de soja com os principais compone11tes.

1s.4.1 Sistema de corte e alimentação


É constituído por molinete (roda auxiliadora de corte), barra de corte, condu-
tor helicoidal (caracol transversal ou rosca sen1-fim) ot1 esteiras condutoras

1
270 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

transversais que transportam a massa de plantas cortadas para a esteira alimen-


tadora do sistema de trilha (Figs. 15.2 e 15.3).

1 2 9

FIG. 15 .1 Constituição de uma calhedaro de soja: 1) molinete; 2) esteira alimentadora: 3) cilindra


trilhador; 4) depósito de grãos; 5) cilindra batedor traseira; 6) elevador de retrilha; 7) cortina defletoro;
8) elevador de grãos limpos; 9) saca-palhas; 1D) peneira superior; 11) peneira inferior; 12) ventilador,·
13) bandeja coletara de grãos trilhadas; 14) grade de transição; 15) côncava; 16) coletor de pedras;
17) transportador; 18) condutor helicoidal (sem-fim); 19) barra de corte; 2D) plataforma de corte; e 21)
separadores de fileiras
Fonte: Mesquita et ai. (1998).

Terço superior
das plantas
I -· 0
Eixo do molinete 7
.• 1 1•
Barra de corte
l 1
15 a 30 cm

FIG. 15.2 Esquema parcial de uma plataforma FIG. 15.3 Barra de corte de uma colhedora: (A) vista
de corte ilustrando o posicionamento do eixo da geral de uma barra de corte, com 1) bqrra, 2) faca e
malinete de 15 cm a 3D cm à frente da barra de carte 3) condutor helicoidal; e (B) detalhe de construção
e a captação das plantas pelo molinete na terço da barro, com 1) guarda, 2) plo·ca de apoio, 3) placa
superior de desgaste, 4) barra da faca. 5) seção do faca, 6)
Fonte: Mesquita et ai. (1998). grampo e 7) barra de suporte
Fonte: Balastrelre (1987).
15 COLHEITA 271

Os órgãos ativos de corte ou lâminas de corte localizam-se numa estrutura


denominada barra de corte. Ao conjunto proporcionado por molinete, barra de 1
'

corte e condutor helicoidal ou esteiras condutoras transversais dá-se o nome de


plataforma de corte, que pode_ser fixa ou flexível, isto é, oscilar acompanhando os
desníveis do terreno.
A função do molinete é colocar a planta cortada pela barra de corte em posi-
ção correta, para que caia na plataforma de corte e seja captada pelo condutor
helicoidal ou pelas esteiras condutoras transversais e encaminhada para o
sistema de debulha ou trilha, através da esteira alimentadora. A estrutura do
1
1 molinete é formada por três a oito barras retilíneas de madeira ou aço, muni-
(
1
das ou não de garras (dentes ou dedos), que inclinam as plantas em direção à
l lâmina de corte. Os dedos dessa peça podem alcançar as plantas derrubadas e 1
1
1
'
1
t
levantá-las para que a barra de corte possa cortá-las.
O comprimento do molinete é proporcional à largura da plataforma de
1
1
1 corte, que pode oscilar de 16 a 45 pés (4,9 m a 13,7 m). Na regulagem da colhe-
l dora, a projeção do eixo do molinete deve ficar de 15 cm a 30 cm à frente da barra 1

l
1 1
de corte, e o molinete deve ser mais alto que as plantas, para permitir que os
travessões com os pentes toquem na metade superior delas, preferencialmente
no terço superior, no caso de lavouras uniformes. Dessa forma, o impacto dos 1
l
travessões contra as plantas será mais suave e evitará o seu tombamento na
frente da combinada no momento do corte (Fig. 15.2). 11
t
1 A altura do molinete varia de acordo com as condições das plantas nas (•
1
lavouras (eretas ou acamadas). Sua velocidade periférica deve ser 25% superior 1

1
à velocidade de deslocamento da combinada, o que corresponde, aproximada- 1

1
mente, a 14 a 21 rotações por minuto (rpm).
A barra de corte, acoplada na parte dianteira da plataforma, é composta por J
1

facas ou navalhas de aço que se movem alternadament~ em relação a uma barra


~ ' .

1 fixa, que contém contrafacas (guardas, contranavalhas, dedos ou guias), placas


1
de apoio e placas de desgaste. O movimento alternado entre as duas barras é que l
'
j

'
realiza o corte das plantas (Fig. 15.3). 1
1
\

A barra de corte deve estar alinhada, sem folgas, com as facas de corte 1
t
J
afiadas e funcionando livremente por entre as contrafacas, que devem estar '
!

retas, isto é, não entortadas nem quebradas. As pontas das facas devem tocar
levemente as guardas e, durante o seu curso, percorrer a distância de centro a .
'•
centro destas. A altura de trabalho das facas que proporciona o corte adequado
das plantas de soja oscila de 1,_5 cm a 10,0 cm. Já a altura da barra de corte deve 1
1

ser ajustada de acordo com o porte da lavoura, principalmente a altura de inser-


ção da primeira vagem ou da primeira ramificação, e, também, em função das
,
condições de nivelamento e declive do terreno, embora esta última caracterís-
'
tica seja compensada pelas ·barras flexíveis.
272 SOJA: DO PLANTIO À COLJ-IEI~fA

Atualmente, as colhedoras são munidas de vários sensores em todos os


seus sistemas. Os localizados na plataforma controlam a altura de corte, quando
esta trabalha muito próximo ao solo. Esse recurso facilita o serviço do operador,
que constantemente ajusta a altura da plataforma, e é também muito impor-
tante quando se trabalha em solo desuniforme ou à noite.
A função das esteiras transportadoras transversais (tipo draper) ou do
condutor helicoidal é apanhar as plantas cortadas pelas facas e encaminhá-las
para a esteira alimentadora do sistema de trilha. Para maior eficiência desse
trabalho, o sem-fim deve ser posicionado de forma estratégica, isto é, próximo
ao sistema de corte e com pequeno vão entre o condutor helicoidal e o chão
da plataforma.

15.4.2 Sistema de trilha ou debulha


Tem a função de separar mecanicamente os grãos das vagens e das plantas.
Existem três tipos de mecanismos de trilha: cilindro de dentes e côncavo; cilin-
dro de barras e côncavo; e cilindro com fluxo axial. O primeiro é mais utilizado
para a colheita de produtos de fácil debulha e com grande volume de massa; os
dois últimos são mais empregados para a trilha de grãos e cereais como soja,
trigo, milho, sorgo, aveia, cevada, centeio e outros.
A trilha é efetuada através de um cilindro trilhador ou debulhador giratório,
que trabalha juntamente com uma grade estacionária, denominada côncavo, e
o conjunto recebe o nome de cilindro--côncauo. Entre o cilindro e o côncavo existe
um espaço através do qual a massa de plantas cortadas, contendo as sementes
no interior das vagens, deve passar. Dependendo do volume e da umidade da
massa a ser trilhada, da distância ou da abertura entre o cilindro e o côncavo
e da velocidade do cilindro trilhador, haverá maior ou menor quantidade de
vagens debulhadas, com maior ou menor índice de danificação sobre as semen-
tes trilhadas.
O côncavo corresponde a uma grade do tipo grelha, recurvada em arco de 105º
a 110º, possuindo 10 a 12 barras. Apresenta uma folga ou distância em relação ao
cilindro batedor, denominada abertura do côncavo. A regulagem dessa distância
é feita em posição anterior e posterior, quanto ao caminhamento da massa a ser
trilhada, sendo definida de acordo com a marca e o modelo da automotriz e 0
volume e a umidade da massa a ser trilhada. De maneira geral, a abertura ante-
rior deve corresponder a 1,5 a 2,0 vezes a abertura posterior, lembrando que,
ao longo da sua extensão, o côncavo deve permanecer paralelo em relação ao
cilindro batedor. Como regulagem básica, sugere-se a relação 3:2, isto é, na parte
anterior, a distância cilindro-côncavo deve corresponder a três vezes O tamanho
do grão e, na posterior, duas vezes (Fig. 15.4). A grelha do côncavo deve estar
limpa e desimpedida para não obstruir a passagem da massa trilhada.
15 COLHEITA 273

O cilindro trilhador bate o mate- Batedor 1


1
rial colhido e o esfrega de encontro ao
côncavo, liberando as sementes das
1 vagens: parte das sementes atravessa a \
1
grade do côncavo e parte acompanha as
..t::::...____,..1--~--
hastes, as folhas e os demais detritos. .
"-.• • •e

As vagens não trilhadas retornam ao ~~:--------


••• ~=
,,,__._. ••
..__,_~---~ <--,-~ ,.
cilindro trilhador. O cilindro é regulado Cilindro Côncavo
pela variação de sua rotação, segundo o FIG. 15.4 Esquema parcial do sistema de trilha
estado da cultura e o teor de água nas convencional, constando de cilipdro-côncavo e
1
sementes. Nas máquinas atuais encon- cilindro batedor traseira
1

tram-se faixas de rotação desde 250 rpm Fonte: Mesquita et ai. (1998). 1
1

até 1.300 rpm. 1

A velocidade de rotação do cilindro deve ser a maior possível, para permitir


a obtenção de rendimento elevado, mas sem danificar as sementes (Tab. 15.1).
, . . ,
E aJustada de tal modo que todas as vagens sejam debulhadas; posteriormente, e
reduzida gradativamente, até que uma quantidade mínima não seja debulhada. '
1
No caso da colheita de sementes, a velocidade deve, inclusive, ser regulada de 1

acordo com as diferentes horas do dia, ou seja, deve-se utilizar menores velo-
cidades nos períodos mais quentes do dia, quando as sementes se encontram
mais secas. Caso contrário, o índice de danificação por injúria mecânica sobre
as sementes será muito elevado (Ribeiro et al., 2007; Vieira; Silva; Vieira, 2006).
1
Atualmente, encontram-se colhe- '

doras combinadas, em que o sistema de Tab. 15.1 Perdas de sementes de soja por 1

dano mecânico (0/o) em função l


trilha é promovido por fluxo axial de ar, da umidade nas sementes e da 'l
'
reduzindo as danificações mecânicas velocidade do cilindro debulhador 1

sobre as sementes. Em sistema de fluxo Umidade nas sementes


Velocidades do (º/o)
axial, o cilindro trilhador, agora chamado cilindro (rpm)
rotor, recebe o material a ser trilhado pela 11 13
475 9,56 2,18
frente, e não radialmente. !
soo 9,64 2,38
o rotor é semelhante àqueles cilin- 1

550 11,82 4,11


dros citados anteriormente, com barras 1
600 13,82 s.06 •
de raspagem em disposição helicoidal. 1
1

650 16,02 5.29


t
l

Uma colhedora combinada com sistema
700 17,24 7,38
em fluxo axial pode ter um ou dois rot9res 1
\
Fonte: Miyasaka (1976). . 1

paralelos (Fig. 15.5). O côncavo é disposto 1


r

abaixo do rotor, e alguns trabalhos indi- '


!
1

cam que a eficiência de separação do ststema rotor-côncavo pode chegar a 90%,


,
I

mostrando ser melhor q~e o sistema convencional.


1

1
r
(
274 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

FIG. 15 .5 Máquina de fluxo axial utilizando


rotores duplas: 1) rotores; 2) barra de
raspagem; 3) côncavo de trilha; 4) côncavo
de separação; 5) batedor; 6) grade do
batedor; e 7) peneiras de limpeza
Fonte: Srivastava, Goerlng e Rohrbach (1993).

Em alguns modelos, o cilindro batedor foi substituído por um cone de transi-


ção, que transfere de forma suave o material colhido do alimentador para o rotor,
com baixo impacto sobre as sementes e menor demanda de potência do motor.

15.4.3 Sistema de separação e limpeza


Esse sistema é constituído de saca-palhas, peneiras, ventilador e correias de
canecas elevatórias (Fig. 15.6).
O primeiro trabalho corresponde à seção de separação, cujo principal elemento
é o saca-palhas, que, devido ao seu movimento de ''solavanco'' e à forma de suas
peças, encaminha a palha e os grãos em direção à parte posterior da máquina,
ao mesmo tempo que permite a separação dos grãos, que alcançam as peneiras
localizadas em posição inferior. Ao serem remessados pelo cilindro-côncavo junta-
mente com a palha remetida pelo cilindro batedor traseiro sobre o saca-palhas, os
grãos são interceptados por uma lona separadora (cortina) em posição vertical,
ocasionando assim a queda desses grãos sobre a seção de limpeza (Fig. 15.1).
A seção de limpeza é cons-

Batedor Peneira tituída pelo ventilador e pelas

7 sup.enor peneiras. Nessa seção, as impu-


rezas de diferentes tamanhos são
o
e separadas das sementes. A peneira
superior descarta os materiais maio-

•..
4

---
res, e a inferior, as impurezas miúdas.
A peneira superior permite a passa-
gem dos grãos trilhados e da palha
miúda (pedaços de vagens), vedando
....::::::::__,._ _ _ _ _.._~~------+---;:;-~~-(-
Ban e ão Peneira Extensao
a passagem das vagens não trilha-
ventilador inferior da pe~eira das e da palha graúda. Se a abertu.r a
su enor
dessa peneira for insuficiente, haverá
a condução de grãos para a retrilha;.
.

PIG. 15.6 Esquema do sistema de separação e limpeza de quando muito aberta, haverá sobre-
uma colhedara de grãos automotriz carga da peneira inferior.
Fonte: Mesquita et ai. (1998).
15 COLHEITA 275

A peneira inferior geralmente está mais próxima ao ventilador, cuja corrente


de ar provoca a eliminação dos materiais leves. A velocidade de ventilação varia
de 300 rpm a 1.350 rpm; velocidades excessivas ocasionam o desvio dos grãos
mais leves para os mecanismos de saída da máquina. Composta por orifícios de
5 mm, 8 mm, 10 mm e 12 mm, a abertura da peneira inferior permite apenas
a passagem dos grãos trilhados e bem formados, que são, então, conduzidos a
um mecanismo elevador que os leva ao tanque graneleiro ou para um condutor
(tubo com rosca sem-fim) que os encaminha para o exterior da máquina, onde
são depositados em caminhões ou carretas.
Da virada do milênio para os dias atuais, houve significativa evolução tecno-
lógica dos fatores de mecanização agrícola, demandada, sobretudo, pela crescente
expansão em área com os cultivas de soja e milho safrinha, acarretando maior
demanda operacional por unidade de área e de tempo. Ou seja, as áreas aumenta-
ram sem o respectivo aumento das janelas de semeadura e de colheita.
A consequência natural foi a evolução tecnológica das máquinas e dos
implementas agrícolas, associada à intensificação de uso dos equipamentos ao
longo dos turnos de trabalho, principalmente o noturno. Simultaneamente cres-
ceu a prestação de serviços por terceirização das operações de colheita. Nesse
novo cenário, surgiu a coexistência de máquinas automotrizes antigas (fluxo
radial) e modernas (fluxo axial), que persiste em muitas regiões agrícolas do
Brasil, o que contribui para explicar a variabilidade de resultados quanto às
avaliações de perdas de colheita na cultura da soja, seja na avaliação prática
agronômica de campo, seja nas poucas pesquisas realizadas sobre o assunto.
Por outro lado, muitas lavouras ainda precisam melhorar o porte das plan-
tas, proporcionando arquitetura de cultura compatível com alta produtividade
agrícola e alto rendimento de trilha mecânica, associada a baixo índice de
perdas na colheita. l

Na Tab. 15.2 são apresentados alguns dos vários modelos de máquinas


automotrizes atualmente disponíveis no Brasil.

Tab. 15.2 Alguns modelos de máquinas automotrizes disponíveis no Brasil para colheita de grãos
Capacidade
Plataforma Rotação do Rotação do Vazão de
Marcas1 Modelos do tanque
de corte (pés) rotor (~pm) cilindro (rpm) descarga (l/s)
graneleiro (L).
-

5430 16 a 22 380-1.210 - 5.500 55


1
f
JD 5670 35 ou 40 230-1.300 - 11.600 135
-
f
·5790 45 230 ...1.300 - 14.100 135

20 ou 25 290-1.320 ... 7L050 70


4130 -

Case IH 7·1 30 35 250-1.150 - 10.600 114


\'1
·9 230 45 250-1.000 - 14.440 159
276 SOJA: DO PLANTIO À COLrIEITA

Tab. 15.2 (continuação)

Capacidade
Plataforma Rotação do Rotação do Vazão de
Marcas 1 Modelos dotanque
de corte (pés) rotor (rpm) cilindro (rpm) descarga (L/s)
graneleiro (L)

CR 5.85 20 a 30 2 rotores - 7.050 100

CR 8.90 45 2 rotores - 14.500 142


NH
TC 5070 20 - 425-1.150 5.000 53

TC 5090 25 - 425-1.150 7.200 63

1
JD =John Deere; NH =New Holland.
Fonte: Case IH Agriculture (s.d.), John Deere BR (s.d.) e New Holland Agrlculture (s.d.).

15.4.4 Manejo dos grãos colhidos


Manejar os grãos colhidos significa mover os grãos trilhados, separados e limpos
para o tanque graneleiro e deste para um veículo transportador. A retrilha é
outra fase do manejo dos grãos que também deve ser incluída.
Entre os componentes de manejo, destacam-se o elevador de grãos limpos,
o elevador de carregamento do tanque graneleiro, todos os condutores helicoi-
dais (incluindo os de materiais não trilhados e limpos), o tanque graneleiro e o
condutor helicoidal de descarga do graneleiro.
Depois da limpeza dos grãos colhidos, o condutor helicoidal entrega-os
ao elevador. Este último leva os grãos para o condutor superior ou ao condutor
que carrega o tanque graneleiro, o qual deposita os grãos limpos no centro do
tanque ou diretamente num silo.
O tanque graneleiro é o compartimento de armazenagem rápida dos grãos
limpos na máquina. Esse tanque está disponível em várias formas e tamanhos
e pode ser disposto na parte superior, em um lado, ou em ambos os lados da
colhedora combinada (Tab. 15.2).

15.5 PERDAS DE COLHEITA


Não existe perda "zero" em operações mecanizadas de colheita. Entretanto,
deve-se buscar o mínimo de perdas para que se obtenha o máximo de rendi-
mento da colheita mecanizada da soja, pois, quanto menores as perdas, maiores
os lucros.
No Brasil, as perdas de colheita na cultura da soja, em razão da falta de
cuidados na condução da lavoura ou na regulagem e na operacionalização da
máquina, são estimadas entre 3% e 10%, podendo atingir 15% em casos extre-
mos. Os prejuízos, no entanto, podem ser reduzidos para 1% ou n1enos, desde
que sejam conhecidas as causas que determinam as perdas e os procedin1entos
15 COLHEITA 277

mais adequados para contorná-las. o ideal é que as perdas sejam, no máximo,


equivalentes a 60 kg de grãos ou uma saca por hectare.
Da totalidade de perdas ocorridas na colheita de soja, estima-se que cerca
de 80% se deva à má regulagem da combinada e 20%, à má condução da cultura.
Neste último caso, o mais importante é diagnosticar as causas das perdas e
corrigi-las para a próxima safra. Com relação à máquina, uma vez identificada a
fonte da perda, paralisa-se a colhedora, corrige-se imediatamente o problema e
prossegue-se à colheita normal da cultura (Diehl; Canto, 1981).
Em média, Mesquita, Hermann e Bertoldi (1999) e Toledo, Sediyama e
Barros (2009) consideram em torno de 3% as perdas causadas por deiscência
natural, de 80% a 85% as perdas que ocorrem pela ação dos mecanismos da
plataforma de corte das colhedoras (molinete, barra de corte e condutor heli-
coidal) e de 12% as provocadas pelos mecanismos internos da máquina (trilha,
separação e limpeza).
Algumas pesquisas sobre esse tema no Brasil têm revelado que, indepen-
dentemente da frequência de uso, colhedoras mais velhas, com idade superior
a cinco anos, promovem maiores perdas de grãos na colheita do que as mais
novas, com menos de cinco anos de idade, assim como colhedoras próprias
apresentam menores perdas em relação às alugadas (Campos et al., 2005), prova-
velmente devido à maior atenção na regulagem das automotrizes por parte de
. , .
seus propr1etar1os.
l
1 1s.s.1 Perdas anteriores à colheita
Ocorrem antes de iniciadas quaisquer operações relacionadas com ~ colheita
1

1
propriamente dita. Em lavoura bem conduzida, essas perdas podem ser devidas
1

à debulha natural ou ao atraso no início da colheita, às vezes representando até
3% das perdas totais.
A debulha ou degrana natural é uma característica genética inerente
ao cultivar, existindo, porém, algumas variedades mais suscetíveis. Hastes
e ramificações quebradiças e soltas não recolhidas pela máquina também
constituem perdas anteriores à colheita. Esse tipo de perda é agravado pelo
atraso prolongado da colheita, principalmente em ambiente de alta umidade
e temperatura.
. ' Normalmente, atraso da colheita é um problema de causa natural. Chuvas
frequent~s por ocasião em que as plantas da lavoura se encontram em ponto de
colheita são muito comuns em determinados anos. Quando.isso ocorre, a soja
fica à espera, respirando e deteriorando os grãos.
Na Tab. 15.3 ap.r esenta-se a perda da capacidade germinativa de sementes
de soja à medida que a colheita foi atrasada e. na Tab. 15.4, os principais agentes
bióticos contaminantes das s~mentes favorecidos pelo atraso de colheita.
278 SOJA: DO I>LAN'fIO À COLI-IEITA

Tab. 15.3 Efeito do atraso da colheita sobre a qualidade das sementes de soja, expresso
pela emergência de plantas em casa de vegetação
Umidade das
Precipitação1 Emergência (0/o)
Datas de colheita sementes na colheita
(mm)
(º/o)
15 de março - 11,7 74,0

17 de março 27,8 10,5 54,0

19 de março 0,0 10,6 58,0

22 de março 21,8 23,0 28,0

24 de março 30,6 13,0 32,0

26 de março 0,0 11,0 32,0

29 de março 29,2 26,9 16,0

6 de abril 79,3 11,4 12,0

1Precipitação medida a partir da data de colheita Imediatamente anterior.


Fonte: Queiroz et ai. (1978}.

Tab. 15.4 Incidência (º/o) de microrganismos patogênicos em sementes de soja cuja colheita
foi sucessivamente atrasada
Datas de colheita
Microrganismos
15/3 17/3 19/3 22/3 26/3 1°/4
Phomopsis sojae 3,5 15,S 6,5 18,5 35,5 62,5
Fusaríum spp. 5,5 8,0 10,0 38,0 20,0 6,5
Cercospora kíkuchii 11,1 5,0 11,0 2,0 3,0 -
Alternaria spp. 2,5 1,0 0,5 - - -
Bacterioses 1,0 5,0 1,0 2,0 2,5 11,0

Fonte: Queiroz et ai. (1978).

Recentemente, em trabalho similar, Holtz e Reis (2013), avaliando atraso


nos dias de colheita (18 a 29 de março) e três horários de colheita dentro de um
dia operacional (das 9h às 10h, das 14h às 15h e das 20h às 21h) sobre as quan-
tidades de perdas e a qualidade fisiológica de sementes de soja, constataram
aumento significativo das perdas totais do primeiro ao último dia_de colheita,
com perda simultânea da qualidade das sementes (germinação e vigor) e varia-
bilidade de perdas ao longo de um dia, com perdas maiores no horário noturno,
atingindo o valor de 387,3 kg ha-1 às 21h.

1s.s.2 Perdas durante a colheita


São inerentes ao trabalho da automotriz e diretamente relacionadas à má
regulagem da colhe_dora, sendo agravadas pelos defeitos_da lavoura.. Podem
representar até 85% das perdas totais.
15 COLHEITA 279

Perdas durante o corte e a alimentação


Esses tipos de perdas se devem a falhas na ação do molinete e/ou da lâmina
de corte e na alimentação. Defeitos da lavoura, como porte baixo incompatível
com a colheita mecânica, colheita realizada nas horas de temperatura elevada e
baixa umidade relativa do ar, umidade baixa nos grãos e maior sensibilidade do
cultivar à debulha mecânica, são fatores agravantes desse tipo de perda.
Molinete posicionado de forma inadequada e velocidade periférica exces-
siva provocam a debulha das vagens ou a prostração das plantas, que não são
recolhidas. A diminuição das perdas por impactos é reduzida com a utilização
de molinetes com garras.
As perdas relacionadas à lâmina de corte são devidas, principalmente, à
altura do corte. Este deve ser realizado o mais próximo possível do nível do solo,
exigindo grande cuidado e atenção do operador. A barra de corte muito alta
t
1
deixa muitas vagens na planta. Além disso, o corte alto também pode provocar
vibração excessiva das plantas, causando a queda de vagens e sementes.
Na Tab. 15.5 são apresentados os níveis de perdas relacionados à altura da
barra de corte. Nela se observa que o corte totalmente manual, viável apenas
em condições experimentais ou em agricultura de pequena escala, propor-
ciona perda "zero". Porém, para a imensa maioria das áreas cultivadas com
soja, predomina a colheita mecanizada; nesse caso, quanto mais alto for o corte,
maior será a perda.

Tab. 15.S Altura de corte das plantas, produtividade da soja e índice de


perdas na colheita

Altura de corte Produtividade Perdas


(cm) (kg ha-1) (kg ha-1) (º/o)
Colheita manual 2.250 - -

9,0 2.130 120 5,4

12,5 2.040 210 9,4

16,0 1.980 280 12,2

Fonte: Scott e Aldrich (1975).

No auge do período de colheita; o giro das aQtomotrizes ocorre nas 24 h


do dia. No período da noite, a visibilidade da barra de cqrte é dificultada, de
maneira que a velocidade de deslocamento da máquina torna-se menor. Entre-
tanto, esse procedimento 11ão impede que ocorra maior variabilidade na altura
de corte, resultando em maior índice de. p~rdas de grãos à noite (Compagnon et
al., 2012).
280 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

Perdas durante a trilha


A velocidade de deslocamento da máquina e a velocidade do cilindro debulhador
estão intimamente relacionadas no que diz respeito à trilha. Assim, quando o
deslocamento é lento, a quantidade de material que chega ao cilindro é pequena,
não há acolchoamento normal e, com isso, aumenta a probabilidade da ocorrên-
cia de injúrias aos grãos, que recebem diretamente os impactos do cilindro. Já a
velocidade excessiva faz com que haja quantidade de material superior à capa-
cidade de trabalho do cilindro trilhador e muitas vagens não são debulhadas.
Nas máquinas atuais em que a trilha é feita por fluxo axial, esse tipo de
perda tende a ser bem menor, principalmente se o motor for dotado de meca-
nismo eletrônico de manutenção constante de sua própria rotação.
Conforme o estado fitotécnico da cultura a ser colhida, as condições do
ambiente no momento da colheita e a regulagem e o tipo de colhedora, a velo-
cidade de locomoção operacional ainda influi no índice de perdas de grãos na
colheita (Chioderoli et al., 2012). Na avaliação de duas combinadas com sistema
de trilha em fluxo radial, Carvalho Filho et al. {2005) constataram que, quanto
menor a velocidade de deslocamento, menores as perdas de grãos na colheita.
A abertura excessiva da distância cilindro-côncavo e a rotação lenta do
cilindro também provocam trilha incompleta das vagens; pequena abertura e
velocidade excessiva causam danos às sementes e obstrução dos orifícios das
peneiras de limpeza (Heiffig; Câmara, 2006; Ferreira et al., 2007).
Embora a influência da velocidade de deslocamento operacional da combi-
nada sobre o índice de perdas de colheita tenda a diminuir, máquinas com
sistema de trilha radial (cilindro-côncavo) apresentam maiores perdas do que
as automotrizes com sistema axial, com rotor simples ou duplo rotor (Campos
et al., 2005).
o teor de água nas sementes também afeta a eficiência da debulha.
Mesquita, Hermann e Bertoldi (1999) sugerem que se adote, como critério,
o índice de 3% de sementes partidas, no tanque graneleiro, como parâmetro
para redução de dano mecânico, através da regulagem do sistema de trilha da
colhedora.

Perdas durante a separação e a limpeza


As quantidades perdidas sobre o saca-palhas são devidas à sua velocidade exces-
siva, à sobrecarga de palha e à velocidade exagerada do cilindro debulhador
(picando demasiadamente a palha).
A regulagem inadequada das peneiras e do ventilador também provoca
perdas de grãos, que são eliminados juntamente com a palha. Situação inversa
também pode ocorrer, ou seja, a passagem de muita palha acompanhando as
sementes em direção ao depósito da máquina. Em geral, as perdas durante a
separação e a limpeza têm sido pouco representativas.
15 COLHEITA 281

Perdas devidas à má formação da lavoura


As características da planta de soja que mais afetam sua adaptação à colheita
~ . ~ .
mecan1ca sao as seguintes:
X Altura da planta e da inserção da primeira vagem: planta baixa (altura final
inferior a 60 cm) favorece a formação de vagens muito próximas ao solo e
·a umenta a possibilidade de perdas devidas à altura de corte. Semeaduras
tardias e baixas populações de plantas agravam o problema. A altura da
inserção da primeira vagem deve ser superior a 12 cm.
X Número de ramificações baixas na planta: as perdas tendem a crescer à medida
que aumenta o número de ramificações com baixa inserção na haste prin-
cipal, em razão da quebra de ramos que não são recolhidos pela máquina.
O problema pode ser amenizado com o aumento da população de plantas
,
por area.
X Acamamento: plantas deitadas não são recolhidas pela máquina, o que cons-
titui uma das principais causas de perdas na colheita. O acamamento pode
ser atenuado ou corrigido através da utilização de populações adequadas e
1
' 1
de adubações equilibradas.

O mau planejamento da lavoura ou a falta deste se reflete no estabeleci-


mento de uma população de plantas com porte incompatível para a colheita
mecanizada. Entre os fatores de campo que podem contribuir para o aumento
l'
do índice de perdas de colheita em soja, destacam-se:
l
1 X Preparo inadequado do solo: atualmente, é mais comum na abertura de novas
1
1 áreas ou por ocasião do preparo do solo de áreas ainda em processo de cons-
trução de fertilidade e eliminação de matéria orgânica grosseira. Nessas
áreas, o solo preparado indevidamente proporciona problemas à colheita,
principalmente em máquinas com plataforma de corte fixa. Os desníveis no
terreno provocam oscilações na barra de corte, fazendo com que o corte das
plantas seja desuniforme e muitas vagens deixem de ser colhidas.
)( Uso de cultivar não adaptado: ao escolher o cultivar de soja, deve-se levar em
conta a sua adaptação ao local de cultivo, caso contrário as plantas pode-
rão apresentar características indesejáveis. e. incompatíveis com o bom
desempenho da colhedora, como baixa altura de planta e de inserçã·o das
primeiras vagens e ramificações ou, então, o oposto, plantas muito altas e
acamadas. Além disso, a falta de adaptação do cultivar pode resultar em
aumento na fr~quência de plantas verdes ou com haste verde no momento
da colheita.
X Época de semeadura inadequada: semead\lr~s de soja em épocas diferentes
,,.• daquelas tidas como normais proporcionam o desenvolvimento de plan-
'I

tas com características incompatíveis para .a lta produtividade e colheita


282 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

mecanizada, seja por crescerem demais em altura e acamarem, seja por


crescerem pouco, resultando em lavoura de pequeno porte e com baixa
altura de inserção de vagens e de ramificações na haste principal.
X Manejo inadequado da população de plantas: população elevada resulta em
lavouras com excessivo crescimento em altura e de elevado risco de acama-
mento de plantas; já população aquém da recomendada resulta em plantas
de pequeno porte com baixa altura de inserção de vagens e de ramificações.
)( Infestação tardia de mato: a presença de plantas daninhas, principalmente
daquelas mais vigorosas e suculentas, faz com que a umidade permaneça
alta por muito tempo, prejudicando o bom funcionamento da máquina e
exigindo maior velocidade no cilindro trilhador. Disso resulta maior dano
mecânico às sementes, transferência de umidade a elas e facilidade para
desenvolvimento de fungos. Além disso, elevadas infestações de plantas
daninhas reduzem a velocidade de colheita e exigem maior altura de corte,
aumentando a quantidade de vagens não colhidas pela máquina.

Redução das perdas na colheita


A redução das perdas na colheita inicia-se pelo bom planejamento dessa opera-
!
ção, que, por sua vez, depende de um plano adequado de sistema de produção. 1

'
Portanto, devem ser considerados:
X O manejo da lavoura: compreende semeadura em terreno com topografia
adequada; bom preparo do solo; utilização de cultivares com características
favoráveis à colheita mecânica; emprego de espaçamento e densidade de
semeadura que possibilitem a formação de plantas com boas características,
permitindo o rápido sombreamento do terreno e o melhor rendimento das
combinadas; e controle adequado das plantas daninhas e adubação equi-
librada. É interessante, também, a diversificação de época de semeadura
associada ao manejo de diferentes cultivares, pois possibilita a ampliação
do período de colheita e o seu melhor planejamento. Entre os procedimen-
tos mais importantes para a redução das perdas, destaca-se a colheita no
momento adequado.
X A regulagem correta da máquina colhedora: engloba todos os seus componen-
tes, principalmente dos sistemas de corte e alimentação (molinete, barra
de corte, facas segadoras, condutor helicoidal ou de esteiras e esteira de
alimentação), de trilha (cilindro ou rotor, côncavo, cilindro batedor tr:aseiro)
e de separação e limpeza (bandejão, peneiras superior e inferior, saca-
-palhas, ventilador, condutores de grãos limpos e de retrilha, coletor de
pedras e tanque graneleiro). A velocidade de deslocamento mais adequada
é aquela que proporciona o melhor rendimento de trilha, associado aos
menores índices de perdas e danos mecânicos sobre as sementes.
15 COLHEITA 283

Cálculo das perdas de colheita


A perda total em cada etapa do trabalho da máquina colhedora pode ser deter-
minada com relativa facilidade. Normalmente, estabelecem-se áreas de armação
sobre o terreno antes e depois da passada da colhedora; essas áreas de formato
,
1
1

1
retangular são distribuídas de maneira que o lado maior seja transversal às linhas
colhidas, para melhor representatividade das perdas ocorridas. Sugerem-se pelo
menos cinco repetições por talhão colhido, considerando-se como talhão uma
área uniforme quanto ao cultivar, à data de semeadura e ao tipo de solo.
'
l
1
X Avaliação da produtividade agrícola: antes da passada da colhedora, monta-se

uma área de armação com 2,0 m x 0,5 m (1,0 m 2); coletam-se todas as plan-
tas que estão dentro dessa área; invertem-se as plantas (ponta-cabeça), as
quais são batidas (trilha manual) dentro de um saco de aniagem ou outro
recipiente de fundo fechado; separam-se os grãos das palhas; colocam-se
os grãos em um medidor pré-gabaritado ou pesam-se os grãos e determina-
-se o peso, com a transformação do valor em quilograma ou sacas de 60 kg
por hectare.
X Aualiação da perda total: monta-se uma área de armação na forma de retân-
gulo, cujo lado maior corresponde à largura da plataforma de corte, e o
lado menor, a 0,50 m. Dentro da área de armação, coletam-se todos os
grãos, livres ou presos às vagens, os quais são postos em um recipiente
í
e contados. Em seguida, é possível adotar três procedimentos: a) pesam-
-se os grãos colhidos, havendo para tanto necessidade de deslocamento até
uma balança de precisão, para detectar a massa em gramas; b) conhecendo
o cultivar colhido, contam-se os grãos na própria lavoura e, com base no
peso de cem sementes, calcula-se o peso dos grãos recolhidos na área de
armação; e c) trabalha-se com gabaritos de campo (copinhos medidores ou
' 1

[
tabelas de índices de perdas) previamente elaborados em escritório.
t1

Conhecendo o peso das sementes perdidas, calcula-se o índice percentual


l'
1
1
de perdas através da relação conhecida entre a área ·d e armação e a de produção.
,
\
1 Por exemplo: se o retângulo armado possui 4,8 m x 0,5 m, sua área corresponde
a 2,4 m 2• Se nessa área foram coletados 175 grãos de um cultivar com 15 g como
peso de cem sementes, tem-se que a perda em 2,4 m 2 ·foi d_e 26,25 g. Como um
hectare corresponde a 10.000 m 2, a perda de colheita equivale a 109.375 g· ou
109,4 kg de grãos ou a 1,8 saca (com 60 kg de grãos cada). por hectare. Se a produ-.
tividade agrícola avaliada foi de 3.150 kg por hectare, o índice de perdas foi de
3,47%, o qual pode ser considerado elevado.
Atualmente, há vários recipientes práticos·(copinhos medidores) denomina-
dos gabaritos para determinação das perdas de colheita, elaborados por instituições de
pesquisa e extensão rural, cujas áreas de armação recomendadas se relacio11am
284 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

com a largura da plataforma de corte da colhedora usada. Há, portanto, tecnolo-


gia disponível para a redução das quantidades perdidas, sem exigir acréscimos
no custo de produção.

15.6 EXERCÍCIO SOBRE PERDAS DE COLHEITA


Considerem-se as seguintes informações de campo (caso real):
I. Cultivar de soja com peso de cem sementes = 16 g.
II. Lavoura de produção de grãos de 1.000 ha.
III. Espaçamento entre linhas = 0,45 m.
IV. Estande final = 10 plantas por metro.
V. Número de vagens não colhidas por planta = 4.
VI. Número de grãos por vagem = 3.
VII. Preço da saca de soja (60 kg) = R$ 75,00.
VIII. Produtividade estimada= 3.500 kg ha-1 •

Pedem-se:
1. Os valores de perdas de colheita em sacas por hectare e em porcenta-
gem(%).
2. As perdas totais de grãos em sacas.
3. O prejuízo unitário (por hectare) e total (lavoura).

Gabarito do exercício
1. 7,1 sacas ha-1 ou 12,2%.
2. 7.100 sacas totais.
3. R$ 532,50 ha-1 e R$ 532.500,00.
1

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COMERCIALIZAÇÃO DE COMMODITIES AGRÍCOLAS


E GESTÃO DE RISCOS
Fernando Lobo Pimentel
Engenheiro-Agrônomo, Advogado e MBA-Executiuo, Membro da Câmara de Crédito,
Comercialização e Seguros do Ministério da Agricultura. Diretor Técnico da Sociedade
Nacional da Agricultura (SNA). Sócio-Diretor da Consultoria Agrosecurity Gestão de
Agro-Ativos e da Agrometrika Tecnologia e Serviços de Crédito.
E-mail: fernando.pimentel@agrosecurity.com.br

A partir do crescimento da produção mundial associado à melhoria dos padrões


de qualidade das safras, seu escoamento e sua armazenagem, começou-se
a difundir os conceitos da comoditização da produção, da padronização de
contratos e da normatização dos mercados físicos dos produtos. Esse foi um
passo fundamental para que o Brasil pudesse expandir a sua produção de soja,
café, algodão, milho e laranja, todas culturas de exportação que atendem aos
padrões internacionais. Vale ressaltar que a regulamentação também serviu,
e ainda serve, para criar barreiras não tarifárias, aplicadas muitas vezes sob o
manto da proteção sanitária. Esse fato ocorre com certa frequência no mercado
I
de carnes, mas, nos últimos anos, com o advento das sementes transgênicas,
também tem sido usado para 1impor restrições a algumas variedades geneti-
camente modificadas, denominadas organismos geneticamente modificados
(OGMs), por determinados países importadores. Essa diferenciação de produtos
pela via da transgenia pode, em um segundo momento, iniciar um movimento
de modificação substancial dos produtos, na contramão da comoditização,
porém, por enquanto, as principais características dos OGMs têm como objetivo
f
a melhoria da produtividade, preservando as características das.commodities em
.
sua essenc1a.
,,.

16.1 DEFINIÇÃO DE COMMODITY AGRÍCOLA


É um produto agrícola básico negociado em grande escala comercial normal-
mente coll) alta liquidez, ~endo fungível ou intercambiável com outras
mercadorias do mesmo tipo. É mais frequentemente ut.i lizado como insumo
para a produção de outr9s bens através do beneficiam~nto e/ou da indus:-
trialização. A qualidade do produto pode ser ligeiramente diferentet mas é
16 COMERCIALIZAÇÃO DE COMMODITIES AGRÍCOLAS E GESTÃO DE RISCOS 2 87

essencialmente uniforme. Quando são operadas em bolsas de mercadorias ou


futuros, as commodities normalmente atendem aos padrões mínimos especifica-
dos nos contratos, também conhecidos como padrão base.

16.2 MERCADO FÍSICO


Também conhecido como mercado spot, ,cash, disponível ou à vista, é a condi-
ção negocial onde se transaciona uma determinada commodity por pagamento
em espécie (dinheiro) ou em gênero (insumos agrícolas) nas chamadas opera-
ções de ''troca". As trocas são menos comuns no mercado disponível (spot), mas
eventualmente ocorrem nas operações com produtos de menor liquidez, como
sorgo, arroz e trigo, sem descartar também a soja e o milho. Vale ressaltar que as
trocas, sob o ponto de vista tributário, não existem, sendo interpretadas como
operações independentes de compra e venda de insumos e produção.
Sob o ponto de vista da qualidade, diante do que foi exposto n.a definição
de commodity, no mercado físico, busca-se alcançar os padrões definidos pelos
contratos das bolsas e vice-versa, haja vista que as bolsas não podem exigir um
nível de qualidade da produção fora da realidade do campo, sob o risco de não
alcançarem a liquidez necessária ao sucesso dos seus contratos.
É no mercado físico que os elementos fundamentalistas, como oferta/
demanda e custo logístico, expressam-se da forma mais evidente. O custo do
transporte e da armazenagem, a qualidade do produto e a liquidez do mercado
interferem diretamente sobre os prêmios (base ou basis), que são fatores de
ajuste aplicados aos preços das bolsas para refletir a realidade de mercado nos
pontos de entrega da produção, seja na origem, seja no destino. Através da
aplicação do basis é possível, por exemplo, usar a mesma cotação da Bolsa de
Chicago (EUA) para precificar uma soja em Rondonópolis (MT), Dalian (China)
ou Roterdã (Holanda). Sem esse fator de ajuste, aceito pelo mercado, não se teria
como operar no mercado físico com a dinâmica que ele exige.

16.2.1 Conceito de base


Segundo Miceli (2008), o conceito de base pode ser dividido em duas partes. ~
primeira trata da diferença entre o preço da mercadoria negociada na bolsa 1
que tem ·um ponto geográfico de formação de preço, e o preço praticado fora
desse ponto.
A segunda é•a diferença .e ntre o preço do mercado físico e o do .futuro~ Os
fatores que determinam essa diferença podem variar de um local a outro e são
os seguintes: oferta e demanda do produto ·e dos seus subs_tituto~, disparidades
geográfiças, fret~, meios de transporte alternativos, capacidade de estocagem,
qualidade do produto em diferentes locais, expectativa de preço, precocidade da
safra num determinado local e taxa de juros.
288 SOJA: DO PLANTIO À COLI-IEITA

Para demonstrar a primeira parte descrita por Miceli (2008), na Fig. 16.1
apresenta-se um mapa que exemplifica a valoração da soja em relação a Peoria
(Illinois, EUA), um ponto de entrega para a Bolsa de Chicago.

FIG. 16.1 Valoração da soja do seu ponto de origem, em Peoria (EUA), até Roterdã (Holanda). CBOT =
Chicago Board of Trade; FOB = free on board; C/F = cost, insurance and freight

Nesse mapa, tem-se uma situação em que o Meio-Oeste americano aparece


como origem, e Roterdã, como destino para a comercialização de soja. Nas dire-
1
trizes do contrato futuro de soja na Chicago Board of Trade (CBOT), a valoração
das entregas em Peoria deve considerar um acréscimo de USD 0,0875 (oito centa-
vos e ¾ de dólar) por bushel de soja sobre o valor final do contrato. Esse valor
deve ser adicionado ao valor referencial do contrato no vencimento da bolsa.
se a liquidação da operação ocorrer, por exemplo, no valor de USO 10,00/bushel,
então esse lote terá o valor de USD 10,0875/bushel depois de considerado o basis
(prêmio). Cabe mencionar que o bushel é uma unidade volumétrica, portanto
varia para cada produto; no caso da soja, equivale a 27,2155 kg.
Ao descer o rio Mississippi, observa-se que o lote de soja passa a ter uma
elevação no seu prêmio (USD + 0,40/bushel), pois agregou um valor de frete e está
seguindo na direção da maior demanda. Ao chegar ao Golfo do México, o mesmo
lote já acumula um prêmio de USD 1,15/bushel, a ser aplicado sobre a cotação de
Chicago no próximo mês de vencimento (o primeiro contrato da tela). Ao cruzar
0 oceano Atlântico, agrega-se ainda o custo de transbordo de barcaça para navio
e O frete e a descarga no porto de Roterdã. No exemplo em questão. essa passa-
gem elevou o prêmio para USD 2,90/bushel.
f

1
16 COMERCIALIZAÇÃO DE COMMODITIES AGRÍCOLAS E GESTÃO DE RISCOS 289

Apesar de ser denominado prêmio, é comum ele assumir valores negativos, o


que pode confundir o entendimento dos traders iniciantes, mas é assim mesmo.
A seguir, será explicado melhor por que isso ocorre.
Para demonstrar a segunda parte descrita por Miceli (2008), será abordado
um caso brasileiro real reportado pelo jornal Gazeta do Povo em março de 2013,
no pico da colheita da safra nacional de soja.

Prêmio para exportação fica negativo pela primeira vez na safra


A soja brasileira passou a ter desconto de 2 centavos de dólar por bushel na
comparação com o primeiro vencimento do contrato da Bolsa de Chicago
(CBOT). É a primeira vez que o mercado trabalha com prêmio negativo no Porto
de Paranaguá nesta safra 2012/13. Os principais motivos seriam a disponibi-
lidade maior de grãos, dado o avanço da colheita brasileira, e os atrasos nos
embarques. Na segunda-feira, ainda havia um prêmio de 4 centavos extras
por bushel. Em 1° de fevereiro, quando o volume colhido era menor, o prêmio
era de 1,20 dólar e, no fim de 2012, na entressafra, chegou a 1,40 dólar sobre o
primeiro contrato de Chicago. (Prêmio ... , 2013).

Conforme a matéria mencionada, têm-se dois pontos a destacar: a disponibi-


lidade maior de grãos (efeito sazonal e excesso de oferta) e os atrasos nos embarques
(questões logísticas que elevam o custo do transporte devido ao demurrage, que
é um termo técnico, usado no Direito Marítimo, que significa sobrestadia, ou
seja, o avanço além do tempo pactuado do navio ou do equipamento (contêiner);.
a indenização ou multa pela sobrestadia é devida pelo afretador, arrendatário,
exportador ou importador ao armador ou dono do navio ou do equipamento). Os
dois fatores simultaneamente pressionaram os prêmios para o campo negativo.
Para concluir a questão envolvendo a base, é importante ressaltar que,
em produtos de elevado valor e grande variação de qualidade, a qualidade em
si torna-se um importante elemento de base, até mais relevante que o frete.
( Nesses casos, normalmente se observam as tabelas de ágio e deságio, previa-
mente negociadas, aplicáveis aos preços referência de bolsa. São commodities em
que o processo de classificação (grading) assume especial importância, tendo
como exemplos as culturas do café e do algodão.
'
1

16.3 MERCADO A TERMO


No ·mercado a termo, têm-se a venda de commodities com ou sem pré-pagamento
e -as operações de troca como mecanismo de custeio. A troca, como modalidade
comercia_!, é mais comum no mercado a termo e vem crescendo desde 1988,
quando as primeiras operações com entrega de fertiliza~tes por recebimento.de
soja foram implement.a das p~la Tradi~g Cutrale Q~intella, nos·Estados de Goiá_s
1
e Mato Grosso, no Brasil. As ope_rações de troca, que serão também contextua-
lizadas na seção 16.11, servem como forma de venda de insumos a praz_o e são
290 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

garantidas mais comumente pelo penhor (ou outras garantias admissíveis) da


produção que será entregue em determinado prazo e local. O instrumento mais
usado nas trocas é a Cédula de Produto Rural (CPR}, em que existe a especificação
do produto, do prazo e do local de formação da lavoura e de entrega da produção.
Já nas transações de venda antecipada da produção com/sem pré-pagamento,
normalmente operadas pelas tradings, utiliza-se o contrato de compra e venda,
por ter redação livre (a CPR é regulada por lei) e, dessa forma, ser possível incluir
várias cláusulas específicas (isto é, sobre retenção de royalties, cláusula de traba-
lho infantil, ambiental etc.).
A diferença fundamental entre o mercado a termo e o físico reside no fato de
que, no primeiro, as transações ocorrem em etapas que se distanciam no tempo,
podendo prolongar-se por 12 meses (mais comum) ou mais. Também incide
sobre as operações a termo um fator de risco mais elevado, haja vista que, no
contrato de compra e venda a termo ou na CPR, existe uma obrigação de entrega
futura da produção que ainda será formada, ou seja, sobre elas incide um certo
grau de incerteza derivado do risco climático e :fitossanitário. Em resumo, no
mercado físico a mercadoria está pronta e disponível em um local de retirada,
enquanto na operação a termo essa condição só ocorrerá após a confirmação da
colheita ou da retirada de um produto colhido, mas indisponível.
De todas as modalidades de mercado descritas neste capítulo, a modalidade
a termo é a que contém a maior parcela de risco. Além dos riscos já menciona-
dos, derivados de fatores naturais, os contratos a termo ainda estão sujeitos à
inadimplência (default) por risco moral, ou seja, alguém, comprador ou vende-
dor, pode não cumprir a sua parte por desinteresse unilateral. Isso ocorre, por
exemplo, quando o preço sobe muito e torna-se interessante para o vendedor '

desviar a produção para um comprador que pague preço mais alto, deixando o
comprador original da produção sem o produto. Da mesma forma, o comprador
pode descumprir o contrato, não recebendo o produto previamente negociado
pelo vendedor, alegando problemas de qualidade, por exemplo, e posterior-
mente adquirir o mesmo produto de um terceiro com condições de preço mais
favoráveis. Fica claro que, para esses casos, existem remédios jurídicos que vão
,
desde as medidas de urgência, a exemplo das conhecidas ''cautelares de seques-
tro da produção'', até outras ações previstas no Código de Processo Civil, mas é
sempre recomendável fazer uma boa análise de crédito da outra parte antes de
negociar, pois esse mercado exige uma dose elevada de credibilidade entre os
seus operadores.

16.4 MERCADO FUTURO


A história dos mercados futuros como conhecidos hoje remonta ao século XIX, na
fronteira agrícola do Meio-Oeste americano, que foi uma fase bastante ligada
. - -- ~ --- - - -

16 COMERCIALIZAÇÃO DE COMMODITIES AGRÍCOLAS E GESTÃO DE RISCOS 291

ao florescimento do comércio de mercadorias em Chicago e da comercialização


de grãos no Meio-Oeste e no alto Mississippi. Chicago era uma cidade logistica-
mente estratégica, por estar próxima aos Grandes Lagos e às terras férteis do
Meio-Oeste.
Para os produtores e os processadores de alimentos (em particular, os
moinhos de trigo), o caos na oferta e na demanda era um evento comum no
início dos anos 1800. O excesso de oferta em períodos pós-colheita afetava forte-
mente os produtores, que, por vezes, eram obrigados a deixar a sua produção
nas ruas da cidade por falta de compradores. Nos anos de quebra de safra, ao
contrário, era a vez de os compradores sofrerem com a falta de matéria-prima,
o que ocasionava forte elevação nos preços e insolvência de moinhos, por não
terem o que processar. Adicionalmente, as quebras de safra geravam forte
impacto social e até fome nas camadas mais carentes da população. O problema
era ainda agravado pela falta de estrutura de armazenamento e por dificuldades
no transporte da produção.
Em 1848, 82 comerciantes tomaram a iniciativa de criar a Chicago Board
of Trade, que, já no seu início, pressionou os políticos locais pela construção
de estradas rurais,. armazéns, hidrovias e portos fluviais. Na mesma época,
produtores e processadores começaram a pré-contratar a produção com vistas
a reduzir os efeitos da volatilidade de preços e o desequilíbrio entre a oferta e a
demanda. O primeiro contrato a termo foi negociado no dia 13 de março de 1851.
No entanto, os primeiros contratos tiveram problemas por falta de padro-
nização de qualidade e definição clara do período de entrega, o que gerou
inadimplência em muitos casos. A partir de 1865, a bolsa tomou a iniciativa de
padronizar os contratos, chamando-os de contratos futuros. Nesse mesmo ano,
foi criado um sistema de margeamento de contratos que obrigava os compradores
e os vendedores a depositar valores em garantia do cumprimento dos contratos,
independentemente da variação de preços entre a data da negociação e a da
entrega, preservando, dessa forma, a credibilidade dos contratos e da própria
bolsa. Com esses passos, foram implementados os princípios básicos que
norteiam·as operações com contratos futuros até os dias de hoje (Catania, 1998).
Nas bolsas de. maior liquidez, entre as quais se inclui a nossa B3 (antiga
BM~FBovespa), é ainda comum os contratos futuros oferecerem a possibili-
dade de liquidação por entrega da mercadoria; no entanto, tradicionalmente
essa form~ de liquidação é pouco freque:nte, r~presentando algo em torno de
...

:1% do volume dos contratos negociados, Apesar de ter se originado do contrato a
termo, o contrato futuro possui como finalidade gerar oportunidade de proteção
para os operadores do mercado físico (hedgers) e liquidez para os especuladores.
que tem um papel ·f undamental na dinâmica do mercado, permitindo que as
safras sejam -transacionadas em maior yolume que no mercado físico e que
')
,
292 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

compradores e vendedores saiam das suas posições (revendendo ou recom-


prando seus papéis) a qualquer momento. Como exemplo de contrato futuro,
apresenta-se na Fig. 16.2 o contrato de café 4/5 na B3.

>Contrato Futuro ct. Café Arábica tipo 4/5



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FIG. 16.2 Características da contrata de café arábica 4/5 (ICF)

Conforme se observa, no contrato de café da B3 têm-se todos os parâmetros


necessários para qualquer operador nortear a sua conduta operacional junto
ao(s) seu(s) corretor(es). Os meses de uencimento compõem um dos itens importan- }

tes da caracterização do ativo e são comuns a todos os contratos futuros.


Para exemplificar melhor esse ponto, são exibidos na Fig. 16.3 os venci-
mentos do contrato de soja na CBOT. Adota-se essa tela de vencimentos como
exemplo pois é a mais importante para a precificação da soja brasileira, a qual
será retomada na seção 16.9.
Nessa figura, que reproduz :uma tela de cotações da CBOT, há os meses de
janeiro, março, maio, julho, agosto, setembro e novembro co1no vencimentos
possíveis. Ou seja, um operador de mercado (trader) ou um especulador têm todas
--------

16 COMERCIALIZAÇÃO DE COMMODITIES AGRÍCOLAS E GESTÃO DE RISCOS 293

essas alternativas de meses para traba-


lhar. No caso dos traders, por exemplo, que IWl lOII . 11:D I I!::] 1 NN 1 -,.-1 N JO ffl f ,-o Mrf

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usam a bolsa para a sua proteção contra lf 1M Mft l
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os riscos de mercado (hedge), a escolha do '""


mês deve ser pautada pela sincronia com .,1011 a 1•1t WI I
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mercado físico. Um exportador que está
comprando (posição long físico) um lote MAY'l0'1 Bil !::J ..,.. toN N>O "1-0 N11
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de USD 10 milhões em soja para entrega AA 101 7 Nn ,4"J toll 9041 tOIO t010

em Rondonópolis até 15 de abril de 2016,


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por exemplo, deverá considerar tempo de "°" a !::I 1011


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armazenagem, transporte, transbordo M'>' 'I Ol'70fCT


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no porto, carga no navio e efetivo recebi-
mento do pagamento do grão embarcado. FIG. 16.3 Tela de vencimentos da contrato de soja
Então, para não ficar exposto, ele deverá grão na CBOT
vender (posição short futuros) uma posi-
ção de igual valor no contrato futuro de maio. As posições comprado (Iong) físico e
vendido (short) futuros serão mais bem explicadas na seção seguinte.
No caso de um especulador, os ganhos podem ser obtidos através da opera-
ção de spread entre meses, decisão que deve ser tomada com base em técnicas
estatísticas, que não são objeto deste capítulo, mas que são operações bastante
comuns em todas as bolsas de futuros. Como exemplo, considere-se um especu-
lador que vende (posição short futuros) contrato futuro de julho a USD 877 ¼ bushel
e simultaneamente compra (posição long futuros) contrato futuro de novembro a
USD 880 ½, acreditando que o spread de +003 ¼ é estatisticamente pequeno e
deve se ''alargar". Se o spread abrir para +006, por exemplo, o especulador zera
as posições, realizando o ganho com a maior diferença. Uma situação real em
que esse spread poderia ser influenciado seria uma boa colheita das safras na
América do Sul, realizada entre fevereiro e abril, e uma quebra da safra nos
Estados Unidos, colhida em agosto a setembro.

16.5 CONCEITO DE HEDGE


O conceito de hedge tem sentido amplo e não se aplica apenas aos ativos agríco-
las. A necessidade de proteção contra a volatilidade de preços está presente na
maioria dos negócios. A proteção pode ter um viés cambial para os importadores
e os exportadores ou pode ser necessária cont~a oscilações nas taxas de juros
para instituições financeiras, ou, no nosso ambi.e nte, para um produtor de milho
que pretende adiar ~uas vendas sem correr muito risco de queda nos preços.
Para mostrar a amplit'-1de do conceito de hedge, destaca-se a visão a seguir.
294 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

O que é hedge e o que significa?


Hedge é um instrumento que visa a proteção dos riscos oferecidos pelas oscila-
ções do mercado financeiro.
(...] Hedge pode ser traduzido em português como cobertura ou segurança e tem •

como objetivo proteger a operação financeira das variações de preço de um


ativo, reduzindo o seu risco.
A prática surgiu no século XIX, como forma de fixar os preços das commodities,
limitando o risco corrido pelos produtores rurais. Na época, o instrumento foi •
chamado de "cerca e limite...

Conceito de hedge
Um pouco mais sobre o que é hedge: se trata de um instrumento utilizado para
transferir a terceiros o risco de uma operação. Ou seja: é uma forma da empresa
ou o investidor se proteger contra as oscilações do mercado financeiro.
A prática é regulamentada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e só pode
ser aplicada em situações que realmente protejam o negócio da empresa ou
profissional. Investidores não podem fazer uso desta estratégia para fins espe-
culativos - apostas que objetivam ganhar lucros muito maiores do que a média .

significa fazer hedge no mercado financeiro
O que
Hedge é um termo muito utilizado no mercado financeiro, pois é um instru-
mento fundamental para proteger o investidor contra os riscos de mercado,
como variações de preços.
Neste caso, o investidor que utiliza este instrumento tem mais preocupação
em garantir o preço de um determinado ativo para uma compra ou venda
futura do que no lucro da operação. (O que é hedge ... , 2021).

Na sequência será demonstrada uma estruturação de hedge para um produ-


tor de café posicionado na região Sul de Minas Gerais. Adota-se o café por ser
mais simples de explicar, haja vista que a B3 possui um contrato de café de boa 1

liquidez, e define-se Guaxupé (MG) como ponto de entrega, sem a complexidade


de aplicar o conceito de basis nessa transação, o que vai facilitar o entendimento.
Os dados são os seguintes:
)( produção total: 20.000 sacas de café;
X lote para hedge: 10.000 sacas de café;
X custo de produção: USD 130,00/saca;
)( intenção: proteger a sua rentabilidade entre maio (momen~o da operação) e
setembro (momento em que pr~tende negociar o café no mercado físico);
·x instr~mento a ser ~sado: contrato futuro (cem sacas) de café arábica 4/5 com
vencimento em s~tembro.

No .d ia 15 de maio, a cotaçã~ na BM&F para o vencimento ~m sete.m bro é


' .

de ·USD .1 75,00 e o pro.d utor vende cem contratos nesse nível de preço, travando
uma posição de USD 1.750.000,00.
- . - -- . - .--,,,,,.,n...,..._l!!IM:IS, I ldl ttz ....-- - ~

-
COMERCIALIZAÇAO DE COMMODITIES AGRICOLAS E GESTAO DE RISCOS
, - 295

Em 15 de setembro, o produtor realiza a venda no mercado físico do seu


lote de 10.000 sacas, porém, por conta da boa produtividade geral da safra e da
redução de demanda no exterior, o mercado retraiu e, nesse momento, o valor
da saca nesse padrão de qualidade está em USD 160,00. Dessa forma, o produtor
apura em reais o equivalente a USD 1.600.000,00.
Considerando uma convergência perfeita entre o mercado futuro e o
'
1
mercado físico, tem-se que, ao recomprar os cem contratos vendidos na B3, o
produtor irá apurar uma diferença positiva de USO 15,00 por saca x 10.000 sacas
= USD 150.000,00. Assim, ele terá alcançado o objetivo de proteger a sua receita


e margem, sendo compensado pelos ganhos na bolsa .
O exemplo apresentado é o de um hedge perfeito, em que se excluíram
imperfeições que costumam afetar esse mecanismo de compensação. Além
disso, cabe mencionar que a convergência de preços entre o mercado futuro e o
mercado físico nem sempre culmina em um valor exatamente igual. Também
se excluíram taxas, emolumentos e corretagem, valores cobrados pela bolsa e
pelos corretores, e não se considerou nenhum ágio/deságio sobre a qualidade do
café, levando em conta uma qualidade idêntica à do contrato da bolsa.
Por fim, não se relataram os ajustes diários que ocorrem nas operações com
mercado futuro. Não se entrará neste último ponto, que não é relevante para este
capítulo, mas é importante que qualquer pessoa que pretenda operar em bolsa
entenda o mecanismo de ajuste diário, pois ele exigirá do hedger ou do e~pecula-
dor disponibilidade de caixa para contingências de mercado. Vale ressaltar que,
no caso das opções, não existe ajuste diário, mas paga-se um prêmio no início
da operação, que passa a ser mais previsível sob o ponto de vista da gestão de
caixa do hedger ou do especulador.

16.6 E O QUE SÃO OS DERIVATIVOS AGRÍCOLAS?


A seguinte definição é dada pelo Portal do Investidor (Introdução ..., s.d.):

Derivativos são contratos que derivam a maior parte de .s~u v~lor de um ativo
subjacente, taxa de referência ou índice. O ativo subjacente pode ser físico (café,
ouro, etc.) ou financeiro (ações, taxas d~ juros, etc.), negociado no mercado à
vista ou não (é possível construir um derivativo sobre outro derivativo). Os
derivativos podem ser classificados em contratos a tern:io, contratos futuros,
opções de compra e venda, operações de swaps, e~tre <;>utros, cada qual com
, .
suas caractenst1cas.
Os derivativos, em geral, são negociados sob a forma de cc;,ntratos padroni-
zados, isto é, previamente especificados (qua·n tidade, qualidade, prazo de
liquidação e forma de cotação do ativo-objeto sobre os quais se efetuam as
• negociações), em mercados org~nizados, com o fim de proporcionar, aos agen-
l
tes econômicos, oportunidades_para a realizaçã9 de operações que viabilizem
a transferência de risco das ~utuações de preços de ativos e de vari.áveis
,. '
macroeconom1cas.
296 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

Assim, quando se opera um contrato a termo fazendo a proteção de preço


através de um contrato futuro em bolsa (hedge), está se operando com um deri-
vativo. Da mesma forma, ao tomar a proteção sobre um contrato de opções (que
já é um derivativo), está se efetuando uma operação de derivativo em cima de
outro derivativo. 1,

Também é possível fazer um hedge contra um contrato a termo. Em que


caso isso pode ocorrer? Considere-se, por exemplo, que um produtor A de Mato
Grosso opere, no período da tarde, através de uma CPR, uma troca de insumos
por soja com um distribuidor B de defensivos. Esse distribuidor, por sua vez,
já havia fechado, no início do dia, um contrato de compra e venda com uma
trading para um lote maior de grãos. Por seu turno, a exportadora C fez um
hedge em contratos futuros na CBOT no mesmo momento em que comprou o
lote do distribuidor. No final do dia, têm-se: o hedge de A contra um derivativo
(contrato a ter1110), o hedge de B contra um derivativo (contrato a termo) e o hedge
de C contra um contrato futuro.

16.7 0 QUE SÃO E PARA QUE SERVEM AS OPÇÕES EM BOLSAS DE


FUTUROS?
Segundo Miceli (2008), as opções são contratos financeiros em que são negocia-
dos direitos e obrigações sobre o ativo-objeto, por determinado preço, até uma
data específica. As opções são fundamentalmente diferentes dos contratos futu:-
ros e a termo, uma vez que elas proporcionam ao seu titular o direito de fazer
algo sem, no entanto, precisar exercê-lo; inversamente, nos contratos futuros e
a termo, as duas partes se comprometem a fazê-lo.
Existem dois tipos de opções, a saber: opção de venda (put) e opção de
compra (call).
Uma forma didática de compreender as opções é fazendo uma analogia do
seguro de um automóvel com uma put. De fato, quando você contrata o seguro de
um veículo, está contratando uma opção de venda de um veículo sinistrado para
a seguradora mediante o pagamento de um prêmio. Se, por exemplo, você tiver
0 azar de destruir o seu veículo contra um poste, mas cqm a sorte de sair vivo e
capaz de tomar decisões, poderá exercer o direito de "vender'' o que sobrou do
seu carro para a seguradora.
se, em janeiro, uma put de café na BM&FBovespa, por exemplo, pode ser
contratada com o preço de exercício de USD 130,00 para vencimento em novem-
bro de 2016, enquanto o merc~do futuro está pagando USD 140,00 para o mesmo
vencim~nto,.é possível contratar essa opção de venda pagando USD 5,75. Efetuada
essa operação, se o mercado de café em novembro cair para USD 120,00, você
exerce o direito de v~nder a USD 130,00 e apura um resultado líquido de USD
4,25 (assumindo que você é um especulador e não usou a opção para proteção
'
- , -
COMERCIALIZAÇAO DE COMMODITIES AGRICOLAS E GESTAO DE RISCOS 297

de preço do café físico). Por outro lado, se o mercado estiver em USD 140,00 no
vencimento, você simplesmente não exerce a put e perde o que pagou de prêmio.

16.8 IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA NA FORMAÇÃO DE PREÇOS


Considerando o tamanho continental do Brasil, é de se esperar que o item trans-
porte assuma um papel importante na precificação das commodities agrícolas,
sobretudo nos casos das culturas que apresentam menor valor por tonelada
transportada, como é o caso da soja e, mais evidente ainda, o caso do milho.
Entretanto, esse quesito perde força quando se fala de algodão ou café, que
apresentam elevado valor em contraponto ao do custo do transporte.
Nesse contexto, um dos aspectos funcionais mais importantes na gestão de
uma empresa exportadora de grãos recai sobre as suas operações de logística.
É na logística, e aí se incluem a armazenagem e os transbordas também, que
reside o maior risco de prejuízos para as tradings. Como exemplo, vale lembrar
a greve dos caminhoneiros em maio de 2018, que gerou enormes prejuízos para
contratantes de frete de grãos e insumos de vários segmentos da economia. No
entanto, esse não é foco deste trabalho, e tangencia-se o assunto com o simples
objetivo de fazer uma preparação para a próxima seção, onde será abordada a
formação de preço, em que o custo logístico é relevante, como será visto.

16.9 FORMAÇÃO DE PREÇOS NO MERCADO FÍSICO USANDO O MERCADO


FUTURO
Esse é um ponto de consolidação dos conhecimentos adquiridos neste capí-
tulo. Para demonstrar melhor a questão da formação de preços, será adotado
um modelo mais complexo, de maneira a obrigar o uso de boa parte do que se
aprendeu nas seções anteriores. Dessa forma, será precificada a exportação de
soja com base na CBOT. Na Tab. 16.1 calculam-se os preços para a compra de
soja em meses distintos, dando uma visão da dinâmica do mercado e dos fatores
influenciados pelo tempo.
Como se vê, pode-se colocar os valores dos contratos na CBOT no topo da
tabela (linha ''Cotação"). Na segunda linha, têm-se as bases (basis ou prêmios),
números que podem ser encontrados ell). suplementos econômicos de jornais,

., 1
em sites especializados (por exemplo, www.simconsult.com.br) ou através de
•'•

Tab. 16.1 Precificação para a exportação direta de soj~ nos meses de m.arço e maio com base
nos valores empregados pela CBOT
Março de 2016 Maio de 2016
Cotação uso . 8,6875 uso 8,7125
Bushel
Prêmio (basis) uso 0,3400 uso '
0,2600
Conversão de bushe/ para Ton*
FOB estivado uso 331,72 uso 329,70
Ton
Fobbing uso 10,00
'
uso 10.00


298 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA

Tab. 16.1 (continuação)


1 Março de 2016 1
Maio de 2016 1
Conversão de Ton para saca de 60 kg**

5/ rodas porto
uso 19,30 uso 19,18
Saco
R$*** 70,77 RS 80,93

Frete para porto


uso 79,79 uso 79,79
Ton
R$ 325,00 RS 331,95

Valor líquido
uso 14,80 uso 14,66
Saco
RS 60,27 RS 61,01
*Multiplicar a soma da CB0T com a base por 36,7545.
**Multiplicar a subtração do fobbing com o F0B estivado por 0,06.
***Na conversão em R$, deve ser usado o cambio projetado para a data do embarque do lote, e não da sua
compra.
Fonte: Simconsult - elaborado por Agrosecurlty.

corretores do mercado físico. O cálculo que está sendo feito é para uma operação
no mercado a termo, pois se está calculando um preço de soja em janeiro para
ser entregue em março ou maio, de acordo com o que ficar negociado entre o
trader e o produtor rural. Cabe ao produtor escolher a melhor época para entre-
gar em função do cronograma de colheita e dos compromissos já assumidos
com esse ou outros compradores.
Então, sobre o valor de CBOT deve-se somar ou subtrair o prêmio que o
mercado está pagando naquele período de entrega. Note-se que existe uma redu-
ção no prêmio de maio em relação a março, o que se deve à maior oferta de produto
em maio, quando, além da soja de Cerrado, entram no mercado as safras dos Esta-
dos do Paraná e do Rio Grande do Sul, abastecendo todos os portos do Leste e do
Arco Norte. Depois de converter as cotações em toneladas, deduzem-se o fobbing,
que é o custo da estiva (serviço de movimentação de carga a bordo de navios nos
portos), e a documentação operada por despachantes aduaneiros. Posterior 1nente,
deduz-se o frete, que também varia de mês a mês em função da estimativa de
demanda por caminhões ou outro modal de que a compradora dispõe para operar.
Vale ressaltar, mais uma vez, a importância do frete para a empresa que
exporta, haja vista que não existe hedge de transporte rodoviário e a contratação
de caminhões é normalmente muito próxima do momento de transportar a carga.
urna alta no diesel, uma greve no porto ou um atraso na colheita por excesso de
chuva são exemplos do que pode dar errado para quem trabalha com projeção
de frete, o que representa a maioria dos exportadores. Contratos com ferrovia ou
hidrovia podem minimizar esse risco, mas estão disponíveis para poucas rotas
e poucas empresas, pois normalmente exigem um volume mínimo no formato
take or pay, o que ainda deixa uma parcela de risco para o contratantet mas ainda
menor do que para aqueles que dependem apenas do transporte rodoviário. Cabe
esclarecer que take or pay, no sentido estrito do transporte. são acordos entre um
transportador (ferrovias ou hidrovias) e uma empresa exportadora que obrigam
16 COMERCIALIZAÇÃO DE COMMODITI.ES AGRÍCOLAS E GESTÃO DE RISCOS 2 99

o exportador a pagar por determinado volume de transporte, independente-


mente de haver ou não carga na vigência do contrato. Se contratou para SOO t e
transportou só 400 t, deve pagar pelas SOO t.

16.10 PRINCIPAIS CONTRATOS OPERADOS NO MERCADO BRASILEIRO


1s.10.1 Afixar
Consiste em um adiantamento no qual se predefine um indexador + juros
(USO ou R$) lastreado por um penhor de commodity em volume superior àquele
referente ao valor adiantado. A fixação do preço da commodity pode normalmente
ocorrer antes ou após a colheita (conforme for pactuado). Serve como forma
de captação de recursos por parte do produtor junto a uma agroindústria ou
exportadora. É mais usado quando o mercado a termo está muito baixo. Para o
comprador, serve como um acordo de suprimento, mas envolve risco de crédito.

1s.10.2 Prefixação
É a prefixação de preço base CBOT + basis, definindo um preço que pode ser na
origem ou no porto. Mesmo se for sem pré-pagamento, trata-se de um contrato
a termo.

1&.10.3 Troca
Assemelha-se à prefixação com adiantamento em insumos agrícolas, configu-
rando, dessa forma, um contrato a termo pelo fato de já definir antecipadamente
o valor da commodity através da paridade insumo/produto. Por exemplo: 25 sacas
de soja por tonelada de fertilizantes 00.20.20 + 30 kg de zinco, a serem entregues
no Armazém XYZ na BR 163, km 153.
Cabe notar que, nos contratos de prefixação ou troca, podem ser usados
tanto a CPR e a CPR-F como contratos de compra e venda. No a fixar, somente é
viável a utilização de contrato de compra e venda.
'
A CPR-F é basicamente um instrumento para operações de crédito, não
envolvendo a comercialização da produção. Ela permite a liquidação financeira
(sem a entreg~ da produção) desde que sejam formalizados no título o preço ou
o índice de preços das mercadorias, a instituição responsável, o nome e as refe-
rências da sua publicação, e a praça ou o mercado de formação do preço.
Considerando os diferentes mer~ados orerados no Brasil, o Quadro 16.1
destaca os títulos e os contratos mais empregados em seus r_espectivos ambien-
tes de negócio.
Como o objetivo neste texto é abordar a comercialização das com,nodities,
não é possível concentrar-se demasiadamente nos tópicos relativos à gestão
de risco do preço, mas não houve como deixar de comentar os derivativos no
contexto do instrumento contratual das opções.
300 SOJA: DO PLANTIO A COLI-IEITA
,

Quadro 16.1 Tipo de mercado, contratos mais utilizados e riscos relevantes

Mercado
Tipos de contrato/título

mais comuns Risco relevante

Contrato de compra e venda Baixo risco - moral, no caso de a mercadoria


Físico e certificados de depósito vendida apresentar algum gravame ou embargo.
agropecuário Risco relativo ao armazenador
Médio a alto risco - moral, no caso de a mercadoria
CPR e contrato de compra e vendida apresentar algum gravame ou embargo.
A termo
venda (fixo ou a fixar) Risco relativo ao armazenador. Risco de quebra de
produção ou de qual idade
Contratos padronizados pelas Risco baixo - falta de liquidez do próprio operador
Futuro
bolsas no caso de ajustes elevados na bolsa

16.11 CRÉDITO DE CUSTEIO E COMERCIALIZAÇÃO DE COMMODITIES


No Brasil, tem-se um modelo matricial de financiamento da atividade rural que
pode ser considerado único no planeta. Levando em conta a sua dimensão conti-
nental, a possibilidade de plantar o ano todo em grande parte do seu território e
o fato de apresentar a maior diversidade de produção agropecuária em um único
país, o Brasil representa um case de complexidade e demanda de capital para

custeio agrícola sem paralelo no mundo. Nesse contexto,

Podem-se separar os modelos de crédito agrícola para cadeia de grãos no Brasil


em dois grandes grupos: o crédito agrícola oficial e o crédito agrícola comercial
privado ou não-oficial. Os modelos de crédito agrícola oficial estão ligados ao
crédito obtido junto ao sistema bancário e às cooperativas de crédito, dentro das
normas balizadas pelo Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) e pelo Manual
de Crédito Rural (MCR). Esses recursos podem ser controlados (taxas subsidia-
das) ou livres, e suas principais fontes são: recursos obrigatórios, poupança
rural, fundos constitucionais e Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Quanto aos modelos de crédito agrícola comercial ou não-oficial, seus recur-
sos são disponibilizados pelos fornecedores de insumos, seus distribuidores
(revendas e cooperativas agropecuárias), as tradings e exportadores de grãos
e seus derivados. Esses recursos não estão ligados ao SNCR e são dispostos
pelas empresas, predominantemente multinacionais, de acordo com as suas
estratégias de marketing, operações de gestão de custo e planejamento logístico
da venda de insumos e compra da matéria-prima para exportação, processa-
mento e venda no mercado interno.
Podemos classificar os modelos de crédito dentro desses dois grupos em
cinco: 1) Crédito Bancário; 2) Crédito das cooperativas de crédito; 3) Compra
de insumos com pagamento a prazo safra; 4) Venda antecipada da produção
e 5) Operação de Troca (Barter). Os dois primeiros modelos estão dentro do
grupo de crédito oficial e os três últimos ao grupo de crédito não-oficial. (Silva;
Lapo, 2012).

Hoje, o crédito agrícola comercial privado ou não oficial, citado ante-


riormente, já equivale a mais de 50% do custeio agrícola no País. tendo como
base um estudo realizado pela Agrosecurity em 2010 para as Regiões Sul e
16 COMERCIALIZAÇÃO DE COMMODITIES AGRÍCOLAS E GESTÃO DE RISCOS 301

Centro-Oeste, que correspondem, juntas, à maior parte da produção agrícola do


Brasil, conforme indicado na Fig. 16.4.

Centro-Oeste 29,0% 28,3%

Sul 23,6% 23,7%


20,0%

13,5%

Coops de crédito Fornecedores Tradings, Capital próprio


de insumos agroindústrias e
exportadores

FIG. 16.4 Diferentes fontes de financiamento para a produção nas Regiões Centra-Oeste e Sul do Brasil
Fonte: Agrosecurity.
1
'

No caso específico das empresas fornecedoras de insumos, o crédito


materializa-se através da venda a prazo (30 a 365 dias) de fertilizantes, defen-
sivos e sementes de forma direta ou via sistema de distribuição. Atualmente, é
'
1

comum encontrar empresas que operam mais de 80% das suas vendas a prazo
safra (compreendendo os períodos de pré-plantio a pós-venda da safra). Nesse
contexto, as empresas comerciais brasileiras possuem, via de regra, estruturas
de crédito (recursos humanos e materiais) muito mais robustas do que as suas
congêneres em qualquer lugar do planeta. Como referência, empresas como
Monsanto, BASF e Bayer possuem equipes com 40 a 70 profissionais exclusiva-
, mente dedicados às ações de crédito, cobrança e barter. Dentro do ambiente de
distribuição de porte médio (faturamento entre R$ 75 milhões e R$150 milhões),
é comum encontrar equipes com três a sete profissionais envolvidos em work-
flow de crédito e cobrança. Essa realidade transforma empresas comerciais e sua
l
distribuição de revenda em verdadeiros bancos rurais e suas agências de varejo. '
.
Diante do exposto, resta a pergunta: por que, no Brasil, os bancos não assu- 1
i

mem a totalidade do crédito rural, como ocorre na Europa e nos Estados Unidos?
1
Isso acontece porque o Brasil não tem seguro rural para 90% das áreas cultiva-
das no País. As margens bancárias não justificam assumir os riscos clin1áticos
e/ou fitossanitários que são inerentes à atividade agrícola. Se houvesse 100%
de cobertura de risco por seguro, sem dúvida existiria uma matriz de financia-
mento mais próxima da que ocorre na Europa e nos Estados Unidos. ou seja.
bancos financiando 100% do crédito ao produtor.

... ...
302 SOJA: DO PLANTIO À COLHEITA
,

Considerando a importância do agronegócio, que hoje corresponde a 23%


do PIB, o setor possui, já há algumas décadas, regulações e políticas específicas
que visam fomentar a produção e dar sustentabilidade ao fluxo de capitais desti-
nados ao custeio agrícola. Para oferecer a segurança jurídica necessária a atrair
os financiadores privados, em 1994 foi criada a primeira lei que regulamenta
a CPR, que hoje representa o principal título de venda e/ou crédito operado no
País. As operações com CPR, física ou financeira, fazem parte das estratégias ,

operacionais dos principais players em crédito no mercado brasileiro, sejam eles


bancos comerciais, tradings, cooperativas agrícolas, indústria de insumos ou
seus distribuidores.

16.12 [PR, UM CASE BRASILEIRO


A Cédula de Produto Rural (CPR) é um título representativo de uma obriga-
ção com promessa de entrega de produtos rurais, sendo regulada pela Lei nº ,
8.929/94. Trata-se de título cambiário assemelhado, negociável no mercado
comercial de insumos ou financeiro, que permite ao produtor rural ou a suas
cooperativas obterem recursos para custear a produção ou o empreendimento,
com a comercialização antecipada ou não (ela pode ser financeira, caso em que J
'
é chamada de CPR-F).
Hoje, a CPR tem sido o instrumento mais importante para a veiculação do
crédito de custeio na agricultura empresarial brasileira. Esse título é adotado em
1

larga escala tanto pelo sistema financeiro público e por cooperativas de crédito 1

como pelos bancos privados. No âmbito do crédito comercial, a CPR é ainda


mais difundida, sendo amplamente utilizada pela indústria de insumos, por seu
sistema de distribuição e ainda por algumas tradings que, apesar de manterem
em uso os seus contratos de compra e venda, eventualmente pedem a CPR como
garantia nas operações que envolvem o pré-pagamento.
A iniciativa brasileira no desenvolvimento desse instrumento de venda ,
crédito e securitização foi tão inovadora que despertou a atenção do Banco
Mundial, que vem difundindo, sobretudo depois da crise global de 2008, 0
conceito da CPR, baseado no Study on Cédula de Produto Rural (CPR) - Farm Product
Bond in BraziI, World Bank., 2005 (Sousa; Pimentel, 2005).
Na década de 1990, quando nasceu a CPR, existia uma grande escassez de
recursos e garantias no mercado a termo, em que imperava a insegurança jurí-
dica sobre os contratos de compra e venda nas então embrionárias operações de
pré-pagamento e troca. Nesse contexto, as empresas de insumos começaram,
por necessidade de mercado, a financiar suas próprias vendas, ao passo que as
tradings passaram a pré-pagar e a prefixar a soja para manter o nível de supri-
mento, em face da redução da oferta de crédito por parte do Banco do Brasil .
Vale ressaltar que, à época, o Banco do Brasil era o detentor de n1ais de 90%
do crédito rural direto ao produtor, e a sua retração na concessão de recursos
16 COMERCIALIZAÇÃO DE COMMODITIES AGRÍCOLAS E GESTÃO DE RISCOS 3o3

afetou o mercado de forma definitiva. Então, diante da elevada inadimplência


e da falta de garantias alternativas, o próprio banco desenvolveu e liderou o
processo de aprovação da lei que criou a CPR não só para resolver o seu próprio
problema, mas também para atrair novos financiadores com o intuito de reduzir
a pressão política a que estava submetido. Diante do exposto, e analisando a
CPR sob a perspectiva atual, têm-se que:
)( As operações de financiamento da atividade agrícola por meio da utilização
da CPR emitida pelo produtor rural ainda são uma necessidade do sistema
agrícola brasileiro.
)( A limitação na disponibilidade de recursos públicos para o custeio da
produção agrícola fez transferir para a iniciativa privada a responsabili-
dade de financiar uma parte considerável da operação agrícola. Esse fato
está ocorrendo novamente diante da crise econômica que impera no País
desde 2014.
)( Nesse sentido, existem diversas formas de trabalhar com a CPR, no sentido
de compor as garantias dos tomadores de crédito, ou para a contratação a
termo, sejam eles PJ ou PF.
X Do ponto de vista do risco de crédito, as operações estruturadas de trocas
(barter) melhoraram a performance de pagamentos na via produtor-fornecedor
e se mostraram uma excelente alternativa para satisfazer as necessidades
de financiamento e antecipação de vendas no mercado a termo.

16.13 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Neste capítulo, foram abordados os principais tópicos que norteiam a comerciali-
zação de commodities no mercado doméstico. Vale ressaltar que o Brasil é um dos
mercados físicos mais complexos do planeta. A dimensão continental do País,
as limitações logísticas e a possibilidade de cultivar grãos no verão e no inverno
em larga escala o tornam um caso único no agronegócio mundial. Apesar de
toda a complexidade, o agronegócio nacional, que cumpre o seu ciclo iniciando
na indústria de insumos e equipamentos, passando pelo competente produtor e
terminando no porto ou na agroindústria, tem se mostrado eficiente para vencer
todos os desafios impostos, sejam eles internos ou externos. Essa resiliência e essa
pujança, que passam pela eficiência na comercialização, têm colocado o Brasil na
condição de protagonista no fornecimento de grãos e fibras para o planeta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Saint Paul, 2008. 2 32 p.
O QUE É HEDGE e como funciona na compra e venda de ativos? Expert XP, 2021.
Disponível em: https://conteudos.xpi.com.br/aprenda-a-investir/relatorios/
hedge/. Acesso em: 8 mar. 20 22 .
PRtMIO para exportação fica negativo pela primeira vez na safra. Gazeta do Povo,
15 mar. 2013. Disponível em: https://www.gazetadopovo.corn.br/agronegocio/
agricultura/premio-para-exportacao-fica-negativo-pela-primeira-vez-na-safra
-333ov6iucyadr6x4gwlfc82e0/. •

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