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NOVAIS, RF Et Al. Fertilidade Do Solo. Sociedade Brasileira de Ciência Do Solo. 2007

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FERTILIDADE DO SOLO
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EDITORES
Roberto Ferreira Novais
Víctor Hugo Alvarez V.
Nairam Félix de Barros
Renildes L úcio F. Fontes
Reinaldo Bertola Cantarutti
J úlio César Lima Neves

Ia Ediçã o

>

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊ NCIA DO SOLO


Viç osa - Minas Gerais
2007
Copyright © 2 0 0 7
Edi çã o: 2007 - Ia Reimpressã o: 2007 - 2- Reimpressã o: 2008
Nã o é permitida a reprodu çã o total ou parcial desta publica çã o sem a permissã o expressa da Sociedade
Brasileira de Ciê ncia do Solo.

EDITORES REVISÃO
Roberto Ferreira Novais, Víctor Hugo Maria da Gl ória T . Ign á cio
Alvarez V. / Nairam Fé lix de Barros, Maria Aparecida Soares
Renildes L ú cio F. Fontes,
Reinaldo Bertola Cantarutti
e J ú lio César Lima Neves DIAGRAMAÇAO
José Roberto de Freitas
CAPA
(Layout)
FOTOS DA CAPA
Manuela Vieira Novais
Gentilmente cedidas pelos Engenheiros-Agr ónomos
Orlando Carlos Martins e Rodrigo de Oliveira Lima
CAPA ( foto da ú ltima capa - Campo-Cerrado - e algodoeiro
(Arte) na primeira capa ) e pela Funda çã o MT (foto de soja
José Roberto de Freitas em plantio direto na primeira capa ).

Ficha Catalográfica preparada pela Seção de Catalogação


da Biblioteca Central da UFV

Fertilidade do solo / editores Roberto Ferreira Novais...


F411 [et al.]. - Vi çosa, MG ; Sociedade Brasileira de Ci ê ncia
2007 do Solo, 2007.
[viii ] , 1017 p. : il . (algumas col .) ; 26 cm

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-86504-08-2

1 . Fertilidade do solo. 2. Nutrientes. 3. Plantas e solo.


I. Novais , Roberto Ferreira de. II . Sociedade Brasileira
de Ciência do Solo.

CDD 22.ed. 631.422

Sociedade Brasileira de Ciê ncia do Solo


Tel.: (0 XX ) 31 3899-2471
E-mail: sbcs@ ufv.br
http: Wwww.sbcs.org.br

9* 7 8 8 5 8 6 5 0 4 0 8 2
PREFÁCIO
Esta publicaçã o constitui um marco divisó rio da evoluçã o do ensino e aplicabilidade
da fertilidade do solo no processo produtivo da agricultura brasileira .
Embora o nosso Pa ís ocupe um lugar de destaque no desenvolvimento de pesquisas
envolvendo o manejo da fertilidade nos solos das regiões tropicais e na gera çã o de
tecnologias avançadas nessa á rea do conhecimento, com grande n úmero de publica ções
de autores brasileiros, em geral, a abordagem era feita, na maioria dos casos, de forma
fragmentada . Isso obrigava o estudante, tanto de gradua çã o como de pós-gradua çã o,
alé m de outros técnicos que fazem uso dessa á rea do conhecimento, a recorrer a v á rias
publica ções, se quisessem ter acesso a informações mais completas e abrangentes sobre
o assunto.
O grande mérito deste livro, Fertilidade do Solo, que é parte da série de livros
didá ticos que está sendo publicada pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS),
é apresentar, em uma ú nica publica çã o, o vasto conhecimento gerado nas últimas
décadas neste segmento envolvendo os conceitos básicos, ã s técnicas de diagnose, as
interpreta çõ es dos resultados dessa diagnose at é os crit é rios adequados de
recomenda çã o de corretivos e fertilizantes para a correçã o dos possíveis problemas
para as mais diversas condições de solos, climas e culturas brasileiras.
Abrangendo dezoito cap í tulos, elaborados por renomados professores e
pesquisadores brasileiros, num total de 1017 pá ginas, este livro trata, no capítulo I, de
uma descrição das inter-relações fertilidade do solo e produtividade agr ícola, com ênfase
em aspectos histó ricos de sua evolu çã o no mundo e fatos marcantes no Brasil. Os
capítulos II, III e IV envolvem uma discussã o sobre fatores de crescimento das plantas,
elementos requeridos à nutriçã o de plantas e rela çã o solo-planta, que sã o princípios
b á sicos indispensá veis para o conhecimento da fertilidade do solo no seu sentido mais
amplo. Nos capítulos V a XI, sã o apresentados aspectos básicos e aplicados sobre acidez
do solo e sua corre çã o, maté ria org â nica , nitrogé nio, f ósforo, potássio, enxofre e
micronutrientes, que abrangem desde aspectos bá sicos para fixaçã o dos conceitos até o
uso e manejo correto de corretivos e fertilizantes. Os capítulos XII a XIV abordam a
discussã o sobre produçã o, características e propriedades dos fertilizantes, avalia çã o
da fertilidade do solo, recomenda çã o e manejo da aduba çã o ( modos de aplica çã o,
localiza çã o e é poca ), dentre outros tó picos. Os capítulos XV a XVIII abrangem a
fertilidade do solo e seu manejo para condições bem específicas, envolvendo esses
aspectos em sistema plantio direto, em solos afetados por sais e em á reas degradas,
sistemas esses que, por suas peculiaridades, merecem tratamento especial. Finalmente,
o capítulo XVIII trata da fertilidade e sustentabilidade da atividade agrícola, com ênfase
para solos tropicais, naturalmente inf érteis.
9
Temos certeza de que os conhecimentos contidos nesta publica çã o irã o contribuir,
de maneira marcante, para a consolida çã o do Brasil como grande potência mundial na
produ çã o de alimentos, agroenergia e outros produtos do campo, pelo aumento da
produ çã o e da produtividade agr ícolas de forma mais econ ó mica, sustent á vel e
socialmente responsá vel .
Cabe destacar o grande esfor ço dos autores dos diversos capítulos e, em especial,
o incansá vel trabalho de coordena çã o e editora çã o deste livro, equipe liderada pelo
Professor Roberto Ferreira de Novais, da Universidade Federal de Viçosa, Editor Chefe
da Revista Brasileira de Ciência do Solo, que, com abnega çã o, desprendimento e espírito
cr ítico, conseguiu levar a bom termo esta obra de relevante importâ ncia para o contexto
acad êmico e para o agronegócio brasileiro .

Alfredo Scheid Lopes


Engenheiro-Agr ónomo, MS, PhD.
Professor Em érito da Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.
Consultor Técnico da Associa çã o Nacional para Difus ã o de Adubos, São Paulo, SP.
ascheidl@ ufla.br

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ISBN 978-85-86504-08-2

FERTILIDADE DO SOLO

JULHO, 2007

CONTEÚ DO

PREFÁ CIO V

I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR Í COLA


Alfredo Scheid Lopes & Luiz Roberto Guimarã es Guilherme 1

II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO


DAS PLANTAS
Egon J . Meurer 65

III - ELEMENTOS REQUERIDOS À NUTRI ÇÃO DE PLANTAS


Antonio Roque Dechen & Gilmar Ribeiro Nachtigall 91

IV - RELAÇÃO SOLO- PLANTA


Roberto Ferreira Novais & Jaime Wilson Vargas de Mello 133

V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREÇÃO


Djalma Martinhã o Gomes de Sousa, Leo Nobre de Miranda & Sebasti ã o Alberto
de Oliveira 205

VI - MATÉRIA ORG Â NICA DO SOLO


Ivo Ribeiro da Silva & Eduardo de Sá Mendonça 275

VII - NITROG ÉNIO


Heitor Cantarella 375
VIII

VIII - FÓ SFORO
Roberto Ferreira Novais, T. Jot Smyth & Flancer Novais Nunes 471

IX - POTÁ SSIO
Paulo Roberto Ernani, Jaime Antônio de Almeida & Flá via Cristina dos Santos 551

X - ENXOFRE
Víctor Hugo Alvarez V., Renato Roscoe, Carlos Hissao Kurihara & Nilza
de Fá tima Pereira 595

XI - MICRONUTRIENTES
Cleide Aparecida de Abreu, Alfredo Scheid Lopes & Glá ucia Cecília Gabrielli
dos Santos 645

XII - FERTILIZANTES
José Carlos Alcarde 737

XIII - AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAÇÃO


DE FERTILIZANTES
Reinaldo Bertola Cantarutti, Nairam Félix de Barros, Hermínia Emilia Prieto &
Roberto Ferreira Novais 769

XIV - MANEJO DA ADUBAÇÃ O


Carlos Alberto Ceretta , Leandro Souza da Silva & Aurélio Pavinato 851

XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA


PLANTIO DIRETO
Ibanor Anghinoni 873

XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS


POR SAIS
Maria Betâ nia Galv ã o dos Santos Freire & Fernando José Freire 929

XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM Á REAS DEGRADADAS


Luiz Eduardo Dias, Avílio Antônio Franco & Eduardo Francia Carneiro Campello 955

XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE


AGR ÍCOLA
Wenceslau J. Goedert & Sebastiã o Alberto de Oliveira 991
I - FERTILIDADE DO SOLO E
PRODUTIVIDADE AGR Í COLA
Alfredo Scheid Lopes^ & Luiz Roberto Guimarães Guilherme1'

1/
Departamento de Ci ê ncia do Solo, Universidade Federal de Lavras - UFLA.
Caixa Postal 37, CEP 37200 - 00 Lavras ( MG ) .
ascheidl@ ufla .br; guilherm @ ufla . br

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Conte ú do
INTRODU ÇÃ O 2
HISTÓ RICO 3
Relatos Antigos 3
Fertilidade do Solo nos Primeiros 18 Séculos da Era Cristã 7
Progresso durante o Século 19 11
Desenvolvimento da Fertilidade do Solo nos Estados Unidos 15
Olhando para o Século 21 17
Fatos Marcantes da Evoluçã o da Fertilidade do Solo no Brasil 19
Trabalhos Pioneiros em Fertilidade do Solo e Adubaçã o 20
Programa do IRI 25
Projeto FAO / ANDA / ABC AR 27
Opera çã o Tatu 28
International Soil Fertility Evaluation and Improvement Project 30
Tropical Soils Research Project 31
Programas Interlaboratoriais de Controle de Qualidade de Análises de Solos 32
Programa Interlaboratorial de Aná lise de Tecido Vegetal 33
Recomendações Oficiais de Corretivos e Fertilizantes 33
Comité de Qualidade da ANDA 34
Plano Nacional de Fertilizantes e Calcá rio Agrícola - PNFCA 35
Gesso Agrícola - Uma Descoberta Casual 36
Mé todo de Extra ção de Nutrientes com Resina de Troca Iônica 37
Mé todo de Satura çã o por Bases 38
Evoluçã o das Análises de Micronutrientes nos Solos ,.. 38
Fixação Biológica de Nitrogénio 40

SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. NOVAIS, R . F., ALVAREZ V ,, V.H ., BARROS,
N.F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R .B . & NEVES, J .C . L . ) .
2 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO NO CONTEXTO ATUAL E FUTURO DA AGRICULTURA


BRASILEIRA 42
Causas da Baixa Fertilidade dos Solos 42
Import â ncia do Solo nos Ecossistemas 42
Solo Fértil e Solo Produtivo 43
Baixa Fertilidade: Natural ou Nã o? . 43
Preservar a Maté ria Orgâ nica do Solo é Fundamental 45
Produtividade Agr ícola Brasileira, Fertilidade do Solo e Uso Eficiente de Corretivos e Fertilizantes ... 46
Impacto do Manejo da Fertilidade do Solo e do Uso Eficiente de Corretivos e Fertilizantes nas
Lavouras 46
Perspectivas 54
CONSIDERA ÇÕES FINAIS 57
NOTA DOs EDITORes 60
LITERATURA CITADA 61

INTRODU ÇÃ O

A agricultura brasileira experimentou grande desenvolvimento durante os últimos


100 anos, obtendo aumentos significativos na produtividade de grande n ú mero de
culturas, notadamente nas ú ltimas três d écadas. Isto deveu-se a inova ções tecnoló gicas
resultantes de in ú meras pesquisas e da difusã o do uso dessas técnicas.
Um dos componentes mais importantes para esse desenvolvimento da agricultura,
principalmente no que diz respeito ao aumento da produtividade agrícola, sem esquecer
os outros fatores de produçã o, foi a pesquisa em fertilidade do solo e as inova ções
científicas e tecnológicas que permitiram o uso eficiente de corretivos e de fertilizantes
na agricultura brasileira . Segundo dados da FAO, cada tonelada de fertilizante mineral
aplicado em um hectare, de acordo com princípios que permitam sua má xima eficiência,
equivale à produçã o de quatro novos hectares sem adubaçã o. É, portanto, indissociá vel
a estreita inter-rela çã o entre fertilidade do solo e produtividade agr ícola .
Embora a disciplina Fertilidade do Solo, como parte das ciências agrá rias e afins,
seja relativamente recente nas escolas e universidades, é cada vez mais acentuada a
importâ ncia que essa tem para a segurança alimentar no Brasil e no Mundo. Entretanto,
estudantes dessa disciplina geralmente desconhecem relatos pertinentes às observações
prá ticas, aos trabalhos de pesquisa e a outros fatos importantes que, pela sua evoluçã o
através dos tempos, permitiram que se alcan çasse o patamar de conhecimento em que
nos situamos hoje, no Mundo e no Brasil. Esses aspectos sã o abordados nos primeiros
tópicos deste capítulo.
Discute-se, a seguir, o manejo da fertilidade do solo no contexto atual e futuro da
agricultura brasileira, com enfoque para as causas da baixa fertilidade dos solos, a
produtividade agrícola brasileira e o uso eficiente de corretivos e de fertilizantes e as
perspectivas quanto a fatores que nos permitem antever um papel de destaque para o
Brasil, diante da crescente demanda por alimentos e energia no mundo.

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 3

Finalmente, como considera ções finais, sã o mostrados tr ês exemplos de como o


crescimento sustentá vel da produtividade agr ícola brasileira transcende os seus efeitos
apenas no campo, tendo, também, profundas implicações na preserva çã o ambiental e no
desenvolvimento econó mico e social.

HIST Ó RICO
O per íodo do desenvolvimento da espécie humana, durante o qual o homem iniciou
o cultivo das plantas, marca o nascimento da agricultura . A é poca exata em que isso
aconteceu nã o é conhecida, mas certamente foi há milhares de anos antes de Cristo . Até
entã o, o ser humano tinha há bitos n ó mades e vivia quase que exclusivamente da ca ç a e
colheita para a obtençã o de seus alimentos.
Com o passar do tempo, o homem foi se tornando menos nó made e mais e mais
dependente da terra em que vivia . Famílias, clãs e vilas se desenvolveram e, com isto, o
desenvolvimento da habilidade de produzir, ou seja, surgiu a agricultura .
O que deve ser destacado é que desde a pré-histó ria, entã o, quando o homem deixou
as atividades nó mades - quando se alimentava de produtos de colheita e da ca ç a - e
passou a se estabelecer em á reas mais definidas, a fertilidade do solo e a produtividade
das culturas passaram a interagir mais ou menos profundamente.
Um dos capítulos mais concisos e objetivos sobre o passado e o presente da fertilidade
do solo no Mundo é o escrito por Tisdale et al. (1990), no livro Soil Fertility and Fertilizers ( 1 > .
Os primeiros cinco tópicos, a seguir, constituem uma traduçã o dessa literatura, acrescidos
de outros pontos histó ricos relevantes descritos por outros autores. Na sequência, sã o
apresentados alguns fatos marcantes da histó ria da fertilidade do solo no Brasil .

Relatos Antigos
Uma das regiões do mundo onde existem evidências de civilizações muito primitivas
é a Mesopotâ mia, situada entre os rios Tigre e Eufrates, onde se localiza atualmente o
Iraque. Documentos escritos em 2500 aC mencionam, pela primeira vez, a fertilidade da
terra e sua rela ção com a produtividade de cevada em algumas á reas, em que uma unidade
de semente plantada levou a uma colheita de 86 a 300 unidades.
Cerca de 2000 anos mais tarde, o historiador grego Fleródoto relata suas viagens
pela Mesopotâ mia e menciona produtividades excepcionais obtidas pelos habitantes da
regiã o. As altas produtividades eram, provavelmente, resultado de avançados sistemas
de irrigação e solos com alta fertilidade, fertilidade esta atribuída, em parte, às enchentes
anuais dos rios. Teofrasto foi outro que deixou relatos cerca de 300 aC sobre a riqueza
dos aluviões do rio Tigre, mencionando que a á gua era deixada o maior tempo possível
de modo a permitir que uma grande quantidade de silte fosse depositada .

(1 )
Estes t ó picos sã o transcritos com a permiss ã o de um dos autores que sobrevive aos demais, Dr .
James D . Beaton .

FERTILIDADE DO SOLO
4 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

Com o passar do tempo, o homem observou que certos solos nã o iriam produzir
satisfatoriamente quando cultivados continuamente. A prá tica de adicionar estercos de
animais ou restos de vegetais ao solo, para restaurar sua fertilidade, provavelmente foi
decorrente dessas observa ções, mas nã o se sabe como e quando a aduba çã o realmente
começou . A mitologia grega, entretanto, oferece uma explica çã o pitoresca: Augeas, um
lend á rio rei de Elis, era famoso por seu está bulo, que tinha 3.000 cabeças de bovinos.
Este está bulo nã o havia sido limpo por 30 anos e o rei contratou Hércules para limpá -lo,
concordando em dar-lhe 10 % do seu rebanho em pagamento. Diz-se que Hércules fez o
seu trabalho, fazendo passar pelo está bulo o Rio Alpheus, removendo os detritos e
presumivelmente fazendo com que estes ficassem depositados nas terras adjacentes. O
rei Augeas se recusou a pagar o prometido seguindo-se uma guerra em que Hé rcules
matou o rei.
Mesmo no épico poema grego a Odisséia, atribuído ao poeta grego cego Homero, que
se acredita ter vivido entre 900 e 700 aC, é mencionada a aplicação de estercos em videiras,
pelo pai de Odisseu . Também é mencionado um monte de esterco, fato que sugere uma
sistemá tica coleta e armazenamento deste material. Argos, o fiel cã o de ca ça de Odisseu,
é descrito como estando em cima de tal monte de esterco quando o seu dono voltou
depois de uma ausência de 20 anos. Esses escritos sugerem que o uso de estercos era
uma pr á tica agrícola na Grécia, nove séculos antes de Cristo.
Xenofonte, que viveu entre 434 e 355 aC, observou que

ru ínas" por que "alguém não sabia que era importante


"o estado tinha ido à s
aplicar esterco à terra" . E outra vez escreveu, "... não existe nada tão
bom como o esterco" .

Teofrasto (372-287 aC ) recomendava o uso abundante de estercos nos solos rasos,


mas sugeria que solos ricos fossem menos adubados. Ele també m endossava a pr á tica
hoje considerada boa - o uso de camas ( palhas) dos está bulos. Ele mencionava que isso
iria conservar a urina e as fezes e que o valor do h ú mus do esterco seria aumentado. É
interessante notar que Teofrasto sugeriu que plantas com maior exigência de nutrientes
também teriam alto requerimento de á gua .
As á reas de plantio de verduras e de oliveiras ao redor de Atenas eram enriquecidas
com esgoto da cidade. Um sistema de canais foi usado e existem evidências de utiliza çã o
de um sistema para regulagem do fluxo. Acredita-se que o esgoto era vendido aos
agricultores. Os antigos também adubavam suas videiras e arvoredos com á gua que
continha esterco dissolvido .
Estercos foram classificados de acordo com sua riqueza e concentração. Teofrasto,
por exemplo, listou-os na seguinte ordem decrescente de valor: humano, suínos, cabritos,
ovelhas, bovinos e equinos. Mais tarde, Varro, num dos primeiros escritos sobre a
agricultura romana, desenvolveu uma lista semelhante, mas classificou estercos de
pássaros e de outras aves como superiores aos excrementos humanos. Columelo
recomendava que se alimentasse o gado com alfafa (lucerne ) porque ele acreditava que
isso iria enriquecer o esterco.

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 5

Os antigos nã o apenas reconheciam os méritos do esterco, mas também observavam


o efeito que os corpos mortos tinham sobre o aumento do crescimento das culturas.
Arquiloco fez essa observa çã o ao redor de 700 aC, e as cita ções do Velho Testamento sã o
até anteriores a isso. No Deuteronô mio, é mencionado que o sangue de animais deveria
ser espalhado no solo. O aumento da fertilidade da terra que recebeu corpos mortos tem
sido reconhecido através dos anos, mas provavelmente de uma forma mais poé tica por
Ornar Khayyam, o poeta -astr ônomo da Pé rsia, que, ao redor do fim do século onze,
escreveu:
Eu à s vezes penso que nunca floresce t ão vermelha
A rosa como onde algum C ésar enterrado sangrou;
Que cada jacinto que brota no jardim
Caído em seu regaço de alguma vez cabeça encantadora .
E esta deliciosa planta cujo verde tenro
Empluma a orla do rio na qual n ós repousamos
Ah! Repousemos sobre ela suavemente! Pois quem sabe
Da beleza de quem está enterrado sob essas plantas .

O valor dos adubos verdes, particularmente das leguminosas, foi logo reconhecido.
Teofrasto observou que um tipo de feijã o ( Vicia fava ) era incorporado pela ara çã o por
agricultores da Tessália e Macedônia. Verificou que, mesmo quando densamente semeada e
quando grandes quantidades de sementes eram produzidas, a cultura enriquecia o solo.
Segundo Catã o (234-149 aC ), á reas pobres com videiras deveriam ser plantadas
com cultura intercalar de Acinum . Nã o se sabe que cultura é essa , mas sabe-se que ela
nã o era deixada até produzir sementes, inferindo-se que ela seria incorporada ao solo.
Ele afirmava ainda que as melhores leguminosas para enriquecer o solo eram: feijã o,
trevo lupino e ervilhaca .
O trevo lupino era muito popular entre os povos antigos. Columelo listou numerosas
leguminosas, incluindo tremoço ( Lupinus sp.), ervilhaca, lentilha, ervilha, trevo e alfafa,
que eram adequados para a melhoria do solo. Muitos dos escribas da época concordavam,
entretanto, que o trevo lupino era o melhor como adubo verde porque crescia bem sob
grande variedade de condições do solo, fornecia alimento para o homem e para os
animais, era f á cil de semear e crescia com rapidez.
Virgílio (70-19 aC) recomendava o uso de leguminosas, como é indicado na passagem
seguinte:
" ou ,
mudando a estação , você semear á o trigo amarelo , onde antes você
tinha colhido grãos de leguminosas com ferrugem nas vagens , ervilhaca e
lupino amargo de talos frágeis ou arvoredos praguejados" .
O uso do que é agora chamado de corretivos e fertilizantes minerais não era totalmente
desconhecido das antigas civiliza ções. Teofrasto sugeria a mistura de diferentes solos
com a finalidade de "corrigir defeitos e adicionar for ça ao solo". Esta prá tica pode ter
sido benéfica sob vá rios aspectos. A adição de solo f értil sobre um solo inf értil poderia levar

FERTILIDADE DO SOLO
6 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

ao aumento da fertilidade do solo e a pr á tica de misturar um solo com o outro poderia,


também, promover melhor inocula çã o das sementes de leguminosas em alguns campos.
A mistura de um solo mais arenoso com um mais argiloso, ou vice-versa, poderia melhorar
as rela ções de umidade e arejamento nos solos dos campos que recebiam esse tratamento.
O valor das margas ( misturas de argila e calcá rios) também era conhecido. Os
primitivos habitantes de Aegina escavavam as margas e as aplicavam nas suas terras.
Os romanos, que aprenderam esta pr á tica dos gregos e gauleses, chegaram a classificar
os v á rios materiais calcá rios e recomendavam que um tipo fosse aplicado às lavouras
produtoras de gr ã os e outro à s pastagens . Plínio (62-113 dC ) afirmava que o calcá rio
deveria ser espalhado para formar uma fina camada sob o terreno e que um tratamento
era "suficiente por v á rios anos, mas nã o por 50". Columelo també m recomendava a
distribuiçã o das margas em um solo pedregoso e a mistura de cascalho com solos ricos
em carbonato de Ca e densos.
A Bíblia menciona o valor das cinzas de madeira em referência à queima de roseiras
selvagens e arbustos pelos judeus, e Xenofonte e Virgílio reportam a queima de restolhos
para limpar os campos e destruir as ervas daninhas. Catã o aconselhava um proprietá rio
de videiras a queimar os restos da poda no local e enterrar as cinzas para enriquecer o
solo. Plínio afirmava que o uso de calcá rio queimado nos fornos era excelente para as
oliveiras, e alguns agricultores queimavam o esterco e aplicavam as cinzas em seus
campos. Columelo també m sugeriu a distribuiçã o de cinzas ou calcá rio em solos de
baixada para "destruir" a acidez.
Salitre ou nitrato de K foi mencionado por Teofrasto e Plínio como conveniente para
adubar as plantas e isso é mencionado na Bíblia , no livro de Lucas . Salmoura foi
mencionada por Teofrasto. Aparentemente, reconhecendo que palmáceas necessitam de
grandes quantidades de sal, os primeiros agricultores aplicavam salmouras nas ra ízes
de suas á rvores.
Virgílio escreveu sobre a característica hoje conhecida como densidade do solo. Seu
conselho em como determinar essa propriedade era:
... primeiro, você deve marcar um lugar e fazer um buraco profundo no terreno
sólido, e, a seguir, retornar toda a terra para o seu lugar , nivelando com seu pé
a parte de cima. Se for possível nivelar ou ainda houver espaço no buraco, o solo
é solto e mais adequado para o gado e videiras generosas; mas se não houver a
possibilidade de voltar todo o material para seu lugar , e sobrar terra apó s o
buraco ter sido preenchido , trata-se de um solo denso; espere torrões de terra
resistentes e entresulcos rijos, e dê a primeira aradura à terra com touros robustos
castrados .
Virgílio descreve outro mé todo que poderia ser considerado hoje o protótipo de uma
análise de solo:

... mas , o solo salgado , e com acentuado sabor amargo ( onde o milho não se
desenvolve ) , irá dar prova de sua característica . Pegue do teto enfumaçado
esteiras de vime e peneiras das prensas de vinho. Encha-as com a terra de

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 7

má qualidade , adicione água doce que brota da fonte e esteja certo de que
toda a água ir á drenar e grossas gotas passar ão pelo vime . O seu gosto ser á
o ind ício de sua qualidade e o amargor ao ser percebido ser á mostrado por
um gesto de desagrado nos rostos dos provadores .

Columelo também sugeriu um teste de sabor para medir o grau de acidez e salinidade
dos solos, e Plínio afirmou que o sabor amargo dos solos poderia ser detectado pela
presença de ervas negras e subterr â neas.
Plínio escreveu que "entre as provas que o solo é bom está a espessura comparativa
do colmo do milho" e Columelo afirmou simplesmente que o melhor teste para a
adequabilidade da terra para uma cultura específica seria se ela poderia nele crescer.
Muitos dos escribas no passado (e, sobre este assunto, muitos ainda hoje ) acreditavam
que a cor do solo era um critério para avaliar sua fertilidade. A id éia geral é que solos
pretos eram f érteis e que solos claros ou cinzas eram inf é rteis. Columelo nã o concordava
com este ponto de vista, ressaltando a infertilidade dos solos negros de pâ ntanos e a alta
fertilidade dos solos claros da Líbia . Ele acreditava que fatores, como estrutura, textura
e acidez, eram melhores guias para se estimar a fertilidade do solo.
A era dos Gregos de cerca de 800 a 200 aC foi, sem d ú vida, uma é poca á urea . Muitos
dos feitos de homens deste período refletem um trabalho de gênio inigualá vel . Seus
escritos, sua cultura , sua agricultura foram copiados pelos Romanos, e a filosofia de
muitos dos Gregos deste período dominou o pensamento do homem por mais de 2000 anos.

Fertilidade do Solo nos Primeiros 18 S éculos da Era Cristã


O pensamento clá ssico grego e romano chegou ao ocidente gra ças ao florescimento
das cidades islâ micas, lugares de trabalho, centros de culto e focos de cultura e ciência,
como Cairo, Fez, Marrakesh e Alexandria, na África; Bagdá, Bassora , Damasco, Isfaham,
Bukhara, Samarkanda e Lahore, na Á sia; Istambul e Córdoba, na Europa (Chatty, 1981).
Nas Medinas, acima de todo o saber humano, as ciências do mundo inteiro - da China
ou da índia, da Grécia ou de Roma, do Egito ou de Cald éia - teóricas ou prá ticas,
experimentais ou fundamentais, foram minuciosamente recolhidas e cuidadosamente
conservadas. As obras foram traduzidas para o á rabe e comentadas com sabedoria . Os
conhecimentos foram aprofundados, recriados e repensados de forma genial (Chatty,
1981). Toda essa atividade intelectual gerou um desenvolvimento sem precedentes, sem
o qual a modernidade atual teria sido impossível.
A contribuiçã o da civilizaçã o á rabe-islâ mica foi muito marcante no desenvolvimento
de uma agricultura próspera em regiões á ridas e semi-á ridas. Esta civiliza çã o criou as
bases das ciê ncias agr á rias, ultrapassando o simples ac ú mulo de conhecimentos
empíricos, superando-os e liberando-os dos sentidos místicos e sobrenaturais que os
cercavam. O ambiente de tolerâ ncia e admira çã o pela diversidade cultural permitiu a
combina çã o da grande experiência asiá tica com a riqueza do conhecimento dos povos
do mediterrâ neo. Durante a longa presença á rabe na Europa, a agricultura mediterrâ nica
conheceu aperfeiçoamento e complexidade sem precedentes (Miranda, 1982).
?

FERTILIDADE DO SOLO
8 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

Na regiã o de Granada e Sevilha , Espanha , o agrónomo á rabe-andaluz Ibn AI Awan


( ? - 1145), agregando à literatura o conhecimento local, testou as diferentes técnicas
conhecidas gerando verdadeiros " jardins de ensaios" ou "esta ções experimentais". O
conhecimento adquirido e testado transformou-se na obra "O Livro da Agricultura ",
com cerca de 1.500 pá ginas, 35 capítulos e três volumes. Nessa obra, verifica -se que os
agr ónomos andaluzes atingiram grande domínio na escolha do material vegetal e no
controle dos fatores de produçã o, especialmente dos solos e da á gua (Miranda, 1982).
Nos capítulos que tratam dos solos, eles sã o identificados em cerca de 12 classes, com
sua origem explicada pela desagrega çã o das rochas pela a çã o da á gua e do calor . São
descritas em detalhe as características que permitem identificar a terra de boa qualidade
e as técnicas necessá rias para a recupera çã o das terras consideradas impr óprias à
agricultura . Os capítulos sobre adubos e corretivos apresentam classifica ção dos diversos
tipos de compostos e das t écnicas possíveis de compostagem, indicam as formas de
utiliza çã o de margas e calcá rios, das é pocas mais adequadas de sua aplica çã o, das
plantas e á rvores que se beneficiam ou nã o com os diferentes tipos de fertiliza çã o. Os
capítulos sobre irriga çã o tratam dos diferentes tipos de á gua, quais os convenientes a
cada tipo de planta; bem como da construçã o de poços, do nivelamento dos terrenos e
das v á rias técnicas de irriga çã o, em quadros, por submersã o, em potes, etc. ( Miranda ,
1982). A monumental obra de Ibn AI Awan, pelo adiantado da agronomia andaluza,
influenciou a agricultura européia , especialmente a do mediterr â neo, at é o século XIX,
pois a expansã o colonial francesa no norte da África fundamentou-se no uso da tradução,
para o francês, como manual de técnicas agrícolas a serem utilizadas pelos colonos.
Após o declínio de Roma, apareceram poucas contribuições para o desenvolvimento
da agricultura, até à publica çã o de Opus Ruralium Comodorum , uma coleçã o de pr á ticas
agrícolas locais, por Pietro de Crescenzi (1230-1307). De Crescenzi é considerado por
alguns como o fundador da agronomia moderna, mas o seu manuscrito parece estar
restrito ao trabalho de escritores do tempo de Homero . Sua contribui çã o foi
principalmente fazer um resumo do material disponível. Ele, entretanto, sugeriu um
aumento das doses de esterco acima das recomendadas naquela época.
Após o trabalho de De Crescenzi, pouco foi adicionado ao conhecimento agrícola
por muitos anos, apesar de ter sido atribuído a Palissy, em 1563, a observa çã o de que o
teor de cinzas das plantas representava o material que elas tinham retirado do solo .
Ao redor do início do século dezessete, Francis Bacon (1561-1624) sugeriu que o
principal alimento das plantas era a á gua . Ele acreditava que a principal funçã o do solo
era manter as plantas eretas e protegê-las do calor e do frio e que cada planta tirava do
solo uma ú nica substâ ncia para sua alimenta ção em particular . Bacon afirmava também
que a produ çã o contínua de um mesmo tipo de planta em um solo iria empobrecê-lo para
aquela espécie em particular.
Durante esse mesmo período, Jean Baptiste van Helmont (1577-1644), um f ísico-
químico flamengo, relatou os resultados de um experimento em que ele acreditava provar
que a água era o único nutriente das plantas. Ele colocou 200 libras de solo (90,7 kg ) em
um vaso, umedeceu o solo e plantou um pé de salgueiro pesando cinco libras (2,3 kg).
Ele cuidadosamente protegeu o solo no vaso da poeira e adicionava somente á gua da

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 9

chuva ou á gua destilada . Após um per íodo de cinco anos, van Helmont terminou o
experimento. A á rvore pesava 169 libras e três onças (76,7 kg ). Ele só nãó pôde explicar
a varia çã o de peso de duas onças (56,6 g) das 200 libras (90,7 kg ) de solo originalmente
usadas. Por ter adicionado apenas á gua, sua conclusã o foi que a á gua era o ú nico
nutriente da planta . Ele atribuiu a perda de duas on ças de solo ( 56,6 g) ao erro
experimental.
O trabalho de van Helmont e suas conclus õ es err ó neas foram, na verdade,
contribuições valiosas para o nosso conhecimento, pois, apesar de serem erradas,
estimularam investiga ções posteriores cujos resultados levaram ao melhor entendimento
da nutriçã o de plantas;
O trabalho de van Helmont foi repetido v á rios anos mais tarde por Robert Boyle
(1627-1691), na Inglaterra . Boyle é provavelmente mais conhecido por expressar a relaçã o
do volume de um gás a determinada pressã o. Ele tinha também interesse por biologia e
era um grande defensor de mé todos experimentais na solução de problemas relacionados
com a ciência . Ele acreditava que a observa ção era o ú nico caminho para a verdade.
Boyle confirmou os resultados de van Helmont, mas foi mais além. Como resultado das
aná lises químicas que ele fez em amostras de plantas, concluiu que as plantas continham
sais, terra e óleo, todos eles formados da á gua .
Mais ou menos na mesma é poca, J. R. Glauber (1604-1668), um químico alem ã o,
sugeriu que salitre (KNOs) e nã o a á gua era o "princípio da vegetaçã o". Ele coletou o sal
de currais de gado e ponderou que o sal vinha das fezes dos animais. Ele afirmou que,
como os animais comem forragem, o salitre deve ter sido originado das plantas. Quando
ele aplicou esse sal às plantas, ele observou substancial aumento no crescimento das
plantas, concluindo, ainda, que a fertilidade do solo e o valor do esterco eram totalmente
devidos ao salitre.

John Mayow (1643-1679), um químico inglês, deu suporte às afirma ções de Glauber.
Mayow estimou as quantidades de salitre no solo em vá rias épocas durante o anó e
encontrou a maior concentra çã o na primavera . Nã o encontrando nada durante o verã o,
ele concluiu que o salitre tinha sido absorvido ou succionado pela planta, durante seu
período de crescimento r á pido, à medida que era aplicado ao solo.
Por volta do ano de 1700, entretanto, foi feito um estudo que pode ser considerado
excepcional e que representou um avanço considerá vel para o progresso das ciências
agr á rias. Um inglês de nome John Woodward, que estava familiarizado com o trabalho
de Boyle e van Helmont, fez crescer plantas de hortelã em amostras de água que ele tinha
obtido de v á rias proced ências: á gua de chuva, á gua de rio, á gua de esgoto e á gua de
esgoto mais mofo de jardim . Cuidadosamente, ele mediu a quantidade de á gua
transpirada pelas plantas e anotou o peso das plantas no início e no fim do experimento.
Ele observou que o crescimento das plantas foi proporcional à quantidade de impurezas
na á gua e concluiu que o material da terra ou solo, ao invés de á gua, era o princípio da
vegetaçã o. Apesar de nã o ser totalmente correta, a conclusã o representou um avanço no
conhecimento e sua técnica experimental foi consideravelmente melhor do que qualquer
outra anterior.

FERTILIDADE DO SOLO
10 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMARã ES GUILHERME

Havia muita ignor â ncia em rela çã o à nutriçã o de plantas naquela é poca . Muitas
id éias estranhas surgiram, tiveram evid ência ef é mera e foram esquecidas. Parte dessas
id éias foi introduzida por outro inglês, Jethro Tull (1674-1741). Tull foi educado em
Oxford , o que era considerado um pouco fora do comum para uma pessoa com propensã o
à agricultura . Ele parece ter tido interesse pela política , mas problemas de sa úde o
forçaram a uma aposentadoria no campo. Ele levou a cabo vá rios experimentos, a maioria
envolvendo prá ticas agr ícolas. Ele acreditava que o solo deveria ser finamente pulverizado
para dar o "sustento adequado" para a planta em crescimento. De acordo com Tull, as
partículas do solo seriam, na verdade, ingeridas através de aberturas nas ra ízes das
plantas. Ele acreditava que a pressã o causada pela expansã o das ra ízes em crescimento
for çava as partículas finas do solo para dentro das " bocas dos vasos das raí zes" , após o
que, entraria no " sistema circulat ório" das plantas.
As id éias de Tull sobre nutriçã o de plantas eram, no mínimo, bizarras. Seus
experimentos, entretanto, levaram ao desenvolvimento de dois valiosos equipamentos
de cultivo: a plantadeira em linha e o cultivador puxado por cavalos. Seu livro Horse
Hoeing Husbandry foi, por muito tempo, considerado um texto importante no meio agrícola
inglês.
Ao redor de 1762, John Wynn Baker, um partidá rio de Tull, estabeleceu uma fazenda
experimental na Inglaterra , cuja finalidade era a exibiçã o p ública dos resultados dos
experimentos agrícolas. O trabalho de Baker foi elogiado mais tarde por Arthur Young
que, entretanto, alertava os leitores para terem cuidado ao dar crédito excessivo aos
cá lculos, tomando por base os resultados de somente alguns anos de trabalho, um
cuidado que é tã o importante hoje como quando foi feito originalmente.
Um dos mais famosos agricultores ingleses do século dezoito foi Arthur Young
(1741 -1820) . Young realizou trabalhos em vasos para encontrar aquelas substâ ncias
que poderiam melhorar a produtividade das culturas. Ele fez crescer cevada em areia, à
qual adicionava materiais como carvã o, óleo de m á quinas, esterco de galinha, vinho,
salitre, pólvora , piche, ostras e numerosos outros materiais. Alguns dos materiais
promoveram o crescimento das plantas e outros não. Young, um escritor prolífico, publicou
o trabalho intitulado Annals of Agriculture , em quarenta e seis volumes, que foi muito
considerado e teve um grande impacto na agricultura Inglesa .
Muitas das publica ções envolvendo agricultura nos séculos dezessete e dezoito
refletiam a id éia de que as plantas eram compostas de uma substâ ncia, e a maioria dos
autores, durante esse período, estava buscando este principio da vegetação. Por volta de
1775, entretanto, Francis Home afirmou que nã o havia apenas um princípio, mas
provavelmente vá rios, entre os quais se incluíam ar, á gua, terra, sais, óleo e fogo em um
estado fixo. Home acreditava que os problemas da agricultura eram essencialmente
aqueles de nutriçã o das plantas. Ele realizou experimentos em vasos para avaliar os
efeitos de diferentes substâ ncias no crescimento das plantas e fez análises químicas de
materiais das plantas. Seu trabalho foi considerado valioso pilar no progresso da
agricultura científica.
O descobrimento do Oz por Priestley foi a chave para outras descobertas que
avançaram muito na explica çã o dos mistérios da vida das plantas. Jan Ingenhousz

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 11

(1730-1799 ) mostrou que a purifica çã o do ar ocorre na presença de luz, mas, no escuro,


o ar nã o é purificado . Juntamente com essa descoberta, ocorreu a afirmaçã o de Jean
Senebier (1742-1809 ), um filósofo e historiador suíç o, de que o aumento no peso do
salgueiro no experimento de van Helmont foi resultado do ar!
O Pastor protestante Meyer, do principado de Hohenlohe, realizou uma série de
observações sobre o uso do gesso, que levaram à sua recomenda çã o em escritos na metade
do século 18. Desde entã o, houve vivo entusiasmo pelo gesso que foi considerado
panacéia universal até perceberem-se as restrições e limita ções a seu uso (Garola, 1926).
Posteriormente, em 1802, a Sociedade Central de Agricultura Francesa (atualmente
Academia Nacional) realizou um debate sobre a eficácia do uso de gesso nas leguminosas.
Como resultado, foram apresentadas 40 opiniões favorá veis e somente três contra, ficando
confirmado que o gesso não apresentava efeito em solos muito ú midos (seis votos de seis
votantes), que nã o pode substituir a adubaçã o orgâ nica nem a manta vegetal (sete votos
de sete ) e que nã o influi, favoravelmente, na produção de cereais (32 votos de 32) (Garola,
1926 ) .
Entretanto, Smith, na Inglaterra, realizou experimentos aplicando gesso e cultivando
as leguminosas trevo branco e Onobrychis sativa que tiveram aumento de produtividade,
frequentemente, em 33 % e, algumas vezes, duplicando-a. Em alguns solos, nã o se obteve
resposta à adição de gesso como nos da Escola de Agricultura de Grignon. Posteriormente,
com base em trabalhos sobre uso do gesso, especialmente os de Boussingault, Garola
(1926) afirmou: Concebe- se , que , quando se cultivam cereais de raí zes superficiais , importa
pouco que a potassa e o amónio fiquem retidos nas camadas superficiais pelas propriedades
adsorventes dos solos . Mas , também, compreende-se que não acontece o mesmo com as leguminosas ,
cujas raízes penetram profundamente no solo, visto que o gesso atua no solo deforma determinada .
Seu efeito é tranportar as bases a camadas profundas , das que as plantas extraem seus alimentos
(Garola, 1926) .

Progresso durante o S éculo 19


Essas descobertas estimularam a mente de Theodore de Saussure, cujo pai estava
familiarizado com o trabalho de Senebier. Ele atacou dois dos problemas nos quais
Senebier tinha trabalhado - o efeito do ar e a origem dos sais nas plantas. Como resultado,
de Saussure, foi capaz de demonstrar que as plantas absorvem 02 e liberam C02, o
principio da respira çã o. Alé m disso, observou que as plantas poderiam absorver C02 e
liberar 02 na presença da luz. Se, entretanto, as plantas fossem mantidas em um ambiente
livre de C02, elas morreriam. De Saussure concluiu que o solo fornece somente pequena
fra çã o dos nutrientes necessá rios às plantas, mas ele demonstrou que o solo fornece
cinzas e N. Ele efetivamente afastou a id éia de que as plantas geravam espontaneamente
oKe afirmou ainda que as raízes das plantas nã o se comportam como um mero filtro.
Além disso, as membranas são seletivamente permeáveis, permitindo entrada mais rápida
da á gua do que dos sais . Ele tamb é m mostrou a absor çã o diferencial dos sais e a
inconstâ ncia da composição das plantas, que varia com a natureza do solo e com a idade
da planta. A conclusã o de de Saussure de que o C contido nas plantas vinha do ar nã o
foi imediatamente aceita por seus colegas. Sir Flumphrey Davy, que havia publicado seu

FERTILIDADE DO SOLO
12 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

livro The Elements of Agricultural Chemistry, em 1813, afirmou que, embora algumas plantas
pudessem absorver seu C do ar atmosf érico, a maior parte era absorvida pelas ra ízes.
Davy estava tã o entusiasmado com sua crença que ele recomendava o uso de óleo como
fertilizante em funçã o do seu teor de C e H.
A metade do século dezenove até o início do século vinte foi o período em que
ocorreu grande progresso na compreensã o da nutriçã o de plantas e da aduba çã o das
culturas. Dentre os homens desse per íodo com grandes contribuições está Jean Baptiste
Boussingault (1802-1882 ), um qu ímico francês muito viajado, que estabeleceu uma
propriedade na Alsá cia, onde levou a cabo experimentos de campo . Boussingault
utilizava as t écnicas cuidadosas de de Saussure, pesando e analisando os estercos que
ele aplicava nos seus experimentos e também as culturas que ele colhia . Ele manteve um
balanço que mostrava quanto dos v á rios nutrientes de plantas vinham da chuva, do solo
e do ar, analisava a composiçã o das culturas durante v á rios est á dios de crescimento, e
determinou que a melhor rota çã o de culturas foi aquela que produziu a maior quantidade
de matéria orgâ nica , alé m daquela adicionada por meio do esterco. Boussingault é
considerado por alguns como o pai da experimenta çã o de campo.
Justus von Liebig (1803-1873), um químico alemã o, muito efetivamente "fez desabar"
o mito do h ú mus. A apresenta çã o de seu trabalho em respeitado congresso científico
mexeu com os conservadores de tal forma que somente alguns cientistas desde aquela
época ousaram sugerir que o conte ú do de C nas plantas vem de outra fonte que nã o o
C02. Liebig fez as seguintes afirma ções:
1. A maior parte do C nas plantas vem do dióxido de C da atmosfera .
2. H e O v ê m da á gua .
3. Os metais alcalinos sã o necessá rios para a neutraliza çã o dos á cidos formados
pelas plantas como resultado de suas atividades metabólicas.
4. Os fosfatos sã o necessá rios para a forma çã o das sementes.
5. As plantas absorvem tudo indiscriminadamente do solo, mas excretam de suas
ra ízes aqueles materiais que nã o sã o essenciais.
Nem todas as id éias de Liebig, entretanto, eram corretas. Ele pensava que o ácido
acé tico era excretado pelas raízes. Ele também acreditava que o NH4+ era a ú nica forma
de N absorvida e que as plantas poderiam obter esse composto do solo, esterco ou do ar.
Liebig acreditava firmemente que, analisando a planta e estudando os elementos que ela
continha, poder-se-ia formular um conjunto de recomendações de fertilizantes com base
nessas análises. Era sua opinião, também, que o crescimento das plantas era proporcional
à quantidade de substâ ncias minerais disponíveis nos fertilizantes.
A lei do mínimo , estabelecida por Liebig, em 1862, é um guia simples, mas lógico,
para se fazer a previsã o das respostas das plantas à aduba çã o. Essa lei diz o seguinte:
campo pode conter a disponibilidade mínima de um mínimo de um
" cada
ou mais nutrientes . Com esse mínimo , seja calcário, K , N , ácido fosf órico ,
magnésia ou qualquer outro nutriente, as produtividades apresentam uma

FERTILIDADE DO SOLO

\
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR íCOLA 13

rela ção direta com o suprimento deste nutriente em menor disponibilidade .


Este é o fator que governa e controla ... produtividades . Se o mí nimo for
calcá rio ... a produtividade ... será a mesma e n ão maior mesmo se as
quantidades de K , sílica , ácido fosf órico , etc ... sejam aumentados em cem
vezes" .

A lei do Liebig, ou lei do mínimo, dominou o pensamento dos pesquisadores na


agricultura por muito tempo e ainda tem importâ ncia universal no manejo da fertilidade
*- do solo.
Liebig produziu um fertilizante com base nas suas ideias de nutriçã o de plantas. A
formula çã o de uma mistura fazia sentido, mas ele cometeu um erro fundindo sais de K e
P com calcá rio. Como resultado, o fertilizante foi um completo fracasso. Nã o obstante,
as contribuições de Liebig para o desenvolvimento da agricultura foram monumentais,
1

sendo ele, muito merecidamente, reconhecido como o pai da química agrícola. Outro fato
marcante após o famoso trabalho de Liebig foi o estabelecimento, em 1843, de uma estaçã o
experimental agrícola em Rothamsted, na Inglaterra . Os fundadores dessa instituiçã o
foram J . B. Lawes e J.H. Gilbert. Os trabalhos realizados nessa esta çã o experimental
seguiam a mesma linha daqueles efetuados por Boussingault, na Franç a .
Lawes e Gilbert nã o acreditavam que todas as afirma ções de Liebig eram corretas.
Doze anos após a funda çã o da esta çã o de Rothamsted, eles apresentaram os seguintes
li pontos:
1. As culturas necessitam de ambos, P e K, mas a composiçã o da cinza das plantas
nã o constitui uma medida das quantidades desses elementos necessá rias à planta.
2. Culturas nã o-leguminosas necessitam do fornecimento de N. Sem este elemento,
nã o se obterá crescimento, independentemente das quantidades dePeKpresentes.
ir
A contribuiçã o da quantidade de N da forma de am ónia, pela atmosfera , é
insuficiente para as necessidades das culturas.
3. A fertilidade do solo poderia ser mantida por alguns anos por meio de fertilizantes
químicos.
4. O efeito benéfico do pousio está no aumento da disponibilidade de compostos de
(
N no solo.

Por muito tempo, e mesmo hoje em alguns lugares, os agricultores foram relutantes
em acreditar que a fertilidade poderia ser mantida somente pelo uso de fertilizantes
minerais. Os primeiros trabalhos em Rothamsted, entretanto, provam, de maneira
conclusiva, que isso pode ser feito. Uma das provas mais inquestioná veis nesse sentido
é o relato do experimento denominado Broadbalk Winter Wheat, comparando fertilizantes
orgânicos e minerais, iniciado em 1843, e utilizado até hoje ( Lawes Agricultural Trust,
1984). Desde o início, vê m sendo aplicados, anualmente, uma série de tratamentos. De
1979 a 1983, portanto 150 anos após o início do experimento, foi colhido trigo sarraceno,
cujos valores de produçã o média (cinco anos) aparecem dentro das respectivas colunas
(Figura 1).

FERTILIDADE DO SOLO
14 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

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Testemunha PKNaMg N 2PKNaMg Esterco Esterco: 35 t ha*1 ano 1 +
35 t ha 1
*
ano 1 N 2: 96 kg ha -1 ano 1 de N
*

Tratamento

Figura 1. Resumo de alguns tratamentos referentes ao mais antigo experimento de aduba çã o


ainda sendo realizado, na estaçã o experimental de Rothamsted, Inglaterra, comparando
aduba çã o orgâ nica e aduba çã o mineral. Os dados referem-se aos resultados médios de
produção de trigo no per íodo de 1979 a 1983, ap ós 150 anos de aplicaçã o dos tratamentos
mostrados na base das respectivas colunas.
Fonte: Lawes Agricultural Trust (1984) .

É obvio que uma aplica çã o anual de 35 t ha 1 de esterco de curral (o que envolveu


'

grande volume de material e trabalho intenso para aplica ção ao solo), durante 150 anos,
pode substituir a aduba çã o com fertilizantes minerais. E també m óbvio qué a adubação
mineral balanceada , que produziu a média de 5,7 t ha 1, pode substituir a aduba çã o '

orgâ nica e que o simples enriquecimento da aduba çã o orgâ nica com 96 kg ha 1 de N de '

fonte mineral por ano levou às maiores produ ções.


7{;
'

O problema do N do solo e das plantas permanecia sem soluçã o. Vá rios estudiosos


tinham observado o comportamento nã o convencional das leguminosas. Em alguns
casos, elas cresciam bem sem a aplica çã o de N, enquanto, em outras situações, nao havia
crescimento das plantas. Plantas nã o-leguminosas, por outro lado, sempre deixavam de
crescer quando havia insuficiente N no solo.
Em 1878, alguma luz surgiu nessa confusã o, pelo trabalho de dois bacteriologistas
franceses, Theodore Schloessing e Alfred Miintz . Esses cientistas purificaram á gua de
esgoto, fazendo-a passar por um filtro feito de areia e calcá rio. Eles analisaram o filtrado
periodicamente, e, por vinte e oito dias, somente detectaram amónia. No fim desse período,
começou a aparecer nitrato no filtrado. Schloessing e Múntz encontraram que a produção
de nitratos poderia ser paralisada pela adição de clorof órmio e que poderia ser reiniciada
pela adiçã o de um pouco de á gua de esgoto. Eles concluíram que a nitrificação era
resultado da açã o bacteriana .
Os resultados destes experimentos foram aplicados a solos por Robert Warrington,
na Inglaterra . Ele mostrou que a nitrificaçã o poderia ser paralisada pelo bi-sulfeto de C
e clorof órmio e que o processo poderia ser reiniciado pela adição de solo não esterilizado. -
i
*

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR íCOLA 15

Ele também demonstrou que a reaçã o era um fenômeno que ocorria em duas fases, primeiro
n
a am ónia sendo convertida em nitrito e, subsequentemente, em nitrato.
r
Warrington, entretanto, nã o foi capaz de isolar os organismos responsáveis pela
i. nitrifica çã o. Esta tarefa foi resolvida por S. Winogradsky, que fez o isolamento usando
uma placa com sílica -gel, em vez do meio de cultura de á gar, porque esses organismos
sã o autotr óficos e obtê m seu C do C02 da atmosfera .
Com referência ao comportamento err á tico das plantas leguminosas em rela çã o ao
!
N, dois alemã es, Hellriegel e Wilfarth, em 1886, conclu íram que uma bactéria deveria
J
estar presente nos nódulos das ra ízes das leguminosas. Mais tarde, estes organismos
foram associados à sua capacidade de assimilar N 2 gasoso da atmosfera para convertê-
lo em uma forma que poderia ser utilizada por plantas superiores. Esta foi a primeira
informaçã o específica em relaçã o à fixa çã o de N2 pelas leguminosas. Hellriegel e Wilfarth
utilizaram, como base para os seus argumentos, as observa ções feitas em alguns dos
seus experimentos. Eles, entretanto, nã o isolaram os organismos responsá veis por esse
f. processo. Isto foi feito mais tarde por M.W . Beijerinck, que chamou o organismo de
Bacillus radicícola.

Desenvolvimento da Fertilidade do Solo nos Estados Unidos


Apesar de os avanços na agricultura do século dezoito terem sido alcançados, em
sua maioria, no continente europeu , poucas contribuições de americanos foram
suficientemente importantes para serem mencionadas. Em 1733, James E. Oglethorpe
estabeleceu uma á rea experimental nas encostas íngremes do Rio Savana, onde hoje se
localiza a cidade de Savana, na Georgia . A á rea era dedicada à produçã o de culturas
alimentícias ex ó ticas e era citada como um lugar de "belezas", enquanto foi mantida .
Houve perda de interesse por ela que logo deixou de existir. Como essa á rea foi na maior
i
parte resultado do interesse de britâ nicos, provavelmente ela não pode ser considerada,
em sua essência, como um empreendimento americano.
Benjamin Franklin demonstrou, na metade do século 18, o valor do gesso agrícola .
Em uma colina em sua propriedade, ele aplicou gesso num padrã o de distribuiçã o com a
seguinte frase: "Esta terra foi gessada". O aumento de crescimento da pastagem na á rea
onde o gesso havia sido aplicado serviu como uma demonstra çã o efetiva do seu valor
como fertilizante.
Em 1785, uma sociedade foi formada na Carolina do Sul e tinha, entre seus objetivos,
o estabelecimento de uma fazenda experimental . Onze anos ap ós, o Presidente
Washington, em sua mensagem anual ao congresso, defendeu o estabelecimento do comité
nacional de agricultura. Algumas das contribuições mais importantes para a agricultura
americana no passado foram feitas por Edmond Ruffin, da Virgínia, entre 1825 e 1845.
Acredita -se que ele tenha sido um dos primeiros a utilizar calcá rio em solos da regiã o
ê

ú mida para repor nutrientes perdidos pela remoçã o das culturas e lixiviação. Ruffin era
um observador cuidadoso, um estudioso e possuía uma mente aguçada e inquisitiva.
Apesar de ser o uso do calcá rio para aumentar a produçã o das culturas conhecido em
outros continentes, essa foi aparentemente uma nova experiência na América.

FERTILIDADE DO SOLO

!
16 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

Foi somente em 1862 que o Ministério da Agricultura foi estabelecido, e, no mesmo


ano Lei Morril levou ao estabelecimento das escolas estaduais de agricultura . A primeira
, a
esta çã o experimental agrícola estabelecida em 1875, em Middletown, Connecticut, teve
suporte de fundos estaduais. Em 1877, a Carolina do Norte estabeleceu uma unidade
semelhante, seguindo-se New Jersey, New York, Ohio e Massachusetts . Em 1888, a lei
Hatch levou à implanta çã o de esta çõ es experimentais estaduais que seriam
operacionalizadas, em conjunto, com os land -grant colleges, e uma dota çã o anual de
US$15.000,00 foi disponibilizada para cada estado como suporte. Apesar de os primeiros
trabalhos experimentais terem sido muito mais demonstra ções de resultados, uma
metodologia científica nos estudos dos problemas da agricultura foi gradualmente
desenvolvida no pa ís.
A idéia de proceder à extra çã o de nutrientes de solos com á cidos para determinar
sua fertilidade persistia , e E. W . Hilgard (1833-1916 ) estabeleceu que a solubilidade
má xima dos minerais do solo em HC1 foi obtida quando o á cido tinha peso específico de
1,115 kg L 1 (== 7,9 mol L 1), o que corresponde à concentraçã o do á cido obtida após fervura
' '

prolongada . Hilgard deu significâ ncia particular para esse fato. A digestão em ácido
forte tornou -se muito popular e aná lises de solos foram feitas por esse m é todo. Mais
tarde, foi mostrado que havia pouca fundamenta ção para assumir que esta técnica poderia
obter dados de maior valor e o seu uso foi descontinuado.
Dois cientistas que muito contribu íram para o desenvolvimento do interesse por
fertilidade do solo nos Estados Unidos foram Milton Whitney e C.G. Hopkins. No início
do século 20, eles engajaram-se em uma controvérsia que atraiu atençã o nacional e que,
de fato, tornou-se muito amarga. Whitney defendia que o suprimento total de nutrientes
nos solos era inexaur ível e que o fator importante sob o ponto de vista de nutriçã o de
plantas era a taxa pela qual estes nutrientes iam para a solu çã o do solo. Hopkins, por
outro lado, acreditava que essa filosofia iria levar à exaustão do solo e a sério declínio na
produçã o das culturas. Ele fez um levantamento dos solos de Illinois e considerou a
fertilidade do solo compar á vel a um sistema semelhante à "contabilidade". Como
resultado desses estudos exaustivos, ele concluiu que os solos de Illinois necessitavam
apenas de calcá rio e P. Ele pregou essa doutrina de forma tão eficaz que o uso de calcá rio
e fosfato de rocha nas culturas do milho, aveia e rotações com trevo foi uma prá tica
contínua nesse Estado por muitos anos.
A controv érsia entre Whitney e Hopkins finalmente diminuiu. As id éias de Whitney
foram mostradas, pelo menos parcialmente, incorretas, mas os argumentos conflitantes
muito fizeram para estimular o pensamento dos cientistas agr ícolas desse per íodo.
Logo na virada do século 20, a maior parte das estações experimentais tinha parcelas
experimentais no campo que mostravam os benef ícios extraordiná rios da aduba çã o.
Como resultado desses experimentos, os principais problemas de fertilidade do solo
podiam ser geralmente delimitados. Foi mostrado, por exemplo, que havia generalizada
necessidade de fertilizantes fosfatados, que K era geralmente deficiente nos solos da
regiã o da planície costeira, e que N era particularmente deficiente nos solos do sul do
país. Os solos a leste do rio Mississipi eram geralmente ácidos e precisavam de calcá rio,
enquanto aqueles a oeste desse rio eram, regra geral, bem supridos de Ca . Embora um

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 17

quadro geral do estado de fertilidade dos solos dos Estados Unidos tenha sido
razoavelmente bem definido, logo se tornou aparente que recomenda ções generalizadas
de fertilizantes, com base nesse conhecimento, não deveriam ser feitas. Cada propriedade
requeria atençã o individual, assim como cada talhã o da propriedade. O interesse por
análises para avalia çã o da fertilidade do solo "explodiu " mais uma vez .
Durante os ú ltimos 30 anos, muito progresso foi alcan çado no sentido de
compreender os problemas de fertilidade do solo . Enumerar os estudos cujas
contribuições levaram ao progresso no conhecimento iria requerer muito mais espaço do
que o disponível neste capítulo. Esses avan ços n ã o foram de trabalhos de cientistas de
um ú nico pa ís. Os ingleses, que começaram seus trabalhos ao redor de 1600, continuaram
a dar grandes passos nesse sentido. Os pesquisadores da Fran ç a, Alemanha,
Escandiná via, R ú ssia , Canad á, Austr á lia, Nova Zelâ ndia , assim como dos Estados
Unidos e outros pa íses, solucionaram muitos problemas que dificultavam o progresso
da ciência. Os frutos desses estudos sã o aparentes em todos os lugares, fazendo com que
a produ çã o agrícola nos pa íses desenvolvidos seja mais alta hoje do que nunca antes, e
o mundo livre, de maneira geral, é hoje mais bem alimentado, com melhores vestuá rios e
moradias do que em qualquer é poca no passado . Isto nã o poderia ser possível se a
produçã o das culturas hoje estivesse no patamar da Europa durante o "escurantismo"
da Idade Média, quando a produtividade média de grã os era de 6 a 10 bushels acre 1 (450
'

a 750 kg ha 1).
'

Olhando para o S éculo 21


À medida que as civiliza ções entram no século 21 e a populaçã o do mundo continua
a aumentar, é obvia a importâ ncia de um contínuo aumento na produçã o de alimentos.
Continuidade das pesquisas em todas as fases da produçã o agr ícola é necessá ria se a
popula çã o crescente tem de ser alimentada e vestida . Avanços nas pesquisas foram
alcançados, nos centros de pesquisas agrícolas e outros, que podem contribuir para o
aumento da produ çã o agrícola no futuro.
Alguns dos avanços aparecendo no horizonte, ou, de fato, já colocados em prá tica ,
mostram grandes perspectivas para aumentar a produtividade das culturas e aumentar
a eficiência da produçã o agrícola . Estes avanços v ã o colocar pressã o adicional na terra
e farã o aumentar ainda mais a importâ ncia que a fertilidade do solo exerce na produçã o
das culturas.
Sensoriamento remoto, constitu ído de fotografias infravermelhas tomadas de
grandes altitudes, é usado para determinar as condições das culturas. Problemas relativos
a solos, irrigação ou controle de pragas e doenças podem, frequentemente, ser detectados
e corrigidos a tempo de prevenir sé rias diminuições na produtividade.
Pesquisas têm demonstrado que o plantio direto pode aumentar a eficiência de uso
da á gua e diminuir a erosã o do solo comaumento na produtividade das culturas ( veja
capítulo XV). Este tipo de manejo pode ter efeito considerá vel nas exigências das culturas
em rela çã o a certos nutrientes, especialmente N, P, K e S; no entanto, mais pesquisas sã o
necessá rias para desenvolver prá ticas adequadas de fertilidade do solo para utilizáçã o
no plantio direto.

FERTILIDADE DO SOLO
18 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

Em muitas á reas nos mais diversos pa íses, grandes extensões de terra que eram
consideradas marginais para a produçã o das culturas por causa da falta de á gua estã o
hoje com altas produtividades em decorr ência do desenvolvimento de sistemas de
irriga çã o com pivot-centrais. Poços sã o perfurados no centro desses campos, a á gua é
transferida para as lavouras por aspersores ligados a tubos condutores alto-propelidos
que se movem em círculos sobre a á rea. Centenas de hectares podem ser irrigados com os
maiores sistemas. Fertilizantes fluidos e pesticidas podem também ser distribuídos por
esses sistemas. Em decorr ência da elimina çã o de umidade do solo como fator limitante
ao crescimento de plantas, pode-se obter maior eficiência no uso de fertilizantes e os
custos de produçã o podem diminuir. Para que essas fontes de á gua de alto custo sejam
utilizadas do modo mais eficiente pelas culturas, o suprimento de nutrientes deve ser
otimizado.
Em muitas regiões semi-á ridas do mundo, existem desenvolvimentos promissores
na capta çã o de á gua e uso mais eficiente da umidade para a produçã o das culturas.
Sistemas de produçã o das culturas envolvendo esses mé todos de manejo da umidade do
solo, em conjunto com outros fatores para a obtençã o de altas produtividades, tais como:
aduba çã o, variedades e híbridos e é poca de plantio, precisam ser continuamente
estudados.
A eficiê ncia da irriga çã o é um tema importante em v á rias á reas do mundo que
apresentam limitado suprimento de água para uso agrícola . Irrigaçã o por gotejamento
pode reduzir em 50 % a água atualmente em uso nos sistemas convencionais de irrigação.
Necessidade de fertilizantes e sistemas para sua aplica çã o sob irriga çã o por gotejamento
precisam de mais estudos.
Aná lise de solos e de plantas como instrumentos para determinar as necessidades
de calcá rio e de fertilizantes para as culturas tem sido utilizada por muitos anos. A
utiliza ção dessas técnicas continua e está aumentando. Entretanto, n ú mero considerá vel
de informações adicionais é necessá rio antes dessas aná lises se tornarem mais do que
guias refinados de calagem e aduba çã o das culturas. Aduba çã o foliar com outros
nutrientes, além dos micronutrientes, promete tornar-se uma prá tica agrícola em algumas
á reas. Entretanto, em decorrência de resultados inconsistentes, mais pesquisas sã o
necessá rias para determinar quais as condições sã o determinantes para obtençã o de
respostas desse mé todo de adubaçã o.
Melhorias têm sido obtidas e dever ã o continuar a ser alcançadas no desenvolvimento
de materiais fertilizantes mais eficientes. Alguns dos materiais que têm sido ou estã o
sendo desenvolvidos incluem os fertilizantes nitrogenados de liberação lenta, polifosfatos
de alta concentra çã o, compostos magnesianos adequados para uso em fertilizantes
fluidos completos, micronutrientes na forma de quelatos e fertilizantes com altos teores
de S para uso em fertilizantes sólidos e líquidos.
Concomitantemente ao desenvolvimento dessas novas tecnologias e produtos, deve-
se efetuar uma avalia çã o contínua de sua eficiê ncia por meio de experimentos de curto e
longo prazo. Esse tipo de experimentaçã o no campo é uma exigência necessá ria ao
contínuo aumento da eficiê ncia de produçã o das culturas. Altas produtividades das
culturas impõem diferentes exigências de nutrientes. Doses de fertilizantes que dão

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGRí COLA 19

respostas satisfatórias com produtividades do milho de 8 t ha 1 nã o serão adequadas aos


"

tetos de produtividades de 12 t ha -1 ou mais. Alé m disso, com a calibra çã o das aná lises
de solos geralmente obtidas anos atr ás, doses dos nutrientes necessá rias para teores
diferentes de aná lises de solo podem ser muito baixas para as altas produtividades das
culturas hoje obtidas e maiores ainda no futuro.
Um novo desenvolvimento aparece com destaque no horizonte, o qual pode ter um
impacto profundo na produçã o agrícola e no desenvolvimento recente da ciência: a
gené tica molecular . Por meio desta técnica de transplante de genes, qualidades desejáveis
de um gênero ou espécie podem ser transferidas para outra . Se e quando esta ciência
tornar -se perfeita , é concebível que maior eficiê ncia fotossinté tica, mais altos teores de
proteínas e vitaminas, melhor resistência a doenças e pragas, e outros fatores podem ser
introduzidos em outras espécies desejá veis de culturas . Estas altera ções gené ticas
poderã o causar grande impacto nas exigências nutricionais e, conseqiientemente, nas
prá ticas de aduba çã o.
Progressos na agricultura dependem de pesquisas de alta qualidade. Para cada
problema resolvido por um cientista, hoje, muitos outros aparecem. Pesquisadores
agrícolas devem investigar questões de natureza fundamental, aquelas que tratam mais
do por que das coisas do que do o que .
N ã o é objetivo deste cap í tulo cobrir todos os eventos significativos do
desenvolvimento da ciência da Fertilidade do Solo. Muitos dados foram omitidos e
muito mais poderia ser escrito. Certamente, os avanços obtidos no fim do século 19 e no
século 20 foram grandemente responsá veis pelo está dio atual de nosso conhecimento.
Esses avanços foram apenas superficialmente cobertos neste capítulo, mas, nos capítulos
seguintes deste livro, confirma-se a importâ ncia desses eventos para o progresso da
fertilidade do solo. Em resumo, espera -se que este capítulo dê ao seu leitor algumas
id éias em relaçã o ao tempo, esfor ço e pensamentos que foram dedicados nos últimos
4.500 anos para acumular aquilo que ainda é conhecimento insuficiente.

Fatos Marcantes da Evolução da Fertilidade do Solo no Brasil


A história do desenvolvimento da agricultura no Brasil, desde o seu descobrimento,
está diretamente, mas de forma empírica no passado, ligada à fertilidade do solo. Os
grandes ciclos da cana-de-a çúcar e do caf é alicer çaram-se, no início, na fertilidade natural
dos solos das matas e na migraçã o para novas á reas, quando essa fertilidade natural se
exauria .
Passaram-se muitas d écadas até que, por meio de observações prá ticas do início,
surgiram trabalhos envolvendo a fertilidade do solo e o uso de fertilizantes orgâ nicos e
minerais, com vistas em estabelecer as bases para a pr á tica da aduba ção que permitisse
a explora çã o contínua das propriedades rurais.
É muito dif ícil destacar os fatos mais marcantes da evoluçã o da fertilidade do solo
no Brasil, uma vez que, no Pa ís, esse segmento do conhecimento é bastante recente como
ciência, estando muito mais atrelado a programas envolvendo essa á rea do conhecimento

FERTILIDADE DO SOLO
20 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

do que a pesquisadores individualmente. Entretanto, mesmo com a possibilidade de


pecar por omissã o, serã o relatados, a seguir, alguns pontos importantes da evolu ção
dessa á rea do conhecimento da Ciência do Solo no Brasil, bem como sua implica çã o na
produtividade das culturas até os dias atuais.

Trabalhos Pioneiros em Fertilidade do Solo e Adubação

Segundo Heitor Cantarella, Pesquisador do Instituto Agronómico de Campinas (IAC),


o primeiro diretor do IAC, 119 anos atrás, o austríaco Dr. Franz W. Dafert, profundo
conhecedor da química agrícola de suâ época, trouxe para o Brasil a experiência européia
sobre análise de solo e, no primeiro relatório da entã o Estaçã o Agronómica de Campinas,
em 1889, estã o os registros das análises de solos pioneiras no Brasil. Em 1892, o IAC já
realizava aná lises de solo para cafeicultores paulistas, fornecendo pareceres sobre
aduba çã o. Nessa é poca , j á havia uma publica çã o do IAC sobre m é todos para a
determina çã o de N em solos. Os demais mé todos empregados em aná lise de solo foram
publicados em 1895 pelo Dr. Bolliger, outro químico importante que trabalhava no IAC
na é poca .
Em 1895, foi publicado um dos primeiros trabalhos sobre fertilidade do solo no
Brasil, de autoria do Dr. Franz W. Dafert, que fornece detalhes sobre a análise química de
fertilizantes orgâ nicos, na é poca chamados de " estrumes nacionaes" ( Dafert, 1895). Até
à quela é poca, os fertilizantes utilizados nas lavouras eram basicamente produtos
org â nicos, dos quais se tinha pouca informa çã o sobre caracter ísticas qu ímicas,
composiçã o e modos de aplica çã o.
As aná lises químicas, realizadas no entã o Instituto Agronó mico do Estado de Sã o
Paulo, hoje IAC, envolviam a determina çã o em partes por mil de " agua, substancias
organicas , azoto, acido phosphorico, potassa , soda , cal , magnesia, acido sulf ú rico, chloro e fluor ,
acido silicico e areia , oxydo de Fe e alumina" nos mais diferentes tipos de estercos animais
produzidos nas fazendas: compostos, excrementos humanos, casca de caf é, palhas de
milho e feijã o, turfa , baga ço de cana / restos de cria ção (ossos, chifres, cabelos, sangue,
etc.), além de outros estrumes como resíduos da fabricação do gás de iluminação, apatita,
cinzas de baga ço de cana, resíduos de destila çã o da cana , bagaço de sementes de
oleaginosas, restos de curtume e serragem (Figura 2).
Em rela çã o ao composto, assim dizia o autor:
"O estrume denominado composto é uma mistura de todos os res íduos ,
restos e mais substancias sem valor immediato , existentes ou produzidas
na fazenda , reunidas e preparadas para fins de estrumação. Todas as cinzas
da cozinha das caldeiras , ás vezes também das roças , reboco , folhas colhidas ,
matto capinado , lama de tanques, lixo, resíduos de cozinha ( feijão , caf é ) ,
palha de milho , sangue , cabellos, ossos, etc., bem misturados e depositados
em covas ou t ú mulos até á decomposição completa , d ão um estrume de
I

primeira ordem , cuja composição naturalmente dependerá dos componentes


empregados" .

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 21

ESTERCOS ANIMAIS - 1.000 partes cont ê m :


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Esterco fresco ( com palho ) de cavalo
Esterco fresco ( com palha ) dc gado bovino
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5,8 2,8
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4,0 | 1,4 i 3,1
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0,4
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j 1.7,7 \I 1,1
8,5| 0,5
Esterco fresco ( com palha ) dc carneiro

Esterco fresco (com palha ) de porco


Esterco ordin á rio ( fresco )
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724| 250
750 !! 212
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4,6
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1,9 i 6,0
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Esterco ordin á rio parcialnieitle fermentado 750 ! 192 5,0 1,9 7,0 1,8 1,9 16,8 j *

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Esterco ordin á rio totalmcutc fermentado 790 !: 145 5,8 3,0 j 5,0 1,3 8,8 13 13 1 ,6 j 17,0
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Agua de esterco 982 ]i 7 «3 0,1 ) 4,9 ;
1,0 0,3 0,4 0,7 1,2 | 0,2
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Esterco fresco de pato 566 í 262 10,0 14,0 j 6,2 } 0,5 17,0 3,5 3,5 28,01
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Esterco fresco de ganso 771 j 134 5,5 5,4 j 9,5 | 13 8,4 2 ,0 1,4 14,0
Esterco fresco de galinha
Esterco fresco de pomba
560 I 255 163 15,4 j 8,5
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35,2
*

20,2 {
I

Figura 2 . Resultado de aná lises químicas de alguns estrumes nacionais realizadas no Instituto
Agronómico do Estado de Sã o Paulo.
Fonte: Dafert (1895) .

Quanto ao uso de estercos, principalmente o de bovinos, o autor já mencionava


estratégias que permitiriam a sua concentra çã o em determinados lugares, para facilitar
a coleta e distribuiçã o:
" Muitas vezes se ouve dizer que o esterco pode ser muito bom para as
plantas, mas que não se póde obtel -o porque os nossos animaes est ão no
pasto" . Tal objecção tem certo fundamento. É verdade que será muito mais
fácil trabalhar com esterco, quando todos os animaes estiverem em est ábulos.
Enquanto não cultivamos forragens boas t ão extensamente que possamos
dispensar todos os pastos - e isto não se dará talvez mais neste século -
precisamos nos accommodar ao facto de que a maior parte dos nossos animaes
passeiem pelos gramados . Mas não há meio de obter apezar disto uma parte
considerável do seu esterco ?
)
i Respondemos sem exitação - sim -. Construamos por exemplo em nossos
tf
*
pastos ranchos abertos , baratos e acostumemos os nossos animaes a comerem
alli o seu milho e sal, a entrarem de noite, durante a chuva, etc. O resultado
será que nos depositarão nestes ranchos grande parte do esterco que sem
elles estaria perdido . Teremos assim ganho mais uma cousa: a preservação
dos animaes , pois , achamos que não haverá pessoa alguma que affirme que
é bom para uma vacca de leite, para um boi de trabalho, para uma besta de
montaria , permanecer num calor de 60 °C durante horas e horas para receber

FERTILIDADE DO SOLO
22 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

depois uma chuva de pedra nas costas ou a geada de noite . Civilizemos um


pouco nosso gado; tiremos- lhe um pouco da liberdade e tornernol -o um pouco
mais proãuctivo" .
Deve-se destacar, ainda, neste documento, o que talvez tenha sido uma das primeiras
menções sobre a ocorrência de rochas fosf á ticas no Brasil, quando, em 1891, o Dr. Orville
A . Derby chamou a atençã o do governo de Sã o Paulo:
Snr . Presidente . - No curso dos estudos que est ão sendo feitos pela
Commissão á meu cargo para uma Memória geol ógica sobre as jazidas de
Fe de Ipanema , acaba- se de verificar um facto que julgo de meu dever trazer
ao conhecimento do Governo sem esperar a publicação da dita Mem ória .

Em muitas amostras de minereo de Fe e em outras rochas do lugar nota- se a


presen ça do mineral Apatite , ou phosphato de cal , facto este que faz lembrar
a associação analoga em muitas das famosas minas de Fe de Su écia e Noruega .
Este mineral , cuja mistura com os minereos de Fe é extremamente prejudicial ,
por introduzir phosphoro no producto do forno , é , de seu lado , de
consider á vel import â ncia industrial para o fabrico de estrumes fertilizados .

Pesquizas feitas com o intuito de determinar ( tanto quanto for necessá rio
para poder formar o juizo seguro sobre a possibilidade de seu aproveitamento
industrial ) a quantidade e a qualidade das jazidas de Apatite , deram o mais
satisfactorio resultado. A rocha contendo Apatite , que est á á mostra em
dois pontos diversos , indica uma possança relativamente enorme , talvez
não inferior a do pró prio minereo de Fe . Três amostras tiradas em diversos
pontos e submetidas á analyse deram, de acido phophorico: 16 ,36 a 30 ,38 % .

Sendo este theor em acido phosphorico superior ao de muitos Phosphatos


que são aproveitados na industria , ha bem fundados motivos para acreditar
que as jazidas de Ipanema possam servir de base de uma industria que seria
lucrativa para os emprehendedores e de vantagem incalcul á vel para a
Lavoura brasileira .

Al ém do theor relativamente alto do elemento fertilizante , ha em Ipanema


uma outra circumstancia extremamente favoravel que não me consta existir
em nenhuma das jazidas de Apatite , at é hoje exploradas . É que , em virtude
da decomposição profunda da rocha , que tem respeitado a Apatite enquanto
transformou em barro as impurezas com que ella se acha misturada , é muito
facil , por meio de uma lavagem muito rapida e economica , obter o mineral
em estado de pureza quase absoluta . - Saude e fraternidade . - Ao Muito
Digno Presidente do Estado de S . Paulo. - S . Paulo , em 30 de Novembro de
1891 . - Assignado: Dr . Orville A. Derby , Chefe da Commisão Geographica
e Geol ógica do Estado de S . Paulo.

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 23

Outro trabalho bastante amplo e que merece destaque foi o do Professor Dr . Paul
Wagner sob o título: “ A applicação de adubos articiciaes na cultura das arvores fructiferas ,
legumes , flores e nos jardins" , traduzido do alemã o , com autorizaçã o do autor pelo diretor,
em 1893 (Wagner, 1985). Foi, talvez, um dos mais completos guias de recomenda çã o de
aduba ção em português, publicados até entã o, embora essas recomendações nã o tenham
sido baseadas em uso de técnicas da diagnose da fertilidade do solo, como as aná lises de
solos e a foliar , comuns nos dias atuais. Inicia com uma discussã o sucinta sobre de que
substâ ncias vive a planta e quais as substâ ncias mais importantes para a aduba çã o das
plantas, nos capítulo I e II. No capítulo III, é feita uma descrição detalhada dos adubos
mais importantes para á rvores frutíferas e legumes, para as flores e jardins existentes no
mercado ( escoria de Thomas e superphosphato, salitre chileno e sulfato de ammoniaco , chlorureto
de K e sulfato de potassa , farinha de chifre , res íduos de sementes oleaginosas , os chamados saes
aliment ícios puros - phosphato de K , phosphato de ammoniaco e azotato de potássio - , e mistura
de saes aliment ícios para plantas de jardim em vasos ) .
Um aspecto interessante dos chamados saes aliment ícios mencionados anteriormente
é que estes talvez se constituam numa das primeiras menções de fertilizantes foliares ou
de fertirriga çã o no Brasil, nas palavras textuais do autor :
" Chamarei sal aliment ício uma mistura de saes de estrumação concentrados ,
que recommenão para a estrumação de jardins e de plantas em vasos. O sal
aliment ício compôe- se de: 30 partes de phosphato de ammoniaco; 25 de
azotato de sódio ( salitre do Chile ); 25 de azotato de K e 20 de sulfato de
ammoniaco e em 100 partes cont êm 13 partes de acido phosphorico, 13 de
azoto e 11 de potassa . Esta mistura de saes que se póde mesmo preparar ou
comprar em qualquer negocio de estrumes , é applicavel a todas as culturas.
Escolheu -se , segundo a propor ção das substancias aliment ícias , de modo
que corresponda mais ou menos á necessidade media de estrumação das
varias plantas de cultura , e , na escolha dos saes aliment ícios , foi considerado
que entre os ácidos e as bases ( também das substancias accessorias que existem
em quantidades mí nimas ) procure - se obter a rela ção equilibrada . É
muit í ssimo recommendavel o emprego do sal aliment í cio em f ó rma de
solu ção , contendo 1 g de sal em 1 litro de água" .

Nos capítulos IV e V, procurou-se responder a duas perguntas: Quaes as condições do


solo e da cultura mais favoráveis ao bom efeito dos adubos ? e Os adubos do commercicr podem
também exercer má influencia sobre as plantas?
No capítulo VI, sã o apresentadas regras especiaes para uma boa applicação dos adubos
do commercio na cultura das plantas fructif eras , legumes e flores , e nos jardins . Este tópico
envolve nã o apenas recomenda ções de adubação para um total de dezessete culturas, em
quilos por hectare e gramas por metro quadrado, mas também mostra 21 fotos de dezenas
de experimentos conduzidos em vasos onde foram observadas respostas amplamente
positivas pelo uso dos mais diferentes tipos e doses desses adubos do commercio. A figura 3
é um exemplo desses resultados obtidos com a cultura da cevada pelo uso de 14 g de acido

FERTILIDADE DO SOLO
24 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

Experiências sobre a estrumação da cevada com phosphatos


-
em terra argilosa calcárea (Lehmboden)
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I . 0 g Ácido II . 1/4 g Ácido III. 1 /2 g Ácido
phosphorico phosphorico em phosphorico em
forma de forma de farinha fina
superphosphato de “escoria de Thomas”

Figura 3. Efeito de fontes e doses de f ósforo na forma de superfosfato e escoria de Thomas na


cultura da cevada .
Fonte: Wagner (1895) .

phosphorico em forma de superphosphato e Vi g de acido phosphorico em forma de farinha fina de


escoria de Thomas , comparado com o tratamento testemunha, sem acido phosphorico , em
vasos que foram estrumados com azoto e potassa . Fica -se a imaginar o sucesso que uma
publica çã o como essa deve ter tido naquela época!
Um dos primeiros trabalhos, com caracter ísticas de experimento de campo,
envolvendo a aduba çã o em solos da regiã o dos Cerrados, foi desenvolvido no início de
1900 ( Embrapa, 2000). Em 1907, a Diretó ria de Agricultura, Comércio e Colonizaçã o
noticiou que fora estabelecido, no dia 14 de agosto, "um pequeno campo de experiência,
com á rea de um alqueire (4,84 ha ) nas proximidades de Sete Lagoas, em terreno de Cerrado,
onde se poderia verificar a utilizaçã o e o comportamento das culturas". A á rea citada
localiza-se no Distrito de Wenceslau Braz, município de Sete Lagoas (onde hoje se situa
o 4o Grupo de Artilharia Antia érea - 4D GAAE ).
Era uma experiência absolutamente nova . Cerca de 20 % da á rea central de Minas I
Gerais, em sua maior parte concentrada em direção ao noroeste, era território de Cerrado,
até então considerada uma regiã o de terras pobres e pouco produtivas. Os trabalhos aí
encetados foram bem descritos. Cabia ao encarregado dos serviços, o mestre de cultura
Américo de Souza Barbosa, roçar, destocar, arar, gradear o terreno, cercá -lo de arame e
dividi-lo em quatro partes iguais, sendo três partes adubadas e uma testemunha sem
aduba ção. Esse procedimento prá tico constituiu-se nos preparativos para a instalaçã o
da primeira experiência agrícola sobre manejo dos solos de Cerrado no Brasil Central.
A experiência de Sete Lagoas avaliou a produtividade de milho e feijã o sob quatro
condições: Ia ) adubação com esterco de curral; 2a ) aduba ção com escória de Thomas; 3a )
aduba ção com salitre do Chile; 4a ) testemunha, sem aduba ção alguma. Como resultado,
foi descrito que:

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 25

" asplantas das três partes adubadas desenvolveram-se satisfatoriamente ,


proporcionando grãos nas duas culturas, ao contrá rio da testemunha , que
nada produziu , ou seja , a terra áe Cerrado , adubada de modo adequado , era
produtiva

Programa do IRI
Um dos programas mais importantes envolvendo os aspectos de fertilidade do solo
e produtividade das culturas no Brasil foi o iniciado em 1950 pelo Instituto de Pesquisas
IBEC, que, em 1963, passaria a denominar-se Instituto de Pesquisas IRI (Harrington &
Sorenson, 2004). Fundado pelos irmã os David e Nelson Rockefeller e associados, os
fundos para a fase inicial vieram pessoalmente dos irmãos Rockefeller e do "Fundo
Irmãos Rockefeller", que por 14 anos ininterruptos sustentaram os trabalhos num período
cr ítico por envolver as fases de descoberta, confirma çã o e desenvolvimento inicial do
uso das á reas de Cerrados. As fases seguintes de adoçã o e implementa çã o receberam
aportes substanciais da USAID e da Fundaçã o Ford, contando, ainda, com a participaçã o
de v á rios grupos privados dos setores de corretivos, fertilizantes, defensivos e da
ind ústria algodoeira . V á rias organiza ções do governo brasileiro, bem como in ú meras
pessoas individualmente, também colaboraram por meio de análises laboratoriais e outros
tipos de assistê ncia. Em Sã o Paulo, O Instituto Agronómico de Campinas ( IAC ) e a
Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ) foram grandes colaboradores.
Um fato interessante é que uma das missões originais do IRI no Brasil era identificar
as razões do declínio da produçã o de caf é nas terras exauridas de Sã o Paulo e corrigi-las
economicamente. O envolvimento do IRI com os problemas de fertilidade dos solos de
Cerrado era originalmente projeto de nível secund á rio.
Em 1950, quando o IRI iniciou seu trabalho, o sistema tradicional de produçã o de
caf é no Brasil incluía a derrubada da mata, a queima da madeira e o plantio da lavoura
nas á reas desmaiadas. A fertilidade natural do solo era explorada por 20 ou 30 anos.
Após esse período, a produtividade geralmente declinava abaixo do ponto de interesse,
quando entã o as á reas eram abandonadas e destinadas a pastagens e explora çã o da
pecuá ria . Esse sistema apresentava in ú meras repercussões negativas. Na medida em
que as lavouras de caf é eram abandonadas e as á reas eram destinadas a atividades com
menor demanda de m ã o-de-obra, como a pecuá ria e outras culturas menos lucrativas,
ocorria uma desagregaçã o nas comunidades locais e suas economias. Já nessa época, a
prá tica de "derrubar e queimar" já havia consumido a maior parte da mata virgem do
Estado de Sã o Paulo. Simultaneamente, as plantações de caf é foram sendo empurradas
rapidamente para as regiões de clima marginal do Paraná, onde as geadas constituíam
uma ameaça constante.
O Programa de Lavouras de Caf é, sob o comando de James C. Medcalf , constituía-se
num programa prá tico e focado no campo, tendo como base a Fazenda Cambuhy ( também
chamada de Fazendas Paulistas), em Matã o, Estado de Sã o Paulo, e com a coordenação
do Instituto Agronómico de Campinas, instituiçã o líder na pesquisa do caf é no Brasil. A
maioria dos plantios dessa fazenda deu-se na é poca do "boom" do caf é durante a década

FERTILIDADE DO SOLO
26 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

de 1920, e grande parte da lavoura estava decadente em termos de produtividade, situação


típica das antigas fazendas de caf é do Estado. Um aspecto amplamente favorá vel à
pesquisa é que havia na fazenda talhões de vá rias idades e em diferentes tipos de solos, além
de excelentes informa ções a respeito dás produtividades dos vá rios talhões, fertilizantes
utilizados, danos de geadas, custos de produçã o, preços de vendas e outras variá veis.
Um aspecto interessante foi a forma técnica de encarar o problema de degradação da
cafeicultura que incluía a revisã o de toda a literatura publicada no Brasil e em outros
pa íses da América Latina, assim como trabalhos anteriores executados pelos ingleses,
na África Oriental, e pelos holandeses, na Indonésia. As informa ções meteorológicas
locais foram exaustivamente estudadas e para conhecer melhor os problemas nutricionais,
o Dr. Wreal L. Lott, do IRI, auxiliou o Instituto Agron ó mico de Campinas a montar o
primeiro laborató rio de aná lises foliares da América Latina. Esse laborató rio analisava,
nas folhas do caf é, 13 elementos minerais essenciais para crescimento das plantas. Problemas
nutricionais ou carências que poderiam limitar a produçã o do cafeeiro eram examinados
da mesma forma com que as análises de sangue sã o usadas para diagn ósticos médicos.
O Programa de Lavouras de Cafe estudou o uso de técnicas, tais como: calagem,
aduba ções com NPK, irriga çã o, utiliza çã o de micronutrientes quelatizados, cobertura
morta, plantio intercalar de leguminosas, problemas de nematóides nas ra ízes, uso do
esterco de curral e outros tratamentos visando ao aumento da produtividade.
Em 1956, o IRI iniciou um Programa Intensivo de Fertilidade de Solos sob a supervisão
do Dr. Colin McClung que, além de ter como meta principal a recupera çã o de solos de
antigas matas para a produção de caf é, visava também identificar os fatores importantes
na fertilidade do solo para o desenvolvimento de outras culturas da época, notadamente
nos solos dos Cerrados, cujas caracter ísticas tinham alguma similaridade à queles
extremamente degradados oriundos das florestas. Era opiniã o do Dr. McClung de que a
experimentaçã o com o uso de culturas de ciclo curto traria progressos mais r á pidos no
objetivo final de obter informações economicamente viá veis para a cultura do caf é, pois
esta demandaria cerca de cinco anos para atingir a maturidade e algumas décadas para
completar um ciclo de vida . Além disso, o caf é caracterizava-se pelo ciclo bienal de
produçã o, trazendo complica ções adicionais nas interpreta ções estatísticas confiá veis.
Convencionou-se entã o que o programa deveria ser iniciado com experimentos em
vasos na casa de vegeta çã o, que serviriam como guia para os trabalhos que seriam
posteriormente levados para o campo. A visã o técnica era de que um largo espectro de
possíveis tratamentos poderia ser avaliado nas casas de vegeta çã o, onde o ciclo se
completaria em três meses ou menos. O milheto "Pérola " ( Pennisetum americanum ) , uma
gramínea de crescimento rá pido, foi a principal planta-teste. Com base nos resultados
da casa de vegeta çã o, os experimentos de campo foram entã o instalados com milho, soja
e algod ã o, com dura çã o aproximada de até seis meses. Após o acú mulo de um sólido
conhecimento a partir desses experimentos, partiu-se para o plantio de caf é para testar
os efeitos dos tratamentos mais promissores.
Em meados de 1958, já existia uma quantidade suficiente de resultados em vasos
que justificasse o início de um grupo expressivo de experimentos de campo. Duas

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 27

localidades de Cerrados foram escolhidas, uma em Sã o Joaquim da Barra (SP), onde o


algodã o e a soja foram as plantas-teste, e outra em Aná polis (GO), atendendo ao pedido
de Bernardo Sayão, uma figura legendá ria encarregada de cuidar do planejamento geral >

do desenvolvimento e construçã o do novo Distrito Federal ( Brasília ), preocupado com a


capacidade dos solos reconhecidamente pobres dos Cerrados de produzir alimentos
para suprir Brasília .
Os resultados obtidos nas produções desses campos demonstrativos indicaram que
os solos dos Cerrados eram deficientes em diversos nutrientes para as plantas e que
estas respondiam prontamente ao uso de calcá rio e de fertilizantes. Respostas em termos
de crescimento e produtividade foram obtidas com a adiçã o de calcá rio dolomítico, N, P,
K, Zn, S e Mo. As duas localidades apresentaram resultados diferentes, assim como
diferentes foram também entre culturas no mesmo local, ficando evidente que havia
necessidade de muito mais trabalho de campo para se chegar a uma "sintonia fina " das
necessidades de nutrientes e de outros insumos para atingir produtividades mais rentáveis.
Os resultados dessas pesquisas envolvendo a á rea de fertilidade do solo, ao longo
dos anos, foram publicados em 23 boletins técnicos, notas técnicas, dentre outros, das
58 publica ções do IRI durante sua histó ria.

Projeto FAO/ANDA/ABCAR
Em 1969, a ANDA (Associa çã o Nacional para Difusã o de Adubos ) deu início a um
ambicioso projeto, visando instalar 500 campos de demonstra ção de resultados de adubos
em lavouras de arroz, milho, feijão e algod ã o no sul de Goiás, no Triâ ngulo Mineiro e no
sul de Minas Gerais. Posteriormente, estes se estenderam para o Mato Grosso e, em 1975,
já compreendiam 3.000 campos experimentais.
A inspiradora e parceira do projeto foi a Organiza çã o das Na ções Unidas para a
Alimenta çã o e Agricultura (FAO), que há seis anos comandava o mesmo tipo de açã o em
17 pa íses. Isso resultou em 45 mil demonstra çõ es de resultados instalados em
propriedades rurais para cerca de 1 milhão de agricultores, como um projeto da Campanha
Mundial Contra a Fome. Outra importante parceira do programa foi a Associaçã o
Brasileira de Crédito e Assistência Rural ( ABCAR ), entidade à época responsá vel pela
extensã o rural em todo o Pa ís . Tal foi o êxito do projeto, conhecido como Projeto FAO /
ANDA / ABCAR, que ele foi estendido para outras regiões do Pa ís em 1972 e chegou aos
Estados do Nordeste, da Bahia ao Maranhã o, que apresentavam um consumo incipiente
de fertilizantes, os quais eram utilizados na cultura da cana -de-a çúcar, em Pernambuco,
e na do fumo, em Alagoas. Na época, foram instalados 300 ensaios de aduba çã o e
;
1.500 campos de demonstra çã o envolvendo as culturas do algod ã o, milho, mandioca,
abacaxi, arroz e feijã o.
Em 1977, por solicita ção do agente financeiro da região, o Banco do Nordeste, o
projeto foi prorrogado por três anos e abrangeu mais seis produtos: cana-de-açúcar, soja,
citros, mamona, cebola e sorgo. Coordenado pelo escritório regional da ANDA no
Nordeste, em ' Recife, comandado primeiro por Marcos Rocha e depois pelo saudoso
Hermano Gargantini, que foi chefe da se çã o de Fertilidade do Solo do Instituto
Agronómico de Campinas, o trabalho mobilizou o Ministério da Agricultura, Secretarias

FERTILIDADE DO SOLO
28 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMARã ES GUILHERME

Estaduais, Universidades e Órgã os de Pesquisa e Extensão. Em 1977, os ensaios de adubação


já eram 750, os campos demonstrativos 3.500 e os Estados alcançados pelo projeto, nove.
Nos seis anos que atuou no Nordeste, o projeto FAO / ANDA / ABCAR atingiu 347
municípios. A ANDA atuou com projeto semelhante no Paraná, onde o alvo foram as
culturas do milho e do algod ã o, no Rio Grande do Sul ( milho, soja, trigo, arroz), no
Espírito Santo (batatinha ) e nos Cerrados, com o apoio do IBEC Research Institute (IRI ),
e nas pastagens da Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná, 1976. Sem d úvida,
foi esse o motivo que levou a FAO a adiantar na reuniã o de Roma, em 1972 que, "dentre
os países onde o Programa de Fertilizantes apresenta resultados técnicos positivos e onde
existe bom aproveitamento desses resultados, figuram o Brasil, Quénia, Argélia e Indonésia".

Opera çã o Tatu
Outro programa que influenciou a fertilidade do solo, especificamente em nível
regional, no Rio Grande do Sul, foi a famosa Operação Tatu. O relato que segue, adaptado
de Freire et al. (2006) e SBCS-CQFS ( 2004), mostra que, nas décadas de 1950 e 1960, quem
de Porto Alegre subisse ao Planalto Riograndense a partir de Soledade encontraria uma
só paisagem até o rio Uruguai, para oeste, na fronteira com a Argentina: campos com
capim barba-de-bode ( Aristida pallens ) , indicador de solo pobre, e uma ou outra pequena
lavoura de trigo ou de mandioca. A estrada era pavimentada até São Leopoldo, sendo o
centro de cimento, e as laterais, de pedra . Até a fronteira era terra batida, de Santa Maria
para o norte, à fronteira de Santa Catarina, a paisagem era a mesma.
Nas cidades, poucas ind ústrias de m á quinas agr ícolas rudimentares, "atafonas"
para a produçã o de farinha de mandioca . Aquela paisagem mudava apenas na regiã o
de Santa Rosa, com as pequenas lavouras coloniais de milho, mandioca e, principalmente,
soja. Esta era comum ser plantada intercalada com outra planta, como milho ou mandioca.
A situaçã o geral da pesquisa agronó mica, especialmente em fertilidade do solo,
tinha bases err óneas, isto é, a baixa produtividade. Não se considerava a real necessidade
das plantas para o crescimento e produtividade adequados. Adubos e corretivos eram
simplesmente taxados de "antieconô micos". As recomenda ções técnicas eram para
reduzir o uso de insumos: 500 a 1.000 kg ha 1 de calcá rio; e 50 kg ha 1 de P2Os, isto é,
' '

doses "homeopá ticas". As respostas eram baixas ou nulas.


Os campos experimentais eram comumente conduzidos com a fertilidade "natural"
sem amarra ção ao tipo e análise de solo. Havia preocupa çã o em muitos centros, para a
obtençã o de cultivares "r ústicos" ou tolerantes, isto é , resistentes à inaniçã o.
O Projeto de Melhoramento da Fertilidade do Solo, denominado "Opera çã o Tatu",
surgiu com a implanta çã o do Curso de Pós-Gradua çã o em Agronomia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1965. A denomina çã o "Operaçã o Tatu" foi
devida à base na coleta de amostras do solo (cavando buracos) para aná lise química.
Nessa época, foram iniciados os trabalhos de pesquisa, visando à identificação dos fatores
responsá veis pela baixa produtividade dos solos do Estado do Rio Grande do Sul com
destaque para a baixa disponibilidade de nutrientes, especialmente, o P, acidez e teores
tóxicos de Al e Mn.

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 29

O primeiro município onde foi instalado o projeto foi Ibirubá, sendo executado pelo
Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da UFRGS (que à época mantinha
um convénio de coopera çã o técnica com a Universidade de Wisconsin, EUA, pela
Secretaria da Agricultura, pelo Minist é rio da Agricultura por meio do IPEAS e pelo
Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA) .
Esse trabalho foi repetido em Santa Rosa , expandindo-se, a partir de 1967, para Três
de Maio, Tuparendi e Horizontina, sob a coordena çã o da Associaçã o Rural de Santa
Rosa e da Associaçã o Sulina de Crédito e Assistência Rural ( ASCAR ). Em 1968, já havia
solicitaçã o de 80 municípios para participar do projeto, que objetivava corrigir a acidez
e a fertilidade do solo, além de controlar a erosã o e estimular o emprego de melhores
cultivares e a adoçã o de novas prá ticas de cultivo.
A comunidade local é que fazia o projeto considerando a necessidade de calcá rio,
fertilizante, crédito, etc., envolvendo o agrónomo, o técnico rural, o agente do banco, o
prefeito, as entidades de classe, enfim, os líderes da comunidade. Os estudantes de pós-
gradua çã o colhiam as amostras do solo e procediam às análises químicas para determinar
a necessidade de calcá rio, P, K, teor de maté ria orgâ nica e a aduba çã o nitrogenada para
as culturas nã o-leguminosas.
O Banco do Brasil passou a considerar a primeira aplica çã o de calcá rio e fertilizantes
como investimento (pagamento de três a cinco anos) e as posteriores eram consideradas
custeio. Lavouras demonstrativas eram estabelecidas. Caravanas de ônibus de outras
regiões iam ver os resultados em Santa Rosa . Para a obtençã o de crédito do Banco, era
necessá rio comprovar a aná lise do solo e a compra de inoculante de rizóbio para a soja .
Surgiram entã o outros laboratórios de análise do solo, além da Secretaria de Agricultura,
UFSM, UFRGS, UFPEL, e foi criada a rede Riograndense e Catarinense de Laborató rios
de Aná lise de Solo (ROLAS). Nessa é poca, a produtividade de soja no Estado era de
1.200 kg ha 1.
"

Foi entã o estabelecida e difundida a filosofia para a obtençã o de alta fertilidade e


alta produtividade. Solos em que a recomendação era de 500 ou, no má ximo, 1.000 kg ha 1 '

de calcá rio passaram a ter a recomendação de 4.000 a 5.000 kg ha 1 ou mais, para atingir
"

valor de pH 6,0-6,5, além da aplica çã o de outros fertilizantes, especialmente o P. Nos


experimentos e nas lavouras, a produtividade da soja passou de 2.000 para
3.000 kg ha 1 e o rendimento médio no Rio Grande do Sul atingiu 2.200 kg ha 1. O consumo
" "

de calcá rio e de fertilizantes teve alto incremento, além de outras medidas de melhoria de
manejo, conserva çã o do solo e variedades mais produtivas.
A Operaçã o Tatu manteve a ções intensas até 1974, estendendo-se, pelo menos, até
1976. Uma avalia çã o dos efeitos desse projeto foi feita por Mielniczuk & Anghinoni
(1976), em 20 lavouras, nos municípios de Santa Rosa, Tapera e Espumoso. Após um
período de cinco a sete anos da primeira aplicaçã o de calcá rio, o pH médio passou de 4,8
para 5,6 e a necessidade de calcá rio de 6,9 para 2,2 t ha 1, o que correspondia a um efeito
"

residual de 50 % em rela çã o à primeira calagem. Os teores de P e K estavam adequados,


e os produtores haviam corrigido o solo no restante da propriedade, obtendo altos
rendimentos dos cultivos; demonstravam também entusiasmo pela utiliza ção de prá ticas
de melhoria da fertilidade e conserva çã o do solo.

FERTILIDADE DO SOLO
30 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

NO Estado de Santa Catarina, a partir dos resultados obtidos pela "Opera çã o Tatu"
no Estado do Rio Grande do Sul, foi elaborado o Plano de Recuperaçã o da Fertilidade do
Solo, em meados de 1968, denominado "Opera çã o Fertilidade", para ser executado a
partir de 1969, com dura çã o prevista até 1975. Os trabalhos de campo foram executados
no município de Nova Veneza , regiãio sul do Estado, em 1969, com a instala çã o de 16
lavouras demonstrativas com a cultura do milho, seguindo as normas técnicas
preconizadas pelo "Plano", dentre elas, adubaçã o corretiva e de manutençã o e calagem
pelo índice SMP para atingir pH 6,0. Nessas lavouras, foram aplicadas, em média ,
8,1 t ha 1 de calcá rio. O rendimento médio dessas lavouras foi de 5.040 kg ha 1. Nos anos
'

seguintes, o "Plano" se expandiu para todo o Estado, e o consumo de calcá rio atingiu
aproximadamente 50.000 t, em 1970, e 300.000 t, em 1980. Os trabalhos de campo, a partir da
safra de 1970 / 71, foram executados pela Secretaria da Agricultura daquele estado e pela
Associa çã o de Crédito e Assistência Rural do Estado de Santa Catarina ( ACARESC).
Destacam-se na elabora ção e execução do projeto da Operaçã o Tatu da Universidade
de Wisconsin, EUA - John Murdock e Marvin Beaty J. R. e pela Faculdade de Agronomia
da UFRGS - José G . Stammel, Joã o IVJielniczuk , Sé rgio Wolkweiss e Egon Klamt, Joã o
Rui Jardim Freire; pela ASCAR ( Emater ) Paulo Kappel, e, como l íder local, Pedro
Carpenedo, entre outros.
Talvez as maiores contribuições resultantes da Opera çã o Tatu tenham sido a
introdu çã o do princípio da calagerri total, ou seja, a aplicaçã o, em uma só vez, da
quantidade de calcá rio necess á ria para corrigir a acidez do solo ao nível desejado e
o desenvolvimento do conceito das aduba ções corretivas ( principalmente de P e K ),
utilizadas na recupera çã o da fertilidade do solo, hoje difundidas em todo o País.

International Soil Fertility Evaluation and Improvement Project


Em junho de 1963, foi assinado um projeto entre a North Carolina State University e
a Agência Internacional de Desenvolvimento dos EUA ( USAID), cujos objetivos primá rios
eram: (a ) documentar as necessidades em relação à fertilidade do solo e à aplicação de
adubos com a finalidade de aumentar a produçã o agrícola na América Latina, e (b )
ajudar governos e agências que quisessem colaborar no desenvolvimento e manutençã o
de programas adequados de an álise de solo. O Dr. R.B. Cate foi indicado como Diretor
Regional do Projeto no Brasil e, juntamente com Leandro Vettori, Hermano Gargantini e
Raul Edgar Kalchmann e outros, colaborou decisivamente para o sucesso do Programa.
Uma das maiores contribuições desse convénio para o desenvolvimento da análise
de solos como um instrumento de diagnose da fertilidade do solo e recomendaçã o de
calcá rio e fertilizantes para a agricultura brasileira foi a instalaçã o, nas décadas de 60 e
70, de uma série de laboratórios com sistemas de pipetagem automá tica que permitiam a
cada laborató rio a execuçã o de até 150 aná lises de rotina por dia . Até então, nos
31 laboratórios brasileiros que realizavam essas análises, a capacidade má xima diá ria
de opera çã o era de 10-20 amostras. 1

A tarefa de pesagem das amostras de solos já preparadas foi substituída pelas


chamadas "cachimbadas", onde os respectivos volumes uniformes eram medidos em
séries de onze amostras, sendo repetida sempre uma amostra controle de caracter ísticas

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 31

de fertilidade conhecidas, para aferição dos resultados. A adição das soluções extratoras
( KC1, para extra çã o de Ca, Mg e Al, e o extrator Mehlich-1 (H2S04 + HC1), para extraçã o
do K e P), era feita nos onze erlenmeyers que continham as amostras dispostas em bandejas
de Al, por meio de um sistema de pipetagem automá tica a vá cuo . Em seguida, essas
bandejas com as amostras eram levadas a um agitador horizontal para o período normal
de agitaçã o e extraçã o. Após a agitaçã o e um período de repouso durante a noite, tiravam-
se, també m via pipetagem automá tica, onze extratos do líquido sobrenadante por vez .
Outros conjuntos de pipetadores eram utilizados para se obterem alíquotas dos extratos
de KC1, para a determina çã o do Ca e Mg trocá veis por titula çã o com EDTA, e de Al
trocá vel, por titulaçã o com NaOH 0,025 mol L 1; dos extratos do Mehlich-1, onze alíquotas
"

para a determina çã o de K por fotometria de chama e do P por colorimetria . O pH em á gua


era também determinado em séries de onze amostras num processo semi-automatizado.
Os laborat ó rios mais privilegiados, que j á tinham aparelhos de absor çã o at ó mica ,
determinavam, também, Cu, Zn, Fe e Mn no mesmo extrato do Mehlich-1. Posteriormente,
foram incluídos sistemas semi-automatizados para a determina çã o do S, B (este pelo
extrator á gua quente), matéria orgâ nica, CTC.
Os protó tipos desses laboratórios, que permitiam aumentar em cerca de 10 vezes a
capacidade di á ria de análises nos laborat ó rios já em opera çã o, foram desenvolvidos no
Departamento de Ciência do Solo da North Carolina State University pelos Professores J.
W. Fitts e Arvel H. Hunter, e os modelos de laborató rios e orienta ções para a sua
fabrica çã o e montagem foram distribuídos sem custo, pelo International Soil Testing
Project, em dezénas de pa íses na América Latina .
Deve ser ressaltado o trabalho fantástico do Dr . Leandro Vettori e do "mestre" Juca
Abreu, do antigo Serviç o Nacional de Levantamento e Conservaçã o de Solo, no Rio de
Janeiro, que, artesanalmente, fabricavam os componentes básicos desses equipamentos,
sendo as bases dos pipetadores fabricados em bronze, estando muitos em perfeita
atividade até hoje. Posteriormente, esses pipetadores, diluidores e dispensadores
passaram a ser fabricados por empresas que fabricavam instrumentos e equipamentos
de laborató rio no Brasil.
Além de contribuir para o desenvolvimento da análise de solos no Brasil, esse projeto
estabeleceu, por meio de suas in ú meras publica ções, orientações básicas de como realizar
trabalhos em casa de vegetaçã o e experimentos em campo com o objetivo de melhor
calibrar os resultados das aná lises de solos com as respostas à aduba ção para diversas
culturas. O Programa Nacional de Fertilidade do Solo, coordenado pelo Dr . Leandro
Vettori, estabelecido em decorrência do International Soil Testing Project, que, durante
muitos anos, funcionou para discutir os resultados desse convénio no Brasil, evoluiu,
posteriormente, para as Reuniões Brasileiras de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas
e, hoje, para as Reuniões Brasileiras de Fertilidade e Biologia do Solo (FERTBIO).

Tropical Soils Research Project


Iniciado em julho de 1970, sob a responsabilidade também do Departamento de
Ciência do Solo da North Carolina State University, EUA, e contando com o apoio
financeiro da USAID, por meio do contrato AID / csd 2806, este projeto representou uma
suplementação e complementaçã o às atividades do International Soil Fertility Evaluation

FERTILIDADE DO SOLO
32 ALFREDO SCHEID LOPES & LUIZ ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

and Improvement Project . Os objetivos da fase 1 do projeto foram rever, analisar e


interpretar a literatura publicada e otitras fontes de informa çã o relacionadas com os
fatores de solo que influenciavam a produçã o das culturas nas regiões tropicais da
Am érica Latina e identificar os principais problemas e locais para pesquisas mais
aprofundadas a serem desenvolvidas na fase 2 do projeto.
No Brasil, em estreita colabora çã o com as Universidades de Cornell e da Carolina
do Norte ( EUA ) e pesquisadores do reéém-criado Centro de Pesquisas Agropecuá rias do
Cerrado (CPAC), foram desenvolvidas v á rias teses de mestrado e de Ph.D., nos anos 70s
e 80s, contando com estudantes de outros países e do Brasil, envolvendo os mais diversos
aspectos bá sicos de manejo da fertilidade dos solos sob vegetaçã o de Cerrados, com
destaque para : (a ) Mé todos de recomendação de calcá rio, profundidade de incorpora ção
e efeito residual; (b ) Movimenta çã o de Ca e Mg no solo; (c) Aprofundamento do sistema
radicular pelo uso do gesso agrícola; (d ) Fontes, doses e mé todos de aplicação da adubação
fosfatada corretiva e de manutençã o; (e) Efeito residual de doses, mé todos e épocas de
aplica çã o de P; (f ) Movimenta çã o de K no solo; (g) Aduba çã o com K e Mg; ( h ) Respostas
à aplicação de micronutrientes e calibração de análises de solo, e (i) Adubação nitrogenada de
culturas anuais, etc. Deve-se enfatizar que muitos dos princípios de manejo da fertilidade
dos solos de Cerrado obtidos desses experimentos, notadamente pelos pesquisadores do
CPAC: Wenceslau J. Goedert, Edson Lobato Djalma M. G. de Souza e Enéas Z. Galrã o,
dentre outros, sã o v á lidos e aplicá veis até hoje.

Programas Interlaboratoriais de Controle de Qualidade de An álises de Solos


Um dos aspectos mais importantes ligados à fertilidade do solo e ao uso eficiente de
corretivos e fertilizantes é que os laborqtórios que se dedicam à execuçã o de análises de
solos, como instrumento básico e insubstituível nas tomadas de decisã o, apresentem
confiabilidade nos seus resultados. i
Isso tem sido uma preocupação constante da Seçã o IV - Fertilidade do Solo e Nutri-
ção de Plantas da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, nos diversos Estados do País, o que
levou a um grande esfor ço daqueles que atuam nesses segmentos no sentido de monta-
rem programas regionais de controle de qualidade de laboratórios de análise de solos.
O primeiro programa regional (ROLAS), envolvendo análises de solo, foi estabelecido
nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, em 1968, e continua em operação até
hoje. Outros programas envolvem os laborató rios de vá rios Estados que realizam os
trabalhos de análise seguindo diferentes orienta ções, como o sistema IAC, iniciado em
1986, o PROFERT-MG, cuja á rea de atua çã o, desde 1987, é principalmente o Estado de
Minas Gerais, o CELA-PR, no Paraná, iniciado em 1995, e o PAQLF, envolvendo
laboratórios de diversos Estados e, ou, Regiões brasileiras, que utilizam o mé todo da
Embrapa desde 1992. Atualmente, 280 laboratórios do Brasil participam desses programas.
O princípio bá sico de atua çã o desses programas regionais envolveu, alé m da
inclusão de amostras-controle de solos que sã o sistematicamente repetidas em relaçã o a
certo n ú mero de amostras de terceiros (normalmente a d écima primeira amostra de uma
I

série automatizada de 11 amostras), no envio periódico, pelo ó rgão coordenador, de


amostras para verificação de possíveis desvios em relação à média dos resultados obtidos

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 33

em todos os laboratórios. Anualmente, os laboratórios que estiverem dentro dos padrões


preestabelecidos recebem um selo de qualidade para seus resultados. Aqueles
laborató rios que nã o se enquadrarem dentro de um teste de proficiência sã o orientados
no sentido de buscar os motivos de diferenças dós resultados e correçã o dos mesmos.

Programa Interlaboratorial de An á lise de Tecido Vegetal


Este programa de â mbito nacional, ligado à Sociedade Brasileira de Ciência do Solo,
foi criado em 1982, com o intuito de estimular e fomentar a prá tica da aná lise de tecido
vegetal, que constitui, também, valioso instrumento na avalia ção da fertilidade do solo e
recomendaçã o de fertilizantes.
Inicialmente, com 15 laborató rios, o Programa teve o objetivo de possibilitar aos
seus participantes um diferencial no mercado mas, principalmente, uma maneira de
correçã o de possíveis erros, garantindo uma aná lise de tecido vegetal correta e confiá vel
a seus clientes.
Sob a coordenaçã o do Prof . Dr. Godofredo Cesar Vitti, da ESALQ-USP (em Piracicaba,
SP), desde o ano de 1988, o Programa, que conta com somente similares em nível mundial
localizados na Holanda e França, manté m, atualmente, participa çã o efetiva de 119
laborató rios, localizados em todo o territó rio nacional, alé m de um situado no Uruguai.
O Programa baseia -se no envio de 16 ã mostras-controle de tecido vegetal,
identificadas apenas por um n ú mero. A cada ario, materiais vegetais das mais variadas
culturas sã o coletados para compor cada uma delas. Os laboratórios devem enviar os
resultados de macro e micronutrientes dessas amostras, respeitando os prazos
estabelecidos. Em cada prazo, os resultados d é quatro amostras devem ser enviados,
dividindo-se, assim, as análises ao longo do ano.
A avaliaçã o dos resultados é realizada por meio de um procedimento estatístico
elaborado especialmente para o Programa. Percentagem de acertos e frequência de envio
dos resultados são utilizadas para a avaliação final, e, a partir daí, uma nota é dada. Esta
nota ou conceito varia de A a D, de acordo com a faixá de percentagem de acerto do laboratório.
Apenas os laboratórios que obtêm conceito A ou B têm direito a um certificado de aprovação
e ao uso dos selos de qualidade no ano seguinte ao das avaliações dos resultados.
Recomenda ções Oficiais de Corretivos e Fertilizantes
Outro aspecto da maior relevâ ncia envolvendo fertilidade do solo e produtividade
das culturas no Brasil foi o grande esfor ço de órgã os ligados ao ensino, pesquisa e
extensã o de v á rios Estados no Brasil, no sentido de elaborarem, por Estado ou região,
recomendações de corretivos e fertilizantes para as mais diferentes culturas com base na
aná lise de solos e, em alguns casos, na aná lise fpliar.
Até o início da década de 60, não havia, no Brasil, trabalhos de correla ção e calibração
de mé todos de aná lises de solos - e muito menos de análises foliares - como base para a
recomenda çã o de corretivos e fertilizantes ( veja capítulo XIII). A primeira tentativa neste
sentido, de â mbito nacional, foi feita pelo Professor Robert Cate, Diretor Regional do
International Soil Testing Project no Brasil em l (?65, em um trabalho modesto, mas que
foi a base para despertar o interesse sobre o assunto em diversos Estados ou Regiões.

FERTILIDADE DQ SOLO
34 ,
ALFREDO SCHEID LOPES & L UIZ ROBERTO GUIMARã ES GUILHERME

As premissas b ásicas estabelecidas pelo Dr. Cate foram as seguintes: (1) abaixo de
dado teor ( nível crítico) de um nutriente no solo (determinado por análise de amostra
obtida num laborató rio padronizado), a probabilidade de resposta à aduba ção com este
elemento será muito maior do que quando o teor revelado pela análise estiver acima do
nível cr ítico; ( 2) a quantidade de adubo que pode ser aplicada pelo agricultor depende
da rela çã o entre o valor prov á vel da produçã o e o custo do adubo, e (3) quando os solos
estiverem bem abastecidos com P e K e nã o houver problema de acidez, quase sempre
haverá resposta aos adubos nitrogenados (Cate & Vettori, 1968). É interessante notar
que, neste trabalho, para aquela época os critérios para interpretaçã o de P, K, Ca + Mg e
AI eram apenas baixos (abaixo do nível ^ crítico) e médio / alto (acima do nível crítico).
Em â mbito estadual ou regional, foram publicados trabalhos muito mais elaborados
e completos no Rio Grande do Sul (1969 ), Goi ás (1970), Minas Gerais (1971), Espírito
Santo (1977), Paraná (1978), Sã o Paulo (1985) , Distrito Federal (1987) e Rio de Janeiro
(1988). Edições mais atualizadas dessas recomenda ções foram elaboradas nos Estados
de Sã o Paulo (1996), Pernambuco (1998), Minas Gerais (1999), Espírito Santo (2001), Rio
Grande do Sul e Santa Catarina ( 2004). Para a regiã o dos Cerrados, o livro "Cerrado:
Correçã o do Solo e Aduba çã o", editado pelos pesquisadores do CPAC, Djalma M. G. de
Souza e Edson Lobato, em 2002, atende à filosofia de trabalho adotada em outros Estados
e regiões abrangidas pelos Cerrados brasileiros.

Comit é de Qualidade da ANDA

Fator relevante para que se atinjá a Produtividade Má xima Económica das mais
diversas culturas é, alé m do uso de doses adequadas de fertilizantes e corretivos, que
esses produtos tenham garantias quanto à sua qualidade.
Foi pensando nisto que a ANDA instituiu, em maio de 1973, sob a responsabilidade
do Professor José Carlos Alcarde (da ESALQ-USP), coordenador até os dias atuais, o
Programa Interlaboratorial de Metodologia de Análise de Fertilizantes. Esse Programa,
que envolveu as empresas associadas à ANDA, teve, como objetivo básico, uniformizar e
aferir os trabalhos dos laboratórios que serviam de apoio aos sistemas de controle da
qualidade da produçã o nas empresas. Consistia na distribuiçã o de amostras homogéneas
de fertilizantes aos laboratórios das émpresas, que as analisavam com seus próprios
métodos e remetiam os resultados à ANDA, para serem estatisticamente avaliados. Com
base nessa avalia çã o, os resultados eram discutidos em reuniões mensais. Inicialmente,
os m étodos eram os utilizados nas próprias empresas. Logo houve a necessidade de
padronizar esses mé todos para que todos os laborató rios pudessem empregá -los. Em
seguida, passou-se a estudar os problemas analíticos e a introduzir novos mé todos, o
que vem ocorrendo até hoje. Atualmente, a distribuiçã o de amostras e reuniões sã o
bimestrais. Os laboratórios que mostram bom desempenho no ano, de acordo com critérios
preestabelecidos, recebem o Certificado de Proficiência Anual.
Por volta de 1980, foi criado o Programa Colaborativo de Controle de Qualidade,
como objetivo de estudar, analisar e discutir os diferentes aspectos técnicos que envolvem
o controle da qualidade da produçã o de fertilizantes.

FERTILí IDADE DO SOLO


I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 35

Hoje, esses dois Programas constituem o Comité de Qualidade da ANDA, que conta,
atualmente, com a participação de cerca de 55 laboratórios das maiores e mais importantes
empresas de fertilizantes do Brasil. Esse Comité, além de proporcionar meios e facilidades
para a avalia ção do controle da qualidade nas empresas, tem proporcionado inestimá veis
colaborações ao Ministério da Agricultura no sentido de oferecer critérios para aperfeiçoar
a legisla çã o e a fiscaliza çã o da produ çã o e comércializa çã o de fertilizantes no Brasil.

Plano Nacional de Fertilizantes e Calc ário Agrícola - PNFCA


Embora algumas das grandes empresas de fertilizantes já operassem no Brasil no
fim dos anos 40s e no início da d écada de 50, até o início dos anos 60s, a demanda
brasileira de maté rias-primas para a fabrica çã o de fertilizantes era, essencialmente,
atendida por importa ções. A produçã o local restringia -se à explora çã o de uma mina de
fosfato na d écada de 40, no Estado de Sã o Paulo, a poucas unidades de amónia, á cido
nítrico, nitrato de amónio e nitrocá lcio e a alguns produtores de superfosfato simples.
Na segunda metade da d écada de 60, surgiram novas unidades de superfosfato
simples e o primeiro complexo industrial de fertilizantes, pertencente à Ultraf értil, o que
marcou o início da produçã o de á cido fosf ó rico no Pa ís. Essa empresa també m instalou
a primeira unidade de porte para a fabrica çã o dê am ónia anidra , além da produçã o de
á cidos nítrico e sulf ú rico, nitrato de amó nio e de fosfato diamônico. Outros projetos
entraram em opera çã o nos anos 70s.
Entretanto, a partir de 1971, a demanda de fertilizantes sofreu considerá vel impulso,
principalmente em decorrência do início do desenvolvimento da agricultura na regiã o
dos Cerrados, no Brasil Central, sendo limitada, contudo, pela necessidade de
importa ções adicionais a custos crescentes. Essa pressã o de demanda, associada aos
altos preços no mercado internacional, como consequência dos conflitos no Oriente
Médio, alé m de outros fatores, resultou, em 1974, na formula çã o do Plano Nacional de
Fertilizantes e Calcá rio Agr ícola (PNFCA ), cujo objetivo principal era a amplia çã o e a
moderniza çã o da ind ústria brasileira de fertilizantes e calcá rio agrícola . Esse programa,
um marco no desenvolvimento da ind ústria nacional de fertilizantes, estimulou a
instala çã o de v á rios complexos industriais destinados à produçã o interna de matérias-
primas e fertilizantes, com investimentos superiores a dois bilhões de US$.
Como resultado, a produçã o nacional de rocha fosf á tica, que, em 1974, representava
apenas 20 % do consumo, evoluiu para uma condiçã o de auto-suficiência em 1983. Em
1974, foram importados 32 % das necessidades de amó nia e, em 1980, esta participação
aumentou para 35 %, embora o consumo tivesse crescido quase 2,5 vezes. A mesma
evolu çã o pode ser observada para o á cido fosf órico, pois, em 1974, foram importados
i 46 % do consumo e, em 1985, apenas 3 %.
Quando se analisa o segmento produtor de fertilizantes simples, verifica -se que as
importações de nitrogenados, que, em 1974, representavam 60 % do consumo, em 1986,
situaram-se em 28 % e foram constituídas quase que integralmente de sulfato de amónio.
Idêntica evoluçã o pôde ser constatada para os fosfatados. Em 1974, importavam-se
quase 60 % das necessidades e, em 1987, já existia uma capacidade de produçã o superior
ao consumo, acarretando a ociosidade deste segmento.

FERTILIDADE DO ! SOLO
36 ALFREDO SCHEID LOPES &I Luiz ROBERTO GUIMARã ES GUILHERME

Essa fase de quase auto-suficiê ncia infelizmente n ã o foi muito duradoura .


Atualmente, diante do aumento dai demanda e do nã o proporcional aumento da
capacidade instalada de produçã o, a produçã o nacional equivale a 40 % do N, 50 % de
P e 10 % do K .

Gesso Agrícola - Uma Descoberta Casual

Um dos fatores mais limitantes à produçã o agr ícola na regiã o dos Cerrados é a alta
probabilidade da ocorr ência de veranicos durante a esta çã o das chuvas, associada à
baixa capacidade de retenção de umid à de e ao limitado crescimento do sistema radicular
de v á rias culturas imposto pela deficiência de Ca e toxidez causada pelo AI no subsolo.
A descoberta do efeito do gesso èm subsolos, promovendo crescimento radicular
com aproveitamento da á gua em camadas mais profundas de solos durante veranicos,
criou a expectativa de se poder melhorar os solos ao longo do perfil, para estimular o
maior crescimento radicular. O gesso (CaS04.2H20), sal neutro, solú vel em água (2,5 g L 1),
"

é lixiviado ao subsolo onde reduz o efeito tóxico que o AI tem sobre as ra ízes, além de
eliminar a deficiência de Ca, que também impede o crescimento radicular .
Entretanto, o que poucos sabem é que o início dos estudos desses efeitos do gesso
agrícola surgiu mais ou menos por acáso. No início da d écada de 70, um agricultor do
Paraná, Sr. Luiz Souza Lima , adquiriu uma propriedade no Distrito Federal, ao lado do
PADEF - Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal, que foi o segundo
grande assentamento agrícola na regiã o dos Cerrados. Por tradiçã o trazida do Sul, esse
agricultor utilizava, como fonte de P, o superfosfato simples, enquanto os agricultores do
PADEF, a maioria formada por japoneses, utilizavam, como fonte desse nutriente, o

^
termofosfato e o superfosfato triplo. E epois de uns 10-12 anos explorando a á rea, houve
um veranico de mais de vinte dias de dura çã o fazendo com que o milho e a soja dos
agricultores do PADEF apresentassem! severos sintomas de estresse hídrico e as mesmas
culturas na propriedade do Sr . Souza Lima mantivessem um crescimento e
desenvolvimento normais, sem demonstrar estresse hídrico.
O fato chamou a aten çã o de pesquisadores do CPAC (Centro de Pesquisas
Agropecuá rias dos Cerrados - Embrapa ), que abriram trincheiras nas duas propriedades
e observaram que o sistema radicular « jlas culturas na á rea do PADEF alcançavam 60 cm
de profundidade e que, na propriedade ao lado, as ra ízes das mesmas culturas estavam
a 120 cm de profundidade. O solo era praticamente o mesmo e o ú nico fator de manejo
diferente era a fonte de P, como já mencionado. Começou-se entã o a especular que o
maior aprofundamento do sistema radicular na propriedade do Sr. Souza Lima seria,
possivelmente, resultante do efeito do uso contínuo, durante 10 a 12 anos, do superfosfato
simples, que, como se sabe, apresenta, por tonelada, cerca de 480 kg de gesso, e que esse
componente teria minimizado os efeitos do baixo teor de Ca e elevado teor de AI trocáveis
no subsolo, permitindo maior aprofuridamento do sistema radicular.
O que se seguiu a essa observa çã o foi uma verdadeira explosão de trabalhos de
pesquisa que visavam estudar os mais diferentes aspectos quanto aos efeitos do gesso
agrícola no aprofundamento do sistema radicular. Esses trabalhos envolveram estudos

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 37

em laborató rio procurando analisar melhor a química do gesso no solo; em casa de


vegeta çã o, procurando estabelecer níveis críticos de Ca trocá vel e de toxidez de AI que
f
seriam limitantes ao crescimento radicular; em colunas de solos com estrutura deformada
e natural, aplicando chuvas artificiais para acompanhar o movimento de Ca para o
subsolo; experimentos em campo envolvendo combina ções de doses de calcá rio e gesso
para diferentes culturas e tipos de solo; e, finalmente, estabelecimento de critérios de
diagnose para identificar solos com alta probabilidade de resposta ao gesso e a utiliza çã o
de mé todos de recomenda çã o desse insumo.
Nã o seria exagero afirmar ser o Brasil é o país do mundo com o maior n ú mero de
pesquisas envolvendo o gesso agrícola como melhorador das condições do subsolo para
o desenvolvimento radicular, haja vista que dois simpósios, referentes ao assunto, foram
realizados e os anais publicados ( IBRAFOS, 1986, 2002 ), e um livro, publicado no Brasil
em 1988 (Raij, 1988), está com a 2a ediçã o reviSada e ampliada, no prelo. Como essas
publica ções nã o foram editadas em inglês, a comunidade científica internacional tem
* pouco conhecimento desses trabalhos.

M é todo de Extração de Nutrientes com Resina de Troca I ônica

No início da d écada de 80, no Estado de Sã o Paulo, houve grande mudan ça nos


mé todos de análises de solos. Essas mudanças envolveram, principalmente, o mé todo
de extra çã o com resina de troca iônica para P, Mg, K e Ca , a determinaçã o do pH em
CaCl 2 e o cálculo de calagem por meio da eleva çã o da saturaçã o por bases a valores
preestabelecidos para diferentes culturas.
Os motivos dessas mudanças, principalmente em rela çã o ao P disponível, foram
basicamente os seguintes: (a ) extratores á cidos como o Mehlich-1 e H2S04, usados até
entã o na quase totalidade dos laborató rios no Brasil, dissolvem resíduos de fosfatos
f
naturais aplicados ao solo, podendo fornecer altos teores nas aná lises, mesmo em
condições de deficiência no solo; (b) esses extratoiies tendem a extrair teores muito baixos( 2)
de P em solos argilosos que contêm teores suficientes de P disponível para as culturas,
como nos Latossolos Roxos de baixa fertilidade, e (c) o mé todo da resina d á melhor
avalia çã o da biodisponibilidade de P em solos, tonforme comparaçã o de resultados de
70 trabalhos publicados em todo o mundo, com um coeficiente de determina çã o médio
de 0,84 para solos ácidos, em comparação com um valor de 0,56 para o extrator Mehlich-1
(veja capítulo VIII).
Os trabalhos de pesquisa que permitiram a implementa ção desse mé todo, em 1983,
i foram iniciados em 1973 sob a responsabilidade dos pesquisadores José Antonio Quaggio
e Bernardo van Raij, do Instituto Agronómico de Campinas. Embora o mé todo da resina
de troca iônica seja considerado, mesmo internacionalmente, como bom extrator de P, ele
1
é evidentemente um mé todo mais complexo e, pela sua complexidade, é, muitas vezes,
considerado inadequado para uso em an á lises de rotina .

(2 > Baixos em valores, mas nã o em rela çã o aos n íveis cr í licos para solos de boa fertilidade.
FERTILIDADE DO SOLO
38 ALFREDO SCHEID LOPES &. Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

A técnica que permitiu a viabilizaçã o do mé todo nas análises de rotina foi a solução

^
de um dif ícil problema pr á tico, que ra separar a resina do solo ap ós 16 h de agitaçã o da
suspensã o em á gua . A desagrega çã o da terra foi obtida por meio de bolas de vidro
colocadas antes da adi çã o da resina, o que permitiu a separaçã o, por peneiramento, da
resina do solo após a agita çã o de 16 h.
Al é m disso, para permitir a automa çã o na execu çã o desse m é todo, foram
desenvolvidos, v á rios equipamentos. A adoçã o desse mé todo em 93 laboratórios no
Brasil e até no exterior é um atestado da supera çã o dos problemas técnicos iniciais e da
adequa çã o do seu uso nas aná lises de rotina para avalia çã o da fertilidade do solo.

Mé todo de Saturação por Bases


Até o início dos anos 80s, os m é todos de recomendaçã o da calagem utilizados no
Brasil se restringiam ao mé todo SMP; nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina,
e ao do AI e Ca mais Mg trocá veis, utilizado em outros Estados.
O mé todo da satura çã o por bases requer a determina çã o da soma de bases (SB),
acidez potencial a pH 7,0 (H + Al ) e, por cálculo, obtêm-se a capacidade de troca de
cá tions (CTC a pH 7,0 ) e a satura çã o por bases ( V ).
I

Esse m é todo alternativo surgiu após o conceito de satura çã o por bases ser proposto
como critério de calagem, pela primeira vez, no Brasil, no Instituto Agronó mico de
Campinas (IAC), segundo o trabalho de Catani & Gallo (1955), no qual a acidez potencial
era extra ída por uma soluçã o de acetato de Ca 0,5 mol L 1 a pH 7,0 e posterior titula çã o
'

com soluçã o de NaOH.


É interessante comentar que, nesse trabalho, a satura çã o por bases era estimada a
partir da determina çã o do pH, por meio da equa çã o de regressã o entre pH em HzO e V
( pH = 4,28 + 0,31 V), em vez de ser determinada diretamente. Com esse procedimento,
perdia-se a exatid ã o do método e a determinaçã o de H + Al pela extraçã o com acetato de
Ca era muito laboriosa, tornando o mé todo impraticável para laboratórios de rotina .
Foi a partir do trabalho de Quaggio (1983), que se desenvolveu um procedimento
prá tico para estimar a acidez potencial do solo (H + Al), por meio da medida do pH de

^
equilíbrio da suspensã o solo-solu ã o tampã o SMP. Esse procedimento permite a
determina çã o de H + Al em amostras de solo com até 30 cmolc dm 3, com coeficiente de
"

variaçã o inferior a 6 %. O processo é prá tico e adequado aos laboratórios de rotina . Esse
procedimento de determina ção da acidez potencial tornou viável a introdução do método
da satura çã o por bases como oficial para a recomenda çã o de calagem no Estado de Sã o
Paulo, sendo hoje, também, utilizado em v á rios outros Estados da Federaçã o.

Evolução das Aná lises de Micronutrientes nos Solos


A evoluçã o da aná lise química de micronutrientes nos solos brasileiros pode ser
dividida em três fases, de acordq com Lopes & Abreu ( 2000 ). A primeira, que é
caracterizada pelos primeiros trabalhos abrangendo esse tipo de determinação, foi
iniciada nos anos 40 em solos de Sã o Paulo, envolvendo a determina çã o do Mn extraído
por HC11 mol L 1 ou HN03 0,01 mol L 1. Nesse período, houve inclusive uma tentativa
" '

de estabelecimento de cinco classes para interpreta ção dos resultados analíticos.

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 39

Na d écada de 50, com o início dos trabalhos de levantamentos de solos, também no


Estado de São Paulo, outros micronutrientes, como o B e Cu, foram também determinados
mediante o extrator HNOa 0,01 mol L 1, sem, entíetanto, haver critérios de interpreta çã o
'

dos teores obtidos.


Como as solu ções á cidas concentradas mostraram-se ineficientes em avaliar a
disponibilidade de micronutrientes, iniciaram-sè, entã o, estudos em solos paulistas e da
regiã o dos Cerrados, visando determinar os teores de B, Cu, Fe, Mn, Zn e Mo, usando
diversas soluções extratoras, tais como á cidos diluídos, misturas de á cidos (Mehlich-1),
solu ções salinas tamponadas ou nã o e agentes quelantes. Uma limitaçã o crítica dessa
fase é que nã o se levou em considera çã o a extra çã o de micronutrientes pelas plantas.
Na segunda fase, que compreendeu o final dá d écada de 70 e até a de 80, os trabalhos
de pesquisa enfocaram a seleçã o de extratores químicos para B, Cu, Fe, Mn e Zn,
empregando, como critério bá sico, os valores de coeficientes de correlaçã o obtidos entre
os teores de micronutrientes no solo e as quantidá des acumuladas nas plantas, sendo os
estudos realizados, principalmente, em vasos e ém casa de vegeta çã o.
Nesse período, os mé todos testados em solos das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste
do Brasil foram, principalmente, aqueles que se destacaram na regiã o temperada, quais
sejam: (a ) á gua quente e cloreto de Ca para B; (b ) ò extrator Mehlich-1 e o DTPA a pH 7,3
para Cu, Mn e Zn; (c) o acetato de amónio, sobretudo para Mn, e (d ) o Mehlich-1, DTPA e
HC1 para Fe. Para o Mo, as pesquisas nos Estados de Sã o Paulo e Pernambuco tiveram
como enfoque o levantamento dos teores (total e sol úvel) utilizando diversas soluções
como: oxalato de amónio, ácido sulf ú rico, á cido fluorídrico e ácido oxálico. Entretanto,
há ainda hoje sérias restrições ao uso da análise de solo para avaliar a disponibilidade
de Mo em condições de rotina.
Um fato, entretanto, prejudicava, ainda, a credibilidade da análise de micronutrientes,
durante esse período. Na prá tica, os diversos laborató rios do País que inclu íam, na sua
presta ção de serviços, a análise de micronutrientes em solos, utilizavam uma diversida -
*
de muito grande de extratores, sendo a opçã o pòr determinado extrator, muitas vezes,
rio
devida à sua facilidade de execuçã o no laborató , e nã o à sua eficiência analítica .
A terceira fase, iniciada nos anos 90s, foi marcada por uma vasta produção científica
envolvendo micronutrientes, estimulada, em grande parte, pela ocorrência mais frequente
de deficiências e pelo esforço de algumas instituições de pesquisa em padronizar técnicas
de extra çã o e adaptar / em condições de análises de rotina, processos de extra çã o de
micronutrientes agronomicamente eficazes. Dezenas de experimentos de calibração foram
) realizados no campo, procurando estabelecer níveis críticos e faixas de interpretaçã o
das análises para v á rios micronutrientes, envolvendo culturas como soja, milho, sorgo,
arroz, algod ão, caf é e cana -de-a çúcar, principalmente.
Como resultado desses mais de cinquenta anos de pesquisas envolvendo a análise
de micronutrientes nos solos do Brasil, embora hoje ainda haja certa diversidade de
métodos de análise, podem -se estabelecer, basicamente, três diferentes grupos de
laboratórios em relação a extratores usados: (1) Rio Grande do Sul e Santa Catarina - Cu
e Zn: HC10,1 mol L 1; B: água quente; Mn: Mehlicll-1; Fe: oxalato de amónio a pH 3,0; (2)
"

FERTILIDADE DO SOLO
40 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMARã ES GUILHERME

Sistema IAC - B: cloreto de bá rio; Cu, Zn, Mn e Fe: DTPA a pH 7,3; e (3) Sistema Mehlich-1 -
Zn, Cu, Mn e Fe: Mehlich-1; B: á gua qjuente.
Para mais detalhes sobre micronutrientes consultar capítulo XI.
Fixaçã o Biol ógica de Nitrogénio
O desenvolvimento do conhecimíento sobre fixaçã o biologia de N2 ( FBN), no Brasil,
ocorreu notadamente nas plantas leguminosas, sendo a FBN, um dos fatos mais marcantes
na dinâ mica de N no sistema solo-planta-atmosfera . Embora seja um assunto intimamente
ligado à Microbiologia do Solo, sua importâ ncia e a inter -rela çã o com a Fertilidade do
Solo no Brasil justificam um tópico neste histó rico.
No Instituto Agronó mico de Campinas ( IAC ), instituição com mais de 100 anos de
exist ncia, foram iniciados os estudos sobre Microbiologia do Solo no Brasil, envolvendo
ê
as á reas de decomposi çã o de resíduos, fixa çã o biol ó gica do N ( FBN ) e testes
microbiológicos de fertilidade do solo. Os primeiros trabalhos sobre avalia ção da
quantidade de N fixado por leguminosas e sobre a inocula çã o, realizados no IAC, são do
final do século dezenove e início do século vinte. Na d écada de 30, foi produzida grande
quantidade de inoculante para alfafa e, no seu final, quando já se dispunha de algumas
variedades de soja selecionadas no Estado de Sã o Paulo, a importâ ncia do cultivo dessa
leguminosa e da inocula çã o eram enfatizados. Nesse período, o Serviço da Ind ústria
Animal do Estado de Sã o Paulo também produziu inoculantes e conduziu testes com
inoculantes para soja com resultados positivos.
A filosofia do uso da FBN como forma exclusiva de adiçã o de N para nutriçã o da
soja foi consolidada a partir da d écajia de 50 e, desde entã o, vem fundamentando os
programas de melhoramento de leguminosas do IAC. Para assegurar a adoção da técnica
da inocula çã o da soja, o IAC produzia inoculante que era distribuído pelos Postos de
Sementes e comercializado nas Casas da Lavoura, com recomendaçã o e instruções para
uso, integrando três ó rgã os da Secretaria da Agricultura do Estado. Esse sistema
funcionou até o surgimento de empresas privadas que se interessaram pela produçã o de
inoculante.
Também no início da década de 50, outros dois importantes núcleos de Microbiologia
do Solo foram criados no Brasil: o IPAGRO, no Rio Grande do Sul, e outro, no km 47 da
Antiga Estrada Rio-São Paulo, no Estajio do Rio de Janeiro, hoje Embrapa- Agrobiologia,
em Seropédica, RJ.
|
1
A contribuiçã o prá tica da FBN pode ser mensurada pelos n úmeros decorrentes do
uso de inoculantes de rizóbio em diversas culturas, substituindo total ou parcialmente
os fertilizantes nitrogenados e propiciando uma economia significativa nos custos de
produçã o (Quadro 1) .
No Brasil, o melhor exemplo é á soja. A á rea plantada com essa cultura foi de
21,4 milhões de hectares (englobando as cinco regiões do Brasil) em 2003, resultando na
segunda maior produçã o entre as lavòuras anuais em 2004: 49,8 milhões de toneladas de
grã os com produtividade média de 2,3 t ha 1. Considerando que os gr ãos apresentam
'

87 % de matéria seca, obtiveram-se 43;3 milhões de toneladas de grãos secos com 6 % de


N, que constituíram 2,6 milhões de toneladas de N exportadas da lavoura. Como o N

FERTILIDADE DO SOLO
..
Ar

I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 41

Quadro 1 . Exemplos de leguminosas nodulíferas com respectivas taxas de fixa ção biológica de N
2

Leguminosa N

i kg ha 1 ano 1
' *

Alfafa ( Medicago sativa ) -


127 333
Amendoim ( Arachis hypogaea ) 33-297
Calopogô nio ( Calopogonium mucunoides ) 64-450
Caupi ( Vigna unguiculata sin . Vigna senensis ) 73-240
Centrosema (Centrosema pubescens ) 93-398
Crotal á ria (Crotalaria juncea L . ) 146-221
Clit ó ria ( Clitoria ternatea ) 197-249
Cudzu tropical ( Pueraria phaseoloides ) 100
Desm ó dio ( Desmodium sp ) 24-380
Ervilha ( Pisum sativum ) 17-244
Ervilhaca comum ( Vicia sativa ) 90
Ervilhaca - peluda ( Vicia villosa ) 110-184
Estilosantes ( Stylosanthes sp . ) 20-263
Fava ( Vicia fava ) 53-330
Feijã o ( Phaseolus vulgaris ) 4-165
Feijã o -de- porco ( Vicia sp. e Canavalia ensiformis ) 57-190
Gal á ctia (Galactia striata ) 181
Gliricidia ( Gliricidia sepium ) 86-309
Grã o-de - bico ( Cicer arietinum ) 41-270
Guandu ( Cajanus cajans ) i
7-235
Guar ( Cyamopsis psoraloides ) 37-196
Lentilha ( Lens culinaris ) 35-192
Lespedeza ( Lespedeza stipulacea ) 193
Leucena ( Leucaena leucocephala ) 400-900
Mucuna - preta ( Stizolobium aterrinum ) 157
Neonotonia wightii Lacrey (sin Glycine wightii Verde . ) 160-450
Prosopis glandulosa 2-61
Sebania cannabina 126-188
S . rostrata 324
S . sesban 7-18
Siratro ( Macroptilium atropurpureum ) 70-181
Soja ( Glycine Max ) 17-450
T . hybridum 21
T . indica 64
Tremoç o ( Lupinus sp . ) 32-288
I Trevo- branco ( Trifolium repens ) 128-291
S Trevo-doce ( Melilotus alba ) 9-140
V
Trevo-egipcio ( Trifolium alexandrinum ) 62-235
Trevo-vermelho ( Trifolium pratensé) 17-373
Trevo subterrâ neo (Trifolium subterraneum ) 21-207
Trigonela ( Trigonela fanum - gracum ) 44
Vigna sp. 63-345
Zornia glabra -
9 201

Fonte: Moreira & Siqueira (2006) citando Calegari et al. (1993); Hardarson (1993); Peoples et al. (1995).

FERTILIDADE DO SOLO
i
42 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

nos gr ã os representa , em média, 80 % do N total da planta, o conteú do total de N na


planta foi de 3,2 milh ões de toneladas. A contribuiçã o da FBN em soja, calculada por
técnicas isotó picas, é relatada como sendo de, no mínimo, 70 %. Desse modo, foram
fixados pelo menos 2,3 milhões de toneladas de N pela cultura. Se essa quantidade de N
tivesse de ser fornecida por fertilizantes nitrogenados, teríamos de considerar uma
eficiência média de 60 %, sendo entã o necessá rios 3,8 milhões toneladas de N-fertilizante.
Como a uréia contém 46 % de N, o total deste fertilizante nitrogenado requerido seria de
8,2 milhões toneladas, que, ao preço de 170 US$ t 1 (F & P, frete e porto-outubro de 2003),
'

custariam, aproximadamente, 1,4 bilhã o de d ólares ( Moreira & Siqueira, 2006 ).


Dois nomes brasileiros poderiam ser citados no que se refere ao reconhecimento de
suas contribuições para o desenvolvimento da Microbiologia do Solo no Brasil: o Dr. J .R.
Jardim Freire e a Dra . Johanna Dõbereiner . O Dr. Jardim Freire, pela valiosa contribuição
na forma çã o de vá rios pesquisadores e professores que trabalham na á rea, pela instala ção
da ind ú stria de inoculantes no Brasil e pela coordena çã o do Centro de Recursos
Microbiológicos para a Amé rica Latina-MIRCEN. A Dra . Dõbereiner, pela sua importante
contribuiçã o para o conhecimento da intera çã o de microrganismos diazotróficos na
rizosfera de gramíneas, com estudos iniciados na d écada de 50, que tiveram repercussão
internacional e consolidou sua liderança mundial nesse assunto, além de sua contribuição
na forma çã o de v á rios pesquisadores da Embrapa e de outras instituições do Brasil de
outros pa íses latino-americanos.

MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO NO CONTEXTO


ATUAL E FUTURO DA AGRICULTURA BRASILEIRA
Causas da Baixa Fertilidade dos Solos
Importância do Solo nos Ecossistemas
O solo, o meio principal para o crescimento das plantas, é uma camada de material
biologicamente ativo, resultante de transforma ções complexas que envolvem o
intemperismo de rochas e minerais, a ciclagem de nutrientes e a produção e decomposição
de biomassa. Uma boa condiçã o de funcionamento do solo é fundamental para garantir
a capacidade produtiva dos agroecossistemas. Uma boa qualidade do solo é importante
também para a preservaçã o de outros serviços ambientais essenciais, incluindo o fluxo e
a qualidade da á gua, a biodiversidade e o equilíbrio de gases atmosf é ricos.
A presença de nutrientes é um dos aspectos fundamentais que garantem a boa
qualidade dos solos e o seu bom uso e manejo, principalmente no caso de
agroecossistemas. Em ecossistemas nativos, a ciclagem natural de nutrientes é a grande
responsá vel pela manutençã o do bom funcionamento do solo e do ecossistema como um
todo. Essa ciclagem é fundamental para manter o estoque de nutrientes nos ecossistemas
naturais, evitando a perda da fertilidade natural do solo. O relatório do bié nio 2000-
2001 do World Resources Institute reyela que os agroecossistemas cobrem mais de um
quarto da á rea global da terra e que quase tr ês quartos desses agroecossistemas

FERTIILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 43

apresentam baixa fertilidade do solo o que, aliado a condições de relevo íngreme, pode
afetar sobremaneira a produ çã o agrícola (WRI, 2000).
I Mas, o que vem a ser um solo f értil ? Todo solo f értil é necessariamente produtivo?
Quais são as causas da baixa fertilidade dos solos?

Solo Fértil e Solo Produtivo


As duas primeiras perguntas podem ser respondidas por meio de uma das definições
do que venha a ser um solo produtivo, a qual é a seguinte: solo produtivo é um solo f értil,
ou seja , que contém os nutrientes essenciais em quantidades adequadas e balanceadas
para o normal crescimento e desenvolvimento das plantas cultivadas e que apresenta
ainda boas caracter ísticas f ísicas e biológicas, está livre de elementos tóxicos e encontra -
se em local com fatores clim á ticos favorá veis ( veja capítulo II) .
Nota-se, pois, que um solo pode ser f értil sem necessariamente ser produtivo. Nota -
se ainda que a fertilidade do solo pode advir de causas naturais ou ser criada pela
adiçã o de nutrientes aos solos durante o cultivo.
Um ponto importante a ser considerado com relaçã o à fertilidade do solo e que tenta
responder à última das três perguntas anteriores é que muitos solos nã o sã o naturalmente
f érteis e que mesmo aqueles f érteis podem, sob manejo inadequado, transformar-se em
solos de baixa fertilidade. Depreende-se, diante disso, que as causas da baixa fertilidade
dos solos podem ser tanto naturais quanto antr ópicas (decorrentes do manejo inadequado
do solo pelo homem).
Um estudo do World Resources Institute (Wood et al., 2001) mostra que, dentre os
aspectos adversos ligados à baixa fertilidade dos solos no mundo, a alta acidez
(freqúentemente associada à toxidez por Al) e as baixas reservas de K merecem destaque
(Quadro 2). No caso específico das regiões tropical e subtropical sub ú mida e ú mida ,
alé m desses aspectos, també m a alta capacidade de fixa çã o de P é um importante fator
determinante da baixa fertilidade dos solos ( veja cap í tulo VIII ) . Um trabalho
encomendado pela FAO em 2000 ( Bot et al., 2Ò00) revela que a toxidez causada por Al
afeta cerca de 63 % de toda a á rea de solos do brasil e que 25 % do territó rio brasileiro
apresenta solos com elevada capacidade de fixáçã o de P.

Baixa Fertilidade: Natural ou N ã o? i

Conforme já enfatizado, abaixa fertilidade dos solos pode ter tanto causas naturais
quanto antr ópicas. Como causas naturais, destacam -se que a génese do solo e o
intemperismo como principais fatores causadores da baixa fertilidade, particularmente
em grande parte das regiões tropicais e subtropicais, onde a remoçã o de nutrientes do
solo é mais acelerada, em razã o das condições de altas temperaturas e precipitações
i .
pluviais. O fato de o Brasil possuir grande extensões de terra com problemas de fertilidade
relacionados com a alta acidez e toxidez por Alj alé m de alta capacidade de fixaçã o de P,
é, em grande parte, consequência de sua localizaçã o na regiã o tropical.
Alé m das causas naturais, també m aquelas antrópicas - provocadas pelo manejo
inadequado do solo - podem ser causadoras dá baixa fertilidade dos solos. Uma dessas

FERTILIDADE bo SOLO
44 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMARã ES GUILHERME

Quadro 2. Á reas agr ícolas ( valores relativos) afetadas por adversidades em diferentes regiões
agroclimá ticas do mundo

Regi ã o agroclimá tica


Caracter í stica
Trópico á rido Tró pico $ ubtr ópico Subtrópico Temperado Temperado Boreal Total
e semi á rido sub úmido á rido e sub ú mido e árido e sub ú mido e
e ú miido semi á rido úmido semi árido ú mido

Percentual da á rea
total 14, 4 23 ,5 9, 4 13,8 20,1 18,0 0,8 100
Livre de
adversidades 8, 4 5,5 24,1 14, 6 25,5 23,1 31 ,6 16, 2
Drenagem pobre 7,9 13,1 5,6 14,7 13,1 24 , 3 33,9 14,0
Baixa capacidade de
'
troca de c á tions 11 , 8 8,9 3, 2 0,2 0,1 0,6 0 4, 2
Toxidez de AI 7, 2 41 ,5 1/ 1 25, 3 1/1 14, 3 13,9 17, 2
i

Acidez 29,6 25,5 13, 6 25, 2 9, 6 . 39,5 38, 4 24, 6


Alta capacidade de
fixa çã o de P 12/ 13, 0 0 14, 3 0 0, 3 0 '
5,2
Aspecto v é rtico 16 ,5 2 ,9 4, 3 5 ,3 0,1 0 ,5 0 4 ,3
Baixa reserva de K 11 / 9 52,0 13 / 25,6 0,1 5 ,7 0 18, 6
Alcalino . . 4,1 1/ 0 25, 3 3, 8 23,9 6, 7 0 9,5
Salinidade 2,6 0,6 11 ,8 0,9 5,5 0,9 0 3, 0
Aspecto n á trico 3, 9 0,9 7, 6 3, 3 14,9 13/ 0 5,1
Raso ou pedregoso 13 , 3 7, 1 15, 6 14, 3 9,8 5 ,1 9, 2 10,0
Baixa capacidade de
retenção de umidade 20,8 12,8 13,9 4, 5 5, 0 13,4 6,9 / 11 , 3

Fonte: Adaptado de Wood et al. (2000) .

causas antr ópicas é a exaustã o de nutrientes do solo provocada pelas retiradas pelas
culturas, maiores que pelas adições via aduba çã o. Estimativas diversas neste sentido
revelam que o déficit anual médio de nutrientes no Brasil encontra-se entre 25 e 35 kg ha -i
de N + P2Os + K20, OU seja, o estoque de nutrientes do solo está sendo esgotado ano após
ano. Isso pode levar até mesmo solos knteriormente considerados f érteis a tornarem-se
nã o-f érteis, tendo, assim, sua capacidade produtiva prejudicada . Levantamento do
International Soil Reference and Infcjrmation Centre (ISRIC), atualmente World Soil
Information, estimou que cerca de 240 milhões de hectares de solos no mundo (á rea
equivalente à regiã o dos Cerrados brasileiros) estã o comprometidos no que diz respeito
à sua integridade química, o que está ligado, dentre outros fatores, à deficiência de
nutrientes, a qual representa a maior causa de degradaçã o química dos solos no mundo,
atingindo cerca de 136 milhões de (dos quais 68 milhões de hectares localizam-
hectares
se na Am rica do Sul) (Oldeman et al.) 1991).
é
Um ponto importante a considerar quando se trata de baixa fertilidade provocada
por causas naturais ou até mesmo por exaustã o do solo é que estas duas primeiras
causas podem ser corrigidas facilmente, mediante reposição de nutrientes via adubaçã o
mineral e orgâ nica, bastando, para isso, que o agricultor fa ça uso da análise de solo e de

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 45

planta (foliar ou do produto colhido) para diagnosticar possíveis problemas ligados à


fertilidade do seu solo.
Um problema maior ligado à s causas nã o-naturais de queda da fertilidade do solo
está relacionado com a erosã o. A erosã o é a rhaior causa de degradaçã o de solos no
mundo, que tem consequ ências, à s vezes permanentes, sobre a fertilidade dos solos.
Neste sentido, vale lembrar que a exaustã o de nutrientes dos solos também é causa de
erosã o, visto que reduz a cobertura vegetal e, com isso, a resistência do solo à erosã o. A
erosã o atinge cerca de 13 % da superf ície do planeta, segundo estudos do World Soil
Information, afetando cerca de 1,65 bilhã o dê hectares de terra q úe se encontram
degradados em todo o mundo (Oldeman, 2000) 1 O pior aspecto da queda de fertilidade
do solo causada pela erosã o é que, ao contrá rio da exaustã o causada por extra çã o de
nutrientes em taxa maior que a reposiçã o ou da ibaixa fertilidade por causas naturais, as
quais podem ser recuperadas de maneira simples, a erosã o resulta, algumas vezes, em
degrada çã o de dif ícil recupera çã o ou até mesfno em dano irreparável à capacidade
produtiva do solo. i

Preservar a Mat é ria Orgâ nica do Solo é Fundamental

Um dos piores aspectos da erosão e que afeta grandemente a fertilidade dos solos é
a perda da matéria orgâ nica do solo (MOS). Também prá ticas de manejo inadequadas,
como, por exemplo, a adoção do cultivo intensivo, em vez do cultivo mínimo ou do
plantio direto, podem levar à queda rá pida dò teor de MOS. Isto é particularmente
relevante em solos altamente intemperizados, localizados na regiã o tropical, como é o
caso de extensas á reas do Brasil. A MOS pode ser considerada o indicador mais simples
e entre os mais importantes para se medir a quajidade do solo e, consequentemente, dos
agroecossistemas. Alguns efeitos benéficos que a MOS proporciona são:
1. Estabiliza e agrega partículas de solo, reduzindo a erosã o;
2. Provê uma fonte de C e energia para os ihicrorganismos do solo;
3. Melhora o armazenamento e o fluxo de á gua e de ar no solo;
4. Armazena e provê nutrientes como N, P e S;
5. Mantém o solo menos compactado e mai$ f ácil de trabalhar;
6. Retém C da atmosfera e de outras fontes;
7. Retém nutrientes como Ca, Mg e K, pois aumenta a CTC do solo; e
\ i

8. Serve para reduzir possíveis efeitos ambientais negativos decorrentes de uso


inadequado de pesticidas ou de disposiçã o de poluentes no solo.
Por fim, é sempre bom relembrar que o solq é o compartimento ambiental primá rio
que suporta a agricultura e, consequentementej a sobrevivência do ser humano na face
da terra . Manter e aumentar o teor de MOS são condições primordiais para evitar a
diminuiçã o da fertilidade dos solos e para garantir sua qualidade e seu funcionamento
em agroecossistemas produtivos (veja capítulo 1).
^
FERTILIDADE DO SOLO
46 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMARã ES GUILHERME

Produtividade Agr í cola Brasileira, Fertilidade do Solo e Uso Eficiente


de Corretivos e Fertilizantes

Impacto do Manejo da Fertilidade do Solo e do Uso Eficiente de Corretivos e Fertilizan-


tes nas Lavouras
O investimento em técnicas pará a melhoria da qualidade dos solos no Brasil pode
ser mais bem avaliado quando se olham seus n ú meros. O manejo da fertilidade do solo
por meio do uso eficiente de corretivos e fertilizantes é responsá vel, dentre os diversos
fatores de produçã o, por cerca de 50 % dos aumentos de produçã o e produtividade das
culturas. Os dados da figura 4 tra çam um paralelo entre a evoluçã o do consumo de
fertilizantes, em termos de N + P2Orj + K 20, e a evoluçã o da produçã o de 16 culturas
(matéria seca ) no Brasil, de 1970 / 71 a 2002 / 03. O que fica evidente é a rela çã o estreita
entre essas duas variá veis. I
Apenas no período de 1977 / 78 a 1980 / 81 e em anos mais recentes, a partir de 1997,
o aumento do consumo de fertilizantes nã o correspondeu, na mesma intensidade, a um
aumento na produ çã o dessas 16 culturas . Dois fatores podem explicar esse
comportamento: (a ) O período de 1977 / 78 a 1980 / 81 foi o de intensifica çã o de abertura
dos solos de Cerrado no Brasil, os quais, normalmente, levam quatro a cinco anos para
serem corrigidos, antes de passarem a responder com adequada produtividade. Foi
também o período em que ocorreu o corte de subsídios à agricultura, havendo grandes
estoques acumulados nas propriedades rurais em face de possíveis cortes desses
subsídios, o que veio a ocorrer no início dos anos 80, (b ) A partir de 1997, esse
comportamento pode ser explicado pela constatação de uma necessidade maior de adubos
para a recuperação de á reas marginais do Cerrado, principalmente de solos mais arenosos,
os quais têm baixa fertilidade natural mas bom potencial produtivo. Também foi
observado um incremento maior no uso de fertilizantes minerais na aduba çã o da cana-

Figura 4 . Evoluçã o da produçã o agrovçgetal ( toneladas de maté ria seca ) das 16 principais
culturas no Brasil em compara çã o com o consumo de fertilizantes minerais
. (N + P205 + KzO) no período de 1970-71 a 2002 -03.
Fonte: ANDA (2003); IBGE (2005) .

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 47

de-a çú car, em substituiçã o ao vinhoto, cuja disponibilidade vinha se reduzindo em


decorrência de novas técnicas na destila çã o doi á lcool.
Para entender melhor o comportamento do consumo de fertilizantes no Brasil,
compare-se o consumo médio de nutrientes em alguns _1 países em 1990 / 91 (Figura 5) .
Nesse ano safra , o consumo no Brasil foi de 52 kg ha de N + P 2Os + K20. Esse consumo
repetiu o de 1987 / 88 e, na verdade, a sé rie histórica anual anterior se manteve nesse
patamar por muitos anos.
O ponto que deve ser enfatizado é que esse! consumo médio anual de nutrientes era
considerado muito baixo, diante da baixa feirtilidade natural da maioria dos solos
brasileiros. Por outro lado, estimativas de um consumo adequado, em 1990 / 91, dada a
exporta çã o m édia de nutrientes pelas principais culturas, eram de cerca de 120 kg ha 1.
Dois outros aspectos relevantes sobre o consumo de fertilizantes no Brasil em rela çã o
ao de outros pa íses (Figura 5). Um deles trata dq aumento do consumo de nutrientes por
hectare na China , que saltou de 224 kg ha 1, em 1987 / 88, para 295 kg ha 1,em 1990 / 91.
' '

Esse aumento, de 71 kg ha 1, foi maior do que a mé dia histó rica de consumo no Brasil, de
"

52 kg ha 1. Tal fato teve profundas implica ções com o aumento da produçã o e da


"

produtividade na China em compara çã o corh o Brasil. Apenas no caso da soja , a


produtividade brasileira mostrou-se superior à da China ( Figura 6 ).
Por outro lado, o consumo na Holanda, que era de 741 kg ha 1, em 1987 / 88, caiu "

para 602 kg ha 1, em 1990 / 91, e para 545 kg ha:1, em 1998. Essa queda de consumo de
"

fertilizantes na Holanda se justifica. Com grandè parte de solos arenosos e lençol freá tico
elevado, as altas taxas anuais de aplica ção de fertilizantes minerais, aliadas à grande
utiliza çã o de esterco animal, levaram a Holanda a ter sérias restrições ambientais e ao
estabelecimento de limites má ximos desses insumos utilizados na agricultura.
Em 1998, o Brasil aumentou o seu consumo médio para 110 kg ha 1, em 2002 para "

138 kg ha 1 de nutrientes e, em 2004, atingiu 15i4 kg ha 1 ( Figura 7), o que, sem d ú vida,
" "

foi um dos fatores mais importantes para os reqentes aumentos na produção de grã os.

Figura 5. Consumo de fertilizantes ( N + P2Os + K20) no Brasil em comparação com o de outros


países em 1991. N ú meros acima das colunas referem-se ao consumo de quatro anos antes.
Fonte : IFA (2005) .

FERTILIDADE Dó SOLO
48 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

A
?
i

Figura 6. Produtividade mé dia da China e do Brasil para v á rias culturas em 2004. Nesse ano,
a produçã o total desses grã os foi de 455 milhões t para a China e de 113 milh ões t para o
Brasil.
Fonte : ANDA ( 2005); FAO (2005).

600 -, 2004:
T 154
£ 500 - kg ha 1 645

O 400.
2002: 2002:
+
300 138 428 1
1
*

l kg ha kg ha
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i
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110 | 110 !
IjJ li
II
II
Brasil Venezuela EUA Fran ç a China Holanda

Figura 7. Consumo de fertilizantes ( N + lf 205 + K20) no Brasil em comparaçã o com o de outros


países em 1998, com a Holanda em 002 e no Brasil em 2002 e 2004.
Fonte: IFA (2005); ANDA ( 2003, 2005 ) . | ^
O aumento no consumo, bem como o uso mais eficiente de fertilizantes minerais,
ocorrido no Brasil e mantido nos últimcj>s anos, é, certamente, um componente importante
no aumento da produçã o e da produtividade da maioria das culturas, principalmente
aquelas consideradas de exportação. I ssa foi uma tendência também para outros países
^
(Figura 8), tendo sido o Brasil o ú nico em compara çã o com a China, a índia e os países
^
em desenvolvimento, que, no período considerado (1984-1994), apresentou aumento
médio da produção de grã os significativamente superior ao aumento médio no consumo
de fertilizantes. Esse fato é uma prova inquestionável de aumento da eficiência do uso
de fertilizantes, nesse período, no Pa ís. *

Há outro ponto a destacar quando se distingue o consumo de fertilizantes por grupos

que os produtos da cesta básica (


^
de culturas. As chamadas culturas d exporta çã o, como citros, soja, cana e caf é, e que
apresentam, em geral, mais altas produtividades, consomem muito mais fertilizantes
maridioca
, feijão, arroz e milho), que utilizam, com

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR íCOLA 49

menor intensidade, as técnicas disponíveis, incluindo doses de fertilizantes muito aquém


das recomendadas pela pesquisa para que sejam alcançadas maiores produtividades
4
(Figura 9).
Dentre o três macronutrientes primá rios, N, P e K, a utilizaçã o de doses muito aquém
das adequadas é muito mais crítica para o N. Os dados da figura 10 mostram a evolução
no Brasil da rela çã o de consumo de N / P205 / fjl20, nas d écadas de 50 e 60, e de 1970 até
2004. Em 1970, essa rela çã o era de 0,67 /1,0 / 0,8 e, em 1976, atingiu 0,37 /1,0 / 0,52.
Esse aumento relativo no consumo de P205 em rela çã o ao N, em 1976, foi resultado
da explos ã o da ocupa çã o dos solos da regi ã o dos Cerrados, via incentivos
governamentais. Como esses solos sã o extremamente deficientes em P, esse aumento era
plenamente justificável.

1 I Cereais PB Ra ízes e tub é rculos § j Fertilizantes


|

70
63
60

60
o
£
0>
40
E
2
o 30 - - -28-
c
20

10
*


0 -J

Brasil China í ndia Pa íses em


desenvolvimento

Figura 8 . Incremento no consumo de fertilizantes! e na produtividade de cereais e ra ízes e


tubérculos no Brasil, China, índia e pa íses em desenvolvimento no período de 1984 a
1994.
Fonte : WRI (2005) . |

¥r

Figura 9 . Consumo de fertilizantes (N + P2Os + K 2Q) para várias culturas no Brasil em 2000
(números dentro das colunas) e 2004 (nú merosj
acima das colunas) .
Fonte : ANDA ( 2001, 2005) .
\

FERTILIDADE DO SOLO
50 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

De 1976 até mais recentemente, essa rela çã o voltou a se estreitar, atingindo, em


2003, 0,65 / 1,00 / 1,12, para todo o N / P205 / K 20 consumido na agricultura brasileira,
inclusive na cultura de soja ( Figura 11 ) . Se for exclu ída a soja desses cá lculos, pelo fato
de tal cultura praticamente nã o consumir N dos fertilizantes, a relaçã o ficaria em 1,19 /
1,00 / 1,23. Se comparada essa rela çã o com a de pa íses que apresentam agricultura
tecnificada para obtençã o de altas produtividades, qual seja, de 2,82 /1,00 /1,10, pode-se
concluir que a subutiliza çã o de N é um dos fatores mais limitantes para o aumento da
produtividade de muitas culturas do Brasil . Essa rela çã o de consumo para o ano de
2002, no Brasil, foi de 0,64 / 1,00 / 1,09, donsiderando-se o consumo da cultura da soja, ou í*
de 1,15 / 1,00 / 1,17, sem considerar a soja . í

1 ,4

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Anos N / P2Os / KjO
N 50 0,33 / 1 ,00 / 0,50
0, 2 - 60 0,50 / 1 ,00 / 0,65

0
1970 75 80 85 90 95 00 2004
Ano

Figura 10 . Relações de consumo de fertilizjantes (kg ha ' 1


de N / P205 / K20) no Brasil nas décadas
de 50 e 60 e evolução de 1970 a 2004 .
Fonte : Lopes et al. ( 2003).

3
2 ,82
2 ,5 -

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1 -
0 ,5 - 0 ,65:
O
N P2Oe KjO N P2OB KJO N P2Oe K O
^
Com soja Sem soja Paí ses com agricultura
Brasil tecnificada

Figura 11. Relações de consumo de fertilizantes (kg ha 1 de N / P2Os / KzO) no Brasil ( total e "

sem soja ) em 2003 em comparação com países de agricultura tecnificada em 2002.


Fonte : ANDA (2003, 2004).

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 51

O baixo consumo de N pode ser confirmado por um estudo de Yamada & Lopes
(1999) . Assumindo uma eficiência m é dia de 60 % para o N, 30 % para o P e 70 % para o
t
K e a exporta çã o ( remoçã o dos nutrientes pela produçã o ) estimada para as 16 principais
culturas, chegou-se ao seguinte d éficit anual estimado de nutrientes, tomando como
base dados médios do per íodo 1993-1996: (a ) 888 mil toneladas de N, mesmo considerando
todo o N da soja e do feijã o como provenientes da fixa ção biológica; (b ) 414 mil toneladas
de P2Os, e (c) 413 mil toneladas de K 20. Atualiza çã o desses dados para o ano de 2002
indica que esse d éficit manteve-se em rela çã o a N, aumentou para o P e reduziu para K,
atingindo, respectivamente, 859, 514 e 324 mil toneladas (FAO, 2004 ).
Esses dados nã o significam que se está consumindo a quantidade adequada de P e
de K, mas que, dentre os três macronutrientes, o subconsumo é muito mais cr ítico em
rela çã o ao N. Esses dados mostram que o d éficit total de nutrientes corresponde a cerca
de 30 % do consumo atual no Pa ís, representando um déficit por á rea da ordem de 25 a
30 kg ha 1 de nutrientes. Eles revelam, ainda , que, na mé dia, o processo produtivo da
"

l
agricultura, nas taxas atuais de consumo de fertijlizantes, está, em realidade, minando o
recurso solo. Isso pode, no longo prazo, levar a ê onsequ ências altamente danosas para
a sustentabilidade da nossa agricultura.
Outro fator que pode justificar a baixa produtividade média de grande n ú mero de
culturas no Brasil é a utiliza çã o de doses insuficientes de calcá rio, apesar das respostas
espetaculares em rela çã o aos aumentos de produçã o e rela çã o benef ício-custo (Figura
!

12 ). Isto é especialmente relevante pelas caractir


ísticas de acidez de grande parte dos
solos brasileiros.
Associa -se a isto a restriçã o causada por toxidez pelo Al, a qual, segundo relató rio
da FAO, divulgado em 2000, afeta cerca de 63 % da á rea do Brasil. Esses problemas sã o
resolvidos com uso de doses adequadas de calcá rio.
Com incentivos fiscais e financiamentos oficiais, de longo prazo, a partir do fim da
d écada de 60 e início da de 70, a capacidade de moagem de calcá rio no Brasil atingiu

9.000 n
1
7.677. | | Eín kg ha '

w
8.000 - Custo do calcá rio
JR Aumenjto de produção
o 7.000 - mfj No 1o ano
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2 5.000 - ¥32$
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4,000 -
8. 3.000 - 2.609'

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2.000 -
1.000 -
o
360 422
m
Milho
(5 anos )
H
Soja
(3 anos)
Algod ã o
( 4 anos )

Figura 12. Balanço económico da aplicaçã o de calcá rio na dose de 3 t ha 1 em tr ês culturas em


Mococa, Sã o Simã o e Guaíra, SP.
Fonte: Adaptado de Raij & Quaggio (1984) . i

FERTILIDADE DO SOLO
52 ALFREDO SCHEID LOPES 8Í. Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

cerca de 50 milhões de toneladas . Isso significou amplo aumento de oferta desse


anuais
insumo, considerado fundamental para racionaliza çã o da produçã o agr ícola no Pa ís.
Estimativas que levam em considera çã o, dentre outros fatores, a explosã o do
crescimento da agricultura e pecuá ria na regiã o dos Cerrados revelam uma necessidade
de consumo da ordem de 70 milhões de toneladas anuais para o Brasil.
Na verdade, o que ocorreu, em rela çã o ao consumo de calcá rio, no período de 1984
a 2004, foi que mesmo nos anos de melhor resultado de consumo aparente ( 2003 e 2004),
utilizou-se apenas cerca de 50 % da capacidade instalada de moagem (Figura 13). O ano ;•
£
de 1990 foi o fundo do poço do subconsumo de calcá rio pela agricultura brasileira, com t
i

nã o mais de 20 % de consumo em rela çã o à capacidade de moagem instalada .


O subconsumo de calcá rio se agrava ainda mais quando se compara a evoluçã o
entre consumo de calcá rio e de fertilizantes no Brasil, de 1973 a 2004 ( Figura 14). Uma
relaçã o entre o consumo de calcá rio e de fertilizantes considerada aceitável pela pesquisa
para a agricultura brasileira seria de 2,5 a 3,0 para 1,0 - ou seja, para cada tonelada de
fertilizante aplicado, seriam necessá rias 2,5 a 3,0 t de calcá rio.
Essa rela çã o considerada ideal somente foi observada em 1973, estreitando para
quase 1 para 1 nos anos recentes, sendo, em 2002, pela primeira vez, o consumo de
calcá rio menor que o de fertilizantes (
rela
ção 0,97:1,0). Mesmo que se considere a expansão
da á rea sob plantio direto, sistema que tende a reduzir as necessidades de uso de calcá rio
ó
em relaçã o ao cultivo convencional, balanço atual está longe do ponto ideal para que
sejam atingidas produtividades má ximas econó micas no processo produtivo. Isso nã o
significa que se está utilizando muito fertilizante no sistema produtivo da agricultura

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25 %

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Ano

Figura 13, Evolu çã o do consumo aparente, em relaçã o à capacidade instalada de moagem (50
milhões t ano 1) de calcá rio no Brasil (em milhões de toneladas) no per íodo de 1984 a 2004
"

e demanda total estimada (75 milhões t ano 1). - '

Fonte: ABRACAL (2005) .

FERT LIDADE DO SOLO


I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 53

brasileira - os dados mostrados anteriormente indicam que isso nã o é o caso. O fato, sim,
é que é necessá rio aumentar tanto o uso eficiente de fertilizantes como o de calcá rio.
Essa subutiliza çã o tanto de fertilizantes, principalmente os nitrogenados, como de
calcá rio e de outras tecnologias disponíveis de comprovada eficiência, leva a uma questão:
Qual é seu reflexo na produtividade, principalmente em rela çã o aos alimentos bá sicos?
Os dados da figura 15 comparam as produtividades médias de arroz ( Brasil vs China ),
milho( Brasil vs EUA), trigo( Brasil vs França ), feijã o e soja ( Brasil vs EUA ) no Brasil com
pa íses que apresentam altas produtividades médias. Percebe-se que, no caso da soja, em
que o uso de alta tecnologia é quase uma regra nas á reas de cultivo, a produtividade
média brasileira aproxima-se à de um grande proiiutor mundial, como os Estados Unidos.

3,5
Rela çã o de consumo calc á rio /fertilizantes em 2002 = 0, 97:1
3-

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H Fertilizantes
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Ano

Figura 14. Evolu çã o da rela çã o de consumo calcá rio / fertilizantes no Brasil no per íodo de 1973
1

a 2004. j
Fonte: ANDA ( 2005); ABRACAL ( 2005) . !

1
i
%

Figura 15. Produtividade média de algumas culturas no Brasil e outros pa íses em 2004.
Fonte : FAO (2005). I
)

FERTILIDADE DO SOLO
54 ALFREDO SCHEID LOPES 8|Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

Os dados comparativos de produtividade de arroz no Brasil com a China, onde toda


a produ çã o é sob irriga çã o por inun da çã o, sã o, até certo ponto, questioná veis. Isso
porque, no Brasil, a m édia inclui tarr bé m á reas de sequeiro, cujas produtividades sã o
muito baixas, em compara çã o com a s do sistema sob irriga çã o, fazendo cair a média
geral do País.
O ponto importante é que muitos bons produtores dessas culturas no Brasil estã o
com as produtividades muito próximas ou até acima das médias de outros países. Sã o,
por exemplo, lavouras brasileiras que atingem 10-12 t ha 1 de milho, 6 t ha 1 de arroz de
" "

sequeiro, 8-9 t ha 1 de arroz irrigado, 4 t ha 1 de soja, 6-7 t ha 1 de milho safrinha (após a


' " "

soja ), 3,5 t ha 1 de feijã o irrigado, 350 @ ha 1 de algodã o e 30 e 50 sacas ha 1 de caf é, sem o


" " "

com irriga çã o.
Estes n ú meros demonstram que há disponibilidade de tecnologia para que essas
altas produtividades sejam perfeitamente alcançadas, desde que se fa ça uma diagnose
correta das razões dessas diferenças se adotem medidas para que sejam, pelo menos,
reduzidas. ^
Perspectivas

Um dos maiores desafios da humjanidade é a previsã o da demanda na produção de


alimentos diante do crescimento populacional da terra nas pr óximas d écadas. A
produ çã o mundial de alimentos que era de 2 bilhões de toneladas em 1990, quando a
populaçã o mundial era de 5,2 bilhões deverá passar de 4 bilhões de toneladas no ano de
2025, quando a popula çã o mundial deverá ser de 8,3 bilhões de habitantes, segundo
estudos e estimativas da Organiza çã o Mundial para a Alimentação e Agricultura, FAO
(Quadro 3). Para que essas metas sejam alcançadas, a produtividade média de grãos,
que era de 2,5 t ha 1 em 1990, deverá atingir 4,5 t ha 1 em 2025.
" "

O Brasil é um dos poucos pa íses com grandes e amplas possibilidades de ser um


participante importante nesse processo, pelas seguintes razões:
a ) Produtividade: o País possui técnicas sustentá veis de produçã o para, no curto
prazo, conseguir grandes avanç os na produtividade média de muitas culturas,
principalmente aquelas constituídas de alimentos básicos, como já mencionado.

Quadro 3 . Estimativas da popula çã o mundial, demanda de alimentos e produtividade agr ícola


em 1990, 2000 e 2025

1990 2000 2025

Popula çã o mundial ( bilh ões) 5,2 6, 2 8,3


Demanda de alimentos ( bilh ões t ) 1,97 2,45 3,97
Produtividade ( t ha -1 ) 2,5 2,9 4,5

Fonte: Borlaug & Dowswell (1993).

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 55

Embora o Brasil disponha de consider á vel fronteira agr ícola a ser explorada , no
curto prazo, as políticas p ú blicas de apoio à agricultura deveriam, com absoluta
prioridade, incentivar o aumento da produtivic ade com sustentabilidade nas á reas j á
incorporadas ao processo produtivo e n ã o a simples expansã o da fronteira agr ícola .
Existem estimativas que o Brasil apresenta 180 milhões de hectares de pastagens nativas
ou melhoradas. Destas, 90 milh ões de hectares estã o degradados ou em início de
degrada çã o. Se, desses 90 milhões de hectares, fossem incorporados 30 milhões no
processo de produçã o de grã os, por exemplo, corji um produtividade média de 4 t ha 1, a "

produ çã o brasileira poderia ser aumentada è m 120 milh õ es de toneladas sem a


necessidade de desmatar um hectare sequer .
b ) Expansã o da fronteira agrícola : dispõe da maior fronteira mundial para expansã o
da agricultura, pois do total de á rea potencialmente agricultá vel em 1994, o Brasil utilizou
apenas 9,2 %, que representam 50,7 milhões de ha, contra 47,5 % da China (95,7 milhões
de ha ), 50,2 % da França (19,5 milhões de ha ) e 53 % dos EUA (187,8 milhões de ha ), por

^
exemplo . Alé m disso, apesar da disponibilidad de terra agricult á vel per capita estar
decrescendo em nível mundial - de 0,42 ha em 1965 para 0,23 ha em 1995 -, o que ocorreu
no Brasil, no período de 1965-1995, foi um increme|nto de cerca de 10 % na á rea agricultá vel
real per- capita . Com isso, nesse per íodo, saltou ide 0,37 para 0,40 ha ( Figura 16 ) .
Dados mais recentes, levantados por Pinazza ( 2003), com base em estimativas da
FAO para 2002 (Quadro 4), fazem uma compara
çã o da á rea total, cultiv á vel em uso e
disponível para a agricultura no Mundo e no BraLil
. Os dados de que o Brasil apresenta
35 % da á rea disponível para a agricultura no Mundo sã o os mais contundentes quanto
ao nosso potencial de crescimento em á rea, no médio e longo prazo.

9y

Figura 16 . Compara çã o da disponibilidade de terras agricult á veis no Mundo, nas Américas


em alguns pa íses.
Fonte : Bot et al . (2000 ) .

FERTILIDADE !
DO | SOLO
56 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

Quadro 4. Compara çã o da á rea total, cultiv á vel, em uso e disponível para agricultura no Mundo
e no Brasil

Á rea Mundo Brasil Participa çã o do Brasil

-ha %

Á rea total 13 bilh ões 848 milh ões 6,5


Á rea cultiv á vel 2,9 bilh õ es 547 milh õ es 18, 0
1,5 bilh ã o 57 milh ões 3,8 ò
Area em uso
Á rea dispon í vel 1, 4 bilh ã o 497 milh ões 35,0

Fonte : Pinazza ( 2003) .

Como compara çã o adicional, destaque-se, por exemplo, que a á rea potencialmente


agricultá vel do Brasil, de cerca de 550 milhões de hectares, é quase igual à á rea total de
32 pa íses da Europa (Figura 17). Só a á rea do Estado do Mato Grosso, que, atualmente,
explora apenas 25 % do seu potencial agricultá vel, é equivalente a grande parte do
cintur ã o do milho (Com Belt ) nos Unidos, uma das á reas mais produtivas do
mundo (Figura 18 ) . S a
ó regi ã o dos Cerrados
Estados
, segundo um estudo de 1995, apresenta
í
potencial para a produçã o de 354 mill iões de toneladas de alimentos, n ú mero que pode
ser bem maior, levando-se em conta as produtividades que podem ser alcançadas
atualmente (Macedo, 1994).
c ) Disponibilidade de á gua : com cerca de 1 / 5 da á gua doce do planeta , as
possibilidades de aumento da á rea sob irriga çã o, com incrementos substanciais na
produtividade das culturas, sã o crescentes.

Áustria Hungria Roménia Holanda Lituânia Itália PolóniaEstónia

Tchecoslov á quia
Franç a ,> j
Irlanda 9ã
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Bélgica II Ucr ânia
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Reino Unido Islândia
f é ÍHm lugoslávia
Alemanha Ifi
Letónia «É Noruega
Dinamarca
Finlândia
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Bielo Rússia

Figura 17. A á rea agricult á vel do Brasil (550 milhões de ha ) em compara çã o com a á rea total de
32 países da Europa.
Fonte: Lopes et al. (2003).

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR íCOLA 57

Figura 18. Comparaçã o da á rea do Mato Grosso no prasil com o cintur ã o do milho nos EUA .
Fonte: Lopes et al. ( 2003) .

CONSIDERA ÇÕ ES FINAIS
Embora a Fertilidade do Solo como ciência seja relativamente nova, é notável como
o esfor ço de ensino, pesquisa e extens ã o no Brasil e no mundo, nessa á rea do
conhecimento, teve tantos reflexos amplamente positivos, contribuindo para o
desenvolvimento da agricultura e para o aumento sustentável da produtividade e da
produçã o agr ícola .
Para o caso do Brasil, é notável o acervo de inf òrmações advindo deste esforço conjunto
que resultou, sem d úvida, no reconhecimento do País como líder mundial em tecnologia
de manejo da fertilidade dos solos ácidos da região tropical. A incorporação de 10 milhões
de hectares dos Cerrados, formados por solos considerados marginais para exploraçã o
agrícola intensiva até a década de 60, com a decisiva participação da Fertilidade do Solo
como ciência, foi considerada por Norman BORLAUG, Prémio Nobel da Paz de 1970,
como a maior revoluçã o verde de toda a história da humanidade.
Mas é importante enfatizar que o papel da Fertilidade do Solo transcende à pura e
simples relação com o aumento da produtividade e com o desenvolvimento da agricultura
brasileira, como anteriormente discutido.
Para concluir este capítulo, s ã o apresentados tr ês pontos para reflexã o que
representam o reconhecimento a todos que se dedicaram ao desenvolvimento da
agricultura brasileira, em especial à queles que se dedicaram à Fertilidade do Solo como
instrumento do aumento sustentá vel da produtividade agrícola no nosso País:
1) Aspectos ambientais: No período de 1970 / 71 até 2003 / 04, mesmo estando as
produtividades atuais para algumas culturas ainda longe do ponto de má ximo económico,
a produ çã o das 16 principais culturas no Brasil ( maté ria seca ) passou de 49,6 para

FERTILIDADE DO SOLO
58 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

190,7 milhões de toneladas (aumento de 3,8 vezes); no mesmo per íodo, a produtividade
passou de 1,4 para 3,3 t ha 1 (aumento de 2,6 vezes) e a á rea cultivada passou de 38 para
'

57,6 milh ões de hectares (aumento de apenas 1,5 vez ) . Como consequência, o aumento
da produçã o foi muito mais pelo aumento da produtividade do que pela simples expansão
da á rea cultivada (Figura 19). Esses dados indicam ainda que, se estivéssemos produzindo
hoje (190,7 milhões de toneladas) com as produtividades de 1970 / 71 (1,4 t ha 1), teríamos
'

de ter incorporado ao processo produtivo da agricultura brasileira mais 80 milhões de


hectares. Em outras palavras, o aumento da produtividade, em decorr ê ncia de
investimentos em tecnologias mais ef : cientes, incluindo melhor manejo da fertilidade do
solo, evitou o desmatamento do equivalente a 80 milhões de hectares. Essa é, talvez, a
maior contribuiçã o em termos ambientais resultante desse processo.

Por tudo isso, vale a pena enfatizar, mais uma vez, o papel fundamental para o
desenvolvimento sustentá vel que representa o uso de técnicas que levem ao aumento da
produtividade agropecuá ria nas árez s já incorporadas ao processo produtivo. De fato,
ele constitui poderoso instrumento de preserva çã o ambiental, pois diminui as pressões
de desmatamento das á reas
florestadas
, muitas vezes nã o adequadas ao processo
intensivo da produçã o agropecu á ria, deixando mais espa ço para a vida silvestre, a
manutençã o da biodiversidade e a preserva çã o da natureza .

2) Aspectos econó micos: Um dos aspectos mais notá veis pertinentes ao crescimento
da economia brasileira nos últimos anos foi a evolu çã o do agronegócio. O agronegócio
brasileiro, que envolve os segmentos d e "antes da porteira" (dentro da fazenda ), e "depois
da porteira " ( fora da fazenda ) , movimentou , em 2004, recursos da ordem de

Figura 19. Evoluçã o da á rea plantada, produçã o agrovegetal e produtividade das 16 principais
culturas no Brasil 1970 / 71 a 2003 / C 4.
Fonte: Fonte: Adaptado de Lopes et al . (2003); ANDA (2004); IBGE (2005 ) .

FERTILIDADE DO SOLO

!
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGRí COLA 59

R$ 534 bilhões, o que representa 33 % do Produto Interno Bruto (1.776 bilhões de reais) .
O agronegócio, como um todo, representa ainda 37 % dos empregos e 40 % da exporta ções
( US$ 30,6 bilhões).
Dados publicados pela Revista Veja ( Ano 27, N° 2. de 12 / 01 / 2004 ) mostram que,
em 2003, o Brasil se posicionava no primeiro lugar mundial na exporta çã o dos seguintes
produtos: (a ) a çúcar: vendeu 29 % de todo o açúcar consumido no mundo; (b ) caf é: vendeu
28,5 % do caf é em gr ã o consumido no planeta e 43,6 % do caf é sol ú vel; (c) carne bovina:
assumiu a lideranç a em 2003, com 19 % de participa çã o no mercado mundial; (d ) carne
de frango: foi o primeiro em vendas, com exportações de 1,9 bilhã o de dólares; (e) soja em
gr ã o: deteve 38,4 % do mercado mundial; (f ) suco de laranja: vendeu 81,9 % do suco
distribuído no planeta, e ( g) tabaco: vendeu 23,1 % do tabaco consumido no mundo .
Entretanto, é preciso que os segmentos de "antes da porteira" e "depois da porteira"
se conscientizem de que se a agricultura for mal , isso afetará també m os seus negócios.
De uma forma ou de outra, ambos os segmentos devem perceber que sã o parceiros em
a ções que mantenham as suas "galinhas-dos-o| \ os -de- ouro" produtivas e com ganhos

que lhes permitam continuar no processo produtivo.


3) Aspectos sociais: Uma das maiores contribuições sociais representada pela
evoluçã o da produtividade da agricultura nos últimos anos foi a "involuçã o" dos preços
reais dos produtos da cesta básica , beneficiando todos os brasileiros, principalmente
aqueles que se encontram no segmento de mais baixa renda da sociedade. De setembro
de 1975 a janeiro de 2000, os preços reais dos produtos da cesta básica ca íram para 1 / 3
do valor original, seguindo uma tend ência linea r de queda nesse per íodo ( Figura 20).

Figura 20. "Involuçã o" dos índices de preços reais dos produtos da cesta básica no Brasil de
setembro de 1975 a janeiro de 2000.
Fonte : Portugal (2002 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
60 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME

Dada a relev â ncia dos aspectos supracitados, justifica -se o esfor ço cada vez maior
por parte dos formadores de opiniã o para levar à sociedade brasileira uma mensagem
clara e objetiva sobre a importâ ncia do que representa o desenvolvimento da agricultura
para melhorar as condições de segurança alimentar, nã o apenas interna - no Brasil -
mas de toda a humanidade.
E necessá rio que a agricultura brasileira seja considerada um assunto de segurança
nacional que leve as autoridades constituídas a estabelecerem políticas agr ícolas de
mais longo prazo, para que a nossa voca çã o agr ícola seja exercida em sua plenitude e
<V
nã o por meio de instala çã o de programas do tipo "apaga-incêndio", deixando o futuro
em aberto, ou, o que é na verdade pior, fechado a perspectivas que se vislumbram bastante
promissoras para o Brasil.
A expectativa é que os capítulos seguintes dessa publica çã o possam oferecer aos
profissionais em ciê ncias agrá rias em casamentos sólidos que lhes permitam atingir, no
curto prazo, os anseios como profissi onais, colaborando para que o Pa ís se torne uma
grande Na çã o socialmente mais justa

NOTA i OS EDITORES

O primeiro autor deste capítulo, Prof . Alfredo Scheid Lopes (Prof . Emérito da
Universidade Federal de Lavras), "Alfred ã o", como conhecido por todos nós que o
admiramos e respeitamos, nã o poderia ter seu nome excluído deste brilhante retrospecto
da histó ria da Fertilidade do Solo no Pa ís.
Sua excelente base científica e enorme carisma fizeram do Alfred ã o um prelecionista
brilhante, presença obrigat ó ria nos mais diversos encontros científicos e acad êmicos no
Brasil e no exterior .
Sua participaçã o efetiva na transformaçã o dos solos de Cerrados na realidade
agr ícola atual nã o poderia ser esquecida, a começar pela contribuiçã o de sua tese de
mestrado ("A survey of the fertility status of soils under "Cerrado" vegetation in Brazil,
1975), seguida de sua tese de Ph.D ( Available water, phosphorus fixation, and zinc

^
leveis in Brazilian Cerrado soils in rel tion to their physical, Chemical, and mineralogical
properties), ambas na North Carolina State University, e todo um trabalho continuo, nas
últimas quatro d écadas, dedicado à Fertilidade do Solo, de modo particular dos Cerrados.
Portanto, Alfred ã o tem sido parte importante dessa história que mostra toda a
competência do brasileiro na recupera çã o de solos tropicais, de modo geral.
Este livro não poderia começar de outra maneira que não pelo excelente capítulo
desse destacado cientista.

FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 61

LITERATURA CITADA

ASSOCIA ÇÃ O BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE CALC Á RIO AGR ÍCOLA - ABRACAL.


Calcá rio agr ícola - Consumo aparente no Brasil 1984-2004 . 2005. Informa ções pessoais.

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FERTILIDADE DO SOLO
PUCPR - Câ mpus Toledo

II - FATORES QUE INFLUENCIAM


O CRESCIMENTO E O
DESENVOLVIMENTÒ DAS PLANTAS

Egon J . Meu ter 1'

1/
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Agronomia, Departamento de Solos.
Av . Bento Gon çalves, 7712 - Agronomia, Caixa Pos :al 15.100, CEP 91501-970 Porto Alegre ( RS ) .
egon . meurer @ t .frgs.br

Conte ú do
INTRODUÇÃ O 66
FATORES DE SOLO 66
Fatores de Natureza Física 67
Densidade do Solo 67
Umidade do Solo 70
Umidade do Solo e Absorçã o de Nutrientes 70
Fatores de Natureza Qu ímica 71
Composição Mineralógica do Solo 72
Reaçã o do Solo ( pH ) 73
Disponibilidade de Nutrientes 74
Elementos Tóxicos 76
Presença de Metais Pesados 77
Teor de Matéria Orgâ nica do Solo 78
Reações de Sorção e de Precipitação . 79
Reações de Oxida çã o e Reduçã o (Oxirredu ção) 81
Salinidade 82
Fatores de Natureza Biológica 82

FATORES DE PLANTA 83
Eficiência na Absorçã o de Nutrientes 83
Alelopatia 84
Doenças, Pragas e Plantas Invasoras 84
Sistemas de Manejo 85
FATORES CLIM Á TICOS 85
LITERATURA CITADA 86

SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V., V.H., BARROS,
N.F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R .B. & NEVES, J . C .L.) .

:
66 EGON J . MEURER

INTRODU ÇÃ O
Mais de uma centena de atributos de solo, de planta, de sistemas de manejo e de
clima afetam, direta ou indiretamente, o crescimento dos vegetais. Muitos destes fatores
podem ser controlados, outros nã o, como, por exemplo, os fatores climá ticos (Quadro 1).
Assim, a produçã o e a produtividade ( produçã o por unidade de á rea ) das culturas
sã o dependentes de mais de uma centena de variáveis relacionadas com fatores climá ticos,
com fatores inerentes à pró pria planta e atributos ( propriedades ou caracter ísticas ) do
p
substrato onde ela cresce, que pode ser o solo ou outro meio, como em cultivos
hidropônicos, por exemplo.
tr .
a* Este capítulo analisa , principalmente, os fatores de solo e de planta que influem no
crescimento (e desenvolvimento ) das plantas. Os demais sã o discutidos com menos
detalhes e, algumas vezes, apenas citados; na literatura, encontram-se diversos trabalhos
que abordam com mais profundidade esses tópicos.

Quadro 1. Fatores que influenciam o cre scimento e desenvolvimento das plantas e seu potencial
produtivo

F a t o r e s c l i má t i c o Fatores de solo Fatores de planta

Precipita çã o pluvial Mat é rial de origem Esp é cies, cultivares


- quantidade Estrutura Fatores gené ticos
- distribui çã o Textura Qualidade da semente
Temperatura do ar Profundidade Nutri çã o
Umidade relativa Declividade e topografia Efici ê ncia da absor çã o
Luz Temperatura Disponibilidade de á gua
- quantidade Rea çã o ( pH ) Evapotranspira çã o
- intensidade Mat é ria org â nica Mol éstias
- dura çã o Atividade de microrganismos - insetos
Altitude / latitude Capacidade de troca de c á tions - bact é rias
Ventos Satura çã o por bases - fungos
- velocidade Sistemas de plantio - v í rus
-
distribui çã o Sistemas de manejo Plantas invasoras

Fonte: Adaptado e modificado de Tisdale et al ( 1993 ) .

FATORES DE SOLO
Os fatores de solo que influem no crescimento das plantas podem ser classificados
quanto à sua natureza em f ísicos, mineralógicos e químicos e biológicos. Dentre os
fatores de natureza f ísica, destacam- se a estrutura e a textura do solo; dentre os fatores
químicos, a composiçã o mineralógica, a rea çã o do solo ( pH), o teor de matéria orgâ nica,
a disponibilidade de nutrientes, a presença de elementos potencialmente tóxicos e reações
de sor çã o, precipitaçã o, oxida çã o e reduçã o .

FERTILIDADE DO SOLO
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 67

Fatores de Natureza Física

Objetivamente, pode-se considerar que os dois fatores de natureza f ísica (estrutura


e textura ) podem influir acentuadamente no crescimento das plantas. Propriedades ou
características do solo, tais como: densidade, espaço poroso, umidade, taxa de infiltra çã o
de água, erodibilidade, por exemplo, dentre outras , estão intimamente associadas à estrutura
e à textura do solo e podem tanto estimular como inibir o crescimento das plantas.
A estrutura refere-se ao agrupamento das partículas unitá rias do solo em agregados.
Pode ser definida como a heterogeneidade espacial dos diferentes componentes ou
materiais do solo . Assim, a disposiçã o espacial de partículas coloidais de argila num
fl óculo, o arranjo de torr ões num solo lavrado, o complexo de canais formado por
minhocas, a variabilidade da resistê ncia do solo à penetra çã o das ra ízes, de um lugar
para outro, sã o aspectos da estrutura, vistos em diferentes escalas ( Dexter, 1988).
A textura, propriedade também intimamente relacionada com a estrutura do solo,
refere-se à distribui çã o das partículas de acordo com o seu tamanho, e tem conota ções
quantitativas e qualitativas. Quantitativamente, expressa a propor çã o relativa das
partículas de areia, de silte e de argila que compõ em a terra fina do solo (fraçã o menor do
que 2 mm ) . A textura relaciona -se, direta ou indiretamente, com muitas propriedades
químicas e f ísicas do solo, como a capacidade de troca de cá tions (CTC ), a retençã o e
infiltra çã o de á gua, a drenagem, a erodibilidade, dentre outras (Streck et al., 2002) . A
textura adquire import â ncia , portanto, nas rela ções solo -á gua-planta -atmosfera ,
interferindo na capacidade de infiltra çã o de á gua, na evapora çã o e no suprimento de
nutrientes . As fra ções granulom é tricas mais grosseiras ( areia ) sã o constituídas
principalmente de quartzo, têm reduzida capacidade de reter a água e reduzida atividade
química . Por outro lado, essas partículas de maior diâ metro facilitam a drenagem e a
aera çã o do solo. A fra ção argila influi acentuadamente em propriedades e caracter ísticas
do solo por apresentar grande á rea superficial específica e elevada densidade de carga,
o que resulta em alta reatividade química desta fraçã o.

Densidade do Solo
A densidade está intimamente relacionada com a estrutura e com a textura, e as
altera ções na densidade afetam acentuadamente a estrutura çã o do solo, com as
implica ções dela decorrentes. Em geral, quanto maior a densidade, para solos com
texturas semelhantes, mais compacto é o solo, rr .enos definida é a sua estrutura e muito
menor o volume do espa ço poroso.
O aumento da densidade do solo reduz a taxa de difusã o do 02 nos poros do solo e,
conseqiientemente, a respira çã o das ra ízes. Em geral, concentra ções de 02 na atmosfera
do solo menor do que 10 % afetam severamente o crescimento das ra ízes. Em muitos
casos, a inibiçã o do crescimento radicular em solos mal aerados é causada por elevados
níveis de etileno produzido pelas ra ízes (Stolzy 1974; Marschner, 1995).
As principais alterações na densidade estão geralmente associadas com as operações
de preparo do solo para o cultivo, notadamente r .o "Sistema Plantio Convencional". São

FERTILIDADE DO SOLO
68 EGON J. MEURER

decorrentes do trá fego de má quinas sobre o terreno nas opera ções de araçã o, gradagem,
distribuiçã o de corretivos, de fertilmantes, de defensivos, de colheita ou em á reas onde o
pisoteio de animais é intenso . A densidade dos solos, nas condições naturais, situa -se
desde 0,2 a 0,5 kg dm 3 (solos turfosos ) até 1,6 kg dm 3 (solos arenosos) . A altera çã o da
' '

densidade reflete-se diretamente na expansão do sistema radicular das plantas, uma vez
que a modifica çã o da estrutura influi na porosidade, no volume de á gua disponível e no
teor de 02 do solo; em consequ ência , aumenta a resistê ncia do solo à penetra çã o das
ra ízes.
À
A pressã o de crescimento que a raiz pode exercer sobre o solos varia entre espécies,
com valores m édios da pressã o axial que se situam entre 0,9 e 1,3 MPa e para a pressã o
radial entre 0,5 e 0,7 MPa (Taylor & Ratliff , 1969; Eavis et al., 1969 ) . O aumento da
densidade do solo, resultando na sua compacta çã o, ocasiona baixa emergência das
plantas, varia çã o no seu tamanho, folhas amarelecidas, sistema radicular superficial,
ra ízes mal formadas ou tortas, com graves prejuízos para a absor çã o de á gua e nutrientes
(Camargo & Alleoni, 1997; Dias J ú nior , 2000 ) .
Os efeitos da compacta çã o do solo (e seus efeitos relacionados) podem ser observados
nos resultados obtidos com seis espé cies de plantas crescendo em um Latossolo, em casa
de vegeta çã o, que foram submetidas a quatro níveis de compacta çã o: o comprimento de
ra ízes dessas espé cies foi significativamente reduzido pela compacta çã o do solo
(Quadro 2 ), que, alterando a estrutu ra do solo, aumentou a resistência à penetraçã o das
ra ízes, reduziu a porosidade total, c macroporosidade e a taxa de infiltra çã o de á gua,
bem como diminuiu a absor çã o de P, de K, de Ca e de Mg com o aumento da compactaçã o
do solo (Quadro 3) . No segundo nível de compacta çã o, houve aumento da absor çã o dos
nutrientes pelas espécies decorrente da diminuiçã o da tortuosidade do caminho difusivo,
para o P e o K, que sã o supridos nas raízes pelo mecanismo de difusão e pela aproximação
das partículas do solo, para o Ca e Mg , que sã o supridos por fluxo de massa ou intercepçã o
radicular ( Barber, 1995) .

Quadro 2 . Comprimento de ra ízes de seis espé cies de plantas crescendo em Latossolo, em


vasos, submetido a quatro níveis de compactaçã o

Comprimento das ra í zes na camada compactada <* >


N í vel de compacta çã o
Cevada Cplza Tremo ç o Trigo Soja

kg cm 2 m
0 308,7 a 439,4 a 78,2 a 228,0 a 84.6 a
6 215,4 b 332,8 b 56,5 b 218,6 a 73.7 ab
11 134,0 c 136,5 c 45,4 b 91,8 b 41,6 bc
18 50,7 d 75,9 d 25, 0 c 43,6 b 8,8 c
(1 )
Médias para compacta çã o dentro de cada espécie, seguidas pela mesma letra, n ã o diferem pelo teste
Tukey a 5 % .
Fonte : Cintra (1980 ).

FERTILIDADE DO SOLO
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTo E o DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 69

Quadro 3. Absor çã o de f ósforo, pot ássio, cá lcio e magnésio por plantas de seis espécies crescendo
em Latossolo, em vasos, submetido a quatro níveis de compactaçã o

N í vel de
Cultura P K Ca Mg
compacta çã o

kg cm - 2 mg / vaso

Soja 0 7,91 53.92 45,51 25,88


6 8,03 58,67 52,43 28,13
11 5,77 46.93 40,99 22,46
18 2,69 29,21 24,49 13,11

Tremoç o 0 5, 25 46, 20 26,98 14,54


6 6,52 57,19 27.39 17,10
11 6,76 52,75 28,53 16,35
• 18 4,08 35,09 22.39 12, 86

Colza 0 10,82 72,09 14,75 19,66


6 11,53 78,31 15,59 20,71
11 6,56 65,01 6,30 13,88
18 4,39 47,04 7,18 12,46

Cevada 0 8,51 92,81 11,91 9,24


6 7,84 78,47 9,91 7,33
11 5, 98 59, 04 9,30 5, 64
18 2,07 36,12 6,14 4, 20

Tremoç o 0 5,18 67,06 25,07 6,08


6 6,07 79,62 40,75 6,95
11 3,81 34,53 20,94 2,86
18 2,20 35,01 24,04 3,47

Fonte: Cintra (1980).


(

A resistência que o solo oferece à penetra ção das raízes, além de depender de fatores
intr ínsecos ( textura, estrutura, mineralogia ), é altamente dependente da umidade do
solo. Em solos com umidade muito baixa, a á gua encontra -se retida com maior tensã o
nos poros; a essa tensão somam-se as for ças já existentes entre os seus sólidos, fazendo
com que, em solos com menor umidade, a resistência à deforma çã o ou à penetraçã o de
raízes seja maior (Libardi & Jong van Lier, 1999).
O sistema de manejo do solo pode afetar acentuadamente sua umidade. A cobertura
de um Argissolo com resíduos culturais de palha de trigo (7,5 t ha 1 de palha ), durante o
"

mês de novembro, manteve em torno de 100 g kg 1 a mais de á gua do que o mesmo solo
"

descoberto ( Bragagnolo & Mielniczuk, 1990).


c
FERTILIDADE DO SOLO
70 E í GON J . MEURER

Umidade do Solo
A á gua é fator fundamental na produ çã o vegetal. Sua falta ou seu excesso afeta, de
maneira decisiva, o crescimento das plantas . As culturas durante o seu ciclo vegetativo
e reprodutivo consomem enorme volume de á gua , notando-se que cerca de 98 % deste
volume atravessa a planta , perdendo -se posteriormente na atmosfera pelo processo de
transpira çã o. Este fluxo de á gua é, porém, necessá rio para o crescimento vegetal e, por
este motivo, sua taxa deve ser mant: da dentro dos limites ó timos para cada cultura .
Diversos fatores afetam a absor çã o de á gua pelas plantas, sendo a importâ ncia de cada
um relativa, dependendo de cada casc » em particular. Esses fatores, sem obedecer a uma
ordem preferencial (Reichardt, 1976 , 1978), sã o: (a ) referentes à planta : extensã o e
profundidade do sistema radicular, superf ície e permeabilidade radicular, idade da raiz
e atividade metabólica da planta; ( b ) referentes à atmosfera: umidade relativa do ar,
disponibilidade de radia çã o solar, vento e temperatura do ar, e (c) referentes ao solo:
umidade, capacidade de á gua disponível, condutividade hidrá ulica, temperatura, aeração
e salinidade da á gua do solo.

Umidade do Solo e Absorçã o de Nutrientes

No processo de absor çã o dos nutrientes, a água é, provavelmente, o fator com maior


influência. A absor çã o do nutriente c corre a partir de seu contato com a superf ície da
raiz e está diretamente relacionado com sua concentra çã o na soluçã o no solo.
O suprimento ( transporte) dos nutrientes até à superf ície das raízes é decorrente da
a çã o conjunta dos três mecanismos: interceptaçã o radicular, fluxo de massa e difusã o
( Barber et al ., 1995). A planta, ao iniciar o processo de absor çã o de á gua e de nutrientes,
altera o equilíbrio do sistema , estabelecendo diferenças de potencial de á gua e de
concentra çã o de nutrientes na supeif ície da raiz em rela çã o ao resto do solo . Em
atendimento à s diferenças de potencial, originam-se duas formas de transporte de
nutrientes no solo na direçã o das raízes : uma pelo fluxo de transpiraçã o (fluxo de massa ),
em atendimento à diferença de potencial hídrico e outra por difusã o, em atendimento ao
gradiente de concentra çã o.
A quantidade total de nutrientes transportada por fluxo de massa à superf ície da
raiz pode ser estimada sabendo-se a concentra ção do nutriente na soluçã o do solo e o
volume de á gua transpirada pela plan ta . Em cada solo, a quantidade suprida por fluxo
de massa será diferente, pois a concentra çã o do nutriente na soluçã o depende da
fertilidade do solo.
A quantidade do nutriente que chega à superf ície radicular pelo processo de difusão
na unidade de tempo ( taxa de difusã o' pode ser visualizada a partir da f órmula :
dq / dt t D A 0 (Cl - C2 / L)
em que A = á rea superficial das raízes da planta (cm2 ou m2); D = coeficiente de difusã o
do nutriente em água (cm2 s 1); 0 = conteúdo volumétrico de água do solo; Cl = concentração
do nutriente na soluçã o do solo; C2 = concentra çã o do nutriente na superf ície da raiz, e
L = distâ ncia entre Cl e C2, que pode variar de 0,5 a 4,0 mm.

FERTILIDADE DO SOLO
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 71

A aplicaçã o desta f órmula em condições de campo é dif ícil; entretanto, pode-se observar
o efeito de algumas propriedades do solo que afetam a absor çã o: solos argilosos revelam
maior capacidade de retençã o de á gua (fator 0 ), podendo, portanto, suprir maior
quantidade do nutriente por difusã o do que solos arenosos com o mesmo valor de Cl .
Solos com boas propriedades f ísicas (estrutura, agrega çã o, aera çã o, por exemplo )
propiciam maior crescimento das ra ízes, aumentando, portanto, o fator A e,
conseqiientemente, o suprimento de nutrientes por difusã o ( Anghinoni & Meurer, 2004) .
A difusã o e o fluxo de transpira çã o sã o dois processos que atuam simultaneamente,
visto que absor ção de á gua e nutrientes ocorre, em geral, ao mesmo tempo. No quadro 4,
apresentam -se valores m édios ( percentuais ) paira o suprimento de quatro nutrientes em
12 unidades de solos do Estado do Rio Grande do Sul. O conteú do volumé trico de á gua
do solo foi o fator de solo que determinou o suprimento dos nutrientes à s ra ízes das
plantas de milho, desde que o fluxo de massa e a difusã o sã o processos que dependem
estritamente do volume de á gua do solo. Paira Ca e Mg, observa -se que o fluxo de
transpira çã o (fluxo de massa ) supriu as ra ízes de quantidades muito maiores do que as
necessidades das plantas, em virtude das concentra ções elevadas destes dois nutrientes
na soluçã o dos solos, decorrentes da aplica çã o de calcá rio nos solos para a correçã o do
pH .

Quadro 4. Contribuiçã o relativa dos mecanismos de intercepçã o radicular, fluxo de massa e


difus ã o na absor çã o de f ósforo, potá ssio, cá lcio e magnésio por plantas de milho, durante
13 dias de cultivo ( médias para 12 unidades de solos do Estado do Rio Grande do Sul )

Nutriente Intercep çã o radicular Fluxo de massa Difus ã o

0
- //o

Fó sforo 3,5 2, 6 93,9


Pot á ssio 0,9 10 ,1 89,0
Cá lcio 35,0 337,5
Magn ésio 10, 9 172,3

Fonte: Vargas et al. (1983).

Fatores de Natureza Qu ímica


4
Fatores de natureza qu ímica podem influenciar, positiva ou negativamente, o
crescimento das plantas. Provavelmente, é dif í cil classificá -los ou separá-los, pois, em
muitos casos, estã o intimamente relacionados e interagem entre si . De forma geral e mais
ampla, podem-se classificá -los naqueles relacionados com: (a ) composiçã o mineralógica
do solo; (b) disponibilidade de nutrientes; (c) presença de elementos tóxicos; (d ) presença
de metais pesados; (e) teor de matéria orgâ nica; (f ) reações de sorção, precipitação, redução
e oxidaçã o, e (g) salinidade.

FERTILIDADE DO SOLO
72 EGON J . MEURER

Composi çã o Mineral ógica do Solo


O tipo e os teores de elementos m inerais no solo são resultado do material de origem
e de sua intemperizaçã o. Assim, a composiçã o mineralógica determina a maior ou menor
disponibilidade de elementos essenciais para as plantas e de elementos que podem ser
fitotóxicos. Minerais primá rios, comc feldspatos e micas, e secund á rios, como caulinita,
vermiculita, esmectitas, ó xidos de Fe e Al, têm acehtuada importâ ncia no crescimento
das plantas. Os feldspatos sã o fontes de Ca e K para as plantas; as micas são fontes de K.
As apatitas, os sulfatos e os carbonatos sã o fonte de P, de S, de Ca, de Mg ( Inda J ú nior et C

al., 2004) . No quadro 5, exemplifica -se, para K, a rela çã o entre o material de origem e os
teores de K trocá vel (forma rapidamente disponível para as plantas ) e os de K total
( reserva potencial de K do solo) em alguns solos do Estado do Rio Grande do Sul.
Uma importante propriedade que os argilominerais conferem ao solo é a de
originarem cargas negativas e positiveis em suas superf ícies, que atraem cá tions e â nions.
Dependendo do tipo de ligaçã o que formam com as superf ícies eletricamente carregadas
dessas partículas, os íons ter ã o maior disponibilidade ( complexa çã o de superf ície de
esfera -externa ) ou menor disponibilidade (complexa çã o de superf ície de esfera -interna )
para as plantas.
Os argilominerais distinguem-se na densidade de cargas que podem gerar em suas
superf ícies. Por exemplo, o mineral secundá rio caulinita, que geralmente é o argilomineral
que predomina nos Latossolos, tem, em geral, baixa densidade de cargas. negativas na
sua superf ície, o que, conseqiientemente, confere a estes solos baixa capacidade de troca
de cá tions (CTC ). Assim, os Latossolos, apresentam, em geral, baixa fertilidade natural.
Por outro lado, solos que contê m maiores quantidades do filossilicato vermiculita
mostram alta reatividade química , visto que apresentam CTC elevada e, em geral, os
solos que contê m este mineral apresentam alta fertilidade natural. Entretanto, a
vermiculita pode fixar o K nas entreccimadas, o que dificulta o manejo deste nutriente.

Quadro 5. Teores de pot á ssio trocá vel e fie total em amostras de alguns solos da regiã o sul do
Estado do Rio Grande do Sul

Classifica çã o Material de origem -


K troc á vel K -total

mg kg
Argissolo Vermelho - Amarelo distr ó fico t í pico Granito 116 8.500
Argissolo Vermelho - Amarelo distr ó fico t í pico Granito 92 8.000
Argissolo Vermelho - Amarelo distr ó fico latoss ólico Argilito 94 5.700
Argissolo Vermelho - Amarelo eutr ó fico latoss ó lico Arenito 66 6.300
Argissolo Vermelho - Amarelo distr ó fico ar ê nico Sedimentos de arenito 29 3.525
Luvissolo Hipocrô mico ó rtico t í pico Granito 100 23.050
Neossolo Lit ó lico distr ó fico t í pico Granito 136 28.300
Latossolo Vermelho distrof é rrico t í pico Basalto 224 8.826
Argissolo Vermelho distr ófico t í pico Granito 152 14.347
Latossolo Bruno alum í nico câ mbico Basalto 68 780

Fonte: Nachtigall & Vahl (1991).; Meurer et al. (1996).

FERTILIDADE DO SOLO
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 73

Os solos brasileiros contêm, de uma maneira geral, elevados teores de ó xidos de Fé


e Al, associados aos minerais da argila . Estes ó xidos també m desenvolvem cargas
elé tricas nas suas superf ícies e sã o capazes de complexar os íons da solu çã o do solo.
Adiante, trata -se com mais detalhes este assunto.

Rea çã o do Solo ( pH)

Grande parte dos solos agr ícolas das regiões tropicais e subtropicais apresenta
limita ções ao crescimento de muitas culturas em virtude dos efeitos da acidez excessiva
(Quadro 6). No Brasil, por exemplo, os solos sob vegetação do cerrado apresentam elevada
acidez e baixa fertilidade e representam, aproximadamente, 150 milhões de hectares
( Embrapa, 1978). No Estado do Rio Grande do S ul, levantamento realizado em cerca de
60.000 amostras de solos indicou que 70 % delas apresentaram pH em á gua inferior a 5,5
( Drescher et al., 1995) .
Os efeitos da rea çã o do solo ( pH ) sobre as plantas podem ser diretos ou indiretos .
Dentre os efeitos diretos, destacam-se:
(a ) Disponibilidade dos elementos essencia is à nutriçã o da planta;
(b ) Solubilidade de elementos que podem ter efeito tóxico sobre as plantas;
(c) Atividade de microrganismos;
(d ) Favorecimento ou n ã o de doen ças nas plantas;
(e ) Habilidade de competiçã o entre diferentes espécies de plantas, e
(f ) Condições f ísicas do solo.
Os efeitos indiretos do pH sobre as plantas estã o relacionados com propriedades
qu ímicas ( rea ções de sor çã o, dessor çã o, precipita çã o ) que ocorrem em solos e que
influenciam diretamente o crescimento das plan tas.

Quadro 6. Classifica çã o do solo em funçã o do pH

p H (á g u a ) C l a s s i f i c aç ão

< 5 ,0 É xtremamente á cido


5 , 0 - 5, 5 Muito á cido
r

% 5.6 - 6 , 0 Á cido

6.1 - 6, 5 Pouco á cido


6.6 - 7, 0 Aproximadamente neutro
7.1 - 7, 5 Pouco alcalino
7.6 - 8,0 Alcalino ( ou bá sico )
> 8,0 Muito alcalino

FERTILIDADE DO SOLO
74 .
EGON J MEURER

Disponibilidade de Nutrientes

Dezessete elementos sã o considerados essenciais ao crescimento das plantas: C, H,


O, N, P, K, Ca , Mg, S, B, Cl, Cu , Fe, Mn , Zn, Mo e Ni.
O processo fotossinté tico nas plantas converte o C02 atmosf é rico e a H20 em
carboidratos simples a partir dos quais aminoá cidos, a çúcares, proteínas, á cido nuclêico
e outros compostos orgâ nicos sã o sintetizados. Os demais 14 elementos essenciais sã o
classificados em macro e micronurrientes e esta classifica çã o é baseada na sua
abund â ncia relativa nas plantas. Quatro elementos adicionais Na , Co, V, e Si foram
reconhecidos como necessá rios ou benéficos para algumas plantas.
A presença de um elemento no tecido da planta nã o indica necessariamente que ele
exerce uma funçã o essencial ao seu metabolismo. As plantas podem absorver elementos
nã o-essenciais ou mesmo t óxicos ao seu crescimento e desenvolvimento. O crité rio de
essencialidade é satisfeito quando, na ausência ou escassez do elemento, a planta nã o
completa seu ciclo vital, bem como quando a funçã o do elemento é específica e só pode
ser evitada ou corrigida pela adi çã o do referido nutriente, nã o podendo ser substituído
por outro (Gianello & Giasson, 2004).
Nos estudos sobre nutriçã o de plantas, Justus von Liebig, por volta de 1840,
introduziu conceito da lei do mínimo, segundo o qual o crescimento e desenvolvimento
das plantas é limitado pelo nutriente que se encontra em menor quantidade em relaçã o
à s suas necessidades, na presen ça de quantidades adequadas de outros nutrientes . Por
exemplo, se o crescimento da planta está sendo prejudicado pela deficiência de P, adiçã o
de qualquer outro nutriente nã o ter á efeito positivo; somente se o P for adicionado em
quantidade adequada, este deixar á de ser fator limitante da produçã o.
De maneira geral, o pH do solo na faixa de 5,5 a 6,5 é favor á vel ao crescimento da
maioria das plantas (Quadro 7). Em valores de pH abaixo de 5,5 podem ocorrer danos ao
crescimento em razã o de elevadas concentra ções de elementos potencialmente tóxicos,
como AI e Mn.

Quadro 7. Valores de pH adequados para algumas culturas

pH do solo Cultura pH do solo Cultura

> 6,5 Alfafa, Aspargo 5,0 - 5,5 Batata


Piretro, Trevo doce Fumo
Beterraba a ç ucareira Cerejas

5,5 - 6.5 Trevo Vermelho < 5,0 Azal é ia


Milho, Soja , Sorgo Hort ê nsias
Trigo, Cevada Erva Mate
Macieira, Pereira Mandioca
Fonte : Tisdale et al. (1993); SBCS ( 2004).

FERTILIDADE DO SOLO
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E o DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 75

Como mencionado anteriormente, o pH afeia a disponibilidade dos nutrientes para


as plantas. Macronutrientes, como N, K , Ca, Mg e S, por efeitos diretos ou indiretos,
apresentam maior disponibilidade para as plantas em pH na faixa de 6-6,5. O P,
macronutriente que limita o crescimento das plantas, na maioria dos solos brasileiros, é
muito pouco disponível em condições de acidez. Isto porque, em geral, os solos contê m
teores elevados de ó xidos, de Fe principalmente, e normalmente em condiçã o de maior
acidez do solo, a superf ície desses óxidos está carregada positivamente, atraindo â nions,
como o fosfato, sulfato e molibdato. Estes â nions formam complexos de superf ície de
esfera -interna com os óxidos de Fe, o que diminui sensivelmente sua disponibilidade
para ás plantas ( Figura 1).
Os micronutrientes, com exceçã o do Mo, sã o mais disponíveis em condições de pH
mais á cidos. Ou, em outras palavras, à medida que o pH do solo aumenta, diminui a
disponibilidade destes elementos para as plantas. Também neste caso a diminuiçã o da
solubilidade é resultado da adsor çã o desses elementos na superf ície dos óxidos que em
pH mais elevados ficam com suas superf ícies mais negativas. Na figura 2, mostra -se a
rea çã o do Zn com os óxidos de Fe ( rea çã o similar ocorre com o B, com o Cu e com o Mn ) .
A matéria orgâ nica, igualmente, como será discutido mais adiante, pode formar complexos
de baixa solubilidade para as plantas gra ças à eleva çã o do pH do solo.

i+

OH OH
Fe Fe
/ OH
\s
O OH 2 + + H 2 P04 i 0 O —I — P OH + H 20

Fe k' O
i.
\ OH OH
y~
/

Figura 1. Formaçã o de um complexo de esfera -interna entre um grupo funcional de superf ície
de um ó xido de ferro (cargas positivas expostas nas bordas) e um fosfato da soluçã o do
solo. Esta rea ção, também conhecida como "fixaçã o" do f ósforo, diminui acentuadamente
a disponibilidade deste nutriente para as plantas.
Fonte : Adaptado de Sanchez & Uehara (1980) .

OH OH
OH Fe /
f

2
°\
O + Zn + O Zn + 2 H +

OH
OH i- / OH

Figura 2. Forma ção de um complexo de esfera -interna entre um grupo funcional de superf ície
de um óxido de ferro e o zinco da solu ção do solo.

FERTILIDADE DO SOLO
76 IzGON J . MEURER

Elementos T ó xicos

Elementos tóxicos sã o aqueles que apresentam efeito prejudicial ao crescimento das


plantas. Ressalve -se, poré m, que, alguns nutrientes, quando em teores excessivo nos
solos, podem ter um efeito tóxico para as plantas.
Geralmente, em solos ácidos, o principal elemento que tem efeito fitotóxico é o AI na
forma de cá tion trivalente Al3+ hidratá do ou quando parcialmente hidrolisado [Al (OH) 2+
ou Al (OH) 2 + ] (Foy, 1974). O grau de sensibilidade ou tolerâ ncia a teores de AI varia com
a espécie de planta e mesmo dentro da mesma espécie, entre genó tipos. Os efeitos do AI A

nos vegetais já podem ser observados poucos minutos após a induçã o do estresse, que
sã o seguidos de efeitos secund á rios que aparecem após horas ou mesmo dias. O AI afeta,
principalmente, o sistema radicular das plantas, alterando a morfologia e o crescimento
das ra ízes. As ra ízes ficam mais grossas e ocorre redu çã o na emissã o de ra ízes
secund á rias. Como as funções primordiais das ra ízes sã o a absor çã o de água e de
nutrientes, o crescimento e o desenvolvimento das plantas ficam acentuadamente
prejudicados. A sensibilidade do feijã o à toxidez do AI e a tolerâ ncia do arroz, crescendo
em solos de vá rzeas do Estado de Goiá s, sã o exemplos da reaçã o diferenciada das espécies
ao AI (Quadro 8) .
O sítio prim á rio da a çã o tóxica do AI é a parte distai da zona de transiçã o no á pice
das ra ízes, onde as células estã o entrando
em fase de alongamento (Sivaguru & Horst,
1998) . O AI també m se liga aos sí tios
negativos da parede celular, interferindo na
capacidade de troca i ô nica da parede (Yang et al., 2000).
O principal fator que controla a concentra çã o do Al na soluçã o do solo é o pH. A
solubilidade do Al é muito baixa ou nula em pH superior a 5,5; a toxidez do Al é
particularmente severa em pH abaixo de 5,0 (Fageria, 1998).
Al é m da toxidez causada pelo Al, é conhecida , tamb ém, por ocorrer com mais
frequ ência, toxidez de Mn ( Mn 2+) e de Fe (Fe 2+) . O Mn é elemento essencial para as
plantas, mas em solos á cidos com teores elevados deste nutriente, pode ocorrer toxidez

Quadro 8. Produ çã o de mat é ria seca da parte a é rea e de gr ãos de arroz e de feijão sob diferentes
doses de alum ínio em solo de v á rzea

Arroz Feijã o
Alum í nio
Maté ria seca Grã os Maté ria seca Grã os

mmolc dnv3 g / tr ês plantas


0, 0 29 , 95 2, 85 4, 43 4 , 74
0, 3 26 , 23 2,13 4 , 05 4 , 08
1, 0 33, 58 2, 33 4, 45 5 , 37
2, 3 29 , 90 1 , 80 4 , 20 5, 22
10,3 35 ,80 2, 95 1 ,93 2,49
38 , 3 28, 70 4,17 0 0
Fonte: Fageria (1998 ) . • r .

FERTILIDADE DO SOLO

!
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 77

do mesmo para as plantas. Em 227 amostras de 28 perfis de 14 unidades de solos


representativas do Estado de Sã o Paulo, Valadares & Camargo (1983) encontraram teores
de Mn variando de 14 a 2.395 mg kg 1 de solo. Os solos derivados de rochas b ásicas
'

continham os teores mais elevados desse elemento.


As espécies vegetais diferem quanto à toler â ncia, à deficiê ncia ou ao excesso de Mn.
Em geral, a toxidez ocorre associada à toxidez de Al, em solos com pH inferior a 5,5.
Acima deste pH, por ém, o Al nã o prejudica o crescimento da planta, ao passo que a
toxidez do Mn ainda pode ocorrer ( Foy, 1976, 1984) . Os resultados obtidos por Komatuda
et al . (1993) mostram os efeitos de Mn em cultivares de soja crescendo em soluçã o nutritiva
(Quadro 9 ). Verifica -se que os quatro cultivares diminuíram a produ çã o de matéria seca
total, à medida que aumentou o teor de Mn na soluçã o, observando-se, também, que os
cultivares Doko e UFV- 4 foram os menos tolerantes ao Mn.
Alguns gen ó tipos de arroz t ê m apresentados dist ú rbios nutricionais que sã o
atribuídos à toxidez de Fe. Aparentemente, a tcxidez causada pelo Fe2 + é resultante de
um desequilíbrio nutricional entre K, Ca , Mg, Zn, P e o Fe ( Vahl et al ., 1993) .

Quadro 9. Produ çã o de mat é ria seca total ( folhas, ciul.es e ra ízes ) de quatro cultivares de soja
em presen ça de tr ês doses de manganês, em solu çã o nutritiva

Mangan ê s Cristalina Doko UFV -1 UFV - 4 M é dia

mg L '
g/ quatro plantas
0, 00 6, 92 7, 02 6 , 92 7, 76 7,16
0, 25 7,40 7, 43 8,14 8,72 7, 92
9, 00 5,45 3, 92 5, 05 4, 33 4,69

Méd i a 6,59 6 ,12 6 , 70 6, 94

Fonte: Komatuda et al. (1993) .

Presen ç a de Metais Pesados

V á rios elementos, chamados de elementos - tra ç o, dentre os quais se destacam os


metais pesados e alguns micronutrientes, da litosfera, em concentra ções menores do que
1 g kg 1, podem ser tóxicos para os organismos vivos.
"

Os metais pesados sã o constituintes naturais de rochas e solos onde normalmente


ocorrem em baixas concentrações, nã o representando, em condições naturais, riscos para
f o homem, animais e plantas. Sã o designados metais pesados aqueles elementos que
apresentam peso específico maior que 6 kg dm 3 ou que apresentam nú mero atómico maior
'

do que 20. Essa classificação, baseada na densidade, acaba englobando grupos de metais,
semimetais e até nã o-metais (selênio) . Alguns dos metais pesados mais tóxicos sã o: Hg,
Pb, Cd , Cu, Ni e Co. Os três primeiros sã o particularmente tóxicos para animais
superiores. Os três últimos sã o denominados f itotóxicos por serem mais tóxicos para
plantas (Quadro 10) do que para animais ( Accicly & Siqueira , 2000; Costa et al., 2004).

FERTILIDADE DO SOLO
78 QGON J . MEURER

Quadro 10. Toxidez de alguns elemento para plantas e mamíferos


^
Forma mais tó xica do elemento Fitotoxidez Toxidez para mam í feros

Ag * alta alta
B ( OH ) 3 m é dia baixa
Cd 2 + m é dia -alta alta
Co 2 + m é dia -alta m é dia
C1 O42 '
m é dia -alta alta i*
Cu 2 + m é dia -alta m é dia
Hg 2 + alta alta
M 0042 '
m é dia m é dia
Ni 2 + m é dia -alta m é dia
Pb2 + m é dia alta
Se 042- m é dia -alta alta
Zn 2 + baixa - m é dia baixa - m é dia

Fonte : McBride ( 1994 ).

Teor de Mat é ria Orgâ nica do Solo


A matéria orgâ nica do solo (MOS) é produzida a partir da decomposição dos resíduos
de plantas e animais, sendo formada por diversos compostos de C (biomoléculas, ácidos
f úlvicos, á cidos h ú micos) em v á rios graus de alteraçã o e intera çã o com as outras fases do
solo ( mineral, gasosa e solu çã o). Apesar de compor menos do que 5 % da fase sólida da
maioria dos solos, apresenta uma alta capacidade de interagir com os demais
componentes, alterando, assim, as propriedades químicas, f ísicas e biológicas do solo as
quais afetam o crescimento das plantas .
Os compostos orgâ nicos que constituem a MOS participam das liga ções entre as
partículas individuais do solo, atuando como agentes cimentantes das unidades
estruturais (agregados ). A formaçã o e a estabilizaçã o dos agregados influenciam a
aera çã o, a permeabilidade e a capacid ide de retençã o de á gua pelo solo. A presen ça de
poros no solo oferece melhores condições à infiltra çã o de á gua e melhor troca de gases
entre o solo e a atmosfera (Silva et al., 2004) .
A MOS tem acentuado efeito direto e indireto sobre a fertilidade do solo. É fonte de
nutrientes para as plantas, principalmente de N, S e P, quando mineralizada pelos
microrganismos. Uma importante propriedade da MOS é a capacidade de gerar cargas
elé tricas na sua superf ície pela desprotona çã o, em valores de pH superior a 3,0 - ponto
de carga zero (PCZ) - de seus grupos carbox ílicos (COOH), principal grupo funcional da
MOS, segundo a rea çã o (Canellas et al., 1999 ):
i

+H -H
MOS - C = O MOS - C = O MOS -C = O
+ I
0
'

OH 2 OH
4 PCZ >
pH diminui pH aumenta
s

FERTILIDADE DO SOLO
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 79

A capacidade da matéria orgâ nica de gerar eargas negativas, aumentando a CTC do


,
solo é de extrema import â ncia , principalmente em solos em que o argilomineral
predominante é a caulinita (Quadro 11).
Pela sua alta reatividade, a MOS tamb é m regula a disponibilidade de v á rios
micronutrientes (Cu2+, Mn2+, Zn2+, entre outros ), bem como a atividade de metais pesados
e de elementos fitotóxicos, como a do Al 3+ em solos á cidos. També m afeta a mobilidade,
volatiliza çã o, biodegrada çã o e a consequente fitotoxidez de outras moléculas orgâ nicas
ou inorgâ nicas adicionadas ao solo, a saber : metais pesados, herbicidas, inseticidas,
resíduos de ind ústrias ou de sistemas de produ çã o animal, dentre outras.

Quadro 11. Capacidade de troca de cá tions ( CTC ) total da mat é ria org â nica e fra çã o da CTC
devida à maté ria org â nica de amostras superficiais de alguns Argissolos e Latossolos do
Estado de Sã o Paulo

Teor no solo CTC


Solo
Argila MO Total MO Devido a MO

S kg -1 emole kg -1 O/
/0

Argissolo 50 7, 8 3, 2 2, 2 69
Argissolo 60 6,0 3, 3 2, 1 64
Argissolo 120 25 , 2 10 , 0 8, 2 82
Argissolo 190 24 , 0 7, 4 6, 0 81
Argissolo 130 14 , 0 3, 7 2, 7 73
Latossolo 640 45 ,1 24 , 4 15 61
Latossolo 560 44 , 6 35 , 8 32, 2 90
Latossolo 590 45 , 1 28 , 9 16 , 1 56
Latossolo 240 12, 1 3, 9 2, 9 74

Fonte : adaptado de Raij ( 1969 ) .

Reações de Sorçã o e de Precipita çã o


Muitas rea ções que ocorrem em solos influem na disponibilidade dos nutrientes
para as plantas. Os óxidos de Fe, por exemplo, podem apresentar eargas positivas em
pH á cido e eargas negativas em valores de pH mais elevados (acima do PCZ ), atraindo
â nions ou c á tions, respectivamente. A adsor çã o do P (Figura 2 ) e deficiências de

h micronutrientes sã o causadas por rea ções de complexa çã o de superf ície (de esfera -
interna ) com ó xidos, por exemplo. A maté ria orgâ nica pode, també m, complexar
micronutrientes e causar deficiências dos mesmos nas plantas. Por outro lado, a toxidez
do AI pode ser amenizada pela sua complexa çã o pelas substâ ncias h ú micas da maté ria
orgâ nica, principalmente em sistemas de plantio direto (SPD) (Figura 3).
Outra rea çã o de extrema importâ ncia em solos é a adsor çã o de nutrientes catiônicos
na forma de complexos de esfera-externa nas superf ícies da argila e da matéria orgâ nica,

FERTILIDADE DC SOLO
80 EGON J . MEURER

propriedade denominada capacidade de troca de cá tions (CTC ), que influi diretamente


no crescimento das plantas. Os cá tions que ficam adsorvidos nas superf ícies da argila e
da maté ria orgâ nica (complexos de esfera -externa ) ficam em forma que é prontamente
disponível para as plantas e mantêm um equilíbrio dinâ mico com aqueles cá tions que
estão na soluçã o do solo. Assim, os cá tions que sã o absorvidos pelas plantas são repostos
para a soluçã o por aqueles que estã o adsorvidos na fase sólida na forma de complexos
de esfera -externa . A CTC do solo se relaciona com a "reserva" de nutrientes, e desta
forma, quanto maior for a CTC do sol.o, maior a capacidade de o solo reter os cá tions em
h
formas prontamente disponíveis parei as plantas. A CTC é importante considerando que P
os cá tions que estã o na soluçã o do solo estã o sujeitos a se lixiviarem no perfil do solo, em
profundidade, ficando fora do alcance das ra ízes (Figura 4) .

OH OH

(a )
Fe
O
^
— OH

+ Zn * - * O
Fe
Zn + 2H
/
Fe — OH Fe O
OH OH
O O
(b) MOS O >-0
f + Zn
2+
2=5 MOS c + 2H
H
\
O
OH \ /

O Zn
OH2

c — o 'AII OH 2
'
(c ) MOS C — c/ I XOH

.
2
O
H- C —
i \
^
Figura 3. Exemplos de rea ções química que ocorrem em solos que afetam a disponibilidade
de micronutrientes e elementos t ó xicos. Em (a ) o zinco ( também o cobre, o mangan ês)
est á complexado por um ó xido de ferro; em (b ) o zinco est á complexado pela maté ria
orgâ nica (MOS); ambas as rea ções diminuem a sua disponibilidade para as plantas. Em (c )
o alumínio está complexado por supstâ ncias h ú micas da matéria orgâ nica o que ameniza
seu efeito t ó xico.

+
2 H
H Ca *
Na*

SOLO Na
Ca
K 3
AI *
K+
_
Ca
2+
K
+

Mg H* 2+
Mg
AI
Fase s ólida Solu ção do solo

Figura 4. íons adsorvidos na fase sólida do solo, na forma de complexos de esfera -externa
( trocá veis) em equilíbrio com íons da solução do solo.

FERTILIDADE DO SOLO

!
1
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E o DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 81

Rea ções de Oxida çã o e Redu çã o ( Oxirredu çã o )

Solos posicionados em cotas mais baixas na paisagem estã o sujeitos à satura çã o por
á gua ou a alagamentos periódicos, principalmente os chamados solos de v á rzeas. Essa
condiçã o altera o equilíbrio dos elementos e dos compostos no solo, desencadeando uma
série de mudanças, que fazem com que o comportamento desses solos seja bastante
diferente do observado em ambientes bem drenados. A dinâ mica dessas transforma ções
é particularmente importante para a cultura do a rroz irrigado por alagamento, uma vez
que o solo permanece alagado durante a maior ]aarte do ciclo da cultura . Atualmente,
sabe-se que rea ções semelhantes à s que ocor rem em solos alagados també m sã o
observadas em microssítios anaer óbios em solos oxidados, principalmente em á reas de
plantio direto em decorr ência da acumula çã o de palha na superf ície, que aumenta a
retençã o de á gua no solo.
As condições de redu çã o do solo alteram a disponibilidade de diversos elementos e
s o resultantes da atividade de microrganismos anaer ó bios . Os microrganismos
ã
anaer óbios utilizam os compostos oxidados do solo como receptores de elé trons no seu
metabolismo, obedecendo a uma sequência: nitrato, óxidos de manganês, óxidos de ferro,
sulfato.
Os resultados da atividade dos microrganismos resultam: (a ) na eleva çã o do pH do
solo para valores na faixa de 6,5-7,0; (b) perdas de N do solo na forma gasosa; (c) aumento
da disponibilidade do Mn 2 + e do Fe 2+, que podem ter efeitos tó xicos para as plantas; ( d )
aumento da disponibilidade do P, visto que a reduçã o do Fe3+ a Fe2+ libera este nutriente
que está adsorvido aos óxidos de Fe e de Al, e (e ) aumento na disponibilidade do K, Ca e
Mg, que sã o deslocados dos sítios de troca da CTC, pelo Fe 2+ e Mn2+, para a soluçã o do
solo (Quadro 12) .

Quadro 12. Varia ções de atributos qu ímicos de 38 de solos do RS após 50 dias de alagamento

Atributo Alagamento Planossolos Plintossolos Outros M é dia

pH Antes 6,5 4, 5 5,3 4,8


Depois 6,5 6,7 6,8 6,7

CTC ( emole dnr 3) Antes 7,9 7,1 21 10,3


Depois 3,3 9,7 22, 2 11,7

t
Fe 2 + ( troc á vel + solu çã o ) mg dm 3
*
Antes <3 <3 <3
Depois 346 346 354 300

Mn 2 + ( troc á vel + solu çã o ) mg dm 3 *


Antes 22 55 25 34
Depois 80 694 277 350

Fonte: Souza ( 2001) .

FERTILIDADE DO SOLO
82 EGON J . MEURER

Salinidade

Solos de regiões com deficiências hídricas, em que ocorrem salinizaçã o pela á gua
do mar, ascensã o do lençol freá tico, natureza e composiçã o do material de origem, dentre
outros, podem provocar o acú mulo de sais que sã o prejudiciais ao crescimento vegetal .
Os íons mais comuns em solos salinos sã o os cá tions Na +, Ca2+, Mg2+ e K + e os â nions Cl , "

S042 , HCOs , C022 e N03 , formando sais sol úveis de cloretos, sulfatos, carbonatos e
" "

bicarbonatos . Solos salinos ocorrem em diversas regiões do mundo; no Brasil, os solos


afetados por sais ocorrem na regiã o Mordeste do Brasil, perfazendo cerca de 10 milhões
de hectares.
O efeito adverso da salinidade está relacionado com o aumento da pressã o osmótica
da soluçã o do solo, o que leva ao acú mulo de sais no interior das células vegetais, podendo
causar a plasm ólise, com consequ ê ncias negativas na absor çã o dos nutrientes e
diminuiçã o do sistema radicular ( veja capítulo XVI).

Fatores de Natureza Biol ógica

Os efeitos dos fatores de natureza biológica sobre o crescimento e desenvolvimento


das plantas estã o intimamente relacionados com a atividade dos microrganismos do
solo.
Os compostos orgâ nicos depositados na rizosfera (1) das plantas e as modifica ções
do pH nesta zona afetam, acentuadamente, a disponibilidade de nutrientes e de elementos
tóxicos. Os compostos orgâ nicos encontrados na rizosfera provê m de exsudatos das
próprias plantas e de microrganismos que vivem nesta zona . Sã o compostos que variam
desde simples e sol úveis em á gua até aqueles de grande complexidade e insol ú veis em
água.
As rela ções simbió ticas e mutua lísticas entre bactérias e fungos micorrízicos que
habitam a rizosfera, com as ra ízes das plantas, sã o benéficas para vá rias espécies de
plantas. As bacté rias do gênero hradyrhizobium , em simbiose com as ra ízes de
leguminosas, sã o capazes de fixar o N. atmosf érico e suprir a demanda das plantas neste
nutriente (Quadro 13); os fungos micorrízicos podem aumentar a solubilidade de fontes
menos sol ú veis de fosfatos e suprir as plantas com o P (Paulino et al ., 1986; Silveira &
Cardoso, 1987; Peres et al ., 1994; Rose do et al ., 1999 ).
Exsudatos das ra ízes, principalmente á cidos orgâ nicos de baixo peso molecular,
como o cítrico, tartá rico, oxálico, podem complexar o Al, diminuindo sua toxidez para as
plantas (Miyazawa et al., 1992).

(l )
Rizosfera é a zona de influ ê ncia das ra ízes sobre o solo adjacente, que se estende desde a superf ície
da raiz até à distâ ncia de 1 a 3 mm da mesma .

FERTI .IDADE DO SOLO


II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO o DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 83

Quadro 13 . Rendimento de soja nã o inoculada e in oculada com estirpes de Bradyrhizobium


japonicum

Tratamento Rendimento de gr ã os

kg ha -
Testemunha, n ã o inoculada 1.834 d
Testemunha n ã o inoculada + 200 kg ha 1 N 2.925 ab
Estirpes :
CB 1809 + CPAC 7 3.215 a
S- 370 + S-372 3.200 a
29 w + SEMIA 587 2.850 b
Fonte : Hungria et al . (1999).

FATORES DE PLANTA

Os fatores inerentes à própria planta, tais como: os gené ticos, a espécie, o cultivar, a
eficiência de absor çã o de nutrientes, a alelopatia , moléstias e pragas, plantas invasoras
e manejo também determinam menor ou maior produtividade das culturas e retorno
económico.
Diversos trabalhos revelam que existem diferenças quanto à absor çã o e eficiência de
utiliza çã o dos nutrientes entre espécies ou cultiva::es, em razã o da variabilidade gené tica
da planta . A variabilidade gené tica refere-se a caracter ísticas hereditá rias de uma espécie
vegetal ou cultivar que apresenta diferen ça de crescimento ou produçã o em comparaçã o
com outra espécie ou cultivar, sob condições ideais ou adversas ( Fageria, 1998) . Assim,
há espécies mais adaptadas às condições de acidez do solo, por exemplo, mais tolerantes
a elementos fitotóxicos como o Al. Da mesma forma, existem espécies mais adaptadas às
condições de baixa fertilidade do solo.

Efici ê ncia na Absorção de Nutrientes


Existem vá rios mecanismos e processos na planta que contribuem para o uso eficiente
de nutrientes. Esses mecanismos e processos são resumidos por Fageria & Baligar (1993)
e est ã o relacionados com caracter ísticas morfológicas e fisiológicas desejá veis. As
características morfológicas sã o: (a ) sistema radicular eficiente, (b ) alta rela çã o entre
ra ízes e parte aé rea, c) sistema radicular extensivo, explorando maior volume de solo, e
(d ) colonizaçã o do sistema radicular por micorrizas e bactérias que fixam o N2 atmosf érico.
As características fisiológicas sã o: (a ) habilidade do sistema radicular em modificar
a rizosfera para superar baixa disponibilidade de nutrientes, (b) capacidade de manter o
metabolismo normal com baixo teor de nutrientes nos tecidos, e (c) alta taxa fotossinté tica .
A eficiência de absor çã o de nutrientes pelas raízes é tamb ém uma caracter ística
herdada geneticamente. As espécies e cultivares de plantas diferem quanto à ciné tica de

FERTILIDADE DO SOLO
84 EGON J . MEURER

absor çã o de nutrientes, caracterizada pelos parâ metros ciné ticos de absor çã o, que
descrevem o influxo de nutrientes najs ra ízes das plantas: o Imá x, que é o valor má ximo do
influxo do nutriente, a constante de Michaelis-Menten (Km ), concentra çã o do nutriente
na soluçã o do solo onde a taxa de absor çã o é igual a Im á x / 2 e Cmin, concentra çã o do
nutriente na soluçã o quando o Imá x é zero, condiçã o em que o influxo do nutriente pela
planta iguala -se a seu efluxo ( Barber, 1995) (veja capítulo IV) . Como exemplos: o trevo
branco e a ervilhaca apresentaram maior eficiência para absorver N, gra ças aos maiores
valores do Imá x. Por outro lado, as gramíneas (aveia e azevém ) apresentaram menor valor
para Km, praticamente menos da metade do observado para as leguminosas (Quadro 14). P
Os valores da taxa má xima de absorção do P (Imá x ) foram similares entre as quatro espécies.
Todavia, os menores valores para a constante Km para a aveia e o azevém mostraram que
elas sã o mais eficientes que as leguminosas para absorver este nutriente em condições de
baixa disponibilidade do P .

Quadro 14 . Valores dos par â metros cin é ticos de nitrogénio e f ósforo de espécies forrageiras
cultivadas em solução nutritiva

Nitrog é nio ( NO 3 ) Fó sforo


Esp écie Km
I má x Km I máx

pmol cm -2 S 2"
pmol L 1 '
pmol cm- 2 s - 2 pmol L “

Aveia 28.6 b 26 , 2 b 1, 74 a 11 , 2 bc
Azev é m 34.7 ab 24, 4 b 3 , 21 a 5,5 c
Trevo Subterrâ neo 56.7 ab 54,0 a 2, 05 a 17,9 ab
Ervilhaca 66.7 a 50, 9 a 2, 93 a 25, 4 a

Médias seguidas da mesma letra nã o diferem e statisticamente pelo teste Tukey a 5 % .


Fonte : Anghinoni & Meurer (1999 ) .

Alelopatia
A alelopatia é o efeito nocivo que uma planta exerce sobre ela mesma ou sobre outra
planta por meio da produçã o de substâ ncias químicas. A libera ção de substâ ncias
químicas na rizosfera é feita, geralmeite, pela excreção das ra ízes ou pela decomposição
dos restos culturais. Os restos culturais incorporados ao solo podem produzir
aleloquímicos que inibem a germinaçã o da semente e, ou, o crescimento das plantas
(Fageria, 1998).

Doenças, Pragas e Plantas Invasoras


Doenças e pragas afetam a á rea 1 oliar da planta o que resulta numa diminuiçã o do
processo fotossinté tico. A redução d a fotossíntese diminui a produção de matéria seca
pela planta e, conseqiientemente, a utiliza çã o de nutrientes. As plantas daninhas
competem com as plantas cultivadas por nutrientes, á gua e luz.

FERTILIDADE DO SOLO
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 85

Sistemas de Manejo

Os sistemas de manejo do solo e os sistemas de cultivo influem acentuadamente no


crescimento e desenvolvimento das plantas. Esseá sistemas devem respeitar as condições
locais e necessidades da cultura a ser estabelecida. Existem diferentes sistemas de manejo
do solo, sendo os mais empregados o convencional, o cultivo mínimo e o plantio direto.
Os objetivos desses sistemas são comuns: propiciar condições adequadas ao crescimento
e desenvolvimento das plantas, controle de plantas invasoras, distribuiçã o de fertilizantes
e corretivos, conserva çã o do solo, dentre outros ( Gianello & Giasson, 2004).
Nos últimos anos, registrou-se um incremento acentuado do sistema plantio direto.
Dentre as vantagens deste sistema, podem-se destacar: reduçã o dos riscos de erosã o,
aumento do teor de matéria orgâ nica da camada superficial, aumentando a CTC do solo,
reduçã o do efeito fitotóxico do AI pela sua com alexa çã o com substâ ncias h ú micas da
maté ria orgâ nica do solo; estímulo à atividade biológica, redu çã o do tempo necessá rio
para o plantio, reduçã o dos custos fixos da lavoura, melhoria das propriedades f ísicas
do solo, dentre outros ( Veja Capítulo XV) . Os diferentes sistemas de cultivo também
podem resultar em rendimentos económicos distintos (Quadro 15).

Quadro 15 . Rendimento de gr ã os de milho em dif crentes sistemas de culturas sem e com


120 kg ha 1 de N pela aduba çã o nitrogenada
'

M é dia de oito anos


Sistema de cultura ( in í cio em 1984 )
Sem N Com N

t ha - í

Pousio / Milho 1 , 94 5 ,82


Aveia / Milho 2, 21 5, 59
Aveia + Vica / Milho + Caupi 3, 40 5 , 35
Lablabe / Milho 3, 66 4, 92
Aveia + Trevo / Milho 3, 36 5 , 86
Guandu / Milho 4,13 5, 79
Trevo + Gorga / Milho 4, 79 6 ,15

Fonte: Merten (1988 ); Testa (1989 ).

f
FATORES CLIM Á TICOS

Muitos fatores ligados às condições ambientais afetam a eficiência nutricional das


plantas e a sua produtividade. A temperatura lim ita a sobrevivência dos seres vivos, que
j
pode ocorrer na faixa entre -35 e + 75 °C. Em geral, a faixa de crescimento das espécies
vegetais é menor, situando-se, na média, entre 15 e 40 °C. Em temperaturas muito baixas

FERTILIDADE DO SOLO
86 EGON J . MEURER

ou muito acima destas, o crescimento das plantas é rapidamente limitado (Tisdale et al.,
1993). A temperatura ó tima para o crescimento das plantas varia entre espécies e
cultivares, de acordo com a idade c a planta e seu está dio de desenvolvimento.
.

A temperatura influencia diret imente a fotossíntese, a respira çã o, a permeabilidade


da parede celular , a absor çã o de á gua e de nutrientes, a transpiraçã o, a atividade
enzim á tica e a coagula çã o de proteínas . Podç, também, influir na composiçã o da
atmosfera do solo, que é resultado do aumento ou diminuiçã o da atividade microbiana e
respira çã o radicular . Quando a atividade microbiana é alta , aumenta a pressã o parcial
do C02 na atmosfera do solo, enquanto o teor de 02 decresce. A variaçã o da temperatura
do solo pode influir na taxa de libera çã o de nutrientes da maté ria orgâ nica, na absor çã o
pelas ra ízes e na subsequente trans loca çã o e utilizaçã o nas diferentes partes d à planta .
A radiaçã o solar, a intensidade e a dura çã o da luz influem no processo da fotossíntese,
visto que fornece energia para a co nversã o do C02 e H20 em compostos orgâ nicos. O
maior efeito da radia çã o solar nos diferentes está dios de desenvolvimento da plantas é
mais acentuado no está dio reprodutivo, seguido do está dio de matura çã o.
Dentre os fatores biof ísicos, a á gua é o principal fator que determina a eficiência
nutricional e, conseqiientemente, a produtividade das culturas. Em geral, as culturas,
em sua maioria, sã o mais sensí veis à s deficiê ncias hídricas no período de uma semana
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FERTILIDADE DO SOLO
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*
í

FERTILIDADE DO SOLO

J
'l
III - ELEMENTOS REQUERIDOS
À NUTRIÇÃ O DE PLANTAS

Antonio Roque Dechen1' & Gil mar Ribeiro Nachtigall 2/

1/
Escola Superior de Agricultura Luii de Queiroz - ESALQ / USP .
Caixa Postal 9, CEP 13418-900 Piracicaba ( SP ) .
ardechen @ esalq . usp . br
2/
Embrapa Uva e Vinho. Caixa Postal 130, CE 95700- 000
Bento Gon ç alves ( RS) .
gilmar @cnpuv . embrapa . br

Conte ú do

INTRODU ÇÃ O . 92
CRITÉ RIOS DE ESSENCIALIDADE 92
MACRO E MICRONUTRIENTES 94
Macronutrientes 94
Nitrogé nio 94
Fósforo 96
Pot á ssio 100
Cá lcio 102
Magnésio 104
Enxofre 106
Micronutrientes 107
Boro 107
Cloro 111
Cobre 112
Ferro 114
Manganês 118
Molibdênio 120
Níquel 122
Zinco 124
ELEMENTOS BEN É FICOS 126

%4
- Sódio 126
Silício 12 7
Selênio 127
Cobalto 128
LITERATURA CITADA 129

SBCS, Viçosa , 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. NOVAIS, R.F., ALVAREZ V., V.H., BARROS,
N. F., FONTES, R .LF., CANTARUTTI, R .B. & NEVES, J . C.L . ) .
92 ANTONIO ROQUE DEGHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

INTRODU ÇÃ O

Dezessete elementos s ã o considerados essenciais para o crescimento e


desenvolvimento das plantas: carbopo (C ), hidrogénio ( H), oxigénio (O); nitrogénio ( N),
f ósforo (P), potássio (K ), cálcio (Ca ), magnésio (Mg), enxofre (S), boro (B), cloro (Cl), cobre
(Cu ), ferro ( Fe ), manganês (Mn ), molibd ênio ( Mo), níquel ( Ni ) e zinco ( Zn ) . Alguns
elementos sã o classificados como benéficos para algumas plantas, como o sódio ( Na ),
silício (Si ), selênio (Se ) e cobalto (Co) . Os nove primeiros (exceto o K ) participam da
forma çã o dos tecidos vegetais e representam, aproximadamente, 99 % da sua massa.
Carbono, H e O sã o estudados nas suas m últiplas funções na fisiologia vegetal. Sob
o ponto de vista da nutriçã o mineral, os elementos essenciais sã o classificados em macro
e micronutrientes, de acordo cora as quantidades exigidas pelas plantas . Os
macronutrientes ( N, P, K, Ca , Mg e S ) sã o exigidos em maiores quantidades (da ordem
de g kg 1 de matéria seca da planta ) , f á os micronutrientes ( B - Cl - Cu - Fe - Mn - Mo -
'

Ni - Zn ) sã o absorvidos pelas plantas em pequenas quantidades (da ordem de mg kg 1 de '

maté ria seca da planta ) .


/

E necessá rio que haja disponibi lidade e absorçã o dos nutrientes em proporções
adequadas, via solu çã o do solo ou, como suplementa çã o, via foliar. Cada um destes
nutrientes tem uma funçã o específic a no metabolismo das plantas. Desequilíbrios em
suas proporções podem causar deficiência ou excesso de nutrientes, causando limita ções
ao crescimento das plantas ou mesmo sua morte.

CRIT É RIOS DE ESSENCIALIDADE

A presenç a de elementos quími:ós nas cinzas de uma planta nã o é indicador da


essencialidade quantitativa ou qualitativa dos diferentes elementos para esta planta ,
como demonstraram Arnon & Stout (1939), em cultivos hidropônicos. Esses autores
estabeleceram três crité rios que deve m ser atendidos para que um elemento possa ser
considerado essencial:
Crité rio 1: Um elemento é essenc al se sua deficiência impede que a planta complete
o seu ciclo vital .

Crit é rio 2: Para ser essencial, o elemento não pode ser substituído por outro elemento
com propriedades similares. Por exemplo: O Na apresenta propriedades
semelhantes ao K, contudo nã o pode substituir completamente o K.
Crité rio 3: O último critério que deve ser cumprido é que o elemento deve participar
diretamente no metat olismo da planta e promover seu benef ício nã o só
com o objetivo de melhorar as caracter ísticas do solo, por meio do
crescimento da microflora , mas também de possibilitar outro efeito
benéfico à planta.

FERT LIDADE DO SOLO


III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çãO DE PLANTAS 93

Estes três critérios podem ser assim resumidos: Um elemento é considerado essencial
quando ele faz parte de uma molécula essencia ao metabolismo da planta . E o caso do
'

Mg, como constituinte da clorofila, ou do N, como constituinte de prote ínas. Assim,


mesmo que um elemento possibilite melhorar o clrescim.en.to ou um processo fundamental
de uma planta , nã o é considerado como essencial se nã o atender aos três critérios da
essencialidade . Todos os 17 elementos apresentados ( Quadro 1) cumprem estas
exigências e devem ser fornecidos às plantas para que estas germinem, cresçam, floresçam
e produzam sementes.
Pelo exposto, a presença de um elemento em altas concentra ções em uma planta nã o
constitui indicador seguro de sua essencialidade, j á que as plantas apresentam
capacidade de absorçã o seletiva limitada , de modo que podem absorver pelas ra ízes
elementos minerais nã o-essenciais e, ou, mesmo tóxicos.
Alguns elementos sã o classificados como ben éficos para algumas plantas, como o
sódio ( Na ), selê nio (Se ), silício (Si ) e cobalto (Co ). Exemplificando, existem algumas
espécies de plantas de mangue que acumulam Na, algumas plantas de deserto, como
Atriplex vesicaria e Halogeton glomeratus , requerem Na para o seu crescimento e

Quadro 1 . Rela çã o dos elementos essenciais à s plantas superiores, com as concentra ções médias
na maté ria seca da parte a é rea e os respectivos autores que demonstraram a essencialidade
e o ano em que ocorreu a descoberta

Demonstra çã o da essencialidade
Elemento Concentraçã o na maté ria seca
Autor Ano

g kg-i
Carbono (C) 450 Saussure 1804
Oxigé nio (O ) 450 Saussure 1804
Hidrogé nio ( H ) 60 Saussure 1804
Nitrogé nio ( N ) 15 Saussure 1804
Potá ssio ( K ) 10 Sachs & Knop 1860, 1865
C á lcio (Ca ) 5 Sachs & Knop 1860, 1865
Fósforo ( P) 2 Ville 1860
Magn ésio ( Mg ) 2 Sachs & Knop 1860, 1865
Enxofre (S) 1 Sachs & Knop 1865

mgt kg -1
Cloro (Cl ) 100 Broyer et al . 1954
Mangan ês ( Mn ) 50 Mazé, McHargue 1915 , 1922
Boro ( B) 20 Warington 1923
Zinco (Zn ) 20 Sommer & Lipman 1926
Ferro (Fe ) 10 Sachs & Knop 1860, 1865
Cobre (Cu ) 6 Lipman & McKinney 1931
N íquel ( Ni ) 3 Brown et al. 1987
Molibd ê nio ( Mo) 0,1 Arnon & Stout 1939

Fonte: Malavolta (1980); Glass (1983); Marschner (1995); Epstein & Bloom ( 2005) .
i

FERTILIDADE DO SOLO
94 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

desenvolvimento, enquanto, para a Amaranthus tricolor ( metabolismo C 4 ) , o Na é


essencial quando em condições de baixas concentra ções de C02; por outro lado, existem
plantas, como Astragalus , Stanleya e Lecythis , que crescem em solos com altas concentrações
de Se, constituindo plantas acumula doras deste elemento. Tem sido proposto que os
silicatos em folhas e inflorescências de gramíneas podem impedir ou diminuir o ataque
por insetos. O Co é necessá rio à fixa çã o do N2 atmosf érico por bactérias dos nódulos das
ra ízes de leguminosas, bem como para bactérias de vida livre que fixam N2.
Desta forma, os elementos requeridos pelas plantas podem ser classificados como
essenciais ou benéficos; contudo, esta listagem atual poder á ser ampliada, uma vez que,
com o avanço das técnicas analíticas, outros elementQS exigidos em quantidades mínimas
poderã o vir a ser considerados essenciais ou benéficos às plantas.

MACRO E MICRONUTRIENTES

Neste texto, nã o serã o feitas referências detalhadas aos elementos C, H e O. Como


estes elementos sã o supridos à planta essencialmente via C02, na fotossíntese, e via H20
absorvida do meio de crescimento, são tratados de modo particular na Fisiologia Vegetal.
Cada um destes nutrientes tem uma funçã o específica no metabolismo das plantas.
A seguir, sã o descritas as principais funções dos nutrientes minerais e a forma como se
caracterizam a deficiência ou o excesso desse nutriente. Deve-se considerar que os
sintomas de deficiência estã o relacionados com a mobilidade dos nutrientes no floema,
já que nutrientes classificados como m óveis, por se translocarem facilmente, têm a
sintomatologia de deficiência expressa nas folhas mais velhas. Por outro lado, os
nutrientes que participam de estruturas celulares da planta, por apresentarem menor
mobilidade de redistribuiçã o, tê m os sintomas de deficiência expressos nas folhas mais
novas.

Macronutrientes

Nitrogénio

O N é considerado o elemento mais abundante da atmosfera terrestre, representando


78 % do volume. É componente de tc da a matéria viva ( representa aproximadamente
18 % do peso das proteínas ).
O N em estado natural ocorre na forma combinada com o K (KN03) e com o Na como
salitre de Chile ( NaN03) . Na atmosfera , chuva, solo e no guano, ocorre na forma de
amónio ou sais de amó nio; na á gua dc mar, como íons de amónio, nitrito e nitrato. Nos
organismos vivos, aparece formando complexos orgâ nicos em proteínas, ácidos nucléicos,
e clorofila, além de constituir parte do protoplasma ( Havlin et al., 1999 ) . O N em
compostos orgâ nicos ocorre quase exclusivamente no estado reduzido, onde forma três
liga ções covalentes e dispõe de um par de elé trons nã o compartilhados.

FERTI LIDADE DO SOLO


III - ELEMENTOS REQUERIDOS à IMUTRIçãO DE PLANTAS 95

Os teores de N no solo na forma mineral sqo pequenos, variando desde tra ços até
5 g kg 1 nas camadas superficiais dos solos, diminuindo com a profundidade. O teor de
'

N depende também do tipo de solo, da temperatura e da pluviosidade. Em regiões de


condições de umidade uniforme e vegeta çã o similar, os teores médios de N e de matéria
orgâ nica do solo decrescem exponencialmente à medida que aumenta a temperatura
,

média (veja capítulo VII) .


O N disponível no solo se encontra , principalmente, na forma de NOs . A camada
ar á vel do solo pode ter um teor de N, na forma de N03 ( N- N03~ ), entre 2 e 60 mg kg 1. Este
"
'

teor varia com a esta çã o climá tica , já que o N03 é muito sol ú vel na á gua, de modo que as
"

á guas de chuva e de irriga çã o podem arrastar o nutriente para o subsolo ( Raij, 1991).

Forma de absorçã o: As plantas absorvem a maior parte do N em forma de íons NH4+


ou N03 . Um pouco de ur éia pode ser absorvida diretamente pelas folhas, bem como
pequenas quantidades de N podem ser obtidas de materiais como aminoá cidos sol úveis
em á gua . Com exceçã o do arroz, os cultivos agr ícolas absorvem a maior parte do N como
N03 ; no entanto, em estudos recentes, verificou-se que a maioria das culturas pode
absorver quantidades apreciá veis de NH4 + , quando na solu çã o do solo . Certos híbridos
de milho tê m uma alta exigência de NH4 + e a absor çã o desta forma de N ajuda a
incrementar o rendimento de gr ã os. O trigo também se beneficia da nutriçã o com NH4+.
O N pode també m ser absorvido por meio de bactérias fixadoras do N 2 atmosf é rico que
participam de intera çã o simbió tica com as ra ízes de leguminosas.
O N, uma vez absorvido da solu çã o do solo ou fixado do ar, incorpora -se na planta
na forma de aminoá cidos. À medida que aumenta o fornecimento de N, as proteínas
sintetizadas a partir dos aminoá cidos promovem o crescimento das folhas, aumentando
a superf ície fotossinté tica .
Uma das raz ões pelas quais se obtêm rendimentos mais altos com a absor çã o de
uma parte do N como NH4+ é que este cá tion é assimilado diretamente pela planta para a
formaçã o de aminoácidos. Já o â nion N03 deve ser reduzido a NH4+ para assimilação do
N pela planta . A reduçã o de N03 no interior da planta requer energia (o N03 é reduzido
a NH4+ que, depois, é convertido em aminoácidos na planta ). Esta energia é proporcionada
por carboidratos, os quais podem ser utilizados para o crescimento ou para a forma çã o
do grão.

Funções: O N é necessá rio para a síntese da clorofila e está envolvido no processo


da fotossíntese, já que faz parte da molécula da clorofila . A deficiência de Nproporciona
menor síntese de clorofila (Figura T). Esta situaçã o nã o permite que a planta utilize a luz
solar como fonte de energia no processo fotossinté tico; deste modo, a planta perde a
f
habilidade de executar funções essenciais, como por exemplo, a absor çã o de nutrientes.
/

O N é um componente das vitaminas e dos sistemas energé ticos na planta. E também um


componente dos aminoácidos, os quais formam proteínas. Portanto, o N é diretamente
responsá vel pelo incremento do conteú do de proteínas.
Teores na planta: Os teores de N nas plantas variam entre 2 e 75 g kg 1 de matéria
'

seca da planta , considerando os teores entre 20 e 50 g kg 1 como adequados para um


'

FERTILIDADE DO SOLO
96 ANTONIO ROQUE DECMEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

crescimento normal das plantas. As plantas deficientes apresentam teores foliares


menores do que 10 g kg 1, enquanto, acima de 50 g kg 1, podem-se observar sintomas de
' '

toxidez (Malavolta, 1980; Malavolta et al., 1989; Pais & Jones J ú nior, 1996; Furlani, 2004).

28

26

24
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O 18
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14 y = 1, 403 + 0 , 044 x R = 0 , 641

10 16 20 26 30
í ndice de Conteúdo de Clorofila

Figura 1. Rela çã o entre o teor de nitrogénio e o índice de conte ú do de clorofila em folhas de


Acer saccharum .
Fonte: Adaptado de van der Berg & Perkins ( 2 C 04) .

Sintomas de defici ê ncia ou excesso: As plantas que crescem em concentra ções


baixas de N apresentam colora çã o verde-clara, caracterizada por clorose generalizada ,
que se acentua, principalmente, nas folhas velhas ( Figura 2), já que o N é um elemento
mó vel quanto à redistribuiçã o nas plantas, podendo ser retranslocado na forma de NOs
ou de aminoácidos e aminas (Furlani, 2004). As folhas novas permanecem com cor verde
por períodos mais longos, por receberem o N sol úvel das folhas mais velhas. Algumas
plantas, como tomateiro e milho, exibem uma colora çã o purp úrea do caule e colmo,
pecíolos e parte basal das folhas, resultante da concentra çã o de antocianinas. A rela çã o
de matéria seca , parte a érea / raiz normalmente é baixa, já que predomina o crescimento
radicular sobre o foliar . Plantas com deficiê ncia de N apresentam menor crescimento.
.
, O excesso de N provoca crescimehto excessivo da parte a érea, o que pode provocar
o acamamento de gramíneas. Para outras espécies, o excesso de N pode provocar reduçã o
na qualidade do produto.

Fósforo
O teor total médio de P na litosfera é de 2,8 g kg-1 de P2Os; contudo, muitos solos
contêm de 0,2 a 0,8 g kg 1 de P ( Fassbender, 1994 ). O P encontra -se em compostos que
'

estã o distribuídos em muitas rochas, minerais, plantas e animais. No solo, o P pode ser
encontrado em formas orgâ nicas e inorgâ nicas ( veja capítulo VIII).

FERTI .IDADE DO SOLO


III - ELEMENTOS REQUERíDOS à NUTRI çãO DE PLANTAS 97

Sintomas de defici ê ncia de nitrogénio em citros, caf é e milho

-4

r
. k

- ?
'

t -' X -
Sintomas de deficiência de f êsforo em citros ^ cana - dê- açúcar e milho

M é
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F FV
Sintomas de deliciéncia de potá ssio em citros, soja e macieira

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* *

Sintomas dê deficiência de cálcio em cana- de -açúcar, citros e maçã

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Sintomas de deficiência de magn é sio em cilros, macieira e soja


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Sintomas de
*
deficiência

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de enxofre em milho , algodao e caf é


h

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FN

FLgura 2 , Sintomas de deficiência de macronutr í entes .


folhji velbi; FN = f o t -r :- \
Fonte: Departamento do Solos e Nulri
frutos; R = ra ízes ) . ^o de Plantas - ESAI .Q / USP. ( FV -

FERTILIDADE DO SOLO
98
^
ANTONIO ROQUE DECHE I & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

O P de compostos orgâ nicos (Po) é encontrado na forma de fosfolipídios, ácidos


nucléicos e fosfatos de inositol. O Po, expresso como percentagem do P total, pode variar
de 15 a 80 %. Na forma de fosfolipídios, as concentrações variam em torno de 5 % do Po.
O P na forma de á cidos nucléicos pode atingir valores de 2,5 %. O Po deve ser
mineralizado antes de ser absorvido pelas plantas. O P de compostos inorgâ nicos (Pi)
encontra-se sob v á rias formas, as quais dependem do pH (veja capítulo VIII). Uma
pequena fração, normàlmente menor de 1 mg L 1, encontra-se na soluçã o do solo / em
'

equilíbrio com o P adsorvido pelos coloides do solo (Havlin et al., 1999 ).


O pH do solo controla a disponibilidade para as plantas das formas iônicas do i
r*

fosfato. O â nion monovalente H2P04 tê m sua disponibilidade aumentada em valores de


pH abaixo de 7, enquanto o ânion divalente HP04 tem sua disponibilidade aumentada
em valores de pH acima de 7. Em situações de pH muito alcalino, quase todo o P se
encontra sob a forma de P043 , a qual nã o é absorvida pelas plantas. Em solos muito
'

ácidos, as concentrações de Fe e Al em soluçã o são bastante altas, podendo provocar a


precipitação do P como fosfatos de Fe e Al; como, por exemplos, a estrengita (FeP04.2H20)
e variscita ( A1P04.2H20). Em solos alcalinos e calcá rios, o P do solo encontra-se presente
como hidroxiapatita 3Ca 3(P04)2.Ca (0H)2 e carbónatoapatita 3Ca3(P04)2.CaC03.
Forma de absor çã o: As plantas absorvem a maior parte do P como o â nion
monovalente - ortofosfato biá cido - H2P04 , e; em menor proporção, como o anion bivalente

- ortofosfato monoácido - HP042 . O pH do solo influi, em grande parte, na proporção em


'

que estas duas formas de P estã o disponíveis para absorçã o pela planta. As plantas
podem utilizar outras formas de P, mas em menores quantidades do que o ortofosfato.
Fun çõ es: O P desempenha papel importante na fotossíntese, respira çã o,
armazenamento e transferência de energia, divisã o e crescimento celular, dentre outros
processos que ocorrem na planta. 0 P é importante na transferência de energia como
parte do trifosfato de adenosina (ATP), como componente de muitas proteínas, coenzimas,
ácidos nucléicos e substratos metabólicos. Em situações onde se aumenta o suprimento de P
no solo de uma condição de deficiência até outra de adequada disponibilidade de P, verifica-
se que as principais frações de P contidas em ó rgã os vegetativos das plantas também
aumentam (Quadro 2). Além disto, o P promove a r á pida formaçã o e crescimento das
raízes (Figura 3), melhora a qualidade dos frutos, hortaliças e grãos, sendo vital à formação
da semente, bem como está envolvido na transferência de características hereditá rias.

Quadro 2. Efeito do suprimento de f ósforp nas fra ções de f ósforo em folhas de fumo

Fra çã o d é P
P aplicado
Lip í d i o s É ster Á cidos nucl éicos Pi

mg L mg kg 1 - *

2 320 360 740 330


6 830 910 1.340 830
8 890 1.040 1.330 1.230
20 910 1.090 - 1.420 3.380
Fonte: Adaptado de Marschner (1995).

FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 99

Figura 3. Ra ízes de plantas desenvolvidas na regiã o cio solo enriquecida com f ósforo (esquerda )
comparadas com as do solo sem enriquecimer íto de f ósforo ( direita ) .
Fonte : Adaptado de Drew & Saker (1978).

Teores na planta: Os teores de P nas plantas variam de 0,5 a 3,0 g kg 1 de maté ria
"

seca da planta , considerando-se teores entre 1,0 e 1,5 g kg 1 como adequados para um
'

crescimento normal das plantas. Plantas deficientes apresentam teores foliares menores
do que 1,0 g kg 1, enquanto acima de 3,0 g kg 1 podem-se observar sintomas de toxidez
" "

( Malavolta , 1980; Malavolta et al., 1989; Pais & jones J ú nior, 1996; Furlani, 2004 ).

Sintomas de defici ência e excesso: Como o P se move rapidamente dos tecidos


mais velhos para os mais jovens, a deficiência aparece primeiro nas partes baixas da
planta (folhas velhas) . A medida que as plantas se tornam mais velhas, a maior parte do
P move-se para as sementes ou para os frutos O primeiro sinal de deficiência de P
^
manifesta -se na forma de plantas pequenas. As folhas se apresentam torcidas. Quando
a deficiência é severa, ocorre o aparecimento de á reas mortas nas folhas, no fruto e no
caule (Figura 2). As folhas com sintomas apresentam coloraçã o p ú rpura ou avermelhada,
associada ao ac ú mulo de antocianinas (estes sintomas ocorrem com freq úência em
plantas de milho e em outras espécies deficientes em P, especialmente em temperaturas
baixas). A deficiência de P retarda a matura çã o dos cultivos.
Sã o raros os sintomas de excesso de P; contudo, plantas sensíveis podem manifestar
sintomas em condições cuja concentra çã o nas folhas seja superior ou igual a 3 g kg 1. "

Nestas condições, ocorrem manchas vermelho-escuras nas folhas mais velhas. Deficiência
de Zn em solos ricos em P pode provocar a absor çã o e ac ú mulo de P em excesso
promovendo sintomas semelhantes aos da deficiê ncia de Zn (Malavolta, 2004).

FERTILIDADE DO SOLO
100 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

Potássio '

É o sé timo elemento mais abundante na crosta terrestre. O K constitui 2,6 % das


rochas ígneas da crosta terrestre . E encontrado no solo em minerais primá rios e
intemperizados, bem como nas formas: trocá vel, nã o- trocá vel e sol ú vel em á gua (veja
capítulo IX ) .
Os minerais prim á rios que contê m K em maior abund â ncia sã o os feldspatos
potássicos (ortoclásio e microclinas) e as micas (biotita e muscovita ) ( Diest, 1979). Segundo
Schroeder (1979), os feldspatos potá ssicos e as micas apresentam teores de K ao redor de
140 e 100 g kg 1, respectivamente. Dentre os minerais secund á rios, destacam -se as argilas
'

2:1: ilita , vermiculita e montmorilonita , com teores de K 20 variando de 40 a 70, 0 a 20, e 0


a 5 g kg 1, respectivamente. Cabe ressaltar que, quanto mais intemperizados forem os
'

solos, menos abundantes sã o esses minerais ( veja capítulo IV ) .


Para a nutriçã o das plantas, as formas disponíveis no solo sã o a trocá vel e o K em
solução ( rapidamente absorv ível ); o não- trocá vel atua como uma reserva do elemento no
solo. Contudo, a disponibilidade de K nos solos é dependente de sua mineralogia
( Figura 4), uma vez que a produ çã o relativa m á xima para os solos com predomínio de
argilominerais 2:1 foi obtida com teores mais altos deste nutriente do que nos solos com
predomínio de argilominerais 1:1. '

Forma de absorção: O K é absoryido da soluçã o do solo pelas plantas na forma


i ônica ( K +). De forma distinta do N e do P, o K nã o forma compostos orgâ nicos em
plantas. Sua funçã o principal está relacionada fundamentalmente com muitos e variados
processos metabólicos.

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y = 22, 92 + 3,36 x - 0, 03 x 2 2
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Mineral 2:1( 0 ) * * R
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«
i 1 1 1 1 1
10 20 30 i 40 50 60 70
3
K Mehl í ch - 1 , mmoic dm
'

Figura 4. Rela çã o entre a produçã o relativa de trigo e os teores de potássio extraíveis pelo
mé todo Mehlich-1 em 11 solos da regiã o sul do Rio Grande do Sul, de acordo com a
mineralogia. |
Fonte: Nachtigall & Raij (2005).
»

FERTILIDADE i
DO SOLO
;
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 101

Fun ções: O K é Lim dos elementos essenciaisIna nutriçã o da planta e um dos três que
se encontra , na forma dispon ível, em pequenos teores nos solos tropicais muito
intemperizados, limitando o rendimento dos cultivos. É o cá tion mais abundante nas
células, com concentra ções superiores a 100 mmol L 1. Altas concentra ções de K sã o
necessá rias para a ativa ção de muitas enzimas quê participam do metabolismo da planta .
O K é vital para a fotossíntese. Em situa ções de deficiência de K, ocorre reduçã o da
fotossíntese e aumento da respira çã o da planta . Estas duas condições ( reduçã o na
fotossíntese e incremento na respira çã o ) , quando existe deficiência de K, reduzem a
acumula çã o de carboidratos, tendo, como consequ ências, as redu ções do crescimento e
da produ çã o da planta .
O K tem elevada contribuiçã o para o potencial osm ó tico da planta . O processo de
abertura e fechamento dos estô matos é regulado pela concentra çã o de K nas células
guarda, sua deficiê ncia nã o permite que os estô matos se abram totalmente e que sejam
r á pidos ao fechar -se, causando limitado controle sobre a perda de á gua das plantas.
O íon K + parece estar envolvido em v á rias funções fisiológicas, tais como: transporte
no floema, turgescência das células estomá ticas e crescimento celular . O K atua como um
cofator ou ativador de muitas enzimas do metabolismo de carboidratos e proteínas. Uma
das mais importantes é a piruvato-quinase, enzima principal da glicólise e respira çã o.
De modo geral, as necessidades nutricionais de K estã o relacionadas com quatro papéis
bioquímicos e fisiológicos: ativa çã o enzim á tica, processos de transporte através de
membranas, neutraliza çã o aniônica e potencial osmó tico.
O K tem grande impacto na produtividade e na qualidade dos cultivos, afetando o
incremento do peso e a qualidade de gr ã os de milho, conte ú do de óleo e proteínas na
soja , quantidade do a çú car na cana -de-a çúcar e em frutos, de modo geral, na resistência
e comprimento da fibra do algod ã o e outros cultivos que produzem fibra . Para a cultura
da macieira, verifica -se que o aumento da disponibilidade de K, a partir de uma condição
de deficiência do nutriente no solo, proporciona aumento dos teores de sólidos sol ú veis
dos frutos (Figura 5) e aumento na intensidade de colora çã o vermelha da película dos
frutos. Outro efeito atribuído ao K refere-se à resistência das plantas ao ataque de doenças.

Figura 5 . Teor de sólidos sol ú veis e cor da película do fruto ( valor a ) do cv. Gala, de acordo
com as doses de potá ssio.
Fonte : Carraro et al. ( 2004) .

FERTILIDADE DO SOLO
102 ANTONIO ROQUE DE ó HEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

Teores na planta : Os teores de K nas plantas variam entre 6 e 50 g kg 1 de maté ria


"

seca da planta, considerando valores entre 10 e 30 g kg 1 como adequadas para um


'

crescimento normal das plantas. Planlasdeficientes apresentam teores foliares menores


do que 8 g kg , enquanto, acima de 510 g kg 1, podem -se observar sintomas de toxidez
1' '

( Malavolta , 1980; Malavolta et al., 1989; Pais & Jones J ú nior, 1996; Furlani, 2004 ) .
I

Sintomas de defici ê ncia e excesso : Como o K é elemento m ó vel quanto à


redistribuiçã o na planta, as defici ências aparecem primeiro nos tecidos mais velhos da
planta (inferiores ) . Um dos sintomas mais comuns de deficiência de K é a necrose das
margens das folhas ( Figura 2 ). Na maioria dos cultivos, a necrose inicia-se pelas folhas
velhas, especialmente em gramíneas. As plantas com deficiê ncia de K crescem lentamente,
apresentando sistema radicular mal desenvolvido, colmos fr á geis, sendo comum o
acamamento . As sementes e os frutos sã o pequenos e desuniformes . As plantas tê m
baixa resistência às doenças . Alguns sintomas de deficiê ncia de K, específicos a alguns
cultivos, sã o:
• Bananeira: folhas inferiores pequenas que se tornam amarelas das pontas para
dentro da folha, a ponta da folhajse dobra para dentro, as folhas mortas se rompem
na base da l â mina .
j

Milho: encurtamento dos entré n ós e crescimento reduzido. Ocorre queima ou
secamento das margens externas da folha, enquanto a parte média permanece
enchejn
verde, espigas que n ã o se completamente e grã o de baixa qualidade.
• Frutíferas: folhas de uma cor verde amarelada , cujas margens se dobram para
acima, presença de á reas secas nas margens das folhas que depois se rasgam,
fruto pequeno que cai prematuramente, fruto de baixa qualidade.
• Batata : as folhas superiores sã o pequenas, enrugadas e de uma cor verde mais
escura do que o normal, necrose nas pontas e nas margens, clorose internerval nas
folhas velhas.
• Soja: queima ou secamento que se inicia nas nervuras da folha que depois se torna
quebradiça e de mau aspecto à rJaedida
que a folha senesce. As folhas sã o fr á geis
e as sementes enrugadas.
Sã o raros os sintomas causados pelo excesso de K; contudo, quando ocorre ac ú mulo
de K nas folhas mais velhas, este p| < > de causar desidrata çã o nas células vizinhas e
rompimento de membranas nas cél ú las, provocando o aparecimento de manchas
necró ticas nas folhas.

Cálcio

Constitui 3,6 % da crosta terrestre (quinto elemento em abund â ncia ). É encontrado


em calcita, gesso, conchas de ostras e corais. Os minerais prim á rios de Ca mais

^
importantes sã o a anortita, que contém ntre 70 e 140 g kg 1 de Ca, e os piroxênios, com 90
"

a 160 g kg 1 de Ca . Baixos teores de Ca podem estar presentes em borosilicatos. O Ca está


'

presente também, em apatitas, compostos isomorfos de Ca 5( P04)3F e Ca5(P04)3Cl, em


fosfatos, tais como: o fosfato monocálcico (Ca (H2P04)2), o dicálcico (CaFlPOJ e o ortofosfato

FERTILIDADE DO SOLO

SV : í \, \ .
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 103

de Ca (Ca4H(P04) 3), que existem principalmente dm solos calcá rios e em solos com altos
valores de pH . Minerais de argila como ilita, vejrmiculita e montmorilonita , també m,
contêm pequenos teores de Ca ( Fassbender, 1994).

Forma de absorçã o : O Ca é absorvido pelas plantas na forma do cá tion Ca 2+ . O Ca


absorvido é transportado no xilema e em parte no floema . Depois de transportado para
as folhas, o Ca se torna im ó vel. A maior parte do Ca do tecido vegetal encontra -se sob
formas nã o-sol ú veis em á gua, como o pectato de Ça, o principal componente da lamela
m édia da parede celular, e sais cá lcicos de baixa solubilidade, como carbonatos, sulfatos,
fosfatos, silicato, citrato, malato e oxalato.
/

Fun çõ es : E um elemento essencial par á o crescimento de meristemas e,


particularmente, para o crescimento e funcionamento apropriado dos á pices radiculares.
A fra çã o principal de Ca está nas paredes celulares ou nos vac ú olos e organelas, como
sais de á cidos orgâ nicos, fosfato ou fitato . Esta fra çã o pode ser especialmente alta em
plantas que sintetizam o oxalato. O oxalato de Ca é um produto insol úvel que se deposita
no vac ú olo, exercendo, provavelmente, funçã o antitó xica . O Ca é um componente da
lamela média , onde exerce funçã o cimentante como pectato de Ca .
O Ca també m tem como funçã o impedir danos à membrana celular, evitando a saída
de substâ ncias intracelulares, exercendo papel estrutural ao manter a integridade da
membrana citoplasm á tica . O Ca parece atuar como modulador da a çã o dos hormônios
vegetais, regulando a germina çã o, o crescimento e senescê ncia . Retarda a senescência e
abscisã o de folhas e frutos. O íon Ca desempenha papel importante no desenvolvimento
vegetal e regula çã o metabólica . É reconhecido, atualmente, que o íon Ca livre atua como
um regulador intracelular importante de numerosos processos bioquímicos e fisiológicos.
O Ca influi, indiretamente, no rendimento d á s culturas, ao melhorar as condições
de crescimento das ra ízes, bem como por estimular a atividade microbiana, auxiliar na
disponibilidade do Mo e na absorçã o de outros nutrientes, al é m de ajudar a reduzir o
/

N03 na planta . E requerido em grandes quantidades pelas bact érias fixadoras de N2.
'

Teores na planta : Os teores de Ca nas plantas variam de 5 a 80 g kg 1 de maté ria


'

seca , considerando-se concentra ções entre 10 e 50 g kg 1 como adequadas para um


"

crescimento normal das plantas. As plantas deficientes apresentam teores foliares


menores de 4 g kg 1 ( Malavolta , 1980; Malavolta et al ., 1989; Pais & Jones J ú nior, 1996;
"

Furlani, 2004).

Sintomas de defici ê ncia e exc çsso: Um sintoma comum da deficiê ncia de Ca é o


pequeno crescimento das ra ízes. As ra ízes com deficiê ncia de Ca tornam -se escuras e
morrem. As folhas jovens e outros tecidos novos desenvolvem sintomas pelo fato de o Ca
nã o se retranslocar na planta . Os tecidos novos precisam de Ca para a forma çã o de suas
paredes celulares; portanto, a deficiência de Ca caracteriza -se por a planta apresentar as
nervuras das folhas e os pontos de crescimento d è forma gelatinosa . Em casos severos,
os pontos de crescimento morrem. |

Em plantas frutíferas, ocorrem, normalmentè, baixos teores de Ca nos frutos, fato


que se deve à diluiçã o na concentra çã o dos nutrientes resultante do crescimento do fruto

FERTILIDADE DO SOLO
104 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

e à precipita çã o do Ca no floema na forma de oxalato. Em situa ções onde ocorre r á pido


crescimento dos frutos, esta diluiçã o pode proporcionar concentra ções de Ca abaixo do
nível crítico necessá rio, fazendo com que ocorram sintomas de deficiência deste nutriente
nos frutos, normalmente denominados de "bitter pit" ou "fundo preto", comum em
tomate, ma çã, melão e pimentã o.
Para a cultura da macieira, a disponibilidade e a absorçã o de Ca sã o de grande
importâ ncia, pois baixas concentra ções de Ca na planta, principalmente nos frutos, estã o
relacionadas com dist ú rbios fisiológiêos como o "bitter pit" ( Figura 6 ) . Os sintomas se
manifestam por meio de manchas circulares, deprimidas, escuras, de 3 a 6 mm de diâmetro,
que penetram na polpa. O tecido abaixo da mancha é.seco e corticento. É mais abundante
entre as regiões do cá lice e equatorial do fruto; aparecendo durante o primeiro mês de
armazenamento. Em casos severos, pode aparecer na colheita (Figura 2).

Figura 6 . Rela çã o entre a incidência de "bitter pit" e o teor de cá lcio na polpa e na película de
frutos de macieira .
Fonte: Nachtigall (dados n ã o publicados) .

Nã o existem relatos de toxidez de Ca em plantas, o que se deve, provavelmente, ao


fato de ser o excesso de Ca, pela sua baixa mobilidade, armazenado no vacúolo das
células.
Magnésio
O Mg é o oitavo elemento mais abundante na crosta terrestre . É essencial para o
metabolismo de plantas e animais.
i

O teor médio de Mg na crosta terrestre é de 19,3 g kg 1, variando segundo a origem


'

geológica do solo. O Mg encontra-sê no solo nas formas: nã o-trocá vel, trocá vel e na
soluçã o do solo. O Mg na forma não-trocá vel é encontrado principalmente em minerais
primá rios e secund á rios, como a biotifa, augita, horblenda, olivina, serpentina, clorita,
montmorilonita, ilita, vermiculita, e nos carbonatos minerais, como dolomita e magnesita
(Havlin et al., 1999).

FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çãO DE PLANTAS 105

Forma de absorção: O Mg é absorvido pelas plantas na forma Mg2+. Por suas


características, a absor çã o do Mg pode ser fortemente afetada pela disponibilidade de
K +, NH4 +, Ca 2+ e Mn 2+.
Funções: Mais de 70 % do Mg difunde-se livremente na suspensã o celular, bem como
associado a componentes carregados negativamente, tais como proteínas e nucleotídeos
por meio de liga ções iô nicas. Grande quantidade de Mg está, provavelmente, ligada a
polifosfatos, como o Mg-ATP.
Dependendo da abund â ncia relativa de K, o Mg pode contribuir para neutralizar os
fosfoa çúcares, a çúcares-nucleotídeos, á cidos orgâ nicos e aminoá cidos. A propriedade
mais importante do Mg é a solubilidade de seus compostos. Sua abund â ncia sugere uma
multiplicidade de funções, principalmente como ativador de reações enzimá ticas. Dentre
as rea ções das quais participa o Mg, estã o as de transferência de fosfato ou nucleotídeos
(fosfatases, kinases, ATPases, sintetases, n úcleotídéo-transferases), de grupos carboxílicos
(carboxilases, descarboxilases ) e de ativadores d é desidrogenase, mutase e liase. O Mg
tem papel estrutural como componente da molécula de clorofila (Figura 7), é requerido
para manter a integridade dos ribosomas e sem d ú vida contribui para manter a
estabilidade estrutural dos ácidos nucléicos e membranas. O Mg influencia o movimento
de carboidratos das folhas para outras partes da planta e estimula a capta ção e transporte
do P na planta .
Teores na planta: Os teores de Mg nas plantas variam de 1 a 10 g kg 1 de matéria
'

seca da planta, considerando-se teores entre 3 e 5 g kg 1 como adequados para um


'

crescimento normal das plantas . As plantas deficientes apresentam teores foliares


menores de 3 g kg 1 (Malavolta, 1980; Malavolta et al., 1989; Pais & Jones J ú nior, 1996;
"

Furlani, 2004) .

Figura 7. Fórmula estrutural da clorofila a .


Fonte: Adaptado de Castro et al. ( 2005) .

FERTILIDADE DO SOLO
106 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

Sintomas de defici ê ncia e excessjo: O Mg é bastante móvel no xilema e no floema , e


seu transporte e redistribuiçã o ocorrem na forma iônica (Furlani, 2004). A deficiência de
Mg caracteriza -se pela ocorr ê ncia de clorose entre as nervuras, que progride em
intensidade. Em está dio adiantado de deficiência , forma um "V" verde, invertido em
rela çã o ao pecíolo (Figura 2 ) . Alé m djisto, ocorre redu çã o de produçã o e alternâ ncia de
safras em plantas perenes, com a queda de folhas, ocasionando . O tamanho dos frutos
é reduzido e a acidez total e vitamina G sã o menores nas plantas deficientes. Praticamente
nã o existem relatos sobre a toxidez d ê Mg em plantas
;v

Enxofre

Estima-se ser o nono elemento mais abundante no planeta. O S nas formas de sulfetos,
sulfatos e enxofre elementar constitui á proximadamente 0,06 a 0,10 % da crosta terrestre.
O S nativo ou livre encontra -se principalmente em depósitos vulcâ nicos sedimentares. O
S está nos solos nas formas inorgâ nica â e orgâ nicas. Na soluçã o do solo, o S está presente
como íon sulfato ( Havlin et al ., 1999 ) ( veja capítulo X ).

Forma de absor çã o: O S é absorvido pelas plantas principalmente na forma


inorgâ nica como S042 , depois é reduzido e incorporado a compostos orgâ nicos. Na
'

reciclagem do S, este retorna ao solo qa forma orgâ nica, onde se mineraliza por a çã o de
microrganismos antes de ser utilizad ó pelas plantas superiores.

Funções: O S é um elemento importante para a produçã o de aminoá cidos, proteínas,


e clorofila, e é um componente de vitaminas e de alguns horm ônios da planta . Melhora
o crescimento de ra ízes promovendo seu vigor e robustez. O S encontra -se nas plantas
nas formas orgâ nicas de aminoá cido , (cisteína, cistina e metionina ) (Quadro 3), bem
^
como em compostos de S (adenosina 5-fosfosulfato (APS) e 3-fosfoadenosina 5-fosfosulfato
(PAPS) ). Por outro lado, o S é encontrado numa variedade de ésteres de sulfato, tais como
o sulfato de colina e sulfatos de polissacar ídeos. O S participa como um ligante em um
grande n ú mero de enzimas e metalo-proteínas.

Quadro 3. Teor de amino á cidos em prpteínas de endospermas de trigo pela aduba çã o com
enxofre

Teor de amino á cido


Amino á cido
Controle (1 ) Defici ê ncia de enxofre ( 2 )

1
nmol kg
'

Metionina 0, 68:8 0,313


Ciste í na 1,313 0,438
Arginina 1, 688 2,125
Aspartato 2,063 5,813
25 % do S total na maté ria seca . < 2> 10 % do S total na mat é ria seca .
(1 )

Fonte: Adaptado de Wrigley et al. (1980) .

FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 107

O grupo sulfidrilo (-SH) pode participar diretamente em reações de óxidorredução, em


que o primeiro composto a receber o grupo sulfidrilo (-SH ) é a acitil-serina, que se divide
em dois compostos, o acetato e a cisteína . A cisteíina e a metionina sã o os precursores dos
demais compostos que contêm grupos sulfidrilosi Os grupos sulfidrilos podem ser sítios
reativos de enzimas ou coenzimas, como, por exemplo: 3-fosfogliceraldeído desidrogenase
e coenzima A . Muitas enzimas sã o inibidas de forma nã o-competitiva por elementos
reativos que se unem aos grupos sulfidrilos, como, por exemplo: Pb, Hg, As e Ag.
O S na forma reduzida encontra -se nos anéis heterocíclicos de algumas coenzimas,
como tiamina ou bioeterocíclicos de algumas coénzimas, como tiamina ou biotina, e em
diversos metab ólitos secund á rios, como a sinigrina de Brassica nigra , que conté m S em
forma reduzida e oxidada ou a alicina .
Teores na planta: Os teores de S nas plantas variam de 1 a 5 g kg 1 de matéria seca,
'

considerando-se teores entre 1 e 3 g kg 1 como adequados para um crescimento normal


"

das plantas. As plantas deficientes apresentam teores foliares menores que 1 g kg 1 '

( Malavolta , 1980; Malavolta et al ., 1989; Pais & Jones J ú nior, 1996; Furlani, 2004).
Sintomas de defici ê ncia e de excesso: As deficiências de S em plantas em pa íses
industriais sã o muito raras, já que o dióxido de S (S02) da atmosfera, liberado ao queimar
carv ã o, madeira , gasolina e outros combustíveis f ósseis, é absorvido pelas folhas através
dos estô matos . O S02 se converte em bissulfeto ( HS03 ), quando reage com á gua nas
células e, se se acumular nesta forma , inibe a fotossíntese, destruindo os cloroplastos.
A deficiência de S caracteriza -se pelo fato de as plantas apresentarem as lâ minas
foliares uniformemente amareladas ou clor ó ticas, revelando a deficiência primeiro em
folhas jovens (Figura 2), já que este elemento nao se redistribui facilmente das folhas
velhas para as mais novas, por ser imóvel quanto à redistribuiçã o na planta. Por serem
os solos tropicais deficientes de sulfatos, as deficiências de S nesses solos sã o frequentes.

Micronutrientes
Boro
O teor de B na crosta terrestre é de, aproximâ damente, 0,01 g kg 1, apresentando-se
"

combinado como bó rax. O conte údo total de B nos solos é variável, os teores variam de 3
a 100 mg kg 1, com valores médios entre 10 e 20 mg kg 1 ( Lindsay, 1979 ). Em geral, os
' "

solos de regiões costeiras contêm 10 a 50 vezes má is B que os demais solos, o que se deve
à origem marinha.
Na fase sólida do solo, o B é encontrado nos minerais silicatados, adsorvido em
argilominerais e na matéria orgâ nica e nos hidróxidos de Al e Fe.
f Diversos fatores influenciam a disponibilidade de B do solo. Sua precipita çã o no
solo depende do pH, sendo má xima nas condições de pH entre 8 e 9. A mineralização da
matéria orgâ nica constitui uma fonte importante de B para as plantas. A textura do solo
também tem sua influência, já que, em solos de textura arenosa, o B pode ser facilmente
lixiviado, enquanto, em solos de textura argilosa, sua mobilidade é pequena. Assim,
aplicações de B em solos argilosos proporcionam perdas mínimas, já em solos arenosos
as perdas podem ser importantes .

FERTILIDADE DO ISOLO
108 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

Em geral, o B disponível encoptra -se nas camadas superficiais dos solos bem
drenados, ligado à maté ria orgâ nica, o que, em condições de seca, pode dificultar sua
absor çã o pelas plantas nestas camadas superficiais. Deve-se considerar, também, que,
em condições de excesso de calagem, pode ocorrer reduçã o na disponibilidade de B (veja
capítulo XI). |
Forma de absor çã o: O B é absofvido pela planta como á cido bó rico (H3B03) e,

provavelmente, como â nion borato ( B (OH) 4 ) em valores de pH elevados, tanto por via
radicular como por via foliar .
Considera -se que o B, em solu çã oj, move-se até às raízes por meio do fluxo de massa,
*
até que ocorra um equilíbrio entre as concentrações do nutriente nas raízes e na soluçã o.
Em decorrência dessa absor çã o passiva, podem-se verificar situa ções em que quantidades
tóxicas sã o absorvidas pelas plantas, quando o teor de B na soluçã o é alto (Dechen et al.,
1991b ) .
O B, em geral, é cosiderando imó vel nas plantas . É translocado principalmente
através do xilema, tendo mobilidade muito limitada no floema (Raven, 1980) . Acumula -
se nas folhas velhas, nas quais a concentraçã o é maior nas pontas e margens (Jones
J ú nior, 1970 ). Em geral, a parte aérea das plantas apresenta maior teor de B do que as
ra ízes. O movimento do B junto com o fluxo transpirató rio, talvez seja a razã o para o
aparecimento de sintomas de deficiência nos pontos de crescimento.
Estudos com espécies de planta qúe transportam o sorbitol, um açúcar que complexa
o boro, em seu floema, levantaram d úvidas sobre a imobilidade do B para todas as culturas
( Fontes, 1997). Brown & Hu (1996) verificaram que, em espécies ricas em sorbitol
(castanheira, macieira e nectarina ), houve transporte de B aplicado na forma de isó topos,
das folhas que receberam pulveriza çã o para tecidos adjacentes e tecidos dos frutos: em
h
espécies pobres em sorbitol-b ó rico, ã o foi observado movimento do B aplicado nas
folhas para outras partes da planta . |

Funções: O B é um elemento de baixa mobilidade de redistribuiçã o na planta. Está


comprovado que as plantas em estado inicial de crescimento absorvem o B com maior
intensidade do que plantas adultas, sendo pequena a mobilidade de redistribuiçã o dos
tecidos velhos para os jovens. Pode, inclusive, existir deficiência de B numa folha enquanto
em outra do mesmo ramo a concentra çã o esteja adequada . Comprovou-se que o B atua
em v á rios processos biológicos impoijtantes . Considerando que nã o é possível realizar
um processo biológico sem a intervençã o de enzimas, chega -se à conclusã o de que o B
pode atuar em alguns sistemas enzimá ticos como constituinte ou como componente ativo
e essencial do substrato onde tem lug r a rea çã o biológica.
^
O B é importante na translocaçã o de açúcares e metabolismo de carboidratos.
Desempenha papel importante no florescimento, crescimento do tubo polínico, nos
processos de frutificação, no metaboljsmo do N e na atividade de hormônios. Quanto à
influência do B sobre o metabolismo dé ácidos nucléicos, demonstrou-se que a deficiência
em B interrompe o crescimento e desenvolvimento e a maturação das células, que constitui
a segunda fase do desenvolvimento celular . A síntese do ácido ribonucléico, a formaçã o
de ribose e a síntese de proteínas sã o processos muito importantes nos tecidos

FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NIIITRI çã O DE PLANTAS 109

^
meristem á ticos . Se esses processos sã o afetado pela deficiência de B, o processo de
crescimento meristemá tico é prejudicado (Mengel & Kirkby, 1987) (Quadro 4). Por outro
lado, quando ás células atingem a maturidade, estas nã o sã o afetadas pela deficiência
deste elemento, porque a deficiência se reflete numa destruiçã o dos meristemas terminais
e do tubo polínico, ou seja, nas zonas de crescimento, qualquer que seja a planta.
O B intervém na absor çã o e metabolismo c os cá tions, principalmente do Ca; na
.

forma çã o da pectina das membranas celulares, na absor ção de água e no metabolismo de


glicídios. Tem influência no metabolismo e transporte de carboidratos, estando
comprovado, experimentalmente, que a deficiência de B provoca acúmulo de a çúcares
nos tecidos. Com relaçã o à forma çã o da parede celular
, está comprovado que as plantas
com deficiência em B têm paredes menos resisterltes
do que aquelas sem carência .

Quadro 4. Efeito do boro na incorpora çã o de fosfato em DNA e na síntese de proteínas em


folhas e ra ízes de girassol

Boro Folhas Ra í zes

mg L -i
Fosfato no DNA -% do total
0 0, 2 0,5
1 1,4 1,8

Fosfato do RNA - % do total


0 1,4 3,6
1 6,4 13,0

Prote í na - mg / vaso
0 627 713
1 1.267 1.468
Fonte: Adaptado de Mengel & Kirkby (1987) .

Teores na planta: Os teores de B nas plantas variam de 10 a 50 mg kg 1 de matéria


"

seca, considerando teores de 30 a 50 mg kg 1 como adequados para um crescimento normal


'

das plantas. Plantas deficientes apresentam teores foliares menores do que 15 mg kg 1


'

( Malavolta, 1980; Malavolta et ak, 1989; Pais & Jones J ú nior, 1996; Furlani, 2004).

Sintomas de defici ência e de excesso: Os sintomas de deficiência de B podem ser


distintos, conforme a espécie vegetal (Figura 8). Os mais comuns sao:
• Redução do crescimento e deforma ções nas zonas de crescimento (nas plantas com
deficiência de B, as novas células nã o se diferencià m ).
• Diminui çã o da superf ície foliar , com folhas jovens deformadas, espessas,
quebradiças e pequenas. Podem apresentar clorose ou até mesmo uma cor verde
mais intensa .

FERTILIDADE DO SOLO

Ll;
110 ANTONIO ROQUE Dect+ EN & GILMAR RIBEIRO WACHTIGALL

Figura 6 Sintomas de deficiência de mieronutrientes .


.

Fonte: Departamento de Solos e N'ntri ç 3o JL* E ^ lantas - ESAffiJ / USP. (FV = folhas velhas; FN - folhas novas; F - frutos ).

Fé R T I L I D A D é DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à N úTRIçã O DE PLANTAS 111

• Plantas deficientes em B apresentam, como consequência , ac úmulo de compostos


nitrogenados nas partes mais velhas.
• Crescimento reduzido de ra ízes .

• Abortamento floral.
• Fendas em ramos,
pecíolos e, às vezes nos frjutos. Estes apresentam uma formaçã o
irregular deformação) .
(
• Diminuiçã o da concentra çã o de clorofila .
i

Diminuiçã o de resistência às infecções.


• Diminui çã o da atividade das enzimas oxidantes ( catalase, peroxidase e
polifenoloxidase) .
Uma das plantas mais sensíveis à deficiência dè B no solo é o Helianthus annus (girassol),
o qual foi amplamente utilizado para detectar a disponibilidade deste elemento no solo.
A toxidez de B é tã o grave quanto sua deficiê ncia , manifestando-se nas plantas por
um amarelecimento das folhas que se estende pelas margens.

Cloro
O Cl é encontrado na natureza principalmènte como â nion cloreto (Cl ) . O teor
médio na litosfera é de aproximadamente 500 mg kg-1. O conte ú do no solo, na forma de
Cl , apresenta grande variabilidade (50 a 3.000 kg ha 1 de Cl ), dependendo dos sais
’ "
'

presentes (principalmente como cloreto de sódio é, em menor proporção, como cloreto de


cá lcio e cloreto de magnésio ) ( Lindsay, 1979 ). Epr solos pr óximos ao mar ou naqueles
que recebem tratamentos com á guas com excessp de sais, estes teores de Cl podem ser
muito superiores aos supralistados. j

O Cl pode ter como origem a : ,



Decomposiçã o da rocha mãe, principalmente das rochas ígneas.

Decomposiçã o de restos orgâ nicos.
• Contribuições pelas chuvas.
• Contribuiçã o pelas á guas de irriga çã o; presença de fertilizantes e inseticidas.
Foi o pen ú ltimo elemento a ser considerado çomo essencial para a vida das plantas,
e a essencialidade foi demonstrada em tomateiro cúltivado em solução nutritiva purificada
(Broyer et al., 1954) . Encontra -se sempre em disponibilidade suficiente para as plantas,
já que, com as chuvas, pode-se ter contribuiçã o de até 20 kg ha 1 ano 1, quantidade' "

suficiente para as necessidades das plantas. !

’V
Forma de absorçã o: O Cl é absorvido pelas plantas, tanto pela raiz como pela parte
aérea, na forma de Cl . i

Funções: O Cl é um elemento essencial para o crescimento e desenvolvimento das


plantas e animais superiores, onde atua na produçã o do ácido clorídrico necessários à
digestã o, estando, para os animais, o cloreto sódico normalmente incluído em sua dieta
para suprir estas necessidades. j

FERTILIDADE DO í SOLO
112 ANTONIO ROQUE DEQHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

Na planta , só há uma funçã o na ç jual se reconhece a participa çã o fundamental do


Cl. É essencial no processo da libera çã o de 02 por cloroplastos isolados, no fotossistema II
da fotossíntese.
Existem outras funções nas quais também poderia ser essencial. Experimentos
demonstram que o Cl é essencial na fotossíntese via regulaçã o estomá tica . A concentraçã o
ideal de Cl para fotossíntese varia segundo a espécie. O incremento na concentra çã o de
Cl provoca abertura dos estô matos, produzindo as trocas gasosas e, portanto, para a
assimila çã o do C02 na fotossíntese. O Cl é necessá rio para a ativaçã o pelo menos de três
enzimas ( amilase, asparagina -sintetase e ATPase do tonoplasto ) .

Teores na planta: Os teores de Cl nas plantas variam de 70 a 1.000 mg kg 1 de matéria


"

seca (Furlani, 2004), considerando-se teores entre 20 e 100 mg kg 1 como adequados para
"

um crescimento normal das plantas. As plantas deficientes apresentam teores foliares


menores do que 2 mg kg 1. "

Sintomas de defici ência e de xcesso : O Cl apresenta grande mobilidade de


^
redistribuiçã o dentro da planta, podendo migrar para as partes em atividade metabólica
mais intensa . Os sintomas n ã o sã o f á ceis de ser identificados e, rar íssimas vezes,
desenvolvem-se em condições de campo. Os sintomas mais comuns consistem na redução
do tamanho das folhas, clorose seguida por um bronzeado, evoluindo para necrose. As
raízes apresentam crescimento limita tio, mais espessas ou em forma de ma ços pró ximo
ao á pice.
Os sintomas de excesso sã o mais frequentes e mais graves do que os de deficiência.
Contudo, os sintomas de toxidez dependem do grau de tolerâ ncia das plantas (as plantas
mais tolerantes sã o as halófitas, tais como a beterraba, o milho, a cevada, o espinafre e o
tomate) . Os sintomas de toxidez se cafacterizam pela redu çã o da largura das folhas, que
tendem a enrolar-se, bem como por amplas necroses que provocam secamento das folhas.

Cobre

O teor médio de Cu na crosta terrestre é de, aproximadamente, 55 mg kg 1, enquanto


"

o teor total no solo varia de 10 a 80 mg kg 1 ( Krauskopf , 1972 ), onde se encontra,


"

principalmente, na forma divalente (Ç u 2+ ), predominantemente como constituinte das


estruturas cristalinas dos minerais primá rios e secund á rios. Considera-se que a maior
parte do Cu em soluçã o esteja
como o cítrico e oxá lico.
formandocomplexos sol úveis com á cidos orgânicos, tais

Forma de absorção: O Cu é absorvido como Cu 2+ e Cu-quelato, sendo pequeno o seu


teor nos tecidos da planta, geralmentè entre 2 e 20 mg kg 1 na matéria seca . A absor çã o
"

do Cu pelas plantas ocorre via processo ativo e existem evidências de que este elemento
iniba fortemente a absorçã o do Zn, è vice-versa ( Bowen, 1969 ). Acredita -se que este
elemento nã o seja prontamente móvel na planta, embora existam resultados que mostram
o movimento de folhas velhas para ndvas. Loneragan (1975) concluiu que o movimento
do Cu no interior das plantas é dependlente
de sua concentra ção, uma vez que, em plantas
t
FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à I\|UTRI çã O DE PLANTAS 113

de trigo bem supridas de Cu, pode ocorrer movimento dos grã os para as folhas. Contudo,
em plantas deficientes, o Cu foi relativamente im óvel.

^
Quanto ao transporte do Cu na planta resultados indicam que compostos
nitrogenados sol ú veis, como os aminoá cidos, atpam como carregadores deste elemento
no xilema e no floema, já que o Cu apresenta forte afinidade com o á tomo de N do grupo
amino ( Loneragan, 1981) .

Funçõ es: Na planta, uma fra çã o consider á vel do Cu nos tecidos parece estar ligada
a plastocianina e alguma fra çã o protéica, ocorrehdo, també m, acú mulo do elemento em
ó rgã os reprodutivos das plantas; contudo, existem varia ções entre espécies.
O Cu é constituinte de certas enzimas, incluindo a oxidase do á cido ascó rbico
( vitamina C ), citocromo-oxidase e a plastocianina , que se encontram nos cloroplastos. O
Cu também participa em enzimas de ó xidorredu çã o, exceto de certas amino-oxidases e
galactose-oxidases, participando, assim, das rea ções de óxidorredu çã o, em que grande
parte das enzimas que contê m Cu reagem com 02 e o reduzem a H 202 ou H 20. O Cu
tamb é m faz parte da enzima fenol-oxidase, que catalisa a oxida çã o de compostos
fen ólicos a cetonas durante a forma çã o da lignina e da cutícula . Além disto, o Cu
influencia a fixa çã o do N2 atmosf érico pelas leguminosas, e é essencial no balanç o de
nutrientes que regulam a transpira çã o na plantá .

i Em condições de deficiência de Cu existe uína rela çã o íntima entre a concentra çã o


nas folhas e o conteú do das enzimas plastocianiqa, diamina oxidase e ascorbato oxidase,
bem como da atividade do fotosistema I; contudo, parece nã o afetar significativamente o
conteú do de clorofila (Quadro 5).

Teores na planta : Os teores de Cu nas plantas variam de 2 a 75 mg kg 1 de '

mat é ria seca da planta , considerando teores gntre 5 e 20 mg kg 1 como adequados '

para o crescimento normal das plantas. As plantas deficientes apresentam teores


foliares menores do que 4 mg kg 1, enquanto, acima de 20 mg kg 1, podem-se observar
" '

sintomas de toxidez ( Malavolta, 1980; Malavolta et al ., 1989; Pais & Jones J ú nior,
1996; Furlani, 2004).

Quadro 5. Rela çã o entre a concentra çã o de cobre è alguns componentes do cloroplasto e a


atividade de enzimas que contém cobre em f óíhas de ervilha

Atividade de enzimas
Cobre Clorofila Plastocianina
Diamina oxidase Ascorbato oxidase

mg kg 1 '
mmol kg p. mol mmol 1 clorofila
'
mmol kg 1 h 1
" "

6,9 4, 9 2,4 0,86 730


3,8 . 3,9 1,1 0,43 470
2,2 4,4 0,3 0,24 220

Fonte: Adaptado de Marschné r (1995).

FERTILIDADE Dó SOLO
114 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

Sintomas de defici ê ncia e excesso: As deficiências de Cu ocorrem principalmente


em plantas cultivadas em solos orgâ nicos á cidos, em solos derivados de rochas ígneas
muito á cidas e em solos lixiviados ide textura grosseira . Deve-se considerar que, em
alguns sistemas de cultivo, quantid á des consider á veis de cobre sã o adicionadas ao solo
por meio de aplicaçã o de fungicidas. Um exemplo desta situa çã o é o uso de fungicidas
cú pricos no controle de doenças de videiras, por v á rios anos, que tem levado ao ac ú mulo
do Cu na superf ície do solo. Em uma regi ã o cultivada com videiras na França, o teor de
Cu total na camada superficial de SO1[DS de vinhedo variou de 31 a 250 mg kg 1, enquanto,
"

em solos de florestas, variou de 14 a |29 mg kg 1 ( Brun et al., 1998) . Para as condições da


"

Austr á lia, Pietrzak & McPhail ( 2004), avaliando vinhedos cultivados por 20 e até por
mais de 90 anos, observaram teores de Cu total entre 10 e 250 mg kg 1. No Brasil, Nachtigall
"

et al. ( 2007) verificaram teores de Cu total entre 1.300 e 1.400 mg kg 1 em dois solos
'

cultivados com vinhedos da região da Serra do Rio Grande do Sul, o que pode ser atribuído
ao manejo de grande parte dos vinhedos brasileiros que fazem o uso contínuo de calda
bordaleza (CuS04 + Ca (OH)2) e de outros produtos à base de Cu, para controlar as doenças
em vinhedos cultivados por longos per íodos.
As plantas raramente apresentanji deficiências de Cu, já que este elemento se encontra
dispon ível em quantidades adequadas em quase todos os solos . De todos os
micronutrientes, a deficiência de Cu é a mais dif ícil de diagnosticar, dada a interferência
de outros elementos (P, Fe, Mo, Zn e Ej) . No sistema produtivo de citros e de outras frutas,
aduba ções em excesso com adubos fosfatados podem provocar deficiência de Cu.
As deficiências de Cu manifestam -se como ( Figura 8):
• As folhas jovens tornam -se murchas e enroladas, ocorrendo uma inclina çã o de
pecíolos e talos. As folhas tornam-se quebradiças e caem.
• A ocorrência de clorose e outros sintomas secundá rios (a clorose nem sempre aparece).

^
A reduçã o da lignifica çã o. Os asos nã o lignificados do xilema sã o comprimidos
por tecidos vizinhos, o que rediiz o transporte de á gua e solutos.
• Em cereais, a deficiência de Cu provoca o abortamento de grande n ú mero de flores,
produzindo espigas pouco grapadas.
Em casos de toxidez ( teores r> o solo superiores a 300 mg kg 1), as altera ções
"

manifestam -se nas ra ízes, que tendem a perder vigor, adquirem cor escura, apresentam
engrossamento e paralisam o seu crescimento. També m o excesso pode provocar
deficiência em Fe, já que o Cu em excesso atua em rea ções que afetam o estado de oxidação
do Fe, limitando sua absorçã o e tran loca çã o na planta . Outro efeito d ò excesso de Cu é
a redu çã o da absor çã o de P. ^
Ferro
O Fe constitui cerca de 5 % d á crosta terrestre, sendo o segundo elemento em
abund â ncia depois do Al entre os metais e o quarto em abund â ncia depois do O e Si
(Mengel & Kirkby, 1987). No solo, o I?e apresenta -se na forma di (Fe2+) e trivalente (Fe3+),
dependendo do estado de oxirreduçao do sistema. Muitos solos cultivados apresentam
baixo teor de Fe, tanto na soluçã o do solo como adsorvido em forma trocá vel.

FERTIILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 115

O Fe, na forma ferrosa, entra no complexo de troca iônica dos solos. A forma f é rrica
é fortemente adsorvida pelos col óides do solo, formando complexos com os á cidos
h úmicos e col óides orgâ nicos. Os solos sob condições de redução ou de alagamento têm
um alto conte ú do de Fe-ferroso. O conte ú do d ê Fe-f é rrico aumenta com o aumento da
acidez, atingindo grandes concentrações somente em solos muito ácidos, com pH menores
que 3, e em solos ricos em á cidos húmicos e colóides capazes de formar complexos sol úveis
com Fe ( Figura 9 ) . Verifica -se que, somente em condições muito á cidas, os teores de Fe
estariam em torno de 1 /xmol L 1, valor que poderia suprir as necessidades das plantas
'

via transporte por fluxo de massa . Já a eleva çã o de uma unidade de pH (de 3 para 4)
proporcionaria um decr éscimo na disponibilidade
para 1 % da necessidade das plantas.
O aumento do suprimento de Fe à s zes pode ocorrer, dentre outros mecanismos / pela
ra í
forma çã o de complexos sol ú veis ou quelatos. Esses agentes quelantes podem se originar
de exsudatos de ra ízes, de subst â ncias prodilizidas pela decomposiçã o da maté ria
org â nica do solo, pela a çã o de microrganismos ou pela adi çã o de fertilizantes
quelatizantes ao solo ( Lindsay, 1974 ) .
Os conteúdos de argila e matéria orgâ nica do solo influem também na disponibilidade
do Fe, j á que, em solos argilosos, existe tend ê ncia à retençã o do Fe, enquanto teores
adequados de matéria orgâ nica proporcionarji
melhor aproveitamento do Fe pelas
,
plantas por causa de suas características acidificantes e redutoras, bem como da
capacidade de determinadas substâ ncias h ú midas para formar quelatos em condições
adversas de pH.

Figura 9. Influê ncia do pH do solo sobre a solubilidade do ferro.


Fonte : Adaptado de Lindsay ( 1974) .

FERTILIDADE DO SOLO
116 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

Forma de absorçã o: O Fe pode ser absorvido como Fe2+, Fe3+ e como Fe-quelato, sendo
a sua absor çã o pelas plantas metabolicamente controlada . Na absor çã o do Fe, sã o
envolvidos pelo menos dois processos. No primeiro processo, que é uma característica
das dicotiled ôneas e das gramíneas nã o-monocotiled ô neas, pr ó tons sã o liberados do
interior das ra ízes, o que provoca urr a acidifica çã o da rizosfera . Nestas condições, e na
presença da Fe3+- redutase, o Fe3+ é reduzido a Fe2+ na membrana plasmá tica das células
das ra ízes. O Fe2+ é transportado para o interior da membrana plasmá tica através de um
sistema específico de transporte ( Figjura
10a ) . A capacidade das ra ízes em reduzir Fe3+
para Fe2+ é fundamental na absorçã o deste cá tionpara muitas plantas, já que este necessita
ser reduzido antes de entrar nas células (Chaney et al., 1972 ) . O segundo processo, que
ocorre em gramíneas, como cevada , milho e aveia; envolve a extrusã o de sider óforos
pelas ra ízes. Após a libera çã o destes sider óforos, eles formam complexos com o Fe3+,
os quais sã o transportados para o interior das células das raízes, nã o ocorrendo reduçã o
para Fe2+ (Figura 10b ) ( Epstein & Bloóm, 2005).
No espa ço livre aparente, esse elpmento necessita estar presente na forma iô nica ou
como quelato. Segundo Rõ mheld & Nlarschner (1983), o Fe3+-qu elato é reduzido de forma ,

mais rá pida do que o FeCl 3. A velocidkde


de redu çã o do Fe é dependente do pH, de modo
que, em pH baixo, a velocidade de reduçã o é maior. Em exsudatos do xilema, o Fe parece
ocorrer na forma nã o quelatizada, embora seu transporte seja controlado por citrato.
Tanto a absor çã o quanto o transporte do Fe em plantas são afetados por fatores da planta

^
(processos metabólicos) e ambientai ( pH, concentra çã o de Ca e P).
Fun ções: A principal funçã o do Fe é a ativa çã o de enzimas, atuando como grupo
prosté tico. Participa em rea ções fundá mentais de óxidorredução, tanto em hemoproteínas
(citocromos, leghemoglobina, catalalse, peroxidase, super ó xido dismutase, etc.) como
em proteínas nã o-hémicas com liga çã o Fe-S como ferredoxina e enzimas redutase,
nitrogenase e sulfato-redutase.

ATP Part ícula


H +
<ê do Solo
sideróforo
Fe
3+
- quelato
^^ TADP ^
NADH

r-
Fe
2+. iMX
NAD + Fe 3+ - sideróforo
2+ 2+
Fe Fe
Interior Exterior Interior
Exterior
Membrana Membrana
Plasmática Plasmá tica
(a ) ( b)

Figura 10. Processos de absorçã o de ferro , (a ) Processo comum em dicotiled ôneas, como ervilha
tomate e soja. ( b) Processo comum em cevada, milho e aveia.
Fonte : Adaptado de Guerinot & Yi (1994) .

FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à N UTRI çã O DE PLANTAS 117

O Fe catalisa a biossíntese da clorofila, já que faz parte constituinte de enzimas


responsá veis pela sua forma çã o. Na ausência ae Fe, a planta só apresenta pigmentos
amarelos ( xantofila e caroteno ) . Faz parte da feijredoxina, transportador de elé trons de
natureza n ã o-porfir ínica que atua na fotossíntese e na reduçã o dos nitratos. Outras
enzimas que contê m Fe, mas que n ã o atuam como óxidorredutor, sã o a aconitase e a
xantin-oxidase. A fitoferritina [( FeO.OH )8 (Fe0.0P03H2) ] apresenta, aproximadamente,
5.000 á tomos de Fe3+ - é uma proteína de reserva .
Admite-se que o íon requerido no metabolismo é o ferroso, em cuja forma é absorvido
pela planta, já que é a forma de maior mobilidade e disponibilidade para sua incorporação
em estruturas biomoleculares . Certamente, cj íon f é rrico se forma e parte deste é
translocado às folhas como um quelato aniônicós do citrato.
Em rela çã o ao metabolismo do Fe na planta, deve-se levar em conta que este apresenta
baixa mobilidade nos tecidos vegetais . Esta mobilidade é afetada negativamente por
v á rios fatores, como o elevado conte ú do de P, dleficiência de K, quantidade elevada de
Mn e baixa intensidade luminosa . A presença de bicarbonato no meio radicular reduz a
mobilidade do Fe nos tecidos vegetais.
Teores na planta: Os teores de Fe nas plantas variam de 10 a 1.500 mg kg 1 de matéria
'

seca, dependendo da parte da planta e da espécie, considerando teores entre 50 e


100 mg kg 1 como adequados para um crescimento normal das plantas. As plantas
'

deficientes apresentam teores foliares menores que 10 mg kg 1, enquanto, acima de


'

80 mg kg 1, podem-se observar sintomas de toxidez ( Malavolta, 1980; Malavolta et al .,


'

1989; Pais & Jones J ú nior, 1996; Furlani, 2004 ).


Sintomas de defici ência e excesso: O efeito mais caracter ístico da deficiência de Fe
é a incapacidade das folhas jovens para sintetizar clorofila, tornando-se clor ó ticas, e,
algumas vezes, de cor branca (Figura 8) . O Fe é considerado imóvel na planta. A entrada

^
de Fe no floema é diminuída, provavelmente, p la forma çã o de compostos insol ú veis.
Contudo, uma vez que o Fe é levado a um órgão pejlo xilema, sua redistribuição é fortemente
limitada . Muitos dos sintomas de deficiência de Fe ocorrem pela baixa taxa de
transloca çã o, que pode provocar acumula çã o dJ
Fe nas ra ízes e folhas velhas, enquanto
as folhas jovens apresentam deficiências do elemento. Os sintomas visuais característicos
de deficiência sã o:
• As folhas velhas apresentam cor verde, enquanto as folhas jovens começam a
amarelar . Diversos estudos demonstram correla çã o entre o fornecimento de Fe e as
concentra ções de clorofila nas folhas.
• Conforme vai avanç ando a deficiê ncia, observa -se uma clorose internerval
característica, onde somente os vasos permanecem de cor verde, contrastando com
a cor amarelada ou esbranquiçada do limbo.
• Em casos de deficiência forte, o amareleciJnentopode ser total e aparecem zonas
necró ticas nos bordos do limbo, produzindo-se uma queda precoce das folhas e, em
casos muito graves, a desfolha total.
• Os caules e ramos permanecem finos e curvados, levando a uma redução do crescimento.

FERTILIDADE DO SOLO
118 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

• Em plantas anuais, ocorre um à diminuiçã o em seu crescimento, apresentando


aspecto raquítico e reduçã o da produ çã o. Em plantas arbó reas, ocorre queda de
folhas, os frutos sã o pequenos e kmadurecem precocemente.
Normalmente, os solos tropicais sã o bem providos de Fe; contudo, podem ocorrer
situa ções de deficiência de Fe nas plantas em decorr ência da imobiliza çã o do Fe. Trata -
se de carências induzidas ou secund á rias, manifestando-se pela falta de clorofila (clorose).
Em solos á cidos, ricos em fosfatos sol ú veis, pode ocorrer clorose f é rrica por precipita çã o
do Fe3+ na forma de FeP04. Na presen ça de Mn02, o Fe reduzido se oxida, passando à
forma f érrica não-assimilá vel. Assim, a disponibilidade de Fe depende mais do equilíbrio
Fe / Mn do que do seu teor absoluto. Também tem sido observada deficiência de Fe
mediante a a çã o de outros elementos metálicos, como o Cu, que pode substituir o Fe nos
quelatos do solo, originando sua imobiliza çã o, bem como de Zn e Co, que apresentam
efeitos similares, poré m de menos importâ ncia .
Considerando a rapidez de convprs ã o do Fe sol ú vel em compostos insol ú veis nã o-
disponíveis para a planta , verifica -se cpie sã o raros os casos de toxidez por Fe. Solos com
teores de Fe total superiores a 50 g ijg 1 n ã o provocam efeitos tóxicos na maioria dos
'

cultivos. Para o arroz irrigado por inunda çã o, tem-se observado toxidez de Fe, onde os
teores de Fe-ferroso sã o muito elevados.

Mangan ês
O teor de Mn na crosta terrestre é de, aproximadamente, 900 mg kg 1, sendo '

considerado o d écimo primeiro elemento mais abundante na natureza . O Mn no solo é


componente de óxidos, carbonatos, sil catos e sulfetos. Os óxidos e sulfetos de Mn sã o as

"
^ijcg
formas encontradas com mais frequ ência nos solos, sendo comum a sua ocorrência em
associa çã o com o Fe. Nos solos, os teores de Mn encontram -se, geralmente, na faixa de 20
a 3.000 mg kg 1, com m é dia de 60 mg 1
( Lindsay, 1979 ) .
'

O Mn nos solos tem valências 2, 3 e 4. Na soluçã o do solo e na forma trocá vel está
principalmente como Mn 2 +, enquanto o Mn3+ e Mn 4+ formam óxidos praticamente
insol ú veis. O teor do Mn total em so os minerais varia de 300 a 7.000 mg kg 1, embora
'

ocorram teores menores ou muito maiores. Em muitos solos, a fra çã o principal do Mn


encontra -se sob a forma nã o-trocá vel e dificilmente sol ú vel. 7
A presença de Mn disponível (Mn 2+) depende tanto do pH como do potencial redox
do solo. Em valor de pH superior a 5,5, a oxida çã o por a çã o bioló gica em solos bem
arejados é favorecida, no entanto, sua disponibilidade diminui. Por outro lado, as formas
oxidadas se reduzem, tornando-se rrJaisdisponíveis a pH mais á cido e em solos com
baixo potencial redox.
O Mn é mais mó vel no solo do que o Fe e, freq úentemente, distribui-se no perfil do
solo de forma diferente deste último elemento. Considerando que as substâ ncias h úmicas
reduzem o Mn facilmente e que o elemento se oxida com dificuldade em meio ácido, tem-
se, nestas condi ções, maior migra çã o do elemento no perfil do solo . - -

^
Os principais fatores do solo qu determinam a disponibilidade de Mn são pH,
condições de óxidorredu çã o, teores de matéria orgâ nica e equilíbrio com outros cá tions,

FERTI .IDADE DO SOLO


III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 119

principalmente Fe, Ca e Mg ( Bartlett, 1988; Reisenauer, 1988) . Os valores de pH entre 6,0


e 6,5 parecem ser cr íticos. Valores baixos de pH favorecem a redu çã o, enquanto valores
altos favorecem a oxida çã o.

Forma de absor çã o: O Mn pode ser absorvido pelas plantas como Mn2+ . Considera -
se que as plantas nã o absorvem o Mn4 +, enquanto se desconhece sua capacidade para
absorver apreciá veis quantidades de Mn3+, já que este é muito instá vel. Acredita -se existir
um equilíbrio dinâ mico entre as formas de Mn|sendo os microrganismos os principais
responsá veis pela sua oxida çã o entre pH 5,0 e 7,9, enquanto a oxida çã o nã o-biológica
ocorre somente acima de pH 8,0.
!
Tem sido encontrada evid ê ncia de que a absor çã o de Mn é controlada
metabolicamente, possivelmente de forma similar à quela que ocorre para outros cá tions,
como o Mg e o Ca . Entretanto, a absor çã o passiva deste elemento também pode ocorrer,
principalmente quando o metal encontra -se ení concentra ções tó xicas na soluçã o.
O Mn ocorre na seiva das plantas na forma livre Mn2+. Goor & Wiersma (1976)
relataram uma concentra çã o menor de Mn em ê xsudatos do floema do que em tecidos
das folhas, indicando que o pequeno transporte
do elemento através do floema é
responsá vel pela sua baixa concentra çã o em frutos, sementes e ó rgã os de reserva das
ra ízes .
Heenan & Campbell (1980) relataram que, na condiçã o de bom suprimento de Mn,
as folhas acumulam altas concentra ções com o aumento da idade da planta, sendo
pequena proporçã o do elemento translocada das folhas velhas para as novas, onde o
elemento é deficiente. Contudo, deve-sé considerar que a concentra çã o de Mn varia
grandemente dentro da planta e durante seu crescimento.
Considera -se que o Mn é facilmente absorvido pelas plantas, quando ocorre na forma
sol ú vel no solo, existindo uma rela çã o direta entre o teor sol úvel do elemento no solo e a
concentra çã o na planta . Por outro lado, existe correla çã o negativa entre o teor de Mn nas
plantas e o aumento do pH, bem como uma correlaçã o positiva com o teor de matéria
orgâ nica do solo. !
Fun ções: O Mn é necessá rio à síntese d é clorofila . Sua funçã o principal está
relacionada com a ativa çã o de enzimas. Participa no funcionamento do fotossistema II
da fotossíntese, sendo responsá vel pela fotólisé da á gua . O Mn pode atuar no balanço
iônico como um contra-íon, reagindo com grupos aniônicos. Grande nú mero de enzimas
são ativadas pelo Mn, especialmente aquelas envolvidas em metabolismos intermediá rios
( Dechen et al., 1991a ).
tf
Teores na planta: Os teores de Mn nas plantas variam de 5 a 1.500 mg kg 1 de matéria
'

seca, dependendo da parte da planta analisada e da espécie, considerando teores entre


20 e 500 mg kg 1 como adequados para o crescimento normal das plantas. Em muitas
"

plantas, as folhas com sintomas de deficiência contêm teores de Mn inferiores a 20 mg kg 1,


'

enquanto teores superiores a 700 mg kg 1 sã o considerados tóxicos (Malavolta, 1980;


'

Malavolta et al., 1989; Pais & Jones J ú nior, 1996; Furlani, 2004).

FERTILIDADE DO SOLO
120 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

Sintomas de defici ê ncia e excesso: As deficiências de Mn nã o sã o muito comuns,


apesar de que certas desordens nutricionais como a "mancha cinza" da aveia é conhecida
há bastante tempo, sendo controlada <;om sais de Mn . Os sintomas de deficiência de Mn
podem ocorrer tanto em folhas joveris como em folhas velhas e compreendem ampla
variedade de manchas cloró ticas e necr ó ticas. Os sintomas iniciais sã o, freqiientemente,
cloroses entre as nervuras, tanto em folhas jovens como velhas, dependendo das espécies,
seguidas de lesões necr ó ticas ( Figura 8) . A defici ência de Mn é mais comum em solos
orgâ nicos que em inorgâ nicos, embora o elemento se encontre, geralmente, nas mesmas
formas nos dois tipos de solos . No eijtanto, a proporçã o de Mn encontrada , formando
complexos com a matéria orgâ nica , é inuito mais alta em solos orgâ nicos.
[
A deficiência de Mn tem o efeit ) mais severo ‘no conte ú do de carboidratos nã o
estruturais (Quadro 6) . Esta diminuiçã o no conte ú do de carboidratos é particularmente
evidente nas raízes e é, provavelmentq, o fator responsá vel pela reduçã o no crescimento
de ra ízes de plantas deficientes neste hutriente.

Quadro 6. Efeito do manganês no crescimento ( M .S.) e na composiçã o do feijoeiro

Folha Caule Raiz


Planta
- Mn + Mn - Mn + Mn - Mn + Mn

Produ çã o de MS ( g / planta) '


0,46 0,64 0,38 0,55 0,14 0, 21
1
Carboidratos sol ú veis ( g kg ) '
4,00 17,50 14,50 35,60 0,90 7,60

Fonte: Adaptado de Marschner (1995).

Considera -se que a acumula çã o de Mn2+ é tó xica para a maioria das plantas
cultivadas. Nas condições de solos ricos em h ú mus, com pH inferior ou igual a 5,5 e com
elevadas condições redutoras, pode ocorrer acú mulo deste elemento, pelo fato de ser, em
valores baixos de pFf , sua forma absorvida (bivalente) mais abundante, podendo levar à
absor çã o pelas plantas em quantidades superiores à s necessá rias para o seu ó timo
desenvolvimento . Os sintomas de toxidez sã o mais visíveis em plantas jovens,
manifestando-se por meio de manchas marrons nas folhas.

Molibdênio
É um elemento relativamente raro. O teor de Mo na crosta terrestre varia de 1,0 a
2,3 mg kg 1 e, nos solos, varia de 1 a 2 ipg kg 1, podendo chegar até 24 mg kg 1 (Adriano,
' ' '

1986) . Os extratores á cidos diluídos ou o acetato de amónio 1 mol L 1 pFf 7, usualmente,


indicam teores menores que 0,2 mg kg 1 nos solos. O Mo existe no solo sob três formas: na
"

soluçã o do solo como íons molibdato, tMo042 ou HMo04 , adsorvidos em formas lábil e
" ‘

nã o-lá bil, como constituinte dos minerais do solo e da matéria orgâ nica .
A concentra çã o do íon molibdato na solução do solo é muito pequena, variando com
o pH e com a presença do P. Esta cancentra çã o aumenta com o pH, de modo que,
r.

FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à I
^ UTRI çã O DE PLANTAS 121

aumentando o pH do solo de 5,4 a 6,4, pode aumentar a concentraçã o foliar de Mo em


500 % ( Figura 11) . Quanto ao Mo l á bil, a adsor çã o do íon molibdato assemelha -se à
adsor çã o do sulfato e fosfato . Os íons sulfafos competem fracamente com os íons
molibdatos por sítios de adsor çã o, enquanto os íons fosfatos competem fortemente. Já o
Mo nã o-lá bil ou estrutural está presente em rochas ígneas, como molibdenita ( MoS2) e
como o molibdato prim á rio powelita ( CaMóOJ e wulfenita ( PbMoOQ; també m é
encontrado em olivinas. No solo, o Mo está ligá do à matéria orgâ nica e a oxihidróxidos
de Fe e Al.

Figura 11. Rela çã o entre o pH do solo e a disponibilidade de manganês, molibd ênio e f ósforo
para a cultura do feijoeiro. I

Fonte: Adaptado de Quaggio et al. (1985).

Forma de absorçã o: O Mo é absorvido na forma do â nion Mo042~ e sua absorção é


proporcional à sua concentra çã o na soluçã o do solo, que pode ser reduzida pelo efeito
competitivo do S042 (Reisenauer, 1963) . Emborá nã o existam evidências diretas, é aceito
"

que o Mo seja absorvido metabolicamente. Considera -se que o Mo é moderadamente

^
móvel nas plantas; contudo, a forma como é tran locado na planta ainda nã o é conhecida.
Resultados evidenciam que o Mo se prove no xilerria como Mo042 , como Mo-S-aminoácido
complexo ou como molibdato complexado com a çúcares (Tiffin, 1972).
'

As plantas requerem pequenas quantidad ês de Mo: menos de 1 mg kg 1 de Mo na '

matéria seca, o que representa, em geral, 40 a 50 g ha 1 para suprir as necessidades da


'

maioria das culturas.


Grandes quantidades de molibdato podem ser absorvidas pelas plantas sem efeitos
tóxicos. O molibdato é um á cido fraco que pode formar complexos polianiônicos com o
P, como o fosfomolibdato, de modo que, possivelmente, altas concentra ções sã o
sequestradas sob esta forma nas plantas.

FERTILIDADE DQI SOLO


122 ANTONIO ROQUE DEC
^ EN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

Fun ções : Grande parte do Mo ençontra -se na enzima nitrato- redutase das ra ízes e
colmos das plantas superiores, a qual Catalisa a redu çã o do íon N03 a N02\ A nitrato-
'

redutase das plantas superiores é encontrada como uma molibdoflavoproteina sol úvel,
que, nas folhas pode estar associada à atividade dos cloroplastos . A enzima oxidada
contém quase sempre Mo. A enzima nitrato-redutase tem o Mo ligado de forma reversível.
Assim, plantas com deficiência de Mo cjpresentam
ac ú mulo de N02 , de modo que a falta
"

de Mo tem efeito similar à falta de N .


Nas ra ízes com nódulos das plantks fixadoras de N 2, o Mo encontra -se quase todo

^
na enzima nitrato redutase e na nitro enase dos bacteróides nodulares. Ainda que os
microrganismos contenham outras enzimas com Mo (sulfito-oxidase, aldeído-oxidase,
*
xantina -desidrogenase e oxidase ), nã cj existem evidê ncias da presenç a destas enzimas
nas plantas superiores. A enzima nitrogenase é um constituinte das bactérias simbióticas
e actinomicetes, enquanto a nitrato-redutase é a ú nica enzima com Mo nas plantas
superiores. Considerando unicamen] te o metabolismo do N, as plantas superiores
poderiam crescer na ausência de Mo, quando o N é disponibilizado na forma de NH4 +.
!
O Mo também participa das enzimás sulfito-redutase e xantin-oxidase. A deficiência
de Mo repercute negativamente na fornjia çã o de ácido ascó rbico, no conte údo de clorofila
e na atividade respirató ria .

Teores na planta: Os teores de IVÍo nas plantas variam de 0,01 a 500 mg kg 1 de "

matéria seca da planta, dependendo da parte da planta e da espécie, considerando teores


entre 0,6 e 10 mg kg 1 como adequados jjara o crescimento normal das plantas. As plantas
'

deficientes apresentam teores foliares eijrtre 0,01 e 0,6 mg kg 1 (Malavolta, 1980; Malavolta
'

et al., 1989; Pais & Jones J ú nior, 1996; Furlani, 2004) .

Sintomas de defici ê ncia e excesso: O sintoma característico de deficiência é que as


folhas, ainda mantendo a cor verde, deformam-se, em decorr ê ncia da morte de algumas
células do parênquima . As folhas apresentam tamanho reduzido, clorose e mosqueados
de cor marrom em toda ou parte da folha; surgem zonas necróticas na ponta da folha, que
se estendem aos bordos ( Figura 8). Por último, a folha morre, provocando uma queda
~
prematura . A deficiência em Mo provoca concentra çã o anormal de N03 nas folhas e,
portanto, influi no metabolismo do N. A deficiê ncia de Mo pode influenciar a
produtividade.
Os casos de toxidez por Mo nã o sã o muito frequentes, tendo-se relatos de plantas
sem sintomas de toxidez, que crescem em regiões de minas com teores de até 200 mg kg 1 '

em folha . Podem surgir casos de toxidez por Mo em bovinos por ingerir forragens com
alto conteúdo deste elemento, ocorrendo transtornos intestinais. O excesso de Mo na
dieta animal interfere na retençã o de Cu pelos ruminantes, dist ú rbio conhecido como
molibdenose.

Ní quel
Elemento químico, metal ferromagné tico de transiçã o pertencente ao grupo VIII da
tabela periódica , resistente à oxidaçã o e corrosã o, de cor branca prateada, mais forte e
duro do que o Fe.

F é RTIL DADE DO SOLO


III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 123

O teor de Ni na crosta terrestre é de, apipximadamente, 0,16 g kg 1, sendo um'

componente comum de rochas ígneas. Segundo Pais & Jones J ú nior (1996), os teores no
solo variam de 1 a 200 mg kg 1. As fontes mais importantes de Ni sã o as pentandlitas
"

( pirrotita e calcopirita ), bem como as enlateritas (garnierita ).


O Ni é o elemento mais recentemente identificado como essencial para as plantas
superiores ( Brown et al., 1987) . Embora existam poucas
informações sobre os fatores que
afetam a disponibilidade do Ni, pode-se supor que os fatores que afetam a disponibilidade
dos outros metais afetam também a disponibilidade deste elemento .

Forma de absorçã o: As plantas o absorvem em forma de cá tion divalente ( Ni2+ ),


sendo seu teor na solu çã o do solo muito pequeno, ainda que possa ser mais abundante
nos solos onde ocorrem serpentinas. Neste caso, pode ocorrer toxidez do elemento para
a maior parte das espécies, ainda que existam algumas que o toleram bem, já que podem
tornar o Ni inativo pela forma çã o de complexos ):om á cidos orgâ nicos.
O Ni apresenta capacidade intermediá ria d ê redistribuiçã o . Há , entretanto, pouca
informa çã o sobre a sua redistribuiçã o na planta . Segundo Neumann & Chamei (1986), a
capacidade de remobiliza çã o no Ni em gerâ nio foi de 0,01 %, comparada com 0,04 %
para S6Rb e 0,00 % para 45Ca .

Funções: O Ni faz parte da metaloenzima urease (que contém dois á tomos de Ni por
molécula ), a qual participa da decomposiçã o da uréia para amónio e C02. Deste modo,
este elemento é importante para as plantas que recebem aduba ções com uréia ou com
seus derivados (por exemplo, na aduba çã o foliar ), exercendo papel importante no
metabolismo do N . Alguns resultados de pesquisa mostram que existem respostas das
plantas, como o arroz e a soja, à adiçã o de Ni, quá ndo se utilizou uréia como fonte de N.
Na soja, o Ni pode aumentar a atividade da ureqse foliar, impedindo a acumula çã o de
quantidades tóxicas de ur éia .

Teores na planta: Os teores de Ni na planta variam entre 0,3 e 3,5 mg kg 1 de maté ria
'

seca, dependendo da parte da planta e da espécie; tèores próximos a 1,5 mg kg 1 sã o '

considerados adequados para o crescimento norínal das plantas (Malavolta , 2006) . Para
plantas de cevada , 0,1 pg kg 1 é considerada uma concentraçã o crítica, onde concentrações
'

nos grã os menores que 100 ng kg 1 reduzem a germina ção de semente significativamente e
'

menores que 50 ng kg 1 reduzem a germina çã o elm até 70 % ( Brown et al., 1987) .


"

Sintomas de defici ê ncia e excesso: Os sintomas de deficiência de Ni em plantas


leguminosas caracterizam-se pelo ac ú mulo de uréia, provocando necrose dos folíolos. A
uréia é produzida durante o metabolismo do N, em plantas superiores, onde o Ni evita a

^
acumula ção de concentra ções tóxicas de uréia . .s folhas das plantas que contêm teores
tóxicos de uréia apresentam sintomas de necrose, com teores de Ni que variam de 0,01 a
0,15 mg kg 1 de matéria seca da planta . Plantas de tomate ( Lycopersicon esculentum L.)
'

deficientes em Ni apresentam clorose em folh âs jovens, evoluindo para necrose do


meristema . A deficiência de Ni afeta o crescimento, o metabolismo, o envelhecimento e a
absor çã o de Fe pelas plantas. O Ni aumenta a resistência de plantas a doenças.

FERTILIDADE DOI SOLO


124 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

Zinco

O teor de Zn na crosta terrestre é de, aproximadamente, 70 mg kg 1, atingindo, na


'

litosfera , teor m édio de 8 mg kg 1. O teor de Zn nas rochas ígneas varia de 40 mg kg 1


" "

( granito ) a 130 mg kg 1 ( basalto ) e nas rochas sedimentares de 16 mg kg 1 (arenito) a


' '

96 mg kg 1 ( folhelho ) (Souza & Ferreira, 1991). Nos solos, os teores de Zn geralmente


"

encontram-se na faixa de 10 a 300 mg kg 1 de Zn total, o que nã o se correlaciona com sua


"

disponibilidade (Lindsay, 1979 ).


O conteú do de Zn pode ser afetado pelo pH do solo, de forma que o Zn se encontra
mais disponível em solos com pH baixo (solos á cidos ) que em solos com pH alto (solos
alcalinos), apresentando sua mínima disponibilidade em pH acima de 7 (Figura 12) . A
calagem excessiva pode provocar deficiência de Zn. Nos solos com pH ácido, a deficiência
de Zn pode aparecer depois da aplica çã o de adubos com fosfatos sol ú veis, que formam
fosfatos de Zn de baixa solubilidade. Nos solos carboná ticos, de alto pH, geralmente
ocorrem deficiências intensas de Zn.

Forma de absorçã o: O Zn é absorvido na forma de Zn2+ tanto por via radicular como
foliar. A mobilidade de redistribuiçã o do Zn na planta é muito pequena, de forma que se
encontra concentrado em grande parte na raiz, enquanto, nos frutos, seu conte údo é
sempre menor.

Funções: O Zn é um micronutrie rlte


que atua como cofator enzimá tico. É essencial
para a atividade, regula çã o e estabiliza çã o da estrutura proteica ou uma combina çã o
destas:
• Constituinte (estrutural ) de enzimas desidrogenases, como álcool, lactato, malato e
glutamato-desidrogenase; superóxido-dismutase e anidrase carbónica. Esta última
catalisa a dissolu çã o de C02 como passo pr évio à sua assimila çã o:

Figura 12. Rela çã o entre os teores de zinco em um Neossolo obtidos pelo m é todo CaCl2
10 mmol L 1 e o pH do solo.
"

Fonte: Nogueirol et al. ( 2004 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 125

C02 + H20 —> HC 03 + H


.


Participa na ativa çã o enzimá tica da trifosfato-desidrogenase, enzima essencial na
glicólise, bem como nos processos de respira çã o e fermenta çã o; e da aldolases,
encarregadas do desdobramento do éster difosf ó rico da frutose.
• Afeta a síntese e conserva çã o de auxinas, horm ô nios vegetais envolvidos no
crescimento, gra ças à sua participa çã o ria síntese do triptofano, amino á cido
precursor do á cido indol acé tico.

Teores na planta : Os teores de Zn nas plantas


1
variam de 3 a 150 mg kg 1 de
'

matéria seca da planta. Teores inferiores a 25 mg kg caracterizam deficiência do elemento


"

nas folhas ( Malavolta , 1980; Malavolta et al., 1989; Pais & Jones J ú nior, 1996; Furlani,
2004 ) .

Sintomas de defici ê ncia e excesso: Na deficiência de Zn, a planta sofre efeito


dr ástico sobre sua atividade enzimá tica, desenvolvimento dos cloroplastos, conteú do de
proteínas e ácidos nucléicos. As deficiências pe
Zn costumam ocorrer nos cultivos
plurianuais, sendo menos importantes em cultivos anuais, embora possam ocorrer
deficiências neste tipo de cultivos, como é o caso do milho.
A deficiência se manifesta no crescimento restrito da gema terminal, o que se traduz
num crescimento em forma de roseta nos cultivos herbáceos, enquanto, em outros cultivos,
encurtam-se os entrenós (Figura 8). Os sintomas aparecem sempre nas folhas mais jovens,
que apresentam zonas cloróticas que terminam nècrosadas, afetando todo o parênquima
foliar e as nervuras. O tamanho das folhas é pequeno. Deve-se levar em conta que todas
as plantas com deficiências em Zn apresentam folhas com elevados conteúdos de Fe, Mn,
nitratos e fosfatos, enquanto os conteú dos em anjú do sã o baixos.
A intera çã o entre Zn e P tem sido bastante estudada, sendo verificado que altos
teores de P provocam a deficiência de Zn. Marschner & Schropp (1977) verificaram que
altos teores de P em videira, cultivada em vasos cóm solo calcá rio, ocasionaram sintomas
de deficiência de Zn nas folhas, apresentando baixas concentra ções de Zn nas folhas
novas, bem como reduçã o no crescimento. Em experimentos com soluçã o nutritiva,
realizados paralelamente, nã o foi verificada deficjiência de Zn, embora sua concentra çã o
na & folhas de videira tenha sido inferior à das fplhas com sintomas de deficiência do
experimento com solo (Quadro 7) . m

Nã o é normal a ocorrência de toxidez por Zn em solos com pH elevado, já que, nesta


situaçã o, ocorre imobiliza çã o do Zn. Contudo, é possível verificar toxidez de Zn em
solos á cidos ou em solos cujo material de origem sã o rochas ricas nesse elemento.
Igualmente, pode existir contamina çã o por Zn pór fontes industriais ou por aplica ções
de resíduos orgâ nicos. Nos casos de toxidez por Zn, as folhas apresentam pigmentações
vermelhas no pecíolo e nas nervuras, sendo também verificada clorose resultante da
baixa concentraçã o de Fe (o Zn impede a reduçã o do Fe, bem como pode impedir o seu
transporte para o interior da planta ) .

FERTILIDADE DO SOLO
126 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

Quadro 7. Produ çã o de maté ria seca, teor de f ósforo e zinco em folhas de videira e rela çã o
P / Zn, considerando a aplica çã o de doses de P no solo e em solu çã o nutritiva

Teor em folhas novas


Dose Rela çã o
Mat é ria seca
de P P Zn P/Zn

mmol kg- i g / planta g kg 1 MS mg kg 1 MS


"

Solo
0,3 19,9 2,63 26,6 99
3,0 19,9 2,69 19,7 137
6,0 17, 2 3,06 15,5 197

Solu çã o nutritiva
1
mmol L
"

0 ,1 15,7 2,72 15,7 173


1, 0 15, 2 8,60 13,9 678
5,0 15,5 13,47 13,8 976

Fonte : Adaptado de Marschner & Schropp (1977).

ELEMENTOS BEN ÉFICOS

Segundo Furlani (2004), os elementos minerais que estimulam o crescimento das


plantas, embora nã o-essenciais, ou entã o essenciais somente para algumas espécies de
plantas, ou sob condições específicas, sã o comumente chamados de elementos benéficos.
Podem ser classificados como elementos benéficos: Na, Si, Se e Co.

Sódio

Elemento qu ímico pertencente ao grupo Ia da tabela periódica (grupo dos metais t


alcalinos) . É um metal macio, prateado, abundante na natureza em compostos como o
sal comum. Encontra-se na natureza como sal marinho, cloreto de sódio ( NaCl), como o
mineral halita e na á gua de mar, na qual o Na forma 31 % dos constituintes dissolvidos.
O Na é o sexto elemento em abund â ncia na terra, constituindo 2,8 % da crosta terrestre.
O Na encontra -se como cá tion monovalente ( Na + ), adsorvido aos colóides de argila, e,
quando em elevadas concentrações, é capaz de deslocar o Ca 2+ e o K +, afetando a estrutura
do solo.
O Na é um ativador de enzimas ATP-ases em animais e, provavelmente, em plantas.
Pode substituir o K, na ativa çã o da ADP-glucosapirofosforilase que atua na síntese do
amido. O Na + é requerido para o metabolismo ácido de crasuláceas (MAC ) e pela maioria
das espécies que utilizam a via metabólica C4. Nessas plantas, o Na é vital para a

FERTI L I D A D E DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 127

regenera çã o do á cido fosfoenolpir ú vico, substrato da primeira carboxila çã o das plantas


C4 e no MAC . Muitas espécies C3 se beneficiam também de concentra ções baixas de Na .
O Na estimula o crescimento por meio do alongamento celular e pode substituir o K como
um soluto osmoticamente ativo. Quanto à tolerâ ncia a este elemento, as plantas se dividem
em natrof ílicas e natrof óbicas.
A deficiência de Na causa nas plantas natrof ílicas cloroses e necroses e impede a
forma çã o de flores.

Silício
O Si representa 27,7 % da crosta terrestre. É encontrado na natureza na forma de
óxidos (Si02), fazendo parte de rochas, areia e argila . Combina -se com o Al, Mg, Ca, Na,
K ou Fe, formando silicatos. Seus compostos encimtram-se, també m, em á guas naturais,
na atmosfera, como pó de Si, e em tecidos e compostos orgâ nicos de algumas plantas. Na
solu çã o do solo, o Si encontra -se na forma de á cido monosilícico, H4Si04, em cuja forma
é absorvido.
O Si deposita -se em forma amorfa nas paredes celulares das plantas, contribuindo
com a rigidez e elasticidade. O Si é requerido somente por espécies da família Equisetá ceas
para completar seu ciclo de vida . No entanto, militas
espécies acumulam concentra ções
altas de Si em seus tecidos, contribuindo para melhorar o crescimento e a produtividade
destas plantas. Nas gramíneas, al ém de se depositar na parede celular da epiderme,
encontra -se presente no interior de células, como as células buliformes, e no xilema .
Na plantas, o Si é depositado, como sf ica hidratada amorfa (Si 02. nH 20 ) ,
primeiramente no retículo endoplasmá tico, na parede celular e nos espaços intercelulares.
No interior das células, o Si acumula -se também em células epid é rmicas especializadas,
chamadas de células silíceas. Existem trabalhos que comprovam a essencialidade do Si
para a cana -de-a çúcar, tomate e pepino. O Si aumenta a resistência do arroz ao ataque
de fungos e aumenta o rendimento do cultivo.
toxidez causada pelo Fe e Mn nos cultivos de arroz.
Observou
-se que os silicatos diminuem a

As plantas deficientes em Si sã o quebradiças e susceptíveis a infecções por fungos.


O Si pode diminuir a toxidez causada por metais pesados.

Sel ê nio

O Se apresenta propriedades químicas e f ísicas semelhantes às do S. É um elemento


ií altamente reativo, formando mais de 170 combinações sólidas, três combina ções líquidas
(Se2Cl2, SeF4, e CSe2) e duas combinações gasosas (H2Se e SeF6) (Chizhikov & Shchastlivyi,
1968) . O teor de Se no solo varia entre 0,1 e 2,0 mg kg 1; quando o teor no solo for menor
'

^
que 0,6 mg kg 1, a concentraçã o deste elemento n s plantas pode-se tornar deficiente em
'

termos de sa ú de animal.
O Se nã o é um elemento essencial para plantas, embora esteja sendo aplicado ao
solo, em á reas deficientes, para assegurar que os alimentos possuam quantidades

FERTILIDADE DO SOLO
128 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL

dos animais e do homem. A solubilidade do


suficientes para satisfazer às necessidades
Se no solo é baixa, embora, quando solúvel na solução do solo, seja prontamente absorvido,
como selenato (Se042 ), pelas plantas. A disponibilidade do Se para as plantas é afetada
'

pelas condi ções clim á ticas, condiçõ es de oxirredu çã o, pH e teor de sesquióxidos do


solo. A absor çã o e a acumula çã o de Se pelas plantas s ã o afetadas por outros
elementos, como N, P e S, bem como pela maioria do micronutriente (Pais & Jones J únior,
1996 ) .
Plantas deficientes em Se ( menos de 100 gg kg 1 ) ocorrem em condições onde o solo
'

apresenta teores menores que 0,6 mg kg 1. Teores entre 0,1 e 0,3 mg kg 1 na matéria seca
" '

de plantas utilizadas na dieta sã o necessá rios aos animais, contudo, pode ser um elemento
altamente t ó xico, considerando -se o teor m á ximo de Se nas forragens de 1,0 a
5,0 mg kg 1 (Furlani, 2004).
'

Cobalto

O Co constitui apenas 0,001 % d á crosta terrestre, onde se apresenta em pequenos

^
teores ou associado a outros elemento , em minerais como a a cobaltita (CoAsS), eritrina
(CO3( AS04)2.8H20) e esmaltita (CoAs 2) Um dos principais sais de Co é o sulfato (CoSOJ .
O Co apresenta teores totais que variam de 1 a 40 mg kg 1, e na á gua do mar ,
'

aproximadamente, 0,1 ng L 1. Faz paite de moléculas importantes para o metabolismo


'

animal, como a vitamina B12.


O Co é essencial para algas azul-verdes e microrganismos que fixam o N 2 atmosf érico,
mas ainda nã o foi estabelecida a essencialidade do Co para plantas superiores, já que
nã o existem evidências de qualquer funçã o direta deste nutriente na planta, embora
existam evid ências de alguns efeitos benéficos (Epstein & Bloom, 2005) . Plantas que
dependem da fixa ção do N2, como as leguminosas, mas que têm acesso ao amónio, nitrato,
ou aminoá cidos, nã o dependem do to. Por outro lado, quando estas plantas que
dependem de fixa ção de N2 atmosf é ricjo
nã o tem acesso a esses compostos nitrogenados,
o Co é essencial para o seu crescimehto (Reisenauer , 1960; Ahmed & Evans, 1961) . O
Co faz parte do complexo enzim á dco cobalamina ( vitamina B12 e metab ólitos
relacionados), que atua na fixa ção do N 2 por bacteróides, indicando a exigência de Co
para os microrganismos fixadores.
O teor de Co nas plantas varia de 0,05 a 0,30 mg kg 1, apresentado as plantas
"

leguminosas maior concentra çã o do q|ue as gram íneas (Furlani, 2004). Os sintomas de


deficiência de Co se caracterizam por sintomas típicos de deficiência de N. Quanto à
toxidez por Co, os sintomas se carac erizam por cloroses, e os teores tóxicos variam
amplamente entre 6 e 143 mg kg 1, dependendo da espécie.
'

Para leguminosas, o teor de Co nas sementes tem grande importâ ncia em condições
de solos que apresentam deficiência deste elemento. A aplica çã o de Co em plantas
forrageiras, em condições de solos com deficiência deste elemento, é importante para
animais ruminantes ^ já que o Co é epsencial para a microflora do r ú men, por estar
envolvido na síntese da vitamina B12 (Furlani, 2004).

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELA ÇAO SOLO- PLANTA

Roberto Ferreira Novais17 & Jaime Wilson Vargas de Mello17

1/
Departamento de Solos, Universidade Federal de Vi çosa - UFV . Av . PH Rolfs, s / n,
CEP 36570 -000 Vi ç psa ( MG ) .
rfnovais@ ufv . br; jwvoello@ ufv . br

Conte ú do
INTRODU ÇÃ O 134

PROPRIEDADES FÍSICO-QU Í MICAS DO SOLO 135


Fases do Solo 135
Sistema Coloidal 136
Mineralogia da Fraçã o Argila 138
Argilas Silicatadas 138
Argilas Não Silicatadas - Óxidos e Hidróxidos de Fe e de AI 143
Origem das Cargas Elé tricas do Solo 143
Cargas Negativas . 143
Cargas Positivas 144
Densidade de Carga . 145
Adsorçã o e Troca Iônica 145
r Capacidade de Troca Catiônica 146
Dupla Camada Difusa J 149
Caracter ísticas da CTC do Solo 151
Capacidade de Troca Aniônica 155
Fatores Intensidade, Quantidade e Capacidade Tampã o 157
Fator Intensidade 159
Fator Quantidade 166
Capacidade ou Poder Tampão de Nutrientes no Solo . 167

TRANSPORTE DE NUTRIENTES NO SOLO 170


Introdu çã o \ 170
Fluxo de Massa, Fluxo Difusivo ( Difusã o) e Intercepta çã p de Ra ízes 171
v. Intercepta çã o de Ra ízes J 174
Fluxo de Massa 175
d
t Fluxo Difusivo 175
Calagem e Fosfatagem 177

SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. N OVAIS, R .F., ALVAREZ V., V . H ., BARROS,
N . F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R .B. & NEVES, J . 3.L. ) .

í
134 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

Calagem e Fosfatagem 177


A

Anion Acompanhante 179


Conte ú do de Água 179
Considera ções 181
Compacta çã o do Solo 182
Idade da Planta 185
Intera çã o Doses de Nutrientes Versus Popula çã o de Plantas 185
Considera ções Finais 186

ABSORÇÃ O ( AQUISIÇÃO ) DE
Introdu çã o
NUTRIENTES 186
186
r
Determina çã o das Constantes Ciné ticas d è Absor çã o 190

Modelos Mecanísticos de Absorçã o


|
Relaçã o entre as Constantes Km, Im á x e Cmín e a Absorçã o de Nutrientes
j.
192
194
An álise de Sensibilidade dos Modelos Ivkecanísticos de Absorção 197

LITERATURA CITADA 198

INTRODU ÇÃ O

Neste capítulo, o solo é considerado como reserva, dreno e fonte de nutrientes para
as plantas, à semelhança de um sistema bancá rio que administra o dinheiro de seus
correntistas, guardando-o, protegendo-o, liberando recursos quando solicitados e, de
modo muito importante, evitando perdas. O solo como "sistema bancá rio" dos nutrientes
tem cargas negativas e positivas de modo a proceder essa administraçã o, tanto dos cá tions
como dos â nions, nutrientes ou nã o
As cargas do solo ao lado da fotpssíntese sã o considerados os dois fenô menos mais
importantes para a existência da vida na Terra . A compreensão dos processos de liberação
de nutrientes, neste caso, quando u,m dreno como a planta o requisita, vai permitir a
otimiza çã o dos nutrientes aplicados por meio de fertilizantes, sua mais eficiente absorçã o
e utilização pelas plantas e proteçã o pio ambiente, nã o permitindo a chegada de grandes
quantidades de nutrientes em suas guas superficiais.
^
O suprimento de nutrientes para as plantas implica nã o apenas seu conte údo nos
solos mas també m seu transporte á té à superf ície das raízes para serem absorvidos .
Portanto, solos compactados, deficientes em á gua, poder ã o ser f érteis e as plantas neles
cultivadas apresentarem deficiência nutricional por falta de transporte dos nutrientes
até às ra ízes. A chegada dos nutriehtes junto à s ra ízes nã o é necessariamente garantia
de absor çã o plena pelas plantas. Há espécies de plantas mais eficientes em absorver
determinado nutriente que outras, pà ra o mesmo suprimento externo pelo solo.
A avalia çã o da eficiência de uma planta em absorver um nutriente, sua ciné tica de
absor çã o, é, portanto, de import â ncia nos processos de seleçã o de gen ó tipos
nutricionalmente mais eficientes em condições diversas de crescimento.

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO- PLANTA 135

Assim, neste capítulo, sã o tratados os tr ês componentes principais da rela çã o solo-


planta: as propriedades fisico-químicas do solo que o caracterizam como um controlador
de suprimento e de perdas de nutrientes; os mecanismos de transporte de nutrientes no
solo até às ra ízes e, por último, a ciné tica de absor çã o ou aquisiçã o de nutrientes pelas
plantas.

PROPRIEDADES F Í SICO - QU Í MICAS DO SOLO


Fases do Solo

Um solo mineral, pr ó ximo à superf ície, com condi ções f ísicas ó timas para o
crescimento de plantas, apresenta, aproximadamente, a seguinte composiçã o volumé trica:
50 % de espa ç o poroso, ocupados por partes igtiais de ar e de á gua , 45-48 % de sólidos
minerais e 2 a 3 e, por vezes, 5 % de maté ria org â nica ( MO) . Têm-se, em média, ent ã o,
50 % constituídos pela fase sólida, 25 % pela fase líquida e 25 % pela fase gasosa (Figura 1).

Figura 1. Composiçã o volumé trica média de um sojlo com boa estrutura .

A fase sólida é constituída de agregados que se apresentam, até certo ponto,


individualizados. Os agregados sã o formados de partículas unitá rias, cimentadas entre
si por matéria orgâ nica, óxidos e hidróxidos de Fe e Al, sílica, etc. As partículas individuais
sã o obtidas após a dispersã o dos agregados . Limites de tamanho definem as partículas
como pertencentes a diferentes fra ções. Esses limites sã o estabelecidos pela classifica çã o
de Atterberg ou classifica çã o internacional ( Figura 2).

Terra fina
-•*
Areia Areia
Areia Ar eia Areia
Argila Silte muito muito Cascalho
fina m é dia grossa
fina grossa

0 0 ,002 0 ,02 0 ,05 0 ,2 0 ,5 1 2


Limites de tamanho ( mm )
Figura 2. Limites dos tamanhos das partículas dos solos.

FERTILIDADE DO SOLO
136 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

Sistema Coloidal
O solo pode ser considerado como um sistema disperso, uma vez que é constituído
de mais de uma fase, estando a fase sólida em estado de acentuada subdivisã o. Há,
portanto, um sistema coloidal (1) no SO: o, constituído de partículas diminutas, de tamanho
coloidal, minerais ou orgâ nicas, ou organominerais, como fase dispersa na soluçã o (ou
no ar ) do solo, como meio de dispersã o. Nesse sistema, ocorrem rea ções químicas, f ísico-
químicas e microbianas da maior importâ ncia no estudo dos solos. Nessa fase dispersa,
é que se encontram as argilas.
Como exemplo, alé m do solo, pode-se citar a presença de sólido (fase dispersa ) em
gás (meio de dispersã o), constituindo fuma ça, poeira; de líquido em gás, constituindo
névoa, etc.
As partículas do sistema coloidal do solo apresentam as seguintes propriedades:
a ) Grande Superf ície Específica
A superf ície específica refere-se à á rea pela unidade de peso do material considerado
(solo como um todo, fra ção argila apenas, maté ria orgâ nica, etc. ) e é, usualmente, expressa
em m2 g 1.
'

A compreensã o do significado pr á tico dessa propriedade torna -se mais f á cil ao se


tomar um cubo com 1 cm de aresta, pesando 1 g, o qual tem uma superf ície igual a 6 cm2 ( 2)
e uma superf ície específica igual a 6 cm 2 g 1. Se este cubo for, inicialmente, dividido ao
"

meio, paralelamente a duas de suas faces opostas, a superf ície total dos dois blocos
formados será de 8 cm2, logo, com 2 cm2 a mais do que o cubo inicial, correspondentes às
duas novas superf ícies expostas pela divisã o. Como o peso total dos dois blocos continua
o mesmo, a superf ície específica total do material foi aumentada para 8 cm2 g 1. Se o cubo '

for subdividido em 1.000 cubos, cada um com aresta igual a 0,1 cm, a superf ície total
destes cubos ser á igual a 60 cm 2, correspondente a uma superf ície específica igual a
60 cm2 g 1. Se for subdividido em l .OOjO.OOO de cubos, cada um com aresta igual a 0,01 cm,
'

a superf ície total será igual a 600 cmj e a específica igual a 600 cm 2 g 1. '

Deve-se, portanto, esperar grane es varia ções entre solos quanto às suas superf ícies
específicas. Dentre os fatores responsá veis por essas varia ções, encontram-se:
•Textura .
•Tipos de minerais de argila.
• Teor de matéria orgâ nica.
Em virtude do menor tamanho da fração argila do solo, em rela çã o às outras frações,
pode-se deduzir que esta fra çã o, de natureza coloidal, contribui em maior proporçã o
com o valor da superf ície específica do solo . Trabalho clássico de Grohmann (1977)

,
( )
Nos sistemas coloidais, componentes da fase dispersa (a fase constituída pelas part ículas ) apresen-
tam, pelo menos, uma de suas dimensões entre 1 gm e 1 nm (1 nm = 10 9 m ), e encontram-se em uma
'

segunda fase, o meio de dispersã o (á gua e ar, o meio pelo qual as part ículas se distribuem ) .
<2 ) m 2 = 10.000 cm 2.

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 137

comprova isto, ao verificar coeficiente de correla çã o positivo e significativo entre o teor


de argila e a superf ície específica de amostras de diversos solos (Quadro 1). Amostras de
solos que tiveram sua matéria orgâ nica previamente eliminada apresentaram superf ície

^
específica variando de 8,1 m 2 g 1 de solo com 55 kg 1 de argila a 63,8 m2 g 1 de outro solo
" '
'

com 424 g kg 1 de argila ( Novais, 1977) .


"

Quanto ao tipo de mineral de argila, sabe-se, por exemplo, que a caulinita apresenta
superf ície espec ífica de 10 a 30 m 2 g 1, os ó xidos de Fe de 100 a 400 m 2 g 1, e a
' '

1
montmorilonita , no outro extremo, de 700 a 800 m 2 g 1, segundo cita ções de Grohmann
'

(1975). É de se esperar, portanto, que solos tropicais, que têm nos óxidos e na caulinita os
maiores constituintes da fra çã o argila, tenham menor superf ície específica, em geral, que
solos de regiões temperadas, onde h á predominâ ncia de montmorilonita e de outras
argilas silicatadas mais ativas (Quadro 1) .

Quadro 1. Superf ície específica dos principais compor Lentes da fra çã o argila do solo

Constituinte da fra çã o argila Superf í cie espec í fica

m 2 g-1
Gibbsita 1-2,5
Anat á sio 10
Caulinita 10-30
Goethita 30
Mica hidratada 100 - 200
Clorita 100-175
Ó xidos de ferro 100-400
S í lica amorfa 100-600
Sí lica -alumina amorfa 200-500
Vermiculita 300-500
Alofana 400-700
Montmorilonita 700-800
Mat é ria org â nica ± 7000 )
Muito vari á vel .
{1 )

Fonte : Grohmann (1975).

A maté ria orgâ nica , embora apresente, na maioria dos solos, teores relativamente
baixos, contribui, significativamente, para o valor da superf ície específica do solo, graças
ao seu alto grau de subdivisã o. O efeito da maté ria orgâ nica sobre a superf ície específica
do solo pode ser constatado no trabalho de Grohmann (1975), ao verificar que a superf ície
específica de uma amostra de um horizonte Ap de um Latossolo Roxo, inicialmente com
90,3 m2 g 1, (equivalente a 180.600 km2 ha 1, apro imadamente 1 / 3 da superf ície do Estado
" "

^
de Minas Gerais ou quase a do Estado do Paraná ), caiu para 61,2 m2 g 1 após a eliminaçã o
da matéria orgâ nica por oxida çã o com H202. Assim, um solo com maior teor de matéria
"

orgâ nica deverá ter maior superf ície especí ficja


que outro com menor teor, se outras
características, como tipo e quantidade de argila, forem mantidas constantes.

FERTILIDADE DO SOLO
138 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

A superf ície específica de amostrai de solos (Quadro 2) é, normalmente, determinada


com base na adsor çã o monomolecular de substâ ncias sobre as partículas do solo. Sã o
substâ ncias próprias para este fim o EG (etilenoglicol), o EGME (etilenoglicolmonoetilé ter )
e o glicerol ( Grohmann, 1975) .

Quadro 2. Superf ície específica de alguns amostras de solos

Classe de solo Horizonte Profundidade Superf í cie espec í fica

cm m 2 g-'
Podz ó lico Vermelho - Amarelo orto 32 -46 44,0
B2 46 -58 61,0
Latossolo Roxo Ap 0 -13 90,3
À3 13-43 68,3
B 21 43-70 82 ,3
Latossolo Vermelho - Escuro orto B 21 32-52 72, 0
B22 52-80 98,0
Fonte: Grohmann (1975) .

b ) Cargas Elé tricas


Propriedade muito importante de uma dispersã o coloidal é a presença de cargas
elé tricas. As partículas coloidais do scjlo
, as argilas de modo geral, sã o eletronegativas.
Embora possam, també m, conter carglas positivas, estas sã o, normalmente, em menor
n ú mero que as negativas. Em alguns solos, com um grau de intemperismo bastante
adiantado, pode-se encontrar maior n úmero de cargas positivas do que negativas;
entretanto, tal situa çã o nã o é muito comum . Essas cargas elé tricas proporcionam a
adsor çã o de íons de cargas opostas, retendo-os no solo, íons estes que, em boa parte,
desempenham papel importante para o crescimento e desenvolvimento das plantas.
c) Cinética
As partículas dispersas em meios l íquidos apresentam movimentos (Shaw,1975). O
movimento browniano é caracterizado pelo movimento brusco, irregular e em zigue-
zague de partículas individuais no meio de dispersão. Esse movimento deve-se à energia
ciné tica das partículas.
O movimento de difusã o é consequê ncia da migra çã o de partículas de uma regiã o
de maior concentra çã o para o ú tra de menor concentra çã o.
Há, também, o movimento ocasionado pela for ç a gravitacional, responsável pela
sedimenta çã o de partículas.

Mineralogia da Fração Argila


Argilas Silicatadas
Dentro da fraçã o argila ( partículas menores que 2 gm ), as argilas silicatadas sã o os
constituintes mais comuns em solos de regiões temperadas, ainda não sujeitos a um
está dio avançado de intemperismo.
í

FERTILIDADE DO SOLO
^
IV - RELAçãO SOLO PLANTA 139

As argilas silicadas sã o constitu ídas de duas unidades estruturais básicas. Uma é


o tetraedro de sílica, formado por liga ções de um á tomo de Si a quatro á tomos de oxigénio:

O Oxig é nio ( 2-)

A outra unidade é constituída pelo octaedrò de alumina , formado por um á tomo de


AI e seis á tomos de oxigénio:

O Hidroxila (1 - )
O Oxig é nio ( 2-)

Os tetraedros podem ligar-se entre si, formando uma camada contínua, seguindo
duas direções no espa ço, constituindo a estrutura dos filossilicatos. A liga çã o dos
octaedros entre si também d á origem a uma cardada semelhante à anterior .
Os cristais das argilas silicatadas sã o constitu ídos de camadas alternadas de
tetraedros e de octaedros, ligadas entre si por á tomos de oxigénio comuns aos á tomos de
Si ( tetraedros) e aos de AI (octaedros) . O n ú merc de camadas de tetraedros para camadas
de octaedros, por unidade componente de um cristal de argila silicatada, é uma
característica b á sica de identifica çã o dos pr . ncipais grupos de argilas silicatadas
(Figura 3).
Dentre as argilas silicatadas, destacam-se os principais grupos.
a ) Caulinita
Caracteriza -se por um arranjo com uma cainada de tetraedros e uma de octaedros,
unidas entre si, rigidamente, pelos á tomos de oxigénio comuns às duas camadas,
constituindo uma unidade cristalográfica . Unidades assim formadas se unem entre si
por liga ções de H, constituindo o grupo das caulinitas ou o grupo das argilas do tipo 1:1
(Figuras 4 e 5). Sã o hexagonais e de tamanho grande, o que condiciona pequena superf ície
específica, se comparada às partículas de argilas silicatadas do tipo 2:1 mais ativa, como
a montmorilonita . As liga ções de hidrogénio entre unidades cristalográ ficas se devem
ao pareamento de um plano de oxigénios, no topo da camada de tetraedros, com um plano
de oxidrilas, na base da camada de octaedros. Estas liga ções nã o permitem a expansã o
da argila, posto que nã o sã o admitidas molé culas de á gua nestes espa ços internos.

FERTILIDADE DO SOLO
140 ROBERTO FERREIRA NOVA s & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

Figura 3. Disposiçã o das lâ minas de tetraedros e octaedros em duas unidades cristalogr á ficas
de uma argila silicatada 2:1.
Fonte : Com permissã o do Professor Joseph Stucki ( Universidade de Illinois ) .

Camada de tetraedros Unidade


Camada de octaedros cristalográfica

A
Superfície
externa H H H distâ ncia fixa
v
Camada d e tetraedros
i
Camada d e octaedros I

Figura 4. Representa çã o esquem á tica das argilas do grupo da caulinita ( tipo 1:1) .

b ) Montmorilonita
Caracteriza -se por unidades constituídas por um arranjo com duas camadas de
tetraedros para uma de octaedros, ligadas rigidamente pelos á tomos de oxigénio comuns

^
às lâ minas. Sã o também denominada argilas do tipo 2:1. As unidades sã o frouxamente
ligadas entre si por moléculas d 'á gua e cá tions na solu çã o, o que permite que a distâ ncia
entre elas seja variá vel. Como consequência, cá tions e moléculas podem-se mover entre
essas unidades, o que proporciona tanto uma superf ície total ( a interna mais a externa )
como uma superf ície específica bem maiores (Figuras 3 e 6) do que para a caulinita . Com
a hidrataçã o deste material, há aumento da distâ ncia entre as unidades, o que justifica a
classificaçã o desta argila como expansiva. Com a desidrataçã o, ocorre o inverso: aquela

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçã O SOLO - PLANTA 141

Figura 5. Vista geral de "booklets" (pequenos pacotes de argila ) de uma imagem de caulinita
gerada pelo microscó pio de varredura .
Foto: Disponibilizada pelo Prof . Keller ( in memorian ) da Universidade Missouri - Columbia, USA .

distâ ncia diminui, havendo uma contra çã o do material. Solos que apresentam conteúdo
importante de argilas expansivas apresentam , geralmente, quando secos, superf ície
trincada, com fendas que contornam diferentes formas geomé tricas. Com a reidratação,
tais fendas desaparecem em virtude da expansã o do material. Como toda a sua superf ície
apresenta cargas negativas, este colóide revela elevada capacidade de adsor ção de cá tions.

FERTILIDADE Do SOLO
142 ROBERTO FERREIRA NOVKIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

Camad de tetraedros
í cie
Superf
externa
^
Camada de octaedros
Unidade
cristalográ fica
Camada de tetraedros

v
HzO + íon
í cie
Superf Camada de tetraedros
externa
Camada de octaedros
Camada de tetraedros

Figura 6. Representa çã o esquemá tica das argilas do grupo da montmorilonita ( tipo 2:1).

c ) Ilita
O grupo da ilita , ou mica hidratada , apresenta a mesma organiza çã o estrutural que
a montmorilonita ( tipo 2:1), exceto no que diz respeito às liga ções entre as unidades
cristalográ ficas . A existência de "d éficit" de carga positiva na camada de tetraedro leva
a um excesso de cargas negativas que sã o neutralizadas, geralmente por íons de K,
fortemente retidos entre duas unidades. Essas liga ções diminuem intensamente a
expansã o do material quando sujeito à hidrataçã o. A superf ície de adsorçã o catiônica é,
consequentemente, menor do que a da montmorilonita .
d ) Outros Grupos de Argilas Silicatadas
A presença mais frequente de vermiculita ( tipo 2:1), argila silicatada semelhante à
montmorilonita , embora nã o tã o expansiva como esta, em solos de regiões temperadas,
diz sobre sua menor resistência ao intemperismo, do que a caulinita, por exemplo, tã o
frequente em solos de regiões tropicajs. Nã o obstante, a vermiculita é, de modo geral,
mais resistente ao intemperismo em rela çã o à montmorilonita . A principal diferença
entre estas duas argilas reside nas substituições isomó rficas que se verificam na rede
cristalina por ocasiã o da forma çã o dc S estruturas minerais. A vermiculita apresenta
substituiçã o de Si por AI na camada de tetraedros, ao passo que a montmorilonita
apresenta substituiçã o de AI por Mg na camada de octaedros. Portanto, a presença de
Al, em solo á cidos, é fator de estabilizaçã o da vermiculita . Por outro lado, a lixiviaçã o de
Mg dos solos tende a desestabilizar a montmorilonita . Da í a presença eventual de
vermiculita em solos de regiões tropicais, em detrimento da montmorilonita . Aliás, nã o
é incomum encontrar algumas variedades de vermiculita com precipitados de hidr óxi-
A1 entre as unidades 2:1. Estas sã o denominadas de VHE ( Vermiculitas com hidr óxi
entrecamadas).
A clorita difere das demais estudadas por apresentar, alé m do grupo 2:1 de talco
(com unidade cristalogr á fica similar à da montmorilonita, mas com Mg dominando a
camada de octaedros), uma camada adicional de brucita (Mg(OH)2). Por essa razã o, essa
argila é conhecida pelo tipo 2:2 ou 2:1:1 (duas lâ minas de tetraedros, uma de octaedro e
uma de brucita ). A superf ície específica e a capacidade de troca catiônica são semelhantes
às da ilita .

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELA çãO SOLO - PLANTA 143

Argilas N ã o Silicatadas - Óxidos e Hidr óxidos de Fe e de AI


Este tipo de material coloidal, també m constituinte da fra çã o argila, predomina ,
freqiientemente, em solos tropicais, misturado com argilas silicatadas, principalmente
caulinita . Embora por simplicidade os óxidos hidratados sejam representados por
hidr ó xidos de Fe e de Al , Al ( OH ) 3 e Fe ( OH ) 3, suas estruturas químicas sã o mais
corretamente referidas por f órmulas do tipo Fe203.xH20 e Al203.xH20.
A gibbsita ( A1203.3H20) e a goethita ( Fe203.H20) sã o os óxidos hidratados de Al e de
Fe de maior predominâ ncia na fra çã o argila . A hematita, quimicamente um óxido de Fe
nã o hidratado ( Fe 203), é outro componente freqii|ente da fra çã o argila, principalmente de
solos tropicais.
Esses óxidos, de maneira geral, sã o os principais responsá veis pela adsor çã o
aniônica, e também de alguns cá tions, como o Zn, nos solos. O efeito desses óxidos sobre
a adsor çã o de fosfatos em solos tem sido foco de v á rios estudos ( Fox et al., 1971; Syers et
al ., 1971; Leal & Veloso, 1973; Lopes, 1977; Bahia Filho, 1982) .

Origem das Cargas El é tricas do Solo

Cargas Negativas
Como já foi dito, há no solo, em geral, predominâ ncia de cargas negativas sobre
positivas . Essa predominâ ncia é expressiva err . solos de regiões temperadas, graças à
presença de argilas silicatadas mais ativas, por conseguinte mais eletronegativas. Por
outro lado, nos solos mais intemperizados de regiões tropicais, o predomínio de cargas
negativas tende a diminuir e, em alguns casos, até mesmo inverter com predomínio de
cargas positivas.
As cargas eletronegativas do solo podem ter diferentes origens:
a ) Dissocia çã o de Grupos OH nas Arestas das Argilas Silicatadas
jm
O grupo OH nas terminações tetraedrais < octaedrais, em faces quebradas das
unidades cristalográ ficas das argilas silicadas, pode-se dissociar, gerando uma carga
negativa .

argila - - OH + OH

l
argila- - O + H.O

Verifica -se que com eleva çã o do pH do meio (solo ) o equilíbrio é deslocado para a
direita em razã o da neutraliza çã o dos íons H+ liberados
na dissocia çã o do grupo -OH.
Este tipo de cargas dependentes do pl í é o tipo predominante em argilas 1:1, como a
caulinita .
b ) Substituiçã o Isomórfica
Durante a génese de argilas do tipo 2:1, alghns á tomos de Si dos tetraedros podem
ter sido substituídos por Al, bem como o Al dos octaedros p''de ser substituído por Mg ou
por outros cá tions de valência menor que a do Al3+. A substituiçã o do Si4+, que se

FERTILIDADE DO SOLO
144 ROBERTO FERREIRA NOI AIS
/ & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

encontrava, inicialmente, neutralizando quatro cargas negativas por Al3+, irá condicionar
sobra de uma carga negativa . De maneira semelhante, uma carga negativa ser á gerada
pela substituiçã o de um Al3+ de um octaedro por um cá tion divalente, como o Mg2+.
Deve-se ressaltar que o n ú mero de cargas geradas por este processo nã o é variá vel
com alterações do pH do meio.
c ) Matéria Orgâ nica
Na maté ria orgâ nica do solo, as cargas negativas originam -se, principalmente, da
dissocia çã o de grupos carboxilícos e fenólicos, de acordo com as equa ções químicas:

O
+
R-C R-C +H

OH cr

R OH R or +H
+

em que R representa um radical, de modo geral, longas cadeias alif á ticas ou eventualmente
aromá ticas.
Verifica-se pelas equa ções que o equilíbrio é deslocado para a direita , forma
dissociada, com a eleva çã o do pH do meio, ou seja, com a neutralizaçã o da acidez.

Cargas Positivas
As cargas eletropositivas do solo têm sua origem nos óxidos e hidr óxidos (óxidos
hidratados ) de Fe e de Al, preferencialmente. Tal situa çã o se d á de maneira mais
significativa em condi ções mais á cidas de solo.
+
H
/ +H
+
+ OH
-
-
Al - O Al - OH Al - O + H20
\
H

carga carga nula carga


positiva [ p H = PCZ ] (3 ) negativa

Esse esquema mostra que os óxidos hidratados de Fe e Al podem dar origem a


cargas eletropositivas, eletronegativas ou permanecer com carga neutra na superf ície,
dependendo do pFI do solo. De modo geral, o ponto em que a carga dos óxidos é nula
corresponde a um valor de pH na faixa alcalina . Assim sendo, os óxidos de Fe e Al
apresentam cargas positivas em solos á cidos.

(3)
O PCZ (ponto de carga zero ) é o pH em que o solo apresenta carga líquida nula. Seu valor é variá vel
de acordo com a natureza dos materiais trocadores de íons constituintes do solo.

Fé RTIL DADE DO SOLO


IV - RELAçã O SOLOJPLANTA 145

Densidade de Carga

A densidade de cargas negativas é a quantidade destas cargas por unidade de


superf ície de um material. Pode ser expressa em molc m 2 ou em C m 2. Um mol de carga
' '

( molc) negativa corresponde a 9,6485 x 104 C (coulomb ) . A caulinita tem 1,93 mC m 2 e a '

2
montmorilonita 1,64 mC m . '

Adsorçã o e Troca I ô nica

.
As pr opriedades de adsor çã o iô nica do solo sã o devidas, quase que totalmente, aos
minerais de argila e à matéria orgâ nica do solo, materiais de elevada superf ície específica .
Essas partículas coloidais do solo apresentam cargas elé tricas negativas e positivas,
podendo adsorver ou "reter", por diferença de carga , tanto cá tions como â nions.
Essas cargas, negativas ou positivas, sã o neutralizadas por íons de carga contr á ria ,
que podem ser trocados por outros íons da soluçã o do solo. Essa rea çã o de troca se d á
entre íons da mesma carga . O fenômeno é conhecido como troca iônica e, depois da
fotossíntese, é o processo mais importante para a vida na terra ( Russel & Russel, 1973).
As cargas negativas sã o neutralizadas por íons eletropositivos, ou seja, pelos cá tions,
o que se denomina adsorçã o catiônica. Na neutraliza
çã o de cargas positivas pelos â nions
.
tem-se a adsor ção aniônica Os ons envolvidos nesse processo de adsor çã o ligam-se por
í
eletrovalência ou por covalê ncia à s partículas coloidais do solo. Os cá tions mais
envolvidos quantitativamente nesse processo sã o: Ca 2+, Mg2+, Al3+, H +, K +, Na + e NH4 +,
sendo o Ca 2+, comumente, o mais abundante em alguns solos, enquanto, em outros, é o
Al3+ . Alguns micronutrientes estã o, também, sujeitos ao mesmo processo, embora em
quantidades muito pequenas, se comparadas aos cá tions referidos anteriormente. Os
íons adsorvidos à s partículas coloidais (4) pedem ser deslocados e substitu ídos,
estequiometricamente, por outros íons de mesmo tipo de carga, dando-se uma troca iônica.
Como as cargas da fase sólida se manifestara na superf ície das partículas coloidais
do solo, há estreita relação entre o fenômeno de troca e a á rea superficial dessas partículas.
Essa á rea é a superf ície específica do solo, expressa em m2 g 1 (Quadro 2 ). Assim, o
'

fenô meno de troca iônica do solo, que é basicamente a expressã o de suas propriedades
f ísico-químicas, depende de sua superf ície espec ífica e da densidade de cargas elé tricas
que se manifestam nesta superf ície.
Na soluçã o do solo, que envolve as partícula s coloidais, os íons estã o se deslocando
constantemente, à semelhança de abelhas de uma colméia. A maioria das abelhas
permanece na colméia, mas se distanciam de tempo em tempo para depois retornar (FNIE,
1974). Os íons em movimento representam os elementos em estado trocá vel ou disponível.
Esquematicamente, o fenômeno de adsorção e troca i ônica pode ser representado
pela equa ções:

< 4 > Partículas com dimensões maiores do que as coloidais també m podem apresentar cargas elé tricas,
poré m em n ú mero limitado em razã o das suas peque nas superf ícies específicas.

FERTILIDADE DO SOLO
146 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

(a) Troca Catiônica


+
K+ NH4
Colóide 2+ + + 2+ 3+
eletronegativo = Ca + 6 NH4 2 NH4 + K + Ca + Al
AI 3+ 3 NH4

(b) Troca Aniônica

Colóide : so: +• 2 H2PO;


eletropositivo -
;
+ 4 H2PO +S 042
'
+ 2 OH
-

OH
OH
-
t 2 H2P04

Capacidade de Troca Cati ô nica


Se uma solu çã o salina é colocada em contato com certa quantidade de solo, verificar-
se-á a troca entre os cá tions contidos na soluçã o e os da fase sólida do solo. Esta reação
de troca se d á com rapidez, em proporções estequiomé tricas e é reversível . Por mé todos
analíticos, a quantidade de cá tion que jpassou
a neutralizar as cargas negativas do solo
pode ser determinada . O resultado indica a quantidade de cargas negativas expressadas
pela capacidade de troca catiônica do solo ( CTC ).
Na determinação da CTC do solo é importante considerar o pH em que a troca
catiônica se verifica . Isto porque, além das cargas negativas de car á ter eletrovalente,
existem também cargas de car á ter covalente. Estas se manifestam, ou nã o, de acordo com
o pH do meio. Assim, parte das cargas negativas do solo (eletrovalente) é permanente,
enquanto outra parte (covalente) é dependente do pH. A um dado pH, parte das cargas
dependentes estará bloqueada por H: (liga ções covalentes ). Desta forma, a CTC do solo
nesse pH será dada pelas cargas permanentes mais aquelas dependentes de pH, poré m
livres do hidrogénio covalente, constituindo a CTC efetiva do solo, a esse valor de pH. E,
quando se aumenta o pH do sistema, irais íons H+ ligados a cargas dependentes do pH
sã o neutralizados, resultando em consequente aumento da CTC efetiva do solo.
Dentre os cá tions que neutralizarp as cargas negativas da CTC efetiva do solo,
incluem-se, principalmente, as bases (Ca2+, Mg2+, K+, Na + e NH4+), o Al3+ e, também, cátions
H+ ligados a cargas negativas da CTC de car á ter mais eletrovalente ( tipo ácido forte) . Ao
conjunto dos cá tions que estão ocupandp a CTC do solo, saturando-a, juntamente com as
cargas negativas dos colóides denomina -se complexo sortivo ( ou de troca ) do solo.
Quando se usa uma soluçã o salina nã o tamponada, como KC1 1 mol L 1 ou CaCl2 '

0,5 mol Lr1, para a determinação da CTC do solo, o valor obtido corresponder á à CTC
efetiva . Por outro lado, se a soluçã o salina for tamponada a um definido pH, o valor
obtido corresponderá à CTC total do solo naquele pH, englobando a CTC permanente e a
CTC dependente do pH. Para determinar a CTC a pH 7,0, usa-se uma solução tamponada
de acetato de cá lcio 0,5 mol L 1, ou de acptato de amónio 1 mol L 1, pH 7,0 (Figura 7).
' "

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO- PLANTA 147

pH do solo PH 7,0
CTC permanente 1 CTC dependente de pH
3+
Al H: H: H:
K
+
Ca 2+

2+
Ca H: H: H: H:
3+
H Al

+
H H: H: H:
.. 2+
NH4 Mg

Mg 2
+
H: H:
+
H H: H:

CTC efetiva CTC “ bloqueada”

Figura 7. Representa çã o esquem á tica dos componen es da CTC de um solo.

Alguns princípios bá sicos caracterizam a CTC .


a ) O fenô meno de troca é reversível. Os c á tions adsorvidos podem ser deslocados
por outros, e, assim, sucessivamente.
b ) O fenô meno de troca é uma rea çã o estequiom é trica, isto é, obedece à lei dos
equivalentes qu ímicos: um molc de um cá tion é trocado (substitu ído) por um molc de
outro cá tion.
c) É um processo r á pido. Na determina çã o da CTC, o tempo de agita ção do solo e
solu çã o varia de 5 a 15 min.
Muitas condi ções do solo t ê m influ ência sobre a CTC, dentre as quais: pH,
caracter ísticas dos cá tions trocá veis, como valê ncia e raio hidratado, concentra çã o da
solu çã o e natureza da fase sólida .
O efeito do pH se verifica, principalmente, sobre as cargas dependentes de pH, como
já se discutiu .
A natureza dos cá tions trocá veis afeta a preferencialidade de troca no solo, de acordo
com a densidade de carga dos cá tions, isto é, Z / r, em que Z é a carga do íon e r é o raio do
íon hidratado. Os cá tions que têm maior densidade de carga sã o mais retidos nas cargas
negativas do solo. Por isso, os cá tions polivalentes sã o geralmente mais fortemente
retidos no solo. A sequência de preferencialidade de troca de cá tions para uma mesma
concentra çã o foi estabelecida por Hofmeister, sendo conhecida como sequê ncia de
Hofmeister (Mengel & Kirkby, 1982), ou série liatr ó pica ( Russel & Russel,1973). Esta
sequência é a seguinte:
Li + < Na + < K + < Rb + < Cs+ < Mg 2+ < Ca 2+ < Sr 2+ < Ba2+

FERTILIDADE DO SOLO
148 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

A diferen ça na preferencialidade de troca entre cá tions da mesma carga se deve à


diferen ça entre os raios i ônicos hidratados (espessura da camada de hidrata çã o do íon ),
que faz com que o Cs+ seja mais fortemente retido, em forma eletrostá tica, que o Li+. O Cs+
apresenta maior massa atómica e menor espessura da sua camada de hidratação em
rela çã o ao Li+ ) . A diferença entre mono e bivalentes deve-se à Lei de Coulomb, que diz
que a atra çã o entre cargas é diretamente proporcional ao número de cargas e inversamente
proporcional ao quadrado da dist â ncja que as separa .

^
O Al 3+, sendo trivalente, é mais fo temente retido que os divalentes. O H+, em razã o
de suas propriedades específicas, com Tga ções preferenciais covalentes, nã o se comporta
como monovalente, quanto à preferencialidade de troca . Seu papel depende, também, da
natureza do material trocador .
A concentra çã o dos cá tions na soluçã o do solo afeta a preferencialidade de troca,
interagindo com a carga dos cá tions envolvidos . Assim, à medida que dilui a soluçã o,
mantendo constantes as concentra ções dos cá tions presentes, verifica -se um aumento na
preferência de troca dos cá tions de menor valência, como o Na +, pelos de maior valência .
Em razã o disso, em solos de regi ões ú midas, as bases vã o sendo lixiviadas e o cá tion que
acaba predominando no complexo é o Al 3+; por outro lado, em solos de regiões á ridas e
semi-á ridas, a tend ê ncia é de ac ú mulo de cá tions monovalentes, principalmente o Na +.
A "lei da raiz quadrada ", de Schofield, descreve matematicamente essas rela ções (Wutke
& Camargo, 1975).
A natureza do material trocador influi, principalmente, na densidade de cargas
negativas responsá veis pela CTC do solo, que pode ser expressa em cmolc kg 1 (Quadro 3) . '

Em solos de regiões tropicais, comq na maior parte do território brasileiro, a matéria


orgâ nica apresenta, geralmente, maior participa çã o no valor da CTC total (Quadro 4).
Além, disso, em função do arranjo estrutural do material trocador e de sua interação
com os cá tions, pode haver alguma especificidade nas regiões de troca . Por exemplo, os
minerais de argila do tipo 2:1 ret êm, preferencialmente, o K + e o NH4 +, enquanto, na
maté ria orgâ nica , o Ca 2+ é o cá tion normalmente mais retido, depois do H +.

Quadro 3. Capacidade de troca catiônica, a pH 7,0, de alguns constituintes do solo

Material CTC

cmolc kg
Mat é ria orgâ nica 150-400 1:
°
Vermiculita 100-150
Montmorilonita 80-120
TI i ta 20- 50
Clorita 10- 40
Haloisita .4 H 20 40- 50
Haloisita .2 H 20 5- 10
Caulinita 3- 15
Óxidos de Fe e AI 4- 10
n Valores bastante variá veis em razã o da qualidade da MO, mas, em geral , bastante elevados.
(

Fonte: Wutke & Camargo (1975 ) . Fassbender (1978 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 149

Quadro 4. Contribuição da matéria orgâ nica do solo 'MOS) para a CTC a pH 7,0 de amostras de
camadas superficial e profunda de solos de São Paulo
?

CTC

Classe d e solo Profundidade Argila Teor d e MOS MOS


Total
Total Relativo *1 *

cm g kg -1 emole kg i
*
%
PV Í s 0-6 50 7,8 3, 2 2, 2 69
115-150 170 2,8 3,5 0, 2 6
Pml 0-15 60 6, 0 3,3 2,1 64
75-100 270 3, 6 5, 0 0,9 18
Pln 0-14 120 5, 2 10, 0 8, 2 82
47-100 240 3, 3 3,6 12
/ 33
Pc 0-16 190 4, 0 7, 4 6,0 81
45-74 530 8, 5 5,5 2, 0 36
PV 0-12 130 4, 0 3,7 2, 7 73
59 -110 560 5, 2 4,0 1,5 33
TE -
0 15 640 45,1 24,4 15, 0 62
55-130 710 3, 6 7,8 1,3 17
LR 0-18 590 45,1 28,9 16,1 56
58-82 580 15,2 14,8 5,9 40
LEa 0-17 240 12, 1 3,9 2,9 74
74-114 310 5,9 3, 2 1,9 59

f ,
( )
Relativo à CTC total ( pH 7,0).
Fonte: Raij (1969 ) .

Dupla Camada Difusa


A dupla camada difusa (DCD), baseada na teoria de Gouy & Chapman, é um modelo
de distribuiçã o dos íons na soluçã o, a partir aa superf ície de um colóide ( partícula
\
eletricamente carregada ). No caso do solo, os colóides sã o os componentes da fra çã o
argila e da matéria orgâ nica . Esse modelo é descrito matematicamente pela equaçã o
(Mitchell, 1976 ) simplificada:

L =5
SoD

,y
zll 1
em que L é a espessura da DCD ( m ); K é a constante que inclui a temperatura
(T = 298,18 K ), a constante de Boltzmann ( k = 1,3805 x 10 23 J K 1) e a carga elé trica unitá ria
' '

(e = 1,602 x 10 19C ). Assim, K = ( k T / 8 e2)1 / 2 = 1,416 x 10® J1 / 2 C1; Z é a valência do íon; eo


capacitâ ncia no v á cuo = 8,854239 x 10 12 C 2 J 1 m 1; D é a constante dielé trica ou a
' ' "

permissividade relativa do solvente - para á gu a, a 25 °C = 78,54 - (C2 J 1 m 7C2 J 1 m 1); ' ’

(
n0 é a concentraçã o do íon (íons m 3 = mol L 1 x ,02 x 1023 x 103) . A rela çã o das unidades
' "

envolvidas : (J1 / 2 C 1) (C2 J 1 m 1 m3)1 / 2 = (J1 / 2 C 1) (C J -1 / 2 m ) = m confirma a unidade da


" ' ' '

espessura da DCD (L ).
Portanto, observa-se que a espessura da DCD é inversamente proporcional à valência
e à raiz quadrada da concentra çã o do íon, e diretamente proporcional à raiz quadrada
da constante dielé trica do meio (Figura 8).
I

FERTILIDADE DO SOLO
150 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

Figura 8. Distribuiçã o de íons a partir da superf ície de colóide eletronegativo, de acordo com
o conceito de dupla camada difusa ( DCD).
Fonte: Mitchell (1976) .
f

Por exemplo, DCD para concentraçã o de 1 mmol L 1 de K + na solução do solo (solução


'

em água ):

1,416 x 108 78,54 x 8,854239 x 10 ~12


Operando com os valores L - 1 10 1 x 6,02 x 1023 x 103
'
'

= l,416 xl 08 Vl 15,5169 x 10 35 '

34
= 1,416 x 108 1,5519 x IO
'

= 1,416 x 108 ' 3,3987782 ' 10 17 ‘

>

= 4,81267 x IO 9 '

Operando com as unidades

/2 -i C 2 J -‘ m - i
L = Ji C
1
m3
,
= J /2 C
"

Tc !' m
2 " ' 1
m3

= jl / 2 C C J-1 / 2 m
=m

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 151

Assim:
-9 m
L = 4,81267 x 101
L = 4,813 nm
Os solventes á gua, á lcool etílico, acetona, tetracloreto de carbono e ar, a 25 °C, tê m
as seguintes constantes dielé tricas (D = z j £0): 78,5(5); 24,3; 20,7; 2,2, e 1, respectivamente.
Para provocar a compressã o da DCD, podem ser usados solventes em sequ ência, em
ordem decrescente de suas constantes dielé tricas.

Características da CTC do Solo


Dada a import â ncia da CTC no solo, as características relacionadas com esta
propriedade sã o constantemente determinadas e utilizadas em interpreta ções e em
cá lculos de necessidades de corretivos e de fertilizantes
. Essas características sã o a
pr ópria CTC, também representada por T, para a CTC a pH 7, e por t para CTC efetiva, no
pH do solo; a soma de bases (SB); o índice de satura çã o por bases ( V ); a acidez trocá vel
( Al3+ ), a acidez potencial ( H + Al ) e a satura çã o oor AI ( m ) . Esses valores, à exceçã o da
satura çã o por Al, sã o conhecidos como valores de Hissink .
Uma id éia da amplitude de varia çã o destas caracter ísticas relacionadas com a CTC
do solo, bem como a sua divisã o em classes, de acordo com a magnitude das mesmas, é
dada no quadro 5. Deve-se salientar que esta classifica çã o é v álida para solos de regiões
tropicais, como os do Estado de Minas Gerais.
a ) CTC efetiva ( t ) e Potencial a pH 7,0 ( T )
A capacidade de troca cati ônica trata da dstermina çã o em certo pH tamponado,
geralmente a pH 7,0, ou a pH 8,2 ( para solos alcalinos e salinos). No Brasil, tem sido
1

Quadro 5. Características e classes de acordo com suas magnitudes, relacionadas com a CTC de solos
do Estado de Minas Gerais

Classe
C a r a c t e r ís t i c a
Muito Baixa Baixa Méd i a Alta Muito Alta

3
SB emole dm '

< 0 , 60 0 , 61 - 1 ,80 1 , 81 - 3,60 3.61- 6 ,00 > 6 ,00


A ] 3+ cmolc dm -3 < 0 , 20 0 , 21 -0 , 50 0 , 51 - 1 , 00 1 , 01 - 2 , 00 > 2 ,00
CTC ^ fetiva ( t ) cmolc dm < 0 , 80 0 , 81 -2 , 30 2.31 - 4 , 60 4.61 - 8 ,00 > 8 ,00
3
H + Al cmolc dm '
< 1 , 00 1 , 01 -2 , 50 2 , 51 - 5 , 00 5 , 01 - 9 ,00 > 9 ,00

CTCPH 7.0 ( T) cmolc dm 3 '


< 1 ,60 1 , 61-4 ,30 4.31- 8 , 60 8.61- 15,00 > 15 , 00
V% < 20 , 0 20.1 -40,0 4 , 01 -60, 0 60 , 1 - 80 , 0 > 80 , 0
1
m% < 15 ,0 15.1-30 ,0 30 , 1 - 50 ,0 50 , 1 - 75 ,0 > 75 ,0

Fonte: Alvarez V. et al. (1999).

(5) 12 2 1 1
EH 2Q = 695,411931 X IO C J m .
' '

!
FERTILIDADE DO SOLO
152 ROBERTO FERRLJRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

mais usado o valor T a pH 7,0 que é calculado somando-se as bases e a acidez potencial
[SB + ( H + Al)]. Alé m dessas duas expressões, pode-se ainda citar o valor t ao pH do solo
(CTC efetiva ), que é calculado somando-se as bases com a acidez trocá vel (SB + Al3+ ) .
Os princípios bá sicos do fenômeno de troca sã o usados no processo de determinação
da CTC de um solo ou de um material qualquer:
1) Agita -se uma amostra de solo, de peso ou volume(6) conhecidos, com uma solução
deKCll mol L 1:

K* K*
3 3*
A| * K* AI

K* K* K*
Amostra 2* 2
Ca + KCI K * + Ca *
de excesso
Mg2* ( solução ) K* Mg 2 + + de KCI
solo
H* K* H* ( solu ção )
Na* K* Na*
K* K*

2) Os cá tions deslocados, bem corao o excesso de KCI em solução, sã o filtrados.


No filtrado, podem ser determinadas as bases Na +, Ca 2+ e Mg2+, que, adicionadas ao
K , determinado em outra extra çã o, d ã o a soma de bases (SB) . També m nesse filtrado
+
I
determina -se Al3+ . Outra alternativa é filtrar e lavar o excesso de KCI e a seguir:
3) Agita -se a amostra recuperada do filtro agora com uma soluçã o, que contenha
outro cá tion, CaCl2 0,5 mol L 1, por exemplo:
'

K* Ca2*
*
K Ca *
2

+
K
Amostra + K * + Excesso
de
K* + CaCI 2 > Ca *
2

* (solução) de CaCI2
solo K (solu ção )
+
K Ca *
2

K *

K *K* K* Ca2*

4) Filtra -se a suspensã o e analisa -se, quantitativamente, o K + em soluçã o, deslocado


pelo Ca 2 +. A quantidade de K + analisada, em cmolc kg 1 de amostra do solo (quando a "

medida foi em peso) ou cmolc dm 3 (quando a media foi em volume ), corresponde à sua
"

CTC.
Para separar as contribuições de CTC permanente e CTC dependente de pH, utilizam-
se soluções extratoras (caso do KCI 1 mol L 1 no primeiro passo), em diferentes valores de
"

pH. Historicamente, foi Schofield (1949 ) quem verificou que a CTC de uma argila

(6)
Utiliza -se, atualmente, nas redes de laborat ó rios de an á lises de fertilidade de solos do Pa ís, de
preferê ncia, volume de solo, para uniformizar a forma de medir o solo no campo, tendo-se, como
base, um hectare = 2.000.000 dm 3.

FERTI - IDADE DO SOLO


IV - RELA çãO SOLO - PLANTA 153

caulinítica eleva -se de 4 para 10 cmolc kg 1 com a eleva çã o do pH da soluçã o extratora de


'

6,0 para 7 ,0 . O acréscimo no valor da CTC com a eleva çã o do valor do pH foi denominado
CTC dependente de pH (CTC pH-dependente) .
No pH da soluçã o extratora correspondente ao do solo, tem-se a CTC efetiva, que é a
CTC permanente mais parte da CTC pH-dependente que se manifesta até o pH do solo.
Os dados do quadro 6 mostram que, em todos os tr ês solos, a contribuiçã o da CTC pH-
dependente até pH 7 ou até pH 8 foi bastante significativa, principalmente no primeiro e
último solo, considerando o maior conte údo de matéria orgâ nica, material que apresenta
CTC tipicamente dependente de pH.

Quadro 6. Valores de CTC de três solos (horizonte A ,), êm três valores diferentes de pH da solu çã o
extratora e conte údo de maté ria orgâ nica dos solos

pH de determina çã o da CTC
Solo Mat é ria org â nica
pH Solo pH 7 , 0 pH 8 , 0

cmoU kg -
*
g kg
Argissolo Vermelho- Amarelo 4, 41 8 , 32 11 , 44 52, 4
Latossolo Vermelho- Escuro textura m édia 1 , 58 3 ,14 4 , 22 13 , 9
Latossolo Vermelho-Escuro textura argilosa 1 41
/ 5 , 62 8 , 96 35 , 3
i
Fonte : Hara (1974) .

b ) Soma de bases (SB)


A soma de bases (SB) é calculada somando-se os teores de Ca 2 +, Mg2+, K + e, quando
disponíveis, Na + e NH4+ trocá veis . Nos solos á cidos de regiões tropicais, como os do
V
Estado de Minas Gerais, os cá tions trocá veis Na + e NH4+ geralmente tê m magnitude
desprezível.
c) Satura çã o por bases ( V )
A participa çã o das bases no complexo sortivo do solo, expressa em percentagem, é
conhecida como satura çã o por bases ( V ).
i
f
SB
V= . 100
T
Para este cá lculo, usa-se a CTC a pH 7,0 ( v álor T ) .
d ) Acidez trocá vel
í A acidez trocá vel é representada pelo Al3+ e, com menor participa çã o, por outros
cá tions de hidrólise á cida, como Mn2+, Fe2+ e Fe3+ mais o H+ que faz parte da CTC efetiva.
Como, em geral, a participa çã o do PT é pequena em rela çã o à acidez trocá vel ( AI3+
predominantemente), este valor é també m chamado de AI trocá vel. Os cá tions de cará ter
ácido, omo o Al3+, são considerados como acidez trocá vel porque, em soluçã o, por
hidr ólise, geram acidez, de acordo com as seguintes equa ções simplificadas:

FERTILIDADE DO SOLO
154 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
í

3 +
AI * + 3HzO ± Al [OH]3
*+ 3H

3+ +
n ±
Fe + 3H20 Fe [OH]3
* + 3H
e ) Acidez potencial
A determina çã o da acidez potencial (a pH 7,0) é feita, usando-se, como extrator,
uma soluçã o tamponada de acetato de cálcio 0,5 mol L 1, pH 7,0. Esta acidez inclui H + AI
'

( H + trocá vel , H de liga ções covalentes que é dissociado com a eleva çã o do pH,
predominante, de modo geral, da matéria orgâ nica, Al3+ trocá vel e outras formas de AI -
aquelas parcialmente hidrolisadas como A10H2+ e Al(OH)2+ ) . A maior parte do H provém
das cargas negativas dependentes do pH . Esta fraçãô é chamada acidez dependente do
pH. A participa ção do H em geral é mdior do que das formas trocá veis do Al. Uma outra
denomina çã o usada para a acidez potencial é acidez titulá vel (Wutke & Camargo, 1972),
certamente inadequada .
3

f ) Satura çã o por alumínio ( m )


A satura çã o por Al, representada por m, é calculada pela expressã o:

Al3+
m= . 100
CTCefetiva

Observa -se que m é a percentagem de Al trocá vel ( Al3+ ) na CTC efetiva ( valor t ) do
solo.
Informações sobre os valores de T, SB e V de um solo podem indicar o tipo de mineral
presente na fra çã o argila e possíveis problemas na sua utilizaçã o, bem como sobre o
procedimento adequado a ser tomado para otimizar sua utiliza çã o (Quadro 7) .
)

O solo A, com valor baixo de T, deve ter sua fra çã o argila constituída de caulinita e
ó xido de Fe e de Al, argilas pouco ativas, se o teor de argila do solo nã o for muito baixo
(solo arenoso ) . Outro aspecto prov á vel é a existência de baixo teor de matéria orgâ nica
neste solo. A adi çã o de matéria orgâ nica a este solo para aumentar , pelo menos
temporariamente, seu valor T, poder:.a ser recomendada. O valor de V é médio, e a
percentagem de satura çã o por Al3+ ( m ) é baixa, em razã o dos baixos valores de Al3 + I
(Quadro 7).

Quadro 7. Valores de pH, Al3+, SB, t, H + Al, T, V e m de amostras três solos

Solo PHH 2O AI 3
+
SB t ( H + Al ) T V m

'1
cmoIc kg %

A 5 ,6 0, 1 1, 9 2,0 1 ,4 3, 3 58 5
B 4, 5 1, 7 1,0 2, 7 5,0 6,0 17 63 ;

C 6,5 0,0 10, 0 10, 0 1,0 11 ,0 91 0

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO- ^LANTA 155

O solo B, muito ácido, tem baixo V; logo, alta participação da acidez potencial (H + Al)
no complexo de troca, podendo apresentar alta percentagem de satura çã o por Al ( m ).
Para uso agr ícola, dever á ter o seu pH elevado por meio de calagem, o que irá causar
aumento dos valores de SB e V, aumentando, conseqiientemente, o seu pH e diminuindo
o valor de Al3+ e de m. Os valores de T e SB indicam que o material constituinte da fraçã o
coloidal é mais ativo, provavelmente com teor c e matéria orgâ nica mais elevado neste
.

solo, embora apresente poucas bases no seu complexo de troca .


O solo C apresenta -se em boas condiçõ es quanto ao seu complexo de troca e
características com ele relacionadas.
No quadro 8, para ilustra çã o, sã o apresentadas as medianas de algumas das
caracter ísticas discutidas, obtidas a partir de cmálises de 518 amostras de solos sob
vegeta çã o de cerrado ( Lopes, 1975).

Quadro 8. Medianas dos valores de pH, SB, Al3+, CTC efetiva, m e maté ria orgâ nica de 518 amostras
de solos sob cerrado do Brasil Central

PHH 2O SB Al 3 + CTCefetiva (1) m Mat é r i a orgâ nica

emole d m 3 *

% g k g-’
Mediana 5,0 0,42 0,56 1 ,1 59 22
i

No pH do solo (extrator KC1 1 mol L 1 ).


(1) '

Fonte: Lopes (1975) .

Capacidade de Troca Ani ônica


A capacidade de troca aniônica é definida como o poder do solo de reter â nions na
fase sólida, numa forma trocável com outros â nions da solução. Entretanto, a manifestação
desta propriedade nã o é tã o característica quanto a troca catiônica, isto é, nã o sã o
atendidas tã o perfeitamente as condições de rapidez, reversibilidade e estequiometria.
Por esta razã o, a troca aniônica é mais frequente e convenientemente denominada
adsor çã o aniônica, sugerindo um processo mais complexo do que a simples troca .

í
Um aspecto particular do comportamento de certos â nions no solo é a adsor çã o
específica. Por este processo os â nions sã o retidos pela fase sólida, por meio de liga ções
fortes (covalentes), passando a fazer parte da estrutura da micela, em sua superf ície.
Este tipo de adsorçã o é de baixa reversibilidade e é bem conhecido para o P, sendo o
principal responsável pela fixação de P no solo, principalmente nos solos ricos em óxidos
e hidr ó xidos de Fe e Al. Uma rea çã o desta natureza é aqui apresentada de forma
simplificada (Mengel & Kirkby, 1982):
k

Fe - OH OH O Fe - O O

O + P O P + OH' + HzO
I
í Fe -OH O OH Fe O OH

\
!
FERTILIDADE DO SOLO
156 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

O â nion que pode deslocar o P da fase sólida do solo com maior eficiência é o silicato
( H3Si04 ) . Em segundo lugar, vem o sulfato (S042 ). O nitrato e o cloreto nã o tê m,
praticamente, poder de substituir o fosfato. Pode-se dizer que a retençã o de nitrato e
cloreto no solo se d á por adsor çã o nã o-específica , que tem cará ter reversível .
Da mesma forma que a CTC, a capacidade de adsor çã o de â nions dos solos també m
pode ser determinada em laborató rio. Para tanto utilizam -se, usualmente, curvas de
adsor çã o conhecidas como "isotermas de adsor çã o". Uma das mais utilizadas para
â nions do solo, de interesse na nutriçã o das plantas, é a isoterma de Langmuir, a qual
permite determinar a capacidade m á xima de adsor çã o do â nion em estudo, como, por
exemplo a capacidade má xima de adsor çã o de P (CMAP ) e de sulfato (CMAS) ( veja
capítulos VIII e X ) .
Essas isotermas sã o obtidas adicipnando-se soluções com concentra ções crescentes
do â nion a um volume de solo conhecido . Ap ós o equil íbrio, determinam -se as
quantidades de â nion que ficaram retidas na amostra do solo . Vale salientar que a
técnica nã o permite distinguir a quantidade adsorvida daquela que é retirada da soluçã o
por rea ções de precipita çã o. Portanto, a capacidade m á xima de adsor çã o deve-se, na
realidade, a fenô menos de adsor çã o e de precipita çã o do â nion em estudo.
A capacidade má xima de adsorçao de â nions varia com as características do solo,
notadamente seu teor e tipo de argila, podendo atingir valores bastantes elevados para
solos muito intemperizados com altos teores de argila. Bahia Filho (1982) obteve valores
de CMAP variando de 0,22 a 1,26 mg g 1 de P para Latossolos do Planalto Central do
'

Brasil . Estes valores correspondem a uma retençã o de, aproximadamente, 1.000 a


6.000 kg ha 1 de P2Os na camada ar á vel.
'

Resultados obtidos por Dias (1992) ilustram o efeito do teor e tipo de argila na
CMAP e CMAS de amostras de Latossolos (Quadro 9 ). Verifica -se que o solo MS, com
menor teor de argila, apresenta valores de CMAP e CMAS menores em rela çã o aos demais
solos, mais argilosos. A compara çã o entre os solos PT ( mais argiloso) e PC evidencia a
importâ ncia do tipo de argila na capacidade má xima de adsor çã o, visto que o solo PC,
apesar de conter menor teor de argila, apresenta maior capacidade de adsor çã o em relação
ao solo PT.

Quadro 9. Teores de argila e capacidade má xima de adsorção de fosfato (CMAP) e de sulfato (CMAS)
em amostras de três Latossolos brasileiros

Solod )
Caracter ísticas
MS PT PC !

Argila (g kg 1 ) 140 590 350


f
CMAP ( mg crrr3 P) 0,330 0,940 1,640
CMAS ( mg crrr S)
3 0,005 0,130 0,220
(l )
MS = Latossolo de Monte Santo; PT = Latossolo de Patrocínio; PC = Latossolo de Paracatu .
Fonte : Dias (1992) .

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 157

As cargas positivas do solo, responsáveis pe a adsor ção aniônica, sã o, normalmente,


'

dependentes do pH do meio. Diminuindo o pH, aumentam as cargas positivas do solo e


a adsor çã o ani ônica aumenta .

Fatores Intensidade, Quantidade e Capacidade Tampã o

As plantas absorvem os nutrientes, na forma de íons, da solu çã o do solo. Por sua


vez na fase sólida é que está a reserva desses íons. Estes sã o repostos para a soluçã o
,
quando sua concentra çã o é diminu ída, decorrente da absor çã o pelas plantas ou de
alguma perda ( veja capítulo VIII ) .
Q /l
Solos - - í on ( Q ) ~
on ( I ) ( soluçã o )

É importante, portanto, conhecer o teor de nutrientes em soluçã o, a reserva desse


teor na fase sólida e o poder de reposiçã o para a solu çã o, pela reserva da fase sólida .
Estas três grandezas, inte- relacionadas, determinam a disponibilidade do nutriente e
sã o denominadas:
Fator quantidade (Q): é a reserva do íon disponível na fase sólida do solo, trocá vel
como o Ca 2+, Mg2+, K + ou lá bil como para P, mas em equilíbrio com sua concentra çã o na
soluçã o.
Fator Intensidade (I ): é a concentra çã o, ou, mais precisamente, a atividade do íon na
solu çã o do solo.
Fator capacidade ou poder tamp ã o: é a rela çã o entre os fatores quantidade e
intensidade, dada faixa de concentra çã o (atividcLde ) considerada ( AQ / AI) (Figura 9 ).
í.

Solo B

o
"O
"O Solo A
5
• w
• r C
O
c

o
U.
I AQ
FC
AI AI
í AQ

Q ( Fator Quantidade )

Figura 9. Rela çã o entre os fatores quantidade (Q), intensidade (I) e capacidade ou poder tampã o
( FC ) de um nutriente no solo.

FERTILIDADE DO SOLO
158 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

Observa -se que o solo A tem maior FC ou é mais tamponado que o solo B ( AQ / AT do
solo A > AQ / AI do solo B ) . Na prá tica, pode-se dizer que, para a mesma dose de P (Q),
por exemplo, aplicada nos dois solos, o aumento da concentra çã o de P em soluçã o (I )
será maior no solo B do que no A .
Uma possibilidade para justificar isto seria o solo B ser mais argiloso que o solo A,
mantendo-se a mesma qualidade de argila (atividade) para ambos os solos.
Outra maneira de representar a inter-rela çã o entre os fatores I, Q e Q / I é por meio de
um sistema de vasos comunicantes ( Figura 10 ) .
Verifica-se, nessa representa çã o, que a quantidade trocável ou l á bil (adsorvido), do
elemento E está em equilíbrio com a quantidade em solução deste elemento. A tubulaçã o
que liga esses dois compartimentos representa I / Q, ou o inverso FC; logo, quanto maior
o diâ metro da tubula çã o, menor o FC para o elemento (caso do solo arenoso) em rela çã o
a um menor diâ metro (solo argiloso, como compara ção) . A quantidade total de nutriente
no solo disponível à planta é igual a Q + I. Como o valor de I é muito menor que o de Q,
nas determina ções de Ca trocá vel ou de P-lá bil de um solo, que representam medidas de
Q, a contribuiçã o de I pelo seu valor muito pequeno, não altera para fins prá ticos o valor
de Q.
A quantidade m á xima que pode atingir Q do elemento, em dado solo, é dada pela
CTC desse solo, para elementos trocáveis com ligação eletrostá tica, como para Ca 2+, Mg2+,
K +, Na + e pela capacidade má xima de adsor çã o do elemento (CMAE ) por esse solo, para
elementos lá beis, com liga ções covale ntes, como o P e Zn, dentre outros.
O equilíbrio entre Q e I indica que, quando o solo tiver seu valor má ximo de Q de um
elemento, ele terá também seu valor má ximo de I; logo para Q igual a zero, I também será
igual a zero. O cultivo sucessivo de dois solos Norte Americanos (Quadro 10) de modo a
causar -lhes a exaustã o do P originalmente existente indica uma concentra çã o de P em

Figura 10 . Inter-rela ções entre os fatores quantidade (Q), intensidade (I) e capacidade ou poder
tampã o (CF) de nutrientes no sole , numa representaçã o segundo vasos comunicantes.
CTC = capacidade de troca catiônica , CMAE = capacidade má xima de adsor ção do elemento
E e N-Q = nã o-lá bil ou nã o- trocá vel.

FERT LIDADE DO SOLO


\

;
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 159

solu çã o ( I ) decrescente com os cultivos, como tamb é m mostram os valores de P pelo


Mehlich -1 (aproxima çã o de Q ). Observam -se valores iniciais mais altos de I e de Q no
solo com 6,4 % de argila ( Norfolk ) que naquele com 42,4 % de argila (Georgeville ) e com
quedas mais r á pidas de ambos os fatores no solo menos tamponado, com menor FC,
Norfolk, dado seu menor teor de argila .

Quadro 10. Altera ções nos valores de f ósforo em solu ção e pelo extrator Mehlich-1, em amostras de
dois solos, um com 42,4 % (Georgeville) e outro com 6,4 % de argila ( Norfolk ) submetidos a
cultivos sucessivos

Georgeville Norfolk
Cultivo
CaCh ( I ) Mehlich -1 ( Q) CaCh ( I ) -
Mehlich 1 (Q )

mg L-i mg dnv 3 mg L- í mg dm -3

Inicial 0,14 15,0 1,60 165.4


Io Cultivo 0,12 13, 5 1,33 153.5
2o Cultivo 0,11 11 9
/ 1,25 133,9
3° Cultivo 0,11 10,4 0, 69 111.5
4 o Cultivo 0 ,10 9, 2 0 ,59 108,1
o
5 Cultivo 0,09 8 ,1 0, 67 81, 7
6o Cultivo 0,07 7,0 0,49 69,0
7° Cultivo 0,07 6 ,1 0,37 59,4
o
9 Cultivo 0,08 5,4 0,31 55,8
Mé dia 0,10 9,6 0,81 104,6

Fonte : Novais ( 1977 ) .

O diâ metro da tubula çã o (Figura 9) será muito maior para elementos adsorvidos por
troca iô nica que para aqueles adsorvidos por covalência . O "transporte" indica que,
para uma planta absorver um nutriente, nã o basta que o solo seja capaz de ced ê-lo; é
necessá rio que o nutriente seja transportado desde a soluçã o, pr óximo às partículas
sólidas do solo, até à solu çã o junto à raiz.

Fator Intensidade

a ) Soluçã o do Solo
Os processos f ísicos, químicos e biológicos < o solo sã o altamente dependentes de
sua fase líquida aquosa . Na ausência de á gua nã há vida e, portanto, nã o há solo, mas
i

fragmentos ou resíduos produzidos pelo intemperismo f ísico de rochas e minerais. Esse


deve ser o material encontrado em Marte, assumindo, de fato, a inexistência de água, ou
mesmo em regi õ es continuamente congeladas da Ant á rtica , onde a á gua ,
predominantemente na fase sólida, permite apenks a forma çã o incipiente de solo.

FERTILIDADE DO SOLO
160 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

Os nutrientes na solu çã o do solo poder ã o ter suas concentra ções diminu ídas pela
absor çã o pelas plantas que podem també m exsudar nutrientes minerais e compostos
orgâ nicos para a solu çã o do solo, enriquecendo-a (Figura 11) . A lixiviaçã o de K mesmo
da planta viva também ocorre, tornando-se um suprimento do nutriente para a soluçã o
do solo. A solu çã o do solo pode ter ganhos de nutrientes por meio da aplica çã o de
fertilizantes minerais, orgâ nicos, fixa çã o livre ou simbi ó tica do N 2 atmosf érico, e pelas
chuvas (Quadro 11). Os nutrientes na soluçã o do solo estão em equilíbrio com os colóides
do solo, minerais e orgâ nicos, que podem fix á -los ( K fixado em argilas silicatadas 2:1; P
fixado em formas nã o-lá beis, etc. ) ou formar complexos está veis com a matéria orgâ nica
do solo (Cu é um exemplo clá ssico ) . Os nutrientes em concentra ções elevadas, que
ultrapassam o produto de solubilizacã o, podem ser precipitados, a partir de suas formas
iônicas da soluçã o do solo.
Há perdas dos nutrientes da solu çã o do solo por meio da erosã o, lixivia çã o e perdas
gasosas pela desnitrifica çã o, volatiliza çã o de NH3, de C02 da respira çã o de C orgânico
dissolvido na solu çã o do solo, CH4, H2S, estes dois gases em solos submetidos a baixo
potencial redox (inundados por longos períodos de tempo, por exemplo ).

Figura 11. Interfaces da soluçã o do solo (fase líquida ) com as fases mineral e orgâ nica, com a
planta, e ganhos e perdas de seus componentes pelos mecanismos mais importantes
envolvidos.

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçã O SOLO - PLANTA 161

Quadro 11. Ganhos de nutrientes e de sódio, pela chuva e atmosfera, em plantios clonais de eucalipto
na região litorâ nea do Estado do Espírito Santo
\
Macronutriente Micronutriente

kg ha -1 ano - i g ha 1 ano - i
*

N 19, 2 B 59, 2
P 0,3 Fe 126,7
\
K 6,2 Zn 96,6
Ca 19 / Mn 31,7
Mg 16 / Cu 38,7
S 11 1 /

Elemento

kg ha -1 ano 1 *

Na 20,2

Fonte: Neves ( 2000 ) .

De modo geral, as rochas e minerais submetidos a intemperismo sã o uma fonte de


nutrientes constante para a solu çã o do solo, podendo atuar como dreno, fixando-os na
síntese de novos minerais.
Os resíduos orgâ nicos e a microbiota podem pela mineraliza çã o enriquecer a solução
I do solo ou empobrecê-la pela imobiliza çã o de elementos pelos microrganismos.
A soma de cá tions e â nions na solução do so .o é, de modo geral, inferior a 10 mmol L 1
'
1 "

(Quadros 12, 13 e 14). A soluçã o do solo é também constituída por compostos orgâ nicos
dissolvidos (Quadro 15).

b ) Atividade e Potencial
A concentra çã o de um elemento (íon) na solu çã o do solo pode ser corrigida para
atividade iônica. Tal correção é feita por meio das equa ções de Debye - Huckel ( Adams,

Quadro 12. Valores de pH e composição da solução de amostras de solos dos Estados Unidos

Ca 2 + Mg2 + K+ Na + NH / SO 42
'
Solo pH NO 3 Cl HCO 3 '
Total

mmolc L -1

Textura m é dia 5 , 82 8 ,1 1, 7 1 ,1 0,8 0, 4 8, 0 0, 3 1, 2 1,0 11, 3

Á cido 3, 90 1 ,0 1,4 0,4 0, 4 0,1 3,8 0,2 n.d . 0,8 4, 8

Fonte: Adaptado de Russel & Russel (1973).

FERTILIDADE D0 SOLO
162 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

Quadro 13. Valores de pH e composição da soluçã o de uma amostra de Latossolo Vermelho distrófico
típico do Estado do Rio Grande do Sul, submetido ao plantio direto e convencional

+
Mg2 Al (1)
+
Sistema de cultivo PH Ca K Na + NH 4
+
N 03

P 043 '
Total COD ( 2 )

mmoic L-1
Plantio direto 5, 4 1, 0 0, 6 0,8 0, 2 0,55 0,14 1,50 0,0039 10,194 4, 4
Plantio convencional 5,5 0,5 0 ,3 0, 4 0,17 0,16 0,10 0, 45 0, 0026 7, 673 2, 0

AI total em solu çã o: AI 3+ mais formas iô nicas oarcialmente hidrolisadas [ A10H 2 +, Al ( OH ) 2 + ].


(1) (2 )
COD = carbono
org â nico dissolvido.
Fonte : Meurer & Anghinoni ( 2000) .

Quadro 14. Principais constituintes inorgâ nicos da solu çã o de solos, agrupados segundo amplitudes
de concentra ções em que se encontrap com frequência

A ínplitude de concentra çã o ( mmol L 1 )


Constituinte
-
< IO 3 IO 3 a 101 IO 1 a 10

Cá tions Cr 3+, Ni 2 + Cd 2 +, Pb 24 Fe 2 +, Mn 2 + , Zn 2 + Cu 2 +, NH 4 + , Al 3 + Ca 2 +, Mg 2 + , Na +, K +
 nions Cr042-, HMO 4 - H 2 PO 4 -, F-, HS - HCO3-, Cl -, so42 -

Fonte : Adaptado de Shwab (1999).

Quadro 15. Principais constituintes orgânicos da soluçã o de solos, agrupados segundo amplitudes
de concentrações em que se encontram com frequência em condições naturais

-1
Amplitude de concentra çã o ( mmol L )
-2
< 102 10 a 1

irboidratos , fen ó is , prote í nas , á lcoois , sulfidrilas Á cidos carbox í licos , amino á cidos , a çú cares simple

Fonte : Adaptado de Shwab (1999).

1971, 1974 ) ( 7). Após a obten çã o dc atividade ( a ) de um íon, pode-se fazer uma
transforma çã o adicional de sua conc í ntra çã o ativa em potencial do íon na soluçã o do
solo. Essa situa çã o pode ser comparada à presença de certa atividade de H+ (aH + ) em
concentra çã o (mol L 1) na soluçã o do polo, por exemplo, aH + = 10 4 mol L 1. A acidez da
" ' '

soluçã o poderia ser expressa dessa maneira ou, como normalmente é feito, por meio do
potencial de H (pH) .

( 7)
A avalia çã o da atividade de um íon em solu çã o pode ser feita com a utiliza çã o de eletrodos seletivos
(em potenciômetro ), que medem potencial como pH, ou por uma sé rie de cá lculos teóricos que, a
partir da concentra çã o de todos os íons nessa solu çã o, permite estimar a atividade do íon em
questã o. Todavia, nã o se tem, ainda, um e etrodo específico para todos nutrientes como para fosfato.

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELA çã O SOLO - PLANTA
163

O que se faz é, apenas, a transforma çã o matem á tica:

pH = -log k H +
Para atividade de H + igual a 10 4 mol L 1, o botencial de H, ou pH é:
' '

pH = -log ICE = 4,0


Deve-se lembrar que com o aumento da aH + (aumento da acidez) há uma diminuiçã o
do pH. Essa rela çã o é ú til aos iniciantes nas interpreta ções da rela çã o entre potencial de
nutriente e crescimento de planta . A rela çã o direta entre concentra çã o de H,PO4 por /

exemplo, na solu çã o do solo e crescimento de planta, é semelhante à existente entre a


atividade de P (aH2P04 ) na soluçã o do solo e o crescimento, mas inversa quando essa
atividade é expressa em termos de potencial (pH2P04 ). Com o aumento do valor do
potencial de P, menor concentra çã o de fosfato estará à disposi çã o da planta, logo o
crescimento dever á ser menor .
A utiliza çã o de atividade no lugar de concentraçã o analítica do elemento em soluçã o
é justificá vel pelo fato de que as rea ções e equilíbrios químicos baseiam-se em atividade
( Adams, 1974). O significado pr á tico de ter a concentra çã o de um elemento em solu çã o,
expressa em atividade (a ) e nã o apenas em concentra çã o analítica [C], é que (a ) varia com
as concentrações dos demais íons em soluçã o e [C], necessariamente, nã o. Assim, quanto
maior for a concentra çã o desses íons em soluçã o, maior será a for ça iô nica <8) dessa
soluçã o, menor ser á o valor de (a ) do íon nela presente. A atividade de um íon é maior,
aproximando-se de sua concentra çã o analítica, em soluções muito diluídas, tornando-se
menor, à medida que a for ça iônica dessa solu ção aumenta. Pode-se dizer que 1 mg L Me
AI na soluçã o do solo pode ser tóxico para um à planta, em um solo distrófico ( menor

( 8)
Aqueles submetidos aos conceitos de atividade e de ior ça -i ônica pela primeira vez sentem -se, com
frequ ê ncia , nã o sintonizados com o significado pr á tico desses conceitos. Como diversos outros
conceitos tidos como acad ê micos, eles s ã o aceitos, mas n ã o assimilados ou entendidos. Temos
utilizado em sala de aula um exemplo figurado que permite ao aluno f á cil entendimento desses
conceitos. Pode-se considerar que uma criança , A, brincando em um "playground ", terá sua ativida -
de m á xima quando apenas ela estiver presente . Todo o espa ço e todos os brinquedos est ã o à sua
disposi çã o. A medida que outras crian ças aparecem, inicia -se uma restriçã o à atividade da crian ç a
A; espa ç o para movimentar -se e brinquedos s ã o també m ocupados por outras crian ças . Com o
aumento do n ú mero de crian ças ( aumento da "forç al-iônica ", com o aumento da concentra çã o de
íons em solu çã o ), a atividade da crian ça A, ou de qualquer outra crian ç a considerada individual -
mente ( atividade do íon A ( A ) ou do íon X ( X )) , diminui . A atividade, vari á vel entre crian ç as
( algumas podem ser mais obesas, menos á geis que outras) como entre íons ( pelas suas característi -
cas pr ó prias ), tenderá ao seu valor m á ximo quando o n ú mero de crianças no "playground " tender
para um (atividade do íon. tende a ter a mesma grandeza da concentra çã o analítica do íon. quando
a concentra çã o iônica-força-iônica - da soluçã o tende para zero; nessas condições extremas (a .) = [C. ].
A crian ça A no "playground " ter á sua atividade també m decrescida se uma ou mais crianç as a
assediarem muito por uma razã o qualquer, restringindo-lhe a atividade. Para o mesmo n ú mero de
crianças no "playground ", a crian ça A ter á mais atividade se outras crianças a deixarem livre, sem
assé dio pessoal ( "par - i ô nico ou compostos com baixa dissocia çã o" ), limitando-lhe a atividade .
Alum ínio na solu çã o do solo ter á sua atividade restrita pela presença de outros íons em solu çã o,
como també m pela presen ça de alguns íons em particular, como S042 , que forma par -iônico com
'

Al3+, Ca 2+, etc. Portanto, a atividade de fosfato, por exemplo, em solu çã o dependerá das caracterís-
ticas do pr ó prio fosfato ( tamanho-i ônico e val ê ncia ), da concentra çã o de outros íons em solu çã o
( for ça-i ônica ) e da forma çã o de pares-iô nicos.

FERTILIDADE DO SOLO
164 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

for ça iônica ), e que esse valor cr ítico de toxidez será maior, talvez 2 mg L 1 de Al, se o solo '

for mais rico em nutrientes ( maior foi ça iônica ) (Foy, 1974). As concentra ções analíticas
[C] cr íticas de 1 ou 2 mg L ’de Al, se transformadas em (a ), far ã o com que os valores
encontrados sejam teoricamente semelhantes (idem para potencial de AI ou pAl ) nos
dois solos.
Para transformar a concentra çã o analítica de um elemento E em soluçã o [E ] em
atividade de E ( E ), é preciso estimar o coeficiente de atividade ( fE) desse íon na solu çã o
em que ele se encontra :
( E ) E = fE[E] (1 )

A solu çã o em que E se encontra é caracterizada pela sua for ça i ô nica ( /x ) ou


intensidade do campo elé trico ( Adams, 1971):
g = P2 (XC, Z,2) (2)

em que C ; é a concentra çã o molar (analisada ou adicionada como um sal sol ú vel a uma
soluçã o nutritiva, por exemplo ) de cada íon na soluçã o e Zj sua valência .
Tendo a for ça iônica da solu çã o, estima -se o coeficiente de atividade f .:

AZ? M'1 / 2
- log f
( 3)
1 + aI B n'/2

em que A e B sã o constantes depend entes da temperatura (a 25 °C, A = 0,509 e B diz


respeito ao solvente; para á gua, a 25 ° I, B = 0,329 ); a ( é uma constante relacionada com o
tamanho do forç (Quadro 16 ).

Quadro 16. Tamanho de íons (valor empírico) de diferentes cá tions e â nions em água

í on Tamanho

À (1 >
NH Ú , Rb*, Cs* 2, 5
K \ CF, NOs '
3 ,0
OH; F 3,5
so42 , co3?-, HCO 3 ,
H 2 P04 , ‘ ' -
Na * 4,0
HPO 42 , PO 43
'
4,5
2+
Sl , Ba 2* 5,0
+
Li , Ca 2+
, Cu
2+
, Zn 2*
, Mn 2* 6 ,0
Mg 2 * 8, 0
H *, AI 3+ 9,0
4*
Th , Zr 4+ 11 , 0

(1 )
 = 0,1 nm .
Fonte: Adams (1974) .

c
FERTI . IDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO 2 PLANTA 165

Exemplo da atividade e do potencial de Ca 2+ ( a Ca e pCa ) em uma soluçã o com


0,01 mol L 1 de CaCl2 e 0,02 mol L 1 de NaN03.
' '

Cá lctilo da for ça iônica da solu çã o:


p = % (0,01 x 22 + 2 x 0,01 xl 2|f 0,02 x l 2 + 0,02 x l 2)
p = 0,05 mo L
Cá lculo do coeficiente de atividade de Ca ( fCa ) na soluçã o:

0,509 x 22(0,05; 1 /2
'° fca
- 9
1 + 6,0 x 0,329(0,C 5) 2
1/
= 0,3158513

f = l 0-°-3158513 = 1,4832
Esse valor indica que apenas 48,32 % do Ca 2+ na soluçã o encontra -se na forma ativa .
Cá lculo da atividade de Ca ( Ca ) na soluçã o

( Ca ) = 0,4832 x 0,01 mol L = 0,004832 mol L


Cá lculo do potencial de Ca
pCa = - log 0, 00483
1
pCa = log
0,004832
- 2,316

O cá lculo do potencial de fosfato (0,5 pCa + pH2P04) no solo, na verdade na soluçã o


do solo, é apresentado por Novais & Smyth (1999 ) .
Quando há forma çã o de pares iônicos, diminuindo a atividade dos íons envolvidos,
há necessidade de um cálculo iterativo, em que aproxima ções sucessivas sã o calculadas
para chegar aos coeficientes de atividade e força iô nica inicialmente desconhecidos
( Adams, 1974). Quando diversos pares iônicos sao envolvidos, esse tipo de cálculo torna-
se extremamente trabalhoso, quando n ã o se disp õe do aux ílio de programas de
computação próprios, como o GEOCEíEM-PC (Parker et al., 1995). Um exemplo frequente
de par iônico é CaSO40; outro importante quand o se fala sobre gessagem e toxidez de Al
é o A1S04+. Esses pares iônicos fazem com que as atividades estimadas desses íons sejam
inferiores à quelas em que esses pares nã o sã o considerados.
Outra possibilidade, quando st extrai a solu çã o do solo, é estimar sua força iônica a
partir da determina çã o de sua condutividade elé trica (Jallah & Smyth, 1995). Esses
autores encontraram relacionamento linear entr 3 for ça iônica da soluçã o de amostras de
solos, estimada pelo GEOCHEM-PC, e respectwos valores de condutividade elé trica,
facilmente determinada ( R 2 = 0,96, para 52 observa ções ).
Em termos prá ticos, pode-se dizer que a elevada toxidez causada às plantas pelo Al
trocável em subçuperf ície de solos de Cerrado . no primeiro ano de cultivo, quando o
valor da concentraçã o analítica do Al [Al] em soluçã o encontra -se próximo do valor de
sua atividade, decorrente da baixa for ç a iônica da soluçã o do solo nessa condição,

FERTILIDADE DO SOLO
166 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

decresce com os anos de cultivo com a descida no perfil do solo de â nions como Cl , NO3'
"

so42-, e com eles cá tions acompanhantes provenientes de fertilizantes aplicados


superficialmente. Assim , a troca i ô nica da solu çã o do solo aumenta, decrescendo a
atividade do AI ( Al ), mesmo que sua qoncentraçã o analítica permaneça semelhante àquela
inicialmente encontrada , fazendo com que a toxidez causada pelo Al seja amenizada .
Por razões semelhantes, as compara ções entre resultados de trabalhos de pesquisa,
de modo a se estabelecer uma concen tra çã o de Al t óxica para uma espécie de planta sã o
impróprias. A utiliza çã o de diferentes solu ções com concentra ções també m diferentes
entre os trabalhos tem como consequ ê ncia for ças iônicas distintas, não permitindo chegar
a uma mesma concentra çã o tóxica de Al para a mesma planta, nas diversas solu ções.
Portanto, em uma solu çã o nutritiva com maior for ça iô nica, a concentra çã o tó xica de Al
será maior que a encontrada numa outra solu çã o com menor for ça iô nica . Da mesma
forma, a compara ção entre diferentes soluções (forças iônicas) quanto à resposta positiva
ao crescimento da planta ( nível crítico), causada por nutrientes, torna -se possível, quando
as concentra ções anal íticas críticas desses nutrientes sã o transformadas em atividade
ou potencial, anulando o efeito da for ça iô nica .

Fator Quantidade
O fator quantidade é uma medida do elemento trocá vel do solo como Ca 2+, Mg2+, K +,
3+
Al , das aná lises de rotina de fertilidade, independentemente do extrator utilizado no
pa ís: Mehlich-1 ou Resina de Troca Catiô nica ou, com mais frequê ncia, Resina mista
( aniônica mais catiônica ) . Também para elementos, como P e Zn adsorvidos ao solo
preferencialmente por coval ência, coijn troca de ligantes, a Resina de Troca Iônica (RTI)
pode ser considerada o mé todo de determinação do fator quantidade denominado, para
estes casos, formas lá beis desses elementos, formas do íon adsorvido à fase sólida do
solo, mas em equilíbrio com sua forma na solu çã o do solo.
O P fixado da forma n ã o-l á bil ("nã o- trocá vel"), por nã o se encontrar em equilíbrio
como P em solu çã o, nã o pode ser considerado uma forma de fator quantidade de P, e,
portanto, nã o-disponível às plantas a curto prazo.
A utiliza ção de RTI ou mista, como um mé todo de determinaçã o de Q para elementos
como o P, tem ressalvas, uma vez que com apenas uma extraçã o, como se faz na aná lise
de rotina do "disponível", extrai-se apenas parte do lábil, em torno de 50 % (valor variável
entre solos) do total extra ído pela somató ria de extra ções sucessivas. Para extratores
químicos como o Mehlich-1, o P extraído do solo é considerado uma medida de Q; erros
podem ser grosseiros, uma vez que formas nã o-lá beis de P no solo podem também ser
extraídas, de modo particular naqueles solos ricos em P ligado a Ca (P-Ca ), para os quais
este extrator nã o é recomendado ( veja c apítulo VIII).
Uma das maneiras de medir Q de elementos retidos com maior energia nos solos,
como P, Zn, S, é a utilização da técnica da diluição isotópica , em que o elemento marcado
adicionado a um solo, como o 32P, troca lugar com o P-lá bil (31P ) do complexo de troca .
Quanto maior a diluiçã o do 32P da solu çjã o pela troca com o 31P lá bil, ocupando seu lugar,
/

maior o valor de Q deste elemento no se lo. Valores E, L e A de nutrientes sã o medidas de


suas formas lá beis, ou Q, no solo (veja capítulo VIII).

F é RTIL DADE DO SOLO


IV - RELA çãO SOLO - PLANTA 167

Capacidade ou Poder Tamp ã o de Nutrientes no Solo


Quando se falou sobre cargas do solo no início deste capítulo, criou-se a figura do
sistema bancá rio como aná logo a esta caracter ística do solo. Dada a íntima rela çã o entre
cargas do solo e a capacidade ou poder tampã o, como ser á visto nos capítulos de acidez
do solo e de P, pode-se adicionar mais um componente
ao "sistema bancá rio": o cliente
ou o usu á rio do banco.
Esse sistema pode ser representado da seguinte maneira:

P/ E
Banco ' - Poupan ç a Dinheiro em esp é cie Esquema 1
( P) ( E)

Este esquema é semelhante ao do solo para um nutriente qualquer, como o Ca 2+ no


exemplo:
(Q / l )
S o l o : : Ca2* Ca2* Esquema 2
(Q ) (D

Portanto, no sistema bancá rio, o cliente A (avarento ) pode manter o seu dinheiro
quase todo ou todo na poupança, enquanto o cliente B (perdulá rio) coloca pouco dinheiro
na poupança, mantendo a maior parte em espécie no bolso, para ser gasto. Há um
equilíbrio entre poupança e dinheiro em espécie, para cada cliente, em que a falta de
dinheiro em espécie faz com que o cliente o recomponha recorrendo à poupança e vice-
versa: entrada de dinheiro em espécie faz com que parte dele migre para a poupança . Há
um equilíbrio entre os dois compartimentos ( poupança e dinheiro em espécie). Assim, a
rela çã o P / E do Esq. 1 pode ser considerada uma medida de "miserabilidade" de um
cliente do banco: quanto maior P / E mais miser á vel (avarento) e o contrá rio, menor P / E,
numa compara çã o entre clientes, mais perdulá rio.
Voltando ao solo (Esq.2), há o Ca2+ retido no complexo de troca adsorvido às cargas
negativas (fator quantidade - Q) em equilíbrio com o Ca2+ em solução (fator intensidade -1).
O equilíbrio define a rela çã o Q / I que é uma medida do fator capacidade (FC ) ou poder
tampã o ( PT) de Ca 2+ em determinado solo. No solo A, o Ca 2+ pode-se encontrar quase
todo no complexo de troca, enquanto, no solo B, o Ca 2+, pode-se encontrar quase todo na
soluçã o do solo. Para o solo A a rela çã o AQ / AI é muito alta, o que indica um solo com
elevado FC ou PT, caracterizado por ter muitas dargas negativas (CTC efetiva alta ), o que
é pr óprio dos solos mais argilosos ( particularmente aqueles com argilas mais ativas,
como as silicatadas do tipo 2:1 e, ou, com maiores teores de matéria orgâ nica ).
Adicionando uma planta ao Esq. 2:
Parte aé rea
da planta

Ca2*
(Q / l)
_ C~ a
\ 2
94
transporte
L
t
raiz Esquema 3
(Q ) (l)

c
FERTILIDADE DO SOLO
168 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

2
Observe que há dois drenos (solo e planta ) para a mesma fonte, o Ca + na soluçã o do
solo (I).
No exemplo do sistema bancá rio, o cliente poderia ter a opção de colocar o dinheiro
na poupança ou emprestá -lo a um am go. Certamente, o amigo teria menos sucesso em
obter o empréstimo com o cliente A (a mrento ) do que com o cliente B (perdulá rio).
1

No solo, a planta vai encontrar mê nos Ca 2 + na soluçã o de um solo com maior FC (o


argiloso, por exemplo ) que no solo com menor FC (solo arenoso) para os mesmos valores
de Q + I em ambos os solos.
Para o caso do Ca , a planta nã o será desfavorecida em rela çã o ao solo porque todo
o Ca 2+ do complexo de troca irá recompor o Ca 2+ da solu çã o, à medida que este for
absorvido pela planta . Esta nã o-coricorr ência entre solo e planta pelo Ca 2+ nao se
verificou, quando ocorre, nã o tem efeito prá tico significativo independentemente do FC
ou PT do solo, uma vez que a ligaçã o do Ca 2+ com as cargas negativas dos solos se d á por
liga çã o iônica ou eletrovalência, com muito baixa energia de adsorção. O mesmo modelo
ocorre para o Na +, K +, Mg2+ e para â niqns, como o Cl e o N03 .
' “

Por outro lado, a competiçã o entre solo e planta por nutriente, com predomínio do
~
solo sobre a planta, ocorre para nutrientes aniô nicos como o fosfato (H2P04 e HP042 ) e, '

em menor grau, para o sulfato (S042- ) e para cá tions como os micronutrientes metálicos
de modo geral; como bons exemplos: Zn e Cu. Todos esses nutrientes são adsorvidos ao
solo por liga çã o covalente, com troca de ligantes ou adsor çã o de esfera interna (Meurer,
2000). Nesse caso, as elevadas quantic .ades do elemento adsorvido e a elevada energia
de adsorçã o desses elementos com os c olóides do solo fazem com que a reversibildiade
do processo (dessor çã o ) seja restrita, limitada , e, com frequência , nã o atendendo à
demanda da planta mesmo em solos cora elevados valores de Q. Essa condição caracteriza
valores de Q / l , FC ou PT, tã o elevados que o dreno planta é colocado em prioridade
inferior ao dreno solo.
~
Pode-se adiantar que suprir N03 , K +, Mg2+ e Ca2+ via solo (fertilizantes ou corretivos)
a uma planta é uma tarefa simples porque o solo não compete com a planta pelo nutriente
adicionado, embora possa perdê-lo por lixivia ção; o mesmo não pode ser dito para aqueles
nutrientes como P, Zn, dentre outros, com os quais se pode estar fertilizando mais o solo
que a planta . Para estes nutrientes com elevados valores de FC ou PT, em compara çã o
à queles fracamente adsorvidos, como as bases em geral (Ca 2+, Mg2+ e K + ), com baixos
valores de FC ou PT, as doses de fertilizantes sã o dependentes desta propriedade do solo
- os mais argilosos dever ã o receber doses maiores para que a planta tenha algum
excedente para si. Para contornar on minimizar o problema, esses nutrientes sã o
aplicados mais localizadamente, de modo a diminuir o contato com o solo ( o dreno
indesejá vel pelo seu poder excessivo ) , e suas fontes idealmente utilizadas na forma
granulada .
No caso do primeiro grupo, como nos de K + e N03 , as perdas poderã o ocorrer por

lixivia çã o, devendo-se, com frequêncic , parcelar o nutriente durante o ciclo da cultura


para compensar as perdas; no caso do F e Zn, como exemplos, embora presentes no solo
(praticamente nã o sã o lixiviados), eles sã o, em grande parte, fixados tornando-se menos
acessíveis às plantas .

F é RTIL DADE DO SOLO


IV - RELA çãO SOLO ^ PLANTA 169

E quais as grandezas do FC ou PT para alguns dos nutrientes de cada um desses


grupos?
Assumindo que um solo tenha 62 mg dm 3 (2 tnmol dm 3) de P pela RTI, 30 mmolc dm 3
' ' '

(15 mmol dm 3) de Ca 2+ e que esse solo tenha em soluçã o as concentrações de 1,0 e


'

0,0039 mmol L 1 de Ca 2+ e P, respectivamente (Quadro 13), pode-se estimar o PT ou CT


"

para cada um desses nutrientes:


3
15 mmol dm
FCCa 2 + = 15 m mol dm 3 / mmol L 1
'

1 mmol L- l
"

2 mmol dm 3
3
FCP = ,
0,0039 mmol L- i 512 8 rr mol dm / mmol L
" 1 '

Nesse exemplo, observa -se que o FC para P é 34,2 vezes maior que o FC para Ca .
Cálculo semelhante para K, em um solo com 78 mg dm 3 deste nutriente (2 mmolc dm 3)
' "

e 0,8 mmol L 1 em soluçã o (Quadro 13), chega -se a uma FCK = 2,5 mmolc dm 3 / mmol L 1,
' "
'

valor 205,1 vezes menor que o de P.


Uma medida de FC ou PT de solo é necessá ria à interpreta çã o de resultados de
análise de rotina de fertilidade de solo, de modo particular para o teor de P disponível do
solo pelo extrator Mehlich-1 e para a recomenda çã o de calagem pelo mé todo do Al3+ e
Ca2+ + Mg2+ do solo ( Alvarez V. et al., 1999 ; AlvarLz
V. & Ribeiro, 1999). Como resultados
do teor de argila do solo nã o são, freqiientemente, disponíveis para esses fins, desenvolveu-
se o m é todo do P- remanescente, sensível ao teor e à qualidade da argila do solo, como
uma medida do FC ou PT do solo ( Alvarez V. et al ., 2000) . É uma determina çã o muito
mais simples e de menor custo que a aná lise textural e é incluída como uma das
determinações fundamentais das análises de fertilidade do solo de rotina para o PROFERT-
MG (Lopes & Alvarez V., 1999 ). Esta aná lise não é incluída na rotina de laboratórios que
utilizam a Resina na determina çã o de P diponível, resultado nã o-variá vel ( na verdade,
pouco variá vel ) com o FC ou PT dos solos, cor ao também nã o o é a determinação da
necessidade de calagem pelo mé todo da satura çã o por bases, ambos os mé todos adotados
no Estado de Sã o Paulo, por exemplo (Raij et al . 1996 ).
O mé todo do P-remanescente envolve a agi :açã o de uma soluçã o de 60 mg L 1 de P, "

em uma soluçã o de CaCl2 0,01 mol L 1 com a amostra de solo, numa rela çã o de 1:10 de
'

solo-soluçã o ( v / v ) por 1 h. No sobrenadante, determina -se o P da soluçã o de equilíbrio.


A concentração de P dosada (P-remanescente) é a diferença entre o adicionado (60 mg L 1) '

e o adsorvido pelo solo


Com o aumento do FC ou PT da amostra do solo, o P que vai permanecer ( remanescer )
em soluçã o é dosado; quanto maior o seu valor (mais próximo de 60 mg L 1), menor o FC "

ou PT (solo mais arenoso, por exemplo) e, quanto menor esse valor, tendendo para zero,
mais tamponado é o solo ( mais argiloso, por exemplo ).
O relacionamento dos valores de P- remanescente de diferentes amostras de solos e
medidas da FC ou PT destes solos, como teor de argila (Figura 12), é apresentado no
trabalho de Freire (2001) .

FERTILIDADE DC SOLO
170 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

60
9 = 52 , 44 - 0 , 9646 ** x + 0, 0050 ** x2 2
R * 0 , 747
50 - «T V x entre 5 e 75 % de argila
rr
O) 40 -
E s ••
E
<V
L
_ 30 ‘

- HiVFfV
CL 20 -
•Vivi* ••
10 -
•"• •
0
0 20 40 60 80 100

Argila , %

Figura 12 . Valor de f ósforo remanescente ( P-rem ), de acordo com o teor de argila em diferentes
amostras de solo.
Fonte: Freire ( 2001) .

TRANSPORTE DE NUTRIENTES NO SOLO

Introdução

A compara çã o entre o comportantiento de uma planta durante uma esta çã o seca e


aquele observado durante uma chuvosa permite verificar altera ções bem distintas nesta
planta . Os sintomas de deficiência nutricional que podem ser intensos em condições de
baixa disponibilidade de água no solo diminuem em intensidade ou desaparecem durante
os períodos chuvosos. Os lançamentos curtos do caule, quando em d éficit hídrico, sã o
seguidos de lançamentos longos com o aumento da umidade do solo. Essa situaçã o é
comumente observada no colmo de cana -de-a çúcar que, numa mesma planta, pode
apresentar regiões de entren ós curtos a lternadas com outras de entrenós longos. É f á cil
verificar, ao acompanhar o crescimento da planta, a íntima rela çã o entre o observado e a
distribuiçã o de chuvas ao longo do ano. Como a deficiência de Zn é a responsá vel pelo
menor alongamento celular observado nos entrenós curtos, pode-se deduzir que houve
naquele solo, onde a planta cresceu, períodos de menor e de maior absorçã o do Zn durante
o crescimento da cana . Uma aná lise de Zn disponível numa amostra daquele solo, ao
longo desse período, nã o deverá acusar varia ções maiores, que justifiquem o observado .
A medida que a raiz cresce num solo, ela absorve os nutrientes que, inicialmente, se
encontram no trajeto de seu crescimento. Com o tempo, há um decréscimo da concentração
desses elementos junto à superf ície das ra ízes, à medida que eles sã o absorvidos, criando-
se um gradiente de concentra çã o entre esta regiã o e aquela mais distante da raiz. Para
que novo suprimento chegue à superf ície de absorçã o, torna-se necessá rio seu transporte
até esse ponto, transporte que tem como veículo a á gua .

F é RTIL DADE DO SOLO


IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 171

Pode-se entender, consequentemente, que os elementos a serem transportados e


absorvidos dever ã o estar na soluçã o do solo, em suas formas iô nicas, para que o veículo
possa atuar . Um exemplo pr á tico da importâ ncia desse transporte na nutriçã o de planta
é o AI que, em solos ácidos, pode ser encontrado em soluçã o e ser transportado, absorvido
e trazer problemas de toxidez para uma planta, e, quando precipitado pela calagem, já
n ã o entra mais em solu çã o, n ã o sendo, portanto, transportado e n ã o sendo,
conseq ú entemente, absorvido por essa planta.

Fluxo de Massa, Fluxo Difusivo ( Difusã o ) e Interceptação de Raí zes


Dependendo do nutriente e de suas interações com o solo, dois mecanismos distintos
sã o responsá veis pelo seu transporte no solo:
• Fluxo de Massa e
• Difusã o
Alé m destes dois mecanismos de transporte, há um terceiro pelo qual a planta tem
acesso ao nutriente. A medida que cresce no solo, a raiz encontra , ao longo da trajetória,
nutrientes que podem ser, entã o, absorvidos. Este processo, denominado Intercepta çã o
Radicular, embora seja consequ ência do crescimento das ra ízes apenas, ele també m,
indiretamente, facilita aqueles dois mecanismos de transporte, principalmente a difusã o,
por diminuir as distâ ncias entre os elementos e a raiz, de maneira mais intensa na sua
regiã o apical de crescimento.
A quantidade de nutriente interceptado é acuela encontrada em um volume de solo
igual ao volume de raiz. Assim, a contribuiçã o desse processo na quantidade total de
nutrientes absorvidos pela planta é vari á vel corr o elemento e suas intera ções (liga ções )
com o solo e, evidentemente, com a quantidade de raízes por unidade de volume de solo,
ou densidade de ra ízes. Embora o volume interceptado varie de 0,1 a 2 % da camada
superficial do solo ( de 0 a 15 cm ), a quantidade interceptada de Ca, por exemplo, pode
satisfazer aquela requerida por uma cultura (Barber, 1974), dada a grande concentra çã o
deste elemento no volume de solo (soluçã o) interceptado.
De modo geral, considera -se pequena a contribuiçã o da intercepta çã o de ra ízes
comparada aos mecanismos de transporte, fluxo de massa e difusã o (Quadro 17).
Elementos que se encontram em maiores concentra ções na soluçã o do solo, como
Ca, N e mesmo o S, por serem retidos com menor energia na fase sólida do solo que outros
elementos, como o Zn e o P, sã o transportados areferencialmente pelo fluxo de massa
(Quadro 18). O fluxo de massa (FM) é consequ ência da existência de um potencial de
á gua no solo maior do que aquele junto à raiz . Esta diferença de potencial que causa um
movimento de massa da á gua em direção à raiz, arrastando nela os íons que se encontram
em soluçã o, é causada pela transpira çã o da planta . Assim, o fluxo de massa segue o
fluxo transpiracional da planta. Pode-se imaginar que condições que causem o fechamento
de estô matos, como falta d 'á gua, deverã o causar menor absor çã o de Ca e de N entre
outros de maior mobilidade no solo. Tecidos que apresentem baixa transpira çã o, como
os meristemas das plantas e os frutos, como no caso do tomate, ficam em desvantagem,
pelo Ca absorvido, com relaçã o às folhas já desenvolvidas.

FERTILIDADE DO SOLO
172 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

Quadro 17 . Teores médios de f ósforo, potássio e cá lcio na solução de amostras de doze solos do Rio
Grande do Sul e contribuição relativa da intercepta ção de ra ízes, fluxo de massa e difusão no
suprimento destes nutrientes para plantas de milho, em casa de vegeta çã o

Nutriente Solu çã o do solo Intercepta çã o de ra í zes Fluxo de massa Difusã o

mg L -1 %
P 0,35 3,5 2,6 93,9
K 12,4 P,9 10 , 1 89, 0
Ca 168, 2 35, 0 337,50 )

Este valor indica que, potencialmente, apenas o fluxo de massa seria capaz de suprir, em mais de três vezes, a
(1 )

quantidade de c á lcio absorvida pela planta .


Fonte: Vargas et al . (1983) .

Em razã o de elevadas concentra ções e de S042 na soluçã o do solo, o FM é, na maioria


'

dos casos, o principal mecanismo de transporte de S042 às raízes. Em solos com elevado
'

status nutricional, van den Ende (1973) observou que o FM era capaz de suprir S042 , Cl , " '

Ca 2+, Mg 2+ e Na + em concentra ções superiores à quelas absorvidas pelas ra ízes de


tomateiro. Semelhantemente, Gregory et al. (1979) observaram contribuição do FM quatro
vezes maior que a quantidade de S042 absorvida por plantas de trigo, em solos com
'

elevada disponibilidade deste nutriente. Mesmo em solo muito intemperizado e ácido,


mas com adequada disponibilidade de S, Prenzel (1979) observou que o transporte de S
por FM foi suficiente para que este nutriente se acumulasse ao redor das ra ízes de faia
( Fogus sylvatica ) .
Em amostras superficiais de três Latossolos de Minas Gerais, dois argilosos (LV-
Paracatu e LVA-Viçosa ) e um solo de textura mé dia ( LVA-Lassance), Silva et al. (1998;
2002) observaram transporte por FM, de forma geral, em quantidades de S superiores à s
absorvidas pelas plantas de soja e de milho. Nesses solos, a concentra ção de S em
soluçã o, o S transportado por FM e o conte ú do de S variaram de acordo com doses de S
aplicadas aos solos (Quadro 18).
Para as doses menores de S, em que o FM nã o é capaz de satisfazer a demanda deste
nutriente pelas plantas, o transporte pò r difusã o completou seu requerimento. >

As plantas de soja precisaram de menor contribuição de transporte por difusã o do


que as de milho . No solo de Vi çosa, com maior concentra çã o de S em solu çã o, a
participa ção da difusã o nã o foi necessá ria, contrariamente aos solos Paracatu e Lassance,
para os quais a difusã o foi necessá ria. A participa çã o da difusã o no transporte de S para
3
plantas de milho foi observada até à aplica çã o de 40 mg dm de S nos solos de Paracatu
'

-1
e de Lassance, correspondendo à s concentra ções de S em solu çã o de 10,9 mg L
(0,340 mmol L 1), no solo Paracatu, e de 10,1 mg L 1 (0,316 mmol L ), no solo Lassance.
" ' 1 '

Para elementos como o P que se encontra em concentrações extremamente baixas na


solução do solo, algo em torno de 0,05 mg L 1 ou menor ainda em solos mais intemperizados,
'

como os de cerrado ( Bahia Filho, 1982), a contribuiçã o do fluxo de massa é muito peque-
na, algo em torno de 1 % do P absorvido ( Barber, 1974, 1980; Vargas et al., 1983).
7

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 173

Quadro 18 . Concentra çã o de enxofre em solução do solo, de seu conte údo nas plantas de soja e de
milho e o transportado até às raízes das plantas por fluxo de massa (FM) e difusão, em rela ção
às doses deste nutriente aplicadas em amostras dos solos de Viçosa, Paracatu e Lassance (MG )

Dose Vi ç osa Paracat ú Lassance D i f u sã o


de S
S o l u çã o Conte ú d o FM S o l u ç ã o C o n t eú d o FM S o l u ç ã o Conte ú d o FM V i ç osa Paracatu Lassance

mg d m 3
'
mg L '

— mg / vaso — mg L 1
'

— mg / vaso — mg L ' i
mg / vaso

Soja
0 25, 2 24, 5 70, 3 3, 9 24, 2 13, 8 3, 0 32, 5 10, 4 10, 4 22, 1
20 35, 5 22, 7 92, 6 9, 0 29, 7 32, 0 5, 8 27,4 16, 8 10,6
40 44 , 0 24, 0 112.3 15, 4 32, 0 51, 9 11 , 2 30, 7 36, 0
80 80, 3 27, 9 244.4 39, 0 37, 3 154, 9 28, 0 32, 7 92, 0
160 140, 4 24, 4 336.4 101,1 39, 2 409, 3 80, 3 48, 8 329, 2

Milho
0 21 , 1 38 , 1 50, 2 2, 9 42, 6 14 , 6 4 ,2 79, 5 27, 7 28 , 0 51 , 8
i
20 35 , 2 58, 5 121, 6 3, 4 63, 7 16, 5 7, 1 84, 9 46, 9 47, 2 38, 0
40 44, 7 62,1 146, 5 10, 1 62, 9 46 , 7 10, 9 76, 4 59, 2 16, 2 17, 2
80 62, 5 64, 6 220, 2 22, 1 60, 8 92, 2 32, 1 99 , 6 224 , 3
160 124, 8 89, 5 511, 1 66 , 1 62,5 295 , 5 80, 2 119, 8 569, 7

Fonte : Silva et al . (1998; 2002) .

Para aqueles elementos, como o P e o Zn, quei se encontram fortemente adsorvidos ao


solo e, portanto, com baixo teor na soluçã o, a difusã o torna -se o mecanismo de transporte
* responsá vel pela quase totalidade absorvida destes elementos. Este tipo de transporte
ocorre quando a absorçã o é superior à chegada do elemento à superf ície da raiz, criando-
se, assim, um gradiente de concentra çã o que a difusã o dos nutrientes. prcjporciona
>
Todos aqueles que t êm um fogã o a gás em casa já devem ter sentido o odor do gás
proveniente de vazamento. A intensidade desse odor vai depender do tamanho do
vazamento, ou seja, da quantidade de gás liberada; vai depender também da distâ ncia
em que se está do fogã o, do labirinto, maior ou menor, entre o fogã o e o local em que se
encontra uma pessoa e de possíveis obstá culos entre esses dois pontos, como portas
parcial ou totalmente fechadas. Quanto maior o vazamento, mais rá pida a percepçã o do
gá s; semelhantemente, se mais pr óximo do fog o, como na cozinha , percebe-se o odor
mais rapidamente; se mais distante, como na sá la, demora -se mais. Se o labirinto ou
tortuosidade entre o fogã o e o local em que se encontra uma pessoa for maior, o gás vai
demorar mais para chegar até ela . Se houver alguma porta fechada, que possa criar
^
!
algum obstá culo ou impedimento à passagem do gás, demora-se mais ainda para percebê-
lo, ou, até mesmo, pode-se não o perceber.
Nesse exemplo do gás, verifica-se que se estabelece um gradiente de concentração entre
o local de alta concentra çã o, junto ao lugar de vazamento, e locais em que a concentra çã o
do gás tende a decrescer até os locais mais distantes, onde ele ainda nã o está presente.
Quanto maior esse gradiente, quanto menores a tortuosidade de sua trajetória e o grau de
impedimento dessa trajetó ria, mais rapidamente o gás será difundido até à pessoa. Assim

FERTILIDADE DO SOLO
174 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

também uma colher de NaCl colocada em um litro de á gua fará com que, depois de algum
tempo, todo o sal se dissolva e se difunda até os locais de menor concentra ção. Com o
tempo, a concentra çã o do sal em toda a soluçã o será uniforme. O gás se difundiu no ar,
como meio de transporte ou meio de dispersã o, enquanto o sal utilizou a água . Nã o
haveria transporte do gás nem do sal sem o meio de dispersã o, ar e água, respectivamente.
Observa -se que, em ambos os casos, haverá difusã o, sem que haja necessidade de vento
que, neste caso, caracterizaria o fluxo de massa, como o de uma janela aberta, por exemplo,
para o gás, ou de agita çã o da á gua para o sal. Esse movimento, ou turbulência, do meio
de transporte, do "veículo", ar e á gua , arrastando consigo o disperso, foi o que se
caracterizou anteriormente como fluxo de massa . Portanto, mesmo que a planta nã o esteja
transpirando, haverá difusã o de íons até às raízes, onde poderã o ser absorvidos. Quando
se sai da sala e se vai em direçã o ao fogã o, está -se interceptando o gás.

Intercepta çã o de Ra ízes
Um exemplo hipoté tico da contri Duiçã o estimada da interceptaçã o radicular, fluxo
de massa e difusão como meios que viabilizam a chegada de um nutriente, P como exemplo,
até à superf ície das raízes de soja é apresentado a seguir:
Para boa produtividade de soja , a quantidade total de P acumulado em sua biomassa
- grã os e parte vegetativa - fica em torno de 20 kg ha 1. Para absorver todo èsse P, o
sistema radicular precisa, de alguma maneira, criar mecanismos para acessar esse
nutriente que se encontra na soluçã o do solo.
Enquanto cresce, a raiz intercepta o P que se encontra em sua trajetó ria . O
crescimento da raiz causa a explora çã o de novas regiões do solo ainda nã o submetidas
à absorçã o do nutriente, portanto, mais ricas que as anteriormente interceptadas. Se for
considerado que apenas de 0,1 a 2,0 % do volume de solo explorado pelo sistema radicular,
nos primeiros 15 cm superficiais do pe::fil, é ocupado pelas raízes (Barber, 1974), pode-se
verificar que a quantidade do P em soluçã o mais o P-lá bil ou trocá vel que o abastece, à
medida que o primeiro vai sendo absorvido, nã o é suficiente para se chegar à quantidade
de P absorvida pela cultura da soja .
Concentra ções críticas(9) do P na soluçã o do solo, para muitas plantas, como já foi
dito, podem ser inferiores a 0,05 mg L 1 de P, para solos altamente intemperizados e, ou,
"

argilosos (Yost et al., 1979), e tã o altas como 0,2 mg L 1, para solos menos intemperizados
"

e, ou, mais arenosos. Se for considerado um nível crítico médio do P-lá bil ou trocá vel,
entre o início e o fim do crescimento da cultura , de 50 mg dm 3 de P no solo, verifica -se
'

que uma intercepta çã o de 1 % do somatório deste valor, com um nível crítico médio na
soluçã o do solo de 0,1 mg L 1, permitiria um suprimento de 0,751 kg ha 1 de P nos 15 cm
' "

superficiais de profundidade, valor bem inferior aos 20 kg ha 1 absorvidos pela cultura,


'

considerado inicialmente. Algum mecanismo adicional de suprimento de P para as


raízes torna-se necessá rio para explicar todo aquele P absorvido (veja capítulo VIII).

(9 )
Concentra çã o cr í tica pode ser definida como a concentra çã o de um nutriente, por determinado
mé todo de aná lise, acima da qual a probabilidade de resposta de uma planta à aplica çã o desse
nutriente no solo ou meio de cultivo nã o é de interesse económico.

FERTILIDADE DO SOLO

I
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 175

Fluxo de Massa

Um potencial hídrico decrescente na sequê hcia soluçã o do solo > ra ízes > folhas >
atmosfera faz com que a solu çã o do solo se movimente nessa direçã o, do solo até à
atmosfera , estabelecendo-se o fluxo transpiracional. Depreende-se desse fluxo que o
arraste da soluçã o do solo até à raiz significa o trá nsporte até ela do P na soluçã o do solo,
que vai indicar o que poderá ser absorvido. Assim, o volume de á gua transpirado durante
o ciclo da cultura multiplicado pelo teor de P na soluçã o dá a contribuição potencialmente
esperada desse mecanismo de transporte, denominado fluxo de massa, para com o P
acumulado pela cultura da soja . Se for considerado que, durante o ciclo dessa cultura, o
volume de á gua transpirada é da ordem de três milhões de litros (Barber, 1974), pode-se
verificar que, para um teor crítico m é dio de P na soluçã o do solo da ordem de 0,1 mg L 1, "

a contribuiçã o do fluxo de massa ser á de 0,3 kg ha 1 de P, apenas.


'

Verifica -se que o total de P absorvido pela soja nã o pode ser explicado pelo
crescimento de ra ízes ( interceptação radicular ) e - pelo fluxo de massa somados; ainda falta
muito para chegar aos 20 kg ha 1 de P. '

Fluxo Difusivo
Quando se somam as contribuições do crescimento das raízes, interceptando o P, e
da transpira çã o, causando o fluxo de massa, veriftca -se que o valor encontrado contribui
com muito pouco do valor acumulado na cultura da soja. Essa grande diferença [20,0 -
(0,3 + 0,751) = 18,949 kg ha 1] é satisfeita pela difus ã o. Portanto, a contribuição da difusã o
'

é determinada pela diferença entre o absorvido e acumulado na planta e as contribuições


da interceptação radicular e do fluxo de massa . Esse mecanismo de transporte, que tem
como força motriz o gradiente de concentraçã o, é chamado, portanto, defluxo difusivo ou
difusã . om
Peknque-sé viu, para que mais P chegue às ra ízes de uma planta, por fluxo difusivo,
é necessá rio que o solo seja mais rico em P-disp anível, para que haja gradiente maior
entre o que há na soluçã o do solo e junto à raiz , O fluxo difusivo aumenta com esse
gradiente; será maior também com o aumento do teor de á gua do solo, por ser este o meio
através do qual a difusã o ocorre. O fluxo difusivo vai depender, ainda, da existência ou
nã o de obstá culos entre o P na solu çã o do solo, mais distante da raiz, e aquele junto à
raiz; se o caminho for mais tortuoso, se a intera çã o do elemento (íon ) que se difunde na
soluçã o e as partículas do solo que poderã o adsorvê-lo, limitando seu transporte, forem
maiores ou menores, etc. Numa viagem, preocupa -se com o veículo, com a distâ ncia, com
a qualidade da estrada, sendo a vontade ou a necessidade de fazer a viagem sua grande
for ça indutora . Na difusã o, essa "for ç a indutora" é o gradiente de concentra çã o do
elemento a ser transportado, enquanto, no fluxo de massa, é o gradiente de potencial
j
hídrico.

° 0)
Difusã o é utilizado como sinónimo de fluxo difusivo ein muitos trabalhos; nã o deve ser confundido
com coeficiente de difusã o ( D ) .

FERTILIDADE DO SOLO
176 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

O suprimento de um nutriente da solu çã o do solo até à superf ície das ra ízes, por
meio do fluxo difusivo (Wiethõ lter, 1985), é expresso pela Lei de Fick:

F = - D ASc / Ôx (4 )

em que F é o fluxo difusivo do putriente, em mol s 1, através de uma superf ície de


'

á rea A, disponível ao transporte, em cm 2, proporcionado pelo decr éscimo de sua


concentra çã o (8c), em mol cm 3, com o aumento da distâ ncia de transporte (Ôx ), em cm;
'

D(11 ) é denominado coeficiente de difusão, na verdade uma constante de proporcionalidade,


em cm 2 s 1, que faz com que F seja matematicamente relacionado com A 8c / ôx. Assim, a
'

variá vel 8c / 8x é denominada gradiente de concentração ao longo da distâ ncia de transporte


do nutriente. O sinal negativo do segundo termo da equação advém do decréscimo de dc
com o aumento de 8x, o que faz com que a variavel Sc / 8x seja negativa .
O coeficiente de difusão , D, é definido pela equa çã o ( Nye & Tinker, 1977):

= Dj 0 /8I /8Q (5)

em que D: é o coeficiente de difusão do elemento em solu çã o (água pura ) - é uma constante


para cada elemento (em cm2 s 1); 0 é o conteúdo volumé trico de água no solo, em cm3 cm 3;
' '

f é o fator de imped â ncia , cm cm 1, variá vel conforme a tortuosidade da trajetó ria da


difusã o. A tortuosidade é variá vel, conforme a textura do solo, uma vez que partículas
maiores, como nos solos mais arenosos, aumentam a tortuosidade, em rela çã o à s
partículas menores, como nos solos argilosos; partículas menores permitem trajetória
mais retilínea do nutriente até à raiz. O fator de imped â ncia varia, também, conforme o
aumento da viscosidade da á gua que se encontra mais próxima das superf ícies das
partículas coloidais do solo com cargas elé tricas. A viscosidade é alterada, também,
negativamente, pela temperatura do solo. Outro componente do fator de imped â ncia é a
adsor çã o negativa de â nions, caracter: zada pela repulsã o dos â nions de superf ícies dos
colóides pelas cargas negativas predominantes, aumentando a concentra ção de â nions
em solução. A medida que a tortuosidade e a viscosidade diminuem e a adsorção negativa
aumenta, o fator de imped â ncia aumenta (12), determinando maior valor do coeficiente de
difusã o. Por outro lado, a compacta çã o do solo, causando poros muito finos, como
tamb é m delgados filmes d 'á gua, quando os solos tornam-se mais secos, causam
diminuiçã o do fluxo difusivo dos elementos, particularmente daqueles adsorvidos ao
solo com maior energia (Figura 13) . De acordo com Nye & Tinker (1977), o valor de /
aproxima -se de zero nos solos mais secos, apenas com uma camada de moléculas de
á gua; nos solos saturados, sã o encontr ados valores de / entre 0,4 e 0,7.

( ,, , Deve-se compreender a unidade de D, em cm!s 1, como uma constante de proporcionalidade na


'

Eq . 4 , para satisfazer as mesmas unidades nos componentes daquela igualdade: F em


[ (cm 2 s 1 ) cm 2 (mol cm 3 cm 1 ) ] = mol s 1.
' ' ' '

( 12)
Embora imped â ncia tenha como sinónimos resist ê ncia ou o inverso da admitâ ncia, os valores de /
sã o o inverso de qualquer restriçã o à difus ã o. Por exemplo, quanto maior a tortuosidade, menor é o
D e, por conseguinte, menor F. Portantc , matematicamente, este componente da imped â ncia é
utilizado como o intervalo de tortuosidade .

FERTUJIDADE DO SOLO

i
IV - RELA çãO SOLO - PLANTA 177

Filme de á gua
mais delgado

Figura 13. Efeito do teor de á gua em solo altamente intemperizado (com predomínio de cargas
positivas ) sobre o fluxo difusivo de f ósforo nc solo.
Fonte : Novais & Smyth (1999 ) .

Ainda, na Eq. 5, 1 é a concentra çã o do nutriente na soluçã o do solo (fator intensidade)


e Q é a concentra çã o deste elemento adsorvido ao solo ( trocá vel ou l á bil ), denominado
fator quantidade. A diferencial 81/ ôQ representa , na verdade, o inverso do poder tampã o
ou fator capacidade do nutriente no solo (ÔQ / 8I). Em termos prá ticos, o poder tampão de
um nutriente apresenta correlaçã o positiva com o teor de argila de solos, particularmente
naqueles solos com tipos de argila semelhantes.
Embora o coeficiente de difusã o ( D) esteja diretamente ligado ao fluxo difusivo (F)
de um nutriente no solo, como se v ê na Eq.5, deve ser ressaltado que ele nã o é, por si só,
uma medida de F. Todavia , correla ções significativas entre valores de D e absor çã o de
nutriente, em diferentes condições, tê m sido obti das ( Barber, 1974) .
Deve-se compreender que, quando se altera um componente da Eq. 5, outros são, de
alguma maneira , também, alterados, direta ou indiretamente . Por exemplo, quando se
aumenta o valor de 0, altera -se o valor de /, por cjiminuir
a tortuosidade e a viscosidade,
aumentando o fator de imped â ncia e, por conseguinte, o valor de D.

Calagem e Fosfatagem
-
Os componentes das Eq. 4 e 5 podem ser, itambé m, indiretamente alterados pela
adoçã o de técnicas agr ícolas usuais, como calagem e a adiçã o de fertilizantes fosfatados
ao solo. Para Zn, Fe e Al, o aumento do pH do solo com a calagem ou a adiçã o de P ao
solo causam precipita çã o de suas formas iô nicas que se encontravam em soluçã o,
diminuindo seus valores de ÔI / ÔQ e, como esperado, de seu valor de ôc / ôx. Como
consequência, h á diminuiçã o dos fluxos difusivos destes elementos nos solos, o que é
inconveniente para a planta quanto ao Zn e o Fe, mas conveniente quanto ao Al.
A deficiência de Fe em plantas de caf é cultivádas em Latossolos ricos neste nutriente
pode ser causada por condições que afetam o transporte deste nutriente no solo, como

FERTILIDADE DO SOLO
178 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

teores de P e valores de pH elevados, é d éficit hídrico no solo. O fluxo difusivo do Fe (FFe)


em solos foi avaliado como variá vel de doses de P e de níveis de acidez e umidade
( Nunes et al ., 2004) ( Quadro 19 ) . Para isso, amostras superficiais de dois solos, um
Latossolo Vermelho distrof érrico típico A moderado textura muito argilosa, de Sete Lagoas,
e um Latossolo Vermelho-Amarelo distrof érrico A moderado textura média, de Joã o
Pinheiro, receberam 20 mg dm 3 de Fe na forma de FeS04.7H20 e, posteriormente, foram
'

submetidas aos tratamentos: sem o com calagem ( para V = 60 % ), sem ou com P


(500 mg dm 3, na forma de NH4 H2P Q e três níveis de umidade correspondentes aos
'

potenciais: -0,01, -0,04 e -0,10 MPa . Para a determina çã o do FFe, foram montadas câ maras
de difusã o que receberam uma lâ mina de resina de troca catiô nica como dreno de Fe. O
Fe total adsorvido à s lâ minas foi extra ído após 10 dias de contato com os solos, estimando-
se o FFe.
A umidade foi preponderante sobre o FFe em ambos os solos, mas teve maior
importâ ncia na ausência da calagem com ou sem a adiçã o de P (Quadro 19) . Isso se deve
ao fato de que a precipita çã o de Fe erja
seus compostos de menor solubilidade previne
maior FFe, mesmo sob condições de ma ior umidade.
Os resultados obtidos mostram que a calagem, bem como teores elevados de P
dispon ível em solos, particularmeme naqueles mais argilosos, como no Latossolo
Vermelho f é rrico argiloso, de Patos de Minas, onde lavouras de caf é apresentaram
sintomas de deficiê ncia de Fe ( Nunes et al., 2002), podem causar absor çã o insatisfató ria
deste nutriente pelas plantas, de modo particular quando estes solos sã o submetidos a
déficits hídricos.

Quadro 19 . Fluxo difusivo de ferro no solo de Joã o Pinheiro ( textura média ) e de Sete Lagoas (muito
argiloso ) como variá vel de níveis de umidade e doses de f ósforo e de calcá rio

Potencial h í drico ( T ) Testemunha + P + Cal M é dia ( T )

jirnol cnv 2 / 10 dias

Joã o Pin]heiro (Latossolo Vermelho- Amarelo distrof é rrico )


-0, 01 MPa 4,17 Aaa 3,59 Aa 1,83 ap 3, 20
-0,04 MPa 3,03 Aba 2,88 Aab 1,74 ap 2,55
-0,10 MPa 2, 02 Aca 2,35 Ab 1,55 aa 1,97

Mé dia 3,07 2, 94 1, 71 2, 28

Set e Lagoas ( Latossolo Vermelho distrof é rrico )


-0,01 MPa 6,15 Aaa 2,62 Aa 0,81 ap 3,19
-0,04 MPa 4, 00 Aba 2,11 Bb 0,59 ap 2, 23
-0,10 MPa 2,77 Aca 1,28 Bc 0,47 ap 1,51

Mé dia 4,31 2,00 0,62 2,31

Valores seguidos pela mesma letra maiuscula, na linha (dentro da dose de calagem, efeito de P), min úscula , na
coluna (dentro de solo, efeito de umidade ), e pela mesma letra grega na mesma linha , para a compara çã o do efeito
de calagem, dentro dos tratamentos sem e com P. respectivamente, nã o diferem entre si pelo teste Tukey a 5 %.
Fonte : Adaptado de Nunes et al. (2004).

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 179

Ânion Acompanhante

Curiosamente, o â nion acompanhante da fonte de Zn aplicada ao solo tem também


significativa influ ência sobre a difusã o deste nutriente (Oliveira etal., 1999), como também
acontece com o P e ser á visto mais tarde, no capítulo sobre P . No trabalho de Oliveira et
al. (1999 ), amostras de dois solos foram submetic as a dois níveis de pH e duas fontes de
.

Zn (ZnCl2 e ZnS04.7H20) nas doses de 0, 20 e 40 mg dm 3 de Zn no solo . A umidad è dos


'

solos tratados foi elevada à capacidade de campo . O fluxo difusivo de Zn ( FZn ) para uma
resina de troca de cá tions, durante um per íodo c e 15 dias, foi avaliado ( Quadro 20). O
aumento do pH do solo acarretou grande diminuiçã o do FZn .
Efeito semelhante foi observado para o teor d e argila do solo: solo com maior teor de
argila com menor FZn. O FZn foi maior quando a fonte utilizada foi ZnCl2. Tal fato parece
ser consequ ê ncia da baixa capacidade de adsor çã o de Cl pelos solos em geral e da alta
'

solubilidade do ZnCl2, e sua consequente maior p resença na soluçã o do solo como â nion
acompanhante do Zn.
Uma análise da Eq . 5, considerando determinado solo, com dado teor de um nutriente
(ÔI / ôQ e ôc / ô x constantes), a difusã o deste nutriente até à raiz de uma planta variar á
diretamente com o conte ú do de á gua do solo (0) .

!
Quadro 20. Fluxo difusivo de zinco como variá vel de solo, pH, dose e íon acompanhante (fonte )
após 15 dias de contato da lâ mina de resina e amostras dos solos

Dose Zn ( mg dm 3) '

Solo pHHjO
0 10 20 40

Hmol cm 2 / 15 dias
" / r j

ZnCh
PV 4 ,87 0,003 0 , 035 0,088 0,169
6,00 0, 002 0, 006 0, 012 0, 029
ZnSC> 4
4,87 0,027 0, 060 0,126
6,00 0,006 0, 011 0, 021
ZnCh
LV 4, 64 0,002 0,064 0,251 1,064
ZnSC> 4
4,64 0,031 0,072 0,188

PV: Argissolo Vermelho (22 % argila ). LV: Latossolo Vermelho (12 % argila ) .
Fonte: Oliveira et al. (1999).

Conteúdo de Água
Esse efeito de conteúdo de água do solo sobre a difusão de P em amostra de um
Latossolo Vermelho-Escuro textura média (LEm ) de cerrado, em casa de vegetação, foi

FERTILIDADE DO SOLO
180 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

estudado por Ruiz (1985) e por Costa (1998) (Quadro 21) . Ruiz (1985) cultivou soja ,
utilizando a té cnica de ra ízes subdivididas, encontrando-se metade das ra ízes no vaso
com solu çã o nutritiva completa menos P, e metade em outro vaso com solo, onde se
testaram doses de P em três níveis de umidade (Quadro 22). O exsudato xilem á tico foi
coletado, analisando-se seu conte ú do de P e avaliando-se, também, o fluxo xilemá tico
deste elemento para a parte a é rea da soja . Os resultados mostraram que, mesmo para
elevada dose de P, como 240 mg kg 1 de P, que corresponde, na prá tica, a 5,5 t ha 1 de
'
"

superfosfato simples incorporados nos 20 cm superficiais do solo, seu fluxo xilemá tico
caiu mais de trezentas vezes, quando o conte ú do de á gua retida a -0,01 MPa (-0,1 bar )
caiu para aquele correspondente a 0,3 MPa (-3,0 bar ) (Quadro 22). É interessante
^
considerar que este menor conte ú do de á gua no solo era bastante para manter a planta
com turgidez sem d éficit hídrico aparente. E, nessa condi çã o, o fluxo de P caiu para
valores menores que aquele observado no solo sem a adição de P (solo com praticamente
zero de P disponível pelo extrator de Mehlich-1), com umidade próxima à capacidade de
campo (-0,01 MPa ) .

Quadro 21. Fluxo difusivo de f ósforo em três solos influenciado pela umidade do solo. A dose de
f ósforo aplicada foi constante, correspondente a 50 % da capacidade má xima de adsorção de
f ósforo do solo

Umidade ( % porosidade )
Solo Teor de argila
60 80

g kg 1
'
Hmol cm 2 / *
15 dias

LEI 130 0 41 0 , 61 0 , 91
LV 560 0 08 0 , 42 0,88
LE 2 760 0 07 0 , 17 0, 24

Fonte : Costa ( 1998 ) .

Quadro 22 . Efeito do conte ú do de água em amostra de um Latossolo Vermelho textura média sobre
a transloca çã o de f ósforo para a parte aé rea da planta e crescimento da soja

Dose de P Á gua no solo Exsudato Á rea foliar

mg kg 1 solo
*
MPa ( % ) ( ' ) Hg h 1 de P
*
cm 2
0 - 0 , 30 (11, 0 ) 0 , 012 109,5
- 0 ,04 (13 ,6 ) 0 ,033 150 , 3
-0 , 01 (17, 4) 0 , 059 165 , 8

240 -0 , 30 (11 , 0 ) 0 , 018 160, 5


- 0 , 04 (13 , 6 ) 0 , 065 154 , 8 !

- 0 , 01 (17,4 ) 5 , 999 525 , 2 1

(1 )
Volume / volume .
Fonte : Ruiz (1985a ) .

FERTILIDADE DO SOLO

. *
IV - RELAçã O SOLO- PLANTA 181

Considera ções

• A difusã o de P em solos mais intemperizados, como o utilizado por Ruiz (1985a ),


parece ser praticamente interrompida em condições de umidade ainda, aparentemente,
elevada . A elevada capacidade de adsor çã o de P neste tipo de solo, caracterizada por
baixo valor de dl / dQ, parece ser a raz ã o .
• O suprimento ( transporte) e a consequente ? absor çã o de P pela planta parecem um
processo descontínuo . Períodos de grande absor çã o quando o conteúdo volumé trico de
á gua no solo é alto pr óximo à capacidade de campo, sã o alternados com outros de
,
transporte limitado ou nulo, quando a umidade do solo decresce a valores críticos para
o transporte, embora , ainda, satisfatórios para a manutençã o de plantas em crescimento.
• A tentativa de compensar a menor disponibilidade de á gua no solo, como meio de
transporte de P, por meio de maiores doses deste nutriente, com o objetivo de aumentar o
fluxo difusivo e , por conseguinte, aumentar a absor çã o de P, é pouco efetiva ,
principalmente em solos com maior fator capacidade de P ( Ruiz et al., 1988; Novais &
Smyth, 1999) . Esta compensa çã o é mais viá vel em solos menos intemperizados e, ou,
mais arenosos, com maior 5I / 5Q.
• O mecanismo de ac ú mulo de formas de reserva de P na planta, principalmente
para aquelas perenes, deve ter evoluído, isto em razã o dos maiores e mais prolongados
d éficits hídricos, ao longo do ano, a que essas píantas estã o sujeitas, se comparadas à s
anuais .
Sobre essas formas de reserva de P na planta, sabe-se que principalmente P inorgâ nico
( Pi ) acumula -se nos vac ú olos daquelas plantas e m condições de maior disponibilidade
de P (Bieleski, 1973; Bieleski & Ferguson, 1983) . Em condições de estresse, o Pi seria
utilizado para a s íntese de compostos orgiinicos essenciais ao crescimento e
desenvolvimento da planta . Essas grandes variações no conteú do de Pi na folha de uma
planta parece ser a raz ã o para varia ções na concentra çã o crítica de P em plantas
cultivadas em solos com diferentes valores de poder tampã o ou fator capacidade deste
elemento (Q / I), como observadas por Muniz et al. (1985) . Detalhes adicionais relativos
a esse comportamento das plantas serã o apresentados no capítulo referente ao P.
Sobre os valores dos coeficientes de difusã o ( D) em solos (Quadro 23), podem-se
tirar algumas informa ções pr á ticas interessantes , O valor de D do N03 é algo em torno
'

i
de 100.000 vezes maior que o do H2P04 . Disso pode-se assegurar sobre a alta mobilidade
de NO/ nos solos, o que lhe pode acarretar expressivas perdas por lixivia çã o, pequeno
ou nulo efeito residual ao longo dos à nos de cultivo e fluxo de massa como o mecanismo
de maior suprimento de N para as plantas. O valor muito menor de D para Pí2P04
assegura -lhe sua "imobilidade" no solo (a difusã o ocorre de distâ ncias nã o superiores a
1 mm da raiz, aproximadamente), sua virtual não- lixivia ção e a difusã o como mecanismo
de suprimento predominante deste nutriente para a planta . O Zn, com valor de D mais
próximo ao do H2P04 , apresenta comportamento semelhante a este quanto ao seu

transporte, lixivia çã o, etc.


O valor de D para NH4+, aproximadamente dez vezes menor que o de N03 , garante-

!- j

lhe menor lixiviaçã o que a observada para o N03 , justificando os estudos no sentido de
%:
$ >
1’
I?
W: FERTILIDADE DO SOLO
Ê:
182 ROBERTO FERREIRA NO \JrAis & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

utilizar inibidores da nitrifica çã o (Tvsdale & Nelson, 1970 ). Assim, a manuten çã o no


solo de N na forma amoniacal por mais tempo, sem sua nitrificaçã o, assegura ao fazendeiro
que utilizou a fonte amoniacal menores perdas de N por lixivia çã o.

Quadro 23. Valores médios dos coeficientes de difusã o (D) de alguns íons no solo

fon D

cm s
Na +
1 ,0 X IO 5'

NH 4 + ( 0, 4 a 3, 0 ) x IO 7'

K* 2, 3 x 1 CT 7
Ca 2 + ( 3, 2 a 7, 4 ) x IO 8'

Zn 2 + ( 3, 1 a 266 , 0 ) x IO ’ 10

NO3- (0, 5 a 5 , 0 ) x IO 6

H 2 PO 4 - ( 2, 0 a 4 , 0 ) x 10 11
'

Fonte : Barber ( 1974 ) .

Observa -se que o valor de D do NH 4+ é semelhante ao do K + (Quadro 23), o que


confere a este comportamento semelhante à quele discutido para o am ónio.
A presença de micorrizas em plantas dever á contribuir com a absorção de nutrientes
com pequenos valores de D, como do P e do Zn, e nã o daqueles com grandes valores,
como os do N03 e do Ca 2+.

É necessá rio enfatizar, também, a importâ ncia de raízes mais finas, como as capilares,
aumentando o volume de solo explorado, para elementos, com menores valores de D,
como o de P e Zn, com mobilidade restrita em termos de distâ ncia . Outro ponto que
merece destaque é o efeito indireto que á interceptação radicular tem sobre o fluxo difusivo
de nutrientes no solo. À medida que o sistema radicular cresce, explorando novas á reas
do solo ainda ricas naqueles elementos de menor D, diminuem as distâ ncias para que a
difusão ocorra, facilitando-a . Para â mons com maior mobilidade no solo, como o N03 ,
'

esse efeito indireto do crescimento das ra ízes, facilitando a difusã o, deverá ser muito
menor, se presente.

Compactação do Solo
As menores respostas à aduba çã o observadas em nossos solos, com os anos de
cultivo, seriam, em boa parte, resultantes da degrada çã o das propriedades f ísicas desses
solos, levando ao aumento de suas densidades e, como consequência , à retençã o com
maior energia pelo solo de nutrientes como menores valores de D, preferencialmente ao
fluxo difusivo ( Figura 13). Com a compacta çã o, aumenta a participa çã o de microporos;
com o aumento da energia de retençã o da á gua no solo, aumenta sua viscosidade e a
intera çã o desses íons e superf ície dos coló ides ao longo de sua trajetó ria de difusã o,
fazendo com que o íon tenha de se difundir cada vez mais próximo de superf ícies
adsorventes, que os retêm. Para que o íon continue chegando até às raízes, doses cada

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 183

vez maiores terã o de ser aplicadas, com vistas em aumentar a saturação nessas superf ícies
adsorventes pelo elemento e em manter o fluxo dijfusivo em níveis pelo menos razoáveis,
em termos de demanda da planta (Figura 14 e Quadros 24 e 25). Nessas condições de
degrada çã o das propriedades f ísicas dos solos, há forte diminuiçã o do fator de
imped ância, /, diminuindo o coeficiente de difusã o D (Eq.5) e, como consequência, o
fluxo difusivo (F) de íon no solo (Eq.4).
Um solo "cansado", como freqiientemente denominado pelos fazendeiros, que se
torna menos responsivo à aplicaçã o de fertilizantes , como de P, deve ter como característica
principal a queda drástica do fluxo difusivo desse nutriente, que, embora presente em
teores adequados no solo, não chega satisfatoriamente às raízes. A análise do solo
indica teor alto do disponível, enquanto a planta indica acú mulo baixo. Assim, doses
requeridas para manutençã o da produtividade tê m de ser bem maiores que as
anteriormente usadas, particularmente nos solos com maior adsorção de P, por exemplo

Compactação
+++ --++ --+++ --++
m&M .

*+ + -
+ T + + .+ . +

t SlV &•
H2PO4- Raiz I
i <14
*
+++ - - + +A- + f :
V.

+++ ++ --+ + + --+ + '

Compactação

Figura 14. Efeito da compactação de uma amostra dç um solo altamenté intemperizado (com
predomínio de cargas positivas) sobre o fluxo difusivo de f ósforo no solo .
Fonte: Novais & Smyth (1999) . : .

Quadro 24. Fluxo difusivo de potássio de um solo, influenciado pela umidade do solo. A dose de
potássio aplicada foi correspondente a 40 % da CTC efetiva do solo

Umidade (% porosidade)
Solo - teor de argila
20 : 60 80

LE - 130 g kg 1
'
nmol cm 2 / 15 dias
'

Sem compacta çã o 9 ,9 28 , 7 51 ,5
Com compacta çã o 7, 6 15, 6 24, 9

Fonte: Costa (1998 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
1S4 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WELSON VARGAS DE MELLO

Quadro 25 . Crescimento e conte údo de fósforo em mudas de eucalipto influenciados pela dose de
-
f ósforo e pela compaetaçâ o de um Latossolo Vermelho Amarelo textura média

Densidade do solo Dose de F Altura da muda Conteú do de F

J
kg dm mg dm
1
cm g/ v a s o

1,30 0 4,6 0 ,366


130 31/1 26, 73

1 , 70 0 2 ,7 0,05
150 23,7 11 , 90

FOIIIE : Ribeiro et aL (1987)

( Figura 15). A correçã o geralmente utilizada pelos fazendeiros nos solos "cansados"
é deixá-los com pastagens por alguns anos, quando suas propriedades f ísicas sâ o
melhoradas pela estruturaçã o proporcionada pela atividade intensa de organismos do
solo e pela qualidade dos res íduos do sistema radicular das gram í neas-

Figura tB - Efeito da compacta çâ o ( D em kg dm 71) de um Latossolo Verme lho Escuro, com


'
*

610 g kg L de argila, com uma dose de 450 mg dm " de P comum aos tr ês tratamentos,
'

sobre o crescimento de soja .


.
Fonte : Kibeir ç j et al (1965).

FERTILIDADE D O S O L O
IV - RELAçãO SOLO- 3LANTA 185

Idade da Planta
Nutrientes com menores valores de D são, de modo geral, mais críticos na fase inicial
de crescimento da planta, dado o pequeno volume de solo explorado pelas raízes, bem
como o nã o-estabelecimento da micorriza çã o. Contrariamente, a demanda de nutrientes
com grande valor de D, como de N03 e de K +, é crítica mais tarde, coincidente com

está dios de crescimento de maior demanda. Esses nutrientes de maior valor de D sã o


t pouco dependentes do volume de raízes, como de micorriza, por serem transportados de
grandes distâncias por fluxo de massa . Zn tende a ser problema mais crítico para o
milho em. seus est á dios iniciais de crescimento, enquanto o N é transportado
preferencialmente por fluxo de massa, mais tarde.
i

;
Interaçã o Doses de Nutrientes Verstis População de Plantas

Aspecto importante, infimamente relaciona io com a mobilidade dos nutrientes no


: •
solo - valores de D -, diz respeito aos estudos sobre a intera çã o doses de
nutrientes x popula ções de plantas. Estudos sobre essa interaçã o no plantio de milho
:

;
são frequentes na literatura, enquanto, para elementos como o P, dado seu pequeno valor
i de D, este estudo não tem muito sentido. Esse conceito foi desenvolvido por Bray (1954)
1
i (Figura 16)

-
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Figura 16. Competição entre plantas por nutrientes de alta mobilidade no solo, com grande
valor de D, como N03‘, por exemplo, e por nutrientes "imóveis", cõm pequeno valor de D,
como H2P04 , por exemplo. "

Fonte : Adaptado de Bray (1954) .

FERTILIDADE DO SOLO

i
186 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

Observa -se que, à medida que aumenta a densidade de plantio ou popula ção de
plantas, a competição pelo nutriente mais móvel aumenta grandemente, o que não acontece
para o nutriente "imóvel". A competição pelo "imóvel" somente vai existir em pequena
ou mínima intensidade, uma vez que sua distâ ncia de transporte é algo não mais que
1 mm de distâ ncia da raiz. Assim, apenas naqueles locais! onde raízes de duas plantas
se tocam haverá competiçã o entre elas pelo H2P04~. Como o volume de solo explorado
pelas raízes de uma planta é, em média, 1 %, o contato de raízes entre plantas vizinhas é
bastante pequeno. Disso, pode-se dizer que a quantidade de P a ser utilizada em um
plantio de milho com 40.000 plantas ha 1 será, basicamente, a mesma a ser utilizada se
'

essa população for aumentada para 60.000 plantas ha 1, para produtividades semelhantes
'

nas duas condições. Para N, esse aumento na densidade de plantio de milho requererá um
aumento expressivo na sua dose, comparativamente à recomendada para a menor densidade.

Considerações Finais

Outros aspectos prá ticos relacionac .os com a mobilidade de nutrientes no solo e sua
grande dependência à disponibilidade de á gua são demonstrados nos experimentos de
localiza çã o da fonte de P em maior profundidade. Em anos mais secos, a localização
mais profunda da fonte de P em rela çã c à semente pode trazer aumentos significativos
na produtividade de feijão, em solos de cerrado, por exemplo. A manutenção da umidade
em níveis mais elevados, por mais tempo, em maiores profundidades, comparativamente
à da superf ície do solo, que seca mais rapidamente, seria a razão para esse resultado.
Com mais umidade em profundidade, a difusã o do P é mantida por mais tempo durante
um período de estiagem. Naturalmen te, essa localização de P em profundidade não
trará os resultados esperados se o ano for chuvoso ou se houver irrigação suplementar.
Uma consideraçã o final e de amplo aspecto de aplicação prá tica é a dependência
direta que o fluxo de massa tem da ebertura estomá tica (condutâ ncia estomá tica ),
enquanto a difusão nã o, ou apenas indi retamente, mais tardiamente, por limita ções na
absor çã o ativa de nutrientes (gasto de energia ). Assim, tecidos que transpiram menos,
variações rá pidas na abertura estomá ticí ., ao longo do dia, estarão em fase com o fluxo de
massa e nã o com a difusã o.

ABSOR ÇÃ O ( AQUISIÇÃ O ) DE NUTRIENTES


Introdução

Há uma bem conhecida rela ção entre fertilidade do solo e produtividade de plantas,
mantidos os demais fatores de produção em níveis nã o-limitantes (veja capítulo II). Como
tem sido mostrado ao longo de todo o texto, a planta tem seu crescimento diretamente
dependente da concentra çã o do nutriente na solução do solo, fator intensidade (I), e,
indiretamente, do fator quantidade (Q) e do fator capacidade do nutriente ou capacidade
tampã o do solo do nutriente do solo (Q / 1), que governam o valor de I.

FERTILI DADE DO SOLO


IV - RELAçãO SOLO- PLANTA 187

Equa ções matemá ticas sã o utilizadas para representar a relaçã o entre a velocidade
(taxa ) com que a planta absorve o nutriente e a disponibilidade desse elemento em
soluçã o. A equa çã o de Michaelis-Menten tem sido muito utilizada com esse objetivo.
Essa equa çã o foi desenvolvida para estudos de taxa de reaçã o enzimá tica como variável
dependente da quantidade de substrato hidrolisá vel disponível(13). A semelhança entre
a taxa de crescimento microbiano como variá vel da disponibilidade de substrato (S), a
taxa de absorção de nutriente pela planta e a disponibilidade desse nutriente (C) foi
estabelecida por Epstein & Hagen (1952) e tem, ba sicamente, a seguinte forma:

A equação de Michaelis-Menten é caracteriza .da por três constantes que podem ser
mais facilmente entendidas pela analogia entre a eficiência do "bombeamento" do
nutriente da soluçã o pela planta e do bombeamento de á gua de uma cisterna . A
quantidade de água retirada da cisterna depende da velocidade má xima de sucção (Vmáx )
da bomba, característica dependente da potência Ide seu motor, diâ metro da tubula ção,
etc. Uma bomba desenvolvida para succionar á gua nã o terá a mesma vazã o se for
utilizada para bombear óleo. A diferença entre densidade e viscosidade desses dois
líquidos será responsável por resultados distintos. Portanto, mesmo tendo a mesma
Vmá x (a bomba é a mesma ), a afinidade entre a bomba e o líquido succionado é variável.
Ela poderá ter grande afinidade com água, mas nã o com óleo, bombeando muito mais
água, no mesmo per íodo de tempo. A bomba succiona á gua de uma profundidade mínima
(Pmín ) do fundo da cisterna, para que não arraste ba rro. Portanto, quando o nível de água
na cisterna fica abaixo de Pmín, o bombeamento é interrompido, mesmo que ainda haja
água na cisterna .

03)
-
De maneira mais direta, pode-se dizer que é a relaçã o entre a taxa de crescimento de microrganis
mos e a disponibilidade de substrato.

FERTILIDADE DO SOLO
188 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

As constantes "velocidade má xima" (Vmá x ) ou Influxo má ximo" (Imáx)(14), "constante


de afinidade", mais frequentemente denominada "constante de Michaelis-Menten" (Km )
e "concentra çã o mínima" (Cmín), abaixo da qual não há influxo líquido, caracterizam a
ciné tica de absor çã o d è nutrientes da soluçã o (Figura 17).

i •

(n

GO

‘1
Cp (mol L )
oncentra çã o de P em soluçã o

Figura 17. Curva de ciné tica da taxa de absorção de f ósforo ( influxo ) ou de perda do P já
absorvido (efluxo, E), como variá vel da concentração de f ósforo em solução, mostrando
as constantes deste modelo de ciné tica (Im > x, Km e Cmín) .

A equaçã o de Michaelis-Menten é:
U, C. i

i= (6)
Km + C, , . , .

Como a absorçã o líquida de um íon inicia -se acima de um valor de Q denominado


C m ín (Figuras 17), condição para que o influxo (I) se iguale a õ efluxo (E ), a Eq.6 foi
modificada para:
IAm á x c
M
I == - (7)
(Km + C; ) - E < >
15

(14)
V má x foi inicialmente utilizada para rea ções enzim á ticas e substitu ída, com mais frequ ê ncia, por I m á x
para a absorçã o de nutrientes.
(15)
Com o aumento do conte ú do do nutriente em estudo na planta, os valores de E aumentam e os de
I m á x decrescem rapidamente, com pequenas alterações nos valores de Km; os valores de C m ín tornam-
se bem menores em plantas bem supridas com esse nutriente comparativamente às mal supridas
( Marschner, 1995) .

F é RTIL DADE DO SOLO

\
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 189

ou
imá x (Q - cmm)
i= (3)
Km + ,
(C - Cmín)

Nesta seção, enfatiza-se a rela çã o entre um nutriente da solução (solução nutritiva /

de modo geral) e a taxa de absor çã o ou influxo desse nutriente pela planta. Estudos de
ciné tica de absor çã o de nutrientes têm sido utilizados para comparar espécies ou
variedades (materiais gené ticos) de plantas (Martinez et al., 1993), avaliar o efeito de
micorrizas (Faquin et al., 1990), o efeito de outros elementos essenciais sobre a taxa de
absorção de P (Magalhã es, 1996) ou de elementos tóxicos, como Al ( Alves et al., 1988;
Petry et al., 1994), de morfologia de ra ízes (Clarkson, 1985; Anghinoni et al., 1989), de
localiza çã o de uma fonte de P em rela çã o ao siste ma radicular (Castilhos & Anghinoni,
1988; Barros et al., 1993), de exclusã o de P ou . aplica çã o de doses vari áveis de P,
previamente à cinética (Fontes & Barber, 1984; Martinez et al., 1993), de forma iônica de
P preferencialmente absorvida (H2P04 ou HP042 ) (Bieleski, 1973; Barber, 1980), de idade
"
'

da planta (Clarkson, 1985), de pressã o osmótica C a soluçã o (Ruiz et al., 1987), etc., tudo
isso avaliado por alterações nos valores das constantes que caracterizam a cinética de
absorçã o de nutriente pela planta toda, como nesses trabalhos, ou por apenas por raízes
seccionadas(16>.
O termo absor çã o indica o transporte de nutrientes para dentro da planta, através
de membranas celulares. Como consequência do seu significado restrito, esse termo tem
sido substituído por aquisiçã o (Clarkson, 1985; Jungk, 1991; Marschner, 1995), de
significado bem mais abrangente. A planta utiliza mecanismos que "tomam" o P do
solo. Há uma "mineraçã o" de nutrientes do solo pela planta (Clarkson, 1985). A idéia
de o solo ceder nutrientes à planta e esta, de maneira passiva, absorvê-los é, com certeza,
simplória .
Absorçã o, no sentido de mecanismos envolvidos na passagem de P através de
membranas celulares, nã o é tratada neste texto, por fugir de seu escopo. Informações
sobre este assunto, com extensa citação de litera tura, são encontradas no trabalho de
Logan et al. (1997), com o sugestivo título: "Plasma membrane transport systems in higher
plants: From black boxes to molecular physiology" e no capítulo absorçã o de nutrientes
(Fernandes & Souza, 2006) do livro Nutriçã o Mineral de Plantas (Fernandes, 2006).
Fala -se també m, neste capítulo, sobre modelos mecanísticos de absorçã o de
nutrientes.

(16)
A utiliza ção de segmentos de ra ízes, comparativamente à planta toda, é de particular import â ncia
para os estudos de mecanismos envolvidos na absorção, por não envolver o efeito da translocação
que se segue à absorçã o. Considerando a limitada capacidade de acú mulo do absorvido e a falta de
fotossíntese, os estudos cinéticos de absorçã o com ra ízes cortadas devem-se reduzir a curtos perí-
odos de tempo ( Barber, 1995).

FERTILIDADE DO SOLO
190 ROBERTO FERREIRA NOVA s & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

Determinação das Constantes Cinéticas de Absorção


O método desenvolvido por Claassen & Barber (1974) é largamente utilizado na
literatura sobre o assunto. Por esse mé todo, é escolhida (17) uma concentração inicial do
nutriente em estudo em soluçã o que não seja inadequadamente grande ou pequena para
o período experimental de absorçã o que se pretende adotar, para abranger toda a curva
de absorçã o característica esperada (18) (Figura 18). Assim que a planta é transferida para
essa soluçã o, retiram-se alíquotas, periodicamente, quantificando-se a concentra çã o do
nutriente. Há decréscimo exponencial (hiperbólico, segundo a equação de Michaelis-
Menten) da concentração do nutriente em soluçã o/como consequência de sua absorção
pela planta (Figura 18). Perdas de água, por evapõtranspiração ao longo do experimento,
bem como diminuiçã o do volume da so] ução nutritiva pela retirada de alíquotas, devem
ser consideradas para ter corrigido o volume para seu valor inicial e, por conseguinte,
corrigida a concentraçã o do nutriente em soluçã o. Pela diferença entre as quantidades
do nutriente absorvido, entre dois tempcs consecutivos dè retiradas de alíquotas, dividida
pela unidade de raiz (peso, comprimento, superf ície), determina-se o influxo (I) do
nutriente, como variá vel de sua concentraçã o na solução (Quadro 26).
Após uma hora de absorçã o de P por plantas de soja (Quadro 26), a concentração de
P, já corrigida, caiu de 20,00 para 17,22 mmol L 1. Em quantidade de P por vaso(19), essa
'

concentra ção corresponde a:


(17,22 pmol L 1) x 0,9 L ( volume inicial de soluçã o nutritiva no vaso, corrigido ao
'

longo do experimento) = 15,50 /wnol / vaso. 0 influxo (Ip) correspondente


• 5
\
a esse primeiro
• , f

período de uma hora de absorçã o é:


IP = (18,00 - 15,50) (6,33 g) 1 (peso de raiz) h 1 = 0,395 pmol g 1 h V
' ‘

À semelhança do procedimento adotado para a estimativa da "constante de ligação"


("energia de liga çã o") e para a CMAP da equa ção de Langmuir (veja capítulo VIII), a
linearização da equaçã o de Michaelis-Menten é, também, o procedimento mais utilizado
para estimar os valores das constantes Imáx e Km ( Dowd & Riggs, 1965; Persoff & Thomas,
1988). Três transformações da equa çã o hiperbólica de Michaelis-Menten podem ser
utilizadas (Quadros 27 e 28).

tl 7) Podem-se també m utilizar solu ções com concentra ções decrescentes, cada uma em um vaso ("steady-
state"). Nesse caso, o tempo de amostragem da solu çã o é constante, contrariamente ao mé todo
apresentado inicialmente, em que se mant é m a concentra ção inicial constante e varia-se o tempo de
amostragem. Todavia, em ambos os casos, as concentra ções iniciais do nutriente, em cada vaso,
decrescem com tempo de absor çã o. Críticas à utiliza çã o desses mé todos que implicam depleçã o do
nutriente na solu çã o, com o tempo de contato com as ra ízes levaram ao desenvolvimento de m é to-
dos em que as concentra ções do nutriente se mantêm constantes ao longo do tempo de absorçã o por
meio, por exemplo, de um de sistema de fluxo cont ínuo da solu çã o nutritiva em uma câ mara com
as ra ízes (Glass et al., 1987; Bloom, 1989 ). Sobre esses mé todos, sugere-se ler, també m, Escamilla &
Comerford (1998) .
í l 8) Espera -se encontrar uma regi ã o linear decrescente ( tangente negativa ) inicialmente, seguida de uma

regi ã o curvilinear e, finalmente, uma regiã o linear, tendendo à horizontal, com o decr éscimo da
concentra çã o do nutriente em solu çã o ( C.), com o aumento do tempo de sua absorçã o pela planta
( Claassen & Barber, 1974 ).
(19)
M é todo que permite estudar a ciné tica de absorçã o de nutrientes por ra ízes laterais de á rvores
adultas, em condições de campo, é apresentado por Escamilla & Comerford (1998) .

FERTILIDADE DO SOLO
-
IV RELAçãO SOLO- PLANTA 191

Figura 18 . Curva de ciné tica de exaustão da concentração de f ósforo da solução nutritiva (Cp),
como variá vel do tempo de absorçã o desse nutriente por plantas de soja . Os resultados
relativos aos quatro últimos tempos ( -o- o - ) foram criados e adicionados aos dados
originais, para viabilizar a estimativa do Cmín "

Fonte: Novais ( Dados n ã o publicados).

Quadro 26. Influxo de fósforo (32P) em plantas de soja, em diferentes tempos de amostragem da
solução. Valores de concentração de fósforo na solução de exaustão, em duas unidades distintas
(Cp e Qp), já corrigidos para evapotranspiração, retirada das alíquotas (amostras) da solução e
decaída radioativa

P em solu çã o
Tempo de amostragem Influxo de P ( IP)
0>
'c- p Qp

h pmol L - i fimol / vaso de P pmol g'1 h


0, 0 20, 00 18, 00 0,000
1 ,0 17, 22 15,50 0,395
2,0 14, 07 12, 66 0,449
3, 0 11,63 10, 47 0,373
4, 0 9,01 8,11 0,373
5, 0 6,44 5,80 0,365
6,0 4,23 3,80 0,316
6,5 3,24 2,92 0,278
7,0 2,33 2,10 0,259
7,5 1,65 1, 48 0,196
8, 0 1/ 11 1 , 00 0,152
8,5 0,68 0,61 0,123
9,0 0,41 0,37 0,076

0>Para um volume de soluçã o no vaso já corrigido e igual a 0,9 L.


Fonte: Novais ( dados nã o publicados).

FERTILIDADE DO SOLO
192 ROBERTO FERREIRA NOVA s & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

Quadro 27. Transformações lineares da equa ção de Michaelis-Menten

Cariá veis
Equaçã o Michaelis- Menten *1 * Proposta de lineariza çã o *2*
y X

. V

li = I max Ci / ( Km + Ci) li Ci N ã o-transformada


i / ii = 1/ 1max + (Km / lm 4 x) (l / Q) l / li 1/ Ci Lineweaver -Burk
Ci / li = ( Km / lm á x ) + (1/ lm á x ) Ci Ci / li Ci Hanes-Woolf ,

li = 1 max - Km ( li / Ci ) li Ii / Ci Eadie - Hofstee


(1 )
li = Influxo ou taxa de absor çã o; Imax = influxo m á ximo; Ci = concentra çã o do elemento i em solu çã o; Km =
constante de Michaelis-Menten ou "constante deafj nidade" ( Bieleski, 1973) . (2 ) Lineweaver & Burk (1934); Hofstee
(1952 ); Dowd & Riggs (1965); Nye & Tinké r (1977] ; Castells et al . (1985); Fageria et al . (1997).

Quadro 28. Ajuste não-linear e transformações lineares da Equa ção de Michaelis-Menten aos dados
do experimento de absor çã o de f ósforo (32P) por plantas de soja (Quadro 26) e respectivos
valores das constantes ciné ticas ‘

Constante cin é tica


Ajustamento ( transformaçã o ) Equa çã o R2
Im á x Km

pmol g 1 h pmol L
'

N ã o- linear (1 ) IP = 0,468 Cr / ( 2,0967 + CP) 0,978( 3) 0, 468 2,097

Lineawaver- Burk ( 2 ) 1/ I p = 2,160 + 4,4438 (1/ Cp) 0,993 0, 463 2,057


^'

- Hanes-Woof * 2*- "


CP / IP .= 4,373 + 2,1667CP. . " 0,988 , . 0,462 • •
. 2,023

Eà die-Hofstée*2* IP = 0, 464 - 2,0513 IP / C P * '


0, 954 0,464 2,051
0)Modelo hiperbólico ajustado pelos quadrados m ínimos. < 2 ) Persoff & Thomas (1988). (3> Proporçã o da vari â ncia
explic á vel dos desvios ( modelos n ã o-linear e linea ::). • *

A determina çã o das constantes Imá xf Km e Cm ín pode, também, ser feita pelo processo
grá fico-matemá tico de Ruiz (Cometti et al ., 2006).

Rela çã o entre as Constantes K nv. 1max


5
. e Ç min ea Absor çã o de Nutrientes ,
5

O fato de haver uma zona de depleçã o em tomo das ra ízes dos nutrientes de menor
mobilidade no solo, transportados preferencialmente por fluxo difusivo ( Barber, 1995)
indica que o maior limitante à absorçã o destes nutrientes é o fluxo difusivo, o que indica
que, dentro de certos limites, uma plantei nã o é favorecida por apresentar mecanismos de
absor çã o mais eficientes que os de Outra ( Bieleski, 1973; Martinez et al ., 1993). Assim,
mudanças nos valores das constantes ciné ticas Imá x, Km e Cm ín (Quadros 29 e 30 ) tê m
mostrado pequeno efeito relativo sobre a absor çã o de nutrientes com transporte
preferencial por difusã o ( Barber, 1995) . Nessas condições, o comprimento ou taxa de
crescimento de raiz torna -se uma caracter ística de extrema importâ ncia .

FERTILI D A D E DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 193

Por outro lado, para que se inicie a depleaã o em torno da raiz de nutrientes com
baixa mobilidade no solo, é essencial que a planta apresente um Cm ín inferior à
concentra çã o de P na solu çã o (solo ou soluçã o nutritiva ) . Um Cm ín de 0,28 gmol L 1 de '

p(2°) para 0 ( Vale et al., 1984), o qual poderá decrescer com o avanço em idade da
planta (Fox et al., 1974), d á uma idéia do pequeno valor de P em uma soluçã o, acima do
qual há influxo líquido desse nutriente, e da sua importância para solos com grande
FCP. Para essas condições, menores valores de Km seriam mais convenientes que grandes
valores de Imá x, uma vez que as concentra ções de P normalmente encontradas na soluçã o
de nossos "solos-drenos" nã o ser ã o suficientes para obter esse valor ( Imá x ) .
Segundo Williams & Yanai (1996), para condições de concentraçã o de um nutriente
na soluçã o do solo (C;) superior ao valor de Imá x de uma planta, a absor çã o desse nutriente
pela planta ser á governada pelo valor de Imá x. Por outro lado, se o valor de Q for menor
que o Imá x, a absorçã o do nutriente será governada pelo seu suprimento ( transporte até à
!
raiz ) pelo solo. Portanto, para as condições da maioria de nossos solos, caracterizados
por forte dreno não apenas de P, mas também de micronutrientes, como Zn, Cu, dentre
outros, tem-se na difusã o o maior gargalo de sua absor çã o pela planta .
Embora a rela çã o entre a varia ção de valores de Km e de I má x não seja clara em muitos
trabalhos (Fontes & Barber, 1984; Martinez et al., 1993(21) ), aumentos de Imá x com aumentos
de Km têm sido observados ( Anghinoni et al., 1589 ).

Quadro 29. Valores das constantes I m á x Km e Cmin d a ciné tica de absor çã o de potássio, cá lcio e
'
magnésio por mudas de quatro clones de eucálipto

Pot á s s i o Cá lcio Magn é sio


Clone (1 )
Im á x Km Cmín Im á x Km Cmín Im á x Km Cmí n

Hmol g 1 h 1
' '
nmol L 1 jimol g 1 h 1
’ '
jimol L- i jimol g 1 h 1 limol L 1
' ' ' '

7074 0 ,4 b ( 2 ) 21,3 a 9.4 a 0,7 b 69,8 a 46,3 a 0,7 a 77,3 b 68.4 a


57 1,1 a 6,7 a 4,1 a 1, 6 b 45,5 b 15.1 a 0,9 a 79,5 b 54.5 a
1213 1,0 a 10,9 a 3.4 a 2,9 a 72, 2 a 44,0 a 1,5 a 91,0 ab 60.6 a
129 1,3 a 6, 2 a 3,4 a 1,3 b 65,4 a 34.1 a 1,8 a 122,0 a 74,3 a
M édia 0,9 11 ,2 5,1 1, 6 63, 2 34,9 1,2 92,5 64,4

CV (3) ( % ) 38,1 62,2 56,9 57,6 21 ,5 53,7 40,9 22, 2 13,4

(1 )
H íbridos de £. grandis (clones 7074, 57 e *129) e híbrido de £. grandis x £ . urophy í la (clone 1213). (2) Valores
seguidos de mesma letra, em cada coluna , nã o diferem significativamente entre si pelo teste Duncan a 5 %.
{3)
Coeficiente de varia çã o das m édias entre os clones.
Fonte: Lima et al. (2005).

( 20)
Este valor corresponde a 0,0087 mg L 1 de P em solu çã o . '

( 21 )
O suprimento de doses crescentes de P a tr ês variedades de soja, em solu çã o nutritiva, mostrou,
para duas variedades, diminuiçã o dos valores de Imá x e de Km, com o aumento da dose de P. Por
outro lado, para a terceira variedade, observou-se diminuiçã o de Imá x e nenhuma alteraçã o significa-
tiva de K m com o aumento de P.
i‘

FERTILIDADE DO SOLO
194 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

Quadro 30 . Concentra çã o inicial de f ósforo ('•CnU ) e valores das constantes I m a.x, K m e C m .i n da


.. /
'
ciné tica de absorçã o de f ósforo por deferentes espécies, obtidos por diversos pesquisadores
no Pa ís

E s pé c i e Co Im á x Km C mín R e f e rê n c i a

jdmol L 1 jamol g 1 h jdmol L 1


* ’ '

Soja n ã o - micorr í zica ( i ) 15 1, 31 5, 24 0, 29 Faquin et al . (1990 )


Soja micorr í zica 15 1,50 6, 70 0 , 11 Faquin et al . (1990 )
Arroz 32,2 ( 2 ) 0,37 (3 ) ( 4 )
9,33( 31 Furlani (1988 )
Trigo 20 0,84 > (5
3, 07 ( S ) Alves et al . (1988 )
Trigo 30-40 (6 )
5,1(7 > 6, 0 3, 3 Anghinoni et al. (1989 )
Milho 30-40 (6)
3,8 « 7 > 1,5 Anghinoni et al . (1989 )
Arroz 30-40 (6)
3,6 < 7 > 5,3 1,5 Anghinoni et al . (1989 )
Aveia 30-40 (6)
0,8 > (7
1,8 0, 5 Anghinoni et al. (1989 )
Colza 30-40 < 6 ) 0, 4 ( 7 > 2,0 0, 4 Anghinoni et al . (1989 )
Milho í8 ) 10 0, 79 2,55 0, 28 Vale et al . (1984 b )
Soja (9) 20 0,55 5,55 0,54 Martinez et al . (1993)
(10 )
Soja 21,15 0,39 2, 12 Castells et al . (1985 )

Para o n ível de nutri çã o 1. Concentra çã o intermedi á ria às três utilizadas. Média para as tr ês linhagens
(1 ) ( 2) (3)

estudadas. ( 4 ) Expresso em comprimento de raiz ( m ). (5) Média de dois cultivares. (6 ) Variá vel conforme a espécie
estudada . (7 ) Expresso em fimol cm 2 ( raiz ) s 1 . (8) Pâ ra plantas pré -cultivadas com N03 , na ausê ncia de Al . (9) Mé-
' ' "

dia de tr ês variedades, crescidas em solu çã o com 0,023 jimol L 1 . (10 ) Tratamento sem Al; determina çã o pelo
'

m é todo grá fico-matem á tico de Ruiz (1985b ).

Modelos Mecaní sticos de Abso r


ção

Em seu excelente trabalho sobre modelos de simula çã o em agricultura, Passioura


(1996) considera que a modelagem, de modo geral, envolve dois grupos básicos, quanto
ao aprofundamento e objetivos: os modelos científicos, mecanísticos, que procuram
aumentar nosso entendimento sobre a fisiologia de plantas e sua intera çã o com o
ambiente, e os modelos baseados em rela ções empíricas entre a planta e as principais
variá veis ambientais ( denominado por esse autor modelos de engenharia ). Os modelos
pertencentes ao primeiro grupo procuram ser ú teis à formaçã o e evolução acadêmica dos
envolvidos em seu desenvolvimento e , freq úentemente, apresentam poucas soluções
prá ticas; por outro lado, os do segundo grupo procuram soluções pr á ticas e funcionais,
em fazendas, por exemplo. Segundo Monteith (1996 ), os modelos científicos identificam
falhas ou lacunas de informa ções mais exatas e, portanto, estimulam novos trabalhos
científicos. Como consequ ência, os modelos, particularmente os de simula çã o em
agricultura , t ê m sido desenvolvidos com maior rapidez que a da obtençã o de
determina ções rigorosas, necessá rias à calibra çã o e valida çã o desses modelos. Os
modelos científicos procuram entender como as coisas acontecem, enquanto os modelos
tidos como empíricos procuram resolver problemas práticos. Portanto, os modelos desses
dois grupos podem ser denominados mecanísticos e funcionais respectivamente. ,

FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 195

Nesta seçã o, vamos apresentar algumas id éias gerais sobre o modelo mecanístico
da simula çã o da absor çã o de nutrientes pela planta .
Esses modelos de absor çã o sã o muito dependentes do transporte de nutrientes no
solo. Para o caso particular daqueles nutrientes com baixa mobilidade, como P, Zn, Cu,
dentre outros, os modelos sã o altamente dependentes da difusã o . Esta, por sua vez,
depende do suprimento deste elemento, da disponibilidade de á gua, compacta çã o do
solo, etc., como ser á comentado neste capítulo e, por conseguinte, do crescimento das
raízes e da intera çã o entre elas, de caracter ísticas das raízes e da planta (como morfologia,
associa ções microbianas, demanda do nutriente, etc.), ou do ambiente circundante dessas
ra ízes (efeito de exsudatos, altera ções de pH, etc.). Boa parte de tudo isso é vari á vel
conforme a idade da planta e dependente da heterogeneidade, a curta distâ ncia, das
propriedades do solo em que a planta cresce e desenvolve. A complexidade da simulaçã o
aumenta com a eficiência da planta em utilizar o nutriente absorvido na produçã o de
matéria seca como variá vel dependente ou nã o do fator capacidade do nutriente no solo
( veja capítulo VIII ), ainda nã o considerado nos modelos atuais de absor çã o ( aquisiçã o )
de nutriente como o P.
Boa parte dessa complexidade é contornada ao utilizar, nos modelos, valores médios
de diversas caracter ísticas de planta e ambiente, sabidamente variá veis ( Amijee et al.,
1991) . Essa complexidade exigida pelo modelo gera grande dificuldade: as informa ções
necessá rias nã o sã o pr á ticas o bastante para sere n conseguidas em condições de campo
( Boote et al., 1996 ) ou , como justifica Passioura (1996): "o apetite por dados científicos
desses modelos pode ser demasiadamente granc e".
Os modelos mecanísticos que simulam a absor çã o de nutrientes do solo pelas plantas
têm como base o transporte (fluxo de massa e dilusã o) do nutriente no solo até à raiz e a
absor çã o do nutriente na solu çã o junto à raiz, se gundo a ciné tica de Michaelis-Menten
(Claassen et al ., 1986 ).
Em sua ampla revisã o sobre o assunto, Amijee et al . (1991) apresentam um modelo
de suprimento de P para a raiz, pré-condiçã o para a absor çã o, considerado muito simples
por esses autores, embora para aqueles iniciantes neste assunto as equa ções utilizadas
pareçam extremamente complexas ( Novais & Smyth, 1999 ).
Um modelo mecanístico para simula çã o de absor çã o de nutriente, de modo geral,
largamente utilizado, é o de Barber -Cushman ( Barber, 1995). Nesse modelo, a utiliza ção
da equa çã o que estima a varia çã o da concentra çã o do íon em torno da raiz, com o tempo,
é vá lida, se atendida uma série de dèz pressuposições ( Barber, 1995): Algumas delas: (a )
homogeneidade do solo; (b ) o conteúdo de á gua do solo constante, próximo à capacidade
de campo; (c) a atividade microbiológica junto à raiz, bem como a produçã o de exsudatos
radiculares, nã o altera o fluxo de nutriente; (d ) a relação entre o influxo e a concentraçã o
do nutriente em soluçã o é descrita pela ciné tica de Michaelis-Menten; ( e ) a ausência de
pêlos radiculares e de micorriza; (f ) o influxo nã o é alterado pela idade da planta; (g) o
influxo independe da taxa de absorçã o de á gua .
Claramente, observa-se que, em condições de campo, muitas, ou a maioria, dessas
pressuposições nã o sã o atendidas. O argumer .to de que modelos mecanísticos, com

FERTILIDADE DO SOLO
196 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

frequ ência, tê m como objetivo maior identificar falhas do conhecimento disponível e


definir diretrizes de novas pesquisas , mais que apresentar soluções prá ticas, mesmo
quando suas indica ções aproximam-s e de resultados observados, parece ser correto .
As variá veis utilizadas no modelo final de Barber -Cushman para a estimativa da
absorçã o de nutrientes por uma planta sã o:
D = coeficiente de difus ã o (cm 2 s 1) "

b = poder tamp ã o ou FC ( adimensional )


C; = concentra çã o inicial do elemento em solu çã o ( mol L 1) '

V0 = influxo m é dio de á gua (cm3 cm 2 s 1) " '


^
rx = meia -dist â ncia entre ra ízes (cm )
r 0 = raio m é dio da raiz ( cm )
L0 = comprimento inicial de raiz ( cm )
K = taxa de crescimento de raiz ( cm s 1) "

Im á x = influxo má ximo ( nmol m 2 s 1)


" "

Km = constante de Michaelis - Menten ( /rmol L 1) "

C m ín = concentra çã o m ínima ( /xmol L 1) "

Amijee et al. (1991) listam e discutem as características gerais de 21 modelos de


simulaçã o de suprimento / absor çã o de nutrientes, desenvolvidos de 1961 a 1991.
A resoluçã o desses modelos passa, normalmente, por cálculos numé ricos complexos
e dependem de computadores. Sua valida çã o é feita pela compara çã o dos resultados
estimados com os observados em condições controladas de crescimento de plantas ou
mesmo em condiçã o de campo (Itoh & Barber, 1983a; Claassen et al., 1986; Silva &
Magalh ã es, 1989; Comerford et al ., 1994; Barber , 1995) . A absor çã o de P pelo
tomateiro, em vasos, em casa de vegeta çã o, cultivado em amostras de um Latossolo
Vermelho-Amarelo ( LV ) e na mistura , meio a meio em peso, desse solo e areia
( LV + areia ), estimada pelo modelo de Barber -Cushman (ou de Cushman-Barber,
dependendo do trabalho em que se faz a cita çã o do modelo), foi de 53,6 gmol / vaso de P
no LV(22) e de 72,0 /anol / vaso de P no LV + areia; os valores observados, pela análise do
P na planta , foram de 63,5 e 64,1 /rmol / vaso de P, respectivamente (Silva & Magalhães,
1989 ). A razoá vel semelhança entre os valores estimados e observados valida o modelo,
para as condições do experimento.
A praticidade desses modelos esbarra, evidentemente, em toda a informa çã o
requerida e nã o-disponível em condições pr á ticas, de modo geral.

( 22)
Para este solo ( LV ), os valores das variá veis utilizadas no modelo de Cushman-Barber para estimar
o P absorvido pelas plantas de tomate foram:
D = 1,30 IO 10 cm 2 s 1 K = 10,0 cm
' *

b = 2.430 K = 0,0040 cm s 1
C . = 0,967 fimol L 1 I , = 3,42 IO 7 /xmol cm -2 s
vo ’ 7 3
= 2,25 IO cm cm s 2
* 1
Km = 0,00699 /imol cm3 3 '

r1 = 0,610 cm C .n = 0,0030 /tmol cm '

ro = 0,024 cm

FERTI LIDADE DO SOLO


IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 197

Análise de Sensibilidade dos Modelos Mecaní sticos de Absorção


Cada uma das diversas variá veis do modelo de simula çã o de absor çã o de um
nutriente em estudo pode ter sua efetiva particioa çã o nos resultados avaliada, fazendo
com que cada um deles varie, mantendo-se as demais constantes ( Barber, 1995). Silva &
Magalhã es (1989) utilizaram esse tipo de aná lise, para as características do modelo de
Cushman-Barber, utilizado para estimar a absor çã o de P por plantas de tomate, em casa
de vegeta çã o (outros detalhes apresentados anteriormente). Nessa aná lise, os autores
variaram o valor de cada característica do modelo de 0,5 a 2,0 vezes seu valor inicial,
mantendo as demais características com os valores iniciais e estimando o efeito dessa
varia çã o sobre a absor çã o de P ( Figura 19 ).

Figura 19. Aná lise de sensibilidade, para a altera çã o de 0,5 a 2,0 vezes os valores das variá veis
iniciais do modelo de Cushman- Barber, utilizado na estimativa de P absorvido pelo
tomateiro em amostra de um LV, em casa de vegeta çã o , ro = raio médio da raiz; K = taxa
de crescimento de raiz; I . = influxo m á ximo; K = constante de Michaelis; Cn =
concentra çã o inicial de P em solu çã o; L0 = comprimento inicial da raiz; D = coeficiente de
difusã o de P; b = poder tamp ã o de P; vQ = influxo de á gua na raiz; r . = meia dist â ncia axial
entre raízes, e Cmín = concentra çã o m ínima .
Fonte: Silva & Magalh ã es (1989).

Os resultados indicaram sensível aumento da absor ção de P com o aumento dos


valores do raio médio da raiz (r0), taxa de crescimento da raiz (K ) e influxo má ximo (Imá x );
independência para com aumentos dos valores da concentra çã o inicial de P na solução
do solo (C0), comprimento inicial da raiz (L0), coeficiente de difusã o de P no solo ( D),

FERTILIDADE DO SOLO
198 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO

"poder tampão" ou fator capacidade de P (b), influxo de á gua na raiz ( v0) e meia-distâ ncia
axial entre ra ízes (rj; pequeno aumento na absorçã o estimada, com o aumento do Km e
com a diminuiçã o do Cm ín (Figura 19 ) ;23)
Sã o evidentes os desvios entre o esperado e o observado pela análise de sensibilidade
para diversas características. Entre elas a indiferença do modelo ao poder tampã o ou
fator capacidade de P (b ), à concentra çã o inicial de P (C0) e ao coeficiente de difusão ( D)
fica dif ícil de entender, a nã o ser que se considere a inadequabilidade da análise para
um ú nico solo, que recebeu uma ú nica dose de P, fazendo com que todos os valores
dessas caracter ísticas, na prá tica, teimam sido constantes.
Resultados da análise de sensibil Ldade, para a estimativa da absor çã o de P ( Barber-
4

Cushman ) por soja, em vasos, mostraram, para o solo utilizado, pequena sensibilidade
da absor çã o estimada a varia ções nos valores das características ciné ticas Imâ x, Km e C m ín
(Silberbush & Barber, 1983a,b ). Essa observa çã o indica que o suprimento de P para a
raiz foi mais cr í tico que a absor çã o (influxo ) . Portanto, para nossos solos mais
intemperizados, com maior FCP, tudc indica que o suprimento de P para a raiz é crítico,
dado o forte cará ter-dreno desses soles ( veja capítulo VIII).

LITERATURA CITADA
ADAMS, F. Ionic concentrations and activities in soil Solutions. Soil Sei. Soc. Am. Proc., 35:420-
426, 1971.

ADAMS, F. Soil solution . In : CARSON, E. W., ed . The plant root and its environment .
Charlottesville, University Press of Virginia, 1974. p.441-481.

ALVAREZ V., V. H. & RIBEIRO, A .C. Calagem . In: RIBEIRO, A.C.; GUIMARAES, P.T.G . &
ALVAREZ V., V.H., eds. Recomenda ções para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas
Gerais - 5" Aproximaçã o. Viçosa, MG, CFSEMG, 1999. p.43-60.

ALVAREZ V., V.H.; NOVAIS, R.F.; DIAS, L.E. & OLIVEIRA, J.A. Determinação e uso do f ósforo
remanescente. B. Inf . SBCS, 25:27-32 2000.

ALVAREZ V ., V . H .; NOVAIS, R .F .; BfRROS, N.F.; CANTARUTTI, R .B . & LOPES, A .L .


Interpreta çã o dos resultados das aná ises de solos. In: RIBEIRO, A.C.; GUIMAR Ã ES, P.T.G.
& ALVAREZ V., V .H ., eds. Recomenda ções para o uso de corretivos e fertilizantes em
Minas Gerais - 5 Aproxima ção. Viçosa, MG, CFSEMG, 1999. p.25-32.
*

ALVES, V .M.C.; NOVAIS, R. F.; NEVES, J .C.L. & BARROS, N.F. Efeito do alumínio sobre a
absor çã o e translocação de f ósforo e sobre a composição mineral de duas cultivares de
trigo. Pesq. Agropec. Bras., 23:563-573, 1988.

( 23)
Uma aná lise de sensibilidade em dimensões m ú ltiplas (sete dimensões ), apresentada por Williams
& Yanai (1996 ), permite identificar a importâ ncia da intera çã o de caracter ísticas de um modelo de
absorção de nutrientes. A forte dependência de uma característica à grandeza dos valores de outras
indica a importâ ncia desse mé todo em testes de sensibilidade de modelos desenvolvidos.

FERTI LIDADE DO SOLO


V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREÇÃ O
Djalma Martinhão Gomes de Sousa 17, Leo Nobre de Miranda17
& Sebasti ã o Alberto de Oliveira 27

1/
Embrapa Cerrados. Br 020, Km 18 Rod . Brasília - Fortaleza , Caixa Postal 0823,
CEP 73310-970 Pladaltina ( DF ) .
dmgsousa @ cpac .embrapa .br ; eo@ cpac . embrapa . br
2/
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterin á ria, Universidade de Brasília - UnB.
Caixa Postal 04508, CEP 70910 - 970 Bras í lia ( DF ).
oliveira @ unb.br

Conte ú do
INTRODUÇÃ O 206
CONCEITO Á CIDO- BASE 207
ACIDEZ DO SOLO 210
Origem da Acidez do Solo 210
Remoçã o de Bases 210
Grupos Ácidos da Maté ria Orgâ nica do Solo 211
Argilominerais Silicatados e nã o Silicatados 212
Fertilizantes Minerais 212
Componentes da Acidez e Capacidade de Troca de Cá tions (CTC ) do Solo 213
Determina çã o da Acidez do Solo 215
Considerações Gerais 215
Acidez Ativa 216
Acidez Trocá vel 219
Acidez Potencial 220
Proporcionalidade dos Diferentes Tipos de Acidez do bolo 221
/
Efeitos da Acidez do Solo 221
O pH e a Disponibilidade de Nutrientes 222
O Alum ínio em Solos Ácidos 225
Saturaçã o por Alum ínio e Crescimento de Plantas 226
Alterações de pH na Região da Rizosfera 229

CORREÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO 230


Princípios da Calagem e Qualidade do Calcá rio 230
Acidez Superficial 232

SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V ., V .H., BARROS,
N. F., FONTES, R .LF., CANTARUTTI, R .B. & NEVES, J .C . L. ).
206 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .

Determina çã o da Necessidade de Calagem 234


Mé todo da Curva de Incuba çã o 234
Mé todo da Neutraliza çã o da Acidez Trocá vel 236
Mé todo da Solu çã o-Tampã o SMP 236
Mé todo do pH e do Teor de Maté ria Orgâ nica do Solo 238
Mé todo da Neutraliza çã o da Acidez Trocá vel e Eleva ção dos Teores de Ca e Mg Trocá veis 238
Mé todo da Satura ção por Bases 240
Quantidade de Calcá rio a ser Aplicada 242
Efeitos da Calagem em Culturas 243
Escolha do Corretivo 244
É poca e Modo de Aplica çã o do Calcá rio 249
Supercalagem 252

CORREÇÃ O DA ACIDEZ DO SOLO EM PjROFUNDIDADE " 252


Incorpora ção Profunda do Calcá rio 252
Gessagem 254
Associa çã o do Gesso Agrícola com o Ca lcá rio 255
Gesso Agrícola como Fonte de Cá lcio e de Enxofre para as Culturas 255
Alterações nas Caracter ísticas Qu ímicas do Solo com o Uso do Gesso 256
Respostas das Culturas à Gessagem 258
Recomenda çã o do Gesso Agr ícola 262
Recomenda çã o com Base na Textura do Solo 262
Recomenda çã o com Base na Determina çã o do Fósforo Remanescente 263

C Á LCIO E MAGN ÉSIO COMO NUTRIENTÍES 264


Cá lcio 265 -

Magnésio 265
Respostas das Plantas a Cá lcio e Magnésio ... 266

LITERATURA CITADA 268

INTRODUÇÃ O
A maioria dos solos brasileiros apresenta limita ções ao estabelecimento e
desenvolvimento dos sistemas de produção de grande parte das culturas, em decorrência
dos efeitos da acidez. Essa pode estar, de modo geral, associada à presença de Al e Mn
em concentra ções tóxicas e de baixos teores de cá tions de cará ter básico, como Ca e Mg.
A acidez condiciona o estado geral do solo como base de crescimento para as plantas, em
decorrência das rela ções de causa e efeito com outras propriedades químicas, f ísicas e
biológicas. Essas propriedades relacionam-se com a génese, mineralogia e fertilidade do
solo e têm, em última análise, implica ções no seu manejo. Assim, a acidez do solo,
quando em excesso, pode ocasionar altera ções na química e fertilidade, restringindo o
crescimento das plantas. Tais restrições podem ocorrer na camada mais explorada pelas
ra ízes, nos 20 cm superficiais do solo e, também, em maior profundidade, reduzindo o
crescimento radicular nessas camadas e limitando a absorçã o de água e nutrientes.
Plantas com restrições no crescimento do sistema radicular têm menor produtividade,
principalmente em regiões onde ocorrem períodos de estiagem (veranicos) durante o seu
cultivo.

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 207

Torna -se necessá rio atenuar ou eliminar os efeitos negativos da acidez do solo por
meio da calagem . Essa tem os objetivos de corrigir a acidez do solo, diminuindo ou
anulando os efeitos tóxicos das altas concentra ções de AI e Mn (1), alé m de fornecer os
nutrientes Ca e Mg. A calagem é, portanto, um c os pilares para a obtençã o de maiores e
.

melhores produções agrícolas.


O avanç o da agricultura no Brasil tem-se dado, principalmente, em direçã o às á reas
de Cerrado, cujos solos t ê m boas propriedades f ísicas e topografia favor á vel à
mecaniza çã o . Entretanto, apresentam propriedades qu ímicas inadequadas, como
elevada acidez, altos teores de AI trocá vel e deficiência generalizada de nutrientes,
principalmente de P, Ca e Mg. Solos dessa natureza, corrigidos quimicamente, apresentam
grande potencial para uma agricultura tecnif içada com altas produtividades ( veja
capítulo I ) . Nessas condi ções, a calagem é funda mental para ganhos de produtividade,
pelas melhorias efetuadas no ambiente de crescimento radicular. Apesar do conhecimento
dos benef ícios dessa pr á tica, a subutiliza çã o da calagem é, ainda , um dos principais
fatores que determinam a baixa produtividade de muitas culturas no Brasil .
A necessidade de calagem nã o est á somente relacionada com o pEI do solo, mas
também com seu poder tampã o hidrogeniônico ( PTH ). O PTH relaciona -se diretamente
com os teores de argila e de maté ria orgâ nica dc solo, e com o tipo de argila . Solos com
maior PTH ( mais argilosos) necessitam de mais calcá rio para aumentar o pH do que os
de menor PTH ( mais arenosos ).
A necessidade de calagem é a quantidade de corretivo para neutralizar a acidez do
solo em nível desejado, permitindo obter a produçã o de má xima eficiência económica
das culturas. Os mé todos de recomenda çã o de calagem, no entanto, sã o variá veis,
segundo os objetivos e princípios analíticos envolvidos.
O conhecimento da rela çã o entre a acidez do solo e o crescimento e desenvolvimento
das plantas é, portanto, fundamental para o estabelecimento de pr á ticas de correçã o do
solo, que visem à maior eficiência dos sistemas de produçã o agr ícola e ao uso eficiente
dos recursos naturais.

CONCEITO Á CIDO - BASE


Para sistemas aquosos, que se aplicam ao solo gra ças ao equilíbrio que se estabelece
entre a fase sólida e a líquida, as definições de á cido e base de Arrhenius e de Brõ nsted -
Lowry sã o adequadas.
Arrhenius, em 1884, definiu á cido como substâ ncias com H, que, em soluçã o aquosa,
produzem H +, e base como substâ ncias que produzem OH . Embora aceita, esta
"

conceitua çã o tem restrições, pois nã o se aplica , por exemplo, à substâ ncias que nã o
contê m H ou hidroxila mas que, em soluçã o aquosa, aumentam as concentra ções de H+
ou de OH .
"

(1 )
També m de Fe, particularmente em solos inundados, com baixo potencial redox .

FERTILIDADE DO SOLO
208 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.

De acordo com a defini çã o de Brõ nsted -Lowry, de 1923, ácido é uma espécie química
que doa pró tons:
HA + H20 Ar + H+ (ou, idealmente H30+ ) ( 2) (1)
(acidez potencial) (3) (acidez ativa ) (3)

e base é uma espécie química que recebe prótons:

B + HLO BH+ + OH- (2)

Uma rea çã o á cido-base é, neste cbntexto, uma reaçã o de transferência de pró tons,
que envolve a competiçã o de duas bases por pr ó tons. Na dissolução do á cido clorídrico
em á gua, por exemplo:
HC1 + H2O H3O+ + cr

O HC1 transfere um pr ó ton (H+ ) pai a uma base (H20), formando uma base conjugada
-
(Cl ) (4) e um á cido conjugado (H30+) O HC1 e o Cl constituem o par ácido-base conjugado
" ’

e o a H20 e o H30+ o par base-á cido cohjugado.


O mesmo se aplica para a hidrólise da NH3 e do Al3+ em soluçã o aquosa:

NH3 + H 20 CA NH 4+ + OH~
Al 3+ + 6H2Ç> ^ Al (OH ) 3 + 3HaO +

De acordo com a definiçã o de Brõnsted-Lowry, a á gua, em dissocia çã o, comporta -se f


tanto como um á cido (forma a base conjugada OH ), ou como uma base (forma o á cido
"

conjugado H30+ ).
2H20 CA H30 + + OH-

A dissocia çã o da á gua , no entanto, é muito baixa, verificando-se que a 25. °C


apresenta um pKw = 14.
Segundo o conceito de Brõnsted -Lowry, a força de um á cido (grandeza de sua
ionizaçã o) é caracterizada pela sua tendência em doar pró tons, sendo classificados como
forte, moderado ou fraco (Quadro 1) . Analogamente, as bases também sã o classificadas
da mesma forma .

(2 )
O cá tion hidrônio ( H30 + ) é formado por um cá tion hidrogé nio combinado com uma molécula de
á gua .
<3) A acidez total de uma solu çã o ( Eq . 1) é, portanto, a soma da acidez ativa e da acidez potencial.
(4 )
Percebe-se que á cido é uma subst â ncia que doa pr ó tons ( H + ) a outra subst â ncia e base é uma
subst â ncia que recebe pr ó tons . Portanto, a altera çã o do pH de uma solu çã o ser á definida pela
presen ça de mais subst â ncias que doam pr ó tons (a solu çã o torna -se á cida ) ou, ao contr á rio, pela
presença de mais subst â ncias que consomem pr ó tons (a soluçã o torna-se bá sica ). Portanto, acidez
de uma solu çã o, como a do solo, vai ser definida pelo balan ço entre doadores e receptores de
pr ó tons.

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 209

Quadro 1. Constante de dissocia çã o K , e pKJ e classifica çã o quanto ao grau de ionizaçã o de


alguns á cidos e bases

Á cido ou base Constante K PK í Classifica çã o á cido ou base Grau de ioniza çã o

%
Á cido
HCi muito alto «1 Forte > 50

H 3 P04 0 ) Ki = 7, 6 x IO 3 '
2 , 12 Moderado 5 - 50
K2 = 6, 3 x IO 8 '
7, 20
K3 = 4, 4 x IO 13 '
12,36

H 2 CO 3 (1 ) KI = 4, 2 x 10 7 ‘
6, 38 Fraco <5
K 2 = 5,6 x IO 11 '
10,25
HC 2 H 3O 2 5
K = 1,8 x IO '
4,74 Fraco <5

;
Base
KOH Muito alto *1 Forte 100
NH 4 OH K = 1,8 x IO 5 '
4, 74 Fraca <5

(1 )
Á cidos polipr ó ticos , que contê m mais de um pró ton ( H + ) iouizá vel, com diferentes constantes de ioniza çã o ( K .).

A for ça dos á cidos e bases, em consequência de sua dissocia çã o (ioniza çã o) em


soluçã o, é mensurá vel pela constante de ionizaçã o do ácido (Ka ) e da base ( Kb) . A Ka e Kb
para as Eq . 1 e 2, sã o, respectivamente:
( H20+ ) ( A )
"

Ka = [HA]

( BH + ) (OH )
"

Kb = [ B]

Quanto maior o valor da constante, maior é a for ça do á cido ou da base (Quadro 1).
Estas constantes também podem ser expressas em termos de potencial:
pKa = - log Ka
pKb = - log Kb
Assim, quanto menores os valores de pKa e de pKb, maiores sã o as for ças do ácido ou
da base, respectivamente (Quadro 1). Quando o pKa = pH da soluçã o, metade do á cido
está na forma ionizada . Se o pKa > pH, mais da metade do á cido estar á ionizada e, por
*

outro lado, se pKa < pH, menos da metade estar á ionizada.


A força do á cido ou da base pode ser caracterizada, também, pelo grau de ioniza çã o,
que representa a percentagem de moléculas ionizadas em rela çã o ao n ú mero inicial de
moléculas ( nã o dissociadas) (Quadro 1) .
Para o caso de um á cido forte como o HCI, a atividade de H+ é tã o pr óxima da
concentra çã o molar total do HCI que nã o haveria, neste caso, para fins prá ticos, acidez
potencial. Para á cidos fracos, muitos se dissociam menos que 1 % de sua concentração
original .

FERTILIDADE DO SOLO
210 DJALMA MARTIKIHãO GOMES DE SOUSA et al.

Para um á cido fraco HA, com uma concentra çã o total de 0,1 mol L 1 e 1 % de '

dissocia çã o, há apenas 0,1 x 0,01 = 0,001 mol L 1 de H+ (acidez ativa ) .


"

O conceito de Brõnsted-Lowry para ácido e base é, portanto, adequado à compreensão


da reação do solo, definida por reações de transferências (doações ou recepção de pró tons
H+ ).

ACIDEZ DO SOLO

Origem da Acidez do Solo

Os solos, em suas condições na tufais, podem ser á cidos, em decorrência do material


de origem e da intensidade da ação de c gentes de intemperismo, como clima e organismos.
Regiões com altas precipita ções pluviais apresentam tend ência à maior acidificaçã o do
solo pela remoçã o de cá tions de cará ter bá sico do complexo de troca, como Ca , Mg, K e
Na , e o consequente ac ú mulo de cá ticns de natureza á cida, como Al e H. Há, também,
nos solos, á cidos fracos que doam pr ó tons, mas com baixa ioniza çã o, constituintes da
maté ria orgâ nica do solo. Dentre eles, destacam -se os á cidos carboxílicos (pH < 6) ,
grupos fenólicos e alcoólicos ( pH > 7) . Esses compostos de rea çã o á cida sã o, portanto,
fonte de maior acidez potencial que de acidez ativa , como será discutido mais à frente.
Nos solos cultivados, a acidez pode ser acentuada pela absor çã o dos cá tions bá sicos
pelas culturas e exportados com as colheitas. O manejo inadequado do solo pode, também,
favorecer a erosã o, expondo os horizontes subsuperficiais que são, em geral, mais ácidos.
O uso de fertilizantes amoniacais contribui, para a acidifica çã o devido à nitrifica çã o do
amónio. A oxida çã o da matéria orgâ nica e do S també m desempenha papel importante
na acidifica çã o.
Portanto, a fonte de acidez do solo deve-se à presença de "grupos á cidos" com
diferentes capacidades de ceder prótons. A seguir, discutem-se as fontes ou as causas da
acidez e os mecanismos de acidifica çã o do solo.

Remoçã o de Bases
-
A remoçã o de cá tions de cará te: básico do solo pela lixivia ção, erosã o, e pelas
culturas, resulta no aumento de formas trocá veis de H + e de Al 3+ no complexo sortivo
( CTCefetiva ), favorecendo maiores concentra ções destes íons na soluçã o do solo.
O Al3+ na solu çã o do solo sofre hidr ólise, gerando acidez, conforme mostram as
rea ções:
Al3+ + 2 HzO 4
^ Al (OH)2+ + H30+ pKx = 5,0 (3 )
Al (OH)2+ + 2 H20 < -> Al (OH) 2 + + H30 + pK 2 = 5,1 (4 )
Al (OH)2+ + 2 H20 4 -> Al (OH )3° + H3O +
PK 3 = 6,7 (5 )
Al (OH) 3° + 2 H20 U Al (OH)4- + H30 + PK3 = 6,2 (6 )

FERTI . IDADE DO SOLO


V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREçãO 211

A H2O, de acordo com o conceito de á cido-base de Brõ nsted -Lowry, funciona como
base ( receptor de pr ó tons) . As formas hidrolisadas do Al3+ (bases conjugadas) têm menor
capacidade receptora de prótons do que a á gua; com isto, o processo de hidrólise evolui,
com o aumento do pH, até que todo o Al3+ seja hidrolisado .
As rea ções das Eq. 3, 4, 5, e 6 definem o comportamento químico do AI em soluçã o de
acordo com o pH (Figura 1) . A primeira rea çã o ( Eq. 3), no entanto, evidencia que o Al3+ é
o principal responsá vel pela gera çã o de pr ó tons em soluçã o. De acordo com o pKi, em
pH 5,0 a metade do Al3+ em solu çã o já foi hidrolisado. Nesse pH, a concentra çã o de AI3+
e das formas de AI hidrolisadas, em equilíbrio com o Al (OH)3, é inferior a 10~6 mol L 1. '

Em pH superior a 5,5, todo o Al 3+ estar á hidrolisado, envolvendo, efetivamente, as três


primeiras rea ções. Assim, pode-se resumir que cada mol de Al3+ produzirá três moles de
H30+:

Al3+ + 6H 2O <-> Al(OH)3 + 3H30

+
H )2

Figura 1. Distribuiçã o relativa das espécies de alumlínio de acordo com o pH da soluçã o.


Fonte : Marion et al. (1976).

Grupos Ácidos da Matéria Org ânica do Solo

A ioniza çã o do H de á cidos carbox ílicos, fenólicos e, principalmente, de álcoois


terciá rios da matéria orgâ nica, contribui para a acidez no solo (Figura 2). Entretanto, em
condições de ac ú mulo de matéria orgâ nica e no está dio final de sua mineraliza çã o, a
oxida çã o libera elé trons, podendo ocasionar um aumento no pH de acordo com a Eq. 7
(McBride, 1994).
+
2HzO + 1,229 volts
"

02 + 4H + 4e (7)

FERTILIDADE DO SOLO
212 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.

\ OH
pH < ( > ,0
> /^ 0*
+ H
+ (a )

pH > 7, 0
>
( OH + H
+ ( b)

OH I pH > 7,0 O I '

-ç-ç-ç-
-c-
>
I
——
-C C C- + H +
-C-
i
(c )

i .
Figura 2. Acidifica çã o do solo pela ioniza çã o de á cidos carbox ílicos (a ), fen ó licos (b ) e de
á lcoois terciá rios ( c ) da maté ria orgâ nica do solo. De modo geral, os grupos carboxílicos
sã o mais fortes que os fenólicos.

Adicionalmente, com a mineraliza çã o da matéria orgâ nica, há libera çã o de bases


(nutrientes ou nã o ) que se encontravam imobilizadas nos tecidos, para a solução do solo,
propiciando aumento de seu pH.
A mineralizaçã o de compostos orgâ nicos libera, também, compostos de N e S que, ao
sofrerem oxida çã o, podem liberar pr ótons na soluçã o do solo, de acordo com as rea ções:
NH4 + + 20 , + H20 ++ N03 + 2H30+

S + 3 / 2 02 ! f 3HzO O SÓ/ + 2H30+ '

Vale salientar, ainda, que a oxidaçã o biológica de compostos orgâ nicos produz CO2,
o qual reage com á gua para formar á cido carbónico, que se dissocia liberando pr ó tons
(H+ ), de acordo com a rea çã o:
CO, + H20 ++ H2CÔ3 +» H + + HC03 ++ C 032 + 2H +
' '

Argilominerais Silicatados e não Silicatados


Os grupos estruturais Si-OH e Al-OH expostos na superf ície dos minerais de argila
silicatada, assim como os grupos Al -OH e Fe-OH nos oxihidróxidos de Fe ( magnetita ,
hematita, goethita ) e Al (gibbsita ) contribuem para a gera çã o de acidez:
Si ] OH - H20 ++ Si ] O + H30+
'

Al ] OH H20 +> Al ] O + H30+


"

Observa -se que, com o aumento do pH, mais cargas negativas sã o geradas.

Fertilizantes Minerais
A oxidação do amónio também é responsá vel pela acidez gerada quando da aplicação
de fertilizantes, como ( NH4 )2S04 e NH4 NO3, que aumenta com as doses aplicadas
(Quadro 2) .

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 213

Quadro 2. Valores do pH do solo na profundidade d e 0-20 cm, com doses e fontes de nitrogénio
(sulfato de am ónio e ur éia ), aplicadas no capim pangola antes de cada corte, ap ós um total
de 21 cortes

Fonte
Dose de N
( NH 4 ) 2 SO 4 CO ( NH 2 ) 2

kg ha -1
0 5 , 85 5 , 76
50 4, 99 5, 47
100 4, 22 5 , 39
150 4, 00 5, 15
200 3, 87 4 , 89

Fonte : Adaptado de Mello & Andrade ( 1973) .

O NH4+ pode, também, deslocar o Al 3+ adsorvido, ocasionando acidifica çã o no solo:

Argila ] Al3+ + 3NH4 + Argila ] ( NH4+ ) 3 + Al3+


Al3+ + 6H20 <-> A1( ÓH ) 3 + 3H30+

Com aumento do pH, o AI nã o permanece ei|n solução, mas precipita -se na forma de
oxihidr óxidos de Al, restando os cá tions básicos na soluçã o do solo na forma trocá vel.
Deve-se salientar que o H+ está sendo continuam ente produzido no solo como resultado,
por exemplo, da mineraliza çã o de compostos orgâ nicos com produ çã o de CO2 e do
intemperismo dos silicatos, que libera Al3+ em soluçã o.
As quantidades de bases trocá veis absorvidas pelas plantas sã o importantes,
particularmente naqueles solos com utilização agrícola intensiva. Este, portanto, constitui
o mais importante mecanismo de substituição das bases por ácidos no complexo de troca
dos solos utilizados na agricultura . O conjunto desses processos causa a acidificaçã o
progressiva dos solos, particularmente em regiões tropicais com pluviosidades, que
favorecem a percola çã o e a lixivia çã o de bases.

Componentes da Acidez e Capacidade de Troca de Cátions (CTC) do Solo

Do ponto de vista qu ímico, um solo é considerado á cido quando o seu pH está


abaixo de 7,0. Nele, a rela ção de equilíbrio á cido-base tem comportamento semelhante a
um á cido fraco, cujo potencial de reposiçã o de H+ para soluçã o é muito superior à sua
atividade nessa solução. Isto define os conceitos de acidez ativa, acidez trocá vel e acidez
potencial dos solos.

FERTILIDADE DO SOLO

.
é
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í> ' '

S
214 DJALMA MARTIMH ã O GOMES DE SOUSA et al.

A acidez do solo é resultante do equilíbrio entre os fatores intensidade, quantidade


e capacidade ou poder tampã o desta acidez (veja cap ítulo IV ). O fator intensidade (I)
refere-se à atividade (concentração efetiva ) de H+ na soluçã o do solo. O fator quantidade
(Q) relaciona -se com a concentraçã o de H + e de Al3+ (e de outros cá tions de cará ter acido )
adsorvidos aos colóides e que podem ser dessorvidos da fase sólida como consequência
da neutraliza çã o e precipita çã o desses cá tions na solu çã o do solo.
A acidez do solo, portanto, pode ser dividida nos seguintes componentes: acidez
ativa (fator intensidade), acidez trocá vel (fator quantidade ) e acidez nã o-trocá vel (5>. A
acidez de troca refere-se ao Al trocável e inclui, també m, os íons H, Mn, Fe e outros de
cará ter á cido na forma trocá vel, retidos pelas cargas negativas efetivas do solo. A acidez
nã o- trocá vel é constituída, principalrnente, de H de liga çã o covalente associado à carga
negativa variá vel e aos polímeros de Al. Esse H nã o é trocá vel, mas se dissocia com a
eleva çã o do pH do meio. A acidez trocá vel ( Al3+ ) apresenta rela çã o inversa com o pH do
solo ( Figura 3). Portanto, o aumento do pH do solo é uma das alternativas para reduzir
ou mesmo eliminar o efeito tóxico do Al. Quando o pH do solo, determinado em água,
está com valores pr óximos a 5,5, o Al trocá vel é reduzido a praticamente zero.
A acidez potencial (H + Al ) engloba a acidez trocá vel e a não- trocá vel ( Kingo, 1983)
e é bom estimador do PTH.

1 ,5 i

«?

£
7S

O 1
E
o ••
•:X •
o
>
o
*X
O 0,5 -

<

0
4 4, 5 5 5, 5 6
pH em água

Figura 3. Rela çã o entre a acidez trocá e o pH do solo determinado em á gua, em amostras


vel
coletadas na profundidade de 0-2C cm, nos Estados de Goiá s e Distrito Federal.
Fonte: Sousa et al. (1985) .

<5) O termo acidez n ã o- trocá vel, nem sem pre utilizado nos textos sobre o assunto, apresenta uma
incongru ê ncia no que diz respeito ao significado do termo: "n ã o- trocá vel". Isto porque, como tem
sido definida, a diferença entre a acidez potencial e a trocá vel, à medida que o pH do solo se eleva
o valor da acidez chamada não- trocá vel d á lugar à trocá vel, tendendo para zero quando o pHH;2o do
solo tende para 7,0 .

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREçã O 215

O poder tampã o hidrogeniônico - ou da acidez ( PTH) dos solos é determinado pelas


características do complexo de troca catiô nica , definido como a resistência que os solos
apresentam a mudanças de pH, quando base ou ácido é adicionado ou retirado. O poder
tampã o também pode ser definido como sendo a quantidade de base necessá ria para
elevar em uma unidade o pH do solo. Entretanto, deve-se lembrar que as curvas que
relacionam pH com calagem sã o curvilineares; portanto, a quantidade necessá ria para
elevar em uma unidade o pH vai depender do intervalo de pH considerado (Figura 4) .

o- Â marelo fase arenosa

-Amarelo h ú mico

Solo com B c â mbico

20 22 24 26 28 30 32 34 36
3 1
dm ou t ha ( 0 -20 cm )
' *

Figura 4. Curvas de neutralizaçã o de amostras de solos com carbonato de cá lcio.


Fonte: Raij et al. (1979 ) .

Determinação da Acidez do Solo


Considera ções Gerais

A acidez do solo é avaliada, geralmente, por meio de seu pH, determinando-se a


atividade de H+ em uma suspensã o de solo com . á gua ou com soluções salinas. O pH é
definido como:
!•
pH = log (1 / (H + )) ou pH = - log ( H+ )
em que (H+ ) = atividade do H+, em mol L 1. '

Para o caso de ( H+ ) = 10 4 mol L 1; tem-se pH = 4


' "

Como:
H20 <-> H+ + OH ( Kw = 1014) . .
'

-
(H+ ) x (OH ) = IO 14 .'. pH + pOH = 14
"

Portanto, o pH está relacionado com a concentra çã o dos H+ na solução do solo, que


determina a acidez ativa do solo. Deve-se ter em. mente que a acidez ativa é apenas uma
parte muito pequena em relaçã o à acidez trocá vel ou à acidez potencial do solo.

FERTILIDADE DO SOLO
216 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.

A acidez ativa refere-se à atividade dos íons H+ ( H30+ ) em soluçã o, medida pelo pH;
a acidez trocá vel mede a quantidade de H +, Al3+ e outros cá tions de hidr ólise á cida (6)
adsorvidos por for ça de car á ter eletrostá tico . Esta acidez é determinada por extra çã o
com soluçã o de KC11 mol L 1 a pH em torno de 5,5, visto que para valores de pH maior
'

que 5,6 ocorre a precipita çã o do Al3+ .


A acidez potencial refere-se à quantidade de formas trocá veis e não-trocá veis desses
íons no solo. Usualmente, a determina çã o da acidez extraída com um sal tamponado a
pH 7,0, como o acetato de cá lcio 0,5 mol L 1, caracteriza a acidez potencial do solo
'

(H + Al) (7). Essa acidez potencial inclui H+ e Al3+ adsorvidos em forma eletrovalente, bem
como os íons H ligados covalentemente que se dissociam de compostos orgâ nicos, de
grupos OH na superf ície das argilas, e de alguns polímeros de Al, como já apresentado.
A acidez nã o-trocá vel é determinada pela diferença entre a acidez potencial e a
trocá vel.

Acidez Ativa
O pH do solo varia ao longo do tempo e pode ser influenciado pela precipita çã o
pluvial e manejo do solo e, especialmente, pelas aduba ções. Os valores do pH podem
depender, também, da época de amostragem do solo e do mé todo de preparo das amostras.
Para determinar a acidez ativa, sã o utilizados mé todos potenciomé tricos(8), com
eletrodo específico. A medida da acidez ativa ( H + ) do solo é feita mediante o uso de
eletrodo de vidro em rela çã o ao eletrodo de calomelano, como referência . Na pr á tica,
utiliza -se um eletrodo conjugado que conté m os dois eletrodos.
Os mé todos potenciomé tricos mais comuns sã o:
a ) determina çã o do pH em suspensã o do solo com á gua, na relaçã o solo: água de 1:1
ou 1:2,5;
b ) determina çã o do pH em suspensã o do solo com KC1 1 mol L 1, na rela çã o solo:
'

soluçã o de 1:1 ou 1:2,5;


c) determina çã o do pH em suspensã o do solo com CaCl2.2H20 10 mmol L 1, na relação '

solo: soluçã o de 1:1 ou 1:2,5.


Os valores de pH em água apresentam maior variabilidade entre repetições, porém
a adiçã o de eletr ólito ( KC1 ou CaCl 2.2H 20) pode diminuir essa variabilidade. A
concentra çã o do KC1 fica muito alta, rr .as a do CaCl2.2H20 é pr óxima à concentra çã o da
soluçã o do solo em condições de campo.

(6)
Na an á lise de rotina de fertilidade do solo, considera -se apenas o Al3+, dada sua predominâ ncia como
acidez trocá vel.
(7>
Observa-se que a n ã o-utiliza çã o de cargas, como H + + Al3+, indica, de modo particular para o H, sua
liga çã o covalente e de dif ícil dissocia çã o.
<8) Há també m fitas de papel com indicadores que, pela mudança da cor quando em contato com uma
suspensã o de solo e á gua, há desenvolvimento de uma cor que, comparada a uma tabela de cores,
indica o pH aproximado daquele solo.

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREçã O 217

A determinaçã o do pH é influenciada por alguns fatores, tais como:


a ) efeito de diluiçã o - com a diminuiçã o da rela çã o solo:á gua, verifica -se em solos
á cidos um aumento do pH. Isso tem s ido atribuído ao menor contato entre o
eletrodo e as partículas do solo e à hidr ó lise crescente dos cá tions trocá veis pela
diluiçã o.
b ) efeito do tempo do equilíbrio - também em solos ácidos, o pH de uma suspensã o
de solo com á gua , após certo per íodo de repouso, geralmente diminui de acordo
com a profundidade em que o eletrodo é imerso. Isso se deve a uma extratificaçã o
das suspensões com a profundidade, o que permite distinguir, grosso modo, três
porções: líquido sobrenadante, partículas finas em suspensã o e partículas de solo
sedimentado no fundo do recipiente. A diminuiçã o do pH com a profundidade
decorre do maior contato entre o eletrodo e as partículas do solo.
c) efeito de sais sol ú veis - os quais afetam a for ça iônica da soluçã o do solo, e esta
por sua vez afeta o coeficiente de atividade e a atividade dos íons H + De modo
geral, em solos eletronegativos, o pH d minui com o aumento da concentra çã o
salina da soluçã o, em razã o da troca iônica que se verifica entre o cá tion do sal e
os íons H + e Al3+ do complexo de troca:

Solo ] H+ + KC1 <-> Sole ] K + + H+ + Cl “

Em solos eletropositivos ( predomínio das cargas positivas sobre as negativas), o


efeito é contrá rio, em razã o da troca entre o â nion do sal e oxídrilas da superf ície das
argilas.
Assim, para determinar a carga elé tric ó líquida do solo, ou seja, se o solo é
eletronegativo ou eletropositivo, estima-se o valor ApH:

ApH - pHKci - pHn2o (8)

O valor ApH é negativo em solos eletronegativos, e positivo em solos eletropositivos.


Em solos neutros ou próximos à neutralidade, o pH é pouco afetado por soluções de
sais neutros.
d ) efeito do C02 - com o aumento da press ão parcial de C02, o pH do solo diminui,
de acordo com o equilíbrio:
co 2 + H2Q <-» H2CO3 H + + HCCV
Como as amostras de solo sã o secas antes da determinação do pH, o valor obtido em
laboratório poderá ser superior ao que as plantas encontrariam no solo. Isso porque a pressão
de C02 em condições naturais do solo é, geralmente, maior do que no ar atmosf érico.
e) efeito potencial redox - a oxida çã o de algumas substâ ncias, particularmente
compostos de Fe e de Mn(9), durante a secagem do solo, pode diminuir o pH.

(9)
As formas mais reduzidas desses metais sã o menos receptoras de el é trons que as mais oxidadas.
í

. FERTILIDADE DO SOLO
218 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.

A concentra çã o de íons pode ocasionar erros na medida do pH em á gua . Isto pode


ser evitado utilizando uma soluçã o de força iônica constante, como é o caso do CaCl2.2H20
10 mmol L 1. As determina ções do pH em KC1 e em CaCl2.2H20 apresentam algumas
"

vantagens em rela çã o ao pH em água, tais como:


- a menor susceptibilidade ao efeito de diluiçã o;
- o efeito de sais sol úveis, formados pela oxidaçã o da matéria orgânica, durante a secagem
das amostras, é mascarado pelos eletr ólitos da soluçã o e tem pouca influência no
resultado;

- a quantidade de eletrólitos na soluçã o de CaCl2.2H20 10 mmol L 1 é similar à quela da


'

soluçã o em solos com CTC elevada , mas é elevada para solos de Cerrado.
Existe estreita correla çã o ( r = 0,96) entre as medidas de pH em á gua e em CaCh,
conforme mostrada na Eq. 9 (Sousa et al., 1989 ) .

pff (CaCl 2) - 0,12 + 0,89 pH( H 2o) R 2 = 0,92 (9 )

O pH em KC1 1 mol L 1 (1:2,5), proposto por Puri & Asghar (1938), é utilizado em
"

levantamentos pedológicos. Conforme mostrado, esse procedimento minimiza o efeito


dos sais sol ú veis e permite, juntamente com a determinaçã o do pH( H 2o) ter ideia do sinal
/

da carga elé trica líquida, quando calculado o valor de ApH ( Eq. 8).
No quadro 3, verifica-se que a camada superficial apresenta carga elé trica líquida
negativa, enquanto, na camada subsuperficial, ela é positiva. Essa condiçã o é muito
comum em solos de drenagem imperfeita e com altos teores de argila sesquioxídica . Este
tipo de solo é chamado, também, de "solo de carga invertida".
As classes de interpretação para a acidez ativa do solo, pH em á gua, relaçã o 1:2,5,
podem ser definidas, tomando como base critérios químicos ou agronómicos (Quadro 4).
O efeito da acidez sobre as plantas está associado à atividade do H+ (acidez ativa ),
e nã o à quantidade total de acidez no solo (acidez potencial ). O pH do solo representa o
grau de dissocia çã o dos compostos que liberam á cidos, mas nã o indica o tipo ou a
quantidade desses compostos.

Quadro 3. Valores de pH e ApH em amos tras de um Latossolo Vermelho-Amarelo argiloso de


Cerrado

Profundidade PHH 2 O p H(KCl) ApH

cm

0-20 5,1 4, 4 -0,7


20-40 5,3 5, 7 + 0,4

Fonte : Embrapa (1979 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E S UA CORREçã O 219

Quadro 4. Classes de interpreta ção para acidez ativa do solo

Classifica çã o qu í mica da acidez ativa

Acidez Alcalinidade
Neutra
Muito elevada Elevada M é dia Fraca Fraca Elevada

< 4 ,5 4 , 5 - 5, 0 5 , 1 -6 ,0 6 , 1 -6 , 9 7,0 7 , 1 - 7, 8 > 7,8

Classifica çã o agron ó mica do pH *1 )

Muito baixo Baixo Bom Alto Muito alto

< 4 ,5 4 , 5 - 5 ,4 5 , 5 - 6,0 6, 1 - 7 ,0 > 7 ,0

0)A qualifica çã o utilizada indica, para a maioria de culturas, pH adequado ( Bom ) ou inadequado ( Muito baixo ,
Baixo, Alto e Muito alto )
Fonte: Adaptado de Alvarez V . et al. (1999b ).

O pH do solo pode apresentar pequenas altera ções, principalmente em solos ácidos,


dependendo da quantidade de sais dissolvidos e umidade, que variam com a é poca do
ano. Mesmo com algumas restrições, o pH é uma medida ú til, pois fornece indicações
sobre a disponibilidade de micronutrientes, presença de Al trocá vel, atividade biológica,
rea çã o de fertilizantes no solo, dentre outras.

Acidez Trocá vel

Para determinar a acidez trocável, utiliza-se, como extrator, a solução de KC11 mol L
pH = 5,5 que, pelo excesso de K +, extrai, por troca, H+ e Al3+ retidos nas micelas por forças
eletrovalentes.
Para sua determina çã o, 10 cm3 de JFSA sã o agitados com 100 ml de KC11 mol L 1, '

durante 5 min, deixa -se um repouso por 16 h. Re tira -se alíquota do sobrenadante que é
titulada com soluçã o de NaOH 50 mmol L 1 na presen ça de fenolftaleína .
'

+
+ K
H
+
+ K +
+ 6K + 6HjO + Al ( OH ) 3 + 3HsO
+
K
Ar
+
K

Como em muitos solos o teor de H+ trocável é muito pequeno (o mesmo acontece com
a acidez da hidrólise de outros cá tions de rea ção á cida ), considera -se o resultado de
acidez trocá vel como sendo o teor de Al trocável ( Al3+ ). Entretanto, em solos muito ácidos
ou com altos teores de matéria orgâ nica, o teor de H+ pode ser, até mesmo, maior que o de
Al3+. Assim, solos com o mesmo pH em á gua podem apresentar diferentes quantidades
de componentes da acidez (Quadro 5).
V

FERTILIDADE DO SOLO
220 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .

Quadro 5. Componentes de acidez e necessidade de calcá rio ( NC ) para elevar a satura çã o por
bases para 50 % em Latossolos Vermelho e Vermelho- Amarelo argilosos e, em um
Neossolo Quartzarênico da regiã o do Cerrado

Solo pHn 2o Maté ria orgâ nica Argila Al 3+ Acidez potencial *1 * NC

g kg emole dm 3
*
t ha 1

LV 4, 4 29 480 0,9 8, 2 3,6


LVA 4, 4 35 620 0,4 9,8 4, 5
RQ 4,4 10 140 0, 2 3,8 2,0
d)
pH 7,0.
Fonte: Sousa et al . (1989 ).

A toxidez causada por elevados teores de Al3+ depende nã o só de seu teor, mas
também deste em rela çã o à CTC efetiv a do solo, que é a satura çã o por Al3+ ( m ).

m = 100 Al3+ / CTCe (10)

Acidez Potencial

Essa acidez é composta pela acid çz trocá vel e não-trocável:


Na determina ção da acidez potencial (H + Al ), acidez extraída com o uso da solução
de Ca (OAc) 2 0,5 mol L 1, pH 7, sã o extraídas a acidez ativa, a acidez trocá vel e a acidez
'

não-trocá vel ou acidez dependente de pH. A acidez potencial é representada por H + Al,
com o H sem sinal de carga , pois este elemento, na sua maioria , apresenta liga çã o
covalente com o oxigénio, em estado nã o ionizado. Essa condiçã o é importante para
diferenciá -lo do H+ trocá vel, extra ído pelo KC1. O Al também sem carga indica formas
hidrolisadas de Al, do trocá vel e de polímeros.
Outra forma de determinar o H + Al é por meio potenciomé trico, usando a soluçã o-
tampã o SMP(10).
Quaggio (1983), analisando solos de São Paulo com ampla variação dos valores de
CTC, matéria orgâ nica e argila, obteve a equação para estimar H + Al com base no valor
de pHSMP:
lny = 7,76 - 1,053** x R 2 = 0,96

em que y é H + Al ( em cmolc dm 3) e o x é o pHsMP.


"

(10)
O significado e utiliza çã o da solu çã o SM P ser ã o apresentados quando se falar, mais adiante, em
mé todos de recomenda çã o de calagem. E m muitos laborat órios que nã o fazem a determina çã o de
H + Al, obt ém-se seu valor, indiretamente, de modo mais simples, tendo-se uma medida do pH de
uma suspensão de uma amostra do solo com a solu çã o- tampã o SMP.

FERTILIDADE DO SOLO

í
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çãO 221

Existe ampla varia çã o nos valores de acidez potencial, dependendo principalmente


de caracter ísticas do solo relacionadas com seu ooder tampã o.

Proporcionalidade dos Diferentes Tipos de Ac dez do Solo


Para verificar a grandeza relativa das medidas da acidez, recomenda-se calcular
quanto de CaC03 deve ser adicionado ao solo para neutralizar os diferentes tipos de acidez.
Por exemplo, um solo (0-20 cm de profundidade ) com pH 4,8 e com a umidade na
capacidade de campo (30 dag kg 1 de á gua no solo e densidade do solo = 1,1 kg dm 3 tem
' '

o equivalente a 660.000 L ha 1 de solu çã o ) e atividade de 15,85 /xmol L 1 de H +, ou seja,


' "

10,46 mol ha 1, que significam 10,54 g ha 1 de ET , quantidade de acidez ativa que pode
' ' "

ser neutralizada por 523 g ha 1 de CaC03.


"

Se esse solo tiver acidez trocá vel ( Al3+ ) igual a 1,2 cmolc dm 3 e acidez potencial
'

(H + Al) igual a 7,7 cmolc dm 3, será necessá rio adicionar, na camada superficial de 0-20 cm,
'

1,2 t ha 1 de CaC03, para neutralizar a acidez trocá vel; 6,5 t ha 1 da CaC03, para
" '

neutralizar a acidez n ã o-troc á vel, e 7,7 t ha 1 de CaC03, para neutralizar a acidez


'

potencial.
Observa -se que a quantidade de calcá rio ne cessá ria para neutralizar a acidez ativa
é 14.723 vezes menor que a necessá ria para neutralizar a acidez potencial (a pH 7,0) ou,
em outras palavras, que a acidez ativa nã o define a necessidade de calcá rio de solo.

Efeitos da Acidez do Solo


A concentraçã o de H + na soluçã o do solo, mesmo com valor de 0,1 mmol L 1 que '

corresponde a pH 4,0, nã o é fator limitante ao crescimento e desenvolvimento das plantas,


desde que haja suprimento adequado dos nutrientes e ausência de elementos em
concentra ções tóxicas. Entretanto, essa situaçã a nã o acontece naturalmente nos solos,
pois, em condições á cidas, podem ocorrer íons , como o Al3+ e Mn2+, em teores tóxicos
para as plantas. A acidez do solo pode interferir , também, na disponibilidade de alguns
nutrientes e na atividade dos microrganismos. Assim, para o estudo dos preju ízos
causados pela acidez dos solos devem-se considerar os efeitos diretos e indiretos da
acidez, principalmente dos decorrentes da acidez ativa ( pH ).
A rea ção de dissoluçã o do Al em condições de acidez (pH o < 5,5) pode ser expressa
pela reaçã o: ^
Al (OH) 3 + 3H+ o Al3+ + 3H20

Assim, os solos que contêm teores elevados de Al3+, associados ou não à presença de
Mn2+, em condições de acidez elevada, podem apresentar limitações ao bom crescimento
e desenvolvimento radicular das plantas. Os efeitos tóxicos de concentra ções elevadas
de Al3+ podem ser observados, principalmente, na engrossamento das raízes e diminuição
nas suas ramificações, prejudicando a absorção de nutrientes e á gua. Quanto aos efeitos
tóxicos de concentra ções elevadas de Mn, eles ocorrem, principalmente, na parte aé rea
das plantas, afetando o crescimento foliar, com reflexos negativos na produçã o final.

FERTILIDADE DO SOLO
222 DJALMA MART: NHãO GOMES DE SOUSA et al.

A satura çã o por Al 3+ na CTC efetiva do solo ( m ) é um indicador do grau de toxidez


do Al3+ para as plantas . Assim, se dois solos tê m o mesmo teor de Al3+, naquele com
maiores teores de Ca 2+ e Mg2 + e, portanto, menor satura çã o por Al3+, a toxidez para as
plantas ser á menor .

O pH e a Disponibilidade de Nutrie ntes

A redu çã o da acidez do solo promove a insolubiliza çã o de Al e Mn, aumenta a


disponibilidade de P e Mo e diminui a disponibilidade de micronutrientes, como Zn,
Mn, Cu e Fe. Essas alterações podem ser visualizadas, por exemplo, nos teores foliares
de elementos qu ímicos em variedades de soja, cultivadas em duas condições de pH do
solo (Quadro 6). Observa -se que, dentre os micronutrientes, o Mn apresentou maior
redu çã o na sua absor çã o, com o aumento do pH do solo.
A intensidade dessas mudanças na disponibilidade / absorçã o de elementos químicos
do solo pode ser sentida de forma diferenciada entre espécies, cultivares ou variedades
de plantas. A variabilidade de comportamento das plantas, em rela çã o aos efeitos da
acidez do solo, nã o permite generaliza ções e dificulta bastante o estabelecimento de
faixas de pH adequadas para as diversas culturas ( Raij, 1991) .
Segundo Malavolta (1985), Arnor e Johnson em um trabalho, que se tornou clássico,
verificaram o efeito direto do pH sobre tomateiro, alface e grama bermuda e concluíram que:
a ) em valores extremos (muito baixos ou muito elevados) de pH, as plantas morreram
ou apresentaram acentuada diminuiçã o do crescimento.
b) a pH 3,0, a absor çã o de macronutrientes caiu drasticamente (competiçã o com
H+ ), tendo havido, em alguns casos, perda de P, K e Mg já absorvidos. A pH 9,0,
houve acentuada queda na abéorção de P (competição com OH ). "

c) a pH 4,0, o Ca estimulou a absorçã o de K e, aparentemente, diminuiu a competição


do H+ com os demais cá tions(1\
d ) o crescimento má ximo foi verificado entre pH 6 e 7.

Quadro 6. Teores foliares médios de elementos químicos em 81 variedades de soja, cultivadas


em solo de Cerrado, em duas condições de pH

PHH 2 O Ca Mg K Zn Cu Mn Fe AI

g kg - mg kg -1
5,1 9,1 3,8 33,8 65 9,8 113 528 836
5,6 10,3 4,8 30,8 36 7,1 29 344 445

Fonte: Spehar (1989, 1993).

01 ) O Ca, como outros elementos de val ê ncia maior, tamb é m mant é m a integridade da membrana
citoplasm á tica ( Marschner , 1991) .

FERTI L I D A D E DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E S UA CORREçãO 223

Como efeito indireto do pH está a atividade de H +, alterando a solubilidade dos


demais nutrientes no solo (Figura 5), principalmente a dos micronutrientes, que, em
concentra ções elevadas, podem-se tornar tóxico s às plantas.
Para fins prá ticos, considera-se, na literatura internacional, que a faixa de pH entre
6,0 e 6,5 é a mais adequada para a maioria das culturas. Entretanto, no Brasil, em geral,
considera -se que a faixa ideal para a maioria de nossas culturas está entre 5,7 e 6,0
(Figura 5).
A forma como o pH influi na disponibilidade dos nutrientes é indicada ,
resumidamente, a seguir (12):

a ) nitrogénio
A disponibilidade aumenta graças ao efeito favorá vel à mineraliza çã o da maté ria
orgâ nica .
i

b) f ósforo
A disponibilidade de P aumenta e depois diminui, devido à reduçã o da acidez e
aumento de OH na soluçã o do solo.
'

Figura 5 . Disponibilidade de nutrientes e de alumínio de acordo com o pH do solo.


3-
A
Fonte: Adaptado de Potash Phosphate Institute (1989 ).
h-
*
(12)
Para maiores detalhes, veja os diversos capítulos cie VII a XI que tratam dos nutrientes, individual-
t. mente .
I:
I.
íiL
1 FERTILIDADE DO SOLO
ft
A

iI
IAV
i Í

.
'SA v'
224 DJALMA MARTIMH ã O GOMES DE SOUSA et al.

- em solos á cidos
FeP04.2H20 + OH <-> Fe ( OH)3
'

i + H2P04
- em solos alcalinos
10Ca 2+ + 6H2P04- + 14C H - + 12H20
Caio(P04)ó(OH) 2 1
c) enxofre
O S042 adsorvido pelos oxihidr óxidos de Fe e de Al, à semelhança do que ocorre
com P, é liberado pela eleva çã o do pK.
A decomposiçã o da maté ria orgâ nica liberando S é favorecida pela eleva çã o do pH.

d ) potássio cálcio e magnésio


/

- nenhum efeito direto do pH.


- efeito indireto, com menor lixivia çã c com a elevaçã o do pH ( maior CTCefetiva ) .
e ) ferro, manganês, cobre e zinco
A disponibilidade destes micronutrientes catiônicos diminui com a elevaçã o do pH
(mais OH ) do solo:

Fe3+ + 3OH
| Fe (OH) 3 i
Mn2+ + 40H Mn02 i+ 2H20 + 2e "

Cu 2+ + 20H CU(OH) 2 I
Zn2 + + 20H Zn (OH ) 2 i
f ) boro
- abaixo de pH 7,0, há pouco efeito sobre a disponibilidade do B; em condições do pH do
solo, o á cido bórico é pouco dissociado.
- há decréscimo na solubilidade com pH acima de 7,0.
B(OH) 3 + H20 <-> B(OH) 4 + H

O B (OH) 4 é adsorvido no solo por troca de ligantes com OH .


" '

g ) molibdênio e cloro
O Mo042 é fortemente adsorvido pelos oxihidróxidos de Fe e de Al, à semelhança do
"

que ocorre com o P, e é deslocado pelo OH com a eleva çã o do pH do solo. A mesma


'

tendência é observada para Cl , embora este seja fracamente adsorvido no solo.


"

A influ ência da redu çã o da acidez na eficiência dos fertilizantes fosfatados é


fartamente documentada na literatura . Por exemplo, observa -se na figura 6 que, na dose
de 200 kg ha 1 de P2Os, sem calagem e pH em á gua igual a 4,7, a produtividade de soja foi
"

de 1,32 t ha 1, aumentando para 3,04 ha 1 na á rea com calagem e pH em á gua de 6,2.


" "

FERTI LIDADE DO SOLO


V - ACIDEZ DO SOLO E S UA CORRE çã O 225

Figura 6. Produtividade média de gr ã os de cinco v ariedades de soja em resposta a doses de


f ósforo aplicado a lan ç o (superfosfato simples) em Latossolo Vermelho argiloso, c ó m
duas doses de calcá rio.
Fonte : Sousa et al. ( 2004) .

Essa maior produtividade da soja foi próxima da obtida com a dose má xima de P2O5 com
calcá rio e superior à quela com a maior dose de P2O5 sem calcá rio. O efeito benéfico da
elevaçã o do pH do solo na eficiência do fertilizante fosfatado sol ú vel pode ser atribuído
ao maior crescimento do sistema radicular das plantas, ao aumento da taxa de
mineraliza çã o da matéria orgâ nica e ao melhor aproveitamento do P por reduzir sua
retençã o pela fase sólida do solo (Sousa et al., 1985).
O aumento da concentra çã o do Al na rizosfera nã o reduz a absor çã o de P pelas
raízes ( Lee, 1971), porém decresce sua transloca ção para a parte aérea, que pode resultar
no desenvolvimento de sintomas de deficiência de P nas plantas afetadas pela toxidez
de Al (McLeod & Jackson,1967; Miranda & Rowell, 1987).
í

O Alumínio em Solos Á cidos

O Al, conforme já discutido, constitui importante componente da acidez dos solos.


A rea çã o de hidrólise do Al 3+ em soluçã o contribui para o poder tampã o dos solos. Além
disso, o Al e o Mn, quando em altas concentrações no solo, podem ser tóxicos às plantas,
constituindo uma das principais limita ções agr ícolas em solos á cidos.
De acordo com os equilíbrios químicos, a atividade do Al3+ e das demais espécies de
sua hidrólise depende basicamente do tipo de mineral da fase sólida e do pH do solo. Em
solos á cidos, com predomínio de argilas de 1:1 (caulinita ) e oxihidróxidos (gibbisita ) na
fraçã o argila, a atividade do Al3+ em soluçã o pode ser bastante elevada.

FERTILIDADE DO SOLO
226 DJALMA MARTIMH ã O GOMES DE SOUSA et al.

Verifica -se que a valores de pH a cima de 5,5-6,0 (até 7,0 ) ( 13), a solubilidade do Al é
m ínima . Esta é uma das razões pelak quais a correçã o de solos á cidos é feita para se
atingir um pH de, pelo menos, 5,5 (Figura 1).
Entre pH 5,5 e 6, pode-se ter ainda elevada disponibilidade de Mn, exigindo que a
correçã o da acidez, neste caso, chegue a pH 6, pelo menos.
Com rela çã o à fertilidade dos solos, o Al em concentra çã o elevada, alé m de ser
tó xico às plantas, pode interferir na c .isponibilidade de outros nutrientes. O exemplo
mais típico desse efeito refere-se à sclubilidade do fosfato no solo. O fosfato tende a
reagir com o Al sol ú vel, formando fos fatos de alumínio de baixa solubilidade em solos
á cidos ( veja capítulo VIII ).

Saturaçã o por Alumínio e Crescimento de Plantas


Dada a necessidade de se adaptarem às condições locais do solo com elevada acidez,
as plantas desenvolveram mecanismos de tolerâ ncia ao Al . Como exemplo de diferenças
entre plantas, podem-se mencionar a alfafa, que apresenta muito baixa toler â ncia ao Al,
e a samambaia ou o chá, que sobrevivem em solos com alto teor de Al. Essa variabilidade
de rea çã o a concentra ções tóxicas de Al e, ou, de Mn existe entre espécies de plantas e
entre variedades dentro da mesma espécie (Furlani, 1983).
A caracter ística das plantas relacionada com a tolerâ ncia à acidez pode ser utilizada
como aliada para o seu cultivo em regiões onde o calcário tem custo elevado ou què apresentem
subsolos muito á cidos, principalmente, se associados à ocorrência de veranicos.
Os efeitos do Al em concentra ções tóxicas manifestam-se tanto na parte a é rea como
no sistema radicular, por meio de sintomas anatômicos e morfológicos e da reduçã o de
crescimento. O sistema radicular é raais afetado que a parte aérea, ocorrendo maior
prejuízo no alongamento das ra ízes do que no volume e na produçã o de matéria seca,
reduzindo sua superf ície. Consequen temente, as raízes ocupam menor volume de solo,
diminuindo, assim, a possibilidade de absor çã o de nutrientes e água . A figura 7 mostra
o crescimento de raízes de duas variedades de sorgo em diferentes níveis de saturação
por Al. Observa-se que, quanto menoi a saturação por Al, maior o crescimento radicular
das plantas de sorgo, sendo a variedade RS 610 sempre inferior à TE Y 101.
As condições de acidez do solo em que as plantas sã o cultivadas podem produzir
materiais com características predominantes do local. Assim, variedades de trigo de
origem mexicana (Siete Cerros, Anahuac, Jupateco) sã o menos tolerantes a elevados teores
de Al do que variedades brasileiras ( BH 1146, IAC 5, Nobre), desenvolvidas em solos
com baixo pH e alto teor de Al.
Os mecanismos de toler â ncia ao Al sã o v á rios e nã o existe um ú nico que explique
por completo sua diferencia çã o entre espécies e variedades de plantas. A tolerâ ncia ao
Al pode ocorrer em plantas eficientes em absorver e translocar P para a parte aérea
(Andrew &Van Den Berg, 1971; Miranda & Rowell, 1987, 1989 ). Parte do P absorvido é
utilizado para précipitar o Al nas ra ízes das plantas (McGormick & Borden, 1974) . A

(13)
Acima de pH 7,0, há forma çã o de aluminato [ Al (OH )4 J que é també m tóxico às plantas.
'

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREçãO 227

descriçã o detalhada dos diversos mecanismos de toler â ncia das plantas ao AI pode ser
encontrada em trabalho de revisã o de Foy el al. (1978); Foy & Fleming (1978) e, mais
recentemente, em Silva et al. ( 2002) .
A elevada acidez de grande parte dos solos tropicais condiciona uma alta atividade
do Al na solu çã o do solo, deficiência de Ca, Mg e P, além da toxidez por Mn .
A percentagem de satura çã o por Al é, também, um bom indicador da acidez do solo
e seu efeito sobre as plantas. O trabalho de Gonzalez Erico (1976) demonstra que, acima
de pH 5,4, os níveis de satura çã o por Al ( m ) foram inferiores a 10 % na camada de
0-15 cm. A concentra ção de Al na solução do solo depende do pH do solo, da saturação por
Al, do teor de matéria orgâ nica (Figura 8) e da presença de outros íons na solução do solo.

TE Y 101
II RS 610

mm

42
I IH
78
.

Figura 7. Crescimento de ra ízes de duas variedadJes de sorgo, considerando os níveis de


saturaçã o por alumínio, na camada de 0-15 cm do solo, em LV argiloso.
Fonte: Embrapa (1976) .

Figura 8 . Teor de alum ínio na soluçã o do solo como variá vel da satura çã o por alumínio ( m ) de
solos minerais e orgâ nicos.
Fonte: Adapatado de Gonzalez Erico (1976).

FERTILIDADE DO SOLO
228 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .

Considera -se que 2 mg L 1 de Ali+ na soluçã o constituam uma concentraçã o tóxica


'

para muitas plantas cultivadas, podendo esta concentra ção ocorrer a pH 5,0, mas nã o a
5,5 ou maior .
Em termos de efeitos negativos ao crescimento das plantas, o efeito primá rio da
toxidez por Al faz-se sentir no sistema radicular. Os principais sintomas que podem ser
observados no sistema radicular sã o:
- raízes curtas ou grossas;
- inibiçã o do crescimento das raízes, que se tornam castanhas;
- ra ízes laterais engrossadas e pequena forma çã o de pêlos radiculares;
- predisposiçã o da planta injuriada a infecções por fungos; entretanto, também há casos
em que o Al3+ controla algumas doenças f ú ngicas das ra ízes.
Como efeitos citológicos, podem- se observar:
- inibi çã o da divisã o celular, com a consequente inibiçã o do alongamento celular;
- ruptura das células do periciclo.
Também, como efeitos fisiológicos e bioquímicos, destacam-se:
- aumento na viscosidade do protoplasma das células das ra ízes com consequente
decréscimo da permeabilidade à á gua, sais e corantes;
- reduçã o na habilidade de uso de sacarose para a forma ção de polisnacarídeos nas
paredes celulares;
- inibição de desidrogenase isocítrica, enzimas málicas, redução na fosforilase de açúcares,
respira çã o e síntese de DNA;
- efeito na absorçã o e utiliza ção de nutrientes, principalmente de Ca e P.
Os mecanismos de tolerâ ncia da ? plantas a elevadas concentrações de Al sã o:
- não absorvem Al, pois apresentam capacidade de manter o Al fora do metabolismo da
planta (mecanismo de exclusã o ), por processos de complexaçã o do Al com ácidos
orgâ nicos e por precipita çã o de Al (OH) 3 pela maior basifica çã o da rizosfera.
- não translocam Al para a parte aérea, mantendo sua capacidade de absorver P e Ca,
mesmo na condiçã o de elevada abscr çã o de Al.
- há espécies com elevada capacidade de manter adequada partição de C para formar
novas ra ízes absorventes.
A determina çã o tã o somente do peso de ra ízes nã o é uma medida adequada para
avaliar o efeito da calagem na reduçã o do Al trocá vel do solo e, consequentemente, no
crescimento das raízes. Seria interessante, na avalia çã o desse efeito, a determinaçã o do
comprimento das ra ízes, bem como dos percentuais de "ra ízes finas" e "raízes grossas"
(Dias et al., 1985). Vale salientar que, às vezes, confunde-se o efeito de deficiência de Ca com
a de toxidez causada pelo Al, bem como redução do Al absorvido com o suprimento de Ca.
O Al parece ter efeito negativo sobre a absor çã o e translocaçã o de Ca (Johnson &
Jackson, 1964 ) . A aplica çã o de Ca é mais favor á vel ao crescimento radicular,
especialmente de ra ízes finas, que da parte a é rea de plantas de milho (Silva et al., 1993).

FERT : LIDADE DO SOLO


V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çãO 229

Com relaçã o ao P, o AI tem efeito no solo e na planta . Observam-se, freqiientemente,


plantas deficientes em P em solos com altos teores de AI. Nas plantas, pode ocorrer
precipitaçã o do P nas superf ícies celulares ou no espa ço livre aparente.
Em estudo, realizado por Foy & Brow (1963), em solução nutritiva, plantas de algodão
exibiram sintomas de deficiência de P na presença de AI a um pH igual a 5,0. O aumento
da concentra çã o de P na soluçã o pode restringir o efeito de Al. Poré m, tal efeito em solos
altamente intemperizados, como é o caso de grande parte dos solos brasileiros, é inviá vel
economicamente, dada a grande capacidade de adsor çã o de P por estes solos. Deve-se
ressaltar que existem diversas espécies de plantas, como as do gênero Eucalyptus , com
alta tolerâ ncia ao Al e para as quais a correçã o do solo nã o se faz necessá ria ( Neves et al.,
1982 ).

Alterações de pH na Regi ã o da Rizosfera

O pH da rizosfera pode ser diferente daquele do solo, chegando a ser acima de duas
unidades à quele do solo ( Hedley et al., 1982). As plantas promovem a extrusã o de H+ ou
de HCO3 e libera çã o de exsudatos radiculares, como á cidos orgâ nicos, aminoá cidos,

a çúcares, fenóis, etc. (Silva et al., 2002 )


As plantas raramente absorvem quantidades equivalentes de cá tions e de â nions e,
j para manter o equilíbrio eletroqu ímico entre as ra ízes e a rizosfera e uma constâ ncia de
pH intracelular, ocorrem mecanismos compensatórios. Assim, o balanço na absor çã o
iônica deve ser compensado pela simultâ nea extrusã o de H+, quando em situa ções de
'

predom ínio na absor çã o de cá tions, ou de OH , HCO3 ou RCOO , quando existe


'
'

predomínio na absorçã o de â nions (Sonn & Miller, 1977) .


Em geral, para solos de boa porosidade, a libera çã o de C02 via respira çã o radicular
ou microbiana nã o provoca importantes altera ções no pH da rizosfera. A difusã o de C02
pelos poros do solo d á -se de maneira rá pida ( Nye, 1986). Da mesma forma , grandes
mudanças de pH da rizosfera induzidas por exsudatos de baixo peso molecular podem
ser consideradas mais como exceçã o do que regra (Marschner, 1991).
Dentre as prá ticas de manejo cultural, a adubaçã o nitrogenada talvez possa produzir
as maiores altera ções no pH da rizosfera . Com N absorvido, preferencialmente, como
t
nitrato, a planta passa a absorver mais â nions que cá tions, resultando em valores de pH
mais altos na rizosfera . Assim, a absorçã o de N-NH4+ promove a extrusão de H+, enquanto
a absor çã o de N- NO3 promove forma çã o de HCO3 e consequente aumento do pH ( Nye,
’ '

1986 ) .
Em plantas com associaçã o simbiótica com microrganismos fixadores de N 2, ocorre
í desbalanço na propor çã o de cá tions / â nions decorrente da maior absorçã o de cá tions.
j
Conseqiientemente, observa -se a extrusã o de H + em intensidade proporcional ao
desbalanç o.
Altera ções no pH da rizosfera podem resultar em efeitos benéficos ou maléficos no
crescimento de plantas. Em solos alcalinos e neutros, o aumento no pH leva à menor
disponibilidade de nutrientes, como o Fe, Mn, Cu e Zn. Em solos á cidos, o aumento do
í

FERTILIDADE DO SOLO
230 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.

pH da rizosfera pode resultar em decréscimo da atividade do Al, sendo este fato


considerado como um dos mecanismos de adaptação do vegetal a estas condições (Foy et
al., 1965; Silva et al ., 2002).
Da mesma forma, o abaixamento do pH da rizosfera pode resultar em maior
solubiliza çâ o de fosfatos naturais utilizados como fertilizantes e, assim, aumentar a
disponibilidade de P para a planta .
Independentemente das circunstâ ncias que podem condicionar aumento ou
diminui çã o do valor de pH da rizosfera, a magnitude desta varia çã o está relacionada
com o poder tampã o da acidez do solo . Em solos com altos teores de maté ria orgâ nica e
de argila , espera -se que estas altera ções de pH sejam de menor magnitude.
Em condições de campo, tê m -se observado que a soja é sensível ao excesso de Mn.
Por outro lado, na fase inicial de crescimento, essa cultura pode ser afetada pela
deficiência de Mn em solos com calagem excessiva, sendo que esses sintomas desaparecem
visualmente com o crescimento da planta ( Novais et al., 1989 ). Observa -se, também, que
a deficiência de Zn é mais comum e intensa para as culturas de milho e arroz, por exemplo.
É possível que esses feitos sejam decorrentes das alterações do pH da rizosfera .

CORRE ÇÃ O DA ACIDEZ DO SOLO


Considerando a importâ ncia deste tema, a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo,
em 1983, promoveu, na XV Reuniã o Brasileira de Fertilidade do Solo, um Simpósio sobre
Acidez e Calagem. Os trabalhos desse simpósio foram publicados em diferentes capítulos
e abordaram, de forma abrangente, o manejo da acidez em solos á cidos (Raij et al., 1983).
Os efeitos adversos da acidez do solo para as plantas nã o ocorrem somente na
camada superficial (0-20 cm), podendo acontecer, també m, na subsuperf ície. Cochrane
& Azevedo (1988), analisando solos da Regiã o do Cerrado nas profundidades de 0-20 e
20-50 cm, verificaram que, respectivamente, 79 e 70 % das amostras apresentavam
satura çã o por Al maior que 10 %. Esses autores observaram, també m, que o teor de Ca
era menor que 0,4 cmolc dm 3, em 86,3 % das amostras da camada de 20-50 cm.
'

A correçã o da acidez superficial e subsuperficial do solo faz-se necessá ria para


promover maior eficiência de absorçã o da á gua e nutrientes pelas plantas e obter melhores
produtividades das culturas. Para essa correçã o, o insumo mais utilizado para a camada
superficial do solo é o calcá rio e, para a subsuperficial, em solos com argila de baixa
atividade, é o gesso agrícola (Sousa & Lobato, 2004 ).

Princ ípios da Calagem e Qualidade do Calcário


A calagem está fundamentada no fenô meno de troca catiônica

H + MX o M + HX

em que MX é um sal que cede ao solo seu cá tion.

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREçãO 231

O â nion X tem de ser um á cido fraco para atuar como receptor de pr ótons.
Os materiais que contê m MX sã o corretivos da acidez do solo.
Muitos materiais podem ter capacidade de promover a troca iônica , mas, para serem
corretivos, necessitam de:
a ) efetuar a rea çã o: o cá tion ( X ) do sal deve trocar com H +, Al3+ e outros c á tions
trocá veis de cará ter á cido e de dissociar parte de H,
b ) produto da rea ção: após a troca, deve formar-se HX,

Exemplo de um corretivo nã o-desejá vel

H + MCI M + HC1 ( nã o haver á correçã o da acidez do solo )

c) elemento essencial: M deve ser um nutriente. Assim, além de efetuar a correção da


acidez do solo, estar -se-á fornecendo um nutriente às plantas

Exemplo de corretivo nã o-desejável:

TI H
+ BaX
-: Ba + HX ( Ba nã o é nutriente)

Exemplo de corretivo desejá vel:

T
_IH + CaC03 Ca + C021 + H20 (Ca é nutriente)

Os materiais que satisfazem a maioria de requisitos de bom corretivo sã o os calcá rios


(CaC03, MgC03).
No Pa ís, têm-se muitos afloramentos de rochas calcá rias. Sã o produtos de f á cil
aquisiçã o, neutralizam o Al3+ e sã o fontes de Ca e Mg.

Ca
IaI AI' + 3CaC03 + 4HzO Ca + 2Al (OH)31 + 3COz + H2Q
Ca

Calcá rios calcinados (CaO, MgÒ) (14) sã o bons corretivos. Entretanto, nã o sã o muito
usados, pois sã o mais caros e apresentam efeito corrosivo.
Outros materiais que contêm Ca, que trocam e precipitam Al, mas que nã o atuam
como corretivos, são, por exemplo, superfosfatos, gesso, etc.
Alé m dos calcá rios, as escó rias de alto forno e de siderurgia sã o materiais eficientes
na correçã o da acidez do solo.

(14)
CaC03 —>
A ( calor )
CaO + C02T

FERTILIDADE DO SOLO
232 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .

Portanto, o calcá rio neutraliza a acidez, deixando o solo com Ca e Mg no lugar dos
cá tions de car á ter á cido . O Al é precipitado como oxihidr ó xido e C02 é despendido
( Raij, 1991).

Acidez Superficial

A pr á tica utilizada para correçã o da camada superficial do solo é a calagem. O


valor de pH em á gua a ser atingido, para um bom crescimento e desenvolvimento da
maioria das culturas, é de 5,5 a 6,3. Nesse intervalo de pH, as plantas têm boas condições
de absor çã o dos nutrientes, como já comentado.
A calagem bem feita neutraliza o Al do solo e fornece Ca e Mg como nutrientes. Ela
promove, també m, o aumento da CTC efetiva, reduzindo a lixiviaçã o de bases. Alé m
disso, possibilita maior crescimento do sistema radicular das plantas, facilitando a
absor çã o e a utiliza çã o dos nutrientes e da á gua.
Deve -se salientar que, com o aumento do pH, pode ocorrer redu çã o na
disponibilidade de micronutrientes, como já discutido . Entretanto, com a adiçã o das
doses de micronutrientes recomendadas pela pesquisa, não tem havido problemas de
disponibilidade desses elementos, na faixa de pH entre 5,5 e 6,3. Dentre as v á rias
finalidades da prá tica da calagem, destacam-se as seguintes:
a ) corrigir a acidez do solo, pela neutraliza çã o do H +. Após a aplicaçã o do calcá rio
ao solo, o â nion CO32 (base forte) é o principal responsá vel pela hidr ólise da
'

á gua e formaçã o do íon OH , que irá neutralizar a acidez ativa ( H+ ) do solo. É


'

oportuno lembrar que o ânion SO42 (base fraca ) não tem, praticamente, capacidade
'

de hidrolisar a á gua e produzir OH . Por essa razã o, o gesso nã o é considerado


"

corretivo de acidez ativa .

CaC03 + HzO -> Ca 2+ + HC03 + OH


'

" '

HCO3 + H2O C02 + OH + H2O

b ) corrigir a toxidez do Al e de Mn por reações de precipita çã o desses elementos, na


forma de oxihidróxidos: Al(OH)3 e Mn(OH)2. O Al é totalmente precipitado quando
o pH do solo atinge valores em torno de 5,5 ( Figura 1). Essa precipita çã o, pode
ocorrer, também, com alguns micronutrientes metá licos, como o Cu2+, Fe2+, Fe3+ e
Zn2+, diminuindo a disponibilidade dos mesmos.

Al3+ + OH '

Al ( OH) 2+
Al (OH) 2+ + OH -> Al (OH) 2+
'

Al(OH)2+ + OH '
-» Al (OH) 3
Mn2+ + OH -> Mn(OH) +
'

Mn(OH) + + OH -> Mn(OH) 2


'

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREçãO 233

c) fornecer Ca e Mg para as plantas, visto que a maioria dos corretivos conté m estes
nutrientes.
d ) gerar cargas negativas no solo e, consequentemente, aumentar a retençã o de
cá tions ( maior CTCcfetiva ) .
e) neutralizar os sítios de cargas positivas dos oxihidróxidos de Fe e Al, minimizando,
principalmente, a adsorçã o de fosfato. Entretanto, após a calagem em solos com
altos teores de Fe e Al trocá veis, haverá a forma çã o de oxihidr óxidos amorfos
com altos valores de PCZ ( veja capítulo IV). Esses podem ser protonados, gerando
cargas positivas e, conseqiientemente, aumentando a adsorçã o dos ânions como
H2PCV, MO 042 e S042 .
‘ '

f ) aumentar a atividade biológica do solo, principalmente quanto à fixação biológica


de N2 e à coloniza çã o de fungos micorr ízicos, e promover maior mineraliza ção
da maté ria orgâ nica .
g) propiciar condições para melhor crescimento do sistema radicular, aumentando,
dessa forma, sua absorçã o de á gua e nutrientes pelas plantas.
A rea çã o do calcá rio com o solo é relativamente lenta e depende, basicamente, da
disponibilidade de á gua . Por isso, recomenda -se que sua aplica çã o no solo seja feita
com alguma anteced ência ao plantio, de modo que, na época de estabelecimento das
culturas, a acidez já tenha sido, pelo menos, parcialmente corrigida .
Quando foram aplicadas ao solo quantidades de calcá rio suficientes para obter pH
entre 5,5 e 6,0 ( Figura 9 ), esses valores foram alcançados aproximadamente após cem
dias, com uma precipita ção pluvial de 1.270 mm. Portanto, esse seria o período necessá rio
para que o calcá rio reaja com o solo antes do estabelecimento da cultura, dependendo da
disponibilidade de á gua .

Figura 9. Dados de pH em á gua de um LE argiloso de Cerrado, como variá vel do tempo de


incorporaçã o de diferentes doses de calcá rio, com uma precipita ção pluvial de 1.270 mm.
Fonte : Embrapa (1981 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
234 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .

Determinação da Necessidade de Calagem

A quantidade de calcá rio ou corretivo a ser utilizada para adequar a acidez do solo
à condi çã o desejada depende do tipo de solo e do sistema de produçã o estabelecido.
Para uma sequência arroz-pastagem ( Brachiaria decumbens ) , sabe-se que a aplica çã o do
calcá rio como fonte de Ca e Mg, com doses que variam de 0,5 a 1,0 t ha 1, produz resultados
'

aceitá veis a curto prazo, por serem espécies que toleram a acidez do solo. Se o sistema de
produçã o for planejado para utiliza çã o de culturas anuais, como soja, feijã o, milho e
trigo, a acidez do solo deverá ser corrigida em nível compatível com essas culturas.
Como já foi mencionado, a calagem é fundamental para a agricultura em solos á cidos.
No entanto, nã o existe uma definiçã o clara sobre o melhor m é todo para determinar a
necessidade de calagem, ou seja , a quantidade de corretivo a ser aplicada ao solo. O
cá lculo da necessidade de calagem tem-se baseado, fundamentalmente, nos seguintes
métodos:
- mé todo da curva de incuba çã o com CaCCh;
- método baseado no teor de alumínio trocá vel;
- métodos baseados no decréscimo de pH de soluções- tampão (SMP ou Woodruf );
- métodos baseados na correla çã o para determinado valor de pH, saturação por bases e,
ou, matéria orgâ nica.
- método para neutralizar a acidez trocá vel e elevar os teores de Ca e de Mg trocá veis.
É importante, nos estudos de calagem, que sejam separados os efeitos corretivos dos
efeitos nutricionais. Todavia , é dif ícil isolar ou individualizar os efeitos detrimentais da
toxidez de Al, Mn daqueles causados pelas deficiências de Ca e, ou, Mg.
Outro ponto da maior importâ ncia para diversas culturas é a rela çã o Ca:Mg do
corretivo a ser empregado. Para uma mesma dose de calcá rio aplicado, diferentes relações
entre esses nutrientes podem levar a resultados também diferentes.
A seguir, são apresentados os principais m é todos para determinação da necessidade
de calagem utilizados no Brasil.

Mé todo da Curva de Incubação

Neste mé todo, amostras de solo sã o homogeneizadas com diferentes quantidades


de calcá rio ou com CaCCb p.a ., acondicionadas em sacos plásticos de parede grossa, com
umidade correspondente a 80 % da capacidade de campo, fechados e colocados para
incubar por 45 a 90 dias. E recomend á vel revolver os solos dos sacos plásticos, uma vez
por semana, para promover melhor homogeneiza çã o. Após a estabilizaçã o do pH, as
amostras devem ser secas ao ar, determinando-se caracter ísticas de acidez do solo.
Utilizam-se doses crescentes de carbonatos para determinar a curva completa de
neutralizaçã o (Quadro 7, Figura 10).

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 235

Quadro 7. Medidas de acidez do solo, determinadas após incuba çã o com diferentes doses de
carbonato de cá lcio em uma amostra de um Latossolo Vermelho argiloso

Dose de CaCC> 3 PHH 2° Al 3 + Ca 2 + + Mg2 + H + AI m V

_
t ha ’ 1
emole dm 3 %
0 5,36 1, 02 0,30 7, 73 73,9 4,5
1 5,42 0, 52 1,17 7, 28 29,7 14,5
2 5,58 0,12 1,87 6,41 5,9 23,1
4 5,94 0,00 3,40 5, 22 0,0 39,9
6 6, 25 0,00 4,72 3, 78 0,0 55,8
8 6,56 0,00 6,17 3,03 0,0 67,3

4 Fonte: Miranda , L. N. (Comunica çã o pessoal ) .

Figura 10 . Curvas de incuba çã o de amostras de dois Latossolos.


Fonte: Alvarez V., V.H. (comunica çã o pessoal ).

Este mé todo apresenta algumas inconveniências. Pode haver mineralização intensa


da matéria orgâ nica durante a incuba ção, resultando na superestimaçã o da necessidade
de calcá rio. Adicionalmente, em decorr ência do aumento dos sais sol ú veis que
influenciam a for ça iônica da soluçã o, é possível ocorrer erros na determina çã o do pH
em á gua. O problema do excesso de sais pode ser contornado pela determinaçã o do pH
em soluçã o de CaCL 1 mmol L 1, de for ça iônica constante.
'

Para se obter pH = 6,0 no LVA (Figura 10), necessita-se de 2,164 t ha 1 e, no LV, de '

5,990 t ha 1 de CaCCb.
'

As declividades (ô y / ôx) das equa ções, 0,55 no LVA e 0,15 + 0,0642x no LV indicam
a diferença de poder tampã o dos solos . No LVA, é igual a 1,818 t ha Vunidade de pH e

FERTILIDADE DO SOLO
236 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .

é constante, nã o importando o intervalo de pH considerado. No LV, é variá vel; por


exemplo, entre pH 4 e 5 é igual a 3,842 - 0,312 = 3,530 t ha 1 de CaC03 e entre pH 5 e 6 é
'

igual a 5,990 - 3,842 = 2,148. Portanto, o LV é mais tamponado entre pH 4 e 5 do que


entre 5 e 6.
Usualmente, as curvas de incuba çã o sã o definidas com rela çã o ao pH, mas, após a
incuba çã o, também podem ser determinados os teores de Al e de Ca trocá veis, podendo,
assim, conhecer quanto de calcá rio é necessá rio para neutralizar o Al trocá vel e, também,
quanto de Ca trocá vel ser á atingido (Quadro 7) .
Este mé todo nã o considera a produçã o das plantas e deixa sérias interroga ções
quanto ao seu uso para recomenda çõ es de doses de corretivo que otimizem
(economicamente ) o uso do calcá rio ( Paula et al., 19$ 1 ) . Ele, també m, nã o é prá tico para
uso rotineiro, por ser demorado e trabalhoso, mas é utilizado em trabalhos de pesquisa e
na calibra çã o de outros m é todos.

M é todo da Neutralização da Acidez Troc á vel


Quando se deseja corrigir a acidez do solo, o crité rio de neutraliza çã o da acidez
trocá vel ( Al 3+ ) parece suficiente. Por este mé todo, a necessidade de calagem foi definida,
dentro do Programa Internacional de An á lise de Solos (Cate, 1965), pela f ó rmula :

NC (15) =1,5 x Al 3+ (11 )

Catani & Alonso (1969 ) calibraram o m é todo de neutraliza çã o de Al3+ para elevar o
pH a valores entre 5,5 e 5,7, obtendo a seguinte equa çã o:

NC = 0,08 + 1,22 Al3+ (12 )

Segundo Alvarez V. et al. (1990a ), as doses de calcá rio definidas por este m é todo,
para amostras de 21 solos de Minas Gerais, nã o elevaram o pH aos valores esperados,
atingindo-se o valor de 5,2, suficiente para neutralizar a maior parte do Al trocá vel. No
entanto, a correçã o do pH até esses valores pode ser adequada para neutralizar o Al
trocá vel, mas insuficiente para corrigir excessos de Mn e deficiências de Ca e de Mg no
solo.

Método da Soluçã o -Tamp ão SMP

Este mé todo baseia -se na medida do decréscimo do pH de uma solu çã o- tampã o de


acetato de am ó nio 1 mol L 1 pH 7,0 em contato com uma amostra do solo na rela çã o
"

solo:solução 1:10 ( Brown, 1943). Woodruff (1948) propôs o uso de uma solução de acetato
de cá lcio 0,5 mol L 1 e óxido de magnésio a pH 7,0. Entretanto, Shoemaker et al. (1961)
'

observaram que o crité rio proposto por Woodruff recomendava pouco calcá rio para os

,
( 5)
A NC é expressa em t ha 1 de CaC03 ou de um calcá rio com PRNT
'

= 100 %, incorporado de 0-20 cm.

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 237

solos de Ohio (USA) e propuseram uma solu çã o com maior poder tampão, composta de:
p -nitrofenol, K 2Cr 04, CaCl 2.2H20, Ca (CH3C00) 2.H20 e trietanolamina, e ajustada a
pH 7,5. A rela çã o solo:á gua: tamp ã o recomendada é de 10:10:5. Esse crité rio passou a
ser difundido como o mé todo do tampã o SMP<16).
O pH determinado na suspensã o do solo com a solu çã o- tampã o SMP permite
estabelecer as quantidades de calcá rio a aplicar, utilizando curvas de neutralizaçã o
( Figura 11) ou tabelas, estabelecidas previamente para a obtençã o de um determinado
pH. Para cada nível de pH em á gua a ser atingido, deve ser obtida a rela çã o entre o
PHSMP e a necessidade de calagem. Uma das vantagens desse mé todo é a simplicidade
para se determinar a necessidade de calagem obtida só com as medidas de pHSMP - Por
levar em considera çã o o poder tampã o do solo, este mé todo apresenta bom fundamento
teórico.
A calibra çã o do m é todo é feita correlacionando o pHSMP de uma sé rie de solos com a
necessidade de calagem para elevar o pH, em geral, a 6,0 ou 6,5 ou mesmo a 5,5, sendo
esta necessidade de calagem determinada por incuba çã o com CaC03. De posse do valor
do PHSMP do solo e definido o pH que se deseja alcançar, utilizando uma tabela, determina-
se a necessidade de calagem (Quadro 8) .
Deve-se salientar que essas tabelas devem ser obtidas para cada regiã o, uma vez que
os dados obtidos em uma localidade podem subestimar ou superestimar a necessidade
real de calc á rio de outra (Sousa et al., 1989 ).
Este mé todo é oficialmente utilizado nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do
Sul .

Figura 11. Rela çã o entre dose de calcá rio a ser aplicada no solo para atingir pH em á gua de 6,0
e o pHSMP'
Fonte: Sousa et al. (1989).

(16)
Esta sigla veio das primeiras letras dos nomes dos autores; Schoemaker, McLean & Pratt.

FERTILIDADE DO SOLO
238 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .
Quadro 8 . Necessidade de calagem de solos de acordo com o pHSMP (relação 10:10:5, solo, á gua,
soluçã o- tamp ã o)

NC para PHH 2O
pHsMP
5,5 6, 0 6,5

t ha 1
*
CaCC> 3
4,5 12,5 17,3 24,0
5,0 6,6 9,9 13,3
5,5 3,7 6 ,1 8,6
6,0 1, 6 3, 2 4,9
6,5 0, 4 1 ,1 2,1

Fonte : Tedesco et al. (1995 ).

Mé todo do pH e do Teor de Matéria Orgânica do Solo

Esse método baseia-se no poder tampão da matéria orgâ nica do solo e na sua elevada
correla çã o com a CTC a pH 7,0 ( Defelipo et al., 1982). A necessidade de calagem ( NC )
para elevar o pH do solo a 6,0 poderia ser estimada através do pH em á gua (1:2,5) e do
teor de maté ria orgâ nica do solo (MOS), usando a seguinte expressã o:

NC = 1,6 (6,0 - pH ) MOS (13)

Este método pode superestimar a NC e, para o pH a 6,0 em solos de Minas Gerais


utilizados em cafeicultura, Alvarez V. (1996) recomenda a f órmula:

NC = 1,87 [ MO (6 - pH) ] 0,731118 R2 = 0,797 (14)

Mé todo da Neutralização da Acidez Troc ável e Elevação dos Teores de Ca e Mg


Troc á veis
Neste método, a calagem deve ser suficiente para neutralizar o Al trocá vel e assegurar
teores adequados de Ca e Mg no solo, sendo o valor de pH de interesse secundá rio (Mohr,
1960; Coleman et al., 1958; Cate, 1965; Kamprath, 1967, 1970 ).
Como a acidez trocá vel é o grande componente relacionado em acidez dos solos,
desenvolveram-se mé todos de recomenda çã o de calagem baseados unicamente no teor
de acidez trocá vel. Assim Kamprath (1967) sugeriu a f órmula:
NC = 2 x Al3+ (15)

Porém , em solos altamente intemperizados, a produtividade é limitada pela


deficiência generalizada de mitrientes, como o Ca e Mg. Conseqúentemente, a deficiência

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 239

de Ca é fator limitante para o bom crescimento radicular . Por isso, surgiram mé todos que
levam em consideraçã o a correçã o do AI trocá vel e, também, o fornecimento de Ca e Mg.
Algumas variações de uso desse critério sã o utilizadas para estimar a NC e, como exemplo,
é apresentada a proposta de Sousa & Lobato ( 2004) para a Regiã o do Cerrado.
a ) Para solos com CTCPH 7,0 maior que 4,0 cmolc dm 3, teor de argila acima de 15 % e
'

teor de Ca + Mg menor que 2,0 cmolc dm 3, é utilizada a Eq. 16:


'

-
NC = (2 x Al ) + [2 (Ca + Mg) ] (16)

b ) Para solos com CTCPH 7,0 maior que 4,0 cmolc dm 3, teor de argila maior que 15 %
'

e teor de Ca + Mg maior que 2,0 cmolc dm 3, recomenda -se a Eq. 17.


'

NC = ( 2 x Al ) (17)

c) Quando se tratar de Neossolos Quartzarênicos ( teor de argila menor que 15 % ), a


NC é dada pelo maior valor encontrado nas duas alternativas ( Eq. 17 ou 18).

NC = 2 - (Ca + Mg) (18)

O mé todo do Al, Ca e Mg trocá veis, como apresentado, para estimar a necessidade


de calcá rio, é semi-empírico. Ele nã o considera o poder tampã o dos solos e não permite
o cá lculo da calagem levando em consideraçã o as exigências das diferentes culturas.
Além disso, em algumas situações, a quantidade de corretivo recomendada nã o é suficiente
para controlar a toxidez de Mn.
A recomenda çã o da NC de acordo com a Equa ção 16, foi utilizada , principalmente
nos Estados de Goiás e de Minas Gerais (CFSEMG, 1978). Entretanto, para a cultura do
cafeeiro Freire et al. (1984) recomendam a utiliza çã o da f ó rmula:
NC = 2A13+ + [3 - (Ca 2 + + Mg2+ ) ] (19)

Para melhorar a capacidade preditiva desse mé todo, considerou-se o poder tampão


( PTH), sendo a correçã o das deficiências de Ca e Mg feita com a nova f ó rmula (CFSEMG,
1989 ):
NC = YA13+ + [ X - (Ca 2+ + Mg2+ ) ] ( 20)

em que o valor de Y varia com o PTH e é estimado pela textura do solo, e X varia de acordo
com as exigências das culturas.
Quando os teores de Ca 2+ + Mg2+ ultrapassam o valor de X, utiliza -se somente a
primeira parte da f órmula:
NC = Y x Al3+ (21)

O mé todo adotado na 5a Aproxima çã o de Recomenda ções para Uso de Corretivos e


Fertilizantes em Minas Gerais (Quadro 9) utiliza a f ó rmula ( Alvarez V. & Ribeiro, 1999):

NC = Y [ Al 3+ - ( mf x t / 100) ] + [ X - (Ca 2+ + Mg2+) ] (22)

FERTILIDADE DO SOLO
240 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.

Quadro 9. Valores má ximos de satura çã o por Al3+ tolerados pelas cultura ( mt ), valores de X
para o mé todo do Al e do Ca + Mg trocá veis ( NCAlCaMg ) para algumas culturas e valores de
satura çã o por bases ( Ve) que se procura atingir pela calagem com a utiliza çã o do mé todo
de satura çã o por bases ( NCV )

Cultura mt X Ve

% emole dm -3 %
Cereais ( milho, trigo , sorgo , arroz ) 15- 25 2, 0 50
Leguminosas ( feij ã o , soja , adubos verdes ) 20 2,0 50
Hortali ç as ( tomate, repolho , alho, ervilha ) 5 3, 0 60 - 70
Caf é 25 3, 5 60
Cana -de - a çú car 30 3,5 60
Fruteiras tropicais ( mamoeiro , citros, banana , abacaxi ) 5-15 2, 0 -3,5 60 -80
Pastagens
Leguminosas 15- 25 1, 0 - 2 ,5 40 - 60
Gram í neas 20 - 30 1,0 - 2 , 0 40 - 50
Eucalipto 45 1, 0 30

Fonte: Adaptado de Alvarez V . & Ribeiro (1999 ).

em que Y varia com o PTH e pode ser definido de acordo com a textura do solo pela
equação:
Y = 0,0302 + 0,06532 Arg - 0,000257 Arg2; R2 = 0,9996 (23)

M étodo da Saturação por Bases

Catani & Gallo (1955) propuseram o cá lculo da NC com base na rela çã o entre pH e
satura çã o por bases do solo segundo a f órmula:
NC = [(H + A1) (i2 - ij)] / (100 - ij) (24 )

em que ii é a saturaçã o por bases atual do solo e Í2 a satura çã o por bases desejada . O
valor de ij é obtido pela equa çã o:

ii = (PHH2O - 4,288) / 0,03126

Esse crité rio foi alterado por Raij (1981), passando para:
NC = T ( Ve-Va ) / 100 (25)

em que CTCpH 7,0 = T = (H + Al ) + K + + Ca 2+ + Mg2+ + Na + em cmolc dm 3; Va = saturaçã o "

por bases atual do solo (%); Ve = satura çã o por bases desejada ou esperada (% ).
O valor de Na + trocável nã o é normalmente considerado nos cá lculos, devido ao seu
baixo teor na maioria dos solos á cidos brasileiros. O valor de Va = [(K + Ca + Mg) /
CTCPH 7,0] 100.

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREçãO 241

A vantagem deste mé todo está na flexibilidade de recomendaçã o da calagem para


diferentes culturas . Com base na rela çã o entre o pH (á gua ou cloreto de cálcio) e a
satura çã o por bases do solo ( Figura 12), pode-se calcular a necessidade de calagem de
acordo com as exigências das culturas.

Figura 12. Rela çã o entre valores de pH em á gua e satura çã o por bases, na camada de 0-20 cm
de solos da Regiã o do Cerrado .
Fonte: Sousa et al. (1989 ) .

A f ó rmula pode ser simplificada segundo as equa ções 26 e 27, conforme sugerido
por Sousa et al. (1989 ),
NC = ( VeT / 100) - SBa (26)

para Ve igual a 60 %:
NC = 0,6 T - SB ( 27)
O mé todo da satura çã o por bases tem a importante caracter ística de considerar a
facilidade dos cá lculos e a flexibilidade de adapta çã o para diferentes culturas ( Raij,
1991).
Existem tabelas com os valores de Ve mais adequados para cada cultura . E importante
ressaltar que essas recomendações de Ve sã o v álidas para os solos em que o mé todo foi
calibrado, devendo-se ter cuidado na sua extrapola çã o. Para solos de Minas Gerais e, em
geral, para os de Cerrado, os valores Ve estã o apresentados no quadro 9.
Quando se comparam alternativas de estimar a NC para solos da Regiã o do Cerrado
(Quadro 10), observa-se que o mé todo da satura çã o por bases e o do SMP recomendaram,
em média, 3,1 t ha 1 de calcá rio. O mé todo baseado nos teores de Al, Ca e Mg trocá veis
"

recomendou 2,6 t ha 1, ou seja, 16 % menos calcá rio que os demais e elevou a saturaçã o por
"

bases dos solos para valores médios de 49 % ( Sousa et al ., 1989). Utilizando-se esse critério,
há tendência de superestimar a recomenda çã o de calcá rio para solos arenosos com baixa
CTCpH 7,0 ( menor que 4,0 cmolc dm 3) e subestimá-la para solos com CTCPH 7,O alta (maior que
"

12,0 cmolc dm 3).


"

FERTILIDADE DO SOLO
242 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.

Quadro 10 . Doses de calcá rio estimadas por quatro mé todos em trinta amostras de solos da
camada de 0-20 cm da Regiã o do Cerrado

D o s e d e c a l cá r i o
Mé t o d o
M ín i m a Máx i m a M éd i a

t ha 1

Satura çã o por bases de 50 % padr ã o 0) 0,7 10 ,3 3, 3


Satura çã o por bases de 50 % estimando Al + H ( 2) 0,8 10, 7 3, 0
SMP para pH em á gua de 6 , 0 (3) 0, 6 10 , 1 3,1
Al , Ca e Mg troc á veis < 4 ) 2, 2 6, 2 2, 6
(i )
Determinada com acetato de c á lcio 0,5 mol L 1 a pH 7,0. (2 ) H + Al estimado por meio do pH SMP. (3) Dose estima -
*

da por meio do pHSMP' obtido da regressã o entre a acidez potencial e o pHSMP ( 4 ) Segundo Sousa et al . (1989) .
"

Fonte: Segundo Sousa et al. (1989 ).

Os crité rios utilizados para recomenda çã o de calcá rio estã o bem regionalizados no
Brasil. Assim, a Regiã o Sul utiliza predominantemente o mé todo da solu çã o- tampã o
SMP para se atingir pH em água de 5,5; 6,0 ou 6,5. Nas Regiões Sudeste e Centro Oeste,
utiliza-se o m é todo da satura çã o por bases com recomenda ções entre 30 e 70 %, e, nas
Regiões Sudeste, Norte e Nordeste, o crité rio do Al, Ca e Mg trocá veis.

Quantidade de Calc ário a ser Aplicada


A necessidade de calagem ( NC) definida com os diferentes crité rios ou mé todos
anteriormente apresentados indica a dose, a quantidade de CaC03 ou calcá rio com PRNT
= 100 % a ser incorporado por hectare, na camada de 0-20 cm de profundidade. Esta
seria a situa çã o teó rica do uso do calcá rio. Segundo Alvarez V. & Ribeiro (1999), a
determina çã o da quantidade de calcá rio a ser usada deve considerar:
- a percentagem da superf ície a ser coberta pela calagem (sc);
- a profundidade (cm ) na qual será incorporado o calcá rio (p ) e,
- o PRNT do calcá rio a ser utilizado.
Portanto, a quantidade de calcá rio (QC) a ser usada , em t ha 1, ser á: '

QC = NC (sc / 100) (p / 20) (100 / PRNT) (28)

Por exemplo, a quantidade de calcá rio (PRNT = 90 %) em lavoura de caf é, cuja NC é


de 6 t ha 1, a á rea a ser corrigida em faixas de 75 % e profundidade de incorpora çã o 8 cm,
'

será:
QC = 6 (75 / 100) (8 / 20) (100 / 90) = 2,0 t ha 1 (17 > '

,
( 7)
Essa equa çã o, com fundamenta çã o matem á tica indiscut í vel, n ã o se aplica, por exemplo, para a
recomenda çã o de calagem em sistema plantio direto ( veja cap í tulo XV ). As doses de calcá rio
aplicadas em lavouras de caf é já estabelecidas ou em florestas de eucalipto, se adotada essa
equa çã o, seriam muito menores que as normalmente utilizadas.

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çãO 243

Efeitos da Calagem em Culturas

Muitos trabalhos relatam os efeitos benéficos da calagem para culturas anuais e


perenes, resultando em aumentos importantes de produtividade. Fagundes et al. (1953)
já apontavam a acidez do solo de Cerrado como um dos fatores responsá veis pela baixa
produtividade das culturas. Esses autores chegaram a dobrar as produtividades de
milho e de amendoim com aplica çã o de 4 t ha 1 de calcá rio, comparada com as obtidas
'

sem utiliza çã o desse corretivo.


Os efeitos prejudiciais da acidez do solo no crescimento e desenvolvimento das
culturas variam entre espécies de plantas e mesmo entre variedades e ecó tipos dentro da
mesma espécie. Estudos de McClung et al. (1957, 1961) e de Mikkelsen et al . (1962), em
solos de Cerrados de Sã o Paulo e Goiás, indicaram respostas à calagem do capim- jaraguá
e pangola , de alfafa, algod ã o, milho e soja . Couto et al . (1988) observaram, em campo,
resposta do capim Andropogon gayanus ao calcá rio. Dentre as espécies de gramíneas e
leguminosas forrageiras, existem diferenças no grau de adapta çã o às condições do solo
(Vilela et al., 2000; Sousa et al., 2001). Para espécies pouco exigentes em fertilidade, como
Andropogon gayanus cv . Planaltina, Brachiaria decumbens e B . humidicola , recomenda -se a
satura çã o por bases de 30 a 35 % e, muito exigentes como o capim elefante e napier, a
satura çã o por bases é de 50 a 60 %.
A produtividade de grã os de culturas, como milho, soja , trigo e feijão, aumenta com
a satura çã o por base até 40 %, estabiliza entre valores de 40 e 60 % e diminui quando a
satura çã o por base é maior que 60 %. Para valores de satura çã o por base maiores que
60 % ( Figura 13), o pFl em á gua do solo pode ficar acima de 6,3 e, nessa situaçã o, ocorrer
deficiência de micronutrientes.

Figura 13. Relaçã o entre produtividade de gr ãos de algumas culturas anuais e saturaçã o por
bases na camada ar á vel de solos de Cerrado.
Fonte: Sousa & Lobato ( 2004).

FERTILIDADE DO SOLO
244 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .

No Estado de Sã o Paulo, recomenda -se calagem para atingir a satura çã o por bases
de 70 % no solo, para culturas de milho, soja e feijã o ( Raij, 1991) . Para solos da Regiã o de
Cerrados, recomenda -se a satura çã o de 50 % para essas culturas (Sousa & Lobato, 2004).
Assim, o pH em á gua do solo e a satura çã o por bases a serem atingidos dependem do
sistema de produção, das espécies que serã o utilizadas e da intensidade de uso do solo,
dentre outros fatores regionais.

Escolha do Corretivo

A acidez do solo pode ser neutralizada, utilizando-se v á rios compostos que podem
liberar OH e, ou, HC03\ A substâ ncia padrã o na correção da acidez do solo é o CaC03
'

com mol de carga ( molc) igual a 50. Ao CaC03, é atribuído o valor neutralizante ( VN ),
bem como o poder neutralizante (PN) de 100 %. A equivalência de outros compostos em
rela çã o ao CaC03 é feita pela rela çã o entre os respectivos pesos do molc. Por exemplo,
para o Ca (OH) 2 que tem peso do molc de carga igual a 37, essa rela çã o é de 50 / 37 = 1,35.
Isto significa que 100 kg de Ca (OH) 2 tem o mesmo efeito na correção da acidez que 135 kg
de CaC03 ( VN = 135 %) (Quadro 11) .
A eficiência dos corretivos depende do teor de substâ ncias capazes de liberar OH '

ou HC03 (neutralizantes), tamanho das partículas (grau de moagem ), estrutura cristalina


do material e teor de Mg. Os corretivos mais utilizados na neutraliza çã o da acidez do


solo sã o os calcá rios (Quadro 12).
A qualidade dos corretivos varia com a granulometria e com o poder de neutralização
( PN) do material. Com base na granulometria , determinam-se a reatividade (RE ) e a
velocidade de rea çã o do corretivo no solo.

Quadro 11. N ú mero de mol de carga ( molc) em um kilograma de diferentes corretivos e seus
correspondentes valores neutralizantes (equivalente em CaC ) 03

Corretivo Fó rmula N° molc kg-1 VN ( o/o )

Carbonato de c á lcio (calcita ) CaC03 20, 0 100


Carbonato de magn é sio ( Magnesita ) MgC03 23,7 119
Carbonato de cá lcio e magn ésio ( Dolomita ) CaCOa . MgCOa 21,7 109
Hidr ó xido de c á lcio Ca (OH ) 2 27, 0 135
Hidr ó xido de magn é sio Mg (OH ) 2 34,3 172
Ó xido de cá lcio CaO 35,7 179
Ó xido de magn ésio MgO 49,60 ) 248 ( 2 )
Silicato de c á lcio CaSi03 17,2 86
Silicato de Magn ésio MgSiC>3 19,9 100

> 1.000 g de MgO = 49,6


(1

1
molc kg 1 (1.000 / 20,15), pois 11 molc de MgO corresponde a 20,15 g de MgO.
' ( 2)
Como
20 molc kg de CaC03 sã o iguais a 100 %, 49,6 molc kg de MgO sã o iguais a 248,14 %.
' '

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 245

Quadro 12 . Caracter ísticas mínimas de poder de neutraliza çã o ( PN ) e soma dos ó xidos dos
principais corretivos de acidez

Material PN CaO + MgO

%
Calc á rios 67 38
Cal virgem agr ícola 125 68
Cal hidratada agr ícola 94 50
Esc ó rias 60 30
Calc á rio calcinado agr í cola 80 43
Outros 67 38

Fonte: Brasil (1998 ) -

A reatividade de um calcá rio depende, em parte, de sua natureza geológica . Os de


natureza sedimentar sã o mais reativos do que os metamó rficos ( Alcarde, 1985), e a
reatividade depende, fundamentalmente, da granulometria do material, que permite
estimar a eficiê ncia relativa ( ER ) .
A rea çã o de neutraliza çã o da acidez do solo pelos calcá rios se dá pelo contato entre
a superf ície das partículas do corretivo e a soluçã o do solo. Como os calcá rios são
originalmente de baixa reatividade, é necessá rio que suas partículas sejam de tamanho o
menor possível, pois, quanto menores suas partículas, maior a superf ície específica e
maior a á rea de contato ou de rea çã o.
Em rela çã o à granulometria, a legislaçã o atual determina as seguintes características
mínimas: passar 100 % por peneira de 2 mm ( ABNT N° 10); 70 % por peneira de 0,84 mm
( ABNT N° 20), e 50 % por peneira de 0,30 mm ( ABNT N° 50) . É permitida uma tolerâ ncia
de retençã o de 5 % na peneira de 2 mm.
Considerando a granulometria, pode-se avaliar a ER no per íodo de aproximada -
mente três meses (Quadro 13).
O teor de neutralizantes é avaliado pelo poder de neutraliza çã o (PN), expresso em
equivalente de carbonato de cá lcio (equivalente em CaCOs). A partir do PN e da ER,
calcula -se o poder relativo de neutraliza çã o total (PRNT ) do corretivo (Eq. 29 ). Para os
calcá rios, a legisla çã o brasileira estabelece como valores mínimos 67 % para o PN, e
45 %, para o PRNT.

PRNT = ( PN x ER ) / 100 (29 )

Por exemplo, o PN (96 %) de um calcá rio çom 39 % de CaO e 13 % de MgO é menor


que o VN [39 (179 / 100) + 13 ( 248 / 100) = 102 %], em razã o da presença de parte de Ca e
Mg em compostos químicos que nã o neutralizam a acidez.
A ER é igual à média ponderada da ER das classes de partículas ( Quadro 13) com a
granulometria da amostra analisada (Quadro 14):

FERTILIDADE DO SOLO
246 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.

Quadro 13. Reatividade de calcá rios ou eficiê ncia relativa (ER ) de acordo com sua granulometria

Fra çã o granulomé trica ER

mm Peneira ABNT %
> 2,00 retida N° 10 0
0 ,84 - 2,00 passa N° 10, retida N° 20 20
0,30- 0,84 passa N° 20, retida N° 50 60
< 0,30 passa N° 50 100

Quadro 14. Exemplo de caracter ísticas químicas e granulomé tricas de um calcá rio comercial

Caracter í stica qu í mica Granulometria

% mm g
CaO 39 > 2,00 5
MgO 13 0,84 - 2,00 25
PN 96 0,30- 0 ,84 50
< 0,30 120

ER = ((0 X 5) + ( 20 X 25) + (60 x 50) + (100 x 120)) / (5 + 25 + 50 + 100) = 77,5 %


Assim:
PRNT = 96 x 77,5 / 100 = 74,4 %
A legisla çã o atual determina também que os corretivos comercializados dever ã o
apresentar características mínimas (Quadro 12).
Com base na dose e nas caracter ísticas do calcá rio, muitas informa ções podem ser
obtidas:
A aplicaçã o de 1,0 t ha 1 de CaCCb (PRNT '

= 100 % ) corresponde ao acréscimo de


1,0 cmolc dm 3 de Ca 2+ no solo (0-20 cm )
'

Pò rtanto:
Para qualquer calcá rio, independentemente de sua rela çã o Ca:Mg:
1,0 t ha 1 deste calcá rio x seu PRNT / 100 = cmolc dm 3 de (Ca 2+ + Mg2+ ) no solo
" '

ou:
1,0 t ha 1 de ( XO(18) / 100) (VN ( 19) / 100) (RE / 100) = cmolc dm 3 de X no solo.
" "

{18)
X = Ca ou Mg
(19)
Assumindo VN e XO em % de CaO ou de MgO no calcá rio ~ PN do respectivo ó xido CaO com
VN = 179 % e MgO = 248 %.
\

FERTILIDADE DO SOLO
I
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çãO 247

Como exemplo: a aplica çã o de 5 t ha 1 de um calcá rio, com 30 % de CaO e 20 % de


'

MgO e com RE = 100 %, vai acrescentar ao solo, depois da reaçã o completa do calcá rio:

5,0 x 0,30 x 1,79 x 1,0 = 2,68 cmolc dm 3 de Ca 2+'

5,0 x 0,20 x 2,48 x 1,0 = 2,48 cmolc dm 3 de Mg2+ '

Pode-se dizer , ainda , que o PRNT deste calcá rio = (cmolc dm 3 de Ca2+ + cmolc dm 3
' '


de Mg2+ ) / dose de calcá rio em ( t ha 1 ) = ( 2,68 + 2,48) / 5,0 = 1,032 > 103,2 % de PRNT.
"

Um dos fatores limitantes do solo á cido pode ser, também, o seu baixo conteúdo de
Ca e de Mg. Assim, a aplicaçã o de um calcá rio que contenha Mg terá, aliada ao seu efeito
neutralizante da acidez, a adiçã o de quantidade adequada de Mg, o que, evidentemente,
não acontece quando se utiliza calcá rio calcítico.
A rela çã o Ca:Mg é outra característica importante do corretivo, sendo que a relaçã o
apropriada varia de acordo com o solo e com as culturas. Uma relação molar comumente
recomendada é a de 3:1 ou 4:1. Entretanto, n ã o se deve descartar o uso de calcá rios
calcíticos como corretivo, podendo-se complementar a adubaçã o com fertilizantes que
contenham Mg, como o sulfato ou carbonato de Mg e mesmo o óxido de Mg. Algumas
vezes, os calcá rios dolomítico e magnesiano chegam ao agricultor a preços duas ou mais
vezes mais caro do que o calcá rio calcítico.
Pelos teores de Mg, os calcá rios podem ser classificados em:

a ) Calcíticos - menos de 5 % MgO


b ) Magnesianos - entre 5 e 12 % MgO
c) Dolomíticos - maior de 12 % MgO
Quanto ao PRNT, os calcá rios podem ser classificados nos grupos:
a ) Grupo A - PRNT entre 45 e 60 %
b ) Grupo B - PRNT entre 60,1 e 75 %
c) Grupo C - PRNT entre 75,1 e 90 %
d ) Grupo D - PRNT superior a 90 %
O PRNT é um índice de valor prá tico, que caracteriza o poder neutralizante efetivo
dos corretivos de acidez. Quando se dispõe de produtos com valores de PRNT e preços
diferentes, deve-se escolher o corretivo mais barato por tonelada efetiva, de material
corretivo, considerando-se, também, os custos do frete e da distribuição na á rea. A decisão
final dever á considerar o preço por tonelada efetiva do corretivo.

Preço por tonelada efetiva = 100 x preço por tonelada na propriedade / PRNT (30)

Quanto à qualidade de calcá rio, devem-se considerar sua capacidade de neutralizar


a acidez do solo, o poder de neutralizaçã o (PN ), a reatividade do material (ER ), que
considera sua natureza geológica e sua granulometria, e o conteú do de nutrientes,
especialmente de Mg.

FERTILIDADE DO SOLO
248 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.

O poder neutralizante avalia o teor de materiais neutralizardes do calcá rio, ou seja,


a capacidade de rea çã o dos â nions presentes. Ele é expresso em %, considerando o
CaC03 como padr ã o igual a 100 % e determinado em laborató rio por meio do poder de
neutraliza çã o direta de á cido clorídrico ( Duarte et al., 1993) .
As rea ções de alguns corretivos no solo sã o indicadas nas seguintes reações, junto
com as massas molares de carga:

_IH
T
T
_IH
+ CaC03

+ CaO
-n Ca + C02|+ H20

Ca + H20
molc

do corretivo (g)
50

28

T1 H
Ca (OH) 2 <-> Ca + 2H20 37

T
_JH * MgO Mg + H20 20,15

Como já indicado, a capacidade de neutralizar a acidez do calcá rio també m pode


ser estimada por meio de seus teores percentuais de Ca e Mg, o que se denomina valor
neutralizante - VN.
Como parte desses cá tions podem estar combinados com â nions de reação neutra, o VN
pode superestimar o PN do calcá rio. Assim, VN e PN sã o duas determinações diferentes.
O VN de v á rios compostos qu ímicos é expresso tamb é m em percentagem,
considerando, como padr ã o, o CaC03 ( VN = 100 %) . Como 1.000 g de CaC03 equivalem
a 20 molc, considera -se que todo composto que em 1 kg de material tenha 20 molcterá
VN = 100 %.
Quanto à reatividade do calcá rio no solo com o tempo de cultivo, verifica -se que um
período de três anos é bastante razoá vel para que essa reação se complete. Quaggio et al.,
(1982) observaram que, após trinta meses de incorpora çã o de 12 t ha 1 de calcá rio '

(PRNT = 57 %) ao Latossolo Vermelho distrófico de Cerrado cultivado com soja, cerca de


1 / 3 do corretivo ainda nã o tinha reagido. Outros dados mostram que, em média, 50 %
do calcá rio aplicado reagiu no primeiro ano; 30 %, no segundo, e o restante, no terceiro
ano após sua aplica çã o (Sousa & Lobato, 2004 ).
Sousa & Lobato (2002) reaplicaram a dose de 2,8 t ha 1 de calcá rio (PRNT = 100 %)
'

na superf ície de um Latossolo Vermelho argiloso de Cerrado, cultivado com milho no


sistema plantio direto . O corretivo reagiu gradativamente com o tempo de cultivo,
atingindo valores de rea çã o correspondentes a 23, 44, 65 e 100 % do total utilizado,
respectivamente, após um, dois, três e seis anos da aplica ção. Essa menor taxa de rea çã o
do calcá rio em plantio direto era esperada, devido à menor a á rea de contato do corretivo
com o solo . Com o corretivo nã o incorporado, a á rea de contato na superf ície atinge
valores de pH próximos a 7,0 que reduz, també m, a taxa de sua dissoluçã o. Doses

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 249

menores de calcá rio e CTCPH 7,0 maiores podem tornar mais r á pida a rea çã o do corretivo
no solo com plantio direto.
Em geral, a velocidade de rea çã o do calcá rio é diretamente proporcional ao seu
PRNT, sendo beneficiada, também, pela melhor uniformidade de sua mistura com o solo.
Após a rea çã o do calcá rio, o processo de acidifica çã o do solo se reinicia, com intensidade
diferenciada, dependendo do sistema de preparo do solo, das fontes de adubo nitrogenado
e da rota çã o de culturas.

Época e Modo de Aplicação do Calc ário

Os corretivos de acidez do solo sã o, usualmente, aplicados de modo uniforme na


superf ície e, em seguida, incorporados ao solo . Quando se utilizam doses elevadas,
maiores que 5 t ha 1, existem vantagens no parcelamento. Sugere-se distribuir metade da
'

dose após a abertura da á rea e incorpor á -la com grade pesada, efetuando-se a cata çã o de
ra ízes e limpeza da madeira remanescente na á rea . Entã o, aplica -se a segunda metade
da dose, incorporando-a com arado de discos na camada de 0-20 cm . Se for necessá rio
utilizar calcá rio em á reas j á cultivadas com sistema de preparo convencional, a
incorpora çã o deve ser feita com arado de discos.
Alguns agricultores têm usado doses menores de calcá rio de alto PRNT, denominado
"Filler", no sulco de plantio. Esse corretivo pode fornecer os nutrientes Ca e Mg, por ém,
como corretivo de acidez, pode ser ineficiente. Corre-se o risco de ocorrer a concentra çã o
das raízes no pequeno volume de solo corrigido, favorecendo o tombamento das plantas
e aumentando o prejuízo da seca decorrente do pouco crescimento radicular (20) .
Portanto, essa aplica çã o no sulco só é v álida para suprir Ca e Mg como nutrientes
para as plantas. Nesse caso, doses de até 0,5 t ha 1 solucionariam o problema . Contudo,
'

quando o solo apresenta acidez elevada, os acr éscimos em produtividade podem ser
bastante limitados, quando se utiliza essa técnica. O parcelamento da dose de 4 t ha 1 de '

calcá rio, em oito aplica ções, em quatro anos de sequência soja-trigo, foi testado (Figura 14).
A produtividade m á xima da soja só foi obtida no quarto ano de cultivo (oitavo cultivo na
á rea ), quando a soma das aplica ções parceladas de 0,5 t ha 1 atingiu o total da dose de
'

4 t ha 1 recomendada para esse solo. No sistema cultivo de sequeiro, com apenas um


'

cultivo por ano, essa dose seria aplicada em oito anos.


É preciso considerar que a aplica çã o do calcá rio no sulco de semeadura corrige
apenas pequeno volume do solo, restringindo o crescimento do sistema radicular das
culturas em solos á cidos, o que pode limitar a absor çã o de á gua e de nutrientes. Por
outro lado, a correçã o de todo o volume de solo propicia melhores condições para o
crescimento das raízes em toda a á rea corrigida. A combina çã o desses dois mé todos de
aplicação de calcá rio, a lanço e no sulco, seria boa alternativa para regiões com alto
custo dos corretivos.

(20)
A pr á tica "Filler" seria recomendada, por exemplo, para Neossolos Quartzar ê nicos, com pH 5,5,
sem Al3+, e com teores de Ca 2 + e Mg 2+ muito baixos, insatisfat órios.

FERTILIDADE DO SOLO
250 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.

Figura 14. Produçã o relativa de quatro cultivos de soja em rota çã o com trigo irrigado, na dose
total de 4 t ha -1 de calcá rio a lanço no primeiro ano, e parcelada em oito aplica ções de
0,5 t ha 1 no sulco, em solo Gleissolo Há plico.
'

Fonte : Miranda (1993) .

A utilização inadequada do calcá rio pode resultar em deficiência de micronutrientes


na lavoura . Quando ocorrer essa deficiência, sugere-se utilizar a análise do solo como
ferramenta de diagnóstico. Recomenda -se efetuar amostragem de solo estratificado nas
camadas de 0-10, 10-20 e 20-30 cm, para verificar se o problema foi resultante da in-
corporação superficial do calcário. Nesse caso , deve-se utilizar um implemento agrícola que
misture o calcá rio até 20 cm. Por outro lado, se foi utilizada dose excessiva de calcá rio,
recomenda-se aplicar os micronutrientes em deficiência via adubação foliar, enquanto a
satura çã o por bases vai sendo, gradativamente, reduzida a niveis favor á veis.
O calcá rio apresenta efeito residual que persiste por v á rios anos de cultivo com
culturas anuais ou forrageiras ( Neme & Lovadini, 1967; Gonzalez-Erico, 1976; Raij et al.,
1977; Embrapa, 1982) . Efeitos residuais do calcá rio, com manutençã o da saturaçã o por
bases do solo em níveis adequados por vá rios cultivos sucessivos, têm sido observados
em solo de Cerrado (Quadro 15). No primeiro ano, foi cultivada a soja, seguida de trigo
irrigado no período seco, completando sete cultivos dessa sequência até o oitavo ano de
incorpora çã o do calcá rio. Posteriormente, foi efetuada a sequência de cultivos de soja e
milho no período chuvoso até o décimo ano. A durabilidade do efeito residual do calcá rio
depende da dose utilizada, podendo o manejo adequado do solo maximizar esse efeito.
Deve-se fazer, també m, uma utilizaçã o criteriosa dos fertilizantes, principalmente
amoniacais, que podem acidificar o solo .
Prá ticas conservacionistas poderã o tamb é m favorecer maior efeito residual do
calcá rio, como pode ser observado após seis anos da incorporação do corretivo (Figura 15).
A á rea preparada anualmente com arado de discos e grade niveladora apresentou

FERTILIDADE DO SOLO
t

V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çãO 251

Quadro 15. Valores de saturaçã o por bases de um Gleissolo Há plico, ap ós diferentes per íodos
de tempo da incorpora çã o de doses crescentes de calcá rio (PRNT = 100 % )
;

Tempo ap ó s incorpora çã o inicial ( ano )


Dose de calc á rio
1 4 8 10

t ha 1 %
0 14 12 9 6
2 30 29 19 17
4 44 45 35 31
8 61 71 57 56

Fonte: Miranda (1993); Miranda & Miranda ( 2000) .


- K

Figura 15. Valores de pH de um Latossolo Vermelho- Amarelo muito argiloso em diferentes


profundidades, após seis anos de aplica çã o do calcá rio em dois sistemas de preparo do
solo.
Fonte: Sousa & Lobato (2004).

processo de acidifica çã o mais intenso até 20 cm de profundidade, necessitando 35 %


mais calcá rio que a á rea sem preparo, para elevar a satura çã o por bases do solo para
50 %. Outra observação importante é que, na á rea sem preparo, o processo de acidificaçã o
foi bastante intenso nos 5 cm superficiais do solo.
1
A análise do solo é ferramenta importante para monitoramento das condições
químicas adequadas para o cultivo. Como o calcá rio apresenta efeito residual prolongado,
seria necessá rio fazer nova análise de solo para avaliar a necessidade de calcá rio, depois
de três anos de cultivo. Recomenda-se a reaplica ção do calcá rio para os solos do Cerrado,
quando a satura çã o por bases for menor que 35 %, no sistema de sequeiro, e menor que

FERTILIDADE DO SOLO

;&
252 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .

40 %, nos sistemas irrigado e plantio direto . Sugere-se aplicar calcá rio para elevar a
saturaçã o por bases do solo para 50 %, nos cultivos de sequeiro e de plantio direto e, para
60 %, nos cultivos irrigados. A reaplica çã o do calcá rio deve ser feita a lanço e sem
incorpora çã o, no sistema plantio direto, e incorporado com arado de discos, no sistema
convencional.
A calagem deve ser considerada como investimento e, no c á lculo de sua
economicidade, sã o englobados per íodos de amortiza çã o ao redor de cinco a seis anos
(Sousa & Scolari, 1986) . O uso do calcá rio tem participa çã o no custo de "construçã o da
fertilidade do solo" ( transforma çã o de solos de baixa fertilidade em solos f érteis), entre 5
e 8 % para culturas de sequeiro. Essa opera çã o deve seguir as recomendações, visto que
o uso de doses abaixo ou acima das indicadas tem efeito direto na queda da produtividade.
Avaliações económicas de experimentos com diferentes doses de calcá rio e cultivados
por nove anos com culturas anuais, apresentadas por Miranda et al. (1980) e Sousa et al.
(1985), mostram a viabilidade do uso do calcá rio. A margem de lucro bruto dos
tratamentos com calcá rio foi superior entre 68 e 122 % à do tratamento sem calagem.
Considerando o per íodo de nove anos de avalia çã o, para cada unidade monetá ria
investida em calcá rio, o retorno médio para as diferentes doses de calcá rio foi de dez
unidades monetá rias. Em caso de nã o utiliza çã o do calcá rio, o melhor investimento
alternativo para o produtor renderia 20 %.

Supercalagem
A quantidade de calcá rio a aplicar deve ser definida pela análise de solo para evitar
aplica çã o de quantidade superior à necessá ria . A calagem em excesso é tã o prejudicial
quanto a acidez elevada, com o agravante de ser muito mais dif ícil corrigi-la . Com a
supercalagem, há a precipitaçã o de diversos nutrientes do solo, como P, Zn, Fe, Cu, Mn,
mineraliza çã o da matéria orgâ nica, etc.
A supercalagem pode ocorrer quando o calcá rio é incorporado a apenas 10 cm,
embora o método recomende a incorpora çã o entre 0-20 cm. Essa supercalagem acontece,
por exemplo, quando se aplica em covas para transplantio de mudas de caf é
(40 x 40 x 40 cm ) uma dose padrã o de 500 g de calcá rio.
Para essa cova e para uma NC = 6,0 t ha -1 e calcá rio com PRNT = 74,4 %, devem-se
adicionar:
QC = 6 (64 / 2.000.000 ) (100 / 74,4) = 258 g / cova

CORREÇÃ O DA ACIDEZ DO SOLO


EM PROFUNDIDADE
Incorporação Profunda do Calcário
A deficiência de Ca em solos ácidos, associada ou nã o à toxidez de Al, ocorre na
camada superficial (0-20 cm ) e pode, também, estar presente nas camadas subsuperficiais.

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREçãO 253

Nesse caso, as raízes da maioria das espécies cultivadas cresceriam apenas na camada
superficial. Esse problema, aliado à baixa capacidade de retençã o de água dos solos,
pode causar diminuiçã o na produtividade das plantas, principalmente nas regiões de
maior ocorrência de veranicos. Para superar essa condiçã o, pode-se utilizar o calcá rio
com incorporaçã o profunda, o que possibilita aumento de produtividade das culturas
nos primeiros anos de cultivo (Figura 16).
O efeito benéfico da incorporaçã o profunda do calcá rio seria a reduçã o da saturaçã o
por AI em maior volume de solo (Quadro 16), favorecendo maior crescimento do sistema
radicrxlar e, conseqiientemente, maior absor çã o de á gua e de nutrientes do solo pelas
plantas. Entretanto, a diferença resultante da incorpora ção profunda do calcá rio diminui
com o tempo de cultivo, em decorrência da lixiviação de Ca, Mg e K da camada superficial,
que vai reduzindo gradativamente a satura çã o por AI no perfil do solo. Após o terceiro

i.

<

Figura 16 . Efeito de doses e de profundidade de incorporaçã o de calcário em um LV argiloso,


í na produtividade de grã os de milho, acumulada de três cultivos consecutivos .
Fonte : Gonzalez - Erico et al . (1979 ) .

Quadro 16 . Efeitos da profundidade de incorpora ção de 4 t ha 1 de calcá rio sobre a satura çã o


'

per alumínio (m) e crescimento radicular do milho

Profundidade incorpora çã o Camadas do solo m Raiz/volume solo


:
)
cm o/
cm /0 m dm * 3

i
\
0 - 15 0 - 15 6 91 , 2
15 - 30 55 34, 2
!

30 - 45 65 10,8

0 - 30 0 - 15 8 93, 0
15 - 30 20 65, 0
30 - 45 65 13, 7
Fonte: Gonzalez -Erico et al . (1979) .

FERTILIDADE DO SOLO
254 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.

ano de cultivo, a produtividade do milho nã o foi alterada pela profundidade de


incorpora çã o do calcá rio. A incorpora çã o profunda do corretivo fica limitada, muitas
vezes, pela impossibilidade de utiliza çã o de implementos agr ícolas apropriados, pela
presença de ra ízes da vegeta çã o natural nas á reas recém-incorporadas ao sistema
produtivo, bem como pelo custo elevado da mecaniza çã o.
A aplica çã o do calcá rio e sua incorpora çã o até 20 cm sã o as prá ticas mais comuns
na agricultura . Conseqiientemente, para que a calagem corrija a acidez e a deficiência de
Ca das camadas mais profundas do solo, é necessá rio um tempo maior de cultivo. Nessas
condições, nos solos com limita ções subsuperficiais, as raízes das plantas se concentram
na camada superficial e o agricultor fica exposto a perdas em produtividade das culturas,
ocasionadas por veranicos.

Gessagem
Outra alternativa de manejo da acidez em profundidade é a utilizaçã o do gesso para
melhoria do ambiente radicular, abaixo da camada corrigida pela calagem usual,
principalmente em solos com argilas de baixa atividade. Esse produto é aplicado na
camada superficial do solo e, após sua dissoluçã o, ir á fixar-se abaixo dessa, graças à sua
alta mobilidade nos primeiros centímetros do solo. A lixiviaçã o do Ca no perfil favorece
o aprofundamento das ra ízes e permite à s plantas superar veranicos e usar, com mais
eficiência , a á gua e os nutrientes disponíveis no solo.
As rea ções do gesso no solo, indicadas por Pavan & Volkweiss (1986 ), sã o apresen-
tadas abaixo, de forma resumida. Inicialmente, na camada superficial, ocorre a dissociação
do gesso, bem como a lixiviaçã o pareada dos íons Ca 2 + e S042 e do par iônico CaSO40.
'

2CaS04.2H20 -» Ca 2+ + S042 + CaSO40 + 4H 20


'

Depois, na camada subsuperficial, ocorrem a troca iônica do Al na superf ície de


troca pelo Ca e a forma çã o do par iô nico A1S04+, que nã o é tóxico para as plantas. O Al
pode, também, ser precipitado na forma de oxihidróxido (21).
O uso do gesso para gerar condições propícias ao crescimento radicular tem tido
maior abrangência nos solos da Regiã o do Cerrado que apresentam, em cerca de 80 % de
á rea, algum problema de acidez subsuperficial. A técnica de uso do gesso para esses
solos já está disponível (Sousa et al:, 1995) e tem permitido minimizar os efeitos dos
veranicos, principalmente nos meses de janeiro e fevereiro, é poca cr ítica para
desenvolvimento das culturas de grã os (Sousa & Ritchey, 1986).
Os trabalhos desenvolvidos com o gesso como melhorador ou condicionador do
ambiente radicular nas d écadas de 1970 e 1980 foram temas de dois importantes
seminá rios sobre "O uso do gesso na agricultura", realizados em junho de 1985 e mar ço
de 1992 e promovidos pelo Instituto Brasileiro de Fosfato. Nos seus anais, podem ser
encontradas informa ções adicionais .

, A atividade do Al em profundidade é diminu ída pelo aumento da força iônica da solução do solo e
(21

pela forma çã o de complexo com o F constituinte do gesso.


FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 255

Associa çã o do Gesso Agr í cola com o Calcá rio

Para corrigir a acidez e a deficiência de Ca e Mg em superf ície, a calagem é suficiente.


Entretanto, para corre çã o em profundidade, o gesso agr ícola ou mineral ajuda a
movimenta çã o de cá tions em profundidade para camadas subsuperficiais.
O gesso constitui importante insumo para a agricultura, mas, por suas características,
tem seu emprego limitado a situações particulares bem definidas. Seu uso indiscriminado
e sem crit é rios pode acarretar problemas em vez de benef ícios para o agricultor.
O gesso agrícola é basicamente o sulfato de cá lcio diidratado (CaS04.2H20) , obtido
como subproduto industrial. Para a produ çã o de á cido fosf órico, as ind ústrias de
fertilizantes utilizam, como maté ria -prima, rochas fosfatadas (apatita, especialmente a
fluorapatita ) que, ao serem tratadas com á cido sulf ú rico mais á gua, produzem, como
subprodutos da rea çã o, o sulfato de cá lcio e o á cido fluorídrico, conforme a rea çã o:

Caio(P04) 6F2 + IOPI2SO4 + 2OH 2O <—> 6H3PO4 + 10CaSO4.2H2O + 2P1F


O gesso agr ícola é um sal pouco sol ú vel em á gua ( 2,5 g L 1), mas que pode atuar
'

aumentando a for ça iônica da soluçã o do solo, de maneira que haja contínua liberaçã o
dos íons do sal para a soluçã o por longos períodos de tempo . Essa caracter ística, aliada
aos teores de Ca (170 a 200 g kg-1), S (140 a 170 g kg 1), P2O5 (6 a 7,5 g kg 1), F (6 a 7 g kg 1),
' ' "

Mg (1,2 g kg 1 ), micronutrientes (Fe, Mn, Zn, Cu, Ni, B, Mo) e de outros elementos (Co, Na,
'

Al, As, Ti, Sb, Cd ), permite que o gesso agr ícola possa ser utilizado na agricultura:
a ) como fonte de Ca e de S
b ) na correçã o de camadas subsuperficiais com baixos teores de Ca 2+ e de outras
bases trocá veis e, ou, com altos teores Al3+, com o objetivo de melhorar o ambiente
radicular das plantas.

A recomenda çã o do uso de gesso agr ícola com esta última finalidade pode implicar
a utiliza çã o de doses elevadas, devendo ser feita com base no conhecimento das
caracter ísticas f ísicas e qu ímicas dos solos , n ã o apenas da camada ar á vel, mas,
fundamentalmente, das camadas subsuperficiais.

Gesso Agr ícola como Fonte de C álcio e de Enxofre para as Culturas


Quanto à recomenda çã o de gesso agr ícola para fornecimento de S, doses de 100 a
250 kg ha 1 de gesso seriam suficientes para corrigir deficiências do elemento para a
'

maioria das culturas. Deve-se considerar o emprego de outros fertilizantes que contêm S
em sua formula çã o, tais como: superfosfato simples (120 g kg 1 de S), sulfato de amónio
'

(240 g kg 1 de S) e "Fosmag" (110 g kg 1 de S).


" '

Outro aspecto a considerar na aduba çã o com S é a textura do solo. Solos argilosos


tendem a apresentar maior capacidade de adsor çã o de sulfato, exigindo maiores doses
de S para atingir a disponibilidade adequada do elemento para as plantas.
Com rela çã o ao uso de gesso como fonte de Ca para as culturas, devem-se levar em
considera çã o alguns aspectos importantes: existem diferenças entre as culturas quanto

FERTILIDADE DO SOLO
256 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.

à demanda por Ca, sendo plantas como caf é e tomate muito responsivas ao nutriente, ao
passo que espécies florestais, como o eucalipto, apresentam exigência não tão elevada (22).
As características do solo podem, també m, alterar a movimenta çã o de Ca no perfil do
solo que, se excessiva, pode arrastar o elemento para camadas abaixo daquelas onde se
encontra o maior volume de ra ízes. A descida deste cá tion em profundidade modifica o
perfil de distribuição das raízes das plantas, aumentando o volume de solo a ser explorado
em nutrientes e, especialmente, em á gua .

Altera ções nas Caracterí sticas Químicas do Solo com o Uso do Gesso

Após a dissoluçã o do gesso agrícola aplicado no solo, cuja acidez da camada


superficial foi corrigida com calcá rio, o sulfato m òvimenta -se para camadas inferiores
acompanhado por cá tions, especialmente pelo Ca 2+. Com essa movimenta çã o de cá tions
para a subsuperf ície, os teores de Ca 2+ e de Mg2+ aumentam (Figura 17), acarretando
reduçã o no teor tóxico do Al e melhorando as condições do solo para o crescimento das
ra ízes. Esses efeitos já podem ser observados no mesmo ano agr ícola de aplicaçã o do
gesso. Quando o gesso é aplicado nas doses recomendadas para cada tipo de solo, nã o
se tem observado movimentação de K e Mg no perfil do solo em quantidades que possam
trazer problemas de perdas destes nutrientes.

Figura 17 . Distribuiçã o do íon sulfato e do c á lcio e magnésio troc á veis em diferentes


profundidades em um Latossolo Vermelho argiloso, sem ou com 2 t ha 1 de gesso, ap ós"

39 meses de sua aplica çã o.


Fonte: Sousa et al. (1995) .

( 22)
O eucalipto é muito tolerante ao Al3+, o que faz com que as doses de calcá rio recomendadas para
esta cultura sejam baixas. Por outro lado, a extra çã o de Ca pela planta toda é da ordem de 400 a
600 kg ha 1 de Ca .
*

FERTILIDADE DO SOLO
JffTT:' - -- -

V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 257

Em solo com umidade suficiente, o gesso agr ícola sofre dissoluçã o:

H2O 2+
2CaS04.2H20 <-» Ca + S 042 + CaS04° + 4H Q
'

Uma vez na solu çã o do solo, o Ca 2+ pode interagir com o complexo de troca do solo,
deslocando cá tions, como Al3+, K +, Mg2 +, para a soluçã o do solo, que podem, por sua vez,
reagir com o S042 formando A1SCV ( que é menos t ó xico às plantas ) e os pares iônicos
'

neutros: K 2SO40, CaSO40, MgSO40. Dada a sua neutralidade, os pares iônicos apresentam
grande mobilidade ao longo do perfil, ocasionando uma descida de cá tions para as
camadas mais profundas do solo. Entretanto, sais muito sol úveis, como os nitratos de
sódio e de potássio, e também o cloreto de potássio, cujos â nions têm pouca ou nenhuma
intera çã o com a fase sólida do solo, apresentam alta mobilidade no perfil, sendo
arrastados pela á gua e arrastando consigo aquelas bases. Assim, a solubilidade dos sais
na soluçã o do solo, considerada a intera çã o de seus íons com a fase sólida, é que define
a mobilidade destes. Por sua vez, os fosfatos sã o praticamente imó veis, em razã o da
adsor çã o aniônica .
De maneira geral, pode-se dizer que diferentes fatores condicionam maior ou menor
movimenta ção dos cá tions pelo perfil do solo que recebeu gesso. Dentre eles, destacam-se:
a ) quantidade de gesso aplicado,
b ) capacidade de troca catiônica do solo,
c) condutividade elé trica da soluçã o do solo,
d ) textura do solo e
e) volume de á gua que o solo recebe.
Desta forma, para um solo de textura arenosa, com baixa CTC e pequena capacidade
de adsorver sulfato, a movimentaçã o de bases seria, potencialmente, maior que para um
solo de textura argilosa com alta capacidade de adsor ção de sulfato e elevada CTC.
Portanto, nesses solos, onde o potencial de movimentaçã o de bases é elevado, deve-se ter
maior cuidado com a quantidade de gesso aplicada , para evitar o risco de uma
movimenta çã o abaixo das camadas exploradas pelo sistema radicular da planta .
I
Normalmente, a aplica çã o de gesso agr ícola nã o provoca altera ções importantes no
\
pH do solo. Contrariamente à reduzida capacidade de altera çã o do pH do solo, a
aplica çã o de gesso pode proporcionar importante reduçã o no teor de AI trocá vel e em
sua saturação ( m ). Estudos de lixivia çã o têm demonstrado que o AI pode ser encontrado
l nos lixiviados de perfis reconstituídos de Latossolos brasileiros. A neutraliza ção do AI
trocá vel pela adiçã o de gesso pode ocorrer, basicamente, a partir das seguintes rea ções:
)
a ) precipita çã o na forma de Al ( OH ) 3 e libera çã o de OH para a soluçã o, em
'

1 decorrência da adsor çã o do sulfato,


I b) forma çã o do complexo A1S04 +, que é menos tóxico às plantas,
iij £Sí
c) forma çã o do par iônico A1F2 + decorrente da presença de F no gesso agr ícola,
'

I PI; . -

li FERTILIDADE DO SOLO
1 - ••A
258 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.

d ) precipita çã o de minerais de sulfato de Al, como alunita e basaluminita, por


exemplo, decorrente do aumento da concentra çã o de sulfato na soluçã o,
e ) aumento da for ça i ô nica na solu çã o do solo, em profundidade, causando
diminuiçã o da atividade química do Al3+ .

No entanto, um aspecto importante refere-se ao aumento de Ca 2+ no complexo de


troca, promovendo a reduçã o da satura çã o por Al (m ) que exerce papel mais importante
no controle da toxidez do Al para as plantas do que o teor de Al 3+ ou a sua concentraçã o
em solu çã o .

Respostas das Culturas à Gessagem


A resposta ao gesso agrícola como melhorador ou condicionador químico do ambiente
radicular em profundidade tem sido observada para a maioria das culturas anuais,
destacando-se as respostas das culturas de milho, trigo e soja (Quadro 17) . Essas
respostas sã o atribuídas à melhor distribuiçã o das ra ízes das culturas em profundidade
no solo (Figura 18), que propicia à s plantas o aproveitamento de maior volume de á gua,
quando ocorre veranico, como observado na cultura do milho (Figura 19). Além disso, os
nutrientes são absorvidos com maior eficiência , desde o N de maior mobilidade, facilmente
levado para o subsolo e pouco aproveitado se as ra ízes forem superficiais, até o P de
menor mobilidades (Quadro 18) .
A utiliza çã o do gesso agr ícola nos sistemas de agricultura irrigada e plantio direto
tem apresentado, també m, resultados semelhantes aos obtidos com as culturas anuais.
Nas culturas perenes, ocorreu aumento de produtividade para manga e laranja com a
utiliza çã o do gesso. A cana -de-a çúcar, também, tem demonstrado excelentes resultados
com a aplica çã o do gesso agr ícola e, para o caf é, os efeitos ficam evidentes a partir da
quarta safra (Quadro 19 ). Esses ganhos de produ çã o nas culturas perenes têm sido
atribu ídos ao uso mais eficiente dos nutrientes e da á gua no perfil do solo.
As plantas forrageiras têm respondido à utiliza çã o do gesso. A leucena ( Leucena
leucocephala. cv. Cunningham ) é uma leguminosa recomendada para alimenta çã o animal
e indicada para banco de proteína e associa çã o em pastagens de gramíneas. Após quatro
anos de uso do gesso em á rea cultivada com plantas anuais, ocorreu resposta da leucena

Quadro 17 . Efeito da aplica çã o de gesso agr ícola ao solo na produtividade das culturas de
milho, trigo e soja, submetidas, na é poca da flora çã o, a per íodos de 25, 15 e 21 dias sem
irriga çã o, respectivamente

Dctse de gesso Milho Trigo Soja

t ha -1

0 3, 2 2, 2 2,1
6 5,5 3,5 2, 4

Fonte: Adaptado de Sousa et al. (1992a ) .

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CoftftEção 259

Figura IS- Distribuiçã o relativa de ra í zes de milho no perfil de um Lalossolo Vermelho argiloso,
sem ou com a aplica ção de 6 E ha L de gesso.
'

Fonte ; Sousa et aL ( 1995) ,

Figura 19. li tdi 2 a çã o relativa da lâ mina de á gua dispon ível no perfil de um Latossolo Vermelho
argiloso, pelo milho na fase de lan çamento de espigas, após verameo de 25 dias sem e
com 6 t haJl de gesso .
Fonte : Sousa et al _ (1995) .

Q u a d r o 18 , Conte ú do de nutrientes ( na palha e gr ã os) da cultura do trigo, submetida a veranico


na é poca da flora çã o, como variá vel da aplica çã o de gesso agr ícola ao solo

Cose de gesso N P K Ca Mg S

t ha 1

0 SQ 15 53 12 11 7
2 128 22 81 lã 18 12

Fonte: Sousa el al , (1992a ) .

FERTILIDADE DO SOLO
260 DJALMA MARTINHãO GOMES DE SOUSA et al.

Quadro 19. Efeito do gesso agrícola na produtividade da cultura do café cultivado em solo de
Cerrado

Caf é em coco
Dose de gesso
4 a safra 5 a safra
T
'

-
;.í

t ha -1 ;i .

o 2, 3 5, 9
3,75 4 ,9 7 ,7
Fonte: Sousa et al . (1995).

a esse insumo durante oito anos seguidos. Considerando a soma das produtividades
dos oito cultivos, os ganhos foram de até 68 % (Quadro 20). Observa-se que, com aplicação
de gesso, o rendimento de matéria seca aumentou 55 %, enquanto o incremento na
absor çã o de nutrientes variou de 41 a 64 %. Essas respostas podem ser atribuídas à
melhor distribui çã o das ra ízes da leucena no perfil do solo ( Figura 20), com
aproveitamento mais eficiente dos nutrientes e da água.
O estilosante Mineirão, também recomendado para banco de proteína e consorciação
com gramíneas, apesar de tolerante à acidez e à baixa fertilidade do solo, responde à
aplicação de gesso. Em Latossolo Vermelho argiloso, a produção do Mineirão foi de 13,4
e 19,4 t ha 1 de matéria seca, sem e com aplicação de 3 t ha 1 de gesso, respectivamente
' '

(Sousa et al., 2001).


A gramínea forrageira Brachiaria decumbens, predominante na Regiã o do Cerrado,
tem baixa exigência em fertilidade do solo. Contudo, apresenta resposta significativa à
adubaçã o, com incrementos de até 260 % no rendimento de matéria seca, em resposta à
aplicação de gesso (Sousa et al., 2001). Foram observados ganhos de até 52 % na produção
de matéria seca de Brachiaria decumbens em resposta ao uso do gesso, por um período de
três anos (Quadro 21). A magnitude desses ganhos está associada ao gesso como fonte
de S, visto que essa gramínea forrageira apresenta alta tolerância à acidez do solo .
Quadro 20. Produção de matéria seca ( MS) e conteúdo de nutrientes da leucena ( Leucaena
leucocephala cv . Cunningham ) no terceiro ano de avaliação, em resposta à adição de gesso
em um Latossolo Vermelho argiloso

Nutriente
Dose de gesso MS
N P K Ca Mg S

t ha 1’
kg há 1
*

0 3,1 91 5 31 38 17 5
3 4 ,8 148 9 51 62 - 24 8
Fonte: Sousa et al. (2001 ).

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 261

Figura 20 . Distribuiçã o relativa de ra ízes da leucena no perfil de um Latossolo Vermelho


argiloso, sem ou com aplicação de 6 t ha-1 de gesso. O valor de 100 % equivale a 5,206 g dm 3 de
'

raízes no solo do tratamento com gesso.


Fonte: Sousa et al. ( 2001).

Quadro 21. Rendimento acumulado de matéria seca de Brachiaria decumbens para diferentes
doses de gesso, no per íodo de tr ês anos após a semeadura

Dose de gesso Mat é ria seca

kg ha 1 t ha -1
0 21,9
200 31,4
600 32,6
1.200 33,4
1.800 32,6
Fonte: Sousa et al. ( 2001).

Na recuperação de pastagem degradada de Brachiaria brizantha (cv. Marandu ) em


solo de Cerrado com 190 g kg 1 de argila, a adiçã o de apenas 200 kg ha 1 de gesso
" "

aumentou a produção de matéria seca em até 50 % (Quadro 22), em dois anos de avaliação.
Essa resposta pode ser atribuída mais ao efeito do S como nutriente do que à melhoria do
perfil de solo. Contudo, no segundo ano, a dose de 1.500 kg ha 1 de gesso, recomendada
"

para melhorar o perfil do solo, produziu 11 % mais matéria seca que a de 200 kg ha 1 de "

gesso, indicada apenas para fornecimento do S.

FERTILIDADE DO SOLO
262 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .

Quadro 22. Produ çã o de mat é ria seca de Brachiaria brizantha em solo de Cerrado, com doses de
gesso aplicadas na recupera çã o da pastagem degradada

Mat é ria seca


Dose de gesso
Io ano 2 o ano

kg ha - 1 t ha 1

0 3, 4 5,8
200 4, 2 8, 7
1.500 4,3 9, 7

Fonte : Sousa et al. ( 2001) .

Recomenda ção do Gesso Agrí cola

Recomenda -se o gesso agr ícola para correçã o de camadas subsuperficiais, nã o


devendo ultrapassar a profundidade onde, predominantemente, se desenvolve o sistema
radicular ativo, para a absor çã o de nutrientes e á gua .
A necessidade de aplica çã o de gesso é determinada pela aná lise do solo. Deve-se
fazer uma amostragem do solo nas profundidades de 20-40 e 40-60 cm, para culturas
anuais, e de 60-80 cm, para culturas perenes. Ao encaminhar as amostras para aná lise,
solicitar, també m, a determina ção do teor de argila. Se a satura ção por Al do solo for
maior que 20 % ou o teor de Ca for menor que 0,5 cmolc dm 3, há grande probabilidade de
'

resposta à aplica çã o do gesso (Sousa et al., 1992b ).

Recomendaçã o com Base na Textura do Solo

A necessidade de gessagem ( NG, em t ha 1), nas doses recomendadas para camadas


'

subsuperficiais de 20 cm de espessura, pode ser determinada de acordo com o teor de


argila (Quadro 23).

Quadro 23 . Necessidade de gesso de acordo com o teor de argila ( NG-arg) para uma camada
subsuperficial de 20 cm de espessura

Argila NG -arg

% t ha 1

< 15 0,0 a 0, 40
16 a 34 . 0, 41 a 0, 79

35 a 60 0, 80 a 1, 20 ••

> 60 1, 21 a 1,60

Fonte: Alvarez V . et al . ( 1999a ) .

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 263

A NG ( t ha 1) também pode ser obtida de forma contínua, como funçã o do teor de


'

argila do solo ( x, em %), pela equa çã o:

NG = 0,00034 - 0,002445 x 0 5 + 0,0338886 x - 0,00176366 x1 5


' ,
R 2 = 0,9999 (31)

Para solos de Cerrado, Sousa et al. (1995) indicam doses de gesso com base na classe
textural do solo (Quadro 24):

Quadro 24 . Recomenda çã o de gesso agr ícola ( NG ) como variá vel da classifica çã o textural do
solo para culturas anuais e perenes

Textura do solo Culturas anuais Culturas perenes

0/
/0 NG ( t ha -1 )
Arenosa ( < 15 ) 0, 7 1,0
M é dia (16 a 34 ) 12
/ 1, 8
Argilosa ( 35 a 60 ) 2, 2 3, 3
Muito argilosa ( > 60 ) 3, 2 4,8

Fonte: Sousa & Lobato (2004).

ou pela Eq. 31:


NG = f x argila (32 )

em que NG em t ha 1 e argila em %, sendo o fator f igual a 0,050, para culturas anuais, e


'

a 0,075, para culturas perenes.


O gesso agr ícola deve ser aplicado a lanço depois da calagem ou imediatamente
antes, caso necessá rio. O gesso pode ser deixado na superf ície ao solo, pois, como a
camada superficial recebeu calcá rio, o gesso dissolvido em á gua infiltrar-se-á, ficando
retido nas camadas subsuperficiais até os 60 ou 80 cm, para culturas anuais e perenes,
respectivamente.
Com o uso do gesso, resolve-se tamb é m o problema do S como nutriente,
possibilitando a utiliza çã o de f ó rmulas NPK concentradas na aduba çã o de semeadura .
Com a economia propiciada pelo transporte de menores quantidades da f ó rmula
concentrada, o custo do gesso ( total ou parcial ) pode ser amortizado.
Sousa & Lobato ( 2004) ressaltam que as doses de gesso recomendadas por estes
critérios apresentam efeito residual de, no mínimo, cinco anos.

Recomendaçã o com Base na Determinação do Fósforo Remanescente

Após amplo estudo com amostras de 13 solos de Cerrado, Sousa et al. (1992b )
propuseram o uso de equa ções que se baseiam em características dos solos e no volume

FERTILIDADE DO SOLO
264 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .

de á gua adicionado como determinantes de maior ou menor movimentaçã o e retençã o de


S e de bases no perfil . Essas equa ções foram geradas a partir das premissas de que a
reten çã o de S042 e de Ca 2 +, na camada de 20-60 cm, propicia uma concentra çã o de S da
'

ordem de 12,6 mg L 1 ou de 0,394 mmol L 1 de Ca na solu çã o do solo .


' '

A primeira premissa fundamenta -se no fato de ser essa concentraçã o de S na solução


do solo suficiente para que, já no primeiro ano agr ícola, ocorra movimenta çã o de sulfato
e de c á tions para a camada de 20-60 cm . A segunda parte da observa çã o de que existe
rela çã o entre o S042 e o Ca 2+ retidos ( retençã o simultâ nea ) e que a concentraçã o de Ca em
"

solu çã o, em equilíbrio com o retido, é da ordem de 0,394 mmol L 1, o que equivale a '

12,6 mg L 1 de S em solu çã o após a adsor çã o do S-S042\


'

Aproveitando a informa çã o existente para uso de calcá rio ( NC ) e de gesso ( NG ) e,


considerando que para o Estado de Minas Gerais o PROFERT recomenda a análise de P
remanescente ( Prem ), utiliza -se esta determina çã o para recomendar gesso (Quadro 25).
= 1,681 - 0,1361 x 0 5 - 0,03045 x + 0,002588 x1 5
NG ' ' R 2 = 0,999 (33)
em que NG em t ha 1 e Prem em mg L 1.
' ’

Quadro 25. Necessidade de gesso de acordo com o valor de f ósforo remanescente ( NG -Prem )
para uma camada subsuperficial de 20 cm de espessura

P-r e m N G (1 )

mgL-1 t ha -1

0a4 1, 680 a 1,333


4 a 10 1,333 a 1,013
10 a 19 1,013 a 0,720
19 a 30 0, 720 a 0,453
30 a 44 0, 453 a 0,213
44 a 60 0, 213 a 0,000

Valores de NG adaptados e aproximados de Souza et al. (dados nã o publicados) e citados por Souza et al . (1992b )
(1 )

para que o Ca2 + retido em camada de 20 cm de espessura esteja em equilíbrio com a concentra çã o de 0,394 mmol L 1
'

de Ca em solu çã o do solo, para gesso agr ícola com 150 g kg 1 de S e 262,5 g kg 1 de CaO.
' '

Fonte : Alvarez V. et al. (1999a ) .

CÁ LCIO E MAGN ÉSIO COMO NUTRIENTES

O Ca e o Mg sã o absorvidos em quantidades variadas pelas diferentes culturas.


Para o suprimento de Ca sã o necessá rias doses de 10 a 200 kg ha 1, e entre 10 a 40 kg ha-i '

para o Mg, valores que atendem às necessidades da maioria das culturas (Raij, 1991). Os
teores desses nutrientes na folha variam de 4 a 40 g kg 1, para o Ca, e de 2 a 4 g kg 1, para
" '

o Mg (Dechen, 1983).

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 265

Cálcio
A planta absorve o Ca na forma iônica Ca 2 + da soluçã o do solo. Os mecanismos de
acesso ao nutriente e de transporte sã o, predominantemente, intercepta çã o radicular e
fluxo de massa (veja capítulo IV ) . A absorção de Ca está associada às relações de equilíbrio
com o Mg e K na soluçã o do solo. O Ca é relativamente imóvel, nã o se redistribuindo com
facilidade na planta . É um elemento de funçã o estrutural, sendo integrante da parede
celular e sua deficiê ncia afeta , principalmente, o crescimento das ra ízes.
Dados experimentais mostram que o crescimento de ra ízes de plâ ntulas de trigo é
diretamente proporcional ao teor de Ca na CTCefetiva do solo ( Figura 21), cuja satura çã o
por AI era igual a zero (Sousa et al., 1992b ) . Nessas condições, os autores observaram
que, com satura çã o por Ca na CTCefetiva menor que 50 %, ocorre alta restriçã o ao
crescimento radicular do trigo.

Figura 21. Comprimento de ra ízes de trigo (cv . Moncho BSB ) como variá vel da saturaçã o por
cá lcio na CTC efetiva, em amostras subsuperficiais de solos do Cerrado, com satura çã o
por alumínio igual a zero.
Fonte: Sousa et al. (1992b ) .

Os sintomas de deficiência de Ca sã o caracterizados pela clorose internerval nas


folhas e morte das gemas apicais, com deforma ções nas pontas e nas bases das folhas. A
deficiência de Ca nã o é comum em condições de campo, assumindo maior importâ ncia
para o crescimento de ra ízes nas camadas mais profundas do solo. Esse aspecto é muito
importante para a Regiã o do Cerrado ( Ritchey et al., 1980), em que 77 % dos solos
apresentaram teores inferiores a 0,4 cmolc dm 3 de Ca 2+, na camada de 20-50 cm no perfil
(Cochrane & Azevedo, 1988) .

Magné sio
Esse nutriente é absorvido pela planta na forma iônica Mg2+ da soluçã o do solo e
acessado pelas ra ízes principalmente pelos mecanismos de interceptaçã o radicular e
fluxo de massa . A absor ção de Mg está associada, também, às suas relações de equilíbrio
com o Ca e K na soluçã o do solo.

FERTILIDADE DO SOLO
266 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .

Dentre as funções de importâ ncia do Mg, uma das principais é sua participa çã o na
composiçã o da clorofila, correspondendo a 2,7 % de seu peso molecular. O Mg é também
ativador de grande nú mero de enzimas ( Dechen, 1983).
Os sintomas de deficiê ncia de Mg caracterizam-se pela presença de manchas ou
cloroses internervais das folhas, com ou sem partes necrosadas. Gra ças à sua boa
mobilidade na planta, os sintomas de deficiência aparecem, geralmente, nas folhas mais
velhas. A deficiência de Mg ocorre, com certa frequência, na Regiã o do Cerrado, onde
85 % da á rea apresenta teores de Mg2+ inferiores a 0,8 cmolc dm 3. A utiliza ção de calcá rio
'

dolomí tico ou magnesiano, sulfato de Mg, termofosfatos magnesianos e sulfato duplo de


K e Mg sã o alternativas para suprir as culturas com Mg.

Respostas das Plantas a Cá lcio e Magnésio


Têm sido observadas respostas das culturas à aplica çã o de Ca e Mg em condições de
campo. Em Latossolo Vermelho argiloso do Cerrado, com teor de Ca 2+ + Mg2 + de
0 ,4 cmolc dm 3 e satura çã o por alum ínio de 68 % , foram encontradas respostas
"

significativas da soja a esses nutrientes, conforme a rela çã o Ca / Mg no corretivo


(Quadro 26) . Quando o Ca foi omitido e o pH do solo corrigido para 6,0 com carbonato
de Mg, o rendimento de gr ã os de soja foi m ínimo. Neste caso, as plantas apresentaram
sintomas típicos de deficiência de Ca e o sistema radicular nã o cresceu lateralmente,
nem em profundidade. Por outro lado, a correçã o do pH apenas com carbonato de Ca
n ã o proporcionou decr éscimo na produtividade, mas foram observados sintomas de
deficiência de Mg nas plantas e reduçã o no teor deste nutriente nas folhas.
Outras respostas ao Mg como nutriente foram observadas em LV argiloso, cultivado
com uma sequência de culturas anuais (Figura 22). O pH (em á gua ) do solo foi corrigido
para 6,0 e as doses de 10, 30, 100 e 350 kg ha 1 de Mg foram obtidas com mistura de
'

calcá rio calcítico e dolomítico. Nos dois primeiros cultivos com milho, nã o houve efeito
dos tratamentos, embora tenham ocorrido sintomas de deficiência de Mg na menor dose

Quadro 26 . Efeito da mistura de carbonato de cá lcio e de magnésio, em diferentes propor ções,


na produtividade de gr ã os e nos teores foliares de cá lcio e de magnésio da soja, em um
Latossolo Vermelho argiloso de Cerrado

Teores foliares
CaCOa MgCOa Produtividade gr ã os
Ca Mg

_1
kg ha t ha gkg
'

3.600 0 1,98 ab 9,3 2 ,0


3.500 100 2,08 ab 9,0 2,5
2.700 900 2, 29 a 6, 7 3,5
514 3.086 2, 24 ab 4, 2 5,3
0 3.600 0,04 c 2,5 7,2

Fonte: Adaptado de Embrapa (1981).

FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 267

deste nutriente. No terceiro cultivo com soja, a produtividade com 10 kg ha 1 de Mg foi '

inferior em 10 a 36 % em rela çã o à s demais doses. No sé timo e nono cultivos com soja , a


resposta ao Mg foi mais acentuada, por serem as reservas de Mg do solo insuficientes
para manter produtividades adequadas por cultivos sucessivos.
A figura 23 mostra que a produtividade da soja no 7o cultivo foi baixa, e os teores de
Mg2+ foram inferiores a 0,12 cmolc dm 3 no solo, com doses de 0, 10 e 30 kg ha 1 de Mg. As
' '

maiores produtividades ocorreram com o efeito residual das doses de 100 e 350 kg ha 1
'

de Mg, com teores de Mg no solo de 0,39 e 0,52 cmolc dm 3, respectivamente. "

No oitavo cultivo com milho, as produtividades nas doses de 100 e 350 kg ha 1 de '

Mg foram de 4 a 10 % superiores, em rela çã o à dose de 10 kg ha 1 de Mg. Essa dose '

produziu 6,93 t ha 1 de grã os, mostrando a grande diferença de resposta ao Mg nas


'

culturas de milho e soja . O N foi fornecido para o milho, principalmente por meio de

Figura 22. Produtividade de gr ã os da soja, em tr ês anos agr ícolas, como variá vel de doses de
magn ésio em um Latossolo Vermelho argiloso.
Fonte : Vilela et al . ( 1987 ) .

Figura 23. Produtividade de gr ã os de soja como variá vel do teor de magnésio no solo, antes
do sé timo cultivo.
Fonte : Embrapa (1985 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
268 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .

aduba ções nitrogenadas e, para a soja, pela fixa çã o biológica de N 2. O efeito do Mg na


fixa çã o do N 2, pelo incremento da atividade da nitrogenase (Figura 24), pode explicar o
comportamento diferente dessas duas culturas.

Figura 24. Efeito residual de doses de magnésio na atividade específica da nitrogenase em


nódulos de soja, no nono cultivo em um Latossolo Vermelho argiloso.
Fonte: Vilela et al. (1987) .

LITERATURA CITADA

ALCARDE, J .C. Corretivos da acidez dos solos: Características de qualidade. In: MALAVOLTA,
E., ed . SEMIN Á RIO SOBRE CORRETIVOS AGRÍCOLAS. Piracicaba, Funda çã o CARGILL,
1985. p.97-119.

ALVAREZ V., V.H. Correla çã o e calibra çã o de mé todos de aná lise de solos. In: ALVAREZ V.,
V.H.; FONTES, L.E.F. & FONTES, M.P.F., eds. O solo nos grandes domínios morfoclim á ticos
do Brasil e o desenvolvimento sustentado. Vi çosa, MG, Sociedade Brasileira de Ciência
do Solo, 1996. p.615-646.
)

ALVAREZ V., V.H. & RIBEIRO, A.C. Calagem . In: RIBEIRO, A.C.; GUIMARAES, P.T.G. &
ALVAREZ V., V. H., eds. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas
Gerais - 5a Aproximaçã o. Viçosa, MG, CFSEMG, 1999. p.43-60.

ALVAREZ V., V.H.; DIAS, L. E. & SANTOS, A.R. Solos corrigidos com doses estimadas a partir
de diferentes crité rios para definir a necessidade de calagem. 1. Valores de pH. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊ NCIA DO SOLO, 22., Recife, 1989. Anais. Campinas,
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1990a . p.278-279.

ALVAREZ V., V.H.; DIAS, L.E. & SANTOS, A. R. Solos corrigidos com doses estimadas a partir
de diferentes crité rios para definir a necessidade de calagem. 2. Teores de Ca 2+ e Al . In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊ NCIA DO SOLO, 22., Recife, 1989. Anais. Campinas,
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1990b. p.276-277.

FERTILIDADE DO = SOLO
VI - MAT É RIA ORG Â NICA DO SOLO

Ivo Ribeiro da Silva17 & Eduardo de Sá Mendon ç a17

1/
Departamento de Solos, Universidade Federal de Vi çosa - UFV .
•? CEP 36570-000 Vi çosa ( MG ). Bolsistas do CNPq .
ivosilva @ ufv . br; esm @ ufv .br

Conte ú do
CONSIDERAÇÕES INICIAIS 276
INTRODU ÇÃ O 276

COMPARTIMENTOS DA MATÉ RIA ORG Â NICA DO SOLO 281


Maté ria Orgâ nica Viva 281
Maté ria Orgâ nica nã o-Vi vente 285

ROTAS DE FORMA ÇÃO E CARACTER ÍSTICAS DAS SUBST Â NCIAS H Ú MICAS 293
Caracter ísticas Qu ímicas e Estruturais das Substâ ncias Fl ú micas 296
ESTABILIZA ÇÃO DA MATÉ RIA ORG Â NICA DO SOLO 305
Din â mica e Tamanho dos Compartimentos 305
Mecanismos de Estabiliza çã o 309
Estabiliza çã o Qu ímica ou Coloidal 309
Estabiliza çã o Física 312
Estabiliza çã o Bioqu ímica 313
Aspectos Estruturais e Moleculares da Maté ria Orgâ nica Estabilizada 315
PROPRIEDADES DO SOLO INFLUENCIADAS PELA MATÉ RIA ORG Â NICA DO SOLO 319
Propriedades Qu ímicas J 319
Poder Tampã o 319
Capacidade de Troca Catiônica 321
Complexa çã o de Metais 322
Características Físicas do Solo 329
Agrega çã o 329
Retençã o de Água 335
Propriedades Biológicas do Solo ! 337
Reserva Metabólica de Energia 337
COMPARTIMENTOS E DECOMPOSIÇÃO DE NUTRIENTES EM FORMA ORG Â NICA .... 337
CONSIDERA ÇÕES FINAIS : 355
AGRADECIMENTOS 356
LITERATURA CITADA 357

SBCS, Vi çosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V ., V .H ., BARROS,
N . F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R .B . & NEVES, J .C.L. ) .
276 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

CONSIDERA ÇÕ ES INICIAIS
No presente capítulo, pretendeu-se fazer uma introdu çã o sobre os aspectos básicos
relacionados com génese, composiçã o e contribuiçã o da maté ria orgâ nica do solo para a
fertilidade qu ímica e f ísica do solo. Considerando a natureza abrangente do assunto e,
especialmente, os objetivos propostos, alguns temas importantes tiveram de ser deixados
de fora . Um destes foi o manejo da matéria orgâ nica do solo, principalmente em solos
tropicais, merecedor de um capitulo à parte. A maté ria orgâ nica do solo, sempre pouco
estudada e pouco conhecida pelos cientistas de solo, felizmente, tem merecido atençã o
consider á vel das pesquisas, particularmente na ú ltima d é cada . Muitos aspectos
fundamentais estã o começando a ser descobertos e mais bem compreendidos. O grande
volume de informa çã o disponível sobre os diferentes assuntos reflete esses avanços. No
presente capítulo, abordou-se, inicialmente, os compartimentos globais de carbono (C ) e
as fra ções da maté ria orgâ nica do solo, passando entã o pelos aspectos de génese,
composiçã o e estrutura de substâ ncias h ú micas, mecanismos de estabilizaçã o, efeitos da
maté ria orgâ nica em algumas caracter ísticas químicas, f ísicas e biológicas do solo.
Finalmente, foram discutidos alguns aspectos relacionados com as formas orgâ nicas de
N, P e S do solo. Procurou -se, sempre que possível, incluir exemplos baseados em
resultados de pesquisas para solos brasileiros. Infelizmente, dadas as limita ções de
espa ço, nem todas as pesquisas pertinentes puderam ser mencionadas.

INTRODUÇÃ O
O solo é um compartimento terrestre que apresenta grande dinamismo em seus
constituintes e está intimamente ligado às caracter ísticas e aos processos que ocorrem na
atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera (Figura 1) . A fase sólida é constituída da fra ção
mineral e orgâ nica . A fra çã o orgâ nica corresponde à matéria orgâ nica do solo (MOS),
constituída basicamente por C, H, O, N, S e P. O C compreende cerca de 58 % da MOS, H
6 %, O 33 %, enquanto N, S e P contribuem com cerca de 3 %, individualmente.

Figura 1. O solo ( pedosfera ) como componente integrador do ciclo do carbono entre as quatro
esferas fundamentais: biosfera, litosfera, hidrosfera e atmosfera.

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 277

Os teores de C em formas orgâ nicas (C orgâ nico) do solo estão diretamente ligados à
sua intera çã o com a biosfera. Por meio dos produtos da fotossíntese (6C02 + 6H20 +
•i

energia > C6H12Oe + 602), grande parte do C entra no solo. A fotossíntese, realizada
pelos organismos autotróficos, é um processo muito importante para manter o equilíbrio
de C02 na atmosfera e o ciclo do C na Terra . Estima -se que a produçã o primá ria total
(PPT) global de C pelo processo de fotossíntese seja cerca de 120 Gt ano 1 de C (1 Gt = 109 1). '

Em razã o das perdas por meio do processo de respiraçã o das plantas, tem-se a produção
prim á ria líquida ( PPL ), que, em termos globais, é estimada em 60 Gt ano 1 de C, metade '

da PPT. A PPL corresponde à produçã o líquida de material orgâ nico pelas plantas, fonte
prim á ria de energia para os demais organismos heterotr óficos até tornar -se parte
integrante da MOS.
A entrada de C no solo está relacionada , principalmente, com o aporte de resíduos
da biomassa a érea e radicular das plantas, libera çã o de exsudados radiculares, lavagem
de constituintes sol ú veis da planta pela á gua da chuva e transforma çã o desses materiais
carbonados pelos macro e microrganismos do solo. Todos esses processos fazem parte
da biosfera (Quadro 1).

Quadro 1. Estoque de carbono em diferentes ecossistemas terrestres

í Densidade de C Estoque
Bioma Á rea Tempo de ciclagem ( t y2 )
Vegeta çã o Solo Vegeta ç ao Solo

Mha <3> — Mg > ha —


(1 1
"
Pg ( 2 ) Ano

Tundra 927 9 105 8 97 2.080


Boreal / Taiga 1.372 64 343 88 471 16
Temperada 1.038 57 96 59 100
Tropical 1.755 121 123 212 216 6
Solos Inundados 280 20 723 6 202
M édia 54 189
Total 5.672 373 1.086 (1.500*)
;
Mg ( Mega grama ) = 106 g. (2 )Pg (Peta grama ) = 1015 g.
(1 ) (3)
Mha = 106 ha .
Fonte: Bolin (1983); Lai (2004 ); *Janzen ( 2006) .
'T

No ambiente de tundra, caracterizado por temperaturas extremamente baixas e


negativas na maior parte do ano, a rela çã o C vegetaçã o / C solo é extremamente pequena
(0,08), quando comparada com o ecossistema tropical (aproximadamente 1), caracterizado
por temperaturas elevadas, pr óximas de 35-40 °C. Esses n ú meros ilustram a dinâ mica
mais r á pida do C em ecossistemas tropicais. Eles també m apontam para a fragilidade
desse sistema caso sejam realizadas altera ções em sua cobertura vegetal, visto que a
1 i
produtividade do sistema é muito dependente das alta taxas de ciclagem do C.
Em termos globais, o C está armazenado nos seguintes compartimentos: oceâ nico
(38.000 Pg) (1 Pg = 1015 g); compartimento geológico - principalmente petróleo, gás natural
e carvão mineral (5.000 Pg); biosfera, que corresponde ao solo (2.500 Pg) + biota terrestre
(620 Pg); e o compartimento atmosf érico ( 760 Pg) (Lai, 2004). O solo é o maior reservatório

FERTILIDADE DO SOLO
278 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

de C do ecossistema terrestre . Estimativas mais recentes indicam que cerca de 1.500 Pg


de C estejam armazenados na MOS até 1 m de profundidade (Janzen, 2006) . No Brasil,
estima-se que os estoques de C orgâ nico na camada de 0-30 cm de profundidade totalizem
36,4 ± 3,4 Pg de C, considerando-se todos os solos sob condições de vegeta çã o nativa
(Bernoux et al., 2002 ). Esse acumulo é possível, em grande parte em solos minerais pelo
fato de o C estar associado a formas está veis da MOS. Essas formas podem ter meia ( t] / 2)
vida de séculos até milénios.
Vale destacar que mudan ças nos estoques de C do solo podem levar a altera ções
significativas nos teores de C-C 02 na atmosfera, que está, també m, intimamente
relacionada com os processos que ocorrem na biosfera e na hidrosfera . Entretanto, o
equilíbrio entre as esferas ( Figura 1) tem sido alterado, com a elevaçã o da concentra çã o
de C02 na atmosfera , desde a Revoluçã o Industrial, levando à intensifica çã o do chamado
efeito estufa . Nos pa íses menos industrializados, como o Brasil, mudanças no uso da
terra , tais como: a substituiçã o das á reas com vegeta ção nativa por á reas de cultivo mais
intensivo, o frequente uso de queimadas e o preparo intensivo do solo tê m levado a
perdas r á pidas da MOS e contribu ído, substancialmente, para aumentar a emissã o dos
gases de efeito estufa , principalmente de COz e CH4. Estima -se que as perdas globais de
C orgâ nico nos solos cultivados já atingiu 50 Pg C (Janzen, 2006 ). Estimativas para os
solos brasileiros indicam que as perdas de CO devido as atividades antró picas, até 1995,
sejam da ordem de 2 Pg de C, perdidos da camada de 0-30 cm de profundidade ( Bernoux
et al., 2005). No entanto, somente entre 1990 e 2000 a intensifica çã o das atividades
agropecuá rias levou a emissões de C-C02 da ordem de 7,2 Pg de C ( Bernoux et al., 2005).
O ciclo hidrol ógico influencia diretamente a dinâ mica de C na Terra . Os oceanos
sã o os grandes responsá veis pelo tamponamento da concentração de C-C02 na atmosfera.
A percola çã o de á gua pelo perfil do solo possibilita a entrada de C orgâ nico dissolvido
(operacionalmente definido como a fra çã o menor que 0,45 gm ) para as camadas mais
profundas. O aumento do carbono orgâ nico sol ú vel do solo (COS) está diretamente
ligado ao incremento no teor total de C orgâ nico total (COT), o que é demonstrado pela
-
equa ção, COS 37,28 + 3,02 COT, R 2 = 0,63 ( n = 27; p < 0,001) (Ciotta et al., 2004). A
percentagem de COT associado à forma de C orgâ nico sol úvel variou de 0,15-0,59 %, na
camada de solo de 0-10 cm, e de 0,08-0,74 %, na camada de 10-30 cm em Latossolos e
Argissolos, conforme Mendonça et al. ( 2001).
Quando nã o sã o mineralizados ou retidos nos horizontes subsuperficiais, esses
compostos orgâ nicos podem ser incorporados a corpos d'á gua da superf ície (ex: rios e
lagos) . Essa movimenta çã o de compostos orgâ nicos desempenha papel importante em
vá rios processos, como a mobiliza çã o de Fe e Al na forma de complexos organometálicos
de horizontes superficiais para horizontes mais profundos, contribuindo para a génese
de horizontes espódicos (Jansen et al., 2003; Dias et al., 2003). A movimenta çã o de Ca
para camadas subsuperficiais de calcá rio aplicado em superf ície, via complexa çã o com
á cidos orgâ nicos de baixa massa molecular (Franchini et al ., 1999 ), é outra implicaçã o
prá tica da mobilidade vertical de compostos orgâ nicos dissolvidos no solo.
Em razã o das altas concentrações de N 2 (78 %) na atmosfera, grande parte do N no
solo é decorrente da fixa çã o biológica do N 2 pelos microrganismos, simbió ticos ou não,

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MAT é RIA ORGâ ISIICA DO SOLO 279

que compõem a microbiota do solo. Como será discutido com mais detalhe posteriormente,
o N é um dos elementos com papel fundamental na dinâ mica da MOS.
Existem poucas estimativas para os teores e estoques de C para as diferentes classes
de solos brasileiros. A á rea de abrangê ncia dos Latossolos representa cerca de 40 % do
território brasileiro ( > 3.310.000 km2) (Schaefer, 2001), com conteúdo médio de C variando
de 6-13 kg m 2, para os LA, 7,5-11 kg m 2, para os LE, 6,8-8,8 kg m 2, para os LVA, e
' ' '

30,16-15, 78, para os LH, para os horizontes A e B, respectivamente ( Andrade et al .,


2004 ) . O estoque de MOS nos horizontes B dos Latossolos variou de 42-76 % do C total
do solo, ilustrando a grande contribuiçã o do horizonte B em estocar C . A amplitude de
varia çã o dos dados confirma a influ ê ncia do clima regional, o tipo de vegeta çã o
predominante e o uso da terra sobre os estoques de C do solo .
A altera çã o da rocha pelos diversos processos de intemperismo acarreta libera çã o
de nutrientes da litosfera para a pedosfera . Sã o esses nutrientes que ser ã o absorvidos
pelas plantas e incorporados aos compostos orgâ nicos que, mais tarde, poder ã o retornar
ao solo e serem incorporados aos diferentes compartimentos da MOS. Grande parte dos
nutrientes que constituem a MOS é proveniente da litosfera . As caracter ísticas f ísicas
das rochas irão, também, definir a textura do solo, que tem efeito marcante sobre seus teores de
C . Sob condições ambientais semelhantes, solos com textura mais argilosa geralmente
apresentam maior teor de C. Essa influ ência está ligada à capacidade da MOS em formar
diferentes tipos de liga ções com partículas com elevada superf ície específica, tais como
as fra ções argila e silte, favorecendo a proteçã o coloidal da MOS. Essa rela çã o positiva
entre os teores de silte + argila e o teor de C orgâ nico foi demonstrada para v á rios
Latossolos da regiã o Noroeste de Minas Gerais ( Zinn et al., 2005). Esse mecanismo de
proteçã o é mais atuante em camadas mais superficiais, onde a incorpora çã o de resíduos
vegetais é maior e os processos de decomposiçã o da MOS sã o mais ativos (Figura 2) . Em
solos mais arenosos, as perdas de C orgâ nico sol ú vel também são maiores, especialmente
em regiões com elevado índice pluvial. Além disso, nos solos mais argilosos, a floculaçã o
das argilas e a forma çã o de agregados est á veis sã o favorecidas. Como consequ ê ncia ,
ocorre a proteçã o f ísica proporcionada pela oclusã o da MOS dentro dos agregados,
dificultando ou impedindo o acesso aos microrganismos e suas enzimas, e em microporos
onde até mesmo o fluxo difusivo de 02 é dificultado, resultando na maior preservaçã o da
MOS. Adicionalmente, as características químicas das rochas, combinadas com os demais
fatores de forma ção do solo, terã o influência sobre a mineralogia da fra ção argila do solo.
Estudos tê m demonstrado que os minerais do solo, considerando as diferenças em
superf ície específica e tipo de grupamentos reativos, oferecem possibilidades distintas de
interação com a MOS (Wattel-Koekkoek et al., 2001; Wattel-Koekkoek & Buurman, 2004) .
As transformações do C do solo compreendem, essencialmente, duas fases: fase de
fixa çã o do C-C02 e fase de regeneraçã o. A fixa çã o do C-C02 atmosf é rico é efetuada
pelos organismos fotossinté ticos - plantas, algas e bacté rias autotróficas. Esta fixa çã o
finaliza -se na síntese de compostos hidrocarbonados de complexidade variável: amidos,
hemiceluloses, celuloses, ligninas, proteínas, óleos, á cidos nucléicos e outros polímeros.
Estes compostos retornam ao solo com os resíduos vegetais e sã o utilizados pelos
organismos que regeneram o C-C02 durante as rea ções de oxida çã o respirató ria,
utilizando a energia que lhes é indispensá vel para a manutenção e crescimento. A

FERTILIDADE DO SOLO
280 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Figura 2. Rela çã o entre o teor de carbono orgâ nico com os teores de silte + argila de camadas
de solo em diferentes profundidades. Os dados sã o de uma sequê ncia de solos de textura
variada na regiã o Noroeste de Minas Gerais.
Fonte Zinn et al . ( 2005) .
:

multiplica çã o dos microrganismos estimulada pela maior disponibilidade de substrato


resulta no incremento da biomassa microbiana, que resulta em imobiliza çã o temporá ria
do C . A segunda fase, de regenera çã o, correspondente à s diferentes etapas de
decomposiçã o das substâ ncias carbonadas por meio da atuaçã o dos microrganismos do
solo. A decomposiçã o caracteriza -se pela quebra das estruturas e mineraliza çã o, via
quebra das formas orgâ nicas mais complexas em compostos orgâ nicos mais simples e
elementos minerais.
Assim, o teor de COT depende, essencialmente, do aporte e do processo de
decomposição / mineraliza çã o da MOS. Em contraste ao processo de degradaçã o, ocorre,
concomitantemente, o processo de preserva çã o, com altera ções nos resíduos orgâ nicos,
originando compostos coloidais relalivamente está veis, com alto tempo de resid ência
médio - as substâ ncias h ú micas. Esse processo é chamado de humifica ção. A humificação
da MOS é influenciada por todos os compartimentos terrestres, podendo ocorrer no solo
sob diversas rotas ao mesmo tempo (esse assunto será abordado com mais detalhe
posteriormente). A predominâ ncia de uma rota sobre outra é decorrente da combinaçã o
dos fatores ambientais, que podem ser influenciados pela açã o antrópica .
Os materiais orgâ nicos que entram no solo, advindos do ambiente, das rotas de
decomposiçã o / mineraliza çã o e humifica çã o, bem como intera ções dos compostos
orgânicos com a fraçã o mineral, resultam na forma çã o de uma MOS heterogénea. Dada
essa complexidade, para facilitar seu estudo e melhor compreender sua dinâ mica, a
MOS pode ser dividida em diferentes compartimentos que se distinguem entre si quanto
à função, natureza , reatividade, distribuiçã o espacial, biodisponibilidade, dentre outros
(Stevenson, 1994 ) . Uma divisã o mais geral pode ser feita separando-a em dois
componentes: matéria orgânica viva é nã o-vivente.

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 281

Assim, o conceito de MOS incorpora vida e dinamismo. Diante disso, a tend ência é
que os estudos tornem -se cada vez mais refinados e passem a basear també m na
quantifica çã o e caracteriza çã o do C das substâ ncias e compartimentos da MOS, indo
alé m de um componente químico do solo que, constantemente, é relacionado com o teor
de COT determinado nos laborató rios de fertilidade do solo.

COMPARTIMENTOS DA MATÉ RIA


ORG Â NICA DO SOLO
Num sentido bem amplo, a MOS pode ser entendida como a fraçã o que compreende
todos os organismos vivos e seus restos que se encontram no solo, nos mais variados
graus de decomposiçã o. Em algumas situa ções, até mesmo os resíduos vegetais na
superf ície do solo sã o tidos como componentes da MOS (Stevenson, 1994) . No entanto,
mais freqíientemente e, em especial no manejo da fertilidade do solo, a MOS é considerada
como sendo a fra çã o nã o-vivente, representada especialmente pelas fra ções orgâ nicas
estabilizadas na forma de substâ ncias h ú micas .

Mat é ria Orgânica Viva


Corresponde ao material orgâ nico associado às células de organismos vivos que se
encontra temporariamente imobilizado ( dreno ), mas que apresenta potencial de
mineraliza çã o ( fonte ). A maté ria orgâ nica viva raramente ultrapassa 4 % do COT do
solo e pode ser subdividida em tr ês compartimentos: ra ízes (5-10 %), macrorganismos
ou fauna do solo (15-30 %) e microrganismos (60-80 % ) . Apesar de representar baixo
percentual da mat é ria org â nica, essa fra çã o é muito importante no processo de
transforma çã o dos compostos orgâ nicos do solo .
As raízes atuam diretamente como fonte de C orgâ nico, uma vez que diferentes
espécies vegetais imobilizam temporariamente C em sua biomassa radicular, retornando-
o ao solo por ocasiã o da sua senescência. Dependendo da espécie, quantidades grandes
de C podem ser adicionadas em profundidade. Em algumas espécies, as ra ízes finas
( < 2 mm de diâ metro) apresentam teores elevados de compostos orgâ nicos mais resistentes
à degradaçã o (Ex.: lignina ). Esses teores podem ser mais elevados que nas raízes grossas,
e até mesmo na própria parte aérea (Rasse et al., 2005). Indiretamente, as raízes contribuem
com a exsuda çã o de uma sé rie de compostos orgâ nicos, os quais imediatamente v ã o
constituir, em parte, o compartimento da MOS morta (substâ ncias nã o-h ú micas). Em
torno de 30-60 % do C fixado fotossinteticamente por plantas é, anualmente, translocado
para as ra ízes, dos quais cerca de 70 % podem ser liberados na rizosfera (Neumann &
Romheld, 2001). Estimativas recentes indicam que, em culturas anuais, como o milho, a
contribuiçã o do sistema radicular para a MOS é maior que a da parte a érea ( Allmaras et
al., 2004).
Os componentes que constituem a MOS viva , macro e microrganismos e raízes, sã o
parte integrante dos processos biológicos, mineraliza çã o, imobiliza çã o e formaçã o das

FERTILIDADE DO SOLO
282 Ivo RIBEIRO Dá SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

substâ ncias h ú micas . Os organismos do solo podem ser classificados quanto à sua
funcionalidade, utilizando crité rios de taxonomia, tamanho, tempo de resid ência no
solo, habitat, forma de locomoçã o e nutriçã o . Quando se utiliza o crité rio de tamanho
dos seus componentes, podem ser separados em microflora (microrganismos), microfauna
( < 0,2 mm ), mesofauna (0,2-10 mm ) e macrofauna ( > 10 mm ). Em geral, os organismos
de menor tamanho encontram -se em maior quantidade no solo. Os microrganismos sã o
representados, principalmente, pelas bacté rias, fungos, actinomicetos e algas, sendo os
v írus componentes submicroscópicos e os protozoá rios os componentes da microfauna
do solo. A mesofauna pode ser representada pelas colê mbolas e á caros; e a macrofauna
pelos anelídeos, té rmitas, isó pteros e coleópteros. Alguns organismos podem se situar
em mais de uma classe, como os nematóides, que podem ser incluídos tanto na micro
como na mesofauna . ,
As funções de destaque da fauna do solo na transforma ção dos compostos orgâ nicos
sã o: reduçã o do tamanho do material orgâ nico ( resíduo); separaçã o dos componentes do
material orgâ nico; mistura dos componentes orgâ nicos e inorgâ nicos; forma çã o e
manutenção dos poros do solo; regulaçã o e dispersã o da microflora no solo. Dependendo
da forma de alimenta çã o - fitófagos, sapr ófagos e carnívoros -, os organismos têm funções
diferenciadas. A a çã o de misturar e deslocar o material orgâ nico e mineral do solo da
superf ície e do subsolo pela fauna é fundamental na dispersã o de nutrientes ao longo do
perfil de solo. Alguns organismos ( térmitas e anelídeos, dentre outros ) tê m grande
capacidade de concentrar nutrientes nos ninhos. A compara çã o entre as caracter ísticas
químicas de excrementos de minhoca em amostras de um Latossolo Vermelho-Escuro
á lico sob cultivo de Eucalyptus grandis (Quadro 2) permitiu observar diminuiçã o do pH,
da saturaçã o por AI e incrementos dos cá tions trocá veis (Ca2+, Mg2+ ), dos teores disponíveis
de K e P, da CTC e do COT. Portanto, pode-se inferir sobre a grande capacidade das
minhocas em alterar a ciclagem da MOS e dos nutrientes no solo, em razã o da composição
de seus excrementos (Quadros et al ., 2002).

Quadro 2. Dados médios das caracter ísticas qu ímicas dos excrementos de minhoca e do solo
em diferentes profundidades sob Encalypitus grandis , com três anos de idade

Amostra pH ( CaCta ) AI 3* Ca 2* Mg2* Na + K+ CTCpH 7,0 pO) C m

mg kg 1 g kg -1
1
mmoIc kg %
'

Excremento 3, 4 20,5 12,5 10,0 0, 6 1,8 45,4 19 33,1 45


Profundidade (cm )
0-5 4,1 7,5 1,0 1,0 0, 2 0,6 10,3 17 11,7 73

5-10 4,1 6,0 0 ,5 2,0 0,1 0,4 9,0 6 13, 2 67

10 -20 4, 2 6 ,5 0,5 1,0 0,1 0, 4 8,4 3 12,4 77

20 -30 4, 2 5,5 0,5 1,5 0,1 0,3 7, 9 3 8,6 70

Extrator: Mehlich ~l .
(1)

Fonte: Quadros et al. (2002 ).

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 283

A reduçã o do tamanho do material orgâ nico leva ao aumento da superf ície de


contato, favorecendo a a çã o dos microrganismos no processo de decomposiçã o /
mineraliza çã o do material aportado ao solo e na transforma çã o da MOS e,
consequentemente, na formaçã o das substâ ncias h ú micas. A fauna do solo é grandemente
influenciada por fatores, como clima , disponibilidade de nutrientes, pH, cobertura do
solo, sistema de manejo (Mussury et al ., 2002; Cole et al., 2005; Merlim et ah, 2005; Irmler,
2005) os quais ter ã o grande impacto sobre a taxa de mineraliza çã o de C orgâ nico e
nutrientes, alterando os teores de MOS. Dessa forma , a a çã o antr ópica, alterando o
ambiente para atender a suas demandas, resulta em grandes altera ções, de curto e longo
prazo, nos organismos. Em amostras de serapilheira e solo sob floresta natural
( preservada e nã o preservada ) na regiã o Norte Fluminense, obtiveram-se maiores valores
de densidade e riqueza de fauna, quando comparados a povoamento de eucalipto e
pasto (Moço et ah, 2005) . Quando as condições ambientais sã o favor á veis, por exemplo,
após a aduba çã o e irrigação do solo, o tamanho e a atividade da população dos organismos
podem ser aumentados rapidamente, fazendo com que haja grande flutua çã o em curtos
per íodos ao longo do ano.
A biomassa microbiana ( BM ) é a principal constituinte da MOS viva . Cerca de
1-3 % do COT em solos tropicais está associado a BM. Atua como agente decompositor
e como reserva lá bil de C e nutrientes e no fluxo de energia no solo. Há tendência de a BM
ser maior em camadas mais superficiais pela maior disponibilidade de matéria orgâ nica,
á gua e outros nutrientes (Quadro 3) .
Os microrganismos, para a obtençã o de nutrientes e energia, têm a ção predominante
nos processos de oxida çã o, redu çã o e complexa çã o de compostos orgâ nicos e minerais
do solo (Quadro 4). Esses processos, por sua vez, influenciam o ciclo dos nutrientes,
principalmente N, P e S, e a forma e concentra çã o destes nos diferentes compartimentos
do solo, alterando sua disponibilidade para as plantas e a mobilidade no solo. Dessa
forma, esses processos afetam a qualidade do solo, da á gua e do ar, visto que muitos dos
produtos podem ser carreados para corpos d'á gua ou, ainda , volatilizados para a
atmosfera.

Quadro 3. Teor de carbono, nitrogé nio, biomassa microbiana e contribuiçã o relativa dos
microrganismos ao longo do perfil do so] o

Carbono orgâ nico Nitrog é nio total Contribuiçã o relativa Biomassa microbiana

cm g kg '
g kg-1 % mg kg 1 de C
'

Litter 305 , 0 16 , 00 76 4.600


0 - 23 19 , 3 1,46 49 166
23- 46 7, 6 0,86 36 49
46 - 69 6, 2 0 , 78 29 35
69 - 91 3, 5 0 , 53 28 11

Fonte: Castelazzi et al . (2004) .

FERTILIDADE DO SOLO
284 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Quadro 4. Alguns produtos finais da decomposiçã o / mineraliza çã o e suas transforma ções no


solo

Produto Forma çã o/ propriedades

co2 Formado pela decomposi çã o / mineraliza çao de compostos orgâ nicos por organismos
heterotr ó ficos aer ó bios; essencial ; no processo de fotoss í ntese; g á s de efeito estufa .

CH 4 Formado pela decomposi çã o / min'e raIiza çã o de compostos org â nicos por organismos anaer ó bios;
est á vel na aus ê ncia de 02; em condi çõ es aer ó bias, é utilizado por bact é rias metanotr óficas; g á s de
efeito estufa .

NH 3 +
Formado durante a amonifica çã o; NH 4 é formado no ambiente solo; utilizado pelos
microganismos e plantas; é prontamente oxidado para N 03 em solos bem aerados e umedecidos.
"

NO3 Formado durante a nitrifica çã o; utilizado pelos microrganismos aer ó bios e anaer ó bios e pelas
plantas; efeito sobre a qualidade da á gua .

N 2O Formado durante a nitrifica çã o e decomposi çã o / mineraliza çã o anaer ó bia de compostos


orgâ nicos; utilizado pelos microrganismos; g á s de efeito estufa; redu çã o da camada de oz ô nio.

so 42 Formado pela decomposi çã o / mineraliza çã o aer ó bia de compostos org â nicos; utilizado pelos
microrganismos aer ó bios e anaer ó bios e pelas plantas .

H 2S Formado pela decomposi çã o / mineraliza çã o anaer ó bia ; utilizado como substrato pelos
microrganismos .

Fonte: adaptado de Baldock & Nelson (1999) .

A contribuiçã o da microbiota do solo na ciclagem de nutrientes, imobilizados em


sua biomassa, pode ser predita por meio de suas proporções em relaçã o às formas totais
desses nutrientes. A percentagem de contribuiçã o do N-BM e P-BM, em rela çã o aos
totais de N e P, variou de 0,93 a 1,8 % e de 4,8 a 7,6 %, respectivamente, em solos de
ecossistemas florestais ( Devi & Yadava, 2006 ) . O S-BM representa de 1-3 % do S em
formas orgâ nicas (S orgâ nico) (Moreira & Siqueira, 2002 ) .
Assim como a rela çã o C:N, as rela ções C:P, C:S e P:S da biomassa microbiana podem
ser utilizadas para indicar como esta influencia a disponibilidade de P e S no solo. As
rela ções mais estreitas podem resultar em maior mineraliza çã o desses nutrientes,
enquanto rela ções mais largas podem levar à imobiliza çã o dos mesmos. He et al. (1997)
obtiveram relações C:P, C:S, e P:S que variaram de 9 a 276:19, 50 a 149:1 e 0,3 a 14:1,
respectivamente, variá vel com a esta çã o do ano e adubaçã o.
O C associado à biomassa microbiana (C- BM ) representa um dos compartimentos
da MOS com menor tempo de ciclagem . A BM responde rapidamente às prá ticas que
levam ao decréscimo ou acréscimo da MOS. Esse fato foi observado por Matsuoka et al.
(2003) em um Latossolo Vermelho-Amarelo com cultura perene ( videira ) e anual (soja ) .
Essas á reas, uma vez comparadas à á rea de vegeta çã o natural (Cerradão), apresentaram
reduçã o média no C-BM de 70 %, enquanto a reduçã o dos teores totais de MOS foram de,
no má ximo 47 %, refletindo maior dinâ mica da BM, ocasionada pela alteração da cobertura
vegetal. Em á reas reflorestadas, ocorreu recupera çã o lenta e contínua do COT com o
tempo; entretanto, a BM e os atributos relacionados com sua atividade, medidos pela
respiraçã o (C-C02 evoluído) e quociente metabólico, responderam a curto prazo às
alterações da cobertura vegetal do solo (Quadro 5).

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORG â NICA DO SOLO 285

Quadro 5 . Atributos do solo em á reas reflorestadas em diferentes é pocas de recupera ção

É poca Biomassa microbiana Carbono Respira çã o basal Fluxo de C02 QM (1 ) C/ N

mg kg 1 de C no solo g kg -1 pg g 1 dia 1 C ~ C02 solo mL min 1


' ' ' '
Ano

0 37, 97 0,90 20,70 364.9 2.61 1,87


1 70,26 0,89 24,23 372, 2 1, 40 1,45
2 61, 69 0, 61 20,90 390.9 1, 39 1, 28
4 84 ,63 2,85 29,02 440.7 1.61 4, 45
10 94,90 5,87 36,60 415.7 1,15 6, 28

FP ( 2 ) 141, 07 15,37 39,74 420,7 1,18 10,91


o > QM = Quociente metabó lico [ ( /xg C / pg C min h 1 ) x 102]. (2 )
FP = Floresta Prim á ria .
02
'

Fonte: Moreira & Costa ( 2004) .


-
N

A influência da BM na disponibilidade de P foi avaliada em Latossolo Vermelho-


Amarelo submetido a diferenciados sistemas de manejo (sistema plantio direto-SPD,
plantio convencional-PC) e plantas de cobertura . No SPD com dois anos de implantaçã o,
o P-BM foi, em média, de 11,4 /xg g 1, significativamente superior ao P-BM no PC, o qual
'

foi, em média , de 8,3 /xg g 1 de C. No SPD com seis anos de implanta çã o, houve efeito da
'

cultura de cobertura: o cultivo de nabo forrageiro em compara çã o ao milheto resultou em


reduçã o no P-BM. A popula çã o de fungos solubilizadores de fosfato foi maior na á rea
cultivada com guandu ( Cajanus cajan ) e nabo forrageiro. A maior populaçã o de bactérias
solubilizadoras de fosfato foi constatada na á rea plantada com guandu. Na á rea de
vegetaçã o nativa, tomada como referência, a atividade da fosfatase ácida foi mais elevada
que em todas as á reas cultivadas (Carneiro et ah, 2004) . Uma vez que a MOS constitui-se
na fonte energé tica dos organismos, alé m da quantidade, comumente alterada pelas
prá ticas de manejo, a qualidade do material orgâ nico adicionado, influenciada pelas
diversas espécies que compõem o sistema, terá forte influência no tamanho da populaçã o
e na atividade dos organismos do solo, de modo a influenciar diferentemente a ciclagem
dos nutrientes no solo . Pelo fato de a atividade e a diversidade dos microrganismos do
solo dependerem, também, de outros fatores, tais como umidade e temperatura, esta fraçã o
pode ser utilizada como índice de aferiçã o da qualidade do solo.

Matéria Orgânica nã o -vivente


A matéria orgâ nica nã o-vivente contribui, em média, com 98 % do C em formas
org nicas (C orgâ nico ) total (COT ) do solo, podendo ser subdividida em matéria
â
macrorgâ nica (3-20 % ) e h ú mus. O hú mus é um compartimento que consiste de
substâ ncias húmicas (70 %) e não-h ú micas (30 %). Outro compartimento que tem recebido
atenção mais recentemente é aquele composto por carvã o, originado da queima ( natural
ou antrópica ) de resíduos vegetais. Essa ú ltima fra ção pode assumir maior importâ ncia
em ecossistemas como os Cerrados, em que o fogo é um componente presente há milhões
de anos.

FERTILIDADE DO SOLO
286 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

A mat é ria macrorgâ nica , ou mat é ria orgâ nica leve ( MOL ) ou particulada ,
dependendo do m é todo de fracionamento, é a fraçã o da matéria orgâ nica nã o-vivente
que se encontra em menor proporçã o, contribuindo com cerca de 3-20 % do COT, composta
principalmente por restos vegetais em v á rios está dios de altera çã o. Seu conteúdo está
principalmente ligado ao aporte orgâ nico, pelo aumento e manutenção dos resíduos
orgâ nicos. Há tend ência de aumento dos teores dessa fra çã o, seja em sistemas que
preconizem a diminuiçã o do revolvimento do solo, como em SPD, seja em espécies em
rota çã o (Freixo et al., 2002 ; Costa et al ., 2004; Bayer et al., 2004), em condições climá ticas
menos favor á veis à decomposiçã o e em sistemas mais produtivos ( Lima, 2004) e, ainda,
pela adiçã o ao solo de resíduos que nã o sã o produzidos in situ , como composto orgâ nico
( Leite et al ., 2003) e lodo de esgoto (Soares, 2005), Logo, o tipo de solo, a vegetaçã o, o
-
clima e as pr á ticas de manejo adotadas irã o afetar a magnitude desse compartimento.
A MOL pode ser dividida em matéria orgâ nica leve livre (interagregados) e matéria
orgâ nica leve oclusa (intra -agregado). A MOS leve livre é quimicamente parecida com os
restos vegetais (como a serapilheira ) e tem, em geral, uma taxa de decomposiçã o muito
alta , enquanto a MOS oclusa apresenta grau mais avançado de transformaçã o ( Roscoe et
al ., 2004 ) e ciclagem mais lenta , podendo conter, ainda , resíduos do metabolismo
microbiano (Golchin et al ., 1997).
A MOL é caracterizada, em raz ã o da sua composiçã o qu ímica, pela sua alta
disponibilidade aos microrganismos do solo e pela sensibilidade à s altera ções do meio,
como verificado por Roscoe & Buurman (2003) : forte decréscimo da MOL livre após a
conversã o do Cerrado em á rea cultivada . De fato, observa-se que, sob condições de
vegeta çã o natural, encontram-se maiò res teores de C e N associados à MOL, cerca de
18 % de C e 12 % de N, quando comparados aos dos sistemas cultivados, os quais
apresentam valores inferiores, de 4-5 % de C e 2-3 % de N (Roscoe & Buurman, 2003).
O processo de oclusã o da MOS nas típicas estruturas de Latossolos (granular forte
muito pequena ) leva à intensa transforma çã o dessa fraçã o, preservando-a seletivamente.
Entretanto, tem-se constatado pequena capacidade de oclusã o da MO em solos com alto
teor de oxihidróxidos de Fe e Al . A contrituição dessa fração para os Latossolos brasileiros
foram de 1-2 % do COT (Roscoe et al., 2004 ).
Essas fra ções podem ser determinadas por meio de fracionamento f ísico por
diferença de densidade. O uso desse fracionamento permite separar fra ções orgâ nicas
cuja composiçã o e localiza çã o f ísica no solo sã o diferenciadas. Com o uso do mé todo
densimé trico, sã o separados os restos vegetais parcialmente decompostos e de baixa
densidade dos compostos orgâ nicos mais resistentes à decomposiçã o, sendo utilizadas,
para isso, solu ções de sais orgâ nicos e inorgâ nicos com densidades compreendidas na
faixa de 1,6-2,0 kg L 3 (Christensen, 1996). O iodeto de Na e o politungstato de Na sã o
algumas das substâ ncias utilizadas mais frequentemente com esse propósito. Tendo em
vista que essas frações da MOS apresentam densidade menor que 1,6 kg L 3, promove-se,
'

por meio da utilizaçã o dessas soluções, a flota çã o do material mais leve (Figura 3). Na
MOS que fica associada ao material sedimentado (fra ções areia, silte e argila ), comumente
denominada fra çã o pesada, está associada a maior parte das substâ ncias humicas do
solo. Estudos têm demonstrado que a MOS associada às fra ções pesadas (areia, silte,
argila ) geralmente correspondem a mqis de 80 % do COT.

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORG â NICA DO SOLO 287

Figura 3. Esquema de separa çã o da fra çã o da maté ria orgâ nica leve do solo por flota çã o.

Alguns trabalhos também propõem o uso da á gua para efetuar o fracionamento


densimé trico da MOL ( Anderson & Ingram, 1989 ), considerando a vantagem de menor
custo e ausência de reagentes t óxicos, como o Nal . A maior desvantagem é que a
quantidade de MOL extra ída é menor e, possivelmente, sua qualidade també m difere
daquela extra ída com solu çõ es mais densas (1,6-2 ,4 kg L 3) . Sohi et al . ( 2001) ,
"

comparando solu ções de Nal com diferentes densidades, obtiveram diferenças nas
quantidades extra ídas de fra çã o leve livre e fra çã o leve intra -agregado. O aumento da
densidade das partículas orgâ nicas é um indicativo de um está dio de decomposiçã o
mais avançado e maior transforma çã o com maior contribuiçã o microbiana .
Em alguns estudos, depois da separa çã o com soluções de diferentes densidades, a
fra çã o leve coletada é novamente fracionada em peneira com malha com aberturas
variando de 0,1-0,5 mm, dependendo do objetivo, obtendo-se, assim, a matéria orgâ nica
leve particulada . A separa çã o da MO leve por peneiramento pode ainda ser precedida
pela dispersã o, como, por exemplo, pela utiliza çã o de hexametafosfato de Na. Conforme
proposto por Cambardella & Elliot (1992 ), a suspensã o é passada em peneira de 53 [im
de maneira que a fra çã o retida é considerada a MO particulada . Utilizando esse método,
Bayer et al. ( 2004) obtiveram estoques de C na MO particulada variando de 11 a 15 % do
COT na camada de solo de 0-20 cm. Outros estudos consideram a própria maté ria
orgâ nica leve, separada por densimetria, sem o uso de peneiramento, para definir a
classe de tamanho, como sendo a fra çã o particulada (Six et al., 2001). A uniformizaçã o
de conceitos e procedimentos seria desejá vel para que possíveis comparações futuras
fossem mais acuradas.
O h ú mus é o compartimento que inclui substâ ncias h ú micas e nã o-h ú micas. Esses
dois grupos de compostos encontram-se fortemente associados no ambiente ed á fico e
não sã o totalmente separados pelos processos tradicionais de fracionamento, sendo dif ícil
definir seus limites.
As substâ ncias nã o-h ú micas podem chegar a contribuir com 10 a 15 % do COT dos
solos minerais. Sã o grupos de compostos orgâ nicos bem definidos, como carboidratos,
lignina, lipídios, á cidos orgâ nicos, polifenóis, á cidos nucléicos, pigmentos e proteínas.
Esses compostos sã o provenientes da a çã o e transformaçã o da matéria orgâ nica viva
sobre o material orgâ nico que é aportado ao solo, ou, ainda, adicionados via exsudaçã o

FERTILIDADE DO SOLO
288 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

das ra ízes. Os mono e dissacarídeos, dificilmente encontrados no solo, sã o rapidamente


oxidados e transformados em outros compostos (principalmente substâ ncias h ú micas)
pela microbiota do solo . As proteínas, os polifenóis sol ú veis e os n úcleos polifen ólicos
da lignina sã o grandes fontes de N e C na forma arom á tica, respectivamente, para a
síntese de subst â ncias h ú micas . A lignina , por exemplo, é considerada uma das
principais precursoras das subst â ncias h ú micas nas rotas de humifica çã o e sua
degrada çã o é realizada , em sua maior parte, por um grupo específico de organismos: os
fungos de podrid ã o branca ( Wolf & Wagner, 2005) .
A composi çã o do compartimentei das substâ ncias nã o-h ú micas é influenciada pela
proporçã o dos componentes qu ímicos das plantas. A composiçã o química das plantas
varia com sua natureza e idade, podendo também ser influenciada pelo tipo de solo e,
possivelmente, pela aduba ção. Espécies arbóreas, prihcipalmente leguminosas, crescendo
em ambientes com estresse químico acentuado, tendem a ter maior teor de polifen óis
sol ú veis do que plantas de ambientes com maior disponibilidade de nutrientes. A
mudança da composiçã o química das plantas com seu crescimento está ligada ao aumento
da parede celular e de sua composiçã o. A parede celular das partes jovens da planta
contém mais carboidratos e muito pouca lignina e pectina, enquanto os teores de celulose
e hemicelulose permanecem mais ou menos constantes (Quadro 6) .
As substâ ncias h ú micas contribuem com cerca de 85 a 90 % do COT dos solos
minerais. Sã o constituídas de macromoléculas humificadas amorfas, variando do amarelo
a castanho. Esse compartimento é o principal componente da MOS, consistindo a grande
reserva orgâ nica do solo. Sendo assim, muitos autores referem -se à MOS como hú mus e
grande parte da pesquisa com MOS está voltada para o estudo dessas fra ções. Essas
substâ ncias sã o formadas por reações secund á rias de síntese e têm propriedades distintas
dos biopolímeros de organismos vivos, incluindo a lignina das plantas superiores.

Quadro 6. Caracter ísticas qu ímicas de algumas esp écies da Floresta Atlâ ntica

Esp é cie Parte da planta C N P LG CL HL CR PF

gkg’
Solanum variable Folha 500 39 1 /2 75 224 176 521 37
Pec íolo 490 24 0,8 96 335 189 644 13
Caule 510 13 02
/ 146 466 207 829 08
Cassia ferrugineci Folha 550 26 12
/ 90 168 137 430 193
Pec íolo 520 11 0,4 139 473 180 802 82
Caule 530 09 0 ,3 157 496 161 790 33
Piptadenia gonoaccintha Folha 510 38 1,3 106 181 156 426 151
Pec íolo 510 17 0, 7 138 409 165 706 14
Caule 520 14 0,5 147 473 216 840 10
Croton urucurana Folha 420 35 1,0 84 150 146 401 189
Pec íolo 480 15 0,4 98 275 161 586 131
Caule 510 12 0,4 203 412 168 738 33

LG = lignina; CL = Celulose; HL = Hemicelulose;i CR = Carboidratos; PF = Polifenóis.


Fonte: adaptado de Mendonça & Stott (2003).

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 259

Atualmente, não existe um m é todo de extra ção ideal para as substâ ncias h ú r r . as
O mé todo ideal deveria : possibilitar o isolamento do material orgâ nico na forma na :
alterada; permitir a extraçã o dos compostos orgâ nicos sem contamina çã o com outras
substâncias inorgâ nicas, tais como argilas e cá tions; favorecer a extra çã o completa ,

garantindo, assim, a representatividade do material extra ído em rela çã o a todas as demais


frações de diferentes tamanhos, e, finalmente, ser universalmente aplicá vel a todos os
solos.
-
Percebe se, assim , que n ão existe um esquema ideal de extra çã o, purifica çã o e
fracionamento das subst â ncias h ú micas , A escolha de um ou outro m é todo deve,
preferenc í aImente, estar calcada nos objetivos do estudo. Deve- se ressaltar, em razão da
complexidade e gama de estruturas apresentadas pelas subst â ncias h ú micas, que o seu
fracionamento é puramente operacional e baseia -se na sua solubilidade em diferentes
solu ções . Assim, as substâ ncias h ú micas podem ser operacionalmente subdivididas
em: fra çã o á cidos f ú lvicos ( sol ú vel em á lcali e em á cido), fra çã o á cidos h ú micos
( sol ú vel em á lcali e insol ú vel em ácido) e fraçã o huminas ( insol ú vel em á lcali e em
á cido) ( Figura 4 ). O aspecto puramente operacional desse esquema de fracionamento
nã o garante que cada fra çã o seja composta por subst â ncias orgâ nicas com composição e
estruturas semelhantes .

Figura 4 . Esquema operacional de fracionamento qu í mico com base na solubilidade diferencial


das fra ções h ú micas em ambiente alcalino ou á cido.

FERTILIDADE DO SOLO
290 Ivo RIBEIRO DA ; SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Dentre os vários extratores empregados na extra çã o e fracionamento das substâncias


h ú micas, o mais comum tem sido o emprego de solução diluída de NaOH (normalmente
0,1 ou 0,5 mol L 1 NaOH) - a solução mais diluída, embora tenha menor poder de extração,
'

é preferida pela menor probabilidade de alterar a composição / estrutura das substâ ncias
húmicas. També m tem sido utilizada uma mistura de reagentes, como 0,1 mol L 1 NaOH '

e 0,1 mol L 1 Na4P207 em solução ou reagentes mais brandos, como Na4P207 a pH neutro.
'

Independentemente do extrator, são necessá rias extrações sucessivas para obter o máximo
de matéria orgânica humificada . Entretanto, um número diferente de extrações sucessivas
pode levar à recupera çã o de fra ções com características bastante distintas. Por exemplo,
Li et al. (2003) demonstraram que as primeiras fra ções extraídas com NaOH 0,1 mol L 1 '

eram compostas por substâ ncias de menor massa molecular, mais polares e mais
aromá ticas em compara çã o às fra ções! obtidas nas últimas das extra ções sucessivas. As
substâ ncias h úmicas extra ídas de solos minerais com NaOH normalmente contêm
quantidade considerável de material inorgânico (cerca de 25 %). Sendo assim, para estudos
mais refinados desses componentes, particularmente por técnicas espectroscópicas, há
necessidade de se purificar o material extra ído, reduzindo o conteúdo de cinzas (cá tions
e fração argila ) e removendo os compostos orgânicos que nã o são constituintes estruturais
das substâ ncias húmicas (polissacarídeos, ácidos orgâ nicos de baixo peso molecular, etc).
Os contaminantes inorgâ nicos podem ser reduzidos por meio de tratamentos
sucessivos com mistura de á cidos diluídos, os quais solubilizam os metais e causam a
dissolução de oxihidróxidos e argilas silicatadas. Para solos de diferentes texturas do
Rio Grande do Sul, foi demonstrado que espectros 13C-CP-MAS RMN com boa resolução
foram obtidos quando se fizeram oito tratamentos sucessivos com a mistura de HF 10 %
e HC 0,1 % (Gonçalves et al., 2003). '
Os contaminantes orgâ nicos podem ser removidos por meio de cromatografia líquida
em coluna com resina não-iônica ( XAD-8) seguida por passagem em coluna com resina
trocadora de cá tions (IHSS, 2007). Quantidades consideráveis de C podem ser perdidas
durante o processo de purifica çã o. Gonçalves et al. (2003) constataram, após oito
tratamentos com HF, que as taxas de recuperação do C foram de 52-71 %, para o horizonte
A, e de 15 a 29 %, para o horizonte B. Essas perdas, entretanto, nã o consistiram em
altera ções na distribuição dos grupamentos funcionais da MOS determinados por
CP-MAS 13C-RMN, o que indica que nã o sé trata de uma perda seletiva de grupos
específicos da MOS.
Deve-se considerar que o uso de soluções alcalinas para extração de substâ ncias
húmicas do solo tem sido muito criticado. As principais críticas são: (a) se o material que
é extraído da MOS realmente representa a composição do material que não é extraído e
de toda a fra ção orgâ nica do solo; (b ) a dificuldade em relacionar a funçã o biológica do
COT do solo com o material orgâ nico extraído; (c) as diferenças químicas encontradas
entre as moléculas orgâ nicas extraídas ém relaçã o aos mesmos materiais que estão retidos
no solo (conforma ção, capacidade de cpmplexa ção de cá tions, hidrofobicidade, etc.); (d)
criação de artefatos durante o processo de extra çã o. Uma alternativa aos procedimentos
de extração é a utilização de técnicas espectroscópicas que permitam a caracterizaçã o da
composiçã o química do COT de amostras de solo in situ , sem a necessidade de extra çã o
prévia (Gonçalves et al., 2003; Dick et ali, 2005). Contudo, deve-sé ressaltar que, em solos

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 291

mais intemperizados, haver á a necessidade de se realizar a purifica çã o das amostras de


solos para a remoçã o dos n úcleos paramagné ticos, como em solos com altos teores de Fe,
como nos Latossolos. O objetivo da remoçã o dos n úcleos paramagné ticos é obter espectros
de boa qualidade onde possam ser identificados os principais grupos funcionais. Maiores
detalhes sobre os procedimentos de extra çã o e purifica çã o de substâ ncias h ú micas sã o
fornecidos pela Sociedade Internacional de Substâ ncias H ú micas (IHSS, 2007) .
A composiçã o das subst â ncias h ú micas é extremamente variada, desde polímeros
de peso molecular relativamente baixo, em torno de 1.000 daltons, até subst â ncias
complexas de peso molecular de algumas centenas de milhares de daltons. A grande
varia çã o no grau de polimeriza çã o e no n ú mero de cadeias laterais e radicais que podem
ser encontradas nas substâ ncias h ú micas faz com que n ã o existam duas moléculas
h ú micas id ê nticas . Considerando que as subst â ncias h ú micas constituem o
compartimento da MOS de maior reatividade, elas encontram -se envolvidas na maioria
das rea ções químicas no solo. Por apresentar alta complexidade química e forte interaçã o
com a fra çã o coloidal inorgâ nica do solo, essas subst â ncias nã o sã o facilmente atacadas
pelos microrganismos do solo, decompondo-se lentamente e acumulando-se na natureza
como MOS. Tal fato foi constatado por Qualls ( 2004) em estudo de biodegradabilidade
de substâ ncias h ú micas e fra ções de litter, no qual o á cido h ú mico foi a fra çã o que
apresentou a menor taxa de mineraliza çã o ao final de uma ano, apenas 5,5 % do 14C02
evolu ído foi mineralizado, e as demais fra ções apresentaram as seguintes taxas: á cido
f úlvico, 16,2 %; fenólicos, 17 %; serapilheira, 28 %; hidrof ílica á cida, 40 %; hidrof ílica
neutro, 43,9 %; humina, 44,1 % e glucose, 45,8 %.
Existe sobreposiçã o de definições a respeito do COT do solo, as quais sã o feitas com
base em aspectos operacionais . Comumente, discutem-se na literatura aspectos
relacionados com o C lá bil e C sol úvel . Essas formas de C podem englobar constituintes
orgâ nicos de diferentes compartimentos (abordados anteriormente ) . Formas de C lá bil
podem incluir desde a matéria macrorgâ nica, C associado aos organismos do solo, o
pr ó prio C orgâ nico sol ú vel, subst â ncias n ã o - h ú micas em formas que n ã o est ã o
estabilizadas. Enfim, o C lá bil corresponde às formas que seriam de f á cil mineraliza çã o
pela microbiota do solo e pode ser determinado, seguindo-se os mé todos descritos em
Lefroy et al . (1993), Blair et al . (1995), Shang & Tiessen (1997) , Chan et al. (2001).
Dentre as formas de C lá bil, destaca -se o Ç orgâ nico sol ú vel ou dissolvido. O C
orgâ nico dissolvido (COD) por definiçã o operacional consiste na fra çã o menor que
0,45 ixm, sol ú vel em á gua . Pode ser oriundo da decomposiçã o de resíduos orgâ nicos,
litter ( Don & Kalbitz, 2005), resíduos culturais (Ciotta et al ., 2004; Ellerbrock & Kaiser,
2005) de origem microbiana, exsudados de ra ízeg (Lu et al., 2003; Souza & Melo, 2003). O
COD forma complexos sol úveis de carga neutra com c á tions metá licos, facilmente
deslocáveis no perfil do solo, de modo que cá tions como Ca2+ e Mg2+ podem ser translocados
para camadas mais profundas do solo e a toxidez causada pelo Al3+ diminuída em
subsuperf ície (Ciotta et al., 2004), alterando as reações de acidez. Atuam na movimentação
de metais pesados, além de influenciar a forma çã o de horizontes pedogené ticos (Jansen
et al., 2003). O COD é constituído por á cidos orgâ nicos de baixo peso molecular,
destacando -se os á cidos f ú lvicos e graxos, ésteres, polissacar ídeos e materiais
proteináceos (Stevenson, 1994) .

FERTILIDADE DO SOLO
292 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

O C-carv ã o é originado do processo da queima incompleta da biomassa . As


informa ções sobre o C associado ao carv ã o sã o ainda escassas em solos brasileiros. E se
se considerar o fato de o fogo fazer pá rte de alguns dos nossos ecossistemas, como, por
exemplo, nos solos do Cerrado, Terra Preta (solos da Amazônia ), a perspectiva é que haja
grande contribuiçã o dessa fra çã o para a MOS nesses solos. O C-carvã o é um importante
reservatório de C no solo, em virtude do longo tempo de residência , com capacidade de
armazenar água e cá tions, ou seja, nã o sã o inertes nos ambientes, interferindo na dinâ mica
da MOS, com papel importante na predeterminaçã o de propriedades f ísicas e químicas
da MOS em solos tropicais (Skjemstad & Graetz, 2003). Em solos de Terra Preta na regiã o
Amazônica, a contribuiçã o do C-carv ã o para o COT é cerca de 20 %, duas vezes maior
que aquela observada em Latossolo em á rea vizinha (Figura 5).

Figura 5. Contribuiçã o do C-carv ã o em rela çã o ao COT (a ) e a fra çã o terra fina ( b ) de Terra


Preta e Latossolo adjacente na região Amazônica .
Fonte : Glaser et al. ( 2001) .

Nesses solos de Terra Preta , a contribuiçã o do C-carv ã o em relaçã o à fra ção leve e
pesada da MOS diminuiu com o aumento da densidade das fra ções; 75,2 % do C da
fra çã o leve (C-FL ) era C-carvã o, enquanto, na fra çã o de densidade intermediá ria, o
C-carvã o representou 52,4 % e, na fraçã o pesada, valores acima de 19,3 % (Glaser et al.,
2000). Contribuições acima de 45 % d ò COT foram constatadas em solos da Alemanha
com propriedades de solos Chernozêmicos (Schmidt et al., 1999); em solos com uso
agrícola do EUA essa contribuiçã o variou de 10-35 % do COT (Skjemstad et al., 2002). O
carvã o tem estrutura altamente condensada, aromá tica e resistente à oxidação química e
biológica. Apesar disso, mesmo com considerá vel taxa anual de formaçã o o C-carvã o
não é a forma predominante de COT, o que indica não ser material completamente inerte
(Skjemstad & Graetz, 2003). Estudo recente també m demonstrou que o carvã o pode
contribuir para a CTC do solo (Liang et al., 2006).

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MAT é RIA ORGâ NICA DO SOLO 293

ROTAS DE FORMA ÇÃ O E CARACTER Í STICAS


DAS SUBST Â NCIAS H Ú MICAS

As subst â ncias h ú micas (SH ) sã o formadas a partir do processo denominado


humifica ção, para o qual diferentes rotas têm sido propostas (Figura 6). Dentre as v á rias
possibilidades, encontram-se desde a clá ssicá teoria que considera que as SH sã o
formadas a partir da lignina modificada até à teoria mais aceita na atualidade, a chamada
de rota dos polifenóis. Em seguida , sã o descritas, brevemente, quatro possíveis rotas de
forma çã o das SH. Os compostos com suas respectivas estruturas e as reações bioquímicas
envolvidas podem ser consultados com maiores detalhes em Stevenson (1994); Santos &
Camargo (1999); Stevenson & Cole (1999); Baldock & Nelson (1999 ); Burdon (2001); Picollo
( 2001); Canellas et al . ( 2005) e Sutton & Sposito ( 2005 ) .
Rota 1: Trata -se de teoria pioneira em que se propunha que as SH eram
exclusivamente produtos residuais da degradação da lignina . Acreditava-se que a lignina
seria incompletamente degradada pelos microrganismos, passando entã o a fazer parte
das SH do solo. A lignina sofreria modificações com a perda de grupos -OCH3 e forma çã o
de o-hidroxifen óis, além de passar pela oxida çã o de cadeias alif á ticas para a forma çã o
dos grupos -COOH . Pelo fato de as SH serem consideradas polímeros, o produto inicial
formado por meio dessa rota de humifica çã o seria a humina ( HU ), que, após oxida ções e
fragmenta ções, daria origem, inicialmente, aos á cidos h ú micos ( AH), os quais, por sua
vez, seriam submetidos a fragmenta ções adicionais e oxida çã o de cadeias laterais para
dar origem aos á cidos f ú lvicos ( AF). Portanto, conforme essa teoria, polímeros mais
complexos e condensados e de maior tamanho sã o os primeiros componentes da rota de
humifica çã o. Como ser á visto posteriormente, essa fra çã o HU difere daquelas formadas
via demais rotas por ser considerada uma fraçãò herdada, contrastando com as demais
I

que sã o consideradas HU de síntese.


Rota 2: Nesta teoria de formação, considera-se que a lignina também é uma precursora
das SH. Porém, neste caso, considera -se que a lignina é degradada pelos microrganismos,
liberando á cidos e aldeídos fenólicos, os quais sã o convertidos em quinonas por meio de
a çã o enzimá tica . Estas quinonas se polimerizam na presença ou ausência de compostos
amínicos, dando origem às macromoléculas h ú micas.

Rota 3: É semelhante à rota anterior, mas considera -se que os polifenóis sã o


sintetizados a partir de fontes que não contenham lignina, como a celulose, por exemplo.
Alguns poucos gêneros de fungos do solo sã o capazes de utilizar carboidratos simples
em seu metabolismo e produzir substâ ncias de natureza arom á tica. Stevenson (1994 ),
sumariando alguns resultados, ressalta o fato de que fungos decompõem a celulose e
outros constituintes orgâ nicos, alé m da lignina, e, nesse processo, os fungos sintetizam
macromoléculas de fenóis de colora çã o escura . |
Rota 4: De acordo com esta rota, as SH sã o formadas a partir da reduçã o de açúcares
e aminoá cidos, resíduos do metabolismo microbiano, que passam por polimeriza çã o
nã o-enzim á tica ( rea çã o de Maillard ), formando polímeros nitrogenados.

FERTILIDADE DO SOLO
294 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Resí duos de• plantas e microbiaríóS


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Rota degradativa
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Transformação microbiana Á V

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Rotas de Polimerizaçã o

Figura 6. Rotas de forma çã o de substâ ncias h ú micas.


Fonte : Adaptado de Hedges ( 1988 ); Hatcher & Spiker ( 1988 ); Stevenson ( 1994 ) .

As rotas que envolvem a síntese de SH a partir da condensa ção de polifenóis e


compostos aminados sã o as mais aceitas atualmente. No entanto, é importante ressaltar
que a ocorrência de uma rota de humifica çã o nã o exclui a existência de outras. Todas
podem estar ocorrendo ao mesmo tempo, ou uma pode estar predominando sobre a outra,
dependendo, principalmente, do tipo de substrato e condições ambientais. Em solos mal
drenados e em outros ambientes ed á ficos restritivos à atividade microbiana ( regiões
extremamente frias e alagadas, por exemplo), acredita -se que a rota de humifica çã o,
conforme a teoria da lignina ( rota 1), seja a predominante. Por outro lado, a participaçã o
de polifenóis pode ser mais importante em solos florestais bem drenados onde resíduos
lenhosos com maior teor de compostos de natureza aromá tica sã o depositados. Em solos
localizados em condições que favorecem a flutua çã o de umidade e temperatura, pode
estar predominando a síntese nã o-enzim á tica de SH por meio de condensa çã o de
aminoaçúcares. Independentemente da rota predominante, a humificação é um processo
em que ocorre a estabiliza çã o do C anteriormente encontrado em formas mais lá beis,
contribuindo para fixar o C no solo. Obviamente, nos solos, ocorrem, concomitantemente,
os processos de degrada çã o de compostos orgâ nicos mais complexos em componentes
mais simples (exemplo: quebra de proteínas com libera çã o de aminoácidos) e processos
de humifica çã o em que, geralmente, ocorre a síntese de compostos mais complexos a
partir de substâ ncias relativamente mais simples.
Os microrganismos do solo assumem importante papel na mediaçã o nos processos í
de forma çã o das SH, visto que sã o mediadores tanto nas rotas de síntese (como na rota
dos polifenóis ), quanto nas rotas degradativas ( teoria da lignina modificada ). Os
basidiomicetos s ã o considerados o principal grupo de fungos envolvidos na
transforma çã o de moléculas orgâ nicas recalcitrantes, como exemplo, a lignina, das quais
se originam as SH do solo. O possível mecanismo de atuaçã o destes microrganismos
i

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 295

está associado à liberaçã o de enzimas oxidativas extracelulares, destacando-se como os


principais grupos de enzimas envolvidas nesse processo a Mn-peroxidases, lignina
peroxidases e lacases ( Dedeyan et al., 2000), que sã o capazes de degradar compostos
orgâ nicos mais está veis, como a lignina (Wolf & Wagner, 2005) .
Outra caracter ística importante a ser salientada é que, durante o processo de
humificaçã o (Figura 6), compostos orgâ nicos nitrogenados (aminoácidos, aminoaçúcares)
podem ser incorporados às SF1 em todas as rotas. Do mesmo modo, formas inorgâ nicas
de N podem ser incorporadas, particularmente o NH4 + e o N02 . "

Resíduos de palha de arroz marcados com 13C e 15N e ( NH4) 2S04 com 15N foram
submetidos à incuba çã o com solo, durante 90 dias, com o intuito de verificar a
contribuiçã o da forma mineral de N às frações da MOS estabilizada. Quando o N mineral
foi aplicado junto com resíduo (fonte de N e C ), houve maior recupera çã o do N mineral
adicionado do que quando foi aplicado isoladamente. Possivelmente, a ausência da
fonte de C ( resíduo) limita a transforma çã o de N em formas mais está veis. Quanto à
contribuiçã o de ambas as formas de N (orgâ nica e mineral ), houve maior recupera çã o do
N derivado do resíduo vegetal que do N mineral, indicando a preferência de assimilaçã o
das formas orgâ nicas, em rela çã o à s formas minerais. A maior recupera çã o das formas
de N ( mineral e org â nica ) ocorreu na fra çã o humina ( Figura 7 ) . O N seria
preferencialmente assimilado pelos microrganismos junto com o C do resíduo em produtos
mais está veis ou por meio de mecanismos que favorecem a estabiliza ção dos produtos da
decomposiçã o do N do resíduo ( Moran et al ., 2005) .
Nas rotas de forma çã o das SH em que prevalece a via de polimeriza çã o ( rotas 2 e 3),
pode ocorrer rea çã o dos aminoá cidos com outros precursores das SH, principalmente

15
Fonte N
60 - E3 15
N mineral
O 5? ® 15
"O ' N mineral + res í duo
> "O O N mineral + 15N res í duo
15
E3 N res í duo
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Humina Á cido Acido POM > 500 um N inorg â nico
1 h ú mico f ú lvico

Fraçã o

Figura 7. Incorporação de nitrogénio de diferentes fontes nas frações da maté ria orgâ nica do
solo.
Fonte : Moran et al. (2005) .

FERTILIDADE DO SOLO
296 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

polifenóis, acarretando maiores teores de N nas substâ ncias h ú micas mais polimerizadas
e est á veis no solo (huminas ) . Dessa forma, a incorporação de N na estrutura das SH vêm
sendo objetivo de vá rios estudos em razã o do possível favorecimento do N na estabilizaçã o
do C em componentes mais humificados e está veis do solo.
Tradicionalmente, embora as SH constituam novo grupo de substâ ncias que sã o
formadas no solo por meio da transfdrmaçã o abiótica e biótica de produtos derivados de
plantas, animais e microrganismos do solo (Stevenson, 1994), estudos recentes tê m
questionado a existência de SH como nova categoria de compostos (Burdon, 2001; Simpson
et al ., 2002). Utilizando técnicas de RMN de alta resoluçã o, foi sugerido que a origem da
maior parte das SH pode ser tra çada a compostos bioquímicos definidos, tais como
carboidratos, proteínas, lignina e alguns polímeros alif á ticos (ex: componentes da cutícula
de folhas), indicando serem elas constituídas por uma mistura de componentes derivados
de plantas e microrganismos (Kellheher & Simpson, 2006), conforme argumento favorá vel
apresentado por Burdon (2001) e Sutton & Sposito ( 2005).

Caracterí sticas Quí micas e Estruturais das Substâncias Húmicas

As SH sã o quimicamente muito parecidas, mas as fra ções podem ser diferenciadas


uma das outras pela cor, massa molecular, presença de grupos funcionais, grau de
polimeriza çã o e composiçã o elementar - teores de C, O, H, N e S (Stevenson, 1994). Em
rela çã o a essa última propriedade das SH, existe uma tend ência geral de os ácidos
h ú micos (AH ) apresentarem maior teor de C, menor de O e teor similar de H em rela çã o
ao á cidos f úlvicos ( AF) . De fato, isso pode ser exemplificado com os dados obtidos por
Canellas & Fa çanha (2004) para amostras de um Argissolo Amarelo (Quadro 7) .

Quadro 7. Composiçã o elementar, rela ções at ómicas e rela çã o E 4 / E 6(1) de ácidos h ú micos e
f ú lvicos em amostras de Argissolo Amarelo

Amostra Profundidade C H N O H/C O/C C/ N EVEú

m g H'
Á cido h ú micos
1 0 ,00 -0,05 32,32 29, 75 1,16 36, 77 0,92 1,14 27,84 4, 4
2 0,05-0,10 24,19 32,95 0, 59 42,27 1,36 1, 75 40,98 4, 0
3 0 ,10 -0,20 22,04 30,22 1,00 46,74 1,37 2, 12 21,96 5,8
4 0, 20 -0,40 19,51 26,50 0, 78 53,21 1,36 2, 73 25,08 7,0

Á cido f ú lvicos
i
1 0,00- 0,05 21,44 32,33 1,38 44,84 1,51 2,09 15,56 7,8
2 0,05- 0,10 18,57 31,15 , 1,18 49 ,09 1 ,68 2,64 15.68 8, 7
3 0 ,10 -0, 20 14,43 28,09 0, 92 56,56 1,95 3,92 15.69 7, 2
4 0,20 -0,40 12,89 26, 71 0,81 59,60 2,07 4,63 15,90 9,7

Rela çã o E4 / E6 é caracterizada pela razã o de absorv â ncia nos comprimentos de ondas de 465 e 665 nm.
(1 )

Fonte : Canellas & Fa çanha (2004).

FERTIILIDADE DO SOLO
VI - MAT é RIA ORG â NICA DO SOLO 297

A partir da composiçã o elementar, podem ser obtidas rela ções utilizadas na


diferencia çã o do grau de humifica çã o dessas fra ções. Valores de maior magnitude para
a rela çã o O / C podem refletir maior teor de grupamentos carbox íiicos e carboidratos,
enquanto menor rela çã o O / C indica incremento da condensa çã o da MOS. Ussiri &
Johnson (2003) constataram na fra çã o AH menor teor de O, menor relaçã o O / C e menor
concentra çã o de grupamentos carboxíiicos em rela çã o aos AF. Comparando a relaçã o
O / C obtida por Canellas & Fa çanha ( 2004), verifica -se que os AH apresentaram valor
mé dio (1,93) menor que os AF (3,32) (Quadro 7).
A rela çã o H / C mais alta indica maior alifaticidade e menor propor çã o de anéis
arom á ticos. Do mesmo modo que a rela çã o O / C, o incremento dessa rela çã o reflete o
aumento da alifaticidade da MOS em profundidade (Quadro 7) (Canellas & Fa çanha,
2004 ). Constatou -se ainda correla çã o linear positiva ( r = 0,391**) entre as rela ções O / C
e H / C. A rela çã o E 4 / E 6 (Quadro 7) é determinada pela razão entre a absorbâ ncia a 465 e
665 nm, obtidas pelo uso da técnica de ultravioleta-v ísivel ( maiores detalhes dessa podem
ser vistos em tratados sobre o assunto (Stevenson, 1994; Ceretta et al., 1999; Canellas &
Rumjanek, 2005) . Uma menor E 4 / E6 está associada à maior presença de componentes
arom á ticos. Portanto, os AH apresentaram rela çã o E4 / E 6 inferior aos AF, bem como
houve correla çã o desta com a rela çã o H / C.
Quanto ao teor de N nas SH, era esperada a seguinte ordem: AF < AH < HU.
Entretanto, no estudo de Canellas & Fa çanha ( 2004), essa tend ência nã o foi verificada .
Já Ussiri & Johnson (2003) constataram aumento na concentraçã o de N nos AH e reduçã o
da rela çã o C:N em comparaçã o aos AF. A rela çã o C:N variou de 27,3-57,2 e de 18,3-26,2
para AF e AH, respectivamente. O estreitamento da relação C:N com o avanço do grau de
humifica çã o é observado com a perda de C02 e incorpora çã o de N (Figura 8).
Esse comportamento explica parte da dificuldade de se prever a taxa de liberaçã o de
N do solo para as plantas pela mineraliza çã o de formas orgâ nicas . Por se encontrar
incorporado na estrutura de compostos orgâ nicos nitrogenados, na forma heterocíclica,
a mineraliza çã o dessas formas é dificultada, liberando N inorgâ nico de maneira lenta e
gradual: entretanto, o N pode ser encontrado em proporções significativas em forma
proteiná ceas (Schulten & Schinitzer, 1998; Schulten & Leinweber, 2000 ). Mahieu et al.
( 2002) constataram que 60-80 % da á rea de espectros de RMN de 15 N correspondia a

RéViduo Fraç ído f ú lviCv, -A. Ácido h úmico Humin á


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Figura 8. Esquema de decomposiçã o / humificação da matéria orgâ nica do solo.

FERTILIDADE DO SOLO
298 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

estruturas de N-amida , enquanto o N em forma heterociclica correspondeu apenas a


cerca de 7-22 % em amostras de AH, indicando que moléculas estruturalmente mais
lá beis podem sobreviver à decomposiçã o microbiana .
Os principais grupamentos funcionais das substâ ncias h ú micas sã o: carbox ílicos
( -COOH ) , alcoólico (-OH ), fen ólico ( -OH ) , carbonil (C = O ), quinona (anel C = O ) ,
metoxil (OCH3) e amínico (-NH2) (Figura 9) .

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R -C*
OH *,
-
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I I I R -NH2 -R-, R-CO-R- R -C -OH, R -COOH


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Amí nico Cetoha
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Figura 9. Exemplos de grupamentos funcionais da maté ria orgâ nica do solo.

Os grupamentos funcionais s ã o determinados, tomando -se como base as


propriedades acídicas das substâ ncias h ú micas. A acidez total dos grupamentos
funcionais das substâ ncias h ú micas pode ser calculada por meio do somatório dos
grupamentos carboxílicos e fenólicos. Deve-se considerar que as cargas negativas
superficiais sã o dependentes de pH. Assim, com a elevaçã o do pH, ocorre dissociaçã o
dos grupamentos orgâ nicos, de acordó com o esquema:

,f. .
X //
R.c * OH- RO * «,<>
OH *
V

.V-x- *
R = radica orgânico

Com a elevaçã o do pH ocorre incremento significativo das cargas superficiais das


substâ ncias hú micas. Em AH e AF extraídos de um solo orgâ nico, os incrementos foram
verificados na faixa de pH 4-6 ( Figura 10), constatando-se maior contribuição dos AF,
que de AH, na gera ção de cargas. Esse comportamento deve-se à menor constante de
dissociaçã o e abund â ncia dos grupamentos carboxílicos. O valor de log Kl ( referente
aos grupamentos carboxílicos) foi, em média para dois horizontes, 4,3, para os AF, e 5,23,
para AH, resultando em uma diferençq de aproximadamente uma unidade, conferindo
aos AF maior tendência de ionizaçã o. C) log K 2 ( referente aos grupamentos fenólicos) foi
>
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 299

700 - .
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Figura 10. Curvas de desenvolvimento de cargas como variá vel do pH, em AH e AF extra ídos
i
do horizonte Hs de um solo org â nico.
Fonte : Gondar et al . ( 2005 ) .

em mé dia 8,7 para ambos, AH e AF, e a rela çã o entre grupos carbox ílicos de HA / FA foi
de, aproximadamente, 4:6 (Gondar et al., 2005), o que refor ça a premissa de que a diferença
r
nas cargas geradas pelos AF e AH está principalmente relacionada com a presença de
grupamentos carboxílicos. Entre pH 3 e 6,5, ocorre aumento linear nas cargas superficiais,
representando a dissocia çã o dos grupamentos R-COOH. Alé m deste pH, o gradiente
reduz o poder tampã o do á cido, representando a dissocia çã o de grupamentos fenólicos.
Dessa forma , como grande parte dos grupamentos R-COOH dissocia -se para â nion
carboxilato nos valores de pH encontrados na maioria dos solos á cidos, sã o esses
grupamentos que têm grande influ ência sobre a CTC dos solos.
Os grupamentos fen ólicos também tê m participaçã o, uma vez que substituições dos
componentes dos anéis benzênicos podem reduzir os valores de pKa dos grupamentos
fenólicos, permitindo que eles se dissociem em valores de pH mais baixos. Entretanto,
grande parte deles nã o está dissociada quando o pH esta abaixo de 9. Os AF apresentam
maior n ú mero de pr ó tons dissociá veis por unidade de massa do que os AH gra ças à
maior quantidade de grupamentos R-COOH e jnaior acidez (carga ) total (Quadro 8).
Em média, os grupamentos carboxílicos corresponderam a 73 % da acidez (carga ) total
nos AF, enquanto nos AH, correspondem a 54 %. A acidez total foi, em média, de
733 cmolc kg 1 para AH, inferior à observada para AF, de 1.111 cmolc kg 1.
' '

Contudo, ambas as fra ções, AH e AF, apresentam grupamentos reativos que


potencializam ter mais cargas dissociadas do que a capacidade de troca típica de uma
argila 2:1 ( < 2 molc kg 1) . Visto que grande parte dos grupamentos acídicos das
"

substâ ncias h ú micas se dissocia entre pH 5 e 7, espera-se que elas tenham carga líquida
negativa nos solos. Na realidade, esses compostos revelam car á ter anf ó tero
desenvolvendo, alé m das cargas negativas, cargas positivas, dependendo do pH do solo
e do PCZ dos compostos orgâ nicos. Em geral, as cargas positivas estã o associadas à
protonaçã o do grupamento amino:
5

FERTILIDADE DOI SOLO

i
5
I
300 Ivo RIBEIRO SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Quadro 8. Acidez (carga ) total (1) e acid èz dos grupamentos carbox ílicos e fenólicos de á cidos
h ú micos e f ú lvicos de Latossolos

Solo Horizonte ^
Á cido h ú micos Á cidos f ú lvicos

Acidez total -COOH Fenó lico Acidez total -COOH Fen ó lico
:

mmolc kg -1
LV AI 671 360 311 1.064 782 282
A3 688 368 320 1.117 819 298
BI 694 371 323 1.139 836 303
B2 882 473 409 * 1.127 827 300
DMS( O , O5 ) 201 , 92 82 63 44 35
LE AI 654 351 303 1.083 794 289
A3 718 386 332 1.066 780 286
BI 762 411 351 1.005 736 269
B 21 836 449 386 973 715 258
B 22 914 489 425 1.080 794 286
DMS( O, O 5) 240 127 107 97 60 29

GH 878 471 407 872 635 237

Acidez total = -COOH + -OH . LV = LatossoloJ Vermelho-Amarelo; LE


(1 )
= Latosso Vermelho- Escuro; GH = Glei
H ú mico; DMS = diferen ça m ínima significativa .;
Fonte: Mendon ça & Rowell (1996) .

NH3+ - CH - COOH NH2 - CH-COOH CA NH 2 - CH - COO-


Meio ácido Ponto isoelétrico (PCZ) Meio básico

Além dos grupamentos funcionais, a maior contribuição das SH na geraçã o de cargas


passíveis de rea çã o de troca é aumentada em razã o da alta superf ície específica das
substâ ncias h ú micas (que pode chegar a 900 m 2 g 1 ) . Alvarez-Puebla et al. ( 2005)
'

determinaram a á rea superficial aparènte (SA ) de SH, constatando um aumento da SA


com a diminuiçã o da complexidade molecular do AF > AH > HU. Os AF, AH e HU
foram extraídos de SH comerciais, sendo os valores de SA obtidos para AF de 79-97,7 m2 g 1, "

para AH os valores variaram de 52,4-89,9 m2 g 1 e, para HU, de 43,1-57,3 m2 g 1 . De


" "

acordo com esses autores, essa diminuiçã o na SA com o aumento da complexidade


estrutural é devida à agrega çã o intramplecular, com o consequente aumento do tamanho
da molécula e decréscimo da polaridade.
Considerando essas duas propriedades, a matéria orgâ nica pode reter até 20 vezes
seu peso em á gua por meio de ponte? de H+ dos grupamentos reativos. Contudo, os
compostos aromá ticos que predominam no n úcleo das SH sã o hidrof óbicos e, por esta
razã o, o n úcleo encontra -se condensado, tendendo a reduzir sua superf ície de contato
com o meio aquoso, adotando forma esf érica . Sã o os grupamentos funcionais, com cargas

FERTIIí IDADE DO SOLO


VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 301

elé tricas nã o compensadas, que formam as cadeias alif á ticas hidrof ílicas. Sendo assim,
a capacidade de retençã o de água também será influenciada pela proporção das moléculas
de anéis arom á ticos ( hidrof óbicos) e dos radicais laterais ( hidrof ílicos) . A redu çã o da
rela çã o H / C ( como ocorrido dos AF para a fra çã o HU ) resulta em diminuiçã o da
capacidade de hidrata çã o das substâ ncias h ú micas. Essas microrregiões de natureza
hidrof óbica , conforme já mencionado, sã o importantes para a retençã o de muitos
pesticidas e contaminantes de natureza apoiar .
A massa molecular relativa dos AH é maior do que a dos AF. O tamanho molecular
dos AF e AH pode ser estimado por meio de v á rias técnicas, sendo as mais comuns a
osmometria , cromatografia por exclusã o de tamanho e ultracentrifuga çã o. Técnicas
avançadas de espectrometria de massas utilizando ciclotron de íons també m tê m sido
usadas para determinar a massa de substâ ncias h ú micas (Koch et aí., 2005) e, certamente,
contribuirã o para melhorar o conhecimento neSsa á rea . As informa ções a respeito do
peso molecular sã o dadas, geralmente, com base no n úmero médio ( nM ), peso médio
( pM ) e no índice de polidispersidade ( pM / nM), dependendo da técnica utilizada na sua
determina çã o . Os valores de tamanho de AF e AH citados na literatura sã o de dif ícil
compara çã o, visto que foram obtidos por meio de diferentes técnicas e condições de
opera çã o dos equipamentos. De modo geral, o tamanho dos AF encontra -se na faixa de
1.000 a 3.000 daltons - Da, ou massa at ó mica unificada - u (1 Da = 1 u = 1 / 12 da massa
;
do 12C ), o que é inferior ao observado para os Aíl, que se encontram na faixa de 200.000
até mais do que 400.000 Da (Stevenson, 1994) .
Entretanto, tem sido levantada a hipó tese de que o alto peso molecular relatado na
literatura possa ser explicado pela associa çã o de moléculas menores, formando agregados
com propriedades de macromoléculas. Simpson et al. (2002), por meio de técnicas de
RMN e cromatografia líquida , obtiveram ind ícios de que as SH podem ser facilmente
separadas e que a estrutura macromolecular poderia ser resultante de um fenô meno de
agrega çã o dessas substâ ncias, em razã o da complexa çã o via cá tions metá licos (Simpson
et al., 2002; Baalousha et al., 2006).
Vale mencionar que dados histó ricos de pesquisa indicam que as substâ ncias
h ú micas sã o micelas de natureza polimé ricaj com formato de espirais estendidas
irregularmente com as seguintes características: (a ) estrutura básica de anéis aromá ticos
de fenol di-ou- tridróxidos interligados por pontes de -O-, -CH2-, -NH-, -N=, -S- e outros
j

grupos que contêm grupos -OH livres e liga ções duplas de quinona, obtendo na sua
estrutura grupamentos carbox ílicos, hidroxilas, çarbonilas e alcanos; (b ) grande n úmero
das cadeias de alcanos C1-C20 substituídas ou nã o por grupamentos que contêm O
ligados a cadeias menores de C; ( c ) grupos arom á ticos e alcanos conectados,
principalmente, por liga ções C-C para formar a estrutura básica das moléculas hú micas;
(d ) proteínas e carboidratos nã o ligados covalentemente à estrutura principal ("core")
podem ser encontrados associados à superf ície das substâ ncias húmicas, formando uma
estrutura muito está vel, havendo liga ções cruzadas entre as diferentes partes das
moléculas. Pesquisadores têm tentado desenvolver modelos químicos para representar
a estrutura média dessas substâ ncias, como os apresentados para AH por Shulten &
Schnitzer (1993, 1997) e por Alvarez-Puebla et al. (2006). No entanto, mais recentemente,
têm surgido novas proposições para a origem e estrutura das SH.

FERTILIDADE DO SOLO
302 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Conforme comentado anteriormente, se for levado em conta serem as SH formadas


por fragmentos parcialmente mddificados de compostos derivados de plantas e
microrganismos, as SH então não poderiam mais ser classificadas como polímeros, mas,
sim, supramoléculas ( uma espécie de agregado ) estabilizadas por liga ções fracas
(interaçã o hidrof óbica, pontes de hidrogénio) e n ã o por ligações covalentes, como era
postulado anteriormente (Burdon et al., 2001; Piccolo, 2001; Simpson et al., 2002; Sutton
& Sposito, 2005) . Os íons metá licos do solo parecem ter papel preponderante na
estabiliza çã o desses componentes (Simpson et al., 2002) e devem assumir importâ ncia
especial em solos tropicais altamente intemperizados. Essa espécie de modelo proposto
de "agregado" difere substancialmente da visão tradicional de polímeros em forma de
espiral estendida (Simpson et al., 2002 ) (Figura 11).
Na realidade, as SH apresentariam peso molecular relativamente baixo, inferior a
2000 Da (Simpson et al., 2002). Em eétudos usando técnica de cromatografia por exclusão
de tamanho, o peso molecular de SH extraídas de diferentes solos variou de 12 a 17,3 kDa,
para AH, e de 7,9 a 11 kDa, para AF ( Perminova et al., 1999 ), e de 9 a 14 kDa, para AF, e
de 15-20,4 kDa, para AH ( Perminoya et al., 2003) .
Com relaçã o à natureza da estrutura molecular das SH, nas últimas décadas, estudos
utilizando técnicas espectroscópicá s, como a Ressonâ ncia Magné tica Nuclear do 13C
( 13C-RMN ) , Resson â ncia Eletr ô riica Paramagn é tica ( REP ), Infravermelho com
transformada de Fourier (FTIR) , UWVisível, dentre outras com equipamentos hifenados
como a PY / GC / MS (Pirolise / Cromatbgrafia Gasosa / Espectrometria de massa), permitiram
grande avanço na caracterizaçã o da$ substâ ncias h úmicas. As revisões de Oades (1989);
Hayes et al. (1989); Stevenson (1994); Beyer (1996); Baldock & Nelson (1999);

Figura 11. Modelo conceituai de substâ rícias h ú micas conforme a visão tradicional de polímeros
em forma de espiral estendida (a ) òu conforme o conceito dé supramolécula formada por
moléculas de tamanho pequeno estabilizadas por ligações fracas (b). Esferas vermelhas:
íons metá licos; unidades em preto: polissacar ídeos; unidades em azul: polipeptídeos;
unidades verdes: cadeias alif á ticas; unidades marron: fragmentos aromá ticos de lignina .
Fonte: Simpson et al. (2002) j

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MAT é RIA ORGâ NICA DO SOLO 303

Kogel-Knabner (2000 ); Schulten & Leinweber (2000); Hatcher et al. (2001); Piccolo ( 2001);
Simpson ( 2001); Canellas & Santos ( 2005); Roscòe et al . ( 2006) apresentam informa ções
pormenorizadas sobre os princípios das técnicas e seu emprego no estudo da composiçã o
e estrutura das SH.
Entretanto, os modelos até entã o propostos parecem ainda nã o refletir os avanços

^
oriundos da utiliza çã o das técnicas espectroscópi as e termodegradativas, anteriormente
citadas. A percepçã o a respeito da estrutura arom á tica das SH, por exemplo, tem sido
questionada . Embora as SH mostrem propor çã o substancial de seu C associado a n úcleos
de natureza aromá tica , o grau de aromaticidade (delas é bem menor do que se acreditava
há algumas d écadas. Assim, os modelos de estruturas moleculares passam a levar em
considera çã o que estruturas alif á ticas sã o de maior import â ncia do que previamente
pensado. O uso de técnicas espectroscópicas tem possibilitado a verificaçã o da presença
de maior propor çã o de compostos mais alif á ticos, especialmente da MOS associada à
fra çã o argila (Schmidt et al., 2000; Rumpel et al., 2004; Dick et al ., 2005) .
Os AF sã o o grupo de menor peso molecular e, aliado ao fato de apresentarem maior
densidade de grupamentos carbox ílicos, revelam! maior solubilidade e polaridade que os
AH, o que confere aos AF maior mobilidade no solo. Sendo assim, o tamanho e a nature-
za das diferentes SH tê m implica ções pr á ticas . Por exemplo, a complexa çã o de metais
pesados por moléculas de AF pode acarretar su á maior mobilidade no solo ( maior risco
de lixivia çã o e contamina çã o do lençol freá tico) em compara çã o com a complexaçã o por
AH e HU que sã o maiores, portanto, menos sol úveis e menos m óveis no solo. Isso foi
demonstrado pela redu çã o do fluxo difusivo de Cu em dois solos tratados com doses
crescentes de AH, mas nã o com doses crescentes de á cido cítrico (altamente polar e de
pequeno tamanho) (Flancer N. Nunes, dados não publicados). Por outro lado, a adsorçã o
e a reduçã o do potencial de pesticidas de natureza mais apoiar podem ser maiores pela
fra çã o HU do que para AH ( Figura 12). De acordo com Ferri et al. ( 2005) , isso pode ser
I

atribuído à maior predominâ ncia de grupos oxigenados na fra çã o humina com vistas em
contribuir para maior sorçã o do pesticida "acetodhlor", via pontes de H, e à maior contri-
buiçã o dos grupos alif á ticos, via intera ções hidrof óbicas, quando comparada aos AH.
Analisando as propriedades da MOS até aqui discutidas, pode-se inferir que, durante
o processo de transforma çã o da MOS, d á -se origem a substâ ncias orgâ nicas mais

humificadas, no sentido AF > AH —> HU (Figuija 13).
Apesar de ser esperada maior aromaticidade da MOS em razã o da r á pida taxa de
ciclagem em regiões tropicais ú midqs, ocorre estiabiliza çã o coloidal da MOS quando da
sua associa çã o com a fra çã o argila ( ver discussqo mais detalhada posteriormente), de
forma que h á um retardamento na sua ciclagíem, dando origem a uma MOS com
predominâ ncia de compostos mais alif á ticos (Schulten & Leinweber, 2000; Dick et al.,
2005; Dieckow et al., 2005a ). j
Essa MOS de natureza mais alif á tica pode ser oriunda de substâ ncias paraf ínicas
(ceras, suberinas, etc.) do material vegetal aportadjo ao solo em virtude de sua preservaçã o
seletiva no processo de decomposiçã o e da conjtribuiçã o das ra ízes (Stevenson, 1994;
Buurmann et al., 2005). No entanto, estudos mais recentes indicam que parte substancial
dos compostos mais alif á ticos associados à fra çã o argila pode também ser de origem

FERTILIDADE DO SOLO
304 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Figura 12. Rela çã o entre a concentra çã o de equilíbrio (Ceq ) e quantidade sorvida de acetochlor
(Qs), pela fra çã o á cidos h ú micos ( a ) e huminas (b ) de um Argissolo submetido à semeadura
direta (SD) e preparo convencional ( PC ).
Fonte : Ferri et al . ( 2005 ) .

Acido fúlvico
Amarelo Amarelo
silSSl
iilpr
-
Acido húmico
Preto
acinzentado

da cor
Humina

Preto

lisdeirte do grau de potimiriza çâ O

2.000 datons
m iio prst» molecular 300.000 daltons

± 45 %; m da intensidade da cor ± 70 %
m

± 48 % !
rmm
m ... . .
c ot ú W « C
* ± 30 %

EíliiiPi *^ f ési Í»ií:Ba acidez


MWpymaZgl V:
trocavcl ± SOO cmolc kg 1 *

: :

Figura 13. Propriedades qu ímicas e colpidais das subst â ncias h ú micas.


Fonte: Adaptado de Stevenson & Elliott (1989 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 305

microbiana (Wattel-Koekkoek et al., 2001; Chefetz et al., 2002; Rumpel et al., 2004; Dieckow
et al., 2005a ) ou seja, são metabólitos intermediá rios da decomposição de resíduos vegetais
ou componentes da estrutura microbiana que têm sido seletivamente preservados como
consequê ncia de suas caracter ísticas f ísicas e qu ímicas. Kiem & Kogel-Knabner ( 2003)
encontraram evid ências da estabiliza çã o de a çúcares de origem microbiana nas frações
mais finas do solo. Dieckow et al. (2005a ) atribu í ram a diferença na composiçã o da MOS
associada à fra çã o de tamanho silte e argila de Argissolos brasileiros cultivados e sob
campo nativo às mudanças na popula çã o da comunidade microbiana do solo, alterando,
portanto, a qualidade de seus produtos bioquímicos. Simpson et al. ( 2004) ressaltaram a
contribuiçã o de aminoá cidos derivados de fungos e bacté rias na acumula çã o do C de
origem microbiana na fra çã o silte + argila, prc vavelmente estabilizados por meio da
superf ície reativa dessas partículas, principalmente argila . Esses autores verificaram
acumula ção preferencial de C aminoácidos derivados de fungos (glucosamina ) em rela çã o
aos de origem bacteriana (galactosamina e á cido mur â mico) na fra çã o < 53 gm, em
amostras de macroagregados oriundas de solo sob sistema plantio direto.
Portanto, estudos que visem caracterizar a composiçã o da MOS sã o de grande
importâ ncia, gra ças ao papel que esta fra çã o apresenta , sobretudo em solos mais
intemperizados. Adicionalmente, o melhor entendimento de sua natureza e dos fatores
que governam sua estabiliza çã o auxiliar á na busca de prá ticas de manejo que contribuam
para sua preserva çã o.

ESTABILIZA ÇÃ O DA MATÉRI A ORG Â NICA DO SOLO


Dinâmica e Tamanho dos Compartime ntos

Para conhecer o papel da MOS no ambiente e seus efeitos sobre as propriedades do


solo faz-se necessá rio entender melhor sua dinâ mica . Essa dinâ mica é resultante da
,
intera çã o de grande n ú mero de fatores que determinam os fluxos de entrada e de saída
da MOS e que governam o tamanho de cada compartimento (Quadro 9). Fatores tais
como: clima ( principalmente umidade e temperatura ), composiçã o do material vegetal
( teor de lignina, polifenóis, rela çã o C / N / P / S), além das caracter ísticas inerentes ao
solo, ( textura, mineralogia, fertilidade, topografia, microbiota ), e o sistema de manejo
adotado, ir ã o influenciar, de forma diferenciada , os compartimentos em questã o,
»

determinando o tamanho de cada um deles.


Se se voltar aos compartimentos da MOS, ver-se-á que a parte viva ( BIO) e a lá bil
LAB (ambos compartimentos não protegidos) (Quadro 9) apresentam grande dinamismo,
sendo os fatores mais atuantes em sua dinâ mica e no controle de seu tamanho: a própria
composiçã o química do resíduo retornado ao solo, a disponibilidade de substrato, os
aspectos clim á ticos e o manejo.
A composiçã o química das espécies é diferenciada basicamente pela propor çã o de
seus compostos orgâ nicos (compostos solúveis, proteínas, celulose, hemicelulose, lignina,
polifenóis). Esses compostos, por sua vez, apresentam um padrã o de decomposiçã o

FERTILIDADE DO SOLO
306 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Quadro 9 . Compartimentos da mat é ria orgâ nica do solo, taxa de ciclagem e hip ó tese dos
controles prim á rios do tamanho c os compartimentos

Controle do tamanho
Compartimento Tempo de ciclagem
do compartimento

N ã o Protegido
BIO ( biomassa microbiana ) 2,5 anos em clima temperado e Disponibilidade de substrato;
0, 25 ano em clima tropical condi çõ es adversas ( metais,
ú mido xenobi ó ticos ); manejo ( CA )

LAB ( l á bil ) 20 anos em clima temperado e 5 Recalcitr â ncia do material vegetal;


anos em clima tropical ú miclo clima e disponibilidade de
substrato; manejo ( CA ) ( Cl )

Protegido
Mat é ria orgâ nica quimicamente Depende da mineralogia Mineralogia e textura ; nitrogé nio
protegida ( prote çã o coloidal ) -1.000 anps do solo ( Cl ) ( CP)

Mat é ria org â nica fisicamente Dependente do manejo do solo Sistemas de preparo do solo; quebra
protegida ( proteçã o estrutural ) ( resist ê ncia f ísica ) de agregados; textura do solo ( CP)

CA - Compartimento ativo - macroagregados; Cl = Compartimento intermedi á rio - microagregados dentro de


macroagregados; CP = Compartimento passivo - intramicroagregados.
Fonte : adaptado de Duxbury et al . (1989 ) .

diferenciado. Resíduos com diferente composiçã o apresentar ã o taxas de ciclagem


diferenciada: numa fase inicial, os compostos mais lá beis, sol úveis em água (aminoácidos
livres, á cidos org â nicos, a çú cares ) sã o facilmente decompostos pela maioria dos
microrganismos do solo com r á pida taxa de crescimento ( Wolf & Wagner, 2005)
( Figura 14) . J á a celulose e a hemicdlulose
sã o carboidratos com maior complexidade
estrutural, sã o insol úveis e precisarrj ser convertidos em unidades de tamanho menor,
via sistemas enzimá ticos extracelu ares especializados, para serem utilizados pela
microbiota (Wolf & Wagner, 2005). A taxa de decomposiçã o de hemicelulose e celulose,
quando associadas a complexos com lignina, tende a ser diminuída, de modo que, quanto
maior a propor çã o de compostos menos lá beis, mais lentas serã o a decomposiçã o e a
ciclagem dos res íduos, que contrib uem em parte para o compartimento LAB. Da í
resulta mais massa remanescente permanecendo no solo ( Berg, 2000 ), de forma a
contribuir para o compartimento PROTEGIDO da MOS (Quadro 9 ) .
Algumas esp écies, como o mLho, contribuem mais com compostos fenólicos,
precursores das SH (Martens, 2002 ). Por outro lado, sã o os compostos facilmente
mineralizá veis os prontamente utilizá veis pela microbiota, permitindo sua coloniza çã o
e consequente proliferaçã o, contribuindo, portanto, para o compartimento BIO. Durante
o próprio processo de decomposiçã o microbiana, ocorrem mudanças na qualidade do
substrato, que envolvem tanto mudanças químicas no substrato, como sucessão de
microrganismos há beis competindo pelo substrato remanescente ( Berg, 2000).

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 307

Figura 14. Modelo de decomposi çã o de diferentes componentes da serapilheira . As linhas


verticais pontilhadas delimitam as fases correspondentes à decomposi çã o r á pida ,
intermediá ria e lenta ao longo do tempo.
Fonte: Adaptado de Berg ( 2000) .

Os trabalhos que relacionam a qualidade aos resíduos com a qualidade da MOS


ainda sã o incipientes. Nesse sentido, Canellas et al. ( 2004) avaliaram a influência de
diferentes espécies de leguminosas herbá ceas perenes, vegetaçã o espontâ nea e capim-
colonião na qualidade da matéria orgâ nica de um Argissolo Amarelo. O teor de COT não
foi influenciado após 28 meses de cultivo das leguminosas; entretanto, houve alteraçã o
na rela çã o AH / AF. As menores rela ções foram constatadas nas á reas cultivadas com
leguminosas; a á rea cultivada com o capim-coloniã o apresentou relaçã o média para as
camadas de 0-5 e 5-10 cm de 0,62, o que permiti ressaltar um cará ter mais fulvá tico das
SH quando leguminosas são cultivadas. A menor relaçã o AFI / AF (0,24) entre as espécies
de leguminosa foi constatada para á rea cultivada com o amendoim forrageiro em virtude
de sua mais alta contribuição de C-AF (2,24 g kg 1) na camada de solo de 0-5 cm, enquanto,
'

na camada de 5-10 cm, a menor rela çã o ( 0,23) foi observada na á rea cultivada com o
Kudzu, em razã o da menor contribuição do C-AH (0,35 g kg 1). Verificou-se, ainda nesse
'

estudo, altera çã o nas propriedades das SH, coir . reduçã o no valor da acidez carboxílica
dos AH extraídos da á rea cultivada com Kudzu, o que, segundo os autores, pode estar
relacionado com o baixo teor de lignina dessa espécie.
Quando se altera a vegetaçã o natural de uma á rea para adoçã o de um sistema
agrícola, o aporte orgânico é prontamente modificado em qualidade e quantidade. Esses
fatores influenciam bastante o dinamismo da matéria orgâ nica ativa e podem levar à
rá pida reduçã o do compartimento lá bil (LAB) ( Freixo et al., 2002; Roscoe & Buurman,
2003). Entretanto, o tipo de manejo empregado é condiçã o decisiva na altera çã o dos
estoques de COT no solo, de modo que pode resultar em, até mesmo, supera ção dos
estoques existentes em solos sob a vegeta çã o nativa . Tal fato foi observado por

FERTILIDADE DO SOLO
308 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Diekow et al. (2005b ) em á reas cultivadas com Lab Lab intercalado com milho e feijã o
guandu sob plantio direto (SPD ), por 17 anos de cultivo; essas á reas apresentavam
estoques de C e N que superavam os do solo sob vegeta çã o nativa . Se se considerar o
aspecto disponibilidade de substrato, resíduos de culturas anuais que revelam menor
teor de lignina e polifen óis, e menor rela çã o lignina / N e polifenóis / N t ê m sua
decomposiçã o favorecida , quando comparada à dos resíduos de uma floresta . Esse
comportamento, em primeira instâ ncia, favoreceria a atividade de organismos do solo.
Contudo, se o aporte orgâ nico nã o for constante, a escassez de substrato acarretar á um
declínio dr á stico no n ú mero e na diversidade de organismos.
Além da qualidade, a quantidade do aporte orgâ nico e as condições do meio podem
influenciar diretamente a atividade microbiana . Em á reas cultivadas com eucalipto em
condições de temperatura mé dia anual relativamente baixa, na regiã o de Virginó polis
(MG ), a menor temperatura favoreceu a manutençã o da fra çã o leve ( FL ) em teores mais
elevados que na regiã o de Belo Oriente (MG ), cuja temperatura mé dia anual mostrou-se
mais alta . Em média , na regiã o de Belo Oriente, a FL contribuiu com 8, 5, 4 e 3 % do
COT, respectivamente, para as cama das de solo de 0-5, 5-10 e 10-20 cm, enquanto, na
regiã o de Virginópolis, a FL contribiliu em média com 11,6, 5,5 e 4 % do COT, para as
camadas (Lima , 2004) . Oscila ções constantes de temperatura e umidade podem aumentar
o n ú mero de ciclos de umedecimenlo e secagem do solo, alterando drasticamente as
popula ções de organismos. Dada a diversidade de possibilidades, é dif ícil prever como
os organismos ser ã o alterados, mas é sabido que alguns grupos de organismos podem
ser favorecidos em detrimento de outros.
Em solos naturalmente á cidos, com baixa disponibilidade de nutrientes, para o
estabelecimento de uma cultura, é comum a pr á tica da calagem e fertiliza çã o do solo.
Ambas as prá ticas aumentam a disponibilidade de nutrientes para os organismos,
acarretando aumento de sua atividade e, se houver disponibilidade de substrato orgâ nico,
de sua populaçã o. Por outro lado, o aumento da popula çã o e da atividade microbiana
tem sido verificado sob condições onde se faz a adiçã o de apenas uma fonte lá bil de C
orgâ nico, resultando na redu çã o c . a MOS já existente . Esse efeito é comumente
referenciado na literatura como efeito "priming" (Kuzyakov et al., 2000). Com esse efeito,
haver á aumento do dinamismo nã o só da fraçã o viva, mas també m da maté ria orgâ nica
nã o-vivente. Inicialmente, aumentará a taxa de decomposiçã o / mineralizaçã o da matéria
macrorgâ nica e substâ ncias nã o-h ú micas (compartimento LAB) e, por último, das SH
(compartimento PROTEGIDO) (Quadro 9) . Dessa forma, a estabiliza çã o do C orgâ nico
no solo passa pela escolha adequada de esp écies vegetais para esquemas de rota çã o de
culturas que garantam não apenas elevado aporte de C ao solo, mas também da qualidade
desses materiais (ver detalhes a seguir sobre manejo da MOS) .
O tempo em que a MOS é ciciada dentro dos compartimentos nã o protegidos e
protegidos é diferenciado. O tempo de ciclagem é dado pelo "tempo médio de residência
(TMR ou meia -vida (T1 / 2)" do elemento ( no caso a MOS). A MOS de baixa densidade
(LAB) tem apresentado ciclagem mais rápida que a MOS associada às partículas minerais
(PROTEGIDA) . O TMR da MOS em seus compartimentos depende da qualidade e da
recãlcitrâ ncia bioquímica da MOS, bem como de sua localizaçã o espacial, do que resulta
sua acessibilidade aos microrganismos do solo (Six & Jastrow, 2002). Em Latossolo sob

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 309

floresta, na regi ã o de Manaus, a MOS apresentou um TMR de 8-10 anos para o


compartimento ativo; em torno de 70 anos, para o compartimento lento, e de 500-1.500
anos, para o compartimento passivo (Telles et al., 2003) .

Mecanismos de Estabilização
Grande parte da estabilidade da MOS ainda não é completamente entendida . Sabe-se
que, alé m da proteçã o coloidal e f ísica, parte da oroteçã o da MOS advém de sua estabili-
dade bioquímica . No que se refere ao mecanismo de proteçã o f ísica, a agrega çã o atua
protegendo compostos orgâ nicos nã o-seletivos da decomposição microbiana, enquanto
a intera ção com a fase mineral pode favorecer a aroteçã o de moléculas específicas (Six et
al ., 2002; Rumpel et al., 2004). A estabiliza çã o bioquímica está relacionada com a re-
sistência estrutural ao ataque de um grupo de enzimas ou mesmo de uma enzima específica.

Estabilização Quí mica ou Coloidal


A proteçã o qu ímica ou coloidal é atribuída à associa çã o da MOS com as fra ções
argila e silte do solo, formando complexos argilo-orgâ nicos. Fortes correlações têm sido
referenciadas na literatura entre o teor de C e a teor de argila ou teor de silte + argila
( Zinn et al ., 2005) . Além do teor de argila, a caracter ística desta fra çã o é de grande
importâ ncia ( Kleber et al ., 2005; Wiseman & Putmann, 2006), uma vez que os mecanismos
de estabiliza çã o sã o diferenciados. V á rios mecanismos podem interagir no processo de
complexa çã o da MOS com as argilas. Stevenson (1994) destaca os principais mecanismos:
(a ) liga çã o eletrostá tica; (b ) for ça de van der Waáls; (c) ponte de H e (d ) coordena ção com
oxihidr ó xidos e argilas silicatas . Dois ou mais mecanismos podem operar
simultaneamente, dependendo das propriedades da espécie orgâ nica, da natureza da
troca catiô nica da argila , da acidez e umidade do sistema (Stevenson, 1994 ).

Ligação eletrostática: a atra çã o se d á entre cargas opostas; pode ocorrer diretamente


entre a superf ície de argilas silicatadas carregadas negativamente e grupamentos que
apresentam carga líquida positiva, como os grupamentos amina. Considerando que
grande parte dos grupamentos reativos da MOS também apresenta, em razão do seu
baixo pH do PCZ, carga líquida negativa sob as condições de pH da maioria dos solos,
deveria ocorrer a repulsã o das moléculas orgâ nicas pelas partículas de argila negativa -
mente carregadas, se nã o fosse a atuaçã o das pontes catiônicas (Mn + ), conforme esquema
apresentado a seguir. Grupamentos carboxílic DS e fenólicos podem ainda se ligar dire-
tamente a superf ícies de óxidos (carregados positivamente ) . Os óxidos, por apresenta -
rem alto pH do PCZ, desenvolvem cargas positivas, de modo que a adsor çã o se d á dire-
tamente via troca aniônica, principalmente com os grupos carboxílicos ( Zech et al., 1997):

-.
i

Argila]- O H2+ . . . OOC-R


Argila] H3N R
Argila] ... M . "OOC-R

FERTILIDADE DO SOLO
310 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

For ç a de van der Waals: força resultante da flutua çã o da densidade de carga el é trica
/

dos á tomos. E considerada importante na adsor çã o de moléculas polares neutras e nã o-


polares:

+ • •

OJ c>
3
+ o
o
a * +

Ponte de hidrogé nio e outros c á tions: Assim como os outros cá tions, o H+ atua como
ponte, ligando o grupamento org â nico à superf ície da argila, ambos negativamente
carregados. Esse processo é muito importante nos solos á cidos onde se verifica grande
protona çã o de grupamentos reativos, tanto nas argilas como na MOS. A ponte de H20 é
de grande importâ ncia nos solos, se se considerar que ambos os colóides, orgâ nicos e
inorgâ nicos, encontram-se hidratados pela solu çã o do solo na maior parte do tempo:

,
Vi< : ...
ArgilaJ - O H . . . 0=R
.'. zSiiV
&

+ M +0-H
'

-
v:
Argila] Jy * •
•: 0=R
Hí v . . ...
V. j
;

'
v:\

Coordena çã o : Ocorre uma troca de ligantes . Â nions org â nicos ligados a


oxihidróxidos podem ser trocados por outros â nions, mas grande parte é ligada de forma
especifica por meio de troca de ligantes. No esquema abaixo, pode ser observada a troca
aniônica ( a ) e de ligantes ( b ) .

R — CP
H
tl
H+
H
— AI —

«A-
O oxigénio dos grupamentos funcionais da MOS (carboxílicos, fenólicos, alcoólicos,
etc.) entram em coordenação (ligaçã o covalente ) principalmente com Fe e AI da estrutura
dos oxihidróxidos. Ânions orgâ nicos ligados dessa forma dificilmente ser ã o deslocados

FERT LIDADE DO SOLO


VI - MATé RIA ORG /8 NICA DO SOLO 311

por outros â nions . Essa forma de liga çã o libera uma molécula de á gua para a solu çã o,
pela seguinte rea çã o:
R-A1-OH + HOOCR o R-A1-OOCR + H20

A presença de pontes de cá tions entre as argilas silicatadas do tipo 2:1 e 1:1 e os


radicais orgâ nicos é um mecanismo comum de estabilizaçã o da MOS, destacando-se o
Ca como um dos cá tions de grande importâ ncia no estabelecimento de pontes catiônicas
( Muneer & Oades 1989 ) . Esse mecanismo é p reponderante em solos com horizonte
superficial com elevada satura çã o por bases, como naqueles com horizonte A
chernozê mico. Entretanto, em razã o do processo de intemperismo avançado da maioria
dos solos em condições tropicais, o cá tion predominante no complexo sortivo é o Al, de
modo que ele deve ser o cá tion mais atuante na estabilização da MOS. Isso é especialmente
importante em solos com horizonte A h ú mico.
A MOS adsorvida é protegida contra a degradaçã o microbiana . O efeito da proteçã o
depende do tipo de mineral ao qual a MOS é adsorvida . Esmectitas sã o mais efetivas
protetoras que a caulinita por ela nã o apresenté . r propriedade de expansã o (Zech et al.,
1997). O tempo médio de resid ência (TMR ), baseado na avaliaçã o da atividade do 14C da
MOS associada à s esmectitas do horizonte Ah de solos de Moçambique, foi de 1.100 anos
(Wattel-Koekkoek et al., 2003). No entanto, trabalho mais recente na mesma regiã o,
encontrou que o TMR da MOS associada às esmectitas foi da ordem de 400-500 anos e
nã o diferiu daquele da MOS estabilizada pela caulinita . O fator que mais contribuiu
para explicar o TMR da MOS foi a CTC efetiva das argilas (Wattel-Koekkoek & Buurman,
2004). Grande parte da MOS associada à fra çã o argila pôde ser extra ída com NaOH e
continha quantidade substancial de polissacarídeos, indicando ser esta de ciclagem
relativamente r á pida (Wattel-Koekkoek et al. ( 2001).
Existem poucas informa ções a respeito da estabiliza çã o da MOS em solos altamente
intemperizados. A maioria dos solos tropicais mostra abund â ncia de oxihidr óxidos na
fraçã o argila, os quais exercem importante pape l na estabiliza çã o da MOS (Kleber et al .,
2005; Wiseman & Putmann, 2006). Os principais mecanismos de ligação da MOS aos
oxihidróxidos de Fe e Al sã o a atra çã o eletrostá tica, pontes de H e troca de ligantes (Zech
et al., 1997). Parte da estabilizaçã o da MOS pode ser devida à influência da argila na
atividade microbiana. As argilas mudam o ambiente para os microrganismos, influenciam
o pH, for ça iônica, disponibilidade de substrata, bem como a produçã o e atividade de
enzimas (Zech et al., 1997). Adicionalmente, os complexos orgâ nicos formados com Fe e
Al sã o de baixa solubilidade e acessibilidade à microbiota ( Zech et al., 1997).
Nem sempre o teor de argila correlaciona-se com os estoques de COT, indicando que
a qualidade da argila e, nã o apenas sua quantidade absoluta, está relacionada com o
potencial de estabiliza çã o da MOS. Isso é suportado por estudo em que se avaliaram as
possíveis intera ções entre minerais silicatados e oxihidróxidos no armazenamento de
COT de diferentes solos da Alemanha, em que somente amostras de um perfil de solo,
dos cinco perfis analisados, exibiu correla çã o entre a superf ície especifica das partículas
de tamanho silte + argila e o teor de COT ( r = 0,459; p < 0,01), enquanto, para o COT e o
Fe extraído por oxalato, foram obtidas correlações em torno de 0,893 ( p < 0,01) para os
perfis analisados (Wiseman & Putmann, 2006).

FERTILIDADE Dò SOLO
312 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

A proteçã o exercida por formas amorfas nã o está apenas restrita a solos alof â nicos.
Kleber et al.(2005) constataram que a combina çã o de Fe e AI extraídos com oxalato expli-
cou a maior varia çã o do C está vel ( r = 0,78), sugerindo que em solos á cidos a MOS é
preferencialmente protegida pela interaçã o com minerais pouco cristalizados. Segundo
esses autores, o mecanismo de estabiliza çã o da MOS envolve troca de hidroxila da su-
perf ície dos oxihidr óxidos com grupamentos funcionais negativamente carregados dos
componentes da MOS ( troca de ligan :es ) . Além dessa estabiliza çã o química pelas liga -
ções está veis entre a MOS e os oxihidr óxidos, a MOS é envolvida pelos agregados, resul-
tando também numa proteçã o f ísica, fpzendo com que os oxihidr óxidos atuem, também,
indiretamente na estabilização da MOS (Zech et al., 1997). A interação de oxihidróxidos de Fe
e Al com os argilominerais formando complexos e, ou, agregados desempenha importante
papel na estabiliza çã o da MOS. Os oxihidr óxidos podem estar funcionando como ponte
entre a argila silicatada e o radical orgâ nico, como sugerido por Wiseman & Putmann
(2006) . Essa possibilidade, poré m, tem recebido menor atençã o nas pesquisas realizadas
até o momento. Dieckow et al. (2005d ) estimaram que a capacidade de estabiliza ção de C
orgâ nico pela fra çã o argila ( predominantemente caulinítica ) de um Argissolo do Rio
Grande do Sul foi de 48,8 g kg 1 de argila . Para um Latossolo caulinítico do cerrado, a
'

capacidade de estabilização foi menor, atingindo 32,5 g kg 1 de argila (Roscoe et al., 2001) .
'

Deve-se lembrar que á reas sob dom ínio de rochas quartzíticas e arenitos, em geral,
apresentam drenos com águas de cor amarelada a castanho-escura, indicando que os solos
arenosos Originados dessas rochas mostram baixa capacidade de complexa ção da matéria
orgâ nica (baixa proteçã o estrutural e coloidal ), favorecendo sua drenagem para fora do
sistema solo. As águas escuras do Rio Negro, por exemplo, refletem a presença de matéria
orgânica proveniente de solos arenosos na sua bacia hidrográfica. Isso também é observado
em riachos em praticamente toda a regiã o da chapada Diamantina, nos estados de Minas
Gerais e Bahia, e, frequentemente, em córregos que drenam as região litorâ neas arenosas.

Estabilizaçã o Física
Num nível de organiza çã o mais avançado, as partículas prim á rias do solo (areia,
silte e argila ) sã o arranjadas em agregados, e esses, por sua vez mostram importante
papel na estabiliza çã o da MOS. Os agregados do solo atuam fisicamente, diminuindo o
acesso à microbiota e a seu sistema enzim á tico, bem como reduzindo a difusão de 02 nos
microporos. Em solo arenoso com prejiom ínio de poros entre 6 e 30 /Lm, microrganismos
sã encontrados
o tanto na superf ície como dentro dos agregados, mas, em solo argiloso
com diâ metro de poro < 0,2 /im, os microrganismos sã o encontrados apenas na superf ície
dos agregados (Chenu et al., 2001) . Uma por çã o do C orgâ nico dos microagregados é
estabilizada via associaçã o com a superf ície dos minerais, ou é fisicamente protegida
nas cavidades de poros de 2 a 5 /im . particularmente das formas mais hidrof óbicas
,

(Kinyangi et al., 2006).


Esse mecanismo de proteçã o pela agrega çã o do solo permite a proteçã o não-seletiva
de compostos orgâ nicos ( Rumpel et al ., 2004), acarretando estabiliza çã o de formas mais
lá beis de C orgâ nico. O cultivo do selo tem sido apontado como um fator limitante à
atuaçã o da proteçã o f ísica exercida pelos agregados, especialmente aquela relacionada
com os microagregados (Six et al., 1999; 2002a, b; Madari et al., 2005).

FERTI .IDADE DO SOLO


VI - MATé RIA ORGANICA DO SOLO 313

Do mesmo modo, os cá tions sã o importantes na estabiliza çã o da MOS, pois eles


servem de ponte entre os compostos orgâ nicos e as argilas. Sob condições de solos
tropicais á cidos, o cá tion que domina o complexo de troca é o Al3+. No entanto, na
maioria dos solos cultivados, as pr á ticas de manejo da fertilidade, especialmente a
calagem, fazem com que o Ca 2+ seja o cá tion predominante no complexo sortivo. Da í a
importâ ncia de entender melhor o seu papel na estabilizaçã o da MOS. O Ca 2+ atua na
estabiliza çã o f ísica, permitindo maior flocula çã o das partículas do solo ( Figura 15a ),
consequentemente melhorando a agrega çã o , bem como leva a um aumento na
condensa ção das moléculas orgâ nicas em decorrência do contrabalanceamento de cargas
negativas em grupamentos funcionais da MOS ( Figura 15b ). Adicionalmente, o Ca 2+
participa de pontes metá licas entre a MOS e os minerais das fra ções mais finas do solo
(Muneer & Oades, 1989 ) . Deve-se ressaltar, en tretanto, que, em solos tropicais á cidos,
sob condi ções naturais, o Al 3+ é dos cá tions mais abundantes e desempenha papel
importante na agrega çã o e na estabiliza çã o da MOS.

(a ) ( b)

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õ: condensados
:

Figura 15 . Modelo de floculação das part ículas qe argila do solo ( a ) e de condensação de


moléculas orgânicas ( b ) .
Fonte: Muneer & Oades (1989) .

O efeito protetor dos agregadas é tido como efetivo na preservaçã o da MOS oclusa.
Poré m, deve-se lembrar que os mecanismos de estabiliza çã o nã o são mutuamente
excludentes, e que esta proteção f ísica é aditiva à proteção química e, ou, coloidal conferida
à maioria das substâ ncias h ú micas .

Estabilização Bioquí mica


A estabiliza ção bioquímica deve-se à comp lexa composiçã o química dos compostos
org nicos. Essa complexidade pode ser inerente ao próprio resíduo vegetal adicionado
â
ao solo (com por exemplo, alto teor de compostos fenólicos, lignina, taninos, etc.) ou aos
processos de condensa çã o e polimerização que ocorrem durante a decomposição dos
t

FERTILIDADE Do SOLO
314 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

resíduos vegetais ( humificação) , torná ndo-os mais resistentes à decomposiçã o. Grande


variedade de compostos fenólicos sã o encontrados nos tecidos vegetais e nos solos
(Martens, 2002). As plantas sã o a principal fonte de material orgâ nico para os solos e,
depois da celulose, a lignina é o segundo constituinte mais abundante na maioria dos
resíduos vegetais. A lignina é composta por monômeros de á cidos fenólicos que
apresentam muitas liga ções cruzadas a carboidratos e proteínas. De fato, os polímeros
de lignina sã o compostos por unidades repetidas de coumaril, coniferil e sinapil álcoois
( monolignóis ou unidades de fenilpropano). Por sua complexidade química, a lignina é
apenas biodegradada parcialmente e, portanto, pode contribuir substancialmente para a
MOS. A conversã o microbiana desses á cidos fen ólicos derivados de plantas (ou
sintetizados por determinados fungos a partir de a çúcares simples ), seguida de sua
complexa çã o com aminoá cidos, leva à forma çã o de polímeros complexos, polidispersos
e de colora çã o escura - as substâ ncias h ú micas, contribuindo para a estabiliza çã o do C
no solo (Stevenson, 1994) . A estrutura complexa com grande diversidade de componentes
das substâ ncias h ú micas dificulta a a çao das enzimas. Por exemplo, num per íodo de um
ano 12,7 % dos AH, e 29,2 % dos AF foram decompostos, enquanto de 44,3 a 51,3 % de
outras fra ções hidrof ílicas, que continham carboidratos e á cidos orgâ nicos de baixa massa
molecular , foram decompostos . Sob condições semelhantes, 66 % da glicose adicionada
foi convertida em C02 (Qualls et al., 2003). O tempo de meia -vida ( t,J estimado para os
á cidos h ú micos foi de 10 anos, suportando a hipó tese que substâ ncias h ú micas sã o
bastante complexas e dif íceis de ser decompostas por microrganismos e contribuem para
a estabiliza çã o do C no solo (Qualls et al., 2003).
Embora os compostos fenólicos pz reçam ter papel importante na formaçã o da MOS,
pouco se sabe em que magnitude eles contribuem para o processo de humificaçã o . A
matéria orgâ nica associada a agregados de maior tamanho ( > 250 gm ) de um solo medi-
terr â neo, cultivado por longo per íodo com culturas anuais ( principalmente milho) , era
mais nova , seus AH continham abund â ncia de compostos derivados da lignina e sua
origem estava fortemente ligada aos biopolímeros de plantas. Com o decréscimo do
tamanho das partículas do solo, os AH passaram a conter mais unidades derivadas da
lignina em está dios finais de oxida çã o, mais á cidos graxos originá rios de atividade
microbiana e maior conteúdo de estruturas aromá ticas nã o derivadas da lignina (Chefetz
et al., 2002). Adicionalmente, também têm sido demonstrada forte relaçã o entre a nature-

^
za química da fonte de lignina (pode- e saber se a lignina é derivada de plantas anuais
ou de espécies florestais) e a natureza química dos AH formados ( Nierop et al., 1999;
Chefetz et al., 2002). Ainda, alterações na qualidade da MOS associada à s fra ções silte e
argila de solos sob diferentes usòs podem estar relacionadas com mudanças na comuni-
dade microbiana do solo, conforme sugerido por Dieckow et al. (2005a ).
Os derivativos de lignina, que con :ê m á cidos, e os derivativos, que contêm aldeídos,
são, geralmente, usados para acessar o está dio de degrada çã o da lignina . O aumento da
razã o ácidos / aldeídos indica a predominâ ncia de estruturas em está dio mais avançado
de oxidaçã o de cadeias laterais pelos microrganismos. Estudos tê m demonstrado que
essa razã o aumenta com a redução do tamanho dos agregados, sugerindo está dio mais
avançado de oxidação da lignina, particularmente da MOS estabilizada junto à fração
argila ( Lehmann et al., 2001a; Chefetz et al., 2002).

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 315

Martens ( 2000) observou que resíduos vegetais com maiores teores de lignina
levavam à formaçã o de maiores quantidades de compostos fenólicos, tais como vanilina
e ácido vanílico durante sua decomposiçã o e isto estava correlacionado com a quantidade
de C que permanecia no solo. Suporte adicional para a participa çã o da lignina dos
materiais vegetais na estabiliza çã o da MOS foi apresentado por Dijkstra et al. (2004), que
demonstraram que os tratamentos com a planta que produziam litter com maiores teores
de lignina , particularmente no sistema radicular, e que receberam N como fertilizante,
foram os que mais favoreceram a estabiliza çã o do C mais velho (idade superior a cinco
anos).
O incremento no teor de N em está dios rr .ais avançados de decomposiçã o pode
resultar em incremento das taxas de acumula çã o de C em horizontes orgâ nicos de solos
sob floresta por meio do decréscimo da respiraçã o e decréscimo do C orgâ nico dissolvido
(COD) (Michel & Matzner, 2002) . A qualidade do material é alterada - de um litter mais
fresco para outro mais decomposto - reduzindo, assim, as taxas de decomposiçã o e
aumentando a recalcitr â ncia do material. No início da degrada çã o do litter, a taxa de
decomposi çã o de compostos mais lá beis ( como a celulose ) pode ser positivamente
correlacionada com o teor de N. Com a redução ca celulose, a concentraçã o de compostos
mais recalcitrantes (como a lignina ) aumenta, e o efeito do N na taxa de decomposiçã o
muda completamente. O N passa a atuar de forma a retardar a degradação da lignina. O
efeito proporcionado pelo N varia entre espécies. Cada espécie mantém um limite má ximo
de contribuiçã o de massa remanescente para constituiçã o do h ú mus do solo (Berg, 2000).
O efeito de retardamento da degradaçã o pelo N oode ser explicado, principalmente, por
dois mecanismos: o N reage com moléculas de baixo peso molecular e com ligninas
remanescentes, dando origem a compostos aromá ticos mais recalcitrantes (inclui SH), e,
posteriormente, o N ligado a moléculas de baixa massa molecular pode suprimir a síntese
de enzimas lignolíticas ( Berg, 2000 ).
Espécies como milho contribuíram mais pc .ra acumula çã o de compostos fenólicos
( um dos principais precursores das SH), como observado no estudo com grande n ú mero
de espécies vegetais ( Martens, 2002). Esses autores fizeram a extra çã o de AH no solo
tratado com diferentes resíduos culturais, observando incremento nos AH em relaçã o ao
solo sem resíduo nenhum (2,8 g kg 1) . No milho, o teor foi de 3,3 g kg 1 aos 29 dias e de
' '

3,6 g kg 1 aos 84 dias de incuba çã o do resíduo. A canola (baixo teor de á cidos fenólicos )
'

apresentou teor de 2,8 g kg 1 aos 29 dias e de 2,0 aos 84 dias, indicando a ocorr ência da
'

degrada çã o da MOS nativa (efeito "priming") .

Aspectos Estruturais e Moleculares da Mat éria Org ânica Estabilizada


Por muito tempo, acreditava-se que a estabilidade da MOS associada à fraçã o argila
estava relacionada com seu elevado car á ter arom á tico (Stevenson, 1994) . No entanto,
nos últimos anos, principalmente com o avanç o e uso mais generalizado das técnicas
espectroscópicas, o foco das discussões a respeito da aromaticidade da MOS associada
à fra çã o argila tem sido alterado. Os modelos ie estrutura moleculares mais recentes
levam em consideraçã o que estruturas alif á ticas sã o de maior importâ ncia do que
previamente pensado (Shulten & Leinweber, 2010). O uso de técnicas espectroscópicas,

FERTILIDADE DQ SOLO
316 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

particularmente a espectroscopia de ressonâ ncia magné tica nuclear do 13C (13C-RMN),


tem possibilitado a identifica çã o de compostos mais alif á ticos na fra çã o argila (Schmidt
et al., 2000; Rumpel et al., 2004; Dick et al., 2005; Dieckow et al., 2005a ). Em condições
temperadas, as técnicas de espectroscopia de 13C- RMN têm sido usadas com frequência
nos estudos que avaliam a dinâ mica da MOS, de modo a caracterizar sua composiçã o e
identificar praticas de manejo mais sustentá veis.
Em estudo da estrutura química da MOS em associa ções organominerais de um
Podzol, constatou-se, que alé m de estruturas aromá ticas, estruturas mais lá beis, como
polissacarídeos, podem ser estabilizadas nas argilas (Schmidt et al., 2000). A mineralogia
parece ter influ ência na composiçã o d á MOS associada à fraçã o argila . Wattel-Koekkoek
et al. (2001) avaliaram o efeito da mineralogia na quantia e composiçã o de MOS a ela
associada, empregando as técnicas de 13C RMN e pirólise. A caracteriza çã o da MOS foi
realizada em solos caulinitícos e esmectitícos de sete pa íses. Nã o foram observadas
altera ções entre os teores de C orgâ nico na fra çã o argila entre esses solos, indicando que
os teores totais sã o independentes de sua mineralogia . Os resultados de pirólise e RMN
indicaram que a MOS associada à caulinita é enriquecida por produtos de
polissacarídeos, enquanto a MOS associada à esmectita apresentava muitas combina ções
aromá ticas, apontando para uma diferenciaçã o de mecanismos de ligação com o complexo
orgânico. A intensidade dos picos de C arom á tico (média de amostras de solos de cinco
pa íses) da MOS associada à fra çã o argila, extraída com NaOH para solos cauliníticos,
foi de 10 % e, para solos esmectíticos (MOS extra ída com Na 4P207), foi de 31,7 %.
Utilizando as mesmas condições de extra çã o, os solos cauliníticos apresentaram 17,6 %
de C-alquil, 61,3 % de C-O-alquil e 11,1 % de C-carbonil, enquanto os solos esmectíticos
apresentaram 14,8 % de C -alquil , 33, 7 % de C - O- alquil e 20 , 7 % de
C-carbonil. A MOS associada a ambas as argilas foram dominadas por componentes
alif á ticos como alcanos e alcenos. Segundo esses autores, os diferentes tipos de minerais
de argila, com seus respectivos mecanismos de intera çã o, preservam tipos distintos de
compostos orgâ nicos.
A carga e a superf ície disponível do mineral exercem papel crucial na retençã o da
MOS, o que foi constatado por meio de análises de regressão entre a CTC gerada somente
pelos minerais e a atividade do 14C. Isso evidencia que argilas com alta CTC podem
estabilizar a MOS por meio de, por exemplo, pontes catiô nicas, resultando em maior
tempo médio de residência . Outros atributos correlacionam-se negativamente com a
atividade do 14C, como o C-arom á tico e C-carbonil, analisados via 13C-RMN (Wattel-
Koekkoek & Buurman, 2004).
Parte da contribuiçã o de compostos alif á ticos pode ser também advinda, por exemplo,
de lipídios. De acordo como Stevenson (1994), em isolados de ácidos h ú micos e f úlvicos,
têm sido encontrados componentes lipi dicos de vá rios tipos, como alcanos e ácidos graxos
de cadeia longa . Esse autor destaca ainda que solos á cidos apresentam teores mais
elevados de compostos alif á ticos, como lipídios, os quais tanto poderiam resultar da
inabilidade de microrganismos em decompor completamente os lipídios que ocorrem
como remanescente de plantas, ou de quantidades maiores de lipídios sintetizadas pelos
microrganismos . Como, emmédia, uma célula bacteriana contém de 5 a 10 % de lipídios

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 317

e as células f ú ngicas normalmente contê m maio res teores de lipídios, de 10 até 25 %, os


fungos, popula çã o predominante em condi ções de solos á cidos, poderiam estar
contribuindo com maiores adi ções de material lipídico. De fato, Chefetz et al. (2002)
encontraram que os AH de um solo mediterrâ neo apresentavam elevada abund â ncia de
á cidos graxos 06 e 05 ramificados relativos aos 08, C20 e C 22, sugerindo que sua
origem estava ligada a material de natureza cuticular dos resíduos da parte a é rea de
vegetais e produtos residuais da atividade micr obiana . Em solo sob cultivo de plantas
anuais, predominaram picos de á cidos graxos, enquanto, em solo sob floresta ,
predominaram picos derivados da lignina ( Nieiop et al., 1999 ), indicando, novamente,
que os compostos derivados da lignina podem apresentar papel fundamental na
estabiliza çã o da MOS em solos cultivados com eucalipto.
Nos estudos realizados por Schmidt et al. ( 2900), a fra çã o argila apresentou 31 % de
C-O alquil, provavelmente como polissacarídeos, de modo que a fra ção argila (constituída
em sua maior parte por oxihidr óxidos) teve prop Dr çã o grande de C de polissacar ídeo em
rela çã o ao C arom á tico. A presen ç a de polissacar ídeos lá beis foi atribu ída por esses
autores à decomposiçã o microbiana da MOS sorvida e subsequente acumula çã o de
remanescentes microbianos.
A utilização de técnicas de 13C -RMN em agrcecossistemas tropicais tem possibilitado
alguns avanços nos estudos de MOS realizados no Brasil. Seis Latossolos brasileiros
foram avaliados quanto à composiçã o química da MOS por Dick et al. ( 2005), e constatou-
se que o sinal mais pronunciado ocorreu na reg: ã o de 45-110 ppm, o qual é relativo ao
C-O alquil. A intensidade dos sinais dessa regiã o no horizonte A variou de 28-38 %; o
segundo grupo mais abundante foi o C-alquil, 24-30 %, compreendendo grupos metilenos
de lipídios e aminoá cidos; seguindo-se do C-aromá tico, 11-14 % e C-carboxil, 9-12 %.
De acordo com a distribuiçã o da intensidade dos sinais, pôde-se observar que a MOS
global desses Latossolos é caracterizada como sendo de baixa aromaticidade, o que
também foi constatado por Gonzá lez-Pé rez et a l. ( 2004) . Dick et al. ( 2005) atribuíram
essa preserva çã o de estruturas C-O-alquil às intera ções organominerais. No entanto, no
horizonte A, os maiores teores de C-fenólico (140-160 ppm ) foram observados para os
solos sob floresta em rela çã o aos solos sob pastagem nativa . Esses autores ainda
ressaltaram, com base na RMN do 15N, que a maior parte do N foi detectado na regiã o
amida ( 220-280 ppm ), que C-alquil da MOS em Latossolos seria dominada em maior
intensidade por componentes com cadeias alquil curtas, como peptídeos, do que por
longas estruturas paraf ínicas.
Foi constatado por Rumpel et al. (2004), em solos á cidos sob floresta, que as fra ções
de 2-0,02 gm, e < 0,2 /xm, oriundas do horizonte A de um Cambissolo distr ófico
apresentaram 39 e 34 % de C-alquil, respectivair .ente, e C-O- alquil 42 e 43 %. A mesma
tend ência foi observada para o horizonte Aeh de um Podzol há plico; nas frações de
2-0,02 um, e < 0,2 fim, a contribuiçã o foi de 63 e 55 % de C-alquil, respectivamente, e 23 e
28 % de C-O- alquil . No Cambissolo distrófico, a contribuiçã o do C- alquil foi atribuída
ao fato de que: (a ) o material alif á tico via litter de raiz, que é de grande importâ ncia
nestes solos, é estabilizado e, ou; (b ) este materi al alif á tico é derivado microbiano e se
acumula como resultado de decomposiçã o crescente da MOS. O C-alquil pode ainda,

FERTILIDADE DO SOLO
318 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

segundo Stevenson (1994 ), advir de compostos de serapilheira de plantas preservados


seletivamente, como biopolímeros alif á ticos de cutina e suberina, conforme também
sugerido por Chefetz et al . (2002).
Da mesma forma, os minerais que constituem a fração argila podem atuar de forma
diferenciada na estabilizaçã o da MOS, fazendo com que a composiçã o química da MOS
estabilizada possa ser influenciada pelo mineral predominante na fra çã o argila . Solos
com predomínio de caulinita revelam uma contribuição dos compostos alif á ticos superior
à quela de solos esmectitícos (Wattel-Koekkoek et al., 2001). A MOS associada aos
oxihidr óxidos de Fe e Al tem sido descrita por ser dominada por constituintes alif á ticos
e O-alquil, evidenciando a menor abundâ ncia de entidades aromáticas (Baldock et al., 1992).
A quantidade de COT estabilizado no solo depende grandemente da atua çã o dos
mecanismos descritos anteriormente. Logo, o incremento no aporte de material orgâ nico
ao solo nã o resulta, necessariamente, em acréscimos lineares e ilimitados nos teores de
COT. Existe um má ximo que pode ser alcançado em cada solo (Figura 16), que depende
das características f ísico-químicas e da atua çã o de mecanismos que facilitem sua esta -
biliza ção bioquímica (Six et al., 2002a) . Por exemplo, após 17 anos de cultivo de um Argissolo
sob sistema plantio direto, nos tratamentos com rota çã o de culturas e elevado aporte de
resíduos, a fra çã o argila apresentava sinais de saturaçã o da capacidade de retençã o de
C orgâ nico na camada mais superficial no solo (0-2,5 cm ) ( Dickow et al., 2005d ).
Cada um dos mecanismos (f ísico, químico e bioquímico) apresenta um limite na sua
faixa de atua çã o. Como a textura e a mineralogia do solo sã o atributos que dificilmente
podem ser modificados, pr á ticas de manejo adequadas irão contribuir para aumentar a
estabilização f ísica (como: plantio direto versus plantio convencional) e bioquímica (como:
uso de espécies leguminosas com alta capacidade de fixação biológica de N 2 e de espéci-
es com alto teor de compostos lignificados). A capacidade má xima de um solo armazenar C
pode ser limitada pela disponibilidade de á rea superficial dos minerais no solo, princi-
palmente de oxihidróxidos (Wiseman & Putmann, 2006 ). Em solos á cidos, Kleber et al .
(2005) ressaltaram que a capacidade da matriz mineral proteger a MOS contra decompo-
siçã o poderia ser expressa como variá vel da abundâ ncia de minerais em formas amorfas.

Carbono do solo A

Ní vel de satura çã o
Nã o protegido
Ní vel de proteção

/X Protegido bioquimicamente

Capacidade protetora
//
Protegido pelos microagregados

/
Protegido pelos coló ides

Aporte de carbono

Figura 16. Capacidade de proteção do solo e mecanismos de estabiliza ção da matéria orgâ nica
do solo.
Fonte : Six et al . (2002a ) .

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATéRIA ORGâ NICA DO SOLO 319

PROPRIEDADES DO SOLO INFLUENCIADAS


PELA MAT É RIA ORG Â NICA DO SOLO

Apesar de sua pequena propor çã o em rela çã o à massa total de solos minerais


tropicais, a MOS desempenha grande influê ncia sobre v á rias propriedades f ísicas,
químicas e biológicas do solo e exerce v á rias funções nos ecossistemas terrestres. No
entanto, é bastante dif ícil separar qual caracter ística do solo é mais influenciada pela
MOS, visto que há grande intera çã o entre elas. Dessa forma , muitas das varia ções das
propriedades de determinado solo sã o mais influenciadas, nã o somente pelo efeito direto
da quantidade e qualidade da MOS, mas també m pelo produto das intera ções entre os
diversos componentes do sistema .

Propriedades Qu ímicas
Poder Tamp ã o

No ambiente, a MOS funciona como ácido fraco, agindo como par conjugado á cido /
base. A diversidade qu ímica dos componentes da MOS está relacionada com sua
diversidade de grupamentos funcionais, fazendo com que a MOS tenha a ção tamponante
numa ampla faixa de pH do solo. Vá rios trabalhos tê m ressaltado a maior influência da
MOS sobre o poder tampã o do solo em compare .çã o com a fra çã o argila (James & Riha ,
1986; Curtin et al., 1996; Starr et al., 1996) . Méndonça et al. ( 2006), trabalhando com
solos do Cerrado brasileiro, avaliaram o poder taippã o por meio de equa ções de regressã o
ajustadas a dados de titula çã o do solo com soluçã o de NaOH e incubaçã o com Ca (OH) 2
(Quadro 10). O maior poder tampã o medido co!m Ca (OH ) 2 foi decorrente da rea çã o do
Ca 2+ com os grupamentos carbox ílicos dos á cidLs
f úlvicos; no solo argiloso, os á cidos
h ú micos e f úlvicos mostram-se igualmente importantes e, no solo textura média, os ácidos
f úlvicos foram mais importantes como componente do poder tampã o desses solos
(Mendonça et al., 2006). A diferença foi fortemerJte
correlacionada com os teores de COT
(r = 0,99***). Nesse estudo, observou-se que cercã de 30 % do Ca aplicado foi complexado
com a MOS, em formas nã o- trocá veis e ocupando parte dos sí tios carboxílicos da MOS
anteriormente complexados com Al de sítios de troca da fra çã o argila . O poder tampã o
da MOS, quando medida com Ca (OH) 2, foi de 0/ 1 cmolc kg 1 pH 1. ' "

Dessa forma , a adiçã o de MO fesultará em aumento ou reduçã o do pH do solo,


dependendo da predominâ ncia dos processos que consomem ou liberam H+ (veja capítulo
V). O aumento do pH pode ser decorrência de alguns processos: (a ) reduçã o da atividade
de H+ resultante, principalmente, da liberaçã o de cá tions metá licos; (b ) mineralizaçã o de
formas orgâ nicas de N; (c) denitrifica çã o; e (d ) descarboxila çã o dos ácidos orgâ nicos
( Yan et al., 1996; Pocknee & Sumner, 1997). Em solos alcalinos, espera-se que o efeito seja
o contr á rio, ou seja, ocorra reduçã o do pH em decorrência da influência da MOS sobre o
aumento na concentra çã o do COz durante o processo de decomposiçã o / mineralizaçã o,
contribuindo para aumentar a concentra çã o de ácido carbónico (C02 + H20 <-> H2C03)
e a subsequente dissocia çã o do á cido carbó nico ( H2CQ3 HCO/ + H+).

FERTILIDADE DO SOLO
320 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Quadro 10 . Equa ções de regressã o entre pH ( y ) e quantidade de Ca (OH )2(x ), em cmolc kg 1 de '

solo, para valores de pH menor do que 6,5, poder tampã o medido com Ca (OH ) 2 e NaOH
e diferen ça do poder tampã o medido na titula çã o com NaOH e incuba çã o com Ca (OH) 2

Solo Horizonte Equa çã o R2 PTCa (1) PTNa < 2 ) APT 3 )


(

LV AI y = 5, 256 + 0, 255 x 0,98 3,92 1,34 2,58


A3 y = 5,463 + 0,304 x 0,96 3, 29 1,17 2, 12
BI y = 5,218 + 0,375 x 0,96 2,67 1 ,10 1,57
B2 y = 4,986 + 0,707 x 0,98 1,44 0,93 0, 48

LE AI y = 5,153 + 0,530 x o;99 1,89 0,87 1 , 02


A3 y = 5,457 + 0 ,597 x 0, 96 1, 67 0,66 1 , 01
BI y = 5,155 + 0,928 x 0,99 1,08 0,52 0,56
B 21 y = 5,132 + 1,334 x 0, 99 0 , 75 0 , 47 0, 28
B 22 y = 4,614 + 1,961 x 0,98 0,51 0,38 0,13

OjpTCa :poder tampã o medido com Ca (OH ) 2. ( 2 PTNa : poder tampã o medido com NaOH. (3)
Á PT: diferen ç a do
poder tampã o medido com Ca (OH ) 2 e com NaOH.
Fonte: Mendonça et al . ( 2006 ) .

Em solos á cidos, tem-se observado o aumento do pH com a adiçã o de materiais


org â nicos, tais como: esterco fresco (suíno e bovino, principalmente) e camas de aviá rio.
Aumento do pH do solo pela utiliza çã o de extratos vegetais tem sido documentado na
literatura , especialmente aqueles oriundos de adubos verdes. As espécies mais efetivas
apresentam maiores teores de cá tions e á cidos orgâ nicos de baixa massa molecular na
fra çã o C orgâ nico sol ú vel (COS). Estes últimos sã o capazes de consumir H + da soluçã o
do solo mediante a protona çã o dos grupamentos funcionais, refletindo potencial efetivo
em minimizar a acidez do solo (Franchini et al., 1999; Miyazawa et al., 2000; Franchini et
al., 2003). Resíduos de nabo forrageiro foram mais eficientes em aumentar o pH na
camada de solo de 0-25 cm, em compara çã o aos resíduos de ervilhaca e aveia , o que foi
atribuído à capacidade de neutraliza çã o do PR e, ainda, ao incremento dos teores de Ca
e Mg no solo, provenientes dos resíduos (nabo forrageiro aveia ~ ervilhaca ) ( Amaral et
al. ( 2004).
Efeitos do tamponamento da acidez em Latossolo Bruno alumínico câ mbico (61 %
de argila ) sob SPD durante 21 anos foram investigados por Ciotta et al. ( 2002). Nesse
estudo, o pH do solo sob SPD apresentou redu ções de 0,2 a 0,4 unidade em relaçã o ao
sistema convencional (SC ), o que foi atribu ído ao aumento na for ça iônica da soluçã o do
solo e à utiliza çã o de fertilizantes nitrogenados de rea çã o á cida aplicados nas camadas
mais superficiais do solo no SPD. Ent retanto, o ac ú mulo de COT e COS proporcionado
pelo SPD diminuiu o efeito tóxico do Al3+ à s plantas em razão da sua complexa çã o.
Adicionalmente, a elevada contribuiçã o de Ca, Mg e K no SPD aumentou a saturação por
bases, contribuindo para um rendimento de grã os 22 % superior ao das culturas no SPD
que no SC. Os aspectos relacionados com a complexaçã o de cá tions serã o abordados
mais adiante.

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 321

Capacidade de Troca Cati ô nica

Há muito tempo se reconhece a import â ncia da MOS para a CTC dos solos,
contribuindo com 20-90 % da CTC das cama das superficiais de solos minerais e,
praticamente, toda a CTC de solos org â nicps . Em solos tropicais, com cargas
predominantemente variáveis, dependentes de pF« em está dio avançado de intemperismo,
com a fra çã o argila dominada por caulinita e oxi ] ú dróxidos de Fe e Al, a contribuiçã o da
MOS é maior, principalmente quando em baixos teores de argila ( veja capítulo IV). Se for
considerado que grande parte dos sítios de rea çã o da MOS está ocupada por metais e
liga çã o com os colóides inorgâ nicos do solo, a contribuiçã o da MOS para a CTC efetiva é,
freqiientemente, menor do que a teoricamente possível, quando comparada com as cargas
totais dos grupamentos carbox ílicos e fenólicos. Mesmo nessas condições, quando se
estima a CTC de Latossolos como variá vel do teor de COT e da fra çã o argila por meio de
equa ções de regressã o, dada a insignificante contribuiçã o da fraçã o argila, seu coeficiente
de regressã o pode ser negativo ( Mendonça & Rowell, 1996).

y = 0,482 + 0,363 xx - 0 003 x 2 R 2 = 0,82

em que y = CTC (cmolc kg 1); Xj = teor de COT ( dag kg 1); x 2 = teor de argila (dag kg 1)
' ' '

Comparando os coeficientes dessa equa çã o , pode-se determinar que o COT é 121


vezes mais importante que a fra çã o argila como responsá vel pela CTC do solo.
Verificando o efeito da eleva çã o do pH sobre o desenvolvimento de cargas de
Latossolos do Cerrado, Mendon ça et al . ( 2006) estabeleceram a seguinte equa çã o:

y = -0,0636 + 0,767 Xl + 0,00486 x 2 R 2 = 0,97

em que y = habilidade d ó solo em desenvolver carga negativa (cmolc kg 1 pH 1); ' '

Xj = teor de COT ( dag kg 1); x 2 = teor de argila (dag kg 1)


" '

Utilizando os coeficientes de regressão como indicativo da habilidade de cada quilo


de solo desenvolver carga negativa por unidade tie aumento de pH, verifica-se que cada
grama de COT nesses solos contribui com 0,77 cmolc kg 1 de carga negativa . Por outro
'

lado, a contribuiçã o de cada grama da fra çã o argila é de 49 nmolc kg 1. Assim, a '

contribuiçã o do COT é de 157 vezes maior que a contribuiçã o da fra çã o argila .


Considerando que os grupamentos reativos da MOS estã o, em grande parte, nas
substâ ncias h ú micas e que 80 % da fraçã o humine . está complexada com a fraçã o mineral,
a habilidade do solo em desenvolver carga negativa correlaciona -se fortemente com os
á cidos h ú micos e f úlvicos, r = 0,98** e 0,99**, respectivamente. Os autores ajustaram
equa çã o entre a habilidade do solo em desenvolver carga negativa por unidade de pH
( y ) e a percentagem da fra çã o á cidos f úlvicos ( XJ e á cidos h ú micos ( X2) para amostras
de Latossolos:
y = 0,01 + 2,60 xa + 1,21 x2 R2 = 0,97**

FERTILIDADE DO SOLO
322 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Os coeficientes da equa çã o
mostram
que os á cidos f úlvicos contribuem com o
desenvolvimento de carga negativa equivalente a 2,15 vezes a contribuiçã o dos ácidos
h ú micos. Esses dados indicam que grande parte das cargas negativas desenvolvidas
com a calagem nos Latossolos é decorrente da dissociação dos grupamentos reativos
( principalmente carbox ílicos) dos á cidos f úlvicos. No entanto, Mendonça et al. ( 2006)
verificaram que parte substancial (20-30 %) do Ca 2+ + Mg2+ proveniente do calcá rio é
consumida em rea ções que nã o envolvem apenas troca catiônica , mas, sim, forte
complexa çã o por sítios da MOS. Essas bases fortemente complexadas pela MOS podem,
potencialmente, nã o estar prontamente disponíveis para as plantas.
A CTC do solo pode ser aumentada em sistemas de manejo que proporcionem o
incremento dos estoques de COT (Figura 17). Consequentemente, sistemas que contribuem
com o aporte e manutençã o da MOS, tal como o SPD'(Ciotta et al., 2003; Bayer et al., 2003),
e sistemas cultivados com cana -de-a çúcar com aplica çã o de vinha ça e, ou, manutençã o
do resíduo de cana em cobertura (Canellas et al., 2003), sã o os que apresentam maior
CTC em compara çã o ao mesmo solo com sistemas de manejo menos conservacionistas.

Figura 17. Rela ção entre CTC efetiva e a pH 7,0 e o teor de C orgâ nico total (COT ) de um
Latossolo Bruno.
Fonte : Ciotta et al. ( 2003) .

Complexação de Metais
A presença de v á rios grupamentos funcionais na MOS possibilita sua rea çã o com
os metais. Os principais sítios de complexa çã o sã o os grupamentos carboxílicos e
fenólicos. As intera ções possíveis entre o complexante e os metais podem ter a forma de
uma rea çã o de adsor çã o catiônica via atra çã o eletrostá tica (esfera externa, mantendo a
camada de hidrata çã o ), como as entre os grupamentos carbox ílicos carregados
negativamente (dissociados) e um cá tion monovalente, ou interações mais complexas em
que liga ções de coordena çã o (esfera interna, perdendo a camada de hidrata çã o e
estabelecendo liga çã o covalente diretamente com a superf ície do ligante) com os ligantes
orgâ nicos sã o formadas (Figura 18). Características do metal, tais como valência e

FERTI LIDADE DO SOLO


VI - MAT é RIA ORGâ NICA DO SOLO 323

tamanho do raio hidratado, eletronegatividade e polarizabilidade (Sparks, 1995);


características da molécula orgâ nica, tais como densidade e tipo de grupamentos reativos,
localiza çã o dos grupamentos reativos na mol é cula e tamanho da mol écula , e
caracter ísticas da soluçã o, tais como pH, forca i ô nica e temperatura, ter ã o grande
influ ê ncia sobre a ocorr ência e predominâ ncia de determinado mecanismo e sua
estabilidade.
A ordem decrescente de afinidade dos grupamentos dos compostos orgâ nicos com
os íons metá licos é aproximadamente a seguinte:

- O- > - NH 2 > - N=N- > = N > -COO > -O - > 0=0


Alcóolico Amino Azo N anel carboxilato éter carbonila

Figura 18. Modelo estrutural de complexo de esfera interna (liga ção covalente, exemplificada
para Ca 2+ ) (a ) e esfera externa (adsor ção eletrostá tica, exemplificado para Cd 2+ ) (b ).
,

Fonte : Sparks (1995 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
324 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE S á MENDON çA

Com o aumento do pH ocorre dissocia çã o dos grupamentos funcionais dos


compostos orgâ nicos, acarretando aumento da estabilidade do complexo organometálico
(Quadro 11) . A constante de estabilidade aumenta do Mg2+ para o Cu 2+, com o Fe3+ e Al3+
apresentando ligações ainda mais fortes.
Compostos orgâ nicos simples, com apenas um grupamento reativo, dificilmente
conseguirã o formar complexos está veis, visto que a principal reaçã o envolvida é por
meio do efeito ácido (H+ ) ou atração eletrostá tica. Da mesma forma , cá tions monovalentes
sã o ligados aos compostos orgâ nicos por liga ções muito fracas (Figura 19a ). Como as
rea ções ocorrem na soluçã o do solo, em geral, os metais se apresentam na forma hidratada,
liga ções de co-adsorçã o sã o muito comuns na natureza ( Figura 19b ) . A diferença entre
as figuras 19c e 19d sã o marcantes quanto à estabilidade dos compostos. Apesar de
estarem presentes apenas liga ções covalentes (Figura 19c), há forma çã o de complexo e a
Figura 19d indica que há forma çã o de dois tipos de quelatos. A possibilidade de um
composto orgâ nico formar complexos por meio de um desses dois tipos de mecanismos é
fundamental para determinar sua afinidade por um metal.
A forma çã o de quelatos pode ser descrita como uma rea ção de equilíbrio entre um
íon metá lico e um agente complexante, no caso orgâ nico, caracterizada por mais de uma
liga çã o (exemplo, eletrostá tica ou covalente), resultando na forma çã o de uma estrutura
de anel, estando o metal incorporado à estrutura. Dessa forma , há necessidade de que o
metal e o composto orgâ nico apresentem mais de uma possibilidade de liga çã o. Se
imaginar o mesmo grupo de rea ções envolvendo um quelato formado com a participação
de dois grupamentos carboxílicos, formando anel de sete lados, é menos está vel do que
um quelato formado com a participa çã o de um grupamento carbox ílico e um fenólico -

Quadro 11. Constantes de estabilidade do complexo metal-á cido f ú lvico

- log k

Metal pH 3, 0 pH 5, 0

VCK 1 » TI VC TI

Cu 2 + 3, 3 3, 3 4, 0 4, 0
Ni 2 + 3 ,1 3, 2 4, 2 4, 2
Pb2 + 2, 9 2,8 4, 2 4,1
Ca 2* 2,6 2, 7 4,1 4,0
Zn 2* 2, 4 2, 2 3, 7 3, 6
Mn 2* 2,1 2, 2 3, 7 3, 7
Mg 2* 1, 9 1, 9 3, 2 2,1
Fe 3* 6 ,1
AP* 3, 7 3, 7

(1 )
VC: mé todo de titulação cont ínua; TI: mé todo de troca iônica .
Fonte : Adaptado de Schnitzer & Kahn ( 1972) .

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 325

Figura 19. Mecanismos de interaçã o entre compostos orgâ nicos e metais. Liga ção eletrostá tica
( a ), co-adsor çã os ( b ), complexa çã o (c ) e forma çã o de quelato ( d ).

OH, formando anel de seis lados. A ordem decrescente da habilidade do íon metálico de
formar quelato é aproximadamente a seguinte:

Fe3+ > Al3+ > Cu2+ > NI2+ > Co2+ > Zn2+ > Fe2+ > Mn2+

As reações de complexação e quelação de metais pela MOS têm papel importante em


v á rios processos no solo, a saber: no intemperismo, na disponibilidade de nutrientes
(especialmente micronutrientes catiônicos) e de outros metais e nos aspectos ambientais
do solo. Quando a rela çã o substâ ncia h úmica / metal é alta , o complexo é sol úvel em
á gua . Dessa forma, por meio da dissoluçã o da fra ção mineral, há libera çã o de mais íons
metá licos. Outra consequência pode ser o aumento da disponibilidade de determinado
metal. Contudo, quando a rela çã o substâ ncia h ú mica / metal é baixa, o complexo nã o
fica sol úvel em á gua, diminuindo sua disponibilidade para as plantas. Complexos
organometá licos envolvendo á cidos f úlvicos geralmente sã o de maior solubilidade e
mobilidade no solo que aqueles envolvendo á cidos h úmicos.
As fra ções de C que interagem com os metais constituem uma gama de ácidos
org nicos de massa molecular bastante variá vel, como polifenóis, á cidos alif á ticos,
â
aminoácidos, ácido cítrico, oxálico, málico, além de ácidos f úlvicos e h úmicos. O tamanho
da molécula orgâ nica é muito importante nesse processo. Isso fica evidente no caso do
transporte de micronutrientes catiônicos no solo por fluxo difusivo ( FD; Veja capítulo
IV ): enquanto á cidos orgâ nicos de baixa massa molecular ( AOBMM), tal como citrato,
são capazes de formar complexos com Cu, Fe, Zn e Mn e favorecer sua difusã o no solo
(Pegoraro et al ., 2005); a presença de concentrações mais elevadas de á cidos hú micos
(elevada massa molecular ) reduz o FD de Cu, por exemplo.

1
FERTILIDADE DO SOLO
326 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Dessa forma , é evidente que, sob condições de uso e, ou, manejo do solo em que a
adiçã o de resíduos é mais frequente e em maior quantidade (Sá et al., 2001; Ciotta et al.,
2002; Dieckow et al ., 2005b ), e, ou, a MOS se encontra num está dio menos avançado de
decomposiçã o (Bayer et al., 2003a ), tal como é freqiientemente observado no SPD com
rota çã o de culturas, esta pode contribuir para melhorar a disponibilidade de
micronutrientes. De fato, Pegoraro et al. ( 2006a ) observaram que a aplicação de resíduos
da parte a é rea de feijã o guandu e milheto ao solo aumentou o FD dos micronutrientes
cati ô nicos, que se mantiveram menos susceptíveis a rea ções de precipita çã o induzidas
pela calagem ( Pegoraro et al ., 2006b ) . Possivelmente, a melhora no FD de alguns
micronutrientes por compostos orgâ nicos nã o é o resultado apenas do aumento no seu
transporte atribuído à forma çã o de complexos organometá licos per se. Outros estudos
tê m demonstrado que alguns ácidos orgâ nicos e cõ mpostos fenólicos sol ú veis participam
em rea ções de oxiredu çã o, contribuindo para aumentar a solubilidade de Mn no solo
( Fí ue et al., 2001), o que favorece o aumento do gradiente de concentra çã o e o FD.

Alé m dos micronutrientes catiônicos, a manutençã o dos resíduos em superf ície e o


cultivo de adubos verdes em sistema de rota ção de culturas contribuem para melhorar as
condições qu ímicas do solo em superf ície e, mais importante talvez, em subsuperf ície.
Tem -se observado que v á rios adubos verdes apresentam concentra ções significativas de
AOBMM ( Franchini et al., 1999; Carvalho, 2003; Amaral et al., 2004) e que estes, quando
liberados no solo s ã o capazes de formar complexos sol ú veis, estimulando a
movimentação de cá tions básicos, como Ca e Mg em profundidade, melhorando o ambiente
qu ímico para o crescimento radicular ( Franchini et al., 2003) . Tal fato é ilustrado na
Figura 20, onde se observa que ocorreu maior crescimento radicular do milho quando a
calagem foi associada à aplica çã o de extratos de aveia e nabo, em razã o do aumento do
pH e do teor de Ca e diminuiçã o do teor de Al trocá vel até, aproximadamente, 20 cm de
profundidade. Por outro lado, o extrato de trigo não alterou a acidez das camadas
subsuperficiais do solo, nem melhorou o crescimento de raiz ( Franchini et al., 2001) .
Lange et al. (2006) observaram movimentação de Ca em profundidade quando o calcá rio
foi aplicado em superf ície, mas nã o encontraram efeito significativo nessa movimentaçã o
quando se aplicaram doses crescentes (0 a 12 t ha 1) de palha de milho em superf ície.
'

Isso evidencia que a qualidade do material utilizado (espécie, idade de manejo, dose,
etc.) influi bastante na magnitude da movimenta ção do Ca em profundidade.
A habilidade de determinados AOBMM formar complexos está veis com formas
monomé ricas de Al na soluçã o do solo, principalmente Al3+ ( Franchini et al., 1999 ), é
outro fator importante a ser destacado. Embora sendo solúveis, estes complexos tê m-se
mostrado nã o- tóxicos às plantas (Ma et al., 1997; Kochian et al., 2004). Dessa forma, a
participa ção ativa dos compostos orgâ nicos em solos sob SPD pode ser uma das razões
pela qual as respostas à calagem nã o tê m sido observadas e, quando ocorrem, sã o de
pequena magnitude (Caires et al., 2003a,b, 2004, 2006). Em estudos de campo, verificou-
se que a incorpora çã o de calcá rio e o calcá rio aplicado em superf ície tiveram a mesma
eficiência na elevaçã o do pH, dos teores de Ca e Mg trocá veis e da saturaçã o por bases,
promovendo menor satura ção por Al trocável. Um dos motivos atribuídos pelos autores
para esses resultados está relacionado com o fato de os resíduos orgâ nicos liberarem,

FERTILIDADE DO SOLO
!
!
i

VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 327

(a ) (b )

3
AI ( mmolc dm )'

0 4 8 12
i i l
0
£
<> 5 -
d)

a
ca 10
D -
D
c 15
3
O
£ 20 “

25 -I
T C CA CN CT
Testemunha Calcá rio + Nabo
T = Testemunha CN = Calagem + Nabo
C = Calagem CT = Calagem + Trigo O Calcá rio A Calcá rio + Trigo
CA = Calagem + Aveia Calcá rio + Aveia

Figura 20 . Efeito da aplicaçã o do calcá rio na superf ície do solo no crescimento de raiz ( a ) e no
teor de AI trocá vel ( b ) .
Fonte: Franchini et al . ( 2001) .

durante a decomposiçã o, compostos orgâ nicos hidrossolú veis, dos quais se originam os
ligantes orgâ nicos que formam complexos de carga neutra com o Ca e Mg, favorecendo
sua movimentação no sistema em que o calcá rio nã o é incorporado, além de favorecer a
diminuiçã o do teor de Al trocá vel (Ciotta et al., 2004). No entanto, os resultados nessa
á rea ainda nã o sã o conclusivos, pois, em outros estudos, nã o tem sido observada melhoria
significativa na correçã o da acidez em subsuperf ície, quando da aplica çã o de calcá rio
em superf ície na presença de resíduos vegetais (Amaral et al., 2004; Caires et al., 2006).
A eficiê ncia de á cidos orgâ nicos na complexa çã o do Al é determinada pela
estabilidade do complexo orgâ nico formado. Dentre as caracter ísticas dos á cidos,
destacam-se: a constante de estabilidade (pK ) dos complexos Al-L (L = ligante orgâ nico);
pK > 4,5 forma complexos fortes; pK entre 4,5 e 2,5 forma complexos moderados e pK < 2,5
forma complexos fracos (Miyazawa et al., 2000) . A reduçã o da toxidez por Al pode
ocorrer pela hidr ólise decorrente do aumento do pH e da complexa ção por á cidos
orgâ nicos.
A eficiência dos á cidos orgâ nicos em complexar o Al foi avaliada por Franchini et
al. (1999), que observaram que o citrato foi mais eficiente em complexar o Al que o
succinato, o que está relacionado com as constantes de estabilidade obtidas para esses
complexos, Al + citrato, -log Ks = 7,4 e Al + succinato, -log Ks = 3,1. Nas soluções com
citrato acima de 90 % do Al estava em compostos orgâ nicos, na solu ção com succinato o
Al estava, predominantemente, na forma monomérica.

FERTILIDADE DO SOLO
328 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Entretanto, a produçã o desses á cidos orgâ nicos varia com a espécie de adubo verde,
como exemplo; resíduos de aveia preta tiveram como AOBMM predominante o ácido
transaconítico, a ervilhaca , o á cido málico, e o nabo forrageiro, os ácidos cítrico e málico
( Amaral et al., 2004 ) . Carvalho (2003) também observou grande variação no tipo e teor de
á cidos orgâ nicos em v á rias espécies vegetais, incluindo algumas usadas como adubos
verdes. Os teores de á cidos orgâ nicos também variam com a idade das plantas, sendo
menores em plantas mais velhas, especialmente após a fase de florescimento (Franchini
et al ., 2003) . Além da qualidade e quantidade, a continuidade da adiçã o desses resíduos
é fator importante no seu manejo para que se obtenham os benef ícios deles oriundos.
Embora a meia -vida ( t1 / 2) dos AOBMM no solo seja bastante curta, variando de horas a
poucos dias (Jones, 1998; Andrade, 2004), deve ser levado em conta que a adiçã o contínua
de resíduos via parte a é rea ou sistema radicular deve contribuir para manter sua
concentra çã o na solu çã o do solo. Tal adiçã o é mais bem distribuída temporalmente em
solos sob florestas, sistemas agroflorestais e mesmo em solos sob SPD, onde a manutençã o
dos restos culturais em superf ície, a nã o-destruiçã o dos agregados do solo e a não
fragmentação do sistema radicular contribuem para sua incorporação mais lenta ao solo.
Adicionalmente, deve-se ter em mente que esses compostos orgâ nicos envolvidos
em fenômenos de complexa ção de metais são tanto oriundos da decomposiçã o de resíduos
vegetais, como da exsuda çã o via sistema radicular, de modo que as rea ções ocorrem em
maior magnitude na rizosfera . Como exemplo, a reduçã o da fitotoxidez pelo Al3+ é mais
intensa na rizosfera, onde se observa elevada concentra ção de AOBMM advindo da
exsuda çã o pelo á pice radicular (Ryan et al., 2001; Silva et al., 2002; Kochian et al., 2004;
Liao et al., 2006).
As principais rea ções envolvidas com AOBMM na mobilizaçã o de nutrientes na
rizosfera sã o apresentadas de forma esquemá tica ( Figura 23) . A disponibilidade do Mn
pode ser alterada pelo pH e pela adiçã o de quelaçã o do Mn2+, pela oxidação de compostos
orgâ nicos e aumento da mobilidade do Mn reduzido na rizosfera (Figura 21a ) (Marschner,
1995; Hue et al., 2001). Esse efeito indireto dos compostos orgâ nicos ficou evidente em
estudo em que o transporte de micronutrientes metá licos foi avaliado em solos onde se
incorporaram adubos verdes por diferentes períodos. A mobilidade do Cu foi maior nos
solos onde os adubos verdes foram recém-incorporados, indicando que compostos
orgânicos (como os á cidos orgânicos ) constituintes dos resíduos foram liberados e
facilitaram o fluxo difusivo (FD) do Cu. Já no caso do Mn, o maior FD foi observado nos
solos em que os resíduos foram incorporados por vá rias semanas, indicando que produtos
da decomposi çã o dos componentes vegetais ou compostos liberados pelos
microrganismos contribuíram para melhorar o FD do Mn no solo (Pegoraro, 2006a ).
Os á cidos orgâ nicos sã o importantes na mobiliza çã o de compostos de Fe3+ na
rizosfera. Em resposta à sua deficiência, algumas plantas elevam as taxas de exsudaçã o
radicular de compostos fenólicos e aminoácidos nã o-protéicos (fitosideróforos), tal como
o ácido avênico, que exerce importante papel na mobilizaçã o do Fe. Esses compostos
orgâ nicos liberados na rizosfera ir ã o quelatar o Fe, favorecendo a dissoluçã o dos
oxihidróxidos de Fe, resultando em maior concentra çã o de formas sol úveis na solução
do solo que, por sua vez, ir á facilitar seu transporte por difusão até à superf ície das

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 329

raízes onde ser ã o absorvidos (Figura 21b ). Em solos á cidos pobres em P, as plantas
podem exsudar á cidos orgâ nicos na rizosfera e estes ir ã o auxiliar na solubiliza çã o de
fosfatos de Fe e AI de baixa solubilidade considerando a quelatação dos metais (Kochian
et al., 2004; Raghothama & Karthikeyan, 2005) (Figura 21c). Em solos calcá rios, os á cidos
orgânicos auxiliam na liberaçã o do P nos fosfatos de Ca (Figura 21d ). Os á cidos orgânicos
podem ainda competir diretamente com o P pelos sítios de adsor çã o, favorecendo a
dessor çã o do P para a soluçã o do solo. Geralmente, estes compostos sã o mais eficientes
em aumentar a disponibilidade de P pelo bloqueio dos sítios de adsor çã o, tornando o P
mais disponível ( Andrade, 2004; Guppy et al ., 2005). Em solos com aporte de resíduos
vegetais, alé m da libera çã o direta dos á cidos orgâ nicos do tecido vegetal, deve-se
considerar que vá rios compostos de baixa massa molecular podem ser produzidos durante
o processo de decomposiçã o pela microbiota do solo . De fato, Guppy et al. ( 2005)
encontraram que determinados compostos orgâ nicos com comportamento similar a ácidos
f úlvicos eram produzidos durante o processo de decomposiçã o de resíduos vegetais e
que estes mostraram -se eficientes na redu çã o da adsor çã o específica de P por solos
altamente intemperizados.

Quelatos
(a ) de Mn (C )
<r Mn 2+ Fosfatos
' Fosfato'
| Raiz Raiz de Fe e Al,

Á cidos org ânicos Ácidos org ânicos


(Fen ó licos)
Quelatos co 2 Quelato
de Mn de Fe e Al

Desorçã o
de Fe e Al
Quelato de Fe
( b) : >
(d )
Fosfatos
Raiz Citrato, Fen ólicos Ó xido ]Raiz Fosfato
de Ca
Aminoácidos de Fe
Citrato
>
Citrato
Quelato de Fe de Ca

Figura 21. Rea ções envolvidas na mobiliza çã o de nutrientes na rizosfera influenciadas por
compostos orgâ nicos de baixa massa molecular .
Fonte: Marschner (1995) .

Caracterí sticas Físicas do Solo


Agregação
O fenô meno de agrega çã o é resultante da reorganiza çã o, floculaçã o e a çã o das
partículas cimentantes sobre as partículas primá rias do solo. Os agregados protegem
fisicamente a MOS por formar uma barreira f ísica aos microrganismos e suas enzimas
aos substratos, por controlar intera ções entre cadeias alimentares e por influenciar o
"turnover " microbiano .

FERTILIDADE DO SOLO
330 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Com base no esquema proposto por Tisdall & Oades (1982), pressupõe-se que os
agregados maiores sejam formados pela uniã o dos agregados da classe inferior, seguindo
uma ordem hierá rquica (Figura 22). Conforme seu tamanho, cada classe será unida por
diferentes agentes cimentantes, de modo que a MOS influencia direta e indiretamente as
diferentes fases da forma ção de agregados. Os agentes cimentantes sã o classificados em
três grupos: transientes - principalmente polissacarídeos; temporá rios - ra ízes e hifas
f ú ngicas, e; persistentes - compostos aromá ticos recalcitrantes associados com cá tions
polivalentes e polímeros fortemente adsorvidos (Oades, 1984).
Nesse modelo (Figura 22), a matéria orgâ nica particulada (MOP), hifas de fungos e
raízes de plantas podem formar um emaranhado de microagregados. A morte das raízes
e as hifas crescendo dentro e através dos macroagregados produzem agentes ligantes
bioquímicos capazes de estabilizar os macroagregados do solo. Entretanto, essas frações
estã o sujeitas à decomposiçã o microbiana; assim, a agrega çã o é um processo dinâ mico
no solo, uma vez que a atividade microbiana pode atuar na produçã o de agentes ligantes
às partículas, mas também desestabilizar por meio da decomposiçã o dos mesmos. O
aporte continuado de material vegetal é essencial para que esse balanço seja positivo.
Por isso, sistemas que visam à manutençã o e aumento da MOS geralmente estã o ligados
a uma melhoria da agrega çã o do solo ( Huang et al., 2005) .
Assim, para solos de clima temperado com mineralogia dominadada por argilas do
tipo 2:1, a seguinte dinâ mica ( Figura 23) pode ser hipotetizada: os restos vegetais sã o
rapidamente colonizados pelos microrganismos que os decompõem e formam materiais
humificados. Ao redor desses materiais, sã o formados núcleos de macroagregaçã o pelas
hifas de fungos que se enovelam com as partículas mais finas do solo. Simultaneamente,

Figura 22. Esquema de forma çã o de microagregados e macroagregados.


Fonte: Oades (1984) .

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 331

os exsudatos ( mucilagens constituídas principalmente por polissacar ídeos ) produzidos


por fungos e bactérias durante o processo de decomposiçã o se aderem às partículas de
argila , de forma que a MOS é encapsulada pelos microagregados . Raízes vivas de plantas
crescendo no solo também contribuem para formar macroagregados, da mesma forma
que as hifas f ú ngicas. Além do aumento da pressã o mecâ nica que contribui para
aproximar as partículas de solo, elas enovelam essas partículas e produzem exsudatos
com capacidade cimentante. Esses exsudatos podem servir de substrato para
microrganismos, estimulando sua atividade, levando à produçã o de novos agentes
cimentantes.
Durante o processo de estabiliza çã o dos macroagregados, a maté ria orgâ nica
particulada encapsulada dentro dos agregados pela atividade biológica vai sendo
decomposta e fragmentada em partículas de menor tamanho ( Figura 23). Essa maté ria
orgâ nica particulada fina continua a ser decomposta pelos microrganismos e é
encapsulada por minerais e produtos microbianos formando agregados de 53-250 gm
dentro dos macroagregados maiores que 250 /im. Dessa forma, a MOS e os microrganismos
dentro desses agregados encontram-se protegidos e a biodegrada çã o é reduzida . Pelo
esgotamento da fonte de energia, a popula çã o microbiana decresce, o macroagregado
perde estabilidade e pode ser rompido . A maté ria orgâ nica residual (substâ ncias
h ú micas) é entã o liberada, podendo ser novamente degradada . Esses macroagregados
incialmente mostram-se pouco está veis em á gua, mas os seguidos ciclos de umedecimento
e secagem, especialmente na superf ície das ra ízes juntamente com a produçã o de agentes
cimentantes por raízes, macro (especialmente minhocas) e microrganismos, contribuem
para aumentar sua estabilidade (Golchin et al., 1994; Balesdent et al., 2000; Six et al.,
2002b). Assim, a maior parte do C que se acumula em sistemas mais conservacionistas
se deve ao sequestro de C preferencialmente nos agregados pequenos dentro dos
macroagregados (Kong et al., 2005). Esses agregados menores são mais está veis de modo
que em solos cultivados com diversas espécies e diferentes sistemas de manejo o C
associado a eles mostra tempo m é dio de resid ência mais longo (Six et al., 2002 ),
provavelmente graças à presença de material orgâ nico humificado.
Em solos tropicais, a fra çã o argila é dominada por caulinita e oxihidr óxidos de Fe e
Al. E em razã o da forte a çã o cimentante entre as partículas primá rias, proporcionada
pelos oxihidr ó xidos de Fe e Al e pela forte intera çã o com a caulinita, na teoria da
hierarquiza çã o proposta para solos de clima temperado, o papel da MOS parece ser
proporcionalmente menor. Ao contrá rio dos solos de clima temperado, onde os compostos
orgâ nicos sã o os principais agentes estabilizantes dos agregados, nos solos muito
intemperizados os óxidos sã o os principais agentes estabilizantes, sobrepondo-se ao
efeito dos materiais orgâ nicos (Six et al., 2002b ). De fato, Zotarelli et al. (2005) nã o
encontraram diferenças nos teores de C entre agregados de diferentes tamanhos para
dois Latossolos ( um de Passo Fundo-RS e outro de Londrina -PR ), cultivados em sistema
convencional e SPD. Segundo esses autores, o plantio direto leva a um aumento na
estabilidade de agregados de solos mais intemperizados da mesma forma que aquela
observada em solos menos intemperizados; todavia, a maior estabilidade dos agregados
nos solos sob SPD nã o resulta, necessariamente, em maior teor de MOS (Zotarelli et al.,
2006 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
332 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Dessa forma , em solos mais jovens com mineralogia dominada por argilas 2:1, a
forma çã o dos agregados é um processo mais biológico, enquanto nos solos mais
intemperizados com a fra çã o argila dominada por argilas 1:1, e oxihidróxidos, esse
processo é mais dependente de intera ções f ísico-qu ímicas (Six et al., 2002b ) (Figura 23).
Considerando que o pH da maioria dos solos tropicais está entre 4,0-6,0, espera-se que
a caulinita , por exemplo, apresente carga líquida negativa e os oxihidróxidos carga
líquida positiva, de acordo com seus respectivos pontos isoelé tricos, que, estão ao redor
de 4,0 e 7,8, respectivamente. Dessa forma, evidencia-se que, nestas condições, favorece-
se a forma çã o de microagregados nos solos tropicais, com menor dependência da MOS
em comparaçã o àqueles de clima temperado. Assim, a MOS passa a ter papel secund á rio
na forma çã o e estabiliza çã o de agregados. Contudo, o papel da MOS adiciona -se à
estabilizaçã o conferida pela fraçã o mineral do solo (especialmente pelos óxidos), atuando
fortemente em fases posteriores da agrega çã o e na forma çã o de agregados de tamanho
maior. Além do papel cimentante, a MOS retarda a entrada de á gua nos agregados,
aumentando a resistência deles, quando umedecidos. Assim, a aplica çã o ao solo de
materiais orgâ nicos com caracter ísticas anfif ílicas (com componentes hidrof óbicos e
hidrof ílicos na sua estrutura ), como os á cidos h ú micos ( Bastos et al., 2005), tem papel
importante na estabiliza çã o e forma ção de macroagregados dos solos com intemperismo
avançado.

Clima Temperado e tropical Tropical


Atividade f ú ngica Crescimento Intera ções
e bacteriana radicular ativo Fauna de minerais
(A ) (B ) (C ) (D)
to
$ 1/
Atividade da
Formaçã o Exudaçã o Forma çã o
“ biol ó gica ”
- l^ Atividade radicular
atividade
fauna
( ou minhocas ) -
flsico qulrnica
de agregadis
de agregados f ú ngica Intera çõ es
microbiana
e bacteriana > 1 > f entre y
argilominerais
t1 AI Al CU :A
° AITO
“ Envelhecimento"/
atividade microbiana’
l
Crescimento
radicular /
“ Envelhe
cimento"A
atividade )
^J Crescimento
radicular /
secagem/
microbiana exsuda çâ o
secagem/
exsuda çâo

*2 AEA
Atividade biol ógica
AEA
e dist ú rbio f í sico
reduzido
<fT\

* 3 AEA o AEA

Al = Agregados inst á veis AEA = Agregados inst á veis em água


Macroagregados ( > 250 fim ) o Areia Minhocas
Argila
% Mat é ria org â nica particulada
derivada de plantas
tf “ Ó xidos de Fe e Al
Fungos
-A Ra í zes vivas
Microagregados
Mat é ria org â nica particulada
derivada de ra í zes
>
: Bact é rias

Figura 23. Mecanismos propostos de formaçã o e desestruturaçã o de agregados ao longo do


tempo ( tQ tv t2 e t3) em solos temperados e em solos tropicais.
/

Fonte: Six et al. (2002b )

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 333

A fra çã o h ú mus (substâ ncias h úmicas e nã o-h ú micas ) interage por meio de seus
grupamentos funcionais de diversas formas com a fração mineral do solo, principalmente a
fra çã o argila . Decorrente da diversidade de grupamentos reativos, há v á rios mecanis-
mos envolvidos na interaçã o dessas substâ ncias com a fra çã o argila ( discutido anterior-
mente). A associa çã o pode ser tã o grande que pode formar um plasma onde dificilmente
pode ser diferenciada a fra çã o org â nica da mineral. Na separa çã o da mat é ria
macrorgâ nica, é comum dispersar o solo em um líquido de densidade ao redor de
1,8 kg L 1 e observar que grande parte da fra çã o h ú mica precipita com a fra çã o mineral,
"

ficando em suspensã o material nã o ou parcialmente humificado, tendo apenas uma


pequena contamina çã o com material de cor mais escurecida . Esse comportamento ilus-
tra a forte interaçã o das substâ ncias h ú micas com a fra çã o argila, atuando na estabiliza-
çã o de microagregados. Em solos que receberam resíduos de cultura com alto teor de
fenóis ( precursores de SH's), houve aumento da agrega çã o em compara çã o ao solo com
resíduo de soja , com menor teor de fenó is (Martens, 2000 ) .
Na forma çã o dos macroagregados, destaca -se a microbiota do solo, que é influenciada
pela quantidade e qualidade de MOS. O compartimento ativo, principalmente de bactérias
e fungos, interage intensamente com a fra çã o argila , que também atua na estabiliza çã o
de seus metabólitos e produtos de decomposiçã o . Muitos desses compostos tê m
grupamentos carboxílicos e têm carga superficial negativa, sendo atra ídos à s cargas
positivas dos oxihidr óxidos . Outros podem interagir diretamente, por meio dos
grupamentos amínicos protonados, com as cargas negativas das argilas. Essas
intera ções, no entanto, ainda sã o pouco compreendidas. Em geral, esses organismos
interagem por meio de liga ções fracas, influenciando diretamente a forma çã o de
macroagregados. Bossuyt et al. ( 2001) encontraram correla çã o positiva entre a forma çã o
de macroagregados e a atividade de fungos e não observaram influência da qualidade do
resíduo e da atividade de bactérias sobre a formação de macroagregados. De modo geral,
sistemas mais conservacionistas sem revolvimento de solo, com rota çã o de culturas e
aduba çã o orgâ nica, favorecem o incremento na biomassa microbiana do solo que vai
sendo cada vez mais dominada por fungos (Six et al., 2006).
Maior redu çã o de macroagregados de 8- 2 mm ( 40 % ) em á rea sob plantio
convencional ( PC ) foi observada em rela çã o ao Cerrado nativo, enquanto, no solo sob
SPD, essa reduçã o foi de apenas 14 % na camada de 0-5 cm de um Latossolo Vermelho-
Escuro. Para essa classe de agregado també m se constatou tend ência de reduçã o no C
imobilizado na biomassa microbiana (C-BM ) . O C- BM foi de 478 mg kg 1 no Cerrado
'

nativo, 238 mg kg 1 no SPD e 150 mg kg 1 no PC . A maior agrega çã o no SPD é


" '

possivelmente favorecida pela maior presença de raízes, hifas f úngicas e teor de MOS
mais elevado ( Mendes et al., 2003) .
A matéria macrorgâ nica, considerando sua caracter ística de pouca transformaçã o
química, interage mais fisicamente (enlace f ísico e compressã o do solo) com a fraçã o
mineral do solo. Essa fra çã o pode funcionar como o n ú cleo da forma çã o de
macroagregados, atuando na liga çã o entre os microagregados, com o material se
acumulando ao seu redor (Bronick & Lai, 2005). O efeito positivo da MOS particulada
( >53 nm ) na estabilidade de agregados pode ser verificado por meio da equa ção que

FERTILIDADE DO SOLO
334 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

relaciona o diâ metro médio geomé trico (DMG, em mm ) e MOP (em g dm 3) ( DMG = -1,07
'

+ 0,35 MOP; R 2 = 0,77**), sendo esse efeito mais pronunciado na camada superficial
(0-5 cm ) do solo (Costa et al., 2004) . Da degrada çã o da MO macrorgâ nica resultam
metabólitos microbianos que atuam na agregaçã o, ligando os microagregados. Contudo,
decorrente do curto TMR, para que se tenha efetiva açã o na estabiliza çã o de agregados,
há necessidade de aporte constante de maté rial orgâ nico ao solo. Sistemas com v á rias
culturas anuais por ano ou em culturas permanentes (espécies florestais, pastagens bem
manejadas) serã o aqueles que mais contribuirã o para recuperar e manter a boa estrutura
do solo.
A estabilidade conferida aos agregados pode ser inicialmente passageira, em
decorr ência da decomposiçã o microbiana de carboidratos e aminoá cidos do resíduo,
mas, numa segunda fase, ela é fortalecida pela intera çã o com ácidos fenólicos liberados
pela decomposiçã o microbiana (Martens, 2000) . Geralmente, compostos de decomposiçã o
mais lenta demoram mais para atuar efetivamente na agrega çã o do solo, porém esse
efeito é mais duradouro. Em estudo em que se avaliou o padrã o de decomposiçã o de
diferentes resíduos vegetais, aos 57 dias, a evolu çã o de C02 correlacionou com o teor de
carboidratos (r = 0,93**) e aminoácidos ( r = 0,67*). Carboidratos como a glicose estimulam
a atividade microbiana , exercendo efeito instantâ neo e passageiro na forma çã o dos
agregados. Ao final do período de incuba çã o, aos 84 dias, os resíduos que contribuíram
com maior teor de C remanescente ( resíduo de milho, com teor mais elevado de á cidos
fenólicos), foram os que apresentaram maior percentagem de agregados retidos em peneira
de 2 e 4 mm, quando comparados aos resíduos de alfafa e canola (baixos teores de ácidos
fenólicos ) ( Martens, 2000).
Na regi ã o da rizosfera , a estabilidade de agregados é maior que no solo não-
rizosf érico (Caravaca et al., 2002), o que pode ser devido à atua çã o das raízes, importante
componente da MOS viva, na rizodeposiçã o de compostos orgâ nicos, por meio da
contribuiçã o de material orgâ nico oriundo da biomassa radicular, além da associa çã o
com fungos micorrízicos, maior atividade microbiana, a qual também resulta em produçã o
de polissacar ídeos extracelulares, glomalina (glicoproteina produzida por fungos
micorrízicos) que atuam ligando os agregados (Hartel, 2005).
Finalmente, deve-se ter em mente que as diferentes frações da MOS sã o importantes
no processo de estabiliza çã o de agregados, melhorando-a, mas, em contrapartida, a
estrutura do solo contribui para a estabiliza çã o da MOS no solo ( proteçã o f ísica), o
movimento e a reten çã o de á gua , redu çã o do encrostamento , a ciclagem e
biodisponibilidade de nutrientes, penetração de raízes e, por sua vez, para a produtividade
das culturas.
Correla ções positivas entre os teores totais de COT e os índices de agrega çã o
foram obtidas por Wendling et al. (2005), em um Latossolo Vermelho sob diferentes
sistemas de manejo, na regiã o do Cerrado brasileiro (Quadro 12 ) . A importâ ncia da
MOS na agrega çã o de solos brasileiros distintos tem sido constatada em outros
estudos (Costa et al., 2004 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 335

Quadro 12 . Coeficientes de correla çã o entre o COT e os índices de agrega çã o: diâ metro médio
ponderado ( DMP ) , diâ metro m é dio geom é trico ( DMG ), percentagem de agregados
> 2,00 mm est á veis em á gua ( AGRI ) e índice de estabilidade de agregados ( IEA )

Profundidade do solo
Vari á vel
-
0 5 cm -
5 10 cm 10-20 cm

DMP 0, 74 0 , 76 *** 0, 77***


DMG 0 ,83*** 0, 78*** 0, 78***
AGRI 0, 75*** 0, 77*** 0, 77***
IEA 0, 69 *** 0, 65** 0, 76***

Fonte: Wendling et al . ( 2005) .

Reten çã o de Agua

A á gua é uma molécula polar, que é retida por pontes de H pelos grupamentos
funcionais hidrof ílicos e é repelida pelas cadeias orgâ nicas apoiares da MOS ( Figura 24).
De forma geral, a MOS pode reter até 20 vezes sua massa em á gua (Stevenson, 1994 ),
sendo parte retida na sua estrutura interna, com baixa disponibilidade para as plantas.
O aumento da polimeriza çã o das substâ ncias h ú micas e de sua intera çã o com a fraçã o
mineral do solo pode diminuir a capacidade do solo em reter á gua . Muitas vezes, altos
teores de MOS refletem grande car á ter hidrof óbico do solo, visto que a por ção hidrof ílica
da MOS orienta-se na direçã o do interior do agregado, enquanto a por çã o hidrof óbica
direciona -se para a face externa, formando uma camada repelente à á gua . As substâ ncias
h ú micas também podem ser divididas, conforme sua afinidade com água, em: hidrof ílicas,
constituídas principalmente por carboidratos neutros ou ácidos de origem microbiana e
derivados de plantas, e hidrof óbicas, formadas por cadeias carbónicas longas, alif á ticas
e ricas em polifenóis oriundos principalmente da oxida çã o da lignina e da celulose
( Kaiser & Zech, 2000).
A exposiçã o do solo a intensos ciclos de umedecimento e secagem ( por exemplo,
solos de á reas quentes irrigadas e com baixo aporte orgâ nico ) pode favorecer a
decomposiçã o / mineraliza çã o da maté ria orgâ nica mais ativa, com maior proporçã o de
grupamentos funcionais e com menor intera çã o com a fra ção mineral do solo. Isso faz
com que a capacidade do solo em reter á gua seja reduzida em decorrência do aumento da
propor çã o de compostos hidrof óbicos / hidrof ílicos da MOS e do aumento proporcional
da MOS fortemente complexada pela fraçã o mineral do solo, onde parte significativa dos
grupamentos funcionais da MOS estã o envolvidos nas ligações com a fraçã o mineral.
A MOS também pode reter água na estrutura ativa e na matéria macrorgâ nica . Essa
á gua é importante para manter o equilíbrio biológico do solo, tendo papel importante em
regiões secas, com grande d éficit hídrico.
A importâ ncia relativa da MOS na retençã o de á gua depende da textura do solo. Em
solos de textura mais arenosa, a retençã o de á gua é mais sensível à quantidade de MOS,

FERTILIDADE DO SOLO
336 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Figura 24. Esquema ilustrando a adsor çã o de moléculas de água por grupamento carboxílico
(a ) e repulsão por grupamentos alif á ticos de natureza hidrof óbica (b ).
Fonte : www.bioweb .wku .edu .

quando comparada à de solos de textura fina . Adicionalmente, a retençã o de á gua a


-33 kPa é afetada mais fortemente pelo COT que a -1.500 kPa (Rawls et al., 2003), o que
pode estar relacionado com o fato de que o efeito na estrutura ção desses solos afeta mais
a retençã o de á gua a um teor próximo à capacidade de campo que próximo ao ponto de
murcha permanente.
O efeito da MOS sobre a formação de agregados tem papel importante na distribuição
e no tamanho dos poros, podendo influenciar, indiretamente, a retenção de água do solo
(Silva & Kay, 1997). Pelo fato de o teor e a composição da MOS influírem na estrutura e
propriedades adsortivas do solo, a retençã o de água também é alterada quando ocorrem
mudanças na MOS com as pr á ticas de manejo (Rawls et al., 2003).
A aplicaçã o de lodo de esgoto em um Latossolo Vermelho eutrof érrico durante dois
anos consecutivos resultou em alterações na condutividade hidrá ulica . Ao comparar os
tratamentos (0, 6, 12, 18, 24 e 36 t ha 1 de lodo esgoto), dentro de cada potencial, observou-
'

se que a condutividade hidrá ulica nos potenciais 0 e -1 kPa foi de 431,0 e 404,5 mm h 1, "

respectivamente. A dose aplicada de 12 t ha 1 de lodo de esgoto diferiu das demais doses,


'

apresentando a maior condutividade. Entretanto, nã o foram observadas diferenças


significativas para os potenciais -3 e -6 kPa . Tal resultado pode ser devido à melhor
agrega çã o do solo, indicada pelo maior DMP e DMG e índice de estabilidade maior que
87 %, para a dose de 12 t ha 1 (Barbosa et al., 2004).
'

Vale ressaltar que os benef ícios oriundos da utilização de materiais orgâ nicos em
solos não são resultantes somente da quantidade utilizada, mas também da qualidade
do material (fonte de MOS). Assim, Barbosa et al. (2004), em avaliação realizada em
campo, verificaram que as doses superiores a 12 t ha 1 de lodo de esgoto levaram à maior
'

repelência da água em superf ície, o que, provavelmente, resultou em menor taxa de


infiltraçã o inicial na superf ície do solo, contribuindo para a redução da condutividade
hidrá ulica nos tratamentos com 18, 24 e 36 t ha 1. Ao contrá rio, em cultivo de milho sob
'

irrigação, doses crescentes de esterco (0, 8, 16, 24, 32 e 42 t ha 1) em Argissolo Vermelho-


'

Amarelo ocasionaram aumento na retençã o de á gua a -0,01 MPa e no teor de água


disponível 120 dias após a sua aplicação, segundo Silva et al., 2004 (Quadro 13) .

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 337

Quadro 13. Retençã o de á gua a -0,01 MPa e teor de á gua disponível em um Argissolo Vermelho
Amarelo, adubado com doses crescentes de esterco su íno ( x )

2
Caracter í stica Profundidade do solo Efeito da aplica çã o de doses de esterco R

cm ( 0; 8; 16; 24; 32 e 40 t ha -1 )

Reten çã o de á gua 0 - 20 y = 4,6905 + 0,1171** x 0,82 **


( cm 3 100 cm -3) 20-40 y = 5,7619 + 0 ,1136** x 0,71**

Á gua dispon í vel 0 - 20 y = 47,1633 - 14 , 34 ** x1 / 2 + 4, 0187** x 0,96 **


( cm 3 100 cm 3 )
'
20 -40 y = 35,3476 + 1, 9718** x 0,85**

Fonte : Silva et al. ( 2004 ) .

No entanto, deve-se ressaltar que existem resultados controversos na literatura sobre


o assunto . Por exemplo, pr á ticas de manejo que resultam em melhoria na estabilidade de
agregados indicam que nem sempre teores mais elevados da MOS resultam em maior
capacidade de retenção de água (McVay et al., 2006), provavelmente em razã o do aumento
na densidade aparente do solo.

Propriedades Biol ógicas do Solo


Reserva Metab ó lica de Energia

A funçã o bá sica da MOS é promover os processos biológicos do solo por meio da


manutençã o do metabolismo energé tico que, direta ou indiretamente, ir ã o influenciar
outras propriedades e processos do solo. A manutençã o do metabolismo do solo está
ligada, principalmente, à fixaçã o do C atmosf é rico pela fotossíntese e à libera çã o de
compostos orgâ nicos via exsudados radiculares, lavagem das diferentes partes da planta
pela á gua e decomposiçã o / mineralizaçã o dos resíduos vegetais. Dessa forma, uma
diversidade de compostos orgâ nicos entra no solo, servindo de substrato para os macro
e microrganismos, podendo ser assimilados, liberados como produtos metabólicos ou
respirados como COz. Esse processo é chave para a manutenção da ciclagem de nutrientes
e preserva çã o dos nutrientes em formas disponíveis para as plantas.

Compartimentos e Decomposi ção de Nutrientes em Forma Orgânica


Os nutrientes podem ser parte integrante da estrutura de moléculas orgâ nicas
( principalmente N, P e S ); na forma de c á tions na superf ície dos complexos
organominerais, como Ca, Mg e K, em formas trocáveis; na forma de cá tions, complexa dos
e, ou, quelatados por compostos orgâ nicos, como os metais de transiçã o, incluindo os
micronutrientes, tais como o Mn, Cu, Fe e Zn (Zech et al ., 1997). Assim, além dos
mecanismos que envolvem os fenômenos de troca catiônica e complexaçã o, já discutidos,
que atuam na disponibilidade de macro e micronutrientes, os nutrientes sã o estocados

FERTILIDADE DO SOLO
338 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

( imobilizados) e, ou, liberados ( mineralizados) da MOS pelos processos mediados pelos


organismos do solo na liberaçã o principalmente de N, P e S.
O processo de decomposição é fundamental na liberação dos nutrientes constituintes
das estruturas dos compostos orgâ nicos. Os nutrientes liberados nesses processos
poderã o ser imobilizados pelos organismos e utilizados na síntese de novos compostos
orgâ nicos, ou mineralizados e liberados para a solu çã o do solo. Apesar de tais vias
serem criticas para a ciclagem dos macronutrientes, elas também têm papel importante
na ciclagem de alguns micronutrientes. Para compreender melhor esses processos, há
necessidade de avaliar as formas orgânicas em que esses nutrientes se encontram no
solo.

Nitrogénio
Cerca de 95 % do N do solo está associado à maté ria orgâ nica. O ciclo do N envolve
a transferência do N 2 atmosf érico para compostos orgâ nicos, os quais sã o convertidos
em N amoniacal, que, por sua vez, é tranformado em N nítrico e, finalmente, o N retorna
à atmosfera na forma gasosa (Figura 25). As principais rea ções no solo, nas quais as
formas orgâ nicas de N estão envolvidas são: (a ) fixação biológica do N2; (b) mineralização
ou amonificação do N orgâ nico a amónio; (c) imobilização ou assimilação de amónio a N
orgâ nico e, (d ) assimilação ou imobilização de nitrato a N orgâ nico (Schulten & Schnitzer,
1998) (veja capítulo VII, Stevenson, 1994 e Camargo et al., 1999 ).

Figura 25 . Ciclo do nitrogénio.

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORG â NICA DO SOLO 339

As formas de N associadas a materiais proteiná ceos (aminoá cidos, peptídeos e


proteínas) correspondem a, aproximadamente, 40 % e aminoáçú cares 5 a 6 % . O N em
compostos heterocíclicos perfaz cerca de 35 % e o NH4+, 19 % (Schulten & Schnitzer,
1998) . Para melhor compreender os diferentes componentes do N orgâ nico do solo, este
é freqiientemente fracionado via hidr ólise á cida . Com base nesses métodos, o N orgâ nico
é entã o enquadrado nas fra ções nã o-hidrolisá vel e hidrolisá vel e esta, por sua vez, é
subdividida em N-amida, N-hexosamina, N-a-amino e N-nã o identificado (Yonebayashi
& Hattori, 1980; Stevenson, 1994;). O N-NH4+ é geralmente determinado em extrato de
KC1 1 mol L 1. Aproximadamente 50 % do N total do solo enquadra -se na classe nã o
"

identificada ( Mengel, 1996 ) .


Para solos do Rio Grande do Sul, Camargo et al. (1996) encontraram que, pelo méto-
do de Yonebayashi & Hattori (1980), em média, a fra çã o N-nã o-hidrolisá vel contribuiu
com 63,9 % do N- total. Na fra çã o hidrolisada, o N-amida , N-hexosamina , N-a-amino e
N-nao identificado contribuíram com 17,9, 31,6, 34,0 e 16,4 %, respectivamente. Consi-
der á vel propor çã o do N nã o identificado é N heterocíclico nas substâ ncias h ú micas. Os
compostos heterocíclicos entram no solo predominantemente na forma de material vege-
tal em anéis pirrólicos de clorofilas e citocromos e nas bases nitrogenadas purina e
pirimidina, integrantes dos á cidos nucl éicos. Embora pareçam muito resistentes, esses
anéis podem passar por v á rias transforma ções, fazendo com que o N heterocíclico se
acumule no solo (Mengel, 1996 ) . Por essa razã o, somente pequena percentagem das
formas orgâ nicas de N do solo é facilmente mineralizá vel - aquela oriunda, principal-
mente, de aminoá cidos e polímeros de aminoa çú cares da biomassa microbiana do solo.
De fato, a taxa de mineraliza çã o do N de á cidos h ú micos adicionados a diferentes
solos reduziu exponencialmente com o incremento no grau de humifica çã o desses
compostos ( Ve et al ., 2004) . Alguns estudos indicam que entre 2 e 4 % das formas
orgâ nicas de N do solo são mineralizadas a cada ano (Duxbury et al., 1989 ). Estimativas
do N potencialmente mineralizá vel em Latossolos e Neossolos de Goiás indicam que
esta fra ção representa menos que 2 % do N total dos solos. Essa fraçã o está correlacionada
positivamente com os teores de argila , COT e N total, sendo maior em solo sob vegetação
nativa, seguido por solo sob plantio direto e, finalmente, por solo sob plantio convencional
(Kliemann & Buso, 2002) .
Para solos de diversas classes no Rio Grande do Sul, a fra çã o potencialmente
mineralizá vel de N variou de 5,8 a 13,9 % do N total e correlacionou-se positivamente
( r = 0,887**) com a absor çã o do N por plantas de milho (Camargo et al., 1997). O N
potencialmente mineralizável pode aumentar bastante em solos com histórico prolongado
de uso de adubos orgâ nicos. Por exemplo, em solos tratados com lodo de esgoto, a fração
N potencialmente mineralizá vel chegou a 31 % do N total. Prá ticas de manejo como a
calagem podem incrementar a taxa de mineraliza çã o do N da MOS (Silva et al., 1999 ),
mas efeito depressivo da correçã o do solo na taxa de mineraliza ção também tem sido
reportado (Kliemann & Buso, 2002).
A composiçã o das fra ções orgâ nicas de N em solos tropicais ainda é pouco estudada.
Em solos cultivados com arroz em regi ões quentes e ú midas na Ásia , an á lises
espectroscópicas por 15N-RMN mostraram que a maior proporção (60-80 %) do espectro

FERTILIDADE DO SOLO
340 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

obtido para AH era dominado por N-amida, e essa propor çã o era maior em sistemas com
maior intensidade de cultivo e tempo de permanência do solo sob condições de inundaçã o.
A propor çã o de N heterocíclico foi relativamente baixa (7-22 %) e foi maior em AH com
maior grau de humifica çã o (Mahieu et al., 2000 ) . O efeito de sistemas de manejo e das
culturas sobre fra ções e formas de N em solos do Sul do Brasil foi investigado por Dieckow
et al . ( 2005c). O cultivo de leguminosas em SPD resultou em maior teor de N nas formas
N-nã o hidrolisá vel, N-hidrolisá vel, N-aminoá cidos e de N -n ã o identificado, o que foi
atribuído à alta adiçã o de biomassa anual neste sistema: 8,89 t ha 1 de C e 312 kg ha 1 de
' "

N. Em rela çã o ao N total, o N-nã o hidrolisá vel variou de 21 a 30 %, com maior propor çã o


para o solo sem cobertura vegetal (30,0 %) e menor para o sistema com leguminosa (21,1 %);
o N associado aos aminoá cidos variou de 35,6 a 38,3 % e nã o respondeu à s altera ções no
sistemas de manejos e de culturas . O N-hidrolisá vel foi menor no solo sem cobertura
(70,8 %) e mais elevado no sistema com leguminosa ( 78,9 %). A variaçã o no N-hidrolisá vel
correspondeu, principalmente, ao N nã o identificado.
Ainda, nesse estudo, com base em espectros de 15N-RMN, sugeriu-se que o N-amida
em estruturas de peptídeos é a principal forma de N orgâ nico, o que sugere que proteínas
e pept ídeos de origem microbiana , vegetal ou animal sã o estabilizados por associa ções
com outros constituintes orgâ nicos ou minerais, preterindo, assim, o mecanismo de
estabiliza çã o via recalcitr â ncia das estruturas aromá ticas heterocíclicas, de forma que a
fra çã o nã o-hidrolisá vel pode ser constitu ída tanto de formas de N recalcitrantes, como
de formas l á beis encapsuladas, estabilizadas nas SH como proteínas ( Dieckow et al.,
2005c). A idade desses materiais proteináceos estabilizados no solo é dif ícil de ser
determinada com base no uso de radiocarbono (14C) em virtude da possibilidade de
produ çã o de novos peptídeos e proteínas a partir de C antigo do solo.
A chiralidade ( um composto é considerado chiral se ele difere de sua imagem espe-
lho) de alguns aminoácidos pode, no entanto, ser usada para se ter uma ideia da preservação
e idade desses materiais proteiná ceos. A maioria dos aminoá cidos pode ser encontrada
tanto como enantiômeros D, quanto L. O processo de transla çã o para síntese de proteí-
nas usa exclusivamente os aminoá cidos na forma L. Dessa forma , a ocorrência de
enantiômeros na forma D pode ser atribuída a um "envelhecimento", pois a racemiza ção
(conversão da forna L na forma D) é lenta, e esta transformação aumenta com o incremen-
to no tempo de meia -vida da proteína . Portanto, a razã o D / L do á cido aspá rtico pode
dar uma id éia da idade do material proteiná ceo, e a razã o D / L da lisina poderia ser
usada para estimar a idade do N do solo ( Amelung, 2003). Aminoácidos em Plintossolos
da África do Sul sob pastagem nativa contribuem com 34 % do N total. A conversã o
desses solos em á reas de cultivos anuais por 98 anos levou a uma redução (exponencial)
de 70 % dos teores iniciais. Nesse período, a proporçã o do D-á cido glutâ mico e D-alanina
aumentaram em rela çã o aos seus enantiô meros na forma L, o que foi atribu ído à preser -
vação do N nos restos de parede celular bacteriana. A razão D / L do aminoácido leucina
e á cido aspá rtico foi reduzida ao longo do tempo de cultivo, provavelmente pelas perdas
de N de aminoácidos antigos em resposta à degrada ção do solo (Brodowski et al., 2005).
Em solos de pradaria da América do Norte, os aminoácidos D-lisina, D-fenilalanina
e D-ácido aspá rtico contribuíram com 2-15 % dos respectivos aminoácidos na forma L,
indicando preserva çã o de estruturas proteinadas . Estimativas da idade desses

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MAT é RIA ORGâ NICA DO SOLO 341

aminoá cidos com base em taxas de racemiza çã o e idade do 14C do solo como um todo
indicaram que o tempo mé dio de resid ência da matéria orgâ nica que contém lisina varia
de 100 a mais de 500 anos ( Amelung et al., 2006 ).
Fósforo
O ciclo do P é bastante similar ao ciclo de outros nutrientes, visto que ele se encontra
em minerais e no solo, organismos vivos e á gua . Pelo fato de ser muito reativo, o P
combina com 02 e, portanto, nã o é encontrado na forma elementar na natureza. Assim, o
P do solo, á gua e seres vivos encontra -se associado a quatro O, formando o ortofosfato
( P043 ) . Em solos á cidos, grande parte do ortofosfato encontra -se fortemente associado
aos oxihidr óxidos de Fe e Al, enquanto, nos solos alcalinos, os fosfatos de Ca sã o as
formas predominantes ( Veja capítulo VIII ) . Dessa forma , as concentra ções de íons
ortofosfato na soluçã o do solo sã o bastante baixas. Na solu çã o do solo, o ortofosfato é
encontrado na forma de H2P04 , em solos á cidos, e de HP042 , em solos alcalinos. Essas
‘ '

formas iô nicas de P sã o absorvidas por plantas e microrganismos. A maior parte desse


P é incorporado à estrutura de compostos orgâ nicos ( Po ) . As plantas podem ser
consumidas por animais, que retornar ã o o P ao solo na forma de dejetos orgâ nicos. No
solo, o ortofosfato ser á liberado para a soluçã o pelo processo de mineraliza çã o do Po
mediada por microrganismos. O Po també m poder á ser incorporado em compostos
orgâ nicos mais está veis que farã o parte da matéria orgânica humificada do solo (Figura 26) .
Aproximadamente, 50 % do P na biosfera encontra -se em formas orgâ nicas. O Po
inclui o P de organismos vivos e matéria orgâ nica nã o-vivente. Os teores de Po nos solos
sã o bastante variá veis, indo de 15 a 80 %. As maiores proporções de Po sã o observadas
para solos orgâ nicos ou horizontes ricos em maté ria orgâ nica de solos sob florestas. Em
solos de regiões temperadas e naqueles fertilizados com P, sã o observadas menores
propor ções de Po (Stevenson & Cole, 1999 ). Em solos tropicais sob diferentes usos, a
participa çã o do Po para o P total variou de 16 a 65 % ( Nziguheba & Bunemann, 2005) .
Na camada superficial de solos sob Cerrado, a contribuiçã o variou de 21 a 34 %, com a
maior propor çã o observada em solo arenoso ( Neufeldt et al., 2000; Lilienfein et al., 2000).
Em solos sob caatinga da regiã o Nordeste, a contribuiçã o foi de 22 % e chegou a 65 % em
um Latossolo muito argiloso sob floresta amazônica ( Lehmann et al., 2001b ).
Os fungos e as bacté rias contêm a maior parte do P nos organismos do solo. Esses
microrganismos podem mineralizar Po, mas também imobilizar P a partir da soluçã o do
solo. O P da soluçã o do solo pode ser absorvido pelas plantas para produzir biomassa .
Assim, a adiçã o de P ao solo via queda de litter, decomposiçã o de raízes e resíduos de
culturas, excreções animais e morte de organismos do solo constituem o ponto inicial de
forma ção do Po do solo ( Nziguheba & Bunemann, 2005). Grande parte do P aplicado via
fertilizantes minerais pode ser incorporada na fra çã o orgâ nica do P. Depois de 28 dias
de incuba çã o de uma fonte mineral de P em um Latossolo da África, observou-se que
90 % foi encontrado na fraçã o de P extra ível com NaOH, do qual 42-65 % encontrava -se
como Po (George et al., 2006).
O P aplicado na forma mineral ou o ortofosfato liberado na soluçã o do solo via
excreçã o ou lise celular pode ser utilizado imediatamente pela biomassa ou estabilizado
pelos componentes do solo (Magid et al., 1996). O P é um componente estrutural de

FERTILIDADE DO SOLO
342 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE S á MENDON çA

Figura 26 . Ciclo do f ósforo.


Fonte: Adaptado do International Phoshate Institute .

macromoléculas, tais como ácidos nucléicos (DNA e RNA ), fosfolipídeos das membranas.
Alguns organismos ainda sã o capazes de armazenar P na forma de ortofosfato inorgâ nico
ou polifosfatos (Magid et al., 1996). Grande parte das formas orgâ nicas de P correspondem
a ésteres de ácido ortofosf órico, monoésteres ( açúcares fosfatados, fosfatos de inositol ) e
diésteres (á cidos nucléicos, fosfolipídeos) ( Anderson, 1980; Magid et al., 1996; Turner et
al., 2005). Em geral, a contribuiçã o relativa aos seguintes grupos de compostos fosfatados
é observada (Stevenson, 1994): fosfatos de inositol - até 50 %; fosfolipídeos - até 5 %;
á cidos nucléicos - até 2,5 %; fosfoproteínas, a çú cares fosfatados - menos que 1 %.
A estabiliza çã o do Po no solo deve-se, principalmente, à atua çã o de mecanismos de
adsor çã o envolvendo o grupamento fosfato (Celi & Barberis, 2005), embora intera ções
com grupamentos funcionais de C ( como -COOH) sejam possíveis. Rea ções com
grupamento fosfato sã o mais prová veis ocorrer com fosfatos de monoésteres de baixa
massa molecular, em que a presença de v á rios grupamentos monoésteres aumenta a
adsor çã o. Os fosfatos de diésteres, nos quais o grupamento fosfato encontra -se mais
"bloqueado", sã o mais fracamente adsorvidos e participam mais ativamente no ciclo
biológico (Magid et al., 1996). Dentre os principais componentes do Po do solo, encontram-
se o myo-Inositol (1,2,3,4,5,6) hexa /dsfosfato (á cido f ítico) (Figura 27). Ele constitui a

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MAT é RIA ORG â NICA DO SOLO 343

principal forma de Po de reserva encontrada em sementes de plantas, contribuindo com


50-80 % de seu P total (Raboy, 2001) . Sua predominâ ncia no solo está ligada à sua
capacidade de formar precipitados insol úveis com Fe, AI e Ca e ser fortemente adsorvido
pela superf ície de oxihidróxidos de Fe e AI ( Leytem et al., 2002; Turner et al., 2002;
Gebrim et al ., 2004), embora a possibilidade de ser originá rio de tecido microbiano nã o
possa ser descartada ( Oberson & Joner, 2005) .
Em solos sob pradaria dos Estados Unidos, verificou-se que os fosfatos monoésteres
.*
contribuíam com 32-71 % e os fosfatos diésteres com 7-40 % do total de P. Os ortofosfatos
de diésteres encontravam-se mais enriquecidos na fra çã o argila, enquanto os ortofosfatos
de monoésteres eram mais enriquecidos nas frações mais grossas. També m foi observado
que, à medida que aumentava a temperatura mé dia anual, verificou-se aumento na
proporçã o dos ortofosfatos de diésteres, com decr éscimo na proporçã o dos ortofosfatos
de monoésteres, provavelmente como reflexo da maior produtividade vegetal e atividade
microbiana (Sumann et al ., 1998) .
«;

A forma com que o P se liga à maté ria orgâ nica é similar à forma com que o P é
adsorvido pelos oxihidr óxidos de Fe e Al . Assim, sistemas de manejo que privilegiem o
aporte orgânico contínuo podem aumentar a ciclagem do P e aumentar sua disponibilidade
para as plantas pelos seguintes mecanismos: (a ) bloqueando os sítios de adsorçã o de P
dos oxihidr óxidos de Fe e Al; (b ) competindo com os sítios de adsor çã o da fraçã o mineral
pelo P sol ú vel; e (c) deslocando parte do P adsorvido pela fraçã o mineral ( Andrade et al .,
í
2003; Guppy et al., 2005).
A capacidade má xima de adsor çã o de P (CMAP) de Latossolo Vermelho-Escuro sob
sistemas de cultivo com adubos verdes foi avaliada por Silva et al. (1997) . Os tratamentos,
em ordem decrescente da CMAP foram: solo descoberto > guandu > crotalá ria > mucuna
preta > braquiá ria > Cerrado . A CMAP apresentou correla çã o negativa com o teor de
MQS (r - -0,705°) e com a taxa de decomposição dos adubos verdes ( r = -0,983**). Tomando
!

como referência o Cerrado nativo, no qual foram obtidos os maiores teores de MOS,
incrementos na CMAP de 44,2 % foram constatados no solo descoberto. Em rela ção às

K.V >" '


...
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Figura 27. Estrutura do ácido f í tico (hexafczsfosfato de inositol ) .

FERTILIDADE DO SOLO
344 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

espécies em rotaçã o com a cultura do milho, houve tendência de a gramínea ( braquiá ria )
apresentar menores CMAP em rela çã o às leguminosas. Dentre os sistemas com as
leguminosas, as arbustivas (crotalá ria e guandu ) apresentarem maior CMAP que a
leguminosa decumbente ( mucuna preta ) . Essa redu çã o na CMAP provavelmente
resultaria em maior disponibilidade do P aplicado, se outras culturas fossem instaladas
posteriormente.
Cavigelli & Thien ( 2003) reportaram que o plantio de determinados adubos verdes e
sua posterior incorpora çã o aumentaram o crescimento e absor çã o de P por plantas de
sorgo plantadas subsequentemente, mas o extrator Bray-1 nã o diferenciou os teores de P
disponível nos diferentes tratamentos com adubos verdes e mostrou -se limitado para
estimar o potencial de suprimento de P por solos onde houve plantio de adubos verdes.
A maior disponibilidade de P para as plantas em solos onde se pratica a aduba çã o verde
pode resultar da atua çã o de v á rios mecanismos, como aqueles já mencionados (Haynes
& Mokolobate, 2001; Guppy et al ., 2005), bem como da maior e mais diversificada atividade
microbiana .
Por exemplo, a aplica çã o de resíduo vegetal (folhas de Tithonia diversifolia ) também
levou à reduçã o na adsor çã o de P e aumentou a disponibilidade de P no solo, que era
maior que aquela veiculada com o material vegetal, ou até mesmo em relação ao tratamento
com a mesma dose de P na forma de superfosfato triplo ( Nziguheba et al ., 1998),
possivelmente gra ças à produ çã o de â nions orgâ nicos durante a decomposi çã o,
resultando em competiçã o por sítios de adsor çã o de P. Esse efeito positivo dependeu da
qualidade do material adicionado, pois uma dose equivalente em P como palhada de
milho nã o foi tã o benéfica . Recentemente, Randhawa et al. (2005) demonstraram que a
taxa de mineraliza çã o do Po num período de 21 dias foi de 0,06 e 0,27 mg kg 1 dia 1 de P,
' "

respectivamente, em solo sem e com aplica çã o de adubo verde, evidenciando que a


presença de adubo verde també m pode melhorar a disponibilidade de P para as plantas
por incrementar a taxa de mineraliza çã o de Po do solo.
Como já discutido, as espécies de adubos verdes apresentam diferentes potenciais
na produção de á cidos orgâ nicos. O potencial da atua ção dos ácidos orgâ nicos de baixo
peso molecular e ácido húmico em diminuir a adsorçã o e precipitação do P foi investigado
por Andrade et al. ( 2003). Foram adicionados às amostras de Latossolos P na forma de
K 2HP04 e os á cidos: cítrico ( AC ), oxálico ( AO), salicílico ( AS) e á cidos h ú micos ( AH ). O
fosfato foi aplicado de três formas diferenciadas: antes, junto e depois da aplicaçã o do
á cido. Os efeitos dos á cidos orgâ nicos na redu çã o da adsor çã o e precipita çã o do P foi
maior para AC, seguido do AO, AH e AS, em ambos os solos (Quadro 14) . Pode-se
constatar que o efeito da forma com que os ácidos foram aplicados foi diferenciado entre
os solos estudados; no LV, a aplica çã o de fosfato junto com todos á cidos orgâ nicos
proporcionou as maiores concentrações de P total em soluçã o, o que pode indicar uma
competiçã o e, ou, liga ção entre fosfato e ácidos aplicados. No LVA, poré m, as maiores
concentra ções de P total em solução foram obtidas quando a aplica çã o de fosfato foi
realizada depois do ácido, o que foi atribuído ao possível bloqueio dos sítios de adsor ção
pelos ácidos. O LV apresentou teor de argila mais elevado, o que lhe proporcionou maior
CMAP, de modo que, segundo os autores, os ácidos orgâ nicos aplicados podem não ter
sido suficientes para bloquear substancialmente os sítios de adsorçã o.

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATéRIA ORGâNICA DO SOLO 345

Quadro 14 . Concentra çã o de f ósforo total na solu çã o de equil íbrio ap ós a agita çã o com


diferentes á cidos orgâ nicos, em diferentes rela ções molares de á cidos orgâ nicos e f ósforo,
em diferentes formas de aplica çã o em amostras de um Latossolo Vermelho argiloso ( LV )
e de um Latossolo Vermelho-Amarelo textura mé dia ( LVA )

Reda çã o AC AO AH AS

molar Ac.
FAA FJA FDA FAA FJA FDA FAA FJA FDA FAA FJA FDA
Org/ P

mg L
LV
0,00 :1,0 6,15 10,36 9, 71 6,05 10 ,12 9,32 5, 74 10, 23 9,35 5,85 10,19 9, 23
0,50:1,0 7,57 18,81 10,75 5,71 15,25 6,10 7, 26 12,75 8,15 7, 25 14,75 5, 25
0,75:1,0 8,49 19,00 9,70 7,14 16,50 9,80 7,14 13, 25 7, 25 6, 00 13,56 6,85
1,00:1,0 10,10 22,63 11,70 8,18 19,69 10, 65 7,35 13,69 7, 75 6, 01 13,13 6, 40
1,50:1,0 13,09 24 ,06 19 ,40 10,06 20,56 12,70 7,81 13,44 7, 20 6, 42 12,50 6,90
2,00:1 , 0 15,08 28,50 22, 05 12, 21 23,31 13, 60 8, 65 15, 41 8,30 7, 45 13,19 6,30

M é dia ( a ) 10, 07 20,56 13,89 8, 23 17,57 10,36 7,33 13,13 8, 00 6, 50 12,89 6, 82


M é dia ( b ) 14,84 12, 05 9, 48 8,74

LVA
0 , 00:1,0 14, 78 14,69 15,30 14,59 14,54 15,14 14,61 14,57 15,21 14,56 14,49 15,17
0 ,50:1,0 19,60 40.25 38.95 13,83 34.56 31,65 15,51 23, 78 29,70 10, 22 25,38 24.75
0,75:1,0 21 ,53 44,06 42, 05 18,18 37,13 35,35 14,28 24, 69 30,55 13,80 26,31 27,60
1 , 00 : 1 , 0 23, 70 45.44 51,40 20,13 40,69 38, 25 18,00 25,50 29,00 14,69 26,59 29,45
1, 50:1,0 26, 48 47.44 52.95 23, 20 43,00 42, 40 16, 61 27,25 33,75 15,47 26,50 30.75
2, 00 : 1 ,0 30, 05 51.25 60,10 27, 43 45.56 58,60 19,30 28, 44 46,30 16,43 26,69 32,85

M é dia ( a ) 22,69 40,52 43,46 19,56 35,91 36,90 16,55 24,04 30,75 14, 20 24,33 26,76
M é dia ( b ) 35,56 30,79 23,78 21,76

AC: Á cido acé tico; AO: Ácido oxá lico; AHh : Ácido h ú mico; AS: Ácido salic ílico; FAA: Fósforo aplicado antes do
á cido; FJA: Fósforo aplicado junto do á cido; FDA: Fósforo aplicado depois do á cido; Média (a ): Média da forma de
aplica çã o e Média ( b ) : M édia do á cido orgâ nico.
Fonte : Andrade et al. ( 2003) .

O teor de P nas substâ ncias h ú micas é de 0,1 a 1 % e é particularmente abundante


nos á cidos h ú micos (Varanini & Pinton, 2001). Em extratos de NaOH de solos da regiã o
Noroeste do C á ucaso ( R ú ssia ), o Po contribuiu com 92-99 % do P total extra ído,
encontrando-se 52-90 % desse P orgâ nico nos AH. Análises de caracteriza çã o por
31
P-NMR revelaram que, do P contido nos AH e AF, os ortofosfatos de monoésteres eram
a forma dominante e contribuíam com 40-86 %; os ortofosfato de diésteres, com até 22 %
(até 14 %, como açúcares fosfatados); os fosfonatos, com até 8 %; os pirofosfatos, com até
8 %; os polifosfatos, com até 16 %, e as formas nã o identificadas, com até 6 % (Makarov et
al., 1997). Do P orgâ nico em extratos de NaOH, 64-88 % é ortofosfato de monoésteres,
I enquanto os ortofosfatos de diésteres ( DNA, fosfolipídeos e á cido teicóico) contribuem
com 10,9 a 33,4 %. A maior parte do Po no horizonte A desses solos (Cambissolos e
Leptosolos) é associada à fra çã o argila, a qual se encontra enriquecida em ortofosfato de
monoésteres. Já os ortofosfatos de diésteres encontram-se em proporções semelhantes
em todas as fra ções granulom é tricas (Makarov et al ., 2004). A presença de ortofosfatos
de diésteres nas fra ções mais grosseiras pode explicar, pelo menos parcialmente, a maior

FERTILIDADE DO SOLO
346 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

taxa de mineraliza çã o dos ortofosfatos de diésteres no solo em rela çã o aos fosfatos de


monoésteres, conforme observado por Souza ( 2004).
Pouco se conhece sobre as formas de Po em solos tropicais. Em solos sob savana na
Colô mbia, foi observado que o P dos AH encontrava -se na forma de ortofosfato de
monoésteres, seguido pelos ortofosfatos de diésteres. Os fosfonatos, á cido teicóico e
pirofosfato, estavam presentes em pequenas quantidades. Adicionalmente, observou-se
que os AF tinham menor propor çã o de ortofosfatos de diésteres, mas apresentavam
maiores propor ções de ortofosfato inorgâ nico. Em pastagens de Brachiaria áecumbens
bem manejadas, especialmente em consorciaçã o com leguminosas, houve aumento da
propor çã o do P em formas lá beis (fosfonatos e ortofosfatos de diésteres), indicando serem
as fra ções de Po importantes no suprimento de P, quando a fertiliza çã o fosfatada era
limitada (Guggenberger et al., 1996) .
-
Em solos de regiã o sub ú mida da Eti ópia , verificou se que os ortofosfatos de
monoésteres eram a fra çã o de Po dominante (27-66 %), tendo os ortofosfatos de diésteres
contribu ído com 9-27 % . A propor çã o de á cido teicóico era de 7-11 % e de fosfonatos de
2-3 % (Solomon et al ., 2002 ). A propor çã o de ortofosfatos de diésteres era maior na
floresta nativa (25,5 %, média de duas localidades), seguida por florestas plantadas (14 %)
e á reas agr ícolas (9,5 %). Quando da conversã o da floresta nativa para outros tipos de
uso, os maiores declínios foram observados para os ortofosfatos de diésteres associados
à s fra ções mais grosseiras (silte e areia ) , as quais se mostravam menos eficientes na
estabiliza çã o desses compostos, especialmente daqueles derivados da atividade
microbiana .
Em um dos poucos estudos que envolveram a caracteriza çã o do Po em solos
brasileiros, observou-se que, em Latossolos da Zona da Mata mineira cultivados com
caf é no sistema convencional ou sob sistemas agroflorestais, os solos sob esse último
sistema de cultivo mantinham teores mais elevados de Po, os quais decresciam menos
abruptamente em profundidade em rela çã o aos solos sob sistema convencional . O P
orgâ nico contribuiu, em média , com 47 % do P total, sendo 95 % ortofosfatos de
monoésteres e 5 % ortofosfatos de diésteres. Os teores de ortofosfatos de di ésteres nã o
diferiram entre os dois sistemas, mas a maior propor çã o desse grupo de compostos em
rela çã o ao sinal total do espectro de 31P-RMN e o seu menor decréscimo em profundidade
no sistema agroflorestal levaram os autores a concluir que os sistemas mais
conservacionistas podem contribuir para conversã o de Pi para formas lá beis de Po,
especialmente em camadas mais profundas do solo, reduzindo a transforma çã o do P em
formas menos dispon íveis para as plantas (Cardoso et al ., 2003) . Assim, sistemas que
favorecem a manutençã o de maior propor ção de P na biomassa microbiana, tais como os
que têm a aplica çã o conjunta de fertilizantes fosfatados sol úveis e adubos orgâ nicos,
parecem ser uma alternativa para manter o P do solo e do fertilizante mais disponível
para as plantas, particularmente em solos com alta CMAP ( Ayaga et al., 2006).
A importâ ncia relativa do Po na nutriçã o das plantas aumenta sob condições de
deficiência de P, resultante dos baixos teores totais de P e, ou, forte adsor çã o de P pelos
oxihidróxidos de Fe e Al no solo. Nessas condições, a ciclagem de formas orgâ nicas mais
l ábeis é acelerada, sendo mais importante em solos tropicais altamente intemperizados

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 347

(Magid et al., 1996). Deve-se també m levar em conta que o aproveitamento das diferentes
formas de Po encontradas nos estercos e solos irá variar com a espécie vegetal e o composto
orgâ nico fosfatado . Para ser disponível para as plantas, o Po primeiro deve ser
mineralizado, liberando os íons fosfato. A hidrólise das liga ções éster fosfato (C-O-P),
fosfoanidrido (P-O-P) ou fosfonato (C-P) é geralmente mediada pelas enzimas fosfatases,
produzidas no solo principalmente pelos microrganismos (Oberson & Joner, 2005).
Em ambientes naturais, a mineraliza ção do Po pode constituir a principal fonte de P
para as plantas, mas, para que a disponibilizaçã o do P seja de m á ximo benef ício às
plantas, ela deve ocorrer pr óximo à superf ície das ra ízes. Isso oferece vantagens com
rela çã o à competi çã o com os microrganismos pelo P e rea ções que reduzem a
disponibilidade de P ( por exemplo: fixa çã o de P ), especialmente em solos mais
intemperizados . Além de vá rios outros mecanismos que contribuem para a aquisiçã o de
P do solo ( por exemplo: secreção de á cidos orgâ nicos, altera ção do pH da rizosfera, etc.),
as plantas podem aumentar a produçã o de fosfatases na rizosfera para aumentar a
disponibilidade de P sob condições de deficiência . As fosfatases sã o separadas em dois
grandes grupos: fosfatases á cidas e fosfatases alcalinas, conforme o pH ideal para sua
atividade. Elas ainda podem ser divididas em fosfomonoesterases e fosfodiesterases
com base na especificidade do substrato (Quiquampoix & Mousain, 2005) .
Em rela çã o à nutrição de plantas, as fosfatases de monoéster e diéster extracelulares
! das ra ízes sã o as mais importantes. Elas sã o encontradas por toda a regiã o apoplástica
das raízes (associadas à parede celular ou secretadas como exoenzimas), mas são mais
abundantes na regiã o da epiderme (Hubel & Beck, 1996) . Estas enzimas sã o abundantes
em hifas de fungos micorrízicos e desempenham papel importante na aquisição de P de
formas orgâ nicas por plantas micorrizadas (Joner et al., 2000). A síntese dessas enzimas
é induzida em condições de deficência de P, podendo sua atividade na proximidade das
raízes ser aumentada em até 10 vezes, resultando em decréscimo do Po nessa regiã o. No
entanto, atualmente ainda pouco se sabe da contribuiçã o direta das plantas para essa
resposta, por, na maioria das vezes, ocorrerem incrementos na população microbiana
rizosf érica (Richardson et al., 2005).
Plantas de v á rias espécies tê m mostrado capacidade limitada para obter P de
hexafosfato de inositol, quando cultivadas em meio estéril (Hayes et al., 2000; Richardson
et al., 2000; Richardson et al., 2001). Em contraste, a nutriçã o fosfatada de plantas
supridas com hexafosfato de inositol é significativamente aumentada pela inoculação
no meio de culturas de microrganismos totais do solo ou com uma espécie isolada de
Pseudomonas sp. (espécie selecionada com capacidade de liberar P de hexafosfato de
inositol ). Hayes et al. ( 2000) relataram que glicose 1-fosfato é uma fonte relativamente
disponível às plantas. Richardson et al. (2000) verificaram que plâ ntulas de trigo
aproveitaram o P de glicose 1-fosfato equivalentemente à fonte de fosfato inorgâ nico,
atribuindo este fato à produçã o de fosfomonoesterase pelas ra ízes. Já a limitada
capacidade de aproveitamento de P de hexafosfato de inositol foi atribuída à insuficiente
atividade de fitase nas ra ízes (Richardson et al., 2000). O aproveitamento de P do ácido
f ítico por espécies forrageiras també m foi aumentado pela presença de microrganismos
do solo (Richardson et al., 2001). A importâ ncia das fosfatases na aquisiçã o de Po foi

FERTILIDADE DO SOLO
348 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

demonstrada diretamente pela gera çã o de linhagens transgênicas de trevo subterrâ neo


( Trifolium subterraneum L .) que expressavam fitase proveniente do fungo Aspergillus .
Isso resultou num incremento de 77 vezes na atividade da fitase de secretada pelas
ra ízes, o que aumentou em quatro vezes o crescimento das plantas supridas com
hexafosfato de inositol como ú nica fonte de P em meio de cultura com baixa capacidade
desor çã odeP.
No entanto, ganhos em absor çã o de P e crescimento das plantas transgênicas, quan-
do estas foram cultivadas em solo com alta capacidade de sor ção de P, foram bem meno-
res, indicando que a exsuda çã o de fitase extracelular nã o é o ú nico requerimento para
aquisiçã o de P do á cido f ítico (George et al., 2004) . Possivelmente, o Pi liberado é rapi-
damente fixado pelos colóides do solo. O aumento na fração Pi-NaOH concomitante à redu-
ção de Po- NaOH no solo rizosf érico (George et al., 2006) parece suportar tal proposiçã o.
Mais recentemente, em experimento com tithonia ( Tithonia diversifolia), crotalá ria
( Crotalaria grahamiana ) e milho, foi demonstrado que as plantas com maior atividade
extracelular de fosfatase foram as que mais reduziram o Po da rizosfera em Latossolos
deficientes em P (crotalá ria > tithonia > milho ). A principal classe de Po utilizada por
plantas de tithonia e trevo subterrâ neo transgênico super expressando a enzima phitase
foram os monoésteres de fosfato, os quais eram predominantes no Latossolo utilizado
(George et al., 2006). Em solos com altos teores de oxihidr óxidos de Fe e Al, como os
Latossolos, é possível que a principal forma de Po seja o hexafosfato de inositol, o qual é
tido como de baixa disponibilidade para as plantas (Turner et al., 2002). No entanto,
Chen et al. (2004) observaram que plantas de pinus ectomicorrizadas foram capazes de
reduzir os teores de P monoéster do solo, efeito esse atribuito à produçã o de fosfatases
pelo fungo micorrízico. Vergutz et al. (2005) também encontraram que plantas de milho
foram capazes de absorver P a partir de hexafosfato de inositol aplicado em um Latossolo
argiloso em quantidades compará veis à quelas aplicadas como fonte mineral de P (fosfato
de K).
Desse modo, a biodisponibilidade dos fosfatos de monoésteres, especialmente o
hexafosfato de inositol, o qual é a forma de Po que parece predominar em solos com alta
capacidade de adsor çã o de P, é maior do que suposto anteriormente. Assim, o
conhecimento das diferentes formas orgâ nicas em que o P se encontra no solo, bem como
a habilidade das plantas em produzir fosfatases, é importante para definir a contribuiçã o
do Po para a nutriçã o fosfatada de diferentes espécies vegetais.
Enxofre
Em regiões de clima mais seco (á rido, semi-á rido ), as formas inorgâ nicas (como o
gesso ) sã o o principal compartimento de S no solo, mas nos solos das regiões úmidas e
sub úmidas, o S na matéria orgâ nica geralmente contribui com mais de 90 % do S total
(Stevenson & Cole, 1999; Itanna, 2005). Apesar da importâ ncia do S do ponto de vista
nutricional e sua predominâ ncia em formas orgâ nicas em nossos solos, informações relativas
à sua composiçã o e biodisponibilidade sã o ainda bastante escassas (Veja capítulo X ).
Estudos sobre as formas de S orgâ nico no solo tradicionalmente se baseiam no uso
de método indireto por meio da reduçã o de compostos sulfurados para H2S com á cido

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 349

hidroiódico ( Hl). O S-S042 inorgâ nico é extraído com KH2P04. Os ésteres de S-S042 sã o
‘ ‘

obtidos pela diferen ça entre o S reduzível por Hl e S-S042 inorgâ nico. Como o Hl nã o
"

reduz as liga ções S-C (aminoácidos) e R-S03-H (sulfonato), o S ligado ao C é considerado


como sendo a fra çã o do S orgâ nico total que nã o é reduzida pelo HL Dessa forma, o S
orgâ nico do solo tem sido separado em três fra ções com reatividade diferenciada: (a ) S
reduzível por á cido hidroiódico (Hl ), composta por ésteres de S042 ; (b) S reduzível pelo
"

método Raney -Níquel, composta, principalmente, por aminoá cidos, e (c) S residual ligado
a C, composta por sulfonatos e S heterocíclico ( Kertesz & Mirleau, 2004; Solomons et al .,
2005). Em 21 solos de pradaria na Am érica do Norte, sob diferentes regimes de
temperatura e precipita çã o, foi observado que 62 % to S total encontrava-se associado à
fra çã o argila e, ao contr á rio do COT e N, foi pouco afetado pelas condições climá ticas
(Amelung et al., 1998). A maior proporçã o do S-compostos orgâ nicos no solo está presente
na estrutura dos aminoá cidos, contribuindo com cerca de 30 % (Freney, 1986). Em 18
solos florestais dos EUA avaliados por Autry & Fitzgerald (1990), o S-sulfonato foi maior
que 40 % do S total no horizonte Oj e maior que 50 % no horizonte 02 da maioria dos
solos. Os teores de S-aminoá cido foram menores que os de S-sulfonato nesses horizontes
orgânicos e menores que os de S-sulfonato e ésteres de sulfato nos horizontes minerais.
A participa çã o do S-aminoá cidos geralmente nã o ultrapassou 25 % do S total.
Cerca de 30 a 70 % das formas orgâ nicas de S do solo podem ser reduzidas para H2S,
estando grande parte do S reduzido na forma de éster (C-O-S) ou C-N-S. O S ligado
diretamente ao C nã o é reduzido. Dessa forma, sua dinâ mica pode ser semelhante à do
N e do P. Geralmente, os teores de S orgânico são menores em solos com cultivos intensivos
em compara ção à queles sob vegetaçã o nativa ou pastagens melhoradas. Em solos de
pradaria da América do Norte, observou-se que 96 % do S dos solos encontrava-se na
forma orgâ nica, sendo o S ligado ao C o principal compartimento (Wang et al., 2006 ). A
conversã o de pradarias em á reas de cultivo reduziu o S orgâ nico principalmente do
compartimento éster sulfato (39 %), em compara ção a uma reduçã o de 25 % no S ligado a
C. O S orgâ nico total e o S éster sulfato decresceram com o incremento na temperatura
média anual, mas foram pouco influenciados pelas diferenças em precipitação, indicando
ser a temperatura fator importante que controla a dinâ mica do S nesses solos , i
An á lises mais refinadas de subst â ncias h ú micas extra ídas das fra çõ es
g ranulom é tricas de solos da Eti ó pia por XANES ( X -ray Absorption Near -Edge
Spectroscopy) encontraram formas bastante reduzidas (sulfetos, dissulfetos, tiols e
tiofenos), oxidação intermediá ria (sulfoxetos e sulfonatos), além de formas de S altamente
oxidadas (éster sulfatos ) . O S em estados intermediá rios de oxida çã o foram as formas
dominantes para SH extraídas da fra çã o argila, contribuindo com 39-50 %, dos quais
66-96 % eram sulfonatos, enquanto formas altamente oxidadas eram dominantes
(39-50 %) na SH extraídas da fraçã o silte. Os efeitos na mudança de uso do solo foram
observados nas formas mais reduzidas e em estados intermediá rios de oxida çã o,
principalmente das formas mais lábeis de S ligado ao C, sendo tal proporção maior no solo
sob floresta, decrescendo substancialmente em solos cultivados (Solomons et al., 2003).
Para solos da África do Sul, originalmente sob pastagens nativas de altitude, Solomon
et al. (2005) reportaram que mais que 97 % do S total encontrava -se na forma orgâ nica.
l
FERTILIDADE DO SOLO
350 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

Os teores de S orgâ nico estiveram correlacionados com o C orgâ nico ( r = 0,91***),


indicando a íntima associa çã o entre o ciclo desses dois nutrientes. O S éster sulfato com
liga ções do tipo R-0-S03-H, presentes em aril sulfatos, glucose sulfato, colina sulfato,
crondrotina sulfato e keratina sulfato, contribuiu com 11-30 % do S orgâ nico total. O S
ligado ao C com liga ções do tipo R-S03-H, em sulfonatos, e ligações R-S, em aminoácidos,
contribui com 70-89 % do S orgâ nico total. Ao longo de aproximadamente 100 anos de
cultivo houve reduçã o de 45 % no S orgâ nico, comparativamente inferior aos 65 % para
C e 55 % para N, indicando menor susceptibilidade a perdas do S orgâ nico em relação ao
C e N, quando os solos sã o submetidos ao cultivo. No per íodo inicial de cultivo, as
perdas foram maiores para o compartimento de S ligado ao C do que do S éster sulfato,
mas, em períodos maiores de cultivo, as perdas do segundo foram maiores que as do
primeiro, com apenas 40 % do S éster sulfato inicial permanecendo no solo após 90 anos
de cultivo (Solomons et al., 2005). Análises de SH extraídas desses solos por XANES revelaram
que as formas altamente oxidadas, como os ésteres sulfatos, eram as predominantes
(39-55 % do S orgâ nico total ), seguidas pelas formas em estádio intermediá rio de oxidação
(30-37 % ). Apenas 17-24 % do S das SH encontrava -se em formas altamente reduzidas
(Solomons et al., 2005). Xia et al. (1998) també m verificaram que as formas altamente
oxidadas de S eram as que predominavam em SH extra ídas de solos.
Usando a mesma técnica de XANES para solos da Nova Zelâ ndia, China e Reino
Unido, verificou-se que as formas mais oxidadas, intermediá rias e mais reduzidas
contribuíam com, respectivamente, 22-53, 33-50 e 14-32 % do S orgâ nico das SH,
respectivamente. Solos bem aerados sob cultivo de espécies anuais apresentaram maiores
proporções de S na forma altamente oxidada que os mesmos solos sob pastagem, enquanto
solos sob cultivo de arroz inundado tiveram maior propor çã o de S em formas mais
reduzidas. A conversã o de solos sob cultivos anuais em florestas ou pastagens e adição
de esterco colaboraram para reduçã o na proporçã o das formas de S mais oxidadas com
aumentos proporcionais nas formas mais reduzidas e em está dios intermediá rios de
oxidação ( Zhao et al., 2005). A conversão de florestas de Podocarpusfalcatus em plantios
de Eucalyptus globulus (21 anos de idade) em Nitossolos de origem vulcâ nica na Etiópia
não ocasionou reduçã o nos teores de COT, NT e S total, mas houve decréscimo nos seus
teores na fraçã o areia e pequeno incremento na fra çã o argila (Ashagrie et al., 2005).
A dinâ mica do S no solo é ditada por processos de imobilização e mineralizaçã o,
ambos mediatos pela atividade microbiana . Embora parte do S orgâ nico do solo possa
ser derivado diretamente de compostos de plantas e animais (aminoá cidos sulfurados,
sulfolipídeos, etc. ), evidências recentes indicam que grande parte do S orgânico do solo
é sintetizado in situ . Estudos usando 35S como traçador demonstraram que a maior parte
do 35S-S042 aplicado ao solo é rapidamente (semanas ) incorporado no compartimento
'
,

éster sulfato (reduzível por Hl) e, mais lentamente, na fração de S ligada ao C. Na presença
de fonte lábil de C (glicose, celulose), e particularmente com suplementação com N, essa
imobiliza çã o de S na biomassa é aumentada em razã o do estímulo ao crescimento
microbiano (Ghani et al., 1993; Eriksen, 1997; Zhang et al., 2001; Vong et al., 2003),
particularmente na estrutura de bactérias (Ghani et al., 1993), visto que a biomassa
microbiana contém cerca de 40 % de C e 1 % de S (Kertesz & Mirleau, 2004). Esse processo
de incorpora çã o do S às estruturas orgâ nicas é aeróbio (Spratt, 1997).

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 351

A mineraliza çã o ocorre concomitantemente ao processo de imobiliza çã o. O


compartimento de S orgâ nico que mineraliza mais rapidamente é aquele que foi
imobilizado mais recentemente (Kertesz & Mirleau, 2004). O S é inicialmente imobilizado
no compartimento S éster sulfato o qual é mais susceptível à hidr ólise enzimá tica, e
/

entã o é lentamente convertido em S ligado ao C, mais resistente à hidr ólise enzimá tica,
por intermé dio da atividade microbiana (Castellano & Dick, 1991). Após a morte dos
microrganismos, o S ligado ao C entra para o compartimento de S ligado a C do solo.
A taxa de mineraliza çã o do S orgâ nico depende de prá ticas de manejo e de culturas
envolvidas, provavelmente em virtude da diferenças na popula çã o microbiana da
rizosfera ( Kertesz & Mirleau, 2004 ) . Solos sob floresta apresentam maior taxa de
mineraliza çã o, seguido por solos de pastagem e, por ú ltimo, por solos sob cultivos anuais
( Knights et al., 2001) .
Utilizando técnica da diluiçã o isot ópica do 35S, determinou-se que a mineraliza çã o
bruta de S durante um per íodo de 53 dias estava mais diretamente relacionada com as
quantidades de S na forma reduzida e intermedi á ria do que nas formas mais oxidadas
( Zhao et al ., 2005), evidenciando serem formas de S ligadas ao C a principal forma de S
orgâ nico mineralizada no curto prazo . As sulfatases sã o as enzimas envolvidas na
mineraliza çã o do S orgâ nico no solo. A arilsulfatase é umas das principais enzimas
envolvidas na mineraliza çã o do S na forma de ésteres sulfatos e, ao contrá rio do que se
imaginava no passado, essa enzima parece ser de natureza predominantemente
intracelular (Kertesz & Mirleau, 2004); ou seja, os compostos orgâ nicos sulfurados sã o
absorvidos por transportadores específicos para serem hidrolisados internamente. A
atividade da arilsulfatase correlaciona -se com as popula ções de microrganismos
heterotr óficos, e é maior em solo sob floresta nativa em comparaçã o a solos de pastagem
e cultivos anuais ( Pinto & Nahas, 2002).
Na maioria dos solos, a principal fonte de S para as plantas advém da mineralizaçã o
da MOS. A mineralizaçã o líquida de S após quatro cultivos sucessivos de arroz inundado
e milho em solo bem aerado ocorreu tanto nas fra ções reduzíveis por Hl, S reduzível por
Raney- Niquel e S n ã o -reduz ível, indicando que todas as fra ções de S orgâ nico
contribuíram para suprir S para as plantas. A quantidade mineralizada foi maior no
solo inundado. Em média, 70 e 82 % do S absorvido nos quatro cultivos pelas culturas de
milho e arroz, respectivamente, foram derivados do S orgâ nico (Li et al., 2001). No entanto,
experimentos de exaustão de S em solo inundado, usando arroz como planta-teste, indicou
que o S era derivado principalmente.do compartimento éster sulfato (Zhou et al., 2005).
Em cinco cultivos sucessivos de sorgo em Latossolos brasileiros com diferentes
capacidades de adsorçã o de S, Ribeiro Jr . et al. (2001) encontraram que, no curto prazo, a
disponibilidade do S era ditada por uma fra ção orgâ nica l á bil e outra mais recalcitrante.
Em solos com baixa e média capacidade de adsor çã o de S, a disponibilidade no curto
prazo era controlada pela fra çã o de S orgâ nico lá bil, enquanto, em solos com alta
capacidade de adsorção de S, as frações minerais passaram a controlar a disponibilidade
de S para as plantas . A natureza dos compostos orgâ nicos dessas frações não foi avaliada.
A aplicaçã o de fertilizantes que continham S em um Latossolo da Amazônia aumentou a
proporçã o do S-éster sulfato em rela çã o a solos não fertilizados, mas reduziu a proporção

FERTILIDADE DO SOLO
352 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

de S inorgâ nico sol ú vel e de S-ligado ao C. A incorpora ção do S de fertilizantes minerais


em compartimentos orgâ nicos pode contribuir para reduzir as perdas de S por lixivia çã o
( Lehmann et al., 2001b ).

Rela çõ es C/ N, C/P e C/S


A mineraliza çã o do N, P e S da MOS ocorre simultaneamente com a do C. De modo
geral, haverá mineraliza çã o líquida desses nutrientes quando as rela ções C / N, C / P e
C / S forem, respectivamente, menores que 30, 200 e 300. Isso indica que o requerimento
relativo de N pelos microrganismos é maior que o de P, que, por sua vez, é maior que o de
S, bastando apenas que o resíduo orgâ nico adicionado ao solo tenha uma rela çã o C / N >
30 para que o processo de imobiliza çã o de N predomine em rela çã o à mineraliza çã o
deste nutriente. De acordo com Zech et al. (1997), no decorrer de um ano, 55 a 70 % do C
de todo resíduo vegetal e animal retornado ao solo é liberado na atmosfera como C02,
poré m a diferentes taxas pelas fra ções que compõem a MOS. Considerando as formas
orgâ nicas de N, P e S, conclui-se que, durante o processo de mineralizaçã o da maté ria
orgâ nica, a taxa de liberaçã o desses elementos será distinta, fazendo com que os processos
de ac ú mulo e mineraliza çã o de C e N sejam distintos do P e S.
Pode ocorrer competiçã o entre o material orgâ nico adicionado e a planta pelos
nutrientes da soluçã o do solo. Quando os processos de mineraliza çã o predominam em
rela çã o aos de imobiliza çã o, a maté ria orgâ nica funcionar á como fonte de nutriente e,
consequentemente, aumentará a disponibilidade deste para as plantas. Do contrá rio,
quando a imobilizaçã o prevalece sobre a mineraliza çã o, a mat éria orgâ nica passa a reter
o nutriente, diminuindo sua disponibilidade para as plantas. Esse processo depende de
outros fatores, tais como tempo de conversã o da á rea de vegeta çã o natural para á rea
agrícola, está dio de degrada çã o do solo e tempo de adoçã o de sistemas agrícolas com
aporte constante de matéria orgâ nica .
Nos primeiros anos, após a conversã o da á rea florestal para produçã o de alimentos,
a MOS deve funcionar como fonte de nutrientes, visto que, com a altera ção do equilíbrio,
há rá pida decomposiçã o da MOS e libera çã o de nutrientes associados. Quando o sistema
alcança novo equilíbrio, com menores teores de MOS e nutrientes que aqueles originais,
inicia -se maior equilíbrio entre as taxas de mineraliza çã o e imobiliza çã o de nutrientes,
prevalecendo , com o tempo, a imobilizaçã o de nutrientes.
Com a adoçã o de pr á ticas agrícolas que priorizem o aporte orgâ nico, tal como o
plantio direto e agroflorestal, espera -se que, nos primeiros anos, quando as taxas de
ac ú mulo de MOS sã o altas, a matéria orgâ nica funcione imobilizando e competindo
pelos nutrientes. Nos anos seguintes, quando os incrementos nos teores de MOS sã o
muito pequenos ou inexistentes, espera -se que o sistema orgâ nico acarrete equilíbrio
entre os processos de imobiliza çã o e mineralizaçã o. Com o tempo, o aporte de nutrientes
ao solo via deposiçã o de resíduos vegetais da parte a érea e das raízes será maior que a
quantidade de nutrientes imobilizados pela biomassa microbiana e pelos compartimentos
f ísica e quimicamente protegidos da MOS. Só a partir desse ponto, a MOS expressará, ao
má ximo, seu potencial de mineraliza ção de nutrientes. Essa dinâ mica das diferentes
fra çõ es da MOS é especialmente importante para se entender as mudanç as na

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 353

disponibilidade de nutrientes, especialmente de N em solos após a adoçã o do SPD, como


ilustrado por Sá et al. (1998) (Figura 28). Assim, em solos sob SPD e com emprego de
adubos verdes leguminosas, a demanda por fertilizantes nitrogenados tende a diminuir
ao longo do tempo de sua adoçã o.
Observa -se que os diferentes compartimentos da MOS atuam de forma diferenciada
na libera çã o de nutrientes, visto que apresentam diferentes taxas de ciclagem. Por
apresentarem maiores tempos de ciclagem, os compartimentos f ísica e quimicamente
protegidos da MOS funcionam mais como reservat ório do que como fornecedor de
nutrientes para as plantas. Como exemplo, tem-se a elevada demanda de N no processo
de forma çã o e estabiliza çã o das substâ ncias h ú micas; e na forma çã o de complexos
organometá licos de alta estabilidade ( proteçã o coloidal ), como aqueles que se formam
com o Ca no horizonte A de solos calcá rios, particularmente nas Rendzinas. O nã o-
revolvimento do solo, alé m de aumentar o tamanho dos compartimentos f ísica e
quimicamente protegidos, também favorece o aumento o tempo de ciclagem dos nutrientes
desses compartimentos da MOS, quando comparado ao dos sistemas agr ícolas que
revolvem o solo.
Em solos altamente intemperizados com alta capacidade de fixa çã o de P, a taxa de
decomposiçã o pode ser mais influenciada pela disponibilidade de P do que de N. A
baixa disponibilidade de P limita a atividade microbiana e isso é particularmente
importante na decomposiçã o de resíduos e ciclagem da MOS em florestas tropicais sobre
solos deficientes em P (Cleveland et al ., 2002) . Em solos com baixos teores de P a
incorpora çã o de materiais vegetais pode levar à imobiliza çã o tempor á ria de P,
principalmente em estruturas f ú ngicas (Salas et al., 2003) . Istedt & Singh ( 2005)

Figura 28. Incremento do COT e predomin â ncia de processos de mineralizaçã o e imobilizaçã o


do N com o tempo de adoçã o do sistema plantio direto.
Fonte : Sá et al. (1998).
1

FERTILIDADE DO SOLO
354 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

observaram que a m á xima respira çã o microbiana era limitada quando havia bom
suprimento de C lá bil, enquanto a taxa inicial de respira çã o era mais limitada pelo P.
Por outro lado, quando se aplicou material compostado, a ausência de N levou às menores
taxas de respira çã o. Assim, materiais vegetais com maior teor de P resultam em menor
relaçã o P / C na biomassa microbiana e podem ser vantajosos na reposiçã o do P disponível
em solos pobres no nutriente (Kwabiah et al., 2003).
A taxa de decomposiçã o dos resíduos no solo e potencial de acumula çã o de
nutrientes por espécies de adubos verdes sã o importantes caracter ísticas à prediçã o da
ciclagem dos mesmos no solo. Espécies de adubos verdes cultivados isoladamente e em
consó rcio apresentam potenciais diferenciados na libera çã o de nutrientes. A libera çã o
de P, por exemplo, foi mais gradual quando foram realizados consó rcios com a ervilhaca
em relaçã o ao cultivo isolado da ervilhaca . Aos 29 dias iniciais, no cultivo da ervilhaca
isolada , o P remanescente na biomassa foi de, aproximadamente, 40 %, no consórcio com
15 % aveia preta ( AP) + 85 % ervilhaca (EC ), aumentou para 60 %, no consórcio com 45 %
AP + 55 % EC, o aumento foi de 67 %. Entretanto, o maior potencial de acumular P
(3,77 g kg 1 de MS) foi obtido no sistema composto por 15 % aveia preta + 85 % ervilhaca
"

(Giacomini et al ., 2003) .
A consorcia çã o de gramíneas com leguminosas reduz a taxa de decomposiçã o da
fitomassa em virtude da alteraçã o de suas caracter ísticas qu ímicas . Aita & Giacomimi
( 2003) obtiveram redu ções nas concentra ções de N total, N e C sol ú veis em á gua com o
aumento na propor çã o de maté ria seca de aveia preta no sistema que contém 51 % de
aveia preta e 49 % ervilhaca . Portanto, a altera çã o nessas caracter ísticas e em outras,
como lignina, celulose, hemicelulose, pode modificar a ciné tica de decomposiçã o e o
padrão de libera çã o de nutrientes (Quadro 15) .

Quadro 15 . Coeficientes de correla çã o linear simples entre as quantidades residuais de maté ria
seca e de nitrogé nio com algumas caracter ísticas dos res íduos culturais, nas coletas
realizadas aos 29, 82 e 182 dias da distribuiçã o das bolsas de decomposi çã o no campo

Vari á vel NO) C/ N Nsa Csa Csa/ Nsa CEL HEM LIG LIG/ N

Mat é ria seca remanescente


29 dias -0,994*** 0,951** - 0 , 987** -0, 956** 0 , 714 0, 992** 0,559 -0,392 0,897*
82 dias -0,993*** 0, 951** - 0, 985** -0,892* 0, 798 0, 986** 0, 434 -0, 277 0 ,950 **
182 dias -0, 967* 0, 967** -0,942** -0,902 * 0, 704 0, 949** 0,518 -0,389 0,899*

Nitrog é nio remanescente


29 dias -0,987** 0 , 947** -0 , 982** - 0 ,853 0,8523 0,986*** 0,433 -0 , 297 0,960**
82 dias -0,982** 0, 920* -0,983** -0,830 0,878 0,994*** 0,485 -0,326 0,937**
182 dias -0,946** 0, 979** -0,915* - 0,977** 0,552 0,882* 0,818 -0 ,698 0, 701

,
( )
N: Nitrogénio; Nsa : Nitrog é nio sol ú vel em á gua; Csa : Carbono sol ú vel em á gua ; CEL: Celulose; HEM:
Hemicelulose e LIG: Lignina . *, **e *** : Significativos a 5, 1 e 0,1 %, respectivamente.
Fonte : Aita & Giacomini (2003).

FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 355

Após a aplicação de 16 resíduos vegetais com teores de S variando de 0,8 a 8,1 g kg 1,


'

observou-se que a taxa de ciclagem variou de 58 % de imobilizaçã o no trevo da Pérsia


( Trifolium resupinatum) e 76 % de mineralizaçã o no "winter cress" ( Barbarea verna ) . A
mineraliza çã o líquida de S esteve relacionada com a rela çã o C / S dos materiais e foi
maior para materiais com menor teor de lignina . Materiais com maior rela çã o C / S
apresentaram maior imobiliza çã o . A imobiliza çã o bruta correlaciou -se com a relaçã o
C / N do material vegetal . A mineraliza çã o líquida, medida pela absor çã o por plantas,
ocorreu para materiais com rela çã o C / S abaixo de 230. A imobiliza çã o pareceu ser
ditada pela quantidade de C l á bil disponível logo após a incorpora çã o dos resíduos,
enquanto a mineraliza çã o dependeu mais da hidr ólise bioquímica dos compostos
orgâ nicos que continham S (Eriksen, 2005).

CONSIDERA ÇÕ ES FINAIS

A maté ria orgâ nica é um componente chave para manuten çã o da qualidade f ísica,
química e biológica dos solos e, como consequ ência, para sustentabilidade dos sistemas
produtivos no m édio e longo prazo . Muitos pesquisadores têm focado suas atenções
para o papel da maté ria orgâ nica do solo (MOS) no sequestro do C e ciclo global do C.
Outros tê m dedicado esfor ços aos aspectos mais b ásicos de sua génese e constituiçã o.
Estudos mais recentes tê m possibilitado avançar o entendimento sobre a génese e
composiçã o molecular da MOS, além de fornecer subsídios para prever melhor sua
estrutura . Os resultados das pesquisas recentes têm demonstrado que a MOS é mais
alif á tica do que acreditado no passado e a existência de polímeros de alta massa molecular
tem sido questionada . Para solos orgâ nicos jovens, existem evid ências de que as
substâ ncias h ú micas sã o de fato supramol éculas ou agregados de fragmentos de
macromoléculas derivados de resíduos vegetais e microrganismos estabilizados pela
a çã o de ligações químicas fracas e pontes metá licas.
Embora as substâ ncias h ú micas constituam a fra çã o da maté ria orgâ nica mais
abundante nos solos, os resultados de pesquisas suportam a id éia de que frações mais
lá beis com um tempo de ciclagem mais curto, tal como a matéria orgâ nica leve e, ou,
particulada, podem ser indicadores mais sensíveis às diferentes prá ticas de manejo.
Nos solos tropicais altamente intemperizados os oxihidr óxidos de Fe e AI sã o
componentes importantes na estabiliza çã o da MOS que, por sua vez, juntamente com
essas argilas, contribui substancialmente para melhorar a agrega ção e estrutura do solo.
O incremento e a manutençã o da MOS nos trópicos, como na região dos cerrados, tem-se
mostrado mais dif ícil do que na regiã o subtropical da regiã o Sul do Brasil. A adoçã o do
plantio direto tem contribuído, substancialmente, para a melhoria tanto quantitativa
quanto qualitativa da matéria orgâ nica do solo, resultando em melhorias substanciais
nas características f ísicas e qu ímicas do solo. Os melhores resultados tê m sido
conseguidos em sistemas de cultivo onde se adota a rota çã o de culturas, inclusã o de
adubos verdes (especialmente leguminosas), evidenciando a importâ ncia do maior aporte
de resíduos e do N orgâ nico na manutençã o da MOS. A integra ção agricultura -pecuá ria

FERTILIDADE DO SOLO
356 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA

também tem -se mostrado bastante promissora, visto que as pastagens bem manejadas
sã o eficientes no aporte de maté ria orgâ nica, especialmente via atividade radicular.
Embora seja freqiientemente ignorado, o sistema radicular é, aparentemente, o que mais
contribui para o aporte de MOS. A ado çã o de sistemas agroflorestais tamb é m
apresenta grande potencial quanto à manutenção e recuperação das propriedades f ísicas,
químicas e biológicas do solo, em decorrência do constante aporte orgâ nico, da cobertura
do solo, da preserva çã o de microclima mais ameno e de manutençã o e otimiza çã o da
ciclagem de nutrientes.
Apesar do grande avan ço constatado, existem algumas lacunas no conhecimento
sobre a matéria orgâ nica do solo que requerem a dedica çã o de esfor ços futuros, a saber:
• definir indicadores de solo para estimar o potencial de fixa çã o de C-C02 em C
orgâ nico do solo;
• avaliar a participa çã o de formas orgâ nicas de N derivadas de adubos verdes e outros
materiais de origem vegetal e animal na síntese de substâ ncias h ú micas;
• avaliar a composiçã o molecular e os aspectos estruturais da maté ria orgâ nica de
solos sob diferentes usos e manejos;
• estimar a participa çã o de formas orgâ nicas de N, P e S na nutriçã o de plantas,
especialmente em solos manejados sob pr á ticas conservacionistas;
• desenvolver e validar modelos de simula çã o da dinâ mica do C e outros nutrientes,
bem como avaliar a taxa de libera çã o de nutrientes de materiais orgâ nicos e sua
absor çã o pelas plantas, em condições tropicais;
• quantificar a contribuiçã o do sistema radicular (incluindo rizodeposição) para o
aporte de MOS;
• refinar os modelos de agrega çã o de solos e a participa ção da maté ria orgânica (viva
e nã o-vivente ) em solos mais intemperizados;
• avaliar a viabilidade da incorpora çã o profunda de resíduos ( mecâ nica e, ou,
biologicamente ) para estabilizar a maté ria orgâ nica e renovar a capacidade de
sequestro de C nas camadas superficiais;
• quantificar a contribuiçã o de dejetos animais para a MOS;
• avaliar estoques e qualidade da matéria orgâ nica em solos sob culturas perenes e em
florestas cultivadas;
• enfocar experimentos de longa dura çã o, em que sejam avaliados os efeitos de
diferentes usos e manejos sobre a quantidade e qualidade da MOS.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq, CAPES e FAPEMIG, pelo suporte financeiro e bolsas de estudo e pesquisa.


A Emanuelle Mercês Soares, doutoranda no DPS-UFV, pelo auxílio constante na
elaboraçã o deste trabalho .

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG É NIO
Heitor Cantarella17

1/
Centro de P&D de Solos e Recursos Ambientais. Instituto Agronó mico - IAC . Av. Bar ã o de
Itapura 1481, Caixa Postal 28, CEP 13001-970 Campinas ( SP ) .
cantarella @ iac.sp. gov . br

Conte ú do

INTRODUÇÃ O 376
CICLO DO NITROG É NIO 376
DIN Â MICA DO NITROG É NIO NO SOLO - FORMAS E PROCESSOS 379
Mineralizaçã o-Imobilização do Nitrogénio no Solo 382
Nitrifica çã o 388
Desnitrifica çã o : 391
FIXAÇÃO BIOLÓGICA DO N 2 395
O NITROG É NIO E O AMBIENTE !. 397
PERDAS DE NITROG É NIO DO SISTEMA SOLO-PLANTA 400
Lixiviaçã o de Nitrato 400
Volatiliza çã o de Am ónia 405
Perdas de Nitrogénio Via Foliar 413
Perdas de Nitrogénio em Solos Inundados 414
FONTES DE NITROG É NIO : 416
Adutos de Uréia e Adiçã o de Produtos Acidificantes 421
Fertilizantes de Liberaçã o Lenta ou Controlada 422
Fertilizantes Estabilizados 426
AVALIAÇÃO DA DISPONIBILIDADE DE NITROG É NIO . 432
DEMANDA DE NITROG É NIO PELAS CULTURAS 437
INTERAÇÃO DO NITROG É NIO COM OUTROS NUTRIENTES 438
EFICIÊ NCIA DE USO DO NITROG É NIO DE FERTILIZANTES MINERAIS E ORG Â NICOS 440
MANEJO DA ADUBA ÇÃO NITROGENADA 443
LITERATURA CITADA 449

SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p . ( eds. NOVAIS, R. F., ALVAREZ V., V. H ., BARROS,
N.F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R.B. & NEVES, J .C .L.) .
376 HEITOR CANTARELLA

INTRODU ÇÃ O
O N é constituinte de vá rios compostos em plantas, destacando-se os aminqá cidos,
á cidos nucl éicos e clorofila . Assim, as principais rea ções bioquímicas em plantascp
.

microrganismos envolvem a presença do N, o que o torna um dos elementos absorvidos


em maiores quantidades por plantas cultivadas. Alé m disso, o N apresenta grande
versatilidade nas rea ções de oxirredu çã o e está presente em vá rios estados de oxida çã o,
desde formas bastante reduzidas (-3), como o NH4+, até oxidadas ( +5), como o N03 , o que "

lhe confere especial importâ ncia nos ciclos biogeoquímicos e no metabolismo das plantas.
Por exemplo, cerca de um quarto do gasto energé tico dos vegetais está relacionado com
as v á rias rea ções envolvidas na redução de nitrato a amónio e a subsequente incorpora çã o
do N à s formas orgâ nicas nas plantas ( Epstein & Bloom, 2005) .
O ciclo do N no sistema solo- planta é bastante complexo. A maior fra çã o da N do
solo está na forma orgâ nica , presente na matéria orgâ nica em diferentes moléculas e com
variados graus de recalcitr â ncia , ou como parte de organismos vivos. Algumas formas
ou fra ções de N tê m meia vida de poucos dias, enquanto outras, de séculos - O N pode
,

ingressar no sistema solo- planta por deposições atmosf. é ricas, fixa çã o biológica -
A *

simbió tica ou nã o, aduba ções químicas ou orgâ nicas. Por outro lado, pode sair por meio
de remoçã o pelas culturas e variados mecanismos de perdas, que incluem lixivia çã o e
volatiliza çã o. O ciclo do N é controlado por fatores f ísicos, químicos e biológicos e
afetado por condições clim á ticas dif íceis de prever e controlar.
Este elemento é empregado em grandes quantidades na agricultura moderna na
forma de fertilizantes. Pãraaúnaior parte das culturas, representa o nutriente mais caro.
Com o dom ínio dos processos industriais para a conversã o do N 2 atmosf érico em NH-3'
no começo do século XX, teve início a fabrica çã o de fertilizantes nitrogenados sinté ticos,
que vêm sendo utilizados em larga escala . Mais da metade dos fertilizantes nitrogenados
sintéticos foi usada no mundo unicamente nos últimos 25 anos (Mosier & Galloway,
2005). Acredita -se que o aumento da produçã o agrícola resultante do emprego de
fertilizantes nitrogenados permita sustentar cerca de 40 % da atual populaçã o do planeta,
o que nã o seria viá vel sem esse insumo (Mosier & Galloway, 2005).
Os fertilizantes nitrogenados sã o produzidos principalmente a partir de combustí-
veis f ósseis, nã o-renová veis. Quando utilizado em quantidades excessivas ou condições
desfavoráveis, o N pode ser perdido e, ao ser transferido para outros locais ou ecossistemas,
converter -se em poluente de á guas superficiais ou subterrâ neas e da atmosfera .
O entendimento das principais reações que regem o comportamento do N no sistema
solo-planta é, portanto, fundamental para o adequado manejo da agricultura moderna .
í

CICLO DO NITROG ÉNIO


O ciclo do N no solo está ligado ao ciclo global do N na natureza. Dados compilados
por Stevenson (1982) indicam que a maior parte do N na terra está na litosfera (1,6 x 1011 Tg),

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 377

principalmente como constituinte de rochas ígneas da crosta e cio manto terrestre, do


n ú cleo do planeta e de sedimentos f ósseis e marinhos. A por çã o nos solos terrestres, na
forma de mat é ria orgâ nica ou NH 4 + fixado em argilas, é relativamente modesta
( 2,4 x 105 Tg ) comparada ao total da litosfera . Outro grande reservató rio de N no planeta
é a atmosfera, onde o N molecular ( N 2) comp õe 78 % dos gases: 3,9 x 109 Tg. O N 2 tem
uma tripla ligação N = N, hastante está vel, que torna esse gás muito pouco reativo. O N
contido na hidrosfera, especialmente nos oceanos, é de cerca de 2,3 x 107 Tg, dos quais o
N 2 representa mais de 95 % do total; outras fra ções incluem NH4+, NOa , N02 e matéria
"

orgâ nica particulada ou dissolvida . As estimativas do estoque da biosfera sã o menos


exatas, mas apontam para valores de cerca de 2,8 x 105 Tg (Stevenson, 1982 ) .
Em escala global, oN é importante por ser um elemento-chave para a produtividade
de todos os ecossistemas. Algumas á reas do mundo, tais como partes da África , Ásia e
América Latina, nã o têm N suficiente para sustentar adequadamente suas populações.
Por outro lado, em outras, há excesso de N decorrente da baixa eficiência do uso desse
elemento no sistema produtivo e da queima de combustíveis f ósseis, que podem
transformar o N em poluente. Em ambos os casos, leva -se em conta apenas o N reativo
( Nr ), que engloba as formas biologicamente ativas e fitoquimicamente reativas na
atmosfera e biosfera , e inclui formas reduzidas ( NH3, NH4+ ), inorgâ nicas oxidadas ( N03,
HN03, NOx, N20) e compostos orgâ nicos ( uréia, aminas, proteínas, etc.), mas exclui o N 2
atmosf érico (Galloway et al., 2004).
Os valores de produçã o global de Nr trazem grandes incertezas por serem muitos
dados estimados com pouca acur á cia (Quadro 1) . O aporte de Nr em sistemas naturais
representa mais da metade daquele de origem antropogênica . A fixa çã o biológica de N2
é, de longe, a fonte mais importante nos sistemas naturais . O aporte de N é
contrabalançado por perdas, que retornam partedo N à atmosfera como N2. As fontes de
Nr antropogênicas podem, em princípio, afetar o equilíbrio do sistema e causar poluiçã o
pontual (contamina ção -de á guas ) ou dispjersa ( eutrofica çã o e apoxia em lagos,
estu á rios e mares ). As estimativas de fixaçã o biológica de N 2 em regiões tropicais,
inclusive no Brasil,_s_ão relativamente precá rias, especialmente aquelas que ocorrem em
i
pastagens, cana -de-a çúcar e em outros processos nã o-simbió ticos em gramíneas, além
daquelas que ocorrem em sistemas naturais (Filoso et al., 2006) . As estimativas de adiçã o
i antropogênica de N ao ambiente no Brasil sã o de cerca de 10 Tg ano 1, mas a fixaçã o
"

bioló gica natural de N 2 é da mesma ordem de grandeza (Quadro 1). Estanã o inclui o N2
fixado na produçã o de soja, estimada em 3,2) Tg ano 1 de N, equivalente aproximadamente
"

a um ter ço do N adicionado ao ambiente por a çã o do homem, e é superior à quantidade


de N adicionada como fertilizante (Filoso et al., 2006 ) .
Comparado com as médias mundiais (Quadro 1) e com a dos pa íses desenvolvidos,
o Brasil contribui relativamente pouco com fontes antropogênicas de Nr para o ecossistema
global. O aporte de N pela fixa çã o simbió tica em á reas cultivadas excede em muito
aquele feito como fertilizantes sinté ticos. A quantidade de N proveniente de combustíveis
f ósseis também é relativamente pequena graças à matriz energé tica brasileira; sua
contribuiçã o é localizada apenas nas regi ões industriais do Centro-Sul (Filloso et al.,
2006 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
378 HEITOR CANTARELLA

Quadro 1. Aporte de nitrogê nio (1) reativo no Brasil e em escala global

Brasil Mundo
Aporte de N
2002 1995

Tg ano 1 de N

Sistemas Naturais
Rel â mpago 0,5 5
FBN ( 2 ) terrestre 10,9 107
FBN oceanos 121
Subtotal 11,4 233

Origem antropog ê nica


Fertilizantes 2,5 100
FBN á reas cultivadas 7,3 32
Queima de combust í veis f ósseis 0,7 24
Subtotal 10,5 156
Total 21,9 389
,
( )
N reativo: engloba todas as formas biologicamente ativas e fitoquimicamente reativas na atmosfera e biosfera
e inclui formas reduzidas ( NHV NH4 + ), inorgâ nicas oxidadas ( NC>3 , HNOv NOx, N 20) e compostos orgâ nicos
'

( ureia , aminas, proteínas, etc. ). (2) FBN : fixa çã o biológica de nitrogénio.


Fonte: Filoso et al. ( 2006 ), para o Brasil e Galloway et al. ( 2004), para o Mundo.

Do ponto de vista agrícola, o ciclo do N no solo é o mais importante. O N no solo está


predominantemente na forma orgâ nica - mais de 95 % do N total. As fra ções inorgâ nicas
sã o compostas principalmente por NH4+ e N03 , mas pequenas _concentraçõns-deJ Q2
‘ '

podem ocorrer em algumas situa çõés. Em menores proporções, ocorrem N 2 e outros


^
gases NOx na atmosfera e na soluçã o do solo . A despeito da grande qpantidade de N
~

estocado na espessa camada da crosta terrestre, a contribuiçã o do N dos minerais para a


forma çã o do N do solo foi muito pequena, pois a concentra çã o de N reativo em rochas e
no material de origem dos solos é baixa . A maior parte do N do solo prové m do ar, por
~
deposições atmosf é ricas de formas combinadas de N ( NH4+, N03 , N02 ) e da fixaçã o
"

biológica de N 2, tanto em sistemas nã o-simbió ticos quanto simbióticos, por meio de


bactérias formadoras de nódulos em raízes de leguminosas (Stevenson, 1982). As formas (

reativas ou combinadas de N na atmosfera sã o formadas com a quebra da liga çã o N N =


a partir de descargas elé tricas ou fotoquimicamente, ou provém do pró prio solo ou de
oceanos, no processo de ciclagem d ò N. A queima de combustíveis f ósseis també m
contribui para o fornecimento de N reativo que se deposita no solo a partir da atmosfera .
O N que retorna ao solo por deposiçã o a é rea vem na forma de chuva ou poeira e
provém de N emitido como NH3 ou NOx por açã o antrópica ou nã o. A deposição aérea de
N ( NH3 + NOx) varia de 3 a 5 kg ha 1 ano 1 de N em á reas agr ícolas, quantidades essas
" "

que podem ser consideradas normais em ambientes nã o poluídos (Lagreid et al., 1999 ),
mas podem chegar a 10 a 40 kg ha 1 ano 1 em algumas regiões da Europa . N ú meros
" "

I
~
similares sã o fornecidos por Groffman ( 2000), indicando que as deposições de N03
atmosf érico, produzido a partir de óxidos de N emitidos em combustões, variam de 5 a
20 kg ha 1 ano 1. Parte desse N faz parte da chuva á cida (HN03) .
" "

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 379

Altas doses de N (40 a 50 kg ha 1 ano 1) podem ser depositadas no solo, na forma de


' '

NH4 +, em á reas vizinhas a grandes confinamentos (Groffman, 2000), visto que cerca de
30 % do N na urina e nas fezes dos animais podem ser perdidos por volatiliza çã o de NH3
( Lagreid et al., 1999 ). O N proveniente de deposições a é reas pode ajudar a suprir as
necessidades da plantas em sistemas agr ícolas, mas, em quantidades excessivas, pode
causar problemas como a acidifica çã o de solos ou altera çã o na composiçã o botâ nica em
bosques e florestas. A carga crítica para deposições de N atmosf é rico na Europa
(quantidade m á xima de aporte de N que pode ser tolerada por espécies vegetais mais
sensíveis ) é de 10 a 20 kg ha 1 ano 1 de N.
' '

As rea ções envolvendo o N ligado à matéria orgâ nica do solo (MOS) sã o predomi-
nantemente mediadas por microrganismos e, portanto, afetadas por condições ambientais
e climá ticas (Figura 1) . Assim, dependendo da combina çã o de fatores ( umidade, tempe-
ratura , pH, etc.), o N pode ser conservado e se tornar disponível para as plantas, ou ser
perdido para as á guas superficiais e do subsolo, ou para a atmosfera . A importâ ncia das
reações que ocorrem no solo para o balanço de N é corroborada pelo fato de cerca de 95 %
do N reciclado na pedosfera interagir no sistema solo-microrganismos-plantas superio-
res e apenas 5 % passar pela atmosfera e hidrosfera ( Hauck & Tanji, 1982).

Figura 1. Ciclo resumido do nitrogénio no solo.

DIN Â MICA DO NITROG É NIO NO SOLO - FORMAS


E PROCESSOS
O grande estoque de N no solo ocorre em forma orgâ nica, como parte da MOS, cuja
relevâ ncia para a fertilidade do solo é bem estabelecida. A mineralizaçã o da maté ria
<!

FERTILIDADE DO SOLO
380 HEITOR CANTARELLA

orgâ nica (MO) libera N inorgâ nico, o qual constitui a principal fonte de N para as plantas
em muitos sistemas agrícolas.
A MOS nã o é um material uniforme. Portanto, o N de compostos orgâ nicos pode ser
encontrado em formas relativamente lábeis, de ciclagem rá pida, ou de moléculas bastan-
te umificadas e recalcitrantes, havendo um gradiente entre esses extremos ( veja capítulo
VI) . A fra çã o do N total do solo que participa do ciclo de reações de mineraliza ção-
imobiliza çã o - que, em algum momento, resulta em formas disponíveis para as plantas,
varia com o tipo de solo e o manejo. Sistemas tais como o plantio direto, com alto aporte
de material vegetal fresco, contendo carbono orgâ nico disponível como fonte de energia ,
tendem a apresentar maior reciclagem do N do que sistemas mais pobres em fornecimento de
resíduos vegetais (veja capítulo XV). Como as reações de mineralizaçã o-imobilizaçã o pas-
sam pela biomassa microbiana, esta serve como um indicador da velocidade de ciclagem
de N e de outros nutrientes. A porçã o ativa do N orgâ nico do solo compreende cerca de
10 a 15 % do N total em solos agr ícolas, incluindo a biomassa microbiana . O restante
corresponde à fra çã o passiva, que tem uma ciclagem mais lenta (Stevenson, 1982) .
As quantidades de N na biomassa microbiana sã o bastante variá veis, uma vez que
dependem do manejo do solo e das condições edafoclim á ticas. Valores entre 40 e
496 kg ha 1 de N na biomassa microbiana tê m sido relatados, com valores médios de 101
'

a 108 kg ha 1 na camada superficial dos solos, conforme dados compilados por Moreira
'

& Siqueira (2002). A meia -vida do N da biomassa microbiana varia de 2 a 6 meses, ou


pouco mais em solos inundados ( Bird et al., 2001), mostrando que grandes quantidades
deste nutriente sã o recicladas anuá lmente no solo, com implica ções claras para a
disponibiliza çã o de N para as plantas. Por outro lado, a meia -vida do N do solo foi
estimada em cerca de 180 anos (Hauck & Tanji, 1982), podendo as frações de N orgâ nico
protegidas por material coloidal ter meia -vida de até 1.000 anos (Moreira & Siqueira,
2002). Fica evidente, por estes dados, que a maior parte do N orgâ nico do solo encontra-
se em formas químicas resistentes ao ataque microbiano.
Vá rios mecanismos tê m sido propostos para explicar a estabilidade do N orgâ nico
no solo, incluindo a rea çã o de componentes proteiná ceos com ligninas, taninos e outros
compostos orgâ nicos no solo; a adsorçã o de compostos orgâ nicos de N a minerais de
argila; a forma çã o de complexos com cá tions polivalentes; ou simplesmente a proteçã o
f ísica fornecida por pequenos poros no solo, que podem tornar os compostos orgâ nicos
inacessíveis aos microrganismos ou até a enzimas extracelulares (Stevenson, 1982) . É
evidente que a maior proteçã o do N orgâ nico e, portanto, seu maior acú mulo no solo, está
relacionada com solos com maior teor de argila . Assim, o estoque de N orgâ nico no solo
varia com a textura e pode atingir de 800 a 6.000 kg ha 1 na camada superficial (20 cm )
'

em solos minerais (Quadro 2) .


Fracionamentos químicos baseados no tratamento do solo com ácidos a quente para
hidrolisar os compostos nitrogenados foram utilizados para conhecer as formas de N
org â nico do solo no in ício dos anos 60 ( Quadro 3) . As duas principais fra ções
identificáveis quimicamente são as de N ligadas a aminoá cidos e aquelas de a çúcares
aminados, que podem representar quase 50 % do N total no solo. Chama a atenção o fato

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 381

Quadro 2. Estoque de nitrogénio na camada superficial de diferentes tipos de solos brasileiros

í.
( )
Solo Mat é ria org â nica Estoque d e N total 1

g kg '
"
kg ha -1
Argissolo 6 a 30 0, 4 a 0, 7 800 a 1.400
Latossolo Vermelho 8 a 30 0,5 a 1, 0 1.000 a 2.000
Latossolo Vermelho 16 a 60 0,9 a 2, 4 1.800 a 4.800
Latossolo Vermelho eutrof é rrico 17 a 100 0,8 a 3,0 1.600 a 6.000

(D
Assumindo 2.000 . 000 kg na camada de 0-20 cm dos solos minerais e 1.400 . 000 kg no solo orgâ nico.
Fonte : Brasil ( 1960 ) .

Quadro 3. Fra ções de nitrogé nio do solo obtidas por hidr ólise á cida

Fra çã o Faixa de varia çã o

% do N do solo

N - NH3 20 - 35
N -amino á cidos 30 - 45
N - a çú cares aminados 5 -10
N- hidrolisado desconhecido 10 - 20
N -insol ú vel em á cido 20 - 35

Fonte : Stevenson (1982).

de grande parte do N do solo estar em fra ções n ã o caracterizadas quimicamente


(hidrolisado desconhecido e N insol ú vel em á cido). O N recuperado como NH3 provém
de NH4+ inorgâ nico (pequena parte do N total do solo), bem como da hidrólise de
aminoácidos e a çúcares aminados.
O interesse principal por esse tipo de fracionamento é correlacionar as classes de
compostos obtidos com alguma caracter ística de interesse agron ó mico, como a
disponibilidade de N para as plaritas . O N ligado a a çúcares aminados despertou
interesse como prová vel fonte de N facilmente mineralizá vel, que ainda hoje tem recebido
atençã o de pesquisadores (Mulvaney et al ., 2001; Barker et al., 2006). Recentemente, um
mé todo de aná lise de solo que determina o N de a çúcares aminados foi proposto como
índice de disponibilidade de N no solo (Mulvaney et al., 2001). Porém, os resultados têm
sido controvertidos. Já na d écada de 60, Keeney & Bremner (1964) observaram que o
cultivo de solos provocava o decréscimo no conteúdo de N de todas as fra ções. Baseado
nos resultados de vá rios autores, Stevenson (1982) concluiu que o fracionamento químico
do N do solo após hidrólise ácida era de pouco valor prá tico para prever a disponibilidade
de N para as culturas.

FERTILIDADE DO SOLO
382 HEITOR CANTARELLA

Mineralização- Imobilizaçã o do Nitrogénio no Solo

A disponibiliza çã o de N orgâ nico do solo para as plantas passa pelo processo de


mineraliza çã o, definido como a transformaçã o do N da forma orgâ nica para a inorgâ nica
( NH 4 + OU NHJ ) . O processo é realizado por microrganismos heterotr óficos do solo, que
utilizam os compostos orgâ nicos como fonte de energia .
A mineraliza çã o é realizada por um grupo variado de microrganismos por ser o

substrato a MOS ou os resíduos de culturas - extremamente heterogéneo e por muitos
microrganismos serem especializados e só atuarem sobre determinados substratos.
In ú meras enzimas agem em diferentes fases do processo para quebrar liga ções de
proteínas, peptídeos, amidas, aminas, aminoá cidos, á cidos nucléicos, etc. (Stevenson,
1982; Norton, 2002a; Moreira & Siqueira, 2002). A rea ção abaixo ilustra uma das possíveis
sequê ncias do processo de mineraliza çã o.
protease
Proteína + H20 » R- NH2 + C02 + E + outros produtos
amino á cido desidrogenase
R-NH2 + H2O +
^ R + NH3 + E
NH3 + H + <=> NH;
em que R é um radical orgâ nico e E é a energia liberada na rea çã o.
A mineraliza çã o do N orgâ nico geralmente resulta em aumento do pH do meio
graças ao consumo de prótons, como mostra a rea çã o acima .
As condições ó timas para a mineraliza çã o do N orgâ nico do solo sã o aquelas que
favorecem a atividade dos microrganismos: pH de 6 a 7, condições aeróbias, umidade em
torno de 50 a 70 % da capacidade de retençã o de á gua pelo solo, temperatura entre 40 e
60 °C (Moreira & Siqueira, 2002). Tai condições sã o também favorá veis ao crescimento
^
das plantas. No entanto, gra ças à variedade de organismos envolvidos, as rea ções de
mineraliza çã o ocorrem em ampla gama de condições de acidez, temperatura e umidade.
|

Geralmente, a taxa de mineralizaçã o aumenta 2 a 3 vezes a cada 10 °C de elevaçã o


de temperatura no intervalo de 10 a 40 °C, o que mostra ser o processo bastante sensível
a varia ções de temperatura . A mineraliza çã o diminui com a reduçã o da umidade, mas
pode continuar ocorrendo mesmo quando o solo seca além do ponto de murcha (-1,5 MPa),
o que sugere que pode haver um ac ú mulo de N inorgâ nico no solo durante per íodos de
seca. Além disso, o molhamento do solo seco parece estimular a mineralização e provocar
um pico de libera çã o de N disponível ( Foth & Ellis, 1996 ), o que explica o estímulo ao
crescimento das plantas após as chuvas que ocorrem depois de um per íodo seco.

A mineraliza çã o tende a decrescer à medida que a umidade do solo se aproxima do


ponto de satura çã o. Em solos saturadas, continua ocorrendo mineralizaçã o por meio de
microrganismos aeróbios facultativos ou pela microflora anaeróbia, que passa a atuar.
No entanto, em condições de limitada disponibilidade ou ausência de 02, a decomposição
da matéria orgâ nica é incompleta e q rendimento energé tico é menor, resultando em
taxas de mineraliza çã o mais baixas do que as observadas em condições aer óbias.

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 383

A imobiliza çã o do N é um processo que ocorre concomitantemente com a


mineraliza çã o, por é m no sentido inverso . A imobiliza çã o é definida como a
transformaçã o do N inorgâ nico em N orgâ nico. Os responsá veis sã o microrganismos
que incorporam o N inorgâ nico disponível no solo às suas células. Ao morrerem, o N
assimilado pode voltar a ser mineralizado ou ser incorporado às células de outros
microrganismos e seguir o caminho da síntese de compostos nitrogenados mais complexos
que, gradualmente, formam a MOS.
A assimila çã o de N inorgâ nico do solo por plantas e a fixa çã o de N 2 da atmosfera
por microrganismos do solo també m representam imobiliza çã o de N inorgâ nico, mas
sã o excluídas da definiçã o de imobiliza çã o utilizada na ciclagem de N do solo.
Os processos de mineraliza çã o-imobiliza çã o representam um subciclo dentro do
ciclo do N no solo. A prevalência de um sobre o outro, ou seja, o resultado líquido de
processos concorrentes, define se o solo ter á maior ou menor disponibilidade de N
inorgâ nico para as plantas.
Adições de materiais orgâ nicos ao solo, tais como restos culturais, adubos verdes e
orgânicos, afetam o equilíbrio entre mineralizaçã o e imobilizaçã o do N no solo. A direçã o
para onde os processos de mineraliza çã o-imobiliza çã o tendem depende da rela çã o C / N
do material .
A rela çã o C / N é uma aproxima çã o da rela çã o energia (E ) / N, que regula a direçã o
das reações. Esta aproximaçã o, porém, nem sempre é adequada. Por exemplo, substratos
com muita lignina e pouco N têm uma relaçã o C / N alta, mas podem nã o resultar em
substancial imobilizaçã o do N do solo por ser a lignina uma fonte pobre de energia para
os microrganismos (Jansson & Persson, 1982 ) . A relaçã o lignina / N també m tem sido
usada como um indicador para a mineralizaçã o de substratos orgâ nicos, porém a relaçã o
C / N tem-se mostrado mais ú til para tal (Seneviratne, 2000). A decomposição de resíduos
vegetais por microrganismos no solo depende mais do teor de N nos resíduos do que de
seu teor de lignina ( Kennedy et al ., 2004 ) . Para atender à s necessidades dos
microrganismos decompositores sem precisar recorrer ao N do solo, o resíduo deve ter
pelo menos 15 a 17 g kg 1 de N, o que corresponde a uma relaçã o C / N de 25 a 30 (Silgram
"

& Shepherd, 1999 ).


A condiçã o de equilíbrio, na qual a mineralizaçã o é aproximadamente igual à
imobiliza çã o, ocorre quando a rela çã o C / N do substrato está na faixa de 20 a 30. Nesse
caso, a disponibilidade de N inorgqnico do solo nã o é afetada. No entanto, a adição ao
solo de materiais orgâ nicos pobres em N, como resíduos de gramíneas ( rela çã o C / N de
50 ou mais, podendo atingir 100 em palha de cana -de-a çú car ), faz com que os
microrganismos recorram ao N inorgâ nico disponível no solo para sustentar o
crescimento da população, promovido pela abundâ ncia de C orgâ nico lábil, ou, em última
aná lise, de energia . Com isso, a imobilizaçã o do N do solo predomina . Nesta fase, as
plantas apresentarã o deficiência de N, visto que os microrganismos, numerosos e mais
bem distribuídos no solo, competem com vantagens pelo N disponível.
À medida que o substrato é metabolizado> o C orgâ nico é oxidado e liberado na
forma de COz no processo respirató rio para gerar energia . Com isso, a rela ção C / N

FERTILIDADE DQ SOLO
384 HEITOR CANTARELLA

gradualmente se estreita até que os microrganismos nã o mais precisem recorrer ao N


inorgâ nico do solo (C / N de 20 a 30 ). Com a continua çã o do consumo de substrato, a
relaçã o C / N abaixa ainda mais e passa a faltar energia para manter a popula çã o de
microrganismos, ou seja, sobra N no sistema . Nessa fase, ocorrerem a mineraliza çã o
líquida e a liberaçã o de N inorgâ nico no solo. A atividade dos microrganismos e a
velocidade de degrada çã o do substrato decrescem, à medida que a rela çã o C / N se
aproxima de 10 a 12, típica da matéria orgâ nica está vel do solo.
A magnitude e a dura çã o da imobiliza çã o microbiana do N do solo acarretam
consequências agronómicas importantes pois afetam a disponibilidade de N para as
culturas, com implica ções no modo, época e dose de fertilizante a ser aplicado. Por
exemplo, o sistema plantio direto pode provocar alterações na dinâ mica do N ao promover
um incremento no aporte de resíduos orgâ nicos na forma de palha , com menor contato
com o solo e ao determinar o nã o- revolvimento mecâ nico deste ( veja capítulo XV). As
implicações para o manejo serã o discutidas em outra seçã o.
Medidas do N mineralizado a partir da fraçã o orgâ nica do N do solo sã o de interesse
agronómico, uma vez que a matéria orgâ nica é o grande reservató rio de N utilizado pelas
plantas. Há vá rias maneiras de avaliar a capacidade do solo de fornecer N inorgâ nico.
Alguns procedimentos envolvem m é todos de incuba çã o de solo em condições aeróbias
ou anaer óbias em laborató rio, que determinam índices de mineraliza çã o relativos
(Stanford & Smith, 1972; Keeney, 1982), nã o necessariamente extrapolá veis para permitir
a quantifica çã o do N liberado por unidade de massa ou volume de solo em condições de
campo. Há m é todos que envolvem a incuba çã o de solo no interior de tubos inseridos
diretamente no campo a fim de evitar os efeitos de revolvimento do solo e de varia ções
artificiais de temperatura e umidade ( Raison et al ., 1987) .
O potencial do solo para fornecer N també m pode ser estimado pela extra çã o de N
por culturas n ã o adubadas, desde quê se tenha uma medida do N disponível no solo no
início do ciclo. Todos esses procedimentos avaliam a mineraliza çã o líquida, ou seja, a
diferença entre o N mineralizado e o imobilizado em determinado per íodo de tempo
( Norton, 2002b ).
A literatura geralmente aponta que cerca de 2 a 3 % do N orgâ nico do solo é
mineralizado anualmente (Foth & Ellis, 1996) . Tais n ú meros, embora representem uma
generaliza çã o arriscada, permitem inferir sobre a ciclagem de N no solo. Para os solos
do quadro 2, isso significaria a libera çã o de 16 a 180 kg ha 1 de N inorgâ nico por ano. Na
'

compilaçã o feita por Camargo et al . (1999), o N mineralizado em condições de laboratório


em um período de 12 a 32 semanas, em v á rios estudos realizados no Brasil, foi em média
de 131 mg kg 1 de N no solo, ou 5 % do N orgâ nico mineralizado por ano. Por ém, os
"

dados de mineralização líquida nã o d ã o id éia da dinâ mica das reações de mineraliza ção-
imobilizaçã o que acontecem continuamente nos solos.
Técnicas desenvolvidas para a avaliaçã o da mineraliza çã o bruta do N do solo - que
excluiu a imobiliza çã o do N liberado - têm permitido melhor avaliação das taxas de
transformaçã o de N que ocorrem no solo . Barraclough (1995) e Barraclough & Puri
(1995) utilizaram a marca çã o do "pool" de N inorgâ nico do solo com diminutas
quantidades de fertilizante altamente enriquecido com o isótopo 15N para medir o NH4+

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 385

mineralizado em um intervalo de tempo curto o suficiente para minimizar a nitrificaçã o


ou a imobiliza çã o do N mineralizado . Essa técnica vem sendo utilizada por vá rios
pesquisadores e tem mostrado mineralizações brutas de 2 a 3 mg kg 1 dia 1 de N (Addiscott,
' '

2004 ).
Resultados semelhantes foram obtidos no Brasil por Gava ( 2003), bem como em
v á rios trabalhos da literatura internacional reunidos por Norton ( 2000b ). Tomando por
base os resultados m édios citados por Addiscott (2004 ), a mineraliza çã o bruta de N em
diversos solos corresponde, aproximadamente, a 5 kg ha 1 dia 1 de N. Extrapolando esse
' '

n ú mero para um per íodo de 200 dias por ano, nos quais há condições de umidade e
temperatura suficientemente elevadas para sustentar processos microbianos intensos
no solo, o valor da mineraliza çã o bruta atinge cerca de 1.000 kg ha 1 ano 1. Valores
' '

igualmente altos têm sido relatados para a nitrificaçã o bruta ( Norton, 2000a ). Embora os
resultados de mineraliza çã o ou de nitrifica çã o bruta devam ser vistos com cuidado em
virtude das restrições metodológicas, os altos valores mostrados nesses estudos indicam
que as taxas de transforma çã o e ciclagem do N nos processos de mineraliza çã o-
imobiliza çã o sã o bastante elevadas, sendo os substratos e produtos continuamente
reprocessados pelos microrganismos do solo ( Norton, 2000b ).
A magnitude dos valores de N que ciciam continuamente no solo também ajuda a
compreender o fato de plantas geralmente absorverem mais N do solo do que o
proveniente de fertilizantes, mesmo em culturas intensamente adubadas. Sistemas
agr ícolas que promovem o aporte e a reciclagem de resíduos orgâ nicos no solo, tais
como o plantio direto, á reas com adubo verde, etc ., intensificam a atividade
microbiana e a intermediaçã o dos microrganismos do solo no processo de fornecimento
de N à s plantas .
A mineralização do N orgâ nico do solo é estimulada pela adição de material orgâ nico
fresco, rico em energia, ou de fertilizantes nitrogenados. Esse efeito é conhecido como
"priming" ou efeito do N adicionado. O aporte de energia ou nutriente estimula a flora
microbiana a atacar a MOS de modo que o N mineral produzido exceda aquele que seria
liberado sem a adiçã o desses insumos. O efeito pr á tico é que adubações químicas ou
orgâ nicas podem aumentar a disponibilidade de N do solo proveniente da mineraliza ção
da matéria orgâ nica . As altera ções na mineraliza çã o resultantes do efeito "priming"
sã o, geralmente, pequenas em comparaçã o à atividade biológica normal do solo, incluindo
o ciclo de mineraliza çã o-imobiliza çã o do N. Segundo Jansson & Persson (1982), o efeito
do N adicionado tem sido supervalorizado na literatura científica e, em muitos casos,
confundido com outros processos normais do solo. Por exemplo, a adi çã o de N pode
estimular o crescimento do sistema radicular: a absor çã o extra de N do solo, nesse caso,
nã o se deve ao aumento da mineralizaçã o do N orgâ nico, mas, sim, da exploraçã o de um
volume maior de solo. O efeito "priming" medido em experimentos em que se adiciona
fertilizante com N marcado (15N ) pode també m ser superdimensionado em função das
substituições isotópicas entre o 15N do fertilizante e o N do solo.
O sentido predominante das rea ções de imobiliza çã o e mineraliza çã o determina,
em longo prazo, o ac ú mulo ou a reduçã o do estoque de N orgâ nico no solo, o qual está
estreitamente relacionado com o estoque de C orgâ nico.

FERTILIDADE DO SOLO
386 HEITOR CANTARELLA

O estoque de N orgâ nico do solo é relativamente está vel em curto prazo gra ças à
estabilidade da maior parte dos compostos orgâ nicos do solo. Sistemas naturais, como
florestas, campos nativos, Cerrados, etc., apresentam certo equilíbrio entre entradas e
sa ídas de N e de C nos processos internos de ciclagem. Varia ções importantes, porém,
podem ser observadas a médio e longo prazo quando esses sistemas em equilíbrio sã o
convertidos em agricultura . Geralmente, o revolvimento do solo e as extrações e perdas
de nutrientes inerentes aos sistemas a.grícolas implicam queda do estoque de N orgâ nico
ao longo do tempo, até que novo equilíbrio seja atingido ( Figura 2) . Parte do N
mineralizado é aproveitado pelas plantas, raz ã o das baixas respostas à aduba çã o
nitrogenada nos primeiros anos de cíiltivo em solos recém-abertos para a agricultura .
Estudos cl ássicos realizados em ensaios de longa dura çã o, iniciados, em 1876, na
Universidade de Illinois, nos EUA (Odell et al., 1984), e, em 1852, em Rothamsted,
Inglaterra (Stevenson, 1982), mostraram que a velocidade e o patamar do estoque de N na
nova situa çã o de equilíbrio dependem do tipo de solo, clima , plantas cultivadas e do
aporte de fertilizantes químicos e orgâ nicos, incluindo restos de cultura . No estudo de
Illinois, parcelas cultivadas continu á mente com milho perderam metade (Stevenson,
1982) do N orgâ nico gradualmente ao longo de v á rias d écadas, e os solos tornaram-se
pouco produtivos. Por outro lado, as parcelas com rota çã o de cultura, incluindo
leguminosas, calagem e aduba çã o, aproximaram -se de novo equilíbrio com um estoque
de N orgâ nico muito superior ao d ò sistema com milho contínuo e posteriormente
mantiveram a fertilidade (Odell et al., 1984).

Figura 2. Esquema representativo da diminuiçã o no estoque de N orgâ nico do solo (ou do teor
de N ou de maté ria orgâ nica ) com o tempo, após uma á rea com vegeta çã o natural ser
convertida em agricultura . A escala de tempo é expressa em décadas. Local A: sólo resistente
à degrada çã o ou cultivo em condições que manejo que não aceleram a degrada ção (calagem,
adubações adequadas, rota çã o de culturas, etc. ); Local B: solo pouco resistente à degradação,
altas temperaturas, manejo pouco adequado. Manejo conservacionista : sistema plantio
direto e, ou, aduba ções verdes ou orgâ nicas, rotaçã o de culturas, calagem e adubação
adequadas, etc. O manejo conservacionista (Local B) pode não ser suficiente para reverter
a queda do estoque de N, mas apenas reduzir a taxa de decréscimo.

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 387

Nas condições tropicais, com solos intemperizados e altas temperaturas durante


todo o ano, as taxas de mineraliza çã o e de queda do estoque de N podem ser muito
maiores do que as observadas em solos de clima temperado, mas faltam estudos de longo
prazo no Brasil.
Sistemas conservacionistas, tais como o plantio direto e a colheita de cana sem
despalha a fogo, promovem o aporte de grandes quantidades de resíduos vegetais ao
solo, além de minimizarem o revolvimento do solo, mas a estabiliza çã o da tend ência de
queda ou, idealmente, o aumento no teor de maté ria orgâ nica e do estoque de N orgâ nico
requerem grandes quantidades de materiais orgâ nicos e de N. Além disso, novo equilíbrio
só é atingido a mé dio e longo prazo.
Para aumentar o teor de maté ria orgâ nica em 5 g dm 3 na camada de 0-20 cm, é
'

necessá ria a adiçã o de aproximadamente 5.800 kg ha 1 de C . Assumindo um coeficiente


'

de humifica çã o de cerca de 13 % (Lovato et al., 2004), para incorporar aquela quantidade


de C à matéria orgâ nica, o aporte de C no sistema deve ser de cerca de 44.600 kg ha 1. A
'

matéria orgâ nica humificada no solo tem rela çã o C / N de aproximadamente 12:1, ou


seja, além do C, é preciso garantir o aporte de N, que é mais caro e limitante. A percentagem
do N adicionado que fica retida na fra çã o orgâ nica do solo, segundo estimativa de Lovato
et al. (2004) > em estudo realizado no Rio Grande do Sul, variou de 21 a 50 %. Assumindo
um valor médio de 36 %, a quantidade de N necessá ria para garantir o acr éscimo de 5 g
dm 3 de maté ria orgâ nica ao solo seria de 5.800 12 0,36 = 1.343 kg ha 1 de N.
" '

Em outros solos ou situa ções, os coeficientes podem ser diferentes dos empregados
neste exemplo, mas os n ú meros obtidos indicam claramente as dificuldades para elevar
o estoque de C e de N orgâ nico no solo. A necessidade de grandes quantidades de N para
fixar o C e elevar o teor de MOS implica que a rota çã o de culturas deve incluir leguminosas
fixadoras de N 2, uma vez que a adiçã o de N somente na forma de fertilizantes pode
tornar o processo economicamente inviá vel.
A rá pida degradação da palha em sistema plantio direto no Brasil, decorrente das altas
temperaturas, tem levado à preferência por gramíneas como culturas de cobertura . Se,
por um lado, essa opçã o prolonga a proteçã o f ísica do solo, por outro, limita a adição de
N ao sistema .
Em estudo no Estado do Rio Grande do Sul, Teixeira et al. (1994) observaram aumento
no teor de N orgâ nico no solo na camada até 17,5 cm após 10 anos de plantio direto com
rota ção, incluindo leguminosas ou culturas capazes de reciclar N no inverno. Resultados
semelhantes foram relatados por Lovato et al. ( 2004) . Esses autores partiram de um solo
degradado e só conseguiram elevar o estoque de N orgânico acima do valor inicial depois
de 13 anos com rota ções que incluíam leguminosas (aveia + ervilhaca-milho + caupi).
Para obter o mesmo resultado com rota çã o aveia -milho, foi necessá ria a aplicaçã o de
139 kg ha 1 ano 1 de N por 13 anos. O estoque de N semelhante ao do campo nativo (cerca
" "

de 900 kg ha 1 de N superior ao do solo no início do experimento) só foi atingido em plantio


"

direto, na rotaçã o com leguminosas acrescido da aplicaçã o de 139 kg ha 1 ano 1 de N.


' "

As grandes quantidades de resíduos deixadas sobre o solo em cana cultivada sem


despalha a fogo (cerca de 12 a 15 t ha 1 de matéria seca ) nã o têm resultado em aumentos
"

expressivos, em curto prazo, no teor de C ou de N orgâ nico no solo. É prov á vel que o

FERTILIDADE DO SOLO
388 HEITOR CANTARELLA

baixo teor de N do material ( rela çã o C / N de cerca de 100:1) limite a incorpora çã o desses


elementos à matéria orgâ nica .
Estudos de Luca (2002) mostrarri que, ap ós quatro anos de manejo com cana sem
queima , aumentos significativos no teor de N no solo ocorreram apenas na camada de
0-5 cm em solo arenoso ( Neossolo Quartzarênico); o teor de N não foi alterado no Latossolo
Vermelho e no Argissolo; após 12 anos de cana sem queima em Latosssolo Vermelho,
acréscimos significativos nos estoques de N e de C ocorreram apenas nas camadas de
0-5 e de 0-10 cm, respectivamente.
O mais antigo ensaio planejado para comparar os efeitos de cana queimada com os
da cana sem queima é realizado desde 1939 na Á frica do Sul (Graham et al ., 2000 ).
Medições feitas após 59 anos mostraram que as altera ções significativas nos teores de C
e de N totais no solo ocorrem apenas na camada superficial de 0-10 cm (Graham et al.,
1999, 2000), indicando a dificuldade de se aumentar o teor de maté ria orgâ nica no solo .
De fato, mesmo com o aporte de grandes quantidades anuais de palha, o teor de matéria
orgâ nica da á rea de cana decresceu em rela çã o ao pasto nativo, tomado como referência
(Graham et al ., 2000) . Apesar das altera ções relativamente pequenas nos teores totais de
C e de N abaixo de 10 cm de profundidade no solo das á reas com cana sem queima,
outros atributos do solo indicadores da melhoria da qualidade foram positivamente
afetados pela manutençã o da palhada: aumento da biomassa microbiana e respiraçã o
basal ( Graham et al ., 1999, 2002a ) , aumentos nos teores de C e de N facilmente
mineralizá veis (Graham et al., 2002b ).

Nitrificação
A nitrifica çã o é uma sequ ência do processo de mineraliza çã o . A nitrifica çã o, ou
oxida çã o do N amoniacal a nitrato, é realizada no solo por bactérias quimioautotróficas
que obtêm energia no processo e que podem sintetizar todos os seus constituintes celulares
a partir do C02. Organismos heterotróficos també m podem converter formas reduzidas
de N em N02 ou em N03\ porém, é pouco prová vel que desempenhem papel relevante
"

para a nitrifica çã o em ambientes naturais (Schmidt, 1982).


Geralmente, o N amoniacal no solo é rapidamente absorvido por microrganismos e
incorporado à biomassa microbiana se houver C disponível. No entanto, é mais comum
que haja, em solos, limita çã o de C e de energia; nessas condições, o NH4+ é consumido
~

pelos nitrificadores e rapidamente oxidado a N02 e, posteriormente, a N03 , de modo


"

que o N-nítrico predomina nos solos em condições aeróbias. O N- nítrico também é


pass ível de redu çã o assimilat ó ria e, desse modo, pode ser imobilizado por
microrganismos e retornar à forma orgâ nica , no ciclo de mineraliza ção-imobiliza çã o.
A nitrificaçã o ocorre em duas etapas. Na primeira, o NH4+ é convertido em NOz :
"

-6e

NH4 + 1,5 02 > NQ2 + HzO + 2H
"

(F = -65 kcal )
Embora existam vá rios grupos de J?actérias quimiolitotróficas capazes de realizar a
oxidação do NH4 + no solo ( Norton, 2000a ), as bactérias do gênero Nitrosomonas sã o

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 389

consideradas as mais importantes para o processo. Porém, pesquisas recentes, utilizando


técnicas de biologia molecular, evidenciam que bactérias do tipo Nitrospira sã o mais
numerosas em solos agrícolas (Addiscott, 2004), embora as Nitrosomonas sejam mais
ativas (Firestone, 1982). Os principais nitrificadores quimiolitrotr óficos sã o listados no
texto de Norton (2000 a ).
Na segunda etapa, o N02 é oxidado a NO/ por bactérias do gênero Nitrobacter:

-2e
N02 + 0,5 02 » N03 (F = -17,8 kcal )

A rea çã o de nitrifica çã o envolve a transferência de oito eletrons e a valência do N


passa de -3 ( NH4+) para +5 ( N03~ ) . Para cada mol de NH4+ oxidado, há a liberaçã o de dois
moles de H+ . Essa rea çã o representa importante contribuiçã o para a acidifica çã o de
solos agr ícolas, especialmente aqueles adubados com fertilizantes nitrogenados
amoniacais.
O baixo ganho energé tico da oxida çã o do N02 a N03 (17,8 kcal mol 1), comparado
" "
'

com 65 kcal mol 1 para a oxida çã o do NH4+ a N02 , mostra que as bacté rias do gênero
' "

Nitrobacter têm de processar maior quantidade de substrato para sobreviver. Isso explica,
em parte, o fato de a velocidade de oxida çã o do N02 ser maior do que a do NH4 +. Desse
"

modo, o N02 , que é tóxico para a maioria dos organismos do solo, raramente se acumula
"

em solos agr ícolas. Porém, em condições que favorecem a presença de NH3 livre ( pH
elevado, baixa CTC, solos com aduba çã o localizada com ur éia , aquamônia ou am ó nia
anidra ), pode haver ac ú mulo de N02 pois as Nitrobacter sã o sensíveis a NH3 ( Firestone,

1982) . Clark et al. (1960) observaram a presença de nitrito em 14 de 41 solos tratados com
400 mg kg 1 de N-uréia e, em sete desses solos, o teor de N-N02 excedeu 100 mg kg 1. Por
" " '

outro lado, Pang et al. (1975) nã o detectaram nitrito em colunas de solo que receberam o
equivalente a 100 kg ha 1 de N-uréia , mas notaram ac ú mulo acentuado de NOz quando
' '

as doses de ur éia aplicada se elevaram para 200 e 800 kg ha 1 de N . Sintomas de "

fitotoxidez em plâ ntulas de milho foram atribuídos ao acú mulo de N02 em solo adubado
com uréia ( Court et al., 1964) . No entanto, situa ções que favorecem a forma çã o e
persistência de N02 nã o sã o muito comuns, especialmente em solos á cidos e adubados

com quantidades moderadas de N .


Durante a oxidação de NH4+ a N02 , pode haver pequena produçã o de óxido nitroso
( NzO) por dismuta çã o química do nitroxil ( NOH ) ou por a çã o da redutase de nitrito
(Schimdt, 1982; Bremner, 1997)
NH4+ -> NH2OH -> [ NOH] -» NO,

N 2O
O N20 é normalmente produzido no solo em condições anaer óbias no processo de
desnitrifica çã o; poré m, nesse caso, sua forma çã o pode ocorrer também em condições
aeróbias, durante a nitrifica çã o. A importâ ncia desse processo como mecanismo de
perda de N do solo por volatiliza çã o ainda n ã o está bem estabelecida, mas parece ser o
principal meio pelo qual NzO é produzido em solos aeróbios adubados com fertilizantes
amoniacais ( Bremner, 1997).

FERTILIDADE DO 1 SOLO
390 HEITOR CANTARELLA

A taxa de nitrifica çã o é afetada pela disponibilidade de N-amoniacal, de 02, pela


acidez e temperatura do solo. A nitrifica çã o acontece em condições de solo, temperatura
e umidade bastante mais variadas do que as previstas com base na biogeoquímica do
processo e na fisiologia dos microrganismos envolvidos (Schmidt, 1982). É possível que
a adapta çã o dos nitrificadores a diferentes ambientes e a ocorrência de microrregiões
com condições favor á veis à nitrifica çã o sejam responsá veis pelo processo em situa ções
teoricamente limitantes.
A nitrifica çã o praticamente n ã o ocorre em temperaturas abaixo de 4 °C e é
maximizada entre 25 e 40 °C, dependendo da regi ã o e tipo de solo onde o estudo foi
realizado (Schmidt, 1982) . A nitrifica çã o volta a cair com temperaturas mais elevadas
( Keeney & Bremner, 1967), por é m, nos solos tropicais da Austr á lia, Myers (1975)
•í

encontrou produçã o de N03 até 60 °C.


"

O fornecimento de C02 nã o é limitante para a atividade dos microrganismos


nitrificadores, mas o suprimento de 02 é. A nitrifica çã o consome 02 e, portanto, ocorre
apenas em condições aeróbias. Em solos inundados ou em anaerobiose, o NH4+ é o
produto final da mineraliza çã o. Há vá rias situações em que pode haver restrições na
disponibilidade de 02 na soluçã o do solo, tais como: ( a ) a alta umidade dos solos, que
reduz o espa ço poroso ocupado pelo ar; (b ) alta temperatura, que diminui a solubilidade
do 02 na soluçã o do solo e provoca o aumento na demanda desse gá s por parte dos
microrganismos heterotróficos; e (cj disponibilidade de C oxid á vel, que promove a
atividade microbiana , gerando maior consumo de 02 (Schmidt, 1982). Essas restrições
podem estar presentes em algumas épocas em solos tropicais manejados com altas
quantidades de resíduos, tais como nos sistemas plantio direto ou cana colhida sem
despalha a fogo, etc. Condições limitantes para a nitrifica çã o em bolsões de solo mediante
a falta de 02 podem resultar em acú mulo localizado de NH4+, mas as consequências para
a disponibilidade de N para as plantas seriam pouco relevantes.
Alé m do efeito sobre a disponibilidade de 02, a umidade tem efeito direto sobre a
atividade de microrganismos. A taxa má xima de nitrifica çã o geralmente ocorre quando
o solo apresenta umidade equivalente a 50 a 70 % da capacidade de retençã o de á gua,
quando há á gua suficiente para promover o desenvolvimento dos nitrificadores e, ao
mesmo tempo, espa ço poroso suficiente para a difusã o de 02.
O pH do solo també m afeta a nitrifica çã o. V á rios autores t ê m observado aumentos
lineares na taxa de nitrifica çã o com o aumento do pH de 4,7 a 6,5 ( Dancer et al., 1973) ou
de 4,9 a 7,2 (Gilmour, 1984) . Um limite arbitrá rio de pH 4 tem sido sugerido, abaixo do
qual a nitrifica çã o é inibida (Schmidb 1982).
O efeito da acidez sobre a nitrifica çã o é complexo. Weir & Gilliam (1986) relataram
que houve apenas pequena influência na nitrificaçã o com o aumento do pH acima de 5
nos v á rios solos incluídos no estudo. Hayatsu & Kosuge (1993), utilizando amostras de
solo do Cerrado brasileiro, observaram que a adiçã o de calcá rio estimulou a nitrifica çã o
em solos adubados com uréia, mas nãó naqueles que não receberam N, evidenciando que
em solos com suprimento limitado de N a atividade de nitrificação não responde apenas
ao pH. Em outro estudo com solos brasileiros (BA e MG ), Silva & Vale ( 2000) notaram
que, de modo geral, a taxa de nitrifica çã o aumentou com o aumento do pH e do teor de

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê KIIO 391

matéria orgâ nica (MO). Esta rela çã o, no entanto, variou com o tipo de solo. Por exemplo,
em um Latossolo Vermelho (56 g kg 1 de MO e 470 g kg 1 de argila ) com pH 4,9, a produção
' "

de nitrato foi superior à observada em dois outros Latossolos com teores variá veis de MO
(7 e 40 g kg 1) e de argila ( 220 e 440 g kg 1), respectiVamente, ambos corrigidos com calcá rio
" '

para 70 % da satura çã o por bases. No LV com 7\ g kg 1 de MO, a produção de nitrato foi


"

insignificante, mesmo quando a acidez foi corrigida e 200 mg kg 1 de N adicionados


"

( Silva & Vale, 2000 ). É prov á vel que diferenças na populaçã o de nitrificadores nos
v á rios solos sejam tã o determinantes quanto o efeito dos atributos químicos ou f ísicos
dos solos. Alé m disso, parece haver algum grau de adapta çã o das bactérias a solos
á cidos, alé m do que pode haver microrregiões com condições de pH favorá veis à
nitrifica çã o mesmo em solos á cidos (Schmidt, 1982).
A nitrifica çã o também pode diminuir em solos cultivados com algumas gramíneas
forrageiras. Moore & Waid (1971), citados por Schmidt (1982), relataram decréscimo na
nitrifica çã o em solos tratados com extratos de ra ízes de azevém . Extratos de gramíneas
forrageiras e de outras espécies, incluindo exsudatos concentrados de ra ízes de milho e
tremoço, bem como taninos extraídos de algumas espécies florestais, exibiram capacidade
de inibir temporariamente a nitrificaçã o (Gasser, 1970). Suspeita -se que o mesmo efeito
possa ser causado por braqui á rias, mas o assunto ainda merece ser investigado. Carmo
et al. ( 2005) observaram que os teores de N- NH4+ eram superiores aos de N-NO/ em
pastagens de braquiá ria na Amazônia, mas nã o em solos de floresta . A predominâ ncia
de N-NH4+ em solos sob pastagem ocorreu em v á rios estudos realizados na regiã o e
relatados por Carmo et al . ( 2005), que notaram ainda que o potencial de nitrifica çã o dos
solos de pastagem eram inferiores aos dos solos de floresta .

Desnitrificação
A desnitrifica çã o é definida como um processo respiratório, que acontece na ausência
de Oz, no qual óxidos de N servem como receptores finais de elé trons. Essa definiçã o
substitui a tradicional, que considerava a desnitrificação como a redução microbiana de
N03 OU N02 a formas gasosas de N, pois há v á rios tipos de metabolismo microbiano
" "

que resultam na produçã o de NzO ou N2, inclusive a nitrificaçã o, que ocorre em condições
aeróbias ( Firestone, 1982; Bremner, 1997), já mencionada neste texto.
Existem v á rios mecanismos de reduçã o de nitrato no solo, incluindo: ( a ) a redu çã o
assimilatória, pela qual os microrganismos do solo incorporam o N às suas células ( uma
das formas de imobiliza çã o de N ); (b ) quimodesnitrifica çã o, que produz NO e N 2 em
condições de elevada acidez e nã o depende de anaerobiose; (c) reduçã o dissimilatória
para NH4+, que depende de condições altamente redutoras e alta disponibilidade de C
oxid á vel, e é pouco importante na maioria do solos agrícolas (ocorre em r úmen de
^
bovinos, digestores ativados de biossólidos, etc.); (d ) desnitrifica çã o respirató ria ou
desnitrifica çã o. Detalhes dos v á rios mecanismos de reduçã o de N03 podem ser obtidos
"

nas publica ções de Firestone (1982) e de Moreira & Siqueira (2002).


A desnitrifica çã o é o principal processo biológico pelo qual o N reativo retorna à
atmosfera na forma de N2. Do ponto de vista agrícola, a desnitrificaçã o representa perda

FERTILIDADE DO í SOLO
392 HEITOR CANTARELLA

de um nutriente importante, mas esse processo é parte crucial do ciclo global do N,


especialmente porque representa uma das maneiras de despoluir sistemas com excesso
~
de N03 (Robertson, 2000 ) .
A desnitrifica çã o é realizada por grande n ú mero de espécies de bactérias anaeróbias
facultativas, as quais, na ausência de 02, utilizam o N03 como receptor de elé trons. Há
'

mais de 125 esp é cies de bacté rias capazes de realizar a desnitrifica çã o, incluindo
fototróficas, litotróficas e organotróficas, que utilizam luz, compostos inorgâ nicos e C
orgânico como substrato, respectivamente; o grupo mais importante é o das organotróficas
(Bremner, 1997; Robertson, 2000) .

2 N03 + 5H2 + 2H + -» N 2 + 6H20


A desnitrifica çã o consome pr ó tons e alcaliniza o solo, revertendo parte da acidez


produzida durante a nitrifica çã o.
O processo acontece em quatro etapas, com reduções sucessivas do N. Os principais
gases resultantes sã o o N 20 e o N 2, cujas proporções sã o variá veis de acordo com as
condições do meio.

( +5) ( + 3) (+2) (+1) (0 )


2e ~ e- e -
NO3 - [ NO]
‘ '

> NO2 » N2O » N2

A desnitrifica çã o ocorre em ampla gama de condições gra ças à variedade de


organismos que podem realizar o processo. De modo geral, o pH ó timo para a
desnitrifica çã o varia de 6 a 8; em condições muito á cidas ( pH < 4), esta pode cessar. A
temperatura mínima para a ocorr ência da desnitrifica çã o é 5 °C e a m á xima em que foi
relatada foi 75 °C, sendo a ó tima em tOrno de 30 °C (Firestone, 1982) .
As bacté rias desnitrificadoras sã o abundantes na natureza e a atividade de
desnitrifica çã o é persistente no solo, de modo que, quando um solo com N03 torna -se '

anaeróbio, o fator mais limitante para á ocorrência da desnitrificaçã o é a disponibilidade


de C oxid á vel (Bremner, 1997). \
As enzimas que realizam a reduçã o do N sã o ativas somente na ausência de Oz.
Assim, a desnitrifica çã o ocorre em condições anaer óbias, a saber: solos inundados e
j

bolsões de solo saturados com á gua (Figura 3) . No entanto, sabe-se que ocorrem perdas
de N nas formas de N2 e NzO em solos em condições aer óbias, visto que mesmo nesses
solos há sítios anaeróbios. A taxa de difusã o do 02 no ar é cerca de 10.000 vezes superior
à que acontece na á gua . Portanto, a difusã o de 02 em poros do solo ocupados com á gua
é lenta. Sextone et al. (1985) mostraram que o interior de agregados de solo pode apresentar
condições de anaerobiose, enquanto a superf ície desses tem alta concentra ção de 02
Esses autores observaram que a atmosfera na superf ície de um agregado com 12 mm de
diâ metro continha 21 % de 02 e que a toncentra çã o diminuía gradualmente até atingir
0 % de 02 no interior do agregado. Portanto, em um solo não saturado, à medida que
aumenta o volume de poros ocupado com á gua , aumentam os sítios anaeróbios.

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 393

Regi ã o anaer óbia no agregado

Of
D.
.*
**

— N 2O

-* co 2

Figura 3 . Em solos em condições aer óbias, a desnitrificaçã o ocorre em sí tios anaer óbios no
interior dos agregados do solo. A difusã o do Oz na á gua que preenche os poros ou envolve
os gr â nulos de solo, é 10.000 vezes menor do que no ar . Condições de anaerobiose no
interior dos agregados de solo sã o favorecidas pela lenta difusã o do Oz e pelo consumo de
02 pela respira çã o dos microrganismos e das raízes das plantas. Quanto maior
.
o tamanho
do agregado, maior a chance de haver sítios anaer óbios em seu interior
Fonte: Redesenhado com base em Addiscott (2004 ) .

Em solos n ã o saturados, a disponibilidade de C freqiientemente limita a


desnitrifica çã o (Robertson, 2000). Sistemas conservacionistas, que preservam palha ou
restos vegetais na superf ície dos solos, geralmente tê m maiores perdas de N por
desnitrificaçã o por manter o solo ú mido por mais tempo e por fornecer C, como é o caso
.
de á reas de cana -de-a çúcar colhidas sem despalha a fogo (Weir et al., 1998; Dobbie et al.,
1999). Por exemplo, Weir et al. (1998) relataram maiores perdas de N 2 ( 21 %) e de N20
(47 %) em á reas de cana-de-açúcar com palha do que naquelas onde a palha da superf ície
foi queimada . A disponibilidade de C oxid á vel pode contribuir para o aumento do
consumo de 02 por microrganismos do solo e acelerar o aparecimento de zonas anaeróbias.
O mesmo efeito pode ocorrer com a presença de raízes que consomem 02 ao mesmo tempo
em que liberam exsudatos que favorecem o desenvolvimento da flora heterotr ófica.
Os dois principais produtos da desnitrifica çã o sã o o N20 e o N2. Há d úvidas se o
óxido nítrico ( NO) é um intermediá rio obrigató rio da oxidaçã o do N03 e do N02 ou um
" "

subproduto, mas as evid ências sã o de que o NO não é produzido em quantidades

FERTILIDADE DO SOLO
394 HEITOR CANTARELLA

significativas na desnitrificaçã o. Como o N 20 é um gás importante para o efeito estufa e


um intermedi á rio nas rea ções que resultam na destruiçã o do ozônio na estratosfera , há
interesse em conhecer a quantidade emitida do solo durante a desnitrifica çã o e as
condições que a favorecem (Grofman, 2000) . Altas concentra ções de N03~ inibem quase
que totalmente a reduçã o do NzO para N 2 e este efeito é intensificado pela acidez. Assim,
o aumento da rela çã o N20 / N 2 é favorecido pelo aumento na disponibilidade de N03 e "

pela acidifica çã o do solo ( Firestone, 1982; Bremner, 1997) . Por outro lado, a
disponibilidade de C reduz a rela çã o N20 / N 2 ( Firestone, 1982 ) . De modo geral, a
produ çã o de N 2, o mais reduzido d ós gases gerados na desnitrifica çã o, é favorecida
quando há abund â ncia de substrato (C oxid á vel ) e limitaçã o de receptor de elé trons. Na
maioria das situa ções, as quantidades de N 2 emitidas durante a desnitrificaçã o são muito
superiores à s de N20.
O N20 é está vel na atmosfera , mas instá vel no solo, onde é reduzido a N 2 na
sequê ncia de rea ções de desnitrificaçã o. Portanto, solos inundados ou encharcados,
além de fonte, funcionam também como dreno de NzO, que é altamente solúvel em água
( Grofman, 2000 ) , mas é pouco prov á vel que solos aer óbios possam retirar e reduzir
quantidades apreci á veis de NzO da atmosfera (Freney, 1997) .
As perdas de N -fertilizante por desnitrifica çã o nos sistemas agr ícolas s ã o
extremamente variá veis e suas quantifica ções pouco precisas e exatas. De modo geral,
estima -se que variem de 5 a 30 % do N aplicado como fertilizante. A maior parte das
inferências prov é m de ensaios em que sã o realizados os balanç os do N aplicado e o
contabilizado, no final do ciclo da cultura, nos solos e nas plantas. A diferença, que
inclui boa parte do erro experimental, é atribuída a perdas gasosas, especialmente por
desnitrificaçã o, mas també m por volatiliza ção de NH3. Resultados de inú meros ensaios
de campo utilizando 15 N como tra çador apontam para um déficit de 15 a 30 % ou mais do
N aplicado ( Firestone, 1982; Haysom et al., 1990; Coelho et al., 1991; Chapman et al.,
1994; Trivelin et al ., 2002a; Vitti et al., 2005; Fenilli, 2006 ), do qual parte substancial é
atribuída a perdas por desnitrifica çã o, incluindo a que ocorre em sítios anaer óbios em
solos bem drenados.
Determina çõ es diretas das perdas de N 2 e de N 20 sã o complexas; exigem
confinamento do solo sob câ maras e envolvem a mediçã o de pequenas quantidades de
N2 volatilizado em atmosfera que naturalmente contém 78 % desse gás em sua composiçã o.
Os valores medidos em ensaios envolvendo a avalia çã o direta da desnitrifica ção podem
ser bastante variá veis, mas, geralménte, apontam para n ú meros menores do que os
obtidos por diferença nos estudos onde é feito o balanço de N nos sistemas. Rozas et al.
(2001) contabilizaram perdas de 5,5 e 2,6 % do N aplicado como uréia (doses de 70 e
210 kg ha 1 de N, respectivamente ) em milho em sistema plantio direto . As perdas por
'

desnitrificaçã o medidas por Weier et al . (1998) foram de 9,2 e 2,8 kg ha 1, nas formas de
'

N 2 e N20, em cana-de-açúcar cultivada em solo coberto com palhada e fertilizada com


160 kg ha 1 de N . Dados compilados por Freney (1997) indicam que as emissões na
'

forma de N20 em solos adubados com fertilizantes nitrogenados sã o bastante variadas,


de 0,001 a 6,8 % do N aplicado, com uma média de 1,25 %, estimada em grande n ú mero
de experimentos de longa dura çã o.

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 395

Bremner (1997) reuniu evidências de que perdas de N20 em solos aer óbios adubados
com fontes de N-amoniacal, incluindo a ureia, sã o provenientes, em parte, do processo
~
de nitrifica çã o, durante a oxida çã o de NH4+ a N02 , e nã o da desnitrifica çã o, pois a
produçã o de N20 é fortemente inibida em solos tratados com inibidores de nitrifica çã o e
adubos amoniacais em condições aeróbias .
As perdas por desnitrifica çã o que ocorrem em solos inundados sã o discutidas na
seçã o relativa a perdas de N.

FIXA ÇÃ O BIOL Ó GICA DO N2

Nesta seçã o sã o discutidos apenas aspectos da fixa çã o biológica de N 2 ( FBN )


relacionados com a química e fertilidade do solo. Revisã o completa e detalhada sobre
questões microbiológicas pode ser consultada em Moreira & Siqueira ( 2002) .
A fixa çã o biológica de N 2 (FBN) é um processo essencial para transformar o N2, uma
molécula está vel e abundante na atmosfera, que nã o pode ser utilizada pela maioria dos
microrganismos e pelas plantas, na forma inorgâ nica combinada NH3, e, a partir daí, em
formas reativas orgâ nicas e inorgâ nicas vitais em sistemas biológicos. A rea çã o de
redu çã o do N 2 a NH3 é realizada por microrganismos que contêm a enzima nitrogenase
e sã o conhecidos como fixadores de N 2 ou diazotr óficos.
A FBN desempenha papel importante no aporte de N nos sistemas agrícolas. Estima-
se que, no mundo, a FBN em á reas cultivadas contribua com 32 Tg ano 1 de N, que
"

corresponde a 30 % do N produzido na forma de fertilizantes. Porém, no Brasil, a FBN de


origem antropogênica tem um peso relativo maior e é de cerca de 7,3 Tg ano 1, quase três
'

vezes a quantidade de N fertilizante de origem industrial ( 2,5 Tg ano 1) (Quadro 1). Só a


"

FBN da cultura da soja representa cerca de 3,2 Tg ano 1 de N ( Filoso et al ., 2006).


'

Há grande variedade de bactérias e cianobactérias capazes de realizar a FBN em


simbiose ou associadas a plantas, fungos e diatomáceas. Actinomicetos do gênero Frankia
podem estabelecer simbiose com formação de nódulos com plantas de dezenas de gêneros,
que nã o incluem espécies relevantes para a alimenta çã o humana, mas contemplam
espécies arbóreas importantes para a produçã o de madeira, lenha e carv ã o. Estimativas
de FBN em espécies dos gêneros Casuarina e Alnus são da ordem de 40 a 300 kg ha 1 ano 1
' '

de N (Moreira & Siqueira, 2002).


A simbiose entre cianobactérias do gênero Nostoc ou Anabaena com Azolla permite a
fixaçã o, em sistemas aqu á ticos, de grandes quantidades de N, que podem atingir mais de
120 kg ha 1 em períodos de 40 ou 50 dias. A biomassa de Azolla produzida, com teor de
'

N de 40 a 50 g kg 1, pode ser incorporada ao solo e servir de adubo verde para cultivos de


'

arroz, uma prá tica adotada em larga escala em algumas regiões da Ásia . A Azolla pode
também ser utilizada na alimentaçã o de peixes, aves e suínos ( Moreira & Siqueira, 2002).
Apesar do potencial para fornecer N em lavouras de arroz, a utiliza çã o de Azolla na
China tem decrescido em fun çã o da disponibilidade de fertilizantes sinté ticos e
redistribuiçã o da for ça de trabalho (Graham, 2000).

FERTILIDADE DO SOLO
396 HEITOR CANTARELLA

A simbiose riz ó bio -leguminosa é o mais importante sistema simbi ó tico entre
microrganismos e plantas gra ças à eficiência do processo de fixa çã o de N2, à amplitude
e distribuiçã o geogr á fica dos hospedeiros e ao impacto económico para a agricultura,
uma vez que permite substancial economia de fertilizantes nitrogenados. A família
Leguminosae abrange quase 20 mil espécies, incluindo espécies arbóreas importantes e
herbá ceas usadas como forrageiras, produtoras de maté rias-primas ou diretamente na
alimenta çã o humana .
A taxa de fixa çã o de N2 varia entre espécies de bacté rias, cultivares de plantas,
intera çã o rizó bio- planta , fertilidade do solo, ano agr ícola, etc. Estimativas de fixa çã o
listadas por Graham ( 2000 ) indicam valores de 100 a 300 kg ha 1 ano 1 de N em
' '

leguminosas forrageiras, 80 a > 200 kg ha 1 ano 1 de N em soja e 20 a 200 kg ha 1 ano 1 em


' ' " '

outras espécies de leguminosas.


O caso de maior sucesso é a simbiose de Bradyrhizobium com soja no Brasil . A
principal leguminosa comercialmente cultivada no Brasil dispensa totalmente a adubaçã o
nitrogenada, uma vez que, em condi ções normais de cultivo, a FBN é capaz de suprir as
necessidades de N da cultura (Hungria et al ., 2006). Há materiais inoculantes altamente
eficientes e adaptados para as diversas regi ões brasileiras. A inoculaçã o é eficaz e bem
aceita pelos agricultores. Por outro lado, a FBN com outras leguminosas importantes,
tais como o feijã o e o amendoim, nã o consegue, com a tecnologia atualmente disponível,
suprir totalmente a demanda por N dessas culturas, mas permite reduzir as doses de N
aplicadas como fertilizantes químicos.
Um grupo potencialmente importâ nte de diazotróficos é composto de microrganismos
capazes de formar associa ções (ou simbioses associativas), por meio de coloniza çã o
radicular e dos tecidos internos das plantas, ou seja, estabelecer associações endof íticas.
Dezenas de gêneros de diazotr óficos sã o conhecidos, incluindo Azospirilum , Azotobacter ,
Acetobacter , Herbaspirillum , dentre outros. Embora possam estabelecer associações com
dicotiled ôneas, as associa ções mais comuns ocorrem com monocotiled ô neas. Pesquisas
pioneiras no assunto vê m sendo feitas no Brasil há mais de três d écadas pelo grupo de
pesquisadores iniciado por Dobereiher, com o desafio de tornar viá vel e desenvolver
meios prá ticos para substituir, total ou parcialmente, a aduba çã o mineral com N por
FBN em gramíneas. A capacidade de fixa çã o de N 2 da associaçã o de v á rias espécies de
diazotróficos com gramíneas forrageiras, cereais e cana -de-a çúcar foi demonstrada
( Boddey & Dobereiner, 1988; Urquiaga et al ., 1992; Boddey et al., 2003). No Brasil, há um
interesse especial na FBN associativa com a de cana -de-a çú car, decorrente da extensã o
da á rea cultivada e do gasto com fertilizantes nitrogenados.
Há evid ências diretas e indiretas da ocorrência de FBN em cana-de-a çúcar . Número
considerá vel de bacté rias com capacidade de fixar N2 atmosf é rico associadas à cana -de-
a çúcar tem sido identificado e v á rios autores tê m destacando a fixa çã o biológica de N 2
em cana (Sampaio et al., 1988; Urquiaga et al., 1992), com estimativas de contribuiçã o de
até 210 kg ha 1 ano 1 de N ( Urquiaga et al ., 1992). Recentemente, ênfase tem sido dada a
" '

bactérias do gênero Herbaspirillum e Glucanobacter (Boddey et al., 2003).


As evid ê ncias indiretas ( Boddey et al ., 2003) vêm do fato de a cana -de-açúcar
produzir, em cultivos contínuos no Brasil, grandes quantidades de colmos com adubações

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 397

nitrogenadas relativamente modestas. As quantidades de N exportadas pelos colmos


sã o semelhantes ou até menores do que as doses de N aplicadas ao longo do ciclo, sem
contar que há perdas de N no sistema . Mesmo assim, solos cultivados com essa cultura
durante d écadas dificilmente mostram sinais de degradaçã o qu ímica .
O assunto desperta contrové rsia, pois nã o l>á evid ências, em condições de campo,
de que a fixa çã o biológica de N 2 possa garantir o suprimento de N para culturas de
mé dia ou alta produtividade. Estudos realizados na África do Sul e na Austrália
evidenciam que a fixa çã o biol ó gica de N 2 nã o é uma fonte significativa deste nutriente
para a cana-de-açúcar (Biggs et al., 2002; Hoefsloot et al., 2005), embora bactérias fixadoras
de N 2 tenham sido isoladas no campo ( Biggs et al., 2002; Hoefsloot et al ., 2005).
Ainda nã o é possível usar inoculantes, visto que a popula çã o de fixadores de N2 em
cana -de-a çúcar é diversificada e nã o foi identificada , até o momento, uma espécie que
possa ser apontada como a principal responsá vel pela fixa çã o ( Boddey et al., 2003).
Alé m disso, a capacidade de fixa çã o de N 2 revela ter grande depend ê ncia da variedade
de cana e é favorecida por condições em que haja suprimento adequado de á gua ( Boddey
et al., 2003), o que nem sempre ocorre nas soqueiras que rebrotam durante o período mais
seco do ano. Assim, a contabiliza çã o do N proveniente da fixa çã o biológica em programas
de aduba çã o é uma quest ã o aberta .
O mesmo desafio apresenta -se para outras espécies de gramíneas forrageiras ou
alimentícias, como o milho e o trigo. Os resultados de pesquisa nem sempre são positivos.
Cerca de 60 a 70 % dos trabalhos publicados relatam aumentos de produçã o em resposta
à inocula çã o, geralmente da ordem de 5 a 30 %. Por ém, nã o é certo se a expectativa nã o
está superestimada, considerando a tendência de nã o se publicar resultados negativos
(Moreira & Siqueira , 2002).
As bactérias diazotr óficas apresentam também efeitos estimuladores do crescimento
de plantas sem que ocorra incremento do teor de N ( Boddey & Dobereiner, 1988). Esta
caracter ística vem sendo explorada como outra possibilidade de utilização da inoculação
com bactérias diazotr óficas associativas em gramíneas. Aumentos na produção em torno
de 20 % em resposta à inocula çã o seriam significativos para a adoçã o da técnica, desde
que consistentes, de acordo com Bashand & Levanony (1990), citados por Sala (2006 ).
Essa pesquisadora obteve resultados promissores em v á rios experimentos de campo com
a inocula çã o de Achromobacter insolitus e Zoogloea ramigera em plantas de trigo.

O NITROG ÉNIO E O AMBIENTE

O N é um nutriente de grande valor em praticamente todos os ecossistemas, mas


pode-se se tornar um poluente importante quando transferido de um ecossistema para
outro (Groffman, 2000). O transporte de N nas formas amoniacais e como compostos
orgâ nicos dissolvidos ocorre primordialmente na superf ície do solo, por meio de erosão
laminar; os óxidos nítrico ( NO) e nitroso ( NzO), por meio da atmosfera, e o N03 , por meio

das á guas superficiais e lixiviaçã o (Groffman, 2000).

FERTILIDADE DO; SOLO


398 HEITOR CANTARELLA

Processos biológicos podem originar boa parte do NH3 e de óxidos de N ( NOx ) na


atmosfera . Três espécies de NOx sãó importantes constituintes da atmosfera: N20, NO e
N02 (Tabatabai et al., 1981). Desses, o N20 é o mais abundante.
O N20 apresenta dupla amea ça ambiental. Ele é o quarto mais importante gás do
efeito estufa, depois do vapor de água, C02 e metano (CH4), e está envolvido na destruição
da camada de ozônio ( Addiscott, 2004). O N20 constitui pequena percentagem dos
gases na atmosfera e estratosfera, porém apresenta potencial de aquecimento global
equivalente a 296 vezes, em base mólecular, ao do C02, e representa 6 % do efeito estufa
de origem antropogênica ( Lagreid é t al., 1999; IFA, 2001) .
O N20 é bastante estável no ar é sua destruiçã o ocorre somente na estratosfera pela
açã o dos raios ultravioletas. Porém, nesse processo, parte do N20 decomposto participa
de rea ções que provocam a destruiçã o de ozô nio ( Addiscott, 2004):
03 + hv —> 02 + O*
N20 + 0* -> 2NO
NO + 03 —> N02 + 02
em que hv representa a radia çã o ultravioleta e O* o singlete de O (oxigénio com o elé tron
desemparelhado).
O NO produzido no solo ou por atividades antr ópicas é pouco relevante nas reações
com o ozônio, pois nã o chega à estratosfera , uma vez que reage prontamente com os
radicais livres abundantes na troposfera . O NO, relativamente instá vel, é convertido na
atmosfera a NOz, que, por sua vez, feage com vapor de á gua e forma HN03 (Granli &
Bockman, 1994); o tempo de residência na atmosfera do NO e do N02 é de poucos dias,
comparado com o período de 70 a 120 anos do N20 (Tabatabai et al., 1981; Griffith, 2005) .
Assim, o N20 tem papel relevante na destruição da camada de ozônio, visto que consegue
atingir a estratosfera, onde produzirá o NO que reagir á com o 03 ( Addiscott, 2004).
Estima -se que a contribuiçã o da agricultura como fonte global de N20 seja da ordem de
35 % (IFA, 2001).
As espécies NOx sã o componentes importantes das chuvas á cidas, mas, neste caso,
a maior contribuição para a geração desses gases é de atividades industriais ou de motores
a combustã o.
O N03 apresenta grande mobilidade no solo, podendo chegar às águas superficiais
"

e ao lençol freá tico, com potencial de se tornar um contaminante do ambiente. A


Organizaçã o Mundial de Sa ú de (WÍIO, 1993) recomenda que a á gua potá vel nã o tenha
mais do que 50 mg L 1 de N03 (ou 10 mg L 1 de N-N03 ) e este limite tem sido adotado por
' ” "
"

muitos pa íses, que têm estabelecido legisla çã o para controlar a concentraçã o de NOs
nas á guas superficiais ( Addiscott, 2004; Howarth & Marino, 2006; Howarth et al ., 2006),
implicando que os agricultores devem adequar suas prá ticas de manejo de fertilizantes
nitrogenados para atender a esse padrão (Groffman, 2000; Wortmann, 2006). Em regiões

com intenso uso de N e lençol freá tico alto, as medidas de controle de N03 na á gua têm
provocado mudanças de manejo, tais como o controle de aduba ções nitrogenadas e o
renovado interesse por mé todos de análise de solo para prever a disponibilidade de N
(Mulvaney et al., 2001; Martens et al., 2006; Wortmann, 2006).

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê NIIO 399

O limite de 50 mg L 1 de N03 nas á guas para consumo humano é atribuído a


pesquisas realizadas em meados do século XX, relacionando metaemoglobinemia em


crianças à presença de N03 na á gua ou na dieta . Posteriormente, passou-se a suspeitar

~
que a presença de altas concentra ções de N03 na dieta humana pudesse estar ligada à
ocorr ê ncia de câ ncer de estô mago, em virtude da produçã o de N02 a partir da reduçã o

de N03 no trato digestivo. As medidas para evitar o ac ú mulo de altas concentrações de


~
N03 na á gua, implementadas nos EUA e na Cõmunidade Europeia, têm tido um alto
custo e têm sido questionadas. Addiscott ( 2004 ) revisou o assunto e argumenta, com
base na literatura, que as evidências da rela çã o entre N03 e a metaemoglobinemia ou ao
câ ncer do estô mago sã o parcas e inconsistentes . Ao contr á rio, Addiscott ( 2004), um
cientista que trabalhou por mais de três décadas em Rothamsted, Inglaterra, lista estudos
recentes mostrando que o N03 pode ter efeito benéfico para a sa ú de humana por seu
"

papel no controle de gastroenterites bacterianas e concluiu que os atuais limites à presença


de N03 na á gua sã o desnecessá rios e podem ser contraprodutivos. Esse é um assunto
"

bastante controvertido.
Se a liga çã o entre o N03 e danos à sa úde humana pode estar sendo revista com base
"

~
em novas pesquisas, o problema do efeito do N03 sobre a eutrofica çã o de á guas
superficiais permanece em evidência, especialmente em pa íses do hemisf ério norte.
Geralmente, o P é o elemento mais limitante nas á guas para promover o aumento da
atividade biológica em á guas superficiais, lagos e estuá rios, mas o N també m exerce
papel relevante (Keeney, 1982; Howarth & Marino, 2006) . A maior evid ência da relaçã o
do N com a eutrofica çã o vem do fato de o per íodo de aumento explosivo da eutroficação
em á guas costeiras coincidir com o per íodo de maior aumento global na produçã o de N
reativo ( Howarth & Marino, 2006 ).
A eutroficaçã o refere-se à excessiva produção primá ria de algas e plantas aquá ticas
causada pela eleva çã o do suprimento de nutrientes. A maior oferta de nutrientes pode
ter efeitos benéficos em ambientes aquá ticos para o aumento da produtividade de peixes
e outras espécies exploradas economicamente; porém, níveis elevados de eutroficaçã o
estã o associados a efeitos prejudiciais, tais como: altera çã o na distribuiçã o de espécies
nos ambientes aquá ticos, aumento de algas tóxiças e decréscimo da concentra çã o de 02
dissolvido em virtude da decomposiçã o da matéria orgâ ncia produzida ( Lagreid et al.,
1999; Scavia & Bricker, 2006). Regiões de hipoxia (concentração de Oz abaixo de 2 mg L 1) '

têm-se formado no mar na costa americana no Golfo do México, bem como em estuá rios .

na Europa, especialmente na primavera e verão; em 2002, a á rea com hipoxia no Golfo do


México atingiu o recorde de 22.000 km2 (Scavia «St Bricker, 2006). Uma comissão formada
pelo governo norte-americano concluiu que a principal causa externa foi o aumento da carga
"
de N nas águas do golfo: cerca de 74 % do N03 provém de fontes difusas relacionadas com
atividades agrícolas, boa parte advinda de regiões produtoras de gr ã os no meio oeste
americano (Scavia & Bricker, 2006). Regulamenta ções têm sido propostas nos EUA e na
Europa para limitar a carga de N e de P em á guas superficiais e do subsolo (Howarth &
Marino, 2006) com implica ções diretas sobre o manejo de fertilizantes pelos agricultores.
Poucos dados estão disponíveis no Brasil sobre o impacto do uso excessivo de N no
ambiente. De modo geral, as doses de N utilizadas na agricultura comercial de larga
escala (produção de grã os e fruticultura ) são peqqenas e o lençol freá tico, na maior parte

FERTILIDADE Dõ SOLO
400 HEITOR CANTARELLA

das á reas agr ícolas, é bastante profundo. O N proveniente da fixa çã o biológica em á reas
cultivadas no Brasil supera muito o proveniente de fertilizantes (Filoso et al., 2006) graças
à grande á rea ocupada com soja , qhe praticamente nã o recebe adubos nitrogenados.
Al é m disso, as avalia çõ es de lixivia çã o de N03 n ã o tê m apontado para perdas
"

substanciais ( discutido em outra parte deste capítulo ), o que faz supor que a lixivia çã o
de N03 nã o seja generalizada . Problemas localizados podem estar ocorrendo em á reas
próximas dos grandes centros urbanos, cultivadas com hortaliças ou com culturas nas
quais altas quantidades de adubos minerais e orgâ nicos sã o utilizadas.

PERDAS DE NITROG ÉNIO DO SISTEMA SOLO-PLANTA


Lixiviaçã o de Nitrato

O â nion nitrato tem baixa intera çã o qu ímica com os minerais do solo. A


predominâ ncia de cargas negativas no solo, ou pelo menos nas camadas superficiais
nos solos tropicais, e a baixa intera çã o química do N03 com os minerais do solo fazem
*

com que o N03 esteja sujeito à lixiyia çã o para as camadas mais profundas, podendo
"

atingir á guas superficiais ou o lençol freá tico. Problemas associados ao excesso de N03 ’

no ambiente têm levado à regulamer íta çã o e ao controle de prá ticas agrícolas nos Estados
Unidos e na Europa , com o estabelecimento de limita ções nas dosagens de adubos
nitrogenados orgâ nicos e minerais ém á reas sensíveis.
A lixivia çã o de N 03 tem estreiía depend ência da quantidade de á gua que percola
"

^
"
no perfil do solo . Estimativas da n ovimenta çã o de NOa t ê m sido apresentadas por
"

alguns autores . Wild (1972 ) observou que a lixivia çã o de NOa atingiu a taxa de
0,5 mm mm 1 de chuva em um Alfissol bem estruturado da Nigéria; para um solo arenoso
'

da Carolina do Norte (EUA ), a taxa vá riou de 1 a 5 mm mm 1 de chuva (Terry & McCants,


'

1970). Valores encontrados no Brasil variaram de aproximadamente 1 mm mm 1 de chuva


"

(Reichardt et al., 1982) a 1,5 mm mm 1 em um solo argiloso do Cerrado (Suhet et al., 1986).
'

Esses valores dã o uma idéia de quantó a chuva ou a irriga ção podem provocar a lixiviaçã o

do N03 , porém essa rela çã o entre Çaminhamento do N e quantidade de chuva ou de
á gua que passa pelo perfil do solo nã o é tã o simples, porque a á gua e o soluto nã o se
movem uniformemente por causa da!s interações f ísicas e químicas com o solo e, se o solo
estiver seco, parte da á gua ficar á retira na matriz do solo. Além disso, nã o leva em conta
o intervalo de ocorr ê ncia da chuva pois parte da á gua retorna à atmosfera pela
evapotranspiraçã o. A textura do solo também afeta a lixivia çã o, que é maior em solos
arenosos, que, por apresentarem menor microporosidade, têm movimentação mais rá pida
da á gua no sentido descendente.
O N03 nã o é retido em solos cpm predominâ ncia de cargas eletronegativas, mas
"

muitos solos tropicais tê m horizontes subsuperficiais com cargas positivas, que podem
retardar consideravelmente a lixiviaçã o do nitrato ( Raij & Camargo, 1974).
A maior parte da á gua que perçola nã o flui através dos agregados do solo, mas ao
redor deles; a água no interior dos agregados permanece praticamente imóvel. Assim, a

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 401

á gua ao redor dos agregados tem mobilidade maior do que aquela no interior dos mesmos.
O N03 , e outros solutos se movem por difusão entre o interior dos agregados e a soluçã o

externa ( Addiscott, 2004) . A velocidade da difusã o do N03 - maior em solos arenosos


'

com pouca agrega çã o e menor em solos argilosos ou com agregados de maior tamanho -
afeta a taxa de lixivia çã o. Quanto menor a taxa de difusã o e maior o tamanho dos
agregados, menor a lixivia çã o. Isso, por é m, ocorre quando a maior parte do N03 está ou
"

é produzida no interior dos agregados, como é o caso do N mineralizado a partir da MOS


ou o N do fertilizante que esteve em contato com o solo por um tempo longo o suficiente
~
para atingir algum equilíbrio e migrar para o interior dos agregados. Nesse caso, o N03
é lixiviado mais lentamente. Por outro lado, o N03 pode ser rapidamente lixiviado e
"

caminhar uma distâ ncia maior do que a altura da coluna de á gua da chuva, mesmo em
solo argiloso, se em alta concentra çã o na soluçã o do solo ( regiã o adubada, por exemplo)
e ocorrer uma chuva de média ou grande intensidade que desce rapidamente por fissuras
ou ao redor dos gr â nulos do solo de modo que impossibilite a difusã o do íon para seu
interior (Figura 4) .
Com o secamento do solo na superf ície ou a absor çã o de á gua pelas plantas, o
potencial de á gua no solo nas camadas superficiais pode tornar-se muito inferior ao do
subsolo de modo que ocorra ascensã o capilar, cujo efeito é o inverso da lixivia çã o. íons
presentes na solu çã o podem ascender no perfil do solo. Esse fenô meno recebe pouca
considera çã o, mas pode contribuir para manter o N disponível pr óximo do sistema
radicular. Poré m, as condições para ascensão capilar nem sempre estã o presentes, visto

Figura 4 . Fluxo de água e de nitrato entre e intra -agregados. O fluxo entre agregados é r á pido
é provoca a lixivia çã o apenas do nitrato em solu çã o na á gua de percola ção. O equilíbrio
entre o nitrato na solu ção que percola entre os agregados e a solução interna dos agregados
se d á por difusã o e é um processo lento.
Fonte : Redesenhado com base em Addiscott (2004 ).

FERTILIDADE DO SOLO
402 HEITOR CANTARELLA

que, além de manter a continuidade da coluna de á gua nos poros, é preciso vencer o
gradiente gravitacional. A altura com que a água se eleva por capilaridade é inversamente
proporcional ao menor diâ metros d ós poros intercomunicantes.
No Brasil, sã o poucos os casos de altas perdas por lixivia çã o relatados na literatura.
O quadro 4 apresenta um resumo dè trabalhos publicados em que a lixivia çã o de NOa
foi medida, com o uso de tra çador i5N. De modo geral, nos experimentos listados, as
quantidades de N lixiviadas foram pequenas. Aparentemente, nã o houve restrição de
á gua, uma vez que as quantidades d è chuva no ciclo das culturas foram suficientes para
provocar movimenta çã o de á gua para os horizontes subsuperficiais.
As maiores quantidades de N lixiviadas aconteceram nos ensaios de Coelho et al.
(1991) e de Camargo (1989 ) e nesses, como nos d.emais, a maior parte do N lixiviado
proveio da mineraliza çã o da MOS e nã o do fertilizante aplicado . As doses de N
relativamente baixas, a textura argilosa da maioria dos locais e o parcelamento da
aduba çã o nitrogenada , no qual a maiòr parte do N é aplicada no período de ativa absorçã o
de N pelas plantas, ajudam a explicar as limitadas perdas de N observadas nos estudos
realizados no Brasil (Quadro 4). A imobiliza çã o pela microbiota do solo de parte do N
também colabora para reduzir a lixivia çã o (Coelho et al., 1991) .
A lixivia ção do N proveniente da MOS ocorre geralmente no início do ciclo da cultura,
quando as plantas tê m poucas ra ízes para absorver o N mineralizado antes do plantio,
à s vezes estimulado pelo preparo mecâ nico do solo, pois a maior parte desses estudos é
feita sob sistema de cultivo convencional.

Quadro 4. Resumo de trabalhos(1) em que a lixiviaçã o de nitrato foi medida em campo, com o
uso de adubos marcados com 15 N

N - lixiviado
Solo Fertilizante Dose de N Cultura Ciclo Precipita çã o Ref ( 2 )
Total N - fertilizante

kg ha - i dia mm kg ha - i
Nitossolo UR 120 Feij ã o 120 661 6, 7 tra ç os 1
Nitossolo SA 100 Feijã o 365 1.382 15 , 0 1,3 2
Nitossolo SA 42 Feijã o 86 423 tra ços tra ços 3
Nitossolo UR 100 Milho 150 620 32, 4 11 , 0 4
LE UR 60 Milho 170 1.100 84, 6 2, 3 5
LVA SA 80 Milho 150 717 9, 2 0, 4 6
LE UR 100 Cana 102 667 87,0 34 , 0 7
LE Aquam ô nia 100 Cana 102 667 29 , 0 7 ,0 7
Neossolo quartzar . UR ( lis í metro ) 90 Cana 330 2.015 4,5 tra ç os 8
Nitossolo UR 125 Milho 128 339 1 ,2 tra ç os 9
Nitossolo UR 250 Milho 128 339 1 ,1 tra ços 9
LVA SA 120 Milho 120 615 15 , 4 0,7 10
Nitossolo SA 280 Caf é 366 1.323 29 , 6 6,5 11
, Com base na seleção inicial feita por Urquiagá & Zapata (2000).
( ) (2)
1: Libardi & Reichardt (1978); 2: Meirelles et
al. (1980); 3: Urquiaga et al. (1986); 4: Ara ú jo (1982); 5: Coelho et al. (1991); 6: Reichard et al. (1979); 7: Camargo
(1989); 8: Oliveira et al . (2002 ); 9: Gava ( 2003); 10: Fernandes et al. ( 2006 ); Fenilli (2006).

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 403

Há intensa competiçã o por N no solo entre plantas e entre plantas e microrganismos,


a qual pode prevenir as perdas por lixivia çã o, pelo fato de os nitrificadores geralmente
nã o levarem vantagem na disputa com as plantas e com outros microrganismos pelo
NH4+ (Groffman, 2000). Assim, somente os solos que recebem doses de N em excesso em
rela çã o à s necessidades das plantas e dos microrganismos sã o fontes de NOa para o
ambiente. Isso pode ocorrer também em solos revolvidos por ara ções e gradagens, ou em
períodos em que as plantas nã o absorvem gr á ndes quantidades de N, como após as
colheitas, está dios iniciais de crescimento, etc.
Coelho et al. (1991) estudaram o balanço de N aplicado em cobertura na cultura do
milho ( ureia 15 N, 60 kg ha 1 enterrada ) e observaram que a maior parte do N fertilizante
'

residual no solo após a colheita ( 72 a 89 % do N residual ), mesmo nas camadas mais


profundas, estava na forma orgâ nica, ou seja, havia sido imobilizada por microrganismos
do solo. Apenas 4 % do N fertilizante foi encontrado abaixo de 90 cm de profundidade
no final do ciclo do milho. A baixa dose de N empregada no experimento nã o foi,
provavelmente, suficiente para exceder a demanda por N do sistema .
Fernandes et al . (2006) também mostraram baixas perdas de N por lixiviaçã o em um
solo arenoso (840 g kg 1 de areia ) em Piracicaba , cultivado por dois ciclos com milho,
'

recebendo 120 kg ha 1 de N na forma de sulfato dè amónio, marcado com 15N. No primeiro


'

ano, as perdas de N ( nitrato encontrado a 80 cm ) atingiram cerca de 22 kg ha 1 de N no '

final do ciclo do milho . Durante o ciclo, 530 mm de chuva atingiram 80 cm de


profundidade no perfil do solo, mas é prová vel que o solo já tivesse algum estoque de
á gua armazenado, visto que o ensaio teve início quase dois meses após o começo da
esta çã o chuvosa, no final de dezembro. No entanto, apenas 0,3 kg ha 1 do N provinha do
'

fertilizante. O N que lixiviou era oriundo da mineraliza çã o da MOS e pode ter ocorrido
após a incorpora çã o do calcá rio e antes da semeadura do milho. Nos períodos em que o
solo permaneceu sem cultivo ou com a cultura de cobertura, no outono-inverno, a lixiviação
foi insignificante. No ciclo seguinte do milho, novamente adubado com 120 kg ha 1 de N, "

as perdas de N03 também foram baixas, atingindo apenas 6,4 kg ha 1 de N-N03 . As


"
" "

chuvas durante os ciclos do milho variaram de 615 a 656 mm.


As perdas por lixivia çã o durante o per íodo seco de inverno sã o geralmente baixas,
como observaram Boaretto et al. (2004), cultivando trigo irrigado em um solo argiloso em
Campinas: as perdas foram de menos de 1 % do N aplicado (135 kg ha 1 de N). "

A lixivia çã o de N03 foi estudada por Prim á vesi et al. (2006) no Brasil em pastagem
"

de coastcross com manejo intensivo, em solo de textura média . As doses de N aplicadas


variaram de 125 a 1.000 kg ha 1 de N, parceladas em cinco vezes. Ao final do primeiro
'

ano, quantidades relativamente altas de N- NO (68 e 60 kg ha 1) foram encontradas nas


"
'

^
camadas de 0,4 a 0,8 m e de 0,8 a 2,0 m, respectivainente, apenas nas parcelas que receberam
1.000 kg ha 1 de N, uma dose além da necessá ria para a obtençã o da má xima resposta da
"

gramínea . No segundo ano, parcelas tratadas com até 500 kg ha 1 de N tiveram o teor de
'

N03 no solo monitorado semanalmente. De modo geral, os teores de N-N03 abaixo de


' "

60 cm de profundidade foram inferiores a 8 mg kg 1. Os autores concluíram que os riscos


"

de contaminação do lençol freá tico sã o pequencjs em pastos de gramíneas tropicais se as


adubações, mesmo altas, nã o excederem a capacidade de ciclagem das forrageiras
(Primá vesi et al., 2006) .

FERTILIDADE DO SOLO
404 HEITOR CANTARELLA

Em culturas que recebem N acima da dose para má xima resposta , pode haver
ac ú mulo de N inorgâ nico no subsolo. Cantarella et al. (2003b) observaram, no final da
esta çã o das chuvas, a presença de cerca de 80 kg ha 1 de N na camada de 20-60 cm de
'

solo em um pomar de laranja adubado com 180 e 240 kg ha 1 de N. Pelo menos parte
'

desse N pode ser lixiviado para camadas fora do alcance do sistema radicular das
laranjeiras no início da esta çã o das chuvas subsequentes.
Da mesma forma como ocorre nó Brasil, na região tropical da maioria dos países em
desenvolvimento na Ásia ocidental è central, bem como na África, especialmente nos
cultivos de sequeiro, o uso de doses moderadas de N nas adubações nã o tem constituído
risco de poluiçã o de á guas subterr â neas com N03 (Singh et al., 1995) . No entanto, em
'

parte do territó rio asiá tico, a situa çã q é diferente. Em algumas á reas da China, o uso de
altas doses de N pode levar à baixa eficiência de uso dos fertilizantes e, conseqiientemente,
a perdas por lixivia ção (Chen et al., 2004) . Em á reas com sistema de cultivo intensivo de
plantas olerícolas e frutíferas, o teor de N- N03 residual no solo após a colheita atingiu
'

valores em torno de 1.000 kg ha 1 de 1SJ na profundidade de 90 a 180 cm (Ju et al., 2006).


"

Esses autores relataram um levantamento feito em centenas de á reas agrícolas na China


nas quais as doses médias de fertilizkntes nitrogenados aplicadas por ciclo de cultura
variaram de 208 kg ha 1 de N em milhlo de ver ã o a 848 kg ha 1 de N em pomares de ma çã
' "

e a 1.700 kg ha 1 de N em hortali ças eín casas de vegeta çã o.


'

Em v á rias regiões de clima tempérado e subtropical, nas quais o uso de fertilizantes


nitrogenados é mais intenso, ocorrem depósitos de á gua do subsolo com teores de N03 ‘

acima do permitido pela legisla çã o ( 50 mg L 1 de N03 ): 11 % dos poços em á reas


"
'

cultivadas da Comunidade Europeia ( Lagreid et al., 1999); 14 a 21 % dos poços no nordeste


da Austr á lia (Thorburn et al., 2003); 17 a 26 % dos poç os de Wisconsin ( Postle, 1999,
citado por Ju et al., 2006 ) .
Os dados disponíveis no Brasil indicam que, com as doses de N presentemente
utilizadas e com o manejo da adutja çã o adotado, envolvendo o parcelamento das
~
aplicações, o risco de contamina çã o ambiental com N03 na agricultura brasileira é baixo,
exceto, talvez, em bolsões de produçã o de olerícolas em torno das cidades. Há poucas
informa ções disponíveis sobre o assunto.
Recentemente, alguns agricultoras têm concentrado a aduba ção nitrogenada antes
ou durante a semeadura de grãos no sistema plantio direto. Em á reas de solo argiloso ou
com muita MO acumulada no solo ccjmo consequência da adoçã o, por longo tempo do
sistema plantio direto, os rendimentos das culturas nã o tê m sido reduzidos ou até tê m
aumentado ligeiramente em compara çã o com a tradicional aplica çã o parcelada na
semeadura e cobertura (Sá , 1996; Basso & Ceretta, 2000; Lara Cabezas et al., 2005).
Condições pouco favorá veis à lixivia çã o de N03 e imobiliza çã o temporá ria do N do
'

fertilizante pela microbiota do solo, em sistemas com alta atividade microbiana, colaboram
para reter o N na camada superficial. Porém, em anos de muita chuva no início do ciclo
das culturas de verã o, como ocorre cqm relativa frequência, a antecipa çã o da aduba çã o
nitrogenada tem provocado reduções significativas na produtividade do milho (Basso &
Ceretta, 2000; Pottker & Wiethõlter, 2j000; Cantarella et al., 2003a ), indicando que parte
do N aplicado foi lixiviado antes que as plantas tivessem condições de absorvê-lo. O
risco é maior em solos arenosos.

FERTILIDADE DO SOLO
VII - í\IITROG ê 'NIO 405

Volatilização de Am ónia

As emissões atmosf éricas de N na forma de NH3 são estimadas em cerca de 54 Tg ano 1,'

das quais 75 % sã o emissões provocadas pela a çã o do homem ( Lagreid et al ., 1999 ). A


principal fonte de NH3 no mundo (22 Tg ano 1 d é N) é a criaçã o de animais e seus dejetos,
em virtude das altas perdas de N da urina e das fezes por volatiliza çã o. As contribuições
dos fertilizantes (9 Tg ano 1 de N) e da queima de vegeta çã o (6 Tg ano 1 de N) sã o também
' '

relevantes . Nessa seçã o, ser ã o enfatizadas á s perdas de NH3 relativas ao uso de


fertilizantes nitrogenados . Por é m, em pastagens, as perdas de NH3 provenientes dos
dejetos animais podem ser importantes.
A distribuiçã o das fezes e urinas nos pastos é bastante irregular . Dependendo do
manejo, cerca de 1 a 46 % da á rea das pastagens é coberta por fezes, mas a concentra çã o
de nutrientes na região sob as deposições de fezes e urina é elevada, atingindo em torno
de 1.000 kg ha 1 de N . Além da possibilidade d à deposiçã o dos nutrientes em á reas em
'

que eles possam ser pouco aproveitados ou carreados para fora do sistema, vindo a
causar poluiçã o, há chances de perdas de N pó r volatiliza çã o de NH3 e lixivia çã o, em
adiçã o à s perdas por desnitrifica çã o, sobre as quais há menor volume de dados. As
perdas de NH3 variam de 4 a 46 % do N das fezès e da urina (Haynes & Williams, 1993)
e sã o maiores para pastos que recebem altas doses de N, que enriquecem os dejetos
( Bussink, 1994) . |
As perdas por volatiliza çã o de amónia em solos dependem do pH. O equilíbrio
entre o íon am ónio ( NH4+ ) e a forma gasosa, amjônia ( NH3), é dado pela expressã o:

NH; ^ NH3 + H +

Considerando a constante de dissocia çã o em soluções aquosas (5,85 x IO 10 a 20 °C ),


"

obtêm-se:
[NH 3]
log
[ NH 4+ ]
= PH - 9,2

Isto mostra que, em condições de pH á cido, a espécie química predominante é o


NH4 . A percentagem do N amoniacal total em solu çã o, presente na forma de NH3, é
+

apenas 0,01 % para um meio com pH 5,2, aumenta para 1 % a pH 7,2 e para 50 % em
pH 9,2. No solo, o tamponamento do meio e as interações com outros componentes
alteram as condições de equilíbrio de modo que em pH 7 a percentagem de NH3 é
geralmente bem maior do que ocorre em soluçõ puras. es
Em solos alcalinos ou com pH > 7, qualquer fertilizante nitrogenado que contém N
amoniacal está sujeito a perdas de NH3 por volatilizaçã o; todavia, é muito baixa no
Brasil a ocorrência de solos com essas características. Por outro lado, pouca ou nenhuma
perda de NH3 ocorre quando fertilizantes amorjiacais de rea çã o á cida ou neutra, como o
sulfato ou o nitrato de amónio, são aplicados a solos neutros ou ácidos, como demonstram
resultados de vá rios estudos (Terman, 1979; Lara Cabezas et al., 1997b; Cantarella é t al.,
2001a, 2003b; Costa et al., 2003), visto que o amónio permanece na forma iônica e estável.

FERTILIDADE D :O SOLO
406 HEITOR CANTARELLA

No entanto, quando aplicada ao solo, a ureia passa por hidrólise enzimá tica liberando
N amoniacal. Em solos com pH menor do que 6,3 - maioria dos solos brasileiros - a
rea çã o predominante é (Koelliker & Kissel, 1988):
urease
CO( NH2) 2 + 2H + + 2H20 > 2 NH4+ + H2C03

Em solos com pH mais elevado ( > 6,3), a rea çã o é:


urease
CO( NH2) 2 + H+ + 2H20 » 2NH4+ + HC03
'

A rea çã o de hidrólise consome pr ó tons (H+ ) e provoca a elevaçã o do pH ao redor das


partículas; assim, mesmo em solos á cidos, a uréia está sujeita a perdas de N por
volatiliza çã o de NH3. Overrein & K4oe (1967) notaram que o pH do solo ao redor das
partículas de fertilizantes subiu de 6,5 para 8,8 três dias após a aduba çã o. Resultados
semelhantes foram observados por outros pesquisadores em diferentes tipos de solo
( Kissel et al., 1988) .
De fato, vá rios autores brasileirbs têm relatado altas perdas de N por volatiliza çã o
de NH3, quando a uréia é aplicada na superf ície dos solos (Quadro 5): a saber: 20 a 40 %
do N aplicado em cana -de-a çú car (Cá ntarella et al., 1999; Vitti, 2003), 16 a 44 % do N em
citros (Cantarella et al., 2003b ), 16 a 61 % em pastagens (Cantarella et al., 2001a,b) ou até
muito maiores, como os resultados de Lara Cabezas et al. (1997a, b, 2000), que mostraram
perdas que variaram de 40 a 78 % dp N aplicado na superf ície do solo.
I

A urease presente nos solos é proveniente da síntese realizada por microrganismos


e, provavelmente, também de origem em resíduos vegetais ( Bremner & Mulvaney, 1978;
Frankenberger & Tabatabai, 1982). Raulson & Kurtz (1969 ) estimaram que 79 a 89 % da
atividade da urease em solos se deve a enzimas extracelulares, adsorvidas aos colóides
do solo, e que agem mesmo em solos esterilizados.
A atividade de urease é maior em plantas e resíduos vegetais do que em solo. Barreto
& Westerman (1989 ) observaram qu é a atividade de urease em resíduos de culturas era
cerca de trinta vezes maior e, em solos sob plantio direto, quatro vezes maior do que em

Quadro 5. Perdas anuais de nitrogê nip por volatiliza çã o de am ónia em pomar de laranja
adubado com ur éia ou nitrato de amónio, aplicados na superf ície do solo

NHj volatilizada
Fonte d e N Dose de N
1995/96 1996/97 1998/99

kg ha % d o N aplicado
Uré ia 20 26 17 19
100 31 16 25
260 44 17 33

Nitrato de am ó nio 260 2 2 4

Fonte: Cantarella et al. (2003b ).

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 407

solos sob cultivo tradicional . Portanto, solos com restos de culturas ( plantio direto,
á reas manejadas com resíduos de plantas na superf ície dos solos ) tendem a apresentar
maior atividade de urease e maiores perdas de NH3 do que solos descobertos.
A atividade de urease depende da umidade do solo. Em solo seco, a ureia pode
permanecer está vel (Volk, 1966), mas a taxa de hidr ólise aumenta conforme o teor de
á gua do solo se eleva , até que este atinja 20 %; a partir deste ponto, a taxa de hidr ólise é
pouco alterada pelo teor de á gua ( Bremner & Mulvaney, 1978). Portanto, a aplicaçã o de
uréia em solo seco é prefer ível à sua adi çã o em solo ú mido (Terman, 1979; Lara Cabezas
et al., 1992) .
A hidr ólise da uréia aumenta com a eleva çã o da temperatura até 40 °C ( Bremner &
Mulvaney, 1978), mas a hidr ólise e as perdas por volatiliza çã o de NH3 decrescem
rapidamente com o abaixamento da temperatura . Ernst & Massey (1960 ) observaram
que a 8 e a 16 °C as perdas de NH3 foram reduzidas em 71 e 56 %, respectivamente, em
rela çã o às observadas a 32 °C. Com isso, o potencial de volatiliza çã o de NH3 em regiões
tropicais ou nos cultivos de ver ã o é maior do que em regiões de clima temperado ou do
que nas aduba ções feitas no outono-inverno, como ocorre com os cereais de inverno no
Brasil . Por exemplo, Watson et al. (1990 ) concluíram que a uréia tem menor eficiência do
que o nitrocá lcio em pastagens de clima temperado na Europa, especialmente no ver ã o;
as perdas por volatiliza çã o de NH3, em torno de 6 a 12 % relatadas, no entanto, sã o
menores do que as obtidas no Brasil em pasto dê coastcross: 16 a 61 %, dependendo da
dose e época de aplica çã o (Cantarella et al., 2001a,b). As perdas de NH3 medidas durante
o cultivo de trigo no inverno no Brasil, adubado com 60 ou 90 kg ha 1 de N na forma de
'

uréia, variaram de 6 a 12 % do N aplicado ( Boaretto et al., 2004), valores mais baixos do


que os normalmente obtidos em experimentos realizados no verã o.
A hidr ólise da uréia é relativamente rá pida em solos com umidade e temperatura
adequadas para o crescimento e desenvolvimento das plantas na primavera e ver ã o
brasileiro. Broadbent et al . (1958) relataram que a ur éia aplicada em doses iguais ou
inferiores a 400 g kg 1 a quatro diferentes solos mantidos em 24 ° C hidrolisou
"

completamente em dois dias. Com isso, o pico de perdas por volatilizaçã o normalmente
ocorre dois a quatro dias após a aplica çã o da ur éia . Por é m, em solos com altas
quantidades de resíduos de plantas na superf ície, umidade e temperatura adequadas, a
hidr ólise pode ser bastante rá pida . Cantarella et al . (2001a ) observaram em á rea com
pastagem de capim coastcross que o pico de perdas de NH3 ocorreu já no primeiro dia
após a aplica çã o da uréia .
Altas concentra ções de uréia no solo podem saturar os sítios ativos da enzima de
modo a retardar a hidr ólise ( Hargrove, 1988b ) . Solos incubados com 800 mg kg 1 ainda
"

continham pouco menos de 30 % da uréia intacta após tr ês dias, mas, após 14 dias, toda
a uréia havia sido hidrolisada (Broadbent et al., 1958). A hidrólise mais lenta geralmente
contribui para a reduçã o das perdas de NH3 por terem a uréia ou a NH3 produzidas mais
tempo para difundir para o interior do solo e reagir com os col óides do solo. Porém, se a
atividade de urease do solo nã o for limitanté, doses mais elevadas (Quadro 5) ou
aplicações localizadas (faixas estreitas) tendem a resultar em maiores perdas de NH3 do
que a mesma dose aplicada a lanço (Touchton & Hargrove, 1982; Freney et al., 1991;
Cantarella et al., 2003b; Vitti et al., 2005), uma vez que o pH do solo tende a se manter

FERTILIDADE Dó SOLO
408 HEITOR CANTARELLA

mais alto no local onde se concentra o adubo. Freney et al. (1991) observaram perdas de
NH3 de 38 % para a ureia aplicada em faixas e de 23 % para a aduba çã o a lanço. No
Brasil, resultados semelhantes forairi obtidos por Vitti et al . (2005) (Quadro 6).

Quadro 6 . Amónia volatilizada e prodiitividade de colmos em relação à s formas de aplicação

colhida sem despalha a fogo ^


dos adubos nitrogenados em faix e em á rea total ( dose de 70 kg ha 1 de N ) em cana '

-
N NH 3 volatilizado Produ çã o d e colmos
Fontes de N
Faixa Á rea total Faixa Á rea total

kg hai - i t ha -1

Sulfato d e am ó nio 2 aA 3a A 73 aA 76 aA
Nitrato de a m ó nio 2 aA 4a A 64 bA 66 abA
Uran 1 3 bA 9 bB 61 bA 64 bA
Ur é ia 32 cA 26 cB 60 bA 57 bA

Médias seguidas por letras iguais: min ú sculas'l na vertical , e maiuscula , na horizontal , respectivamente, n ã o
diferem entre si a 5 % pelo teste Tukey .
Fonte: Vitti et al . ( 2005) .

Formula ções líquidas, tais como ò uran [adubo fluido, mistura de ur éia e nitrato de
am ónio] e solu ções de ur éia podem tjer menores perdas de NH3 quando aplicados em
faixas (Hargrove & Kissel, 1979; Fairlie & Goos, 1986), provavelmente porque a aplicaçã o
da solu çã o em á rea reduzida ( em faixa ) provoca ligeira incorpora çã o do fertilizante ao
solo e, em alguns casos, satura çã o da urease na regiã o de aplica çã o. As diferenças entre
aplica çã o localizada (em faixa ) ou erri á rea total nã o sã o consistentes, visto que alguns
dos fatores que afetam as perdas - satura çã o da enzima ou maior alcalinidade do solo -
agem em sentidos opostos.
Além do pH, outra importante caracter ística do solo que afeta as perdas de NH3 é o
poder tampã o da acidez do solo . A eleva çã o do pH decorrente da hidrólise da ur éia
depende, em parte, do poder tampã o d.o solo. Solos com alto poder tampã o opõem maior
resist ência ao aumento do pH e, correspondentemente, t ê m menores perdas por
volatiliza çã o. A capacidade de troca de cá tions (CTC) e, por extensã o, a textura e o teor
de MOS, influem diretamente no poder tampão dos solos. Vá rios estudos têm demonstrado
que solos com textura arenosa perdem mais NH3 que solos de textura fina ou argilosa
( Fenn & Kissel, 1976; Nelson, 1982) . P ra Gasser (1964), a CTC é o mais importante fator
^
que afeta as perdas por volatiliza çã o dle NH3 em solos. Além do efeito do poder tampã o,
solos com maior CTC apresentam má iores quantidades de sítios de troca para reter o
NF14+ produzido e menos NH3 permanece em soluçã o ( Nelson, 1982) . Ferguson et al.
(1984 ) demonstraram que o poder tampã o da acidez é mais importante que o pH inicial
do solo e a CTC, na determinaçã o das perdas de NH3 por volatilização.
Trabalhos realizados há vá rias d écadas mostram que a maneira mais eficiente de
reduzir ou eliminar as perdas por volá tiliza çã o é a incorporaçã o da uréia ao solo (Ernst
& Massey, 1960; Overrein & Moe, 1967; Espironelo et al., 1987; Trivelin et al., 2002a ) . A

FERTIIí IDADE DO SOLO


VII - NITROG é NIO 409

profundidade de incorpora çã o que garante o controle de perdas depende da textura e


CTC dos solos, umidade, direçã o da movimenta çã o da á gua no perfil etc. Geralmente, a
incorpora çã o a 5 ou 10 cm de profundidade j á é suficiente para controlar as perdas de
NH3 ( Anjos & Tedesco, 1976; Nelson, 1982; Cantarella et al., 1999 ).
A incorpora çã o acrescenta um custo adicional à aduba çã o, que pode ser elevado em
solos cobertos com grandes quantidades de palha , como é o caso da cultura da cana -de-
a çúcar colhida sem despalha a fogo. Alé m disso, muitas vezes, o sulco aberto para
incorpora çã o do fertilizante de cobertura expõe e estimula a germina çã o de sementes de
plantas invasoras.
A incorpora çã o da uréia ao solo, gra ças à altá solubilidade desse fertilizante, també m
pode ser feita por meio da á gua da chuva ou da irriga çã o. Em á reas de solo descoberto,
10 a 20 mm de chuva ou irriga çã o sã o considerados suficientes para incorporar a uréia
ao solo (Terman, 1979; Hargrove, 1988b ) . No entanto, a presença de palha aumenta a
exigência da lâ mina de á gua . Lara Cabezas et al. (1997a ) mediram perdas substanciais
de NH3 em á rea de milho em SPD mesmo após uma irriga ção com 28 mm de água realizada
após a aplica çã o da uréia . Prammanee et al. (1989 ) mediram perdas de 21 % do N-uréia
aplicado sobre um solo coberto com palha de cana que recebeu 100 mm de chuvas
intermitentes por três dias. Freney et al . (1994) atribuem a maior necessidade de á gua ao
fato de a palha da superf ície formar canais por onde a á gua desce preferencialmente e
nã o consegue arrastar eficazmente a ur éia e incó rporá -la ao solo.
A magnitude das perdas de NH3 em condições de campo depende de uma complexa
combina çã o de fatores ambientais ( temperatura, umidade, vento ) que afetam o processo,
ora aumentando, ora diminuindo as perdas. Por exemplo, Fox et al. (1986 ) observaram
que a perda de NH3 por volatiliza çã o após a aplica çã o superficial de ur éia foi altamente
influenciada pelo n ú mero de dias até a ocorrência de uma precipitaçã o de 10 mm. Houve
perda aparente de 5 % do N quando uma chuva de 10 mm ocorreu dentro de dois a tr ês
dias ap ós a aduba çã o, mas as perdas atingiram mais do que 30 % quando a mesma
chuva aconteceu dos cinco a sete dias. Alé m disso, uma precipita çã o de 10 mm pode nã o
ser suficiente para eliminar a volatiliza çã o de NH3 se o solo estiver seco e a demanda
evaporativa for alta ( Mclnnes et al., 1986). Assim, a época de ocorrência e a intensidade
da chuva também sã o importantes para determinar a magnitude da volatilizaçã o ( Black
et al., 1987). Chuviscos insuficientes para incorporar a uréia podem incrementar as
perdas de NH3 por fornecer a umidade necessá rià à hidrólise (Kong et al., 1991; Freney et
al., 1992) sem, no entanto, incorporar a ur éia ao solo. Em solos com umidade adequada
e com alta temperatura, a hidrólise de boa parte da uréia pode ocorrer em intervalo curto
de tempo: de um a tr ês dias. Picos de perda de NH3 em pastagens de capim coastcross
adubados com uréia ocorreram no primeiro dia (Cantarella et al., 2001b), indicando que,
em condições favorá veis à hidrólise, o per íodo para incorpora ção do fertilizante ao solo,
por meio mecâ nico ou por á gua, pode ser bastante curto.
A temperatura do solo afeta a taxa de hidíólise e a evapora çã o da á gua do solo.
Desse modo, aumento da temperatura geralmente favorece maiores perdas de NH3. Porém,
se houver um secamento rá pido do solo, a hidrólise da uréia é reduzida ou interrompida
e a volatiliza çã o de NH3 diminui ( Mclnnes et al., 1986; Reynolds & Wolf , 1987). A

FERTILIDADE DQ SOLO
410 HEITOR CANTARELLA

intera ção do processo de perda com a umidade do solo é também complexa . Por um lado,
a umidade é necessá ria para que haja a hidr ólise da ureia e, nesse sentido, favorece as
perdas (Reynolds & Wolf , 1987). Volk 1966) observou que mais de 80 % da uréia aplicada
no campo, em solo seco, nã o hidrol sou em 14 dias. Mclnnes et al. (1986) também
observaram, em condições de campo, que, à medida que o solo secava, a hidr ólise
diminuía, mas voltava a ocorrer após a aplicação de água; em solo seco, a taxa de hidrólise
da ureia foi praticamente zero. Os resultados foram confirmados por Lara Cabezas et al
(1992) em condições de laborató rio, que observaram perdas de NH3 de menos de 1 % do
N-uréia em um per íodo de 20 dias, qu ando a ureia foi aplicada em solo seco .
Uréia , NH4+ e NH3 podem mover-se no solo por difusã o ou fluxo de massa ( veja
capítulo IV ) . Portanto, a umidade iniçial e a direçã o para a qual a á gua se move no solo
afetam a taxa e a quantidade de NH3 v olatilizada (Reynolds & Wolf , 1987; Kiehl, 1989a;
Rodrigues & Kiehl, 1992 ) .
Se as condições clim á ticas nã o forem favorá veis à evapora çã o, a umidade do solo
pode permitir a difusã o da uréia da superf ície para o interior do solo, reduzindo a
volatiliza çã o de NH3. No entanto, a movimenta çã o de uréia por difusão nã o é grande.
Sadeghi et al. (1989), estudando o coeficiente de difusão de uréia em sete solos, observaram
que a profundidade má xima de movimentaçã o da uréia em 48 h variou de 2,6 a 3,5 cm em
solos com teores de á gua em torno de 20 %. Nesse experimento, a urease foi destruída
antes da aplica çã o do fertilizante, e os solos foram incubados em ambiente fechado.
Kiehl (1989a ), usando amostras de solos umedecidas a 50 % da capacidade de campo e
nas quais a atividade enzim á tica foi mantida , observou, 15 dias após a aplica çã o
superficial de ur éia, a presença de am ónio a 7-8 cm de profundidade em uma Areia
Quartzosa e a 3-4 cm em uma Terra Roxa estruturada . Em condições de campo, o efeito
da urease e da evapora çã o pode reduzir a profundidade até o ponto em que a uréia se
move por difusã o, por ém nã o deve ser descartada a possibilidade de que parte da uréia
aplicada na superf ície seja incorporada , por difusã o, a solos com altos teores de umidade,
com a consequente reduçã o das perdas de NH3.
A evapora çã o da á gua do solo é um componente importante para a manutençã o da
volatiliza çã o. Martin & Chapman (1S 51) concluíram que quantidades apreciá veis de
NH3 sã o perdidas do solo somente quando há perda de á gua. Esta, por sua vez, é
favorecida por altas temperaturas e pelo vento. Overrein & Moe (1967) observaram que a
taxa de volatiliza çã o depende da jvelocidadede troca gasosa ( vento ) . V á rios
pesquisadores notaram que as maiores taxas de perdas ocorrem quapdo a superf ície do
solo está secando ( Bouwmeester et al., 1985; Mclnnes et al., 1986; Hargrove et al., 1987).
Essas observa ções foram confirmadas por Lara Cabezas et al . (1992), os quais concluíram
que a taxa de evapora çã o é mais importante que a condiçã o de umidade inicial do solo
para que ocorram perdas por volatiliza çã o de NEf 3. A importâ ncia da umidade inicial
provavelmente está ligada à dura çã o do processo de secamento.
A rela çã o entre umidade do solo e condições de secamento e evapora çã o sobre as
perdas de NH 3 foram estudadas no trabalho de Reynolds & Wolf (1987) . Eles
demonstraram que o ar desumidificado provoca o rá pido secamento do solo e reduz as
perdas, mas, se o solo tiver um suprimento de á gua que mantenha a evaporaçã o, a

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê MO 411

ventila çã o com ar de baixa umidade relativa nã o diminui a volatilizaçã o de NH3. O


secamento do solo realizado quatro dias após a adubação foi pouco efetivo para controlar
as perdas, visto que boa parte da ur éia provave mente já havia hidrolisado. Por outro
lado, ar com umidade relativa alta (85 % ) resultou em perdas substanciais de NH3 em
solo seco tratado com ur éia, gra ças à natureza h: groscópica do fertilizante.
No entanto, o orvalho noturno e a umidade acumulada na palha proveniente da
condensaçã o da umidade evaporada do solo à s vezes equivalem a precipita ções de 0,1 a
0,5 mm (Kong et al ., 1991; Freney et al ., 1992 ) e p adem desencadear a hidr ólise da uréia,
a qual continuar á ocorrendo até que o solo seque novamente. Freney et al . (1992)
demonstraram, conclusivamente, que, em canaviais com palha na superf ície, o processo
de volatiliza çã o de NH3 se mantém mesmo na Jus ê ncia de chuva se houver suficiente
orvalho ou condensa çã o de á gua evaporada do solo. A adiçã o de á gua pelo orvalho,
condensaçã o e chuvas de até 13 mm provocaram oerdas de 30 a 40 % do N- uréia aplicado
sobre palha de cana -de-a çú car em dois locais na Austrá lia ( Freney et al ., 1992 ) . A
volatiliza çã o ocorreu em pequenos pulsos ao longo de seis semanas, dependendo da
umidade. Geralmente, o orvalho provocava a dissoluçã o e hidr ólise à noite, mas a
volatiliza ção de NH3 ocorria a partir do amanhecer, quando a á gua começava a evaporar,
e continuava enquanto houvesse á gua; as perdas de NH3 praticamente nã o ocorreram à
noite (Freney et al., 1992 ) . Em um dos locais, e n regiã o mais seca, o orvalho e a á gua
evaporada do solo nã o foram suficientes para dissolver muita uréia, e as perdas por
volatiliza çã o, após seis semanas, nã o chegaram a 1 % do N-uréia aplicado (Freney et al.,
1992). Mesmo assim, quando a uréia é aplicada em solos secos, as perdas de NH3 sã o,
geralmente, menores do que em solo continuamente ú mido ( Mclnnes et al., 1986), ao
contr á rio do manejo adotado por muitos agricul rores, que preferem aplicar a uréia após
um per íodo de chuvas.
Em experimentos em condições de campo , as diferenças medidas em produçã o,
geralmente nã o sã o tã o altas quanto em dados de volatiliza çã o. Em muitos casos, nã o há
diferenças significativas. Cantarella & Raij ( 1986) reuniram dados de dezenas de
experimentos realizados em campo no Estado de Sã o Paulo e observaram que em nenhum
deles ocorreram diferenças significativas entre a ur éia e outras fontes de N, embora , em
alguns casos, a ur éia tenha mostrado produ ções ligeiramente inferiores . Dados
semelhantes foram apresentados nas revisões de Terman (1979 ) e de Anghinoni (1986) e
no trabalho de Coelho et al . (1992) com milho e Cantarella et al. (1999 ) com cana -de-
a çú car . Kamprath (1986) mostrou que em apenas tr ês dos doze experimentos feitos em
campo a ur éia aplicada na superf ície resultou eir produtividades de milho superiores às
.

obtidas com o fertilizante incorporado ao solo.


Muitos desses ensaios do passado tinham patamares de produtividade relativamente
baixos e respostas modestas a N. Além disso, experimentos de campo normalmente têm
baixa sensibilidade para mostrar , em termos de produçã o de grã os, fibras, colmos, etc.,
pequenas diferenças em eficiência de insumos, especialmente de N, uma vez que as plantas
recuperam, em média, 50 % do N proveniente do fertilizante ( Doberman, 2005) e depen-
dem do fornecimento de N do solo. Em muitos casos, as perdas de NH3 podem ser baixas
porque as condições clim á ticas nem sempre sã o favorá veis à ocorrência de volatiliza çã o.

FERTILIDADE DC SOLO
412 H EITOR CANTARELLA

De modo geral, há um volume substancial de dados na literatura indicando que a


ureia aplicada na superf ície dos solos, especialmente naqueles cobertos com resíduos de
plantas, tem a eficiê ncia um pouco ou marcadamente inferior às de outras fontes nã o
sujeitas a perdas de N por volatilizar ã o de NH 3, dependendo das condições em que a
ureia é utilizada . A essa conclusã o chegaram Gasser (1964), em revisã o considerando a
m édia de grande n ú mero de ensaios ; Watson et al . (1990) após revisã o de trabalhos
comparando a eficiê ncia de uso da ureia com o nitrocá lcio em pastagens de clima
temperado na Europa; Touchton & Hargrove (1982 ) e Urban et al . (1987), com milho e
sorgo em á reas de plantio direto nos Estados Unidos, e, no Brasil, Costa et al . ( 2003) e
Vitti et al. ( 2005), com cana -de-a çú car , Cantarella et al . ( 2001a , b ), com pastagens, e
Cantarella et al . ( 2003b ), com laranja, dentre outros.
A incorpora çã o mecâ nica da uréia ao solo é mais demorada e custosa do que a
aplica çã o superficial. Há dificuldades adicionais para incorporar o fertilizante em á reas
com muita palha na superf ície, como as de cana -de-a çúcar colhida sem despalha a fogo,
como j á comentado. A ind ústria de fertilizantes procura alternativas desenvolvendo
fertilizantes de libera çã o lenta ou ccntrolada , ou fertilizantes estabilizados, a serem
discutidos em outra seçã o.
A reduçã o das perdas de N por volatiliza çã o de NH3 també m tem sido testada com
a adiçã o de sais sol ú veis à uréia ( Rappaport & Axley, 1984; Fenn et al ., 1981) . Rappaport
& Axley (1984) relataram reduçã o na volatiliza çã o de NH3 de 42 para 5 % com a mistura
de KC1 à uréia em solu çã o. Posteriormente, Gameh et al. (1990) observaram reduçã o de
perdas de NH3 de 28 % com uréia para 14 % com uréia recoberta com KC1 e para 17 % em
solução de uréia com KC1, com misturas com rela çã o de aproximadamente 1:1 de uréia e
KC1. Os autores atribuíram a diminuiçã o das perdas de NH3 à acidifica çã o do solo
provocada pelo KC1 (Gameh et al ., 1990 ) . Efeitos dessa magnitude nã o foram mais
reproduzidos ( Kiehl, 1989b ). Pequenas redu ções na taxa de hidr ólise e nas perdas por
volatiliza çã o de NH3 sã o ocasionalmente relatadas ( Kong et al., 1991), mas os efeitos sã o,
em geral, pouco significativos. Por outro lado, Kong et al . (1991) observaram ligeiro
aumento na volatiliza çã o de NH3 em ima mistura de uréia com KC1 aplicada à cana sem
despalha a fogo na Austrá lia, dada a a lcalinidade presente no lote de KC1 utilizado ( pH
de 8,2 em solu çã o) . Portanto, a adiçã o de KC1 à uréia nã o parece uma alternativa segura
para o controle das perdas de NH3.
A mistura de uréia com outros fertilizantes nitrogenados permite reduzir as perdas
de NH3 por volatiliza çã o proporcionalmente à participa çã o, na formula çã o, dos
fertilizantes está veis em condições de solo á cido. Esses são os casos de misturas de uréia
com sulfato de am ónio ou com nitrato de amónio ( uran ) (Lara Cabezas et al., 1992; Costa
et al ., 2003; Vitti et al., 2005). Alguns e xperimentos tê m mostrado que a acidez do sulfato
de am ónio pode provocar reduçã o nas perdas de NH3 em propor çã o um pouco superior
à sua contribuiçã o com o N da mistura com a uréia ( Watson, 1988; Oenema & Velthof ,
1993); todavia, Villas Boas et al. ( 2005 concluíram que a mistura com sulfato de amónio
^
nã o provocou aumento na recuperaçã o do N da uréia por plantas de milho. No entanto,
as condições experimentais no estudo de Villas Boas et al. (2005) nã o foram favorá veis a
perdas de NH 3 por volatiliza çã o

FERTI L I D A D E DO SOLO
VII - NITROG é NIO 413

Perdas de Nitrogé nio Via Foliar

A concentra çã o de fundo de NH 3 na atmosfera é baixa , cerca de 2 gg m 3 d è NH3


'

(Lagreid et al., 1999 ). As plantas podem emitir NH3 para o ar ou absorvê-lo do ar . As


emissões de NH3 por plantas cultivadas sã o geralmente baixas (1 a 2 kg ha 1 ano 1 de N ),
'

mas podem atingir valores mais altos em algumas circunstâ ncias .


Alguma atençã o tem sido dada à possibilidade de perdas de N a partir das folhas,
seja por volatiliza çã o de am ónia em períodos ae pico de absor çã o de N pela planta,
estresse ou senescência foliar (Wetselaar & Farquhar, 1980), seja por gutação ou lixiviaçã o,
pela chuva, de compostos nitrogenados sol ú veis, presentes nos tecidos vegetais. As
evid ências dessas perdas sã o indiretas, pois sã o baseadas na diminuiçã o do conte ú do
de N na planta no final do ciclo, que indicam a ocorrência de perdas pela parte aé rea ou
transloca çã o do N para o solo por meio do sistema radicular . Vá rios estudos mostram
que o pico de ac ú mulo de N na planta ocorre bem antes do final do ciclo. Embora parte
do decr éscimo de ac úmulo do N nesta fase esteja relacionada com a queda de folhas e de
outras partes das plantas, nã o se podem descartar as perdas por volatiliza çã o de NH3
que acontecem quando a concentra çã o de NH3 na planta estiver acima daquela da
atmosfera, mecanismo conhecido como ponto de compensa çã o de NH3 (Farquhar et al.,
1980). Há v á rias situa ções em que pode ocorrer um aumento na concentra çã o de formas
amoniacais no interior das plantas, como as condições de estresse ( temperatura, á gua ou
outros ) e de senescência das folhas, quando há diminuiçã o da atividade das enzimas
responsá veis pela assimila çã o do am ónio (sintetases de glutamina e de glutamato).
Dados citados por Vallis & Keating (1994) indicam que o processo de senescência
foliar pode ser responsá vel pela perda de 5 % do N da planta de v á rias culturas. O
fornecimento de altas doses de fertilizantes nitrogenados ou o desequil íbrio com o
suprimento de S tamb é m podem provocar aumento na concentra çã o das formas
amoniacais. Existem poucos dados sobre a real magnitude dessas perdas. Perdas de N
pela folha, de 2 a 6 kg ha 1 ano 1, foram relatadas para culturas anuais de clima temperado
' '

( Holtan -Hartwig & Bockman, 1994) e de 45 a 71 kg ha 1 em milho ( Francis et al., 1993).


'

Para a cana-de-a çúcar, as estimativas variam de 1( 1 kg ha 1 de N ( Ng Kee Kwong & Deville,


'

1994; Prasertsak et al., 2002) a 90 kg ha 1 de N (Tri velin et al., 2002a ) . Os dados de perdas
'

de Trivelin et al. (2000a ) foram obtidos, indiretamente, com o uso do tra çador 15 N.
Por outro lado, se a concentra çã o de NH3 no ar estiver alta, o ponto de compensaçã o
de NH3 da planta pode ser negativo e'ocorrer absor çã o de NH3 da atmosfera (Farquhar et
al ., 1980 ) . Em condições naturais, o processo de absor çã o foliar de NH3 tem pouca
importâ ncia porque a concentra çã o desse gás na atmosfera é baixa. Poré m, plantas com
dosséis fechados, adubadas com fontes de N sujeitas à volatiliza çã o de NH3, podem
absorver parte do N perdido para o ar. Em flores tas adubadas com 15N-uréia, 8 a 19 % da
NH3 volatilizada foi recapturada por plantas colocadas a 10 e 150 cm acima do nível do
solo ( Nason et al., 1988). Na Austrália, Denmeac et al . (1993) mostraram que plantas de
cana -de-a çúcar com cerca de 70 a 80 cm de altu ra, tamanho suficiente para cobrir boa
parte da superf ície do solo ( índice de á rea foliar de 0 , 7 a 1,5 ) absorveram,
aproximadamente, 20 % da NH3 volatilizada após a aplica çã o de uréia ( Denmead et al.,

FERTILIDADE DO SOLO
414 HEITOR CANTARELLA

1993). Recentemente, no Brasil, um estudo com caf é adensado adubado com uréia marcada
com 15N mostrou que as plantas absorveram 43 % da NH3 volatilizada ( Fenilli, 2006 ). É
prová vel que absorçã o de NH3 da atmosfera em á reas adubadas com uréia seja pouco
expressiva em culturas com pequeno porte, espa çamento largo, dosséis abertos e condições
favor á veis à movimenta çã o do ar, vi$to que a NH3 tende a se dispersar rapidamente na
atmosfera .

Perdas de Nitrog énio em Solos Inundados


Solos inundados, como os utilizados para o cultivo do arroz, apresentam condições
prop ícias a intensas perdas de N por v á rios mecanismos, especialmente por
desnitrifica çã o e volatiliza çã o de NH 3

As perdas de N por desnitrifica çã o em solos inundados podem ser muito altas se


houver N03 disponível. Embora par ; :e do N- N03 possa ser reduzida a NH4+, absorvida
‘ '

por microrganismos ou incorporada a MOS, em condições de inunda çã o, a maior parte


do N03 desaparece em poucos dias Idependendo da desnitrifica çã o (Ponnamperuma,
1972; Patrick Jr ., 1982). Segundo Ponnamperuma (1972), em alguns casos, metade do
N03 pode ser desnitrificado em algumas horas. Isso se explica pelo fato de que a

inundaçã o desloca o ar do solo e o pouco 02 dissolvido na á gua é consumido rapidamente.


Na ausência de 02 e com o abaixamento do potencial de oxirredução, o N03 é o composto
"

presente no meio que é reduzido mais facilmente a N20 ou a N2 (Quadro 7). Após o
desaparecimento do N03 , os receptores de el é trons passam a ser o Mn( IV) e o Fe (III)
'

( Ponnamperuma , 1972; Patrick Jr., 1982) .


Concentra ções relativamente altas de N20 podem estar presentes na á gua de
inunda çã o ou nas á guas subsuperficiais. Plantas de arroz, cultivadas em solos
inundados, podem transportar NzO c issolvido na á gua para a atmosfera pela corrente
transpiratória . O mesmo pode ser feito por plantas cultivadas em condições de sequeiro,
como Chang et al. (1998) demonstrai am com cevada e canola . Portanto, medidas de
fluxo de N20 para a atmosfera, feita ; somente a partir da superf ície do solo, podem
subestimar as perdas desse gá s no ecossistema agrícola .
Em solos inundados, a forma preferida de N-fertilizante deve ser a amoniacal ou a
amídica, que sã o está veis em condições redutoras. Poré m, mesmo em solos inundados,
ocorre uma fina camada de solo oxidado, que pode variar de 1 mm a alguns centímetros,
na interface entre o solo e a á gua . Fertilizantes amoniacais aplicados sobre o solo ou
próximos da superf ície podem ser nitri ficados na camada oxidada. O NOs produzido se
move, por difusão, para a camada inferior, reduzida, onde é rapidamente desnitrificado
(Figura 5). Essa sequência de nitrifica çã o-desnitrifica çã o tem sido apontada como a
principal responsá vel por elevadas perdas de N, que podem variar de 20 a 50 % do N
amoniacal adicionado, segundo a revisã o de literatura realizada por Patrick Jr.(1982).
A incorpora çã o do fertilizante nitrogenado, na forma amoniacal ou amídica, deve
ser feita na camada reduzida do solo para aumentar a eficiência de uso do N (Mikkelsen
et al., 1978; Fillery & Vlek, 1986). Para facilitar a opera ção de incorporar ao solo do
fertilizante, foi desenvolvida a uréia supergrâ nulo (grâ nulos de 1 a 4 g) e supergrâ nulos

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 415

Quadro 7. Ordem de utiliza çã o de alguns compostos oxid á veis que servem como receptores
de elé trons em processos respirat órios no solo. Na ausência de 02, sã o utilizados os
compostos em ordem decrescente de Eh

Receptores de el é trons Eh

mV

o2 0,33
NO3 0, 22
'

Mn ( IV ) 0, 20
Fe ( III ) 0,12
so42- -0,15

Figura 5. Reações do nitrogé nio e processos diversos de perdas deste nutriente em sistemas
inundados.

de DAP e ureia + KC1, testados com bons resultados em v á rios países, especialmente na
Ásia, onde o enterrio da uréia supergrâ nulo mostrou-se capaz de reduzir as perdas de N
e de aumentar a absor ção do nutriente e a produçã o de gr ã os de arroz (Fillery & Vlek,
1986; Singh, 2005). Equipamentos rudimentares estã o disponíveis para a incorporaçã o
da uréia supergr â nulo em pequenas propriedades na Ásia.

FERTILIDADE DO SOLO
416 H EITOR CANTARELLA

A aplica çã o a lan ço de uréia sobre a á gua de inunda çã o na cultura de arroz pode


levar a perdas significativas de N por volatiliza çã o de NH3. Algas presentes na á gua de
inunda çã o consomem, durante o dia , o C02 dissolvido ao realizarem a fotossíntese e
podem provocar o aumento do pH da lâ mina de á gua . A noite, geralmente o pH da água
volta a cair. Mikkelsen et al. (1978) observaram que o pH da á gua atingiu 9,0, quando o
fertilizante (sulfato de amónio ) foi aplicado em solo com pH próximo da neutralidade e
as perdas de NH3 corresponderam a cerca de 20 % do N aplicado; poré m, em solo á cido,
onde as algas nã o se desenvolveram bem, o pH da á gua nã o passou de 7 e as perdas de
NH3 foram baixas. Portanto, a incorpora çã o do N permite reduzir as perdas por
desnitrifica çã o, volatiliza çã o de NH3 e por arraste de N pelas á guas de inunda çã o.

FONTES DE NITROG É NIO

Os principais adubos nitrogenados produzidos no mundo sã o sintetizados a partir


do 2 atmosf é rico e do H, o qual é obtido de combustíveis f ósseis, principalmente gás
N
natural e óleo, mas pode vir da hidrólise da á gua por meio de energia elé trica, uma fonte
pouco competitiva aos preços atuais. O processo de síntese da NH3 foi desenvolvido no
início do século 20 por Fritz Haber e Cari Bosh e marcou o início da agricultura moderna:
i
Ar G ás n itural

l/ 202 + N2 + CH4 + H20 2 NH3 + C02

Cerca de 1,2 a 1,8 % do consumo global de energia f óssil é para a produçã o de


fertilizantes nitrogenados (Lagreid et al., 1999).
A NH3 pode ser utilizada diretamente como fertilizante, na forma concentrada
(amónia anidra ) ou em soluçã o aquosa (aquamônia ). O ácido nítrico (HNOs) é produzido
a partir da oxida çã o da NH3 e ambos sã o maté rias-primas para vá rios fertilizantes. O
HN03 pode ser combinado com a NH3 e formar nitrato de am ónio ( NH4N03), ou com
carbonatos para produzir, por exemplo, nitrato de cá lcio [Ca ( N03)2]. A NH3 pode ser
neutralizada por outros ácidos e dar or gem ao sulfato de amónio [( NH4) 2SOJ ou fosfatos
de amónio do tipo DAP [( NH4)2HP04] ou MAP( NH4H2P04). Porém, o principal fertilizante
sólido utilizado no mundo, a ur éia [CO( NH2)2], é produzida a partir da rea çã o da NH3
com o principal subproduto de sua síntese, o C02, daí a grande vantagem do menor custo
de produçã o, além de nã o envolver rea ções com á cidos, que requerem materiais e
equipamentos especiais. Por essa razã o, a uréia é a primeira opçã o do ponto de vista
industrial e o fertilizante sólido com o menor custo por unidade de N.
No Brasil, os fertilizantes nitrogenados mais utilizados sã o a CO( NH2) 2, o NH4 N03
e o (NH4)2 S04 (Quadro 8).
A uréia contém 44 a 46 % de N, na forma amídica, a qual é hidrolisada rapidamente
no solo a amónio pela a çã o da enzima urease. A urease é comum na natureza e está
presente em microrganismos, plantas e animais.

FERTIUIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê N o 417

Quadro 8. Fertilizantes nitrogenados solú veis mais comuns

Teor de nutriente
Fertilizante Forma d o N
N P 2 O5 K 2O S

Ur é ia am ídica 45- 46
Nitrato d e a m ó nio amoniacal e n í trica 33
Sulfato d e a m ó nio amoniacal 21 23
Nitroc á lcio amoniacal e n í trica 21 a 28
DAP amoniacal 16 -18 -
42 48
MAP amoniacal 11 52
Am ó nia anidra amoniacal 82
Uran ; -
am í dica ( 50 % ) , 28-32
amoniacal ( 25 - » )e
-
n í trica ( 25 % )
Nitrato d e s ó d i o n í trica 16
Nitrato d e c á lcio n í trica 15-16
Nitrato d e pot á ssio n í trico 13 46
Nitrosulfato amoniacal e n í trica 26 15
Nitrofosfatos amoniacal e n í trica o u n í trica 1 3-26 6-34

Fonte: IFDC (1979); Raij et al . (1997).

Além do maior teor de N que outros adubos sólidos, o que barateia o transporte e a
aplica çã o, a ur éia tem baixa corrosividade, alta solubilidade e é prontamente absorvida
pelas plantas via foliar, em taxas 10 a 20 vezes superiores à s do elemento nas formas
iônicas ( IFDC, 1979; Gould et al., 1986).
A principal desvantagem da uréia é a possibilidade de perdas de N por volatilização
de NH3, especialmente quando o fertilizante é aplicado na superf ície do solo, assunto
tratado em outra seçã o. Outros aspectos negativos associados, em algumas situações, ao
uso da uréia sã o a fitoxidez do biureto ( NH2-CO-NH-CO-NH2) - um contaminante - e da
~
NH3 e do N02 , produtos de sua hidrólise e posterior nitrifica çã o parcial.
A presenç a de biureto, formado por decomposiçã o térmica da uréia durante a
fabrica çã o, pode ser prejudicial à s plantas. O biureto é fitotóxico e algumas culturas
apresentam maior sensibilidade à sua presença, como sã o os casos dos citros, caf é,
abacaxi, especialmente quando aplicados via folia r. Uréia com mais que 0,25 % de biureto
nã o deve ser utilizada em aspersões foliares nessas culturas, mas esse fertilizante, com
concentra ções maiores ( 2 a 10 %) de biureto, pode ser aplicado ao solo em culturas já
estabelecidas (Gould et al., 1986). Por outro lado, Smika & Smith (1957) observaram
sensível reduçã o na germina çã o de sementes de trigo em contato com a uréia ( 2,5 % de
biureto) ou plantadas em solo tratado com o produto com 5 % de biureto. Culturas
menos sensíveis toleram concentra ções de biureto até 3 % em uréia aplicada via foliar
(Kilmer & Englestad, 1973) e algumas essências florestais suportam altos teores de biureto

FERTILIDADE DO SOLO

!
418 HEITOR CANTARELLA

e até respondem positivamente à sua aplica çã o (Miller et al., 1988) . O conte údo de
biureto na ur éia produzida atualmente é, de modo geral, menor que 1 %; assim, a
contamina çã o com esse produto nã o é mais considerada um problema .
Em alguns casos, a eficiência da uréia pode ser afetada pela toxidez da amó nia . A
rá pida hidrólise da uréia no solo provoca acentuada eleva çã o do pH e aumento na
concentra çã o de NH3 em torno da regiã o adubada; nessas condições, a pressã o de vapor
de NH3 pode ser suficiente para causar efeitos tóxicos sobre a germinaçã o de sementes e
crescimento de plâ ntulas. O problema geralmente ocorre quando o adubo é aplicado
junto ou muito pr óximo da semente e pode ser contornado, mantendo-se ambos a uma
distâ ncia adequada (Gould at al., 1986 ). O problema pode ser contornado com a separação
da semente e do adubo, com o uso de doses moderadas de N na semeadura ou de inibidores
de urease (Grant & Bailey, 1999; Karamanos et al., 2004).
*

A uréia está sujeita a perdas por lixivia çã o por ser um composto de alta solubilidade
em á gua e n ã o-iônico, portanto, fraca mente adsorvido aos colóides do solo. A retençã o
da uréia no solo decorre da forma çã o de compostos com grupos carboxílicos da MOS e de
complexos com minerais de argila; com baixo valor de pH, a uréia pode ainda ser protonada
e se comportar como cá tion (Gould e t al., 1986 ) . A taxa de lixiviaçã o da ur éia, embora
alta, é pouco inferior à do N03 . Broadbent et al. (1958) observaram que as quantidades de
"

efluente necessá rias para lixiviar comp letamente a uréia em colunas de solo em laboratório
variaram de 0,72 a 0,79 cm de coluna d ? água por cm de solo argiloso e arenoso, respectiva-
mente. Os valores correspondentes para a lixiviaçã o de N03 foram de 0,61 e 0,65 cm cm 1.
’ '

A menos que chova intensamente nos dias subsequentes à aduba ção, a lixiviaçã o de
N na forma de uréia tem importâ ncia relativamente pequena, visto que este fertilizante é
normalmente hidrolisado em pouco 3 dias no solo, produzindo NH/, o qual é retido
pelas cargas negativas dos colóides do solo. Por outro lado, vá rios autores observaram
que o NH4+ proveniente da ur éia tende a ser nitrificado mais rapidamente do que o do
sulfato de amónio em virtude da elevaçã o do pH do meio durante a hidrólise (Gargantini
& Catani, 1957; Pang et al ., 1975, Mclnnes & Fillery, 1989; Silva & Valle, 2000). Assim, o
N da uréia é inicialmente móvel (como uréia ), depois se torna pouco móvel (como NH4+ )
~
e, finalmente, passa a uma forma bastante móvel ( N03 )
O nitrato de am ó nio (33 % de N ) contém metade do N na forma nítrica e metade
amoniacal. É o fertilizante mais empregado em diversos países do norte da Europa e o
segundo no Brasil, mas, como pode ser utilizado como explosivo, há restrições crescentes
no mundo todo ao seu uso. No Brasil, sua produçã o, transporte e estocagem sã o
controlados pelo governo; as restri çõ es sã o ainda maiores nos Estados Unidos da
América, de modo que muitas empresas de fertilizantes nã o mais utilizam esse adubo. É
pouco prová vel que novas f á bricas desse fertilizante sejam constru ídas; assim, a
participa çã o do nitrato de amónio no mercado deve ser decrescente.
Um fertilizante produzido a partir da adiçã o de calcá rio ao nitrato de amónio, o
nitrocá lcio, com 27 % de N, foi popular no Brasil no passado por suas qualidades f ísicas,
mas nã o está mais disponível no mercado brasileiro.
Outro fertilizante nitrogenado importante no mercado brasileiro é o sulfato de
amónio, que contém 21 % de N, mas o maior preço por unidade de N do que a uréia ou o

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê N 419

nitrato de am ónio e a baixa disponibilidade de adubo na forma granulada reduzem seu


apelo . A maior parte do sulfato de am ónio comercializado no mundo é subproduto da
produçã o de coprolactana , utilizada na fabrica çã o do ná ilon, ou das ind ústrias do a ço e
metal ú rgicas ( IFDC, 1979 ). Este fertilizante contem 23 % de S, baixa higroscopicidade e
boas propriedades f ísicas.
A amónia anidra ( NH3 com 82 % de N ), o mais barato dos fertilizantes nitrogenados,
ainda é muito utilizada nos Estados Unidos onde é transportada por v á rios Estados
americanos por meio de gasodutos. Por é m, a aplica çã o do fertilizante na forma de gás
pressurizado requer equipamentos especiais e os riscos envolvidos com seu transporte e
aplica çã o têm provocado a queda do consumo. A NH3 pode causar a morte por asfixia de
pessoas expostas a altas concentra ções do gás . Outros riscos associados ao uso da
am ó nia anidra sã o queimaduras e irrita çã o nos olhos e vias respiratórias, mesmo para
pessoas expostas a baixas concentra ções do produto. Como a amónia anidra é utilizada
na forma de um líquido volá til, ela deve ser injetada no solo a cerca de 15-25 cm abaixo
da superf ície. No Brasil, as soluções aquosas (aquamônia ), que contêm cerca de 20 % de
N, tê m sido preferidas à amó nia anidra, mas seu emprego é limitado a alguns setores da
agricultura , tais como usinas de cana -de- a ç ucar , onde a aquam ô nia é utilizada
isoladamente ou em suspensões com outros nutrientes. A aquamônia oferece mais
segurança de uso do que a am ónia anidra e nã o precisa ser armazenada em tanques
pressurizados, porém requer incorpora çã o ao solo e equipamentos especiais para
manuseio e aplicaçã o. Quando incorporadas ao solo, a amó nia anidra e a aquamônia
tê m eficiência compar á vel à de outras fontes de N ( Brinholi et al., 1980, 1981; Espironelo,
1987; Trivelin et al., 1995).
O fertilizante nitrogenado líquido mais comum é o uran, produzido a partir da
dissolu çã o de ur éia e de nitrato de am ónio em á gua . A soluçã o produzida com os dois
produtos tem concentra çã o de N superior à que pode ser obtida com a dissoluçã o de
qualquer um deles separadamente. Geralmente, a concentra çã o de N dos produtos
comerciais varia de 28 a 32 % de N e conté m cerca de metade do N na forma amídica .
Os fosfatos: monoamônio (MAP) e diamônio (DAP), contêm concentra ções de P
superiores às de N e sã o discutidos com mais detalhes entre os fertilizantes fosfatados
( veja capítulos VIII e XII ) .
Outros fertilizantes nitrogenados disponíveis no mercado brasileiro, mas de menor
expressã o comercial em virtude do pre ço mais elevado por unidade de N, incluem o
nitrato de sódio ( NaN03), o nitrato dg cá lcio [Ca ( N03) 2], o nitrato de potássio ( KN03), os
nitrofosfatos e misturas ( nitrato de amó nio + sulfato de amónio).
O nitrato de sódio (16 % N) é um produto de origem natural, de depósitos localizados
no Chile e, em menor quantidade, em países da África, Austr ália e México (IFDC, 1979 ).
Este foi o principal fertilizante nitrogenado antes do advento dos fertilizantes
sint é ticos. Tem reaçã o alcalina , ao contrá rio da maioria dos fertilizantes nitrogenados
(Quadro 8), mas a baixa concentraçã o de N, a presença de Na e o custo relativamente alto
fazem com que esse fertilizante tenha , atualment e, um mercado restrito.
O nitrato de cálcio (15-16 % N e 19 % de Ca ) é produzido principalmente na Europa
pela rea çã o do á cido nítrico com carbonato de cálcio ou como produto da fabrica ção de

FERTILIDADE DO SOLO
420 HEITOR CANTARELLA

nitrofosfato. É uma fonte de N vantajosa para uso em solos salinos ou para culturas que
têm grande demanda por Ca, o qual se apresenta em forma altamente sol úvel neste
fertilizante. O principal inconveniente do nitrato de cálcio é sua alta higroscopicidade.
Os nitrofosfatos sã o produzidos pelo tratamento de rochas fosfatadas com á cido
n ítrico, resultando em á cido fosf órico e nitrato de cá lcio. Existem v á rios processos para
a separa çã o desses produtos, originando fertilizantes com diferentes relações N:P2Os (de
0,75:1 a 3:1); o N normalmente está na forma de nitrato de amónio ou nitrato de cálcio, os
quais também podem ser parcialmente separados como subprodutos ((IFDC, 1979 ).
Embora o N esteja em formas sol ú veis, parte do P pode estar na forma de fosfato bicá lcico,
de baixa solubilidade em á gua .
A maior parte dos fertilizantes nitrogenados comumente utilizados na agricultura
(Quadro 9 ) sã o sol ú veis em á gua e tê m o N prontamente dispon ível para os vegetais.
Assim, a eficiência desses compostos como fonte de N tende a ser semelhante. No entanto,
diferenças de comportamento podem ocorrer por causa de mecanismos de perdas,
presença ou intera çã o com outros nutrientes, ou acidificaçã o do solo. Tanto o N03~
quanto o NH4+ sã o absorvidos pelas ra ízes das plantas. O N03 nã o é retido no solo e é
"

mais sujeito a perdas por lixivia çã o. Assim, fertilizantes que contêm esse â nion podem,
teoricamente, ser mais susceptíveis a perdas por lixivia çã o. No entanto, em solos em
condições aeróbias e altas temperaturas - típicas de per íodos em que as culturas sã o
adubadas, o N amoniacal é oxidado a N03 em um intervalo de tempo relativamente

curto, de 15 a 30 dias. Desse modo, em curto prazo, mesmo solos adubados com N
amoniacal tendem a ter o N predominantemente na forma de N03 . Portanto, em muitas '

situa ções, a vantagem com rela çã o h lixivia çã o de fertilizantes com N amoniacal em


relaçã o à queles que têm N na forma nítrica pode ser muito pequena e transitó ria .

Quadro 9. Equivalente de acidez (-) ou à lcalinidade ( + ) dos fertilizantes nitrogenados

Equivalente de CaCCh
Fertilizante
por kg de N por t do produto

kg
Am ó nia anidra -1 , 80 -1.480
Ur é ia -1, 80 - 790
Sulfato de am ó nio -5 , 35 1.070
MAP - 5 , 00 - 450

Nitrato de am ó nio -1,80 -580


Nitrocá lcio 0 0
Nitrato de cá lcio + 1 , 35 +190
Nitrato de só dio +1 ,80 + 270
Nitrato de pot á ssio + 2, 00 + 260

Fonte : Raij et al . (1997); IFDC (1979 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 421

Alguns autores verificaram que o fornecimento de N à s plantas nas formas de NH4+


e de N 03 conjuntamente, em compara çã o cora a nutri çã o apenas com 03 , pode Jxf ’

aumentar o rendimento de v á rias culturas (Sipiciklas & Below, 1992; Below, 1995;
Wiesler, 1998), em um sistema denominado "suprimento de amónio refor çado" ou
"nutriçã o mista de N". Below (1995) mostrou aumentos em torno de 10 a 14 % no
rendimento de gr ã os de milho com o sistema de nutriçã o mista em um ensaio com
hidroponia em campo, no qual foi possível controlar o suprimento de NH4+, e Smiciklas
& Below (1992) conseguiram aumentos de 6 a 10 % com alguns híbridos de milho em
condi ções de campo usando adubos com N amoniacal tratado com inibidor de
nitrificaçã o. Em todos os casos, houve aumento do número de grã os por planta decorrente
da menor taxa de aborto dos gr ã os da ponta da espiga ( Below, 2000) . Wiesler (1998)
revisou v á rios textos publicados sobre o assunt o e observou que o efeito da nutriçã o
mista é mais facilmente observado em estudos em condições de hidroponia, mas os
trabalhos feitos em campo produzem resultados mais variá veis, inclusive com casos de
decr éscimos moderados de rendimento de grã os. Uma das razões é a dificuldade de
manter o N-NH4 + no solo por longos per íodos g ra ças à r á pida nitrifica çã o, mesmo em
casos em que inibidores de nitrifica çã o sã o usados ( Wiesler, 1998). Portanto, do ponto
de vista prá tico, é dif ícil obter vantagem do uso de fontes amoniacais com base no conceito
de nutriçã o mista .
O potencial de acidifica çã o do solo pelos fertilizantes nitrogenados amoniacais
(Quadro 9) também pode levar a diferenças de eficiência entre fontes. O risco maior é para
culturas que recebem altas doses de N em adubaçõ 2S localizadas, como é o caso de culturas
perenes. Moraes et al. (1976) observaram que o DH original de um solo cultivado com
caf é abaixou de 6,2 para 4,3 ou 4,4 na camada superficial (0-8 cm) com o uso de 150 kg ha 1 '

de N anualmente, por 12 anos, nas formas de uréia ou de sulfato de amónio. As parcelas


tratadas com nitrocálcio e com nitrato de sódio apresentaram valores de pH de 5,0 e 5,8,
respectivamente (Moraes et al., 1976 ) . Nesse estudo, um solo eutr ófico e argiloso passou
a apresentar teores tóxicos de Al 3+, quando adubado com as fontes mais acidificantes de
N. A saturaçã o por bases do solo de um pomar cie citros diminuiu de 77 %, na parcela -
testemunha, para 24 % após cinco anos, na á rea tratada com 240 kg ha 1 ano 1 de N na
' '

forma de nitrato de amónio (Cantarella et al., 2003b ). No entanto, a acidificaçã o do solo


com fertilizantes amoniacais pode ser facilmente evitada com a aplicaçã o de calcá rio e
monitoramento da fertilidade do solo por meio de análises periódicas.
Um aspecto importante para a escolha do fertilizante é a possibilidade de perda de
N por volatilizaçã o de NH3 por ser a maior parte do N no Brasil aplicada sobre o solo em
aduba ções de cobertura nos cultivos anuais, ou em aduba ções parceladas em culturas
perenes. Adubos com N na forma nítrica nã o sã o recomendados para aplica çã o em solos
inundados, como os utilizados no cultivo de arroz, em decorrência de perdas de N por
desnitrificaçã o, como já discutido.

Adutos de Uré ia e Adi ção de Produtos Acidificantes


Redu ções nas perdas por volatiliza çã o de NH3 de uréia aplicada ao solo têm sido
conseguidas com a adiçã o de compostos acidificantes. As substâ ncias utilizadas incluem

FERTILIDADE DO SOLO
422 3 EIT0 R CANTARELLA

o á cido fosf órico ( Bremner & Douglas, 1971; Nommik, 1973), á cido bó rico ( Nommik,
1973) cloreto de am ónio (Watkins et al ., 1972) e nitrato de amónio ( Volk, 1959 ). Sulfato
de cá lcio, sulfato de cobre, á cido metafosf ó rico e S sublimado falharam em reduzir as
perdas por volatiliza çã o com grâ nulos grandes de ureia (Volk, 1959; Nommik, 1973).
Outra alternativa é representada pelos adutos de ur éia ("adducts: addition
products"). Alguns exemplos sã o apresentados abaixo (Mikkelsen & Bock, 1988).

uréia fosfato C0( NH2) 2.H3P04


uréia nitrato C0( NH2) 2.HN03
uréia sulfato C0( NH2) 2.H2S04
uréia nitrat 3 de cálcio C0( NH2) 2.Ca ( N03)
uréia sulfat D de cá lcio C0( NH2) 2.CaS04

O aduto que tem despertado maior interesse é a uréia fosfato ( UP), produzido pela
combinaçã o de 1 mol de uréia e 1 mo! de H3P04, para formar um cristal com 17,7 % de N
e 19,6 % de P, o qual pode ser manipulado com segurança como um fertilizante sólido.
Ambos, a uréia e o á cido fosf órico, retêm suas composições qu ímicas originais e, quando
o aduto é dissolvido em á gua, dissociam-se prontamente (Mikkelsen & Bock, 1988). A
UP pode ser co-granulada com uréia em diferentes proporções e dar origem à uréia -uréia
fosfato ( UUP) com relações N:P variando de 0,9:1 até 7:1. Outro produto de interesse é a
uréia sulfato, um aduto líquido que nã o apresenta a corrosividade e risco de uso do
á cido sulf ú rico concentrado (Mikkelsen & Bock, 1988) .
As principais vantagens da UP (e dos demais adutos de reaçã o á cida ) sã o a reduçã o
da taxa de hidrólise da uréia resultante talvez da acidez ( Bremner & Douglas, 1971) e a
diminuiçã o das perdas por volatiliza çã o de NH3.
O controle das perdas de NH3 nem sempre é completo por ser a taxa de difusã o da
uréia no solo cerca de 100 a 10.000 vezes maior que a do fosfato, o que pode fazer com que
parte da uréia se difunda para fora da região á cida (Mikkelsen & Bock, 1988). No entanto,
ao redor do fertilizante, a acidez retarda a hidrólise da ur éia e reduz as perdas de NH3.
V á rios trabalhos têm demonstrado, em laborató rio e em campo, os efeitos da UP e
UUP na diminuiçã o das perdas por volatiliza çã o de NH3 e no aumento das produções e
eficiência de uso do N em compara ção com a uréia ( Bremner & Douglas, 1971; Urban et
al., 1987; Bundy & Oberle, 1988; Mikkelsen & Bock, 1988). As perdas de NH3 são reduzidas
pela metade ou menos (Urban et al., 1987; Hargrove, 1988b ) . Os resultados obtidos por
Urban et al. (1987) demonstram que a UUP pode apresentar vantagens em relação a uréia
também em solo coberto com resíduos vegetais, em plantio direto.

Fertilizantes de Liberação Lenta ou Controlada


De modo geral, as perdas de N para o ambiente, com o consequente menor
aproveitamento do N pelas culturas, estã o associadas à concentraçã o, na soluçã o do

FERT LIDADE DO SOLO


VII - NITROGEN 423

solo, de formas sol úveis de N em geral, ou das formas mais susceptíveis a perdas. Uma
das maneiras de aumentar a eficiência de aproveitamento dos fertilizantes nitrogenados
é o uso de fertilizantes de libera çã o lenta ou controlada ou com inibidores para evitar a
r á pida transforma çã o do N contido no fertilizante em formas de N menos está veis em
determinados ambientes . Recentemente ( Hall, 2005), foi adotada pela Associa çã o
Americana de Agentes para o Controle de Nutrientes de Plantas ( AAPFCO, na sigla em
inglês ) uma nomenclatura para definir e classificar os fertilizantes com características
especiais, ou "Fertilizantes com Eficiência Aumer .tada (Enhanced -Efficiency Fertilizers).
Esses sã o formados por: (a ) "Fertilizantes de libera çã o lenta", em rela çã o a uma fonte
sol ú vel de refer ência, e incluem fertilizantes recobertos, encapsulados, insol ú veis em
á gua ou lentamente sol ú veis em á gua; e (b ) "Fertilizantes estabilizados", que contêm
aditivos para aumentar o tempo de disponibilidade no solo, tais como inibidores de
nitrifica çã o, inibidores de urease ou outros aditivos.
Há dois grupos importantes de fertilizantes classificados como de libera çã o lenta
ou controlada . Um deles é formado por compostos de condensa çã o de ureia e ur éia
formaldeídos (de baixa solubilidade e, portanto, de libera çã o lenta do N ); o segundo, de
produtos encapsulados ou recobertos, ou de libera ção controlada. De menor importâ ncia
sã o as uréias supergrâ nulos ( gr â nulos de 1 a 4 g ) e outros produtos (Trenkel, 1997).
Dentre os produtos de condensa çã o de uréia è uréia formaldeídos, ou uréia metileno,
três têm participação importante no mercado: uréia formaldeído ( UF), uréia isobutilaldeído
(IBDU) e uréia crotonaldeído (CDU). A solubilida de desta classe de fertilizantes depende
do tamanho da cadeia e da natureza do composto . Os produtos comerciais consistem de
misturas de polímeros com fra ções sol úveis em água fria, em á gua quente e insolú veis em
á gua . No solo, estes compostos sofrem degrada çã o química e biológica, liberando o N
gradualmente às plantas (Hauck & Koshino, 1971; Allen, 1984) . Essa classe de produtos
representava cerca de 40 % do mercado mundial de produtos de liberaçã o lenta (Trenkel,
1997) mas, atualmente, há uma tend ência clara para o aumento do uso de fertilizantes
recobertos, que já sã o responsá veis por cerca de 70 a 75 % do mercado desse grupo de
fertilizantes (Shaviv, 2005).
A UF, com cerca de 38 % de N, é o composto mais importante entre produtos de
condensa çã o de ur éia e é comercializada por v á rias empresas no mundo. A UF é
produzida pela rea çã o de uréia e formaldeído e lesulta em uma mistura com diferentes
tamanhos de cadeia de polímeros de uréia metileno, dependendo das condições de síntese.

O O
(H2N - C - NH - CH2 - N H - C - NH2) n

As UF sã o caracterizadas de acordo com a solubilidade em á gua fria (25 °C) e quente


(100 °C ). A fra çã o sol ú vel em á gua fria é composta de resíduos de uréia nã o reagida
(geralmente menos do que 15 % do N total ), prontamente disponíveis às plantas, e de
compostos de condensa çã o de cadeia curta ( uréia metileno, dimetileno triuréia e outros
compostos sol ú veis em á gua ), mas de liberaçã o relativamente lenta, dependendo da
temperatura do solo. A fra çã o sol úvel em á gua c uente conté m compostos de tamanhos
de cadeia intermediá ria e de solubilidade lenta, 1: berados em médio prazo ( três a quatro

FERTILIDADE DO SOLO
424 HEITOR CANTARELLA

meses), enquanto as insol ú veis em á gua quente sã o de cadeia longa e de disponibilidade


extremamente lenta ou virtualmente indisponíveis. A disponibilidade do N da UF é
controlada principalmente pela atividade de microrganismos do solo e aumenta com o
aumento da temperatura e da umidade do solo. O desafio na fabricaçã o de UF é produzir
uma mistura de polímeros na propo rçã o desejada para liberar N conforme a necessidade
da cultura e da condiçã o de solo para a qual o adubo é direcionado. A UF apresenta boa
compatibilidade com a maioria das culturas e nã o causa danos à germina çã o gra ças à
sua solubilidade lenta .
O IBDU, que contém 32 % de N , é produzido a partir da rea çã o de condensa çã o do
isobutilaldeído com a uréia, resultando em um ú nico oligô mero, ao contrá rio dos produtos
de condensa çã o de uréia e aldeídos (Trenkel, 1997). Para comercializa çã o, o produto
-
deve conter um mínimo de 30 % de N, dos quais 90 % devem ser insol úveis em á gua fria,
antes da moagem . O mecanismo d 2 libera çã o é a hidr ólise qu ímica gradual do IBDU
produzindo ur éia . A taxa de libera çã o de N depende, principalmente, do tamanho da
partícula do fertilizante (quanto menor a partícula mais rá pida é a liberação), da umidade,
da temperatura e do pH do solo (libera çã o mais lenta em solos á cidos) .
O CDU é sintetizado pela rea çã o da uréia e de aldeído acé tico . Tal qual o IBDU, a
granulometria do fertilizante é importante para controlar a liberaçã o do N do CDU.
Quando hidrolisado, o CDU produz ur éia e crotonaldeído. A decomposiçã o do CDU se
dá por hidrólise, química principalmente, e pela a çã o de microrganismos do solo, sendo
afetada pela temperatura e pH do solo. O desempenho agronómico do CDU é semelhante
ao do IBDU.
O comportamento agronó mico dos polímeros de uréia -aldeído tem sido estudado
por v á rios autores ( Allen, 1984; Gould et al., 1986). De modo geral, esses fertilizantes
apresentam desempenho superior às fontes sol úveis nas situa ções em que o fornecimento
gradual de N às culturas é vantajoso , incluindo culturas perenes, gramados, pastagens,
etc. As formas UF, IBDU e CDU sã o comercializadas em v á rios países.
Há grande quantidade de fertilizantes nitrogenados cuja libera çã o é retardada por
recobrimentos ou encapsulamento ccm diversos materiais. Os fertilizantes mais comuns
dessa classe s ã o formados por gr â nulos recobertos com pol í meros orgâ nicos
termoplásticos ou resinas, ou com materiais inorgâ nicos, tal como S elementar (Shaviv,
2005). Menos comuns sã o os fertilizantes em que o nutriente é disperso em matrizes
feitas com materiais hidrof óbicos, como borracha e poliolefinas, ou hidrof ílicos, os quais
reduzem a taxa de dissoluçã o do fert lizante e sua consequente libera çã o para o solo. Os
fertilizantes recobertos ou encapsulados nã o se restringem apenas aos nitrogenados,
visto que há diversas formula ções que contêm um ou mais nutrientes no interior do
grâ nulo. Porém, em virtude da maior mobilidade e possibilidades de perdas de N no
solo, o controle da liberaçã o desse nutriente é o alvo da maioria dos produtos de liberação
lenta .
O produto mais antigo da classe dos materiais recobertos é a uréia recoberta com S
( UCS), manufaturado comercialmente h á quase 30 anos (Shaviv , 2005). Gr â nulos de
uréia sã o revestidos com S elementar fundido a cerca de 156 °C, em seguida com uma
cera, a qual serve de selante para recobrir fendas no revestimento de S e, por fim, uma

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê MIO 425

camada de um condicionador, geralmente atapr lgita . O produto final contém entre 32 e


42 % de N e 6 e 30 % de S (Trenkel, 1997). Uma vantagem da UCS é que o principal
material usado no recobrimento é um nutriente de plantas e de baixo custo . A UCS é o
fertilizante de libera çã o lenta mais barato do mercado, tendo o custo do N cerca de
apenas duas a tr ês vezes o do N da ureia .
O padrã o de liberaçã o do N desses fertilizantes depende da espessura e da qualidade
do recobrimento . A uréia passa do interior dos gr â nulos para o solo por microporos,
fendas ou imperfeições dos gr â nulos ou após a degrada çã o microbiana da cobertura de
S. Os gr â nulos imperfeitos liberam N imediatamente, ao passo que os com cobertura
intacta o far ã o gradualmente, dependendo da espessura do recobrimento. A taxa de
libera çã o do N da UCS é normalmente definida por um teste desenvolvido pelo TVA (1)
que indica a percentagem de dissolu çã o no solo que ocorre em um período de sete dias
(Trenkel, 1997). A UCS é comercializada com diferentes graus de velocidade de liberação
de N. Por exemplo, o produto classificado como SCU-30 deve liberar 30 % do N em sete
dias, sob determinadas condições. Há relatos de que o teste de libera çã o de N nem
sempre apresenta boa rela çã o com o que ocorre em condições de campo (Trenkel, 1997).
Dados de in ú meros ensaios, compilados oor Allen (1984) e Gould et al. (1986),
mostram que a UCS tem apresentado bons resu tados com culturas perenes, pastagens,
'

gramados, milho, arroz, etc. Porém, em algumas situações, aparentemente o emprego de


UCS nã o apresenta vantagens em relaçã o à uréia comum, como observaram Machado &
Magalhã es (1973) e Magalh ã es (1976 ) com as culturas do trigo e arroz no Brasil. Grove
et al . (1980 ) concluíram que a UCS foi inferior à ur éia em milho cultivado no Cerrado.
Resultados como esses podem ser esperados em culturas com grande demanda de N em
curto período de tempo; em outros casos, imperfeições no recobrimento da UCS devido a
excesso de manipulaçã o ou defeito na fabrica çã o, inviabilizam a liberaçã o lenta da uréia
(Gould et al., 1986; Trenkel, 1997; Shaviv, 2005) ,

Fertilizantes com um padrã o de libera çã o de N mais sofisticado surgiram com o


advento de novos materiais de cobertura, especialmente as resinas e os polímeros
termoplásticos (Shaviv, 2005). Ao contrá rio do que ocorre com os produtos de condensação
de uréia e com a UCS, a libera ção de N dos fertilizantes recobertos com polímeros é pouco
afetada por caracter ísticas do solo, tais como : pH, textura, salinidade, potencial de
oxirredu çã o e atividade microbiana , mas depende da temperatura do solo e da
permeabilidade à á gua do material de recobrimento (Hauck, 1985; Trenkel, 1997).
Geralmente, o modo de liberação envolve a difusã o do fertilizante solúvel do interior
do grâ nulo para o solo. A á gua penetra por microporos através do material de cobertura,
aumenta a pressã o osmó tica no interior do gr â nulo, a qual provoca o esticamento da
membrana de cobertura e o aumento do tamanho dos poros, facilitando a difusã o do
fertilizante para o solo. Há muitas empresas que produzem fertilizantes de liberação
lenta, o primeiro dos quais foi lançado em 1967, na Calif ó rnia, EUA (Shaviv, 2005). Uma
listagem dos principais fabricantes é apresentada por Trenkel (1997). A técnica de

(1 )
Tenessee Valley Authority, Muscle Shoals, Alabama, EUA ,

FERTILIDADE DQ SOLO
426 MEITOR CANTARELLA

recobrimento varia conforme o fabricante e é possível regular a taxa de libera ção alterando
a espessura e composiçã o do matéria utilizado. Por exemplo, há disponível no mercado
ureias recobertas com resina termoplá stica que liberam 80 % do N de 70 a 400 dias ( 2),
dependendo da propor çã o de acetato de vinil etileno ( com alta permeabilidade à
á gua ) e de polietileno (com baixa permeabilidade à água ), que podem ser recomendadas
para culturas com diferentes exigências e per íodos de absorçã o do nutriente (Trenkel,
1997) .
Apesar do potencial dos fertilizantes de libera çã o lenta para aumentar a eficiência
de aproveitamento de fertilizantes n: trogenados, o uso de tais produtos é limitado pelo
alto custo em compara çã o com o dos fertilizantes tradicionais . A uréia recoberta com S,
provavelmente o produto com menor diferencial de preço, como já foi dito, tem o preço de
N em torno de duas vezes mais caro do que o da uréiá comum; o custo de outros fertilizantes
nitrogenados de libera çã o lenta varia de 2,4 a 10 vezes por unidade de N (Trenkel, 1997;
Shaviv, 2005). Com isso, esses fertilizantes têm sido empregados em nichos de mercado,
tais como: viveiros de mudas, campos de golfe e jardinagem. Estima -se que apenas 8 a
10 % dos adubos de libera çã o lenta sejam utilizados na agricultura na Europa (Lammel,
2005; Shaviv, 2005 ) e, em 2003, correspondiam a apenas 0,25 % do total de N de
fertilizantes químicos comercializados no mundo, ou 1,1 % do total nos Estados Unidos
(Hall, 2005).

Fertilizantes Estabilizados

Há duas classes principais de fertilizantes estabilizados de importâ ncia no mercado


atual: os tratados com inibidores: (a ) de nitrifica çã o e (b ) de urease, além de produtos que
contêm ambos.
Os inibidores de nitrificaçã o diminuem a taxa de nitrifica çã o ao interferir com a
atividade de bacté rias do grupo das Nitrosomonas , bloqueando a transformação do NH3
em N02 e, assim, preservando, por algum tempo, o N na forma amoniacal, menos sujeito
a perdas por lixivia çã o.
Há grande n ú mero de compcstos comprovadamente capazes de retardar a
nitrifica çã o (Quadro 10) mas poucos tê m se mostrado agronómica e economicamente
efetivos e sã o comercializados com sucesso; dentre eles se destacam: a nitrapirina, a
dicianodiamida (DCD) e, mais recentemente, o fosfato de 3,4-dimetilpirazole ( DMPP). O
3-metilpirazole (3MP) é també m utilizado juntamente com o DCD em algumas formulações
comerciais.
A nitrapirina é o inibidor comercializado há mais tempo nos EUA. O composto tem
toxidez relativamente baixa e efeito bastante seletivo sobre as Nitrosomonas , mas, além de
diminuir e inibir a atividade dessas bacté rias, apresenta também efeito bactericida, ou
seja, mata parte da popula ção de Nitrosomonas (Trenkel, 1997). O inibidor é recomendado

( 2)
Meister, produzido pela Chisso- Asahi Fert. Co . Ltd . Japã o.

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 427

Quadro 10 . Lista de alguns inibidores de nitrifica çã o patenteados

Nome qu í mico Nome comum Inibi çã o em 14 dias

2- cloro -6 - ( tricIorometil ) piridina Nitrapirina 82


Fosfato de 3, 4 - dimetilpirazole DMPP
Dicianodiamida DCD 53
4 - amino -l , 2 4 -6 triazole . HCI
/ ATC 78
2 4 - diamino -6- triclorometiltriazina
/ CL -1580 65
Tiur é ia TU 41
l - mercapto -l - triazole
^^
5- etoxi -3- tnclorometil -l ,2,4- triadiazoIe
MT
Terrazole
32

3- mitiIpirazole 3 MP
Tiosulfato de am ó nio TSA

Fonte : Adaptado de Trenkel (1997) e Frye ( 2005 ) .

para uso com fertilizantes nitrogenados amoniacais, tais como: am ónia anidra, uréia ,
sulfato de am ó nio, uran, nitrato de am ó nio e estercos animais. A taxa de aplica çã o é
relativamente baixa e varia de 0,4 a 1,4 kg ha 1 do ingrediente ativo.
'

A nitrapirina tem alta pressão de vapor e tende a volatilizar. Assim, a recomendaçã o


é para que o produto seja incorporado ao solo juntamente com o fertilizante, em faixas ou
sulcos com 5-10 cm de profundidade, o que tèm restringido a comercializa çã o desse
inibidor fora dos Estados Unidos. Dados obtidos em Kentucky mostraram que a
nitrapirina foi eficiente também quando adicionada à uréia ou ao nitrato de amónio e
i
aplicada na superf ície em milho em plantio direto (Frye, 2005). Poré m, o fabricante
recomenda a incorporaçã o do produto ao solo.
A nitrapirina é degradada no solo por proces sos químicos e biológicos. Normalmente,
a decomposiçã o do inibidor se d á em até 30 dias ou menos em solos com temperatura
ideal para o crescimento e desenvolvimento de plantas. O efeito inibidor da nitrapirina
geralmente se manifesta por seis a oito semanas. Em épocas mais frias ou solos congelados,
o inibidor tem-se mostrado bastante persistente, razã o por que é indicado, em climas
temperados, para as adubações feitas no outonoL antes do congelamento do solo, visando
à cultura do verã o seguinte. Nessas condições , o per íodo de inibiçã o pode se estender
até 30 semanas (Trenkel, 1997). Esse autor resume dados da literatura mostrando efeitos
positivos do uso da nitrapirina em v á rios ensaios de campo .
O DCD é um inibidor de nitrifica çã o comercializado em vá rios países, em diferentes
formulações comerciais produzidas por diversas empresas. Trata -se de uma amida
(C2N 4H 4) que, alé m de inibir a nitrifica çã o, é també m um fertilizante nitrogenado de
liberaçã o lenta, com pelo menos 65 % de N. Tem també m v á rios outros usos industriais
(Trenkel, 1997). O DCD se apresenta como um pó cristalino, nã o-higroscópico, de baixa
solubilidade em á gua e facilmente incorporado a fertilizantes sólidos, líquidos ou

FERTILIDADE DO SOLO
428 HEITOR CANTARELLA

soluções. Como o DCD nã o está sujeito à volatilizaçã o como a nitrapirina, os fertilizantes


que o contê m podem ser aplicados n a superf ície do solo, inclusive em á reas sob plantio
direto. E decomposto no solo por processos qu ímicos e biológicos, produzindo ureia
(Frye, 2005) .
O DCD é um produto de baixíssima toxidez, sem efeito carcinogênico ou mutagênico,
sendo considerado praticamente n ã o - t ó xico ( Trenkel, 1997 ). Tem efeito apenas
bacteriost á tico sobre as Nitrosomonns , nã o tem efeito significativo sobre a biomassa
microbiana ( Di & Cameron, 2004) e seu efeito inibidor de nitrifica çã o se manifesta por
seis a oito semanas, dependendo da temperatura e umidade do solo. O DCD é menos
eficiente do que a nitrapirina e requer doses maiores de aplica çã o. Formula ções de
fertilizantes amoniacais que contêm o inibidor geralmente apresentam 5 a 10 % do N total
na forma de DCD (Trenkel, 1997) . As doses de DCD utilizadas juntamente com urina de
gado (700 a 1.000 kg ha 1 de N ) em estudos de pastagem em Nova Zelâ ndia variaram de
'

5 a 25 kg ha 1 ( Di & Cameron, 2004, 2005; Cookson & Cornforth, 2002) e mostraram -se
'

capazes de reduzir as perdas por lixivia çã o de N03 . Embora exigido em doses maiores
"

do que a nitrapirina para apresentar efeito inibidor de nitrifica çã o, o DCD é um produto


relativamente barato, comparado cora outros compostos para a mesma finalidade.
O DMPP é um inibidor desenvolvido recentemente, mas já comercializado em
diversos pa íses na Europa e, em pequ ena escala, no Brasil. Dados de pesquisa mostram
que esse composto é bastante eficiente para inibir a nitrifica çã o, mesmo quando aplicado
em baixas doses (0,5 a 1,5 kg ha 1), mostra baixa toxidez e é bem tolerado pelas plantas
'

( Zerulla et al., 2001). Macadam et c l. (2003) observaram que o DMPP nã o produziu


efeitos fitotóxicos em trevo branco e: n pastagens, ao contr á rio do DCD, que reduziu a
produ çã o de matéria seca dessa piar ta . Esse efeito do DCD, no entanto, nã o tem sido
comumente relatado na literatura . Ambos os inibidores foram eficientes em manter o N
na forma amoniacal no solo.
O DMPP é facilmente incorporado a fertilizantes granulados (Frey, 2005) e tem maior
efeito residual do que o DCD (Weiske et al., 2001) . O DMPP reduz a transforma ção do
NH4+ a N02 por quatro a dez semanas em clima temperado, permitindo, assim, reduzir

as perdas de N por lixivia çã o de N03 ( Zerulla et al ., 2001) . O DMPP tende a ser


adsorvido à fra çã o argila do solo ( Barth et al., 2001) e, por apresentar baixa mobilidade
no solo, tende a permanecer na regi ã o de aplica çã o e n ã o está sujeito à lixivia çã o
( Zerulla et al., 2001). Azam et al. ( 20 11) observaram, em condições de laboratório, que,
após dez dias de incuba çã o, 80 % do DMPP permaneceu em um raio de, no m á ximo,
5 mm da zona de aplicação, ao passo que o N amoniacal do fertilizante se difunde mais
rapidamente no solo. A eficiê ncia db DMPP é maior em solos arenosos, mas, se, por
um lado, a adsor çã o do DMPP aos colóides minerais do solo reduz seu efeito em curto
prazo, por outro, pode aumentar seu efeito residual por diminuir a taxa de degradaçã o
microbiana ( Barth et al., 2001).
Vá rios autores têm mostrado que a adiçã o de DCD ou de DMPP a fertilizantes
nitrogenados ou adubos orgâ nicos pe de reduzir substancialmente a emissão de N 20 do
solo (Linzmeier et al., 2001; Zerulla et al., 2001; Macadam et al., 2003; Boeckx et al., 2005).
Weiske et al. (2001) observaram maioi reduçã o na produçã o de N20 com o uso do DMPP

FERT :: LIDADE DO SOLO


VII - NITROG é NIO 429

do que com DCD . O efeito do inibidor de nidifica çã o se manifesta tanto por inibir a
oxida çã o da NH4 + a N02 , um processo que gera N20 em condições aeróbias, quanto por

diminuir a produ çã o de N03 , sujeito à desnitrifica çã o em solos encharcados ou em


sítios anaer óbios em solos bem drenados. No entanto, é pouco prov á vel que a reduçã o
da emissã o de NzO venha a promover o uso de inibidores de nitrifica çã o por parte de
agricultores em decorr ê ncia do custo adicional do fertilizante tratado com esses
produtos .
Alguns produtos naturais têm sido utilizados com o objetivo de retardar a nitrificação
de fertilizantes com N amoniacal . Recentemente, Patra et al. ( 2002) e Kiran & Patra
( 2002 ) observaram que óleo desmentolado de menta ( Mentha spicata ) e óleo de neem
( Azadirachta indica ) adicionados à ur éia provocaram a reduçã o da nitrifica çã o em ensaio
de campo com trigo e com menta japonesa ( Mentha arvensis ) de modo similar ou superior
ao observado com uréia tratada com DCD.
Embora esteja bem documentado na literatura que os inibidores de nitrificaçã o
conseguem manter o N na forma amoniacal por até quatro a seis semanas, reduzindo as
chances de perdas por lixivia çã o, muitos experimentos mostram que nem sempre esse
efeito se. traduz em ganhos de produtividade (Trenkel, 1997; Weiske et al ., 2001; Frye,
2005) . Aumentos de rendimento ocorrem apenas quando as condições ambientais nã o
levam a perdas de N por lixivia çã o ou desnitrifica çã o e a falta desse N resulte em
deficiência nutricional para a cultura . Isso, porém, pode nã o acontecer em condições de
mé dia ou baixa resposta ao nutriente ou em situa ções nas quais as doses aplicadas sã o
maiores do que as necessá rias ( Frye, 2005) .
A ausência de efeitos consistentes sobre a produtividade e o custo dos inibidores
sã o responsá veis pela utiliza çã o relativamente pequena desses produtos.
Há muitos anos, existe o interesse pelo uso de inibidores de urease para reduzir a
taxa ou velocidade de hidr ólise da uréia e, assim, reduzir as perdas de N por volatilização.
Informa ções sobre os primeiros produtos desenvolvidos para esse fim foram revisadas
por Radel et al. (1988) e, mais recentemente, por Watson ( 2000), incluindo a literatura
sobre o NBPT ( tiofosfato de N-n-butiltriamida ou N-n-butiltriamida do ácido tiofosf órico),
aparentemente o mais promissor composto desenvolvido até o momento.
Centenas de compostos, orgâ nicos e inorgâ nicos, têm sido testados como inibidores
de urease. Tabatabai (1977) observou que muitas metais inibiam a atividade da urease,
dentre eles Ag, Hg, Cd, Zn e Sn. Porém, esses produtos sã o relativamente pouco eficientes
e muitos desses metais tê m efeitos nocivos sobre o ambiente, de modo que sua adiçã o aos
fertilizantes dificilmente pode ser justificac .a, exceto os metais que sã o tamb é m
micronutrientes de plantas. O tiosulfato de am ónio també m foi testado como inibidor,
mas, apesar de relativamente barato, apresenta baixa taxa de inibiçã o e exige altas doses
(até 10 % do volume) para funcionar, o que limita seu valor para tal (Goos & Fairlie,
1988) .
Os produtos mais efetivos t ê m sido os an á logos de ur é ia , tais como os
fosforodiamidatos e fosforotriamidatos, que :ê m mostrado forte açã o inibidora em
concentra ções muito baixas; entre os produtos dessa família, os que apresentaram

FERTILIDADE DO SOLO
430 HEITOR CANTARELLA

melhores resultados foram o PPD ( f énil -fosforodiamidato ) e, principalmente, o NBPT


( Martens & Bremner , 1984; Buresh et al., 1988; Beyrouty et al., 1988, Watson et al .,
1994a , b , 1998, 2000) .
O PPD mostrou resultados inconsistentes em testes de campo, apresentando alta
eficiência em alguns casos, mas nã o em outros ( Watson, 2000). Al é m disso, o PPD se
decomp õe rapidamente no solo, produzindo fenol, que é um inibidor de urease
relativamente fraco; o PPD també m tende a se decompor no estado sólido em misturas
com uréia , conduzindo à perda da capacidade inibidora em intervalos de tempo
relativamente curtos (Radel et al., 19 £ 8) .
O NBPT é um composto que apresenta caracter ísticas de solubilidade e difusividade
similares às da ur éia ( Radel et al., 1988; Watson, 2000) e vem mostrando os melhores
resultados. O NBPT nã o é um inibidor direto da urease. Ele tem de ser convertido em seu
análogo de oxigénio (fosfato de N-n-butiltriamida - NBPTO) que é o verdadeiro inibidor.
A conversã o do NBPT em NBPTO é r á pida em solos bem arejados ( minutos ou horas ),
mas pode levar v á rios dias em condi ções de solos inundados (Watson, 2000 ) .
O NBPT tem sido testado em algr ns países com resultados geralmente satisfatórios,
sendo eficiente em baixas concentra ções (Watson et al ., 1994a; Keerthisinghe & Blakeley,
1995; Rawluk et al ., 2001) . Além dissD, sua aplica çã o nã o tem mostrado efeito sobre as
propriedades biológicas do solo ( Banerjee et al., 1999 ), o que contribuiu para tornar seu
uso viá vel.
Uma formula çã o comercial, que contém de 20 a 25 % de NBPT, está disponível no
mercado desde 1996, para ser misturada com fertilizantes nitrogenados em concentra ções
que variam de 500 a 1.000 mg kg 1 de NBPT na ur éia; no Brasil, a dose que vem sendo
'

usada é a de cerca de 530 mg kg 1.'

Depois de aplicado ao solo junto com a uréia, o NBPT inibe a hidrólise da uréia por
um per íodo de três a 14 dias, dependendo das condições de umidade e temperatura do
solo. Testes realizados no Brasil indicam que, para a maioria das situações, o período de
intensa inibiçã o varia de três a sete c ias, após o que o NBPT perde gradativamente o
efeito (Cantarella et al., 2005) . A ocorrência de chuvas suficientes para incorporar a
uréia ao solo em um intervalo de tr ê s a sete dias ap ós a aduba çã o é a condiçã o que
mais favorece a eficiência do NBPT em reduzir as perdas por volatiliza çã o de NH3.
Alternativamente, a incorpora çã o pode ser feita por irriga çã o ou por meio mecâ nico.
Por é m, mesmo na ausência de chuvas, alguma redu çã o na volatiliza çã o tem sido
observada . O período de má xima volatilizaçã o de NH3 após a aplicaçã o da uréia ocorre
em curto espa ço de tempo (dois a três dias, no ver ã o ú mido ) e o pico de volatiliza çã o é
mais intenso do que o que acontece com a uréia tratada com o inibidor . Neste último
caso, a hidr ólise é mais lenta, favorecendo a difusã o do fertilizante para o interior do
solo e as rea ções com o solo da NH:, produzida . Alé m disso, a eleva çã o do pH ao
redor do gr â nulo de fertilizante n ã o é t ã o r á pida por causa da hidr ólise mais lenta .
Poré m, em períodos secos, a ausência de um processo de incorporaçã o do fertilizante ao
solo depois que o efeito inibidor arrefece faz com que diminua a eficiência do NBPT para
controlar as perdas de NH3 e, consequentemente, aumentar o aproveitamento do N
aplicado pelas culturas.

FERTI .I D A D E DO SOLO
VII - NITROG é NIO 431

Diversos estudos têm mostrado que o NBPT permite reduzir as perdas de N por
volatiliza çã o de NH 3, aumentar o rendimento das culturas e reduzir os danos causados
a plâ ntulas pelo excesso de NH3 no sulco de semeadura (Grant & Bailey, 1999; Karamanos
et al., 2004) . O NBPT foi eficiente para aumentar a produção de matéria seca de forrageiras
de clima temperado, aumentar a recuperaçã o de 15 N da ureia pelas plantas e diminuir a
taxa de volatilizaçã o de amónia (Watson et al., 1994b ) mas, naquelas condições climá ticas,
as perdas de N por volatiliza çã o de NH 3 da ureia aplicada sem NBPT foram de 5,5 a
20,8 % do N aplicado. Bayrakli & Gezgin (1996) obtiveram redu çã o de perdas de NH3 de
44,5 % utilizando uréia tratada com NBPT, com consequente aumento na produçã o de
raiz e de a çúcar de beterraba . No Brasil, Cantarella et al. ( 2005) estimaram que a adiçã o
de NBPT à ur éia aplicada na superf ície dos solos, em dez ensaios em condições de
campo, permitiu reduzir as perdas de NH3 entr e 50 e 60 % em rela çã o às perdas da uréia
nã o tratada; poré m, em estudos com cana -de- a çúcar, em que a aduba çã o foi feita no
período seco do ano ( junho a outubro), a reduç ã o da volatiliza çã o de NH3 foi de apenas
30 %.
Outros autores também observaram aumento da eficiência fertilizante, tanto da uréia
como do uran tratados com NBPT (Fox & Piekielek, 1993; Grant et al., 1996), inclusive em
sistemas plantio direto com palha na superf ície (Malhi et al., 2001) . Vá rios estudos
indicam que o uso de uréia tratada com NBPT pode resultar em aumentos no rendimento
de grãos em decorrência da reduçã o de perdas de N por volatilização de NH3. Na rede de
centenas de ensaios realizados nos Estados Unidos, conforme dados tabulados por
Trenkel (1997), o uso de NBPT resultou em aumentos médios no rendimento de grãos de
milho de cerca de 7 a 12 %, quando o inibidor foi aplicado ao uran e à ur é ia ,
respectivamente (Quadro 11).
Os estudos desenvolvidos no Brasil e no exterior mostram que o inibidor de urease
nã o é capaz de controlar completamente as perdas de NH3 que acontecem quando a
uréia é aplicada na superf ície de solos, tendo em vista que sua açã o depende de condições
ambientais e das características f ísico-químicas do solo (Radel et al., 1988; Watson et al.,
1994a; Antisari et al., 1996; Murphy & Ferguson, 1997) . No entanto, o inibidor pode
retardar a hidrólise da uréia e reduzir significativamente as perdas de NH3, dependendo
das condições climá ticas, nem sempre previsíveis.

Quadro 11. Resposta do milho ao inibidor de ure ase NBPT adicionado a ur éia e a uran nos
EUA. Médias de 11 anos de estudo

Produ çã o de graos
Fonte de N N ú mero de ensaios
Com NBPT Sem NBPT Acréscimo pelo uso de NBPT

t ha

Uréia 316 8,02 7,13 0,89


Uran 119 8, 21 7,63 0,58

Fonte: Adaptado de Trenkel (1997).

FERTILIDADE Do SOLO
432 HE TOR CANTARELLA

É pouco provável que a uréia venha a ser substituída por outro fertilizante em curto
prazo, se é que o será no futuro. Assim, os inibidores de urease, embora venham
apresentando eficiência apenas relativa para reduzir o principal problema associado ao
emprego da ur éia, representam alternativa que nã o pode ser desconsiderada .

AVALIA ÇAO DA DISPONIBILIDADE


DE NI TROG É NIO
A complexidade das rea ções do N no solo dificulta o diagnóstico da disponibilidade
desse elemento para as plantas com base na aná lise do solo, ao contrá rio do que ocorre,
com sucesso, para as determina ções ie acidez e de outros nutrientes, incluindo os
micronutr ientes.
Uma vez que a MOS é o grande reservatório de N para as plantas, há muito tempo os
cientistas se defrontam com o desafio de desenvolver um mé todo de análise de solo que
ajude a prever quanto de N o solo poder á liberar durante o ciclo de uma cultura. Dezenas
de mé todos foram desenvolvidos ao longo de muitas d écadas de pesquisa . De modo
geral, os métodos envolvem determina ções de N inorgâ nico ( NH4+ e, principalmente,
N03 ), por serem estas as formas prontamente absorvidas pelas plantas, ou extrações de
"

fra ções do N orgâ nico do solo por di versos procedimentos químicos ou biológicos
(incuba ções em condições aeróbias ou anaer óbias que resultam na produçã o de N
inorgâ nico por mineralizaçã o do N org â nico ).
O assunto tem sido objeto de extensas e frequentes revisões de literatura (Bremner,
1965; Dahnke & Vasey, 1973; Stanford , 1982; Keeney, 1982; Meisinger, 1984; Bundy &
Meisinger, 1994) que apontam mé todos promissores em determinadas situações, mas
que nã o conseguem ampla aceita çã o e adoçã o em laboratórios de rotina em virtude da
pequena correla çã o com a disponibilidade de N em condi ções de campo.
Os métodos relativos à determinaçã o das formas inorgâ nicas têm seu emprego restrito
em regiões ou per íodos de alta pluviosidad é por causa da mobilidade do NO/ no solo.
As concentra ções de N inorgâ nico podem alterar -se rapidamente com as chuvas,
comprometendo a utilidade do mé todo para prever a disponibilidade de N para as
culturas.
Os mé todos químicos ou biológicos têm o desafio de detectar, em um material
heterogéneo e quimicamente complexc como o solo, fra ções passíveis de mineraliza çã o
em curto prazo. Esses métodos avaliam "índices de disponibilidade de N". O fato de ser
a mineraliza çã o do N orgâ nico do solo realizada por microrganismos, sujeitos à
interferência de fatores climá ticos ( umidade, temperatura ) dif íceis de prever, é um aspecto
complicador para tais mé todos.
Métodos químicos que envolvem o ataque da MOS com ácidos, bases ou agentes
oxidantes fortes e que extraem porções grandes do N orgâ nico do solo há muito são
considerados insatisfatórios (Bremner, 1965; Keeney, 1982). Porém, v á rios mé todos que
envolvem extratores fracos, tais como: solu çõ es de KC1 2 mol L 1 a quente, tampã o

F é RTIL DADE DO SOLO


VII - NITROG é NIO 433

fosfato- borato a pH 11,2 (Gianello & BremnerJ 1986, 1988), e incuba ções em condições
anaer ó bias ( Waring & Bremner , 1964 ) , sã o considerados bons preditores de N
mineralizá vel no solo e continuam a ser apresen :ados em textos sobre mé todos de aná lise
de solo como promissores ( Bundy & Meisinger , 1994) . No Brasil, Cantarella et al. (1994)
obtiveram boas correla ções entre o N extra ído de v á rios solos por diferentes versões do
procedimento com soluçã o de KC1 a quente e o N absorvido por plantas de milho em
estudos em casa de vegeta çã o; poré m, em testes posteriores, em condições de campo, os
mé todos nã o mostraram resultados satisfató rios (dados nã o publicados ) . Mé todos
r á pidos, como os de Gianello & Bremner (1986 ) , tamb é m nã o apresentaram boas
correla ções com o N absorvido por plantas no trabalho de Curtin et al. ( 2006) .
A tend ência é que tais mé todos químicos sejam considerados ú teis para a obtençã o
de um indicador relativo e rá pido da disponibilidade de N entre solos submetidos a
diferentes manejos, mas nã o parecem adequados como preditores da disponibilidade de
N para fins de recomenda çã o de aduba ção, visto que esses índices químicos geralmente
nã o se correlacionam bem com a disponibilidade; medida em condições de campo (Bundy
& Meisinger, 1994) .
Tentativas de encontrar um mé todo de ar .álise de solo para prever a resposta de
culturas a N com base em extra ções de frações o rgâ nicas continuam a ocorrer, a despeito
dos resultados inconclusivos ou pouco alentadores obtidos até o momento e da baixíssima
adoçã o dos mé todos por laboratórios de rotina . São exemplos recentes os procedimentos
desenvolvidos por Mulvaney & Khan ( 2001), Mulvaney et al. (2001, 2006), Martens et al.
(2006), Klapmik & Ketterings (2006) e Maysson et al. ( 2006).
O mé todo de análise de N que mede a çúcar 2S aminados no solo (Mulvaney & Khan,
2001; Khan et al., 2001), conhecido como teste de Illinois, chamou a atençã o recentemente,
porque os autores, com base em in úmeros ensaios de campo, atestaram que o mé todo
permitia separar locais não-responsivos à aplicai; ã o de N. No entanto, resultados recentes
mostraram correla ções muito pobres com a resposta do milho ao N, produção relativa ou
dose econó mica de N em estudo de calibraçã c feito em campo com 43 solos de Iowa
( Barker et al., 2006), regiã o próxima de onde o mé todo foi inicialmente desenvolvido. O
teste de Illinois també m nã o se mostrou adequado no estudo realizado com 33 solos em
Nova Iorque (Klapmik & Ketterings, 2006 ). Todavia, a polêmica parece continuar;
Mulvaney et al. (2005) insistem em afirmar que o teste de Illinois é o mais poderoso
preditor de erro na recomenda çã o de N, segundo estudos realizados em 102 locais
responsivos a N.
Durante muitos anos, poucos laborat ó rios no mundo ofereciam índices de
disponibilidade de N baseados em aná lise de solo . As exceções eram as análises de
nitrato em alguns países da Europa e em regiões semi-á ridas, nos quais o pequeno volume
de chuvas nã o era suficiente para arrastar o N oara fora da zona radicular (Meisinger,
1984). Tais testes sã o recomendados rotineiramente nos EUA em Estados como Montana
e Dakota do Norte. Nesses casos, o N- N03 é medido em amostras coletadas até 0,9 ou
"

1,2 m, para culturas com sistema radicular profundo, tais como: trigo e beterraba
açúcareira, ou até 60 cm, para outras culturas (] ones & Jacobsen, 2005; Gerwing, 2005).
O conteúdo de N-N03 na camada amostrada é expresso em quantidade de N por unidade de
"

FERTILIDADE Dó SOLO
434 HEITOR CANTARELLA

á rea (kg ha 1) e é subtra ído da dose de N recomendada para a cultura, ou seja, todo o N03
" '

no solo é considerado prontamente d isponível, uma vez que perdas por lixivia çã o sã o
pouco prová veis em tais condições clim á ticas. Fatores de correção para o conteúdo de

N03 do solo de modo a levar em conta taxas de aproveitamento ou profundidade do solo
podem ser adicionados ao cá lculo da aduba çã o ( Bundy & Meisinger, 1994; Gerwing,
2005; Jones & Jacobsen, 2005).
Recentemente, legisla ções que regulamentam e limitam as concentra ções de N03 "

nas á guas subterrâ neas em v á rios pa íses deram novo impulso às pesquisas para o
estabelecimento de mé todos de aná lise para orientar a aduba çã o nitrogenada . Assim,
~
testes referentes à aná lise de N03 têrr sido adotados nos EUA, mesmo em regiões com
chuvas abundantes na primavera -ver ão. As amostras podem ser coletadas até 60 cm de
profundidade, na primavera , antes da semeadura das culturas anuais, como no
procedimento adotado em Minnesota ( Bundy et al., 1995; Klapmik & Ketterings, 2005) .
Nesse caso, considera-se que o N residual é ú til em solos de textura argilosa ou média e,
principalmente, em anos com chuvas abaixo da m é dia da regiã o no ano anterior e no
per íodo de inverno ( Bundy et al., 1995 ).
Uma variante do mé todo do N03 que tem sido recomendada na região produtora de
milho nos EUA é o teste do N03 pré-cobertura . O teor de N mineral é determinado na
"

camada até 30 cm de solo, de amostras retiradas pouco antes do período de adubação de


cobertura do milho ( Blackmer et al ., 1989; Fox et al ., 1989; Sims et al., 1995). A maior
parte das pesquisas está voltada para a definiçã o de valores críticos acima dos quais não
há resposta à aplicação de N em cobertura; valores na faixa de 20 a 30 mg kg 1 de N-NO3
'

na camada de 0-30 cm, tê m sido sugeridos (Magdof et al., 1984; Fox et al., 1989; Sims et
al., 1995). Os resultados de tais testes tê m sido empregados em recomendações de
aduba çã o para o milho em regiões ú midas nos Estados Unidos ( Beegle et al., 1994;
Blackmer et al., 1989, 1997), mas sua adoçã o por parte dos agricultores nã o é extensa .
Aparentemente, o teste é ú til em á reas tratadas com adubos orgâ nicos, que tendem a
apresentar altos teores de N- N03 no solo. Nesses casos, a preocupaçã o maior é evitar a
"

contamina çã o do lençol freá tico com N03 , aspecto que tem recebido atençã o em v á rios

pa íses.
Testes de determinação de NO/ err . amostras de solo requerem processamento rá pido
da amostra para evitar altera ções deco rrentes de rea ções de mineralizaçã o e nitrificaçã o
que podem ocorrer em amostras armazenadas por longos períodos. Mattos Jr . et al.
(1995) recomendaram congelar as amostras a -15 °C para preservá -las por longo tempo.
O armazenamento em geladeira a 5 °C provocou altera ções significativas nos teores das
amostras. Na ausência de congelador, a melhor alternativa é secar imediatamente as
amostras ao ar. Esse procedimento é e iciente para preservar o N-NOs (Mattos Jr . et al.,
1995), a espécie química mais importa ate nesse tipo de aná lise.
O uso do teor de MOS ou, indiretamente, do teor de N total do solo para a
recomendaçã o de adubação nitrogenac a pressupõe a libera çã o ou mineralizaçã o de uma
percentagem mais ou menos constant s do N do solo para as culturas. Esse é um fator
limitante para a adoçã o desse procedi ] nento, visto que os fatores climá ticos e o manejo
do solo afetam a mineraliza çã o do N orgâ nico no solo.

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 435

A análise de MOS era utilizada em Sã o Paulo para a recomenda çã o de doses de N,


mas a correla çã o com as respostas a N obtidas na rede de ensaios realizados por Raij et
al . (1981) nã o foi satisfatória, de modo que o procedimento foi abandonado. No Brasil,
atualmente apenas as tabelas de recomenda çã c dos Estados do Rio Grande do Sul e
Santa Catarina ( Amado et al., 2001; SBCS, 2004) e, recentemente, da regiã o do Cerrado
(Sousa & Lobato, 2002) utilizam a aná lise da MOS para ajustar as recomenda ções de
doses de N para diversas culturas.
As doses utilizadas nas recomenda ções de a dubações nitrogenadas sã o geralmente
determinadas, em uma primeira aproxima çã o, por meio de curvas de resposta médias,
obtidas em condições de campo, com dados de v á rios ensaios, repetidos em diferentes
locais e anos. Sã o exemplos os 25 ensaios plantados com milho (Raij et al., 1981), os
dados de 30 locais-anos de colheitas de laranja e lim ã o (Quaggio et al., 1998), as seis
safras de tangor Murcott (Mattos Jr et al ., 2004) e procedimentos similares que serviram
de base para a construçã o de vá rias tabelas de recomenda çã o disponíveis no Brasil ( Raij
et al., 1997; Ribeiro et al., 1999; SBCS, 2004) .
A produtividade esperada é uma medida importante para definir a dose de N
recomendada , visto que esse nutriente é extra ído em grandes quantidades pelas culturas.
Quanto maior o potencial de produçã o, definido pelo tipo de solo, local, variedade
utilizada, condiçã o climá tica, etc., maior é a demanda por N . A produtividade esperada
é um crité rio utilizado no mundo todo e passou a fazer parte de praticamente todas as
tabelas de recomenda çã o em uso no Brasil ( Raij et al ., 1997; Ribeiro et al., 1999; SBCS,
2004, dentre outras).
A contribuiçã o do N do solo pode ser inferida pela aná lise do teor de MOS, com as
limita ções já discutidas ou, indiretamente, por meio de crité rios numericamente pouco
r ígidos. Isso é feito utilizando o chamado "histó rico da gleba", por meio do qual as
doses sã o aumentadas (solos arenosos, sujeitos à menor contribuiçã o de N ou a maiores
perdas; cultivos consecutivos com gram íneas, etc. ) ou diminuídas (á reas cultivadas
anteriormente com leguminosas, adubos verdes, primeiros anos de plantio direto, etc.)
( veja capítulo XV ). Na recomenda çã o de Raij et al. (1997), o histó rico da gleba tem
definições maleá veis, deixando margem à interpretação pelo técnico. As recomendações
mais recentes do Rio Grande do Sul ( Amado et al., 2002), por exemplo, quantificam as
doses de N recomendadas para milho, dependendo do teor de MOS e da quantidade de
cobertura de leguminosa ou de gramínea deixada pelo cultivo anterior, em sistema plantio
direto. Na concepçã o de Sousa & Lobato ( 2002 ) oara o Cerrado, a contribuiçã o da MOS
também é definida com algum rigor: da dose de N calculada para suprir as necessidades
da cultura, sã o subtra ídos 30 kg ha 1 de N para cada 10 g kg 1 de MOS, o que subentende
' '

uma taxa de decomposição de 2 % da MOS durar te a safra. Créditos sã o numericamente


definidos també m para a contribuiçã o de cultivos anteriores, especialmente com
leguminosas.
As tabelas de recomendação para N na verdade embutem modelos complexos, porém
empíricos e nã o parametrizados, que usam a demanda de N pela cultura (produtividade
esperada e conteúdo de N na planta ), a contribuição do N do solo e de cultivos anteriores
e perdas potenciais ( histó rico da gleba ). Na medida em que dados confiáveis se

FERTILIDADE DO SOLO
436 HEITOR CANTARELLA

acumularem, será possível construir modelos matemá ticos mais estruturados. No


entanto, fatores incontrolá veis e varia ções que ocorrem nas respostas das plantas a N de
ano para ano sã o grandes e qualquer modelo terá grandes incertezas. As varia ções de
respostas a N levaram Blackmer et al. (1997) a retirarem da f órmula de cálculo da adubaçã o
nitrogenada para milho em Iowa a brodutividade esperada, uma das variáveis mais
importantes para a estimativa da demanda, passando a utilizar valores médios, estimados
com base em experimenta çã o de longo prazo. Os créditos para N03 no solo e a ‘

contribuiçã o de leguminosas, porém, foram mantidos ( Blackmer et al., 1997).


Crité rios auxiliares para a recomenda çã o de aduba çã o sã o as avalia ções feitas
diretamente nas plantas, que integram todos os fatores de solo e ambientais. Para culturas
perenes, como caf é, laranja, manga, a :> acate, Raij et al. (1997) prevêem correçã o de dose
de N, conforme o teor de N foliar (Cantarella et al., 1998; Mattos Jr. et al., 2004 ). Em
alguns países, medidas de N-N03 em folhas ou pecíolos sã o empregadas para ajustar as
"

doses de N em diversas culturas, especialmente nas de batata e tomate, cuja produtividade


ou qualidade do produto pode ser afetada por excesso de N . Schr õeder et al. (2000)
discutiram os pr ós e contras de medi çõ es realizadas no solo e na planta para a
recomenda çã o de N na cultura do milho.
Uma alternativa para diagnóstico da disponibilidade de N que tem recebido bastante
atençã o é o uso de medidor de clorofila (SPAD, Minolta Co., Japão). Trata-se de um aparelho
portá til que produz leituras rápidas. A quantidade de luz vermelha transmitida pela folha
indica a quantidade de clorofila, a qual, por sua vez, serve como medida indireta do teor
de N foliar - de determina çã o demorada para permitir a pronta correçã o de deficiências
de N. As correla ções entre a leitura dc clorofilô metro e o teor de N foliar geralmente são
altas, mas sã o afetadas por diferenças entre variedades, estresse hídrico (Jemison & Lytle,
1996; Schepers et al., 1996), idade da planta ( Dwyer et al., 1995), local (Schepers et al .,
1996) e posiçã o da leitura na lâ mina foliar (Chapman & Barreto, 1997), mas melhoram
quando se ajustam os valores da leitur i ao peso específico da folha (Chapman & Barreto,
1997).
A leitura realizada com o clorofilô metro tem-se mostrado ú til para separar á reas
com ou sem probabilidade de resposta à aduba çã o nitrogenada (Piekielek & Fox, 1992;
Schepers et al., 1992, 1996; Sims et al., 1995; Jemison & Lytle, 1996; Argenta et al., 2004),
por ém nã o detecta locais com excesso de N (Jemison & Lytle, 1996; Varvel et al., 1997a ),
visto que os valores das leituras feitas com o aparelho tendem a atingir um platô em
folhas com teores de N acima do nível de suficiência ( Dwyer et al., 1995; Varvel et al.,
1997b ). Outra limita çã o é que a estimativa da dose de N por aplicar não é definida pela
leitura pois depende de outros fatores ,
Com tantas variá veis afetando o valor da leitura do clorofilômetro, nã o é possível
definir um ú nico nível crítico, mesmo por que parece haver diferenças também entre lotes
de aparelhos. Para contornar esse prcblema, plantas previamente adubadas com altas
doses de N servem de referência para se ter um índice relativo para compara çã o das
leituras do clorofilô metro realizadas na á rea a ser adubada (Schepers et al., 1992) .
Geralmente, sã o consideradas plantas deficientes em N quando o índice relativo atinge
90 ou 95 % da leitura das plantas de referência (Varvel et al., 1997a ). Um problema

FERTIIí IDADE DO SOLO


VII - NITROG é NIO 437

adicional é a dificuldade de detectar deficiências nos est á dios iniciais de crescimento,


quando ainda é possível fazer aplica ções de fertilizante. Por exemplo, Scharf et al. (2006),
em estudo realizado por quatro anos com 66 experimentos de campo, observaram que o
poder de prediçã o das respostas a N por meio da s leituras do clorofilô metro melhorou,
quando as leituras foram feitas mais tardiamente, às vezes após o florescimento do milho,
quando as aduba ções fazem pouco ou nenhum eleito. Nesse caso, a leitura serve apenas
como um sistema de retroalimenta çã o de inform ações sobre o manejo da aduba çã o.
O uso do clorofilômetro tem-se mostrado interessante para definir a aduba çã o de
milho em á reas irrigadas e de alta produtividade, onde sã o empregadas altas doses de N,
e a necessidade de sua aplica çã o pode ser decidida e implementada rapidamente,
melhorando, assim, a eficiência de uso do N e diminuindo perdas por lixivia çã o e
contamina çã o de á guas subterr â neas ( Varvel et al., 1997a ) .
Equipamentos para medir o estado nutricio nal de plantas por meio de mediçã o de
clorofila, detecçã o de cor ou outros mé todos espc ctrom é tricos estã o sendo rapidamente
desenvolvidos para utilizaçã o em tempo real em agricultura de precisão (Zillmann et al.,
2006). Equipamentos que estimam, indiretamer te, o estado nutricional da planta com
relaçã o ao N, montados em tratores, sã o acopla dos a distribuidoras de fertilizante de
taxa variá vel, de modo a alterar a dose conforme a necessidade da planta <3).
A análise do teor de NOs na base do colmo , em plantas de milho que atingiram a

maturidade fisiológica, tem sido proposta para detectar á reas onde o N foi aplicado além
da dose ó tima para atingir o máximo rendimento de grã os (Sims et al., 1995; Varvel et al.,
1997b ) . Esse mé todo, porém, nã o pode ser utilizado para a recomenda çã o de N, mas,
sim, para corrigir procedimentos para a próxima safra .

DEMANDA DE NITROG É NIO PELAS CULTURAS

Grandes quantidades de N sã o absorvidas pelas culturas, visto que esse elemento


participa de inúmeras moléculas e estruturas nos vegetais. O quadro 12 traz os conteúdos
de N nas plantas e as quantidades removidas pelas colheitas em algumas espécies de
interesse agrícola . Os resultados sã o expressos com base em massa da parte colhida. Os
dados mostram que as exigências das plantas s ã o elevadas e dependem do nível de
produtividade. Culturas como o milho, coir . produ ções modestas em situa ções
desfavorá veis, ou bastante elevadas, quando cultivado com técnicas e híbridos modernos,
podem absorver de 80 a cerca de 350 kg ha 1 de N . Valores de absorçã o igualmente
"

elevados sã o observados para leguminosas, as quais, embora geralmente produzam


menores quantidades de matéria seca e de grã os do que as gramíneas, têm tecidos mais
ricos em N.
As exporta ções de N com a colheita representam cerca de 50 % ou mais do N
absorvido nas culturas gran íferas, gra ças ao ac ú mulo de proteínas nos gr ã os,

(3)
N-Sensor. Yara International. Research Center, Hanninjjhof , Alemanha .

FERTILIDADE DO SOLO
438 EITOR CANTARELLA

Quadro 12 . Conte údo de nitrogénio absorvido e removido pela colheita de algumas culturas
de interesse no Brasil

Conte ú d o 0 * d e N
Faixa de N extra í do N removido
Cultura
Removido produtividade pela planta pela colheita
Planta inteira
pela colheita

kg t - i t ha - í kg ha
Arroz 22 12 2- 8 44 -176 24-96
Milho 28 17 3-12 84-336 50-200
Trigo 29 20 2-6 58-174 40-120
Girassol 37 19 1.5 -3,0 56-110 29-57
Amendoim 87 38 1.5-3,0 130- 260 57-114
Feij ã o 86 35 1 , 0 - 4,0 86 -344 35-140
Soja 90 60 2, 0 - 4,0 160 -360 120-240
-
Cana de- a çú car 14 / 09 / 80 - 200 112- 280 72-180
Caf é 34 1- 4 34-136
Banana 21 / 20 -60 42-126
Laranja 24 / 20-60 48-144
Ma çã 0, 7 15-30 10 - 21
Uva It á lia 2, 2 20-35 44 -77

(1 )
Conte ú dos médios, expressos com base na ma ssa do produto colhido. Os valores podem variar de acordo com
o cultivar, manejo, tipo de solo e produ çã o.
Fonte : Raij et al. (1997); IFA (1992 ).

especialmente nas leguminosas. Por outro lado, as frutas podem necessitar de altas
quantidades de N para sustentar o crescimento das plantas, mas exportam relativamente
pouco N com a colheita; o produto colhido, embora volumoso e de grande massa,
geralmente tem baixo teor de proteínas.
As aduba ções nitrogenadas devem levar em conta as necessidades das plantas e,
em especial, as quantidades de N removidas do campo com as colheitas. As leguminosas
são casos especiais pelo fato de a fixa çã o biológica de N 2 fornecer parte do N requerido
pelas plantas ou, no caso da soja cultivada no Brasil, praticamente todo o N (Hungria et
al., 2006) .

INTERA ÇÃ O DO NITROG É NIO COM


OUTROS NUTRIENTES

Interaçã o entre nutrientes é o ef éito, positivo ou negativo, que acontece quando a


adiçã o de um nutriente provoca o aumento ou a diminuiçã o da resposta a um segundo
elemento. Quando o resultado da adiçã o de dois nutrientes supera a soma das respostas
individuais a ambos, aplicados isolcidamente, há um efeito sinérgico; caso contrá rio,
quando o resultado é inferior, o efeito é antagó nico.

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê MO 439

O suprimento de um nutriente pode influir na absor çã o, distribuiçã o ou funçã o de


outro nutriente e resultar em deficiências induzidas, toxidez ou alteraçã o nas respostas.
As intera ções podem ser específicas ou nã o-específicas ( Wilkinson et al ., 2000) . As
intera ções específicas ocorrem entre os elementos com propriedades f ísico-químicas
similares ou que formam liga ções químicas, ou, ainda, que competem entre si por sítios
de adsor çã o (paredes celulares, superf ícies de colóides do solo) ou absor çã o pelas plantas
(sítios ou mecanismos de transporte nas raízes , xilema, floema ) . As intera ções nã o-
específicas se manifestam ou se tornam impor :antes quando um dos nutrientes está
presente em concentra ções pr óximas dos limite ? de deficiência ou de excesso. Nessas
condições, a adiçã o ou supressã o de um segundo elemento pode provocar a deficiência
de outro por efeito de diluiçã o, ou de toxidez. Geralmente, as intera ções envolvendo o N
sã o do tipo nã o-específica por ser ele um dos nutrientes acumulados em maiores
quantidades nas plantas. Além disso, pode se r absorvido tanto como cá tion quanto
como ânion, o que limita a extensão de efeitos competitivos ou antagónicos durante a absorção.
A intera çã o mais comum relacionada com N é a que acontece com o K . Esses sã o os
dois nutrientes minerais absorvidos em maiores quantidades em quase todas as plantas
e as intera ções entre ambos normalmente sã o do tipo nã o-competitivo. A absorçã o de um
elemento eleva a demanda pelo outro. O estímulo do crescimento provocado pela adiçã o
de N pode levar à deficiência de K por efeito diluiçã o, e vice- versa . O suprimento
balanceado de N e de K frequentemente aumenta a resposta a ambos, mas a nã o-adiçã o
de um deles em solos deficientes pode levar a decréscimos na resposta ao outro tanto em
produ çã o quanto em ac ú mulo do nutriente. V á rios exemplos de efeitos de intera çã o
entre N e K sã o apresentados por Buli (1993), Caitarella (1993) e Wilkinson et al. (2000).
As interações geralmente levam ao estabelecimento de rela ções "adequadas" ou
balanceadas entre os nutrientes. Porém, o fornecimento dos nutrientes em condições
balanceadas pode nã o ser suficiente, visto que se podem conseguir tais rela ções quando
ambos os nutrientes estã o em níveis deficientes ou tóxicos. Portanto, as relações ó timas
entre nutrientes devem ser precedidas pelo atendimento aos teores de suficiência (Sumner
& Farina, 1986).
A intera çã o entre N e P na nutriçã o de algumas culturas, em especial na do milho, é
conhecida há muito tempo . Buli (1993) discutiu v á rios casos mostrando o efeito da
intera çã o entre esses elementos. O efeito mais freq úentemente relatado é do aumento da
absor çã o de P quando este nutriente é empregado juntamente com N amoniacal no sulco
de semeadura (Hanway & Olson, 1980). A adiçã o de fertilizante nitrogenado promove o
aumento da absor çã o de P mesmo em solos com alta disponibilidade deste último, nos
quais a aduba çã o com P tem pouco efeito (Kamprath, 1987) . Em estudos realizados com
soluçã o nutritiva, Alves et al. (1999 ) observarara que a separa ção espacial do P e do N
pode resultar em menor acú mulo de ambos na parte aérea .
A intera çã o do N com o S é importante e deve ser levada em conta em programas de
aduba ção. O uso de f órmulas de adubo concentradas, sem S, muitas vezes ocasiona a um
baixo aproveitamento do adubo nitrogenado. Boa parte do N nas plantas está em forma
de proteínas. O S é constituinte de dois aminoácidos (cisteína e metionina ). A deficiência
desse nutriente acarreta a diminuiçã o da produ çã o desses aminoácidos e as proteínas

FERTILIDADE DQ SOLO
440 HE: TOR CANTARELLA

que os contê m nã o podem ser formadcis. Assim, plantas insuficientemente supridas com
S nã o conseguem assimilar o N em proteínas e o N se acumula na forma de aminas,
amidas e aminoá cidos sol ú veis ( Epstein & Bloom, 2005), como observaram Vale et al.
(1993) com plantas de milho adubadas com N, mas nã o com S. De modo geral, a rela çã o
entre N e S em plantas varia de 8 a 12 para 1.
A absor çã o de N pode afetar a absor çã o de outros nutrientes també m por efeito da
alteraçã o do pH na regiã o da rizosfera . Quando o N é absorvido na forma de N03 , ocorre

alcaliniza çã o da rizosfera , ao passo que a absor çã o de NH4 + provoca o aumento da


acidez . Como o N é absorvido em grandes quantidades, a mudança de pH pode resultar
no aumento ou na redu çã o da soluhlidade ou disponibilidade de alguns nutrientes .
Esse tipo de intera çã o pode ser relevante com alguns micronutrientes, especialmente em
solos cujos altos valores de pH limitam a disponibilidade de micronutrientes metálicos
(Wilkinson et al ., 2000 ).

EFICI Ê NCIA DE tfco DO NITROG É NIO DE


FERTILIZANTES MINERAIS E ORG Â NICOS

A eficiência de uso ou a percentagem de recuperação, pelas plantas, do N proveniente


dos fertilizantes nitrogenados é estimada com a utiliza çã o de adubos marcados com o
isó topo 15N ou pelo mé todo que mede a diferença entre a quantidade de N absorvida por
plantas n ã o adubadas em compara çã o com aquelas que receberam N. Os resultados
obtidos pelos dois métodos sã o ligeiramente diferentes, mas nenhum pode ser considerado
superior ao outro. Os resultados de recupera çã o do N-fertilizante pelas plantas tendem
a ser superestimados quando medidos pelo mé todo da diferença se o N fertilizante
estimular a mineraliza çã o do N da matéria orgâ nica do solo (efeito "priming") ou o
crescimento do sistema radicular; por outro lado, a substituiçã o do 14 N do solo durante
as rea ções de mineraliza çã o-imobiliza çã o, pelo 15N do fertilizante marcado, pode levar à
subestima çã o da recupera çã o do N-fertilizante pelas plantas quando o mé todo isotópico
é empregado (Rao et al ., 1992) . Nesta seçã o, serão feitas referências a dados obtidos por
ambos os mé todos.
A recupera çã o do N fertilizante pode ser muito variá vel, uma vez que depende do
tipo de solo, da cultura, da dose do fertilizante, do manejo, da incidência de pragas e
doenças e das condições ambientais. No entanto, os resultados obtidos em estudos
realizados em v á rias partes do mundo apontam para valores médios em torno de 50 a
60 %. Dobermann ( 2005) compilou dados de 850 ensaios o observou que a recupera çã o
do N da matéria seca da parte a érea de cereais ficou pr óxima de 50 % do N aplicado
(Quadro 13). Valores semelhantes foram relatados por Fox & Piekielek (1993): recuperação
aparente de apenas 55 % em mais de 40 experimentos realizados na Pensilvâ nia, EUA.
Outros autores, no Brasil, estimaram as taxas de recupera çã o de N pelo milho,
utilizando fertilizantes marcados com 15N: Neptune (1977): 40 a 58 %; Reichardt et al.
(1979): 89 %; Coelho et al. (1991): 56 %; Lara -Cabezas et al. ( 2000): < 30 % ( para uréia ).

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 441

Quadro 13 . Efici ê ncia m é dia de recupera çã o de fertilizantes nitrogenados em cereais no


primeiro cultivo ap ós a aduba çã o, com dados da literatura mundial

Cultura Nú mero de ensaios D o s e m é d i a d e N aplicado Efici ê n c i a d e recupera ç ã o

kg ha 1'
%

Milho 36 02 63
Arroz 307 13 44
Trigo 507 117 54
Total de ensaios 850 51

Fonte : Dados compilados por Dobermann ( 2005 ). Eficiê ncia de recupera çã o = N do fertilizante recuperado da
maté ria seca da parte a é rea .

Geralmente, a recupera çã o do N aplicado em cobertura é maior do que a aplicada no


plantio. Ulhoa (1982) observou valores de recupera ção de 38, 47 e 45 % respectivamente,
para o N aplicado no plantio, na primeira e na segunda cobertura . Resultados
semelhantes foram obtidos por Boaretto et al. ( 2004) e por Seo et al. (2006). A recupera çã o
do N é normalmente menor quanto maior a dose aplicada . Fernandes et al . (1998)
observaram, em plantio direto, que a parte a é rea do milho apresentou recupera çã o
aparente de 12 a 52 %, para doses aplicadas de 240 e 60 kg ha 1 de N. Para milho irrigado,
'

Coelho et al . (1992) observaram valores de recupera çã o aparente variando de 34 a 68 %


para doses de N semelhantes à s usadas por Fernandes et al. (1998).
Em milho em sistema plantio direto, Lara Cabezas et al. (2005) obtiveram recuperaçã o
de 34 e 49 % do N aplicado em cobertura para a ureia e o sulfato de am ó nio,
respectivamente. Silva et al . ( 2006c) relataram valores pr óximos: 44 a 55 % .
Dados obtidos com trigo no Brasil com o uso de 15 N apontam para recupera ção de 52
a 85 % do N, valores considerados altos, mas, compatíveis com um período de baixas
precipita ções. Para caf é ( planta toda , inclu .ndo ra ízes ) , Fenilli ( 2006 ) observou
recupera çã o de 56 % do N aplicado.
Para a cultura da cana -de-a çú car, as percentagens de recuperaçã o geralmente sã o
menores do que para as culturas já listadas, em média de 20 a 40 % - segundo diversos
autores: 40 % (Trivelin et al., 1995); 20 a 40 % ( Vallis et al ., 1996); 17 a 36 % (Chapman et
al., 1994); 18 a 32 % (Chapman et al., 1992); 24 a 28 % ( Vitti, 2003), 13 a 22 % (Gava, 2003),
19 a 29 % (Prasertsak et al., 2002); 10 % (Sampaio et al ., 1984); 7 a 16 % (Trivelin et al.,
2002b ). Os valores de recupera çã o tendem a ser maiores em estudos em cana -planta: 56
a 63 % ( Basantha et al., 2002; Trivelin et al ., 2002a ), graças à menor dose de N empregada,
embora alguns autores tenham relatado eficiência do N de 34 % neste ciclo da cultura
( Ambrosano et al., 2005).
Esses valores relativamente consistentes mostram que cerca de metade do N aplicado
nos mais diferentes sistemas e culturas nã o é absorvido pelas culturas num primeiro
ciclo. Alé m disso, Dobermann ( 2005), comparando resultados obtidos em á reas
experimentais e em fazendas particulares, observou que a recuperação do N nas á reas de
agricultores era geralmente menor.

FERTILIDADE DQ SOLO
442 HEITOR CANTARELLA

Nos experimentos com 15 N, é possível acompanhar o destino do N do fertilizante.


Geralmente, parte do N "desaparece" e nã o é encontrada no solo ou na planta e é
considerada como perdida por lixivia çã o, volatilizaçã o de NH3 ou desnitrifica çã o. Essa
fra çã o varia de 15 a 40 %, dependendo do manejo (Coelho et al., 1991; Trivelin et al.,
1995; Gava et al., 2002; Fenilli, 2006) .
Esse tipo de experimento mostre també m que, em geral, mesmo em culturas bem
adubadas, a maior parte do N absorvi do vem do solo (Coelho et al., 1991; Lara Cabezas
et al. 2005). Na cultura da cana -de-a çú car, a contribuiçã o do fertilizante para o total de
N absorvido pela planta é geralmente inferior a 20 % (Trivelin et al., 1995; Basanta et al.,
2002; Gava et al., 2003; Ambrosano et al ., 2005 ) .
Por outro lado, o principal destino do N-fertilizante nã o absorvido pelas plantas é o
solo. Vá rios autores mostram que, em cana -de-açúcar, 20 a 40 % do N permanece no solo
(Chapman et al., 1992; Basanta et a ., 2002; Gava et al., 2002; Vitti, 2003). Valores
semelhantes têm sido encontrados no Brasil para outras culturas: 24 % em caf é - solo e
serapilheira ( Fenilli, 2006 ), 20 % no solo e 16 % na palhada em trigo (Boaretto et al.,
2004), 23 % em milho (Coelho et al ., 1991) . A maior parte do N que permanece no solo
fica na camada superficial (Coelho et al., 1991; Gava et al., 2002; Boaretto et al., 2004),
mostrando que o N do fertilizante se incorpora à microbiota do solo e, posteriormente, à
MOS.
Seria de se esperar que o N recé m -incorporado à fra çã o orgâ nica do solo tivesse
alto poder residual ou alto aproveitamento pela cultura subsequente. No entanto, a
maior parte dos dados dispon íveis revela que o N imobilizado se incorpora ao
conjunto de N do solo e se torna pouco dispon ível . A soja recuperou < 2 % do N
aplicado ao trigo no ciclo anterior ( Boaretto et al., 2004), o milho < 3 % do N-ur éia
aplicado no milho no ano anterior (Silva et al., 2006a ) ou menos de 1,5 % do N-sulfato de
amónio (Seo et al., 2006) .
É possível também marcar adubos verdes ou plantas de cobertura com 15 N para
acompanhar o destino do N no sisteraa . Como era de se esperar, a recuperaçã o do N
dessa fonte é menor do que a dos fertilizantes. As percentagens absorvidas pelo milho
do 15N contido no milheto e na crctalá ria usados como plantas de cobertura em
sistema plantio direto foram de 8 e 16 %, respectivamente (contra 44 a 53 % do 15N uréia
- Silva et al., 2006b, c ). Seo et al. ( 2006) incorporaram ao solo Vicia villosa marcada com
15
N e observaram que o milho aprove: tou apenas 15 % do N contido na leguminosa . A
Crotalaria juncea marcada com 15N usada como adubo verde na reforma de canavial
forneceu 196 kg ha 1 de N, por ém, apenas 10 % desse N foi absorvido pela cultura da
"

cana -de-a çúcar, contra 30 % de recupera çã o do N-mineral aplicado ( Ambrosano et al.,


2005) (Quadro 14) .
A recupera çã o do N contido em resíduos mais pobres e com rela çã o C / N alta, como
a palhada da cana -de-açúcar, é ainda menor . Apenas 5 a 10 % do N da palhada deixada
sobre o solo em sistema de colheita sem despalha a fogo sã o aproveitados pela cana no
ciclo subsequente (Chapman et al., 1992; Gava et al., 2003; Vitti, 2003). Dados com uso de
15
N mostram que a maior parte do N de adubos verdes, plantas de cobertura ou palhadas
abastece o estoque do solo, se incorporando à matéria orgâ nica (Quadro 14) . Da mesma

FERTI . IDADE DO SOLO


VII - NITROG é NIO 443

Quadro 14. Recupera çã o do nitrogénio marcado em fertilizantes qu ímicos ou em leguminosas


usadas em cobertura em v á rias culturas

N do fertilizante qu í mico N de leguminosas - adubo ver de


Cultura Fonte
Na planta No solo Total Na planta No solo Total

% do N aplicado
33 27 60 15 55 70 v á rias Compilado por Seo et al . ( 2006 )
44-53 8-18 milho Silva et al. ( 2006 b , c )
16 11 cana Ambrosano et al . ( 2005 )
15-30 60-80 80 -90 milho Ambrosano (1995 )

forma como ocorre com os fertilizantes, a libera çã o desse N para os pr óximos ciclos de
cultura passa a ser lenta . O efeito residual do N das plantas de cobertura (Silva et al.,
2006a ) ou do adubo verde incorporado ao solo (Seo et al., 2006) no segundo ano, medido
pela absor çã o pelo milho cultivado na á rea, foi de apenas 3,5 % do N contido inicialmente
no material .
A recupera çã o em curto prazo do N dos f értil izantes pode ser melhorada pelo uso de
fertilizantes sujeitos a menores perdas ou com libera çã o sincronizada com o
desenvolvimento das culturas. Outras medidas ihcluem melhor manejo como aplica çã o
do fertilizante na é poca em que as plantas possam aproveit á -lo, incorpora çã o de
fertilizantes sujeitos a perdas por volatiliza çã o de NH3, controle de irriga çã o e de plantas
invasoras, dentre outras. Os dados apresentados, por é m, mostram que a MOS e, por
extensã o, a microbiota do solo desempenham papel importante em intermediar os
processos envolvendo o fornecimento de N às plantas. Portanto, especialmente no caso
desse nutriente, o solo n ã o pode e n ã o deve ser considerado apenas por suas
caracter ísticas f ísicas e químicas.

MANEJO DA ADUBA ÇAO NITROGENADA

Uma das importantes mudanças nas tabelas de aduba çã o para N no Brasil nos
últimos 10 ou 15 anos foi a adoçã o do ajuste de doses pelo rendimento esperado. Isso
permitiu recomenda ções de aduba çã'o adaptadas aos diferentes ambientes de produçã o
e níveis tecnológicos, abrindo espa ço para a eleva çã o das produtividades. O aumento
nas atividades de pesquisa em fertilidade do solo em todo o País também vem colaborando
para o aperfeiçoamento dos critérios para recomendações e usos de fertilizantes e calcários.
Os quadros 15 e 16 apresentam as recomendações resumidas de N para a cultura do
milho, ilustrando os v á rios critérios adotados. Na recomenda çã o do quadro 15, as doses
de N variam com o patamar de produtividade esperada e com a classe de resposta a N. O
ajuste pela produtividade esperada reflete o fato de que cada tonelada de milho produzido
exportará cerca de 15 a 20 kg de N, alé m do N necessá rio para a parte vegetativa da
planta . A classe de resposta a N é uma representaçã o do histórico da gleba e do ambiente

FERTILIDADE DO SOLO
444 HEITOR CANTARELLA

de produçã o . Em muitas situa ções, bode haver dificuldade para alocar uma classe a
uma situa çã o de manejo. Cabe ao técrico escolher a melhor opçã o, uma vez que as doses
indicadas nas tabelas de recomenda çã o devem ser vistas como orienta çã o, uma vez que
há grande variabilidade nas respostas ao N .
O quadro 16 apresenta apenas parte da tabela publicada por Amado et al. (2002 ),
para uma faixa de rendimento esperado. Essa recomendaçã o é específica para o sistema
plantio direto e leva em conta o teor de MOS e a planta de cobertura, bem como o rendimento
de matéria seca . Há também indica çã o para um crédito de N quando o milho for plantado
após o cultivo de soja .
Nessas, como em qualquer tabela de recomenda çã o, adapta ções a situa ções
específicas podem e devem ser feitas.
A tabela de recomenda çã o de N para caf é (Quadro 17) ilustra o caso de uma cultura
altamente exigente em N e na qual as doses sã o ajustadas pela produtividade esperada
e pelo teor foliar, que integra o estado nutricional da planta, refletindo indiretamente a
disponibilidade de N do solo e o dreno provocado pela produçã o pendente dos frutos.
O quadro 18 apresenta a mais recente recomenda çã o de aduba çã o nitrogenada para
laranja (Quaggio et al ., 2005), reajustada com base em in ú meros trabalhos de campo
realizados nos últimos 15 anos. Os critérios usados incluem a produtividade esperada
e o teor de N foliar. O quadro apresenta o critério adicional da finalidade de uso da fruta
produzida. Mais da metade das frutas produzidas no Brasil são para o mercado de sucos
industrializados, que valorizam sólidos sol úveis e outras propriedades do suco, mas
nã o o tamanho e aspecto externo da fruta . Altas doses de N geralmente resultam em
elevadas produtividades, mas com frutos de tamanho reduzido. Essa é uma característica
que nã o interessa ao produtor que vende sua produçã o para o mercado de frutas frescas.

Quadro 15 . Recomenda çã o de aduba çã o nitrogenada de cobertura para milho no Estado de Sã o


Paulo

Classe de resposta a N ( |
]

Rendimento esperado
Alta M é dia Baixa

t ha kg ha 1 de N
'

4-6 60 40 20
6-8 90 60 40
8 -10 120 90 50
10-12 140 110 70
, Probabilidade de resposta a N. As doses sã o em adiçã o às da aduba çã o de semeadura .
( )

Alta: solos corrigidos, cultivo intensivo de gram íneas ou milho cont ínuo; primeiros anos de plantio direto; solos
arenosos sujeitos a altas perdas por lixiviaçã o.
Média: solos á cidos que serã o calcariados antes do cultivo do milho; sucessã o com leguminosas; solos em pousio
por dois anos; uso moderado de adubos orgâ nicos.
Baixa: solos em pousio por longo tempo; cultivo após pastagens (exceto solos arenosos);, cultivo intensivo de
leguminosas ou adubo verde; quantidades elevadas de adubos orgâ nicos.
Fonte: Raij & Cantarella (1997).

FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê N o 445

Quadro 16 . Recomenda çã o de aduba çã o nitrogenad a para sistema plantio direto, conforme


cultura de cobertura, teor de MOS e produtividad e esperada . Recomenda çã o para produ çã o
de 6 a 9 t ha 1 de milho(1) "

Produ çã o de MS d a cultura d e N recomendado para teor de MOS ( g kg 1)’

cobertura antecedente
< 25 25 a 50 > 50

1
t ha kg ha '

de N
i Leguminosas
< 2 120 90 70
2a 3 100 60 40
> 3 90 50 30
Grani í ncas
< 2 160 100 70
2a 4 160 110 80
> 4 170 130 90

Pousio de Inverno 160 120 80

(1 )
Milho em rota çã o anual com soja no ver ã o: reduzir 20 % da ::ecomenda ç ao de N
Fonte : Amado et al. ( 2002 ) .

Quadro 17 . Recomenda çã o de aduba çã o nitrogenada para caf é de acordo com a produ çã o


!
esperada e o teor de nitrogénio foliar
V

Teor foliar de N ( g kg 1 )
'

Produtividade esperada (1 )
< 26 26 30- > 30

í 1
t ha kg ha de N
'

0 , 6 -1 , 2 180 120 70
1,2- 1 , 8 210 140 90
1,8 -2 , 4 240 160 110
2, 4 -3, 6 300 200 140
3, 6-4,8 360 250 170
> 4,8 450 300 200

Produ çã o de caf é beneficiado.


{1 )

Fonte: Raij et al. (1997) .


i

O ajuste da aduba çã o para a qualidade do fruto envolve també m alterações na adubaçã o


potássica, para a qual as doses sã o alteradas no sentido inverso às do N (Quaggio et al .,
:
2005).
Crité rios adicionais sã o cada vez mais necessá rios para o ajuste da aduba çã o
nitrogenada, especialmente para os agricultores que fazem uso de altas doses para
aumentar a produtividade. O N é um elemento com grande capacidade para promover o
crescimento das plantas, que traz implica ções diretas e indiretas para a produtividade e
qualidade dos produtos. Por exemplo, doses elevadas de N provocam o crescimento
vegetativo em mangueiras, às vezes, em detrimento da produção. A análise foliar é uma

FERTILIDADE DO SOLO
í
:
446 HEITOR CANTARELLA

Quadro 18 . Recomenda çã o de aduba çao nitrogenada para laranjas de acordo com a produçã o
esperada, teor de nitrogénio foliar e finalidade de uso da fruta (1)

Destino das frutas

I n d ú stria Consumo in natura


Classe de produ çã o
N foliar ( g kg 1)

< 23 > 27 < 23 > 27

t ha kg ha 1 d e N
'

16 - 20 120 70 100 60
21-30 140 9Q 120 80
31-40 200 130 160 100
41-50 220 160 180 120
> 50 240 180

Para faixas de teor foliar de 23 a 27 g kg 1 d e N, as doses de fertilizante s ã o intermedi á rias.


(1 ) ’

Fonte : Quaggio et al. ( 2005) .

maneira de monitorar o excesso de N nessas plantas. Cereais, como trigo e arroz, de


porte baixo respondem bem a altas doses de N, mas essas podem promover o acamamento
de variedades de porte alto, com prejuízos para a produçã o. Doenças f ú ngicas també m
sã o favorecidas por altas doses de N em alguns cereais.
Outras grandes mudanças relat:ivamente recentes sã o a adoçã o crescente do sistema
plantio direto, da cana -de-a çúcar com colheita sem despalha a fogo e de sistemas que
privilegiam a manutençã o de palha e restos de plantas na superf ície do solo. Em quase
todas essas situa ções, é prov á vel que a aduba çã o nitrogenada tenha de ser ajustada.
Nã o há consenso sobre altera çõ es nas doses de N em sistemas de cana colhida sem
queima . Modelos de simulaçã o desenvolvidos na Austrália prevêem que a dose de N na
cana sem queima deva ser cerca de 60 kg ha 1 de N superior à da cana queimada e que as
"

respostas devem -se estabilizar em 30 a 40 anos (Thorburn et al., 2002) . Por outro lado,
Meier et al . (2002) prev êem que ser á possível reduzir a adubaçã o nitrogenada em até
40 kg ha 1 de N em locais há muitos anos com cana sem despalha a fogo. Porém, na
'

Austrália, local onde as pesquisas c: tadas foram realizadas, as doses de N médias são de
160 kg ha 1 ao passo que, no Brasil, sã o de 100 kg ha 1. Teoricamente, faz sentido aumentar
" '

as doses de N em cana com muita palha na superf ície para compensar parte do N gasto
para a decomposiçã o do resíduo com rela çã o C / N em torno de 100; porém o assunto
ainda precisa ser mais bem investigado.
Também no sistema plantio direto, resíduos culturais com elevada relação C / N
podem reduzir substancialmente as quantidades de N disponíveis no solo para a cultura
em sucessã o e, por isso, durante os primeiros quatro a cinco anos de adoção do sistema,
a dose de N deve ser da ordem de 20 a 30 % superior à comumente recomendada para a
cultura (Bayer, 1983; Lopes et al., 2004). Tal prá tica visa suprir adequadamente a cultura

FERtriLIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê N 447

com N, sem que a fra çã o imobilizada para decomp osiçã o da cobertura vegetal prejudique
o rendimento da cultura em sucessã o . Alé m diss o, a presença de palha pode aumentar
as chances de perdas de N por lixivia çã o e desnitr ificação em decorrência do aumento de
umidade do solo.
Verifica -se que, ap ós o quarto ano de plantio direto, é iniciado o estabelecimento do
equilíbrio das transforma ções que ocorrem com o N no solo e, após nove a doze anos, há
maior disponibiliza çã o de N, com menor resposta à aduba çã o nitrogenada e, portanto,
com a possibilidade de redu çã o das doses desse nutriente (Sá , 1995) . De fato, após
10 anos de plantio direto, Teixeira et al . (1994) observaram que a magnitude das respostas
à aduba çã o nitrogenada diminuiu, apesar dos alt as rendimentos obtidos. O mesmo tem
sido observado no Estado do Paraná, onde o ac ú mulo de MOS em sistema plantio direto
estabilizado em regiões com condi ções climá ticas favor á veis tem permitido a obtençã o
de altas produtividades de milho com a aplica çã 3 de quantidades relativamente baixas
de N ( Fontoura et al ., 1998). Esses autores verifi:aram que, em Guarapuava (PR ), após
consórcio de nabo forrageiro e ervilhaca como pré-cultura, o milho produziu 11 t ha 1 '

sem aduba çã o nitrogenada de cobertura e com apenas 24 kg ha 1 de N semeadura . A


'

resposta à aplica çã o de N em cobertura foi pouco expressiva e com a má xima resposta


em torno da dose 50 kg ha 1. Essas condições, no entanto, nã o se apresentam na maior
'

parte das á reas em que se cultiva milho no Brasi ..


Com a expansã o do sistema plantio dire :o, verifica-se renovado interesse na
contribuiçã o do N das culturas de cobertura de inverno. Rendimentos de milho, sem a
aduba çã o nitrogenada, cerca de 2 a 3 t ha 1 menores quando cultivado após aveia do que
'

após uma leguminosa, foram observados por Teixeira et al. (1994), Aita et al. (1994), Ros
& Aita (1996) e Amado et al. ( 2000 ), o que permite estimar a contribuiçã o aparente das
leguminosas usadas ( ervilhaca , ervilha forrage ira, tremoço) em 30 a 60 kg ha 1 de N,
'

compatível com as estimativas de Amado e al. ( 2000) de 58 kg ha 1 de N para a ervilhaca


"

e 38 kg ha 1 para a ervilhaca cultivada juntamente com a aveia preta . Dados obtidos por
"

Silva et al. (2006b ), utilizando coberturas de crotalá ria e de milheto marcadas com 15N em
plantio direto, permitem inferir que a contribuiçã o do N das culturas de cobertura para o
milho cultivado na sequência variou de 56 a 73 kg ha 1 de N, embora o efeito das culturas
'

de cobertura, especialmente o da crotalá ria, sobre o rendimento de gr ã os de milho


provavelmente exceda aquele explicado apenas nelo fornecimento de N.
A libera çã o do N da palha ou do resíduo de cobertura pode variar muito com o tipo
de material ( Amado et al., 2001; Afta & Giacomini, 2003; Borkert et al ., 2003) . Nas
condições do Rio Grande do Sul, Amado et al ( 2000) observaram que, após 30 dias,
foram liberados 70 % do N da fitomassa da ervilhaca . Em outro estudo, as percentagens
liberadas foram 51 % do N da ervilhaca, mas somente 15 % do N da aveia ( Amado et al.,
2003). Nem todo o N liberado pelas plantas de cobertura é absorvido pela cultura
subsequente. Aita et al. (1994) verificaram que a recuperação aparente, pelo milho, do N
contido na parte a érea de leguminosas de inverno em plantio direto, variou de 35 a 45 %;
outros autores encontraram valores mais baixos ;, em torno de 15 %, como discutido na
seçã o anterior. A maior parte do N restante provavelmente alimenta o ciclo de N no solo
e contribui indiretamente com o fornecimento de N para a cultura.

FERTILIDADE DO SOLO
448 HEITOR CANTARELLA

No cômputo da dose de N, normalmente, um cré dito é dado também à contribuição


da soja na rota çã o. Há poucos estudos no Brasil que permitem calcular o crédito devido
à soja , mas v á rios pesquisadores têm mostrado menor resposta a N de gramíneas em
sucessão à soja (Gallo et al., 1983). Resultados obtidos em outros países permitem estipular
um crédito para a cultura sucessora da soja de cerca de 40 kg ha 1 (Below, 2000) a 56 kg ha 1
' '

de N (Blackmer et al., 1997) .


A recomenda çã o mais comum para a aplica ção de N é parcelar a dose e fornecer o
nutriente o mais pr óximo possível do está dio de desenvolvimento em que a planta
necessite ou possa utilizá -lo . A principal razã o é reduzir os riscos de perdas de N do
solo especialmente por lixiviaçã o, alé m de evitar efeitos salinos ou excesso de NH3
próximo das sementes. Assim, as doses recomendadas para a semeadura são geralmente
baixas. No entanto, para culturas cor 10 o milho, o suprimento de pelo menos 30 a 40 kg ha 1
'

de N na semeadura ajuda a aumentar o potencial de rendimento, definido no início do


per íodo de crescimento vegetativo, quando há rá pido aumento da á rea foliar (Hanway
1971) . De fato, Varvel et al. (1997a ) nã o conseguiram atingir a produ çã o má xima de
gr ã os em uma cultura de milho irrigado, quando a correçã o da deficiência de N foi feita
somente a partir do está dio V 8, porque o suprimento inicial de N estava abaixo do ótimo
e o potencial de rendimento já havia sido reduzido. No Rio Grande do Sul, Strieder et al.
(2006) observaram que a produçã o c e matéria seca de plantas de milho adubadas com N
em V5 foi menor quando o milho f ói semeado após aveia preta ou pousio do que após
ervilhaca comum ou nabo forrageiro, culturas que liberam o N mais rapidamente do que
a aveia preta. No entanto, doses muito altas no plantio sã o desnecessá rias, visto que,
após a emergência, as plantas de milho absorvem N a taxas inferiores a 0,5 kg ha 1 dia 1,
' "

além de haver riscos de fitotoxidez, como observou Sá (1995), com a aplicação de 60 kg ha 1'

deN.
Muitos agricultores estã o ante ripando a aduba çã o nitrogenada de cobertura em
grã os, especialmente no milho, para otimizar a utiliza çã o de m á quinas na propriedade.
Esse manejo teve origem nos trabalnos de Sá (1996), que aplicou o adubo nitrogenado
destinado ao milho por ocasiã o da semeadura ou da rolagem da aveia, que antecedia o
milho no sistema de cultivo, e obteve resultados satisfat ó rios. Porém, as á reas onde essas
pesquisas foram feitas estão em plantio direto há muitos anos e, geralmente, apresentam
alta produçã o mesmo nas parcelas sem N, indicando que o solo tem bom estoque do
nutriente sendo reciclado. O princip al argumento para o sucesso desse manejo é que o N
aplicado antecipadamente à cultura de cobertura pode ser imobilizado momentaneamente
pela MO, em especial pelos resíduos com alta rela çã o C / N, e se tornar disponível para a
cultura do milho posteriormente, visto que os fatores que favorecem a mineralizaçã o do
N retido na fra ção orgâ nica - alta tem peratura e umidade - são os mesmos que promovem
o crescimento do milho.
Este procedimento, no entanto, tem seus riscos. Vá rios relatos na literatura mostram
que, em anos com precipitaçã o pluvial alta no início do ciclo do milho, a antecipa çã o do
N pode trazer redu ções de rendimento ( Basso & Ceretta; 2000; Põttker & Wiethõlter,
2000; Bertolini et al., 2001; CantareLa et al., 2003a ) . A antecipaçã o da aplicaçã o do N
pode ser também uma prá tica pouco segura em solos arenosos, mais sujeitos a perdas
por lixivia çã o. Além disso, parece arriscado contar com imobiliza çã o do N na fraçã o

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - F Ó SFORO

Roberto Ferreira Novais1', T. Jot Smyth 2'


& Flancer Novais Nunes1'

1/
Departamento de Solos, Universidade Federal de Viçosa - UFV. Av . PH Rolfs, s / n,
CEP 36570 - 000 Vi ç osa ( MG ) .
rfnovais@ ufv . br; flancernovais@ yahoo.com . br
2/
College of Agriculture and Life Sciences Campus Box 76 - Depart of Soil Science
27695- 7619 - Raileigh, North Carolina - USA .
_
jot smyth @ ncsu . edu

Conte ú do
INTRODU ÇÃ O 472
FORMAS DE FÓSFORO NA RELAÇÃ O SOLO-PLANTA 475
FATORES INTENSIDADE, QUANTIDADE E CAPACIDADE 478
Fator Intensidade 479
Fator Quantidade 480
Fósforo Isotopicamente Trocá vel 480
Valor E 481
Valor L 482
Fator Capacidade 482
ADSORÇÃO DE FÓSFORO NO SOLO 485
Adsorçã o 486
Adsorção por Oxidróxidos de Ferro e de Alumíno 486
Adsorção por Aluminossilicatos 488
Adsorçã o por Maté ria Orgâ nica 488
Precipitação de Fósforo nos Solos 489
Isotermas de Adsorçã o 491
Isoterma de Langmuir 492
Isoterma de Freundlich 493
Ajuste de Isotermas de Adsorçã o 493
Ciné tica de Adsorção de Fósforo no Solo 496
TRANSFORMA ÇÃO DE FÓSFORO L Á BIL EM NÃO-LÁBIL ... 497
Formação do Fósforo Não-Lábil 498
Reversibilidade do Fósforo Não-Lá bil 500

SBCS, Vi çosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V., V.H., BARROS,
N.F., FONTES, RXF., CANTARUTTI, R .B. & NEVES, J .C .L. ).
472 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

FONTES MINERAIS DE FÓSFORO 502


Fosfatos Naturais 502
Condições Favorá veis à Solubiliza çã o de Fosfatos Naturais 503
Acidez 503
Dreno-Solo 505
Dreno-Planta 506
Tempo de Contato 509
Solubilizaçã o de Fosfatos Naturais e Disponibilidade de Fósforo para as Plantas 512
Resultados Experimentais com Fosfatos Naturais em Nossas Condições 515
Fontes Industrializadas de Maior Solubilidade 518
Superfosfato Simples 518
Superfosfato Triplo 518
Fosfato Monoamônico ( NH4H2P04 ) 518
Fosfato Diam ônico [ ( NH4 ) 2HP04] 518
Termofosfato 518
Bio-Super 519
Considera ções Finais 519
FÓSFORO ORG Â NICO NO SOLO 521
Fósforo Orgâ nico em Solos Tropicais 521
Formas de Fósforo Orgâ nico 522
Fosfatases 522
Biomassa de Microrganismos 523
O Fósforo Orgâ nico e a Eutroficaçã o de Aguas 524
EXTRATORES 526
Formas Inorgâ nicas de Fósforo (Fracionamento de Chang & Jackson ) 529
Extrator do "P-Disponível" Sensível, também, ao P-Ca 534
Convergência de Id éias sobre os Extratores do "P-Disponível" 535
LITERATURA CITADA 537

INTRODU ÇÃ O
O conceito de rela ção fonte-dreno, largamente utilizado em Fisiologia Vegetal, trouxe
a compreensã o da existência de compartimentos que atuam como fonte de carboidrato
(as folhas, por exemplo) para outros compartimentos que o acumulam ( raízes, frutos em
crescimento, etc.), de forma preferencial.
A planta, como dreno, tem o solo como sua fonte principal de nutrientes minerais.
No caso frequente da deficiê ncia de nutrientes, a produtividade de uma planta é
viabilizada pela fertiliza ção do solo, isto é, pelo aumento da fonte de nutrientes para
satisfazer o dreno-planta. Há, portanto, na manutenção da produtividade de uma cultura
(de seu dreno), necessidade de manuten çã o do suprimento ( de sua fonte) de nutrientes
em quantidades adequadas para a planta . Assim, pode-se utilizar, também em Fertilidade
do Solo, a rela çã o fonte-dreno entre os compartimentos solo e planta.
O solo poderá ser naturalmente fonte de nutrientes, f é rtil, ou tornar -se fonte, com
maior ou menor restrição ( tamponamento ) a essa mudança, por meio da adiçã o de
fertilizantes .

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 473

O solo poder á ser fonte de P quando ainda apresentar caracter ísticas nutricionais
( reservas) favorá veis à planta, mesmo que insatisfató rias. O que se adiciona como
fertilizantes irá somar-se, sem maiores restrições, às reservas já existentes no solo. No
caso do solo-dreno, haver á competiçã o entre a planta (dreno) e o solo pelo P adicionado
como fertilizante. Solo e planta, como drenos, estarão competindo entre si pelo fertilizante
aplicado, e, em muitos dos casos, o dreno-solo é maior que o dreno-planta .
Com o aumento do grau de intemperismo, h á uma mudan ç a gradual de
caracter ísticas de um solo, no sentido de torn á -lo menos eletronegativo e, como
i-
consequência, mais eletropositivo (Quadro 1), com mudanças, direta ou indiretamente,
ligadas a esse perfil de carga . Sua capacidade de troca catiônica (CTCefetiva ) cai, a adsorção
aniônica aumenta, diminui a satura çã o por bases, enquanto aumenta, gradualmente, a
retençã o de â nions, como o fosfato, o sulfato, o molibdato, etc.
Com o intemperismo, os solos passam gradualmente de fonte para dreno de P
(Figura 1). Em condições extremas de intemperismo, como acontece em alguns Latossolos
de cerrado, o solo é um forte dreno de P. Para torná -lo fonte, sã o necessá rias grandes
quantidades de fertilizante fosfatado. Solos como esses podem adsorver mais de 2 mg cm-3
de P (Ker, 1995), valor que equivale a 4.000 kg ha 1 de P (9.200 kg ha 1 de P205), incorporado
' '

de 0-20 cm de profundidade. Enquanto plantas de cultivo anual, como a soja, imobilizam


em toda a sua biomassa aproximadamente 20 kg ha 1 de P, o solo pode imobilizar ou
'

fixar 200 vezes mais em formas "nã o- trocá veis", adequadamente denominadas nã o-
lábeis. Como, nesses solos, o já elevado intemperismo continua, o cará ter-dreno-P deverá
também continuar aumentando, com o tempo.
Se se pensar numa floresta tropical, com 54,5 kg ha 1 de P imobilizados em sua '

biomassa, com valores de ciclagem da ordem de 17 kg ha 1 ano 1, via serapilheira e ' '

transprecipitaçã o (Clevelario Jr., 1996), sobre um solo com poder de fixar 4.000 kg ha 1 de '

P, torna -se dif ícil explicar como esse equilíbrio se mantém . A floresta, dreno pequeno,

Quadro 1. Características químicas e f ísicas de um Latossolo muito intemperizado e um Entisol


pouco intemperizado, da regiã o amazônica

Carga
Profundidade Argila Silte PH ( HzO ) Ca 2 + C T Cefetiva
Negativa Positiva

cm —g k g’ — cmolc kg-
1

Latossolo
15 - 30 820 90 45
/ 0 , 60 2, 24 0 , 77 1, 55
30 - 45 840 80 4,5 0 , 38 1 , 65 0 , 82 1 , 82
45 -60 920 10 4 ,4 0 , 34 1,56 0 ,43 2,12
Entisol
15 -30 180 600 6 ,1 7 ,56 9 , 36 11, 24 0 , 25
30 - 45 160 560 6,0 7 , 74 9 , 81 12, 59 0 , 24
45 -60 130 530 5 ,8 7, 36 9, 35 11 , 54 0, 28

Fonte: Melgar et al . (1992 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
474 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

Figura 1. Rela ção fonte-dreno de f ósforo em solos em diferentes estádios de intemperismo.

contrasta com o solo, dreno muito grande (73,4 vezes maior que o primeiro ). O que se
esperaria é uma perda gradual de P da biomassa para o solo. Nã o deve haver, na verdade,
equilíbrio entre planta, ou entre o P ciciado e os componentes minerais do solo. Se esse
equilíbrio ocorresse, o solo n ã o permitiria a manutençã o do P na biomassa, em
quantidades necessá rias à floresta, na grandeza atual. Assim, esse solo nã o é apenas um
meio f ísico de sustenta çã o da floresta, mas també m um "buraco-negro" para o P que
entrar em contato com sua fase mineral. O que se pode conjecturar é que praticamente
nã o deve haver contato do P ciciado com a fase mineral desses solos. A planta absorveria
diretamente do que mineralizasse do substrato orgâ nico ("litter" ) ou da fase orgâ nica
sem dar chances ao substrato mineral do solo de se envolver nesse equilíbrio. Tudo isto
leva à forte argumenta çã o contra a queima de resíduos da explora çã o agr ícola . Praticar
a queima ou o manejo intensivo do solo, acelerando a mineraliza çã o da manta orgâ nica
( uma fonte de P de libera çã o lenta ) em solos mais intemperizados e, particularmente, nos
mais argilosos, seria favorecer o grande dreno-P do solo. Portanto, quando o solo ainda
é fonte, o que ocorre em condições de menor intemperismo, a queima será menos danosa .
A fra çã o argila , sua qualidade em particular, é a principal caracter ística que define
o solo como fonte ou como dreno de P. Num solo muito intemperizado, dada sua
mineralogia, o aumento de seu teor de argila fará com que haja aumento preferencial de
seu car á ter-dreno, enquanto num pouco intemperizado haver á, como consequência ,
aumento preferencial de seu cará ter fonte. Há, tamb ém no solo menos intemperizado,
aumento do car á ter-dreno (adsor çã o ou fixa çã o do P) com o aumento do teor de argila,
embora de maneira muito menos expressiva que do cará ter fonte. Com o aumento do teor
de argila dos solos mais intemperizados, pouco se ganha como fonte e perde-se muito
como dreno. Isso justifica, como será visto mais tarde, por que os solos de cerrado,
pobres em P e de textura média (de 150 a 350 g kg 1 de argila ) ou mesmo os mais arenosos,
'

têm-se mostrado mais produtivos com culturas anuais do que os argilosos. Dá -se o
contrá rio com os solos menos intemperizados de regiões temperadas, onde as maiores
produtividades sã o conseguidas nos solos mais argilosos.

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 475

Como se observou, o aumento de cargas positivas nos solos mais intemperizados e


argilosos é a causa básica do cará ter-dreno-P do solo. A situa çã o oposta, ou seja, aumento
de cargas negativas em solos menos intemperizados e argilosos, com o consequente
aumento da adsor çã o de cá tions ( > CTCefetiva ), como K +, Ca 2+ e Mg2+, deveria fazer com que
esses solos se comportassem como dreno, com rela çã o a esses nutrientes . Todavia, isso
nã o acontece, dada a manutençã o do car á ter trocá vel quando esses cá tions sã o adsorvidos
pelo solo, por causa da atra çã o eletrostá tica envolvida . A liga çã o covalente ( troca de
ligantes) do P com o solo ( Parfitt, 1978), dada sua grande estabilidade, faz com que nã o
haja analogia entre P e esses cá tions nas duas situa ções de intemperismo, maior ou
menor. Portanto, quando se diz que a grandeza do dreno para K, por exemplo, aumenta
com o intemperismo ( Figura 1), isso significa que haver á maiores perdas de K por
lixivia çã o com o decréscimo da CTCefetiva do solo . Tanto para o P como para o K há
perdas (o sistema aumenta seu car á ter-dreno do P) com o intemperismo do solo: para o P,
pela fixa çã o com limitada reversibilidade, e, para o K, pela lixivia çã o, facilitada por sua
baixa energia de adsor çã o.
O maior objetivo deste capítulo é sumariar as informa ções disponíveis sobre P na
relaçã o solo-planta, com ênfase nas condições tropicais, procurando, sempre que possível,
compará -las com as disponíveis para as condições temperadas.

FORMAS DE FÓ SFORO NA
RELA ÇÃ O SOLO - PLANTA

Apresenta -se um esquema geral de P na rela çã o solo-planta (Figura 2), sumariando


as principais caracter ísticas de seus componentes e de suas interrela ções, para dar uma
visã o geral do que ser á tratado sobre este nutriente neste texto.
Inicia -se a interpreta çã o do esquema, apresentando-o a partir de Fonte Mineral,
provavelmente o compartimento com mais significado pr á tico, ou seja, o repositório de
fertilizantes aplicados no solo. Podem ser utilizadas diferentes fontes minerais de P as
quais se caracterizam por apresentar maior ou menor reatividade(1) (Solubiliza ção ).
Alguns fosfatos naturais, como as apatitas brasileiras, podem apresentar reatividade
muito pequena, em muitos casos insuficiente para manter uma concentraçã o mínima de
P, na soluçã o do solo (P-Soluçã o) e junto à raiz, satisfató ria para a necessidade da planta
(Influxo). Em outros casos, a solubilidade de uma fonte de P é tã o alta que a concentraçã o
de P em soluçã o (P-Soluçã o) atinge valores indesejavelmente elevados, mesmo que por
curto espa ço de tempo. Pode-se, assim, antecipar o conceito de que falta ou excesso de
solubilidade podem ser igualmente indesejáveis, particularmente para os solos tropicais
em geral, como será compreendido mais adiante.

(1 )
Veja o conceito de reatividade de fontes de P em "Fontes Minerais de Fósforo".

FERTILIDADE DO SOLO
476 ROBERTO FERREIRA NOVAIS e t al .

Figura 2. Formas de f ósforo no sistema solo-planta; interdependências e equilíbrios.

A seta que indica a dire çã o de P-Solu çã o para Fonte Mineral, denominada


Retrograda çã o, indica que, em algumas condições de solo, o P-Soluçã o poder á migrar
para alguma forma de baixa reatividade que constitui as Fontes Minerais. Em condições
de elevado pH de solo, o P em soluçã o poder á ser precipitado em formas de baixa
solubilidade, causando decréscimo no tamanho do compartimento P-Soluçã o e aumento
no compartimento Fonte Mineral. Algo inverso à pr á tica de suprir P à planta estaria
acontecendo.
Outra maneira de alterar a concentraçã o de P na soluçã o do solo é o uso de Fontes
Orgâ nicas. À semelhança do que ocorre com as Fontes Minerais, as Fontes Orgâ nicas
poderã o ser fonte (aumentar ) ou ser dreno ( diminuir ) o P-Soluçã o. Com a Mineraliza çã o
de Resíduos de cultivos, ou mesmo da matéria orgâ nica humificada do solo, o P liberado
da biomassa contribuirá para o maior conte ú do de P-Soluçã o. Por outro lado, poder á
haver imobilizaçã o temporá ria do P da soluçã o do solo pela sua incorporaçã o à biomassa
microbiana, aumentada pela adiçã o de uma fonte de C, como Resíduos de cultivos, com
limitado conte ú do de P para atender ao crescimento da popula çã o de microrganismos.
Portanto, para a mineralização desses resíduos, há necessidade de imobilizar P da soluçã o
do solo por um tempo correspondente ao decréscimo da fonte de C, reduzindo a relaçã o
C / P do resíduo a valores semelhantes ao da biomassa microbiana. Com isso, o P-Solução
volta a aumentar, com o predomínio da Mineralizaçã o sobre a Imobilizaçã o.

FERTILIDADE DO SOLO
r '

VIII - Fó SFORO 477

O P-Solu çã o, temporariamente aumentado pelas fontes minerais ( fertilizantes


químicos ) ou orgâ nicas ( resíduos org â nicos ou mat é ria orgâ nica do solo - MOS),
ocasionar á um desequilíbrio, em rela çã o ao P-l á bil anterior, aumentando a Adsor çã o, o
que significa aumento deste compartimento, ou, por outro lado, aumentando a Difusã o,
isto é, o transporte de P em direçã o à raiz da planta . Ambos, Adsor çã o e Difusã o de P,
ser ã o maiores com o aumento do P-Soluçã o. No entanto, a Adsor çã o é um mecanismo
bem mais rá pido de depleçã o do P-Soluçã o do que a Difusã o, particularmente nos solos
com o car á ter-dreno maior do que o cará ter-fonte. Por outro lado, quando o P-Solução
vai sendo exaurido pela absor çã o (ou pela Retrogradaçã o, pela Imobiliza çã o ou pelas
perdas ), o estoque de "P- trocá vel" ( P- Lá bil ) ir á recompor o P-Soluçã o, pelo menos
parcialmente, num novo equilíbrio para um sistema-solo menos rico em P do que o anterior.
Logo, o P-Lá bil, que, ao longo do texto, será denominado também " fator-quantidade" (Q),
indica o tamanho do estoque de P ( como uma caderneta de poupança ) que ir á repor
retiradas do P-Solução (dinheiro cash , prontamente utilizá vel). O aumento do P-Soluçã o,
que, ao longo do texto, terá o mesmo significado de " fator intensidade" (1), implica aumento
do P-Lábil, e vice-versa, do mesmo modo que ganho de dinheiro implica possibilidade de
aumento de poupança, e vice-versa . Todavia , os solos diferem quanto à sensibilidade do
P-Lá bil a altera ções do P-Soluçã o, como há diferenças entre pessoas em resistir mais ou
menos a recorrer à poupança quando se gasta ou se ganha mais dinheiro. Essa resistência
do solo a mudar o P-Lábil, como consequência de mudanças no P-Soluçã o, ou vice-versa,
é denominada Fator Capacidade de P do Solo (FCP) ou Poder Tampão de P do Solo. Solos com
maior FCP, como os mais intemperizados e argilosos (solos-drenos ), mantêm mais
constante o valor de P-Soluçã o (1) quando submetidos à adiçã o ou à retirada de P. A
rela çã o Q / l de um solo é a medida do FCP. Para o mesmo grupo de solos (semelhante
qualidade de argila ), todos com a mesma concentra çã o de P em solução, os mais argilosos
terã o valores maiores de Q do que os dos de texturas médias e estes mais que os arenosos.
Por analogia, poder-se-ia dizer que entre pessoas com o mesmo salá rio aquelas com mais
dinheiro na poupança teriam maior fator capacidade-dinheiro (ou seriam mais avarentos?),
portanto com meios para manter o dinheiro disponível ( cash ) mais constante. Solos com
alta rela çã o Q / l deverão, para o mesmo valor de Q, manter menores valores de 1, embora
mais constantes ( tamponados) que nos solos com menores relações Q / l.
Pelo visto até agora, o P-Lábil e sua relação com P-solução proporciona um mecanismo
ao solo que tampona o sistema, que o regula, procurando controlar tanto excessos como
carências, dentro de limites pr óprios a cada solo. Assim, o P, escasso na maioria de nossos
solos, apresenta mecanismos de conserva çã o bastante efetivos, embasados na fixa çã o
(transformação de P-Lábil em P não-Lá bil). Essa caracter ística do P torna-se mais intrigante
quando se considera que, nos sistemas em que sua presença torna-se mais escassa, como em
solos tropicais mais intemperizados (solos-drenos), os mecanismos de sua manutenção no
sistema tornam-se também mais r ígidos: a fixa ção é maior, a passagem para a forma nã o-
lábil é mais rá pida, consumindo grande percentual do que é aplicado em formas solúveis.
Como comentado, particularmente em solos considerados dreno-P, a Absorção de P
diretamente do "litter" em florestas tropicais, sem o acesso da fase mineral desses solos
a essa fonte de P (anulando a fixa çã o), é uma aparente soluçã o para o problema de
manutenção do conteú do de P nas á rvores.

FERTILIDADE DO SOLO
478 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

Para que o compartimento P-Planta seja alcançado, o P dever á ser absorvido em


determinada taxa (Influxo) bem maior que a relativa a perdas ( Efluxo) do P já absorvido.
O efluxo pode ocorrer em níveis mais elevados quando a concentra çã o de P em uma
planta é bastante alta , o que n ã o é o caso na maioria dos solos deficientes em P,
encontrados em condições tropicais.
O P-Soluçã o pode ser submetido a perdas por Erosã o, por meio de perdas de camadas
superficiais do solo, mais ricas em P ou por Lixiviaçã o, possível em solos mais arenosos,
quando a quantidade de P proveniente de uma fonte qualquer se aproxima do poder de
Adsor çã o má xima de P do solo ou o ultrapassa (é mais facilmente lixiviado quando em
formas orgâ nicas). Essas perdas poder ã o causar problemas relativos à eutrofica çã o de
á guas .

FATORES INTENSIDADE, QUANTIDADE


E CAPACIDADE

Há mais de sete d écadas, foi desenvolvida uma pesquisa de excelente qualidade


(Tidmore, 1930 ) sobre o assunto tratado neste subcapítulo. O autor verificou que a
concentração de P em soluçã o nutritiva necessá ria ao crescimento satisfatório de diferentes
plantas era, sistematicamente, maior que a concentra çã o de P na soluçã o do solo. Em
soluçã o nutritiva, o crescimento má ximo das plantas foi obtido com, pelo menos, 0,5 ppm
P04( 2); um pequeno crescimento das plantas foi obtido com 0,05 ppm de P04. Por outro
lado, solos onde nã o havia respostas a adiçã o de fertilizante fosfatado apresentavam
-
concentra çã o de P em soluçã o inferior a 0,02 ppm P04 ("tra ços") O autor concluiu que
" a solução extraída não é a verdadeira solução do solo, e que a fase sólida tem uma fun ção
importante no suprimento de P à s plantas” . Essa concentra çã o de 0,06 ppm P04
(aproximadamente, 0,02 ppm P) corresponde a 12 g de P em um hectare desse solo, com
30 % de á gua retida, para a camada de 0-20 cm . Admitindo que uma cultura anual
absorva 20 kg ha 1 de P, o valor de 0,02 ppm P teria de ser renovado 1.667 vezes. Verifica-
'

se que, de fato, a fase sólida terá de compatibilizar esses números, como concluiu Tidmore.
O P na soluçã o do solo, ou P-soluçã o, é denominado Fator Intensidade (I) (Figura 2) .
Como se viu pelo trabalho de Tidmore e por uma vasta literatura sobre o assunto,
. atualmente disponível, a planta nã o pode ter apenas no valor de I sua fonte de P. O
~
ressuprimento ou "renova çã o" de I, à medida que^o P^é absorvido, é feito pelo
Fator Quantidade (Q), muito maior que I. Há, portanto, um equilíbrio entre I e Q, de
/
modo que qualquer altera çã o ( retirada ou adiçã o ) em um deles implica alteraçã o no
outro . Essa interdepend ê ncia de I e Q caracteriza o Fator Capacidade ( FCP ) ,
quantitativamente definido pela relaçã o Q / I. Com o aumento de I (adiçã o de fertilizante,
por exemplo), haverá um aumento de Q, mantendo-se a relaçã o Q / I constante, o que a
caracteriza como propriedade intr ínseca de um solo ( Novais, 1977; Ozanne, 1980 ).

(2)
Unidade e forma de P como utilizadas pelo autor.

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 479

Em solos com maior adsor çã o de P, como os mais argilosos e, de modo particular, os


mais intemperizados, a rela çã o Q / I ser á maior que em solos com menor adsor çã o, como
nos arenosos e, se argilosos, menos intemperizados. Portanto, para o mesmo valor de
Q + I, um solo argiloso ter á menos P em solução (I) e mais P-lábil (Q) que um solo arenoso.
Por outro lado, para solos com o mesmo valor de I, a planta ter á mais P à sua disposiçã o
naquele com maior Q (maior FCP) . A recíproca é verdadeira: para valores iguais de Q, a
planta ser á beneficiada no solo com maior I ( menor FCP) . A compreensão do significado
de I, Q e Q / I é essencial ao entendimento do comportamento da planta em diferentes
solos, dos extratores do " P - dispon í vel ", da "solubilidade" ( reatividade ) e do
aproveitamento de fontes de P, do residual do P aplicado em cultivos anteriores, da
recomenda çã o de aduba çã o, de possíveis perdas e consequentes problemas ambientais,
etc. Neste subcapítulo procura -se dar esta compreensã o e o suporte necessá rio ao
entendimento de todo o texto sobre P.

Fator Intensidade

Embora o teor total de P dos solos se situe, de modo geral, entre 200 e 3.000 mg kg 1 '

de P, menos de 0,1 % desse total encontra -se na soluçã o do solo. Em solos agr ícolas, os
valores de P em soluçã o estão, com frequência, entre 0,002 e 2 mg L 1 de P (Fardeau, 1996).
'

Nos primeiros trabalhos em que se tentou estabelecer a relaçã o entre a concentração


de P na soluçã o do solo ( I ) e o crescimento de plantas, Beckwith (1965) estabeleceu
0,2 mg L 1 de P como a concentraçã o necessá ria ao má ximo crescimento de plantas.
'

Resultados semelhantes foram obtidos por Fox & Kamprath (1970).


Yost et al. (1979 ), trabalhando com Latossolos de cerrado, onde pesadas adubações
de P foram aplicadas em experimentos com milho, encontraram, em amostras dos solos
de parcelas em que a produçã o de milho foi de 8.000 a 9.000 kg ha 1, valores de P em
'

soluçã o inferiores a 0,05 mg L 1. Smyth & Sanchez (1980b ) encontraram a concentra çã o


'

de 0,01 a 0,03 mg L 1 de P na soluçã o do solo, considerada ó tima para o crescimento de


'

arroz, em um Latossolo Vermelho-Escuro de cerrado com 454 g kg 1 de argila . Essas


'

informa ções, contrá rias ao nível crítico de 0,2 mg L 1, revelam a necessidade de conhecer
mais um fator, quantidade ou capacidade, como sugerido por Rajan (1973), para se
compreender a resposta de plantas à disponibilidade de P no solo. Assim, a concentraçã o
de 0,2 mg L 1 de P, tida como nível cr ítico para solos com baixo fator capacidade (FCP),
'

como os arenosos, mesmo em condições de maior intemperismo, pode ser reduzida a


valores inferiores a 0,05 mg L 1 em solos com grande FCP. Nesse caso, apesar do baixo
'

valor de I, sua reposiçã o pelo fator quantidade (Q) é bastante intensa após a absorção de
P pela planta.
Fixen & Grove (1990) verificaram que o coeficiente de correlação ( r ) entre P na solução
do solo e respostas de plantas, em diversos trabalhos, variou de 0,03 a 0,99. Essa grande
variação no valor de r indica a dificuldade de ter apenas I como índice de disponibilidade
de P para plantas. Os maiores valores de r encontrados por esses autores provavelmente
estã o relacionados com a utiliza ção de apenas um solo, com valores de I distintos (adição
de diferentes doses de P), ou de solos com valores de FCP (Q / I) semelhantes.

FERTILIDADE DO SOLO
480 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

Verifica -se, portanto, que a indica çã o de concentra ções críticas de P na solu çã o,


para diferentes culturas, sem indicar a grandeza do FCP para cada solo, nã o permite a
extrapola çã o desses valores para outros solos. Assim, mesmo nã o havendo correla çã o
significativa entre crescimento de planta ou quantidade de P absorvido pela planta e o
valor do fator intensidade (I ), considerando a contribuiçã o diferencial entre solos com
diferentes valores de FCP (Q / I), quantitativamente a resposta da planta é muito mais
dependente de Q do que de I, dada a expressiva diferença de grandezas entre ambos (3).

Fator Quantidade

O fator quantidade envolve, para fins prá ticos, a soma da concentra ção do elemento,
teoricamente considerado fator quantidade (Q) mais sua concentra çã o em soluçã o (I) . A
separa çã o das duas formas, para obtençã o do valor de Q, n ã o se justifica, uma vez que a
concentra çã o do P em soluçã o é, de modo geral, extremamente menor que a de Q, nã o
alterando, para a exatid ã o da determina çã o, o valor de Q obtido. Alguns mé todos tê m
sido utilizados para determinar o fator quantidade de P do solo. Eles sã o descritos a
seguir.

Fósforo Isotopicamente Troc á vel

Embora o teor de P do solo, obtido pelos extratores do "dispon ível", como Mehlich-
1 ou Resina de Troca Aniô nica , seja considerado medida do P-lá bil, teoricamente, a
medida recomendada é a determina çã o do P isotopicamente trocá vel.
Essa determina çã o fundamenta -se na técnica da diluiçã o isotópica . Pela diluiçã o
isotópica , determina -se a quantidade ou a concentra çã o de um elemento ou composto
nã o marcado por meio da mistura com o elemento ou composto marcado. Quando se
adiciona o isó topo radioativo 32P a um solo, há uma troca entre ele e o 31P adsorvido, na
forma lá bil:
31
P(Q) + 32P(I) <=> 32
P(Q) + 31P(I )
Em condições de equilíbrio:
32
P(Q) / 32P(I) = 31P(Q) / 31P(I) (1)

Portanto:
31
P(Q) = [32P(Q) 31P(I) ] / 32P(I)

<3> Esta situa çã o é semelhante à quela representada pelos componentes da acidez do solo: a acidez ativa
expressa pelo pH (I ) em equilíbrio com acidez potencial ( H + Al ), como uma medida de Q. Um solo
com pH 4,0 e com 30 % de á gua ter á 600.000 L ha 1 retidos de 0- 20 cm de profundidade . Para a
'

correçã o de toda sua atividade de H + (10 4 mol L 1 x 600.000 L ha 1 = 60 mol ha 1 = 60 g ha 1 de H + ),


‘ ' ' ' '

serã o necessá rios apenas 3 kg ha 1 de CaC03 (60 molc ha 1 de CaC03). Como se sabe, a correçã o da
' '

acidez de um solo com pH 4,0 ( nã o é de toda a acidez, mas, apenas, para reduzi- la , talvez, a
pH 6,0 ) ir á depender da aplica çã o de algumas toneladas de CaC03 por hectare ( variá vel com o
poder tampã o do solo ou sua rela çã o Q / l - acidez potencial / acidez ativa ), quantidade definida,
essencialmente, pela acidez potencial, e nã o pela ativa .

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 481

Uma maneira pr á tica de ilustrar o processo de diluiçã o isotópica é a seguinte. Uma


caixa (um único compartimento) contém certo n ú mero de bolas pretas. Esse nú mero deve
ser estimado sem que todas as bolas sejam retiradas da caixa e individualmente contadas
( utilizando um procedimento nã o-destrutivo ) . Recurso para estimar esse n ú mero de
bolas pretas é adicionar um n ú mero conhecido de bolas brancas e misturar as bolas na
caixa, para ter uma mistura homogénea . Retira -se, entã o, uma amostra de bolas da caixa
e pela rela çã o entre o n ú mero de bolas pretas e brancas na amostra pode-se estimar o
n ú mero total de bolas pretas na caixa . Se nã o houvesse nenhuma bola preta na caixa,
V

todas as bolas na amostra seriam brancas. A medida que o n ú mero de bolas pretas na
caixa aumenta , aparecer ã o, proporcionalmente, mais bolas pretas na amostra e,
consequentemente, menos bolas brancas. Há "diluição" no n úmero de bolas brancas
pela presença de bolas pretas. Colocando n ú meros no problema, tem-se: n ú mero de
bolas brancas adicionadas à caixa = 50 . Na amostragem, 30 bolas foram retiradas, cinco
eram brancas e 25 pretas. Se a amostra for realmente representativa do existente na caixa
( uma mistura homogénea ), haverá na caixa cinco bolas pretas para cada bola branca (25 para
5) . Como foram adicionadas 50 bolas brancas, estima-se que haja 250 bolas pretas na caixa .
Ao utilizar um elemento marcado ( radioativo ) para determinar a quantidade do
elemento está vel, obtém-se, no elemento marcado, as bolas brancas (conhecido) e, no
elemento está vel, as bolas pretas (a ser determinado). A quantidade total do elemento
existente na amostra, soma dos isó topos está vel e instá vel ( n ú mero de bolas pretas e
brancas na amostra ), é determinada pela química quantitativa usual. A identifica ção do
n ú mero de bolas de cada cor é feita, entre os dois isó topos, pela emissã o de radioatividade
pelo isótopo instável (bolas brancas). Assim é que a atividade específica(4) adicionada ao solo
será reduzida ou "diluída" (diluição isotópica ) pela presença do isótopo está vel no solo.
H á, aproximadamente, 50 anos, foram estabelecidos os primeiros mé todos de
determina çã o do P-lá bil do solo, pela diluiçã o isotópica do 32P adicionado, isó topo
instá vel(5) do 31P existente no solo e que se pretende determinar . Foram estabelecidos os
valores E de "Exchangeable" (McAuliffe et al., 1948) e L de Larsen (Larsen, 1952) ou,
també m, de "Labile" (lá bil), segundo Fardeau et al. (1996).

Valor E
O uso de reagentes químicos como extratores de nutrientes "disponíveis" do solo
provoca, normalmente, altera ções químicas intensas nesse solo. Há trabalhos que
mostram que plantas absorvem mais P dos solos após a extra çã o do "P-disponível" pelo
ácido acé tico ou ácido sulf ú rico diluídos do que antes da extração. Há, portanto, profunda
modifica ção nas caracter ísticas do solo causada pelos extratores. A procura de um método
n ã o-destrutivo para a avalia çã o da disponibilidade de nutriente do solo levou
pesquisadores a utilizar mé todos de troca, como a Resina de Troca Aniônica ou a diluição
isotópica .

(4 )
Atividade específica = 32P / quantidade de P na amostra analisada .
<5) A meia - vida ( t ) do 32P é de 14,3 dias . Assim , a cada per íodo de tempo de 14,3 dias, há uma
1/ 2
redu çã o da metade da radioatividade anterior ("deca ída radioativa " ) .
i

FERTILIDADE DO SOLO
482 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

Na determina çã o do valor E de P, adiciona -se uma soluçã o que contenha 32 P a uma


amostra de solo e agita -se a suspensã o para que se estabeleça equilíbrio no sistema .
Parte do 32P adicionado ir á deslocar para a soluçã o parte do 31P inicialmente adsorvido
(lá bil ou Q). Pela análise química, sabe-se a quantidade de P total ("n ú mero de bolas na
amostra " ), enquanto a radioatividade emitida pelo 32P permite quantificar sua
concentra çã o na soluçã o ("bolas brancas") . A diluiçã o da concentra çã o ( radioatividade)
inicial de 32P na solu çã o permite estimar a concentra çã o de 31P "trocá vel" ou lá bil (Q)
existente, originalmente, na amostra de solo ("bolas pretas").

Valor L

Segundo Larsen (1952), o valor L pode ser considerado valor E quando a planta é
utilizada na amostragem da solu çã o do solo, após equilíbrio entre o 32P adicionado e o
*

31
P-l á bil do solo. O procedimento envolve uma mistura uniforme da fonte do 32P com o
volume de solo em que as plantas serã o cultivadas. A planta irá absorver o P da soluçã o,
ou seja , o 32P "dilu ído" e o 31P trocado ( l á bil ). A aná lise da planta permite quantificar o
P total absorvido ("amostra de bolas") e, pela radioatividade emitida, quantifica -se o 32P
absorvido ("bolas brancas"). A quantifica çã o do 31P originalmente presente no solo
("bolas pretas") torna-se f ácil pela diluiçã o da concentração do 32P ocorrida e "amostrada"
pela planta .

Fator Capacidade
O fator capacidade de P (FCP) pode ser entendido como a resistência do solo a
mudanças no fator intensidade (I) quando se põe ou se retira P do solo (Q). O FCP (Q / I )
é definido pelo equilíbrio ou "liga çã o" entre varia çã o de quantidade e varia çã o de
intensidade. Esquematicamente, esses três fatores podem ser representados por um
sistema de vasos comunicantes (Figura 3).
A caixa maior, que comporta Q ou P-lá bil, representa a capacidade má xima de
adsor çã o de P do solo (CMAP). Essa "caixa" é, para dadas condições de solo, uma

t ii -ig
t
1 f
Q Fator 1
Capacidade
Absorção
Adsorção
<J) ( O/ l ) Fixação
Lixiviação
Retrogradação

Figura 3. Representação esquemá tica dos fatores quantidade (Q), intensidade (I) e capacidade
(Q / I) ( <J> representa o diâ metro da tubula ção entre os dois compartimentos - Q e I).

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 483

constante . Latossolo argiloso, por exemplo, apresenta maior CMAP do que Areia
Quartzosa . O tamanho da caixa maior nã o diz a quantidade de Q, mas, sim, a quantidade
má xima de Q que ela pode comportar . Portanto, a quantidade de P na caixa "Q" representa
o fator quantidade de P do solo. Este pode ser aumentado por fertiliza çã o ou diminuído
pela absorçã o pelas plantas, por fixa çã o em formas nã o-lá beis ou mesmo por lixivia çã o
em condições especiais. A pequena caixa à direita (I), bem menor que a primeira (Q), tem,
no seu conteúdo, o fator intensidade. A rela çã o entre os tamanhos das duas caixas é bem
grande, uma vez que, em Latossolos, por exemplo, sã o frequentes valores de CMAP
superiores a 1,0 mg g 1 de P no solo ( Andrade et al., 2002; Rolim Neto et al., 2004), enquanto
'

o valor de intensidade fica em torno de 0,05 mg L 1 de P ( Yost et al ., 1979 ) . Essa rela çã o


'

entre os valores má ximos de Q (igual a CMAP ) e de I, neste exemplo (1.000 mg kg 1 P /


0,05 mg L 1 P), é de 20.000. Para um solo arenoso, comparado a um argiloso, ambos
'

pertencentes a um mesmo grande grupo, a rela çã o entre os tamanhos das duas caixas
diminui consideravelmente, nã o só pelo menor tamanho da "caixa " de Q, mas também
pelo aumento da "caixa " de I. Para o mesmo valor de Q, deve-se, portanto, encontrar
valores de I bem maiores nos solos arenosos. Como mostra o esquema (Figura 3), as duas
caixas encontram-se no mesmo nível, e, dessa maneira, I ser á igual a zero quando Q for,
também, zero.
O di â metro do tubo que liga as duas caixas representa o fator capacidade. Um
diâ metro maior condicionar á a manutençã o do nível de I mais próximo do nível de
equilíbrio quando P é adicionado ao solo ou dele removido ( mudança r á pida de Q ) .
Menor diâ metro desse tubo ( menor FCP) pode nã o manter o nível de I em equilíbrio com
o nível de Q, em condições de absor çã o intensa de P, por exemplo. Em condições de solos
com pequena CMAP ( solos arenosos, por exemplo ) , é preciso maior valor de I
( concentra çã o ó tima ) para atender à demanda da planta e compensar a menor vaz ã o
entre Q e I . Como consequência pr á tica, há necessidade de 0,2 mg L 1 de P na solu çã o do
'

solo (I), como concentra çã o ó tima, em solos arenosos, e de valores até mesmo menores do
que 0,05 mg L 1, em solos com grande CMAP (grande FCP), como discutido anteriormente.
'

O fator capacidade, ou "poder tampã o", de P pode ser comparado às altera ções da
acidez pela aplica çã o de calcá rio em solos com diferentes valores de poder tampã o da
acidez (Figura 4) . O Solo B é mais tamponado que o solo A, dado que seu valor de pH é
menos alterado pela adiçã o de calcá rio. A tangente P é menor que a tg a. Portanto, há
uma relação inversa entre o poder tampão da acidez do solo e o valor da tangente ( ApH /
Á t ha - de calcá rio ). Matematicamente, o poder tampã o desses solos é definido pelo inverso
1

das tangentes, ou:

l / ( tg â ngulo ) = l / ( ApH / At ha 1 de calcá rio) = ( At ha 1 de calcá rio ) / ApH 6>


' ' (

Para o fator capacidade de P, a situação é semelhante, quando se tem I (concentraçã o


de P na soluçã o do solo ) como variá vel de Q (doses de P aplicadas no solo ) (Figura 5).

<6 > Uma medida de quantidade ( Q ) sobre uma de intensidade ( I ).

FERTILIDADE DO SOLO
484 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

Figura 4. Altera çã o do pH de dois solos com diferentes valores de poder tamp ã o da acidez, em
resposta à adiçã o de calcá rio, considerando relacionamento linear entre as duas variá veis.

Figura 5. Alteraçã o do fator intensidade de P ( I ), concentra çã o de P em solução ou sua atividade


em dois solos com diferentes valores do FCP, em resposta à aplicaçã o de P ( medida em
termos de aumentos de Q), considerando relacionamento linear entre as duas variá veis.

No solo A, verifica-se que, com a adição de uma quantidade qt de P ao solo, o aumento


do valor de I será maior (IA ) do que no solo B (IB). Logo, o solo A é menos tamponado, ou
tem menor FCP, que o solo B. Por outro lado, para cada unidade de Q extraída do solo,
haverá maior decréscimo de I no solo A do que no B. O FCP é expresso pela relação
inversa das declividades ( tangentes) das retas dos ajustamentos entre I e Q:

FCP = 1 / ( AI / AQ) = AQ / AI (2)

Nas isotermas, avalia -se a quantidade de P adsorvido ao solo (Q), como consequência
de concentra ções crescentes de P em soluçã o, colocadas em equilíbrio (I, ou C nas
isotermas) com amostras do solo (Figura 6), em condições de temperatura constante,
razã o para denomina çã o da isoterma .
Diversas medidas, ou índices, do FCP, definido pela relação Q / I (Eq.2), sã o obtidas
a partir das isotermas de adsor ção, por ser o FCP controlado pelos processos de adsorçã o /
dessor çã o de P do solo (Holford, 1979; Bonfim et al., 2004).

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 485

Figura 6 . Isoterma de adsor çã o de P pelo solo, tendo quantidade de P adsorvido ( x / m ou q )


como variá vel da concentra çã o de P em equilíbrio, na soluçã o ( C ).

Para análises de rotina, agitar a amostra do solo com uma concentra ção de P apenas,
dentre as diversas necessá rias ao estabelecimento das isotermas, pode ser uma solução prática
para a obtençã o de um índice do FCP. Esse índice de adsor ção de uma concentraçã o
ú nica de P foi proposto por Bache & Williams (1971) e tem sido utilizado, com algumas
altera ções, com a denomina çã o de P-Remanescente (PR ), em pesquisas realizadas no
País, com excelentes resultados ( Muniz et al ., 1985,1987; Novais et al., 1993; Andrade et
al., 2002). O PR corresponde a concentra ção da soluçã o de equilíbrio ap ós agita çã o do
solo, por uma hora , com uma concentra çã o de 60 mg L 1 de P, numa soluçã o de
'

CaCl2 0,01 mol L 1 adotada como padr ã o. Enquanto o índice de Bache & Williams (1971)
'

(uma medida do P adsorvido) apresenta correlações positivas com outras medidas do FCP, o
PR (uma medida do que nã o é adsorvido) apresenta correlação negativa com essas medidas.
Compreende-se, també m, a menor ou nula importâ ncia que se tem dado a medidas
de FCP em solos de regiões temperadas e naturalmente mais ricos em P(7) como critério de
interpretaçã o de resultados de análises do "P-disponível", contrariamente ao que acontece
em nosso Pa ís. E importante enfatizar que se está caminhando nessa direçã o, com o
cultivo de nossos solos mais intemperizados e argilosos, à medida que eles se
aproximarem do car á ter-fonte e se distanciarem do forte cará ter -dreno atual.

ADSOR ÇÃ O DE F Ó SFORO NO SOLO

O fenômeno de retençã o de P no solo é conhecido há quase um século e meio pelo


trabalho de Tomas Way (1850), citado por Sample et al. (1980). Embora essa retençã o
seja um fenômeno favorá vel à utiliza çã o do P pelas plantas, o "envelhecimento" dessa
retençã o, com a forma çã o de P nã o-lá bil, torna -se problemá tico. A retençã o do P
adicionado ao solo, em formas lá beis ou nã o, ocorre tanto pela precipita çã o do P em

<7) O laboratório de aná lise e de interpretaçã o de "P-disponível" ( Mehlich-3) de North Carolina ( Raleigh )
- USA n ã o utiliza medida do FCP para interpretar resultados obtidos.

FERTILIDADE DO SOLO
;

*
486 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

soluçã o com formas iô nicas de Fe, Al e Ca , como, principalmente, de maneira mais


significativa, pela sua adsorçã o pelos oxidr óxidos de Fe e de Al, presentes, de modo
geral, em maiores quantidades em solos tropicais mais intemperizados, de modo
particular nos mais argilosos (Sanchez & Uehara , 1980; Sanyal & De Datta, 1991;
Valladares et al., 2003; Rolim Neto et al., 2004) .

Adsorçã o
Adsor çã o é um termo genérico que indica rea ções químicas e mesmo f ísicas que
ocorrem em interfaces (superf ícies de separaçã o de duas fases) . A superf ície (óxidos, por
exemplo ) é chamada adsorvente. A substâ ncia (íons fosfato, no caso ) é chamada
adsorvato. A superf ície é, muitas vezes, porosa, mostra imperfeições ou microporos,
permitindo a difusã o do adsorvato em seu interior, dando continuidade às rea ções . A
esse fenômeno chama -se absor çã o (Sanyal & De Datta, 1991) . É comum na literatura o
termo sor çã o, mais genérico, que engloba os fenômenos de adsor çã o e absor çã o. O P
inicialmente adsorvido à superf ície de agregados de solo difunde-se, com o tempo, para
seu interior ( Nye & Staunton, 1994; Linquist et al., 1997). É um processo lento, que pode
levar anos para atingir o equilíbrio, devendo ser, també m, responsá vel pela diminuiçã o
da disponibilidade de P de um solo recém-fertilizado, com o aumento do tempo de contato
do P com esse solo. Portanto, essa penetra çã o difusiva de P no interior do adsorvente
constitui uma dificuldade a mais para a escolha da terminologia adequada para o
processo. Esse processo, segundo Barrow (1985), seria mais adequadamente denominado
"sorçã o" e "retenção", sendo retençã o a soma de adsorção e penetração (absorção). Por outro
lado, Iyamuremye & Dick (1996) consideram que sor çã o pode incluir reações de adsorçã o
e de precipitação. Esses autores definem perdas de P da solução do solo para a fase sólida por
adsor çã o e por precipita çã o. Alguns trabalhos clássicos utilizam o termo adsor ção
generalizadamente (Parfitt, 1978), ou utilizam sorção e adsorção indistintamente (Sanyal
& De Datta, 1991) . Um complicador, que leva à utiliza çã o desse termo, sã o as isotemas
de adsorção. que, apesar da denominaçã o, medem o "desaparecimento" do P em soluçã o,
com o envolvimento prová vel de todos os processos discutidos.
Neste texto, tem-se utilizado o termo adsorção no sentido amplo. Embora consciente
da inadequabilidade plena do termo, nã o se reconhece ser ele preciso quando esse
"desaparecimento" nã o permite identificar o processo responsá vel por ele. Há um termo
adicional para retençã o de P no solo, fixa çã o, utilizado, mais adequadamente, para
identificar a forma çã o de P nã o-lábil, nã o mais em equilíbrio com o P-soluçã o ( van der
Zee et al., 1987; Hsu, 1989 ).
Este subcapítulo tem como objetivo enfatizar as isotermas de adsor çã o, seus
fundamentos e características principais, como sã o obtidas e utilizadas na prá tica, bem
como discutir o comportamento diferencial de constantes dessas isotermas, em relação a
características de s

Adsorção por Oxidróxidos de Ferro e de Alum í no


Na fase inicial de rá pida adsorção de P no solo, há uma atração eletrostá tica inicial,
seguida pela adsor çã o por oxidróxidos, por meio de troca de ligantes (Goldberg & Sposito,

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 487

1985; Sanyal & De Datta, 1991; Laboski & Lamb, 2003) . Nessa rea çã o, denominada
quimiossorçã o, há troca de ligantes, como OH e OH2+, da superf ície dos óxidos, por
"

fosfato da soluçã o (Figuras 7 e 8). É uma ligaçã o predominantemente covalente ("adsorção


específica " ), ao contr á rio do N03 ou do Cl , adsorvidos por atra çã o eletrost á tica
" "

("adsor çã o nã o-específica ") (Parfitt et al., 1975; Parfitt, 1978) .


Com o aumento do pH, a carga superficial de partículas do solo torna-se cada vez
mais negativa, aumentando a repulsã o ( menor adsor çã o ) entre fosfato e superf ície
adsorvente e diminuindo o potencial eletrostá tico do plano de adsor çã o (*Fa ) ( Haynes,
1984; Barrow, 1985). Como consequ ência , a adsor çã o de P pelo solo deve ser má xima
com baixos valores de pH. O aumento do pH de um solo, diminuindo a adsorçã o de P,
nã o é tã o direto e simples como indica a figura 7. A pequena e não-consistente altera çã o
da capacidade m á xima de adsor çã o de P (CMAP) de amostras de dois Latossolos,
submetidas a diferentes níveis de pH, foi observada por Vasconcellos et al . (1974) . Por
outro lado, com o aumento do pH, diminui a presença da forma H 2P04 , em rela çã o à ‘

HP042 (Figura 9), esta (bivalente ) preferencialmente adsorvida . Portanto, com o aumento
'

do pH, aumenta a forma bivalente, que tende a contrabalançar o decréscimo do 'F.,.

PCZ
Figura 7. Desenvolvimento de carga elé trica na interface de oxidr óxido de Fe, ou de Al, variá vel
de acordo com o pH do meio. A esquerda do ponto de carga zero ( PCZ, ou pH que gera
essa condiçã o de carga ), observa -se adsor çã o de pr ó tons (cargas positivas ), à direita,
dessorçã o de pr ó tons (cargas negativas). Fica claro que o PCZ refere-se à carga líquida, ou
seja, cargas positivas iguais à s negativas.
Fonte : Adaptado de Herbilon (1985).

\ 0 \
O
l \ l \
o OH
1/
Fe
< + H2PO 4
^ o o
1/
Fe
P

OH
OH + OH‘

I
1
\ | \OH
OH
/ /
Figura 8. Adsorção do íon H 2P04 na superf ície de oxidr óxido de Fe, com cargas líquidas zero.
'

Fonte: Adaptado de Sanchez & Uehara (1980).

FERTILIDADE DO SOLO
488 ROBERTO FERREIRA NOVAIS e t al .

Figura 9. Formas iônicas de fosfato em solu çã o como variá vel do pH.

A ordem preferencial de adsor çã o de â nions pelo solo é, segundo Parfitt (1978), a


seguinte: fosfato > arseniato > selenito = molibdato > sulfato = fluoreto > cloreto > nitrato.
Menor adsorçã o de P em um Alfisol, em resposta à aplica çã o de fluoreto, foi observada
por Camargo (1979) . O efeito do fluoreto sobre a redução da adsor çã o de P pelo solo deve
ser visto nã o apenas pela troca de ligantes com goethita ou gibbsita, à semelhança do que
ocorre com P (Parfitt,1978), mas também pelo efeito complexante de F sobre Al, liberando P.

Adsorção por Aluminossilicatos


A presença de grupamentos OH e, ou, OH2+, dependendo do pH do meio, nas bordas
de argilas silicatadas, proporciona mecanismo de adsor çã o semelhante ao apresentado
para os oxidróxidos (Figura 10 ).

Adsorção por Matéria Orgânica


Correla ções positivas e significativas entre teor de maté ria orgâ nica (MO) do solo e
adsorçã o de P têm sido frequentes na literatura . Embora possa haver uma razão indireta,
por via da correla çã o positiva entre teor de argila e MO no solo, a razão principal parece
ser, dado o cará ter aniô nico da MO, por via de pontes de cá tions (Sanyal & De Datta,
1991; Villapando & Graetz, 2001) , como Al, Fe e Ca a ela adsorvidos, que reteriam o P.
Há, contudo, trabalhos que mostram participa çã o negativa da MO, reduzindo a adsorção
de P em solos, por meio de á cidos orgâ nicos adsorvidos, bloqueando sítios de adsor çã o,
e, ou, solubilizando esses oxidróxidos, reduzindo suas superf ícies de adsor çã o (Shen et
al., 2002; Azevedo et al., 2004; Guppy et al., 2005), como se vê no esquema para oxalato
(Iyamuremye & Dick, 1996):

+ 2 OH

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 489

2" o 1

Argila
silicatada
AI
OH;
20H
i AI
OH
OH
1
AI
O

j OH 2
+
OH OH

+ H 2O + H 2O

pH aumenta
( PCZ )

+
Figura 10. Desenvolvimento de carga elé trica em aluminossilicatos. Os grupamentos OH e OH2
podem ser trocados por fosfato, que é adsorvido.
Fonte: Adaptado de Parfitt (1978).

O envolvimento da MOS na adsor çã o / dessor ção de P do solo pode ser sumariada,


em seus pontos principais, da seguinte maneira:
1. Embora a CMAP de um solo aumente, com frequ ência, com o seu teor de MO
(Sanyal & De Datta, 1991), a adiçã o de resíduos orgâ nicos ao solo, como na forma de
esterco animal, causa efeito contr á rio, ocasionando, de modo geral, diminuiçã o da
adsor çã o e aumento da disponibilidade de P para as plantas ( Laboski & Lamb, 2003;
Azevedo et al., 2004);
2. O solo pode adsorver á cidos orgâ nicos com grande energia , competindo com os
sítios de adsor çã o de P e aumentando a disponibilidade desse nutriente para as plantas
(Haynes, 1984). A estrutura e carga desses á cidos controlam a grandeza de sua adsor ção.
Moléculas com maior n ú mero de grupos funcionais, como OH e COOH, sã o mais efetivas
na competiçã o pelos sítios de adsor çã o que aquelas com menor n ú mero. Á cido m á lico,
com um grupo OH e dois COOH, foi mais efetivo em reduzir a adsor ção de P do solo que
o á cido acé tico, com um COOH apenas ( Hue, 1991; Andrade et al., 2003);
3. Apesar da sua efetividade em restringir a adsor çã o de P pelo solo, alguns á cidos
orgâ nicos sã o rapidamente mineralizados quando aplicados no solo (dependendo da
estrutura, alguns deles sã o mais resistentes a essa mineralização) (Hue, 1991; Iyamuremye
& Dick, 1996) . A aplica çã o de esterco de curral, como reposiçã o contínua desses á cidos,
a exsuda çã o de raízes e o metabolismo de microrganismos, como fontes naturais desses
á cidos, mantêm esse processo de bloqueio de sítios de adsor çã o de P de maneira mais
contínua e, portanto, mais efetiva (Guppy et al ., 2005); e
4. O efeito da adição de resíduos orgâ nicos sobre a retenção de P pelo solo depende da
concentração de P do resíduo. A imobilização do P da solução do solo torna-se maior que a
mineralizaçã o do P orgâ nico quando o resíduo tem menos que 2 g kg 1 de P total. Segundo '

Iyamuemye & Dick (1996), relação C:P menor que 100 leva à mineralização do P orgâ nico;
maior que 300 leva à imobilizaçã o de formas minerais de P pelos microrganismos.

Precipitaçã o de Fósforo nos Solos


Precipitaçã o é a rea ção entre íons, com a forma çã o de uma nova fase ou composto
definido. É um processo tridimensional, ao contrá rio da adsor çã o, que é bidimensional
(Sposito, 1984). Todavia, segundo esse autor, esses dois mecanismos de retençã o de P

FERTILIDADE DO SOLO
490 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

pelo solo sã o de dif ícil distinçã o e ambos sã o descritos pelo mesmo modelo matemá tico.
E a reaçã o de P às formas iônicas de Al e de Fe em solos ácidos ou a Ca 2+ em solos neutros
ou calcá rios, formando compostos de composiçã o definida e pouco sol úveis ( Hsu, 1965;
Sample et al ., 1980 ) .
A precipita çã o de P em solos torna -se particularmente importante durante a
dissolu çã o de gr â nulos de fertilizantes fosfatados, ultrapassando os produtos da
solubilidade de componentes da reação solo-fertilizante (atividade das espécies fosfatadas
e dos íons metá licos) (Sample et al., 1980 ) . Isotermas de solubilidade de compostos
fosfatados, tomando a fra çã o solubilizada em fun çã o de pH ( condicionante de
solubiliza çã o ), mostram, por exemplo, que fosfatos de Al ( variscita ) e de Fe (estrengita )
sã o mais está veis em meio á cido ( tê m a solubilidade aumentada com o aumento do pH
do meio), ao passo que fosfatos de Ca , pelo contrá rio, sã o menos está veis em meio á cido
(diminuem a solubilidade com o aumento do pH) (Olsen & Khasawneh, 1980) (Figura 11) .
Alumínio em solu çã o (semelhantemente, íons de Fe ) pode causar precipita çã o de
fosfatos adicionados ao solo:
3
Al + + H2P04 + 2HaO > 2H+ + AI(0H)2H2P04
(trocável) (solúvel) (“insolú vel”)

Para evitar essa rea çã o, deve-se "eliminar" ( precipitar ) o Al3+, por calagem anterior
à adiçã o da fonte de P. De toda maneira, a retençã o de P pelo solo mantém-se em valores
estequiom é tricos semelhantes quando se substitui a precipita çã o do P pelo Al3+ do solo
á cido pela sua adsor çã o pelo hidróxido de Al recém-formado pela calagem (Haynes, 1984).
Solos com pH mais elevado, com muito Ca trocá vel, natural ou como consequência
de uma supercalagem, podem ter a precipita çã o de fosfatos adicionados ao solo (Sample
et al., 1980), fenô meno denominado "retrograda çã o" por Malavolta (1967):

< > Ca (“(insol


2
3Ca + + 2H2P04' 3 P04) + 4H
2
+
(trocável) (solúvel) úvel”)

Figura 11. Solubilidade para o composto de Fe-P, Al-P e de Ca-P em sistemas sólido-soluçã o.

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 491

Observa -se que a solubiliza çã o do fosfato tricálcico formado - rea çã o deslocada


para a esquerda - ocorre com a acidifica çã o do solo e, evidentemente, torna-se cada vez
menos solúvel com o aumento do pH do meio.

Isotermas de Adsorçã o
A adsor çã o má xima de Ca por um solo, por meio de atra çã o eletrostá tica, pode ser
definida pelo valor da capacidade de troca catiônica (CTC) desse solo. A CTC de um solo
pode ser rapidamente determinada por meio da satura çã o desse solo com um cá tion
trocá vel, Ca 2+, por exemplo, lavando-se o excesso em soluçã o, deslocando-o com outro
c á tion ( Ba 2+, por exemplo ) e determinando-se o Ca 2 + deslocado, que, expresso em
mmolc dm 3, corresponde à CTC desse solo.
'

Para â nions, como os fosfatos, considerando a liga çã o por coval ência e sua
estabilidade elevada, o procedimento para avaliar a capacidade m á xima de adsor çã o de
P (CMAP ) de um solo nã o é tã o simples. Ao contr á rio do Ca, a adsor çã o de P pelo solo é
lenta e dependente do tempo de contato, com forma çã o de liga ções adicionais ao longo
do tempo, que se pode estender por meses. Para medir a CMAP de um solo, o que se faz
é adicionar a uma sequência de amostras do solo soluções com concentra ções crescentes
de P, e, após certo per íodo de tempo de agita çã o (18 horas, para Kurtz & Quirk, 1965;
Bache & Williams, 1971; Vasconcellos et al., 1974; 24 horas, para Barrow, 1974; Sibbesen,
1981; Ker, 1995; 6 dias, para Novais & Kamprath, 1979b; Bolland et al., 1996, entre
diversos outros per íodos de tempo de agita çã o encontrados na literatura ), determinam -
se as concentra ções das soluções de equil íbrio (sobrenadante ) para cada amostra
( Figura 12) . A diferença entre a concentra çã o de P adicionada e a em equilíbrio, ou
sobrenadante, refere-se ao P adsorvido pelo solo. Os diversos valores de P sobrenadante
e os respectivos valores de P adsorvido sã o submetidos ao ajuste de isotermas de adsor çã o,
entre estas a de Langmuir, que permite chegar à CMAP, o análogo, ou simé trico, da CTC.
Como observado (Figura 12), aumenta -se a quantidade de P adsorvida, aumentando-se o
tempo de contato do P com o solo, fazendo com que resultados obtidos para um tempo
nã o sejam quantitativamente compar á veis com os obtidos em tempos diferentes.

Figura 12. Varia çã o na curvas de adsor çã o de P com o aumento do tempo de contato do P com
o solo, um Ultisol argiloso .
Fonte: Adaptado de Sample (1972) .

FERTILIDADE DO SOLO
492 ROBERTO FERREIRA NOVAIS e t a l .

As equa ções (isotermas) de Langmuir e Freundlich, dentre outras, podem ser


ajustadas a esse tipo de relacionamento (Figura 12 ).

Isoterma de Langmuir

A equa çã o da isoterma de Langmuir, em sua forma hiperbólica (Figura 12), é:

x / m = (a b C ) / (1 + a C) (3 )

em que x / m é a quantidade de P adsorvido ao solo, em mg P (x) / g solo ( m ); b é a CMAP


do solo, em mg g 1 de P no solo; C é a concentra çã o de P na soluçã o de equilíbrio
'

(sobrenadante ), em mg L 1, e a é uma constante relacionada com a energia de liga çã o do


'

elemento ao solo, em ( mg L 1) 1 ou L mg 1.
' ' '

Para a estimativa das constantes a e b, a Eq.3 pode ser transformada em sua forma
linear ( Y = b 0 + bxX ) ( Figura 13) :

l / ( x / m ) = l / [ (a b C) / (1 + a C ) ]
l / ( x / m ) = (1 + a C ) / (abC)
C / ( x / m ) = (C + a C 2) / (a b C )
Finalmente,
C / (x / m ) = l / (a b) + ( l / b )C ( 4)
A partir da Eq.4, tem-se:
bj = taga = l / b .\ b = 1/ taga
b0 = interseçã o = 1 / ( a b)
Portanto, o valor da CMAP (b ) é estimado a partir da declividade da reta ajustada
(bj), e a "energia de liga çã o", a, a partir do valor da interseçã o ( b 0) .
Os valores da CMAP e da "energia de liga çã o" de amostras de dez Latossolos de
cerrado apresentaram íntima rela ção com os respectivos teores de argila (Quadro 2).

Figura 13 . Representa çã o gr á fica da forma linear da isoterma de Langmuir.

FERTILIDADE DO SOLO
y

VIII - FóSFORO 493

Quadro 2. Equa çã o linear da isoterma de Langmuir, suas constantes e teor de argila de amostras
de dez Latossolos de cerrado

Solo Equa çã o de regress ã o *1* CMAP " Energia de liga çã o " Argila

mSg
-i L mg 1
'
d a g k g-
i

1 Y = 15,6720 + 1/2113X 0 ,8256 0 ,0773 16 ,8


t 2 Y = 41,8934 + 2,5263X 0,3958 0, 0603 7, 7
3 Y = 9,4536 + 1,2962 X 0,7715 0,1371 20,3
4 Y = 25,9059 + 1,7725X 0,5642 0,0684 7, 9
5 Y = 38,1365 + 1,9829X 0,5043 0,0520 14,8
6 Y = 3,0160 + 0,6362 X 1,5718 0, 2109 34,3
7 Y = 2,5993 + 0,5961 X 1,6774 0 ,2293 33,5
8 Y = 9,8905 + 1,0304 X 0,9705 0,1042 30,2
\
9 Y = 2,5700 + 0,6137 X 1,6294 0,2388 40,8
10 Y = 2,0278 + 0,5746 X 1,7405 0, 2833 54,3

(i)
Y = C / x / m, e m (
1
mg L
_
) / ( m g g 1 ) = g L 1; X = C ( c o n c e n t r a ç ã o d e e q u i l í b r i o ) , e m m g L - i
'

de P em solução. Todos os valores de R2 sã o superiores a 0,962 e altamente significativos.


Fonte: Lopes (1977).
-o
i
Isoterma de Freundlich

Os mesmos dados originais utilizados no ajustamento da equa çã o de Langmuir


podem ser submetidos ao ajuste da equa çã o de Freundlich:

! x / m = k C1 / n (5)

em que k e n sã o constantes; x / m e C, como definidos para a equação de Langmuir. Essa


isoterma é puramente empírica, suas constantes sem significado f ísico, e implica
decréscimo exponencial da "energia de liga çã o" com a satura ção da superf ície de adsorcão
( Bache & Williams , 1971: Barrow , 1978 ) .

1 A forma linear desta equa çã o (Figura 13):

log x / m = log k + (1 / n) log C (6)

A partir da Eq.6, obtém-se:

tag a = l / n, e o valor da interseçã o é = log k

Ajuste de Isotermas de Adsorção


Nesta seçã o, apresenta -se uma sequência de cálculos, a partir das concentra ções
iniciais de P colocadas para agitar com as amostras de solo, até à obtençã o de variá veis
utilizadas nos ajustamentos de equa ções das isotermas mais freqiientemente encontradas
%
FERTILIDADE DO SOLO
494 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

na literatura : Langmuir e Freundlich. Resultados desses ajustamentos sã o comparados


entre si e com características de solo, procurando dar-lhes um sentido mais prá tico. Para
isso, foram utilizados resultados de 11 amostras de Latossolos apresentados no trabalho
de Alvarez V . & Fonseca (1990). Os procedimentos adotados, comuns à maioria dos
trabalhos disponíveis na literatura , foram os seguintes:
1. Foram tomadas dez subamostras do solo, cada uma com 2,5 g de solo(8), em tubos
de centr ífuga . Esse procedimento foi repetido três vezes.
2. A cada um desses tubos adicionaram-se 25 mL de soluçã o de CaCl2 0,01 mol L 1, '

com concentra ções crescentes de P (coluna A - Quadro 3): 0, 10, 20, 40, 60, 80,
110, 140, 170, e 200 mg L 1. A rela çã o solo:soluçã o utilizada foi de 1:10.
'

3. As suspensões solo-soluções foram agitadas por 24 h. Foram, então, centrifugadas


e filtradas, determinando-se a concentra çã o de P em equilíbrio (coluna C -
Quadro 3), ou seja, a concentra çã o de P-remanescente em soluçã o de equilíbrio
após adsorçã o de parte do P inicialmente adicionado ( A ).
A terceira coluna (Quadro 3) foi obtida pela diferença entre a primeira (A) e a segunda
coluna (C). A quarta coluna representa a quantidade de P adsorvida pelo solo, em mg g 1, '

a partir do decréscimo
_1 do P em soluçã o ( A ) colocado para agitar com o solo, em mg L 1. '

Portanto, ( mg L ) / ( mg g 1) = 1.000 (admitindo a densidade do solo de 1,0 g cm 3) .


' '

Todavia , como há um fator de diluiçã o de 10 ( 2,5 g de solo:25 mL de solução ), A-C é


dividido por 100 (1.000 / 10 ) . A quinta coluna é uma divisã o dos valores de C por x / m.
Para as duas colunas seguintes, tira -se o log de x / m para a isoterma de Langmuir e
log x / m e log C para a isoterma de Freundlich.
Dependendo da isoterma ajustada, sã o utilizadas diferentes colunas.
As esquações ajustadas para Langmuir e Freundlich, a partir dos dados do quadro 3,
e respectivas constantes foram:

Langmuir
Forma linear
C / x / m = 1,1061 + 0,7662C (R 2 = 0,998***)
Forma hiperbólica
x/m = (0,693 x 1,305C ) / (1 + 0,693C)
x / m = 0,904C / (1 + 0,674C )
CMAP(b ) (9> = 1,305 mg g 1 '

Energia de liga çã o ( a ) (9) = 0,693 L mg

(8)
No trabalho original, utilizou-se volume de solo ( 2,5 cm 3). Para este exemplo, adota-se a unidade em
peso de solo, para densidade do solo igual a 1 g cm 3. '

(9, b = 1 / 0,7662 = 1,305 mg g 1


'

1/1,1061 = l / a b
a = 1 /1,1061 x 1,305 = 0,693 L mg 1 '

FERTILIDADE DO SOLO
r

VIII - FóSFORO 495

Quadro 3. Sequ ê ncia de opera ções necess á rias à prepara çã o dos dados submetidos aos
ajustamentos das isotermas de Langmuir e Freundlich, a partir das concentra ções de P
colocadas para agitar com as amostras de solo ( A ), numa rela çã o solo:soluçã o de 1:10. O
solo utilizado como exemplo foi o SL ( LV-2)

-
A ( P adicionado ) C ( Cone. equil.) A -C -
x/ m ( P adsorvido ) C/x/ m log x/m log C

mg L-1 mg g -1 g L- i
0 0,0000 0, 000 0,0000
10 0 , 0209 9, 979 0, 0998 0 , 2096 -1 , 00091 -1, 67945
20 0, 0508 19 ,949 0 ,1995 0, 2549 - 0, 70008 -1 , 29374
40 0 , 1781 39, 822 0, 3982 0, 4474 - 0 , 39988 -0 , 74923
60 0 , 9767 59 ,023 0 , 5902 1 , 6548 -0, 22898 -0, 01024
80 4, 3199 75 ,680 0 , 7568 5, 7081 - 0,12102 0, 63547
110 9 , 7214 100, 279 1 , 0028 9, 6944 0, 00121 0 , 98773
140 22 , 4130 117 , 587 1 ,1759 19, 0608 0, 07036 1 , 35050
170 44 , 2133 125, 787 1 , 2579 35,1494 0, 09963 1 , 64555
200 70 ,7383 129 , 262 1 , 2926 54 ,7249 0,11147 1 , 84965

Fonte: Adaptado de Alvarez V . & Fonseca (1990) .

Freundlich
Forma linear
log ( x / m ) = -0,3313 + 0,2885 log C
Forma exponencial
x / m = 0,4663C1 / 3,4662
Constante K(10) = 0,4663
Constante n(10 > = 3,4662
Emfcora as constantes k e n da isoterma de Freundlich sejam empíricas, sem
significado f ísico, como o têm as constantes da Langmuir, a correla ção entre k e medidas
relacionadas com o FCP sã o altamente significativas. Por outro lado, a constante n nã o
se apresenfa correlacionada com nenhuma dessas medidas.
Portanto, pode-se ter, na constante k de Freundlich, uma medida de FCP do solo,
dando a essa constante cará ter com maior significado. De modo semelhante, a CMAP de
Langmuir é relacionada com medidas do FCP, ao passo que a "energia de ligaçã o" (a )
pode não ser.

(10)
log k = -0,3313
k = IO 0'3313
'

k = 0,4663
l / n = 0,2885
n = 3,4662

FERTILIDADE DO SOLO
496 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et a l .

Cinética de Adsorção de Fósforo no Solo


A adsor çã o de P pelos solos efetua -se em dois está dios ( Barrow & Shaw, 1975). As
rea ções do primeiro está dio ocorrem em minutos ou horas, ao passo que as do segundo
está dio sã o bem mais lentas. A r á pida rea çã o de adsor çã o inicial é um fenô meno de
superf ície, enquanto formas ativas de Al e de Fe em solos á cidos e de Ca em solos neutros
ou cá lcicos levam, também, a uma r á pida precipita çã o de P sol ú vel (Hsu, 1965).
Para o estudo da cinética de adsorçã o de P em amostras de solos de cerrado, 50 mg L 1 "

de P, na forma de KH2P04, foram agitados por períodos de tempo que variaram de meia a
192 h, determinando-se, depois de cà da per íodo de tempo, o P na soluçã o de equilíbrio
(Gonçalves et al., 1985). Cerca de 75 % do P adicionado foi adsorvido em menos de meia
hora de contato para os solos com maior CMAP e menos de 12 h para aqueles com menor
CMAP, quando se considerou 100 % a adsor çã o obtida com 192 h de equilíbrio (Quadro 4) .
Observou -se que a calagem pr évia dos solos nã o alterou, de maneira consistente, a
velocidade e a magnitude de adsor çã o de P pelos solos.

Quadro 4. Quantidade de P adsorvido em amostras de solos que receberam, inicialmente,


50 mg L 1 de P, na ausência ou na presença de calcá rio, em diferentes tempos de equil íbrio
'

Tempo de equil í brio ( hora )


Solo
0,5 1 2 4 8 12 24 48 192

mg L 1 de P no solo
'

Sem calagem
AQ 10,4 14,4 15,6 17, 2 22,0 28,4 30,4 33,3 34,0
LE-1 44,6 46,9 48,0 49,5 49,4 49,5 49,5 49,4 49,8
LE -2 45,4 47,1 48 ,3 48,6 49 ,4 49 ,7 49,7 49,8 49 ,8
LVm -1 25,6 26,9 32,6 33,3 37,6 42,6 45, 4 45,8 46,0
LVm - 2 24,5 25,5 29,3 31,5 34,7 40, 4 43,1 43,1 43,3
LE -3 38,4 41,7 43,6 45,1 47,8 48,4 48,4 48,6 49,4
LE -4 37,5 41,0 42,2 43,8 46, 7 48,0 48,2 48,2 49, 4
LE-5 40,7 43,4 46,0 46,6 48,5 49,1 49,2 49,3 49,7
LV-1 39,2 42,7 44,9 46,3 47,5 49,0 49,1 49,2 49,6
LVm -3 18,5 19,2 20,8 23,9 26,9 32,4 35,7 40,7 42,0
Média 32,5 34,9 37,1 38,5 41,1 43,7 44,9 45,7 46,3

Com calagem
AQ 12,9 15,9 16,3 19, 2 26,4 29, 2 32,1 35,2 36,0
-
LE 1 42,7 45,1 47,1 47,4 48,9 49, 2 49, 2 49, 4 49,8
-
LE 2 43,1 45,8 47,1 47,9 49,0 49,4 49,6 49,7 49,8
LVm -1 23,9 26,0 30, 2 30,7 35,8 40,9 43,0 44,7 44,7
LVm - 2 22,5 22,5 27,9 27,9 33, 2 38,9 40,6 41,7 42,4
LE-3 37,5 39,4 42,8 44, 2 46,7 48,3 48,5 48,4 49,3
LE-4 34,9 38,1 39,7 41,4 44,9 46, 2 47,0 47,2 49,0
LE-5 38,2 41,5 44,1 45,2 47,8 48,5 48,7 48,9 49,6
LV-1 38,1 41,4 43,4 45,2 47,3 48,2 48,5 48,7 49,4
LVm -3 19,4 20, 2 21,4 24,3 27,1 32,4 36,6 41,4 42,2
Média 31,3 33,6 36,0 37,3 40,7 43,1 44,4 45,5 46,2

Fonte : Gonçalves et al . (1985) .

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 497

TRANSFORMA ÇÃ O DE F Ó SFORO
L Á BIL EM N Ã O - L Á BIL

Quando se compara o comportamento do P ao do N no sistema solo-planta-atmosfera,


alguns contrastes sã o evidentes. O coeficiente de difusã o ( D ) de P no solo tem uma
grandeza de 10 11 cm2 s 1, ao passo que os de N03 e NH 4+ apresentam valores da ordem
" '

de 10 6 e 10 7 cm2 s 1, respectivamente (Barber, 1974) (veja capítulo IV ) . Como consequência,


" ‘ '

há dois extremos de mobilidade no solo: o P muito pouco móvel, "nã o-lixiviá vel" em
condições normais, ao passo que as formas de N, particularmente a nítrica, sã o muito
m ó veis e, por conseguinte, lixivi á veis. Esta é uma primeira aproxima çã o para
compreender a presença de residual para a fertiliza çã o fosfatada e sua "ausência" para
a nitrogenada .
A pequena participa çã o quantitativa de P no sistema solo-planta-atmosfera, ao
contr á rio de N, está , por alguma razã o, ligada a mecanismos restritivos à sua presen ça
em formas menos está veis, como P-soluçã o, condiçã o para perdas. E, à medid que o
sistema se torna mais pobre em P, como nos solos tropicais mais intemperizados, essa
^
restriçã o torna -se maior, como comentado anteriormente. Há uma aparente economia
crescente, imposta por uma pobreza também crescente, fazendo com que as plantas
otimizem sua eficiência pela carência imposta pelo intemperismo, que continua. Assim,
uma planta em condições adequadas de crescimento deve ter uma concentra çã o
aproximada de 2,0 g kg 1 de P (0,2 %) na maté ria seca; para N, esse valor é da ordem de
'

20,0 g kg 1.
'

Boa parte do P adicionado aos solos é retida com uma energia tal que seu equilíbrio
com o P-soluçã o desaparece, deixando, portanto, de ser ú til ao crescimento imediato da
planta . Essa forma de P nã o-lábil deve ser quantificada, compreendida, e idealmente
controlada, para otimizar a fertiliza çã o fosfatada como fator de crescimento de plantas,
particularmente para os solos mais intemperizados ( Figura 14) . Nesse esquema, Q supre
o P nã o-lá bil ( NQ) (sistema passivo), mas nã o o contrá rio. A soluçã o que o esquema

Figura 14. Representaçã o esquemá tica da interdependência das formas de P nã o-lá bil ( NQ),
P-lá bil (Q), P-solução ( I ) è fator capacidade (Q / I ) do solo.

FERTILIDADE DO SOLO
498 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

indica para NQ suprir Q é "bombear" P de NQ para o compartimento Q (sistema ativo,


com demanda de energia ) . Algumas prá ticas, como a diminuiçã o do potencial redox e a
adiçã o, ou ac ú mulo, de matéria orgâ nica ao solo, suprem a demanda de energia para que
esse sistema se torne reversível, pelo menos parcialmente (Sah & Mikkelsen, 1989; Sah et
al., 1989a,b ).

Formação do Fósforo Não- Lábil

Quando se aplica uma fonte sol ú vel de P num solo, freq úentemente mais de 90 % do
aplicado é adsorvido na primeira hora de contato com o solo (Gonçalves et al., 1985) .
Essa primeira fase de r á pida adsorção é seguida de uma fase bem lenta, representada
pelos modelos exponenciais (Barrow, 1974). Essa á dsorçã o de P pelo solo apresenta um
componente adicional à simples forma çã o de P-lá bil (Q), que é a forma çã o de P nã o-lá bil
( NQ). O NQ é a quantidade de P fixado(11 ) no solo que nã o se encontra em equilíbrio com
o P em soluçã o, pelo menos em curto prazo. Aparentemente, entre os mecanismos mais
prová veis de forma çã o de P nã o-lá bil, a partir de uma fonte sol úvel aplicada no solo, está
a ocorrência de duas ligações coordenadas com a superf ície adsorvente (Figura 15). Essas
duas liga ções, ao contr á rio de uma ú nica , nã o permitiriam a dessor çã o do P ( Kafkafi et
al., 1967; Parfitt, 1978).
Devine et al. (1968) verificaram que, um ano após a aplicação de superfosfato simples
em quatro solos, 58 % do P aplicado encontrava -se disponível, 38 % depois de dois anos
e 20 % depois de três anos. Em trabalho semelhante, Williams & Reith (1971) encontraram
de 20 a 28 % disponível depois de um ano de contato do P aplicado no solo, e apenas de
2,7 a 4,2 %, depois de 6-8 anos.
Em trabalho mais recente, Gonçalves et al. (1989 ) aplicaram, em amostras de cinco
Latossolos de cerrado, doses crescentes de uma fonte sol úvel de P. Incubadas em épocas

OH 2 OH 2
/ Fe
7
*
\> P O
\ //
° o7 \o
+ OH

OH
/ Fe
7
NOH 2 ^ OH 2

Figura 15 . Esquema representativo da adsorção do P por meio de ligações mono e bidentadas


(binucleadas ), proporcionando a formação de fósforo não-lábil no solo .
Fonte : Adaptado de Hingston et al. (1974); Olsen & Khasawneh (1980); Schwertmann & Taylor (1989 ) .

( 11 )
O termo "fixação" é adequadamente utilizado com o sentido de "retenção" do P pelo solo de forma
não-revers ível ou nã o- lábil (van der Zee et al ., 1987; Hsu, 1989 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 499

diferentes (300, 240, 180, 120, 60, 30, 15 e 0 dias ), completaram todos os períodos de
incubação num mesmo dia, quando os solos foram amostrados, o P-extra ível foi avaliado
por diferentes procedimentos e cultivados com sorgo. Apresenta -se o efeito do tempo
sobre a diminuiçã o do P-extra ível e sobre o crescimento das plantas, para um dos solos,
o LV-1, com 55 % de argila e capacidade má xima de adsor çã o (CMAP) de 0,980 mg g 1 de '

P no solo ( Quadro 5) .
Admitindo ser o P extra ído pela resina de troca ani ô nica ( RTA ) uma medida
adequada do P-lá bil, cerca de 79 a 95 % dos 150 mg kg 1 de P aplicados nos diferentes
"

solos estudados transformaram-se em P nã o-l á bil no final de 300 dias. Verificou-se que
o decréscimo do P-extraível foi, com o tempo, significativamente alterado pelo aumento
da CMAP: a conversã o de P-lá bil em nã o-lá bil aumentou . Como estudos de ciné tica de
adsor çã o de P em solos tê m essa primeira fase r á pida definida em horas, sendo
positivamente correlacionada com a CMAP (Gonçalves et al ., 1985) e com a transforma çã o
de P-lá bil em nã o-lábil, com uma primeira fase definida em dias e, igualmente, dependente
da CMAP, pode-se pressupor que a forma çã o de P n ã o-l á bil envolva mecanismos
adicionais à primeira fase de forma çã o do P - l á bil , como num processo de
,
envelhecimento . Nã o seriam, assim, mecanismos paralelos, mas em fase. Há, portanto,
// /

uma primeira fase r á pida , caracterizada por uma atra çã o eletrostá tica ( f ísica ). E, com a
aproxima çã o do P à superf ície adsorvente, há troca de ligantes (OH por H2P04 , por " "

Quadro 5 . Fósforo recuperado pelos extratores Mehlich -1 e Resina , e produ çã o de maté ria
seca da parte a é rea de plantas de sorgo, com diferentes tempos de incuba çã o(1) de doses de
f ósforo aplicadas em um dos solos utilizados ( LV -1)

Tempo de incuba çã o ( dia )


Dose de P
0 15 30 300

mg kg-1 Mehlich -1 ( mg kg 1) *

0 0, 2 0,4 0,4 0,5


50 2,3 1,4 1, 6 1,5
150 12, 7 5,0 5,1 4, 4
450 81,5 26,5 26,4 14,9

Resina ( mg kg-1 )
0 5, 7 5, 2 4, 2 0,9
50 27,0 5,6 7,5 0,9
150 44,3 21 ,1 18,6 2,9
450 155, 4 54,7 50,1 33,0
Mat é ria seca (g / vaso)
0 0,67 0,63 0,87 0,64
50 1,56 1.02 0,89 0,48
150 9,10 4,59 4,53 1,99
450 13,44 9,59 11,85 8,36

Não são apresentados os resultados correspondentes aos tempos de 60, 120, 180 e 240 dias, constantes do trabalho original.
(1 )

Fonte: Gonçalves et al. (1989) .

FERTILIDADE DO SOLO
500 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

exemplo ), com a forma çã o de liga ções coordenadas simples, como componente externo
da estrutura do oxidr óxido (Figura 15) . Essa fase, mais rá pida , é seguida de outra, mais
lenta . É prov á vel que a forma çã o de uma liga çã o adicional à primeira (Parfitt, 1978) seja
dependente do tempo . Essa fase mais lenta de adsor ção de P pelo solo é, também, segundo
Barrow (1983, 1985), caracterizada pela penetraçã o (difusã o) do fosfato nas imperfeições
dos cristais ( difusã o em fase sólida , segundo esse autor ) ou entre os microcristais,
tornando-se cada vez menor seu equilíbrio com o P-solu çã o e, por conseguinte, a
disponibilidade para as plantas.
A magnitude e a velocidade do processo de forma çã o de P nã o-lá bil em solos com
grande FCP (Quadro 5) indicam que fazer uma fosfatagem corretiva nessas condições é
questioná vel. Isto porque, para as doses de P normalmente recomendadas para esse fim
( Lopes, 1984) , a transforma çã o do P aplicado em nã o-lá bil, depois de 300 dias de
equilíbrio, é muito grande. Um solo com uma CMAP de 1,0 mg g 1 indica um poder de
'

adsor çã o da ordem de 4.600 kg ha 1 de P205 ou de, aproximadamente, 23 t ha 1 de


' '

superfosfato simples . Uma fosfatagem com 1 t ha 1 de superfosfato simples nã o deverá


'

alterar, em termos econó micos, o " status" de P do solo, como fator de crescimento de
planta . A soluçã o, para solos com esse "perfil-dreno", caracterizados por valores de
CMAP até mais elevados que esse (Ker, 1995 ), ser á minimizar o contato da fonte de P,
particularmente a sol ú vel, com o solo, pela aplica çã o localizada de P ( Leite et al ., 2006 ),
pela granula çã o do fertilizante, pela diminuiçã o do tempo de contato do fertilizante com
o solo, em rela çã o à época de plantio, ou, até mesmo, pelo parcelamento da aplica çã o de
P, como se faz com N. O comportamento do N condiciona esse parcelamento, dadas suas
intensas perdas, como por lixivia çã o e volatiliza çã o, enquanto o P, por "perdas" pela
forma çã o de P nã o-l á bil . Todavia, para o P, " perdas" iniciais fazem com que "perdas"
futuras sejam menores ( residual ), embora de maneira muito lenta para os solos-drenos.
Formas inorgâ nicas de P-Ca, predominantes em solos menos intemperizados e
alcalinos, ou de resíduos de fosfatos naturais nã o solubilizados no solo, constituem,
também, formas nã o-lá beis de P, caracterizadas como fontes de P de baixa efetividade
para a maioria das plantas ( Novais & Kamprath,1978), em particular para as de ciclo
curto. O tempo, aumentando a solubiliza çã o de fosfatos naturais apatíticos, ocasiona,
de maneira mais intensa, a passagem do P solubilizado para formas não-lá beis . Como
resultante, a planta tem menos P-disponível, à medida que aumenta o tempo de contato
desses fosfatos com o solo (Chien, 1977; Novais et al ., 1980; Novelino et al., 1985 ) .

Reversibilidade do Fósforo Não- Lábil


Em trabalho com amostras de solos altamente intemperizados de cerrado, a
reversibilidade do P nã o-lá bil formado ao P-lá bil que lhe deu origem foi avaliada
(Campello et al., 1994). Amostras de seis Latossolos foram submetidas, na presença e na
ausência de calagem, a uma dose de 300 mg dm 3 de P no solo, na forma de KH2P04,
'

comparativamente à nã o-adiçã o de P, e foram incubadas por 45 dias, com a umidade do


solo elevada à capacidade de campo. Findo esse período, foram feitas 15 extra ções
sucessivas de P pela Resina de Troca Aniô nica (RTA ), como medida de P-lábil. O teor
total de P-lá bil, obtido pelas extra ções sucessivas, relativamente ao teor inicialmente

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 501

aplicado, variou, em média, de 34 a 57 %, diminuindo com o aumento do teor de argila ou


da CMAP. A calagem nã o alterou o teor de P- lá bil recuperado pela RTA. O m é todo da
Resina , utilizando apenas uma extra çã o, subestimou o P-lá bil total obtido na sucessã o
de extra ções até 58 %, e esses valores correlacionaram-se, positivamente, com o teor de
argila e com CMAP. A participa çã o do P nã o-lá bil, reversível a lábil, medida pela RTA,
foi muito pequena - inferior a 2 % (Quadro 6) . Essa reversibilidade do P nã o-lá bil foi
independente da aplica çã o, ou n ã o, de calcá rio e de características do solo. Deve-se
considerar que a pequena ( mínima ) recupera çã o do P nã o-lá bil formado deu-se com um
tempo de equilíbrio de 45 dias apenas, o que, em termos pr á ticos, quando se pensa em
ciclos ou rota ções de cultivos, é muito curto. Portanto, a estabilidade do P nã o-lá bil
deverá ser maior quando se considerar um tempo de contato maior .
O desenvolvimento de formas nã o-lá beis de P em condições de elevado intemperismo
é bem relacionado com a presença de oxidr óxidos de Fe e de AI nos solos. A questã o é a

Quadro 6 . Efici ê ncia da Resina de Troca Ani ô nica ( RTA ) para medir o f ó sforo - lá bil e
reversibilidade da forma nã o-l á bil a lá bil, num intervalo de tr ês dias entre sé ries de tr ês
extra ções, num total de 15 extra ções, em amostras de solos que receberam 300 mg kg 1 de '

P, na ausê ncia e na presença de corretivo

-
AP l á bil recuperado pela RTA *11 AP n ã o-l á bil < 2 )
Solo
Ia extra çã o Total de extra ções C ( 5) Residual Recuperado pela RTA D ( 8)

mg dm 3 '
o (3)
/o mg dm 3'
% (4 ) % mg dm 3
'
/o (6 )
0
mg dm 3 '
% (7 )
Sem calagem
LE 105,23 35,08 171, 22 57,07 38,54 128,78 42,93 0, 22 0,07 0,001
LV1 88,18 29,39 147,60 49,20 40, 26 152,40 50,80 1,78 0,59 0,012
LV 2 92,01 30.67 172,29 57,43 46,60 127,71 42,57 0,00 0,00 0,000
LV3 78,70 26, 23 129,00 43,00 38,99 171,00 57,00 2,09 0,70 0,016
LV 4 52,81 17,60 117,38 39,13 55,01 182,62 60,87 2,29 0,76 0,020
LV5 47,05 15.68 111,05 37,02 57,63 188,95 62,98 5,44 1,81 0,049
Média 77,33 25,78 141,43 47,14 46,17 158,58 52,86 1,97 1,81 0,016

Com calagem
LE 109,90 36,63 163,62 54,54 32,83 136,38 45,46 4,11 1,37 0,025
i LV1 92,57 30,86 147,80 50,86 37,37 153,00 49.14 2,90 0,96 0,020
LV 2 81,63 27, 21 148,93 51,14 45,19 151,07 48,86 3,50 1 17
/ 0,024
LV3 82,13 27,38 131,56 43,85 37,57 168,44 56.15 1,60 0,53 0, 012
LV4 69,53 23,18 128, 25 42,75 45,79 171,75 57,25 1,49 0,50 0, 012
LV5 47,11 15,70 101,73 33,91 53,69 198,27 66,09 4,16 1,39 0,041
Média 80,48 26,83 136,98 46,18 42,07 163,15 53,83 2,96 0,99 0,022

Diferença entre o P- l á bil recuperado com a aplica çã o de 300 mg dm 3 e o P- l á bil recuperado sem a adiçã o de P.
(1 ) '

Diferen ça entre o P nã o-lá bil recuperado com a aplica çã o de 300 mg dm 3 e o P nã o-lá bil recuperado sem a
(2 ) '

adiçã o de P ( residual ); o nã o-lá bil recuperado pela Resina é o somat ó rio dos valores de P-extra ído toda vez que o
valor encontrado era maior que o obtido na extra çã o anterior. í3> Percentual de P recuperado com a primeira
extra çã o, em rela çã o ao aplicado. (4 ) Percentual de P total recuperado, em rela çã o ao aplicado. <5) Percentual de P
nã o recuperado com a primeira extra çã o. (6) Percentual de P nã o-l á bil residual em rela çã o ao aplicado. (7) Percentual
de P nã o- lá bil recuperado pela Resina , em rela çã o ao aplicado. (8) Rela çã o entre P n ã o-lá bil recuperado pela
Resina e P-lá bil .
Fonte: Campello et al. (1994).

FERTILIDADE DO SOLO
502 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

participa çã o preferencial de um desses oxidróxidos no processo e os procedimentos que


poderiam ser adotados para minimizar esse fenô meno, conhecendo um pouco mais os
mecanismos envolvidos. O maior envolvimento de formas f érricas evidencia as condições
que provocam a diminuiçã o do potencial redox (Eh ) do solo e favorecem a libera çã o do P
anteriormente fixado nessas formas (Sah & Mikkelsen, 1989 ) . Com a redu çã o do Fe3+ a
Fe2+ em solos hidromó rficos, como exemplo de ambiente natural em que baixos valores
de Eh necessá rios a essa redução podem ocorrer, há dissolução dos oxidróxidos f érricos,
com libera çã o do P adsorvido ou fixado em forma lá bil e, ou, nã o-l á bil.
Assim, as condições hidrom ó rficas de um solo, proporcionando a reduçã o do Fe3+ a
2+
Fe e a manutençã o de compostos orgâ nicos diversos, provenientes de processos
fermentativos, sã o favorá veis à redu çã o e à manutençã o da CMAP em valores baixos,
nã o permitindo que o solo expresse seu car á ter-dreno, mesmo que em ambiente tropical
( Ferná ndez R ., 1995). Há , portanto, no solo hidromõ rfico, algo mais que baixo potencial
redox, favorecendo a maior disponibilidade de P para as plantas. Há també m ac ú mulo
de matéria orgâ nica, com a manutenção de ácidos orgâ nicos, que neutralizam e complexam
os sítios de adsor çã o de P presentes, dada a limitada disponibilidade de 02 no sistema
(Schwertmann & Taylor, 1989 ).

FONTES MINERAIS DE FÓ SFORO


Neste subcapítulo, discutem-se as fontes minerais de P para as plantas, com ênfase
nos fosfatos naturais ( FNs). As fontes sol úveis sã o discutidas ao longo de todo o texto,
com informa ções que evidenciam a forte competiçã o entre solo e planta pelo P desses
fosfatos, à s vezes considerados "demasiadamente" sol ú veis, particularmente quando
aplicados em solos com maior fator capacidade de P (FCP) e para cultivos de maior
dura çã o.

Fosfatos Naturais
A incorpora çã o de novas á reas à agricultura brasileira, a baixa disponibilidade de
P desses solos, a existência de grandes jazidas de FNs em diversas regiões do Pa ís e as
facilidades atuais de importa çã o de FNs de maior reatividade (12) tê m feito com que a
utiliza çã o desses fosfatos in natura seja um atrativo1131. Essa utilização tem como problema
principal a baixa reatividade, particularmente dos FNs brasileiros, e, como consequência,
a baixa ou lenta libera çã o de P para as plantas, na maioria dos casos. Assim, a utilizaçã o
desses materiais tem ocorrido mais como fosfatagem corretiva , com a aplica çã o de 1 ou
mais t ha 1, sobre toda a á rea e incorporação com arado ou grade. Essa fosfatagem corretiva
'

tem como id éia básica elevar o teor de P-disponível do solo a uma faixa pelo menos

(12 )
Reatividade é uma propriedade intr ínsica ao FN e, por conseguinte, independente de condições
outras, como de solo ou de planta, a que o FN possa ser submetido ( Rajan et al., 1996 ). Independen-
temente dessas condi ções, pode-se dizer que os fosfatos de Gafsa ou de Norte Carolina sã o mais
reativos que os fosfatos de Arax á ou de Patos.
( , 3)
Estima -se que as jazidas de fosfatos naturais no mundo, atualmente conhecidas, deverã o durar por
mais quatro sé culos, aproximadamente, para o padr ã o atual de consumo ( Mengel, 1997) .

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 503

razoá vel . Visa , portanto, corrigir, pelo menos parcialmente, a carência de P de um solo
para que uma aduba çã o de implanta çã o, no sulco ou na cova de plantio, feita com uma
fonte sol úvel, de disponibilidade "imediata ", traga maiores respostas da planta à
fertilizaçã o fosfatada . Todavia, sabe-se que a aplicaçã o apenas de FN de baixa reatividade
nã o é, em muitos casos, adequada , uma vez que a pequena quantidade de P geralmente
liberada, a curto prazo, nã o é satisfatória para o crescimento inicial da planta e, muitas vezes,
também, nã o o é para o crescimento posterior, dada a formaçã o de P não-lábil, com o tempo.
A aduba çã o de implanta çã o ou de "arranque", feita com fonte sol ú vel, é a causa
para a resposta inicial da planta , dado o equilíbrio estabelecido entre o crescimento
r á pido, a maior demanda de P ocorrida nessa fase e uma grande disponibilidade inicial
de P dessa fonte. Todavia , alguns FNs de maior reatividade, como o Gafsa , ARAD e
Norte Carolina , tê m-se mostrado tã o ou mais eficientes para suprir P para plantas de
ciclo curto quanto as formas mais sol ú veis, como os superfosfatos. Pode-se, entã o, ter na
fosfatagem corretiva com FNs de baixa reatividade, dentro de certos limites, uma
preocupa çã o maior com o solo, para que seu teor de P-diponível aumente (com novas
aplica ções) de maneira gradual, com o tempo, o que poderia ser conseguido com uma
fonte de P bem mais barata que as sol úveis. Portanto, a baixa eficiência dos FNs em curto
prazo pode ser compensada pelo baixo custo do material aplicado.

Condições Favorá veis à Solubilização de Fosfatos Naturais


Acidez
A utiliza çã o eficiente de fosfatos naturais in natura , como possível fonte eficiente de
P para as plantas, é dependente de condições relacionadas com o pr ó prio FN (14), com o
solo onde sã o aplicados e com a planta cultivada (Figura 16). Particularmente para os
FNs menos reativos, insol ú veis em á gua, é necessá rio o suprimento de acidez ( pró tons)
para que alguma dissoluçã o se inicie. Esse suprimento de pr ótons para o FN pode ser
feito na ind ústria pela adiçã o de á cido sulf ú rico (H2S04), produzindo superfosfato sim-
ples (SS), ou pela adiçã o de ácido fosf órico (FI3P04), produzindo superfosfato triplo (ST) <15).

,
( 4)
H á os FNs de origem ígnea e os metam ó rficos, muito pouco reativos, com estrutura cristalina
compacta , sem superf ície adicional interna ( material com pequena superf ície específica ), com pro-
vá vel menor presen ça de minerais acessó rios. Por outro lado, os de origem sedimentar apresentam
estrutura microcristalina pobremente cpnsolidada, com grande superf ície específica . A substituiçã o
isom ó rfica do P 043 por C 032 na apatita ( aumento de moles de C 032- por mol de apatita , por
' ‘

exemplo ) causa decr éscimo no tamanho do cristalito e aumento na superf ície específica ( m2 g 1 ) do '

material. Portanto, o aumento do conte ú do de carbonato na apatita leva a uma reatividade maior
da rocha fosf á tica ( Khasawneh & Doll, 1978; Lehr, 1980; Hammond et al., 1986; Rajan et al ., 1996 ).
Enquanto a relaçã o molar C03/ P04 no FN de Norte Carolina é de 0,26 ( material reativo), no de Patos
de Minas é de 0,02 ( material muito pouco reativo ) (Smyth & Sanchez, 1982 ) . Os FNs de Jacupiranga,
Araxá, Tapira, Catal ã o e Anit á polis sã o de origem ígnea . O FN de Patos é de origem sedimentar
( Bom & Kahn, 1990 ). O termo "fosforita " tem sido també m usado para os FNs de origem sedimentar.
Al é m das formas cá lcicas, os FNs sã o encontrados na forma de compostos de Fe e de Al, como:
A1P04.2 H 20 ( variscita ) e FeP04.2 H 20 ( estrengita ) . Ao contr á rio das apatitas, esses FNs t ê m a
solubilidade aumentada com o aumento do pH do solo (Olsen & Khasawneh, 1980 ).
-
<15) Fluor apatita : 3Ca 3(P04)2.CaF2; hidróxido-apatita: 3Ca 3( P04)2.Ca (0H )2; carbonato-apatita: 3Ca 3( P04 )2.CaC0r
Dissolução da fluor-apatita em meio ácido (Hammond et al., 1986): Ca10(PO4 )6F2 + 12H+ <H> 10Ca 2+ + 6H2P04 + 2F

FERTILIDADE DO SOLO
504 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

O suprimento de pró tons pode, também, ocorrer ao se aplicar o FN em solos mais ácidos.
A literatura é consistente em dizer que uma das condições favoráveis à solubilização de
FNs apatíticos é sua aplicação em solos ácidos (Khasawneh & Doll, 1978; Goedert & Lobato,
1980; Novelino et al., 1985; Hammond et al., 1986; Rajan et al., 1996). Essa acidez necessá ria
à dissoluçã o do FN pode, também, ser suprida pela planta e pelos microrganismos
rizosf éricos (Gillespie & Pope, 1990a,b; Bolan et al., 1997; Vazquez P. et al., 2000; Gull et al.,
2004; Liu et al., 2004). O efeito acidifiçante da rizosfera de algumas plantas é comentado
ao longo deste texto. A acidifica çã o da rizosfera da leguminosa "black locust" ( Robinia
pseudoacacia L.) em amostras de seis solos foi de 1,0 a 1,5 unidade de pH, em rela ção à
massa de solo (Gillespie & Pope, 1990a ) . Esse efeito acidificante da rizosfera aumentou
a recupera çã o estimada de P de três FNs com reatividades distintas, pela planta , nos
I

mesmos solos, de 40 a 300 %, em rela çã o à n ã o-acidifica çã o (Gillespie & Pope, 1990b ).


O grau de acidifica çã o ( pH ) do solo por diferentes espécies correlacionou -se
significativamente ( r = -0,883**) com o P acumulado na planta, proveniente de diferentes
fosfatos (superfosfato triplo; Maranhã o, um fosfato de alumínio calcinado; Hiperfosfato-
Gafsa e os fosfatos Alvorada, Mali e Patos ) ( Raij & van Diest, 1979 ).
Condições á cidas necessá rias à maior solubiliza çã o de FNs sã o coincidentes com
teores baixos de Ca e altos de Al trocá veis, condições també m consideradas favorá veis à
solubiliza çã o de FNs (Khasawneh & Doll, 1978) . Não obstante, outros autores consideram
que a adsorçã o e a precipita çã o de Al, presente em solos á cidos, às partículas de apatita,
recobrindo-as, poderia restringir-lhes a solubiliza çã o ( Novais & Ribeiro, 1982; Junqueira
& Ribeiro, 1983) .
Esses resultados justificam, possivelmente, o fato de Barnes & Kamprath (1975)
terem encontrado, em solos orgâ nicos, respostas a FN equivalentes às obtidas com o
superfosfato, medidas pela produçã o e absorçã o de P por milho, soja e trigo. Essa grande
resposta ao FN em solo orgâ nico é explicada pela elevada acidez, altamente tamponada,

P- planta
-
Ca planta
Umidade

H
Difus ão

+ 4H 2+
3 Ca Ca-solo
d CTC, lixiviação
2H2PG 4
+ 40H

-
P solo
-
P lábil -
P não lábil

Difus ão

Figura 16 . Rea ções e processos envolvidos na solubiliza çã o de fosfato natural(16) em solo.

<16) Pode-se, também, produzir á cido fosf órico a partir de apatitas pela adiçã o de maiores quantidades
de H2S04 ( Robinson, 1980) : Ca10(PO4 )6 F2 + 10 H 2S04 + 10 nH20 10 CaS04 nHzO + 6 H3P04 + 2HF.

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 505

e, provavelmente, pela ausência ou baixa presenç a de Al 3+, dada sua parcial ou total
complexa çã o por compostos orgâ nicos, considerando a grande afinidade do meio para
com o Ca (dreno -Ca ) proveniente da rocha, como discutido neste capítulo, e a menor
forma çã o de P nã o-lá bil (fonte-P) .

Dreno-Solo
Com a dissoluçã o do FN no solo (Figura 16 ), há aumento da concentraçã o de Ca e de
P nas vizinhanças das partículas de FN, tendendo a um equilíbrio e restringindo a
dissoluçã o do FN . A retirada ou diminuiçã o desses produtos da dissoluçã o far á com
que o equilíbrio se desloque para a direita, aumentando a taxa de dissolu çã o do FN.
Essa maior dissolu çã o deverá ocorrer, portanto, em condições de maior dreno para o Ca 2+
e para o H2P04 (17) . O solo é um dreno de grandeza variá vel, tanto para Ca 2+ como para
FI2P04 . Para o mesmo tipo de argila, ambos os drenos aumentam com o aumento do teor

de argila . O tipo de argila, definido, por exemplo, por uma condiçã o de maior ou menor
intensidade de intemperismo, far á com que a presença de argila com maior ou menor
atividade defina maior ou menor car á ter-dreno-Ca. A intensificação do dreno-Ca ( maior
CTC ), de modo geral, significa diminuiçã o do dreno-P (adsor çã o de P ) ou do fator
capacidade de P do solo ( FCP). Uma questã o frequente é a importâ ncia de ter maior
dreno-Ca ( maior CTC ) ou maior dreno-P ( maior CMAP) como condiçã o mais favor á vel à
dissoluçã o de FN. O simples fato de ter, no solo, um sistema muito mais tamponado para
P do que para Ca (18) indica que maior dreno-Ca deve ser mais cr ítico que maior dreno-P,
como condiçã o para maior dissoluçã o de FN. Portanto, a dissoluçã o de FN dever á ser
mais intensa em solos com maior CTC e, particularmente, com maiores teores de MO,
como já comentado. Pode-se, ainda, considerar que maior absor ção de Ca pelas plantas,
bem como maior difusã o e lixivia çã o de Ca do que de P, de modo geral, dever á ter efeito
particular sobre a dissoluçã o de FN em solos.
A compara çã o entre pH, dreno -P e dreno-Ca mostrou que o dreno-Ca foi a
condicionante mais importante da dissolu çã o do fosfato de Gafsa em laborató rio
(Robinson & Syers, 1990). Para isso, uma amostra do fosfato de Gafsa, em sacos de
diálise, foi submetida à dissoluçã o, na presença de acidez (pH tamponado), de um gel de
óxido f érrico hidratado, como dreno-P, e, ou, de uma membrana de troca catiônica, como
dreno-Ca, por um período de até 44 dias (Quadro 7). Observou-se, também nesse trabalho,
que a dissolu çã o do Gafsa com 44 dias de equilíbrio com as amostras de solo
correlacionou -se melhor com a concentra çã o de Ca na soluçã o do solo ( r = -0,91) . A
importâ ncia do dreno-Ca para a dissoluçã o de FN é corroborada em outros trabalhos
( Robinson et al ., 1994; Bolan et al., 1997; Corr êa et al., 2005).

(17 )
Para condi ções de pH de solo cultivado, H 2P04 é a forma predominante de P em solu çã o . A

42
participa çã o de HPÓ ( també m absorvida pela planta ) torna -se maior com o aumento do pH do

meio ( Lindsay et al ., 1989 ) ( Figura 9 ) .


0 8) A concentraçã o de P na solu çã o do solo é, normalmente, inferior a 0,006 mmol L 1, enquanto a de Ca,
'

em um LA á lico textura muito argilosa, da regiã o amazônica, de 0 a 15 cm de profundidade, foi de


0,22 mmol L 1, em condição natural, elevando-se para 2,74 mmol L 1 depois de calagem com 4,4 t ha 1 de
* '

calcá rio calcítico (Dr. T. Jot Smyth, informa çã o pessoal ). A comparaçã o entre Ca-soluçã o / P-solução
sugere um tampã o, ou fator capacidade, para Ca no solo, nessas condições, 457 vezes menor que para P.

FERTILIDADE DO SOLO
506 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

A maior presença de Ca na soluçã o de solo que recebeu CaC03 em quantidades


equivalentes a SrCOs (valores semelhantes de pH final ), diminuindo a dissoluçã o de FN
de Norte Carolina, é discutida por Khasawneh & Doll (1978) (Quadro 8). Deve-se lembrar
que o FN de Norte Carolina é bem mais reativo que nossos FNs apatíticos.

Dreno-Planta

O comportamento diferencial entre plantas quanto à eficiência em absorver P de


diferentes fontes de FN é compreendido pelo que já se discutiu até agora ( Figura 16).
Uma planta pode ser fonte de pr ó tons, ao acidificar sua rizosfera, bem mais que outra ,
como também pode ser dreno de P e de Ca, com grandezas variá veis entre genó tipos.
Estudos mais recentes têm demonstrado o expressivo efeito da acidifica çã o da
rizosfera de plantas sobre a solubiliza çã o de FNs . Plantas supridas de N amoniacal
apresentam valores de pH da rizosfera at é duas unidades inferiores ao do solo

Quadro 7. Efeito de pH, de dreno-P e de dreno-Ca sobre a dissoluçã o de fosfato natural de


Gafsa em 44 dias de equilíbrio

pH Dreno P- Dreno -Ca Dissolu çã o de P

mg P mg Ca %

6,1 0 0 1/5
4,5 0 0 6,0
6, 2 50 0 3, 2
4 ,5 50 0 9,8
6, 2 0 48 30, 0
4,5 0 48 60, 0
4,5 50 48 95, 0

Fonte: Robinson & Syers (1990).

Quadro 8 . Crescimento de milho em amostra de solo submetido a dois corretivos da acidez(1 )


e a doses de f ósforo, na forma de fosfato natural de Norte Carolina
)

CaCCh SrC 03
Dose de P
Do D ;2 D3 D2 D3

mg / vaso g / vaso
0 9,6 9,9 8, 2 9, 2 8,5
150 64,0 40,4 16,4 56,7 38,6
300 86,5 65,3 20,6 76,3 55,1
600 111,4 87,2 22,2 105,5 72,7
(J )
Os níveis de calagem ( D2 e D3) representam 32 e 60 mmolc kg 1 dos corretivos no solo.
'

Fonte: Khasawneh & Doll (1978).

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 507

nã o-rizosf é rico (Marschner, 1991). De modo semelhante, leguminosa -arbó rea inoculada
com rizóbio apresenta forte acidifica çã o da rizosfera (Gillespie & Pope, 1990a ,b ). Esse
efeito acidificante da rizosfera e a grande absor çã o de P e de Ca (Raij & van Diest, 1979 )
pela soja sã o, provavelmente, as razões dos excelentes resultados encontrados por
Goepfert et al. (1976 ), citados por Raij et al. (1981), para fosfatos de baixa reatividade,
como o de Arax á . Portanto, quando se generaliza a nã o-adequabilidade da aplica ção de
FNs de baixa reatividade em solo com pH superior a 5,5, pode-se incorrer num equívoco,
ao desconsiderar o pH da rizosfera (19) da planta cultivada . Assim, um pHH2Q = 6,0 na
massa do solo pode ser reduzido a 4,5 na rizosfera, condiçã o favor á vel à solubilizaçã o
( aproveitamento pela planta e nã o pelo solo ) desses fosfatos.
Embora a dissoluçã o acumulada de um FN aumente com o aumento da dose aplicada
no solo, a taxa de dissolu çã o ( unidade dissolvida / unidade aplicada ) diminui. Dá -se
isso como consequê ncia de limita ções impostas ao sistema pela competiçã o por acidez e
por drenos do solo, para os produtos Ca e P da dissolu çã o do FN (20). Algum aumento da
dissolu çã o, proporcionado pela planta , como dreno para esses elementos, como
consequência da produçã o de mais biomassa, em resposta à maior dose de FN, poder á
acontecer. Todavia, deve-se ter em mente que o dreno-planta, tanto para P como para Ca ,
é muito menor que o dreno-solo (21).
E como aumentar o dreno-solo para um FN em um cultivo? A araçã o e a gradagem
de solos que receberam FN anteriormente devem causar maior dissoluçã o desse material.
Com a mudança das partículas do FN de lugar, aumenta a chance de que elas se localizem
em uma regiã o ainda não enriquecida com Ca e P (Kirk & Nye, 1986) . Com essa mudança
de posição da partícula de FN, tem -se efeito semelhante à renovaçã o dos drenos para Ca
e para P. Esse efeito foi avaliado por Novais et al. (1985). Para isso, foram testadas doses
do fosfato de Araxá, em condições de laborató rio e de casa de vegetaçã o, correspondentes
a 0,0, 1,0 e 3,0 t ha 1, em um Latossolo Vermelho-Escuro, com pHH20 = 4,0, P-Mehlich-1 =
"

2 mg dm 3 e Ca 2+ = 0,4 cmolc dm 3. Durante três meses de incubaçã o, os tratamentos foram


' "

submetidos a n úmeros variáveis de revolvimento (R ) . Depois da homogeneizaçã o inicial


do fosfato com o solo ( tratamento Ro ), comum a todos os tratamentos, foram testados,
ainda , os tratamentos: R 2 = revolvimento aos 45 dias após o início da incuba çã o; R2 =
revolvimento aos 30 e 60 dias e R5 = revolvimento aos 15, 30, 60 e 75 dias. No final do
período de incuba çã o, determinou-se a dissoluçã o dos FNs pelo aumento do Ca 2+ no

0 9) Plantas submetidas a estresse de P estimulam a secre çã o de H + pelas ra ízes, proporcionando


aumento da disponibilidade de P do solo deficiente ( Moorby et al., 1988) .
( 2 ) por
° mais que se aumente a dose de FN de baixa reatividade em algumas condições experimentais,
n ã o se conseguem produtividades t ã o altas como as obtidas com as fontes solú veis. O crescimento
m á ximo de uma planta pode requerer uma concentra çã o de P na solu çã o do solo maior que o
produto de solubilidade do FN permite ( Rajan et al., 1996 ) .
( 21 )
Enquanto a soja acumula 19 kg ha 1 de P, na planta toda ( de Mooy et al., 1973), a capacidade
"

m á xima de adsorçã o de P de um solo est á em torno de 1 mg g 1 de P no solo = 2.000 kg ha 1 de P no


" "

solo de 0-20 cm de profundidade . A quantidade de 118 kg ha 1 de Ca acumulada na planta toda


"

( de Mooy et al ., 1973) pode ser encontrada em 0,295 cmolc dm 3 de Ca no solo, de 0- 20 cm de


"

profundidade .

FERTILIDADE DO SOLO
508 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

solo, como mostram Khasawneh & Doll (1978). Posteriormente, todos os tratamentos
receberam 4,6 t ha 1 de CaCOs + MgCOs, com PRNT corrigido para 100 %, na rela çã o
'

molar Ca:Mg = 4:1. Os tratamentos receberam, também, aduba çã o básica com macro (-P)
e micronutrientes e cultivou -se sorgo gran ífero . A solubiliza çã o do fosfato de Araxá
aumentou com o n ú mero de revolvimentos, de modo particular com o maior n ú mero de
revolvimentos testado (R5) (Quadro 9 ). Com a maior dose de FN aplicada (3 t ha 1 ), em '

rela çã o à menor (1 t ha 1), o efeito do revolvimento decresce, porque diminui a chance de


'

que uma partícula de FN, ao mudar de lugar, encontre uma regiã o nã o enriquecida pelos
produtos da dissoluçã o de outras partículas, confundindo-se o efeito de dose com o de
revolvimento, como indicado pela literatura (Rajan et al., 1996) .
Todavia, os resultados relativos aos maiores valores de solubiliza çã o do Arax á nã o
coincidiram com os maiores valores de crescimento eac ú mulo de P na planta (Quadro 9).
Os tratamentos com o maior número de revolvimentos, que causaram maior solubiliza çã o
do fosfato, provocaram menor crescimento das plantas e menor ac ú mulo de P na sua
parte a é rea. Pode-se concluir que condições favorá veis à maior dissolução do FN podem
levar, também, a uma passagem mais r á pida do P da forma lá bil, proveniente do fosfato,
para a nã o-lá bil, posteriormente. Assim, pode-se pressupor que condições de solo
favor á veis à solubiliza çã o menos intensa sejam mais favor á veis ao dreno plantas,
permitindo aproveitamento mais eficiente dessa fonte de P.

Quadro 9 .. Efeito do n ú mero de revolvimentos do solo e de doses do fosfato de Araxá sobre a


solubiliza çã o estimada do fosfato, produ çã o de maté ria seca e f ósforo acumulado na parte
aérea de sorgo

Tratamento (1 ) Parte a é rea seca P -pIanta

g / vaso mg / vaso
RoAo 2,325 1, 4
Ri Ao 2,550 1,8
R 2A0 2,603 2, 2
R 5A 0 2, 615 1,9
R 0 A1 4,347 4,6
R 1 A1 3, 240 2,7
R 2 A1 3,807 3, 4
R 5 A1 2,923 2, 2
R 0A3 6, 203 6,6
Ri A 3 7, 210 7,9
R2A3 6,740 6,5
R5A 3 4,863 4,0
DMS 0,05 ( 2 ) - Revolvimento / D ò se f ó sforo 1,070 1,4
- Dose / Revolvimento f ó sforo 0,970 1 ,2
{I )
R = revolvimento, tendo como índice o número de revolvimentos durante a incubaçã o; A = fosfato de Araxá ,
tendo como índice a dose de fosfato testada ( t ha 1 ) - (2 ) Diferença mínima siginificativa a 5 %, pelo teste de Tukey .
Fonte: Novais et al . (1985) .

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 509

Tempo de Contato
Importante fator de controle da dissolu çã o de FN, nã o presente explicitamente na
figura 16, é o tempo de contato (equilíbrio ) do FN com o solo.
A literatura mostra, com frequência , que o maior tempo de contato solo-fosfato, que
causa sua maior solubilidade, causa , també m, menor disponibilidade de P para as plantas
( Khasawneh & Doll, 1978; Novais et al., 1980, Novelino et al ., 1985; Rajan et al., 1996), ou
menor concentraçã o de P-l á bil, medida pela Resina de Troca Iô nica (Smyth & Sanchez,
1982) . Pode-se deduzir que, embora haja maior solubiliza çã o do FN com o aumento do
tempo de contato com o solo, os produtos formados ( P nã o-lá bil ) apresentam-se mais
está veis que o original, o FN. Para avaliar esse efeito do tempo de contato sobre a
solubiliza çã o de fosfato de Arax á, Novais et al . (1980) incubaram três doses do fosfato
(0,5, 1,0 e 2,0 vezes a capacidade m á xima de adsor çã o de P do solo - CMAP) com amostras
de dez Latossolos á cidos e pobres em Ca trocá vel, de modo geral, por quatro diferentes
per íodos de tempo de incuba çã o ( 253, 133, 73 e 0 dias ) . As incuba ções foram iniciadas
em datas diferentes, de modo que o plantio, em vaso, foi feito, em todos os tratamentos, no
mesmo dia . Mesmo com doses de P bem elevadas, verificou-se decréscimo acentuado na
eficiência do fosfato de Araxá como fonte desse nutriente para plantas de sorgo, com o
aumento do tempo de incuba çã o (Quadro 10 ) . Os resultados indicaram que, mesmo
havendo rea çã o do fosfato com o solo ao longo do per íodo de incuba çã o, essa rea çã o
i
forma produtos de menor disponibilidade de P para as plantas que o fosfato original .
Deve-se entender que o forte efeito negativo do tempo de incuba çã o sobre a
disponibilidade de P de uma fonte sol úvel, dada a rá pida forma çã o de P nã o-lá bil, é bem
menos intenso, embora existente, para as fontes pouco reativas, como os nossos FNs
apatíticos (Figura 17) . No caso desses fosfatos, a lenta solubiliza çã o ao longo do ciclo da
planta faz com que haja menos P em soluçã o para tomar a rota nã o-lá bil, como acontece
com as fontes sol ú veis.
Resultados semelhantes foram obtidos por Novelino et al. (1985). Amostras de cinco
Latossolos ( valores de pHH2D entre 4,1 e 5,1 e teores de Ca 2+ entre 0,10 e 0,23 cmolc dm 3), '

sem e com calagem ( neste caso, pHH 2G entre 5,3 e 6,0 e Ca 2+ entre 1,75 e 3,30 cmolc dm 3),
'

receberam fosfato de Arax á, numa dose equivalente a 1.000 kg ha 1 de P2Os total, e foram
'

Quadro 10. Valores médios(1) de crescimento e absor çã o de f ósforo pela planta, em resposta à
aplica çã o de doses de fosfato de Arax á e de quatro tempos de incuba çã o do fosfato com
amostras de dez solos

Tempo ( dia )
Vari á vel 0 73 133 253

Produ çã o de mat é ria seca ( g / vaso ) 8,7 8, 0 7,5 6,6


P absorvido ( mg / vaso ) 13,2 10,9 10,3 8, 0
(1 }
Apesar de efeito significativo para tratamentos (solo e tempo de incubação) e suas interações, os resultados médios
apresentados dão uma visão geral do fenômeno estudado.
Fonte : Novais et al . (1980).

FERTILIDADE DO SOLO
510 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

incubadas por per íodos de tempo de 0 a 270 dias. A solubiliza çã o da apatita, medida
pelo aumento do Ca trocá vel do solo, fracionamento das formas inorgâ nicas de P e
extratores do "P-disponível" variaram conforme o tempo de incuba çã o. Na presença da
calagem, a solubiliza çã o foi menor que na sua ausê ncia (Quadro 11) .

Figura 17. Efeito do tempo de incuba çã o de fosfatos ( natural ( FN ) e sol ú vel ( FS) ) sobre a
disponibilidade de f ósforo ou sobre o crescimento de planta .
Fonte: Adaptado de Novais et al. (1980); Novelino et al. (1985); Gonçalves et al. (1989).

Quadro 11 . Valores m édios da solubilizaçã o estimada (1) do fosfato de Araxá , crescimento e


absor çã o de f ósforo pelas plantas de sorgo e teor de f ósforo no solo, por diferentes
extratores do "P-disponível"(2), como variá veis de calagem e de tempo de incuba çã o do
fosfato de Araxá com amostras de cinco Latossolos

Sem calagem Com calagem


DMS ( 3 )
Vari á vel Tempo de incuba çã o ( dia )
(5 o/o )
0 10 270 0 10 270

Solubiliza çã o ( % ) (1 ) 0 13 43 0 2 30
Mat . seca (g / vaso ) 0,90 8 , 12 6,99 6,16 8, 09 6,62 6 ,78
P-absorvido ( mg / vaso) 0,77 4,89 4,06 3,73 5,15 4, 30 4,41
P-Olsen ( mg kg 1 ) '

2 ,1 3,8 7, 6 12
/ 1 ,6 2, 1
P - Bray -1 ( mg kg 1 ) '

8, 2 11, 4 18,6 3,4 3, 6 5, 9


P - Mehlich -1 ( mg kg 1 ) 106 66 64 94 81 79

Altera çã o do Ca trocá vel do solo ( Khasawneh & Doll, 1978) . (2 ) Os resultados para os extratores serã o discutidos
(1 )

na seçã o Extratores. (3) Diferença m ínima significativa (5 % ) para tempo de incuba çã o.


Fonte: Novelino et al . (1985) .
i

A produção de matéria seca e a absorção de P pelo sorgo decresceram com o tempo


de incuba ção, como consequência de rea ções secund á rias entre o P solubilizado e o solo,
com a forma çã o de P n ã o-lá bil. Correla ções significativas entre a solubilizaçã o da
apatita (22), com 210 dias de incuba çã o ( valor nã o apresentado ), e características do solo

< 22) Uma das maneiras para medir a dissolu çã o de um FN no solo, em diferentes tratamentos, é deter -
minar as altera ções no teor de P-Ca ( Rajan et al ., 1996 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 511

associadas à adsor çã o de P ( valores de r para CMAP = 0,832**; para constante


k -Freundlich = 0,784** e para P-remanescente 50 mg L 1 = -0,737*), evidenciaram o efeito
'

do dreno-P sobre a solubiliza çã o do FN, embora esse dreno deva ter sido, também,
responsá vel pela reduçã o na disponibilidade de P para o sorgo.
Aparentemente, para nossos solos, mesmo para aqueles com menor FCP, o efeito do
tempo sobre FN, favorecendo a planta (P-disponível ), e nã o o solo (fixa çã o de P), parece
nã o ocorrer . Pode-se ainda, dizer que esse efeito de tempo, diminuindo a efetividade de
fontes de P em solos, aumenta com o aumento da reatividade ("solubilidade") do fosfato
e do FCP do solo (e, como tem sido discutido neste capítulo, com algumas condições que
favoreçam a solubiliza çã o do FN ). Assim, quando se comenta a melhoria da eficiência
de FN como fonte de P para as plantas, com o aumento do tempo de contato do fosfato
com o solo, o que se tem, na verdade, é um efeito de tempo, diminuindo essa eficiência de
modo menos pronunciado para o FN do que para as fontes sol ú veis (23) (Sarmento et al .,
2001) .
O efeito da aplica çã o antecipada do fosfato de Araxá e de fosfatos industrializados
de maior solubilidade (superfosfato simples, termofosfatos e um fosfato parcialmente
acidulado com 50 % de á cido sulf ú rico ), em rela çã o à calagem e ao plantio de sorgo, foi
avaliada por Kaminski & Mello (1984). Foram utilizadas amostras de tr ês solos á cidos,
e o calcá rio (carbonatos de Ca e de Mg na rela çã o molar de 4:1) foi aplicado na dose
necessá ria para elevar o pH dos solos a 6,0. Deve-se ressaltar que a dose de P utilizada
(150 mg kg 1 de P2Os total no fosfato) pode ser considerada baixa < 24) para estudos em
'

vasos. A maior eficiência dos fosfatos industrializados ocorreu quando aplicados juntos
(30 dias antes do plantio, anteced ência constante nos demais tratamentos ) e a menor
quando aplicados 90 dias antes do calcá rio, sugerindo a forma çã o mais intensa de P
n ã o-lá bil nessas condições ( Quadro 12) . Para o solo arenoso, nã o houve diferença entre
as é pocas de aplica çã o dos fosfatos, em rela çã o à calagem ( veja tratamentos no rodapé
do quadro 12) . Os resultados que mais chamam a atençã o neste trabalho sã o os relativos
ao fosfato de Araxá . No solo arenoso (Pared ã o Vermelho, com 9 % de argila ), como o
dreno-P predominante é a planta , e nã o o solo, qualquer é poca de aplica çã o do fosfato,
em rela çã o ao plantio, leva a resultados semelhantes ( nã o diferentes entre si ). Por outro
lado, para os solos com maior FCP (o Bom Jesus, com 57 % de argila , e o LE, com 51 % ), a
aplica çã o antecipada do Araxá , em rela çã o ao plantio, leva a menores produtividades
que as da aplica çã o mais pr óxima ao plantio . Esses resultados indicam que o tempo
necessá rio para maior solubiliza çã o é, també m, responsá vel pela forma çã o de produtos
de menor disponibilidade de P para as plantas. É també m curioso observar que com
90 dias de contato do FN com o solo mais á cido ( Bom Jesus), antes da aplica çã o do
calcá rio, obteve-se crescimento da planta menor que o obtido com aplica çã o do fosfato

( 23)
Essa maior tend ê ncia à linearidade, para o FN (e exponencial para a fonte sol ú vel ), é consequ ê ncia
da solubiliza çã o, que continua com o tempo de contato do FN com o solo, como també m a adsorçã o /
fixa çã o, ambos os fen ô menos seguindo modelos exponenciais. Por outro lado, a fonte "imediata -
mente" sol ú vel tem como consequ ê ncia do efeito do tempo apenas o decréscimo exponencial dos
produtos da dissolu çã o ( Figura 17).
( 24)
Doses consideradas como insatisfat órias para o crescimento ideal da planta sã o mais sensí veis a
tratamentos que interferem na efici ê ncia da fonte em suprir P para a planta .

FERTILIDADE DO SOLO
512 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et ai .

Quadro 12. Crescimento do sorgo e f ósforo absorvido pela planta, em vasos, em resposta à
é poca de aplica çã o do fosfato de Arax á (150 mg kg 1 de P2Os total no solo), em rela çã o ao
"

calcá rio, em amostras de tr ês solos

Solo Argila p tí H 2 O É poca *1 * Mat é ria seca -


P absorvido

% g / vaso mg / vaso

Bom Jesus 57 4, 5 A 1, 03 c 1, 07 b
D 2, 38 b 2, 03 b
J 5, 32 a 6, 33 a

LE 51 5,1 A 1,43 b . 1 , 29 b
,D 1, 99 b 1, 64 b
J 4, 05 a 3, 73 a

Pared ã o Vermelho 9 5, 2 A 7,15 a 7, 27 a


D 7, 21 a 7, 45 a
J 7,27 a 7,87 a

A : fosfato antes (90 dias) do calcá rio; D: fosfato depois (90 dias ) do calcá rio; J: fosfato e calcá rio na mesma época
ll )

(30 dias antes do plantio; este tempo foi també m mantido para a aplica çã o do calcá rio nos outros tratamentos ). Para
o mesmo solo, dentro de cada coluna , as m édias seguidas da mesma letra n ã o diferem entre si, a 5 % .
Fonte: Kaminski & Mello (1984 ) .

90 dias depois do calcá rio. Tal resultado indica que mesmo a acidez essencial à
solubiliza çã o do fosfato, semelhantemente ao efeito do tempo, proporcionou maior
ac ú mulo de formas de P menos disponíveis para a planta que a forma inicial do FN.
Pode-se, també m, conjecturar se, nesses solos com grande FCP, a acidez essencial à
solubiliza çã o do FN teria como resultante pr á tica a perda da efetividade do fosfato como
fonte de P para as plantas. Embora no solo LE a aplicaçã o do FN antes do calcá rio
( tratamento A) nã o diferisse significativamente da sua aplicaçã o depois do calcá rio
( tratamento D), manteve-se a mesma tend ência absoluta de ser o tratamento D melhor
que o A. També m Raij & van Diest (1980) observaram que a aplicaçã o antecipada de FN
de baixa reatividade, como os FNs de Patos e Alvorada, em rela ção à é poca de aplicação
do calcá rio, nã o contribuiu para melhor resposta de plantas de soja em vasos.

Solubilização de Fosfatos Naturais e Disponibilidade de Fósforo para as Plantas

Até entã o, os diferentes resultados mostraram que condições favorá veis à dissoluçã o
de FNs pouco reativos nã o levaram, necessariamente, a maior crescimento e absorção de
P pela planta . Observa -se que uma fonte de P ( FN ), em dadas condições de solo e de
planta (e de clima ( 25) ), apresenta uma ciné tica ou taxa (a ) de dissoluçã o (Figura 16). Os
produtos dessa dissolu çã o sã o submetidos a uma ciné tica de aquisiçã o pela planta ( b )
ou pelo solo (c e d ). Imagina-se, inicialmente, que o FN seja um produto muito está vel,

( 25 > Al é m da disponibilidade de á gua , o aumento de temperatura ( condi ções tropicais x condi ções
temperadas ) pode fazer com que a dissoluçã o de P aumente pelo aumento da adsorçã o de P pelo
solo, aumentando o dreno- P para os produtos da dissoluçã o do FN ( Rajan et al., 1996 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 513

pouco reativo. Se a ciné tica b (absorçã o pela planta ) for mais rá pida ( maior demanda de
P / unidade de tempo ) que a ciné tica a (dissoluçã o do FN, em P solubilizado / unidade de
tempo), esse FN nã o irá suprir a planta, no tempo necessá rio, de todo o P requerido para
o seu crescimento. Pode-se, minimizar o problema , aumentando o ciclo da planta, de
modo que o P requerido seja absorvido em um per íodo de tempo maior ( diminui-se a
ciné tica b, tornando-a mais compatível com a ciné tica a ). Outra opçã o seria aumentar a
ciné tica a (solubilizaçã o do FN ), mantendo a mesma planta inicial, de ciclo curto. Para
isso, como já se discutiu, podem-se aumentar a acidez (solo ou rizosfera ), o dreno-P e, ou,
o dreno-Ca ( 26). O aumento da acidez implicará o cultivo de plantas tolerantes à acidez (à
toxidez de elementos, como AI e Mn ), e com baixa exigência de Ca . Eucalipto ( Novais et
al ., 1990 ) e algumas gramíneas forrageiras (Sanchez & Salinas, 1983) adequam -se a esse
perfil. O aumento do dreno-P, utilizando, por exemplo, solos com maior FCP ( mais
intemperizados e argilosos, com grande capacidade má xima de adsor çã o de P - CMAP ),
criar á uma dificuldade adicional para a ciné tica b ( absor çã o ), pela seguinte razã o: a
ciné tica c (adsor çã o / fixa çã o) é, de modo geral, muito mais rá pida que a ciné tica b
( absor çã o). Para condições de solo com baixo teor de P-disponível (solo-dreno-P), viu-se,
anteriormente (Quadros 10 e 11), que a própria apatita de Araxá é uma fonte de P (cinética
a mais satisfatória para a planta ) que o P proveniente da dissoluçã o e retido pelo solo em
formas, predominantemente, nã o-lá beis. Para solos com baixos teores de P-disponível e
altamente tamponados (grande FCP), quando ainda seriam caracterizados como dreno-
P, a planta ser á beneficiada pelo maior suprimento de P, bloqueando-se a ciné tica c
( adsor çã o / fixa çã o). Embora, para isso, se possa pensar em diminuir grandes valores da
CMAP dos solos, por tentativas como calagem ( Haynes, 1984; Lindsay et al., 1989 ) e
adiçã o de MO ( Iyamuremye & Dick, 1996 ) ou de silicato (Smyth & Sanchez, 1980a ), boa
soluçã o pr á tica para contornar a ciné tica c ( dreno-P pelo solo) seria utilizar solos com
menor FCP ou aplicar o fertilizante fosfatado ( FN ou ST ) localizadamente nesses solos
com grande FCP (Corrêa et al ., 2005) .
Em nosso País, a utiliza çã o de solos de texturas médias tem apresentado boa soluçã o
para o problema ( aumenta -se a eficiência do FN de baixa reatividade como fonte de P
para as plantas, e nã o para o solo) (Quadro 13) . Esse comportamento do FN de baixa
reatividade em solos com grande FCP, com uma rela çã o inversa entre dissoluçã o do FN
e disponibilidade do P liberado para a planta ( Quadros 9, 10 e 11) , permite o
desenvolvimento de um modelo nã o utilizado em nossas condições. Se a fonte de P,
mesmo os FNs de baixa reatividade, como nossas apatitas, é melhor supridora de P para
a planta, sem a intermedia çã o do solo, dada a estabilidade dos produtos formados
( P nã o-lábil ), é preciso repensar o modo de aplica çã o (incorpora çã o) dos FNs para
aumentar seu contato com o solo, generalizadamente recomendado. Maior contato das
partículas do FN com o solo poderia ser recomendado para condições de baixo FCP

( 26)
Aumentar os drenos Ca e P, utilizando-se uma planta com maior absor çã o destes nutrientes, pode
ser outra solu çã o, embora o aumento do dreno destes nutrientes, mantendo-se o ciclo da planta
constante, implique, tamb é m, o aumento da ciné tica b . Uma aparente solu çã o para aumentar a
ciné tica a ( dissolu çã o do FN ) sem aumentar a ciné tica b (absor çã o de P ) será utilizar plantas com
maior absorçã o de Ca (aumentar o dreno-Ca ) e com a mesma ou menor absorçã o de P ( manter ou
diminuir dreno-P ) .

FERTILIDADE DO SOLO
514 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

Quadro 13 . Produ çã o de maté ria seca da parte a é rea de mudas de eucalipto, considerando
solos, fontes e doses de f ósforo aplicadas ( teores totais na fonte )

Solo (1 )
Fonte Dose de P
LVm LE AQ

mg dm 3 ’
g / vaso

0 0 , 02 0,04 0, 26
FA 100 7, 23 0,38 8, 27
200 12, 97 0,60 11, 70
400 15, 89 3,52 11, 25

0 0,02 0,04 0, 26
ST 100 15, 98 2,34 15, 21
200 15,65 5, 23 18,87
400 17, 49 12,84 18, 68

FA = Fosfato de Arax á ; ST = superfosfato triplo.


(1 )
LVm: 17,6 % de argila, pH = 5,6; LE: 74,7 % de argila , pH = 5,3 e AQ: 14,1 % de argila, pH = 5,2.
Fonte : Novais et al . (1995) .

(solos arenosos, solos orgâ nicos, solos pouco intemperizados, etc.) (Corrêa et al ., 2005),
uma vez que solubiliza çã o seria sinó nimo de disponibilidade de P para a planta. O
grande contato do FN com o solo, obtido com sua distribuiçã o em toda a á rea e
incorpora çã o no solo, deverá ter como objetivo saturar o elevado poder de adsorçã o
desses solos, favorecendo a planta quanto a futuras aplicações de fontes sol ú veis de P,
apesar das dificuldades relativas à s grandezas de FN necessá rias à obtençã o de alguma
eficiência desse procedimento . Todavia , um tipo de aplica çã o que diminua o contato
com o solo, particularmente com aqueles de maior FCP, mas que mantenha o maior contato
possível com maior volume de ra ízes seria ideal. Seria esta a condiçã o de favorecimento
preferencial do dreno-planta em rela çã o ao dreno-solo (a utiliza çã o de micorrizas é um *i
exemplo desse tipo de favorecimento ) ? Nã o é o que temos feito até agora, uma vez que
ênfase tem sido dada ao maior contato possível com o solo, qualquer que seja ele, mesmo
aqueles com grande FCP ( Lopes et al., 1982; Goedert et al., 1986; Goedert & Lopes, 1987;
Novais et al., 1990).
O volume de tronco de eucalipto ( Eucalyptus camaldulensis ) com nove anos e sete
meses de idade foi maior quando o fosfato de Araxá foi aplicado no sulco de plantio
(174,7 m3 ha 1) do que quando aplicado a lanç o, em faixa de 1,20 m de largura, e
'

incorporado antes do plantio (140,6 m3 ha 1), como média das três doses de P testadas
"

(Paredes F., 1996). Essas doses corresponderam a 100, 200 e 400 kg ha 1 de P2Os total do '

FN. O solo utilizado no experimento tinha pHH2Q = 4,7, 0,1 e 0,8 cmolc dm 3 de Ca 2+ e Al3+, '

respectivamente, e 430 g kg 1 de argila . Semelhantemente ao efeito da produtividade de


'

tronco, a localizaçã o do FN no sulco de plantio proporcionou maior recuperaçã o do P


aplicado nas maiores doses de P, responsá veis por um crescimento mais satisfatório das
á rvores. Enquanto, para a aplicação de 200 kg ha 1 de P2Os no sulco de plantio, as á rvores
'

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 515

recuperaram 14,46 % do P aplicado, com a aplica ção em faixa a recuperaçã o foi de 6,96 %.
Para a dose de 400 kg ha 1 de P2Os, esses valores foram de 16,58 e 8,01 %, respectivamente.
'

Atualmente, a maioria das florestas brasileiras recebe uma aplica çã o de fosfato natural
no sulco de plantio (sulco de subsolagem ou de ripagem, mais freqiientemente ) numa
dose que varia de 400 kg ha 1, para os FNs reativos, a 600 a 700 kg ha 1, para os de baixa
' '

reatividade, como o Arax á .

Resultados Experimentais com Fosfatos Naturais em Nossas Condi ções


A partir de meados da década de 70, intensificaram-se as pesquisas sobre a utilizaçã o
de FNs no Pa ís, com ênfase na aplica çã o in natura desses materiais. Eles foram testados
como fonte de P, tomando as fontes sol úveis, como o superfosfato triplo (ST), como
referência . Para essa compara çã o, foram utilizados a Eficiência Agronómica ( EA) e o
Equivalente-Supertriplo (Eq.ST):
EA = [ ( Mat é ria seca obtida com a fonte -
Mat é ria seca testemunha ) / ( Mat. seca obtida
com o ST - Mat é ria seca testemunha ) ]100 (7)

Pode-se utilizar a quantidade de P absorvida pela planta no lugar de matéria seca


produzida .
Eq . ST = ( DST / DX) 100 (8)

em que DST é a dose de P (ou de P205) total, na forma de ST, necessá ria à produçã o YeDx
é a dose de P (ou de P2Os) total, na forma da fonte de P testada, necessá ria à mesma
produ çã o Y (Figura 18).
Quando nossas apatitas de baixa reatividade sã o comparadas com FNs de maior
reatividade, como Gafsa, ARAD, Norte Carolina, e com fosfatos industrializados, como
os termofosfatos e os fosfatos sol úveis em água (Quadro 14), observa-se, com frequência,
que a absorçã o de P e o crescimento de planta correlacionam-se com a solubilidade dos
fosfatos em á cido cítrico (Goedert & Lobato, 1980(27); Goedert & Sousa, 1986(28)). Essa
correla çã o justifica a semelhança de comportamento entre os FNs e as fontes sol úveis,
mesmo para culturas anuais, quando a dose aplicada é estabelecida com base no teor de
P2Os sol ú vel em á cido cítrico da fonte ( Urquiaga et al., 1982; Bataglia et al., 1984 ).

( 27 )
Goedert & Lobato (1980 ) conclu í ram que a resposta da soja ao FN de Patos ( 400 kg ha 1 P 2Os "

aplicados na á rea toda e incorporados) decresceu com o aumento das doses de calcá rio aplicadas
em um LE com pHH 2G = 4,2 e 2,0 cmolcdm 3 ( Ca + Mg ) solo. Resultados como este podem gerar
'

especula ções quanto à sua causa . Foi por diminuir a acidez do solo? Por aumentar o teor de Ca
trocá vel em um solo com concentra çã o inicial de Ca satisfat ória ? Por restringir a acidifica çã o da
rizosfera das plantas de soja em ambiente de pH maior ? A mais eficiente utiliza çã o do FN como
fonte de P para planta , em um solo como este ( grande FCP ), depende da a çã o solubilizadora do
solo, formando formas de restrita reversibilidade, ou da a çã o da planta quando ela é o dreno mais
próximo e preferencial para o P liberado do FN?
< 28) Para a rela çã o EA das fontes com solubilidade, Goedert & Sousa (1986 ) encontraram, para um
primeiro cultivo com milho, em casa de vegeta çã o, rela ções significativas para o extra ído com á cido
c í trico ( R 2 = 0,88), citrato neutro de am ónio ( R 2 = 0,90) e P solú vel em á gua ( R2 = 0,90 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
516 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

Figura 18. C á lculo do equivalente-supertriplo ( Eq .ST ) ( Eq.8 ) (Observa -se que o Eq-ST vai
depender da dose ( D ) de P2Os escolhida (ou da produtividade y definida ) .

Quadro 14. Concentra çã o de P205 total e de P2Os sol ú vel (em rela çã o ao P2Os total) em á cido
cí trico a 2 % ( ou 20 g L 1 ) ( A.C., relaçã o fosfato:extrator de 1:100 ), de fontes de f ósforo
'

industrializadas e de fosfatos naturais

Fonte Total A.C. Total A .C. Total A .C. Total A . C. Total A .C. Total A .C .

%
i

Fonte ( literatura ) A B C D E F

Superfosfato triplo 45,5 40,4 46 44, 9 53,3 45, 2 47,4 40,5


Termofosfato magnesiano 17,5 15,6 17,7 16,3 18 17,4 19,5 16,7 15,9 14,6
Hiperfosfato (Gafsa ) 27,3 12,6 27,4 12,0 28 12,5 30,0 14,3 28,2 12,3 i

Termofosfato IPT 27,9 8 ,6 27,8 8,4 26 8,2 30,8 9, 0 28,7 8 ,6


Sechura 27, 6 5,5
Fosfosfato Norte Carolina 30,1 5,1
Alvorada 29,6 7,3 30,0 6, 6
Olinda 25,9 4,9 25,6 5,3 26 5,2
Arax á 37,3 4, 6 36,5 4,5 37 4, 6 26,00 ) 4,1 37,6 4, 7
Patos 23,8 4 ,5 24,2 4,8 26 5,4 25,8 6, 7 24,3 4,8
Arad 33,7 4,1 1
Abaet é 24,0 3,9 23,9 4 ,1 21 4,6 21 ,0 4 /3 21,4 3,7
Tapira 36,0 3,0 37,1 2,6 33 4, 4 31,0 3,1
Fl ó rida 33 7,2 33,1 33,7 2, 7 *
Catalã o ( Brasinete ) 36,7 2,3 37,3 2,5 37,7 2,5
Catal ã o (Metago ) 38,3 2, 2 37,3 2,5 38 3,0 41,8 2,6
Ipanema 39, 2 2,3 39,9 2,9 í
31,6 2, 1 33,3 1, 9 35 2,5 36,9 2, 2
Jacupiranga *1
Fosfato Al ( MA ) 28,7 2,1( 2 ) 30,0 1,0(2) 30,5 1,0 ( 2 )
Fospal (Fosfato Al ) 33,5 1,6( 2 ) 32,4 0, 7( 2 )

1}
Produto nã o concentrado. (2) Baixa solubilidade em meio á cido, mas alta solubilidade em solu çã o neutra de
citrato de am ónio.
Fonte: A: Feitosa et al. (1978); B: Alcarde & Ponchio (1980); C: Kochhann et al. (1982); D: Lopes et al. (1982);
E: Goedert & Lobato (1980); F: Saggar et al. (1993).
i

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 517

A baixa reatividade das apatitas brasileiras, ein relaçã o aos FNs de melhor qualidade,
faz com que, comparados a superfosfato triplo, tenham comportamento insatisfatório
como fonte de P para culturas anuais, embora melhor para cultivos de longa dura çã o,
como o capim-andropogon (Quadro 15). Nesse experimento, utilizou-se um LE com pHH2Q
( testemunha ) entre 4,9 e 5,0 e Ca + Mg entre 1,6 e 2,1 cmolc dm 3, e sequência de cultivos
'

trigo, soja (dois anos), arroz, sorgo e capim -andropogon ( tr ês anos) durante oito anos
(Goedert & Lobato, 1984). Os FNs menos reativos, como Patos, Arax á , Abaete e Catalã o,
nã o promoveram aumentos significativos nas concentrações de "P-disponível", pelo Bray-1,
ou de Ca trocá vel, indicando a baixa solubiliza çã o desses FNs durante os oito anos de
dura çã o do experimento. Por outro lado, Goedert (1983) estimou que 20 % do P aplicado
na forma do FN de Patos, Arax á e Catalã o permanecia na forma original depois de seis
anos de contato com o solo ( um LV de cerrado ) . Após o quinto cultivo no campo, os FNs
de baixa reatividade apresentaram um efeito residual similar ao das fontes sol ú veis em
á gua .
í
A diferença de comportamento entre espécies de ciclo curto, ante o suprimento de P
por FNs de baixa reatividade, pode ser expressiva, como comentado ao longo deste
subcapítulo. A EA média, para todas as fontes, foi de 66, 62 e 80 % para milho, trigo e
soja, respectivamente. Considerando apenas os fosfatos Alvorada, Araxá e Patos, esses
valores de EA foram de 65, 56 e 76 %, respectivamente. O efeito acidificante da rizosfera
da soja parece ser a razã o do melhor comportamento dessa espécie.
I
Alguns resultados de pesquisa têm mostrado inefetividade dos FNs de menor
reatividade como fonte de P para plantas . De modo geral, esses resultados extremos

Quadro 15. Eficiê ncia agronómica (EA ) e equivalente superfosfato triplo ( Eq .ST ) de fontes de
f ósforo, durante oito anos de uma sequ ê ncia de cultivos em um LE de cerrado, em
j
condições de campo

EA (1 )
Eq.ST (1 Total
)
Fonte Dose de P total
Culturas anuais Andropogon Total

kg ha -
í
%
í

Termomagnesiano 350 110 119 114 > 100


Gafsa 350 106 106 106 > 100
i Florida 175 96 129 106 100
S Tennessee 175 85 141 102 92
Pirocaua ( MA ) 350 81 84 82 62
] Termo- IPT 350 88 98 92 76
í
\ Patos 91 70 44
350 56
Arax á 350 47 74 58 32
Abaet é 350 47 71 56 31
Catal ã o 350 26 43 33 15

(1 )
Tomando como base a absorção de P.
Fonte : Goedert & Lobato (1984).
t

FERTILIDADE DO SOLO
518 ROB è RTO FERREIRA NOVAIS et al .

parecem estar, também, ligados a condições experimentais desfavoráveis à detecçã o ótima


do efeito esperado, como utiliza çã o de doses supostamente muito altas de FN ( Novais et
al., 1980; Cantarutti et al ., 1981) ou sub ó timas ( Ferreira & Kaminski, 1979; Goedert &
Sousa, 1986); utiliza çã o de solos com elevados teores de Ca trocá vel (e saturaçã o por
Ca 2+ ) e, ou, que receberam altas doses de calcá rio (Ferreira & Kaminski, 1979; Goedert &
Sousa, 1986; Vasconcellos et al., 1986a,b); limitações por um fator de produçã o adicional,
como falta de chuvas ( Braga et al., 1980) . Provavelmente, o cultivo da soja em casa de
vegeta çã o, por um período de tempo insuficiente para que a acidifica çã o da rizosfera se
intensifique, o que ocorre após início da fixa çã o biológica de N2, poderá, também, explicar
a limitada absor çã o de P desses FNs menos reativos.

Fontes Industrializadas de Maior Solubilidade


Superfosfato Simples
Obtençã o: mistura estequiomé trica de H2S04 com fosfatos naturais (apatitas):
Ca 3(P04 ) 2 + 2H2S04 + 3H20 2CaS04.2H20 + Ca ( H2P04) 2. H20
18 % P2Os sol ú vel em CNA (citrato neutro de amó nio) + água
11 % S
19 % Ca
Superfosfato Triplo
Obtençã o: mistura estequiomé trica de H3P04 com fosfatos naturais (apatitas):
Ca3(P04)2 + 4H3P04 + HzO 3Ca (H2P04) 2.H20
43 % P2Os total sol ú vel em CNA + á gua
13 % Ca
Fosfato Monoamônico ( NH4H2P04)
Obtençã o: neutralização parcial de H3P04 pela amónia.
48 % P2Os sol ú vel em CNA + á gua
9%N
Fosfato Diamônico [ ( NH4) 2HP041
Obtençã o: neutraliza çã o parcial de H3P04 pela amónia
45 % P2Os sol úvel em CNA + água
16 % N
Termofosfato
Obtençã o: fusã o (1.450 °C) de fosfato natural (apatita ou fosforita ) com uma rocha
magnesiana (serpentina ) e resfriamento rá pido.

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - Fó SFOR ò 519

18 % P2Os total
16,5 % P 2Os sol ú vel em á cido cítrico a 2 % (ou 20 g L 1)
'

20 % Ca
9 % Mg

Bio-Super

Obtençã o: o á cido sulf ú rico utilizado na produçã o do superfosfato simples é


substitu ído por S e bacté rias do gênero Thiobctcillus , que oxidam o S, para a SO42-'
proporcionando a acidez responsá vel pela acidifica çã o da rocha .

Considera çõ es Finais

O efeito de maior tempo de contato do solo com fontes de P com diferentes reatividades
dever á aumentar a solubilidade acumulada das fontes menos sol ú veis, mas, por outro
lado, diminuir a disponibilidade de P para as plantas. Quanto mais reativo for o fosfato,
mais prejudicial ser á o efeito do tempo de contato com o solo sobre sua disponibilidade
de P para as plantas (Figura 19 ) .
O cultivo de sorgo granífero em um LE, durante sete cultivos sucessivos, fertilizado
com diferentes fontes de P - (FN) e fontes solúveis (FS) -, com a dose de 400 kg ha 1 de P205
"

total, aplicada a lanço e incorporada ao solo, mostrou resultados que justificam a figura 19.
Uma EA (Eq.7) do fosfato de Abaete, correspondente a 45 %, no primeiro ano, aumentou
para 102 %, no sé timo ano . Essa compara çã o, para o fosfato de Patos, foi de 67 e de
124 %, respectivamente. A produçã o total de sorgo durante os sete cultivos, em resposta
à aplica çã o de ST, foi de 19.151 kg ha 1, ao passo que para o de Patos foi de 19.102 kg ha 1
' "

( Vasconcellos et al ., 1986b ) .
A figura 19 mostra que as FSs sã o adequadas ao cultivo de plantas em nossos solos
mais intemperizados (aplica çã o localizada, material granulado, etc.) como sugerem
Goedert et al. (1986). Todavia, essa adequabilidade é restrita a respostas rápidas (cultivos
anuais, produtividades anuais de cultivos perenes como o caf é, etc. ), e nã o à manutençã o
da resposta ao longo dos cultivos ou dos anos ( Yost et al., 1982; Bolland & Gilkes, 1995) .
Para isso, produtos de menor reatividade que as FSs industrializadas e mais reativos que
os FNs de baixa reatividade deverã o, ser utilizados. A correta compatibiliza çã o da FS,
como arranque, e dos FNs, como manuten çã o de crescimento de eucalipto (Quadro 16 )
ou de pastagens ( Lopes et al., 1982 ), tem-se mostrado soluçã o adequada à grande
demanda inicial de P pela planta e à manutençã o de seu crescimento em idade de menor
demanda desse nutriente.
Depois de tudo que se falou neste capítulo, o modelo aproximado para explicar a
efetividade dos FNs como fonte de P para as plantas é o seguinte:
Fia grande diferença entre ser a fonte de acidez solo ou planta ( rizosfera ), no sentido
de direcionar o P da dissoluçã o do FN, de modo preferencial, para o solo, ou para a
planta, respectivamente . A acidifica çã o proporcionada pela raiz, junto às partículas do

FERTILIDADE DO SOLO
520 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

FN, dever á ter, como consequ ência da dissoluçã o do FN, o favorecimento da pr ópria
planta, ao passo que a acidifica çã o do solo, na ausência de raízes, teria o pró prio solo
como dreno ú nico para o P liberado. A planta pode fazer com que o pH da rizosfera seja
inferior ao da massa do solo. Há, portanto, dois compartimentos com valores de pH
distintos - solo nã o-rizosf érico e solo rizosf érico. Como sugerido, cada um desses
compartimentos pode proporcionar acidifica çã o necessá ria à solubiliza çã o do FN,
levando a um "consumo " do P liberado ( adsor çã o / fixa çã o ou absor çã o ) pelo
compartimento que supre a acidez (solo ou planta ). Há, também, dois compartimentos
distintos, que atuam como drenos para o Ca, oriundos da dissolu çã o do FN: o solo (CTC)

Figura 19. Efeito do tempo de contato de fontes de f ósforo sol ú veis em á gua ( FSs ) ou de
fosfatos naturais pouco reativos ( FNs ) com o solo sobre o crescimento de plantas em
cultivos sucessivos ou sobre o crescimento de plantas perenes, com uma ú nica aplica çã o
inicial da fonte de f ósforo.

Quadro 16. Produtividade de maté ria seca de tronco de Eucalyptus granáis com cinco anos de
idade e eficiência de recupera çã o de f ósforo e de cá lcio pelas á rvores, influenciada por
doses de fosfato de Patos e da mistura NPK 10-28-6, em Bom Despacho (MG )

Tratamento Mat é ria seca Efici ê ncia de recupera çã o

Patos 1
( )
NPK ( 2 ) Tronco P Ca

t ha - í g/ planta t ha -í - 0/
/0

2 150 95,2 10,9 40,7


2 75 88 ,1 9 ,9 28,2
2 0 49, 0 8,4 25,9
1 150 82,1 11,9 38,1
1 0 55,4 12,3 30, 4
0 150 54,4 30,1
0 0 42, 4

O FN de Patos foi incorporado com grade, em toda a á rea da parcela, 30 dias antes do plantio. (2) NPK aplicado
(1 )

no sulco, durante o plantio.


Fonte: Leal et al. (1988) .

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 521

e a planta (absor çã o). A concentra çã o de P na rizõsfera, a planta crescendo e absorvendo


esse nutriente, deverá ser menor que na soluçã o do solo nã o-rizosf érico (condiçã o para a
manutençã o do fluxo difusivo ) . Essa menor concentra çã o de P na regiã o rizosf é rica é
favor á vel à dissolu çã o do FN nas proximidades da raiz e à consequente absor çã o de P
pela planta . Por outro lado, o Ca, do próprio solo ou do FN, poderá acumular-se na região da
rizõsfera (Lorenz et al ., 1994), dado seu transporte predominante por fluxo de massa e
poder esse mecanismo suprir a raiz de mais Ca do que o absorvido pela planta . Tudo
isso leva a crer que a dissoluçã o dos FNs, para suprir de P, preferencialmente a planta é
mais dependente do solo, como dreno-Ca , e da planta, como dreno-P e fonte de pr ó tons.

F Ó SFORO ORG Â NICO NO SOLO


Dá -se, em nossas instituições de ensino e de pesquisa, de modo geral, forte ênfase ao
f ósforo inorgâ nico (P;), com clara indiferença em relação ao f ósforo de compostos orgânicos
(PQ) . Isso parece ser consequência, principalmente, de uma agricultura de grandes
insumos. As caracter ísticas de solos altamente intemperizados e a virtual "ausência" de
"P-disponível" fizeram, originalmente, com que cultivos anuais com alta produtividade,
como tem ocorrido nos cerrados, somente fossem conseguidos com a aplica çã o de altas
doses de fertilizantes fosfatados, esquecendo-se a contribuição do PG, possivelmente por
ser pequena . Mas seria sempre pequena ? Mesmo para cultivos perenes, como pastagens
e florestas ? Para a agricultura de pequenos insumos ou em solos orgâ nicos, nã o é
importante?

Fósforo Orgânico em Solos Tropicais


Machado et al. (1993), estudando 44 solos da regiã o sul do Estado do Rio Grande do
Sul e mais quatro solos do planalto do Estado, determinaram P0, P total e a rela çã o
C / P (esta apenas para os 44 primeiros solos ). Os valores de Pc variaram de 45 a
519 mg dm 3, os de P total de 78 a 1.162 mg dm 3 e os de C / P de 127 a 320. Observou-se
' '

correla çã o significativa entrePceo MO ( r = 0,76) e P total ( r = 0,97). A concentra çã o de


P0 correspondeu a 57 % do P total para a regiã o sul e a 53 % para os solos do planalto.
Neste sentido, Condron et al. (1990), estudando 20 amostras de solos do nordeste brasileiro
e três de Gana, incluindo Alfisols, Ultisols, Oxisols e Vertisols, principais solos dessas
regiões, encontraram concentra çã o média de P total igual a 482 mg kg 1 ( valores entre 40
e 1.588 mg kg 1) e de P0 igual a 208 mg kg 1 ( yalores entre 24 e 1.253 mg kg 1), com
' ' '

participaçã o m édia para o PD de 43 % do P total.


O ac ú mulo de formas orgâ nicas de P nos solos, principalmente nos mais á cidos e
argilosos, com maior FCP, condições que limitam nos trópicos a disponibilidade deste
nutriente, pode ser de grande importâ ncia para a agricultura nos tr ópicos, sobretudo
para a agricultura de baixa utilização de insumos; Esse ac ú mulo, de modo geral, faz com
que o conteúdo de PQ nos solos mais intemperizados varie em torno de 50 %, sendo maior
nos solos mais argilosos, com maior teor de C orgâ nico, menor pH e sob temperaturas
mais amenas (Turner et al., 2003).

FERTILIDADE DO SOLO
522 ROBERTO FERREIRA NOVAIS e t al .

O fracionamento de P; e P0 de mostra (0-15 cm de profundidade) de um Utisol do


Peru indicou concentra ções iniciais de P total (Z de todas as frações) igual a 229 mg kg 1, '

constituídas de 47 mg kg 1 de Z Ps e de 101 mg kg 1 de Z P0 (o P residual foi igual a 81 mg kg 1).


' ' '

Cultivos anuais de solos, por 13 anós, sem a adiçã o de fertilizantes, fizeram com que a
concentra çã o inicial de PQ diminuí sskpara 59 mg kg 1, mesmo que a partir do quarto ano
"

a produçã o de grãos fosse essencialnjiente zero. Para a parcela fertilizada, a concentraçã o


de P0 aumentou para 120 mg kg 1 ( eck & Sanchez, 1994). Concordando com Beck &
^
'

Sanchez, Buehler et al . (2002) observaram que o ac ú mulo do P0 é propiciado pela


conversã o do P; em formas orgâ nicas desse elemento, em decorrência da adiçã o de
fertilizantes, ou mesmo da queima de restos vegetais (Garcia -Montiel et al., 2000). Esses
resultados indicam o cará ter-fonte da forma de PQ em condições de cultivo sem suprimento
de fertilizantes fosfatados à imobiliza ção de P; na forma de PQ quando solos originalmente
pobres em P sã o fertilizados com Pj. Manutençã o ou aumento da concentração de Po com /

cultivos de solos do Nordeste semi-á rido, em resposta à aplicação de fertilizante fosfatado,


foram também observados por Tiess em et al . (1992) .

Formas de Fósforo Orgânico

As formas de P orgâ nico (P0) no solo sã o identificadas em extratos submetidos à


cromatografia, à eletroforese e, mais recentemente, à espectro-fotometria de ressonâ ncia
nuclear magné tica de 31P (31P-RMN) (Taranto et al., 2000; Toor et al., 2003; Turner et al.,
2003; Makarov et al., 2005). Com a utiliza ção da 31P-RMN, a partir do trabalho de Newman
& Tate (1980), a identifica çã o de grumos de compostos com PQ tornou -se opera çã o mais
simplificada . Esses principais grandes grupos ou formas de PQ em extratos de solo,
31
identificados pela P-RMN (Figura sã o:
1. Ortofosfatos de monoésteres (R-0-P03)
2. Ortofosfatos de diésteres (R-0-P02-0-R')
3. Fosfonatos (R-PO4),
além dos fosfatos inorgâ nicos ortofosfatos (P043 ) e pirofosfatos (P2073 ).

Dentre as formas orgâ nicas de P, os ortofosfatos de monoésteres, representados


principalmente pelos hexafosfatos cie inositol (fitatos ), atingem de 50 a 90 % do PQ do
solo, enquanto os ortofosfatos de diesteres correspondem, em média, a 2 % ( Nzguheba
et al., 2005). Essa predominâ ncia dos fitatos deve-se, pelo menos em parte, à sua elevada
afinidade pelos oxidr óxidos de Fe e Al. Segundo Martin et al. (2004), esses fosfatos sã o
adsorvidos com maior energia que o ortofosfato.

Fosfatases
A compreensã o do modelo de disponibilidade de P para as plantas nã o será completa
se o envolvimento das fosfatases não for discutido (Bieleski, 1973), uma vez que de 30-
70 % do P total do solo encontra -se na forma orgâ nica. Em solos de floresta, esse valor
tende a ser bem maior (Marschner, 1995). Formas de PQ terão de ser transformadas em P;,

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 523

para que se tornem disponíveis para as plantas (Richardson et al., 2000, 2001). A hidrólise,
que proporciona essa clivagem de P ( de formas orgâ nicas, é rea çã o catalisada pelo
envolvimento de enzimas genericamente denominadas fosfatases. Dependendo do pH
do meio, responsá vel pela otimiza çã o da sua atividade, as fosfatases sã o classificadas
em fosfatases á cidas, produzidas por plantas e microrganismos, com pH ó timo na faixa
de 4-6, e fosfatases alcalinas, produzidas por microrganismos( 29).
Tipos de fosfatases sã o identificados de acordo com o composto que essas enzimas
hidrolisam (Figura 20). Já foram identificadas fosfomonoesterases (fitases), fosfodiesterases .
fosfotriesterases . metafosfatases. pirofosfatases. etc . ( Eivazi & Tabatabai, 1977) . A
atividade das fosfatases em solos é avaliada pela quantidade de P, liberado ou pela
quantidade do radical orgâ nico liberado ao incubar solo com P0.
As fosfatases á cidas sã o enzimas adaptativas, influenciadas pela demanda de P
das plantas, com atividade inversamente relacionada com a disponibilidade de P; (Yun
& Kaeppler, 2001; Nanamori et al ., 2004 ) . Essa rela çã o inversa faz com que o PG do solo,
como fonte de P; para a planta , tenha sua import â ncia reduzida nos cultivos com alta
tecnologia , com a utiliza çã o de grandes doses de P sol úvel, como em cerrados, em geral.
Têm sido encontradas correla ções positivas de atividade de fosfatases com C orgâ nico
( Dick et al., 1988), justificando o decr éscimo da atividade enzim á tica com o aumento da
profundidade do perfil do solo ( Crouse, 1996 ) e com a diminuiçã o da popula çã o
microbiana (Tarafdar & Jungk, 1987) ou do teor de Mg do solo, como ativador enzimá tico
(Harrison, 1983) . A atividade das fosfatases é dependente da espécie de planta ( Yadav
& Tarafdar, 2001; Chen et al., 2003; Li et al., 2004).

Biomassa de Microrganismos
O predomínio da mineraliza çã o do P0 sobre a imobiliza çã o de P; do solo, suprindo
de P as plantas, depende da concentra çã o de P do resíduo orgâ nico disponível para a
respira çã o de microrganismos. Em termos gerais, a concentra çã o crítica de 2 g kg 1 de P '

o o

O = P ,
OR + FD + H20 O = P OR, + FD + RjOH

OR 2 OH

O = P ,
OR + FM + H20 O OH ,
+ FM + R OH

OH OH

Figura 20 . Rea ções de hidr ólise enzimá tica de f ósforo de compostos orgâ nicos, catalisadas por
fosfatases (fosfodiesterase = FD e fosfomonoesterase = FM).

(29)
Fungos produzem fosfatases á cidas e alcalinas ( Marschner, 1995 ).

FERTILIDADE DO SOLO
524 ROBERTO FERREIRA NOVAIS e t al .

no resíduo manté m os processos de mineraliza çã o e imobiliza çã o em equilíbrio. Acima


de 0,2 % ou 2 g kg 1, predomina a mineraliza çã o; abaixo, a imobiliza çã o. Em termos de
'

rela çã o C: P, abaixo de 200:1 predomina a mineraliza çã o e acima de 300:1 a imobiliza çã o


( Dalal, 1977) . A imobiliza çã o de 17 na biomassa de microrganismos é o processo
predominante, quando resíduos pobres em P, como os de vegetaçã o natural em condições
tropicais, em geral, ou pobres em P pela pr ó pria caracter ística do resíduo, s ã o
incorporados ao solo. Portanto, é de esperar que a adi çã o de glucose ao solo cause
aumento na biomassa de microrganismos e uma diminuiçã o no P; extra ível, dada sua
imobiliza çã o, como consequência do aumento da rela çã o C:P.
O declínio de PG com o cultivo d è solos anteriormente mantidos com pastagens ou
seu aumento em solos reflorestados, anteriormente com cultivos, ao longo dos anos, está
intimamente relacionado com o conte ú do de P da biomassa de microrganismos (Brookes
et al., 1984) . A contribuiçã o dessa biõ massa para o P-disponível pode ser significativa
em condições de agricultura em clima temperado (Magid et al., 1996). Uma mineralizaçã o
da biomassa de microrganismos da ordem de 7 kg ha 1 ano 1 ( valores entre 2,4 e 9,6 ),
' '

como média de seis solos cultivados, e de 23 kg ha 1 ano 1 ( valores entre 23 e 40,3), em oito
' '

solos de pastagens, foi obtida por Brookes et al . (1984). Esses autores observaram, ainda,
que cerca de 3 % do P0 total em solos ar á veis, constituía o P-biomassa e de 5 a 24 % em
solos de pastagens. Quando o solo ar á vel foi deixado para florestas, o PQ dobrou em cem
anos e o P-biomassa aumentou onze vezes. Esses resultados indicam que, para pastagens,
o suprimento de P para as plantas pela biomassa de microrganismos pode ser significativo.
Isso explica , em parte, por que o teor de "P-disponível" é maior para o estabelecimento
da pastagem que para a manutençã o de seu crescimento.
Em amostras de 17 solos, a biomassa de microrganismos foi constituída, em média,
de 25 % de bactérias ( valores entre 10 e 40 % ) e 75 % de fungos ( valores entre 60 e 90 % ).
O predomínio de fungos ocorreu em todos os solos ( Anderson & Domsch, 1980). Extensa
literatura, citada por esses autores, mostra o grande predomínio de fungos sobre bactérias,
como constituintes da biomassa de microrganismos dos solos.
V*

O Fósforo Orgânico e a Eutroficaçã o de Aguas


Embora a contamina çã o de cisternas e de á guas superficiais por nitrato seja motivo
de preocupaçã o (Jennings, 1996 ), dada a grande mobilidade desse â nion no solo, o P,
apesar de sua virtual "imobilidade", tem merecido preocupa çã o crescente como
componente importante da eutrofica çã o de á guas superficiais.
No Brasil, a eutrofica çã o de á guas causada pela aplica çã o de fertilizantes químicos
ou de dejetos de origem animal parece ainda distante ( Basso et al ., 2005), dados os baixos
valores médios atuais de P-lá bil e os altos valores de FCP, que limitam a dessor ção de P
desses solos, restringindo a presença de P reativo-sol ú vel ( PRS) e, por conseguinte, a
contamina ção de á guas superficiais e subterr â neas.
Por outro lado, a utiliza çã o sistemá tica e intensa de dejetos e de outras fontes
orgâ nicas de P, como se faz atualmentê em olericultura, poderá fazer, no futuro, com que
a eutroficaçã o de águas, com todos os seus inconvenientes ambientais, de dif ícil soluçã o,
se estabeleça .

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - Fó SFORO 525

A adiçã o de dejetos ao solo reduz a capacidade de adsor ção de P, aumentando o teor


de P disponível causando maior mobilidade no ' perfil, de formas orgâ nicas sol ú veis de
P ( POS) (James et al., 1996; Toor et al ., 2004 ), como tamb é m acontece em ecossistemas
florestais (Qualls & Haines, 1991) . Mesmo em solos que receberam apenas fertilizantes
minerais, apesar da menor mobilidade do P no solo, em rela çã o à aplica çã o de esterco,
observou-se que a fra çã o predominante de P no lí xiviado era POS, associado a compostos
de grande massa molecular ( Chardon et al ., 1997). A virtual ausência de formas
inorgâ nicas sol úveis de P ( PRS) no lixiviado, observada por esses autores, indica que o
controle da CMAP sobre as perdas de P por drenagem em perfis de solos atua sobre as
formas inorgâ nicas de P, mas nã o sobre as orgâ nicas. Como conseq úência, a utiliza çã o
de P na forma de esterco e de outras fontes orgâ nicas proporciona o transporte de P para
maiores profundidades no solo que na forma de fertilizantes químicos, para doses
semelhantes de P aplicadas (Eghball et al., 1996 ). A diminuiçã o de 41 % na "energia de
liga çã o" do P, embora sem alterar a CMAP (Field et al., 1985), ou a diminuição da adsor çã o
de P (Sharpley et al ., 1993), como resposta à aplica çã o de efluentes e esterco ao solo,
mostram uma diminuiçã o na restriçã o de transporte de P no solo ( perdas por drenagem ),
mesmo para as formas inorgâ nicas de P ( PRS) .
Assim, perdas de P de á reas cultivadas com adequado controle de erosã o, embora
sejam m ínimas em termos económicos, quando significam ganhos para os ambientes
aquá ticos, podem ser desastrosas. O crescimento de certos tipos de "algas azuis" (ciano-
bactérias) nessas condições pode causar a produção de neuro e hepatotoxinas, sem alterar
gosto e odor, criando problemas para o tratamento dessas águas para o consumo humano.
Essas toxinas t êm causado morte de animais nas fazendas que consomem á guas
contaminadas (Kotak et al ., 1993) . Morte de pacientes submetidos à hemodiálise,
utilizando á guas com essas toxinas, mesmo quando submetidas aos processos de
tratamento convencional, foi observada no Pa ís.
A perda de produtividade em á reas recém-abertas, submetidas a cultivo itinerante,
tem como causa maior a mineraliza çã o do PQ e a subsequente transforma çã o do P;
mineralizado em formas nã o-lá beis. Durante um período de cultivo de cinco anos, em
média, sem a adiçã o de fertilizante, em um cultivo de mandioca, houve diminuiçã o de
2-3 mg kg-1 de P-disponível apenas, mostrando não ser essa perda de P; a causa principal
da perda de produtividade com os anos de cultivo, mas a transforma çã o do Pcem P; e sua
retençã o em formas nã o-lá beis (Tiessen et al., 1992).
Ouve-se, com frequência, que plantas, como samambaia e sapé, sã o indicadoras de
solos ácidos, distr óficos e com baixo potencial produtivo . Muitas dessas condições de
solo, associadas a maiores altitudes, tê m condicionado a forma çã o de horizontes
orgâ nicos superficiais, escuros, em perfil latossólico-avermelhado, em geral. À medida
que a fase mineral, anteriormente fonte de P (e de outros nutrientes), adquire uma
característica cada vez mais marcante de dreno, estabelecem-se condições para a formação
desses horizontes orgâ nicos. O ac úmulo de maté ria orgâ nica , dadas as condições nã o-
favor á veis à mineraliza çã o de resíduos orgâ nicos que se acumulam no solo, seria uma
"soluçã o" para estocar nutrientes, sem favorecer a interfer ência negativa da fase mineral
na manutençã o de nutrientes ciciados no sistema solo-planta, em formas disponíveis. A
lenta mineraliza çã o da fase orgâ nica ( mantendo o P0 mais constante) é garantia de

FERTILIDADE DO SOLO
526 ROBERTO FERREIRA NOVAIS e t al .
i

suprimento mais gradual, como um "fertilizante de libera çã o lenta" de P e de outros


nutrientes para o excelente crescimento de plantas, como o eucalipto, o caf é, pastagens
etc., nessas condições.
Destruir a MO em solos-fontes, em condições nã o- tropicais, implica alguma reduçã o
no poder-fonte da fase mineral desses solos; destruir a MO em solos-drenos, em condições
tropicais, significa, por outro lado, favorecer o poder -dreno desses solos. Assim, a perda
do horizontes orgâ nicos, ou ricos em MO, desses solos, que os tornam tã o produtivos,
deverá transformar um sistema que se auto-sustenta em outro altamente dependente de
fertilizações maciças, particularmente de P, para manter-se produtivo, como nos padr ões
anteriores.

EXTRATORES
A avalia çã o do "P-disponível" de um solo tem sido feita com o uso de soluções
extratoras com caracter ísticas constitutivas diversas, quanto à acidez, dilui çã o,
tamponamento, presença de compostos complexantes, f ósforo marcado, etc. e, mais
recentemente, com a Resina de Troca Aniô nica (Quadro 17) . As extra ções do "P-
disponível" fornecem valores que variam entre intensidade (I) e quantidade (Q), às vezes,.
até mesmo parte do P nã o-lá bil ( NQ), dependendo das propriedades do extrator e das u

Quadro 17 . Extratores do "P-dispon ívelf' mais freqiientemente utilizados

Rela çã o
Denomina ção Composi çã o Refer ê ncia
solo:extrator

Á cido cí trico Á cido cí trico a 2 % ( ou 20 g L 1 ) '


1 :10 Dyer (1894 )
"1 -1 (1)
Bray -1 HCl 0,025 mol L + NH4F 0,03 m òl L 1:10 Bray & Kurtz (1945)
Bray-2 + NH 4 F 0,03 mol L-í 1:17o1
1
'
HC1 0,1 mol L Bray & Kurtz (1945)
’1
CaCh CaCh 0,01 mol L Schofieid (1955)
1 1
Egner Lactato de Ca 0,01 mol L + HCl 0,02 mol L Egner et al . (1960)
' '
1:20
-i
IAC H2S04 0,025 mol L 1 :10 Catani & Gargantini (1954 )

Mehlich -1 HCl 0,05 mol L° + H 2S04 0,0125 mol L-1 ’>


1: 4 < Mehlich (1953)
1 1
Mehlich -2 NH4 F 0,015 mol L + CH3COOH 0, 2 mol L + NH4 C1
" '

1 1 :10 Mehlich (1978)


0, 2 mol L + HCl 0,012 mol L 1 ;
' '

Mehlich -3 NH4F 0,015 mol L 1 + CH 3COOH 0,2 mol L 1 + NH4 N03


' '

1 :10 Mehlich (1984 )


0,25 mol L 1 + HNO3 0,013 mol L + EDTA 0,001 mol L-
' i
?
Morgan CH3COOH 0,54 mol L 1 + NaC2H302 0,7 mol L 1 ( pH
' '
= 4,8) 1:10 Morgan (1941)
Olsen NaHC03 0,5 mol L 1 ( pH '
= 8,5) 1:20 Olsen et al. (1954 )
Resina Resina de Troca aniô nica Amer et al . (1955)

Resina Resina Mixta ( catiônica + Ani ônica ) Raij et al . (1986)


1
Truog H2SO4 0,001 mol L + ( NH4) 2S04 ajust . pH 3,0
'
1 :100 Truog (1930)
(1 )
No Brasil, esses extratores têm sido utilizados numa relação solo:solução de 1:10 (Muniz et. il. (1987).

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - Fó SFORO 527

condi ções de extraçã o, sem informar sobre o fator capacidade (Q / I ) . Na verdade, a


quantidade extraída vem quase toda do P adsorvido - fator quantidade - uma vez que o P
em solução - intensidade - é, em condições normais, extremamente menor que a da primeira
fonte. Portanto, apesar de o "P-disponível", em diferentes extratores, ser considerado
medida de Q, o P extra ído é, na verdade, apenas uma fra çã o desse fator, podendo essa
fra çã o variar de um solo para outro. As limitações da utiliza çã o do "P-disponível" como
medida de Q sã o, portanto, óbvias.
Ao longo de todo o texto, tem -se usado P-disponível (sem aspas) como valor de P no
solo, em termos absolutos, que a planta pode acessar e absorver. Nesse caso, 20 kg ha 1 '

de P-disponível num solo é a quantidade de P que poderá ser absorvida por uma planta.
j

O solo tem, nesse exemplo, o poder de ceder 20 kg ha 1 de P à planta. Um extrator que


'

estimasse esse valor seria o ideal, embora fosse uma utopia segundo os conhecimentos
atuais. Ceder sugere uma postura passiva de uma planta diante de um solo, este a ú nica
entidade ativa, "supridora" de P para a planta . Em alguns casos, a planta " toma" P de
um solo aparentemente além do valor (Q + I) que o solo cederia. A acidificação da rizosfera
de uma planta, mais do que de outra, pode fazer com que formas de P ligado a Ca no solo
(P-Ca ), em forma não-lá bil, sejam absorvidas (Hedley et al., 1982). Assim, o P-disponível,
valor absoluto, depender á nã o apenas do solo (o P-soluçã o mais o P-lábil), mas também
da planta (comportamento diferencial em termos de rizosfera ), da fonte de N suprida
para a planta ( NH 4 + acidifica a rizosfera e N 03 a basifica ), da associa çã o com
'

microrganismos ( micorriza aumenta a eficiência da planta em absorver P de formas


menos acessíveis), etc.
E o "P-disponível", o que seria ? As aspas indicam ser algo parecido, pr óximo, nã o
verdadeiro, uma imitaçã o do P-disponível, este, sim, "verdadeiro" (aspas foram colocadas
no verdadeiro, pela falta de certeza sobre seu real significado).
Pode-se, entã o, propor que o "P-disponível" esteja relacionado com o P-disponível.
Em linguagem estatística, pode-se dizer que há correla çã o (significativa ) entre essas
duas medidas, como há entre um caminhã o e uma ré plica perfeita, em miniatura, desse
caminhã o. O "P-disponível" é caracterizado por um valor que pode ser uma simples
fraçã o do P-disponível ou até mesmo maior do que este. A grandeza do "P-disponível",
em princípio, nada tem a ver com a real grandeza do que a planta pode acessar; apenas,
correlaciona-se com a grandeza que a planta acessa ou com o seu crescimento, quando a
planta tem o crescimento como variá vel do "P-disponível". Esse conceito de "disponível"
foi estabelecido por Bray (1947), envolvendo a necessidade de correlaçã o entre o que o
método extrai do nutriente do solo e o crescimento da planta (30). Portanto, em grande
n ú mero de solos, se houver correla çã o significativa entre o que o mé todo extrai o
crescimento de plantas (e, ou, o seu conte údo de P), o P extraído por esse mé todo é
1 considerado "P-disponível". Nã o importa se entre os diversos mé todos utilizados, como

(30)
Coca -Cola foi considerada excelente extrator de "micronutrientes-dispon íveis" do solo, particular -
mente de Mn . Quarenta e nove por cento da varia çã o do Mn acumulado em plantas de trigo, no
campo, foi explicada pelo Mn-Coca -Cola, ao passo que para o DTPA esta explica çã o foi de 39 %. A
extra çã o de Mn do solo com a Coca -Cola foi de 165 % o Mn- DTPA. A correla çã o entre o "Mn-
dispon ível" pelos dois extratores foi de 0,879**, em amostras de 60 solos (Schnug et al ., 1996 ) .
)

FERTILIDADE DO SOLO
528 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .

os de Mehlich, Bray Olsen, Resina , etc., as quantidades de P extra ídas nã o sejam as


/

mesmas, como de fato acontece. Os valores do "P-disponível" considerados níveis críticos’


( NCs ) (31 ) ser ã o também variá veis entre esses m é todos. Para um mesmo solo, o NC, por
um extrator, pode ser de 10 mg dm 3 cie P e, por outro, pode ser de 50 mg dm 3. Torna -se
' '

evidente a necessidade de saber qual o extrator utilizado em uma aná lise de solo para
interpretar o valor do "P - dispomvel " encontrado e qual o NC ou "faixas de
disponibilidade" para esse extrator . .Essas informa ções variam conforme o extrator
porque se mede "P-disponível", e nã o P-disponível.
E o P-extra ível . o que seria ? Como a simples presença , ou nã o, de aspas poderia
trazer dificuldades à compreensã o da diferenç a entre o que os extratores (ou m é todos)
obtêm e o que de fato existe, como discutido, alguns autores preferem utilizar P-extraível .
em substituição a "P-disponível". A dificuldade para essa opçã o é que qualquer extrator,
po
independentemente de a concentra ç de P obtida correlacionar-se, ou n ã o, com o
crescimento da ( ou com o P acumulado na ) planta , determina -se um valor, com ou sem
utilidade.
Quando esse nutriente é o ú nico limitante de seu crescimento, os valores de P extraído
por esse novo mé todo poderão ser inferiores, iguais ou superiores aos de outros mé todos,
já consagrados, o que nã o invalida sua efetividade em medir o "P-disponível". Essa fase
po
de correla çã o ( verifica çã o da correla ç entre o m é todo e a planta ) é feita com muitos
solos, em casa de vegetaçã o, procuranqo otimizar todos os demais nutrientes nos solos e
demais condições de crescimento da planta ( pH, á gua, temperatura, etc.). Satisfeita essa
fase de correla çã o, passa -se para uma fase de campo, onde se procura calibrar (calibraçã o)
os resultados de "P-dispon ível" com z . produtividade da cultura e doses de fertilizante
fosfatado, necessá rias ao crescimento ó timo ou econó mico dessa cultura .
Para Mehlich-1, valores subestimados do "P-disponível" tê m sido verificados, com
frequência, em solos argilosos, de modo especial naqueles com pH mais elevado, em
razã o de ser seu poder de extra çã o desgastado pelo pr óprio solo. Nesses solos mais
argilosos, com acidez mais tamponad á, o pH inicial de 1,2 do Mehlich-1 é rapidamente
elevado para valores de pH próximos ao do solo. Igualmente, o S042 do extrator, que "

atua por troca com o fosfato adsorvido, é, também, rapidamente adsorvido pelo solo em
sítios ainda nã o ocupados pelo P, perdendo
o poder de extraçã o. Assim, em solos
argilosos, os valores sã o menores do qpe nos arenosos porque naquele o extrator é bem
mais desgastado que nestes ( Novais & Kamprath, 1979a; Muniz et al., 1987). Por outro ^
lado, para esse mesmo extrator, valores superestimados do "P-disponível" são verificados
em solos com predomínio de P-Ca, dada sua génese ou utiliza çã o pr évia de fosfatos
naturais de baixa reatividade, como as apatitas ( Novelino et al., 1985), como ser á discutido
mais adiante.
O efeito da varia çã o do FCP enhe solos sobre o desgaste de extratores pode ser
observado a partir dos dados de Muqiz et al . (1987) . Nesse trabalho, o NC de P, pelo
extrator Mehlich -1, foi estabelecid <p para cada solo, para o cultivo de soja, em
casa de vegeta çã o. Os valores dos NGs, em mg dm 3 de P no solo, correlacionaram-se
'

(3I , Teor do nutriente no solo por um determinado extrator que indica uma condição ótima, não limitante,
para o crescimento da planta.

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 529

significativamente com as varia ções de características dos solos relacionadas com o


FCP, como P- remanescente ( PR -30(32) ), em mgL 1 de P: NC = 11,02 + 0,9550** (PR-30)
(R2 = 0,601) . Segundo Bonfim et al. (2004), as caracter ísticas dos solos que melhor refletem
seu FCP sã o o P remanescente e a CMAP.
Funções que permitem chegar ao NC de P em um solo, conhecendo valores de
caracter ísticas que expressam seu FCP, sã o encontradas na literatura ( Flolford, 1980a,b;
Freire et al., 1985; Muniz et al., 1987) . Por outro lado, a interferência de maiores teores de
P-Ca no solo, superestimando, por alguns extratores á cidos, o que realmente há de
absorv ível pela planta , nã o foi, ainda, adequadamente quantificada . Teoricamente, a
utiliza çã o da Resina de Troca Aniô nica (RTA ) na determina çã o do "P-disponível" de
um solo corrige ou minimiza os problemas de subestimar ou superestimar o disponível
(Raij et al., 1986; Silva & Raij, 1996) . Como estimadora do P-lábil por meio do P-soluçã o,
a RTA, teoricamente, nã o tem seu poder de exaustã o alterado em solos com maior FCP,
nem seria sensível à s formas nã o-lá beis, como 9 P-Ca . Assim, a RTA tem uma funçã o
semelhante à da raiz de uma planta que, ao absorver o P da soluçã o, vai, gradualmente,
consumindo o P-lá bil até uma possível exaustã o de ambos. Por outro lado, a aquisiçã o
de P de forma P-Ca, nã o em equilíbrio com o P-soluçã o ( I ), por ra ízes de plantas que
sojubilizam essa forma de P pode fazer com que a RTA subestime o P absorvido por essas
plantas.
É necessá rio enfatizar que a mais complexa constituiçã o de alguns extratores, como
no caso do Mehlich-3, tem como objetivo ampliar seu espectro de ação sobre diversos
nutrientes do solo. Quanto ao "P-disponível", o Mehlich-3 apresenta comportamento
que se assemelha ao do Bray-1, isto porque a substituiçã o parcial de ácidos inorgâ nicos
de outros extratores, como no Mehlich-1, por á cido acé tico mostrou-se efetiva em diminuir
a solubiliza çã o de P-Ca de fosfatos naturais de baixa reatividade. A presença de EDTA
no Mehlich-3 teve como objetivo maior torná -lo também mais efetivo como extrator de
micronutrientes, como Mn, Zn e, de maneira particular, Cu. Outra característica positiva
do Mehlich-3 é extração de K e Mg ligeiramente superior à obtida com o acetato de amónio.
i

O Mehlich-3 é recomendado para extraçã o de P, K, Na, Ca, Mg, Cu, Zn e Mn (Mehlich,


1984) .

Formas Inorgânicas de Fósforo ( Fracionamento de Chang & Jackson)

Após o desenvolvimento do mé todo de fracionamento do P-inorgâ nico do solo por


Chang & Jackson (1957), muitos estudos têm sido realizados para determinar qual a
forma inorgâ nica de P preferencialmente absorvida pelas plantas ( Bahia Filho & Braga,
1975; Novais & Kamprath, 1978); qual a relaçã o entre o "P-disponível", por diferentes
extratores, e as diferentes formas de P ( Muniz et al., 1985), ou mesmo o efeito do grau de
intemperismo do solo sobre a presença das diferentes formas de P ( Bahia Filho & Braga,
1975) .

< 32 ) PR -30 = Concentra çã o de P em solu çã o, em mg L \ após agita çã o de 30 mg L 1 de P em CaCl 2


' '

0,01 mol L 1 com as amostras de solo, na rela çã o solo:solu çã o de 1:10, por uma hora .
'

FERTILIDADE DO SOLO
530 ROBERTO FERR ê IRA NOVAIS et al .

Esse mé todo fraciona o P* do solo nas seguintes formas:


P sol ú vel em NH4C11 mol L 1: "
P facilmente sol ú vel ou "P-H20".
P sol ú vel em NH 4F 0,5 mol L 1: "

P ligado a Al ou "P-Al".
_
P sol úvel em NaOH 0,1 mol L 1: P ligado a Fe ou "P-Fe".
P sol ú vel em H2S04 0,25 mol L 1: P ligado a Ca ou "P-Ca ".
De uma mesma subamostra de solo, o fracionamento das formas inorgâ nicas de P
deve ser efetuado, seguindo a sequência de extra çã o apresentada . Assim, apenas o P-Fe
vai ser extra ído com NaOH 0,1 mol L 1, depois da extra çã o das formas P-H20 e P-Al.
'

Caso contrá rio, de uma extra çã o ú nica com NaOH ser ã o obtidos P-H20, P- Al e P-Fe. Se a
primeira extra çã o for feita com H2S04 0,25 mol L 1, tanto o P-Ca como as outras formas
'

serã o, pelo menos em parte, obtidas.


Pelo processo original de Chang & Jackson (1957), é feita a extra çã o de mais uma
forma, P sol ú vel em redutores ou P-ocluso. Por ser de grande estabilidade, a forma de P-
ocluso em partículas de ó xidos de Fè e de Al nã o contribui, em curto prazo, para o
fornecimento de P para as plantas. Essa forma é, també m, pouco variá vel, em curto
prazo, considerando altera ções do pH do solo ou adições de fertilizantes fosfatados ao
solo. E, por ser, al ém de tudo isso, de mais dif ícil extra çã o do que as outras formas, o P-
ocluso, com frequ ência , nã o tem sido determinado em diversos trabalhos.
A predominâ ncia de P-Fe e de P-Al sobre P-Ca é uma das características de solos
mais intemperizados, como os de cerrádo em geral, distróficos - pobres em Ca trocá vel e,
por consequência, geralmente á cidos (Quadro 18) ( Bahia Filho & Braga, 1975). Pode-se
deduzir que os solos menos intemperizados, ricos em Ca trocá vel e de pH elevado, deverão
ser mais ricos em P-Ca e pobres em P-Fe ê P-Al. Pode-se também imaginar que uma calagem
maciça de solos á cidos far á com que PrCa aumente, diminuindo as outras duas formas.
Se o P-lá bil é uma fonte de P para as plantas e se essa fra çã o é constituinte das
formas inorgâ nicas de P já citadas, pode-se querer saber a que libera P mais facilmente
para as plantas ou a que mais contribui para o valor de Q do solo . Com esse objetivo,
Novais & Kamprath (1978) cultivaram, sucessivamente, amostras de cinco solos do Estado
de Carolina do Norte (EUA ), medindo, inicialmente e depois de cada cultivo, o teor de P
em cada uma das formas: P-H20, P-Al, P-Fe e P-Ca . Depois de nove cultivos, foi possível
verificar a contribuiçã o de cada uma dessas formas para o P absorvido pela planta

Quadro 18. Distribuiçã o média de f ósforo nas diferentes formas inorgâ nicas, em 20 amostras
de diferentes Latossolos de cerrado

-
P AI P- Fe P -Ca -
P ocluso 01

mg kg 1 de P no solo
'

76,4 106,6 55,3 135,2

0)P-ocluso - P retido (oclu ído ) internamente em òxidróxidos de Fe e de Al.


Fonte : Bahia Filho & Braga (1975).

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 531

(Quadro 19) (33). Observou-se que a forma que mais liberou P foi o P-Al, seguida, à distâ ncia,
de P-Fe e, finalmente, de P-Ca, com uma contribuiçã o m é dia de 3,2 % apenas do P total
absorvido pelas plantas. A contribuiçã o da forma P- H,0, apenas 3,7 %, parece ilógica à
primeira vista . Deve-se lembrar, no entanto, que seu pequeno decréscimo com os cultivos
foi consequência de sua reposiçã o pelas outras formas, à medida que era consumida
pela planta . Na verdade, todo o P absorvido das formas de P-Al, P-Fe e P-Ca passou por
P-H20. Sua contribuição, portanto, nã o deve ser comparada com a contribuição das demais.
O comportamento de extratores ante as formas inorg â nicas de P do solo foi
sumariado, de maneira did á tica, no trabalho de Bahia Filho et al. (1982 ) . Embora tenha
sido utilizado apenas um solo ( um LE de cerrado), as diferentes fontes de P testadas,
desde a mais reativa , o superfosfato triplo, até as menos reativas, os fosfatos de Patos e
de Arax á, e o termofosfato Yoorin, com reatividade intermediá ria , proporcionaram a
presença de diferentes formas inorgâ nicas de P no solo . Essas fontes, em diferentes
doses, foram aplicadas a lan ç o e incorporadas no solo, em condições de campo . Os
diferentes tratamentos foram amostrados sete meses mais tarde e analisados. A aplicação
do superfosfato triplo causou aumentos significativos, de 48,7 %, no P- Al, de 37 %, no P-
Fe, e de 14,3 %, no P-Ca . A aplica çã o dos fosfatos de Araxá e de Patos causou aumentos
significativos apenas no P-Ca e o termofosfato Yoorin apenas no P-Fe. O extrator Mehlich-
1 foi sensível às altera ções das tr ês formas de P-inorgâ nico proporcionadas pelas três
fontes e analisadas em conjunto (Quadro 20), mostrando-se, todavia , mais sensível à s
varia ções do P-Ca proveniente dos fosfatos naturais e, ainda, nã o solubilizados nas
condi ções do solo (34 ). Essa grande efici ê ncia do Mehlich-1 em solubilizar P-Ca

Quadro 19. Contribuiçã o percentual de cada forma de f ósforo inorgâ nico na absor çã o desse
nutriente por plantas de pain ç o, em amostras de cinco solos

Solo P - H 2O P - Al P - Fe P - Ca Total

Georgeville 0,5 48, 2 51, 3 0,0 100 , 0


Goldsboro 2, 6 79,8 17, 6 0,0 100 , 0
Wagram 4, 2 89,8 0,0 6, 0 100 , 0
Portsmouth 1, 8 92,1 6, 1 0, 0 100 , 0
Norfolk 9, 2 , 71,5 9, 4 9,9 100 , 0
M é di 3,7 76 , 3 16, 9 3, 2 100,0
^
Fonte : Novais & Kamprath (1978 ).

(33} Q p orgâ nico, forma nã o considerada neste estudo, pode ser importante fonte de P para as plantas,
em muitos solos ( veja Fósforo Orgâ nico no Solo ).
(34 )
Deve-se ter em mente que estudos de correla çã o nã o indicam interdepend ê ncia entre duas variá veis
do tipo causa -efeito, mas, sim, a interdepend ê ncia entre efeitos. Portanto, uma correla çã o significa -
tiva indica que a varia çã o que ocorre em uma caracter ística apresenta certo grau (significâ ncia ) de
semelhan ça (direta ou indireta ) com a varia çã o ocorrida em outra caracter ística . A partir de uma
correla çã o significativa, pode-se apenas sugerir qu é a varia çã o observada em uma caracter ística
seja a raz ã o da varia çã o da outra , nada mais.

FERTILIDADE DO SOLO
532 ROBERTò FERREIRA NOVAIS e t al .

predominante em solos menos intemperizados e, ou, com pH mais elevado, ou proveniente


da aplica çã o de fosfatos naturais com pequena reatividade, faz com que esse extrator
nã o seja recomendado para essas condições. Sua eficiente extra çã o de P-Ca, quando a
planta , na maioria dos casos, nã o o é ( Novais & Kamprath, 1978), faz com que nã o seja
recomendado para condições de solo com maior presença da forma P-Ca ( Novelino et al.,
1985). Comportamento semelhante foi observado para o Bray-2 dado seu cará ter á cido
maior, semelhante ao do Mehlich-1. Todavia, a presença de NH4F no Bray-2 faz com que
ele seja mais sensível às variações de P-Al que o Mehlich-1. O F em meio ácido apresenta
significativo efeito complexante sobre q Al, liberando o P (Kamprath & Watson, 1980) . O
P- Al parece ser a fonte preferencial de jP-disponível" do Bray-1. O cará ter menos á cido
do Bray-1 e, de modo particular, a ausência de sulfato como â nion de troca mais efetiva
com o fosfato, comparativamente ao cloreto, em rela çã o ao Mehlich-1, faz com que a
indesejá vel extra ção preferencial de P-Ça nã o ocorra com esse extrator. Pela constituiçã o
básica do Olsen, P-Al e P-Fe deverã o ser suas fontes preferenciais de extraçã o. Seu
car á ter b á sico nã o permite a solubiliza çã o do P-Ca, o que é uma de suas caracter ísticas
positivas, em rela çã o ao Mehlich-1 e Bray-2. Por outro lado, a presença de Na + leva a

Q u a d r o 2 0 . Contribui çã o de cada lima das fra çõ es de P - inorg â nico do solo


(P-Al, P-Fe e P-Ca ) na estimativa do "P-disponível", por diferentes extratores, em solo de
cerrado ( LE textura argilosa ) que recebeu diferentes fontes e doses de P

Varia çã o devida a
Fonte de P í1 ) Extrator < 2 >
-
P AI P- Fe P-Ca Total

R2

Ml 0,009** 0,044** 0,856** 0,910**


Todas as fontes (3) BI 0,891** 0,024* ns 0,914**
B2 0,166** 0, 037** 0, 735** 0,937**
Ol 0,466** 0,076* ns 0,542**

Ml 0,804** ns ns 0,804**
Superfosfato triplo BI 0,822** ns ns 0,822**
B2 0,922** ns ns 0,922**
Ol 0,586** ns ns 0,586**

Ml ns ns 0 , 922** 0,922**
Fosfato de Patos de Minas BI 0,876** ns ns 0,876**
B2 ns ns 0,936** 0,936**
Ol ns ns ns ns

Ml ns ns ns ns
Termosfosfato- Yoorin BI ns 0,918** ns 0,918**
B2 ns 0,809** ns 0,809**
Ol ns ns ns ns
(1 )
Os resultados referentes ao fosfato de Araxá nã o fjoram apresentados, dadas suas semelhanças com os do fosfato
de Patos de Minas. (2 ) Ml = Mehlich-1; BI = Bray-1; B2 = Bray-2 e Ol = Olsen. (3) Superfosfato triplo, fosfato de
Araxá, fosfato de Patos, termofosfato Yoorin.
ns *
, e ** n ã o-significativo e significativos, a 5 e 1 %, respectivamente.
Fonte: Bahia Filho et al . (1982) . I

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 533

problemas de dispersã o de argila, dificultando à separa çã o da fase líquida (extrator ) da


fase sólida (solo), no laborató rio. Todavia , sua extra çã o foi dependente de alguma outra
forma que apenas P-Al e P-Fe, dado o baixo R2 encontrado: 0,542** (Quadro 20 ). A maior
altera çã o do P-Al pelo superfosfato triplo fez com que todos os extratores tivessem seus
teores explicados pela varia çã o dessa forma (Qhadro 20) . A maior presença de P-Ca no
fosfato de Patos foi detectada apenas pelo Mehlich-1 e pelo Bray-2, extratores mais ácidos.
O Bray-1 nã o se mostrou sensível ao P-Ca , dado seu car á ter menos á cido e ausência de
sulfato em sua composiçã o, o que é uma de suas caracter ísticas positivas, viabilizando
seu emprego eficiente mesmo em condi ções de maior presença de P-Ca . O Olsen, pela
nã o altera çã o significativa das formas de P-Al !e de P-Fe com a aplica çã o do fosfato de
Patos e pela sua n ã o-extra çã o de P-Ca , nã o se apresentou dependente da aplica çã o do
fosfato de Patos no solo (Quadro 20) . A grande extra çã o de P-Ca pelo Mehlich-1 e pelo
Bray-2 tem feito com que, em condições de solos mais intemperizados, a utiliza çã o de
fosfatos naturais cá lcicos de baixa reatividade inviabilize a utiliza çã o desses extratores.
Os extratores de Bray mostraram-se significantemente relacionados com a maior presença
de P-Fe no solo, proporcionada pelo termofosfato Yoorin (Quadro 20 ) . Quando todas as
fontes de P testadas foram consideradas em conjunto, o que significa maior envolvimento
de todas as formas inorgâ nicas de P, pelos valores de R 2 obtidos, o "P-disponível" de
cada extrator foi dependente de:
Mehlich-1: P-Ca >» P-Fe > P-Al
Bray-1: P-Al »> P-Fe
Bray-2: P-Ca » P-Al > P-Fe
Olsen: P-Al » P-Fe
Os resultados apresentados ( Quadro 20 ) indicam ser o Bray-1 o extrator de
comportamento teoricamente mais adequado a diferentes condições de solo (presenças
variá veis de formas de P-inorgâ nico) . Uma pergunta seria, entã o, por que o Mehlich-1, e
nã o o Bray -1, historicamente, foi o mais adotado no Pa ís ? A explica çã o talvez seja que o
Mehlich-1 e o Bray-1 sã o semelhantes em condições em que P-Al e P-Fe sã o as formas
predominantes de P no solo, o que acontece nos solos mais intemperizados e á cidos do
Pa ís, e a escolha foi feita antes da perspectiva de utilizar fosfatos naturais de baixa
reatividade de maneira mais intensa .
Plantas de milho apresentaram respostas positivas e significativas às aplicações de
doses crescentes de fosfato de Patos e a doses de superfosfato em um Latossolo Roxo, em
casa de vegetaçã o (Tanaka et al., 1981). Observ áram-se aumentos das formas inorgâ nicas
de P do solo, bem como do "P-disponível" pelos extratores Mehlich-1, IAC, Bray-2 e
Olsen, em resposta à aplica çã o dos fosfatos. O "P- disponível" pelos extratores
correlacionou-se significativamente com a produçã o de maté ria seca e o P-acumulado
pelas plantas, quando o superfosfato foi a fonte de P aplicada . Para o fosfato de Patos,
essas correla ções não foram significativas, para nenhum dos extratores. Este é um bom
exemplo de m étodos clássicos do "P-disponível" do solo que pela nã o-correla çã o com a
planta deixam de ser considerados extratores do "disponível". Talvez essa seja uma das
razões para que o termo P-extraível seja preferido por alguns autores, em substituiçã o ao
"P-disponível". O P-extraível é de aplica çã o mais abrangente, mesmo para condições

FERTILIDADE DO SOLO
534 ROBERTO FERREIRA NOVAIS e t al .

em que o P obtido nã o é "disponível". Qbservou-se (Quadro 21) que, na planta, a matéria


seca ou o P-acumulado correlacionaram -se com P-Al e P-Fe, mas nã o com P-Ca ou P-
ocluso. A maior correlaçã o desses extratores mais ácidos com P-Ca e P-ocluso justificaria
a falta de correla çã o deles com a planta, para essa condição de predominâ ncia de P-Ca
no solo (forma ainda nã o solubilizada do fosfato de Patos ). O P-Olsen, como no trabalho
de Bahia Filho et al . (1982 ), mostrou -se nã o correlacionado com as formas inorgâ nicas de
P do solo.

Quadro 21 . Coeficiente de correla çã o linear simples entre formas inorg â nicas de P em


Latossolo Roxo distr ófico que recebç u doses crescentes de fosfato de Patos de Minas e
produ çã o de mat é ria seca, f ósforo á cumulado em plantas de milho e "P- dispon ível",
pelos extratores Mehlich -1, H2S04 ( lAC ), Bray -2 e Olsen

A v a l i ação P - Al P- F e P-C a P-o c l u s o

Mat é ria seca 0, 76** 0,74 ** 0,30 ns 0,41 ns


P acumulado 0,73** 0 ,70* 0 ,27 ns 0 ,38 ns
P- Mehlich -1 0 , 77** 0, 78 ** 0,99*** 0,90 ***
P- IAC 0,76** 0,77** 0,98*** 0 , 91***
P- Bray - 2 0,85*** 0,85*** 0 , 99*** 0,91*** #

P-Olsen 0 , 21 ns 0,23 ns 0,56 ns 0,48 ns


ns
/* * * c~ *+* n ã o-significativo e significativos a 5\ 1 e 0,1 %, respectivamente.
/

Fonte : Tanaka et al. (1981 ).

Extrator do "P-Disponí vel" Sensí vel, também, ao P-Ca


Na avalia çã o do "P-disponível" tem sido dada ênfase ao solo, como fonte de P,
procurando evitar grandes erros, que pjodem acontecer quando um extrator mais á cido,
como o Mehlich-1 e o Bray-2, é utilizado em solos que receberam FNs ou em solos
naturalmente ricos em P-Ca . Todaviá , os FNs continuam solubilizando ao longo do
tempo, ap ós sua aplica çã o no solo. Particularmente para os fosfatos reativos, o
suprimento de P para uma planta, ao lpngo de seu ciclo, mesmo para espécies de ciclo i

curto, pode ser de modo que satisfa ça as exigências da planta, como discutido neste
capítulo. Assim, torna-se necessá rio estimar essa contribuiçã o do FN como fonte de P
para uma cultura que extratores tidos como "ideais" nã o detectam. Como já se discutiu
anteriormente, o P obtido por extratores muito sensíveis a P-Ca , como o Mehlich-1, pode
correlacionar-se com a resposta da planta quando o FN é, predominantemente, a principal
fonte de P para as plantas. Por outro lado, deixa de ser um extrator satisfató rio do "P-
disponível", quando P-Al e P-Fe, além da presença de P-Ca, tornam-se fontes importantes
de P para a planta .
Atualmente, têm-se utilizado de maneira cada vez mais intensa FNs mais reativos,
como o Gafsa, dentre outros. Uma medida do "P-disponível" pela RTA nessas condições
poderá acessar valores baixos de P, uma vez que esse mé todo nã o acessa P dos FNs
!

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 535

ainda nã o solubilizados. Com os FNs e a utiliza çã o do Mehlich -1, por exemplo,


superestimava -se o P-disponível (disponibilidade real ); agora, com a RTA e extratores
Ff
n ã o-sensíveis ao P-Ca de FNs, subestima -se o -disponível, por nã o se detectar o que
ser á liberado e que poderá ser suficiente para atender à demanda da planta . Mesmo para
os FNs de baixa reatividade, um solo com 2 mg kg 1 de "P-disponível" pela RTA e valor
'

semelhante pelo Mehlich-1 é bem diferente de outro solo com 2 mg kg 1 de P pela RTA e '

200 mg kg 1 de P pelo Mehlich-1. No primeiro caso, o estabelecimento e a manutençã o de


'

uma pastagem ou de uma floresta de eucalipto ser ã o precá rios, se possível, ao passo que
no segundo caso, o crescimento de ambas as culturas será bem mais satisfató rio, embora,
provavelmente, um pouco lento inicialmente, pó r razões já discutidas.
í

Convergência de Ideias sobre os Extratores do "P-Disponí vel"


A partir de comentá rios e observa ções apresentados, a pesquisa tem mostrado
razoá vel convergência de pontos de vista quant a:
^
1. Quando envolvidos solos com diferentes caracter ísticas, correla ções entre o
crescimento da planta, ou P absorvido, e q P-Resina (RTA ) tendem a ser melhores
Po que com os extratores mais sensíveis ao FCP, como o Mehlich-1, o Bray-1, etc.
( Raij et al., 1984; Fixen & Grove, 1990) . Todavia , em alguns casos, a RTA tem-se
mostrado semelhante aos extratores á cidos tradicionais ( Raij & Feitosa, 1980;
Mariano et al ., 2002), ou mesmo inferior a eles ( Viégas, 1991) .
2. Nã o é necessá rio incluir uma medida do FCP, como argila, CMAP, P-remanescente,
etc., na interpreta çã o de níveis cr íticos (oh "faixas de disponibilidade") para o P-
Resina ( Raij et al ., 1984; Gjorup et al ., 1993; Silva & Raij, 1996 ) , como se faz
para extratores sensíveis ao FCP, como o Mehlich-1 ( Novais & Kamprath,

Quadro 22. Correlaçã o linear simples entre o nível cr ítico de " P-disponível", pelos extratores
Mehlich-1, Bray -1 e Resina de Troca Aniônica, e caracter ísticas dos solos relacionadas com
o fator capacidade de P ( FCP )

N í vel Cr í tico
(1 )
FCP
Mchlich -l Biay -1 Resina

CMAP -0,87** -0,84** - 0, 35 ns


PTF -0,82** - 0,76** -0, 40 ns
k - Freundlich - 0, 90** -0,87** -0, 35 ns
P- remanescente 0,77** 0 ,81** 0, 22 n *
Argila ( % ) -0, 47 nr -0 , 36 ns -0,52 ns
(1 )
CMAP = capacidade m á xima de adsorçã o de P, em mg g 1 de P no solo; PTF = poder tampã o de fosfato, em mol
*

de r.10 8 g 1 de solo / unidade de potencial de fosfato; k constante de isoterma de Freundlich, adimencional; P-


' *

=
remanescente = concentração de P em solução de equilíbrio, ém mg L 1, após agitação de 30 mg L 1 de P em CaCl2
' '

0,01 inoIL 1, na rela çã o solo: solu çã o de 1:10, por uma hora, com as amostras de solo.

, e ** nã o-signiricativo e significativos a 5 e 1 %, rcspe ^ tivamente.


ns *

Fonte: Novais et al . (1988).

FERTILIDADF O! C 5 OLO
536 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
!
]

1978; Novais & kamprath, 1979a; Bahia Filho et al ., 1983; Muniz et al., 1987;
Carvalho et al ., 1995; Bonfim etjal., 2004) (Quadro 22 ) . <

3. Para solos com alta concentra çã o de P-Ca , natural ou proveniente da adiçã o de


fosfatos naturais cá lcicos de baixa reatividade, a RTA será mais eficiente para
avaliar o "P-disponivel" que os extratores mais á cidos, como o Mehlich-1 (Silva
& Raij, 1996) . Dentre os extratores á cidos, o Bray-1 tem-se apresentado como o
mais satisfató rio nessa condiçã o de maior presen ça de P-Ca ( Bahia Filho et al .,
1982; Fixen & Grove, 1990) . j .. \

4. Em algumas condições de cultivo, a correla çã o da planta com extratores ácidos,


como o Mehlich-1, pode ser melhor do que com a RTA . A "indevida " extra çã o de
formas P-cá lcicas nã o-l á beis, nã o extra ídas pela RTA, podem ser extra ídas por
plantas com forte acidifica çã o de rizosfera, como algumas leguminosas e plantas
submetidas à absor çã o de NH4 + j como as tolerantes à acidez e à toxidez de Al, ou
submetidas à baixa disponibilidade de P ( Fíedley et al., 1982 ).
I

5 . H á maior chance de encontrar correla çõ es mais altas entre extratores


semelhantemente sensíveis ao FCP, quando diferentes solos sã o envolvidos. Essa
correla çã o diminui ou deixa de ser significativa quando extratores sensíveis ao
FCP (Mehlich-1, Bray-1, etc. ) sã q comparados a extratores menos sensíveis, como
a RTA ( Barbosa Filho et al., 1987)
I
- )

Solos com 1 mg kg 1
'

de "P-disponjível",
proporcionando produtividades relativas
de feijã o inferiores a 10 % ou superiores a 90 % (Figura 21), indicam a dificuldade de não
se incluir uma medida do FCP desses solos para melhor interpretar os resultados
inconsistentes do "P-disponível" entre eles. Semelhantemente, solo com 8 mg kg 1 de '

2 2
Y = 40,049 + 10.395 X R = 0,563**
120 n

100

80
03
>
CB
60 V
0) t
»§ 40 -] •• Alto
Muito alto

=
O

o
3 • Médio
P_ 20 -
Q Baixo
Muito
baixo
0
T T T\
0 2 4 6' 8 10 12 14 16 18 20
‘1
kg ha P205

Figura 21. Classes de respostas da produtividade relativa do feijoeiro ( maior produtividade


igual a 100 %) a teores de "P-dispon ível", pelo Mehlich-1, em solos do Paraná .
Fonte: Muzilli (1982).

FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFÒ RO 537

120
i
100 - 1
0 ( 108 mg kg )
'

nj
0 +
80 - O
ra O
<u 60 O
o O O
irj
O 1
% 40 O 0 kg ha' de P205
D
* O
O
O
CL 20 •90 l^g ha 1
"
de P 2 Os

0 i

0 4 8 12 16 | 20 24
1
“P-disponí vel ” ( mg k g )

Figura 22 . Produtividade relativa de am ê ndoas sé cas de cacau em resposta a teores de " P-


disponível", pelo Mehlich-1, em solos do sul da Bahia .
Fonte: Cabala R . et al . (1982) .

"P-disponível" apresenta menor produtividadeFelativa de amêndoas de cacau que solos


com 2 mg kg 1 (Figura 22) .
'

LITERATURA CITADA
ALCARDE, J .C. & PONCHIO, C.O . Caracteriza çã o das solubilidades das rochas fosfatadas
brasileiras e termofosfatos em diferentes extratores qu ímicos . R . Bras . Ci . Solo, 4:196-200,
1980. !

ALVAREZ V., V.H . & FONSECA, D.M. Definiçã o1 de doses de f ósforo para determina çã o da
capacidade m á xima de adsor çã o de fosfatos e para ensaios em casa de vegeta çã o. R . Bras.
Ci. Solo, 14:49-55, 1990.

ANDERSON, J.P.E . & DOMSCH, K.H . Quantities o;f plant nutrients in the microbial biomass of
selected soils. Soil Sei ., 130:211-216, 1980 . '
ANDRADE, A . T.; FERNANDES, L.A . & FAQUIN, V. Organic residue, limestone, gypsum and
phosphorus adsorption by loads soils. Sei. Agric ., 59:349-355, 2002 .
«

ANDRADE, F.V .; MENDON Ç A, E .S.; ALVAREZ V ., V . H . & NOVAIS, R . F. Adiçã o de á cidos


orgâ nicos e h ú micos em Latossolos e adsorção d6 fosfato. R. Bras. Ci. Solo, 27:1003-1011, 2003.

AZEVEDO, W.R.; FAQUIN, V.; FERNANDES, L.A. & OLIVEIRA J Ú NIOR, A .C. Disponibilidade
de f ósforo para o arroz inundado sob efeito residual de calcá rio, gesso e esterco de curral
aplicados na cultura do feijã o. R. Bras. Ci. Solo, 28:995-1004, 2004.

BACHE, B.W. & WILLIAMS, E.G. A phosphate sorption index for soils. J . Soil Sei., 22:289-301, 1971.

BAHIA FILHO, A.F.C. & BRAGA, J .M. Fósforo erri Latossolos do Estado de Minas Gerais. III.
índices de disponibilidade de f ósforo e crescimento vegetal. Experientiae, 20:217-234, 1975.
i

FERTILIDADE D íO SOLO
1
'

IX - POTÁSSIO
Paulo Roberto Ernani17, Jaime Ant ônio de Almeidaa / & Fl ávia Cristina dos Santos2/

1/
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC . Caixa Postal 281, CEP 88520-000
Lages (SC ) . Bolsista do CNPq .
prernani @ cav . udesc . br; a 2 jaa @ cav . udesc. br
3/
Embrapa Cerrados, BR 020, Km 18, Rodovia Brasília - Fortaleza .
Caixa Postal 08223, CEP 733,10 - 970 Planaltina ( DF ) .
flavia @ cpac . erhbrapa . br

Conte ú do
FUNÇÕES DO POT ÁSSIO NAS PLANTAS 552
FORMAS DE POTÁSSIO NO SOLO 553
Pot ássio Total 553
Pot á ssio Estrutural 553
Pot ássio Trocá vel 555
Potássio Nã o-Trocá vel 555
Potássio Fixado 555
Potássio Precipitado 556
:
Potássio na Matéria Orgâ nica ,.. 556

Potássio na Soluçã o do Solo 556


FONTES NATURAIS DE POTÁSSIO EM SOLOS 557
Micas 558
Feldspatos e Feldspatóides 560
INTEMPERISMO DOS MINERAIS POTÁSSICOS 560
RESERVAS DE pot ássio EM SOLOS BRASILEIROS : 562
FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE DE POT ÁSSIO NO SOLO 562
Atividade de Potá ssio 563
Poder Tampã o de Potássio (PTK ) 564
Suprimento de Potássio às Raizes 565
Fluxo de Massa 566
Difusã o 566

SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( edsi NOVAIS, R .F ., ALVAREZ V ., V .H ., BARROS,
N.F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R .B. & NEVES; J .C . L. ).

!.
552 PAULO ROBERTO ERNANI et al .

Mobilidade Vertical de Potássio no Perfil do Solo 569


Acidez e CTC do Solo 570
M ÉTODOS PARA AVALIAR A DISPONIBILIDADE DE POTÁSSIO 570
Aná lise de Solo 570
Aná lise Foliar 571
Aná lise de Frutos 572
Diagnose Visual das Plantas 572
RESPOSTA DAS PLANTAS À ADUBA ÇÃ O POT ÁSSICA 573
MANEJO DA ADUBAÇÃ O POT ÁSSIC A 574
Dose 574
Fertilizantes 576
É poca de Aplicaçã o v. 576
Mé todos de Aplica çã o 576
Din â mica do Potássio Aplicado ao Solo 577
Aduba çã o Foliar 577
OUTRAS REA ÇÕ ES COM O POTÁSSIO 578
Intera çã o do Potássio com outros Nutrientes 578
Lixivia çã o 578
FERTILIZANTES POT ÁSSICOS 580
Cloreto de Potássio 580
Sulfato de Pot ássio 581
Nitrato de Potássio 582
Sulfato Duplo de Potássio e Magnésio 582
Fertilizantes Orgâ nicos 582
Fontes Alternativas de Potássio 583
CONSIDERAÇÕ ES ADICIONAIS SOBRE A ADUBA ÇÃ O POTÁSSICA NA REGI ÃO
DOS CERRADOS 583
LITERATURA CITADA 589

FUN ÇÕ ES DO PO ÍT Á SSIO NAS PLANTAS

O potá ssio tem in ú meras funções na planta , destacando-se, principalmente, a i

ativa çã o de v á rios sistemas enzimá ticos, muitos deles participantes dos processos de
fotossíntese e respira çã o. O K atua nã o só na síntese de proteínas, de carboidratos e da
adenosina trifosfato (ATP), mas tambéra na regulaçã o osmó tica, na manutençã o de água
na planta por meio do controle da abertura e fechamento dos estô matos, na resistência
da planta à incid ência de pragas e doenças por meio do efeito na resistência e na
permeabilidade das membranas plasm á ticas. A deficiência de K normalmente reduz o
tamanho dos internódios, a dominâ ncia apical e o crescimento das plantas, retarda a
frutificaçã o e origina frutos de menor tamanho e com menor intensidade de cor . Como o
K é um nutriente móvel no floema, os sintomas de deficiência, normalmente caracterizados
por clorose nas bordas das folhas segu: da de necrose, surgem, inicialmente, nas folhas
mais velhas das plantas .

Fé RTIL DADE DO SOLO


I X - POTáSSIO 553

FORMAS DE POTÁ SSIO NO SOLO

O K é um dos nutrientes mais abundantes nos solos, podendo atingir concentra ções
de 0,3 a 30 g kg 1 (Sparks, 2000), as quais sã o um pouco menores nas regiões tropicais (0,9
"

e 19 g kg 1 ) ( Fassbender, 1984). As rochas ígnea s contê m as maiores concentra ções de K:


"

46 e 54 g kg 1 nos granitos e sienitos, poré m somente 7 g kg 1 no basalto. Nas rochas


' "

sedimentares pel íticas ( argilitos, siltitos e folhelhos ) , a concentra çã o de K é de


aproximadamente 30 g kg 1, enquanto nos calcá rios é de apenas 6 g kg 1.
" "

A maior parte do K do solo (98 % ) encontra -se na estrutura dos minerais primá rios
e secund á rios (K estrutural ), e só uma pequena fra çã o encontra -se em formas mais
prontamente disponíveis às plantas, seja ligadc às cargas elé tricas negativas (K trocável)
seja na soluçã o do solo ( K solu çã o ) (Sparks, 2000) . A maneira com que o K se liga aos
componentes sólidos do solo, assim como a energia dessas liga ções, d á origem às v á rias
formas de K no solo, as quais ser ã o descritas sucintamente a seguir . Cada uma dessas
formas manté m um equilíbrio específico com a soluçã o do solo, razã o por que afetam a
disponibilidade de K aos vegetais com diferentes magnitudes.

Potássio Total

O K total representa o somató rio de todas as formas de K em determinado solo. Ele


varia muito de solo para solo de acordo com o material de origem do solo, da composiçã o
mineralógica e do grau de intemperismo (Quadro 1). A determina çã o do K total é feita
por meio do uso de HF com posterior dissoluçã o dos extratos com HC1.

Potássio Estrutural

É a forma onde se encontra a maior quantidade do K no solo. Nela, o K faz parte da


estrutura dos minerais primá rios e, ou, secund á rios. O K somente é liberado para a
soluçã o do solo quando esses minerais sã o in emperizados. Como a intemperizaçã o é
um processo lento, as quantidades liberadas por esse mecanismo sã o, na maioria dos
solos, pequenas e insuficientes para suprir a demanda da planta, especialmente aquelas
de ciclo curto. A forma estruturaFé mais importante para espécies nativas e florestais,
que tê m exigências nutricionais a médio e a longo prazo.
O intemperismo é um processo que depende de fatores f ísicos, químicos e biológicos,
sendo favorecido por condições de elevada umidade e temperatura e pela diminuiçã o da
concentra çã o dos elementos na solu çã o do solo. A medida que a concentraçã o de K na
soluçã o do solo diminui, aumenta a contribuiçã a relativa da fração trocá vel e da estrutural
na nutriçã o vegetal. A fraçã o do K que se encontra na forma estrutural nã o aparece nos
resultados de análises de fertilidade dos solos, uma vez que os métodos analíticos usados
para esse objetivo nã o quantificam essa forma em razã o de sua baixa disponibilidade
num curto ou médio período de tempo.

FERTILIDADE DO SOLO
554 PAULO ROBERTO ERNANI et al .

Q u a d r o 1. Valores de K - total, n ã o- trocá vdl, trocá vel e na solu çã o, em alguns solos brasileiros

Estado Solos Concentra çã o Fonte

K - total
mg kg 1
'

DF 1 300 Sousa et al . (1979 )


RS 11 3.240 a 29.000 Nachtigall & Vahl (1989 )
RS 44 2.60 ( j a 39.500 Nachtigall & Vahl (1991a )
PR 2 780 a 867 Silva et al . (1995)
RS 3 1.878 a 12.300 , Meurer & Rosso (1997)
RS 4 1.944 a 5.417 Castilhos et al . (2002 )
MG 4 1.040 a 9.370 Villa et al . ( 2004 )
Cerrado 5 J
I 44 a 2.037 Vilela et al . ( 2004 )

K n ã o- troc á vel
mg kg 1 '

RS 44 21 a 955 Nachtigall & Vahl (1991a )


RS 11 24 a 788 Nachtigall & Vahl (1991a )
RS 3 231 a 1.364 Castilhos et al . ( 2002)
MG 4 24 a 240 Villa et al. ( 2004 )
USA 1 20.000 Liu et al . (1997 )

K tjroc á vel
mg kg 1 '

RS 3 51 a 70 Gianello & Mielniczuk (1981)


MG 13 18 a 112 Prezotti et al . (1988 )
RS 11 12 a 292 Nachtigall & Vahl (1989 )
RS 44 14 a 360 Nachtigall & Vahl (1991a )
RS 11 38 a 192 Meurer & Anghinoni (1993 )
RS 8 10 a 178 Meurer & Anghinoni (1994 )
PR 2 64 a 293 Silva et al . (1995 )
RS 3 152 a 336 Meurer & Rosso (1997)
RS 4 12 a 44 Castilhos et al . ( 2002 )
MG 4 24 a 116 Villa et al , ( 2004 )
USA 1 200 Liu et al. (1997 )
Cerrado 5 27 a 78 Vilela et al . ( 2004 )
RS 12 15 a 393 Vargas et al . (1983)
K np solu çã o
mg L 1
'

RS 8 0,4 a 12,8 Meurer & Anghinoni (1994 )


RS 11 13 a 81 Nachtigall & Vahl (1989 )
SP 1 4,1 a 28,0 Rosolem et al . ( 2003)
RS 12 1, 2 a 22,5 Vargas et al . (1983)

FERTILIDADE DO SOLO
IX - POTÁ SSIC 555

Potássio Troc ável


A forma trocá vel envolve a fra çã o do K que se encontra ligada à s cargas negativas
nas superf ícies das fra ções orgâ nicas e inorgâ nicas ( minerais de argila silicatadas, óxidos
e hidr óxidos) do solo. É a fonte de maior interesse para a nutrição vegetal, visto que
restitui rapidamente o K retirado da soluçã o ao solo pelas plantas ou perdido por
lixivia çã o. Essa forma representa a reserva imediata de K para as plantas.
As liga ções do K trocável com os componentes da fase sólida do solo sã o de car á ter
eletrost á tico. Nesse tipo de liga çã o ( adsor çã o eletrostá tica ), os elementos somente se
ligam à s superf ícies sólidas com carga elé trica oposta . Alguns autores subdividem o K
trocá vel em tr ês categorias, de acordo com a localiza çã o das cargas negativas nos
componentes sólidos à s quais o K se liga: planares, externas e internas.
Em virtude da configura çã o eletr ónica do K, ele nã o é adsorvido aos sólidos do solo
por meio de complexos de superf ície (adsor çã o qu ímica ) . Na adsorçã o química, os
elementos se ligam às superf ícies sólidas independentemente do tipo de carga nelas
existentes, dado o grande car á ter covalente das liga ções.
O K trocá vel é extra ído do solo com uma soluçã o neutra ( pH 7,0 ) de acetato de
amónio 1,0 mol L 1. O teor de K extra ído por
'
esie reagente normalmente se assemelha
àquele extraído por sais neutros, á cidos diluídos, ou pela resina trocadora de íons (Prezotti
et al., 1988; Villa et al., 2004), mé todos esses utilizados para avaliar a disponibilidade de
K do solo. Para alguns solos do Rio Grande do Sul, entretanto, o extrator Mehlich-1, que
é uma mistura de dois ácidos fortes diluídos, extraiu menos de 80 % do teor extraído pelo
acetato de amónio ( Nachtigall & Vahl, 1989 ).

Potássio Não-Trocável

O K nã o-trocá vel é considerado o teor extraído do solo por uma soluçã o de á cido
nítrico fervente, subtra ída daquela extra ída pe .o acetato de am ó nio ( K- trocá vel ). Ela
inclui, portanto, a parte do K estrutural que se dissolve mais facilmente em meio á cido
em adiçã o ao K fixado nas entrecamadas de ijninerais do tipo 2:1, como a illita e a
vermiculita. Em solos com predomínio de minerais de argila do tipo 1:1, os teores de K
nã o-trocá vel muitas vezes se assemelham aos de K trocá vel ( Ricci et al., 1989; Villa et al .,
2004) . Por outro lado, em solos com predomínio de argilas silicatadas do tipo 2:1, e
mesmo em alguns com minerais do tipo 1:1 , o K nã o - trocá vel é, de modo geral,
consideravelmente maior que o K trocá vel (Quadro 1) . Em muitas situa ções, o K nã o-
trocá vel tem uma contribuiçã o significativa para o fornecimento de K para as plantas,
principalmente quando o trocá vel é baixo (Silva et al., 1995; Nachtigall & Vahl, 1991b ) e
em solos com teores substanciais de minerais do tipo 2:1 (Cox et al., 1999 ).

Potássio Fixado
O K fixado é considerado aquele que se enc ontra neutralizando as cargas negativas
no interior das entrecamadas de alguns minerais do tipo 2:1, como a illita e a vermiculita.

FERTILIDADE Dó SOLO
556 PAULO ROBERTO ERNANI et al.

O mesmo fenô meno ocorre com o NH4 +, pois ele tem raio iônico semelhante ao do K. O K
fixado nã o é prontamente disponível à s plantas . Ele só se torna disponível a partir do
momento em que é substitu ído por outros cá tions na entrecamada , o que ocorre,
principalmente, quando há uma diminuiçã o acentuada na concentra çã o de K na soluçã o
do solo. A fixaçã o de K é muito expressiva em solos de países de regiões temperadas, nos
quais predominam minerais do tipo 2:1. Nos solos brasileiros, a fixação de K normalmente
é inexistente, ou pouco expressiva , em decorrência da pequena presença de minerais 2:1
e da presença de polímeros de Al que impedem a aproximação (colapso) das entrecamadas
desses minerais.

Pot ássio Precipitado


*

Os precipitados sã o compostos sólidos resultantes da combina çã o de duas ou mais


entidades químicas. Os precipitados, por serem constituídos, normalmente, de moléculas
relativamente grandes, nã o sã o absorvidos pelas plantas, e para que isso ocorra tê m de
ser dissolvidos. A forma çã o e a dissoluçã o dos precipitados dependem do pH e da
atividade na solução do solo (concentraçã o efetiva ) dos íons que integram esses compostos
e sã o governadas por uma constante de dissolu çã o ( Kd ), específica a cada composto.
A participa çã o de precipitados copa K no solo é pouco expressiva, diferentemente da
de outros elementos, como P, Ca, Al, Be, Mn, etc.

Potássio na Maté ria Orgâ nica


Diferentemente de outros nutrientes, como N e P, o teor de K na matéria orgâ nica do
solo é extremamente pequeno, pois se restringe ao K na fraçã o orgâ nica viva . O K nã o faz
parte de nenhuma fra çã o orgâ nica abiótica do solo, pois nã o integra nenhum composto
orgâ nico está vel. Sendo assim, ele é lavado do material orgâ nico logo após a morte das
células. Silva & Ritchey (1982) verificaram que o K foi lavado da parte a érea das plantas
de milho pela á gua da chuva tã o logo as plantas entraram em senescência.
A decomposiçã o das fra ções orgâ nicas mais está veis do solo, constituídas pelas
substâ ncias h ú micas e pelos resíduos p arcialmente decompostos, não contribui, portanto,
de modo importante para o suprimento de K à s plantas.

Potássio na Solu ção do Solo


A soluçã o do solo é constituída pela á gua mais os elementos minerais e compostos
orgâ nicos nela dissolvidos. Apesar de ser o meio de onde as plantas absorvem os
nutrientes, a solu çã o da maioria dos solos agr ícolas é bastante diluída . A concentra çã o
de K é normalmente inferior a 20 mg I , 1, mesmo em solos bem fertilizados (Quadro 1), e,
'

por isso, a quantidade de K nesse meio esgotar-se-ia em poucas horas ou em alguns dias,
caso nã o fosse efetuada a reposiçã o pela fase sólida.
A reposiçã o do K na soluçã o do solo é feita pelas diversas formas de K do solo já
descritas, mas, principalmente, pelo ] <C trocá vel. Além da quantidade, a velocidade da
reposição é também de fundamental i mportâ ncia para a nutriçã o das plantas. Ciotta et

FERTI L I D A D E DO SOLO
IX - POTáSSIO 557

al. ( 2002) encontraram rela çã o linear entre o K trocá vel e o K na soluçã o, em amostras
coletadas em diferentes profundidades de um Latossolo Bruno alumínico de Guarapuava,
PR, cultivado e fertilizado durante 21 anos ( Figura 1).
A concentra çã o de K na solu çã o do solo é de dif ícil determina çã o, dada a
complexidade de extração da solução. Os teores de K fornecidos nos resultados de análises
de solo para fins da avalia çã o da fertilidade incluem o K da soluçã o, em adiçã o ao K
trocá vel e, em algumas situa ções, a uma pequem fra çã o do K de algumas outras formas.

0 ,0 8
y = -6 , 53 * 0 , 010 x
2
R = 0 , 96 #

P < 0 , 01
0 ,0 6

O
£
o
o 0 ,0 4
o
D
O
V)

* 0 ,0 2 é*

0 ,0 0
400 0 ,2 0 0 ,4 0 0 ,6 0 0 ,8 0
-1
K troc á vel cmolc kg

Figura 1. Rela çã o entre os teores de pot á ssio na solu çã o e potá ssio troc á vel em diferentes
profundidades de um Latossolo Bruno alumínico cultivado e fertilizado durante 21 anos.

FONTES NATURAIS DE POTÁ SSIO EM SOLOS

O K do solo provém do intemperismo de minerais primá rios e secundá rios que contêm
este elemento, principalmente daqueles do grupo das micas, dos feldspatos e dos
feldspatóides. Além desses, o K também faz parte da estrutura de outros minerais menos
comuns, como a jarosita (sulfeto de Fe ) e algumas zeólitas. Nos minerais secund á rios, o
K encontra -se na illita, na vermiculila e nos argilominerais interestratificados. Como os
minerais que contêm K sã o, na maioria, aluminossilicatos, a seguir, ser á feita uma
descrição geral sobre o arranjo estrutural dos principais grupos de silicatos.
O Si está presente nas rochas geralmente em arranjo tetra édrico, rodeado por quatro
í
á tomos de oxigénio ( veja capítulo IV). Conforme a disposiçã o estrutural dos tetraedros,
os silicatos s ã o classificados em nesossilicatos, sorossilicatos, ciclossilicatos,
inosissilicatos, filossilicatos e tectossilicatos. Nos nesossilicatos, os tetraedros de Si
ligam-se entre si por meio de cá tions, a exemplo da forsterita, que é um silicato de Mg, e
da fayalita, que é silicato de Fe. Nos sorossilicatos, os tetraedros se unem dois a dois e
compartilham um á tomo de O. Nos ciclossilicatos, há forma ção de estruturas fechadas,

FERTILIDADE Do SOLO
558 PAULO ROBERTO ERNANI et al.

na forma de anéis, pela combina çã o de três, quatro ou seis tetraedros. Nos inosissilicatos,
os tetraedros de Si se unem formando cadeias longitudinais, simples ou duplas, onde
cada tetraedro compartilha dois O com os tetraedros vizinhos, a exemplo, respectivamente,
dos minerais do grupo dos anfibólios e dos piroxê nios. Nos filossilicatos, os tetraedros
se unem formando cadeias que se estendem em duas direções, onde cada tetraedro
apresenta três O compartilhados, a exemplo das micas. Nos tectossilicatos, todos os O
de cada tetraedro sã o compartilhados com tetraedros vizinhos, formando uma rede
tridimensional que se projeta em todas as direções, cujos exemplos principais sã o os
minerais do grupo do quartzo e dos feldspatos. Os minerais silicatados que contêm K na
estrutura pertencem, principalmente, aos últimos dois grupos, ou seja, aos filossilicatos
e aos tectossilicatos, que podem conter entre 50 e 150 g kg 1 de K .
'

Micas
Os filossilicatos mais importantes como fontes de K pertencem ao grupo das micas.
As micas sã o minerais abundantes em v á rios tipos de rochas, como nas metamó rficas
( xistos, migmatitos e gnaisses), nas magmá ticas intrusivas (granitos e granitóides ) e nas
sedimentares de granula çã o fina (siltitos, argilitos e folhelhos ) . Alé m disso, as micas
ocorrem nos sedimentos derivados destas e de outras rochas (Fanning et al ., 1989 ) .
As micas sã o formadas pelo empdhamento sucessivo de camadas do tipo 2:1, em
que cada camada é composta por duas lâ minas tetraedrais, intercaladas por uma lâ mina
octaedral (Figuras 2 e 3) . Na lâ mina tetraedral ideal, todas as posições centrais do
tetraedro sã o ocupadas pelo Si, enquanto, na lamina octaedral, as cavidades são ocupadas
pelo Al ou pelo Mg. Quando apenas 2 / 3 das posições das cavidades octaedrais sã o
ocupadas, a l â mina é denominada dioctaedral e o cá tion central é, geralmente, o Al.
Quando todas as cavidades dos octaed ros da lâ mina sã o ocupadas, ela é denominada de
trioctaedral e o cá tion central é, geral mente, o Mg. Esta forma de ocupaçã o permite
diferenciar os dois tipos mais comuns c .e micas encontrados em solos: a muscovita ( mica
branca ), que é dioctaedral, da biotita e da flogopita ( micas escuras), que sã o trioctaedrais.
Durante a formaçã o das micas, ent retanto, pode ocorrer a substituição do íon central
do tetraedro e do octaedro por outros íons, num processo chamado de substituiçã o
isomórfica. Na lâ mina tetraedral, o Si4 é geralmente substituído pelo Al3+, gerando um
h

alto déficit de carga positiva na camada, ou seja, aumento da densidade de cargas


negativas, que precisa ser neutralizada Na lâ mina octaedral, o Al+3 pode ser substituído
pelo Mg2+, Fe2+, Fe3+ ou pelo Mn 2+ . A carga negativa gerada na lâ mina tetraedral da
camada das micas pela substituiçã o pa rcial de Si4+ por Al3+ é neutralizada pela entrada
do K nas entrecamadas, o qual fica fort emente preso à estrutura ( Figuras 2 e 3). O K das
micas é, portanto, considerado como sendo estrutural.
A muscovita , a biotita e a flogopita sã o as micas mais comumente encontradas nas
frações grosseiras dos solos (areia e silte } (Quadro 2). Naqueles solos derivados de basalto,
onde é incomum a presen ça de micas, apenas a celadonita tem sido constatada . A illita
é um tipo de mica muito comum nos sc los, geralmente encontrada na fraçã o argila. Ela
apresenta mais água e menos K na estrutura do que as micas típicas. Como a quantidade
de K nas entrecamadas da illita é insuficiente para neutralizar o excesso de cargas

FERTILIDADE DO SOLO
IX POTáSSIO 559

Figura 2. Estrutura idealizada da mica dioctaedral, do tipo muscovita, em vista lateral. Somente
dois dos seis tetraedros que circundam o potá ssio est ã o representados. Observar que os
hidrogé nios das hidroxilas da lâ mina octaedral apontam para o octaedro vago.
Fonte: Adaptado de Fanning et al . (1989).

Figura 3. Estrutura idealizada da mica trioctaedral, do tipo biotita, em vista lateral. Somente
dois dos seis tetraedros que circundam o pot á ssio estã o representados. Observar que os
hidrogénios da hidroxila da lâ mina octaedral apontam diretamente para o potá ssio das
entrecamadas.
Fonte: Adaptado de Fanning et al. (1989).

negativas das camadas, ela adsorve cá tions ná superf ície externa, diferentemente das
micas puras, em que a carga negativa é totalmente balanceada pelo K estrutural. Em
decorrência da menor dimensã o e da maior quantidade de cargas negativas em relação
às micas, a illita é considerada como um mineral secund á rio em vez de primá rio.

. FERTILIDADE Do SOLO
560 PAULO ROBERTO ERNANI et al.

Quadro 2 . Principais caracter ísticas de alguns tipos de micas quanto à carga da camada e os
cá tions presentes nos tetraedros, octaedros e nas entrecamadas

Cá tion
Mineral Carga da c a m a d a ( X ) Â nion
Entrecamada Tetraedro Octaedro

mol e y f . u . t 1 )
Dioctaedrais
Muscovita 1 K SbAl Ah 0 , O (OH ) 2
Glauconita 0,68 KO ,65 Nao, o3 Sb,» ? Alo, i 3 A!o , 63Fe 3 + o, » 2 Fe 2 + o,i 9 Mgo, 36 OIO ( OH ) 2
11 li ta 0,81 Ko 64 Nao,03Cao, 07 S b, 38 Alo,62
/ Ah , 4 Fe3+ o,39 Mgo, 22 OI 0 (OH ) 2
Celadonita 0,99 Ko, 9 7 Cao,o i S Í 3.96 A1O, C) 4 A!o, i 8 Fe 3 +o , 87 Fe 2 + o, 24 Mgo, 7 i OIO ( OH ) 2
Trioctaedrais
Biotita 1 K SbAl ( Mg, Fe 2 + ) 3 OIO ( OH ) 2
Flogopita 1 K SbAl Mg3 OIO (OH ) 2

(1 )
mol de el é trons por f ó rmula unit á ria .
Fonte: Adaptado de Fanning et al . (1989) .

Feldspatos e Feldspat óides


Os feldspatos sã o minerais do grupo dos tectossilicatos, nos quais o Al3+ pode
substituir parcialmente o Si 4+ na rede cristalina do arranjo tetraedral. Essa substituiçã o
isomórfica gera um excesso de cargas ne gativas que é neutralizado pela entrada de cá tions
nos espaços tetraedrais, principalmente Na, K, Ca ou Ba . De acordo com a propor çã o e
com o tipo de metais presentes, os feldspatos sã o subdivididos em alcalinos, que contêm
K e Na, e plagioclásios, que contê m Ca e Na .
O ortoclásio, a microclina e a sanidina sã o os feldspatos potássicos mais comuns no
solo. O ortoclásio é comum em granitos e sienitos, mas também ocorre em rochas
metamó rficas; a sanidina é comum em rochas magmá ticas extrusivas, como riolitos e
traquitos; e a microclina é mais comumente encontrada em pegmatitos, veios hidrotermais
e em rochas metamórficas (Huang, 198 ? )
A Leucita ( KAlSi2Oé) e a Nefelina [KNa 3( AlSi04) 4] sã o os feldspatóides mais comuns
como fonte de K . A Leucita, que ocorre em rochas magmá ticas extrusivas, tem maior
conteú do de K que a Nefelina, mais comumente encontrada em rochas alcalinas, como os
foialitos e fonolitos. Todo o K nos feldspatos e nos feldspatóides é de tipo estrutural, ou
seja, encontra-se no interior da intrincada rede tridimensional de tetraedros de Si. Desse
modo, para que o K possa ser utilizado pelas plantas, esses minerais necessitam ser
dissolvidos por meio das reações naturais de intemperismo químico que ocorrem durante
a formaçã o e desenvolvimento do solo.

INTEMPERISMO DOS MINERAIS POTÁ SSICOS


As principais fontes naturais de K no solo provêm do intemperismo químico dos
minerais prim á rios. A hidrólise é o principal desses processos, na qual os íons H
+

atacam as liga ções que unem o K na estrutura dos minerais, conforme a Eq. 1,
exemplificada para o feldspato ortoclá sio:

F é RTIL DADE DO SOLO


IX - POTáSSIO 561

KAlSi3Og + H + - » HA1Sí3OS + K + d)
A reaçã o completa de decomposiçã o do felc spato geralmente origina um mineral de
argila ou um óxido de Al, com forma çã o de um a base e do excesso de Si, como pode ser
visto na Eq . 2, que mostra a forma çã o da caulin:Lta a partir de um feldspato:

2KAlSi3Og + 3H20 -> Al2Si Os (OH ) 4 02 + 2KOH


+ 4Si (2)

O mineral originado a partir da altera çã o d ós feldspatos depende da intensidade do


fluxo lixiviante. Quando o fluxo lixiviante é pouco intenso, há remoçã o de pequenas
quantidades de sílica e de bases do perfil. Nesfe caso, h á a forma çã o de argilominerais
do tipo 1:1, como a caulinita, ou mesmo do tipo 2:1, como a esmectita . Nas regiões
tropicais, normalmente, as temperaturas sã o e evadas e há grande disponibilidade de
'

á gua, o que favorece um fluxo lixiviante intenso , caso haja boa drenagem . Neste caso, há
remoçã o completa da sílica e das bases do perfil, e a altera çã o dos feldspatos origina a
forma çã o de óxidos de Al, do tipo gibsita, ao invés da caulinita ( Melfi & Pedro, 1977) .
Nas condições brasileiras, a altera çã o dos feldspatos potá ssicos geralmente origina a
caulinita e, raramente, a gibsita . Durante este processo, ocorrem perdas substanciais de K
por lixiviação, resultando numa pequena reserva de K nas fra ções mais grosseiras dos solos.
Outro mecanismo importante de libera çã o do K dos minerais primá rios é o da
transforma çã o estrutural das micas, por hidrata çã o. Nesse processo, ocorre perda
gradativa do K estrutural das entrecamadas, culminando com a transforma ção das micas
em minerais secund á rios, como a illita e a vermiculita ( Eq. 3):

+ K + H 20 -
K Mg
MICA ILITA VERMICULITA (3)
- K - HLO K + Mg

As micas, após sofrerem hidrata çã o, perdem K gradativamente e se transformam em


illita . Caso haja grande disponibilidade de Mg, ele substitui totalmente o K na estrutura
da mica , que se transforma em vermiculita .
Aproximadamente 75 % do K na illita é mantido na forma estrutural, no pequeno
espa ço entre as camadas (em torno de 1,0 nm), sendo, por este motivo, pouco disponível
à s plantas. O K que se localiza nas entrecamadas da vermiculita, apesar de nã o ser
estrutural, manté m um equilíbrio lento com o K da soluçã o.
O intemperismo das micas pode també m ocorrer por meio de rea ções de hidr ólise,
envolvendo a dissolu çã o completa do mineral, que resulta na liberaçã o do K e na síntese
de novos minerais secundá rios. Em qualquer situaçã o, a transformaçã o ou a dissoluçã o
das micas libera quantidades significativas de K para as plantas.
As rea ções de intemperismo podem tamb é m formar outros tipos de minerais de
argila, com características estruturais intermediá rias entre aqueles citados. É o caso dos
argilominerais interestratificados, que podem conter estruturas de dois ou mais minerais
num mesmo cristal, em combina ções do tipo: mica -vermiculita, illita-vermiculita,
caulinita -vermiculita, e caulinita -esmectita . Esses argilominerais ainda sã o pouco
estudados dada a dificuldade de detecçã o pelos mé todos convencionais, porém sã o cada

FERTILIDADE DO SOLO
562 PAULO ROBERTO ERNANI et al.

vez mais referenciados como componentes importantes em solos, notadamente naqueles


mais intemperizados. Esses argilominerais tamb é m podem-se constituir fontes
importantes de K no solo.
Considerando a sequ ência clá ssica de estabilidade dos minerais proposta por
Goldich, as micas e os feldspatos potá ssicos enquadram -se como altamente resistentes
ao intemperismo químico, sendo apenas menos resistentes do que o quartzo. Dentre as
micas, as de colora çã o escura , como a biotita e a flogopita , sã o mais facilmente
intemperizá veis do que as brancas, como a muscovita . Tradicionalmente, essa diferença
tem sido atribu ída ao maior conte ú do de Fe na biotita , o qual, sendo mais facilmente
oxidado, tornaria essas micas mais inst áveis. Fanning et al . (1989 ), entretanto, atribuem
a maior estabilidade da muscovita à orientaçã o do H da hidroxila no octaedro, o qual
está direcionado ao espa ço octaedral vago da l â mina dioctaedral. Nas micas escuras, o
H aponta diretamente para o K da entrecamada, aumentando a repulsã o entre os íons,
deixando, por isso, o mineral mais inst á vel. Dentre os feldspatos potássicos, ortoclásio
é mais facilmente intemperizá vel do que microclina ( Huang, 1989 ) .

RESERVAS DE POTÁ SSIO EM SOLOS BRASILEIROS

A maioria dos solos brasileiros é constituída principalmente por Latossolos e


Argissolos. Tais solos caracterizam-se por apresentar alto grau de altera ção dos seus
materiais constituintes, restando pouca ou nenhuma reserva mineral nas fra ções
grosseiras, dominadas quase que exclusivamente por quartzo e outros materiais
resistentes ao intemperismo. Em alguns Latossolos, entretantd, alguma reserva de K
pode ser encontrada nas fra ções grosseiras, quando a muscovita está presente, porém
teores importantes têm sido constatados nas fra ções silte e argila . Na fra ção argila, o K
está provavelmente associado a argilominerais do tipo 2:1 com polímeros de hidróxi Al
nas entrecamadas ( 2:1 HE ) e també m a minerais interestratificados do tipo caulinita -
vermiculita ou caulinita-esmectita (Silva et al., 1995). Nos Argissolos, maiores conteúdos
de K total tê m sido identificados em solos desenvolvidos de rochas pelíticas, granitos,
gnaisses e migmatitos, nas quais o conteúdo de minerais potássicos é mais elevado
( Nachtigall & Vahl, 1989; Meurer et al. , 1996).
Os solos de origem mais recente, incluindo Neossolos, Vertissolos, Luvissolos e
Chernossolos, embora ocupem á reas m enos expressivas do territó rio brasileiro, podem
apresentar maior reserva de nutrientes, gra ças à presença de teores expressivos de micas
e feldspatos nas fra ções grosseiras, as quais podem representar importantes fontes de K.

FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE DE


POTÁ SSIO NO SOLO
A disponibilidade de K para as pia ntas é influenciada por fatores relacionados com
os solos, com a própria planta e com o ;lima .

FERTILIDADE DO SOLO
IX - POT Á SS 563

Os principais fatores de solo sã o: a atividad è de K na soluçã o , o restabelecimento da


mesma por formas trocá veis e nã o- trocá veis, à rr edida que ele é absorvido pelas plantas
.

ou lixiviado, e o transporte do nutriente até à superf ície das ra ízes. Nos sistemas de
cultivos sem mobiliza çã o do solo, nos quais os fertilizantes nã o sã o incorporados, a
mobilidade vertical no perfil també m exerce alguma influ ê ncia .
As propriedades da planta que influenciam a disponibilidade de K sã o: a morfologia
do sistema radicular, a taxa de demanda de cada espé cie, os par â metros ciné ticos de
absor çã o ( velocidade má xima, Imá x, constante de Michaelis-Menten, Km, e concentra çã o
na solu çã o onde o influxo deixa de existir , Cmín ) ( veja capítulo IV).
A temperatura e a umidade do solo sã o os fatores relacionados com o clima que
também influenciam a disponibilidade de K. A eleva çã o da temperatura ambiente e do
solo aumenta a absor çã o de K pelas plantas porque favorece tanto a difusã o de K no solo
quanto o processo de absorçã o. O aumento do teor de á gua no solo tamb ém favorece a
absor ção de K porque aumenta o transporte de K até às raízes pelos diferentes mecanismos.
A seguir, ser á feita uma breve descriçã o sobre cada um dos fatores de solo e de
planta que influenciam a absor çã o de K pelos vegetais.

Atividade de Pot ássio

A atividade na soluçã o do solo é uma propriedade que determina as reações químicas


do K com outros elementos ou entidades químicas , assim como sua absor ção pelas plantas.
A atividade depende, portanto, da concentra ção de K e dos demais íons e moléculas na
solu çã o do solo, os quais, em conjunto, determinam a for ça iônica da soluçã o. Em baixas
concentra ções, a atividade e a concentra çã o sã o praticamente iguais; em determinadas
microrregiões do solo, entretanto, como acontece próximo aos grâ nulos dos fertilizantes,
a atividade é bem menor que a concentraçã o. A concentração de K na soluçã o do solo foi
a propriedade que mais influenciou a absor çã o de K em solos do Rio Grande do Sul
(Gianello & Mielniczuk, 1981; Meurer & Anghinoni, 1994 ) .

A atividade de K, ou de qualquer outro elemento, pode ser calculada por meio da Eq.
4, proposta por Debye-Huckel:

log y = - 0,5091 Z2 ( /p / ( 1 + a B
^
^ )) ( 4)

na qual y é o coeficiente de atividade e Z é a valê ncia do íon cuja atividade ser á calculada;
a e B sã o constantes, cujos valores para K são 3 e 0 ,33, respectivamente; e p é a for ça iônica
da soluçã o do solo. O valor da for ça iônica ( p) pode ser obtido pelo uso da Eq. 5 ou por
meio de uma equa çã o de regressão a partir de dados da condutividade elétrica da solução.

P = y2 na z i ) 2
(5 )

na Eq.5 C é a concentra ção, Z é a valência , e i representa cada um dos elementos químicos


presentes na solu çã o do solo .

FERTILIDADE DO SOLO
564 PAULO ROBERTO ERNANI et al .

Atualmente, existem v á rios programas específicos de computador que calculam a


atividade iônica de qualquer íon, desde que sejam conhecidos os valores de pH, condutividade
elé trica e a concentra çã o dos diversos cá tions e â nions na soluçã o do solo.
Sobre este assunto, veja capítulo IV .

Poder Tampã o de Pot ássio ( PTK )


O Poder Tampã o de Potássio ( PTK ) é a capacidade que o solo tem de manter está vel
a concentra çã o de K na solu çã o, à medida que o K é adicionado ou retirado do solo .
Graficamente, ele é representado pela rela çã o Q / I, em que Q ( K l á bil ou, idealmente,
trocá vel ) representa a quantidade de K na fase sólida que pode passar para a solu çã o do
solo em curto espa ço de tempo, também denominado fator quantidade de K, e I representa
a atividade de K na solu çã o do solo, ou fator intensidade de K. O restabelecimento de K
na solu çã o do solo ( I ) é feito principalmente pelo K trocá vel (Q), havendo, em algumas
circunstâ ncias, contribuiçã o de outras formas de K no solo. Quando o equilíbrio é mantido
predominantemente pelo K trocá vel, ele é rá pido e acontece em alguns minutos; quando
é pelas outras formas de K, ele é variá vel e bem mais lento.
Em termos de disponibilidade à s plantas, é importante que haja uma rela çã o Q / I
alta , poré m acompanhada de um valor alto do fator intensidade. A existência de um
valor de I alto significa boa concentra çã o de K na soluçã o do solo, junto às ra ízes, e isso
facilita sua absor çã o pelas plantas, cuja velocidade é diretamente proporcional a essa
concentraçã o. Um valor alto para Q garante grande estoque trocável e um restabelecimento
rá pido da concentraçã o de K na solu çã o do solo, e ao mesmo tempo mantém essa reposi-
çã o por um longo per íodo de tempo, à medida que o K for absorvido pelas plantas.
A rela çã o Q / I é linear dentro de uma ampla faixa de valores de K no solo. Por isso,
os grá ficos de I em funçã o de Q sã o noj-malmente representados por um ou, no má ximo,
dois segmentos de reta. À medida que os valores de K aumentam no solo, a declividade
da reta diminui, porque o K passa a ser adsorvido com menor preferência pelos sítios de
liga çã o; o inverso é verdadeiro para situa ções em que haja valores mais baixos de K no
solo, em que a declividade da curva Q / I aumenta em funçã o do aumento na energia de
adsor çã o dele pela fase sólida ( veja capítulos IV e VIII ) .
O PTK pode ser calculado, desde que se conheça a atividade dos principais elementos
na solu çã o do solo e a concentra çã o deles na fase trocá vel, incluindo o K . A seguir ser á
demonstrado por meio de algumas equa ções como se calcula o PTK. Para isso, ser á
usada a Eq. 6, proposta por Gapon, assumindo-se somente as reações de troca entre K, Ca
e Mg que, em solos sem Al, representam a quase totalidade dos cá tions que se ligam
eletrostaticamente à s cargas negativas .

X - (Ca + Mg) - K + <— -K + là (Ca 2+ + Mg2+ ) (6 )


*
em que X representa uma carga negativa, e, portanto, X-K e X-(Ca + Mg) w estão adsorvidos
a ela, e K + e a/i(Ca2+ + Mg2+ ) representam as formas presentes na solução do solo. O
coeficiente de seletividade ( K ) pode ser entã o calculado por meio da Eq. 7:

FERTILIDADE DO SOLO
IX - POTÁSS o 565

K8 = [ X-K / ( X-(Ca + Mg) )* ] [ (Ca 2+ + Mg2+ )1/ 2 / K ] (7)

Como normalmente mais de 90 % das cargas negativas livres em solos com pH maior
que 5,5 sã o ocupadas com Ca e Mg, pode-se assumir que a soma dos valores trocá veis
desses dois cá tions representa a CTCefetiva' ou eja ( X- (Ca + Mg ) % t (1) . Nesse caso, o
^
coeficiente de seletividade pode ser obtido por íneio da Eq. 8:
K8 = [ X-K / t] [(Ca2+ + Mg2T / K + ] (8)

A qual pode ser rescrita como:

X- K = Ks, t [K + / ( Ca 2 + Mg2+ )*] (9)

A rela çã o [ K + / (Ca2+ + Mg2+ )1 / 2] é definida como sendo o quociente de atividade de K


(QAK ), ou seja , a atividade do K na soluçã o do solo relativa à atividade dos demais
cá tions, nesse caso representados por Ca e Mg, permitindo reescrever a Eq. 9, da seguinte
forma:

X -K = Kg t QAK ( 10)

K -X / Q A K d Ks t ( 11 )

Como a expressã o ( X- K / QAK ) representa o poder tampao de K no solo ( PTK ), a


equa çã o que descreve essa propriedade pode ser finalmente escrita como:

PTK = K g t ( 12)

Verifica -se, portanto, que o PTK é diretamente proporcional ao coeficiente de


seletividade do K e à CTCefetiva do solo.
Os valores de PTK para quatro solos de v á rzea do Estado de Minas Gerais variaram
de 4,2 a 11 ( molc dm ?) / ( mol L 1)* ( Villa et al . 2004). Gianello & Mielniczuk (1981)
' "

verificaram que o PTK foi o segundo fator que mais influenciou a absor çã o de K pelo
milho em solos do Rio Grande do Sul, só superado pela concentra ção de K na solução do
solo.

Suprimento de Pot ássio às R izes


^
O suprimento de K às raízes ocorre basicamente pelos mecanismos de fluxo de massa
e difusão. A intercepção radicular, outro mecanismo de acesso das raízes aos nutrientes,
contribui com menos de 5 % da demanda de K pelas plantas, considerando o pequeno
volume de solo explorado pelo sistema radiculc . r da maioria das espécies.

1 ; X - ( Ca + Mg ) g = atividade dos c á tions adsorvidos ( mol dm J ) . Se eles se expressam em


molc dm 3 '

X-(Ca + Mg ) = t e no c á lculo do coeficiente de seletividade K , [ X-(Ca + Mg ) ] = t.

FERTILIDADE DO SOLO
566 PAULO ROBERTO ERNANI et al.

Fluxo de Massa

No mecanismo de fluxo de maspa , os íons se movimentam em direção à s ra ízes em


consequência da forma çã o de um gradiente de potencial hídrico. Quando a planta absorve
á gua, é gerada uma diferença de potencial hídrico entre as regiões adjacentes às raízes e
aquelas imediatamente pr óximas de as. Como consequência desse gradiente, a soluçã o
do solo desloca -se em direçã o à s ra í zes e leva consigo os nutrientes nela presentes. A
quantidade de K que é transporte da por esse mecanismo depende, portanto, da
concentra çã o de K na solu çã o do solo e do fluxo h ídrico, o qual varia de acordo com o
volume de á gua transpirada pelas plantas . A quantidade de K que chega à s ra ízes por
esse mecanismo em determinado período de tempo ( Aq / At ) pode ser representada
matematicamente pela Eq. 13:

Aq / At = Av . Cs (13)

em que Av é o conte ú do volum é triêo de á gua no solo e Cs é a concentra çã o de K na


solu çã o do solo. Normalmente, menos de 30 % do K necessá rio pelas plantas é suprido
por esse mecanismo; o restante chega à s ra ízes pelo mecanismo de difusã o. Vargas et al.
(1983) verificaram que apenas 10,1 % do K absorvido pelo milho cultivado em doze solos
de Rio Grande do Sul , em casa de ve geta çã o, foi suprido por fluxo de massa . Valores
semelhantes foram obtidos em Latossolos paulistas, com varia çã o de 4 a 12 %, para o
milheto (Rosolem et al., 2003), e de 3 Í5 a 19 %, para o algodoeiro (Oliveira et al., 2004) .

Difusã o

O transporte de K por difusã o em direçã o às ra ízes inicia -se quando a quantidade


do nutriente que chega à s ra ízes por fluxo de massa , somada à quela que é interceptada
pelo crescimento radicular, é inferioi à quantidade absorvida pelas plantas. Com isso,
passa a existir um gradiente (diferenç a ) de concentra çã o de K entre a rizosfera e as á reas
adjacentes a ela , que determina o transporte de K em direçã o às raízes, por difusão. O
coeficiente de difusã o efetivo de K no solo (De) é expresso pela Eq. 14:
De = D Av T ( d C i / d C s ) (14)

Nela, D representa o coeficiente de difusã o na á gua , que para K , a 25 °C, é


1,98 x 10 5 cm 2 s 1 ( 2) ( Parsons, 1959), Av é o conteúdo volumé trico de á gua no solo, T é o
'

recíproco da tortuosidade existente no caminho de solo a ser percorrido pelo nutriente, e


d C i / d C s é o recíproco do poder tampã o de potássio (PTK ), em que Ci é a concentra ção de
K em solu çã o e Cs é o teor de K trocá vel .
Quando a difusã o de K no solo ocorre em direçã o às raízes, passa a existir a influência
de caracter ísticas relacionadas com as plantas. Nesse caso, a Eq. 14, que descreve o
coeficiente de difusã o efetivo ( De ), pode ser transformada na Eq. 15, que descreve a
quantidade de K que chega às raízes por difusão em determinado período de tempo (Aq / At):

(2)
1.980 f i m 2 s \

FERTILIDADE DO SOLO
IX - POTáSSIO 567

Aq / At = Av Ar D (Cs - Cr ) / L (15)
Nela, Ar é a á rea radicular, Cr e Cs representam, respectivamente, a concentração de
K soluçã o do solo na superf ície das raízes e na primeira distâ ncia ainda nã o afetada por
elas; L representa a distâ ncia entre Cs e Cr; e D e Av têm o mesmo significado da equaçã o
anterior .
A difusã o de K no solo em direçã o à s ra ízes é afetada , portanto, por fatores
relacionados com o solo e com a planta. Dos fatores de solo, destacam-se o conte ú do
volumé trico de á gua , a concentraçã o de K na soluçã o, o PTK e a densidade. O conte údo
de á gua e a densidade determinam a tortuosidade do caminho a ser percorrido. Quanto
maior o teor de á gua, mais curto é o caminho, pois os íons somente se movimentam na
fase líquida. À medida que o teor de á gua diminui, o caminho a ser percorrido passa a
ser mais tortuoso porque as moléculas de água i ã o adsorvidas às partículas sólidas e o
filme de á gua passa a ser cada vez menos espesso. O mesmo efeito é obtido com o
aumento da densidade do solo, até determinado valor, como consequência da aproximação
das partículas sólidas; acima desse valor, o aumento na densidade provoca aumento na
tortuosidade.
A eleva çã o da concentra çã o de K na solu çã o, que ocorre quando fertilizantes
potássicos sã o adicionados ao solo, favorece a difusã o de K porque aumenta o gradiente
de concentra çã o já que a concentraçã o na superf ície das raízes, que varia com as espécies
vegetais, normalmente é mantida bastante baixa . A manutençã o da concentraçã o de K
na soluçã o do solo, assim como a espessura da zona de depleçã o ao redor das ra ízes
(distâ ncia ao redor de cada raiz cuja concentra çã o da soluçã o é influenciada pela raiz ),
é influenciada pelo poder tampã o de K (PTK ).
A contribuiçã o do mecanismo de difusã o foi de 89 % do K absorvido pelo milho,
cultivado em doze solos do Rio Grande do Sul, em casa de vegetação (Vargas et al., 1983);
num Latossolo Vermelho de Sã o Paulo, a cont ribuiçã o da difusão para o algodoeiro
variou de 72 a 96 % da quantidade total de K absorvida (Oliveira et al., 2004).
A contribuiçã o dos mecanismos de fluxo de nassa e difusão para o suprimento de K
às raízes pode ser matematicamente representada pela Eq. 16.
Aq / At = [ Av Ar D (Cs - Ç r ) / L] + [ Av Cs] (16)

Ela mostra que a quantidade de K que chega às raízes é afetada principalmente pelo
teor de água, pela concentração de Kna soluçã o e pelo PTK, assim como pelo volume do
sistema radicular e pela quantidade de á gua transpirada pelas plantas.
Mais informações sobre os mecanismos de transportes de nutrientes na solução do
solo sã o apresentadas no capítulo IV.

Morfologia de Raí zes e Parâmetros Ciné ticos de Absorção


A morfologia do sistema radicular e os parâmetros ciné ticos de absorção são os
fatores relacionados com as plantas que determinam a absorção de K e, conseqúentemente,
influenciam seu transporte na soluçã o do solo em direção às ra ízes.

FERTILIDADE DC SOLO
568 PAULO ROBERTO ERNANI et al.

A absor çã o de K aumenta com o aumento do sistema radicular . O aumento da á rea


do sistema radicular resulta na explora çã o de maior volume de solo pelas plantas e,
como consequência , maior intercepta çã o de K e diminuição no caminho a ser percorrido
pelo nutriente em direçã o às ra ízes, tanto por difusã o quanto por fluxo de massa . Sendo
assim, plantas que se desenvolvem em solos onde há limita çã o ao crescimento das raízes
( presença de Al tóxico, compacta çã c ou presença de outros impedimentos f ísicos, e
inadequado suprimento de 02), absorverã o menos K do que plantas cujo sistema radicular
cresce adequadamente e necessitarã o, portanto, de dose maior de fertilizantes potássicos.
A partir do momento em que o K está em contato com as ra ízes, a absor çã o passa a
ser determinada pelos parâ metros ciné ticos de absor çã o. Eles determinam a taxa de
absor çã o e, por consequência , a exaustã o da concentra çã o de K na zona de depleçã o ao
redor da raiz que, por sua vez, influencia a difusã o.de K no solo. Esses parâ metros são:
a velocidade m á xima de absor çã o ou influxo má ximo ( Im á x ), a constante de Michaelis-
Menten ou constante de afinidade (KJ e a concentra çã o na soluçã o abaixo da qual a
absor ção líquida de K pelas plantas nã o ocorre (Cm ín ). t
Valores elevados para Imá x e valores baixos para Km e para Cm ín favorecem a absorçã o
de K pelas plantas. O Imá x é importante para condições onde haja uma média ou alta
disponibilidade de K. O Cm ín é importante para situa ções onde há baixa disponibilidade
de K. Nessas condições, como a concentra çã o de K é baixa, valores baixos de C m ín
permitirã o que as plantas continuem absorvendo K e garantam alguma produtividade,
mesmo que não muito alta. O Km, que representa a concentraçã o de K na soluçã o do solo
onde a velocidade de absor çã o é metade da velocidade má xima (Imâ x ), é importante para
qualquer situa çã o de fertilidade, uma vez que, na zona de depleçã o, junto à superf ície
das ra ízes, a concentra çã o de K é sempre média ou baixa porque a maior parte do K que
chega às ra ízes é suprida por difusã o. Alguns valores dos parâ metros ciné ticos de
absor çã o de K para algumas espécies no Brasil podem ser visualizados no quadro 3.
A equaçã o de Michaelis-Menten, desenvolvida por Epstein (1972) (Eq. 17), utiliza os
parâ metros ciné ticos para descrever matematicamente a absorçã o de nutrientes (A ):

. ) / (v Cr + K m ) ] - C m ín
A = [(Cr Imax J ( 17)
' '

Nela, Cr representa a concentra ção de K na zona de depleção, junto à superf ície das
raízes; os demais parâ metros foram definidos anteriormente. Verifica-se, portanto, que a
absor çã o de K pelas plantas depende tanto da chegada do nutriente às raízes como de
sua absorçã o. Esses dois fenômenos podem ser matematicamente representados pela Eq.
18:

A = [ Av Ar D (Cs - Cr ) / L] + [ Av Cs] + [(Cs ImJ / (Cs + KJ ] - C m ín (18)

em que as duas primeiras partes representam, respectivamente, a contribuição da difusão


e do fluxo de massa, e a terceira representa a absor ção.
Informa ções adicionais sobre mo cielos de absor çã o (aquisiçã o) de nutrientes pelas
plantas sã o apresentados no capítulo

FERTILIDADE DO SOLO
IX - POT ÁSS o 569

Quadro 3. Valores dos par â metros ciné ticos da equa çã o de Michaelis-Menten: velocidade
má xima ou influxo má ximo (Im á x), constante de Michaelis-Menten ou constante de afinidade
í
Km
( ) e concentra çã o na soluçã o quando o influxo líquido é zero (Cmín) para potá ssio, de
algumas espécies de plantas com diferentes idades

Esp é cie ( idade ) Valor Autor

Im á x (pmol cm 2 h 1 )
' '

Trigo (38 dias ) 125 a 186 Anghinoni et al. (1989 )


Milho ( 22 dias) 134 a 144 Anghinoni et al . (1989 )
Milho 0 ) ( 20 dias ) 38 a 62 Horn et al . ( 2006 )
Arroz (51 dias ) 40 a 59 Anghinoni et al. (1989 )
Aveia (36 dias ) 23 Anghinoni et al . (1989 )
Colza ( 42 dias ) 40 Anghinoni et al . (1989 )
SojaO ) ( 20 dias ) 42 a 240 Sacramento & Rosolem (1997)
SojaH ) ( 40 dias ) 6 a 32 Sacramento & Rosolem (1997 )
SojaO ) ( 60 dias ) 5 a 32 Sacramento & Rosolem (1997 )

\ Km (pmol L - q
Trigo (38 dias ) 13 a 16 Anghinoni et al . (1989 )
Milho ( 22 dias) 8 a 16 Anghinoni et al . (1989 )
Milho ( 20 dias ) 37,4 a 39,1 Horn et al . ( 2006 )
Arroz (51 dias ) 5,5 a 25 Anghinoni et al. (1989 )
Aveia (36 dias ) 12,3 Anghinoni et al . (1989 )
Colza ( 42 dias ) 9,7 Anghinoni et al. (1989 )
Soja ( 20 dias) 18 a 141 Sacramento & Rosolem (1997)
Soja (40 dias ) 30 a 136 Sacramento & Rosolem (1997)
Soja ( 60 dias) 37 a 134 Sacramento & Rosolem (1997)
C m í n (pmol L -1 )
Trigo (38 dias ) 1,5 a 1,8 Anghinoni et al. (1989 )
Milho ( 22 dias) 1, 2 Anghinoni et al. (1989 )
Milho ( 20 dias ) 3,8 a 6,7 Horn et al . ( 2006 )
Arroz (51 dias ) 2,8 Anghinoni et al . (1989 )
Soja ( 20 dias ) 3.7 a 64 Sacramento & Rosolem (1997 )
Soja ( 40 dias ) 1.7 a 102 Sacramento & Rosolem (1997 )
\ Soja ( 60 dias) 1,6 a 36 Sacramento & Rosolem (1997 )

0) pmol g h

Mobilidade Vertical de Potássio no Perfil do Solo

A mobilidade vertical de dado nutriente db solo é determinada pela quantidade de


á gua que percola no perfil e pela concentra çã o do nutriente na soluçã o do solo. O K tem
boa mobilidade no perfil do solo, intermediá ria entre o N e o P. A mobilidade vertical é
importante em situações em que o K é aplicado sobre a superf ície do solo, pois a absor ção
de qualquer nutriente é dependente da concentra çã o dos mesmos junto às raízes, e em
culturas de ciclo anual, elas estão, predominani emente, nos 20 cm superficiais. Por isso,
nos primeiros cultivos subsequentes à instala çã o do sistema plantio direto, no qual os
fertilizantes nã o sã o incorporados na camada superficial do solo, pode haver limitação
no suprimento de K às raízes em solos com baixos teores disponíveis deste nutriente,
principalmente se houver períodos com d éficit hídrico. A mobilidade vertical de K ser á
enfocada com maiores detalhes no t ó pico referente ao m é todo de aplica çã o dos
fertilizantes potássicos.

FERTILIDADE DO SOLO
570 PAULO ROBERTO ERNANI et al.

Acidez e CTC do Solo


O pH afeta a disponibilidade de K no solo porque influencia o crescimento das
raízes e o poder tampã o de K (PTK ) .
Solos com pH muito baixo, normalmente inferior a 5,2, revelam Al em teores tóxicos,
o qual inibe o crescimento e o desenvol vimento das raízes. Plantas com sistema radicular
com crescimento restrito exploram menor volume de solo relativamente a plantas com
ra ízes normais e, conseqúentemente, tèm acesso a menor quantidade de K . Sendo assim,
em solos onde exista Al em teores tóxicos, há necessidade da adiçã o de maior quantidade
de fertilizantes potássicos do que em solos isentos dessa toxidez.
Por outro lado, a eleva çã o do pH promove aumento nas cargas negativas do solo
(Albuquerque et al., 2000), fazendo com que parte do K da soluçã o migre para as cargas
criadas ( Defelipo & Braga , 1983), elevando, assim, o PTK. Como a eleva ção do PTK,
nesse caso, foi consequência da altera çã o do equilíbrio entre as formas disponíveis de K
e nã o do aumento do K no solo, pode haver diminuiçã o na disponibilidade de K às
plantas. Caso a disponibilidade de K seja média ou baixa, há necessidade da adiçã o de
fertilizantes potássicos após a calagem. O novo manual de aduba çã o e de calagem dos
Estados do Rio Grande do Sul e de Se nta Catarina (CFSRS / SC, 2004) considera a CTC
como um fator na avaliaçã o da disponibilidade de K . Os valores adequados de K
disponível no solo sã o de 45, 60 e 90 mg dm 3, respectivamente, para solos com CTC
'

determinada a pH 7,0 inferiores a 5,0, entre 5,0 e 15,0 e superiores a 15,0 cmolc dm 3. O
"

valor da CTC também é considerado na regiã o do Cerrado brasileiro para fins de


recomendaçã o da quantidade e da forma de aplicação dos fertilizantes potássicos ( Vilela
et al., 2004). Para solos com CTC a pH 7,0 menor que 4,0 cmolc kg 1, o valor de K disponível
'

tido como satisfatório necessita ser maior que 31 mg kg 1; se a CTC for igual ou superior
a 4,0 cmolc kg 1, entretanto, o K no solo precisa ser maior que 51 mg kg 1. Além disso,
'

pesquisadores recomendam que a fe rtilizaçã o potá ssica seja aplicada parcelada ou a


lanço quando a dose de KzO for maior que 40 ou 100 kg ha 1, respectivamente, em solos
com CTC inferior a 4,0 ou superior ou igual a 4,0 cmolc kg 1. Por outro lado, na cultura da
"

cana-de-açúcar em seis solos no Estado de Sã o Paulo, nã o se observou efeito da calagem


na resposta a K (Rossetto et al., 2004).

M ÉTODOS PARA AVALIAR A DISPONIBILIDADE


DE POTÁ SSIO
A disponibilidade de K para as plantas pode ser avaliada por meio de análises de
solo, folhas, frutos, bem como pela diagnose visual das plantas.

Análise de Solo
A aná lise de solo é a t écnica mais utilizada e mais eficiente para avaliar a
disponibilidade de K para os vegetais. Todas as regiões brasileiras praticamente
apresentam curvas de calibra çã o para K para a maioria das espécies de interesse

FERTI LIDADE DO SOLO


IX - POTáSSIO 571

comercial. Nessa té cnica, os valores de K fornecidos pela aná lise sã o comparados com
os valores de tabelas previamente elaboradas com base na pesquisa científica regional.
De acordo com a classe de fertilidade em que os valores da análise se encontram ( muito
baixo, baixo, médio, alto, etc. ), recomenda -se ou nã o a fertiliza çã o potássica . As tabelas
de aduba çã o indicam valores a serem aplicados, os quais podem ser aumentados ou
diminuídos pelos técnicos, que, para isso, deverã o considerar o nível tecnoló gico do
produtor, a disponibilidade de recursos econó micos, o histó rico da á rea e a perspectiva
de rendimento, dentre outros fatores ou condições.
Para fins da avalia çã o da fertilidade do solo, o K que consta nos resultados das
an á lises é chamado genericamente de ' extra ível', 'disponível ' ou ' troc á vel'. Essa
forma inclui todo o K na solu çã o do solo, o K adsorvido eletrostaticamente às cargas
negativas (K trocável ) e, em algumas situações, uma pequena fra çã o de K nã o-trocá vel.
No Brasil, o K dispon ível é extra ído do solo com uma mistura de á cidos dilu ídos
( Mehlich -1), ou com solu çã o de acetato de amónio 1,0 mol L 1 a pH 7,0, ou, ainda, com
'

resina trocadora de íons. Todos esses m é todos quantificam valores semelhantes de K


(Prezotti et al ., 1988; Villa et al ., 2004) . Essas determina ções sã o f á ceis, rá pidas, baratas,
e os valores extra ídos representam a forma de K no solo que mais se correlaciona com a
quantidade de K absorvida pelas plantas ( Villa et al., 2004 ) .
A eficiência da análise de solo em predizer a capacidade de suprimento de K do solo
pode ser aumentada pela inclusã o de outros fatores além do K disponível, tais como
mineralogia (Meurer & Anghinoni, 1993), CTC ( Meurer & Anghinoni, 1993), e K nã o-
trocá vel ( Nachtigall & Vahl, 1991b ) . Em solos que contêm teores considerá veis de illita e,
ou, vermiculita , o K disponível nem sempre é um índice para predizer a disponibilidade
de K, a qual é melhorada pela adiçã o da CTC e do teor de illita do solo (Cox et al., 1999 )
ou pelo teor de argila (Khan & Fenton, 1996). Entretanto, mesmo em solos com predomínio
de minerais do tipo 2:1, o K disponível constitui boa caracter ística para a avalia çã o da
disponibilidade de K, desde que a forma nã o- trocá vel seja baixa (Cox et al., 1999 ).
Em trabalhos de pesquisa, além do K disponível, sã o també m determinadas outras
formas, principalmente o K na soluçã o, o K total e o K nã o-trocá vel.

Análise Foliar
A aná lise foliar é uma técnica importante para avaliar a disponibilidade de K para
determinadas esp écies vegetais, especialmente as de ciclo perene. Ela ganha em
importâ ncia quando acompanhada de análise de solo e de dados relativos à produtividade
e ao histórico de manejo da á rea produtiva.
O teor de K nas folhas é consequência da disponibilidade do nutriente no solo, das
condições de absor çã o pelas raízes e de sua tre nslocaçã o para a parte a érea, incluindo
frutos ou grã os. Muitas vezes, os nutrientes ex : .stem em teores suficientes no solo, mas,
em decorrência da seca, do excesso de á gua, ou de qualquer impedimento f ísico do solo
ao crescimento das raízes, eles nã o são absorvic .os em quantidades suficientes. Noutras
vezes, mesmo tendo sido absorvidos, eles são translocados preferencialmente para os
frutos ou sementes e permanecem em baixas concentrações nas folhas.

FERTILIDADE Do SOLO
572 PAULO ROBERTO ERNANI et al.

Ernani et al . (2002) avaliaram a resposta da macieira à aplica çã o de K ao solo e


determinaram, anualmente, o rendimento de frutos e os teores de K nas folhas e no solo.
Apesar de o K trocá vel ter atingido valores extremamente altos nos 20 cm superficiais do
solo, maiores que 600 mg kg 1 nas doses mais elevadas, a concentra çã o de K nas folhas
"

foi sempre inferior a 11 g kg 1 (Quadro 4), o que seria considerado insuficiente pelos
'

padr ões comparativos atuais. Os valores baixos de K nas folhas deveram-se às altas
produtividades de frutos. Como os teores dos nutrientes nas folhas sã o afetados pela
transloca çã o ou nã o deles para os frutos em quantidades significativas, assim como pela
biomassa produzida, à medida que a produtividade de frutos aumenta , percebe-se
diminuiçã o acentuada dos teores de K nas folhas, uma vez que grandes quantidades
migram das folhas para os frutos durante o per íodo de crescimento desses.

Quadro 4 . Teor de potá ssio nas folhas de macieira cultivar Fuji, em cinco safras, como variá vel
da aplica çã o anual de cloreto de po t á ssio ao solo

Safra
K 2O
92/93 93/94 94/95 97/98 98/99 M é dia

kg ha -1 g kg -
0 5,5 4, 7 8, 3 5,2 4,4 5, 6
37 5,9 5, 8 7,8 7, 5 6 ,4 6, 7
75 7,0 6, 0 8, 3 9,0 8,8 7, 8
150 7,0 8, 7 9, 7 10 ,1 11 ,1 9,3
300 7, 9 7, 7 9, 3 11 , 3 12,8 9, 8

M édia 8, 1 6, 6 8,7 8,6 8, 7 8 ,1


Fonte: Ernani et al . ( 2002 ) .

Análise de Frutos
A aná lise de frutos ainda é uma tejcnica
pouco utilizada pelos fruticultores. Ela tem
as mesmas potencialidades e limita çõ que análise de folhas, em adição ao problema de
es a
representatividade das amostras. Normalmente, são utilizados poucos frutos por amos- I
tra, que nem sempre refletem a popula çã o do pomar. A época de coleta e o tamanho dos
frutos também têm de ser padronizados. Além disso, existem algumas técnicas que têm
de ser padronizadas entre os laborató rios, para que os resultados oriundos de diferentes
regiões possam ser comparados, tais como: a lavagem dos frutos com á gua destilada
antes da análise, para retirar os resíduos das pulverizações ou de poeira que se depositaram
sobre a casca, a parte do fruto a ser amostrada e o mé todo de mineraliza çã o (Quadro 4) .

Diagnose Visual das Plantas


A avalia çã o da disponibilidade de K por meio da aná lise visual das plantas é uma
técnica apenas qualitativa e pouco exata . Os sintomas visuais de deficiência nutricional
podem aparecer nas plantas sempre que a absorção de um ou mais nutrientes é prejudicada

FERTI L I D A D E DO SOLO

i
IX - POTáSSIO 573

por qualquer fator, a exemplo de d éficit hídrico, mesmo que o suprimento no solo seja
adequado. Além disso, os sintomas de deficiência nutricional podem ser muitas vezes
confundidos com ataque de pragas, incid ência de doenças, competiçã o com plantas
invasoras, ou causados por d éficit hídrico, ou por algum fator que dificulte ou impeça o
crescimento normal das raízes. Quando a deficiência é pequena, o metabolismo da planta
é prejudicado, mas os sintomas visuais nã o sã o exteriorizados e muitos denominam essa
fase "fome escondida" ou "oculta". Quando os sintomas surgem, a deficiê ncia é de
moderada a severa, havendo, portanto, grande chance de já ter ocorrido comprometimento
parcial do rendimento da cultura .
Os sintomas de deficiência de K variam ent :e espécies de plantas. De maneira geral,
as plantas crescem menos, os internódios ficam menores e as folhas apresentam clorose
nas bordas que evolui para necrose. Como o K é móvel no floema, os sintomas começam
inicialmente nas folhas mais velhas e, dependendo da intensidade da deficiência, podem
migrar para as mais novas. Nas frutíferas, há ainda retardamento no amadurecimento
dos frutos, os quais ficam menores e com menor intensidade de cor.

RESPOSTA DAS PLANTAS À ADUBA ÇÃ O


POTÁ SSICA
O incremento na produtividade agr ícolá decorrente da adiçã o de fertilizantes
potássicos ao solo varia principalmente com a Quantidade de K disponível no solo, com
as espécies vegetais, com o teor de á gua e com o nível geral da fertilidade do solo.
O teor de K disponível no solo acima do qual nã o há incremento no rendimento pela
adiçã o de fertilizantes potá ssicos é definido cojno o nível cr ítico, o qual varia mais com
o tipo de solo do que com as espécies vegetais. Á\s tabelas de recomendação de adubação,
elaboradas para cada estado ou regi ã o brasileira , usam classes de fertilidade para
interpretar os valores de K disponível do solo. Normalmente, sã o usadas de quatro a
cinco classes, correspondendo o limite superior da classe média normalmente ao nível
crítico (Quadro 5).
Em v á rios trabalhos de pesquisa, tem sido determinado o nível crítico ( N.Cr ) de K
para alguns solos e espécies vegetais específicas. Borkert et al. (1997) verificaram que,
quando o teor de K disponível foi inferior a 60 rr g kg 1, houve restrição no rendimento de
'

milho e girassol, ambos cultivados em três Latossolos do Estado do Paraná com alta
fertilidade, porém deficientes em K. No Cerrado, o N.Cr para o milho foi de 47 mg kg 1 '

(Ritchey et al., 1979) . Para a soja, cultivada em Latossolos, o N.Cr foi de 40 mg kg 1, no


'

Paraná ( Borkert et al., 1993), e de 63 mg kg 1, em Santa Catarina (Scherer, 1998b). No


'

experimento catarinense, nã o houve incremento no rendimento dessa oleaginosa nos


primeiros quatro anos de cultivo pela adiçã o de K ao solo que, inicialmente, continha
120 mg kg 1; quando o teor de K baixou de 50 para 30 mg kg 1, o rendimento de soja
' '

diminuiu 50 %. Para a goiabeira, o N.Cr foi de 30 mg kg 1 em Sã o Paulo ( Natale et al.,


'

1996); e, para mudas de eucalipto, foi de 73 a 85 mg kg 1 em argilosos e de 47 a 52 mg kg 1


' '

em solos de textura média a arenosa de Minas Gerais (Prezotti et al., 1988).

FERTILIDADE DD SOLO
574 PAULO ROBERTO ERNANI et al.

Quadro 5. Classes de fertilidade para interpreta çã o do potá ssio disponível do solo utilizado
em alguns Estados ou regiões brasileiras

Classe K d i s p o ní v e l

3
mg dm '

Rio Grande do Sul e Santa Catarina


CTCO ) < 5, p CTC 5,1 a 15 CTC > 15
Muito baixo < 15 < 20 < 30
Baixo 16 - 30 21 - 40 31 - 60
M é dio 31 - 45 41 - 60 61 - 90
Alto 46 - 90 61 - 120 91 - 180
Muito Alto > 90 > ,120 > 180
Cerrado
CTC < 4, 0 CTC > 4, 0
Baixo < 15 < 25
M é dio 16 - 30 26 - 50
Adequado 31 - 40 51 - 80
Alto > 40 > 80
Sã o Paulo
Muito baixo 0 a 30
Baixo 31 a 60
M é dio 61 a 120
Alto 121 a 240
Muito Alto > 240
Paran á
Muito Baixo < 40
Baixo 40 a 80
M é dio 80 a 120
Alto > 120
Minas Gerais
Muito baixo < 15
Baixo 16 - 40
M é dio 41 - 70
Bom 71 - 120
Muito Bom > 120
,
( )
Capacidade de troca de c á tions, em cmolc kg 1 , determinada a pH 7,0.
"

MANEJO DA ADUBA ÇÃ O POTÁ SSICA


A adubação potá ssica pode variar em relação à dose a ser aplicada, ao tipo de
fertilizante, à época de aplica ção e ao mé todo de mistura dos fertilizantes com o solo .

Dose

A quantidade de K a ser aplicada depende fundamentalmente do teor de K no solo,


da espécie vegetal a ser cultivada e da expectativa de rendimento a ser obtido. Os teores

FERTILIDADE DO SOLO
IX - POTá SSIO 575

de K sã o fornecidos pela aná lise de solo, cuja interpreta çã o é feita, usando-se as tabelas
de recomenda çã o de adubaçã o. Quanto menor for o teor de K no solo e mâior a exigência
da espécie, maior ser á a quantidade de K por aplicar. As doses sã o obtidas por meio de
experimentos de calibraçã o e sã o fornecidas na s tabelas de recomenda ção de aduba çã o
de cada Estado ou região brasileira ou nos pacotes tecnológicos que existem para algumas
espécies vegetais (veja capítulo XIII ). Em alguns estados brasileiros, recomenda -se uma
aduba ção potássica corretiva, quando os teores de K no solo são muito baixos ou baixos,
em adiçã o à tradicional aduba çã o de manutençã o. A aduba çã o de correçã o objetiva
elevar o teor de K no solo até valores pr ó ximos do nível crítico, enquanto a aduba ção de
manutenção procura repor as quantidades exportadas do solo pelo produto das colheitas
(Quadro 6) e pelas perdas naturais.

Q u a d r o 6 . Faixas de suficiê ncia de pot á ssio no tecido foliar de algumas espécies vegetais,
valores de K em cada tonelada de gr ãos de diversas espécies vegetais e recomendaçã o
20
média de K 2Õ por tonelada de gr ã os colhida

Cultura An á lise foliar Demanda de K Recomenda çã o de K

gkg 1 K kg t° K 2O kg ha 1 t 1'

KzO
Amendoim 17-30 14 20
Arroz irrigado 15-40 3 10
Arroz sequeiro 13-30 3 10
Aveia branca 15-30 5 10
Aveia preta 15-30 5 10
Canola nd 12 15
Centeio 19-23 5 10
Cevada 15-30 6 10
Ervilha nd 12 20
Ervilhaca nd 19 25
Feij ã o 20-25 15 20
Girassol 30-45 6 15
Linho nd 9 15
Milho 17-35, 6 10
Milho pipoca nd 6 10
Nabo forrageiro nd 18 20
Pain ç o nd 4 10
Soja 17-25 20 25
Sorgo 14-25 4 10
Tremo ç o nd 15 25
Trigo 15-30 6 10
Triticale 15-30 6 10

nd: valores nã o-dispon íveis.


Fonte: Manual de adubaçã o e de calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (CFSRS /SC, 2004).
i

FERTILIDADE DO SOLO
576 PAULO ROBERTO ERNANI et al.

Fertilizantes

Os resultados de pesquisa mostram que todos os fertilizantes potássicos minerais


tê m eficiência agronó mica semelhante (Gama Rodrigues et al., 1995), visto serem todos
sol úveis. Deve ser escolhido, portanto, aquele que apresentar o menor preço por unidade
de K20. AS f órmulas de adubos utilizam sempre o KC1 como fonte de K, à exceção daquelas
vendidas exclusivamente para a cultura do fumo, que utilizam, com frequência, K 2S04.

Epoca de Aplicação

A é poca de aplica çã o dos fertilizantes potá ssicos ao solo depende do teor de K


disponível, da CTC do solo, da espécie vegetal e da quantidade a ser aplicada . Para
culturas anuais, normalmente, todo o K necessá rio para o crescimento e desenvolvimento
das plantas é adicionado por ocasiã o da semeadura, juntamente com os demais nutrientes.
Em algumas situa ções, entretanto, a aduba çã o potá ssica deve ser parcelada em duas
vezes, e isso ocorre para solos arenosos, de baixa CTC, ou quando a dose a ser aplicada
na semeadura é muito alta, independentemente da CTC. Solos com baixa CTC têm pequena
capacidade de adsorver K . Sendo assim, recomenda -se aplicar parte do K na semeadura
e o restante em cobertura, à semelhança do que é feito para os fertilizantes nitrogenados,
com a finalidade de evitar perdas do nutriente por lixivia çã o. A adiçã o de doses muito
altas de K 20 por ocasiã o da semeadura , superiores à faixa de 80 a 100 kg ha 1, pode
'

prejudicar a germina çã o e, ou, o cresc imento inicial da planta em razã o do aumento


excessivo na concentra çã o salina pr óximo das sementes, fenômeno mais intenso em solos
com CTC baixa do que em solos com CTC média ou alta . Para os solos do Cerrado, a dose
má xima sugerida para ser adicionada por ocasiã o da semeadura sem riscos de prejuízo
à germina çã o é de 60 kg ha 1 de KzO ( Vilela et al ., 2004 ) . Em culturas perenes,
'

principalmente quando cultivadas em solos com baixa CTC, a fertiliza çã o potá ssica
também pode ser parcelada em duas ou mais vezes.

Mé todos de Aplicação

Os fertilizantes pot ássicos, à semelhança dos demais, podem ser adicionados ao


solo em linha ou a lanço. Quando apl .cados a lanço, eles podem ser deixados sobre a
superf ície, a exemplo da aduba çã o de cobertura, ou incorporados à camada superficial
do solo por ocasiã o das opera ções de preparo do solo . A aplica çã o em linha , por outro
lado, normalmente é feita junto com a semeadura e nela os fertilizantes sã o localizados a
uma profundidade que varia de 3 a 6 cm. Caso o solo seja mobilizado, posteriormente,
em aduba çã o em linha, o adubo remanescente será misturado com o solo e passar á a ter
o comportamento de uma adubação a lanço incorporada .
A incorpora çã o dos fertilizantes com o solo é feita pelos procedimentos de ara çã o e,
ou, gradagem, por ocasiã o do preparo convencional do solo que antecede a semeadura
das culturas. Nesse caso, os adubos são misturados numa profundidade que varia de 10
a 25 cm, onde se situa a maior parte do sistema radicular das plantas, ocorrendo um

F é RTIL DADE DO SOLO


IX - POTáSSIO 577

contato do nutriente com maior volume de solo, relativamente à adiçã o em linha. Quando
o solo nã o é revolvido, como acontece no sistema semeadura direta, o K é aplicado sobre
a superf ície do solo (a lanço) ou a poucos centímetros de profundidade (em linha ) . Nesses
casos, há maior concentra çã o do nutriente nos locais fertilizados, poré m num menor
volume de solo em rela çã o à aduba çã o a lanço, e o K necessita movimentar -sè
verticalmente no perfil para entrar em contato com as ra ízes.
Como o K tem uma boa mobilidade no solo e se liga aos compostos sólidos
predominantemente por adsor çã o eletrostá tica, o mé todo de adiçã o dos fertilizantes
potássicos (incorporado ou localizado ) normalmente nã o interfere na absorçã o, e isto foi
observado no rendimento de soja (Scherer, 1989a ) e de milho ( Ritchey et al., 1979; Klepker
& Anghinoni, 1996). No entanto, aplicações localizadas de K devem ser evitadas nos
primeiros cultivos em solos que apresentam vai ores muito baixos de K disponível, uma
vez que a ocorrência de déficits hídricos poderá comprometer seu deslocamento no perfil
e, com isso, prejudicar o crescimento e desenvolvimento das plantas . Nessas
circunstâ ncias, seria importante aprofundar ao má ximo a aplicaçã o dos fertilizantes por
ocasiã o da semeadura , principalmente nos dois primeiros anos.
Sanzonowicz & Mielniczuk (1985) adicionaram 300 kg ha 1 de K nas formas de
'

sulfato ou cloreto de K num Podz ólico Vermelho- Amarelo arenoso e verificaram


movimenta çã o do nutriente até à s profundidades de 25 e 40 cm, respectivamente.
Observaram, ainda, que a movimenta çã o de K foi maior, quando os fertilizantes foram
aplicados no sulco de semeadura em rela çã o à aplica çã o a lanço, dado o maior teor de K
por unidade de solo na aplica çã o localizada, que assim entrou em contato com menor
n ú mero de cargas negativas. Ernani et al. ( 2001), aplicando doses de até 300 mg kg 1 de
'

K na forma de KC1 sobre a superf ície de um Car nbissolo e de um Latossolo catarinenses,


observaram que houve deslocamento de K nos dois solos para profundidades iguais ou
superiores a 15 cm ao término de doze percolações de á gua, o qual foi proporcional à
dose aplicada e indiferente ao mé todo de aplica çã o.

Dinâmica do Potássio Aplicado ao Solo

Nos solos com predomínio de minerais d è argila do tipo 1:1, pequena parte do K
aplicado vai para a soluçã o do solo e o restante migra para o complexo de troca sendo
adsorvido às cargas elé tricas negativas. Em alguns de nossos solos onde exista um teor
considerá vel de minerais do tipo 2:1 e concomitantemente valores elevados de pH, pode
haver fixa ção de K nas entrecamadas desses minerais, por ém, como já foi mencionado,
esse fenô meno é pouco expressivo nos solos b rasileiros . A dinâ mica do K adicionado
pelos fertilizantes aos nossos solos é, portanto, bastante simples. A ú nica perda de K a
partir do solo acontece por lixiviaçã o, posterioimente enfocada.

Aduba ção Foliar

A aduba çã o foliar é uma técnica excelente para complementar a adubação de solo


em determinadas situações específicas, princi palmente para os micronutrientes, caso

FERTILIDADE Do SOLO
578 PAULO ROBERTO ERNANI et al.

seja constatada deficiência durante o crescimento e desenvolvimento da cultura ( veja


capítulo XI) . Entretanto, ela nã o deve ser utilizada como forma principal de nutrir as
plantas, principalmente com os macronutrientes, dada a limita çã o da elevada
concentra çã o das soluções a serem utilizadas . Em culturas anuais, como algod ã o
(Carvalho et al., 2001), soja ( Ben, 1983; CFSRS / SC, 2004; Embrapa, 2004), trigo (CBPT,
2003), milho, arroz, feijã o, etc. (CFSRS / SC, 2004), a adubaçã o foliar com K n ã o tem
promovido incremento na produtividade das culturas. Em algumas espécies frutíferas,
entretanto, alguns produtores têm usado essa técnica para aumentar a colora çã o dos
frutos, sem, entretanto, nenhum suporte científico.

OUTRAS REA ÇÕ ES COM O POTÁ SSIO

Interação do Potássio com outros Nutrientes

O K compete com v á rios cá tions pelos sítios de absor çã o na membrana plasm á tica,
principalmente com NH/, Ca 2+ e Mg2+. A soma total dos cá tions absorvidos por
determinada espécie vegetal normalm énte permanece relativamente pouco afetada pela
variaçã o na composiçã o do meio na qual ela se desenvolve (Mengel & Kirkby, 1987) .
Sendo assim, a diminuiçã o na disponibilidade de determinado cá tion resulta no aumento
na absor çã o dos demais . Alguns exemplos de efeitos antagó nicos foram observados
entre K e Ca e Mg em milho ( Vilela & B íll, 1999), entre K e Mg em soja (Scherer, 1989b ), e
entre K e Na na cultura do linho (Mo aghan & Hammond, 1996). Fonseca & Meurer
*

(1997) constataram que o K limitou a a bsor çã o de Mg somente quando este nutriente se


encontrava em baixas concentra ções r a solu çã o nutritiva . Felizmente, as plantas têm
capacidade de compensar a absor çã o dentro de ampla varia çã o de concentra ções, e os
efeitos antagónicos só passam a influenciar negativamente o rendimento, quando os
desajustes no solo sã o muito grandes.
Alguns trabalhos mostram que o aumento no suprimento de B aumentou a absorçã o
e a transloca çã o de K em tomate ( Davis et al., 2003) e soja (Schon & Blevins, 1990).

Lixiviação

A lixivia çã o consiste no movimento vertical de íons no perfil do solo para


profundidades abaixo daquelas exploradas pelas raízes. Ela preocupa tanto sob o ponto
de vista econó mico quanto ambiental, porque o K é o segundo nutriente mais absorvido
pela maioria das espé cies vegetais. A lixivia çã o de K depende de sua presença em
concentrações significativas na soluçã c do solo, razã o por que aumenta com a adiçã o de
fertilizantes potássicos (Figura 4) e da quantidade de á gua que percola no perfil.
A lixiviaçã o é um fenô meno importante em solos com baixa CTC, especialmente em
á reas com alta precipitação pluvial. Nessas condições, os fertilizantes potássicos deverão
ser aplicados em duas ou mais vezes durante o ciclo das culturas, à semelhança do que

FERTILIDADE DO SOLO
IX - POTáSSIO 579

Figura 4. Pot á ssio lixiviado de um Latossolo ( LAT ) e de um Cambissolo (CAM ), na ausê ncia
(SC ) , e na presen ç a de calagem ( CC ) como variá vel da adiçã o de doses crescentes de
pot á ssio sobre a superf ície.
Fonte: Ernani et al . ( 2003) .

ocorre com o N. Em anos com precipita ção pluvial bem distribuída e em solos com média
a alta CTCefetiva, a lixivia çã o de K normalmente nã o é grande problema.
A lixivia çã o de K aumenta com a adiçã o de outros fertilizantes ao solo, como
consequência do deslocamento do K das cargas negativas pelos cá tions adicionados
(Ernani & Barber, 1993; Mantovani et al., 2004; Ernani et al ., 2004), e diminui com o
aumento do pH (Chaves & Libardi, 1995; Erna ni et al., 2003) pelo aumento das cargas
negativas. Ernani et al. ( 2003) aplicaram 200 mg kg 1 K a dois solos catarinenses e
'

verificaram que a aplica çã o de calcá rio diminuiu a concentra çã o média de K, em oito


percola ções, de 59 para 33 mg L 1, no Latossolo, e de 64 para 27 mg L 1, no Cambissolo
' '

(Figura 4).
A aplicaçã o de gesso agr ícola também tem proporcionado lixivia ção de K em alguns
solos (Ritchey et al., 1980; Ernani et al., 1993). O fenômeno é o mesmo que ocorre com os
demais fertilizantes, ou seja , o K é deslocado cias cargas negativas, nesse caso pelo Ca .
Entretanto, v á rios autores têm mostrado que o K é lixiviado em menor proporçã o que o
Ca e o Mg (Ernani,1986; Farina & Channon, i .988; Ernani et al., 2006). Ernani (1986)
atribui esse fenômeno à adsor çã o preferencial ao K na camada de Stern, a mais próxima
da superf ície carregada negativamente. Em alguns solos com alta CTC, a adiçã o de
gesso agrícola nã o tem causado lixivia çã o de K (Farina et al., 2000), mesmo em doses de
até 10 t ha 1 (Farina & Channon, 1988) ou até 32 t ha 1 ( Ernani, 1986).
' "

A adição de grandes doses de K também proporciona lixiviaçã o de outros cá tions no


,
solo pelo deslocamento dos demais cá tions pe ra a soluçã o do solo ( Figura 5).

FERTILIDADE DO SOLO
580 PAULO ROBERTO ERNANI et al.

90
LA SC
80 - LA CC
CA M SC
CA M CC
70
D)
E
o~ 60
u
C3
>
x 50 •

O
40

30

20
0 50 100 150 200
1
K aplicado , mg kg '

Figura 5. C á lcio lixiviado de um Latossolo ( LAT) e de um Cambissolo (CAM ) , na ausência


(SC ) , e na presen ça de calagem (CCJ ), como variá vel da adiçã o de doses crescentes de
potássio sobre a superf ície.
Fonte: Ernani et al. ( 2003) .

FERTILIZANTES POTÁ SSICOS


Os fertilizantes potássicos sã o originá rios da moagem de rochas ricas nesse nutriente
e principalmente da extraçã o de depósitos formados pela evapora çã o de antigos mares e
lagos que, posteriormente, foram cobertos por rochas. Esses depósitos encontram-se até
a 2 km de profundidade o que dificulta sua retirada. Os maiores depósitos encontram-se
nos Estados Unidos, Canad á, Europa e R ússia . No Brasil, os depósitos de K localizam-
se principalmente em Sergipe, na forma de kaliofilita e carnalita.
Todos os fertilizantes potássicos minerais do mercado são sol úveis em água e,
portanto, dissolvem na soluçã o do solo imediatamente depois de aplicados. Eles diferem
quanto à concentraçã o, índice salino e presença de â nions acompanhantes.

Cloreto de Potássio
O cloreto de potássio ( KC1) é o fertilizante potássico mais utilizado no mundo,
simplesmente por ser o mais barato. Como todos os fertilizantes potássicos têm eficiência
agronó mica semelhante em termos de suprimento de K às plantas, a opçã o de compra
deve recair sobre aquele de menor custo por unidade de K.
O KC1 é obtido a partir de jazidcis naturais e apresenta coloraçã o que varia do
vermelho ao branco, a qual não influencia a qualidade do produto. Como o Brasil dispõe
de pequenas jazidas potássicas, praticamente todo consumo desse nutriente prové m dó
exterior. O KC1 tem 60 % de K20 (50 % de K ) e, aproximadamente, 47 % de Cl.

F é RTIL DADE DO SOLO


IX - POTá SSIO 581

É um fertilizante com elevado índice salino, que pode prejudicar a germinaçã o ou o


crescimento inicial das plantas, se aplicado muito pr óximo das sementes, principalmente
em solos com baixa CTC. Por isso, quando as doses de K20 aplicadas sã o altas, acima de
80 a 100 kg ha 1 em solos argilosos ou acima de 50 kg ha 1 em solos arenosos, recomenda-
'

se aplicar somente uma parte do adubo junto à semeadura. O restante deverá ser aplicado
a lanço, antes da semeadura ou em cobertura .
Havendo umidade no solo, o KC1 dissolve nas primeiras horas após a aplicaçã o.
Parte do K vai para a soluçã o do solo, por é m a maior parte vai para as cargas negativas
do solo, de onde o K desloca outros cá tions para a soluçã o. O Cl vai todo para a soluçã o
do solo e, ao combinar-se com o K, ou com os outros cá tions na soluçã o, pode deslocar-se
verticalmente no perfil. Dependendo da CTC a da quantidade de chuva, parte desses
íons pode ser perdida por lixivia çã o.
O KC1 nã o é recomendado para uso nas culturas do fumo e da batatinha por interferir,
negativamente, na combustã o do cigarro e na produ çã o de amido, respectivamente.

Sulfato de Potássio

O sulfato de potá ssio ( K 2S04) é o segundo fertilizante potássico mais utilizado,


principalmente pelo seu uso nas culturas de fumo e batatinha . Esse fertilizante tem 50 %
de K20 (41,6 % de K ) e 17 % de S, tem també m alta solubilidade, porém apresenta índice
salino menor que o do KC1 (Quadro 7) . Ele pode ser produzido pela combina ção do KC1
com o á cido sulf ú rico ou com a quieserita (MgS04. H2O) .
À semelhança do KC1, o K 2S04 dissolve-se no solo logo após ser aplicado. Parte do
K vai para a soluçã o do solo, porém a maior parte vai para as cargas negativas do solo, de
onde o K desloca outros cá tions para a solu çã o. O sulfato na soluçã o do solo, ao se
combinar com o K . ou com os outros cá tions da soluçã o ou deslocados das cargas pelo K,
pode se movimentar verticalmente no perfil.

Quadro 7. Algumas caracter ísticas f ísicas e qu ímic as dos principais adubos pot á ssicos.

Fertilizante K 2O Equiv.Ca CO 3 *1 ) í ndice salino*2 ) Solubilidade *3 )


% kg kg 8L
Cloreto de pot á ssio 60 0 116 340
Sulfato de pot á ssio 50 0 46 111
Nitrato de pot á ssio 44 -0,26 74 320
Sulfato de pot á ssio e Magn ésio 22 0 43 vari á vel

(1 )
Quilogramas de CaCO? puro, necessá rios para neutralizar o efeito á cido ocasionado pela adiçã o de 1,0 kg de
fertilizante ao solo; os fertilizantes precedidos com valores negativos têm cará ter alcalino, e o valor da tabela
equivale, em kg, ao efeito ocasionado pela adiçã o de 1,0 kg do adubo relativamente ao CaC03 puro. (2) Tend ê ncia
para aumentar a pressã o osmó tica da solu çã o do solo provocada pelo fertilizante relativamente ao NaNOa, ao qual
é atribu ído o valor 100. (3) Valores para temperatura da á gua próxima de 20 graus cent ígrados. A solubilidade
aumenta com o aumento da temperatura .

FERTILIDADE Do SOLO
582 PAULO ROBERTO ERNANI et al .

Nitrato de Pot ássio

O nitrato de potá ssio (KN03) é um fertilizante misto que possui 13 % de N e 44 % de


K 20 em sua composiçã o . E obtido pela combina çã o do KC1 com á cido nítrico ou com o
nitrato de sódio, conforme as rea ções abaixo:

HN03 + KC1 -> KN03 + HC1 (19)


NaN03 + KC1 > KN03 + NaCl ( 20)

Apesar de conter dois nutrientes) esse fertilizante é bem mais caro que a compra
individual d e N e K a partir de outras fontes e, por isso, sua aplica ção ao solo raramente
se justifica , mesmo em atividades agr ícolas com altó retorno do capital investido. É um
fertilizante que apresenta baixa higroscopicidade e, assim como os demais, nã o altera o
pH do solo ao longo dos anos.
O KN 03 tem sido usado em algumas culturas em pulveriza çõ es foliares,
principalmente em razã o de seu baixo índice salino relativamente ao cloreto e ao K 2S04.
Pesquisas recentes mostram, entretanto, que ele é pouco eficiente para esse objetivo por
causa de seu alto ponto de deliquesc:ê ncia (3). Em condi ções de umidades relativas
moderadas, inferiores a 80 %, comuns durante os meses de primavera e verã o no Brasil,
o KN03 é muito pouco absorvido pelas folhas e, portanto, pouco eficiente.

Sulfato Duplo de Potássio e Magnésio


O sulfato duplo de K e Mg (K 2S04.2iMgS04) é um fertilizante com baixa concentração
de K ( 22 % de KzO) que també m conté m 11 % de Mg e 22 % de S. Pode ser obtido da
mistura de KC1 com a quieserita (MgSOt.H20), ou da purificação da langbeinita por meio
da retirada da silvinita e da halita .

Fertilizantes Orgâ nicos


Quase todos os fertilizantes orgâ nicos mostram alguma presença de K . A
concentração de K nesses materiais é pequena, normalmente entre 2 e 4 %, e muito variável,
principalmente dependente do está dio de decomposiçã o dos resíduos e da forma como
foram armazenados. Diferentemente do que se pensava, todo o K nos adubos orgâ nicos
de origem animal já se encontra mineralizado e, por isso, tem o mesmo comportamento
do K oriundo dos fertilizantes minerais .
A cama de aves é o adubo orgâ ni co de origem animal mais utilizado no Brasil,
gra ças à abund â ncia, preço e facilidade de manipulaçã o. É um produto resultante da
mistura de resíduos vegetais (serragem, casca de arroz, etc.) com excreções dos animais

<3) Forma çã o de uma película de solu çã o sobre os cristais de um sal que est á numa atmosfera onde a
pressão de vapor de á gua é maior que a pressã o de vapor da solu çã o aquosa saturada com o sal, na
mesma temperatura .

FERTILIDADE DO SOLO
IX - POTÁ SSI 583

(fezes e urina ) e restos de raçã o. O material vegetal é utilizado para absorver as excreções
e, com isso, manter o ambiente seco e mais higié nico.
A cama de aves apresenta baixa concentra çã o de nutrientes em rela çã o aos
fertilizantes minerais, por ém, além de N, P e K, contém teores consideráveis de Ca, Mg e
de alguns micronutrientes, além da pr ó pria ma té ria orgâ nica . As concentra ções de N,
P2Os e K 20 variam de 1 a 4 %, quando se considera o material seco, dependendo do
n ú mero de lotes de animais que foram produzidos sobre a cama e da quantidade do
material absorvente utilizado. O teor de água noimalmente varia de 20 a 30 % por ocasiã o
da retirada da cama dos galpões, e a densidade de 0,4 a 0,6 kg dm 3. '

A capacidade da cama de aves de liberar K para o solo independe da taxa de


mineralizaçã o. Mesmo sendo um adubo orgâ nico, todo o K tem o mesmo comportamento
no solo dos nutrientes oriundos dos fertilizantes minerais e, por isso, se torna disponível
à s plantas imediatamente após o produto ser ac .icionado ao solo.

Fontes Alternativas de Potássio

Alguns produtores agrícolas ligados à agricultura orgâ nica tentam nã o aplicar fontes
fertilizantes solúveis. Nesse caso, as opções se restringem ao uso de rochas que contenham
K e cinzas.
As rochas utilizadas contêm o K principalmente na forma de micas, felspatos e
feldspatóides, e devem ser moídas antes de serem aplicadas ao solo. A liberaçã o do K
desses materiais é lenta pois eles sã o pouco solú veis e depende, principalmente, da
granulometria do material, do tipo de mineral presente e da acidez do solo. Trabalhos
precisam ser conduzidos para avaliar a capacidade desses materiais em fornecer K para
as plantas.
As cinzas também sã o utilizadas como fonte alternativa de K pelos produtores
dedicados à agricultura orgâ nica . Elas sã o provenientes da queima de madeiras, ou de
materiais celulósicos em geral, e fornecem K completamente sol ú vel, cujo comportamento
no solo é semelhante ao dos fertilizantes minerais.

CONSIDERA ÇÕ ES ADICIONAIS SOBRE


A ADUBA ÇÃ O POTÁ SSICA U A
REGI Ã O DOS CERRADOS

O manejo da adubaçã o potássica na regiã o dos Cerrados é de grande relev â ncia por
ser essa a região de maior expressão e de maior potencial de expansão na agricultura do País.
O K, embora absorvido em maior quantidade pelas plantas, juntamente com o N,
nã o recebeu a mesma importâ ncia no manejo da adubação nos Cerrados, comparado ao

FERTILIDADE DO SOLO
584 PAULO ROBERTO ERNANI et al.

N, P e mesmo ao Zn . Esse fato, aliado aos seus baixos teores disponíveis originais na
maioria dos solos de Cerrado [85 % dos solos são deficientes em K, com valores mé dios
do disponível de 31 mg dm 3, segundo Lopes (1984) ], causaram balanços negativos no
'

solo, dada sua gradual exaustão, como consequência de seu menor aporte via fertilizantes
em rela çã o ao exportado pelas cultura s. Assim, nos dias atuais, o K assume, de modo
geral, papel da maior relevâ ncia na agricultura dos Cerrados.
Vilela et al . ( 2004) definem teores acima de 31 mg dm 3 como adequados para solos
'

de Cerrado com CTC a pH 7,0 menor que 4 cmolc dm 3 e acima de 51 mg dm 3 para solos
' '

com CTC acima desse valor, para a maioria das culturas anuais. No entanto, é comum
verificar falta de resposta à aduba çã o pot á ssica em solos com m é dia a baixa
disponibilidade desse nutriente, princioalmente no primeiro ano de cultivo. Além disso,
é comum verificar absor çã o de K pelas plantas maiores que a quantidade disponível na
forma trocá vel no solo mais a adicionada via fertilizantes. Explica ções para esse fato
estã o relacionadas com o aproveitamento do K nã o- trocá vel pelas plantas ( Rosolem et
al ., 1993; Pal et al., 1999; Rahmatulla n, 2000; Melo et al., 2004 ) . O K é liberado das
intercamadas dos filossilicatos, tornendo-se disponível às plantas. Esse fenô meno
acontece em baixas concentra ções de K da soluçã o, o que ocorre na regi ã o rizosf érica,
dada a cria çã o de um gradiente de corícentra çã o que causa a libera çã o do K para a fase
sol ú vel e depois trocá vel. Nessa regiã o da interface raiz-solo, há maior concentra çã o de
á cidos orgâ nicos que també m influenciam a libera çã o de formas ná o- trocá veis de K do
solo (Melo et al., 2005) . Outra possibilidade é a troca, na interface solo- raiz, dos íons H+
liberados pela raiz (extrusã o de pró tons com a absor çã o de cá tions) com o K + das
intercamadas dos filossilicatos, em solos mais á cidos, e por Ca 2+ em equilíbrio na solução
de solos mais alcalinos ( Rahmatullah , 2000) . Há evid ências de grande libera çã o de
formas nã o-trocá veis de K da fra çã o aieia fina, de minerais de argila, como a caulinita,
atribuída à ocorrência de camadas residuais de mica preservadas no interior da estrutura
do mineral, mesmo em solos com maior grau de intemperismo (Melo et al., 2001, 2004).
Em solos de Cerrado, mais intemperizados, é menos relevante considerar o poder
tampã o de K (PTK ), pois os minerais de solo predominantes (argilas 1:1 e oxihidróxidos
de Fe e Al ) conferem muito baixo pode r tampã o ao solo, quando comparados ao poder
tampã o de P nessas condições. Por outro lado, a CTCefetiva pode ser, comparativamente,
mais ú til, pois a maior aquisiçã o do K pelas plantas está relacionada, em boa parte, com
seus valores e com os teores de matéria orgâ nica que podem adsorver esse cá tion,
diminuindo sua perda por lixivia çã o.
Em relação à planta, torna-se fundamental a previsã o do potencial de produtividade
da cultura, bem como dos conteúdos de K nas diversas partes das plantas. Trabalho de
Santos (2006), com dados de 137 talhões de lavouras comerciais de soja dos Estados do
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, evic enciou a necessidade de teores foliares de K mais
elevados na planta para maiores produtividades, sendo encontrados teores foliares
maiores em solos mais argilosos ( Figura 6a e 6b ). Isso leva a se concluir que o manejo
desse nutriente em solos mais arenosos nã o está adequado, havendo necessidade de
melhoria, dada a limita çã o de produtividade causada por esse nutriente nessas
condições.

FERTILIDADE DO SOLO
I X - POTÁSS o 585

(a )
« 100
£ = 39 ,31 + 1 ,1195 ** * x
O 2
C/) 85 • R = 0,15
<U
T> 70 •
ro
X3
X5
55
C
a 40 !
o 4
CL 25
6 12 18 24 30
K foliar, : 3 kg

(b)
30
Ol

cn
24
18
> I
*
; *

(0 ,
o 12
y = 18,06 + 0,0067 * * * x
6 2
R = 0,15
0
0 150 300 450 600 750 900
1
Argila , g kg

Figura 6. Produtividade de soja em resposta ao teor foliar de K ( a ) e teor foliar de K em


resposta ao teor de argila dos sòlos (b ).
Fonte : Santos ( 2006 ).

Plantas de cobertura desempenham papel fundamental no aumento da produtividade


nos solos de Cerrado, de modo particular nos mais arenosos, pelo maior aporte de resíduos,
que podem se converter em MO do solo e aumentar sua CTC, favorecendo a adsorção do
K . Além disso, a mineralizaçã o desses resíduos possibilita fornecimento mais contínuo
de K (e em forma parcelada ) à soja, o que favorece sua absor çã o pela planta e levando, ao
mesmo tempo, a menores perdas por lixivia çã o . As plantas de cobertura podem ainda
promover a reciclagem biogeoquímica e recuperar o K de camadas mais profundas. Outra
prá tica sugerida é a potassagem, pois as maiores doses necessá rias à demanda da planta
em solos arenosos, de modo particular, podem causar problemas por efeito salino na
germina ção, e o parcelamento em mais de uma aplica çã o em cobertura aumenta custos e
danos mecâ nicos às plantas.
Em alguns programas de adubaçã o, altas doses de K sã o empregadas e o KC1 é a
fonte predominantemente utilizada (em cerca de 96 %) ( ANDA, 2001) . A definiçã o da
dose de K20 utilizada na semeadura requer cuidados, pois o K em excesso pode afetar
significativamente a germina çã o e até a arquitetura da raiz, em decorrência de possíveis
efeitos salinos do KC1. Em regiões á ridas ou sujeitas a déficits hídricos, esse efeito é mais
prová vel, pois há maior concentra çã o de sais na solu çã o do solo que danificam as
sementes e, ou, ra ízes (Chueiri et al., 2004).
Segundo a Funda çã o MT (2005), recomenda-se que a dose de K20 a ser aplicada na
linha de semeadura da soja nã o ultrapasse 50 kg ha -1 em solos de textura arenosa. Alé m
disso, o efeito residual de K é bem menor, pela baixa CTCefetiva desses solos, dada a
lixiviação de K, o que implica a necessidade de á dubações anuais de K em doses maiores
que nos solos argilosos.

FERTILIDADE DO SOLO
586 PAULC ROBERTO ERNANI et al.

Fancelli ( 2002 ) também recomenda que a dose má xima de KzO na semeadura da


cultura do milho seja de 50 kg ha 1, aplicados, preferencialmente, distante 8 cm das
'

sementes. As quantidades excedentes devem ser aplicadas em pré-semeadura da cultura


ou em cobertura, dependendo, tamb é m, da textura do solo . De acordo com Marschner
(1997), a alta salinidade de alguns fe rtilizantes, principalmente o KC1, compromete o
crescimento e distribuiçã o das raízes, assim como a absor ção de água e nutrientes, porque
diminui o potencial osmó tico pr óximc à rizosfera , dificultando o transporte dos íons até
à s raízes.

Lobo J ú nior (4) assegura que a proximidade do adubo e semente causa clorose nos
bordos das folhas primá rias das plantas, em especial do feijoeiro, provocada pela queima
de ra ízes, resultante do seu contato com o KC1 das formula ções NPK. Esta fitotoxidez
geralmente nã o é mais observada nas folhas trifoliolâ das; contudo, o maior dano causado
pelo KC1 ocorre nas ra ízes que sã o queimadas, o que faz com que o tecido morto sirva
como porta de entrada para patógenos de solo como Fusarium solani e Rhizoctonia solani .
Os danos provocados por esses pató genos, junto aos danos da queima, somam perdas
em torno de 20 % na produtividade. Mesmo em á reas com alta densidade de inoculo de
F. solani e R . solani , este problema tem sido minimizado com a utiliza çã o de fosfato
monoamônico ( MAP) no sulco de semeadura e distribuiçã o do K a lanço, antes ou depois
da semeadura, garantindo maiores produtividades .
v

Ao pesquisarem o efeito salino da mistura NPK , Kluthcouski & Stone ( 2003)


concluíram que, com a altera çã o na prafundidade usual de aduba çã o, aumentando-a, é
possível aumentar o rendimento do feijoeiro comum. Broch & Fernandes (1999) realizaram
experimento em campo com a cultura do milho safrinha, estudando o comportamento da
aduba çã o potá ssica no sulco de semeadura , aplicando 200 kg ha 1 da formula çã o
'

19-10-19 (38 kg ha 1 de KzO no sulcc de semeadura ). Os resultados demonstraram


'

reduçã o de 36,5 % na popula çã o de plantas, causada pelo efeito salino, em relação à á rea
nã o adubada .
Salton et al . ( 2002 ) , trabalhando em bandejas com areia lavada , avaliaram
diretamente as doses de K aplicadas n a linha de semeadura na cultura da soja, usando
a mistura 0-20-20 nas doses de 0, 150, 300, 450, 600 e 750 kg ha 1, o que fornecia,
'

respectivamente, 0, 30, 60, 90, 120 e 150 kg ha 1 de K20. Observaram que, desde a dose de
"

150 kg ha 1da mistura , houve reduçã o de 30 % no n úmero de plantas, reduçã o na altura


"

de plantas e no comprimento das ra íze s e, ainda, decréscimo na produtividade.


Diante disso, questiona -se se o benef ício do parcelamento da aduba çã o potássica
seria pela menor perda de K por lixiviaçã o e maior aproveitamento pela planta ou pelo
menor dano causado pelo efeito salino . A possibilidade da aplicação da dose total de K
antes da semeadura, em á rea total, poderia reduzir custos e injú rias nas plantas
provocadas pela entrada de má quinas na á rea .

i
(4 )
Informa çã o pessoal, pesquisador da Embrapa Arroz e Feijã o.

FERTILIDADE DO SOLO
IX - POTáSSIO 587

Segundo Malavolta (1981), a adubaçã o potassica no momento do plantio, incorpo-


rada ou na superf ície, é mais eficiente que em cobertura . O uso do K a lanço ("potassagem")
é tã o eficiente quanto sua aplica çã o na linha de semeadura, mas cuidados devem ser
tomados para que haja uniformidade na aplicaçao. O uso do K a lanço possibilita maior

^
flexibilidade na escolha e utilizaçã o de f órmula na semeadura, principalmente quanto
ao manejo do S e, ou, P na linha de semeadura ( Zancanaro et al., 2002).
Resultados preliminares com algodã o no oeste da Bahia em solos arenosos apontam
melhores resultados obtidos com aplica çã o tota l de K a lanço, em pr é-plantio ou até 15
dias ap ós. Em Goiás, com solos argilosos (570 g kg 1 de argila ), verificaram-se també m
'

melhores desempenhos da aplicaçã o total em pr é-plantio ou parcelamento no sulco de


plantio e em duas coberturas (Ferreira & Carvalho, 2005). Foloni et al. ( 2006), em trabalho
com algod ã o em dois solos do município de Campo Verde-MT, um argiloso e outro
arenoso, nã o encontraram diferenças significativas na produtividade de algod ã o com
aplica ções de 150 kg ha 1 de K20 em diferentes formas: aplicaçã o de 100 % da dose do K
'

antes do plantio, em á rea total; aplica çã o de 1 / 3 da dose do K no plantio e 2 / 3 em


cobertura em duas vezes; aplica çã o de 100 % da dose de K em cobertura em uma vez;
aplica çã o de 2 / 3 da dose antes do plantio e 1 / 3 no plantio; aplica çã o de 1/ 2 da dose
antes do plantio e 1/ 2 em cobertura . Alé m disso, nã o foram verificadas diferenças no
teor de K nas folhas do algodoeiro, bem como nos teores disponíveis nos dois solos.
Certamente, resultados como esses sã o muito dependentes e, portanto variáveis, com o
regime hídrico ocorrido no ano.
Trabalho de Oliveira et al. (1992), em experimento de três anos com doses e mé todos
de aplicaçã o de K em Neossolos Quartzar ênicos (130 g kg 1 de argila ) do Cerrado do
'

oeste baiano, evidenciou melhor resposta da soja em produtividade com aplica ções de
60 kg ha 1 de KzO a lanço, no primeiro ano de cultivo (cerca de 50 sc ha 1 de soja ). No segundo
' '

e terceiro cultivo, a melhor resposta foi para o efeito residual de 180 kg ha 1 de KzO apli-
'

cados a lanço no primeiro cultivo ( produtividade acima de 40 sc ha 1). Foi verificado


'

também que as má ximas produtividades de soja foram obtidas com teores foliares de K
iguais ou superiores a 13,0 g kg 1. Teor foliar por volta de 15,0 g kg 1 foi obtido apenas
' '

com aplica çã o de 180 kg ha 1 de KzO, a lanço, em comparaçã o com as demais doses apli-
'

cadas da mesma forma (0, 60 e 120 kg ha 1). Isso pode indicar que doses dessa ordem
podem ser necessá rias nesses solos bem arenosos para se obter teor adequado de K nas
plantas. Os melhores resultados em produtividade da soja com aplicaçã o de K a lanço
concordam com os de Rosolem et al. (1984), que a tribuíram o pior resultado da aplicação no
sulco de semeadura ao possível dano causado pela salinidade às sementes, fato este favoreci-
do pelas menores precipitações pluviais ocorridas nos dois primeiros anos do experimento.
Alé m dos benef ícios da potassagem na redução do efeito salino em solos mais
arenosos, pode-se pensar em menor perda por lixiviaçã o pela menor concentraçã o em
á rea total se comparada à elevada concentração no sulco de semeadura.
Sousa et al . (1979 ), em cultivo de milho em Latossolo Vermelho álico argiloso
!
(600 g kg 1 de argila ), não verificaram perdas de K por lixiviaçã o nas doses de 0, 75 e
"

150 kg ha 1 de K20. Na dose de 300 kg ha 1, a perda foi pequena e acima de 300 kg ha 1,


' ' '

houve uma perda por lixiviaçã o de, aproximadamente, 25 % do K aplicado.

FERTILIDADE DO SOLO
588 PAULO ROBERTO ERNANI et al.

Em solos mais arenosos, a perda do K por lixivia çã o é favorecida em condições de


elevada precipita çã o pluvial e com aplicações de doses mais elevadas, acima de 120 kg ha -í
(Oliveira et al., 1992 ) . Dessa forma, o subsolo torna -se importante reserva do nutriente,
sendo recomendadas plantas com enraizamento mais profundo, desejá veis para se
utilizar esta reserva ou mesmo para a ciclagem deste nutriente ( Unamba-Oparah, 1985).
Para avaliar as doses recomendapas de K 20 em rela çã o à s informa ções das aná lises
de solo, Santos ( 2006) verificou redu çã o das doses de K20 aplicadas com aumento do
teor de K disponível no solo, embora com grande amplitude nas recomenda ções para
valores de K disponível menores que 100 mg dm 3 e doses mais constantes nos valores
'

acima desta faixa (Figura 7). Esses valores de doses mais constantes de K 20, cerca de
40 kg ha 1 seriam relativos à manutençã o ou sustentabilidade da produçã o. Todavia,
'

sã o valores abaixo dos 63 kg ha de KLO, equivalentes ao exportado pelos grã os de soja


para uma produtividade m é dia de 50 sc ha 1 (Santos, 2002 ), comprometendo a
"

sustentabilidade. Esses resultados vêm confirmar a evidência de subestimação das doses


de K recomendadas por v á rias tabelas de recomendaçã o do Pa ís em rela çã o à demanda
de K pela cultura da soja (Santos, 2002).
No manejo da aduba çã o potássica, deve-se considerar o sistema como um todo, e
nã o somente a cultura de maior interesse comercial . A aduba çã o, embora envolva uma
série de relacionamentos complexos, deve ser entendida como um balanço nutricional,
ou seja, as doses recomend á veis serã o obtidas pela diferença do que o solo mais restos
culturais podem disponibilizar menos o que a planta irá demandar para seu crescimento
e desenvolvimento satisfatórios. Portanto, torna -se necessá rio o conhecimento do local
( variá veis climá ticas, relevo, altitude ), a dinâ mica de nutrientes no solo ( transporte,
potencial de reservas, taxa de recupera çã o pelos extratores do nutriente aplicado via
fertilizantes), o conhecimento de planta ( potencial de produtividade, arquitetura do
sistema radicular, taxa de recupera çã o pela planta do nutriente aplicado via fertilizantes,

y * = 299 , 25 x -
240 0 ,3303***

2
200 R = 0 , 46
D) 160
4
O CN 120 •
:
*<D
V) t
O 80 *
O

40 - 4
W
*
0
0 150 300 450 600
3
K dispon í vel, mg dm
*

Figura 7. Doses de K20 aplicadas de acordo com os teores de .K disponíveis nos solos em 137
talhões de lavouras comerciais de soja dos Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. í
S
!
Fonte : Santos (2006).

$
FERTILIDADE DO SOLO

I3
X - ENXOFRE

V íctor Hugo Alvarez V.1', Renato Roscoe2/, Carlos Hissao


Kurihara 2 / & Nilza de Fá tima Pereira17

1/
Departamento de Solos, Universidade Federal de Vi çosa - UFV . CEP 36570-000
Vi çosa ( MG ) . Bolsista CNPq .
vhav @ ufv . br; nilfp@ bol.com . br
2/
Embrapa Agropecu á ria Oeste . CEP 79804- 970 Dourados ( MS ) .
roscoe@ cpao . embrapa . br; chkurihara @ uol .com . br

Conte ú do
INTRODUÇÃ O 596
FORMAS DE ENXOFRE NO SISTEMA SOLO- PLANTA 597
Ciclo Biogeoqu ímico do Enxofre 597
Enxofre no Solo 600
FATORES INTENSIDADE, QUANTIDADE E CAPACIDADE TAMPÃ O 605
ADSORÇÃO DE ENXOFRE NO SOLO 606
FORMAS L Á BEIS E N ÃO- L Á BEIS 611
Transformaçã o de Enxofre Lábil em Nã o-Lábil 613
Reversibilidade de Enxofre Não-Lábil 614
ENXOFRE NAS CULTURAS 618
Absor çã o 618
Transloca çã o e Redistribuição 618
Intera ções 619
Exigências e Respostas das Culturas 621
ADUBAÇÃO COM ENXOFRE 624
Disponibilidade de Enxofre 624
Crité rios de Recomendaçã o 625
Aná lise de Solos 625
Diagnose Visual e Foliar 628
Fontes Minerais de Enxofre 632
Enxofre Elementar 632
Gesso Agrícola 632
Sulfato de Amónio 633
Superfosfato Simples 633
Sulfato de Pot ássio 633
Outras Fontes 633
Recomenda çã o de Adubação com Enxofre 634
LITERATURA CITADA 635

SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( eds. NOVAIS, R . F., ALVAREZ V ., V .H ., BARROS,
N.F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R.B. & NEVES, J.C .L. ).

)
596 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.

INTRODUÇÃ O
!

O S é um dos elementos essenciais para o crescimento e desenvolvimento de plantas


e animais. Inadequadamente, é chamado de macronutriente secund á rio e é agrupado
com Ca e Mg em lugar de estar agrupado com N e P, com os quais forma parte dos
aminoá cidos .
Grandes á reas do planeta apresentam solos com deficiência de S, especialmente os
mais intemperizados, como os Latossolos (Oxisols ) e Argissolos ( Ultisols ). Entretanto,
sua deficiência no cultivo das plantas somente manifestou -se, quando se procurou obter
elevadas produtividades com o uso de corretivos e fertilizantes. O uso de resíduos
orgâ nicos e de fertilizantes fontes de NPK ricos em S mascarou esta deficiência até que se
passou a utilizar fertilizantes NPK concentrados. '
As pesquisas sobre o S no solo têm evidenciado a importâ ncia do conhecimento das
diversas formas do S, para avaliar sua disponibilidade para as plantas. O S ocorre no
solo em formas orgâ nicas e inorgâ nicas . A participa çã o dessas duas formas varia de
acordo com as condições do solo, tais como: pH, drenagem, composiçã o mineralógica,
teor de matéria orgâ nica, quantidade e qualidade de resíduos orgâ nicos incorporados e
profundidade no perfil do solo.
Normalmente, a quase totalidade do S dos ecossistemas naturais ou sob cultivos
encontra -se na forma orgâ nica, constituindo uma importante reserva deste nutriente,
especialmente nos solos mais intemperizados. Em condições aer óbias, o sulfato (S042 ) é '

a forma predominante de S-inorgâ nico na maioria dos solos. Além desta, algumas formas
reduzidas podem ser encontradas em solos sob condições anaer óbias.
O íon S042 é a forma na soluçã o do solo absorvida pelas plantas. A disponibilidade
"

de S, entretanto, depende dos processos de adsor çã o / dessor çã o, mineraliza çã o /


imobiliza çã o, efeitos influenciados pelas ra ízes das plantas, lixivia çã o, etc.
O manejo da disponibilidade de S em solos agrícolas é complexo pelos diferentes
equilíbrios e processos que o envolvem no solo e na atmosfera. A queima de combustíveis
f ósseis em ind ústrias e em veículos libera óxidos de S que podem depositar-se perto e até
grandes distâ ncias das á reas de emissã o.
Em razã o desses processos, o S042 poderá encontrar-se no solo em diferentes graus
'

de disponibilidade para as plantas, e o equilíbrio das suas formas disponíveis é resultante


da dinâ mica destas formas no solo. A disponibilidade de S em termos f ísico-químicos
pode ser explicada pela inter -relaçã o entre os fatores: intensidade, quantidade ( reserva
lábil ) e capacidade tampã o. Em adiçã o a essas formas de S, existe a reserva nã o-lá bil, que
sã o formas de S fortemente retidas em frações orgâ nicas e inorgâ nicas do solo e que nã o
se encontram, em curto prazo, em equilíbrio com o S da soluçã o.
Doses relativamente baixas de S sã o suficientes para manter bom equilíbrio
nutricional com N e P no crescimento das culturas. Também o uso do gesso como
condicionador químico do ambiente radicular em subsuperf ície passa a dar nova e maior
importâ ncia ao conhecimento sobre S. Nã o diretamente na nutrição das plantas, mas
pela a çã o do íon S042 , provocando movimenta çã o de cá tions para camadas inferiores,
'

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 597

onde o enriquecimento em Ca e o decr éscimo da atividade de AI levam ao aumento de


crescimento radicular, com explora çã o de maior volume de solo, com maior absor çã o de
nutrientes e á gua .

FORMAS DE ENXOFRE NO SISTEMA SOLO - PLANTA


Ciclo Biogeoquímico do Enxofre
O ciclo biogeoquímico do S assemelha -se ao do N, principalmente por ter diversos
processos regulados pela atividade biológica. O balanço entre os reservatórios vem sofrendo
alterações desde os primórdios da forma ção da Terra, com a introdução gradativa de novos
processos, os quais foram surgindo com a evoluçã o do planeta e da vida no planeta .
Inicialmente, por ocasiã o da forma çã o da crosta terrestre, o S concentrou-se em rochas
ígneas, principalmente como pirita (FeS2) de origem magmá tica . Posteriormente, em razã o
da atividade vulcâ nica, grandes quantidades foram liberadas para a atmosfera primitiva,
na forma de gases, sobretudo S02 e H2S. Com o resfriamento da Terra , assim que a
temperatura da atmosfera baixou dos 100 °C, massivas quantidades de vapor de á gua
condensaram-se formando os oceanos, há cerca de 3,8 bilhões de anos. O S2 presente na '

atmosfera oxidou -se e dissolveu -se rapidamente na á gua dos mares, formando á cido
sulf ú rico (Eq. 1) . Em pouco tempo, praticamente todo o S na atmosfera dissolveu-se nos
oceanos (Schlesinger, 1997) .
so2 + y2 o 2 + H2O ^ H2SO4 (1)

O S042 dissolvido na água dos oceanos passou a reagir com cá tions disponíveis em
'

grandes quantidades, principalmente o Ca e Mg, formando dep ósitos de gesso e


evaporitos. Atualmente, esses sais representam o segundo maior reservató rio de S na
superf ície terrestre (Quadro 1).

Quadro 1. Reservat ó rios de enxofre, pr óximos à superf ície terrestre

Reservatório Quantidade de enxofre

GtO )

Atmosfera 0,0028
Oceanos (á gua ) 1.280.000,0
Rochas sedimentares
Pirita 4.970.000,0 .

Evaporitos 2.470.000,0
Biomassa terrestre 8,5
Maté ria orgâ nica do solo 15,5
Total 8.720.000,0

Gt = 1012 kg.
(1)

Fonte: Schlesinger (1997) .

FERTILIDADE DO SOLO
598 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.

Com o surgimento da vida, há cerca de 2,4 bilhões de anos, ainda em um ambiente


anaer óbio e á cido, as grandes quantidades de S042 nos oceanos passaram a ser
'

metabolizadas por organismos semelhantes à s archoebacté rias atuais, em rea ções de


reduçã o do S (Eq. 2). O ácido sulf ídrico liberado reagia, entã o, com o Fe2+, encontrado em
abund â ncia no oceano primitivo, produzindo pirita (Eq. 3). A pirita passou a ser
depositada no fundo dos oceanos, gerando grandes depósitos sedimentares deste mineral
(Quadro 1).
2 CH2O + 2 H+ + SC>4 2- H2S + 2 C02 + 2 H20 ( 2)
2+
2 H2S + Fe FeS2 + 4 H +
(3 )

Acredita -se que a primeira rota metabólica fotossinté tica tenha sido desenvolvida a
partir da rea çã o com formas reduzidas de S ( Eq . 4 ) , realizada por organismos
fotolitotr óficos (1 ), visto que a energia livre de rea çã o é menos positiva do que na rea çã o
com H20 nos organismos fotoaquatr óficos (2) (Schlesinger, 1997) .


C02 + 2 H2S + Energia luminosa > CH20 + 2 S2 + '

HzO (4 )

Com a evoluçã o de organismos fotoaquatr óficos, a hidr ólise da á gua possibilitou a


libera çã o de 02, inicialmente nos oceanos e, posteriormente, difundindo-se para a
atmosfera . Neste ponto, mudaram as caracter ísticas oxirredutoras nos oceanos e na
atmosfera . Como consequência, o á cido sulf ídrico passou a ser prontamente oxidado a
S042 na atmosfera, uma vez que apresenta baixa estabilidade na presen ç a de 02
'

( Holtzclaw et al ., 1991) . Sulfetos presentes na crosta, principalmente a pirita, expostos


em ambientes terrestres, passaram a ser oxidados e carreados para os oceanos como S042-
e Fe 2+, dissolvidos na á gua . A presença de 02 possibilitou a evolu çã o de organismos
quimiolitotróficos (3), como bact érias do gênero Thiobacillus spp ., as quais promovem a
oxida çã o de S2 ou S° para a obten çã o de energia no processo de assimila çã o de C02

(Eq. 5).

2 S° + 2 H20 + 3 02 -> 2 S 042 + 4 H



(5 )

O balanço entre as deposições de S2 e S042 no fundo dos oceanos passou a ser


’ '

governado pelas caracter ísticas de oxirreduçã o do ambiente, e, ao longo de per íodos


geológicos, houve, muito provavelmente, importantes modifica ções na distribuição entre
estes depósitos (Schlesinger, 1997) .
A distribuiçã o atual do S nos mais importantes reservat ó rios da superf ície terrestre
caracteriza-se pela concentração do elemento em rochas sedimentares e na á gua do mar

(1 )
Organismos que utilizam um composto inorgâ nico como fonte de elé trons, o C02 como fonte de C e
a luz como fonte de energia . Ex .: bact é rias p ú rpuras metabolizantes do S ( Moreira & Siqueira, 2002 ) .
(2 )
Organismos que utilizam a á gua como fonte de el é trons, o C02 como fonte de C e a luz como fonte
de energia . Ex .: plantas superiores, algas verdes e cianobact é rias ( Moreira & Siqueira , 2002) .
( 3)
Organismos que utilizam um composto inorgâ nico como fonte de elé trons, o C02 como fonte de C e
um composto inorg â nico como fonte de energia . Ex.: bact é rias nitrificadoras ( Moreira & Siqueira,
2002 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 599

(Quadro 1) . O maior reservató rio é representado pelos depósitos sedimentares de sulfeto


de ferro, a pirita ou "ouro de tolo". Juntamente com o Fe, outras formas importantes de S2-
puderam ser precipitadas junto aos depósitos de pirita, como as de Cu, Pb e Zn, os quais
constituem as maiores jazidas conhecidas destes elementos, jazidas que sã o de grande
importâ ncia económica ( Kaplan & Bartley, 2000 ). Em segundo lugar, vê m os depósitos
de S042 , principalmente o gesso ( CaS04.2H20) . Outro reservat ó rio importante é
'

representado pelos oceanos, os quais regulam o fluxo de sedimentaçã o. A atmosfera e a


biosfera (incluindo os solos) concentram quantidades irrisórias de S, quando considerado
o seu ciclo biogeoquímico.
O fluxo das diferentes formas de S é representado por fontes e drenos naturais e
antropogê nicos ( Figura 1) . As emissões de S para a atmosfera somam cerca de
272 Mt( 4 ) ano 1 de S, sendo 107 Mt ano 1, nos ambientes terrestres, e 165 Mt ano 1, nos
' " "

oceanos. Fechando o balanço, 90 Mt ano 1 de S sã o depositados nos ambientes terrestres


"

pelas chuvas ou por deposiçã o de partículas, sendo o restante (182 Mt ano 1) depositado
'

nos oceanos.
As maiores fontes de S para a atmosfera sã o os sais presentes nos aerossóis marinhos
(53 % do total ), os quais têm uma meia vida (5) na atmosfera bastante curta, retornando
quase que completamente aos oceanos via deposiçã o, reabsor çã o pelos organismos ou
arraste pelas chuvas. Outra fonte marinha importante sã o os gases biogênicos, sobretudo
o dimetil-sulfeto ( DMS -(CH3) 2S-), que també m apresenta uma meia vida reduzida na
atmosfera (cerca de 1 d ).

/
/
(5 )
Atividade

' vZ — ( 90 )
Queima
^ \
de ( 4 )
( 8) Combustí veis Gases
( 5
K
)
Transporte para
N Ambientes Terrestres

Vulc ânica poeira Biogênicos Transporte para


Fósseis os Oceanos
( 22 )
N *
r
/
i ( 182 ) <
/ ( 90 )
Deposição (144 ) (16 ) ( 5)
Atmosférica
t
/ s

\ iOOOOOD
(130 )
Rios
Deposição Í Í
Aerosol Gases
Atividade
Vulcânica
Marinho Biogênicos
vj
\
m

Minera ção e Intemperismo %


Extração Natural e Erosão
( 150 ) ( 72)
I
Depósitos
Sedimentares
(135 )
!

Figura 1. Ciclo global, anual do enxofre.


Fonte: Adaptado de Schlesinger (1997).

{4 )
Mt = 109 kg .
(5)
Tempo necessá rio para serem reduzidos à metade.

FERTILIDADE DO SOLO
600 V í CTOR HUGO ALVAREZ V. et al .

As erup ções vulcâ nicas contribuem com cerca de 3,5 % das emissões atuais,
distribuídas igualmente entre os ambientes terrestres e oceanos. Eventualmente, grandes
erupções provocam eleva ções momentâ neas destas contribui ções, mas que voltam
rapidamente ao equilíbrio anterior.
Nos ambientes terrestres, a emissã o de gases vindos da atividade biológica sã o
dominados por organismos redutores de S em ambientes alagados, os quais liberam H2S.
Outra fonte importante sã o as partículas sólidas em suspensã o ( poeira ), movimentadas
pelos ventos . Grandes quantidades de S sã o colocadas em suspensã o pelos ventos em
regiões á ridas e semi-á ridas, principalmente na forma de gesso. Os maiores fluxos de S
para a atmosfera, no entanto, é consequ ência da atividade humana (33 % ) . O S é um
constituinte importante dos combustíveis f ósseis (carv ã o mineral, petr óleo e gás natural),
al ém de ser liberado em grandes quantidades durante a extraçã o de Cu .
A deposiçã o atmosf érica de S nã o é homogénea . Em decorrência de seu baixo tempo
de resid ência na atmosfera, as deposições de S tendem a ser mais elevadas em á reas
costeiras, em regiões localizadas na direçã o de ventos dominantes vindos de desertos e
próximas a regiões industriais. A atividade industrial coloca grandes quantidades de
S02 no ar, produzindo á cido sulf ú rico e elevando bastante a acidez das chuvas. Em
diversas regi ões densamente povoadas e com elevada atividade industrial, sé rios
problemas têm sido observados com as chamadas chuvas á cidas. Em consequência,
restrições importantes às emissões de S foram adotadas em vá rios pa íses desenvolvidos,
buscando solucionar o problema .

Enxofre no Solo
Embora e quantidade de S nos solos e na biomassa seja insignificante diante dos
grandes reservatórios terrestres (Quadro 1), a vida no planeta e a produçã o de alimentos
dependem da ciclagem deste nutriente no sistema solo-planta. As intera ções e fluxos de
S neste sistema sã o complexos (Figura 2), assim como suas intera ções com os demais
reservatórios.
As principais fontes de S para o solo sã o os minerais primá rios, sobretudo o sulfeto
de Fe e o gesso, a deposiçã o atmosf érica seca ( poeira ) ou ú mida (chuvas), os resíduos
vegetais e animais, e os pesticidas e fertilizantes (Figura 2).
A contribuiçã o do intemperismo de minerais primá rios para o S no solo vai depender
do material de origem e das condições de oxirreduçã o. Em geral, estas contribuições sã o
lentas e dificilmente afetam a disponibilidade de S para as plantas.
A contribuiçã o dos resíduos de vegetais e animais depende do tipo de vegeta çã o e
do manejo aplicado. Geralmente, o teor de S é pr óximo ao de P no tecido de plantas,
variando de 2 a 5 g kg 1 de matéria seca (Stevenson, 1986 ). Cerca de 90 % deste total
"

encontra -se na forma de aminoácidos (cistina, cisteína e metionina ), estando o S presente


em outros compostos importantes para o metabolismo, como ferredoxina, coenzima A,
vitamina B ebiotina (Stevenson, 1986) .
A deposiçã o atmosf érica pode variar bastante com a distâ ncia de á reas industriais,
oceanos e regiões á ridas ou semi-á ridas. Embora exista muita incerteza na quantificação

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 601

Deposição
Atmosférica

H 2S Queima de
i Combustí veis
Fertilizantes „
*
Fó sseis
Res í duos Pesticidas
Org â nicos f

Mihera h -
zaçaeiS | [
Absorção Minerais
Solução do Solo| lntemperismo MO Solo
Oxidação Minerais Primários
Humificação S2 SO42 Adsorção
SuIfetos Argilas
Redução Sulfatos
(Ó xidos e hidr óxidos
ggDessorção de Fe e AI)
Mineralização
Imobilização Matéria Imobilização T
orgânica Lixiviação
do solo
Erosão

Figura 2. Formas e fluxos de enxofre no sistema solo-planta -atmosfera .


Fonte : Adaptado de Stevenson ( 1986 ); Bissani & Tedesco (1988 ); Schoenau & Germida ( 1992); Moreira & Siqueira
(2002) .

dos fluxos, os ventos vindos dos desertos podem conter grandes quantidades de partículas
de solo ricas em gesso. O S na á gua de chuva tem sido objeto de estudo de grande
interesse nas últimas décadas, dada sua capacidade de gerar as chamadas chuvas á cidas,
com grandes preju ízos ambientais. As proximidades de regi õ es industriais ou
densamente povoadas sã o á reas cr íticas. Tisdale et al. (1985) ressaltam que o pH normal
da chuva varia entre 5,7 e 7,0, enquanto, em regiões sob influência antrópica, tais valores
sã o geralmente inferiores a 5,7, podendo alcançar 4,0.
No solo, o S distribui-se em diversos reservatórios, em formas orgâ nicas e inorgâ nicas
( Figura 2) . O fluxo entre esses reservató rios é controlado por rea ções de oxidaçã o e
reduçã o, mediadas quase que completamente pela microbiota (Stevenson, 1986; Moreira
& Siqueira, 2002). As diferentes rea ções e processos dependem de determinados grupos
de microrganismos e condições ambientais específicas (Quadro 2).
As formas orgâ nicas de S predominam em solos minerais bem drenados e sem
restrições hídricas. Nesses solos, a fra çã o orgâ nica representa geralmente mais de 90 %
do S total (Tisdale et al ., 1985; Bissani & Tedesco, 1988; Schoenau & Germida, 1992). As
principais transforma ções do S nestes ambientes sã o: imobiliza çã o, mineraliza ção e
oxida çã o, as quais resultam em perdas ou ganhos de S pelo sistema solo-planta, por
processos de lixivia çã o, volatiliza çã o e absorçã o (Schoenau & Germida, 1992).
As formas orgâ nicas de S podem ser divididas em duas frações mais importantes,
com base em sua susceptibilidade à reduçã o: (1) S reduzido por Hl, e (2) S ligado ao C
!
FERTILIDADE DO SOLO
602 V í CTOR HUGO ALVAREZ V. et al .

Quadro 2 . Principais rea ções de oxida çã o e redu çã o do enxofre no solo, condi ções necessá rias
e principais microrganismos envolvidos

Processo Rea çõ es Condi çõ es Grupos de microrganismos

Redu çã o SO 42 - -> Nenhuma espec í fica , ocorre Maioria dos microorganismos


assimilat ó riah ) ou Amino á cidos e em solos e sedimentos, na
imobiliza çã o outros compostos presen ç a de SO 42'

Redu çã o SO 42 *
-> HS- Anaerobiose e Heterotr ó ficos, que reduzem
dissimilat ó ria ( 2 ) disponibilidade de compostos de S, utilizando - os
ou respirat ó ria substrato orgâ nico . N ã o como receptores de el é trons. Ex .
requer luz Disu Ifovi b rio , D is u í fo toma cu lu m

Oxida çã o Org - S HS- Diversas condi çõ es‘na Grande diversidade de


dissimilat ó ria ou - —
Org S > S - vol á til presen ç a de S- org microrganismos
mineraliza çã o —
Ester -SCb > SC> 42 ’

Oxida çã o H 2S - SO 42 '
Interface entre ambientes Quimiolitotr ó ficos, que utilizam
dissimilat ó ria H 2S s° ricos em H 2S e ambientes a oxida çã o do S, como fonte de
aer ó bia S° -> SO 42 - com O2 ( necessita de energia na assimila çã o do CO 2
aerobiose ) ( Eq . 5 ) . Ex . Thiobacillus ,
Thiowicropira , Achromatium ,
Beggiatoa

Oxida çã o H 2S So Anaerobiose, presen ç a de Fotolitotr ó ficos, que utilizam a


dissimilativa S" SO 42- luz e H 2S oxida çã o do S como doador de
anaer ó bia el é trons na assimila çã o do CO 2
( Eq . 4 ) . Ex . Chlorobium ,
Chromatium, Ectothiorhodospira ,
Thiopedia , Rhodopseudomonas
(1 , Um processo é considerado assimiiatório , quando os organismos utilizam a substâ ncia para incorpora çã o em
biomolé culas ( Kaplan & Bartley, 2000) . (2 ) Um processo é considerado dissimi í at ó rio , quando os organismos utili -
zam a subst â ncia como fonte de energia ou elé trons em rea ções diversas (Kaplan & Bartley, 2000).
Fonte : Adaptado de Stevenson ( 1986 ); Bissani & Tedesco ( 1988 ); Moreira & Siqueira ( 2002 ).

(S-C) (Stevenson, 1986; Schoenau & Germida, 1992) . A primeira fração, obtida por meio
da redução do S-orgânico a H2S pelo Hl, é composta por S042 -orgânico, em que o S não se '

encontra diretamente ligado ao C . Esta ligaçã o é feita por meio de outros elementos: O
(C-O-SO3), N (C- N-SO3), ou o próprio S (C-S-SO3) (Schoenau & Germida , 1992) . O S042 - "

orgânico compõe as formas mais abundantes de S-orgânico nos solos, perfazendo de 30


a 75 % do S-orgânico total (Schoenau & Germida , 1992; Moreira & Siqueira , 2002) . A
maior parte do S-O encontra -se na forma de ésteres sulfatados, assim como thioglicosídeos
e sulfamatos (Schoenau & Germida, 1992) . Geralmente, o S042 -orgânico está associado '

à matéria orgânica de baixo peso molecular, sendo considerada a forma mais lábil de
S-orgânico (Schoenau & Germida, 1992) . McLaren et al . (1985) encontraram que as formas
mais lábeis de S-orgânico no solo sã o aquelas da forma C-O-S. A mineraliza ção do
S-orgânico é principalmente devida a estas formas que são as mais disponíveis para as
plantas (Ghani et al . , 1991; Zhou et al . , 2005 ) .
Os compostos com ligação S-C representam cerca de 50 % do S-orgânico total do
solo. Estes compostos podem ser divididos em duas frações: (1 ) compostos com ligaçã o

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 603

S-C, susceptíveis à redu çã o pela liga de Raney - Ni (6), e ( 2) S inerte ou residual (S em


compostos nã o identificados ) (Stevenson, 1986; Bissani & Tedesco, 1988; Schoenau &
Germida , 1992) . A primeira fra çã o é dominada, sobretudo, por aminoá cidos, podendo
chegar a 30 % do S-orgâ nico total (Stevenson, 1986; Moreira & Siqueira, 2002). Estes
compostos apresentam baixa estabilidade no solo, sendo decompostos (Schoenau &
Germida , 1992 ) . A fra çã o inerte compreende formas complexas de S, nã o-identificá veis
e, provavelmente, ligadas às substâ ncias h ú micas (Stevenson, 1986; Schoenau & Germida,
1992 ) .
Embora ainda pouco estudado, o S contido na biomassa microbiana representa uma
importante por çã o do S-orgâ nico do solo. Em termos quantitativos, representa somente
cerca de 2-3 % do S total (Schoenau & Germida, 1992 ), mas, em termos funcionais, tem
grande relev â ncia. O fluxo de S na biomassa da microbiota é geralmente rá pido, podendo
ser uma importante fonte de S para as plantas ( Moreira & Siqueira, 2002) . Como
mencionado anteriormente, a maioria das transforma ções do S no solo é mediada pela
atividade da microbiota . A maioria destes processos é exemplificada em um modelo
conceituai ( Figura 3) .
Formas org â nicas de S s ã o mineralizadas e formas inorg â nicas podem ser
imobilizadas. Os diversos fatores que afetam a atividade bioló gica do solo interferem
nos processos de mineraliza çã o / imobiliza çã o. Temperatura, umidade, disponibilidade
e qualidade de resíduos, acidez, status nutricional e estrutura da comunidade microbiana
s ã o os principais fatores . A rela çã o C:S da mat é ria orgâ nica ou de resíduos em
decomposição é um dos fatores mais estudados, guardando estreita relação com o balanço
mineralizaçã o / imobiliza çã o do S no solo. A rela çã o C:S da matéria orgâ nica do solo está
geralmente em torno de 100:1, enquanto, nos resíduos vegetais, pode variar de 150 a
450:1 ( Moreira & Siqueira, 2002). De forma geral, pode considerar -se que resíduos com
rela çã o C:S entre 200:1 e 400:1 nã o alteram os teores de S042 no solo, enquanto valores
'

superiores a 400:1 levam à imobiliza çã o tempor á ria de S042 pela microbiota "

decompositora e valores inferiores a 200:1 promovem a liberação líquida de S042 (Moreira '

& Siqueira, 2002) .


Conforme McGill & Cole (1981), o balanço entre síntese microbiana e a mineraliza çã o
do S-orgâ nico na forma de éster de sulfato e o tamanho do compartimento da forma
C-O-S sã o extremamente afetados pela atividade da arilsulfatase. A arilsulfatase é uma
enzima que participa do ciclo do S no solo, ao hidrolisar ligações do tipo éster de sulfato
libera S042 para a soluçã o (Tabatabai & Bremner, 1970). Sua atividade no solo decresce
'

nã o só com a profundidade e com o teor de matéria orgâ nica do solo, mas també m com a
alta concentraçã o de S042 na soluçã o do solo ( Maynard et al., 1985; Prietzel, 2001).
"

Entretanto, Speir (1984) nã o observou correlaçã o entre o teor de C-orgâ nico e a atividade
da arilsulfatase e concluiu que cada solo tem caracter ística típica de atividade enzimá tica,
que pode ser influenciada por alguns fatores, tais como: grau de evolução da matéria
orgâ nica ou tipo de vegetaçã o que lhe deu origem.

(6)
Catalisa a desulfuriza çã o destes compostos. Obt é m-se por tratamento de uma liga de Al e Ni em pó
com NaOH .

FERTILIDADE DO SOLO
604 V í CTOR HUGO ALVAREZ V. et a l .

Figura 3. Modelo conceituai para os v á rios componentes e processos microbianos do ciclo do


enxofre: 1. Dissolu çã o de fertilizantes ou oxida çã o de S elementar de fertilizantes .
2. Oxidaçã o de formas reduzidas de S em minerais e liberaçã o de S \ 3. Assimila çã o de
042
S dos minerais pela microbiota . 4 . Absor çã o de S pelas plantas. 5. Assimila çã o e
imobiliza çã o de S042 pela microbiota. 6. Mineraliza çã o. 7. Resíduos de ra ízes e parte

a é rea . 8 . Decomposi çã o microbiana de res íduos de plantas . 9 . Humifica çã o e , ou ,


estabiliza çã o de res íduos vegetais resistentes. 10. Humifica çã o e, ou, estabiliza çã o de
resíduos resistentes produzidos pela microbiota. 11. Utiliza çã o pela microbiota de S de
compostos orgâ nicos resistentes . 12. Libera çã o de formas l á beis de S durante a
decomposiçã o de resíduos de plantas. 13. Decomposiçã o microbiana e ciclagem de maté ria
orgâ nica ligados a outros fatores ambientais, tais como: ciclos de umedecimento e secagem .
14. Assimila çã o microbiana de S a partir de compostos orgâ nicos lá beis. 15. Libera ção de
formas lá beis de S microbiano, decorrente da a çã o de predadores. 16. Mineraliza çã o.
17. Mineralizaçã o bioqu ímica ou enzimá tica . 18. Controle da atividade de fosfatases pela
satura ção de produtos finais. Biomassa Microbiana: ( A ) Protozoá rios e nematóides que
consomem bacté rias; ( B ) Bacté rias que consomem micélios f ú ngicos danificados ou de
produtos liberados a partir da morte de hifas; (C ) Protozo á rios e nemat ó ides que
consomem fungos; ( D) Protozoá rios que consomem algas; (E ) Nematóides que consomem
protozoá rios; e ( F) Actinomicetos que consomem bactérias.
Fonte: Adaptado de Schoenau & Germida (1992 ) .

As formas inorgâ nicas de S encontram-se em diversos estados de oxida çã o no solo,


sendo as principais o S042 em solução; S042 adsorvido à fra ção sólida e formas reduzidas
" "

como o dióxido de enxofre (S02), sulfito (S032 ), tiosulfato (S2032 ), enxofre elementar (S°) e

sulfeto (S2 ) ( Bissani & Tedesco, 1988). Em solos bem drenados, praticamente todo o
'

S-inorgâ nico encontra-se na forma de S042~, na solução do solo ou adsorvido às partículas


de argila ou em complexos organominerais (Figura 2). Esta é a forma absorvida pelas
plantas. O S042- em solução tem boa mobilidade no solo, podendo ser perdido por

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 605

lixivia çã o. Esta caracter ística do S042 tem representado uma boa alternativa de manejo
'

em solos com problemas de deficiência de Ca e, ou, de quantidades tóxicas de AI em


subsuperf ície, onde se tem utilizado gesso agr ícola . A adsorçã o de S042 pode ocorrer, à '

semelhança do fosfato, eletrostaticamente ou por ligaçã o covalente, com diferentes graus


de disponibilidade para as plantas.
Sob condições de anaerobiose, o S042 é reduzido a S2 (Quadro 2), sendo esta a forma
' '

predominante em solos sob condi ções de alagamento ou em sítios anaer óbios de solos
bem drenados. A maior parte do S2 encontra -se na forma de H2S, um gás altamente

volá til com odor extremamente desagrad á vel, lembrando o cheiro de ovos em processo
de decomposiçã o . O gá s é tã o letal quanto o cianureto ( Holtzclaw et al ., 1991) . Quando
em altas concentra ções, ao ser inalado, paralisa rapidamente os receptores olfativos. Em
poucos segundos, nã o se percebe mais o característico odor desagrad ável, podendo levar
à morte em poucos minutos. O H2S tem, ainda , efeito fitotóxico ( Moreira & Siqueira ,
2002 ). Na presença de Fe, o H2S reage, sendo o S2 ~ precipitado como FeS2 ( Eq. 3) . De
forma inversa, em ambientes oxidantes, o S2 é convertido novamente em SQ42 (Quadro 2 ).
' '

FATORES INTENSIDADE, QUANTIDADE E


CAPACIDADE TAMP Ã O

A planta absorve o S preferencialmente na forma de S042 ( Mengel & Kirby, 1987) . Os


"

fatores que controlam a concentra çã o deste íon na solu çã o do solo sã o: regime hídrico
( pela oxidaçã o das formas reduzidas de S), atividade microbiana ( mineraliza çã o ou
imobiliza çã o), deposiçã o atmosf érica (absor ção direta de S02 pelas plantas e, ou, oxidaçã o

S02 > S042 ), absor çã o pelas plantas e adiçã o de fertilizantes (Ghani et al., 1990) .
"

No solo, o S042 encontra -se em diferentes graus de disponibilidade, e a dinâ mica


"

das formas de S pode ser entendida pelo esquema para P de Gunary & Sutton (1963),
adaptado por Accioly (1985) para o S:

k1 k3

^
* S - solu çã o (pró ximo à superfí cie das micelas do soio )
S nã o-l ábil S - lá bil „
k2 k4
Transporta
ki
S - solu ção * S - vegetal
( pr ó ximo às ra í zes) ke

De acordo com o esquema, no solo, o S encontra -se em v á rias formas: na soluçã o do


solo na forma lá bil, ou seja, adsorvido por compostos orgâ nicos ou minerais do solo e
,
em equilíbrio com a soluçã o do solo durante o ciclo vital das culturas, e na forma nã o-
lá bil. Esta forma encontra -se fortemente retida pela fra çã o inorgâ nica e, ou, orgâ nica do
solo, e nã o está em equilíbrio com o S da soluçã o do solo a nã o ser a mé dio ou longo
prazo .

FERTILIDADE DO SOLO
606 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al .

O S042 na solu çã o do solo (S-solu çã o ) é denominado fator Intensidade ( I ) . O


'

ressuprimento de I, à medida que o S042 é absorvido pela planta, é feito pelo fator Quantidade
"

(Q), quantitativamente bem maior que I; Q estima a reserva lábil de S042 . Existe, portanto,
"

um equilíbrio entre I e Q, de forma que qualquer altera ção ( retirada ou adiçã o ) em um


deles implica alteração no outro. Essa inter-rela çã o desses dois fatores caracteriza o fator
capacidade tampão de sulfato (CTS), que mede a resistência do solo a alterações na concentração
do S-solu çã o. Sendo estimada pela rela çã o entre as varia ções dos fatores quantidade e
intensidade ( AQ / AI ) . A CTS é uma propriedade do solo e se correlaciona estreitamente
com o teor de argila, equivalente de umidade, S remanescente, P remanescente e com a
capacidade má xima de adsorçã o de S do solo (CMAS) (Accioly, 1985; Ribeiro et al., 1991).

ADSOR Ç AO DE ENXOFRE NO SOLO


O S042- no solo encontra -se predominantemente adsorvido por part ículas minerais e
orgâ nicas. A adsorçã o pode ocorrer de duas formas: por interação de cargas ou adsorção
eletrostá tica, quando o S042 interage com as cargas positivas provenientes da protonaçã o

de grupos -OH; e por compartilhamento de elé trons, ou adsorçã o espec í fica , quando o
S042 forma liga ções covalentes com a superf ície das argilas. O S042 adsorvido
' '

eletrostaticamente pode ser considerado prontamente disponível para as plantas,


enquanto o adsorvido de forma específica é menos disponível ou até mesmo indisponível
(Mitchell et al., 1992) a curto prazo.
A adsor çã o de S042 é influenciada por uma gama de fatores que irã o determinar a
'

densidade de grupamentos -OH disponíveis para ionizaçã o e as condições favorá veis


( pH) ou nã o para a sua protona ção. O primeiro fator é o teor e a qualidade das argilas do
solo (Mitchell et al., 1992) . Solos mais argilosos e dominados por argilas de baixa atividade
sã o os que apresentam as maiores capacidades de adsor çã o de S042\ Argilas silicatadas
do tipo 1:1 (grupo das caulinitas) e, sobretudo, os óxidos e hidr óxidos de Fe e Al
apresentam grande densidade de grupamentos -OH ionizá veis. O grau de ioniza çã o,
por sua vez, vai depender do pH do solo, favorecendo os ambientes ácidos a protona çã o
destes grupamentos ( Figura 4). Solos ricos em óxidos e hidróxidos de Fe e Al, como a
maioria dos solos tropicais, apresentam grande capacidade de adsor çã o de S042 . '

Al ém da disponibilidade dos sítios de adsor çã o, outros fatores importantes na


determinação do grau de adsor çã o do S042 sã o a competição com outros â nions e o tipo
"

de cá tion acompanhante ( Bissani & Tedesco, 1988). O grau de afinidade dos diferentes
â nions pelas partículas do solo segue a ordem: citrato > fluoreto > fosfato = molibdato
> sulfato ~ acetato > borato > nitrato = cloreto. Portanto, o â nion que mais compete com
o S042 pelos sítios de adsorçã o é o H2P04 , sendo possível o estímulo à lixivia ção de S042
' ‘ "

para camadas subsuperficiais, quando doses pesadas de H2P04 sã o utilizadas nas


'

aduba ções. O H2P04 é retido com maior energia do que o S042 , o que faz com que o
' '

H2P04 seja adsorvido em maior quantidade e com menor reversibilidade quando estes
'

nutrientes são adicionados conjuntamente ao solo (Chao, 1964). Deste modo, entende-se
que, nã o havendo P suficiente para ocupar os sítios de adsorção, grande parte do S é
rapidamente adsorvida no solo (Mattos, 1988).

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 607

O cá tion acompanhante também interfere na adsorçã o de S042 , uma vez que a sua '

movimenta çã o no solo é dependente do acompanhamento destes cá tions. O grau de


adsor çã o é maior para cá tions com maior valência ou de menor raio hidratado, quando
da mesma valência (Chao et al., 1963).
Compostos orgâ nicos, como ácidos orgâ nicos de baixo peso molecular ou mesmo subs-
tâ ncias humicas, podem bloquear os sítios de adsor çã o de S042 ( Mitchell et al ., 1992). A
'

matéria orgânica do solo apresenta ponto de carga zero em valores de pH bem abaixo dos
relativos às argilas 1:1 e aos óxidos e hidróxidos de Fe e Al. Por isso, apresenta carga
residual negativa mesmo em valores de pH favor á veis à protona çã o dos grupamentos
-OH das argilas, por reagirem com os mesmos, anulando as cargas positivas. Mesmo em
solos ricos em óxidos e hidróxidos de Fe e Al, esta interferência da matéria orgâ nica fica
clara, havendo menor fixa çã o (7) de S042 nos horizontes superficiais, mais ricos em
'

C-orgâ nico (Mitchell et al., 1992). Pelo que, em dois Latossolos e um Nitossolo de São Paulo,
a adsor çã o de P e de S foi superior em amostras subsuperficiais (Casagrande et al., 2003).
A disponibilidade de S para as plantas está relacionada com v á rios mecanismos do
,
solo dentre os quais se destacam: os processos de adsor çã o / dessor çã o, precipita çã o /
solubiliza ção, imobiliza çã o / mineraliza çã o pela biomassa microbiana e lixiviaçã o. Diante
dos comentá rios feitos anteriormente, é necessário destacar os processos de adsor çã o e
de mineraliza çã o, como também relacionar o papel da matéria orgâ nica nesses processos.
No caso da adsorçã o de S, existe um forte componente eletrostá tico na liga çã o entre
o S042 e a superf ície, com pouca adsor çã o ocorrendo na ausência de cargas positivas
'

(Costa, 1980) . J á para o P, o processo de adsor çã o pode ser explicado por meio do
mecanismo de troca de ligantes ( forte liga çã o covalente ), tendo esta liga çã o forte

Figura 4. Representa çã o esquemá tica da sequê ncia de adsor ção de cá tions e â nions em superf ície
de part ículas de solo, considerando o pH, a adsor çã o eletrost á tica de sulfatos ( reversível)
e adsor çã o específica ( irreversível), com formação de liga ção covalente.
Fonte : Adaptado de Schoenau & Germida (1992).

(7)
Fixa çã o é a adsorçã o temporariamente n ã o-reversível, é a passagem de lá bil para n ã o-l á bil .

FERTILIDADE DO SOLO
608 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.

componente químico, de tal modo que o P pode ser adsorvido em superf ície neutra ou até
mesmo negativa . Essas diferen ças no processo de adsor çã o de H2P04 e de S042 ' '

influenciam o potencial de adsorçã o destes dois â nions, reforçando a ideia de que os solos
têm menor capacidade de adsor çã o para S042 do que para o H2P04 (Marsh et al ., 1987) .
' '

À semelhança do fosfato, em estudos de adsor çã o do S042 , utiliza -se a isoterma de


'

Langmuir para explicar a rela çã o entre o S042 adsorvido e o da soluçã o. Com o uso
'

dessa isoterma, podem -se separar três regiões distintas de adsor çã o de S e calcular a
CMAS para o total ou para qualquer uma das três regiões de adsor çã o, preferindo
considerar como representativa da CMAS a calculada com a segunda regiã o, por ser nela
cumpridos melhor os pressupostos para a utiliza çã o desta isoterma . Além dessa isoterma,
outra muito utilizada nesses estudos é a de Freundlich, a qual, apesar de nã o permitir a
obtençã o da CMAS, possibilita calcular a quantidade de S adsorvido no solo, quando se
conhece a concentra çã o desse nutriente na soluçã o de equilíbrio ( Alvarez V. et al., 2001),
isto també m é possível pela utiliza çã o da isoterma de Langmuir.
Os principais fatores que influenciam o processo de adsor çã o do S042 pelo solo sã o:
'

pH, natureza do complexo coloidal, o tempo de rea çã o, a sua concentraçã o na soluçã o do


solo, a competiçã o com outros â nions e, ainda, o tipo de cá tions acompanhantes na
solu çã o e no complexo sortivo (Yamada, 1988).
O pH torna -se um dos principais fatores que controlam a disponibilidade e a
movimenta çã o do S042 no solo, sobretudo nos solos ox ídicos, que apresentam carga
'

variá vel dependente do pH (Casagrande et al ., 2003). Nesses solos, pr á ticas de manejo,


como calagem e aduba çã c fosfatada, modificam a capacidade de adsor ção e de fixa çã o
do S042 e, conseqiientemente, alteram sua disponibilidade para as plantas.
'

O efeito direto do pH na carga superficial está relacionada com o balanço da adsorção


ou dessor çã o de H + ou OH na superf ície dos minerais. Dessa maneira, a eleva çã o ou a
'

reduçã o do pH promove, respectivamente, aumento das cargas negativas ou positivas


dos colóides do solo ( Bolan et al., 1988). A eleva çã o do pH promove aumento na
disponibilidade de S042 para as plantas, tanto por reduzir sua adsorçã o (Casagrande et
'

al., 2003) quanto por aumentar a liberaçã o do adsorvido; ou seja, aumentar sua dessorçã o.
Adicionalmente, ocorre também maior mineralização do S-orgâ nico com a calagem.
Silva et al . (1999 ), avaliando a influê ncia da calagem e de doses de P sobre a
mineraliza çã o de compostos orgâ nicos com S em amostras de sete diferentes solos, em
cinco períodos de incuba ção (14-70 d ), observaram maiores teores de S042 após a calagem
'

nos solos Gleissolo Elá plico ( HGP) e Latossolo Vermelho-Amarelo de Rio de Janeiro
( LV2), podendo significar maior disponibilidade de S para as plantas. Entretanto,
condições que favoreçam maior movimentação de S no perfil aumentam a disponibilidade
desse nutriente em profundidade, podendo resultar em maior perda de S042 por lixiviação.
'

Isso ocorre pelo fato de a calagem favorecer a formação de cargas negativas nas superf ícies
dos óxidos de Fe e Al e nas argilas silicatadas, diminuindo a adsor çã o de S042 na camada
"

ará vel e aumentando a movimentaçã o deste â nion para camadas mais profundas do
solo. Verificou -se, nesses solos, com menores teores de argila e, ou, de S total, que o
processo de mineraliza ção de S nã o se mostrou influenciado pela aplicação de calcário e
de P, apresentando menores quantidades de S mineralizado, ou maior imobilizaçã o
líquida de S042 . No entanto, a maior disponibilidade de P nos sete solos estudados não
'

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 609

resultou em maior conversã o de S-orgâ nico a S042 . Pelo contr á rio, o efeito conjunto da
'

calagem com maiores teores disponíveis de P para o LV2 acarretou maior imobiliza çã o
de S042 , aos 42 dias de incuba çã o.
'

Com rela ção à natureza dos colóides do solo que influenciam a retençã o do S042 , os '

óxidos de Fe e AI e a caulinita sã o os principais responsá veis desse processo. Os solos


tropicais mais intemperizados que apresentam maiores teores desses minerais, em
consequ ência, podem mostrar teores mais elevados de S042 em rela çã o aos solos '

temperados ( Nor, 1981).


A adsor çã o de S042 nos argilominerais ocorre nas faces quebradas ou nos pontos de
'

fratura nos mesmos. J á para os óxidos de Fe e Al, essa adsor çã o é devida à forma çã o de
uma película em volta dos minerais da fra çã o argila ( Bohn et al., 1985). De modo geral,
a magnitude de adsor ção de S042 segue a seguinte ordem: óxidos de Al > óxidos de Fe >
'

caulinita > argilas 2:1 (Chao et al., 1963).


Aylmore et al. (1967) verificaram que o S042 adsorvido pela caulinita era fracamente
'

retido, enquanto naquele adsorvido por óxidos de Fe e Al a adsor çã o era praticamente


irreversível e, portanto, resistente à lixivia çã o e, assim, possivelmente menos disponível
para as plantas. Entretanto, o grau de cristalinidade desses minerais de argila pode
exercer grande influência no processo de adsor çã o do S042 . "

O S042 é adsorvido ao óxido de Al hidratado por meio de uma ligação de ponte entre
'

esse íon e os dois á tomos de Al, formando um anel de seis membros. Esse mecanismo de
retenção de S042 se deduz das seguintes observa ções experimentais: a carga superficial
'

final tende a ficar próxima de zero; e a rela ção entre o S042 adsorvido, de um lado, e o
"

OFT liberado e a carga neutralizada, do outro lado, é curvilinear. Observa ções que
sugerem as seguintes rea ções:
OH ,-, + O H j-i —
AkDH 2
+ SO/ “

Alxscv + OH 2 (6)

+ soa
2
+ OH (7)

As reações supradescritas levam a superf ície do mineral a ter carga líquida negativa .
Posteriormente, a neutraliza çã o dessa carga negativa ser á, possivelmente, pelo S042-
adsorvido, o qual desloca OFT (ligado a um sítio neutro ou positivo ), ligando-se a outro
Al, proporcionando a forma çã o de anel, favorecendo, assim, o desenvolvimento de formas
nã o-lá beis. Rajan (1978) propôs a seguinte forma çã o anelar:

O H, - OHj -IO

'

OH
(8)
o '2

FERTILIDADE DO SOLO
610 V í CTOR HUGO ALVAREZ V. et al .

V á rios autores têm confirmado que o fenô meno de adsor çã o é influenciado pelo
tempo de contato do S042 da soluçã o com a fase sólida do solo. Estes estudos confirmam
"

a existência de duas etapas na adsor çã o do S042 com a fase sólida, à semelhança do que
'

ocorre com o P. Em uma primeira etapa, o S é rapidamente retido . Com passar do tempo
de contato, uma segunda etapa é desenvolvida mais lentamente e parte do S é
transformada em formas fortemente retidas, constituindo a reserva não-lá bil (Chao et al.,
1962; Barrow, 1967; Hingston et al., 1974; Rajan, 1978; Karltun, 1994 ) .
Para Metson & Blackemore (1978), o efeito da retençã o do S em rela çã o à competição
com o P depende principalmente da quantidade relativa de S042 na soluçã o e da natureza
'

do solo. Esses autores observaram que solos com baixa capacidade de adsor çã o de S042 '

adsorvem muito pouco deste â nion, quando a razã o na solução entre S e P, em massa , era
de 1:1. A situa çã o inversa també m é verdadeira , ou seja, solos com alta capacidade de
adsor çã o de S042 sã o capazes de adsorver grandes quantidades de S042 adicionado,
" "

mesmo que o fosfato esteja presente.


Contudo, â nions orgâ nicos na solução do solo també m sã o fortes competidores pelos
sítios de adsor çã o. Inskeep (1989) hipotetizou que, quanto maior o grau de ionização e a
quantidade de grupos funcionais disponíveis nas estruturas dos ácidos orgâ nicos, maior
ser á o seu poder de competiçã o com o S042 pelos sítios de adsor çã o.
'

Chao et al. (1963) estudaram o efeito do cá tion acompanhante do S042 na adsor çã o


'

deste â nion pelo solo e verificaram que a retençã o de S042 das diferentes soluções de sais
"

apresentou a seguinte ordem: CaS04 > K 2S04 > ( NH 4) 2S04 > Na 2S04. J á, em rela çã o à
saturação por cá tions no complexo de troca, foi observado que a retençã o de S042 seguiu
'

a ordem de valência química do cá tion saturante: Al3+ > Ca 2+ > K +. Assim, considerando
a possibilidade de as amostras de solo que foram saturadas com v á rios cá tions exibirem
valores de pH diferentes, associaram os dois efeitos, ou seja, do tipo de cá tion ( tri, bi, e
monovalente ) e do pH. No entanto, o efeito do pH pareceu mais evidente que o efeito do
cá tion no complexo sortivo. A influência desse último foi relacionada com os possíveis
efeitos no potencial zeta dos colóides do solo, na repulsão aniônica. Por serem os colóides
do solo carregados, em geral, negativamente, a distribuição do S042 na dupla camada
"

difusa está associada à repulsã o elé trica . Como esse potencial é reduzido pela presença
de cá tions polivalentes, há grande possibilidades de o íon S042 ser retido.
'

Outro mecanismo associado à diminuiçã o da disponibilidade do S042 na soluçã o'

do solo é a forma çã o de precipitados de sulfato mono-básico de Al. De tal modo, a


precipita çã o e a dissoluçã o da basaluminita e alunita e de sais semelhante de Fe parecem
estar associadas aos mecanismos de adsor çã o e dessor çã o de S042 em solos á cidos.
"

Embora os experimentos nã o comprovem que o S042 é precipitado no solo como sulfato


'

de Al e, ou, de Fe insolúveis, esse processo pode ser uma maneira para explicar as equa ções
teóricas de adsor çã o ( Adams & Rawajfih, 1977).
Contudo, Wearver et al. (1985) observaram que, sob condições naturais, diferentes
mecanismos de adsor ção de S042 ocorrem simultaneamente nos solos, tornando-se dif ícil
'

diferenciar tais processos, como, por exemplo, precipitaçã o e rea ções de superf ícies.
Em adiçã o a todos esses fatores anteriormente mencionados com relação à adsorção
do S042 pela fase mineral do solo, torna -se necessá rio ressaltar o papel importante da
'

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 611

mat éria orgâ nica do solo na disponibilidade de S para as plantas, já que a maior parte do
S ( > 95 %) do solo encontra -se na forma orgâ nica .
A mineraliza çã o e a imobiliza çã o entre formas orgâ nicas e inorgâ nicas de S sã o
processos importantes que podem governar a adsorçã o do S no solo, a lixivia çã o e,
portanto a disponibilidade desse nutriente para as plantas ( Zhao et al., 1996), também é
importante o equilíbrio entre as formas lá beis e n ã o-lá beis, principalmente em solos
tropicais muito intemperizados.
Os efeitos da maté ria orgâ nica na adsor çã o de S042 pelos solos apresentam pontos
'

contraditórios na literatura. Alguns trabalhos destacam que a matéria orgâ nica apresenta
rela çã o direta com a adsor çã o (Chao et al ., 1962; Haque & Walmsley, 1974), enquanto
outros têm evidenciado rela çã o inversa com a adsor çã o de S042 pelos solos (Singh, 1984;
'

Patil et al., 1989 ) . Essa rela çã o negativa entre a maté ria orgâ nica e a adsor çã o de S042 é '

perfeitamente explicável, graças ao cará ter de sua carga de superf ície negativa; entretanto,
deve-se levar em considera çã o sua natureza anf ó tera (carga variá vel), assim, sob certas
condições, pode desenvolver cargas positivas, possibilitando a retençã o de â nions .
Accioly (1985) verificou que o teor de matéria orgâ nica nã o apresentou correla çã o
com a capacidade tampã o do S042 , o que pode indicar menor participa çã o dessa fra çã o
'

do solo na adsorção do S042 . Por outro lado, o baixo grau de associação entre a capacidade
'

tampã o de S042 e o teor de argila evidencia que a qualidade da argila pode ser tã o
'

importante quanto os teores nesses solos.


Segundo Uchôa (1999), a disponibilidade de S em termos f ísico-químicos pode ser
explicada pela inter-relaçã o entre os fatores Intensidade, Quantidade e Capacidade
tampã o. Alvarez V . (1988) comenta existir também uma passagem bem mais lenta entre
a reserva lá bil e a nã o-l á bil. No entanto, pouco se conhece sobre a transforma çã o de S
lá bil em nã o-lá bil, bem como sobre o grau de reversibilidade dessa forma não-labil para
lá bil.

FORMAS L Á BEIS E N Ã O- L Á BEIS

Pelo indicado até agora, as formas lá beis de S ( Fator Quantidade) no sistema solo
estã o relacionadas com o S042 que é precipitado, imobilizado e, ou, adsorvido, e que
'

estã o em rá pido equilíbrio com o SÒ42 da soluçã o do solo, podendo repor o S à soluçã o
'

durante o ciclo de uma cultura anual (8) . Por outro lado, a forma nã o-lábil relaciona -se
com o S042~ que nã o está em equilíbrio imediato com o S042 da soluçã o do solo. As
'

formas lábeis podem ser transformadas em formas nã o-lá beis, sendo retidas com tal
energia que o equilíbrio com o S-soluçã o desaparece, deixando, portanto, de ser disponível
para as plantas de ciclo curto.

<8) Como as formas sol ú veis, lá beis e nã o-l á beis na natureza constituem um cont ínuo, a conceitua çã o
do que é lá bil necessita da indica çã o do componente tempo.

FERTILIDADE DO SOLO
612 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.

V á rios autores citam a presen ça de formas de S precipitadas de baixa solubilidade,


como o gesso, a alunita e a basaluminita; formas oclusas e formas orgâ nicas de S ligado
a C de dif ícil mineraliza çã o; sendo relacionadas com a reserva nã o-lá bil de S no solo
( Adams & Rawajfih, 1977; Pavan et al ., 1984; He et al., 1997).
Para Uchôa et al. ( 2003), apesar dessa conceitua çã o simples do que se entende por
lá bil e nã o-lá bil, a quantifica çã o dessas reservas é, contudo, complexa, principalmente
quando se trata de relacioná -las com a determina çã o das formas disponíveis, em razã o
de n ã o se conhecer, quanto do total de S lá bil é recuperado por extratores de formas
disponíveis que extraem preferencialmente a fraçã o do S042 prontamente sol úvel (a parte
"

mais rapidamente lá bil), e quanto por extratores que, além desta fra çã o, extraem também
parte do S042 adsorvido. Dessa maneira, quando se utilizam esses extratores, frações do
"

que está adsorvido e fra ções de S de formas orgâ nicas sã o extra ídas, tornando dif ícil
separar o quanto do extra ído seria l á bil, uma vez que existe a possibilidade de extra çã o
de fra ções nã o-lá beis.
A determina çã o do fator quantidade para S (S-lá bil ) tem sido realizada por meio da
aplica çã o do princípio de diluiçã o isotó pica (valores E , L e A ) . A restriçã o ao uso desse
m é todo está relacionada com a possibilidade de ocorrer adsorçã o sem troca e de alguma
troca do S marcado com algum S nã o-l á bil . O emprego da resina trocadora de â nions,
proposto por Amer et al. (1955) para a determina çã o da reserva lá bil de P, é um mé todo
alternativo para determina çã o de formas lá beis de S. Nesse processo, o solo é agitado em
á gua com a resina, e o S é transferido do solo para resina através da á gua: S-solo > —

S-soluçã o >S-resina . Para Raij (1981), esse caminho é semelhante ao que ocorre na
absor çã o pelas raízes, quando o P sai da fase sólida do solo para a soluçã o e, desta , para
a raiz.
A utiliza çã o da resina trocadora de â nions baseia -se, portanto, na possibilidade de
extra çã o de formas prontamente sol úveis de S-S042 e as adsorvidas ou precipitadas, mas
'

que podem, para manter o equilíbrio, passar à solu çã o durante o ciclo de uma cultura,
estimando, dessa maneira , o fator quantidade (Q). O uso desse mé todo na extração de S
é pouco citado na literatura e os trabalhos, em sua maioria, restringem-se à determina çã o
do S disponível.
Uchôa et al. (2003) desenvolveram um mé todo para determinaçã o do teor de S lá bil
do solo, utilizando, para isto, membrana de resina de troca aniô nica . Nesse trabalho,
foram realizados tr ês experimentos, sendo: (1) extra çã o com diferentes n úmeros de
membranas de troca aniônica; (2) extra ções sucessivas por 16 h cada, com uma membrana,
e (3) extra çã o com uma membrana por diferentes tempos de agita çã o (1, 2, 4, 8, 16, 24, 36,
48 e 72 h). Esses autores indicaram que a extraçã o contínua com uma membrana de troca
aniônica, por 48 h de agita çã o, é um mé todo viá vel e eficiente, tendo extraído elevada
percentagem ( > 87 %) do S lá bil (SL). Esse S extra ído com agitaçã o, durante 48 h, foi
considerado como S rapidamente lábil (SRL ). A pequena fraçã o restante do SL, extraído
entre 48 h, e o tempo de extra ção má ximo, estimado para SL, de 152 h, foi denominado de
S lentamente lá bil (SLL ) . O enxofre nã o-lá bil (SNL) foi aquele que seria extraído com um
tempo de agita ção superior a 152 h. Nesse trabalho, preferiu-se separar o S rapidamente
lá bil (SRL) do S lentamente lá bil mais o nã o-lá bil (SLL + SNL ), em lugar de definir o

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 613

limite entre S lá bil e S nã o-lá bil. Assim, o SRL é extraído com membrana de troca aniônica
por um tempo de agita çã o de 48 h com posterior dosagem por turbidimetria . Já o S da
reserva SLL + SNL é calculado pela diferença entre o S do solo (S-so) obtido por calcinação
( Bardsley & Lancaster, 1960 descrito por Alvarez V . et al., 2001) e o SRL.

Transformação de Enxofre Lábil em N ã o-Lábil


O S nã o-lá bil é constituído de formas fortemente retidas pelos colóides inorgâ nicos
e, ou, orgâ nicos do solo e que nã o se encontram em equilíbrio com o S da solução do solo.
Segundo Alvarez V . (1988), existiria transfer ência lenta do S da reserva lá bil para a da
nã o-lá bil e, ainda mais lenta, da reserva nã o-lábil para a lá bil . No entanto, poucos sã o os
trabalhos na literatura relacionados com a forma çã o dessa reserva nã o-l á bil, como
também os relacionados com o grau de reversibilidade dessas formas.
Aylmore et al. (1967), estudando a CMAS pela caulinita e por óxidos de Fe e Al,
encontraram valores de 421 mmol kg 1 para óxido de Al (y-AlOOH , pseudoboemita ), de
"

67 mmol kg 1 para óxido de Fe (a - Fe203, hematita ) e de 5 a 9,3 mmol kg 1 para a caulinita .


" "

Verificou-se também nesse trabalho que o S042 adsorvido pela caulinita era fracamente retido
'

e, conseqíientemente, liberado mais facilmente para a soluçã o do solo, enquanto o S042 "

adsorvido pelos óxidos de Fe e Al era quase que completamente irreversível e, possivelmente,


pouco disponível para as plantas, transformando-se, assim, em forma nã o-lá bil de S.
Outro aspecto importante é o grau de cristalinidade dos minerais de argila como
elemento de destaque nos fenômenos que controlam a dinâ mica entre as formas lá beis e
nã o-lá beis de S. Caulinitas de baixa cristalinidade e a presença de pequenas quantidades
de formas amorfas podem elevar acentuadamente a fixa çã o do S no solo ( Ker, 1995).
Estudos de adsor çã o e de fixa çã o tê m mostrado que a retençã o(9) do S042 pelo solo é "

dependente da sua concentraçã o (Aylmore et al., 1967) e do tempo de equilíbrio (Karltun,


1994). A utilização das isotermas de adsorção, como as de Langmuir e de Freundlich, explicam
o fenômeno, unicamente, na fase inicial . Por esses trabalhos, confirma -se a semelhança
do processo de forma çã o de S nã o-lábil com o P nã o-lá bil, ou seja, na primeira etapa, o S
é rapidamente adsorvido ( primeira fase ). Com o tempo, em etapa desenvolvida mais
lentamente, parte do S é convertida em formas mais fortemente retidas, fato atribuído à
forma çã o de uma estrutura tipo anel. No caso do P, esse processo ocorre em duas fases.
Uma primeira fase de r á pida adsor çã o é seguida de outra fase bem mais lenta,
representada pelos modelos exponenciais de Barrow (1974 ) ( modelo exponencial
assintó tico ao eixo da variá vel tempo). Essa adsor çã o de P pelo solo apresenta um
componente adicional à simples forma çã o de P-lá bil, que é a forma çã o do P nã o-l á bil
( Novais & Smyth, 1999 ) .
O S lá bil supre o S não-lá bil (SNL ), mas o inverso ocorre dificilmente. Determinadas
prá ticas, como a diminuiçã o do potencial redox e a adiçã o, ou ac ú mulo, de maté ria
orgânica ao solo, indicam a demanda de energia para que esse sistema torne-se reversível,
pelo menos parcialmente (Sah & Mikkelsen, 1989 citados por Novais & Smyth, 1999 ).

(9 > Reten çã o engloba adsor çã o e adsor çã o n ã o - revers í vel (fixa çã o ),mas que passa inicialmente pela
simples adsor çã o.

FERTILIDADE DO SOLO
614 V í CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.

Para S, esse equilíbrio entre o S-lá bil e o S nã o-lá bil é questioná vel com rela çã o ao
seu efeito na disponibilidade do S para as plantas, já que nã o se conhece o grau de
reversibilidade, especialmente dos compostos orgâ nicos, do S nã o-lá bil para o lá bil .
Segundo Accioly (1985) , em grande parte dos solos, este equilíbrio poderia ser
representado pela rela çã o entre as constantes kj / k2 (esquema para P de Gunary & Sutton
(1963), adaptado por Accioly 1985), estando kj relacionada com a mineraliza çã o do
S-orgâ nico e k 2 com a imobiliza çã o desse elemento.

Reversibilidade de Enxofre N ã o- Lá bil


A forma çã o do S nã o-l á bil em condições de elevado intemperismo pode estar
relacionada com a presença de óxidos de Fe e Al, assim como ocorre para P. Solos mais
intemperizados, com maior teor de argila e grande presença de óxidos de Fe e Al,
proporcionam elevada capacidade de adsor çã o e de fixa çã o de S042 . '

Existe grande limita çã o de informa ções na literatura referentes aos aspectos


relacionados com forma çã o e reversibilidade do S nã o-lá bil a l á bil . Diante disso,
apresentam-se alguns resultados do trabalho desenvolvido por Uchôa (1999 ), em que se
avaliou o equilíbrio entre formas de SRL e o SL + SNL em amostras de solos submetidas
às seguintes condições: alteraçã o do pH do meio, adiçã o de diferentes doses de S e tempos
de incuba çã o e adi çã o de diferentes doses de S e de P.
Nos ensaios, utilizaram -se dez amostras de diferentes classes de solos com grande
variabilidade nas suas caracter ísticas químicas, f ísicas e mineralógicas. Assim, foi
possível dividir os solos em dois grupos: um de baixa e outro de alta CMAS (Quadro 3).
Ao primeiro grupo (CMAS < 100 mg dm 3 de S) correspondem os solos RQ-CV, LVA-TM,
'

LV- CV, LV -TM e LA -AR e ao outro ( CMAS > 100 mg cm 3 de S) os solos LVA - UB1, '

LVA- UB2, LV-SL, LVA-PR e LVA-PA. Com relação à mineralogia, pode-se também separar
solos de natureza caulin í tica ( RQ-CV, LV-CV, LA-AR, LV-SL e LVA -PR ) e solos
predominantemente mais oxídicos. Dentre os oxídicos, há um mais goethítico (LV-TM) e
quatro mais gibbsíticos (LVA-UB1, LVA-UB2, LV-TM e LVA-PA).

Quadro 3. Capacidade má xima de adsorçã o de sulfato para amostras de dez solos do Estado de
Minas Gerais

Solo
CMAS
RQ-CV (1 > - - -
LVA TM ( 2 ) LV CV 3 ) LA AR 4 LV TM < 5
( ( ) )
-
LVA UB1( 6 ) LVA UB 2 <
7)
-
LV -SL (8 ) LVA PR ( 9 ) -
LVA PA (10 )

mg d m -3 d e S no s o l o

A 11 12 63 64 67 188 188 199 215 279


B 7 8 111 21 201 156 84 197 350

A: Capacidade m á xima de adsorçã o de Sulfato ( Alvarez V . et al., 2001); B: Capacidade m á xima de adsor çã o de
Sulfato nos solos após ataque com H 2Oz 30 volumes ( Alvarez V. et al., 2001). (1 ) Neossolo Quartzarénico: Campina
Verde . (2 ) Latossolo Vermelho-Amarelo: Três Marias . (3) Latossolo Vermelho: Campina Verde. ( 4) Latossolo Amare -
lo: Aracruz. (5) Latossolo Vermelho: Três Marias. <6) Latossolo Vermelho-Amarelo: Uberaba (amostra 1). (7) Latossolo
Vermelho- Amarelo: Uberaba (amostra 2) . <8) Latossolo Vermelho: Sete Lagoas. (9) Latossolo Vermelho: Paracatu.
> Latossolo Vermelho-Amarelo: Patrocínio.
(10

Fonte: Uchôa (1999 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 615

No estudo do efeito da altera çã o do pH no equilíbrio entre a reserva de SRL e a de


SLL +SNL, verificou -se que, em todos os solos, a correção do pH aumentou o teor de SRL
em rela çã o ao tratamento sem correçã o de pH (Quadro 4). A correçã o do pH para todos
os solos inverteu o sentido do fluxo de S, que passou do SLL + SNL para o SRL. O efeito
da reduçã o do pH na fixaçã o de S042 foi observado por v á rios autores (Wearver et al.,
'

1985; Nodvin et al., 1986; Courchesne & Hendershot, 1989 ). O aumento da retençã o do
S042 em valores baixos de pH está diretamente relacionado com a protona ção dos óxidos
'

de Fe e Al amorfos e cristalinos. Esses minerais apresentam carga variá vel dependente


do pH do meio, podendo, assim, perder ou ganhar pr ó tons. Com a eleva çã o do pH, por
meio de calagem, os íons OH deslocam progressivamente o S042 fixado e adsorvido ao
' '

complexo de troca, aumentando, assim, sua concentração na solução do solo e favorecendo


a disponibilidade do S042 para as plantas.
'

Neste estudo, considerando o efeito de doses de S e do tempo de equilíbrio entre as


reservas SRL e SLL + SNL, constatou-se que, em geral, a direçã o de fluxo foi no sentido
do SLL + SNL e que as varia ções em termos de magnitude de saída do S042 do SRL se deram '

de acordo com a CMAS e dos teores de goethita e gibbsita na fração argila dos solos estudados.
Em solos que apresentaram maiores CMAS e teores mais elevados de goethita e gibbsita,
o S042 estava adsorvido e fixado a essas fra ções, indicando que o S encontrava -se, em
'

parte, na reserva SLL + SNL, não estando disponível para as plantas nem exposto à lixiviação.
O teor de SRL, em funçã o do teor de SLL + SNL, foi obtido por regressã o linear. A
capacidade tampã o de enxofre lá bil (CTSL) foi obtida, em analogia a CT que é -AQ / AI,
pelo inverso do coeficiente angular (1/ bj) das equa ções lineares SRL = f (SLL + SNL ),
ficando igual a ASLL + SNL / ASRL. A CTSL e definida como a resist ência que o
compartimento SRL do solo oferece à saída do S para a reserva do SLL + SNL e representa
quanto de S adicionado passa ao compartimento SLL + SNL para cada unidade de S que
fica no reservatório SRL.

Quadro 4. Teores de enxofre rapidamente l á bil e enxofre lentamente l á bil mais n ã o-l á bil,
considerando a correçã o do pH (sem e com correçã o do pH, antes e depois da incuba ção
com 80 mg dm 3 de S) nos solos estudados
'

Solo
Corre çã o do
pH/ incuba çã o RQ CV LVA TM LV CV
- - - LA AR - LV-TM LVA- UB1 LVA- UB 2 LV-SL -
LVA PR LVA PA-
SRL, mg dm - 3

Sem 71,96 67,31 76, 20 121,08 75,78 60,46 83,09 88,88 74,02 62,16
Com Antes 82,00 79, 22 83,82 144,43 87,68 80,31 105, 25 113,35 99,08 82,66
Com Ap ós 84,55 70,49 84,28 146,02 92,18 79,10 102,11 123, 79 103,19 80,14

SLL + SNL, mg dm -3
i
Sem 32,94 41, 42 54,53 31,07 23,35 116, 29 69,44 104,82 78,96 116,24
Com Antes 20,35 29,51 46,91 7, 72 11, 45 96,44 47,28 80,35 53,90 95,74
Com Após 22,90 38,24 46,45 6,13 6,95 97,65 50, 42 69,81 49,07 98,26

Fonte: Uch ôa (1999 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
616 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.

A CTSL de cada solo, nos diferentes tempos de incuba çã o, aumentou, à medida que
a resistência da reserva do SRL diminuiu, favorecendo a passagem de parte do S para
SLL + SNL (Quadro 5) . Os valores de CTSL são inversamente proporcionais à resistência
da reserva do SRL à perda de S para SLL + SNL, ou seja, quanto maior a CTSL, menor a
resistência da reserva do SRL e maior a facilidade de passagem de SRL para SLL + SLL.
Mesmo assim, a maior parte do S adicionado ficou na reserva SRL na maioria dos solos,
e, unicamente no solo LVA -PA, ao fim da incuba çã o, a partiçã o foi equitativa .
A reversibilidade do SLL + SNL para SRL, ao longo do período de incuba çã o, foi
observada para alguns solos, como, por exemplo, para RQ-CV, LVA-PA, LVA-UB1 e LV-CV.
No caso do RQ-CV, observou-se que, ao longo de 90 d de incubação, pode ter ocorrido
reversibilidade de S da reserva do SLL + SNL para SRL (Quadro 5), uma vez que houve
aumento crescente na resistência do SRL a partir de 30 d de incuba çã o, o que pode ter
deslocado o sentido da passagem entre as reservas. Já para o LVA-PA, essa possibilidade
de reversibilidade entre as reservas SLL + SNL e SRL foi observada nos 30 d iniciais de
incuba çã o pela diminuiçã o da capacidade tampã o do S lá bil (CTSL), que variou de 0,344
a 0,205 mg dm 3 / mg dm-3, for çando, desse modo, a mudança na intensidade do fluxo .
'

Esses resultados permitem inferir sobre a id éia de continuidade entre esses reservatórios
e de que fatores externos, como aduba çã o e tempo de incubaçã o, podem deslocar o
equilíbrio em favor de um ou outro reservató rio, dependendo das caracter ísticas
intr ínsecas dos solos. No caso, tem-se que as mesmas doses de S dentro dos diferentes
tempos de incuba çã o levaram à reversibilidade do SLL + SNL para o SRL.
O papel da maté ria orgâ nica na forma çã o das reserva SLL + SNL é um tanto
contraditó ria neste trabalho. Dos dez solos estudados, sete apresentaram valores de
CMAS menores após a remoçã o da matéria orgâ nica pelo per óxido de hidrogénio
(Quadro 3), evidenciando o papel ativo da mesma na adsor çã o de S; ou seja, com o maior
teor de maté ria orgâ nica ocorre um incremento no n ú mero de sítios de adsor çã o e de
fixaçã o do SQ42 , favorecendo a formação da reserva SLL + SNL, a exemplo do que ocorreu
'

Quadro 5. Capacidade tamp ã o de enxofre l á bil dos solos em seis tempos de incuba çã o com
diferentes doses de enxofre

Solo \

TI
-
RQ CV LVA-TM LV CV - LA-AR -
LV TM -
LVA UB1 LVA UB 2- -
LV SL - -
LVA PR LVA PA

d mg dm 3 / mg dnv 3
'

1 0,118 0,181 0,150 0,143 0,179 0 ,175 0,051 0,148 0, 208 0,344
8 0,136 0,191 0,199 0,166 0,167 0,142 0,160 0,167 0,215 0, 245
15 0,139 0,148 0, 219 0,053 0,167 0,185 0,147 0,174 0,162 0,211
30 0,152 0,106 0,132 0,077 0,146 0,173 0,175 0,273 0,185 0, 205
60 0,118 0,183 0,141 0,212 0,087 0, 244 0,219 0,264 0, 243 0,597
90 0,098 0,289 0,153 0,148 0,122 0,491 0,298 0,425 0,360 1,082
Fonte: Uchôa (1999 ).

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 617

para LV-TM. Também, no solo LVA- PA, verificou -se que, com a remoçã o da matéria
orgânica, houve aumento de CMAS da ordem de 25 % (Quadro 3) . Esse resultado permitiu
inferir que a maté ria orgâ nica tem efeito ainda mais destacado na estabiliza çã o de
microagregados dos Latossolos e na reduçã o da superf ície de contato do S com os óxidos -
Dessa maneira, com a remoçã o da maté ria orgâ nica pelo per óxido de hidrogénio, pode-
se verificar aumento da superf ície, proporcionado pela desestabiliza çã o dos
microagregados, expondo sítios de cargas mais ativos à adsor çã o de S042 , especialmente '

de gibbsita , que tende a concentrar -se no n ú cleo de microagregados (Schaefer , 1996 ) .


Assim, o elevado teor de matéria orgâ nica no LVA-PA reduziu a CMAS e, ao mesmo
tempo, o teor de S do compartimento SLL + SNL.
Uch ôa (1999 ) constatou que a forma çã o do SLL + SNL dos solos estudados é
provavelmente dependente tanto da goethita quanto da gibbsita, uma vez que se teve
maior passagem de SRL para SLL + SNL nos solos onde os teores desses minerais foram
maiores ( LVA-UB1, LVA-UB2, LVA-PR e LVA-PA ) . Observou que, somente a partir dos
1 30 d de incuba çã o, as características químicas, f ísicas, f ísico-químicas e mineralógicas
passaram a influenciar claramente a CTSL, ou seja, passaram a definir a resistência da
reserva do SRL à sa ída do S para a reserva do SLL + SNL . As correla ções observadas
entre a CTSL e o teor de C-orgâ nico, goethita e gibbsita confirmam que a formação da reserva
nã o-lá bil deve-se à fixa çã o do S042 em cargas geradas por essas frações ( Uchôa, 1999 ).
'

Com relação ao ensaio em que se avaliou o efeito da adiçã o de diferentes doses de S


e de P no equil íbrio entre reservas de SRL e SLL + SNL, constatou-se, pela varia çã o dos
valores CTSL ( variando entre positivo a negativo Quadro 6), que esse equilíbrio foi
alterado pela adição de P. O grupo de solos com menor CMAS (RQ-CV, LV-CV, LVA-TM,
LV-TM e LA- AR ) chegou a apresentar valores negativos para CTSL na maior dose de P,
indicando reversibilidade de SLL + SNL, ou seja, saída de S para a reserva do SRL.
Entretanto, os demais solos apresentaram, como tend ência geral, CTSL cada vez menor
de acordo com o aumento da dose de P, mostrando, assim, que menor quantidade de S
passava da reserva SRL para SLL + SNL (Quadro 6).
A CTSL apresentou estreita correlaçã o com características do solo, as quais, por sua
vez, encontram-se associadas com a capacidade tampão ( Uchôa, 1999 ) .

Quadro 6. Capacidade tampã o do enxofre lá bil obtida pela rela çã o entre o enxofre rapidamente
l á bil e o enxofre lentamente lá bil mais o nã o -l á bil para diferentes doses de enxofre
aplicadas junto com tr ês doses de’ f ósforo

Solo
Dose de P
- - - -
RQ CV LVA TM LV-CV LA- AR LV TM LVA-UBl LVA UB 2 LV SL LVA-PR LVA- PA -
mg dm 3 *
mg dm 3 / mg dnr3
'

0 0,062 0,140 0,065 0,161 0,066 0, 216 0, 223 0,191 0,186 0,570
80 -0,086 0,111 0,050 0,097 0,073 0,215 0, 211 0,174 0,244 0,605
320 -0,133 -0,065 -0,110 -0,118 -0,061 0,086 0,135 0, 069 0,154 0,364

Fonte: Uch ôa (1999) .

FERTILIDADE DO SOLO
618 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.

O teor de caulinita de todos os solos nã o mostrou correlação com a CTSL, o que pode
indicar que as cargas deste mineral apresentam baixa especificidade na adsorçã o e fixaçã o
do S042 , exercendo pouca influ ência na forma çã o das reservas de SRL e de SLL + SNL .
'

ENXOFRE NAS CULTURAS


Absorçã o
O íon S04 é a principal forma de S absorvido pelas plantas (Salisbury & Ross,
1992) . A absor çã o é processo ativo dependente de consumo de energia (Cram, 1990 ) e
com participa çã o de transportadores de S042 em diferentes tipos de células ( Herschbach
'

& Rennenberg, 2001) . A absor çã o de S042 sofre antagonismo, especialmente de Cl , pelo


' '

excesso de aplica çã o de adubos, como cloreto de potá ssio, por exemplo.


O S també m pode ser absorvido pelas folhas tanto em forma oxidada como reduzida .
A aplicação nas folhas de espécies arbó reas de 35S-cisteína resultou em translocação de
0,3 a 1,2 % de 35S para outras partes das plantas de Fagus sylvatica ( Herschbach &
Rennenberg, 1995), enquanto em Piceas abies chegou a 54 e 77 % (Schneider et al., 1994) .
A absor çã o e o carregamento de S042 no xilema sã o processos independentes
'

mediados por diferentes sistemas de transporte. Em plantas de soja , a absor çã o,


assimila çã o, transloca çã o e redistribuiçã o de S se processam com muita rapidez . Garsed
& Read (1977a ) detectaram 35S042 na solu çã o nutritiva de cultivo, 1 h após a exposição

de folhas de soja a este isó topo.

Transloca çã o e Redistribui çã o
O S042 absorvido é translocado pelo xilema em direçã o às folhas. O transporte de
'

S042 pode ocorrer via xilema ou via floema, podendo redistribuir-se entre essas vias
'

( Larsson et al., 1991) . Contudo, a entrada de S042 no floema é restrita, e a sua manutençã o
'

nas folhas velhas, mesmo sob deficiência de S, deve estar relacionada com este fato
(Clarkson et al., 1983) .
O S042 que chega às folhas é reduzido e incorporado a esqueletos carbónicos .
'

Compostos com S reduzido podem ser translocados em direção às folhas em crescimento


ou em direçã o aos ramos, ao caule ou à s ra ízes ( Herschbach & Rennenberg, 1995;
Hartmann et al. 2000 ) . As ra ízes sã o amplamente dependentes da transloca çã o via
floema para aquisiçã o de amino á cidos que contê m S. Em soja, utilizando compostos
marcados, Garsed & Read (1977b ) observaram que o S042 é o principal composto
"

translocado no floema, seguido, em menores quantidades, de glutationa e de cisteína .


A transferência de S042 e de compostos com S reduzido entre o xilema e o floema é
'

fundamental para a transloca çã o e redistribuiçã o de S, em razã o de ser este elemento


retido, com maior intensidade, em folhas velhas. Em algumas espécies arbóreas, a
transloca çã o de S reduzido via floema ocorre apenas na direção basípeta , sem que se
tenha observado transfer ê ncia entre floema e xilema ( Herschbach & Rennenberg, 2001).
A principal forma de S reduzido translocada via floema é a glutationa (Garsed & Read ,
1977b; Herschbach & Rennenberg, 2001) .

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 619

Para estudar a transloca çã o e redistribuição de S absorvido por plantas de soja e


milho, Silva et al. ( 2003) realizaram dois ensaios em casa de vegeta çã o. No primeiro, a
transloca çã o e a redistribuiçã o do 35S absorvido, por uma raiz de soja ou de milho, foram
avaliadas às 0, 6, 12 e 24 h. O 35S foi prontamente absorvido e translocado para a parte
a érea, assim como para as ra ízes que estavam èm solu çã o nutritiva isenta de S. Pela
observa çã o de auto- radiografias, foi detectado ac ú mulo diferenciado de S entre os dois
lados da nervura central das folhas de milho (Silva et al ., 2003 ) , refletindo a
compartimentaliza çã o do sistema vascular das ra ízes à parte a é rea das plâ ntulas de
milho. A maior parte de 35S foi mantida na raiz de absor çã o nas plantas de soja e de
milho . Uma fra ção menor foi translocada para a parte a érea e redistribuída , em seguida ,
para drenos situados em outras partes das plantas.
No segundo ensaio, foi estudada a redistribuiçã o do S absorvido a partir do 35S
pincelado em pequenas á reas da superf ície adaxial da lâ mina foliar do folíolo central da
segunda folha de soja e da terceira folha da planta de milho, depois de 6, 12, 24 e 48 h de
aplica çã o. O 35S aplicado na folha foi translocado tanto na direçã o acrópeta quanto na
basípeta . Nas plantas de soja , o S absorvido, tanto pela raiz quanto pela folha , foi
translocado, em maior propor çã o, para as folhas superiores, nã o sendo detectado em
outras partes da planta . Em plantas de milho, o S absorvido pela folha foi translocado
preferencialmente para o caule e para as ra ízes, confirmando que o S042 aplicado na
"

folha é translocado e redistribuído tanto na direçã o acr ópeta quanto a basípeta (Silva et
al., 2003) .

Interações
As intera ções entre nutrientes sã o consideradas importantes para a nutriçã o
adequada das plantas . Todavia , elas precisam ser mais bem entendidas para melhorar
a interpreta çã o de resultados e definir seu efeito na produtividade das culturas. As
interações resultam da influência m ú tua de um elemento sobre a ação de outro, produzindo
efeito positivo ou negativo sobre o crescimento, desenvolvimento e produção, sendo esta
influência dependente de condições de clima, solo, espécie e de cultivares das plantas.
O equilíbrio entre os nutrientes merece atençã o nos programas de adubação, visto
que a utiliza çã o de adubos concentrados com elevados teores de P e, ou, de N podem
provocar a deficiência de S, quando o teor nos solos é baixo, e provocar desbalanceamento
entre â nions (Cravo, 1984).
Alguns trabalhos tê m apresentado intera çã o fortemente positiva entre P e S no
crescimento e produçã o das culturas, tanto no metabolismo vegetal como na aduba çã o
fosfatada na adsor çã o de S042 no solo, o que demonstra a existência de um equilíbrio
'

dinâ mico entre estes â nions (Barrow, 1969; Leite, 1984; Cravo et al., 1985; Bolívar, 1993;
Martins & Kaminski, 1997; Uchôa, 1999 ).
Fornecendo apenas S a um solo com deficiência de P, a resposta das culturas pode
até ser negativa. O excesso de S pode comprometer algumas vias metabólicas na ausência
de P. Na ausência de S, obtêm-se respostas muito baixas ou mesmo nã o há respostas à
adiçã o de P; no entanto, nã o chegam a ser negativas. A adiçã o conjunta de P e de S
apresenta elevada resposta positiva no desenvolvimento e crescimento das culturas. Em

FERTILIDADE DO SOLO
620 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.

amendoim, a adição de S incrementou o crescimento ( mais ramos e mais flores) e a adiçã o


de P aumentou o n ú mero de flores que produziram vagens ( Prevot & Ollagnier, 1964).
Este efeito interativo foi observado nos trabalhos de Alvarez V. et al . (1983), Cravo et al.
(1985) e Brienza Jr. (1988 ) (Figura 5).
A intera çã o PxS afeta, de modo recíproco, os níveis críticos desses nutrientes no
solo. Leite (1984), estudando o equilíbrio P e S na cultura da soja em dois Latossolos de
Minas Gerais, observou que, no solo argiloso, o nível cr ítico de S foi reduzido com o
aumento das doses de P, enquanto o nível crítico de P praticamente n ã o foi afetado por
doses de S. Já para o solo arenoso, verificou-se que tanto os níveis cr íticos de P quando
os de S dependeram linearmente do outro nutriente, o que evidencia a maior necessidade
tanto de P, quando se aumentam as doses de S, quanto de S, quando se aumentam as
doses de P nesse solo; para o solo argiloso, o aumento de doses de P pode resultar em
maior disponibilidade de S, pelo fato de o P apresentar maior energia de ligação e deslocar,
mais facilmente, o S adsorvido ao solo.
Cravo et al. (1985), estudando o efeito da intera ção PxS sobre a produção de matéria
seca de soja e sobre os níveis cr íticos de P e de S no solo e na planta, observaram que, na
dose elevada de P aplicada com doses baixas de S, as produções de matéria seca foram
menores que quando se aplicou a dose mais elevada de S; já no solo de textura areia
franca, sem calagem, com dose relativamente baixa de P e elevada de S, a produçã o de
matéria seca tendeu a diminuir. Contudo, com o aumento da dose de P, a produçã o
aumentou, confirmando que o P, quando aplicado em dose baixa, torna -se limitante,
quando se aumenta a dose de S.
Martins & Kaminski (1997) encontraram que, no total de três cortes de capim-colonião
{ Panicum maximum Jacq. ), cultivado em dois solos arenosos do noroeste paranaense, as
respostas em produ çã o de maté ria seca de parte a é rea mostraram -se altamente
dependentes da intera çã o positiva entre as doses de P e S aplicadas nos vasos.
Kumar & Sing (1980), estudando os efeitos da intera çã o entre S, P e Mo, em rela çã o
ao crescimento, absor çã o e utiliza çã o do S pela cultura da soja, verificaram efeitos
sinérgicos do S com o P. Esse efeito se fez notar pelo aumento da absor çã o e acú mulo de
P e S nas diversas partes da planta, pelo aumento do rendimento de grã os com aplica çã o
dos dois nutrientes em conjunto e pelo aumento da utilizaçã o de S com adiçã o de doses
de P. Os efeitos podem ter ocorrido por estarem o P e o S relacionados com vá rios processos
metabólicos na planta, tais como: a síntese de proteínas e óleos. No solo, a resposta

Figura 5. Representa çã o esquemá tica do efeito da interação f ósforo x enxofre na produção.

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 621

negativa ao S está, provavelmente, relacionada com a interaçã o P x S x Mo e indiretamente


com a nutriçã o nitrogenada . Neste aspecto, Gupta & Munro (1969), Jones & Ruckman
(1973), Singh & Kumar (1979 ) e Kumar & Singh (1980) mostraram, em diversas culturas,
que as concentra ções de Mo no tecido e a produ çã o decresceram à medida que
aumentavam as doses de S042 no solo. Este efeito foi atribuído à competição direta entre
'

íons S042 e Mo 042 pelos sítios de absor çã o das ra ízes, em virtude de seus tamanhos
" "

semelhantes. Entretanto, esta competição foi completamente revertida pela adiçã o de P,


provavelmente pela diminuiçã o da adsorçã o do Mo042 pelo solo.
'

A adiçã o conjunta de N e S resulta, na maioria das vezes, em efeito positivo da


intera çã o N x S, em maior produ çã o (Goh & Kee, 1978; Zink, 1984; Barney Jr . & Bush,
1986; Tamassia et al., 1999), ou melhoria, na qualidade dos produtos das culturas (Bolton
et al., 1976; Byers & Bolton, 1979 ) . Essa interaçã o parece ocorrer primeiramente na
absor çã o e na transloca çã o, uma vez que a maior disponibilidade de N contribui para
elevar o teor de S na parte a é rea da planta (Barney Jr . & Bush, 1986; Ferreira , 1986 ) .
Werner & Monteiro (1988 ) relataram que pastagens com deficiê ncia em N
apresentaram baixas respostas ao S. Consequentemente, alta disponibilidade de N requer
aplica çã o de doses mais altas de S, uma vez que este nutriente é importante no
metabolismo do N e na síntese de proteínas .
A importâ ncia do equilíbrio entre as concentra ções de N e S no solo e na planta é
refletida no crescimento e no estado nutricional do vegetal . A adiçã o de doses mais
elevadas de um desses elementos nos sistemas de produçã o vegetal ou animal pode levar
à menor disponibilidade de outro elemento para as plantas.
Ao estudarem o crescimento da alfafa em diferentes níveis de acidez e de adiçã o de
K e de S ao solo, Rando & Silveira (1995) verificaram que a aplica çã o de K e S no solo
corrigido ( pH 6,8) proporcionou maior produçã o de matéria seca no 2o, 3o e 4o cortes, bem
como maior produção total, por efeitos médios de K e de S e da interação K x S. Observaram
também que a aplica çã o de K e S aumentou a concentraçã o de N na matéria seca da parte
aérea da cultura . Rodrigues (2002), estudando adiçã o de Ca, N e S para recuperaçã o de
Brachiaria decumbens cultivada em solo proveniente de pastagem degradada, evidenciou
interação positiva entre N x S sobre a produção de matéria seca da parte aérea das plantas,
no primeiro e no segundo corte. Quanto ao perfilhamento da forrageira, no segundo
corte, houve intera çã o significativa positiva entre as doses de S, N e calcá rio.

Exigê ncias e Respostas das Culturas

As exigências de S pelas culturas variam muito de acordo com a espécie e com a


produtividade esperada. As espécies mais exigentes pertencem às famílias das crucíferas
(p. ex. colza e repolho ) e liliá ceas (alho, cebola ), com demandas médias de 70 a 80 kg ha 1
"

de S. As leguminosas, cereais e forrageiras apresentam menores requerimentos, podendo


variar, em média , de 40 a 50 kg ha 1 de S, para as primeiras, e de 15 a 30 kg ha 1 de S, para
' '

as duas últimas.
Os requerimentos de P e de S na maioria das culturas são semelhantes, observando-
se, em v á rias culturas de interesse comercial, ser a demanda por S maior que por P, por

FERTILIDADE DO SOLO
622 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.

exemplo: banana , batatinha, caf é, capra -de-a çúcar, laranja, ma çã , seringueira, tomate,
videira . O caf é e o eucalipto requerem doses maiores de S do que a soja. Portanto, nessas
culturas, a disponibilidade de S devje ser preocupa çã o desde o plantio das lavouras,
dependendo da "riqueza " deste nutriente no solo.
I

Em relaçã o à qualidade da produ çã o, o S é fundamental dentro de um programa


racional de aduba çã o, devendo-se contemplar o nutriente em quantidades e proporções
adequadas com os outros (Martin-Prevel, 1989 ) .
Em geral, as leguminosas exigem maiores quantidades de S do que as gramíneas, em
razã o dos seus teores mais elevados de proteínas. Poré m, em alguns casos, pode ocorrer
resposta à aduba çã o sulfatada por gram íneas, com doses semelhantes ou mesmo
superiores às utilizadas em leguminosas, em razã o da grande produçã o de matéria
vegetal, associada à baixa disponibilidade desse nntriente no solo.
Em solo arenoso do Rio Grande do Norte, Medeiros et al. (1999) verificaram ausência
de resposta de algodoeiro irrigado, sob piv ô central, à aplica çã o de S, mesmo quando
associado com aduba çã o nitrogenada .
Na cultura da soja, Sfredo et al. ( 2003) constataram respostas à aplica çã o de 25 a
50 kg ha 1 e 75 a 100 kg ha 1 de S, na forma de S elementar, em solos argilosos do Paraná
' '

( Ponta Grossa e Londrina ) e do Cerrado (Samba íba , MA, e Rondon ó polis, MT ) ,


respectivamente.
Na cultura do trigo, tem-se mostrado que o suprimento de S tem efeitos não somente na
produção de grãos, mas também no teor e proporções de determinados tipos de aminoácidos
que compõem o gl ú ten na farinha, que refletem em suas propriedades tecnológicas, e,
consequentemente, na sua qualidade de panifica çã o (Luo et al., 2000; Wieser et al., 2004
e Flaete et al., 2005). Ao estudar o crescimento radicular e a produçã o de trigo por efeito
das modifica ções químicas pela aplica çã o de gesso, em Latossolo Vermelho distrófico
textura argilosa, de Ponta Grossa, PR, Caires et al. (2002 ) observaram resposta positiva
desta cultura, sendo a má xima produção de grãos obtida com a dose de 8,2 t ha 1 de gesso.
'

Martins & Kaminski (1997) verificaram no total de tr ês cortes de capim-coloniã o


( Panicum maximum Jacq.), cultivado em dois solos arenosos do noroeste paranaense, que
as má ximas produtividades foram obtidas com doses variando de 224 a 233 mg kg 1 de P'

e de 97 a 103 mg kg 1 de S.
'

Respostas semelhantes a S foram observadas para alfafa ( Moreira et al., 1997) e


trevo branco (Moreira et al., 1998), em um Latossolo Vermelho, de Lavras, MG. Na média
de seis cortes de alfafa e três de trevo branco, esses autores notaram que as maiores
produções destas leguminosas forrageiras foram obtidas com a aplicação de 100 mg dm 3
de S, tratamento no qual o teor foliar era de 1,50 e 1,85 g kg 1 de S, respectivamente.
'

Avaliando o crescimento de Brachiaria decumbens Stapf , cultivada em soluçã o


nutritiva, Santos & Monteiro (1999) constataram resposta quadrá tica para a produçã o
de matéria seca de parte aérea, quando se aplicaram, em solução nutritiva, doses crescentes
de S. Nesse trabalho, a má xima produçã o de matéria seca foi obtida com uma dose maior
no primeiro corte (78 mg L 1 de S) do que no segundo (62 mg L 1 de S). Porém, o potencial
' '

de produçã o verificado no primeiro período de crescimento representou apenas 40 % do


obtido no segundo corte.

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 623

Furtini Neto et al. (2000) também constataram requerimento diferencial de S em três


cultivares de feijoeiro, cultivados em Latossolo Vermelho-Amarelo, textura média, de
Itumirim, MG . Apesar da semelhan ça na produ çã o de maté ria seca de parte aé rea, as
produções m á ximas foram obtidas em doses variando de 70 a 90 mg kg 1 de S, como
'

resultado de diferenças na eficiência de utiliza çã o do nutriente.


Os nutrientes podem afetar a qualidade dos produtos tanto direta, quando
influenciam a qualidade de proteínas e açúcares, como indiretamente, quando interferem
em outros fatores que atuam sobre os atributos de qualidade (Prete, 1992) .
O S participa de importantes compostos e de substâ ncias que conferem qualidade
aos produtos, alé m de atuar em importantes processos do metabolismo de proteínas e em
rea ções enzim á ticas: (1) síntese de tr ês aminoá cidos essenciais ( cistina, cisteína e
metionina ), que sã o a base das proteínas e que perfazem mais de 90 % do S contido na
planta; (2) ativação de enzimas proteolíticas ( papainase); (3) síntese de vitaminas (biotina,
tiamina , vitamina BI e glutamina ); (4) forma çã o de lipídios glicosídios ( óleo de alho,
cebola e de mostarda ); (5) forma çã o de liga ções dissulf ídricas, que conferem resistência
ao frio; (6) síntese da clorofila e formação da ferredoxina, que funciona como transportador de
elétrons na fotossíntese, e (7) fixaçã o simbiótica de N e ativação das enzimas ATP-sulfurilase
e APS-sulfotransferase envolvidas no metabolismo de S na planta (Marschner, 1995).
Em abacaxi, o S é responsá vel pelo equilíbrio entre a acidez e os teores de a çúcares
nos frutos e, em condições de deficiência, afeta as propriedades organolépticas e reduz o
tamanho dos frutos, que passam a amadurecer do á pice para a base (Carvalho et al .,
1994). O sabor doce desejá vel no caf é é consequência de açúcares nos gr ãos após a
torra çã o, os quais, juntamente com os aminoá cidos sulfurados, sã o responsá veis pela
cor caramelo desejá vel (Silva, 1998) . A carência de S em coqueiro resulta em frutos
pequenos e copra com consistência quebradiça, pouco adequada para a industrializaçã o,
com teor de óleo reduzido e rica em á cidos graxos insaturados ( Zehler et al., 1986 ).
A aduba çã o potá ssica na forma de S042 proporciona melhoria dos atributos de
"

qualidade em culturas importantes, mesmo que tolerem o Cl , como soja, abacaxi, batata,
'

fumo, chá, uva, citros e caf é (Martin-Prevel, 1989; Silva, 1998).


Em iguais concentra ções, o KC1 produz íons osmoticamente mais ativos do que o
K 2S04. Como o Cl fica ionizado, ele fica sempre osmoticamente ativo, sendo, portanto,
"

responsável pelo rá pido ajustamento do plasma celular (Marschner, 1995). Embora tanto
o Cl quanto o S042 sejam íons coloidalmente ativos que regulam o teor de á gua da
" '

planta, o Cl , mais fortemente hidratado, tem maior efeito na intumescência do que o


'

SO/ , sendo, portanto, mais eficiente na reduçã o da transpira çã o e no aumento da


'

absor çã o de á gua ( Zehler et al., 1986). Por outro lado, o S042 favorece, enquanto o Cl
' '

reduz a atividade de enzimas anaer óbias ( carbohidrases), de tal maneira que o SO42- em /

compara çã o com o Cl , favorece o acú mulo de carboidratos altamente polimerizados


"

(amido) e outros componentes nitrogenados ( proteínas) ( Zehler et al., 1986; Mengel &
Kirkby, 1987; Lester et al., 2005). No abacaxi, O KC1 é importante do ponto de vista de
assegurar o fornecimento de K, mas a injú ria causada pelo Cl pode causar decréscimo do
tamanho do fruto, dos teores de a çúcares e amido e aumento da acidez ( Malézieux &
Bartholomew, 2003) . Assim, o K 2S04 dever á ser preferido, pois confere frutos de maior
tamanho e de melhor sabor (Teisson, 1979 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
624 .
Ví CTOR HUGO ALVAREZ V et al.

Em citros, a dose do fertilizante potá ssico é mais importante para o rendimento e


qualidade do que o tipo de â nion, embora nã o se possa desconsiderar a possibilidade de
injú rias causadas pelos sais, sendo, dessa forma , o SO mais indicado que o C1 . O ‘

desbalanço de cá tions e de â nions é mais prejudicial na presença de Cl do que de SO4


"

'
e resulta em perturba çã o no funcionamento dos cloroplastos e protoplastos (Zehler et al.,
1986; Marschner, 1995) .
A videira é moderadamente tolerante à salinidade e ao Cl e nã o apresenta, em geral,
"

sintomas visíveis de deficiência de S. No entanto, o K 2S04 proporciona melhores


resultados na produçã o, no teor de a çúcares, acidez, coloraçã o e teor de taninos, embora
a nutriçã o mineral dessa cultura seja supostamente mais equilibrada , quando sã o
utilizados cloreto e sulfato de potá ssio juntos ( Zehler et al., 1986 ) .

ADUBA ÇÃ O COM ENXOFRE

Disponibilidade de Enxofre

A quantidade de S disponível à s plantas é resultante da inter- rela çã o dos fatores


intensidade ( I ) quantidade (Q) e capacidade tampã o (CT ) e depende do equilíbrio entre
as reservas lá beis e nã o-lá beis e, consequentemente, da dinâ mica dessas formas no solo.
Esse equilíbrio, ou seja, a direçã o da passagem em sentido a uma ou a outra reserva (lábil
para nã o-lá bil, ou vice-versa ) pode ser influenciado pela concentra çã o inicial do SO/ na
"

soluçã o do solo e pelo tempo de contato desse íon da soluçã o com a fase sólida do
solo.Também pode ser influenciado pelas características químicas, f ísicas, f ísico-químicas
e mineralógicas dos solos.
Diversos m é todos e extratores têm sido sugeridos para quantificar as formas de S
disponível do solo.
Reisenauer (1975) classificou os exiratores mais utilizados em três grupos, de acordo
com as formas de S removidas, como: (1) os que removem o S na forma de S042 prontamente
"

sol ú vel; (2) os que removem o S042 sol úvel e parte do adsorvido, e (3) os que removem o
"

S042 prontamente sol úvel, o adsorvido e parte do S-orgâ nico. No entanto, a utilizaçã o
"

desses extratores apresenta algumas limita ções relacionadas com a sensibilidade do


extrator à capacidade tampã o do S042 (CTS).
"

O S-orgâ nico normalmente é estimado pela diferença entre o S do solo e o S042


sol ú vel extra ído com NH 4OAc 0,5 mol L 1 e HOAc 0,25 mol L 1. Essa diferença é
" "

denominada S de reserva ( Bardsley & Lancaster, 1960). Alvarez V. et al. (1983) verificaram
que o S de reserva de solos do Cerrado forneceu, para a maioria deles, valores mais
elevados que os obtidos pela determina çã o da CMAS, indicando que o S de reserva
caracteriza, ao mesmo tempo, formas íábeis e n ã o-lábeis, estando, possivelmente as não-
lá beis em formas orgâ nicas está veis e, assim, pouco disponíveis para as plantas.
A contribuição dessas formas orgâ nicas para o S disponível às plantas é muito
questionada na literatura. Autores verificaram baixa taxa de mineraliza ção de S-orgâ nico,

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 625

variando de 0,6 a 1,3 % do S total. Por outro lado, N'dayegamiye et al. (1994) encontraram
que o S- total mineraliz ável variou de 9,8 a 115 mg kg 1, correspondendo, em média, a
"

30,5 % do S-total durante um per íodo de 55 semanas de incubação. É importante destacar


que a velocidade de mineraliza çã o de S é dependente dos fatores ambientais, como
umidade, aeraçã o, temperatura (Zhou et al., 2005), das condições de manejo, como sistema
de cultivo e de aduba çã o ( Knights et al., 2001), e das caracter ísticas do solo, como o pH
(Tabatabai & Al-Khafaji, 1980).
Conforme verificado para o P ( Novais, 1977), é prov ável que as variações nos teores
de S obtidos com diferentes extratores químicos decorram de suas composições, que
ocasionariam uma extra çã o diferencial das v á rias formas de S no solo. Essas diferenças
poderiam causar maior ou menor sensibilidade do extrator à CTS, conforme se admite
para P ( Bahia Filho, 1982; Muniz,1983).
Por outro lado, a determina ção apenas do teor do S disponível no solo pouco significa
com rela çã o à sua disponibilidade para as plantas, quando nã o se d á informa ções sobre
a CTS. A CTS correlaciona-se estreitamente com o teor de argila, equivalente de umidade,
S remanescente, P remanescente e capacidade m á xima de adsor çã o de sulfato ( Fontes,
1979; Accioly et al ., 1985). Alvarez V . (1988) encontrou evidências de que se consegue
melhor capacidade preditiva da disponibilidade de S em solo, quando se determinam
níveis críticos variá veis com a CTS.

Critérios de Recomendação
Análise de Solos
Diferentes mé todos de extra çã o de S do solo sã o adotados no Brasil, associados a
distintos níveis críticos ou faixas de suficiência, dependendo das formas do elemento
avaliadas, da profundidade de amostragem recomendada e da espécie vegetal e das
características f ísico-qu ímicas dos solos com os quais foi realizado o trabalho de
correlaçã o e calibra çã o dos mé todos de análise do S disponível.
Em algumas regiões do Pa ís, menos providas de uma rede de laboratórios de análise
de solos, muitos agricultores e profissionais da assistência técnica encaminham as
amostras de terra para serem analisadas em outros Estados. Embora possa parecer
evidente que a recomendação adequada de S requeira uma correta interpretação da análise
do solo, tem-se verificado, com frequência desconcertante, equívocos relacionados
principalmente com falta de atençã o quanto à forma de coleta da amostra e com o mé todo
analítico adotado.
Em geral, a quantidade requerida de S pelas plantas aproxima -se da exigência
nutricional em P, podendo até super á -la, em algumas culturas; entretanto, na adubaçã o
com P e com S, para se obter uma adequada disponibilidade dos nutrientes para as
plantas, devem-se aplicar doses maiores de P do que de S, especialmente em solos argilosos,
pois estes tendem a apresentar maior capacidade de adsor ção de P do que de S.
Dada a movimenta çã o do S para as camadas sub-superficiais, a amostragem de
solos, para fins de avalia çã o da disponibilidade de S-S042 , deve ser também feita nas
"

FERTILIDADE DO SOLO
626 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.

camadas de 20-40 ou 30-60 cm . A determina çã o da disponibilidade de S normalmente


é feita por extra çã o com fosfato monocá lcico, em á gua ( Fox et al ., 1964) ou em á cido
acé tico ( Hoeft et al., 1973); com este último, os resultados sã o influenciados pela CTS dos
solos. Assim, a interpreta çã o do teor de S disponível, para culturas de ciclo curto, é feita
de acordo com as classes de fertilidade ( Quadro 7) estabelecidas de acordo com a
concentra çã o de P remanescente ( Alvarez V . et al., 1999b ) .
Destaca -se, ainda , que, apesar de muitos laborató rios usarem o fosfato monocá lcico
como extrator, nã o h á padroniza çã o para os procedimentos de extra çã o e determinaçã o
de S-S042 , o que pode levar a um equ ívoco na interpreta çã o dos resultados analíticos.
'

Para o Estado de Minas Gerais, tem-se adotado a extra çã o do S sol úvel e de fra ções de S
adsorvido e de formas orgâ nicas, por meio de fosfato monocálcico [Ca (H2P04) 2, 500 mg L
de P] em á cido acé tico ( HOAc 2 mol L 1 ), dada a melhor capacidade preditiva da
"

disponibilidade deste nutriente no solo (Alvarez V . et al ., 2001 ) . Esses autores indicam


a dosagem do S042 por turbidimetria, pelo fato de o mé todo apresentar boa repetitividade
'

e reprodutividade, além de demandar equipamentos baratos. No mé todo da turbidimetria,


o S042 é precipitado na forma de BaS04 e mantido em suspensã o, cuja densidade ó tica
'

( turbidez ) é medida em espectr ôfometro UV-Visível. E necessá rio especial cuidado para
que os extratos sejam cristalinos e incolores, raz ã o pela qual se recomenda o uso de
carv ã o ativado e filtragem em papel de filtra çã o lenta tipo Whatman 42 ( Alvarez V .,
1988) .
Em estudo em que foram aplicados até 2.577 kg ha 1 de gesso, em diferentes '

combina ções com doses de calcá rio, adicionados em dois anos, em um Latossolo
Vermelho-Amarelo de Patrocínio, MG, Alvarez V. & Baldotto ( 2003) verificaram que a
taxa de recupera çã o de S em fun çã o das doses adicionadas, usando-se o extrator
Ca ( H2P04) 2, 500 mg L 1 de P, em HOAc 2 mol L 1, foi de 21,8 e 17,5 %, respectivamente,
' "

nas camadas de 0-20 e 20-40 cm de profundidade.


1

(1)
Quadro 7. Classes de interpreta çã o da disponibilidade de enxofre no solo de acordo com o
valor de f ósforo remanescente (P- rem )

Classifica çã o
-
P rem
Muito baixo Baixo M é dio * 2 * Bom Muito bom

mg L- í mg dm -3

0 4 < 1, 7 18
/ 2,5 2,6 3,6 3, 7 5, 4 > 5,4
4 10 < 2,4 2,5 3,6 3,7 5, 0 5,1 7,5 > 7,5
10 19 < 3,3 3, 4 5,0 5,1 6,9 7, 0- 10,3 > 10,3
19 30 < 4,6 4 ,7 6 ,9 7 ,0 9,4 9,5 - 14,2 > 14,2
30 44 < 6,4 6,5 9,4 9,5 - 13, 0 13.1 - 19,6 > 19,6
44 60 < 8,9 9 ,0 - 13,0 13,1 - 18,0 18.1 - 27,0 > 27,0

" ' Mé todo Hoeft et al., 1973, descrito por Alvarez V. et al. (2001), [Ca (H P04) , 500 mg L
2 2
1
de P, em HOAc 2 molL 1 ]
' '

tempo de agita çã o 45 min na rela çã o solo extrator 1:2, 5 v :v . (2 ) Os limites superiores desta classe indicam os n íveis
crí ticos de acordo com o valor de P- rem .
Fonte: Alvarez V . et al . (1999b ) .

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 627

Para a fase de implanta çã o de culturas perenes, é necessá rio que a fertilidade do


solo no lugar do transplantio ou semeadura seja maior . Assim, os teores de nutrientes
devem ser maiores do que aqueles já citados (Quadro 7) em pelo menos tr ês vezes . Por
outro lado, a fertilidade mé dia para manuten çã o de povoamentos florestais deve ser
0,6 vez aqueles valores; para outras culturas perenes, 0,8 vez e, para hortaliças, duas
vezes ( Alvarez V . et al ., 1999b ) .
No Estado de Sã o Paulo, Vitti (1989 ) descreve a determinaçã o de formas solúveis de
S e de fra ções do S-S042 fracamente adsorvidas, por meio da extra çã o com soluçã o de
'

NH 4OAC 0,5 mol L 1 em HOAc 0,25 mol L 1 ( Bardsley & Lancaster , 1960 ) ou com
' "

Ca (H2P04) 2, 500 mg L 1 de P, em HOAc 2 mol L 1. Posteriormente, definiu-se como mé todo


'

oficial desse Estado ( Raij et al ., 2001) a extra çã o do S disponível com solu çã o de


Ca ( H2P04) 2 0,01 mol L 1 e determina çã o por turbidimetria com adiçã o de BaCl2.2H20,
'

passado em peneira de 20 e retido na peneira de 60 mesh, após adiçã o de soluçã o de


"sementes" de S042 ( HC1 6 mol L 1 contendo 20 mg L 1 de S-S042 ) . As classes de
' ' " '

disponibilidade de S na camada ar á vel foram definidas de acordo com estes extratores


(Quadro 8) .
Especificamente para a cultura do trigo, Caires et al. ( 2002) indicam um nível cr ítico
de 25,8 mg dm 3 de S, extra ído por NH4OAc 0,5 mol L 1 em HOAc 0, 25 mol L 1, para a
' ' "

camada de 0-20 cm de profundidade, correspondente a 90 % da produ çã o relativa de


gr ã os obtida em ensaio realizado em um Latossolo Vermelho distr ófico textura argilosa,
de Ponta Grossa , PR .
Para solos do Cerrado, Rein & Sousa (2004) sugerem o uso do Ca ( H2P04) 2 0,01 mol L 1 '

como solu çã o extratora e estabelecem três classes de disponibilidade de S (Quadro 8 ),


com base na m é dia aritm é tica dos teores de S nas camadas superficiais (0-20 cm ) e
subsuperficial ( 20-40 cm ) . Usando este mesmo extrator, Sfredo et al. ( 2003), citados em
Tecnologias... (2004), indicam, para o cultivo de soja, faixas de teores de S distintos
(Quadro 8) para as profundidades de 0-20 e 20-40 cm, e para classes texturais (solos
com teor de argila superior ou inferior a 40 % ) .
Nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, preconiza -se a extraçã o de S
com soluçã o de Ca (H2P04) 2, 500 mg L 1 de P (CFS-RS / SC, 1994). De acordo com Alvarez
"

V. et al . (2001), este extrator apresenta menor capacidade de extra çã o do que o fosfato


monocálcico em á cido acé tico (Quadro 8), pela ausência do â nion acetato. Assim, por
meio deste mé todo, avaliam-se o S prontamente sol úvel e parte do S-S042 adsorvido, mas
'

nã o se determina a contribuiçã o doS-orgâ nico. Destaca -se, ainda, que a faixa de teor de
S considerado médio pela CFS-RS / SC (1994), deve alterar-se de 2,0 para 10,0 mg dm 3, no
'

caso de leguminosas e culturas mais exigentes em S, como Br á ssicas e Liliá ceas.


O mé todo de extra çã o pela resina é considerado promissor para a avaliaçã o do S
disponível e consiste na agita çã o, por 16 h, de 5 cm3 de terra, 2,5 cm3 de resina trocadora
de íons e extra çã o com 25 mL de NH4C1 0,8 mol L 1 em HC1 0,2 mol L 1. De acordo com
' '

Prochnow et al . (1997), a resina extrai quantidades semelhantes à s extra ídas pelo


NH4OAc 0,5 mol L 1 em HOAc 0,25 mol L 1, indicando a determina çã o de formas
" '

semelhantes de S-S042 , ou seja, S-S042 solúvel e o fracamente adsorvido, alé m de pequena


" '

parte do S- orgâ nico . Estes autores ressaltam, no entanto, a necessidade de novos estudos

FERTILIDADE DO SOLO
628 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al .

Quadro 8. Interpreta çã o dos resultados de enxofre disponível do solo

Disponibilidade de S
Extrator
Muito baixa Baixa M é dia Alta Fonte

mg dm 3 "

NH 40ac 0,5 mol L 1 '


< 5 ,0 5,1 a 10 ,0 10,1 a 15, 0 > 15 0)
em HOAc 0, 25 mol L i
NH 4OAC 0,5 mol L-i < 25,8 25,8 > 25,8 (2)

em HOAc 0, 25 mol L
Ca ( H 2 P04 ) 2 0 ,01 mol L 1
'
< 2,5 2,6 a 5,0 5,1 a 10,0 > 10,0 (i >
1
Ca ( H 2 P04 ) 2 0,01 mol L < 4,0 5,0 a 10,0 > 10 , 0 (3)

Ca ( H 2 P04 ) 2 0,01 mol L- í


<4 5a9 > 10 (4)

Ca ( H 2 P04 ) 2 0,01 mol L -í <5 5, 0 a 10,0 > 10 , 0 (5a )

Ca ( H 2 P04 ) 2 0,01 mol L -1 < 20 20 a 35 > 35 (5 b)

Ca ( H 2 P04 ) 2 0 , 01 mol L < 2, 0 2,0 a 3,0 > 3,0 ( 5c )

Ca ( H 2 P04 ) 2 0,01 mol L - í < 6 ,0 6,0 a 9, 0 > 9 ,0 (5d )

Ca ( H 2 P04) 2, 500 mg L 1 de P < 2,0 2,0 a 5,0 > 5,0 ( 6)


"

(1 )
Vitti (1989 ); Vitti (1989 ) estabelece as faixas de teores para as classes: muito baixa, baixa, médio e adequada .
Ca í res et al. ( 2002) . í3) Raij et al. (1996 ) . (4 ) Rein & Sousa ( 2004) . (5 a 'b'c'd ) Tecnologias... (2004), em que a e b indicam ,
(2 )

respectivamente, faixas de teores de S nas profundidades de 0 a 20 e 20 a 40 cm , em solos com > 40 % de argila ,


e ce d indicam, respectivamente, faixas de teores de S nas profundidades de 0 a 20 e 20 a 40 cm, em solos com
<40 % de argila . (6) CFS-RS / SC (1994) .

para viabilizar a adoçã o deste mé todo em aná lises de rotina, tendo em vista que ele,
quando usado na extra çã o simultâ nea de P, K, Ca, Mg e K, leva à obtençã o de quantidades
aproximadamente 50 % inferiores às extraídas pelo mé todo original da resina .

Diagnose Visual e Foliar


A diagnose visual é embasada na presença de anormalidades visíveis em órgã os da i

planta, normalmente nas folhas, típicas da falta ou excesso de um nutriente. A associação


entre a manifesta çã o de sintomas caracter ísticos e o estado nutricional da planta é o
resultado de altera ções moleculares, relacionadas com a forma çã o de compostos
orgâ nicos e, ou, com os processos de ativaçã o enzimá tica . Assim, a constataçã o de
sintomas típicos relacionados com a carência de S torna -se um crité rio auxiliar na
definiçã o da necessidade de aduba çã o com este nutriente, principalmente quando
associado ao histó rico da á rea.
Os sintomas visuais de deficiência de S sã o semelhantes à queles relacionados com
a carência de N, diferenciando-se, porém, pelo fato de ocorrerem primeiro nas folhas
novas. Em geral, a falta de S leva à coloração verde-clara das folhas novas, incluindo as
nervuras. Em cafeeiro, é relatada, ainda, a presença de caule quebradiço, lenhoso, com

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 629

crescimento paralisado; frutos descorados e fracamente esverdeados , com


amadurecimento tardio, e encurtamento de internódios e desfolhamento ( Nogueira et al.,
2001) . Em leguminosas, a carência de S resulta em menor nodulação das raízes. Algumas
espécies vegetais manifestam, ainda, a deficiê ncia de S na forma de folhas pequenas,
enrolamento das margens e redu çã o no florescimento (Malavolta et al., 1997) .
A deficiência em S ocorre, de forma mais frequente, em solos arenosos e com baixos
teores de maté ria orgâ nica, principalmente em culturas mais exigentes neste nutriente,
como as leguminosas, oleaginosas e as crucíferas. Contudo, o uso continuado de f órmulas
concentradas de adubos, associado ao cultivo intenso e com alto potencial produtivo,
pode resultar em respostas das culturas à aplica çã o de S, mesmo em solos muito argilosos,
no sistema plantio direto.
No entanto, de forma bastante frequente, a identifica ção da deficiência de S pode ser
dificultada pela presença de sintomas semelhantes a de outros nutrientes e, ou pela
ocorr ência de carências m últiplas. Em milho, por exemplo, a falta de S resulta em clorose
internerval de folhas novas, que pode levar ao confundimento com a carência de Mn ou
Fe (Rein & Sousa , 2004 ) .
Além disto, os sintomas de deficiência de S també m podem ocorrer em folhas jovens,
em condições de adequado suprimento de N, uma vez que a extensã o da remobiliza çã o
do S das folhas maduras depende, sobretudo, do grau de senescência foliar induzida
pela falta de N ( Robson & Pitman, 1983).
A diagnose foliar, que, em síntese, assemelha -se à aná lise do solo usando a planta
como solu çã o extratora, é uma ferramenta importante na detecçã o de problemas
relacionados com carências, excessos ou desequilíbrios nutricionais. Os resultados da
análise química de amostras de folhas, quando adequadamente interpretados, permitem
complementar as informações obtidas pela diagnose visual e aná lise de solo, o que resulta
em maior segurança na recomenda çã o de aduba çã o da cultura .
Para a determinaçã o do teor de S total, Alvarez V. et al. (2001) recomendam a digestã o
nítrico-perclórica, seguida de dosagem por turbidimetria com adiçã o de sementes de S.
Em condições de disponibilidade de espectrômetro de emissão ó tica em plasma induzido
(ICP-OES), a determinaçã o de S pode ser feita simultaneamente com os demais nutrientes,
conforme Kurihara et al . ( 2003) .
A interpretaçã o dos resultados da análise foliar é feita pela comparação dos valores
encontrados na amostra , colhida de acordo com técnicas bem padronizadas (Quadro 9 ),
com níveis cr íticos ou normas estabelecidas para cada cultura . As comparações podem
ser realizadas, considerando os teores de nutrientes individualmente (Quadro 9 ), ou,
entã o, as rela ções de equilíbrio existentes entre eles. Neste último caso, o diagnóstico do
estado nutricional das plantas pode ser efetuado por mé todos que consideram as relações
existentes entre os nutrientes, como o Sistema Integrado de Diagnose e Recomenda çã o
(DRIS) ou a Diagnose da Composiçã o Nutricional (CND).
Ressalta -se que a faixa de teores foliares considerada adequada para uma espécie
vegetal pode variar de acordo com vá rios fatores, a saber: a época e o procedimento de
coleta de amostras, o potencial produtivo da lavoura e a eficiência varietal. No quadro 9,
constatam -se diferenças em relaçã o à recomenda çã o de parte da planta e, ou, está dio de

FERTILIDADE DO SOLO
630 V í CTOR HUGO ALVAREZ V. et al .

crescimento para a coleta de amostras de uma mesma cultura, com implica ções na
diagnose do estado nutricional . Por outro lado, verifica -se que, para algumas culturas,
h á uma pequena varia çã o na descriçã o da amostragem, associada à mesma faixa de
teores, como no caso do cafeeiro, ou a valores bastante discrepantes, como no caso do
algodoeiro. Assim, fica evidente a necessidade de que a interpretaçã o da aná lise foliar
seja realizada de forma criteriosa, em conson â ncia com o tipo de amostragem efetuado
com os novos estudos para a calibra çã o de faixas de suficiência .

Quadro 9 . Teores foliares de enxofre considerados adequados (faixa de suficiência ) para algumas
culturas e procedimento de amostragem para diagnose do estado nutricional

Cultura Teor Fonte Parte da planta amostrada e é poca de coleta

g kg
8, 0 a
Algod ã o 4,0 a (1) Limbo ida 5 folha a partir do á pice da haste principal , no
florescimento
4, 0 ( 2) Limbo de folhas adjacentes à s " ma çã s", no in í cio do florescimento
a
2, 0 a 3, 0 ( 3) 5 folha completamente aberta , a partir do á pice, no florescimento

Arroz 1.4 a 3, 0 a) Folha bandeira , coletada no in í cio do florescimento


1.5 a 2, 0 (2 ) Folha Y ( posi çã o ocupada em rela çã o à folha mais nova
desenrolada acima ) , no meio do perfilhamento
4 , 9 a 7, 0 ( 3) Folhasrec é m - maduras, na maturidade
2,0 a 6,0 (4 ) Folha bandeira , no perfilhamento

Caf é 1,5 a 2, 0 o) 3° par de folhas a partir do á pice dos ramos frut í feros da altura
m é dia da planta , no in í cio do ver ã o
1,5 a 2, 0 (2) 3° e 4° par de folhas a partir da ponta , ramos a meia -altura e
produtivos, no per í odo de primavera - ver ã o
1,5 a 2, 0 ( 3) 3° e 4° par de folhas, a partir do á pice de ramos produtivos, em
altura mediana na planta , no est á dio de chumbinho

Cana -de - a çú car 1,5 a 3, 0 (i ) 2, 0 cm central da folha mais alta , com colarinho vis í vel , exclu í da a
nervura central , durante a fase de maior desenvolvimento vegetativo
1,3 a 2,8 ( 2) Folha + 3, sendo a folha +1 a primeira com I í gula ( regi ã o de
inser çã o da bainha no colmo ) , no ter ç o mediano, exclu í da a
nervura principal , quatro meses ap ó s a brota çã o
2,5 a 3,0 (3 ) Folha + 3, aos quatro a cinco meses de idade

Eucalipto 1,5 a 2,0 (1 ) Folha rec é m - madura , em cada ponto cardeal do ter ç o superior da
copa , no fim do inverno
1,5 a 2, 0 ( 2 ) e (3 ) Folha recé m - madura, em ramos prim á rios, no per íodo ver ã o-outono

Feijoeiro 2, 0 a 3, 0 (i ) Todas as folhas, no florescimento


5, 0 a 10,0 (2) Primeira folha amadurecida a partir da ponta do ramo, no in í cio da
flora çã o
1,5 a 2, 0 (3 ) Folhas do ter ç o mediano, no florescimento

a a
Girassol 1,5 a 2, 0 (1 ) 5 e 6 folha abaixo do cap í tulo, no florescimento
5, 0 a 7, 0 ( 2 ) e (3) Folhas do terç o superior, no in ício do florescimento

Continua ...
!.

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 631

Quadro 9. Continua çã o

Cultura Teor Fonte Parte da planta amostrada e é poca de coleta

Gram í neas
g i< g
forrageiras
Andropogon 0 , 8 a 2, 5 a) Brota çã o nova e folhas verdes, coletadas entre novembro a
fevereiro ;

B . brizantha 0 ,8 a 2,5 a) Brota çã o nova e folthas verdes, coletadas entre novembro a fevereiro

B . decumbens 0 ,8 a 2,5 a) Brota çã o nova e folhas verdes, coletadas entre novembro a


fevereiro i

Coloniao 1,1 a 1,5 ( 2 ) e (3 ) Folhas rec é m - mad í uras ou toda a parte a é rea , coletadas no per í odo
de primavera - ver ã o
Coast - cross 1, 0 a 3, 0 a) Brota çã o nova e folhas verdes, coletadas entre novembro a fevereiro

Jaragu á 1,3 a 1,8 ( 2 ) e (3 ) Folhas rec é m - maduras ou toda a parte a é rea , coletadas no per í odo
de primavera - ver ã o

Napier 7, 0 ( 2 ) e (3 ) Folhas rec é m - maduras ou toda a parte a é rea , coletadas no per í odo
de primavera - ver ã o
Tifton 1,5 a 3, 0 a) Brota çã o nova e folhas verdes, coletadas entre novembro a fevereiro

Mandioca 3, 0 a 4, 0 a) Limbo de folhas mais jovens totalmente expandidas, 3 a 4 meses


ap ó s o plantio
2,6 a 3, 0 ( 2) e (3) Ia folha rec é m - madura , aos 3 e 4 meses de idade

Milho 1,5 a 3, 0 (i ) Ter ç o central da folha da base da espiga , na fase de pendoamento


1, 5 a 2, 0 ( 2) Folha oposta e abaixo da espiga , no aparecimento da infloresc ê ncia
feminina (cabelo )
1, 0 a 2, 0 (3) Terço basal da folha + 4 sem a nervura central, 60 dias após o plantio

Soja 2,1 a 4, 0 a) 3o trif ó lio com pec íolo, no florescimento


2,5 (2) Primeira folha amadurecida a partir da ponta do ramo, pec í olo
exclu í do, no fim do florescimento
2,5 (3) 3o trif ó lio a partir do á pice na haste principal , com pec í olo, no
florescimento
2,1 a 4, 0 (5 ) 3o e,ou, 4o trif ólio sem pec íolo, a partir do á pice, no in ício da flora çã o
2, 0 a 3,1 (5 ) 3o e,ou, 4o trif ó liq com pec í olo, a partir do á pice, no est á dio de
florescimento pleno

Sorgo 1,5 a 3, 0 a) 4 a folha com a bainha vis í vel , a partir do á pice, no est á dio de
flurescimento pleno
0,8 a 1,0 (2) Folha mediana , no in ício do perfilhamento
1,6 a 6, 0 (3) Folha mediana , no emborrachamento

Trigo 1,5 a 3,0 (i ) Folha bandeira , no in ício do florescimento


4, 0 ( 2) e (3 ) Ia a 4 a folha a contar da ponta , no in í cio do florescimento

Fonte: (1 ) Raij et al. (1996 ). (2 , Malavolta et al. (1997). (3)


Martinez et al. (1999 ) . (4 > Fageria (1999 ). (5)
Tecnologias
( 2004).

Nos ensaios de calibraçã o, sã o aplicandas doses crescentes do nutriente em estudo,


enquanto os demais nutrientes e fatores de produçã o sã o supridos em quantidades
adequadas (variá veis controladas mantidas constantes) . Como alternativas a estes

FERTILIDADE DO SOLO
632 V í CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.

ensaios, utilizam-se bancos de dados provenientes de amostragens realizadas em talhões


de fazendas, onde sã o avaliados, denJtre outras variá veis, os teores de nutrientes nas
folhas e o rendimento da cultura , com as quais sã o feitas abordagens distintas com
vistas em estimar valores de referência associados a determinado potencial produtivo e,
ou, condiçã o de equilíbrio nutricional. Oliveira & Sousa (1993), Oliveira & Cassol (1995),
Wadt et al. (1998), Oliveira (1999) e Kurihara et al. (2004) estimaram valores de referência
por meio do relacionamento do teor foliar com o respectivo índice DRIS para o nutriente.
Este procedimento é embasado no fato de que o teor ó timo foliar corresponde ao valor do
índice DRIS que representa o equilíbrio nutricional, ou seja , zero, e a faixa ó tima
corresponde a uma amplitude de desvios-padrã o definida em torno deste valor ideal. A
partir de resultados obtidos por Kurihara et al . ( 2004), foram adotadas para a Regiã o
Central do Brasil faixas de suficiência de nutrientes diferenciadas para amostras de
folhas de soja com e sem pecíolo (Tecnplogias... 2004 ).

Fontes Minerais de Enxofre


Enxofre Elementar
, i

E obtido a partir de minérios sedinjientares ou jazidas naturais de origem vulcâ nica,


ou, entã o, pela recupera çã o do S de gás natural e dos gases de refinarias. Pode apresentar
entre 80 e 100 % de S e é usado como mà téria -prima para a fabricação de á cido sulf ú rico.
No solo, o S elementar é transformado em S-S042 por oxidaçã o microbiana, com a produção
"

de dois mols de H+ para cada mol de S° ojcidado, conforme a reação abaixo ( Vale et al., 1995):
S° + COz + 1 / 2 02 + 2 H20 ->[CH20] + S 042
'

+ 2H+ (9 )

De acordo com Vale et al. (1995), a cada 100 kg de S aplicado, usando-se esta fonte,
o potencial teórico de acidifica çã o do sc>lo é equivalente à necessidade de cerca de 625 kg
de CaC03 (ou de calcá rio com PRNT = Í 00 %) para corrigi-la . Horowitz & Meurer (2003)
aplicaram doses crescentes de S elementar até 12 g kg 1, em amostras de um Argissolo
'

Vermelho-Amarelo eutrófico, de Pindorama, SP, e verificaram incrementos expressivos


no teor de S-S042 no solo, no período de 22 a 54 d de incuba çã o. Aos 70 d de incuba ção,
"

estes autores constataram redu çã o no oH do solo de 2,8 unidades em relaçã o ao valor


original (de 6,1 para 3,3), quando se aplacaram doses superiores a 3 g kg 1 de S elementar .
'

Em outros solos mais ou menos tampoijiados, as altera ções serã o diferentes.


I

Gesso Agrícola
É um subproduto da fabrica çã o de á cido fosf ó rico, utilizado na produção de fosfatos
sol ú veis concentrados. Apresenta teor de á gua -livre entre 15 a 30 % e conté m cerca de
28 % de CaO, 15 % de S, 0,7 % de P2Os e 0,6 % de F. A sua solubilidade em água (2,04 g L 1) '

é cerca de 146 vezes superior à do CaC03 (0,014 g L 1 ). Em Goiás e em diversos Estados


'

da regiã o Nordeste do Pa ís, encontrarrj-se grandes jazidas de gipsita (sulfato de cálcio


diidratado, CaS04.2H20), com 18 % d S, poré m, sem P e F como impurezas. Tanto o
^
subproduto industrial como o extraído de jazidas mostram efeito na melhoria do ambiente
radicular em profundidade, quando aplicado em quantidades adequadas, graças à sua
r á pida mobilidade na camada ará vel, resultando no aumento dos teores de Ca e

FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 633

diminuiçã o da atividade do íon Al3+ e de suas formas parcialmente hidrolisadas na


soluçã o do solo, nas camadas subsuperficiais. Diversos trabalhos tê m mostrado que o
gesso favorece o maior aprofundamento das r áízes, o que permite às plantas superar
veranicos e usar, com mais eficiência, os nutrientes aplicados ao solo ( Alvarez V. et al.,
1999 a ) .
Sulfato de Am ónio
Normalmente, é obtido pela rea ção da am ónia com á cido sulf ú rico, mas també m
pode ter origem como subproduto da ind ústria de carv ã o mineral e da ind ústria têxtil ou
da rea çã o do gesso com o carbonato de amónio. A conversã o deste adubo para nitrato
também gera acidez, na propor çã o de 2 mols de H+ para cada mol de N- NH4+, conforme
a rea çã o abaixo ( Vale et al ., 1995) :

NH4+ + 20,2 » NCX3 + 2H + + H.2O
'

(10)
Se toda a quantidade de amó nio adicionada sofrer nitrifica çã o, a acidez gerada por
100 kg de N, para ser neutralizada, necessita da aplica çã o de 535 kg de CaC03. Para fins
de compara çã o com o S elementar, considerando ser o sulfato de amó nio constituído de
20 % de N e 24 % de S, tem-se que é preciso aplicar 446 kg de CaC03 para se corrigir a
acidez gerada pela aplica çã o de 417 kg deste adubo (ou 100 kg de S) .
O sulfato de amónio é um subproduto da ind ústria metal ú rgica ou é produzido
diretamente pela rea çã o da amónia com á cido sulf ú rico:
2 NH3 + H 2S04 ^ ( NH4) 2S04 ( 11 )
Superfosfato Simples
E obtido a partir do tratamento da rocha fosfatada apatítica com ácido sulf ú rico
concentrado, sendo constituído de 16 a 22 % de P205 sol ú vel em citrato neutro de amónio
mais o sol ú vel em á gua, 12 % de S e 20 % de CaO. Em essência , trata-se de uma mistura
de fosfato monocálcico com gesso.
Sulfato de Potássio
/

E obtido pela rea çã o do cloreto de potássio com á cido sulf ú rico e contém cerca de
50 % de K20 e 17 % de S. Seu uso tem sido restrito a culturas sensíveis à salinidade, tais
como: abacaxi, feijã o e laranja, em decorrência de seu custo elevado. Também tem sido
usado em alternativa ao cloreto de potássio, em culturas em que o Cl implica problemas
'

de qualidade de produtos agr ícolas ou seus derivados industrializados, como no caso


do fumo, caf é, batata e uva.
Outras Fontes
O S também pode ser fornecido, em menores quantidades, pelo uso de sulfato de
magnésio (16 % de MgO e 13 % de S), sulfato de cobre (13 % de Cu e 18 % de S), sulfato
ferroso (17 % Fe e 11 % S), sulfato de manganês (26 % de Mn e 15 % de S) ou sulfato de zinco
(20 % de Zn e 18 % de S). Uma prá tica comumente utilizada por empresas formuladoras
de adubos, para se adicionar S em f ó rmulas NPK, é por meio do uso de gesso agr ícola
como "enchimento" destas, completando f ó rmulas ou como matéria-prima na granulaçã o.

FERTILIDADE Dó SOLO
634 V í CTOR Í HUGO ALVAREZ V. et al .

Recomendação de Adubação com Enxofre

Em condições de detecçã o de deficiência de S, o fornecimento deste nutriente é mais


comumente efetuado por meio da aplica ção de 100 a 250 kg ha 1 de gesso (15 a 38 kg ha 1 de S)
' '

( Alvarez V. et al., 1999a ).


Para solos do Cerrado, Rein & Sousa ( 2004) indicam que culturas anuais, perenes
na fase de produçã o, ou pastagens adubadas anualmente, em solos de baixa e média
j

disponibilidade de S ( na camada de 0T40 cm ) , devem ser adubadas com 30 e 15 kg ha-i


de S, respectivamente ; ou , entã o, com ú ma aplica çã o ú nica de pelo menos 100 kg ha 1 de "

S, para suprir as culturas neste nutriente por v á rios anos. No plantio de culturas perenes,
ou no estabelecimento de pastagens consorciadas, em solos com baixa disponibilidade
do nutriente, sugere - ^e a aplica çã o de, no m ínimo, 50 kg ha 1 de S. '

j
A partir dos resultados de experimentos realizados por Sfredo et al. (2003) em Ponta
Grossa , Londrina ( PR ) . Samba íba (MA ) e Rondonópolis (MT), indicou -se a aduba çã o de
correçã o e manu ten çã o com S, para a cultura da soja , de acordo com a profundidade de
amostragem e a classe textural do solo (Quadro 10) .

Quadro 10. Indica çã o de aduba çã o de coirreçã o e de manutençã o com enxofre, conforme as


faixas de teores de enxofre no solo a duas profundidades no perfil do solo, para a cultura
'
da soja, na regi ã o Central do Brasil 1 ;;

An á lise de S no solo (1 )

Faixa para interpreta çã o Solo com > 40 °/o de argila Solo com < 40 % de argila Quantidade
de S por
Profundidade (cm ) aplicar
0 a 20 20 a 40 0 a 20 20 a 40 0 a 20 20 a 40

mg dm 3 kg ha -i
"

Baixa Baixa <5 < 20 < 2 <6 80 + M < 2>


Baixa M é dia <5 20 a 35 < 2 6a9 60 + M
Baixa Alta <5 > 35 < 2 >9 40 + M
i

M é dia Baixa 5 a 10 < 20 2a3 < 6 60 + M


Mé dia M é dia 5 a 10 20 a 35 2a3 6a9 40 + M
Mé dia Alta 5 a 10 > 35 2a3 >9 M

Alta Baixa > 10 < 20 >3 <6 40 + M


Alta M é dia > 10 20 a 35 >3 6a9 M
Alta Alta > 10 > 35 >3 >9 M

Mé todo: extra çã o com Ca ( H2 P04 ) 2 0,01 mol L 1 e determinaçã o por turbidimetria . í2 ) M = manutençã o: 10 kg para
(1 ) '

cada 1.000 kg de produ çã o de grã os esperada.


Fonte: Tecnologias... ( 2004).

FERTILI í D ADE DO SOLO


XI - MICRONUTRIENTES
Cleide Aparecida de Abreu17, Alfredo Scheid Lopes 27 &
Gl áucia Cec í lia Gabrielli dos Santos17

1/
Centro de Solos e Recursos Ambientais, Instituto Agron ó mico - IAC . CEP 13001- 970
Campinas (SP ) . Bolsista
do CNPq.
cleide@iac.sp.gov; gcgsantos@gmail .com
2/
Departamento de Ciê ncia do Solo, Univetsidade Federal de Lavras - UFLA.
Caixa Postal 37, CEP 37200 -00 Lavras ( MG ) .
ascheidl @ ufla .br

Conte ú do
INTRODU ÇÃ O 646

DINÂ MICA DOS MICRONUTRIENTES NO SOLO 647


Associação dos Micronutrientes com os Componentes do Solo * 649
Micronutrientes na Solução do Solo j 649
Micronutrientes Adsorvidos à Superf ície Inorgâ nica 650
Troca Iônica j 651
Adsorçã o Espec ífica J 651
Micronutrientes Associados à Maté ria Orgâ nica i 652
Micronutrientes Associados aos Óxidos J , 653
Micronutrientes nos Minerais Primá rios e Secundá rios 653
Fatores que Afetam a Disponibilidade de Micronutrientes para as Plantas 654
pH do Solo 654
Maté ria Orgâ nica i 656
Rea ções de Oxirreduçã o 658
Caracter ísticas dos Solos e Situa ções Relacionadas com a Deficiê ncia de Micronutrientes
para as Plantas ; 658
Boro 1 658
>
Cobre : 659
Ferro ; 659
Manganês *
. 659
Zinco 659
Molibdênio ; 660
Níquel 660

DIAGNOSE DA DEFICIÊ NCIA E TOXIDEZ DE MICRONUTRIENTES 660


Análise de Solo para Avaliar a Disponibilidade de Micronutrientes às Plantas ..... 661
Extratores de Micronutrientes . 661
Á gua 662

SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V., V.H., BARROS,
N.F., FONTES, R .L.F. , CANTARUTTI, R . B . & NEVESj J .C .L. ).
646 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

Solu ções Salinas i 662


Reagentes Quelantes L 662
Soluções Ácidas i 663
Reagentes Oxidantes / Redutores \ 664
Solu ções Extratoras - Resultados de Pesquisas do Brasil 664
Boro r 665
Zinco 666
Cobre 668
Manganês .. i
669
Ferro i
671
Molibd ênio 672
Classes de Interpreta çã o dos Teores de Micrónutrientes no lo 673
Aná lise de Plantas para Avaliar a Disponibilidade de Micror.utrientej 676
Diagnose Visual - Sintomas de Deficiência e iToxidez de Micrónutrientes em Plantas 681
Histó rico da Á rea j 682
MANEJO DA ADUBA ÇÃO COM MICRON LFI RI ENTES 682
Estratégias de Aplica çã o dos Micr ónutrientes 682
Estratégia de Seguran ça 683
Estratégia de Prescriçã o 683
i

Estratégia de Restituiçã o : 699


Fontes de Micrónutrientes 700
I
Fontes Inorgâ nicas 701
Quelatos Sint é ticos 703
Complexos Orgâ nicos .| 704
Óxidos Silicatados ("Fritas" ) J 704
Mé todos de Aplica çã o dos Micr ónutrientes ..j 704
Via Solo .j 705
Misturas de Fontes de Micrónutrientes còm Mistura de Grânulos NPK 706
Incorpora ção em Misturas Granuladas e!; Fertilizantes Simples 708
Revestimento de Fertilizantes NPK i
710
Via Aduba ção Fluida e Fertirriga çã o 711
Via Foliar 713
Vantagens 715
Desvantagens 715
Via Sementes 716
Via Ra ízes de Mudas i 717
Efeito Residual 717
Demanda de Micrónutrientes pelas Culturasj 719
LITERATURA CITADA J 724

INTRODU ÇÃ O
A agricultura brasileira passa por uma fase em que a produtividade, a eficiência, a
lucratividade e a sustentabilidade dos processos produtivos sã o aspectos da maior
relev â ncia. Nesse contexto, os micrónutrientes, cuja importâ ncia é conhecida há décadas,
apenas mais recentemente passaram a ser utilizados de modo mais rotineiro nas
aduba ções em v á rias regiões e para as mais diversas condições de solo, clima e culturas
no Brasil .
t
I
FERTILIDADE DO SOLO
I

1
XI - MlCRONUTfjlENTES 647

Os principais motivos que despertaram o maior interesse pela utiliza çã o de


fertilizantes que continham micronutrientes no; Brasil foram: (a ) o início da ocupaçã o da
regiã o dos cerrados, formada por solos deficientes em micronutrientes, por natureza; (b)
o aumento da produtividade de in ú meras cult ú ras com maior remoçã o e exporta çã o de
todos os nutrientes; (c) a incorpora çã o inadequada de calcá rio ou a utiliza çã o de doses
elevadas, acelerando o aparecimento de deficiências induzidas; ( d ) o aumento de
produ çã o e de preferências de utiliza çã o de fertilizantes NPK de alta concentra çã o,
reduzindo o conte ú do incidental de micr ò nutrientes nesses produtos, e ( e ) o
aprimoramento das an á lises de solos e foliares como instrumentos de diagnose de
deficiências de micronutrientes . As deficiê ncias de micronutrientes em plantas têm
import â ncia crescente; cultivares altamente! produtivos tê m sido extensivamente
cultivados com aduba ções pesadas NPK, o que rêsulta em deficiências de micronutrientes
em muitos pa íses (Cakmark, 2002).
Um dos aspectos mais limitantes para oijienta çã o dos agr ónomos na tomada de
decisã o sobre o uso eficiente de micronutrientes na agricultura brasileira é que, em geral,
existem relativamente poucos trabalhos abrangéntes, envolvendo calibraçã o dos mé todos
de aná lises de solo e foliar ( as duas "ferramentas" de diagnose mais utilizadas para a
recomenda çã o de doses adequadas desses insumos) . Assim, o conhecimento da dinâ mica
dos micronutrientes no solo (formas e processos), das técnicas de diagnose de problemas
(análises do solo e foliar ), manejo da aduba çã o dom micronutrientes (fontes e mé todos de
aplica çã o dos fertilizantes ), que constituem os t ó picos deste capí tulo, sã o fatores
importantes para obter sucesso no uso desses ihsumos.

DIN Â MICA DOS MICRONUTRIENTES NO SOLO


Os micronutrientes ( B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn ) sã o elementos essenciais para o
crescimento das plantas, mas requeridos em quantidades menores que os macronutrientes
( N, P, S, K, Ca e Mg). Marschner (1986) sugeriu â inclusão do Ni à lista de micronutrientes.
Conforme esse autor, a essencialidade do Ni tem suporte em v á rios estudos bioquímicos
que mostram que esse elemento é componente da urease, a enzima que catalisa a rea çã o

da CO( NH2)2 + H20 > 2NH3 + COz, sendo essencial à estrutura e funcionamento da enzima .
Embora Marschner (1986) considere ò Ni como elemento essencial às plantas e, portanto, um
micronutriente, neste capítulo, não lhe ser á dada a ênfase dedicada aos demais micronutrientes.
Existem v á rios termos para designar micronutrientes. Eles tê m sido chamados de
elementos menores, indicando que seu conte ú do na planta é menor em rela çã o aos
macronutrientes. Outro termo usado é elementos tra ços, uma vez que somente tra ços
desses elementos sã o encontrados nos tecidos das plantas. Com exceçã o do Fe e do Mn,
os quais estã o entre os 12 elementos mais abundantes, os outros micronutrientes ocorrem
em concentrações menores que 1 g kg 1 na litosf çra, outra razão para serem chamados de
'

elementos menores ou traços.


Embora os cá tions micronutrientes (Cu, Fe, Mn e Zn) ocorram, principalmente, na
forma divalente no solo, diferenças no cará ter iô nico de suas liga ções químicas são

FERTILIDADE do SOLO
648 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

suficientes para que somente o Fe 2+ e d Mn 2+ possam substituir extensivamente um pelo


outro.
O Fe, dentre os metais, é o mais
abundante 1
elemento nos solos, variando de 10 a 100 g kg 1,
enquanto a concentra çã o m édia é de 38 g kg (Krauskopf , 1972). Na crosta terrestre, o Fe
'
'

ocorre principalmente como Fe 2+ e nd forma de Fe3+, como ó xidos, silicatos, sulfatos e


carbonatos. Dos óxidos, o mais frequenltemente encontrado em todas as regiões do mundo
é a goetita , seguida, em condições aer ólpias, pela hematita, mineral tipicamente de regiões
tropicais . A presença desses óxidos no solo reveste-se de grande importâ ncia , pois sã o
eles que praticamente controlam a solubilidade do elemento, que é muito influenciada
pelo pH e pelo potencial de oxirredu çã o do solo.
O Mn é similar ao Fe tanto noá processos geol ógicos como nos qu ímicos . A
concentra çã o total de Mn no solo varia de 0,02 a 3 g kg 1, sendo a m édia de 0,6 g kg 1
* '

(Krauskopf , 1972) . Os minerais de Mn rpais importantes sã o: pirolusita - Mn02, manganita


- MnOFí, carbonatos - MnC03 e silicatos - MnSi03. Em seus compostos naturais, o Mn
pode apresentar -se em tr ês estados de oxida çã o: Mn 2+, Mn3+ e Mn4+. Em condições
redutoras, os compostos mais está veis sã o aqueles de Mn 2+ e, em condições oxidantes, o
Mn 4 + (Mn02), sendo o íon trivalente instá vel em soluçã o. É dif ícil prever a importâ ncia
relativa das diferentes formas de Mn no solo, uma vez que as rela ções entre Mn2 + e os
diversos ó xidos de Mn sã o altamente dependentes das rea ções de oxirredu çã o . Assim,
al
formas oxidadas podem passar para formas reduzidas, e vice-versa .
A concentra çã o total de Cu em sólos varia de 10 a 80 mg kg 1, com uma média de
'

30 mg kg 1 (Krauskopf , 1972). Quanto á o material de origem, o Cu é mais abundante nas


'

rochas ígneas b á sicas. Nas rochas sedimentares, está em maior concentra çã o nos
folhelhos, indicando que ele está adsprvido à s partículas menores. O Cu ocorre nas
formas cuprosa (Cu + ) e c ú prica (Cu 2+ ) , mas pode també m ocorrer na forma metá lica em
alguns minerais. A forma divalente é â mais importante. Dentre os micronutrientes, o
Cu é o menos mó vel no solo gra ças i à sua forte adsor çã o nos colóides orgâ nicos e
inorgâ nicos do solo . Na maté ria orgâ nica , o Cu é retido principalmente pelos á cidos
h ú micos e f úlvicos, formando complexos está veis. Portanto, os complexos orgâ nicos de
Cu exercem papel importante tanto na mobilidade como na disponibilidade deste para
as plantas.
A concentra çã o total de Zn em sólos varia de 10 a 300 mg kg 1, sendo a média de '

50 mg kg 1 (Krauskopf , 1972) . Solos


'

derivados
de rochas ígneas básicas sã o mais ricos
em Zn, e os solos derivados de rochas sçdimentares, arenito, os mais pobres. O principal
mineral de Zn é a esfarelita ( ZnS), mas ele pode ocorrer como carbonato de Zn ( ZnC03) e
em diversos silicatos. No solo, o Zn ocorre como cá tion divalente ( Zn2+ ) e nã o existe na
forma reduzida por causa de sua natureza eletropositiva . O Zn é um dos metais pesados
mais mó veis no solo .
De todos os micronutrientes, o Mo é o menos abundante na crosta terrestre. Ele pode
ser encontrado principalmente nas valê pcias 4 + e 6 +. A valê ncia 4+ corresponde ao mineral
MOS2 (molibdenita ) mais comum, e, ija valência 6 +, os molibdatos. Nas rochas, a sua
concentraçã o varia de 2 a 5 mg kg 1, sendo mais abundante nas rochas ígneas básicas.
'

Nos solos, varia de 0,2 a 5 mg kg 1, com mé dia de 2 mg kg 1 (Krauskopf , 1972 ). A


' '

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 649

mobilidade do â nion molibdato nos solos e alta, se comparada com a de outros


micronutientes catiônicos.
Dentre os micronutrientes, o B e o Cl encohtram-se no solo na forma aniô nica. O B
sempre ocorre em combina çã o com o oxigênioJ Embora o B seja encontrado em alguns
minerais silicatados insol ú veis (borosilicatos), como a turmalina, os boratos de Na (bó rax
- Na 2B4O7.10H2O) e de Ca (colemanita - Ca 2B60jn .5H2O) sã o os minerais primá rios mais
abundantes . A distribui çã o de B nas rochas. é diferente da dos outros micronutrientes,
por sua predominâ ncia nas rochas sedimentares. A concentra çã o de B no solo varia de
7 a 80 mg kg 1, com média de 10 mg kg 1, onde é geralmente encontrado como ácido bórico
' '

(H3BO3) (Krauskopf , 1972) . j

O Cl está distribuído extensivamente na natureza e a grande quantidade encontrada


nos solos tem origem marítima e de chuvas. A mlaioria do Cl do solo está em sais solúveis,
"

tais como NaCl, CaCl2 e MgCl2. O Cl é um dos ú jns mais móveis do solo, sendo facilmente
'

lixiviado. A concentra çã o de Cl no solo varia de 20 a 900 mg kg 1, com média de 100 mg kg 1.


' '

Na solu çã o do solo, varia de menos 0,5 a mais do que 6.000 mg L 1 (Mortvedt, 1999 ).
'

O Ni foi o elemento químico mais recenterriente reconhecido como essencial para as


plantas superiores. A evid ência de atuaçã o do iSli na urease em plantas superiores, o seu
requerimento em leguminosas, independenterriente do tipo de nutriçã o nitrogenada , e a

^
sua essencialidade para nã o-leguminosas ( Dix n et al ., 1975; Eskew et al ., 1984; Brown
et al ., 1987) levaram ao reconhecimento do Ni tomo elemento essencial para as plantas
superiores ( Marschner, 1995). Os resultados dos trabalhos de pesquisa levaram ao
reconhecimento da essencialidade do Ni, suas características e concentra çã oes no solo e
nas plantas indicam sua atua çã o como micron ú triente para as plantas.
As concentra ções de Ni nos solos variam de 1 a 200 mg kg 1, com média de 20 mg kg 1
' '

( Pais & Jones J ú nior , 1997 ) . Considerando as concentra çõ es aproximadas de


micronutrientes em tecidos de folhas maduras, generalizadas para v á rias espécies, a
suficiência em Ni ocorre com teores entre 0,1-5 mg kg 1, e o excesso ( toxidez ) com teores
'

entre 10-100 mg kg 1 (Kabata -Pendias, 2001). De modo geral, não há trabalhos que revelam
"

ç
a deficiência de Ni em plantas. Sua toxidez, pri ipalmente em solos que recebem adições
de lodo de esgoto, é motivo de maior preocupaçã o (Marschner, 1995) .

Associa çã o dos Micronutrientes com òs Componentes do Solo

Como o solo é formado por diferentes componentes, a quantidade total de qualquer


micron ú triente presente poder á estar dispersa e distribuída entre esses componentes ou
"pools" e ligados a eles por meio de ligações fracas até aquelas com alta energia . De
acordo com Shuman (1991), os micronutrientes estã o associados principalmente a: solução
do solo; superf ície inorgâ nica ( troca iô nica e adsor çã o específica ); maté ria orgâ nica;
óxidos; e minerais primá rios e secund á rios.

Micronutrientes na Solução do Solo


Sem d úvida, a solução do solo é o centro de todos os processos químicos importantes
e de onde as plantas absorvem os nutrientes . Na soluçã o do solo, os micronutrientes

FERTILIDADE d o SOLO
650 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

podem estar na forma de íons livres ou complexados com ligantes orgâ nicos e inorgâ nicos
(Quadro 1) . De acordo com Lindsay (1972), a maioria dos micronutrientes metá licos nã o
está na forma livre, mas complexada. P ortanto, o conhecimento das formas químicas dos
micronutrientes na solu çã o do solo é mais importante para estimar suas mobilidades e
disponibilidades às plantas do que a determina çã o dos seus teores totais na soluçã o do solo.

Quadro 1. Espécies de micronutrientes ocorridas em solu çã o do solo

Esp é cie em quantidade


Elemento
Grande Pequena

Mn Mn 2 + MnSO , MnCO 40 30
Fe Fe 3+, 2+ + "

Fe (OH ) , Fe ( OH ) 2 , Fe (OH ) 4 , Fe 2+ FeS04, Fe - MOS


Zn Zn 2 +, ZnOH
+
ZnSO 40
Cu Cu - MOS Cu 2+
, CuOH + , CuSO 40
B - MOS
"
B H 3 BO 3, B (OH ) 4

MOS - maté ria orgâ nica do solo.


Fonte : Adaptado de Camargo et al. ( 2001) .

A concentra çã o total do elemento em solu çã o (soma dos íons livres mais os


complexados ) é determinada usando t é cnicas de espectrometria , cromatografia e
colorimetria . Por outro lado, a
concentra
çã o (atividade) dos elementos livres e suas
formas, definida por especia çã o, devem ser calculadas . Este cá lculo pode ser feito por
meio de uma série de programas de computador sobre modelos de equilíbrio, tais como o
GEOCPPEM (Sposito & Mattigod, 1980; e o MINTEQ ( Allison et al ., 1991) .
Os micronutrientes na soluçã o do solo estã o em fluxo constante e suas concentra ções
dependem da for ça i ônica da solu çã o, da concentra çã o dos outros íons, pH, umidade,
temperatura, rea ções de oxirreduçã o, adiçã o de fertilizantes e absorçã o pelas plantas,
dentre outros. Uma pequena mudanç na concentra çã o ou na atividade das diferentes
cj^
formas dos micronutrientes na solu çã do solo pode causar deficiência ou toxidez para
as plantas .

Micronutrientes Adsorvidos à Superf ície Inorgâ nica


Os micronutrientes na soluçã o do solo como íons sã o atra ídos para as superf ícies
dos colóides orgâ nicos e inorgâ nicos < jio solo. As partículas inorgâ nicas coloidais do
solo sã o compostas basicamente por arjplominerais e óxidos e hidróxidos de Fe, Al e Mn.
Os argilominerais sã o caulinita, haloisita, montmorilonita , vermiculita, ilita, clorita e
vermiculita com hidróxido de Al entre camadas.
A adsor çã o é o processo mais importante relacionado com a disponibilidade de
micronutrientes às plantas, pois controla a concentraçã o dos íons e complexos na soluçã o
do solo além de exercer influência muito grande na sua absor ção pelas raízes das plantas.
Uma completa revisã o sobre a adsor çã o dos micronutrientes nas fra ções (mineral e

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 651

orgâ nica ) do solo foi feita por Harter (1991) e por Camargo et al. ( 2001) . A troca iônica
( adsor çã o nã o específica ) e a adsor çã o específica, mecanismos envolvidos na adsor çã o
de micronutrientes na superf ície inorg â nica, sã o descritas por Camargo et al . ( 2001) e
apresentadas no texto a seguir .
TrocaI ônica
De acordo como Camargo et al . ( 2001), o p::incípio da eletroneutralidade exige que
as cargas negativas associadas à s superf ícies s ólidas dos coloídes do solo sejam
compensadas por quantidade equivalente de ca[rgas positivas na forma de pr ótons ou de
espécies catiônicas. Os cá tions que envolvem as partículas de argila estã o em agita çã o
permanente decorrente de sua energia té rmick e tendem a escapar da influ ência das
cargas negativas, que, por sua vez, os atraem para a superf ície. A intera çã o dessas duas
for ças faz com que se forme uma nuvem cati ô mca ao redor da partícula, em vez de uma
monocamada . Esta concepçã o estrutural é chamada de teoria da dupla camada difusa,
que é muito ú til para explicar uma sé rie de fenomenos ocorridos no solo.
Os cá tions da nuvem sã o retidos pela è uperf ície, exclusivamente, por for ças
eletrostá ticas nã o específicas ( pelo que, à s vezes, o processo é chamado de adsor çã o nã o
i
específica ) e por causa de sua agita çã o térmica por sua exposiçã o aos outros cá tions da
soluçã o que nã o estã o sob influ ência do campo elé trico da partícula podem ser trocados
por estes, daí o nome de troca iônica. Este fenômeno tem certas características que merecem
destaque: (a ) é reversível; (b ) é controlado pela difusão iônica; (c ) é estequiomé trico; (d ) e,
na maioria dos casos, há uma seletividade ou preferência de um íon pelo outro, que está
relacionada com o raio iônico hidratado e conji a energia de hidrata çã o dos cá tions de
mesma valência .
A troca iô nica é um mecanismo de pequena influ ência na disponibilidade dos
micronutrientes (Silviera & Sommers, 1977; La tterell et al ., 1978), embora , em algumas
situa ções, ela tenha sido apontada como mecanismo importante para Mn (Muraoka et
al ., 1983b ). |
Diversas solu ções salinas, tamponadas ou nã o a v á rios pH, sã o utilizadas para
extra çã o de metais dos sítios onde ocorre a troca iô nica no solo. Os c á tions mais
comumente empregados nos esquemas de extra çã o por fracionamento sã o o Ca 2 +, Mg2+,
NH4+, usualmente na concentra çã o de 1 mol L 1. íons divalentes geralmente tê m maior
'

for ça de deslocamento que os monovalentes. Qs â nions mais empregados sã o o Cl , NOs


e CH3COO . O Cl apresenta a vantagem de nã o causar mudança apreciá vel no pH. Por
"
'

outro lado, o Cl é um â nion complexante mais forte que o N03 e, por esta razã o, sais de

N03 muitas vezes têm sido preferidos. O aceh to é muito usado com a soluçã o a pH 7,0,
'

mas Lakanen (1962), citado por Shuman (1991), preferiu usá -la a pH 4,65 para estimar o
trocável e o prontamente disponível. Abaixando o pH, sem d úvida, haverá maior liberaçã o
de micronutrientes metá licos; contudo, esses poder ã o vir de outros sítios quando as
argilas sã o hidrolisadas.
Adsorção Espec í fica
Adsor çã o específica é um dos mais importantes mecanismos que controlam a
atividade iô nica na solu çã o do solo . O íon adsorvido é chamado de adsorvato e a

FERTILIDADE DO SOLO
652 CLEIDE APARECIDA DE ABREU e t al .

partícula que expõe a superf ície de adsorçã o de adsorvente. Nesta situa çã o, os íons
perdem sua água de hidrata çã o, parcial ou totalmente, formando um complexo de esfera
interna com a superf ície de óxidos de Fe, Mn, Al, aluminossilicatos nã o-cristalinos e,
mesmo com arestas quebradas de argilominerais, que apresentam tipo similar de sítio de
adsor çã o, ou seja, um OH ou uma molécula de H20 com valê ncia insatisfeita, ligada a
"

um íon metálico da rede cristalina. Este tipo de liga çã o formada , sempre com certo grau
de liga çã o covalente, é altamente depjendente do pH, é seletiva, é pouco reversível e
pouco afetada pela concentra çã o iônica da soluçã o envolvente. Ela pode diminuir,
aumentar , neutralizar ou reverter a carga do í on a ser adsorvido e ocorre
independentemente da carga na superf ície da partícula .
O acú mulo de íons ou moléculas na interface sólido-solução do solo pode ser descrito
por diversos modelos empíricos, como o coeficiente de distribuiçã o e as equa ções de
Freundlich e de Langmuir, que sã o de u so mais frequente em Ciência do Solo ou modelos
qu ímicos da teoria da dupla camada ( Adamson, 1967; Raij, 1986 ), da capacitâ ncia
constante (Stumm et al., 1980), o triplqnar ( Davis et al., 1978) e o tetraplanar ( Barrow,
1989 ). |
Para a determina çã o dos micronutrientes adsorvidos especificamente, pode ser
empregado HOAc 25 mL L 1, utilizado p or McLaren & Crawford (1973) para quantificação
'

do Cu supostamente adsorvido aos óxidos, e recomendado para quantifica ção de outros


metais. Por outro lado, Stover et al. ( 1976 ) utilizaram o KF a pH 6,5 para remover os
metais de sítios específicos dos ó xidos ou argilominerais.

Micronutrientes Associados à Maté ria Orgânica


A fra çã o orgâ nica do solo é muito complexa e compõe-se de grande variedade de
compostos sol úveis e insol úveis com grupos funcionais que sã o bastante reativos com os
micronutrientes, a saber: carboxila, hidroxila fenólica e alcoólica , quinona, carbonil
cetônico, amino e sulfidrila .
Embora a liga çã o entre micronutrientes e maté ria orgâ nica possa ser vista como
troca iô nica entre H + de grupos funcionais e íons micronutrientes, o alto grau de
seletividade mostrado pelas substâ
ncias
h ú micas por certos micronutrientes revela que
eles coordenam diretamente com aqueles grupos funcionais, formando complexos de

Cu > Fe > Mn > Zn ( Alloway, 1995). ^


esfera interna . Uma sequência típica d seletividade tende a ser, em ordem decrescente:

A rea çã o de sor çã o entre um me tal e o material orgâ nico resulta numa estreita
associação em nível molecular entre o nletal e um ou mais grupos funcionais no material
h ú mico ou ligante (á tomo, grupo func ional, ou molécula , que está ligado a um á tomo
central de um composto de coordenaçã o ) . A sorçã o inclui metais na nuvem difusa perto
dos grupos funcionais perif é ricos ionizados e metais formando complexos de esfera
externa e interna, evidenciando que a rjatureza da liga çã o numa rea çã o de sorçã o vai de
liga çã o puramente eletrostá tica a fortemente covalente (Camargo et al ., 2001).
A matéria orgâ nica está muito associada a outras fra ções do solo, como óxidos de Fe
(Warren, 1981) e de Mn (Stahl & James, 1991).

FéRTIL DADE DO SOLO


X I - MICRONUTR ENTES 653

A escolha dos reagentes para quantificar os micronutrientes associados à maté ria


orgâ nica é dif ícil porque a maioria deles nã o reage de forma específica - dissociando os
micronutrientes associados a outros componentes do solo. Um dos primeiros reagentes
usados para a extra çã o de micronutrientes associados á fra çã o orgâ nica foi o K 4P2Oy que
/

estabiliza a matéria orgâ nica, causando a dispersã o dc solo. Conforme Chao (1984), o
pirofosfato nã o dissolve sulfetos nem quantidades significativas de óxido de Fe. Contudo,
a principal cr ítica ao uso desse reagente é que ele solubiliza toda ou parte dos óxidos de
Fe amorfos (Shuman, 1982). Outro reagente bastante usado é o per ó xido de hidrogénio
( H202) que, entretanto, apresenta diversas desvantagens: extrai metais da fra çã o óxido
de Mn; dissolve alguns sulfetos presentes; pode formar oxalatos, que atacam ó xidos de
Fe. É també m comum utilizar quelantes para determinar os metais ligados à matéria

^
orgâ nica . Conforme Grimme & Wiechman (19 9 ), citados por Shuman (1991), a adiçã o
de EDTA ao NaOH causou um aumento na extra çã o de Fe de compostos orgâ nicos sem,
contudo, atacar compostos inorgâ nicos de Fe. Shuman (1983) adicionou DTPA ao NaOCl
para quelatar os metais liberados, mas verificou que o DTPA disssolveu metais da fra çã o
óxido de Fe.
I
^
Micronutrientes Associados aos Ó xidos
Óxidos de Fe e de Mn tê m efeito significalite
nas rea ções dos micronutrientes do
,
solo decorrente principalmente da sua alta
, , afiijiidade
por íons metálicos e de seus altos
teores no solo. Esse aspecto é muito importante para a maioria dos solos brasileiros,
ricos em óxidos de Fe e Mn . Os micronutrientek metá licos estã o associados aos óxidos
por mecanismos de adsor çã o, forma çã o de complexo de superf ície, coprecipitaçã o e na
estrutura do cristal.
Para solubilizar os metais da fra çã o dos óxidos de Mn, é necessá rio ter um reagente

^
que reduza o Mn, mas nã o o Fe. Os reagentes nais utilizados sã o a hidroquinona e a
hidroxilamina . Dion et al. (1947) sugeriram o uso da hidroxilamina por esta solubilizar
mais Mn que a hidroquinona . Chao (1972) verificou que a hidroxilamina 0,1 mol L 1 em
HN03 0,01 mol L 1 a pPí 2 dissolveu 85 % do ó xido de Mn e somente 5 % de óxido de Fe
"
'

em v á rios sedimentos. Diversos outros estu á os concordam que a hidroxilamina é


específica para óxidos de Mn (Shuman, 1982) .
Um dos mais populares reagentes usados f ara quantifica çã o de metais associados
^
à fra çã o Fe amorfo é o oxalato de am ónio 0,2 mol L 1 a pH 3,0 ( McKeague & Day, 1966) .
"

Outra forma de extra çã o consiste na utiliza çã o de hidroxilamina 0,25 mol L 1 em HC1


"

0,25 mol L 1 a 50 °C por 30 min com agitaçã o em banho-maria (Chao & Zhou, 1983). Para
a quantifica çã o dos micronutrientes associados aos óxidos cristalinos, o mais conhecido

^
é o dititonito em citrato / tampã o bicarbonato (C D), desenvolvido para remover óxidos
de Fe e Al das argilas minerais em estudos de mineralogia (Mehara & Jackson,1960).

Micronutrientes nos Minerais Primários e Secund ários


A maioria dos micronutrientes metálicos é encontrada nas estruturas cristalinas de
minerais primá rios e secund á rios, associada minerais silicatados em substituições
^
isomorfas dentro dos minerais prim á rios e secund á rios.

FERTILIDADE D ó SOLO
654 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

A quantifica çã o dos micronutrierites associados a esses componentes é feita usando


a digestã o com HF, HN03, HC1, ou HC104 em recipientes de plá sticos resistentes ou de
teflon, abertos ou sobre pressã o. A capacidade de recupera çã o dos metais nesta fra çã o
ir á depender do tipo de amostra e do mé todo de digestã o. Fazendo a digestã o com
solu çã o com 90 % HN03 e 10 % HC1 ccjncentradas
, Sinex et al. (1980), citados por Shuman
(1991), verificaram que estes reagentes foram eficientes em recuperar os metais em amostra
de sedimentos de rios que receberam efluentes industriais.

Fatores que Afetam a Disponibilidade de Micronutrientes para as Plantas


pH do Solo
As concentra ções ou atividades das formas i ô nicas dos micronutrientes que são
preferencialmente absorvidas da solu çã o do solo pelas plantas, em condições de solos
bem arejados, sã o bastante dependentes do pH. Essa dependência pode ser determinada
por rea ções que controlam a solubilidade desses íons de acordo com Lindsay (1972)
(Quadro 2) .

Quadro 2 . Rea çõ es que controlam a solubilidade de micronutrientes em equil íbrio com a


solu çã o do solo

Micronutriente Rea çã o log K

Fe Fe3 + + 30 H‘
Fe (OH ) 3 ( s ) -39 ,4
Mn Mn 02 (s ) + 2 H + Mn 2 + + V2O 2 + H 20 - 0, 92
Zn Zn 2 + + 2 H -soIo Zn -solo + 2 H + - 6, 0
+
Cu Cu 2 + + 2 H -soIo Cu -solo + 2 H -3, 2
Mo MO 042 + 2 H -solo

M 0 O 4 -S 0 I 0 + 20 H

- 20, 5

Fonte : Adaptado de Lindsay (1972 ) .

O Fe pode estar no solo nas formas Fe 2+ (sol ú vel ) e Fe3+ ( baixa solubilidade), sendo 1.
absorvido pelas plantas na forma de Fe2+. Sua solubilidade é largamente controlada
pelos óxidos hidratados. Além da forma Fe3+, outras espécies iônicas predominam na
faixa de pH entre 5 e 9, gra ças à hidrólise de Fe3+. A solubilidade do Fe decresce,
aproximadamente, mil vezes para cada unidade de aumento do pH do solo, na faixa de
pH de 4 a 9. Esse decréscimo de solubilidade é muito maior para o Fe do que para Mn, Cu
ou Zn (Lindsay, 1972).
A solubilidade do Mn, absorvido pela planta na forma de Mn2+, é controlada
principalmente pela dissolu çã o de MnÇ)2 que é a forma normalmente presente em solos
bem arejados. A atividade e, consequentemente, a disponibilidade de Mn na soluçã o do
solo diminui 100 vezes, aproximadamente, para cada aumento de uma unidade no pH
do solo ( Lindsay, 1972.

F é RTIL DADE DO SOLO


XI - MICRONUTRIENTES 655

Para os micronutrientes Cu e Zn, absorvidos pelas plantas como cá tions divalentes,


nã o se definiu quais compostos controlam a solubilidade desses íons. Geralmente, a
solubilidade dos compostos no solo é menor do que a observada para a maioria dos
minerais que contém esses elementos.
O pH afeta a distribuiçã o dos micronutrientes que estã o associados aos diferentes
componentes do solo. O aumento do pH diminui a presença dos micronutrientes Cu, Fe,
Mn e Zn, na soluçã o do solo e nos pontos de troca catiônica (Figura 1). Borges & Coutinho
(2004 ), aplicando biossólidos ao solo, verificaram que, com o aumento do pH do solo,
ocorreu a redistribuição do Cu, Mn e Zn da fraçã o trocá vel para a fração ligada à matéria
orgânica ou óxidos, menos disponível.
Dynia & Barbosa Filho (1993), avaliando os efeitos da calagem sobre a dinâ mica do
Fe, Mn, Cu e Zn e a disponibilidade desses nutrientes para a cultura do arroz irrigado,
observaram que a calagem reduziu a solubilidailede todos os micronutrientes no solo,
sendo o Fe e o Zn os elementos mais afetados. FicJa evidente que a disponibilidade de Cu,
Fe, Mn e Zn é afetada pelo pH, diminuindo com seu aumento.
Como a solubilidade do Fe é muito diminuída pelo aumento de pH, a calagem é
considerada eficiente pr á tica de controle da toxidez desse elemento ( Barbosa Filho et al.,
1983b; Freire et al., 1985; Fischer et al., 1990 ).

Figura 1. Efeito do pH na distribuiçã o do Zn, Cu e Mn nos diferentes componentes do solo.


Fonte: Adaptado de Sims (1986 ), citado por Shuman (1991).

FERTILIDADE DO SOLO
656 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

O efeito da calagem sobre a disporjibilidade de Zn para as plantas também é mostrado


por Accioly et al. (2004), avaliando os efeitos da aplica çã o de doses de calcário (10 e
20 t ha 1) em misturas de solo com propor ções crescentes de Zn sobre o crescimento de
"

Eucalyptus camaldulensis . Eles observaram que a adiçã o de calcá rio elevou o pH do solo
próximo à neutralidade, reduzindo o teor de Zn disponível no solo pela soluçã o de
Mehlich-1. Santos et al . (2002), utilizando o ZnS04 e resíduo de siderurgia como fontes
de Zn para o milho cultivado em dois valores de pH (5,0 e 6,0), observaram que houve
uma diminuiçã o da disponibilidade de Zn com o aumento de pH, independentemente
da fonte utilizada . Tal efeito foi atribu ído à diminuiçã o das formas livres de Zn2+ pela
formaçã o de composto do Zn com o O Hf (ZnOH , Zn (OH) 2 ).
"

O B ocorre na soluçã o do solo, principalmente como H3B03, que predomina na faixa


de pH adequada para a agricultura, jendo
esta a f ô rma de B absorvida pelas plantas.
Quando comparado com o Cl ou N03 , o B é mais fortemente adsorvido pelos componentes
" "

do solo. A adsor çã o de B pelos óxidos de Fe e Al é dependente de pH e é maior na faixa


de pH entre 6 e 9. A disponibilidade de B é maior entre pH 5,0 e 7,0, diminuindo abaixo
e acima desta faixa de pH. Isso se deve, principalmente, às rea ções de adsor çã o que sã o
dependentes de pH. Melo & Minami (1999 ) observaram, em á reas sem e com calagem,
que o peso médio e a produção de couve-flor cv. Shiromaru II foram maiores quando não
se aplicou calcá rio. Segundo os autores, a calagem pode ter reduzido a disponibilidade
de B para as plantas, o que possivelmente ocasionou queda de produção, já que a couve-
flor está entre as hortaliças mais exigentes em B.
O Mo está presente na soluçã o do solo como molibdato (Mo042 ), forma absorvida
pelas plantas, e como HMo04 , em condições á cidas. A solubilidade do CaMo04 e do
'

á cido molibdico ( H2Mo04) aumentam com o aumento do pH e, de maneira inversa, a


adsorçã o de Mo pelos óxidos de Fe aumenta com o decréscimo de pH, principalmente na
faixa de 7,8 a 4,5. Entã o, a biodisponibilidade de Mo aumenta com o aumento de pH do
solo. De acordo com Quaggio et al. (2004), aumentos na produção de grãos de amendoim
no tratamento que nã o recebeu Mo foram atribuídos à maior disponibilidade de Mo no
solo decorrente do aumento do pH do solo.
O â nion Cl é muito fracamente ligado aos compostos do solo na maioria das
condições em que o solo se apresenta e torna-se negligível em solos com pH 7,0.
Quantidades apreciá veis de Cl podem ser adsorvidas, particularmente em solos oxídicos
e caoliníticos que podem ter significativa carga positiva .

Mat é ria Orgâ nica


A matéria orgâ nica do solo é constituída por á cidos h ú micos e f úlvicos, polifenóis,
aminoácidos, peptídeos, proteínas e pclissacar ídeos. Esses compostos sã o responsá veis
pela formação de complexos orgâ nicos :om Fe, Mn, Cu e Zn do solo, podendo diminuir a
solubilidade desses micronutrientes, e: n virtude da forma çã o de complexos com ácidos
h úmicos, ou aumentar sua disponibilidade em virtude da complexa çã o com á cidos
f úlvicos e outros compostos orgâ nicos descritos anteriormente (Stevenson & Ardakani,
1972 ).

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRI ENTES 657

A caracter ística mais importante da liga çã o entre a mat é ria org â nica e o
micronutriente metálico é sua constante de estabilidade, K. O valor dessa constante é
uma medida da afinidade do metal pelo agente quelante e indica a solubilidade e a
mobilidade dos micronutrientes metá licos em solos.
Recorda -se aqui a definição de Stevenson & Ardakani (1972). Quando um íon metálico
M reage com uma substâ ncia orgâ nica R para formar um complexo orgâ nico metálico
MRx, a reaçã o de equilíbrio é:


M + xR > MRx
em que x é o n ú mero de moles da partícula orgâ nica que se combina com o íon metálico.
A constante de estabilidade do complexo se define como:

K = (MRx) / (M) x
em que M é a concentra çã o em mol L 1 do íon metá lico e R é a concentra çã o da substâ ncia
'

orgâ nica expressa em mol L 1.


'

Em termos gerais, o poder de forma çã o de complexos diminui seguindo a ordem:


Cu > Zn > Mn . Portanto, dentre os micronutrientes, o Cu é o que mais interage com os
compostos orgânicos do solo, formando complelos está veis, especialmente com grupos
carbox ílicos e fenólicos. Alguns desses complexos sã o tã o está veis que a maioria das
deficiências de Cu tem sido associada com soljos orgâ nicos . Dynia & Barbosa Filho
(1993) observaram que a palha de arroz reduziu a solubilidade do Cu e Zn e nã o afetou
a solubilidade dos outros elementos (Fe e Mn), e ddenciando a importâ ncia da formaçã o
1

de complexos está veis do Cu e Zn com ligantes orgâ nicos liberados na decomposiçã o da


palha de arroz .
O Mn também forma complexos está veis com ligantes orgâ nicos. A estabilidade
desses complexos é tal que a incid ência de deficiência de Mn acima de pH 6,5 é muito
menor em solos com teores apreciá veis de matéria orgâ nica que em solos com baixo teor
de maté ria orgâ nica . Faquin et al. (1998) avaliaram a resposta do feijoeiro à aplicação de
calcá rio em quatro solos de vá rzeas (Glei Pouco Húmico, Orgâ nico, Glei Hú mico e Aluvial).
Altos teores de Mn nos solos e tóxicos nas folhas de arroz foram observados na ausência
de calagem. Tais efeitos foram menores nos solos Glei Hú mico e Orgâ nico em virtude
dos maiores teores de matéria orgâ nica nestes solos. Estes resultados estã o de acordo
com o relatado por McLean & Brown (1984 ) de que, em solos com elevados teores de
matéria orgâ nica, os efeitos tóxicos do Mn sã o amenizados pelo efeito complexante dos
compostos orgâ nicos.
A maior parte do B disponível às plantas é encontrada na matéria orgâ nica do solo.
A natureza das reações do B com a mat é ria orgâ nica não é bem entendida, mas pode
envolver grupos de hidroxilas nos complexos orgâ nicos. Condições de solo que favorecem
a decomposiçã o da matéria orgâ nica, tais como: calor, umidade do solo, boa aera çã o e
aumento da atividade microbiana , resultam em aumento do B biodisponível. Silva &
Ferreyra (1998) encontraram correla çã o positiva e significativa ( r = 0,619**) entre os
teores de matéria orgâ nica e do B extraído pela á gua quente. Resultados semelhantes

FERTILIDADE DO SOLO
658 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

foram observados por Marzadori et al. (1991) que atribu íram à maté ria orgâ nica
importante papel na disponibilidade de B, por minimizar a lixivia çã o desse elemento e
mantê-lo na forma relativamente disponível .

Reaçõ es de Oxirredução
Rea ções de oxirreduçã o sã o comuns em solos e influenciam a disponibilidade dos
micronutrientes, especialmente as de Fe e de Mn. O potencial de oxirreduçã o é expresso
em termos de pe (-log da atividade do elé tron ), sendo dependente do pH do solo, aera ção
e atividade microbiana . Solos bem drenados e arejados têm potencial de oxirreduçã o
entre 400 e 700 mV, enquanto, em solos inundados, esse potencial cai para valores entre
-250 e -300 mV. De acordo com a sequê ncia termodinâ mica da redução em solos
inundados, apresentada por Fageria (1984) , a reduçã o do Mn4+ para Mn2+ ocorre em
solos com potencial de 401 mV e a a reduçã o de Fe3+ para Fe 2+ se d á em potencial de
-185 mV. Isso explica porque, mesmo em solos nã o inundados, a toxidez de Mn é
frequente. A toxidez de Fe tem sido mais comum em condições muito redutoras, como na
cultura do arroz irrigado ( Barbosa Filho et al., 1983b ), ou em condições especiais, como
em soja cultivada em Latossolos, após per íodos de intensa pluviosidade (Bataglia &
Mascarenhas, 1981). Costa (2004), avaliando o desempenho de duas gramíneas ao estresse
hídrico por alagamento em dois solos Qlei Hú micos, observou que o alagamento promoveu
a eleva çã o dos teores de Fe no solo nas plantas. O ambiente anaeróbio aumenta a
solubilidade do Fe no solo, reduzinda o Fe3+ a Fe2+, aumentando a disponibilidade de
Fe2+, forma absorvida pelas plantas. A mesma tendência foi verificada para o Mn.
Embora o Cu 2+ possa ser reduzido a Cu +, nem esse elemento nem o Zn sã o afetados
diretamente pelas condições de oxirreduçã o ocorridas na maioria dos solos. Em algumas
situa ções de oxirreduçã o, esses elementos sã o afetados indiretamente pelo aumento de
pH. Segundo Alam (1999), o aumento do pH em solos á cidos próximos à neutralidade,
em condições de alagamento, exerceu forte influência na reduçã o da disponibilidade de
Zn e de Cu para a cultura do arroz alagado.

Caracterí stieas dos Solos e Sit uaçõ es Relacionadas com a Deficiência


de Micronuí rientes para as Piantas
Boro
- a maior disponibilidade ocorre na faixa de pEI 5,0 a 7,0;
- as condições de alta pluviosidade e alto grau de perdas por lixivia çã o reduzem a
disponibilidade, principalmente em solos mais arenosos;
- as condições de seca aceleram o aparecimento de sintomas de deficiência que,
muitas vezes, tendem a desaparecer quando a umidade do solo é adequada. Dois
fatores explicam esse comportamento: (a ) a matéria orgâ nica, importante fonte de
B para o solo, tem sua decomposição diminuída, liberando menos B para a solução
do solo, e (b) condições de seca reduzem o transporte de B no solo e o crescimento
das raízes, provocando a menor explora çã o do volume do solo, o que leva à menor
absorçã o de nutrientes, inclusive de B.

FERTI . IDADE DO SOLO


XI - MICRONUTRIENTES 659

Cobre
- a maior disponibilidade ocorre na faixa de pH 5,0 a 6,5;
- os solos orgânicos são os mais prová veis de apresentarem deficiência de Cu. Embora
os solos orgâ nicos apresentem altos tecres de Cu , este micronutriente forma
complexos está veis com a matéria orgâ nica , fazendo com que somente pequena
fra çã o fique disponível à cultura;
- os solos arenosos, com baixos teores c e mat éria orgâ nica, podem tornar -se
deficientes em Cu em decorr ência de
percjlas
por lixivia çã o;
- em solos argilosos, há menor probabilidade de deficiência desse micronutriente;
- a presença excessiva de íons metálicos, como Fe, Mn e Al, reduz a disponibilidade
de Cu para as plantas. Esse efeito independe do tipo de solo.

Ferro
- a maior disponibilidade ocorre na faixa de pH 4,0 a 6,0;
- a deficiência de Fe, na maioria das vezes, é causada por desequilíbrio em relaçã o a
outros micronutrientes, tais como: Mn, Cu e Mo;
- outros fatores que podem levar à deficiência de Fe sã o o excesso de P no solo e na
planta, pH elevado, baixas temperaturas e altos teores de bicarbonato.

Manganês
- a maior disponibilidade ocorre na faixa d e pH 5,0 a 6,5;
- òs solos orgâ nicos, pela forma çã o de complexos está veis entre matéria orgâ nica e
Mn, tendem a apresentar problemas de deficiência desse micronutriente;
- a umidade do solo também influencia a disponibilidade de Mn. Os sintomas de
deficiência sã o mais severos em solos com alto teor de matéria orgâ nica durante a
estaçã o fria, quando esses estão saturados com água. Os sintomas tendem a
desaparecer, à medida que o solo seca e a temperatura se eleva;
- solos arenosos, com baixa CTC e sujeitls a altos índices pluviais, sao os mais
propensos a apresentar problemas de deficiência desse micronutriente;
- excessos de Ca, Mg e Fe podem causar deficiência de Mn.

Zinco
- a maior disponibilidade ocorre na faixa de pH 5,0 a 6,5;
- alguns solos, quando recebem doses de corretivos para elevar o pH acima de 6,0,
podem desenvolver sérias deficiê ncias de Zn, principalmente quando arenosos;
- o uso de altas doses de fertilizantes fosfatados, em cultivos de vá rias espécies de
plantas, já mostrou os efeitos da intera çã o antagónica entre o Zn e o P que se
complica, ainda mais, em valores de pH próximos à neutralidade;

FERTILIDADE DD SOLO
660 CLEIDE ! APARECIDA DE ABREU et al .

- grandes quantidades de Zn podem ser associadas à fraçã o orgânica do solo, levando


à deficiência desse micronutriente que pode ser, temporariamente, imobilizado
pelos microrganismos do solo, especialmente quando da aplica çã o dos estercos;
- as baixas temperaturas, associádas ao excesso de umidade, podem fazer com que
as deficiências de Zn sejam mjais pronunciadas. Isso tende a se manifestar no
está dio inicial de crescimento das plantas, e, geralmente, os sintomas desaparecem
mais tarde;
- a sistematiza çã o do solo para irriga çã o por inundaçã o leva à deficiência de Zn nas
á reas em que o subsolo é exposto;
- o Zn é fortemente adsorvido pelos colóides do solo, o que ajuda a diminuir as
perdas por lixivia çã o, aumentá ndo o efeito residual. Entretanto, solos arenosos,
com baixa CTC e sujeitos a chuvas pesadas, podem apresentar problemas de
deficiência .
Molibdênio
- a maior disponibilidade ocorre acima de pH 7,0;
- deficiências de Mo têm maior probabilidade de ocorrer em solos ácidos (pH menor
que 5,5 ou 5,0) . Quando o solo recebe calagem adequada, haver á correçã o da
deficiência, se os teores desse rriicronutriente forem adequados;
- solos arenosos apresentam, com mais frequê ncia, deficiência de Mo do que os de
textura média ou argilosa;
- doses pesadas de fertilizantes fosfatados aumentam a absorção de Mo pelas
plantas, ao passo que doses elevadas de fertilizantes com sulfato podem levar à
deficiência de Mo;
- Mo em excesso é tóxico, especialmente para animais sob pastejo. O sintoma
característico é forte diarréia; j
- o Mo também afeta o metabolismo do Cu. Animais tratados com forragem com alto
teor de Mo podem apresentar deficiência de Cu, levando à molibdenose. Animais
sob pastejo em á reas deficiente de Mo e com teores elevados de Cu podem sofrer
toxidez deste último.
^
N í quel
( veja capítulo III )

DIAGNOSE DA Ú EFICI Ê NCIA E TOXIDEZ


DE MICRONUTRIENTES
A caracteriza çã o das deficiências ou excessos de micronutrientes pode ser feita
mediante o uso de alguns procedimentos de diagnoses, com destaque para as análises de
solos e de plantas, critérios baseados nà avalia çã o visual e histórico d ê uso da á rea .

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 661

Pouco citado na literatura, mas de grande importâ ncia, é o histórico de uso ou manejo
de uma á rea ou gleba de uma propriedade. Quanto mais um técnico souber sobre esse
histórico, mais eficiente ser á o diagnóstico dos possíveis problemas nutricionais com
micronutrientes, e mais f ácil ser á a correçã o desSes problemas. Os critérios baseados na
avalia çã o visual dependem apenas do conheciménto do técnico e do suporte de literatura.
Entretanto, têm suas limita ções por depender do aparecimento dos sintomas, fase em
que a produtividade normalmente já está prejudicada . A aná lise química da planta, ou
de suas partes, é outro crité rio diagnóstico, especialmente ú til para plantas perenes.
Outro instrumento diagnóstico de destaque é a aná lise química do solo que apresenta a
grande vantagem sobre os demais por possibilitar o conhecimento pr é vio da
disponibilidade dos micronutrientes onde ser á instalada a cultura .

An álise de Solo para Avaliar a Disponibilidade de Micronutrientes às


Plantas
\
Para avaliar a disponibilidade de micronutrientes ( B, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn ),
embora oferecendo perspectivas promissoras, a análise do solo teve, até hoje, uso bastante
restrito. O interesse pela análise de micronutrientes em solos tem aumentado a cada ano,
principalmente pelo aparecimento crescente de deficiências desses nutrientes em culturas.
As mais comuns sã o de: B em algod ã o, batata , trigo, caf é, citros, hortaliças, mamã o e uva;
Zn em caf é, arroz, milho, citros, soja e eucalipto; Cu em caf é, cana -de-a çúcar, soja,
hortaliças e citros; Mn em caf é, citros e soja; e Mó em caf é, hortaliças e leguminosas. Até
o momento, n ã o existem relatos de ocorrência da deficiência de Ni e de Cl no Pa ís.
A disponibilidade de um micronutriente no solo refere-se ao teor deste micronutriente
resultante da inter-relaçã o dos fatores intensid á de, quantidade e poder-tampã o do solo
durante um ciclo da planta . Ela pode ser av á liada medindo-se as concentra ções do
elemento na soluçã o do solo e, depois, utilizand ó-as no cálculo da atividade iônica (fator
intensidade), considerada medida da disponibilidade imediata do elemento para as
plantas (Sposito, 1984) . Diversos mé todos têirí sido usados para extrair a solução do
solo, incluindo extratos de pasta de saturaçã o, deslocamentos miscíveis e imiscíveis,
centrifuga çã o e extra çã o por pressã o ou v á cuo das amostras de solo em laboratório ou
em lisímetros no campo. Todos esses m é todos tê m vantagens e desvantagens, mas a
maior dificuldade está em obter uma soluçã o representativa sem alterar sua composiçã o
durante o processo de extra ção. També m, a disponibilidade do metal pode ser avaliada,
usando-se um extrator apropriado, no qual o tedr extra ído do solo por meio de reagentes
químicos se correlaciona estreitatamente com o conteú do do elemento determinado nas
plantas. E o sistema mais empregado nas pesquisas.

Extratores de Micronutrientes

j
De maneira geral, podem-se classificar os extratores utilizados na determinação
>
dos micronutrientes disponíveis em seis categorias: á gua ou extrato de pasta de saturação,
soluções salinas, soluções á cidas, soluções complexantes, oxidantes / redutoras e os
combinados - tendo em sua composiçã o dois os mais reagentes representantes das
categorias anteriores. Para facilidade de apresíentaçã o, as soluções combinadas serã o

FERTILIDADE DO SOLO
662 CLEIDEI APARECIDA DE ABREU et al.

descritas neste cap ítulo, baseando-se ino princípio dominante de extra çã o dos metais por
estas soluções. A quantidade de micronutrientes extraída do solo por essas soluções ir á
depender : dcs reagentes utilizados, da concentra çã o dos componentes da solu çã o
extratora, do tempo de extra çã o, da rela çã o solo:soluçã o, da temperatura de extra çã o, do
tempo e tipo de agita çã o, dentre outros. Varia ções nas condições de extra çã o levam a
diferenças nos teores extra ídos de micronutrientes por um mé todo específico.

Agua
O micronutriente extra ído pela á gua d á uma ideia direta da concentra çã o deste na
solu çã o do solo. A sua quantifica çã o é feita após agita çã o da amostra de solo com á gua
destilada ou deionizada . O mé todo da á gua quente, originalmente proposto por Berger
& Truog (1939) para determina çã o dé B disponível,.é o mais usado e é sempre um ponto
de referência obrigató rio para a compara çã o com outros processos de extra çã o de B

^
(Ribeiro & Tucunango Sarabia, 1984; E ataglia & Raij, 1990; Abreu et al., 1994c). A extração
com á gua foi testada para outros mici|onutrientes como Mn e Zn (Valadares & Camargo,
1983; Muraoka et al ., 1983a,b ), mas ós resultados nã o foram animadores, quando se
visou a identificaçã o de solos deficientes. Dada a baixa concentração de Cu, Fe, Mn e Zn
nas extra ções com á gua , problemas análíticos são comumente encontrados e os resultados
bem variá veis, o que faz com que este extrator seja pouco utilizado para diagnosticar
deficiências desses elementos (Mura ó ka et al., 1983a,b; Valadares & Camargo, 1983). A
extra çã o com á gua torna -se mais viá yel para a determina ção dos teores tóxicos desses
elementos, os quais, sendo bem mais elevados, permitem aná lises mais exatas e confiáveis.

Solu ções Salinas


Até recentemente, os extratores sà linos eram pouco utilizados em análises de metais
em solos por causa da sua baixa capacidade de extra çã o, dificultando a determinaçã o
dos metais por técnicas comuns. Hoje, com a introdução de novas técnicas instrumentais
o uso dessas soluções tornou -se mais rotineiro.
i
Diversas soluções salinas, tamponadas ou não a vá rios valores de pH, são utilizadas
para extra çã o de micronutrientes. Essas solu ções extraem preferencialmente os
micronutrientes dos pontos de troca iônica do solo. A solução mais empregada é o
acetato de amónio 1 mol L 1 a pH 7,0 j ue extrai Cu, Mn e Zn (Pavan & Miyazawa, 1984;
'

^
Abreu et al., 1994a ). Outras soluções, pomo nitrato de NH4+, nitrato de Ca, cloreto de Mg,
+
nitrato de Mg, cloreto de Ca, cloret de K, cloreto de Ba, cloreto de NH4 têm sido

^
empregadas para avaliar a disponibiliqade de micronutrientes em solos, sem, no entanto,
uma justificativa técnica para tal uso. Muitas vezes, utilizam-se tais soluções porque já
são usadas pelos laborató rios na exljraçã o de macronutrientes trocá veis. Paula et al.
(1991) usaram o cloreto de Ca na extra ção de Zn em solos de v á rzea; Gimenez et al.
(1992), o cloreto de Mg para extra çã o do Zn disponível em solos; e Abreu et al. (1994a,b ),
o cloreto de Ca para avaliar a disponibilidade de Mn às plantas.

Reagentes Quelantes j
Os agentes quelantes combinam com o íon-metálico em solução, formando complexos
solúveis, reduzindo sua atividade. Eih consequência, oá íons são dessorvidos do solo ou

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 663

dissolvem da fase sólida para reabastecer os teores na soluçã o . A quantidade de metais


quelatados que se acumula na solu çã o do solo depende da atividade do íon metal livre
na solu çã o do solo ( fator intensidade ), da habilidade do solo em reabastecer a solução
( fator capacidade ), da estabilidade do quelato e da capacidade do quelante em competir
com a matéria orgâ nica pelo íon. Os quelantes são usados com o objetivo de extrair maiores
proporções das formas lábeis dos micronutrientes, porém sem dissolver as formas não-lábeis.
O mé todo proposto por Lindsay & Norvell (1978), empregando-se o DTPA a pH 7,3,
é o mais difundido . A adiçã o de CaCl210 mmol L 1 e de trietanolamina foi proposta por
'

esses autores para manter a concentra çã o de Ca 2+ em solu çã o pr óxima à encontrada em


solos neutros e alcalinos, e o pH relativamente constante. Essas condições foram criadas
com o objetivo de retardar a dissoluçã o de CaC03 em solos calcá rios e de obter um filtrado
límpido, dada a flocula çã o das partículas coloidais do solo. O mé todo foi originalmente
desenvolvido para solos calcá rios do sudoeste dos Estados Unidos e para identificar
solos deficientes em Cu, Fe, Mn e Zn. Seu uso foi ampliado, com relativo sucesso, para
solos com m á drenagem e, ou, contaminados com metais, condições essas bem diferentes
daquelas preconizadas para o m é todo ( Mandai & Haldar, 1980; Scharuer el al., 1980 ) .
Outra modifica çã o no m é todo do DTPA foi á adi çã o do bicarbonato de amónio que
originou o método AB-DTPA, desenvolvido por Soltanpour & Schwab (1977), para extrair,
simultaneamente, N- N03 , P, K, Cu, Fe, Mn, Zn de solos ou calcá rios com pFi neutro . A
soluçã o AB-DTPA é composta de NH4HC03 1 mol L 1 e DTPA 5 mmol L 1, ajustado
'
'

inicialmente a pH 7,6. A soluçã o extratora , quando exposta à atmosfera ou no decorrer


da extra ção, libera C02 o que causa um aumento no pH, podendo atingir valores próximos
+
a 8,5. As concentrações de NH4 e ITCO3 sã o sirqilares à quelas usadas tradicionalmente
'

para extrair K + e P043 .


"

Mais tarde, Norvell (1984) propôs o uso do DTPA + á cido acé tico + hidr óxido de
amónio + cloreto de Ca a pH 5,3 para extra çã o de micronutrientes em solos ácidos. Esse
mé todo nã o tem sido incluído em estudos visando à seleçã o de extratores para avaliar a
disponibilidade de micronutrientes em solos brasileiros. Entretanto, resultados
preliminares, obtidos por Abreu et al. (1998), trqbalhando com 59 amostras de solos do
Estado de Sã o Paulo, mostraram a viabilidade dèsse mé todo em extrair micronutrientes
do solo. Para os teores de Cu, foi obtida correlação de 0,85, quando foram empregados os
mé todos DTPA, pFl 5,3 e DTPA, pH 7,3. Para <Js teores de Mn e Zn, os coeficientes de
correla çã o foram de 0,59 e 0,64, respectivamentç.
Os agentes quelantes mais usados em estudos, visando à seleçã o de mé todos quími-
cos para avaliar a disponibilidade de micronutrientes (Cu, Mn e Zn ) em amostras de
solos brasileiros, sã o o á cido etilenodiaminotetraacé tico ( EDTA ) e o dietilenotriamino-
pentaacé tico (DTPA) (Camargo et al., 1982; Galr ã o & Sousa, 1985; Galrã o, 1988; Paula et
al., 1991; Gimenez et al., 1992; Bataglia & Raij, 1994).
Soluções Ácidas
A extra çã o com soluções á cidas baseia-se na dissoluçã o dos minerais de argilas, o
que dificulta a definiçã o das formas extra ídas. A quantidade de metais solubilizados do
á
solo pelas soluções ácidas irá depender do tipo e á cido, de sua concentração, do tempo
de extra çã o, da relaçã o solo:soluçã o, dentre outros. As soluções concentradas de á cidos

FERTILIDADE Dó SOLO
664 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

fortes tê m sido evitadas porque geralmente extraem metais nã o-lá beis da fase sólida . As
solu ções diluídas de á cidos fortes removem os metais dos sítios de troca e parte daqueles
complexados ou adsorvidos, alé m dos da soluçã o do solo .
As solu ções á cidas mais testadajs para extra çã o de micronutrients sã o a de á cido
clor ídrico e a de Mehlich-1. Por causa das muitas varia ções nos procedimentos originais
desses mé todos, no que se refere à concentra çã o da soluçã o, rela çã o solo:soluçã o, tempo
de agita çã o e outros, os resultados dos trabalhos de extra ção com soluções á cidas podem
nã o ser compar á veis. O m é todo empregando HC1 0,1 mol L 1 foi originalmente "

desenvolvido para extraçã o de Zn de solos ácidos ( Nelson et al., 1959 ), sendo as rela ções
solo:soluçã o mais comuns 1:10 no mé todo original, e a 1:4 sugerida pelo Council on Soil
Plant Test Analysis (1980) . O mé todo Mehlich-1 (HC1 50 mmol L 1 + H2S04 12,5 mmol L 1 )
' "

foi desenvolvido para extra çã o de P ( Mehlich, 1953), sendo o seu uso estendido para os
cá tions trocá veis de solos á cidos, sendo utilizadas duas rela ções solo:soluçã o: 1:4, do
m é todo original, e 1:10, comumente ejmpregada no Brasil (Galrã o & Sousa , 1985).
(
O mé todo de Mehlich-3, apesar de ser uma mistura de á cidos, sais e quelante, ser á
\

incluído neste grupo. O mé todo dé extra çã o com a soluçã o Mehlich-3 (CH3COOH


0,2 mol L 1 + NH 4 N03 0,25 mol L 1 + NH4F 15 mmol L 1 + HN03 13 mmol L 1 + EDTA
' " '
'

1 mmol L 1 ), foi desenvolvido para avaliar a disponibilidade de P, K, Mg, Ca , Mn, Fe, Cu ,


'

Zn e B em solos á cidos do sudoeste dos Estados Unidos ( Mehlich, 1984) . A adiçã o de


NH4F à solu çã o de Mehlich-3 melhorou a prediçã o da disponibilidade de P em solos
neutros e alcalinos. Como o agente quelante DTPA causou interferência na determinaçã o (
colorimé trica do P foi substitu ído pelo EDTA para complexar Cu , Fe, Mn e Zn.
As soluções á cidas mais testadas para extra çã o de Cu, Fe, Mn, Zn e de B em algumas
situa ções sã o: Mehlich-1 (FíCl 50 mmol L 1 + H2S0412,5 mmol L 1), HC1 0,1 mol L 1, H2S04
' '

25 mmol L 1 e H3P04 (Marinho, 1970; Bartz & Magalhães, 1975; Casagrande, 1978; Barbosa
"

Filho et al., 1990; Buzetti, 1992; Abreu et al., 1994a,b ).


\
Reagentes Oxidantes/ Redutores
Alguns micronutrientes no solo spo fortemente ligados aos óxidos de Fe, Al e Mn, e
agentes redutores poderã o ser utilizados para solubilizar esses minerais e liberar os
micronutrientes associados. Exemplos de tais reagentes sã o: a hidroquinona , a
hidroxilamina acidificada , o oxalato acidificado e as solu ções de ditionito / citrato que,
freqíientemente, sã o usados em esquemas de fracionamento para metais . A hidroquinona
tem sido empregada para determinar o Mn facilmente redutível. Abreu et al . (1994b )
verificaram que o NH 4OAc + hidroquinona foi o melhor extrator para avaliar a
disponibilidade de Mn em virtude das mudanças de pH. Esses autores obtiveram
coeficiente de correla çã o de 0,86 entr ê o teor de Mn extraído pela hidroquinona e o Mn
determinado em soja crescida em solos do Estado de Sã o Paulo que apresentavam teores
naturais de Mn entre a classe mé dia e alta .

Soluções Extratoras - Resultados de Pesquisas do Brasil


A planta é considerada o referencial dos extratores de nutrientes, refletindo sua real
disponibilidade. Desta forma , um bom extrator, para uma situaçã o específica , deve

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MlCRONUTRI ENTES
' 665

simular o comportamento da planta . Neste tópico, os coeficientes de correla çã o ( r ) e os


de determina çã o (R 2) ser ã o utilizados como ferramentas para analisar os resultados de
á
pesquisa com os extratores, indicando a eficácia o mé todo para uma situaçã o específica .
Boro
A extra çã o de B do solo usando a á gua qdente foi proposta por Berger & Truog
(1939 ) e, até hoje, tem sua eficiência comprovada para v á rias culturas e condições de
solo. A á gua quente tem sido o m é todo padrã o para compara çã o com outros processos.
Em Minas Gerais, Ribeiro & Tucunango Sarabia (1984), trabalhando com cinco Latossolos
que receberam adiçã o de B e cultivando sorgo, obtiveram coeficientes de correla ção entre
teores de B-solo e B-planta de 0,65 para á gua quente e 0,58 para o Mehlich-1. Cruz &
Ferreira (1984 ) , utilizando solos do Estado de Sã o Paulo, encontraram valores de 0,64
para á gua quente, 0,68 para o m é todo da á gua quente modificado e 0,74 para o CaCl2
1 g L 1, alé m de valores pr óximos para extratores á cidos (H2S04, HC1 e á cido acé tico ) .
'

Bataglia & Raij (1990) testaram os extratores Mehlich-1, HC1, CaCl 2 e á gua quente para
avaliar a disponibilidade de B em 26 amostras de solos do Estado de Sã o Paulo . Eles
concluíram que o Mehlich-1 foi menos eficientê que a á gua quente e o cloreto de Ca .
Mesmo com a inclusã o de outros atributos do solo, como pH, argila , maté ria orgâ nica e
capacidade de troca , o coeficiente de correla çã o com a absor çã o de B pelas plantas de
girassol foi baixo. Além disso, o Mehlich-1 nã o conseguiu discriminar o efeito da adiçã o
de B ao solo, nem o efeito da calagem, de forma similar ao observado para a á gua quente.
í O uso do HC1 mostrou-se inviá vel em vista da çolora çã o dos extratos. Quaggio et al .
( 2003), trabalhando com laranja pê ra em condições de campo, observaram estreita
correla çã o entre o teor de B no solo, extra ído pelo mé todo da á gua quente, e o teor de B
nas folhas ( r = 0,97*). No Rio Grande do Sul, Bartz & Magalhã es (1975), trabalhando
com sete amostras de solos que receberam B, constataram os seguintes valores do
coeficiente de correla çã o, entre teores de B-solp e B-alfafa: 0,83 - á gua quente; 0,87 -
Mehlich-1; 0,89 - H2S04 25 mmol L 1; 0,83 - HC150 mmol L 1. Em solos do Cear á, Silva &
'

Ferreyra (1998) encontraram correla ções altamente significativas entre teores de B-solo,
extraídos por diversos mé todos, e de B-girassol; contudo, a á gua quente foi o melhor
extrator seguido do HC1 e do manitol.
De maneira geral, os extratores á cidos, principalmente o Mehlich -1, t ê m -se
comportado de maneira semelhante à extra çã o com á gua quente naqueles experimentos
que receberam doses crescentes de B. Questiona -se se esses resultados serã o reproduzidos
em solos com baixos teores de B, que representam a faixa de teores de maior preocupaçã o
agronó mica . Para o Mehlich-1, a baixa concentra çã o de B no extrato e a larga relaçã o
solo.solu çã o de 1:10 acarretam problemas analíticos frequentes, sendo os resultados
muito variá veis. A faixa de teores na qual a deficiência de B ocorre indica a necessidade
de determina ção com mé todo de dosagem com menor limite de deteçã o desse elemento
para diagnosticar a disponibilidade do nutriente no solo.
Embora a extra çã o de B pela á gua quente, usando o sistema de refluxo, seja o mais
apropriado para diagnosticar a disponibilidade de B em v á rias partes do mundo,
incluindo o Brasil (Ribeiro & Tucunango Sarabia, 1984; Bataglia & Raij, 1990), o processo
é moroso em condições de rotina, pouco reprodutível e requer condições especiais de

FERTILIDADE DO ; SOLO
666 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

aná lise. Dentre as dificuldades associadas à extra çã o com á gua quente sob sistema de
refluxo podem ser mencionadas as seguintes: (a ) necessidade de vidraria isenta de B, de
dificlildade
dif ícil obtençã o e alto custo; (b ) de analisar um grande n ú mero de amostras
por dia, e (c) dificuldade do controle de temperatura nas etapas de aquecimento e
resfriamento da suspensã o do solo .
Algumas propostas de modifica çã o na etapa de extra çã o de B em solos, usando a
á gua quente sob sistema de refluxo, têm sido sugeridas nos últimos anos para que a essa
an á lise torne-se mais atrativa e aplicá vel em condições de rotina . Ferreira & Cruz (1984)
citados por Cruz & Ferreira (1984), com o objetivo de eliminar a ebuliçã o sob condensador
de refluxo, propuseram o emprego c e agita çã o da suspensã o solo-á gua , por 5 min, em
banho- maria, aproximadamente a 70 °C. Os autores obtiveram correla çã o significativa
entre o mé todo convencional e a técnica modificad.a ( r = 0,75) e entre o B extra ído pelas
plantas e o B extra ído pelo mé todo modificado (r = 0,85). Mahler et al . (1984) substituíram
os vidros por plá sticos e o aquecimento sob refluxo pelo aquecimento de á gua em copos,
encontrando vantagens pelas facil dades de manipula çã o, menor trabalho, baixo
investimento inicial de equipamento e melhor reprodutibilidade dos resultados. Abreu
et al. (1994c ) usaram saquinhos de pl ástico no lugar de vidros e o forno de microondas
caseiro como fonte de aquecimento. A correlaçã o obtida entre B extraído usando o mé todo
convencional (sob refluxo ) e o forno de microondas foi de 0,98. Alé m disso, a extração de
B do solo mostrou -se mais rá pida, com maior precisã o e reprodutibilidade. O coeficiente
de varia çã o foi de 19,2 e 4,2 %, usando o sistema de refluxo e o forno de microondas,
respectivamente. Os altos valores de coeficiente de variaçã o obtidos usando o sistema de
refluxo foram devidos à s dificuldades de identificar, com exatid ão, o início do tempo de
refluxo. Normalmente, a identifica çã o é feita visualmente considerando o movimento de
bolhas em suspensã o. Desde que a extra çã o de B é muito dependente do tempo de
aquecimento (Odom, 1980), tal processo é muito mais sujeito a erros . Por outro lado, a
extra çã o de B usando o forno de microondas caseiro tem as condições de aquecimento
mais controladas, sendo menos alteradas por erros e, consequentemente, mais
reprodut ível. Tal procedimento está em condições de rotina no laborató rio de aná lise de
solo do Instituto Agronómico desde 1994. Muitos outros laboratórios de vá rios Estados
do País e do exterior utilizam este procedimento na rotina .

Zinco

Os coeficientes de correla çã o entre teores de Zn-solo e Zn- planta obtidos por


v á rios autores expressam a real situa çã o da pesquisa visando à sele çã o de m é todos
qu ímicos para avaliar a disponibilidade Zn em solos brasileiros (Quadro 3) . Ressalta -
se que, com exceçã o dos trabalhos de Lantmann & Meurer (1982) , Bataglia & Raij (1994)
e Abreu & Raij (1996), em todos os demais, as amostras de solo receberam Zn via
fertilizantes inorgâ nicos ou resíduos como escó rias de siderurgia, vermicompostos ou
biossólidos.
Os mé todos mais testados sã o: HC1, Mehlich-1, EDTA e DTPA 7,3. Percebe-se que,
em anos passados, a soluçã o complexante EDTA era mais empregada na extra çã o de Zn
e, atualmente, está em desuso.

FERT LIDADE DO SOLO


XI - MICRONUTRIENTES 667

Quadro 3. Coeficientes de correla çã o entre teores de zinco de amostras de solos brasileiros


por diferentes soluções extratoras e zinco nas plantas

HCl 0,1 mol L-i Mehlich l- Mehlich 3 - DTPA pH 7,3 EDTA Fonte

0,79 0,79 0,85 Lantmann & Meurer (1982)


0,48 0,63 0,75 Lantmann & Meurer (1982)
0,80 0,89 0,87 Muraoka et al . (1983a )
0,40 0,74 Ribeiro & Tucunango Sarabia ( 1984 )
0,73 0,75 NS 0,65 Paula et al . (1991 )
0,85 0,85 0,87 Buzetti (1992)
0,58 0,57 0,61 0,52 Bataglia «Sc Raij (1994 )
0,61 0,71 Abreu & Raij (1996)
0,71 0,86 0,78 Anjos «Sc Mattiazzo ( 2001)
0,95 0,96 Santos et al . (2002)
0,88 0,87 0,89 Simonete & Kiehl (2002)
0,89 0,90 0,93 Pires et al . ( 2003)
0,89 0,88 Martins et al . ( 2003)
0,79 0,80 0,83 Mantovani et al . (2004)
0,91 0,93 0,92 0,93 Borges & Coutinho (2004 )
ns: Nã o-significativo. Todos os demais foram significativos, a pelo menos, 5 %.

Outro aspecto diz respeito aos baixos valores de correla çã o, se comparados com
aqueles obtidos em trabalhos de pesquisa que buscam selecionar mé todos para os
macronutrientes. Além disso, nã o há como concluir qual desses extratores seria o melhor,
uma vez que os valores das correla ções estã o muito pr óximos uns dos outros.
i

A concentraçã o de Zn na soluçã o do solo é sensível às varia ções de pH. O mé todo


de aná lise de solo, para ser eficiente, deverá d étectar a altera çã o da disponibilidade de
Zn diante das mudanças de pH. De maneira geral, os extratores á cidos nã o tê m
discriminado o efeito da calagem na disponibilidade de Zn. Lins (1975) verificou que o
aumento do pH de 5,2 para 6,2 não alterou os teores de Zn extraídos de quatro solos de
cerrado, pelo Mehlich-l . De forma similar, Ritchey et al. (1986) nã o verificaram efeito
significativo de doses de calcá rio ( 7,5, 15 e 22,5 t ha 1) nos teores de Zn extraídos de um
'

Latossolo Vermelho-Escuro, pelos extratorse HCl e Mehlich-l . Bataglia & Raij (1994) e
Abreu & Raij (1996), utilizando amostras de solos do Estado de Sã o Paulo, também
observaram que as soluções á cidas não foram capazes de discriminar satisfatoriamente
a influência do pH do solo na disponibilidade de Zn. O mesmo foi verificado por Borges
& Coutinho (2004) e Mantovani et al: (2004), em ensaios com biossólido e vermicomposto de
lixo urbano.
Os resultados indicam que, nessa situação, o mé todo DTPA tem superado as soluções
á cidas. Atribui-se sua superioridade ao poder complexante, o que permite o acú mulo de
Zn na soluçã o extratora, mesmo em condições de baixa atividade do elemento em solução,
em equilíbrio com formas lá beis. Os extratores á cidos nã o têm essa caracter ística,
dissolvendo parte do Zn do solo, independentemente de seu car á ter lá bil. Accioly et al.
( 2004) comentam que o uso de soluções á cidas para avaliar a disponibilidade de Zn em
solos que receberam altas doses de calcá rio pode extrair formas mais estáveis do elemento,
como o Zn ligado a hidróxidos e carbonatos, q úe nã o estariam disponíveis às plantas.

FERTILIDADE DO SOLO
668 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

Cobre !

O comportamento dos extratores de Cu do solo é bastante parecido e os valores de


correla çã o sã o muito pr óximos entre si (Quadro 4). Conforme Camargo et al. (1982), em
87 % das amostras de solos estudadas houve correla çã o negativa entre o pH e o teor de
Cu extra ído com DTPA, enquanto em apenas 58 % das amostras foi obtida correlaçã o
entre o pH e o Cu extraído pela solu çã o á cida (Mehlich-1). Galrã o & Sousa (1985)
observaram que, apesar de a extra çã o com Mehlich -1 ter resultado em correla çã o
significativa entre teores de Cu-solo e Ç u- trigo ( r = 0,47), esse mé todo nã o foi tão eficiente
em discriminar a aplica çã o de doses crescentes de sulfato de cobre como aconteceu com
os extratores DTP A, Mehlich-3, e HCL Posteriormente, Galrã o (1988) confirmou a baixa
capacidade de avaliação da disponibilidade Cu pelo Mehlich-1. Gimenez et al. (1992),
objetivando avaliar a toxidez de Cu em mudas de ca/eeiro, concluíram que os extratores
DTPA e HC1 apresentaram as melhoreis correlações com os teores de Cu nas raízes, parte
da planta mais sensível à toxidez. Ber(oni et al. ( 2000) avaliaram a eficiência do extrator
DTPA na predi çã o da disponibilidade de Cu em solo cultivado com arroz inundado.
Segundo esses autores, o teor de Cu extra ído pelo DTPA apresentou correla çã o altamente
significativa com todas as variá veis estudadas: Cu - DTPA com Cu- teor arroz ( r = 0,91);
Cu -DTPA com Cu -acumulado no arroz ( r = 0,80 ); Cu - DTPA com produ çã o de mat éria
seca do arroz ( r = 0,92). Cancela et al. (2001) observaram correla ções elevadas entre o
teor de Cu-milho e aquele extra ído pcjr DTPA, Mehlich-1, Mehlich-3 e AB- DTPA, cujos
valores de correla çã o variaram de 0,64 (Mehlich-1) a 0,71 ( Mehlich-3) . Segundo esses

^
autores, o Mehlich-3 foi considerado o xtrator mais eficiente em avaliar a disponibilidade
de Cu, seguido do DTPA . Pires & Matfiazzo (2003) observaram elevados coeficientes de
correlaçã o entre o teor de Cu extra ído do solo pelo DTPA ( r = 0,92), HC1 ( r = 0,95) e
Mehlich-3 ( r = 0,87) e o seu teor em plantas de arroz, comprovando a eficiência destes
extratores na previsã o da disponibilidade desse elemento em solos que receberam resíduos
orgâ nicos. Considerando os valores dos coeficientes muito próximos, Pires & Mattiazzo
(2003) indicam o uso do HC1 em condições de rotina pela facilidade operacional deste
mé todo frente aos outros extratores.

Quadro 4 . Coeficientes de correla ção entre teores de cobre de amostras de solos brasileiros
por diferentes solu ções extratoras e cobre nas plantas

HC1 0,1 mol L 1 Mehlich-1 Mehlich-3 DTPA pH 7,3 MgCh Fonte

0,70 0,47 0,56 0,62 Galr ã o & Sousa (1985)


NS NS Barbosa Filho et al . (1990 )
0,58 0,55 0,63 0,61 Gimenez et al. (1992)
0,96 0,96 0,97 0,89 Gimenez et al. (1992)
0,60 0,89 ! 0,88 Abreu et al. (1996a )
0,67 0,58 0,55 Abreu et al. (1996a )
0,91 Bertoni et al. (2000 )
NS 0,83 0,84 Anjos & Mattiazzo ( 2001)
0,64 0,71 0,69 .
Cancela et al (2001)
0,85 0,83 0,87 Simonete & Kiehl (2002)
0,95 0,87 0,92 Pires & Mattiazzo (2003)
0,51 0,44 Martins et al (2003)
0,83 0,79 0,77 Mantovani et al . (2004)
0,83 0,19 0,60 NS Borges & Coutinho (2004)
ns: Não-significativo. Todos os demais foram significativos, a pelo menos, 5 % .
;

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTR í ENTES 669

Manganês
A an á lise do solo para Mn tem sua complexidade aumentada porque a
disponibilidade desse elemento é grandemente influenciada pelas rea ções de oxirreduçã o
do solo . Apesar de os coeficientes de correla ção entre os teores de Mn-solo e de Mn-
planta serem baixos, os resultados de pesqxkisa sã o animadores, pois mostram a
viabilidade da análise do solo como critério diagnóstico para avaliar a disponibilidade
de Mn para as plantas (Quadro 5) .
As solu ções salinas, tamponadas ou n ã o, t ê m sido eficientes em avaliar a
disponibilidade de Mn para as plantas, de maneira contrá ria ao que ocorre para Cu e Zn.
A eficiência dessas soluções deve-se ao fato de que parte do Mn do solo encontra -se na
forma trocá vel ( Valadares & Camargo 1983), ligada aos sítios de troca de cá tions, por
atraçã o eletrostá tica ou for ças de Coulomb, em equilíbrio direto e rá pido com a soluçã o
do solo, podendo ser trocado com outros cá tions em quantidades estequiomé tricas.
Muraoka et al. (1983b ) encontraram valores de correla çã o entre teores de Mn-solo e Mn-
planta de 0,78 ( NH4OAc), 0,48 (DTPA ) e 0,39 ( EDTA ) . Abreu et al. (1994b ) estabeleceram
a extra çã o com solu çã o de CaCl2 como um dos mé todos que melhor estimaram o Mn,
quando existiram mudanças na disponibilidade desse elemento decorrente da acidez do
solo. Pavan & Miyazawa (1984) verificaram que os teores de Mn extra ídos com NH4OAc
1 mol L 1 pH 7,0 diminuíram consideravelmente com o aumento de pH. Os teores foram
'

extremamente baixos, quando o pH do solo foi maior que 6,5.


De maneira geral, o comportamento das soluções ácidas e quelantes nas extra ções
de elementos do solo é bastante parecido, sendo qs correla ções entre esses mé todos muito
pr óximas, o que impede uma definiçã o conclusiva sobre o melhor extrator. Entretanto,
analisando situa ções mais específicas, observa -se uma tendência de aceitar o DTPA
como a melhor opçã o. Abreu et al. (1996b ) concluíram que o extrator DTPA 7,3 foi mais
eficiente, em rela çã o ao Mehlich-1, para avaliar a disponibilidade de Mn para as plantas
em solos que receberam aduba çã o com esse elemento. Esses autores observaram a
capacidade do DTPA 7,3 em diferenciar os efeitos de fontes e doses de fertilizantes que
continham Mn, o que é importante pelo fato de a concentração de Mn na planta, uma das
características usadas para avaliar sua disponibilidade no solo, ter mostrado efeito
interativo das fontes e de doses de Mn.

Quadro 5. Coeficientes de correla çã o entre teores de manganês de amostras de solos brasileiros


por diferentes mé todos de extraçã o e manganês nas plantas

[Cl 0,1 mol L 1 Mehlich-1 Mehlich-3 DTPA pH 7,3 Resina Fonte

0,48 Muraoka et al . (1983b)


0,68 0, 72 Rosolem et al . (1992)
0,65 0,58 0,64 Abreu et al . (1994a )
NS NS 0, 79 Abreu et al . (1994b)
0,83 0, 91 0,87 Rodrigues et al . (2001 )
0,81 0,82 0,65 Simonete & Kiehl (2002)
0,51 0,54 0,58 0,62 Abreu et al . (2004)
0,51 0,55 0, 77 Mantovani et al . (2004)
0,87 0,89 0,91 0,91 Borges & Coutinho (2004)
ns: Não-significativo. Todos os demais foram significativos,
^ pelo
menos, 5 %.
í

FERTILIDADE ob SOLO
670 '
CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

Rosolem et al. (1992 ), analisando rela çã o entre teor de Mn do solo e a concentraçã o


^
desse elemento em plantas de soja, Observaram que, quando os teores de Mn no solo
foram modificados pela adiçã o de sulfato de Mn, o desempenho do DTPA ( r = 0,72) foi
ligeiramente superior ao do Mehliòh-1 ( r = 0,68). Resultados semelhantes foram
verificados por Abreu et al. (1994a ), aplicando doses crescentes de cloreto de Mn em dez
amostras de solo do Estado de Sã o Ijaulo. Esses autores encontraram coeficientes de
correla çã o entre teores de Mn-soja e l ín-solo igual a 0,78, quando utilizaram o DTPA e
^
0,71 para o Mehlich-1. Resultados semelhantes foram obtidos por Mantovani et al. (2004),
aplicando vermicomposto de lixo urbano em solo cultivado com alface. Eles observaram
em solo arenoso uma maior eficiência do DTPA (r = 0,77) frente aos extratores Mehlich-1
( r = 0,51) e Mehlich-3 ( r = 0,55), e, em áolo argiloso, apenas o DTPA ( r = 0,76) foi eficiente
em avaliar a disponibilidade de Mn para a alface.
Há algumas situa ções em que a éficiência dos extratores, principalmente ácidos, é
melhorada quando se inclui o valor de pH nas equa ções de regressã o. Abreu et al.
(1994a ) relataram que os extratores DTPA, Mehlich-1 e HC1 só foram eficazes em avaliar
o Mn disponível para plantas de soja quando a interpreta çã o considerou o valor de pH
do solo. O mesmo foi verificado pqr Borges & Coutinho (2004) com a aplica ção de
biossólido na cultura do milho em um Latossolo Vermelho e um Neossolo Quartzarênico
com os coeficentes de correlaçã o variando de 0,33 (Mehlich-3) a 0,66 (HC1) no Latossolo
Vermelho. Contudo, quando foi inclu ído o pH no modelo de regressã o, houve melhora
inportante na rela çã o entre o Mn acumulado na planta e o determinado por meio dos
extratores, no Latossolo Vermelho, encontrando-se R 2 = 0,742** para Mehlich-3, R2 =
0,821*** para Mehlich-1 e R 2 = 0,859** para HC1, o que permitiu uma melhor interpreta ção
da disponibilidade do Mn para as plantas nesse solo. No Neossolo, o efeito da inclusão
do pH foi pouco marcante.
A proposta do uso de resinas de troca iônica em aná lise de solo para a determinação
da disponibilidade de nutrientes é bastante antiga, principalmente para P. Além de P, K,
Ca e Mg, a resina de troca de íons pocle ser utilizada para avalia çã o da disponibilidade
de S, Cu, Mo, Na, Cd, Pb e Mn. Usando como planta-teste a soja, Abreu et al. (1994a )
encontraram valores de coeficientes de correla çã o entre os teores de Mn no solo e na
parte a érea das plantas iguais a 0,64*T (Resina ) 0,65** (Mehlich-1) e 0,51** ( DTPA ) . Em
trabalho subsequente com soja, esses coeficientes de correla çã o foram de 0,79* ( Resina ),
0,45ns (Mehlich-1) e 0,40 ns ( DTPA ) (Atjreu et al. (1994b ). Contudo, quando os teores dos
micronutrientes sã o muito baixos, toijna -se dif ícil a quantifica çã o pela resina por causa
da larga rela çã o solorsolu çã o extratora ( 2,5 cm3:50 mL ) . Tentando solucionar esse
problema, Almeida (1999 ) propôs o uso de 2,5 cm3 de solo para 25 mL de soluçã o e
modificou a soluçã o extratora da resina (á cido clorídrico mais cloreto de amónio),
adicionando citrato de amónio. Com a modifica çã o, as extra ções por troca iônica
(HC1 + NH4C1) e complexação (citrato de amónio), juntas no mesmo método, viabilizaram
o uso de menor volume da soluçã o extratora e possibilitaram a utiliza çã o do mé todo
para a determina çã o de Mn, Fe e S. Com base nessas informa ções, Abreu et al. ( 2004)
çã
compararam a eficiência da modifica o do mé todo da resina de troca de íons (adiçã o do
citrato de amónio) para extrair o Mn e o Fe disponíveis do solo, com os mé todos
tradicionalmente Usados ( DTPA, AB-DTPA, Mehlich-1 e Mehlich-3). Segundo esses

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTR í ENTES 671

autores, para a soja, foram obtidas correla ções positivas entre teor de Mn do solo e Mn na
planta para todos os mé todos ( Resina r = 0,62*;; DTPA r = 0,58*, Mehlich-1 r = 0,51* e
Mehlich-3 r = 0,54*), com exceçã o do AB-DTPA, concluindo ser a resina tã o eficiente
quanto os outros mé todos para avaliar a disponibilidade de Mn para a soja . Por outro
lado, para o milho, nenhum mé todo foi eficiente em avaliar a disponibilidade de Mn,
mesmo incluindo os teores de matéria orgâ nica e da granulometria nos cálculos dos
modelos preditivos, ou a separa çã o dos solos de acordo com essas caracter ísticas.

Ferro

As pesquisas desenvolvidas no País visando à seleçã o de extratores para avaliar a


disponibilidade de Fe para as plantas sã o muito incipientes. As soluções extratoras
mais comumente empregadas sã o Mehlich-1, DTPA e HC1 (Quadro 6) . Para quantificar
o Fe, geralmente, aproveita-se o extrato usado paira determinar o Zn, Cu ou Mn disponível
em solos. Dentre os poucos trabalhos que visani selecionar extratores de Fe, cita -se o de
Camargo et al. (1982) . Esses autores estudaram õ efeito do pH na extra çã o de Fe, Cu, Mn
e Zn pelas solu ções de Mehlich-1 e DTPA em 24 amostras superficiais de solos do Estado
de Sã o Paulo. Concluíram que ambos foram eficientes, embora os teores de Fe extraídos
com DTPA tenham se correlacionado melhor com o pH em rela ção ao extrator á cido. Em
solos que receberam doses de calcá rio, que elevaram o pH a mais de 6,6, houve aumento
no teor de Fe extra ído pela soluçã o de Mehlich-Í . Ressaltam-se os trabalhos de Defelipo
et al. (1991) e Amaral Sobrinho et al . (1993) . ; Esses últimos autores obtiveram um
coeficiente de correla ção entre teores de Fe no solo e Fe no sorgo de 0,92* (Mehlich-1) e de
0,65* (DTPA ). |
Em decorrência dos altos teores de Fe encohtrados em solos brasileiros, problemas
relacionados com a toxidez sã o mais comuns do que aqueles relacionados com a
deficiência . Portanto, para o Fe, é importante arjalisar, especialmente, o comportamento
dos extratores em amostras com teores elevados, faixa de maior interesse agronómico.
Neste contexto, Abreu et al. (1998) compararam a capacidade de extra çã o das soluções
de CaCl2 10 mmol L 1, DTPA 5,3, Mehlich-1 (1Í10), Mehlich-1 (1:4) e Mehlich-3 com a
'

soluçã o de DTPA 7,3, mé todo oficial no Esta çlo de Sã o Paulo para a extraçã o de Fe

Quadro 6 . Coeficientes de correlaçã o entre teores de ferro de amostras de solos brasileiros


por diferentes mé todos de extra ção e ferro nas plantas

Solu çã o extratora
Fonte
HC1 0,1 mol L 1 -
Mehlich 1 Mehlich 3 - DTPA pH 7,3 Resina

0,92 0,65 Amaral Sobrinho et al . (1993)


0,78 0,68 0,72 Simonete & Kiehl ( 2002 )
0,44 •
0,62 0,51 Rodrigues et al . (2001)
NS NS NS NS NS Abreu et al . ( 2004)

ns: Não-significativo. Todos os demais foram significativos, a pelo menos, 5 %.

FERTILIDADE DO SOLO
672 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

dispon ível do solo . A solu çã o de CaC|l 2 extraiu pequenos teores de Fe . A amplitude de


varia çã o foi de 0,1 a 6,1 mg dm 3 e a maior parte dos valores ficou entre 0,1 e 0,5 mg dm 3.
' "

Atente-se que esses baixos valores foram obtidos em amostras de solos com teores
elevados de Fe extraídos pelo DTPA 7,3. Essa situa çã o deverá ser agravada em amostras
de solos com teores baixos em Fe. Dentre os mé todos testados, o DTPA 5,3 foi o que
apresentou a maior correla çã o com 0 DTPA 7,3 ( r = 0,96), e os extratores Mehlich-1
( r = 0,81) e CaCl2 ( r = 0,66 ) apresentaram as mais baixas correla ções. Em solos da
Amaz ô nia, Rodrigues et al . ( 2001) verificaram que as melhores correla ções foram
obtidas entre o teor de Fe na matéria seca do arroz e o teor deste elemento extraído pela
solução de Mehlich-3 ( r = 0,62), seguida pelo DTPA ( r = 0,51) e pelo Mehlich-1 ( r = 0,44).
Esses extratores tamb é m foram eficientes em avaliar a disponibilidade de Fe na
cultura do milho que recebeu aplica çã o de biossólido (Simonete & Kiehl, 2002), sendo os
coeficientes de correla çã o entre teores de Fe-planta e Fe-solo significativos para HC1
( r = 0,78), DTPA pH 7,3 ( r = 0,72) e o Mehlich -3 ( r = 0,68) . Esses resultados diferem
daqueles obtidos por Abreu et al. (2004) que n ã o observaram, em nenhuma situaçã o,
correla çã o significativa entre o teor de Fe solo extra ído pelos mé todos DTPA, AB-DTPA,
Mehlich-1, Mehlich-3 e resina, e o seu teor nas culturas de soja e milho.

Molibd ênio

Embora a aná lise de solo para avaliar o Mo disponível seja pouco praticada no
Brasil, as respostas das culturas à aplicaçã o desse micronutriente são bastante acentuadas.
Dos diferentes tipos de extratores propostos para avaliar a disponibilidade de Mo e
usados com relativo sucesso, estã o o oxalato de amónio, pH 3,3 (Wang et al., 1994), água
quente ( Lowe & Massey, 1965), resina cke troca aniônica (Jarrel & Dawson, 1978) e o AB-
DTPA (Pierzynski & Jacobs, 1986). i
Geralmente, a quantidade de Mo extra ída pelo oxalato de amónio é, muitas vezes,
maior que a extra ída por outros mé todps e com correla ções menores com a absor çã o de
Mo pelas plantas (Lowe & Massey, 1965; Little & Kerridge, 1978; Burmerster et al., 1988).
Por outro lado, correlações positivas entre teores de Mo-solo e Mo nas espécies de Triticum
sp., Gropyron cristhatum e Medicago sativa foram obtidas por Wang et al. (1994) em solos
que receberam Na 2Mo04. A mudança de pH de 3,3 para 6,0 da soluçã o de oxalato de
amónio possibilitou a significâ ncia da cbrrelaçã o ( r = 0,81) entre os teores de Mo-oxalato
de amónio (pH 6,0) e Mo-fumo ( Liu et al., 1996).
A resina de troca iônica tem sido usada com sucesso para extrair Mo (Jarrel & Dawson,
1978; Boon, 1984; Ritchie, 1988). As resinas sã o produtos sinté ticos que apresentam uma
rede tridimensional de cadeias de hidrocarbonetos, que contê m grupamentos
funcionais com cargas elé tricas. A estrutura é porosa e flexível, podendo expandir e
reter solutos em seu interior. A extra çã o é contínua dentro do tempo proposto pelo
método, ocorrendo uma transferência do metal do solo para a resina . Geralmente, emprega-
se a resina tipo AG1-X 4 de troca aniônica saturada com Cl . As boas correla ções

encontradas entre teores de Mo-resina e Mo-planta devem-se à sua seletividade (Dallpai,


1996).

FERTILIIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 673

Poucas sã o as experiências brasileiras com aná lise de solo para o Mo. Os estudos
têm enfocado mais o levantamento dos teores totais e extra íveis de Mo, utilizando diversas
soluções químicas (Dantas & Horowitz, 1976; Hoirowitz, 1978; Catani et al., 1970; Bataglia
et al., 1976). Nesses estudos, a absor çã o de Mo pelas plantas não foi correlacionada com
os teores no solo, impedindo uma conclusão quanto à eficiência dos mé todos em avaliar
sua disponibilidade . Para o Estado de Pernambuco, Dantas & Horowitz (1976 )
observaram que o teor de Mo aumentou do horizonte A para o B. As variações foram de
0,35 a 0,80 mg kg 1, para o Latossolo, e de 0;27 a 1,43 mg kg 1, para o Podzólico,
' '

empregando-se soluçã o á cida de oxalato de am ónio. Posteriormente, Horowitz (1978)


encontrou teores na faixa de 0,03 a 0,12 mg kgj1, considerados muito baixos, em onze
amostras de solos da zona Litoral - Mata do Estado de Pernambuco, utilizando o mesmo
extrator químico. Em três amostras de solos do Estado de Sã o Paulo, Catani et al. (1970)
avaliaram a extraçã o de Mo pelas soluções de ácido sulf ú rico, á cido fluor ídrico em ácido
sulf ú rico, á cido oxá lico e oxalato de am ónio. j Concluíram que a soluçã o de á cido
fluorídrico em á cido sulf ú rico pode ser usada em aná lise de rotina para extra çã o de Mo
do solo, uma vez que o m é todo e as técnicas são simples. Bataglia et al . (1976) obtiveram
valores muito baixos de Mo (0,11 a 0,16 mg dm 3), utilizando o oxalato de amónio a
'

!
pH 3,3.
Apesar do ê xito de alguns trabalhos em quantificar o Mo em solos, há ainda sérias
restrições ao uso dessas soluções extratoras em condições de rotinas dos laboratórios de
aná lise de solo.

Classes de Interpretação dos Teores d é Micronutrientes no Solo


Se para alguns macronutrientes nã o há muita concord â ncia sobre os critérios de
qualificaçã o dos resultados de análise de solos em classes de teores, para micronutrientes,
a situa çã o é mais crítica, pela dificuldade de realizar, em condições de campo, ensaios de
calibra çã o da análise de solo. Entretanto, em alguns Estados, já existem tabelas de
interpretaçã o dos resultados da aná lise de solo para os micronutrientes, definidas por
órgã os oficiais, como Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Quadro 7), Paraná (Quadro 8),
Espírito Santo (Quadro 9), Sã o Paulo (Quadros 10 e 11), Minas Gerais (Quadro 12) e
regiã o dos Cerrados (Quadro 13) .
Cabe ressaltar que as deficiências de micronutrientes estã o fortemente associadas
às espécies vegetais e até à s variedades. Portá nto, a interpretaçã o da aná lise de solo
para micronutrientes é incluída somente em tabelas de adubaçã o de Sã o Paulo, quando,
para a cultura em questã o, tem sido constatada deficiência frequente de micronutrientes
(Quadros 10 e 11). |
Embora Alvarez V. et al. (1999 ) relatem qup há poucos trabalhos de calibra çã o em
Minas Gerais, as classes de interpreta çã o da análise do solo para micronutrientes sã o
mais subdivididas (Quadro 12) em rela çã o às interpreta ções recomendadas em outros
Estados.
A regiã o dos Cerrados tem mostrado respostas mais acentuadas ao uso de
micronutrientes, notadamente de Zn, Cu, B e Mn. Entretanto, trabalhos de campo

FERTILIDADE DO SOLO
674 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

específicos para avalia çã o de níveis críticos apenas recentemente receberam atençã o da


pesquisa; no passado, o enfoque era muito mais na avalia çã o da resposta a doses de ;

micronutrientes. Cabe ressaltar os trabalhos de Galrã o (1993, 1995, 1996 ), procurando


estabelecer níveis críticos de Zn por v á rios extratores para as culturas da soja e do milho
em solos de cerrado. Mais recentemente, Galr ã o ( 2002 ) estabeleu crité rios para
interpreta çã o de análise de solos para a regiã o Centro-Oeste (Quadro 13) .

Quadro 7. Interpreta çã o dos resultados da an á lise de solo para micronutrientes nos Estados do
Rio Grande do Sul e Santa Catarina

Teor B Cu Zn Mn Fe
Classe Agua quente HC1 0,1 mo í L-i H Cl 0,1 mo í L 1 *
Mehlich -1 Oxalato de am ó nio pH 3,0

mg dm 3 g dm-3
Baixo < 0,1 < 0,2 < 0, 2 < 2,5
M é dio 0,1-0,30 ) 0, 2 -0,4 0,2-0,5 2,5-5,0
Alto > 0,3 > 0, 4 > 0,5 > 5,0 > 5,0 ( 2 )
,Para a cultura da videira , o teor adequado de boro no solo varia de 0,6 a 1,0 mg dm 3. (2 ) O valor 5 g dm 3 pode
( ) ' '

estar relacionado com a toxidez de Fe ("brozeampnto"), ocorrida em alguns cultivares de arroz irrigado .
Fonte: Adaptado de SBCS-CQFS ( 2004).

Quadro 8. Interpretaçã o dos resultados da aná lise de solo para micronutrientes no Estado do
Paraná

Teor
B OTPA -
Mehlich 1

Classe Á gua
quente
HC1
0,05 mol L 1
_ Cu Fe Mn Zn Cu Fe Mn Zn

mg dm 3 *

Baixo < 0,2 < 0,3 < 0,3 < 4,0 < 0,8 < 0,6 < 0,4 < 15,0 < 4,0 < 0,8
Médio 0,3-0,4 0,3- 0,6 0,4-0,9 5,0-8 ,0 0,8-1,0 0, 7-1,5 0,5-1,5 -
16,0 40,0 5,0-8,0 0,9-1,5
Bom 0,5-0,6 1,0- 2,0 -
9,0 3p,0 1,1-5,0 1,6-3,0 1,6-2,0 40,1-60,0 9,0-12,0 1,6-2,0
Alto 0,6-1,5 0,7-1,0 > 3,0 31,0-9 3,0
i 5,1-30,0 3,1-6,0 > 2,0 > 60,1 > 12, 1 > 2,1
Excesso 3,0 6,0 300,0 150,0 30,0 8,0 300,0 150,0 30

Fonte: Adaptado de Costa & Oliveira (1998) .

Quadro 9 . Interpretaçã o dos resultados dp an á lise de solo para micronutrientes no Estado do


Espírito Santo

Teor B Mehlich-1
Classe BaCh a quente
Cu Zn Mn Fe

mg dm-3
Muito baixo < 05 < 4,0 < 5 < 20
Baixo < 0,3 0J 6-1,5 4,1-6,9 6-11 21-31
Médio 0,4-0,6 1 6-20,0 7,0-40,0 12-130 32-200
Alto > 0,6 > 20,0 > 40 > 130 > 200
Fonte: Adaptado de Dadalto & Fullin (2001).

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 675

Quadro 10 . Interpreta çã o dos resultados da aná lise de solo para micronutrientes no Estado de
Sã o Paulo

B DTPA pH 7, 3
Teor Á gua quente
Cu Zn Mn Fe

mg dm -3
Baixo 0-0,20 0-0,2 0-0,5 0-1 , 2 0 -4
Mé dio 0, 21-0,60 0,3-0,8 0, 6 -1, 2 1,3-5 5-12
Alto > 0,60 > 0,8 > 1, 2 >5 > 12

Fonte: Adaptado de Raij et al . (1996 ).

Quadro 11. Inclusã o ou nã o dos micronutrientes na aduba çã o com base na aná lise de solo e nas
respostas de algumas culturas no Estado de Sã o Paulo

Micronutriente
Cultura
B Cu Zn Mn Fe

Milho Não Não Sim Não Não


Trigo Sim Não Sim Não Nã o
Sorgo Nã o Não Sim Não Não
Caf é Sim Sim Sim Sim Não
Soja Não Nã o Sim Sim Nã o
Algod ã o Sim Nã o N ão Não Não
Cebola Sim Sim Sim Nã o Não
:
Fonte: Adaptado de Raij et al. (1996).

Quadro 12. Interpretaçã o dos resultados da an á lise de solo para micronutrientes no Estado de
Minas Gerais

Teor B Mehlich-l
*
Classe Agua quente Cu Zn Mn Fe

mg dm -3
Muito baixo < 0,15 < 0,3 < 0,4 <2 <8
Baixo 0,16-0,35 0,4-0,7 0,5-0,9 3-5 9-18
Médio 0,36-0,60 0, 8 -1, 2 1,0-1, 5 6-8 19-30
Bom 0,61-0,90 1,3-1,8 1,6 -2,2 9-12 31-45
Alto > 0,90 > 1 ,8 > 2,2 > 12 > 45

O limite superior da classe média indica o nível crítico.


Fonte: Adaptado de Alvarez V. et al . (1999) .

FERTILIDADE Do SOLO
676 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et ai .

Quadro 13. Interpreta çã o dos resultados da aná lise de solo para micronutrientes em condições
de Cerrados

Teor B Mehlich-1
Classe Á gua quente
Cu Zn Mn

_
mg dm 3
Baixo 0-0, 2 0-0,4 0-1,0 0-1,9 . i

Mé dio 0,3-0,5 0,5-0,8 1,1-1,6 2,0-5,0


Alto > 0,5 > 0,8 > 1, 6 > 5,0
Fonte: Adaptado de Sousa & Lobato ( 2002 ) .

An á lise de Plantas para Avaliai a Disponibilidade de Micronutrientes


A aptid ã o das plantas em absorve}- e utilizar os micronutrientes reflete-se nos seus
teores nas plantas e em seu equilíbrio nutricional. Podem-se obter informa ções ú teis
sobre esses teores por interm édio da aná lise química de certos tecidos.
O uso da diagnose foliar baseia -se nas premissas de que existem, dentro de limites,
rela ções diretas entre: dose de nutrien :e e produçã o; dose de nutriente e teor no solo e
foliar e teor foliar e produçã o.

^
A composiçã o dos tecidos vegetai é influenciada pelos seguintes fatores:
- própria planta, como espécie ou cultivar, está dio vegetativo ou idade da planta,
distribuiçã o e funcionamento das raízes, produçã o de frutos;
- ambiente natural ou cultural, como variações climá ticas, suprimento de água, estado
sanitá rio da planta e manejo do solo;
- interações entre elementos minerais, dentre outros.
Considerações insuficientes dos efeitos interativos desses fatores sobre a composição
mineral da planta sã o, provavelmente, a origem de certos fracassos registrados na
utiliza ção da análise foliar em programas de aduba çã o. Em virtude desses fatores
mencionados, a padroniza çã o na amostragem para aná lise foliar deve ser bastante
çã
detalhada (Quadros 14 a 21) . Com rela o à escolha da parte da planta a ser amostrada,
a maioria dos autores cita a folha recentemente madura como a mais indicada; entretanto,
há na literatura recomenda ções específicas a cada cultura .
A determina çã o dos teores adequados dos micronutrientes para as culturas é uma
das fases da diagnose foliar que demanda grande esforço por parte da pesquisa. Contudo,
já existem informações disponíveis sobre teores foliares adequados para algumas culturas
mais importantes no Brasil e que podem ser usadas como um guia bá sico para
interpretaçã o dessa técnica de diagnose (Quadro 22).
No caso de culturas sobre as quais n ã o se estabeleceram ainda bases para
interpreta çã o dos resultados analíticos, é preferível comparar dados de plantas
aparentemente normais com os de plantas que apresentam alguma anomalia .

FERTILI DADE DO SOLO


XI - MICRONUTRIENTES 677

Quadro 14. Procedimentos para amostragem de folhas em cereais

Cultura Descri çã o da amostragem

Arroz Folha bandeira, coletada no in ício do florescimento. M í nimo 50 folhas.


Aveia Folha bandeira, coletada no in ício do florescimento. M í nimo 50 folhas .
Centeio Folha bandeira, coletada no in ício do florescimento . M í nimo 50 folhas.
Cevada Folha bandeira, coletada no in ício do florescimento. M ínimo 50 folhas.
Milho Terço m édio da folha da base da espiga , na fase de pendoamento (50 % das folhas pendoadas).
Sorgo Folha + 4 ou quarta folha com a bainha vis í vel, contada a partir do á pice, no florescimento.
Trigo Folha bandeira, coletada no in ício do florescimento. M í nimo 50 folhas.
Triticale Folha bandeira, coletada no in ício do florescimento. M ínimo 50 folhas.

Fonte: Adaptado de Raij et al . (1996 ) e Silva (1999 ) .

Quadro 15. Procedimentos para amostragem de folhas em plantas estimulantes

Cultura Descriçã o da amostragem

Cacau Amostrar 25 plantas, 8 semanas após o florescimento principal; coletar a 2a e 3a folha verde, a
partir d o á pice do ramo, d a altura m édia da planta , 4 folhas por á rvore.
Caf é Retirar amostras d e ramos frut í feros no in í cio do ver ã o ( dezembro e janeiro ) , d e talh ões
homogé neos, amostrando 50 plantas, 2 folhas por planta , 3° par a partir do á pice dos ramos, da
altura mé dia da planta, igual a n ú mero d e folhas d e cada um d o s lados das linhas d e cafeeiros.
Plantas an ó malas n ã o devem ser amostradas ou podem ser amostradas à parte .
Ch á Amostrar 25 plantas, de maio a junho, retirando a 2 a folha , a partir d o s ramos n ã o lignificados.
Fumo Amostrar 30 plantas, folha superior totalmente desenvolvida, no florescimento .

Fonte: Adaptado de Raij et al . (1996) e Silva (1999 ) .

Quadro 16. Procedimentos para amostragem de folhas em frut íferas

Cultura Descri çã o da amostragem

Abacate Coletar em fevereiro ou mar ço , folhas recé m -expandidas com idade entre 5 e 7 meses, da altura m é dia
das copas. Amostrar 50 á rvores.
Abacaxi Amostrar, pouco antes da indu çã o floral , uma folha rec é m - madura " D" ( normalmente, a 4 ° folha a
partir do á pice) . Cortar as folhas em peda ç os de 1 cm de largura , eliminando a por çã o basal sem
clorofila . Homogeneizar e separar cerca de 200 g para envio ao laborat ó rio . Amostrar 50 plantas.
Acerola Amostrar , nos quatro lados da planta , folhas jovens totalmente expandidas, de ramos frut í feros.
Amostrar 50 plantas.
Banana Amostrar 5-10 cm do ter ç o m é dio da 3a folha a partir da inflorescê ncia , eliminando-se a nervura central
e metades perif é ricas . Amostrar 30 plantas .
Citros Amostrar a 3a folha a partir do fruto, gerada na primavera , com 6 meses de idade, em ramos com frutos
de 2 a 4 cm de di â metro. Amostrar 100 á rvores ( 4 folhas por á rvore ) para cada talh ã o homogé neo.
Figo Amostrar folha recé m - madura e totalmente expandida, da por çã o mediana do ramo. Amostrar 100
á rvores ( 4 folhas por á rvore ) .
Goiaba Amostrar o 3o par de folhas recém - maduras (com pec íolo ), em pleno florescimento. Amostrar 25 á rvores
( 4 folhas por á rvore ) .
Ma ç a Amostrar folha recé m - madura e totalmente expandida . Amostrar 100 á rvores (4 a 8 folhas por planta )
para talh ã o homogé neo.
Macad â
mia
- Amostrar folha recé m - madura e totalmente expandida , no meio do ú ltimo fluxo de vegeta çã o. Amostrar
100 á rvores ( 4 folhas por planta ) para talh ã o homog é neo .
Mam ã o Amostrar 15 pec íolos de folhas jovens, totalmente expandidas e maduras (17 a 20a folha a partir do
á pice), com uma flor vis í vel na axila .
Manga Amostrar folhas do meio do fluxo de vegeta çã o, de ramos com flores na extremidade. Amostrar 80
á rvores ( 4 folhas por planta ) para talh ã o homogé neo.
Maracujá Amostrar 3a ou 4 a folha a partir do á pice de ramos ã o sombreados; alternativamente, coletar a folha
com bot ã o floral na axila, prestes a se abrir . Amostt r ar 20 folhas no outono .
Pêssego -
Amostrar folha recé m madura e totalmente expandida, no meio do ú ltimo fluxo de vegeta çã o . Amostrar
100 á rvores (4 folhas por planta ) para talh ã o homogé neo .
Uva -
Amostrar folha recé m madura mais nova , contada a partir do á pice dos ramos. Amostrar 100 folhas.

Fonte : Adaptado de Raij et al. (1996), Silva (1999) e Natale et al. (1996) citado por Silva (1999 ).

FERTILIDADE Do SOLO
678 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

Quadro 17. Procedimentos para amostra gem de folhas em hortaliças

Cultura Descriçã o da amostragem

a
Abó bora 9 folha a partir da ponta , i\o in ício da frutifica çã o. Amostrar 15 plantas.
Agriã o Folhas compostas do topo da planta. 25 plantas.
Aipo Parte a é rea; 70 dias após o transplante. 20 plantas.
Alcachofra Folha desenvolvida; 180 dias após a brota çã o. 15 plantas
Alface Folha recé m -desenvolvida ; metade a 2 / 3 do ciclo . 15 plantas
Alho Folha recé m -desenvolvida, por çã o n ã o- branca; in ício da bulbifica çã o . 15 plantas.
Aspargo Folha superior, a mais rec é m -desenvolvida . 15 plantas.
Berinjela Pec íolo da folha rec é m -desenvolvida . 15 plantas
Beterraba Folha recé m -desenvolvida. 20 plantas.
Brócolo Folha recé m -desenvolvida, na é poca da forma çã o da cabeça . 15 plantas.
Cebola Folha mais jovem , na metade do ciclo de crescimento. 20 plantas .
Cenoura Folha recé m - madura, na metade a 2a/ 3 do desenvolvimento. 20 plantas.
Chic ó ria Folha mais velha, na forma çã o da 8 folha . 15 plantas.
Couve Folha recé m -desenvolvida. 15 plantas.
Couve -flor Folha recé m -desenvolvida, na é poca da forma çã o da cabeça . 15 plantas.
Ervilha Fol íolo recé m-desenvolvido, no florescimento. 50 fol íolos.
Espinafre Folha rec é m-desenvolvida, 30 a 50 dias. 20 plantas.
a
Feijã o-vagem 4 folha a partir da ponta , do florescimento ao in ício da forma çã o das vagens. 30 plantas.
Jil ó Folha recé m -desenvolvida, no florescimento . 15 plantas .
a
Melancia 5 folha a partir da ponta, excluindo o tufo apical, da metade até 2 / 3 do ciclo. 15 plantas.
a
Mel ã o 5 folha a partir da ponta , excluindo o tufo apical, da metade até 2/ 3 do ciclo. 15 plantas.
a a
Morango 3 ou 4 folha recé m -desenvolvida (sem pec íolo ), no in ício do florescimento. 30 plantas.
Nabo Folha recé m -desenvolvida, no engrossamento das ra ízes. 20 plantas.
a
Pepino 5 folha a partir da ponta, excluindo o tufo apical, in í cio do florescimento.15 plantas.
Pimenta Folha recé m-desenvolvida , do florescimento à metade do final do ciclo. 25 plantas.
Pimentã o Folha recé m -desenvolvida, do florescimento à metade do final do ciclo. 25 plantas.
Quiabo Folha recé m-desenvolvida, no in ício da frutifica çã o (40-50 dias). 25 plantas.
Rabanete Folha recé m-desenvolvida. 30 plantas.
Repolho Folha envoltó ria , 2 a 3 meses. 15 plantas .
Salsa Parte a é rea . 30 plantas
Tomate Folha com pec íolo, por ocasiã o do 1° fruto maduro. 25 plantas

Fonte : Adaptado de Raij et al. (1996 ) e Silva (1999) .

Quadro 18 . Procedimentos para amostragem de folhas em leguminosas e oleaginosas

Cultura Descriçã o da amostragem

Amendoim No florescimento; folhas de 50 plantas, tufo apical do ramo principal.


Feijã o a
No florescimento, 3 folha com pecíolo, tomada no terço médio de 30 plantas.
Girassol a a
5 a 6 folha abaixo do cap í tulo (cabeça ), no florescimento; amostrar 30 plantas.
Soja a
No florescimento, 3 folha com pec íolo de 30 plantas.
Fonte: Adaptado de Raij et al. (1996 ) e Silva (1999) .

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRI ENTES 679

Quadro 19. Procedimentos para amostragem de raízes e tubérculos

Cultura Descriçã o da amostragem

Batata a
Amostrar 30 plantas, aos 30 dias, retirando a 3 folha a partir do tufo apical .
Batata -doce Amostrar 15 plantas, aos 60 dias do plantio, retirando as folhas mais recentes totalmente ,

desenvolvidas.
Mandioca Amostrar 30 plantas, retirando o limbo ( fol íolo ) das folhas mais jovens totalmente
expandidas, 3-4 meses após o plantio .

Fonte : Adaptado de Raij et al. (1996 ) e Silva (1999 ) .

Quadro 20. Procedimentos para amostragem de gr á m íneas e forrageiras

Cultura Descri çã o da amostragem

Leguminosa forrageira (Soja perene ) Amostrar durante a fase de crescimento ativo (novembro
a fevereiro ).Amostrar a ponta dos ramos desde o á pice até
a
a 3° oii 4 folha desenvolvida .
Leguminosa forrageira (Estilosantes ) Amostrar durante a fase de crescimento ativo (novembro
a fevereiro ) . Ponteiro da planta (cerca de 15 cm ).
Leguminosa forrageira (Leucena ) Amostrar durante a fase de crescimento ativo ( novembro
a fevereiro ) . Ramos novos com diâ metro até 5 mm.
Leguminosa forrageira (Alfafa ) Terçc superior da planta no in ício do florescimento.
‘ Leguminosa forrageira (Guandu ) Amostrar durante a fase de crescimento ativo (novembro
a fevereiro ) .
Gram íneas Forrageiras (Coloniã o, Napier, Coast -cross) Amostrar durante a fase de crescimento ativo (novembro
a fevereiro). Brota çã o nova e folhas verdes.
Gram íneas forrageiras (Tifton, Braquiarão, Andropó- Amostrar durante a fase de crescimento vegetativo (no-
gon, Braquiá ria, Ipean, Australiana, Batatais, Gordura ) vembro a fevereiro) . Brotaçã o nova e folhas verdes.

Fonte : Adaptado de Raij et al. (1996) e Silva (1999 ).

Quadro 21. Procedimentos para amostragem de outras culturas de interesse económico

Cultura Descri çã o d a amostragem

Plantas o r n a m e n t a i s e flores Folhas m a d u r a s e t o t a l m e n t e expandidas .


Cana - d e - a çú car Amostrar 30 plantas d u r a n t e a fase d e m a i o r desenvolvimento vegetativo da
-
cana d e -a çú car, retirando o s 20 cm c e n t r a i s d a folha + 1 ( folha m a i s alta com
c o l a r i n h o v i s í vel - " TVD " ), e x c l u i n d o a nervura c e n t r a l .
<
Pupunha Amostrar 20 plantas com altura s u p e r i o r a 1,6 m ( d o solo a t é a i n s e r çã o d a folha
m a i s nova ) , d u r a n t e a fase d e rriaior desenvolvimento vegetativo ( novembro a
mar ç o ) . Retirar o s fol íolos da parte mediana d a folha + 2 ( segunda folha m a i s nova
com limbo t o t a l m e n t e expandido ) .
Seringueira Amostrar 25 plantas no v e r ã o . Em á rvores a t é d e 4 anos, retirar d u a s folhas mais
desenvolvidas d a base d e u m buqu ê terminal situado n o e x t e r i o r d a copa e em
plena luz . Em á rvores d e m a i s de 4 a n o s, colher d u a s f o l h a s m a i s desenvolvidas
no ú ltimo lan ç a m e n t o m a d u r o pm ramos baixos na copa em á reas sombreadas .
Florestas (Eucalipto e P i n u s ) Amostrar 20 plantas por gleba homog é nea ( < 50 h a ) no fim d o i n v e r n o. Folhas -
rec é m m a d u r a s, normalmente o pen ú l t i m o ou antepen ú l t i m o lan ç a m e n t o d e
folhas d o s ú ltimos 1 2 meses . Para a s variedades m a i s responsivas à a d u b a çã o ,
r e t i r a - se uma folha d e c a d a ponto c a r d e a l d o t e r ç o m é d i o d a copa , n o
antepen ú ltimo lan ç a m e n t o d e folhas e galhos .
Algod ã o a
Amostrar 30 plantas, no florescimento, coletando o s limbos da 5 folha a partir d o
á pice da h a s t e principal .

Fonte: Adaptado de Raij et al. (1996) e Silva (1999).

FERTILIDADE Dò SOLO
680 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

Quadro 22. Faixa de suficiência de teores de micronutrientes em folhas de plantas anuais e


perenes e na parte a é rea de forrageira

Cultura Boro Cobre Zinco Mangan ês Ferro Molibdênio

Culturas anuais mg kg-1

Algod ã o 0 ) 40 -100 8-20 20-60 50-350 50-250 1-2


Amendoim (1 ) 20 -60 10-50 20-150 50-350 50 -300 0,1 -1 /4
Arroz (2 > 4 -25 3-25 10 -50 70 -400 70-200 0,1-0,3
Aveia 5-20 5-25 15-70 25-100 40-150 0, 2-0,3
Cevada < 2 ) 5-20 5-25 15-70 20 -100 25-100 0, 1 -0 , 2
Ervilha ( 3) 100-110 15-20 80 -100 40-50 100-120 0,6-1, 0
Feijã o U ) 15-26 4 -20 18-50 15-100 40-140 0,5-1,5
Girassol 35-100 25-100 30-80 10 -20 80 -120
Mandioca 15-50 5-25 35-100 25-100 60-200 0,11-0,18
Milho (2 ) 10-25 6-20 15-100 20-200 30-250 0,1-0, 2
Soja (4 ) 21-55 10-30 20-50 20 -100 50-350 1,0-5,0
Sorgo (2> 4-20 5-20 15-50 10-190 65-100 0,1-0,3
Trigo 0 ) 5-20 5-25 15-70 25-100 50-150 0,1-0,2

Culturas perenes
Abacate 0 ) 50-100 5-15 30-150 30-650 50 -200
Abacaxi 0 ) 30 -40 9-12 10-15 50 -200 100-200
Acerola (6 ) 25-100 5-15 30-50 15-50 50-100
Banana (6 ) 10-25 6-30 20-50 200-2000 80 -360
Caf é 0 ) 40-100 6-50 10-70 50-300 70 -300 0,1-0,5
Cana -de -a çú car (7) 10-30 6-15 10-50 25-250 40-250 0,05-0,20
Citros 0 ) 35-100 5-20 25-200 25-500 50-200 0,1-1,0
Eucalipto (8 ) 30-50 7-10 35-50 400-600 150-200 0,5-1,0
Goiaba (3) 10-16 28-32 202-398 144-162
Mam ã o <5) 20-30 4-10 15-40 20-150 25-100
Manga <5) 50 -100 10-50 20 -40 50 -100 50-200
Maracujá <5> 40-100 10-15 25-60 40 -250 120-200 1, 0 -1, 2
Pinus <8> 12-25 4-7 30-45 250-600 100-200
Pupunha (7 > 12-30 4-10 15-40 30-150 40 -200
Seringueira (7 ) 20-70 10-15 20-40 40-150 50-120

Forrageiras
Andropogon (9) 10 -20 4-12 20-50 40-250 50-250
B . brizantha < 9) 10-25 4-12 20-50 40-250 50 -250
B . decumbens <9 ) 10-25 4-12 20-50 40-250 50 -250
Coast-cross (9 ) 10-25 4-14 30-50 40-200 50-200
Coloni ã o (9> 10-30 4 -14 20-50 40-200 50 -200
Guandu (9) 20-50 6-12 25-50 40 -200 40-200
Leucena (9) 25-50 5-12 20-50 40-150 40-250
Napier (9) 10-25 4-17 20-50 40-200 50-200
Soja perene (9 ) 30-50 5-12 20-50 40-150 40-250
Stylosanthes (9) 25-50 6-12 20-50 40-200 40-250
Tifton (9 ) 25-30 4-20 15-70 20-300 50-200

Fonte: Galrão (2002) citando vá rios autores: (1 ) Ba taglia (1991). (2) Cantarella et al. (1996). í3) Malavolta et al. (1989).
Ambrosano et al. (1996 ). (5) Lorenzi et al. (1996 . (6) Quaggio et al. (1996). (7) Raij et al. (1996). (8) Gonçalves et al.
(4 )

(1996 ). (9) Werner et al . (1996).

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTR ENTES 681

Diagnose Visual - Sintomas de Deficiê ncia e Toxidez de Micronutrientes


em Plantas
A diagnose visual é uma técnica baseada no fato de que as plantas com deficiência
acentuada ou toxidez de um micronutriente normalmente apresentam sintomas definidos
e caracter ísticos dos dist ú rbios causados pela falta ou excesso deste nutriente. Sua
principal vantagem está no fato de que a planta a ge como integradora de todos os fatores
de crescimento e constitui o produto final de interesse do produtor. Outra vantagem é
que n ã o requer equipamentos sofisticados e caros e pode ser usada como complemento
à s outras técnicas de diagnose da fertilidade do solo ou estado nutricional da planta .
A manifesta çã o externa de carência ou excesso de determinado micronutriente pode
ser concebida como o último passo de uma seq úência de eventos (Figura 2).
Existem muitas informa ções para auxiliar no desenvolvimento de habilidade na
identificaçã o de deficiências e toxidez de micronutrientes. Elas estã o em boletins, cartazes,
livros e panfletos que mostram os v á rios sintomas em estampas coloridas . Além disso,
parcelas experimentais ou faixas demonstrativas no campo, com tratamentos conhecidos,
podem ajudar a calibrar os testes e a an álise visual . Mas é sempre bom lembrar que: (a )
os sintomas de deficiê ncia e de toxidez nem sempre sã o claramente definidos; (b ) o
mascaramento advindo de outros nutrientes, doenças e ataque de insetos, pode dificultar
á
a correta diagnose de campo; (c) os sintomas de eficiê ncia sempre indicam fome severa,
nunca deficiência leve ou moderada, e (d ) muitas culturas iniciam queda na produçã o
muito antes de os sintomas de deficiência ou toxidez tornarem-se evidentes. A situa çã o,
quando há perdas, sem sintomas de deficiência, e chamado de fome oculta e pode reduzir
consideravelmente as produ ções e a qualidade da colheita , mesmo que a cultura nã o
apresente sinal de fome.
Como já mencionado, a diferencia çã o entre o sintoma devido à causa nutricional e
aquele devido à causa nã o-nutricional nem sempre é f á cil. Entretanto, se for relembrada
a base racional de distribuiçã o ( em excesso de suprimento ) e remobiliza çã o ( em
deficiência ) dos elementos pelo xilema e floema, uma distribuiçã o sistemá tica dos
sintomas dentro de uma planta isolada pode ser esperada (Figura 3).

Falta ou excesso .
I
Les ã o molecular ( inibi çã o ou exalta çã o da atividade
enz í m á tica n ã o forma çã o de metab ó litos ;
*
n ã o -forma çã o excessiva de compostos .
I
Altera çã o subceiular
( parede , membrana , citoplasma e organela ).
I
Modifica çã o celular.
\
Les ã o no tecido.
\
Manifesta çã o visí vel.
Figura 2. Seq úência de eventos que conduzem a anormalidade visível relativa a deficiência ou
excesso de nutrientes em plantas.
Fonte: Adaptado de Malavolta (1980) .

FERTILIDADE DO SOLO
682 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al.

Org ã o da planta Sintoma dominante Causa de desordem

<
uniforme Mo (N,S)
Clorose
*
Internerval ou manchada (Mn) (Mg )
Folha velha ,
totalmente

<
desenvolvida marginal (K ) • 2
o
Necrose c,
< o
Internerval (Mn) (Mg ) o
£
<u

<
Clorose uniforme Fe (S) Q
Folhas novas
broto apical,
á pice Internerval ou manchada Zn ( Mn)
Necrose (Clorose) Cu, B (Ca)
Deforma çõ es — Mo (Zn, J3

<
Folha velha marginal B, Cl (sal)
totalmente Necrose N
desenvolvida (Clorose tempor ária) internerval Mn (B)
(D
'
5
*
£
Folhas novas Clorose uniforme Zn , Cu , Ni

Figura 3. Chave simples para diagnose visual de desordem nutricional em planta .


Fonte: Rõ mheld (2001).

Histórico da Á rea
Finalmente, deve-se destacar a importâ ncia de conhecer o histórico de manejo de
uma á rea ou gleba de uma propriedade. Quanto mais um técnico souber sobre o histórico
de manejo, mais eficiente ser á o diagnóstico do possível problema nutricional e mais
f ácil será a correçã o desse problema . Se uma á rea vem recebendo sistematicamente
pulveriza ções com fungicidas que contenham micronutrientes, é prová vel que estes
produtos sejam também fontes de mic ronutrientes. Por exemplo, o uso de Mancozeb em
plantas frutíferas poderá suprir o Mn e o Zn para as plantas. Da mesma forma, o uso
sistemá tico de fungicidas à base de Cu para combater a ferrugem do cafeeiro pode fornecer
esse micronutriente à lavoura . Por outro lado, o uso contínuo e constante, por vá rios
anos, de fritas com alto teor de Zn, pode levar a teores extremamente altos desse
micronutriente, fazendo com que os solos com altos teores de Cu (acima de 2 mg dm 3) '

apresentem deficiências do micronutriente induzidas pelo excesso de Zn aplicado por


v á rios anos consecutivos.

MANEJO DA ADUBA ÇÃ O COM MICRONUTRIENTES


Estratégias de Aplicação dos Micronutrientes
Existem três estratégias básicas para aplica çã o de micronutrientes que vê m sendo
utilizadas no Brasil: de segurança, de prescri çã o e de restituição.

FERTI .I D A D E DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 683

Estrat é gia de Seguran ç a

A estratégia de segurança foi a mais utilizada no passado, principalmente no fim da


d écada de 60 e início dos anos 70s, quando do início da incorpora çã o da regiã o dos
cerrados no processo produtivo . Por princípio, essa estraté gia nã o utiliza dados de
análise de solos e de plantas; assim, sã o recomendados, geralmente, mais de um ou todos
os micronutrientes, levando em conta possíveis problemas de deficiência em uma regiã o,
tipo de solo ou cultura específica .
V á rios Estados, em seus boletins de recomenda çã o de aduba çã o, utilizaram, no
passado, essa estrat égia . Cita -se, como exemplo, o Estado de Goiá s cuja recomenda çã o
para cultura de gr ã os é de 6 kg ha 1 de Zn, 1 kg ha 1 de Cu, 1 kg ha 1 de B e 0,25 kg ha 1 de
' ' ' '

Mo, com distribuiçã o a lanç o e repetiçã o a cada quatro ou cinco anos (Comissã o de
Fertilidade do Solo de Goi á s, 1988) . No sulco de plantio, a recomenda çã o é de Vi dessas
doses, repetidas por quatro anos . Volkweiss (1991) cita, como outros exemplos dessa
estratégia , a recomenda çã o de B nas culturas de alfafa no Rio Grande do Sul ( ROLAS,
1981), do algodoeiro em solos arenosos de Sã o Paulo ( Raij et al ., 1985), de Zn na regiã o
dos cerrados e nas pastagens em Sã o Paulo (Werner, 1984 ) .
Em culturas de alto valor, como hortaliças e frutíferas, em que os custos de aduba ção
com micronutrientes sã o insignificantes em rela çã o ao valor da produçã o, muitos
agricultores, ainda hoje, usam a aduba çã o de segurança, que inclui vá rios ou todos os
micronutrientes.

Estrat égia de Prescri çã o

A estratégia de prescrição vem, aos poucos, substituindo a de segurança para n ú mero


consider á vel de casos de recomenda ções oficiais de micronutrientes para as mais
diferentes regiões e condições de solo, clima e culturas.
Segundo Volkweiss (1991), a estratégia de prescriçã o é o sistema ideal do ponto de
vista econó mico, de segurança para o agricultor e de uso racional de recursos naturais.
Contudo, para sua utiliza çã o, é necessá ria uma sólida base experimental referente à
seleçã o ou desenvolvimento e calibra çã o de m é todos de análises de solos e de plantas,
que proporcionem o má ximo retorno econó mico ao agricultor.
Por meio da estratégia de prescriçã o, as recomendações sã o mais equilibradas e, de
certa forma, protegem as culturas contra os antagonismos que possam vir a ocorrer na
nutriçã o mineral das plantas, como resultado de relações nã o balanceadas dos nutrientes
no solo e nas plantas.
Exemplos recentes de adoção da estratégia de prescrição, em recomendações oficiais
de aduba çã o utilizando dados de an á lise de solo e, à s vezes, de análise foliar, sã o
encontrados em v á rios Estados, como Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Quadro 23)
(SBCS-CQFS, 2004 ) , Minas Gerais ( Quadro 24 ) ( Ribeiro et al ., 1999 ), Sã o Paulo
( Quadros 25, 26 e 27) ( Raij et al ., 1996 ), regiã o de cerrados (Quadro 28 ) (Galr ã o,
2002 ), Espírito Santo (Quadro 29 ) ( Dadalto & Fullin, 2001) e Pernambuco (Quadro 30)
(Cavalcanti, 1998).

FERTILIDADE DO SOLO
684 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

Quadro 23. Recomenda ções de micronutrientes para v á rias culturas nos Estados do Rio Grande
do Sul e Santa Catarina

Cultura Recomenda çã o Observa ções

Soja Molibd ê n í o: 12 a 25 g ha 1 de Mo, via


*
As doses ma ís elevadas sã o recomendadas para os solos mais arenosos. As fontes
semente, ou entre 25 e 50 g ha 1 de Mo, via
*
podem ser o molibdato de amónio (54 % de Mo sol ú vel em á gua ou molibdato de
aduba çã o foliar . sódio (39 % de Mo sol ú vel em á gua ) . As aplica ções de Mo na semente, à
semelhança dos fungicidas, devem preceder a inocula çã o.
Alfafa 20 kg ha -1 de bó rax. Antes da semeadura , repetindo esta dose anualmente, no in ício da primavera.
Alho Aplicar sulfato de zinco a 0,5 % e, ou , Para suprir eventuais defici ê ncias de Zn e B. Fazer quatro a seis aplica ções em
bó rax ( borato de só dio) a 0, 2 % . intervalos de uma a duas semanas.
Repolho 3 g nr2 de molibdato de amónio e 2 g nv2 de Pode-se usar també m a aduba çã o foliar em duas aplica ções de á cido bórico (2 g L 1 )
'

bórax na sementeira e no canteiro definitivo. e de molibdato de amó nio (1 g L 1) . .


'

1 1
Tomateiro ’

30 kg ha de bó rax (3 g m de sulco
'
Juntamente com a aduba çã o de base.
considerando o espa çamento de 1 m entre
sulcos).
Batata 15 a 20 kg ha 1 de bórax.
'
Principalmente em solos arenosos e, ou , com teores de mat é ria orgâ nica menores
1
do que 25 g kg '
.
Abacateiro 20 a 30 kg ha de bó rax Em solos em que a disponibilidade de B for inferior a 0,3 mg dm 3. Incorporar
'

juntamente com a calagem e a aduba çã o de pré-plantio. Em pomares implantados, i


i
quando o teor na folha for menor que 50 mg kg 1, fazer pulveriza ção com bórax no
'

solo, em ambos os lados das linhas, na faixa adubada, usando aplicador de herbicida,
numa dosagem que possibilite o consumo n ã o-superior a 10 kg ha 1 de bórax. A
"

aplica çã o de B també m pode ser feita junto com herbicidas de pós-emergê ncia , desde
que sejam usados produtos compat í veis, principalmente com pH semelhante.
Citros Aduba çã o foliar: ZnS04.7 H20 (300 g), No caso de serem observadas defici ê ncias de Mn , Zn, Mg e B. A é poca mais
MnS04.4 H 20 ( 200 g ), MgS04.7H20 (2 kg ), indicada para a aduba çã o foliar é o perí odo de brotacã o das á rvores . Recomenda -
Bó rax ( Na 2 B4O7.10H 2O) (100 g), ureia se, para o abacateiro, fazer três aplicações nos pomares em crescimento ou
(2 kg ) e espalhante adesivo (50 mL ) em forma ção, sendo a primeira na brota çã o primaveril (setembro), a segunda em
100 L de á gua . novembro / dezembro e a terceira em janeiro / fevereiro; e duas naqueles em
produ çã o: a primeira, no final da queda dos restos florais, podendo ser feita com \
o tratamento fitossanit á rio, se n ã o houver incompatibilidade; e a segunda , no
fluxo vegetativo, em fevereiro / março. Para citros, recomendam-se tr ês aplica ções
nos pomares em crescimento e duas nos pomares em produ çã o: a primeira no
final da queda das pé talas, junto como um tratamento fitossanit á rio (se nã o
houver incompatibilidade) e a segunda , no fluxo vegetativo, que ocorrem em
fevereiro / março.
Macieira Zinco: Até três pulverizações quinzenais Ao aplicar sulfato de Zn com altas temperaturas, adicionar Ca (OH) 2 2 g L 1 para '

com sulfato de zinco ( ZnS04.7H20) 2 g L 1, *

evitar fitotoxidez . Pode -se aplicar sulfato de Zn 10 a 20 g L 1 antes do in ício da


'

ou fungicidas à base de Zn, ou Zn brota çã o, evitando-se assim a indu çã o de " russeting".


quelatizado, a partir do in ício da 2a .
I
quinzena de novembro.
Boro: 2 a 3 pulverizações quinzenais co Aplicar no est á dio de bot ã o rosado para favorecer a fecunda çã o das flores. No
bó rax ( Na 2 B4O7.10 H 2O) 2 g L 1, '
cultivar Gala , três aplica ções de B espa çadas de 30 dias, sendo a primeira em
meados de novembro, podem melhorar a colora ção da pel ícula dos frutos na
colheita.
Nogueira Aduba çã o foliar: ZnS04.7H20 (400 g), Caso sejam observados sintomas de deficiência desses nutrientes ou quando os
Pecã MnS04.4 H20 (200 g), MgS04.7H20 teores foliares de Zn e Mn forem menores que 25 mg kg 1, fazer duas
*

(2 kg ), espalhante adesivo (100 mL) em pulveriza ções anuais, uma em setembro e a outra em fevereiro.
100 L de á gua .
Pereira Boro, fazer duas a três pulveriza ções Em cultivares sensíveis à deficiê ncia de B como a Nijisseiki, ou em casos de deficiência <1
quinzenais com bó rax 4 g L 1 ou solubor
'
comprovada pela aná lise foliar. Aplicar o B quando as flores estão no está dio de bal ã o,
2 g L 1, a partir da queda das pétalas .
' se o objetivo for o de favorecer a fecunda ção e a frutifica çã o efetiva .
Pesseguei - Boro: No caso do teor de B no solo ser Na regi ão da Encosta Superior do Nordeste do Rio Grande do Sul, têm sido
ro e menor que 0,1 mg dm 3, pode-se
'
constatadas respostas à aplica çã o de B na instala çã o dos pomares.
Nectarinei- incorporar 10 kg ha’1 de B juntamente com
ra a calagem e a aduba ção de pré- plantio. Se í
o teor estiver entre 0,1 e 0,3 mg dm 3, '

I
aplicar 7,5 kg ha 1 de B.
*

Quivizeiro Somente aplicar nutrientes via foliar se O quivizeiro é muito sens í vel ao excesso de B.
for constatada deficiência visual ou pela
>
aná lise foliar .
Roseira Aplicar B duas vezes por ano na dose de
de corte 0,5 g nr 2 de B. í
Videira í
10 kg ha 1 de B em pr é-plantio..
"

< 0,6 mg dm’3 de B. Após o estabelecimento do vinhedo reaplicar B se o teor na


folha for < 30 mg kg 1 de B.
*

Fonte : Adaptado de SBCS-CQFS (2004) . i

3
FERTILIDADE DO SOLO

XI - MICRONUTRIENTES 685

Quadro 24 . Recomenda ções de micronutrientes para v á rias culturas no Estado de Minas Gerais

Cultura Dose Condi çoes

Alface, pepino, pi - 1 kg ha 1 de B e 3 kg ha 1 de Zn
' '
Sugere-se acompanhamento criterioso dos teores
ment ã o e tomate em de B e Zn no solo e nas folhas pela aná lise
qu í mica, para prevenir a toxidez dos mesmos.
ambiente protegido
Hortali ças ( geral ) 15 kg de sulfato de zinco, 10 kg de bó rax, 10 kg Em solos que n ã o foram fertilizados nos
de sulfato de cobre, 0,5 kg de molibdato de ú ltimos anos
i
am ó nio por hectare
Pulverizações foliares com 2 kg de sulfato de Para correçã o de carências nutricionais,
zinco, 1 kg de bó rax, 1 kg de sulfato de cobre e especialmente nas culturas mais exigentes
0,25 kg de molibdato de amó nio por hectare
Alho 3 kg ha 1 de B e 3 a 5 kg ha 1 de Zn
' '
Acrescentar à aduba çã o de plantio

Alface Idem hortali ças geral

Batata Idem hortali ças geral

Br ócolos Idem hortali ças geral Especialmente B no solo e Mo via foliar

Cebola Idem hortali ças geral

Cenoura 1 a 2 kg ha 1 de B e, ou , 2 a 3 kg ha 1 de Zn
' '
Em solos deficientes

Couve-flor Idem hortali ças geral Especialmente B no solo e Mo via foliar

Mel ã o 5 g L'1 de cloreto de cá lcio e 1,5 g L 1 de ácido


' A partir do início do aparecimento dos frutos e
bó rico ou solu ções quelatizadas via foliar a intervalos de 10 dias

Milho verde 3 a 5 kg ha 1 de Zn'

Morango Á cido bó rico a 1,5 g L 1


'
Três aplica ções durante o florescimento caso
haja produ çã o de frutos deformados
Pepino 1 kg ha 1 de B e 3 kg ha 1 de Zn
' '
Em solos deficientes
Pimentã o Idem hortali ças geral

Repolho Idem hortali ças geral Especialmente B no solo e Mo via foliar


1 1 Em solo de baixa fertilidade
Tomate 2 a 3 kg ha de B e 4 kg ha de Zn
' "

Citros 80 g de bó rax por planta (6 anos ou mais) e Zn Pulveriza çã o a alto volume com espalhante
e Mn, via foliar, com solução de no má ximo adesivo, quando as brota ções tiverem 1/ 3 do
15 g L 1 de sais

tamanho final. Com altas temperaturas, ao se
-
aplicar o ZnSC> 4.7H 20 devem se adicionar 2 g L 1 "

de Ca (OH ) 2 para evitar fitotoxidez


Macieira, marmelei - Duas a cinco pulverizações com 2 g L 1 de '
A partir do estádio de fruto com 1 cm de
ro, pereira ZnSQiZHzO; duas a tr ês aplica ções quinzenais di â metro
com 4 g L 1 de ácido bórico ou 2 g L 1 de solubor
" '

Mamoeiro 5 g de bó rax e, ou, 10 g de sulfato de zinco por Em solos comprovadamente deficientes


cova
Nogueira pecã 130 g de sulfato de zinco por planta A partir do 4 o ano, em outubro, de forma
localizada , sem misturar ao solo
1
Videira Uré ia e ácido bó rico (4 g L 1 de cada fertilizante)
'
Apó s a colheita, 2 a 3 aplica ções, beneficiam a
pr ó xima brota çã o e fecunda çã o das flores.
Em solos abaixo de 0,6 mg dm -3 B, aplicar 50 a
;
70 kg ha'1 de bórax
l
Cravo 1 a 2 g m-2 de bó rax, no canteiro Em solos deficientes
1

í Roseira '1 No canteiro
3 15 kg ha de bórax
Plantas ornamentais Aplicaçã o foliar de bó rax, sulfato de zinco e Para produ çã o de mudas em solos deficientes
i arbustivas e arbó reas sulfato de manganês (20 g L 1 do sal ) '

15 g de sulfato de zinco por cova de 20 dm3 No plantio


1 10 a 15 g de bórax por planta Aos 60, 120 e 240 dias do plantio, juntamente
com o N e o K

Continua ...

FERTILIDADE DO SOLO
686 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

Quadro 24 . Continua çã o

Cultura Dose Condiç oes

Algod ã o 1 kg ha 1 de B a no sulco de plantio


*

Em solos arenosos e baixos em maté ria orgâ nica


Arroz 2 a 4 kg ha ^ de Zn Em solos com menos de 1 mg dm 3 de Zn
Cana -de-a çú car 2 a 5 kg ha ^ de Mn, Zn e Cu Em á reas deficientes
Caf é 0,6 a 1,0 g de B e 1,0 a 2,0 g de Zn por cova ou Aduba çã o pós- plantio em cobertura no Io ano
m de sulco, respectivamente
Cafeeiro adulto 3, 2 ou 1 kg ha 1 de B
'
Para solo baixo, m édio ou bom . Em solos com
teores m édios 2 a 4 aplica ções foliares com 3 a
5 g L 1 de á cido bó rico
'

3, 2 ou 1 kg ha de Cu
*
1
Para solo baixo, m édio ou bom . A pulveriza çã o
com fungicidas c ú pricos fornece cobre satisfa -
toriamente para o cafeeiro
15, 10 ou 5 kg ha -1 de Mn Para solo baixo, m édio ou bom . Via foliar 2 a 4
aplica ções por ano de 5 a 10 g L 1 de sulfato
manganoso.
6, 4 ou 2 kg ha 1 de Zn
*
Para solo baixo, m édio ou bom para solos de
textura arenosa a m édia . Em solos argilosos 2 a
_
4 aplica ções foliares de sulfato de zinco, 5 g L 1,
1
ou 3 g L com a adi çã o de 3 g L de KC1.
'1

Pulveriza ções com sulfato ferroso, 10 g L- 1 Em casos de defici ê ncias de ferro


Cafeeiro Acido bó rico, 3 g L 1; sulfato de zinco, 3 g L 1;
* '
Em casos de defici ê ncias m ú ltiplas de micro-
cloreto de potá ssio, 3 g L 1; oxicloreto de cobre,
' nutrientes.
3 g L 1; espalhante adesivo, 0,5 g L 1
* '

Eucalipto 5 g de sulfato de zinco na cova de plantio.


Aplicar 10 g de bó rax por planta em cobertura
juntamente com o N e, ou, K
Feijã o 1 kg ha -1 de B e, ou, 2 a 4 kg ha° de Zn Em solos deficientes.
60 g ha -1 de Mo (154 g ha -1 de molibdato de só - Via foliar, entre 15 e 25 dias após a emergência .
dio ou 111 g ha ° de molibdato de amó nio)
Fumo 1,5 g/ cova de FTE BR-12
Girassol 1 kg ha -1 de B e, ou, 2 a 4 kg ha 1 de Zn Em solos deficientes
Mamona 5 kg ha -1 de Zn Constatada defici ência
Mandioca 5 kg ha -1 de Zn Em solos comprovadamente deficientes
Milho 1 a 2 kg ha -1 de Zn Em solos deficientes
Seringueira 0,5 g de B, 0,5 g de Cu, 2,5 g de Zn por m3 de Para forma çã o de mudas
substrato
0,1 g de B, 0,1 g de Cu e 0,5 g de Zn por planta Aduba çã o forma çã o do jardim clonal
Sorgo 1 a 2 kg ha -1 de Zn Em solos deficientes
Trigo 0,65 a 1,3 kg ha -1 de B Na forma de FTE ou bó rax

Fonte: Adaptado de Ribeiro et al . (1999 ) .

Um exemplo da combina çã o da estratégia de segurança com a de prescriçã o é a


utilizada para construçã o da fertilidade do solo com micronutrientes e com Co na cultura
da soja, tomando por base a necessidade ditada pela aná lise foliar e aplicando-se as
seguintes doses: 4 a 6 kg ha 1 de Zn; 0,5 a 1 kg ha 1 de B; 0,5 a 2,0 kg ha 1 de Cu; 2,5 a
’ ' '

6 kg ha 1 de Mn; 50 a 250 g ha 1 de Mo e, 50 a 250 g ha 1 de Co; aplicados a lanço e com


" ' '

efeito residual para, pelo menos, cinco anos. Para aplica çã o no sulco, é recomend ável M
dessas doses repetidas por quatro anos consecutivos. No caso do Mo e Co, recomenda -
se, ainda, o tratamento das sementes com as doses de 12 e 25 g ha 1 de Mo e 1 a 5 g ha 1 de ' "

Co, com produtos de alta solubilidade (Embrapa, 1996).

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 687

Quadro 25 . Recomendações de micronutrientes para cereais, estimulantes, fibrosas, frutíferas


no Estado de Sã o Paulo
i

Cultura Dose Condi ções

Cereais
Arroz de sequeiro 3 kg ha 1 de Zn
'
< 0,6 mg dm -3 de Zn
2 kg ha 1 de Zn
' 0,6 a 1,2 mg dm 3 de Zn
*

Arroz irrigado 5 kg ha de Zn 1
'
< 0, 6 mg dm - de Zn
3

0,6 a 1,2 mg dnr 3 de Zn


3 kg ha 1 de Zn
'

Aveia ,centeio, cevada , trigo e 3 kg ha 1 de Zn


'
< 0,6 mg dnr 3 de Zn
triticale (sequeiro) 1 kg ha 1 de Zn
' < 0, 21 mg dnr 3 de B

Milho para grã os e silagem 4 kg ha 1 de Zn


'
< 0,6 mg dm -3 de Zn
Milho pipoca , milho verde, 2 kg ha 1 de Zn
* 0,6 a 1,2 mg dnv3 de Zn
milho doce, sorgo
Estimulantes
Cacau
Plantio 3 g / cova de Zn < 0,6 mg dm -3 de Zn
Produ çã o 1
4 kg ha de Zn
'
< 0,6 mg dnv3 de Zn
2 kg ha 1 de Zn
' 0, 7 a 1,5 mg dnv3 de Zn

Caf é
Plantio 1 g m 1 de B
'

0 a 0,2 mg dnr 3 de B
0,5 g m 1 de B'
0,21 a 0,60 mg dnr3 de B
1
1 g m de Cu
'

0 a 0,2 mg dnr3 de Cu
2 g m 1 de Mn
'

0 a 1,5 mg dnr 3 de Mn
2 g m 1 de Zn
'
0 a 0,5 mg dnr 3 de Zn
1 g m 1 de Zn 0,6 a 1,2 mg dnv 3 de Zn
'

Reduzir a quantidade de B pela metade em solos com


menos de 35 % de argila
Produ çã o 2 kg ha 1 de B
'

0 a 0,20 mg dm-3 de B
1 kg ha 1 de B
'

0,21 a 0,60 mg dnr 3 de B


2 kg ha 1 de Mn
'
0 a 1,5 mg dm -3 de Mn
2 kg ha 1 de Zn 0 a 0,5 mg dm -3 de Zn
*

1 kg ha 1 de Zn
'
0,6 a 1,2 mg dm -3 de Zn
Adubaçã o foliar: 6 g L 1 de Aplicar em novembro e fevereiro, caso haja deficiê n -
'

sulfato de zinco 10 g L 1 de '


cia , se n ã o for aplicado boro no solo
sulfato de mangan ês 3 g L 1 de '

á cido bó rico
Fibrosas
Algod ã o 3 kg ha 1 de Zn
'
< 0,6 mg dm -3 de Zn
< 0,61 mg dm 3 de B
*

0,5 kg ha 1 de B '

0,21 a 0,60 mg dm -3 de B
0,5 a 1 kg ha 1 de B '

Solos arenosos, pobres em maté ria orgâ nica


1 kg ha 1 de B'
< 0,21 mg dnr 3 de B
Aduba ção foliar: 0,15 a 0,18 kg ha 1 '

No m í nimo quatro pulverizações sucessivas no flo-


de boro por vez (baixo volume) rescimento
Frut íferas
Abacate 5 g de uréia + 5 g de sulfato de Pulverizar durante os fluxos de primavera e
zinco + 2,5 g de sulfato de manga - ver ã o
nês + 1 g de ácido bórico por litro
Acerola ( plantio ) 3 g / cova de Zn
Aduba çã o foliar: 5 g de ur é ia + Pulverizar durante os fluxos de primavera e
3 g de sulfato de zinco + 1 g de ver ã o
á cido bó rico por litro
Banana 5 kg ha 1 Zn
'
< 1,3 mg dm -3 de Zn
Plantio 25 g de sulfato de zinco e 10 g de Aplicar o Zn, quando constatada a defici ência nas
Produ çã o ácido bó rico, no orif ício aberto do folhas
rizoma, por ocasiã o do desbaste
Citros
Plantio 1
1 g m de B
'
0 a 0,20 mg dnv3 de B
1
2 g m de Zn
' 0 a 1,2 mg dnv3 de Zn
Produçã o 1
2 kg ha de B, na forma de á cido
'
Em pomares com sintomas intensos de defici ê ncia,
bó rico juntamente com herbicidas de contato, parcelando
em duas aplica ções anuais
Aduba çã o foliar: 3,5 g de sulfato Pomares com menos de 4 anos: 3 a 4 pulveriza ções
de zinco + 2,5 g de sulfato de anuais no per íodo das chuvas; Em produ çã o:
manganês + 1 g de ácido bó rico 2 aplicações
+ 5 g de ur é ia por litro

Continua ...

FERTILIDADE DO SOLO
688 CLEIDE APARECIDA DE ABREU e t al .

Quadro 25. Continua çã o

Cultura Dose Condições

Frut íferas
Goiaba ( plantio ) 3 g / cova de Zn
Mam ã o 1, 1,5 ou 2 kg ha 1 de B '
0 a 0,20 mg dm 3 de B e produtividades esperadas
'

de 25, 25 a 50 e > 50 t ha 1, respectivamente


'

3, 4 ou 5 kg ha de Zn1
'
0 a 0,5 mg dm 3 de Zn e produtividades esperadas
de 25, 25 a 50 e > 50 t ha 1, respectivamente
'

Manga ( plantio) 5 g/ cova de Zn


Aduba çã o foliar: 3 g de sulfato Por ocasi ã o do primeiro tratamento fitossanit á rio;
de zinco + 1 g de á cido bó rico repetir quando houver um fluxo novo de brota -
por litro çã o das plantas
Maracujá
Plantio 4 g de Zn + 1 g de B por cova
Produ çã o 4 kg ha 1 de Zn
'
< 0,6 mg dnv3 de Zn
2 kg ha '1 de B < 0,21 mg dm -3 de
Aduba çã o foliar: 300 g de sulfato Cinco pulveriza ções, nos meses de outubro a
de zinco + 100 g de á cido bó rico + abril , quando n ã o for feita aduba çã o via solo
500 g de uréia por 100 L de á gua
10 g de molibdato de am ó nio por Caso haja deficiê ncia de Mo
100 L de á gua
Uvas finas ( produ çã o ) 1
1.5 kg ha de B, após a poda
'
< 0, 21 mg dm -3 de B
Aduba çã o foliar:1 g L 1 de ácido
' Aplicada três vezes antes do florescimento, de 7
bó rico, por vez em 7 dias
Uvas r ú sticas ( produ çã o ) 1
2.5 kg ha de B, após a poda
'
< 0,21 mg dm -3 de B
1
Aduba çã o foliar:1 g L de á cido
' Aplicada três vezes antes do florescimento
bó rico, por vez

Cobre, Zn e Mn extra ídos pelo DTPA pH 7,3 e para B pela á gua quente.
Fonte : Adaptado de Raij et al . (1996 ).

Quadro 26. Recomenda çã o de micronutrientes para hortaliças, leguminosas e oleaginosas,


ornamentais e flores, ra ízes e tub é rculos, outras culturas industriais no Estado de Sã o
Paulo

Cultura Dose Condições

Hortali ças
Abobrinha ou abó bora de 1 kg ha 1 de B
'
0 a 0, 20 mg dm -3 de B
moita , abó bora rasteira , 4 kg ha -1 de Cu 0 a 0,20 mg dm -3 de Cu
moranga , bucha e pepino 2 kg ha -1 de Cu 0,3 a 1,0 mg dm -3 de Cu
3 kg ha 1 de Zn
*
0 a 0,5 mg dm -3 de Zn
Aipo ou salsã o -
3 kg ha 1 de B 0 a 0, 20 mg dm -3 de B
1,5 kg ha -1 de B 0,21 a 0,60 mg dm -3 de B
3 kg ha 1 de Zn 0 a 0,5 mg dm-3 de Zn
Adubaçã o foliar: Pulverizar uma vez por m ês, durante
0,3 g de á cido bó rico ou 0,5 g L -1 de bó rax o crescimento
(dissolver o bó rax em á gua quente )
Alface, almeirã o, chicorea, -
1 kg ha 1 de B
escarola , r úcula , agriã o
d 'á gua
Alcachofra 2 kg ha 1 de B
*
0 a 0,20 mg dm -3 de B
1 kg ha ° de B 0,21 a 0,60 mg dnr 3 de B

Continua ...

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 689

Quadro 26 . Continua çã o

Cultura Dose Condições

Hortaliç as
Alho 1
5 kg ha de Zn
'
0 a 0,5 mg dm -3 de Zn
3 kg ha 1 de Zn
'
0,6 a 1, 2 mg dm -3 de Zn
3 kg ha 1 de B
'

cerca de 10 dias antes do plantio


Alho porro e cebolinha 1 kg ha 1 de B
'

pelo menos 10 dias antes do transplante


Aspargo 3 kg ha 1 de Zn 0 a 0,5 mg dm 3 de Zn
' *

Berinjela , jil ó, pimenta - 3 kg ha de Zn


' 1
< 0,6 mg dm - 3 de Zn
hort ícola e pimentã o 1 kg ha 1 de B
'

Beterraba 2 a 4 kg ha 1 de B '
Maiores doses em solos deficientes
em B ou pobres em maté ria org â nica
3 kg ha 1 de Zn
'

0 a 0,5 mg dm-3 de Zn
1
Aduba çã o foliar: 0,5 g L de molibdato de
'

Aos 15 e 30 dias da semeadura ou


amó nio em á gua transplante
Brócolos, couve-flor e repolho 3 a 4 kg de B ha 1
'

Aduba çã o foliar: 1 g L 1 de á cido bó rico


'
Pulverizar tr ê s vezes no ciclo
0,5 g L 1 de molibdato de am ó nio
'

Pulverizar 15 dias após o transplante


Cebola (sistema de mudas ) 2 kg ha 1 de B
'
0 a 0, 20 mg dm 3 de B
1 kg ha 1 de B
'
0,21 a 0,60 mg dm -3 de B
4 kg ha 1 de Cu
' 0 a 0, 2 mg dm -3 de Cu
2 kg ha 1 de Cu
' 0,3 a 1,0 mg dm -3 de Cu
0 a 0,5 mg dm-3 de Zn
5 kg ha 1 de Zn
'

0,6 a 1,2 mg dm 3 de Zn
*

3 kg ha 1 de Zn
'

Cenoura, nabo e rabanete 1 a 2 kg ha 1 de B '


Maiores doses em solos deficientes
em B ou pobres em maté ria org â nica
3 kg ha 1 de Zn
'
0 a 0,5 mg dm 3 de Zn
Couve- manteiga e mostarda 2 kg ha 1 de B'

Aduba çã o foliar: 0,5 g L 1 de molibdato de


'
Pulverizar 20 dias após o transplante;
amó nio repetir para couve, a cada 20 a 30
dias, após a colheita das folhas mais
desenvolvidas
Feijã o- vagem, feijã o-fava, 1 kg ha 1 de B'
< 0,20 mg dm 3 de B
feijã o -de-lima, ervilha de 3 kg ha 1 de Zn
'
0 a 0,5 mg dm -3 de Zn
vagem Aduba çã o foliar: Duas aplica ções at é à flora çã o
0,2 g L 1 de molibdato de am ónio
'

Melao, melancia e quiabo 1 kg ha 1 de B


'
0 a 0,20 mg dm -3 de B
3 kg ha 1 de Zn
'
0 a 0,5 mg dm -3 de Zn
Morango Recomendada a aplica çã o de solu çã o
de micronutrientes, com B, Zn e Cu a
cada três semanas
Quiabo 1 kg ha 1 de B < 0,20 mg dm 3 de B
'
*

3 kg ha 1 de Zn
'
0 a 0,5 mg dm 3 de Zn
'

1
Tomate (estaqueado) 3 kg ha de B
'
0 a 0,20 mg dm 3 de B
1 kg ha 1 de B
'
0,21 a 0,60 mg dm-3 de B
5 kg ha 1 de Zn
' 0 a 0,5 mg dm 3 de Zn
*

3 kg ha 1 de Zn
' 0,6 a 1,2 mg dm 3 de Zn
'

Tomate rasteiro ( industrial ) 1,5 kg ha 1 de B '


0 a 0, 20 mg dm 3 de B
'

irrigado 1 kg ha 1 de B
'
0,21 a 0,60 mg dm - 3 de B
3 kg ha 1 de Zn
' 0 a 0,6 mg dnr 3 de Zn

Continua ...

£
FERTILIDADE DO SOLO
690 CLEIDE APARECIDA DE ABREU e t al .

Quadro 26. Continua çã o

Cultura Dose Condi ções

Leguminosas e oleaginosas

Amendoim Tratamento de sementes:


100 g de molibdato de am ó nio para cada
lote de 100-120 kg de sementes

Feijã o 3 kg ha 1 de Zn
'
< 0,6 mg dirr3 de Zn
1 kg ha 1 de B
'

< 0,21 mg dnr 3 de B

Girasol 1 kg ha 1 de B
'
0 a 0,20 mg dm -3 de B
0,5 kg ha 1 de B 0, 21 a 0,60 mg dnr3 de B
'

Soja 5 kg ha 1 de Mn
'
at é 1,5 mg dm 3 de Mn

5 kg ha 1 de Zn e, ou, 2 kg ha 1 de Cu e, ou ,
'
Solos com defici ê ncia de Zn e, ou, Cu
'

1 kg ha 1 de B
'
e, ou, B
Tratamento de sementes: Solos com impossibilidade de aplicar
50 g ha 1 de molibdato de amó nio misturado
'
calcá rio
à s sementes

Ornamentais e flores
1
Amarilis 1 kg ha de B
'

0 a 0,6 mg dnr 3 de B
6 kg ha 1 de Mn
'
0 a 1, 2 mg dnr 3 de Mn
4 kg ha 1 de Zn
'

0 a 1,2 mg dnr3 de Zn

Crisâ ntemo Aduba çã o foliar: A partir de 40 dias após o plantio, via


1 g de N + 0,5 g de K 2O + 10 mg de Mn + fertirrigaçã o, a cada 10 dias (4 vezes),
2 mg de B + 1 mg de Zn por litro aplicando 5 L nr 2

Glad íolo 2 kg ha 1 de B
'

0 a 0,2 mg dnr3 de B
1
1 kg ha de B
'

0,21 a 0,60 mg dm -3 de B
1
4 kg ha de Zn
'

0 a 0,5 mg dnr3 de Zn
2 kg ha 1 de Zn
'
0,6 a 1, 2 mg dnr 3 de Zn

Glox ínia e Violeta Africana 100 mg de N + 100 mg de K 2O Na irriga çã o, 30 dias após o envasa -
+ 2 mg de B + 1 mg de Zn por litro mento

Ra í zes e tubérculos
1
Batata 2 kg ha de B
'

0 a 0,2 mg dnr 3 de B
1 kg ha 1 de B
'
0 ,21 a 0,60 mg dm 3 de B
*

1
Mandioca 4 kg ha de Zn
'
< 0,6 mg dnr 3 de Zn
2 kg ha 1 de Zn
'
0,6 a 1,2 mg dm 3 de Zn
*

1
Mandioquinha 2 kg ha de B
'

0 a 0,2 mg dnr3 de B
1 kg ha 1 de B
'
0,21 a 0,60 mg dm -3 de B

Outras culturas industriais


1
Cana -de -a çú car 5 kg ha de Zn
'
0 a 0,5 mg dm-3 de Zn
4 kg ha 1 de B
'
0 a 0,2 mg dnr3 de B
*
Pupunha (produção) 2 kg ha 1 de B
'
0 a 0,2 mg dnr3 de B
1 kg ha 1 de B
'
0,21 a 0,60 mg dm-3 de B

Seringueira ( plantio) 5 g / cova de Zn < 0,6 mg dm 3 de Zn


*

Cobre, Zn e Mn extra ídos pelo DTPA pH 7,3 e para boro pela á gua quente .
Fonte: Adaptado de Raij et al. (1996).

1
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 691

Quadro 27 . Recomenda çã o de micronutrientes para florestas e forrageiras no Estado de Sã o


Paulo

Cultura Dose Condiçõ es

Florestas

Viveiro de mudas ( Eucaliptus, Pinus, 200 g m 3 de FTE BR -12 ou


'

espécies da Mata Atl â ntica ) equivalente na terra de


subsolo

Florestamentos homogéneos com Eucalyptus _ B


1 kg ha 0 de < 0, 21 mg dm 3 de B
'

e Pinus 1,5 kg ha 1 de Zn < 0,60 mg dm 3 de Zn


'

Reflorestamentos mistos com espécies t í picas 1 kg ha 1 de B < 0,21 mg dnv3 de B


da Mata Atl â ntica 1 kg ha 1 de Zn < 0,60 mg dnr3 de Zn

Forrageiras

Pastagens de gram íneas exigentes e 3 kg ha 1 de Zn


*
0 a 0,5 mg dm 3 de Zn
'

moderadamente exigentes quanto à 2 kg ha 1 de Zn 0,6 a 1,2 mg dm -3 de Zn


-
l fertilidade do solo

Pastagens de gram íneas pouco exigentes 2 kg ha -1 de Zn 0 a 0,5 mg dm -3 de Zn


quanto à fertilidade do solo

Capineiras e gram íneas para fena çã o 5 kg ha 1 de Zn 0 a 0,5 mg dm 3 de Zn


'

3 kg ha 1 de Zn
*
0,6 a 1, 2 mg dm -3 de Zn

Leguminosas forrageiras e pastagens 3 kg ha 1 de Zn


*
0 a 0,5 mg dm 3 de Zn
'

consorciadas 2 kg ha 1 de Zn
*
0,6 a 1, 2 mg dm -3 de Zn
2 kg ha 1 de Cu
*

0 a 0,2 mg dm 3 de Cu
'

\ 1 kg ha 1 de Cu 0,3 a 0,8 mg dm-3 de Cu


1 kg ha 1 de B
'
0 a 0,20 mg dm 3 de B
'

0,5 kg ha -1 de B 0, 21 a 0,60 mg dm-3 de B

Alfafa (forma çã o e manutençã o - uma vez 5 kg ha 1 de Zn 0 a 0,5 mg dm 3 de Zn


*

por ano) 3 kg ha 1 de Zn
'
0,6 a 1, 2 mg dm 3 de Zn
3 kg ha -1 de Cu 0 a 0, 2 mg dm 3 de Cu
1 kg ha 1 de Cu 0,3 a 0,8 mg dnr3 de Cu
1,5 kg ha -1 de B 0 a 0, 20 mg dm 3 de B
'

1,0 kg ha 1 de B
'
0,21 a 0,60 mg dm 3 de B

Para leguminosas exclusivas, pastagem consorciada e alfafa , aplicar 50 g ha 1 de Mo, via revestimento de semen-

te. Cu , Zn e Mn extra ídos pelo DTPA pH 7,3 e para B pela á gua quente.
Fonte: Adaptado de Raij et al. (1996).

Quadro 28 . Recomendações de micronutrientes para v á rias culturas na regiã o dos Cerrados

Cultura Recomendaçã o Observações

Abacate, abacaxi, Adubaçã o de correçã o (a lanço ): Em solos com teor baixo desses micronutrientes .
acerola, banana,
- -
caf é, cana de a çú car,
_
2 kg ha -1 de B, 2 kg ha 1 de Cu,
*

6 kg ha 1 de Mn, 0,4 kg ha 1 de Mo e
'

citros, eucalipto, 6 kg ha 1 de Zn.


'

gariroba, goiaba ,
graviola, mamã o,
manga, maracujá,
pinus, pupunha ,
seringueira
Abacate, abacaxi, Aduba çã o de plantio (por cova ):
banana, graviola 1 g de B, 0,5 g de Cu, 1 g de Mn, 0,05 g
de Mo e 5 g de Zn.

Continua ...

FERTILIDADE DO SOLO
692 CLEIDE APARECIDA DE ABREU e t a l .

Quadro 28. Continua çã o

Cultura Recomenda çã o Observa ções

Acerola, goiaba Aduba çã o de plantio ( por cova ) :


0,5 g de B, 0,5 g de Cu, 1 g de Mn, 0,05 g
de Mo e 3 g de Zn .
Algod ã o, amendoim, Aduba çã o de plantio (á lanço ): Em solos com teor baixo desses micronutrientes. A
arroz, aveia, cevada , 2 kg ha 1 de B, 2 kg ha 1 - de Cu, 6 kg ha 1
’ ' '
dose da aduba çã o de plantio poderá ser dividida em
ervilha , feijã o, girassol, de Mn , 0,4 kg ha 1 de Mo e 6 kg ha 1 de
’ ’ três partes iguais à s aplicadas no sulco de semeadu -
grã o-de- bico, mamona , Zn . ra em três cultivos sucessivos. No n ível médio, apli -
milheto, milho, soja, car V* das doses recomendadas a lanço e, no n ível
sorgo gran ífero, trigo, alto, n ã o fazer nenhuma aduba çã o. O efeito residual
triticale esperado é de quatro a cinco cultivos, tanto para a
aduba çã o a lanço como para aquela feita parcelada -
mente no sulco. Deve-se fazer an á lise de foliar e do
solo, a cada dois cultivos, para verificar se há neces-
sidade de reaplica çã o desses nutrientes.
Aduba çã o foliar (exceto mamona ) : B: Caso apareçam sintomas de deficiência de qualquer
solu çã o 5 g L 1 de bó rax ou 3 g L 1 de
' '
um desses nutrientes. A dose a ser usada, de cada
á cido bó rico; Cu : solu çã o 5 g L 1 de sul - solução é de 400 L ha 1. Para arroz, utilizar 380 L ha 1.
' ' ’

fato de Cu; Mn: solu çã o 5 g L 1 de sul -


'

Para sorgo gran ífero utilizar 360 Lha 1. Adicionar, à


'

fato de Mn; Zn solu çã o 5 g L 1 de sulfato


'
exceçã o da soluçã o de bórax, 1 g L 1 de hidró xido de
'

de Zn . cá lcio (cal extinta ou cal hidratada ).


Leguminosa para adu - Aduba çã o de plantio (a lanço ): A dose da aduba çã o de plantio poderá ser dividida
bos verdes (crotal á ria, 2 kg ha 1 de B, 2 kg ha 1 de Cu , 6 kg ha 1
’ ' '
em três partes iguais à s aplicadas no sulco de seme-
ervilhaca, feijã o-de- de Mn, 0,4 kg ha 1 de Mo e 6 kg ha 1 de
' ' adura em três cultivos sucessivos. No n ível médio,
-
porco, feijã o guandu, Zn . aplicar lA das doses recomendadas a lanço e, no n ível
-
lab lab, tremoço), ma - alto, n ã o fazer nenhuma adubaçã o. O efeito residual
mona esperado é de quatro a cinco cultivos, tanto para a
aduba çã o a lan ço como para aquela feita parcelada -
mente no sulco. Deve-se fazer aná lise foliar e do
solo, a cada dois cultivos, para verificar se há neces-
sidade de reaplicaçã o desses nutrientes.
Banana Aduba çã o de plantio ( por cova ) :
1 g de B, 0,5 g de Cu, 1 g de Mn, 0,05 g
de Mo + 5 g de Zn .
Caf é Aduba çã o de forma çã o ( por cova ):
12 a 24 g de ácido bó rico ou 18 a 36 g de
bó rax e 6 a 12 g de sulfato de Cu e 17 a
26 g de sulfato de Zn ou 5 a 7 g de ó xido
de Zn.
Aduba çã o foliar: B: solução 3 a 5 g L 1 '
Caso apareçam sintomas de deficiência de qualquer um
de bó rax ou 3 g L 1 de ácido bórico; Cu :
’ desses nutrientes. Adicionar, à exceção da soluçã o de
solu çã o 4 a 6 g L 1 de sulfato de Cu três
' bórax, 1 g L 1 de hidróxido de cálcio (cal extinta ou cal
'

vezes ao ano; Zn: solu çã o 6 a 8 g L 1 de ' hidratada ). Fazer uma pulverização no inverno (agosto)
sulfato de Zn, quatro vezes ao ano. e as demais no per íodo chuvoso (outubro a fevereiro).

Cana -de-a çúcar Adubaçã o de plantio: 5 kg ha 1 de Zn ,'

4 kg ha 1 de Cu, 2 kg ha 1 de B e 4 kg ha 1
’ ' '

de Mn no sulco de plantio .
Citros Adubaçã o de forma çã o ( por cova ):
1 g de B, 0,5 g de Cu, 1 g de Mn, 0,05 g
de Mo e 5 g de Zn .
Aduba çã o foliar: B: soluçã o 2 g L 1 de '
Caso apareçam sintomas de deficiência de qualquer
á cido bórico; Mn: soluçã o 6 g L 1 de sul - ' um desses nutrientes. Caso se apliquem os três mi -
fato de Mn; Zn: soluçã o 8 g L 1 de sul*
- cronutrientes de uma só vez, adicionar à mistura
fato de Zn quatro vezes ao ano. 5 g L'1 de uréia .
Ervilha Adubaçã o com Mo e Co via semente: 8 a O Mo e o Co, em vez de serem aplicados no solo,
20 g de cloreto de Co ou 10 a 25 g de poderã o ser aplicados na semente durante o proces -
sulfato de Co e 50 a 100 g de molibdato so de inoculaçã o com o rizóbio.
de Co ou 40 a 80 g de molibdato de

Continua ...
í

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 693

Quadro 28. Continua çã o

Cultura Recomendaçã o Observações

Eucalipto Aduba çã o de mudas: 0,5 g de B, 0,05 g


de Co, 0,5 g de Cu, 1 g de Mn, 0,05 g de
Mo e 2 g de Zn por 1 m3 de solo.
Adubação de plantio: 1 kg ha 1 de B, '
Os adubos devem ser aplicados em filetes cont í nuos
2 kg ha 1 de Cu e 2 kg ha 1 de Zn.
" " no sulco de plantio ou covas.

Feijão Adubaçã o com Mo e Co via semente: O Mo e o Co, em vez de serem aplicados no solo,
8 a 20 g de cloreto de Co ou 9 a 20 g de poderã o ser aplicados na semente durante o proces-
sulfato de Co e 50 a 80 g de molibdato so de inocula çã o com o rizóbio.
de Co ou 40 a 60 g de molibdato de
amónio, por 80 kg de sementes.
Adubação foliar com Mo: 0,2 g L 1 de '

molibdato de Na ou 0,15 g L 1 de mo- "


O Mo, em vez de ser aplicado no solo ou na semente,
libdato de amónio. Aplicar 400 L ha 1 de ' poderá ser aplicado via foliar.
uma dessas soluções 25 dias após a
emergência .
Gariroba Adubaçã o de formaçã o de mudas: 0,5 g
í
de B, 0,5 g de Cu, 0,5 g de Mn, 0,05 g de
*

Mo e 2 g de Zn por 1 m3 de substrato.
Adubaçã o de plantio: 0,5 kg ha 1 de B,
"

0,5 kg ha 1 de Cu, 1 kg ha 1 de Mn,


" "

0,05 kg ha 1 de Mo e 1 kg ha 1 de Zn no
" '

sulco de plantio.
Girassol Adubação foliar com B: Soluçã o de Caso não tenha sido possível aplicar B via solo.
45 g L 1 % de bó rax ou 29 g L 1 de ácido
' '
Aplicar aos 30 dias após a emergência . A quantidade
bó rico. de solução a ser usada é de 200 L ha 1. Adicionar, no
"

caso de soluçã o com ácido bó rico, 5 g L 1 de hidróxi


*

-
do de Ca (cal extinta ou cal hidratada ) .
Adubação foliar com Cu, Mn e Zn: Caso apareçam sintomas de deficiência de qualquer
Cu: solução 5 g L 1 de sulfato de Cu; *
um desses nutrientes. A quantidade a ser usada de
Mn: solução 5 g L 1 de sulfato de Mn; Zn '
cada solução é de 400 L ha 1. Adicionar, em cada so
"
-
solução 6 g L 1 de sulfato de Zn.
"
lução, 1 g L 1 de hidróxido de Ca (cal extinta ou cal
*

hidratada ).
Graviola Adubação de produção ( por cova ): Na projeçã o da copa juntamente com outros adubos
2 g de B, 3 g de Cu, 4 g de Mn c 5 g de no início da produção de frutos.
Zn em cobertura.
Mamao Aduba ção de plantio e formação:
1 g de B, 0,05 g de Co, 0,5 g de Cu, 1 g
de Mn, 0,05 g de Mo e 2 g de Zn por
cova .
Adubaçã o de produçã o:
1 a 2 kg ha 1 de B e 3 a 5 kg ha 1 de Zn.
" "

Adubação foliar: soluçã o 0,25 % de áci- Caso apareçam sintomas de deficiência de B.


do bórico ou bórax.
Mandioca Adubação de plantio: Em solos com teor baixo desses micronutrientes. No
1 kg ha 1 de B, 1 kg ha 1 de Cu, 4 kg ha 1
' " '
n í vel médio, aplicar Vz das doses recomendadas e, no
de Mn e 4 kg ha 1 de Zn no sulco de " nível alto, não fazer adubação. O efeito residual espe-
rado é de quatro a cinco cultivos. Deve-se fazer aná li-
plantio.
se foliar e do solo, a cada dois cultivos, para verificar
se há necessidade de reaplicação desses nutrientes.
Adubação foliar: B: solução 5 g L 1 de '
Caso apareçam sintomas de deficiência de qualquer
bórax ou 3 g L 1 de ácido bórico; Cu:
' um desses nutrientes. A quantidade a ser usada, de
solução 5 g L 1 de sulfato de Cu; Mn:
*
cada solução é de 400 L ha 1. Adicionar, à exceçã o da
'

solução 5 g L 1 de sulfato de Mn; Zn so



- solução de bórax, 1 g L’1 de hidróxido de Ca (cal ex-
luçã o 5 g L 1 de sulfato de Zn.
’ tinta ou cal hidratada ) .
Adubaçã o com Zn via maniva: imersão Caso não seja possível a aplica ção via solo.
das manivas numa solução 40 g L 1 de '

sulfato de Zn durante 15 min.

Continua.. .
f

FERTILIDADE DO SOLO
694 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

Quadro 28 . Continua çã o

Cultura Recomenda çã o Observa ções

Manga, maracujá Aduba çã o de plantio ( por cova ):


1 g de B, 0,5 g de Cu , 1 g de Mn, 4 g de
Zn .
Aduba çã o de produçã o para maracujá: Fazer três pulveriza ções: a primeira, em outubro; a
pulverizar com solu çã o 3 g L 1 de ácido
'
segunda , em janeiro, e a terceira , em abril .
bó rico, 6 g L 1 de sulfato de zinco, 4 g L 1
' '

de sulfato de Cu, 5 g L 1 de sulfato de


Mn e 5 g L 1 de uréia .
'

Milho Aduba çã o com Zn via semente: 1,0 kg Caso n ã o seja poss ível aplicá -lo via solo que é o
de ó xido de zinco por 20 kg de sementes modo recomendado.
umedecidas (15 mL de á gua por kg de
sementes) .
Pastagem consorciada Aduba çã o de forma çã o:
1
1 kg ha 1 de B + 0, 02 kg ha de Co +
' "

2 kg ha de Cu + 0,03 kg ha 1 de Mo +
'1 '

2 kg ha 1 de Zn a lanço.
'

Aduba çã o com Mo e Co via semente:


Co: 8 g de cloreto de Co ou 9 g de sul -
fato de Co pela quantidade de sementes
da leguminosa a ser usada por hectare;
Mo: 20 g de molibdato de Na ou 14 g de
molibdato de amó nio pela quantidade
de sementes a ser usada por hectare ou
por meio da peletiza çã o de sementes (
3 g de B, 0,1 g de Co, 1 g de Cu, 4 g de
Mn, 0,1 g de Mo, 7 g de Zn e 200 g de
calcá rio por kg de sementes ) .
Pastagem de gram í- Aduba çã o de forma çã o:
neas 1
1 kg ha 1 de B, 2 kg ha de Cu e 2 kg ha
* ' 1 '

de Zn a lanço.
Pinus Aduba çã o de mudas:
0,5 g de B, 0,5 g de Cu, 1 g de Mn, 0,05 g
de Mo e 2 g de Zn por 1 m3 de solo .
Aduba çã o de plantio: Os adubos podem ser aplicados em filetes cont ínuos
1
1 kg ha 1 de B, 2 kg ha de Cu, 3 kg ha
' ’ 1 '
no sulco de plantio ou em covas.
1
de Mn e 6 kg ha de Zn.
'

Pupunha Aduba çã o de forma ção de mudas: 1 g de


B, 0,03 g de Co, 0,5 g de Cu, 1 g de Mn,
0,03 g de Mo e 2 g de Zn por 1 m3 de
substrato.
Aduba çã o de plantio:
1
0,5 kg ha 1 de B, 0,5 kg ha de Cu,
* '

1 1
1 kg ha de Mn, 0,04 kg ha de Mo e
' '

1
1 kg ha de Zn no sulco de plantio.
'

Seringueira Aduba çã o de plantio:


1 g de B, 0,05 g de Co, 2 g de Mn, 0,05 g
de Mo e 3 g de Zn por cova .
Soja Adubação com Cu via semente: mistu- Caso nã o seja possí vel a aduba çã o via solo.
rar 3 kg de ó xido de Cu com 80 kg de
sementes umedecidas e, a seguir, proce-
der à inoculação delas com o rizó bio
Adubação com Mo e Co via semente: 50 Modo alternativo à aplica ção via solo.
a 130 g de molibdato de Na ou 40 a 90 g
de molibdato de amónio, 8 a 20 g de clo-
reto de Co ou 9 a 23 g de sulfato de Co
por 80 kg de sementes.

Fonte: Adaptado de Galrão (2002) .

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 695

Quadro 29. Recomendações de micronutrientes para v á rias culturas no Estado do Espírito Santo

Cultura Dose Observa ções

Abó bora 0,5 a 1 kg de B, 1 a 3 kg de Cu ela Junto com a aduba çao de plantio, se a aná lise do
3 kg de Zn por hectare solo indicar baixos teores
Alho 3 a 5 kg de Zn e 3 kg de B por hectare Junto com a aduba çã o de plantio, se a an á lise do
solo indicar baixos teores
Amendoim Via semente:100 g de molibdato de
amó nio para 100 kg de sementes
Arroz 5 kg de Zn, 1 kg de Cu, 1 kg de B e 1 kg Junto com os demais adubos de plantio, se a an á lise
de Mn por hectare do solo indicar baixos teores
Banana irrigada 8 kg de Zn, 4 kg de Cu, 3 kg de B, 2 kg Uma vez por ano, antes do florescimento, se a aná li -
de Fe e 6 kg de Mn por hectare se do solo indicar baixos teores
Banana nã o 4 g de Zn e 2 g de B, por família Uma vez por ano, antes do florescimento, se a an á li -
irrigada se do solo indicar baixos teores
Batata 2 kg de B e 2 kg de Zn por hectare Junto com a aduba çã o de plantio, se a an á lise do
solo indicar baixos teores
* Batata -doce 1
Junto com a aduba çã o de plantio, se a an á lise do
0,5 a 1,0 kg ha de B
'

solo indicar baixos teores


Berinjela e Jil ó 3 a 5 kg ha 1 de B
'
Junto com a aduba çã o de plantio, se a an á lise do
solo indicar baixos teores
Beterraba, Cenou - 3 a 5 kg de B para beterraba e 1 a 2 kg Junto com a aduba çã o de plantio, se a an á lise do
ra, Nabo e Raba - de B para cenoura, nabo e rabanete por solo indicar baixos teores
nete hectare
Brócolis, Couve- 3 a 4 kg ha 1 de B
'
Junto com a aduba çã o de plantio, se a an á lise do
flor e Repolho solo indicar baixos teores
Cacau
Plantio 5 g de Zn, 1,5 g de Cu, 1 g de B, 1 g de Junto com o solo de enchimento da cova, se a aná li -
Fe e 1,5 g de Mn por cova se do solo indicar baixos teores
Aduba çã o de 6 g de Zn, 2 g de Cu, 3 g de B, 2 g de Fe Na aduba çã o de cobertura uma vez por ano
formaçã o e e 4 g de Mn por cova
produ çã o
Caf é ará bica
Plantio 3 g de Zn, 0,6 g de Cu, 0,6 g de B, 1,0 g Se a aná lise do solo indicar baixos teores
de Fe e 1,0 g de Mn por cova
Forma çã o 4 g de Zn, 1,5 g de Cu, 2 g de B, 1,5 g Para o segundo ano, antes do florescimento, se a
de Fe e 3,0 g de Mn por cova, na adu - an á lise do solo indicar baixos teores
ba çã o em cobertura
Produ çã o Via solo: 3, 2 ou 1 kg ha 1 de B
'
Antes do florescimento, para solos baixos, médios
3, 2 ou 1 kg ha 1 de Cu
'

15, 10 ou ou bons nesses micronutrientes, respectivamente


5 kg ha 1 de Mn
'

6, 4 ou 2 kg de Zn ha 1 '

Aduba çã o foliar: Mn 2 g L \ Zn 2 g L 1,
*
Para corrigir deficiê ncias ou de forma preventiva
Cu 2 g L-\ B 1 g L 1
Caf é conilon 3 g de Zn, 0,6 g de Cu, 0,6 g de B e Se a aná lise do solo indicar baixos teores
Plantio 1, 0 g de Mn por cova
Forma çã o 4 g de Zn, 1,5 g de Cu, 2 g de B, 1,5 g Para o segundo ano, antes do florescimento, se a
de Fe e 3,0 g de Mn por cova, na adu - aná lise do solo indicar baixos teores
ba çã o em cobertura
Produçã o Via solo: 6 a 8 kg de Zn, 2 a 4 kg de Cu, Antes do florescimento, se a aná lise do solo indicar
2 a 3 kg de B, 1 a 2 kg de Fe e 4 a 6 kg baixos teores
de Mn por hectare, na aduba çã o em
cobertura
Aduba ção foliar : Mn 4 g L’1, Zn 3 g L 1, '
Para corrigir deficiê ncias ou de forma preventiva
-
Cu 3 g L \ B 2 g L \ Fe 2 g l/1 e Mo
'

I g L-1
Cana -de-açúcar 5 g de Zn, 2,5 g de Cu e 4 g de Mn por Por metro de sulco, se a aná lise do solo indicar bai -
metro de sulco xos teores

Continua ...

FERTILIDADE DO SOLO
696 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et a l .

Quadro 29. Continua çã o

Cultura Dose Observações

Cebola 1 a 2 kg de B, 2 a 4 kg de Cu e 3 a 5 kg de Junto com a adubação de plantio, se a aná lise do solo in-


Zn por hectare dicar baixos teores
Citros ( plantio) 2 g de Zn, 0,5 g de Cu, 1,0 g de B, 1,0 g de Se a análise do solo indicar baixos teores; aumentar as
Fe e 1,5 g de Mn por cova quantidades em cerca de 30 %, quando a aplica ção for re-
alizada por metro de sulco
Forma çã o 6 g de Zn, 2 g de Cu, 3 g de B, 2 g de Fe e 4 g Unia vez por ano, antes do florescimento, se a aná lise do
(Io ao 5o ano) de Mn por cova, na adubação em cobertura solo indicar baixos teores
Produ çã o 8 g de Zn, 3 g de Cu, 5 g de B, 3 g de Fe e 5 g Uma vez por ano, se a aná lise do solo indicar baixos teo-
de Mn por cova, na adubação em cobertura res
Coco anã o ver-
de irrigado
Plantio 7 g de Zn, 1 g de Cu, 2,5 g de B, 1,5 g de Fe Se a aná lise do solo indicar baixos teores
e 3 g de Mn por cova
Cobertura (a 8 g de Zn, 3 g de Cu, 5 g de B, 3 g de Fe e Uma vez por ano, antes do florescimento, se a análise do
partir do Io ano) 5 g de Mn por cova solo indicar baixos teores
Coco anã o ver-
de não irrigado
Plantio 5 g de Zn, 0,5 g de Cu, 1 g de B, 1,5 g de Fe Se a aná lise do solo indicar baixos teores
e 1,5 g de Mn por cova
Cobertura (a 8 g de Zn, 3 g de Cu, 5 g de B, 3 g de Fe e Uma vez por ano, antes do florescimento, se a aná lise do
partir do Io ano) 5 g de Mn por cova solo indicar baixos teores
Eucalipto 5 g de sulfato de Zn por cova, no plantio, e Em meia -lua ou em filetes cont ínuos na projeçã o da copa
10 g de bórax em cobertura, juntamente e, após o fechamento, em faixas de 30 cm ou mais, entre
com o N e, ou, K as linhas de plantio
Feijão 4 a 5 kg de Zn, 1 kg de Cu, 1 kg de B; 1 kg de Por ocasião do plantio, se a análise do solo indicar baixos
Mn, 0,15 kg de Mo e 0,1 kg de Co por hectare teores
Florestas 1 kg de B e 1 kg de Zn por hectare Por ocasiã o do plantio, na cova ou sulco, se a análise do
Essências nati- solo indicar baixos teores
vas
Mamão (plantio) 5 g de Zn, 0,8 g de Cu, 1 g de B, 1,5 g de Fe
e 2 g de Mn por metro de sulco
Produção Via solo: 5 kg de Zn, 2 kg de Cu, 2 kg de B e Se a aná lise do solo indicar baixos teores
4 kg de Mn por hectare, a cada seis meses
Adubação foliar: Ca 10 g L 1, Mn 5 g L \ Zn
" '
Manter um programa de adubação foliar de rotina, espe-
3 g U1 , Cu 3 g U1 , B 3 g L 1 , Fe 2 g L 1 e Mo
' ’ cialmente cá lcio e boro, considerando que o mamoeiro
I g L-1 apresenta florações e frutifica ções ao longo do ciclo
Manga ( plantio) 5 g de Zn, 0,8 g de Cu, 1 g de B e 2 g de Se a aná lise do solo indicar baixos teores; aumentar as
Mn por cova quantidades em cerca de 30 % quando a aplicação for re-
alizada por metro de sulco
Produção Via solo: 5 kg de Zn, 2 kg de Cu, 2 kg de B Junto com a primeira parcela de N-K2O, se a aná lise do
e 4 kg de Mn por hectare, junto com a solo indicar baixos teores
primeira parcela de N-K2O
Adubação foliar: Mn 5 g Lr1, Zn 3 g L 1, Cu '
Para corrigir deficiências ou de forma preventiva
3 g L 1, B 3 g L 1, Fe 2 g L 1 e Mo 1 g L°
' " *

Maracujá
Plantio 3 g de Zn, 0,6 g de Cu, 0,6 g de B e 1,0 g de Se a aná lise do solo indicar baixos teores
Mn por cova
Formaçao Via solo: 4 g de Zn, 1,5 g de Cu, 2 g de B, Em dose única, antes do florescimento, se a análise do
1,5 g de Fe e 3 g de Mn por cova solo indicar baixos teores
Produção Adubação foliar: Mn 5 g L 1, Zn 3 g L \ Cu
" ' Para corrigir deficiências ou de forma preventiva
3 g L’1, B 3 g L 1, Fe 2 g U1 e Mo 1 g L 1
' '

Melancia 0,5 a 1 kg de B e 2 a 3 kg de Zn por hectare Junto com a aduba ção de plantio, se a aná lise do solo in-
dicar baixos teores
Milho 5 kg de Zn, 1 kg de Cu, 1,5 kg de B; 1 kg No sulco de plantio, se a análise do solo indicar baixos
de Mn e 0,15 kg de Mo por hectare teores

Continua...

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 697

Quadro 29. Continua çã o

Cultura Dose Observa ções

1 1
Orqu ídeas e 1 g L 1 de Zn, 0,2 g L de B, 0,5 g L de Aplicar 1 g da mistura por litro de á gua, em
' ' '

1
samambaias 1
Cu, 0,5 g L de Mn e 0,05 g L de Mo
' '
pulveriza ções quinzenais, na parte inferior das
folhas

Pastagem
Plantio e 3 a 5 kg de Zn, 0,8 a 1 kg de Cu, 1 a Junto com a aduba çã o fosfatada, se a an á lise do solo
forma çã o 2 kg de B; 2 a 3 kg de Fe e 3 a 4 kg de indicar baixos teores
Mn por hectare
Manuten çã o 4 a 5 kg de Zn, 1 kg de Cu , 1,5 a 2 kg No in ício do per íodo chuvoso, se a an á lise do solo
de B; 2 a 3 kg de Fe e 3 a 5 kg de Mn indicar baixos teores
por hectare
Pastagem irrigada
Plantio e 3 a 5 kg de Zn, 0,8 a 1 kg de Cu , 1 a Junto com a aduba çã o fosfatada , se a an á lise do solo
forma çã o 2 kg de B; 2 a 3 kg de Fe e 3 a 4 kg de indicar baixos teores
Mn por hectare
i
Manuten çã o 6 kg de Zn, 1 kg de Cu, 2 kg de B; 2 a Sob pastejo intensivo, logo após a retirada do gado,
3 kg de Fe e 5 kg de Mn por hectare junto à aduba çã o N -P- K , aplicado a lanço na
superf ície do solo
Pepino 0,5 a 1 kg de B, 1 a 3 kg de Cu ela Junto com a aduba çã o de plantio, se a an á lise do
3 kg de Zn por hectare solo indicar baixos teores
Pimenta -do- reino
Plantio 5 g de Zn, 0,5 g de Cu, 1 g de B, 1,5 g Se a an á lise do solo indicar baixos teores. Aumentar
de Fe e 1,5 g de Mn por cova as quantidades em cerca de 30 % , quando a
aplica çã o for realizada por metro linear de sulco.
Forma çã o 4 g de Zn, 1,5 g de Cu, 2 g de B, 1,5 g Uma vez ao ano, se a aná lise do solo indicar baixos
de Fe e 2,5 g de Mn por cova teores
Produçã o 5 g de Zn, 2,5 g de Cu, 3 g de B, 2 g de Uma vez ao ano, se a an á lise do solo indicar baixos
Fe e 3 g de Mn por cova teores

Pinus
Plantio e 1 kg de B e 1,5 kg de Zn por hectare Por ocasiã o do plantio, na cova ou no sulco, se a
cobertura an á lise do solo indicar baixos teores; a aplica çã o dos
-
adubos em cobertura pode ser feita em meia lua ou
em filetes cont ínuos na projeçã o da copa e, após o
fechamento, em faixas de 30 cm ou mais, entre as
linhas de plantio

Pupunha 1 a 2 kg de B, 1 a 1,5 kg de Cu e 2 a Se a aná lise do solo indicar baixos teores, entre


Produ çã o 3 kg de Zn por hectare outubro e mar ço, em dose ú nica

Quiabo 0,5 a 1 kg de B e 2 a 3 kg de Zn por Junto com a aduba çã o de plantio, se a aná lise do


i
hectare solo indicar baixos teores

Roseira 15 kg de B por hectare Junto com a aduba çã o de plantio, se a an á lise do


solo indicar baixos teores

Seringueira
Forma çã o e 8 g de Zn, 3 g de Cu, 5 g de B, 3 g de Fe Uma vez por ano, no in ício do per íodo chuvoso, se a
produ çã o e 5 g de Mn por planta aná lise do solo indicar baixos teores
Çoia 4 a 5 kg de Zn, 1 kg de Cu, 2 kg de B, Junto com a aduba çã o de plantio, se a an á lise do
5 kg de Mn e 0,15 kg de Mo por hectare solo indicar baixos teores

Sorgo gran í fero 4 Kg de Zn I kg de Cu , 1 kg de B e 1 kg Junto com a aduba çã o de plantio, se a an á lise do


de Mn pot hei ian solo indicar baixos teores

Tomate 1 a 1,5 kg de B e 2 a 3 kg de z, n pi » ’ Junto com a aduba çao de plantio, se a an á lise do


hectare solo indicar baixos teores

Fonte: Adaptado de Dadalto & Fullin ( 2001).


\

FERTILIDADE DO SOLO
698 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

Quadro 30 . Recomenda ções de micronutrientes para v á rias culturas no Estado de Pernambuco

Cultura Dose Observações

Abacate 500 g de uré ia , 500 g de sulfato de Zn, Aplicar, duas vezes ao ano; os pomares tratados com
250 g de sulfato de Mn e 100 g de á cido fungicidas c ú pricos, dispensam, normalmente, fertiliza çã o à
bó rico, em 100 litros de á gua base de Cu
Acerola 4,5 g de Zn e 1,0 g de B por planta No plantio, e, uma vez por ano, na fase de produ çã o
irrigada
Alfafa 30 kg de bó rax e 2 kg de molibdato de No plantio
amó nio por hectare
Alho 15 kg de bó rax e 60 kg de sulfato de Zn No plantio, em á reas com defici ê ncias
por hectare
Banana 15 g de sulfato de Zn por touceira Preferencialmente na mesma é poca da primeira fertiliza çã o
nitrogenada
Banana 4,5 g de Zn e 1, 0 g de B por cova No plantio e depois, por toupeira , e uma vez por ano, na fase
irrigada de produ çã o
Batata -doce 5 a 10 kg de bó rax por hectare Em solos arenosos, misturado aos fertilizantes destinados à
aduba çã o de funda çã o
Brócolis Ácido bó rico 2 g L 1 e molibdato de
*
Em duas aplica ções foliares na sementeira e 15 dias após o
amó nio 2 g L 1
' transplantio
Caf é 600 g de sulfato de Zn e 300 g de ácido Fazer anualmente três pulveriza ções
bó rico dissolvidos em 100 litros de á gua
Cana -de - 2,6 kg de Cu, 4,0 kg de Zn e 5,2 kg de Mn Em solos com < 0,7, < 0,4 e < 0, 6 mg dm -3 de Cu, Zn e Mn,
a çú car por hectare respectivamente
1,3 kg de Cu, 2,0 kg de Zn e 2,6 kg de Mn Em solos com 0, 7 - 1,0, 0,4 - 0,6 e 0,6 - 0, 9 mg dm -3 de Cu, Zn e
por hectare Mn, respectivamente
Citros 250 g de sulfato de Zn e 250 g de sulfato Pulverizar uma a duas vezes durante o ano
de Mn, neutralizados com 250 g de cal,
dilu í dos em 100 litros de á gua
Coco irrigado 4.5 g de Zn, 1,0 g de B, 0,5 g de Cu, 1,5 g de No plantio e, uma vez por ano, na fase de produ çã o
Fe, 1,0 g de Mn e 0,05 g de Mo por planta
Couve-flor Ácido bó rico 2 g L 1 e molibdato de Na
'
Em duas aplica ções foliares na sementeira e 15 dias após, no
2 gL’’ transplantio
Eucalipto 10 kg de sulfato de Zn e Juntamente com os fertilizantes destinados ao plantio
1.5 kg de bó rax por hectare Aos 65 dias após o plantio
Goiaba 4.5 g de Zn e 1,0 g de B por planta No plantio e, depois, uma vez por ano, antes da primeira poda
irrigada de frutifica çã o
Inhame Ácido bó rico 1 g L 1 '
Se necessá rio, fazer três pulveriza ções, a partir de 45 após o
plantio
Leucena 1 kg de molibdato de amónio, 1 kg de No plantio
bó rax e 2 kg de sulfato de Zn por hectare
Mamã o 6.5 g de á cido bó rico, por cova
acompanhada de pulveriza ções foliares
com soluçã o de á cido bó rico a 2,5 g L 1 a
'

cada dois meses; solu çã o de sulfato de Zn


5 g L 1 para solos deficientes em Zn
Manga irrigada 4.5 g de Zn e 1,0 g de B por planta No plantio e, uma vez por ano, na fase de produ çã o
Mel ã o irrigado Molibdato de Na a 5 g L 1
'
Duas a três aplica ções, com intervalos de sete dias
Repolho Á cido bó rico 2 g L 1 e molibdato de Duas aplica ções: na sementeira e quinze dias após o
amó nio 2 g L-í transplantio
Seringueira 2 kg de sulfato de Cu e 2 kg de sulfato de Aplicados no plantio
Zn por 100 kg de fertilizantes
Tomate de Bó rax: 250 g por 100 litros de á gua Se necessá rio
mesa
Videira Via solo: 4,5 g de Zn e 1,0 g de B por No plantio e, uma vez por ano, na fase de produ çã o, logo após
irrigada planta a colheita
Via foliar: sulfato de Zn 3 g L 1 e ácido
’ Na fase de produçã o, seis aplica ções foliares com intervalos de
bó rico a 1 g L 1 ’ quinze dias, a partir da flora ção

Fonte: Adaptado de Cavalcanti (1998).

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 699

Estrat é gia de Restitui çã o

Essa estratégia de aplica çã o vem sendo cada vez mais utilizada , principalmente
nas á reas que têm atingido altos tetos de produtividade e intensifica çã o de problemas de
deficiência de micronutrientes, pelas grandes quantidades exportadas.
A combina çã o ideal para se atingir bases sólidas de diagnose e recomenda çã o de
micronutrientes seria a integra çã o das estratégias de prescriçã o com a de restituiçã o, ou
seja , utilizar dados de experimentos de calibra çã o de mé todos de an á lise dp solos e de
plantas e variação das doses a serem aplicadas de acordo com os tetos de produtividade
e exporta ção para culturas. Esses aspectos devem merecer prioridade de pesquisa futura
sobre o assunto .
Um fator que pode ser considerado limitante na implementa çã o da estratégia de
restituiçã o para micronutrientes é a quase total falta de trabalhos científicos que procuram
estabelecer taxas de eficiência das diversas fontes e modos de aplica çã o para os mais
diferentes tipos de solo, clima e cultura no Brasil . Mesmo podendo estimar possíveis
exporta ções de micronutrientes por unidade de produto (Quadro 31), ainda ficam em
aberto as doses adequadas das diversas fontes para que esses requerimentos sejam
satisfeitos.

Quadro 31. Quantidades de micronutrientes necessá rias para a produ çã o de algumas culturas

Cultura B Cu Zn Mn Fe Mo

g *-i

Abacateiro 6 3 5 2 8 0,19
i
Abacaxizeiro 4 1 5 30 60 0,06
Alface 4 9 10 8
Algodoeiro 118 42 43 92 1209 1,00
Cacaueiro 45 32 108 129 245 0,08
Cafeeiro (coco ) 25 15 40 20 80 0,25
Cana 4 4 9 37 155 0,02
Cebola 5 2 2 8 11
Cenoura 9 1,5 7 13 60
*
Couve-flor 5 0,8 7 12 9
Ervilha 170 44 450 250 250 5,00
Fumo 22 14 249 32,00
Laranjeira 2,2 1, 2 0,9 2,8 6,6 0,008
Macieira 1 1 0,2 0,8 8 0,001
Mandioca 14 2 8 34 67
Pessegueiro 1,5 1 1 1,5 5 0,004
Tomateiro 5 10 25 24 25 0, 012
Videira 4 4 0,6 2 3 0,003

Fonte: Adaptado de Malavolta (1987) .

FERTILIDADE DO SOLO
700 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

Fontes de Micronutrientes
9

As fontes de micronutrientes variam de modo consider á vel na sua forma f ísica ,


reatividade química, custo e eficiência agronó mica e tê m sido descritas em detalhes em
vá rias publica ções no Brasil (Lopes, 1984, 1991; Volkweiss, 1991; Lopes & Souza, 2001)
e no exterior (Hignett & McClellan, 1985; Mortvedt, 1991; Martens & Westermann, 1991) .
O trabalho de Mortvedt (1991) é uma excelente síntese sobre o agrupamento dessas fontes.
Em geral, as fontes de micronutrientes sã o agrupadas em: fontes inorgâ nicas
(Quadro 32), quelatos sinté ticos (Quadro 33), óxidos silicatados (Quadro 34) e complexos
orgâ nicos.

Quadro 32. Fontes inorgâ nicas de micronutrientes e de cobalto

4
Fonte Fó rmula Concentra çã o aproximada Solubilidade em á gua

% gL- i
Boro
Bó rax Na 2B4 C> 7.10 H 2O 11 20
Borato 46 Na 2B407.5H20 14 226
Borato 65 Na 2 B4C>7 20 10 t

Solubor Na 2B407.5H20 + Na 2 B10Oi 6.10 H2O 20


Á cido bó rico H3 BO3 17 63
Ulexita NaCaB509.8 H20 8 Insol ú vel

Cobre
Sulfato de cobre CuS04.5H 20 25 316
Óxido de cobre CuO 75 Insol ú vel

Ferro
Sulfato ferroso FeS04.7H20 19 156
Sulfato f é rrico Fe2 (S04 )3.9H 20 23 4.400

Mangan ês
Sulfato manganoso MnS04.3H20 26-28 742
Ó xido manganoso MnO 41 -68 Insol ú vel

Molibd ê nio
Molibdato de só dio Na 2 Mo04.2 H 20 39 562
Molibdato de am ó nio ( NH 4 ) 6 Mo7024.4 H 20 54 430
Óxido de molibd ê nio M 0O 3 66 I

Zinco
Sulfato de zinco ZnS04.7H 20 23 965
Óxido de zinco ZnO 78 Insol ú vel 1

Cobalto
Cloreto de cobalto CoCl 2.6 H20 25 760
Nitrato de cobalto Co ( N03)2.6 H 20 20 1.338
Sulfato de cobalto COS04.7H20 22 600

Fonte: Adaptado de Galr ã o ( 2002 ) citando Weast & Astle (1981).

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 701

Fontes Inorgâ nicas

* As fontes inorgâ nicas (Quadro 32) incluem sais metálicos, como os sulfatos, cloretos
e nitratos, que sã o sol ú veis em á gua , os óxidos e os carbonatos, que sã o insol úveis em
á gua , e os oxissulfatos, que constituem subprodutos industriais com maior ou menor
grau de solubilidade em á gua, dependendo das quantidades de H2S04 utilizadas na
solubiliza çã o dos óxidos. A solubilidade em á gua é fator determinante da eficiência
agronó mica a curto prazo, para aplica ções localizadas em sulco e produtos na forma
granulada . Resultados de pesquisa indicam que cerca de 35 a 50 % do Zn total dos
oxissulfatos na forma granulada deve ser sol úvel em á gua para ter eficiência agronómica
imediata para as culturas (Quadro 35) . Resultados semelhantes devem ser esperados
com oxissulfatos de Mn (Mortvedt, 1992) .

Quadro 33. Fontes quelatizadas de micronutrientes


'4

Fonte Fó rmula Concentra çã o aproximada

%
Cobre
Quelato sint é tico Na 2CuEDTA 13
Quelato sint é tico NaCuHEDTA 9
Quelato natural Lignossulfonato 5-8
Quelato natural Poliflavon óide 5-7

Ferro
Quelato sint é tico NaFeEDTA 5-14
»
Quelato sint é tico NaFeHEDTA 5-9
Quelato sint é tico NaFeEDDHA 6
Quelato sint é tico NaFeDTPA 10
Quelato natural Lignossulfonato 5-8
Quelato natural Poliflavon óide 9-10
Metoxifenilpropano FeMPP 5

Manganê s
Quelato sint é tico * Na 2 MnEDTA 5-12
Quelato natural Lignossulfonato 5
Quelato natural Poliflavon ó ide 5-7

Zinco
Quelato sint é tico Na 2 ZnEDTA 14
Quelato sint é tico NaZnHEDTA 9
Quelato sint é tico NaZnNTA 13
Quelato natural Lignossulfonato 5-8
Quelato natural Poliflavon ó ide 5-10

Fonte: Adaptado de Galr ã o ( 2002) citando Martens & Westermann (1991) .

FERTILIDADE DO SOLO
702 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

Quadro 34 . Óxidos silicatados (fritas) comercializados no Brasil

Concentra çã o aproximada
Produto
Zn B Cu Fe Mn Mo Co Outros
nutrientes

%
:
*
FTE BR -8 7,0 2,5 1,0 5,0 10,0 0,1
FTE BR -9 6, 0 2,0 0,8 6,0 3,0 0,1
FTE BR -10 7,0 2,5 1, 0 4,0 4,0 0,1 0,1
FTE BR -12 9,0 1 ,8 0,8 3,0 2,0 0,1
BR -12 EXTRA 15,0 2,5 1 ,0 3,0 * 3,0 0 ,1
FTE BR -13 7,0 1,5 2,0 2,0 2,0 0,1
FTE BR -15 8,0 2,8 0,8 0,1
FTE BR-16 3,5 1,5 3,5 0,4 '4

-
FTE BR 24 18,0 3,6 1,6 6,0 4,0 0, 2

Micronutri -121 12,0 1,0 0,6 0,15


Mieronutri -155 15,0 5,0 6,0 Mg
Micronutri -183 18,0 3,0 6,0 Mg
Micronutri -204 20,0 4,0
Micronutri-222 22,0 2,0 1,0
Micronutri -248 24,0 2,0 8,0 i

Micronutri -252 25,0 2,5 1,3 0,3


Micronutri -301 30,0 1, 0 1,0

ZIN -COP 101 10,0 2,0 10, 0


ZIN-COP 105 10,0 2,0 10,0 5,0
ZIN - COP 110 10,0 10,0
ZIN - COP 115 10,0 1,0 15,0 5,0
ZIN - COP 201 20,0 1, 0 10,0 5,0 i

ZIN -COP 210 20,0 10,0

Borogran 8,0

Zincogran 20,0 6,0 S


Nutriboro 9,0
Nutrizinco I 30,0 2,0
Nutrizinco II 20,0 2,0

FTE Barreiras 13,0 2,5 3,0 2,0 3,0 0,12


FTE Campo 7,0 2,5 2,5 15,0
FTE Centro Oeste 15,0 2,0 2,0 10 ,0
FTE New Centro Oeste 12, 0 1 ,6 1, 6 8,0
FTE Cerrado 15,0 2,0 1 ,6 4,0 0,2
FTE New Cerrado 12,0 1,6 1,3 3,0 0,15
FTE MS/ MT 5,0 15,0
2,0 8,0 0,1 V
FTE Oeste Baiano 5,0 1 ,6 4,5
FTE JCO-l -C 7,0 3,0 7,0 4,0 S
FTE JCO-2-C 4,0 8,0 12,0 4,0 S
FTE JCO-1M 10,0 1,5 4,0 4,0 5,0 4,0 S
FTE JCO-2M 5,0 2,0 5,0 5,0 8,0 4,0 S

Fonte: Adaptado de Galrã o (2002).

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 703

Quadro 35. Produçã o de maté ria seca e absor çã o de zinco pelo milho, considerando teores de
zinco sol ú vel em á gua em fertilizantes comerciais
>

Fertilizante com zinco Zn sol ú vel em á gua em Produ çã o Absor çã o de Zn


rela çã o ao Zn total

% g / vaso mg / vaso
Testemunha 11 , 8 0,10
< ZnS04 - 1 12 13,1 0,12
ZnS04 - 2 46 26,0 0,20
ZnS04 - 3 81 42,4 0,30
ZnS04 - 4 83 31,8 0,24
ZnS04 ( reagente padr ã o ) 100 31,3 0,26
Oxi -sulfato de Zn - 1 7 17,3 0,14
Oxi -sulfato de Zn - 2 37 22,4 0,18
Oxi -sulfato de Zn - 3 76 24,6 0, 20
Oxi -sulfato de Zn - 4 100 33,3 0,26
V

ZnO ( reagente padrã o ) 0 13, 2 0,11


ZnO (subproduto ) 0 17,8 0,15
DMS (0,05) 9, 2 0,06

Fonte: Adaptado Mortvedt (1992 ).

Dentre as fontes de B, o bórax, o solubor, o ácido bórico e os boratos sã o solúveis em


á gua, enquanto a colemanita é medianamente sol ú vel e a ulexita é insol ú vel em á gua.
Molibdatos de Na e de NH4+ sã o sol úveis em á gua e o ó xido de Mo é insol úvel em á gua
(Quadro 32) .

Quelatos Sintéticos

Os quelatos sinté ticos sã o formados pela combina çã o de um agente quelatizante


?
com um metal por meio de liga ções coordenadas. Um agente quelatizante é um composto
que contém á tomos doadores ou grupos (ligantes ) que podem combinar com um íon
metálico simples para formar uma estrutura cíclica chamada de complexo quelatizado,
ou quelato . A estabilidade da liga çã o quelato - metal determina, geralmente, a
disponibilidade do nutriente aplicado para as plantas. Um quelato eficiente é aquele no
qual a taxa de substituiçã o do micronutriente quelatizado por cá tions do solo é baixa,
mantendo, consequentemente, o nutriente aplicado nessa forma de quelato por tempo
-
suficiente para ser absorvido pelas ra ízes das plantas (Mortvedt, 1992 ) .
Os quelatos sã o geralmente bastante sol ú veis, mas, diferentemente dos sais simples,
dissociam-se muito pouco em soluçã o, isto é, o ligante tende a permanecer ligado ao
metal. Esta é a principal vantagem dos quelatos e permite que Cu, Fe, Mn e Zn permaneçam
em solu çã o em condições que normalmente se insolubilizariam como em soluções
X
concentradas com rea ção neutra ou alcalina ( pH 7,0 ou maior ) e em solos calcá rios
( Volkweiss, 1991). Esse é um aspecto da maior importâ ncia para a tomada de decisã o
quanto a fonte a ser aplicada.
Os principais agentes quelatizantes utilizados na fabrica çã o de fontes de
micronutrientes sã o: á cido etilenodiaminotetraacé tico ( EDTA), á cido N (hidroxietil)

:
FERTILIDADE DO SOLO
704 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

etilenodiaminotetraacé tico (HEDTA), ácido dietilenotriaminopentaacé tico ( DTPA), á cido


etilenodiamino (o-hidrofenil acé tico ) ( EDDHA ), á cido nitrilo acé tico ( NTA ), á cido
glucoheptô nico e á cido cítrico . O mais comum é o EDTA (Quadro 33).
Segundo Mortvedt (2001), a maioria dos quelatos é facilmente misturada com
fertilizantes fluidos, porque eles nã o reagem com os componentes desses fertilizantes.
Vá rios quelatos sã o comercializados na forma líquida porque os custos de produção por
unidade de micronutriente são menores do que na forma de pós, que requer secagem. A
eficiência relativa , para as culturas, dos quelatos aplicados ao solo pode ser de duas a
cinco vezes maior por unidade de micronutriente do que as fontes inorgâ nicas, enquanto
o custo do quelato por unidade de micronutriente pode ser de cinco a cem vezes mais
alto. Esse aspecto constitui limita çã o ao uso desses produtos para culturas de baixo
valor agregado.

Complexos Orgânicos
Os complexos orgâ nicos sã o produzidos pela rea çã o de sais met á licos com
subprodutos orgâ nicos da ind ústria de polpa de madeira e outros. A estrutura química
desses agentes complexantes e o tipo de ligação química dos metais com os componentes
orgâ nicos ainda nã o sã o bem caracterizados porque dependem da natureza dos produtos
orgâ nicos e dos seus processos de fabricaçã o (Mortvedt, 2001).
Alguns complexos orgâ nicos nã o sã o compatíveis com todos os fertilizantes fluidos
e, assim, testes com quantidades pequenas devem ser feitos para avalia çã o de
compatibilidade antes de se proceder à mistura de grandes volumes. Se comparados
com os quelatos sinté ticos, os complexos orgâ nicos sã o mais baratos por unidade de
micronutriente, mas, no geral, sã o menos eficientes e são mais rapidamente decompostos
pelos microrganismos do solo (Mortvedt, 2001).

Óxidos Silicatados ("Fritas")


As "fritas" sã o produtos vítreos cuja solubilidade é controlada pelo tamanho das
part ículas e por varia çõ es na composi çã o da matriz. Sã o obtidas pela fus ã o,
aproximadamente, a 1.000 °C de silicatos ou fosfatos com uma ou mais fontes de
micronutrientes seguido de resfriamento rá pido com água, secagem e moagem (Mortvedt
& Cox, 1985) . Por serem insol úveis em água, as "fritas" sã o mais eficientes se aplicadas
na forma de pó fino, a lanço com incorpora ção, em solos mais arenosos e sujeitos a altos
índices pluviais e altas taxas de lixivia ção. Existem disponíveis no mercado "fritas"
com as mais variadas combina ções de composiçã o de micronutrientes (Quadro 34).

Métodos de Aplicação dos Micronutrientes


Uma vez estabelecida a necessidade de aplica çã o de micronutrientes, é necessá rio
determinar quais os mé todos de aplicaçã o seriam mais recomend á veis para cada caso.
Esse é um problema dos mais complexos, pois a eficiência dos diversos mé todos de
aplicaçã o está intimamente relacionada com diversos fatores, com destaque para: fontes,
tipo de solo, pH, solubilidade, efeito residual, mobilidade do nutriente e cultura, dentre

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 705

outros. Esses aspectos foram amplamente discutidos por Lopes (1991), Volkweiss (1991)
e Lopes & Souza (2001) e os conceitos e princípios apresentados sobre o tema, naquela
época, são aplicá veis até hoje. Dentre os v á rios mé todos de aplicaçã o de micronutrientes,
destacam-se: a aduba çã o via solo, incluindo aduba çã o fluida e fertirrigaçã o; a aduba çã o
foliar; o tratamento de sementes e o tratamento de mudas.
O enfoque a ser dado nesta parte do trabalho é complementar ao j á discutido por
Lopes (1991), Volkweiss (1991) e Lopes & Souza ( 2001), procurando estabelecer bases
sólidas para a tomada de decisã o, tanto quanto possível consubstanciada nos poucos
dados de experimentos realizados no Brasil, onde se estuda o problema de forma
abrangente e sistematizada, incluindo a avalia çã o do efeito residual.

Via Solo

Segundo Volkweiss (1991), com a aplica çã o de micronutrientes via solo, busca -se
aumentar sua concentra çã o na soluçã o, que é de onde as ra ízes os absorvem, e assim,
proporcionar maior eficiência de utiliza çã o pelas plantas. É, portanto, necessá rio que as
fontes de micronutrientes utilizadas se solubilizem no solo no mínimo de tempo
compatível com a absorçã o pelas ra ízes e que sejam aplicadas em posiçã o possível de ser
por elas atingidas, uma vez que os micronutrientes sã o geralmente pouco móveis no solo.
As varia ções das aplica ções de micronutrientes, via solo, sã o as seguintes:
a lanço com incorporação: os adubos com micronutrientes são distribuídos uniformemente
na superf ície do solo, em separado ou por meio de misturas NPK, e, a seguir, incorporados
por meio de prá ticas normais de preparo (ara çã o e gradagem ). É o caso da aplicaçã o de
micronutrientes em á reas de culturas anuais com agricultura convencional, pastagens
em forma çã o, quando do uso de aduba ções corretivas com micronutrientes.
a lanço sem incorporação: os adubos com micronutrientes são distribuídos uniformemente
na superf ície do solo, em separado ou em misturas NPK, mas não sã o incorporados. Este
é o caso de aplica ções em á reas de plantio direto, pastagens formadas, ou mesmo culturas
perenes já formadas.
em linhas: os adubos com micronutrientes são aplicados com semeadeiras-adubadeiras
na linha de semeadura, em separado ou juntamente com as misturas NPK, ao lado e
abaixo das sementes, em geral, junto com a adubaçã o NPK. Esta é a forma mais utilizada
para aplicaçã o de micronutrientes em culturas anuais.
em covas ou valetas de plantio: os micronutrientes sã o incorporados ao solo das covas
ou valetas de plantio, isoladamente ou em misturas NPK, e sã o, normalmente, empregados
para a forma çã o de culturas perenes.
em faixas: os micronutrientes sã o aplicados em faixas superficiais ou com pequena
incorporaçã o por meio de escarifica çã o, ao longo da faixa de maior crescimento de raízes,
em separado ou por meio de misturas NPK, em geral, junto com à adubação NPK . E uma
das formas de aplica çã o mais utilizadas para culturas perenes já formadas.

Nas aplicações no solo, os fertilizantes tanto podem ser distribuídos na forma sólida
da aduba çã o tradicional, como podem ser diluídos em á gua, formando solu ções ou

FERTILIDADE DO SOLO
706 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

suspensões para utilizaçã o como adubaçã o fluida e fertirrigaçã o. Esse é um aspecto


importante a ser levado em conta , principalmente para melhorar a uniformidade de
distribuiçã o, quando da aplica çã o em separado de pequenas doses de micronutrientes
tanto nas aduba ções a lanço como nas aplica ções em linha ou em faixas.
Em todos os casos de aplicação de micronutrientes via solo, na forma sólida e isolada,
há problemas quanto à uniformidade de distribuiçã o, de acordo com as pequenas doses
empregadas, sendo o problema tanto maior quanto maior a concentra çã o de
micronutrientes nas diversas fontes.
Com a finalidade de aumentar a uniformidade de distribuiçã o, visando à maior
eficiência de aplica çã o dos micronutrientes para as mais diversas culturas, algumas
alternativas de manejo tê m sido sugeridas, tais como:
*
- diluiçã o por mistura das fontes de micronutrientes com solo, calcá rio, fosfatos, ou
outro material inerte, sendo crucial que haja compatibilidade em granulometria
entre o fertilizante com micronutrientes e o material utilizado na mistura para
evitar a segregaçã o no momento da aplicação;

- aumento das doses para distribuiçã o a lanço, com ou sem incorpora çã o, para
facilitar a distribuiçã o uniforme, utilizando as vantagens do efeito residual de
alguns micronutrientes ( principalmente aqueles que fornecem Cu e Zn), que pode
atingir cinco ou mais anos, como será apresentado no tópico sobre efeito residual
de micronutrientes;
- mistura de adubos com micronutrientes, em geral granulados, com fertilizantes
simples, mistura de grâ nulos, misturas granuladas ou fertilizantes granulados,
para aplicações a lanço ou em linha, sendo fundamental a uniformidade de
granulometria dos diversos componentes;
- incorporação de adubos com micronutrientes em misturas granuladas e fertilizantes
granulados, de modo que cada gr â nulo carreie o NPK, se for o caso, e os
micronutrientes;
- revestimento de fertilizantes simples, misturas de grâ nulos, misturas granuladas e
fertilizantes granulados com fontes de micronutrientes, de modo que cada grâ nulo
contenha também os micronutrientes.
Em razã o do aumento da intensidade de uso e de interações positivas e negativas
que podem ocorrer durante o processamento e que podem afetar a eficiência agronómica
dos micronutrientes, a seguir, e feita uma abordagem adicional sobre algumas dessas
alternativas, incluindo as vantagens e desvantagens comparativas entre elas.
Misturas de Fontes de Micronutrientes com Mistura de Grânulos NPK
Essa é uma das formas mais utilizadas de aplicação de micronutrientes na agricultura
brasileira. A principal vantagem desse produto é que os adubos com micronutrientes,
em suas diferentes fontes, podem ser misturados com produtos com NPK para obter
f órmulas específicas que irã o atender à s recomenda ções tanto de doses de NPK quanto
de micronutrientes.

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 707

A mistura dos v á rios adubos, nesse caso, deve ser feita tã o próxima ao per íodo de
aplicação quanto possível, e o tempo gasto para o seu preparo deve ser mais longo do que
%
o empregado para misturas com apenas NPK, para garantir uma mistura a mais uniforme
possível.
O principal problema encontrado com a aplica çã o de micronutrientes em misturas
de grâ nulos é que pode ocorrer segregação durante a mistura e, subsequentemente, durante
o manuseio e aplica çã o (Mortvedt, 1991) . V á rios estudos têm demonstrado que a principal
causa da segrega çã o é a diferenç a de tamanho de part ículas, embora a forma dessas e a
densidade também tenham efeito (Silverberg et al., 1972).
A importâ ncia da uniformidade do tamanho dos grâ nulos para evitar a segrega çã o
durante a mistura, o manuseio e a aplica ção foram detalhadamente comentados por Lopes
(1991) . Misturas de grâ nulos, incluindo micronutrientes, permanecer ão bem homogéneas
com materiais de tamanho semelhante que nã o se deteriorem durante o armazenamento
(Mortvedt, 1991) . A maioria dos possíveis problemas de segrega çã o que interferem na
eficiência agronó mica das fontes de micronutrientes resultam do uso de materiais
microcristalinos, ou mesmo granulados, de tamanho nã o-compatível com as fontes NPK.
Outro tipo de problema de aplica çã o de micronutrientes nesses tipos de misturas é
que, mesmo com uniformidade de tamanho de grânulos, a mistura de grânulos que contém
adubos granulados com micronutrientes diminui o n ú mero de locais no solo que recebe
o micronutriente. Por exemplo, o nú mero de locais que recebe os gr â nulos pode ser
menor do que 20 por m2, quando se aplica ZnS04 granulado para adiçã o de 1 kg ha 1 de "

Zn. Em contraste, se o ZnS04 for incorporado a uma mistura granulada ou fertilizante


granulado, ou aplicado como revestimento de fertilizantes NPK para conter 20 g kg 1 "

(2 %) de Zn, o nú mero de pontos que receberia os grânulos seria de 350 por m2, na aplicação
da mesma dose. Como o Zn é um micronutriente que se movimenta por difusã o, ou seja,
para distâncias a pouco mais de alguns milímetros do ponto de aplica çã o, depreende-se
que a uniformidade de aplicação e a eficiência de absorção são muito maiores no segundo
caso. Cita -se que aplica ções de bórax ( Na 2B 4O7.10H2O) granulado resultam também em
altas concentrações de B no solo em torno do grâ nulo, o que poderia ser tóxico para as raízes
de plantas pr óximas, no caso de algumas espécies sensíveis (Mortvedt & Osborn, 1965).
Outro aspecto que deve ser levado em consideração para seleção de fontes granuladas
de micronutrientes para uso em misturas de grâ nulos é a solubilidade em água. Segundo
Mortvedt (1991), a disponibilidade de micronutrientes na forma de óxidos insol úveis em
água, para as plantas, diminui com ó aumento de tamanho de partículas, pela diminuiçã o
da superf ície específica . Enquanto ZnO insolú vel e ZnS04 sol ú vel em á gua resultaram
em respostas de produção de milho semelhantes quando aplicados na forma de pó e
misturados ao solo, o ZnO granulado foi completamente ineficiente e o ZnS04 também
granulado foi uma fonte satisfató ria em experimento de casa de vegeta çã o ( Allen &
Terman, 1966). Dados de campo com feijoeiro mostraram que ZnO granulado foi
ineficiente como fonte de Zn (Judy et al., 1964).
Mortvedt (1991) cita uma série de trabalhos que mostram ter sido o MnO granulado
ineficiente para aveia (Mortvedt, 1984), milho ( Miner et al ., 1986) e soja (Mascagni J únior
& Cox, 1985) .

FERTILIDADE DO SOLO
708 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

Uma alternativa para aumentar a eficiência dos óxidos granulados é o ataque prévio
com H2S04 para obter os chamados oxissulfatos. A utiliza çã o desses oxissulfatos
granulados em mistura de gr â nulos exigir á uma atençã o especial para o teor de
micronutrientes sol ú veis em á gua nesses subprodutos, para assegurar que quantidades
suficientes de micronutrientes sejam imediatamente disponíveis para as plantas. Segundo
Mortvedt (1992), cerca de 35 a 50 % do Zn total no oxissulfato de Zn granulado devem estar
na forma solúvel para ser imediatamente disponível para as plantas. Resultados semelhantes
devem ser esperados com oxissulfatos de Mn e, possivelmente, com "fritas" aciduladas.
Incorpora çã o em Misturas Granuladas, Fertilizantes Granulados e Fertilizantes
Simples
A incorpora çã o de adubos com micronutrientes em misturas granuladas e
fertilizantes granulados vem ocupando lugar de desTaque na agricultura brasileira. Esse
processo incorpora os micronutrientes uniformemente nos grâ nulos e, com isso, os
principais problemas de micronutrientes granulados misturados em misturas de grâ nulos,
quais sejam, a possibilidade de segrega çã o e a diminui çã o de n ú mero de pontos que iria
receber o micronutriente, sã o eliminados.
Entretanto, a própria natureza do processo de granulação para obtenção de misturas
granuladas e fertilizantes granulados, notadamente neste último pelas condições de alta
temperatura, umidade e aumento das rea ções químicas, pode levar a altera ções das
características e eficiência agronómica das fontes de micronutrientes incorporadas. Este í
aspecto foi amplamente estudado no exterior para diversos produtos, sendo pouquíssimos
aqueles trabalhos desenvolvidos no Brasil . Mortvedt (1991) apresenta ampla revisão de
literatura sobre o assunto (Quadro 36) . :
A aplica çã o localizada (em sulcos) de adubos com Mn com fertilizantes formadores
de á cidos, como o superfosfato simples, é uma prá tica recomendada . O Mn aplicado
permanece disponível para as plantas por um per íodo mais longo na faixa ácida antes
de sofrer oxida çã o para formas nã o-disponíveis (Mortvedt, 1991). Os efeitos da fonte de
P na absor çã o de Mn estã o relacionados com o pH do fertilizante fosfatado. A absor çã o
de Mn pela soja aumentou à medida que o pH do fertilizante aumentou de 1,2 com
Ca (H2P04) 2.Fl20, para 3,7 no MAP, mas diminuiu com o pH do fertilizante atingindo 7,2
no DAP. Nesse estudo, o movimento do Mn no solo para fora da faixa de aplica çã o do
fertilizante também diminuiu com o aumento do pH, nã o sendo detectá vel acima de
pH 5,8 (Miner et al., 1986) .
Efeitos de incorpora ção de adubos com Cu e Fe em fertilizantes NPK têm sido menos
j
estudados. Entretanto, as reações de fertilizantes com Cu devem ser semelhantes às dos
que contêm Zn, e as rea ções dos adubos com Fe devem ser semelhantes às daqueles com j
Mn. Tanto os sais de Fe2+ como os de Mn2+ nã o parecem oxidar rapidamente nos
fertilizantes NPK, sob condi ções usuais de composiçã o, pH e temperatura (Lehr, 1972) . *
Nã o obstante, essa oxida çã o deve ocorrer após a dissoluçã o inicial desses produtos i
i
quando aplicados ao solo.
l
A incorpora ção de fontes de B em fertilizantes NPK é frequentemente praticada . A I
I
disponibilidade do B incorporado h ã o é afetada pelo m é todo de incorpora çã o,

FERTILIDADE DO SOLO
1
I
;
i
i

XI - MICRONUTRIENTES 709
í

Quadro 36 . Principais alterações de eficiência agronómica de algumas fontes de micronutrientes


quando incorporadas a fertilizantes simples, misturas granuladas e fertilizantes granulados

Fonte Misturado ou incorporado em Resultado

ZnEDTA Mistura com H 3PO4 antes da amonia çã o Decomposi çã o á cida do quelato e menor disponibi -
lidade de Zn

ZnEDTA Mistura com H 3PO4 ap ós a amonia çã o N ã o- decomposi çã o á cida do quelato e mai spo -
1 nibilidade de Zn

ZnS04 Incorpora çã o em ortofosfatos amoniados Baixa disponibilidade de Zn para as plantas


ou ZnO

ZnEDTA Incorpora çã o em ortofosfatos amoniados Nã o afetou a disponibilidade de Zn para as plantas

ZnS04 Incorpora çã o em superfosfato antes da amo - Diminui çã o da solubilidade do Zn - forma çã o de


nia çã o ZnNH 4 P04 insol ú vel

x Zn e Cu Incorpora çã o em superfosfato simples 90 e 50 % , respectivamente, sol ú veis em á gua após 7


dias . A maior parte das fra ções permaneceu no
gr â nulo de SSP apó s 1 ano
Zn ( NH 4 ) 2SC> 4, NH 4 NO3 e NaNCb Absorçã o de Zn pelo sorgo diminuiu pela or-
dem : pH 5, 0 > 6 , 0 > 7 , 3; pH do solo n ã o adubado: 7, 2

ZnSCh DAP Forma çã o de Zm (P04 ) 2 e ZnNEUPCX insol ú veis

ZnSCh ( NH4 ) 2S04 amónia anidra ou uré ia


/ Maior absorçã o de Zn por forrageiras e milho com o
í ( NH4) 2S04, independentemente do modo de aplica ção

ZnSCh Uré ia zincada (com 2 a 3 % de Zn) A lanço e incorporada , t ã o eficiente como ZnSQia
lanç o para o trigo

Fonte: Adaptado de Mortvedt (1991).

aparentemente porque os compostos de B nã o reagem quimicamente com a maioria dos


fertilizantes NPK. Entretanto, a absor çã o de B pelas plantas apresenta boa correlaçã o
com o teor de B sol ú vel em á gua nesses fertilizantes (Mortvedt, 1968) .
A colemanita (Ca2B6On .5H2G ) e o borato ( Na 2B407.5H20) foram igualmente eficientes
como fontes de B para algod ã o e girasssol, quando incorporados com fertilizantes NPK
(Rowell & Grant, 1975). Tanto a colemanita (solubilidade moderada ) quanto as "fritas"
com B (baixa solubilidade ) foram superiores aos boratos fertilizantes (solubilidade total
* em á gua ) para algodoeiro em solos arenosos sob condições de alta pluviosidade (Page ,
t
1956, citado por Mortvedt, 1991).
Segundo Mortvedt (1991), a incorpora çã o de Mo em fertilizantes fosfatados ou
fertilizantes NPK é uma prá tica de rotina, especialmente por serem pequenas as doses de
?
% Mo aplicadas (30 a 200 g ha 1 de Mo) . As poucas evid ências revelam que fontes de Mo
'

$
I
reagem com os componentes dos fertilizantes NPK para alterar a disponibilidade de Mo
S
para as plantas. Entretanto, a inclusão de Mo em fertilizantes com ( NH4) 2S04 ou outros
i
a sulfatos sol úveis parece diminuir a disponibilidade de Mo. Isto pode ser causado pela
3
natureza ácida desses sulfatos e pelos efeitos antagónicos dos sulfatos na absor çã o de
Mo pelas plantas.
â
J
1
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FERTILIDADE DO SOLO
l
il%
íI
nis
710 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

Revestimento de Fertilizantes NPK


Outra op çã o bastante eficiente para melhorar a uniformidade de aplica çã o de
micronutrientes é o revestimento de fertilizantes NPK, seja mistura de gr â nulos, misturas
granuladas e fertilizantes granulados, seja fertilizantes simples. Essa técnica foi
amplamente discutida por Lopes (1991), que cita uma sé rie de trabalhos desenvolvidos
no exterior sobre esse assunto.
O princípio dessa técnica é a mistura , a seco, da fonte de micronutrientes finamente
moída ( < 100 mesh ou < 0,15 mm ) com o fertilizante. Um agente agregante é pulverizado
sobre os grâ nulos à medida que eles são misturados com a fonte de micronutrientes em
pó. O material agregante promove a forma çã o de produtos de rea çã o na superf ície dos
grâ nulos ou age como um agregante f ísico. O ciclo total de mistura leva 3 a 5 min em
misturadores rotativos de pequena capacidade e um pouco mais em misturadores maiores.
O agente agregante deve ser barato, deve permanecer aderido ao fertilizante
granulado durante o manuseio e n ã o deve resultar em propriedades f ísicas indesejá veis,
como empedramento, dentre outras. Água, óleos, ceras, soluções de polifosfatos de amónio
ou UAN ( ur éia - nitrato de am ónio ) sã o alguns tipos de agregantes.
Óleos nã o devem ser colocados a misturas que contêm NH4 N03, por causa do perigo
de explosã o. Menos de 1 % em peso de ó leo deve ser usado com outras misturas para
prevenir que óleos leves escorram dos sacos que contêm os fertilizantes.
Solu ções com fertilizantes sã o preferidas como agentes agregantes, porque os teores
de garantia nã o diminuem de modo apreciá vel . É necessá rio cuidado na escolha do
agente agregante, porque alguns nã o retêm o revestimento com micronutrientes durante
o ensacamento, armazenamento ou manuseio, podendo resultar em segregaçã o das fontes
de micronutrientes e aplica çã o nã o- uniforme na lavoura .
De maneira geral, é de se esperar que a eficiência agron ó mica de micronutrientes
aplicados como revestimento de fertilizantes granulados solúveis seja semelhante àquela
dos micronutrientes incorporados aos fertilizantes granulados durante o processo de
fabrica çã o. As rea ções qu ímicas após a dissolução do fertilizante no solo e a distribuiçã o
dos micronutrientes aplicados devem ser semelhantes em ambos os mé todos.
Poucos trabalhos tê m sido desenvolvidos, nã o só no Brasil como no exterior, com a
finalidade de comparar a técnica de revestimento com outras. Tanto o ZnO como o
ZnS04 resultaram em produções semelhantes de ervilha nos v á rios mé todos de aplicaçã o
do fertilizante granulado NPK (Quadro 37) . A concentra çã o de Zn no tecido vegetal foi
superior no tratamento com ZnS04 granulado em mistura com fertilizante NPK granulado,
provavelmente por causa de menores taxas de rea ções químicas do ZnS04 com o
fertilizante NPK granulado ( Ellis et alf 1965) .
/

Ellis et al. (1965) relataram que ZnEDTA permaneceu sol ú vel em á gua, quando
aplicado junto com MnS04, como revestimento de fertilizante NPK; mas o Zn foi somente
42 % solúvel em á gua, quando ZnEDTA foi aplicado junto com MnO, como revestimento
do mesmo fertilizante NPK. As produções de ervilha foram também muito menores com
o último produto.

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 711

Quadro 37. Produçã o e teor de zinco em ervilha, considerando fontes de zinco e mé todos de
aplicaçã o com fertilizante NPK

Fonte de zinco M é todo de aplicaçã o Produ çã o Teor de zinco

kg ha - mg kg-1
1.230 20
ZnSCh Mistura 1.660 40
ZnSCh Incorporado 1.640 31
ZnSC> 4 Revestido 1.670 34
ZnO Incorporado 1.620 30
ZnO Revestido 1.670 26
DMS (0,05) 170 3

Fonte: Adaptado de Ellis et al. (1965 ).

A compara çã o de v á rios mé todos de aplica çã o de fontes de Zn com fertilizante NPK


granulado para a cultura do milho, no Zimbabwe, mostrou que a eficiência agronómica
relativa das fontes foi a seguinte, em ordem decrescente: ZnO revestido, ZnS04 incorporado
e ZnO incorporado. Revestimento com ZnS04 em pó nã o foi incluído no estudo de Tanner
& Grant (1973).
No Brasil, sã o raros os trabalhos de pesquisa em que é avaliado o efeito de fontes de
micronutrientes associados com formas de fabrica çã o de fertilizantes ( incorporadas aos
gr â nulos, revestindo os gr â nulos ou granuladas e misturadas aos grâ nulos NPK ) . Em
trabalho de casa de vegeta çã o com a cultura do milho, Korndõrfer et al. (1987) observaram
que, tanto o ZnO como o ZnS04, incorporados ou aplicados como revestimento de grânulos
da f ó rmula 5-30-15 para atingir 10 g kg 1 (1 % ) de Zn, apresentaram resultados
'

semelhantes em rela çã o à produçã o de matéria seca da parte a érea . Entretanto, mais


recentemente, em experimento de campo, doses de 1, 2 ou 4 kg ha 1 de Zn, nas formas de
'

ZnO e FTE, incorporados na f órmula 4-30-10, ou FTE granulado e misturado à mesma


f órmula, não mostraram diferenças de produçã o de milho, em relação ao tratamento sem
Zn. Os teores de Zn na folha, entretanto, foram maiores no tratamento com o ZnO
incorporado (Korndõrfer et al., 1995).

Via Adubação Fluida e Fertirrigaçãjo

Com o aumento do uso da adubaçã o fluida e da fertirrigaçã o, principalmente na


cana-de-açúcar, fruticultura, cafeicultura e olericultura, tem havido considerável aumento
da aplicaçã o de fertilizantes que contêm micronutrientes com fertilizantes com N, N-P
ou N-P-K.
Em rela çã o à aplica çã o de micronutrientes, via aduba çã o fluida, Mortvedt (1991)
ressalta os seguintes aspectos sobre a solubilidade das fontes, ponto da maior relevâ ncia:

- a solubilidade das fontes de Cu, Fe, Mn e Zn é maior nos líquidos claros na forma
de polifosfatos do que nos ortofosfatos;

FERTILIDADE DO SOLO
712 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

- a eficiência de ZnS04 ZnO ou ZnEDTA para o milho, em suspensões de ortofosfatos


/

ou polisfosfatos (16-40 % ), é semelhante à aplicação dessas fontes isoladamente.


Isto indica que essas fontes de Zn nã o reagem com essas suspensões de fosfato
para formar produtos de rea çã o n ã o disponíveis. A eficiência agron ó mica , tanto
do ZnS04 como do ZnO, foi maior em suspens ões de polifosfatos de alta
concentra çã o (75 %);

- os polifosfatos sequestram os micronutrientes metá licos de modo que eles podem


manter maiores concentra ções desses c á tions em solu çã o do que os ortofosfatos.
Os polifosfatos, entretanto, sã o instá veis no solo e hidrolisam-se para ortofosfato,
e, conseqiientemente, perdem suas propriedades de sequestro;

- a solubilidade da maioria das fontes de micronutrientes é baixa em soluções UAN


( 28 % de N ) . Por exemplo, a solubilidade do ZnS04.H20 foi 0,5 % de Zn e a do
Fe( N03) 3.9H20 foi 0,5 % de Fe (Silverberg et al., 1972). O pH resultante da solução
do fertilizante foi de 3,0. Quando o pH foi aumentado para 7,0 a 8,0, pela adiçã o
de NH4OH, a solubilidade do ZnS04 e do ZnO foi de 2 % de Zn e das três fontes de
Cu [Cu 20, Cu ( N03)2.3H20 e CuS04.5H20] foi de 0,5 % de Cu;

- considerando a alta solubilidade e a baixa dose a ser aplicada, tanto o B quanto o


Mo podem ser incluídos em fertilizantes fluidos, para corrigir as suas deficiências;

- embora a maioria dos quelatos sintéticos seja compatível com os fertilizantes fluidos,
complexos orgâ nicos de Cu, Fe, Mn e Zn podem não ser compatíveis com todos os
fertilizantes fluidos. Um teste de proveta, em que se observe a forma çã o de
precipitados, deve ser feito, utilizando as proporções desejadas do fertilizante
fluido e das fontes de micronutrientes, antes de se proceder à mistura para aplicação
no campo;
- os fertilizantes em suspensã o podem ser utilizados, se for desejá vel a aplica çã o de
doses maiores de micronutrientes. Nesse caso, as suspensões devem ser preparadas
logo antes da aplica çã o. Fontes na forma de pó ( < 60 mesh ou < 0,25 mm ) sã o
sugeridas para evitar entupimentos e garantir a permanência em suspensã o;

- para o caso específico da fertirrigação, recomenda -se trabalhar, normalmente, com


fontes de micronutrientes sol ú veis que formem líquidos claros, evitando o uso de
suspensões. Para essa finalidade e para o caso de adubos fluidos, são apresentados
dados com algumas informa ções importantes (Quadro 38). É recomend á vel
consultar uma tabela de compatibilidade entre fontes de macronutrientes primá rios
e secundá rios, quando a adubaçã o fluida ou fertirrigaçã o for realizada com vá rios
ou todos os nutrientes. O teste da proveta é sempre indispensá vel no caso de
d ú vida quanto ao comportamento dos v á rios produtos a serem misturados.

A grande vantagem desse sistema está no fato de ser factível variar as quantidades
de nutrientes a serem aplicadas de acordo com a menor ou maior demanda das culturas
em relaçã o às suas fases de crescimento e de desenvolvimento.

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 713

Quadro 38 . Informa çã o sobre solubilidade de v á rias fontes de micronutrientes geralmente


usadas para preparar soluções de fertilizantes fluidos e, ou, para aplica ção via fertirrigaçã o

Fonte Concentraçã o do elemento Forma °C Solubilidade

% g L-1
Bó rax 11 Na 2B4 O7.10 H 2O 0 21
Á cido bó rico 17,5 H3BO3 30 63, 5
Solubor 20 Na 2 Bg0 i 3.4 H 20 30 220
Sulfato de cobre (acidificado ) 25 CuS04.5H 20 0 316
Cloreto c ú prico (acidificado ) CUC12 0 710
Sulfato de ferro (acidificado ) 20 FeS04.7 H 20 156 ,5
Sulfato de manganês ( acidificado) 27 MnSC> 4.4 H 20 0 1.053
Molibdato de am ónio 54 ( NH 4 )6 MO7024.4 H 20 430
Molibdato de só dio 39 Na 2Mo04 6,8
Sulfato de zinco 36 ZnS04.7H 20 20 965
Quelato de zinco 5 -14 DTPA e EDTA Muito sol ú vel
Quelato de manganês 5 -12 DTPA e EDTA Muito sol ú vel
Quelato de ferro 4-14 DTPA , HEDTA e EDDHA Muito sol ú vel
Quelato de cobre 5 -14 DTPA e EDTA Muito sol ú vel
Lignosulfonado de Zn 6 Lignosulfonado Muito sol ú vel
Lignosulfonado de Mn 5-14 Lignosulfonado Muito sol ú vel
Lignosulfonado de ferro 6 Lignosulfonado Muito sol ú vel
Lignosulfonado de cobre 6 Lignosulfonado Muito sol ú vel

Fonte: Adaptado de Burt et al . (1995) .

Via Foliar

Assim como as raízes, as folhas das plantas têm capacidade de absorver os nutrientes
depositados em solu çã o em sua superf ície. Essa capacidade originou a pr á tica da
aduba çã o foliar, em que soluções de um ou mais nutrientes sã o aspergidas sobre a parte
a érea das plantas, atingindo principalmente as folhas ( Volkweiss, 1991) .
Durante o 2o Simpósio Brasileiro de Adubação Foliar, 1987, foram discutidos tópicos
específicos sobre a aduba çã o foliar, envolvendo respostas, fontes, doses, épocas e modos
de aplica ção para as mais diferentes culturas ( Boaretto & Rosolem, 1989), que sã o válidos
até hoje. Concluiu-se que a adubaçã o foliar com micronutrientes era um recurso efetivo
e económico no controle de deficiência em cafeeiro, citros e outras plantas frutíferas
perenes, podendo ser recomendada em programas de aduba çã o, desde que houvesse
controle das necessidades das plantas e se utilizassem produtos específicos. Para alguns
casos de culturas anuais e hortícolas, a aduba çã o foliar corretiva ou complementar tinha
dado bons resultados, podendo ser incluída nos programas de aduba çã o.
O fato de muitas recomenda ções oficiais de aduba çã o, em vá rios Estados do Brasil
como já discutido, incluírem a adubaçã o foliar para diversas culturas evidencia que, sob
certas condições, essa forma de aplica çã o de micronutrientes é de comprovada eficiência.
Alguns exemplos de sucesso na aplica çã o foliar sã o citados a seguir. Pulveriza ções
da cultura do milho com 0,6 e 1,1 kg ha 1 de MnS04.3H20 diluído em 150 L de água, no
'

está dio de quatro e oito folhas, atingiram, respectivamente, 8,23 e 8,49 t ha 1 de grãos, em '

FERTILIDADE DO SOLO
714 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

comparaçã o com 2,21 t ha 1 da parcela -testemunha (Quadro 39) ( Mascagni J únior & Cox,
"

1984). Da mesma forma , pulverizaçã o com ZnS04.7H20 (23 % de Zn) a 10 g L 1, aplicado "

na cultura do milho na terceira e quinta semana após a emergência, resultou na produção


de 6,64 t ha 1 em compara çã o com 3,88 t ha 1 no tratamento sem Zn, no primeiro cultivo.
" "

Repetiçã o desse tratamento no segundo e terceiro cultivos levou a produções próximas


ao má ximo, 7,35 e 7,47 t ha 1, respectivamente ( Quadro 40) (Galrã o, 1996 ).
'

Quadro 39 . Doses, n ú mero e é poca de aplica ções de manganês na cultura do milho

Dose*1) É poca de aplica çã o Produ çã o de gr ã os Peso da espiga

kg ha -i 4 folhas 8 folhas kg ha -i g
0,0 2.210 89
0,6 1 5.100 143 !

1,1 1 5.330 144


0,6 1 6.030 168
1 ,1 1 6.690 182
0,6 1 1 8.230 218
1 ,1 1 1 8.490 211

Sulfato de manganês dilu ído em 150 L de água ha 1. Teor de Mn no solo (Mehlich-3) = 2,8 mg dm 3; pH em á gua
(1 ) '

= 6,3.
Fonte: Adaptado de Mascagni J ú nior & Cox (1984 ).

Quadro 40. Rendimento de gr ã os de milho cultivado num Latossolo Vermelho argiloso, fase
cerrado, considerando os mé todos de aplicaçã o de zinco. Dados do três cultivos

Rendimento / Cultivo
Fonte Dose de zinco Mé todo Teor de zinco no solo
1-2 2-* 3-a

kg ha 1 *
mg dm 3 t ha 1
*

Testemunha 0,3 3.88 f 4, 23 d 4,56 c


Sulfato *1 ) 0,4 Lan ço (Io ano) 0,9 5,47 de 6,35 b
Sulfato* 1)
1/ 2 Lanço (Io ano) 12
/ 7,36 a 7,78 ab 7,62 a
Sulfato*1 ) 3,6 Lan ço (Io ano) 16
/ 7,40 a 7,90 a
Sulfato*1 ) 7,2 Lanço (Io ano) 2,4 7,20 ab 7,81 a
Sulfato*1) 12
/ Sulco (Io ano) 10
/ 5.89 cde 7,87 ab 7,43 a
Sulfato*1 ) 0,4 sulco (Io, 2o e 3o anos) 0,5 4,91 ef 7,14 b 7,09 ab
Óxido *2) 0,8 Sementes 0,4 6,15 bcd 7,68 ab 7,74 a
..L
Sulfato *3) 1% via foliar 0,4 6,64 abc 7,35 ab 7,47 a
Sulfato*4) 1% via foliar 0,5 7,18 ab 7,14 a

(1 )
Sulfato de zinco (23 % de Zn ). *2 ) Óxido de zinco (83 % de Zn): misturado na proporçã o de 1,0 de ZnO por 20 kg
de sementes umedecidas (15 mL de água por kg de sementes). (3) Soluçã o a 10 g L 1 de sulfato de Zn (23 % de Zn) na 3a
'

e 5a semana após a emergência. *4) Solução a 10 g L 1! de sulfato de Zn na 3a , 5a e 7a semana após a emergência.


'

Médias seguidas com a mesma letra, na coluna, nãò apresentam diferenças significativas pelo teste Tukey a 5 % .
Fonte : Adaptado de Galrã o (1996).

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 715

Rodrigues et al. (1996) encontraram m á ximas respostas à adubaçã o foliar com Mo


para a cultura do feijã o nas doses de 76 a 81 g ha 1 de Mo, usando como fonte
'

( NH4)6MO 7024.4H20 e aplica çã o aos 25 dias da emergência . O aumento na produção foi


de cerca de 500 kg ha 1. Resultados semelhantes foram obtidos por Amane et al. (1999 ),
'

em que as produções m á ximas de feijã o foram obtidas com doses de 70 a 100 g ha 1 de '

Mo, aplicadas por pulveriza çã o 22 dias após a emergência, sendo as maiores doses de
Mo combinadas com as menores doses de N.
Sfredo et al. (1996) obtiveram aumentos médios de produçã o de soja, variando de 20
a 36 %, em rela çã o ao tratamento apenas com inoculante, pela aplicaçã o de v á rios
produtos comerciais multinutrientes via adubaçã o foliar, em três locais no Estado do
Paraná . Os autores atribuíram esses resultados à presença do Mo nesses produtos. E
interessante notar que a aplica çã o somente de á gua , via foliar, nesses experimentos,
aumentou 19 % na produçã o.
Entretanto, a aduba çã o foliar, de maneira geral, nã o mostrou efeitos significativos
no aumento da produçã o de soja ( Borkert et al., 1979; Rosolem et al., 1981, 1982). Apenas
no caso do Mn, as aplicações foliares foram eficientes, sendo a recomendaçã o oficial
aplicar 480 g ha 1 de Mn (1,5 kg de MnS04.H20) diluído em 200 L de á gua com 1 kg de
'

uréia ( Embrapa, 1996 ). Acr éscimos em produtividade da 55 e 61 % foram obtidos na


cultura da soja, com pulverizações de 225 + 225 e 300 + 300 g ha 1 de Mn, nos está dios V4
'

e V8, respectivamente, usando produto comercial quelatizado com 10 % de Mn ( Mann,


1999 ). Os tratamentos com Mn aumentaram o teor de proteína e de óleo e a germinaçã o
e o vigor, principalmente após o envelhecimento. Dados mais recentes em experimento
desenvolvido em solo extremamente baixo em Cu (0,1 mg dm 3 de Cu ), porém, mostraram
'

que pulverizações com soluçã o de CuS04.5H20 (5 g L 1), aos 20 e aos 20 e 40 dias da


"

emergência de plantas de soja, levaram a rendimentos máximos, comparáveis às aplicações


via solo e via tratamento de sementes, por dois anos (Quadro 41) (Galrã o, 1999 ) .
Em comparação com as aplicações via solo, a adubação foliar apresenta as seguintes
vantagens e desvantagens:
Vantagens
- o alto índice de utiliza çã o, pelas plantas, dos nutrientes aplicados nas folhas;
- as doses de micronutrientes sã o, em geral, menores;
- as respostas das plantas sã o r á pidas, sendo possível corrigir deficiências após o
seu aparecimento, durante a fase de crescimento das plantas ("aduba çã o de
salva ção"), embora, em alguns casos, os rendimentos das culturas já possam estar
comprometidos (Volkweiss, 1991);
- é uma das formas mais eficientes de correçã o de deficiência de Fe em solos com pH
neutro ou alcalino.
Desvantagens
- a menos que possam ser combinadas com tratamentos fitossanitá rios, decorrentes
da baixa mobilidade da maioria dos micronutrientes, os custos extras de m últiplas
aplicações foliares podem ser altos;

I
I
FERTILIDADE DO SOLO
1
716 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

- o efeito residual é, no geral, muito menor;


- além de problemas estritamente de compatibilidade, a presença de um nutriente na
solu çã o pode afetar a absor çã o de outro, principalmente nas solu çõ es
multinutrientes.
Outro ponto que deve ser levado em conta é a quantidade de micronutrientes que
pode ser carreada para a lavoura com a aplica çã o de produtos fitossanitá rios. Muitos
desses produtos tê m, como princípio ativo, Cu, Mn, Zn, que, quando aplicados em doses
adequadas, podem contribuir para a correçã o parcial ou total de possíveis deficiências
desses micronutrientes . É recomend á vel, portanto, que o técnico que orienta os
agricultores se familiarize com a composiçã o qu ímica desses produtos fitossanitá rios
utilizados na lavoura .
Via Sementes
O tratamento de sementes é outra opçã o para a aplica çã o de alguns micronutrientes.
A uniformidade de distribuiçã o de pequenas doses que podem ser aplicadas com exatid ão
é uma das grandes vantagens desse mé todo de aplica çã o. É uma técnica de comprovada
eficiência na aplica çã o de Mo e també m de Co em leguminosas, com vistas na fixa çã o
simbiótica de N2. Sfredo et al. (1996) obtiveram aumentos mé dios de produ çã o de soja
que variaram de 18 a 37 % em rela çã o ao tratamento apenas com inoculante, quando
utilizaram v á rios produtos comerciá is multinutrientes aplicados via tratamento de
sementes, em três locais no Estado do Paraná . Os autores atribuíram esses resultados à
presença do Mo nesses produtos.
Além do Mo e Co, B, Cu, Mn e Zn já foram aplicados via sementes, muitas vezes com
resultados positivos (Ruschell et al., 1970; Santos et al., 1982; Mortvedt, 1985). Em geral,
tem-se preferência às fontes sol úveis de micronutrientes, mas há casos em que as fontes
menos solú veis ou mesmo insol úveis sã o usadas com bons resultados. Revestimento de
sementes de milho com 80 % de ZnO, 1 kg de ZnO por 20 kg de sementes, proporcionou
a produ çã o de 6,15 t ha 1 em compara çã o com 3,88 t ha 1 na parcela- testemunha . Esse
' '

efeito foi superior ao da aplica çã o de 1,2 kg ha 1 de ZnS04.7H20 no sulco de plantio, mas


'

inferior ao da mesma dose aplicada a lanço. Repetição do tratamento de sementes no 2o


e 3o cultivo propiciou rendimentos próximos aos má ximos (Quadro 40) (Galrã o, 1996).
Já o revestimento de sementes de soja com CuO apresentou tão bons resultados na
produção como a aplicação de CuS04.5H20 via solo (a lanço e no sulco) ou via aplicaçã o
foliar (Quadro 41) (Galrã o, 1999).
Entretanto, existem casos em que o tratamento de sementes com micronutrientes não
mostram efeitos positivos na produção; A aplicação de B, Cu , Mo e Zn, via tratamento de
sementes, nã o aumentou a produçã o de arroz ( Barbosa Filho et al., 1983a ).
Segundo Volkweiss (1991), existem três mé todos principais para aplicaçã o de
micronutrientes via sementes:
- umedecimento de sementes com soluçã o que conté m a quantidade desejada de
micronutriente;
- imersão das sementes, durante algumas horas, em solução de micronutrientes 10 a
20 g L 1;
'

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTR í ENTES 717

Quadro 41. Rendimento de gr ã os de soja, cultivada em um Latossolo Vermelho-Amarelo fase


cerrado, considerando os mé todos de aplicaçã o de cobre

Rendimento / Cultivo ** *
Dose Cu M é todo
Io 2o 3o

-t ha 1 '


0,0 kg ha 1 de Cu
*

2.32 a 2, 94 c 2,57 b
0, 4 kg ha 1 de Cu
'

Lan ç o, Io cultivo *1 * 2.30 a 3, 05 bc 2,67 b


1,2 kg ha 1 de Cu Io cultivo *1 * 2.31 a 3,44 a 3,22 a
*

Lan ç o,
2,4 kg ha 1 de Cu
'
Lan ço, Io cultivo *1 * . 2,36 a 3, 39 ab 3.13 a
4 ,8 kg ha 1 de Cu Io cultivo *1* 2,30 a 3, 41 ab 3.10 a
*

Lan ç o,
1,2 (3 x 0,4 ) kg ha 1 de Cu
'
Sulco (1 ) 2.33 a 3,43 ab 3.19 a
2,4 (3 x 0,8) kg ha 1 de Cu Sulco (1 ) 2.32 a 3,34 ab 3.20 a
*

5 g L -i Foliar (1 ) 20 DAE ( 3) 2,30 a 3,31 ab 3, 22 a


5 g L1
*

Foliar (1 ) 20 + 40 DAE ( 3) 2, 40 a 3,39 ab 3.11 a


798 g de Cu / kg semente Semente ( 2 ) 2, 25 a 3,38 ab 3.14 a
V
CV ( % ) 5,9 8,9 7,7

Sulfato de cobre pentahidratado. (2 ) Óxido de cobre. Í3) DAE = dias após a emergê ncia das plantas.
(1 )

Médias seguidas da mesma letra, em cada coluna, n ã o foram diferentes entre si, pelo teste Duncan a 5 % .
Fonte: Adaptado de Galr ã o (1999 ).

- peletiza çã o de sementes com carbonato de cá lcio, fosfato, goma ar á bica e


micronutrientes.

Via Raí zes de Mudas


Essa técnica consiste em fazer a imersão de raízes de mudas a serem transplantadas
em soluçã o ou suspensã o com um ou mais micronutrientes. O exemplo mais típico é o
caso da imersã o de mudas de arroz em soluçã o com ZnO a 10 g L 1, em sistemas de '

irriga ção por inundação, técnica de eficiência amplamente comprovada e rotineiramente


utilizada na Ásia, Egito e EUA. O ZnO, nesse caso, tem mostrado eficiência igual ou
superior à de fontes sol úveis (Mortvedt & Cox, 1985). Uma adapta ção a esse mé todo de
aplicação vem sendo adotada na cultura da mandioca para a regiã o dos cerrados, quando
nã o é possível aplicar Zn via solo. Nesse caso, Galrão (2002) recomenda a imersã o de
manivas de mandioca numa solu çã o de 40 g L 1 de ZnS04.7H20, durante 15 min.
'

Efeito Residual
O conhecimento do efeito residual de fertilizantes que contê m micronutrientes é de
fundamental importâ ncia para a definiçã o de doses e intervalo de reaplicaçã o. Esse é
um assunto complexo que envolve nã o apenas as fontes utilizadas, mas também as doses,
1 mé todos de aplica çã o, taxas de exporta çã o pelas culturas, manejo dos restos culturais,
tipos de solo e sistemas de produ çã o (agricultura convencional e plantio direto), dentre
outros. Infelizmente, no Brasil, poucos trabalhos têm sido desenvolvidos no campo por
quatro ou mais anos com vistas em avaliar o efeito residual dos tratamentos. Mar tens &
Westermann (1991) discutiram detalhes dos efeitos residuais de v á rias fontes de
micronutrientes com destaque para os seguintes aspectos:

FERTILIDADE DO SOLO

i
ii
\
\
718 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

- fertilizantes que contê m B apresentam maior efeito residual em solos com altos
teores de silte e argila em compara çã o com solos arenosos . Produtos com menor
solubilidade em á gua (colemanita e ulexita ) também apresentam maior efeito
residual;
- existem evidências de que a reversã o de fontes de Cu para formas não-disponíveis
para as plantas é baixa . Os intervalos para novas aplica ções de Cu podem ser
superiores a cinco anos, dependendo da sensibilidade das culturas e da severidade
da deficiência;
- aplica ções de fontes de Fe ao solo apresentam muito pouco efeito residual, porque
o íon Fe2+ é rapidamente convertido em Fe3+ em solos com boa aera çã o. Aplicações
de doses relativamente elevadas, em sulcos, podem ser eficientes por mais de um
ano em sistemas conservacionistas (cultivo mínimo e plantio direto);
- da mesma forma que para o Fe, as diferentes fontes de Mn apresentam pequeno
efeito residual, mesmo com a aplica çã o de altas doses (até 60 kg ha 1 de Mn na '

forma de MnS04.3Fl20) a lanço. Esses resultados confirmam a recomenda ção de se


utilizarem aduba ções no sulco e aduba çã o foliar para corrigir a deficiência de Mn;
- o efeito residual da aduba çã o com Mo depende das rea ções do Mo042 com os '

constituintes do solo, da quantidade de Mo lixiviada e das taxas de exporta ção da


cultura ou de remoção por animais em pastoreio. Em alguns casos, mesmo com
doses pequenas (0,1 kg ha 1 de Mb), o efeito residual pode chegar a mais de 10 anos;
'

- doses relativamente altas de Zn (25 a 30 kg ha 1 de Zn ) aplicadas a lanço podem


'

corrigir as deficiências por vá rios anos por causa da lenta reversã o do Zn para
formas nã o-disponíveis para as plantas;
- um resumo dos principais trabalhos relativos a efeito residual de micronutrientes,
citados por Martens & Werstermann (1991), é apresentado no quadro 42.

Quadro 42. Efeito residual de micronutrientes para diversas situações de fontes, modos de
aplica ção, tipo de solo e cultura

Dose e forma de aplica çã o Fonte Tipo de solo Cultura Resultado

2 kg ha- 1 B (a lanço ) Borato-65 Barrento Alfafa e trevo Suficiente B por 2 anos


1 ,1 kg ha 1 Cu CuSC> 4 Trigo Aumentou a produção até após 9 anos
5,5 kg ha ° Cu CuSCU Trigo Aumentou a produção após 12 anos
60 kg ha 1 Mn (a lanço) MnSCU Barrento Soja Inadequado para corrigir defici ência no
22 ano
30 kg ha 1 Mn (a lan ço ) MnSCUe Argiloso Soja Produ ções má ximas at é 2 anos após
oxissulfato
0,11 kg ha 1 *
Mo Barro-arenoso Pastagem Eficiente por 15 anos
0,14 kg ha 1 Mo Pastagem Efeito por apenas 1 ano
0,40 kg ha 1 Mo Podzó lico Diminuiu a deficiência até o 32 ano
0,28 kg ha - 1 Mo Trevo Efeito até após 8 anos
subterrâneo
28 kg ha 1 Zn (a lanço ) ZnSCh Correção da defici ência por 7 anos
34 kg ha 1 Zn (a lanço )
*
ZnSC> 4 Correção da defici ência por 4 a 5 anos
Fonte : Adaptado de Martens & Westermann (1991) .

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 719

No Brasil, foram desenvolvidos poucos experimentos de longa dura ção ( três ou


mais anos) com micronutrientes no campo, com objetivo de fazer inferências sobre o
efeito residual. Ressaltam-se, neste contexto, os trabalhos de Galrã o et al. (1978), Galrã o
& Mesquita Filho (1981) e Galr ã o (1984), os quais, alé m de avaliar o efeito imediato
( primeiro ano) da omissão de cada micronutriente sobre a produção de arroz no tratamento
completo, permitiram a avalia çã o intermediá ria para tr ês cultivos e o efeito residual até
seis anos. Nos três primeiros anos, apenas a omissã o de Zn reduziu a produçã o (Galrã o
& Mesquita Filho, 1981). No quinto e sexto cultivo, nã o existiram diferenças entre os
tratamentos. Outra conclusã o foi a de que a dose de 6 kg ha 1 de Zn, aplicada a lanço
'

apenas no primeiro cultivo, foi suficiente para manter boas produções nos seis cultivos
da sequência: arroz, arroz, milho, soja, milho e milho (Galrã o, 1984).
Destacam-se outras evidências do acentuado efeito residual de fertilizantes com Zn
nos solos de cerrado. A dose de 3 kg ha 1 de Zn na forma de ZnS04.7H20, aplicada a
'

lanço apenas no primeiro cultivo, foi suficiente para manter produções próximas ao
má ximo por, pelo menos, quatro colheitas consecutivas em Latossolo Vermelho argiloso
( Ritchey et al., 1986) . Entretanto, em Latossolo Vermelho-Amarelo argiloso, a dose de
1 kg ha 1 de Zn, aplicada a lanço em mistura com o superfosfato simples em pó, no
'

primeiro cultivo, foi suficiente para aumentar o rendimento de grã os, os teores de Zn do
solo e da folha de milho no quarto cultivo (Galrã o, 1995). Mais recentemente, Galrã o
(1996) concluiu que 1,2 kg ha 1 de Zn ( ZnS04.7H20), aplicado a lanço no primeiro cultivo,
'

foi suficiente para propiciar rendimentos má ximos de milho para três cultivos. Todavia,
quando aplicado no sulco de semeadura apenas no primeiro cultivo, ou parceladamente
(0,4 kg ha 1 de Zn por cultivo), o rendimento má ximo de gr ã os foi alcançado apenas a
"

partir do segundo ano. Outro aspecto importante dos trabalhos de Galrã o (1995, 1996)
foi permitir, ainda, estabelecer os níveis críticos de Zn no solo para os extratores á cidos
(HC1, Mehlich-1 e Mehlich-3) e o DTPA, além do nível crítico deste micronutriente na
folha do milho.

Demanda de Micronutrientes pelas Culturas

Em geral, existe grande varia ção na ocorrência de deficiências de micronutrientes


em rela çã o às mais diferentes culturas . Malavolta et al. (1991) d ã o uma visã o geral da
frequência do aparecimento de deficiências dos micronutrientes por cultura no Brasil
(Quadro 43) . A escala usada pelos dutores varia de 1 a 10, sendo 10 para as culturas com
maiores probabilidades de ocorrência da respectiva deficiência. Deficiências acentuadas
de B são bastante comuns no cafeeiro e nas brássicas (repolho), e as de Cu, no cafeeiro, na
cana -de-a çúcar e em citros. Deficiências de Fe sã o pouco comuns nos diferentes solos e
culturas brasileiras, cabendo destaque apenas o abacaxi. Citros é também muito propenso
a mostrar deficiência de Mn e Zn. Deficiências de Mo são bastante comuns nas brássicas
( repolho), no cafeeiro e no feijoeiro. Na cultura do arroz, as deficiências de Zn sã o
bastante acentuadas.
No Brasil, ainda não foram verificados sintomas de deficiência de Cl, possivelmente,
em consequência das constantes adições de KC1 como fonte de K, além do sal cíclico,

FERTILIDADE DO SOLO

1
720 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

Quadro 43. Frequência do aparecimento de deficiências dos micronutrientes por culturas no


Brasil

Cultura B Cu Zn Mn Fe Mo

Abacaxi 10
Algodoeiro 3 3
Alho 7
Amendoim 3
Arroz 2 2 10
Batata 5
Cacaueiro 5 6 3
Cafeeiro 10 8 10 1 5 1
Cana - de -a çú car 2 8 n 4 2
Cebola 4
Citros 6 7 10 10 1
Couve-flor 10 10 •c.

Eucalipto 4 4
Feijoeiro 3 2 3
Girassol 3 2
Gram í neas forrageiras n
Leguminosas forrageiras 3 n
Leucena 1
Macieira 3 3
Mamoeiro 4
Mandioca 7 2
Mangueira 1
Maracujazeiro 2
Melã o 3
Milho 1 7
Pereira 4
Pessegueiro 4
Pinus 4 5
Repolho 7
Seringueira 2 2 6
Soja 3 6 5
Sorgo 7 7
Tomateiro 5 6
Trigo 3 10 8
Videira 4 2

10 = maior frequ ê ncia; n = n ú mero nã o definido.


Fonte : Adaptado de Malavolta et al. (1991 ) .

proveniente do oceano, nas regiões pr óximas ao litoral (Orlando Filho et al., 2001).
Entretanto, as palmá ceas, como o coco e o dend ê, sã o especialmente sensíveis às
deficiências de Cl.
í
O requerimento de Cl para o crescimento ó timo das culturas é, em m é dia , de 1,0 a
8,0 kg ha 1 (Srivastava & Gupta, 1996). Admitindo 1,0 mg kg 1 de Cl na matéria seca da
' '

parte a érea como teor crítico, Marschrier (1995) cita 4 a 8 kg ha 1 de Cl como a faixa de
'

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 721

requerimento das culturas. Segundo esses autores, essa exigência é facilmente atendida
pela á gua da chuva . De acordo com a literatura são mais comuns problemas de toxidez
do que de deficiência de Cl . ^
Outro aspecto importante a ser levado em conta, com o objetivo de se fazer reposiçã o
adequada de micronutrientes por meio das aduba ções, é conhecer o ac ú mulo e a
exportaçã o deles pelas culturas. Esse aspecto é ainda mais relevante, quando se pensa
em seguir a estratégia de reposiçã o, descrita anteriormente. Um resumo do ac ú mulo e
exporta çã o de micronutrientes, tomando por base vá rios trabalhos desenvolvidos no
Brasil para culturas de cereais e de batata, é apresentado no quadro 44. Os valores
correspondentes ao acúmulo referem-se à quantidade do nutriente contida na parte aérea
das culturas, incluindo os grã os e os tubé rculos, no caso da batata, enquanto os valores
da exporta çã o representam a quantidade do nutriente contida somente nos grã os e
tubérculos, respectivamente. Tais valores, correspondentes à extra çã o e exportaçã o,
referem-se à média ponderada, ou seja, foi considerado o n ú mero de dados encontrados
em cada referência . Por exemplo, se um autor apresenta em seus dados a média de dois
cultivares, atribui-se peso 2 para estes valores, raz ã o por que algumas m édias
apresentadas podem ser diferentes das obtidas cOm o uso direto dos valores dos quadros.
Em relaçã o às plantas de cobertura, tanto de verã o como de inverno, componentes
essenciais para a sustentabilidade do sistema plantio direto, verifica -se grande varia çã o

Quadro 44. Ac ú mulo e exporta çã o de micronutrientes em cereais e batata

Cultura B Cu Zn Mn Fe Mo

g t-i
Feijã o Ac ú mulo 66, 3 19, 9 49, 8 175, 8 431 ,2
Exporta çã o 13, 3 9, 9 31 , 6 17, 7 86, 7 1,69

Soja Ac ú mulo 77 26 61 130 460 6, 5


Exporta çã o 22,0 13, 0 37, 7 33, 7 134, 3 5, 0

Milho Ac ú mulo 18, 0 10, 0 48,4 42, 8 235,7 1,0


Exporta çã o 3,2 1, 2 27, 6 6,1 11,6 0,6

Trigo (sequeiro) Ac ú mulo 19,9 6,2 19,8 106,1 374,0


Exporta çã o 2,9 3, 0 14,8 13,0 13,9

Trigo ( irrigado ) Ac ú mulo • 32,1 12,1 56,2 179,6 1131 , 9


Exporta çã o 5 ,1 5, 4 36, 0 26,8 43,4

Batata Ac ú mulo 1,5 4, 9


Exporta çã o 1 ,5 1.7 3, 7 2 ,1 39,8 0,12

Arroz (irrigado) 0) Ac ú mulo 17,9 9,5 79, 9 133,5 268,5 0, 3


Exporta çã o 4,4 6 ,1 35,9 30, 6 62,1 0, 2

Arroz (irrigado) < 2 ) Ac ú mulo 15, 2 168,4 335,9 683,2


Exporta çã o 9, 0 57,3 67,2 102,5

Sorgo Ac ú mulo 100 73 162 340 1.893 2, 7

(1 )
Irrigação constante . (2) Irrigação intermitente .
Fonte : Adaptado de Pauletti ( 2004) , citando vá rios autores .

FERTILIDADE Dò SOLO
722 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .

no ac ú mulo de micronutrientes (Quadros 45 e 46). Conhecendo esses valores, fica mais


f á cil estabelecer um programa adequado de fornecimento de micronutrientes nos vá rios
possíveis sistemas de rota çã o e, ou, Sucessã o de culturas. Em rela çã o ao acú mulo de
micronutrientes em plantas forrageiras, existem dois complicadores para entendimento
da dinâ mica de micronutrientes (Quadro 47). O primeiro é que se deve considerar se é
realizado o pastoreio ou o corte com retirada de material da á rea para fornecimento aos
animais e a quantidade ingerida por eles. No caso de pastoreio, ocorre reposiçã o parcial
dos nutrientes à superf ície do solo por meio das fezes e da urina do animal, enquanto, no
trato no cocho, a reposição depende do transporte dos dejetos da esterqueira até o terreno.
O segundo é que a composiçã o mineral das forrageiras varia com a idade da planta, nã o
existindo regra para tal varia çã o (Pauíetti, 2004) .

Quadro 45. Ac ú mulo de micronutrientes na maté ria seca e rela çã o C / N em espécies de verã o
para cobertura do solo
-
a

Espécie Cu Zn Mn Rela çã o C/N

g *-i
Mucuna cinza P > 16 28 183 21 ,1
Mucuna preta 0 ) 14 ! 29 174 21,1
Mucuna preta (2> 19 29 145
Mucuna an ã 0 ) 9 85 179 16,4
Crotal á ria juncea 0 ) 14 44 179 18,1
Crotalá ria mucronata P > 13 35 111 15,7
Crotalá ria spectabilis 0 ) 8 ; 23 126 23,4
Crotal á ria breviflora 0 ) 17 31 81 14,5
Crotal á ria grantiana 0 ) 10 28 73 19,2
Guandu 0 ) 7 22 87 21,6
Guandu (2) 27 26 94
Feijã o-de-porco 0 ) 9 62 254 15,7
Feijã o bravo do Ceará 0) 4 14 17 20,6
Feijã o mungo 0 ) 10 78 127 25,1
Caupi 0) 17,3
Lab-lab 0 ) 10 33 143 18,3
Leucena 0) 45 14,8
Amendoim rasteiro 0) 11 49 77
Indigófera 0 ) 13 24 53 18,6
Calopogônio 0 ) 9 15 172 21,6
Kudsu 0 ) 11 27 155 14,7
Soja perene 0 ) 8 32 102 17,3
Centrosema 0 ) 10 32 67 20,3
Crotal á ria striata 0 ) 10 31 584 15,2
Gallo et al. (1974); Kluthcouski (1982) e Chaves j(1989) citados por Calegari (1995). (2) Borkert et al. (2003).
(1)

Fonte: Adaptado de Paulleti (2004), citando vá rios autores.

FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 723

De qualquer forma, verifica -se considerá vel absorçã o e ac ú mulo de Fe e Mn tanto


pelas gramíneas quanto pelas leguminosas, valores intermediá rios para Zn e B, pequenos
valores para Cu e valores extremamente baixos para Mo e para Co (Quadro 47) .

Quadro 46 . Produ çã o de maté ria verde, maté ria seca, ac ú mulo de micronutrientes e relaçã o
C / N em espécies de inverno para cobertura do solo

Esp écies Matéria verde Matéria seca Cu Zn Mn Rela çã o C/N

_
t ha 1 ancr1 g t 1 de mat é ria seca
Chicharo*1 ) 20-40 2-4,5 11 22 52 18,8
Aveia preta *1 ) 15-45 2.5-7 7 11 102 36,3
Aveia preta *2) 4-18 9 21 286
Aveia branca *1 ) 15-35 2.5-4,5 6 9 138 47,6
Azev é m *1 ) 16-30 2-6 9 23 214 44, 2
Centeio *1 ) 12-35 2-4,5 6 15 53 36,5
Girassol *1 ) 20-40 2-4 18 31 96 22, 2
Espérgula *1 ) 15-40 1,5-6 11 44 136 25,1
Ervilhaca peluda *1 ) 14 -35 3-6 9 26 61 18,7
Ervilhaca comum *1 ) 12-35 2-5,5 9 24 87 18,6
Ervilhaca *2) 4-6,5 10 32 69
Serradela *1 ) 20-45 2-6 13 59 97 22,4
/ Nabo forrageiro*1 ) 20-60 2-6 8 49 84 11, 6
Tremoço branco*1 ) 30-40 3-5 12 57 330 14,8
Tremoço amarelo *1 ) 15-28 3-4 14 66 359 14,4
Tremoço azul *1 ) 13-50 3-4 13 24 230 19,4
Tremoço*2) 6-14 21 42
Ervilha forrageira *1) 15-28 3,9-4,5 22 8 102 19,0

Calegari (1990), citado por Derpsch & Calegari (1992). (2 ) Bõrkert et al. ( 2003).
(1 )

Fonte: Adaptado de Pauletti ( 2004) citando v á rios autores.

Quadro 47 . Ac ú mulo de micronutrientes na maté ria seca de forrageiras

Forrageiras Fe Cu Zn B Mn Mo Co

g t1 '

Gram íneas
Coloni ão *1 ) 124 7 21 15 90 0,83 0,06
Elefante*1) 178 10 40 25 179 0,53 0,1
Setaria *1) 99 5 37 18 272 0,28 0,06
Kikuiu *1 ) 106 5 28 23 137 0,83 0,05
Festuca *1 ) 109 4 26 14 228 0,27 0,03

Leguminosas
Trevo*1 ) 303 3 26 38 69 0,22 0,07
Comichã o*1 ) 152 3 33 33 81 1 0,07
Alfafa *2) 205,5 10,3 32,5 35,7 41,0 1,1 0,13

Gallo et al. (1974), citados por Malavolta et al. (1986). (2) Sá ' & Petrere (1991).
(l )

Fonte: Adaptado de Paulleti (2004) citando vá rios autores.

FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES

José Carlos Alcarde17

1/
Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" ESALQ.
Caixa Postal 9, CEP 13418- 900 Piracicaba (SP ) .
jcalcard @ esalq . usp . br

•5

Conte ú do

INTRODUÇÃ O : 738

CONCEITO DE FERTILIZANTE OU ADUBO 739


CLASSIFICAÇÃO DOS FERTILIZANTES 739
Natureza do Nutriente Contido 739
Fertilizantes Nitrogenados 739
Fertilizantes Fosfatados ;.. 740

Fertilizantes Potássicos 741


Fertilizantes Cá lcicos 741
Fertilizantes Magnesianos 741
Fertilizantes Sulfurados 742
Fertilizantes com Micronutrientes 742
Critério Químico 742
Fertilizantes Minerais 742
Fertilizantes Orgâ nicos 743
Fertilizantes Organominerais 743
Critério Físico 744
Sólidos 744
i
Líquidos ou Fluidos 2 .
744
Gasosos 744
CARACTER ÍSTICAS DOS FERTILIZANTES 744
Características de Natureza Física 745
Estado Físico 745
Granulometria 745

• í

í
f SBCS, Vi çosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds . NOVAIS, R . F., ALVAREZ V., V.H., BARROS,
N.F., FONTES, R . LF., CANTARUTTI, R . B. & NEVES, J .C.L . ) .

h
l
í
738 JOS é CARLOS ALCARDE

Consistência ou Dureza dos Grâ nulos 750


Fluidez 751
Densidade ! 751
Caracter ísticas de Natureza Qu ímica t 752
Nú mero de Nutrientes 752
Forma Qu ímica dos Nutrientes 752
Concentraçã o dos Nutrientes 753
Compostos Indesejá veis 754
Poder Acidificante e Alcalinizante dos Fertilizantes 755
Incompatibilidade Qu ímica entre Fertilizantes 756
Caracter ísticas de Natureza Físico-Qu ímica 756
Solubilidade 756
Higroscopicidade 757
Empedramento 759
í ndice Salino 760
CONTROLE DE QUALIDADE DOS FERTILIZANTES MINERAIS 760
Pela Ind ústria 760
Pelo Poder P úblico: Legislaçã o e Fiscaliza ção 761
Pelo Consumidor 762
PRODUÇÃO DE FERTILIZANTES MINERAIS 762
MISTURA DE FERTILIZANTES 763
Legisla çã o sobre o Assunto 763
Cá lculos de Misturas 764
LITERATURA CITADA 766

INTRODUÇÃ O

As plantas, para viverem e produzirem, necessitam de luz, ar, á gua, temperatura


adequada e dos seguintes elementos minerais denominados nutrientes: N, P, K, Ca, Mg,
S, B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Zn, Cl e Ni. Esses elementos, mais C, H e O, presentes no ar e na
á gua, constituem os elementos essenciais aos vegetais. Para as leguminosas, inclui-se
também o Co como nutriente benéfico (veja capítulo III). Por isso, uma planta cresce e
desenvolve-se perfeitamente em solução nutritiva, isto é, em á gua contendo os nutrientes
em concentrações suficientes e na presença de luz, ar e temperatura adequada (Cometti
et al., 2006). Portanto, o solo é essencial, mas nã o imprescindível à vida das plantas.
Todavia, é de fundamental importâ ncia para o cultivo das plantas em escala maior,
porque serve para abrigar e fixar as plantas, armazenar e suprir á gua e todos aqueles
-r
elementos essenciais à vida vegetal.
Em rela çã o ao suprimento de nutrientes, os solos podem ser pobres ou ricos e os
solos ricos podem ser empobrecidos com o decorrer da exploraçã o agrícola. A função
dos adubos ou fertilizantes é aportar nutrientes aos solos para suprir as necessidades
das plantas.
í

FERTILIDADE DO SOLO

I
XII - FERTILIZANTES 739

CONCEITO DE FERTILIZANTE OU ADUBO


i
Fertilizante ou adubo é um produto mineral ou orgâ nico, natural ou sinté tico,
supridor de um ou mais nutrientes à s plantas .
É interessante citar aqui também o conceito de condicionador ou melhorador de
solo: são produtos capazes de promover o melhoria das propriedades f ísicas (porosidade,
aera çã o, capacidade de retençã o de á gua, etc.), f ísico-químicas (capacidade de troca de
cá tions - CTC, poder tampã o) ou biológicas dos solos. Nesses termos, pode-se conceituar
os fertilizantes como melhoradores das propriedades químicas do solo, ou de seu
conteú do de nutrientes.

CLASSIFICA ÇÃ O DOS FERTILIZANTES


Os fertilizantes sã o classificados com diversos crité rios, todos com sua devida
importâ ncia .

Natureza do Nutriente Contido


Fertilizantes Nitrogenados
I

Que têm N como nutriente principal (Quadro 1).

Quadro 1. Fertilizantes minerais nitrogenados

Fertilizante ( Fonte ) Obten çã o Caracter í stica Teor

Amónia anidra Rea çã o entre o N 2 atmosf é rico e o H de N - NH 3 82 % N


(NH3) gases de petró leo
Aquam ônia Rea çã o de am ónia anidra ( NH3) corh á gua N -NIV 16-21 % N
( NH3 + H2O)
Nitrato de potá ssio Reação NaNO? com KC1 -
N NO 3 '
13 % N
( KNO3) 44 % K 2O
Nitrato de sódio Rea ção do HNO3 com NaOH N - NO3 '
16 % N
( NaNO?)
Nitrato de amónio Rea çã o de Ca ( N 03) 2 com ( NH 4)2C03 50 % de N - NH 4* e 34 % N
( NH 4 NO3) 50 % de N - N 03 ’

Sulfonitrato de am ónio Rea çã o NH4NO3 25 % N - NCV 25-26 % N


( NH 4) 3 SO4.NO3 + (NH 4 )2S04 75 % N-NlV 13-15 % S
Cloreto de am ónio Rea çã o de HC1 com am ónia N -NH4+ 25 % N
( NH 4 CI) 62-66 % Cl
Nitrato de cá lcio Reação do HNO3 com CaO ou CaC03 N - N03 com até ‘
14 % N
+
(Ca ( N 03) 2) 1,5 % de N -NH 4 18-19 % Ca
Sulfato de am ó nio Reação de H 2SO4 com aquam ônia N -NH 4 + 20 % N
! 24 % S
(( NH 4) 2S04 )
Uréia (CO( NH2) 2) NH? + C02 sob pressã o N-am í dico 45 % < 1 >
Cá lcio-cianamida Fixaçã o de N 2 em carbureto de Ca CN22 e até 3 %
'
21 % N
(CaCN 2) (CaC2) a 1.000 °C N -NCX 27 % Ca
Nitrocá lcio Reação de HNO3 com calcá rio N - NO3' 22-27 % N
4-15 % Ca, 0-4 % Mg

Teor de biureto menor que 1,5 % para aplica çã o no solo e menor que 0,3 % para aplicaçã o foliar.
(1 )

Fonte: Brasil ( 2007) .

FERTILIDADE DO SOLO
740 JOSé CARLOS ALCARDE

Também os fertilizantes orgâ nicos apresentam o N como nutriente principal


(Quadro 2) .

Quadro 2 . Fertilizantes orgânicos nitrogenados

Fertilizante Um á x. pHH 2omirí. CO min. N min. CTC C/N m á x. CTCyCO

% % emole dm 3 *

Esterco bovino 25 6 30 1 44 20 1/2


Esterco de aves 25 6 15 15 / 39 20 2,5
Torta de oleaginosas 15 39 5
Farinha de peixe 15 28 4
Turfa, lenhita e leonardita 32 6 25 4 30 2,8

U - umidade; CO = carbono orgâ nico; N = nitrogénio total; CTC = capacidade de troca de cá tions.
Fonte: Brasil (2007).

Fertilizantes Fosfatados
Que têm P como nutriente principal (Quadro 3).

Quadro 3. Fertilizantes minerais fosfatados

Fertilizante ( Fonte ) Obtençã o Caracter í stica Teor

Fosfato natural ( FN ) Beneficiamento de FNs = 4 % sol . em ácido cí trico a 2 % 24 % P2O5 total


(apatitas) (ou 20 g L 1 ), rela ção (1 :100) 23-27 % Ca
[Caio(P04) 6. [ F2; (OH ) 2; CO3] < peneira 0, 075 mm; rocha í gnea ou
metam órfica

Fosfato natural reativo Beneficiamento de FNs 10 % sol . em á cido c í trico a 2 % (ou 27 % P2Os total
(fosforitas) 20 g L 1 ) , relaçã o (1:100); farelado;
'
30-34 % Ca
( Ca , o ( PO< ) 6 . [ F2; (OH ) 2; CO3] rocha sedimentar

Ácido fosf ó rico (H 3PO4) FN + H 2S04 Fluida 54 % P2O5

Superfosfato simples Reação de FN com H 2S04 P 2O5 sol ú vel em 18 % P2Os


[Ca ( H 2P04 ) 2 . H20 + CNAO ) + H 2O; 16 % sol. em H20 18-20 % Ca
CaS04.2 H201 18 -20 % Ca 11 -12 % S 11 -12 % S
Superfosfato triplo Reaçã o de H 3 PO4 P2Os sol ú vel em 44 % P2Os
(Ca ( H 2 P04 ) 2 . H 20) com FN • CNA + H 20; = 37 % sol . em H 2Q 14 % Ca
Fosfato monoam ônico - MAP Rea çã o de H 3PO4 com P2O5 sol ú vel em 9%N
( NH 4 H 2PO4 ) am ónia CNA + H 20; = 44 % em H 2O 48 % P2Os
Fosfato diamônico - DAP Rea çã o de H3PO4 com P205 sol ú vel em 16 % N
[( NH4) 2 HPO4 ] amónia CNA + H 2Q; = 38 % em H 2Q 45 % P2Os
Fosfato monopotá ssico Reaçã o de H 3PO4 com P2O5 e K 20 sol ú veis em H 2O 51 % P2Os
( KH2P04) KOH 33 % K 2Q
Nitrofosfato Reaçã o de FN com HNO3 P2O5 sol ú vel em 14 % N
CNA + H 20; = 14 % em H 2Q 18 % P2O5
8-10 % Ca

Fosfato decantado Tratamento dei efluentes P2O5 total; = 9 % P2O5 sol ú vel em 14 % P2O5
da produ çã o de H 3 PO4 CNA + H 2O
= 14 % Ca
Termofosfato magnesiano Fusã o FN + compostos P2O5 total; = 14 % sol . 17 % P2Os
magnesianos e sifcicos á cido c í trico a 2 % , relaçã o (1:100) 7 % Mg
18 -20 % Ca

Citrato neutro de am ónio.


(1)

Fonte: Brasil (2007).

FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 741

Fertilizantes Potássicos
Que têm o K como nutriente principal (Quadro 4).

Quadro 4 . Fertilizantes minerais pot á ssicos

Fertilizante ( Fonte ) Obtençã o Caracter ística Garantia m í nima

Cloreto de potássio ( KCl ) Jazidas; obtido por dissoluçã o K 2O sol ú vel em H 2O 58 % K 2O


seletiva e flota çã o 45-48 % Cl
Sulfato de pot á ssio K 2SO4 Reaçã o KCl com H2SO 4 K 2O sol ú vel em H 2O 48 % K 2O
15 % S
Nitrato de potá ssio (KNO3) KCl com HNO3 K 2O sol ú vel em H 2O 44 % K 2O
12 % N

Fonte : Brasil ( 2007).

I
Fertilizantes Cálcicos
Que tê m o Ca como nutriente principal (Quadro 5).

Quadro 5 . Fertilizantes minerais cá lcicos

Fertilizante ( Fonte ) Obten çã o Caracter ística Teor

Carbonato de cá lcio (CaCOs) Rocha calcá ria calcí tica Ca total (corretivo da acidez ) 36 % Ca
Óxido de cá lcio (CaO) Calcina çã o de calcita Ca total (corretivo da acidez) 64 % Ca
Hidróxido de cá lcio [Ca (OH) 2] Hidró lise do CaO Ca total (corretivo da acidez ) 48 % Ca
Cloreto de cá lcio Rea çã o de HC1 com CaO Ca sol ú vel em H 20 24 % Ca
(CaCh.2H 20) = 43 Cl
Nitrato de cá lcio [Ca ( N03) 2] Reaçã o de HNO3 com CaQ Ca sol ú vel em H 2O 14 % N
18-19 % Ca
Sulfato de cá lcio (CaS04.2H 20) Subproduto da fabrica çã o de Ca e S totais 17-20 % Ca
H 3PO4 ! 14-17 % S

Fonte : Brasil ( 2007).

Fertilizantes Magnesianos
Que têm o Mg como nutriente principal (Quadro 6) .

Quadro 6. Fertilizantes minerais magnesianos

Fertilizante ( Fonte ) Obtençã o Caracter ística Teor

Carbonato de magn ésio Mineral magnesita Mg total (corretivo da acidez) 25-27 % Mg


( MgCO ),
Óxido de magnésio (MgO) Calcina çã o da magnesita Mg total (corretivo da acidez ) 45-54 % Mg
Sulfato de magnésio Rea çã o do H2SO4 com MgÓ Mg sol ú vel em H 2O 9 % Mg
(MgS04.7H20) 12-14 % S
Cloreto de magnésio Rea çã o de HC1 com MgO Mg sol ú vel em H 2O 10 % Mg
( MgCl 2.6H20) 34 % Cl

Fonte : Brasil ( 2007).

FERTILIDADE DO SOLO
742 JOS é CARLOS ALCARDE

Alguns produtos contém Ca e Mg sendo considerados fontes destes dois nutrientes


e corretivos da acidez do solo . Entre estes, há os calcá rios magnesianos e dolomíticos,
com teores variá veis de Ca e Mg . A calcina çã o desses produtos irá produzir os óxidos de
Ca e de Mg e, quando hidratados, irã o constituir-se em hidróxidos de Ca e Mg.

Fertilizantes Sulfurados
Que contêm o S como nutriente principal (Quadro 7)

Quadro 7. Fertilizantes minerais que contê m enxofre


*
Fertilizante ( Fonte ) Obtençã o Caracter í stica Teor

Enxofre elementar (S°) Extra çã o a partir da pirita; subproduto de gá s natural S total 95 % S


e do carv ã o mineral
Fonte : Brasil ( 2007) .

O S participa como nutriente secund á rio em diversos fertilizantes como fonte


principal de macronutrientes como o á ulfato de amó nio e o superfosfato simples ou de
micronutrientes, como o sulfato de zinco ( veja capítulo X ) .

Fertilizantes com Micronutrientes


Com um ou mais micronutrientes:
Esta lista é muito grande e com características químicas diversas para as diversas
fontes. Sobre isto, e com um detalhamento adicional sobre uso e manejo de diversas
fontes, entre outros, deve-se recorrer ab capítulo XI deste livro. Informações detalhadas
sobre esses fertilizantes contendo micronutrientes sã o também encontradas em Brasil
(2007).
Muitos dos fertilizantes minerais com micronutrientes estã o associados a outros
nutrientes como N, P, S, etc.; porém, o micronutriente é considerado o principal nutriente,
embora o outro nutriente possa estar, até mesmo, em maior teor. Exemplo: polifosfato de
ferro e amónio, com 22 % de Fe, 55 % de P2Os e 4 % N; o nutriente principal é o Fe.

Critério Químico
Fertilizantes Minerais
Sã o os fertilizantes constitu ídps de compostos inorgâ nicos , S ã o tamb é m
considerados fertilizantes minerais aqueles constitu ídos de compostos orgâ nicos
(compostos que contêm C ) sintéticos oú artificiais, como a uréia - CO( NH2) 2 e aqueles na
forma de quelatos.
Os fertilizantes minerais se subdiyidem em três classes:
Fertilizantes simples: sã o os fertilizantes constituídos, fundamentalmente, de um
composto químico, contendo um ou maís nutrientes, quer sejam macro ou micronutrientes,
ou ambos. São exemplos: uréia, sulfatjo
de am ónio, superfosfato simples, superfosfato

FERTIIIIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 743

triplo, fosfato monoamônico (MAP ), fosfato diamônico ( DAP), cloreto de K, ácido bórico,
sulfato de Zn e numerosos outros. Existem divê rsos fertilizantes minerais simples para
cada espécie de nutriente. Há mais de uma centena de fertilizantes minerais simples
reconhecidos oficialmente pela legisla çã o brasileira, como aqueles já relacionados (Brasil,
2007) .
Fertilizantes mistos ou misturas de fertilizantes: sã o os fertilizantes resultantes da
mistura de dois ou mais fertilizantes simples.

Fertilizantes complexos: sã o fertilizantes resultantes de processo em que se formam


dois ou mais compostos qu ímicos, fontes de nutrientes para as plantas . Sã o também
misturas, mas produzidas com a participa çã o de maté rias-primas (amônia - NH3, á cido
sulf ú rico - H2S04, á cido fosf ó rico - H3P04), as quais d ã o origem a compostos químicos
como sulfato de amónio - ( NH4 ) 2S04, fosfato monoamônico (MAP) - NH4H2P04, fosfato
diam ônico ( DAP) - ( NH4 ) 2HP04, em seus grâ nulos.

Fertilizantes Orgâ nicos


Sã o os fertilizantes constituídos de compostos orgâ nicos de origem natural, vegetal
ou animal. Em geral, têm baixa concentra çã o de nutrientes. Sã o v á rios os fertilizantes
orgânicos reconhecidos oficialmente pela legisla çã o brasileira (Quadro 2).
Comparando os conceitos de fertilizante e de condicionador de solo, verifica-se que
os materiais orgâ nicos se enquadram muito melhor no segundo, pois sua a çã o é muito
mais eficaz no aumento da porosidade, aera çã o, retenção de á gua, atividade microbiana
e capacidade de retençã o de cá tions, do que como fornecedor de nutrientes (veja capítulo
VI) . Isto porque os materiais orgâ nicos contêm nutrientes em muito baixas concentrações,
necessitando-se de grandes quantidades desses produtos para funcionarem como
fertilizante. E isso fica limitado pela disponibilidade do produto e pelo custo,
principalmente do transporte.
Assim, é evidente que os produtos orgâ nicos desempenham muito mais as funções
de condicionador do solo e muito pouco as funções de fertilizante, enquanto os produtos
minerais desempenham efetivamente as funções de fertilizante.
Essa distinçã o é muito importante porque é incorreta a comparaçã o dessas duas
classes de produtos como fertilizantes: os produtos orgâ nicos certamente ser ã o
prejudicados, e poderã o ser desacreditados, quando na verdade deve-se fazer uso de
todo o material orgâ nico de que se puder dispor resguardados, principalmente, os casos
^
de presença de metais pesados em teores potepcialmente tóxicos (Abreu J ú nior et al.,
2005; Guilherme et al., 2005), devido à sua furjçã o de condicionador e ao aumento na
eficiência dos fertilizantes minerais. Por outrp lado, essa distinçã o de funções serve
também para desmistificar o cará ter de agrotóxico que, por pura ignorâ ncia, não raro é
atribuído aos fertilizantes minerais, o que certamente tem sido bastante negativo à
agricultura brasileira (Alcarde et al., 1989a ). 1

Fertilizantes Organominerais
Sã o ps fertilizantes resultantes da mistura de fertilizantes orgâ nicos e minerais. O
objetivo dessas misturas é aumentar o teor de nutrientes dos materiais orgâ nicos e

FERTILIDADE DO SOLO
744 JOS é CARLOS ALCARDE

aumentar a eficiência dos fertilizantes minerais. Apesar de sua aplicabilidade ser restrita
a poucas situa ções, porque só se consègue produzir essas misturas com concentra ções
relativamente baixas, tanto do componente orgâ nico como do mineral, o seu uso vem
crescendo (Abreu J ú nior et al., 2005).

Critério Fí sico
Sólidos
Sã o os fertilizantes que se apreseintam no estado sólido e estã o subdivididos em
duas classes:
Pó ou farelado: quando as partículas são na forma de pó ou tem pequenas dimensões.
; +

Granulado: quando as partículas sã o de dimensões que permitem caracterizar um


grâ nulo. Nesta classe, as misturas de fertilizantes apresentam peculiaridades próprias:
i

• Misturas de grâ nulos ou misturas de granulados: sã o as obtidas pela simples


mistura de dois ou mais fertilizantes Simples previamente granulados. Sã o misturas
f ísicas e caracterizam-se por apresentapr os nutrientes contidos em grâ nulos distintos.
• Misturas granuladas: sã o as obtidas pelamistura de dois ou mais fertilizantes
simples em pó e sua posterior granulaçã o, ou sã o obtidas de uma mistura complexa e
posterior granula çã o. No primeiro caso, sã o também misturas f ísicas e, no segundo,
misturas químicas, mas ambas caractérizam-se por conter, em cada grâ nulo, todos os
nutrientes garantidos na mistura .

Líquidos ou Fluidos
São os fertilizantes que se apresentam no estado líquido. Estã o subdivididos em
duas classes:
Soluções: são os fertilizantes líquidos que se apresentam na forma de soluções
verdadeiras, isto é, isentas de material sólido.
Suspensões: são os fertilizantes líqúidos que se apresentam na forma de suspensões,
isto é, uma fase sólida dispersa num mèio líquido.
i
Gasosos
Sã o os fertilizantes que se apresentam no estado gasoso, nas condições normais de
temperatura e pressã o. O único fertilizante que se apresenta nesta forma é a amónia
anidra, pouco usada no Brasil em aplica çã o direta no solo.

CARACTER í STICAIS DOS FERTILIZANTES


As características dos fertilizantes podem ser divididos em: de natureza f ísica, de
natureza química e de natureza f ísico-química. Todas elas determinam a qualidade do
produto (Alcarde & Rodella, 2003).

FERTILIIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 745

Caracterí sticas de Natureza Fí sica

Grande parte dos problemas com a qualidá de dos fertilizantes está relacionada com
suas características f ísicas e ou f ísico-químicas. A preferência pelo consumidor de um
fertilizante em rela çã o a outro de mesma composiçã o decorre, quase sempre, de suas
I

características f ísicas e f ísico-químicas, as quais podem ser diretamente avaliadas pela


observaçã o do produto. Muitos procedimentos de produçã o, incluindo-se v á rios tipos
de tratamento de condicionamento, foram desenvolvidos para melhorar as caracter ísticas
f ísicas e f ísico-químicas.
Ao contrá rio das caracter ísticas químicas, as caracter ísticas f ísicas e f ísico-químicas
dos fertilizantes sã o muito pouco ou quase nada previstas pela legisla çã o oficial.

Estado Físico

Fertilizantes sã o empregados predominantemente na forma sólida. Quanto ao estado


gasoso, o ú nico fertilizante assim empregado é a amónia anidra. O emprego de soluções
e suspensões de fertilizantes é de uso relativamente recente no Brasil, e bastante restrito,
tendo-se expandido a partir da aplica çã o da aqua -amônia, solução de amónia a 16-21 %
N, na cultura da cana -de-a çúcar nos anos 80, incluindo, posteriormente, suspensões
(fertilizantes fluidos) contendo P e K.

Granulometria

Uma característica importante dos fertilizantes sólidos é a granulometria . Ela é


determinada pelo tamanho e pela forma de suas part ículas, sendo expressa ,
quantitativamente, por meio dos resultados de úma análise granulométrica. Esta análise
consiste, basicamente, em fazer passar uma massa conhecida do produto por uma sé rie
de peneiras com tamanho de abertura de malha decrescente. Pesando-se a massa retida
em cada peneira, expressa -se cada fra çã o em termos percentuais.
De acordo com a granulometria, os fertilizantes sólidos podem-se apresentar na
forma de pó, farelado ou granulado.
A granulometria de um fertilizante pode ser o fator chave de sua eficiência
agronómica . E o que ocorre com fosfatos de rocha, cuja solubilidade no solo aumenta
com a diminui çã o do tamanho de suas partícúlas até um valor de 0,15 mm, abaixo do
qual nã o se tem mais ganho expressivo de solubilidade ( Khasawneh & Doll, 1978). O
elevado grau de moagem do produto, contudo, torna -o um pó excessivamente fino
causando problemas durante sua aplicação, que levaram a granular o fosfato moído com
uma fonte solúvel, usado por pouco tempo e hojè abandonado. Como alternativa tem-se,
atualmente, o fosfato natural reativo farelado. Por outro lado, os fertilizantes sol úveis
são geralmente mais eficientes na forma granulada, cujo exemplo mais marcante é o
fertilizante fosfatado.
Outra grande vantagem da granulaçã o é a maior facilidade de aplicação, sendo esta
a principal razão pela qual predominam no metcado fertilizantes granulados.

FERTILIDADE DO SOLO
744 JOS é CARLOS ALCARDE

aumentar a eficiência dos fertilizantes minerais. Apesar de sua aplicabilidade ser restrita
a poucas situa ções, porque só se consegue produzir essas misturas com concentra ções
relativamente baixas, tanto do componente orgâ nico como do mineral, o seu uso vem
crescendo (Abreu J ú nior et al., 2005) .

Critério Físico
Sólidos
Sã o os fertilizantes que se apresentam no estado sólido e estã o subdivididos em
duas classes:
Pó ou farelado: quando as part
ículas são na forma de pó ou tem pequenas dimensões.
*

Granulado: quando as partículas sã o de dimensões que permitem caracterizar um


grâ nulo. Nesta classe, as misturas de fertilizantes apresentam peculiaridades próprias:
• Misturas de gr â nulos ou misturas de granulados: sã o as obtidas pela simples
mistura de dois ou mais fertilizantes simples previamente granulados. Sã o misturas
f ísicas e caracterizam-se por apresentar os nutrientes contidos em grâ nulos distintos.
• Misturas granuladas: sã o as obtidas pelamistura de dois ou mais fertilizantes
,
simples em pó e sua posterior granula çã o ou sã o obtidas de uma mistura complexa e
posterior granulaçã o. No primeiro caso, sã o também misturas f ísicas e, no segundo,
misturas químicas, mas ambas caracterizam-se por conter, em cada gr â nulo, todos os
nutrientes garantidos na mistura .

Lí quidos ou Fluidos j

Sã o os fertilizantes que se apresentam no estado líquido. Estã o subdivididos em


duas classes:
Soluções: sã o os fertilizantes líquidos que se apresentam na forma de solu ções
verdadeiras, isto é, isentas de material sólido.
Suspensões: são os fertilizantes líquidos que se apresentam na forma de suspensões,
isto é, uma fase sólida dispersa num meio líquido.
Gasosos
Sã o os fertilizantes que se apresentam no estado gasoso, nas condições normais de
temperatura e pressão. O único fertilizante que se apresenta nesta forma é a amónia
anidra, pouco usada no Brasil em aplica çã o direta no solo.

CARACTER ÍSTICAS DOS FERTILIZANTES


As características dos fertilizantes podem ser divididos em: de natureza f ísica, de
natureza química e de natureza f ísico-qjuímica. Todas elas determinam a qualidade do
produto (Alcarde & Rodella, 2003). i

FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 745

Características de Natureza Fí sica

Grande parte dos problemas com a qualidade dos fertilizantes está relacionada com
suas características f ísicas e ou f ísico-químicas. A preferência pelo consumidor de um
fertilizante em rela çã o a outro de mesma composiçã o decorre, quase sempre, de suas
características f ísicas e f ísico-químicas, as quais podem ser diretamente avaliadas pela
observa çã o do produto. Muitos procedimentos de produçã o, incluindo-se v á rios tipos
de tratamento de condicionamento, foram desenvolvidos para melhorar as características
f ísicas e f ísico-químicas.
Ao contrá rio das caracter ísticas químicas, as caracter ísticas f ísicas e f ísico-químicas
dos fertilizantes sã o muito pouco ou quase nada previstas pela legisla çã o oficial.

Estado Físico

Fertilizantes são empregados predominantêmente na forma sólida. Quanto ao estado


gasoso, o ú nico fertilizante assim empregado é à amónia anidra . O emprego de soluções
e suspensões de fertilizantes é de uso relativamente recente no Brasil, e bastante restrito,
tendo-se expandido a partir da aplica çã o da aqua-amô nia, solução de amónia a 16-21 %
N, na cultura da cana -de-a çúcar nos anos 80, incluindo, posteriormente, suspensões
(fertilizantes fluidos ) contendo P e K.

Granulometria

Uma característica importante dos fertilizantes sólidos é a granulometria . Ela é


determinada pelo tamanho e pela forma de suas part ículas, sendo expressa ,
quantitativamente, por meio dos resultados de ú ma análise granulométrica. Esta análise
consiste, basicamente, em fazer passar uma massa conhecida do produto por uma série
de peneiras com tamanho de abertura de malhá decrescente. Pesando-se a massa retida
em cada peneira, expressa -se cada fraçã o em termos percentuais.
De acordo com a granulometria , os fertilizantes sólidos podem-se apresentar na
forma de pó, farelado ou granulado. ;
A granulometria de um fertilizante pode ser o fator chave de sua eficiência
agronómica. É o que ocorre com fosfatos de rocha, cuja solubilidade no solo aumenta
com a diminuição do tamanho de suas partículas até um valor de 0,15 mm, abaixo do
qual nã o se tem mais ganho expressivo de solubilidade ( Khasawneh & Doll, 1978). O
elevado grau de moagem do produto, contudo, torna -o um pó excessivamente fino
causando problemas durante sua aplicação, que levaram a granular o fosfato moído com
uma fonte solúvel, usado por pouco tempo e hoje abandonado. Como alternativa tem-se,
atualmente, o fosfato natural reativo farelado. Por outro lado, os fertilizantes sol úveis
sã o geralmente mais eficientes na forma granulada, cujo exemplo mais marcante é o
fertilizante fosfatado.
Outra grande vantagem da granula çã o é a maior facilidade de aplicação, sendo esta
a principal razão pela qual predominam no mercado fertilizantes granulados.

FERTILIDADE Dó SOLO
746 Jo
^ É CARLOS ALCARDE
As misturas de grâ nulos apreseritam vantagem sobre as misturas granuladas por
permitirem uma maior flexibilidade no preparo de f ó rmulas, segundo a necessidade do
agricultor . Contudo, conforme será dikcutido a seguir, diversos problemas relacionados
com os atributos dos fertilizantes sã o minimizados pela produçã o de mistura granulada
ou de fertilizante complexo. Em geral, fertilizantes mistos granulados ou complexos,
onde cada grâ nulo contém todos os putrientes garantidos, apresentam granulometria
mais uniforme que as misturas de gr â hulos.
Como consequência da composiçã o granulom é trica desuniforme, os fertilizantes
sólidos podem apresentar o fenô meno da segregação, ou seja, a separaçã o das partículas
componentes de uma mistura de fertilizantes por ordem de tamanho. O fator que mais
favorece esse processo é a desuniformidade de tamanho das partículas. Tome-se, como
exemplo, uma mistura fertilizante N-K 18-00-36, para a qual cada tonelada ser á
constituída por 400 kg de uréia e 600 kg de KC1. As partículas de KC1, normalmente com
formato irregular e de tamanho maior que as partículas esf éricas de uréia, fazem com que
estas tendam a se depositar no fundo de sacas e ca çambas, enquanto que o KC1 fica na
parte superior. Desta forma, durante a adubaçã o, a mistura que está sendo aplicada às
plantas poder á ter composiçã o bem diferente de 18-00-36. Em geral, mas nã o
obrigatoriamente, o problema é mais acentuado em mistura de grânulos que em misturas
granuladas e ocorre durante o processo de produção, transporte, amostragem para análise
e na aplica çã o do fertilizante.
Os mais diferentes tipos de formula ções NPK sob a forma de mistura de grâ nulos
podem apresentar evidências de segrega çã o, quando a eleva çã o do teor de um nutriente
em rela çã o ao teor garantido, ocorre às custas do abaixamento de outro (Quadro 8).
Resultados obtidos em aná lise de rotina para a mistura 18-00-36, empregada na
cultura da cana -de-a çú car na regiã o de Piracicaba, foram discutidos por Rodella &
Alcarde (1994 ). Ao se correlacionarem os resultados das determina ções de N e K 20
obtidos na análise química de diferentes amostras daquela mistura, obteve-se uma reta a
qual evidencia a ocorrência da segregarã o (Figura 1).

Quadro 8 . Resultados obtidos em aná lise de rotina de amostras de fertilizantes ( misturas de


gr â nulos), evidenciando o efeito de segrega çã o dos seus constituintes

Teores garantidos N P 2O 5 K 2O

O/
/0

5-25-25 4,8 22,5 26, 6


0-20-20 21,5 18,5
.?

30-0- 20 31,8 17, 6


5 -30-20 4, 7 29,2 19,8
5-30-20 4,4 1 27,5 22, 3
5 -30-20 4, 3 28,2 24,2
5 -30-20 4,6 r 28, 6 20, 3
5-30-20 4,5 29,0 22, 7

Fonte: Rodella & Alcarde (2000) .

FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 747

É necessá rio ressaltar que o problema causddo pela segrega ção não é minimizado
’v
pelo fato da queda no teor de um nutriente ser Compensada pelo aumento no teor de
outro. Isso pôde ser avaliado ao se considerar a fertilização da cultura da cana-de-
açúcar no ciclo dè soqueira. Embora a cana normalmente responda à aplicação de N e
K20 neste ciclo, a intensidade de resposta é diferente para cada nutriente, conforme
evidenciado pelos coeficientes da regressã o ajiistada à curva de resposta, obtida em -
experimento de campo (Figura 2): há um evidente efeito negativo da aplicaçã o de K sobre
j

a produtividade da cana . Observa-se que o aumejnto da quantidade aplicada de K20 por


uma dose de mistura de grâ nulos de f órmula 18-0-36, se dá às custas de uma diminuição -
da quantidade aplicada de N, que tinha maior eficiência que o K em aumentar a
produtividade da cana .

•(

Figura 1. Rela ção entre os teores de N e K20 determinados em diferentes amostras de uma
mesma mistura de grânulos de f órmula 18-0-3ót evidenciando a ocorrência de segrega çã o.
Fonte: Rodella & Alcarde (1994). - •

•/

7 ' . 7:,.
. :‘ > '

-

Figura 2. Produtividade de cana -de-açúcar para uma mesma dose de mistura de grânulos
18-0-36, em consequência do desbalanceamento entre os nutrientes N e K20 provocado
pela segregação.
Fonte: Rodella & Alcarde (1994). I

FERTILIDADE Dó SOLO
748 JOSé CARLOS ALCARDE

A segrega ção dificulta particular mente a obtençã o de amostras representativas ao


influenciar a coleta , o processo de redu ção da quantidade amostrada e a medida de uma
massa do fertilizante para an á lise. Carvalho (1995 ) , trabalhando com uma mistura de
grâ nulos de f órmula 4-14-8, determinou a contribuiçã o de cada etapa da marcha analí tica
na variãncia dos teores de N, P e K e detectou, també m, uma ampla variação na composição
qu í mica do produto dependendo da fra çã o g ta nu lo m étrica considerada (Quadro 9 ) ,
Durante a aplica çã o do produto no campo, Popp & Ulricch (1985a ) verificaram que
adubadeiras que distribuem fertilizante por a çã o da for ça centr ífuga n ã o foram adequadas
para misturas de gr â nulos, mas esse tipo de fertilizante, desde que n ã o sofresse segrega çã o
durante o transporte, foi aplicado sem maiores problemas por equipamentos com
dosadores volum é tricos , que sã o aqueles predominantes no mercado brasileiro
Baiastreire & Coelho, 1992) . Por outro lado , aduba d eiras por a ção centr ífuga nã o
apresentam problemas para aplicar misturas granuladas .
Popp & Ulricch ( 1985b) mostraram a variaçã o que ocorre na distribuiçã o no solo de
-
Lima mistura de gr â nulos de f órmula 15-15 15 por uma adubadeira por a çã o centr ífuga
( Figura 3) . A f ó rmula nominal é 15-15-15, mas ao longo da faixa de aplicação a f ó rmula
efetivamente aplicada tem composiçã o variada . As maiores concentra çõ es de KC1 nas
extremidades da faixa de aplica ção podem ser explicadas pela maior densidade e pelo
maior tamanho das part ículas desse fertilizante,
A segrega çã o prejudica particularmente a uniformidade dos teores de
micrpnutiientes, quando uma quantidade relativamente pequena da fonte, em geral na

Quadro 9- Determina çã o dos teores de H, PnO e K ,0 em diferentes frações graruilométricas de


uma mistura de grânulos de f órmula 4-14 ^ 6

Iffligem da fra çã o Malha Rctcn çi o X Pa03 KiO

mm %

4,00 031 3,95 7,31 30,10

2,35 47 r 68 2,97 12,56 8,80

2rW 21 ,26 3,11 13, 24 5,27

l .W 24,73 3, 88 12,38 7,54

1,00 1 ,35 9PCH] 7r 71 16,80

030 136 9r 3íl 6, 76 17,80

0,42 0,49 10,10 7,11 14,80

Fundo 2,12 7,11 6,08 6,01

Fonte: Carvalho ( 1995 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 749

Figura 3. Varia çã o nos teores de N, P2Os e K 20 de 1 uma f ó rmula 15-1515, aplicada por uma
adubadora centr ífuga, em funçã o da distâ ncia á partir do centro de aplica çã o.
Fonte : Adaptado de Popp & Ulriceh (1985b ) . j

forma de pó, é adicionada às misturas de gr â nulos (Smith, 1960). Para minimizar este
problema, atualmente o micronutriente está sendo incorporado aos grâ nulos de um dos
fertilizantes simples componente da mistura de gr â nulos ( normalmente nos
superfosfatos).
Apesar de os problemas de segrega çã o ser m maiores nas misturas de grânulos,
^
isso nã o pode ser tomado como regra . O controle de qualidade eficiente das matérias-
primas que entram na composiçã o dessas misturas, permite obter produtos de boa
qualidade no aspecto f ísico (segrega çã o) . Há dois critérios que auxiliam nesse controle
de qualidade, ambos baseados na composiçã o gf anulomé trica das matérias-primas que
devem entrar na mistura:
a ) critério TV A (Hoffmeister, 1973): compara a distribuição granulomé trica das
matérias-primas, tendo por base as seguintes regras:
- geralmente sã o fisicamente compatíveis matérias-primas que não difiram em mais
de 10 % ao longo da distribuiçã o granulomé trica; I

- uma diferença maior na regiã o dos grâ nulos pequenos não afeta tanto a segrega çã o
quanto a mesma diferença na regi ã o dos gr â nulos maiores;
- matérias-primas que difiram em 20 % ou mais em qualquer região tem grande
tendência a segregaçã o.
b) critério CFI (CFI, 1982): é um critério de origem canadense e utiliza as seguintes
propriedades:
- SGN ("Size Guide Number"), nú mero guia qu de referência de tamanho; é o tamanho
m édio das partículas, isto é, o tamanho de partícula que divide o produto em duas
metades iguais: uma cujas partículas sã o menores e outra cujas partículas são
maiores que o referido n ú mero guia . Esse r ú mero é calculado em milímetros, até a

FERTILIDADE DOí SOLO


750 JOS é CARLOS ALCARDE

segunda casa decimal e multiplicado por 100. Um produto com SGN = 220
corresponde a 2,20 mm e significa que metade do produto tem partículas menores
e outra metade tem partículas maiores de 2,20 mm .
- UI ("Uniformity Index "), índice de uniformidade do produto: é a rela çã o entre o
tamanho (em mm ) das partículas menores e o tamanho das partículas maiores
expresso em percentagem. Assim, um produto com UI = 100% significa que todas
as partículas têm o mesmo tamanho; UI = 50% significa que as partículas menores
têm metade do tamanho das partículas maiores. Uma alternativa dessa propriedade
é o Va ( varia çã o média do tamanho das part ículas) ( EBA, 1997).
I

Uma combina çã o estatística entrè os valores de SGN e de UI ou de SGN e de Va das


matérias-primas que se pretende misturar, fornece o índice de Qualidade da Mistura
(Mixture Quality Index - MQI), que indica a probabilidade de ocorrer ou não segregação.
Perfect et al. (1998) criticam este critério e propõem outro, denominado sistema Rosin-
Rammler, ao que parece ainda pouco é xperimentado.
Finalmente, deve-se considerar que pelo fato de as matérias-primas utilizadas no
Brasil serem, em parte, importadas, o uso desses critérios pode ficar dificultado, a menos
que se exija do fornecedor das maté rias- primas o atendimento à s especifica ções
granulométricas.
i
Consistência ou Dureza dos Grânul ós
• j

Consistência significa o grau de dureza ou resistência à quebra ou à abrasã o (atrito


com formaçã o de pó) do grâ nulo de fertilizante. Quando os grâ nulos sã o fr á geis, ocorre
a quebra e, ou, a formação de pó, que resulta em partículas desuniformes.
O m é todo mais simples para á valia çã o da dureza consiste em determinar a
resistência individual de gr ã os de diâ metro similar à aplicação de pressã o (Hoffmeister,
1979; TFS, 1980; FM, 1996) . Podem er usados neste teste equipamentos diversos ou
^
mesmo nenhum. Um grã o que pode sè r esmagado entre os dedos pode ser considerado
como frágil; se ele pode ser amassado pela pressã o do dedo contra uma superf ície dura
terá dureza m édia e, se sair intacto, será considerado como duro.
Fertilizantes com dureza menor 1 que 1,4 kg / grão para grãos retidos entre 7 e 8
"meshes" de diâ metro sã o considerados muito fracos para um manuseio sem problemas,
sendo desejá veis valores acima de 2,3 kg / grã o (Quadro 10).

Quadro 10 . Valores de dureza para fertilizantes nitrogenados

Dureza
Fertilizante
Valor m é dio Faixa d è varia çã o

g / gr ã o
Nitrato de am ó nio 1.371 998 -1.568
Fosfato monoam ô nico ( MAP) 3.734 1.505-5.724
Fosfato diam ô nico ( DAP) 2.686 1.616 -5.349

Fonte : Ultraf é rtil (folheto de divulga çã o dos produtos).


I

FERTIILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 751

Fluidez

É a capacidade de livre escoamento pelos sistemas mecâ nicos de aplicaçã o e se


relaciona com a eficiência da distribuiçã o dos fertilizantes. Ao se observar que o
reservatório de uma adubadora tem fertilizante; mas este nã o flui, é muito prová vel que
esteja ocorrendo a forma çã o de t ú neis.
i

A tendê ncia de escoamento dos fertilizantes é avaliada pela propriedade â ngulo áe


repouso, que é o â ngulo formado pela linha lateral de um "montinho" de fertilizante,
ítal (Figura 4). O método de determinação
escoado livremente de um funil, e o plano horizor
é simples e faz uso de uma caixa de material acr ílico ( transparente) (Hoffmeister, 1979;
TFS, 1980; FM, 1996).

Figura 4. Ângulo de repouso.

Quanto menor o â ngulo de repouso, maior a| fluidez. Produtos com escoamento livre
apresentam â ngulo de repouso entre 30 e 35 graus. Quanto maior a umidade do produto,
maior o â ngulo de repouso e menor a fluidez ( puz, 1993).

Densidade

É a propriedade que relaciona massa e volume do produto. O conhecimento da


densidade é importante no dimensionamento de á reas de armazenamento e de
embalagens. Como exemplos de densidade, podem ser citados os valores da uréia,
1,33 kg dm 3; fosfato diam ônico, 1,78 kg dm 3 e KC1, 1,99 kg dm 3. Mé todos para a
' ' '

determinação da densidade estão descritos em Hpffmeister (1979), TFS (1980) e FM (1996).


A densidade tem influência na distâ ncia de lançamento da partícula em adubadoras
centrífugas (Quadro 11). Para PIoffmeister et ál. (1964), o efeito da densidade é muito
pequeno na segregaçã o de misturas de grâ nulos. Os autores chegaram a esta conclusã o
trabalhando com uma mistura constituída por 37 % em peso de nitro-fosfato de amónio,

^
com densidade 1,27 kg dm 3, e 63 % de superfos ato triplo, com densidade 2,12 kg dmr3,
'

materiais esses que tiveram o tamanho de suas partículas equalizado entre 8 e 10


"meshes" antes da mistura . !

FERTILIDADE DO SOLO
752 JOS é CARLOS ALCARDE

Quadro 11. Efeito da densidade e do tamá nho de partícula sobre a distâ ncia de lançamento por
uma adubadora centr ífuga

Densidade ( kg dm -3 )
Tamanho da part í cula
1,0 1,5 2,0

mm Dist â ncia de lançamento ( m)

1 3, 30 4,10 4,80

2 4,5 5,10 5,40

3 5,10 5,60 5,80

Fonte: Popp & Ulricch (1985a ) .

Características de Natureza Química

N úmero de Nutrientes

Um fertilizante pode conter um, dois ou v á rios macronutrientes prim á rios,


secundá rios e micronutrientes: sã o os fertilizantes simples e misturas. Sã o especiais as
condições de cultivo em que apenas um nutriente é necessá rio, como no parcelamento e
na correçã o de deficiência nutricional, por exemplo. O normal é a necessidade de vá rios
nutrientes e as misturas, nesse aspecto, apresentam grandes vantagens no trabalho de
aplica çã o. j

Forma Química dos Nutrientes

Dependendo do nutriente, ele pode se apresentar nos fertilizantes sob diferentes


formas químicas. O K, por exemplo, é q caso mais simples, pois ele é encontrado apenas
na forma iônica, K +, fornecida sobretudo como KC1 e, raramente, como K2S04, K2Mg(S04) 2
ou KN03. Como esses sais sã o sol úveis em á gua, o comportamento do K no solo é
praticamente invariá vel com rela çã o à fonte empregada.
Já o N pode ser aplicado ao solo em diferentes formas: amoniacal: NH4+ e NH3;
nítrica, N03 ; amídica, NH2 e protéicaL Al é m do mais, essas formas uma vez no solo,
sofrem transforma ções acentuadas em um espa ço de tempo relativamente curto.
Com rela çã o ao P, ele é aplicado basicamente como espécies protonadas do íon
fosfato H2P04 OU HP042 OU até mesmo H3P04. A concentraçã o total das formas
' '

adicionadas ao solo vai depender estritamente da solubilidade da fonte empregada


(Quadro 12).

FERTIIJIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 753

Quadro 12. Principais componentes de alguns fertilizantes fosfatados

Fraçã o sol ú vel


Fertilizante P2O5 total Principal Secund á rio
em á gua

Superfosfato simples -
18 20 - 85 Ca (H 2P04) 2.H 20<1 > CaHP04; fosfato de Fe ( Al ) e Ca

.i
Superfosfato triplo 42-46 - 87 Ca ( H 2 PO4) 2-H 2O0 > CaHP04; fosfato de Fe ( Al ) e Ca
Fosfato monoam ô nico
( MAP)
52-55 - 100 NH4 H 2PC> 4 Fosfato de Fe ( Al ) e Ca

Fosfato diam ô nico ( DAP) 42-46 - 100 ( NH 4 ) 2HP04 Fosfato de Fe ( AI ) e Ca


Termofosfatos -
17 18 <1 Ca 3(P04) 2 ( 2) Ca 3( P04) 2.CaSi 04
Ca 3( P04) 2.MgSi 04
Fosfatos naturais 28-30 <1 Calu(PC>4)6[F2; (OH)2; C03] 5Ca 0.6Al 203.4 P205.18H 20

\
Fosfato monocá lcico. (2) Fosfato tricá lcico.
(1 )

Fonte : Resumido de Alcarde (1979) .

Concentração dos Nutrientes


Os fertilizantes minerais apresentam uma vantagem bastante atraente do ponto de
vista econó mico, que é poderem apresentar elevadas concentra ções de nutrientes,
resultando em menores custos de armazenamento, transporte e aplicaçã o por unidade
de massa de nutriente. Essa é uma caracter ística tã o marcante, que torna pouco
interessante, técnica e economicamente, a utiliza çã o em larga escala de fertilizantes
orgâ nicos, apesar das vantagens, já comentadas, que estes poderiam apresentar.
O emprego de fertilizantes mais concentrados pode causar problemas com rela çã o
aos macronutrientes secund á rios principalmente e aos micronutrientes. O emprego, em
larga escala, da uréia (45 % N) em substituiçã o ao sulfato de amónio (20 % N e 24 % S), de
superfosfato triplo (44 % P2Os e 14 % Ca ) no lugar do superfosfato simples (18 % P205,
20 % Ca e 12 % S) pode conduzir ao aparecimehto de deficiência de S. O emprego do
MAP (9 % N e 48 % P2Os) e do DAP (16 % N e 45 % P2Os) deixa de incorporar Ca , o que é
feito pelos superfosfatos.
A economicidade dos fertilizantes concehtrados poderá ser questionada ao se
levantar problemas como desbalanceamento nutricional do solo, toxidez às plantas,
perdas de nutrientes por lixivia çã o ou erosã o, poluiçã o do lençol freá tico, entre outros.
A concentra çã o dos nutrientes no fertilizante
mineral deve estar em acordo com o
que foi especificado e garantido pelo fabricante. Este pode se constituir em um ponto
crítico na relação entre o usuá rio de fertilizante e o fornecedor do produto. Frequentemente,
surgem questionamentos sobre os teores de nutrientes garantidos e os efetivamente
encontrados no produto vendido. Nesse aspecto, a análise química cumpre o papel
decisivo e, caso análises preliminares não leveip à soluçã o do problema entre as partes,
pode-se chegar até à execuçã o de aná lises periciais. Por outro lado, a obtenção de valores
confiáveis nas análises químicas de fertilizantes pode ser dificultada pelas características

FERTILIDADE DO SOLO
754 JOS é CARLOS ALCARDE

do produto . Fertilizantes com tend ê ncias de segregar e produtos higroscó picos


dificilmente permitem obter amostras representativas. Além disso, para esses materiais,
o preparo, a reduçã o da quantidade amostrada e a seleçã o de uma quantidade de amostra
para aná lise sã o tamb é m prejudicados.
A legisla çã o brasileira estabelece as concentra ções mínimas para teores de macro e
micronutrientes nos fertilizantes, bem como as tolerâ ncias que podem ser admitidas
(Brasil, 2004 ).

Compostos Indesejáveis

Compostos classicamente citados como nocivos à s plantas e presentes nos


fertilizantes sã o o biureto, que pode ser formado na.produ çã o da uréia; o tiocianato, que
pode estar presente no sulfato de amónio; e o perclorato, que pode acompanhar o salitre
do Chile. Atualmente, contudo, nã o constituem problema.
Recentemente, tem despertado interesse a ocorr ência de metais pesados em
fertilizantes. Deve-se ressaltar que, dentre os metais pesados, incluem-se tanto elementos
nutrientes como Fe, Cu, Zn e Mn, como també m elementos nã o nutrientes como Pb, Cr e
Cd . Na verdade, a toxidez é uma condiçã o ligada à concentra çã o do elemento e, nesse
sentido, micronutrientes em excesso em misturas de fertilizantes poderiam ser
considerados como nocivos. Rochas fosfatadas e fertilizantes produzidos a partir delas,
como superfosfatos simples e triplo e f ósfatos de amónio, podem contribuir para aumentar
a concentra çã o de micronutrientes e metais nã o-nutrientes nos fertilizantes (Quadro 13).
Entretanto, a questã o que mais tem causado polêmica com rela çã o à presença de metais
pesados é o uso de resíduos industriais como fonte de micronutrientes, como aqueles da
ind ústria sider ú rgica . j

Quadro 13 . Teores totais de níquel metais pesados nã o-nutrientes em diferentes tipos de


fertilizantes

Material Ni Cd Cr Pb

f
mg kg-1 —
Rocha fosfatada Catalã o 45 3.7 19 58
Concentrado apatí tico fino Araxá 97 7 44 127
Superfosfato triplo 3 2.6 14 2
Superfosfato simples 44 2.5 26 92
Fosfato monoamô nico (MAP) 24 3.5 17 18
Fosfato diam ô nico ( DAP) 24 2.7 17 1
Termofosfato 271 3 1.070 5
NPK 4-14-8 30 11 19 169
Fonte de micronutrientes: BR5 103 563 30 1.221
Fonte de micronutrientes: Nutricitro 461 35 110 7.494

Fonte: Adaptado de Gabe & Rodella (1999).

FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 755

A preocupa çã o com o efeito de metais pesados, proveniente de fertilizantes minerais


tradicionais ou de fontes alternativas, como lodos de tratamento biol ógico e demais
resíduos industriais, relaciona -se sobretudo com a aduba çã o de plantas empregadas
diretamente na alimentaçã o humana, como hortaliças, gr ã os, entre outros. Por outro
lado, a fertiliza çã o de essências florestais é vista como uma possibilidade de emprego
daqueles materiais, pois nã o haveria a preocupa çã o com entrada de elementos nocivos
na cadeia alimentar, em funçã o do longo ciclo da floresta ( mínimo de seis anos) .
Infelizmente, não se dispõe de referenciais que delimitem teores de tolerâ ncia desses
elementos indesejá veis nos fertilizantes. Apenas para lodo de tratamento biológico esses
teores foram estabelecidos (Hall, 1998), os quais têm sido utilizados nas discussões sobre
o assunto, envolvendo fertilizantes (Malavolta, 1994 ).

Poder Acidificante e Alcalinizante dos Fertilizantes

Certos fertilizantes podem afetar a rea çã o dos solos. Como exemplos mais
significativos têm-se os nitrogenados amoniacais que sã o acidificantes e o termofosfato
magnesiano que é alcalinizante (Quadro 14). Os fertilizantes orgâ nicos podem baixar
ou elevar o pH do solo, dependendo da sua natureza.

Quadro 14. Poder acidificante e alcalinizante ( B ) (1 ) de alguns fertilizantes

Fertilizante Equivalente CaCC> 3

kg t 1
Amónio anidra 1.480
Sulfato de amónio 1.100
Fosfato diamônico ( DAP) 880
Fosfato monoamônico (MAP) 600
Nitrato de amónio 600
Nitrocá lcio 280
Sulfonitrato de amónio 840
Uréia 840
Salitre do Chile (NaNCb) - 290 ( B )
Salitre potássico (KNOa ) - 260 (B )
Cloreto de potássio 0
Sulfato de potássio 0
Sulfato de potássio e magnésio 0
Superfosfato simples 0
Superfosfato triplo 0
Termofosfato magnesiano - 8 ( B)
Farelo de algod ão 90
Composto de lixo - 70 ( B)
Caule de planta de fumo - 250 (B )
(1 )
kg de CaC03 equivalente, em excesso.
Fonte: Adaptado de Tisdale et al . (1985 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
756 JOS é CARLOS ALCARDE '

Incompatibilidade Qu ímica entre Fertilizantes

Diretamente relacionada com as características químicas dos fertilizantes está a


incompatibilidade qu ímica entre os componentes de uma mistura de fertilizantes. Sã o
rea ções qu ímicas que podem ocorrer provocando principalmente volatilizaçã o de N e
insolubilizaçã o de alguns nutrientes como P, Fe, Zn, Cu e Mn. Essas incompatibilidades
ocorrem em meio alcalino, razã o por que produtos de rea çã o alcalina como o DAP,
termofosfato magnesiano e calcá rios sã o seus maiores causadores.

Caracter í sticas de Natureza Fí sico - Química

Solubilidade
As plantas absorvem nutrientes a partir da soluçã o do solo, um sistema complexo
que envolve um n ú mero amplo de espécies químicas, relacionadas entre si pelos diferentes
sistemas de equilíbrio químico presentes.
Quando se aplica um fertilizante, pretende-se que ele consiga estabelecer uma
concentra çã o adequada de nutrientes na soluçã o do solo. J á nas primeiras observa ções
relacionadas com nutriçã o mineral de plantas, constatou-se que os fertilizantes sol ú veis
em á gua eram mais eficientes que fertilizantes orgâ nicos tradicionais, como estercos, por
exemplo. Mas há que se considerar o outro lado desta questão, ou seja, a f á cil dissolução
deixa os nutrientes sujeitos a perdas, como lixivia çã o ou insolubilização, esta no caso do
P, principalmente.
Para os fertilizantes, usualmente a solubilidade em á gua dos seus nutrientes exprime
disponibilidade à s plantas. Poré m, para o P, que é um elemento bastante estudado sob
esse aspecto, também são empregados outros extratores como a soluçã o neutra de citrato
de am ónio (CNA) e a solução de ácido cítrico para avaliar a sua disponibilidade (veja
capítulo VIII).
Uma quest ã o que tem despertado interesse é a solubilidade das fontes de
micronutrientes nas misturas de fertilizantes ( Vale, 1997, 2001; Bastos, 2004) .
Qualquer fertilizante que libere seus nutrientes no decorrer de um per íodo
relativamente longo pode ser considerado, em princípio, como sendo de liberaçã o lenta
ou libera çã o controlada e, neste aspecto, os fertilizantes nitrogenados foram os mais
estudados. O controle da solubilidade em fertilizantes nitrogenados já foi estudado
considerando-se o uso de materiais pouco sol ú veis, representados principalmente pelo
composto uréia-aldeído; materiais solúveis recobertos, como uréia recoberta por S e por
inibidores de nitrifica çã o (Hignett, 1971) . O baixo custo dos fertilizantes potássicos
desestimula esfor ços de se aumentar sua eficiência de aproveitamento, reduzindo-se a
velocidade de libera çã o de K. Com rela çã o aos fertilizantes fosfatados, a tendência é
justamente oposta, ou seja, pesquisas sã o dirigidas para obtençã o de fontes solúveis,
entretanto, com características que reduzam a rea çã o com o solo, conseguida, em parte,
aumentando-se o tamanho dos grâ nulos das fontes sol úveis.

FERTILIDADE DO SOLO
5

1 i
• I
í
i
XII - FERTILIZANTES 757

Em termos mundiais, cerca de 562.000 kg de fertilizantes sinté ticos de liberaçã o


lenta (partículas recobertas) são aplicados anualmente, representando em torno do 0,15 %
do consumo anual mundial de fertilizantes minerais . Eles sã o mais caros que os
fertilizantes convencionais e têm o uso limitado às culturas de alto valor comercial.
Quantidades limitadas sã o empregadas em fruticultura e hortaliças. No Japã o, 70 % do
fertilizante empregado na cultura do arroz sã o de liberaçã o lenta, recoberto por polímero;
todavia, trata -se de cultura muito subsidiada . Inibidores de nitrifica çã o e de urease têm
uso mais difundido em culturas plantadas em larga escala, estimando-se uma reduçã o
{ de 15 a 20 % da dose usual de N pelo aumento da eficiência de uso do nutriente. Apesar
disso, o uso desses produtos tem sido restrito sobretudo à cultura do milho. Um inibidor
de urease, Agrotain, foi introduzido e tem sido comercializado nos EUA desde 1996, com
resultados promissores.
Os benef ícios ambientais têm sido relevantes ao uso dos fertilizantes de libera çã o
lenta e dos inibidores de nitrifica çã o, na medida em que proporcionam menores perdas
* : de N por diminuir a lixivia çã o de nitrato, emissã o de óxido nitroso e volatilizaçã o de
amónia .
No Brasil, os fertilizantes de solubilidade controlada nunca foram empregados em
larga escala, embora tenham sido realizadas algumas pesquisas . Há no mercado um
produto que apresenta características de libera çã o controlada de nutrientes, no qual o
gr â nulo é recoberto por resina orgâ nica . Esses produtos, at é entã o, só tê m sido
economicamente viá veis para uso em viveiros florestais. Segundo o fabricante, a água
penetra no grâ nulo, dissolve os nutrientes do interior , os quais vão sendo liberados deforma
gradual . A velocidade de libera çã o depende da temperatura (Quadro 15).

Quadro 15 . Formula ções fertilizantes de libera çã o lenta de nutrientes

Formulaçã o Tempo de liberaçã o

Meses

14-14-14 3-4
19-6-10 3-4
J
18-5-9 5-6
15-10 -1 + Ca , Mg, S e micronutrientes 5-6
22-4-8 + Mg, S e micronutrientes 8-9
17-7-12 12-14

: Fonte: Eucatex (s.d.)


5
t

Higroscopicidade
É a tend ência que os materiais apresentam em absorver á gua do ar atmosf érico. É
expressa pela propriedade umidade relativa crítica (URc), a qual é definida como a umidade

\
í FERTILIDADE DO SOLO
758 JOS é CARLOS ALCARDE

relativa do ar má xima a que o produto pode ser exposto sem absorver umidade (Figura 5).
Quanto menor a URc, mais higroscópico é o produto. Mé todo para a determinaçã o da
higroscopicidade é descrito por Hoffmeister (1979), e FM (1996). Observa -se nessa figura
que a mistura de dois fertilizantes simples tem sempre URc menor que a de qualquer
componente, ou seja, maior higroscopicidade.
Alta higroscopicidade de uma mistura caracteriza incompatibilidade f ísico-química .
Sã o incompatíveis, por exemplo, uréia e nitrato de amónio (URc = 18,1); cloreto de potássio
e nitrato de cá lcio ( URc = 22,0); que sã o razoavelmente incompatíveis, por exemplo, uréia
e DAP (URc = 62); uréia e cloreto de potássio (URc = 60,3); sulfato de amónio e superfosfatos
( URc = 57,7); uréia e superfosfatos ( URc = 65,1) (Figura 5).
Alcarde et al. (1992) avaliaram a higroscopicidade de diversos fertilizantes simples,
misturas e corretivos comercializados no Brasil.
O grau de higroscopicidade do fertilizante ou a magnitude de sua umidade cr ítica
determina, sobretudo, o tipo de embalagem a ser empregada, ou seja , o quanto se deve
isolar o produto da umidade. Também restringe o grau de manipulaçã o e a possibilidade
de armazenamento em ambiente aberto.
A figura 6 constitui-se na informaçã o prá tica mais ampla sobre incompatibilidades
química (volatiliza çã o de nitrogénio ou insolubilizações de nutrientes) e ou fisico-química
( higroscopicidade ) entre fertilizantes, inclusive considerando também corretivos de
acidez.

Figura 5. Umidade relativa crítica de sais fertilizantes e misturas a 30°C. Os valores são em
percentagem de umidade relativa.
0 ) Valores aproximados .
Fonte : Hoffmeister (1979 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 759

Figura 6. Compatibilidade entre v á rios fertilizantes minerais simples, fertilizantes orgâ nicos
e corretivos de acidez.
Fonte : Lopes (1998 ) .

Empedramento

Empedramento é a cimenta çã o das partículas de fertilizante, formando massas de


dimensões muito maiores que as das partículas originais. A causa do empedramento é a
forma çã o de pontes cristalinas entre as partículas de fertilizante, as quais atuam como
pontos de ligaçã o entre elas.
i;

Ao contrá rio do que em geral se acredita, o empedramento não é resultado direto da


absorçã o de umidade pelo material durante o armazenamento. Pilhas de sacos protegidas
adequadamente contra umidade e sacos do centro das pilhas também empedram. Dentre
as causas, a mais prov á vel é o excesso de umidade resultante de seu processamento,
possibilitando a ocorrência de uma soluçã o saturada entre os gr â nulos.
Também contribuem para o empedramento a fragilidade dos gr â nulos que, ao se
quebrarem, resultam em maiores á reas de contato entre eles, a temperatura de estocagem
e a altura das pilhas. Em pilhas com 20 sacas ou mais, considerada como uma altura
moderada, a pressã o de estocagem favorece o empedramento em fertilizantes que já
apresentam essa tendência .
Mé todo para a determina çã o da tend ência ao empedramento é descrito por
Hoffmeister (1979) e FM (1996).

FERTILIDADE DO SOLO
760 JOS é CARLOS ALCARDE

É interessante distinguir empedramento de compacta çã o. Esta é uma aderência


mais fraca ente as partículas, resultante da umidade e da pressã o de estocagem, cuja
massa se desfaz com certa facilidade retornando ao estado granular original.

índice Salino
índice salino é uma propriedade dos fertilizantes que informa sobre sua capacidade
de aumentar a pressão osmótica da soluçã o do solo (Quadro 16). O fenômeno da osmose
é a movimentaçã o de solvente (á gua ) através de membranas semipermeá veis, no sentido
da soluçã o de menor pressã o osmó tica para a de maior pressã o osmó tica. Assim, se a
pressã o osmó tica da soluçã o do solo tornar-se superior à da soluçã o celular das ra ízes,
tem-se o caminhamento da á gua das células para o solo, causando a seca fisiológica . As
plantas, sobretudo as mais novas, sentem os efeitos do aumento da salinidade.
*
Quadro 16. índice salino de diversos fertilizantes, determinado em rela çã o ao nitrato de sódio,
tomado como padr ã o com índice 100

Fertilizantes í ndice salino

Nitrato de sódio 100


Nitrato de amó nio 105
Sulfato de am ó nio 69
Fosfato monoam ônico 30
Fosfato diam ô nico 34
Nitrocá lcio 61
Uréia 75
Am ónia anidra 47
Superfosfato simples 8
Superfosfato triplo 10
Cloreto de potássio 116
Sulfato de potássio 46
Sulfato de potá ssio e magn ésio 43

Fonte: Tisdale et al (1985).

CONTROLE DE QUALIDADE DOS


FERTILIZANTES MINERAIS

Pela Indústria
O conceito de controle de qualidade industrial atualmente é bastante amplo,
extrapolando os aspectos técnicos e abrangendo aspectos psicoló gicos, sociais,
mercadológicos e até de proteçã o ambiental: é o Controle da Qualidade Total.
É um tipo de controle que está sendo universalizado por meio de normas
internacionais: as normas ISO (International Standardization Organization) que, ao serem
corretamente adotadas, possibilitar ã o que a empresa ostente orgulhosamente os
CERTIFICADOS ISO: ISO 9.001, ISO 9002, ... ISO 14.000. A tendência é a de que empresas
que não possuírem certifica çã o da ISO ficar ã o fora do mercado.

FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 761

No aspecto estritamente técnico, o controle da qualidade pela ind ústria tem por
objetivo compatibilizar a maximiza çã o da produtividade, da produçã o e da qualidade
do produto com a minimiza çã o dos custos de produçã o. Isso é feito por um conjunto
sistemá tico e metódico de procedimentos que permitem conhecer minuciosamente e
administrar todos os fatores envolvidos no processo produtivo.
Esses procedimentos sã o diferentes em funçã o do tipo de ind ústria de fertilizante,
isto é, produtores de maté rias-primas (amónia, rocha fosfatada, á cido sulf ú rico e ácido
fosf órico), produtores de fertilizantes simples ou produtores de misturas ou misturadores.
A Associa çã o Nacional para Difusã o de Adubos ( ANDA ), que congrega a maioria das
ind ústrias de fertilizantes do País, publicou, por intermédio do seu Comité de Qualidade,
Manuais Técnicos de Controle de Qualidade para os diferentes tipos de ind ústrias
( Marzinoto Filho et al., 1988; Cerciello et al., 1991; Alcarde, 1999 ) .
O controle da qualidade nas ind ústrias produtoras de mat é rias-primas e de
fertilizantes simples é bastante mais complexo do que nas ind ústrias misturadoras. No
primeiro caso, o controle deve ser gerenciado por engenheiros químicos ou industriais .
No caso das misturadoras e principalmente nas misturadoras de gr â nulos que
representam a maioria dos produtores de fertilizantes, o controle é bastante mais simples,
podendo facilmente ser exercido por engenheiros-agr ó nomos. Aqui reside o fato do
interesse direto do setor agronó mico pelo controle de qualidade industrial.

Pelo Poder Público: Legislação e Fiscalização


O objetivo desse controle é proteger consumidores (agricultores) e fabricantes corretos
dos fabricantes especuladores.
A funçã o do controle pelo poder p úblico é estabelecer as normas para produçã o e
comercializaçã o de fertilizantes: leis, decretos, portarias, etc. (legisla çã o) e orientar e
constatar o cumprimento das mesmas (fiscaliza çã o).
A legisla çã o brasileira sobre o assunto é constituída pela Lei n° 6.894 / 80, alterada
pela Lei n° 6.934 /81, pelo Decreto n° 4954 de 14 / 01 / 2004, e por diversas instruções normativas,
portarias e circulares, todas do Ministério da Agricultura, Pecuá ria e Abastecimento.
Essa legisla çã o contempla as definições dos produtos e seus constituintes e suas
classifica ções; caracteriza os estabelecimentos produtores e comerciais; normatiza o
registro dos estabelecimentos e dos produtos; estabelece um mínimo para alguns atributos
de qualidade dos produtos; exige garantias assim como contempla tolerâ ncias para as
mesmas; prevê penalidades para à queles que infligirem a legisla çã o; normatiza a
fiscaliza çã o e adota uma metodologia oficial de análise muito semelhante à da Associaçã o
Oficial dos Químicos Analíticos dos Estados Unidos da América do Norte (Cuniif , 1995).
A fiscaliza ção brasileira tem-se restringido em coletar amostras e constatar suas
garantias: multar em caso de desacordo. Deveria também sistematicamente vistoriar as
instala ções, analisar o sistema de controle de qualidade adotado e se o mesmo está
cumprindo seus objetivos por meio dos registros dos resultados do controle e
principalmente exercer uma funçã o orientadora no caso dos pequenos produtores que
são em grande n ú mero . Para isso o fiscal necessita de conhecimentos no assunto. A

FERTILIDADE DO SOLO
762 JOS é CARLOS ALCARDE

fiscaliza çã o é de responsabilidade do Ministé rio da Agricultura e Reforma Agrá ria, em


â mbito nacional . O Estado do Paraná vem também executando uma fiscaliza çã o paralela
própria, ao nível de com é rcio. A fiscaliza çã o é exercida por engenheiros-agrónomos.

Pelo Consumidor
O objetivo desse controle é se proteger. Começa pela escolha de uma empresa
produtora conceituada no mercado, continua por uma negocia çã o sobre exigência de
qualidade e preço e termina pela análise da qualidade do produto recebido.
Para tanto, é fundamental a correta coleta da amostra, de maneira que ela seja
representativa do lote ( Brasil, 2007) . Basicamente separa -se aleatoriamente 10 % dos
.
sacos do lote e retira -se uma pequena quantidade de adubo de cada saco, colocando
todas em um recipiente limpo, homogeneizadas e, do todo, retira -se uma quantidade
aproximada de 250 g que deve ser colocada em saquinho plástico bem fechado. Em
seguida essa amostra deve ser enviada a um laboratório capacitado a executar análise de
fertilizantes, visto que nã o é qualquer laborató rio que tem essa credencial .
Qualquer divergência entre o produto combinado na compra e o produto recebido
deve ter sua solução buscada primeiramente com o fornecedor do produto, procedimento
esse que chega a bom termo na maioria dos casos; caso contr á rio, deve-se apelar para a
fiscaliza çã o.

PRODUÇÃ O DE FERTILIZANTES MINERAIS


Um esboço sobre as formas e técnicas de produçã o dos fertilizantes minerais está
descrito na rela çã o dos fertilizantes mencionados nos quadros 1 a 7.
Para os principais fertilizantes nitrogenados, as rotas básicas de produçã o estã o
esquematizadas na figura 7.

AMÓ NIA

I
ÁCIDO Ó XIDO DO POT Á SSIO ÁCIDO Á CIDO
NÍ TRICO HIDR Ó XIDO FOSF Ó RICO CLOR Í DRICO
DE CÁ LCIO
NITRATO DE
AM ÓNIO

ROCHA NITRATO DE NITRATO DE FOSFATO CLORETO


FOSFATADA C Á LCIO POT Á SSIO DE DE
AM ÓNIO AM ÓNIO
\
NITRO-
FOSFATOS

U S O F I N A L C O M O FERTILIZANTE

Figura 7. Rotas básicas de produçã o de fertilizantes nitrogenados.

FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 763

Para os principais fertilizantes fosfatados, as rotas bá sicas de produ çã o estã o


esquematizadas na figura 8. -

ROCHA
FOSFATADA

ENXOFRE ACIDO ACIDO ACIDO


SULFÚ RICO N Í TRICO CLOR Í DRICO
4

1
FOSF. NAT. SUPERFOSF. Á CIDO NITRO - FOSFATO
PARC. Á CID. SIMPLES FOSFÓ RICO FOSFATOS BIC Á LCICO

MOAGEM AMÓ NIA SUPERFOSF. ENERGIA


TRIPLO

FOSFATOS TERMO-
FOSFATO
DE FOSFATOS
NATURAL AMONIO

I
USO FINAL COMO FERTILIZANTE

Figura 8 . Rotas b á sicas de produção de fertilizantes fosfatados.

MISTURA DE FERTILIZANTES

Legislação sobre o Assunto


A legisla çã o que regulamenta a fabricaçã o, uso e comercialização de fertilizantes no
País diz que:
Os fertilizantes mistos ou complexos (misturas) sã o produtos que contêm NPK, NP,
NKouPK.
I
A soma dos teores percentuais de N total, P2Os sol úvel em citrato neutro de am ónio
(CNA ) (2) mais á gua, ou em á cido cítrico a 2 % ( 20 g L 1), na relaçã o 1:100, e K 20 sol ú vel
'

em á gua dever á ser igual ou superior a 24 %. Os teores de N, P2Os e K20 das misturas
NPK sã o expressas em n úmeros inteiros.
*

(2 > Na mesma amostra do fertilizante é feita a extra çã o do P sol ú vel em á gua e, após esta extra çã o, na
amostra residual, é feita uma extra çã o adicional com CNA . Dado o efeito complexante do citrato
com o Ca e a estabilidade deste complexo nas condi çõ es de pH na faixa dia neutralidade, há a
extra çã o de formas adicionais de P nã o-solú veis apenas em á gua, na primeira extra çã o ( veja quadro
7, do capítulo VIII ). Com essas duas extra ções tê m-se o P sol ú vel em á gua, da primeira extra çã o, e
o P sol ú vel em CNA, da segunda, tendo-se també m, pela somat ória , o P sol ú vel em á gua mais o
sol ú vel em CNA ( P sol ú vel em CNA mais á gua ) .

FERTILIDADE DO SOLO
764 JOS é CARLOS ALCARDE

Para as misturas que contiverem fosfato natural ou fosfato natural reativo,


termofosfato, escó ria de desfosfora çã o e farinha de ossos, os teores de P2Os são expressos
nas formas:
• Teor total (somente para os produtos de natureza f ísica p ó ou farelo;
• Teor solú vel em á cido cítrico a 2 %, rela çã o 1:100;
• Teor solú vel
em á gua, somente para os produtos que contiverem como fonte
fornecedora de P fosfatos acidulados.
Para esses casos, fará parte do índice NPK, NP ou PK dessas misturas apenas as
percentagens de P2Os sol ú vel em á cido cítrico a 2 %, rela çã o 1:100.

Cálculos de Misturas

Embora cálculos de misturas de fertilizantes sejam bastante simples, alguns exemplos


deles sã o apresentados a seguir, dada a sua import â ncia à forma çã o b á sica de
profissionais de ciências agrá rias, de modo geral.
a ) Preparar uma tonelada da mistura 4-12-8, a partir de sulfato de am ó nio,
superfosfato simples e cloreto de potássio.
40 kg de N
1.000 kg 120 kg de P2Os
80 kg K20
100 kg sulf . de amónio 20 kg de N
X 40 kg de N
X = 200 kg de Sulfato de am ónio

100 kg superf . Simples 20 kg de P2Os


Y 120 kg de P2Os
Y = 600 kg de superfosfato simples

100 kg Cloreto de K 60 kg K 20
Z 80 kg K20
Z = 133 kg de cloreto de potá ssio

Mistura : 200 + 600 + 133 —> 933 kg


1.000-933 = 67 kg de "enchimento" (esterco seco, turfa , gesso, etc)

b) Preparar uma tonelada da mistura 10-10-10.


• Usando-se sulfato de amónio + superfosfato simples, chega -se, apenas com estes
dois fertilizantes, a 1.000 kg ( e o K ).

FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 765

• Usando-se sulfato de amónio + superfosfato triplo, chega-se a:


500,0 kg de sulfato de am ónio
222,2 kg de superfosfato triplo
166,7 kg de cloreto de K
Mistura = 888,9 kg
"Enchimento" = 1000 kg - 888,9 kg = 111,1 kg 0t

c ) Preparar uma tonelada da mistura 12-10-10, usando sulfato de amónio, uréia,


superfosfato simples e cloreto de potá ssio, devendo os dois nitrogenados ser utilizados
em uma propor çã o tal que nã o haja necessidade de enchimento.
120 kg de N
1.000 kg 100 kg de P2Os
100 kg de K20
100 kg superf . Simples 20 kg de P2Os
XI 00 kg de P2Os
X = 500 kg de superfosfato simples

100 kg Cloreto de K 60 kg K20


100 kg K20
Y = 166,7 kg de cloreto de potá ssio
500 + 166,7 = 666,7 kg
1.000 kg - 666,7 kg = 333,3 kg a serem aplicados em uma mistura dos dois
nitrogenados.
X + Y = 333,3 kg
( X = uréia e Y = sulfato de amónio)
( 45 / 100) X + (20 / 100) Y = 120 kg de N
Resolvendo o sistema:
X = 213,3 kg uréia
Y = 120,0 kg de sulfato de amónio.

d ) Preparar uma tonelada da f órmula 10-10-10 a partir de 500 kg de 4-14-8, uréia,


< superfosfato simples e cloreto de potássio.
1.000 kg 100 kg de N
10-10-10 100 kg de P2Os
100 kg de K 20

FERTILIDADE DO SOLO
766 JOS é CARLOS ALCARDE

500 kg 20 kg de N
4-14-8 70 kg de P2Os
40 kg de K 20
Deverão ser acrescentados:
100-20 = 80 kg de N ou
80 x (100 / 45) = 177,8 kg de uréia
100-70 = 30 kg P2Os ou
30 x (100 / 20) = 150 kg d é superf . simples

100-40 = 60 kg de K 20 ou
60 x (100 / 60) = 100 kg de cloreto de K
e, 1.000 - (500 + 177,8 + 150 + 100) = 72,2 kg de enchimento

A ind ústria de fertilizantes dispõe de programas de computa çã o que permitem o


estabelecimento de diferentes pr é-condições como: combinaçã o de formas e fontes de
nutrientes, presença de nutrientes secund á rios e, ou, de micronutrientes (3), combina ção
de fontes que otimize os custos das misturas, compatibilidade entre as fontes, etc.

LITERATURA CITADA
ABREU J Ú NIOR, C.H.; BOARETTO, A. E.; MURAOKA, T. & KIEHL, J.C. Uso agrícola de resíduos
orgâ nicos potencialmente poluentes: Propriedades químicas do solo e produçã o vegetal.
In: TORRADO, P.V.; ALLEONI, L.R.F.; COOPER, M.; SILVA, A.P. & CARDOSO, E.J ., eds.
Tópicos em ciência do solo. Viçosa, MG, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2005.
v .4. p.391-470.

ALCARDE, J.C. Manual de controle de qualidade numa Ind ústria misturadora de fertilizantes.
São Paulo, ANDA, 1999. 47p.

ALCARDE, J .C. Metodologia de an á lise de fertilizantes e corretivos . Piracicaba, IAA /


PLANALSUCAR, 1979. 279p. (Curso de Treinamento aos Técnicos do Centro de An álises
do PLANALSUCAR )

ALCARDE, J.C.; GUIDOLIN, J.A. & LOPES, A.S. Os adubos e a eficiência das aduba ções. Sã o
Paulo, ANDA, 1989a . 35p. ( ANDA, Boletim Técnico, 3)

ALCARDE, J.C.; MALA VOLTA, E.; BORGES, A.L.; MUNIZ, A.S.; VELOSO, C . A .; FABRÍCIO,
A.C. & VIEGAS, I.J.M. Avalia çã o da higroscopicidade de fertilizantes e corretivos. Sei.
Agric., 49:137-147, 1992.

( 3)
Os micronutrientes nas misturas têm suas garantias expressas em teores totais, como manda a lei .

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIA ÇAO DA FERTILIDADE DO
SOLO E RECOMENDA ÇÃ O DE
FERTILIZANTES

Reinaldo Bertola Cantarutti 17, Nairam Fé lix de Barros17, Hermí nia Emilia
Prieto Martinez 27 & Roberto Ferreira Novais17

1/
Departamento de Solos, Universidade Federal de Viçosa - UFV. Av . PF1 Rolfs, s / n,
CEP 36570 - 000 Vi çosa ( MG ) .
cantarutti @ ufv .br; nfbarros@ ufv . br; rfnovais@ ufv . br

27
Departamento de Fitotecnia , Universidade Federal de Vi çosa - UFV .
herminia @ ufv .br

Conte ú do
INTRODU ÇÃ O 770
MÉTODOS BASEADOS NA AN Á LISE QU ÍMICA DO SOLO 772
Seleçã o do Mé todo de Aná lise Qu ímica do Solo - "Correla çã o" 773
Calibração do Mé todo de Aná lise Qu ímica do Solo - "Calibra çã o" 778
Amostragem de Solo 785
Fundamentos da Amostragem 785
Fundamentos da Amostragem de Solo 786
Procedimento da Amostragem do Solo 792
Sistemas de Interpretação de Aná lise de Solo e Fertilizantes 796
Tabelas de Interpretaçã o 797
Tabelas de Recomendações de Fertilizantes 801
Sistema Simplificado de Interpretação *de Aná lise de Solo e Recomendaçã o
de Corretivos e Fertilizantes 805
Sistemas de Recomenda çã o de Fertilizantes com Base em Modelagem 811
Sistemas FERTICALC e NUTRICALC 812
MÉTODOS COM BASE NO ESTADO NUTRICIONAL DAS PLANTAS 817
Diagnose Visual 817
Nitrogénio : 818
Cálcio 818

SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. NOVAIS, R.F., ALVAREZ V ., V .H., BARROS,
N.F ., FONTES, R.LF., CANTARUTTI, R .B . & NEVES, J .C.L . ) .
770 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

Magnésio 820
Enxofre 820
Ferro 820
Manganês 820
Boro 820
Molibdênio 821
Zinco 821
Cloro 821
Diagnóstico com Base na Aná lise de Tecidos 821
Fatores que Influem na Relaçã o entre Teor de Nutrientes e Crescimento ou Produçã o 823
Fatores Pertinentes à Planta 823
Obtenção dos Padrões de Referência ou Normas 824
Escolha do Tecido 825
Amostragem, Preparo das Amostras e Aná lise do Tecidt) Vegetal 826
Coleta das Amostras 826
Preparo e Remessa das Amostras ao Laboratório 826
Interpreta çã o dos Resultados da Aná lise Foliar 829
Nível Crítico e Faixa de Suficiência 830
Fertigramas 834
Desvio do Percentual Ótimo - DOP 835
índices Balanceados de Kenworthy 836
Sistema Integrado de Diagnose e Recomenda çã o - DRIS 837
Potencial de Resposta à Aduba çã o 841
-
Diagnose da Composiçã o Nutricional CND 842
Outras Técnicas de Diagnóstico 844
Determinaçã o de Frações Ativas ou Sol ú veis 844
Mé todos Bioqu ímicos e Enzimá ticos 844
LITERATURA CITADA 845

INTRODUÇÃ O

A fertilidade do solo é, naturalmente, associada com o crescimento e o


desenvolvimento das plantas, o que, no entanto, nã o é suficiente para conceitu á -la,
considerando que a produtividade é consequência da intera çã o de vá rios fatores (veja
capítulo II). Fertilidade tem sido conceituada como a capacidade de o solo ceder nutrientes
para as plantas. Este conceito é simplista, pois o solo nã o tem um "comportamento"
passivo (fonte) em relação às plantas ( dreno). A rela çã o solo-planta com respeito aos
nutrientes é, com maior ou menor intensidade, competitiva . É de amplo conhecimento
que solos em avan ç ado est á dio de intemperismo, com uma fra çã o argila
predominantemente ox ídica , sã o fortes drenos para o P, em virtude da sua elevada ?

capacidade de adsorção deste nutriente (veja capítulo VIII). Alterações no pH da rizosfera,


síntese de fosfatases e associa çã o com fungos micorr ízicos sã o exemplos de recursos que
tornam as plantas mais eficientes na aquisiçã o do P, superando a restriçã o desses solos
em ceder. A simbiose com bactérias do gênero Rhizobium é um exemplo extremo, que
permite às leguminosas superarem a limita çã o da maioria dos solos em lhes ceder N .

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 771

Diante da dificuldade de conceitua çã o, usualmente relaciona -se a fertilidade do


solo com a disponibilidade dos nutrientes, que pode ser considerada a quantidade de
nutrientes que a planta pode absorver durante o seu ciclo de vida ( Raij, 1991; Alvarez V.,
1996). O car á ter condicional - pode absorver - justifica -se porque a quantidade absorvida
é, de fato, uma fra çã o de formas químicas dos nutrientes que alcançam, via mecanismo
de transporte, os sítios de absor çã o do sistema radicular ( veja capítulo IV) .
Conclui-se que fertilidade, como ciência ou disciplina, é complexa, demandando a
integraçã o de conhecimentos básicos de biologia, f ísica e química do solo e visa, também,
ao desenvolvimento de pr á ticas de manejo dos nutrientes que foquem nã o só altas
produtividades, mas també m a proteçã o ambiental (Sims, 1999).
Neste contexto, é fundamental a avalia çã o da fertilidade, que tem por objetivo
quantificar a capacidade de os solos suprirem nutrientes para o ótimo crescimento e
desenvolvimento das plantas. Apesar de, em termos objetivos, buscar-se quantificar a
disponibilidade dos nutrientes, a avalia çã o da fertilidade tem um enfoque mais amplo .
Outros fatores que limitam a produtividade, tais como acidez, salinidade, elementos
fitotó xicos, potencial gené tico da planta e condições climá ticas, devem ser identificados
( veja capítulo II ).
Em uma visã o atual, a avalia çã o da fertilidade do solo ultrapassa os limites da
produ çã o agr ícola, sendo fundamental para o futuro da produ çã o global, quer na
identifica çã o de novas á reas com potencial para serem incorporadas aos sistemas
produtivos, quer no aumento de produtividade das á reas já em uso ( veja capítulo I ).
Adicionalmente, a avalia ção da fertilidade é indispensá vel à recupera çã o de á reas
intensamente perturbadas pela atividade humana - á reas afetadas pela minera çã o,
construçã o de estradas e grandes obras, etc. ( veja capítulo XVII ). Nessas condições, a
produtividade má xima nem sempre é o foco, mas, sim, a estabilidade da cobertura vegetal,
o aumento da atividade microbiana para a degrada çã o de contaminantes orgâ nicos e a
fitorremedia çã o para mitigaçã o de contaminantes inorgâ nicos e metais pesados.
A avaliaçã o da fertilidade envolve, em síntese, processos de amostragem, mé todos
de aná lise, técnicas de diagnóstico dos resultados e modelos de interpretaçã o e de
recomenda çã o de corretivos e fertilizantes. Diante da elevada variabilidade espacial
das popula ções - solo e planta - requerem-se criteriosas técnicas de amostragem para
um diagnóstico o mais exato possível. Esse diagnóstico pode ser feito em campo,
observando, por exemplo, o crescimento da planta, os sintomas de deficiência decorrentes
da limita çã o por algum nutriente ou de toxidez resultante de excessos de nutrientes ou
de elementos fitotóxicos como o AI ( veja capítulo V ).
A interpretação e a recomenda çã o de corretivos e de fertilizantes se fazem por meio
de modelos empíricos ou teóricos(1). Atualmente, os modelos em uso são essencialmente
empíricos, relacionando os indicadores de diagnóstico, como as análises químicas da

(1 )
0 conhecimento envolvido na constru çã o de modelos empíricos deriva de experimentos ou da obser -
vaçã o de fenômenos. Modelos te ó ricos fundamentam -se no conhecimento cient ífico dos princípios,
ou seja, dos mecanismos. Sã o os modelos mecan ísticos .

FERTILIDADE DO SOLO
772 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

planta e do solo, com a resposta da planta. O modelo mais difundido utiliza a análise de
solo como técnica de diagnóstico e fundamenta-se na identifica ção da classe de fertilidade
em que o solo se enquadra e na recomendaçã o com base em tabelas de fertiliza ção. Mais
recentemente, tem sido impulsionado o desenvolvimento de modelos fundamentados no
balanço nutricional, que, em síntese, empregam resultados de aná lise química de solo e
a demanda nutricional da planta para determinada produtividade esperada .
Dependendo do grau de sofistica çã o, tais modelos podem ter maior ou menor cará ter
mecanístico.
Quando a técnica de diagnóstico empregada é a aná lise de planta, o modelo mais
simples fundamenta -se na verificaçã o da suficiência ou nã o dos teores dos nutrientes na
planta, com base nos níveis críticos, já estabelecidos. Desvio Percentual Ó timo ( DPO),
índices Balanceados de Kenworthy e Sistema Integrado de Diagnose e Recomenda çã o
( DRIS) sã o exemplos de modelos empíricos utilizados.

M ÉTODOS BASEADOS NA AN Á LISE


QU Í MICA DO SOLO

A avalia çã o da fertilidade do solo por meio da aná lise qu ímica de sua amostra
requer não só mé todos rá pidos de análise, que produzam indicadores da disponibilidade
de nutrientes, da salinidade ou da fitotoxidez, mas també m crité rios de interpreta çã o
dos resultados e de recomendação de corretivos e de fertilizantes (Sims, 1999). Além da
rapidez, esse modelo tem a vantagem de predizer a disponibilidade de nutrientes ou o
excesso de elementos tóxicos no solo, antes do cultivo, tendo car á ter preditivo (Tisdale et
al., 1984 ) . i

O mé todo de aná lise química de solo fundamenta -se no uso de extratores químicos.
Extratores sã o soluções ou substâ ncias que removem do solo, por complexação, desorção,
solubiliza ção, troca iônica ou hidr ólise, formas qu ímicas dos nutrientes consideradas
disponíveis para a planta, ou de elementos químicos promotores de salinização do solo
ou de toxidez para as plantas. Uma fra çã o das quantidades extraídas encontra -se na
soluçã o do solo (fra ção ativa ou fator intensidade). A maior fraçã o, no entanto, encontra-
se integrada à fase sólida, em equilíbrio com a fra çã o ativa , responsá vel pela reposiçã o
na soluçã o do solo (fra çã o lá bil ou fator quantidade - veja capítulo IV). O mé todo de
aná lise qu ímica de solo inclui , além do extrator, os demais procedimentos que o
caracterizam, tais como: a relação entre a massa ou volume de solo e o da soluçã o extratora,
a forma e o tempo de agitação - tempo de reação ou de equilíbrio - filtraçã o ou decantação
da suspensão solo-extrator e o mé todo de dosagem analítica do nutriente ou do elemento
químico de interesse.
A construçã o desse modelo de avalia çã o da fertilidade do solo requer duas etapas:
a seleçã o do m é todo de an á lise ( correla çã o ) e a calibra çã o de seus resultados,
estabelecendo-se critérios de diagnóstico e a quantidade (dose) de corretivos ou de
fertilizantes a ser recomendada .

FFRTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 773

Seleção do M é todo de Análise Química do Solo - "Correlação"


O teor de um nutriente disponível no solo é aquele cujas altera ções proporcionam
varia ções no crescimento da planta . A disponibilidade de um nutriente no solo depende
da forma química em que se encontra, das condições clim á ticas, da disponibilidade de
outros nutrientes e da capacidade da planta na sua absor çã o que é influenciada, dentre
outros fatores, pelo crescimento do sistema radicular e pela idade da planta ( Raij &
Quaggio, 1983) . O teor do nutriente disponível normalmente nã o representa sua
quantidade absorvida pela planta . A quantidade absorvida é uma fraçã o que pode ser
maior ou menor do que a disponível . A planta , ao integrar os efeitos de solo, de clima, de
manejo, dentre outros, constitui a melhor medida ( referencial ) da disponibilidade dos
nutrientes, sendo o seu conteúdo do nutriente considerado referência. A quantidade do
nutriente absorvida pela planta durante o seu ciclo de vida, ou em determinado per íodo
de tempo, d á, portanto, uma dimensã o concreta ao conceito de disponibilidade ( Alvarez
V., 1996).
O teor do nutriente extra ído pelo mé todo de aná lise química - nutriente recuperado
- será indicador da disponibilidade se apresentar correla çã o significativa com algum
indicador da planta, como a quantidade do nutriente absorvida ou a produçã o ( Bray,
1948; Corey, 1987). O teor do nutriente na planta nã o é uma variá vel recomendada para
estabelecer essa correla çã o com o teor do nutriente no solo para avaliar determinado
í
mé todo, por ser uma medida sujeita a superestima çã o (efeito de concentra çã o ou
,
"consumo de luxo ( 2) ) ou subestima çã o (efeito de diluição < 3) ) na planta . A análise de
/

correla çã o determina se as varia ções na produçã o ou no conte ú do do nutriente sã o


proporcionais aos teores extra ídos pelo mé todo de análise (Figura 1). Surge, portanto,
uma dimensã o operacional para o conceito de disponibilidade - teor do nutriente
recuperado pelo mé todo de aná lise que se correlaciona com o conte ú do do nutriente na
planta ou com o seu crescimento ( Alvarez V., 1996).
<

2401 (a ) ( b)
ca
c
<a
. ca 180
*

Q *
ca C
O Q
~o u>
_
c ca 120 - 4
*

4
4
í O £
60 - -
t
4 -
t
£
£
O *
O 4 4
0
0 8 16 24 32 40 0 8 16 24 32 40
3
;
Teor no solo , mg dm '

Figura 1. Relaçã o entre o conte údo de nutriente na planta de acordo com o teor do nutriente
i no solo, caracterizando correlação alta ( a ) e baixa ou não-significativa (b).

( 2)
Expressã o muito utilizada para K que, em casos de elevada disponibilidade no solo, a planta pode
absorvê-lo em quantidades superiores à sua demanda metabólica .
(3)
Acontece, por exemplo, quando o ac ú mulo de biomassa em uma planta é superior, relativamente, à
quantidade do nutriente absorvida .

FERTILIDADE DO SOLO
774 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

Para maior funcionalidade deste modelo de avalia çã o da fertilidade, os mé todos de


aná lise qu ímica do solo devem ser os mais universais possível, isto é, aplicáveis a uma
ampla varia çã o de propriedades de solo e de planta. Para isso, no processo de seleçã o de
mé todos de aná lise, devem ser empregados solos com ampla varia çã o quanto à classe
taxon ô mica, mineralogia , classe textural, teor de maté ria orgâ nica e, certamente,
disponibilidade do nutriente em estudo.
Para a seleçã o de mé todos de aná lise de solo, requer-se ampla base de dados. Nesta
fase de seleçã o ou de correla çã o, experimentos em casa de vegeta çã o sã o de grande
utilidade por possibilitarem a obtençã o de resultados com grande n ú mero de solos, de
forma rá pida e econó mica e com maior controle de outras variá veis, tais como: clima
( temperatura, á gua ), variabilidade na disponibilidade de outros nutrientes, etc. Nesses
experimentos, utiliza -se, usualmente, uma espécie‘de planta teste - planta indicadora
para obter a medida da disponibilidade real do nutriente ( quantidade absorvida ). No
entanto, é importante considerar que há diferenças entre espécies quanto à sensibilidade
à disponibilidade do nutriente. Bataglia & Raij (1989 ) verificaram, por exemplo, que não
houve correla çã o significativa entre os teores de Cu extraídos pelos mé todos DPTA (1:2),
EDTA (1:4), Mehlich-1 (1:4) e HC1 (1:4) ( veja capítulo XI) com o Cu absorvido pelo girassol,
poré m houve correla çã o significativa com a quantidade absorvida pelo sorgo. Os
tratamentos nesses experimentos sã o os solos, que devem ser em n úmero suficiente para
assegurar maior abrangência e acur á cia do mé todo de análise. É importante que, além
de ampla, a varia çã o da disponibilidade do nutriente se aproxime da distribuição normal,
considerando ser esta uma das pressuposições para a análise de correlaçã o ( Danke &
Olson, 1990).
A estrutura experimental pode, também, ser constituída por dois tratamentos: com
( + Nutr ) e sem (- Nutr ) a adiçã o do nutriente em estudo, empregando-se, no primeiro
caso, uma dose adequada (4 > ( Bray, 1948). Em ambos os tratamentos, os demais nutrientes
sã o aplicados em doses adequadas, assim como os demais fatores de produ çã o
controlá veis sã o mantidos em níveis satisfató rios. Alé m da produ çã o em termos
absolutos, estima -se a produçã o relativa ( PR, em %):

Produ çã o da cultura no tratamento - Nutr


PR = 100
Produ ção da cultura no tratamento + Nutr >

que caracteriza o potencial de resposta da cultura à aplicaçã o do nutriente - quanto


menor a PR, maior a limita çã o (disponibilidade) do nutriente e maior o potencial de
resposta à sua aplicaçã o.
A análise de correlação, estabelecida matematicamente, determina a intensidade da
rela çã o linear entre duas variá veis aleató rias e dependentes ( Neter et al., 1996). A
produção absoluta ou relativa de uma planta ou a absorção do nutriente (variá vel y ) e o

<4 ) A id éia de dose adequada é subjetiva. Na prá tica, trabalha -se com uma dose elevada, mas que não
seja excessiva para causar toxidez ou desequilíbrio nutricional.

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 775

teor desse nutriente extraído por um mé todo de aná lise ( variável x ) atendem a essas
premissas . A intensidade da correla çã o é expressa pelo coeficiente de correla çã o -
coeficiente de correlaçã o de Pearson ( r):

Sxy
r = 1/2
( Sxx syy )

em que sxx e syy sã o os desvios-padr ã o das variá veis x e y, respectivamente, e sxy é a


covariâ ncia entre as vari á veis. Se há baixa associa çã o linear entre as variá veis, o
coeficiente de correla çã o tenderá para zero e, se alta e positiva ou negativa, ele tende
para +1 ou -1, respectivamente.
Com dados provenientes de experimentos com os dois tratamentos com e sem a
adiçã o do nutriente, como descrito anteriormente, a correlaçã o pode ser feita graficamente
de acordo com procedimento desenvolvido por Cate & Nelson (1965). O mé todo consiste
na plotagem em um par de eixos cartesianos a produ çã o relativa da cultura - PR -
( variá vel y ) versus os respectivos teores do nutriente no solo extra ído pelo mé todo de
aná lise ( variá vel x ) (Figura 2a ). Tra ç a -se sobre o gr á fico um par de linhas, de modo a
definir quadrantes, alocando-as de modo que o maior n úmero de pontos se distribua nos
dois quadrantes positivos (esquerdo inferior e direito superior ) (Figura 2b ). Se a maioria
dos pontos distribui-se nos dois quadrantes positivos há boa correla ção. Por outro lado,
se grande nú mero de pontos enquadra -se fora dos quadrantes positivos, o mé todo nã o é
eficiente para estimar a disponibilidade do nutriente no solo. A linha horizontal localiza-
se, em geral, entre 80 e 90 % da produção relativa . Os pontos distribuídos no quadrante
inferior positivo evidenciam uma rela çã o direta entre o aumento do teor de nutriente e o
potencial de resposta (baixa PR, alto potencial de resposta ), enquanto os distribuídos no
quadrante superior positivo evidenciam uma diminuição no potencial de resposta com o
aumento dos teores. Isto significa que o teor está bem correlacionado com a resposta da
cultura, ou seja, o método de análise tem boa capacidade de predição da disponibilidade
do nutriente no solo ou, em outras palavras, da resposta da cultura à adubação com o
nutriente. Este método indica, visualmente, dados fora do padrão esperado - outlying -
como, por exemplo, os solos identificados pelos pontos no quadrante esquerdo superior
(Figura 2b). Estes solos requerem estudos complementares para explicar a razã o para o
desvio do esperado. A projeçã o da linha vertical no eixo da variá vel x indica o teor do
nutriente no solo que diferencia as duas popula ções: uma à esquerda e outra à direita da
linha, reunindo solos com alta e bá ixa probabilidade de resposta à fertiliza çã o com o
nutriente, respectivamente. Este teor é denominado nível cr ítico e é um passo necessá rio
ao processo de calibra çã o que será visto mais à frente .
Se os estudos preliminares evidenciam que o método de análise do nutriente extraível
ou disponível do solo apresenta desempenho satisfatório, experimentos de campo sã o
necessá rios para avaliar a exatidã o com que ele estima a disponibilidade em condições
normais de crescimento das culturas, onde interagem, simultaneamente, os v á rios
componentes do sistema de produçã o (Sims, 1999). Esses experimentos devem, também,
ser em número suficiente para incluir solos com diferentes características e ampla variação
quanto à disponibilidade do nutriente, assim como utilizar diferentes culturas.

FERTILIDADE DO SOLO
776 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

(a ) (b)
ss 100 +
<0
- *t
>
(O

<U
80

60 n*
a 40 -
3
D 20 -
o +
0L
0
0 20 40 60 80 100 120 0 20 40 60 80 100 120
K no s o l o , mg dm -3

Figura 2. Rela çã o entre produçã o relativa para a maté ria seca de plantas de eucalipto, crescidas
em vasos, e teores de potá ssio extra ídos por Melhich-1.
Fonte : Adaptado de Prezotti (1985).

Experimentos com aplica çã o de doses do nutriente sã o ú teis por possibilitarem a


gera çã o de dados necessá rios, tanto para a aná lise de correla çã o, como para a calibraçã o
propriamente dita do m é todo ( Danke & Olson, 1990). Nesses experimentos, devem-se
utilizar pelo menos cinco doses, dentre as quais a ausência de aplica çã o do nutriente
(testemunha ). O intervalo entre as doses deve ser relativamente pequeno, mas deve ter
uma amplitude que possibilite caracterizar a dose a partir da qual nã o há mais resposta J

da planta. Além disso, esses experimentos devem ser repetidos em v á rios anos, para
aumentar a confiança na aplicabilidade do m é todo. Ressalta-se, no entanto, que
experimentos de campo podem resultar em menores coeficientes de correlaçã o, devidos
às variá veis nã o controladas, como as ambientais. A correlação pode ser melhorada,
utilizando-se a produçã o relativa, em lugar da produção absoluta ou a quantidade do
nutriente absorvido, visto que se elimina ou minimiza a influência de variá veis nã o
controladas. A produçã o relativa aqui é expressa em rela çã o à produçã o má xima
alcançada em cada experimento.
Diante do tempo e recurso demandados com experimentos para estudos de
correla çã o, a avalia çã o preliminar de novos extratores pode fundamentar -se nas
determina ções químicas e sua correla çã o com resultados obtidos com extratores de uso
já consagrado. Resultados de estudos realizados com o extrator Mehlich-1, com o I

propósito de avaliar a disponibilidade de P e K, correlacionaram-se com os obtidos com


extratores como Mehlich-3, Bray-1, NH4OAc 1 mol L 1 (Hanlon & Johnson, 1984; Sims,
'

1993). Experimentos de casa de vegeta ção e campo, como descritos anteriormente, no


entanto, sã o necessá rios para valida çã o da eficá cia de novos mé todos.
A análise de regressã o possibilita estabelecer equações de regressã o que estimam a
produçã o ou a absorção do nutriente a partir do teor da análise do solo. Outras variáveis
que interferem na absorção do nutriente (pH, textura, matéria orgâ nica, etc.) podem ser
incluídas em regressões m últiplas. Busca -se, portanto, maior correlaçã o e melhor
capacidade de prediçã o da equaçã o de regressã o. Haq & Miller (1972) verificaram que o
coeficiente de determinação da regressã o que estimava a absorção de Zn por plantas de
milho a partir dos teores de Zn extraídos pelas soluções de EDTA + ( NH4) 2C03, DPTA,

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 777

EDDHA ou Mehlich-1 aumentou de 0,45 para 0,75 com a inclusão do pH em uma equaçã o
de regressã o m últipla .
A sensibilidade do mé todo, que demonstra sua capacidade de recuperar o nutriente
diante do aumento de sua disponibilidade, é outra característica importante. O aumento
da disponibilidade é conseguido com a adiçã o de doses do nutriente em questã o. Assim,
utilizam-se, por exemplo, amostras de solos que receberam doses crescentes do nutriente,
tanto de experimentos de campo como de casa de vegetaçã o, aqueles da fase de calibraçã o.
Regressã o estabelecida entre os teores do nutriente extraído pelo mé todo de análise
( variá vel y ) e as doses do nutriente aplicadas ( variá vel x) possibilita estimar a capacidade
de recupera çã o do mé todo. Prezotti (1985), por exemplo, constatou que a capacidade de
recuperaçã o de K pelos extratores Mehlich-1, Bray-1 e NH4OAC decresceu com o teor de
argila dos solos, decorrente da maior capacidade de adsorçã o do K nos solos argilosos.
Os teores de P obtidos com os extratores Mehlich-1, Bray-1 e Resina de Troca Aniônica
correlacionam-se, em geral, significativamente, com indicadores de crescimento da planta
- produçã o de matéria seca e P absorvido (Freire et al., 1979; Muniz et al., 1985; Novais et
al., 1988; Viégas, 1991). A capacidade de extraçã o do Mehlich-1 e do Bray-1, que sã o de
natureza á cida, no entanto, correlaciona -se negativamente com o teor de argila , com a
capacidade má xima de adsorção de P e, positivamente, com o P remanescente ( ver capítulo
VIII ), caracter ísticas estas relacionadas com o fator capacidade de P do solo (Freire et al.,
1979; Muniz et al., 1985; Viégas, 1991). Freire et al. (1979 ) constataram que a capacidade
de recupera çã o de P pelos extratores Mehlich-1 e Bray-2 diminuiu significativamente
( r = - 0,96) com o aumento do teor de argila, para Latossolos com teor de argila de 180 a
748 g kg 1 (Figura 3) . Muniz et al . (1985) verificou que a capacidade de extração do
'

Mehlich-1, Bray-1 e Bray-2 reduziu-se significativamente com o aumento da capacidade


má xima de adsor çã o de P ( r = -0,74) e aumentou ( r = 0,72) com o aumento do valor de P
remanescente. A diminuiçã o da capacidade de extraçã o nos solos com maior fator
capacidade deve-se ao desgaste que o extrator sofre, decorrente do tamponamento de
parte de sua acidez e da adsorçã o de seu â nion constituinte, que promoveria a extração
do P adsorvido ( veja capítulo VIII ) . Na sequ ência, ser á demonstrado como esta
característica influencia a calibra çã o do mé todo.

Figura 3. Teores de f ósforo extraídos pelo extrator Mehlich-1 (a ) e Bray -2 ( b ) de acordo com
doses de f ósforo aplicadas em dois Latossolos com diferentes teores de argila.
Fonte: Freire et al . (1979) .

FERTILIDADE DO SOLO
778 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

Calibração do M é todo de Análise Quí mica do Solo - "Calibraçã o"


Os estudos de correla çã o asseguram que um mé todo de aná lise de solo determina
teores disponíveis de um nutriente, o que, no entanto, nã o é suficiente para que seja
utilizado no diagnóstico e correçã o da fertilidade do solo. Para tanto, torna-se necessá rio
estabelecer valores de referência para a disponibilidade dos nutrientes e a definiçã o de
suas doses a serem aplicadas, fundamentadas em uma expectativa de resposta, de acordo
com o diagnóstico da fertilidade. Assim, a construçã o deste modelo de diagnóstico e
recomenda çã o de fertilizantes é completada com a calibra çã o do mé todo de aná lise.
A calibra çã o tem por objetivos definir níveis críticos, classes de fertilidade ou de
disponibilidade do nutriente e doses dos nutrientes para serem aplicadas, quando
necessá rias. Com a calibraçã o, busca -se o relacionamento matemá tico do teor do nutriente
extraído pelo mé todo e a resposta da planta à adiçã o do nutriente (Sims, 1993).
Para a calibraçã o são necessá rios experimentos de campo em que interagem os fatores
que influem na fertilidade do solo e na nutriçã o da planta. Com esses experimentos,
define-se a resposta das culturas às doses dos nutrientes ou, mais concretamente, a
resposta ao aumento da disponibilidade dos nutrientes no solo.
Experimentos de campo constituídos pelos tratamentos com ( + Nutr ) e sem (- Nutr ),
como j á descrito anteriormente, sã o alternativas simples, usadas no in ício do
desenvolvimento deste modelo por Bray (1948 ) e, ainda , aplicá veis para estudos
preliminares. Os demais nutrientes, assim como os fatores de produçã o controlá veis,
devem ser mantidos em níveis adequados. Os tratamentos devem ser repetidos três ou
quatro vezes, de acordo com desenho experimental que proporcione maior controle das
variá veis ambientais. Eles devem ser repetidos em diferentes locais de modo a incluir a
má xima varia çã o de solo e em anos sucessivos, possibilitando cobrir as varia ções
climá ticas comuns na regiã o. Além da produçã o, obtêm-se os teores do nutriente no solo
do tratamento - Nutr, extra ídos pelo m é todo de aná lise que está sendo calibrado. A
produçã o da planta do tratamento - Nutr pode ser utilizada em termos absolutos ou
relativos (PR ) à produçã o do tratamento + Nutr. A PR diminui a interferência de variá veis
nã o controladas (Danke & Olson, 1990), o que possibilita reunir em uma ú nica base de
dados resultados de experimentos realizados em diferentes condições - locais, é pocas,
variedades, etc.
Nessas circunstâ ncias, a análise grá fica desenvolvida por Cate & Nelson (1965)
(Figura 2b ), alé m de evidenciar a correla çã o entre os teores do nutriente extra ído pelo
mé todo de análise e a produ çã o, possibilita um primeiro passo para a calibra çã o. A
linha horizontal do quadrante dessa figura localiza -se, em geral, entre 80 e 90 % de
produçã o relativa , que é, usualmente, considerada a produçã o de má xima eficiência
económica. Isso, no entanto, nem sempre é válido, considerando que a má xima eficiência
económica é inerente ao valor económico do produto e à eficiência económica do sistema
de produçã o. A linha vertical projetada no eixo da variá vel x indica o teor do nutriente
no solo que diferencia as duas popula ções de dados (solos ), denominado nível crítico
( NC), como já comentado. Para os solos com teor do nutriente at?aixo (PR < 80 a 90 %) e
acima (PR > 80 a 90 %) do NC, verifica -se alta e baixa probabilidade de resposta à sua

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 779

aplica çã o, respectivamente. O NC pode ser, portanto, conceituado como o teor do nutriente


no solo, extra ído pelo mé todo de an á lise que discrimina solos com baixa e alta
probabilidade de resposta à aduba çã o, ou que determina 80 a 90 % da produção m á xima .
Em razã o de sua natureza gráfica, há certa imprecisã o na definiçã o do NC nesse processo,
como no exemplo ilustrado na figura 2b, em que ele está em torno de 50 mg dm 3 deK . "

A inexatid ã o do processo gr á fico na definiçã o das duas popula ções pode ser
superada pelo mé todo estatístico iterativo desenvolvido por Cate & Nelson (1971). Para
os cá lculos de acordo com este processo os dados experimentais sã o dispostos em ordem
crescente do teor no nutriente no solo (variá vel x ) extra ído pelo mé todo de análise,
acompanhados das respectivas produções dos tratamentos -Nutr e + Nutr e as produções
relativas (variá vel y) (Quadro 1) . Os dados sã o divididos em duas popula ções (Pop A e
Pop B), de modo que, inicialmente, a Pop A contenha os dois primeiros dados e a Pop B,
os demais. Os n ú meros de dados por populaçã o v ã o-se alterando até que a Pop B
compreenda os dois ú ltimos dados e a Pop A os demais. O mé todo fundamenta -se na
maximiza çã o da soma de quadrados, que reflete o peso da soma de quadrado entre a
diferença da PR média das duas popula ções e PR média geral . Em outras palavras,
define-se quantitativamente o ponto em que ocorre a má xima diferença média entre duas
popula ções. O mé todo pode ser processado por meio do cá lculo do coeficiente de
determina çã o ( R2), indicado por Braga (1972 ):

2 _ SQT - SQ Pop A - SQ Pop B


^ SQT

( l y )2
em que: soma de quadrado total SQ1 = Zy2 - - - —
soma de quadrado da Pop A SQ Pop A = Z y - ~pA
* ^
soma de quadrado da Pop B SQ Pop B = Z y -
^ ^
O nível crítico ser á o teor do nutriente intermediá rio entre o teor da Pop A,
correspondente ao maior valor de R 2 e o teor da Pop B imediatamente subsequente. Para
os dados apresentados no quadro l / que sã o os mesmos que ilustram a figura 1, o nível
cr ítico será de 50 mg dm 3 de K. Apesar de ser o mesmo valor do NC encontrado pelo
'

método grá fico (Figura 2b ), este mé todo é mais exato e possibilita uma interpreta çã o
mais f ácil dos dados.
Definições ainda mais adequadas do NC podem ser obtidas matematicamente por
meio da fun çã o descontínua - Li:iear Respovse Plateau - ou de funções curvilineares
(Figura 4). Por meio dessas, relaciora -se funcionalmente, a produçã o relativa com os
teores extraídos pelo método ae aná lise. A partir destas funções, estima -se o teor do
nutriente no solo que define a produ çã o de m á xima eficiência econ ó mica (80 a 90 % da
produçã o máxima ).

FERTILIDADE DO SOLO
i

780 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al . í

Quadro 1. Produ çã o absoluta e relativa de maté ria seca de plantas de eucalipto em vaso com
ou sem a aplica çã o de potá ssio, teor de potássio no solo extraído pelo Mehlich-1 e dados
necessá rios para o cá lculo do nível cr ítico de potá ssio pelo mé todo iterativo, de acordo
com Cate & Nelson (1971)
í

Produ çã o de MS Produ çã o Teor de K no Soma de quadrados *1* Teor de K


relativa ( y ) solo (x ) R2
m é dio * 2 *
- K + K * 3* Pop A Pop B

g / vaso % mg dm -3 mg dm 3 *

1, 63 3, 80 43 16
7, 50 10,51 71 27 405,15 1.411 ,60 0, 4502 28
8, 63 10, 22 84 29 902, 54 1.404, 32 0, 3018 30
5, 93 7, 08 84 31 1.132, 88 1.390.31 0, 2364 32
6,10 8 ,47 72 33 1.134 , 46 1.108 32 . 0, 3212 33
8 , 07 12, 35 65 33 1.160,13 400, 77 0,5276 35
8 , 27 9, 71 85 37 1.358,17 305 , 60 0, 4965 42
7 , 17 8 , 73 82 47 1.445,49 70 ,10 0, 5413 50 *4 *
10 ,07 10,55 95 53 1.878,08 50 , 47 0, 4163 71
14, 90 14, 30 104 89 2.601 , 68 30,72 0 , 2033 91
15,97 16,84 95 93
19 ,60 19 , 09 103 119

SQ total = 3.304,15. * > Média entre ú ltimo teor de K na popula çã o A e o primeiro da popula çã o B. Por exemplo,
(1 ) 2

28 = ( 27 + 29 ) / 2. (3) Dose equivalente a 200 kg ha 1 de K. (4 ) Nível crítico de K. '

Fonte: Dados adaptados de Prezotti (1985) .

(a ) (b) (c ) 4
°; 100 4
4
4 4
4 4

* v*
CS
80
4 4 4
<y 60
Quadr ática Mitscherlich LRP - Linear Response
£O 40 * 4 4 Plateau

=o 20 y = Po + pix - p2x 2 y = A (1 - 10-c x


( + b)
) y = Po + pix ; y =y
Q. 0
0 20 40 60 80 100 120 0 20 40 60 80 100 120 0 20 40 60 80 100 120
‘3
Teor de K no s o l o, mg dm
i

Figura 4. Fun ções matem á ticas aplicadas para relacionar produ çã o relativa com teor do
nutriente extraído do solo por algum mé todo de aná lise, no processo de calibra çã o do
mé todo.

Estes procedimentos são simples, porém nã o levam em considera ção a interaçã o


entre o nutriente, o extrator e a planta, com respeito à capacidade de recuperaçã o do {

nutriente. Sem esta percepçã o, tais procedimentos são adequados para definir o NC e as I

classes de disponibilidade apenas para solos semelhantes quanto ao fator capacidade


(Alvarez V., 1996). Por isso, agrupando os solos quanto à textura, Prezotti et al. (1988) í

encontraram, por meio do método gráfico e interativo de Cate & Nelson, valores de NC de ‘
5

47 e 73 mg dm 3 de K, para solos argilosos e arenosos, respectivamente.


'

FERTILIDADE DO SOLO
;
!

:?
j
í
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 781

Um dos propósitos da calibração é facilitar a interpretação dos resultados de análise


de solo, de maneira simples (Danke & Olson, 1990). O NC atende a este propósito, apesar
de definir apenas duas faixas ou classes de interpreta çã o: baixa e alta disponibilidade.
Outras classes de disponibilidade podem ser definidas, tais como: muito baixa, baixa,
média, alta, considerando as produ ções relativas < 50, de 50 a 70, de 70 a 90 e de 90 a
100 %, respectivamente ( Figura 5) . Mais recentemente, considera -se a classe de
disponibilidade muito alta, focando mais os possíveis impactos ambientais do que a
resposta da cultura. Esta divisã o em classes é subjetiva e arbitrá ria, visto que o processo
gráfico, o mé todo iterativo, ou mesmo os modelos de regressões nã o evidenciam inflexões
que justifiquem tais limites. Os teores que definem estas classes de disponibilidade,
conseqiientemente, també m variam de acordo com a sensibilidade do extrator ao fator
capacidade do solo. De forma análoga, a estas classes associa -se uma probabilidade de
resposta económica decrescente à fertilizaçã o (Figura 5). Segundo Tisdale et al. (1984), a
probabilidade de resposta económica à adubaçã o fosfatada e potássica é de 70 a 95, 40 a
70, 10 a 40 e < 10 %, para as classes de baixa, média , alta e de muito alta disponibilidade,
respectivamente.

100
ò-
.
P
»
n 80
>
t ta 60

7
&o
í
40 Probabilidade
de resposta
econó mica
1.
Q
20
MB B M A MA
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
3
Teor de K no solo, mg dm '

Figura 5 . Crit é rios para diagn óstico da fertilidade do solo, considerando classes de
disponibilidade muito baixa (MB), baixa (B), média (M) alta (A ) e muito alta (MA ), de
acordo com teores de potássio relacionados com a produçã o relativa e tend ência da
probabilidade de resposta económica à adubaçã o.
Fonte: Adaptado de Freitas et al. (1996).
i

O NC pode variar, também, com o mé todo de análise, com a espécie, com a idade da
cultura ( Novais et al., 1986; Santos, 2002) e com a sensibilidade do extrator ao fator
: capacidade do solo ( Novais & Kamprath, 1979; Muniz et al., 1987). As classes de
í
disponibilidade, conseqiientemente, variarã o com esta característica dos solos. Assim, o
íi conceito preferível para NC é o teor do nutriente no solo correspondente à disponibilidade
1s para se obter a produção de má xima eficiência económica, quando os demais nutrientes
] e fatores de produçã o estão próximos do nível adequado ( Alvarez V., 1996).
ít •
Utilizando regressões que descrevem a resposta da produção da cultura - curvas de
respostas (Figura 6a ) e a recuperaçã o do nutriente pelo método de análise (Figura 3), de
acordo com as doses aplicadas do nutriente ao solo, podem-se estabelecer níveis críticos
e classes de disponibilidade variáveis com o fator capacidade do solo (Alvarez V., 1996).

FERTILIDADE DO SOLO
782 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

As curvas de respostas sã o obtidas a partir de experimentos com doses crescentes do


nutriente, isoladamente ou em combinaçã o com doses de outros nutrientes, ou de outros
fatores de produ çã o (experimentos fatoriais). As curvas de respostas que ilustram a
figura 6a, por exemplo, são de experimentos que combinam doses de P e de calcá rio. A partir
dos teores do nutriente extraídos das amostras dos solos deste tipo de experimento é que
se estabelecem as curvas de recupera çã o, de acordo com as doses aplicadas ( Figura 3) .
Estas curvas de respostas (5 > (Figura 6 ) possibilitam estimar a produçã o má xima de
soja (2.348 e 1.403 kg ha 1, para o solo arenoso e argiloso, respectivamente), assim como as
'

doses de P necessá rias para atingi-las (650 e 562 kg ha 1 de P205, respectivamente ) . As '

doses que condicionam a máxima produção estão associadas à classe de alta disponibilidade
( Figura 6b ). Do mesmo modo, estimam-se as doses de P necessá rias para alcançar 50, 70
e 80 % das produções má ximas, que sã o os limites das classes de disponibilidade muito
baixa, baixa e m édia (Figura 6b ). Por meio das curvas de recupera çã o para o extrator
Mehlich-1, por exemplo ( Figura 3a ), estimam-se os teores no solo associados com estas
doses de P, isto é, os teores que delimitam as classes de disponibilidade de acordo com o
fator capacidade do solo ( Figura 6b ). Desta forma, para este exemplo, o NC de P pelo
Mehlich-1 é de 14,6 e 5,6 mg dm 3 de P, para os Latossolos de textura arenosa (180 g kg
"

de argila ) e argilosa ( 748 g kg 1 de argila ), respectivamente ( Freire et al., 1979 ).


'

(a )
2.400 -1
1.500

1.800 1.200
Latossolo com
Latossolo com 900 748 g kg'1 de argila
1.200
7
180 g kg‘1 de argila y = 393,8 - 2, 7 P + 0, 0024 P2 + 68 C
(0 600
JZ y = 422, 8 - 3, 0 P + 0, 0033 P2 653, 5 C - 161, 3 C2 Para C = 3, 8 t ha 1 calc á rio
'

a» 600
Para C = 2, 1 t ha 1 calc ário
'
300
.5, 0 0
o
w
o ( b) P d i s p o n í vel , mg d m 3
'

"O
1.4 6,8 14,6 25 0,7 2 ,8 5.6 10
8
V3
2.400
I
1.500
T 100
í (0
® 1.800 i 1.200 !
i 80|
!
I co
i
900 60 «j
1.200 vr 4-
i

B I M
í
l A MA
600
MB B M
40 £o
600 Í" B 300 i
A MA
20 u -o
f
i
0 0 0 o.
0 200 400 600 800 0 200 400 600 800
1
D o s e s d e P2O5 , k g h a '

Figura 6 . Produ çã o de soja de acordo com doses de f ósforo aplicadas a lanço na forma de
superfosfato triplo e com calagem, considerando as exigências da soja, as características
dos solos (a ) e as classes de interpreta çã o da disponibilidade de P (b), para dois Latossolos
com diferentes texturas.
Fonte: Adaptado de Freire et al. (1979).

(5 )
Este modelo linear de regressã o, caracterizado por uma parábola , ( y = P0 + p1 x - P 2x2 ), possibilita
encontrar o valor da variá vel x que define o seu ponto de má ximo, calculando sua primeira derivada
(ôy / ôx = P1 - 2 P2 x) e igualando -a a zero. Com este valor de x, encontra -se, por meio da regressão, o
má ximo valor de y . Outros modelos utilizados para descrever curvas de produções também possi -
bilitam estas estimativas .

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 783

A constru çã o deste modelo de diagnóstico da fertilidade se complementa com a


definiçã o das doses dos nutrientes que serã o recomendadas, de acordo com a classe de
fertilidade. Apesar da simplicidade do processo de recomenda çã o, predominam dois
princípios: o da fertiliza çã o de correçã o da fertilidade seguido de sua manutençã o e o da
fertiliza çã o para o atendimento do nível de suficiência do nutriente.
O princípio da correçã o e manuten çã o da fertilidade fundamenta -se na supera ção
das limita ções nutricionais em curto tempo - usualmente um ou dois anos, seguido de
aplica ções anuais de quantidades equivalentes à quelas perdidas por razões f ísicas (como
lixivia çã o ) ou químicas (como fixa çã o de P, Zn, etc.) e removidas com a produçã o das
culturas. É denominada fertiliza çã o do solo, em que as doses nã o dependem,
necessariamente, da interpreta ção dos resultados da análise do solo. Há questionamentos
a respeito dos aspectos econó micos e ambientais deste princípio.

Na fertiliza çã o para atingir a dose de suficiência, a recomenda çã o de fertilizantes se


fundamenta na eleva çã o do teor do nutriente no solo até aquele correspondente ao NC.
É, freqiientemente, a mais utilizada e se aplica ao modelo de diagnóstico da fertilidade e
recomenda çã o por meio da análise química do solo. É um princípio mais conservador,
pois as doses do nutriente decrescem da classe de fertilidade muito baixa a mé dia até
mínima ou nula, na faixa de teores altos. Nessas condições, a recomendação fundamenta-
se, usualmente, na reposiçã o das quantidades removidas pelas colheitas, constituindo o
que se denomina lei da restituiçã o. Uma das críticas a este princípio de fertilizaçã o é a
possibilidade do gradual declínio na reserva de nutrientes do solo. Há trabalhos, no
entanto, que indicam lenta correçã o da fertilidade do solo, o que se explica pelos efeitos
residuais dos fertilizantes e pela intensificaçã o da ciclagem biogeoquímica dos nutrientes.
Portanto, a an á lise química do solo, além de ser a base para definir a recomendaçã o de
fertiliza ções, sinalizar á a queda na fertilidade, indicando prov á vel resposta económica
à nova fertiliza çã o.
As estratégias e os recursos matem á ticos para definir as doses de fertilizantes sã o
variados, porém, ser ã o tã o mais exatos quanto maior e melhor for a base de dados
experimentais disponíveis. Sã o necessá rios experimentos em que se avalia a resposta
das culturas de interesse a doses crescentes do nutriente, em estrutura experimental uni
ou multifatorial, incluindo solos que se enquadrem nas diferentes classes de fertilidade
e, ainda, repetidos em v á rios locais ( regiões) e anos. Esses experimentos devem
possibilitar a identifica çã o da m á xima produ çã o da cultura para cada condiçã o
experimental. Apesar de ser a fertilidade do solo apenas um dos fatores determinantes
da produçã o vegetal, as curvas de resposta das culturas à fertiliza çã o possibilitam
relacionar a produçã o com as doses dos nutrientes. A análise dos dados passa pela
definiçã o da forma da curva de resposta . Sã o de car á ter linear ou curvilineá r ? Se
curvilinear, o modelo será linear: polinó mios de elevado grau, ou não-linear ? A equação
de segundo grau ( regressão quadr á tica ), a equa ção de Mitscherlich ( modelo assintó tico)
e o modelo "Linear Response Plateau" (Figura 4) são empregados com maior frequência.
Além disso, é importante a experiência que os grupos de pesquisadores envolvidos na
calibraçã o tê m a respeito da resposta das culturas à fertiliza çã o.

FERTILIDADE DO SOLO
784 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

Quando se disp õe de experimentos constitu ídos pelos tratamentos - Nutr e + Nutr,


empregados na fase inicial do processo de calibra çã o, como j á descrito, a dose
recomendada pode ser definida por meio da mé dia das doses adequadas - aquela
aplicada no tratamento + Nutr para os diferentes solos.
A partir de curvas de respostas da produ ção, estima-se a dose que proporciona a
produçã o de m á xima eficiência econó mica (80 a 90 % da produçã o má xima ) . De acordo
com a base de dados disponível, tais curvas de respostas podem ser definidas para os
solos individualmente, ou, entã o, considerando a média para os solos de acordo com as
classes de disponibilidade - muito baixa, baixa, média, alta e muito alta .
De acordo com esta estratégia, a dose recomendada do nutriente pode ser definida
com base em uma aná lise econó mica . Para isso, estabelece-se a funçã o matemá tica que
relaciona o incremento de produçã o obtido da adub‘a çã o ( y) com as doses de nutrientes,
sendo, com frequência, expressa pela regressã o quadrá tica:

y = Pox + M - M2-
Estabelece-se, também, a função matemá tica entre o custo da adubação (y), expresso
em valor monetá rio ( R$ ha 1) ou em termos de equivalência do produto, e as doses de
'

fertilizantes (kg kg 1):


'

y = ax
O valor de a nesta equa çã o corresponde à rela çã o entre o custo do fertilizante e o
custo unitá rio do produto. Esse valor de troca tem a vantagem de ser menos variável do
que o valor em moeda corrente, sobretudo em condições de uma economia instá vel.
Reunindo as duas funções em um mesmo grá fico (Figura 7), identifica -se facilmente
a dose de maior eficiência económica como aquela relacionada com o ponto na curva de
incrementos da produçã o mais distante da linha de rela çã o do custo de produçã o.
Corresponde à maior margem de lucro. Matematicamente, estima -se esta quantidade
igualando-se a primeira derivada da funçã o de incremento da produção ao coeficiente
da funçã o de custo:
5y
= Pi - 2 p2 x = « i
ôx

e, a partir desta, estima -se a dose ( x ) de adubo:

X ai ~
Pi
2P 2

No exemplo hipotético (Figura 7), tem-se:


8y
= 15,05 - 2(0,014) x
ôx
O valor de a indica que sã o necessá rias 2,52 unidades do produto para pagar o
custo de uma unidade do nutriente, asSim:
r
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 785

Figura 7. Curvas hipoté ticas para incremento da produçã o resultante da fertilizaçã o e do custo
do produto expresso em termos de equivalência do produto, de acordo com as doses do
nutriente e indica çã o da dose mais económica . A tangente 2,52 é a rela çã o entre os custos
unit á rios do nutriente e do produto.

2,52 - 15,05
x=
2(-0,014)
= 447,5 « 448 kg ha 1 do nutriente.
'

Demonstrou -se, anteriormente, que o NC e, por conseguinte, as classes de


disponibilidade variam, dentre outros fatores, com o fator capacidade do solo. A
recomendação de fertilizantes fundamentada no atendimento do NC variará com o fator
capacidade. Partindo da definiçã o de que o NC é o teor do nutriente que corresponde à
disponibilidade para obter a produ çã o de m á xima eficiência económica , a dose
recomendada ( DR) pode ser definida a partir do teor no nutriente disponível no solo
( Nutdisp) e da taxa de recupera çã o do nutriente pelo mé todo de análise ( Nutrecup / Nutadic)
( Alvarez V., 1996):
NC - NutdiSp
DR =
N recup
Nadic
Podem-se estabelecer as doses considerando os teores disponíveis ( Nutdisp) que
determinam os limites para cada classe de disponibilidade do nutriente. Desta forma, as
doses sã o definidas de forma contínua ou são consideradas as doses médias para cada
classe de disponibilidade.

Amostragem de Solo
Fundamentos da Amostragem
O desenvolvimento das técnicas de amostragem deve-se à impossibilidade ou à
nã o-praticidade de caracterizar as popula ções por meio da caracterização de todos os
seus indivíduos. Se a popula çã o em estudo é constituída de indivíduos id ênticos / os
resultados obtidos a partir da avalia çã o de um deles podem ser extrapolados para os
V

FERTILIDADE DO SOLO
786 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

demais, isto é, caracterizar a populaçã o. Se, por outro lado, existirem pequenas variações
entre os indivíduos, talvez três indivíduos devessem ser avaliados, mas, se houver muita
varia çã o, uma amostra constituída de ma ís que três indivíduos será necessá ria para
melhor caracterizar a popula çã o.
Se todos os indivíduos da popula çã o fossem avaliados, obter -se-iam a mé dia, o
desvio-padr ã o e outras estatísticas exatas ( paramé tricas ) da caracter ística avaliada . Ao
avaliar uma amostra tê m-se, de fato, estimadores das estatísticas param é tricas. A
avalia çã o de todos os indiv íduos da popula çã o também nã o assegura que os resultados
obtidos sejam exatos, porque há erro nas medições das caracter ísticas de cada indivíduo
- por menor que seja, sempre há erro de determinaçã o.
Chega -se, portanto, à conclusã o de que um valor médio ( x) de determinada
característica de uma amostra é resultante da média real ou paramé trica (;u ) mais um erro
( E ), assim:
X = p+ E
Sabe-se que E é constituído de dois tipos de erro: o de amostragem (Eam ), decorrente,
por exemplo, de um n ú mero insuficiente de indivíduos amostrados, mais o erro de
determinação ou analítico (Ean ), que é inerente ao mé todo de mediçã o sendo afetado pelo
equipamento e pelo operador. Assim:
E - Eam + Ean

Em geral, o erro de amostragem é muito maior que o erro analítico. Assim, a exatidã o
na caracterizaçã o de uma populaçã o depende muito mais de cuidados para minimizar o
primeiro erro que o segundo. Isto quer dizer que a partir de uma amostra nã o-
representativa da popula çã o, por maior que seja a acurácia das medições, X nunca
representará p satisfatoriamente.
Sumariando: pode-se dizer que, para uma popula çã o homogénea ( todos os
indivíduos idênticos), a amostra pode ser constituída de um único indivíduo para que se
tenha uma caracterizaçã o da popula çã o, considerando-se um erro de determinação
aceitá vel. Por outro lado, para uma popula ção heterogénea, a amostra deverá ser
constituída de mais de um indiv íduo da popula çã o e deverã o ser acrescentados mais
indivíduos à amostra à medida que se aumenta a heterogeneidade da popula ção.

Fundamentos da Amostragem de Solo


Direcionando o problema -amostragem para solos e, mais especificamente, para a
avaliaçã o da sua fertilidade, alguns aspectos devem ser considerados.
Inicialmente, é fato que o erro de amostragem é muito maior que o erro analítico
(Quadro 2). Para os mé todos de análise utilizados na avaliação da fertilidade do solo, o
erro de aná lise é, normalmente, inferior a 5 %, nos bons laboratórios. Ademais, no processo
analítico, utiliza -se uma porçã o muito pequena de solo, usualmente 10 cm3, para
representar grande volume de solo. Se se considerar um hectare (camada de 0-20 m, com
2 x 106 dm3 de solo), tal volume corresponde a 5 x 10 9 do volume de solo. Assim, a exatidão
'

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 787

Quadro 2. Coeficiente de varia çã o de algumas caracter ísticas obtidas a partir de repetições de


aná lise de uma mesma amostra no laborat ó rio e diferentes amostras de dois Latossolos
coletadas no Estado do Paraná

Repeti çõ es no campo
Caracter í stica Repeti çõ es no laborat ó rio *1*
LR ( 2 ) LV ( 2 >

PH 07/ 7 4
P 6, 3 101 27
K 19/ 32 29
Al 3+ 3, 9 40 15
Ca 2 + 2, 7 89 29
2+
Mg 3, 7 52 44
MO 1/ 5 14 14
(1 )
Dez repetições de uma amostra de solo em uma mesma série de determina ções realizadas no Laborat ó rio de
Aná lise de Rotina do Departamento de Solos, Universidade Federal de Viçosa . (2 ) An á lises de 49 amostras.
Fonte: Alvarez V. & Carraro (1976 ).

na avalia çã o da fertilidade do solo depende muito de uma criteriosa amostragem. A


partir de uma amostra não-representativa, nunca se obterá uma adequada caracterização
da fertilidade do solo, por maior que seja a acur á cia do laborató rio.
É fundamental considerar o solo uma popula çã o naturalmente heterogénea em suas
características, cuja variabilidade decorre de processos pedogenéticos, expressando-se,
horizontal e verticalmente, em razã o de fatores, tais como: mineralogia, vegeta çã o e
topografia e intensamente afetada pela atividade antr ópica .
O que é o "individuo" na "populaçã o solo"? Para a classificaçã o de solos, ele é o
Pedon ,sendo definido como um corpo tridimensional no qual se deve descrever e amostrar
o solo para representar a natureza e o arranjo dos horizontes. Suas dimensões laterais
devem ser grandes o bastante para incluir as varia ções representativas na forma dos
horizontes e na composição do solo (Soil Survey Staff , 1975). Este conceito nã o se aplica
à avaliaçã o da fertilidade. Para este fim, o individuo solo é a menor á rea, considerando
determinada profundidade - portanto, um volume - que se deve amostrar para
caracterizar a fertilidade de um volume de solo efetivamente explorado por uma planta
ou uma popula çã o de plantas, cujas dimensões laterais devem ser grandes o bastante
para incluir as variações representativas na composição do solo. Apesar da subjetividade,
esta conceitua çã o define diferentes estratégias de amostragem.
í A heterogeneidade do solo é detectá vel pela variabilidade entre indivíduos distantes
( maior que 2 m ), denominados macrovaria ções, e pela variabilidade entre indivíduos
mediamente distanciados (2 a 0,5 m) ou muito próximos (menor que 0,5 m ), caracterizados
meso e microvariações, respectivamente (James & Wells, 1990). As macrovaria ções
decorrem da variabilidade entre unidades classificadas como homogéneas. Elas são
decorrentes, naturalmente, dos processos pedogené ticos, mas podem ser acentuadas pela

FERTILIDADE DO SOLO
788 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

atividade antrópica, em decorrência do uso e do manejo do solo. Estas variações se


expressam por meio de características visualmente perceptíveis, tais como: topografia,
vegeta çã o, textura e cor do solo, condiçã o de drenagem e tipo de uso. As meso e
microvaria ções, embora sejam decorrentes, també m, da açã o dos fatores de forma çã o do
solo, sã o mais intensificadas pelas pr á ticas de manejo, tais como: preparo do solo,
aplica çã o localizada de fertilizantes, deposiçã o de resíduos orgâ nicos, etc. A influência
que essas varia ções têm, por exemplo, no processo de recomenda çã o de fertilizantes
depende da cultura . As microvaria ções podem ser importantes para culturas de ciclo
curto, mas têm menor significado para culturas perenes de porte arbóreo, em razã o da
grande extensã o do sistema radicular dessas plantas.
A heterogeneidade vertical també m decorre dos processos pedogené ticos e se
concretiza pela organiza çã o em horizontes com transiçã o difusa ou abrupta . As prá ticas
culturais, como fertiliza çã o localizada, e o sistema radicular das plantas cultivadas
acentuam esta variabilidade entre as diferentes camadas do solo.
Aspecto importante a ser considerado é se a heterogeneidade do solo depende ou
não do tamanho da á rea (extensã o) . De acordo com van den Hend & Cottenie (1960), a
heterogeneidade das características do solo é uniformemente distribuída em toda a á rea
de amostragem. No entanto, há constatação de menor variabilidade entre amostras obtidas
a curtas distâ ncias entre si, sugerindo que a heterogeneidade do solo nã o seria uniforme
e dependeria do tamanho da á rea (Alvarez V. & Carraro, 1976). Desta forma, o n ú mero
de amostras dependeria do tamanho da á rea de amostragem. No entanto, de acordo com
o primeiro caso, que parece ser a situação mais correta, o nú mero de amostras independe
do tamanho dessa á rea . Assim, para uma grande á rea - centenas de hectares - ou para
uma pequena á rea de uma parcela experimental, por exemplo, o número de amostra para
caracterizar a fertilidade do solo seria o mesmo.
Outro aspecto é que nã o há uniformidade entre a variabilidade das características
do solo, sobretudo aquelas importantes para caracterizar sua fertilidade (Quadro 3) .
Tais estatísticas sã o decorrentes da aná lise de 100 amostras coletadas em dois talhões
de 100 x 100 m demarcados lado a lado, um na encosta e outro no terraço, na região de
Viçosa, MG (Barreto et al., 1974). As 100 amostras foram coletadas nas intercessões das
linhas projetadas a partir de pontos demarcados a cada 10 m nas laterais dos quadrados.
O pH é uma característica pouco variá vel (baixo coeficiente de varia çã o - CV), enquanto
o P e o K disponíveis apresentam maior variabilidade. O baixo C V para o pH deve-se à
escala logarítmica de sua expressão. Atividades hidrogeniônicas de 10 5 e 2 x 10 5 mol L 1
‘ ' "

( varia çã o de 100 % ) , por exemplo, correspondem aos valores de pH 5,0 e 4,7,


respectivamente, que Correspondem a uma varia çã o de apenas 6,4 %. Observa-se, ainda,
que a magnitude dos CV e a ordem das características quanto à variabilidade variam de
acordo com o solo.
Considerando as variâ ncias (s2) das características medidas nas"n" amostras, pode-
se estabelecer o intervalo de confian ç a ( L ) em que as verdadeiras m édias das
caracter ísticas ocorrem, para determinado nível de probabilidade (a), usualmente 95 ou
99 %, que é obtido pela f órmula:
L = y ± ta (s2 / n ) 1 / 2 (D

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 789

O "t0" corresponde ao valor tabelado da distribui çã o de t de Student, para


determinado nível a de probabilidade e ( n-1) graus de liberdade. De acordo com os
resultados apresentados ( Quadro 3), h á 95 % de probabilidade do verdadeiro valor do
pH do solo no terra ço ocorrer entre 5,61 e 5,69 (5,65 ± 0,04) e do verdadeiro teor de P
disponível ocorrer entre 0,91 e 1,47 mg dm 3. Em termos relativos à média, a amplitude
'

de L é maior para o teor de P ( 65 % ) do que para o pH (1,4 %), indicando que/ para este
nível de probabilidade, o teor de P é determinado com menor exatid ã o.

Quadro 3. Valores médios ( y ), desvio-padr ã o (s ), coeficiente de varia çã o (CV ) e intervalo de


confiança ( L ) de caracter ísticas químicas de 100 amostras coletadas em á reas de 100 x 100
m em solos de terra ço e de encosta na região de Viçosa, MG

Terra ç o Encosta
Caracter ística
y s CV L<3> y s CV L < 3)

% %

PHH 2O 5, 65 0,27 4 ,73 0, 04 5,31 0 , 21 3,94 0, 03


3 (1 )
P ( mg dm ) '
1,19 1, 69 142, 21 0, 28 1, 22 0,75 61,67 0 ,12
3 (1 )
K ( mg dm ) '
63,30 52,34 82,69 8,64 20,88 24,84 118, 95 4,10
2+ 2+ 3 ( 2)
Ca + Mg (emole dm )
'
5, 22 0,89 17,13 0,15 2,11 0,92 43,48 0,15
3+ 3
Al ( cmoIc dm ) '
0,17 0, 06 37,20 0 , 01 0,48 0,17 35,97 0,03

Extrator: Mehlich-1. (2) Extrator ; KC1 1 mol L 1.


(1 ) (3)
L= y± ta (s / n ) / , n = 100 e t = 1,65.
2 1 2
0,05
Fonte: Barreto et al. (1974) .

Há, portanto, uma relaçã o inversa entre L e a exatidão. A Eq. 1 mostra que a amplitude
(L) em que a verdadeira média pode ocorrer aumenta com a variâ ncia ( heterogeneidade )
e a diminuiçã o do n ú mero de indiv íduos (amostras ) da população avaliados. Portanto,
para determinada variância, pode-se aumentar a exatid ã o da medida aumentando o
nú mero de indivíduos amostrados.
Considerando-se o intervalo ( D) como:

D= Ls - y = y - Li
em que Ls = limite superior e Ls = limite inferior do intervalo de confiança, deduz-se a
partir da Eq. (1) que:
D = ta (s2 / n) 1 / 2
i

OU

D2 = ta2 s2 / n
e da í que:
n = ta2 s2 / D. (2)

FERTILIDADE Dò SOLO
790 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

O intervalo D pode ser expresso em termos relativos à média, ou seja, como


percentagem ( f ) da média, entã o:
D = y f o u D = y (f / 100)

O desvio-padr ã o da característica é expresso em termos relativos à média, como


coeficiente de varia çã o (CV):
CV = (s / y ) 100,

do que resulta:
S = CV. y / 100
Substituindo estes valores de D e s na Eq. 2 tem-se:

2 ( CV2 y 2) / 1002
11 t <x
( y 2 f 2 )/ 1002

e simplificando-a, chega -se a:

n = ( taCV / f ) 2 ( 3)

A partir das Eq. 2 ou 3, pode-se definir o nú mero de amostra (n ) que se deve tomar de
uma populaçã o, para avaliar uma característica de variâ ncia conhecida (s ou CV), de
modo que a média desta característica seja estimada de acordo com um limite ( D ou f )
admissível para os propósitos da avalia çã o (Figura 8) .
Desta forma, se as variâ ncias das características químicas do solo forem previamente
conhecidas (Quadro 3), pode-se definir o n ú mero de amostras para, em futuras

Figura 8 . N ú mero de amostra (n ) de uma popula çã o para estimar a mé dia de acordo com
limite de varia çã o em rela çã o à m é dia ( f ) aceitá vel, para uma caracter ística com
determinada variâ ncia (CV ), considerando o nível de probabilidade ( a). ta é o valor tabelado
da distribuição de t de Student para uma probabilidade a e (n - l ) graus de liberdade.

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 791

amostragens, obter as médias destas características com determinada exatid ão, de acordo
com uma probabilidade de 95 %, por exemplo (Quadro 4 ) . Observa -se que para
características com maior CV ( P e K ), o n ú mero de amostras a serem coletadas para um
limite de varia çã o (f ) de 50 % deverá ser de 32 para P e 11 para K, no solo de terraço, e de
6 e 23, respectivamente, no solo da encosta ( Quadro 4). Para caracterizar o pHH2o ( menor
CV), para o mesmo limite de variaçã o, bastaria uma amostra. Com base nestas constatações
e visando maior praticidade, o n ú mero de amostras será definido pela característica
mais variá vel que, em termos gerais, sã o os teores de P e K disponíveis.

Quadro 4. N ú mero de amostras ( n ) por coletar solos de terra ço e de encosta, considerando


diferentes limites de varia çã o ( f ), para estimar os valores mé dios de característica químicas
dos solos, a 95 % de probabilidade (a)

Terra ç o Encosta
f (% )
pHn 2o P K Ca 2 + + Mg2
+
Al 3+ PHH 2O P K Ca 2 + + Mg2 + Al 3
+

n (1 )

20 1 199 68 3 14 1 38 139 19 13
30 1 89 30 2 7 1 17 62 9 6
50 1 32 11 1 3 1 6 23 3 3
100 1 8 3 1 1 1 2 6 1 1

n = ( t i CV / f )2, t005 ( 99GL )


(1 )
( = 1,65 e CV de acordo com o quadro 3.
Fonte: Barreto et al. (1974) .

O sistema radicular das plantas tende a integrar a variabilidade das características


do solo, desenvolvendo a cultura de acordo com a fertilidade média (Jackson, 1976).
Contudo, essa capacidade depende do volume de solo explorado, que pode ser maior em
culturas perenes de maior porte do que em culturas de ciclo anual. Assim, a amostragem
de solo para avaliaçã o da fertilidade estima a fertilidade mé dia, que pode ser obtida de
dois modos. Primeiro, por meio do cálculo das m édias aritmé ticas para os resultados
das análises de todas as amostras coletadas. Este procedimento possibilita, ainda, estimar
a variâ ncia das características do solo e pode se ter sua variabilidade (desvio-padrã o,
coeficiente de varia çã o). O segundo é por meio de uma "amostra composta", obtida da
mistura homogénea de todas as amostras denominadas "amostras simples". As análises
químicas são realizadas, no entanto, em um volume representativo da amostra composta,
ou seja , em uma subamostra . Estimam-se, portanto as condições médias do solo
amostrado, mas nada se pode afirmar sobre a variabilidade. A estimativa das médias
depende da variabilidade entre as amostras sirríples e, portanto, do n úmero de amostras
simples. Além disso, sã o condições fundamentais que cada amostra simples tenha o
mesmo volume de solo e a mistura seja o mais homogénea possível. Para um nível de
probabilidade de 80 ou 95 %, Santos & Vasconcelos (1987) constataram a mesma
variabilidade para cinco amostras compostas provenientes de 10 ou 20 amostras simples,

FERTILIDADE DO SOLO
792 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

que a mé dia de 30 amostras simples analisadas individualmente. Na avalia ção da


fertilidade do solo, o procedimento da amostra composta tem sido preferido, primeiro
por se mostrar suficiente para estimar a fertilidade média, desde que os fundamentos da
amostragem sejam atendidos e, seg úndo, por reduzir, sensivelmente, o gasto com as
análises químicas.

Procedimento da Amostragem do Solo

Os procedimentos da amostragem do solo para avalia çã o da fertilidade (fertilidade


média ) devem estar de acordo com os fundamentos abordados anteriormente.
A exatid ã o ou acurá cia com que as caracter ísticas médias ser ã o estimadas será tã o
maior quanto maior for a homogeneidade do solo. Assim, uma á rea a ser amostrada deve
ser dividida em estratos, glebas ou talhões, fundamentando-se em indicadores de
macrovaria ções, facilmente perceptíveis ( Figura 9 ) . Consideram -se bons indicadores a
topografia , a cobertura vegetal natural ou o uso agrícola, textura, cor, condições de
drenagem do solo, histórico de manejo e de produtividade agrícola . Além destes, outros
atributos podem ser utilizados com o propósito de definir glebas mais homogé neas - na
realidade, menos heterogéneas. Como consequência, os limites das glebas ou estratos
sã o definidos por essas características e suas combina ções e nã o pelo tamanho. No
entanto, quando o tamanho da gleba dificultar a distribuiçã o uniforme dos pontos de
coleta das amostras simples (Figura 9), ela poderá ser subdividida em glebas menores. A
prá tica tem demonstrado que, dependendo da topografia, a á rea de 10 ha possibilita
uma distribuiçã o uniforme das amostras simples.

Figura 9. Divisã o de uma á rea em glebas ou estratos e distribuiçã o dos pontos de coleta das
amostras simples na gleba , em um planejamento de amostragem para avalia çã o da
fertilidade do solo.

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 793

Por mais uniforme que seja a gleba , haverá, sempre, a variabilidade intrínseca ao
solo - meso e microvariações. As características químicas, em especial, como já abordadas,
têm intensa variabilidade a curtas distâ ncias no solo. Para alcançar maior exatid ã o na
avalia çã o da fertilidade mé dia, coleta -se um n ú mero de amostras simples, definido a
priori , como demonstrado anteriormente, de acordo com as características de maior
variabilidade. Este n ú mero varia de 10 a 20 (Sanchez, 1976) ou de 20 a 40 amostras
simples por gleba (Jackson, 1970; Barreto et al., 1974; Alvarez V. & Carraro, 1976). Apesar
desta ampla faixa, é certo que nã o se deve coletar menos que 10 amostras simples por
gleba . Este n ú mero deve aumentar à medida que as condições naturais ou o manejo
imprimam maior variabilidade nas características do solo. Esta variabilidade aumenta
com a intensifica çã o do uso agr ícola decorrente da aplica çã o de corretivos incorporados
ou nã o em definida camada do solo e da aplica çã o localizada de fertilizantes e da
decomposiçã o localizada de resíduos orgâ nicos. Tais efeitos se fazem, ainda, mais
intensos no sistema plantio direto ( veja capítulo XV ), gra ças à nã o-homogeneiza çã o do
solo por meio da ara çã o e gradagem . Da mesma forma, ela é mais intensa em solos
argilosos do que em solos arenosos, e mais em solos aluviais do que em solos das encostas
e do topo da paisagem.
Considerando que se busca estimar a fertilidade média e que esta ser á obtida de
uma amostra composta, todas as amostras simples devem ter o mesmo volume de solo e
coletadas na mesma profundidade. Isto é conseguido pelo uso de trados ou sondas
específicas para amostragem de solo (Figura 10). Maiores cuidados sã o requeridos quando
se utilizam enxada, enxad ã o ou pá .
A profundidade de amostragem deve ser definida de acordo com a cultura que está
sendo ou será cultivada na gleba . Deve-se amostrar a camada de solo que ser á explorada
pelo maior volume do sistema radicular da planta que, usualmente, é associado à
profundidade de preparo do solo, nos sistema de cultivo convencional. Para plantio de
culturas anuais ou de pastagens, amostra -se a camada de 0-20 cm; para pastagens já
estabelecidas, a amostragem pode ser de 0-10 cm e, para culturas perenes (caf é, fruteiras,
essências florestais, etc.), a amostragem deve ser feita por camadas como, por exemplo:
de 0-20, de 20-40 e de 40-60 cm, constituindo amostras compostas por camada .

Figura 10. Equipamentos mais comuns utilizados na coleta de amostras de solo.


í - •

FERTILIDADE DO SOLO
794 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

Com base no fundamento de que a variabilidade das caracter ísticas do solo é


uniformemente distribu ída na gleba e que independe do tamanho da gleba, os pontos de
coleta das amostras simples devem ser aleatoriamente distribuídos em toda a gleba.
Recomenda -se que os pontos de coleta sejam distribuídos percorrendo-se a gleba em
zigue-zague (Figura 9) . A distribuiçã o dos pontos torna -se dif ícil em glebas muito
extensas, da í surge a recomenda çã o de subdivisã o de glebas muito grandes, feita
anteriormente. Apesar da localiza çã o aleató ria dos pontos de amostragem , devem-se
evitar acidentes estranhos na á rea , tais como: formigueiros, cupinzeiros, locais de
queimada e de deposiçã o de fezes em pastagens. Do mesmo modo, os resíduos vegetais
sobre o solo devem ser removidos no ponto de coleta da amostra simples.
Quando a varia çã o da caracter ística analisada nã o obedece a uma distribuiçã o
espacial aleató ria, como no caso de sistema plantio direto pela fertiliza çã o localizada, os
resultados de uma amostra composta podem nã o representar a fertilidade média da
gleba . Nestes casos, o emprego da geoestatística é recomendado, e a adoçã o da técnica
do semivariograma é indicada para verificar a depend ência espacial entre as amostras
simples (Vieira, 2000). Por esta técnica estabelece-se a distâ ncia m ínima entre amostras
simples para que elas sejam consideradas independentes. O uso da geoestatística se
aplica na amostragem de solo em sistema plantio direto, onde pode haver varia çã o
sistemá tica nos valores das caracter ísticas químicas do solo, e na agricultura de precisã o,
tendo em vista que cada amostra de solo é analisada individualmente, para que a
recomenda çã o de fertilizantes seja feita em doses variá veis.
Embora o emprego da geoestatísitca tenha -se intensificado mais recentemente, a
amostragem de solo, tanto no sistema tradicional de cultivo como no sistema plantio
direto, tem-se fundamentado na estatística convencional, isto é, no princípio de que a
varia ção das características do solo se distribui aleatoriamente na gleba . Isto se deve, em
parte, à experiência que o técnico tem com a cultura, o que permite antever as possíveis
variações e estabelecer um sistema de amostragem que represente as condições médias
da á rea. Por exemplo, no sistema plantio direto estabilizado ( mais de 5 anos), há tendência
de as variações das caracter ísticas quínpcas se tornarem aleató rias (o solo torna -se mais
homogéneo) entre amostras simples ( Anghinoni & Salet, 1998). Em culturas perenes,
nas quais a adubação e correçã o do solo são feitas de maneira mais localizada, o sistema
de amostragem pode variar com a idade da planta çã o, com retirada de amostras mais
próximos das plantas nas idades mais jovens, e abranger á rea mais ampla com o aumento
da idade da cultura (Faria , 2006).
Considerando que a aduba çã o acentua as microvariações, devem ser tomados
cuidados especiais na coleta das amostras simples em glebas com cultura, sobretudo
naquelas com sistema de cultivo intensivo ou com plantio direto. Uma alternativa é
distribuir proporcionalmente os pontós de coleta das amostras simples entre as á reas
não influenciadas ou influenciadas pelo fertilizante (Figura 11). Tomando, por exemplo,
uma cultura com espaçamento de 80 cm e assumindo que a fertiliza çã o localizada exer ça
uma influência em uma faixa de 20 cm, estima -se que 1 / 4 ( 20 / 80) das amostras simples
sejam na faixa de influência direta do fertilizante (linha de plantio) e 3 / 4 (60 / 80) nas
entrelinhas. Outra alternativa é a coleta da amostra simples em uma faixa, ou em pontos
localizados transversalmente à linha de plantio, cobrindo metade do espaço entre as

FERTIL í DADE DO SOLO


XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 795

Figura 11. Distribuiçã o de amostras simples em uma gleba sob intensa influência de fertiliza çã o
localizada em plantio convencional, sistema piando direto e cultura perene.

linhas de plantio ( Figura 11). Esta estratégia tem sido especialmente recomendada para
glebas com sistema plantio direto ( veja capítulo XV ).
Em glebas com culturas perenes arbó reas, as amostras simples devem ser coletadas
na á rea sob a proje çã o da copa ( Figura 11) , onde, usualmente, sã o aplicados os
fertilizantes e há maior influência da queda dos resíduos vegetais. A amostragem da
faixa entre as linhas de plantio se justifica quando esta for utilizada para cultivos
intercalares e, nesse caso, deve ser tratada como uma gleba específica.
As amostras simples coletadas numa gleba ou em diferentes camadas sã o,
individualmente, agrupadas em uma vasilha limpa, preferencialmente de plástico, para
evitar a contamina çã o com metais. As amostras simples sã o misturadas, muito bem
homogeneizadas, obtendo-se a amostra composta , e da í se recolhe uma por çã o
(subamostra ), com um volume em torno de 300 cm3. Portanto, haver á tantas subamostras
quantas forem as glebas e ou camadas amostradas. Esta amostra poder á ser seca à
sombra e, se peneirada, deve-se ter o cuidado de passar integralmente o volume de solo
da amostra por uma peneira com malha de 2 mm.
Assim sendo, a acurá cia na avalia çã o da fertilidade do solo e, por conseguinte, nas
recomendações de corretivos e fertilizantes advindas do diagnóstico da fertilidade,
depende essencialmente de criteriosa amostragem. Isto quer dizer que, a partir de uma
amostra nã o-representativa de um solo, nunca se ter á uma adequada estimativa da
fertilidade média por mais acurado que seja o mé todo de análise e laboratório.
Concluindo, a acur á cia com que uma amostra composta representa a unidade de
amostragem depende da amplitude de varia çã o da característica em estudo, do nú mero
de amostras simples coletadas e da maneira como estas são distribuídas. O resultado
das análises aproxima -se da característica real do solo quando: (a ) a amostra composta
é representativa do solo da gleba; (b) nenhuma alteração (modificaçã o ou contaminação)
tenha ocorrido na amostra antes da aná lise; (c) as subamostras usadas na análise sejam
representativas das amostras originais; e (d ) a análise seja exata e represente realmente
o desejado.

FERTILIDADE DO SOLO
796 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

Sistemas de Interpreta çã o de An álise de Solo e Fertilizantes


No Brasil, a aná lise qu ímica do solo para a avalia çã o da fertilidade tem como marco
de referência o programa integrado de aná lise química de solo entre o Ministério da
Agricultura, por meio do Instituto de Química Agrícola - atual sede da Embrapa Solos -
e a North Carolina State University, USA, durante a década de 60. Desde entã o, pesquisas
desenvolvidas nas Universidades e Instituições de pesquisas possibilitaram construir o
atual modelo brasileiro de avalia çã o da fertilidade do solo, baseado na análise qu ímica .
Os métodos de aná lise química de solo em uso no Brasil podem ser, em linhas gerais,
categorizados em dois grupos: um, fundamentado no uso do extrator á cido - Mehlich-1
e da solu çã o salina de KC1, e outro, no uso das resinas de troca iô nica e do extrator
quelatante DTPA.
Uma particularidade relevante é a existê ncia, atualmente, de cinco programas de
controle de qualidade de aná lise de solo no Pa ís. Apesar de estes programas terem uma
concepçã o regional, hoje eles reú nem, de fato, laborató rios que praticam os mesmos
mé todos de aná lise de solo (Quadro 5). Sã o eles: o Programa de Ensaio de Proficiência
do Instituto Agron ó mico de Campinas de Sã o Paulo ( PEP- IAC ) , o Programa
Interlaboratorial de Controle de Qualidade de An á lise de Solos de Minas Gerais
(PROFERT), o Programa da Rede Oficial de Laborató rios de Aná lise de Solo e de Tecido
Vegetal dos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina (ROLAS), o Programa da
Comissão Estadual de Laboratórios de Análises Agronómicas do Estado do Paraná (CELA)
e o Programa de Aná lise de Qualidade de Laborató rios de Fertilidade da Embrapa
(PAQLF). A avaliação da qualidade dos resultados é efetuada por meio da análise química
de amostras de solo. Avalia-se a convergência dos resultados dos laboratórios de acordo
com critérios estatísticos, específicos a cada Programa . Os laboratórios com resultados
convergentes credenciam-se para o uso do selo de qualidade do respectivo Programa nos
seus laudos de análise. Desta forma, esses Programas zelam pela qualidade das análises
de solo realizadas para os agricultores.
Apesar de os laborató rios distinguirem-se pelo mé todo de extra çã o que adotam
(extrator á cido ou resinas de troca iônica ), h á mé todos comuns entre eles (Quadro 5). A
determina çã o da acidez trocá vel, por exemplo, é feita com a extraçã o do Al3+ com soluçã o
de KC11 mol L 1, dosando-se a acidez ppr meio da titula çã o ácido-base. Os mé todos para
'

determinar a disponibilidade de S e de B també m sã o comuns a todos os laboratórios. O


S disponível é extra ído com a soluçã o de Ca (H2P04)2 500 mg L 1 e a dosagem é feita por
'

turbidimetria pela forma çã o de BaS04. O B disponível é extraído por á gua quente e a


dosagem é feita por espectrofotometría, utilizando o regente azometina -H. A maioria
dos laboratórios determina os teores de matéria orgâ nica por meio da oxidação do C
orgâ nico com soluçã o de K 2Cr207 em meio á cido; no entanto, a dosagem é feita tanto por
titulometria de oxirredu çã o como pó r colorimetria . Os laborató rios vinculados ao
Programa CELA, no entanto, adotar ão a determina çã o da maté ria orgâ nica por meio do
mé todo da incinera çã o, a partir de 2008.
Há, por outro lado, características do solo determinadas por diferentes métodos, mesmo
por laboratórios integrantes de um mesmo programa de controle de qualidade. O pH em

FERTILIDADE DO SOLO
r

XIII - AVALIA çã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 797

Quadro 5. Mé todos de aná lises químicas para avalia çã o da fertilidade do solo utilizados pelos
laborató rios integrantes dos programas de controle de qualidade da aná lise química de
solo no Pa ís

Caracter í stica PEP- IAC (1) PROFERT ( 2 ) ROLAS ( 3) CELA ( 4 ) PAQLF(5 )

pH CaCh 0,01 mol L 1 '


H20 (1:2,5) H 2O (1:1) H 2O (1:2,5) H2O (1:2,5)
(1:2,5)
' * Al 3+ KC1 1 mol L '
KC1 1 mol L '
KC1 1 mol L 1 KC1 1 mol L ' KC1 1 mol L 1
' ’ '

Ca 2 + e Mg 2 + Resina
(6)
KC1 1 mol L 1 '

KC1 1 mol L ‘
KC1 1 mol L 1 '
KC1 1 mol L

H + Ai SMP(7) Ca (OAc) 0, 5 mol L 1 SMP


'
Ca (OAc) 0, 5 mol L 1 Ca (OAc) 0, 5 mol L 1
' ’

pH 7,0 ou SMP pH 7, 0 pH 7,0 ou SMP

P dispon ível Resina (6) Mehlich -1 Mehlich -1 Mehlich -1 Mehlich -1


+ (6)
K dispon í vel e Na Resina Mehlich -1 Mehlich -1 Mehlich -1 Mehlich -1
%
S dispon í vel Ca (H 2 P04 ) 2 Ca ( H 2 P04 ) 2 Ca ( H 2 P04 ) 2 Ca ( H 2 P04 ) 2 Ca (H 2P04 ) 2
500 mg L 1 em H 2O 500 mg L 1 em HOAc 500 mg L 1
' " ‘
500 mg L 1 ’

500 mg L 1 ’

Fe, Mn , Cu e Zn DTPA{8 ) Mehlich -1 Mehlich -1 Mehlich -1 Mehlich -1


dispon í veis

B dispon í vel Á gua quente Á gua quente Á gua quente Agua quente Á gua quente

Maté ria org â nica C oxid á vel por C oxid á vel por C oxid á vel por Maté ria org â nica por C oxid á vel por
l
Cr 2072 dosagem
'
Cr 2 C> 72 dosagem

Cr 2C> 72 dosagem
'
incinera çã o Cr2C>72 dosagem

titulom é trica ou titulom é trica ou colorim é trica titulom étrica ou


colorimé trica colorim é trica colorim é trica
(1 )
Programa de Ensaio de Proficiê ncia do Instituto Agron ó mico de Campinas, SP. (2 ) Programa Interlaboratorial de
Controle de Qualidade de An á lise de Solos de Minas Gerais. (3) Programa da Rede Oficial de Laborat ó rios de
An á lise de Solo e de Tecido Vegetal dos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. (4 ) Programa da
Comissã o Estadual de Laborat ó rios de An á lises Agron ó micas do Estado do Paraná . (5) Programa de Aná lise de
Qualidade de Laborat ó rios de Fertilidade da Embrapa . (6 ) Utilizam -se resina mista (cati ô nica + ani ô nica ). ^ So-
lu çã o mista de cloreto de cá lcio, cromato de pot á ssio, acetato de cá lcio e trietanolamina , com pH tamponado em
7,5. (8) Acido dietilenotriaminopentaacé tico.

á gua, por exemplo, é, em geral, determinado na rela çã o solo:soluçã o de 1:2,5; no entanto,


os laboratórios integrantes dos Programa ROLAS empregam a relação 1:1. Na determinação
da acidez potencial (H + Al), empregam-se dois mé todos: extração da acidez com Ca (OAc)
I
0,5 mol L 1 pH 7,0 e sua dosagem por titulometria á cido-base; e o mé todo SMP, que se
'

fundamenta na proporcionalidade entre o ln ( H + Al ) e a depressã o que o pH da solução


SMP, tamponado em pH 7,5, sofre quando em contato com o solo ( veja capítulo V). Labo-
ratórios que integram o PROFERT e o PAQLF, pó r exemplo, adotam os dois métodos.
Apesar destas varia ções, h á relativa uniformidade nos m é todos de an á lise
empregados, comparada com a de outros pa íses de dimensã o territorial comparada à do
1
Brasil e com agricultura altamente desenvolvida , como Austrália e Estados Unidos.

Tabelas de Interpretaçã o
Os critérios de diagnóstico da fertilidade com base na an álise química do solo, assim
como as orienta ções para fertiliza çã o das culturas, sã o organizados em manuais.

FERTILIDADE DO SOLO
798 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

Citam-se, como exemplos: Recomendações de Aduba çã o e Calagem para o Estado de São


Paulo - Boletim Técnico 100 (Raij et al., 1996), Recomendações para o Uso de Corretivos
e Fertilizantes em Minas Gerais - 5a Aproxima çã o ( Ribeiro et al., 1999 ), Manual de
Aduba çã o e de Calagem para os Estados do Rio Grande do Sul è Santa Catarina
(Sociedade ..., 2004) e Sugestã o de Aduba çã o e Calagem para Culturas de interesse
Económico no Estado do Paraná - Circular Técnica 128 (Oliveira, 2003). Estes Manuais
apresentam critérios de diagnóstico da fertilidade para os mé todos de análises vinculados
aos programas PEP-IAC, PROFERT, ROLAS e CELA, respectivamente. Desta forma, a
aplicabilidade desses manuais no diagn óstico da fertilidade ultrapassa os limites
regionais para os quais sugerem seus títulos.
O modelo de diagnóstico se fundamenta na vincula çã o dos teores dos nutrientes (P,
K, Ca , Mg e micronutrientes) e demais resultados' das aná lises químicas ( pH, acidez
trocá vel, acidez potencial, CTC, teor de maté ria orgâ nica ) a classes de disponibilidade
ou de adequa çã o relacionadas com a produçã o relativa das culturas . Classes de
disponibilidade muito baixa, baixa, m édia e alta se relacionam, em geral, com produçã o
relativa menor que 50, 50-70, 70-90 e 90-100 %, respectivamente. Considera -se, ainda,
a classe muito alta para teores que superam o teor do limite superior da classe alta . Há
particularidades, como a apresentada no Boletim Técnico 100 (Raij et al., 1996 ), que
consideram produçã o relativa menor que 70, 70-90 e 90-100 %, para definir classes de
muito baixa, baixa e m é dia disponibilidade, respectivamente. A intensidade do
detalhamento das classes depende da quantidade de pesquisas em que se fundamentou
o processo de calibra ção.
A interpreta çã o dos resultados varia de acordo com o mé todo de aná lise. Na
interpretaçã o dos teores de P disponível determinado pelo método Mehlich-1, consideram-
se os teores de argila (Sociedade..., 2004; Alvarez V. et al., 1999 ) ou o valor de P
remanescente ( Prem ) ( Alvarez V. et al., 1999 ) ( Quadro 6 ) . Isto é necess á rio porque a
capacidade de o Mehlich-1 extrair P diminui com o aumento do fator capacidade de P do
solo, com o qual o teor de argila e o Prem sã o, direta e indiretamente, relacionados,
respectivamente ( veja capítulo de VIII). Apesar da uniformidade de procedimentos, os
teores de P disponível nas classes de fertilidade, de acordo com o teor de argila, utilizadas
em Minas Gerais, sã o mais elevados que aqueles para o Rio Grande do Sul e Santa
Catarina (Quadro 6), e esta diferença acentua -se com a diminuiçã o do teor de argila .
A interpretaçã o do K disponível pelo mé todo Mehlich-1 não considera o uso do teor
de argila por nã o haver interferência ensível, em termos pr á ticos, do fator capacidade
^
do solo na eficiência do extrator. No entanto, esta eficiência pode ser afetada pela
capacidade de troca de cá tions a pH 7;0, o que levou a considerar esta característica na
interpreta çã o do K disponível nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina
(Sociedade..., 2004) (Quadro 7).
O NC de um nutriente no solo varia com as exigências nutricionais, com a
produtividade e com o está dio de desenvolvimento da planta. Apesar disto, em geral, o
atual modelo de diagnóstico da fertilidade nã o leva em considera çã o estes aspectos na
interpreta çã o dos resultados de an á lises de solo . H á , no entanto algumas
particularidades. A interpretaçã o do Fj extraído pelo mé todo da resina de troca aniônica

FERTILIDADE DO SOLO
i

XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 799

Quadro 6. Classes de interpreta çã o da disponibilidade de f ósforo extra ído pelo m é todo


Mehlich-1, conforme o teor de argila e de f ósforo remanescente (Prem ), de acordo com o
! Manual de Aduba ção e de Calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina
e a as Recomenda ções para o Uso de Corretivos e Fertilizantes em Minas Gerais

Classe de teor Classe de interpreta çã o *1 *


de argila e Prem
Muito baixo Baixo M é dio Bom Muito bom

Argila ( g kg 1 )
'
mg dm -3
Rio Grande d o Sul e Santa Catarina
> 600 < 2,0 24 -4 , 0 4.1 - 6 , 0 6,1 -12, 0 > 12 , 0
410- 600 < 3,0 3.1 -6, 0 6.1 - 9 ,0 9,1 -18, 0 > 18 , 0
210-400 < 4, 0 4.1 -8 , 0 8 , 0 -12 , 0 12.1- 24, 0 > 24 , 0
< 200 < 7,0 7.1 -14, 0 14, 1 - 21 , 0 21.1-42, 0 > 42, 0

Minas Gerais
\
> 600 < 2, 7 2, 8 - 5 , 4 5, 5 - 8 , 0 8,1 -12, 0 >12,0
350- 600 < 4, 0 4,1 - 8 , 0 8, 1 -12, 0 12,1 -18, 0 > 18 ,0
150- 350 < 6,6 6, 7 -12, 0 12,1 -20, 0 20.1 - 30,0 > 30, 0
< 150 < 10,0 10,1 -20, 0 20 ,1 - 30 , 0 30.1 -45, 0 > 45, 0

Prem ( mg L 1 )'

0- 4 < 3, 0 3.1 -4 ,3 4.4 - 6, 0 6,1 - 9,0 > 9,0


4 -10 < 4 ,0 4.1 -6,0 6 ,1 -8 , 3 8 ,4-12, 5 > 12, 5
í
10-19 < 6,0 6.1 -8,3 8.4 -11 ,4 11 ,5 -17,5 > 17, 5
19- 30 < 8,0 8.1 -11 ,4 11 ,5 -15 ,8 15.9-24,0 > 24, 0
30-44 < 11 , 0 11.1-15 , 8 15.9 -21 , 8 21.9 - 33,0 > 33, 0
44 - 60 < 15, 0 15.1 -21 ,8 21.9-30, 0 30,1 -45, 0 > 45, 0
(1 )
Para Rio Grande do Sul e Santa Catarina as classes de teor bom e muito bom correspondem a alto e muito alto,
respectivamente.
Fonte: Sociedade... (2004); Alvarez V. et al. (1999 ) .

Quadro 7. Classes de interpreta çã o da disponibilidade de pot á ssio extra ído pelo m é todo
Mehlich-1, conforme a capacidade de troca de cá tions a pH 7,0, de acordo com o Manual
de Aduba ção e de Calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina

Classe de interpreta çã o
Classe de CTC a pH 7,0
»
Muito baixo Baixo M é dio Alto Muito alto

emole dm 3 ’
mg dm
*3

> 15 < 30 31 -60 61 -90 91 -180 > 180


5 ,1 -15 < 20 21 -40 41 -60 61 -120 > 120
5,0 < 15 16- 30 31 -45 46 -90 > 90

t Fonte: Sociedade... (2004) .

proposta no Boletim Técnico 100 (Raij et al., 1996) nã o considera qualquer característica
relacionada com o fator capacidade para P do solo, mas observa a exigência da cultura
em P. As culturas foram agrupadas em ordem crescente de exigência nutricional em:
florestais, perenes, anuais e hortaliças (Quadro 8).
i

.
FERTILIDADE DO SOLO

í
800 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

Quadro 8. Classes de interpretaçã o da c isponibilidade de f ósforo extra ído pelo mé todo da


^
resina de troca, conforme a exigência nutricional da cultura, de acordo com o manual de
Recomenda ções de Aduba çã o e de Calagem para o Estado de Sã o Paulo - Boletim
Técnico 100

Classe de interpretaçã o
Grupo de culturas
Muito baixo Baixo M é dio Alto Muito alto

mg dm 3 '

Florestais <2 3 -5 6 -8 9 -16 > 16


Perenes <5 6 -12 13-30 31 - 60 > 60
Anuais < 6 7 -15 Í6 -40 41 -80 > 80
Hortali ç as < 10 11 -25 26 - 60 61 -120 > 120

Fonte : Raij et al . (1996 ) .

Na 5a Aproximaçã o (Ribeiro et al., 1999), há, também, diferenciaçã o dos teores extra-
ídos pelo método Mehlich-1 de acordo com a cultura e com o estádio de desenvolvimento
para algumas delas. Para hortaliças ( Fontes, 1999 ), por exemplo, os teores de P e K
disponíveis são quatro e 1,3 vezes maiores, respectivamente, do que aqueles apresenta -
.1
dos no quadro 6. Há critérios específicos para interpretar os teores P para o plantio de i

lavouras de caf é, considerando teores disponíveis três vezes maiores do que aqueles
apresentados no quadro 6 (Guimar ã es et al., 1999 ). No diagnóstico da disponibilidade
do K para a fase de manutençã o da lavoura de caf é, é considerado teor 1,5 maior do que
aqueles considerados para as culturas anuais. Na interpreta çã o dos teores de P e K
(Mehlich-1) e de Ca 2+ e Mg2+ (KC11 mol L 1) para a cultura do eucalipto, consideram-se
'

níveis cr íticos para a fase de produçã o de mudas e para a fase de campo ( manutenção ) e 1

estes variam de acordo com a produtividade ( Barros & Novais, 1999) (Quadro 9).
A falta de um m é todo analí tico indicador da disponibilidade do N é uma
particularidade no atual modelo brasileiro de diagnóstico da fertilidade do solo. Nos
Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, infere-se sobre a disponibilidade do N a
partir dos teores de matéria orgâ nica: Teores inferiores ou iguais a 2,5, de 2,6 a 5,0, e
t
superiores a 5,0 % de matéria orgâ nica indicam baixa, mé dia e alta disponibilidade,
respectivamente (Sociedade..., 2004). De acordo com o Boletim Técnico 100 (Raij et al.,
1996), a disponibilidade de N varia com o manejo do solo e com a cultura anterior,
caracterizando -se solos com baixa , m é dia e alta resposta esperada à aduba çã o
nitrogenada . Segundo esses critérios, a probabilidade de as culturas responderem à
aduba çã o nitrogenada é baixa (alta disponibilidade) em solos sob pousio por mais de
dois anos, ou após pastagem e cultivo intensivo com leguminosas. Esta probabilidade é i
média, quando os solos sã o á cidos, propiciam baixa produtividade, são cultivados
esporadicamente com leguminosa, ou ) ainda , com pousio menor que um ano. Espera-se
alta resposta ( baixa disponibilidade ) nos solos corrigidos, com m é dia a alta I

disponibilidade de P e K, cultivados intensamente com gramíneas ou outras culturas


nã o-fixadoras de N 2, manejados com plantio direto nos primeiros anos e solos arenosos.

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 801

Quadro 9. Teores cr íticos de f ósforo e pot á ssio extra ídos pelo mé todo Mehlich-1 e de cá lcio e
magnésio trocá veis extra ídos com KC1 1 mol L 1, para diferentes fases e produtividade de
eucalipto, de acordo com as Recomendações para o Uso de Corretivo e Fertilizantes em
Minas Gerais - 5a aproxima çã o

Fase de campo ( manuten çã o )


1

Nutriente Solo Produ çã o de mudas Incremento m é dio anual ( m ha ) *

- 20 30 40 50

3
mg dm '

P Argiloso 60 4,3 4 ,3 4, 4 4 ,5
Arenoso 80 6, 2 6 ,3 6,4 6,5
K 10 45 60 75 90

emole dm 3 '

Ca 2
+
0 , 20 0,45 0, 60 0,470 0,80 .

2+
Mg 0, 05 0,10 0,13 0,16 0,19

Fonte: Barros & Novais (1999 ).

i Tabelas de Recomenda ções de Fertilizantes

O car á ter regional dos Manuais j á citados se expressa nas recomenda ções de
fertilizantes, fundamentadas na experimenta çã o agrícola . Experimentos de resposta
das culturas às doses dos nutrientes sã o fundamentais para dar sustenta çã o à fase da
calibração que resulta na definição das doses a serem recomendadas, embora a experiência
de profissionais que trabalham com as diferentes culturas em cada região seja de grande
L
importâ ncia, sobretudo para aquelas culturas com pouca experimentaçã o.
As recomenda ções de fertilizantes no atual modelo tê m por propósito elevar o teor
do nutriente no solo ao NC relacionado, usualmente, com 80 a 90 % da produção má xima.
Assim, conceitualmente, as recomendações têm o cará ter corretivo, para classes de muito
baixa e de média disponibilidade, de reposiçã o para classes de alta e de muito alta
disponibilidade.
Nesses Manuais, as recomenda ções de fertilizantes para as diferentes culturas sã o
sistematizadas em tabelas de acordo com as classes de disponibilidade dos nutrientes
disponíveis no solo. Recomenda ções de acordo com metas de produtividade, ou
produtividade esperada sã o comuns nos Manuais, o que é coerente, considerando que
maiores produtividades demandam maiores quantidades de nutrientes, enquanto maiores
produções possibilitam maior renda e maior inversã o de capital em fertilizantes. No
entanto, deve-se considerar que a produtividade depende, também, do potencial genético
da planta, das condições climá ticas, do manejo da cultura, do uso ou nã o de irrigação e
de outros fatores. Assim, nã o se deve confundir produtividade esperada com
produtividade desejada (Raij et al., 1996), devendo ser a expectativa de produtividade
baseada nos valores m édios de safras anteriores (Sociedade..., 2004).

FERTILIDADE DG SOLO

I
802 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

Constata-se maior detalhamento nas recomendações de P e de K e de micronutrientes


para algumas culturas. As recomenda ções de Ca e Mg estã o vinculadas à correçã o da
acidez . As recomenda ções de N, como já comentado, sã o fundamentadas em resultados
de experimentos locais de resposta a doses de N ( Ribeiro et al., 1999 ), no diagnóstico
indireto da disponibilidade por meio do teor de matéria orgâ nica (Sociedade..., 2004) ou
do manejo do solo e culturas anteriores ( Raij et al., 1996 ), como já comentado.
Nesses Manuais, não há perfeita equivalência das doses recomendadas para as culturas
com mesma faixa de produtividade e mesma classe de disponibilidade dos nutrientes,
embora sejam elaboradas com a mesma fundamentaçã o. No quadro 10, exemplificam-
se as discrepâ ncias entre as recomendações de P e K, para o milho, soja, cana-de-açúcar,
tomate e pimentã o, bem como sã o consideradas diferentes classes de disponibilidades
para orientar as recomenda ções. Tais varia ções devem-se, em parte, a condições regionais
relacionadas com os cultivos, como, por exemplo, variedades e manejo. Para algumas
culturas a falta de resultados experimentais faz com que as doses sejam definidas de acordo
com as experiências pessoais de técnicos envolvidos com a cultura . Esta pode ser uma
das explica ções para as maiores diferenças entre as doses recomendadas para as
olerícolas, como exemplificado para o tomate e pimentã o (Quadro 10).
No entanto, mais importante do que a equivalência entre as doses é, seguramente, a
consistência entre as recomendações, cujo grau pode ser verificado por meio da correlaçã o
entre as doses recomendadas. Para uma aná lise dessa consistência, compararam-se as
doses de N, P2Os e K20 recomendadas para quatorze culturas anuais, para solos com
teores baixos e altos de P e de K disponíveis no solo, segundo a 5a Aproximação (Ribeiro
et al., 1999) e o Boletim Técnico 100 (Raij et al., 1996) (Quadros 11 e 12). As doses médias
de N, P2Os e KzO recomendadas em ambos os Manuais, para as culturas anuais tendem a
ser semelhantes entre si.
A regressão positiva e significativa entre as doses de N (0,692) revela relativa
coer ê ncia entre as recomenda ções de aduba çã o nitrogenada nos dois Manuais
(Quadro 13), apesar da falta de um critério comum de diagnóstico da disponibilidade
deste nutriente. Se comparadas as doses de N recomendadas em Sã o Paulo com as doses
de P recomendadas em Minas Geraisj e vice-versa, as correla ções não são significativas
(embora numericamente negativas) , tomo se sabe, o contrá rio seria esperado, uma vez
que para a obtençã o de grandes respostas à aplica çã o de N, maior suprimento de P ao
solo é essencial ( Novais & Smyth, 1999). De acordo com este mesmo foco, de modo geral,
as correla ções entre as recomenda ções de N e K nã o foram significativas (embora
numericamente positivas). Em termos gerais, as correlações entre as doses de K e de P, do
mesmo modo, nã o foram significativas (Quadro 13). Para as recomendações de P e de K,
há elevada consistência entre as recomendações para solos com baixa disponibilidade
destes nutrientes, evidenciada pelos coeficientes de correla ções significativos de
0,889 e 0,806, respectivamente. N ã o h á correlaçã o significativa, no entanto, entre as
doses de P recomendadas na 5a Aproximaçã o e aquelas recomendadas no Boletim Técnico
100, para solo com alto teor deste nutriente (Quadro 13). A mesma falta de consistência
se verifica entre as recomenda ções de aduba çã o pot á ssica para solo com alta
disponibilidade de K .

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 803

Quadro 10 . Doses de f ósforo e de pot á ssio, recomendadas para diferentes culturas, de acordo
com a classe de teores de f ósforo e pot ássio e faixas de produtividade, segundo as
t Recomenda ções para o Uso de Corretivo e Fertilizantes em Minas Gerais - 5a Aproxima çã o
( MG ) (1), Recomendações de Aduba çã o e de Calagem para o Estado de Sã o Paulo - Boletim
Técnico 100 (SP ) (2) e Manual de Aduba çã o e de Calagem para os Estados do Rio Grande do
Sul e Santa Catarina ( RS / SC ) (1)

p 2 o5 K 2O
( )
Classe de teores 3
MG SP RS/SC MG SP RS/SC

kg ha -
1

Milho ( 6 -8 t ha 1 ) '

MB 90 105 50 80
B 100 70 85 70 50 60
M 80 50 65 60 50 40
A 50 30 45 40 30 30
* MA < 45 < 30

Soja ( 2,5 a 3,0 t ha 1 )


'

MB 80 85 80 110
B 120 60 65 120 60 90
M 80 40 45 80 50 70
A 40 20 30 40 30 45
MA < 30 < 45
l Cana (100 -150 t ha 1 )
*

MB 180 140 150 130


B 150 120 110 160 120 100
M 100 80 90 120 80 80
A 50 60 60 80 60 60
MA < 60 0 < 60

Tomate ( 100 t ha 1 )
'

MB 750 375
B 900 800 600 800 300 300
M 800 500 450 600 200 225
A 600 300 300 400 100 150
MA 400 « 250 200 = 125
Piment ã o ( 30 t ha 1 )
'

MB 240 270
B 300 600 180 240 180 230
M 240 320 140 180 120 190
A 150 160 100 80 60 150
MA 50 = 80 = 80
Teores dispon íveis de P e K obtidos por extra çã o com Melhich-1. (2) Teores de P e K extra ídos por resina mista.
(1 )

(3)
MB, B. M, A e MA correspondem a teor muito baixo, baixo, m édio, alto e muito alto, respectivamente. Para a
5a Aproxima çã o A e MA equivalem a bom e muito bom, respectivamente.

A compara çã o entre as doses recomendadas em cada um destes Manuais também


!
revela algumas inconsistências. Na 5a Aproxima çã o, embora nã o-significativa, há
i tendência para recomendar maiores doses de N cpmbinadas com menores doses de P, ou
o inverso ( r = - 0,337). Também no Boletim Técnico 100, não há interdependência entre
doses de N e de P2Os, evidenciada pelas baixas correlações não-significativas (Quadro 13).

I
FERTILIDADE DO SOLO
804 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

Quadro 11. Doses de nitrogé nio e de f ósforo ( P2Os) e potá ssio (K 20 ), de acordo com a classe de
teores baixos e bons (altos ) de f ósforo e potá ssio dispon íveis no solo, extra ídos pelo
Mehlich-1, para culturas anuais segundo a 5a Aproximaçã o(1)

p20s K 2O
Cultura Produtividade N{ 2 )
Baixo Bom Baixo Bom

t ha
1
kg ha o
'

Algod ã o 2,0-2,5 50 a 80 100 40 100 70


Amendoim 18
/ 0(3) 80 40 60 20
Arroz sequeiro 2, 5-3,0 50-60 75 25 70 20
*
Arroz irrigado 5, 0-6,0 90 90 30 70 20
Cana - de- a çú car ( plantio) < 120,0 < 60 120 40 120 60
> 120,0 ( 4 ) 60 150 50 160 80
Cana - de - a çú car (soca ) < 60 60 40 0 80 0
60 -80 80 40 0 110 30
> 80 ( 4 ) 100 40 0 140 60
Feijã o < b2 20 70 30 30 20
1 2- 1 , 8
/ 20 80 40 30 30
)
l ,8-2,5 ( 4 30 90 50 40 40
> 2,5 40 110 70 50 60
Girassol 1.5-2,5 60 70 30 70 30
Mamona 1.5-2,0 40 90 30 90 30
Mandioca 20 40 80 20 60 20
( 5)
Milho 4 -6 70 -80 80 30 50 20
6 -8 110 -120 100 50 70 40
> 8 150-160 120 70 90 60
Soja 2,5-3,0 0(2) 120 40 120 40
Sorgo 4 -6 > (4
50 -60 70 30 50 20
6 -8 90-100 80 40 70 40
Trigo 2,1-3,6 50-70 90 80 75 45

Mé dia ( y ) 60,8 87,5 35,4 82,5 36,8

-
Desvio padrã o (s) 20,2 25,8 18,0 35,7 20,3

0) Recomenda ções para o Uso de Corretivos e Fertilizantes em Minas Gerais - 5a Aproxima çã o ( Ribeiro et al .,
1999 ). < 2 ) A dose recomendada corresponde à quantidade aplicada no plantio mais a aplicada em cobertura . (3) N
n ã o recomendado e n ã o utilizados no cá lculo cfe y e de s. (4 ) Valores ( m édias ) utilizados para o c á lculo das
correla ções apresentadas no quadro 13. i
1

Independentemente da classe de disponibilidade dos nutrientes no solo, nã o h á, em


termos gerais, boa consistência entre as doses de P e K recomendadas nos dois Manuais.
O modelo brasileiro de diagnóstico da fertilidade e de recomenda ção, apesar de
suas varia ções e limita ções, é um símbolo de competência agronó mica e reflete o
significativo avanço das pesquisas ao longo de mais de quatro décadas. As tabelas de
interpreta çã o e de recomendação con :ribuíram para sanar a falta de uniformidade de
critérios entre aqueles que interpretam os resultados das análises químicas do solo e

FERTILí IDADE DO SOLO


XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 805
-

Quadro 12. Doses de nitrogénio, f ósforo (P2Os) e potássio ( K20), recomendadas para culturas
1i anuais, considerando solo com teores baixos e altos de f ósforo e potássio disponíveis,
extra ídos por resina mista ( aniônica e catiônica ) , segundo o Boletim Técnico 100(1 )
?
3
.4
I
P2O 5 K 2O
I N <2
)
J
Cultura Produtividade
:
1 Baixo Alto Baixo Alto
l
I
t h a -1 kg ha
v
Algod ã o 2, 0-2,4 60 100 30 100 35
0<
3)
Amendoim 1.5-3,0 80 20 40 20
! Arroz sequeiro 1.5-2,5 40 60 0 40 0
Arroz irrigado 4,0 -6 , 0 70 70 0 80 0
Cana - d e - a ç ú car ( plantio ) 100-150 75 180 60 150 0

s Cana -d e- a ç ú car ( soca ) 80-100 100 30 0 130 70


Feij ã o 1,5-2,5 50 70 10 50 10
Girassol 15/ 50 70 20 60 20
1
1
Mamona 1,5- 2,0 60 80 40 40 20
;
i
Mandioca 20,0 20 80 20 60 20
i
4
Milho 4,0 6,0 - 60 80 30 70 20
:
Soja 2,5- 2,9 o (3 ) 80 20 70 20
Sorgo 2,0-4,0 30 60 20 50 0
h
3
í, Trigo 1,0-2, 0 40 80 20 40 10

M édia ( y ) 54,6 80,0 20,7 70,0 17,5

Desvio - padr ã o (s ) 21,5 32,8 16, 4 34,6 18,5

Recomenda ções de Aduba çã o e Calagem para o Estado de Sã o Paulo - Boletim Técnico 100 ( Raij et al., 1996). (2)
(1 )

A dose recomendada corresponde à quantidade aplicada no plantio mais a aplicada em cobertura . ( 3) N ã o


recomendado e nã o utilizado nos c á lculos de y e de s utilizados para o cá lculo das correla ções apresentadas no
quadro 13.

recomendam corretivos e fertilizantes. A partir delas, as recomendações são mais


i
) uniformes entre todos os técnicos, embora possam conter inconsistências e, por
conseguinte, inexatid ões.
1
i

Sistema Simplificado de Interpretação de Análise de Solo e Recomendaçã o de Corre -


tivos e Fertilizantes161
Profissionais envolvidos na recomenda çã o de fertilizantes para as culturas podem
ser divididos, historicamente, em dois grupos: aqueles que sobreviveram sem as tabelas
de interpretaçã o de análise de solos e recomendaçã o de fertilizantes, que simplificariam
sua convivência com os resultados das análises e suas interpretações, e aqueles, mais
recentes, que tiveram nessas tabelas parceiros insepar á veis e a garantia de uma
convivência pacífica com os fazendeiros.

(6 )
As bases desta seçã o foram apresentadas por Roberto Ferreira Novais & V íctor Hugo Alvarez V .
( 2002), em uma palestra na FertBio 2002, em Santa Maria , RS ( não publicada ) .

1 FERTILIDADE DO SOLO
806 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

Quadro 13. Coeficientes de correla çã o linear simples entre doses de nitrogénio, f ósforo (P
e potá ssio (K20), recomendadas para quatorze culturas anuais(1), considerando solos com
205)
baixo e alto ( bom ) teores de f ósforo e de potá ssio, segundo o Boletim Técnico 100 e a 5a
Aproxima çã o

Boletim Técnico 100 ( 2 ) 5 a Aproxima çã o * 3 *

5 a Aproxima çã o N P 2 O5 K 2O P 2O5 K 2O

Baixo *'* Alto *4 * Baixo *4 * Alto * 4 * Baixo * 5 * Bom *5 * Baixo * 5 * Bom *5 *

,
N *6* 0 ,692** -0,138"* -0,182"* 0, 485 ns 0, 245 1S - 0,337 's
l
-0,316 ns 0,181 ns 0,222 ns

p 2o 5 B -0,137"* 0,889** 0 ,31 lns - 0,483* 0,420"* 0 , 461 *


-
1

A -0,276 ns
0, 351 ns
-0, 228"* -0*500* -0,094 ns 0, 229
,
B 0 , 406 1 S 0 , 447 ns 0 ,3, 78 "* 0 ,806**
K 2O
A 0, 487* 0,542* 0, 446 "s 0 ,345 ns

Boletim T é cnico 100


N
p2o 5 B 0,050"*
A 0 , 039 ns

K 2O B 0,635** 0, 460* 0,312 "*


ns ns
A 0 ,348 -0,393 - 0,184"*
,
( ) ,
Culturas relacionadas nos quadros 11 e 12. (2 ; Recomenda ções de Aduba çã o e Calagem para o Estado de Sã o
Paulo - Boletim Técnico 100 ( Raij et al ., 1996 ). m Recomenda ções para o Uso de Corretivos e fertilizantes em Minas
Gerais - 5 a Aproxima çã o ( Ribeiro et al., 1999 ) . |4|P e K dispon íveis extra ídos por resina mista ( aniô nica e
,
cati ô nica ) . <5 P e K disponíveis extra ídos por Mehjlich -1. <6 ) Para a correla çã o com doses de N as culturas amendoim
e soja foram exclu ídas por n ã o se recomendar esse nutriente para elas. Quando as doses de N eram indicadas por
um intervalo, considerou -se o valor m édio. ns, n ã o-significativo e significativos a 5 e 1 %, respectivamente.

Essas tabelas tê m sido de indiscutível importâ ncia para os componentes de uma


cadeia técnico-científica, que vai dos estudantes de agronomia e de cursos correlatos aos
profissionais e fazendeiros tecnicamente mais evoluídos. Professores e pesquisadores
intermediam essa cadeia, preparando-as, corrigindo-as, elaborando novas versões e
demonstrando suas utilizações aos demais componentes da cadeia . Apesar de suas
evidentes vantagens, essas tabelas geraram grande dependência nos profissionais. A
não-disponibilidade momentâ nea de uma delas impede, muitas das vezes, o profissional
de interpretar os resultados de uma análise de solo e de recomendar fertilizantes para as
culturas. É desejá vel que o profissiohal tenha, também, certo grau de independência
dessas tabelas, permitindo que proceda a interpreta ções e recomenda ções, com boa
aproxima çã o das doses desejadas.
Por isso, tendo como base as Recofnenda ções para o Uso de Corretivos e Fertilizantes
em Minas Gerais - 5a Aproxima çã o (ípbeiro et al., 1999), Novais & Alvarez V. (2002)(7),
prepararam uma síntese da interpreta çã o da aná lise de solo e da recomenda çã o de
fertilizante de f á cil memorização e de grande abrangência, que pode ser resumida em um
pequeno cartã o ( Figura 12). ;

(7)
Novais & Alvarez V . (2002 ), em uma palestra na FertBio 2002, em Santa Maria, RS (nã o publicada ).

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 807

UM M ÉTODO SIMPLES DE INTERPRETAR Recomendação de Calcário


ANÁ LISES DE SOLO E RECOMENDAR
CALCÁRIO E FERTILIZANTES PARA
CULTURAS ANUAIS, OLERÍCOLAS E PERENES
1
R .F. Novais( )
liHnHHHKMii
Aumentar em 25% a dose estimada para solos
argilosos (>35% de argila) e diminuir em 25%
para solos arenosos (<15%) de argila
Interpretação dos resultados de fó sforo
e pot á ssio dispon í veis do solo Recomenda ção de NPK aplicado na
linha de plantio (N parcelado), para
Faixa de F ósforo Potá ssio culturas anuais e para hort í colas
Disponi - Mehlich - 1 (argila %) Resina Disponí vel
F? e K Culturas anuais Hortícolas
bilidade > 35 35 -15 < 15 ( Troc á vel)
disp . N P202(2) OU K2Oí2) N P202(2) OU K2Ò(2)
(< 15)< )
2
(15- 35) (> 35)
kg ha’1
— mg dm 3
'

Baixo 50 90
Baixo
Médio
0- 5
6- 10
0 -10
11 - 20
0-20
21-40
0- 20
21-40
0-30
31-60
Médio
Alto
50
50
60
30 3
Alto > 10 > 20 > 40 > 40 > 60 <1>Á s doses recomendadas para as hortícolas são tr ês vezes
m Valores em parênteses referem-se ao P remanescente em mg L'1 maiores do que para as culturas anuais. ( 2)Recomendaçao de doses
maiores quando produtividades maiores são esperadas. <3)Para solos
obtido pela agita ção de 60 mg L 1 de P em um solução de CaC 10 mmol L'\
^
'

com alto P disponí vel, a dose de N pode ser aumentada em até tr ê s


com a amostra, numa rea çã o solo:solução de 1:10, por uma hora.
, .
vezes; para culturas com efetiva ção de N fertilização nitrogenada
não é recomendada. (4 Parte do fertilizante nitrogenado mineral
W Departamento de Solos/ UFV ( rfnovais@ ufv.br) pode ser suprida em formas orgâ nicas ( estercos ).

Recomendação de Fertilizantes NPK para


aplicaçã o em cova (ou em solo-substrato para
produção de mudas) , para plantas perenes
Implantação
10 kg de superfosfato simples (ou equivalente) por m 3
de cova ou volume de substrato (a dose de P poder á Recomendação de micronutriente
ser reduzida a 1/ 2 para solos com mais de três vezes o (quando necessário )
“ disponí vel " para a “ faixa de disponibilidade "
considerada alta ).
N: 200 g de N por m3 de volume de cova ou substrato 4 kg ha 1 do elemento (sulco de plantio, cobertura ou
'

i
Cova ). Mo é exceção - recomendam-se 20 kg ha 1. '

K: (200 mg dm 3 - K dispon í vel no solo) x 1,2 = g de K 20


'

por m 3 de volume de cova ou substrato.


'

Manutenção (cobertura) Recomenda çã o de enxofre


( quando necess á rio )
12 Ano Adulto (produçã o)
100-150 g(1) 300 g(1) 400-600 g(1) 800-1.200 g(1) 30 kg ha 1 do elemento (sulco de plantio,
'

cobertura ou cova).
Caf é Caf é
Fruteiras Fruteiras
Eucalipto Eucalipto
Árvores Árvores
(1)
Dose por planta na forma de 20-5-20 ou 2/3 da dose na
forma de 5-10-30. Dividir a dose recomendada em três
aplicações a serem feitas durante o período chuvoso .
Figura 12. Método simplificado de interpretação das análises de solo e de recomendações de
calcá rio e de fertilizantes para culturas anuais, perenes e hortícolas.
Fonte: Novais & Alvarez (2002). (Palestra não publicada - veja nota de rodapé 6).

Constatou-se semelhança muito grande entre as culturas anuais, quanto à dose de


N (Quadro 11). Assim, independentemente da análise de solo, uma vez que para N não
há, ainda, métodos de análise química de rotina que indiquem sobre sua disponibilidade
no solo, recomendam-se 50 kg ha 1 de N, comò dose total, a ser parcelada, segundo
'

características da cultura (Figura 12). Se não houver informações específicas, sugere-se


aplicar de metade a um ter ço desta dose no plantio e o restante 15 a 20 dias após a

FERTILIDADE DO SOLO
808 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

emergência das plantas. Com isso evita -se o comprometimento da germinaçã o das
sementes atribuído à salinidade dos fertilizantes nitrogepados e diminuem-se as perdas
do N por lixivia çã o e, dependendo da fonte de N, por volatiliza ção.
Para P, a interpretação da análise de solos mostra-se dependente do extrator utilizado
(Mehlich-1, ou Resina ). Como o Mehlich-1 sofre desgaste crescente com o aumento do
poder tamp ã o de P do solo, como já comentado, estabeleceram -se tr ês classes de
disponibilidade: baixa, média e alta, como variá veis de uma medida do poder tampão do
solo: teor de argila ou P-remanescente ( Prem ). Como já detalhado no capítulo VIII, esta
última medida é mais conveniente por incluir tartto o teor como a qualidade da fraçã o
argila . Embora apenas tr ês classes de disponibilidade de P no solo sejam utilizadas
nesse modelo simplificado, interpola ções aproximadas para valores intermediá rios de
aná lise e de doses poderã o ser facilmente estabelecidas.
Os teores de argila que separam as tr ês classes texturais (argilosa, média e arenosa )
têm no Prem valores simé tricos. Os solos argilosos, com mais de 35 % de argila (ou
350 g kg 1), apresentam valores de Prem menores que 15 mg L 1, enquanto os solos arenosos
" "

( < 15 % de argila ) tê m valores de Prem maiores que 35 mg L 1, e os de textura média (15 a


'

35 % de argila ) tê m os valores correspondentes de Prem na faixa de 35 a 15 mg L 1. '

Portanto, é f ácil memorizar que os limites das classes texturais têm em seus recíprocos os
valores de Prem.
Sabendo que, para um solo argiloso (> 35 % de argila ou < 15 mg L 1 de Prem), o teor
"

de P-Mehlich-1 considerado baixo é menor que 5 mg dm 3 de P, médio entre 6 e 10 e alto


"

maior que 10 mg dm3, verifica-se, nesta sequência, uma progressão aritmé tica a partir do
valor de 5 mg dm 3. Esta progressã o se repete tanto nas outras duas classes texturais
"

como dentro de cada uma delas, para baixo, médio e alto teor de P disponível (Figura 12).
Assim, a partir da faixa de 0-5 mg dm 3, todas as demais sã o deduzidas facilmente e,
"

mesmo, memorizadas.
Como o P extra ído pela resina nã o sofre desgaste, suas faixas de disponibilidade
sã o as mesmas daquelas para o Mehlich-1 nos solos arenosos (condiçã o em que há o
mínimo desgaste deste extrator ), isto é: menor que 20, 21-40 e maior que 40 mg dm 3 de P,
"

para baixo, médio e alto teor, respectivamente. Compreende-se, assim, a razã o para
valores maiores de P extra ído pela resina que de P extra ído pelo Mehlich-1 nos solos
argilosos para o mesmo status de disponibilidade de P no solo.
Os teores (baixo, médio e alto) correspondentes às faixas de disponibilidade de K
independem do poder tampã o do solò. Dada a natureza e intensidade da liga çã o iônica
deste cá tion com o solo, a extraçã o de sua forma trocá vel é considerada total, mesmo que
haja desgaste do extrator Mehlich-1. Pelo mesmo motivo, aproximam-se dos téores
extraídos pela resina de troca catiômca. De novo, considerando que valor menor que
30 mg dm 3 de K disponível ( trocá vel) corresponde ao teor baixo, os valores para teor
"

médio e alto, para os dois extratores sã o facilmente deduzidos, em razã o da varia çã o


^
aritmé tica entre os valores: 31 a 60 e rnaior que 60 mg dm 3, respectivamente.
"

As doses de P (P2Os) e de K (K20) recomendadas, de acordo com o modelo descrito


nas seções anteriores, mostram-se dependentes da classe de disponibilidade destes
nutrientes no solo. Novamente, sabendo-se que, para solos com disponibilidade baixa

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 809

de P e, ou, de K, a dose recomendada para as culturas anuais é de 90 kg ha 1 de P2Os e, ou, '

de K20, respectivamente, havendo para o teor médio e alto um decr éscimo, també m
aritm é tico, deduzem-se facilmente as doses de 60 e 30 kg ha 1, respectivamente, de P2Os e,
"

ou, K 20 ( Figura 12). As doses de K20, embor á sejam, em média, superiores à quelas
indicadas nas tabelas (Quadros 11 e 12), sã o aceitá veis, uma vez que pesquisas têm
indicado problemas crescentes de deficiência de K ao longo dos anos de cultivo (Santos,
2002; Oliveira, 2002; Possamai, 2003).
Este modelo simplificado ( Figura 12 ) inclui, também, a recomenda çã o para as
hortícolas ou olerícolas, assumindo que as dosès para estas culturas (Quadro 14) são,
aproximadamente, tr ês vezes maiores do que aquelas recomendadas para as culturas
anuais (Quadros 11 e 12) . Embora esse fator esteja entre 2,1 para K (baixo teor ) e 2,7 para
P (baixo teor ), utilizou-se o fator três por acreditar que, para a horticultura, esses aumentos
seriam recomendá veis, uma vez que, na prá tica, sintomas visuais de deficiência de K são
mais frequentes do que de P.
Recomenda çã o semelhante foi desenvolvida para culturas perenes ( Figura 12), em
que tanto o calcá rio como os fertilizantes sã o homogeneizados com todo o volume de
solo (substrato) da cova de plantio de uma muda, bem como para o preparo de substrato
para produçã o de mudas (caf é, eucalipto, fruteiras, ornamentais, etc.). Para as culturas
j á discutidas, os fertilizantes, de modo particular as fontes de P, sã o aplicados
localizadamente, favorecendo mais a planta como dreno preferencial que o solo. Isso
nã o se aplica no caso das perenes, em que a aduba çã o de plantio dever á ser constituída
por grandes doses de uma fonte de P na cova, em raz ã o de sua reduzida mobilidade no
solo e do pequeno volume de solo explorado pelo sistema radicular. Fontes de N e K, se
aplicadas em grandes quantidades no plantio, podem causar plasm ólise em virtude da
alta salinidade ( veja capítulo XII ) e favorecer perdas de N e K por lixivia çã o. Assim,
essas fontes devem ser aplicadas mais tarde, em cobertura, pr ó ximo à planta ou,
generalizando, na projeçã o da copa . A exemplo do que se faz no cultivo do cafeeiro,
devem-se usar aplica ções de formula ções ricas em P, ou apenas uma fonte de P, como
superfosfato simples no plantio, e NK ou NPK como 20-0-20 ou 20-5-20 em doses
baixas inicialmente, primeiro ano, que dever ã o ser aumentadas com o crescimento das
á rvores nos anos seguintes, até um valor má ximo, que será repetido, anualmente, quando
a planta estiver em produçã o plena .
Apresenta-se, também, uma simplificaçã o para o modelo geral de recomenda ção de
calagem. A utilizaçã o da f ó rmula fundamentada na satura çã o por bases ( Raij et al.,
1996) é de f ácil memorização, o que não acontece com a f órmula baseada na neutralização
do Al3+ e elevaçã o dos teores de Ca 2 + Mg2+ ( Alvarez V. & Ribeiro, 1999 ). Na estimativa
'

da necessidade de calagem ( NC ), esta leva em considera çã o o fator de correçã o Y, que


varia de acordo com o poder tampão de acidez, a tolerâ ncia da cultura ao alumínio (valor
m tolerá vel ) e o teor crítico de Ca 2+ + Mg2+. Neste modelo simplificado (Figura 12),
considera-se uma versã o anterior desta f órmula , em virtude de a sua f ácil memorização:
^
<8 > Nas primeiras décadas da expansão da fronteira agr ícola para os Cerrados o sucesso dos cultivos
ocorreu com doses de calcário estimadas por meio dessa f órmula . Apesar de todo o seu sucesso,
sem a correçã o sugerida , ela subestimava doses de calbá rio para os solos argilosos ( > 35 % de argila )
e superestimava para os arenosos ( < 15 % de argila ) .

FERTILIDADE DO SOLO
810 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

’ NC = 2A13+ + 2 - (Ca 2 + + Mg2+ ) = t ha 1 calcá rio com PRNT = 100 %.


'

A dose encontrada se aplica pará solos de texturas médias (Prem de 15 a 35 mg L 1). '

A partir desta dose, acrescentam -se 25 % para os solos argilosos (Prem < 15 mg L 1) e '

diminuem-se 25 % para os arenosos (Prem > 35 mg L 1 ). As doses sã o corrigidas,'

considerando o PRNT do calcá rio disponível e incorporadas a 0-20 cm de profundidade


ou no volume de solo da cova de plahtio nas culturas perenes.

Quadro 14 . Doses de nitrogénio, f ósforo (P2Os) e potássio ( K20), recomendadas para culturas
hort ícolas em solos com teores baixos de f ósforo e pot á ssio disponíveis, segundo a 5a
Aproxima çã od )

Cultura N ( 2) P 2 OS( 3 ) K 2 O( 3 )

kg ha - i

Abó bora italiana 120 200 240


Abó bora menina 60 150 100
Alface 150 400 120
Alho 80 250 80
Batata Doce 60 180 90
Batata Inglesa 190 420 350
Beringela 100 200 160
Beterraba 100 300 240
Br ócolos 150 400 240
Cebola 120 300 180
Cebolinha 160 200 120
Mandioquinha salsa 40 180 90
Cenoura 120 400 320
Chuchu 43Q 200 360
Couve-flor 15Ò 300 240
Ervilha 90 150 120
Jil ó 10 p 200 160
Melancia 120 200 150
Milho Doce 120 100 80
Morango 220 400 350
Pepino 12 Q 300 250
Piment ã o 15Q 300 240
Quiabo 120 240 240
Repolho 150 400 240
Tomate rasteiro 120 600 200
Tomate tutorado 400 1250 800

M édia 143 316 221

Desvio- padrã o 89 222 146


(1 >
Recomendações para o Uso de Corretivos e fertilizantes em Minas Gerais - 5a Aproximaçã o (Ribeiro et al.,
1999). <2) A dose recomendada corresponde à quantidade aplicada no plantio mais a aplicada em cobertura. <3) Para
teores, m édios, altos e muito altos de P e de K no solo, as doses recomendadas sã o de 77, 53 e 30 % das
recomendadas para teores baixos.

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 811

Sistemas de Recomenda çã o de Fertilizantes com Base em Modelagem

Em raz ã o da complexidade das rela ções solo - planta, de suas influ ê ncias na
disponibilidade dos nutrientes, tê m sido desenvplvidos sistemas de balanço nutricional
para recomendar corretivo e fertilizante. Esses sistemas podem ser mecanísticos (baseados
em processos), empíricos (baseados em constatações experimentais) ou semi-empíricos
( mistos entre mecanísticos e empíricos ) . Esses sistemas sã o chamados de modelos pelo
I

fato de serem compostos de funções matemá ticàs que buscam representar os processos
naturais que determinam a disponibilidade e a absor çã o dos nutrientes.
Nos modelos mecanísticos, busca -se represehtar, matematicamente, os processos de
transferência dos nutrientes entre os compartimentos do solo (fraçã o sólida - orgâ nica e
mineral - e soluçã o do solo), os equilíbrios entre tra ções ou formas químicas em que eles
I

se encontram e suas rela ções com os teores dispbníveis no solo, ou, ainda, os processos
envolvidos na absor çã o pelas ra ízes das plantas. Em virtude da complexidade desses
I

processos, a capacidade preditiva desses modelos nem sempre é muito elevada, ou seja,
matematicamente, nã o se reproduz com acurácia os processos que ocorrem na rizosfera,
por exemplo. Além disso, a quantidade de vaijiá veis requeridas para alimentar esses

^
modelos é grande e detalhada , e nem sempre ã o determinadas rotineiramente. Tais
fatos dificultam ou inviabilizam a utiliza ção prá tica desses modelos para a recomenda ção
de fertilizantes. Vá rios modelos mecamsticos estimam os teores dos nutrientes na solução
do solo ou a absor çã o pela planta, mas sem considerar a demanda nutricional da cultura .
Em geral, consideram a libera çã o do nutriente da fase sólida para a fase líquida
j
( mecanismos de dessor çã o ou de mineraliza çã o) o movimento do nutriente por fluxo de
massa ou difusã o na soluçã o do solo até à superf ície das raízes [modelo de Tinker & Nye
(2000) ] e a absor çã o do nutriente pela raiz [segundo os princípios ciné ticos descritos
pela equação de Michaelis-Menten (Barber, 1995) ]. Dentre os modelos, o UPTAKE (Barber,
1995) e o COMP8 (Smethurst & Comerford, 1993) sã o os mais utilizados para estimar a
disponibilidade e absorçã o de nutrientes pelas plantas.
O modelo UPTAKE foi desenvolvido para descrever os processos envolvidos na
absorçã o de nutrientes pelas plantas, considerançlo o tamanho e o crescimento das raízes,
a cinética de absor çã o do nutriente e o suprimento de nutrientes do solo para a superf ície
das ra ízes. A á rea superficial das raízes é definida a partir do comprimento inicial (L0),
raio m édio ( rQ) e taxa de alongamento ( K ) das ra ízes ( Barber, 1995) . A relaçã o entre o
influxo de nutrientes (absor çã o) e a concentra çã o do nutriente na solução do solo junto à
superf ície da raiz (Clo) é estabelecida a partir de três parâmetros cinéticos: influxo máximo
(Imá x ) sob altos valores de Clo; Clo abaixo da qual o influxo líquido cessa (Cm ín ) e a Clo onde
o influxo líquido corresponde a Vi Imá x (Km ). A taxa de suprimento de nutriente do solo
para a superf ície da raiz é definida por cinco variáveis: a concentração inicial do nutriente
na soluçã o do solo ( CH); o poder tampã o do solo para o nutriente ( b); o coeficiente de
difusã o efetiva do nutriente no solo ( De); o influxo de á gua ( vQ) e a média da metade da
distâ ncia entre raízes adjacentes ( rj.
Mais recentemente, Comerford et al. (2006 ) utilizaram a base do modelo COMP8
(Smethurst & Comerford, 1993) para gerar o modelo Soil Supply and Nutrient Demand

FERTILIDADE Dó SOLO
812 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

(SSAND ) que, além de estimar a quantidade de nutrientes disponíveis no solo e a


contribuiçã o das ra ízes e micorrizas da sua absor çã o, apresenta um módulo que estima
a demanda de nutrientes da planta para atingir determinada produçã o, com base na
estratégia adotada no modelo NUTRICALC ( Barros et al., 1995). O modelo SSAND é
aplicado a uma condiçã o de estado de equilíbrio com aproxima ções numé ricas . No
SSAND, calculam-se o fluxo de massa e a difusã o de nutrientes no solo, com base em
variá veis f ísicas e químicas, para estimar a concentraçã o de nutrientes que atingem a
superf ície das ra ízes . As vari á veis do solo requeridas pelo modelo s ã o: a
concentra çã o inicial do nutriente ria solu çã o , a densidade do solo , o conte ú do de
á gua em cada horizonte, a taxa de mineraliza çã o l íquida e as isotermas de adsor çã o
e dessor çã o do nutriente. A variá veis para solucionar o módulo de absor çã o pela
planta sã o a taxa de influxo de á gua, o parâ metros ciné ticos Imá x, Km e Cmín da equa ção de
^
Michaelis-Menten, a densidade radicular e o raio m édio das ra ízes, bem como a
contribuição das micorrizas para a absprçã o de nutrientes. O módulo de absor çã o simula
a absor çã o pelas ra ízes de um só nutriente, considerando vá rios horizontes do solo, a
competiçã o entre ra ízes de duas espécies de planta, os parâ metros das isotermas de
adsor ção e dessorçã o do nutriente das equa ções de Freundlich ou Langmuir, os eventos
m ú ltiplos de fertiliza çã o e de doses, ás taxas de mineraliza çã o, as flutuações no teor de
|

á gua no solo, as altera ções na densidade radicular com tempo e profundidade do solo e
associaçã o micorrizica para cada espécie de planta com á rea superficial de raízes variá vel
ao longo do tempo.
O modelo QUEFTS (Janssen et alJ, 2001) foi desenvolvido para avaliar a fertilidade
do solo, sendo fundamentado em considera ções teó ricas e em relações empíricas, obtidas
de experimentos de campo . O model simula o potencial de suprimento de N, P e K a
^
partir de análises químicas do solo, á absor çã o de N, P e K pela cultura com base no
suprimento potencial desses nutrientes pelo solo e a contribuiçã o do fertilizante NPK e
sua rela çã o com a produçã o. Estima a produ çã o a ser obtida na á rea e otimiza a dose do
fertilizante, visando à otimizaçã o nutricional e econó mica .
Uma das vantagens na utiliza ção destes sistemas para cálculo das doses de nutrientes
é a possibilidade de solucionar processos complexos associados aos efeito de m ú ltiplas
características do solo, possibilitando a simula çã o de vá rias situações ou condições de
produçã o, o que é inviá vel com o modjelo expresso nas tabelas de recomenda çã o.

Sistemas FERTICALC e NUTRICALC

Os sistemas NUTRICALC e FERTICALC foram desenvolvidos e est ã o em


aprimoramento no Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa, sendo
baseados no balanço nutricional, estabelecido entre a demanda de nutrientes da cultura
e o suprimento pelo solo, restos culturais e outras fontes naturais. O NUTRICALC é
especifico à cultura do eucalipto ( Barròs et al., 1995). Versões do modelo FERTICALC já
foram desenvolvidas para as culturas do caf é (Prezotti, 2001); cana -de-a çúcar (Freire,
2001), algodão (Possamai, 2003), milho (Carvalho et al., 2006), arroz ( Raffaeli, 2000), soja
(Santos, 2002), tomate (Mello, 2000 ), ianana (Oliveira et al., 2005), coco (Rosa, 2002) e

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 813

f ( idade ; material
Produçã o Efici ência f ( idade ; material
gené tico e local ) nutricional gen é tico e local )

Conteú do de nUtrierítes; Copa , tronco e raí zes

4 Sustentabilidade
- Nutrientes dispon í veis
- Profundidade de ra í zes
- Recupera çã o p / extrator
Demanda nutricional
Suprimento via solo

Entradas :
Chuva , res í duos Recupera çã o
e vegetais Balan ç o nutricional Aduba çã o pela planta

+ +

Nã o adubar «

Figura 13. Modelo conceituai do sistema de balan ço nutricional NUTRICALC utilizado na


recomenda çã o de aduba çã o para eucalipto.
Fonte: Barros et al. (1995) .

pastagens (Santos, 2003), utilizando os princípios empregados no NUTRICALC. O


I

modelo conceituai (Figura 13) apresenta três módulos: o primeiro, que estima a demanda
nutricional; o segundo, que estima o suprimento de nutrientes, e o terceiro, que calcula o
balanço entre a demanda e o suprimento e estima as quantidades de nutrientes e de
fertilizantes e corretivos a serem aplicados para atender à demanda.
\ A estimativa da demanda é feita com base na produção esperada e na eficiência de
utilizaçã o de cada nutriente ( N, P, K, Ca e Mg, etc.) pela cultura . A produção esperada é
definida com base na experiência regional com a cultura ou por meio de modelos de
produçã o. Os sistemas FERTICALC e NUTRICALC utilizam a rela çã o entre peso de
matéria seca e o conteúdo do nutriente comc) um índice de eficiência de utilizaçã o
nutricional. Para isso, é necessá rio calcular a massa seca de cada componente da planta
e seu conteú do de nutrientes e, para tanto, sã o utilizadas, como referência, planta ções
com boa produtividade. Assim, tendo a produÇão esperada e a eficiência de utiliza çã o
dos nutrientes, estimam -se as quantidades dos nutrientes para atender à demanda da
cultura . A esta quantidade, o modelo pode ou nã o agregar uma quantidade adicional,
denominada fator sustentabilidade, que visa deixar maior resíduo de nutrientes no solo
após a colheita .
J

FERTILIDADE DO SOLO
814 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

Conhecida a demanda, o passo seguinte será estimar o suprimento de nutrientes,


que esses modelos consideram como fonte: o solo, os restos culturais e a chuva . Os
nutrientes supridos pelo solo sã o estimados a partir de seus teores disponíveis, indicados
pelas análises químicas usuais de solo. A camada do solo a ser amostrada corresponderá
à quela explorada pelo sistema radichlar da cultura , pois o modelo transforma os teores
em conteúdos (quantidades).
Em seguida , o modelo compara a demanda com o suprimento. Se o suprimento é
maior do que a demanda ( balanço positivo), nã o haver á necessidade de aduba çã o, mas,
se o suprimento é menor do que a cjemanda ( balanço negativo ), doses dos nutrientes
deverã o ser aplicadas. Estas doses sã o corrigidas de acordo com a taxa de recupera çã o
dos nutrientes pela planta ( propor çã o do nutriente aplicado que é absorvido pela
planta ) .
Informando os fertilizantes e corretivos que ser ã o utilizados com as respectivas
composições químicas ( N, P205, K 2Cj, CaO, MgO, etc .), o modelo calcula, em primeiro
lugar, a quantidade de fertilizante para atender ao requerimento de P. Em seguida,
calcula a quantidade de fertilizantes piara suprir o K e o N. A quantidade de Ca agregada
pela fonte de P será descontada, quanjdo o modelo calcular a quantidade de corretivo. O
modelo operacionaliza os cá lculos para uma ou mais fontes de um mesmo nutriente;
razã o por que dever ã o ser informadas quais as fontes preferenciais para atender à
recomendação.
O grau de acerto das recomenda ções de fertilizantes obtidas a partir desses modelos
depende do conhecimento disponível sobre a dinâ mica e intera çã o dos nutrientes com o
solo e sobre a eficiência de absor çã o e de utiliza çã o dos nutrientes pelas plantas, que
influenciam diretamente a parametrizaçã o do modelo. Os testes de validação dos modelos
FERTICALC têm revelado recomenda ções compatíveis com aquelas obtidas a partir do
modelo - tabelas em uso atualmente. A recomenda çã o por meio do FERTICALC tem-se
mostrado, no entanto, mais sensível varia ções nas características da planta e do solo.
^
Em um exemplo de simula çã o (Quadro 15), as doses de P recomendadas a partir do
FERTICALC-soja (Santos, 2002 ) variaram com a produtividade esperada e o fator
capacidade de P do solo (valor de Prejn), enquanto a dose seria ú nica de acordo com os
critérios da 5a . Aproximaçã o (Ribeiro et al., 1999 ) e variaria de forma inversa com o fator
capacidade de P, segundo os critérios do Manual de Recomenda ções para o Estados do
Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Sociedade..., 2004).
A adoçã o dos modelos FERTICALC / NUTRICALC depende da disponibilidade de
computador, o que pode representar uma dificuldade para sua utiliza çã o. Uma
simplifica çã o do modelo NUTRICALC foi desenvolvida e adaptada a um cartã o
(Figura 14). A partir desse modelo sinjiplificado, calculam-se recomendações de calcá rio
e fertilizantes para o cultivo de eucalipto. A recomendaçã o de P para a fase de implantação
ou para a reforma do povoamento de eucalipto segue o princípio das tabelas e aparece na
frente desse cartã o, sendo auto-explicativo (Figura 14) . Para recomendar o calcá rio e K,
utiliza-se o gráfico do verso do cartã o. Projetam-se os teores de K e de Ca2+ no solo sobre

FERTI .IDADE DO SOLO


XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 815

Quadro 15 . Doses de f ósforo ( P2Os), recomendadas para a cultura da soja, de acordo com o fator
capacidade de f ósforo (P remanescente - Prem ) j do solo e produtividade da soja, estimadas
a partir do FERTICALC-soja, da 5a Aproxima çã o(1) e do Manual de Recomenda ções para o
Rio Grande do Sul e Santa Catarina ( RS / SC ) (2) |

Prem Produtividade FERTICALC-soja 5 a Aproxima çã o RS/SC

mg L- i kg ha 1 de gr ã os
'
kg ha 1 de P2 O5
'

3 2.500 56 52 46

28 2.500 44 52 52

52 2.500 39 52 57

3 3.000 70 52 46

28 3.000 54 52 52

52 3.000 50 52 57

3 3.500 84 52 46

28 3.500 65 52 52

52 3.500 61 52 57
(1 )
Recomenda ções para o Uso de Corretivos e Fertilizantes em Minas Gerais - 5a Aproxima çã o ( Ribeiro et al.,
1999). (2 ) Sociedade... (2004 ). i
Fonte: Santos ( 2002 ).

uma das linhas diagonais, correspondentes às produtividades esperadas entre 10 e


70 m3 ha 1 ano 1 de tronco, o que dependerá do clone ou espécie e das condições ed á ficas
' "

e climá ticas da regiã o. O ponto de intercessão projetado nos eixos verticais laterais
indicará a dose de K20 por planta (eixo à esquerda ) e a de CaO por hectare (eixo à
direita ), respectivamente. Deve-se observar que,; dependendo do resultado da aná lise de
solo e produtividade esperada, o uso de fertilizante ou de calcá rio pode nã o ser necessá rio.
Para o caso da conduçã o de uma rébrota, que é a floresta de eucalipto desenvolvida a
partir das cepas de uma floresta anterior, sã o considerados os teores de K + e Ca 2+ do solo
mais os nutrientes reciclados, que voltam ao solo por meio da mineralização dos resíduos
da floresta anterior , recé m-explorada . Tal fato reduz ou elimina a necessidade de
aplica ções de K e Ca . i,
A funcionalidade desse cartã o para solujções simples resulta da intera çã o dos
fundamentos dos dois modelos de recomenda çã o: ãs tabelas de uso consagrado e os
balanços nutricionais, que aparecem como uma alternativa de evolução mais dinâ mica e
promissora.

FERTILIDADE DO SOLO

ri
'
!
\
816 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

UM SISTEMA SlltjlPLES
DE RECOMENDA ÇÃ O
DE CALC Á RIO E FERTILIZANTES NPK

.
R.F NOVAIS, J C. L
PARA EUCALIPTO *
N.F. BARROS & J.L. TEIXEIRA
. . NEVES, "
Aduba çã o de Implanta çã o

Implantanção e Reforma
A p l i c a r c o m o a r r a n q u e 6 , 0 k g d e 6 -3 0 - 6 o u 1 0 , 0 k g d e s u p e r f o s f a t o s i m p l e s ( S S )
p o r m d e c o v a d e p l a n t i o I (a d o s e m i n i m a p o r c o v a o u c o v e t a s l a t e r a i s nã o
|
d e v e s e r i n f e r i o r a 8 0 g d e 6 3 0-6 o u l 3 0 g d e S S ) n o a t o d o p l a n t i o o u a t é l O d i a s
a p ós ( c o v e t a s ) .
A p l i c a r , a d i c i o n a l m e n t e , 3 b O k g h a'1 d e f o s f a t o r e l a t i v o o u 6 0 0 k g h a '1 d e f o s f a t o d e
A r a x á n a l i n h a d e p l a n t i o ( f i l e t e c o n t í n u o ) e m s o l o s c o m P d i s p o n í v e l ( M e h l i c h - 1) ,
n a c a m a d a d e 0 - 2 0 c m , m e n o r q u e:

- 5m g d m 'J
( >35 % de
argila o u Prem < 15mgL
- lOmgdm ' 3
(1 5 a 3 5 % d e j a r g i l a o u P r e m d e 3 5 a 1 5 m g L *)
3 < 1 5 % d e a r g i l a o u P r e m > 3 5 m g L-1 )
-15mgdm '
(
o u e m s o l o s c o m P d i s p o n í v e l p e l a R e s i n a < 1 5 m g d m'3
J
R e b r ot a
'
A q u a n t i d a d e d e K 20 a s e r a p l i c a d a , d e f i n i d a p e l a a n á l i s e d e s o l o
(gr áfico) , dever á s e r a t e n d i d a c o m a u t i l i z aç ã o d e 1 0 5-3 0 - .
A fosfatagem , aplicadaj superficialmente sem incorporar , deverá
a t e n d e r a o s m e s m o s c r i té r i o s a d o t a d o s p a r a a i m p l a n t aç ão.

Adubaçã o de Manutençã o

Linhas : IMA ( m 3 ha *1
ano ' 1 )
B u c a l y p t u s g r a n d i s , B. i t r o p h y l l a e " u r o g r a n d i s"

-
<1 ) NUTREE / Universidade Federal de Vi çosa UFV ( Brasil )

Ca 2+ no solo ( cmolcdm 3) de 0 -40 cm *

0 0, 1 0, 2 0 ,3 0 , 4 0 , 5 0 , 6 0 , 7 0 , 8 0,9
350 1.050
Implantação e Reforma (m3 ha1 ano;1) -
300
Rebrota (m3 ha 1 ano 1) — * 900

250 750
ra r

«
CL
200 \ 600 ( 640 ) =
Ui

O) 150 ‘ 450 (480 )


O * <u
*
N
100 - 300 (320) °
50 150 (160 )
E
0 (0 )
70 80 90
K no solo (mgdm“3)(3) de 0-40 cm

<11 Quantidade de calcário comercial (ha) -


(kg ha'1 CaO recomendada) / (CaO no calcá rio x 10)
Aplicar antes ou até um ano após o plantio ( periodo seco ou chuvoso).
.
.
p) Quantidade de K O em g / planta, multiplicada por 5 O correspondente a 10 5 10, por 3,34 a
2 -- .
-mg-
10 5 30, e por1,67 a KCI; aplicar entre três meses até um ano após o plantio (tempo chuvoso)
p) 39 dm"3 de K = 0,10 cmolc dnrfi de K.

Figura 14. Modelo simplificado de balanço nutricional NUTRICALC para interpretar análise
de solo e recomendar calcá rio e fertilizantes para o cultivo do eucalipto.

FERTIIíIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RE COMENDA ÇÃ O DE FERTILIZANTES 817

M ÉTODOS COM BASE NO ESTADO


NUTRICIONAL DAS PLANTAS
Técnicas de diagnóstico do estado nutricional das plantas sã o usadas para identi-
ficar deficiências, toxidez ou desbalanços nutrié ionais no sistema solo-planta . A defici-
ência se manifesta quando o nutriente está em quantidade insuficiente no meio de cres-
cimento, ou, quando mesmo presente, não pode ser absorvido ou incorporado ao meta -
bolismo das plantas, considerando as condições desfavoráveis do ambiente. De modo simi-
lar, a toxidez ocorre por excesso, desbalanços ou condições desfavorá veis do ambiente.
Quando a demanda metab ólica por determinado nutriente é maior que seu
suprimento pelo meio externo, diversos mecanismos sã o acionados para a manutençã o
do equilíbrio bioqu ímico e fisioló gico da planta . Respostas de curto prazo incluem a
mudança na taxa de " turn-over" de carregadores específicos situados na plasmalema e
no tonoplasto de células radiculares, de modo a manter inalterada a concentra çã o do
nutriente no citoplasma . Em longo prazo, podem ocorrer altera ções no n ú mero desses
carregadores. Mecanismos de ajuste envolveniio
o transporte e compartimentalizaçã o
de íons em diferentes ó rgã os e rela ções fonie / dreno tamb é m operam para que a
concentra çã o citoplasm á tica seja mantida . Da mesma maneira, o vegetal apresenta
mecanismos reguladores para limitar a absor çã o e, ou, acú mulo excessivo de nutrientes
ou de elementos tóxicos em ó rgã os ou parte de ó rgã os com metabolismo intenso. Tais
ajustes, em geral, envolvem gastos de energia e redu ções no crescimento. Se esses
mecanismos falham, num primeiro momento, a taxa de crescimento é reduzida ,
posteriormente aparecem sintomas de carência ou excesso relacionados com os distú rbios
metabólicos provocados.
Por essa razã o, os sintomas de deficiência de nutrientes em diferentes espécies
mostram semelhanças e podem ser utilizados para diagnosticar o estado nutricional de
uma cultura . A essa técnica de diagnóstico dá -se o nome de diagnose visual. No entanto,
o aparecimento do sintoma representa o est dio tardio de um processo no qual o
á
crescimento e a produçã o podem sofrer perdas irreversíveis.
Numa agricultura intensiva, o diagnósticp do estado nutricional visa identificar
car ências e, ou, excessos antes que estes possarrí manifestar-se na forma de sintomas, de
modo a poder-se corrigi-los antes que representeiln risco para a produtividade das culturas.
Para isso, ao considerar a planta, empregam-se a diagnose visual e a análise dos tecidos
das plantas, estando disponíveis na literatura diversas técnicas de aná lise e interpretação
de resultados.

Diagnose Visual
A observa çã o de sintomas é uma forma r á pida e pouco dispendiosa de diagnóstico
do estado nutricional, porém sua principal limiiaçã o refere-se ao fato de que, quando há
li
manifestação visível de sintomas de car ência ou e excesso, expressiva parte da produção
das plantas já está comprometida. Outra limitaçã o refere-se ao fato de que, em condições
de campo, comumente têm sido associados mais de um sintoma de carência e, ou, excesso,
refletindo uma situa çã o complexa de limitada fertilidade do solo ou de correções e, ou,

FERTILIDADE DO SOLO
818 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

fertiliza ções inadequadas (Malavolta e|t al., 1997) . Como a á gua é o veículo para transporte
e absorção ou aquisiçã o dos nutrientes, é comum que, em per íodos secos, alguns sintomas
se acentuem (veja capítulo IV) .
A diagnose visual requer uma ariá lise criteriosa dos fatores bió ticos e, ou, abió ticos
que possam alterar o estado nutricional da planta ou induzir padrões de danos similares
à deficiência ou toxidez de nutrientes. Neste sentido, destacam-se a deficiência ou excesso
do suprimento de água , varia ções briuscas de temperatura, textura e compacta çã o do
solo, rea ções entre misturas de produtos fitossanitá rios, toxidez causada por herbicidas,
senescência natural de folhas, ataque de pragas e doen ças, pr á ticas de cultivo
inadequadas, dentre outros fatores , i As desordens nutricionais caracterizam-se por
ocorrer em reboleiras, apresentar simetria e um gradiente de intensidade das folhas velhas
para as jovens em caso de nutrientes ijnó veis no floema, verificando-se o contrá rio para
os imóveis (Lucena, 1997; Malavolta et al ., 1997) .
A diagnose visual, particularmente para plantas de ciclo curto (anuais), é pouco
eficiente para a adoçã o de medidas corretivas; no entanto, pode subsidiar a escolha de
aná lises qu ímicas ou bioqu ímicas q úe permitam a melhor caracteriza çã o do estado
nutricional da cultura .
A seguir, serã o descritos os sintomas de deficiência mais comuns relacionados com
a carência de macro e micronutrientes ( Mengel & Kirkby, 1982; Marschner, 1995; Taiz &
Zeiger, 2004).
Nitrogénio
Sua falta se traduz em plantas peqpenas e de crescimento lento. O sintoma típico da
falta de N é a clorose (amarelecimentcj) generalizada ( uniforme) de folhas. Como é um
elemento que se move no floema , o silntoma aparece primeiro nas folhas mais velhas,
progredindo, com o tempo, para as máis novas ( Figura 15a ).
Fósforo
i
Plantas deficientes apresentam crescimento mais lento e, freqiientemente, coloraçã o
verde escura nas folhas mais velhas. Em muitos casos, o progresso da deficiência leva ao
surgimento de coloraçã o avermelhada eín caules e folhas velhas (Figura 15b). Os sintomas
progridem das folhas mais velhas para as mais novas, porque, assim como o N, o P é um
elemento bastante mó vel no floema . A cor avermelhada é causada pelo acúmulo de
antocianina . !

Potássio
A deficiência de K retarda o cresciinento e aumenta a susceptibilidade ao ataque de
patógenos, havendo retranslocação de K; de folhas velhas e caules para as regiões de cresci-
mento ativo. Os sintomas de carência Çaracterizam-se por clorose e necrose de bordos
foliares (Figura 15c). Murcha e quebra dós caules também caracterizam a deficiência de K.
Cálcio
Seu movimento de ascensã o acompanha o fluxo transpiratório. Por ter funções
estruturais, nã o sai de um local de resid ência para atender à demanda em locais de
crescimento ativo da parte a érea ou da raiz. É considerado um elemento imóvel no

FERTILIDADE DO SOLO
Xlll - AVALIAçã
O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDA çã O Dé FERTILIZANTES 819

Figura Sintomas de defici ência ( D ) de macronutrientes e de micronutrienies e de toxLdez


(T ) de micronutr Sentes em algumas espécies de plantas.

FERTILIDADE DO SOLO
820 REINALDO 3ERTOLA CANTARUTTI et al .

floema. O sintoma típico de deficiência de Ca é a má forma ção das paredes celulares e o


colapso dos tecidos jovens (Figura 15d ).
Magnésio
Sua deficiência caracteriza-se, tipicamente, por uma clorose inté rnerval das folhas
totalmente expandidas - mais velhas (Figura 15e).
Enxofre
Sua carência manifesta -se por cicrose generalizada, muito semelhante à que ocorre
com deficiência de N, porém, inicianc .o-se em folhas jovens (Figura 15f ).
:
Ferro
Atua há biossíntese de clorofila. *or isso, os sintomas de deficiência se manifestam
como clorose e, às vezes, assemelha-sem à deficiência de Mg, com a diferença de que,
para o Fe, os sintomas de carência se mjanifestam sempre nas folhas mais novas. De modo
geral, as folhas jovens mostram nervujrias verdes sobre um fundo amarelado. O sintoma
evolui para o completo branqueamento das folhas jovens, seguindo-se necrose
(Figura 15g).
Manganês
Para dicotiledôneas, a deficiência assemelha-se à de Fe, caracterizando-se por clorose
internerval de folhas jovens, que se inicia por surgimento de pontuações amareladas
(Figura 15h ). Já nas monocotiledôneas, manifesta -se como faixas verdes cinzentas na
parte basal das folhas. Pode ocorrer em altas concentra ções em solos minerais ácidos
causando toxidez, que se caracteriza por enrugamento de folhas jovens, clorose e
pontuações necróticas na lâ mina de folhas velhas (Figura 15i). Os pontos necróticos
correpondem a locais de acúmulo do elemento.
Boro
Sua deficiência caracteriza -se por crescimento lento e anormal das regiões
meristemáticas. Em fase avançada, ocorre morte de meristemas apicais, superbrotamento
e folhas jovens grossas e deformadas (Figura 15j), bem como podridã o, cavidades e
rachaduras em raízes, como beterraba e cenoura. Formaçã o de cortiça pode ocorrer em
-
caules de tomate e couve flor. A forma ção de flores e frutos é restrita ou totalmente
inibida, havendo também perda da qualidade. As brássicas são particularmente sensíveis
à carência de B.
Para o B, o limite entre a carência e. a toxidez é estreito, e os sintomas de toxidez
caracterizam-se por amarelecimento das pontas e margens das folhas, seguido de necrose
e queda (Figura 15 k).
Cobre
Os sintomas de deficiência variarti bastante entre espécies. As folhas jovens podem
apresentar-se cloró ticas ou verde-az úladas (Figura 15 1). Gra ças ao seu papel na
lignifica ção, em condições de deficiência, as cascas das á rvores podem apresentar
rachaduras com exuda çã o de goma nesses pontos . O florescimento e a frutificação são
também diminuídos. Os efeitos tóxicos do Cu, por sua vez, parecem relacionar-se com

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 821

sua capacidade de deslocar outros c á tions metá licos, especialmente Fe, de sítios
fisiologicamente importantes. Assim sendo, clorose que lembra deficiência de Fe pode
ser sintoma de toxidez de Cu (Figura 15m ) .
Molibd ênio
A deficiência caracteriza -se por clorose internerval de folhas jovens (Figura 15n ),
semelhante à deficiência de Mn. As margens das folhas tendem a enrolar-se ou curvar-
se para cima ou para baixo . Nas br ássicas, a lâ mina foliar constitui uma faixa estreita
em torno da nervura principal, conhecida como "Wiptail".
Zinco
A carência do elemento leva a reduções na produ çã o de AIA, responsá vel pela
elonga çã o de ramos, sendo as folhas pequenas e a forma çã o de rosetas sintomas típicos
da carência desse elemento ( Figura 15o) . O florescimento e a frutifica ção podem ser
muito reduzidos em condições de deficiência severa de Zn. A toxidez caracteriza-se por
redução do crescimento de raízes e da expansão foliar, ao que se segue clorose (Figura 15p ).
Cloro
A deficiência de Cl caracteriza -se por murcha, bronzeamento, clorose e necrose,
porém não tem importância económica, pois nunca foi observada em campo. Por outro lado,
a toxidez de Cl pode representar sério problema caracterizado por bronzeamento e necrose
de pontas e margens de folhas velhas, seguidos de amarelecimento e abscisã o prematura.

Diagnóstico com Base na Análise de Tecidos


A aná lise de tecidos é caracterizada pela determina çã o da concentraçã o de um
elemento ou de uma fra çã o extra ível desse elemento em uma amostra tomada de uma
por çã o particular de uma planta, num momento ou está dio de desenvolvimento
morfológico definido (Lucena, 1997).
A análise de tecidos pode ser empregada no diagnóstico do estado nutricional das
plantas porque existe uma relaçã o entre estado nutricional e performance da planta e entre
composiçã o foliar e estado nutricional ( Reuter & Robinson, 1988; Mills & Jones Jr., 1996).
A performance de uma planta ou cultura, seja medida em termos de produtividade,
seja de qualidade ou ambos, tem como limite o potencial gené tico e é influenciada por
fatores do ambiente de crescimento, tais como: luz, temperatura, suprimento de água e de
nutrientes. Se todos os demais fatoreá forem otimizados, o crescimento e o desenvolvimento
serão dependentes do suprimento de nutrientes. O incremento no crescimento da planta,
como resultado do aumento do suprimento de um nutriente, é, usualmente, acompanhado
pelo aumento da absorção e acúmulo desse elemento na planta, resultando em aumentos
de sua concentra çã o nos tecidos. Assim, na aná lise de tecidos, o objetivo é estabelecer a
relaçã o entre concentraçã o de nutrientes e crescimento ou produçã o e usar essa relação
em situa ções compar á veis para estabelecer o status nutricional de uma planta ou cultura
( Leece & van den Ende, 1975).
A rela çã o entre suprimento de nutrientes e crescimento ou produção pode ser
estabelecida em experimentos de vasos, de campo, ou mesmo em soluçã o nutritiva , em

FERTILIDADE DO S ò LO
822 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

que se aplicam doses crescentes de determinado nutriente, avaliando-se o acú mulo de


matéria seca , ou produ çã o da planta em cada situa çã o. A rela çã o obtida usualmente é
curvilínea , podendo ser afetada por outros fatores limitantes que nã o o nutriente em
estudo (Bouma, 1983).
A rela çã o entre crescimento ou produ çã o e concentra çã o de nutrientes nos tecidos
deriva dos mesmos experimentos e se caracteriza por uma curva em que se distinguem
cinco regiões ( Figura 16) . Na primeira regiã o, parte mais baixa da curva, verifica -se o
chamado efeito de "Steembjerg". O aumento inicial do suprimento de determinado
nutriente resulta em aumento no crescimento ou produ çã o e, portanto, há um decréscimo
na concentra çã o do nutriente nos tecidos, por efeito de dilui çã o . Ocorre que o severo
estresse nutricional, causado pela deficiência do nutriente, leva a um retardamento no
desenvolvimento fisiológico da planta. Plantas com o crescimento severamente retardado,
embora com a mesma idade, podem ser fisiologicamente mais jovens que outras, nas
quais o estresse e, conseqiientemente, a restriçã o no crescimento, nã o foram tã o intensos,
e por isso apresentar teores mais elevados do nutriente em estudo. Na segunda regiã o, o
aumento do suprimento de dado nutriente é acompanhado pelo aumento de seu teor nos
tecidos da planta, resultando em aumento no crescimento e produ çã o. A primeira e a
segunda regiã o são chamadas de regiões de deficiência (Bouma, 1983; Reuter & Robinson,
1988; Mills & Jones Jr ., 1996). Na terceira regiã o, chamada de regiã o de adequa çã o, o
aumento do suprimento de um nutriente e de seu teor nos tecidos da planta nã o é
acompanhado por aumentos proporcionais no crescimento / produçã o. Na quarta região,
chamada de regiã o de absorçã o ou ac ú mulo de luxo, o aumento do suprimento do
nutriente e de seu teor nos tecidos nã o é acompanhado por aumento no crescimento ou
produ çã o. A quinta regi ã o, ou regiã o de toxidez, caracteriza -se por menor crescimento
ou produçã o com o aumento do suprimento de dado nutriente e de seu teor nos tecidos.
O conhecimento dos teores de nutrientes nos tecidos relacionados com cada uma dessas
regiões permite avaliar o estado nutricional das culturas (Bouma, 1983; Reuter & Robinson,
1988; Mills & Jones Jr ., 1996 ).

Sintomas Sintomas
de defici ê ncia de toxidez

IV

o
e HO o
<D O
E 5
o/) ~o Regi ões de deficiê ncia
< o
o .
Q Regi ã o de nutri çã o ade juada
O Regi ã o de absorçã o de luxo
Regi ã o de toxidez

Teor de nutriente nos tecidos

Figura 16 . Rela çã o entre crescimento ou produção e teores de nutrientes em tecidos de plantas.


i

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 823

O solo é heterogéneo e nele ocorrem rea ções complexas envolvendo os nutrientes


adicionados, que, muitas vezes, embora presentes em quantidades adequadas, nã o estã o
disponíveis para a absorçã o pelas ra ízes . Os tecidos da planta, por sua vez, mostram o
status nutricional da planta apenas no momento e fase fisiol ógica em que foi tomada a
amostra . Como o crescimento da planta é um processo dinâ mico, o diagnóstico com base
na aná lise de tecidos também é limitado e, de modo geral, esta análise, aliada à análise
do solo, permite uma avaliaçã o mais eficiente do estado nutricional da cultura e, ou, das
necessidades de redirecionamento do programa de aduba çã o. Com rela çã o aos
micronutrientes, o uso da aná lise de tecidos torna -se mais importante, em virtude da
car ência de valores de refer ência para interpretar seus teores no solo e da falta de
padroniza çã o dos m é todos analíticos empregados em sua determina çã o (Walworth &
Sumner, 1988; Lucena , 1997) ( veja capítulo XI ) .
A parte da planta geralmente usada para o diagnóstico do estado nutricional é a
folha, pois ela é a sede do metabolismo e reflete bem, na sua composiçã o, as mudanças
nutricionais.
A diagnose com base na aná lise de tecidos tem sido usada nas seguintes situa ções:
avalia çã o do estado nutricional e da probabilidade de resposta às adubações; verifica çã o
do equilíbrio nutricional; constata çã o da deficiê ncia ou toxidez de nutrientes;
acompanhamento, avaliaçã o e ajuste do programa de adubaçã o e avaliaçã o da ocorrência
de salinidade em á reas irrigadas ou cultivos hidropô nicos.
Para que a diagnose foliar seja utilizada com sucesso, é necessá rio que se cumpram
adequadamente três etapas: a primeira delas rèfere-se à obtenção de padrões de referência;
a segunda refere-se à normatiza çã o da amostragem, preparo das amostras e análise
química do tecido, e a terceira refere-se à interpreta çã o dos resultados analíticos (Jones,
1981; Mills & Jones Jr ., 1996).

Fatores que Influem na Relação entre Teor de Nutrientes e Crescimento ou Produção


A composiçã o mineral dos tecidos vegetais pode ser influenciada por uma sé rie de
fatores não-nutricionais pertinentes à própria planta (espécie, variedade ou porta-enxerto,
está dio vegetativo e idade da planta, distribuição, volume e eficiência do sistema radicular,
produçã o pendente, estado fitossanitá rio da planta ) e ao ambiente ( variações climá ticas,
disponibilidade de á gua e nutrientes no solo, tipo e manejo do solo e interações entre
nutrientes ( veja capítulo II ), os quais influem na rela çã o entre teor de nutriente e
crescimento ou produçã o (Bouma, 1983; Reuter & Robinson, 1988; Walworth & Sumner,
1988; Fageria et al., 1991; Mills & Jones Jr., 1996).

Fatores Pertinentes à Planta


Os teores de nutrientes nos tecidos variam entre espécies. As variedades de uma
mesma espécie, por sua vez, podem apresentar grande diferença na eficiência com que
absorvem os nutrientes do solo, sem que essas diferenças influenciem muito os teores
internos observados. O mesmo nã o se aplica à toxidez e os teores dos tecidos que se
mostram tóxicos podem variar bastante entre variedades.

FERTILIDADE DO SOLO
824 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

Todos os ó rg ã os e tecidos da planta apresentam ao longo de seu desenvolvimento


fases de acú mulo, teor constante e exporta çã o de nutrientes. Por outro lado, o teor de
cada nutriente apresenta também um padr ã o de mudança durante o desenvolvimento,
maturidade e senescência do tecido. Os teores de N, P, K, S, Cu, Zn e B, em geral, diminuem
com o envelhecimento do tecido, enquanto os de Ca e Mn aumentam e os de Mg aumentam
ou permanecem constantes. Para folhas em rá pida expansã o, as varia ções diá rias no
teor de nutrientes podem ser relativamente grandes, do mesmo modo que em tecidos
senescentes, nos quais ocorre grande remobiliza çã o de nutrientes mó veis. No período
intermediá rio entre essas duas fases, os teores de nutrientes sã o mais estáveis.
Variedades com ciclos de crescimento com duração diferente, avaliadas numa mesma
data, podem apresentar diferenças nos teores, graças a diferenças na maturação fisiológica
dos tecidos amostrados. Na verdade, esse efeito é.devido à idade fisiológica do tecido
avaliado e nã o à variedade. Essas varia ções sã o especialmente importantes para plantas
anuais, pois seu curto período de crescimento é acompanhado por mudanças rá pidas no
desenvolvimento e, consequentemente, nos teores de nutrientes nos tecidos. Por isso, a
diagnose foliar é limitada para a correçã o de desordens nutricionais em culturas anuais,
a menos que o diagnóstico seja feito muito precocemente.
O estado nutricional influi na absor çã o e remobiliza çã o interna de nutrientes na
planta . Plantas deficientes em P, por exemplo, remobilizam menos o nutriente de folhas
velhas para folhas jovens que aquelas com nutriçã o adequada .
Intera ções entre nutrientes que envolvem mudanças no teor de um deles sã o comuns.
Às interações positivas, d á -se o nome de sinergismo e, às negativas, de antagonismo. O
antagonismo pode ocorrer na absor çã o, transloca çã o, ac ú mulo nos tecidos ou no
metabolismo. A competição entre cá tions exemplifica antagonismos na absorção, sendo
bastante conhecidas as interações K + x Ca 2+, K + x Mg2+, Fe2+ x Mn2+, Cu2+ x Fez+ e NH4+ x
outros cá tions.
Na transloca çã o, o antagonismo é frequentemente causado por precipitações no
tecido radicular ou outro órgã o. O excesso de P na raiz, por exemplo, precipita Zn e Cu
nos tecidos condutores, fazendo com que o teor foliar seja menor. A interação Mn x Fe é
um exemplo de antagonismo que ocorre tanto na absor çã o quanto no metabolismo.
Os frutos sã o um forte dreno de carboidratos e de nutrientes e por isso a composição
da folha depende da presença destes, bem como da posiçã o da folha em rela ção a eles.
De maneira geral, a presença de frutos reduz, consideravelmente, os teores de K das
folhas adjacentes a eles. Por isso, na tomada de amostras para diagnóstico, é preciso
padronizar se a amostra deve ser tomada de ramos com ou sem frutos.
Temperatura, á gua, luz, ataque de pragas e incidência de doenças sã o fatores que
limitam o crescimento e a produ çã o das plantas. Embora sejam, muitas vezes,
desconsiderados, esses fatores afetam as curvas de resposta de crescimento ou de produção
em resposta ao teor de nutrientes.

Obtenção dos Padrõ es de Referência ou Normas


O sucesso da interpreta çã o da análise de tecidos é dependente da acurácia dos
valores de referência usados para compara çã o . Por isso, requer o estabelecimento prévio

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIA çã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 825

de padrões adequados para compara ções ( plantas normais). Sã o consideradas normais


as plantas que contêm em seus tecidos todos os nutrientes em teores e proporções
adequadas, sendo, assim, capazes de apresentar altas produções, aparentando aspecto
visual semelhante ao encontrado em lavouras muito produtivas. Dados obtidos de
popula ções altamente produtivas podem ser usados para gerar os padrões de referência .
Alternativamente, podem-se considerar como normais plantas cultivadas em condições
controladas de nutriçã o, nã o sofrendo restrições quanto à quantidade e proporçã o dos
nutrientes que recebem. Neste último caso, as normas derivam de experimentos.
De todo modo, para o diagnóstico do estado nutricional, usando-se a aná lise de
tecidos, a definiçã o de padr ões apropriados é de fundamental importâ ncia . Os padrões
dizem respeito à época de amostragem, posição na planta e quantidade de tecido (nú mero
de folhas ) por talhã o.

Escolha do Tecido
A escolha de um ó rgã o ou tecido como padr ã o deve considerar dois aspectos
principais: (a ) sensibilidade da resposta à s varia ções no estado nutricional da planta
nesse órgã o ou tecido, e (b) estabilidade da composiçã o desse órgã o ou tecido em face de
outros fatores n ã o-nutricionais.
De modo geral, as folhas recé m-maduras sã o consideradas os órgã os da planta que
mais bem refletem seu estado nutricional, ou seja, apresentam maior varia çã o no teor
com a altera çã o do suprimento de nutrientes que outros órgãos. Esse fato se justifica, pois,
além de ser o local da produçã o de carboidratos pela fotossíntese, as folhas desempenham
importantes funções no metabolismo de muitos constituintes e sã o também o principal
local para onde sã o transportados os nutrientes absorvidos pelas raízes ( Bouma, 1983;
Reuter & Robinson, 1988; Walworth & Sumner, 1988; Mills & Jones Jr., 1996 ).
No entanto, algumas vezes, os pecíolos sã o melhores indicadores do estado
nutricional, enquanto a aná lise dos frutos pode ser um indicador mais preciso dos teores
de Ca e B e, portanto, de suas propriedades para armazenamento. Também a análise de
flores tem sido aplicada com sucesso no diagnóstico de desordens nutricionais em
frutíferas cujas folhas se desenvolvem após a floraçã o (Montanes et al., 1997). A avaliaçã o
precoce do estado nutricional por meio da aná lise de flores pode ser de grande valia,
pois possibilita iniciar o ajuste do programa de aduba çã o exatamente no início de
crescimento, antes que ocorram perdas irreversíveis em produtividade e qualidade. Além
disso, sendo as flores órgã os de curta dura çã o, onde nã o ocorrem rea ções metabólicas
tã o complexas quanto nas folhas, estas nã o apresentam diferenças acentuadas entre o
teor total do nutriente e a fra çã o fisiologicamente ativa (Sanz & Montanez, 1995; Sanz &
Machin, 1999). Os resultados obtidos com ma çã, pêssego, ameixa, laranja e caf é parecem
promissores, embora mais pesquisas sejam necessá rias.
A diagnose por meio da aná lise da seiva , extra ída de tecidos condutores, como, por
exemplo, os pecíolos tem crescido. A análise da seiva é uma forma adequada de quantificar
os nutrientes que estão sendo recebidos pela planta no momento da amostragem, podendo
dar uma informa çã o precoce e rá pida sobre o potencial nutritivo do meio, o que permite
ajustes e correções antes que o crescimento e a produ çã o sejam afetados. Esta técnica tem

FERTILIDADE DO SOLO
826 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

sido usada para cultivos de ciclo relativamente curto e em explorações intensivas / como,
por exemplo, no cultivo hidropônico de hortaliças ( Lucena, 1997).

Amostragem, Preparo das Amostras e Aná lise do Tecido Vegetal


Coleta das Amostras
À semelhança da amostragem do solo para fins de avaliaçã o da fertilidade, a fase de
amostragem do tecido vegetal é uma das mais críticas para aumentar a probabilidade de
sucesso no uso da an á lise foliar . Esta pr á tica é responsá vel por 50 % da variabilidade
observada entre resultados de análise de plantas. Deve-se ter em mente que uma coleta
errada irá gerar informa ções falsas e que os mé todos analíticos, por mais apurados que
I

sejam, não corrigem erros de amostragem. Erros pequenos ocorridos ao longo do processo
de amostragem, preparo das amostras e aná lise química somam -se, gerando um erro
final consider á vel ( Bouma, 1983; Reuter & Robinson, 1988; Walworth & Sumner, 1988 ;
Fageria et al., 1991; Mills & Jones Jr ., 1996) .
A parte amostrada deve ser representativa da planta toda, e a escolha, como já
discutido, em geral recai sobre as folhas (Quadro 16). Em virtude da interferência de
fatores diversos sobre a composiçã o das folhas, a amostragem deve ser realizada em
talh ões homogéneos, em é poca apropriada, retirando-se folhas de posições definidas na
planta . Em geral, sã o suficientes 50 a 100 folhas por talhã o. Para espécies herbá ceas, é
comum amostrarem-se as folhas recé m-maduras completamente desenvolvidas; para as
lenhosas, é comum usar folhas do ter ço médio da brota ção do ano, com posiçã o bem
definida em relação aos frutos. A posição de amostragem ideal é aquela em que ocorrem
menores flutua ções nas concentra ções de nutrientes ao longo do ano. Para espécies
perenes, padroniza-se a época de menor flutua çã o estacionai como a mais indicada para
o diagnóstico do estado nutricional (Bouma , 1983; Walworth & Sumner, 1988; Mills &
Jones Jr ., 1996).
Alguns pontos relevantes devem ser mencionados, tendo em vista a necessidade de
padronização dos crité rios de amostragem . Nã o se devem coletar amostras sujas de
terra, tecidos secos, doentes ou atacados por insetos. Deve-se evitar tomar amostras
antes da evapora çã o do orvalho, ou quando, nos dias antecedentes, fez-se uso de
adubaçã o no solo ou foliar ou aplicaram-se defensivos. Coletas após períodos de chuvas
intensas podem gerar concentrações foliares subestimadas para alguns nutrientes, como,
por exemplo, para K, que lixiviam do apoplasto foliar com facilidade (Reuter & Robinson,
1988; Fageria et al., 1991; Mills & Jones Jr., 1996 ).

Preparo e Remessa das Amostras ao Laboratório


As fases de preparo, acondicionamento e remessa das amostras são críticas e devem
ser feitas com o maior cuidado . É importante parar ou minimizar a respira çã o,
transpira çã o e atividade enzim á tica na amostra tã o logo quanto possível; por isso, o
ideal é que a amostra chegue ao laborat ó rio ainda verde, no mesmo dia da coleta,
acondicionada em saco plástico e mantida em baixa temperatura. Caso isso não seja
possível, recomenda-se armazenar as amostras acondicionadas em sacos plásticos, em
refrigerador, a 5 °C (Lucena, 1997).

FERTILIDADE DO SOLO
}

XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 827

Quadro 16 . Cultura, parte da planta amostrada, época de amostragem e tamanho da amostra


necessá rio para análise qu ímica

Quantidade/talhâ o
Cultura Parte Amostrada É poca
homogé neo

Abacate Folhas de 4 meses de idade em ramos Ver ã o 100 folhas de 20 plantas


terminais sem laterais e sem frentes, à meia
r altura na planta
Abacaxi Porçã o clorofilada da folha mais longa Florescimento 50 folhas
(Folha D - com 45° de inser çã o)
Abó bora Pec í olos das folhas novas completamente In í cio do florescimento 40 folhas
expandidas. Limbo foliar das folhas novas
completamente expandidas.
Acerola Folhas do terço superior da copa e do ter ço Dezembro 50 folhas
mediano e basal dos ramos
Alface -
Folhas recém maduras Forma çã o da cabeça 40 folhas
Algod ã o 5a folha a partir do á pice . Contar como Ia Florescimento 30 folhas
i
a que estiver completamente aberta
Alho Folha mais nova , completamente Antes da forma çã o da cabeça 40 folhas
desenvolvida Durante a formação da cabeça
Após a forma çã o da cabeça
Amendoim 4 folha da haste principal a partir da base
"
In ício do florescimento 30 folhas
Arroz Parte a é rea 30 dias após a germina çã o. 20 plantas
Folhas recém- maduras Maturidade 50 folhas
Azá lea Folhas recém- maduras 50 folhas
Banana 10 cm centrais da 3a folha a partir do á pice, Emissã o da inflorescência 25 folhas
Nanicã o sem a nervura central e as metades
perif éricas
Limbo da folha 3 de planta com cachos 25 folhas
emitidos
Batata Folha mais desenvolvida Amontoa 30 folhas
Buganv í lia Folhas recé m-maduras 40 folhas
Cacau 3a folha a partir do á pice, do lançamento Ver ã o 18 folhas
recém-amadurecido em plantas a meia
sombra
Caf é 32 e 4e pares de folhas, a partir do á pice de Est á dio de chumbinho 100 folhas, 4 / planta
ramos produtivos, em altura mediana na
planta
Flores completas na porçã o mediana de Florescimento 200 flores, 8/ planta
ramos produtivos
Cana de-- Folha + 3, sendo a folha +1 a primeira com 4-5 meses de idade -
20 30 folhas
a çúcar bainha visí vel. Coletar os 20 cm centrais sem
a nervura
Caju Folhas de posições diferentes na copa Ver ã o 40 folhas
Cebola Folha mais alta Meio do ciclo 40 folhas
Cenoura Folhas com pecí olo 40 dias 40 folhas
Citrus 3a ou 4a folha a partir do fruto Fevereiro a final de mar ço 100 folhas, 4/ planta
Coqueiro anão 10 cm centrais de 6 foliolos da parte çentral da f . 14
Couve-flor Folha recé m- madura Forma çã o da cabeça 40 folhas
Cravo 49 e 5a pares de folhas a partir da base dos ramos Ramos sem botã o 50 folhas
52 e 62 pares de folhas a partir do á pice nas Antes da emissã o do botã o 50 folhas
brota ções
Crisâ ntemo Folha mais jovem totalmente expandida 40 folhas
Ervilha Folha recé m-madura Pleno florescimento 40 folhas
Eucalipto Folhas recém- maduras de ramos primá rios Ver ã o - outono 18 folhas
Espinafre -
Folha recém madura Meio do ciclo 40 folhas
Feijã o Folhas do terço mediano Florescimento 30 folhas
Figo Folhas mais novas totalmente expandidas, ao Florescimento 40 folhas
sol em ramos sem frutos

Continua...

FERTILIDADE DO SOLO
828 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

Quadro 16. Continua çã o

Quantidade/talhão
Cultura Parte Amostrada É poca
homog é neo

Fumo Folhas de posi ções diferentes na parte a é rea 48 dias 30 folhas


Ger â nio Folhas de diferentes posi ções na parte a é rea 30-40 folhas
Girassol Folhas do terço superior In ício do florescimento 30 folhas
Goiaba Terceira a partir do á pice do broto terminal . 30 folhas
Quarta a partir do á pice de ramos sem frutos 1 mês após o termino do
Folhas 1 a 8 em ramos terminais cresc. do ramo
Gram í neas Folhas recém- maduras ou retiradas de todas Primavera - ver ã o 30 folhas
forrageiras as posi ções na parte a érea
Hortência Folhas recé m - maduras 30 folhas
Leguminosas Folhas retiradas de todas as posi ções na Florescimento 30 folhas
forrageiras parte aé rea
Lí rio Folhas recé m - maduras 30 folhas
Ma çã Folhas maduras, com pec íolo, retiradas de Florescimento 100 folhas, 4 / planta
ramos do ano em uma altura média na planta
Mamã o Folha F, com a primeira flor completamente Florescimento 18 folhas
expandida
Mamona Limbo da 4'1 folha a partir do á pice In ício do florescimento 30 folhas
Mandioca Primeira folha recé m- madura 3 a 4 meses de idade 30 folhas
Manga Folhas coletadas em diferentes posições na copa Antes da flora çã o 60 folhas
Plena flora çã o e forma çã o de
frutos Matura ção dos frutos
Maracujá Folhas em todas as posi ções 250-280 dias 60 folhas
Amarelo
Maracujá Folhas em todas as posi ções 250-280 dias 60 folhas
Roxo
Mel ã o Folhas completamente desenvolvidas 45 dias 40 folhas
Milho Tomar o ter ço basal da folha + 4 sem a 60 dias após o plantio 30 folhas
nervura central
Pepino Folhas do caule In ício da frutifica çã o 40 folhas
;
Pê ra Folhas da porçã o mediana dos ramos do ano 2-3 semanas após o 100 folhas, 4 / planta
floiescimento
Pimentã o Folhas maduras Florescimento 40 folhas
Pimenta Folhas -
90 150 dias
Pêssego Folhas recém-maduras do crescimento do ano Verã o 100 folhas, 25 / planta
Pinus Acículas recé m-maduras -
Verã o outono 18 plantas
Pu punha Fol íolos centrais de folhas medianas -
Verã o outono 30 folhas
Repolho Folhas recé m- maduras Forma çã o da cabeça 40 folhas
Rosa Folhas recé m- maduras com cinco fol íolos na Cá lice em in ício de abertura 20 folhas, 2/ plantas
metade superior da planta
Seringueira -
Viveiro Folhas do 22 verticilo não ramificadas 24 folhas
- -
Plantas adultas Folhas recé m maduras do -
Ver ã o outono
ter ço superior da copa
Soja 3à folha a partir do á pice na haste principal, Florescimento pleno (R2) 30 folhas
com pecíolo í

Sorgo Folhas em posiçã o mediana na planta Emborrachamento 30 folhas


Tomate Pec íolo da folha oposta ao 32 cacho Florescimento do 3fi cacho 40 folhas
Limbo foliar da folha oposta ao 32 cacho
Trigo Folhas 1 a 4 a partir do topo da planta Início do florescimento 30 folhas
Violeta Folha recém- madura 30 folhas
Uva Folha da base do primeiro cacho Final do florescimento 30-60 folhas
Itália Limbo da folha oposta ao primeiro cacho, Florescimento
contada a partir do á pice do ramo Amolecimento

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIA çã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 829

No laborató rio, as folhas dever ã o ser lavadas (imersã o r á pida ) com á gua destilada
e, em seguida, postas a secar sobre papel toalha, sendo posteriormente acondicionadas
em sacos de papel, onde completar ã o a secagem em estufa de circula çã o for çada de ar a
70-75 °C até atingirem peso constante. Secagem a temperaturas superiores a 80 °C
promove decomposiçã o térmica e perda de compostos volá teis. A secagem mata o tecido,
parando a atividade metabólica e permitindo que o material seja armazenado sem sofrer
decomposiçã o, facilita a moagem e a homogeneiza ção do material (Malavolta et al., 1997).
Se estiver contaminado com terra ou poeira, o material vegetal coletado deve ser
imerso em solu çã o de HC10,1 mol L 1 e "Tween" a 0,1 % por 10 min; a seguir, enxaguado
'

com á gua destilada por 20 min, escorrido, colocado a secar sobre papel toalha e,
posteriormente, acondicionado em saco de papel e seco em estufa de circula çã o for çada
de ar ( Lucena, 1997).
Na impossibilidade de encaminhar as amostras frescas ao laboratório, é aconselhá vel
que as folhas sejam lavadas com á gua corrente e enxaguadas com á gua filtrada ou
destilada, acondicionadas em sacos de papel e postas para secar ao sol antes do envio ao
laboratório. Em qualquer caso, as amostras devem ser identificadas com n ú mero, espécie,
localidade, data da coleta , nutrientes por analisar e endereço para resposta .
A amostra utilizada para aná lise de seiva deve representar adequadamente a parcela
cujo estado nutricional se deseja avaliar, sendo necessá ria a tomada de subamostras,
para compor a amostra a ser analisada . Em geral, sã o suficientes 10 mL de seiva, que
I poder ã o ser extraídos de 20 a 30 g de tecido fresco, para plantas herbá ceas e, de 40 a
100 g de tecido fresco, para plantas mais lenhosas. Essas amostras devem ser enviadas
ao laboratório o mais r á pido possível. No laboratório, a mostra é limpa, o tecido condutor
separado, fatiado, imerso em éter etílico e congelado à temperatura de -20 a -30 °C. Após
o congelamento, a amostra pode ser armazenada por tempo indeterminado. A extraçã o
da seiva é realizada no momento da aná lise, após o descongelamento e separação do éter
etílico em funil de decanta çã o (Lucena, 1997).
No laboratório, o material vegetal seco é submetido à moagem em moinhos de facas,
devendo-se preferir os de a ço inox. A seguir, faz-se a mineraliza çã o por via seca em
mufla a 450 °C, ou por meio de digestã o á cida . Os nutrientes sã o dosados nos extratos
obtidos por colorimetria ou espectrofotometria de absor çã o atómica ou ICP. No caso da
aná lise de seiva, a mineraliza çã o pode ser dispensá vel, fazendo-se apenas as diluições
adequadas e dosando-se os nutrientes com eletrodos seletivos, cromatografia iônica,
colorimetria, espectrofotometria de ahsor çã o ató mica ou ICP (Fageria et al., 1991; Mills &
Jones Jr., 1996; Malavolta et al., 1997).
É importante que o laborat ó rio seja confi á vel e disponha de um sistema de
acompanhamento e avalia çã o da qualidade. É de grande interesse que os laboratórios
de determinada regiã o, ou mesmo do País, padronizem os métodos de análises, evitando-
se, assim, varia ções indesejá veis nos resultados.

Interpretação dos Resultados da Análise Foliar


A terceira fase do diagnóstico do estado nutricional é a da interpreta çã o dos
resultados. Os resultados analíticos sã o interpretados por meio da compara ção com

! FERTILIDADE DO SOLO
830 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

padrões ou normas. Como já foi salientado, o ponto crítico nessa fase é a escolha adequada
das normas. A experi ê ncia do próprio laborató rio com dados de uma regiã o específica
pode ser de grande valia na adoçã o de normas apropriadas.
Os mé todos de interpreta çã o dos resultados podem ser está ticos, quando implicam
uma mera compara çã o entre a concentra çã o de um elemento na amostra em teste e sua
norma , ou dinâ micos, quando usam rela ções entre dois ou mais elementos. O nível
crítico, a faixa de suficiência, fertigramas e o Desvio do Percentual Ótimo ( DOP) sã o
exemplos do primeiro caso, e o Sistema Integrado de Diagnose e Recomenda çã o ( DRIS) e
a Diagnose da Composiçã o Nutricional (CND), do segundo.

N í vel Crí tico e Faixa de Sufici ê ncia


Ao teor de determinado nutriente, em dada parte da planta, que se associa a 90 % da
produtividade ou crescimento má ximo, denomina-se nível crítico ( NC). O mé todo do NC
compara o teor de determinado nutriente na amostra com o valor aceito como norma. Se
a amostra apresentar teor igual ou superior à da norma , considera -se que a planta
amostrada esteja bem nutrida . Se o teor apresentado for inferior ao preconizado pela
norma , considera -se que a planta poder á apresentar problemas nutricionais quanto ao
elemento em questão. As normas, em geral, derivam de experimentos com doses crescen-
tes de nutrientes ( Bouma, 1983; Reuter & Robinson, 1988; Walworth & Sumner, 1988;
Fageria et al., 1991; Mills & Jones Jr., 1996). É um mé todo de interpreta ção muito simples,
por isso largamente utilizado . Sua maior desvantagem é justamente a inabilidade de
relacionar adequadamente a varia çã o no teor de nutrientes na matéria seca, com a idade
da planta . Outra desvantagem advém do fato de os nutrientes serem considerados de
forma independente, desprezando-se interações que podem ocorrem entre eles. O uso de
padrões obtidos em outros países, com condições de solo totalmente diferentes, é outra
fonte de èrros, principalmente para aqueles nutrientes cuja absor çã o e ac ú mulo sã o in-
fluenciados pelo fator capacidade d ó solo ( veja capítulos IV e VIII ), como P, S e Zn.
Finalmente, numa situaçã o de carê ncias m últiplas, o mé todo nã o permite saber qual é o
nutriente mais limitante.
No mé todo da faixa de suficiê ncia, o mais utilizado, as normas podem ser geradas
de popula ções de plantas de alta produtividade, sendo a concentra çã o mé dia da
populaçã o de referência considerada como o NC, e a faixa crítica FC = y ± ksy , em que y
é a média da concentra çã o do nutriente, sy é o desvio-padr ão da média e k um fator de
correçã o relacionado com o coeficiente de varia çã o. Nesse caso, o teor observado na
amostra é comparado com faixas de concentrações consideradas insuficientes, adequadas
ou tóxicas. Apresenta praticamente as mesmas vantagens e limita ções do NC, embora
sua ado çã o melhore a flexibilidade na diagnose, apesar de perda na precisã o ,
principalmente quando os limites das faixas são muito amplos.
A determinação dos níveis críticos ou faixas de suficiência para os diversos nutrientes
em rela çã o às diversas culturas é uma das fases da diagnose foliar que demanda grande
esforço por parte da pesquisa . Embora muito esteja por ser feito em relaçã o a esse assunto,
já existem informações sobre níveis cr íticos e faixas de suficiência para as culturas mais
importantes no Pa ís e que podem ser usadas como guia básico para a interpreta çã o do
estado nutricional da planta (Quadro 17).

FERTILIDADE DO SOLO
!

XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 831

No caso de outras culturas, sobre as quais nã o se estabeleceram, ainda, bases para a


interpreta çã o dos resultados analí ticos, é prefer ível comparar dados de plantas
aparentemente normais com os daquelas que apresentam algum sintoma de deficiência

Quadro 17. Valores de referência para a interpreta çã o dos resultados de análise de tecidos de planta

Cultura N P K Ca Mg S 6 Cu Fe Mn Mo Zn

dag kg - mg kg - i
i

Abacate 1,60-2,00 0,12-0,25 1,50- 2,00 1,50-3,00 0,40- 0,80 0,20-0,30 50-100 5-15 50-200 30-500 30-150
Abacaxi 1,50-1,70 0,80-1,20 2,20-3,00 0,80-1,20 0,30-0,40 0,20-0,30 20-40 5-10 100-200 50-200 5-15
Abóbora
Pecíolo 0,18 0,56 8,26
Limbo foliar 4,02 0,46 2,36 1,36 0,40 0,31
Acerola
Terço mediano dos
ramos 2,84 0,16 1,29 2, 22 0,79 0,15 2 48 158 15
Terço basal dos 2,96 0,18 1,81 2,16 0,66 0,16 2 52 183 16
ramos
Alface 3,80-4,70 0,50-0,75 6,00-7,00 0,65-1,50 0,35-0,40 0,16- 0,25 30-35 5-30 50-200 50-100 50-150
Algod ã o 3,20 0,17 1,50 2,00 0,50 0,40 50 8 70 200 30
Alho
Antes da bulbifica çã o 5,00 0,30 4,00 0,10 0,15 1,5
Durante bulbifica çã o 4,00 0,30 3,00 0,60 0,30 0,7 50 25 200 100 75
Após bulbifica çã o 3,00 0,30 2,00 0,60 0,30 0,3
Amendoim 4,00 0,20 1,50 2,00 0,30 0,25 140-180 110 440 - 0,13-1,39
Arroz
30 dias após a
germina ção 3,00 0,12 2,00 0,60 0,30 30 15 20
Maturidade 2,30-2,60 0,14-0,16 1,20 0,65-0,85 0,40-0,42 0,50-0,70 80 25 260 90 0,3 35
Azá lea 2,30 0,29-0,50 0,8-1,6 0,22-1,60 0,17-0,50 17-100 6-15 50-150 30-300 5-60
Banana 2,60 0,22 2,80 0,60 0,30 0,20 15 8 100 88 20
Nanicã o 3,04 0,23 4,49 0,80 0,41
Batata 4.50-6,00 0,29-0,50 9,3-11,5 0,76-1,00 0,10-0,12 - 25-50 7-20 50-100 30-250 45-250
Buganv ília 2.50-4,50 0,25-0,75 3,00-5,50 1,00-2,00 0,25-0,75 0,20-0,50 25-75 8-50 50-300 50-200 20-200
Cacau 1,90-2,30 0,15-0,18 1,70-2,00 0,90 1,20- 0,40-0,70 0,17-0,-20 30-40 -
10 15 150-200 150-200 0,50-1,00 50-70
Caf é
Geral 2,70-3,20 0,15-0,20 1,90- 2,40 1,00-1,40 0,31-0,360,15-020 59-80 8-16 90-180 120-210 0,15-0,20 8-16
Sul de Minas 2,83-3,20 0,12-0,16 1,97-3,03 0,84-1,32 0,29-0,48 0,13-0,19 39-67 16-24 -
61 120 110-193 - 9-20
Manhuaç u -
2,60 2,96 -
0,15 0,23 2,06-2,78 0,94-1,26 0,31-0,40 0,18-0,24 54-83 14-20 53-107 -
79 155 -
8 16
Viçosa 2,66-3,28 0,15-0,19 2,12-2,87 1,10-1,20 0,36-0,52 0,17-0,21 31 57- 18-38 54-72 116-326 - -
7 13
Patrocí nio -
2,51 2,85 0,10-0,15 2,24-3,10 1,00-1,34 0,36-0,52 0,13-0,18 44-64 34-64 94-159 77-141 13-30
Flores 2,29-2,59 -
0,24-0,26 1,79-2,63 0,12-0,22 0,16 0,20 0,17-0,21 17-23 8-14 59-89 44-100 7-10
Cana -de-açú car 2,00-2,30 0,20-0,25 0,90-1,50 0,95-1,15 0,20-0,45 0,15-0,30 15-50 8-10 100-500 50-250 0,15-0,30 25 50-
Caju
Folhas superiores 2,58 0,20 1,29 0,24’ 0,23 0,11
Folhas inferiores 2, 40 0,16 1,10 0,75 . 0,31 0,14
Cebola 4,00 0,30 4,00 0,40 0,40 0,40 0,70
Cenoura 3,60 0,22 6,34 1,84 0,39 0,38
Citrus 2,30-2,70 0,12-0,16 1,00-1,50 3,50-4,50 0,25-0,40 0,20-0,30 36-100 4-10 50-120 35-50 0,10-1,00 35-50
Laranja
Baianinha 2,21 0,10 1,50 2,51 0,15 0,15 77 14 143 106 115
Natal 2,42 0,10 0,92 3,42 0,19 0,20 23 127 28 79
Pê ra Rio 2,59 0,12 0,98 3,87 0,16 0,23 75 8 69 60 92
Valência 2,27 0,10 0,88 3,59 0,21 0,19 82 13 122 62 100
Tangor
Murcote 2,53 0,10 1,18 3,22 0,15 0, 21 61 7 96 39 31
Coqueiro anã o -
1,80-2,00 0,11-0,12 0,60-0,80 0,15 0,20 0,20-0,25 8 40-45 60

Continua ...

FERTILIDADE DO SOLO
832 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

Q u a d r o 17. Continua çã o

Cultura N P K Ca Mg S B Cu Fe Mn Mo Zn

dag kg mg kgo
Couve-flor 2,50 0,50 2,80 2,00 0,40 0,12 60-80 8-10 120-140 45-70 0,40-0,80 35-50
Cravo 3,20-5,20 0,25-0,80 2,80-6,00 1,00-2,00 0,25-0,70 0,25-0,80 30-100 8-30 50-200 50-200 25-200
Crisântemo 2,25 0,13 2,87 1, 68 0,93 0,13 65
Ervilha 4,50 0,30 2,00 1,50 0,30 0,50 100-110 15-20 100-120 40-50 0,60-1,00 80-200
Eucalipto 1,35-1,80 -
0,09-0,13 0,90-1,30 0,60 1,00 0,35-0,50 0,15-0,20 30-50 7-10 150-200 400-600 0,50-1,00 12-25
Espinafre
Feijão
4,00
3,00-3,50
0,40 6,00 1 001/ 1,00 0,30 30-40 10-15 300 100
0,40-0,70 2,70-3,50 2,50-3,50 0,30-0,60 0,15-0,20 100-150 8-10 300 500
-
-
200-500
200-300
100-120
-
45 55
Figo 2,20-2,40 0,12-0,16 1,20-1,70 2,60-3,40 0,60-0,80 50-80 4-8 80-160 60-100 11-13
Fumo 4,60 0,30 4,80 1,24 0,53 0,23 28 9 140 118 58
Gerânio 2,18 0,37 2,14 1,45 0,53 0,16
Girassol 3,30-3,50 -
0,40-0,70 2,00-2,40 1,70-2,20 0,90 1,10 0,50-0,70 50-70 30-50 150-200 300-600 70-140
Goiaba
3o folha broto 3,11 0,31 3,67 1,36 0,38 0,27 131 128 242
terminal
4o folha broto 2,2-2,6 0,15-0,19 1,7-2,0 1,11-1,50 0,25-0,35 0,30-0,35 20-25 10-40 50-150 180-250 25-35
terminal sem fruto 2,28 0,21 1,33 1,431 0,66 49 24 160 46 27
média das folhas 1-8
Gramíneas
forrageiras 1,50-2,00 0,10-0,15 1,50-2,50 0,30-0,60 0,20-0,50 0,08-0,16 2-8 30-150 30-50
Braquiá ria 1,13-1,50 0,08-0,11 1,43-1,84 0,40-1,02 0,12-0,22 0,11-0,15 15-20 7-10 100-150 80-100 0,50-1,00 20-25
Colonião
Jaraguá 1,80 0,12 1,50
-
0,37
-
1,28-1,47 0,06-0,11 1,08 1,65 0,23 0,46 0,15-0,23 0,13-0,18 20-25
0,20 0,70 25-30
3-5 150-200
10-15 150-200
200-300
150- 200
0,11-0,15
0,50-0,75
25-30
40-50
Napier
Hortência -
3,00-5,50 0,25-0,70 2,20-5,00 0,60 1,00 0,22-0,50 0,20-0,70 20-50 6-50 50-300 50-300 20-200
Leguminosas
Forrageiras 3,50 0,50 5,00 3,70 0,50 0,20 60-70 5-7 150-200 200-250 15-20
Galáctia 3,00 1,50 3,70 2,70 0,50 0,20 40-60 8-10 150-200 100-120 0,50-0,80 30-35
Soja Perene 2,70 0,40 2,70 2,10 0,70 0,10 25-30 8-10 100-150 60-90 0,20-0,40 25-30
Siratro 2,60 0,60 3,50 2,20 0,40 0,40 70-80 4-7 600-700
• 90-120 25-30
Estilosantes
Lírio 3,30-4,80 0,25-0,70 3,30-5,00 0,60-1,50 0,20-0,70 0,25-0,70 20-75 8-50 60-200 35-200 20-200
Maçã 2,50 0,20 1,50 1,20 0,30 0,25 20 10 100-200 75 0,15-0,30 30
Mamão
Limbo 4,5-5,0 0,50-0,70 2,50-3,00 2,00-2,20 1,00 0,40-0,60 15 11 291 70 43
Pec íolo 1,00 0,30 2,50-3,00 1,50 0,40
Mamona 4,00-5,00 0,30-0,40 3,00-4,00 1,50-2,50 0,25-0,35 0,30-0,40 -
Mandioca 5,90-5,80 0,30-0,50 1,30-2,00 0,75-0,85 0,29-0,31 0,26-0,30 30-60 6-10 120-140 50-120 30-60
Limbo 5,33 0,42 1,59 0,58 0,20 0,23 21 13 123 114 58
Pecíolo 2,36 0,29 2,59 1, 00 0,30 0,06 16 13 34 89 43
Manga
Geral 0,40-0,80 0,20-0,30 30 30 70 120 90
Antes da floração 1,20-1,24 0,11 0,74-0,75 2,03-2,05
Plena floração e
formação frutos 1,04-1,17 0,09-0,11 0,53-0,64 2,48^2,75
Maturação frutos -
1,05-1,12 0,09-0,10 0,50 0,56 2,20 2,62 -
Maracujá
Amarelo 3,60-4,60 0,20 0,30- 2,40-3,20 l,70f 2,80 0,21 0,44 39-47 15-16 116-233 433-604 26-49
Roxo 3,60-4,60 0,20-0,30 1,60-3,10 l,90r2,10 0,21 0,44 38 8-9 188-230 449-522 31-42
Melão 3,51 0,39 4,21 3,74 i 1,09 0,19 57 17 516 160 51
Milho 3,00 0,22 2,00 0,45 0,25 0,20 20 9 0,20 20

Continua ...

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 833

Quadro 17 . Continua çã o

Cultura N P K Ca Mg S B Cu Fe Mn Mo Zn

mg kg - i
•i
dag kg
Pepino 4,72 0, 47 3,39 4,66 0,75 0,17 54 0,50 43
Pimenta do reino 1,89 0,12 2,19 1,04 0,3 0,18
Piment ã o 3,20-3,70 0,20-0,22 5,70-5,95 2,95-3,45 0,54-0,60 0,30 -0,45
Pê ra 2,30-2,70 0,14-0,20 1,20 - 2,00 1,40-2,10 0,30-0,50 0,17-0, 26 20 -40 9-20 60 - 200 60-120 30-40
Pêssego 2,60-3,50 0,20-0,30 2,50-3,00 1,50-2,50 0,30 -0,50 0,20 - 0,30 40 -60 100-150 30-40
Pinus 1,30 0,20 1 ,0 0,20 0, 20 60 5 100 200
Pinus caribaea
mudas 1,26 1, 60 0,17 0,17 0,18 97 20 7
Ac ículas
Pupunha 3,50 0, 20 1 , 10 0,40 0,30 0, 20 30 9 126 142 23
Repolho 2,86 0, 41 2,54 0,58 0,17 0,60 15-20 80-100 48 0,12 40
Rosa 3,00 -3,50 0,25 - 0,50 1,50 -3,00 1,00- 2,00 0, 25 -0, 50 0,25-0,70 30 - 60 7-25 60 - 200 30-200 0,10-0,90 18-100
Seringueira
Viveiro
Adulto
3,00-3,35
2,60 -3,50
0,12- 0,18 0,60-0,93
0,16- 0,23 1,00-1,40
0,90-1,00
0,75 -0,85
0,35-0,40
0,17-0, 25
0,14- 0, 24
0,18- 0,26
20-68
20- 70
17-30
10-15
66-85
70 -90
11-35
15-40
1,71
1,5-2,0
34 55-
20 -30
Soja 3,15 -4,70 0, 20 - 0, 40 1,70- 2,75 1,00 -1,30 0,30 -0, 45 0,20 - 0,30 30-50 7-10 45-125 20-85 30-75
Sorgo 2,30- 2,90 0, 45 1,30-3,00 0,20 -0,90 0, 25 -0, 40 0,15- 0,60 10-30 70 -85 35-70 10-25
Tomate
Pec íolo 2 ,60-5,00 0,60 -0 ,80 7 ,00-9 ,00 1,50 -3,000 ,50 -0 ,90 0,45 -0,50 35-50 60-75 95-160 125-140
Limbo foliar 4,00-5,00 0,55-0,70 3,00-6,00 2,3-4,6 0,50- 0,75 - 25-40 260 -360 290-300 35-40
Folha 5,00 0,25 3,60 0,60 0,80 180 280 30-60
Trigo 3,00-3,30 0,20-0,30 2,30 - 2,50 1,40 0,40 0,40 20 9-18 16-28 1-5 20 -40
Violeta 3,00-6,00 0,30-0,70 3,00 -6,50 1,00-2,00 0,25 - 0,50 0,25-0,70 25-75 8-35 50-200 40-200 25-100
Uva 2,50 0,20 1,50 0,40 0, 40 15 40-100 25-40
Itá lia Florescimento 4,39 0,60 2,27 2,56 0,49 0,75 4 4 6 7 5
Itá lia Amolecimento 3,14 0,62 2,24 2,96 0,73 0,42 3 4 7 7 5

(1 )
Nível cr í tico em faixa de suficiê ncia .

nutricional. Compara ções de grande valor também podem ser obtidas de amostras
coletadas em diferentes situações de nível tecnológico adotado, por exemplo, alto, médio
e baixo, estabelecendo-se padr ões para a interpreta çã o dos resultados.
Os resultados indicam que a lavoura representada pela amostra (Quadro 18)
apresenta teor muito alto de N, baixo de P, K, S, Mn e Zn, adequado de Ca, Mg, Fe Cu e B,

Quadro 18 . Teores de macro e micronutrientes de uma amostra de folhas de cafeeiro da região de


Viçosa, MG, e suas compara ções (diagnóstico) com a faixa crítica determinada para a regiã o

M acronutriente

N P K Ca Mg S

d a g k g -i
A mostra 3 , 40 0 , 13 1 , 30 1 ,03 0 ,58 0 , 05
F a i x a C r í t i c a (1 ) 2 , 47 - 3 , 15 0 , 15 - 0 , 19 2 , 13 - 2 , 89 0 , 92 - 1 , 20 0 , 35 - 0 , 56 0 , 16 - 0 , 22

Micronutriente

Mn Fe Cu Zn B
m g k g -1
Amostra 95 65 21 4 41
F a i x a C rít i c a 115 - 286 5 7 - 94 13 - 29 6 -1 2 29 - 5 2

Fonte: (1 )
Martinez et al. (2003a ).

FERTILIDADE DO SOLO
834 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

mas nã o informam quais os nutrientes mais limitantes, tampouco como essas deficiências
e excessos poderã o ser corrigidos. As medidas corretivas deverã o ser tomadas com base
também na aná lise do solo, exigê ncias da cultura e histó rico da á rea .
Fertigramas
Fertigramas nada mais sã o que uma representa çã o grá fica dos NC. Sã o grá ficos
construídos com círculos concêntricos, com tantas divisões radiais quantos forem os
nutrientes. Na intersecçã o entre o círculo mediano e os segmentos radiais, sã o alocados
os valores dos NC determinados previamente para a cultura em quest ã o (Malavolta et
al., 1997).
As concentra ções obtidas das aná lises foliares de determinada lavoura sã o entã o
plotadas no fertigrama no raio correspondente a cada nutriente, e, após a liga çã o dos
pontos origina -se um polígono, a partir do qual se interpreta o estado nutricional da cultura.
Picos a partir do círculo de NC indicam excessos e reentr â ncias significam deficiência .
A utilizaçã o de fertigramas permite a aná lise visual da adequaçã o das concentrações
de cada nutriente em particular e a aná lise do estado nutricional da lavoura como um
todo, tomando-se por base os NC preestabelecidos. A visualiza çã o por meio de diagramas
é ú til principalmente onde ocorrem problemas nutricionais agudos, tanto por deficiências
quanto por excessos. Neste caso, é possível inferir de imediato a respeito da principal ou
principais limita ções nutricionais de determinada lavoura. No demais, apresenta as
mesmas vantagens e limita ções do n ível ou faixas críticas. Como exemplo, a figura 17
apresenta os fertigramas construídos para tr ês lavouras cafeeiras com produtividades
diferentes da região de Viçosa. A relação entre estado nutricional e produtividade é evidente.

Figura 17 . Fertigrama representativo do equil íbrio nutricional em lavouras cafeeiras com


produtividade de 11, 44 e 85 sacas pòr hectare da regiã o de Viçosa, MG.

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 835

Desvio do Percentual Otimo - DOP

Esse m é todo proposto por Montanes et al. (1993) permite conhecer o percentual de
desvio do teor de um nutriente qualquer em rela çã o à norma, bem como a ordem de
limita çã o nutricional em determinada amostra . É de f á cil aplica çã o e interpreta çã o.
Uma vez obtido o resultado da análise qu ímica das plantas, calcula -se o índice DOP
para cada nutriente analisado de acordo com a seguinte expressã o:

DOP
- [ (C x 100) / Cref ] -100

em que C = teor do nutriente na amostra; e Cref = teor do nutriente preconizado pela


norma para as mesmas condições de amostragem.
Um índice negativo indica deficiência e um índice positivo excesso. índice DOP
igual a zero indica que o nutriente se encontra ein concentraçã o ó tima . Quanto maior o
valor absoluto do índice, maior a severidade da carência ou do excesso. O somatório dos
valores dos índices DOP calculados para todos os nutrientes analisados representa um
índice de balanç o nutricional e permite comparar o estado nutricional de lavouras
distintas entre si, sendo maior o desequilíbrio naquelas em que o somató rio se apresentar
maior .
Calculando os índices DOP para a amostra apresentada no quadro 18, tem-se para
o N:

DOP = [ (3,40 x 100 ) / 2,81] -100 = + 21

O teor de N está 21 % acima do teor de referência , ou seja, do teor da norma . Pelo


mesmo processo, obtêm-se os índices DOP para os demais nutrientes (Quadro 19 ).

Quadro 19. Teores de macro e miconutrientes em uma amostra de folhas de cafeeiro da região
de Viçosa, MG , teores dos nutrientes preconizados pela norma para as mesmas condições
da amostragem ( Cref ) e o respectivo desvio percentual ó timo ( DOP )

Macronutriente

N P K Ca Mg S

Amostra ( dag kg 1 ) '


3 , 40 0 ,13 1 , 30 1 , 03 0, 58 0 , 05
1
Cref ( dag kg )
'
2 ,81 0 ,17 2, 51 1 , 06 0, 46 0 , 19
DOP 21 - 23 -48 -3 26 - 74
Micro n u t r i e n t e

Mn Fe Cu Zn B
Amostra ( mg kg 1 ) '
95 65 21 4 41
Cref ( mg kg 1 )
'
201 75 21 9 40
DOP -53 -13 0 -55 2, 5

Fonte : Martinez et al . (2003b ) .

FERTILIDADE DO SOLO
836 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

Em linhas gerais, o diagnóstico pelo DOP é semelhante ao obtido pelo mé todo das
faixas cr íticas. Neste caso, porém, hierarquizam-se as deficiências e os excessos. Vê-se
que o nutriente mais deficiente é o S, seguem-se, em ordem decrescente: Mn, Zn, K e P.
Cálcio, Cu, B e Fe nã o apresentam grandes desvios do padrã o de referência, enquanto Mg
e N apresentam concentra ções 26 e 21 % acima da norma (Quadro 19 ).

í ndices Balanceados de Kenworthy


Da mesma forma que a técnica do desvio do percentual ó timo, os índices balanceados
de Kenworth, propostos por Kenworthy (1961), permitem avaliar o estado nutricional
por meio da percentagem de desvio da concentra çã o de dado nutriente em rela çã o à
norma . A vantagem dos índices balanceados de Kenworthy em rela çã o aos índices DOP
é que, na obtençã o desses índices, sã o cônsiderados os coeficientes de varia çã o observados
para cada um dos nutrientes na popula çã o de onde se obteve a norma. Quando a
concentra çã o de dado nutriente na amostra for menor que a concentração desse nutriente
na norma, a influência da variabilidade é adicionada . Quando essa concentraçã o estiver
acima da concentra çã o da norma, a influ ência da variabilidade é subtra ída, obtendo-se,
assim, índices balanceados. Para o cá lculo dos índices, consideram-se, entã o, duas
situa ções:
a ) X; > X
1 = (P - 100) CV / 100
B = P -1
b ) X,. < X
I = (100 - P) CV / 100
B=P+I
em que X, = teor do nutriente na amostra; X = teor padrã o, norma; P = X, em percentagem
de X; CV = coeficiente de varia çã o do teor na norma; I = influência da varia çã o; e B =
índice balanceado de Kenworthy, em percentagem.
Os resultados obtidos sã o entãó interpretados da seguinte maneira: faixa de
deficiência (17 a 50 %); faixa marginal (50 a 83 % ); faixa adequada (83 a 117 %); faixa
elevada (117 a 150 %) e faixa excessiva (150 a 183 % ) .
Empregando a mesma amostra diagnosticada anteriormente (Quadro 19 ), obtém-se
para N o seguinte índice B:
X; > X
I= (121-100 ) 10,29 / 100 = 2,16
B = 121-2,16 = 119, que corresponde à faixa elevada .
Para o P, o índice B é:
X, < X
I= (100-76) 9,98 / 100 = 2,39
B = 76 + 2,39 = 79, que corresponde à faixa marginal.

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 837

Calculando os índices B para todos os nutrientes (Quadro 20 ), diagnostica-se que


os teores de Ca , Mn, Fe e Cu estã o adequados. Os de N e Mg estã o elevados, os de P, K e
Zn sã o marginais e o de S é deficiente. Há , neste caso, grande concord â ncia com o
diagnóstico realizado pelo DOP (Quadro 19 ).

Quadro 20 . Teores ( X .) de macro e miconutrientes em uma amostra de folhas de cafeeiro da


regi ã o de Viçosa, MG, sob diagnóstico, teores padr ã o - normas ( X ), coeficiente de varia çã o
( CV ) para as mesmas condi çõ es de amostrgem e respectivos índices balanceados de
Kenworthy

Macronutriente

N P K Ca Mg S

X,- ( dag kg 1 )'


3, 40 0,13 1,30 1, 03 0,58 0, 05
X (dag kg ) 1
'
2,81 0,17 2,51 1,06 0, 46 0,19
CV % 10, 29 9,98 15,05 9, 66 21,89 16,15
B % 119 79 59 97 120 38

Micronutriente

Mn Fe Cu Zn B
X,- ( mg kg 1 ) 95 65 21 4 41
*

X ( mg kg 1 )
*
201 75 21 9 40
CV % 79,43 24, 41 79,9 56,22 37,32
B % 89 90 100 78 102

Fonte: Martinez et al . ( 2003b ) .

Sistema Integrado de Diagnose e Recomenda çã o - DRIS

O mé todo DRIS, preconizado por Beaufils (1973), baseia -se no cálculo de índices
para cada nutriente, considerando sua rela çã o com os demais. Envolve a compara çã o
das rela ções de cada par de nutrientes encontrados em determinado tecido da planta,
com as relações m édias correspondentes à s normas prestabelecidas a partir de uma
>
popula çã o de referência . Essas rela ções experimentam menores varia ções com a idade
da planta, por exemplo, do que os níveis cr íticos ou as faixas de suficiê ncia . Para o
estabelecimento de normas DRIS, é preciso ter grande quantidade de dados (da ordem de
centenas ) de teores de nutrientes e produtividade, tomados ao acaso, recomendando-se
que pelo menos 10 % da população amostrada componha o grupo de alta produtividade.
i
A população dividida em dois grupos, um de alta e outro de baixa produtividade, propicia
uma curva de distribuiçã o normal para os teores dos nutrientes ( Figura 18 ). A
subpopula çã o de alta produtividade é que será usada como referência no estabelecimento
das normas DRIS.
O DRIS permite identificar casos em que desequilíbrios nutricionais limitam a pro-
dutividade, mesmo quando nenhum dos nutrientes avaliados se encontra abaixo de seu
i

FERTILIDADE DO SOLO
838 REINALDO ' BERTOLA CANTARUTTI et al.

M Grupo de \
alta produ çã o

o Separatriz para
o produ çã o
3 Grupo de
O
baixa produ çã o
O
Q_
V

M édia N

Express ã o do nutriente*

Figura 18 . Representa çã o da rela çã o entre nutriente na folha e produçã o para estabelecimento


da norma DRIS. As á reas sombreadas representam amostras com insuficiê ncia, excesso ou
desequilíbrio quanto ao nutriente em quest ã o .

NC, além de hierarquizar os nutrientes quanto à ordem de limitação. Uma das desvantagens
do m é todo é a maior dificuldade nos cá lculos dos índices, o que, no entanto, se supera
com o uso de aplicativos computacionais; outra é a depend ência entre os índices, que faz
com que um índice muito elevado influencie negativamente os demais, podendo-se diag-
nosticar deficiência para um nutriente que se encontra em concentra ções adequadas.
Inicialmente, calculam-se as normas, ou seja, a média, o desvio-padrã o e o coeficiente
de varia çã o das rela ções diretas e inversas entre nutrientes, dois a dois, para a populaçã o
de referência (alta produtividade ). Rela çã o direta é aquela em que o nutriente em questão
aparece no numerador ( N / P) e rela çã o inversa é aquela em que o nutriente em questã o
aparece no denominador (P / N) . O n ú mero de rela ções possíveis ( NR ) é obtido pela
seguinte equaçã o:
NR = n ( n - 1)

em que n = n úmero de nutrientes em estudo.


Se n = 11 ( N, P, K , Ca, Mg, S, Cu, Fe, Zn, Mn e B ); NR = 110, sendo metade rela ções
diretas e metade rela ções inversas.
Em seguida, fazem-se compara ções entre as razões dos nutrientes na amostra a ser
diagnosticada com as razões ( normas) da popula çã o de referência, calculando-se os
índices de DRIS, conforme a f ó rmula a seguir ( Alvarez V. & Leite, 1999):

Z( A / B) + Z( A / C) + ... + Z( A / N ) - Z( B/ A ) - Z( B / C) - ... - Z( B/ N)
índice A =
2 (n - 1)

em que índice A = índice DRIS do nutriente.

Z(A / B) = [ (A / B) - (a / b ) ] . k / s (Jones, 1981)

FERTIIí IDADE DO SOLO


XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 839

em que Z ( A / B ) = funçã o da rela çã o entre ds nutrientes A e B da amostra a ser


diagnosticada; A / B = valor da rela çã o entre nutrientes A e B, para a amostra a ser
diagnosticada ( relaçã o direta ); a / b = valor da média obtida para as rela ções A / B, oriundas
da populaçã o de plantas de alta produtividade ( norma de refer ência ); n = n ú mero de
nutrientes envolvidos na aná lise; k = valor constante ( usualmente = 10), e s = desvio-
padr ã o dos valores da relaçã o A / B da popula çã o de refer ência .
O índice de balanç o nutricional m édio ( IBNm ) é entã o calculado por meio do
somatório dos valores absolutos dos índices DRÍS obtidos para cada nutriente, conforme
a equa çã o:

IBNm = [ [ índice A + | índice B + ... + | índice N | ] / n

O DRIS permite conhecer a ordem de limita çã o dos nutrientes e se essa limita çã o


ocorre por carência ou por excesso em determinada lavoura , avaliando-se a adequaçã o
das relações entre nutrientes; contudo, nã o perrrú te o cálculo da quantidade de nutrientes
que deve ser aplicada para corrigir uma deficiê ncia determinada . O suprimento do
nutriente mais limitante nã o significa que o segundo elemento passar á a ser a maior
limita çã o, pois as rela ções podem ser alteradas:
Os índices DRIS podem assumir valores negativos, quando ocorre deficiência do
nutriente considerado em rela çã o aos demais. Valores positivos, por outro lado, indicam
excesso, e quanto mais próximo de zero estivérem, mais pr óxima estará a planta do
equilíbrio nutricional para o nutriente em estudo, permitindo a classifica çã o dos
nutrientes em ordem de importâ ncia na definiçã o da produção e fornecendo, ao mesmo
tempo, uma indicaçã o da intensidade de exigência de determinado elemento pela planta .
A soma dos valores absolutos dos índices DRIS, fornece o "índice de Balanço Nutricional"
( IBN), que permite comparar o equilíbrio nutricional de diversas lavouras entre si.
A título de exemplo sã o apresentados os índices de DRIS de cinco lavouras de caf é
com produtividades médias diferentes das regiões de Viçosa e Sã o Sebastiã o do Paraíso
(Quadro 21). A rela ção entre estado nutricional e produtividade é clara . Entretanto, as
lavouras de n úmero 17 e 41, da regiã o de Viçosa, apresentam IBN semelhantes, de 83 e

1
Quadro 21. índices DRIS e índices de balanço nutricional ( IBN ) para algumas lavouras cafeeiras
das regiões de Viçosa e Sã o Sebastiã o do Para íso, MG

Lavoura í ndice DRIS


IBN
N ú mero Produ çã o N P K Ca Mg S Cu Fe Zn Mn B

sc ha ' 1 Vi ç osa
[
7 50, 67 2 3 0 -1 3 : -9 2 0 6 -2 -5 33
17 16, 00 -5 -6 -1 -5 8- 5 14 1 21 -13 -4 83
41 3 , 29 5 -15 -1 10 -12 1 5 4 -16 17 3 89

Sao Sebastiao Para íso


45 44, 35 5 -5 -2 0 3 0 2 -3 -4 2 1 27
6 22,43 0 -10 -15 17 21 -9 -13 14 3 -11 4 117

FERTILIDADE DO SOLO
840 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.

89, enquanto suas produtividades médias sã o bem diferentes. Nesse caso, limitações de
outra ordem, como, por exemplo, fisiológicas ( plantas que já perderam os ramos
produtivos ) devem estar associadas à baixa produtividade da lavoura 41.
Considerando as estatísticas pafa as normas, referentes aos teores de N, P e K em
lavouras de caf é em Minas Gerais (Quadro 22), calcularam-se índices DRIS para os teores
destes nutrientes para a lavoura do exemplo (Quadro 18), que apresentam os teores de
3,40, 0,13 e 1,30 dag kg 1 de N, P e K, réspectivamente:
'

a ) Cá lculo das funções das rela çõ! es entre nutrientes, seguindo a f ó rmula de Jones
(1981):

Z ( A / B ) = i [ ( A / B ) - (a / b ) ] . k / s

Z( N / P) = [ ( 26,154) - (18,100) ] . 10 / 4,751 = 16,95


Z ( N / K ) = [ ( 2,615) - (1,154) ] . 10 / 0,260 = 56,19
Z( P / N ) = [ (0,038) - (0,059 ) ] . 10 / 0,017 = -12,35
Z ( P / K ) = [ ( 0,100 ) - (0,067) ] . 10 / 0,018 = 18,33
Z (K / N ) = [ (0,382) - (0,906) ] . 10 / 0,188 -27,87
Z (K / P) = [ (10,000) - (16,113) ] . 10 / 4,849 = -12,61
-
b ) Cá lculo dos indices de DRIS, spguindo a f órmula ( Alvarez & Leite, 1999 ):

+ Z( A / B) + Z( A / C) / ... + Z( A / N ) - Z( B / A ) - Z( B / C ) - ... - Z( B/ N )
í ndice A =
2( n - 1)

+ Z ( N / P) + j Z ( N / K ) + Z ( P / N ) - Z ( K / N )
índice N =
2(3 - 1)

A
+ (16,95) - (56,19) - (-12,35) - (-27,87)
índice N = = 28,34
2(3 - 1)

*
+ Z (P/ N ) + Z(P / K ) - Z( N / P) - Z( K / P)
índice P =
2(3 - 1)

+ (-12,35) + (18,33) - (-16,95) - (-12,61)


índice P = = 0,41
2(3 - 1)

+ Z (K / N ) Hí Z(K / P) - Z( N / K ) - Z(P/ K )
í ndice K =
2(3 - 1)

+ (-27,87) +! (-12,61) - (56,19) - (18,33)


í ndice K = = -28,75
2(3 - 1)

FERTI í L IDADE DO SOLO


XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 841 ,

Quadro 22. Média, desvio-padr ã o e coeficiente de varia çã o (CV ) para as rela ções de teores de
nitrogé nio, f ósforo e potá ssio considerados norinas para lavouras de caf é em Minas Gerais

R e l a ç õ e s d a n o r m a 111 Média -
Desvio padrã o CV

%
N/P 18,100 4, 751 26 , 25
N/K 1,154 0 , 260 22 ,53
P/ N 0 , 059 0 , 017 28, 61
P/ K 0 , 067 0, 018 26 , 71
K/ N 0 , 906 0 ,188 20,80
K/P 16 ,113 4 ,849 30 ,10
d)
Rela ções entre concentra ções expressas em dag kg
Fonte: Martinez et al. ( 2004).

Os índices calculados devem ser expressos em n ú meros inteiros, tendo-se entã o os


valores 28 para N, 0 para P e -29 para K, indicando que as concentrações de N estã o
desequilibradas por excesso, as de P estã o em equilíbrio e as de K estã o desequilibradas
por falta .
c) Cálculo do IBNm

IBNm = [ | índice A | + índice B | + ... + |, índice N | ] / n


IBNm = [ | índice N | + | índice P | + índice K | ] / n
IBNm = [ | 28 | + | 0 | + | 29 | ] / 3 = 19

A rigor, este diagnostico nã o poderia ser comparado aos anteriores, pois, neste caso,
apenas três nutrientes foram envolvidos mas, tal qual nos demais, o excesso de N e a
deficiência de K são evidentes.

Potencial de Resposta à Adubação i

Uma das dificuldades do uso do "índice de Balanço Nutricional Médio" (IBNm )


como técnica de diagnóstico refere-se ao fato de que os valores absolutos dos índices
calculados podem variar com a f ó rmula de cálculo ou com o número de relações biná rias
envolvidas, nã o permitindo avaliar, em cada cáso, o potencial de resposta à aduba ção.
Visando melhorar a interpretaçã o dos resultados dos índices de DRIS, foi desenvolvido
no Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa ( Wadt, 1996), o método do
Potencial de Resposta à Aduba çã o (PRA ). Por éste mé todo, são definidas cinco classes
de probabilidade de resposta à aduba çã o, comparando-se o índice calculado para
determinado nutriente e o índice de balanço nutricional médio (IBNm). De acordo com
Wadt (1996), as cinco classes de probabilidade de resposta à aduba çã o são definidas da
seguinte maneira:

Classe 1: Resposta positiva (P) - Tem prqbabilidade de ocorrer quando o índice


DRIS do nutriente, sendo o de menor valor, for, simultaneamente, maior em módulo que
o IBNm.

FERTILIDADE Dó SOLO
842 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

Tomando o exemplo anterior, observa-se que o IBNm é 19 e o índice de DRIS calculado


para K é -29, portanto, mais elevado em m ó dulo que o IBNm. A adubaçã o com K tem,
nesse caso, alta probabilidade de resposta . Para a lavoura 6 ( Quadro 21), o IBNm
= 117 / 11 = 11 e o K é o elemento que atende a esta condiçã o, sugerindo alta
probabilidade de que essa lavoura responda à aduba çã o com K .
Classe 2: Resposta positiva ou nula ( PZ) - Tem probabilidade de ocorrer quando o
índice de DRIS do nutriente for negativo e, embora sendo maior em m ó dulo que o
IBNm, nã o for o menor índice de DRIS. Para a lavoura 6, esse é o caso para o Cu.
Classe 3: Resposta nula ( Z ) - Tem probabilidade de ocorrer quando o índice DRIS
do nutriente em módulo for inferior ou igual ao IBNm. É o caso do P no exemplo
considerado. Para a lavoura 6 (Quadro 21), isso ocorre para N, P, Mg, Zn, Mn e B.
Classe 4: Resposta negativa ou nula ( NZ) - Tem probabilidade de ocorrer quando o
índice DRIS do nutriente for positivo e maior , em m ó dulo, que o IBNm, poré m sem
ser o índice DRIS de maior valor . Esse é o caso do N no exemplo. Para a lavoura 6
(Quadro 21), Ca e Fe satisfazem essa condiçã o.

Classe 5: Resposta negativa ( N ) - Tem probabilidade de ocorrer quando o índice


DRIS do nutriente, sendo maior que o IBNm, també m for maior que todos os índices de
DRIS. A lavoura 6 (Quadro 21) apresenta essa condiçã o para o Mg, o que significa que a
aduba çã o com Mg tem alta probabilidade de reduzir a produçã o dessa lavoura .

Diagnose da Composi çã o Nutricional - CND


Enquanto níveis e faixas críticas sã o mé todos univariados e o DRIS um mé todo
bivariado, o CND é um mé todo multivariado de diagnóstico e foi descrito por Parent &
Dafir (2001). Neste caso, em vez das intera ções entre os nutrientes dois a dois, são
consideradas as interações de todos os nutrientes em diagnóstico entre si. O diagnóstico
é realizado por meio de índices, calculados a partir de variá veis multinutrientes ( V; ) .
As variá veis multinutrientes consideram a média geométrica da composição nutricional
da planta (G ) e a média aritmé tica das variá veis multinutrientes ( v;) e seus desvios-
padr ã o (Sj) para a popula çã o de refer ê ncia , ou seja , para a popula çã o de alta
produtividade usada para gerar as normas. Também, neste caso, os índices que tendem
para zero denotam maior equilíbrio nutricional.
Como o teor inadequado de um nutriente pode apresentar antagonismo ou
sinergismo com os demais, pelo menos teoricamente, o CND apresenta maior sensibilidade
para diagnosticar desequilíbrios nutricionais.
Os índices multinutrientes Ivj sã o calculados de acordo com a seguinte expressã o:
Iv, = (Vj-Vj) / s,
|

em que V; = variaveis multinutrientes para a amostra em teste; V; = mé dia das variá veis
multinutrientes da popula çã o de referêpcia ou norma; e Sj = desvio-padrão das variáveis
multinutrientes da popula çã o de referência .

FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 843

sendo
Vi = ln (X / G)
1

em que Xj = teor de um nutriente na folha; G = ( XN. XP. XK. ... XZn.R)1/ (n + 1)


; R = 1.000 - XX
^
e n = n ú mero de nutrientes envolvidos no diagnóstico.

Considerando uma amostra de folhas de sojà com teores de 32,0; 1,2 e 17,5; 7,5; 3,0 e
2,0 g kg 1 de N, P, K, Ca, Mg e S, respectivamerite e 28,3; 3,0; 105,8; 43,1 e 15,4 mg kg 1
' '

(0,0283; 0,0030; 0,1058; 0,0431 e 0,0154 g kg 1) de B, Cu, Fe, Mn e Zn, empregando as


'

normas geradas por Kurihara ( 2004): calcularam -se os índices CND para N, P, K e Zn
como exemplo:

Estat í stica ( norma ) N P K Zn

V; ( média ) 3,49 0,90 2,87 ... -3, 39


s ( desvio-padrã o ) 0, 19 0, 24 0, 26 . 0, 24

para o cá lculo das variá veis multinutrientes para os exemplos da amostra em teste,
calcularam-se, principalmente, Re G : j

ZXi = 32,0 + 1,2 + ... + 2,0 + 0,0283 + 0,0030 + ... + 0,0154 = 63,395
R = 1.000 - 63.3956 = 936,6044

G = (32,0 x 1,2 x ... x 2,0 x 0,0283 ... x 0,0158 x 936,6044) i / (n + i )


= (0,168860989) 0,0833333 = 0,862239
a seguir, calculam-se as variá veis multinutrientes:

VN = ln(32,0 / 0,862239)
VN = ín(37,112699) = 3,613959
VP = ln[ ( l,2 / (0,862239) ]
VP = ln(l,391726) = 0,330545
VK = ln[ (17,5 / (0,862239)]
VK = ln(20,296007) = 3,010424
VZn = ln(0,0154 / 0;862239)
VZn = ln (0,017860) = -4,025164

FERTILIDADE DO SOLO
844 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .

por fim, faz-se o cá lculo dos índices multinutrientes:

IVN = (VN VN ) / SN
IvN = (3,6140 - 3,49) ] / 0,19 = 0,652
IvP — ( Vp Vp) / sP
IvP = [0,3305 - 0,90] / 0,24 = - 2,373
!VK = ( VK - VK ) / SK
IvK = [ 3,0104 - 2,87] / 0,26 = 0,540
-
IvZn = [-4,0252 - (-3,39)] / 0,24 = -2,647
Dos quatro nutrientes diagn ò sticados como exemplos, encontram -se em
desequilíbrio, por falta , o Zn e o P, e o N e o K, sem limita ção .

Outras Té cnicas de Diagnóstico


Determinação de Fra ções Ativas ou Sol úveis

As técnicas de aná lise de tecidos com fins de diagnóstico determinam, em geral, os


teores totais de nutrientes e nã o dão informação sobre a atividade metabólica do elemento
no tecido. A fra çã o ativa é de grande importâ ncia para aqueles elementos que podem
apresentar uma grande fra çã o de reserva ou imobilizada, como ocorre com Fe e outros
micronutrientes metálicos. Existe dificuldade em extrair as frações efetivamente ativas
dos nutrientes, de modo que nã o existem normas nem mé todos universalmente aceitos.
Algumas espécies acumulam N-N03 ou S-S042 como forma de reserva de N ou de S,
'
'

e a aná lise dessa fraçã o sol úvel pode ser um melhor indicador de seu estado nutricional,
bem como da disponibilidade fisiológica destes nutrientes no tecido. Nesses casos, em
geral, os nutrientes são extra ídos de amostras de pecíolos com á cido acé tico diluído ou
á gua, ou mesmo macerando-se o material vegetal em cadinho inox. Tampouco neste
caso existem normas e mé todos universalmente aceitos (Lucena, 1997).

M étodos Bioquímicos e Enzimáticos


Baseiam-se na influência que um nutriente individualmente tem em um passo
metabólico específico. Podem ser usados como ferramenta para o diagnóstico tanto os
metabólitos como as atividades de enzimas relacionadas com o nutriente .
O diagnóstico do estado nutricional quanto ao Mo e ao N pode ser realizado,
medindo-se a atividade da nitrato reductase, que catalisa a redução de N03 a NO/. Para

muitas espécies, a atividade da fosf á tase ácida, que catalisa a hidrólise de ésteres de
fosfato, é aumentada pela deficiência de P, podendo ser usada para o diagnóstico do
estado nutricional quanto a: esse elemento. O Zn é componente da anidrase carbónica,

FERTI; LIDADE DO SOLO


XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 845

que catalisa a reaçã o C02 + H20 —> H + + HC03\ Em muitas espécies, como, por exemplo,
citrus, existe estreita correla çã o entre atividade da anidrase carbónica e concentraçã o de
Zn. O Cu é componente da oxidase do á cido ascórbico, sendo esta enzima um bom índice
para Cu ativo no tecido. Para o Fe, cuja deficiência é dif ícil de ser diagnosticada com
base na análise dos tecidos, o diagnóstico pode ser feito com base na atividade da
peroxidase ( Bar-Akiva & Sternbaum, 1966; Lucena, 1997; Malavolta et al., 1997).
Uma das vantagens do diagnóstico metabó lico é sua alta sensibilidade, já que pe-
quena variação no conteúdo do nutriente acarreta alta variaçã o no conteúdo do metabólito.
A dificuldade em sua aplicaçã o deve-se ao fato de ser a varia çã o no conteúdo de determi-
nado metabólito ou na atividade de determinada enzima afetada por outros fatores que
nã o o nutriente em estudo, além de nã o existirem normas, nem mé todos universalmente
aceitos ( Bar-Akiva & Sternbaum, 1966; Lucena, 1997; Malavolta et al., 1997).

LITERATURA CITADA
ALVAREZ V., V.H . & LEITE, R. A . Fundamentos estatísticos das f ó rmulas usadas para cá lculo
dos índices DRIS. B. Inf . SBCS, 24:20-25, 1999.

ALVAREZ V., V.H. Correla çã o e calibra çã o de mé todos de aná lises de solo. In: ALVAREZ V.,
V.H.; FONTES, L.E. F. & FONTES, M. P.F., eds. O solo nos grandes domínios morfoclimá ticos
do Brasil e o desenvolvimento sustentado. Viçosa, MG, Sociedade Brasileira de Ciê ncia
do Solo, 1996. p.615-646.

ALVAREZ V., V. H. & CARRARO, I. M. Variabilidade do solo numa unidade de amostragem


em solos de Cascavel e de Ponta Grossa, Paraná . R . Ceres, 23:503-510, 1976 .

ALVAREZ V ., V . H .; NOVAIS, R . F .; BARROS, N . F .; CANTARUTTI, R . B . & LOPES, A .S.


Interpreta çã o dos resultados das análises de solòs. In: RIBEIRO, A .C.; GUIMAR Ã ES, P.T.G .
& ALVAREZ V ., V .H ., eds. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em
Minas Gerais - 5a Aproximaçã o. Viçosa, MG, Comissã o de Fertilidade de Solo do Estado
de Minas Gerais, 1999. p.25-32.

ANGHINONI, I. & SALET, R.L. Amostragem de solo e recomenda ções de adubaçã o e calagem
no sistema plantio direto. In: NUERNBERG , N.J ., ed . Conceitos e fundamentos do sistema
plantio direto. Lages, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1998. p.27-57.
.
BAR - AKIVA. A . & STERNBAUM, J . Possible use of nitrate reductase activity of leaves as
measure of the N requirements of citrus trees. Plant Cell Physiol., 6:575-577, 1966.

BARBER, S. A. Soil nutrient bioavailability : A mechanistic approach . 2.ed . New York, John
Wiley & Sons, 1995. 414p .
BARRETO, A.C.; NOVAIS, R .F. & BRAGA, J .M. Determinaçã o estatística do n ú mero de amostras
simples de solo por á rea para avalia ção de sua fertilidade. R . Ceres, 21:142-147, 1974.

BARROS, N.F. & NOVAIS, R .F. Eucalipto. In: RIBEIRO, A .C.; GUIMAR Ã ES, P.T.G. & ALVAREZ
V., V.H., eds. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais -
5a Aproximação. Viçosa, MG, Comissã o de Fertilidade de Solo do Estado de Minas Gerais,
!
1999. p.303-305. ,

FERTILIDADE DO SOLO
!

XIV - MANEJO DA ADUBA ÇÃ O


Carlos Alberto Ceretta17, Leandro Souza da Silva17 & Aurélio Pavinato27

1/
Departamento de Solos da Universidade Federal de Santa Maria .
CEP 97105-900 Sant á Maria ( RS ) .
carlosceretta @smail . ufsm .br; l'eandro@smail . ufsm . br
2/
SLC Agr ícola Ltda , Rua Bernardo Pires, 128, Bairro Santana,
CEP 98110 -020 Porto ; Alegre ( RS ) .
pavinato@slcagricola . com . br

Conte ú do

INTRODUÇÃ O ; 851
f
MODOS DE APLICA ÇÃO ; 855
LOCALIZA ÇÃ O ; 859

É POCAS DE APLICA ÇÃ O E PARCELAMENTO 862


ADUBA ÇÃO VIA TRATAMENTO DE SEMENTES E FOLIAR 869
LITERATURA CITADA J 871
5

INTRODU ÇÃ O

Manejo da aduba çã o é um conjunto de prá ticas ou a ções, planejadas e aplicadas de


forma organizada, com a finalidade de dispor eficiente e economicamente a recomendação
de fertilizantes às culturas. Manejar adequadamènte a adubaçã o consiste em efetuar um
conjunto de decisões que envolvem a definiçã o das doses e das fontes de nutrientes a
serem utilizadas, bem como as épocas e as formas de aplica çã o de corretivos e adubos ao
solo, visando à maior eficiência técnica e económica em rela çã o às condições de solo e de
cultivo em cada propriedade (Anghinoni & Bayer, 2004).
j

í
SBCS, Vi çosa , 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( eds. NOVAIS, R . F., ALVAREZ V., V . H., BARROS,
\ t
N. F., FONTES, R . LF., CANTARUTTI, R . B. & NEVES, J . . L . ) .

I;
852 CARLOS ALBERTO CERETTA et al .

O estabelecimento das pr á ticas agronó micas adequadas ao correto manejo da


aduba çã o, no sentido da solu çã o de problemas, nã o é tarefa simples . A falta de uma
visão sistémica de integra çã o do conhecimento, tanto na identifica çã o quanto na tomada
de decisã o, tem levado a frustra ções na utiliza çã o de técnicas disponíveis por parte do
agricultor. Isto porque manejar adeqtiadamente a adubaçã o implica conhecer as plantas
e consider á -las como um organismo yivo, sendo necessá rio entender a funcionalidade
do sistema solo e a rela çã o solo- plapta , bem como as técnicas disponíveis para o uso
eficiente de fertilizantes. Outro fator importante a ser considerado é que o investimento
na aduba çã o é um dos mais determinantes nos custos de produçã o dos cultivos e, por
isso, deve proporcionar uma receita satisfató ria ao produtor, o que agrega aspectos
económicos na tomada de decisã o d ás pr á ticas agrícolas a serem executadas.
O retorno à aduba çã o é proporcionado diretamente na agricultura e indiretamente
na pecuá ria, o que significa que a tomada de decisão à adubaçã o leva em conta o interesse
à nutriçã o de plantas e o consequente retorno financeiro por meio da produção. Sistemas
de recomenda çã o de adubaçã o e calagem, como o do Rio Grande do Sul e Santa Catarina
(CQFS-RS / SC, 2004), por exemplo, "visam à eleva çã o e manutençã o dos teores dos
nutrientes no solo e à otimiza çã o de rè tornos económicos das culturas". Contudo, neste
e em outros sistemas de recomendaçã o utilizados no Brasil, a aná lise de solo é o principal
instrumento utilizado para a recomenda çã o de aduba çã o. Da í por que normalmente se
d á maior ênfase à s caracter ísticas de solo que de plantas, embora isso seja normalmente
ressaltado na literatura e esteja parcialmente implícito nos estudos de calibra ção que
fundamentam as recomenda ções baseadas na an á lise de solo utilizadas nas diferentes
regiões, conforme abordado no capítulo XIII.
A adubação é apenas um dos corpponentes dos sistemas de produçã o agropecuá rios,
e por isso nã o deve ser considerad á como uma prá tica isolada . Um bom manejo da
aduba çã o somente é possível com um adequado preparo e conservação do solo, efetivo
controle fitossanitá rio e de plantas invasoras, constante regulagem e manutençã o de
má quinas, corretas estratégias de corpercializa ção da produçã o, como exemplos. Neste
contexto, técnicos e produtores devem considerar que, em primeiro lugar, é necessá rio
adotar procedimentos que visem à mèlhor utilizaçã o dos nutrientes já existentes no solo
para, entã o, associar com tudo que ppssa representar um uso eficiente dos fertilizantes
aplicados, uma vez porque a construçã o e a manutençã o da fertilidade do solo sã o
processos contínuos e devem ser copsiderados a longo prazo.
Antes de discutir estratégias, e fundamental considerar que a aduba çã o é um
procedimento realizado com o propósito de "complementar" o que o solo tem para
disponibilizar às plantas, dadas suas características de material de origem e histórico de
uso. Por isso que as expectativas de resposta à aduba çã o e a preocupaçã o com seu
manejo, visando à maior eficiência de uso, dependem da disponibilidade natural dos
nutrientes no solo (Figura 1). Manejar a aduba çã o em condições de solo onde ainda nã o
foi atingido o teor crítico (também denominado nível crítico ou de suficiência ) de qualquer
nutriente exige maior atenção porque significa que as plantas serão bastante dependentes
dos nutrientes fornecidos pela adulj> açã o. Ao contrá rio, condições de solo em que a

^
disponibilidade dos nutrientes está cima do nível crítico, a probabilidade de resposta

FERTí ILIDADE DO SOLO


XIV - MANEJO DA ADUBA çãO 853

econó mica à aduba çã o é pequena, correspondendo, na maioria das vezes, à reposiçã o


das quantidades exportadas pelas culturas. Neste caso, a maneira com que o nutriente é
fornecido diminui de importâ ncia , o que nã o deve ser interpretado como motivo para
menor investimento em estratégias de manejo rpais indicadas para o uso mais eficiente
dos nutrientes aplicados.
O Brasil é um pa ís de extensas á reas agricultá veis, de diversidade na produçã o
agropecu á ria , no tipo de tecnologia empregada , no tipo de propriedade e nas
características climá ticas e culturais. Todos esses fatores criam os mais diferentes cená rios
i
e determinam a possibilidade de grandes varia ções no manejo da adubaçã o. Contudo,
os nutrientes e sua dinâ mica no solo sã o os mesmos em qualquer situa çã o ( ver detalhes
em outros capítulos deste livro). O que realmente muda é a rela ção dos nutrientes corn os
diferentes cen á rios possíveis, justificando que t écnicos e produtores devam evitar
generaliza ções no manejo da aduba çã o, adotando procedimentos baseados em uma
i
aná lise té cnica e criteriosa de cada situa çã o. Al é m disso, na á rea agronó mica, o
profissional deve cada vez mais embasar suas decisões em aspectos técnicos e económicos,
como exemplificado no quadro 1, apartir do qual a associaçã o entre os custos do insumo
e da aplica çã o com a eficiência técnica do produto, como fonte de N em seu respectivo
modo de aplica çã o, levaria o técnico a recomendar ao produtor a utiliza çã o da uréia
incorporada no cultivo do milho.

5
1

Figura 1. Rela ção entre o rendimento relativo das culturas como variá vel do teor de um nutriente
no solo e as indicações de aduba çã o para cada faixa de teor no solo .
Fonte: extra ído de CQFS-RS / SC (2004), a partir de Gianello & Wiethõlter (2004).

FERTILIDADE Dò SOLO
854 CARLOS ALBERTO CERETTA et al .

Cabe salientar que a lucratividade da atividade agr ícola é uma questã o de balanço
entre receita e despesa, seja qual for o nível tecnológico empregado. Neste sentido, a
análise da prá tica da aduba çã o é considerada como um investimento realizado dentro
do sistema de produ çã o da cultura e como o manejo da aduba çã o afeta a receita obtida.
Como exemplo desta análise, para a cultura do milho (Figura 2), observa-se que, embora
a má xima eficiência técnica da aduba çã o nitrogenada tenha sido obtida com as doses de
243 e 248 kg ha 1, a má xima eficiência econó mica foi obtida com 156 e 159 kg ha 1, nas
' '

safras de 2002 / 03 e 2003 / 04, respectijvamente.

Quadro 1. Custos da aduba çã o nitrogenada em cobertura (60 kg ha 1 de N ) para uma lavoura '

de milho, considerando a efici ê rjcia estimada com base em perdas potenciais por
volatiliza çã o, para fontes de N e formas de aplicaçã o

Custos
Fonte de N e modo Efici ê ncia Quantidade
Teor de N
de aplica çã o estimada aplicada Adubo Aplica çã o Total

% kg ha - 1 US$ ha -1

37,52(2 )
Uréia superficial
Uréia incorporada
45
45
60
90
222
148
°’ 25,01
1, 43
3,82
38,95
28,83
Nitrato de am ó nio superficial 33 95 191 34,19 1,43 35,62
Sulfato de am ó nio superficial 21 92 310 49,91 1,43 51,74

Foram considerados: preç os por tonelada em rr íaio de 2002: US$ 169; 161 e 179 para uréia, sulfato e nitrato de
amónio respectivamente
, , sendo os preç os obtidos em Cooperativas do Planalto do RS. Cota çã o em maio de 2002
1US$ = R$ 2 515
, . (1 )
60 kg ha
’ 1
N / 0 45 /
, 0, 60 = 222 kg ha 1 N "eficiente " aplicado . (2 ) A partir da quantidade
'

"eficiente" aplicada .

Fonte : Adaptado de Ceretta & Silveira ( 2002 ). ;

1.200 •

1.100 •
1.000 •

900 •
800
<0
.C 700
W 600 -
3
500
400
-

300
200
* Receita bruta 2002/03
Receita bruta 2003/04
Y
Y
-- -
803,61 + l ,505x 0.0031X2
978,70 + 1.884x - 0.0038X2
r2
r3 = 0,81
0,92

Receita lí quida 2002 /03 Y * 374 ,30 + 0.966x - 0,0031a? r2 = 0,64


100
0
V Receita líquida 2003 /04 -
Y 476,07 + l ,205x - 0.0038X2 r2 = 0 ,41

0 80 120 160 200 240


-1
Dose de N, kg ha

Figura 2. Receita bruta e líquida da produçã o de grã os de milho irrigado como variá vel de
doses de nitrogénio, nos anos agrícolas 2002 / 03 e 2003 / 04 em Cruz Alta, RS.
Fonte : adaptado de Girotto et al . (2004) .

FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA Á DUBA çãO 855

Aspectos específicos ao estabelecimento das doses de fertilizantes sã o inerentes a


cada sistema de recomenda çã o empregado nas mais diversas regiões do Pa ís e as
características das diferentes fontes de nutrientes possíveis de ser aplicadas na produçã o
agropecuá ria (veja capítulos VII, VIII, IX, X e XI). Dessa forma, este capítulo abordará os
aspectos que determinam o modo de aplica çã o, localiza çã o, é poca de aplica çã o e
parcelamento dos fertilizantes e sua rela çã o com os principais fatores determinantes do
manejo da aduba çã o como dinâ mica dos nutrientes, doses, fontes, manejo do solo, etc.

MODOS DE APLICA ÇÃ O

Em geral, os fertilizantes sã o aplicados localizadamente, como em linha de


semeadura, ou a lanço, para culturas anuais. O pelhor modo de aplicaçã o depende da
cultura que está sendo adubada , das caracter ísticas f ísicas, químicas e mineralógicas do
solo, do histó rico de fertilidade do solo e do fertilizante que está sendo aplicado. A
discussã o do modo de aplica çã o será mais aprofundada em rela çã o ao P e K, pois o N é
tradicionalmente aplicado a lanço e ser á mais bem discutido no item época e parcelamento
das aplica ções. Cá lcio e Mg também sã o aplicados a lanço por meio do calcá rio ou do
gesso no caso do Ca, enquanto micronutrientes normalmente est ã o associados a
formula ções que os contê m, com exceção de aplica ções de micronutrientes via semente
ou via foliar, as quais serã o discutidas adiante.
Para os fertilizantes fosfatados e potássicos, tradicionalmente, a aplicaçã o é feita na
linha de semeadura (em geral, a 5,0 cm abaixo e ao lado da linha das sementes). Esta
recomendação está baseada no princípio da localização do fertilizante próximo do sistema
radicular, favorecendo sua disponibilidade às plantas. Dessa forma, diminui o caminho
que o nutriente precisa percorrer no solo para que seja absorvido, diminuindo sua
adsor çã o às partículas coloidais do solo e facilitando seu transporte pelo espa ço poroso
(veja capítulo IV), tendo em vista o maior gradiente de concentra çã o entre a rizosfera e a
regiã o fertilizada . Esse é o motivo para a utilizaçã o das misturas ou formula ções NPK
na semeadura de modo a suprir parte do N (suficiente apenas para a fase inicial da
cultura ) e todo o P e K (1) necessá rios ao cultivo.
Entretanto, a evoluçã o genética e o desenvolvimento de variedades ou híbridos com
maior potencial produtivo e a adapta çã o deste potencial às condições ambientais
específicas de cada regiã o e, ou, época de semeadura, associados ao maior investimento
em tecnologia nas má quinas para semeadura, com o consequente aumento de seu custo,
criaram a necessidade de o produtor maximizar a eficiência da semeadura. Uma das
possibilidades de aumentar a eficiência da semeadura tem sido a transfer ência da
aduba çã o para outros momentos de menor demanda de mã o-de-obra na propriedade.

(1 > Mesmo o K tem sido aplicado parceladamente para algumas culturas como a soja em solos mais
arenosos ( veja capítulo IX ), como tamb é m ser á discutido mais adiante, neste capítulo.

FERTILIDADE DO | SOLO
856 CARLOS ALBERTO CERETTA et al .

Exemplo disso ocorre na regiã o Sul, onde alguns produtores deixam de aplicar
quantidades parciais ou totais da aduba çã o que seria distribuída na semeadura em
sucessã o. Com isso, o produtor teria maior agilidade na instalaçã o das culturas, melhor
utiliza çã o de maquiná rio e m ã o-de-obra, alé m de menor custo dos fertilizantes e do seu
transporte. Nesses casos, como o P é dm nutriente com forte sor ção pelo solo e não causa
saliniza çã o, o produtor tem dado preferência por utilizar formulações NPK com alta
concentra çã o de P e baixa concentra çã o de K ou até mesmo sem a presença de K, o qual
seria aplicado a lanç o antes ( no que se denomina potassagem , numa analogia à
fosfatagem) ou após a semeadura (em pré-semeadura ou em cobertura, respectivamente ).
Baseados nesses mesmos argumentos, especialmente em á reas de sistema plantio
direto as quais apresentam melhoria ira fertilidade dos solos, passou-se a utilizar, mais
intensamente, a distribui çã o de todos os fertilizantes fosfatados e potá ssicos a lanço em
pré-semeadura . Antes de qualquer coisa, é preciso evitar que as vantagens operacionais
da distribuiçã o dos fertilizantes a lanço motivem técnicos e produtores a utilizar esta
prá tica indevidamente. Considerando ser a difusã o o principal processo de transporte,
principalmente do P às ra ízes, deve-se ter em mente que um dos requisitos básicos para
a prá tica de distribuir a lanço e em superf ície é que o solo apresente teores de P acima do
teor crítico, a partir do qual a recomenda çã o baseia -se, principalmente, na aplicaçã o de
quantidades de nutrientes suficientes para repor a exportação pelas culturas. Isso porque,
nestas condições, a probabilidade de resposta das culturas à aplica çã o de fertilizantes é
baixa ( Heckmann, 2003; CQFS-RS / SC, 2004). Isto justificaria a afirma çã o de que, nestas '

condições, a distribuiçã o de fertilizantes a lanço em superf ície ou mesmo incorporado na


linha de semeadura nã o afetaria a produtividade das culturas (Quadro 2) .

Quadro 2 . Produtividade de gr ã os de trigo e milho em solo com altos teores de f ósforo e


pot á ssio como variá vel de é pocas e formas de aplica çã o de f ósforo e pot á ssio
4

É poca de aplica çã o do P e do K Produtividade de gr ã os

Trigo - Inverno Milho - Verã o Trigo Milho

kg ha -1
(2)
Testemunha sem aduba çã o 1.564 b 9.346 a
-
100 % trigo linhaO ) 100 % milho- linha 1.816 a 8.520 a
-
100 % trigo linha + 100 % milho- lan ço 1.879 a 8.502 a
100 % trigo-linha + 100 % milho- linha 1.858 a 8.909 a
100 % trigo-linha + 40 % milho- linha
100 % trigo-lanç o + 100 % milho-lan ç o
-
60 % milho linha 1.879 a
1.823 a
8.939 a
9.126 a
100 % trigo-lanço + 40 % milho-lanço 60 % milho-linha 1.681 ab 8.857 a
100 % trigo-lanç o 100 % milho-lan ço 1.816 a 8.449 a
100 % trigo-lan ço 100 % milho-linha 1.752 ab 9.018 a
5
CV ( % ) 6,94 5,38
Trigo-linha = aduba çã o recomendada para o trigo aplicada na linha de semeadura . Trigo-lan ço = aduba çã o
(1 )

recomendada para o trigo aplicada a lanço na semeadura. Milho-linha = adubaçã o recomendada para o milho aplicada
na linha de semeadura. Milho-lanço = adubação recomendada para o milho aplicada a lanço na semeadura. (2 ) Médias
seguidas de mesma letra, na coluna, nã o diferem pelo teste Duncan a 5 %.
Fonte: Extra ído de Pavinato & Ceretta (2004 ). :
)

FERTI íLIDADE DO SOLO


XIV - MANEJO DA ADUBAçãO 857

Entretanto, introduzir esta prá tica, principalmente em solos com teores de P abaixo
do cr ítico, pode ocasionar diminuição na produtividade das culturas, motivo pelo qual a
aplica çã o a lanç o deve ser evitada nessa situa çã o, sendo a aduba ção na linha priorizada.
Esta afirma çã o est á caracterizada por resultados experimentais em que foi demonstrado
que a vantagem da aplica çã o da aduba çã o fosfatada na linha, em relaçã o à aplicação a
lanço, diminui à medida que há maior disponibilidade de P no solo, relacionada com a
quantidade aplicada anteriormente como aduba çã o corretiva (Quadro 3). Isso també m
foi realçado nas conclusões de Broch & Chueiri ( 2005), os quais observaram, no cultivo
da soja em Latossolo Vermelho distrof érrico textura argilosa e sob plantio direto no Mato
Grosso do Sul, que, em solos com boa fertilidade e bom teor de P, a aplicação do fertilizante
para manutençã o poderia ser a lanço em pr é-semeadura , incorporado na linha em pré-
semeadura ou no sulco de semeadura. Contudo, os mesmos autores ressaltaram que, em
solos com média fertilidade e baixo P, deve-se aplicar, pelo menos, 50% do fertilizante de
manutençã o da soja na linha de semeadura .
Nesse mesmo sentido, resultados obtidos pela Funda ção MT no campo experimental
de Sapezal-MT, em solo com 0,6 mg dm 3 de P (Mehlich-1), mostraram claramente que a
'

correçã o de P em solos de Cerrado, com aplica çã o localizada na linha de semeadura,


promoveu maior eficiência da aduba çã o fosfatada, pois a produtividade m édia de gr ã os
de soja, acumulada de três safras, foi maior com aplica ções localizadas na linha de
semeadura (Quadro 4). Por exemplo, o tratamento com 240 kg ha 1 de P2Os, na forma de '

superfosfato triplo como aduba çã o corretiva e a nã o-aplica çã o de P na semeadura,


produziu na mé dia das tr ês safras 39,3 sacas ha 1. Em contraposiçã o, o tratamento com
"

79 kg ha 1 de P2Os na linha de semeadura sem adiçã o corretiva de P, totalizando


"

237 kg ha 1 de P2Os nas três safras, produziu 45,6 sacas ha 1. Outro ponto importante
" "

desse trabalho é o grande efeito residual acumulativo das aplicações de P nos solos
oxídicos do Cerrado (Quadro 4) .
No Boletim de Pesquisa da Soja 2005 (Fundação Mato Grosso, 2005), constam dados
de vá rios experimentos com aplicação de P a lanço e na linha de semeadura. Segundo os
resultados, em solos arenosos e com baixos teores de P, a aplicaçã o na linha de semeadura

Quadro 3. Produtividade de gr ã os de soja no quarto ano consecutivo, como variá vel do histórico
de aduba çã o fosfatada e dos modos de aplica çã o de fertilizante fosfatado em solo argiloso
de Sapezal, MT

Fósforo corretivo Fó sforo na linha Fósforo em 2002/03 ( kg ha -1 de P2O5) Diferença


1999/2000 99/00 00/01 01/02 0 80 lanç o 80 linha linha - lanç o

kg ha 1 de P2O5
*
Produtividade de soja (sacas ha -1)

0 83 74 80 27, 2 40, 5 49, 7 9,2


80 83 74 80 33, 6 46, 3 54, 0 7, 7
160 83 74 80 37, 8 54, 5 57,9 3,4
240 • 83 74 80 42,1 57,5 58, 2 0, 7

Fonte : Fundaçã o MT (2005 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
858 CARLOS ALBERTO CERETTA et al .

ainda é a forma preferencial, porém a diferença de produtividade obtida entre a aplicação


a lanço com a incorpora çã o ao solo e a aplicaçã o na linha, por quilograma de P aplicado,
é menor que a verificada nos solos argilosos ( veja capítulo VIII).
Resultados semelhantes a estes (Quadro 4) sobre a partiçã o de uma dose ú nica de P
entre a aplica çã o a lanço ou no sulco de semeadura de soja , em sistema plantio direto,
mostram a maior eficiência de toda a dose de P aplicada exclusivamente no sulco de
semeadura, em compara çã o às demais partições ou combinações (Quadro 5). Maiores
considera ções sobre esse efeito da localiza çã o da fonte de P (lanço ou localizada ) e sua
forte intera çã o com a dose sã o comentadas no capítulo VIII.

Quadro 4 . Produtividade de gr ã os de soja m édia de tr ês safras, como variá vel da fonte de


f ósforo, da forma de aplicaçã o e da quantidade aplicada em solo argiloso (600 g kg 1 de '

argila ), em Sapezal, MT

Fósforo aplicado a lanço antes da semeadura e incorporado - apenas no primeiro plantio (kg ha-1 P2O5)

Fó sforo Super triplo Fosfato natural reativo Super simples


na linha
0 80 160 240 80 160 240 240

kg ha 1 P2O5
*
Produtividade de soja (sacas ha 1 ) *

0 6,8 18 , 9 31 , 2 39, 3 20,0 28 , 9 37,5 40,4


37 27,1 37,1 46,1 51, 5 38,1 45, 0 49, 2 54,4
79 45, 6 51,6 57, 3 61, 9 51 , 9 55, 3 59,6 61 , 8
115 56 , 3 58,7 62,4 65 ,0 59 ,5 62,3 63,8 65 ,2
146 60, 8 62, 5 64, 7 65, 7 64,1 63,5 66, 3 66, 3
Fonte: Funda çã o MT (2005) .

Quadro 5. Produtividade de gr ã os de soja , em tr ês anos agr ícolas consecutivos, em resposta ao


modo de aplica çã o do fertilizante no sistema plantio direto em solo com baixo teor de
f ósforo disponível

Aplica çã o ( I ) Embrapa 48 BRS 133


( 3)
Mé dia Varia çã o
A lanço Sulco 2001/02 2002/03 2003/04

% sacas ha %
(2 )
0 100 63,6 61 ,0 56 ,9 60 ,5 22,1 57 ,6
25 75 60, 0 61 , 4 56,1 59, 2 20,8 54, 2
50 50 57,4 57, 3 58, 7 57, 8 19, 4 50,5
75 25 51, 3 57,1 56, 0 54,8 16,4 42, 7
100 0 46, 2 55 ,4 49 ,8 50,5 12 ,1 31 ,5
Sem adubo 40 ,3 42 ,9 32,0 38 ,4

Adubaçã o com 400 kg ha 1 da formula çã o 4 - 23 - 23 + Ca = 4,5 %; S = 2,5 %; Zn = 0,3 %; B = 0,2 % e Cu = 0,15 %.


(1 ) '

( 2)
Produtividade de soja em sacos ha’1 como variá vel da porcentagem da dose de P2Os aplicada a lanço: y = 61,4
- 0,0976 x (R2 = 0,932). (3) Variação em valores absolutos e relativos em relação à testemunha (sem adubo).
Fonte: Funda çã o MT, apresentado por Dalto (s.d .).

FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA ADUBAçã O 859

Ao planejar o modo de aplica çã o também é importante considerar a distribuiçã o


espacial das plantas, a densidade e o tipo de sistema radicular, os quais podem subsidiar
as decisões. Quando do cultivo de espécies com alta densidade de plantas e distribuiçã o
espacial mais equidistante, a distribuiçã o a lanço pode representar baixo risco de
diminuiçã o na produtividade, quando comparada com a de espécies com menores
densidades e fileiras de plantas mais espa çadas ( 2 ). Plantas com sistema radicular
fasciculado tamb é m se mostram h á beis em explorar grandes volumes de sòlo,
especialmente nas camadas superficiais, mesmo em casos em que a fertilidade do solo
nã o atingiu patamares desejá veis (abaixo do teor cr ítico de P e de K, por exemplo), o que
proporciona a essas espécies vantagem no aproveitamento de aduba ções a lanço em
rela çã o a leguminosas.
As condições de relevo sã o igualmente importantes na tomada de decisão porque, à
medida que a declividade aumenta, maior é a restrição para adubações a lanço. Além de
acentuar as perdas por escoamento superficial, existe o componente ambiental, pois a
saída de nutrientes sol ú veis está diretamente ligada à contamina çã o de mananciais de
á gua . Nestas condições, as restrições ser ã o tã o maiores quanto menor for a cobertura do
solo com resíduos culturais, porque pouca cobertura do solo pode determinar menores
taxas de infiltra çã o e, como consequência, maior volume de á gua escoada, ou seja, maior
transporte de sedimentos e nutrientes. Baseado nessas considerações, uma das principais
metas de técnicos e produtores deve ser o de proporcionar condições f ísicas de solo que
possam significar bom desenvolvimento do sistema radicular e boa infiltra çã o e
armazenamento de á gua no solo. Isso por que a absor çã o dos nutrientes pelas plantas
depende muito do volume do solo explorado e da á gua armazenada , para que os
fenômenos de fluxo de massa e a difusã o possam ocorrer em condições favorá veis, o que
significa maior aporte à s plantas dos nutrientes do solo ou aplicados via fertilizantes.
Uma vez atingida esta meta, as diferenças entre os modos de aplica çã o dos fertilizantes
tenderã o a ser menores.

LOCALIZA ÇÃ O

Os fertilizantes podem ser localizados na superf ície do solo ou em profundidade. A


localiza çã o dos fertilizantes em profundidade é a mais recomendada ria maioria dos
casos. Em virtude da rea çã o de sor çã o e precipita ção do P no solo, que pode determinar
reduçã o na disponibilidade deste nutriente às plantas, de modo particular em solos
argilosos, a maneira mais apropriada para localizar os nutrientes em profundidade é a
aplica çã o dos fertilizantes concentrados na linha de semeadura, posicionando os
fertilizantes abaixo e ao lado da linha de distribuição das sementes, conforme já abordado.

(2)
Este seria o caso do espa çamento fechado de trigo versus o espa çamento aberto de milho e a tend ência
para se cultivar o milho em espa çamentos bem mais fechados ultimamente.

FERTILIDADE DO SOLO
860 CARLOS ALBERTO CERETTA et al .

Outra possibilidade para localizar os fertilizantes em profundidade é por meio de


operações de mobiliza ção do solo após sua distribuição a lanço, na expectativa de que
isso possa favorecer melhor distribuiçã o do sistema radicular das plantas e, com isso,
aumentar o volume de solo com sistema radicular para absor çã o de á gua e nutrientes,
contribuindo para uma maior toler â ncia das plantas a períodos de deficiência hídrica e
melhor aproveitamento da fertilidade natural dos solos. Contudo, existem evidências de
que a disponibilidade de á gua durante o ciclo das plantas é mais condicionante da
distribuição do sistema radicular e, por consequência , do aproveitamento dos nutrientes
disponíveis, do que a localiza çã o dos fertilizantes em linha e em diferentes profundidades.
A distribuiçã o dos corretivos e fertilizantes a lanço com posterior incorpora çã o é
uma pr á tica utilizada em algumas situa ções de á reas novas para agricultura, onde a
fertilidade natural do solo é baixa , especialmerite em condições do Cerrado brasileiro.
Nestas condições, além do calcá rio e do gesso agrícola, os fertilizantes fosfatados sol úveis,
fosfatos naturais reativos e cloreto de K sã o exemplos de insumos aplicados para corrigir
os n íveis de fertilidade do solo. Outro referencial para incorpora çã o de fertilizantes foi
levantado por Sousa et al. (2002), os quais afirmam que, para culturas anuais, a aplicação
de fertilizantes fosfatados a lanço e incorporados ao solo promove um sistema radicular
mais volumoso, mas que essa forma de aplica çã o deve ser utilizada para doses bem
superiores a 100 kg ha 1 de P205, em solos com baixa disponibilidade de P, devendo ser a
'

aplica çã o feita , em menores doses, no sulco de semeadura .


A incorpora çã o ou nã o do fertilizante pode ser particularmente importante no caso
do uso da ureia como fertilizante nitrogenado, em razã o das potenciais perdas de N por
volatilizaçã o, quando da aplica çã o em superf ície e em condições de solo e clim á ticas
favor á veis às perdas. A distribuiçã o da ureia em superf ície tem sido uma das principais
justificativas da menor eficiência deste insumo, quando comparada com outras fontes;
perdas da ureia podem, excepcionalmente, ser muito altas (estimadas em 40 %), quando
aplicada a lanço e mantida em superf ície (Quadro 1) .
A incorpora çã o mecâ nica da uréia, se, por um lado, pode significar maior eficiência,
por outro, gera um custo adicional que nem sempre justifica a opera çã o de incorpora çã o,
isso sem considerar o maior tempo necessá rio para a aplica çã o da ur éia incorporada, em
relação à sua distribuiçã o em superf ície. Isso foi demonstrado no Centro-Oeste brasileiro,
em trabalho desenvolvido em Costa Rica (MS) onde, na mé dia de cinco safras de milho,
a diferença de apenas 135 kg ha 1 na produtividade de grã os, com a incorpora çã o da
"

uréia, nã o justificaria o custo adicional de sua incorpora çã o ao solo ( Quadro 6 ).


Em sistemas sem revolvimento de solo (sistema plantio direto), onde a incorporaçã o
mecâ nica da uréia não seria prá tica viá vel, o manejo da aplicação do fertilizante também
será determinante da sua eficiência. Nesse sistema, as perdas de N sã o potencializadas se a
uréia for aplicada em superf ície, porque a urease, enzima que participa da primeira reação de
hidrólise da uréia, gerando am ónia ( forma volá til ), ocorre na interface solo-atmosfera e
nos resíduos superficiais, onde podem ser depositados grâ nulos da uréia. Uma estratégia
interessante para incorporar a ur éia ao solo seria utilizar a á gua como veículo para tal,
ou seja, aplicar em solo ú mido ou ent ã o pouco antes de uma chuva de baixa a média
intensidade, minimizando as perdas de N e aumentando sua entrada no perfil do solo.

FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA ADUBA çãO 861

Quadro 6 . Efeito de fontes, doses e localiza çã o do nitrogé nio na produtividade do milho


( dados mé dios de cinco safras(1) ), em solo Latossolo Vermelho sob plantio direto, em
Costa Rica, MS

N em superf í cie ( kg ha -1 de N ) N incorporado ( kg ha 1 de N )


Mé dia
Fonte de N
60 90 120 M é dia 60 90 120 M é dia fonte

Produtividade de gr ã os de milho ( t ha 1 ) '

Uré ia 8, 7 9,1 9,1 9, 0 8,7 9, 2 9,4 9,1 9,0


Sulfato am ó nio 8, 6 9, 0 9,5 9, 0 8,8 9, 4 9,3 9, 2 9,1
Nitrato am ó nio 8,9 9,1 9, 2 9,1 9,1 9,3 9,2 9,2 9,1
Mé dia (dose ) 8,7 C 9,1 B 9,3 A 8,9 C 9,3 B 9,3 A
Média aplica çã o 9,0 B 9, 2 A

(1)
Aná lise conjunta dos dados obtidos em 97 / 98, 98 / 99, 99 / 00, 00 / 01 e 01 / 02.
Mé dias seguidas pela mesma letra min ú scula , nas colunas, e maiuscula, nas linhas, nã o diferem entre si pelo teste
Duncan a 5 %. CV = 2,77 %.
Fonte : Dados nã o publicados, obtidos pela SLC Agrícola Ltda .

Além de o solo estar ú mido, outros fatores muito importantes a serem considerados
no momento da aduba ção nitrogenada com uréia aplicada na superf ície sã o as condições
de temperatura, luminosidade, umidade relativa do ar e ocorrência de ventos no per íodo
de 4 a 6 h após a aplica çã o, quando acontece a maior intensidade de hidrólise da uréia e
a transformaçã o química de NH2 para NH3 ( volá til) e NH4+ (está vel novamente). Portanto,
tã o importante quanto observar a condição de umidade do solo no momento da aplicação
é observar a condiçã o clim á tica pré e pós-aplica çã o, sendo preferível aplicar a partir da
metade da tarde com a superf ície do solo seca , ocorrendo a dissoluçã o e rea çã o somente
durante o período da noite, quando a umidade retorna à superf ície do solo, em rela ção à
aplica çã o pela manhã, ocorrendo a rea çã o durante o período quente do dia.
També m é importante considerar que a solubilidade de alguns insumos pode ser
diminuída se a aplica ção for conjunta ou em épocas muito próximas. Este é o caso do uso
de calcá rio e micronutrientes, de modo geral.
i No caso de Ca e Mg, cuja principal fonte é o calcá rio dolomítico, sua aplica çã o, na
maioria dos casos, é condicionada ao manejo da correçã o do solo. De modo geral, a
aplica ção de calcá rio como corretivo da acidez preconiza a aplica çã o deste insumo a
lanço três a seis meses antes da semeadura da cultura, com incorpora çã o na camada
ar á vel do solo para facilitar sua dissolução, o que determina a distribuiçã o de Ca e Mg no
perfil do solo. Entretanto, aplicações de calcá rio em sistemas de cultivo conservacionistas
podem determinar aplicações a lanço e em superf ície, proporcionando gradiente de
concentraçã o de Ca e Mg a partir da superf ície do solo.
O uso de formula ções NPK com produtos com Ca e Mg ou calcá rios com elevado
PRNT pode ocasionar incorpora çã o por aplica ções na linha de semeadura, o que pode
ser importante em solos com baixos teores desses elementos, em á reas novas onde ainda
nã o foi aplicado calcá rio dolomítico ou em á reas onde foram aplicadas quantidades

FERTILIDADE DO SOLO
862 CARLOS ALBERTO CERETTA et al.

inferiores às recomendadas. No caso de aplica ções na linha de semeadura, deve-se dar


preferência para calcá rios de alto valor de PRNT ( tipo "Filler"), o qual requer outra caixa
de distribuiçã o na semeadora . Cabe salientar que nem todas as empresas formuladoras
de fertilizantes registram a composiçã o total de elementos além do NPK, tendo em vista
a necessidade de garantia de teores mínimos e as oscila ções de preços dos insumos no
mercado internacional, o que dificulta a estimativa de entrada de outros nutrientes, como
o Ca nesta fonte.
Aplicações em superf ície, no caso do Ca, também sã o realizadas quando da utilização
do gesso agrícola , geralmente associadas com o fornecimento de S. OS também pode ser
encontrado em f órmulas NPK , sendo aplicado por ocasiã o da semeadura , dependendo
da estratégia adotada para aplica çã o destes nutrientes e da quantidade. No caso de
fontes nitrogenadas que contêm S, como o sulfato de am ó nio, seu emprego determina
aplica ções de S em cobertura .

ÉPOCAS DE APLICA ÇÃ O E PARCELAMENTO


Manejar a aduba çã o quanto à é poca de aplica çã o e parcelamento das doses significa
compatibilizar a dinâ mica dos nutrientes no solo com a fisiologia das plantas, levando
em consideração também os aspectos operacionais de cultivo e o comportamento humano,
o que sempre dificulta a racionalidade plena nas tomadas de decisões. De maneira geral,
os nutrientes podem ser aplicados antes do início do cultivo (pré-semeadura ), por ocasião
da semeadura (adubaçã o de base ) ou durante o ciclo da cultura (aduba çã o de cobertura ).
A é poca de aplica çã o est á mais relacionada com a maior possibilidade de
transferência dos elementos da regiã o de absor çã o das ra ízes para outros ambientes,
representando transferências ou perdas, ou entã o com a diminuiçã o de disponibilidade
provocada por mecanismos de sorçã o a formas indisponíveis às plantas. De maneira
geral, nutrientes pouco mó veis no solo sã o aplicados preferencialmente na semeadura e
eventualmente em pré-semeadura, enquanto aqueles de maior mobilidade sã o aplicados
parceladamente (parte na semeadura e o restante em cobertura ).
Dentre os nutrientes, o N é o principal elemento cuja é poca de aplica çã o merece
especial atençã o, por ser, para grande maioria das culturas, o nutriente acumulado em
maior quantidade e manter uma dinâ mica no solo que difere particularmente da dos
demais, especialmente em rela çã o à sua grande mobilidade por predominar na forma
mineral como N03~ em solos de sequeiro e sua intensa lixiviação. Isso faz com que a regra
geral seja a do parcelamento da aplica çã o do N: normalmente, uma parte da dose
recomendada é aplicada na linha por ocasiã o da semeadura, pelo uso de f ó rmulas NPK,
e o restante da dose é aplicada a lanço em superf ície após a emergência das plantas em
uma, duas ou mais aplicações de cobertura, conforme está dios de desenvolvimento da
planta. Esta estratégia de parcelamento da aplica çã o permite diminuir as perdas por
lixivia çã o após a semeadura e maior coincid ência com as fases de maior necessidade
das culturas. O principal fertilizante nitrogenado utilizado para aplicações em cobertura
é a uréia, que pode sofrer uma incorpora çã o parcial para diminuir as perdas de N por
volatilizaçã o de amónia, conforme já abordado .

FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA ADUBA çãO 863

Do ponto de vista prá tico, nã o é possível compatibilizar a característica de alta


mobilidade do N03 no solo com interesses operacionais que possam motivar a aplicaçã o

de N antes da semeadura e maiores doses na semeadura, evitando-se os inconvenientes


da aplicaçã o em cobertura nas culturas. As características climá ticas no Brasil favorecem
a movimenta ção do N no solo, dado o clima tropical predominante, que, se, por um lado,
favorece a atividade microbiana e, por consequência, aumento do N mineralizado no
solo, por outro lado, as precipita ções pluviais, que se caracterizam pela alta intensidade,
favorecem as perdas de N por lixivia çã o e escoamento superficial.
A aplica çã o de N em pr é -semeadura pode constituir atitude de risco, em
decorr ê ncia das prov á veis perdas de N por lixivia çã o, principalmente quando ocorre o
fenô meno "EI Nino", caracterizado por excesso de precipita ções pluviais em rela çã o a
períodos considerados normais ( Figuras 3 e 4). A possibilidade de perdas importantes
de N por lixivia çã o com suas aplica ções em pr é -semeadura pode significar menor
suprimento de N nos está dios iniciais de desenvolvimento de culturas como o milho, por
exemplo, e isso pode significar menor produtividade. Fancelli & Dourado Neto (1996)
ressaltam que a defini çã o da produ çã o potencial do milho ocorre com as plantas com
quatro folhas, está dio que pode acontecer com duas semanas da emergência . Deficiências
de N em per íodos cr íticos das culturas significar ã o menor eficiência de aduba ções de
cobertura e, na quase totalidade dos casos, nã o se recuperam os prejuízos causados. Por
isso, Ceretta et al. ( 2002), após avaliarem formas de aduba çã o nitrogenada para o milho,
refor çam que a aplica ção de N dividida em parte na semeadura e o restante em cobertura
é preferencial, sendo essa uma informa çã o que pode ser considerada para as gramíneas
em geral.
A aduba çã o com P e K é feita por ocasiã o da semeadura , na maioria dos casos,
utilizando-se de f ó rmulas NPK com ou sem outros nutrientes, formuladas a partir de
fontes sol úveis. Embora o P e o K devam ser preferencialmente aplicados na semeadura,
nã o significa, necessariamente, na mesma opera çã o, pois existem circunstâ ncias em que
a aplica çã o do fertilizante pode ser feita alguns dias antes da semeadura, como é o caso
de solos pobres do Cerrado, quando do uso de altas doses de fertilizantes fosfatados na
semeadura, conforme já abordado(3).
Além da questã o operacional da semeadura, a aplica çã o de K na linha junto às
sementes, apesar de favorecer sua maior disponibilidade às plantas, pode acarretar risco
de efeito salino ( veja capítulo XII), o qual, em muitos casos, tem sido responsá vel pela
diminuição da populaçã o de plantas’, bem como, em solos com baixa capacidade de troca
de cá tions (CTC), pode haver maiores perdas por lixiviação. Por essa razão, especialmente
em culturas muito exigentes em K, como milho e algodã o, ou em solos arenosos ( < 15 %
de argila ), pode ser conveniente aplicar o K em cobertura . Caso contrá rio, podem -se
aplicar 100 % em pré-semeadura, a lanço ("potassagem"), e a eficiência poderá ser similar
à aplicação na linha de semeadura (Quadro 7).

> Todavia, para os solos com maior poder tamp ã o de P, essa aplica çã o antecipada deste nutriente, em
(3

rela çã o à semeadura, pode implicar significativas perdas de P na forma fixada pelo solo ( P nã o-
lá bil ). O tempo de contato da fonte de P com o solo atua sobre a disponibilidade deste nutriente para
as plantas ( veja o cap í tulo VIII ).

FERTILIDADE DO SOLO
864 CARLOS ALBERTO CERETTA et al.

( a ) Ano agr í cola 1996 / 97


PS SE co FLO
i 1 j

100 58 mm 314 mm 130 mm

90

80

70
ir ir ir ir = I r r i g aç ão
60

50

40
l l j I
30

20

10

oU 1 1 l x
E Novembro Dezembro Janeiro Feve reiro
E
o
TO
O
03 ( b ) Ano Agr í cola 1997 /98
Q.
O
o PS SE CO FLO
CL I ] I I
243 mm 152 mm 459 mm
100 -
i

90 >

ir irriga çã o = jr ir
80 - ir

70 -
-
60

50 - Y Y Y Y
40 -

30 -
20 -
10 -

0
Outubro
+
Novembro
i f + t
Dezembro
Tt -
+TTT I 11 , « , n
Janeiro
.
Figura 3. Distribuiçã o das chuvas no per íodo da aplicaçã o do nitrogénio em pr é-semeadura
até o florescimento do milho nos anos agr ícolas 1996 / 97 e 1997 / 98.
Fonte: Basso & Ceretta (2000) .

No caso dos Cerrados, o K pode ser aplicado antes ou depois da semeadura . A


aplica çã o de K antes da semeadura, embora seja uma possibilidade com respaldo em
informa ções consistentes de campo, deve ser analisada criteriosamente em solos com
baixa CTC e, especialmente, com uso concomitante de calcá rio e, ou, gesso. Isso por
serem os elementos como Ca e Mg mais competitivos por sítios de adsorçã o do solo e o
uso de calcá rio dolomítico pode representar a adiçã o de quantidades expressivas de Ca
e Mg no solo e de Ca no caso do gesso agr ícola em alguns tipos de solos. Essa situação
pode favorecer a movimentação do K para camadas mais profundas no solo, podendo
até mesmo causar deficiência às plantas.

FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA ADUBAçãO 865

mg kg- de N no solo
1

0 15 30 45 60 75 90

05 -
N (kg ha- )
1

90- 30-00
Wm,
Q]
5 -10
(a ) g 60- 30- 30
TTT I
10-20 rv%vvi 0 30- 30-60
ãàf CS 00- 30-60
g] 00- 00- 00
20-40
E
o
QT
o
o
D
c
3
O
a. 0 -5 MOOH
N (kg ha- )
1

5 -10
r ( b)
[TQ 90- 30-00
g 60- 30- 30
gg 30- 30-60

i
-
10 20
r g 00- 30-60

r
gg 00- 00-00
20-40

Figura 4. Teores de nitrogénio mineral do solo, avaliados imediatamente antes da semeadura


do milho em sucessã o à aveia preta, em dois anos agr ícolas, 1996 / 97 ( a ) e 1997 / 98 (b ),
quando ocorreu o fenô meno "El Nino".
Fonte: Basso & Ceretta ( 2000) .

Quadro 7. Efeito de doses e localiza çã o do potá ssio na produtividade de gr ã os de soja , em


duas safras, em solo LVA (1) textura média, Balsas, MA

V Safra
Dose de K 2O Modo de aplica çã o
92/93 93/94 94/95 95/96 Mé dia

kg ha -1 Produtividade de grã os de soja (t ha -1 )


0 3,36 a 2,96 abc 3,10 b 2.46 b 2,97 b
80 Sulco anual 3,35 a 2,85 bc 3,41 ab 3,37 a 3,24 ab
100 Sulco anual 3,31 a 3, 22 a 3,62 a 3,54 a 3,42 a
80 Lanço pré- semeadura 3,13 ab 3,10 ab 3,58 a 3.46 a 3,32 ab
80 Cobertura í 2) 3,16 ab 2,72 c 3,65 a 3,31 a 3,21 ab
100 + 80 Corretivo + sulco anuaH3> 3,29 a 2,95 abc 3,60 a 3,36 a 3,30 ab
(1 )
0 solo apresentava teor inicial de K na camada de 0-20 cm de 0,03 cmolc dm 3, CTC de 5,94 cmolc dm 3 e ' '

31,4 g kg 1 de argila . Médias seguidas pela mesma letra nã o diferem entre si pelo teste Duncan a 5 %. CV =
'

5,61 %. (2) Cobertura 30 dias após a emergência. (3) Corretivo aplicado em 92 / 93 e adubação anual no sulco de semeadura.
Fonte: Dados nã o publicados, obtidos pela SLC Agr ícola Ltda .

FERTILIDADE DO SOLO
866 CARLOS ALBERTO CERETTA et al.

Uma abordagem dessa situa çã o foi feita por Mascarenhas et al. (1988), os quais
discutiram o problema surgido em lavouras de soja com deficiência de K no Estado de São
Paulo e citam que um dos fatores que estava contribuindo para isso era o uso de calcá rio,
o qual estava causando um desequilíbrio entre os teores de Ca, Mg e K nos solos. Contudo,
deve-se ressaltar que esta situaçã o é menos preocupante atualmente, sendo restrita a solos
mais arenosos e com baixo teor de K, porque a maioria das lavouras é conduzida sob
plantio direto e utilizam f órmulas mais adequadas com K. Além disso, as doses de calcá rio
utilizadas diminuíram com o tempo, dado o efeito residual de aplicações anteriores e da
meta a ser atingida pelos crité rios de satura çã o por bases e pH no plantio direto inferio-
res às do sistema com cultivo convencional, ou seja, com revolvimento do solo. Em determina-
das condições, pode ocorrer efeito contr á rio, baseado no fato de que a calagem aumenta
a CTC do solo e isso favorece a retençã o do K, diminuindo as perdas por lixivia ção.
A lixivia çã o de K tamb ém est á demonstrada nos dados apresentados por Vilela et al.
( 2002), os quais mostram que, em Latossolo Vermelho-Amarelo argiloso da regiã o do
Cerrado, a aplica çã o de maiores doses de K no sulco de semeadura favoreceu sua
lixivia çã o, em rela çã o à aplica çã o a lanço, e isso diminui o efeito residual das adubações
com este nutriente. Esses autores ressaltam que a aplicaçã o de K no sulco de semeadura
promove o incremento na sua concentra çã o em menor á rea de solo, o que favorece as
perdas por lixivia çã o.
Outro fator importante no manejo do K deve ser o de evitar suas perdas por
escoamento superficial. Isso é particularmente importante no plantio direto, porque
quanto mais argiloso o solo maior ser á a concentra çã o dos nutrientes nos primeiros
centímetros do solo, fruto das frequentes aplica ções de K e do nã o-revolvimento do solo
por opera ções de preparo. Outro aspecto particular do K é que, no final do ciclo das
culturas, a maior parte deste elemento absorvido retorna ao solo, proporcionando
aumento nos teores nas camadas superficiais. Entretanto, parte deste K concentrado na
superf ície do solo pode migrar para camadas inferiores, como observado no Sul do
Maranhão, em Tasso Fragoso, em solo de Cerrado com 30 g kg 1 de argila e 0,07 cmolc dm 3
" '

de K, após 202 mm de chuva, parte do K aplicado em superf ície, atingiu a camada de


10-20 cm (Quadro 8). O mesmo aconteceu em Sapezal (MT), onde o teor de K na camada
de 0-20 cm era de 0,12 cmolc dm 3 e, após 450 mm de chuva, houve aumento do K na
"

camada de 3-10 cm no plantio direto e até à camada de 10-20 cm no preparo convencional


(Quadro 9). Esse fenô meno depende das características químicas (CTC) e f ísicas ( textura
e porosidade) do solo, mas passa a ser importante para explicar ausência de resposta ao
tipo de manejo empregado na aduba çã o potá ssica em algumas situa ções.
Em algumas situa ções, o K também é aplicado em cobertura em mistura com uréia .
Embora do ponto de vista fisiológico de plantas, no caso de gramíneas, a idéia de aplicar
conjuntamente N e K em cobertura possa ser interessante, nã o existem evid ências
experimentais que suportem retorno económico resultante da aplicação de K em cobertura,
na maioria dos casos, salvo quando da n ã o-utilizaçã o de K na semeadura ou pré-
semeadura, conforme já discutido. Entretanto, no cultivo de arroz irrigado por alagamento
em solos arenosos, especialmente em sistemas, em que se estabelece a lâ mina de água
desde o preparo do solo, como no sistema pré-germinado, o parcelamento com aplicação
em cobertura de K é indicada (SOSBAI, 2005), tendo em vista a baixa CTC dos solos e a

FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA ADUBA çãO 867

Quadro 8. Teores de pot á ssio no solo, ao longo do ciclo da soja sob plantio direto, ap ós
aplica çã o de 140 kg ha -1 de KC1 a lanço em pr é-semeadura , em resposta à precipitaçã o
pluvial em Tasso Fragoso, MA

Precipita çã o
Profundidade
202 mm em 09/11/95 1.005 mm em 09/02/96 1.400 mm em 10/04/96

cm Teor de K (cmolc dm - 3 )
0 -1 0,22 0 ,12 0 , 35
1-3 0 , 21 0 , 08 0 , 19
3 -10 0 , 17 0, 05 0, 05
10 -20 0 , 09 0, 05 0 , 03
M é dia ponderada 20 -40 0, 04 0 , 03

M é dia 0-20 0, 13 0, 09 0, 07

Fonte : Dados nã o publicados, obtidos pela SLC Agr ícola Ltda .

Quadro 9. Teores de pot á ssio no solo, ao longo do ciclo da soja sob plantio direto, após aplica çã o
de 110 kg ha 1 de KC1 a lanço em pr é-semeadura , em resposta à precipita çã o pluvial em
'

Sapezal, MT
;

Plantio direto Plantio convencional


Profundidade
450 mm em 05/12/95 1.628 mm em 20/03/96 450 mm em 05/12/95 1.628 mm em 20/03/96

cm Teor de K (cmolc dm -3)

0 -1 0 ,17 0, 29 0,10 0, 22
1-3 0,17 0,15 0, 12 0,16
3-10 0,17 0, 08 0,17 0, 09
10-20 0, 08 0, 07 0,17 0, 07
20 -40 0, 05 0, 05 0, 06 0, 05

Média ponderada 0-20 0,13 0,09 0,16 0,09

Fonte : Dados nã o publicados, obtidos pela SLC Agr ícola Ltda .

maior exigência desse nutriente neste sistema de cultivo para aumentar a resistência das
plantas ao acamamento. Também no sistema pré-germinado, aplica ções de P e K na
semeadura podem favorecer o crescimento de algas e dificultar o estabelecimento das
plâ ntulas, para os quais a aplicaçã o de fertilizantes fosfatados e potássicos em cobertura
;*
alguns dias após a semeadura pode ser uma estratégia indicada, embora a eficiência
agronómica desta pr á tica ainda nã o esteja consolidada .
No cultivo de milho sob irriga çã o por aspersã o, a aplica çã o de parte do K em
cobertura a em vez de aplicá -lo todo na semeadura também pode ser uma estratégia
viá vel, especialmente em solos com altos teores de K. Isso ocorre por que, em muitos

FERTILIDADE DO SOLO
868 CARLOS ALBERTO CERETTA et al .

casos, é desejá vel elevar a dose de N até pr óximo de 40 kg ha 1 na semeadura, o que leva
'

à utiliza çã o de fosfato diam ônio ( DAP) em detrimento de fontes potássicas. Contudo,


nestes casos, ainda seria conveniente a mistura de uma fonte potá ssica ao DAP, porque
a possibilidade de algum ganho em escala pode ser possível pelo fato de aumentar e
posicionar o K mais próximo das plantas no início de seu crescimento, quando o sistema
radicular ainda explora pequeno volume de solo, o que deverá ocorrer em maior
probabilidade para solos com baixos teores de K.
Outra possibilidade técnica de é poca de aplica çã o de P e K é em pr é-semeadura, a
lan ço ou em linha, como aduba çã o corretiva em condi ções de solo de muito baixa
fertilidade, especialmente na regiã o do Cerrado, apesar de todos os problemas existentes
quanto à fixaçã o de P nesses solos em formas nã o-lá beis. Neste caso, aplica çã o de fontes
sol ú veis de P como corretivo dos níveis de fertilidade do solo na linha de pré-semeadura
tem proporcionado melhor desempenho das culturas subsequentes em relação à aplicação
a lanço e em superf ície, possivelmente em razã o dos efeitos benéficos da aplica çã o em
profundidade e concentrada, de modo a favorecer a planta e nã o a fixa ção do P pelo solo.
Observa -se que a necessidade de aplicar altas doses de P para corrigir á reas novas
de cerrado, ou em início de explora ção, também tem motivado a aplicação de superfosfato
simples antes da semeadura e incorporado ao solo para depois na semeadura
complementar a adubaçã o fosfatada (4). Esta prá tica também tem o propósito de adicionar
S aos solos de cerrado, embora a utiliza çã o do gesso possa representar uma forma mais
económica da adiçã o deste nutriente ao solo. Além de proporcionar melhor relação entre
a ciné tica de liberaçã o e a taxa de absor çã o pelas plantas, o gesso agrícola apresenta
muito menor solubilidade e o S, que é absorvido na forma de S042 , é bastante móvel no
solo, o que pode ser um problema em solos submetidos a constantes chuvas e em condições
de baixa capacidade de troca de â nions (CTA ). Contudo, algumas experiências em solos
de cerrado mostram que, quando se aplica gesso agrícola, ocorre r á pida migra çã o de
sulfato para o subsolo e isso compromete o necessá rio suprimento à s culturas como
algod ã o e milho, motivando a aplica çã o de produtos com S em cobertura ( veja capítulo
X ).
A é poca de aplica çã o de nutrientes também está sendo influenciada pela adoçã o do
plantio direto, tornando-se mais comum a aplicação na cultura no inverno de parte ou de
todo o fertilizante fosfatado e potássico que seria utilizado em culturas comerciais no
verã o. Este procedimento tem sido utilizado para adubação de sistemas de cultivos (ao
invés da aduba çã o por cultura ) e está-se expandindo entre produtores como forma de
dar maior agilidade nas prá ticas de lavoura e melhorar a utiliza çã o de mã o-de-obra e
má quinas em períodos mais ociosos, em detrimento dos períodos de estrangulamento,
resultando em maior agilidade na implantação das culturas no verã o. Com isso, culturas
importantes no verão, como milho e soja, poderiam ser semeadas sem o uso de fertilizantes
fosfatados e potássicos, podendo também reduzir custos na aquisiçã o dos fertilizantes,
bem como no seu transporte.

(4 > Resultados apresentados no quadro 5 indicam sobre os riscos económicos deste procedimento ( veja
capí tulo VIII ) .

FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA ADUBA çãO 869

Evidentemente, no caso de gramíneas, a vantagem estaria relacionada com as opções


de fontes de fertilizantes disponíveis para aquisição e aplica çã o de menores quantidades,
considerando a necessidade da aplica çã o de N na semeadura para estas espécies .
Contudo, devem-se considerar també m as caracter ísticas das culturas, pois existem
espécies mais exigentes em P, cuja maior disponibilidade inicial pode ser essencial para
garantir o bom estabelecimento da cultura ( Põ ttker, 1999 ). Evid ências experimentais
(Quadro 2) refor çam a tese de que quando forem utilizadas aduba ções em sistemas de
cultivos, os teores d e P e K devem estar acima do teor crítico, ou seja, quando é menor a
depend ência das plantas aos nutrientes aplicados porque o solo já apresenta uma
adequada disponibilidade destes nutrientes às plantas.

ADUBA ÇÃO VIA TRATAMENTO


DE SEMENTES E FOLIAR
De maneira geral, para a maioria das culturas comerciais produtoras de gr ã os e
fibras, a aplica çã o dos fertilizantes recomendados é efetuada no momento da semeadura
da cultura , em linhas pr óprias, paralelas às linhas das sementes e em consonâ ncia com
as indica ções de doses recomendadas e a eficiência dos fertilizantes empregados. Alguns
nutrientes, especialmente aqueles fornecidos em pequenas quantidades, como os
micronutrientes, também podem ser aplicados via semente, por meio de misturas com
produtos sólidos ou líquidos. Há ainda a possibilidade de aplica ções em pulveriza ções
foliares durante o ciclo vegetativo da cultura, prá tica especialmente empregada para
culturas de ciclo perene, como as frutíferas, ou as de ciclo rá pido, como as oler ícolas.
A aplica çã o dos macronutrientes N, P e K por outras formas, como tratamento de
sementes ou pulveriza ções foliares, dificilmente tem apresentado viabilidade económica,
tendo em vista as grandes quantidades requeridas pelas culturas e as possibilidades de
influência negativa sobre sementes e folhas causadas pela desidrata çã o dos tecidos
(plasmólise ) em virtude das altas concentra ções, comumente denominada de "queima".
Entretanto, em alguns casos, aplicações em cobertura para corrigir eventuais deficiências
resultantes de inadequada recomenda çã o na semeadura podem ser indicadas. Dessa
forma, aplica ções via sementes e pulveriza çã o foliar têm-se restringido basicamente à
adubaçã o com micronutrientes.
O fornecimento de micronutrientes pode ocorrer por diversas formas. Usualmente,
em culturas comerciais de gr ã os e fibras, utiliza -se a aplica çã o de f órmulas NPK
misturadas com sais desses elementos ou produtos específicos para tratamento em
mistura com sementes. Em alguns casos, especialmente para corrigir sintomas de
deficiências visuais durante o ciclo das culturas ou culturas perenes e de ciclo curto, sã o
indicadas pulveriza ções foliares. A eficiê ncia das diferentes estratégias está associada,
em um primeiro momento, com a probabilidade de resposta da cultura à adiçã o desses
elementos e, em segunda instâ ncia, com a possibilidade de associar a aplica çã o do
fertilizante com a execuçã o de outras pr á ticas, como o tratamento de sementes com
inoculantes ou fungicidas e pulverizações foliares para aplicaçã o de agrotóxicos, tais
como herbicidas, fungicidas e inseticidas. A época de aplicaçã o de micronutrientes

FERTILIDADE DO SOLO
870 CARLOS ALBERTO CERETTA ét al.

também depende das características dos produtos e a coincid ência com outras pr á ticas
de manejo da lavoura, isso tudo para diminuir os custos de aplicação dos micronutrientes.
Estudos sobre efeitos do modo de aplica çã o de fertilizantes que contê m
micronutrientes ainda sã o muito incipientes no Brasil, especialmente considerando que
o emprego destes nutrientes ainda é bastante questionado, tendo em vista a ausência ou
falta de consistência na resposta das culturas em diversos experimentos (veja capítulo XI).
Entretanto, das culturas de grãos, uma das que apresentam maior probabilidade de resposta
à aplica çã o de micronutrientes via tratamento de sementes ou pulveriza ções foliares é a
soja, dada a importâ ncia do Mo e Co nos processos de fixaçã o biológica do N2, inclusive
com indicaçã o de doses por aplicar, dependendo do modo de aplicação CQFS-RS / SC (2004).
Exemplo da dificuldade em avaliar a eficiência da aplicação de micronutrientes foi a
utiliza çã o via foliar, especialmente de Mo e Co em soja no RS, durante dois anos em
Latossolo Vermelho distrof é rrico típico e sob plantio direto há oito anos, cujos resulta -
dos na produtividade de grã os de soja foram contraditó rios (Ceretta et al., 2005) (Qua -
dro 10) . Contudo, esses autores també m concluíram que, na maioria dos casos, o retorno
econ ó mico da aplica çã o de micronutrientes foi positivo, mas evidenciou a dependência
de altas produtividades e preços favor á veis da soja no momento da comercializaçã o.

Quadro 10 . Viabilidade econ ó mica da aplica çã o de micronutrientes e outros produtos


comerciais na produtividade de gr ã os da soja, quando comparada com a testemunha , nos
anos agr ícolas 2001 / 02 e 2002 / 03(1), com produtividades m édias de gr ã os de 3.324 e
3.431 kg ha 1, respectivamente
'

Custo de aplicaçã o dos Acré scimo no retorno


Tratamento Retorno l í quido
micronutrientes *2 * econ ó mico

US$ ha -i
Ano agr ícola 2001 / 02
Co Mo 0,90 -
7,53 -8, 43
Co Mo + Mo 1,53 14,08 12,55
Co Mo + Mo + Mo 3,67 52,86 49,19
Co Mo + Mo + P30 4,91 14, 73 9,82
Co Mo + B 4,20 0,00 -4, 20
B 3,30 29,46 26,16
Mo 0,63 -2,13 -2,76
Mo + Mo 2,77 -10,97 -13,74
Ano agr ícola 2002 / 03
Co Mo + 2 x Mo 3,80 62,76 58,96
Ço Mo + 2 x Mo + B 5, 20 48,13 42,93
Co Mo + 2 x Mo + Phit. PK 11,34 98,56 87,22
Co Mo + 2 x Mo + Fortifol CaB 3,30 30,99 27,69
Co Mo + 2 x Mo + LBE-PTl 7,99 55,83 47,84
Co Mo + 2 x Mo + P30 4,81 55,25 50,44
Co Mo + 2 x Mo +Stimulate 10,31 30, 22 19,91
(1 )
Foi considerado o preço m édio da saca de soja a US$ 9,82 em junho de 2002 e US$ 11,55 em junho de 2003.
(2 )
Considerando o preço dos produtos comerciais Co Mo Plus 250 = 9,96 e 8,10 US$ L’1; Molibdato de Na = 5,28 e
8,38 US$ kg 1; P30 = 0,94 e 0,50 US$ L 1; Solubor = 1,80 e 1,40 US$ kg 1, para os anos de 2001 / 02 e 2002 / 03,
* ’

respectivamente; Phitosol PK = 3,77 US$ L 1; Fortifol CaB = 1,12 US$ L 1; LBE-PT1 = 41,90 US$ L 1; e Stimulate =
"

21,79 US$ L 1. Inclu ído o custo de aplica çã o de 1,50 e 1,06 US$ ha 1 para cada aplicaçã o aos 60 ou 90 DAE em 2001 /
' "

02 e 2002 / 03, respectivamente. Valores obtidos considerando a conversã o do d ólar sendo equivalente a R$ 2,54 e
3,58 para o mês de novembro dos anos de 2001 e 2002, respectivamente.
Fonte : Extra ído de Ceretta et al. (2005) .

FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA ADUBAçãO 871

No Mato Grosso do Sul, em um Latossolo Vermelho distrof érrico sob plantio direto,
constatou -se também aumento da produtividade de soja com aplicaçã o de Mo e Co, na
maioria dos casos, via tratamento de sementes, e esse aumento foi associado ao incremento
no teor de N nas folhas da planta, evidenciando os efeitos desses elementos sobre a
fixaçã o biológica do N 2 ( Broch & Ranno, 2005). A flexibilidade na é poca de aplica çã o de
Mo e Co em soja é respaldada pela mesma eficiência que pode apresentar sua aplica çã o
nas sementes ou via foliar (está dio fenológico V4-V5), conforme observaram Broch &
Ranno ( 2005), determinando que aspectos económicos e operacionais podem ser mais
relevantes na escolha por uma ou outra forma de aplica çã o . Contudo, é relevante
considerar que esses mesmos autores ressaltaram que a utiliza çã o de Mo e Co na soja
proporcionou incrementos na produtividade de grãos com tendência de menores respostas
quando as sementes utilizadas na semeadura continham maiores teores de Mo; assim
sendo, a probabilidade de resposta aos micronutrientes parece ser mais determinante do
que o modo de aplica çã o utilizado.

LITERATURA CITADA
ANGHINONI, I . & BAYER, C. Manejo da fertilidade do solo. In: BISSANI, C.A .; GIANELLO, C .;
TEDESCO, M.J . & CAMARGO, F.A.O., eds. Fertilidade dos solos e manejo da aduba çã o de
culturas. Porto Alegre, G énesis, 2004. p.252-264 .

BASSO, C.J . & CERETTA , C. A . Manejo do nitrogé nio no milho em sucessã o a plantas de
cobertura de solo, sob plantio direto. R . Bras. Ci. Solo, 24:905-915, 2000.

BROCH, D.L. & CHUEIRI, W .A . Estratégias de aduba çã o na cultura da soja em sistema plantio
direto. In: FUNDA ÇÃ O MS. Tecnologia e produ çã o: Soja / milho 2005 / 2006. Maracaju,
2005. p.92-107.

BROCH, D. L. & RANNO, S.K. Efeito da aplica çã o de molibd ênio e cobalto na produtividade da
soja na safra 2004 / 2005. In: FUNDA ÇÃO MS. Tecnologia e produ çã o: Soja / milho 2005 /
2006. Maracaju, 2005. p.109-119.

CERETTA, C.A . & SILVEIRA, M.J . Nitrogénio para o milho: Épocas e formas de aplica çã o e
fontes. In: ENCONTRO PIONEER DE DIFUSORES DE TECNOLOGIA, Passo Fundo, 2002.
Resumos. Passo Fundo, Pioneer Sementes, 2002. 14 p. CD-ROM

CERETTA, C. A.; BASSO, C.J .; DIEKOW, J .; AITA, C .; PAVINATO, P.S.; VIEIRA, F.C . B. &
VENDRUSCULO, E.R .O. Nitrogeri fertilizer split-application for corn in no- till succession
to black oats. Sei. Agric., 59:549-554, 2002.

CERETTA, C. A.; PAVINATO, A .; PAVINATO, P.S.; MOREIRA, I.C.L.; GIROTTO, E. & TRENTIN
E.E. Micronutrientes na soja : Produtividade e aná lise económica . Ci. Rural, 35:576-581,
2005.

COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO - CQFS-RS / SC. Manual de aduba çã o e de


calagem para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. 10.ed. Porto Alegre,
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo / N úcleo Regional Sul, 2004. 400 p.

FANCELLI, A.L. & DOURADO NETO, D. Cultura do milho: Aspectos fisiológicos e manejo da
á gua . Inf . Agron., 73:1-4, 1996.

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU
MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO

Ibanor Anghinoni1'

17
Departamento de Solos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Av . Bento
Gon ç alves 7712, CEP 90.540-000 Porto Alegre ( RS) . Bolsista do CNPq .
ibanghi@ ufrgs . br

Conte ú do

INTRODUÇÃ O 874

CARACTER ÍSTICAS E EVOLUÇÃO DO SISTEMA PLANTIO DIRETO 875


Aspectos Flistó ricos e Conceituais 875
Evoluçã o do Plantio Direto no Brasil 876
Caracter ísticas do Sistema com Ê nfase naquelas Relacionadas com a Fertilidade do Solo 878

AMOSTRAGEM DO SOLO 880


Variabilidade Horizontal e Amostragem Representativa do Solo 881
Variabilidade Vertical e Estado de Fertilidade do Solo ,.. 882
Eficácia dos Amostradores de Solo 882
Camada do Solo a Ser Amostrada 883
Procedimentos de Coleta de Amostras de Solo . 884
Em Lavouras Adubadas a Lanço 884
Em Lavouras Adubadas em Linha 884

ACIDEZ E CALAGEM 886


Dinâ mica da Acidez no Sistema .. 886
Aplicação Superficial de Calcá rio 888
Respostas das Culturas 889
Efeito em Profundidade 890
Estratégias de Calagem 891
Uso do Gesso em Plantio Direto .. 893

,* »

SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V ., V.H., BARROS,
N.F., FONTES, R .LF., CANTARUTTI, R.B. & NEVES, J .C.L. ).
874 IBANOR ANGHINONI

MATÉ RIA ORG Â NICA E ADUBAÇÃO NITROGENADA 894


Manejo do Solo e de Culturas e Acú mulo de Maté ria Orgânica no Solo 894
Acú mulo de Maté ria Orgâ nica e Transformações no Sistema Solo 898
Decomposiçã o de Resíduos de Culturas no Solo e Aduba çã o Nitrogenada 900
Aplica ção Antecipada de Nitrogé nio 902
Perdas de Nitrogénio 904
Estratégias da Aduba çã o Nitrogenada 904

RECOMENDAÇÕ ES DE ADUBAÇÃO COM OUTROS NUTRIENTES 907


Aduba çã o Fosfatada e Pot ássica 907
Dinâ mica e Disponibilidade de Fósforo 907
Dinâ mica e Disponibilidade de Potássio 913
Estrat égias da Aduba çã o Fosfatada e Potássica 915
Aduba çã o com Enxofre v 916
Dinâ mica e Disponibilidade de Enxofre 916
Estraté gias da Aduba çã o com Enxofre 916
Aduba çã o com Micronutrientes 916
Dinâ mica e Disponibilidade dos Micronutrientes 916
Estratégias da Adubaçã o com Micronutrientes 918

A FERTILIDADE DO SISTEMA SOLO 918

AGRADECIMENTOS 919
LITERATURA CITADA .919

INTRODUÇÃ O

A semeadura direta, sem nenhum preparo ou mobiliza çã o do solo, que surgiu como
uma simples técnica de manejo com o objetivo básico de controle da erosã o hídrica do
solo, evoluiu para um sistema complexo e ordenado de produção agrícola, denominado,
no Brasil, de sistema plantio direto. A sua adoçã o nos agroecossistemas tropicais e
subtropicais, em substituição à prá tica de agricultura em terra "nua", tem-se caracterizado
como um investimento na preservação dos recursos naturais e sócio-econômicos (Muzilli,
2000; 2002). Sob a ó tica sisté mica, o plantio direto combina prá ticas biológico-culturais
com prá ticas mecâ nico-químicas, pressupondo alguns requisitos básicos que envolvem
a condiçã o prévia do terreno, o nã o-revolvimento do solo, o uso de rotaçã o de culturas e
a adoção de métodos integrados de controle de plantas invasoras, de pragas e de doenças.
As primeiras tentativas de adoçã o desse sistema no Brasil ocorreram na regiã o Sul,
no início da d écada de 70. Após um per íodo de desenvolvimento pouco expressivo,
decorrente de dificuldades iniciais relacionadas com a pouca eficiência das semeadoras
disponíveis, compactação do solo, controle de plantas invasoras e controle fitossanitá rio,
houve uma grande expansão de á rea a partir do início da década de 90. A á rea, atualmente
cultivada no sistema plantio direto no Brasil, é maior que 25 milhões de hectares
(FEBRAPDP, 2007), ocupando o segundo lugar no mundo, superada apenas pelos Estados
Unidos (EUA).

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 875

Em paralelo à evoluçã o do sistema plantio direto, tanto na soluçã o dos problemas


iniciais como no aumento da sua ado çã o pelos produtores, começaram a surgir
questionamentos sobre o manejo da fertilidade do solo, tendo em vista a diferente
dinâ mica dos processos de transformaçã o e ac úmulo da matéria orgâ nica e da ciclagem
dos nutrientes. Inicialmente, o entendimento desses processos era incipiente e as
recomenda ções sobre o manejo de corretivos e de fertilizantes eram efetuadas com base
nos critérios adotados para o preparo convencional que, na maioria das vezes, eram
insatisfatórios (Sá , 1999). Com o passar do tempo, especialmente na segunda metade da
d écada de 90, os trabalhos de pesquisa referentes ao ac ú mulo da matéria orgâ nica no
solo, à mineraliza çã o dos resíduos das culturas em rota çã o, à calagem na superf ície, ao
modo de aplica çã o dos adubos, à distribuiçã o dos nutrientes no perfil e à variabilidade
dos atributos de fertilidade no solo, começaram a fornecer crité rios mais adequados à s
características e propriedades do solo no sistema plantio direto.
Procurou-se apresentar, inicialmente, a evoluçã o do sistema plantio direto no Brasil
e, na sequ ência , complementar o que foi apresentado em capítulos anteriores desta
publicaçã o, enfatizando aspectos relacionados com a Fertilidade do Solo em sistema
plantio direto.

CARACTER Í STICAS E EVOLUÇÃ O DO SISTEMA


PLANTIO DIRETO

Aspectos Históricos e Conceituais

A primeira mençã o a respeito do plantio direto surgiu na década de 30, nos EUA, em
decorrência das tempestades de poeira, que levaram Edward H. Faulkner a afirmar que
" ninguém at é hoje ofereceu raz ão cient ífica para arar o solo" ( Baker et al., 1996). O plantio
direto, como forma de manejo do solo, surgiu na década de 40, na Estaçã o Experimental
de Rothamsted, na Inglaterra (Koronka, 1973), ao ser constatado que as plantas podiam
crescer satisfatoriamente sem o preparo do solo, desde que não houvesse competiçã o
com invasoras. Uma das principais razões para arar e gradear o solo era, então, controlar
as plantas invasoras.
O preceito de Faulkner, sobre a inexistência de razões para arar o solo, não tardou a
ter influência nos processos de preparo do solo. Os primeiros estudos em plantio direto,
já na d écada de 50, foram desenvolvidos nos EUA, em decorrência do surgimento dos
herbicidas, que foram desenvolvidos durante e logo após a Segunda Guerra Mundial. A
utilizaçã o do plantio direto por parte dos agricultores daquele País ocorreu na década
de 60, na cultura do milho (Phillips & Young, 1973). Essa forma de manejo do solo
tornou -se viá vel e pr á tica, graças ao desenvolvimento dos herbicidas de contato nã o
residuais, comercializados a partir de 1961 (Koronka, 1973).
O plantio direto é conhecido por vá rias expressões em diversos idiomas. No seu
início, na Inglaterra, foi denominado direct -árilling , també m atualmente conhecido, em

FERTILIDADE DO SOLO
876 IBANOR ANGHINONI

inglês, como direct - seeding , no- tillage , no-till , zero-tillage, sod - planting , sod - seeding , direct -
planting , Chemical ploughing e residue farming ( Baker et al., 1996 ) e, mais recentemente,
também como sustainable farming , por suas caracter ísticas gerais de preserva çã o dos
recursos naturais. Em alemã o, é conhecido como: direktsaat e fesbodenmulkchwirtschaft
(Ehlers & Claupein, 1992 ); em espanhol: cero labranza e siembra directa; e, em português
como: sem preparo , preparo nulo , semeadura direta , plantio direto , plantio direto na palha e
agricultura conservacionista ou sustent ável .
Uma grande mudança ocorreu quando o plantio direto passou de uma simples opção
de controlar a erosã o para um sistema ordenado de prá ticas agr ícolas interligadas e
altamente dependentes entre si: sistema plantio direto. No Brasil, embora tenha havido
alguma discussã o sobre a adequa çã o do termo entre os pesquisadores, foi adotada a
expressã o sistema plantio direto para a sua denomina çã o (Curi et al., 1993). Considerando
que este sistema permite melhorar a capacidade produtiva do solo, evitando a erosã o e
aumentando o teor de matéria orgâ nica, ele també m poderia ser chamado de agricultura
regenerativa , quando forem utilizadas todas as boas pr á ticas que permitem sua
consolida çã o. Instituições internacionais, como o Banco Mundial e a FAO, estã o
assumindo a tecnologia do plantio direto como bandeira da agricultura do III milénio,
elevando-o à categoria de uma verdadeira "Revoluçã o Azul", por causa de suas amplas
e favorá veis implica ções ambientais, produzindo alimentos para a humanidade e
preservando os recursos naturais para futuras gera ções (Bartz, 2001) .

Evolução do Plantio Direto no Brasil

No Brasil, o plantio direto surgiu na regiã o Sul, quase que simultaneamente nos
Estados do Paraná (1972) e do Rio Grande do Sul (1973) . Nessa ocasiã o, enquanto o Sr.
Herbert Arnold Bartz, considerado o pioneiro no Pa ís, já o introduzia em 220 ha de sua
propriedade na regiã o dos Campos Gerais, no Estado do Paraná , o Instituto Agronómico
do Paraná ( IAPAR ) e a Embrapa Trigo ( RS) iniciavam as primeiras pesquisas. Estas
pesquisas foram bastante intensificadas a partir de 1973, com o trabalho de parceria
dessas instituições com a empresa privada inglesa ICI ( Imperial Chemical Industries),
que visava ao controle de plantas invasoras com a combinaçã o de herbicidas residuais e
nã o-residuais e a utiliza çã o da semeadora FNI ( Rotacaster ); em que os elementos
rompedores desta eram constituídos por enxadas rotativas acopladas a um eixo fixo.
Essa semeadora, no entanto, apresentava muitos problemas de semeadura e de
distribuição de adubos. A primeira lavoura comercial no Rio Grande do Sul foi instalada
pelo produtor José Carlos da Veiga Mello, em 1974, na região das Missões (Wiethõlter, 2000).
A adoçã o do sistema plantio direto foi lenta nas d écadas de 1970 e 1980. Os
principais problemas que restringiam o seu avanço eram o desconhecimento do seu
manejo e a resistência , por parte de técnicos e de produtores, às mudanças de conceitos
e de atitudes. Dentre os entraves tecnológicos, destacavam-se a inexistência de máquinas
para semeadura em solo nã o preparado e coberto de palha, a dificuldade de controle das
invasoras, o alto custo dos herbicidas e as incertezas a respeito do manejo da calagem e
da adubação.

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 877

Na regi ã o de Cerrado, a sustentabilidade do sistema era dificultada pela baixa


forma çã o de palhada em virtude dos longos per íodos secos. Vá rias op ções foram
desenvolvidas com sucesso pelo uso das seguintes combina ções: (a ) milho na rotaçã o,
(b ) safrinha de milho; (c) rota çã o com pastagem, e ( d ) cobertura verde permanente. De
fato, nã o existe uma forma única de manejo que seja adequada às diferentes condições de
Cerrado; o modelo a ser adotado deve ser desenvolvido em cada região e vai depender da
distâ ncia dos mercados consumidores, do regime climá tico, favorá vel ou nã o à safrinha,
e da viabilidade da irriga çã o (Sá et al ., 2004b ).
No entanto, com o passar do tempo, verificou-se, nas mais variadas condições c
regiões do País, que a erosão poderia ser reduzida drasticamente, sendo possível o controle
adequado das invasoras sem a necessidade de uso de herbicidas; foram també m
desenvolvidas semeadoras nacionais, predominantemente do tipo duplo disco defasado,
capazes de realizar eficientemente a semeadura e a aplica çã o de fertilizantes em solos
cobertos de palha . Por fim, gra ças ao menor custo do sistema, o plantio direto passou a
ser adotado em larga escala: a partir do início da década de 1990, na regiã o Sul; a partir
da metade dessa d écada, na regiã o de Cerrado, e a partir do início da primeira década do
século XXI, nas demais regiões do Pa ís (Figura 1) . Na safra 2005 / 06, a á rea em plantio
direto no Pa ís foi de, aproximadamente, 25 milhões de hectares, com a regiã o Sul com
cerca de 10,5 milhões de ha e a de Cerrado com cerca de 11,5 milhões de ha (FEBRAPDP,
2006 ); a regiã o Sul apresenta tend ência de estabiliza ção, por estar próxima ao limite da
fronteira agrícola, enquanto, nas demais (Cerrado e outros Estados ), o sistema encontra -
se ainda em franca expansã o ( Figura 1). Atualmente, o Brasil é o Pa ís de clima tropical e
subtropical de maior á rea de plantio nesse sistema, sendo superado apenas pelos EUA.

J
Figura 1. Evoluçã o da á rea cultivada no sistema plantio direto em diferentes regiões do Brasil.
Fonte : FEBRAPDP ( 2006 ) .

I
I FERTILIDADE DO SOLO
878 IBANOR ANGHINONI

Vencida a primeira etapa , o desafio foi de solucionar os problemas de segunda


gera çã o ao desenvolvimento do plantio direto. Sã o eles: (a ) o incremento de doenças e de
invasoras de dif ícil controle; (b) a pouca durabilidade das semeadoras e seu desempenho
deficiente em palha pesada e solos úmidos; (c) a falta de programas formais de capacitação
de mão-de-obra e de treinamento para técnicos; (d ) a necessidade de melhoria de técnicas
de sobressemeadura em pastagens; e (e) a falta de conhecimento sobre o controle
económico de pragas, como lesmas, percevejos, corós, formigas, cupins e tatus e de outras
pragas novas com prá ticas de manejo baseadas nas suas epidemiologias (Landers, 1997).

Caracterí sticas do Sistema com Ênfase naquelas Relacionadas com a


Fertilidade do Solo
Para a sua viabilizaçã o técnica e econó mica, o plantio direto deve ser visto como um
sistema de produçã o que abrange um complexo ordenado de pr á ticas agrícolas inter-
relacionadas e interdependentes, que incluem o nã o-revolvimento do solo, a rota çã o de
culturas, o uso de plantas de cobertura para formar e manter a palhada sobre o solo e,
mais recentemente, a integração lavoura -pecuá ria (Muzzili, 2000). Nesta visã o de sistema,
ocorre uma integra çã o de prá ticas agrícolas, culturais e biológicas, a saber: a utilizaçã o
de agroquímicos com prá ticas culturais no manejo de plantas de cobertura em solo não
mobilizado com resíduos na superf ície e o cultivo de espécies com diferentes exigências
nutricionais e produções de fitomassa, radicular e a érea, na rota çã o de culturas.
A ausência do revolvimento e a adiçã o de resíduos das culturas provocam um fluxo
contínuo de C no solo, alimentando os seus diferentes compartimentos (ativo e lento) e os
processos de ( re)agregaçã o do solo, originando estruturas mais está veis. Nesse processo,
ocorre aumento da atividade biológica, com manutençã o de sua diversidade, aumentando
o teor de matéria orgâ nica, a ciclagem e armazenamento de nutrientes, com a manutençã o
do ciclo hidrológico e crescimento da capacidade produtiva do solo . Embora ocorra
ocasionalmente a compacta çã o superficial do solo pelo tr á fego de m á quinas e animais,
os efeitos da utiliza çã o continuada desse sistema de manejo de solo nas características
f ísicas, químicas e biológicas sã o muito favor á veis à produtividade dos agrossistemas.
O acú mulo de matéria orgâ nica nesse sistema torna o solo um importante dreno de C02
da atmosfera e contribui para a mitiga çã o do efeito desse gá s no aquecimento global (Sá
et al„ 2001b, 2004b ).
As características do manejo dos solos e das culturas no sistema plantio direto
provocam diferentes altera ções no perfil do solo com relaçã o ao cultivo convencional,
que influem na din â mica da acidez e da disponibilidade dos nutrientes e, por
consequência, no manejo da fertilidade do solo. Assim, ocorre um aumento do teor e da
qualidade da matéria orgâ nica e da concentraçã o dos nutrientes a partir da superf ície do
solo (Figura 2). O aumento gradual da matéria orgâ nica altera o pH do solo, a toxidez
por AI e a dinâ mica dos nutrientes. A aplica çã o superficial de adubos e de calcá rio
provoca a forma çã o imediata de gradientes no perfil do solo, que evoluem no tempo, e
cuja taxa depende, além da dose aplicada , da mobilidade dos nutrientes no solo.
Mesmo que a adoção do plantio direto tenha sido feita após a correçã o da acidez e
da fertilidade na camada arável, normalmente de 0-20 cm, com revolvimento do solo, a
reaplica çã o de calcá rio, na superf ície do solo, e a aduba ção sucessiva das culturas, a

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 879

lanço na superf ície ou na linha de semeadura , afetar ã o predominantemente a camada


superficial (0-5 cm ) do solo . O processo natural de acidifica çã o do solo, que ocorre no
tempo (Figura 2b), é intensificado pela deposiçã o dos resíduos e pela aplicaçã o de adubos
nitrogenados ( uréia e sulfato de amónio ) na superf ície do solo.

Figura 2. Distribuiçã o de características químicas no perfil de um Argissolo com o tempo de


cultivo no sistema plantio direto: ( a ) maté ria orgâ nica; ( b ) pH em á gua; (c ) f ósforo
disponível (Mehlich-1); (d ) potássio disponível (Mehlich-1); (e) soma de bases trocá veis; e
(f ) capacidade de troca de cá tions.
Fonte: Medeiros (1985); Bayer (1992); Bayer & Mielniczuk (1997a ); Lovato (2001); Zanatta (2005, Comunicação pessoal).

FERTILIDADE DO SOLO
880 IBANOR ANGHINONI

Essa altera çã o gradual, em profundidade, dos indicadores de fertilidade do solo


com o tempo de instala çã o do sistema plantio direto dificulta a escolha da camada de
solo que melhor reflete as condições de sua fertilidade (camada a ser amostrada ).
Dependendo da fase de evoluçã o do sistema, a amostragem tradicional, de 0-20 cm,
poderá nã o ser a mais apropriada .

AMOSTRAGEM DO SOLO

Os procedimentos de coleta de amostras de solo para fins de recomenda ções de


aduba çã o e de calagem, elaboradas regionalmente, consideram o tipo e a magnitude da
variabilidade das caracter ísticas de fertilidade do solo. As bases estatísticas e os
procedimentos de coleta de amostra representativa sã o discutidos e apresentados no
capítulo XIII.
No sistema plantio direto, a variabilidade das características químicas do solo,
especialmente de P disponível, é maior do que no preparo convencional, tanto no sentido
horizontal (Quadro 1) como em profundidade no perfil do solo (Figura 2) . Como as
características de fertilidade sã o alteradas, em sua magnitude e distribuiçã o no solo,
com o manejo e os cultivos no sistema plantio direto, a utiliza çã o dos procedimentos de
amostragem de solo recomendados para o sistema convencional de cultivo poderá resultar
na coleta de amostras nã o-representativas do estado de fertilidade do solo no sistema
plantio direto. Por isso, é necessá rio o estabelecimento de procedimentos de coleta de
amostras de solos para fins de recomenda çã o de aduba çã o e de calagem no sistema
plantio direto que levem em considera çã o esses dois tipos de variação.

Quadro 1. Coeficiente de variaçã o de pot á ssio e de f ósforo disponíveis em solos com mais de
cinco anos em diferentes sistemas de cultivo e respectivo n ú mero de subamostras

Coeficiente de variação Número de amostra simples *1)

Autor Manejo do solo P Mehlich-1 K Mehlich-1 P Mehlich-1 K Mehlich-1

f = 10 % f = 20 % f = 10 % f = 20 %

Salet et ai . Convencional *2) 34 38 34 9 44 11


(1996 ) Plantio direto * 3 ) 76 34 170 43 34 9

Souza Convencional *4 ) 25 38 20 5 55 14
(1992) Plantio direto* 4) 32 35 50 13 45 11

> n = ( ta / rCV / f )2, em que CV é o coeficiente de variação (%), t é o valor da tabela de Student a 5 % de
(1

probabilidade de erro a e variação em torno da média (f ) de 20 %. (2 ) Amostragem ao acaso. <3 ) Amostragem


dirigida (uma amostra na linha e oito nas entrelinhas de soja) . (4 ) Amostragem sistemá tica (7 x 7 m ).

FERTILIDADE DO SOLO

i
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 881

Variabilidade Horizontal e Amostragem Representativa do Solo


Embora as recomenda ções de coleta de amostras de solo no preparo convencional
sejam de amplo domínio, nã o se sabe qual foi a probabilidade de erro adotada para
determinar o n úmero de subamostras e, assim, conferir o grau de confiabilidade na amostra
coletada . Além disso, os limites de infer ência estatística (Quadro 1) nã o devem exceder
as varia ções observadas no controle de qualidade das análises de solos da regiã o
considerada . Assim, tomando como referência o P disponível, que apresenta a maior
variabilidade, mesmo ao considerar os requisitos de inferência estatística de probabilidade
de erro de 5 % ( erro a ) e varia çã o em rela çã o à média de 20 % ( valor f ), o nú mero de
subamostras, para a coleta de amostra representativa com os trados de rosca (ou calador )
no sistema plantio direto, é maior do que 20 subamostras, o valor superior do intervalo
recomendado ( n entre 10 a 20, em média 15 subamostras ), como verificado nos trabalhos
de Salet et al. (1996) e de Schlindwein & Anghinoni (2000a; 2002) .
As principais causas da maior variabilidade horizontal dos índices de fertilidade
no sistema plantio direto devem-se, principalmente, às aplica ções localizadas, no sulco
de semeadura ou em superf ície, dos adubos e corretivos e ao não-revolvimento do solo. A
aduba çã o localizada mantém uma a çã o residual prolongada, especialmente para os
nutrientes pouco m óveis no solo, como o P ( Figura 3a ) , em que se destacam as linhas de
aduba çã o na semeadura do trigo e, no monólito 10, a linha de aduba çã o na cultura do
milho cultivado anteriormente.

Figura 3. Variabilidade de f ósforo ( Mehlich-1) (a ) e de potá ssio (Mehlich-1) ( b ) na direçã o


perpendicular às linhas de aduba çã o na camada de 0-10 cm em lavouras de trigo, no
sistema plantio direto por oito anos . (O monólito 10 corresponde à linha de semeadura do
milho cultivado antes do trigo).
Fonte: Kray et al . (1998 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
882 IBANOR ANGHINONI

Variabilidade Vertical e Estado de Fertilidade do Solo


A forma çã o de gradientes de matéria orgâ nica e das características qu ímicas a partir
da superf ície do solo, que prossegue com o tempo de cultivo no sistema plantio direto
(Figura 2), gera dificuldade para estabelecer procedimentos de coleta de amostras
representativas do estado de fertilidade. Para Sá (1993), no plantio direto deixa de existir a
camada arável , dando lugar à outra enriquecida com resíduos orgâ nicos , alterando a dinâ mica da
matéria org ânica do solo e a ciclagem de nutrientes .
Assim, a amostragem na camada de 0-20 cm, recomendada para culturas anuais no
sistema convencional de cultivo, dependendo da fase em que se encontra, pode nã o ser
adequada ao sistema plantio direto. A mistura da camada de 0-5 cm, com teor muito
elevado de P disponível, por exemplo, com a camada inferior de 5-20 cm, com teor muito
baixo, pode resultar em grande reduçã o de teores de P, comparados com os valores
ponderados da aná lise separada das camadas de solo ( Anghinoni & Salet, 1998a ). Este
decréscimo ocorre tanto pelo efeito de diluiçã o, como pelas rea ções de adsor çã o de P,
mais intensas em solos com maiores teores de óxidos e hidróxidos de Fe e de AI e em
presença de gradiente textural .
Com base em trabalhos de ajuste da profundidade de amostragem no sistema plantio
direto em rela çã o ao convencional (Petrere et al., 1996; Schlindwein & Anghinoni, 2000b )
a Comissã o de Fertilidade de Solo do Núcleo Regional Sul da SBCS (CFS RS / SC) passou
a recomendar, a partir de 1997, a camada de 0-10 cm para a amostragem do solo no
sistema plantio direto e, entã o, efetuar o enquadramento nas faixas de interpretação nas
tabelas e verificar a recomenda çã o para a cultura de interesse. Essa decisã o teve também
suporte no trabalho de Sá (1999 ), em que as correla ções dos valores de aná lise do solo
por dois m é todos (Mehlich-1 e Resina ) com um conjunto de determinações na planta
( teor de P na folha índice, na matéria seca e no gr ã os e rendimento de milho), foram
superiores para a camada de 0-10 cm do que de 0-20 e 10-20 cm em Latossolo Vermelho
distr ófico há 13 anos em plantio direto.
Recentemente, foi verificado, na análise de 18 experimentos de calibra çã o no RS
(Schlindwein & Gianello, 2004), que os teores cr íticos de P e K sã o maiores na camada de
0-10 cm em solos sob plantio direto em rela çã o aos da camada de 0-20 cm, tanto no
sistema convencional como no direto. Esse fato indica a necessidade de intensificar a
pesquisa de calibra çã o das análises de solo no sistema plantio direto, especialmente em
sua fase consolidada .

Eficácia dos Amostradores de Solo


A adequa çã o de cada amostrador de solo (Capítulo XIII ) depende das condições
locais, tais como: o tipo de solo, o grau de compactação, o teor de umidade e o sistema de
cultivo. Embora os trados de rosca e calador (sonda ) sejam os de uso mais f ácil, podem
não ser adequados para o sistema plantio direto. Alé m da necessidade de coletar grande
n ú mero de subamostras (Quadro 2 ), ocorre com o uso do trado de rosca, especialmente
em solos secos, perda da camada superficial (de 1 a 2 cm ), resultando em valores de
matéria orgâ nica e de nutrientes até 30 % menores, acarretando erros na recomendação de
adubaçã o. O mesmo pode ocorrer com o trado holandês ( Nicolodi et al., 2000) .

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 883

Quadro 2. Coeficiente de varia çao e n ú mero de subamostras a serem coletadas por diferentes
equipamentos em lavouras no sistema plantio direto com diferentes modos de aduba çã o

Modo de aduba ç ao Equipamento de coleta Coeficiente de varia çã o N ú mero de subamostras *1)

%
Lan ço *2 ) Trado de rosca 47 23
Pá de corte*4 ) 33 11

Linha *3) Trado de rosca 67 46


Pá de corte*5) 33 11

(1 )
n = ( t a / 2.CV / f ) 2, em
que CV é o coeficiente de varia çã o ( % ), t é o valor da tabela de Student a 5 % de
probabilidade de erro a e f é a varia çã o em torno da m é dia de 20 %. (2) Nove anos. (3) Doze anos. ( 4 ) 5 x 10 cm .
í5) 5 cm x largura da entrelinha .

Fonte : Schlindwein & Anghinoni ( 2002 ) .

Diante disso, a pá de corte é a mais indicada para a amostragem de solo no sistema


plantio direto (CQFS RS / SC, 2004), tanto em á reas com adubaçã o em linha como a lanço,,
desde que utilizada da forma apresentada na figura 4. Dessa forma, o n úmero de 10 a
20 subamostras a serem coletadas (Quadro 2), levando em considera ção os requisitos de
inferência estatística especificados anteriormente (a = 5 % e / = 20 % ), nã o difere daquele
recomendado para o sistema convencional ( veja capítulo XIII ), uma vez que o sítio de
coleta é representativo da á rea circunvizinha .
Recentemente, têm sido utilizados amostradores automatizados, com o objetivo de
facilitar a coleta de amostras de solo. Nesses equipamentos, um braço hidrá ulico insere
o dispositivo de coleta no solo, podendo ser acoplado a um pequeno veículo automotor
para a retirada sistematizada de amostras de solo para a agricultura de precisão. Pode
ser também utilizado um trado de rosca acoplado a uma furadeira movida a bateria,
própria ou conectada à de um veículo. Neste equipamento, a parte perfuradora ( rosca )
deve ser ajustada a um receptáculo para evitar a perda do solo superficial. Uma vantagem
importante desse equipamento é a facilidade de coleta de amostras, especialmente em
condições de solo seco, em que os outros amostradores apresentam maiores dificuldades
I
de utiliza çã o.

Camada do Solo a Ser Amostrada


A amostragem de solo em sistema plantio direto nos Estados do Rio Grande do Sul
e de Santa Catarina é recomendada na camada de 0-10 cm (CQFS-RS / SC, 2004). Em
todas as outras regiões do Brasil, a camada a ser amostrada nesse sistema é a mesma do
sistema convencional ( 0-20 cm ), independentemente da fase (de instala çã o ou
consolidada ) em que o solo se encontra. Nesses dois Estados, a recomenda çã o de coleta
de amostra na camada de 0-20 cm é mantida para a instalação do sistema plantio direto
com mobiliza ção de solo. No campo natural ou no plantio direto consolidado (> 5 anos),
a camada a ser amostrada também é de 0-10 cm (CQFS RS / SC, 2004).

FERTILIDADE DO SOLO
884 IBANOR ANGHINONI

Procedimentos de Coleta de Amostras de Solo


V

A semelhança do sistema convencional de cultivo, a primeira fase da amostragem


consiste em dividir a propriedade em glebas uniformes, considerando o tipo de solo, a
topografia, a vegetação e o histó rico de utiliza çã o (Capítulo XIII). Como apresentado no
item anterior, a pá de corte é recomendada como o amostrador-padrão no sistema plantio
direto pela CQFS RS / SC (2004 ). O procedimento de coleta, no entanto, difere conforme o
tipo dominante de aduba çã o: a lanço ou em linha .

Em Lavouras Adubadas a Lanç o


Coletar com pá de corte, ao acaso, 10 a 20 subamostras, retirando-se, na cova em
forma de cunha, uma fatia central com 3-5 cm de espessura e 7-10 cm de largura . Os
trados caneca e fatiador ( modelo australiano) também podem ser utilizados.

Em Lavouras Adubadas em Linha


O procedimento para a coleta consiste em: (a ) localizar na lavoura as linhas de
aduba ção; (b) remover da superf ície a vegetaçã o, as folhas, os ramos e as pedras; (c) cavar
uma pequena trincheira (cova ) (Figura 4), com a largura correspondente ao espaçamento
entre as linhas do ú ltimo cultivo, tendo-se o cuidado de que a linha em que foi aplicado
o adubo esteja localizada na parte mediana dessa cova ( recomenda -se efetuar a
amostragem preferencialmente nas culturas de menor espaçamento, como trigo, cevada
ou soja ); (d ) cortar com a pá uma fatia de 3-5 cm de espessura em toda a parede da cova,
na camada de 0-20 cm de profundidade na fase de instala çã o, e de 0-10 cm na fase
consolidada do sistema plantio direto (a fatia deve ser de espessura uniforme); (e) colocar a
amostra de solo em um balde de ± 20 L; (f ) repetir o mesmo procedimento em aproximadamente
15 pontos na á rea homogénea por amostrar; (g) espalhar o solo sobre uma lona plástica
limpa, se o balde for insuficiente, e homogeneizar muito bem ( umedecer um pouco se o
solo apresentar muitos torrões ), e ( h ) retirar 0,5 kg do solo, colocar em saco plástico
limpo, etiquetar, preencher o formulá rio de informações e remeter a amostra ao laboratório.
A utilizaçã o desse procedimento em culturas de grande espaçamento entrelinhas
( milho, por exemplo) requer a coleta de um volume grande de solo, dificultando a
homogeneiza ção das subamostras. Nesse caso, homogeneizar a subamostra do primeiro
ponto em um balde (ou outro recipiente adequado), retirar uma porçã o de solo ( ± 300 g)
e colocar em um segundo balde (Figura 4) . Repetir o procedimento nos demais pontos de
coleta . Assim , a coleta de 15 subamostras por esse procedimento totaliza
aproximadamente 4,5 kg de solo, que devem ser convenientemente homogeneizados,
retirando-se 1/ 2 kg para ser enviado ao laboratório.
a. Procedimentos alternativos de coleta em áreas de plantio direto com adubação
em linha
A coleta de amostras de solo com pá de corte é bastante trabalhosa, principalmente
em culturas de maior espa çamento entre as linhas, quando é manuseado um grande
volume de solo. Em vista disso, são apresentados dois procedimentos que utilizam o
trado calador ou de rosca para a coleta das amostras de solo.

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 885

Figura 4. Amostragem de solo em lavoura em plantio direto com aduba çã o anterior em linha .
Fonte: CQFS RS / SC ( 2004) .

a.l. Coleta transversal às linhas de aduba çã o


Neste procedimento, cada subamostra é composta por um ponto sobre a linha de
adubaçã o e v á rios pontos situados, lateral e transversalmente às linhas de adubação, em
n úmero variá vel, conforme a distâ ncia entre as linhas (Figura 4). Para culturas de
pequeno espa çamento (15-20 cm ) entrelinhas (por exemplo, trigo, cevada, aveia, etc.):
coletar um ponto na linha de aduba ção mais um ponto em cada lado, totalizando três
pontos de coleta para cada subamostra . Para culturas com espa çamento médio (40-
50 cm) de entrelinhas (por exemplo, a soja ), coletar um ponto na linha de aduba ção mais
três pontos de cada lado, totalizando sete pontos de coleta para cada subamostra. Para
culturas com espa çamento maior (60-80 cm ) de entrelinhas (por exemplo, milho), coletar
um ponto na linha de aduba çã o mais seis pontos de cada lado, totalizando treze pontos
de coleta para cada subamostra.
O nú mero de subamostras (locais) necessá rias para formar a amostra composta por
gleba uniforme da lavoura é também de 10-20 (15 em média ). No procedimento proposto
por Nicolodi et al. ( 2002), o trado calador pode ser substituído pelo trado-de-rosca
acoplado a uma furadeira movida à bateria com um dispositivo que evite a perda da
camada superficial de solo.
a.2. Coleta nas entrelinhas de adubaçã o
Neste procedimento, as subamostras são coletadas nas entrelinhas de adubação da
cultura anterior ou da cultura em desenvolvimento. Com isso, a variabilidade das
características de fertilidade é menor , podendo ser utilizados os procedimentos

FERTILIDADE DO SOLO
886 IBANOR AIMGHINONI

recomendados para o preparo convencional ou cultivo m ínimo (Capítulo XIII), ou seja: a


retirada de 10 a 20 subamostras por á rea homogénea, com amostradores que nã o percam
a camada superficial (1-2 cm ) de solo. Por nã o considerar o efeito da última adubaçã o,
este procedimento pode subestimar os teores de nutrientes no solo e superestimar a
aduba çã o, principalmente para as faixas de teores "Muito baixo" e "Baixa ". Isso
provavelmente não resultará em aduba ções maiores do que as adequadas ao crescimento
e desenvolvimento das culturas, quando os teores se enquadram nas faixas "Alta" e
"Muito alta ".

ACIDEZ E CALAGEM

Dinâmica da Acidez no Sistema

A decomposição de resíduos das culturas (grupos carboxílicos e fenólicos), a reaçã o


dos adubos nitrogenados ( processo de nitrifica çã o ) e a exporta çã o de bases pelos gr ã os
na colheita sã o os principais fatores que provocam a acidez do solo no sistema plantio
direto. A dinâ mica da acidez, neste sistema , diferencia -se do sistema convencional de
cultivo, por sua a çã o a partir da superf ície do solo pela deposiçã o dos resíduos das
culturas, formando uma 'frente de acidifica çã o'.
Outra característica do sistema plantio direto é o aumento gradual do teor de matéria
orgâ nica com o tempo de cultivo, também a partir da superf ície do solo (Figura 2a ). O
aumento de matéria orgâ nica, tanto em qualidade como em quantidade, reduz os efeitos
nocivos da acidez do solo e da toxidez por Al. Assim, rendimentos elevados das culturas
têm sido obtidos em condições de acidez elevada nesse sistema de manejo do solo, tanto
em experimentos (Pottker & Ben, 1998; Caires et al., 1998) como em lavouras ( Anghinoni
& Salet, 2000).
A redu çã o da acidez e a diminuiçã o da toxidez por Al resultam da açã o contínua da
decomposiçã o dos resíduos, pela liberaçã o de á cidos orgâ nicos de baixo peso molecular
(cítrico, oxálico, málico, aconítico e fumá rico, entre outros) das culturas na superf ície do
solo (Miyazawa et al., 1993; Franchini et al., 1999; Miyazawa et al., 2000). Conforme
Miyazawa et al. ( 2000), a capacidade dos vegetais em reduzir a acidez do solo ( Figura 5)
aumenta com os teores de cá tions de rea çã o bá sica e de C orgâ nico sol ú vel, que,
normalmente, sã o maiores em resíduos de adubos verdes do que em culturas comerciais.
Um aspecto interessante em rela çã o às rea ções dos resíduos vegetais é sua natureza
anf ó tera, que faz com que ocorra um aumento do pH em solos á cidos e sua diminuiçã o
em solos alcalinos, tendendo a um valor pr óximo ao pKa médio da mistura de diferentes
compostos orgâ nicos. Como consequência da açã o desses resíduos em solos ácidos,
ocorre menor concentraçã o das espécies de Al consideradas tóxicas e maior concentração
de Al complexado com ligantes orgâ nicos (Quadro 3) e, consequentemente, menor toxidez
às plantas (Anghinoni & Salet, 1998b ). O Al também pode formar complexos com ácidos
f úlvicos na soluçã o do solo (Quadro 4), inclusive em maior proporção em relaçã o aos
ácidos de baixo peso molecular no sistema plantio direto.

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 887

A complexação de AI com ácidos orgânicos estáveis (ácidos h ú micos) também ocorre


com maior intensidade na superf ície dos colóides do solo (complexos de esfera interna )
em plantio direto (Quadro 5). Neste caso, o extrator KC11 mol L 1 não tem capacidade de
"

remover o AI complexado, resultando em teores baixos de AI trocàvel em pH também


baixo (Salet et al., 1998).

Figura 5. Capacidade dos resíduos vegetais em (a ) neutralizar a acidez da solução de HC1 e (b )


a acidez potencial do solo.
Fonte : Miyazawa et al . (2000 ) .

Quadro 3. Espécies e atividade de alumínio na solução de um Latossolo Vermelho distrófico,


considerando o sistema de manejo do solo

Manejo do solo
Espécie/atividade
*
Convencional Plantio direto

%
Al 3+ 4,0 2,5
Al (OH ) 2+ 1,6 1,6
Al (OH )2+ 42,0 25,0
Al (OH ) 3 1,3 0,7
Al (OH ) 4 + < 0,1 < 0,1
AISO4 + 0,6 0,2
AIH2PO42 + < 0,1 . < 0,1
Al -ligantes orgânicos 49,0 70,0
Atividade de AI (mol L 1) *
1,0 x 10-5 1,0 x 10*

Fonte: Salet et al . (1999 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
888 IBANOR ANGHINONI

Quadro 4. Alum ínio complexado na solu çã o do solo por á cidos org â nicos de alta massa
molecular ( á cidos f ú lvivos) estimado por diferentes mé todos

Sistema de cultivo
M é todo de separa çã o Solo Tempo de cultivo
Convencional Plantio direto

Ultrafiltragem LVafO ) 14 25 68
LVd 3 ( 2 ) 8 34 61

Membrana de di á lise LVaf ( D 14 15 56


LVd 3 ( 2 ) 8 28 63

(1 ) (2 )
Latossolo Vermelho aluminof é rrico t ípico com rota çã o aveia / soja / ervilhaca / milho. Latossolo Vermelho
distr ófico t ípico com rota çã o cevada / soja / ervilhaca / sorgo.
Fonte : Salet (1998) .

_
Quadro 5. Teores de alumínio extra ído com KC1 (1 mol L 1 ) em diferentes solos e sistemas de
manejo do solo

Latossolo Vermelho aluminof érrico - 8 anos Latossolo Vermelho distr ófico - 11 anos
Manejo do solo
pH -á gua AI tr ò c pH - á gua AI troe

emole dm 3 *
cmolc dm-3
Convencional 5,0 0 ,92 5, 0 2,10
Plantio Direto 5,0 0, 44 4 ,9 1,80

Fonte : Salet et al. (1998).

A aplicação de P na linha de aduba çã o ou na superficície do solo em plantio direto


promove uma saturação dos sítios de adsorção desse nutriente, de maneira a permanecer
na forma disponível por mais tempo (Sá , 1999, 2004; Rheinheimer & Anghinoni, 2003;
Nolla, 2003). Podem-se formar, portanto, compostos de baixa solubilidade [ A1P04;
A1(0H) 2H2P04], que precipitam ( Raij, 1991; Novais & Smyth, 1999 ), de acordo com sua
atividade qu ímica, e, assim, contribuem para a inativaçã o de parte do Al3+ em soluçã o,
reduzindo sua toxidez para as plantas. Apesar da diminuiçã o da saturaçã o por Al pela
adiçã o de P (Quadro 6), nã o foi observada, no estudo de Nolla (2003), sobre especiaçã o
iônica, a forma ção desses precipitados, uma vez que houve formação de complexos do Al
com outros â nions, predominantemente na forma de Al-ácidos orgâ nicos, na condição
de maior acidez do solo.

Aplicação Superficial de Calcário


A aplicaçã o superficial de calcá rio, sem incorpora ção ao solo, está consolidada
como prá tica de uso generalizado de correçã o da acidez do solo no sisteína plantio

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 889

Quadro 6. Saturaçã o por alumínio e f ósforo disponível pela aplica çã o de doses de f ósforo em
um Latossolo Vermelho distr ófico com diferentes condições de acidez e cultivado por
sete anos no sistema plantio direto

pH do solo

P 2 O 5 aplicado 4,0 4,6 6,4

Sat AI P-Mehlich -1 Sat AI P-Mehlich -1 Sat AI P- Mehlich-1

kg ha % mg kg -1 % mg kg - % mg kg 1

0 76 28 30 30 0,07 29
40 48 44 26 50 0, 01 48
80 44 54 20 59 0,17 58

Fonte: Nolla ( 2003) .

i
direto . Essa pr á tica justifica -se pela manuten çã o das caracter ísticas f ísicas,
principalmente a agrega çã o, favor á veis à conserva çã o e à eleva çã o do nível de ordem
(complexidade ) do solo, obtidas ao longo do tempo ( Mielniczuk et al., 2003) .

Respostas das Culturas


Experimentos de m édia e longa dura çã o em plantio direto realizados no Sul do
Brasil comprovam a resposta das culturas à adiçã o superficial de calcá rio, como no Rio
Grande do Sul e Santa Catarina ( Pottker, 2000; Rheinheimer et al., 2000a; Petrere &
Anghinoni, 2001) e no Paraná (Sá, 1999; Caires, 2000). Um exemplo das respostas das
culturas é o resultado do trabalho de Pottker ( 2000 ) ( Figura 6 ) . Os aumentos nos
rendimentos de gr ã os das espécies utilizadas indicam a eficiência do calcá rio aplicado
na superf ície do solo. A cevada foi a cultura que apresentou as maiores respostas, em
decorr ência de sua alta sensibilidade à toxidez por Al. A produtividade das culturas
mantém-se elevada, e as respostas ocorrem lentamente em solos com acidez também
elevada, independentemente de ter sido o plantio direto iniciado a partir de lavouras no
sistema convencional ou de campo natural (Rheinheimer et al., 2000a; Pottker, 2000) .
Nessas condições, as respostas das culturas de soja, trigo, milho e aveia (Figura 6)
ocorreram somente até doses equivalentes a 1/ 2 SMP para pH 6,0. A partir dessas doses,
os rendimentos foram semelhantes tanto pela aplica ção superficial como na dose inteira
(1 SMP) incorporada ao solo. Os «resultados desse trabalho (Pottker, 2000 ) também
indicam que, no caso de pequena resposta obtida pela aplicaçã o de doses equivalentes
até 1 / 4 SMP, houve queda de rendimento a partir da quarta cultura na sucessã o, pelo
menor efeito residual do calcá rio.
A aplica ção superficial de calcá rio é viá vel, segundo Caires ( 2000), para a produçã o
de grãos em rotação no sistema plantio direto, uma vez que foram observados aumentos
de produtividade em até 43 % em solos á cidos da regiã o dos Campos Gerais do Paraná .
Apesar dos riscos que a aplicaçã o superficial de calcá rio pode acarretar (estresse
hídrico pelo crescimento superficial de ra ízes ), nã o foi observada diminuiçã o de
rendimento das culturas pela aplica çã o de até 10 t ha 1 de calcá rio no sul do Brasil. Isto,
'

i -
FERTILIDADE DO SOLO.
890 IBANOR ANGHINONI

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X
0
Passo Fundo Sarandi Passo Fundo Marau

Lavoura Campo nativo

Figura 6. Respostas das culturas à aplica çã o superficial de calcá rio em plantio direto a partir
de lavouras e de campo natural.
Fonte: Põ ttker (2000) .

pelas condições de clima e solo e pelos sistemas de cultivo, que favorecem a ação corretiva
do calcá rio no perfil do solo. A falta ou a pequena resposta das culturas, observadas em
solos sob plantio direto após longo tempo ( até 10 anos ) ao sistema plantio direto,
possibilitam concluir que o efeito residual do calcá rio é maior do que o observado no
sistema convencional.

Efeito em Profundidade
Os efeitos na neutraliza çã o da acidez ( reduçã o da toxidez de Al ) e no deslocamento
de cá tions de cará ter bá sico, no perfil do solo, decorrentes da aplica çã o de calcá rio na
superf ície, sã o detectados na subsuperf ície após períodos relativamente curtos no sistema
plantio direto. Esses efeitos ocorrem predominantemente até à profundidade de 10 cm,
mas também ocorrem na camada de 10-20 cm e na camada de 20-40 cm. A velocidade de
descida em que esses efeitos sã o observados depende da qualidade e dose de calcá rio i

aplicada, do tipo de solo, da aduba çã o, do sistema de rota çã o e de manejo dos resíduos


das culturas e do regime pluviom é trico. No Paran á, foi observado efeito at é à
profundidade de 10 cm, após doze meses, e até 20 cm, após 28 meses, em solo de textura
média (Caires, 2000). No Estado do Rio Grande do Sul, os efeitos da calagem superficial
nos indicadores de acidez ( pH em á gua, satura çã o por bases e por Al) sã o observados
predominantemente até à profundidade de 10 cm (Quadro 7), na média de cinco solos
(um arenoso, dois franco-argilosos e dois argilosos). Neste Estado, a camada de 0-10 cm
está sendo utilizada para o estabelecimento da dose de aplica çã o de calcá rio no sistema
plantio direto ou na sua instala çã o em campo natural com baixa acidez .
Os mecanismos responsá veis por esse rá pido deslocamento dos efeitos da calagem
superficial podem ser:
i

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 891

Quadro 7 Altera çã o de caracter ísticas de acidez do solo em profundidade pela calagem


superficial no sistema plantio direto

Satura ç ao
Autor Solo
Dose de Tempo da pH
calc á rio aplica çã o á gua Sat. Al *7 )
bases *6 )

t ha -1 ano cm
Amaral & Anghinoni ( 2001) Franco -argiloso * 1) ( PVD ) *3 ) 4,2 5 5, 0 5 5, 0
Rheinheimer et al . ( 2000a ) Arenoso * ( PVA )
2) 17,0 4 10, 0 10 10, 0
Põ ttker ( 2000 ) Argiloso * ( LVA )
1) 7,0 3 12,5 10 10, 0
Argiloso *1 ) ( LVD ) *5) 10, 7 3 12,5 10 10,0

Petrere & Anghinoni ( 2001) Franco-argiloso * 2 ) ( LVD ) *5) 6, 0 3,5 15,0 15 12,5

Mé dia 9, 0 3, 7 11 , 0 10 9,5

A partir de lavouras no preparo convencional. (2 ) A partir do campo natural . {3) PVD = Argissolo Vermelho
(1 )

distr ófico. (4 ) LVA = Latossolo Vermelho aluminof é rrico. (5) LVD = Latossolo Vermelho distr ófico. (6) Sat. bases =
100 (Ca 2 + + Mg2 + + K + + Na + / CTC PH 7,0) . (7) Sat . Al = 100 ( Al3+ ) / CTCefetiva .
Fonte: Adaptado de Anghinoni & Salet ( 2000) .

a ) formaçã o e migra çã o de Ca (HC03) 2 e Mg ( HC03) 2, sendo importante a presença de


á cidos orgâ nicos (Oliveira & Pavan, 1996 );
b) deslocamento de partículas finas de calcá rio nos canais formados por raízes mortas
e insetos, mantidos intactos ( Pavan, 1994; Gassen & Kochhann, 1998 ) ou
porosidade contínua no perfil ( Amaral et al., 2004);
c) adiçã o de fertilizantes nitrogenados, com a redu çã o da acidez na rizosfera pela
absor çã o de nitrato e exsuda çã o de OH e HC03 pelas ra ízes ( Raij et al., 1988); e
' "

d ) produçã o contínua de ácidos orgâ nicos hidrossol ú veis (de baixo peso molecular ),
que complexam os cá tions divalentes (Ca e Mg) na forma neutra (CaL° ou MgL°) ou
negativa (CaL ou MgL ). A altera çã o de carga, mediante a forma çã o de pares
' "

iônicos, facilita a mobilidade do complexo até à camada subsuperficial, onde os


cá tions divalentes são deslocados pelo Al trocá vel, uma vez que formam complexos
mais está veis com o Al, diminuindo sua toxidez às ra ízes (Pavan & Roth, 1992;
Miyazawa et al., 2000).

Estrat égias de Calagem

O manejo da calagem em plantio direto ainda carece de muitas informa ções, uma
vez que a matéria orgâ nica, a mineralogia e a textura do solo influenciam sensivelmente
a forma çã o de cargas e o poder tampã o do solo (Sá, 1999 ). Inicialmente, é importante
considerar os aspectos relativos ao hist órico da á rea para melhor compreensã o da
dinâ mica da acidez no sistema .
)

FERTILIDADE DO SOLO
892 IBANOR ANGHINONI

Nas recomenda ções de calagem, sã o utilizados os indicadores de acidez do solo e


seus valores de referência, os mé todos para determinaçã o da quantidade de corretivo por
aplicar numa camada de solo, o modo de aplica çã o de acordo com a cultura e com as
condições de cada regiã o, o sistema de manejo e cultivo e o tipo de solo (Capítulo V).
O conjunto indicador de acidez do solo e o seu valor de referência constituem o
critério de calagem, que é estabelecido a partir da resposta das culturas. Como no sistema
plantio direto a dinâ mica do AI é alterada, com diminuiçã o de sua toxidez às plantas, os
critérios para a calagem utilizados no sistema convencional (Capítulo V ) podem nã o ser
adequados ao plantio direto.
Os critérios para a calagem sã o diferenciados conforme a fase do sistema plantio
direto: na instala çã o ou na consolida çã o . Na Ia fase, as doses sã o determinadas de
acordo com os critérios de calagem e com os mé todos de determinaçã o da dose por aplicar,
com amostragem na camada de 0-20 cm do solo. Nesta fase, é recomend á vel que o
calcá rio seja incorporado na camada amostrada, de acordo com os procedimentos
utilizados no preparo convencional .
Na fase consolidada, quando estiver ocorrendo decr éscimo de rendimento das
culturas pela acidez do solo, as recomenda ções de calagem divergem nas diferentes
regiões do Brasil . Assim, no Estado do Paraná , conforme Sá (1999 ), sã o sugeridas as
doses determinadas pelos seguintes procedimentos: (a ) Solos argilosos: 1/ 3 a 1 / 2 da
necessidade de calcá rio calculada pelo mé todo da satura çã o por bases para a camada de
0-20 cm de solo; aplicar, no máximo, 2,5 t ha 1; e (b) Solos argilo-arenosos e arenosos: 1/ 2
'

da necessidade de calcá rio calculada pelo mé todo da satura ção por bases para a camada
de 0-20 cm de solo; aplicar, no má ximo, 2,0 t ha 1. No entanto, para qualquer solo, quando
'

forem determinados valores de satura çã o por bases maiores que 50 %, nã o deve ser
aplicado calcá rio na superf ície do solo, pelo risco de indução à deficiência de nutrientes
(ZneMn ).
Para o Estado de Minas Gerais, Lopes et al. (1999) sugerem que, após a instalaçã o do
plantio direto, as doses de calcá rio podem ser diminuídas em um terço, quando a
amostragem for feita na camada de 0-20 cm, e à metade, quando a amostragem for feita
na camada de 0 a 10 cm. Nesses casos, deve-se utilizar calcá rio de granulometria fina
com menores doses anuais ou bienais, em vez das doses usuais a cada quatro ou cinco
anos, como efetuado no sistema convencional .
Nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, a CQFS RS / SC (2004)
apresenta maior detalhamento das recomendações de calagem, com a utilização conjunta
de quatro critérios: pH em á gua < 5,5, satura çã o por bases < 65 %, satura çã o por Al
> 10 % e teor de P ( Mehlich-1) < "Muito alto". No quadro 8, sã o apresentadas as
recomenda ções de calagem para culturas de gr ã os e plantas forrageiras. No sistema
plantio direto consolidado, a amostragem é na camada de 0-10 cm com aplica ção de
calcá rio na superf ície do solo. São utilizados, inicialmente, dois critérios principais em
conjunto: pH em água < 5,5 e saturação por bases < 65 %, e, para as forrageiras nativas,
além desses, sã o utilizados os teores de Ca e Mg trocá veis: < 2,0 e < 0,5 cmolc dm 3, '

respectivamente . Quando um dos critérios (pH em á gua < 5,5 ou satura çã o por bases

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 893

< 65 %), nã o for atendido, utilizar os critérios complementares de somente recomendar


calcá rio se a satura çã o por AI for > 10 % e o teor de P (Mehlich-1) for < "Muito Alto".
Como a camada amostrada e a ser corrigida é de 0-10 cm, aplicar a metade da indicada
pelo método SMP (0,5 SMP para pH 5,5). Esses critérios somente poderão ser utilizados em
á reas sem limita ção de á gua e de nutrientes ( principalmente P) e na ausência de camada
superficial de solo compactada . No m á ximo, aplicar 5,0 t ha 1 de calcá rio ( PRNT 100 % ).
'

Na regiã o do Cerrado, o rendimento das culturas nã o é afetado quando a satura çã o


por bases estiver em torno de 50 % e o pH em á gua próximo a 6,0, ambos determinados
em amostras coletadas na camada de 0-20 cm, desde que a rela çã o Ca:Mg trocáveis no
solo (cmolc dm 3) esteja entre 1:1 e 10:1, com um mínimo de 0,5 cmolc dm3 de Mg (Sousa &
"

Lobato, 2004).

Quadro 8. Recomenda ções de calagem para culturas de gr ã os e forrageiras em plantio direto


no Rio Grande do Sul e Santa Catarina

Crit é rio de Quantidade M é todo de


Condi çã o da á rea Amostragem
decis ã o de calc á rio *1) aplica çã o

cm
Implanta çã o a partir de lavoura ou campo 0 a 20 pH < 6,0(2) 1 SMP para Incorporado *4)
natural , quando o í ndice SMP for < 5,0 pH á gua 6,0

Implanta çã o a partir de campo natural, 0 a 20 pH < 5,5 ou 1 SMP para Incorporado *4)
quando o í ndice SMP for de 5,1 a 5,5 V < 65 % 0) pH á gua 5,5 ou Superficial *5)

Implanta çã o a partir de campo natural, 0 a 20 pH < 5,5 ou 1/ 2 SMP para Superficial *5)
quando o í ndice SMP for > 5,5 V < 65 % 0) pHá gua 5,5

Campo natural sem introdu çã o de 0 a 10 Ca < 2,0 ou 1,0 t ha -1 Superf ície*5)


espé cies forrageiras ou com uso de Mg <
fosfato natural 0,5 cmolc dm 3

Sistema consolidado 0 a 10 pH < 5,5 ou 1/ 2 SMP para Superficial *5)


V < 65 % *3> pH á gua 5,5

(1 )
.Corresponde à quantidade de calcá rio estimada pelo índice SMP, em que 1 SMP é equivalente à dose de calc á rio
para atingir o pH . gua desejado na camada de 0-20 cm . (2) Nã o aplicar calcá rio quando a satura çã o por bases (V ) for
> 80 %. (3) Quando somente um dos critérios fo/ atendido, n ã o aplicar calcá rio se a satura çã o por AI for < 10 % e o
teor de P for < "Muito Alto". ( 4 > A opçã o de incorporar o calcá rio em campo natural deve ser feita com base nos
demais fatores de produ çã o locais. Se optar pela incorpora çã o do calcá rio, aplicar a dose 1 SMP para pHágua 6,0.
(5)
No m á ximo 5 t ha 1 de calc á rio ( PRNT 100 %).
'

Fonte: CQFS RS / SC (2004) .

Uso do Gesso em Plantio Direto


Os benef ícios da utilização do gesso agrícola, para neutralizar a toxidez por AI ou
corrigir a deficiência de Ca no subsolo, os critérios para a identificação de áreas com tais
problemas nas camadas subsuperficiais do solo e as recomendações das respectivas

FERTILIDADE DO SOLO
894 IBANOR ANGHINONI

doses desse insumo foram previamente apresentados (Capítulo V) . Esses procedimentos


são também aplicá veis em á reas com o sistema plantio direto já estabelecido. Deve-se, no
entanto, ter o cuidado, especialmente na regi ã o do Cerrado, de monitorar a possível
lixivia çã o excessiva de bases trocá veis, principalmente K e Mg, com a utilizaçã o de doses
elevadas de gesso (Lopes et al., 2004) . A tomada de decisã o para a gessagem, conforme
esses autores, é a profundidade de amostragem do solo para a respectiva diagnose. Neste
caso > a decisã o de utilizar gesso deve ser feita com base na an á lise da camada
subsuperficial, em geral, de 20-40 cm, e, às vezes, também de 40-60 cm, e nã o apenas na
camada de 0-20 cm, normalmente utilizada na avalia çã o da fertilidade do solo.
De maneira geral, nã o foram verificadas respostas das principais culturas de gr ã os
( trigo, cevada , milho e soja ) à aplica çã o superficial de gesso no Sul do Brasil ( Ernani et
al., 1992; Caires et al., 1998, 1999), mesmo em solos á cidos e com alto teor de Al trocá vel.
Isso pode ser atribuído ao relativo alto teor de bases trocá veis, especialmente Ca trocá vel,
e à boa distribuiçã o e quantidade de chuva no per íodo de desenvolvimento dessas
culturas. No entanto, Nuernberg et al. ( 2002 ) verificaram respostas positivas de milho
(4o ano) e de soja (5o ano) à adiçã o de gesso em superf ície em plantio direto, em condições de
estiagem prolongada no Estado de Santa Catarina, onde foi observado maior aprofundamento
de ra ízes. Os autores atribuem a falta de resposta à aplica çã o de gesso no Sul do Brasil
ao relativo pouco tempo ( 2-3 anos ) de realiza çã o dos respectivos trabalhos.

MAT ÉRIA ORG Â NICA E ADUBA ÇÃ O NITROGENADA

Manejo do Solo e de Culturas e Acúmulo de Matéria Orgânica no Solo

O estoque de maté ria orgâ nica do solo no tempo (dC / dt ) é resultante do balanço
entre as adições (A.kJ e as perdas (-k 2.C) (Greenland & Nye, 1959 ), ou seja:
dC / dt = A.kj - k 2.C. (1)
O acúmulo de matéria orgâ nica no solo, verificado no sistema plantio direto, deve-
se à a ção benéfica e simultâ nea nos dois termos da equa çã o 1: maiores taxas de adiçã o,
pela maior produçã o de biomassa vegetal, considerando o uso de plantas de cobertura e
a rota çã o de culturas, e menores taxas de perdas por erosã o e menor decomposiçã o da
matéria orgâ nica e de resíduos, pelo nã o-revolvimento do solo.
Além da quantidade de fitomassa produzida pelas culturas de cobertura, é desejável
que elas tenham a capacidade de incorporar N ao solo, quer pela fixaçã o simbió tica, quer
pela reciclagem do sistema . Essas características, juntamente com a relação C:N, permitem
conhecer a capacidade de cada espécie em manter uma boa cobertura vegetal sobre o solo
e acumular N na palhada. Em vista do elevado teor de N e da baixa rela çã o C:N, as
leguminosas de outono / inverno, cultivadas na regiã o Sul, podem suprir quantidades
apreciá veis desse nutriente às culturas subsequentes, especialmente para as mais
exigentes, como o milho, em solos com baixo teor de matéria orgâ nica. Por outro lado,
dada a sua rá pida decomposiçã o no solo, em rela ção às gramíneas, as leguminosas são

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 895

menos eficientes em cobrir o solo após serem dessecadas ou roçadas . Assim, o tipo ideal
de cobertura de solo é o que apresenta uma taxa de decomposição dos seus resíduos
compatível com a manutençã o do solo protegido contra os agentes erosivos por mais
tempo e com o fornecimento de N sincronizado com a sua demanda pelas culturas
comerciais utilizadas na sucessã o (Oliveira et al., 2002 ).
O sistema radicular das plantas també m é de grande importâ ncia no ac ú mulo de
matéria orgâ nica no solo, por sua a çã o na formaçã o de agregados, aproximando as
partículas de solo, em decorr ência do fluxo de á gua no sistema solo- planta -atmosfera , e
posterior estabiliza çã o dos mesmos pelos exsudados radiculares . Apesar de
potencialmente produzir menor quantidade de fitomassa, a contribuiçã o do sistema
radicular para os estoques de C pode ser superior à da parte a é rea das culturas ( Bayer,
2002; Sá et al., 2004a ) . A matéria orgâ nica adicionada pelo sistema radicular apresenta
maior recalcitr â ncia , pela maior rela çã o lignina:nitrogênio, mitigando també m o efeito
negativo de adensamento ou compacta çã o do solo e contribuindo para o ac ú mulo de C
orgâ nico em profundidade.
O ac ú mulo de maté ria orgâ nica e de nutrientes inicia -se na superf ície e aprofunda -
se no perfil do solo com o tempo de adoção do sistema plantio direto ( Figura 2). A taxa de
ac ú mulo e de descida no perfil do solo é proporcional à quantidade de palhada
adicionada , quando cultivada em plantio direto e é adicionado adubo nitrogenado
( Figura 7) : assim, aveia + vica ( inverno ) / milho + caupi ( verã o ) acumulam mais do que
aveia (inverno) / milho (ver ã o). Os ac ú mulos sã o maiores nos solos com maior resiliência
( Argissolo maior do que em Latossolo). Após 22 anos de plantio direto, houve ac ú mulo
de 15,5 t ha 1 de C e de 1,41 t ha ’de N, em Latossolo do Estado do Paraná (Sá et al .,
' ’

2001b ); dos quais 82 % do C e 74 % do N foram acumulados na camada de 0-10 cm


( Figura 8). Na primeira d écada de adoçã o do plantio direto, o ac ú mulo ocorreu quase
exclusivamente na camada até 5 cm de profundidade; já, ao final da segunda d écada,
ocorreu até 20 cm, com predomínio na camada de 0-10 cm (66 %), sendo, desses, 32 % na
camada de 0-2,5 cm, 21 % na camada de 2,5-5,0 cm e 13 % na camada de 5-10 cm. O
ac ú mulo ocorreu predominantemente na fraçã o leve (grosseira ), mais especificamente
na fra çã o < 50 pm, gra ças aos agregados mais está veis, pela maior intera çã o entre as
partículas ( Peixoto, 2000; Sá et al., 2004b ) .
A taxa de acúmulo de matéria orgâ nica nas diferentes regiões do Brasil depende,
portanto, das culturas componentes (sequ ê ncia dos cultivos ) de cada rota çã o, da
quantidade e do tipo de palhada formada, do grau de mobilização do solo na semeadura
(diferentes semeadoras), do regime climá tico (temperatura e umidade do solo), do tipo de
solo ( maior ou menor resiliência ) e do manejo da fertilidade (aduba çã o e calagem ). Desta
forma, nã o existe um sistema ú nico de culturas de uso generalizado no Pa ís, uma vez que
os solos, o clima e os sistemas de produção agr ícola são muito diferentes. De forma geral,
o sistema plantio direto é mais utilizado em culturas produtoras de grã os, para a
sustenta çã o econó mica do estabelecimento agrícola, e as plantas de cobertura, para a
produçã o de matéria vegetal. Assim, nas estações mais favoráveis, são cultivadas espécies
como soja, milho, arroz, trigo, cevada, etc., e, nas estações menos favoráveis, as culturas
de cobertura , como aveia forrageira e ervilhaca, no período de inverno no Sul, e milheto,
sorgo, braquiá ria, estilosantes, eleusena ( Eleusine), etc., no período seco no Cerrado.

FERTILIDADE DO SOLO
896 IBANOR ANGHINONI

Figura 7. Estoques de carbono ( a ) e de nitrogénio ( b) por sistemas de preparo do solo, sistemas


de cultura e adubaçã o nitrogenada em um Argissolo Vermelho (camada de 0-17,5 cm ) no
RS ( PC = preparo convencional; PD = plantio direto; A = aveia; V = vica ; M - milho;
C = caupi; SN = sem nitrogénio; CN = com nitrogénio.
Fonte: Lovato (2001 ) .

10
PD
8
H3 PC
n
.c 6
o
o 4
c
«0
U ) 1.97
O
O
2

0 !Éi -0 ,24
is H
1.06

-0.64
-2
2,5-5 5-10 10-20 -
20 40
Camada do Solo, cm

Figura 8. Estoques de carbono em diferentes camadas de um Latossolo Vermelho cultivado


por 22 anos no sistema convencional (PC ) e no plantio direto (PD) no Paraná (Campo
nativo = linha horizontal).
Fonte: Sá et al . (2004b ) .

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 897

Os sistemas de culturas mais utilizados no País sã o: no Sul, trigo / soja / aveia


forrageira / soja / aveia forrageira / milho, no Cerrado; milheto / soja / milho / milheto; soja
ou arroz ou milho / braquiá ria ou estilosantes, no período ú mido, e pastagem-gado, no
per íodo seco; e nos Tr ó picos Umidos, soja ou arroz, no per íodo ú mido e safrinha
algod ã o, parte no período úmido e parte no período seco. Esses sistemas possibilitam,
segundo Sá et al. (2004b), adicionar de 7 a 16 t ha 1 ano 1 de palhada, que variam conforme
' '

a regiã o ou estado: Passo Fundo (RS), 7-10; Cruz Alta ( RS), 8-11; Joaçaba (SC ), 7-11;
Ponta Grossa (PR), 8-11; Campo Mourã o ( PR ), 10-12; Assis (SP), 9-11; Dourados (MS),
9-11; Balsas ( MA ), 9-10; Primavera do Leste (MT), 9-11; Rio Verde (GO), 10-13; e Sinop
( MT), 12-16 t ha 1. Se, de um lado, a produçã o de resíduos aumenta na direçã o Sul -
'

Norte, em virtude da maior radia çã o solar e temperatura, de outro, há também, pelas


mesmas raz ões, maior decomposiçã o dos resíduos, e o resultado final dependerá do
balanço entre esses fatores, considerando, ainda, que os solos da regiã o Sul apresentam,
de modo geral, menor resiliência .
Ocorre grande diversidade de sistemas de culturas e de condições edafoclimá ticas
no Brasil e as informa ções geradas a partir de experimentos de longa duração são, ainda,
incipientes. Os resultados obtidos até o momento (Quadro 9 ) já fornecem uma boa id éia
do seu potencial de sequestro de C. As taxas variam de 0,51 t ha 1 ano 1, em condições de ' '

clima temperado ú mido, até 2,89 t ha 1 ano 1, em condições tropicais. Verifica -se que as
"

taxas de sequestro de C estã o diretamente relacionadas com o potencial de produçã o de


biomassa dos sistemas de culturas utilizados.
Os modelos matemá ticos podem ser ú teis no estudo da dinâ mica da matéria orgânica
no solo (veja capítulo VI ) . O modelo Century v .4, por exemplo, oi utilizado: (a ) por
Fernandes (2002), para comparar com os valores de C obtidos experimentalmente com
diferentes manejos de solo e sistemas de culturas, e (b) por Debarba (2002), em diferentes
^
cená rios e eventos de manejo de solo com vegeta çã o natural de floresta subtropical. As
simula ções permitiram: (a ) verificar que as tendências observadas nos estoques de C dos

Quadro 9 . Taxas de sequestro de carbono no sistema plantio direto em sistemas de culturas


para produção de gr ã os nas condições tropicais e subtropicais do Brasil

Camada de solo Taxa de ac ú mulo de C Latitude Longitude Referê ncia

cm t ha 1 ano 1

0 -20 0, 51 -1, 84 12 ° 30 ' S 45 ° 30 ' W Corazza et al . (1999 )


0 -20 0, 88 25 0 '
20 S 50 ° 23 ' W Sá et al . ( 2001 b)
0 -40 0, 99 25 ° 20 ' S 50 ° 23 ' W Sá et al . ( 2001 b)
0-20 1, 60 20 ° 30 ' S 53 ° 30 ' W Amado et al . (1999 )
0 -17, 5 1, 26 30 ° 50 ' S 51 ° 38 ' W Bayer et al . ( 2000 )
0 -10 1, 45 11 ° 40 S ' 55 ° 30 W ' Seguy & Bouzinac ( 2002)
0 -10 2, 89 11 0
40 ' S 55 ° 30 ' W Seguy & Bouzinac (2002)

Fonte: Organizada por Sá (2004b ) , a partir dos autores citados .

FERTILIDADE DO SOLO
898 IBANOR ANGHINONI

experimentos (18 anos) foram magnificadas quando extrapoladas por períodos mais
longos, e (b ) que o modelo permitiu obter estimativas coerentes nos estoques de C,
indicando o seu grande potencial de uso para a estimativa dos efeitos do manejo do solo
e de culturas.

Acúmulo de Mat éria Orgânica e Transformações no Sistema Solo

A dinâ mica da matéria orgâ nica no solo com o tempo de adoçã o do sistema plantio
direto, com ênfase no rearranjo das partículas e microagregados em macroagregados em
nova formação estrutural, foi caracterizada por Sá (2004) (Figura 9) . Nesta, nos primeiros
cinco anos de adoção (fase inicial ), apesar de apresentar baixo teor de matéria orgâ nica,
baixo acú mulo de palhada e alta exigência de N (imobilizaçã o » mineraliza ção ), sã o
observados o início do reestabelecimento da biomassa microbiana e o rearranjo da
estrutura. No período de 5-10 anos (fase de transição), inicia-se o acúmulo de palhada
na superf ície e de C e P orgâ nicos no solo, a imobiliza çã o de N aproxima -se da
mineralizaçã o (I > M ) e ocorre o processo de reagregação das partículas de solo. No
período seguinte, de 10-20 anos (fase de consolidaçã o), continua o ac úmulo de palhada
e de matéria orgâ nica do solo, com respectivo aumento da CTC e de retençã o de água,
com a mineraliza çã o de N superando a imobiliza çã o ( I < M ) e elevada ciclagem de
nutrientes. Após 20 anos no sistema (fase de manutençã o), há um elevado acú mulo de
palhada, um fluxo contínuo de C e de N, maior ciclagem de nutrientes, menor exigência
de N e de P e maior retenção de água.

Inicial Transição Consolidação Manutenção

Início de Acúmulo de
acúmulo de MO [ c]
|
íriéntfPl
*
MO
Baixo Acúmulo de rexigencia dmé
vi
âcúmulo del Início de & i
palha Itv - NeP
. fe '

1
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"
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palha Aumento da i
' :

S |luxo continue
> exigência N
3 Início de
CTC
£: de C e N J
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Reestabele M4 acúmulo de P Reciclagem de i| I
p Elevado
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I
;imento BM Imob. N = Min nutrientes W
1 acúmulo
Vi

&: •
X
: ‘ h

> H20 imob. N < Min


Reagregação a rÍ?> H 2Q .. •

ãmmmmmmã
0 -5 5 -10 10 -20 > 20

Tempo de SPD, ano

Figura 9 . Fases de evolução do sistema solo com o tempo de cultivo em plantio direto.
Fonte: Sá (2004) .

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 899

Avaliações após 14 anos de cultivo de um Latossolo Vermelho do Paraná em plantio


direto (Sá et al., 2001a, b) mostraram um ac ú mulo de 0,99 t ha 1 ano 1 de C, resultando em ' '

um ganho anual na CTCpH 70 de 0,34 cmolc dm 3 e uma redução na adsor çã o de P de '

4,9 mg dm 3. O aumento na CTCpH 7,0' após 15 anos de plantio direto em Argissolo Vermelho
'

do RS, foi de 1,26 cmolc dm 3 (12,7 %), na camada de 0-10 cm, e de 1,13 cmolc dm 3 (11,5 %),
' '

na camada de 10-20 cm (Pillon, 2000). Conforme Sá et al. (2001b ), o ganho de 1 g dm 3 de '

carbono ( = 2 t ha 1) resulta em aumento de 0,32 cmolc dm 3 na CTC pH 7,0 e 3 a 5 mm no


' '

armazenamento de á gua no solo.


A dinâ mica do acú mulo e os efeitos da matéria orgâ nica em solos de regiões tropicais
e subtropicais brasileiras em plantio direto foram representados esquematicamente por
Mielniczuk et al. ( 2003) com a inclusã o dos principais processos que ocorrem no sistema
solo-planta . Nessa abordagem (Figura 10 ), o solo é considerado como o resultado de
uma rede de relações complexas entre os subsistemas mineral, vegetal e microbiano. Nos
solos dessas regiões, predominam, no subsistema mineral, os argilominerais do tipo 1:1,
os óxidos e hidr óxidos de Fe e de Al e o quartzo. A caulinita e os óxidos hidróxidos
apresentam carga variá vel, conferindo aos ú ltimos alta reatividade ao solo. As plantas
transformam energia luminosa em energia química e adicionam ao solo a energia e a
matéria necessá ria ao funcionamento do sistema . Pelo processo da fotossíntese, captam

ENTRADAS: radiaçã o solar, água, luz , C02 e nutrientes


tJ.
Intemperismo
MINERAIS
co2

~ 80%
ORGANISMOS '
-ÊMSÊ? < : : t1 1e21

Mats
55 srdo
^
AC
u , dependentes dopH .
m
= p»

Interações

MOS * àrgnómí t\eraís :' >' A


-
> '
<
Proteçã o quí mica da MOS
+.óxidos e h í dróxídoS ' Av

i
•t a Proteção física da MOS

Microagregados Macroagregados
Processo de agregação: *
Agentes f ísico-qu í micos e biológicos
3
SA Í DAS:
C02, CH4, água, matéria orgânica, nutrientes, minerais
fr
Figura 10 . Representação esquemá tica do sistema solo, seus subsistemas e interação entre eles .
Fonte: Mielniczuk et al . (2003).

FERTILIDADE DO SOLO
900 IBANOR ANGHINONI

energia solar e C02 atmosf érico e absorvem água e nutrientes do solo para a produçã o do
tecido vegetal, com libera çã o contínua de exsudados durante o seu ciclo. Ao final, os
resíduos das ra ízes e da palhada s ã o decompostos por microrganismos . Na
decomposiçã o, compostos orgânicos sã o produzidos (subprodutos), caracterizando o
processo de transforma çã o de energia e de maté ria de uma forma para outra (fluxo de
compostos orgâ nicos ). Desse modo, os componentes do solo interagem e se auto-
organizam em estados de ordem, seguindo uma hierarquia de complexidade.
Nessa interpretaçã o (Figura 10), o processo de organização é iniciado com a interaçã o
entre a matéria mineral com os produtos orgâ nicos da decomposiçã o vegetal, formando
agregados de tamanho na ordem de nm, e prossegue com nova interaçã o desses agregados
com compostos orgâ nicos, resultando na formação de agregados maiores e de estruturas
mais complexas, que podem atingir um tamanho de 0,25 mm, definidos como
microagregados. Durante o processo, ocorre retençã o de matéria orgâ nica do solo, gra ças
à proteçã o f ísica (incorporada dentro dos microagregados ) e química (interaçã o com
minerais e com cá tions polivalentes). A forma çã o de agregados maiores do que 0,25 mm
( macroagregados ) é resultado da a çã o mec â nica de ra ízes finas e hifas de fungos,
principalmente micorrízicos, formando estruturas maiores (Figura 10), mais complexas
e diversificadas.
O processo de organiza çã o do solo pode, assim, ser resultado do fluxo de energia e
de maté ria que passa por ele. Sendo um sistema aberto ( Addiscot, 1995), no qual o fluxo
de matéria e de energia conduz a diferentes níveis de ordem ( Prigogine, 1996 ), o solo
pode-se organizar em níveis de ordem sucessivamente mais elevados. Nessa situaçã o,
pode chegar à forma çã o de estruturas grandes, complexas e diversificadas
( macroagregados), com alta quantidade de energia e matéria orgâ nica retida na forma de
compostos orgâ nicos (nível de ordem mais elevado).
Nos diferentes estados de organização, surgem propriedades emergentes. Em nível
elevado, caracterizado pela presença de estruturas mais complexas ( macroagregados) e
pela grande quantidade de matéria orgânica retida, as propriedades emergentes destacam-
se por apresentarem: (a ) resistência às erosões (hídrica e eólica ); (b) aumento no estoque
e ciclagem de nutrientes; (c) adsorçã o e complexa çã o de compostos orgâ nicos e
inorgâ nicos; (d ) ativaçã o do crescimento dos organismos do solo; (e) sequestro de C; (f )
aumento na diversidade microbiana, e (g) menor resiliência.

Decomposição de Resíduos de Culturas no Solo e Adubação Nitrogenada

As taxas de ac ú mulo líquido de C e de N sã o variá veis no sistema plantio direto


(Quadro 9), de acordo com as taxas diferenciadas de ac úmulo (lq ) e de decomposição ( k 2)
da matéria orgâ nica (Equação 1). Mesmo quando o incremento no teor de matéria orgânica
for baixo ou nulo, o sistema pode ser considerado mais como uma possibilidade de
aumento de produtividade, pela melhoria na qualidade do solo e suas consequências na
eficiência do uso de adubos e de corretivos, do que propriamente em reduções significativas
nas quantidades de N a serem aplicadas, em compara ção com sistemas com revolvimento

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 901

de solo ( Ceretta & Silveira , 2002 ) . Libera çã o apreci á vel de N, conforme visto
anteriormente, só ocorre após muitos anos sob plantio direto ( Figura 9). O suprimento
de nutrientes pela maté ria orgâ nica e as rela ções fonte-dreno sã o discutidos no
capítulo VI.
Os processos de decomposi çã o dos res íduos vegetais e de mineraliza çã o /
imobiliza çã o de N ocorrem simultaneamente e resultam da a çã o dos microrganismos
heterotr óficos ( quimiorganotr óficos ) . A taxa de mineraliza çã o, conforme visto no
Capítulo VI, depende da qualidade dos resíduos ( relaçã o C:N), da quantidade e atividade
das enzimas produzidas pela biota do solo, do grau de trituraçã o e incorpora çã o dos
resíduos ao solo e do pH, mineralogia e umidade do solo. Como no sistema plantio
direto os resíduos nã o sã o incorporados ao solo, a cobertura morta é formada por
diferentes resíduos vegetais em v á rias fases de decomposiçã o e contém grande quantidade
de N imobilizado, constituindo importante reservató rio desse nutriente para as culturas.
Durante a decomposi çã o dos res í duos, os compostos com N passam por
transforma ções e a disponibilidade de N para as culturas é determinada pelo balanç o
líquido entre os processos de mineraliza çã o, imobiliza çã o, nitrifica çã o, lixivia çã o,
volatiliza çã o e desnitrifica çã o ( veja capítulos VI e VII ). Os efeitos das altas rela ções C:N
tendem a ser mais pronunciadas nos primeiros anos de adoçã o do sistema plantio direto
e serão ainda maiores se o solo for bastante degradado (Sá, 1999 ). Conseqiientemente, a
demanda de N pela biomassa microbiana do solo e pelas culturas é elevada, notadamente
nas fases iniciais de desenvolvimento da cultura . Com o passar do tempo de adoçã o do
sistema, ocorre um aumento no teor de maté ria orgâ nica e na libera çã o de N ( Figura 9 ).
Observa -se, portanto, uma maior resposta de gramíneas ( milho e trigo ) às aplicações de
N no sulco de semeadura, por melhor suprir a carência desse nutriente na fase inicial de
crescimento (Sá, 1999).
Assim, para o estabelecimento de recomendações de aduba çã o nitrogenada (doses e
formas de aplica çã o) no sistema plantio direto, deve-se, inicialmente, estabelecer um
sistema de culturas que adicione altas quantidades de resíduos e seja economicamente
viá vel. Como a composiçã o desses sistemas de culturas varia nas diferentes regiões do
País, pelas diferentes condições de solo e de clima, há necessidade de informações
regionais sobre a contribuiçã o dos sistemas de cultura e sobre as respectivas taxas de
decomposiçã o. Atualmente, essa informa çã o é mais disponível na regiã o Sul do Pa ís
(Quadro 10), com a sucessã o trigo / soja / aveia forrageira (preta ) / soja / aveia forrageira /
milho, e a possibilidade de uso de leguminosas (ervilhaca e tremoço, principalmente) em
j substituiçã o à aveia forrageira ou a utiliza çã o de consórcios dessas leguminosas com
aveia forrageira .
Nos resultados dos trabalhos realizados nos Campos Gerais do Estado do Paraná,
há indicações (Sá, 1999) de que: (a ) a contribuiçã o mé dia da leguminosa da cultura
anterior no rendimento de grãos de milho nos tratamentos sem adição de N foi de 1,0 t ha 1 "

no per íodo de cinco anos; (b ) a utilizaçã o de uma leguminosa, em vez da aveia forrageira,
antecedendo o milho, proporciona reduçã o de 40 a 60 % na dose de N por aplicar; e (c) na
rotaçã o aveia forrageira / milho, há maior eficiência do N aplicado na semeadura do
milho em rela çã o à aplica çã o em cobertura, no est á dio V6.

FERTILIDADE DO SOLO
902 IBANOR ANGHINONI

Quadro 10. Rendimento de matéria seca, quantidade de nitrogénio acumulado e rela çã o C / N


de resíduos de plantas de cobertura e de culturas comerciais na superf ície de dois Argissolos
em plantio direto no Estado do Rio Grande do Sul

Sistema de cultura Mat é ria seca Nitrogé nio acumulado Rela çã o C/ N

t ha 1 kg ha - i
Argissolo Vermelho - Amarelo
no ç o -azul / milho 7,38 aO ) 84 a 35
haca comum / milho 6.40 ab 87 a 30
ha forrageira / milho 5,64 ab 55 b 41
io / milho 5.41 ab 52 b 43
a preta / milho 4,30 b 40 b

Argissolo Vermelho
ab + milho 13,68 a ( 2 ) 209 a 26 bc
a + ervilhaca / milho + caupi 8,77 abc 114 bc 30 b
a + ervilhaca / milho 8,64 abc 108 bc 31 b
a / milho 7, 68 bc 61 c 50 a
haca + gorga / milho 5,86 bc 105 bc 20 c
io / milho 3, 4 3 c 47 c 25 bc
(1 ]
Médias seguidas de mesma letra na coluna , nã o diferem entre si pelo teste de Duncan a 5 %. (2 ) Médias seguidas
de mesma letra , na coluna , nã o diferem entre si pelo teste Tukey a 5 %.
Fonte: Elaborada por Oliveira et al. ( 2002) a partir dos dados de diferentes autores.

No Rio Grande do Sul, a recuperaçã o do N por ervilha forrageira, chícaro, ervilhaca


comum e tremoço azul foi na ordem de 33, 34, 38 e 45 %, respectivamente, e de 41 % para
o N mineral aplicado como ur éia (Aita et al ., 2000). Na tradicional sucessã o soja / trigo,
a contribuiçã o da soja para o trigo varia de 17 a 59 kg ha 1 de N (Wiethõlter, 1996 ). Com
'

base nesses e em outros resultados ( Da Ros & Aita, 1996; Bayer & Mielniczuk., 1997b;
Amado & Mielnickzuk, 1999, 2000; Santi et al. 2000; Ceretta et al., 2002; dentre outros)
foram estabelecidas, pela CQFS RS / SC (2004), recomendações de adubação nitrogenada
para as culturas produtoras de grãos, que consideram, além do teor de matéria orgâ nica,
a contribuiçã o da cultura precedente.

Aplicação Antecipada de Nitrogénio


A alternativa de antecipar a aplica çã o de N, em pré-semeadura , justifica -se pelas
vantagens operacionais, como maior flexibilidade na execu çã o da semeadura e
racionalização do uso de máquinas e de mã o-de-obra; esta prá tica está fundamentada no
melhor conhecimento da dinâ mica do N no solo em sistemas de culturas sob plantio
direto (Sá, 1999) e na eficiência dos adubos nitrogenados (Lopes et al., 2004). A vantagem
em antecipar a aplica çã o de N, no manejo da aveia e, ou, na semeadura do milho, deve-
se à necessidade desse nutriente pela biomassa microbiana no solo, durante a
decomposição de resíduos com elevada rela çã o C:N, como aveia forrageira, competindo
com o milho (Figura 10).

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 903

O trabalho inicial, relativo à antecipa çã o da aplicaçã o desse nutriente, foi efetuado


no Paran á (Sá, 1999), com tratamentos de doses e é pocas de aplicaçã o de N na sucessã o
aveia forrageira (inverno) e milho (ver ã o), por cinco anos, em três locais na regiã o dos
Campos Gerais no Estado do Paraná (Quadro 11). Em outros trabalhos, foram também
obtidos resultados favoráveis pela antecipaçã o da aplicaçã o de N, com a maior parte
dele aplicado no manejo da aveia e o restante, na semeadura do milho (Quadro 11). Esta
prá tica, segundo o autor, apresenta melhor ajuste entre a demanda desse nutriente e a
disponibilidade de nitrato no solo, quando parte do N é aplicada no manejo mecânico da
aveia preta e parte na semeadura do milho (Figura 11) . Espera -se que a aplica çã o de N
no manejo da aveia aumente a oferta de N mineral no solo e que este seja utilizado pela
biomassa microbiana, ocorrendo a mineralizaçã o contínua desse nutriente no solo,
sincronizada com a sua demanda pelo milho.
Os obtidos no Paraná nã o podem, entretanto, ser generalizados para outras regiões
do Pa ís, como demonstram a maioria dos experimentos (Quadro 11), em que sã o
observados melhores resultados com a aplica çã o do N na forma tradicional, ou seja, a
aplicaçã o de uma parte menor na semeadura e o restante em cobertura. As diferenças
observadas entre os v á rios locais dependem de outros fatores, como: (a ) rendimento da
cultura; (b ) elevada precipitaçã o pluviomé trica no per íodo de instala çã o da lavoura e
desenvolvimento inicial do milho, conforme ocorrido nos trabalhos de Basso et al. (1998)
e de Ceretta et al. (2002) (Quadro 11), em que a antecipa ção da aduba ção nitrogenada
resulta em queda acentuada no rendimento, por lixiviação de nitrato; e (c) resposta do
milho relacionada com o estoque de C e de N, que depende do tipo de solo e do sistema de
culturas, bem como do tempo de cultivo no sistema plantio direto ( Basso & Ceretta, 2000;
Wiethõlter & Põttker, 2000 ) . Como n ã o se sabe com exatid ã o da ocorrência futura de

—— N
Antecipado

m
N
Semeadura

m
N
Cobertura
Perí odo de
> imobiliza çã o
de N

Conte údo 1
'
de N03‘

Curva de
crescimento


do milho

*
Biomassa +
y microbiana f
^ j

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Figura 11. Representação hipotética do efeito da aplicação antecipada de nitrogénio em pr é-


semeadura do milho e alterações no conteúdo de nitrato e de biomassa microbiana do
solo no sistema plantio direto.
Fonte: Sá (1999).

FERTILIDADE DO SOLO
904 IBANOR ANGHINONI

excesso de chuva , a aduba çã o nitrogenada é indicada para ser realizada em cobertura


(Fontoura, 2005) preferencialmente à sua antecipaçã o.

Perdas de Nitrogénio
Há uma preocupa çã o, no meio t écnico, pelo potencial de perdas de N, por
volatiliza çã o de am ónia , resultante da aplica çã o superficial de ureia, especialmente no
sistema plantio direto. Trabalhos, como os de Cabezas et al. (1997), apontam perdas
desse nutriente ( medidas em coletores de am ónia ) , em at é 80 % nesse sistema, muito
superior aos 30 % que ocorrem no sistema convencional. No entanto, mesmo perdas
dessa magnitude nã o tê m afetado o rendimento das culturas no sistema plantio direto.
Isto indica que essas perdas estã o sendo superdimensionadas e que os solos têm alta
capacidade de suprimento desse nutriente. Dessa ‘forma, esse dado, por si, nã o deve ser
utilizado como indicativo da eficiência da adubaçã o nitrogenada e do seu consequente
efeito sobre o rendimento das culturas no campo ( Lopes et al., 2004) .
Perdas por volatiliza çã o de amónia , decorrentes da aplicaçã o superficial de uréia ,
sã o favorecidas em solos com pH elevado e baixa CTC e em condições de baixa umidade
e alta temperatura . Assim, as perdas médias de N na cultura do trigo em á rea de resteva
de milho em plantio direto na regiã o do Planalto Riograndense nã o têm sido superiores
a 5 % ( Lopes et al., 2004) . A incorpora çã o da ur éia ao solo, ou sua aplica çã o superficial
em condições favor á veis de solo e de ambiente, resulta em uma reduçã o drástica das
perdas de N, chegando a valores quase nulos.

Estratégias da Adubação Nitrogenada


Há dificuldades em estabelecer recomenda ções gerais de aduba çã o nitrogenada ,
pela complexidade dos v á rios fatores que interagem na dinâ mica do N no solo e do
insuficiente suporte de pesquisa, mesmo nas regiões de plantio direto mais consolidado.
Lopes et al. (2004) indicam a necessidade de seguir alguns princípios para que as mesmas
sejam feitas de modo mais eficiente possível e com o mínimo de possibilidade de gerar
problemas ambientais pelo uso excessivo desse insumo. Mesmo com o risco de representar
uma simplifica çã o exagerada de um tema tã o complexo, os autores apresentam as
seguintes orienta ções: (a ) durante a fase de implementa çã o do sistema (até cinco anos),
as doses de N devem ser aumentadas em rela çã o às aplicadas no sistema convencional e
aplicadas no sulco de semeadura; (b) nessa fase, é também importante conhecer a rotação
e a sequência de culturas; na presença de sistemas que acrescentam grande quantidade
de resíduo com rela çã o C; N elevada ( > 30:1), aumentar a dose de N na base em 30 a
50 kg ha 1; (c) a introduçã o de leguminosas ou plantas recicladoras de N, como o nabo
'

forrageiro, antecedendo o milho no sistema plantio direto, pode reduzir a aplicação de N


na ordem de 50 %; (d ) no caso do sistema plantio direto consolidado, a aplicação de N para
a cultura de cobertura, mesmo com alta rela ção C:N, pode ser diminuída, em rela çã o à fase
anterior; e (e) para diminuir as perdas por volatilizaçã o, principalmente no uso de uréia,
seja nas aplica ções antecipadas no manejo da cultura de cobertura, seja na semeadura
ou ambas em cobertura da cultura de interesse econó mico, efetuar as aplicações
preferencialmente em sulco, a uma profundidade de 5-7 cm de solo.

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 905

Quadro 11. Resumo de resultados de experimentos realizados em diferentes regiões do Brasil,


comparando o manejo da aduba çã o nitrogenada na cultura do milho em plantio direto

Rendimento de grã os
Local e textura Dose de N Antecipado Semeadura Testemunha Autores
do solo ( total e parcelas ) e, ou, ou cobertura
semeadura

kg ha -1 t ha 1
'

Funda çã o ABC ( PR ) 120 ( A 90 ) (S30 ) 8,38 a 0 > 5, 77 b Sá (1999 )

Argilosa 120 (S30 ) ( C 90 ) 8, 26 a

Ribeir ã o Preto (SP) 120 ( A 80 ) (S40 ) 8, 05 a Lera et ai .


Argilosa 120 (S40 ) (C80 ) 7,52 a ( 2000 )

S. Maria 1996 / 97 ( RS) 120 ( A 90 ) (S30 ) 7, 23 ab 5 ,62 d Basso et al .


Arenosa 90 (S30 ) (C 60 ) 6,80 c (1998)

S. Maria 1997 / 98 ( RS) 120 ( A 90 ) (S30 ) 3,65 d 2,82 e Basso et al .


Arenosa 90 (S30 ) (C 90 ) 5, 79 a (1998)

Selv í ria ( MS ) 120 (S120 ) 5,52 b 3, 44 c Silva &


Argilosa 120 (S60 ) ( C60 ) 7, 09 a Buzetti ( 2000 )

Arapoti ( PR ) 120 ( A 80 ) (S40 ) 5, 94 ab 4, 35 b Tessaro et al .


Arenosa 120 (S40 ) (C80 ) 5, 66 ab ( 2000 )

Selv í ria ( MS) 120 (S120) 2,11 b Kuramoto et al .


Argilosa 120 (S10 ) ( C110 ) 7, 44 a ( 2000 )

Santa Maria ( RS ) 90 ( A 60 ) (S30 ) 3,55 d 3,11 e Ceretta et al .


Arenosa 90 (S30 ) (C60 ) 6,27 abc ( 2002)

Selv í ria ( MS) 100 (S100 ) 7, 72 a 5,81 b Fernandes et al.


Argilosa 100 (S40 ) (C60 ) 7,60 a ( 2002)

Lages 2000 / 01 (SC ) 100 (S100 ) 9,52 c 7,48 d Sangoi et al.


Argilosa 100 (S40 ) (C60 ) 11,20 ab ( 2002)

Lages 2001 / 02 (SC ) 100 (SI 00) 8,56 b 6, 04 c Sangoi et al.


Argilosa 100 (S40 ) (C60 ) 8,82 ab ( 2002)

P. Fundo 1977 / 02 ( RS) 100 ( A 70 ) (S30 ) 7, 79 b 5,89 c Põ ttker &


Argilosa (S30 ) (C 70 ) 8,23 a Wieth õ lter ( 2002)
100 (SI 00) 7,83 b
(1 )
As letras A, S e C, nas colunas, representam, respectivamente, as doses de N aplicadas de forma antecipada,
na semeadura e em cobertura no milho.
Fonte: Complementado de Lopes et al. (2004), com os resultados dos autores citados.

FERTILIDADE DO SOLO
906 IBANOR ANGHINONI

As recomenda ções de aduba çã o nitrogenada enquadram-se no conceito de aduba -


çã o de manuten çã o ou de cultura e sã o estabelecidas com base nas curvas de resposta
das culturas em diferentes ambientes edafoclimá ticos. Somente nos Estados do RS e de SC são
indicadas recomenda ções com base no teor de matéria orgâ nica, utilizado como índice de
disponibilidade de N . Nesses dois Estados, está sendo também recomendada a aduba -
ção com esse nutriente no sistema plantio direto conforme a cultura antecedente. As recomen-
dações para culturas produtoras de grã os de inverno ( trigo, aveia , centeio e cevada ) foram
obtidas com base em modelos funcionais de 32 experimentos, considerando o rendimento de
gr ã os de acordo com tais fatores (Wiethõlter et al., 1999; Wiethõlter, 2002) (Quadro 12) .
As recomenda ções de aduba çã o nitrogenada para os Estados do RS e de SC
consideram as três faixas de teores de maté ria orgâ nica (0-2,5; 2,6-5,0 e > 5,0 %) e a
cultura antecedente ( gram ínea e ou leguminosa ) para diferentes expectativas de
produtividade (CQFS RS / SC, 2004) . Para a cultura do milho, além dessas variá veis, é
també m considerada a produtividade das culturas antecedentes (Quadro 13) .

Quadro 12. Dose de nitrog é nio a aplicar na cultura de trigo no sistema plantio direto de acordo
com a cultura precedente e o teor de maté ria orgâ nica do solo

Cultura precedente
Teor de maté ria org â nica do solo
Soja Milho

O/
/O kg ha -1 de N
< 2 ,5 80 60
2.6 -3,5 60 40
3.6 -4,5 40 60
4.6 -5,5 40 40
> 5, 5 < 40 < 40
Fonte: Wiethõlter et al . (1999 ) .

Quadro 13. Recomenda ção da aduba ção nitrogenada (base + cobertura ) para a cultura do milho(1),
considerando o teor de matéria orgâ nica e a expectativa de sua produtividade da cultura
antecedente para o RS e SC

Cultura antecedente *2 )
Teor de mat é ria orgâ nica do solo
Leguminosa Consorcia çã o ou pousio Gram í nea

% kg ha -1 de N
< 2,5 70 80 90
2,6-5,0 50 60 70
> 5,0 < 30 < 40 < 50
(1 )
Para expectativa de rendimento maior do que 4 t ha 1, acrescentar, aos valores do quadro, 15 kg ha 1 de N, por
' '

tonelada adicional de gr ã os a serem produzidos. (2 ) As quantidades indicadas sã o para uma estimativa de produ -
çã o de massa seca . Em outros casos, pode-se alterar a dose em até 20 kg ha 1: para mais, se a semeadura do milho
'

for após alto rendimento de gram íneas e para menos, se a semeadura for ap ós leguminosa ou consorcia çã o:
gramínea e consorcia çã o: baixa < 2 t ha 1; média = 2 a 4 t ha 1; alta > 4 t ha 1; leguminosa: baixa < 2 t ha 1; m édia
' '

= 2 a 3 t ha 1; alta > 3 t ha 1.
' *

Fonte: (CQFS RS / SC, 2004).

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 907

RECOMENDA ÇÕ ES DE ADUBA ÇÃ O
COM OUTROS NUTRIENTES

As recomenda ções de aduba çã o no sistema plantio direto sã o determinadas pelas


altera ções na distribuiçã o e na dinâ mica dos nutrientes ao longo do perfil do solo com o
tempo de cultivo, que sã o diferentes em rela çã o ao sistema convencional de cultivo. A
dinâ mica e a evolu çã o da acidez e dos teores, de matéria orgâ nica e de N com o tempo de
cultivo no sistema plantio direto, as respostas das culturas e as respectivas formas de
manejo da fertilidade do solo foram discutidas anteriormente.

Adubação Fosfatada e Potássica


Din â mica e Disponibilidade de Fósforo

O ac úmulo de P a partir da superf ície do solo, decorrente da aplica çã o dos adubos


fosfatados na camada superficial, do nã o-revolvimento do solo e da deposiçã o dos
resíduos das culturas na superf ície, evolui no perfil do solo com o tempo de cultivo no
sistema plantio direto (Figura 2c). A intensidade desse processo é determinada pelo tipo
de solo (génese, textura e mineralogia ), pelo seu manejo (convencional, cultivo mínimo e
plantio direto) e pelo sistema de cultura ( rota çã o e, ou, sucessã o).
O P, proveniente da adiçã o de adubos fosfatados, distribui-se de acordo com as
formas preexistentes no solo, de diferentes labilidades (lá bil, moderadamente lá bil e
pouco lá bil), com predomínio nos compartimentos, geológico (inorgâ nico) ou biológico
(orgâ nico ), conforme a natureza de cada solo. Nos trabalhos de fracionamento de P em
solos do Sul do Brasil, a fra çã o orgâ nica variou de 19 a 89 %, dependendo da camada
considerada (Quadros 14 e 15), com predom ínio da fra çã o geológica, especialmente nos
solos mais reativos. Ambas as frações, inorgâ nica e orgâ nica, decrescem em profundidade
no solo (Quadro 14); o aumento relativo da fra çã o orgâ nica (P orgâ nico / P total), quando
verificado, resulta , geralmente, de um decr éscimo da fra çã o inorgâ nica em maior
proporçã o em relaçã o ao da fraçã o orgâ nica.
Na compara çã o com o sistema convencional de cultivo, tanto o teor total como a
fraçã o orgâ nica de P sã o mais elevados no sistema plantio direto ( Quadro 15). Esse
aumento é determinado pela quanfidade e composiçã o dos resíduos remanescentes e
depende das características químicas e mineralógicas do solo. Assim, os incrementos da
fração orgâ nica de P, que foram detectados no solo menos reativo (Argissolo), não foram
observados nos solos com a menor resiliê ncia ( Latossolos argilosos e bastante
intemperizados), mesmo com alta adiçã o de resíduo (Quadro 15).
O maior teor de P do solo em plantio direto pode ser devido à adição desse nutriente
nas camadas superficiais, ao efeito de concentraçã o, às rea ções de adsorçã o e à sua
reciclagem pela mineralizaçã o dos resíduos (Sá, 1999, 2004). O nã o-revolvimento do
solo reduz o contato entre os colóides do solo e o íon fosfato, diminuindo as reações de
adsor ção. A mineralização lenta e gradual dos resíduos orgâ nicos proporciona a liberação

FERTILIDADE DO SOLO
908 IBANOR ANGHINONI

Quadro 14 . Teores e formas de f ósforo em diferentes solos e profundidades em plantio direto


no Sul do Brasil

Forma de f ó sforo
Solo/textura Camada Rela çã o Po/ Pt
Total Inorgâ nico Orgâ nico

cm mg kg-1

Sá (1999)
Latossolo Vermelho - 0- 2,5 311 92 219 0, 70
Amarelo distr ó fico argiloso 2,5- 5, 0 251 77 174 0,89
5,0 -10,0 271 84 187 0,89
10,0 - 20 ,0 210 62 148 0, 70

Vione et al . (1996 )
Argissolo Vermelho- 0 - 5, 0 141 77 64 0,45
Amarelo distr ó fico arenoso 5, 0 -10, 0 137 72 65 0,47
10 ,0 -20,0 109 36 73 0,67
20,0 -40, 0 76 9 67 0,88

Vione et al . (1997)
Cambissolo H ú mico 0- 2,5 948 730 218 0, 27
alum í nico argiloso 2.5- 7,5 700 509 191 0 ,32
7.5-12,5 544 368 176 0,32
12,5-17,5 436 264 172 0,39

Rheinheimer & Anghinoni ( 2003)


Latossolo Vermelho 0- 2,5 926 708 218 0, 24
distr ófico argiloso 2.5- ,5
7 837 607 170 0, 20
7.5-17,5 688 550 138 0, 20

Latossolo Vermelho 0- 2,5 863 588 275 0,32


distrof é rrico muito argiloso 2.5- 7,5 770 567 203 0,26
7.5-17,5 616 446 170 0,28

e a redistribuiçã o das formas orgâ nicas de P, mais m óveis no solo e menos susceptíveis
às reações de adsorção. A descida de P no perfil do solo, com o tempo de cultivo (Figura 2c), i -
tem sido atribuída à decomposiçã o dos resíduos orgâ nicos depositados na superf ície, à
decomposiçã o das raízes no solo e à deposiçã o do adubo a maiores profundidades por
alguns tipos de semeadoras adubadoras. Os á cidos orgânicos diminuem a sorçã o de P
pelo solo, aumentando a sua concentra ção na soluçã o, enquanto os compostos orgâ nicos
de P, por serem mais sol úveis e m óveis no solo, deslocam-se às camadas inferiores do
solo, independentemente do modo de aplica çã o do adubo (Quadro 16) .
Independentemente do tipo de solo, m é todo de preparo, rota çã o de culturas ou da
camada de solo analisada, as formas moderadamente lábeis (extraídas com HC10,1 mol L 1) '

são a maior fonte disponível de P no solo (Selles et al., 1997; Rheinheimer & Anghinoni,
2001; Rheinheimer et al., 2002). Em ambos os compartimentos, inorgâ nico e orgâ nico, há
uma dominância dessas formas, seguidas das formas l á beis (extra ídas com resina e

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 909

Quadro 15. Teores e formas de f ósforo em diferentes solos e manejos no Sul do Brasil

Manejo do solo e de Forma de f ósforo


Solo/textura Rela çã o Po/Pt
cultura Total Inorgâ nico Orgâ nico

mg kg 1 '

Selles et al . (1997)
Latossolo Vermelho Plantio direto*1 ) 218 171 47 0,22
distr ó f í co argiloso Convencional *1 ) 193 157 36 0,19

Rheinheimer & Anghinoni (2003)


Latossolo Vermelho Plantio direto* 2 ) 863 588 275 0,22
distrof é rrico t í pico, muito Convencional *2) 762 501 261 0,31
argiloso Aveia preta / milho* 2) 833 618 265 0,31
Trigo / soja * 2) 877 614 263 0,31
Rota çã o*2) 781 531 250 0,32

Latossolo Vermelho Plantio direto*3) 926 708 218 0,23


distrofico t í pico, argiloso Convencional * 3) 700 514 186 0,27
Após sorgo*3) 629 412 217 0,34
Após soja *3) 651 423 228 0,35

Argissolo Vermelho Plantio direto*4 ) 444 275 169 0,38


distr ó f í co t í pico, franco Convencional *4 ) 342 264 78 0,23
arenoso Aveia preta / milho *5) 462 365 97 0,21
Aveia + ervilhaca / milho 433 309 124 0,29
+ feijã o miudo *5)
Guandu / milho*5) 473 331 142 0,30

(1 )
Passo Fundo sete anos. (2) Santo Angelo - 18 anos. (3)
Passo Fundo - 14 anos. (4 )
Eldorado do Sul - 12 anos.
(5)
Eldorado do Sul - 14 anos.

Quadro 16 . Distribuiçã o de f ósforo disponível ( Mehlich-1) no perfil do solo no per íodo de


enchimento de gr ã os de milho, considerando o modo de adubaçã o o preparo do solo e o
tempo de cultivo

Profundidade (cm )
Preparo do solo Modo de aduba çã o
0 -5 5 -10 10 -15 15 - 25 25 - 35
S

mg kg
Safra 1989 / 90
Convencional Lan ç o 18 8 5 1 1
Linha 20 16 5 2 1
Plantio direto Lan ç o 17 6 3 1 1
Linha 36 16 4 2 1
M é dia 23 12 4 2 1
Safra 1999 / 00
Convencional Lan ço 20 13 15 5 2
Linha 15 11 8 3 1
Plantio direto Lan ço 18 6 3 1 1
Linha 28 13 11 11 3
Média 20 11 9 5 2

Fonte: Anghinoni et al. (2002).


i.

FERTILIDADE DO SOLO
910 IBANOR ANGHINONI

NaHCOj), que aumentam bastante à medida que se adiciona mais P ao solo (Conte et alv
2003). Da mesma forma, em qualquer condiçã o (tipo, preparo e camada de solo e sucessão
de cultura ), dentre as formas inorgâ nicas, o ortofosfato é encontrado em maior quantidade
e, dentre as orgâ nicas, o P diester é o mais importante (Rheinheimer et al., 2002). Além
desses, o P contido na biomassa microbiana , especialmente na camada superficial e
após uma adiçã o recente de P, pode ser uma fonte importante desse nutriente às plantas
( Balota et al., 1998; Carneiro et al ., 1999; Vargas & Scholles, 2000; Conte et al., 2002 ) . O
fluxo anual de P pela biomassa microbiana pode chegar a 22 mg dm 3 ano 1, em solo de ' '

textura média e alta adiçã o de resíduos (Rheinheimer et al., 2000b ) .


A maior disponibilidade de P no sistema plantio direto tem sido detectada pelos
diferentes mé todos de avalia çã o da disponibilidade de P: Mehlich-1, Mehlich-3 e resina
de troca aniônica ( Resina ) . Embora tenha sido atribuída ao mé todo da Resina a extra çã o
das fra ções orgâ nicas lá beis de P (Sá, 1999, 2004), esses mé todos pouco têm-se diferenciado
entre si e fornecem uma boa estimativa da disponibilidade desse nutriente no sistema
plantio direto (Gatibone, 2003; Schlindwein, 2003) . Foi verificado també m (Quadro 17)
que, no sistema plantio direto consolidado, as correla ções dos valores de análise do solo
pelos m é todos Mehlich-1 e Resina, com um conjunto de dados de planta ( teor de P na
folha -índice, na matéria seca e nos gr ã os e no rendimento de milho ), foram superiores
para a camada de 0-10 cm do que para a de 0-20 (e 10-20) cm, o que indica ser essa
camada (0-10 cm ) mais adequada para representar o estado de disponibilidade de P
nesse sistema .
A utiliza çã o, no RS / SC desde 1997, dos teores cr íticos do sistema convencional
(com amostragem do solo na camada de 0-20 cm ), no sistema plantio direto consolidado
(com amostragem de 0 a 10 cm ), foi recomendada pela necessidade de atender à demanda
existente na época, uma vez que os rendimentos das culturas eram similares nos dois
sistemas (convencional e plantio direto) , para as mesmas quantidades de adubos
aplicadas (Petrere et al., 1996) .

Quadro 17. Coeficientes de correla çã o linear simples ( r ) entre o f ósforo extra ído pelos mé todos
de Mehlich-1 e de resina de troca aniônica ( Resina ) em diferentes camadas de um Latossolo
Vermelho argiloso em plantio direto e determinações em plantas de milho

Mehlich - 1 Resina
Determina çã o
0 - 20 cm 0- 10 cm 0- 20 cm 0-10 cm

P na folha í ndice (dag kg 1) 0 , 94 0 , 98 0 , 81 0 , 96


P na massa seca (dag kg 1) 0 , 90 0 , 87 0 , 77 0 , 98
P no gr ã os (dag kg 1) 0 , 88 0 , 84 0 , 83 0 , 91
P absorvido ( mg planta 1) •
*
0,68 0 , 75 0 , 95 0 , 94
P no gr ã os ( mg planta 1) 0 , 67 0 , 64 0 , 44 0 , 76
Rendimento gr ã os ( t ha 1) 0 , 45 0 , 54 0 , 52 0 , 75
M é dia 0 , 75 0 , 77 0 , 72 0,88

Fonte: Sá ( 1999 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 911

De maneira geral, a resposta das culturas à adiçã o de P tem sido relativamente


pequena e em doses baixas desse nutriente ( Quadro 18). Isso, provavelmente, pode ser
devido ao rá pido atingimento do teor crítico das culturas, à ineficiência do mé todo
Mehlich-1 em detectar a disponibilidade das formas orgâ nicas de P no solo e à dificuldade
de interpreta çã o do nível de resposta a esse nutriente em uma rotaçã o ou sequência de
culturas (Sá , 1999, 2004) . No entendimento desse autor, ocorre, nesse sistema, uma sé rie
de transformações nas fra ções (orgâ nica e inorgâ nica ), de ordem biológica e química, que
reduzem sensivelmente a adsor ção. Neste caso, a disponibilidade de P seria mais elevada,
possibilitando maior aproveitamento desse nutriente pelas plantas . As vantagens do
sistema plantio direto em rela çã o ao convencional quanto à disponibilidade desse
nutriente devem-se, inicialmente à elimina çã o da erosã o e, posteriormente, ao maior teor
de á gua ( mecanismo de difusã o ), à menor adsor çã o pelo solo ( nã o exposiçã o a novos
sítios), à descida desse nutriente no perfil do solo, à sua reciclagem, à complexaçã o do AI
por compostos orgâ nicos e à melhoria da fertilidade do solo como um todo, obtida com o
tempo de cultivo no sistema .
No entanto, foi verificado (Schlindwein & Gianello, 2004) que os teores críticos de P
(e K ) sã o maiores na camada de 0-10 cm em rela çã o à camada de 0-20 cm. Isto decorre,
tanto no sistema convencional como no plantio direto, da concentra çã o superficial dos
nutrientes nos dois sistemas. Os autores atribuem tais diferenças ao aumento no potencial
de produtividade das culturas em plantio direto e aos mé todos utilizados, por é m,
advertem para a necessidade de mais estudos em situações controladas com experimentos
delineados com o fim específico de calibra çã o e obtençã o de curvas de resposta à
aduba çã o.
A resposta das culturas a diferentes modos de aplica çã o de adubos fosfatados
depende da intera çã o de fatores relacionados com o adubo (dose e solubilidade) , cultura
( espa çamento entre linhas, taxa de crescimento, ciné tica de absor çã o e distribuiçã o do
sistema radicular ) e caracter ísticas do solo (químicas e f ísicas, em função do manejo) que
influem no suprimento de P à s plantas ( Anghinoni, 2004). A aplica ção localizada desse
nutriente, na linha de semeadura ou a lanço, na superf ície do solo, é uma forma eficiente
de aplica çã o ao longo dos anos de cultivo no sistema plantio direto, especialmente se, na
instala çã o, foi feita uma adubaçã o corretiva com incorporaçã o do adubo no solo. Maior
eficiência da aplica çã o nas linhas de semeadura de milho, por exemplo, ocorre quando
da aplica çã o de doses pequenas de P especialmente em solos com alta capacidade de
adsor çã o ( Anghinoni & Barber, 1980). À medida que as doses e, ou, o teor de P no solo
aumentam, ocorre maior eficiência do uso de P com o aumento da fra çã o fertilizada até
um má ximo e depois diminui, porque o teor desse nutriente no solo diminui mais do que
o aumento do volume de raízes que entra em contato com o fertilizante, mesmo com o
estímulo no crescimento de ra ízes na fra çã o fertilizada do solo ( Anghinoni & Barber,
1980; Klepker & Anghinoni, 1993).
Verifica -se que, em solos com teor alto de P, o efeito da localização passa a ser menos
importante ( Quadro 19 ), visto que o crescimento das plantas é determinado pelo
suprimento do nutriente pelo solo enquanto a aduba çã o tem por objetivo manter o teor
do nutriente no solo. No entanto, mesmo em solos com teor de P na faixa "Alta" ou
"Muito alta", é recomend á vel aplicar uma pequena quantidade na linha de semeadura,

FERTILIDADE DO SOLO
912 IBANOR ANGHINONI

Quadro 18. Rendimentos médios de solos das culturas à aplica çã o de f ósforo em plantio direto

S á (1999 ) Kochhann (1991)

P2O 5 Solos ( , ) Anos ( 2 ) Culturas * 3* P2O 5 Culturas * 4 *

kg ha - 1 t ha 1 kg ha 1 t ha 1

0 7 , 30 6 , 54 11 , 87 0 13, 74
30 8 , 00 7 , 41 12 , 86 20 14 , 45
60 8, 12 7 , 47 13 , 00 40 15 , 16
90 8, 07 7 , 70 12 , 96 80 15 , 87
120 7 , 75 7 , 57 16 , 60 *

(1 )
Rendimento m é dio de milho em três Latossolos argilosos, um Latossolo arenoso, dois Cambissolos arenosos e
um Rubrozé m argiloso do Estado do Paran á . : (2 ) Rendimento m édio de milho em três anos de avalia çã o em
Latossolo Vermelho-Amarelo do Estado do Paraná . (3) Rendimento acumulado de milho, trigo e soja em Latossolo
Vermelho argiloso do Paraná . ( 4 ) Rendimento acumulado de quatro cultivos de soja e um de milho em Latossolo
Vermelho argiloso do Estado do Rio Grande do Sul .

Quadro 19 . Rendimento de gr ã os de diferentes culturas em resposta a diferentes modos de


adubaçã o de f ósforo em solos do Estado do Rio Grande do Sul

Trigo Soja Aveia Milho Milho


Modo de aplica çã o do adubo fosfatado
(1994 ) 1994/95 1995 1995/96 1996/97

t ha °

Solo com teor " Alto" de f ósforo


Sem f ósforo ( P) 1,54 2,68 2,12 5, 26 8,32
P na linha em todos os cultivos 1,52 2,79 2,15 5,73 7,76
P a lanço em todos os cultivos 1,46 2,66 2,18 5,38 8,50
P na linha no inverno e lanço no verã o 1,46 2,60 2,11 5,31 8,24
P a lanço no inverno e linha no verã o 1,42 2,81 2,18 5,68 7,85
P a lanço em trigo, soja e aveia e em linha no milho 1,51 2,72 2,12 5,53 7,98

Teste F nsO ) ns ns ns ns

Solo com teor " M é dio" de f ósforo


Sem f ósforo (P) 0,86 c 2,04 b 1,14 b
P na linha em todos os cultivos 1,98 a 2,04 a 1,14 a
P a lanço em todos os cultivos 1,64 b 2,94 a 2,02 a
P na linha no inverno e lanço no verã o 2,02 a 2,81 a 2,17 a
P a lanço no inverno e linha no verão 1,69 b 2,80 a 2,03 a
P a lanço em trigo, soja e aveia e em linha no milho 1,68 b 2,84 a 2,12 a

Teste F **< 2) **

0 ) Não -sginificativo
( P 0 05) . (2 ) Significativo ( P < 0,01 ) .
/

Fonte: Adaptado de Põ ttker (1997 ) e Wiethõlter et al . (1999 ) por Oliveira et al . ( 2002 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 913

que favorece o estabelecimento da cultura e propicia rendimento mais elevado. A


adubaçã o em linhas assume, no entanto, propor ções diferentes de mistura do adubo com
o solo, considerando o espa çamento entre os sulcos de semeadura : no milho (60-80 cm ),
a fra çã o de solo que entra em contato com o fertilizante é de aproximadamente 5 %; na
soja (40 cm ), mais ou menos de 8 %, e no trigo (17,5 cm ), mais ou menos de 20 %.

Dinâmica e Disponibilidade de Potássio

A mudança do sistema convencional para o plantio direto altera a dinâ mica de K no


solo, pelo aumento da capacidade de troca de cá tions (CTC) e por sua reciclagem, via
culturas comerciais e de cobertura de solo. No entanto, o escoamento superficial da á gua
pode provocar perdas de K contido nos resíduos e nas camadas superficiais do solo. Isto
acontece porque o K é livre nos tecidos vegetais, podendo ser facilmente removido pela
á gua após a senescência das plantas ( Mielniczuk, 2005) .
O efeito principal do manejo conservacionista do solo deve-se à presença da planta,
e seus resíduos sobre o solo, à atividade radicular (agrega çã o e ciclagem de nutrientes) e
à rela çã o agrega çã o-ac ú mulo de mat é ria orgâ nica . Especialmente dessa relaçã o, que é
de efeito m ú tuo, surgem diversas propriedades emergentes, dentre elas a CTC que aflui
na dinâ mica de cá tions no solo, destacando-se o K ( Figura 12 ).
Os aumentos da CTC e do pH do solo, devidos à elevação do teor de matéria orgânica
do solo e à calagem, respectivamente, aumentam a capacidade do solo em reter K trocá vel
e modificam sua distribuiçã o entre a troca e a soluçã o do solo, reduzindo o seu teor na
soluçã o, com diminuiçã o das perdas por lixivia çã o.

Figura 12. Relaçã o entre o teor de carbono orgâ nico total e a capacidade de troca de cá tions
(CTC ) efetiva e a pH 7,0 do solo. Pontos sã o médias de duas doses de nitrogénio e três
repetições. ** significativo a 1 %.
Fonte : Bayer & Mielniczuk (1997a ) .

FERTILIDADE DO SOLO
914 IBANOR ANGHINONI

A adiçã o do adubo potássico superficialmente ou na linha de semeadura, o contínuo


aporte de resíduos e o mínimo revolvimento do solo propiciam grande concentraçã o de K
na superf ície do solo. Por sua rá pida libera çã o dos resíduos das culturas, esse nutriente
passa para o solo, formando um gradiente decrescente no perfil, a partir da superf ície
( Figura 2d ) . Nos sistemas de produçã o sem pousio entre uma cultura e outra (sistema
planta-colhe-planta ), o K absorvido permanece a maior parte do tempo no tecido vegetal,
protegido da perda por erosã o e lixivia çã o. Embora a quantidade de K absorvido seja
grande, a quantidade removida pelos gr ã os é pequena ( ± 20 %) e o restante retorna ao
solo. Assim, a produ çã o de matéria seca das culturas pelo melhoramento da fertilidade
do solo intensifica a reciclagem de K (Santi et al., 2003). Rossato ( 2004) observou aumento
na reciclagem desse nutriente e no crescimento e rendimento das culturas de gr ã os, com
a adiçã o de N, pelo adubo, e na utiliza çã o de uma cultura recicladora ( nabo forrageiro )
entre o milho e o trigo, sendo este beneficiado pelo maior suprimento de K proveniente da
decomposiçã o do nabo (Figura 13) . A inclusã o da aveia forrageira antes do milho
representou, por sua vez, uma absorçã o de 131 kg ha 1 de K, o que, somado à contribuiçã o "

do nabo, de 160 a 210 kg ha 1 de K, antes do trigo, resulta em quantidades bem superiores


"

às necessidades da cultura , indicando que a aduba çã o potássica pode ser diminuída,


especialmente se houver culturas de cobertura .

Gr ã os trigo
800 i 770 T 15

700 - § MS trigo § 80
Gr ã os trigo
608 |
600 - 13

03
c
500 - 483
Gr ã os trigo
t
^ MS trigo 66
MS nabo 264

13
CUD
44
Gr ã os trigo § |
MS trigo
N\\NV\\X\VsVsSN
58 MS nabo
197
IA

. 400 -
03 389 | V V V V V V ' V V V V V Y V )

3
L
xxxx>oooooo<xxxx> 11 x Grãos milho ] 57 >< Grãos milho 57
3
O
^> MS trigo
^^
46
^ Aà AAAA '

IA
g Gr ãos milho < 38 Gr ãos milho 38
300 - \
*

MS milho :: 163 :: MS milho 223 :: MS milho 163 ::: MS milho 223


200 -

100 - %
%

0
Ú MS aveia

0N
m
^ 2
131
é
MS aveia

180 N
^ ^ 131 MS aveia

0N
^ ^ m^
131 MS aveia

180 N
131

sem com
Cultura intercalar de nabo entre o milho e trigo

Figura 13. Conte údo de K na maté ria seca da aveia, milho, nabo e trigo e exportaçã o pela
colheita de gr ãos do milho e trigo em duas doses de N (0 e 180 kg ha 1).
Fonte: Rossato ( 2004) .

FERTILIDADE DO SOLO
X V - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 915

A utiliza çã o de qualquer um dos m é todos Mehlich-1, Mehlich-3 e Resina possibilita


boa avalia çã o da disponibilidade de K em sistema plantio direto. O teor crítico desse
nutriente no solo em plantio direto com soja , trigo e milho é, a exemplo do P, conforme
Schlindwein (2003), maior do que o atualmente utilizado nos Estados do RS e SC no
sistema convencional, tanto para solos amostrados na camada de 0-20 cm, como na de
0-10 cm .
Diferentemente do P, a eficiência de utiliza çã o de K pelas culturas é pouco afetada
pelo modo de aplica çã o, resultante de sua maior mobilidade no solo. No entanto, é
recomend á vel que, no caso de aduba ções corretivas em solos com teor "Muito baixo" ou
"Baixo" desse nutriente, os adubos pot á ssicos sejam incorporados ao solo. As aduba ções
de manutençã o em culturas de grã os sã o igualmente efetuadas nas linhas de semeadura .
Devem-se evitar aplica ções de doses elevadas desse nutriente na linha de semeadura em
solos com baixa CTC ( < 5,0 cmolc dm 3), dada a elevada salinidade dos adubos potássicos.
'

Os maiores benef ícios do sistema plantio direto em rela çã o ao K sã o devidos, à


semelhança do que ocorre com o P, inicialmente ao controle eficiente da erosã o do solo e,
posteriormente, ao maior teor de umidade do solo (difusã o), menores perdas por lixiviação
(aumento da CTC do solo ) e maior ciclagem no sistema, pela presença de culturas de
cobertura e recicladoras.

Estrat égias da Aduba çã o Fosfatada e Pot á ssica


Na instala çã o do sistema plantio direto, recomenda -se fazer uma aduba ção corretiva
total de P e de K (em uma ú nica aplicaçã o na primeira cultura ), quando os teores estiverem
nas faixas "Muito baixa" e "Baixa". Isso é mais importante para o P, pela caracter ística
dominante de alta capacidade de adsor çã o que apresentam os solos brasileiros. Como,
nessa situa çã o, as doses recomendadas sã o geralmente elevadas, os adubos devem ser
aplicados a lanço e incorporados ao solo, de preferência com grade pesada. As doses a
serem aplicadas sã o indicadas pelos programas regionais de recomenda çã o de adubaçã o,
com base nos resultados das análises de solo da camada de 0-20 cm. No caso de
recomendações elevadas (corretiva mais manutenção), é conveniente aplicar 2 / 3 a lanço,
com incorpora çã o ao solo, e o restante na linha de semeadura . As fontes de P utilizadas
para a adubaçã o corretiva podem ser tanto os fosfatos acidulados como os termofosfatos,
as escó rias e os fosfatos naturais reativos; a fonte de K é geralmente o cloreto de K.
Nos casos em que, por alguma razã o, nã o puder ser feita a aduba çã o corretiva total,
existe a alternativa de efetuar a aduba çã o corretiva gradualmente, em dois ou mais
cultivos. Essa recomenda çã o é ciisponibilizada em algumas regi ões por tabelas
específicas: em cinco anos, para solos de Cerrado (Sousa & Lobato, 2004), em dois cultivos,
para solos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina (CQFS RS / SC, 2004) ou, ainda, a
alternativa de aumentar de 30 a 40 % a aduba çã o fosfatada e potássica de plantio nos
primeiros quatro a seis cultivos a partir da instala çã o do plantio direto ( Lopes et al .,
2004).
Para lavouras em plantio direto consolidado, que já apresentam os benef ícios do
sistema, é aconselhá vel que a adubaçã o seja embasada na aná lise do solo da camada
considerada (de 0-20 cm, em geral, e de 0-10 cm, nos Estados do Rio Grande do Sul e de
Santa Catarina ), e aplicada preferencialmente, na linha de semeadura ou, também, a

FERTILIDADE DO SOLO
916 IBANOR ANGHINONI

lanço na superf ície do solo, quando os teores de P e de K estiverem nas faixas "Alta " e
"Muito alta ". No caso do P, as aduba ções anuais de manutenção ou de reposiçã o devem
ser efetuadas, de preferência , com fosfatos sol ú veis. Para a utiliza çã o das demais fontes
de P, é necessá rio considerar outros fatores, como a velocidade de dissoluçã o dos fosfatos
naturais farelados, por exemplo, que é dependente do pH, dos teores de Ca e de P do solo
e da intensidade de seu contato com o solo. Esses fosfatos, mesmo em condições favorá veis
à sua dissolu çã o, apresentam eficiência agronó mica da ordem de 60 a 65 %, no primeiro
cultivo, em compara çã o com o superfosfato triplo (Rein et al., 1994; Kaminski & Peruzzo,
1997; Sousa & Lobato, 2004) . Somente a partir do segundo ou terceiro cultivo, esses
fosfatos atingem eficiência similar a dos fosfatos sol ú veis.

Adubação com Enxofre


4

Dinâ mica e Disponibilidade de Enxofre


Trabalhos de pesquisa para estudar a dinâ mica e a disponibilidade de S e a resposta
das culturas à aplica çã o desse nutriente no Brasil sã o poucos no sistema convencional
de cultivo e praticamente inexistentes no sistema plantio direto. Embora a principal
fonte de S para as plantas seja a mat é ria org â nica , o sulfato (S042 ) da camada
subsuperficial do solo é utilizado como indicador de sua disponibilidade às plantas.
Este fato se justifica pelo deslocamento do â nion sulfato pelo fosfato nos sítios de troca,
na camada superficial ( Lopes et al., 2004) .
No sistema plantio direto, espera -se a migra çã o do sulfato para a camada
subsuperficial ou mesmo que a lixivia çã o pelas águas de percola çã o aumente, de acordo
com o aumento do teor de fosfato na soluçã o . Uma menor disponibilidade de S nas
etapas iniciais da adoção do sistema plantio direto decorre do aumento do teor de matéria
orgâ nica do solo com o tempo de cultivo no sistema plantio direto, que mantém a relação
C : S elevada . Com o passar do tempo de cultivo nesse sistema, a disponibilidade de S
deve aumentar pelo aumento da ciclagem da pró pria matéria orgâ nica e dos resíduos,
atingindo os teores cr í ticos desse nutriente.
Estratégias da Adubação com Enxofre
Para recomendar a aplica çã o de S, deve -se , inicialmente, diagnosticar a
disponibilidade desse nutriente, por ipeio da aná lise do solo e, ou, da aná lise foliar. Os
teores críticos no solo variam de 5 a 10 mg dm 3 de S (extra ído com fosfato monocá lcico,
'

com 500 mg L 1 de P) para culturas menos e mais exigentes, respectivamente. No caso de


'

insuficiência, recomenda -se a aplica çã o de 20 a 40 kg ha 1 de S, que sã o suficientes para


'

evitar possíveis restrições de produtividade das culturas. Para isso, podem ser utilizados
adubos que contenham esse nutriente em sua formulação, como sulfato de amónio (22-24 %),
superfosfato simples (10-12 % ), sulfato de potássio (15-17 % ) ou gesso agrícola (13 % )

Adubação com Micronutrientes


Dinâmica e Disponibilidade dos Micronutrientes
A dinâ mica e a disponibilidade dos micronutrientes no sistema plantio direto sã o
influenciadas pelos mesmos fatores que atuam no sistema convencional (Capítulo XI).

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJ ó EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 917

O aumento do teor de matéria orgâ nica no sistema plantio direto deve reduzir, ao menos
em parte, sua disponibilidade pela forma çã o de complexos organometá licos está veis,
especialmente com o Cu. Da mesma forma, o aumento do teor de P no solo nesse sistema
deve aumentar o antagonismo P x Zn, podendo levar à deficiência desse micronutriente.
Por outro lado, como a dinâ mica da acidez é alterada no sistema plantio direto / com
o pH ideal a ser atingido sendo menor (5,5) do que no convencional (6,0), haver á maior
disponbilidade de Zn, Cu. Fe, Mn e B e menor disponibilidade de Mo na fase consolidada.
No caso de calagem superficial, o pH da camada de 0-5 cm pode atingir valores elevados
( pr ó ximo de 7,0 ), o que vai diminuir , acentuadamente, a disponibilidade desses
micronutrientes (à exceçã o do Mo ) .
A utiliza çã o do sistema plantio direto, com o manejo do solo e sistemas de cultura
recomendados, com a inclusã o de espécies de grande crescimento radicular e produçã o
de biomassa, contribuir á , de forma significativa , para uma grande reciclagem de
i
micronutrientes, suficiente para suprir a demanda das culturas.
As respostas das culturas à adi çã o de micronutrientes no sistema convencional de
cultivo foram caracterizadas no capítulo XI. Sã o dependentes do tipo de solo e ocorrem
predominantemente em solos arenosos e com baixo teor de mat é ria org â nica ,
especialmente nos de Cerrado. Em trabalhos realizados no sistema plantio direto no
Estado do Rio Grande do Sul, nã o foram observadas respostas das principais culturas
de grã os (Quadro 20) à adiçã o de micronutrientes em diferentes solos.

Quadro 20. Resposta de culturas de gr ã os à aplica çã o de micronutrientes em diferentes locais


e solos em plantio direto no Estado do Rio Grande do Sul

Local/solo Cultura Ano / efeito B <2 > CuO > Mn < 4 > Zn < 5 >

Passo Fundo I TrigoO ) 2000 - Imediato SR < 6' 7 ) SR SR SR


Latossolo Vermelho Soja 2000 / 01 - Residual SR SR SR SR
Milho 2000 / 01 - Residual SR SR SR SR
Cevada 2001 - Residual SR

Passo Fundo II Soja 2001 / 02 - Residual SR SR SR


Latossolo Vermelho Milho 2001 / 02 - Residual SR SR SR
Cevada 2002 - Residual SR SR SR
TrigoO ) 2002 - Imediato SR SR SR

Vacaria TrigoO ) 2001 - Imediato SR


Latossolo Bruno Soja 2001 / 02 - Residual SR
Trigo 2002 - Residual SR
{U
Nutrientes aplicados na linha de semeadura do trigo como: (2 ) Bó rax: 0, 1, 2, 4 e 10 kg ha 1. í3> Sulfato de cobre:
'

0, 2, 4, 6 e 15 kg ha 1. í4 ) Sulfato de manganês: 0, 2 , 4, 8 e 20 kg ha 1 . <5) Sulfato de zinco: 0, 2, 4, 6 e 15 ~l . ( 6) Sem


'

,
'

resposta significativa. <7 Toxidez de boro na maior dose.


Fonte: Organizado por Bissani & Gianello (2003) a partir de v á rios autores.

FERTILIDADE DO SOLO
918 IBANOR ANGHINONI

Estraté gias da Aduba çã o com Micronutrientes

Recomenda -se diagnosticar , por meio da aná lise do solo e, ou, de tecido vegetal, a
disponibilidade dos micronutrientes no solo. Os teores de deficiê ncia , cr íticos e de
sufici ê ncia sã o estabelecidos nos programas regionais de aduba çã o. A forma de
adubaçã o (solo ou foliar ), a filosofia de aduba çã o (corretiva, de segurança, de manutenção
ou de restituiçã o ), as doses e as fontes, em geral, seguem as recomenda ções regionais
( veja capítulo XI ) .

A FERTILIDADE DO SISTEMA SOLO

A Fertilidade do Solo passou a ter destaque no Brasil a partir da d écada de 60, com
os programas de recomenda çã o de aduba çã o e de calagem com base em análises de solo.
Isso ocorreu gra ças à expansã o de á rea cultivada, especialmente com espécies graníferas
em solos á cidos e de baixa fertilidade, proporcionada pela mecaniza çã o agr ícola e pelo
uso de insumos modernos na agricultura .
Tradicionalmente, a fertilidade é definida como a capacidade do solo de fornecer às
plantas nutrientes em quantidade e propor çã o adequadas, bem como de eliminar ou
manter os teores de elementos em níveis nã o-tóxicos à s culturas de interesse. Sua
avalia çã o é feita pela an á lise de alguns atributos qu ímicos. Assim, uma das aplica ções
do seu conhecimento consiste na correçã o do solo e na adubaçã o das culturas, conforme
o rendimento esperado, e na manutençã o dos nutrientes do solo em teores dentro da
faixa de suficiência .
I

Considerando os in ú meros fatores que interferem na fertilidade, a aná lise química


do solo, muitas vezes, é inadequada para sua avalia ção, pois considera momentaneamente
apenas uma parte do processo de suprimento dos nutrientes para as plantas. Esse
procedimento torna -se ainda mais questionado quando o solo é submetido a manejos
conservacionistas, nos quais as relações construídas com o tempo de cultivo, dentre as
caracter ísticas qu í micas , f ísicas ou biol ó gicas, s ã o preservadas e ocorre ,
concomitantemente, um aumento do teor de matéria orgâ nica do solo. Neste caso, uma
abordagem sisté mica do solo, em que h á mudança de enfoque, das partes para o todo,
com destaque para as interações entre as partes, pode ser muito ú til para entender melhor
o funcionamento do solo ( Addiscott, 1995; Mielniczuk et al., 2003; Nicolodi et al., 2005).
O funcionamento do solo de regiões tropicais e subtropicais como um sistema aberto,
afastado do equilíbrio termodinâ mico, com base na teoria das estruturas dissipativas,
processo de auto-organização, fluxos de matéria e energia, mudança de nível de ordem e
gera ção de propriedades emergentes, foi descrito por Mielniczuk et al. ( 2003) e está
resumido no item Acú mulo de Matéria Orgâ nica e Transformações no Sistema Solo, deste
capítulo. De acordo com esses autores, quanto maior o fluxo de matéria e de energia
dentro e entre os subsistemas (mineral, biológico e vegetal ), maior a probabilidade de
serem geradas propriedades emergentes importantes na regula ção das funções do solo e
aumento da sua qualidade.

FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 919

Mesmo que possam ser identificadas algumas propriedades emergentes diretamente


relacionadas com o conceito restrito (qu ímico) de fertilidade do solo, como a capacidade
de troca de cá tions e de retençã o de á gua ( Figura 9 ), os mé todos atualmente utilizados
nã o sã o adequados para a avalia çã o do solo cultivado por longo per íodo no sistema
plantio direto. Neste sistema de cultivo, os teores de AI observados comumente sã o
menos tóxicos para as plantas, uma vez que ocorrem altera ções nas rela ções entre os
indicadores de acidez e de fertilidade com o desenvolvimento e o rendimento das plantas
(Salet, 1998; Sá, 1999; Põ ttker, 2000; Wiethõlter, 2000; Caires, 2000; Anghinoni & Nicolodi,
2004; Nicolodi et al ., 2004, 2005; Lopes et al., 2004 ), resultantes do processo de auto-
organiza çã o e mudança do nível de ordem do sistema solo.
Com a finalidade de melhorar o entendimento da fertilidade (funçã o e definiçã o ) e
sua avalia çã o, est á sendo desenvolvido um trabalho ( Nicolodi, 2005), cujo enfoque do
funcionamento do solo é sistémico. Nesse enfoque, a Fertilidade do Solo é definida como
uma propriedade emergente da auto-organiza çã o do sistema , que tem sua magnitude
determinada pelas intera ções entre os subsistemas do solo com sistemas vegetal,
atmosf érico e antrópico. Nesta concep çã o, a fertilidade é consequ ência das condições
fornecidas pelo solo para desenvolvimento e reproduçã o das plantas. O processo auto-
organizativo do solo é dinâ mico e, provavelmente, sejam poucos os fatores que gerem
instabilidade, promovam mudança do estado de ordem do sistema e determinem a
magnitude da fertilidade do solo e a produtividade das plantas. Nesta abordagem, a
magnitude da fertilidade pode ser diferente sem que, necessariamente, ocorram mudanças
nos valores das caracter ísticas qu í micas avaliadas . Por isto, é importante o
desenvolvimento de estudos que permitam definir a fertilidade do solo sob uma abordagem
sisté mica e que levem a repensar seus mé todos de avaliaçã o.

AGRADECIMENTOS

O autor agradece ao Prof . Marino José Tedesco, à Dra . Fabiane Vezzani e à


Doutoranda Margarete Nicolodi, pela correçã o do texto e pelas valiosas contribuições de
conteú do, com melhorias significativas do presente trabalho.

LITERATURA CITADA
ADDISCOT, T.M. Entropy and sustainability. Eur . J. Soil Sei ., 42:161-168, 1995.

AITA, C.; FRIES, M.R. & GIACOMINI, S.J . Ciclagem de nutrientes no solo com plantas de
cobertura e dejetos de animais. In: REUNIÃ O BRASILEIRA DE CI Ê NCIA DE SOLO E
NUTRIÇÃO DE PLANTAS, 24., Santa Maria, 2000. Anais. Santa Maria, Sociedade Brasileira
de Ciência do Solo / Universidade Federal de Santa Maria, 2000. CD-ROM

AMADO, T.G. & MIELNICZUK, J. Estimativa da aduba çã o nitrogenada para o milho em


sistemas de manejo e culturas em cobertura do solo. R. Bras. Ci. Solo, 24:553-560, 2000.

FERTILIDADE DO SOLO
XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU
MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS
Maria Betâ nia Galv ã o dos Santos Freire17 & Fernando José Freire17

1/
Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE.
Av . Dom Manuel s / n, CEP 52171-900 Recife ( PE ) .
betania @ depa . ufrpe. br; f .freire@ depa . ufrpe.br;

Conte ú do

INTRODUÇÃO 929
CARACTERIZA ÇÃ O DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS 932
RELAÇÕES E EQUILÍ BRIOS DE ÍONS NO SOLO 938
CORREÇÃO DA SALINIDADE E SODICIDADE 939
Gesso 941
Enxofre ou Ácido Sulf ú rico 941
Sulfato Ferroso 1 942
Cloreto de Cálcio ; 942
DISPONIBILIDADE DE FÓSFORO EM SOLOS ALCALINOS 945
IMPORTÂ NCIA DA MATÉ RIA ORG Â NICA EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 946
DISPONIBILIDADE DE NITROG É NIO EM SOLOS SALINOS 947
USO DE CULTURAS TOLERANTES E FITORREMEDIAÇÃO 948
CONSIDERAÇÕES FINAIS 950
LITERATURA CITADA 951

INTRODUÇÃ O
Tratar de aspectos relacionados com a fertilidade de solos afetados por sais é
relativamente delicado, visto que os sais contêm teores elevados da maioria dos elementos
químicos que se encontram em pequenas concentra ções nos solos em geral, chegando a
ser considerados limitantes ao crescimento e desenvolvimento das plantas. Assim,
quando sã o necessá rias aplica ções de nutrientes via fertiliza ção nos solos, de modo
geral, nos salinos e sódicos, é preciso implementar técnicas que possibilitem a remoçã o
de alguns deles para que se mantenha a disponibilidade de forma equilibrada dos nutrientes.

SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( eds. NOVAIS, R. F., ALVAREZ V „ V.H ., BARROS,
N.F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R . B . & NEVES, J .C.L. ).
930 MARIA BETâ NIA GALVãO DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE

Solos de regiões á ridas e semi-á ridas podem apresentar acúmulo de sais prejudicial
ao crescimento das plantas, decorrente de processos naturais de saliniza çã o ou de
contribui çã o humana , pelo manejo inadequado da irriga çã o . Os sais em excesso
prejudicam o crescimento das plantas nã o só pelos efeitos diretos sobre o potencial
osmó tico da soluçã o do solo e pelos íons potencialmente tóxicos presentes em elevadas
concentrações, mas também pela degradação de algumas propriedades f ísicas dos mesmos,
reduzindo a infiltra çã o da á gua, trocas gasosas, crescimento de ra ízes e, com isso,
dificultando o crescimento das plantas.
Tal tema é bastante estudado em v á rias regiões do mundo ( Kelley, 1951; Richards,
1954; Naidu et al., 1995; Chhabra , 1996). No Brasil, apesar de ainda nã o ter despertado
muita atençã o, alguns pesquisadores começam a se aprofundar no assunto, como pode ser
observado em algumas revisões (Magalhães, 1995; Gheyi, 2000; Ribeiro et al., 2003). Entretanto,
muito há por se pesquisar, principalmente no que se refere à fertilidade destes solos.
Inicialmente, é preciso diferenciar os solos afetados por sais dos demais, uma vez
que apresentam propriedades bem peculiares que nã o devem ser confundidas com outros
tipos de solos. Caracterizam -se por apresentar teores elevados de sais sol ú veis e, ou,
sódio trocável capazes de comprometer o crescimento das plantas, alé m de afetar algumas
propriedades f ísicas do solo.
Os processos de acumulaçã o de sais em solos sã o decorrentes da riqueza do material
de origem, além das condições ambientais reinantes, principalmente no que se refere ao
clima e relevo. A saliniza çã o torna -se bastante pronunciada em locais de clima á rido e
semi-á rido, onde a precipita çã o pluvial é reduzida e mal distribu ída e a elevada taxa de
evapotranspiração propiciam um déficit hídrico durante quase todo o ano, não permitindo
a lixivia çã o dos sais do perfil do solo. Problemas de drenagem promovidos pelo relevo
plano ou algum impedimento subsuperficial també m contribuem para acumula çã o de
sais. Desta forma, extensas á reas no Oeste dos Estados Unidos (Richards, 1954), na
Austrália ( Naidu et al., 1995), África, América do Sul e, até mesmo, na Europa (Chhabra,
1996), convivem com o problema.
O Brasil, por ser um pa ís de dimensões continentais, apresenta solos em situações
diversas, desde os submetidos à excessiva lixivia çã o, até solos em que os sais se
concentram em teores prejudiciais ao crescimento das plantas. Neste contexto, destaca-
se o Sertã o Nordestino, abrangendo também outras á reas, como alguns locais na Regiã o
Amazônica e no Norte de Minas Gerais. Entretanto, a maior representatividade dos solos
salinizados brasileiros encontra -se na Regiã o Nordeste, dada sua condição climá tica.
Sousa (1995), estudando materiais aluviais eutróficos do Vale do Pajeú, em Serra
Talhada (PE ), encontrou a predominâ ncia de plagioclásio sódico na mineralogia das
frações areia e silte, em particular na areia fina, indicando ser um problema regional que
pode facilitar a sodificação pelo suprimento de Na ao sistema . Segundo o autor, embora
os teores de Na apresentem-se relativamente baixos, principalmente na superf ície dos
solos, há uma tend ência de ac úmulo de sais resultante da presença de plagioclásio no
material de origem. Este fato só vem concordar com a id éia já exposta, uma vez que os
solos estudados encontram-se numa planície aluvial favorá vel ao sistema de produção
agrícola irrigada em á reas onde há escassez de chuva .

FERTILIDADE DO SOLO
X V I - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 931

Essas á reas correspondem, em sua maioria , a solos de boa fertilidade natural, loca -
lizadas nas proximidades de mananciais de á gua , com facilidade de acesso à irrigaçã o e,
portanto, com boa aptid ã o agrícola , sendo bastante representativas para a economia
regional. Entretanto, tornam -se subutilizadas pelas limita ções ao crescimento vegetal,
pelas elevadas concentra ções salinas na soluçã o do solo e pelas condições f ísicas que
dificultam a movimenta ção de á gua e ar no perfil, sendo excluídas do processo produtivo .
Outra caracter ística de importâ ncia encontrada na g énese de solos no Sertã o
Nordestino é a presença de camadas de impedimento, limitando a drenagem profunda
do perfil dos solos e, portanto, tornando-os propensos à salinizaçã o. Ribeiro et al. (1991)
e Santos et al . (1991), estudando a génese de Argissolos e Latossolos do Sertã o de
Pernambuco, verificaram que os perfis são caracterizados em profundidade pela presença
de fragipans e, ou, horizontes plínticos, maciços e de consistência firme a muito firme.
Citam, tamb é m, que a drenagem profunda dos solos é limitada pelas rochas do
embasamento cristalino, responsá veis pela formaçã o de lençol freá tico temporá rio, onde
a drenagem lateral é lenta ou inexistente.
Os solos estudados por Ribeiro et al. (1991) fazem parte da Depressão Perif érica do
Rio Sã o Francisco, submetidos a um clima semi-á rido, com uma precipitação média anual
de 573 mm, temperatura média anual de 28,1 °C e evapotranspira çã o potencial anual de
1.825 mm, o que representa um déficit hídrico de 1.252 mm. Esses são os solos dominantes
nos grandes projetos de irriga çã o do Estado, como os de Nilo Coelho, Caraíbas e Pontal.
Se nã o forem observadas as condições de manejo adequadas, sã o á reas propensas à
saliniza çã o pela irriga çã o.
Outros solos caracter ísticos da Regiã o Nordeste sã o os Luvissolos e Planossolos
Solódicos; os primeiros ocupam posições de topo e os últimos sã o restritos às partes mais
baixas do relevo ( Luz et al., 1992). A dinâ mica de formaçã o e evoluçã o destes solos é
controlada por ciclos de eros ã o, transporte e ac ú mulo, provocados pelas chuvas
torrenciais da regiã o, estando as principais diferenças entre os solos subordinadas ao
condicionamento de suas posições ao longo do relevo.
Todavia, os solos afetados por sais no Brasil nã o se restringem aos da Regiã o
Nordeste, nas á reas de clima semi-á rido; sendo constatado acú mulo de sais pelo manejo
inadequado de solos em outras regiões do Pa ís. No Estado de Sã o Paulo, verifica -se a
saliniza ção dos solos em ambientes protegidos ("estufas") provavelmente, em razã o do
controle inadequado da lâ mina de irriga çã o, embora a á gua utilizada seja de boa
qualidade. A aplicação de fertilizantes é feita via á gua de irriga çã o, o que a torna salina,
sendo o n ível de salinidade da á gua diretamente proporcional à quantidade de
fertilizantes adicionada ( Blanco & Folegatti, 2001).
Gra ças ao manejo inadequado da irriga çã o e da drenagem, estas á reas afetadas por
sais têm-se expandido e degradado solos anteriormente utilizados na agricultura. As
á reas salinas e sódicas deixarã o de se expandir no Brasil somente quando houver maior
preocupa çã o com os efeitos da irrigaçã o sobre a capacidade produtiva dos solos, com a
adoçã o de pr á ticas de manejo adequadas para evitar a saliniza çã o de locais ainda nã o
atingidos pelo problema, como também com a melhoria das condições dos solos já
afetados.

FERTILIDADE DO SOLO
932 MARIA BETâ NIA GALVã O DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE

CARACTERIZA ÇÃ O DOS SOLOS


AFETADOS POR SAIS

Alguns critérios sã o utilizados para a classifica çã o de solos afetados por sais


(Richards, 1954): í

- Condutividade elé trica do extratò de satura çã o (CE a 25 °C) - Correlaciona-se com os


teores de sais dissolvidos na soluçã o do solo. É medida no extrato da pasta de
satura çã o do solo, por meio de cpndutivímetro com correçã o para a temperatura de
25 °C.
- Percentagem de sódio trocá vel ( PST) - Corresponde à proporção do Na em rela ção
aos demais cá tions trocá veis do solo, expressa pela rela çã o:

Na
PST = xlOO
CTC

em que Na + é dado em cmolc kg 1 e CTC é a capacidade de troca de cá tions a pH 7,0, em


'

cmolc kg 1.

'
- Rela ção de adsorçã o de Na do extrato de satura çã o ( RAS) - Na avalia çã o da
sodicidade da soluçã o do solo ou da á gua de irriga çã o, relaciona -se a concentra çã o
de Na com as de Ca e Mg, obtendo-se a rela çã o de adsor çã o de Na ( RAS):

[ Na ]
RAS =

^
[Ca + Mg]

em que [ ] indica a concentra çã o do çá tion no extrato da pasta de saturaçã o ou na á gua


de irrigaçã o, em mmolc L 1. "

- pH do solo - Medido na suspensã o solo: soluçã o 1:2,5 e no extrato da pasta de


satura çã o do solo. i

Com base nestes crité rios, podem-se classificar os solos como salinos , quando
apresentam elevadas concentra ções de sais na solu çã o do solo; s á dicos , quando
apresentam o Na trocá vel em concentra ções suficientes para restringir o crescimento de
plantas cultivadas e para promover a dispersã o e a migra ção de colóides ao longo do
perfil, obstruindo poros e dificultando a movimenta çã o de ar e á gua no solo, e salino -
sádicos , quando apresentam os dois fatores citados.
Dentre algumas classifica ções, a mais adotada mundialmente é a de Richards (1954 )
(Quadro 1), que também é utilizada pelo Sistema Brasileiro de Classificaçã o de Solos
( Embrapa, 2006).
Para distinçã o dessas categorias, tomou -se, como base, que a uma condutividade
elétrica do extrato da pasta de saturaçã o do solo (CE) de 4 dS m 1, ocorre 50 % de reduçã o
'

na produçã o da maioria das culturas agr ícolas, sendo este valor crítico proposto para

FERTILIDADE DO SOLO
XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 933

Quadro 1. Sistema de classifica çã o de solos afetados por sais do United States Salinity Laboratory
Staff

Classifica çã o CEd ) PST * 2 ) RASO ) PH

dS rrr 1 %

Salino > 4, 0 < 15 < 13 < 8,5


Só dico < 4 ,0 > 15 > 13 > 8,5
Salino-s ó dico > 4, 0 > 15 > 13 > 8,5

Condutividade el é trica do extrato da pasta de satura çã o do solo; (2 ) Percentagem de sódio trocá vel. (3) Rela çã o de
(i )

adsorçã o de Na .
Fonte : Richards (1954 ) .

distinguir solos salinos de nã o-salinos. Da mesma forma, com uma PST no solo igual ou
superior a 15 %, suas propriedades f ísicas, especialmente a condutividade hidr á ulica,
sã o afetadas, tomando-se este valor como limite para diferenciar solos sódicos dos nã o-
sódicos. Os solos salino-sódicos apresentam, simultaneamente, elevadas concentra ções
de sais sol úveis e de Na trocá vel ( Richards, 1954) .
A classifica çã o americana tem sido utilizada em todo o mundo para definir solos
sódicos; entretanto, esta foi desenvolvida para os solos e para as condições específicas
do oeste dos Estados Unidos (Fireman & Wadleigh, 1951; Richards, 1954) . Recentemente,
alguns trabalhos de pesquisa têm objetivado modificar esses limites. A influência da
textura foi reconhecida por Greene et al. (1978), citados em Naidu et al . (1995), que
propuseram a altera çã o da PST crítica para 10 %, em solos de textura fina, e para 20 %,
em solos de textura grossa . Na Austr á lia, foi adotado o valor de PST > 6 %, no primeiro
metro superficial do perfil do solo, para classificá -lo como sódico, pois esta PST foi
capaz de modificar o comportamento dos solos, aumentando a dispersã o e reduzindo a
condutividade hidrá ulica ( Northcote & Skene, 1972 ) .
A PST de 15 %, estabelecida na Calif órnia como o limite acima do qual a estrutura
do solo é adversamente afetada (Richards, 1954), foi fixada com base na determinaçã o da
condutividade hidr á ulica em meio saturado, medida com o uso de á guas com elevadas
concentra ções de sais (entre 3 e 10 mmolc L 1). O limite da Austrá lia foi estabelecido da
'

mesma forma, entretanto, com á gua de menor concentraçã o eletrolítica (0,7 mmõlc L 1) "

( Northcote & Skene, 1972 ).


O comportamento dispersivo dos colóides em presença de Na em termos das
-
propriedades f ísicas dos solos merece ser rriais bem compreendido. O Na é um cá tion
que promove a expansã o da dupla camada difusa e, consequentemente, acarreta a
dispersã o dos colóides do solo, seguida de sua movimentaçã o ao longo do perfil do solo.
Uma vez dispersos e em movimento, os colóides podem obstruir os poros, o que interfere
sobre as propriedades f ísicas (condutividade hidrá ulica, infiltra çã o, aera çã o) e, desta
forma, sobre a capacidade produtiva dos solos.

FERTILIDADE DO SOLO
934 MARIA BETâ NIA GALV ã O DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE

Decididamente, altos valores de PST influenciam negativamente as propriedades


f ísicas dos solos, sobretudo quanto à jestrutura, porosidade, condutividade hidrá ulica e
infiltra çã o da á gua . Entretanto, estabelecer um limite ú nico que detecte o início destes
problemas para todos os solos é ilusó rio, pois solos de diferentes texturas e mineralogias
podem apresentar comportamentos cjlistintos, apesar de poderem exibir mesmos valores
de PST.
I

Freire ( 2001) , trabalhando có m solos do Nordeste do Pa ís, demonstrou a


impossibilidade de se utilizar um unico valor de PST na fixa çã o de um limite para
classificar os solos como sódicos. Das nove amostras estudadas, três nã o sofreram
modifica ções na condutividade hidrá ulica pela eleva çã o da PST. Porém, mesmo nesses
casos, é necessá rio destacar que a presença de proporções elevadas de Na levou a uma
deteriora çã o dos agregados do solo pela elevaçã o da dispersividade dos minerais da
fra çã o argila . Quando houve resposta da condutividade hidrá ulica aos acréscimos na
PST, nã o sendo possível fixar um ú nico valor de PST para todos os solos, foi necessá rio
associá -lo, necessariamente, à CE da á gua de irriga çã o.
Evidencia -se, també m, a importâ ncia da inter-rela çã o entre a PST e a concentra çã o
de cá tions da soluçã o de equilíbrio na determinaçã o do comportamento f ísico dos solos,
no que se refere, principalmente, à condutividade hidrá ulica .
No início dos estudos de sodicidade, os teores elevados de Na trocá vel nos solos
eram associados à presença de carbonatos e a valores altos de pH, o que levou à
denomina çã o destes solos de alcalinob . Partindo do princípio de que existia uma relação
direta entre pH e teor de Na trocá vel, F ireman & Wadleigh (1951) procuraram correlacionar
essas duas variá veis, objetivando identificar os problemas de sodicidade dos solos a
partir do pH, uma determinação muito mais simples do que a do teor de Na trocável. Por
isso, as referências clássicas a respeito de salinidade citam o pFl como um crité rio de
distinçã o entre solos afetados por Na ( Richards, 1954) .
Todavia, com a evolução na pese uisa foi possível constatar que nem sempre os solos
sódicos estavam associados à presença de carbonatos, resultando em valores de pH
inferiores aos anteriormente determinados. Houve, então, a substituição do termo alcalino
pelo sóãico, mas os sistemas de classifica çã o, em sua maioria, continuaram usando o
critério de pH para separar solos sódicos de não-sódicos.
No Nordeste do Brasil, encontram-se solos com PST de 50,5 %, no Perímetro Irrigado
de Sã o Gonçalo, na Para íba (Pereira et al., 1982); de 86,3 %, no Perímetro Irrigado do
Moxotó, em Pernambuco (Barros & IV agalhães, 1989); de 63,2 %, no Perímetro Irrigado de
Sumé, na Paraíba (Gheyi et al., 1995), dentre outros da mesma magnitude.
Coelho (1988) fez uma compila çã o de resultados de estudos sobre propriedades de
solos sódicos e salino-sódicos do Es tado do Ceará, para um melhor conhecimento da
distribuiçã o da salinidade / sodicidade no Estado ( Quadro 2). Dos 513,1 ha estudados,
16,8 % dos solos apresentavam, na
camada
superficial, algum problema de salinidade,
seja pelos sais de Na ou pelos sais néutros. O mesmo comportamento foi verificado em
22,6 % das amostras da camada de 20-40 cm e de 36,8 % da camada de 40-140 cm,
evidenciando que o problema era agravado em profundidade. Os altos valores de

FERTILIDADE DO SOLO
XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 935

percentagens de Na influenciaram negativamente as propriedades f ísicas dos solos,


principalmente no que se refere à estrutura, porosidade, condutividade hidrá ulica e
infiltra çã o da á gua .
Solos afetados por sais apresentam elevada variabilidade horizontal e verticalmente,
quanto às propriedades f ísicas e químicas, alé m de altera ções durante a época do ano.
Para avaliar a variabilidade espacial, o uso da geoèstatística pode ser bastante proveitoso,
mapeando o acú mulo de sais nos solos. Usando esta ferramenta para avaliar o pH, a CE
e a PST de um Neossolo Fl úvico sob irriga çã o na Paraíba , Souza et al. ( 2000) concluíram
que os problemas de salinidade e sodicidade aumentaram com a profundidade da
camada estudada .
A textura dos solos també m deve ser considerada , uma vez que os de textura mais
grosseira sã o menos propensos aos efeitos nocivos de teores elevados de Na trocá vel, em
termos de dispersã o, do que os solos mais argilosos. Alia -se a isto a mineralogia
dominante na fra çã o argila . Caso ela seja composta apenas por minerais nã o-expansíveis
do tipo 1:1, do grupo da caulinita, e com presença de óxidos de Fe e Al, é de se esperar que
a dispersã o nã o seja tã o intensa; mas se existirem minerais expansíveis 2:1, como as
esmectitas, a dispersã o pode ser estimulada pela presença do Na, mesmo em menores
teores (Freire et al., 2003).
A á gua usada na irriga çã o deve ser monitorada quanto aos teores e tipos de sais
presentes para minimizar seu acúmulo nos solos. Contudo, isto raramente ocorre na prá tica.
Esta á gua pode complementar os sais do solo clom aportes da ordem de 4 t ha 1 ano '

Quadro 2. Distribuiçã o dos solos normais, salinos, sódicos e salino-sódicos na á rea do Per ímetro
K do Projeto de Irriga çã o de Morada Nova, CE

Setor e á rea Profundidade Normal S ó dico Salino -


Salino S ó dico

cm %

Setor 1 0-20 89,8 6,0 15 / 2, 7


285,4 ha 20-40 84, 4 5, 7 3, 2 6, 7
40 -140 71,8 15,2 . 4, 4 8, 6

Setor 2 0 -20 61,9 29,3 2,7 6,1


150, 2 ha 20 - 40 57, 2 16,6 0,3 25,9
40-140 43,9 24,4 31,7

Setor 3 0-20 100, 0


77,5 ha 20- 40 90,7 9,3
40-140 68,6 27,4 4,0

Total 0-20 83, 2 11,9 1/6 3,3


três setores -
20 40 77,4 9,4 1, 9 11,3
513,1 ha 40-140 63,2 19,8 2,4 14,6

Fonte: Coelho (1988).

FERTILIDADE DO SOLO
936 MARIA BETâ NIA GALVã O D óS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE

de sal em 10.000 m3 de á gua aplicada. Segundo Valdivieso S. et al . (1988), num período


de dez anos, a salinidade na camad à superficial do solo pode apresentar eleva çã o de
1 dS m 1 para valores médios supericjres a 15 dS m 1.
' "

Macêdo (1988) cita que v á rios perímetros irrigados da Regiã o Nordeste encontram-
se com grande parte de sua á rea irrigada sob efeito dos sais em excesso. O autor exemplifica
a situa çã o de saliniza çã o em alguns per ímetros: Custódia ( PE ) - 97,3 %; Cera íma ( BA ) -
32,0 %; Sã o Gonçalo (PB) - 52,0 %; Sú mé (PB) - 61,0 % e Cachoeira II ( PB) - 30,0 %.
Para estabelecer o potencial prod;utivo dos solos afetados por sais, é preciso conhecer
a disponibilidade dos elementos essenciais às plantas, assim como outros elementos
ojs
presentes e os possíveis desbalanç entre eles que possam afetar o crescimento e o
desenvolvimento vegetal . Assim, torna -se de fundamental importâ ncia a concentra çã o
eletrolítica da solu çã o do solo, o pH, os teores de cá tions e â nions em soluçã o, como
também a CTC, os cá tions em forma trocá vel e a determina çã o da necessidade de gesso
para correçã o de solos sódicos. Desta forma, podem-se estimar a fertilidade e a capacidade
produtiva desses solos.
Considerando a importâ ncia da concentra çã o de sais nas á guas de irriga çã o, bem
como a rela çã o entre esta e os teores de Na +, Ca 2+, Mg2+ e C1 , Nunes Filho et al. (2000)

estudaram estas variá veis em á guas subterr â neas e superficiais do Sertã o de Pernambuco,
visando obter uma classificaçã o r á pida e de baixo custo por meio da leitura da CE das
á guas em campo (Quadro 3) . Fica evidente a eleva çã o da CE com o aumento nas
concentra ções destes íons das á guas Para as á guas subterrâ neas, as concentra ções de
Na +, Ca 2+, Mg2+ foram quase equivalentes; contudo, para as superficiais, o Na + foi superior
à soma de Ca 2 + e Mg2+, provocando desequilíbrios entre estes cá tions, que podem
desencadear problemas de dispersã o de argila, comprometendo o comportamento f ísico
de solos irrigados com estas á guas. Quanto ao Cl , muitas das á guas analisadas
'

apresentaram teores elevados que pojdem afetar o crescimento vegetal por toxidez.
Maia et al. (1997, 1998), analisando a qualidade da á gua usada para irriga çã o em
duas regiões do Estado do Rio Grande do Norte (Chapada do Apodi e Baixo Assu ),
,
encontraram á guas classificadas desde QS até C 4S4(1) ( Richards, 1954), com grande
variabilidade. Para a regiã o da Chapada do Apodi, as á guas de maiores concentrações
de sais corresponderam à s de lagoa, enquanto, para o Baixo Assu, foram as de a çude.
Para as duas regiões, as á guas de melhor qualidade foram, no geral as de rios e poços
amazonas e tubulares. Isto demonstra, também, a importâ ncia da fonte de fornecimento
de água, bem como do terreno em que ela está localizada, o que pode alterar o fornecimento
de sais às águas e destas aos solos , j
Por outro lado, Audry & Suassurjia
(1990), estudando a qualidade da água usada na
irrigação no Trópico Semi-Á rido, concluem que as águas de lençóis aluviais aproveitadas
através de poços amazonas sã o as mais problemá ticas. Elas apresentam varia ções
sazonais e atingem níveis de salinidade elevados, ultrapassando, freqiientemente,

(1 )
C,S,: á guas classificadas como baixo riSco de saliniza çã o e sodifica çã o; C 4S4: á guas classificadas
como muito alto risco de saliniza çã o e sodifica çã o.

FERTILIDADE DO SOLO
XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 937

Quadro 3. Rela ções entre as concentra ções de Na +, Ca 2+ + Mg 2 + e Cl na solu çã o do solo, em


"

mmolc L 1, e a condutividade elé trica (CE, a 25 °C ), em dS m 1, em á guas de irrigaçã o do


' "

Sert ã o de Pernambuco

Equa ç ã o R2

Á gua subterr â nea


Na + = - 0 , 710 + 4, 765 CE 0, 91
Ca 2 + + Mg 2 + = 0 , 287 + 4, 673 CE 0,83
Cl - = - 0, 569 + 6 ,152 CE 0, 93

Agua superficial
Na + = - 0, 666 + 5, 072 CE 0, 94
Ca 2 + + Mg 2 + = 0 , 978 + 3, 222 CE 0, 78
Cl - = - 0, 874 + 6 ,890 CE 0 , 94

Fonte : Nunes Filho et al . ( 2000) .

1,5 dS m 1 de condutividade elé trica na é poca da estiagem. O fato torna-se agravante, na


"

medida que é nesta é poca que a disponibilidade de á gua é restrita e a demanda


avapotranspirató ria é maior, sendo requerida aplica çã o de maior quantidade de á gua na
irrigaçã o.
Os sais nas á guas de irriga çã o v ã o interferiir na composiçã o do produto colhido,
pelo fornecimento de sais à s plantas . Assim , elstudando
variá veis de crescimento e
qualidade de frutos de coqueiro anã o, Ferreira Nqto et al. ( 2002) observaram que o Cl é o "

íon de maior concentra çã o na á gua do coco, segjuido


do K +, e ambos se elevam com a
salinidade da á gua de irrigaçã o. Considerando esta CE da á gua correspondente a,
aproximadamente, 1.000 mg L 1 de sais totais, a aplica çã o de uma lâ mina de 100 mm
"

forneceria ao solo 1.000 kg ha 1 de sais. O efeito residual do uso destas á guas precisa ser
"

avaliado, principalmente se os sais de Na + estiverem presentes em elevadas proporções


em rela çã o aos de Ca 2+ e Mg2+ .
Em solos de textura mais grossa, geralmente com drenagem interna favor á vel, é
mais f ácil estabelecer um balanço hídrico capaz jde manter os teores de sais em níveis
aceitá veis para as culturas agr ícolas, pela aplica çã o de lâ minas adicionais para a retirada
dos sais acrescentados pela irrigaçã o.'Em solos de textura mais fina, porém, com material
argiloso reativo, o uso de á guas que contenham sais pode acarretar a saliniza çã o em
curtos per íodos de tempo. Nestes, é necessá ria atençã o especial com a drenagem e
qualidade da á gua usada na irriga çã o.
Oliveira et al. (2002), estudando as propriedades de Neossolos Flú vicos no Perímetro
Irrigado de Custódia, PE, encontraram minerais primá rios, como quartzo, feldspatos e
micas, nas frações mais grossas, além de caulinitas, micas, esmectitas e interestratificados,
na fra çã o argila dos solos. Esta composiçã o mineralógica pode justificar um aporte de
sais pelo intemperismo das micas e feldspatos e a propensã o à dispersão dos colóides
pela presença de minerais de argila tipo 2:1, o que pode provocar a migraçã o de colóides

FERTILIDADE DO SOLO
938 MARIA BETâ NIA GALVã O DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE

ao longo do perfil, forma çã o de camâ das de impedimento e eleva çã o do lençol freá tico.
Esses autores recomendam que os sojlos
só devem ser utilizados com agricultura após a
implementa çã o de sistema de drenagem e efetiva diminuiçã o dos teores de Na trocá vel
em excesso nos solos.

RELA ÇÕ ES E EQUI Í.Í BRIOS DE Í ONS NO SOLO


As desordens nutricionais em plantas cultivadas em solos salinos e sódicos podem
acentuar as limita ções impostas à produtividade. Adicionalmente, o lençol freá tico
superficial e a baixa aera çã o do meio podem limitar o crescimento radicular, alterando a
capacidade das ra ízes em suprir a planta adequadamente de nutrientes. Até mesmo o
metabolismo do nutriente absorvidp pode ser alterado pelas condi ções de salinidade
(Chhabra, 1996). j
j
Ao estabelecer um bom ajuste da fertilidade de solos salinizados, é preciso avaliar a
situa çã o local e a necessidade da plajnta a ser cultivada , a fim de se fornecer condições
propícias em termos de fertilidade, até mesmo para contribuir com a capacidade de
sobreviver e produzir satisfatoriamente apesar das adversidades do meio.
A disponibilidade de K tem sido considerada adequada, em razão da predominâ ncia
de minerais micá ceos que liberam o K no processo de intemperismo. Entretanto, sua
absorçã o pelas plantas pode nã o ser tã o f á cil, dada a competição entre os cá tions do solo,
principalmente Na +, Ca 2+ e Mg2+, gerqlmente em maiores concentrações do que o K +.
Viégas et al. ( 2001), estudando o 'crescimento e a acumula çã o de solutos inorgâ nicos
em plantas jovens de cajueiro em um experimento de 40 dias de duraçã o, observaram que
o teor de K foi fortemente reduzido, principalmente nas ra ízes, com a elevaçã o da
concentra çã o de NaCl na soluçã o nutritiva . Os autores atribuem este fato à elevaçã o da
permeabilidade da membrana célula : provocada pelo excesso de Na, provocando perda
de K para a solução externa. Em outro experimento de curta duração (8 dias), foi verificada
uma redu çã o na rela çã o K / Na de 9,5 na testemunha para 0,2 nas plantas submetidas ao
estresse salino. Para este tratamento, em um per íodo mais longo, foi encontrada uma
rela çã o de 0,01 entre os teores de K e Na nas plantas de cajueiro.
Ferreira et al. (2001) verificaram diminuição na produção de matéria seca de plantas
de goiabeira submetidas a estresse salino. Os autores relatam o desequilíbrio nutricional
provocado pelo incremento da salinidade, com reduções nos teores de K, Ca e Mg e
aumento nos teores de Na e Cl na matéria seca das ra ízes, caule e folhas da goiabeira,
sendo tal constataçã o mais evidente nas folhas. Estas altera ções nos teores de elementos
nos tecidos das plantas refletem d í retamente sobre a produtividade, muitas vezes
restringindo o uso agrícola de solos com elevadas concentra ções de sais.
Os micronutrientes, exceto o Mo e o Cl, sofrem reduçã o na solubilidade em meios de
pH neutro a alcalino. Desta forma, tornam-se pouco disponíveis para as plantas, podendo
caracterizar estados de deficiência nutricional em solos afetados por sais, em que o pH
está, geralmente, em torno da neutralidade.

FERTILIDADE DO SOLO
XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 939

De forma geral , verifica - se predomin â ncia de á guas cloretadas s ó dicas,


independentemente da salinidade dos locais e das fontes de origem. Nestas, os teores de
C1 podem atingir valores superiores a 80 % do total de â nions presentes na á gua com

salinidade elevada ( CEa > 3, 0 dS m 1) . Contudo, á guas com baixa salinidade


"

(CEa < 0,75 dS m 1) podem ter concentra ções de bicarbonato pr óximas ou superiores à s
"

de Cl (Silva J ú nior et al., 1999). Para os autores, as relações C1 / HC03~ e Na + / (Ca 2+ + Mg2+ )
" ~

apresentam uma rela çã o direta com o incremento da salinidade das á guas, atribuindo
este fato à elevada solubilidade dos cloretos em rela çã o à solubilidade dos bicarbonatos
de Ca e Mg . O aumento da concentra çã o salina das á guas proporciona eleva çã o nos
teores de NaCl, em detrimento dos teores de bicarbonatos de Ca e Mg, que tendem a
precipitar em virtude da baixa solubilidade.
Monitorando os sais em amostras de á gua de irriga çã o do Projeto Vereda Grande
( Boqueirã o-PB), Macêdo & Menino (1998) destacaram concentra ções mé dias de Na e Cl
de 8,59 e 10,53 mmolc L 1, respectivamente, ejn concentra ções superiores à toxidez
'

específica (> 3 mmolc L 1), o que pode limitar a absorçã o de água pelos vegetais de maneira
"

pJde
crescente, principalmente pelo tipo de sistema irriga çã o utilizado (aspersã o ) e pela
significativa presença de bicarbonato (0,97-3,2 mmolc L 1), que restringe esse tipo de
"

rega em locais de elevada evapora çã o. Os autorjes concluíram que a á gua utilizada para
irriga çã o apresenta risco crescente de saliniza çã o dos solos, alé m da toxidez induzida
pelo Na e Cl .
Somente uma avalia çã o periódica dos teores de elementos em solos e á guas a serem
usadas na irriga çã o, acompanhando as proporções citadas (PST, RAS), pode assegurar o
á
potencial de uso destas á reas sem provocar degr da ção por saliniza çã o e, ou, sodificaçã o.

CORRE ÇÃ O DA SALINIDADE E SODICIDADE

Quando o controle da salinidade e sodicidade nã o é efetivo, a degrada çã o dever á


ser revertida por meio da correçã o dos excessos de sais sol úveis e de Na trocá vel em
particular. Esta correçã o, geralmente, é bastante onerosa e nem sempre atinge os objetivos
almejados, pelas dificuldades de incorpora çã o aos corretivos em solos com problemas
f ísicos. j

Técnicas de recupera çã o de solos com sais qm excesso sã o de grande importâ ncia, à


medida que possibilitam o seu retorno ao processo de produçã o. Contudo, para que a
questã o seja realmente solucionada, é preciso que os sais sejam removidos do solo e
subsolo para uma profundidade bem abaixo da zona de penetra çã o das ra ízes das
culturas e haja uma prevençã o ao retorno dos sais à camada de solo cultivada.
A correçã o e o manejo de solos afetados pon sais v ã o depender do tipo de problema
ao qual estã o associados, em termos de sais sol ú veis e Na trocá vel. Quando o solo é
j
apenas salino, a correçã o limita-se à lixivia çã } dos sais associada a um sistema de
drenagem adequada que propicie a retirada dos sais em excesso do perfil do solo, ou
seja, uma redução nos teores de sais na soluçã o do solo.

FERTILIDADE DO SOLO
940 MARIA BETâ NIA GALVã O DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOSé FREIRE

Para manter os níveis de sais sol ú veis do solo em uma faixa tolerá vel, ou mesmo
para retirar seu excesso, é utilizada uma lâ mina adicional de á gua, além do uso consultivo
da cultura, para promover a retirada destes sais do perfil do solo, a chamada lâ mina de
lixivia çã o. Entretanto, para que esta pr á tica obtenha sucesso, faz-se necessá ria a
existência de um sistema de drenagem eficiente, natural ou artificial. Como essa remoção
de sais é efetivada por lixivia çã o, a c . renagem interna do solo torna -se extremamente
importante para a dessaliniza çã o e para o controle da salinidade ( Bernstein, 1974).
No cá lculo da l â mina de irriga çã o sobre uma á rea salina por corrigir , devem ser
observados os teores de sais na á gua de irrigaçã o, os teores tolerados pela cultura e o
consumo de á gua pela planta ( Richards, 1954) .
Para equacionar o problema de S|D1OS salinos, é necessá rio quantificar o volume de
á gua suficiente e o tempo de lixiviaçã o da água no solo. Existem vá rias equações empíricas
e semi-empíricas para determinar a lâ mina de á gua necessá ria à lixiviaçã o dos sais da
zona das raízes. A necessidade de lixivia ção é definida como a fraçã o de água de irrigaçã o
infiltrada que deve lixiviar atrav és da zona das ra ízes para manter a salinidade do solo
em determinado nível. A necessidade de lixivia ção para controle da salinidade, baseada
no modelo de balanço de sais, é dada pela equa çã o de Rhoades ( Bernstein, 1974):
CEai
NL =
5CEes - CEai
em que NL - necessidade de lixivia çã jo ( mm ); CEai - condutividade elé trica da á gua de
irriga çã o( dS m 1); CEes - média da condutividade elé trica do extrato de saturação do solo
"

( dS m 1 ) para a cultura de interessei e que proporciona a reduçã o de 10 % no seu


'

rendimento (dados tabelados - Quadro 4) .


Já no caso de os teores de Na trocá vel estarem elevados (solos sódicos ), faz-se
necessá ria a substituição deste por ouiiro
cá tion, sendo o Ca o mais utilizado. A correçã o
baseia -se no fornecimento de um sal d|e Ca ao solo para que este possibilite a saída do Na
do complexo de troca, que será lixiviado com uma lâ mina de irrigação excedente. Assim,
é necessá rio o uso de um corretivo quí jnico associado a uma lâ mina de lixiviação e de um
sistema de drenagem para a retirada do Na do perfil do solo.
Por isso, a correçã o de solos só
dicosé, geralmente, mais dif ícil do que a de solos
salinos. Vá rios corretivos têm sido testados para reduzir o teor de Na trocá vel em solos
sódicos e sua escolha vai depender daLcaracterísticas do solo a ser corrigido, bem como
da disponibilidade e do custo dos majteriais
( Richards, 1954; Seatz & Pè terson, 1967).
O gesso é o corretivo mais utilizajdo pelo seu baixo custo . Contudo, pela reduzida
solubilidade, requer mais tempo e quantidade de á gua do que outros corretivos ( Prather
et al ., 1978) . A aplica çã o do gesso é efetiva na substitui çã o de Na por Ca, sendo
caracterizada por dois tipos de rea ções químicas: (1) íons Ca substituem o Na trocá vel,
convertendo argila- Na em argila -Ca, e (2) o gesso tende a reagir com o Na2C03 , originando
o CaC03 e o Na 2S04, que ser á lixiviado ( Kelley, 1951), obtendo-se, assim, a diminuiçã o
dos teores de Na do solo.
Podem ser utilizados também o S , ácido sulf ú rico, sulfato de Fe ou cloreto de Ca . A
efetividade do S depende de sua oxida çã o e da presença de compostos de Ca no solo,

FERTI LIDADE DO SOLO


XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 941

Quadro 4 . Toler â ncia e potencial de produçã o de culturas sob influ ência da salinidade da á gua
de irriga çã o (CEai ) ou salinidade do extrato de satura çã o do solo (CEes ) (1)

Potencial de produ çã o ^2)

Cultura 100 % 90 % 75 % 50 % % "Máxima"

CEes CEai CEes CEai CEes CEai CEes CEai CEes CEai

Algod ã o ( Gossypium hirsutum) 7,7 5,1 9, 6 6,4 13,0 8, 4 17, 0 12,0 27,0 18, 0
Beterrada ( Betn vulgaris ) 7, 0 4,7 8, 7 5,8 11, 0 7,5 15, 0 10,0 24, 0 16, 0
Sorgo ( Sorghum bicolor ) 6,8 4,5 7,4 5,0 8,4 5,6 9,9 6,7 13,0 8, 7
Trigo ( Triticum aestivum ) 6,0 4,0 7,4 4,9 9,5 6 ,3 13,0 8 ,7 20 ,0 13,0
Soja ( Glycine max ) 5, 0 3,3 5,5 3, 7 6,3 4 ,2 7,5 5, 0 10,0 6, 7
Feijã o caupi ( Vigna unguiculatn ) 4,9 3,3 5,7 3,8 7, 0 4, 7 9,1 6,0 13, 0 8,8
Feijã o ( Phascolus vulgaris ) 1,0 0,7 1,5 1 ,0 2,3 1,5 3,6 2,4 6,3 4, 2
Amendoim ( Arachis lu/ pogaea ) 3, 2 2,1 3,5 2,4 4,1 2,7 4,9 3,3 6,6 4 ,4
Arroz ( Oriza sativa ) 3,0 2, 0 3,8 2,6 5,1 3,4 7,2 4,8 11 ,0 7,6
Cana - de-a çú car ( Saccharum officinarum ) 1,7 1 ,1 3,4 2,3 5,9 4, 0 10, 0 6,8 19,0 12,0
Milho ( Zcn tnays ) 1,7 1 ,1 2,5 1 ,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10,0 6,7
Tomate ( Lycopersicou csculcntum ) 2,5 1, 7 3,5 2,3 5,0 3, 4 7,6 5, 0 13,0 8,4
Br ócolis ( Brassica oleracca botrytis ) 2,8 1,9 3,9 2,6 5,5 3,7 8, 2 5,5 14, 0 9,1
Batata ( Solanum tuberosum ) 1,7 1 ,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10,0 6, 7
Alface ( Lactuca sativa ) 1,3 0,9 2,1 1, 4 3, 2 2,1 5,1 3,4 9,0 6, 0
Cebola ( Alliuju cepa ) 1,2 0, 8 1,8 1, 2 2,8 1 ,8 4,3 2,9 7,4 5,0
Cenoura ( Dnucus ca rota ) 1,0 0, 7 1, 7 1 ,1 2,8 1,9 4, 6 3,0 8, 1 5,4
Laranja ( Citrus sinensis ) 1,7 1 ,1 2,3 1 ,6 3,3 2, 2 4 ,8 3, 2 8,0 5,3
Morango ( Fragaria sp. ) 1,0 0,7 1,3 0, 9 1, 8 1 ,2 2,5 1,7 4,0 2,7

(1 )
CEes corresponde à salinidade média da zona radicular, representada pela condutividade elé trica do extrato de
saturação do solo, em dS m 1 a 25 °C; CEai corresponde à condutividade elé trica da á gua de irrigação, em dS m 1 a 25 °C.
' '

(2 )
0 potencial de produ çã o zero, ou CEes m á xima , indica a salinidade teó rica do solo na qual o crescimento da
cultura é interrompido.
Fonte : Retirado de Ayers & Westcot (1985 ) .

para que haja a substituiçã o do Na trocá vel pelo Ca . Caso nã o ocorra a presença deste,
o Na poder á ser substituído por H + ( Kelley, 1951). As principais rea ções químicas dos
solos durante o processo de corre çã o podem ser iresumidas da seguinte maneira :

Gesso

Na
Col óide + CaS04 <=> Col óide Ca + ( Na2S04
Na

Deve ser considerado nã o só o Na ligado as partículas ( trocá vel ), como tamb é m


aquele na forma sol ú vel ou de sais no solo, pois ambos estã o em equilíbrio dinâ mico e
podem ser substituídos mutuamente.

Enxofre ou Ácido Sulf úrico


2S + 302 2S03
so3 + H2O <=> H2SO4
H2S04 + CaC03 <=> CaS04 + H2C03
H2CO3 <=» H20 + C02

FERTILIDADE DO SOLO
942 MARIA BETâNIA GALVãO DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE

Para que o S atue na corre çã o destes solos, é preciso, inicialmente, que haja sua
oxida çã o, realizada por bactérias no solo. Depois, tanto para o S quanto para o á cido
sulf ú rico, é essencial que o solo contenha carbonatos de Ca , que possibilitem a forma çã o
do sulfato de Ca , cá tion necessá rio nja substituiçã o do Na .

Sulfato Ferroso

FeS04 + H2C <=> FeO + H2S04


Da mesma forma, o ácido sulf ú riço formado pelo sulfato de Fe no solo vai combinar-
se ao carbonato de Ca, originando o sulfato de Ca , que atuará sobre o Na do solo.

Cloreto de Cálcio

Na
+ CaCI2 Ca + ( 2NaCI
Na

O cloreto de Ca é um sal de elevada solubilidade e bastante efetivo na recupera çã o


de solos com problemas de Ca , ma á o alto custo envolvido impossibilita seu uso na
prá tica de campo.
Pesquisas tê m sido desenvolvidas com o intuito de escolher entre os corretivos os
que promovem melhor correçã o, a baixos custos e tempo reduzido. Sã o também testados
doses de corretivos, modos de aplicaçã o, bem como sua associa çã o com o uso de á guas
de média salinidade ( Aboul Roos et al., 1976; Prather et al., 1978; Ferreyra & Coelho,
1984; Barros & Magalhã es, 1989; Barros et al., 2004).
As determina ções de Na trocável e capacidade de troca de cá tions servem como guia
para estimar as quantidades de corretivos qu ímicos necessá rios para reduzir as
percentagens de Na trocá vel de solos sódicos a níveis desejados ( Richards, 1954). Os
cálculos são feitos em termos de molc de Ca capazes de substituir os molc de Na a corrigir
no solo, à profundidade desejada .
Segundo Vitti et al. (1995), a necessidade de gesso pode ser calculada pela seguinte
expressã o:
NG = [(PSTi - PSTf ) x CTC x 86 x h x d] /100

em que NG - necessidade de gesso (kg ha 1); (PST; - PSTf ) - diferença entre a percentagem
'

de satura çã o por Na inicial do solo, e a final desejada; CTC - capacidade de troca de


cá tions (cmolc kg 1); h - profundidade (espessura da camada ) do solo que se deseja
'

recuperar (cm ); d - densidade do solo (kg dm 3). '

Dependendo da percentagem de Na trocá vel inicial do solo, do tipo de solo e da


tolerâ ncia da cultura, pode-se estimar a percentagem de Na trocá vel final desejá vel após
a correção.

FERT LIDADE DO SOLO


XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 943

Os corretivos devem ser espalhados a lanço e incorporados. A incorporaçã o é


especialmente importante quando se usa S, devendo-se ter o cuidado de propiciar rá pida
oxida çã o à forma de sulfato. Os solos sódicos devem ser lixiviados após a aplica çã o dos
corretivos, uma vez que a á gua aplicada dissolve e transporta o corretivo verticalmente,
removendo os sais de Na sol ú veis que se formara após a troca de cá tions.
Quando o corretivo utilizado é o S, a lixivia çã o só deve ocorrer de 30 a 60 dias após
a aplica çã o, tempo necessá rio para que haja oxidaçã o e formaçã o de sulfato de Ca que
deslocará o Na do complexo de troca . No entanto, no caso deste corretivo, o solo deve ser
umedecido ap ós a aplica çã o para que o processo de oxida çã o microbiana seja
rapidamente promovido.
Técnicas de recupera çã o e manejo dos solos salinos e sódicos ainda estã o sendo
desenvolvidas e testadas em estádio atrasado, principalmente no que se refere às condições
do Brasil. Barros & Magalhã es (1989), utilizando o gesso e uma lâ mina de irriga çã o de
100 mm, demonstraram uma significativa reduçã o da PST em solos de Per ímetros
Irrigados administrados pelo DNOCS em Pernambuco (Quadro 5) .
Entretanto, pelos teores bastante elevados de Na na maioria dos solos desta regiã o,
há grandes dificuldades em implementar a correçã o na prá tica, pois os solos apresentam-
se altamente dispersos, dificultando a incorporar ã o do corretivo e a penetraçã o da á gua
no perfil.
Condicionadores orgâ nicos (esterco de curral, casca de arroz e vinha ça ) també m
podem contribuir na redu çã o da PST, possivelmente em virtude da liberação de C02 e
á cidos orgâ nicos, durante a decomposiçã o da maté ria orgâ nica, quando submetida às
condições de lixiviaçã o, além de atuarem como fontes de Ca e Mg, em detrimento do Na .
Avaliando a possibilidade de uso desses produtos na recupera çã o de solos salino-
sódicos, Gomes et al. (2000) relataram reduções ria PST, nas camadas de 0-20 e 20-40 cm
de profundidade do solo, com destaque para a camada mais superficial, onde ocorreram
diminuições de 48,5 para 14 %, no tratamento com esterco de curral; de 46 para 29 %, no

Quadro 5 . Efeito do gesso aplicado na superf ície do solo e lixiviado com uma lâ mina de á gua
de 100 mm

Localiza çã o PST inicial Gesso aplicado PST final

% emole drrr3 %

Ibimirim - 17 52,94 6, 21 9,63


12,43 8,91
\
18,64 7,66

Cust ó dia - 07 35,95 3,52 24,84


7,05 16,99
10,57 8,71

Fonte : Barros &Magalhães (1989 ) .

FERTILIDADE DO SOLO
944 MARIA BETâ NIA GALVã O DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE

tratamento com casca de arroz, e de 25 para 17,7 %, no tratamento com gesso. Segundo
esses autores, no cultivo de arroz sob inunda çã o, a salinidade (CEes), a percentagem de
sódio trocá vel ( PST) e o pH do solo tendem a diminuir com o tempo, principalmente na
camada superficial (0-20 cm ), independentemente do emprego dos condicionadores
químicos ou orgâ nicos. Os menores valores de PST no solo foram obtidos com o uso do
gesso, enquanto os menores valores de salinidade (CEes) no solo foram alcançados com
a utiliza çã o da vinha ça .
Por outro lado, Gheyi et al. (1995), trabalhando no Per ímetro Irrigado de Sumé (PB),
també m constataram que solos salinos-sódicos sã o passíveis de recupera çã o apenas
com lixivia çã o, desde que os drenos circunvizinhos sejam aprofundados e mantidos
limpos até à profundidade de 1,5 m .
Trabalhando com a recupera çã o de um Neossolo Fl ú vico ( Aluvial ) sódico com a
adoçã o de um sistema de drenagem subsuperficial, associado a diferentes tratamentos
vegetativo, qu ímico e mecâ nico, Oliveira J ú nior et al . (1998 ) obtiveram melhoria
significativa na drenabilidade do perfil do solo, com redução na PST de 25,8 para 10,0 %.
Os demais tratamentos consistiram da incorporaçã o da maté ria verde de feijã o-de-porco
(vegetativo), da realiza çã o de ara ção, gradagem e subsolagem ( mecâ nico) e da aplica çã o
de gesso como corretivo ( qu ímico). Segundo os autores, o rendimento da cultura do
melã o, instalada após a recupera çãó, mostrou-se tecnicamente viá vel, necessitando,
apenas, de estudos económicos de analise do investimento para verificar a rela ção custo /
benef ício. j
Esta linha de recupera çã o, associando
tratamentos mecâ nicos, químicos e de adiçã o
de materiais orgâ nicos, vem sendo adotada para alguns solos do Nordeste. Holanda et
al . (1998) testaram o tipo de preparo do solo (convencional e convencional com
subsolagem ) e a aplica çã o de condicionadores (gesso, esterco de curral e palha de
carna ú ba ) na recupera çã o de um solo , Aluvial salino -só dico. Tanto a adiçã o de
condicionadores quanto a opera çao de subsolagem promoveram melhorias nas
propriedades do solo, aumentando qs teores de Ca, reduzindo os de Na e, portanto, a
percentagem de Na trocá vel.
Em uma avaliaçã o econó mica da irecuperação de solos salinos, apenas com a adoçã o
de um sistema de drenagem, Valdivieso S. et al. (1988) encontraram um custo de
US$ 1.418,90 por hectare. Aliando a isso os custos com a aplica çã o de condicionadores
qu ímicos, dependendo do potencial de retorno da cultura e do poder aquisitivo do
produtor, este custo pode tornar a corfeçã o inviá vel; a nã o ser que haja incentivos para a
recupera çã o destas á reas, bem como o direcionamento para culturas de maior retorno
económico para o produtor.
Quimicamente, nas amostras de água devem ser determinados: condutividade elé trica
(dS m 1 a 25 °C), sólidos solúveis totais (mg L 1), concentração de cá tions Na, Ca, Mg e K,
' '

â nions CT, S042 032


'
,C '

e HC 032"
li
( mg 1). Tais análises permitem monitorar a qualidade
'

da á gua para irriga çã o em diferentes é pocas do ano, o que poder á sugerir técnicas
adequadas de manejo, evitando, ou mesmo impedindo, que a água seja um fator agravante
no processo de aceleraçã o da salinid á de / sodicidade dos solos.

FERTILIDADE DO SOL ò
XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 945

Seria, portanto, de grande interesse que uma nova atençã o fosse dispensada à
situa çã o particular de solos e clima , para que fossem usadas té cnicas pr ó prias,
desenvolvidas para eles. Sendo tratados de maneira adequada, estes solos poder ã o
retornar à condiçã o de solos normais, ou mesmo, nã o desenvolver salinidade. Isto
proporcionaria um acréscimo nas á reas produtivas, incorporando solos que, geralmente,
apresentam boa fertilidade natural.

DISPONIBILIDADE DE F Ó SFORO EM
SOLOS ALCALINOS

O P tem sido encontrado em teores adequados nesses solos, observando-se, inclusive,


aumentos no P sol úvel com aumentos no pH em níveis nã o muito elevados. Em solos
sódicos calcá rios, a maior parte do P está na forma de P-Ca (54 %) e em formas inorgâ nicas
residuais de P ( 28 %) (Gupta & Abrol, 1990 ) . Portanto, a car ê ncia deste elemento pode
nã o constituir problema para tais solos.
Os mé todos para a determina çã o de P disponível em solos têm sido de grande
importâ ncia na avaliação da fertilidade, o que nã o poderia ser diferente em solos afetados
por sais. Embora as peculiaridades destes solos nã o sejam as mesmas dos de clima

^
ú mido e sub ú mido, com elevado grau de intemp rismo e grande poder de fixaçã o de P,
outros fatores contribuem para a baixa disponibilidade de P para as plantas. Dentre
estes, o pH e as altas concentra ções de cá lcio qssumem destaque, causando, muitas
vezes, deficiências deste elemento para as plantâs.
ó
Muitos mé todos existem para determinar P disponível em solos, variando em
princípios e detalhes da técnica (Olsen & Somniers, 1982 ). Deve-se ter o cuidado na
seleçã o do melhor método para cada solo em espacial
, de forma a evitar recomenda ções
equivocadas.
As determinações de P disponível apresentam duas fases distintas, primeiro a
extraçã o da fração de P do solo desejada; e depois, a dosagem do P no extrato. O método
mais sensível e mais amplamente usado para determinar a concentraçã o de P é o da
formaçã o do complexo fosfomolíbdico reduzido, de coloração azul, que tem a intensidade
de cor relacionada com a concentraçã o de P e medida por colorimetria (Olsen & Sommers,
1982).

Já os métodos de extra çã o variam conforme as caracter ísticas dos solos em questã o,


destacando-se três tipos de extratores: os ácidos fortes diluídos, desenvolvidos para
solos á cidos (Mehlich-1); os alcalinos, desenvolvidos para solos de reaçã o alcalina e, ou,
calcá rios (Olsen), e os de efeito complexante, desjenvolvidos
para solos de reaçã o neutra
a ácida principalmente aqueles fertilizados com fosfatos naturais (Bray-1). Em conjunto,
,
esses extratores apresentam caracter ísticas p eculiares que lhes d ã o vantagens e
desvantagens relativas.

FERTILIDADE DO SOLO
946 MARIA BETâ NIA GALVã O DO s SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE

O m é todo de extra çã o de P indicado para solos com sais é o do NaHCOa 0,5 mol L 1 '

a pH 8,5, desenvolvido para solos calcá rios, alcalinos ou neutros, os quais contê m fosfatos
de Ca. Este extrator reduz a
concentra çã o de Ca em soluçã o pela precipitação de CaCO3
resultando no aumento da concentra çã o de P em soluçã o (Olsen & Sommers, 1982; Tan,
'

1996 ).
Santos & Gheyi (1994) verificaram uma elevaçã o no teor de P em folhas de bananeira
com o uso de á gua salina preparada a partir de bicarbonato de Na e cloretos de Ca , Mg e
Na . Possivelmente, o uso de á guas bicarbonatadas incrementa maior precipita çã o de
carbonatos de Ca, em detrimento ao fosfato de Ca, deixando o P mais disponível para as
plantas .
Pelo que foi discutido, é premenjte a necessidade de mais pesquisas que envolvam
adsor çã o de P, correla çã o e calibra çâ o de extratores, para determinar níveis críticos e
doses recomend á veis para solos afetados por sais, visto que o comportamento deste
elemento sofre influência das condições específicas locais, nã o sendo adequado utilizar
m é todos e crit é rios estabelecidos em outras regi ões do Pa ís, de caracter ísticas
extremamente diferentes.

IMPORTÂ NCIA DA MATÉRIA ORG Â NICA EM


SOLOS AFETADOS POR SAIS

Em solos com excesso de Na (solos sódicos ), os constituintes da matéria orgâ nica


encontram-se em forma dispersa no solo, promovendo o escurecimento da superf ície,
fenô meno que promoveu a denomirjia çã o destes solos de "álcalis negros", citada na
literatura mais antiga a respeito do assunto (Kelley, 1951).
Em geral, a maté ria orgâ nica atija como agente ligante entre os componentes dos
solos, interferindo, de maneira positiva, em suas propriedades f ísicas, aumentando a
condutividade hidrá ulica e a infiltra ção de água, o que também se pode esperar em solos
afetados por sais.
De fato, os efeitos da maté ria orgâ nica em solos salinos e sódicos podem ser
considerados positivos, ao promover maior agrega çã o das partículas do solo, com
diminuição da dispersão promovida pelo Na. Contudo, destaca-se, também, o seu possível
efeito negativo em algumas situações, incrementando a dispersão. Isto pode ser atribuído
à maior afinidade dos compostos orgj
â nicos pelo Ca em rela çã o aos colóides minerais.
Assim, o aumento do teor de matéria orgâ nica em solos sódicos pode provocar uma
distribuiçã o desuniforme de Ca e Na ligados a partículas orgâ nicas e minerais e, com
maior propor çã o de Ca retido nos co óides orgâ nicos, a fraçã o inorgâ nica estaria mais
saturada por Na, incrementando a dispersã o ( Naidu et al., 1995).

FERT LIDADE DO SOLO


XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 947

Diversos tipos de compostos orgâ nicos podem estar presentes e em diferentes teores
em solos afetados por sais, além de apresentar diferentes teores e tipos de sais já discutidos.
Acredita -se que estudos que envolvam a associaçã o de níveis de sodicidade e salinidade
com teores e fontes de matéria orgâ nica poderiam elucidar os questionamentos sobre as
intera ções desses componentes nos solos.
Por outro lado, a salinidade e a sodicidade também interferem na composiçã o
orgâ nica dos solos, em que o Na em solução diminjui
o estado de agregação entre partículas
minerais e orgâ nicas além dos efeitos químicos e f ísicos dos sais sobre os compostos
,
orgâ nicos. Indiretamente, o pH geralmente mais elevado também influi nestas alterações.
Naidu et al. (1995) citam que o aumento da sodicidade chega a mobilizar acima de 40 %
da matéria orgâ nica dos solos, seja como colóides orgâ nicos, seja como complexos argila-
matéria orgâ nica .
A sodicidade também afeta a atividade biológica, com a inibiçã o total da nitrificaçã o
em PST superior a 70 % ( Laura , 1976) . Ainda segundo esse autor, a rela çã o á cidos
h úmicos / á cidos f úlvicos aumenta com a PST, e o C torna -se mais facilmente extraível em
altos valores de PST.
Estudos sobre a natureza das intera ções que ocorrem entre os sais sol ú veis e o Na
trocá vel com os tipos de compostos orgâ nicos precisam ser incentivados e realizados,
com vistas em verificar o potencial de uso de resíduos orgâ nicos em solos afetados por
sais, bem como os efeitos destes sais na composiçã o dos solos, contribuindo para o
entendimento do comportamento f ísico e químico destes solos e para a implementa çã o
de técnicas de manejo com base científica confiá vel.

DISPONIBILIDADE DE NITROG É NIO


EM SOLOS SALINOS

Em geral, pelas condições adversas impostas pelas características destes solos, a


fauna e a flora presentes sã o limitadas. Apenas espécies adaptadas conseguem
sobreviver, mas nem sempre conseguem expiessar seu desenvolvimento m á ximo.
Portanto, o N associado à matéria orgâ nica encontra -se em pequenas quantidades,
limitando, mais uma vez, a produtividade já comprometida . Torna-se necessá rio, então,
fornecer N ao solo por meio de fertilizantes químicos ou matéria orgâ nica. A uréia é uma
das fontes de N mais utilizadas para as culturas; contudo, ao ser hidrolisada a amónia
e COz pela enzima urease, as perdas de N ( NH3) por volatiliza çã o constituem a maior
desvantagem do uso deste produto. Segundo Gu|pta & Abrol (1990), estudos ainda estã o
sendo desenvolvidos para determinar o efeito de v á rias propriedades do solo sobre a
volatiliza çã o de amónia; entretanto, o pH elevado do solo tem sido indicado como fator
de grande contribuiçã o para essa perda. Por este motivo, tem sido destacada a maior
necessidade de fertilizante nitrogenado em cultivps sobre solos salinizados. Uma prá tica
que pode amenizar esta perda é a incorporaçã o imediata ou a aplica çã o do fertilizante

FERTILIDADE DO SOLO

I
948 MARIA BETâ NIA GALVã O DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE

nitrogenado a uma profundidade de 6-7 cm para culturas em geral, ou mesmo 10 cm,


para o caso do arroz, ou a substituiçã o da uréia pelo sulfato ou nitrato de amónio, menos
propensos às perdas de NH3 por volatiza çã o. Esses autores citam também a substituição
de formas minerais de N pela incorpora çã o de adubos verdes ao solo.

USO DE CULTURAS TOLERANTES E


FITORREMEDIA ÇÃ O

Solos afetados por sais podem exercer efeito prejudicial sobre as plantas por diversas
formas: a acumula çã o de sais sol ú veis em solos leva à plasmólise das células, inibindo o
crescimento vegetal, visto que a á gua move-se da planta para a solução do solo; a presença
de elevadas quantidades de Na pode promover a dispersã o das partículas do solo que,
sob processos de umedecimento e secagem, chegam a formar crostas imperme á veis na
superf ície, além do decréscimo na porosidade e, conseqiientemente, na aeração do solo;
e sob condições de salinidade elevadla, o pH pode apresentar valores demasiadamente
altos, reduzindo a disponibilidade de muitos micronutrientes, tais como: Fe, Cu, Zn, Mn
e B (Tan, 1993) . Aliado a estes fatores, podem ocorrer també m a toxidez pelo Na sobre o
metabolismo e a nutriçã o das plantas, ou do HC03 , Cl e outros â nions e a deficiência de
' '

02, pela degradaçã o da estrutura do solo.


A adapta çã o de plantas aos sais envolve rea ções metabólicas (síntese de solutos
orgâ nicos) e o fenô meno de transpcrte ( extrusã o de íons da membrana plasmá tica e
compartimentaliza çã o vacuolar ). Como já discutido, o efeito prejudicial de sais sobre as
plantas envolve o estresse osmótico e a toxidez do íon específico. O componente osmótico
resulta da desidrata çã o e perda de turgor induzida pela elevada concentra çã o de sais
externamente à s raízes.
Segundo Serrano & Gaxiola (1994), para a toler â ncia das plantas a condições de
salinidade, é essencial o desenvolvimento dos mecanismos de: síntese de solutos
orgâ nicos ( prolina, beta ína etc.); sistemas de transporte de Na + e Cl nas membranas
'

( vacuolar e plasm á tica ) e atividades celulares sensíveis à perda de turgor, desidrata ção
ou altas concentra ções de Na + ou Cl . '

O crescimento adequado das pla,ntas em solos afetados por sais depende de alguns
fatores, incluindo a constituiçã o fisiológica da planta, seu está dio de desenvolvimento e
há bito de crescimento do sistema radicular. També m devem ser consideradas as
propriedades dos solos, incluindo a natureza dos vá rios sais, suas quantidades relativas,
a concentraçã o total e a distribuiçã o no solo, além de sua estrutura , drenagem e aeração.
A capacidade de manter a integridade da membrana celular e a seletividade de íons
em condições de salinidade é essencial à manutenção do equilíbrio fisiológico interno
das plantas. Neste contexto, a relaçã o K + / Na + nos tecidos vegetais tem sido considerada
como uma variá vel indicadora de adaptaçã o à salinidade, em que plantas capazes de
mantê-la superior a 1,0 têm sido enquadradas como tolerantes ( Viégas et al., 2001).

FERTILIDADE DO SOLO
XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 949

Um sistema biológico sob estresse salino provavelmente usa mais energia do que se
encontrasse na ausê ncia de estresse . Uma planta , quando exposta a elevadas
concentra ções de sais, consome energia metabólica extra em processos relativos a ajustes
osmó ticos nas células. Sem este ajuste, a planta perde á gua para o solo salino adjacente,
desidrata e morre. O consumo de energia no ajuste osmó tico ao estresse salino reduz a
energia utiliz á vel no crescimento e, assim, influencia a produtividade. Resta definir se
este gasto de energia provoca reduções que impossibilitem o uso agrícola de determinada
cultura, com retorno económico satisfatório.
Testando os efeitos da salinidade no crescimento e no teor de nutrientes em cultivares
de bananeira , Ara ú jo Filho et al . (1995) verificare m que o aumento da salinidade afetou
a altura das plantas, o diâ metro do pseudocaule, a á rea foliar e a matéria seca tanto da
parte a érea quanto das ra ízes das plantas de bananeira . Entretanto, dois cultivares
testados ( Nanica e Nanicã o ) apresentaram -se mais tolerantes que as outras (Pacovã e
Mysore), aos níveis crescentes de sais, confirmando a possibilidade de utiliza çã o de
plantas mais tolerantes em condições de elevada salinidade.
Efetivamente, algumas espécies ou variedades apresentam maior toler â ncia e
capacidade de adapta çã o a estes ambientes, po ssivelmente pelo uso de mecanismos
fisiológicos de adaptaçã o ao longo de sua evoluçã o . Encontram-se referências na literatura
a estudos sobre sorgo (Fernandes et al., 1994), bananeira ( Ara ú jo Filho et al., 1995), milho
( Azevedo Neto & Tabosa, 2000), dentre outras culturas.
A germina çã o é, geralmente, o está dio mais sensível do ciclo de vida da planta ao
estresse salino, levando a crer que o principal efeito salino é osmó tico. Contudo, desde
que alguns sais sã o mais inibidores que outros, os efeitos tóxicos específicos també m
devem estar envolvidos.
Pela necessidade de absor çã o de á gua na fase de germina çã o e fragilidade das
pl â ntulas recém-germinadas, a maioria das culturas sã o mais sensíveis à salinidade
nestas fases iniciais de seu crescimento. Diversos autores tê m demonstrado este fato
claramente (Oliveira Jr. et al., 1998; Nóbrega Neto et al., 1999; Rodrigues et al., 2002) .
Oliveira et al. (1998), estudando os efeitos da salinidade da á gua de irriga çã o sobre
a germina ção de sementes de três cultivares de melão, observaram reduções na germinação
com o aumento da salinidade da á gua de irriga çã o, com diferenças entre as variedades;
muito embora as três variedades estudadas tenham sido consideradas de tolerâ ncia
moderada . Entretanto, o melã o cultivado sob o estresse salino apresenta reduções na
á rea foliar, altura de planta e produçã o de massa seca, acarretando diminuiçã o na
produtividade da cultura ( Alencar et al., 2003).
Em estudo com leucena, Nóbrega Neto et al . (1999 ) verificaram decr éscimo na
velocidade de germina çã o, à medida que aumentaram as concentra ções de sais do
substrato, evidenciando que a adiçã o do NaCl contribui para o retardamento na
emergência das plâ ntulas, o que levou os autores a concluírem ser este um fator
preponderante na velocidade de germinação di espécie ( Nóbrega Neto et al., 1999 ) .
Entretanto, apesar de ocorrer redução na percentagem de germinaçã o, a leucena germinou
em todas as concentra ções de NaCl utilizadas, indicando que a espécie é tolerante na
fase germina tiva .

FERTILIDADE DO SOLO
950 MARIA BETâ NIA GALVã O DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE

Algumas espécies sã o capazes de diminuir a salinidade dos solos, como é o caso da


algaroba ( Prosopis juliflora ). Maliwal et al. (1991), trabalhando com esta espécie,
verificaram sua capacidade de reduzir a salinidade, medida pela condutividade elé trica,
em todas as profundidades do perfil A planta proporcionou também decréscimos rios
valores de PST dos solos até à profundidade de 15 cm . Os autores acreditam que as
plantas tenham reduzido a ascensã o de á gua com sais no perfil do solo, visto que sua
demanda por á gua nos meses secos anulou as for ças de capilaridade do solo.
Pela capacidade de assimilar sais, as plantas do gênero Atriplex têm sido estudadas
como recuperadoras de á reas degradadas pela saliniza çã o. Porto et al. (2001) obtiveram
uma retirada de sais de 1.145 kg ha 1 durante um ano de cultivo de Atriplex mimularia .
"

Esses autores consideram que o po :encial de retirada de sais pela Atriplex pode ser
bastante significativo quando forem utilizadas á guas comuns na regiã o. Entretanto, é
preciso que seja adotado um manejo adequado, com podas frequentes e retirada do
material da á rea para uso na pecu á ria ou concentraçã o por outros meios (queima para
obtençã o de cinzas, á reas de ac ú mulo, etc.), pois, do contr á rio, o sal extraído retornaria
ao solo com a deposiçã o dos resíduos da planta e sua posterior mineraliza çã o.
O potencial de fitorremediação da Atriplex ainda precisa ser confirmado em pesquisas
adicionais. Para isso, devem ser tes adas outras plantas, como a algaroba e a leucena,
com o objetivo de selecionar os cultivares mais adequados para a recupera çã o de
ambientes degradados pela salinidade e sodicidade. Planos de recuperação destas á reas
degradadas poderiam permitir a expansã o de culturas comerciais, inicialmente com
espécies tolerantes mais adaptadas e c apazes de produzir satisfatoriamente sob condições
de estresse salino.

CONSIDERA ÇÕ ES FINAIS

Fica evidente que a fertilidade de solos afetados por sais envolve muito mais a retirada
dos elementos em excesso para corrigir os possíveis desequilíbrios entre cá tions e â nions
do que o fornecimento de nutrientes via fertiliza çã o.
O manejo adequado do sistema solo-á gua - planta é de fundamental importâ ncia
para evitar o desencadeamento dos processos de degradação promovidos pela salinização
e sodificação dos solos . A utiliza çã o de espécies e variedades adaptadas, irrigadas com
á guas de salinidade controlada em termos de teores e tipos de sais, o manejo da irrigaçã o
juntamente com a drenagem, mantendo um balanço adequado de sais no solo, devem ser
monitorados para nã o permitir a expansã o de á reas salinas.
Em solos já salinizados, a sol íçã o seria planejar a recuperaçã o com o uso de
corretivos, espécies fitorremediadoras e lâ minas de lixiviaçã o, acompanhadas por um
sistema de drenagem adequado e pelo monitoramento das propriedades dos solos e da
água usada na irrigação.
O problema da salinizaçã o nã o se restringe a lotes independentes, nem mesmo a
projetos de irriga çã o individuais, já que os sais se movimentam com a á gua do lençol

FERTILIDADE DO SOLO
\ XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 951

i freá tico, atingindo á reas muitas vezes distantes Por isso, a questã o deve ser enfocada
numa escala mais ampla, pois a contamina çã o provocada localmente poderá comprometer
todo o ambiente, mesmo a longas distâ ncias. Adicionalmente, as técnicas de manejo das
á reas salinas devem ser desenvolvidas para a situa çã o específica do local onde ocorre o
problema, o que é condiçã o para o sucesso no controle da salinidade e para a real
expressã o da capacidade produtiva destes solos que, frequentemente, apresentam boa
fertilidade natural.

LITERATURA CITADA
ABOUL ROOS, S.A .; AWADALLA , E. A . & KHALAF, M.A . Use of gypsum and water with high
salt content in reclamation of sodic soil. Z. Pfla nzenernaehr, 6:725-730, 1976.

ALENCAR, R . D.; PORTO FILHO, F.Q.; MEDEIROS, J . F.; HOLANDA, J .S.; PORTO, V.C. N. &
FERREIRA NETO, M. Crescimento de cultivares de melã o amarelo irrigadas com á gua
salina . R . Bras. Eng. Agric. Amb ., 7:221-226, 2003.

ARA ÚJO FILHO, J . B.; GHEYI, H. R . & AZEVEDO, N.C . Toler â ncia da bananeira à salinidade em
fase inicial de desenvolvimento. Pesq . Agropec Bras., 30:989-997, 1995.

AUDRY, P. & SUASSUNA, J. A qualidade da á gua na irriga çã o do Tr ópico Semi-Á rido: Um


estudo de caso. Tema apresentado no Seminá rio Franco-Brasileiro de Pequena Irriga çã o,
Pesquisa e Desenvolvimento. SUDENE e Embaixada da França , Recife, 11 a 13 de dezembro
de 1990. ( www.fundaj.gov .br )

AYERS, R .S. & WESTCOT, D.W. Water quality for agriculture. Roma, Food and Agriculture
Organization of the United Nations, 1985. 174p .

AZEVEDO NETO, A .D. & TABOSA , J .N . Estresse salino em plâ ntulas de milho: Parte I - Aná lise
do crescimento. R. Bras. Eng. Agric. Amb., 4:159-164, 2000.

BARROS, M.F.C. & MAGALHAES, A.F. Avalia çã o de mé todos de determina çã o da necessidade


de gesso em solos salino-sódicos. R . Bras. Ci. Sólo, 13:119-123, 1989 .

BARROS, M .F.C .; FONTES, M.P.F.; ALVAREZ V ., V.H . & RUIZ, H.A . Recupera çã o de solos
afetados por sais pela aplica çã o de gesso de jazida e calcá rio no Nordeste do Brasil. R .
Bras. Eng. Agric . Amb ., 8:59-64, 20Ô4.

BERNSTEIN, L. Crop growth and salinity . In: DRAINAGE for agriculture. Madison, American
Society of Agronomy, 1974. 252p.

BLANCO, F. F. & FOLEGATTI, M. V. Recupera çã o de um solo salinizado ap ós cultivo em


ambiente protegido. R . Bras. Eng. Agric. Amb ., 5:76-80, 2001.

CHHABRA, R . Soil salinity and water quality . Rotterdam, A. A. Balkema, 1996. 283p.

COELHO, M.A. Estudos sobre as propriedades f ísicas de solos sódicos e salino-sódicos do


Estado do Cear á, Brasil. Fortaleza, 1988. ( Boletim Técnico Científico - Série Solos, 1)

FERTILIDADE DO SOLO
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU
MANEJO EM ÁREAS DEGRADADAS
Luiz Eduardo Dias17, Aví lio Antônio Franco27
& Eduardo Francia Carneiro Campello 27

1/
Universidade Federal de Viçosa - UFV. CEP 36571-000 Viçosa ( MG ) . Bolsista CNPq.
ledias@ ufv .br
2/
Embrapa / Agrobiologia . CEP 23851-970 Seropé dica ( RJ ). Bolsista CNPq .
avilio @cnpab . embrapa .br; campello @ cnpab.embrapa . br

Conte ú do
INTRODUÇÃ O 956

Á REAS DRASTICAMENTE ALTERADAS 957


Limita ções Físicas e Químicas de Substratos Minerados à Revegeta çã o 958
Armazenamento e Retorno do Horizonte Orgânico Superficial do Solo 964
Uso de Espécies Arbóreas na Revegetação de Á reas Degrá dadas 967
Fungos Micorrízicos e Bacté rias Diazotrópicas na Revegeta çã o de Á reas Degradadas 969

INDICADORES DE QUALIDADE DE SOLO EM PROCESSOS DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL .... 975

CORREÇÃO E FERTILIZAÇÃ O DE Á REAS DEGRADADAS 978

LITERATURA CITADA 982

SBCS, Viçosa , 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V., V.H., BARROS,
N.F., FONTES, R .LF ., CANTARUTTI, R . B. & NEVES, J .C .L . ) .
956 Luiz EDUARDO DIAS et al .

INTRODU ÇÃ O

A atividade agropecuá ria coloda -se como a maior fonte de degrada çã o de terras em
todo o planeta ( Eswaran et al., 2001) . A agricultura tradicional, com ê nfase na
monocultura, tem sido um fator de aceleramento desta degradaçã o, geralmente ultimada
pelo superpastejo e uso do fogo . Estimativas de mais de uma d écada consideravam que
15 % do solo mundial encontrava - se degradado ou em processo de degrada çã o, dos
quais 98,8 % estavam relacionados com as atividades de produçã o e extrativismo e 1,2 %
com as atividades de ind ústrias e mineraçã o, sendo estas as responsá veis pela degradaçã o
de maior intensidade ( Oldeman, 1994 ) . Considerando apenas a questã o de erosã o em
terras agr ícolas, estima -se que a cada ano, em todo o planeta, sã o perdidos cerca de 75
bilh ões de toneladas de solo, a um custo de US$ 400 bilhões ou, aproximadamente, de
US$ 70.00 por habitante ( Eswaran et al., 2001).
Processos de degrada çã o atuarr . sobre os diferentes compartimentos de um sistema
ambiental. Dependendo da intensidade e duraçã o do impacto e da resiliência do sistema,
a reabilita çã o ou recupera çã o podir á ocorrer de maneira natural ou necessitar á de
intervençã o antr ópica . A degrada çã o pode ser por perturba çã o do solo, causada por
a ções naturais, como vento, fogo, terremoto, queda de á rvores, enchentes, etc., em que a
resiliência natural do sistema geralmente possibilita sua recupera çã o. Neste caso, espécies
heliófilas de r á pido crescimento, como Cecropia sp., Vismia latif ólia e Trema micrantha ,
dentre muitas outras, estabelecem-se na á rea sem necessidade de adiçã o de nutrientes e,
assim, iniciam o processo de recupera çã o . Por outro lado, a degrada çã o associada com
perda da camada superficial do solo contendo maté ria orgâ nica e nutrientes em maior
quantidade é mais séria, considerando a importâ ncia destes para as características f ísicas
e qu ímicas do solo.
A supressã o da vegeta çã o, seja decorrente do manejo inadequado de pastagens e
terras agrícolas, seja de atividades de elevado impacto, como a retirada de florestas para
fins energéticos ou para a explota çã o de minérios, tem como consequência imediata a
exposiçã o de solo aos raios solares é aos agentes de erosã o. Ciclos de umedecimento e
secagem e o impacto de gotas de chuva promovem a desestruturaçã o do solo, acelerando
a perda de maté ria orgâ nica . No caso de minera ções a cé u aberto, o impacto é mais
intenso, uma vez que o solo superficial é retirado, armazenado e retornado ao local de
origem após a retirada do minério. Estes cená rios mostram-se como padr ões em á reas
degradadas. Desta forma, em difecentes intensidades, o ponto comum é a perda de
matéria orgâ nica, drástica reduçã o da atividade biológica, desestruturação e adensamento
do solo e intensifica çã o de processos erosivos.
A recuperaçã o de á reas degrac adas pode ser conceituada como um conjunto de
a ções que visam proporcionar o restabelecimento de condi çõ es de equil íbrio e
sustentabilidade que existiam antes da degrada çã o (Dias & Griffith, 1998). O car á ter
inter e multidisciplinar das a ções que visam proporcionar esse retorno deve ser tomado,
fundamentalmente, como ponto de p artida do processo. Assim, o envolvimento direto e
indireto de técnicos de diferentes esp ecializa ções permite a abordagem integrada que se

FERTILIDADE DO SOLO
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM Á REAS DEGRADADAS 957

faz necessá ria . Bell (1996) coloca, como primeirc passo de um programa voltado para a
reconstruçã o de um ecossistema , o restabelecimento da vegetaçã o, salientando, ainda,
que a atividade de outras formas de vida ( micro e macro) depende daquele componente.
Neste sentido, em se tratando de revegetaçã o de á reas drasticamente alteradas, correções
e fertiliza ções pr é vias do substrato normalmente se fazem necessá rias.
Neste texto, o termo recuperaçã o é utilizado como uma abordagem padrã o, em que
os processos empregados permitem o uso sustent á vel da á rea , conforme objetivo
previamente determinado. Os termos reabilitação e restauraçã o são comumente utilizados
na literatura e apresentam, do ponto de vista dos autores, significados diferentes. A
reabilita çã o tem como objetivo o retorno da á rea à mesma funçã o ecológica , poré m com
níveis de diversidade biol ógica, entropia e biomassa diferentes dos previamente
existentes . Por outro lado, a restaura çã o pressup õe o retorno da á rea à mesma funçã o
ecológica e com aqueles mesmos n íveis existentes antes da degradaçã o . Entretanto, os
aspectos discutidos ao longo deste capítulo enquadram -se, basicamente, em qualquer
processo, seja ele de recupera çã o, seja de reabilita çã o ou restaura çã o .
Em á reas drasticamente alteradas como de minera çã o, por exemplo, os diferentes
materiais resultantes do processo de expiota çã o de miné rio devem ser considerados, no
contexto de revegeta çã o, como substrato e não so o. Logicamente, o nível de altera çã o do
material remanescente frente ao solo original pode variar de acordo com a intensidade e
com o tempo de dura çã o do impacto e da resiliência do solo. Desta maneira, ao longo
deste capítulo, o termo substrato é utilizado indistintamente para referenciar o material
remanescente de um processo de degradação, que apresenta, normalmente, baixo teor de
matéria orgâ nica, baixa disponibilidade de nutrientes, pouca ou nenhuma estruturaçã o
e atividade biológica . Assim, destacam-se como um dos objetivos da recupera çã o a
transforma çã o de um substrato em solo.
A recupera çã o de um sistema degradado tem como base restabelecer ao substrato
condições para que possa cumprir os serviços c .esempenhados pelo solo em qualquer
sistema natural em equil íbrio . Desta forme , tê m -se servi ç os relacionados com
caracter ísticas f ísicas, químicas, f ísico-químicas e biológicas de solo. Considerando o
foco deste livro, coloca-se como objeto de discussã :> deste capítulo a melhoria da fertilidade
de substratos degradados para que possam suprir a vegeta çã o implantada e,ou,
espontâ nea de nutrientes, permitindo que estas se estabeleçam e o sistema volte a
funcionar de maneira sustentá vel.

Á REAS DRASTICAMENTE ALTERADAS

Independentemente do processo de degrada çã o, á reas drasticamente alteradas


normalmente apresentam baixa disponibilidade de nutrientes, baixo teor de matéria
orgâ nica e características f ísicas que dificultam o estabelecimento e crescimento de
plantas. Substratos remanescentes da explotacão de minérios ser ã o utilizados como
referência neste texto, por se enquadrarem perfejtamente àquela situaçã o.

FERTILIDADE DC SOLO
958 Luiz EDUARDO DIAS et al .

Ao considerar algumas das in úmeras inter-rela ções existentes entre as características


do substrato remanescente e o processo de revegeta çã o, torna -se evidente a importâ ncia
dos procedimentos que envolvem o conhecimento real do material existente na á rea a ser
recuperada . A visualiza çã o prévia das potenciais dificuldades reflete-se em economia
de recursos e menor risco de dano ambiental .

Limitações Fí sicas e Químicas de Substratos Minerados à Revegetação


As características químicas e f í
sicas
de substratos minerados variam muito de acordo
com o ambiente e processos de minera çã o e, normalmente, nã o sã o favor á veis ao
estabelecimento e crescimento de vc geta çã o . Hossner & Hons (1992), Daniels (1996 ) e
Bell (1998) apresentaram diferentes aspectos relacionados com as caracteriza ções e
limita ções de substratos minerados.
A atividade de minera çã o a cé u aberto obrigatoriamente envolve a retirada do
horizonte superficial do solo, acarreta ndo a exposiçã o de materiais com baixa estruturação
e susceptíveis a promover a dispersão de argila ( Dias, 1998). Da mesma forma, a abertura
de trincheiras ou faixas de lavra é, geralmente, seguida de seu preenchimento com a
utiliza çã o de estéril (1) num processo que resulta na inversã o dos horizontes e no uso
intensivo de m á quinas no aplainamento da superf ície. Ambos os procedimentos podem
levar ao surgimento de compacta çã o e,ou, adensamento do substrato . A redu çã o da
permeabilidade, maior susceptibilidade à eros ã o, redu çã o na aera çã o, menor
disponibilidade de á gua, menor taxa de difusã o de nutrientes e menor crescimento de
sistema radicular sã o resultantes da presença de camadas compactadas ou adensadas.
Da mesma forma, bacias ou tanques c e depósito de rejeitos podem apresentar substratos
com elevada densidade. A dinâ mica de secagem desses depósitos pode, muitas vezes,
levar à compacta çã o do substrato. Em Porto Trombetas-PA, a lavagem de bauxita durante
o processo de beneficiamento produz um rejeito que é depositado em tanques construídos
sobre á reas mineradas. A secagem lenta deste material possibilita a sedimenta çã o
orientada de argila, gerando um subs nato, quando seco, de elevada densidade, trazendo
dificuldades ao processo de implanta çã o de vegeta çã o (Figura la ).
O uso de penetr ô metros ou pe netr ógrafos tem-se mostrado como um mé todo
conveniente para estimar a resistênci a mecâ nica de substratos ao crescimento radicular,
embora, em algumas situa ções, este valor seja superestimado (Perumpal, 1987). Muitas
vezes, a compara çã o entre resultados é dificultada, visto que os valores podem variar de
acordo com o aparelho utilizado e, p ú ncipalmente, com a umidade do solo. Apesar de
limitações e dificuldades de interpreta çã o dos resultados obtidos, o penetr ô metro é um
instrumento ú til.
Significativa parcela das mineracoras que executam trabalhos de revegeta ção inclui
como procedimento padrã o a escarifica çã o ou subsolagem do substrato previamente ao
plantio. Em diferentes condições de substrato, essas prá ticas mostraram-se eficazes em
melhorar algumas características f ísicas dos substratos ( Barnhisel et al., 1988; Scullion

0 > Esté ril


é a denomina çã o atribu ída a todo material que se encontra acima do miné rio, nã o tem valor
comercial e precisa ser retirado para que se tenha acesso ao miné rio.

FERT LIDADE DO SOLO


XVII - FERTILIOADE DO SOLO E SEU MANEJO EM Á REAS DEGRADADAS 959

-
Figura 1. Rejeito de lavagem de bau /dta , em Porto Trombetas PA ( a ) . Vista parcial de um
depósito de rejeito de beneficiamento de min é rio de ferro, em Nova Lima - MG ( b) e de um
depósito de rejeito de beneficiamento de minério de ouro, em Paracatu - MG (e ).

FERTILIDADE DO SOLO
960 Luiz EDUARDO DIAS et al .

& Mohammed, 1991; Dunker et al., 1995), porém apenas a escarificação mostrou-se
insuficiente pã râ garantir o início de regenera çã o natural de cascalheira em Brasília, DF
( Leite et al., 1996) .
A utiliza çã o de espécies arb óreas tolerantes à compacta ção tem sido recomendada
como prá tica para aumentar a porosidade e diminuir a densidade de substratos
remanescentes de extra çã o de carvão na Inglaterra (Haigh, 1992). A utilizaçã o de espécies
tolerantes à compactaçã o mostrou-se alternativa igualmente viável em Porto Trombetas-
PA. Trabalhando com estéril de bauxita (mistura de horizontes BeC com concreções
ferruginosas lateríticas), sem o retorno da camada superficial do solo, Campello et
al. (1997) avaliaram o efeito de três níveis de escarificaçã o (0, 1 e 2 passagens do
escarificador) sobre o crescimento de Acacia holosericea, Albiziaguachapelle, Parkia multijuga
-
e Sesbania marginata . A escarifica çã o reduziu a densidade do solo e aumentou a
profundidade efetiva avaliada por penetrógrafo. Apesar de tais efeitos mostrarem-se
estatisticamente detectá veis no solo , a escarifica çã o nã o apresentou efeito sobre o
estabelecimento e crescimento das plantas. Nesse sentido, a seleçã o de espécies a serem
utilizadas é de grande importâ ncia, pois o comportamento ante a presença de camadas
compactadas varia entre elas.
Ensaios em condi çõ es controladas de casa de vegeta çã o podem indicar o
comportamento das espécies em relaçã o à presença de camadas compactadas. Diferentes
ensaios (Femandez et al., 1994; Nejaim e t al., 1996; Dias et al., 2004a) mostraram que a maior
parte das espécies leguminosas consideradas pioneiras e comumente utilizadas em
programas de recuperação ambiental apresenta boa tolerância à compacta ção (Quadro 1).

Quadro 1. Produção de matéria seca da parte aérea de mudas de diferentes espécies leguminosas
utilizadas em recuperação de áreas degradadas e cultivadas em colunas que continham
solo em densidade equivalente a original (d =1,0 kg dm 3) é compactado (d = 1,3 kg dm 3)
" "

Espécie Solo nã o compactado *1 ) Solo compactado

g / coluna
Albizia guachapelle 10,0 a 10.5 a
Albizia fal cataria 1, 2 a 0,85 a
Albizia saman 1,1 a 1, 2 a
Acacia holosericea 14,1 a 10.8 b
Acacia angustissima 1,1 a 1, 2 a
Acacia mangium 13.5 a 14.5 a
Enterolobium contortissiliquum\ . 10,3 a 9.5 a
Enterolobium schomburgkii . 15.3 a 13.2 b
Leucaena leucocephala 11.4 a 7.5 b
Mimosa tenuiflora 14.6 a . ..
/•
10.3 b
Mimosa caesalpinifolia v 12,7 a 9.5 a
Parkia ulei 16.5 a 12.9 b
Senna elata 13.4 a 11.4 a
Senna reticulata 24.5 a 20,8 a
Sesbania virgata 23.6 a . - 22,2 a
Stryphnodendron guianensis • 1/ 5 a 1,1 a
, Valores seguidos de
( )
mesma letra, nas linhas, rtão diferem a 5 % pelo teste Tukey.
Fonte: Femandez et al . (1994); Nejaim et al. (19S 6); Dias et al. (2004a ).

FERTI .IDADE DO SOLO


r
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM AREAS DEGRADADAS 961

Rejeitos com partículas mais grosseiras ( Quadro 2) e de elevada densidade, como


observado para os processos de beneficiamento de miné rio de Fe, em Nova Lima -MG
(Figura lb ), e de ouro, em Paracatu -MG ( Figura lc), formam substratos de elevada
macroporosidade, baixa microporosidade e capacidade de retenção de cá tions e de á gua .
Para regiões mais susceptíveis a d éficit hídricos, o processo de revegeta çã o pode ser
comprometido por deficiência hídrica . Neste caso, a aplica çã o de maté ria orgâ nica na
cova de plantio (cerca de 2,0 L de esterco de curral ) favoreceu o estabelecimento e
crescimento de mudas em um depósito de rejeito do beneficiamento de minérios de zinco
(Piagentini et al ., 2002), aumentando a capacid ade de retençã o de á gua na regi ã o da
rizosfera . Da mesma forma, o uso de material vegetal seco sobre o terreno (cobertura
morta ) promove menor perda de á gua pelo subs rato, favorecendo o estabelecimento de
mudas.
Em se tratando de substratos oriundos de minera çã o, verifica -se que sã o os fatores
químicos presentes que podem causar danos aos vegetais. A mineralogia, o clima e o
relevo podem fornecer dados importantes para a orevisã o dos principais fatores químicos
limitantes ao estabelecimento e crescimento de plantas ( Abrahã o & Mello, 1998).
Substratos remanescentes de minera çã o cc m elevadas concentra ções de sulfetos
metá licos podem provocar a gera çã o de drenagem á cida, com sé rias consequências
ambientais (Mello et al., 2003) . O processo de drenagem á cida inicia -se quando certos
minerais suifetados, como a pirita (FeS2), sã o expostos ao 02 e á gua e sofrem oxida çã o
formando sulfatos hidratados. Os produtos de oxida çã o dos sulfetos, alé m de serem
altamente sol ú veis, apresentam rea çã o for teme ate á cida, de modo que sã o facilmente
dissolvidos na fase líquida, acidificando as águas de drenagem. Assim, as águas naturais,
ao dissolverem os sais produzidos pela oxida çã o, tornam-se á cidas e com altas
concentra ções de sulfato e Fe. Em razã o dos baixos valores de pPí, outros elementos
potencialmente tóxicos, como Al, As, Mn, Cu, Zr , Pb, Hg, Cd, etc., se presentes no meio,
sã o solubilizados e mobilizados nas á guas de drenagem, aumentando o risco de
incorpora çã o de metais t óxicos nos sistemas biol ógicos bem como a consequente
biomagnifica çã o na cadeia trófica, afetando, por í im, a sa úde humana ( Mello & Abrahão,
1998) . Textos mais abrangentes sobre drenagem ácida em á reas de mineração podem ser
encontrados em Richards et al. (1993), Evangelou (1995) e Mello et al. (2003).
A solubiliza çã o de outros elementos decorrente do abaixamento do pH pode refletir
no aumento da condutividade elé trica do meio, dificultando o estabelecimento e
crescimento de plantas. Um substrato sulfetado remanescente de mineraçã o de ouro em
Paracatu-MG apresentou valores de condutividade elétrica superiores a 18 dS m 1 (Dias,
'

1998), significativamente superiores ao limite de li ) dS m 1, em que apenas poucas espécies


'

vegetais muito tolerantes à salinidade conseguem sobreviver ( Ayers & Westcot, 1991).
Da mesma forma , o aumento da solubilidade de matais pode provocar toxidez aos vegetais.
No Brasil, os estudos ainda sã o muito incipientes; entretanto, já tem sido constatado
o problema em minas de carvã o do Rio Grande do Sul (Soares, 1995) e Santa Catarina . O
Estado de Minas Gerais apresenta expressivos jazimentos com presença de sulfetos
associados às minerações de Au, Ni, Zn, Pb e de L , constituindo um expressivo potencial
de gera çã o de drenagem á cida (Melo et al., 2006) , Igualmente escassos são os estudos de
seleção de espécies capazes de adaptar-se a este tipo de substrato . Esta busca é importante

FERTILIDADE DO SOLO
962 Luiz EDUARDO DIAS e t al .

Quadro 2. Caracter ísticas f ísicas de re eitos do processo de beneficiamento de miné rios de


ouro, zinco e de bauxita

Umidade
Rejeito Areia Silte Argila
- 0, 03 MPa - 15 MPa
g kg -1
Ouro 940 40 20 24,1 7,9
Zinco 610 340 50 197,7 17, 9
Bauxita 220 250 530 322,0 262, 0

e, geralmente dif ícil, posto que a adapta çã o a ambientes ácidos e salinos é uma condiçã o
à qual as plantas nã o foram habituadas durante seu processo evolutivo. Podem-se
encontrar solos salinos, mas nã o á cidos, com vegeta çã o adaptada. Por outro lado, a
expectativa é que espécies que desenvolveram mecanismos evolutivos para se adaptar a
solos á cidos nã o toleram salinidade excessiva ( veja capítulo XVI).
Procedimentos específicos à amostragem e caracterizaçã o química de substratos
sulfetados sã o necessá rios para que se possa ter uma correta estimativa do potencial de
acidez a ser gerado e, conseqiientemente, do impacto ambiental. Nesse sentido, tendo em
vista o tamanho da á rea e da textura (capacidade tampão), do teor de S oxid á vel e da
acidez potencial a ser gerada pelo substrato, o governo australiano estabelece níveis de
a çã o para tratamentos diferenciados do problema. Á reas que excedam estes níveis
requerem o preparo de um plano de manejo e autorização especial. Projetos que envolvem
um volume de material superior a 1.0 30 t de substratos sulfetados com teores maiores de
0,3 g kg 1 de S oxid á vel requerem a elabora çã o de projetos detalhados de manejo e
'

autoriza çã o especial para garantir que procedimentos sejam realizados no sentido de


evitar ou minimizar o impacto ambiental ( Ahern et al., 1998).
As estratégias mais usuais para evitar a ocorrê ncia de drenagem á cida em á reas
mineradas procuram reduzir a oxida çã o de sulfetos, restringindo o acesso de 02 e água
ao substrato ou inibindo a atividade de bactérias que oxidam o Fe e catalisam aquela
rea çã o. A reconstruçã o topográ fica, com a utilização de materiais selantes sobrepostos
com horizontes superficiais de solo, tem sido amplamente utilizada (Mello et al., 2003).
Podendo ou nã o estar associado a esses procedimentos, o uso isolado de calcá rio, em
muitos casos, mostra -se insuficiente , principalmente pelas dificuldades advindas da
elevada quantidade necessá ria para neutralizar a acidez potencial e a ocorrência de
capeamento das partículas de carbonato pela precipitaçã o de óxido de Fe em sua
superf ície ( Ziemkiewicz et al., 1997).
A presença de arsenopirita (FeAsS) e calcopirita (CuFeS2) associadas à pirita tem
sido observada em jazidas de carvã o mineral ( Evangelou, 1995) e outros minerais
(Abrahã o, 2002). A dissolução de arsenopirita pode resultar em concentrações elevadas
de As no meio, trazendo sérios riscos ambientais e dificultando a revegetação de substratos
que contenham estes minerais. No Departamento de Solos da UFV, diferentes pesquisas
vêm sendo realizadas com o objetivo de selecionar espécies tolerantes ao As ou capazes
-
de atuar como fitorremediadoras de á: eas contaminadas por esse metalóide (Melo, 2006).

FERTILIDADE DO SOLO
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM Á REAS DEGRADADAS 963

Em depósitos controlados, a composiçã o química dos rejeitos e os tratamentos


aplicados durante o beneficiamento do miné rio sã o informa ções importantes para a
identifica çã o de limita ções de car á ter químico. Durante o processo de purifica çã o de
miné rios para a extra çã o de metais como Zn, é comum a acidifica çã o durante o
beneficiamento. Neste caso, antes de ser lançada à barragem, a acidez é neutralizada e o
rejeito passa a apresentar, em algumas situa ções, pH superior a 9,0. Da mesma forma, a
utiliza çã o de hidróxido de Na para a obtençã o de alumina a partir de bauxita produz
resíduo ( red mud ou lama vermelha ) de elevada alcalinidade (pH > 10) e condutividade
elé trica superior a 40 dS m 1 (Franco et al ., 2001). Depósitos de rejeitos com concentraçã o
"

salina elevada (principalmente de Na ) sã o recuperados previamente por meio de técnicas


usualmente empregadas em solos salinos e salino-sódicos ( veja capítulo XVI ).
Por outro lado, alguns processos de beneficiamento produzem rejeitos de car á ter
ácido, como é o caso do produzido a partir da lavagem da bauxita, Porto Trombetas, no
Estado do Par á (Quadro 3).
Rejeitos oriundos do beneficiamento de miné rios de metais como de Al, Fe e Zn
podem apresentar baixas concentra ções de nutrientes ( Quadros 3 e 4 ) e elevadas de
metais que podem interferir no metabolismo e crescimento de plantas. A concentra çã o
final destes depende da composiçã o qu ímica da miné rio e dos processos empregados
durante seu beneficiamento.

Quadro 3. Valores de pH e teores de zinco, ferro, manganês, cobre e enxofre disponíveis em


amostras de rejeito de beneficiamento de minério de alumínio ( bauxita ), ferro e zinco

Amostra PH Zn Fe Mn Cu S

mg dm -3
Rejeito de bauxita 4, 90 11.40 21,40 5,50 0,20 2,45
Rejeito de ferro 8, 04 267,50 145,90 37,70 9,37 46,50
Rejeito de zinco 7,35 39.40 49,70 150,30 0, 76 131, 60

pH em á gua, rela çã o 1:2,5. Fe, Zn, Mn, Cu - Extrator Mehlictvl . S - Extrator - Ca (H2P04) 2 500 mg L 1 de P em '

HOAc 2 mol L 1.

Quadro 4 . Teores de f ósforo e pot á ssio disponíveis, de cá lcio, magn ésio e alumínio trocá veis e
acidez potencial em amostras de rejeito de beneficiamento de miné rio de alum ínio
(bauxita ), ferro e zinco

Amostra P K P-rem *1) Ca 2 + Mg2 + AI3+ H + Al

mg dnr 3 mg L 1'
emole dm -3 -
Rejeito de bauxita 0,2 8,0 9,61 0 ,1 0,1 0, 0 1, 00
Rejeito de ferro 3,4 0, 0 47,40 0,0 0,0 0,0 0,70
Rejeito de zinco 1,0 62,0 21,65 2,6 1,5 0,0 0,00

P e K - extra ídos por Mehlich-1. Ca 2 +, Mg2+ e Al3+ extra ídos com KC1 1,0 mol L'1. (1 )
Alvarez V . et al. (2000).

FERTILIDADE DQ SOLO
964 Luiz EDUARDO DIAS et al .

Armazenamento e Retomo do Horizonte Orgâ nico Superficial do Solo

O retorno do horizonte orgâ nico superficial do solo ou camada superficial (CSS)


ap ós a explora çã o é uma atividads amplamente utilizada, quando possível, por
minera ções a céu aberto e tem papel fundamental no processo de revegetaçã o. A camada
superficial de um solo pode conter a t)iemória do ambiente local - parte da resiliê ncia do
sistema - que é de grande importâ ncia no processo de revegeta çã o. Como memó ria,
compreende-se os materiais orgâ nicos oriundos da vegeta çã o e, principalmente, os
propágulos (sementes, plâ ntulas, rizomas, etc. ) e a microbiota do solo. A matéria orgâ nica
tem como principal fonte de C os resíduos vegetais e animais depositados no solo, e
apresenta caracter ísticas quantitativas e qualitativas que refletem as comunidades
anteriormente existentes na á rea . Da mesma forrría, a maior parte dos propá gulos e a
microbiota sã o resultantes do ambiente anterior ao impacto, no qual se inclui a vegetaçã o.
Assim, a preserva çã o e o retorno das camadas superficiais do solo (a memória do sistema )
podem, de maneira efetiva , contribuir para o sucesso da revegetaçã o, tanto que diferentes
agências estaduais e estrangeiras adotam esta prá tica como obrigatória para a recupera çã o
de á reas mineradas.
Por outro lado, existem situa ções em que o solo original apresenta -se pouco
desenvolvido, como os Litosssolos / lfJeossolos, por exemplo, nã o sendo possível seu
retorno à á rea minerada . Nesse caso, é comum lançar mão de outros materiais ou solo de
outro local (empréstimo ) para recomposiçã o da camada superficial que irá sustentar a
vegeta çã o. Ao utilizar solo de outrcj local ou materiais que nã o o solo ( rejeitos, por
exemplo), é fundamental o conhecimento prévio das características f ísicas e químicas do
material no sentido de serem feitas correções que favoreçam o estabelecimento de plantas
( Dias, 1998).
Aspecto importante refere-se à espessura de solo a ser aplicado sobre o substrato
degradado. Resultados obtidos em substratos remanescentes de mineração de carv ã o
mostram haver aumento linear de produçã o de maté ria seca de plantas com o aumento
da espessura da camada aplicada, podendo esta variar de 0-150 cm ( Ren-sheng et al.,
1998). As características f ísicas e qu ímicas do substrato e o tipo de vegeta çã o que será
instalada sã o fatores a serem considerados na determina çã o da espessura da camada a
ser depositada . Dessa forma , substratos com caracter ísticas mais agressivas ao
estabelecimento de plantas e, principalmente, de espécies arbó reas exigiriam camadas
mais espessas de solo superficial. No entanto, na medida em que se aumenta a espessura
da camada aplicada, os custos também aumentam, tornando essa opera çã o responsá vel
por maior parte das despesas advindas do processo de revegetação. No processo de
explota çã o de bauxita a cé u aberto ç m Porto Trombetas-PA, os custos de retirada,
armazenamento e retorno dos horizontes superficiais do solo (camada de 30 cm ) chegam
a 80 % do custo total de revegeta çã o.
A despeito das caracter ísticas de memó ria da CSS, seu uso possibilita maior
disponibilidade de nutrientes, além da melhoria de caracter ísticas f ísicas do substrato.
Nesse sentido, existem situações em que o substrato remanescente é composto por
fragmentos rochosos, de pouca porosidade, em que a drenagem e a capacidade de retenção

FERTILIDADE DO SOLO
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM Á REAS DEGRADADAS 965

de água são deficientes. Nessas situa ções, a utiliza çã o da CSS, proveniente de á reas de
empréstimo, permite melhores condições ao estabelecimento e crescimento de plantas.
Da mesma forma, o desenvolvimento de propá gulos provenientes de fontes externas é
intensamente facilitado por um substrato menos agressivo.
A conserva çã o e a distribuição da CSS sã o etapas críticas que devem ser executadas
de maneira criteriosa para preservar as qualidades do material. De maneira geral,
observa -se que a viabilidade de sementes decresce significativamente de acordo com o
tempo e condições de armazenamento. Pilhas muito alta podem produzir ambientes
anaeróbios em profundidade, aumentando a concentra çã o de amónia, dióxido de carbono,
etileno e metano ( Abdul-Kareem & McRae, 1984), além de promover a reduçã o na
biomassa microbiana (Harris & Birch, 1987).
A despeito das evidentes vantagens da utilizaçã o da CSS, algumas empresas nã o a
utilizam, ou nã o pretendem utilizá-la, por questões económicas, ou por ser o solo original
pouco espesso, sendo armazenado juntamente com o estéril (horizontes inferiores).
Nessas e em outras situa ções em que o volume armazenado de solo superficial é
insuficiente para o recobrímento total da á rea minerada, a utilizaçã o de outros materiais
ou resíduos (sem limita ções f ísicas e químicas ao crescimento de plantas) com a CSS
constitui alternativa a ser considerada. Essa pratica tem sido adotada por minera ções
de carv ã o, U e Au na revegeta çã o de substratos sulfetadòs. Dentre os materiais mais
utilizados, destacam-se argilas, compostos orgâ nicos, lodo de esgoto, cinzas e serragem.
O uso de serapilheira de florestas adjacentes como banco de propá gulos mostrou-se
viável na recuperação de á reas degradadas pela e xtração de bauxita em Poços de Caldas-
MG (Gisler & Meguro, 1993). No entanto, essa té cnica tem sido mais efetiva como fonte
de propágulos e nã o como alternativa de substrato de plantio. Além do mais, esse
procedimento deve ser precedido de uma avaliàção prévia do potencial de resiliência da
á rea de empréstimo, a fim de evitar sua degradai:ao.
Schafer (1979) é Brádshaw (1989) apresentariam diretrizes básicas para a escolha de
materiais a serem utilizados na cobertura de subs xatos minerados. A partir da discussão
das características químicas e f ísicas desejáveis e indesejáveis, os autores estabeleceram
referências para que o material a ser utilizado nã o apresente limitações para o
estabelecimento e crescimento de plantas.
No quadro 5, sã o apresentados os valores de altura e de sobrevivência de diferentes
espécies leguminosas arbóreas e arbustivas plantadas em substrato remanescente de
extração de Au em Paracatu-MG, com e sem a util iza ção da CSS. Em virtude do pequeno
volume da CSS armazenado pela empresa, op :ou-se pela formaçã o de uma mistura
composta por solo armazenado, argila (horizonte B de um Latossolo da região) e resíduo
proveniente do beneficiamento do minério na proporçã o de 2:1:1 (v / v / v ). A aplicação
dessa mistura foi realizada na forma de faixas de 1,0 m de largura por 40-50 cm de
espessura (Figura 2a ). Apesar de as avaliações terem sido realizadas em datas diferentes
(34 meses, para o experimento sem CSS, e 29 meses, para o experimento com CSS),
observou-se que a utiliza çã o deste procedimento promoveu maior crescimento e
sobrevivência das espécies. Da mesma forma, a comparação visual das parcelas sem e
com CSS mostrou que as com CSS apresentavc m significativa presença de plâ ntulas
oriundas de propá gulos existentes no solo previamente armazenado (Figura 2b).
í

FERTILIDADE DO SOLO
966 Luiz EDUARDO DIAS et al .

Quadro 5 . Taxa de sobrevivência e altura de seis espécies 34 meses após o plantio no substrato
Bl (11 sem o uso dc leiras e 29 meses após o plantio no substrato BI com o uso de leiras 1 '

34 meses sem o uso dt leiras 29 nieft ç s com uso dc leiras


Esp écie
Sobrevive meia Altura Sobrevivê ncia Altura

% m % im

E Fr te rol ò bium CO rt COT Í PSH iqu um 17 1,11 68 1 ,09


A cúria kolosericea 56 3,00 100 3, 74
P?e \ida Ê amúncú gitachapele 79 2, 74 96 2, 54
Mimoç a temiiflora 54 1, 36 75 2, 10
A caria mangium 75 3,16 100 3, 15
Mimosa ertesa ip in r i/ oliat S3 1, 80 79 2, 41
Albizia ietehek 96 2,54 92 2, 02

M édia 65 2, 24 90 2, 44
c, ) Substrato ( filsto ) remanescente da explota çã o de ouro com cerca de 2,0 g kg de sulfetos met á licos,
1 í?
Leiras
formadas peia mistura composta por solo armazenado, argila (horizonte B de um Latossolo da regi ão] e resí duo
proveniente do bene íicã amentO’ do miné rio na propor çã o de 2: 1 : 1 (v / v / v ).
Fonte : Dias et al. Dados não publicados.

Figura 2 . Mistura de solo e rejeito para a comfetçã o de leiras para o plantio de espécies arbó reas
e arbustivas, considerando a escassez de solo superficial , sobre um substrato sulfetado
remanescente da explota çâ o de ouro ( a ) . Crescimento dc algumas esp écies 2* ) meses após
o plantio ( b ) .

Considerando apenas o substrato, o objetivo mais importante é restabelecer um teor


de mat é ria orgâ nica que permita a manuten çã o de atividade biológica e a melhoria de
suas características qu ímicas e f ísicas. O restabelecimento desse teor somente é possível
mediante acr éscimos superiores ao potencial de mineraliza ção do sistema . Nesta fase, é
imporEante o uso de esp écies que adicionem C e N ao sistema , al ém dc fornecer material
formador de serapilheira com decomposiçã o lenta , como o observado em plantios de
ACUC í Jí ntangium ( Froufe, 1999) e nas parcelas de Acacifl holosericea nos experimentos em
-
Paracatu MG ( Dias & A rato, 2004) . Em um segundo momento, quando o objetivo ê manter

FERTIUOADE DO SOLO
r
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM AREAS DEGRADADAS 967

a sustentabilidade dos sistemas naturais ou dos sistemas produtivos, a taxa de adição de


C deve ser pelo menos igual à taxa de mineralização da matéria orgânica, sincronizada com
a libera çã o de nutrientes para atender à demanc . a de outras espécies.
O potencial de incorpora çã o de C de composto orgâ nicos (CO) ao solo dependerá,
basicamente, da natureza da comunidade decompositora do material orgâ nico que se
incorpora ao solo ( macro, meso e microfauna do solo), das características do ambiente
( substrato e clima ), de caracter ísticas do material vegetal que determinam sua
degradabilidade ( Lekha & Gupta, 1989 ) e, certamente, da capacidade das espécies em
absorver C02 e transform á -lo em maté ria vegetal, seja da parte a é rea, seja do sistema
radicular .
No entanto, para que exista incorpora çã o de CO ao substrato, primeiramente, é
importante que se criem condições favor á veis ao estabelecimento de espécies vegetais
que produzam grandes quantidades de maté ric vegetal. Para á reas degradadas onde
nã o existe a possibilidade de adiçã o de solo superficial, a melhoria da qualidade do
substrato deve ser feita por corretivos, fertilizantes e espécies vegetais ditas facilitadoras
do processo de sucessão vegetal. As espécies leguminosas arbóreas de rá pido crescimento
e grande produçã o de matéria vegetal tê m-se mostrado efetivas em in úmeras situa ções
( Dias & Arato, 2004; Franco & Campello, 2005).

Uso de Espé cies Arb óreas na Revegetação de Áreas Degradadas

In úmeras sã o as vantagens da utiliza çã o d ê á rvores em processos de recuperaçã o


ambiental. Fisher (1995) enumera cinco maneiras pelas quais as á rvores podem melhorar
ou recuperar a qualidade de um solo: (1) Algum ó s espécies podem incrementar o teor de
N no solo por meio da fixaçã o de N2 atmosf érico com associações simbió ticas com bactérias
dos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium ou actinomicetos do gênero Frankia. (2) O extenso
sistema radicular permite que as á rvores nã o só acumulem nutrientes que sã o retirados
de grande volume de solo, mas també m efetuem sua redistribuiçã o melhorando a
fertilidade dos horizontes superficiais; (3) As á rvores permitem melhor condicionamento
de solo pelo incremento de matéria orgâ nica; (4) as á rvores podem favorecer a melhoria
das condições microclim á ticas do solo e da superf ície; (5) O efeito rizosfera, ou seja, as
á rvores criam condi ções favor á veis ao desenvolvimento de meso e microfauna e
microflora, melhorando características f ísicas, qu ímicas e biol ógicas na regiã o do entorno
de ra ízes, resultando em profundo efeito benéfi co sobre o crescimento de plantas e de
características do solo.
As ra ízes liberam no solo diversos tipos de compostos orgâ nicos oriundos da
fotossíntese. Estima -se que cerca de 60 % do cart ono fotoassimilado é transportado para
as raízes e que 50 % deste é utilizado para o crescimento de raízes ou liberado para o
solo, contribuindo para o aumento da maté ria orgâ nica do solo e para a nutriçã o de
diferentes organismos. Os materiais orgâ nicos depositados na rizosfera sã o diversos e
variam em quantidade e qualidade, dependendo da espécie vegetal, da idade e vigor das
plantas, do tipo de solo e fatores ambientais (como luz, temperatura e umidade), dentre
outros (Moreira & Siqueira, 2002).

FERTILIDADE DO SOLO
968 Luiz EDUARDO DIAS et al .

O sistema radicular de espécies arbóreas pode trazer significativos benef ícios ao


substrato, tanto pela incorpora ção de C advindo da morte de pequenas raízes (ciclagem )
como pela melhoria da drenagem e elimina çã o de exsudatos que atuam na génese de
agregados e estrutura çã o do substrato.
A magnitude com que o processo de senescência de ra ízes finas ocorre apresenta
grande variabilidade entre as espécies florestais e arbustivas. Existe pouca informa çã o
na literatura a respeito da contribuiçã o quantitativa de ciclagem de ra ízes de espécies
florestais tropicais na formaçã o da matéria humificada de solo. No entanto, há estimativas
da ordem de 20 a 50 % das ra ízes mcrtas (senescentes ) que podem ser convertidas em
humos, enquanto do material org â nico da serapilheira , apenas de 10 a 20 % s ã o
convertidos em maté ria orgâ nica, sendo o restante mineralizado como C02 ( Nye &
Greenland , 1960, citados por Andersan & Flanagan, 1989 ) .
Espécies caducif ólias tendem a apresentar menor longevidade de ra ízes finas (Vogt
& Bloomfield, 1991). Além de fatores gené ticos, existem condições ambientais que po-
dem provocar alterações nas taxas de senescência de ra ízes finas: ra ízes micorrizadas
tendem a apresentar maior longevidade que as não micorrizadas; caracter ísticas quími-
cas e f ísicas adversas do substrato na regiã o da rizosfera podem reduzir a longevidade;
a rela çã o fonte-dreno interna de carboidratos e a distribui ção de C entre a parte a érea e
ra ízes influenciam diretamente os pré cessos de crescimento e a morte de raízes ( Vogt &
Bloomfield, 1991).
Aspecto igualmente importante do papel de ra ízes na recuperaçã o de um solo refere-
se à forma ção de agregados. Ao crescerem, as ra ízes aproximam as partículas minerais
pelas pressões exercidas no seu avanço através dos poros do solo, extraem água e liberam
substâ ncias orgâ nicas para a rizosfera, facilitando a formação de agregados e protegendo
a matéria orgâ nica . Da mesma formá, os produtos oriundos da senescência de ra ízes,
fungos - micorrízicos principalmente - atuam na estabiliza çã o de macroagregados
( Haynes & Beare, 1996 ).

Estudo realizado em Rond ônia, Brasil, mostrou que a floresta natural apresenta
cerca de 200 t ha 1 de C, sendo 75 % destes representados por á rvores vivas, 16 % e 4 %
'

na forma de CO do solo e ra ízes finas ( < 2 mm ) até à profundidade de 40 cm,


respectivamente ( Fujisaka et al., 1998 ) . Tomando estes valores como referência e
admitindo que espécies nã o-caducif ólias apresentem longevidade de raízes da ordem de
1 a 12 anos, haveria 50 % de reposiçã o em seis anos ( Vogt & Bloomfield, 1991); e se cerca
de 20-50 % de ra ízes mortas pod ç m ser transformadas em humos, as parcelas
experimentais em Rond ônia teriam ura potencial de formaçã o de humos, via senescência
de ra ízes até à profundidade de 40 cih, da ordem de 0,49 t ha 1 ano 1.
' '

Certamente, estes cálculos apresentam uma série de pressupostos e extrapolações


que, necessariamente, podem não representar a realidade; no entanto, servem para alertar
sobre as dificuldades para a incorporaçã o de C ao substrato. Trata -se de um processo
longo e sujeito a in ú meras variá veis, em que a maior parte da matéria vegetal produzida
é convertida em COz.

FERT LIDADE DO SOLO


- FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEDO EM AREAS DEGRADADAS
/

XVII 969

Fungos Micorrízicos e Bacté rias Diazot rópicas na Revegetaçã o de Á reas


Degradadas

Dos elementos essenciais às plantas, o N é o mais limitante e o mais problem á tico


nos sistemas produtivos, tanto assim que o uso de adubos nitrogenados foi o principal
fator para o aumento da produtividade de cere ais na histó ria recente da humanidade
(Franco & Baileiro, 2000). Em contrapartida, o aumento desse insumo representa grande
ônus financeiro, energé tico, ecológico e de sa ú c e p ú blica . Para a ocupa çã o das regiões
tropicais ú midas, o fornecimento sustentá vel d í N aos sistemas produtivos passa a ter
importâ ncia crucial. Em á reas degradadas, onde o teor de mat é ria orgâ nica do solo j á é
muito baixo, o crescimento satisfatório das plantas só é possível com a adiçã o de grandes
quantidades de composto orgâ nico, adiçã o frequente de adubos nitrogenados ou usando
a fonte inesgotá vel de N do ar por meio da fixa çã o biológica . Contudo, para que isto
aconteça, é necessá rio que os demais nutrientes sejam providos de forma equilibrada e,
ainda, sejam considerados os demais fatores limitantes à fixa çã o biológica de N2 e ao
crescimento das plantas.

Por apresentar baixa disponibilidade na maioria dos solos tropicais, o P é


considerado como principal limitante à produção de matéria vegetal em sistemas naturais
e à fixaçã o biológica de N2-FBN nos trópicos ( Peooles & Craswell, 1992). Seu fornecimento
também é problemá tico em longo prazo, principalmente em á reas em recuperaçã o, onde
os investimentos sã o restritos e os substratos tendem a apresentar elevada capacidade
de adsor çã o de fosfatos gra ças à presença de óxidos e hidróxidos de Fe e de Al. A maior
eficiência do uso de P em solos de regiões tropica is ú midas pode ser conseguida por meio
da aplica çã o localizada de fontes sol ú veis, em condições de alta disponibilidade de
matéria orgâ nica e por meio da simbiose que de :erminadas espécies vegetais fazem com
fungos micorrízicos (Siqueira & Franco, 1988; Siqueira, 1996 ).
Quando em associa çã o com bactérias diazotr ópicas, o sistema radicular de plantas
tende a acidificar a regiã o da rizosfera a fim de manter um equilíbrio iônico internamente
em seus tecidos. Essa acidifica çã o ocorre corrumente com a extrusã o de pr ótons em
concentra ções que podem reduzir o pH daquela regiã o em mais de uma unidade e,
consequentemente, aumentar a taxa de recupera ção de P, quando aplicado na forma de
fosfato natural. Os resultados decorrentes da aplicaçã o de fosfato de baixa reatividade
no plantio de espécies leguminosas,'tais como: A zacia mangium, A. holosericea , Sclerolobium
paniculatum e Mimosa caesalpinifoliae , podem ser explicados pela redução de pH na regiã o
da rizosfera (Franco & Balieiro, 2000; Franco & Campello, 2005).

Dificuldades adicionais em rela çã o ao P surgem em substratos que contêm As, como,


por exemplo, remanescentes da explota çã o de associados a presença de arsenopirita .
Dentre as diferentes formas de As encontradas em solos, o arsenato (HAs042 ) é fortemente
'

adsorvido por óxidos e hidróxidos de Fe, e a reduçã o do Fe promove a libera ção de As à


soluçã o do solo (Mello et al., 2006). Assim, tê m sido observadas similaridades entre o
comportamento ambiental de As e P, principal: nente em ambientes redutores (Mello et
al., 2003).

FERTILIDADE DO SOLO
968 Luiz EDUARDO DIAS et al .

O sistema radicular de espécies arbóreas pode trazer significativos benef ícios ao


substrato, tanto pela incorporação de C advindo da morte de pequenas raízes (ciclagem )
como pela melhoria da drenagem e elimina çã o de exsudatos que atuam na génese de
agregados e estrutura çã o do substrató.
A magnitude com que o processo de senescê ncia de ra ízes finas ocorre apresenta
grande variabilidade entre as espécies florestais e arbustivas. Existe pouca informa çã o
na literatura a respeito da contribuiçã o quantitativa de ciclagem de ra ízes de espécies
florestais tropicais na forma çã o da mat éria humificada de solo. No entanto, há estimativas
da ordem de 20 a 50 % das ra ízes mortas (senescentes) que podem ser convertidas em
humos, enquanto do material orgâ nico da serapilheira , apenas de 10 a 20 % s ã o
convertidos em maté ria orgâ nica, sendo o restante mineralizado como C02 ( Nye &
Greenland, 1960, citados por Anderson & Flanagan, 1989 ).
Espécies caducif ólias tendem a apresentar menor longevidade de ra ízes finas (Vogt
& Bloomfield , 1991). Alé m de fatores gené ticos, existem condições ambientais que po-
dem provocar altera ções nas taxas d senescência de ra ízes finas: ra ízes micorrizadas
^
tendem a apresentar maior longevidade que as nã o micorrizadas; caracter ísticas quími-
cas e f ísicas adversas do substrato na regiã o da rizosfera podem reduzir a longevidade;
a relação fonte-dreno interna de carboidratos e a distribuição de C entre a parte a érea e
ra ízes influenciam diretamente os processos de crescimento e a morte de ra ízes ( Vogt &
Bloomfield, 1991) .

Aspecto igualmente importante do papel de ra ízes na recuperação de um solo refere-


se à forma çã o de agregados. Ao crescerem, as ra ízes aproximam as partículas minerais
pelas pressões exercidas no seu avanço através dos poros do solo, extraem água e liberam
substâ ncias orgâ nicas para a rizosferaj facilitando a forma çã o de agregados e protegendo
a matéria orgâ nica . Da mesma forma, os produtos oriundos da senescência de ra ízes,
fungos - micorr ízicos principalmente - atuam na estabilizaçã o de macroagregados
( Haynes & Beare, 1996).

Estudo realizado em Rondô nia, Brasil, mostrou que a floresta natural apresenta
cerca de 200 t ha 1 de C, sendo 75 % d 2stes representados por á rvores vivas, 16 % e 4 %
'

na forma de CO do solo e ra ízes Jinas ( < 2 mm ) até à profundidade de 40 cm,


respectivamente ( Fujisaka et al ., 1938) . Tomando estes valores como referência e
admitindo que espécies nã o-caducif ól: as apresentem longevidade de ra ízes da ordem de
1 a 12 anos, haveria 50 % de reposiçã o em seis anos ( Vogt & Bloomfield , 1991); e se cerca
de 20-50 % de ra ízes mortas podem ser transformadas em humos, as parcelas
experimentais em Rondônia teriam um potencial de formação de humos, via senescência
de ra ízes até à profundidade de 40 cm, da ordem de 0,49 t ha 1 ano 1.
' '

Certamente, estes c á lculos apresentam uma série de pressupostos e extrapolações


que, necessariamente, podem nã o representar a realidade; no entanto, servem para alertar
sobre as dificuldades para a incorpora çã o de C ao substrato. Trata -se de um processo
longo e sujeito a in ú meras variá veis, em que a maior parte da matéria vegetal produzida
é convertida em C02.

FERTILIDADE DO SOLO
- FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM AREAS DEGRADADAS
/

XVII 969

Fungos Micorrí zicos e Bactérias Diazotrópicas na Revegetação de Áreas


Degradadas

Dos elementos essenciais à s plantas, o N é o mais limitante e o mais problemá tico


nos sistemas produtivos, tanto assim que o uso de adubos nitrogenados foi o principal
fator para o aumento da produtividade de cereais na história recente da humanidade
(Franco & Baileiro, 2000) . Em contrapartida, o aumento desse insumo representa grande
ônus financeiro, energé tico, ecológico e de sa ú oe p ú blica . Para a ocupaçã o das regiões
tropicais ú midas, o fornecimento sustentá vel de N aos sistemas produtivos passa a ter
importâ ncia crucial . Em á reas degradadas, once o teor de maté ria orgâ nica do solo j á é
muito baixo, o crescimento satisfató rio das plantas só é possível com a adiçã o de grandes
quantidades de composto orgâ nico, adiçã o frequente de adubos nitrogenados ou usando
a fonte inesgotá vel de N do ar por meio da fixa çã o biológica . Contudo, para que isto
aconteç a , é necessá rio que os demais nutrientes sejam providos de forma equilibrada e,
ainda, sejam considerados os demais fatores limitantes à fixa çã o biológica de N 2 e ao
crescimento das plantas.

Por apresentar baixa disponibilidade ria maioria dos solos tropicais, o P é


considerado como principal limitante à produção de matéria vegetal em sistemas naturais
e à fixaçã o biológica de N2-FBN nos tr ópicos (Peoales & Craswell, 1992). Seu fornecimento
também é problemá tico em longo prazo, principalmente em á reas em recupera ção, onde
os investimentos sã o restritos e os substratos tendem a apresentar elevada capacidade
de adsor çã o de fosfatos gra ças à presença de óx: dos e hidróxidos de Fe e de Al. A maior
eficiência do uso de P em solos de regiões tropiais ú midas pode ser conseguida por meio
da aplica çã o localizada de fontes sol ú veis, em condições de alta disponibilidade de
matéria orgâ nica e por meio da simbiose que de :erminadas espécies vegetais fazem com
fungos micorrízicos (Siqueira & Franco, 1988; Siqueira, 1996).
Quando em associaçã o com bactérias diazotr ópicas, o sistema radicular de plantas
tende a acidificar a regiã o da rizosfera a fim de manter um equilíbrio iônico internamente
em seus tecidos. Essa acidifica çã o ocorre corrumente com a extrusã o de prótons em
concentra ções que podem reduzir o pH daquela regiã o em mais de uma unidade e,
conseq úentemente, aumentar a taxa de recupera çã o de P, quando aplicado na forma de
fosfato natural. Os resultados decorrentes da aplica çã o de fosfato de baixa reatividade
no plantio de espécies leguminosas /tais como: A zacia mangium, A. holosericea , Sclerolobium
paniculatum e Mimosa caesalpinifoliae , podem ser explicados pela reduçã o de pH na região
da rizosfera (Franco & Balieiro, 2000; Franco & Campello, 2005).

Dificuldades adicionais em relaçã o ao P surgem em substratos que contêm As, como,


por exemplo, remanescentes da explota çã o de associados a presença de arsenopirita .
Dentre as diferentes formas de As encontradas em solos, o arsenato (HAs042 ) é fortemente
"

adsorvido por óxidos e hidróxidos de Fe, e a reduçã o do Fe promove a liberação de As à


soluçã o do solo (Mello et al., 2006). Assim, têm sido observadas similaridades entre o
comportamento ambiental de As e P, principal: nente em ambientes redutores (Mello et
al ., 2003).

FERTILIDADE DO SOLO
970 Luiz EDUARDO DIAS et al .

Considerando tal similaridade de comportamento entre As e P, Ribeiro Jr. et al. (2004)


procuraram adaptar diferentes m é toctos usualmente empregados para P e S na tentativa
de avaliar a disponibilidade e dinâ mica de adsor çã o e dessor çã o de As em solos tropicais.
O uso de As remanescente (As- rem ) e a capacidade m á xima de adsor çã o de As (CMAAs)
mostraram -se ú teis para a melhor compreensã o da dinâ mica de arsenato em solos e
substratos. O extrator Mehlich-3 mostrou-se adequado na determinaçã o do As disponível,
sendo inclusive sensível à capacidade tampã o dos solos . No entanto, a resina de troca
aniônica também pode ser uma alterna tiva promissora . A CMAAs foi maior quanto maior
o teor de argila nos solos . A CMAa , foi sempre maior que a capacidade má xima de
adsor çã o de fosfato (CMAP); no entanto, o valor de "a" (que representa a energia de
liga çã o solo-elemento) para As mostrou-se sempre menor que a energia de ligaçã o do P
nos solos estudados. Este fato refletiu - se em maior dessorçã o de As quando da utilizaçã o
do Mehlich-3 como extrator. Este com oortamento evidencia a maior labilidade de As em
rela çã o ao P, fato que traz maiores preocupações ambientais. A CMAAs apresentou
estreitas correla ções com CMAP, As-rem e P-rem.
Além da competição por sítios de adsorção entre arsenato e fosfato, o primeiro parece
formar complexos está veis com molit dato, à semelhança do que ocorre com fosfato. A
forma çã o de complexo fosfo-molibídico constitui importante etapa na dosagem de P pelo
mé todo da vitamina C ( Braga & Defel po, 1974 ) . Assim, a utiliza çã o desse mé todo para
a dosagem de P extraído de substratos ou solos com As pode resultar em superestima tiva
desse elemento, uma vez que tem sido observado o desenvolvimento de cor azul e obtidas
curvas de calibra çã o com elevados valores de coeficiente de determinaçã o (R 2) para
soluções-padr ã o de As dosadas por aquele mé todo ( Dias et al., dados nã o publicados).
A simbiose planta -bacté rias diazotr óficas-fungos micorr ízicos é um sistema
funcional que adquire propriedades c ue nã o estavam presentes nos níveis hierá rquicos
inferiores, ou seja, essa associa çã o representa a uniã o de bact é rias diazotr ópicas
(fixadoras de N 2) com espécies vegetais (fixadoras de C) e fungos micorrízicos (Figura 3).
Com isso, as plantas noduladas e micorrizadas adquirem a capacidade de incorporar C
e N ao solo, com maior capacidade de absor ção de nutrientes, tornando-se mais tolerantes
aos estresses ambientais (Souza & Silva, 1996; Franco & Faria, 1997; Franco et al., 2000;
Franco & Balieiro, 2000; Balieiro et al., 2002). Desta forma, as espécies vegetais que
formam estas simbioses sã o as indicadas para aumentar o teor de maté ria orgâ nica do
sistema em condições de baixa fertilidade.
Algumas espécies de leguminosas apresentam grande depend ência de fungos
micorrízicos, inclusive para a nodula çâo e estabelecimento da simbiose, como observado
para a Anadenathera macrocarpa (angico vermelho ) que só respondeu à inocula çã o com
rizóbio ou mesmo à aduba çã o nitrogeiada, quando també m foi inoculada com o fungo
micorr ízico (Franco & Campello, 2005).
Em substratos completamente destituídos de matéria orgâ nica, a utilização de
leguminosas arbóreas, noduladas e micorrizadas tem-se mostrado como uma técnica de
recuperaçã o ambiental muito eficiente ( Dias et al., 1994a, 1995; Franco et al., 1996, 1997;
Campello et al., 2000; Franco & Campello, 2005). Alé m de proporcionar significativo
aporte de material orgâ nico aò substrato, esta técnica facilita o processo de sucessã o

FERTILIDADE DO SOLO
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJJO EM Á REAS DEGRADADAS 971

Bactéria diazotrófica Fungo micorrí zico


( saprofítica). Planta autotrófica: fixa C . (biotr ófico obrigat ório).

Planta nodulada : Planta micorrizada: fixa C , é mais eficiente em


fixa C e N. absorver nutrientes e água, mais tolerante aos
estresses ambientais.

Figura 3 . Vantagens acumuladas de leguminosas quando em simbiose com bact é rias


diazotr óficas e fungos micorr ízicos, para crescer em substratos destitu ídos de maté ria
orgâ nica e sujeitos a estresses ambientais.
Fonte: Modificado de Souza & Silva (1996) .

vegetal (Campello, 1998). As espécies arbó reas com ra ízes profundas também reciclam
nutrientes perdidos para as camadas mais profundas do solo ( Nair et al ., 1984, 1999 ).
Essa té cnica baseia -se na elevada capacic .ade de adapta çã o e de produ çã o de
biomassa de algumas leguminosas arb ó reas, aliada ao fato de a associa çã o com
microrganismos potencializar essas qualidades . Na verdade, sua utilizaçã o permite
acelerar o processo de revegetação, criando rá pida cobertura vegetal e, ao mesmo tempo,
condições de solo e microclima favorá veis ao ingresso e estabelecimento de espécies de
está dios sucessionais mais avançados.
Evidentemente, o comportamento de cada espécie depender á das condições de
manejo, substrato e clima locais. Por isso, faz-se necessá rio identificar as espécies
leguminosas com capacidade de nodular, forraar um banco de estirpes de rizóbio,
identificar matrizes para coleta de sementes, selecionar as mais eficientes e avaliar a
dependência micorr ízica das espécies com maior potencial de uso ( Faria et al., 1984,
1987, 1999a, b; Moreira, 1991; Siqueira, 1996; Fa : ia & Melo, 1998; Franco et al., 2000) .
Estimativas do potencial de fixa çã o de N 2 em leguminosas arbó reas tropicais em
condições de campo sã o escassas, poré m podem ser encontrados valores que variam de
70 kg ha 1 ano 1 a até 500 kg ha 1 ano 1, para ieucaena leucocephala ( Vergara, 1982) .
' ' " '

Entretanto, a fixa çã o de N 2 nã o deve ser atribuíc a como ú nica virtude das leguminosas
arbóreas. Aspecto de grande importâ ncia, em se tratando de recupera çã o de substratos

FERTILIDADE DO SOLO
972 Luiz EDUARDO DIAS et al .

degradados, é o potencial de aporte de material orgâ nico ao solo. Espécies como a Mimosa
caesalpinifolia podem produzir cerca de 10 t ha 1 ano 1 de maté ria seca formadora de
' '

serapilheira (Embrapa , 1997) e 4,4 kg / planta de matéria seca de raízes (Andrade & Faria,
1997).
Comparando o potencial das espé cies nã o-leguminosas ( Eucalyptus pellita ) e
leguminosas ( Acacia mangium ) em recuperar um solo degradado pela extra çã o de bauxita
em Porto Trombetas-PA, Dias et al. ( 1994a ) verificaram que, nove anos após o plantio, as
parcelas com A. mangium apresentavam maior produçã o de serapilheira com menor
rela çã o C / N e maiores conte ú dos de P, N, Mg e K e o solo superficial (0-2,5 cm ) maior
concentra çã o de matéria orgâ nica, soma de bases trocá veis e CTC efetiva, confirmando o
maior potencial dessa espécie em re:uperar o solo degradado.
4

A principal critica ao uso de leguminosas arbó reas em trabalho de recupera çã o


ambiental baseia -se na utiliza çã o d ? espécies de uma ú nica família botâ nica e, muitas
vezes, na utiliza çã o de espécies ex ó ticas ao local de estudo, contrariamente à linha de
pensamento na qual a maior dive::sidade de famílias poderá garantir o sucesso da
recupera çã o ou maior estabilidade populacional (Tilman, 1996). Além disso, há o receio
de que a utiliza ção de espécies exó ticas possa gerar desequilíbrio na medida em que uma
espécie se torne dominante, interferindo nas fases da sucessã o natural e impedindo o
aparecimento de outras plantas (Reií et al., 1996). No entanto, o aspecto mais importante
é a capacidade das espécies em criar condições favor á veis de microclima e substrato
para que o processo de regenera ção natural ocorra, permitindo que outras espécies se
estabeleçam na á rea em recupera çã o. Ou, como salienta Campello (1998): "Nã o resta
d úvida que a possibilidade de utiliza çã o de espécies leguminosas arbóreas locais mostra -
se ecologicamente mais desejá vel . No entanto, aspectos como baixa disponibilidade de
sementes, ausência de espécies selecionadas e adaptadas, falta de conhecimento de
características silviculturais e da contribuição ao ciclo biogeoquímico, mostram-se como
limita ções ao uso de espécies locais" Assim, continua o autor:" O papel ou a funçã o que
a espécie exerce no processo parece ser mais importante que a origem desta".
Nesse sentido, o Centro Nacional de Pesquisa em Agrobiologia da Embrapa vem, há
mais de 20 anos, executando levantamentos em diversas regiões do Brasil, com o objetivo
de buscar espécies leguminosas coir potencial para uso em programas de recupera çã o
de á reas degradadas - RAD . Para as espécies identificadas com bom potencial para
utilizaçã o em RAD, sã o realizados ensaios em casa de vegetação, com vistas em selecionar
estirpes de bacté rias mais eficientes na fixa çã o de N 2 (Franco et al., 2000). Atualmente,
mais de 1.000 espécies j á foram avaliadas quanto à capacidade de fixar N2, e o banco de
germoplasma de bactérias fixadoras de N2 da Embrapa / CNPAB conta com mais de 2.800
estirpes isoladas e identificadas. Já foram selecionadas estirpes mais eficientes para
cerca de 70 espécies leguminosas arbó reas e arbustivas com potencial de utilizaçã o em
RAD (Faria (2)).

m Faria, S.M. Embrapa / CNPAB, Seropéd ca - RJ, 23851-970 . Comunica çã o pessoal.

FERTILIDADE DO SOLO
/

XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEIO EM AREAS DEGRADADAS 973

As figuras 4 e 5 mostram dados sobre a regenera çã o natural sob parcelas de duas


leguminosas fixadoras de N2 ( Acacia mangium - espécie exótica - e Sclerolobium paniculatum ,
taxi - espécie local -) e duas nã o-leguminosas ex ó ticas ( Eucalyptus pellita e E . citriodora )
e uma nã o-leguminosa local (Goupia glabra , cupiú ba ) crescendo em Planossolo degradado
pela remoçã o dos horizontes superficiais (á rea de empréstimo) em Porto Trombetas-PA.
Cerca de onze anos após o plantio, a produção de matéria seca da parte aérea e o n ú mero
de espécies provenientes de regenera çã o natural foram significativamente superiores
nas parcelas com leguminosas fixadoras de N2 (Campello, 1998).

Tukey 5 %

E . citriodora Cupi ú ba

ie

Figura 4. N ú mero de espécies da regenera çã o natural em plantios de leguminosas fixadoras


de N2 (acá cia e taxi ), nã o-leguminosas ( E. pellita e E. citriodora ) e leguminosa n ã o-fixadora
de N 2 (cupi ú ba ) em Planossolo degradado pela retirada de horizontes superficiais ( á rea
de empr éstimo), em Porto Trombetas-PA .
Fonte : Campello (1998) .

Figura 5. Produçã o de maté ria seca da parte a érea de espécies da regenera çã o natural em
plantios de leguminosas fixadoras de N2 (acá cia e taxi ), nã o-leguminosas ( E. pellita e E.
citriodora ) e leguminosa nã o-fixadora de N2 ( cupi ú ba ) em Planossolo degradado pela
retirada de horizontes superficiais (á rea de empr éstimo), em Porto Trombetas-PA.
Fonte: Campello (1998).

FERTILIDADE DO SOLO
974 Luiz EDUARDO DIAS et al .

O uso futuro da á rea é


fundamental no processo de escolha de espécies. Não havendo
determina çã o específica como uso agrícola, pastoril, parque, conservaçã o da fauna, etc.,
essa escolha deve priorizar espécies que possam promover a proteçã o e melhoria da
qualidade do substrato e criar condições para o processo sucessional, de maneira que o
produto final apresente caracter ís :icas previamente estabelecidas no projeto de
recupera çã o. A utiliza çã o ou nã o de uma única família ou de espécies exó ticas depende
apenas de uma decisã o gerencial calcada em questões relativas à disponibilidade de
sementes, tempo requerido para a recuperaçã o, pesquisas anteriores, recursos disponíveis
e qualidade ecológica do produto final desejado. Nã o se trata de um enfoque excludente
aos mecanismos ecológicos sucessionais, mas uma alternativa que permite, em se tratando
de á reas mineradas, acelerar o processo de revegeta çã o, sem, contudo, desfavorecer
objetivos como sustentabilidade e qualidade ambiental.
Essa visã o é distinta da atualmemte preconizada para a restaura çã o florestal, onde
a presença de solo permite que a escolha de espécies seja baseada apenas em questões
ecológicas e de disponibilidade de sementes. Neste sentido, os projetos de Políticas
Públicas em Recupera çã o de Á reas Degradadas e da Flora Fanerogâ mica do Estado de
Sã o Paulo permitiram a esse Estado elaborar as resoluções SMA 47 / 03 e 48 / 04 e, mais
recentemente, a SMA 85 / 06, que fornecem orientações para o reflorestamento heterogéneo
para á reas degradadas em diversas situa ções do estado ( Barbosa & Potomati, 2003;
Barbosa, 2006 ).

Uma vez que esp écies leguminosas podem proporcionar a melhoria das
características f ísicas, químicas e biológicas de substratos degradados, o uso dessas
pode ser planejado para um processo de revegetaçã o baseado em duas etapas, conforme
proposto por Griffith et al. (1996). Esse processo vem sendo utilizado na revegetaçã o de
tanques de depósito de rejeito de lavagem de bauxita em Porto Trombetas-PA e se inicia
pela hidrossemeadura de espécies leguminosas arbustivas e arbóreas. As sementes sã o
inoculadas com estirpes selecionadas de bactérias fixadoras de N2 atmosf érico e esporos
de fungos micorr ízicos e sã o aplicadas juntamente com fertilizantes com macro e
micronutrientes, com exceçã o de N. E ssa fase inicial permite que o processo de secagem
do rejeito seja acelerado e, ao mesmo tempo, exista significativa incorporaçã o de C e
nutrientes ao sistema . A segunda fase inicia-se quando o rejeito encontra-se consolidado,
permitindo que seja realizado o "enric uecimento" por meio do plantio manual de mudas
de espécies nativas pertencentes a di :erentes está dios do processo sucessional (Dias et
al., 2004b ) .

O sucesso de um programa de recupera çã o ambiental nã o pode ser avaliado apenas


pela velocidade em que se forma a cobertura vegetal ou o vigor das plantas. Em se
tratando de á reas drasticamente altera das, tem-se como objetivo a formaçã o de novo solo
capaz, por meio de seus serviços, de contribuir para a sustentabilidade do sistema. Desta
maneira, paralelamente à avaliaçã o de crescimento dos indivíduos das espécies utilizadas
no projeto de recuperaçã o, diferentes variá veis f ísicas, químicas e biológicas de solo são
empregadas como indicadoras de qua idade de solo por permitirem o monitoramento do
processo de recuperaçã o ambiental.

FERT LIDADE DO SOLO


XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEI D EM AREAS DEGRADADAS 975

INDICADORES DE QUALIDADE DE SOLO EM


PROCESSOS DE RECUPERA ÇÃ O AMBIENTAL
O conceito de qualidade de solo é relativamente recente e tem sido mais utilizado
para avaliar a sustentabilidade de diferentes p rá ticas de manejo de solo. Uma boa
qualidade do solo constitui-se no mais importante elo entre as prá ticas agrícolas e a
agricultura sustentá vel (Santana & Bahia Filho, 1998) . Se o solo é degradado, mais
recursos em termos de tempo, dinheiro, energia e agroquímicos vã o ser gastos para
produzir mais alimentos, e os objetivos de sustentabilidade na agricultura nã o ser ã o
alcançados. Por outro lado, se a degradaçã o do solo é revertida e sua qualidade é
mantida ou melhorada , pela utiliza çã o de m é todos de manejo adequados, a
sustentabilidade da agricultura tornar-se-á realidade. Logo, entender e conhecer a
qualidade do solo é imprescindível à definição de estratégias para um manejo sustentá vel
sem comprometer sua qualidade no futuro ( Nune s, 2003).
Para o monitoramento da qualidade do solq, de forma que possam ser sugeridas
modifica ções nos sistemas de manejo e evitar sua degrada çã o, devem-se identificar e
caracterizar os processos e propriedades que influ enciam sua capacidade de produçã o e
sustentabilidade (Doran & Parkin, 1994) . Este conceito utilizado para solos agr ícolas é
perfeitamente cabível para o monitoramento de processos de recupera çã o ambiental.
Para ser de utilidade pr á tica, um indicador de qualidade de solo deve atender aos
seguintes critérios: (a ) ser sensível à s varia ções de manejo e de clima, para possibilitar
intervenções, visando melhorar a qualidade do sc >lo, quando este for o caso; (b ) ser bem
correlacionado com funções do solo; c) ser de f á ci mensuraçã o e baixo custo; (d ) ser ú til
'

para elucidar processos do ecossistema, e (e) ser compreensível e ú til para o agricultor
( Doran & Zeiss, 2000) .
Nos sistemas naturais, a qualidade do solo é observada com vistas em obter um
valor básico referencial ou conjunto de valores contra os quais futuras mudanças no
sistema podem ser analisadas e comparadas ( Nu nes, 2003). Nos sistemas agr ícolas, a
qualidade do solo é monitorada para incentivar a produção sem degradar os solos e o
ambiente ( Gregorich, 2002). Na passagem de sis :emas naturais para agrícolas, muitos
atributos do solo, sensíveis a varia ções no uso e manejo e relacionados com as suas
funções básicas, sã o alterados, indigando perdas na sua qualidade ( Doran & Parkin,
1996). O estudo das altera ções ocorridas nos solos cultivados teria resultados mais
consistentes, se se utilizar um solo que não sofreu i jualquer a ção antr ópica e, a partir daí,
submetê-lo às opera ções agrícolas desejadas e, periodicamente, analisar as variáveis
escolhidas. No entanto, podem-se comparar diferentes manejos em uma mesma
propriedade ao longo dos anos, ou entre diferentes propriedades, ou, ainda, comparar
um ecossistema natural com á reas manejadas (Sanchez, 1976). Estudos deste gênero têm
adotado como referências os valores obtidos de variá veis previamente selecionadas em
uma á rea pr óxima onde as caracter ísticas geopedoclimá ticas e de vegeta çã o sã o
semelhantes à quelas que a á rea em estudo apresentava antes da degradação ( Lynch,
2004; Dias, 2002).

FERTILIDADE DO SOLO
976 Luiz EDUARDO DIAS et al .

A fertilidade do substrato exerce papel muito importante no início da revegeta çã o,


visto que as espécies requerem nutrientes em quantidades satisfatórias e equilibradas e
na forma disponível para a fase inicial de crescimento e estabelecimento. Com a evoluçã o
do processo de recupera çã o, as esp écies começam a formar serapilheira e a ciclagem
biogeoquímica passa a atuar de forrr a efetiva . Neste momento, a fertilidade média do
terreno tem de ser suficiente para que propá gulos oriundos da chuva de sementes ou de
espécies invasoras possam germinar e se estabelecerem, de maneira a dar sequência ao
processo de sucessã o vegetal.
Os indicadores químicos de quelidade de solo, a saber: teor de matéria orgâ nica,
pH, satura çã o por alumínio (m ), capacidade de troca de cá tions (CTC ), disponibilidade
de nutrientes e condutividade elétr ca , tê m sido eficientes até o momento em que a
ciclagem biogeoquímica passa a atuar de maneira efetiva, uma vez que, a partir deste
ponto, incrementos significativos na disponibilidade de nutrientes n ã o sã o claramente
evidenciados, enquanto os teores de matéria orgâ nica do solo tendem a aumentar à
medida que a produ çã o e deposiçã o de matéria vegetal aumenta . Este comportamento
tem sido observado no monitoramento de reflorestamentos em á reas degradadas pela
explota çã o de bauxita em Porto Trombetas-PA (Oliveira 2003; Dias et al., 2004b; Lynch,
2004).
Dentre as variá veis biológicas, ás mais utilizadas sã o aquelas relacionadas com a
quantidade de biomassa microbiana ( BM ) que envolve grande variedade de
microrganismos e corresponde à parti viva da matéria orgâ nica do solo, excluindo raízes
e animais maiores do que aproximada mente 5 mm. A BM inclui bactérias, actinomicetos,
fungos, algas e microfauna de vic a ativa, que convivem no solo formando uma
comunidade extremamente diversific ada nos seus componentes e que realizam inú meras
funções no solo, como a mineraliza çã o de substratos orgâ nicos em nutrientes minerais
(Wardle, 1992). A BM representa considerá vel reservatório de vá rios nutrientes para as
plantas e contêm em seus tecidos cerca de 20 a 30 g kg 1 do C total e até 5 g kg 1 do N total
' '

do solo ( Anderson & Domsch, 1980’ e de 10 a 30 g kg 1 do S total do solo ( Moreira &


'

Siqueira, 2002).
A rela çã o entre o teor de C da biomassa microbiana e o teor de C orgâ nico total,
çhamada de quociente microbiano ( tylV IC), reflete a eficiência da conversão de C da matéria
orgâ nica em C microbiano (Sparling, 1992) e pode indicar situa ções em que a microbiota
esteja enfrentando algum tipo de estresse. Da mesma forma, quando o ambiente mostra-
se mais está vel, os valores de gMIC tendem a crescer ( Powlson et al., 1987).
Condições desfavor á veis à mineraliza çã o de maté ria orgâ nica resultam em
decréscimo na atividade de microrganismos decompositores. Esse decréscimo pode ser
utilizado como um indicador de estresse ambiental. A relação entre a quantidade de C02
produzido por unidade de C da biomassa microbiana e por unidade de tempo é
denominada quociente metabólico ( Anderson & Domsch, 1985). Um baixo quociente
metabólico indica utilizaçã o mais eficiente de energia e ecossistema mais está vel (Insam
& Haselwandted, 1989). Para Anderson & Domsch (1993), a utiliza ção desta relaçã o é
importante para avaliar o efeito das condições de estresse sobre a atividade e conteú do
da biomassa microbiana.

FERTILIDADE DO SOLO
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM Á REAS DEGRADADAS 977

Levantamentos realizados em diferentes sítios em recuperação após a explota çã o de


bauxita em Porto Trombetas-PA (Oliveira , 2003; Lynch, 2004; Reis, 2006) demonstraram
que o valor de quociente metabólico do solo superficial de mata prim á ria da regiã o é
significativamente inferior aos valores obtidos com as amostras superficiais de depósitos
de rejeito ou mesmo de alguns reflorestamentos rnais antigos ( Figura 6).
Além dessas variá veis, diferentes estudos tê m utilizado enzimas como indicadoras
de qualidade de solo ( Nunes, 2003; Lynch, 2004). Destaque especial tem sido dado para
as enzimas relacionadas com o ciclo do carbono (|3-glucosidase, celulase e amilase), com
o ciclo do nitrogénio (desidrogenase), com o ciclo do P (fosfatase á cida e alcalina ) e do
enxofre ( arilsulfatase ) . Por serem vari á veis relacionadas com atividade de
microrganismos, é comum encontrar certa variabilidade nos resultados, razã o pela qual
as avalia ções devem ser realizadas com certa periodicidade ao longo do ano, para que se
alcance uma correta avalia çã o sob diferentes condições climá ticas. Na pr á tica , essas
avaliações têm sido realizadas pelo menos em duas épocas do ano; todavia, o ideal seria
que fossem realizadas pelo menos em quatro é pocas do ano, abrangendo as quatro
esta ções. Logicamente, o programa de amostragem deve considerar a variabilidade
clim á tica da regiã o em estudo.
Procurando avaliar a qualidade de um sole submetido ao cultivo de caf é, Nunes
(2003) comparou a atividade das enzimas fosfatase ácida, p-glicosidase e urease de
amostras superficiais retiradas em quatro é poca s do ano de parcelas de caf é em á reas
adjacentes tendo como referência parcelas com cobertura vegetal de floresta secundá ria.
A exce çã o da atividade da urease, as atividades das demais enzimas analisadas
apresentaram o mesmo padrã o de comportamento, mostrando-se maiores nos solos sob
mata natural em todas as épocas do ano avaliadas (Figura 7), o que mostra uma tendência
de maiores valores de fosfatase e (3-glicosidase em solos com maiores teores de C orgâ nico.

Figura 6. Quociente metabólico da biomassa microbiana da camada superficial de rejeito em


parcelas com doses crescentes de fertilizantes (a , b, c, d, e ), em parcelas de amostragem na
borda do tanque de rejeito SP1 ( Borda SP1), ao norte (SP2-3N ) e ao sul (SP2-3S) no tanque
de rejeito SP2-3, em parcelas de á reas mineradas pela explotação de bauxita e reflorestadas
em 1994 sem (Reflo 94 STP) e com reposição de solo superficial reflorestadas nos anos de
1984 (Reflo 84), 1992 (Reflo 92), 1994 (Reflo 94) e 1999 (Reflo 99) e em parcelas sob mata
primá ria (Mata ), em Porto Trombetas (PA ).
Fonte: Reis ( 2006).

FERTILIDADE DO SOLO
978 Luiz EDUARDO DIAS et al .

C2 2 M 30 M 40

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Figura 7. Atividade das enzimas fosfata >e ácida (a ), P-glicosidase ( b ) e urease ( c ) em amostras
retiradas em diferentes per íodos do ano em solos cultivados com caf é e sob mata
secund á ria, no município de Viçosa-MG. C16: Caf é com 16 anos; C22: Caf é com 22 anos;
M30: Mata com 30 anos e M40: Ma :a com 40 anos.
Fonte: Nunes ( 2003).

CORREÇÃ O E FERTILIZA ÇÃO DE


Á REAS DEGRADADAS

Conforme discutido neste capítulo, independentemente do processo e da intensidade,


a degrada çã o do solo é caracterizacla principalmente pela perda de seus horizontes
superficiais; conseqiientemente, a car ência de matéria orgâ nica, de atividade biológica e
de nutrientes constitui o principal fator limitante ao restabelecimento dos diferentes
processos que possam garantir a susrentabilidade de vegetaçã o.
Associada à perda de horizontes superficiais, a exposição de materiais de solo com
baixo nível de estrutura ção pode res ultar no aceleramento de processos erosivos e na
formação de camadas adensadas dec orrentes da eluviaçã o de argila . Dessa maneira, o
cená rio mostra-se fortemente desfavorável ao estabelecimento de espécies vegetais que
possam adicionar C e nutrientes ao si stema, e assim, dar início ao processo de formação
de um novo solo e de recuperaçã o do ambiente.

FERTILIDADE DO SOLO
r
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM AREAS DEGRADADAS 979

Portanto, assumindo uma vis ã o mais restrita de recupera çã o ambiental, o


restabelecimento de vegeta çã o passa a ser o ponto fundamental do processo. Como
comentado no in ício deste capítulo, a discuss ã o tem enfoque centrado em áreas
drasticamente alteradas, como substratos remanescentes de atividade mineração ou á rea
de empréstimo para obras de engenharia .
O uso inicial de espécies arbóreas leguminosas que se associam com bacté rias
fixadoras de N 2 e fungos micorrízicos tem-se mostrado eficiente e de baixo custo para
situa ções em que o estabelecimento de uma floresta é o objetivo do processo de
recupera çã o. Para situa ções em que o objetivo nã o é o estabelecimento de floresta, a
mistura de espécies leguminosas e nã o-leguminosas de porte arbustivo ou mesmo plantas
herbá ceas podem ser recomendadas. Logicamente, a sele çã o de espécies e a maneira
como o processo de recupera çã o vai ser conduzido dependem de seus objetivos,
disponibilidade de recursos, características do sistema degradado e tempo disponível
para a recupera çã o . Deve-se ter em mente, ainda, que ó rgã os estaduais de fiscaliza çã o
ambiental dispõem de exigências diferenciadas quanto ao uso de espécies, principalmente
em rela çã o à proced ência destas.
Considerando o foco deste livro, é importante considerar processos de transformaçã o
de um substrato degradado em solo que permita o estabelecimento e crescimento de
plantas. Portanto, o ponto inicial é como adicionar C ao sistema, a fim de criar condições
favor á veis à atividade biológica e à estrutura çã o de suas partículas de maneira a
restabelecer a micro e macroporosidade e a capacidade de retençã o de á gua do substrato.
Certamente, existindo boa disponibilidade de materiais: compostos orgâ nicos,
resíduos animais,, tortas, lodo de esgoto, resíduos orgâ nicos industriais, serragem,
resíduos de poda e manutençã o de jardins, etc. o uso desses é fortemente recomendado.
No entanto, deve-se ter em mente que as quantidades a serem adicionadas sã o
significativamente maiores que as comumente utilizadas na agricultura. Para atingir
resultado significativo ( vale destacar que, por se tratar de um substrato sem cobertura
vegetal e com características f ísicas fortemente desfavorá veis), as quantidades devem
variar de pelo menos 50 a 200 t ha 1, dependendo da fonte e características do substrato.
'

Para situa ções em que o substrato apreserta sulfetos metá licos passíveis de ser
oxidados, gerando acidez e solubiliza çã o de metais, as quantidades aplicadas podem
ser superiores. Em substrato á cido ( pH < 4,0) cc m elevadas concentra ções de Zn e Pb,
foram necessá rias 300 t ha 1 de lodo de esgoto desidratado ( anaerobic sludge cake ) e
"

quantidade superior a 100 t ha 1 de calcá rio para o estabelecimento de vegeta ção (Daniels
"

et al., 1994). Por outro lado, quantidades da ordem de 75-150 t ha 1 do mesmo material
"

têm sido recomendadas para a revegeta çã o (gramíneas predominantemente) de rejeitos


nã o-á cidos da extra çã o de carv ã o mineral (Haering & Daniels, 2000).
Aspecto importante a ser considerado refere-se aos cuidados necessá rios decorrentes
do uso de grandes quantidades de determinadas fontes de material org â nico,
principalmente lodo de esgoto, em que a presença de metais pode ser maior. O
monitoramento contínuo de solo e de á guas sub e superficiais deve ser realizado a fim de
garantir que os impactos ambientais sejam minimizados.

FERTILIDADE DO SOLO
980 Luiz EDUARDO DIAS et al .

Na impossibilidade da aplica çã o de materiais orgâ nicos em toda a superf ície do


substrato, a utiliza çã o localizada promove resultados imediatos muito bons em termos
de estabelecimento e crescimentos das mudas . Em covas de 30 x 30 x 30 cm, a aplica çã o
localizada de 2,0 a 4,0 dm3 de esterco bovino curtido promoveu crescimento muito bom
para Acacia mangium em rejeito de lavagem de bauxita ( Franco et al., 1996).
A correçã o da acidez de substratos pode ser realizada por meio de calcá rio,
preferencialmente magnesiano ou dolomítico, aplicado em toda a superf ície do substrato
e incorporado quando do plantio c e espécies herbá ceas e arbustivas. Excetuando
substratos com sulfetos metá licos passíveis de gerar acidez pela oxida çã o desses, o uso
de critérios agronó micos ( mé todo da satura çã o por bases ou m é todo do Al 3+ e Ca 2+ +
Mg2+ ) para o estabelecimento da necessidade de calagem tem proporcionado bons
resultados. Para substratos que con :êm sulfetos e geram acidez, o uso do mé todo de
balanço á cido-base tem sido utilizado principalmente nos Estados Unidos. O potencial
de acidez a ser gerado pelo substrato é obtido a partir da oxida çã o dos sulfetos da amostra
com peróxido de hidrogénio ( H202), formando F12S04, seguido da titula çã o da solução
com NaOH até pPí 7,0. No entanto, considera ções a respeito da eficiência do mé todo
(Mello et al., 2003) e das elevad íssimas quantidades de calcá rio recomendadas devem
ser analisadas, principalmente no que se refere aos custos, possibilidades de ocorrência
de supercalagem e eficiência a médio e longo prazo ( Mays et al., 2000 ) .

Para o plantio de espécies arbó reas, a demanda de corretivos de acidez tende a ser
significativamente menor pelo fato de a maioria das espécies pioneiras e de rá pido
crescimento apresentar maior toler â r .cia à acidez. Como pr á tica, a aplica çã o localizada
de calcá rio na cova de plantio tem sido utilizada para melhorar a fertilidade do solo da
cova, criando condições mais favor á veis à disponibilidade de nutrientes. Por outro
lado, a aplica ção de calcá rio em toda a superf ície do terreno poderia criar condições
mais favorá veis ao ingresso de espécies invasoras espontâ neas - o que é desejá vel dentro
de uma perspectiva de recupera çã o a mbiental onde qualquer aporte de C ao substrato é
bem-vindo - proporcionando maior cobertura e proteção do substrato. O uso de plantios
mais adensados (2 x 2 m, por exemplo ), com espa çamentos menores entre plantas, tem
compensado a nã o-aplica ção de calcá rio em toda a superf ície do terreno.
As quantidades e tipos de ferti lizantes a serem utilizados, a fim de garantir o
estabelecimento e crescimento de vegetação em solos degradados, dependem de diferentes
fatores. As quantidades são determinadas de acordo com a fertilidade do substrato e das
exigências nutricionais das espécies a serem utilizadas. O tipo de fertilizante depende,
igualmente, das características f ísico -químicas do substrato remanescente e de outros
fatores, como custo, disponibilidade, forma de aplicação e objetivos do processo de
recuperação ambiental.
A análise de rotina de fertilidade de solo para substratos com fragmentos rochosos
e saprolíticos pode ser utilizada com certas ressalvas dada a possibilidade de sub ou
superestimativa da disponibilidade de nutrientes (Dias, 1998), uma vez que os extratores
químicos foram desenvolvidos a partir de estudos de correla çã o com amostras de
horizontes superficiais de solo.

FERTILIDADE DO SOLO
f

XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM AREAS DEGRADADAS 981

Para a maioria dos substratos, talvez para a totalidade desses, N e P mostram-se


como os principais limitantes ao estabelecimento e crescimento inicial de plantas. A
partir do momento em que a ciclagem biogeoqu í mica de nutrientes começa a operar com
maior eficiê ncia , a demanda por P reduz fortemente, enquanto a de N decresce
gradativamente, poré m manté m -se em níveis normalmente superiores ao de P, dada a
mobilidade maior daquele no solo em rela çã o a este.
A utiliza çã o de espécies leguminosas que s ; associam a bactérias fixadoras de N 2 e
a fungos micorr ízicos possibilita maior economia e eficiê ncia nutricional, pois permite
que fertilizantes nitrogenados nã o sejam utilizados e exista maior capacidade das plantas
em absorver P.
Para espécies arbó reas, a fase de forma çã o de mudas permite que sejam adicionadas
ao substrato quantidades significativas de N (a partir de uma fonte de matéria orgâ nica,
como esterco bovino) e de P. Preferencialmente, os substratos para a forma ção de mudas
tê m sido preparados com adiçã o de fontes sol ú veis de P, a fim de proporcionar maior
quantidade prontamente disponível do nutriente, uma vez que o nível crítico de P no
solo para essa fase é significativamente superior ao do verificado para plantas mais
velhas no campo ( Neves et al ., 1990) (3).
Para o estabelecimento da muda no campo , o uso de fontes de menor reatividade,
como fosfatos naturais, ou de reatividade intermediá ria, como termofosfato magnesiano,
proporciona resultados muito bons, garantindo disponibilidade adequada de P por um
período longo. As quantidades a serem aplicadas, de forma localizada no fundo da cova
de plantio, variam na ordem de 100 a 150 g de termofosfato ou 150 a 200 g de fosfato
natural.
Deve-se ressaltar que a acidifica çã o da rizosfera que ocorre em plantas associadas
com bactérias fixadoras de N2 atmosf érico poss bilita maior solubiliza çã o e aproveita -
mento do P adicionado via fosfatos naturais de baixa reatividade ( veja capítulo VIII).
O fornecimento de Ca e Mg ao sistema po ie ser realizado por meio de calcá rios
magnesianos ou dolomíticos, quando da correr ã o da acidez do substrato. Algumas
espécies arbóreas pioneiras, como Acacia mangium e A. holosericea , apresentam elevada
eficiência de absor çã o e utiliza çã o de Ca ( Dias et al., 1994b, 1995), permitindo que a
quantidade de P aplicada via aduba çã o fosfatada (fosfato natural) atenda à demanda
pelo nutriente até que a ciclagem biogeoquímica se estabeleça.
Para atender à demanda de K’e S de esp í cies arb ó reas e arbustivas de r á pido
crescimento, recomenda -se o uso de cerca de 50-100 g de K 2S04, aplicado em cober -
tura e em torno da planta aos 60-120 dias do plantio. Outra alternativa seria o uso
de KC1 e o fornecimento de S por meio de gesso agr ícola . No caso do suprimento de
P via superfosfato simples, a quantidade veiculada de S seria suficiente para aten-
der à demanda de espé cies arb ó reas .

(3)
Apesar de o texto de Neves et al. (1990 ) referir -se espe cificamente a espécies de eucalipto, a experi-
ê ncia dos autores deste capí tulo permite extrapolar este comportamento para grande parte das
espécies arbóreas utilizadas em programas de recupe -a çã o de á reas degradadas.

FERTILIDADE DO SOLO
982 Luiz EDUARDO DIAS et al .

O uso de fertilizantes para forne cer micronutrientes depende fundamentalmente


das caracter ísticas do substrato. Rejeitos e outros materiais oriundos de processos de
beneficiamento de minérios e ligas metá licas podem apresentar elevadas concentra ções
de um ou v á rios micronutrientes, como Cu, Zn, Fe e Mn. Nestes casos, devem-se procurar
formula ções que atendam à demanda específica de cada situa çã o . Para os demais
substratos carentes em matéria orgâ nica e micronutrientes, a aplicaçã o localizada na
cova de plantio de 30 a 50 g de formula çõ es completas, como a FTE BR12, tem
proporcionado bons resultados ( Dias et al., 2006).
Como comentado anteriormente, não existe uma receita ú nica para a recuperaçã o de
á rea degradada . Caracter ísticas individuais de cada local exigem , muitas vezes,
procedimentos específicos. A correçã o da fertilidade do substrato, como uma etapa do
processo de recuperação ambiental, nã o é diferente. Portanto, as sugestões apresentadas
*

devem ser consideradas como ponto de partida, cabendo à equipe técnica responsá vel o
ajuste das fontes e quantidades de fertilizantes, considerando as caracter ísticas locais,
espécies a serem utilizadas, objetivos do processo de recuperaçã o e disponibilidade de
insumos e recursos.

LITERATURA CITADA
ABDUL-KAREEM, A.W . & McRAE, S.G . The effects on topsoil of long-term storage in stockpiles.
Plant Soil, 76:357-363, 1984.

ABRAH ÃO, W .P. A . Aspectos qu ímicos e mineralógicos relacionados à gera çã o experimental


de drenagem á cida em diferentes geomateriais sulfetados. Viçosa, MG , Universidade
Federal de Vi çosa , 2002.125p. ( Tese de Doutorado)

ABRAH Ã O, W . P. A . & MELLO, J .W.V. Fundamentos de pedologia e geologia de interesse no


processo de recuperaçã o de uma á iea degradada . In: DIAS, L.E. & MELLO, J .W . V ., eds.
Recuperaçã o de á reas degradadas. Viçosa, MG, SOBRADE, Folha de Vi çosa, 1998. p .15-26.

AHERN C.R .; STONE, Y. & BLUNDEN, b. Acid sulfate assessment guidelines. Acid sulfate soil
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remanescente. B. Inf . SBCS, 25:27-32 , 2000.

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dynamics in tropical soils. In: COLEMAN, D.C.; OADES, J .M. & UEHARA, G., eds. Dynamics
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Agriculture and Human Resources, University of Hawaii, 1989. p.97-229.

ANDERSON, J.P.E. & DOMSCH, K.H. Ç juantities of plant nutrient in the microbial biomass of
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ANDERSON, J .P.E. & DOMSCH, K .H. The metabolic quotient ( qC02) as a specific activity
parameter to ã ssess the effects of er vironmental conditions, such as pH, on the microbial
biomass of forest soils. Soil Biol. Bi ochem ., 25:393-395, 1993.

FERT LIDADE DO SOLO


XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E
SUSTENTABILIDADE DA
ATIVIDADE AGR Í COLA

Wenceslau J. Goedert17 & Sebasti ã o Alberto de Oliveira17

1/
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterin á ria , Universidade de Brasília - UnB.
goedert@ unb.br; oliveira @ unb.br

Conte ú do

INTRODU ÇÃ O 992

SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE DO SOLO 993


Conceitos: Sustentabilidade, Resiliência e Qualidade do S DIO 994
Sustentabilidade ; 994
Resiliência 995
Qualidade do Solo 995
Avalia ção da Qualidade do Solo 996
Papel da Maté ria Orgâ nica do Solo 998
FERTILIDADE E QUALIDADE DO SOLO E DO AMBIENTE 1001
Prá ticas de Fertilidade do Solo e Melhorias Potenciais da Qualidade do Solo 1002
Atividades Agr ícolas e Qualidade do Ambiente 1002
SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGR ÍCOLA 1004
Intera ção entre a Fertilidade do Solo e os Fatores de Produçã o Agrícola 1004
Uso Sustentá vel do Solo em Ambiente Tropical 1007
Sistemas Agrícolas Sustentá veis 1008
Sistema Plantio Direto 1008
Agricultura Orgâ nica 1010
Sistemas Agroflorestais 1011
Integração Lavoura - Pecuá ria 1012

CONSIDERAÇÕES FINAIS 1014


LITERATURA CITADA 1015

SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V., V .H ., BARROS,
N.F., FONTES, R .LF., CANTARUTTI, R . B. & NEVES, J . C .L. ).
;
992 WENCESLAU J . GOEDERT & SEBASTI ã O ALBERTO DE OLIVEIRA

INTRODU ÇÃ O

O solo é um corpo natural, resultante do intemperismo das rochas e que desempenha


uma série de funções relacionadas com o crescimento das plantas. Conceitualmente, do
ponto de vista agronó mico, um solo apresenta alta qualidade quando suas funções
permitem que o crescimento das plantas seja elevado e sustentado. Um solo não manejado
e em suas condições naturais está em equilíbrio dinâ mico e apresenta resistência a
mudanças. Contudo, quando manejado e submetido ao uso continuado, pode ter esse
equilíbrio alterado, com reflexos na sua qualidade, que pode ser melhorada ou piorada,
dependendo do manejo a que for submetido. Este fato tem inquietado a sociedade, em
razã o da crescente pressã o pelo uso d D solo e pelas consequências que isso possa ter na
qualidade de vida e sobrevivência da humanidade.
O solo, como componente do amt iente, tem v á rias macrofunções ( Figura 1).
Como ambiente para o crescimento das plantas, são funções do solo servir de suporte,
favorecendo o crescimento das raízes das plantas, permitir trocas gasosas e receber, reter
e suprir á gua e nutrientes para as pla ntas e animais que o usam como habitat . V á rias
propriedades sã o importantes para qu e o solo desempenhe bem suas funções, podendo-
se destacar o equilíbrio entre os percentuais do volume da fra çã o sólida e do espa ço
poroso, que determina o volume de a.r e da soluçã o do solo, esta constituída de á gua e
nutrientes para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Destaca -se, ainda, a
presença de grande variedade de organismos da flora e da fauna, que vivem no solo e que
desempenham papel fundamental em vá rias rea ções e transformações que a í ocorrem,
tais como: incorpora çã o, decomposiçã o e mineralizaçã o dos resíduos vegetais e animais.
A atividade desses organismos é responsá vel pela vida do solo, portanto, pode-se dizer
que solo é um corpo natural vivo.

Ambiente para o crescimento de


plantas e habitat de organismos

í
Engenharia ,
Perfil Purifica çã o e
minera çã o e
urbaniza çã o do solo ^ suprimento
de água

i
Reciclagem de
subst ância e resí duos

Figura 1. Macrofunções do solo.

FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABIL DADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 993

O solo constitui grande reservatório e um poderoso filtro de á gua. Considerando


que, em média, cerca de 50 % do volume do solo s ã o poros, dos quais metade é microporos
(poros com capacidade de reter á gua ), aproximadamente 1 m3 de água pode ser retido em
4 m3 de solo. As argilas minerais e a matéria orgâ nica sã o responsá veis pelas trocas
iônicas do solo, que, assim, exerce o papel de um filtro, "purificando" a á gua que percola
por meio de seu perfil. Esses componentes , alé -n de ter urna alta superf ície específica,
contêm cargas que adsorvem os íons da solução do solo. Como consequência, a água que
atinge o lençol freá tico é de melhor qualidade, se comparada à q ae chega à superf ície do solo.
Resíduos, naturais ou resultantes de atividades antrópicas, sã o depositados na
superf ície do solo ou nele incorporados. Em ecoss: stemas naturais (florestas, por exemplo),
o retorno dos resíduos por ela produzidos ao sole é vital para a manutençã o do equilíbrio
do sistema . Um caso clássico registrado na literatura foi a retirada continuada da
serapilheira para utiliza çã o como cama de gado c urante o inverno, o que causou declínio
da Floresta Negra , na Alemanha (Pritchett & Fisher, 1987) . A quebra do equilíbrio de um
sistema natural pelo ser humano, seja por atividades agr ícolas, seja por industriais ou
por urbanas, pode comprometer a sobrevivência dos ecossistemas.
O solo tem sido utilizado de diversos modos e com v á rias funções em obras de
engenharia (estradas, barragens, linhas de transmissã o de energia , etc. ), em atividades
de minera çã o (exposiçã o de jazidas de minérios, matéria -prima para olarias e cer â micas,
etc. ) e em assentamentos de comunidades urbanas.
Todos estes usos do solo ( Figura 1) podem redundar em degradaçã o, principalmente
se a utiliza çã o for feita numa intensidade acima da capacidade de suporte e de oferta
para determinada funçã o .
Nos capítulos anteriores deste livro, foi dada enfase ao papel do solo como fornecedor
de elementos essenciais ou nutrientes às plantas , tendo sido apresentadas e discutidas
as técnicas disponíveis para o uso racional de corretivos, fertilizantes e outros materiais,
visando à produ çã o de alimentos e matérias-] mimas. Neste capítulo, pretende-se
caracterizar e discutir a relaçã o entre o manejo da fertilidade do solo e a sustentabilidade
da atividade agrícola, com um enfoque abrangente e uma visã o de futuro. Embora haja
relativa escassez de dados experimentais, procurar-se-á direcionar as discussões para
solos tropicais.

SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE DO SOLO

A experiência tem evidenciado que o uso intensivo e irracional do solo pode resultar
em diminuiçã o de sua qualidade, com graves consequ ências: social, econó mica e
ambiental. Por isso, é necessá rio concentrar esfor ços na gestão dos recursos do solo,
visando garantir o seu uso racional, com vistas em satisfazer as necessidades atuais e
das futuras gera ções. Para isso, é necessá rio
,
estabelecer
estrat égia de uso do solo que
respeite sua capacidade de oferta de recursos manejando-o de modo a manter ou melhorar
sua qualidade. Somente assim seu uso ser á sustentá vel.

FERTILIDADE DO SOLO
994 WENCESLAU J . GOEDEKT & SEBASTI ã O ALBERTO DE OLIVEIRA

Conceitos: Sustentabilidade, Resili ê ncia e Qualidade do Solo

A preocupa çã o com o desenvolvimento sustentá vel tem crescido nos últimos anos e
envolvido grande n ú mero de debates , dentre os quais se pode destacar a ECO 92, no Rio
de Janeiro. Dos compromissos dos países participantes desse evento, situa -se o preparo
de uma proposta de desenvolvimento sustentá vel para cada país. A proposta brasileira
reuniu um conjunto de sete documentos, dos quais dois estã o mais direcionados para a
agricultura: Recursos Naturais ( Bras 1, 2000a ) e Agricultura Sustentá vel ( Brasil, 2000b ) .
Os conceitos apresentados e discutidos a seguir t ê m sua base conceituai nestes
documentos.

Sustentabilidade
O crescimento populacional e a busca de melhoria de vida pressionam a base dos
recursos naturais . Assegurar o acesso e o uso sustentá vel desses recursos para o bem-
estar do homem constitui desafio a s er enfrentado . A reduçã o dos desperdícios e dos
impactos ambientais e o uso racional dos recursos sã o estratégias importantes para
reverter os processos dos mesmos.
Nã o se trata de interromper o crescimento, mas de eleger um caminho que garanta o
desenvolvimento integrado e partic ipativo da sociedade, e que considere a base dos
recursos naturais (á gua, biodiversidade, minerais, etc.) e seus ciclos de produçã o e
regenera çã o . Para tanto, sã o indispensá veis a valorização e o uso racional desses
recursos, antes considerados infinito ; e abundantes e hoje reconhecidos como escassos,
em escala mundial.
Ultimamente, o conceito de sustentabilidade tem sido muito discutido. Essa
discussã o tem ra ízes na ecologia e está associada à capacidade de suprimento,
regeneração e recomposiçã o dos ecost istemas. Existe consenso de que a sustentabilidade
envolve v á rias dimensões, podendo- f e destacar as de cará ter ambiental, socioeconômica
e tecnol ógica . A dimens ã o ambiental refere-se à manutençã o da capacidade de
sustentaçã o dos ecossistemas, impli:ando seu uso de acordo com sua capacidade de
oferta de bens e serviços. A dimensã o socioeconômica baseia-se na melhoria da qualidade
de vida das gera ções, atuais e futuras, e de retornos aos investimentos, enquanto a
dimensã o tecnológica envolve a eficiência do processo produtivo, a eficá cia de seus
produtos e a satisfa çã o dos usu á rios
Deve-se reconhecer que há evic entes dificuldades na determinação do limite de
sustentabilidade de cada recurso, prir cipalmente ao serem consideradas as inter-relações
e as sinergias estabelecidas em suas respectivas cadeias reprodutivas e as pressões
antrópicas a que esses recursos estã o sujeitos.
A capacidade de suporte do solo e da água , quando submetidos ao uso intensivo, e
a quantidade de pressã o que um ambiente pode suportar em bases contínuas sã o, em
geral, perguntas às. quais urge responder, tendo em vista os riscos de degradaçã o. Isso
demonstra o quanto é necessá rio investir na construçã o de refer ências e indicadores de
sustentabilidade, a fim de que se possa , efetivamente, mensurar as condições de

FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 995

sustentabilidade dos recursos naturais . Contudo, independentemente desse


conhecimento, é for çoso reconhecer que a sustentabilidade passa pelo planejamento,
pela utilização racional e pela participaçã o dos usuá rios na definição de responsabilidades
inerentes à estratégia a ser implementada ( Brasil, 2000a ).
No que concerne à agricultura sustentá vel, a proposta brasileira ( Brasil, 2000b )
apresenta a visã o de um sistema produtivo que garanta:
a ) Manutençã o, em longo prazo, dos recurs DS naturais e da produtividade;
b ) Mínimo de impactos adversos ao ambiente;
c) Retornos adequados aos produtores;
d ) Otimiza çã o da produçã o com um mínimo de insumos externos;
e) Satisfa çã o das necessidades de alimentos , renda e qualidade de vida; e
f ) Atendimento à s demandas sociais das famílias e das comunidades rurais.
O atendimento desses pré-requisitos tem un a rela çã o estreita com o uso sustentá vel
dos recursos naturais, especialmente do solo e c a á gua.

Resili ência

A sustentabilidade da produçã o agr ícola de um solo está fortemente relacionada


com sua resiliência e sua qualidade.
De acordo com Novais & Smyth (1999), o termo resiliência refere-se à habilidade de
um solo se recuperar ou de se ajustar facilmente a uma mudança . Usando uma figura
did á tica, seria uma propriedade semelhante à capacidade que tem uma mola de retornar
à sua forma original, quando nã o mais submetida a uma pressã o.
A resiliência poderia ser vista como a capacic ade de um solo recuperar sua qualidade
quando submetido a um uso intensivo e, ou, inadequado. Deste modo, a resiliência está
estreitamente relacionada com atributos do soloinerentes ao seu poder tampão, atributo
que compõe a qualidade de um solo.
O conceito de capacidade-tampã o tem sido muito aplicado no manejo da acidez do
solo e na aduba ção fosfatada , já que os solos á cic .os e pobres em P disponível de regiões
tropicais têm-se caracterizado pela resistência a mudanças nestas propriedades (alta
resiliência ), conforme discutido em capítulos an eriores deste livro.

Qualidade do Solo

É cada vez mais dif ícil conceber a idéia c e competitividade e sustentabilidade


dissociada de garantia de qualidade . Esse conceito de qualidade tem sido
corriqueiramente utilizado para produtos comerciais, para o ar, etc., e, mais recentemente,
para solos. Contudo, definir e quantificar a qual idade do solo (QS) tem sido uma tarefa
dif ícil, uma vez que ela depende das características intrínsecas do solo, de suas interações
com o ecossistema e de seu uso para diversos fir .s.

FERTILIDADE DO SOLO
996 WENCESLAU J . GOEDERT & SEBASTIãO ALBERTO DE OLIVEIRA

Do ponto de vista agrícola , a qualidade do solo pode ser conceituada como a


capacidade de tal recurso exercer vá r as funções, dentro dos limites do uso da terra e do
ecossistema, para sustentar a produtividade biológica, manter ou melhorar a qualidade
ambiental e contribuir para a sa ú de das plantas, dos animais e humana . Portanto, o uso
sustentá vel do solo e da á gua envolve a manutenção ou mesmo a melhoria da qualidade
destes recursos naturais.
Os grandes componentes da qualidade do solo são:
a ) Produtividade - habilidade do solo em promover a produçã o de plantas;
b ) Qualidade ambiental - habilidade do solo na atenua çã o de efeitos de
contaminantes, patógenos, etc.; e
c ) Sa úde animal - inter -rela çã o e itre QS e sa ú de vegetal, animal e humana .

Avaliação da Qualidade do Solo


Este tema tem sido muito discutido recentemente pela comunidade científica,
podendo-se indicar as seguintes refer Incias para consulta: Santana & Bahia Filho (1998)
e Mielniczuk et al. ( 2003). A qualidade do solo aborda três linhas de pensamento. A
primeira procura identificar os melhores indicadores (atributos ou propriedades) f ísicos,
químicos e biológicos de funções que o solo deve cumprir ( produtividade, por exemplo);
a segunda considera a matéria orgâ nica do solo, bem como seus compartimentos, como o
melhor indicador de qualidade do solo e a terceira deixa de lado os indicadores e procura
analisar os processos no sistema solo-planta, envolvendo o nível de organiza çã o dos
componentes do solo.
No Brasil, a qualidade do solo tem sido mais abordada pela primeira linha de
pensamento. Um dos desafios atuais cla pesquisa é como avaliar a qualidade de um solo,
de uma maneira simples e confiá vel. Ela pode ser avaliada por meio da quantifica çã o de
alguns indicadores ou atributos, ou seja, de propriedades f ísicas, químicas e biológicas
que possibilitem o monitoramento de mudanças no estado de qualidade deste solo. Em
termos gerais, têm sido definidos três grupos de indicadores (Doran & Parkin, 1994):
a ) Ef émeros (os que oscilam em curto espaço de tempo ), tais como: temperatura,
umidade, pH, teor de nutrientes, atividade de microrganismos, etc.;
b ) Intermedi ários (aqueles alter á veis após manejo do solo por alguns anos), tais
como: densidade do solo, resistê ncia à penetra çã o, permeabilidade, agrega çã o,
estabilidade de agregados, teor de matéria orgâ nica, atividade biológica, etc.; e
c) Permanentes (atributos ineren es ao tipo de solo e que servem para classificar os
solos), tais como: textura , mineralogia , profundidade, cor, densidade de partículas, etc.
Os indicadores "intermediá rios'’ têm sido os mais utilizados para monitorar a
qualidade do solo pelo fato de nã o es tarem sujeitos a varia ções bruscas e poderem ser
avaliados com mé todos de boa reprodutibilidade.
A escolha de indicadores deve considerar, dentre outros, os seguintes aspectos:
facilidade de mediçã o, resposta a mudan ç as, limite claro entre condições de
sustentabilidade e nã o-sustentabilidade e rela çã o direta com requerimentos de QS.

FERTI . IDADE DO SOLO


XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGRíCOLA 997

Uma vez selecionados os atributos que serã o utilizados para avaliar a QS, torna -se
necessá rio definir limites de sustentabilidade, ou seja, qualificar ou calibrar as
informa ções obtidas pelas medições analíticas, no campo e no laborat ório. O limite de
sustentabilidade é o valor numérico usado para cada indicador avaliado, visando separar
a condiçã o sustentá vel da nã o-sustentá vel ("n ível cr ítico"). Dois enfoques tê m sido
propostos para se estabelecerem critérios de referência para determinar tais limites:
condiçã o de solo nativo, especialmente para as propriedades f ísicas, ou condições de
solo que maximizem a produçã o e conservem o ambiente.
Visando facilitar a compara çã o da qualidade de solos nativos ou submetidos a
diferentes usos, podem-se estabelecer índices numéricos de QS (similares aos conhecidos
índices de acidez, de disponibilidade de nutrientes, salinidade, resiliência, erodibilidade,
estabilidade de agregados, etc.) ou adotar a linha de modelagem, gráfica ou matemá tica .
Uma ilustra çã o de modelo grá fico encontra -se na figura 2, na qual a qualidade de
1 um solo utilizado por um longo per íodo sob pastagem plantada foi comparada com a
qualidade do mesmo solo sob Cerrado nativo. Pera compor este modelo, foram avaliados
três atributos de natureza f ísica ( densidade do solo, resistência mecâ nica à penetraçã o e
taxa de infiltra çã o de á gua ), dois de natureza química ( teor de maté ria orgâ nica e
capacidade de troca catiônica ) e dois de natureza biológica (carbono total da biomassa
microbiana e respira çã o basal ).
Neste diagrama , pode-se observar que o u 30 do solo para pastagem redundou na
i diminuiçã o de sua qualidade, particularmente de seus atributos f ísicos. Tal procedimento
facilita a visualiza çã o comparativa da QS em diferentes situa ções de uso e auxilia na
?
definiçã o da estratégia a ser implementada para recompor a qualidade do solo de uma
á rea.

i
j
í
1.

í •

!
!
I

í
t
l Figura 2. Diagrama comparativo da qualidade do solo, considerando seus atributos f ísicos,
químicos e biológicos, de uma á rea sob pastagem plantada, tendo como referência uma
j á rea sob Cerrado nativo.
Fonte : Ara ú jo et al. ( 2007).

FERTILIDADE Dó SOLO
998 WENCESLAU J . GOEDERT & SEBASTI ã O ALBERTO DE OLIVEIRA

Um índice de QS deve informar sobre a capacidade do solo em exercer suas funções,


relacionadas com três principais objetivos: produçã o sustentá vel (produção vegetal e
resistência à erosã o), qualidade ambiental (qualidade da á gua e do ar ) e sa ú de animal e
humana (qualidade de alimentos). A utiliza çã o prá tica destes índices será exemplificada
posteriormente, quando discutidos os vá rios sistemas agr ícolas.
As prá ticas de manejo e conserva çã o do solo e da á gua devem ser planejadas e
implementadas, procurando-se manler ou mesmo melhorar seus atributos, de modo a
aumentar a capacidade do solo em sustentar uma produtividade biológica competitiva ,
sem comprometer a qualidade da á gua . O monitoramento da qualidade do solo deve ser
orientado para detectar tendências de mudanças que sã o mensurá veis num período longo
(mais de dez anos) . Este monitoramento pode ser feito na propriedade agr ícola ou em
níveis mais abrangentes, tais como: rr icrobacia hidrográ fica, regiã o, etc.

Papel da Matéria Orgânica do Solo

O tema matéria orgâ nica do solo (MOS) foi abordado no capítulo VI deste livro,
contudo, considera -se importante revisar e ampliar algumas discussões, tendo em vista
a funçã o primordial da MOS na qualidade e no uso sustentá vel do solo.
Nas regiões tropicais de clima ú mido e sub ú mido, predominam os solos em está dio
avançado de intemperiza çã o, que sã o caracterizados por elevada acidez, baixa CTC e
elevada capacidade de sorçã o de â nions, como o fosfato. Nesses solos, a matéria orgâ nica
contribui para aumentar a CTC, reduzir a acidez, por meio de complexação do AI trocável,
e bloquear sítios de sor çã o de fosfato.
Uma característica comum desses solos é a presença de óxidos e hidróxidos de ferro
e alumínio e de argilas 1:1, que lhes confere, juntamente com a maté ria orgâ nica, carga
variá vel, dependente de pH. Em solos com tal característica, a matéria orgâ nica diminui
o PCZ e, como consequência, aumenta a CTC do solo resultante do efeito da calagem
( Zorzo, 1993).
Em solos tropicais, mais de dois terços das cargas negativas são originá rias da
fra ção orgâ nica, como exemplificado com solos do Distrito Federal (Quadro 1). Assim, o
uso sustentável de solos tropicais é exti emamente dependente da manutençã o ou aumento
do teor de MOS, especialmente em so os arenosos.
No sistema de preparo convencional, a MOS pode ser reduzida pelo cultivo do solo
por período relativamente curto, con .o cinco anos (Quadro 2). Tal efeito pode ser mais
drástico em solos mais arenosos, nos quais a MOS se encontra menos protegida. Este
exemplo comprova, ainda, a alta velocidade do processo de decomposiçã o ("queima")
dos compostos orgâ nicos, quando o se lo é mobilizado. Contudo, a recomposição é dif ícil
e demanda muito tempo.
Outro papel importante da MOS na qualidade do solo diz respeito aos seus efeitos
sobre a disponibilidade de P. Os piincipais mecanismos por meio dos quais a MOS
aumenta a disponibilidade de P no solo sã o:

FERT LIDADE DO SOLO


XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGR íCOLA 999

Quadro 1. Capacidade de troca catiônica (CTC ) da ra çã o orgâ nica e mineral de alguns solos
do Distrito Federal, na profundidade de 0-20 cin

Solo CTC org.


CTCtotnl
^TCmin . Fra çã Oorg. Fra çã Omin

emole dm - 3 %

LE argiloso 14 , 0 12 , 7 1, 3 91 9
LE argiloso 9, 2 6,5 2, 7 71 29
LE argiloso 9, 7 8, 5 1, 2 88 12
LE m é dio 5,6 4,9 0, 7 88 12
LV argiloso 12 , 3 11 , 8 0, 5 96 4
LV argiloso 9 ,8 9 ,0 0,8 92 8
PV argiloso 12 , 1 10, 6 1, 5 88 12
PV argiloso 3, 9 2,6 1, 3 67 33
TR 12 , 8 9,8 3, 0 77 23
TR 22 , 4 16 , 5 5,9 74 26
Mé dia 83 17

Quadro 2 . Perdas de maté ria orgâ nica ( MOS ) em solos de Cerrados do Oeste Baiano, com
diferentes teores de argila

> 15 % argila 15 a 30 % argila > 30 % argila


Ano
MOS PR < * > MOS PR MOS PR

g kg- i % g kg 1 % g kg- 1 %
0 14 , 5 0, 0 15 , 4 0, 0 27 , 6 0, 0
1 10 , 9 25 , 1 11 , 9 22 , 7 23 , 8 13 , 8
2 8,2 43 , 4 9, 3 39 , 6 20, 8 24 , 7
3 6, 3 56 , 6 7, 4 52 , 0 18 , 4 33, 3
4 4, 9 66, 2 6, 0 61 , 3 16 , 6 40 , 0
5 3,9 73 , 2 4,9 68 , 1 15 , 1 45 , 3
(I )
Perda relativa , em relação ao ano zero .
Fonte : Silva et al . ( 1994 ) .

a ) Mineraliza çã o - Durante o processo d á decomposiçã o da MOS, ocorrem a


mineraliza çã o e a libera çã o de nutrientes para as plantas, inclusive do P.
Dependendo da qualidade dos materiais orgâ nicos incorporados, até 30 % do P
absorvido pelas plantas poder á ser proveniente da MOS;
b) Bloqueio de sítios com carga positiva (Fe (ÒH)2+ e Al (OH) 2+) - As cargas negativas,
provenientes da dissocia çã o dos á cidos o::gâ nicos formados durante o processo
da mineralização, podem neutralizar ou bloquear cargas positivas nos compostos
de Fe e Al, impedindo, desse modo, a adsorção por troca de ligante (covalente) do
H2PO/;
-
c) Protonaçã o dos grupos amínicos ( R NH3+) - Os grupamentos amínicos (-NH2) no
h ú mus podem ser protonados, gerando cargas positivas, nas quais o H2P04 ‘

poder á ficar adsorvido por forças de cará ter eletrostá tico (adsorçã o f ísica ),
constituindo, assim, uma forma de P lá bil;
'

FERTILIDADE DO SOLO

II :
1000 WENCESLAU J . GOEDERT & SEBASTIã O ALBERTO DE OLIVEIRA

d ) Solubiliza çã o dos compostos fosfatados de menor solubilidade - Os á cidos


orgâ nicos provenientes da mineraliza çã o da MOS podem solubilizar parte dos
fosfatos de Ca em p a rítc u l a d e menor solubilidade, aumentando, assim, a
disponibilidade de P para as plantas;
e ) Complexa çã o e, ou, quelata çã o do Fe 3+ e do Al 3+ - Os á cidos orgâ nicos
provenientes da mineraliza çã o da MOS formam complexos e, ou, quelatos com os
íons Fe3+ e Al3+, impedindo-os de reagir com o H2P04 , aumentando, assim, a '

concentra çã o de P na soluçã o do solo.


Uma ilustra çã o dos efeitos da M OS sobre a disponibilidade de P é apresentada na
figura 3, em que 3,0 t ha 1 de soja foram produzidas no mesmo Latossolo muito argiloso,
'

com teores de P disponível (Mehlich-1) de 3 e 6 mg dm 3, sendo os teores médios de MOS


'

de 37,3 e 28,4 g kg 1, respectivamente. Tais resultados mostraram uma diminuiçã o no


'

nível cr ítico de P, quando a cultura da soja foi plantada após a pastagem de braquiá ria,
comparada com a soja plantada após uma cultura anual. O aumento no teor de MOS foi
o principal fator responsá vel por tal efeito.
O efeito da MOS sobre a disponit ilidade de P no solo também pode ser demonstrado
com a técnica de simula çã o por meio do DRIS (Sistema Integrado de Diagnose e
Recomenda çã o ) (Quadro 3). A aná lise de um solo teve como resultados 11,9 g kg 1 de '

MOS e 5,7 mg kg 1 de P, apresentando, portanto, limita ções tanto de MOS como de P


'

disponível. Assumindo a não-adiçã o de matéria orgâ nica ao solo (sem adiçã o), o teor de
P desejável no solo, para corrigir sua limitaçã o, seria de 12,0 mg kg 1, ao passo que, quando '

a matéria orgâ nica é adicionada (com adiçã o), o teor de MOS passaria para 21,2 g kg 1 e "

o teor de P desejá vel para corrigir sua limita çã o seria de 7,9 mg kg 1. Ou seja, a elevaçã o '

no teor de MOS de 11,9 para 21,2 g kg 1 resultaria numa redução de 52 % no teor desejá vel de P.
'

3.500 i

re
3.000
D)

</> 2.500 *
o
ire s Y = 3.103 - 9,479 e-°’ 765 P
O) 2.000 -
4>
o R2 = 0,94 ( Anual )
2c 1.500 _
0)
§ 1.000 -
Y = 3.292 - 8,974 e 123P 1l

*u R 2 = 0,94 ( Anual/ pasto)


c
a>
a: soo *

V v
0
0 2 4 6 8 10
3
P disponí vel, mg dm *

Figura 3. Efeito de dois sistemas de cultive (cultura anual contínua - Anual e rotação de cultura anual
e pastage - Anual / pasto) na disponibilidade de P (Mehlich-1) para a cultura de soja no décimo
terceiro cultivo.
Fonte: Sousa & Lobato (2002) .

FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 1001

Quadro 3. Efeito da maté ria org â nica na disponibilidade de f ósforo no solo simulado por
meio do DRIS

MOS P
Mat é ria orgâ nica
Atual Simulado Atual Simulado

g kg - 1 mg kg 1

Sem adiçã o 11 , 9 11 , 9 5, 7 12 , 0
Com adiçã o 11 , 9 21 , 2 5,7 7,9

A estrat égia de manejo do solo deve, portanto, priorizar pr á ticas que resultem em
maior produçã o de resíduos orgâ nicos e, adicionalmente, que permitam maior tempo de
resid ência das fra ções mais ativas (h ú mus) no solo. Tal estraté gia retarda a libera çã o
dos nutrientes pela mineraliza çã o, mas realça a funçã o da maté ria orgâ nica na melhoria
de atributos f ísicos, qu ímicos e biol ó gicos c . o solo, exercendo seu papel como
condicionador .
As atividades agr ícolas produzem resíduos vegetais e animais que devem ser
aplicados, visando manter ou aumentar o teor de MOS. Adicionalmente, resíduos sólidos
ou líquidos com alta percentagem de mat éria orgâ nica sã o produzidos nos centros
urbanos (lixo, esgoto, restos industriais, etc. ), que, após serem tratados, podem ser
incorporados ao solo .

FERTILIDADE E QUALIDADE DO
SOLO E DO AMBIENTE
Conforme já mencionado, um dos pré-requisitos para que o uso de um solo seja
sustentá vel é o respeito pela capacidade de oferta, inerente e intrínseca a cada solo.
Assim, por exemplo, um solo arenoso tem menor capacidade de exercer certa funçã o,
menor resiliência e maior fragilidade do que um argiloso, razão pela qual requer um
manejo diferenciado .
A rela çã o entre a capacidade de oferta e o nível de manejo constitui a base dos
sistemas de avalia çã o da aptid ã o agrícola das terras. De acordo com Ramalho Filho &
Beek (1995), a capacidade de oferta deve considerar os seguintes fatores de limita ção:
fertilidade, á gua , arejamento, susceptibilidade à erosão e impedimentos à mecaniza ção.
Se o grau de limitaçã o imposto por um desses fatores for muito alto, tal fator passa a
limitar o uso da terra , devendo receber atençã o prioritá ria no manejo do solo.
Em outras palavras, o manejo da fertilidade do solo pode ser de importâ ncia
secund á ria, caso outro fator esteja limitando o crescimento e desenvolvimento das culturas
(Lei do Mínimo). Adicionalmente, fica evidente que o uso racional do solo envolve uma
integra ção entre as diversas prá ticas de manejo do solo e da cultura .

FERTILIDADE DO SOLO
1002 WENCESLAU J . GOEDERT & SEBASTIã O ALBERTO DE OLIVEIRA

Prá ticas de Fertilidade do Sol o e Melhorias Potenciais da Qualidade do


Solo
Um grande volume de inforirlações sobre o manejo da fertilidade do solo está
disponível no Brasil, resultante de experimentos e testes desenvolvidos sobre este tema .
Tais informa ções têm sido publicadas principalmente na Revista Brasileira de Ciência
do Solo e na Pesquisa Agropecu á ria Brasileira . Adicionalmente, v á rios compêndios
foram organizados e editados, visando agregar as informa ções. Dentre estes, podem-se
destacar os seguintes, de acordo com sua atualidade e, ou, nível de abrangê ncia: Raij
(1991), Sousa & Lobato ( 2002 ) e Bissani et al. (2004).
As altera ções nas propriedades químicas e na fertilidade do solo tê m sido avaliadas
em uma gama de solos e de culturas, em resposta a diferentes esquemas de calagem e
aduba çã o, sob v á rios sistemas de cultivo. Em síntese, podem-se destacar as seguintes
alterações positivas na qualidade do solo, as quais já foram exemplificadas em capítulos
anteriores deste livro texto:
a ) A calagem reduz a acidez de solos, resultando em v á rios benef ícios, dentre os
quais, para o caso particular de solos tropicais, o aumento da CTC (surgimento
das cargas negativas dependentes de pH ) , da satura çã o por bases, da
disponibilidade de nutrientes e da atividade da biota do solo;
b ) A incorporaçã o de gesso agrí cola ( gessagem ) como agente condicionador tem-se
mostrado uma técnica promissora na elimina çã o de barreiras químicas ao
crescimento do sistema re dicular das plantas, como, por exemplo, alta
concentra çã o de Al3+ abaixo da camada ará vel do solo;
c) A adiçã o de fertilizantes industrializados tem sido imprescindível, n ã o apenas
para repor os nutrientes retirados pelas culturas, mas, principalmente, para elevar
a disponibilidade de nutrientes e ajustar o equilíbrio nutricional do solo. Deve-se,
contudo, frisar que o consumo anual de fertilizantes no Brasil é ainda muito baixo,
sendo de apenas 132 kg ha ]1 de NPK, segundo levantamento da Associa çã o
"

Nacional para Difusã o de Ad ubos-ANDA ( ANDA, 2003);


d ) O manejo adequado dos restòs de culturas e das plantas invasoras tem sido vital
para manter ou aumentar o teor de MOS, com efeitos positivos em diversos
atributos do solo, sejam eles de natureza qu ímica, f ísica ou biológica . E mais, a
manutençã o destes restos na superf ície do terreno protege o solo de grandes
varia ções térmicas e da a çã o erosiva da chuva e do vento .
Em síntese, a experiência tem demonstrado que o emprego racional de corretivos,
fertilizantes e materiais condicionadores, aliado ao uso de outras prá ticas agrícolas,
permite a melhoria da qualidade do 50I0 e de seu potencial produtivo. Isto prova que o
uso intensivo do solo para atividades agr ícolas nã o necessariamente redunda em sua
degradação, como tem sido, às vezes, apregoado.

Atividades Agrícolas e Qualidade do Ambiente


As atividades agrícolas afetam drasticamente o equilíbrio natural do ambiente, a
vida vegetal e animal e o ciclo dos nutrientes. Para a produçã o agrícola, insumos sã o

FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGRí COLA 1003

incorporados ao solo e nutrientes são, retirados pelas culturas e por perdas diversas.Tudo
isso pode afetar a qualidade do ambiente, em seus principais componentes: solo, ar,
á gua, flora e fauna .
Dois temas merecem destaque neste assunto: eutrofiza çã o da á gua e possível
contamina çã o do solo pelo uso de resíduos urbanos e industriais.
Um dos principais nutrientes que pode causar problemas ambientais é o N,
principalmente por meio da lixivia çã o do íon r itrato para o lençol freá tico e para os
mananciais de á gua . Outro nutriente que tem merecido atençã o crescente é o P,
transportado pelas enxurradas até os cursos ou depósitos de á gua, podendo causar a
eutrofiza çã o deste recurso natural, com consequências nefastas para a vida aqu á tica ,
especialmente a animal (Silva & Prusky, 1997) ( veja capítulo VIII) .
Grande parte dos nutrientes retirados pelas colheitas vai acabar em depósitos de
lixo e esgoto, materiais que apresentam um grande potencial para a melhoria do solo,
visto que contê m nutrientes e alto teor de matér a orgâ nica . Nos últimos anos, esfor ço
tem sido despendido no sentido de avaliar os efeitos, positivos e negativos, do
aproveitamento agr ícola destes resíduos, para reciclagem de nutrientes e, ou, para
melhoria da qualidade do solo. Conforme resumido por Bettiol & Camargo (2000), a
disposiçã o destes materiais é complexa, mas eles têm grande potencial para promover o
aumento da produçã o agrícola e a melhoria de solos e á reas degradadas.
Contudo, a incorpora çã o destes e de outras materiais ao solo pode causar sua
contamina çã o. Uma aprecia ção abrangente do conhecimento atual sobre este tema foi
apresentada por Accioly & Siqueira ( 2000) (Quadro 4).
Alé m dos impactos no funcionamento e na biodiversidade do ecossistema, a
contamina çã o do solo é uma séria amea ç a para a flora , fauna e, em particular, para a
sa ú de p ública ( Figura 4).
A remedia çã o de solos contaminados é complexa , envolvendo um conjunto de
pr á ticas ou processos que visam à atenua çã o ou correçã o do impacto de agentes
contaminantes, para garantir a funcionalidade io ecossistema e evitar a expansão da
contaminaçã o. Nos últimos anos, tem crescido o uso de processos de biorremedia çã o,
utilizando microrganismos, plantas ou enzimas para destoxicar contaminantes no solo
e noutros ambientes.

Quadro 4. Classifica çã o dos poluentes do solo

Categoria Exemplo/ Fonte

Nutriente N e P em fertilizantes, estercos e resí duos urbanos


Pesticida Princ í pios ativos de defensivos agr ícolas
Rejeito perigoso Combustí veis e alguns rejeitos industriais
Elemento tra ço Metais presentes no solo , em calc á rios e em fertilizantes
Efeito acidificante Chuva á cida , drenagem de minera çã o e fertilizantes amoniacais
Efeito salino Á gua de irriga çã o e alguns fertilizantes

Fonte : Adaptado de Accioly & Siqueira ( 2000) .

FERTILIDADE DO SOLO
1004 WENCESLAU J . GOED ERT & SEBASTI ã O ALBERTO DE OLIVEIRA

Alimentos
Homem IliAnimà is

Alimentos Forragens
Contato
Ingest ã o
Piantasl® Ingest ão

Agua Absor çã o Agua

Contaminaçã o
i no solo 1

Figura 4. Principais vias de exposiçã o pelas quais contaminantes do solo atingem plantas,
animais e homem .
Fonte: Accioly & Siqueira ( 2000) .

Finalmente, outro tema que tem merecido destaque nos ú ltimos anos diz respeito
aos estoques de C no solo e sua perda p ara a atmosfera. Mielniczuk et al. (2003) apresentam
uma discussã o abrangente sobre o assunto, mostrando sua estreita relaçã o com o manejo
do solo. A estratégia principal é criar condições para a má xima captura de C atmosf érico
por meio da fotossíntese e sua retençã o nas estruturas vegetais, vivas ou mortas. Também
para esta finalidade é importante promover o incremento do teor de matéria orgâ nica e o
aumento do seu tempo de resid ência no solo.

SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGRÍCOLA

Conforme já mencionado nes :e cap ítulo, a sustentabilidade abrange v á rias


dimensões, podendo-se destacar as biológicas, sociais, econó micas e ambientais. A
maioria das pesquisas em fertilidade do solo aborda apenas a questão biológica, ou seja,
avalia os efeitos da adição de insumos no crescimento e desenvolvimento de espécies vegetais.
Neste item, pretende-se mostrar, de forma resumida, que o manejo da fertilidade
representa apenas "um tijolo numa construçã o", numa atividade complexa, como a
agricultura, principalmente em regi ões tropicais. Finalmente, sã o apresentados quatro
sistemas agr ícolas, alternativos ao sistema de cultivo convencional, cujos fundamentos
se inserem no contexto da sustentabilidade da atividade agrícola .

Interação entre a Fertilidade do Solo e os Fatores de Produção Agrícola


É necessá rio frisar que a sustentabilidade de um empreendimento agr ícola,
independentemente da dimensã o ou prop ósito, será atingida apenas se sua gestã o for
capaz de administrar, de forma harmónica, todos os fatores envolvidos no processo
produtivo, dentro e fora da propriedade agr ícola.

FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABIL: DADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 1005

Em nível interno ("dentro da porteira "), inicialmente é preciso conhecer a oferta


ambiental, em termos de clima, solo, á gua, topografia, etc. e a disponibilidade de recursos
humanos, materiais e financeiros, para que se possa definir a estratégia mais racional de
uso destes recursos. Nesse contexto, e principal: nente em regiões tropicais, a fertilidade
do solo passa a ser de fundamental importâ ncia .
Originalmente, eram três os fatores clássicos de produçã o agrícola: terra, trabalho e
capital . Posteriormente, foi acrescentado um quarto, a tecnologia , fator que cresce em
importâ ncia na medida em que se busca maior produtividade e em que se incorporam ao
processo produtivo terras com limita ções ao uso e que, portanto, requerem um manejo
com alto nível tecnol ógico.
Analisando a rela çã o entre a fertilidade do solo e a má xima eficiência produtiva na
Regi ã o do Cerrado, Lobato & Sousa ( 2002 ) afirmaram que uma propriedade agr ícola
sustent á vel deve resultar da solu çã o de um sistema de equa ções interativas e
interdependentes, envolvendo, pelo menos, os seguintes aspectos: biológicos, sociais,
culturais, econ ó micos, pol í ticos , ambientiis, energ é ticos, administrativos e
mercadológicos.
A eficiência do sistema agr ícola pode ser definida como a rela ção entre as sa ídas
( produtos ou benef ícios) e as entradas (insumos ou custos) no processo produtivo,
podendo ser medida em termos de unidades de valores monetá rios ou de outros
relacionados com um dos aspectos supracitados . Esta relação deve sempre ser superior
à unidade para que haja evolu çã o e sustent ibilidade. Conhecer e saber usar as
rela ções e suas intera ções estabelecem o limite e itre o sucesso e o fracasso. Um exemplo
simples ilustra a intera çã o entre fatores de prc du çã o (Quadro 5), cuja elabora çã o foi
realizada há cerca de vinte e cinco anos, no início do processo de expansão da agricultura
para a Regi ã o do Cerrado. Naquela é poca, foi estudada a resposta da cultura da
soja à aduba çã o fosfatada . Foram apresentadas quatro alternativas de uso da mesma
quantidade do insumo fosfato (12 toneladas de P2 Os na á rea estabelecida ) para a produção
de soja na regiã o. Para uniformizar a análise dos dados, as receitas e as despesas foram
representadas pela mesma moeda ( tonelada de soja ) .
No primeiro cená rio, caracterizou-se a siiua çã o de uma lavoura de 300 ha com
aplicaçã o de apenas 40 kg ha 1 de P2Os, ou seja, uma dose muito aquém da recomendada,
'

mas com produçã o total superior à dos demais cená rios. A rela ção entre as saídas e
entradas ( rela çã o B / C ) evidencia que a alterna :iva mais eficiente é aquela que associa
á rea (menor ) com alta tecnologia (maior dose de fertilizante) (intera ção entre fatores terra
e capital). Em adição aos aspectos económicos desta ilustração, cabe ressaltar os aspectos
ambientais, já que o cultivo de uma grande á rea de terra, com baixas dosès de adubaçã o
fosfatada, resultará em baixo grau de cobertura vegetativa e, portanto, em baixa proteção
contra os agentes erosivos e com grandes riscos de degrada çã o.
Outra ilustraçã o, com dados mais atuais ( Figura 5), considera o custo médio de
produ çã o ( custeio ) do ano agr ícola 2001 / 20 C 2 e o valor da soja a R$ 18,00 o saco,
que faz com que a produtividade necessá ria para pagar o custo fixo da cultura seja de
35 sacos ha 1; este é o ponto de nivelamento ( ponto de interceptaçã o das retas ), abaixo
'

do qual a atividade ser á insustentá vel em termos econó micos. Produ ções acima de

FERTILIDADE DO SOLO
1006 WENCESLAU J . GOEDERT & SEBASTIãO ALBERTO DE OLIVEIRA

35 sacos ha 1 proporcionariam retornes positivos, dependendo dos custos fixos. Tendo


'

em vista as varia ções de preços de produtos e de custos, o cálculo do ponto de nivelamento


deve ser feito para cada local e ano. Esse exemplo mostra a necessidade de o produtor
planejar as doses da aduba çã o para obter produtividades bem acima do ponto de
nivelamento, visando se proteger das oscila ções de pre ços de venda do produto.
Mostra , também, que o uso de tecnologia adequada, incluindo o manejo da fertilidade do
solo, contribui para reduzir os riscos de frustra ções de safra . E mais, ilustra a inter -
rela çã o e interdependência entre as diversas equações envolvidas no processo produtivo
agrícola, explicitamente entre a bioló gica e a econó mica .

Quadro 5 . Produ çã o potencial de quatro lavouras de soja, estabelecidas em solo com alta
resposta à aduba çã o fosfatada ( P2Os) mantendo-se constante o produto á rea x quantidade
de fertilizante, utilizando a mesma quantidade total de fertilizante fosfatado

0 Aduba çã o Produtividade Produ çã o Custos Custo Custo Produ çã o Rela çã o


Area
fosfatada potencial (1 ) total < B ) fixos < 2 ) fosfato total ( C) l í quida < 3 > B/ C« >

ha kg ha 1 t ha 1 t de gr ã os

300 40 0 ,9 270 210 48 258 12 1 ,04


200 60 1, 3 260 140 48 188 72 1, 38
150 80 1 ,6 240 105 48 153 87 1,57
100 120 2, 2 220 70 ’
48 118 102 1,87

(1> Calculada com base nas curvas de repostas potenciais. (2) Baseados em custos fixos (custo total menos o custo do
fosfato) de 700 kg ha 1 de grã os e na condiçã o de : que sejam necessá rios 4 kg de soja para pagar 1 kg de P2Os
'

(3)
Diferença entre a produ çã o total e o custo total expressa em toneladas de grã os. < 4 ) Rela çã o entre a produ çã o total
e o custo total expressa em toneladas de grã os.
Fonte: Goedert et al. (1986).

70
A
r*

J=
o
60
Produ ç ã o e s p e r a d a

A m
—^
o
<0 A Lucro:
* 50
:12
a>
*
o
ra v
T3 Produ çã o ps
> 40 nivelamento
3 Preju ízo
T3
2 30
CL

v-
20
4-
558 630 702 774 846

Custo de produ çã o , R $ ha 1 '

Figura 5. Retorno econó mico, expresso em sacos ha 1, para diversas produtividades de soja em
solos de Cerrado.
Fonte: Lobato & Sousa (2002).

FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 1007

Uso Sustentável do Solo em Ambiente Tropical


As características clim á ticas do territó rio biasileiro possibilitam o cultivo de grande
diversidade de espécies vegetais durante todo o ano. Segundo Sanchez (1976), o potencial
de produ çã o anual de biomassa vegetal nos tró picos e subtr ópicos chega a 160 t ha 1, em'

compara çã o a 30 t ha 1 em regiões temperadas e frias. Entretanto, as altas temperaturas,


"

associadas à disponibilidade de á gua, contribuem para taxas mais elevadas de


decomposiçã o dos resíduos orgâ nicos nos tr ó picos. Adicionalmente, nessas regiões,
ocorrem chuvas de alto potencial erosivo, que exigem prá ticas de manejo do solo que
priorizem a manutençã o da maté ria orgâ nica 2 a proteçã o da superf ície do solo com
cobertura vegetal, viva e, ou, morta.
Em grande parte do territ ó rio brasileiro, predominam solos altamente
intemperizados, a maioria pertencente à ordem dos Latossolos, onde predominam
argilominerais de baixa atividade (sesquióxidos e argilas 1:1) , que lhes conferem,
juntamente com a matéria orgâ nica, carga variá v el dependente de pH. Em solos com tais
características, a MOS exerce papel importante : ia dinâ mica dos nutrientes, conforme já
destacado anteriormente.
Em condições naturais, a maioria dos Latossolos apresenta baixa fertilidade, baixa
CTC, elevada acidez (baixa satura çã o por bases e alta por alumínio) e alta capacidade de
retençã o de P. Já os argilosos apresentam maior superf ície específica, possibilitando a
forma çã o de complexos organominerais que dificultam a decomposiçã o da MOS,
favorecendo a forma çã o de agregados está veis. A proteção da matéria orgâ nica, de modo
particular pelos óxidos e hidr óxidos de Fe e Al , é apontada como a principal causa de
sua manutençã o em regiões tropicais, apesar de serem as condições climá ticas favoráveis
à sua decomposiçã o. Isso explica também sua alta resiliência nessas condições. Por
outro lado, os Latossolos, em sua maioria, sã o solos profundos, com elevado estado de
organiza çã o, apresentando agregados est á veis de elevada macroporosidade
proporcionando alta capacidade de infiltra çã o de á gua , boa drenagem, baixa
erodibilidade e pouco impedimento à mecaniza çã o.
Em termos de aptid ã o agrícola, inicialmente, o fator mais limitante é a baixa
fertilidade. Assim, a utilizaçã o desses solos para atividade agrícola requer o emprego de
um nível tecnológico mais elevado, incluindo a correçã o da acidez e a eleva çã o da
fertilidade. Uma vez equacionadas tais limita ções, a experiência tem demonstrado que o
potencial produtivo é elevado, uma vez que as caracter ísticas clim á ticas (luz e
temperatura ) favorecem alta produtividade de tiomassa durante o ano todo.
A maior parte dos conhecimentos e técnices relativas ao manejo da fertilidade do
solo foi desenvolvida pela pesquisa em sistemas agrícolas convencionais, que envolvem
o revolvimento frequente da camada superficial do solo (camada ará vel). Experiências
têm demonstrado que a mobiliza çã o intensa do solo, principalmente em regiões tropicais,
pode redundar em efeitos negativos e em degrac açã o.
Em síntese, os principais efeitos negativos já detectados para essa prá tica sã o:
a ) Pulveriza çã o do solo, com ruptura dos agregados, facilitando o selamento
superficial do solo e o arraste de partícu as pela enxurrada;

FERTILIDADE DO SOLO
1008 WENCESLAU J . GOEDBRT & SEBASTIã O ALBERTO DE OLIVEIRA

b ) Exposiçã o excessiva dos compostos orgâ nicos, com aumento da velocidade de


sua decomposição, resultando em diminuição do teor de matéria orgâ nica do solo;
c) Favorecimento de condições p ira a forma çã o de uma zona compactada abaixo da
camada ar á vel do solo ( denominada "p é-de-grade"), resultante da pressã o
exercida pelos implementos c e preparo e, ou, da movimenta ção das partículas
mais finas no perfil do solo.
Tais resultantes têm estreita rela jã o com o manejo da fertilidade do solo, uma vez
que a enxurrada provoca erosã o à z camada superficial, onde foram incorporados
corretivos, fertilizantes e condicionadores do solo. A diminuiçã o da maté ria orgâ nica
diminui a qualidade deste solo, em todos os aspectos. Finalmente, a camada compactada
funciona como uma barreira ao crescimento das raízes em profundidade, causando sérios
prejuízos ao crescimento das plantas, especialmente pela diminuiçã o da sua capacidade
em absorver água e nutrientes.
Em síntese, o uso inadequado do solo conduz, mais cedo ou mais tarde, à
deteriorizaçã o de sua estrutura e do seu nível de organiza çã o, com reflexos negativos em
sua qualidade e resiliência e, por conseguinte, a atividade agrícola torna-se insustentá vel .

Sistemas Agrí colas Sustentáveis

Em resposta aos desafios, produ :ores rurais e comunidade científica têm buscado
estudar e testar sistemas de manejo que resultem em menos riscos de agressão à qualidade
do solo. Conforme enfatizado por Ehlers (1999), existem perspectivas da implementa ção
de um novo paradigma na agricultura visando à maior sustentabilidade. Neste sentido,
vá rios sistemas alternativos de preparo ou cultivo, tais como plantio direto, agricultura
orgânica, sistema agroflorestal e integra çã o lavoura-pecuá ria, têm-se mostrado com
grande potencial para regiões tropicais e subtropicais. Estes sistemas tê m em comum
duas características que se inserem pe •feitamente no escopo deste capítulo, quais sejam,
requerem um manejo diferenciado d a fertilidade do solo e tê m, como fundamento, a
sustentabilidade da atividade agrícola.

Sistema Plantio Direto

Embora o manejo da fertilidade do solo em sistema plantio direto (SPD) já tenha sido
abordado no capítulo XV, considera-se importante enfatizar a estreita relaçã o entre este
sistema e a sustentabilidade da atividade agr ícola .
O sistema plantio direto ou semeadura na palha pode ser conceituado como um
sistema de cultivo baseado na semeadura em solo não revolvido e protegido por resíduos
vegetais, no qual as sementes ou mudas sã o colocadas em sulcos ou covas.
A introdução do SPD em uma á rea deve ser precedida de um diagnóstico detalhado das
condições desta á rea, visando verificar o atendimento de alguns pré-requisitos indispensáveis
para que o sistema possa ser estebeleci do com sucesso e de forma permanente. Entre tais
pré-requisitos, cabe destacar aqueles lelacionados com o manejo do solo:

FERTI .IDADE DO SOLO


XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILI JADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 1009

a ) O terreno deve estar nivelado, sem ondula ções drásticas que venham a dificultar
as opera ções de plantio, cultivo e colheita ou exigir a mobiliza çã o do solo;
b ) O solo nã o deve apresentar acidez elevada no horizonte superficial (satura çã o
por bases abaixo da desejada ) e estar com bom status nutricional, principalmente em
termos de nutrientes com baixa mobilidade no so LO e que exigiriam uma incorpora çã o no
solo (P, p .ex.);
c) Nã o deve haver compacta çã o do solo, principalmente abaixo da camada ar á vel.
Tal problema deve ser solucionado antes da introdu çã o do SPD, já que exigir á o
revolvimento do solo;
d ) Deve-se promover uma estratégia viá vel de produçã o de palha e manutençã o de
adequada cobertura da superf ície do terreno; e
e ) Planejamento de esquema de rota çã o de culturas, visando maximizar produçã o
de palha, minimizar questões de sanidade vegetei e promover a diversifica ção de safras.
A ausê ncia de mobiliza çã o do solo (ou mesmo de uma pequena mobiliza çã o ),
associada com a manutençã o de cobertura v ígetal na superf ície do terreno, tem
consequências significativas sobre as propriedades f ísicas, qu ímicas e biológicas,
refletindo na qualidade do solo. Trata -se, oortanto, de um sistema de cultivo
conservacionista e que se enquadra dentro dos preceitos de uma agricultura sustentá vel .
A manutençã o da superf ície do terreno cobe rta com palha ou palhada representa a
essência do SPD. Em termos gerais, espera -se que a palha exer ça as seguintes funções:
a ) Reduza as perdas de solo e á gua por eros ã o, mediante a diminuiçã o do impacto
direto das gotas de chuva sobre a superf í cie do solo;
b ) Aumente a taxa de infiltra çã o de á gua no solo, reduzindo o volume de
escorrimento superficial da água (enxurrada );
c) Minimize as variações da temperatura do solo, favorecendo a atividade biológica;
d ) Favoreça a reciclagem lenta e gradue 1 dos nutrientes contidos na palha ,
assegurando alta e permanente atividade biológica;
e) Aumente o teor de matéria orgâ nica no porfil do solo.
A palha exerce tais funções; contudo, grandes varia ções sã o observadas como
resultado de sua qualidade e quantidade. A forma çã o e a manutençã o da cobertura
morta nos tr ópicos têm sido um desafio para o estabelecimento do plantio direto. Altas
temperaturas associadas à adequada umidade promovem a rá pida decomposiçã o dos
resíduos vegetais, principalmente quando sua relação C / N é baixa . Em regiões com
clima mais ameno, como na Regiã o Sul, os res íduos vegetais são decompostos mais
lentamente e podem fornecer boa cobertura do terreno.
A experiência acumulada nos últimos anos tem evidenciado que a introduçã o do
SPD em á reas que atendam a esses pr é-requisitos e que, adicionalmente, venham sendo
bem manejadas, tem sido considerada como uma alternativa de sucesso. Quando
comparado com sistemas convencionais de preparo e cultivo, o SPD tem mostrado avanços

FERTILIDADE DO SOLO
1010 WENCESLAU J . GOE [ > ERT & SEBASTI ã O ALBERTO DE OLIVEIRA

significativos em termos econó micos, sociais e ambientais (Quadro 6) . Contudo, trata -se
de um sistema que conta com pouca experiência acumulada e que tem apresentado
algumas dificuldades ou desafios a serem enfrentados no futuro. No que se refere às
regiões tropicais, as principais dificuldades registradas sã o: o manejo da fertilidade do
solo; a produ çã o de palha suficiente para cobrir o terreno e, talvez, dispensar o
terraceamento da á rea; o desenvolvimento de alternativas de safrinha e, ou, de plantas
de cobertura; e os problemas de segunda gera çã o.
O manejo da fertilidade de um solo, com o mínimo de mobilizaçã o, tem sido desafio
para a pesquisa, conforme já discutido no capítulo XV. Dentre os problemas não previstos
na introduçã o do SPD numa á rea, chamados de segunda gera çã o, cabe destacar a possível
ocorrência de compacta ção superficial resultante da pressã o de má quinas e implementos
agrícolas sobre a superf ície do terreno. Caso seja inviá vel uma solu çã o de natureza
vegetativa , tal situa çã o exigir á mobiliza çã o do solo, cuja prá tica poder á redundar em
outros desafios.

Quadro 6. Síntese dos ganhos do SPD êm compara çã o aos sistemas convencionais de cultivo

Ganho At é %

Redu çã o de perdas de solo por eros ã o 90


Redu çã o de uso de m ã o - de - obra por unidade de á rea 50
Redu çã o de consumo de combust í vel 60
Redu çã o da demanda de calc á rio e fosfatos 25
Redu çã o de á gua e de energia , em á reas irrigadas 30
Redu çã o do custo geral de produ çã o 30

Fonte: Adaptado de Landers (2002) .

Agricultura Orgânica
A agricultura orgâ nica (AO) ou a produçã o orgâ nica é um sistema agr ícola que
conta com regulamenta çã o específica, tendo como fundamento a integra çã o de prá ticas
de natureza cultural, biológica e mecâ nica, visando maximizar a ciclagem de nutrientes,
promover o balanço ecológico global e conservar a biodiversidade. Uma abordagem
abrangente sobre este tema pode ser encontrada em Souza & Resende (2003).
As principais metas da AO sã o: manter alta produçã o e qualidade dos produtos e
minimizar riscos para a qualidade ambiental e para a sa úde humana .
Um princípio b á sico da AO é "alimentar o solo para alimentar as plantas",
reconhecendo que a qualidade das plantas está estreitamente relacionada com a qualidade
do solo. Neste sentido, as principais preocupa ções do manejo do solo são:
a ) Buscar e assegurar um equilíbrio na disponibilidade de nutrientes;
b) Promover a mais completa reciclagem de nutrientes dos resíduos vegetais e
animais;

FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 1011

c ) Minimizar perdas de nutrientes por vola tiliza çã o, lixivia çã o e erosã o;


d ) Restringir o uso de fontes de fertilizantes com potencial de causar efeitos
negativos, tais como a saliniza çã o ou a acidifica çã o;
e) Buscar melhorar, de maneira constante, a s a úde do solo, envolvendo, dentre outros
aspectos, a eleva çã o do teor de matéria orgâ nica, a aera çã o, a permeabilidade e a
diversidade da biota .
Em síntese, trata -se de um sistema no qual se observa uma estreita e permanente
intera çã o entre a estratégia de manejo do solo e a busca da sustentabilidade da atividade
agrícola . Adicionalmente, devem-se destacar a preocupa çã o com o planejamento de
ocupa çã o racional de toda a á rea disponível na propriedade, a integra çã o das v á rias
atividades agrícolas e a minimizaçã o dos impactos ambientais, especialmente com relaçã o
aos mananciais de á gua .

Sistemas Agroflorestais

Os sistemas agroflorestais (SAF) sã o plantios consorciados de espécies frutíferas,


madeireiras, produtoras de grã os e medicinais, onde os diferentes sistemas radiculares,
necessidades de luz, porte e ciclo de vida das espécies sã o combinados de forma a gerarem
m ú tuo benef ício (Gõ tsch, 1995). Neste sistema, ocorrem interações ecológicas e económicas
entre os componentes do sistema (Figura 6 ).
Os tipos mais comuns de sistemas agroflorestais sã o: os consó rcios agroflorestais,
os sistemas silvopastoris e os sistemas de uso m últiplo da terra .
A meta final destes sistemas é o uso sustent á vel dos recursos naturais e
socioeconô micos. Com rela çã o ao manejo do solo e da á gua, os objetivos principais sã o:
a ) Minimizaçã o do processo erosivo;
b ) Manutençã o ou melhoria dos atributos f ís icos (estado de agrega ção, porosidade,
permeabilidade, etc);
c) Aumento do teor de maté ria orgâ nica e da atividade biológica;
d ) Incorpora çã o de N ao solo, principalmente fixado por espécies leguminosas;
e ) Acelera çã o da ciclagem de nutrientes, já que as á rvores capturam nutrientes do
subsolo, pouco acessível à s plantas de ciclo anual, e
f ) Melhoria na eficiê ncia do uso de á gua e nutrientes, principalmente por

^
minimiza ção das perdas por percola çã o lixivia çã o.
Segundo Sanchez (1995), quatro aspectos ce racterizam os sistemas agroflorestais:
competitividade, complexidade, lucratividade e sustentabilidade.
Quando plantas crescem próximas de outras, elas interagem de modo positivo
(complementaridade) ou negativo (competição). O crucial é como manejar as interações
por luz, água e nutrientes entre os componentes vivos do sistema, em benef ício do
empreendimento agrícola .

FERTILIDADE DO SOLO
1012 WENCESLAU J . GOEDERT & SEBASTI ã O ALBERTO DE OLIVEIRA

Á RVORES INTERFACE CULTIVOS

rr : N
I
Competição
< Colheita
<\
0
L J
acima da
superfí cie
Colheita >
/
Transferé rrcia
•4 Poda $
\
% 1
í\
Liteira
\ Res í duos

I T
7
^
Solo Transferência Solo •
sob
árvores •
>' .. sob
* árvores
c . Competição abaixo
*> ' *
\
i \ / . da superfí cie s •
'
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I N v V
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l " \
I \ I / /
N ^ / / l
\ / \ v
s N / \ V V*
I
l
\ /
' / \ ' i
\ V 'x / X > N

Figura 6 . Aspectos gerais que caracteriz à m o ambiente, acima e abaixo da superf ície do terreno,
num sistema agroflorestal.
Fonte : Young (1997).

Além da complexidade biof ísica , devem ser considerados os aspectos econó micos,
ecológicos e metodológicos. A dimensã o socioeconô mica é complexa em virtude da
variabilidade espacial e temporal, dos fatores de escala, da multiplicidade de produtos e
serviços, etc. Uma agrofloresta exerce duas funções nem sempre compatíveis: a produtiva
e a protetiva . Para a pesquisa , o principal desafio é desenvolver mé todos simples, mas
precisos e reproduzíveis, para avalia r os efeitos deste sistema, principalmente abaixo da
superf ície do terreno (Figura 6).
A sustentabilidade envolve aspectos económicos e ambientais, com uma forte
dimensã o temporal. No que concerne ao ambiente, o SAF tem estreita rela çã o com a
conserva çã o do solo, com o aumento da biodiversidade, com a conservação de C na terra
e com a reciclagem de nutrientes.
Em síntese, apesar dos desafios, a adoçã o dos sistemas agroflorestais encontra -se
em plena expansã o no Brasil, principalmente em á reas onde predomina a agricultura
familiar . Tem-se constituído, ainda, numa importante alternativa para a recomposição
de á reas degradadas, resultantes do uso irracional do solo.

Integração Lavoura - Pecuária


Por razões económicas e, ou, ambientais, a exploraçã o isolada da lavoura ou da
pecu á ria tem apresentado sinais de insustentabilidade, principalmente em regiões com
chuvas de elevada erosividade e cobertas por solos pobres. Uma revisã o recente desta
questão foi apresentada por Kluthcc uski et al. (2003).
Embora o alto nível tecnológico empregado na maioria das lavouras, a predominâ ncia
do monocultivo, associado com algumas prá ticas culturais inadequadas ( p. ex., excesso

FERtlLIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 1013

de mobiliza çã o do solo ), tem comprometido c crescimento da produtividade e até


resultado em degradaçã o do solo e do ambiente.
Por outro lado, as pastagens têm sido estabel ícidas e exploradas de modo extensivo,
com baixo nível tecnológico, principalmente no que se refere ao uso de corretivos e
fertilizantes. Segundo dados da ANDA (2003), menos de três por cento dos fertilizantes
consumidos no Brasil se destinam à forma çã o e manutençã o das pastagens, apesar da
enorme á rea explorada por pastagens no Pa ís.
Como consequência , tem-se observado uma crescente degrada çã o das pastagens,
especialmente nas regi ões tropicais, o que poce ser visualizado como um processo
evolutivo de perda de vigor, de produtividade e de capacidade de recuperação do sistema .
O processo de degrada çã o de pastagens nor nalmente se inicia pela perda de vigor
das espécies forrageiras em virtude da nã o-reposiçã o dos nutrientes ( principalmente N)
extraídos do solo pelas plantas e animais. Nesta fase, possivelmente apenas uma adubaçã o
de manutençã o seria suficiente para manter o sistema com boa produtividade. Contudo,
como a aduba ção de manutençã o representa um custo elevado para a atividade de pecuá ria
extensiva, tal pr á tica, embora de reconhecida imoortâ ncia, tem sido pouco usada .
O baixo grau de cobertura do terreno, aliado a outros fatores limitantes, resultará na
degrada çã o da pastagem . A continuidade de atua çã o dos agentes deste processo
redundar á na diminuiçã o da qualidade do sole , especialmente em seus atributos de
natureza f ísica (compacta ção, erodibilidade, etc.) .
A reversã o deste cená rio é dif ícil, técnica e financeiramente. Requer, via de regra, a
eleva çã o do estado nutricional do solo, por meio da incorpora çã o de corretivos e
fertilizantes, a mobiliza çã o do solo para incorporar insumos e descompactar o solo e a
introdu çã o de nova cobertura forrageira . Vá rias alternativas tê m sido desenvolvidas e
testadas, visando ao equacionamento desta questã o, dentre as quais se destaca a
integra çã o lavoura -pecuá ria (ILP).
Este sistema consiste em introduzir uma cultura anual (isolada ou associada a uma
forrageira ), após a eleva çã o da qualidade do solo na á rea degradada, visando,
principalmente, amortizar a maior parte dos recursos financeiros investidos. A estratégia
de uso posterior da á rea varia de acordo com os objetivos da propriedade, sendo mais
comum a rotaçã o de lavoura e pastagem, ao longo dos anos.
Os benef ícios deste sistema para a qualidade do solo são ainda pouco conhecidos,
tendo em vista serem as pesquisas muito recentes no Brasil. Vilela et al. ( 2003)
apresentaram uma síntese do conhecimento atual neste assunto, destacando os efeitos
da ILP na disponibilidade de nutrientes e na dinâ mica da matéria orgâ nica e da biota do
solo. Verifica -se,por exemplo, que o monocultivo de soja por longo per íodo reduziu o
teor de MOS, enquanto o mesmo solo coberto com pastagem de braquiá ria resultou em
aumento contínuo deste teor (Figura 7).
Em adição ao melhoramento da qualidade do solo, a ILP resulta em benef ícios económicos,
sociais e ambientais. Representa, dentre outros aspectos, uma diversificação da oferta de
produtos agropecuá rios, melhoria na distribuição de renda e redução de impactos ambientais,
principalmente, como resultante da permanente cobertura da superf ície do terreno.

FERTILIDADE DO SOLO
1014 WENCESLAU J . GOEDE RT & SEBASTIã O ALBERTO DE OLIVEIRA

5 i Rotação contí nua soja/milho


Pastagem depois de soja
-àr Soja/milho depois de pastagem

o
(0 _

o 4
c
D) k
O kl
(0

-.
k

2 3 -

2 J
75 76 78 82 86 87 88 89 90 91 92
Ano

Figura 7. Din â mica da maté ria do solo na camada de 0-20 cm de profundidade em dois sistemas
de rotaçã o de culturas em um Latossolo Vermelho-Amarelo textura argilosa .
Fonte : Sousa & Lobato ( 2002) .

Em nível mais amplo, a integra çã o lavoura-pecuá ria proporcionar á um uso mais


intensivo e racional das terras atualmente ocupadas pela atividade agrícola, diminuindo
a pressã o de demanda pela incorporaçã o de novas á reas ao processo produtivo agr ícola .

CONSIDERA ÇÕ ES FINAIS

Os solos de regiões tropicais e subtropicais apresentam limita ções, mormente


relacionadas com o elevado grau de intemperizaçã o, mas tê m mostrado alto potencial
agrícola mediante o uso de técnicas adequadas. Contudo, elevadas temperaturas e
intensidades de chuva sã o fatores que afetam a qualidade do solo. Um ambiente quente
e úmido provoca uma rá pida decomposiçã o de resíduos orgâ nicos, e a alta capacidade
erosiva da chuva requer uma contínua e permanente atenção no que diz respeito à proteção
do solo. Assim, o uso sustentável desses solos depende crucialmente do manejo da MOS
e da manutenção permanente de cobertura vegetativa sobre o terreno. Tais quesitos sã o
obrigatórios no desenvolvimento de t écnicas para uma agricultura sustentá vel.
A adoçã o de processos para manter ou melhorar a qualidade do solo deve merecer
maior concentraçã o de esfor ços da pe squisa e da transferência de tecnologia. Sistemas
de produção agrícola de regiões tropicais e subtropicais têm todo o potencial para manter
ou melhorar a qualidade do solo, desde que contemplem a baixa mobilização do solo e a
presença contínua de plantas, preferencialmente de espécies diferentes.

FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABIL: DADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 1015

Os sistemas agr ícolas discutidos anteriormente têm, como estratégia, o atendimento


desses pré- requisitos. Atualmente, observa -se um r á pido avanço desses sistemas para
as regiões tropicais, principalmente do sistema plantio direto, os quais estã o contribuindo
para uma recupera ção e, ou, incremento da qualidade do solo. O clima favor á vel à
produ çã o vegetal durante todo o ano tem -se constituído fator importante para a
agricultura cumprir o papel de produzir alimentos e fibras de forma sustentá vel.
A agricultura é uma atividade socioeconô mica complexa resultante da intera çã o de
muitos fatores, internos e externos, da propriedade rural . Fundamenta -se no uso de
recursos naturais, tais como o solo e a á gua, recursos de natureza limitada e cuja
degrada çã o nem sempre é reversível. Exerce, assim, uma pressã o sobre a base natural da
economia, similar à das atividades de industrializa çã o e urbaniza çã o.
O crescimento da atividade agr ícola e a conserva çã o ambiental t ê m sido
frequentemente considerados objetivos antagôn cos . Embora a expansã o da agricultura
cause desequilíbrio em biomas naturais, um novo equilíbrio pode ser alcançado com o
uso de pr á ticas que respeitem a capacidade de recomposiçã o destes recursos. Assim, a
questã o ambiental nã o deve ser necessariamente entendida dentro dessa contradiçã o,
mas, sim, dentro de um contexto que envolva im equilíbrio, conciliando as diversas
vertentes do desenvolvimento sustentá vel . O atingimento desse equilíbrio constitui
permanente desafio.

LITERATURA CITADA

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