NOVAIS, RF Et Al. Fertilidade Do Solo. Sociedade Brasileira de Ciência Do Solo. 2007
NOVAIS, RF Et Al. Fertilidade Do Solo. Sociedade Brasileira de Ciência Do Solo. 2007
NOVAIS, RF Et Al. Fertilidade Do Solo. Sociedade Brasileira de Ciência Do Solo. 2007
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FERTILIDADE DO SOLO
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EDITORES
Roberto Ferreira Novais
Víctor Hugo Alvarez V.
Nairam Félix de Barros
Renildes L úcio F. Fontes
Reinaldo Bertola Cantarutti
J úlio César Lima Neves
Ia Ediçã o
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EDITORES REVISÃO
Roberto Ferreira Novais, Víctor Hugo Maria da Gl ória T . Ign á cio
Alvarez V. / Nairam Fé lix de Barros, Maria Aparecida Soares
Renildes L ú cio F. Fontes,
Reinaldo Bertola Cantarutti
e J ú lio César Lima Neves DIAGRAMAÇAO
José Roberto de Freitas
CAPA
(Layout)
FOTOS DA CAPA
Manuela Vieira Novais
Gentilmente cedidas pelos Engenheiros-Agr ónomos
Orlando Carlos Martins e Rodrigo de Oliveira Lima
CAPA ( foto da ú ltima capa - Campo-Cerrado - e algodoeiro
(Arte) na primeira capa ) e pela Funda çã o MT (foto de soja
José Roberto de Freitas em plantio direto na primeira capa ).
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-86504-08-2
9* 7 8 8 5 8 6 5 0 4 0 8 2
PREFÁCIO
Esta publicaçã o constitui um marco divisó rio da evoluçã o do ensino e aplicabilidade
da fertilidade do solo no processo produtivo da agricultura brasileira .
Embora o nosso Pa ís ocupe um lugar de destaque no desenvolvimento de pesquisas
envolvendo o manejo da fertilidade nos solos das regiões tropicais e na gera çã o de
tecnologias avançadas nessa á rea do conhecimento, com grande n úmero de publica ções
de autores brasileiros, em geral, a abordagem era feita, na maioria dos casos, de forma
fragmentada . Isso obrigava o estudante, tanto de gradua çã o como de pós-gradua çã o,
alé m de outros técnicos que fazem uso dessa á rea do conhecimento, a recorrer a v á rias
publica ções, se quisessem ter acesso a informações mais completas e abrangentes sobre
o assunto.
O grande mérito deste livro, Fertilidade do Solo, que é parte da série de livros
didá ticos que está sendo publicada pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS),
é apresentar, em uma ú nica publica çã o, o vasto conhecimento gerado nas últimas
décadas neste segmento envolvendo os conceitos básicos, ã s técnicas de diagnose, as
interpreta çõ es dos resultados dessa diagnose at é os crit é rios adequados de
recomenda çã o de corretivos e fertilizantes para a correçã o dos possíveis problemas
para as mais diversas condições de solos, climas e culturas brasileiras.
Abrangendo dezoito cap í tulos, elaborados por renomados professores e
pesquisadores brasileiros, num total de 1017 pá ginas, este livro trata, no capítulo I, de
uma descrição das inter-relações fertilidade do solo e produtividade agr ícola, com ênfase
em aspectos histó ricos de sua evolu çã o no mundo e fatos marcantes no Brasil. Os
capítulos II, III e IV envolvem uma discussã o sobre fatores de crescimento das plantas,
elementos requeridos à nutriçã o de plantas e rela çã o solo-planta, que sã o princípios
b á sicos indispensá veis para o conhecimento da fertilidade do solo no seu sentido mais
amplo. Nos capítulos V a XI, sã o apresentados aspectos básicos e aplicados sobre acidez
do solo e sua corre çã o, maté ria org â nica , nitrogé nio, f ósforo, potássio, enxofre e
micronutrientes, que abrangem desde aspectos bá sicos para fixaçã o dos conceitos até o
uso e manejo correto de corretivos e fertilizantes. Os capítulos XII a XIV abordam a
discussã o sobre produçã o, características e propriedades dos fertilizantes, avalia çã o
da fertilidade do solo, recomenda çã o e manejo da aduba çã o ( modos de aplica çã o,
localiza çã o e é poca ), dentre outros tó picos. Os capítulos XV a XVIII abrangem a
fertilidade do solo e seu manejo para condições bem específicas, envolvendo esses
aspectos em sistema plantio direto, em solos afetados por sais e em á reas degradas,
sistemas esses que, por suas peculiaridades, merecem tratamento especial. Finalmente,
o capítulo XVIII trata da fertilidade e sustentabilidade da atividade agrícola, com ênfase
para solos tropicais, naturalmente inf érteis.
9
Temos certeza de que os conhecimentos contidos nesta publica çã o irã o contribuir,
de maneira marcante, para a consolida çã o do Brasil como grande potência mundial na
produ çã o de alimentos, agroenergia e outros produtos do campo, pelo aumento da
produ çã o e da produtividade agr ícolas de forma mais econ ó mica, sustent á vel e
socialmente responsá vel .
Cabe destacar o grande esfor ço dos autores dos diversos capítulos e, em especial,
o incansá vel trabalho de coordena çã o e editora çã o deste livro, equipe liderada pelo
Professor Roberto Ferreira de Novais, da Universidade Federal de Viçosa, Editor Chefe
da Revista Brasileira de Ciência do Solo, que, com abnega çã o, desprendimento e espírito
cr ítico, conseguiu levar a bom termo esta obra de relevante importâ ncia para o contexto
acad êmico e para o agronegócio brasileiro .
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VII
ISBN 978-85-86504-08-2
FERTILIDADE DO SOLO
JULHO, 2007
CONTEÚ DO
PREFÁ CIO V
VIII - FÓ SFORO
Roberto Ferreira Novais, T. Jot Smyth & Flancer Novais Nunes 471
IX - POTÁ SSIO
Paulo Roberto Ernani, Jaime Antônio de Almeida & Flá via Cristina dos Santos 551
X - ENXOFRE
Víctor Hugo Alvarez V., Renato Roscoe, Carlos Hissao Kurihara & Nilza
de Fá tima Pereira 595
XI - MICRONUTRIENTES
Cleide Aparecida de Abreu, Alfredo Scheid Lopes & Glá ucia Cecília Gabrielli
dos Santos 645
XII - FERTILIZANTES
José Carlos Alcarde 737
1/
Departamento de Ci ê ncia do Solo, Universidade Federal de Lavras - UFLA.
Caixa Postal 37, CEP 37200 - 00 Lavras ( MG ) .
ascheidl@ ufla .br; guilherm @ ufla . br
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Conte ú do
INTRODU ÇÃ O 2
HISTÓ RICO 3
Relatos Antigos 3
Fertilidade do Solo nos Primeiros 18 Séculos da Era Cristã 7
Progresso durante o Século 19 11
Desenvolvimento da Fertilidade do Solo nos Estados Unidos 15
Olhando para o Século 21 17
Fatos Marcantes da Evoluçã o da Fertilidade do Solo no Brasil 19
Trabalhos Pioneiros em Fertilidade do Solo e Adubaçã o 20
Programa do IRI 25
Projeto FAO / ANDA / ABC AR 27
Opera çã o Tatu 28
International Soil Fertility Evaluation and Improvement Project 30
Tropical Soils Research Project 31
Programas Interlaboratoriais de Controle de Qualidade de Análises de Solos 32
Programa Interlaboratorial de Aná lise de Tecido Vegetal 33
Recomendações Oficiais de Corretivos e Fertilizantes 33
Comité de Qualidade da ANDA 34
Plano Nacional de Fertilizantes e Calcá rio Agrícola - PNFCA 35
Gesso Agrícola - Uma Descoberta Casual 36
Mé todo de Extra ção de Nutrientes com Resina de Troca Iônica 37
Mé todo de Satura çã o por Bases 38
Evoluçã o das Análises de Micronutrientes nos Solos ,.. 38
Fixação Biológica de Nitrogénio 40
SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. NOVAIS, R . F., ALVAREZ V ,, V.H ., BARROS,
N.F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R .B . & NEVES, J .C . L . ) .
2 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
INTRODU ÇÃ O
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 3
HIST Ó RICO
O per íodo do desenvolvimento da espécie humana, durante o qual o homem iniciou
o cultivo das plantas, marca o nascimento da agricultura . A é poca exata em que isso
aconteceu nã o é conhecida, mas certamente foi há milhares de anos antes de Cristo . Até
entã o, o ser humano tinha há bitos n ó mades e vivia quase que exclusivamente da ca ç a e
colheita para a obtençã o de seus alimentos.
Com o passar do tempo, o homem foi se tornando menos nó made e mais e mais
dependente da terra em que vivia . Famílias, clãs e vilas se desenvolveram e, com isto, o
desenvolvimento da habilidade de produzir, ou seja, surgiu a agricultura .
O que deve ser destacado é que desde a pré-histó ria, entã o, quando o homem deixou
as atividades nó mades - quando se alimentava de produtos de colheita e da ca ç a - e
passou a se estabelecer em á reas mais definidas, a fertilidade do solo e a produtividade
das culturas passaram a interagir mais ou menos profundamente.
Um dos capítulos mais concisos e objetivos sobre o passado e o presente da fertilidade
do solo no Mundo é o escrito por Tisdale et al. (1990), no livro Soil Fertility and Fertilizers ( 1 > .
Os primeiros cinco tópicos, a seguir, constituem uma traduçã o dessa literatura, acrescidos
de outros pontos histó ricos relevantes descritos por outros autores. Na sequência, sã o
apresentados alguns fatos marcantes da histó ria da fertilidade do solo no Brasil .
Relatos Antigos
Uma das regiões do mundo onde existem evidências de civilizações muito primitivas
é a Mesopotâ mia, situada entre os rios Tigre e Eufrates, onde se localiza atualmente o
Iraque. Documentos escritos em 2500 aC mencionam, pela primeira vez, a fertilidade da
terra e sua rela ção com a produtividade de cevada em algumas á reas, em que uma unidade
de semente plantada levou a uma colheita de 86 a 300 unidades.
Cerca de 2000 anos mais tarde, o historiador grego Fleródoto relata suas viagens
pela Mesopotâ mia e menciona produtividades excepcionais obtidas pelos habitantes da
regiã o. As altas produtividades eram, provavelmente, resultado de avançados sistemas
de irrigação e solos com alta fertilidade, fertilidade esta atribuída, em parte, às enchentes
anuais dos rios. Teofrasto foi outro que deixou relatos cerca de 300 aC sobre a riqueza
dos aluviões do rio Tigre, mencionando que a á gua era deixada o maior tempo possível
de modo a permitir que uma grande quantidade de silte fosse depositada .
(1 )
Estes t ó picos sã o transcritos com a permiss ã o de um dos autores que sobrevive aos demais, Dr .
James D . Beaton .
FERTILIDADE DO SOLO
4 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
Com o passar do tempo, o homem observou que certos solos nã o iriam produzir
satisfatoriamente quando cultivados continuamente. A prá tica de adicionar estercos de
animais ou restos de vegetais ao solo, para restaurar sua fertilidade, provavelmente foi
decorrente dessas observa ções, mas nã o se sabe como e quando a aduba çã o realmente
começou . A mitologia grega, entretanto, oferece uma explica çã o pitoresca: Augeas, um
lend á rio rei de Elis, era famoso por seu está bulo, que tinha 3.000 cabeças de bovinos.
Este está bulo nã o havia sido limpo por 30 anos e o rei contratou Hércules para limpá -lo,
concordando em dar-lhe 10 % do seu rebanho em pagamento. Diz-se que Hércules fez o
seu trabalho, fazendo passar pelo está bulo o Rio Alpheus, removendo os detritos e
presumivelmente fazendo com que estes ficassem depositados nas terras adjacentes. O
rei Augeas se recusou a pagar o prometido seguindo-se uma guerra em que Hé rcules
matou o rei.
Mesmo no épico poema grego a Odisséia, atribuído ao poeta grego cego Homero, que
se acredita ter vivido entre 900 e 700 aC, é mencionada a aplicação de estercos em videiras,
pelo pai de Odisseu . Também é mencionado um monte de esterco, fato que sugere uma
sistemá tica coleta e armazenamento deste material. Argos, o fiel cã o de ca ça de Odisseu,
é descrito como estando em cima de tal monte de esterco quando o seu dono voltou
depois de uma ausência de 20 anos. Esses escritos sugerem que o uso de estercos era
uma pr á tica agrícola na Grécia, nove séculos antes de Cristo.
Xenofonte, que viveu entre 434 e 355 aC, observou que
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 5
O valor dos adubos verdes, particularmente das leguminosas, foi logo reconhecido.
Teofrasto observou que um tipo de feijã o ( Vicia fava ) era incorporado pela ara çã o por
agricultores da Tessália e Macedônia. Verificou que, mesmo quando densamente semeada e
quando grandes quantidades de sementes eram produzidas, a cultura enriquecia o solo.
Segundo Catã o (234-149 aC ), á reas pobres com videiras deveriam ser plantadas
com cultura intercalar de Acinum . Nã o se sabe que cultura é essa , mas sabe-se que ela
nã o era deixada até produzir sementes, inferindo-se que ela seria incorporada ao solo.
Ele afirmava ainda que as melhores leguminosas para enriquecer o solo eram: feijã o,
trevo lupino e ervilhaca .
O trevo lupino era muito popular entre os povos antigos. Columelo listou numerosas
leguminosas, incluindo tremoço ( Lupinus sp.), ervilhaca, lentilha, ervilha, trevo e alfafa,
que eram adequados para a melhoria do solo. Muitos dos escribas da época concordavam,
entretanto, que o trevo lupino era o melhor como adubo verde porque crescia bem sob
grande variedade de condições do solo, fornecia alimento para o homem e para os
animais, era f á cil de semear e crescia com rapidez.
Virgílio (70-19 aC) recomendava o uso de leguminosas, como é indicado na passagem
seguinte:
" ou ,
mudando a estação , você semear á o trigo amarelo , onde antes você
tinha colhido grãos de leguminosas com ferrugem nas vagens , ervilhaca e
lupino amargo de talos frágeis ou arvoredos praguejados" .
O uso do que é agora chamado de corretivos e fertilizantes minerais não era totalmente
desconhecido das antigas civiliza ções. Teofrasto sugeria a mistura de diferentes solos
com a finalidade de "corrigir defeitos e adicionar for ça ao solo". Esta prá tica pode ter
sido benéfica sob vá rios aspectos. A adição de solo f értil sobre um solo inf értil poderia levar
FERTILIDADE DO SOLO
6 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
... mas , o solo salgado , e com acentuado sabor amargo ( onde o milho não se
desenvolve ) , irá dar prova de sua característica . Pegue do teto enfumaçado
esteiras de vime e peneiras das prensas de vinho. Encha-as com a terra de
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 7
má qualidade , adicione água doce que brota da fonte e esteja certo de que
toda a água ir á drenar e grossas gotas passar ão pelo vime . O seu gosto ser á
o ind ício de sua qualidade e o amargor ao ser percebido ser á mostrado por
um gesto de desagrado nos rostos dos provadores .
Columelo também sugeriu um teste de sabor para medir o grau de acidez e salinidade
dos solos, e Plínio afirmou que o sabor amargo dos solos poderia ser detectado pela
presença de ervas negras e subterr â neas.
Plínio escreveu que "entre as provas que o solo é bom está a espessura comparativa
do colmo do milho" e Columelo afirmou simplesmente que o melhor teste para a
adequabilidade da terra para uma cultura específica seria se ela poderia nele crescer.
Muitos dos escribas no passado (e, sobre este assunto, muitos ainda hoje ) acreditavam
que a cor do solo era um critério para avaliar sua fertilidade. A id éia geral é que solos
pretos eram f érteis e que solos claros ou cinzas eram inf é rteis. Columelo nã o concordava
com este ponto de vista, ressaltando a infertilidade dos solos negros de pâ ntanos e a alta
fertilidade dos solos claros da Líbia . Ele acreditava que fatores, como estrutura, textura
e acidez, eram melhores guias para se estimar a fertilidade do solo.
A era dos Gregos de cerca de 800 a 200 aC foi, sem d ú vida, uma é poca á urea . Muitos
dos feitos de homens deste período refletem um trabalho de gênio inigualá vel . Seus
escritos, sua cultura , sua agricultura foram copiados pelos Romanos, e a filosofia de
muitos dos Gregos deste período dominou o pensamento do homem por mais de 2000 anos.
FERTILIDADE DO SOLO
8 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 9
chuva ou á gua destilada . Após um per íodo de cinco anos, van Helmont terminou o
experimento. A á rvore pesava 169 libras e três onças (76,7 kg ). Ele só nãó pôde explicar
a varia çã o de peso de duas onças (56,6 g) das 200 libras (90,7 kg ) de solo originalmente
usadas. Por ter adicionado apenas á gua, sua conclusã o foi que a á gua era o ú nico
nutriente da planta . Ele atribuiu a perda de duas on ças de solo ( 56,6 g) ao erro
experimental.
O trabalho de van Helmont e suas conclus õ es err ó neas foram, na verdade,
contribuições valiosas para o nosso conhecimento, pois, apesar de serem erradas,
estimularam investiga ções posteriores cujos resultados levaram ao melhor entendimento
da nutriçã o de plantas;
O trabalho de van Helmont foi repetido v á rios anos mais tarde por Robert Boyle
(1627-1691), na Inglaterra . Boyle é provavelmente mais conhecido por expressar a relaçã o
do volume de um gás a determinada pressã o. Ele tinha também interesse por biologia e
era um grande defensor de mé todos experimentais na solução de problemas relacionados
com a ciência . Ele acreditava que a observa ção era o ú nico caminho para a verdade.
Boyle confirmou os resultados de van Helmont, mas foi mais além. Como resultado das
aná lises químicas que ele fez em amostras de plantas, concluiu que as plantas continham
sais, terra e óleo, todos eles formados da á gua .
Mais ou menos na mesma é poca, J. R. Glauber (1604-1668), um químico alem ã o,
sugeriu que salitre (KNOs) e nã o a á gua era o "princípio da vegetaçã o". Ele coletou o sal
de currais de gado e ponderou que o sal vinha das fezes dos animais. Ele afirmou que,
como os animais comem forragem, o salitre deve ter sido originado das plantas. Quando
ele aplicou esse sal às plantas, ele observou substancial aumento no crescimento das
plantas, concluindo, ainda, que a fertilidade do solo e o valor do esterco eram totalmente
devidos ao salitre.
John Mayow (1643-1679), um químico inglês, deu suporte às afirma ções de Glauber.
Mayow estimou as quantidades de salitre no solo em vá rias épocas durante o anó e
encontrou a maior concentra çã o na primavera . Nã o encontrando nada durante o verã o,
ele concluiu que o salitre tinha sido absorvido ou succionado pela planta, durante seu
período de crescimento r á pido, à medida que era aplicado ao solo.
Por volta do ano de 1700, entretanto, foi feito um estudo que pode ser considerado
excepcional e que representou um avanço considerá vel para o progresso das ciências
agr á rias. Um inglês de nome John Woodward, que estava familiarizado com o trabalho
de Boyle e van Helmont, fez crescer plantas de hortelã em amostras de água que ele tinha
obtido de v á rias proced ências: á gua de chuva, á gua de rio, á gua de esgoto e á gua de
esgoto mais mofo de jardim . Cuidadosamente, ele mediu a quantidade de á gua
transpirada pelas plantas e anotou o peso das plantas no início e no fim do experimento.
Ele observou que o crescimento das plantas foi proporcional à quantidade de impurezas
na á gua e concluiu que o material da terra ou solo, ao invés de á gua, era o princípio da
vegetaçã o. Apesar de nã o ser totalmente correta, a conclusã o representou um avanço no
conhecimento e sua técnica experimental foi consideravelmente melhor do que qualquer
outra anterior.
FERTILIDADE DO SOLO
10 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMARã ES GUILHERME
Havia muita ignor â ncia em rela çã o à nutriçã o de plantas naquela é poca . Muitas
id éias estranhas surgiram, tiveram evid ência ef é mera e foram esquecidas. Parte dessas
id éias foi introduzida por outro inglês, Jethro Tull (1674-1741). Tull foi educado em
Oxford , o que era considerado um pouco fora do comum para uma pessoa com propensã o
à agricultura . Ele parece ter tido interesse pela política , mas problemas de sa úde o
forçaram a uma aposentadoria no campo. Ele levou a cabo vá rios experimentos, a maioria
envolvendo prá ticas agr ícolas. Ele acreditava que o solo deveria ser finamente pulverizado
para dar o "sustento adequado" para a planta em crescimento. De acordo com Tull, as
partículas do solo seriam, na verdade, ingeridas através de aberturas nas ra ízes das
plantas. Ele acreditava que a pressã o causada pela expansã o das ra ízes em crescimento
for çava as partículas finas do solo para dentro das " bocas dos vasos das raí zes" , após o
que, entraria no " sistema circulat ório" das plantas.
As id éias de Tull sobre nutriçã o de plantas eram, no mínimo, bizarras. Seus
experimentos, entretanto, levaram ao desenvolvimento de dois valiosos equipamentos
de cultivo: a plantadeira em linha e o cultivador puxado por cavalos. Seu livro Horse
Hoeing Husbandry foi, por muito tempo, considerado um texto importante no meio agrícola
inglês.
Ao redor de 1762, John Wynn Baker, um partidá rio de Tull, estabeleceu uma fazenda
experimental na Inglaterra , cuja finalidade era a exibiçã o p ública dos resultados dos
experimentos agrícolas. O trabalho de Baker foi elogiado mais tarde por Arthur Young
que, entretanto, alertava os leitores para terem cuidado ao dar crédito excessivo aos
cá lculos, tomando por base os resultados de somente alguns anos de trabalho, um
cuidado que é tã o importante hoje como quando foi feito originalmente.
Um dos mais famosos agricultores ingleses do século dezoito foi Arthur Young
(1741 -1820) . Young realizou trabalhos em vasos para encontrar aquelas substâ ncias
que poderiam melhorar a produtividade das culturas. Ele fez crescer cevada em areia, à
qual adicionava materiais como carvã o, óleo de m á quinas, esterco de galinha, vinho,
salitre, pólvora , piche, ostras e numerosos outros materiais. Alguns dos materiais
promoveram o crescimento das plantas e outros não. Young, um escritor prolífico, publicou
o trabalho intitulado Annals of Agriculture , em quarenta e seis volumes, que foi muito
considerado e teve um grande impacto na agricultura Inglesa .
Muitas das publica ções envolvendo agricultura nos séculos dezessete e dezoito
refletiam a id éia de que as plantas eram compostas de uma substâ ncia, e a maioria dos
autores, durante esse período, estava buscando este principio da vegetação. Por volta de
1775, entretanto, Francis Home afirmou que nã o havia apenas um princípio, mas
provavelmente vá rios, entre os quais se incluíam ar, á gua, terra, sais, óleo e fogo em um
estado fixo. Home acreditava que os problemas da agricultura eram essencialmente
aqueles de nutriçã o das plantas. Ele realizou experimentos em vasos para avaliar os
efeitos de diferentes substâ ncias no crescimento das plantas e fez análises químicas de
materiais das plantas. Seu trabalho foi considerado valioso pilar no progresso da
agricultura científica.
O descobrimento do Oz por Priestley foi a chave para outras descobertas que
avançaram muito na explica çã o dos mistérios da vida das plantas. Jan Ingenhousz
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 11
FERTILIDADE DO SOLO
12 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
livro The Elements of Agricultural Chemistry, em 1813, afirmou que, embora algumas plantas
pudessem absorver seu C do ar atmosf érico, a maior parte era absorvida pelas ra ízes.
Davy estava tã o entusiasmado com sua crença que ele recomendava o uso de óleo como
fertilizante em funçã o do seu teor de C e H.
A metade do século dezenove até o início do século vinte foi o período em que
ocorreu grande progresso na compreensã o da nutriçã o de plantas e da aduba çã o das
culturas. Dentre os homens desse per íodo com grandes contribuições está Jean Baptiste
Boussingault (1802-1882 ), um qu ímico francês muito viajado, que estabeleceu uma
propriedade na Alsá cia, onde levou a cabo experimentos de campo . Boussingault
utilizava as t écnicas cuidadosas de de Saussure, pesando e analisando os estercos que
ele aplicava nos seus experimentos e também as culturas que ele colhia . Ele manteve um
balanço que mostrava quanto dos v á rios nutrientes de plantas vinham da chuva, do solo
e do ar, analisava a composiçã o das culturas durante v á rios est á dios de crescimento, e
determinou que a melhor rota çã o de culturas foi aquela que produziu a maior quantidade
de matéria orgâ nica , alé m daquela adicionada por meio do esterco. Boussingault é
considerado por alguns como o pai da experimenta çã o de campo.
Justus von Liebig (1803-1873), um químico alemã o, muito efetivamente "fez desabar"
o mito do h ú mus. A apresenta çã o de seu trabalho em respeitado congresso científico
mexeu com os conservadores de tal forma que somente alguns cientistas desde aquela
época ousaram sugerir que o conte ú do de C nas plantas vem de outra fonte que nã o o
C02. Liebig fez as seguintes afirma ções:
1. A maior parte do C nas plantas vem do dióxido de C da atmosfera .
2. H e O v ê m da á gua .
3. Os metais alcalinos sã o necessá rios para a neutraliza çã o dos á cidos formados
pelas plantas como resultado de suas atividades metabólicas.
4. Os fosfatos sã o necessá rios para a forma çã o das sementes.
5. As plantas absorvem tudo indiscriminadamente do solo, mas excretam de suas
ra ízes aqueles materiais que nã o sã o essenciais.
Nem todas as id éias de Liebig, entretanto, eram corretas. Ele pensava que o ácido
acé tico era excretado pelas raízes. Ele também acreditava que o NH4+ era a ú nica forma
de N absorvida e que as plantas poderiam obter esse composto do solo, esterco ou do ar.
Liebig acreditava firmemente que, analisando a planta e estudando os elementos que ela
continha, poder-se-ia formular um conjunto de recomendações de fertilizantes com base
nessas análises. Era sua opinião, também, que o crescimento das plantas era proporcional
à quantidade de substâ ncias minerais disponíveis nos fertilizantes.
A lei do mínimo , estabelecida por Liebig, em 1862, é um guia simples, mas lógico,
para se fazer a previsã o das respostas das plantas à aduba çã o. Essa lei diz o seguinte:
campo pode conter a disponibilidade mínima de um mínimo de um
" cada
ou mais nutrientes . Com esse mínimo , seja calcário, K , N , ácido fosf órico ,
magnésia ou qualquer outro nutriente, as produtividades apresentam uma
FERTILIDADE DO SOLO
\
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR íCOLA 13
Por muito tempo, e mesmo hoje em alguns lugares, os agricultores foram relutantes
em acreditar que a fertilidade poderia ser mantida somente pelo uso de fertilizantes
minerais. Os primeiros trabalhos em Rothamsted, entretanto, provam, de maneira
conclusiva, que isso pode ser feito. Uma das provas mais inquestioná veis nesse sentido
é o relato do experimento denominado Broadbalk Winter Wheat, comparando fertilizantes
orgânicos e minerais, iniciado em 1843, e utilizado até hoje ( Lawes Agricultural Trust,
1984). Desde o início, vê m sendo aplicados, anualmente, uma série de tratamentos. De
1979 a 1983, portanto 150 anos após o início do experimento, foi colhido trigo sarraceno,
cujos valores de produçã o média (cinco anos) aparecem dentro das respectivas colunas
(Figura 1).
FERTILIDADE DO SOLO
14 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
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Testemunha PKNaMg N 2PKNaMg Esterco Esterco: 35 t ha*1 ano 1 +
35 t ha 1
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ano 1 N 2: 96 kg ha -1 ano 1 de N
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Tratamento
grande volume de material e trabalho intenso para aplica ção ao solo), durante 150 anos,
pode substituir a aduba çã o com fertilizantes minerais. E també m óbvio qué a adubação
mineral balanceada , que produziu a média de 5,7 t ha 1, pode substituir a aduba çã o '
orgâ nica e que o simples enriquecimento da aduba çã o orgâ nica com 96 kg ha 1 de N de '
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR íCOLA 15
Ele também demonstrou que a reaçã o era um fenômeno que ocorria em duas fases, primeiro
n
a am ónia sendo convertida em nitrito e, subsequentemente, em nitrato.
r
Warrington, entretanto, nã o foi capaz de isolar os organismos responsáveis pela
i. nitrifica çã o. Esta tarefa foi resolvida por S. Winogradsky, que fez o isolamento usando
uma placa com sílica -gel, em vez do meio de cultura de á gar, porque esses organismos
sã o autotr óficos e obtê m seu C do C02 da atmosfera .
Com referência ao comportamento err á tico das plantas leguminosas em rela çã o ao
!
N, dois alemã es, Hellriegel e Wilfarth, em 1886, conclu íram que uma bactéria deveria
J
estar presente nos nódulos das ra ízes das leguminosas. Mais tarde, estes organismos
foram associados à sua capacidade de assimilar N 2 gasoso da atmosfera para convertê-
lo em uma forma que poderia ser utilizada por plantas superiores. Esta foi a primeira
informaçã o específica em relaçã o à fixa çã o de N2 pelas leguminosas. Hellriegel e Wilfarth
utilizaram, como base para os seus argumentos, as observa ções feitas em alguns dos
seus experimentos. Eles, entretanto, nã o isolaram os organismos responsá veis por esse
f. processo. Isto foi feito mais tarde por M.W . Beijerinck, que chamou o organismo de
Bacillus radicícola.
ú mida para repor nutrientes perdidos pela remoçã o das culturas e lixiviação. Ruffin era
um observador cuidadoso, um estudioso e possuía uma mente aguçada e inquisitiva.
Apesar de ser o uso do calcá rio para aumentar a produçã o das culturas conhecido em
outros continentes, essa foi aparentemente uma nova experiência na América.
FERTILIDADE DO SOLO
!
16 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
prolongada . Hilgard deu significâ ncia particular para esse fato. A digestão em ácido
forte tornou -se muito popular e aná lises de solos foram feitas por esse m é todo. Mais
tarde, foi mostrado que havia pouca fundamenta ção para assumir que esta técnica poderia
obter dados de maior valor e o seu uso foi descontinuado.
Dois cientistas que muito contribu íram para o desenvolvimento do interesse por
fertilidade do solo nos Estados Unidos foram Milton Whitney e C.G. Hopkins. No início
do século 20, eles engajaram-se em uma controvérsia que atraiu atençã o nacional e que,
de fato, tornou-se muito amarga. Whitney defendia que o suprimento total de nutrientes
nos solos era inexaur ível e que o fator importante sob o ponto de vista de nutriçã o de
plantas era a taxa pela qual estes nutrientes iam para a solu çã o do solo. Hopkins, por
outro lado, acreditava que essa filosofia iria levar à exaustão do solo e a sério declínio na
produçã o das culturas. Ele fez um levantamento dos solos de Illinois e considerou a
fertilidade do solo compar á vel a um sistema semelhante à "contabilidade". Como
resultado desses estudos exaustivos, ele concluiu que os solos de Illinois necessitavam
apenas de calcá rio e P. Ele pregou essa doutrina de forma tão eficaz que o uso de calcá rio
e fosfato de rocha nas culturas do milho, aveia e rotações com trevo foi uma prá tica
contínua nesse Estado por muitos anos.
A controv érsia entre Whitney e Hopkins finalmente diminuiu. As id éias de Whitney
foram mostradas, pelo menos parcialmente, incorretas, mas os argumentos conflitantes
muito fizeram para estimular o pensamento dos cientistas agr ícolas desse per íodo.
Logo na virada do século 20, a maior parte das estações experimentais tinha parcelas
experimentais no campo que mostravam os benef ícios extraordiná rios da aduba çã o.
Como resultado desses experimentos, os principais problemas de fertilidade do solo
podiam ser geralmente delimitados. Foi mostrado, por exemplo, que havia generalizada
necessidade de fertilizantes fosfatados, que K era geralmente deficiente nos solos da
regiã o da planície costeira, e que N era particularmente deficiente nos solos do sul do
país. Os solos a leste do rio Mississipi eram geralmente ácidos e precisavam de calcá rio,
enquanto aqueles a oeste desse rio eram, regra geral, bem supridos de Ca . Embora um
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 17
quadro geral do estado de fertilidade dos solos dos Estados Unidos tenha sido
razoavelmente bem definido, logo se tornou aparente que recomenda ções generalizadas
de fertilizantes, com base nesse conhecimento, não deveriam ser feitas. Cada propriedade
requeria atençã o individual, assim como cada talhã o da propriedade. O interesse por
análises para avalia çã o da fertilidade do solo "explodiu " mais uma vez .
Durante os ú ltimos 30 anos, muito progresso foi alcan çado no sentido de
compreender os problemas de fertilidade do solo . Enumerar os estudos cujas
contribuições levaram ao progresso no conhecimento iria requerer muito mais espaço do
que o disponível neste capítulo. Esses avan ços n ã o foram de trabalhos de cientistas de
um ú nico pa ís. Os ingleses, que começaram seus trabalhos ao redor de 1600, continuaram
a dar grandes passos nesse sentido. Os pesquisadores da Fran ç a, Alemanha,
Escandiná via, R ú ssia , Canad á, Austr á lia, Nova Zelâ ndia , assim como dos Estados
Unidos e outros pa íses, solucionaram muitos problemas que dificultavam o progresso
da ciência. Os frutos desses estudos sã o aparentes em todos os lugares, fazendo com que
a produ çã o agrícola nos pa íses desenvolvidos seja mais alta hoje do que nunca antes, e
o mundo livre, de maneira geral, é hoje mais bem alimentado, com melhores vestuá rios e
moradias do que em qualquer é poca no passado . Isto nã o poderia ser possível se a
produçã o das culturas hoje estivesse no patamar da Europa durante o "escurantismo"
da Idade Média, quando a produtividade média de grã os era de 6 a 10 bushels acre 1 (450
'
a 750 kg ha 1).
'
FERTILIDADE DO SOLO
18 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
Em muitas á reas nos mais diversos pa íses, grandes extensões de terra que eram
consideradas marginais para a produçã o das culturas por causa da falta de á gua estã o
hoje com altas produtividades em decorr ência do desenvolvimento de sistemas de
irriga çã o com pivot-centrais. Poços sã o perfurados no centro desses campos, a á gua é
transferida para as lavouras por aspersores ligados a tubos condutores alto-propelidos
que se movem em círculos sobre a á rea. Centenas de hectares podem ser irrigados com os
maiores sistemas. Fertilizantes fluidos e pesticidas podem também ser distribuídos por
esses sistemas. Em decorr ência da elimina çã o de umidade do solo como fator limitante
ao crescimento de plantas, pode-se obter maior eficiência no uso de fertilizantes e os
custos de produçã o podem diminuir. Para que essas fontes de á gua de alto custo sejam
utilizadas do modo mais eficiente pelas culturas, o suprimento de nutrientes deve ser
otimizado.
Em muitas regiões semi-á ridas do mundo, existem desenvolvimentos promissores
na capta çã o de á gua e uso mais eficiente da umidade para a produçã o das culturas.
Sistemas de produçã o das culturas envolvendo esses mé todos de manejo da umidade do
solo, em conjunto com outros fatores para a obtençã o de altas produtividades, tais como:
aduba çã o, variedades e híbridos e é poca de plantio, precisam ser continuamente
estudados.
A eficiê ncia da irriga çã o é um tema importante em v á rias á reas do mundo que
apresentam limitado suprimento de água para uso agrícola . Irrigaçã o por gotejamento
pode reduzir em 50 % a água atualmente em uso nos sistemas convencionais de irrigação.
Necessidade de fertilizantes e sistemas para sua aplica çã o sob irriga çã o por gotejamento
precisam de mais estudos.
Aná lise de solos e de plantas como instrumentos para determinar as necessidades
de calcá rio e de fertilizantes para as culturas tem sido utilizada por muitos anos. A
utiliza ção dessas técnicas continua e está aumentando. Entretanto, n ú mero considerá vel
de informações adicionais é necessá rio antes dessas aná lises se tornarem mais do que
guias refinados de calagem e aduba çã o das culturas. Aduba çã o foliar com outros
nutrientes, além dos micronutrientes, promete tornar-se uma prá tica agrícola em algumas
á reas. Entretanto, em decorrência de resultados inconsistentes, mais pesquisas sã o
necessá rias para determinar quais as condições sã o determinantes para obtençã o de
respostas desse mé todo de adubaçã o.
Melhorias têm sido obtidas e dever ã o continuar a ser alcançadas no desenvolvimento
de materiais fertilizantes mais eficientes. Alguns dos materiais que têm sido ou estã o
sendo desenvolvidos incluem os fertilizantes nitrogenados de liberação lenta, polifosfatos
de alta concentra çã o, compostos magnesianos adequados para uso em fertilizantes
fluidos completos, micronutrientes na forma de quelatos e fertilizantes com altos teores
de S para uso em fertilizantes sólidos e líquidos.
Concomitantemente ao desenvolvimento dessas novas tecnologias e produtos, deve-
se efetuar uma avalia çã o contínua de sua eficiê ncia por meio de experimentos de curto e
longo prazo. Esse tipo de experimentaçã o no campo é uma exigência necessá ria ao
contínuo aumento da eficiê ncia de produçã o das culturas. Altas produtividades das
culturas impõem diferentes exigências de nutrientes. Doses de fertilizantes que dão
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGRí COLA 19
tetos de produtividades de 12 t ha -1 ou mais. Alé m disso, com a calibra çã o das aná lises
de solos geralmente obtidas anos atr ás, doses dos nutrientes necessá rias para teores
diferentes de aná lises de solo podem ser muito baixas para as altas produtividades das
culturas hoje obtidas e maiores ainda no futuro.
Um novo desenvolvimento aparece com destaque no horizonte, o qual pode ter um
impacto profundo na produçã o agrícola e no desenvolvimento recente da ciência: a
gené tica molecular . Por meio desta técnica de transplante de genes, qualidades desejáveis
de um gênero ou espécie podem ser transferidas para outra . Se e quando esta ciência
tornar -se perfeita , é concebível que maior eficiê ncia fotossinté tica, mais altos teores de
proteínas e vitaminas, melhor resistência a doenças e pragas, e outros fatores podem ser
introduzidos em outras espécies desejá veis de culturas . Estas altera ções gené ticas
poderã o causar grande impacto nas exigências nutricionais e, conseqiientemente, nas
prá ticas de aduba çã o.
Progressos na agricultura dependem de pesquisas de alta qualidade. Para cada
problema resolvido por um cientista, hoje, muitos outros aparecem. Pesquisadores
agrícolas devem investigar questões de natureza fundamental, aquelas que tratam mais
do por que das coisas do que do o que .
N ã o é objetivo deste cap í tulo cobrir todos os eventos significativos do
desenvolvimento da ciência da Fertilidade do Solo. Muitos dados foram omitidos e
muito mais poderia ser escrito. Certamente, os avanços obtidos no fim do século 19 e no
século 20 foram grandemente responsá veis pelo está dio atual de nosso conhecimento.
Esses avanços foram apenas superficialmente cobertos neste capítulo, mas, nos capítulos
seguintes deste livro, confirma-se a importâ ncia desses eventos para o progresso da
fertilidade do solo. Em resumo, espera -se que este capítulo dê ao seu leitor algumas
id éias em relaçã o ao tempo, esfor ço e pensamentos que foram dedicados nos últimos
4.500 anos para acumular aquilo que ainda é conhecimento insuficiente.
FERTILIDADE DO SOLO
20 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 21
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Esterco fresco ( com palho ) de cavalo
Esterco fresco ( com palha ) dc gado bovino
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Esterco fresco ( com palha ) dc carneiro
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Esterco ordin á rio totalmcutc fermentado 790 !: 145 5,8 3,0 j 5,0 1,3 8,8 13 13 1 ,6 j 17,0
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Agua de esterco 982 ]i 7 «3 0,1 ) 4,9 ;
1,0 0,3 0,4 0,7 1,2 | 0,2
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Esterco fresco de pato 566 í 262 10,0 14,0 j 6,2 } 0,5 17,0 3,5 3,5 28,01
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Esterco fresco de ganso 771 j 134 5,5 5,4 j 9,5 | 13 8,4 2 ,0 1,4 14,0
Esterco fresco de galinha
Esterco fresco de pomba
560 I 255 163 15,4 j 8,5
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17,6 173 i 10,0
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Figura 2 . Resultado de aná lises químicas de alguns estrumes nacionais realizadas no Instituto
Agronómico do Estado de Sã o Paulo.
Fonte: Dafert (1895) .
FERTILIDADE DO SOLO
22 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
Pesquizas feitas com o intuito de determinar ( tanto quanto for necessá rio
para poder formar o juizo seguro sobre a possibilidade de seu aproveitamento
industrial ) a quantidade e a qualidade das jazidas de Apatite , deram o mais
satisfactorio resultado. A rocha contendo Apatite , que est á á mostra em
dois pontos diversos , indica uma possança relativamente enorme , talvez
não inferior a do pró prio minereo de Fe . Três amostras tiradas em diversos
pontos e submetidas á analyse deram, de acido phophorico: 16 ,36 a 30 ,38 % .
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 23
Outro trabalho bastante amplo e que merece destaque foi o do Professor Dr . Paul
Wagner sob o título: “ A applicação de adubos articiciaes na cultura das arvores fructiferas ,
legumes , flores e nos jardins" , traduzido do alemã o , com autorizaçã o do autor pelo diretor,
em 1893 (Wagner, 1985). Foi, talvez, um dos mais completos guias de recomenda çã o de
aduba ção em português, publicados até entã o, embora essas recomendações nã o tenham
sido baseadas em uso de técnicas da diagnose da fertilidade do solo, como as aná lises de
solos e a foliar , comuns nos dias atuais. Inicia com uma discussã o sucinta sobre de que
substâ ncias vive a planta e quais as substâ ncias mais importantes para a aduba çã o das
plantas, nos capítulo I e II. No capítulo III, é feita uma descrição detalhada dos adubos
mais importantes para á rvores frutíferas e legumes, para as flores e jardins existentes no
mercado ( escoria de Thomas e superphosphato, salitre chileno e sulfato de ammoniaco , chlorureto
de K e sulfato de potassa , farinha de chifre , res íduos de sementes oleaginosas , os chamados saes
aliment ícios puros - phosphato de K , phosphato de ammoniaco e azotato de potássio - , e mistura
de saes aliment ícios para plantas de jardim em vasos ) .
Um aspecto interessante dos chamados saes aliment ícios mencionados anteriormente
é que estes talvez se constituam numa das primeiras menções de fertilizantes foliares ou
de fertirriga çã o no Brasil, nas palavras textuais do autor :
" Chamarei sal aliment ício uma mistura de saes de estrumação concentrados ,
que recommenão para a estrumação de jardins e de plantas em vasos. O sal
aliment ício compôe- se de: 30 partes de phosphato de ammoniaco; 25 de
azotato de sódio ( salitre do Chile ); 25 de azotato de K e 20 de sulfato de
ammoniaco e em 100 partes cont êm 13 partes de acido phosphorico, 13 de
azoto e 11 de potassa . Esta mistura de saes que se póde mesmo preparar ou
comprar em qualquer negocio de estrumes , é applicavel a todas as culturas.
Escolheu -se , segundo a propor ção das substancias aliment ícias , de modo
que corresponda mais ou menos á necessidade media de estrumação das
varias plantas de cultura , e , na escolha dos saes aliment ícios , foi considerado
que entre os ácidos e as bases ( também das substancias accessorias que existem
em quantidades mí nimas ) procure - se obter a rela ção equilibrada . É
muit í ssimo recommendavel o emprego do sal aliment í cio em f ó rma de
solu ção , contendo 1 g de sal em 1 litro de água" .
FERTILIDADE DO SOLO
24 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
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I . 0 g Ácido II . 1/4 g Ácido III. 1 /2 g Ácido
phosphorico phosphorico em phosphorico em
forma de forma de farinha fina
superphosphato de “escoria de Thomas”
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 25
Programa do IRI
Um dos programas mais importantes envolvendo os aspectos de fertilidade do solo
e produtividade das culturas no Brasil foi o iniciado em 1950 pelo Instituto de Pesquisas
IBEC, que, em 1963, passaria a denominar-se Instituto de Pesquisas IRI (Harrington &
Sorenson, 2004). Fundado pelos irmã os David e Nelson Rockefeller e associados, os
fundos para a fase inicial vieram pessoalmente dos irmãos Rockefeller e do "Fundo
Irmãos Rockefeller", que por 14 anos ininterruptos sustentaram os trabalhos num período
cr ítico por envolver as fases de descoberta, confirma çã o e desenvolvimento inicial do
uso das á reas de Cerrados. As fases seguintes de adoçã o e implementa çã o receberam
aportes substanciais da USAID e da Fundaçã o Ford, contando, ainda, com a participaçã o
de v á rios grupos privados dos setores de corretivos, fertilizantes, defensivos e da
ind ústria algodoeira . V á rias organiza ções do governo brasileiro, bem como in ú meras
pessoas individualmente, também colaboraram por meio de análises laboratoriais e outros
tipos de assistê ncia. Em Sã o Paulo, O Instituto Agronómico de Campinas ( IAC ) e a
Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ) foram grandes colaboradores.
Um fato interessante é que uma das missões originais do IRI no Brasil era identificar
as razões do declínio da produçã o de caf é nas terras exauridas de Sã o Paulo e corrigi-las
economicamente. O envolvimento do IRI com os problemas de fertilidade dos solos de
Cerrado era originalmente projeto de nível secund á rio.
Em 1950, quando o IRI iniciou seu trabalho, o sistema tradicional de produçã o de
caf é no Brasil incluía a derrubada da mata, a queima da madeira e o plantio da lavoura
nas á reas desmaiadas. A fertilidade natural do solo era explorada por 20 ou 30 anos.
Após esse período, a produtividade geralmente declinava abaixo do ponto de interesse,
quando entã o as á reas eram abandonadas e destinadas a pastagens e explora çã o da
pecuá ria . Esse sistema apresentava in ú meras repercussões negativas. Na medida em
que as lavouras de caf é eram abandonadas e as á reas eram destinadas a atividades com
menor demanda de m ã o-de-obra, como a pecuá ria e outras culturas menos lucrativas,
ocorria uma desagregaçã o nas comunidades locais e suas economias. Já nessa época, a
prá tica de "derrubar e queimar" já havia consumido a maior parte da mata virgem do
Estado de Sã o Paulo. Simultaneamente, as plantações de caf é foram sendo empurradas
rapidamente para as regiões de clima marginal do Paraná, onde as geadas constituíam
uma ameaça constante.
O Programa de Lavouras de Caf é, sob o comando de James C. Medcalf , constituía-se
num programa prá tico e focado no campo, tendo como base a Fazenda Cambuhy ( também
chamada de Fazendas Paulistas), em Matã o, Estado de Sã o Paulo, e com a coordenação
do Instituto Agronómico de Campinas, instituiçã o líder na pesquisa do caf é no Brasil. A
maioria dos plantios dessa fazenda deu-se na é poca do "boom" do caf é durante a década
FERTILIDADE DO SOLO
26 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 27
Projeto FAO/ANDA/ABCAR
Em 1969, a ANDA (Associa çã o Nacional para Difusã o de Adubos ) deu início a um
ambicioso projeto, visando instalar 500 campos de demonstra ção de resultados de adubos
em lavouras de arroz, milho, feijão e algod ã o no sul de Goiás, no Triâ ngulo Mineiro e no
sul de Minas Gerais. Posteriormente, estes se estenderam para o Mato Grosso e, em 1975,
já compreendiam 3.000 campos experimentais.
A inspiradora e parceira do projeto foi a Organiza çã o das Na ções Unidas para a
Alimenta çã o e Agricultura (FAO), que há seis anos comandava o mesmo tipo de açã o em
17 pa íses. Isso resultou em 45 mil demonstra çõ es de resultados instalados em
propriedades rurais para cerca de 1 milhão de agricultores, como um projeto da Campanha
Mundial Contra a Fome. Outra importante parceira do programa foi a Associaçã o
Brasileira de Crédito e Assistência Rural ( ABCAR ), entidade à época responsá vel pela
extensã o rural em todo o Pa ís . Tal foi o êxito do projeto, conhecido como Projeto FAO /
ANDA / ABCAR, que ele foi estendido para outras regiões do Pa ís em 1972 e chegou aos
Estados do Nordeste, da Bahia ao Maranhã o, que apresentavam um consumo incipiente
de fertilizantes, os quais eram utilizados na cultura da cana -de-a çúcar, em Pernambuco,
e na do fumo, em Alagoas. Na época, foram instalados 300 ensaios de aduba çã o e
;
1.500 campos de demonstra çã o envolvendo as culturas do algod ã o, milho, mandioca,
abacaxi, arroz e feijã o.
Em 1977, por solicita ção do agente financeiro da região, o Banco do Nordeste, o
projeto foi prorrogado por três anos e abrangeu mais seis produtos: cana-de-açúcar, soja,
citros, mamona, cebola e sorgo. Coordenado pelo escritório regional da ANDA no
Nordeste, em ' Recife, comandado primeiro por Marcos Rocha e depois pelo saudoso
Hermano Gargantini, que foi chefe da se çã o de Fertilidade do Solo do Instituto
Agronómico de Campinas, o trabalho mobilizou o Ministério da Agricultura, Secretarias
FERTILIDADE DO SOLO
28 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMARã ES GUILHERME
Opera çã o Tatu
Outro programa que influenciou a fertilidade do solo, especificamente em nível
regional, no Rio Grande do Sul, foi a famosa Operação Tatu. O relato que segue, adaptado
de Freire et al. (2006) e SBCS-CQFS ( 2004), mostra que, nas décadas de 1950 e 1960, quem
de Porto Alegre subisse ao Planalto Riograndense a partir de Soledade encontraria uma
só paisagem até o rio Uruguai, para oeste, na fronteira com a Argentina: campos com
capim barba-de-bode ( Aristida pallens ) , indicador de solo pobre, e uma ou outra pequena
lavoura de trigo ou de mandioca. A estrada era pavimentada até São Leopoldo, sendo o
centro de cimento, e as laterais, de pedra . Até a fronteira era terra batida, de Santa Maria
para o norte, à fronteira de Santa Catarina, a paisagem era a mesma.
Nas cidades, poucas ind ústrias de m á quinas agr ícolas rudimentares, "atafonas"
para a produçã o de farinha de mandioca . Aquela paisagem mudava apenas na regiã o
de Santa Rosa, com as pequenas lavouras coloniais de milho, mandioca e, principalmente,
soja. Esta era comum ser plantada intercalada com outra planta, como milho ou mandioca.
A situaçã o geral da pesquisa agronó mica, especialmente em fertilidade do solo,
tinha bases err óneas, isto é, a baixa produtividade. Não se considerava a real necessidade
das plantas para o crescimento e produtividade adequados. Adubos e corretivos eram
simplesmente taxados de "antieconô micos". As recomenda ções técnicas eram para
reduzir o uso de insumos: 500 a 1.000 kg ha 1 de calcá rio; e 50 kg ha 1 de P2Os, isto é,
' '
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 29
O primeiro município onde foi instalado o projeto foi Ibirubá, sendo executado pelo
Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da UFRGS (que à época mantinha
um convénio de coopera çã o técnica com a Universidade de Wisconsin, EUA, pela
Secretaria da Agricultura, pelo Minist é rio da Agricultura por meio do IPEAS e pelo
Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA) .
Esse trabalho foi repetido em Santa Rosa , expandindo-se, a partir de 1967, para Três
de Maio, Tuparendi e Horizontina, sob a coordena çã o da Associaçã o Rural de Santa
Rosa e da Associaçã o Sulina de Crédito e Assistência Rural ( ASCAR ). Em 1968, já havia
solicitaçã o de 80 municípios para participar do projeto, que objetivava corrigir a acidez
e a fertilidade do solo, além de controlar a erosã o e estimular o emprego de melhores
cultivares e a adoçã o de novas prá ticas de cultivo.
A comunidade local é que fazia o projeto considerando a necessidade de calcá rio,
fertilizante, crédito, etc., envolvendo o agrónomo, o técnico rural, o agente do banco, o
prefeito, as entidades de classe, enfim, os líderes da comunidade. Os estudantes de pós-
gradua çã o colhiam as amostras do solo e procediam às análises químicas para determinar
a necessidade de calcá rio, P, K, teor de maté ria orgâ nica e a aduba çã o nitrogenada para
as culturas nã o-leguminosas.
O Banco do Brasil passou a considerar a primeira aplica çã o de calcá rio e fertilizantes
como investimento (pagamento de três a cinco anos) e as posteriores eram consideradas
custeio. Lavouras demonstrativas eram estabelecidas. Caravanas de ônibus de outras
regiões iam ver os resultados em Santa Rosa . Para a obtençã o de crédito do Banco, era
necessá rio comprovar a aná lise do solo e a compra de inoculante de rizóbio para a soja .
Surgiram entã o outros laboratórios de análise do solo, além da Secretaria de Agricultura,
UFSM, UFRGS, UFPEL, e foi criada a rede Riograndense e Catarinense de Laborató rios
de Aná lise de Solo (ROLAS). Nessa é poca, a produtividade de soja no Estado era de
1.200 kg ha 1.
"
de calcá rio passaram a ter a recomendação de 4.000 a 5.000 kg ha 1 ou mais, para atingir
"
de calcá rio e de fertilizantes teve alto incremento, além de outras medidas de melhoria de
manejo, conserva çã o do solo e variedades mais produtivas.
A Operaçã o Tatu manteve a ções intensas até 1974, estendendo-se, pelo menos, até
1976. Uma avalia çã o dos efeitos desse projeto foi feita por Mielniczuk & Anghinoni
(1976), em 20 lavouras, nos municípios de Santa Rosa, Tapera e Espumoso. Após um
período de cinco a sete anos da primeira aplicaçã o de calcá rio, o pH médio passou de 4,8
para 5,6 e a necessidade de calcá rio de 6,9 para 2,2 t ha 1, o que correspondia a um efeito
"
FERTILIDADE DO SOLO
30 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
NO Estado de Santa Catarina, a partir dos resultados obtidos pela "Opera çã o Tatu"
no Estado do Rio Grande do Sul, foi elaborado o Plano de Recuperaçã o da Fertilidade do
Solo, em meados de 1968, denominado "Opera çã o Fertilidade", para ser executado a
partir de 1969, com dura çã o prevista até 1975. Os trabalhos de campo foram executados
no município de Nova Veneza , regiãio sul do Estado, em 1969, com a instala çã o de 16
lavouras demonstrativas com a cultura do milho, seguindo as normas técnicas
preconizadas pelo "Plano", dentre elas, adubaçã o corretiva e de manutençã o e calagem
pelo índice SMP para atingir pH 6,0. Nessas lavouras, foram aplicadas, em média ,
8,1 t ha 1 de calcá rio. O rendimento médio dessas lavouras foi de 5.040 kg ha 1. Nos anos
'
seguintes, o "Plano" se expandiu para todo o Estado, e o consumo de calcá rio atingiu
aproximadamente 50.000 t, em 1970, e 300.000 t, em 1980. Os trabalhos de campo, a partir da
safra de 1970 / 71, foram executados pela Secretaria da Agricultura daquele estado e pela
Associa çã o de Crédito e Assistência Rural do Estado de Santa Catarina ( ACARESC).
Destacam-se na elabora ção e execução do projeto da Operaçã o Tatu da Universidade
de Wisconsin, EUA - John Murdock e Marvin Beaty J. R. e pela Faculdade de Agronomia
da UFRGS - José G . Stammel, Joã o IVJielniczuk , Sé rgio Wolkweiss e Egon Klamt, Joã o
Rui Jardim Freire; pela ASCAR ( Emater ) Paulo Kappel, e, como l íder local, Pedro
Carpenedo, entre outros.
Talvez as maiores contribuições resultantes da Opera çã o Tatu tenham sido a
introdu çã o do princípio da calagerri total, ou seja, a aplicaçã o, em uma só vez, da
quantidade de calcá rio necess á ria para corrigir a acidez do solo ao nível desejado e
o desenvolvimento do conceito das aduba ções corretivas ( principalmente de P e K ),
utilizadas na recupera çã o da fertilidade do solo, hoje difundidas em todo o País.
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 31
de fertilidade conhecidas, para aferição dos resultados. A adição das soluções extratoras
( KC1, para extra çã o de Ca, Mg e Al, e o extrator Mehlich-1 (H2S04 + HC1), para extraçã o
do K e P), era feita nos onze erlenmeyers que continham as amostras dispostas em bandejas
de Al, por meio de um sistema de pipetagem automá tica a vá cuo . Em seguida, essas
bandejas com as amostras eram levadas a um agitador horizontal para o período normal
de agitaçã o e extraçã o. Após a agitaçã o e um período de repouso durante a noite, tiravam-
se, també m via pipetagem automá tica, onze extratos do líquido sobrenadante por vez .
Outros conjuntos de pipetadores eram utilizados para se obterem alíquotas dos extratos
de KC1, para a determina çã o do Ca e Mg trocá veis por titula çã o com EDTA, e de Al
trocá vel, por titulaçã o com NaOH 0,025 mol L 1; dos extratos do Mehlich-1, onze alíquotas
"
FERTILIDADE DO SOLO
32 ALFREDO SCHEID LOPES & LUIZ ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 33
FERTILIDADE DQ SOLO
34 ,
ALFREDO SCHEID LOPES & L UIZ ROBERTO GUIMARã ES GUILHERME
As premissas b ásicas estabelecidas pelo Dr. Cate foram as seguintes: (1) abaixo de
dado teor ( nível crítico) de um nutriente no solo (determinado por análise de amostra
obtida num laborató rio padronizado), a probabilidade de resposta à aduba ção com este
elemento será muito maior do que quando o teor revelado pela análise estiver acima do
nível cr ítico; ( 2) a quantidade de adubo que pode ser aplicada pelo agricultor depende
da rela çã o entre o valor prov á vel da produçã o e o custo do adubo, e (3) quando os solos
estiverem bem abastecidos com P e K e nã o houver problema de acidez, quase sempre
haverá resposta aos adubos nitrogenados (Cate & Vettori, 1968). É interessante notar
que, neste trabalho, para aquela época os critérios para interpretaçã o de P, K, Ca + Mg e
AI eram apenas baixos (abaixo do nível ^ crítico) e médio / alto (acima do nível crítico).
Em â mbito estadual ou regional, foram publicados trabalhos muito mais elaborados
e completos no Rio Grande do Sul (1969 ), Goi ás (1970), Minas Gerais (1971), Espírito
Santo (1977), Paraná (1978), Sã o Paulo (1985) , Distrito Federal (1987) e Rio de Janeiro
(1988). Edições mais atualizadas dessas recomenda ções foram elaboradas nos Estados
de Sã o Paulo (1996), Pernambuco (1998), Minas Gerais (1999), Espírito Santo (2001), Rio
Grande do Sul e Santa Catarina ( 2004). Para a regiã o dos Cerrados, o livro "Cerrado:
Correçã o do Solo e Aduba çã o", editado pelos pesquisadores do CPAC, Djalma M. G. de
Souza e Edson Lobato, em 2002, atende à filosofia de trabalho adotada em outros Estados
e regiões abrangidas pelos Cerrados brasileiros.
Fator relevante para que se atinjá a Produtividade Má xima Económica das mais
diversas culturas é, alé m do uso de doses adequadas de fertilizantes e corretivos, que
esses produtos tenham garantias quanto à sua qualidade.
Foi pensando nisto que a ANDA instituiu, em maio de 1973, sob a responsabilidade
do Professor José Carlos Alcarde (da ESALQ-USP), coordenador até os dias atuais, o
Programa Interlaboratorial de Metodologia de Análise de Fertilizantes. Esse Programa,
que envolveu as empresas associadas à ANDA, teve, como objetivo básico, uniformizar e
aferir os trabalhos dos laboratórios que serviam de apoio aos sistemas de controle da
qualidade da produçã o nas empresas. Consistia na distribuiçã o de amostras homogéneas
de fertilizantes aos laboratórios das émpresas, que as analisavam com seus próprios
métodos e remetiam os resultados à ANDA, para serem estatisticamente avaliados. Com
base nessa avalia çã o, os resultados eram discutidos em reuniões mensais. Inicialmente,
os m étodos eram os utilizados nas próprias empresas. Logo houve a necessidade de
padronizar esses mé todos para que todos os laborató rios pudessem empregá -los. Em
seguida, passou-se a estudar os problemas analíticos e a introduzir novos mé todos, o
que vem ocorrendo até hoje. Atualmente, a distribuiçã o de amostras e reuniões sã o
bimestrais. Os laboratórios que mostram bom desempenho no ano, de acordo com critérios
preestabelecidos, recebem o Certificado de Proficiência Anual.
Por volta de 1980, foi criado o Programa Colaborativo de Controle de Qualidade,
como objetivo de estudar, analisar e discutir os diferentes aspectos técnicos que envolvem
o controle da qualidade da produçã o de fertilizantes.
Hoje, esses dois Programas constituem o Comité de Qualidade da ANDA, que conta,
atualmente, com a participação de cerca de 55 laboratórios das maiores e mais importantes
empresas de fertilizantes do Brasil. Esse Comité, além de proporcionar meios e facilidades
para a avalia ção do controle da qualidade nas empresas, tem proporcionado inestimá veis
colaborações ao Ministério da Agricultura no sentido de oferecer critérios para aperfeiçoar
a legisla çã o e a fiscaliza çã o da produ çã o e comércializa çã o de fertilizantes no Brasil.
FERTILIDADE DO ! SOLO
36 ALFREDO SCHEID LOPES &I Luiz ROBERTO GUIMARã ES GUILHERME
Um dos fatores mais limitantes à produçã o agr ícola na regiã o dos Cerrados é a alta
probabilidade da ocorr ência de veranicos durante a esta çã o das chuvas, associada à
baixa capacidade de retenção de umid à de e ao limitado crescimento do sistema radicular
de v á rias culturas imposto pela deficiência de Ca e toxidez causada pelo AI no subsolo.
A descoberta do efeito do gesso èm subsolos, promovendo crescimento radicular
com aproveitamento da á gua em camadas mais profundas de solos durante veranicos,
criou a expectativa de se poder melhorar os solos ao longo do perfil, para estimular o
maior crescimento radicular. O gesso (CaS04.2H20), sal neutro, solú vel em água (2,5 g L 1),
"
é lixiviado ao subsolo onde reduz o efeito tóxico que o AI tem sobre as ra ízes, além de
eliminar a deficiência de Ca, que também impede o crescimento radicular .
Entretanto, o que poucos sabem é que o início dos estudos desses efeitos do gesso
agrícola surgiu mais ou menos por acáso. No início da d écada de 70, um agricultor do
Paraná, Sr. Luiz Souza Lima , adquiriu uma propriedade no Distrito Federal, ao lado do
PADEF - Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal, que foi o segundo
grande assentamento agrícola na regiã o dos Cerrados. Por tradiçã o trazida do Sul, esse
agricultor utilizava, como fonte de P, o superfosfato simples, enquanto os agricultores do
PADEF, a maioria formada por japoneses, utilizavam, como fonte desse nutriente, o
^
termofosfato e o superfosfato triplo. E epois de uns 10-12 anos explorando a á rea, houve
um veranico de mais de vinte dias de dura çã o fazendo com que o milho e a soja dos
agricultores do PADEF apresentassem! severos sintomas de estresse hídrico e as mesmas
culturas na propriedade do Sr . Souza Lima mantivessem um crescimento e
desenvolvimento normais, sem demonstrar estresse hídrico.
O fato chamou a aten çã o de pesquisadores do CPAC (Centro de Pesquisas
Agropecuá rias dos Cerrados - Embrapa ), que abriram trincheiras nas duas propriedades
e observaram que o sistema radicular « jlas culturas na á rea do PADEF alcançavam 60 cm
de profundidade e que, na propriedade ao lado, as ra ízes das mesmas culturas estavam
a 120 cm de profundidade. O solo era praticamente o mesmo e o ú nico fator de manejo
diferente era a fonte de P, como já mencionado. Começou-se entã o a especular que o
maior aprofundamento do sistema radicular na propriedade do Sr. Souza Lima seria,
possivelmente, resultante do efeito do uso contínuo, durante 10 a 12 anos, do superfosfato
simples, que, como se sabe, apresenta, por tonelada, cerca de 480 kg de gesso, e que esse
componente teria minimizado os efeitos do baixo teor de Ca e elevado teor de AI trocáveis
no subsolo, permitindo maior aprofuridamento do sistema radicular.
O que se seguiu a essa observa çã o foi uma verdadeira explosão de trabalhos de
pesquisa que visavam estudar os mais diferentes aspectos quanto aos efeitos do gesso
agrícola no aprofundamento do sistema radicular. Esses trabalhos envolveram estudos
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 37
(2 > Baixos em valores, mas nã o em rela çã o aos n íveis cr í licos para solos de boa fertilidade.
FERTILIDADE DO SOLO
38 ALFREDO SCHEID LOPES &. Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
A técnica que permitiu a viabilizaçã o do mé todo nas análises de rotina foi a solução
^
de um dif ícil problema pr á tico, que ra separar a resina do solo ap ós 16 h de agitaçã o da
suspensã o em á gua . A desagrega çã o da terra foi obtida por meio de bolas de vidro
colocadas antes da adi çã o da resina, o que permitiu a separaçã o, por peneiramento, da
resina do solo após a agita çã o de 16 h.
Al é m disso, para permitir a automa çã o na execu çã o desse m é todo, foram
desenvolvidos, v á rios equipamentos. A adoçã o desse mé todo em 93 laboratórios no
Brasil e até no exterior é um atestado da supera çã o dos problemas técnicos iniciais e da
adequa çã o do seu uso nas aná lises de rotina para avalia çã o da fertilidade do solo.
Esse m é todo alternativo surgiu após o conceito de satura çã o por bases ser proposto
como critério de calagem, pela primeira vez, no Brasil, no Instituto Agronó mico de
Campinas (IAC), segundo o trabalho de Catani & Gallo (1955), no qual a acidez potencial
era extra ída por uma soluçã o de acetato de Ca 0,5 mol L 1 a pH 7,0 e posterior titula çã o
'
^
equilíbrio da suspensã o solo-solu ã o tampã o SMP. Esse procedimento permite a
determina çã o de H + Al em amostras de solo com até 30 cmolc dm 3, com coeficiente de
"
variaçã o inferior a 6 %. O processo é prá tico e adequado aos laboratórios de rotina . Esse
procedimento de determina ção da acidez potencial tornou viável a introdução do método
da satura çã o por bases como oficial para a recomenda çã o de calagem no Estado de Sã o
Paulo, sendo hoje, também, utilizado em v á rios outros Estados da Federaçã o.
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 39
FERTILIDADE DO SOLO
40 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMARã ES GUILHERME
Sistema IAC - B: cloreto de bá rio; Cu, Zn, Mn e Fe: DTPA a pH 7,3; e (3) Sistema Mehlich-1 -
Zn, Cu, Mn e Fe: Mehlich-1; B: á gua qjuente.
Para mais detalhes sobre micronutrientes consultar capítulo XI.
Fixaçã o Biol ógica de Nitrogénio
O desenvolvimento do conhecimíento sobre fixaçã o biologia de N2 ( FBN), no Brasil,
ocorreu notadamente nas plantas leguminosas, sendo a FBN, um dos fatos mais marcantes
na dinâ mica de N no sistema solo-planta-atmosfera . Embora seja um assunto intimamente
ligado à Microbiologia do Solo, sua importâ ncia e a inter -rela çã o com a Fertilidade do
Solo no Brasil justificam um tópico neste histó rico.
No Instituto Agronó mico de Campinas ( IAC ), instituição com mais de 100 anos de
exist ncia, foram iniciados os estudos sobre Microbiologia do Solo no Brasil, envolvendo
ê
as á reas de decomposi çã o de resíduos, fixa çã o biol ó gica do N ( FBN ) e testes
microbiológicos de fertilidade do solo. Os primeiros trabalhos sobre avalia ção da
quantidade de N fixado por leguminosas e sobre a inocula çã o, realizados no IAC, são do
final do século dezenove e início do século vinte. Na d écada de 30, foi produzida grande
quantidade de inoculante para alfafa e, no seu final, quando já se dispunha de algumas
variedades de soja selecionadas no Estado de Sã o Paulo, a importâ ncia do cultivo dessa
leguminosa e da inocula çã o eram enfatizados. Nesse período, o Serviço da Ind ústria
Animal do Estado de Sã o Paulo também produziu inoculantes e conduziu testes com
inoculantes para soja com resultados positivos.
A filosofia do uso da FBN como forma exclusiva de adiçã o de N para nutriçã o da
soja foi consolidada a partir da d écajia de 50 e, desde entã o, vem fundamentando os
programas de melhoramento de leguminosas do IAC. Para assegurar a adoção da técnica
da inocula çã o da soja, o IAC produzia inoculante que era distribuído pelos Postos de
Sementes e comercializado nas Casas da Lavoura, com recomendaçã o e instruções para
uso, integrando três ó rgã os da Secretaria da Agricultura do Estado. Esse sistema
funcionou até o surgimento de empresas privadas que se interessaram pela produçã o de
inoculante.
Também no início da década de 50, outros dois importantes núcleos de Microbiologia
do Solo foram criados no Brasil: o IPAGRO, no Rio Grande do Sul, e outro, no km 47 da
Antiga Estrada Rio-São Paulo, no Estajio do Rio de Janeiro, hoje Embrapa- Agrobiologia,
em Seropédica, RJ.
|
1
A contribuiçã o prá tica da FBN pode ser mensurada pelos n úmeros decorrentes do
uso de inoculantes de rizóbio em diversas culturas, substituindo total ou parcialmente
os fertilizantes nitrogenados e propiciando uma economia significativa nos custos de
produçã o (Quadro 1) .
No Brasil, o melhor exemplo é á soja. A á rea plantada com essa cultura foi de
21,4 milhões de hectares (englobando as cinco regiões do Brasil) em 2003, resultando na
segunda maior produçã o entre as lavòuras anuais em 2004: 49,8 milhões de toneladas de
grã os com produtividade média de 2,3 t ha 1. Considerando que os gr ãos apresentam
'
FERTILIDADE DO SOLO
..
Ar
Quadro 1 . Exemplos de leguminosas nodulíferas com respectivas taxas de fixa ção biológica de N
2
Leguminosa N
i kg ha 1 ano 1
' *
Fonte: Moreira & Siqueira (2006) citando Calegari et al. (1993); Hardarson (1993); Peoples et al. (1995).
FERTILIDADE DO SOLO
i
42 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
FERTIILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 43
apresentam baixa fertilidade do solo o que, aliado a condições de relevo íngreme, pode
afetar sobremaneira a produ çã o agrícola (WRI, 2000).
I Mas, o que vem a ser um solo f értil ? Todo solo f értil é necessariamente produtivo?
Quais são as causas da baixa fertilidade dos solos?
Conforme já enfatizado, abaixa fertilidade dos solos pode ter tanto causas naturais
quanto antr ópicas. Como causas naturais, destacam -se que a génese do solo e o
intemperismo como principais fatores causadores da baixa fertilidade, particularmente
em grande parte das regiões tropicais e subtropicais, onde a remoçã o de nutrientes do
solo é mais acelerada, em razã o das condições de altas temperaturas e precipitações
i .
pluviais. O fato de o Brasil possuir grande extensões de terra com problemas de fertilidade
relacionados com a alta acidez e toxidez por Alj alé m de alta capacidade de fixaçã o de P,
é, em grande parte, consequência de sua localizaçã o na regiã o tropical.
Alé m das causas naturais, també m aquelas antrópicas - provocadas pelo manejo
inadequado do solo - podem ser causadoras dá baixa fertilidade dos solos. Uma dessas
FERTILIDADE bo SOLO
44 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMARã ES GUILHERME
Quadro 2. Á reas agr ícolas ( valores relativos) afetadas por adversidades em diferentes regiões
agroclimá ticas do mundo
Percentual da á rea
total 14, 4 23 ,5 9, 4 13,8 20,1 18,0 0,8 100
Livre de
adversidades 8, 4 5,5 24,1 14, 6 25,5 23,1 31 ,6 16, 2
Drenagem pobre 7,9 13,1 5,6 14,7 13,1 24 , 3 33,9 14,0
Baixa capacidade de
'
troca de c á tions 11 , 8 8,9 3, 2 0,2 0,1 0,6 0 4, 2
Toxidez de AI 7, 2 41 ,5 1/ 1 25, 3 1/1 14, 3 13,9 17, 2
i
causas antr ópicas é a exaustã o de nutrientes do solo provocada pelas retiradas pelas
culturas, maiores que pelas adições via aduba çã o. Estimativas diversas neste sentido
revelam que o déficit anual médio de nutrientes no Brasil encontra-se entre 25 e 35 kg ha -i
de N + P2Os + K20, OU seja, o estoque de nutrientes do solo está sendo esgotado ano após
ano. Isso pode levar até mesmo solos knteriormente considerados f érteis a tornarem-se
nã o-f érteis, tendo, assim, sua capacidade produtiva prejudicada . Levantamento do
International Soil Reference and Infcjrmation Centre (ISRIC), atualmente World Soil
Information, estimou que cerca de 240 milhões de hectares de solos no mundo (á rea
equivalente à regiã o dos Cerrados brasileiros) estã o comprometidos no que diz respeito
à sua integridade química, o que está ligado, dentre outros fatores, à deficiência de
nutrientes, a qual representa a maior causa de degradaçã o química dos solos no mundo,
atingindo cerca de 136 milhões de (dos quais 68 milhões de hectares localizam-
hectares
se na Am rica do Sul) (Oldeman et al.) 1991).
é
Um ponto importante a considerar quando se trata de baixa fertilidade provocada
por causas naturais ou até mesmo por exaustã o do solo é que estas duas primeiras
causas podem ser corrigidas facilmente, mediante reposição de nutrientes via adubaçã o
mineral e orgâ nica, bastando, para isso, que o agricultor fa ça uso da análise de solo e de
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 45
Um dos piores aspectos da erosão e que afeta grandemente a fertilidade dos solos é
a perda da matéria orgâ nica do solo (MOS). Também prá ticas de manejo inadequadas,
como, por exemplo, a adoção do cultivo intensivo, em vez do cultivo mínimo ou do
plantio direto, podem levar à queda rá pida dò teor de MOS. Isto é particularmente
relevante em solos altamente intemperizados, localizados na regiã o tropical, como é o
caso de extensas á reas do Brasil. A MOS pode ser considerada o indicador mais simples
e entre os mais importantes para se medir a quajidade do solo e, consequentemente, dos
agroecossistemas. Alguns efeitos benéficos que a MOS proporciona são:
1. Estabiliza e agrega partículas de solo, reduzindo a erosã o;
2. Provê uma fonte de C e energia para os ihicrorganismos do solo;
3. Melhora o armazenamento e o fluxo de á gua e de ar no solo;
4. Armazena e provê nutrientes como N, P e S;
5. Mantém o solo menos compactado e mai$ f ácil de trabalhar;
6. Retém C da atmosfera e de outras fontes;
7. Retém nutrientes como Ca, Mg e K, pois aumenta a CTC do solo; e
\ i
Figura 4 . Evoluçã o da produçã o agrovçgetal ( toneladas de maté ria seca ) das 16 principais
culturas no Brasil em compara çã o com o consumo de fertilizantes minerais
. (N + P205 + KzO) no período de 1970-71 a 2002 -03.
Fonte: ANDA (2003); IBGE (2005) .
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 47
Esse aumento, de 71 kg ha 1, foi maior do que a mé dia histó rica de consumo no Brasil, de
"
para 602 kg ha 1, em 1990 / 91, e para 545 kg ha:1, em 1998. Essa queda de consumo de
"
fertilizantes na Holanda se justifica. Com grandè parte de solos arenosos e lençol freá tico
elevado, as altas taxas anuais de aplica ção de fertilizantes minerais, aliadas à grande
utiliza çã o de esterco animal, levaram a Holanda a ter sérias restrições ambientais e ao
estabelecimento de limites má ximos desses insumos utilizados na agricultura.
Em 1998, o Brasil aumentou o seu consumo médio para 110 kg ha 1, em 2002 para "
138 kg ha 1 de nutrientes e, em 2004, atingiu 15i4 kg ha 1 ( Figura 7), o que, sem d ú vida,
" "
foi um dos fatores mais importantes para os reqentes aumentos na produção de grã os.
FERTILIDADE Dó SOLO
48 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
A
?
i
Figura 6. Produtividade mé dia da China e do Brasil para v á rias culturas em 2004. Nesse ano,
a produçã o total desses grã os foi de 455 milhões t para a China e de 113 milh ões t para o
Brasil.
Fonte : ANDA ( 2005); FAO (2005).
600 -, 2004:
T 154
£ 500 - kg ha 1 645
O 400.
2002: 2002:
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300 138 428 1
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FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR íCOLA 49
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Figura 9 . Consumo de fertilizantes (N + P2Os + K 2Q) para várias culturas no Brasil em 2000
(números dentro das colunas) e 2004 (nú merosj
acima das colunas) .
Fonte : ANDA ( 2001, 2005) .
\
FERTILIDADE DO SOLO
50 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
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/- - ; > '* ^
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Anos N / P2Os / KjO
N 50 0,33 / 1 ,00 / 0,50
0, 2 - 60 0,50 / 1 ,00 / 0,65
0
1970 75 80 85 90 95 00 2004
Ano
3
2 ,82
2 ,5 -
2-
o
ro 1 ,5 -
a>
tz
1 -
0 ,5 - 0 ,65:
O
N P2Oe KjO N P2OB KJO N P2Oe K O
^
Com soja Sem soja Paí ses com agricultura
Brasil tecnificada
Figura 11. Relações de consumo de fertilizantes (kg ha 1 de N / P2Os / KzO) no Brasil ( total e "
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 51
O baixo consumo de N pode ser confirmado por um estudo de Yamada & Lopes
(1999) . Assumindo uma eficiência m é dia de 60 % para o N, 30 % para o P e 70 % para o
t
K e a exporta çã o ( remoçã o dos nutrientes pela produçã o ) estimada para as 16 principais
culturas, chegou-se ao seguinte d éficit anual estimado de nutrientes, tomando como
base dados médios do per íodo 1993-1996: (a ) 888 mil toneladas de N, mesmo considerando
todo o N da soja e do feijã o como provenientes da fixa ção biológica; (b ) 414 mil toneladas
de P2Os, e (c) 413 mil toneladas de K 20. Atualiza çã o desses dados para o ano de 2002
indica que esse d éficit manteve-se em rela çã o a N, aumentou para o P e reduziu para K,
atingindo, respectivamente, 859, 514 e 324 mil toneladas (FAO, 2004 ).
Esses dados nã o significam que se está consumindo a quantidade adequada de P e
de K, mas que, dentre os três macronutrientes, o subconsumo é muito mais cr ítico em
rela çã o ao N. Esses dados mostram que o d éficit total de nutrientes corresponde a cerca
de 30 % do consumo atual no Pa ís, representando um déficit por á rea da ordem de 25 a
30 kg ha 1 de nutrientes. Eles revelam, ainda , que, na mé dia, o processo produtivo da
"
l
agricultura, nas taxas atuais de consumo de fertijlizantes, está, em realidade, minando o
recurso solo. Isso pode, no longo prazo, levar a ê onsequ ências altamente danosas para
a sustentabilidade da nossa agricultura.
Outro fator que pode justificar a baixa produtividade média de grande n ú mero de
culturas no Brasil é a utiliza çã o de doses insuficientes de calcá rio, apesar das respostas
espetaculares em rela çã o aos aumentos de produçã o e rela çã o benef ício-custo (Figura
!
9.000 n
1
7.677. | | Eín kg ha '
w
8.000 - Custo do calcá rio
JR Aumenjto de produção
o 7.000 - mfj No 1o ano
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6.000 - v “Sv í m No período
«J
2 5.000 - ¥32$
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FERTILIDADE DO SOLO
52 ALFREDO SCHEID LOPES 8Í. Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
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Ano
Figura 13, Evolu çã o do consumo aparente, em relaçã o à capacidade instalada de moagem (50
milhões t ano 1) de calcá rio no Brasil (em milhões de toneladas) no per íodo de 1984 a 2004
"
brasileira - os dados mostrados anteriormente indicam que isso nã o é o caso. O fato, sim,
é que é necessá rio aumentar tanto o uso eficiente de fertilizantes como o de calcá rio.
Essa subutiliza çã o tanto de fertilizantes, principalmente os nitrogenados, como de
calcá rio e de outras tecnologias disponíveis de comprovada eficiência, leva a uma questão:
Qual é seu reflexo na produtividade, principalmente em rela çã o aos alimentos bá sicos?
Os dados da figura 15 comparam as produtividades médias de arroz ( Brasil vs China ),
milho( Brasil vs EUA), trigo( Brasil vs França ), feijã o e soja ( Brasil vs EUA ) no Brasil com
pa íses que apresentam altas produtividades médias. Percebe-se que, no caso da soja, em
que o uso de alta tecnologia é quase uma regra nas á reas de cultivo, a produtividade
média brasileira aproxima-se à de um grande proiiutor mundial, como os Estados Unidos.
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Rela çã o de consumo calc á rio /fertilizantes em 2002 = 0, 97:1
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Ano
Figura 14. Evolu çã o da rela çã o de consumo calcá rio / fertilizantes no Brasil no per íodo de 1973
1
a 2004. j
Fonte: ANDA ( 2005); ABRACAL ( 2005) . !
1
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Figura 15. Produtividade média de algumas culturas no Brasil e outros pa íses em 2004.
Fonte : FAO (2005). I
)
FERTILIDADE DO SOLO
54 ALFREDO SCHEID LOPES 8|Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
com irriga çã o.
Estes n ú meros demonstram que há disponibilidade de tecnologia para que essas
altas produtividades sejam perfeitamente alcançadas, desde que se fa ça uma diagnose
correta das razões dessas diferenças se adotem medidas para que sejam, pelo menos,
reduzidas. ^
Perspectivas
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 55
Embora o Brasil disponha de consider á vel fronteira agr ícola a ser explorada , no
curto prazo, as políticas p ú blicas de apoio à agricultura deveriam, com absoluta
prioridade, incentivar o aumento da produtivic ade com sustentabilidade nas á reas j á
incorporadas ao processo produtivo e n ã o a simples expansã o da fronteira agr ícola .
Existem estimativas que o Brasil apresenta 180 milhões de hectares de pastagens nativas
ou melhoradas. Destas, 90 milh ões de hectares estã o degradados ou em início de
degrada çã o. Se, desses 90 milhões de hectares, fossem incorporados 30 milhões no
processo de produçã o de grã os, por exemplo, corji um produtividade média de 4 t ha 1, a "
^
exemplo . Alé m disso, apesar da disponibilidad de terra agricult á vel per capita estar
decrescendo em nível mundial - de 0,42 ha em 1965 para 0,23 ha em 1995 -, o que ocorreu
no Brasil, no período de 1965-1995, foi um increme|nto de cerca de 10 % na á rea agricultá vel
real per- capita . Com isso, nesse per íodo, saltou ide 0,37 para 0,40 ha ( Figura 16 ) .
Dados mais recentes, levantados por Pinazza ( 2003), com base em estimativas da
FAO para 2002 (Quadro 4), fazem uma compara
çã o da á rea total, cultiv á vel em uso e
disponível para a agricultura no Mundo e no BraLil
. Os dados de que o Brasil apresenta
35 % da á rea disponível para a agricultura no Mundo sã o os mais contundentes quanto
ao nosso potencial de crescimento em á rea, no médio e longo prazo.
9y
FERTILIDADE !
DO | SOLO
56 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
Quadro 4. Compara çã o da á rea total, cultiv á vel, em uso e disponível para agricultura no Mundo
e no Brasil
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Figura 17. A á rea agricult á vel do Brasil (550 milhões de ha ) em compara çã o com a á rea total de
32 países da Europa.
Fonte: Lopes et al. (2003).
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR íCOLA 57
Figura 18. Comparaçã o da á rea do Mato Grosso no prasil com o cintur ã o do milho nos EUA .
Fonte: Lopes et al. ( 2003) .
CONSIDERA ÇÕ ES FINAIS
Embora a Fertilidade do Solo como ciência seja relativamente nova, é notável como
o esfor ço de ensino, pesquisa e extens ã o no Brasil e no mundo, nessa á rea do
conhecimento, teve tantos reflexos amplamente positivos, contribuindo para o
desenvolvimento da agricultura e para o aumento sustentável da produtividade e da
produçã o agr ícola .
Para o caso do Brasil, é notável o acervo de inf òrmações advindo deste esforço conjunto
que resultou, sem d úvida, no reconhecimento do País como líder mundial em tecnologia
de manejo da fertilidade dos solos ácidos da região tropical. A incorporação de 10 milhões
de hectares dos Cerrados, formados por solos considerados marginais para exploraçã o
agrícola intensiva até a década de 60, com a decisiva participação da Fertilidade do Solo
como ciência, foi considerada por Norman BORLAUG, Prémio Nobel da Paz de 1970,
como a maior revoluçã o verde de toda a história da humanidade.
Mas é importante enfatizar que o papel da Fertilidade do Solo transcende à pura e
simples relação com o aumento da produtividade e com o desenvolvimento da agricultura
brasileira, como anteriormente discutido.
Para concluir este capítulo, s ã o apresentados tr ês pontos para reflexã o que
representam o reconhecimento a todos que se dedicaram ao desenvolvimento da
agricultura brasileira, em especial à queles que se dedicaram à Fertilidade do Solo como
instrumento do aumento sustentá vel da produtividade agrícola no nosso País:
1) Aspectos ambientais: No período de 1970 / 71 até 2003 / 04, mesmo estando as
produtividades atuais para algumas culturas ainda longe do ponto de má ximo económico,
a produ çã o das 16 principais culturas no Brasil ( maté ria seca ) passou de 49,6 para
FERTILIDADE DO SOLO
58 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
190,7 milhões de toneladas (aumento de 3,8 vezes); no mesmo per íodo, a produtividade
passou de 1,4 para 3,3 t ha 1 (aumento de 2,6 vezes) e a á rea cultivada passou de 38 para
'
57,6 milh ões de hectares (aumento de apenas 1,5 vez ) . Como consequência, o aumento
da produçã o foi muito mais pelo aumento da produtividade do que pela simples expansão
da á rea cultivada (Figura 19). Esses dados indicam ainda que, se estivéssemos produzindo
hoje (190,7 milhões de toneladas) com as produtividades de 1970 / 71 (1,4 t ha 1), teríamos
'
Por tudo isso, vale a pena enfatizar, mais uma vez, o papel fundamental para o
desenvolvimento sustentá vel que representa o uso de técnicas que levem ao aumento da
produtividade agropecuá ria nas árez s já incorporadas ao processo produtivo. De fato,
ele constitui poderoso instrumento de preserva çã o ambiental, pois diminui as pressões
de desmatamento das á reas
florestadas
, muitas vezes nã o adequadas ao processo
intensivo da produçã o agropecu á ria, deixando mais espa ço para a vida silvestre, a
manutençã o da biodiversidade e a preserva çã o da natureza .
2) Aspectos econó micos: Um dos aspectos mais notá veis pertinentes ao crescimento
da economia brasileira nos últimos anos foi a evolu çã o do agronegócio. O agronegócio
brasileiro, que envolve os segmentos d e "antes da porteira" (dentro da fazenda ), e "depois
da porteira " ( fora da fazenda ) , movimentou , em 2004, recursos da ordem de
Figura 19. Evoluçã o da á rea plantada, produçã o agrovegetal e produtividade das 16 principais
culturas no Brasil 1970 / 71 a 2003 / C 4.
Fonte: Fonte: Adaptado de Lopes et al . (2003); ANDA (2004); IBGE (2005 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
!
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGRí COLA 59
R$ 534 bilhões, o que representa 33 % do Produto Interno Bruto (1.776 bilhões de reais) .
O agronegócio, como um todo, representa ainda 37 % dos empregos e 40 % da exporta ções
( US$ 30,6 bilhões).
Dados publicados pela Revista Veja ( Ano 27, N° 2. de 12 / 01 / 2004 ) mostram que,
em 2003, o Brasil se posicionava no primeiro lugar mundial na exporta çã o dos seguintes
produtos: (a ) a çúcar: vendeu 29 % de todo o açúcar consumido no mundo; (b ) caf é: vendeu
28,5 % do caf é em gr ã o consumido no planeta e 43,6 % do caf é sol ú vel; (c) carne bovina:
assumiu a lideranç a em 2003, com 19 % de participa çã o no mercado mundial; (d ) carne
de frango: foi o primeiro em vendas, com exportações de 1,9 bilhã o de dólares; (e) soja em
gr ã o: deteve 38,4 % do mercado mundial; (f ) suco de laranja: vendeu 81,9 % do suco
distribuído no planeta, e ( g) tabaco: vendeu 23,1 % do tabaco consumido no mundo .
Entretanto, é preciso que os segmentos de "antes da porteira" e "depois da porteira"
se conscientizem de que se a agricultura for mal , isso afetará també m os seus negócios.
De uma forma ou de outra, ambos os segmentos devem perceber que sã o parceiros em
a ções que mantenham as suas "galinhas-dos-o| \ os -de- ouro" produtivas e com ganhos
Figura 20. "Involuçã o" dos índices de preços reais dos produtos da cesta básica no Brasil de
setembro de 1975 a janeiro de 2000.
Fonte : Portugal (2002 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
60 ALFREDO SCHEID LOPES & Luiz ROBERTO GUIMAR ã ES GUILHERME
Dada a relev â ncia dos aspectos supracitados, justifica -se o esfor ço cada vez maior
por parte dos formadores de opiniã o para levar à sociedade brasileira uma mensagem
clara e objetiva sobre a importâ ncia do que representa o desenvolvimento da agricultura
para melhorar as condições de segurança alimentar, nã o apenas interna - no Brasil -
mas de toda a humanidade.
E necessá rio que a agricultura brasileira seja considerada um assunto de segurança
nacional que leve as autoridades constituídas a estabelecerem políticas agr ícolas de
mais longo prazo, para que a nossa voca çã o agr ícola seja exercida em sua plenitude e
<V
nã o por meio de instala çã o de programas do tipo "apaga-incêndio", deixando o futuro
em aberto, ou, o que é na verdade pior, fechado a perspectivas que se vislumbram bastante
promissoras para o Brasil.
A expectativa é que os capítulos seguintes dessa publica çã o possam oferecer aos
profissionais em ciê ncias agrá rias em casamentos sólidos que lhes permitam atingir, no
curto prazo, os anseios como profissi onais, colaborando para que o Pa ís se torne uma
grande Na çã o socialmente mais justa
NOTA i OS EDITORES
O primeiro autor deste capítulo, Prof . Alfredo Scheid Lopes (Prof . Emérito da
Universidade Federal de Lavras), "Alfred ã o", como conhecido por todos nós que o
admiramos e respeitamos, nã o poderia ter seu nome excluído deste brilhante retrospecto
da histó ria da Fertilidade do Solo no Pa ís.
Sua excelente base científica e enorme carisma fizeram do Alfred ã o um prelecionista
brilhante, presença obrigat ó ria nos mais diversos encontros científicos e acad êmicos no
Brasil e no exterior .
Sua participaçã o efetiva na transformaçã o dos solos de Cerrados na realidade
agr ícola atual nã o poderia ser esquecida, a começar pela contribuiçã o de sua tese de
mestrado ("A survey of the fertility status of soils under "Cerrado" vegetation in Brazil,
1975), seguida de sua tese de Ph.D ( Available water, phosphorus fixation, and zinc
^
leveis in Brazilian Cerrado soils in rel tion to their physical, Chemical, and mineralogical
properties), ambas na North Carolina State University, e todo um trabalho continuo, nas
últimas quatro d écadas, dedicado à Fertilidade do Solo, de modo particular dos Cerrados.
Portanto, Alfred ã o tem sido parte importante dessa história que mostra toda a
competência do brasileiro na recupera çã o de solos tropicais, de modo geral.
Este livro não poderia começar de outra maneira que não pelo excelente capítulo
desse destacado cientista.
FERTILIDADE DO SOLO
I - FERTILIDADE DO SOLO E PRODUTIVIDADE AGR í COLA 61
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FERTILIDADE DO SOLO
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FERTILIDADE DO SOLO
PUCPR - Câ mpus Toledo
1/
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Agronomia, Departamento de Solos.
Av . Bento Gon çalves, 7712 - Agronomia, Caixa Pos :al 15.100, CEP 91501-970 Porto Alegre ( RS ) .
egon . meurer @ t .frgs.br
Conte ú do
INTRODUÇÃ O 66
FATORES DE SOLO 66
Fatores de Natureza Física 67
Densidade do Solo 67
Umidade do Solo 70
Umidade do Solo e Absorçã o de Nutrientes 70
Fatores de Natureza Qu ímica 71
Composição Mineralógica do Solo 72
Reaçã o do Solo ( pH ) 73
Disponibilidade de Nutrientes 74
Elementos Tóxicos 76
Presença de Metais Pesados 77
Teor de Matéria Orgâ nica do Solo 78
Reações de Sorção e de Precipitação . 79
Reações de Oxida çã o e Reduçã o (Oxirredu ção) 81
Salinidade 82
Fatores de Natureza Biológica 82
FATORES DE PLANTA 83
Eficiência na Absorçã o de Nutrientes 83
Alelopatia 84
Doenças, Pragas e Plantas Invasoras 84
Sistemas de Manejo 85
FATORES CLIM Á TICOS 85
LITERATURA CITADA 86
SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V., V.H., BARROS,
N.F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R .B. & NEVES, J . C .L.) .
:
66 EGON J . MEURER
INTRODU ÇÃ O
Mais de uma centena de atributos de solo, de planta, de sistemas de manejo e de
clima afetam, direta ou indiretamente, o crescimento dos vegetais. Muitos destes fatores
podem ser controlados, outros nã o, como, por exemplo, os fatores climá ticos (Quadro 1).
Assim, a produçã o e a produtividade ( produçã o por unidade de á rea ) das culturas
sã o dependentes de mais de uma centena de variáveis relacionadas com fatores climá ticos,
com fatores inerentes à pró pria planta e atributos ( propriedades ou caracter ísticas ) do
p
substrato onde ela cresce, que pode ser o solo ou outro meio, como em cultivos
hidropônicos, por exemplo.
tr .
a* Este capítulo analisa , principalmente, os fatores de solo e de planta que influem no
crescimento (e desenvolvimento ) das plantas. Os demais sã o discutidos com menos
detalhes e, algumas vezes, apenas citados; na literatura, encontram-se diversos trabalhos
que abordam com mais profundidade esses tópicos.
Quadro 1. Fatores que influenciam o cre scimento e desenvolvimento das plantas e seu potencial
produtivo
FATORES DE SOLO
Os fatores de solo que influem no crescimento das plantas podem ser classificados
quanto à sua natureza em f ísicos, mineralógicos e químicos e biológicos. Dentre os
fatores de natureza f ísica, destacam- se a estrutura e a textura do solo; dentre os fatores
químicos, a composiçã o mineralógica, a rea çã o do solo ( pH), o teor de matéria orgâ nica,
a disponibilidade de nutrientes, a presença de elementos potencialmente tóxicos e reações
de sor çã o, precipitaçã o, oxida çã o e reduçã o .
FERTILIDADE DO SOLO
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 67
Densidade do Solo
A densidade está intimamente relacionada com a estrutura e com a textura, e as
altera ções na densidade afetam acentuadamente a estrutura çã o do solo, com as
implica ções dela decorrentes. Em geral, quanto maior a densidade, para solos com
texturas semelhantes, mais compacto é o solo, rr .enos definida é a sua estrutura e muito
menor o volume do espa ço poroso.
O aumento da densidade do solo reduz a taxa de difusã o do 02 nos poros do solo e,
conseqiientemente, a respira çã o das ra ízes. Em geral, concentra ções de 02 na atmosfera
do solo menor do que 10 % afetam severamente o crescimento das ra ízes. Em muitos
casos, a inibiçã o do crescimento radicular em solos mal aerados é causada por elevados
níveis de etileno produzido pelas ra ízes (Stolzy 1974; Marschner, 1995).
As principais alterações na densidade estão geralmente associadas com as operações
de preparo do solo para o cultivo, notadamente r .o "Sistema Plantio Convencional". São
FERTILIDADE DO SOLO
68 EGON J. MEURER
decorrentes do trá fego de má quinas sobre o terreno nas opera ções de araçã o, gradagem,
distribuiçã o de corretivos, de fertilmantes, de defensivos, de colheita ou em á reas onde o
pisoteio de animais é intenso . A densidade dos solos, nas condições naturais, situa -se
desde 0,2 a 0,5 kg dm 3 (solos turfosos ) até 1,6 kg dm 3 (solos arenosos) . A altera çã o da
' '
densidade reflete-se diretamente na expansão do sistema radicular das plantas, uma vez
que a modifica çã o da estrutura influi na porosidade, no volume de á gua disponível e no
teor de 02 do solo; em consequ ência , aumenta a resistê ncia do solo à penetra çã o das
ra ízes.
À
A pressã o de crescimento que a raiz pode exercer sobre o solos varia entre espécies,
com valores m édios da pressã o axial que se situam entre 0,9 e 1,3 MPa e para a pressã o
radial entre 0,5 e 0,7 MPa (Taylor & Ratliff , 1969; Eavis et al., 1969 ) . O aumento da
densidade do solo, resultando na sua compacta çã o, ocasiona baixa emergência das
plantas, varia çã o no seu tamanho, folhas amarelecidas, sistema radicular superficial,
ra ízes mal formadas ou tortas, com graves prejuízos para a absor çã o de á gua e nutrientes
(Camargo & Alleoni, 1997; Dias J ú nior , 2000 ) .
Os efeitos da compacta çã o do solo (e seus efeitos relacionados) podem ser observados
nos resultados obtidos com seis espé cies de plantas crescendo em um Latossolo, em casa
de vegeta çã o, que foram submetidas a quatro níveis de compacta çã o: o comprimento de
ra ízes dessas espé cies foi significativamente reduzido pela compacta çã o do solo
(Quadro 2 ), que, alterando a estrutu ra do solo, aumentou a resistência à penetraçã o das
ra ízes, reduziu a porosidade total, c macroporosidade e a taxa de infiltra çã o de á gua,
bem como diminuiu a absor çã o de P, de K, de Ca e de Mg com o aumento da compactaçã o
do solo (Quadro 3) . No segundo nível de compacta çã o, houve aumento da absor çã o dos
nutrientes pelas espécies decorrente da diminuiçã o da tortuosidade do caminho difusivo,
para o P e o K, que sã o supridos nas raízes pelo mecanismo de difusão e pela aproximação
das partículas do solo, para o Ca e Mg , que sã o supridos por fluxo de massa ou intercepçã o
radicular ( Barber, 1995) .
kg cm 2 m
0 308,7 a 439,4 a 78,2 a 228,0 a 84.6 a
6 215,4 b 332,8 b 56,5 b 218,6 a 73.7 ab
11 134,0 c 136,5 c 45,4 b 91,8 b 41,6 bc
18 50,7 d 75,9 d 25, 0 c 43,6 b 8,8 c
(1 )
Médias para compacta çã o dentro de cada espécie, seguidas pela mesma letra, n ã o diferem pelo teste
Tukey a 5 % .
Fonte : Cintra (1980 ).
FERTILIDADE DO SOLO
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTo E o DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 69
Quadro 3. Absor çã o de f ósforo, pot ássio, cá lcio e magnésio por plantas de seis espécies crescendo
em Latossolo, em vasos, submetido a quatro níveis de compactaçã o
N í vel de
Cultura P K Ca Mg
compacta çã o
kg cm - 2 mg / vaso
A resistência que o solo oferece à penetra ção das raízes, além de depender de fatores
intr ínsecos ( textura, estrutura, mineralogia ), é altamente dependente da umidade do
solo. Em solos com umidade muito baixa, a á gua encontra -se retida com maior tensã o
nos poros; a essa tensão somam-se as for ças já existentes entre os seus sólidos, fazendo
com que, em solos com menor umidade, a resistência à deforma çã o ou à penetraçã o de
raízes seja maior (Libardi & Jong van Lier, 1999).
O sistema de manejo do solo pode afetar acentuadamente sua umidade. A cobertura
de um Argissolo com resíduos culturais de palha de trigo (7,5 t ha 1 de palha ), durante o
"
mês de novembro, manteve em torno de 100 g kg 1 a mais de á gua do que o mesmo solo
"
Umidade do Solo
A á gua é fator fundamental na produ çã o vegetal. Sua falta ou seu excesso afeta, de
maneira decisiva, o crescimento das plantas . As culturas durante o seu ciclo vegetativo
e reprodutivo consomem enorme volume de á gua , notando-se que cerca de 98 % deste
volume atravessa a planta , perdendo -se posteriormente na atmosfera pelo processo de
transpira çã o. Este fluxo de á gua é, porém, necessá rio para o crescimento vegetal e, por
este motivo, sua taxa deve ser mant: da dentro dos limites ó timos para cada cultura .
Diversos fatores afetam a absor çã o de á gua pelas plantas, sendo a importâ ncia de cada
um relativa, dependendo de cada casc » em particular. Esses fatores, sem obedecer a uma
ordem preferencial (Reichardt, 1976 , 1978), sã o: (a ) referentes à planta : extensã o e
profundidade do sistema radicular, superf ície e permeabilidade radicular, idade da raiz
e atividade metabólica da planta; ( b ) referentes à atmosfera: umidade relativa do ar,
disponibilidade de radia çã o solar, vento e temperatura do ar, e (c) referentes ao solo:
umidade, capacidade de á gua disponível, condutividade hidrá ulica, temperatura, aeração
e salinidade da á gua do solo.
FERTILIDADE DO SOLO
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 71
A aplicaçã o desta f órmula em condições de campo é dif ícil; entretanto, pode-se observar
o efeito de algumas propriedades do solo que afetam a absor çã o: solos argilosos revelam
maior capacidade de retençã o de á gua (fator 0 ), podendo, portanto, suprir maior
quantidade do nutriente por difusã o do que solos arenosos com o mesmo valor de Cl .
Solos com boas propriedades f ísicas (estrutura, agrega çã o, aera çã o, por exemplo )
propiciam maior crescimento das ra ízes, aumentando, portanto, o fator A e,
conseqiientemente, o suprimento de nutrientes por difusã o ( Anghinoni & Meurer, 2004) .
A difusã o e o fluxo de transpira çã o sã o dois processos que atuam simultaneamente,
visto que absor ção de á gua e nutrientes ocorre, em geral, ao mesmo tempo. No quadro 4,
apresentam -se valores m édios ( percentuais ) paira o suprimento de quatro nutrientes em
12 unidades de solos do Estado do Rio Grande do Sul. O conteú do volumé trico de á gua
do solo foi o fator de solo que determinou o suprimento dos nutrientes à s ra ízes das
plantas de milho, desde que o fluxo de massa e a difusã o sã o processos que dependem
estritamente do volume de á gua do solo. Paira Ca e Mg, observa -se que o fluxo de
transpira çã o (fluxo de massa ) supriu as ra ízes de quantidades muito maiores do que as
necessidades das plantas, em virtude das concentra ções elevadas destes dois nutrientes
na soluçã o dos solos, decorrentes da aplica çã o de calcá rio nos solos para a correçã o do
pH .
0
- //o
FERTILIDADE DO SOLO
72 EGON J . MEURER
al., 2004) . No quadro 5, exemplifica -se, para K, a rela çã o entre o material de origem e os
teores de K trocá vel (forma rapidamente disponível para as plantas ) e os de K total
( reserva potencial de K do solo) em alguns solos do Estado do Rio Grande do Sul.
Uma importante propriedade que os argilominerais conferem ao solo é a de
originarem cargas negativas e positiveis em suas superf ícies, que atraem cá tions e â nions.
Dependendo do tipo de ligaçã o que formam com as superf ícies eletricamente carregadas
dessas partículas, os íons ter ã o maior disponibilidade ( complexa çã o de superf ície de
esfera -externa ) ou menor disponibilidade (complexa çã o de superf ície de esfera -interna )
para as plantas.
Os argilominerais distinguem-se na densidade de cargas que podem gerar em suas
superf ícies. Por exemplo, o mineral secundá rio caulinita, que geralmente é o argilomineral
que predomina nos Latossolos, tem, em geral, baixa densidade de cargas. negativas na
sua superf ície, o que, conseqiientemente, confere a estes solos baixa capacidade de troca
de cá tions (CTC ). Assim, os Latossolos, apresentam, em geral, baixa fertilidade natural.
Por outro lado, solos que contê m maiores quantidades do filossilicato vermiculita
mostram alta reatividade química , visto que apresentam CTC elevada e, em geral, os
solos que contê m este mineral apresentam alta fertilidade natural. Entretanto, a
vermiculita pode fixar o K nas entreccimadas, o que dificulta o manejo deste nutriente.
Quadro 5. Teores de pot á ssio trocá vel e fie total em amostras de alguns solos da regiã o sul do
Estado do Rio Grande do Sul
mg kg
Argissolo Vermelho - Amarelo distr ó fico t í pico Granito 116 8.500
Argissolo Vermelho - Amarelo distr ó fico t í pico Granito 92 8.000
Argissolo Vermelho - Amarelo distr ó fico latoss ólico Argilito 94 5.700
Argissolo Vermelho - Amarelo eutr ó fico latoss ó lico Arenito 66 6.300
Argissolo Vermelho - Amarelo distr ó fico ar ê nico Sedimentos de arenito 29 3.525
Luvissolo Hipocrô mico ó rtico t í pico Granito 100 23.050
Neossolo Lit ó lico distr ó fico t í pico Granito 136 28.300
Latossolo Vermelho distrof é rrico t í pico Basalto 224 8.826
Argissolo Vermelho distr ófico t í pico Granito 152 14.347
Latossolo Bruno alum í nico câ mbico Basalto 68 780
FERTILIDADE DO SOLO
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 73
Grande parte dos solos agr ícolas das regiões tropicais e subtropicais apresenta
limita ções ao crescimento de muitas culturas em virtude dos efeitos da acidez excessiva
(Quadro 6). No Brasil, por exemplo, os solos sob vegetação do cerrado apresentam elevada
acidez e baixa fertilidade e representam, aproximadamente, 150 milhões de hectares
( Embrapa, 1978). No Estado do Rio Grande do S ul, levantamento realizado em cerca de
60.000 amostras de solos indicou que 70 % delas apresentaram pH em á gua inferior a 5,5
( Drescher et al., 1995) .
Os efeitos da rea çã o do solo ( pH ) sobre as plantas podem ser diretos ou indiretos .
Dentre os efeitos diretos, destacam-se:
(a ) Disponibilidade dos elementos essencia is à nutriçã o da planta;
(b ) Solubilidade de elementos que podem ter efeito tóxico sobre as plantas;
(c) Atividade de microrganismos;
(d ) Favorecimento ou n ã o de doen ças nas plantas;
(e ) Habilidade de competiçã o entre diferentes espécies de plantas, e
(f ) Condições f ísicas do solo.
Os efeitos indiretos do pH sobre as plantas estã o relacionados com propriedades
qu ímicas ( rea ções de sor çã o, dessor çã o, precipita çã o ) que ocorrem em solos e que
influenciam diretamente o crescimento das plan tas.
p H (á g u a ) C l a s s i f i c aç ão
% 5.6 - 6 , 0 Á cido
FERTILIDADE DO SOLO
74 .
EGON J MEURER
Disponibilidade de Nutrientes
FERTILIDADE DO SOLO
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E o DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 75
i+
OH OH
Fe Fe
/ OH
\s
O OH 2 + + H 2 P04 i 0 O —I — P OH + H 20
Fe k' O
i.
\ OH OH
y~
/
Figura 1. Formaçã o de um complexo de esfera -interna entre um grupo funcional de superf ície
de um ó xido de ferro (cargas positivas expostas nas bordas) e um fosfato da soluçã o do
solo. Esta rea ção, também conhecida como "fixaçã o" do f ósforo, diminui acentuadamente
a disponibilidade deste nutriente para as plantas.
Fonte : Adaptado de Sanchez & Uehara (1980) .
OH OH
OH Fe /
f
2
°\
O + Zn + O Zn + 2 H +
OH
OH i- / OH
Figura 2. Forma ção de um complexo de esfera -interna entre um grupo funcional de superf ície
de um óxido de ferro e o zinco da solu ção do solo.
FERTILIDADE DO SOLO
76 IzGON J . MEURER
Elementos T ó xicos
nos vegetais já podem ser observados poucos minutos após a induçã o do estresse, que
sã o seguidos de efeitos secund á rios que aparecem após horas ou mesmo dias. O AI afeta,
principalmente, o sistema radicular das plantas, alterando a morfologia e o crescimento
das ra ízes. As ra ízes ficam mais grossas e ocorre redu çã o na emissã o de ra ízes
secund á rias. Como as funções primordiais das ra ízes sã o a absor çã o de água e de
nutrientes, o crescimento e o desenvolvimento das plantas ficam acentuadamente
prejudicados. A sensibilidade do feijã o à toxidez do AI e a tolerâ ncia do arroz, crescendo
em solos de vá rzeas do Estado de Goiá s, sã o exemplos da reaçã o diferenciada das espécies
ao AI (Quadro 8) .
O sítio prim á rio da a çã o tóxica do AI é a parte distai da zona de transiçã o no á pice
das ra ízes, onde as células estã o entrando
em fase de alongamento (Sivaguru & Horst,
1998) . O AI també m se liga aos sí tios
negativos da parede celular, interferindo na
capacidade de troca i ô nica da parede (Yang et al., 2000).
O principal fator que controla a concentra çã o do Al na soluçã o do solo é o pH. A
solubilidade do Al é muito baixa ou nula em pH superior a 5,5; a toxidez do Al é
particularmente severa em pH abaixo de 5,0 (Fageria, 1998).
Al é m da toxidez causada pelo Al, é conhecida , tamb ém, por ocorrer com mais
frequ ência, toxidez de Mn ( Mn 2+) e de Fe (Fe 2+) . O Mn é elemento essencial para as
plantas, mas em solos á cidos com teores elevados deste nutriente, pode ocorrer toxidez
Quadro 8. Produ çã o de mat é ria seca da parte a é rea e de gr ãos de arroz e de feijão sob diferentes
doses de alum ínio em solo de v á rzea
Arroz Feijã o
Alum í nio
Maté ria seca Grã os Maté ria seca Grã os
FERTILIDADE DO SOLO
!
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 77
Quadro 9. Produ çã o de mat é ria seca total ( folhas, ciul.es e ra ízes ) de quatro cultivares de soja
em presen ça de tr ês doses de manganês, em solu çã o nutritiva
mg L '
g/ quatro plantas
0, 00 6, 92 7, 02 6 , 92 7, 76 7,16
0, 25 7,40 7, 43 8,14 8,72 7, 92
9, 00 5,45 3, 92 5, 05 4, 33 4,69
do que 20. Essa classificação, baseada na densidade, acaba englobando grupos de metais,
semimetais e até nã o-metais (selênio) . Alguns dos metais pesados mais tóxicos sã o: Hg,
Pb, Cd , Cu, Ni e Co. Os três primeiros sã o particularmente tóxicos para animais
superiores. Os três últimos sã o denominados f itotóxicos por serem mais tóxicos para
plantas (Quadro 10) do que para animais ( Accicly & Siqueira , 2000; Costa et al., 2004).
FERTILIDADE DO SOLO
78 QGON J . MEURER
Ag * alta alta
B ( OH ) 3 m é dia baixa
Cd 2 + m é dia -alta alta
Co 2 + m é dia -alta m é dia
C1 O42 '
m é dia -alta alta i*
Cu 2 + m é dia -alta m é dia
Hg 2 + alta alta
M 0042 '
m é dia m é dia
Ni 2 + m é dia -alta m é dia
Pb2 + m é dia alta
Se 042- m é dia -alta alta
Zn 2 + baixa - m é dia baixa - m é dia
+H -H
MOS - C = O MOS - C = O MOS -C = O
+ I
0
'
OH 2 OH
4 PCZ >
pH diminui pH aumenta
s
FERTILIDADE DO SOLO
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 79
Quadro 11. Capacidade de troca de cá tions ( CTC ) total da mat é ria org â nica e fra çã o da CTC
devida à maté ria org â nica de amostras superficiais de alguns Argissolos e Latossolos do
Estado de Sã o Paulo
S kg -1 emole kg -1 O/
/0
Argissolo 50 7, 8 3, 2 2, 2 69
Argissolo 60 6,0 3, 3 2, 1 64
Argissolo 120 25 , 2 10 , 0 8, 2 82
Argissolo 190 24 , 0 7, 4 6, 0 81
Argissolo 130 14 , 0 3, 7 2, 7 73
Latossolo 640 45 ,1 24 , 4 15 61
Latossolo 560 44 , 6 35 , 8 32, 2 90
Latossolo 590 45 , 1 28 , 9 16 , 1 56
Latossolo 240 12, 1 3, 9 2, 9 74
FERTILIDADE DC SOLO
80 EGON J . MEURER
OH OH
(a )
Fe
O
^
— OH
+ Zn * - * O
Fe
Zn + 2H
/
Fe — OH Fe O
OH OH
O O
(b) MOS O >-0
f + Zn
2+
2=5 MOS c + 2H
H
\
O
OH \ /
O Zn
OH2
c — o 'AII OH 2
'
(c ) MOS C — c/ I XOH
.
2
O
H- C —
i \
^
Figura 3. Exemplos de rea ções química que ocorrem em solos que afetam a disponibilidade
de micronutrientes e elementos t ó xicos. Em (a ) o zinco ( também o cobre, o mangan ês)
est á complexado por um ó xido de ferro; em (b ) o zinco est á complexado pela maté ria
orgâ nica (MOS); ambas as rea ções diminuem a sua disponibilidade para as plantas. Em (c )
o alumínio está complexado por supstâ ncias h ú micas da matéria orgâ nica o que ameniza
seu efeito t ó xico.
+
2 H
H Ca *
Na*
SOLO Na
Ca
K 3
AI *
K+
_
Ca
2+
K
+
Mg H* 2+
Mg
AI
Fase s ólida Solu ção do solo
Figura 4. íons adsorvidos na fase sólida do solo, na forma de complexos de esfera -externa
( trocá veis) em equilíbrio com íons da solução do solo.
FERTILIDADE DO SOLO
!
1
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E o DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 81
Solos posicionados em cotas mais baixas na paisagem estã o sujeitos à satura çã o por
á gua ou a alagamentos periódicos, principalmente os chamados solos de v á rzeas. Essa
condiçã o altera o equilíbrio dos elementos e dos compostos no solo, desencadeando uma
série de mudanças, que fazem com que o comportamento desses solos seja bastante
diferente do observado em ambientes bem drenados. A dinâ mica dessas transforma ções
é particularmente importante para a cultura do a rroz irrigado por alagamento, uma vez
que o solo permanece alagado durante a maior ]aarte do ciclo da cultura . Atualmente,
sabe-se que rea ções semelhantes à s que ocor rem em solos alagados també m sã o
observadas em microssítios anaer óbios em solos oxidados, principalmente em á reas de
plantio direto em decorr ência da acumula çã o de palha na superf ície, que aumenta a
retençã o de á gua no solo.
As condições de redu çã o do solo alteram a disponibilidade de diversos elementos e
s o resultantes da atividade de microrganismos anaer ó bios . Os microrganismos
ã
anaer óbios utilizam os compostos oxidados do solo como receptores de elé trons no seu
metabolismo, obedecendo a uma sequência: nitrato, óxidos de manganês, óxidos de ferro,
sulfato.
Os resultados da atividade dos microrganismos resultam: (a ) na eleva çã o do pH do
solo para valores na faixa de 6,5-7,0; (b) perdas de N do solo na forma gasosa; (c) aumento
da disponibilidade do Mn 2 + e do Fe 2+, que podem ter efeitos tó xicos para as plantas; ( d )
aumento da disponibilidade do P, visto que a reduçã o do Fe3+ a Fe2+ libera este nutriente
que está adsorvido aos óxidos de Fe e de Al, e (e ) aumento na disponibilidade do K, Ca e
Mg, que sã o deslocados dos sítios de troca da CTC, pelo Fe 2+ e Mn2+, para a soluçã o do
solo (Quadro 12) .
Quadro 12. Varia ções de atributos qu ímicos de 38 de solos do RS após 50 dias de alagamento
FERTILIDADE DO SOLO
82 EGON J . MEURER
Salinidade
Solos de regiões com deficiências hídricas, em que ocorrem salinizaçã o pela á gua
do mar, ascensã o do lençol freá tico, natureza e composiçã o do material de origem, dentre
outros, podem provocar o acú mulo de sais que sã o prejudiciais ao crescimento vegetal .
Os íons mais comuns em solos salinos sã o os cá tions Na +, Ca2+, Mg2+ e K + e os â nions Cl , "
S042 , HCOs , C022 e N03 , formando sais sol úveis de cloretos, sulfatos, carbonatos e
" "
(l )
Rizosfera é a zona de influ ê ncia das ra ízes sobre o solo adjacente, que se estende desde a superf ície
da raiz até à distâ ncia de 1 a 3 mm da mesma .
Tratamento Rendimento de gr ã os
kg ha -
Testemunha, n ã o inoculada 1.834 d
Testemunha n ã o inoculada + 200 kg ha 1 N 2.925 ab
Estirpes :
CB 1809 + CPAC 7 3.215 a
S- 370 + S-372 3.200 a
29 w + SEMIA 587 2.850 b
Fonte : Hungria et al . (1999).
FATORES DE PLANTA
Os fatores inerentes à própria planta, tais como: os gené ticos, a espécie, o cultivar, a
eficiência de absor çã o de nutrientes, a alelopatia , moléstias e pragas, plantas invasoras
e manejo também determinam menor ou maior produtividade das culturas e retorno
económico.
Diversos trabalhos revelam que existem diferenças quanto à absor çã o e eficiência de
utiliza çã o dos nutrientes entre espécies ou cultiva::es, em razã o da variabilidade gené tica
da planta . A variabilidade gené tica refere-se a caracter ísticas hereditá rias de uma espécie
vegetal ou cultivar que apresenta diferen ça de crescimento ou produçã o em comparaçã o
com outra espécie ou cultivar, sob condições ideais ou adversas ( Fageria, 1998) . Assim,
há espécies mais adaptadas às condições de acidez do solo, por exemplo, mais tolerantes
a elementos fitotóxicos como o Al. Da mesma forma, existem espécies mais adaptadas às
condições de baixa fertilidade do solo.
FERTILIDADE DO SOLO
84 EGON J . MEURER
absor çã o de nutrientes, caracterizada pelos parâ metros ciné ticos de absor çã o, que
descrevem o influxo de nutrientes najs ra ízes das plantas: o Imá x, que é o valor má ximo do
influxo do nutriente, a constante de Michaelis-Menten (Km ), concentra çã o do nutriente
na soluçã o do solo onde a taxa de absor çã o é igual a Im á x / 2 e Cmin, concentra çã o do
nutriente na soluçã o quando o Imá x é zero, condiçã o em que o influxo do nutriente pela
planta iguala -se a seu efluxo ( Barber, 1995) (veja capítulo IV) . Como exemplos: o trevo
branco e a ervilhaca apresentaram maior eficiência para absorver N, gra ças aos maiores
valores do Imá x. Por outro lado, as gramíneas (aveia e azevém ) apresentaram menor valor
para Km, praticamente menos da metade do observado para as leguminosas (Quadro 14). P
Os valores da taxa má xima de absorção do P (Imá x ) foram similares entre as quatro espécies.
Todavia, os menores valores para a constante Km para a aveia e o azevém mostraram que
elas sã o mais eficientes que as leguminosas para absorver este nutriente em condições de
baixa disponibilidade do P .
Quadro 14 . Valores dos par â metros cin é ticos de nitrogénio e f ósforo de espécies forrageiras
cultivadas em solução nutritiva
pmol cm -2 S 2"
pmol L 1 '
pmol cm- 2 s - 2 pmol L “
Aveia 28.6 b 26 , 2 b 1, 74 a 11 , 2 bc
Azev é m 34.7 ab 24, 4 b 3 , 21 a 5,5 c
Trevo Subterrâ neo 56.7 ab 54,0 a 2, 05 a 17,9 ab
Ervilhaca 66.7 a 50, 9 a 2, 93 a 25, 4 a
Alelopatia
A alelopatia é o efeito nocivo que uma planta exerce sobre ela mesma ou sobre outra
planta por meio da produçã o de substâ ncias químicas. A libera ção de substâ ncias
químicas na rizosfera é feita, geralmeite, pela excreção das ra ízes ou pela decomposição
dos restos culturais. Os restos culturais incorporados ao solo podem produzir
aleloquímicos que inibem a germinaçã o da semente e, ou, o crescimento das plantas
(Fageria, 1998).
FERTILIDADE DO SOLO
II - FATORES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 85
Sistemas de Manejo
t ha - í
f
FATORES CLIM Á TICOS
FERTILIDADE DO SOLO
86 EGON J . MEURER
ou muito acima destas, o crescimento das plantas é rapidamente limitado (Tisdale et al.,
1993). A temperatura ó tima para o crescimento das plantas varia entre espécies e
cultivares, de acordo com a idade c a planta e seu está dio de desenvolvimento.
.
LITERJATURA CITADA
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FERTILIDADE DO SOLO
90 EGON J . MEURER
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*
í
FERTILIDADE DO SOLO
J
'l
III - ELEMENTOS REQUERIDOS
À NUTRIÇÃ O DE PLANTAS
1/
Escola Superior de Agricultura Luii de Queiroz - ESALQ / USP .
Caixa Postal 9, CEP 13418-900 Piracicaba ( SP ) .
ardechen @ esalq . usp . br
2/
Embrapa Uva e Vinho. Caixa Postal 130, CE 95700- 000
Bento Gon ç alves ( RS) .
gilmar @cnpuv . embrapa . br
Conte ú do
INTRODU ÇÃ O . 92
CRITÉ RIOS DE ESSENCIALIDADE 92
MACRO E MICRONUTRIENTES 94
Macronutrientes 94
Nitrogé nio 94
Fósforo 96
Pot á ssio 100
Cá lcio 102
Magnésio 104
Enxofre 106
Micronutrientes 107
Boro 107
Cloro 111
Cobre 112
Ferro 114
Manganês 118
Molibdênio 120
Níquel 122
Zinco 124
ELEMENTOS BEN É FICOS 126
%4
- Sódio 126
Silício 12 7
Selênio 127
Cobalto 128
LITERATURA CITADA 129
SBCS, Viçosa , 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. NOVAIS, R.F., ALVAREZ V., V.H., BARROS,
N. F., FONTES, R .LF., CANTARUTTI, R .B. & NEVES, J . C.L . ) .
92 ANTONIO ROQUE DEGHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
INTRODU ÇÃ O
E necessá rio que haja disponibi lidade e absorçã o dos nutrientes em proporções
adequadas, via solu çã o do solo ou, como suplementa çã o, via foliar. Cada um destes
nutrientes tem uma funçã o específic a no metabolismo das plantas. Desequilíbrios em
suas proporções podem causar deficiência ou excesso de nutrientes, causando limita ções
ao crescimento das plantas ou mesmo sua morte.
Crit é rio 2: Para ser essencial, o elemento não pode ser substituído por outro elemento
com propriedades similares. Por exemplo: O Na apresenta propriedades
semelhantes ao K, contudo nã o pode substituir completamente o K.
Crité rio 3: O último critério que deve ser cumprido é que o elemento deve participar
diretamente no metat olismo da planta e promover seu benef ício nã o só
com o objetivo de melhorar as caracter ísticas do solo, por meio do
crescimento da microflora , mas também de possibilitar outro efeito
benéfico à planta.
Estes três critérios podem ser assim resumidos: Um elemento é considerado essencial
quando ele faz parte de uma molécula essencia ao metabolismo da planta . E o caso do
'
Quadro 1 . Rela çã o dos elementos essenciais à s plantas superiores, com as concentra ções médias
na maté ria seca da parte a é rea e os respectivos autores que demonstraram a essencialidade
e o ano em que ocorreu a descoberta
Demonstra çã o da essencialidade
Elemento Concentraçã o na maté ria seca
Autor Ano
g kg-i
Carbono (C) 450 Saussure 1804
Oxigé nio (O ) 450 Saussure 1804
Hidrogé nio ( H ) 60 Saussure 1804
Nitrogé nio ( N ) 15 Saussure 1804
Potá ssio ( K ) 10 Sachs & Knop 1860, 1865
C á lcio (Ca ) 5 Sachs & Knop 1860, 1865
Fósforo ( P) 2 Ville 1860
Magn ésio ( Mg ) 2 Sachs & Knop 1860, 1865
Enxofre (S) 1 Sachs & Knop 1865
mgt kg -1
Cloro (Cl ) 100 Broyer et al . 1954
Mangan ês ( Mn ) 50 Mazé, McHargue 1915 , 1922
Boro ( B) 20 Warington 1923
Zinco (Zn ) 20 Sommer & Lipman 1926
Ferro (Fe ) 10 Sachs & Knop 1860, 1865
Cobre (Cu ) 6 Lipman & McKinney 1931
N íquel ( Ni ) 3 Brown et al. 1987
Molibd ê nio ( Mo) 0,1 Arnon & Stout 1939
Fonte: Malavolta (1980); Glass (1983); Marschner (1995); Epstein & Bloom ( 2005) .
i
FERTILIDADE DO SOLO
94 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
MACRO E MICRONUTRIENTES
Macronutrientes
Nitrogénio
Os teores de N no solo na forma mineral sqo pequenos, variando desde tra ços até
5 g kg 1 nas camadas superficiais dos solos, diminuindo com a profundidade. O teor de
'
teor varia com a esta çã o climá tica , já que o N03 é muito sol ú vel na á gua, de modo que as
"
á guas de chuva e de irriga çã o podem arrastar o nutriente para o subsolo ( Raij, 1991).
FERTILIDADE DO SOLO
96 ANTONIO ROQUE DECMEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
toxidez (Malavolta, 1980; Malavolta et al., 1989; Pais & Jones J ú nior, 1996; Furlani, 2004).
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10 16 20 26 30
í ndice de Conteúdo de Clorofila
Fósforo
O teor total médio de P na litosfera é de 2,8 g kg-1 de P2Os; contudo, muitos solos
contêm de 0,2 a 0,8 g kg 1 de P ( Fassbender, 1994 ). O P encontra -se em compostos que
'
estã o distribuídos em muitas rochas, minerais, plantas e animais. No solo, o P pode ser
encontrado em formas orgâ nicas e inorgâ nicas ( veja capítulo VIII).
-4
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'
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Sintomas de deficiência de f êsforo em citros ^ cana - dê- açúcar e milho
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Sintomas de deliciéncia de potá ssio em citros, soja e macieira
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Sintomas de
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FERTILIDADE DO SOLO
98
^
ANTONIO ROQUE DECHE I & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
que estas duas formas de P estã o disponíveis para absorçã o pela planta. As plantas
podem utilizar outras formas de P, mas em menores quantidades do que o ortofosfato.
Fun çõ es: O P desempenha papel importante na fotossíntese, respira çã o,
armazenamento e transferência de energia, divisã o e crescimento celular, dentre outros
processos que ocorrem na planta. 0 P é importante na transferência de energia como
parte do trifosfato de adenosina (ATP), como componente de muitas proteínas, coenzimas,
ácidos nucléicos e substratos metabólicos. Em situações onde se aumenta o suprimento de P
no solo de uma condição de deficiência até outra de adequada disponibilidade de P, verifica-
se que as principais frações de P contidas em ó rgã os vegetativos das plantas também
aumentam (Quadro 2). Além disto, o P promove a r á pida formaçã o e crescimento das
raízes (Figura 3), melhora a qualidade dos frutos, hortaliças e grãos, sendo vital à formação
da semente, bem como está envolvido na transferência de características hereditá rias.
Quadro 2. Efeito do suprimento de f ósforp nas fra ções de f ósforo em folhas de fumo
Fra çã o d é P
P aplicado
Lip í d i o s É ster Á cidos nucl éicos Pi
mg L mg kg 1 - *
FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 99
Figura 3. Ra ízes de plantas desenvolvidas na regiã o cio solo enriquecida com f ósforo (esquerda )
comparadas com as do solo sem enriquecimer íto de f ósforo ( direita ) .
Fonte : Adaptado de Drew & Saker (1978).
Teores na planta: Os teores de P nas plantas variam de 0,5 a 3,0 g kg 1 de maté ria
"
seca da planta , considerando-se teores entre 1,0 e 1,5 g kg 1 como adequados para um
'
crescimento normal das plantas. Plantas deficientes apresentam teores foliares menores
do que 1,0 g kg 1, enquanto acima de 3,0 g kg 1 podem-se observar sintomas de toxidez
" "
( Malavolta , 1980; Malavolta et al., 1989; Pais & jones J ú nior, 1996; Furlani, 2004 ).
Nestas condições, ocorrem manchas vermelho-escuras nas folhas mais velhas. Deficiência
de Zn em solos ricos em P pode provocar a absor çã o e ac ú mulo de P em excesso
promovendo sintomas semelhantes aos da deficiê ncia de Zn (Malavolta, 2004).
FERTILIDADE DO SOLO
100 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
Potássio '
140
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R
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y = 22, 92 + 3,36 x - 0, 03 x 2 2
= 0,59
- /Jm•«O
Mineral 2:1( 0 ) * * R
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i 1 1 1 1 1
10 20 30 i 40 50 60 70
3
K Mehl í ch - 1 , mmoic dm
'
Figura 4. Rela çã o entre a produçã o relativa de trigo e os teores de potássio extraíveis pelo
mé todo Mehlich-1 em 11 solos da regiã o sul do Rio Grande do Sul, de acordo com a
mineralogia. |
Fonte: Nachtigall & Raij (2005).
»
FERTILIDADE i
DO SOLO
;
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 101
Fun ções: O K é Lim dos elementos essenciaisIna nutriçã o da planta e um dos três que
se encontra , na forma dispon ível, em pequenos teores nos solos tropicais muito
intemperizados, limitando o rendimento dos cultivos. É o cá tion mais abundante nas
células, com concentra ções superiores a 100 mmol L 1. Altas concentra ções de K sã o
necessá rias para a ativa ção de muitas enzimas quê participam do metabolismo da planta .
O K é vital para a fotossíntese. Em situa ções de deficiência de K, ocorre reduçã o da
fotossíntese e aumento da respira çã o da planta . Estas duas condições ( reduçã o na
fotossíntese e incremento na respira çã o ) , quando existe deficiência de K, reduzem a
acumula çã o de carboidratos, tendo, como consequ ências, as redu ções do crescimento e
da produ çã o da planta .
O K tem elevada contribuiçã o para o potencial osm ó tico da planta . O processo de
abertura e fechamento dos estô matos é regulado pela concentra çã o de K nas células
guarda, sua deficiê ncia nã o permite que os estô matos se abram totalmente e que sejam
r á pidos ao fechar -se, causando limitado controle sobre a perda de á gua das plantas.
O íon K + parece estar envolvido em v á rias funções fisiológicas, tais como: transporte
no floema, turgescência das células estomá ticas e crescimento celular . O K atua como um
cofator ou ativador de muitas enzimas do metabolismo de carboidratos e proteínas. Uma
das mais importantes é a piruvato-quinase, enzima principal da glicólise e respira çã o.
De modo geral, as necessidades nutricionais de K estã o relacionadas com quatro papéis
bioquímicos e fisiológicos: ativa çã o enzim á tica, processos de transporte através de
membranas, neutraliza çã o aniônica e potencial osmó tico.
O K tem grande impacto na produtividade e na qualidade dos cultivos, afetando o
incremento do peso e a qualidade de gr ã os de milho, conte ú do de óleo e proteínas na
soja , quantidade do a çú car na cana -de-a çúcar e em frutos, de modo geral, na resistência
e comprimento da fibra do algod ã o e outros cultivos que produzem fibra . Para a cultura
da macieira, verifica -se que o aumento da disponibilidade de K, a partir de uma condição
de deficiência do nutriente no solo, proporciona aumento dos teores de sólidos sol ú veis
dos frutos (Figura 5) e aumento na intensidade de colora çã o vermelha da película dos
frutos. Outro efeito atribuído ao K refere-se à resistência das plantas ao ataque de doenças.
Figura 5 . Teor de sólidos sol ú veis e cor da película do fruto ( valor a ) do cv. Gala, de acordo
com as doses de potá ssio.
Fonte : Carraro et al. ( 2004) .
FERTILIDADE DO SOLO
102 ANTONIO ROQUE DE ó HEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
( Malavolta , 1980; Malavolta et al., 1989; Pais & Jones J ú nior, 1996; Furlani, 2004 ) .
I
Cálcio
^
importantes sã o a anortita, que contém ntre 70 e 140 g kg 1 de Ca, e os piroxênios, com 90
"
FERTILIDADE DO SOLO
SV : í \, \ .
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 103
de Ca (Ca4H(P04) 3), que existem principalmente dm solos calcá rios e em solos com altos
valores de pH . Minerais de argila como ilita, vejrmiculita e montmorilonita , també m,
contêm pequenos teores de Ca ( Fassbender, 1994).
N03 na planta . E requerido em grandes quantidades pelas bact érias fixadoras de N2.
'
Furlani, 2004).
FERTILIDADE DO SOLO
104 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
Figura 6 . Rela çã o entre a incidência de "bitter pit" e o teor de cá lcio na polpa e na película de
frutos de macieira .
Fonte: Nachtigall (dados n ã o publicados) .
geológica do solo. O Mg encontra-sê no solo nas formas: nã o-trocá vel, trocá vel e na
soluçã o do solo. O Mg na forma não-trocá vel é encontrado principalmente em minerais
primá rios e secund á rios, como a biotifa, augita, horblenda, olivina, serpentina, clorita,
montmorilonita, ilita, vermiculita, e nos carbonatos minerais, como dolomita e magnesita
(Havlin et al., 1999).
FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çãO DE PLANTAS 105
Furlani, 2004) .
FERTILIDADE DO SOLO
106 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
Enxofre
Estima-se ser o nono elemento mais abundante no planeta. O S nas formas de sulfetos,
sulfatos e enxofre elementar constitui á proximadamente 0,06 a 0,10 % da crosta terrestre.
O S nativo ou livre encontra -se principalmente em depósitos vulcâ nicos sedimentares. O
S está nos solos nas formas inorgâ nica â e orgâ nicas. Na soluçã o do solo, o S está presente
como íon sulfato ( Havlin et al ., 1999 ) ( veja capítulo X ).
reciclagem do S, este retorna ao solo qa forma orgâ nica, onde se mineraliza por a çã o de
microrganismos antes de ser utilizad ó pelas plantas superiores.
Quadro 3. Teor de amino á cidos em prpteínas de endospermas de trigo pela aduba çã o com
enxofre
1
nmol kg
'
FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 107
das plantas. As plantas deficientes apresentam teores foliares menores que 1 g kg 1 '
( Malavolta , 1980; Malavolta et al ., 1989; Pais & Jones J ú nior, 1996; Furlani, 2004).
Sintomas de defici ê ncia e de excesso: As deficiências de S em plantas em pa íses
industriais sã o muito raras, já que o dióxido de S (S02) da atmosfera, liberado ao queimar
carv ã o, madeira , gasolina e outros combustíveis f ósseis, é absorvido pelas folhas através
dos estô matos . O S02 se converte em bissulfeto ( HS03 ), quando reage com á gua nas
células e, se se acumular nesta forma , inibe a fotossíntese, destruindo os cloroplastos.
A deficiência de S caracteriza -se pelo fato de as plantas apresentarem as lâ minas
foliares uniformemente amareladas ou clor ó ticas, revelando a deficiência primeiro em
folhas jovens (Figura 2), já que este elemento nao se redistribui facilmente das folhas
velhas para as mais novas, por ser imóvel quanto à redistribuiçã o na planta. Por serem
os solos tropicais deficientes de sulfatos, as deficiências de S nesses solos sã o frequentes.
Micronutrientes
Boro
O teor de B na crosta terrestre é de, aproximâ damente, 0,01 g kg 1, apresentando-se
"
combinado como bó rax. O conte údo total de B nos solos é variável, os teores variam de 3
a 100 mg kg 1, com valores médios entre 10 e 20 mg kg 1 ( Lindsay, 1979 ). Em geral, os
' "
solos de regiões costeiras contêm 10 a 50 vezes má is B que os demais solos, o que se deve
à origem marinha.
Na fase sólida do solo, o B é encontrado nos minerais silicatados, adsorvido em
argilominerais e na matéria orgâ nica e nos hidróxidos de Al e Fe.
f Diversos fatores influenciam a disponibilidade de B do solo. Sua precipita çã o no
solo depende do pH, sendo má xima nas condições de pH entre 8 e 9. A mineralização da
matéria orgâ nica constitui uma fonte importante de B para as plantas. A textura do solo
também tem sua influência, já que, em solos de textura arenosa, o B pode ser facilmente
lixiviado, enquanto, em solos de textura argilosa, sua mobilidade é pequena. Assim,
aplicações de B em solos argilosos proporcionam perdas mínimas, já em solos arenosos
as perdas podem ser importantes .
FERTILIDADE DO ISOLO
108 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
Em geral, o B disponível encoptra -se nas camadas superficiais dos solos bem
drenados, ligado à maté ria orgâ nica, o que, em condições de seca, pode dificultar sua
absor çã o pelas plantas nestas camadas superficiais. Deve-se considerar, também, que,
em condições de excesso de calagem, pode ocorrer reduçã o na disponibilidade de B (veja
capítulo XI). |
Forma de absor çã o: O B é absofvido pela planta como á cido bó rico (H3B03) e,
‘
provavelmente, como â nion borato ( B (OH) 4 ) em valores de pH elevados, tanto por via
radicular como por via foliar .
Considera -se que o B, em solu çã oj, move-se até às raízes por meio do fluxo de massa,
*
até que ocorra um equilíbrio entre as concentrações do nutriente nas raízes e na soluçã o.
Em decorrência dessa absor çã o passiva, podem-se verificar situa ções em que quantidades
tóxicas sã o absorvidas pelas plantas, quando o teor de B na soluçã o é alto (Dechen et al.,
1991b ) .
O B, em geral, é cosiderando imó vel nas plantas . É translocado principalmente
através do xilema, tendo mobilidade muito limitada no floema (Raven, 1980) . Acumula -
se nas folhas velhas, nas quais a concentraçã o é maior nas pontas e margens (Jones
J ú nior, 1970 ). Em geral, a parte aérea das plantas apresenta maior teor de B do que as
ra ízes. O movimento do B junto com o fluxo transpirató rio, talvez seja a razã o para o
aparecimento de sintomas de deficiência nos pontos de crescimento.
Estudos com espécies de planta qúe transportam o sorbitol, um açúcar que complexa
o boro, em seu floema, levantaram d úvidas sobre a imobilidade do B para todas as culturas
( Fontes, 1997). Brown & Hu (1996) verificaram que, em espécies ricas em sorbitol
(castanheira, macieira e nectarina ), houve transporte de B aplicado na forma de isó topos,
das folhas que receberam pulveriza çã o para tecidos adjacentes e tecidos dos frutos: em
h
espécies pobres em sorbitol-b ó rico, ã o foi observado movimento do B aplicado nas
folhas para outras partes da planta . |
FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NIIITRI çã O DE PLANTAS 109
^
meristem á ticos . Se esses processos sã o afetado pela deficiência de B, o processo de
crescimento meristemá tico é prejudicado (Mengel & Kirkby, 1987) (Quadro 4). Por outro
lado, quando ás células atingem a maturidade, estas nã o sã o afetadas pela deficiência
deste elemento, porque a deficiência se reflete numa destruiçã o dos meristemas terminais
e do tubo polínico, ou seja, nas zonas de crescimento, qualquer que seja a planta.
O B intervém na absor çã o e metabolismo c os cá tions, principalmente do Ca; na
.
mg L -i
Fosfato no DNA -% do total
0 0, 2 0,5
1 1,4 1,8
Prote í na - mg / vaso
0 627 713
1 1.267 1.468
Fonte: Adaptado de Mengel & Kirkby (1987) .
( Malavolta, 1980; Malavolta et ak, 1989; Pais & Jones J ú nior, 1996; Furlani, 2004).
FERTILIDADE DO SOLO
Ll;
110 ANTONIO ROQUE Dect+ EN & GILMAR RIBEIRO WACHTIGALL
Fonte: Departamento de Solos e N'ntri ç 3o JL* E ^ lantas - ESAffiJ / USP. (FV = folhas velhas; FN - folhas novas; F - frutos ).
Fé R T I L I D A D é DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à N úTRIçã O DE PLANTAS 111
• Abortamento floral.
• Fendas em ramos,
pecíolos e, às vezes nos frjutos. Estes apresentam uma formaçã o
irregular deformação) .
(
• Diminuiçã o da concentra çã o de clorofila .
i
Cloro
O Cl é encontrado na natureza principalmènte como â nion cloreto (Cl ) . O teor
médio na litosfera é de aproximadamente 500 mg kg-1. O conte ú do no solo, na forma de
Cl , apresenta grande variabilidade (50 a 3.000 kg ha 1 de Cl ), dependendo dos sais
’ "
'
’V
Forma de absorçã o: O Cl é absorvido pelas plantas, tanto pela raiz como pela parte
aérea, na forma de Cl . i
FERTILIDADE DO í SOLO
112 ANTONIO ROQUE DEQHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
seca (Furlani, 2004), considerando-se teores entre 20 e 100 mg kg 1 como adequados para
"
Cobre
do Cu pelas plantas ocorre via processo ativo e existem evidências de que este elemento
iniba fortemente a absorçã o do Zn, è vice-versa ( Bowen, 1969 ). Acredita -se que este
elemento nã o seja prontamente móvel na planta, embora existam resultados que mostram
o movimento de folhas velhas para ndvas. Loneragan (1975) concluiu que o movimento
do Cu no interior das plantas é dependlente
de sua concentra ção, uma vez que, em plantas
t
FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à I\|UTRI çã O DE PLANTAS 113
de trigo bem supridas de Cu, pode ocorrer movimento dos grã os para as folhas. Contudo,
em plantas deficientes, o Cu foi relativamente im óvel.
^
Quanto ao transporte do Cu na planta resultados indicam que compostos
nitrogenados sol ú veis, como os aminoá cidos, atpam como carregadores deste elemento
no xilema e no floema, já que o Cu apresenta forte afinidade com o á tomo de N do grupo
amino ( Loneragan, 1981) .
Funçõ es: Na planta, uma fra çã o consider á vel do Cu nos tecidos parece estar ligada
a plastocianina e alguma fra çã o protéica, ocorrehdo, també m, acú mulo do elemento em
ó rgã os reprodutivos das plantas; contudo, existem varia ções entre espécies.
O Cu é constituinte de certas enzimas, incluindo a oxidase do á cido ascó rbico
( vitamina C ), citocromo-oxidase e a plastocianina , que se encontram nos cloroplastos. O
Cu também participa em enzimas de ó xidorredu çã o, exceto de certas amino-oxidases e
galactose-oxidases, participando, assim, das rea ções de óxidorredu çã o, em que grande
parte das enzimas que contê m Cu reagem com 02 e o reduzem a H 202 ou H 20. O Cu
tamb é m faz parte da enzima fenol-oxidase, que catalisa a oxida çã o de compostos
fen ólicos a cetonas durante a forma çã o da lignina e da cutícula . Além disto, o Cu
influencia a fixa çã o do N2 atmosf érico pelas leguminosas, e é essencial no balanç o de
nutrientes que regulam a transpira çã o na plantá .
mat é ria seca da planta , considerando teores gntre 5 e 20 mg kg 1 como adequados '
sintomas de toxidez ( Malavolta, 1980; Malavolta et al ., 1989; Pais & Jones J ú nior,
1996; Furlani, 2004).
Atividade de enzimas
Cobre Clorofila Plastocianina
Diamina oxidase Ascorbato oxidase
mg kg 1 '
mmol kg p. mol mmol 1 clorofila
'
mmol kg 1 h 1
" "
FERTILIDADE Dó SOLO
114 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
Austr á lia, Pietrzak & McPhail ( 2004), avaliando vinhedos cultivados por 20 e até por
mais de 90 anos, observaram teores de Cu total entre 10 e 250 mg kg 1. No Brasil, Nachtigall
"
et al. ( 2007) verificaram teores de Cu total entre 1.300 e 1.400 mg kg 1 em dois solos
'
cultivados com vinhedos da região da Serra do Rio Grande do Sul, o que pode ser atribuído
ao manejo de grande parte dos vinhedos brasileiros que fazem o uso contínuo de calda
bordaleza (CuS04 + Ca (OH)2) e de outros produtos à base de Cu, para controlar as doenças
em vinhedos cultivados por longos per íodos.
As plantas raramente apresentanji deficiências de Cu, já que este elemento se encontra
dispon ível em quantidades adequadas em quase todos os solos . De todos os
micronutrientes, a deficiência de Cu é a mais dif ícil de diagnosticar, dada a interferência
de outros elementos (P, Fe, Mo, Zn e Ej) . No sistema produtivo de citros e de outras frutas,
aduba ções em excesso com adubos fosfatados podem provocar deficiência de Cu.
As deficiências de Cu manifestam -se como ( Figura 8):
• As folhas jovens tornam -se murchas e enroladas, ocorrendo uma inclina çã o de
pecíolos e talos. As folhas tornam-se quebradiças e caem.
• A ocorrência de clorose e outros sintomas secundá rios (a clorose nem sempre aparece).
•
^
A reduçã o da lignifica çã o. Os asos nã o lignificados do xilema sã o comprimidos
por tecidos vizinhos, o que rediiz o transporte de á gua e solutos.
• Em cereais, a deficiência de Cu provoca o abortamento de grande n ú mero de flores,
produzindo espigas pouco grapadas.
Em casos de toxidez ( teores r> o solo superiores a 300 mg kg 1), as altera ções
"
manifestam -se nas ra ízes, que tendem a perder vigor, adquirem cor escura, apresentam
engrossamento e paralisam o seu crescimento. També m o excesso pode provocar
deficiência em Fe, já que o Cu em excesso atua em rea ções que afetam o estado de oxidação
do Fe, limitando sua absorçã o e tran loca çã o na planta . Outro efeito d ò excesso de Cu é
a redu çã o da absor çã o de P. ^
Ferro
O Fe constitui cerca de 5 % d á crosta terrestre, sendo o segundo elemento em
abund â ncia depois do Al entre os metais e o quarto em abund â ncia depois do O e Si
(Mengel & Kirkby, 1987). No solo, o I?e apresenta -se na forma di (Fe2+) e trivalente (Fe3+),
dependendo do estado de oxirreduçao do sistema. Muitos solos cultivados apresentam
baixo teor de Fe, tanto na soluçã o do solo como adsorvido em forma trocá vel.
FERTIILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 115
O Fe, na forma ferrosa, entra no complexo de troca iônica dos solos. A forma f é rrica
é fortemente adsorvida pelos col óides do solo, formando complexos com os á cidos
h úmicos e col óides orgâ nicos. Os solos sob condições de redução ou de alagamento têm
um alto conte ú do de Fe-ferroso. O conte ú do d ê Fe-f é rrico aumenta com o aumento da
acidez, atingindo grandes concentrações somente em solos muito ácidos, com pH menores
que 3, e em solos ricos em á cidos húmicos e colóides capazes de formar complexos sol úveis
com Fe ( Figura 9 ) . Verifica -se que, somente em condições muito á cidas, os teores de Fe
estariam em torno de 1 /xmol L 1, valor que poderia suprir as necessidades das plantas
'
via transporte por fluxo de massa . Já a eleva çã o de uma unidade de pH (de 3 para 4)
proporcionaria um decr éscimo na disponibilidade
para 1 % da necessidade das plantas.
O aumento do suprimento de Fe à s zes pode ocorrer, dentre outros mecanismos / pela
ra í
forma çã o de complexos sol ú veis ou quelatos. Esses agentes quelantes podem se originar
de exsudatos de ra ízes, de subst â ncias prodilizidas pela decomposiçã o da maté ria
org â nica do solo, pela a çã o de microrganismos ou pela adi çã o de fertilizantes
quelatizantes ao solo ( Lindsay, 1974 ) .
Os conteúdos de argila e matéria orgâ nica do solo influem também na disponibilidade
do Fe, j á que, em solos argilosos, existe tend ê ncia à retençã o do Fe, enquanto teores
adequados de matéria orgâ nica proporcionarji
melhor aproveitamento do Fe pelas
,
plantas por causa de suas características acidificantes e redutoras, bem como da
capacidade de determinadas substâ ncias h ú midas para formar quelatos em condições
adversas de pH.
FERTILIDADE DO SOLO
116 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
Forma de absorçã o: O Fe pode ser absorvido como Fe2+, Fe3+ e como Fe-quelato, sendo
a sua absor çã o pelas plantas metabolicamente controlada . Na absor çã o do Fe, sã o
envolvidos pelo menos dois processos. No primeiro processo, que é uma característica
das dicotiled ôneas e das gramíneas nã o-monocotiled ô neas, pr ó tons sã o liberados do
interior das ra ízes, o que provoca urr a acidifica çã o da rizosfera . Nestas condições, e na
presença da Fe3+- redutase, o Fe3+ é reduzido a Fe2+ na membrana plasmá tica das células
das ra ízes. O Fe2+ é transportado para o interior da membrana plasmá tica através de um
sistema específico de transporte ( Figjura
10a ) . A capacidade das ra ízes em reduzir Fe3+
para Fe2+ é fundamental na absorçã o deste cá tionpara muitas plantas, já que este necessita
ser reduzido antes de entrar nas células (Chaney et al., 1972 ) . O segundo processo, que
ocorre em gramíneas, como cevada , milho e aveia; envolve a extrusã o de sider óforos
pelas ra ízes. Após a libera çã o destes sider óforos, eles formam complexos com o Fe3+,
os quais sã o transportados para o interior das células das raízes, nã o ocorrendo reduçã o
para Fe2+ (Figura 10b ) ( Epstein & Bloóm, 2005).
No espa ço livre aparente, esse elpmento necessita estar presente na forma iô nica ou
como quelato. Segundo Rõ mheld & Nlarschner (1983), o Fe3+-qu elato é reduzido de forma ,
^
(processos metabólicos) e ambientai ( pH, concentra çã o de Ca e P).
Fun ções: A principal funçã o do Fe é a ativa çã o de enzimas, atuando como grupo
prosté tico. Participa em rea ções fundá mentais de óxidorredução, tanto em hemoproteínas
(citocromos, leghemoglobina, catalalse, peroxidase, super ó xido dismutase, etc.) como
em proteínas nã o-hémicas com liga çã o Fe-S como ferredoxina e enzimas redutase,
nitrogenase e sulfato-redutase.
r-
Fe
2+. iMX
NAD + Fe 3+ - sideróforo
2+ 2+
Fe Fe
Interior Exterior Interior
Exterior
Membrana Membrana
Plasmática Plasmá tica
(a ) ( b)
Figura 10. Processos de absorçã o de ferro , (a ) Processo comum em dicotiled ôneas, como ervilha
tomate e soja. ( b) Processo comum em cevada, milho e aveia.
Fonte : Adaptado de Guerinot & Yi (1994) .
FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à N UTRI çã O DE PLANTAS 117
^
de Fe no floema é diminuída, provavelmente, p la forma çã o de compostos insol ú veis.
Contudo, uma vez que o Fe é levado a um órgão pejlo xilema, sua redistribuição é fortemente
limitada . Muitos dos sintomas de deficiência de Fe ocorrem pela baixa taxa de
transloca çã o, que pode provocar acumula çã o dJ
Fe nas ra ízes e folhas velhas, enquanto
as folhas jovens apresentam deficiências do elemento. Os sintomas visuais característicos
de deficiência sã o:
• As folhas velhas apresentam cor verde, enquanto as folhas jovens começam a
amarelar . Diversos estudos demonstram correla çã o entre o fornecimento de Fe e as
concentra ções de clorofila nas folhas.
• Conforme vai avanç ando a deficiê ncia, observa -se uma clorose internerval
característica, onde somente os vasos permanecem de cor verde, contrastando com
a cor amarelada ou esbranquiçada do limbo.
• Em casos de deficiência forte, o amareleciJnentopode ser total e aparecem zonas
necró ticas nos bordos do limbo, produzindo-se uma queda precoce das folhas e, em
casos muito graves, a desfolha total.
• Os caules e ramos permanecem finos e curvados, levando a uma redução do crescimento.
FERTILIDADE DO SOLO
118 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
cultivos. Para o arroz irrigado por inunda çã o, tem-se observado toxidez de Fe, onde os
teores de Fe-ferroso sã o muito elevados.
Mangan ês
O teor de Mn na crosta terrestre é de, aproximadamente, 900 mg kg 1, sendo '
"
^ijcg
formas encontradas com mais frequ ência nos solos, sendo comum a sua ocorrência em
associa çã o com o Fe. Nos solos, os teores de Mn encontram -se, geralmente, na faixa de 20
a 3.000 mg kg 1, com m é dia de 60 mg 1
( Lindsay, 1979 ) .
'
O Mn nos solos tem valências 2, 3 e 4. Na soluçã o do solo e na forma trocá vel está
principalmente como Mn 2 +, enquanto o Mn3+ e Mn 4+ formam óxidos praticamente
insol ú veis. O teor do Mn total em so os minerais varia de 300 a 7.000 mg kg 1, embora
'
^
Os principais fatores do solo qu determinam a disponibilidade de Mn são pH,
condições de óxidorredu çã o, teores de matéria orgâ nica e equilíbrio com outros cá tions,
Forma de absor çã o: O Mn pode ser absorvido pelas plantas como Mn2+ . Considera -
se que as plantas nã o absorvem o Mn4 +, enquanto se desconhece sua capacidade para
absorver apreciá veis quantidades de Mn3+, já que este é muito instá vel. Acredita -se existir
um equilíbrio dinâ mico entre as formas de Mn|sendo os microrganismos os principais
responsá veis pela sua oxida çã o entre pH 5,0 e 7,9, enquanto a oxida çã o nã o-biológica
ocorre somente acima de pH 8,0.
!
Tem sido encontrada evid ê ncia de que a absor çã o de Mn é controlada
metabolicamente, possivelmente de forma similar à quela que ocorre para outros cá tions,
como o Mg e o Ca . Entretanto, a absor çã o passiva deste elemento também pode ocorrer,
principalmente quando o metal encontra -se ení concentra ções tó xicas na soluçã o.
O Mn ocorre na seiva das plantas na forma livre Mn2+. Goor & Wiersma (1976)
relataram uma concentra çã o menor de Mn em ê xsudatos do floema do que em tecidos
das folhas, indicando que o pequeno transporte
do elemento através do floema é
responsá vel pela sua baixa concentra çã o em frutos, sementes e ó rgã os de reserva das
ra ízes .
Heenan & Campbell (1980) relataram que, na condiçã o de bom suprimento de Mn,
as folhas acumulam altas concentra ções com o aumento da idade da planta, sendo
pequena proporçã o do elemento translocada das folhas velhas para as novas, onde o
elemento é deficiente. Contudo, deve-sé considerar que a concentra çã o de Mn varia
grandemente dentro da planta e durante seu crescimento.
Considera -se que o Mn é facilmente absorvido pelas plantas, quando ocorre na forma
sol ú vel no solo, existindo uma rela çã o direta entre o teor sol úvel do elemento no solo e a
concentra çã o na planta . Por outro lado, existe correla çã o negativa entre o teor de Mn nas
plantas e o aumento do pH, bem como uma correlaçã o positiva com o teor de matéria
orgâ nica do solo. !
Fun ções: O Mn é necessá rio à síntese d é clorofila . Sua funçã o principal está
relacionada com a ativa çã o de enzimas. Participa no funcionamento do fotossistema II
da fotossíntese, sendo responsá vel pela fotólisé da á gua . O Mn pode atuar no balanço
iônico como um contra-íon, reagindo com grupos aniônicos. Grande nú mero de enzimas
são ativadas pelo Mn, especialmente aquelas envolvidas em metabolismos intermediá rios
( Dechen et al., 1991a ).
tf
Teores na planta: Os teores de Mn nas plantas variam de 5 a 1.500 mg kg 1 de matéria
'
Malavolta et al., 1989; Pais & Jones J ú nior, 1996; Furlani, 2004).
FERTILIDADE DO SOLO
120 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
Considera -se que a acumula çã o de Mn2+ é tó xica para a maioria das plantas
cultivadas. Nas condições de solos ricos em h ú mus, com pH inferior ou igual a 5,5 e com
elevadas condições redutoras, pode ocorrer acú mulo deste elemento, pelo fato de ser, em
valores baixos de pFf , sua forma absorvida (bivalente) mais abundante, podendo levar à
absor çã o pelas plantas em quantidades superiores à s necessá rias para o seu ó timo
desenvolvimento . Os sintomas de toxidez sã o mais visíveis em plantas jovens,
manifestando-se por meio de manchas marrons nas folhas.
Molibdênio
É um elemento relativamente raro. O teor de Mo na crosta terrestre varia de 1,0 a
2,3 mg kg 1 e, nos solos, varia de 1 a 2 ipg kg 1, podendo chegar até 24 mg kg 1 (Adriano,
' ' '
soluçã o do solo como íons molibdato, tMo042 ou HMo04 , adsorvidos em formas lábil e
" ‘
nã o-lá bil, como constituinte dos minerais do solo e da matéria orgâ nica .
A concentra çã o do íon molibdato na solução do solo é muito pequena, variando com
o pH e com a presença do P. Esta cancentra çã o aumenta com o pH, de modo que,
r.
FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à I
^ UTRI çã O DE PLANTAS 121
Figura 11. Rela çã o entre o pH do solo e a disponibilidade de manganês, molibd ênio e f ósforo
para a cultura do feijoeiro. I
^
móvel nas plantas; contudo, a forma como é tran locado na planta ainda nã o é conhecida.
Resultados evidenciam que o Mo se prove no xilerria como Mo042 , como Mo-S-aminoácido
complexo ou como molibdato complexado com a çúcares (Tiffin, 1972).
'
Fun ções : Grande parte do Mo ençontra -se na enzima nitrato- redutase das ra ízes e
colmos das plantas superiores, a qual Catalisa a redu çã o do íon N03 a N02\ A nitrato-
'
redutase das plantas superiores é encontrada como uma molibdoflavoproteina sol úvel,
que, nas folhas pode estar associada à atividade dos cloroplastos . A enzima oxidada
contém quase sempre Mo. A enzima nitrato-redutase tem o Mo ligado de forma reversível.
Assim, plantas com deficiência de Mo cjpresentam
ac ú mulo de N02 , de modo que a falta
"
^
na enzima nitrato redutase e na nitro enase dos bacteróides nodulares. Ainda que os
microrganismos contenham outras enzimas com Mo (sulfito-oxidase, aldeído-oxidase,
*
xantina -desidrogenase e oxidase ), nã cj existem evidê ncias da presenç a destas enzimas
nas plantas superiores. A enzima nitrogenase é um constituinte das bactérias simbióticas
e actinomicetes, enquanto a nitrato-redutase é a ú nica enzima com Mo nas plantas
superiores. Considerando unicamen] te o metabolismo do N, as plantas superiores
poderiam crescer na ausência de Mo, quando o N é disponibilizado na forma de NH4 +.
!
O Mo também participa das enzimás sulfito-redutase e xantin-oxidase. A deficiência
de Mo repercute negativamente na fornjia çã o de ácido ascó rbico, no conte údo de clorofila
e na atividade respirató ria .
Teores na planta: Os teores de IVÍo nas plantas variam de 0,01 a 500 mg kg 1 de "
deficientes apresentam teores foliares eijrtre 0,01 e 0,6 mg kg 1 (Malavolta, 1980; Malavolta
'
em folha . Podem surgir casos de toxidez por Mo em bovinos por ingerir forragens com
alto conteúdo deste elemento, ocorrendo transtornos intestinais. O excesso de Mo na
dieta animal interfere na retençã o de Cu pelos ruminantes, dist ú rbio conhecido como
molibdenose.
Ní quel
Elemento químico, metal ferromagné tico de transiçã o pertencente ao grupo VIII da
tabela periódica , resistente à oxidaçã o e corrosã o, de cor branca prateada, mais forte e
duro do que o Fe.
componente comum de rochas ígneas. Segundo Pais & Jones J ú nior (1996), os teores no
solo variam de 1 a 200 mg kg 1. As fontes mais importantes de Ni sã o as pentandlitas
"
Funções: O Ni faz parte da metaloenzima urease (que contém dois á tomos de Ni por
molécula ), a qual participa da decomposiçã o da uréia para amónio e C02. Deste modo,
este elemento é importante para as plantas que recebem aduba ções com uréia ou com
seus derivados (por exemplo, na aduba çã o foliar ), exercendo papel importante no
metabolismo do N . Alguns resultados de pesquisa mostram que existem respostas das
plantas, como o arroz e a soja, à adiçã o de Ni, quá ndo se utilizou uréia como fonte de N.
Na soja, o Ni pode aumentar a atividade da ureqse foliar, impedindo a acumula çã o de
quantidades tóxicas de ur éia .
Teores na planta: Os teores de Ni na planta variam entre 0,3 e 3,5 mg kg 1 de maté ria
'
considerados adequados para o crescimento norínal das plantas (Malavolta , 2006) . Para
plantas de cevada , 0,1 pg kg 1 é considerada uma concentraçã o crítica, onde concentrações
'
nos grã os menores que 100 ng kg 1 reduzem a germina ção de semente significativamente e
'
^
acumula ção de concentra ções tóxicas de uréia . .s folhas das plantas que contêm teores
tóxicos de uréia apresentam sintomas de necrose, com teores de Ni que variam de 0,01 a
0,15 mg kg 1 de matéria seca da planta . Plantas de tomate ( Lycopersicon esculentum L.)
'
Zinco
Forma de absorçã o: O Zn é absorvido na forma de Zn2+ tanto por via radicular como
foliar. A mobilidade de redistribuiçã o do Zn na planta é muito pequena, de forma que se
encontra concentrado em grande parte na raiz, enquanto, nos frutos, seu conte údo é
sempre menor.
Figura 12. Rela çã o entre os teores de zinco em um Neossolo obtidos pelo m é todo CaCl2
10 mmol L 1 e o pH do solo.
"
FERTILIDADE DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 125
•
Participa na ativa çã o enzimá tica da trifosfato-desidrogenase, enzima essencial na
glicólise, bem como nos processos de respira çã o e fermenta çã o; e da aldolases,
encarregadas do desdobramento do éster difosf ó rico da frutose.
• Afeta a síntese e conserva çã o de auxinas, horm ô nios vegetais envolvidos no
crescimento, gra ças à sua participa çã o ria síntese do triptofano, amino á cido
precursor do á cido indol acé tico.
nas folhas ( Malavolta , 1980; Malavolta et al., 1989; Pais & Jones J ú nior, 1996; Furlani,
2004 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
126 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
Quadro 7. Produ çã o de maté ria seca, teor de f ósforo e zinco em folhas de videira e rela çã o
P / Zn, considerando a aplica çã o de doses de P no solo e em solu çã o nutritiva
Solo
0,3 19,9 2,63 26,6 99
3,0 19,9 2,69 19,7 137
6,0 17, 2 3,06 15,5 197
Solu çã o nutritiva
1
mmol L
"
Sódio
FERTI L I D A D E DO SOLO
III - ELEMENTOS REQUERIDOS à NUTRI çã O DE PLANTAS 127
Silício
O Si representa 27,7 % da crosta terrestre. É encontrado na natureza na forma de
óxidos (Si02), fazendo parte de rochas, areia e argila . Combina -se com o Al, Mg, Ca, Na,
K ou Fe, formando silicatos. Seus compostos encimtram-se, també m, em á guas naturais,
na atmosfera, como pó de Si, e em tecidos e compostos orgâ nicos de algumas plantas. Na
solu çã o do solo, o Si encontra -se na forma de á cido monosilícico, H4Si04, em cuja forma
é absorvido.
O Si deposita -se em forma amorfa nas paredes celulares das plantas, contribuindo
com a rigidez e elasticidade. O Si é requerido somente por espécies da família Equisetá ceas
para completar seu ciclo de vida . No entanto, militas
espécies acumulam concentra ções
altas de Si em seus tecidos, contribuindo para melhorar o crescimento e a produtividade
destas plantas. Nas gramíneas, al ém de se depositar na parede celular da epiderme,
encontra -se presente no interior de células, como as células buliformes, e no xilema .
Na plantas, o Si é depositado, como sf ica hidratada amorfa (Si 02. nH 20 ) ,
primeiramente no retículo endoplasmá tico, na parede celular e nos espaços intercelulares.
No interior das células, o Si acumula -se também em células epid é rmicas especializadas,
chamadas de células silíceas. Existem trabalhos que comprovam a essencialidade do Si
para a cana -de-a çúcar, tomate e pepino. O Si aumenta a resistência do arroz ao ataque
de fungos e aumenta o rendimento do cultivo.
toxidez causada pelo Fe e Mn nos cultivos de arroz.
Observou
-se que os silicatos diminuem a
Sel ê nio
^
que 0,6 mg kg 1, a concentraçã o deste elemento n s plantas pode-se tornar deficiente em
'
termos de sa ú de animal.
O Se nã o é um elemento essencial para plantas, embora esteja sendo aplicado ao
solo, em á reas deficientes, para assegurar que os alimentos possuam quantidades
FERTILIDADE DO SOLO
128 ANTONIO ROQUE DECHEN & GILMAR RIBEIRO NACHTIGALL
apresenta teores menores que 0,6 mg kg 1. Teores entre 0,1 e 0,3 mg kg 1 na matéria seca
" '
de plantas utilizadas na dieta sã o necessá rios aos animais, contudo, pode ser um elemento
altamente t ó xico, considerando -se o teor m á ximo de Se nas forragens de 1,0 a
5,0 mg kg 1 (Furlani, 2004).
'
Cobalto
^
teores ou associado a outros elemento , em minerais como a a cobaltita (CoAsS), eritrina
(CO3( AS04)2.8H20) e esmaltita (CoAs 2) Um dos principais sais de Co é o sulfato (CoSOJ .
O Co apresenta teores totais que variam de 1 a 40 mg kg 1, e na á gua do mar ,
'
Para leguminosas, o teor de Co nas sementes tem grande importâ ncia em condições
de solos que apresentam deficiência deste elemento. A aplica çã o de Co em plantas
forrageiras, em condições de solos com deficiência deste elemento, é importante para
animais ruminantes ^ já que o Co é epsencial para a microflora do r ú men, por estar
envolvido na síntese da vitamina B12 (Furlani, 2004).
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELA ÇAO SOLO- PLANTA
1/
Departamento de Solos, Universidade Federal de Vi çosa - UFV . Av . PH Rolfs, s / n,
CEP 36570 -000 Vi ç psa ( MG ) .
rfnovais@ ufv . br; jwvoello@ ufv . br
Conte ú do
INTRODU ÇÃ O 134
SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. N OVAIS, R .F., ALVAREZ V., V . H ., BARROS,
N . F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R .B. & NEVES, J . 3.L. ) .
í
134 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
ABSORÇÃ O ( AQUISIÇÃO ) DE
Introdu çã o
NUTRIENTES 186
186
r
Determina çã o das Constantes Ciné ticas d è Absor çã o 190
INTRODU ÇÃ O
Neste capítulo, o solo é considerado como reserva, dreno e fonte de nutrientes para
as plantas, à semelhança de um sistema bancá rio que administra o dinheiro de seus
correntistas, guardando-o, protegendo-o, liberando recursos quando solicitados e, de
modo muito importante, evitando perdas. O solo como "sistema bancá rio" dos nutrientes
tem cargas negativas e positivas de modo a proceder essa administraçã o, tanto dos cá tions
como dos â nions, nutrientes ou nã o
As cargas do solo ao lado da fotpssíntese sã o considerados os dois fenô menos mais
importantes para a existência da vida na Terra . A compreensão dos processos de liberação
de nutrientes, neste caso, quando u,m dreno como a planta o requisita, vai permitir a
otimiza çã o dos nutrientes aplicados por meio de fertilizantes, sua mais eficiente absorçã o
e utilização pelas plantas e proteçã o pio ambiente, nã o permitindo a chegada de grandes
quantidades de nutrientes em suas guas superficiais.
^
O suprimento de nutrientes para as plantas implica nã o apenas seu conte údo nos
solos mas també m seu transporte á té à superf ície das raízes para serem absorvidos .
Portanto, solos compactados, deficientes em á gua, poder ã o ser f érteis e as plantas neles
cultivadas apresentarem deficiência nutricional por falta de transporte dos nutrientes
até às ra ízes. A chegada dos nutriehtes junto à s ra ízes nã o é necessariamente garantia
de absor çã o plena pelas plantas. Há espécies de plantas mais eficientes em absorver
determinado nutriente que outras, pà ra o mesmo suprimento externo pelo solo.
A avalia çã o da eficiência de uma planta em absorver um nutriente, sua ciné tica de
absor çã o, é, portanto, de import â ncia nos processos de seleçã o de gen ó tipos
nutricionalmente mais eficientes em condições diversas de crescimento.
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO- PLANTA 135
Um solo mineral, pr ó ximo à superf ície, com condi ções f ísicas ó timas para o
crescimento de plantas, apresenta, aproximadamente, a seguinte composiçã o volumé trica:
50 % de espa ç o poroso, ocupados por partes igtiais de ar e de á gua , 45-48 % de sólidos
minerais e 2 a 3 e, por vezes, 5 % de maté ria org â nica ( MO) . Têm-se, em média, ent ã o,
50 % constituídos pela fase sólida, 25 % pela fase líquida e 25 % pela fase gasosa (Figura 1).
Terra fina
-•*
Areia Areia
Areia Ar eia Areia
Argila Silte muito muito Cascalho
fina m é dia grossa
fina grossa
FERTILIDADE DO SOLO
136 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
Sistema Coloidal
O solo pode ser considerado como um sistema disperso, uma vez que é constituído
de mais de uma fase, estando a fase sólida em estado de acentuada subdivisã o. Há,
portanto, um sistema coloidal (1) no SO: o, constituído de partículas diminutas, de tamanho
coloidal, minerais ou orgâ nicas, ou organominerais, como fase dispersa na soluçã o (ou
no ar ) do solo, como meio de dispersã o. Nesse sistema, ocorrem rea ções químicas, f ísico-
químicas e microbianas da maior importâ ncia no estudo dos solos. Nessa fase dispersa,
é que se encontram as argilas.
Como exemplo, alé m do solo, pode-se citar a presença de sólido (fase dispersa ) em
gás (meio de dispersã o), constituindo fuma ça, poeira; de líquido em gás, constituindo
névoa, etc.
As partículas do sistema coloidal do solo apresentam as seguintes propriedades:
a ) Grande Superf ície Específica
A superf ície específica refere-se à á rea pela unidade de peso do material considerado
(solo como um todo, fra ção argila apenas, maté ria orgâ nica, etc. ) e é, usualmente, expressa
em m2 g 1.
'
meio, paralelamente a duas de suas faces opostas, a superf ície total dos dois blocos
formados será de 8 cm2, logo, com 2 cm2 a mais do que o cubo inicial, correspondentes às
duas novas superf ícies expostas pela divisã o. Como o peso total dos dois blocos continua
o mesmo, a superf ície específica total do material foi aumentada para 8 cm2 g 1. Se o cubo '
for subdividido em 1.000 cubos, cada um com aresta igual a 0,1 cm, a superf ície total
destes cubos ser á igual a 60 cm 2, correspondente a uma superf ície específica igual a
60 cm2 g 1. Se for subdividido em l .OOjO.OOO de cubos, cada um com aresta igual a 0,01 cm,
'
a superf ície total será igual a 600 cmj e a específica igual a 600 cm 2 g 1. '
Deve-se, portanto, esperar grane es varia ções entre solos quanto às suas superf ícies
específicas. Dentre os fatores responsá veis por essas varia ções, encontram-se:
•Textura .
•Tipos de minerais de argila.
• Teor de matéria orgâ nica.
Em virtude do menor tamanho da fração argila do solo, em rela çã o às outras frações,
pode-se deduzir que esta fra çã o, de natureza coloidal, contribui em maior proporçã o
com o valor da superf ície específica do solo . Trabalho clássico de Grohmann (1977)
,
( )
Nos sistemas coloidais, componentes da fase dispersa (a fase constituída pelas part ículas ) apresen-
tam, pelo menos, uma de suas dimensões entre 1 gm e 1 nm (1 nm = 10 9 m ), e encontram-se em uma
'
segunda fase, o meio de dispersã o (á gua e ar, o meio pelo qual as part ículas se distribuem ) .
<2 ) m 2 = 10.000 cm 2.
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 137
^
específica variando de 8,1 m 2 g 1 de solo com 55 kg 1 de argila a 63,8 m2 g 1 de outro solo
" '
'
Quanto ao tipo de mineral de argila, sabe-se, por exemplo, que a caulinita apresenta
superf ície espec ífica de 10 a 30 m 2 g 1, os ó xidos de Fe de 100 a 400 m 2 g 1, e a
' '
1
montmorilonita , no outro extremo, de 700 a 800 m 2 g 1, segundo cita ções de Grohmann
'
(1975). É de se esperar, portanto, que solos tropicais, que têm nos óxidos e na caulinita os
maiores constituintes da fra çã o argila, tenham menor superf ície específica, em geral, que
solos de regiões temperadas, onde h á predominâ ncia de montmorilonita e de outras
argilas silicatadas mais ativas (Quadro 1) .
Quadro 1. Superf ície específica dos principais compor Lentes da fra çã o argila do solo
m 2 g-1
Gibbsita 1-2,5
Anat á sio 10
Caulinita 10-30
Goethita 30
Mica hidratada 100 - 200
Clorita 100-175
Ó xidos de ferro 100-400
S í lica amorfa 100-600
Sí lica -alumina amorfa 200-500
Vermiculita 300-500
Alofana 400-700
Montmorilonita 700-800
Mat é ria org â nica ± 7000 )
Muito vari á vel .
{1 )
A maté ria orgâ nica , embora apresente, na maioria dos solos, teores relativamente
baixos, contribui, significativamente, para o valor da superf ície específica do solo, graças
ao seu alto grau de subdivisã o. O efeito da maté ria orgâ nica sobre a superf ície específica
do solo pode ser constatado no trabalho de Grohmann (1975), ao verificar que a superf ície
específica de uma amostra de um horizonte Ap de um Latossolo Roxo, inicialmente com
90,3 m2 g 1, (equivalente a 180.600 km2 ha 1, apro imadamente 1 / 3 da superf ície do Estado
" "
^
de Minas Gerais ou quase a do Estado do Paraná ), caiu para 61,2 m2 g 1 após a eliminaçã o
da matéria orgâ nica por oxida çã o com H202. Assim, um solo com maior teor de matéria
"
FERTILIDADE DO SOLO
138 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
cm m 2 g-'
Podz ó lico Vermelho - Amarelo orto 32 -46 44,0
B2 46 -58 61,0
Latossolo Roxo Ap 0 -13 90,3
À3 13-43 68,3
B 21 43-70 82 ,3
Latossolo Vermelho - Escuro orto B 21 32-52 72, 0
B22 52-80 98,0
Fonte: Grohmann (1975) .
FERTILIDADE DO SOLO
^
IV - RELAçãO SOLO PLANTA 139
O Hidroxila (1 - )
O Oxig é nio ( 2-)
Os tetraedros podem ligar-se entre si, formando uma camada contínua, seguindo
duas direções no espa ço, constituindo a estrutura dos filossilicatos. A liga çã o dos
octaedros entre si também d á origem a uma cardada semelhante à anterior .
Os cristais das argilas silicatadas sã o constitu ídos de camadas alternadas de
tetraedros e de octaedros, ligadas entre si por á tomos de oxigénio comuns aos á tomos de
Si ( tetraedros) e aos de AI (octaedros) . O n ú merc de camadas de tetraedros para camadas
de octaedros, por unidade componente de um cristal de argila silicatada, é uma
característica b á sica de identifica çã o dos pr . ncipais grupos de argilas silicatadas
(Figura 3).
Dentre as argilas silicatadas, destacam-se os principais grupos.
a ) Caulinita
Caracteriza -se por um arranjo com uma cainada de tetraedros e uma de octaedros,
unidas entre si, rigidamente, pelos á tomos de oxigénio comuns às duas camadas,
constituindo uma unidade cristalográfica . Unidades assim formadas se unem entre si
por liga ções de H, constituindo o grupo das caulinitas ou o grupo das argilas do tipo 1:1
(Figuras 4 e 5). Sã o hexagonais e de tamanho grande, o que condiciona pequena superf ície
específica, se comparada às partículas de argilas silicatadas do tipo 2:1 mais ativa, como
a montmorilonita . As liga ções de hidrogénio entre unidades cristalográ ficas se devem
ao pareamento de um plano de oxigénios, no topo da camada de tetraedros, com um plano
de oxidrilas, na base da camada de octaedros. Estas liga ções nã o permitem a expansã o
da argila, posto que nã o sã o admitidas molé culas de á gua nestes espa ços internos.
FERTILIDADE DO SOLO
140 ROBERTO FERREIRA NOVA s & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
Figura 3. Disposiçã o das lâ minas de tetraedros e octaedros em duas unidades cristalogr á ficas
de uma argila silicatada 2:1.
Fonte : Com permissã o do Professor Joseph Stucki ( Universidade de Illinois ) .
A
Superfície
externa H H H distâ ncia fixa
v
Camada d e tetraedros
i
Camada d e octaedros I
Figura 4. Representa çã o esquem á tica das argilas do grupo da caulinita ( tipo 1:1) .
b ) Montmorilonita
Caracteriza -se por unidades constituídas por um arranjo com duas camadas de
tetraedros para uma de octaedros, ligadas rigidamente pelos á tomos de oxigénio comuns
^
às lâ minas. Sã o também denominada argilas do tipo 2:1. As unidades sã o frouxamente
ligadas entre si por moléculas d 'á gua e cá tions na solu çã o, o que permite que a distâ ncia
entre elas seja variá vel. Como consequência, cá tions e moléculas podem-se mover entre
essas unidades, o que proporciona tanto uma superf ície total ( a interna mais a externa )
como uma superf ície específica bem maiores (Figuras 3 e 6) do que para a caulinita . Com
a hidrataçã o deste material, há aumento da distâ ncia entre as unidades, o que justifica a
classificaçã o desta argila como expansiva. Com a desidrataçã o, ocorre o inverso: aquela
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçã O SOLO - PLANTA 141
Figura 5. Vista geral de "booklets" (pequenos pacotes de argila ) de uma imagem de caulinita
gerada pelo microscó pio de varredura .
Foto: Disponibilizada pelo Prof . Keller ( in memorian ) da Universidade Missouri - Columbia, USA .
distâ ncia diminui, havendo uma contra çã o do material. Solos que apresentam conteúdo
importante de argilas expansivas apresentam , geralmente, quando secos, superf ície
trincada, com fendas que contornam diferentes formas geomé tricas. Com a reidratação,
tais fendas desaparecem em virtude da expansã o do material. Como toda a sua superf ície
apresenta cargas negativas, este colóide revela elevada capacidade de adsor ção de cá tions.
FERTILIDADE Do SOLO
142 ROBERTO FERREIRA NOVKIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
Camad de tetraedros
í cie
Superf
externa
^
Camada de octaedros
Unidade
cristalográ fica
Camada de tetraedros
v
HzO + íon
í cie
Superf Camada de tetraedros
externa
Camada de octaedros
Camada de tetraedros
Figura 6. Representa çã o esquemá tica das argilas do grupo da montmorilonita ( tipo 2:1).
c ) Ilita
O grupo da ilita , ou mica hidratada , apresenta a mesma organiza çã o estrutural que
a montmorilonita ( tipo 2:1), exceto no que diz respeito às liga ções entre as unidades
cristalográ ficas . A existência de "d éficit" de carga positiva na camada de tetraedro leva
a um excesso de cargas negativas que sã o neutralizadas, geralmente por íons de K,
fortemente retidos entre duas unidades. Essas liga ções diminuem intensamente a
expansã o do material quando sujeito à hidrataçã o. A superf ície de adsorçã o catiônica é,
consequentemente, menor do que a da montmorilonita .
d ) Outros Grupos de Argilas Silicatadas
A presença mais frequente de vermiculita ( tipo 2:1), argila silicatada semelhante à
montmorilonita , embora nã o tã o expansiva como esta, em solos de regiões temperadas,
diz sobre sua menor resistência ao intemperismo, do que a caulinita, por exemplo, tã o
frequente em solos de regiões tropicajs. Nã o obstante, a vermiculita é, de modo geral,
mais resistente ao intemperismo em rela çã o à montmorilonita . A principal diferença
entre estas duas argilas reside nas substituições isomó rficas que se verificam na rede
cristalina por ocasiã o da forma çã o dc S estruturas minerais. A vermiculita apresenta
substituiçã o de Si por AI na camada de tetraedros, ao passo que a montmorilonita
apresenta substituiçã o de AI por Mg na camada de octaedros. Portanto, a presença de
Al, em solo á cidos, é fator de estabilizaçã o da vermiculita . Por outro lado, a lixiviaçã o de
Mg dos solos tende a desestabilizar a montmorilonita . Da í a presença eventual de
vermiculita em solos de regiões tropicais, em detrimento da montmorilonita . Aliás, nã o
é incomum encontrar algumas variedades de vermiculita com precipitados de hidr óxi-
A1 entre as unidades 2:1. Estas sã o denominadas de VHE ( Vermiculitas com hidr óxi
entrecamadas).
A clorita difere das demais estudadas por apresentar, alé m do grupo 2:1 de talco
(com unidade cristalogr á fica similar à da montmorilonita, mas com Mg dominando a
camada de octaedros), uma camada adicional de brucita (Mg(OH)2). Por essa razã o, essa
argila é conhecida pelo tipo 2:2 ou 2:1:1 (duas lâ minas de tetraedros, uma de octaedro e
uma de brucita ). A superf ície específica e a capacidade de troca catiônica são semelhantes
às da ilita .
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELA çãO SOLO - PLANTA 143
Cargas Negativas
Como já foi dito, há no solo, em geral, predominâ ncia de cargas negativas sobre
positivas . Essa predominâ ncia é expressiva err . solos de regiões temperadas, graças à
presença de argilas silicatadas mais ativas, por conseguinte mais eletronegativas. Por
outro lado, nos solos mais intemperizados de regiões tropicais, o predomínio de cargas
negativas tende a diminuir e, em alguns casos, até mesmo inverter com predomínio de
cargas positivas.
As cargas eletronegativas do solo podem ter diferentes origens:
a ) Dissocia çã o de Grupos OH nas Arestas das Argilas Silicatadas
jm
O grupo OH nas terminações tetraedrais < octaedrais, em faces quebradas das
unidades cristalográ ficas das argilas silicadas, pode-se dissociar, gerando uma carga
negativa .
argila - - OH + OH
“
l
argila- - O + H.O
Verifica -se que com eleva çã o do pH do meio (solo ) o equilíbrio é deslocado para a
direita em razã o da neutraliza çã o dos íons H+ liberados
na dissocia çã o do grupo -OH.
Este tipo de cargas dependentes do pl í é o tipo predominante em argilas 1:1, como a
caulinita .
b ) Substituiçã o Isomórfica
Durante a génese de argilas do tipo 2:1, alghns á tomos de Si dos tetraedros podem
ter sido substituídos por Al, bem como o Al dos octaedros p''de ser substituído por Mg ou
por outros cá tions de valência menor que a do Al3+. A substituiçã o do Si4+, que se
FERTILIDADE DO SOLO
144 ROBERTO FERREIRA NOI AIS
/ & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
encontrava, inicialmente, neutralizando quatro cargas negativas por Al3+, irá condicionar
sobra de uma carga negativa . De maneira semelhante, uma carga negativa ser á gerada
pela substituiçã o de um Al3+ de um octaedro por um cá tion divalente, como o Mg2+.
Deve-se ressaltar que o n ú mero de cargas geradas por este processo nã o é variá vel
com alterações do pH do meio.
c ) Matéria Orgâ nica
Na maté ria orgâ nica do solo, as cargas negativas originam -se, principalmente, da
dissocia çã o de grupos carboxilícos e fenólicos, de acordo com as equa ções químicas:
O
+
R-C R-C +H
OH cr
R OH R or +H
+
em que R representa um radical, de modo geral, longas cadeias alif á ticas ou eventualmente
aromá ticas.
Verifica-se pelas equa ções que o equilíbrio é deslocado para a direita , forma
dissociada, com a eleva çã o do pH do meio, ou seja, com a neutralizaçã o da acidez.
Cargas Positivas
As cargas eletropositivas do solo têm sua origem nos óxidos e hidr óxidos (óxidos
hidratados ) de Fe e de Al, preferencialmente. Tal situa çã o se d á de maneira mais
significativa em condi ções mais á cidas de solo.
+
H
/ +H
+
+ OH
-
-
Al - O Al - OH Al - O + H20
\
H
(3)
O PCZ (ponto de carga zero ) é o pH em que o solo apresenta carga líquida nula. Seu valor é variá vel
de acordo com a natureza dos materiais trocadores de íons constituintes do solo.
Densidade de Carga
( molc) negativa corresponde a 9,6485 x 104 C (coulomb ) . A caulinita tem 1,93 mC m 2 e a '
2
montmorilonita 1,64 mC m . '
.
As pr opriedades de adsor çã o iô nica do solo sã o devidas, quase que totalmente, aos
minerais de argila e à matéria orgâ nica do solo, materiais de elevada superf ície específica .
Essas partículas coloidais do solo apresentam cargas elé tricas negativas e positivas,
podendo adsorver ou "reter", por diferença de carga , tanto cá tions como â nions.
Essas cargas, negativas ou positivas, sã o neutralizadas por íons de carga contr á ria ,
que podem ser trocados por outros íons da soluçã o do solo. Essa rea çã o de troca se d á
entre íons da mesma carga . O fenômeno é conhecido como troca iônica e, depois da
fotossíntese, é o processo mais importante para a vida na terra ( Russel & Russel, 1973).
As cargas negativas sã o neutralizadas por íons eletropositivos, ou seja, pelos cá tions,
o que se denomina adsorçã o catiônica. Na neutraliza
çã o de cargas positivas pelos â nions
.
tem-se a adsor ção aniônica Os ons envolvidos nesse processo de adsor çã o ligam-se por
í
eletrovalência ou por covalê ncia à s partículas coloidais do solo. Os cá tions mais
envolvidos quantitativamente nesse processo sã o: Ca 2+, Mg2+, Al3+, H +, K +, Na + e NH4 +,
sendo o Ca 2+, comumente, o mais abundante em alguns solos, enquanto, em outros, é o
Al3+ . Alguns micronutrientes estã o, também, sujeitos ao mesmo processo, embora em
quantidades muito pequenas, se comparadas aos cá tions referidos anteriormente. Os
íons adsorvidos à s partículas coloidais (4) pedem ser deslocados e substitu ídos,
estequiometricamente, por outros íons de mesmo tipo de carga, dando-se uma troca iônica.
Como as cargas da fase sólida se manifestara na superf ície das partículas coloidais
do solo, há estreita relação entre o fenômeno de troca e a á rea superficial dessas partículas.
Essa á rea é a superf ície específica do solo, expressa em m2 g 1 (Quadro 2 ). Assim, o
'
fenô meno de troca iônica do solo, que é basicamente a expressã o de suas propriedades
f ísico-químicas, depende de sua superf ície espec ífica e da densidade de cargas elé tricas
que se manifestam nesta superf ície.
Na soluçã o do solo, que envolve as partícula s coloidais, os íons estã o se deslocando
constantemente, à semelhança de abelhas de uma colméia. A maioria das abelhas
permanece na colméia, mas se distanciam de tempo em tempo para depois retornar (FNIE,
1974). Os íons em movimento representam os elementos em estado trocá vel ou disponível.
Esquematicamente, o fenômeno de adsorção e troca i ônica pode ser representado
pela equa ções:
< 4 > Partículas com dimensões maiores do que as coloidais també m podem apresentar cargas elé tricas,
poré m em n ú mero limitado em razã o das suas peque nas superf ícies específicas.
FERTILIDADE DO SOLO
146 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
OH
OH
-
t 2 H2P04
0,5 mol Lr1, para a determinação da CTC do solo, o valor obtido corresponder á à CTC
efetiva . Por outro lado, se a soluçã o salina for tamponada a um definido pH, o valor
obtido corresponderá à CTC total do solo naquele pH, englobando a CTC permanente e a
CTC dependente do pH. Para determinar a CTC a pH 7,0, usa-se uma solução tamponada
de acetato de cá lcio 0,5 mol L 1, ou de acptato de amónio 1 mol L 1, pH 7,0 (Figura 7).
' "
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO- PLANTA 147
pH do solo PH 7,0
CTC permanente 1 CTC dependente de pH
3+
Al H: H: H:
K
+
Ca 2+
2+
Ca H: H: H: H:
3+
H Al
+
H H: H: H:
.. 2+
NH4 Mg
Mg 2
+
H: H:
+
H H: H:
FERTILIDADE DO SOLO
148 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
^
O Al 3+, sendo trivalente, é mais fo temente retido que os divalentes. O H+, em razã o
de suas propriedades específicas, com Tga ções preferenciais covalentes, nã o se comporta
como monovalente, quanto à preferencialidade de troca . Seu papel depende, também, da
natureza do material trocador .
A concentra çã o dos cá tions na soluçã o do solo afeta a preferencialidade de troca,
interagindo com a carga dos cá tions envolvidos . Assim, à medida que dilui a soluçã o,
mantendo constantes as concentra ções dos cá tions presentes, verifica -se um aumento na
preferência de troca dos cá tions de menor valência, como o Na +, pelos de maior valência .
Em razã o disso, em solos de regi ões ú midas, as bases vã o sendo lixiviadas e o cá tion que
acaba predominando no complexo é o Al 3+; por outro lado, em solos de regiões á ridas e
semi-á ridas, a tend ê ncia é de ac ú mulo de cá tions monovalentes, principalmente o Na +.
A "lei da raiz quadrada ", de Schofield, descreve matematicamente essas rela ções (Wutke
& Camargo, 1975).
A natureza do material trocador influi, principalmente, na densidade de cargas
negativas responsá veis pela CTC do solo, que pode ser expressa em cmolc kg 1 (Quadro 3) . '
Material CTC
cmolc kg
Mat é ria orgâ nica 150-400 1:
°
Vermiculita 100-150
Montmorilonita 80-120
TI i ta 20- 50
Clorita 10- 40
Haloisita .4 H 20 40- 50
Haloisita .2 H 20 5- 10
Caulinita 3- 15
Óxidos de Fe e AI 4- 10
n Valores bastante variá veis em razã o da qualidade da MO, mas, em geral , bastante elevados.
(
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 149
Quadro 4. Contribuição da matéria orgâ nica do solo 'MOS) para a CTC a pH 7,0 de amostras de
camadas superficial e profunda de solos de São Paulo
?
CTC
cm g kg -1 emole kg i
*
%
PV Í s 0-6 50 7,8 3, 2 2, 2 69
115-150 170 2,8 3,5 0, 2 6
Pml 0-15 60 6, 0 3,3 2,1 64
75-100 270 3, 6 5, 0 0,9 18
Pln 0-14 120 5, 2 10, 0 8, 2 82
47-100 240 3, 3 3,6 12
/ 33
Pc 0-16 190 4, 0 7, 4 6,0 81
45-74 530 8, 5 5,5 2, 0 36
PV 0-12 130 4, 0 3,7 2, 7 73
59 -110 560 5, 2 4,0 1,5 33
TE -
0 15 640 45,1 24,4 15, 0 62
55-130 710 3, 6 7,8 1,3 17
LR 0-18 590 45,1 28,9 16,1 56
58-82 580 15,2 14,8 5,9 40
LEa 0-17 240 12, 1 3,9 2,9 74
74-114 310 5,9 3, 2 1,9 59
f ,
( )
Relativo à CTC total ( pH 7,0).
Fonte: Raij (1969 ) .
L =5
SoD
,y
zll 1
em que L é a espessura da DCD ( m ); K é a constante que inclui a temperatura
(T = 298,18 K ), a constante de Boltzmann ( k = 1,3805 x 10 23 J K 1) e a carga elé trica unitá ria
' '
(
n0 é a concentraçã o do íon (íons m 3 = mol L 1 x ,02 x 1023 x 103) . A rela çã o das unidades
' "
espessura da DCD (L ).
Portanto, observa-se que a espessura da DCD é inversamente proporcional à valência
e à raiz quadrada da concentra çã o do íon, e diretamente proporcional à raiz quadrada
da constante dielé trica do meio (Figura 8).
I
FERTILIDADE DO SOLO
150 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
Figura 8. Distribuiçã o de íons a partir da superf ície de colóide eletronegativo, de acordo com
o conceito de dupla camada difusa ( DCD).
Fonte: Mitchell (1976) .
f
em água ):
34
= 1,416 x 108 1,5519 x IO
'
>
= 4,81267 x IO 9 '
/2 -i C 2 J -‘ m - i
L = Ji C
1
m3
,
= J /2 C
"
Tc !' m
2 " ' 1
m3
= jl / 2 C C J-1 / 2 m
=m
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 151
Assim:
-9 m
L = 4,81267 x 101
L = 4,813 nm
Os solventes á gua, á lcool etílico, acetona, tetracloreto de carbono e ar, a 25 °C, tê m
as seguintes constantes dielé tricas (D = z j £0): 78,5(5); 24,3; 20,7; 2,2, e 1, respectivamente.
Para provocar a compressã o da DCD, podem ser usados solventes em sequ ência, em
ordem decrescente de suas constantes dielé tricas.
Quadro 5. Características e classes de acordo com suas magnitudes, relacionadas com a CTC de solos
do Estado de Minas Gerais
Classe
C a r a c t e r ís t i c a
Muito Baixa Baixa Méd i a Alta Muito Alta
3
SB emole dm '
(5) 12 2 1 1
EH 2Q = 695,411931 X IO C J m .
' '
!
FERTILIDADE DO SOLO
152 ROBERTO FERRLJRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
mais usado o valor T a pH 7,0 que é calculado somando-se as bases e a acidez potencial
[SB + ( H + Al)]. Alé m dessas duas expressões, pode-se ainda citar o valor t ao pH do solo
(CTC efetiva ), que é calculado somando-se as bases com a acidez trocá vel (SB + Al3+ ) .
Os princípios bá sicos do fenômeno de troca sã o usados no processo de determinação
da CTC de um solo ou de um material qualquer:
1) Agita -se uma amostra de solo, de peso ou volume(6) conhecidos, com uma solução
deKCll mol L 1:
K* K*
3 3*
A| * K* AI
’
K* K* K*
Amostra 2* 2
Ca + KCI K * + Ca *
de excesso
Mg2* ( solução ) K* Mg 2 + + de KCI
solo
H* K* H* ( solu ção )
Na* K* Na*
K* K*
K* Ca2*
*
K Ca *
2
+
K
Amostra + K * + Excesso
de
K* + CaCI 2 > Ca *
2
* (solução) de CaCI2
solo K (solu ção )
+
K Ca *
2
K *
K *K* K* Ca2*
medida foi em peso) ou cmolc dm 3 (quando a media foi em volume ), corresponde à sua
"
CTC.
Para separar as contribuições de CTC permanente e CTC dependente de pH, utilizam-
se soluções extratoras (caso do KCI 1 mol L 1 no primeiro passo), em diferentes valores de
"
pH. Historicamente, foi Schofield (1949 ) quem verificou que a CTC de uma argila
(6)
Utiliza -se, atualmente, nas redes de laborat ó rios de an á lises de fertilidade de solos do Pa ís, de
preferê ncia, volume de solo, para uniformizar a forma de medir o solo no campo, tendo-se, como
base, um hectare = 2.000.000 dm 3.
6,0 para 7 ,0 . O acréscimo no valor da CTC com a eleva çã o do valor do pH foi denominado
CTC dependente de pH (CTC pH-dependente) .
No pH da soluçã o extratora correspondente ao do solo, tem-se a CTC efetiva, que é a
CTC permanente mais parte da CTC pH-dependente que se manifesta até o pH do solo.
Os dados do quadro 6 mostram que, em todos os tr ês solos, a contribuiçã o da CTC pH-
dependente até pH 7 ou até pH 8 foi bastante significativa, principalmente no primeiro e
último solo, considerando o maior conte údo de matéria orgâ nica, material que apresenta
CTC tipicamente dependente de pH.
Quadro 6. Valores de CTC de três solos (horizonte A ,), êm três valores diferentes de pH da solu çã o
extratora e conte údo de maté ria orgâ nica dos solos
pH de determina çã o da CTC
Solo Mat é ria org â nica
pH Solo pH 7 , 0 pH 8 , 0
cmoU kg -
*
g kg
Argissolo Vermelho- Amarelo 4, 41 8 , 32 11 , 44 52, 4
Latossolo Vermelho- Escuro textura m édia 1 , 58 3 ,14 4 , 22 13 , 9
Latossolo Vermelho-Escuro textura argilosa 1 41
/ 5 , 62 8 , 96 35 , 3
i
Fonte : Hara (1974) .
FERTILIDADE DO SOLO
154 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
í
3 +
AI * + 3HzO ± Al [OH]3
*+ 3H
“
3+ +
n ±
Fe + 3H20 Fe [OH]3
* + 3H
e ) Acidez potencial
A determina çã o da acidez potencial (a pH 7,0) é feita, usando-se, como extrator,
uma soluçã o tamponada de acetato de cálcio 0,5 mol L 1, pH 7,0. Esta acidez inclui H + AI
'
( H + trocá vel , H de liga ções covalentes que é dissociado com a eleva çã o do pH,
predominante, de modo geral, da matéria orgâ nica, Al3+ trocá vel e outras formas de AI -
aquelas parcialmente hidrolisadas como A10H2+ e Al(OH)2+ ) . A maior parte do H provém
das cargas negativas dependentes do pH . Esta fraçãô é chamada acidez dependente do
pH. A participa ção do H em geral é mdior do que das formas trocá veis do Al. Uma outra
denomina çã o usada para a acidez potencial é acidez titulá vel (Wutke & Camargo, 1972),
certamente inadequada .
3
Al3+
m= . 100
CTCefetiva
Observa -se que m é a percentagem de Al trocá vel ( Al3+ ) na CTC efetiva ( valor t ) do
solo.
Informações sobre os valores de T, SB e V de um solo podem indicar o tipo de mineral
presente na fra çã o argila e possíveis problemas na sua utilizaçã o, bem como sobre o
procedimento adequado a ser tomado para otimizar sua utiliza çã o (Quadro 7) .
)
O solo A, com valor baixo de T, deve ter sua fra çã o argila constituída de caulinita e
ó xido de Fe e de Al, argilas pouco ativas, se o teor de argila do solo nã o for muito baixo
(solo arenoso ) . Outro aspecto prov á vel é a existência de baixo teor de matéria orgâ nica
neste solo. A adi çã o de matéria orgâ nica a este solo para aumentar , pelo menos
temporariamente, seu valor T, poder:.a ser recomendada. O valor de V é médio, e a
percentagem de satura çã o por Al3+ ( m ) é baixa, em razã o dos baixos valores de Al3 + I
(Quadro 7).
Solo PHH 2O AI 3
+
SB t ( H + Al ) T V m
'1
cmoIc kg %
A 5 ,6 0, 1 1, 9 2,0 1 ,4 3, 3 58 5
B 4, 5 1, 7 1,0 2, 7 5,0 6,0 17 63 ;
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO- ^LANTA 155
O solo B, muito ácido, tem baixo V; logo, alta participação da acidez potencial (H + Al)
no complexo de troca, podendo apresentar alta percentagem de satura çã o por Al ( m ).
Para uso agr ícola, dever á ter o seu pH elevado por meio de calagem, o que irá causar
aumento dos valores de SB e V, aumentando, conseqiientemente, o seu pH e diminuindo
o valor de Al3+ e de m. Os valores de T e SB indicam que o material constituinte da fraçã o
coloidal é mais ativo, provavelmente com teor c e matéria orgâ nica mais elevado neste
.
Quadro 8. Medianas dos valores de pH, SB, Al3+, CTC efetiva, m e maté ria orgâ nica de 518 amostras
de solos sob cerrado do Brasil Central
emole d m 3 *
% g k g-’
Mediana 5,0 0,42 0,56 1 ,1 59 22
i
í
Um aspecto particular do comportamento de certos â nions no solo é a adsor çã o
específica. Por este processo os â nions sã o retidos pela fase sólida, por meio de liga ções
fortes (covalentes), passando a fazer parte da estrutura da micela, em sua superf ície.
Este tipo de adsorçã o é de baixa reversibilidade e é bem conhecido para o P, sendo o
principal responsável pela fixação de P no solo, principalmente nos solos ricos em óxidos
e hidr ó xidos de Fe e Al. Uma rea çã o desta natureza é aqui apresentada de forma
simplificada (Mengel & Kirkby, 1982):
k
Fe - OH OH O Fe - O O
O + P O P + OH' + HzO
I
í Fe -OH O OH Fe O OH
\
!
FERTILIDADE DO SOLO
156 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
O â nion que pode deslocar o P da fase sólida do solo com maior eficiência é o silicato
( H3Si04 ) . Em segundo lugar, vem o sulfato (S042 ). O nitrato e o cloreto nã o tê m,
praticamente, poder de substituir o fosfato. Pode-se dizer que a retençã o de nitrato e
cloreto no solo se d á por adsor çã o nã o-específica , que tem cará ter reversível .
Da mesma forma que a CTC, a capacidade de adsor çã o de â nions dos solos també m
pode ser determinada em laborató rio. Para tanto utilizam -se, usualmente, curvas de
adsor çã o conhecidas como "isotermas de adsor çã o". Uma das mais utilizadas para
â nions do solo, de interesse na nutriçã o das plantas, é a isoterma de Langmuir, a qual
permite determinar a capacidade m á xima de adsor çã o do â nion em estudo, como, por
exemplo a capacidade má xima de adsor çã o de P (CMAP ) e de sulfato (CMAS) ( veja
capítulos VIII e X ) .
Essas isotermas sã o obtidas adicipnando-se soluções com concentra ções crescentes
do â nion a um volume de solo conhecido . Ap ós o equil íbrio, determinam -se as
quantidades de â nion que ficaram retidas na amostra do solo . Vale salientar que a
técnica nã o permite distinguir a quantidade adsorvida daquela que é retirada da soluçã o
por rea ções de precipita çã o. Portanto, a capacidade m á xima de adsor çã o deve-se, na
realidade, a fenô menos de adsor çã o e de precipita çã o do â nion em estudo.
A capacidade má xima de adsorçao de â nions varia com as características do solo,
notadamente seu teor e tipo de argila, podendo atingir valores bastantes elevados para
solos muito intemperizados com altos teores de argila. Bahia Filho (1982) obteve valores
de CMAP variando de 0,22 a 1,26 mg g 1 de P para Latossolos do Planalto Central do
'
Resultados obtidos por Dias (1992) ilustram o efeito do teor e tipo de argila na
CMAP e CMAS de amostras de Latossolos (Quadro 9 ). Verifica -se que o solo MS, com
menor teor de argila, apresenta valores de CMAP e CMAS menores em rela çã o aos demais
solos, mais argilosos. A compara çã o entre os solos PT ( mais argiloso) e PC evidencia a
importâ ncia do tipo de argila na capacidade má xima de adsor çã o, visto que o solo PC,
apesar de conter menor teor de argila, apresenta maior capacidade de adsor çã o em relação
ao solo PT.
Quadro 9. Teores de argila e capacidade má xima de adsorção de fosfato (CMAP) e de sulfato (CMAS)
em amostras de três Latossolos brasileiros
Solod )
Caracter ísticas
MS PT PC !
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 157
Solo B
o
"O
"O Solo A
5
• w
• r C
O
c
o
U.
I AQ
FC
AI AI
í AQ
Q ( Fator Quantidade )
Figura 9. Rela çã o entre os fatores quantidade (Q), intensidade (I) e capacidade ou poder tampã o
( FC ) de um nutriente no solo.
FERTILIDADE DO SOLO
158 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
Observa -se que o solo A tem maior FC ou é mais tamponado que o solo B ( AQ / AT do
solo A > AQ / AI do solo B ) . Na prá tica, pode-se dizer que, para a mesma dose de P (Q),
por exemplo, aplicada nos dois solos, o aumento da concentra çã o de P em soluçã o (I )
será maior no solo B do que no A .
Uma possibilidade para justificar isto seria o solo B ser mais argiloso que o solo A,
mantendo-se a mesma qualidade de argila (atividade) para ambos os solos.
Outra maneira de representar a inter-rela çã o entre os fatores I, Q e Q / I é por meio de
um sistema de vasos comunicantes ( Figura 10 ) .
Verifica-se, nessa representa çã o, que a quantidade trocável ou l á bil (adsorvido), do
elemento E está em equilíbrio com a quantidade em solução deste elemento. A tubulaçã o
que liga esses dois compartimentos representa I / Q, ou o inverso FC; logo, quanto maior
o diâ metro da tubula çã o, menor o FC para o elemento (caso do solo arenoso) em rela çã o
a um menor diâ metro (solo argiloso, como compara ção) . A quantidade total de nutriente
no solo disponível à planta é igual a Q + I. Como o valor de I é muito menor que o de Q,
nas determina ções de Ca trocá vel ou de P-lá bil de um solo, que representam medidas de
Q, a contribuiçã o de I pelo seu valor muito pequeno, não altera para fins prá ticos o valor
de Q.
A quantidade m á xima que pode atingir Q do elemento, em dado solo, é dada pela
CTC desse solo, para elementos trocáveis com ligação eletrostá tica, como para Ca 2+, Mg2+,
K +, Na + e pela capacidade má xima de adsor çã o do elemento (CMAE ) por esse solo, para
elementos lá beis, com liga ções covale ntes, como o P e Zn, dentre outros.
O equilíbrio entre Q e I indica que, quando o solo tiver seu valor má ximo de Q de um
elemento, ele terá também seu valor má ximo de I; logo para Q igual a zero, I também será
igual a zero. O cultivo sucessivo de dois solos Norte Americanos (Quadro 10) de modo a
causar -lhes a exaustã o do P originalmente existente indica uma concentra çã o de P em
Figura 10 . Inter-rela ções entre os fatores quantidade (Q), intensidade (I) e capacidade ou poder
tampã o (CF) de nutrientes no sole , numa representaçã o segundo vasos comunicantes.
CTC = capacidade de troca catiônica , CMAE = capacidade má xima de adsor ção do elemento
E e N-Q = nã o-lá bil ou nã o- trocá vel.
;
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 159
Quadro 10. Altera ções nos valores de f ósforo em solu ção e pelo extrator Mehlich-1, em amostras de
dois solos, um com 42,4 % (Georgeville) e outro com 6,4 % de argila ( Norfolk ) submetidos a
cultivos sucessivos
Georgeville Norfolk
Cultivo
CaCh ( I ) Mehlich -1 ( Q) CaCh ( I ) -
Mehlich 1 (Q )
mg L-i mg dnv 3 mg L- í mg dm -3
O diâ metro da tubula çã o (Figura 9) será muito maior para elementos adsorvidos por
troca iô nica que para aqueles adsorvidos por covalência . O "transporte" indica que,
para uma planta absorver um nutriente, nã o basta que o solo seja capaz de ced ê-lo; é
necessá rio que o nutriente seja transportado desde a soluçã o, pr óximo às partículas
sólidas do solo, até à solu çã o junto à raiz.
Fator Intensidade
a ) Soluçã o do Solo
Os processos f ísicos, químicos e biológicos < o solo sã o altamente dependentes de
sua fase líquida aquosa . Na ausência de á gua nã há vida e, portanto, nã o há solo, mas
i
FERTILIDADE DO SOLO
160 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
Os nutrientes na solu çã o do solo poder ã o ter suas concentra ções diminu ídas pela
absor çã o pelas plantas que podem també m exsudar nutrientes minerais e compostos
orgâ nicos para a solu çã o do solo, enriquecendo-a (Figura 11) . A lixiviaçã o de K mesmo
da planta viva também ocorre, tornando-se um suprimento do nutriente para a soluçã o
do solo. A solu çã o do solo pode ter ganhos de nutrientes por meio da aplica çã o de
fertilizantes minerais, orgâ nicos, fixa çã o livre ou simbi ó tica do N 2 atmosf érico, e pelas
chuvas (Quadro 11). Os nutrientes na soluçã o do solo estão em equilíbrio com os colóides
do solo, minerais e orgâ nicos, que podem fix á -los ( K fixado em argilas silicatadas 2:1; P
fixado em formas nã o-lá beis, etc. ) ou formar complexos está veis com a matéria orgâ nica
do solo (Cu é um exemplo clá ssico ) . Os nutrientes em concentra ções elevadas, que
ultrapassam o produto de solubilizacã o, podem ser precipitados, a partir de suas formas
iônicas da soluçã o do solo.
Há perdas dos nutrientes da solu çã o do solo por meio da erosã o, lixivia çã o e perdas
gasosas pela desnitrifica çã o, volatiliza çã o de NH3, de C02 da respira çã o de C orgânico
dissolvido na solu çã o do solo, CH4, H2S, estes dois gases em solos submetidos a baixo
potencial redox (inundados por longos períodos de tempo, por exemplo ).
Figura 11. Interfaces da soluçã o do solo (fase líquida ) com as fases mineral e orgâ nica, com a
planta, e ganhos e perdas de seus componentes pelos mecanismos mais importantes
envolvidos.
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçã O SOLO - PLANTA 161
Quadro 11. Ganhos de nutrientes e de sódio, pela chuva e atmosfera, em plantios clonais de eucalipto
na região litorâ nea do Estado do Espírito Santo
\
Macronutriente Micronutriente
kg ha -1 ano - i g ha 1 ano - i
*
N 19, 2 B 59, 2
P 0,3 Fe 126,7
\
K 6,2 Zn 96,6
Ca 19 / Mn 31,7
Mg 16 / Cu 38,7
S 11 1 /
Elemento
kg ha -1 ano 1 *
Na 20,2
(Quadros 12, 13 e 14). A soluçã o do solo é também constituída por compostos orgâ nicos
dissolvidos (Quadro 15).
b ) Atividade e Potencial
A concentra çã o de um elemento (íon) na solu çã o do solo pode ser corrigida para
atividade iônica. Tal correção é feita por meio das equa ções de Debye - Huckel ( Adams,
Quadro 12. Valores de pH e composição da solução de amostras de solos dos Estados Unidos
Ca 2 + Mg2 + K+ Na + NH / SO 42
'
Solo pH NO 3 Cl HCO 3 '
Total
mmolc L -1
FERTILIDADE D0 SOLO
162 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
Quadro 13. Valores de pH e composição da soluçã o de uma amostra de Latossolo Vermelho distrófico
típico do Estado do Rio Grande do Sul, submetido ao plantio direto e convencional
+
Mg2 Al (1)
+
Sistema de cultivo PH Ca K Na + NH 4
+
N 03
‘
P 043 '
Total COD ( 2 )
mmoic L-1
Plantio direto 5, 4 1, 0 0, 6 0,8 0, 2 0,55 0,14 1,50 0,0039 10,194 4, 4
Plantio convencional 5,5 0,5 0 ,3 0, 4 0,17 0,16 0,10 0, 45 0, 0026 7, 673 2, 0
Quadro 14. Principais constituintes inorgâ nicos da solu çã o de solos, agrupados segundo amplitudes
de concentra ções em que se encontrap com frequência
Cá tions Cr 3+, Ni 2 + Cd 2 +, Pb 24 Fe 2 +, Mn 2 + , Zn 2 + Cu 2 +, NH 4 + , Al 3 + Ca 2 +, Mg 2 + , Na +, K +
 nions Cr042-, HMO 4 - H 2 PO 4 -, F-, HS - HCO3-, Cl -, so42 -
Quadro 15. Principais constituintes orgânicos da soluçã o de solos, agrupados segundo amplitudes
de concentrações em que se encontram com frequência em condições naturais
-1
Amplitude de concentra çã o ( mmol L )
-2
< 102 10 a 1
irboidratos , fen ó is , prote í nas , á lcoois , sulfidrilas Á cidos carbox í licos , amino á cidos , a çú cares simple
1971, 1974 ) ( 7). Após a obten çã o dc atividade ( a ) de um íon, pode-se fazer uma
transforma çã o adicional de sua conc í ntra çã o ativa em potencial do íon na soluçã o do
solo. Essa situa çã o pode ser comparada à presença de certa atividade de H+ (aH + ) em
concentra çã o (mol L 1) na soluçã o do polo, por exemplo, aH + = 10 4 mol L 1. A acidez da
" ' '
soluçã o poderia ser expressa dessa maneira ou, como normalmente é feito, por meio do
potencial de H (pH) .
( 7)
A avalia çã o da atividade de um íon em solu çã o pode ser feita com a utiliza çã o de eletrodos seletivos
(em potenciômetro ), que medem potencial como pH, ou por uma sé rie de cá lculos teóricos que, a
partir da concentra çã o de todos os íons nessa solu çã o, permite estimar a atividade do íon em
questã o. Todavia, nã o se tem, ainda, um e etrodo específico para todos nutrientes como para fosfato.
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELA çã O SOLO - PLANTA
163
pH = -log k H +
Para atividade de H + igual a 10 4 mol L 1, o botencial de H, ou pH é:
' '
( 8)
Aqueles submetidos aos conceitos de atividade e de ior ça -i ônica pela primeira vez sentem -se, com
frequ ê ncia , nã o sintonizados com o significado pr á tico desses conceitos. Como diversos outros
conceitos tidos como acad ê micos, eles s ã o aceitos, mas n ã o assimilados ou entendidos. Temos
utilizado em sala de aula um exemplo figurado que permite ao aluno f á cil entendimento desses
conceitos. Pode-se considerar que uma criança , A, brincando em um "playground ", terá sua ativida -
de m á xima quando apenas ela estiver presente . Todo o espa ço e todos os brinquedos est ã o à sua
disposi çã o. A medida que outras crian ças aparecem, inicia -se uma restriçã o à atividade da crian ç a
A; espa ç o para movimentar -se e brinquedos s ã o també m ocupados por outras crian ças . Com o
aumento do n ú mero de crian ças ( aumento da "forç al-iônica ", com o aumento da concentra çã o de
íons em solu çã o ), a atividade da crian ça A, ou de qualquer outra crian ç a considerada individual -
mente ( atividade do íon A ( A ) ou do íon X ( X )) , diminui . A atividade, vari á vel entre crian ç as
( algumas podem ser mais obesas, menos á geis que outras) como entre íons ( pelas suas característi -
cas pr ó prias ), tenderá ao seu valor m á ximo quando o n ú mero de crianças no "playground " tender
para um (atividade do íon. tende a ter a mesma grandeza da concentra çã o analítica do íon. quando
a concentra çã o iônica-força-iônica - da soluçã o tende para zero; nessas condições extremas (a .) = [C. ].
A crian ça A no "playground " ter á sua atividade també m decrescida se uma ou mais crianç as a
assediarem muito por uma razã o qualquer, restringindo-lhe a atividade. Para o mesmo n ú mero de
crianças no "playground ", a crian ça A ter á mais atividade se outras crianças a deixarem livre, sem
assé dio pessoal ( "par - i ô nico ou compostos com baixa dissocia çã o" ), limitando-lhe a atividade .
Alum ínio na solu çã o do solo ter á sua atividade restrita pela presença de outros íons em solu çã o,
como també m pela presen ça de alguns íons em particular, como S042 , que forma par -iônico com
'
Al3+, Ca 2+, etc. Portanto, a atividade de fosfato, por exemplo, em solu çã o dependerá das caracterís-
ticas do pr ó prio fosfato ( tamanho-i ônico e val ê ncia ), da concentra çã o de outros íons em solu çã o
( for ça-i ônica ) e da forma çã o de pares-iô nicos.
FERTILIDADE DO SOLO
164 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
for ça iônica ), e que esse valor cr ítico de toxidez será maior, talvez 2 mg L 1 de Al, se o solo '
for mais rico em nutrientes ( maior foi ça iônica ) (Foy, 1974). As concentra ções analíticas
[C] cr íticas de 1 ou 2 mg L ’de Al, se transformadas em (a ), far ã o com que os valores
encontrados sejam teoricamente semelhantes (idem para potencial de AI ou pAl ) nos
dois solos.
Para transformar a concentra çã o analítica de um elemento E em soluçã o [E ] em
atividade de E ( E ), é preciso estimar o coeficiente de atividade ( fE) desse íon na solu çã o
em que ele se encontra :
( E ) E = fE[E] (1 )
em que C ; é a concentra çã o molar (analisada ou adicionada como um sal sol ú vel a uma
soluçã o nutritiva, por exemplo ) de cada íon na soluçã o e Zj sua valência .
Tendo a for ça iônica da solu çã o, estima -se o coeficiente de atividade f .:
AZ? M'1 / 2
- log f
( 3)
1 + aI B n'/2
Quadro 16. Tamanho de íons (valor empírico) de diferentes cá tions e â nions em água
í on Tamanho
À (1 >
NH Ú , Rb*, Cs* 2, 5
K \ CF, NOs '
3 ,0
OH; F 3,5
so42 , co3?-, HCO 3 ,
H 2 P04 , ‘ ' -
Na * 4,0
HPO 42 , PO 43
'
4,5
2+
Sl , Ba 2* 5,0
+
Li , Ca 2+
, Cu
2+
, Zn 2*
, Mn 2* 6 ,0
Mg 2 * 8, 0
H *, AI 3+ 9,0
4*
Th , Zr 4+ 11 , 0
(1 )
 = 0,1 nm .
Fonte: Adams (1974) .
c
FERTI . IDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO 2 PLANTA 165
0,509 x 22(0,05; 1 /2
'° fca
- 9
1 + 6,0 x 0,329(0,C 5) 2
1/
= 0,3158513
f = l 0-°-3158513 = 1,4832
Esse valor indica que apenas 48,32 % do Ca 2+ na soluçã o encontra -se na forma ativa .
Cá lculo da atividade de Ca ( Ca ) na soluçã o
FERTILIDADE DO SOLO
166 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
decresce com os anos de cultivo com a descida no perfil do solo de â nions como Cl , NO3'
"
Fator Quantidade
O fator quantidade é uma medida do elemento trocá vel do solo como Ca 2+, Mg2+, K +,
3+
Al , das aná lises de rotina de fertilidade, independentemente do extrator utilizado no
pa ís: Mehlich-1 ou Resina de Troca Catiô nica ou, com mais frequê ncia, Resina mista
( aniônica mais catiônica ) . Também para elementos, como P e Zn adsorvidos ao solo
preferencialmente por coval ência, coijn troca de ligantes, a Resina de Troca Iônica (RTI)
pode ser considerada o mé todo de determinação do fator quantidade denominado, para
estes casos, formas lá beis desses elementos, formas do íon adsorvido à fase sólida do
solo, mas em equilíbrio com sua forma na solu çã o do solo.
O P fixado da forma n ã o-l á bil ("nã o- trocá vel"), por nã o se encontrar em equilíbrio
como P em solu çã o, nã o pode ser considerado uma forma de fator quantidade de P, e,
portanto, nã o-disponível às plantas a curto prazo.
A utiliza ção de RTI ou mista, como um mé todo de determinaçã o de Q para elementos
como o P, tem ressalvas, uma vez que com apenas uma extraçã o, como se faz na aná lise
de rotina do "disponível", extrai-se apenas parte do lábil, em torno de 50 % (valor variável
entre solos) do total extra ído pela somató ria de extra ções sucessivas. Para extratores
químicos como o Mehlich-1, o P extraído do solo é considerado uma medida de Q; erros
podem ser grosseiros, uma vez que formas nã o-lá beis de P no solo podem também ser
extraídas, de modo particular naqueles solos ricos em P ligado a Ca (P-Ca ), para os quais
este extrator nã o é recomendado ( veja c apítulo VIII).
Uma das maneiras de medir Q de elementos retidos com maior energia nos solos,
como P, Zn, S, é a utilização da técnica da diluição isotópica , em que o elemento marcado
adicionado a um solo, como o 32P, troca lugar com o P-lá bil (31P ) do complexo de troca .
Quanto maior a diluiçã o do 32P da solu çjã o pela troca com o 31P lá bil, ocupando seu lugar,
/
P/ E
Banco ' - Poupan ç a Dinheiro em esp é cie Esquema 1
( P) ( E)
Portanto, no sistema bancá rio, o cliente A (avarento ) pode manter o seu dinheiro
quase todo ou todo na poupança, enquanto o cliente B (perdulá rio) coloca pouco dinheiro
na poupança, mantendo a maior parte em espécie no bolso, para ser gasto. Há um
equilíbrio entre poupança e dinheiro em espécie, para cada cliente, em que a falta de
dinheiro em espécie faz com que o cliente o recomponha recorrendo à poupança e vice-
versa: entrada de dinheiro em espécie faz com que parte dele migre para a poupança . Há
um equilíbrio entre os dois compartimentos ( poupança e dinheiro em espécie). Assim, a
rela çã o P / E do Esq. 1 pode ser considerada uma medida de "miserabilidade" de um
cliente do banco: quanto maior P / E mais miser á vel (avarento) e o contrá rio, menor P / E,
numa compara çã o entre clientes, mais perdulá rio.
Voltando ao solo (Esq.2), há o Ca2+ retido no complexo de troca adsorvido às cargas
negativas (fator quantidade - Q) em equilíbrio com o Ca2+ em solução (fator intensidade -1).
O equilíbrio define a rela çã o Q / I que é uma medida do fator capacidade (FC ) ou poder
tampã o ( PT) de Ca 2+ em determinado solo. No solo A, o Ca 2+ pode-se encontrar quase
todo no complexo de troca, enquanto, no solo B, o Ca 2+, pode-se encontrar quase todo na
soluçã o do solo. Para o solo A a rela çã o AQ / AI é muito alta, o que indica um solo com
elevado FC ou PT, caracterizado por ter muitas dargas negativas (CTC efetiva alta ), o que
é pr óprio dos solos mais argilosos ( particularmente aqueles com argilas mais ativas,
como as silicatadas do tipo 2:1 e, ou, com maiores teores de matéria orgâ nica ).
Adicionando uma planta ao Esq. 2:
Parte aé rea
da planta
Ca2*
(Q / l)
_ C~ a
\ 2
94
transporte
L
t
raiz Esquema 3
(Q ) (l)
c
FERTILIDADE DO SOLO
168 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
2
Observe que há dois drenos (solo e planta ) para a mesma fonte, o Ca + na soluçã o do
solo (I).
No exemplo do sistema bancá rio, o cliente poderia ter a opção de colocar o dinheiro
na poupança ou emprestá -lo a um am go. Certamente, o amigo teria menos sucesso em
obter o empréstimo com o cliente A (a mrento ) do que com o cliente B (perdulá rio).
1
Por outro lado, a competiçã o entre solo e planta por nutriente, com predomínio do
~
solo sobre a planta, ocorre para nutrientes aniô nicos como o fosfato (H2P04 e HP042 ) e, '
em menor grau, para o sulfato (S042- ) e para cá tions como os micronutrientes metálicos
de modo geral; como bons exemplos: Zn e Cu. Todos esses nutrientes são adsorvidos ao
solo por liga çã o covalente, com troca de ligantes ou adsor çã o de esfera interna (Meurer,
2000). Nesse caso, as elevadas quantic .ades do elemento adsorvido e a elevada energia
de adsorçã o desses elementos com os c olóides do solo fazem com que a reversibildiade
do processo (dessor çã o ) seja restrita, limitada , e, com frequência , nã o atendendo à
demanda da planta mesmo em solos cora elevados valores de Q. Essa condição caracteriza
valores de Q / l , FC ou PT, tã o elevados que o dreno planta é colocado em prioridade
inferior ao dreno solo.
~
Pode-se adiantar que suprir N03 , K +, Mg2+ e Ca2+ via solo (fertilizantes ou corretivos)
a uma planta é uma tarefa simples porque o solo não compete com a planta pelo nutriente
adicionado, embora possa perdê-lo por lixivia ção; o mesmo não pode ser dito para aqueles
nutrientes como P, Zn, dentre outros, com os quais se pode estar fertilizando mais o solo
que a planta . Para estes nutrientes com elevados valores de FC ou PT, em compara çã o
à queles fracamente adsorvidos, como as bases em geral (Ca 2+, Mg2+ e K + ), com baixos
valores de FC ou PT, as doses de fertilizantes sã o dependentes desta propriedade do solo
- os mais argilosos dever ã o receber doses maiores para que a planta tenha algum
excedente para si. Para contornar on minimizar o problema, esses nutrientes sã o
aplicados mais localizadamente, de modo a diminuir o contato com o solo ( o dreno
indesejá vel pelo seu poder excessivo ) , e suas fontes idealmente utilizadas na forma
granulada .
No caso do primeiro grupo, como nos de K + e N03 , as perdas poderã o ocorrer por
”
1 mmol L- l
"
2 mmol dm 3
3
FCP = ,
0,0039 mmol L- i 512 8 rr mol dm / mmol L
" 1 '
Nesse exemplo, observa -se que o FC para P é 34,2 vezes maior que o FC para Ca .
Cálculo semelhante para K, em um solo com 78 mg dm 3 deste nutriente (2 mmolc dm 3)
' "
e 0,8 mmol L 1 em soluçã o (Quadro 13), chega -se a uma FCK = 2,5 mmolc dm 3 / mmol L 1,
' "
'
em uma soluçã o de CaCl2 0,01 mol L 1 com a amostra de solo, numa rela çã o de 1:10 de
'
ou PT (solo mais arenoso, por exemplo) e, quanto menor esse valor, tendendo para zero,
mais tamponado é o solo ( mais argiloso, por exemplo ).
O relacionamento dos valores de P- remanescente de diferentes amostras de solos e
medidas da FC ou PT destes solos, como teor de argila (Figura 12), é apresentado no
trabalho de Freire (2001) .
FERTILIDADE DC SOLO
170 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
60
9 = 52 , 44 - 0 , 9646 ** x + 0, 0050 ** x2 2
R * 0 , 747
50 - «T V x entre 5 e 75 % de argila
rr
O) 40 -
E s ••
E
<V
L
_ 30 ‘
- HiVFfV
CL 20 -
•Vivi* ••
10 -
•"• •
0
0 20 40 60 80 100
Argila , %
Figura 12 . Valor de f ósforo remanescente ( P-rem ), de acordo com o teor de argila em diferentes
amostras de solo.
Fonte: Freire ( 2001) .
Introdução
FERTILIDADE DO SOLO
172 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
Quadro 17 . Teores médios de f ósforo, potássio e cá lcio na solução de amostras de doze solos do Rio
Grande do Sul e contribuição relativa da intercepta ção de ra ízes, fluxo de massa e difusão no
suprimento destes nutrientes para plantas de milho, em casa de vegeta çã o
mg L -1 %
P 0,35 3,5 2,6 93,9
K 12,4 P,9 10 , 1 89, 0
Ca 168, 2 35, 0 337,50 )
Este valor indica que, potencialmente, apenas o fluxo de massa seria capaz de suprir, em mais de três vezes, a
(1 )
dos casos, o principal mecanismo de transporte de S042 às raízes. Em solos com elevado
'
status nutricional, van den Ende (1973) observou que o FM era capaz de suprir S042 , Cl , " '
-1
e de Lassance, correspondendo à s concentra ções de S em solu çã o de 10,9 mg L
(0,340 mmol L 1), no solo Paracatu, e de 10,1 mg L 1 (0,316 mmol L ), no solo Lassance.
" ' 1 '
como os de cerrado ( Bahia Filho, 1982), a contribuiçã o do fluxo de massa é muito peque-
na, algo em torno de 1 % do P absorvido ( Barber, 1974, 1980; Vargas et al., 1983).
7
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 173
Quadro 18 . Concentra çã o de enxofre em solução do solo, de seu conte údo nas plantas de soja e de
milho e o transportado até às raízes das plantas por fluxo de massa (FM) e difusão, em rela ção
às doses deste nutriente aplicadas em amostras dos solos de Viçosa, Paracatu e Lassance (MG )
mg d m 3
'
mg L '
— mg / vaso — mg L 1
'
— mg / vaso — mg L ' i
mg / vaso
Soja
0 25, 2 24, 5 70, 3 3, 9 24, 2 13, 8 3, 0 32, 5 10, 4 10, 4 22, 1
20 35, 5 22, 7 92, 6 9, 0 29, 7 32, 0 5, 8 27,4 16, 8 10,6
40 44 , 0 24, 0 112.3 15, 4 32, 0 51, 9 11 , 2 30, 7 36, 0
80 80, 3 27, 9 244.4 39, 0 37, 3 154, 9 28, 0 32, 7 92, 0
160 140, 4 24, 4 336.4 101,1 39, 2 409, 3 80, 3 48, 8 329, 2
Milho
0 21 , 1 38 , 1 50, 2 2, 9 42, 6 14 , 6 4 ,2 79, 5 27, 7 28 , 0 51 , 8
i
20 35 , 2 58, 5 121, 6 3, 4 63, 7 16, 5 7, 1 84, 9 46, 9 47, 2 38, 0
40 44, 7 62,1 146, 5 10, 1 62, 9 46 , 7 10, 9 76, 4 59, 2 16, 2 17, 2
80 62, 5 64, 6 220, 2 22, 1 60, 8 92, 2 32, 1 99 , 6 224 , 3
160 124, 8 89, 5 511, 1 66 , 1 62,5 295 , 5 80, 2 119, 8 569, 7
FERTILIDADE DO SOLO
174 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
também uma colher de NaCl colocada em um litro de á gua fará com que, depois de algum
tempo, todo o sal se dissolva e se difunda até os locais de menor concentra ção. Com o
tempo, a concentra çã o do sal em toda a soluçã o será uniforme. O gás se difundiu no ar,
como meio de transporte ou meio de dispersã o, enquanto o sal utilizou a água . Nã o
haveria transporte do gás nem do sal sem o meio de dispersã o, ar e água, respectivamente.
Observa -se que, em ambos os casos, haverá difusã o, sem que haja necessidade de vento
que, neste caso, caracterizaria o fluxo de massa, como o de uma janela aberta, por exemplo,
para o gás, ou de agita çã o da á gua para o sal. Esse movimento, ou turbulência, do meio
de transporte, do "veículo", ar e á gua , arrastando consigo o disperso, foi o que se
caracterizou anteriormente como fluxo de massa . Portanto, mesmo que a planta nã o esteja
transpirando, haverá difusã o de íons até às raízes, onde poderã o ser absorvidos. Quando
se sai da sala e se vai em direçã o ao fogã o, está -se interceptando o gás.
Intercepta çã o de Ra ízes
Um exemplo hipoté tico da contri Duiçã o estimada da interceptaçã o radicular, fluxo
de massa e difusão como meios que viabilizam a chegada de um nutriente, P como exemplo,
até à superf ície das raízes de soja é apresentado a seguir:
Para boa produtividade de soja , a quantidade total de P acumulado em sua biomassa
- grã os e parte vegetativa - fica em torno de 20 kg ha 1. Para absorver todo èsse P, o
sistema radicular precisa, de alguma maneira, criar mecanismos para acessar esse
nutriente que se encontra na soluçã o do solo.
Enquanto cresce, a raiz intercepta o P que se encontra em sua trajetó ria . O
crescimento da raiz causa a explora çã o de novas regiões do solo ainda nã o submetidas
à absorçã o do nutriente, portanto, mais ricas que as anteriormente interceptadas. Se for
considerado que apenas de 0,1 a 2,0 % do volume de solo explorado pelo sistema radicular,
nos primeiros 15 cm superficiais do pe::fil, é ocupado pelas raízes (Barber, 1974), pode-se
verificar que a quantidade do P em soluçã o mais o P-lá bil ou trocá vel que o abastece, à
medida que o primeiro vai sendo absorvido, nã o é suficiente para se chegar à quantidade
de P absorvida pela cultura da soja .
Concentra ções críticas(9) do P na soluçã o do solo, para muitas plantas, como já foi
dito, podem ser inferiores a 0,05 mg L 1 de P, para solos altamente intemperizados e, ou,
"
argilosos (Yost et al., 1979), e tã o altas como 0,2 mg L 1, para solos menos intemperizados
"
e, ou, mais arenosos. Se for considerado um nível crítico médio do P-lá bil ou trocá vel,
entre o início e o fim do crescimento da cultura , de 50 mg dm 3 de P no solo, verifica -se
'
que uma intercepta çã o de 1 % do somatório deste valor, com um nível crítico médio na
soluçã o do solo de 0,1 mg L 1, permitiria um suprimento de 0,751 kg ha 1 de P nos 15 cm
' "
(9 )
Concentra çã o cr í tica pode ser definida como a concentra çã o de um nutriente, por determinado
mé todo de aná lise, acima da qual a probabilidade de resposta de uma planta à aplica çã o desse
nutriente no solo ou meio de cultivo nã o é de interesse económico.
FERTILIDADE DO SOLO
I
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 175
Fluxo de Massa
Um potencial hídrico decrescente na sequê hcia soluçã o do solo > ra ízes > folhas >
atmosfera faz com que a solu çã o do solo se movimente nessa direçã o, do solo até à
atmosfera , estabelecendo-se o fluxo transpiracional. Depreende-se desse fluxo que o
arraste da soluçã o do solo até à raiz significa o trá nsporte até ela do P na soluçã o do solo,
que vai indicar o que poderá ser absorvido. Assim, o volume de á gua transpirado durante
o ciclo da cultura multiplicado pelo teor de P na soluçã o dá a contribuição potencialmente
esperada desse mecanismo de transporte, denominado fluxo de massa, para com o P
acumulado pela cultura da soja . Se for considerado que, durante o ciclo dessa cultura, o
volume de á gua transpirada é da ordem de três milhões de litros (Barber, 1974), pode-se
verificar que, para um teor crítico m é dio de P na soluçã o do solo da ordem de 0,1 mg L 1, "
Verifica -se que o total de P absorvido pela soja nã o pode ser explicado pelo
crescimento de ra ízes ( interceptação radicular ) e - pelo fluxo de massa somados; ainda falta
muito para chegar aos 20 kg ha 1 de P. '
Fluxo Difusivo
Quando se somam as contribuições do crescimento das raízes, interceptando o P, e
da transpira çã o, causando o fluxo de massa, veriftca -se que o valor encontrado contribui
com muito pouco do valor acumulado na cultura da soja. Essa grande diferença [20,0 -
(0,3 + 0,751) = 18,949 kg ha 1] é satisfeita pela difus ã o. Portanto, a contribuição da difusã o
'
° 0)
Difusã o é utilizado como sinónimo de fluxo difusivo ein muitos trabalhos; nã o deve ser confundido
com coeficiente de difusã o ( D ) .
FERTILIDADE DO SOLO
176 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
O suprimento de um nutriente da solu çã o do solo até à superf ície das ra ízes, por
meio do fluxo difusivo (Wiethõ lter, 1985), é expresso pela Lei de Fick:
F = - D ASc / Ôx (4 )
( 12)
Embora imped â ncia tenha como sinónimos resist ê ncia ou o inverso da admitâ ncia, os valores de /
sã o o inverso de qualquer restriçã o à difus ã o. Por exemplo, quanto maior a tortuosidade, menor é o
D e, por conseguinte, menor F. Portantc , matematicamente, este componente da imped â ncia é
utilizado como o intervalo de tortuosidade .
FERTUJIDADE DO SOLO
i
IV - RELA çãO SOLO - PLANTA 177
Filme de á gua
mais delgado
Figura 13. Efeito do teor de á gua em solo altamente intemperizado (com predomínio de cargas
positivas ) sobre o fluxo difusivo de f ósforo nc solo.
Fonte : Novais & Smyth (1999 ) .
Calagem e Fosfatagem
-
Os componentes das Eq. 4 e 5 podem ser, itambé m, indiretamente alterados pela
adoçã o de técnicas agr ícolas usuais, como calagem e a adiçã o de fertilizantes fosfatados
ao solo. Para Zn, Fe e Al, o aumento do pH do solo com a calagem ou a adiçã o de P ao
solo causam precipita çã o de suas formas iô nicas que se encontravam em soluçã o,
diminuindo seus valores de ÔI / ÔQ e, como esperado, de seu valor de ôc / ôx. Como
consequência, h á diminuiçã o dos fluxos difusivos destes elementos nos solos, o que é
inconveniente para a planta quanto ao Zn e o Fe, mas conveniente quanto ao Al.
A deficiência de Fe em plantas de caf é cultivádas em Latossolos ricos neste nutriente
pode ser causada por condições que afetam o transporte deste nutriente no solo, como
FERTILIDADE DO SOLO
178 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
potenciais: -0,01, -0,04 e -0,10 MPa . Para a determina çã o do FFe, foram montadas câ maras
de difusã o que receberam uma lâ mina de resina de troca catiô nica como dreno de Fe. O
Fe total adsorvido à s lâ minas foi extra ído após 10 dias de contato com os solos, estimando-
se o FFe.
A umidade foi preponderante sobre o FFe em ambos os solos, mas teve maior
importâ ncia na ausência da calagem com ou sem a adiçã o de P (Quadro 19) . Isso se deve
ao fato de que a precipita çã o de Fe erja
seus compostos de menor solubilidade previne
maior FFe, mesmo sob condições de ma ior umidade.
Os resultados obtidos mostram que a calagem, bem como teores elevados de P
dispon ível em solos, particularmeme naqueles mais argilosos, como no Latossolo
Vermelho f é rrico argiloso, de Patos de Minas, onde lavouras de caf é apresentaram
sintomas de deficiê ncia de Fe ( Nunes et al., 2002), podem causar absor çã o insatisfató ria
deste nutriente pelas plantas, de modo particular quando estes solos sã o submetidos a
déficits hídricos.
Quadro 19 . Fluxo difusivo de ferro no solo de Joã o Pinheiro ( textura média ) e de Sete Lagoas (muito
argiloso ) como variá vel de níveis de umidade e doses de f ósforo e de calcá rio
Mé dia 3,07 2, 94 1, 71 2, 28
Valores seguidos pela mesma letra maiuscula, na linha (dentro da dose de calagem, efeito de P), min úscula , na
coluna (dentro de solo, efeito de umidade ), e pela mesma letra grega na mesma linha , para a compara çã o do efeito
de calagem, dentro dos tratamentos sem e com P. respectivamente, nã o diferem entre si pelo teste Tukey a 5 %.
Fonte : Adaptado de Nunes et al. (2004).
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 179
Ânion Acompanhante
solos tratados foi elevada à capacidade de campo . O fluxo difusivo de Zn ( FZn ) para uma
resina de troca de cá tions, durante um per íodo c e 15 dias, foi avaliado ( Quadro 20). O
aumento do pH do solo acarretou grande diminuiçã o do FZn .
Efeito semelhante foi observado para o teor d e argila do solo: solo com maior teor de
argila com menor FZn. O FZn foi maior quando a fonte utilizada foi ZnCl2. Tal fato parece
ser consequ ê ncia da baixa capacidade de adsor çã o de Cl pelos solos em geral e da alta
'
solubilidade do ZnCl2, e sua consequente maior p resença na soluçã o do solo como â nion
acompanhante do Zn.
Uma análise da Eq . 5, considerando determinado solo, com dado teor de um nutriente
(ÔI / ôQ e ôc / ô x constantes), a difusã o deste nutriente até à raiz de uma planta variar á
diretamente com o conte ú do de á gua do solo (0) .
!
Quadro 20. Fluxo difusivo de zinco como variá vel de solo, pH, dose e íon acompanhante (fonte )
após 15 dias de contato da lâ mina de resina e amostras dos solos
Dose Zn ( mg dm 3) '
Solo pHHjO
0 10 20 40
Hmol cm 2 / 15 dias
" / r j
ZnCh
PV 4 ,87 0,003 0 , 035 0,088 0,169
6,00 0, 002 0, 006 0, 012 0, 029
ZnSC> 4
4,87 0,027 0, 060 0,126
6,00 0,006 0, 011 0, 021
ZnCh
LV 4, 64 0,002 0,064 0,251 1,064
ZnSC> 4
4,64 0,031 0,072 0,188
PV: Argissolo Vermelho (22 % argila ). LV: Latossolo Vermelho (12 % argila ) .
Fonte: Oliveira et al. (1999).
Conteúdo de Água
Esse efeito de conteúdo de água do solo sobre a difusão de P em amostra de um
Latossolo Vermelho-Escuro textura média (LEm ) de cerrado, em casa de vegetação, foi
FERTILIDADE DO SOLO
180 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
estudado por Ruiz (1985) e por Costa (1998) (Quadro 21) . Ruiz (1985) cultivou soja ,
utilizando a té cnica de ra ízes subdivididas, encontrando-se metade das ra ízes no vaso
com solu çã o nutritiva completa menos P, e metade em outro vaso com solo, onde se
testaram doses de P em três níveis de umidade (Quadro 22). O exsudato xilem á tico foi
coletado, analisando-se seu conte ú do de P e avaliando-se, também, o fluxo xilemá tico
deste elemento para a parte a é rea da soja . Os resultados mostraram que, mesmo para
elevada dose de P, como 240 mg kg 1 de P, que corresponde, na prá tica, a 5,5 t ha 1 de
'
"
superfosfato simples incorporados nos 20 cm superficiais do solo, seu fluxo xilemá tico
caiu mais de trezentas vezes, quando o conte ú do de á gua retida a -0,01 MPa (-0,1 bar )
caiu para aquele correspondente a 0,3 MPa (-3,0 bar ) (Quadro 22). É interessante
^
considerar que este menor conte ú do de á gua no solo era bastante para manter a planta
com turgidez sem d éficit hídrico aparente. E, nessa condi çã o, o fluxo de P caiu para
valores menores que aquele observado no solo sem a adição de P (solo com praticamente
zero de P disponível pelo extrator de Mehlich-1), com umidade próxima à capacidade de
campo (-0,01 MPa ) .
Quadro 21. Fluxo difusivo de f ósforo em três solos influenciado pela umidade do solo. A dose de
f ósforo aplicada foi constante, correspondente a 50 % da capacidade má xima de adsorção de
f ósforo do solo
Umidade ( % porosidade )
Solo Teor de argila
60 80
g kg 1
'
Hmol cm 2 / *
15 dias
LEI 130 0 41 0 , 61 0 , 91
LV 560 0 08 0 , 42 0,88
LE 2 760 0 07 0 , 17 0, 24
Quadro 22 . Efeito do conte ú do de água em amostra de um Latossolo Vermelho textura média sobre
a transloca çã o de f ósforo para a parte aé rea da planta e crescimento da soja
mg kg 1 solo
*
MPa ( % ) ( ' ) Hg h 1 de P
*
cm 2
0 - 0 , 30 (11, 0 ) 0 , 012 109,5
- 0 ,04 (13 ,6 ) 0 ,033 150 , 3
-0 , 01 (17, 4) 0 , 059 165 , 8
(1 )
Volume / volume .
Fonte : Ruiz (1985a ) .
FERTILIDADE DO SOLO
. *
IV - RELAçã O SOLO- PLANTA 181
Considera ções
i
de 100.000 vezes maior que o do H2P04 . Disso pode-se assegurar sobre a alta mobilidade
de NO/ nos solos, o que lhe pode acarretar expressivas perdas por lixivia çã o, pequeno
ou nulo efeito residual ao longo dos à nos de cultivo e fluxo de massa como o mecanismo
de maior suprimento de N para as plantas. O valor muito menor de D para Pí2P04
assegura -lhe sua "imobilidade" no solo (a difusã o ocorre de distâ ncias nã o superiores a
1 mm da raiz, aproximadamente), sua virtual não- lixivia ção e a difusã o como mecanismo
de suprimento predominante deste nutriente para a planta . O Zn, com valor de D mais
próximo ao do H2P04 , apresenta comportamento semelhante a este quanto ao seu
’
!- j
lhe menor lixiviaçã o que a observada para o N03 , justificando os estudos no sentido de
%:
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1’
I?
W: FERTILIDADE DO SOLO
Ê:
182 ROBERTO FERREIRA NO \JrAis & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
Quadro 23. Valores médios dos coeficientes de difusã o (D) de alguns íons no solo
fon D
cm s
Na +
1 ,0 X IO 5'
NH 4 + ( 0, 4 a 3, 0 ) x IO 7'
K* 2, 3 x 1 CT 7
Ca 2 + ( 3, 2 a 7, 4 ) x IO 8'
Zn 2 + ( 3, 1 a 266 , 0 ) x IO ’ 10
NO3- (0, 5 a 5 , 0 ) x IO 6
’
H 2 PO 4 - ( 2, 0 a 4 , 0 ) x 10 11
'
É necessá rio enfatizar, também, a importâ ncia de raízes mais finas, como as capilares,
aumentando o volume de solo explorado, para elementos, com menores valores de D,
como o de P e Zn, com mobilidade restrita em termos de distâ ncia . Outro ponto que
merece destaque é o efeito indireto que á interceptação radicular tem sobre o fluxo difusivo
de nutrientes no solo. À medida que o sistema radicular cresce, explorando novas á reas
do solo ainda ricas naqueles elementos de menor D, diminuem as distâ ncias para que a
difusão ocorra, facilitando-a . Para â mons com maior mobilidade no solo, como o N03 ,
'
esse efeito indireto do crescimento das ra ízes, facilitando a difusã o, deverá ser muito
menor, se presente.
Compactação do Solo
As menores respostas à aduba çã o observadas em nossos solos, com os anos de
cultivo, seriam, em boa parte, resultantes da degrada çã o das propriedades f ísicas desses
solos, levando ao aumento de suas densidades e, como consequência , à retençã o com
maior energia pelo solo de nutrientes como menores valores de D, preferencialmente ao
fluxo difusivo ( Figura 13). Com a compacta çã o, aumenta a participa çã o de microporos;
com o aumento da energia de retençã o da á gua no solo, aumenta sua viscosidade e a
intera çã o desses íons e superf ície dos coló ides ao longo de sua trajetó ria de difusã o,
fazendo com que o íon tenha de se difundir cada vez mais próximo de superf ícies
adsorventes, que os retêm. Para que o íon continue chegando até às raízes, doses cada
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 183
vez maiores terã o de ser aplicadas, com vistas em aumentar a saturação nessas superf ícies
adsorventes pelo elemento e em manter o fluxo dijfusivo em níveis pelo menos razoáveis,
em termos de demanda da planta (Figura 14 e Quadros 24 e 25). Nessas condições de
degrada çã o das propriedades f ísicas dos solos, há forte diminuiçã o do fator de
imped ância, /, diminuindo o coeficiente de difusã o D (Eq.5) e, como consequência, o
fluxo difusivo (F) de íon no solo (Eq.4).
Um solo "cansado", como freqiientemente denominado pelos fazendeiros, que se
torna menos responsivo à aplicaçã o de fertilizantes , como de P, deve ter como característica
principal a queda drástica do fluxo difusivo desse nutriente, que, embora presente em
teores adequados no solo, não chega satisfatoriamente às raízes. A análise do solo
indica teor alto do disponível, enquanto a planta indica acú mulo baixo. Assim, doses
requeridas para manutençã o da produtividade tê m de ser bem maiores que as
anteriormente usadas, particularmente nos solos com maior adsorção de P, por exemplo
Compactação
+++ --++ --+++ --++
m&M .
*+ + -
+ T + + .+ . +
t SlV &•
H2PO4- Raiz I
i <14
*
+++ - - + +A- + f :
V.
Compactação
Figura 14. Efeito da compactação de uma amostra dç um solo altamenté intemperizado (com
predomínio de cargas positivas) sobre o fluxo difusivo de f ósforo no solo .
Fonte: Novais & Smyth (1999) . : .
Quadro 24. Fluxo difusivo de potássio de um solo, influenciado pela umidade do solo. A dose de
potássio aplicada foi correspondente a 40 % da CTC efetiva do solo
Umidade (% porosidade)
Solo - teor de argila
20 : 60 80
LE - 130 g kg 1
'
nmol cm 2 / 15 dias
'
Sem compacta çã o 9 ,9 28 , 7 51 ,5
Com compacta çã o 7, 6 15, 6 24, 9
FERTILIDADE DO SOLO
1S4 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WELSON VARGAS DE MELLO
Quadro 25 . Crescimento e conte údo de fósforo em mudas de eucalipto influenciados pela dose de
-
f ósforo e pela compaetaçâ o de um Latossolo Vermelho Amarelo textura média
J
kg dm mg dm
1
cm g/ v a s o
1 , 70 0 2 ,7 0,05
150 23,7 11 , 90
( Figura 15). A correçã o geralmente utilizada pelos fazendeiros nos solos "cansados"
é deixá-los com pastagens por alguns anos, quando suas propriedades f ísicas sâ o
melhoradas pela estruturaçã o proporcionada pela atividade intensa de organismos do
solo e pela qualidade dos res íduos do sistema radicular das gram í neas-
610 g kg L de argila, com uma dose de 450 mg dm " de P comum aos tr ês tratamentos,
'
FERTILIDADE D O S O L O
IV - RELAçãO SOLO- 3LANTA 185
Idade da Planta
Nutrientes com menores valores de D são, de modo geral, mais críticos na fase inicial
de crescimento da planta, dado o pequeno volume de solo explorado pelas raízes, bem
como o nã o-estabelecimento da micorriza çã o. Contrariamente, a demanda de nutrientes
com grande valor de D, como de N03 e de K +, é crítica mais tarde, coincidente com
’
;
Interaçã o Doses de Nutrientes Verstis População de Plantas
;
são frequentes na literatura, enquanto, para elementos como o P, dado seu pequeno valor
i de D, este estudo não tem muito sentido. Esse conceito foi desenvolvido por Bray (1954)
1
i (Figura 16)
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Figura 16. Competição entre plantas por nutrientes de alta mobilidade no solo, com grande
valor de D, como N03‘, por exemplo, e por nutrientes "imóveis", cõm pequeno valor de D,
como H2P04 , por exemplo. "
FERTILIDADE DO SOLO
i
186 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
Observa -se que, à medida que aumenta a densidade de plantio ou popula ção de
plantas, a competição pelo nutriente mais móvel aumenta grandemente, o que não acontece
para o nutriente "imóvel". A competição pelo "imóvel" somente vai existir em pequena
ou mínima intensidade, uma vez que sua distâ ncia de transporte é algo não mais que
1 mm de distâ ncia da raiz. Assim, apenas naqueles locais! onde raízes de duas plantas
se tocam haverá competiçã o entre elas pelo H2P04~. Como o volume de solo explorado
pelas raízes de uma planta é, em média, 1 %, o contato de raízes entre plantas vizinhas é
bastante pequeno. Disso, pode-se dizer que a quantidade de P a ser utilizada em um
plantio de milho com 40.000 plantas ha 1 será, basicamente, a mesma a ser utilizada se
'
essa população for aumentada para 60.000 plantas ha 1, para produtividades semelhantes
'
nas duas condições. Para N, esse aumento na densidade de plantio de milho requererá um
aumento expressivo na sua dose, comparativamente à recomendada para a menor densidade.
Considerações Finais
Outros aspectos prá ticos relacionac .os com a mobilidade de nutrientes no solo e sua
grande dependência à disponibilidade de á gua são demonstrados nos experimentos de
localiza çã o da fonte de P em maior profundidade. Em anos mais secos, a localização
mais profunda da fonte de P em rela çã c à semente pode trazer aumentos significativos
na produtividade de feijão, em solos de cerrado, por exemplo. A manutenção da umidade
em níveis mais elevados, por mais tempo, em maiores profundidades, comparativamente
à da superf ície do solo, que seca mais rapidamente, seria a razão para esse resultado.
Com mais umidade em profundidade, a difusã o do P é mantida por mais tempo durante
um período de estiagem. Naturalmen te, essa localização de P em profundidade não
trará os resultados esperados se o ano for chuvoso ou se houver irrigação suplementar.
Uma consideraçã o final e de amplo aspecto de aplicação prá tica é a dependência
direta que o fluxo de massa tem da ebertura estomá tica (condutâ ncia estomá tica ),
enquanto a difusão nã o, ou apenas indi retamente, mais tardiamente, por limita ções na
absor çã o ativa de nutrientes (gasto de energia ). Assim, tecidos que transpiram menos,
variações rá pidas na abertura estomá ticí ., ao longo do dia, estarão em fase com o fluxo de
massa e nã o com a difusã o.
Há uma bem conhecida rela ção entre fertilidade do solo e produtividade de plantas,
mantidos os demais fatores de produção em níveis nã o-limitantes (veja capítulo II). Como
tem sido mostrado ao longo de todo o texto, a planta tem seu crescimento diretamente
dependente da concentra çã o do nutriente na solução do solo, fator intensidade (I), e,
indiretamente, do fator quantidade (Q) e do fator capacidade do nutriente ou capacidade
tampã o do solo do nutriente do solo (Q / 1), que governam o valor de I.
Equa ções matemá ticas sã o utilizadas para representar a relaçã o entre a velocidade
(taxa ) com que a planta absorve o nutriente e a disponibilidade desse elemento em
soluçã o. A equa çã o de Michaelis-Menten tem sido muito utilizada com esse objetivo.
Essa equa çã o foi desenvolvida para estudos de taxa de reaçã o enzimá tica como variável
dependente da quantidade de substrato hidrolisá vel disponível(13). A semelhança entre
a taxa de crescimento microbiano como variá vel da disponibilidade de substrato (S), a
taxa de absorção de nutriente pela planta e a disponibilidade desse nutriente (C) foi
estabelecida por Epstein & Hagen (1952) e tem, ba sicamente, a seguinte forma:
A equação de Michaelis-Menten é caracteriza .da por três constantes que podem ser
mais facilmente entendidas pela analogia entre a eficiência do "bombeamento" do
nutriente da soluçã o pela planta e do bombeamento de á gua de uma cisterna . A
quantidade de água retirada da cisterna depende da velocidade má xima de sucção (Vmáx )
da bomba, característica dependente da potência Ide seu motor, diâ metro da tubula ção,
etc. Uma bomba desenvolvida para succionar á gua nã o terá a mesma vazã o se for
utilizada para bombear óleo. A diferença entre densidade e viscosidade desses dois
líquidos será responsável por resultados distintos. Portanto, mesmo tendo a mesma
Vmá x (a bomba é a mesma ), a afinidade entre a bomba e o líquido succionado é variável.
Ela poderá ter grande afinidade com água, mas nã o com óleo, bombeando muito mais
água, no mesmo per íodo de tempo. A bomba succiona á gua de uma profundidade mínima
(Pmín ) do fundo da cisterna, para que não arraste ba rro. Portanto, quando o nível de água
na cisterna fica abaixo de Pmín, o bombeamento é interrompido, mesmo que ainda haja
água na cisterna .
03)
-
De maneira mais direta, pode-se dizer que é a relaçã o entre a taxa de crescimento de microrganis
mos e a disponibilidade de substrato.
FERTILIDADE DO SOLO
188 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
i •
(n
GO
‘1
Cp (mol L )
oncentra çã o de P em soluçã o
Figura 17. Curva de ciné tica da taxa de absorção de f ósforo ( influxo ) ou de perda do P já
absorvido (efluxo, E), como variá vel da concentração de f ósforo em solução, mostrando
as constantes deste modelo de ciné tica (Im > x, Km e Cmín) .
A equaçã o de Michaelis-Menten é:
U, C. i
i= (6)
Km + C, , . , .
(14)
V má x foi inicialmente utilizada para rea ções enzim á ticas e substitu ída, com mais frequ ê ncia, por I m á x
para a absorçã o de nutrientes.
(15)
Com o aumento do conte ú do do nutriente em estudo na planta, os valores de E aumentam e os de
I m á x decrescem rapidamente, com pequenas alterações nos valores de Km; os valores de C m ín tornam-
se bem menores em plantas bem supridas com esse nutriente comparativamente às mal supridas
( Marschner, 1995) .
\
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 189
ou
imá x (Q - cmm)
i= (3)
Km + ,
(C - Cmín)
de modo geral) e a taxa de absor çã o ou influxo desse nutriente pela planta. Estudos de
ciné tica de absor çã o de nutrientes têm sido utilizados para comparar espécies ou
variedades (materiais gené ticos) de plantas (Martinez et al., 1993), avaliar o efeito de
micorrizas (Faquin et al., 1990), o efeito de outros elementos essenciais sobre a taxa de
absorção de P (Magalhã es, 1996) ou de elementos tóxicos, como Al ( Alves et al., 1988;
Petry et al., 1994), de morfologia de ra ízes (Clarkson, 1985; Anghinoni et al., 1989), de
localiza çã o de uma fonte de P em rela çã o ao siste ma radicular (Castilhos & Anghinoni,
1988; Barros et al., 1993), de exclusã o de P ou . aplica çã o de doses vari áveis de P,
previamente à cinética (Fontes & Barber, 1984; Martinez et al., 1993), de forma iônica de
P preferencialmente absorvida (H2P04 ou HP042 ) (Bieleski, 1973; Barber, 1980), de idade
"
'
da planta (Clarkson, 1985), de pressã o osmótica C a soluçã o (Ruiz et al., 1987), etc., tudo
isso avaliado por alterações nos valores das constantes que caracterizam a cinética de
absorçã o de nutriente pela planta toda, como nesses trabalhos, ou por apenas por raízes
seccionadas(16>.
O termo absor çã o indica o transporte de nutrientes para dentro da planta, através
de membranas celulares. Como consequência do seu significado restrito, esse termo tem
sido substituído por aquisiçã o (Clarkson, 1985; Jungk, 1991; Marschner, 1995), de
significado bem mais abrangente. A planta utiliza mecanismos que "tomam" o P do
solo. Há uma "mineraçã o" de nutrientes do solo pela planta (Clarkson, 1985). A idéia
de o solo ceder nutrientes à planta e esta, de maneira passiva, absorvê-los é, com certeza,
simplória .
Absorçã o, no sentido de mecanismos envolvidos na passagem de P através de
membranas celulares, nã o é tratada neste texto, por fugir de seu escopo. Informações
sobre este assunto, com extensa citação de litera tura, são encontradas no trabalho de
Logan et al. (1997), com o sugestivo título: "Plasma membrane transport systems in higher
plants: From black boxes to molecular physiology" e no capítulo absorçã o de nutrientes
(Fernandes & Souza, 2006) do livro Nutriçã o Mineral de Plantas (Fernandes, 2006).
Fala -se també m, neste capítulo, sobre modelos mecanísticos de absorçã o de
nutrientes.
(16)
A utiliza ção de segmentos de ra ízes, comparativamente à planta toda, é de particular import â ncia
para os estudos de mecanismos envolvidos na absorção, por não envolver o efeito da translocação
que se segue à absorçã o. Considerando a limitada capacidade de acú mulo do absorvido e a falta de
fotossíntese, os estudos cinéticos de absorçã o com ra ízes cortadas devem-se reduzir a curtos perí-
odos de tempo ( Barber, 1995).
FERTILIDADE DO SOLO
190 ROBERTO FERREIRA NOVA s & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
tl 7) Podem-se també m utilizar solu ções com concentra ções decrescentes, cada uma em um vaso ("steady-
state"). Nesse caso, o tempo de amostragem da solu çã o é constante, contrariamente ao mé todo
apresentado inicialmente, em que se mant é m a concentra ção inicial constante e varia-se o tempo de
amostragem. Todavia, em ambos os casos, as concentra ções iniciais do nutriente, em cada vaso,
decrescem com tempo de absor çã o. Críticas à utiliza çã o desses mé todos que implicam depleçã o do
nutriente na solu çã o, com o tempo de contato com as ra ízes levaram ao desenvolvimento de m é to-
dos em que as concentra ções do nutriente se mantêm constantes ao longo do tempo de absorçã o por
meio, por exemplo, de um de sistema de fluxo cont ínuo da solu çã o nutritiva em uma câ mara com
as ra ízes (Glass et al., 1987; Bloom, 1989 ). Sobre esses mé todos, sugere-se ler, també m, Escamilla &
Comerford (1998) .
í l 8) Espera -se encontrar uma regi ã o linear decrescente ( tangente negativa ) inicialmente, seguida de uma
regi ã o curvilinear e, finalmente, uma regiã o linear, tendendo à horizontal, com o decr éscimo da
concentra çã o do nutriente em solu çã o ( C.), com o aumento do tempo de sua absorçã o pela planta
( Claassen & Barber, 1974 ).
(19)
M é todo que permite estudar a ciné tica de absorçã o de nutrientes por ra ízes laterais de á rvores
adultas, em condições de campo, é apresentado por Escamilla & Comerford (1998) .
FERTILIDADE DO SOLO
-
IV RELAçãO SOLO- PLANTA 191
Figura 18 . Curva de ciné tica de exaustão da concentração de f ósforo da solução nutritiva (Cp),
como variá vel do tempo de absorçã o desse nutriente por plantas de soja . Os resultados
relativos aos quatro últimos tempos ( -o- o - ) foram criados e adicionados aos dados
originais, para viabilizar a estimativa do Cmín "
Quadro 26. Influxo de fósforo (32P) em plantas de soja, em diferentes tempos de amostragem da
solução. Valores de concentração de fósforo na solução de exaustão, em duas unidades distintas
(Cp e Qp), já corrigidos para evapotranspiração, retirada das alíquotas (amostras) da solução e
decaída radioativa
P em solu çã o
Tempo de amostragem Influxo de P ( IP)
0>
'c- p Qp
FERTILIDADE DO SOLO
192 ROBERTO FERREIRA NOVA s & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
Cariá veis
Equaçã o Michaelis- Menten *1 * Proposta de lineariza çã o *2*
y X
. V
Quadro 28. Ajuste não-linear e transformações lineares da Equa ção de Michaelis-Menten aos dados
do experimento de absor çã o de f ósforo (32P) por plantas de soja (Quadro 26) e respectivos
valores das constantes ciné ticas ‘
•
pmol g 1 h pmol L
'
A determina çã o das constantes Imá xf Km e Cm ín pode, também, ser feita pelo processo
grá fico-matemá tico de Ruiz (Cometti et al ., 2006).
O fato de haver uma zona de depleçã o em tomo das ra ízes dos nutrientes de menor
mobilidade no solo, transportados preferencialmente por fluxo difusivo ( Barber, 1995)
indica que o maior limitante à absorçã o destes nutrientes é o fluxo difusivo, o que indica
que, dentro de certos limites, uma plantei nã o é favorecida por apresentar mecanismos de
absor çã o mais eficientes que os de Outra ( Bieleski, 1973; Martinez et al ., 1993). Assim,
mudanças nos valores das constantes ciné ticas Imá x, Km e Cm ín (Quadros 29 e 30 ) tê m
mostrado pequeno efeito relativo sobre a absor çã o de nutrientes com transporte
preferencial por difusã o ( Barber, 1995) . Nessas condições, o comprimento ou taxa de
crescimento de raiz torna -se uma caracter ística de extrema importâ ncia .
FERTILI D A D E DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 193
Por outro lado, para que se inicie a depleaã o em torno da raiz de nutrientes com
baixa mobilidade no solo, é essencial que a planta apresente um Cm ín inferior à
concentra çã o de P na solu çã o (solo ou soluçã o nutritiva ) . Um Cm ín de 0,28 gmol L 1 de '
p(2°) para 0 ( Vale et al., 1984), o qual poderá decrescer com o avanço em idade da
planta (Fox et al., 1974), d á uma idéia do pequeno valor de P em uma soluçã o, acima do
qual há influxo líquido desse nutriente, e da sua importância para solos com grande
FCP. Para essas condições, menores valores de Km seriam mais convenientes que grandes
valores de Imá x, uma vez que as concentra ções de P normalmente encontradas na soluçã o
de nossos "solos-drenos" nã o ser ã o suficientes para obter esse valor ( Imá x ) .
Segundo Williams & Yanai (1996), para condições de concentraçã o de um nutriente
na soluçã o do solo (C;) superior ao valor de Imá x de uma planta, a absor çã o desse nutriente
pela planta ser á governada pelo valor de Imá x. Por outro lado, se o valor de Q for menor
que o Imá x, a absorçã o do nutriente será governada pelo seu suprimento ( transporte até à
!
raiz ) pelo solo. Portanto, para as condições da maioria de nossos solos, caracterizados
por forte dreno não apenas de P, mas também de micronutrientes, como Zn, Cu, dentre
outros, tem-se na difusã o o maior gargalo de sua absor çã o pela planta .
Embora a rela çã o entre a varia ção de valores de Km e de I má x não seja clara em muitos
trabalhos (Fontes & Barber, 1984; Martinez et al., 1993(21) ), aumentos de Imá x com aumentos
de Km têm sido observados ( Anghinoni et al., 1589 ).
Quadro 29. Valores das constantes I m á x Km e Cmin d a ciné tica de absor çã o de potássio, cá lcio e
'
magnésio por mudas de quatro clones de eucálipto
Hmol g 1 h 1
' '
nmol L 1 jimol g 1 h 1
’ '
jimol L- i jimol g 1 h 1 limol L 1
' ' ' '
(1 )
H íbridos de £. grandis (clones 7074, 57 e *129) e híbrido de £. grandis x £ . urophy í la (clone 1213). (2) Valores
seguidos de mesma letra, em cada coluna , nã o diferem significativamente entre si pelo teste Duncan a 5 %.
{3)
Coeficiente de varia çã o das m édias entre os clones.
Fonte: Lima et al. (2005).
( 20)
Este valor corresponde a 0,0087 mg L 1 de P em solu çã o . '
( 21 )
O suprimento de doses crescentes de P a tr ês variedades de soja, em solu çã o nutritiva, mostrou,
para duas variedades, diminuiçã o dos valores de Imá x e de Km, com o aumento da dose de P. Por
outro lado, para a terceira variedade, observou-se diminuiçã o de Imá x e nenhuma alteraçã o significa-
tiva de K m com o aumento de P.
i‘
FERTILIDADE DO SOLO
194 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
E s pé c i e Co Im á x Km C mín R e f e rê n c i a
Para o n ível de nutri çã o 1. Concentra çã o intermedi á ria às três utilizadas. Média para as tr ês linhagens
(1 ) ( 2) (3)
estudadas. ( 4 ) Expresso em comprimento de raiz ( m ). (5) Média de dois cultivares. (6 ) Variá vel conforme a espécie
estudada . (7 ) Expresso em fimol cm 2 ( raiz ) s 1 . (8) Pâ ra plantas pré -cultivadas com N03 , na ausê ncia de Al . (9) Mé-
' ' "
dia de tr ês variedades, crescidas em solu çã o com 0,023 jimol L 1 . (10 ) Tratamento sem Al; determina çã o pelo
'
FERTILIDADE DO SOLO
IV - RELAçãO SOLO - PLANTA 195
Nesta seçã o, vamos apresentar algumas id éias gerais sobre o modelo mecanístico
da simula çã o da absor çã o de nutrientes pela planta .
Esses modelos de absor çã o sã o muito dependentes do transporte de nutrientes no
solo. Para o caso particular daqueles nutrientes com baixa mobilidade, como P, Zn, Cu,
dentre outros, os modelos sã o altamente dependentes da difusã o . Esta, por sua vez,
depende do suprimento deste elemento, da disponibilidade de á gua, compacta çã o do
solo, etc., como ser á comentado neste capítulo e, por conseguinte, do crescimento das
raízes e da intera çã o entre elas, de caracter ísticas das raízes e da planta (como morfologia,
associa ções microbianas, demanda do nutriente, etc.), ou do ambiente circundante dessas
ra ízes (efeito de exsudatos, altera ções de pH, etc.). Boa parte de tudo isso é vari á vel
conforme a idade da planta e dependente da heterogeneidade, a curta distâ ncia, das
propriedades do solo em que a planta cresce e desenvolve. A complexidade da simulaçã o
aumenta com a eficiência da planta em utilizar o nutriente absorvido na produçã o de
matéria seca como variá vel dependente ou nã o do fator capacidade do nutriente no solo
( veja capítulo VIII ), ainda nã o considerado nos modelos atuais de absor çã o ( aquisiçã o )
de nutriente como o P.
Boa parte dessa complexidade é contornada ao utilizar, nos modelos, valores médios
de diversas caracter ísticas de planta e ambiente, sabidamente variá veis ( Amijee et al.,
1991) . Essa complexidade exigida pelo modelo gera grande dificuldade: as informa ções
necessá rias nã o sã o pr á ticas o bastante para sere n conseguidas em condições de campo
( Boote et al., 1996 ) ou , como justifica Passioura (1996): "o apetite por dados científicos
desses modelos pode ser demasiadamente granc e".
Os modelos mecanísticos que simulam a absor çã o de nutrientes do solo pelas plantas
têm como base o transporte (fluxo de massa e dilusã o) do nutriente no solo até à raiz e a
absor çã o do nutriente na solu çã o junto à raiz, se gundo a ciné tica de Michaelis-Menten
(Claassen et al ., 1986 ).
Em sua ampla revisã o sobre o assunto, Amijee et al . (1991) apresentam um modelo
de suprimento de P para a raiz, pré-condiçã o para a absor çã o, considerado muito simples
por esses autores, embora para aqueles iniciantes neste assunto as equa ções utilizadas
pareçam extremamente complexas ( Novais & Smyth, 1999 ).
Um modelo mecanístico para simula çã o de absor çã o de nutriente, de modo geral,
largamente utilizado, é o de Barber -Cushman ( Barber, 1995). Nesse modelo, a utiliza ção
da equa çã o que estima a varia çã o da concentra çã o do íon em torno da raiz, com o tempo,
é vá lida, se atendida uma série de dèz pressuposições ( Barber, 1995): Algumas delas: (a )
homogeneidade do solo; (b ) o conteúdo de á gua do solo constante, próximo à capacidade
de campo; (c) a atividade microbiológica junto à raiz, bem como a produçã o de exsudatos
radiculares, nã o altera o fluxo de nutriente; (d ) a relação entre o influxo e a concentraçã o
do nutriente em soluçã o é descrita pela ciné tica de Michaelis-Menten; ( e ) a ausência de
pêlos radiculares e de micorriza; (f ) o influxo nã o é alterado pela idade da planta; (g) o
influxo independe da taxa de absorçã o de á gua .
Claramente, observa-se que, em condições de campo, muitas, ou a maioria, dessas
pressuposições nã o sã o atendidas. O argumer .to de que modelos mecanísticos, com
FERTILIDADE DO SOLO
196 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
( 22)
Para este solo ( LV ), os valores das variá veis utilizadas no modelo de Cushman-Barber para estimar
o P absorvido pelas plantas de tomate foram:
D = 1,30 IO 10 cm 2 s 1 K = 10,0 cm
' *
b = 2.430 K = 0,0040 cm s 1
C . = 0,967 fimol L 1 I , = 3,42 IO 7 /xmol cm -2 s
vo ’ 7 3
= 2,25 IO cm cm s 2
* 1
Km = 0,00699 /imol cm3 3 '
ro = 0,024 cm
Figura 19. Aná lise de sensibilidade, para a altera çã o de 0,5 a 2,0 vezes os valores das variá veis
iniciais do modelo de Cushman- Barber, utilizado na estimativa de P absorvido pelo
tomateiro em amostra de um LV, em casa de vegeta çã o , ro = raio médio da raiz; K = taxa
de crescimento de raiz; I . = influxo m á ximo; K = constante de Michaelis; Cn =
concentra çã o inicial de P em solu çã o; L0 = comprimento inicial da raiz; D = coeficiente de
difusã o de P; b = poder tamp ã o de P; vQ = influxo de á gua na raiz; r . = meia dist â ncia axial
entre raízes, e Cmín = concentra çã o m ínima .
Fonte: Silva & Magalh ã es (1989).
FERTILIDADE DO SOLO
198 ROBERTO FERREIRA NOVAIS & JAIME WILSON VARGAS DE MELLO
"poder tampão" ou fator capacidade de P (b), influxo de á gua na raiz ( v0) e meia-distâ ncia
axial entre ra ízes (rj; pequeno aumento na absorçã o estimada, com o aumento do Km e
com a diminuiçã o do Cm ín (Figura 19 ) ;23)
Sã o evidentes os desvios entre o esperado e o observado pela análise de sensibilidade
para diversas características. Entre elas a indiferença do modelo ao poder tampã o ou
fator capacidade de P (b ), à concentra çã o inicial de P (C0) e ao coeficiente de difusão ( D)
fica dif ícil de entender, a nã o ser que se considere a inadequabilidade da análise para
um ú nico solo, que recebeu uma ú nica dose de P, fazendo com que todos os valores
dessas caracter ísticas, na prá tica, teimam sido constantes.
Resultados da análise de sensibil Ldade, para a estimativa da absor çã o de P ( Barber-
4
Cushman ) por soja, em vasos, mostraram, para o solo utilizado, pequena sensibilidade
da absor çã o estimada a varia ções nos valores das características ciné ticas Imâ x, Km e C m ín
(Silberbush & Barber, 1983a,b ). Essa observa çã o indica que o suprimento de P para a
raiz foi mais cr í tico que a absor çã o (influxo ) . Portanto, para nossos solos mais
intemperizados, com maior FCP, tudc indica que o suprimento de P para a raiz é crítico,
dado o forte cará ter-dreno desses soles ( veja capítulo VIII).
LITERATURA CITADA
ADAMS, F. Ionic concentrations and activities in soil Solutions. Soil Sei. Soc. Am. Proc., 35:420-
426, 1971.
ADAMS, F. Soil solution . In : CARSON, E. W., ed . The plant root and its environment .
Charlottesville, University Press of Virginia, 1974. p.441-481.
ALVAREZ V., V. H. & RIBEIRO, A .C. Calagem . In: RIBEIRO, A.C.; GUIMARAES, P.T.G . &
ALVAREZ V., V.H., eds. Recomenda ções para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas
Gerais - 5" Aproximaçã o. Viçosa, MG, CFSEMG, 1999. p.43-60.
ALVAREZ V., V.H.; NOVAIS, R.F.; DIAS, L.E. & OLIVEIRA, J.A. Determinação e uso do f ósforo
remanescente. B. Inf . SBCS, 25:27-32 2000.
ALVES, V .M.C.; NOVAIS, R. F.; NEVES, J .C.L. & BARROS, N.F. Efeito do alumínio sobre a
absor çã o e translocação de f ósforo e sobre a composição mineral de duas cultivares de
trigo. Pesq. Agropec. Bras., 23:563-573, 1988.
( 23)
Uma aná lise de sensibilidade em dimensões m ú ltiplas (sete dimensões ), apresentada por Williams
& Yanai (1996 ), permite identificar a importâ ncia da intera çã o de caracter ísticas de um modelo de
absorção de nutrientes. A forte dependência de uma característica à grandeza dos valores de outras
indica a importâ ncia desse mé todo em testes de sensibilidade de modelos desenvolvidos.
1/
Embrapa Cerrados. Br 020, Km 18 Rod . Brasília - Fortaleza , Caixa Postal 0823,
CEP 73310-970 Pladaltina ( DF ) .
dmgsousa @ cpac .embrapa .br ; eo@ cpac . embrapa . br
2/
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterin á ria, Universidade de Brasília - UnB.
Caixa Postal 04508, CEP 70910 - 970 Bras í lia ( DF ).
oliveira @ unb.br
Conte ú do
INTRODUÇÃ O 206
CONCEITO Á CIDO- BASE 207
ACIDEZ DO SOLO 210
Origem da Acidez do Solo 210
Remoçã o de Bases 210
Grupos Ácidos da Maté ria Orgâ nica do Solo 211
Argilominerais Silicatados e nã o Silicatados 212
Fertilizantes Minerais 212
Componentes da Acidez e Capacidade de Troca de Cá tions (CTC ) do Solo 213
Determina çã o da Acidez do Solo 215
Considerações Gerais 215
Acidez Ativa 216
Acidez Trocá vel 219
Acidez Potencial 220
Proporcionalidade dos Diferentes Tipos de Acidez do bolo 221
/
Efeitos da Acidez do Solo 221
O pH e a Disponibilidade de Nutrientes 222
O Alum ínio em Solos Ácidos 225
Saturaçã o por Alum ínio e Crescimento de Plantas 226
Alterações de pH na Região da Rizosfera 229
SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V ., V .H., BARROS,
N. F., FONTES, R .LF., CANTARUTTI, R .B. & NEVES, J .C . L. ).
206 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .
Magnésio 265
Respostas das Plantas a Cá lcio e Magnésio ... 266
INTRODUÇÃ O
A maioria dos solos brasileiros apresenta limita ções ao estabelecimento e
desenvolvimento dos sistemas de produção de grande parte das culturas, em decorrência
dos efeitos da acidez. Essa pode estar, de modo geral, associada à presença de Al e Mn
em concentra ções tóxicas e de baixos teores de cá tions de cará ter básico, como Ca e Mg.
A acidez condiciona o estado geral do solo como base de crescimento para as plantas, em
decorrência das rela ções de causa e efeito com outras propriedades químicas, f ísicas e
biológicas. Essas propriedades relacionam-se com a génese, mineralogia e fertilidade do
solo e têm, em última análise, implica ções no seu manejo. Assim, a acidez do solo,
quando em excesso, pode ocasionar altera ções na química e fertilidade, restringindo o
crescimento das plantas. Tais restrições podem ocorrer na camada mais explorada pelas
ra ízes, nos 20 cm superficiais do solo e, também, em maior profundidade, reduzindo o
crescimento radicular nessas camadas e limitando a absorçã o de água e nutrientes.
Plantas com restrições no crescimento do sistema radicular têm menor produtividade,
principalmente em regiões onde ocorrem períodos de estiagem (veranicos) durante o seu
cultivo.
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 207
Torna -se necessá rio atenuar ou eliminar os efeitos negativos da acidez do solo por
meio da calagem . Essa tem os objetivos de corrigir a acidez do solo, diminuindo ou
anulando os efeitos tóxicos das altas concentra ções de AI e Mn (1), alé m de fornecer os
nutrientes Ca e Mg. A calagem é, portanto, um c os pilares para a obtençã o de maiores e
.
conceitua çã o tem restrições, pois nã o se aplica , por exemplo, à substâ ncias que nã o
contê m H ou hidroxila mas que, em soluçã o aquosa, aumentam as concentra ções de H+
ou de OH .
"
(1 )
També m de Fe, particularmente em solos inundados, com baixo potencial redox .
FERTILIDADE DO SOLO
208 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.
De acordo com a defini çã o de Brõ nsted -Lowry, de 1923, ácido é uma espécie química
que doa pró tons:
HA + H20 Ar + H+ (ou, idealmente H30+ ) ( 2) (1)
(acidez potencial) (3) (acidez ativa ) (3)
Uma rea çã o á cido-base é, neste cbntexto, uma reaçã o de transferência de pró tons,
que envolve a competiçã o de duas bases por pr ó tons. Na dissolução do á cido clorídrico
em á gua, por exemplo:
HC1 + H2O H3O+ + cr
O HC1 transfere um pr ó ton (H+ ) pai a uma base (H20), formando uma base conjugada
-
(Cl ) (4) e um á cido conjugado (H30+) O HC1 e o Cl constituem o par ácido-base conjugado
" ’
NH3 + H 20 CA NH 4+ + OH~
Al 3+ + 6H2Ç> ^ Al (OH ) 3 + 3HaO +
conjugado H30+ ).
2H20 CA H30 + + OH-
(2 )
O cá tion hidrônio ( H30 + ) é formado por um cá tion hidrogé nio combinado com uma molécula de
á gua .
<3) A acidez total de uma solu çã o ( Eq . 1) é, portanto, a soma da acidez ativa e da acidez potencial.
(4 )
Percebe-se que á cido é uma subst â ncia que doa pr ó tons ( H + ) a outra subst â ncia e base é uma
subst â ncia que recebe pr ó tons . Portanto, a altera çã o do pH de uma solu çã o ser á definida pela
presen ça de mais subst â ncias que doam pr ó tons (a solu çã o torna -se á cida ) ou, ao contr á rio, pela
presença de mais subst â ncias que consomem pr ó tons (a soluçã o torna-se bá sica ). Portanto, acidez
de uma solu çã o, como a do solo, vai ser definida pelo balan ço entre doadores e receptores de
pr ó tons.
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 209
%
Á cido
HCi muito alto «1 Forte > 50
H 3 P04 0 ) Ki = 7, 6 x IO 3 '
2 , 12 Moderado 5 - 50
K2 = 6, 3 x IO 8 '
7, 20
K3 = 4, 4 x IO 13 '
12,36
H 2 CO 3 (1 ) KI = 4, 2 x 10 7 ‘
6, 38 Fraco <5
K 2 = 5,6 x IO 11 '
10,25
HC 2 H 3O 2 5
K = 1,8 x IO '
4,74 Fraco <5
;
Base
KOH Muito alto *1 Forte 100
NH 4 OH K = 1,8 x IO 5 '
4, 74 Fraca <5
(1 )
Á cidos polipr ó ticos , que contê m mais de um pró ton ( H + ) iouizá vel, com diferentes constantes de ioniza çã o ( K .).
Ka = [HA]
( BH + ) (OH )
"
Kb = [ B]
Quanto maior o valor da constante, maior é a for ça do á cido ou da base (Quadro 1).
Estas constantes também podem ser expressas em termos de potencial:
pKa = - log Ka
pKb = - log Kb
Assim, quanto menores os valores de pKa e de pKb, maiores sã o as for ças do ácido ou
da base, respectivamente (Quadro 1). Quando o pKa = pH da soluçã o, metade do á cido
está na forma ionizada . Se o pKa > pH, mais da metade do á cido estar á ionizada e, por
*
FERTILIDADE DO SOLO
210 DJALMA MARTIKIHãO GOMES DE SOUSA et al.
Para um á cido fraco HA, com uma concentra çã o total de 0,1 mol L 1 e 1 % de '
ACIDEZ DO SOLO
Remoçã o de Bases
-
A remoçã o de cá tions de cará te: básico do solo pela lixivia ção, erosã o, e pelas
culturas, resulta no aumento de formas trocá veis de H + e de Al 3+ no complexo sortivo
( CTCefetiva ), favorecendo maiores concentra ções destes íons na soluçã o do solo.
O Al3+ na solu çã o do solo sofre hidr ólise, gerando acidez, conforme mostram as
rea ções:
Al3+ + 2 HzO 4
^ Al (OH)2+ + H30+ pKx = 5,0 (3 )
Al (OH)2+ + 2 H20 < -> Al (OH) 2 + + H30 + pK 2 = 5,1 (4 )
Al (OH)2+ + 2 H20 4 -> Al (OH )3° + H3O +
PK 3 = 6,7 (5 )
Al (OH) 3° + 2 H20 U Al (OH)4- + H30 + PK3 = 6,2 (6 )
A H2O, de acordo com o conceito de á cido-base de Brõ nsted -Lowry, funciona como
base ( receptor de pr ó tons) . As formas hidrolisadas do Al3+ (bases conjugadas) têm menor
capacidade receptora de prótons do que a á gua; com isto, o processo de hidrólise evolui,
com o aumento do pH, até que todo o Al3+ seja hidrolisado .
As rea ções das Eq. 3, 4, 5, e 6 definem o comportamento químico do AI em soluçã o de
acordo com o pH (Figura 1) . A primeira rea çã o ( Eq. 3), no entanto, evidencia que o Al3+ é
o principal responsá vel pela gera çã o de pr ó tons em soluçã o. De acordo com o pKi, em
pH 5,0 a metade do Al3+ em solu çã o já foi hidrolisado. Nesse pH, a concentra çã o de AI3+
e das formas de AI hidrolisadas, em equilíbrio com o Al (OH)3, é inferior a 10~6 mol L 1. '
+
H )2
02 + 4H + 4e (7)
FERTILIDADE DO SOLO
212 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.
\ OH
pH < ( > ,0
> /^ 0*
+ H
+ (a )
pH > 7, 0
>
( OH + H
+ ( b)
-ç-ç-ç-
-c-
>
I
——
-C C C- + H +
-C-
i
(c )
i .
Figura 2. Acidifica çã o do solo pela ioniza çã o de á cidos carbox ílicos (a ), fen ó licos (b ) e de
á lcoois terciá rios ( c ) da maté ria orgâ nica do solo. De modo geral, os grupos carboxílicos
sã o mais fortes que os fenólicos.
Vale salientar, ainda, que a oxidaçã o biológica de compostos orgâ nicos produz CO2,
o qual reage com á gua para formar á cido carbónico, que se dissocia liberando pr ó tons
(H+ ), de acordo com a rea çã o:
CO, + H20 ++ H2CÔ3 +» H + + HC03 ++ C 032 + 2H +
' '
Observa -se que, com o aumento do pH, mais cargas negativas sã o geradas.
Fertilizantes Minerais
A oxidação do amónio também é responsá vel pela acidez gerada quando da aplicação
de fertilizantes, como ( NH4 )2S04 e NH4 NO3, que aumenta com as doses aplicadas
(Quadro 2) .
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 213
Quadro 2. Valores do pH do solo na profundidade d e 0-20 cm, com doses e fontes de nitrogénio
(sulfato de am ónio e ur éia ), aplicadas no capim pangola antes de cada corte, ap ós um total
de 21 cortes
Fonte
Dose de N
( NH 4 ) 2 SO 4 CO ( NH 2 ) 2
kg ha -1
0 5 , 85 5 , 76
50 4, 99 5, 47
100 4, 22 5 , 39
150 4, 00 5, 15
200 3, 87 4 , 89
Com aumento do pH, o AI nã o permanece ei|n solução, mas precipita -se na forma de
oxihidr óxidos de Al, restando os cá tions básicos na soluçã o do solo na forma trocá vel.
Deve-se salientar que o H+ está sendo continuam ente produzido no solo como resultado,
por exemplo, da mineraliza çã o de compostos orgâ nicos com produ çã o de CO2 e do
intemperismo dos silicatos, que libera Al3+ em soluçã o.
As quantidades de bases trocá veis absorvidas pelas plantas sã o importantes,
particularmente naqueles solos com utilização agrícola intensiva. Este, portanto, constitui
o mais importante mecanismo de substituição das bases por ácidos no complexo de troca
dos solos utilizados na agricultura . O conjunto desses processos causa a acidificaçã o
progressiva dos solos, particularmente em regiões tropicais com pluviosidades, que
favorecem a percola çã o e a lixivia çã o de bases.
FERTILIDADE DO SOLO
.
é
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S
214 DJALMA MARTIMH ã O GOMES DE SOUSA et al.
1 ,5 i
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O 1
E
o ••
•:X •
o
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o
*X
O 0,5 -
<
•
0
4 4, 5 5 5, 5 6
pH em água
<5) O termo acidez n ã o- trocá vel, nem sem pre utilizado nos textos sobre o assunto, apresenta uma
incongru ê ncia no que diz respeito ao significado do termo: "n ã o- trocá vel". Isto porque, como tem
sido definida, a diferença entre a acidez potencial e a trocá vel, à medida que o pH do solo se eleva
o valor da acidez chamada não- trocá vel d á lugar à trocá vel, tendendo para zero quando o pHH;2o do
solo tende para 7,0 .
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREçã O 215
-Amarelo h ú mico
20 22 24 26 28 30 32 34 36
3 1
dm ou t ha ( 0 -20 cm )
' *
Como:
H20 <-> H+ + OH ( Kw = 1014) . .
'
-
(H+ ) x (OH ) = IO 14 .'. pH + pOH = 14
"
FERTILIDADE DO SOLO
216 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.
A acidez ativa refere-se à atividade dos íons H+ ( H30+ ) em soluçã o, medida pelo pH;
a acidez trocá vel mede a quantidade de H +, Al3+ e outros cá tions de hidr ólise á cida (6)
adsorvidos por for ça de car á ter eletrostá tico . Esta acidez é determinada por extra çã o
com soluçã o de KC11 mol L 1 a pH em torno de 5,5, visto que para valores de pH maior
'
(H + Al) (7). Essa acidez potencial inclui H+ e Al3+ adsorvidos em forma eletrovalente, bem
como os íons H ligados covalentemente que se dissociam de compostos orgâ nicos, de
grupos OH na superf ície das argilas, e de alguns polímeros de Al, como já apresentado.
A acidez nã o-trocá vel é determinada pela diferença entre a acidez potencial e a
trocá vel.
Acidez Ativa
O pH do solo varia ao longo do tempo e pode ser influenciado pela precipita çã o
pluvial e manejo do solo e, especialmente, pelas aduba ções. Os valores do pH podem
depender, também, da época de amostragem do solo e do mé todo de preparo das amostras.
Para determinar a acidez ativa, sã o utilizados mé todos potenciomé tricos(8), com
eletrodo específico. A medida da acidez ativa ( H + ) do solo é feita mediante o uso de
eletrodo de vidro em rela çã o ao eletrodo de calomelano, como referência . Na pr á tica,
utiliza -se um eletrodo conjugado que conté m os dois eletrodos.
Os mé todos potenciomé tricos mais comuns sã o:
a ) determina çã o do pH em suspensã o do solo com á gua, na relaçã o solo: água de 1:1
ou 1:2,5;
b ) determina çã o do pH em suspensã o do solo com KC1 1 mol L 1, na rela çã o solo:
'
(6)
Na an á lise de rotina de fertilidade do solo, considera -se apenas o Al3+, dada sua predominâ ncia como
acidez trocá vel.
(7>
Observa-se que a n ã o-utiliza çã o de cargas, como H + + Al3+, indica, de modo particular para o H, sua
liga çã o covalente e de dif ícil dissocia çã o.
<8) Há també m fitas de papel com indicadores que, pela mudança da cor quando em contato com uma
suspensã o de solo e á gua, há desenvolvimento de uma cor que, comparada a uma tabela de cores,
indica o pH aproximado daquele solo.
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREçã O 217
(9)
As formas mais reduzidas desses metais sã o menos receptoras de el é trons que as mais oxidadas.
í
. FERTILIDADE DO SOLO
218 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.
soluçã o em solos com CTC elevada , mas é elevada para solos de Cerrado.
Existe estreita correla çã o ( r = 0,96) entre as medidas de pH em á gua e em CaCh,
conforme mostrada na Eq. 9 (Sousa et al., 1989 ) .
O pH em KC1 1 mol L 1 (1:2,5), proposto por Puri & Asghar (1938), é utilizado em
"
da carga elé trica líquida, quando calculado o valor de ApH ( Eq. 8).
No quadro 3, verifica-se que a camada superficial apresenta carga elé trica líquida
negativa, enquanto, na camada subsuperficial, ela é positiva. Essa condiçã o é muito
comum em solos de drenagem imperfeita e com altos teores de argila sesquioxídica . Este
tipo de solo é chamado, também, de "solo de carga invertida".
As classes de interpretação para a acidez ativa do solo, pH em á gua, relaçã o 1:2,5,
podem ser definidas, tomando como base critérios químicos ou agronómicos (Quadro 4).
O efeito da acidez sobre as plantas está associado à atividade do H+ (acidez ativa ),
e nã o à quantidade total de acidez no solo (acidez potencial ). O pH do solo representa o
grau de dissocia çã o dos compostos que liberam á cidos, mas nã o indica o tipo ou a
quantidade desses compostos.
cm
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E S UA CORREçã O 219
Acidez Alcalinidade
Neutra
Muito elevada Elevada M é dia Fraca Fraca Elevada
0)A qualifica çã o utilizada indica, para a maioria de culturas, pH adequado ( Bom ) ou inadequado ( Muito baixo ,
Baixo, Alto e Muito alto )
Fonte: Adaptado de Alvarez V . et al. (1999b ).
Para determinar a acidez trocável, utiliza-se, como extrator, a solução de KC11 mol L
pH = 5,5 que, pelo excesso de K +, extrai, por troca, H+ e Al3+ retidos nas micelas por forças
eletrovalentes.
Para sua determina çã o, 10 cm3 de JFSA sã o agitados com 100 ml de KC11 mol L 1, '
durante 5 min, deixa -se um repouso por 16 h. Re tira -se alíquota do sobrenadante que é
titulada com soluçã o de NaOH 50 mmol L 1 na presen ça de fenolftaleína .
'
+
+ K
H
+
+ K +
+ 6K + 6HjO + Al ( OH ) 3 + 3HsO
+
K
Ar
+
K
Como em muitos solos o teor de H+ trocável é muito pequeno (o mesmo acontece com
a acidez da hidrólise de outros cá tions de rea ção á cida ), considera -se o resultado de
acidez trocá vel como sendo o teor de Al trocável ( Al3+ ). Entretanto, em solos muito ácidos
ou com altos teores de matéria orgâ nica, o teor de H+ pode ser, até mesmo, maior que o de
Al3+. Assim, solos com o mesmo pH em á gua podem apresentar diferentes quantidades
de componentes da acidez (Quadro 5).
V
FERTILIDADE DO SOLO
220 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .
Quadro 5. Componentes de acidez e necessidade de calcá rio ( NC ) para elevar a satura çã o por
bases para 50 % em Latossolos Vermelho e Vermelho- Amarelo argilosos e, em um
Neossolo Quartzarênico da regiã o do Cerrado
g kg emole dm 3
*
t ha 1
A toxidez causada por elevados teores de Al3+ depende nã o só de seu teor, mas
também deste em rela çã o à CTC efetiv a do solo, que é a satura çã o por Al3+ ( m ).
Acidez Potencial
não-trocá vel ou acidez dependente de pH. A acidez potencial é representada por H + Al,
com o H sem sinal de carga , pois este elemento, na sua maioria , apresenta liga çã o
covalente com o oxigénio, em estado nã o ionizado. Essa condiçã o é importante para
diferenciá -lo do H+ trocá vel, extra ído pelo KC1. O Al também sem carga indica formas
hidrolisadas de Al, do trocá vel e de polímeros.
Outra forma de determinar o H + Al é por meio potenciomé trico, usando a soluçã o-
tampã o SMP(10).
Quaggio (1983), analisando solos de São Paulo com ampla variação dos valores de
CTC, matéria orgâ nica e argila, obteve a equação para estimar H + Al com base no valor
de pHSMP:
lny = 7,76 - 1,053** x R 2 = 0,96
(10)
O significado e utiliza çã o da solu çã o SM P ser ã o apresentados quando se falar, mais adiante, em
mé todos de recomenda çã o de calagem. E m muitos laborat órios que nã o fazem a determina çã o de
H + Al, obt ém-se seu valor, indiretamente, de modo mais simples, tendo-se uma medida do pH de
uma suspensão de uma amostra do solo com a solu çã o- tampã o SMP.
FERTILIDADE DO SOLO
í
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çãO 221
10,46 mol ha 1, que significam 10,54 g ha 1 de ET , quantidade de acidez ativa que pode
' ' "
Se esse solo tiver acidez trocá vel ( Al3+ ) igual a 1,2 cmolc dm 3 e acidez potencial
'
(H + Al) igual a 7,7 cmolc dm 3, será necessá rio adicionar, na camada superficial de 0-20 cm,
'
1,2 t ha 1 de CaC03, para neutralizar a acidez trocá vel; 6,5 t ha 1 da CaC03, para
" '
potencial.
Observa -se que a quantidade de calcá rio ne cessá ria para neutralizar a acidez ativa
é 14.723 vezes menor que a necessá ria para neutralizar a acidez potencial (a pH 7,0) ou,
em outras palavras, que a acidez ativa nã o define a necessidade de calcá rio de solo.
Assim, os solos que contêm teores elevados de Al3+, associados ou não à presença de
Mn2+, em condições de acidez elevada, podem apresentar limitações ao bom crescimento
e desenvolvimento radicular das plantas. Os efeitos tóxicos de concentra ções elevadas
de Al3+ podem ser observados, principalmente, na engrossamento das raízes e diminuição
nas suas ramificações, prejudicando a absorção de nutrientes e á gua. Quanto aos efeitos
tóxicos de concentra ções elevadas de Mn, eles ocorrem, principalmente, na parte aé rea
das plantas, afetando o crescimento foliar, com reflexos negativos na produçã o final.
FERTILIDADE DO SOLO
222 DJALMA MART: NHãO GOMES DE SOUSA et al.
PHH 2 O Ca Mg K Zn Cu Mn Fe AI
g kg - mg kg -1
5,1 9,1 3,8 33,8 65 9,8 113 528 836
5,6 10,3 4,8 30,8 36 7,1 29 344 445
01 ) O Ca, como outros elementos de val ê ncia maior, tamb é m mant é m a integridade da membrana
citoplasm á tica ( Marschner , 1991) .
FERTI L I D A D E DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E S UA CORREçãO 223
a ) nitrogénio
A disponibilidade aumenta graças ao efeito favorá vel à mineraliza çã o da maté ria
orgâ nica .
i
b) f ósforo
A disponibilidade de P aumenta e depois diminui, devido à reduçã o da acidez e
aumento de OH na soluçã o do solo.
'
iI
IAV
i Í
.
'SA v'
224 DJALMA MARTIMH ã O GOMES DE SOUSA et al.
- em solos á cidos
FeP04.2H20 + OH <-> Fe ( OH)3
'
i + H2P04
- em solos alcalinos
10Ca 2+ + 6H2P04- + 14C H - + 12H20
Caio(P04)ó(OH) 2 1
c) enxofre
O S042 adsorvido pelos oxihidr óxidos de Fe e de Al, à semelhança do que ocorre
com P, é liberado pela eleva çã o do pK.
A decomposiçã o da maté ria orgâ nica liberando S é favorecida pela eleva çã o do pH.
Fe3+ + 3OH
| Fe (OH) 3 i
Mn2+ + 40H Mn02 i+ 2H20 + 2e "
Cu 2+ + 20H CU(OH) 2 I
Zn2 + + 20H Zn (OH ) 2 i
f ) boro
- abaixo de pH 7,0, há pouco efeito sobre a disponibilidade do B; em condições do pH do
solo, o á cido bórico é pouco dissociado.
- há decréscimo na solubilidade com pH acima de 7,0.
B(OH) 3 + H20 <-> B(OH) 4 + H
g ) molibdênio e cloro
O Mo042 é fortemente adsorvido pelos oxihidróxidos de Fe e de Al, à semelhança do
"
Essa maior produtividade da soja foi próxima da obtida com a dose má xima de P2O5 com
calcá rio e superior à quela com a maior dose de P2O5 sem calcá rio. O efeito benéfico da
elevaçã o do pH do solo na eficiência do fertilizante fosfatado sol ú vel pode ser atribuído
ao maior crescimento do sistema radicular das plantas, ao aumento da taxa de
mineraliza çã o da matéria orgâ nica e ao melhor aproveitamento do P por reduzir sua
retençã o pela fase sólida do solo (Sousa et al., 1985).
O aumento da concentra çã o do Al na rizosfera nã o reduz a absor çã o de P pelas
raízes ( Lee, 1971), porém decresce sua transloca ção para a parte aérea, que pode resultar
no desenvolvimento de sintomas de deficiência de P nas plantas afetadas pela toxidez
de Al (McLeod & Jackson,1967; Miranda & Rowell, 1987).
í
FERTILIDADE DO SOLO
226 DJALMA MARTIMH ã O GOMES DE SOUSA et al.
Verifica -se que a valores de pH a cima de 5,5-6,0 (até 7,0 ) ( 13), a solubilidade do Al é
m ínima . Esta é uma das razões pelak quais a correçã o de solos á cidos é feita para se
atingir um pH de, pelo menos, 5,5 (Figura 1).
Entre pH 5,5 e 6, pode-se ter ainda elevada disponibilidade de Mn, exigindo que a
correçã o da acidez, neste caso, chegue a pH 6, pelo menos.
Com rela çã o à fertilidade dos solos, o Al em concentra çã o elevada, alé m de ser
tó xico às plantas, pode interferir na c .isponibilidade de outros nutrientes. O exemplo
mais típico desse efeito refere-se à sclubilidade do fosfato no solo. O fosfato tende a
reagir com o Al sol ú vel, formando fos fatos de alumínio de baixa solubilidade em solos
á cidos ( veja capítulo VIII ).
(13)
Acima de pH 7,0, há forma çã o de aluminato [ Al (OH )4 J que é també m tóxico às plantas.
'
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREçãO 227
descriçã o detalhada dos diversos mecanismos de toler â ncia das plantas ao AI pode ser
encontrada em trabalho de revisã o de Foy el al. (1978); Foy & Fleming (1978) e, mais
recentemente, em Silva et al. ( 2002) .
A elevada acidez de grande parte dos solos tropicais condiciona uma alta atividade
do Al na solu çã o do solo, deficiência de Ca, Mg e P, além da toxidez por Mn .
A percentagem de satura çã o por Al é, também, um bom indicador da acidez do solo
e seu efeito sobre as plantas. O trabalho de Gonzalez Erico (1976) demonstra que, acima
de pH 5,4, os níveis de satura çã o por Al ( m ) foram inferiores a 10 % na camada de
0-15 cm. A concentra ção de Al na solução do solo depende do pH do solo, da saturação por
Al, do teor de matéria orgâ nica (Figura 8) e da presença de outros íons na solução do solo.
TE Y 101
II RS 610
mm
42
I IH
78
.
Figura 8 . Teor de alum ínio na soluçã o do solo como variá vel da satura çã o por alumínio ( m ) de
solos minerais e orgâ nicos.
Fonte: Adapatado de Gonzalez Erico (1976).
FERTILIDADE DO SOLO
228 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .
para muitas plantas cultivadas, podendo esta concentra ção ocorrer a pH 5,0, mas nã o a
5,5 ou maior .
Em termos de efeitos negativos ao crescimento das plantas, o efeito primá rio da
toxidez por Al faz-se sentir no sistema radicular. Os principais sintomas que podem ser
observados no sistema radicular sã o:
- raízes curtas ou grossas;
- inibiçã o do crescimento das raízes, que se tornam castanhas;
- ra ízes laterais engrossadas e pequena forma çã o de pêlos radiculares;
- predisposiçã o da planta injuriada a infecções por fungos; entretanto, também há casos
em que o Al3+ controla algumas doenças f ú ngicas das ra ízes.
Como efeitos citológicos, podem- se observar:
- inibi çã o da divisã o celular, com a consequente inibiçã o do alongamento celular;
- ruptura das células do periciclo.
Também, como efeitos fisiológicos e bioquímicos, destacam-se:
- aumento na viscosidade do protoplasma das células das ra ízes com consequente
decréscimo da permeabilidade à á gua, sais e corantes;
- reduçã o na habilidade de uso de sacarose para a forma ção de polisnacarídeos nas
paredes celulares;
- inibição de desidrogenase isocítrica, enzimas málicas, redução na fosforilase de açúcares,
respira çã o e síntese de DNA;
- efeito na absorçã o e utiliza ção de nutrientes, principalmente de Ca e P.
Os mecanismos de tolerâ ncia da ? plantas a elevadas concentrações de Al sã o:
- não absorvem Al, pois apresentam capacidade de manter o Al fora do metabolismo da
planta (mecanismo de exclusã o ), por processos de complexaçã o do Al com ácidos
orgâ nicos e por precipita çã o de Al (OH) 3 pela maior basifica çã o da rizosfera.
- não translocam Al para a parte aérea, mantendo sua capacidade de absorver P e Ca,
mesmo na condiçã o de elevada abscr çã o de Al.
- há espécies com elevada capacidade de manter adequada partição de C para formar
novas ra ízes absorventes.
A determina çã o tã o somente do peso de ra ízes nã o é uma medida adequada para
avaliar o efeito da calagem na reduçã o do Al trocá vel do solo e, consequentemente, no
crescimento das raízes. Seria interessante, na avalia çã o desse efeito, a determinaçã o do
comprimento das ra ízes, bem como dos percentuais de "ra ízes finas" e "raízes grossas"
(Dias et al., 1985). Vale salientar que, às vezes, confunde-se o efeito de deficiência de Ca com
a de toxidez causada pelo Al, bem como redução do Al absorvido com o suprimento de Ca.
O Al parece ter efeito negativo sobre a absor çã o e translocaçã o de Ca (Johnson &
Jackson, 1964 ) . A aplica çã o de Ca é mais favor á vel ao crescimento radicular,
especialmente de ra ízes finas, que da parte a é rea de plantas de milho (Silva et al., 1993).
O pH da rizosfera pode ser diferente daquele do solo, chegando a ser acima de duas
unidades à quele do solo ( Hedley et al., 1982). As plantas promovem a extrusã o de H+ ou
de HCO3 e libera çã o de exsudatos radiculares, como á cidos orgâ nicos, aminoá cidos,
’
1986 ) .
Em plantas com associaçã o simbiótica com microrganismos fixadores de N 2, ocorre
í desbalanço na propor çã o de cá tions / â nions decorrente da maior absorçã o de cá tions.
j
Conseqiientemente, observa -se a extrusã o de H + em intensidade proporcional ao
desbalanç o.
Altera ções no pH da rizosfera podem resultar em efeitos benéficos ou maléficos no
crescimento de plantas. Em solos alcalinos e neutros, o aumento no pH leva à menor
disponibilidade de nutrientes, como o Fe, Mn, Cu e Zn. Em solos á cidos, o aumento do
í
FERTILIDADE DO SOLO
230 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.
H + MX o M + HX
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREçãO 231
O â nion X tem de ser um á cido fraco para atuar como receptor de pr ótons.
Os materiais que contê m MX sã o corretivos da acidez do solo.
Muitos materiais podem ter capacidade de promover a troca iônica , mas, para serem
corretivos, necessitam de:
a ) efetuar a rea çã o: o cá tion ( X ) do sal deve trocar com H +, Al3+ e outros c á tions
trocá veis de cará ter á cido e de dissociar parte de H,
b ) produto da rea ção: após a troca, deve formar-se HX,
TI H
+ BaX
-: Ba + HX ( Ba nã o é nutriente)
T
_IH + CaC03 Ca + C021 + H20 (Ca é nutriente)
Ca
IaI AI' + 3CaC03 + 4HzO Ca + 2Al (OH)31 + 3COz + H2Q
Ca
Calcá rios calcinados (CaO, MgÒ) (14) sã o bons corretivos. Entretanto, nã o sã o muito
usados, pois sã o mais caros e apresentam efeito corrosivo.
Outros materiais que contêm Ca, que trocam e precipitam Al, mas que nã o atuam
como corretivos, são, por exemplo, superfosfatos, gesso, etc.
Alé m dos calcá rios, as escó rias de alto forno e de siderurgia sã o materiais eficientes
na correçã o da acidez do solo.
(14)
CaC03 —>
A ( calor )
CaO + C02T
FERTILIDADE DO SOLO
232 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .
Portanto, o calcá rio neutraliza a acidez, deixando o solo com Ca e Mg no lugar dos
cá tions de car á ter á cido . O Al é precipitado como oxihidr ó xido e C02 é despendido
( Raij, 1991).
Acidez Superficial
oportuno lembrar que o ânion SO42 (base fraca ) não tem, praticamente, capacidade
'
" '
Al3+ + OH '
Al ( OH) 2+
Al (OH) 2+ + OH -> Al (OH) 2+
'
Al(OH)2+ + OH '
-» Al (OH) 3
Mn2+ + OH -> Mn(OH) +
'
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREçãO 233
c) fornecer Ca e Mg para as plantas, visto que a maioria dos corretivos conté m estes
nutrientes.
d ) gerar cargas negativas no solo e, consequentemente, aumentar a retençã o de
cá tions ( maior CTCcfetiva ) .
e) neutralizar os sítios de cargas positivas dos oxihidróxidos de Fe e Al, minimizando,
principalmente, a adsorçã o de fosfato. Entretanto, após a calagem em solos com
altos teores de Fe e Al trocá veis, haverá a forma çã o de oxihidr óxidos amorfos
com altos valores de PCZ ( veja capítulo IV). Esses podem ser protonados, gerando
cargas positivas e, conseqiientemente, aumentando a adsorçã o dos ânions como
H2PCV, MO 042 e S042 .
‘ '
FERTILIDADE DO SOLO
234 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .
A quantidade de calcá rio ou corretivo a ser utilizada para adequar a acidez do solo
à condi çã o desejada depende do tipo de solo e do sistema de produçã o estabelecido.
Para uma sequência arroz-pastagem ( Brachiaria decumbens ) , sabe-se que a aplica çã o do
calcá rio como fonte de Ca e Mg, com doses que variam de 0,5 a 1,0 t ha 1, produz resultados
'
aceitá veis a curto prazo, por serem espécies que toleram a acidez do solo. Se o sistema de
produçã o for planejado para utiliza çã o de culturas anuais, como soja, feijã o, milho e
trigo, a acidez do solo deverá ser corrigida em nível compatível com essas culturas.
Como já foi mencionado, a calagem é fundamental para a agricultura em solos á cidos.
No entanto, nã o existe uma definiçã o clara sobre o melhor m é todo para determinar a
necessidade de calagem, ou seja , a quantidade de corretivo a ser aplicada ao solo. O
cá lculo da necessidade de calagem tem-se baseado, fundamentalmente, nos seguintes
métodos:
- mé todo da curva de incuba çã o com CaCCh;
- método baseado no teor de alumínio trocá vel;
- métodos baseados no decréscimo de pH de soluções- tampão (SMP ou Woodruf );
- métodos baseados na correla çã o para determinado valor de pH, saturação por bases e,
ou, matéria orgâ nica.
- método para neutralizar a acidez trocá vel e elevar os teores de Ca e de Mg trocá veis.
É importante, nos estudos de calagem, que sejam separados os efeitos corretivos dos
efeitos nutricionais. Todavia , é dif ícil isolar ou individualizar os efeitos detrimentais da
toxidez de Al, Mn daqueles causados pelas deficiências de Ca e, ou, Mg.
Outro ponto da maior importâ ncia para diversas culturas é a rela çã o Ca:Mg do
corretivo a ser empregado. Para uma mesma dose de calcá rio aplicado, diferentes relações
entre esses nutrientes podem levar a resultados também diferentes.
A seguir, são apresentados os principais m é todos para determinação da necessidade
de calagem utilizados no Brasil.
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 235
Quadro 7. Medidas de acidez do solo, determinadas após incuba çã o com diferentes doses de
carbonato de cá lcio em uma amostra de um Latossolo Vermelho argiloso
_
t ha ’ 1
emole dm 3 %
0 5,36 1, 02 0,30 7, 73 73,9 4,5
1 5,42 0, 52 1,17 7, 28 29,7 14,5
2 5,58 0,12 1,87 6,41 5,9 23,1
4 5,94 0,00 3,40 5, 22 0,0 39,9
6 6, 25 0,00 4,72 3, 78 0,0 55,8
8 6,56 0,00 6,17 3,03 0,0 67,3
Para se obter pH = 6,0 no LVA (Figura 10), necessita-se de 2,164 t ha 1 e, no LV, de '
5,990 t ha 1 de CaCCb.
'
As declividades (ô y / ôx) das equa ções, 0,55 no LVA e 0,15 + 0,0642x no LV indicam
a diferença de poder tampã o dos solos . No LVA, é igual a 1,818 t ha Vunidade de pH e
FERTILIDADE DO SOLO
236 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .
Catani & Alonso (1969 ) calibraram o m é todo de neutraliza çã o de Al3+ para elevar o
pH a valores entre 5,5 e 5,7, obtendo a seguinte equa çã o:
Segundo Alvarez V. et al. (1990a ), as doses de calcá rio definidas por este m é todo,
para amostras de 21 solos de Minas Gerais, nã o elevaram o pH aos valores esperados,
atingindo-se o valor de 5,2, suficiente para neutralizar a maior parte do Al trocá vel. No
entanto, a correçã o do pH até esses valores pode ser adequada para neutralizar o Al
trocá vel, mas insuficiente para corrigir excessos de Mn e deficiências de Ca e de Mg no
solo.
solo:solução 1:10 ( Brown, 1943). Woodruff (1948) propôs o uso de uma solução de acetato
de cá lcio 0,5 mol L 1 e óxido de magnésio a pH 7,0. Entretanto, Shoemaker et al. (1961)
'
observaram que o crité rio proposto por Woodruff recomendava pouco calcá rio para os
,
( 5)
A NC é expressa em t ha 1 de CaC03 ou de um calcá rio com PRNT
'
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 237
solos de Ohio (USA) e propuseram uma solu çã o com maior poder tampão, composta de:
p -nitrofenol, K 2Cr 04, CaCl 2.2H20, Ca (CH3C00) 2.H20 e trietanolamina, e ajustada a
pH 7,5. A rela çã o solo:á gua: tamp ã o recomendada é de 10:10:5. Esse crité rio passou a
ser difundido como o mé todo do tampã o SMP<16).
O pH determinado na suspensã o do solo com a solu çã o- tampã o SMP permite
estabelecer as quantidades de calcá rio a aplicar, utilizando curvas de neutralizaçã o
( Figura 11) ou tabelas, estabelecidas previamente para a obtençã o de um determinado
pH. Para cada nível de pH em á gua a ser atingido, deve ser obtida a rela çã o entre o
PHSMP e a necessidade de calagem. Uma das vantagens desse mé todo é a simplicidade
para se determinar a necessidade de calagem obtida só com as medidas de pHSMP - Por
levar em considera çã o o poder tampã o do solo, este mé todo apresenta bom fundamento
teórico.
A calibra çã o do m é todo é feita correlacionando o pHSMP de uma sé rie de solos com a
necessidade de calagem para elevar o pH, em geral, a 6,0 ou 6,5 ou mesmo a 5,5, sendo
esta necessidade de calagem determinada por incuba çã o com CaC03. De posse do valor
do PHSMP do solo e definido o pH que se deseja alcançar, utilizando uma tabela, determina-
se a necessidade de calagem (Quadro 8) .
Deve-se salientar que essas tabelas devem ser obtidas para cada regiã o, uma vez que
os dados obtidos em uma localidade podem subestimar ou superestimar a necessidade
real de calc á rio de outra (Sousa et al., 1989 ).
Este mé todo é oficialmente utilizado nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do
Sul .
Figura 11. Rela çã o entre dose de calcá rio a ser aplicada no solo para atingir pH em á gua de 6,0
e o pHSMP'
Fonte: Sousa et al. (1989).
(16)
Esta sigla veio das primeiras letras dos nomes dos autores; Schoemaker, McLean & Pratt.
FERTILIDADE DO SOLO
238 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .
Quadro 8 . Necessidade de calagem de solos de acordo com o pHSMP (relação 10:10:5, solo, á gua,
soluçã o- tamp ã o)
NC para PHH 2O
pHsMP
5,5 6, 0 6,5
t ha 1
*
CaCC> 3
4,5 12,5 17,3 24,0
5,0 6,6 9,9 13,3
5,5 3,7 6 ,1 8,6
6,0 1, 6 3, 2 4,9
6,5 0, 4 1 ,1 2,1
Esse método baseia-se no poder tampão da matéria orgâ nica do solo e na sua elevada
correla çã o com a CTC a pH 7,0 ( Defelipo et al., 1982). A necessidade de calagem ( NC )
para elevar o pH do solo a 6,0 poderia ser estimada através do pH em á gua (1:2,5) e do
teor de maté ria orgâ nica do solo (MOS), usando a seguinte expressã o:
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 239
de Ca é fator limitante para o bom crescimento radicular . Por isso, surgiram mé todos que
levam em consideraçã o a correçã o do AI trocá vel e, também, o fornecimento de Ca e Mg.
Algumas variações de uso desse critério sã o utilizadas para estimar a NC e, como exemplo,
é apresentada a proposta de Sousa & Lobato ( 2004) para a Regiã o do Cerrado.
a ) Para solos com CTCPH 7,0 maior que 4,0 cmolc dm 3, teor de argila acima de 15 % e
'
-
NC = (2 x Al ) + [2 (Ca + Mg) ] (16)
b ) Para solos com CTCPH 7,0 maior que 4,0 cmolc dm 3, teor de argila maior que 15 %
'
NC = ( 2 x Al ) (17)
em que o valor de Y varia com o PTH e é estimado pela textura do solo, e X varia de acordo
com as exigências das culturas.
Quando os teores de Ca 2+ + Mg2+ ultrapassam o valor de X, utiliza -se somente a
primeira parte da f órmula:
NC = Y x Al3+ (21)
FERTILIDADE DO SOLO
240 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.
Quadro 9. Valores má ximos de satura çã o por Al3+ tolerados pelas cultura ( mt ), valores de X
para o mé todo do Al e do Ca + Mg trocá veis ( NCAlCaMg ) para algumas culturas e valores de
satura çã o por bases ( Ve) que se procura atingir pela calagem com a utiliza çã o do mé todo
de satura çã o por bases ( NCV )
Cultura mt X Ve
% emole dm -3 %
Cereais ( milho, trigo , sorgo , arroz ) 15- 25 2, 0 50
Leguminosas ( feij ã o , soja , adubos verdes ) 20 2,0 50
Hortali ç as ( tomate, repolho , alho, ervilha ) 5 3, 0 60 - 70
Caf é 25 3, 5 60
Cana -de - a çú car 30 3,5 60
Fruteiras tropicais ( mamoeiro , citros, banana , abacaxi ) 5-15 2, 0 -3,5 60 -80
Pastagens
Leguminosas 15- 25 1, 0 - 2 ,5 40 - 60
Gram í neas 20 - 30 1,0 - 2 , 0 40 - 50
Eucalipto 45 1, 0 30
em que Y varia com o PTH e pode ser definido de acordo com a textura do solo pela
equação:
Y = 0,0302 + 0,06532 Arg - 0,000257 Arg2; R2 = 0,9996 (23)
Catani & Gallo (1955) propuseram o cá lculo da NC com base na rela çã o entre pH e
satura çã o por bases do solo segundo a f órmula:
NC = [(H + A1) (i2 - ij)] / (100 - ij) (24 )
em que ii é a saturaçã o por bases atual do solo e Í2 a satura çã o por bases desejada . O
valor de ij é obtido pela equa çã o:
Esse crité rio foi alterado por Raij (1981), passando para:
NC = T ( Ve-Va ) / 100 (25)
por bases atual do solo (%); Ve = satura çã o por bases desejada ou esperada (% ).
O valor de Na + trocável nã o é normalmente considerado nos cá lculos, devido ao seu
baixo teor na maioria dos solos á cidos brasileiros. O valor de Va = [(K + Ca + Mg) /
CTCPH 7,0] 100.
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREçãO 241
Figura 12. Rela çã o entre valores de pH em á gua e satura çã o por bases, na camada de 0-20 cm
de solos da Regiã o do Cerrado .
Fonte: Sousa et al. (1989 ) .
A f ó rmula pode ser simplificada segundo as equa ções 26 e 27, conforme sugerido
por Sousa et al. (1989 ),
NC = ( VeT / 100) - SBa (26)
para Ve igual a 60 %:
NC = 0,6 T - SB ( 27)
O mé todo da satura çã o por bases tem a importante caracter ística de considerar a
facilidade dos cá lculos e a flexibilidade de adapta çã o para diferentes culturas ( Raij,
1991).
Existem tabelas com os valores de Ve mais adequados para cada cultura . E importante
ressaltar que essas recomendações de Ve sã o v álidas para os solos em que o mé todo foi
calibrado, devendo-se ter cuidado na sua extrapola çã o. Para solos de Minas Gerais e, em
geral, para os de Cerrado, os valores Ve estã o apresentados no quadro 9.
Quando se comparam alternativas de estimar a NC para solos da Regiã o do Cerrado
(Quadro 10), observa-se que o mé todo da satura çã o por bases e o do SMP recomendaram,
em média, 3,1 t ha 1 de calcá rio. O mé todo baseado nos teores de Al, Ca e Mg trocá veis
"
recomendou 2,6 t ha 1, ou seja, 16 % menos calcá rio que os demais e elevou a saturaçã o por
"
bases dos solos para valores médios de 49 % ( Sousa et al ., 1989). Utilizando-se esse critério,
há tendência de superestimar a recomenda çã o de calcá rio para solos arenosos com baixa
CTCpH 7,0 ( menor que 4,0 cmolc dm 3) e subestimá-la para solos com CTCPH 7,O alta (maior que
"
FERTILIDADE DO SOLO
242 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.
Quadro 10 . Doses de calcá rio estimadas por quatro mé todos em trinta amostras de solos da
camada de 0-20 cm da Regiã o do Cerrado
D o s e d e c a l cá r i o
Mé t o d o
M ín i m a Máx i m a M éd i a
t ha 1
da por meio do pHSMP' obtido da regressã o entre a acidez potencial e o pHSMP ( 4 ) Segundo Sousa et al . (1989) .
"
Os crité rios utilizados para recomenda çã o de calcá rio estã o bem regionalizados no
Brasil. Assim, a Regiã o Sul utiliza predominantemente o mé todo da solu çã o- tampã o
SMP para se atingir pH em água de 5,5; 6,0 ou 6,5. Nas Regiões Sudeste e Centro Oeste,
utiliza-se o m é todo da satura çã o por bases com recomenda ções entre 30 e 70 %, e, nas
Regiões Sudeste, Norte e Nordeste, o crité rio do Al, Ca e Mg trocá veis.
será:
QC = 6 (75 / 100) (8 / 20) (100 / 90) = 2,0 t ha 1 (17 > '
,
( 7)
Essa equa çã o, com fundamenta çã o matem á tica indiscut í vel, n ã o se aplica, por exemplo, para a
recomenda çã o de calagem em sistema plantio direto ( veja cap í tulo XV ). As doses de calcá rio
aplicadas em lavouras de caf é já estabelecidas ou em florestas de eucalipto, se adotada essa
equa çã o, seriam muito menores que as normalmente utilizadas.
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çãO 243
Figura 13. Relaçã o entre produtividade de gr ãos de algumas culturas anuais e saturaçã o por
bases na camada ar á vel de solos de Cerrado.
Fonte: Sousa & Lobato ( 2004).
FERTILIDADE DO SOLO
244 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .
No Estado de Sã o Paulo, recomenda -se calagem para atingir a satura çã o por bases
de 70 % no solo, para culturas de milho, soja e feijã o ( Raij, 1991) . Para solos da Regiã o de
Cerrados, recomenda -se a satura çã o de 50 % para essas culturas (Sousa & Lobato, 2004).
Assim, o pH em á gua do solo e a satura çã o por bases a serem atingidos dependem do
sistema de produção, das espécies que serã o utilizadas e da intensidade de uso do solo,
dentre outros fatores regionais.
Escolha do Corretivo
A acidez do solo pode ser neutralizada, utilizando-se v á rios compostos que podem
liberar OH e, ou, HC03\ A substâ ncia padrã o na correção da acidez do solo é o CaC03
'
com mol de carga ( molc) igual a 50. Ao CaC03, é atribuído o valor neutralizante ( VN ),
bem como o poder neutralizante (PN) de 100 %. A equivalência de outros compostos em
rela çã o ao CaC03 é feita pela rela çã o entre os respectivos pesos do molc. Por exemplo,
para o Ca (OH) 2 que tem peso do molc de carga igual a 37, essa rela çã o é de 50 / 37 = 1,35.
Isto significa que 100 kg de Ca (OH) 2 tem o mesmo efeito na correção da acidez que 135 kg
de CaC03 ( VN = 135 %) (Quadro 11) .
A eficiência dos corretivos depende do teor de substâ ncias capazes de liberar OH '
Quadro 11. N ú mero de mol de carga ( molc) em um kilograma de diferentes corretivos e seus
correspondentes valores neutralizantes (equivalente em CaC ) 03
1
molc kg 1 (1.000 / 20,15), pois 11 molc de MgO corresponde a 20,15 g de MgO.
' ( 2)
Como
20 molc kg de CaC03 sã o iguais a 100 %, 49,6 molc kg de MgO sã o iguais a 248,14 %.
' '
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 245
Quadro 12 . Caracter ísticas mínimas de poder de neutraliza çã o ( PN ) e soma dos ó xidos dos
principais corretivos de acidez
%
Calc á rios 67 38
Cal virgem agr ícola 125 68
Cal hidratada agr ícola 94 50
Esc ó rias 60 30
Calc á rio calcinado agr í cola 80 43
Outros 67 38
FERTILIDADE DO SOLO
246 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.
Quadro 13. Reatividade de calcá rios ou eficiê ncia relativa (ER ) de acordo com sua granulometria
mm Peneira ABNT %
> 2,00 retida N° 10 0
0 ,84 - 2,00 passa N° 10, retida N° 20 20
0,30- 0,84 passa N° 20, retida N° 50 60
< 0,30 passa N° 50 100
Quadro 14. Exemplo de caracter ísticas químicas e granulomé tricas de um calcá rio comercial
% mm g
CaO 39 > 2,00 5
MgO 13 0,84 - 2,00 25
PN 96 0,30- 0 ,84 50
< 0,30 120
Pò rtanto:
Para qualquer calcá rio, independentemente de sua rela çã o Ca:Mg:
1,0 t ha 1 deste calcá rio x seu PRNT / 100 = cmolc dm 3 de (Ca 2+ + Mg2+ ) no solo
" '
ou:
1,0 t ha 1 de ( XO(18) / 100) (VN ( 19) / 100) (RE / 100) = cmolc dm 3 de X no solo.
" "
{18)
X = Ca ou Mg
(19)
Assumindo VN e XO em % de CaO ou de MgO no calcá rio ~ PN do respectivo ó xido CaO com
VN = 179 % e MgO = 248 %.
\
FERTILIDADE DO SOLO
I
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çãO 247
MgO e com RE = 100 %, vai acrescentar ao solo, depois da reaçã o completa do calcá rio:
Pode-se dizer , ainda , que o PRNT deste calcá rio = (cmolc dm 3 de Ca2+ + cmolc dm 3
' '
—
de Mg2+ ) / dose de calcá rio em ( t ha 1 ) = ( 2,68 + 2,48) / 5,0 = 1,032 > 103,2 % de PRNT.
"
Um dos fatores limitantes do solo á cido pode ser, também, o seu baixo conteúdo de
Ca e de Mg. Assim, a aplicaçã o de um calcá rio que contenha Mg terá, aliada ao seu efeito
neutralizante da acidez, a adiçã o de quantidade adequada de Mg, o que, evidentemente,
não acontece quando se utiliza calcá rio calcítico.
A rela çã o Ca:Mg é outra característica importante do corretivo, sendo que a relaçã o
apropriada varia de acordo com o solo e com as culturas. Uma relação molar comumente
recomendada é a de 3:1 ou 4:1. Entretanto, n ã o se deve descartar o uso de calcá rios
calcíticos como corretivo, podendo-se complementar a adubaçã o com fertilizantes que
contenham Mg, como o sulfato ou carbonato de Mg e mesmo o óxido de Mg. Algumas
vezes, os calcá rios dolomítico e magnesiano chegam ao agricultor a preços duas ou mais
vezes mais caro do que o calcá rio calcítico.
Pelos teores de Mg, os calcá rios podem ser classificados em:
Preço por tonelada efetiva = 100 x preço por tonelada na propriedade / PRNT (30)
FERTILIDADE DO SOLO
248 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.
_IH
T
T
_IH
+ CaC03
+ CaO
-n Ca + C02|+ H20
Ca + H20
molc
’
do corretivo (g)
50
28
T1 H
Ca (OH) 2 <-> Ca + 2H20 37
T
_JH * MgO Mg + H20 20,15
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 249
menores de calcá rio e CTCPH 7,0 maiores podem tornar mais r á pida a rea çã o do corretivo
no solo com plantio direto.
Em geral, a velocidade de rea çã o do calcá rio é diretamente proporcional ao seu
PRNT, sendo beneficiada, também, pela melhor uniformidade de sua mistura com o solo.
Após a rea çã o do calcá rio, o processo de acidifica çã o do solo se reinicia, com intensidade
diferenciada, dependendo do sistema de preparo do solo, das fontes de adubo nitrogenado
e da rota çã o de culturas.
dose após a abertura da á rea e incorpor á -la com grade pesada, efetuando-se a cata çã o de
ra ízes e limpeza da madeira remanescente na á rea . Entã o, aplica -se a segunda metade
da dose, incorporando-a com arado de discos na camada de 0-20 cm . Se for necessá rio
utilizar calcá rio em á reas j á cultivadas com sistema de preparo convencional, a
incorpora çã o deve ser feita com arado de discos.
Alguns agricultores têm usado doses menores de calcá rio de alto PRNT, denominado
"Filler", no sulco de plantio. Esse corretivo pode fornecer os nutrientes Ca e Mg, por ém,
como corretivo de acidez, pode ser ineficiente. Corre-se o risco de ocorrer a concentra çã o
das raízes no pequeno volume de solo corrigido, favorecendo o tombamento das plantas
e aumentando o prejuízo da seca decorrente do pouco crescimento radicular (20) .
Portanto, essa aplica çã o no sulco só é v álida para suprir Ca e Mg como nutrientes
para as plantas. Nesse caso, doses de até 0,5 t ha 1 solucionariam o problema . Contudo,
'
quando o solo apresenta acidez elevada, os acr éscimos em produtividade podem ser
bastante limitados, quando se utiliza essa técnica. O parcelamento da dose de 4 t ha 1 de '
calcá rio, em oito aplica ções, em quatro anos de sequência soja-trigo, foi testado (Figura 14).
A produtividade m á xima da soja só foi obtida no quarto ano de cultivo (oitavo cultivo na
á rea ), quando a soma das aplica ções parceladas de 0,5 t ha 1 atingiu o total da dose de
'
(20)
A pr á tica "Filler" seria recomendada, por exemplo, para Neossolos Quartzar ê nicos, com pH 5,5,
sem Al3+, e com teores de Ca 2 + e Mg 2+ muito baixos, insatisfat órios.
FERTILIDADE DO SOLO
250 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.
Figura 14. Produçã o relativa de quatro cultivos de soja em rota çã o com trigo irrigado, na dose
total de 4 t ha -1 de calcá rio a lanço no primeiro ano, e parcelada em oito aplica ções de
0,5 t ha 1 no sulco, em solo Gleissolo Há plico.
'
FERTILIDADE DO SOLO
t
•
Quadro 15. Valores de saturaçã o por bases de um Gleissolo Há plico, ap ós diferentes per íodos
de tempo da incorpora çã o de doses crescentes de calcá rio (PRNT = 100 % )
;
t ha 1 %
0 14 12 9 6
2 30 29 19 17
4 44 45 35 31
8 61 71 57 56
FERTILIDADE DO SOLO
;&
252 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .
40 %, nos sistemas irrigado e plantio direto . Sugere-se aplicar calcá rio para elevar a
saturaçã o por bases do solo para 50 %, nos cultivos de sequeiro e de plantio direto e, para
60 %, nos cultivos irrigados. A reaplica çã o do calcá rio deve ser feita a lanço e sem
incorpora çã o, no sistema plantio direto, e incorporado com arado de discos, no sistema
convencional.
A calagem deve ser considerada como investimento e, no c á lculo de sua
economicidade, sã o englobados per íodos de amortiza çã o ao redor de cinco a seis anos
(Sousa & Scolari, 1986) . O uso do calcá rio tem participa çã o no custo de "construçã o da
fertilidade do solo" ( transforma çã o de solos de baixa fertilidade em solos f érteis), entre 5
e 8 % para culturas de sequeiro. Essa opera çã o deve seguir as recomendações, visto que
o uso de doses abaixo ou acima das indicadas tem efeito direto na queda da produtividade.
Avaliações económicas de experimentos com diferentes doses de calcá rio e cultivados
por nove anos com culturas anuais, apresentadas por Miranda et al. (1980) e Sousa et al.
(1985), mostram a viabilidade do uso do calcá rio. A margem de lucro bruto dos
tratamentos com calcá rio foi superior entre 68 e 122 % à do tratamento sem calagem.
Considerando o per íodo de nove anos de avalia çã o, para cada unidade monetá ria
investida em calcá rio, o retorno médio para as diferentes doses de calcá rio foi de dez
unidades monetá rias. Em caso de nã o utiliza çã o do calcá rio, o melhor investimento
alternativo para o produtor renderia 20 %.
Supercalagem
A quantidade de calcá rio a aplicar deve ser definida pela análise de solo para evitar
aplica çã o de quantidade superior à necessá ria . A calagem em excesso é tã o prejudicial
quanto a acidez elevada, com o agravante de ser muito mais dif ícil corrigi-la . Com a
supercalagem, há a precipitaçã o de diversos nutrientes do solo, como P, Zn, Fe, Cu, Mn,
mineraliza çã o da matéria orgâ nica, etc.
A supercalagem pode ocorrer quando o calcá rio é incorporado a apenas 10 cm,
embora o método recomende a incorpora çã o entre 0-20 cm. Essa supercalagem acontece,
por exemplo, quando se aplica em covas para transplantio de mudas de caf é
(40 x 40 x 40 cm ) uma dose padrã o de 500 g de calcá rio.
Para essa cova e para uma NC = 6,0 t ha -1 e calcá rio com PRNT = 74,4 %, devem-se
adicionar:
QC = 6 (64 / 2.000.000 ) (100 / 74,4) = 258 g / cova
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORREçãO 253
Nesse caso, as raízes da maioria das espécies cultivadas cresceriam apenas na camada
superficial. Esse problema, aliado à baixa capacidade de retençã o de água dos solos,
pode causar diminuiçã o na produtividade das plantas, principalmente nas regiões de
maior ocorrência de veranicos. Para superar essa condiçã o, pode-se utilizar o calcá rio
com incorporaçã o profunda, o que possibilita aumento de produtividade das culturas
nos primeiros anos de cultivo (Figura 16).
O efeito benéfico da incorporaçã o profunda do calcá rio seria a reduçã o da saturaçã o
por AI em maior volume de solo (Quadro 16), favorecendo maior crescimento do sistema
radicrxlar e, conseqiientemente, maior absor çã o de á gua e de nutrientes do solo pelas
plantas. Entretanto, a diferença resultante da incorpora ção profunda do calcá rio diminui
com o tempo de cultivo, em decorrência da lixiviação de Ca, Mg e K da camada superficial,
que vai reduzindo gradativamente a satura çã o por AI no perfil do solo. Após o terceiro
i.
<
i
\
0 - 15 0 - 15 6 91 , 2
15 - 30 55 34, 2
!
•
30 - 45 65 10,8
0 - 30 0 - 15 8 93, 0
15 - 30 20 65, 0
30 - 45 65 13, 7
Fonte: Gonzalez -Erico et al . (1979) .
FERTILIDADE DO SOLO
254 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.
Gessagem
Outra alternativa de manejo da acidez em profundidade é a utilizaçã o do gesso para
melhoria do ambiente radicular, abaixo da camada corrigida pela calagem usual,
principalmente em solos com argilas de baixa atividade. Esse produto é aplicado na
camada superficial do solo e, após sua dissoluçã o, ir á fixar-se abaixo dessa, graças à sua
alta mobilidade nos primeiros centímetros do solo. A lixiviaçã o do Ca no perfil favorece
o aprofundamento das ra ízes e permite à s plantas superar veranicos e usar, com mais
eficiência , a á gua e os nutrientes disponíveis no solo.
As rea ções do gesso no solo, indicadas por Pavan & Volkweiss (1986 ), sã o apresen-
tadas abaixo, de forma resumida. Inicialmente, na camada superficial, ocorre a dissociação
do gesso, bem como a lixiviaçã o pareada dos íons Ca 2 + e S042 e do par iônico CaSO40.
'
, A atividade do Al em profundidade é diminu ída pelo aumento da força iônica da solução do solo e
(21
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 255
aumentando a for ça iônica da soluçã o do solo, de maneira que haja contínua liberaçã o
dos íons do sal para a soluçã o por longos períodos de tempo . Essa caracter ística, aliada
aos teores de Ca (170 a 200 g kg-1), S (140 a 170 g kg 1), P2O5 (6 a 7,5 g kg 1), F (6 a 7 g kg 1),
' ' "
Mg (1,2 g kg 1 ), micronutrientes (Fe, Mn, Zn, Cu, Ni, B, Mo) e de outros elementos (Co, Na,
'
Al, As, Ti, Sb, Cd ), permite que o gesso agr ícola possa ser utilizado na agricultura:
a ) como fonte de Ca e de S
b ) na correçã o de camadas subsuperficiais com baixos teores de Ca 2+ e de outras
bases trocá veis e, ou, com altos teores Al3+, com o objetivo de melhorar o ambiente
radicular das plantas.
A recomenda çã o do uso de gesso agr ícola com esta última finalidade pode implicar
a utiliza çã o de doses elevadas, devendo ser feita com base no conhecimento das
caracter ísticas f ísicas e qu ímicas dos solos , n ã o apenas da camada ar á vel, mas,
fundamentalmente, das camadas subsuperficiais.
maioria das culturas. Deve-se considerar o emprego de outros fertilizantes que contêm S
em sua formula çã o, tais como: superfosfato simples (120 g kg 1 de S), sulfato de amónio
'
FERTILIDADE DO SOLO
256 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.
à demanda por Ca, sendo plantas como caf é e tomate muito responsivas ao nutriente, ao
passo que espécies florestais, como o eucalipto, apresentam exigência não tão elevada (22).
As características do solo podem, també m, alterar a movimenta çã o de Ca no perfil do
solo que, se excessiva, pode arrastar o elemento para camadas abaixo daquelas onde se
encontra o maior volume de ra ízes. A descida deste cá tion em profundidade modifica o
perfil de distribuição das raízes das plantas, aumentando o volume de solo a ser explorado
em nutrientes e, especialmente, em á gua .
Altera ções nas Caracterí sticas Químicas do Solo com o Uso do Gesso
( 22)
O eucalipto é muito tolerante ao Al3+, o que faz com que as doses de calcá rio recomendadas para
esta cultura sejam baixas. Por outro lado, a extra çã o de Ca pela planta toda é da ordem de 400 a
600 kg ha 1 de Ca .
*
FERTILIDADE DO SOLO
JffTT:' - -- -
H2O 2+
2CaS04.2H20 <-» Ca + S 042 + CaS04° + 4H Q
'
Uma vez na solu çã o do solo, o Ca 2+ pode interagir com o complexo de troca do solo,
deslocando cá tions, como Al3+, K +, Mg2 +, para a soluçã o do solo, que podem, por sua vez,
reagir com o S042 formando A1SCV ( que é menos t ó xico às plantas ) e os pares iônicos
'
neutros: K 2SO40, CaSO40, MgSO40. Dada a sua neutralidade, os pares iônicos apresentam
grande mobilidade ao longo do perfil, ocasionando uma descida de cá tions para as
camadas mais profundas do solo. Entretanto, sais muito sol úveis, como os nitratos de
sódio e de potássio, e também o cloreto de potássio, cujos â nions têm pouca ou nenhuma
intera çã o com a fase sólida do solo, apresentam alta mobilidade no perfil, sendo
arrastados pela á gua e arrastando consigo aquelas bases. Assim, a solubilidade dos sais
na soluçã o do solo, considerada a intera çã o de seus íons com a fase sólida, é que define
a mobilidade destes. Por sua vez, os fosfatos sã o praticamente imó veis, em razã o da
adsor çã o aniônica .
De maneira geral, pode-se dizer que diferentes fatores condicionam maior ou menor
movimenta ção dos cá tions pelo perfil do solo que recebeu gesso. Dentre eles, destacam-se:
a ) quantidade de gesso aplicado,
b ) capacidade de troca catiônica do solo,
c) condutividade elé trica da soluçã o do solo,
d ) textura do solo e
e) volume de á gua que o solo recebe.
Desta forma, para um solo de textura arenosa, com baixa CTC e pequena capacidade
de adsorver sulfato, a movimentaçã o de bases seria, potencialmente, maior que para um
solo de textura argilosa com alta capacidade de adsor ção de sulfato e elevada CTC.
Portanto, nesses solos, onde o potencial de movimentaçã o de bases é elevado, deve-se ter
maior cuidado com a quantidade de gesso aplicada , para evitar o risco de uma
movimenta çã o abaixo das camadas exploradas pelo sistema radicular da planta .
I
Normalmente, a aplica çã o de gesso agr ícola nã o provoca altera ções importantes no
\
pH do solo. Contrariamente à reduzida capacidade de altera çã o do pH do solo, a
aplica çã o de gesso pode proporcionar importante reduçã o no teor de AI trocá vel e em
sua saturação ( m ). Estudos de lixivia çã o têm demonstrado que o AI pode ser encontrado
l nos lixiviados de perfis reconstituídos de Latossolos brasileiros. A neutraliza ção do AI
trocá vel pela adiçã o de gesso pode ocorrer, basicamente, a partir das seguintes rea ções:
)
a ) precipita çã o na forma de Al ( OH ) 3 e libera çã o de OH para a soluçã o, em
'
I PI; . -
li FERTILIDADE DO SOLO
1 - ••A
258 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al.
Quadro 17 . Efeito da aplica çã o de gesso agr ícola ao solo na produtividade das culturas de
milho, trigo e soja, submetidas, na é poca da flora çã o, a per íodos de 25, 15 e 21 dias sem
irriga çã o, respectivamente
t ha -1
0 3, 2 2, 2 2,1
6 5,5 3,5 2, 4
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CoftftEção 259
Figura IS- Distribuiçã o relativa de ra í zes de milho no perfil de um Lalossolo Vermelho argiloso,
sem ou com a aplica ção de 6 E ha L de gesso.
'
Figura 19. li tdi 2 a çã o relativa da lâ mina de á gua dispon ível no perfil de um Latossolo Vermelho
argiloso, pelo milho na fase de lan çamento de espigas, após verameo de 25 dias sem e
com 6 t haJl de gesso .
Fonte : Sousa et al _ (1995) .
Cose de gesso N P K Ca Mg S
t ha 1
0 SQ 15 53 12 11 7
2 128 22 81 lã 18 12
FERTILIDADE DO SOLO
260 DJALMA MARTINHãO GOMES DE SOUSA et al.
Quadro 19. Efeito do gesso agrícola na produtividade da cultura do café cultivado em solo de
Cerrado
Caf é em coco
Dose de gesso
4 a safra 5 a safra
T
'
-
;.í
t ha -1 ;i .
o 2, 3 5, 9
3,75 4 ,9 7 ,7
Fonte: Sousa et al . (1995).
a esse insumo durante oito anos seguidos. Considerando a soma das produtividades
dos oito cultivos, os ganhos foram de até 68 % (Quadro 20). Observa-se que, com aplicação
de gesso, o rendimento de matéria seca aumentou 55 %, enquanto o incremento na
absor çã o de nutrientes variou de 41 a 64 %. Essas respostas podem ser atribuídas à
melhor distribui çã o das ra ízes da leucena no perfil do solo ( Figura 20), com
aproveitamento mais eficiente dos nutrientes e da água.
O estilosante Mineirão, também recomendado para banco de proteína e consorciação
com gramíneas, apesar de tolerante à acidez e à baixa fertilidade do solo, responde à
aplicação de gesso. Em Latossolo Vermelho argiloso, a produção do Mineirão foi de 13,4
e 19,4 t ha 1 de matéria seca, sem e com aplicação de 3 t ha 1 de gesso, respectivamente
' '
Nutriente
Dose de gesso MS
N P K Ca Mg S
t ha 1’
kg há 1
*
0 3,1 91 5 31 38 17 5
3 4 ,8 148 9 51 62 - 24 8
Fonte: Sousa et al. (2001 ).
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 261
Quadro 21. Rendimento acumulado de matéria seca de Brachiaria decumbens para diferentes
doses de gesso, no per íodo de tr ês anos após a semeadura
kg ha 1 t ha -1
0 21,9
200 31,4
600 32,6
1.200 33,4
1.800 32,6
Fonte: Sousa et al. ( 2001).
aumentou a produção de matéria seca em até 50 % (Quadro 22), em dois anos de avaliação.
Essa resposta pode ser atribuída mais ao efeito do S como nutriente do que à melhoria do
perfil de solo. Contudo, no segundo ano, a dose de 1.500 kg ha 1 de gesso, recomendada
"
para melhorar o perfil do solo, produziu 11 % mais matéria seca que a de 200 kg ha 1 de "
FERTILIDADE DO SOLO
262 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .
Quadro 22. Produ çã o de mat é ria seca de Brachiaria brizantha em solo de Cerrado, com doses de
gesso aplicadas na recupera çã o da pastagem degradada
kg ha - 1 t ha 1
0 3, 4 5,8
200 4, 2 8, 7
1.500 4,3 9, 7
Quadro 23 . Necessidade de gesso de acordo com o teor de argila ( NG-arg) para uma camada
subsuperficial de 20 cm de espessura
Argila NG -arg
% t ha 1
< 15 0,0 a 0, 40
16 a 34 . 0, 41 a 0, 79
35 a 60 0, 80 a 1, 20 ••
> 60 1, 21 a 1,60
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 263
Para solos de Cerrado, Sousa et al. (1995) indicam doses de gesso com base na classe
textural do solo (Quadro 24):
Quadro 24 . Recomenda çã o de gesso agr ícola ( NG ) como variá vel da classifica çã o textural do
solo para culturas anuais e perenes
0/
/0 NG ( t ha -1 )
Arenosa ( < 15 ) 0, 7 1,0
M é dia (16 a 34 ) 12
/ 1, 8
Argilosa ( 35 a 60 ) 2, 2 3, 3
Muito argilosa ( > 60 ) 3, 2 4,8
Após amplo estudo com amostras de 13 solos de Cerrado, Sousa et al. (1992b )
propuseram o uso de equa ções que se baseiam em características dos solos e no volume
FERTILIDADE DO SOLO
264 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .
solu çã o, em equilíbrio com o retido, é da ordem de 0,394 mmol L 1, o que equivale a '
Quadro 25. Necessidade de gesso de acordo com o valor de f ósforo remanescente ( NG -Prem )
para uma camada subsuperficial de 20 cm de espessura
P-r e m N G (1 )
mgL-1 t ha -1
Valores de NG adaptados e aproximados de Souza et al. (dados nã o publicados) e citados por Souza et al . (1992b )
(1 )
para que o Ca2 + retido em camada de 20 cm de espessura esteja em equilíbrio com a concentra çã o de 0,394 mmol L 1
'
de Ca em solu çã o do solo, para gesso agr ícola com 150 g kg 1 de S e 262,5 g kg 1 de CaO.
' '
para o Mg, valores que atendem às necessidades da maioria das culturas (Raij, 1991). Os
teores desses nutrientes na folha variam de 4 a 40 g kg 1, para o Ca, e de 2 a 4 g kg 1, para
" '
o Mg (Dechen, 1983).
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 265
Cálcio
A planta absorve o Ca na forma iônica Ca 2 + da soluçã o do solo. Os mecanismos de
acesso ao nutriente e de transporte sã o, predominantemente, intercepta çã o radicular e
fluxo de massa (veja capítulo IV ) . A absorção de Ca está associada às relações de equilíbrio
com o Mg e K na soluçã o do solo. O Ca é relativamente imóvel, nã o se redistribuindo com
facilidade na planta . É um elemento de funçã o estrutural, sendo integrante da parede
celular e sua deficiê ncia afeta , principalmente, o crescimento das ra ízes.
Dados experimentais mostram que o crescimento de ra ízes de plâ ntulas de trigo é
diretamente proporcional ao teor de Ca na CTCefetiva do solo ( Figura 21), cuja satura çã o
por AI era igual a zero (Sousa et al., 1992b ) . Nessas condições, os autores observaram
que, com satura çã o por Ca na CTCefetiva menor que 50 %, ocorre alta restriçã o ao
crescimento radicular do trigo.
Figura 21. Comprimento de ra ízes de trigo (cv . Moncho BSB ) como variá vel da saturaçã o por
cá lcio na CTC efetiva, em amostras subsuperficiais de solos do Cerrado, com satura çã o
por alumínio igual a zero.
Fonte: Sousa et al. (1992b ) .
Magné sio
Esse nutriente é absorvido pela planta na forma iônica Mg2+ da soluçã o do solo e
acessado pelas ra ízes principalmente pelos mecanismos de interceptaçã o radicular e
fluxo de massa . A absor ção de Mg está associada, também, às suas relações de equilíbrio
com o Ca e K na soluçã o do solo.
FERTILIDADE DO SOLO
266 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .
Dentre as funções de importâ ncia do Mg, uma das principais é sua participa çã o na
composiçã o da clorofila, correspondendo a 2,7 % de seu peso molecular. O Mg é também
ativador de grande nú mero de enzimas ( Dechen, 1983).
Os sintomas de deficiê ncia de Mg caracterizam-se pela presença de manchas ou
cloroses internervais das folhas, com ou sem partes necrosadas. Gra ças à sua boa
mobilidade na planta, os sintomas de deficiência aparecem, geralmente, nas folhas mais
velhas. A deficiência de Mg ocorre, com certa frequência, na Regiã o do Cerrado, onde
85 % da á rea apresenta teores de Mg2+ inferiores a 0,8 cmolc dm 3. A utiliza ção de calcá rio
'
calcá rio calcítico e dolomítico. Nos dois primeiros cultivos com milho, nã o houve efeito
dos tratamentos, embora tenham ocorrido sintomas de deficiência de Mg na menor dose
Teores foliares
CaCOa MgCOa Produtividade gr ã os
Ca Mg
_1
kg ha t ha gkg
'
FERTILIDADE DO SOLO
V - ACIDEZ DO SOLO E SUA CORRE çã O 267
deste nutriente. No terceiro cultivo com soja, a produtividade com 10 kg ha 1 de Mg foi '
maiores produtividades ocorreram com o efeito residual das doses de 100 e 350 kg ha 1
'
No oitavo cultivo com milho, as produtividades nas doses de 100 e 350 kg ha 1 de '
culturas de milho e soja . O N foi fornecido para o milho, principalmente por meio de
Figura 22. Produtividade de gr ã os da soja, em tr ês anos agr ícolas, como variá vel de doses de
magn ésio em um Latossolo Vermelho argiloso.
Fonte : Vilela et al . ( 1987 ) .
Figura 23. Produtividade de gr ã os de soja como variá vel do teor de magnésio no solo, antes
do sé timo cultivo.
Fonte : Embrapa (1985 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
268 DJALMA MARTINH ã O GOMES DE SOUSA et al .
LITERATURA CITADA
ALCARDE, J .C. Corretivos da acidez dos solos: Características de qualidade. In: MALAVOLTA,
E., ed . SEMIN Á RIO SOBRE CORRETIVOS AGRÍCOLAS. Piracicaba, Funda çã o CARGILL,
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ALVAREZ V., V.H. Correla çã o e calibra çã o de mé todos de aná lise de solos. In: ALVAREZ V.,
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do Solo, 1996. p.615-646.
)
ALVAREZ V., V.H. & RIBEIRO, A.C. Calagem . In: RIBEIRO, A.C.; GUIMARAES, P.T.G. &
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ALVAREZ V., V.H.; DIAS, L. E. & SANTOS, A.R. Solos corrigidos com doses estimadas a partir
de diferentes crité rios para definir a necessidade de calagem. 1. Valores de pH. In:
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Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1990a . p.278-279.
ALVAREZ V., V.H.; DIAS, L.E. & SANTOS, A. R. Solos corrigidos com doses estimadas a partir
de diferentes crité rios para definir a necessidade de calagem. 2. Teores de Ca 2+ e Al . In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊ NCIA DO SOLO, 22., Recife, 1989. Anais. Campinas,
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1990b. p.276-277.
FERTILIDADE DO = SOLO
VI - MAT É RIA ORG Â NICA DO SOLO
1/
Departamento de Solos, Universidade Federal de Vi çosa - UFV .
•? CEP 36570-000 Vi çosa ( MG ). Bolsistas do CNPq .
ivosilva @ ufv . br; esm @ ufv .br
Conte ú do
CONSIDERAÇÕES INICIAIS 276
INTRODU ÇÃ O 276
ROTAS DE FORMA ÇÃO E CARACTER ÍSTICAS DAS SUBST Â NCIAS H Ú MICAS 293
Caracter ísticas Qu ímicas e Estruturais das Substâ ncias Fl ú micas 296
ESTABILIZA ÇÃO DA MATÉ RIA ORG Â NICA DO SOLO 305
Din â mica e Tamanho dos Compartimentos 305
Mecanismos de Estabiliza çã o 309
Estabiliza çã o Qu ímica ou Coloidal 309
Estabiliza çã o Física 312
Estabiliza çã o Bioqu ímica 313
Aspectos Estruturais e Moleculares da Maté ria Orgâ nica Estabilizada 315
PROPRIEDADES DO SOLO INFLUENCIADAS PELA MATÉ RIA ORG Â NICA DO SOLO 319
Propriedades Qu ímicas J 319
Poder Tampã o 319
Capacidade de Troca Catiônica 321
Complexa çã o de Metais 322
Características Físicas do Solo 329
Agrega çã o 329
Retençã o de Água 335
Propriedades Biológicas do Solo ! 337
Reserva Metabólica de Energia 337
COMPARTIMENTOS E DECOMPOSIÇÃO DE NUTRIENTES EM FORMA ORG Â NICA .... 337
CONSIDERA ÇÕES FINAIS : 355
AGRADECIMENTOS 356
LITERATURA CITADA 357
SBCS, Vi çosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V ., V .H ., BARROS,
N . F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R .B . & NEVES, J .C.L. ) .
276 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
CONSIDERA ÇÕ ES INICIAIS
No presente capítulo, pretendeu-se fazer uma introdu çã o sobre os aspectos básicos
relacionados com génese, composiçã o e contribuiçã o da maté ria orgâ nica do solo para a
fertilidade qu ímica e f ísica do solo. Considerando a natureza abrangente do assunto e,
especialmente, os objetivos propostos, alguns temas importantes tiveram de ser deixados
de fora . Um destes foi o manejo da matéria orgâ nica do solo, principalmente em solos
tropicais, merecedor de um capitulo à parte. A maté ria orgâ nica do solo, sempre pouco
estudada e pouco conhecida pelos cientistas de solo, felizmente, tem merecido atençã o
consider á vel das pesquisas, particularmente na ú ltima d é cada . Muitos aspectos
fundamentais estã o começando a ser descobertos e mais bem compreendidos. O grande
volume de informa çã o disponível sobre os diferentes assuntos reflete esses avanços. No
presente capítulo, abordou-se, inicialmente, os compartimentos globais de carbono (C ) e
as fra ções da maté ria orgâ nica do solo, passando entã o pelos aspectos de génese,
composiçã o e estrutura de substâ ncias h ú micas, mecanismos de estabilizaçã o, efeitos da
maté ria orgâ nica em algumas caracter ísticas químicas, f ísicas e biológicas do solo.
Finalmente, foram discutidos alguns aspectos relacionados com as formas orgâ nicas de
N, P e S do solo. Procurou -se, sempre que possível, incluir exemplos baseados em
resultados de pesquisas para solos brasileiros. Infelizmente, dadas as limita ções de
espa ço, nem todas as pesquisas pertinentes puderam ser mencionadas.
INTRODUÇÃ O
O solo é um compartimento terrestre que apresenta grande dinamismo em seus
constituintes e está intimamente ligado às caracter ísticas e aos processos que ocorrem na
atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera (Figura 1) . A fase sólida é constituída da fra ção
mineral e orgâ nica . A fra çã o orgâ nica corresponde à matéria orgâ nica do solo (MOS),
constituída basicamente por C, H, O, N, S e P. O C compreende cerca de 58 % da MOS, H
6 %, O 33 %, enquanto N, S e P contribuem com cerca de 3 %, individualmente.
Figura 1. O solo ( pedosfera ) como componente integrador do ciclo do carbono entre as quatro
esferas fundamentais: biosfera, litosfera, hidrosfera e atmosfera.
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 277
Os teores de C em formas orgâ nicas (C orgâ nico) do solo estão diretamente ligados à
sua intera çã o com a biosfera. Por meio dos produtos da fotossíntese (6C02 + 6H20 +
•i
—
energia > C6H12Oe + 602), grande parte do C entra no solo. A fotossíntese, realizada
pelos organismos autotróficos, é um processo muito importante para manter o equilíbrio
de C02 na atmosfera e o ciclo do C na Terra . Estima -se que a produçã o primá ria total
(PPT) global de C pelo processo de fotossíntese seja cerca de 120 Gt ano 1 de C (1 Gt = 109 1). '
Em razã o das perdas por meio do processo de respiraçã o das plantas, tem-se a produção
prim á ria líquida ( PPL ), que, em termos globais, é estimada em 60 Gt ano 1 de C, metade '
da PPT. A PPL corresponde à produçã o líquida de material orgâ nico pelas plantas, fonte
prim á ria de energia para os demais organismos heterotr óficos até tornar -se parte
integrante da MOS.
A entrada de C no solo está relacionada , principalmente, com o aporte de resíduos
da biomassa a érea e radicular das plantas, libera çã o de exsudados radiculares, lavagem
de constituintes sol ú veis da planta pela á gua da chuva e transforma çã o desses materiais
carbonados pelos macro e microrganismos do solo. Todos esses processos fazem parte
da biosfera (Quadro 1).
í Densidade de C Estoque
Bioma Á rea Tempo de ciclagem ( t y2 )
Vegeta çã o Solo Vegeta ç ao Solo
FERTILIDADE DO SOLO
278 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MAT é RIA ORGâ ISIICA DO SOLO 279
que compõem a microbiota do solo. Como será discutido com mais detalhe posteriormente,
o N é um dos elementos com papel fundamental na dinâ mica da MOS.
Existem poucas estimativas para os teores e estoques de C para as diferentes classes
de solos brasileiros. A á rea de abrangê ncia dos Latossolos representa cerca de 40 % do
território brasileiro ( > 3.310.000 km2) (Schaefer, 2001), com conteúdo médio de C variando
de 6-13 kg m 2, para os LA, 7,5-11 kg m 2, para os LE, 6,8-8,8 kg m 2, para os LVA, e
' ' '
FERTILIDADE DO SOLO
280 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Figura 2. Rela çã o entre o teor de carbono orgâ nico com os teores de silte + argila de camadas
de solo em diferentes profundidades. Os dados sã o de uma sequê ncia de solos de textura
variada na regiã o Noroeste de Minas Gerais.
Fonte Zinn et al . ( 2005) .
:
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 281
Assim, o conceito de MOS incorpora vida e dinamismo. Diante disso, a tend ência é
que os estudos tornem -se cada vez mais refinados e passem a basear també m na
quantifica çã o e caracteriza çã o do C das substâ ncias e compartimentos da MOS, indo
alé m de um componente químico do solo que, constantemente, é relacionado com o teor
de COT determinado nos laborató rios de fertilidade do solo.
FERTILIDADE DO SOLO
282 Ivo RIBEIRO Dá SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
substâ ncias h ú micas . Os organismos do solo podem ser classificados quanto à sua
funcionalidade, utilizando crité rios de taxonomia, tamanho, tempo de resid ência no
solo, habitat, forma de locomoçã o e nutriçã o . Quando se utiliza o crité rio de tamanho
dos seus componentes, podem ser separados em microflora (microrganismos), microfauna
( < 0,2 mm ), mesofauna (0,2-10 mm ) e macrofauna ( > 10 mm ). Em geral, os organismos
de menor tamanho encontram -se em maior quantidade no solo. Os microrganismos sã o
representados, principalmente, pelas bacté rias, fungos, actinomicetos e algas, sendo os
v írus componentes submicroscópicos e os protozoá rios os componentes da microfauna
do solo. A mesofauna pode ser representada pelas colê mbolas e á caros; e a macrofauna
pelos anelídeos, té rmitas, isó pteros e coleópteros. Alguns organismos podem se situar
em mais de uma classe, como os nematóides, que podem ser incluídos tanto na micro
como na mesofauna . ,
As funções de destaque da fauna do solo na transforma ção dos compostos orgâ nicos
sã o: reduçã o do tamanho do material orgâ nico ( resíduo); separaçã o dos componentes do
material orgâ nico; mistura dos componentes orgâ nicos e inorgâ nicos; forma çã o e
manutenção dos poros do solo; regulaçã o e dispersã o da microflora no solo. Dependendo
da forma de alimenta çã o - fitófagos, sapr ófagos e carnívoros -, os organismos têm funções
diferenciadas. A a çã o de misturar e deslocar o material orgâ nico e mineral do solo da
superf ície e do subsolo pela fauna é fundamental na dispersã o de nutrientes ao longo do
perfil de solo. Alguns organismos ( térmitas e anelídeos, dentre outros ) tê m grande
capacidade de concentrar nutrientes nos ninhos. A compara çã o entre as caracter ísticas
químicas de excrementos de minhoca em amostras de um Latossolo Vermelho-Escuro
á lico sob cultivo de Eucalyptus grandis (Quadro 2) permitiu observar diminuiçã o do pH,
da saturaçã o por AI e incrementos dos cá tions trocá veis (Ca2+, Mg2+ ), dos teores disponíveis
de K e P, da CTC e do COT. Portanto, pode-se inferir sobre a grande capacidade das
minhocas em alterar a ciclagem da MOS e dos nutrientes no solo, em razã o da composição
de seus excrementos (Quadros et al ., 2002).
Quadro 2. Dados médios das caracter ísticas qu ímicas dos excrementos de minhoca e do solo
em diferentes profundidades sob Encalypitus grandis , com três anos de idade
mg kg 1 g kg -1
1
mmoIc kg %
'
Extrator: Mehlich ~l .
(1)
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 283
Quadro 3. Teor de carbono, nitrogé nio, biomassa microbiana e contribuiçã o relativa dos
microrganismos ao longo do perfil do so] o
Carbono orgâ nico Nitrog é nio total Contribuiçã o relativa Biomassa microbiana
cm g kg '
g kg-1 % mg kg 1 de C
'
FERTILIDADE DO SOLO
284 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
co2 Formado pela decomposi çã o / mineraliza çao de compostos orgâ nicos por organismos
heterotr ó ficos aer ó bios; essencial ; no processo de fotoss í ntese; g á s de efeito estufa .
CH 4 Formado pela decomposi çã o / min'e raIiza çã o de compostos org â nicos por organismos anaer ó bios;
est á vel na aus ê ncia de 02; em condi çõ es aer ó bias, é utilizado por bact é rias metanotr óficas; g á s de
efeito estufa .
NH 3 +
Formado durante a amonifica çã o; NH 4 é formado no ambiente solo; utilizado pelos
microganismos e plantas; é prontamente oxidado para N 03 em solos bem aerados e umedecidos.
"
NO3 Formado durante a nitrifica çã o; utilizado pelos microrganismos aer ó bios e anaer ó bios e pelas
plantas; efeito sobre a qualidade da á gua .
so 42 Formado pela decomposi çã o / mineraliza çã o aer ó bia de compostos org â nicos; utilizado pelos
microrganismos aer ó bios e anaer ó bios e pelas plantas .
H 2S Formado pela decomposi çã o / mineraliza çã o anaer ó bia ; utilizado como substrato pelos
microrganismos .
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORG â NICA DO SOLO 285
foi, em média , de 8,3 /xg g 1 de C. No SPD com seis anos de implanta çã o, houve efeito da
'
FERTILIDADE DO SOLO
286 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
A mat é ria macrorgâ nica , ou mat é ria orgâ nica leve ( MOL ) ou particulada ,
dependendo do m é todo de fracionamento, é a fraçã o da matéria orgâ nica nã o-vivente
que se encontra em menor proporçã o, contribuindo com cerca de 3-20 % do COT, composta
principalmente por restos vegetais em v á rios está dios de altera çã o. Seu conteúdo está
principalmente ligado ao aporte orgâ nico, pelo aumento e manutenção dos resíduos
orgâ nicos. Há tend ência de aumento dos teores dessa fra çã o, seja em sistemas que
preconizem a diminuiçã o do revolvimento do solo, como em SPD, seja em espécies em
rota çã o (Freixo et al., 2002 ; Costa et al ., 2004; Bayer et al., 2004), em condições climá ticas
menos favor á veis à decomposiçã o e em sistemas mais produtivos ( Lima, 2004) e, ainda,
pela adiçã o ao solo de resíduos que nã o sã o produzidos in situ , como composto orgâ nico
( Leite et al ., 2003) e lodo de esgoto (Soares, 2005), Logo, o tipo de solo, a vegetaçã o, o
-
clima e as pr á ticas de manejo adotadas irã o afetar a magnitude desse compartimento.
A MOL pode ser dividida em matéria orgâ nica leve livre (interagregados) e matéria
orgâ nica leve oclusa (intra -agregado). A MOS leve livre é quimicamente parecida com os
restos vegetais (como a serapilheira ) e tem, em geral, uma taxa de decomposiçã o muito
alta , enquanto a MOS oclusa apresenta grau mais avançado de transformaçã o ( Roscoe et
al ., 2004 ) e ciclagem mais lenta , podendo conter, ainda , resíduos do metabolismo
microbiano (Golchin et al ., 1997).
A MOL é caracterizada, em raz ã o da sua composiçã o qu ímica, pela sua alta
disponibilidade aos microrganismos do solo e pela sensibilidade à s altera ções do meio,
como verificado por Roscoe & Buurman (2003) : forte decréscimo da MOL livre após a
conversã o do Cerrado em á rea cultivada . De fato, observa-se que, sob condições de
vegeta çã o natural, encontram-se maiò res teores de C e N associados à MOL, cerca de
18 % de C e 12 % de N, quando comparados aos dos sistemas cultivados, os quais
apresentam valores inferiores, de 4-5 % de C e 2-3 % de N (Roscoe & Buurman, 2003).
O processo de oclusã o da MOS nas típicas estruturas de Latossolos (granular forte
muito pequena ) leva à intensa transforma çã o dessa fraçã o, preservando-a seletivamente.
Entretanto, tem-se constatado pequena capacidade de oclusã o da MO em solos com alto
teor de oxihidróxidos de Fe e Al . A contrituição dessa fração para os Latossolos brasileiros
foram de 1-2 % do COT (Roscoe et al., 2004 ).
Essas fra ções podem ser determinadas por meio de fracionamento f ísico por
diferença de densidade. O uso desse fracionamento permite separar fra ções orgâ nicas
cuja composiçã o e localiza çã o f ísica no solo sã o diferenciadas. Com o uso do mé todo
densimé trico, sã o separados os restos vegetais parcialmente decompostos e de baixa
densidade dos compostos orgâ nicos mais resistentes à decomposiçã o, sendo utilizadas,
para isso, solu ções de sais orgâ nicos e inorgâ nicos com densidades compreendidas na
faixa de 1,6-2,0 kg L 3 (Christensen, 1996). O iodeto de Na e o politungstato de Na sã o
algumas das substâ ncias utilizadas mais frequentemente com esse propósito. Tendo em
vista que essas frações da MOS apresentam densidade menor que 1,6 kg L 3, promove-se,
'
por meio da utilizaçã o dessas soluções, a flota çã o do material mais leve (Figura 3). Na
MOS que fica associada ao material sedimentado (fra ções areia, silte e argila ), comumente
denominada fra çã o pesada, está associada a maior parte das substâ ncias humicas do
solo. Estudos têm demonstrado que a MOS associada às fra ções pesadas (areia, silte,
argila ) geralmente correspondem a mqis de 80 % do COT.
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORG â NICA DO SOLO 287
Figura 3. Esquema de separa çã o da fra çã o da maté ria orgâ nica leve do solo por flota çã o.
comparando solu ções de Nal com diferentes densidades, obtiveram diferenças nas
quantidades extra ídas de fra çã o leve livre e fra çã o leve intra -agregado. O aumento da
densidade das partículas orgâ nicas é um indicativo de um está dio de decomposiçã o
mais avançado e maior transforma çã o com maior contribuiçã o microbiana .
Em alguns estudos, depois da separa çã o com soluções de diferentes densidades, a
fra çã o leve coletada é novamente fracionada em peneira com malha com aberturas
variando de 0,1-0,5 mm, dependendo do objetivo, obtendo-se, assim, a matéria orgâ nica
leve particulada . A separa çã o da MO leve por peneiramento pode ainda ser precedida
pela dispersã o, como, por exemplo, pela utiliza çã o de hexametafosfato de Na. Conforme
proposto por Cambardella & Elliot (1992 ), a suspensã o é passada em peneira de 53 [im
de maneira que a fra çã o retida é considerada a MO particulada . Utilizando esse método,
Bayer et al. ( 2004) obtiveram estoques de C na MO particulada variando de 11 a 15 % do
COT na camada de solo de 0-20 cm. Outros estudos consideram a própria maté ria
orgâ nica leve, separada por densimetria, sem o uso de peneiramento, para definir a
classe de tamanho, como sendo a fra çã o particulada (Six et al., 2001). A uniformizaçã o
de conceitos e procedimentos seria desejá vel para que possíveis comparações futuras
fossem mais acuradas.
O h ú mus é o compartimento que inclui substâ ncias h ú micas e nã o-h ú micas. Esses
dois grupos de compostos encontram-se fortemente associados no ambiente ed á fico e
não sã o totalmente separados pelos processos tradicionais de fracionamento, sendo dif ícil
definir seus limites.
As substâ ncias nã o-h ú micas podem chegar a contribuir com 10 a 15 % do COT dos
solos minerais. Sã o grupos de compostos orgâ nicos bem definidos, como carboidratos,
lignina, lipídios, á cidos orgâ nicos, polifenóis, á cidos nucléicos, pigmentos e proteínas.
Esses compostos sã o provenientes da a çã o e transformaçã o da matéria orgâ nica viva
sobre o material orgâ nico que é aportado ao solo, ou, ainda, adicionados via exsudaçã o
FERTILIDADE DO SOLO
288 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Quadro 6. Caracter ísticas qu ímicas de algumas esp écies da Floresta Atlâ ntica
gkg’
Solanum variable Folha 500 39 1 /2 75 224 176 521 37
Pec íolo 490 24 0,8 96 335 189 644 13
Caule 510 13 02
/ 146 466 207 829 08
Cassia ferrugineci Folha 550 26 12
/ 90 168 137 430 193
Pec íolo 520 11 0,4 139 473 180 802 82
Caule 530 09 0 ,3 157 496 161 790 33
Piptadenia gonoaccintha Folha 510 38 1,3 106 181 156 426 151
Pec íolo 510 17 0, 7 138 409 165 706 14
Caule 520 14 0,5 147 473 216 840 10
Croton urucurana Folha 420 35 1,0 84 150 146 401 189
Pec íolo 480 15 0,4 98 275 161 586 131
Caule 510 12 0,4 203 412 168 738 33
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 259
Atualmente, não existe um m é todo de extra ção ideal para as substâ ncias h ú r r . as
O mé todo ideal deveria : possibilitar o isolamento do material orgâ nico na forma na :
alterada; permitir a extraçã o dos compostos orgâ nicos sem contamina çã o com outras
substâncias inorgâ nicas, tais como argilas e cá tions; favorecer a extra çã o completa ,
FERTILIDADE DO SOLO
290 Ivo RIBEIRO DA ; SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
é preferida pela menor probabilidade de alterar a composição / estrutura das substâ ncias
húmicas. També m tem sido utilizada uma mistura de reagentes, como 0,1 mol L 1 NaOH '
e 0,1 mol L 1 Na4P207 em solução ou reagentes mais brandos, como Na4P207 a pH neutro.
'
Independentemente do extrator, são necessá rias extrações sucessivas para obter o máximo
de matéria orgânica humificada . Entretanto, um número diferente de extrações sucessivas
pode levar à recupera çã o de fra ções com características bastante distintas. Por exemplo,
Li et al. (2003) demonstraram que as primeiras fra ções extraídas com NaOH 0,1 mol L 1 '
eram compostas por substâ ncias de menor massa molecular, mais polares e mais
aromá ticas em compara çã o às fra ções! obtidas nas últimas das extra ções sucessivas. As
substâ ncias h úmicas extra ídas de solos minerais com NaOH normalmente contêm
quantidade considerável de material inorgânico (cerca de 25 %). Sendo assim, para estudos
mais refinados desses componentes, particularmente por técnicas espectroscópicas, há
necessidade de se purificar o material extra ído, reduzindo o conteúdo de cinzas (cá tions
e fração argila ) e removendo os compostos orgânicos que nã o são constituintes estruturais
das substâ ncias húmicas (polissacarídeos, ácidos orgâ nicos de baixo peso molecular, etc).
Os contaminantes inorgâ nicos podem ser reduzidos por meio de tratamentos
sucessivos com mistura de á cidos diluídos, os quais solubilizam os metais e causam a
dissolução de oxihidróxidos e argilas silicatadas. Para solos de diferentes texturas do
Rio Grande do Sul, foi demonstrado que espectros 13C-CP-MAS RMN com boa resolução
foram obtidos quando se fizeram oito tratamentos sucessivos com a mistura de HF 10 %
e HC 0,1 % (Gonçalves et al., 2003). '
Os contaminantes orgâ nicos podem ser removidos por meio de cromatografia líquida
em coluna com resina não-iônica ( XAD-8) seguida por passagem em coluna com resina
trocadora de cá tions (IHSS, 2007). Quantidades consideráveis de C podem ser perdidas
durante o processo de purifica çã o. Gonçalves et al. (2003) constataram, após oito
tratamentos com HF, que as taxas de recuperação do C foram de 52-71 %, para o horizonte
A, e de 15 a 29 %, para o horizonte B. Essas perdas, entretanto, nã o consistiram em
altera ções na distribuição dos grupamentos funcionais da MOS determinados por
CP-MAS 13C-RMN, o que indica que nã o sé trata de uma perda seletiva de grupos
específicos da MOS.
Deve-se considerar que o uso de soluções alcalinas para extração de substâ ncias
húmicas do solo tem sido muito criticado. As principais críticas são: (a) se o material que
é extraído da MOS realmente representa a composição do material que não é extraído e
de toda a fra ção orgâ nica do solo; (b ) a dificuldade em relacionar a funçã o biológica do
COT do solo com o material orgâ nico extraído; (c) as diferenças químicas encontradas
entre as moléculas orgâ nicas extraídas ém relaçã o aos mesmos materiais que estão retidos
no solo (conforma ção, capacidade de cpmplexa ção de cá tions, hidrofobicidade, etc.); (d)
criação de artefatos durante o processo de extra çã o. Uma alternativa aos procedimentos
de extração é a utilização de técnicas espectroscópicas que permitam a caracterizaçã o da
composiçã o química do COT de amostras de solo in situ , sem a necessidade de extra çã o
prévia (Gonçalves et al., 2003; Dick et ali, 2005). Contudo, deve-sé ressaltar que, em solos
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 291
FERTILIDADE DO SOLO
292 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Nesses solos de Terra Preta , a contribuiçã o do C-carv ã o em relaçã o à fra ção leve e
pesada da MOS diminuiu com o aumento da densidade das fra ções; 75,2 % do C da
fra çã o leve (C-FL ) era C-carvã o, enquanto, na fra çã o de densidade intermediá ria, o
C-carvã o representou 52,4 % e, na fraçã o pesada, valores acima de 19,3 % (Glaser et al.,
2000). Contribuições acima de 45 % d ò COT foram constatadas em solos da Alemanha
com propriedades de solos Chernozêmicos (Schmidt et al., 1999); em solos com uso
agrícola do EUA essa contribuiçã o variou de 10-35 % do COT (Skjemstad et al., 2002). O
carvã o tem estrutura altamente condensada, aromá tica e resistente à oxidação química e
biológica. Apesar disso, mesmo com considerá vel taxa anual de formaçã o o C-carvã o
não é a forma predominante de COT, o que indica não ser material completamente inerte
(Skjemstad & Graetz, 2003). Estudo recente també m demonstrou que o carvã o pode
contribuir para a CTC do solo (Liang et al., 2006).
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MAT é RIA ORGâ NICA DO SOLO 293
FERTILIDADE DO SOLO
294 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Rota degradativa
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Rotas de Polimerizaçã o
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 295
Resíduos de palha de arroz marcados com 13C e 15N e ( NH4) 2S04 com 15N foram
submetidos à incuba çã o com solo, durante 90 dias, com o intuito de verificar a
contribuiçã o da forma mineral de N às frações da MOS estabilizada. Quando o N mineral
foi aplicado junto com resíduo (fonte de N e C ), houve maior recupera çã o do N mineral
adicionado do que quando foi aplicado isoladamente. Possivelmente, a ausência da
fonte de C ( resíduo) limita a transforma çã o de N em formas mais está veis. Quanto à
contribuiçã o de ambas as formas de N (orgâ nica e mineral ), houve maior recupera çã o do
N derivado do resíduo vegetal que do N mineral, indicando a preferência de assimilaçã o
das formas orgâ nicas, em rela çã o à s formas minerais. A maior recupera çã o das formas
de N ( mineral e org â nica ) ocorreu na fra çã o humina ( Figura 7 ) . O N seria
preferencialmente assimilado pelos microrganismos junto com o C do resíduo em produtos
mais está veis ou por meio de mecanismos que favorecem a estabiliza ção dos produtos da
decomposiçã o do N do resíduo ( Moran et al ., 2005) .
Nas rotas de forma çã o das SH em que prevalece a via de polimeriza çã o ( rotas 2 e 3),
pode ocorrer rea çã o dos aminoá cidos com outros precursores das SH, principalmente
15
Fonte N
60 - E3 15
N mineral
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1 h ú mico f ú lvico
Fraçã o
Figura 7. Incorporação de nitrogénio de diferentes fontes nas frações da maté ria orgâ nica do
solo.
Fonte : Moran et al. (2005) .
FERTILIDADE DO SOLO
296 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
polifenóis, acarretando maiores teores de N nas substâ ncias h ú micas mais polimerizadas
e est á veis no solo (huminas ) . Dessa forma, a incorporação de N na estrutura das SH vêm
sendo objetivo de vá rios estudos em razã o do possível favorecimento do N na estabilizaçã o
do C em componentes mais humificados e está veis do solo.
Tradicionalmente, embora as SH constituam novo grupo de substâ ncias que sã o
formadas no solo por meio da transfdrmaçã o abiótica e biótica de produtos derivados de
plantas, animais e microrganismos do solo (Stevenson, 1994), estudos recentes tê m
questionado a existência de SH como nova categoria de compostos (Burdon, 2001; Simpson
et al ., 2002). Utilizando técnicas de RMN de alta resoluçã o, foi sugerido que a origem da
maior parte das SH pode ser tra çada a compostos bioquímicos definidos, tais como
carboidratos, proteínas, lignina e alguns polímeros alif á ticos (ex: componentes da cutícula
de folhas), indicando serem elas constituídas por uma mistura de componentes derivados
de plantas e microrganismos (Kellheher & Simpson, 2006), conforme argumento favorá vel
apresentado por Burdon (2001) e Sutton & Sposito ( 2005).
Quadro 7. Composiçã o elementar, rela ções at ómicas e rela çã o E 4 / E 6(1) de ácidos h ú micos e
f ú lvicos em amostras de Argissolo Amarelo
m g H'
Á cido h ú micos
1 0 ,00 -0,05 32,32 29, 75 1,16 36, 77 0,92 1,14 27,84 4, 4
2 0,05-0,10 24,19 32,95 0, 59 42,27 1,36 1, 75 40,98 4, 0
3 0 ,10 -0,20 22,04 30,22 1,00 46,74 1,37 2, 12 21,96 5,8
4 0, 20 -0,40 19,51 26,50 0, 78 53,21 1,36 2, 73 25,08 7,0
Á cido f ú lvicos
i
1 0,00- 0,05 21,44 32,33 1,38 44,84 1,51 2,09 15,56 7,8
2 0,05- 0,10 18,57 31,15 , 1,18 49 ,09 1 ,68 2,64 15.68 8, 7
3 0 ,10 -0, 20 14,43 28,09 0, 92 56,56 1,95 3,92 15.69 7, 2
4 0,20 -0,40 12,89 26, 71 0,81 59,60 2,07 4,63 15,90 9,7
Rela çã o E4 / E6 é caracterizada pela razã o de absorv â ncia nos comprimentos de ondas de 465 e 665 nm.
(1 )
FERTIILIDADE DO SOLO
VI - MAT é RIA ORG â NICA DO SOLO 297
FERTILIDADE DO SOLO
298 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
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PH
Figura 10. Curvas de desenvolvimento de cargas como variá vel do pH, em AH e AF extra ídos
i
do horizonte Hs de um solo org â nico.
Fonte : Gondar et al . ( 2005 ) .
em mé dia 8,7 para ambos, AH e AF, e a rela çã o entre grupos carbox ílicos de HA / FA foi
de, aproximadamente, 4:6 (Gondar et al., 2005), o que refor ça a premissa de que a diferença
r
nas cargas geradas pelos AF e AH está principalmente relacionada com a presença de
grupamentos carboxílicos. Entre pH 3 e 6,5, ocorre aumento linear nas cargas superficiais,
representando a dissocia çã o dos grupamentos R-COOH. Alé m deste pH, o gradiente
reduz o poder tampã o do á cido, representando a dissocia çã o de grupamentos fenólicos.
Dessa forma , como grande parte dos grupamentos R-COOH dissocia -se para â nion
carboxilato nos valores de pH encontrados na maioria dos solos á cidos, sã o esses
grupamentos que têm grande influ ência sobre a CTC dos solos.
Os grupamentos fen ólicos também tê m participaçã o, uma vez que substituições dos
componentes dos anéis benzênicos podem reduzir os valores de pKa dos grupamentos
fenólicos, permitindo que eles se dissociem em valores de pH mais baixos. Entretanto,
grande parte deles nã o está dissociada quando o pH esta abaixo de 9. Os AF apresentam
maior n ú mero de pr ó tons dissociá veis por unidade de massa do que os AH gra ças à
maior quantidade de grupamentos R-COOH e jnaior acidez (carga ) total (Quadro 8).
Em média, os grupamentos carboxílicos corresponderam a 73 % da acidez (carga ) total
nos AF, enquanto nos AH, correspondem a 54 %. A acidez total foi, em média, de
733 cmolc kg 1 para AH, inferior à observada para AF, de 1.111 cmolc kg 1.
' '
substâ ncias h ú micas se dissocia entre pH 5 e 7, espera-se que elas tenham carga líquida
negativa nos solos. Na realidade, esses compostos revelam car á ter anf ó tero
desenvolvendo, alé m das cargas negativas, cargas positivas, dependendo do pH do solo
e do PCZ dos compostos orgâ nicos. Em geral, as cargas positivas estã o associadas à
protonaçã o do grupamento amino:
5
i
5
I
300 Ivo RIBEIRO SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Quadro 8. Acidez (carga ) total (1) e acid èz dos grupamentos carbox ílicos e fenólicos de á cidos
h ú micos e f ú lvicos de Latossolos
Solo Horizonte ^
Á cido h ú micos Á cidos f ú lvicos
Acidez total -COOH Fenó lico Acidez total -COOH Fen ó lico
:
mmolc kg -1
LV AI 671 360 311 1.064 782 282
A3 688 368 320 1.117 819 298
BI 694 371 323 1.139 836 303
B2 882 473 409 * 1.127 827 300
DMS( O , O5 ) 201 , 92 82 63 44 35
LE AI 654 351 303 1.083 794 289
A3 718 386 332 1.066 780 286
BI 762 411 351 1.005 736 269
B 21 836 449 386 973 715 258
B 22 914 489 425 1.080 794 286
DMS( O, O 5) 240 127 107 97 60 29
elé tricas nã o compensadas, que formam as cadeias alif á ticas hidrof ílicas. Sendo assim,
a capacidade de retençã o de água também será influenciada pela proporção das moléculas
de anéis arom á ticos ( hidrof óbicos) e dos radicais laterais ( hidrof ílicos) . A redu çã o da
rela çã o H / C ( como ocorrido dos AF para a fra çã o HU ) resulta em diminuiçã o da
capacidade de hidrata çã o das substâ ncias h ú micas. Essas microrregiões de natureza
hidrof óbica , conforme já mencionado, sã o importantes para a retençã o de muitos
pesticidas e contaminantes de natureza apoiar .
A massa molecular relativa dos AH é maior do que a dos AF. O tamanho molecular
dos AF e AH pode ser estimado por meio de v á rias técnicas, sendo as mais comuns a
osmometria , cromatografia por exclusã o de tamanho e ultracentrifuga çã o. Técnicas
avançadas de espectrometria de massas utilizando ciclotron de íons també m tê m sido
usadas para determinar a massa de substâ ncias h ú micas (Koch et aí., 2005) e, certamente,
contribuirã o para melhorar o conhecimento neSsa á rea . As informa ções a respeito do
peso molecular sã o dadas, geralmente, com base no n úmero médio ( nM ), peso médio
( pM ) e no índice de polidispersidade ( pM / nM), dependendo da técnica utilizada na sua
determina çã o . Os valores de tamanho de AF e AH citados na literatura sã o de dif ícil
compara çã o, visto que foram obtidos por meio de diferentes técnicas e condições de
opera çã o dos equipamentos. De modo geral, o tamanho dos AF encontra -se na faixa de
1.000 a 3.000 daltons - Da, ou massa at ó mica unificada - u (1 Da = 1 u = 1 / 12 da massa
;
do 12C ), o que é inferior ao observado para os Aíl, que se encontram na faixa de 200.000
até mais do que 400.000 Da (Stevenson, 1994) .
Entretanto, tem sido levantada a hipó tese de que o alto peso molecular relatado na
literatura possa ser explicado pela associa çã o de moléculas menores, formando agregados
com propriedades de macromoléculas. Simpson et al. (2002), por meio de técnicas de
RMN e cromatografia líquida , obtiveram ind ícios de que as SH podem ser facilmente
separadas e que a estrutura macromolecular poderia ser resultante de um fenô meno de
agrega çã o dessas substâ ncias, em razã o da complexa çã o via cá tions metá licos (Simpson
et al., 2002; Baalousha et al., 2006).
Vale mencionar que dados histó ricos de pesquisa indicam que as substâ ncias
h ú micas sã o micelas de natureza polimé ricaj com formato de espirais estendidas
irregularmente com as seguintes características: (a ) estrutura básica de anéis aromá ticos
de fenol di-ou- tridróxidos interligados por pontes de -O-, -CH2-, -NH-, -N=, -S- e outros
j
grupos que contêm grupos -OH livres e liga ções duplas de quinona, obtendo na sua
estrutura grupamentos carbox ílicos, hidroxilas, çarbonilas e alcanos; (b ) grande n úmero
das cadeias de alcanos C1-C20 substituídas ou nã o por grupamentos que contêm O
ligados a cadeias menores de C; ( c ) grupos arom á ticos e alcanos conectados,
principalmente, por liga ções C-C para formar a estrutura básica das moléculas hú micas;
(d ) proteínas e carboidratos nã o ligados covalentemente à estrutura principal ("core")
podem ser encontrados associados à superf ície das substâ ncias húmicas, formando uma
estrutura muito está vel, havendo liga ções cruzadas entre as diferentes partes das
moléculas. Pesquisadores têm tentado desenvolver modelos químicos para representar
a estrutura média dessas substâ ncias, como os apresentados para AH por Shulten &
Schnitzer (1993, 1997) e por Alvarez-Puebla et al. (2006). No entanto, mais recentemente,
têm surgido novas proposições para a origem e estrutura das SH.
FERTILIDADE DO SOLO
302 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Figura 11. Modelo conceituai de substâ rícias h ú micas conforme a visão tradicional de polímeros
em forma de espiral estendida (a ) òu conforme o conceito dé supramolécula formada por
moléculas de tamanho pequeno estabilizadas por ligações fracas (b). Esferas vermelhas:
íons metá licos; unidades em preto: polissacar ídeos; unidades em azul: polipeptídeos;
unidades verdes: cadeias alif á ticas; unidades marron: fragmentos aromá ticos de lignina .
Fonte: Simpson et al. (2002) j
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MAT é RIA ORGâ NICA DO SOLO 303
Kogel-Knabner (2000 ); Schulten & Leinweber (2000); Hatcher et al. (2001); Piccolo ( 2001);
Simpson ( 2001); Canellas & Santos ( 2005); Roscòe et al . ( 2006) apresentam informa ções
pormenorizadas sobre os princípios das técnicas e seu emprego no estudo da composiçã o
e estrutura das SH.
Entretanto, os modelos até entã o propostos parecem ainda nã o refletir os avanços
^
oriundos da utiliza çã o das técnicas espectroscópi as e termodegradativas, anteriormente
citadas. A percepçã o a respeito da estrutura arom á tica das SH, por exemplo, tem sido
questionada . Embora as SH mostrem propor çã o substancial de seu C associado a n úcleos
de natureza aromá tica , o grau de aromaticidade (delas é bem menor do que se acreditava
há algumas d écadas. Assim, os modelos de estruturas moleculares passam a levar em
considera çã o que estruturas alif á ticas sã o de maior import â ncia do que previamente
pensado. O uso de técnicas espectroscópicas tem possibilitado a verificaçã o da presença
de maior propor çã o de compostos mais alif á ticos, especialmente da MOS associada à
fra çã o argila (Schmidt et al., 2000; Rumpel et al., 2004; Dick et al ., 2005) .
Os AF sã o o grupo de menor peso molecular e, aliado ao fato de apresentarem maior
densidade de grupamentos carbox ílicos, revelam! maior solubilidade e polaridade que os
AH, o que confere aos AF maior mobilidade no solo. Sendo assim, o tamanho e a nature-
za das diferentes SH tê m implica ções pr á ticas . Por exemplo, a complexa çã o de metais
pesados por moléculas de AF pode acarretar su á maior mobilidade no solo ( maior risco
de lixivia çã o e contamina çã o do lençol freá tico) em compara çã o com a complexaçã o por
AH e HU que sã o maiores, portanto, menos sol úveis e menos m óveis no solo. Isso foi
demonstrado pela redu çã o do fluxo difusivo de Cu em dois solos tratados com doses
crescentes de AH, mas nã o com doses crescentes de á cido cítrico (altamente polar e de
pequeno tamanho) (Flancer N. Nunes, dados não publicados). Por outro lado, a adsorçã o
e a reduçã o do potencial de pesticidas de natureza mais apoiar podem ser maiores pela
fra çã o HU do que para AH ( Figura 12). De acordo com Ferri et al. ( 2005) , isso pode ser
I
atribuído à maior predominâ ncia de grupos oxigenados na fra çã o humina com vistas em
contribuir para maior sorçã o do pesticida "acetodhlor", via pontes de H, e à maior contri-
buiçã o dos grupos alif á ticos, via intera ções hidrof óbicas, quando comparada aos AH.
Analisando as propriedades da MOS até aqui discutidas, pode-se inferir que, durante
o processo de transforma çã o da MOS, d á -se origem a substâ ncias orgâ nicas mais
—
humificadas, no sentido AF > AH —> HU (Figuija 13).
Apesar de ser esperada maior aromaticidade da MOS em razã o da r á pida taxa de
ciclagem em regiões tropicais ú midqs, ocorre estiabiliza çã o coloidal da MOS quando da
sua associa çã o com a fra çã o argila ( ver discussqo mais detalhada posteriormente), de
forma que h á um retardamento na sua ciclagíem, dando origem a uma MOS com
predominâ ncia de compostos mais alif á ticos (Schulten & Leinweber, 2000; Dick et al.,
2005; Dieckow et al., 2005a ). j
Essa MOS de natureza mais alif á tica pode ser oriunda de substâ ncias paraf ínicas
(ceras, suberinas, etc.) do material vegetal aportadjo ao solo em virtude de sua preservaçã o
seletiva no processo de decomposiçã o e da conjtribuiçã o das ra ízes (Stevenson, 1994;
Buurmann et al., 2005). No entanto, estudos mais recentes indicam que parte substancial
dos compostos mais alif á ticos associados à fra çã o argila pode também ser de origem
FERTILIDADE DO SOLO
304 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Figura 12. Rela çã o entre a concentra çã o de equilíbrio (Ceq ) e quantidade sorvida de acetochlor
(Qs), pela fra çã o á cidos h ú micos ( a ) e huminas (b ) de um Argissolo submetido à semeadura
direta (SD) e preparo convencional ( PC ).
Fonte : Ferri et al . ( 2005 ) .
Acido fúlvico
Amarelo Amarelo
silSSl
iilpr
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Acido húmico
Preto
acinzentado
da cor
Humina
Preto
2.000 datons
m iio prst» molecular 300.000 daltons
± 45 %; m da intensidade da cor ± 70 %
m
± 48 % !
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c ot ú W « C
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FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 305
microbiana (Wattel-Koekkoek et al., 2001; Chefetz et al., 2002; Rumpel et al., 2004; Dieckow
et al., 2005a ) ou seja, são metabólitos intermediá rios da decomposição de resíduos vegetais
ou componentes da estrutura microbiana que têm sido seletivamente preservados como
consequê ncia de suas caracter ísticas f ísicas e qu ímicas. Kiem & Kogel-Knabner ( 2003)
encontraram evid ências da estabiliza çã o de a çúcares de origem microbiana nas frações
mais finas do solo. Dieckow et al. (2005a ) atribu í ram a diferença na composiçã o da MOS
associada à fra çã o de tamanho silte e argila de Argissolos brasileiros cultivados e sob
campo nativo às mudanças na popula çã o da comunidade microbiana do solo, alterando,
portanto, a qualidade de seus produtos bioquímicos. Simpson et al. ( 2004) ressaltaram a
contribuiçã o de aminoá cidos derivados de fungos e bacté rias na acumula çã o do C de
origem microbiana na fra çã o silte + argila, prc vavelmente estabilizados por meio da
superf ície reativa dessas partículas, principalmente argila . Esses autores verificaram
acumula ção preferencial de C aminoácidos derivados de fungos (glucosamina ) em rela çã o
aos de origem bacteriana (galactosamina e á cido mur â mico) na fra çã o < 53 gm, em
amostras de macroagregados oriundas de solo sob sistema plantio direto.
Portanto, estudos que visem caracterizar a composiçã o da MOS sã o de grande
importâ ncia, gra ças ao papel que esta fra çã o apresenta , sobretudo em solos mais
intemperizados. Adicionalmente, o melhor entendimento de sua natureza e dos fatores
que governam sua estabiliza çã o auxiliar á na busca de prá ticas de manejo que contribuam
para sua preserva çã o.
FERTILIDADE DO SOLO
306 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Quadro 9 . Compartimentos da mat é ria orgâ nica do solo, taxa de ciclagem e hip ó tese dos
controles prim á rios do tamanho c os compartimentos
Controle do tamanho
Compartimento Tempo de ciclagem
do compartimento
N ã o Protegido
BIO ( biomassa microbiana ) 2,5 anos em clima temperado e Disponibilidade de substrato;
0, 25 ano em clima tropical condi çõ es adversas ( metais,
ú mido xenobi ó ticos ); manejo ( CA )
Protegido
Mat é ria orgâ nica quimicamente Depende da mineralogia Mineralogia e textura ; nitrogé nio
protegida ( prote çã o coloidal ) -1.000 anps do solo ( Cl ) ( CP)
Mat é ria org â nica fisicamente Dependente do manejo do solo Sistemas de preparo do solo; quebra
protegida ( proteçã o estrutural ) ( resist ê ncia f ísica ) de agregados; textura do solo ( CP)
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 307
na camada de 5-10 cm, a menor rela çã o ( 0,23) foi observada na á rea cultivada com o
Kudzu, em razã o da menor contribuição do C-AH (0,35 g kg 1). Verificou-se, ainda nesse
'
estudo, altera çã o nas propriedades das SH, coir . reduçã o no valor da acidez carboxílica
dos AH extraídos da á rea cultivada com Kudzu, o que, segundo os autores, pode estar
relacionado com o baixo teor de lignina dessa espécie.
Quando se altera a vegetaçã o natural de uma á rea para adoçã o de um sistema
agrícola, o aporte orgânico é prontamente modificado em qualidade e quantidade. Esses
fatores influenciam bastante o dinamismo da matéria orgâ nica ativa e podem levar à
rá pida reduçã o do compartimento lá bil (LAB) ( Freixo et al., 2002; Roscoe & Buurman,
2003). Entretanto, o tipo de manejo empregado é condiçã o decisiva na altera çã o dos
estoques de COT no solo, de modo que pode resultar em, até mesmo, supera ção dos
estoques existentes em solos sob a vegeta çã o nativa . Tal fato foi observado por
FERTILIDADE DO SOLO
308 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Diekow et al. (2005b ) em á reas cultivadas com Lab Lab intercalado com milho e feijã o
guandu sob plantio direto (SPD ), por 17 anos de cultivo; essas á reas apresentavam
estoques de C e N que superavam os do solo sob vegeta çã o nativa . Se se considerar o
aspecto disponibilidade de substrato, resíduos de culturas anuais que revelam menor
teor de lignina e polifen óis, e menor rela çã o lignina / N e polifenóis / N t ê m sua
decomposiçã o favorecida , quando comparada à dos resíduos de uma floresta . Esse
comportamento, em primeira instâ ncia, favoreceria a atividade de organismos do solo.
Contudo, se o aporte orgâ nico nã o for constante, a escassez de substrato acarretar á um
declínio dr á stico no n ú mero e na diversidade de organismos.
Além da qualidade, a quantidade do aporte orgâ nico e as condições do meio podem
influenciar diretamente a atividade microbiana . Em á reas cultivadas com eucalipto em
condições de temperatura mé dia anual relativamente baixa, na regiã o de Virginó polis
(MG ), a menor temperatura favoreceu a manutençã o da fra çã o leve ( FL ) em teores mais
elevados que na regiã o de Belo Oriente (MG ), cuja temperatura mé dia anual mostrou-se
mais alta . Em média , na regiã o de Belo Oriente, a FL contribuiu com 8, 5, 4 e 3 % do
COT, respectivamente, para as cama das de solo de 0-5, 5-10 e 10-20 cm, enquanto, na
regiã o de Virginópolis, a FL contribiliu em média com 11,6, 5,5 e 4 % do COT, para as
camadas (Lima , 2004) . Oscila ções constantes de temperatura e umidade podem aumentar
o n ú mero de ciclos de umedecimenlo e secagem do solo, alterando drasticamente as
popula ções de organismos. Dada a diversidade de possibilidades, é dif ícil prever como
os organismos ser ã o alterados, mas é sabido que alguns grupos de organismos podem
ser favorecidos em detrimento de outros.
Em solos naturalmente á cidos, com baixa disponibilidade de nutrientes, para o
estabelecimento de uma cultura, é comum a pr á tica da calagem e fertiliza çã o do solo.
Ambas as prá ticas aumentam a disponibilidade de nutrientes para os organismos,
acarretando aumento de sua atividade e, se houver disponibilidade de substrato orgâ nico,
de sua populaçã o. Por outro lado, o aumento da popula çã o e da atividade microbiana
tem sido verificado sob condições onde se faz a adiçã o de apenas uma fonte lá bil de C
orgâ nico, resultando na redu çã o c . a MOS já existente . Esse efeito é comumente
referenciado na literatura como efeito "priming" (Kuzyakov et al., 2000). Com esse efeito,
haver á aumento do dinamismo nã o só da fraçã o viva, mas també m da maté ria orgâ nica
nã o-vivente. Inicialmente, aumentará a taxa de decomposiçã o / mineralizaçã o da matéria
macrorgâ nica e substâ ncias nã o-h ú micas (compartimento LAB) e, por último, das SH
(compartimento PROTEGIDO) (Quadro 9) . Dessa forma, a estabiliza çã o do C orgâ nico
no solo passa pela escolha adequada de esp écies vegetais para esquemas de rota çã o de
culturas que garantam não apenas elevado aporte de C ao solo, mas também da qualidade
desses materiais (ver detalhes a seguir sobre manejo da MOS) .
O tempo em que a MOS é ciciada dentro dos compartimentos nã o protegidos e
protegidos é diferenciado. O tempo de ciclagem é dado pelo "tempo médio de residência
(TMR ou meia -vida (T1 / 2)" do elemento ( no caso a MOS). A MOS de baixa densidade
(LAB) tem apresentado ciclagem mais rápida que a MOS associada às partículas minerais
(PROTEGIDA) . O TMR da MOS em seus compartimentos depende da qualidade e da
recãlcitrâ ncia bioquímica da MOS, bem como de sua localizaçã o espacial, do que resulta
sua acessibilidade aos microrganismos do solo (Six & Jastrow, 2002). Em Latossolo sob
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 309
Mecanismos de Estabilização
Grande parte da estabilidade da MOS ainda não é completamente entendida . Sabe-se
que, alé m da proteçã o coloidal e f ísica, parte da oroteçã o da MOS advém de sua estabili-
dade bioquímica . No que se refere ao mecanismo de proteçã o f ísica, a agrega çã o atua
protegendo compostos orgâ nicos nã o-seletivos da decomposição microbiana, enquanto
a intera ção com a fase mineral pode favorecer a aroteçã o de moléculas específicas (Six et
al ., 2002; Rumpel et al., 2004). A estabiliza çã o bioquímica está relacionada com a re-
sistência estrutural ao ataque de um grupo de enzimas ou mesmo de uma enzima específica.
-.
i
FERTILIDADE DO SOLO
310 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
For ç a de van der Waals: força resultante da flutua çã o da densidade de carga el é trica
/
+ • •
OJ c>
3
+ o
o
a * +
Ponte de hidrogé nio e outros c á tions: Assim como os outros cá tions, o H+ atua como
ponte, ligando o grupamento org â nico à superf ície da argila, ambos negativamente
carregados. Esse processo é muito importante nos solos á cidos onde se verifica grande
protona çã o de grupamentos reativos, tanto nas argilas como na MOS. A ponte de H20 é
de grande importâ ncia nos solos, se se considerar que ambos os colóides, orgâ nicos e
inorgâ nicos, encontram-se hidratados pela solu çã o do solo na maior parte do tempo:
,
Vi< : ...
ArgilaJ - O H . . . 0=R
.'. zSiiV
&
+ M +0-H
'
-
v:
Argila] Jy * •
•: 0=R
Hí v . . ...
V. j
;
'
v:\
R — CP
H
tl
H+
H
— AI —
«A-
O oxigénio dos grupamentos funcionais da MOS (carboxílicos, fenólicos, alcoólicos,
etc.) entram em coordenação (ligaçã o covalente ) principalmente com Fe e AI da estrutura
dos oxihidróxidos. Ânions orgâ nicos ligados dessa forma dificilmente ser ã o deslocados
por outros â nions . Essa forma de liga çã o libera uma molécula de á gua para a solu çã o,
pela seguinte rea çã o:
R-A1-OH + HOOCR o R-A1-OOCR + H20
FERTILIDADE Dò SOLO
312 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
A proteçã o exercida por formas amorfas nã o está apenas restrita a solos alof â nicos.
Kleber et al.(2005) constataram que a combina çã o de Fe e AI extraídos com oxalato expli-
cou a maior varia çã o do C está vel ( r = 0,78), sugerindo que em solos á cidos a MOS é
preferencialmente protegida pela interaçã o com minerais pouco cristalizados. Segundo
esses autores, o mecanismo de estabiliza çã o da MOS envolve troca de hidroxila da su-
perf ície dos oxihidr óxidos com grupamentos funcionais negativamente carregados dos
componentes da MOS ( troca de ligan :es ) . Além dessa estabiliza çã o química pelas liga -
ções está veis entre a MOS e os oxihidr óxidos, a MOS é envolvida pelos agregados, resul-
tando também numa proteçã o f ísica, fpzendo com que os oxihidr óxidos atuem, também,
indiretamente na estabilização da MOS (Zech et al., 1997). A interação de oxihidróxidos de Fe
e Al com os argilominerais formando complexos e, ou, agregados desempenha importante
papel na estabiliza çã o da MOS. Os oxihidr óxidos podem estar funcionando como ponte
entre a argila silicatada e o radical orgâ nico, como sugerido por Wiseman & Putmann
(2006) . Essa possibilidade, poré m, tem recebido menor atençã o nas pesquisas realizadas
até o momento. Dieckow et al. (2005d ) estimaram que a capacidade de estabiliza ção de C
orgâ nico pela fra çã o argila ( predominantemente caulinítica ) de um Argissolo do Rio
Grande do Sul foi de 48,8 g kg 1 de argila . Para um Latossolo caulinítico do cerrado, a
'
capacidade de estabilização foi menor, atingindo 32,5 g kg 1 de argila (Roscoe et al., 2001) .
'
Deve-se lembrar que á reas sob dom ínio de rochas quartzíticas e arenitos, em geral,
apresentam drenos com águas de cor amarelada a castanho-escura, indicando que os solos
arenosos Originados dessas rochas mostram baixa capacidade de complexa ção da matéria
orgâ nica (baixa proteçã o estrutural e coloidal ), favorecendo sua drenagem para fora do
sistema solo. As águas escuras do Rio Negro, por exemplo, refletem a presença de matéria
orgânica proveniente de solos arenosos na sua bacia hidrográfica. Isso também é observado
em riachos em praticamente toda a regiã o da chapada Diamantina, nos estados de Minas
Gerais e Bahia, e, frequentemente, em córregos que drenam as região litorâ neas arenosas.
Estabilizaçã o Física
Num nível de organiza çã o mais avançado, as partículas prim á rias do solo (areia,
silte e argila ) sã o arranjadas em agregados, e esses, por sua vez mostram importante
papel na estabiliza çã o da MOS. Os agregados do solo atuam fisicamente, diminuindo o
acesso à microbiota e a seu sistema enzim á tico, bem como reduzindo a difusão de 02 nos
microporos. Em solo arenoso com prejiom ínio de poros entre 6 e 30 /Lm, microrganismos
sã encontrados
o tanto na superf ície como dentro dos agregados, mas, em solo argiloso
com diâ metro de poro < 0,2 /im, os microrganismos sã o encontrados apenas na superf ície
dos agregados (Chenu et al., 2001) . Uma por çã o do C orgâ nico dos microagregados é
estabilizada via associaçã o com a superf ície dos minerais, ou é fisicamente protegida
nas cavidades de poros de 2 a 5 /im . particularmente das formas mais hidrof óbicas
,
(a ) ( b)
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A
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•
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A.Í
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r:: V
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: \Polimeros húmicps
õ: condensados
:
O efeito protetor dos agregadas é tido como efetivo na preservaçã o da MOS oclusa.
Poré m, deve-se lembrar que os mecanismos de estabiliza çã o nã o são mutuamente
excludentes, e que esta proteção f ísica é aditiva à proteção química e, ou, coloidal conferida
à maioria das substâ ncias h ú micas .
FERTILIDADE Do SOLO
314 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
^
za química da fonte de lignina (pode- e saber se a lignina é derivada de plantas anuais
ou de espécies florestais) e a natureza química dos AH formados ( Nierop et al., 1999;
Chefetz et al., 2002). Ainda, alterações na qualidade da MOS associada à s fra ções silte e
argila de solos sob diferentes usòs podem estar relacionadas com mudanças na comuni-
dade microbiana do solo, conforme sugerido por Dieckow et al. (2005a ).
Os derivativos de lignina, que con :ê m á cidos, e os derivativos, que contêm aldeídos,
são, geralmente, usados para acessar o está dio de degrada çã o da lignina . O aumento da
razã o ácidos / aldeídos indica a predominâ ncia de estruturas em está dio mais avançado
de oxidaçã o de cadeias laterais pelos microrganismos. Estudos tê m demonstrado que
essa razã o aumenta com a redução do tamanho dos agregados, sugerindo está dio mais
avançado de oxidação da lignina, particularmente da MOS estabilizada junto à fração
argila ( Lehmann et al., 2001a; Chefetz et al., 2002).
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 315
Martens ( 2000) observou que resíduos vegetais com maiores teores de lignina
levavam à formaçã o de maiores quantidades de compostos fenólicos, tais como vanilina
e ácido vanílico durante sua decomposiçã o e isto estava correlacionado com a quantidade
de C que permanecia no solo. Suporte adicional para a participa çã o da lignina dos
materiais vegetais na estabiliza çã o da MOS foi apresentado por Dijkstra et al. (2004), que
demonstraram que os tratamentos com a planta que produziam litter com maiores teores
de lignina , particularmente no sistema radicular, e que receberam N como fertilizante,
foram os que mais favoreceram a estabiliza çã o do C mais velho (idade superior a cinco
anos).
O incremento no teor de N em está dios rr .ais avançados de decomposiçã o pode
resultar em incremento das taxas de acumula çã o de C em horizontes orgâ nicos de solos
sob floresta por meio do decréscimo da respiraçã o e decréscimo do C orgâ nico dissolvido
(COD) (Michel & Matzner, 2002) . A qualidade do material é alterada - de um litter mais
fresco para outro mais decomposto - reduzindo, assim, as taxas de decomposiçã o e
aumentando a recalcitr â ncia do material. No início da degrada çã o do litter, a taxa de
decomposi çã o de compostos mais lá beis ( como a celulose ) pode ser positivamente
correlacionada com o teor de N. Com a redução ca celulose, a concentraçã o de compostos
mais recalcitrantes (como a lignina ) aumenta, e o efeito do N na taxa de decomposiçã o
muda completamente. O N passa a atuar de forma a retardar a degradação da lignina. O
efeito proporcionado pelo N varia entre espécies. Cada espécie mantém um limite má ximo
de contribuiçã o de massa remanescente para constituiçã o do h ú mus do solo (Berg, 2000).
O efeito de retardamento da degradaçã o pelo N oode ser explicado, principalmente, por
dois mecanismos: o N reage com moléculas de baixo peso molecular e com ligninas
remanescentes, dando origem a compostos aromá ticos mais recalcitrantes (inclui SH), e,
posteriormente, o N ligado a moléculas de baixa massa molecular pode suprimir a síntese
de enzimas lignolíticas ( Berg, 2000 ).
Espécies como milho contribuíram mais pc .ra acumula çã o de compostos fenólicos
( um dos principais precursores das SH), como observado no estudo com grande n ú mero
de espécies vegetais ( Martens, 2002). Esses autores fizeram a extra çã o de AH no solo
tratado com diferentes resíduos culturais, observando incremento nos AH em relaçã o ao
solo sem resíduo nenhum (2,8 g kg 1) . No milho, o teor foi de 3,3 g kg 1 aos 29 dias e de
' '
3,6 g kg 1 aos 84 dias de incuba çã o do resíduo. A canola (baixo teor de á cidos fenólicos )
'
apresentou teor de 2,8 g kg 1 aos 29 dias e de 2,0 aos 84 dias, indicando a ocorr ência da
'
FERTILIDADE DQ SOLO
316 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 317
FERTILIDADE DO SOLO
318 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Carbono do solo A
Ní vel de satura çã o
Nã o protegido
Ní vel de proteção
/X Protegido bioquimicamente
Capacidade protetora
//
Protegido pelos microagregados
/
Protegido pelos coló ides
Aporte de carbono
Figura 16. Capacidade de proteção do solo e mecanismos de estabiliza ção da matéria orgâ nica
do solo.
Fonte : Six et al . (2002a ) .
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATéRIA ORGâ NICA DO SOLO 319
Propriedades Qu ímicas
Poder Tamp ã o
No ambiente, a MOS funciona como ácido fraco, agindo como par conjugado á cido /
base. A diversidade qu ímica dos componentes da MOS está relacionada com sua
diversidade de grupamentos funcionais, fazendo com que a MOS tenha a ção tamponante
numa ampla faixa de pH do solo. Vá rios trabalhos tê m ressaltado a maior influência da
MOS sobre o poder tampã o do solo em compare .çã o com a fra çã o argila (James & Riha ,
1986; Curtin et al., 1996; Starr et al., 1996) . Méndonça et al. ( 2006), trabalhando com
solos do Cerrado brasileiro, avaliaram o poder taippã o por meio de equa ções de regressã o
ajustadas a dados de titula çã o do solo com soluçã o de NaOH e incubaçã o com Ca (OH) 2
(Quadro 10). O maior poder tampã o medido co!m Ca (OH ) 2 foi decorrente da rea çã o do
Ca 2+ com os grupamentos carbox ílicos dos á cidLs
f úlvicos; no solo argiloso, os á cidos
h ú micos e f úlvicos mostram-se igualmente importantes e, no solo textura média, os ácidos
f úlvicos foram mais importantes como componente do poder tampã o desses solos
(Mendonça et al., 2006). A diferença foi fortemerJte
correlacionada com os teores de COT
(r = 0,99***). Nesse estudo, observou-se que cercã de 30 % do Ca aplicado foi complexado
com a MOS, em formas nã o- trocá veis e ocupando parte dos sí tios carboxílicos da MOS
anteriormente complexados com Al de sítios de troca da fra çã o argila . O poder tampã o
da MOS, quando medida com Ca (OH) 2, foi de 0/ 1 cmolc kg 1 pH 1. ' "
FERTILIDADE DO SOLO
320 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Quadro 10 . Equa ções de regressã o entre pH ( y ) e quantidade de Ca (OH )2(x ), em cmolc kg 1 de '
solo, para valores de pH menor do que 6,5, poder tampã o medido com Ca (OH ) 2 e NaOH
e diferen ça do poder tampã o medido na titula çã o com NaOH e incuba çã o com Ca (OH) 2
OjpTCa :poder tampã o medido com Ca (OH ) 2. ( 2 PTNa : poder tampã o medido com NaOH. (3)
Á PT: diferen ç a do
poder tampã o medido com Ca (OH ) 2 e com NaOH.
Fonte: Mendonça et al . ( 2006 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 321
Há muito tempo se reconhece a import â ncia da MOS para a CTC dos solos,
contribuindo com 20-90 % da CTC das cama das superficiais de solos minerais e,
praticamente, toda a CTC de solos org â nicps . Em solos tropicais, com cargas
predominantemente variáveis, dependentes de pF« em está dio avançado de intemperismo,
com a fra çã o argila dominada por caulinita e oxi ] ú dróxidos de Fe e Al, a contribuiçã o da
MOS é maior, principalmente quando em baixos teores de argila ( veja capítulo IV). Se for
considerado que grande parte dos sítios de rea çã o da MOS está ocupada por metais e
liga çã o com os colóides inorgâ nicos do solo, a contribuiçã o da MOS para a CTC efetiva é,
freqiientemente, menor do que a teoricamente possível, quando comparada com as cargas
totais dos grupamentos carbox ílicos e fenólicos. Mesmo nessas condições, quando se
estima a CTC de Latossolos como variá vel do teor de COT e da fra çã o argila por meio de
equa ções de regressã o, dada a insignificante contribuiçã o da fraçã o argila, seu coeficiente
de regressã o pode ser negativo ( Mendonça & Rowell, 1996).
em que y = CTC (cmolc kg 1); Xj = teor de COT ( dag kg 1); x 2 = teor de argila (dag kg 1)
' ' '
em que y = habilidade d ó solo em desenvolver carga negativa (cmolc kg 1 pH 1); ' '
FERTILIDADE DO SOLO
322 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Os coeficientes da equa çã o
mostram
que os á cidos f úlvicos contribuem com o
desenvolvimento de carga negativa equivalente a 2,15 vezes a contribuiçã o dos ácidos
h ú micos. Esses dados indicam que grande parte das cargas negativas desenvolvidas
com a calagem nos Latossolos é decorrente da dissociação dos grupamentos reativos
( principalmente carbox ílicos) dos á cidos f úlvicos. No entanto, Mendonça et al. ( 2006)
verificaram que parte substancial (20-30 %) do Ca 2+ + Mg2+ proveniente do calcá rio é
consumida em rea ções que nã o envolvem apenas troca catiônica , mas, sim, forte
complexa çã o por sítios da MOS. Essas bases fortemente complexadas pela MOS podem,
potencialmente, nã o estar prontamente disponíveis para as plantas.
A CTC do solo pode ser aumentada em sistemas de manejo que proporcionem o
incremento dos estoques de COT (Figura 17). Consequentemente, sistemas que contribuem
com o aporte e manutençã o da MOS, tal como o SPD'(Ciotta et al., 2003; Bayer et al., 2003),
e sistemas cultivados com cana -de-a çúcar com aplica çã o de vinha ça e, ou, manutençã o
do resíduo de cana em cobertura (Canellas et al., 2003), sã o os que apresentam maior
CTC em compara çã o ao mesmo solo com sistemas de manejo menos conservacionistas.
Figura 17. Rela ção entre CTC efetiva e a pH 7,0 e o teor de C orgâ nico total (COT ) de um
Latossolo Bruno.
Fonte : Ciotta et al. ( 2003) .
Complexação de Metais
A presença de v á rios grupamentos funcionais na MOS possibilita sua rea çã o com
os metais. Os principais sítios de complexa çã o sã o os grupamentos carboxílicos e
fenólicos. As intera ções possíveis entre o complexante e os metais podem ter a forma de
uma rea çã o de adsor çã o catiônica via atra çã o eletrostá tica (esfera externa, mantendo a
camada de hidrata çã o ), como as entre os grupamentos carbox ílicos carregados
negativamente (dissociados) e um cá tion monovalente, ou interações mais complexas em
que liga ções de coordena çã o (esfera interna, perdendo a camada de hidrata çã o e
estabelecendo liga çã o covalente diretamente com a superf ície do ligante) com os ligantes
orgâ nicos sã o formadas (Figura 18). Características do metal, tais como valência e
Figura 18. Modelo estrutural de complexo de esfera interna (liga ção covalente, exemplificada
para Ca 2+ ) (a ) e esfera externa (adsor ção eletrostá tica, exemplificado para Cd 2+ ) (b ).
,
FERTILIDADE DO SOLO
324 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE S á MENDON çA
- log k
Metal pH 3, 0 pH 5, 0
VCK 1 » TI VC TI
Cu 2 + 3, 3 3, 3 4, 0 4, 0
Ni 2 + 3 ,1 3, 2 4, 2 4, 2
Pb2 + 2, 9 2,8 4, 2 4,1
Ca 2* 2,6 2, 7 4,1 4,0
Zn 2* 2, 4 2, 2 3, 7 3, 6
Mn 2* 2,1 2, 2 3, 7 3, 7
Mg 2* 1, 9 1, 9 3, 2 2,1
Fe 3* 6 ,1
AP* 3, 7 3, 7
(1 )
VC: mé todo de titulação cont ínua; TI: mé todo de troca iônica .
Fonte : Adaptado de Schnitzer & Kahn ( 1972) .
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 325
Figura 19. Mecanismos de interaçã o entre compostos orgâ nicos e metais. Liga ção eletrostá tica
( a ), co-adsor çã os ( b ), complexa çã o (c ) e forma çã o de quelato ( d ).
OH, formando anel de seis lados. A ordem decrescente da habilidade do íon metálico de
formar quelato é aproximadamente a seguinte:
Fe3+ > Al3+ > Cu2+ > NI2+ > Co2+ > Zn2+ > Fe2+ > Mn2+
1
FERTILIDADE DO SOLO
326 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Dessa forma , é evidente que, sob condições de uso e, ou, manejo do solo em que a
adiçã o de resíduos é mais frequente e em maior quantidade (Sá et al., 2001; Ciotta et al.,
2002; Dieckow et al ., 2005b ), e, ou, a MOS se encontra num está dio menos avançado de
decomposiçã o (Bayer et al., 2003a ), tal como é freqiientemente observado no SPD com
rota çã o de culturas, esta pode contribuir para melhorar a disponibilidade de
micronutrientes. De fato, Pegoraro et al. ( 2006a ) observaram que a aplicação de resíduos
da parte a é rea de feijã o guandu e milheto ao solo aumentou o FD dos micronutrientes
cati ô nicos, que se mantiveram menos susceptíveis a rea ções de precipita çã o induzidas
pela calagem ( Pegoraro et al ., 2006b ) . Possivelmente, a melhora no FD de alguns
micronutrientes por compostos orgâ nicos nã o é o resultado apenas do aumento no seu
transporte atribuído à forma çã o de complexos organometá licos per se. Outros estudos
tê m demonstrado que alguns ácidos orgâ nicos e cõ mpostos fenólicos sol ú veis participam
em rea ções de oxiredu çã o, contribuindo para aumentar a solubilidade de Mn no solo
( Fí ue et al., 2001), o que favorece o aumento do gradiente de concentra çã o e o FD.
Isso evidencia que a qualidade do material utilizado (espécie, idade de manejo, dose,
etc.) influi bastante na magnitude da movimenta ção do Ca em profundidade.
A habilidade de determinados AOBMM formar complexos está veis com formas
monomé ricas de Al na soluçã o do solo, principalmente Al3+ ( Franchini et al., 1999 ), é
outro fator importante a ser destacado. Embora sendo solúveis, estes complexos tê m-se
mostrado nã o- tóxicos às plantas (Ma et al., 1997; Kochian et al., 2004). Dessa forma, a
participa ção ativa dos compostos orgâ nicos em solos sob SPD pode ser uma das razões
pela qual as respostas à calagem nã o tê m sido observadas e, quando ocorrem, sã o de
pequena magnitude (Caires et al., 2003a,b, 2004, 2006). Em estudos de campo, verificou-
se que a incorpora çã o de calcá rio e o calcá rio aplicado em superf ície tiveram a mesma
eficiência na elevaçã o do pH, dos teores de Ca e Mg trocá veis e da saturaçã o por bases,
promovendo menor satura ção por Al trocável. Um dos motivos atribuídos pelos autores
para esses resultados está relacionado com o fato de os resíduos orgâ nicos liberarem,
FERTILIDADE DO SOLO
!
!
i
(a ) (b )
3
AI ( mmolc dm )'
0 4 8 12
i i l
0
£
<> 5 -
d)
•
a
ca 10
D -
D
c 15
3
O
£ 20 “
25 -I
T C CA CN CT
Testemunha Calcá rio + Nabo
T = Testemunha CN = Calagem + Nabo
C = Calagem CT = Calagem + Trigo O Calcá rio A Calcá rio + Trigo
CA = Calagem + Aveia Calcá rio + Aveia
Figura 20 . Efeito da aplicaçã o do calcá rio na superf ície do solo no crescimento de raiz ( a ) e no
teor de AI trocá vel ( b ) .
Fonte: Franchini et al . ( 2001) .
durante a decomposiçã o, compostos orgâ nicos hidrossolú veis, dos quais se originam os
ligantes orgâ nicos que formam complexos de carga neutra com o Ca e Mg, favorecendo
sua movimentação no sistema em que o calcá rio nã o é incorporado, além de favorecer a
diminuiçã o do teor de Al trocá vel (Ciotta et al., 2004). No entanto, os resultados nessa
á rea ainda nã o sã o conclusivos, pois, em outros estudos, nã o tem sido observada melhoria
significativa na correçã o da acidez em subsuperf ície, quando da aplica çã o de calcá rio
em superf ície na presença de resíduos vegetais (Amaral et al., 2004; Caires et al., 2006).
A eficiê ncia de á cidos orgâ nicos na complexa çã o do Al é determinada pela
estabilidade do complexo orgâ nico formado. Dentre as caracter ísticas dos á cidos,
destacam-se: a constante de estabilidade (pK ) dos complexos Al-L (L = ligante orgâ nico);
pK > 4,5 forma complexos fortes; pK entre 4,5 e 2,5 forma complexos moderados e pK < 2,5
forma complexos fracos (Miyazawa et al., 2000) . A reduçã o da toxidez por Al pode
ocorrer pela hidr ólise decorrente do aumento do pH e da complexa ção por á cidos
orgâ nicos.
A eficiência dos á cidos orgâ nicos em complexar o Al foi avaliada por Franchini et
al. (1999), que observaram que o citrato foi mais eficiente em complexar o Al que o
succinato, o que está relacionado com as constantes de estabilidade obtidas para esses
complexos, Al + citrato, -log Ks = 7,4 e Al + succinato, -log Ks = 3,1. Nas soluções com
citrato acima de 90 % do Al estava em compostos orgâ nicos, na solu ção com succinato o
Al estava, predominantemente, na forma monomérica.
FERTILIDADE DO SOLO
328 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Entretanto, a produçã o desses á cidos orgâ nicos varia com a espécie de adubo verde,
como exemplo; resíduos de aveia preta tiveram como AOBMM predominante o ácido
transaconítico, a ervilhaca , o á cido málico, e o nabo forrageiro, os ácidos cítrico e málico
( Amaral et al., 2004 ) . Carvalho (2003) também observou grande variação no tipo e teor de
á cidos orgâ nicos em v á rias espécies vegetais, incluindo algumas usadas como adubos
verdes. Os teores de á cidos orgâ nicos também variam com a idade das plantas, sendo
menores em plantas mais velhas, especialmente após a fase de florescimento (Franchini
et al ., 2003) . Além da qualidade e quantidade, a continuidade da adiçã o desses resíduos
é fator importante no seu manejo para que se obtenham os benef ícios deles oriundos.
Embora a meia -vida ( t1 / 2) dos AOBMM no solo seja bastante curta, variando de horas a
poucos dias (Jones, 1998; Andrade, 2004), deve ser levado em conta que a adiçã o contínua
de resíduos via parte a é rea ou sistema radicular deve contribuir para manter sua
concentra çã o na solu çã o do solo. Tal adiçã o é mais bem distribuída temporalmente em
solos sob florestas, sistemas agroflorestais e mesmo em solos sob SPD, onde a manutençã o
dos restos culturais em superf ície, a nã o-destruiçã o dos agregados do solo e a não
fragmentação do sistema radicular contribuem para sua incorporação mais lenta ao solo.
Adicionalmente, deve-se ter em mente que esses compostos orgâ nicos envolvidos
em fenômenos de complexa ção de metais são tanto oriundos da decomposiçã o de resíduos
vegetais, como da exsuda çã o via sistema radicular, de modo que as rea ções ocorrem em
maior magnitude na rizosfera . Como exemplo, a reduçã o da fitotoxidez pelo Al3+ é mais
intensa na rizosfera, onde se observa elevada concentra ção de AOBMM advindo da
exsuda çã o pelo á pice radicular (Ryan et al., 2001; Silva et al., 2002; Kochian et al., 2004;
Liao et al., 2006).
As principais rea ções envolvidas com AOBMM na mobilizaçã o de nutrientes na
rizosfera sã o apresentadas de forma esquemá tica ( Figura 23) . A disponibilidade do Mn
pode ser alterada pelo pH e pela adiçã o de quelaçã o do Mn2+, pela oxidação de compostos
orgâ nicos e aumento da mobilidade do Mn reduzido na rizosfera (Figura 21a ) (Marschner,
1995; Hue et al., 2001). Esse efeito indireto dos compostos orgâ nicos ficou evidente em
estudo em que o transporte de micronutrientes metá licos foi avaliado em solos onde se
incorporaram adubos verdes por diferentes períodos. A mobilidade do Cu foi maior nos
solos onde os adubos verdes foram recém-incorporados, indicando que compostos
orgânicos (como os á cidos orgânicos ) constituintes dos resíduos foram liberados e
facilitaram o fluxo difusivo (FD) do Cu. Já no caso do Mn, o maior FD foi observado nos
solos em que os resíduos foram incorporados por vá rias semanas, indicando que produtos
da decomposi çã o dos componentes vegetais ou compostos liberados pelos
microrganismos contribuíram para melhorar o FD do Mn no solo (Pegoraro, 2006a ).
Os á cidos orgâ nicos sã o importantes na mobiliza çã o de compostos de Fe3+ na
rizosfera. Em resposta à sua deficiência, algumas plantas elevam as taxas de exsudaçã o
radicular de compostos fenólicos e aminoácidos nã o-protéicos (fitosideróforos), tal como
o ácido avênico, que exerce importante papel na mobilizaçã o do Fe. Esses compostos
orgâ nicos liberados na rizosfera ir ã o quelatar o Fe, favorecendo a dissoluçã o dos
oxihidróxidos de Fe, resultando em maior concentra çã o de formas sol úveis na solução
do solo que, por sua vez, ir á facilitar seu transporte por difusão até à superf ície das
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 329
raízes onde ser ã o absorvidos (Figura 21b ). Em solos á cidos pobres em P, as plantas
podem exsudar á cidos orgâ nicos na rizosfera e estes ir ã o auxiliar na solubiliza çã o de
fosfatos de Fe e AI de baixa solubilidade considerando a quelatação dos metais (Kochian
et al., 2004; Raghothama & Karthikeyan, 2005) (Figura 21c). Em solos calcá rios, os á cidos
orgânicos auxiliam na liberaçã o do P nos fosfatos de Ca (Figura 21d ). Os á cidos orgânicos
podem ainda competir diretamente com o P pelos sítios de adsor çã o, favorecendo a
dessor çã o do P para a soluçã o do solo. Geralmente, estes compostos sã o mais eficientes
em aumentar a disponibilidade de P pelo bloqueio dos sítios de adsor çã o, tornando o P
mais disponível ( Andrade, 2004; Guppy et al ., 2005). Em solos com aporte de resíduos
vegetais, alé m da libera çã o direta dos á cidos orgâ nicos do tecido vegetal, deve-se
considerar que vá rios compostos de baixa massa molecular podem ser produzidos durante
o processo de decomposiçã o pela microbiota do solo . De fato, Guppy et al. ( 2005)
encontraram que determinados compostos orgâ nicos com comportamento similar a ácidos
f úlvicos eram produzidos durante o processo de decomposiçã o de resíduos vegetais e
que estes mostraram -se eficientes na redu çã o da adsor çã o específica de P por solos
altamente intemperizados.
Quelatos
(a ) de Mn (C )
<r Mn 2+ Fosfatos
' Fosfato'
| Raiz Raiz de Fe e Al,
Desorçã o
de Fe e Al
Quelato de Fe
( b) : >
(d )
Fosfatos
Raiz Citrato, Fen ólicos Ó xido ]Raiz Fosfato
de Ca
Aminoácidos de Fe
Citrato
>
Citrato
Quelato de Fe de Ca
Figura 21. Rea ções envolvidas na mobiliza çã o de nutrientes na rizosfera influenciadas por
compostos orgâ nicos de baixa massa molecular .
Fonte: Marschner (1995) .
FERTILIDADE DO SOLO
330 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Com base no esquema proposto por Tisdall & Oades (1982), pressupõe-se que os
agregados maiores sejam formados pela uniã o dos agregados da classe inferior, seguindo
uma ordem hierá rquica (Figura 22). Conforme seu tamanho, cada classe será unida por
diferentes agentes cimentantes, de modo que a MOS influencia direta e indiretamente as
diferentes fases da forma ção de agregados. Os agentes cimentantes sã o classificados em
três grupos: transientes - principalmente polissacarídeos; temporá rios - ra ízes e hifas
f ú ngicas, e; persistentes - compostos aromá ticos recalcitrantes associados com cá tions
polivalentes e polímeros fortemente adsorvidos (Oades, 1984).
Nesse modelo (Figura 22), a matéria orgâ nica particulada (MOP), hifas de fungos e
raízes de plantas podem formar um emaranhado de microagregados. A morte das raízes
e as hifas crescendo dentro e através dos macroagregados produzem agentes ligantes
bioquímicos capazes de estabilizar os macroagregados do solo. Entretanto, essas frações
estã o sujeitas à decomposiçã o microbiana; assim, a agrega çã o é um processo dinâ mico
no solo, uma vez que a atividade microbiana pode atuar na produçã o de agentes ligantes
às partículas, mas também desestabilizar por meio da decomposiçã o dos mesmos. O
aporte continuado de material vegetal é essencial para que esse balanço seja positivo.
Por isso, sistemas que visam à manutençã o e aumento da MOS geralmente estã o ligados
a uma melhoria da agrega çã o do solo ( Huang et al., 2005) .
Assim, para solos de clima temperado com mineralogia dominadada por argilas do
tipo 2:1, a seguinte dinâ mica ( Figura 23) pode ser hipotetizada: os restos vegetais sã o
rapidamente colonizados pelos microrganismos que os decompõem e formam materiais
humificados. Ao redor desses materiais, sã o formados núcleos de macroagregaçã o pelas
hifas de fungos que se enovelam com as partículas mais finas do solo. Simultaneamente,
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 331
FERTILIDADE DO SOLO
332 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Dessa forma , em solos mais jovens com mineralogia dominada por argilas 2:1, a
forma çã o dos agregados é um processo mais biológico, enquanto nos solos mais
intemperizados com a fra çã o argila dominada por argilas 1:1, e oxihidróxidos, esse
processo é mais dependente de intera ções f ísico-qu ímicas (Six et al., 2002b ) (Figura 23).
Considerando que o pH da maioria dos solos tropicais está entre 4,0-6,0, espera-se que
a caulinita , por exemplo, apresente carga líquida negativa e os oxihidróxidos carga
líquida positiva, de acordo com seus respectivos pontos isoelé tricos, que, estão ao redor
de 4,0 e 7,8, respectivamente. Dessa forma, evidencia-se que, nestas condições, favorece-
se a forma çã o de microagregados nos solos tropicais, com menor dependência da MOS
em comparaçã o àqueles de clima temperado. Assim, a MOS passa a ter papel secund á rio
na forma çã o e estabiliza çã o de agregados. Contudo, o papel da MOS adiciona -se à
estabilizaçã o conferida pela fraçã o mineral do solo (especialmente pelos óxidos), atuando
fortemente em fases posteriores da agrega çã o e na forma çã o de agregados de tamanho
maior. Além do papel cimentante, a MOS retarda a entrada de á gua nos agregados,
aumentando a resistência deles, quando umedecidos. Assim, a aplica çã o ao solo de
materiais orgâ nicos com caracter ísticas anfif ílicas (com componentes hidrof óbicos e
hidrof ílicos na sua estrutura ), como os á cidos h ú micos ( Bastos et al., 2005), tem papel
importante na estabiliza çã o e forma ção de macroagregados dos solos com intemperismo
avançado.
*2 AEA
Atividade biol ógica
AEA
e dist ú rbio f í sico
reduzido
<fT\
* 3 AEA o AEA
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 333
A fra çã o h ú mus (substâ ncias h úmicas e nã o-h ú micas ) interage por meio de seus
grupamentos funcionais de diversas formas com a fração mineral do solo, principalmente a
fra çã o argila . Decorrente da diversidade de grupamentos reativos, há v á rios mecanis-
mos envolvidos na interaçã o dessas substâ ncias com a fra çã o argila ( discutido anterior-
mente). A associa çã o pode ser tã o grande que pode formar um plasma onde dificilmente
pode ser diferenciada a fra çã o org â nica da mineral. Na separa çã o da mat é ria
macrorgâ nica, é comum dispersar o solo em um líquido de densidade ao redor de
1,8 kg L 1 e observar que grande parte da fra çã o h ú mica precipita com a fra çã o mineral,
"
possivelmente favorecida pela maior presença de raízes, hifas f úngicas e teor de MOS
mais elevado ( Mendes et al., 2003) .
A matéria macrorgâ nica, considerando sua caracter ística de pouca transformaçã o
química, interage mais fisicamente (enlace f ísico e compressã o do solo) com a fraçã o
mineral do solo. Essa fra çã o pode funcionar como o n ú cleo da forma çã o de
macroagregados, atuando na liga çã o entre os microagregados, com o material se
acumulando ao seu redor (Bronick & Lai, 2005). O efeito positivo da MOS particulada
( >53 nm ) na estabilidade de agregados pode ser verificado por meio da equa ção que
FERTILIDADE DO SOLO
334 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
relaciona o diâ metro médio geomé trico (DMG, em mm ) e MOP (em g dm 3) ( DMG = -1,07
'
+ 0,35 MOP; R 2 = 0,77**), sendo esse efeito mais pronunciado na camada superficial
(0-5 cm ) do solo (Costa et al., 2004) . Da degrada çã o da MO macrorgâ nica resultam
metabólitos microbianos que atuam na agregaçã o, ligando os microagregados. Contudo,
decorrente do curto TMR, para que se tenha efetiva açã o na estabiliza çã o de agregados,
há necessidade de aporte constante de maté rial orgâ nico ao solo. Sistemas com v á rias
culturas anuais por ano ou em culturas permanentes (espécies florestais, pastagens bem
manejadas) serã o aqueles que mais contribuirã o para recuperar e manter a boa estrutura
do solo.
A estabilidade conferida aos agregados pode ser inicialmente passageira, em
decorr ência da decomposiçã o microbiana de carboidratos e aminoá cidos do resíduo,
mas, numa segunda fase, ela é fortalecida pela intera çã o com ácidos fenólicos liberados
pela decomposiçã o microbiana (Martens, 2000) . Geralmente, compostos de decomposiçã o
mais lenta demoram mais para atuar efetivamente na agrega çã o do solo, porém esse
efeito é mais duradouro. Em estudo em que se avaliou o padrã o de decomposiçã o de
diferentes resíduos vegetais, aos 57 dias, a evolu çã o de C02 correlacionou com o teor de
carboidratos (r = 0,93**) e aminoácidos ( r = 0,67*). Carboidratos como a glicose estimulam
a atividade microbiana , exercendo efeito instantâ neo e passageiro na forma çã o dos
agregados. Ao final do período de incuba çã o, aos 84 dias, os resíduos que contribuíram
com maior teor de C remanescente ( resíduo de milho, com teor mais elevado de á cidos
fenólicos), foram os que apresentaram maior percentagem de agregados retidos em peneira
de 2 e 4 mm, quando comparados aos resíduos de alfafa e canola (baixos teores de ácidos
fenólicos ) ( Martens, 2000).
Na regi ã o da rizosfera , a estabilidade de agregados é maior que no solo não-
rizosf érico (Caravaca et al., 2002), o que pode ser devido à atua çã o das raízes, importante
componente da MOS viva, na rizodeposiçã o de compostos orgâ nicos, por meio da
contribuiçã o de material orgâ nico oriundo da biomassa radicular, além da associa çã o
com fungos micorrízicos, maior atividade microbiana, a qual também resulta em produçã o
de polissacar ídeos extracelulares, glomalina (glicoproteina produzida por fungos
micorrízicos) que atuam ligando os agregados (Hartel, 2005).
Finalmente, deve-se ter em mente que as diferentes frações da MOS sã o importantes
no processo de estabiliza çã o de agregados, melhorando-a, mas, em contrapartida, a
estrutura do solo contribui para a estabiliza çã o da MOS no solo ( proteçã o f ísica), o
movimento e a reten çã o de á gua , redu çã o do encrostamento , a ciclagem e
biodisponibilidade de nutrientes, penetração de raízes e, por sua vez, para a produtividade
das culturas.
Correla ções positivas entre os teores totais de COT e os índices de agrega çã o
foram obtidas por Wendling et al. (2005), em um Latossolo Vermelho sob diferentes
sistemas de manejo, na regiã o do Cerrado brasileiro (Quadro 12 ) . A importâ ncia da
MOS na agrega çã o de solos brasileiros distintos tem sido constatada em outros
estudos (Costa et al., 2004 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 335
Quadro 12 . Coeficientes de correla çã o entre o COT e os índices de agrega çã o: diâ metro médio
ponderado ( DMP ) , diâ metro m é dio geom é trico ( DMG ), percentagem de agregados
> 2,00 mm est á veis em á gua ( AGRI ) e índice de estabilidade de agregados ( IEA )
Profundidade do solo
Vari á vel
-
0 5 cm -
5 10 cm 10-20 cm
Reten çã o de Agua
A á gua é uma molécula polar, que é retida por pontes de H pelos grupamentos
funcionais hidrof ílicos e é repelida pelas cadeias orgâ nicas apoiares da MOS ( Figura 24).
De forma geral, a MOS pode reter até 20 vezes sua massa em á gua (Stevenson, 1994 ),
sendo parte retida na sua estrutura interna, com baixa disponibilidade para as plantas.
O aumento da polimeriza çã o das substâ ncias h ú micas e de sua intera çã o com a fraçã o
mineral do solo pode diminuir a capacidade do solo em reter á gua . Muitas vezes, altos
teores de MOS refletem grande car á ter hidrof óbico do solo, visto que a por ção hidrof ílica
da MOS orienta-se na direçã o do interior do agregado, enquanto a por çã o hidrof óbica
direciona -se para a face externa, formando uma camada repelente à á gua . As substâ ncias
h ú micas também podem ser divididas, conforme sua afinidade com água, em: hidrof ílicas,
constituídas principalmente por carboidratos neutros ou ácidos de origem microbiana e
derivados de plantas, e hidrof óbicas, formadas por cadeias carbónicas longas, alif á ticas
e ricas em polifenóis oriundos principalmente da oxida çã o da lignina e da celulose
( Kaiser & Zech, 2000).
A exposiçã o do solo a intensos ciclos de umedecimento e secagem ( por exemplo,
solos de á reas quentes irrigadas e com baixo aporte orgâ nico ) pode favorecer a
decomposiçã o / mineraliza çã o da maté ria orgâ nica mais ativa, com maior proporçã o de
grupamentos funcionais e com menor intera çã o com a fra ção mineral do solo. Isso faz
com que a capacidade do solo em reter á gua seja reduzida em decorrência do aumento da
propor çã o de compostos hidrof óbicos / hidrof ílicos da MOS e do aumento proporcional
da MOS fortemente complexada pela fraçã o mineral do solo, onde parte significativa dos
grupamentos funcionais da MOS estã o envolvidos nas ligações com a fraçã o mineral.
A MOS também pode reter água na estrutura ativa e na matéria macrorgâ nica . Essa
á gua é importante para manter o equilíbrio biológico do solo, tendo papel importante em
regiões secas, com grande d éficit hídrico.
A importâ ncia relativa da MOS na retençã o de á gua depende da textura do solo. Em
solos de textura mais arenosa, a retençã o de á gua é mais sensível à quantidade de MOS,
FERTILIDADE DO SOLO
336 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Figura 24. Esquema ilustrando a adsor çã o de moléculas de água por grupamento carboxílico
(a ) e repulsão por grupamentos alif á ticos de natureza hidrof óbica (b ).
Fonte : www.bioweb .wku .edu .
se que a condutividade hidrá ulica nos potenciais 0 e -1 kPa foi de 431,0 e 404,5 mm h 1, "
Vale ressaltar que os benef ícios oriundos da utilização de materiais orgâ nicos em
solos não são resultantes somente da quantidade utilizada, mas também da qualidade
do material (fonte de MOS). Assim, Barbosa et al. (2004), em avaliação realizada em
campo, verificaram que as doses superiores a 12 t ha 1 de lodo de esgoto levaram à maior
'
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 337
Quadro 13. Retençã o de á gua a -0,01 MPa e teor de á gua disponível em um Argissolo Vermelho
Amarelo, adubado com doses crescentes de esterco su íno ( x )
2
Caracter í stica Profundidade do solo Efeito da aplica çã o de doses de esterco R
cm ( 0; 8; 16; 24; 32 e 40 t ha -1 )
FERTILIDADE DO SOLO
338 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
Nitrogénio
Cerca de 95 % do N do solo está associado à maté ria orgâ nica. O ciclo do N envolve
a transferência do N 2 atmosf érico para compostos orgâ nicos, os quais sã o convertidos
em N amoniacal, que, por sua vez, é tranformado em N nítrico e, finalmente, o N retorna
à atmosfera na forma gasosa (Figura 25). As principais rea ções no solo, nas quais as
formas orgâ nicas de N estão envolvidas são: (a ) fixação biológica do N2; (b) mineralização
ou amonificação do N orgâ nico a amónio; (c) imobilização ou assimilação de amónio a N
orgâ nico e, (d ) assimilação ou imobilização de nitrato a N orgâ nico (Schulten & Schnitzer,
1998) (veja capítulo VII, Stevenson, 1994 e Camargo et al., 1999 ).
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORG â NICA DO SOLO 339
FERTILIDADE DO SOLO
340 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
obtido para AH era dominado por N-amida, e essa propor çã o era maior em sistemas com
maior intensidade de cultivo e tempo de permanência do solo sob condições de inundaçã o.
A propor çã o de N heterocíclico foi relativamente baixa (7-22 %) e foi maior em AH com
maior grau de humifica çã o (Mahieu et al., 2000 ) . O efeito de sistemas de manejo e das
culturas sobre fra ções e formas de N em solos do Sul do Brasil foi investigado por Dieckow
et al . ( 2005c). O cultivo de leguminosas em SPD resultou em maior teor de N nas formas
N-nã o hidrolisá vel, N-hidrolisá vel, N-aminoá cidos e de N -n ã o identificado, o que foi
atribuído à alta adiçã o de biomassa anual neste sistema: 8,89 t ha 1 de C e 312 kg ha 1 de
' "
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MAT é RIA ORGâ NICA DO SOLO 341
aminoá cidos com base em taxas de racemiza çã o e idade do 14C do solo como um todo
indicaram que o tempo mé dio de resid ência da matéria orgâ nica que contém lisina varia
de 100 a mais de 500 anos ( Amelung et al., 2006 ).
Fósforo
O ciclo do P é bastante similar ao ciclo de outros nutrientes, visto que ele se encontra
em minerais e no solo, organismos vivos e á gua . Pelo fato de ser muito reativo, o P
combina com 02 e, portanto, nã o é encontrado na forma elementar na natureza. Assim, o
P do solo, á gua e seres vivos encontra -se associado a quatro O, formando o ortofosfato
( P043 ) . Em solos á cidos, grande parte do ortofosfato encontra -se fortemente associado
aos oxihidr óxidos de Fe e Al, enquanto, nos solos alcalinos, os fosfatos de Ca sã o as
formas predominantes ( Veja capítulo VIII ) . Dessa forma , as concentra ções de íons
ortofosfato na soluçã o do solo sã o bastante baixas. Na solu çã o do solo, o ortofosfato é
encontrado na forma de H2P04 , em solos á cidos, e de HP042 , em solos alcalinos. Essas
‘ '
FERTILIDADE DO SOLO
342 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE S á MENDON çA
macromoléculas, tais como ácidos nucléicos (DNA e RNA ), fosfolipídeos das membranas.
Alguns organismos ainda sã o capazes de armazenar P na forma de ortofosfato inorgâ nico
ou polifosfatos (Magid et al., 1996). Grande parte das formas orgâ nicas de P correspondem
a ésteres de ácido ortofosf órico, monoésteres ( açúcares fosfatados, fosfatos de inositol ) e
diésteres (á cidos nucléicos, fosfolipídeos) ( Anderson, 1980; Magid et al., 1996; Turner et
al., 2005). Em geral, a contribuiçã o relativa aos seguintes grupos de compostos fosfatados
é observada (Stevenson, 1994): fosfatos de inositol - até 50 %; fosfolipídeos - até 5 %;
á cidos nucléicos - até 2,5 %; fosfoproteínas, a çú cares fosfatados - menos que 1 %.
A estabiliza çã o do Po no solo deve-se, principalmente, à atua çã o de mecanismos de
adsor çã o envolvendo o grupamento fosfato (Celi & Barberis, 2005), embora intera ções
com grupamentos funcionais de C ( como -COOH) sejam possíveis. Rea ções com
grupamento fosfato sã o mais prová veis ocorrer com fosfatos de monoésteres de baixa
massa molecular, em que a presença de v á rios grupamentos monoésteres aumenta a
adsor çã o. Os fosfatos de diésteres, nos quais o grupamento fosfato encontra -se mais
"bloqueado", sã o mais fracamente adsorvidos e participam mais ativamente no ciclo
biológico (Magid et al., 1996). Dentre os principais componentes do Po do solo, encontram-
se o myo-Inositol (1,2,3,4,5,6) hexa /dsfosfato (á cido f ítico) (Figura 27). Ele constitui a
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MAT é RIA ORG â NICA DO SOLO 343
A forma com que o P se liga à maté ria orgâ nica é similar à forma com que o P é
adsorvido pelos oxihidr óxidos de Fe e Al . Assim, sistemas de manejo que privilegiem o
aporte orgânico contínuo podem aumentar a ciclagem do P e aumentar sua disponibilidade
para as plantas pelos seguintes mecanismos: (a ) bloqueando os sítios de adsorçã o de P
dos oxihidr óxidos de Fe e Al; (b ) competindo com os sítios de adsor çã o da fraçã o mineral
pelo P sol ú vel; e (c) deslocando parte do P adsorvido pela fraçã o mineral ( Andrade et al .,
í
2003; Guppy et al., 2005).
A capacidade má xima de adsor çã o de P (CMAP) de Latossolo Vermelho-Escuro sob
sistemas de cultivo com adubos verdes foi avaliada por Silva et al. (1997) . Os tratamentos,
em ordem decrescente da CMAP foram: solo descoberto > guandu > crotalá ria > mucuna
preta > braquiá ria > Cerrado . A CMAP apresentou correla çã o negativa com o teor de
MQS (r - -0,705°) e com a taxa de decomposição dos adubos verdes ( r = -0,983**). Tomando
!
como referência o Cerrado nativo, no qual foram obtidos os maiores teores de MOS,
incrementos na CMAP de 44,2 % foram constatados no solo descoberto. Em rela ção às
ti*.
'
-.
V:
y.
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P
IIPmm
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P
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O-
FERTILIDADE DO SOLO
344 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
espécies em rotaçã o com a cultura do milho, houve tendência de a gramínea ( braquiá ria )
apresentar menores CMAP em rela çã o às leguminosas. Dentre os sistemas com as
leguminosas, as arbustivas (crotalá ria e guandu ) apresentarem maior CMAP que a
leguminosa decumbente ( mucuna preta ) . Essa redu çã o na CMAP provavelmente
resultaria em maior disponibilidade do P aplicado, se outras culturas fossem instaladas
posteriormente.
Cavigelli & Thien ( 2003) reportaram que o plantio de determinados adubos verdes e
sua posterior incorpora çã o aumentaram o crescimento e absor çã o de P por plantas de
sorgo plantadas subsequentemente, mas o extrator Bray-1 nã o diferenciou os teores de P
disponível nos diferentes tratamentos com adubos verdes e mostrou -se limitado para
estimar o potencial de suprimento de P por solos onde houve plantio de adubos verdes.
A maior disponibilidade de P para as plantas em solos onde se pratica a aduba çã o verde
pode resultar da atua çã o de v á rios mecanismos, como aqueles já mencionados (Haynes
& Mokolobate, 2001; Guppy et al ., 2005), bem como da maior e mais diversificada atividade
microbiana .
Por exemplo, a aplica çã o de resíduo vegetal (folhas de Tithonia diversifolia ) também
levou à reduçã o na adsor çã o de P e aumentou a disponibilidade de P no solo, que era
maior que aquela veiculada com o material vegetal, ou até mesmo em relação ao tratamento
com a mesma dose de P na forma de superfosfato triplo ( Nziguheba et al ., 1998),
possivelmente gra ças à produ çã o de â nions orgâ nicos durante a decomposi çã o,
resultando em competiçã o por sítios de adsor çã o de P. Esse efeito positivo dependeu da
qualidade do material adicionado, pois uma dose equivalente em P como palhada de
milho nã o foi tã o benéfica . Recentemente, Randhawa et al. (2005) demonstraram que a
taxa de mineraliza çã o do Po num período de 21 dias foi de 0,06 e 0,27 mg kg 1 dia 1 de P,
' "
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATéRIA ORGâNICA DO SOLO 345
Reda çã o AC AO AH AS
molar Ac.
FAA FJA FDA FAA FJA FDA FAA FJA FDA FAA FJA FDA
Org/ P
mg L
LV
0,00 :1,0 6,15 10,36 9, 71 6,05 10 ,12 9,32 5, 74 10, 23 9,35 5,85 10,19 9, 23
0,50:1,0 7,57 18,81 10,75 5,71 15,25 6,10 7, 26 12,75 8,15 7, 25 14,75 5, 25
0,75:1,0 8,49 19,00 9,70 7,14 16,50 9,80 7,14 13, 25 7, 25 6, 00 13,56 6,85
1,00:1,0 10,10 22,63 11,70 8,18 19,69 10, 65 7,35 13,69 7, 75 6, 01 13,13 6, 40
1,50:1,0 13,09 24 ,06 19 ,40 10,06 20,56 12,70 7,81 13,44 7, 20 6, 42 12,50 6,90
2,00:1 , 0 15,08 28,50 22, 05 12, 21 23,31 13, 60 8, 65 15, 41 8,30 7, 45 13,19 6,30
LVA
0 , 00:1,0 14, 78 14,69 15,30 14,59 14,54 15,14 14,61 14,57 15,21 14,56 14,49 15,17
0 ,50:1,0 19,60 40.25 38.95 13,83 34.56 31,65 15,51 23, 78 29,70 10, 22 25,38 24.75
0,75:1,0 21 ,53 44,06 42, 05 18,18 37,13 35,35 14,28 24, 69 30,55 13,80 26,31 27,60
1 , 00 : 1 , 0 23, 70 45.44 51,40 20,13 40,69 38, 25 18,00 25,50 29,00 14,69 26,59 29,45
1, 50:1,0 26, 48 47.44 52.95 23, 20 43,00 42, 40 16, 61 27,25 33,75 15,47 26,50 30.75
2, 00 : 1 ,0 30, 05 51.25 60,10 27, 43 45.56 58,60 19,30 28, 44 46,30 16,43 26,69 32,85
M é dia ( a ) 22,69 40,52 43,46 19,56 35,91 36,90 16,55 24,04 30,75 14, 20 24,33 26,76
M é dia ( b ) 35,56 30,79 23,78 21,76
AC: Á cido acé tico; AO: Ácido oxá lico; AHh : Ácido h ú mico; AS: Ácido salic ílico; FAA: Fósforo aplicado antes do
á cido; FJA: Fósforo aplicado junto do á cido; FDA: Fósforo aplicado depois do á cido; Média (a ): Média da forma de
aplica çã o e Média ( b ) : M édia do á cido orgâ nico.
Fonte : Andrade et al. ( 2003) .
FERTILIDADE DO SOLO
346 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 347
(Magid et al., 1996). Deve-se també m levar em conta que o aproveitamento das diferentes
formas de Po encontradas nos estercos e solos irá variar com a espécie vegetal e o composto
orgâ nico fosfatado . Para ser disponível para as plantas, o Po primeiro deve ser
mineralizado, liberando os íons fosfato. A hidrólise das liga ções éster fosfato (C-O-P),
fosfoanidrido (P-O-P) ou fosfonato (C-P) é geralmente mediada pelas enzimas fosfatases,
produzidas no solo principalmente pelos microrganismos (Oberson & Joner, 2005).
Em ambientes naturais, a mineraliza ção do Po pode constituir a principal fonte de P
para as plantas, mas, para que a disponibilizaçã o do P seja de m á ximo benef ício às
plantas, ela deve ocorrer pr óximo à superf ície das ra ízes. Isso oferece vantagens com
rela çã o à competi çã o com os microrganismos pelo P e rea ções que reduzem a
disponibilidade de P ( por exemplo: fixa çã o de P ), especialmente em solos mais
intemperizados . Além de vá rios outros mecanismos que contribuem para a aquisiçã o de
P do solo ( por exemplo: secreção de á cidos orgâ nicos, altera ção do pH da rizosfera, etc.),
as plantas podem aumentar a produçã o de fosfatases na rizosfera para aumentar a
disponibilidade de P sob condições de deficiência . As fosfatases sã o separadas em dois
grandes grupos: fosfatases á cidas e fosfatases alcalinas, conforme o pH ideal para sua
atividade. Elas ainda podem ser divididas em fosfomonoesterases e fosfodiesterases
com base na especificidade do substrato (Quiquampoix & Mousain, 2005) .
Em rela çã o à nutrição de plantas, as fosfatases de monoéster e diéster extracelulares
! das ra ízes sã o as mais importantes. Elas sã o encontradas por toda a regiã o apoplástica
das raízes (associadas à parede celular ou secretadas como exoenzimas), mas são mais
abundantes na regiã o da epiderme (Hubel & Beck, 1996) . Estas enzimas sã o abundantes
em hifas de fungos micorrízicos e desempenham papel importante na aquisição de P de
formas orgâ nicas por plantas micorrizadas (Joner et al., 2000). A síntese dessas enzimas
é induzida em condições de deficência de P, podendo sua atividade na proximidade das
raízes ser aumentada em até 10 vezes, resultando em decréscimo do Po nessa regiã o. No
entanto, atualmente ainda pouco se sabe da contribuiçã o direta das plantas para essa
resposta, por, na maioria das vezes, ocorrerem incrementos na população microbiana
rizosf érica (Richardson et al., 2005).
Plantas de v á rias espécies tê m mostrado capacidade limitada para obter P de
hexafosfato de inositol, quando cultivadas em meio estéril (Hayes et al., 2000; Richardson
et al., 2000; Richardson et al., 2001). Em contraste, a nutriçã o fosfatada de plantas
supridas com hexafosfato de inositol é significativamente aumentada pela inoculação
no meio de culturas de microrganismos totais do solo ou com uma espécie isolada de
Pseudomonas sp. (espécie selecionada com capacidade de liberar P de hexafosfato de
inositol ). Hayes et al. ( 2000) relataram que glicose 1-fosfato é uma fonte relativamente
disponível às plantas. Richardson et al. (2000) verificaram que plâ ntulas de trigo
aproveitaram o P de glicose 1-fosfato equivalentemente à fonte de fosfato inorgâ nico,
atribuindo este fato à produçã o de fosfomonoesterase pelas ra ízes. Já a limitada
capacidade de aproveitamento de P de hexafosfato de inositol foi atribuída à insuficiente
atividade de fitase nas ra ízes (Richardson et al., 2000). O aproveitamento de P do ácido
f ítico por espécies forrageiras també m foi aumentado pela presença de microrganismos
do solo (Richardson et al., 2001). A importâ ncia das fosfatases na aquisiçã o de Po foi
FERTILIDADE DO SOLO
348 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 349
hidroiódico ( Hl). O S-S042 inorgâ nico é extraído com KH2P04. Os ésteres de S-S042 sã o
‘ ‘
obtidos pela diferen ça entre o S reduzível por Hl e S-S042 inorgâ nico. Como o Hl nã o
"
método Raney -Níquel, composta, principalmente, por aminoá cidos, e (c) S residual ligado
a C, composta por sulfonatos e S heterocíclico ( Kertesz & Mirleau, 2004; Solomons et al .,
2005). Em 21 solos de pradaria na Am érica do Norte, sob diferentes regimes de
temperatura e precipita çã o, foi observado que 62 % to S total encontrava-se associado à
fra çã o argila e, ao contr á rio do COT e N, foi pouco afetado pelas condições climá ticas
(Amelung et al., 1998). A maior proporçã o do S-compostos orgâ nicos no solo está presente
na estrutura dos aminoá cidos, contribuindo com cerca de 30 % (Freney, 1986). Em 18
solos florestais dos EUA avaliados por Autry & Fitzgerald (1990), o S-sulfonato foi maior
que 40 % do S total no horizonte Oj e maior que 50 % no horizonte 02 da maioria dos
solos. Os teores de S-aminoá cido foram menores que os de S-sulfonato nesses horizontes
orgânicos e menores que os de S-sulfonato e ésteres de sulfato nos horizontes minerais.
A participa çã o do S-aminoá cidos geralmente nã o ultrapassou 25 % do S total.
Cerca de 30 a 70 % das formas orgâ nicas de S do solo podem ser reduzidas para H2S,
estando grande parte do S reduzido na forma de éster (C-O-S) ou C-N-S. O S ligado
diretamente ao C nã o é reduzido. Dessa forma, sua dinâ mica pode ser semelhante à do
N e do P. Geralmente, os teores de S orgânico são menores em solos com cultivos intensivos
em compara ção à queles sob vegetaçã o nativa ou pastagens melhoradas. Em solos de
pradaria da América do Norte, observou-se que 96 % do S dos solos encontrava-se na
forma orgâ nica, sendo o S ligado ao C o principal compartimento (Wang et al., 2006 ). A
conversã o de pradarias em á reas de cultivo reduziu o S orgâ nico principalmente do
compartimento éster sulfato (39 %), em compara ção a uma reduçã o de 25 % no S ligado a
C. O S orgâ nico total e o S éster sulfato decresceram com o incremento na temperatura
média anual, mas foram pouco influenciados pelas diferenças em precipitação, indicando
ser a temperatura fator importante que controla a dinâ mica do S nesses solos , i
An á lises mais refinadas de subst â ncias h ú micas extra ídas das fra çõ es
g ranulom é tricas de solos da Eti ó pia por XANES ( X -ray Absorption Near -Edge
Spectroscopy) encontraram formas bastante reduzidas (sulfetos, dissulfetos, tiols e
tiofenos), oxidação intermediá ria (sulfoxetos e sulfonatos), além de formas de S altamente
oxidadas (éster sulfatos ) . O S em estados intermediá rios de oxida çã o foram as formas
dominantes para SH extraídas da fra çã o argila, contribuindo com 39-50 %, dos quais
66-96 % eram sulfonatos, enquanto formas altamente oxidadas eram dominantes
(39-50 %) na SH extraídas da fraçã o silte. Os efeitos na mudança de uso do solo foram
observados nas formas mais reduzidas e em estados intermediá rios de oxida çã o,
principalmente das formas mais lábeis de S ligado ao C, sendo tal proporção maior no solo
sob floresta, decrescendo substancialmente em solos cultivados (Solomons et al., 2003).
Para solos da África do Sul, originalmente sob pastagens nativas de altitude, Solomon
et al. (2005) reportaram que mais que 97 % do S total encontrava -se na forma orgâ nica.
l
FERTILIDADE DO SOLO
350 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
éster sulfato (reduzível por Hl) e, mais lentamente, na fração de S ligada ao C. Na presença
de fonte lábil de C (glicose, celulose), e particularmente com suplementação com N, essa
imobiliza çã o de S na biomassa é aumentada em razã o do estímulo ao crescimento
microbiano (Ghani et al., 1993; Eriksen, 1997; Zhang et al., 2001; Vong et al., 2003),
particularmente na estrutura de bactérias (Ghani et al., 1993), visto que a biomassa
microbiana contém cerca de 40 % de C e 1 % de S (Kertesz & Mirleau, 2004). Esse processo
de incorpora çã o do S às estruturas orgâ nicas é aeróbio (Spratt, 1997).
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 351
entã o é lentamente convertido em S ligado ao C, mais resistente à hidr ólise enzimá tica,
por intermé dio da atividade microbiana (Castellano & Dick, 1991). Após a morte dos
microrganismos, o S ligado ao C entra para o compartimento de S ligado a C do solo.
A taxa de mineraliza çã o do S orgâ nico depende de prá ticas de manejo e de culturas
envolvidas, provavelmente em virtude da diferenças na popula çã o microbiana da
rizosfera ( Kertesz & Mirleau, 2004 ) . Solos sob floresta apresentam maior taxa de
mineraliza çã o, seguido por solos de pastagem e, por ú ltimo, por solos sob cultivos anuais
( Knights et al., 2001) .
Utilizando técnica da diluiçã o isot ópica do 35S, determinou-se que a mineraliza çã o
bruta de S durante um per íodo de 53 dias estava mais diretamente relacionada com as
quantidades de S na forma reduzida e intermedi á ria do que nas formas mais oxidadas
( Zhao et al ., 2005), evidenciando serem formas de S ligadas ao C a principal forma de S
orgâ nico mineralizada no curto prazo . As sulfatases sã o as enzimas envolvidas na
mineraliza çã o do S orgâ nico no solo. A arilsulfatase é umas das principais enzimas
envolvidas na mineraliza çã o do S na forma de ésteres sulfatos e, ao contrá rio do que se
imaginava no passado, essa enzima parece ser de natureza predominantemente
intracelular (Kertesz & Mirleau, 2004); ou seja, os compostos orgâ nicos sulfurados sã o
absorvidos por transportadores específicos para serem hidrolisados internamente. A
atividade da arilsulfatase correlaciona -se com as popula ções de microrganismos
heterotr óficos, e é maior em solo sob floresta nativa em comparaçã o a solos de pastagem
e cultivos anuais ( Pinto & Nahas, 2002).
Na maioria dos solos, a principal fonte de S para as plantas advém da mineralizaçã o
da MOS. A mineralizaçã o líquida de S após quatro cultivos sucessivos de arroz inundado
e milho em solo bem aerado ocorreu tanto nas fra ções reduzíveis por Hl, S reduzível por
Raney- Niquel e S n ã o -reduz ível, indicando que todas as fra ções de S orgâ nico
contribuíram para suprir S para as plantas. A quantidade mineralizada foi maior no
solo inundado. Em média, 70 e 82 % do S absorvido nos quatro cultivos pelas culturas de
milho e arroz, respectivamente, foram derivados do S orgâ nico (Li et al., 2001). No entanto,
experimentos de exaustão de S em solo inundado, usando arroz como planta-teste, indicou
que o S era derivado principalmente.do compartimento éster sulfato (Zhou et al., 2005).
Em cinco cultivos sucessivos de sorgo em Latossolos brasileiros com diferentes
capacidades de adsorçã o de S, Ribeiro Jr . et al. (2001) encontraram que, no curto prazo, a
disponibilidade do S era ditada por uma fra ção orgâ nica l á bil e outra mais recalcitrante.
Em solos com baixa e média capacidade de adsor çã o de S, a disponibilidade no curto
prazo era controlada pela fra çã o de S orgâ nico lá bil, enquanto, em solos com alta
capacidade de adsorção de S, as frações minerais passaram a controlar a disponibilidade
de S para as plantas . A natureza dos compostos orgâ nicos dessas frações não foi avaliada.
A aplicaçã o de fertilizantes que continham S em um Latossolo da Amazônia aumentou a
proporçã o do S-éster sulfato em rela çã o a solos não fertilizados, mas reduziu a proporção
FERTILIDADE DO SOLO
352 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 353
FERTILIDADE DO SOLO
354 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
observaram que a m á xima respira çã o microbiana era limitada quando havia bom
suprimento de C lá bil, enquanto a taxa inicial de respira çã o era mais limitada pelo P.
Por outro lado, quando se aplicou material compostado, a ausência de N levou às menores
taxas de respira çã o. Assim, materiais vegetais com maior teor de P resultam em menor
relaçã o P / C na biomassa microbiana e podem ser vantajosos na reposiçã o do P disponível
em solos pobres no nutriente (Kwabiah et al., 2003).
A taxa de decomposiçã o dos resíduos no solo e potencial de acumula çã o de
nutrientes por espécies de adubos verdes sã o importantes caracter ísticas à prediçã o da
ciclagem dos mesmos no solo. Espécies de adubos verdes cultivados isoladamente e em
consó rcio apresentam potenciais diferenciados na libera çã o de nutrientes. A libera çã o
de P, por exemplo, foi mais gradual quando foram realizados consó rcios com a ervilhaca
em relaçã o ao cultivo isolado da ervilhaca . Aos 29 dias iniciais, no cultivo da ervilhaca
isolada , o P remanescente na biomassa foi de, aproximadamente, 40 %, no consórcio com
15 % aveia preta ( AP) + 85 % ervilhaca (EC ), aumentou para 60 %, no consórcio com 45 %
AP + 55 % EC, o aumento foi de 67 %. Entretanto, o maior potencial de acumular P
(3,77 g kg 1 de MS) foi obtido no sistema composto por 15 % aveia preta + 85 % ervilhaca
"
(Giacomini et al ., 2003) .
A consorcia çã o de gramíneas com leguminosas reduz a taxa de decomposiçã o da
fitomassa em virtude da alteraçã o de suas caracter ísticas qu ímicas . Aita & Giacomimi
( 2003) obtiveram redu ções nas concentra ções de N total, N e C sol ú veis em á gua com o
aumento na propor çã o de maté ria seca de aveia preta no sistema que contém 51 % de
aveia preta e 49 % ervilhaca . Portanto, a altera çã o nessas caracter ísticas e em outras,
como lignina, celulose, hemicelulose, pode modificar a ciné tica de decomposiçã o e o
padrão de libera çã o de nutrientes (Quadro 15) .
Quadro 15 . Coeficientes de correla çã o linear simples entre as quantidades residuais de maté ria
seca e de nitrogé nio com algumas caracter ísticas dos res íduos culturais, nas coletas
realizadas aos 29, 82 e 182 dias da distribuiçã o das bolsas de decomposi çã o no campo
Vari á vel NO) C/ N Nsa Csa Csa/ Nsa CEL HEM LIG LIG/ N
,
( )
N: Nitrogénio; Nsa : Nitrog é nio sol ú vel em á gua; Csa : Carbono sol ú vel em á gua ; CEL: Celulose; HEM:
Hemicelulose e LIG: Lignina . *, **e *** : Significativos a 5, 1 e 0,1 %, respectivamente.
Fonte : Aita & Giacomini (2003).
FERTILIDADE DO SOLO
VI - MATé RIA ORGâ NICA DO SOLO 355
CONSIDERA ÇÕ ES FINAIS
A maté ria orgâ nica é um componente chave para manuten çã o da qualidade f ísica,
química e biológica dos solos e, como consequ ência, para sustentabilidade dos sistemas
produtivos no m édio e longo prazo . Muitos pesquisadores têm focado suas atenções
para o papel da maté ria orgâ nica do solo (MOS) no sequestro do C e ciclo global do C.
Outros tê m dedicado esfor ços aos aspectos mais b ásicos de sua génese e constituiçã o.
Estudos mais recentes tê m possibilitado avançar o entendimento sobre a génese e
composiçã o molecular da MOS, além de fornecer subsídios para prever melhor sua
estrutura . Os resultados das pesquisas recentes têm demonstrado que a MOS é mais
alif á tica do que acreditado no passado e a existência de polímeros de alta massa molecular
tem sido questionada . Para solos orgâ nicos jovens, existem evid ências de que as
substâ ncias h ú micas sã o de fato supramol éculas ou agregados de fragmentos de
macromoléculas derivados de resíduos vegetais e microrganismos estabilizados pela
a çã o de ligações químicas fracas e pontes metá licas.
Embora as substâ ncias h ú micas constituam a fra çã o da maté ria orgâ nica mais
abundante nos solos, os resultados de pesquisas suportam a id éia de que frações mais
lá beis com um tempo de ciclagem mais curto, tal como a matéria orgâ nica leve e, ou,
particulada, podem ser indicadores mais sensíveis às diferentes prá ticas de manejo.
Nos solos tropicais altamente intemperizados os oxihidr óxidos de Fe e AI sã o
componentes importantes na estabiliza çã o da MOS que, por sua vez, juntamente com
essas argilas, contribui substancialmente para melhorar a agrega ção e estrutura do solo.
O incremento e a manutençã o da MOS nos trópicos, como na região dos cerrados, tem-se
mostrado mais dif ícil do que na regiã o subtropical da regiã o Sul do Brasil. A adoçã o do
plantio direto tem contribuído, substancialmente, para a melhoria tanto quantitativa
quanto qualitativa da matéria orgâ nica do solo, resultando em melhorias substanciais
nas características f ísicas e qu ímicas do solo. Os melhores resultados tê m sido
conseguidos em sistemas de cultivo onde se adota a rota çã o de culturas, inclusã o de
adubos verdes (especialmente leguminosas), evidenciando a importâ ncia do maior aporte
de resíduos e do N orgâ nico na manutençã o da MOS. A integra ção agricultura -pecuá ria
FERTILIDADE DO SOLO
356 Ivo RIBEIRO DA SILVA & EDUARDO DE Sá MENDON çA
também tem -se mostrado bastante promissora, visto que as pastagens bem manejadas
sã o eficientes no aporte de maté ria orgâ nica, especialmente via atividade radicular.
Embora seja freqiientemente ignorado, o sistema radicular é, aparentemente, o que mais
contribui para o aporte de MOS. A ado çã o de sistemas agroflorestais tamb é m
apresenta grande potencial quanto à manutenção e recuperação das propriedades f ísicas,
químicas e biológicas do solo, em decorrência do constante aporte orgâ nico, da cobertura
do solo, da preserva çã o de microclima mais ameno e de manutençã o e otimiza çã o da
ciclagem de nutrientes.
Apesar do grande avan ço constatado, existem algumas lacunas no conhecimento
sobre a matéria orgâ nica do solo que requerem a dedica çã o de esfor ços futuros, a saber:
• definir indicadores de solo para estimar o potencial de fixa çã o de C-C02 em C
orgâ nico do solo;
• avaliar a participa çã o de formas orgâ nicas de N derivadas de adubos verdes e outros
materiais de origem vegetal e animal na síntese de substâ ncias h ú micas;
• avaliar a composiçã o molecular e os aspectos estruturais da maté ria orgâ nica de
solos sob diferentes usos e manejos;
• estimar a participa çã o de formas orgâ nicas de N, P e S na nutriçã o de plantas,
especialmente em solos manejados sob pr á ticas conservacionistas;
• desenvolver e validar modelos de simula çã o da dinâ mica do C e outros nutrientes,
bem como avaliar a taxa de libera çã o de nutrientes de materiais orgâ nicos e sua
absor çã o pelas plantas, em condições tropicais;
• quantificar a contribuiçã o do sistema radicular (incluindo rizodeposição) para o
aporte de MOS;
• refinar os modelos de agrega çã o de solos e a participa ção da maté ria orgânica (viva
e nã o-vivente ) em solos mais intemperizados;
• avaliar a viabilidade da incorpora çã o profunda de resíduos ( mecâ nica e, ou,
biologicamente ) para estabilizar a maté ria orgâ nica e renovar a capacidade de
sequestro de C nas camadas superficiais;
• quantificar a contribuiçã o de dejetos animais para a MOS;
• avaliar estoques e qualidade da matéria orgâ nica em solos sob culturas perenes e em
florestas cultivadas;
• enfocar experimentos de longa dura çã o, em que sejam avaliados os efeitos de
diferentes usos e manejos sobre a quantidade e qualidade da MOS.
AGRADECIMENTOS
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG É NIO
Heitor Cantarella17
1/
Centro de P&D de Solos e Recursos Ambientais. Instituto Agronó mico - IAC . Av. Bar ã o de
Itapura 1481, Caixa Postal 28, CEP 13001-970 Campinas ( SP ) .
cantarella @ iac.sp. gov . br
Conte ú do
INTRODUÇÃ O 376
CICLO DO NITROG É NIO 376
DIN Â MICA DO NITROG É NIO NO SOLO - FORMAS E PROCESSOS 379
Mineralizaçã o-Imobilização do Nitrogénio no Solo 382
Nitrifica çã o 388
Desnitrifica çã o : 391
FIXAÇÃO BIOLÓGICA DO N 2 395
O NITROG É NIO E O AMBIENTE !. 397
PERDAS DE NITROG É NIO DO SISTEMA SOLO-PLANTA 400
Lixiviaçã o de Nitrato 400
Volatiliza çã o de Am ónia 405
Perdas de Nitrogénio Via Foliar 413
Perdas de Nitrogénio em Solos Inundados 414
FONTES DE NITROG É NIO : 416
Adutos de Uréia e Adiçã o de Produtos Acidificantes 421
Fertilizantes de Liberaçã o Lenta ou Controlada 422
Fertilizantes Estabilizados 426
AVALIAÇÃO DA DISPONIBILIDADE DE NITROG É NIO . 432
DEMANDA DE NITROG É NIO PELAS CULTURAS 437
INTERAÇÃO DO NITROG É NIO COM OUTROS NUTRIENTES 438
EFICIÊ NCIA DE USO DO NITROG É NIO DE FERTILIZANTES MINERAIS E ORG Â NICOS 440
MANEJO DA ADUBA ÇÃO NITROGENADA 443
LITERATURA CITADA 449
SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p . ( eds. NOVAIS, R. F., ALVAREZ V., V. H ., BARROS,
N.F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R.B. & NEVES, J .C .L.) .
376 HEITOR CANTARELLA
INTRODU ÇÃ O
O N é constituinte de vá rios compostos em plantas, destacando-se os aminqá cidos,
á cidos nucl éicos e clorofila . Assim, as principais rea ções bioquímicas em plantascp
.
lhe confere especial importâ ncia nos ciclos biogeoquímicos e no metabolismo das plantas.
Por exemplo, cerca de um quarto do gasto energé tico dos vegetais está relacionado com
as v á rias rea ções envolvidas na redução de nitrato a amónio e a subsequente incorpora çã o
do N à s formas orgâ nicas nas plantas ( Epstein & Bloom, 2005) .
O ciclo do N no sistema solo- planta é bastante complexo. A maior fra çã o da N do
solo está na forma orgâ nica , presente na matéria orgâ nica em diferentes moléculas e com
variados graus de recalcitr â ncia , ou como parte de organismos vivos. Algumas formas
ou fra ções de N tê m meia vida de poucos dias, enquanto outras, de séculos - O N pode
,
ingressar no sistema solo- planta por deposições atmosf. é ricas, fixa çã o biológica -
A *
simbió tica ou nã o, aduba ções químicas ou orgâ nicas. Por outro lado, pode sair por meio
de remoçã o pelas culturas e variados mecanismos de perdas, que incluem lixivia çã o e
volatiliza çã o. O ciclo do N é controlado por fatores f ísicos, químicos e biológicos e
afetado por condições clim á ticas dif íceis de prever e controlar.
Este elemento é empregado em grandes quantidades na agricultura moderna na
forma de fertilizantes. Pãraaúnaior parte das culturas, representa o nutriente mais caro.
Com o dom ínio dos processos industriais para a conversã o do N 2 atmosf érico em NH-3'
no começo do século XX, teve início a fabrica çã o de fertilizantes nitrogenados sinté ticos,
que vêm sendo utilizados em larga escala . Mais da metade dos fertilizantes nitrogenados
sintéticos foi usada no mundo unicamente nos últimos 25 anos (Mosier & Galloway,
2005). Acredita -se que o aumento da produçã o agrícola resultante do emprego de
fertilizantes nitrogenados permita sustentar cerca de 40 % da atual populaçã o do planeta,
o que nã o seria viá vel sem esse insumo (Mosier & Galloway, 2005).
Os fertilizantes nitrogenados sã o produzidos principalmente a partir de combustí-
veis f ósseis, nã o-renová veis. Quando utilizado em quantidades excessivas ou condições
desfavoráveis, o N pode ser perdido e, ao ser transferido para outros locais ou ecossistemas,
converter -se em poluente de á guas superficiais ou subterrâ neas e da atmosfera .
O entendimento das principais reações que regem o comportamento do N no sistema
solo-planta é, portanto, fundamental para o adequado manejo da agricultura moderna .
í
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 377
bioló gica natural de N 2 é da mesma ordem de grandeza (Quadro 1). Estanã o inclui o N2
fixado na produçã o de soja, estimada em 3,2) Tg ano 1 de N, equivalente aproximadamente
"
FERTILIDADE DO SOLO
378 HEITOR CANTARELLA
Brasil Mundo
Aporte de N
2002 1995
Tg ano 1 de N
’
Sistemas Naturais
Rel â mpago 0,5 5
FBN ( 2 ) terrestre 10,9 107
FBN oceanos 121
Subtotal 11,4 233
que podem ser consideradas normais em ambientes nã o poluídos (Lagreid et al., 1999 ),
mas podem chegar a 10 a 40 kg ha 1 ano 1 em algumas regiões da Europa . N ú meros
" "
I
~
similares sã o fornecidos por Groffman ( 2000), indicando que as deposições de N03
atmosf érico, produzido a partir de óxidos de N emitidos em combustões, variam de 5 a
20 kg ha 1 ano 1. Parte desse N faz parte da chuva á cida (HN03) .
" "
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 379
NH4 +, em á reas vizinhas a grandes confinamentos (Groffman, 2000), visto que cerca de
30 % do N na urina e nas fezes dos animais podem ser perdidos por volatiliza çã o de NH3
( Lagreid et al., 1999 ). O N proveniente de deposições a é reas pode ajudar a suprir as
necessidades da plantas em sistemas agr ícolas, mas, em quantidades excessivas, pode
causar problemas como a acidifica çã o de solos ou altera çã o na composiçã o botâ nica em
bosques e florestas. A carga crítica para deposições de N atmosf é rico na Europa
(quantidade m á xima de aporte de N que pode ser tolerada por espécies vegetais mais
sensíveis ) é de 10 a 20 kg ha 1 ano 1 de N.
' '
As rea ções envolvendo o N ligado à matéria orgâ nica do solo (MOS) sã o predomi-
nantemente mediadas por microrganismos e, portanto, afetadas por condições ambientais
e climá ticas (Figura 1) . Assim, dependendo da combina çã o de fatores ( umidade, tempe-
ratura , pH, etc.), o N pode ser conservado e se tornar disponível para as plantas, ou ser
perdido para as á guas superficiais e do subsolo, ou para a atmosfera . A importâ ncia das
reações que ocorrem no solo para o balanço de N é corroborada pelo fato de cerca de 95 %
do N reciclado na pedosfera interagir no sistema solo-microrganismos-plantas superio-
res e apenas 5 % passar pela atmosfera e hidrosfera ( Hauck & Tanji, 1982).
FERTILIDADE DO SOLO
380 HEITOR CANTARELLA
orgâ nica (MO) libera N inorgâ nico, o qual constitui a principal fonte de N para as plantas
em muitos sistemas agrícolas.
A MOS nã o é um material uniforme. Portanto, o N de compostos orgâ nicos pode ser
encontrado em formas relativamente lábeis, de ciclagem rá pida, ou de moléculas bastan-
te umificadas e recalcitrantes, havendo um gradiente entre esses extremos ( veja capítulo
VI) . A fra çã o do N total do solo que participa do ciclo de reações de mineraliza ção-
imobiliza çã o - que, em algum momento, resulta em formas disponíveis para as plantas,
varia com o tipo de solo e o manejo. Sistemas tais como o plantio direto, com alto aporte
de material vegetal fresco, contendo carbono orgâ nico disponível como fonte de energia ,
tendem a apresentar maior reciclagem do N do que sistemas mais pobres em fornecimento de
resíduos vegetais (veja capítulo XV). Como as reações de mineralizaçã o-imobilizaçã o pas-
sam pela biomassa microbiana, esta serve como um indicador da velocidade de ciclagem
de N e de outros nutrientes. A porçã o ativa do N orgâ nico do solo compreende cerca de
10 a 15 % do N total em solos agr ícolas, incluindo a biomassa microbiana . O restante
corresponde à fra çã o passiva, que tem uma ciclagem mais lenta (Stevenson, 1982) .
As quantidades de N na biomassa microbiana sã o bastante variá veis, uma vez que
dependem do manejo do solo e das condições edafoclim á ticas. Valores entre 40 e
496 kg ha 1 de N na biomassa microbiana tê m sido relatados, com valores médios de 101
'
a 108 kg ha 1 na camada superficial dos solos, conforme dados compilados por Moreira
'
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 381
í.
( )
Solo Mat é ria org â nica Estoque d e N total 1
g kg '
"
kg ha -1
Argissolo 6 a 30 0, 4 a 0, 7 800 a 1.400
Latossolo Vermelho 8 a 30 0,5 a 1, 0 1.000 a 2.000
Latossolo Vermelho 16 a 60 0,9 a 2, 4 1.800 a 4.800
Latossolo Vermelho eutrof é rrico 17 a 100 0,8 a 3,0 1.600 a 6.000
(D
Assumindo 2.000 . 000 kg na camada de 0-20 cm dos solos minerais e 1.400 . 000 kg no solo orgâ nico.
Fonte : Brasil ( 1960 ) .
Quadro 3. Fra ções de nitrogé nio do solo obtidas por hidr ólise á cida
% do N do solo
N - NH3 20 - 35
N -amino á cidos 30 - 45
N - a çú cares aminados 5 -10
N- hidrolisado desconhecido 10 - 20
N -insol ú vel em á cido 20 - 35
FERTILIDADE DO SOLO
382 HEITOR CANTARELLA
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 383
FERTILIDADE DQ SOLO
384 HEITOR CANTARELLA
dados de mineralização líquida nã o d ã o id éia da dinâ mica das reações de mineraliza ção-
imobilizaçã o que acontecem continuamente nos solos.
Técnicas desenvolvidas para a avaliaçã o da mineraliza çã o bruta do N do solo - que
excluiu a imobiliza çã o do N liberado - têm permitido melhor avaliação das taxas de
transformaçã o de N que ocorrem no solo . Barraclough (1995) e Barraclough & Puri
(1995) utilizaram a marca çã o do "pool" de N inorgâ nico do solo com diminutas
quantidades de fertilizante altamente enriquecido com o isótopo 15N para medir o NH4+
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 385
2004 ).
Resultados semelhantes foram obtidos no Brasil por Gava ( 2003), bem como em
v á rios trabalhos da literatura internacional reunidos por Norton ( 2000b ). Tomando por
base os resultados m édios citados por Addiscott (2004 ), a mineraliza çã o bruta de N em
diversos solos corresponde, aproximadamente, a 5 kg ha 1 dia 1 de N. Extrapolando esse
' '
n ú mero para um per íodo de 200 dias por ano, nos quais há condições de umidade e
temperatura suficientemente elevadas para sustentar processos microbianos intensos
no solo, o valor da mineraliza çã o bruta atinge cerca de 1.000 kg ha 1 ano 1. Valores
' '
igualmente altos têm sido relatados para a nitrificaçã o bruta ( Norton, 2000a ). Embora os
resultados de mineraliza çã o ou de nitrifica çã o bruta devam ser vistos com cuidado em
virtude das restrições metodológicas, os altos valores mostrados nesses estudos indicam
que as taxas de transforma çã o e ciclagem do N nos processos de mineraliza çã o-
imobiliza çã o sã o bastante elevadas, sendo os substratos e produtos continuamente
reprocessados pelos microrganismos do solo ( Norton, 2000b ).
A magnitude dos valores de N que ciciam continuamente no solo também ajuda a
compreender o fato de plantas geralmente absorverem mais N do solo do que o
proveniente de fertilizantes, mesmo em culturas intensamente adubadas. Sistemas
agr ícolas que promovem o aporte e a reciclagem de resíduos orgâ nicos no solo, tais
como o plantio direto, á reas com adubo verde, etc ., intensificam a atividade
microbiana e a intermediaçã o dos microrganismos do solo no processo de fornecimento
de N à s plantas .
A mineralização do N orgâ nico do solo é estimulada pela adição de material orgâ nico
fresco, rico em energia, ou de fertilizantes nitrogenados. Esse efeito é conhecido como
"priming" ou efeito do N adicionado. O aporte de energia ou nutriente estimula a flora
microbiana a atacar a MOS de modo que o N mineral produzido exceda aquele que seria
liberado sem a adiçã o desses insumos. O efeito pr á tico é que adubações químicas ou
orgâ nicas podem aumentar a disponibilidade de N do solo proveniente da mineraliza ção
da matéria orgâ nica . As altera ções na mineraliza çã o resultantes do efeito "priming"
sã o, geralmente, pequenas em comparaçã o à atividade biológica normal do solo, incluindo
o ciclo de mineraliza çã o-imobiliza çã o do N. Segundo Jansson & Persson (1982), o efeito
do N adicionado tem sido supervalorizado na literatura científica e, em muitos casos,
confundido com outros processos normais do solo. Por exemplo, a adi çã o de N pode
estimular o crescimento do sistema radicular: a absor çã o extra de N do solo, nesse caso,
nã o se deve ao aumento da mineralizaçã o do N orgâ nico, mas, sim, da exploraçã o de um
volume maior de solo. O efeito "priming" medido em experimentos em que se adiciona
fertilizante com N marcado (15N ) pode també m ser superdimensionado em função das
substituições isotópicas entre o 15N do fertilizante e o N do solo.
O sentido predominante das rea ções de imobiliza çã o e mineraliza çã o determina,
em longo prazo, o ac ú mulo ou a reduçã o do estoque de N orgâ nico no solo, o qual está
estreitamente relacionado com o estoque de C orgâ nico.
FERTILIDADE DO SOLO
386 HEITOR CANTARELLA
O estoque de N orgâ nico do solo é relativamente está vel em curto prazo gra ças à
estabilidade da maior parte dos compostos orgâ nicos do solo. Sistemas naturais, como
florestas, campos nativos, Cerrados, etc., apresentam certo equilíbrio entre entradas e
sa ídas de N e de C nos processos internos de ciclagem. Varia ções importantes, porém,
podem ser observadas a médio e longo prazo quando esses sistemas em equilíbrio sã o
convertidos em agricultura . Geralmente, o revolvimento do solo e as extrações e perdas
de nutrientes inerentes aos sistemas a.grícolas implicam queda do estoque de N orgâ nico
ao longo do tempo, até que novo equilíbrio seja atingido ( Figura 2) . Parte do N
mineralizado é aproveitado pelas plantas, raz ã o das baixas respostas à aduba çã o
nitrogenada nos primeiros anos de cíiltivo em solos recém-abertos para a agricultura .
Estudos cl ássicos realizados em ensaios de longa dura çã o, iniciados, em 1876, na
Universidade de Illinois, nos EUA (Odell et al., 1984), e, em 1852, em Rothamsted,
Inglaterra (Stevenson, 1982), mostraram que a velocidade e o patamar do estoque de N na
nova situa çã o de equilíbrio dependem do tipo de solo, clima , plantas cultivadas e do
aporte de fertilizantes químicos e orgâ nicos, incluindo restos de cultura . No estudo de
Illinois, parcelas cultivadas continu á mente com milho perderam metade (Stevenson,
1982) do N orgâ nico gradualmente ao longo de v á rias d écadas, e os solos tornaram-se
pouco produtivos. Por outro lado, as parcelas com rota çã o de cultura, incluindo
leguminosas, calagem e aduba çã o, aproximaram -se de novo equilíbrio com um estoque
de N orgâ nico muito superior ao d ò sistema com milho contínuo e posteriormente
mantiveram a fertilidade (Odell et al., 1984).
Figura 2. Esquema representativo da diminuiçã o no estoque de N orgâ nico do solo (ou do teor
de N ou de maté ria orgâ nica ) com o tempo, após uma á rea com vegeta çã o natural ser
convertida em agricultura . A escala de tempo é expressa em décadas. Local A: sólo resistente
à degrada çã o ou cultivo em condições que manejo que não aceleram a degrada ção (calagem,
adubações adequadas, rota çã o de culturas, etc. ); Local B: solo pouco resistente à degradação,
altas temperaturas, manejo pouco adequado. Manejo conservacionista : sistema plantio
direto e, ou, aduba ções verdes ou orgâ nicas, rotaçã o de culturas, calagem e adubação
adequadas, etc. O manejo conservacionista (Local B) pode não ser suficiente para reverter
a queda do estoque de N, mas apenas reduzir a taxa de decréscimo.
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 387
Em outros solos ou situa ções, os coeficientes podem ser diferentes dos empregados
neste exemplo, mas os n ú meros obtidos indicam claramente as dificuldades para elevar
o estoque de C e de N orgâ nico no solo. A necessidade de grandes quantidades de N para
fixar o C e elevar o teor de MOS implica que a rota çã o de culturas deve incluir leguminosas
fixadoras de N 2, uma vez que a adiçã o de N somente na forma de fertilizantes pode
tornar o processo economicamente inviá vel.
A rá pida degradação da palha em sistema plantio direto no Brasil, decorrente das altas
temperaturas, tem levado à preferência por gramíneas como culturas de cobertura . Se,
por um lado, essa opçã o prolonga a proteçã o f ísica do solo, por outro, limita a adição de
N ao sistema .
Em estudo no Estado do Rio Grande do Sul, Teixeira et al. (1994) observaram aumento
no teor de N orgâ nico no solo na camada até 17,5 cm após 10 anos de plantio direto com
rota ção, incluindo leguminosas ou culturas capazes de reciclar N no inverno. Resultados
semelhantes foram relatados por Lovato et al. ( 2004) . Esses autores partiram de um solo
degradado e só conseguiram elevar o estoque de N orgânico acima do valor inicial depois
de 13 anos com rota ções que incluíam leguminosas (aveia + ervilhaca-milho + caupi).
Para obter o mesmo resultado com rota çã o aveia -milho, foi necessá ria a aplicaçã o de
139 kg ha 1 ano 1 de N por 13 anos. O estoque de N semelhante ao do campo nativo (cerca
" "
expressivos, em curto prazo, no teor de C ou de N orgâ nico no solo. É prov á vel que o
FERTILIDADE DO SOLO
388 HEITOR CANTARELLA
Nitrificação
A nitrifica çã o é uma sequ ência do processo de mineraliza çã o . A nitrifica çã o, ou
oxida çã o do N amoniacal a nitrato, é realizada no solo por bactérias quimioautotróficas
que obtêm energia no processo e que podem sintetizar todos os seus constituintes celulares
a partir do C02. Organismos heterotróficos també m podem converter formas reduzidas
de N em N02 ou em N03\ porém, é pouco prová vel que desempenhem papel relevante
"
-6e
—
NH4 + 1,5 02 > NQ2 + HzO + 2H
"
(F = -65 kcal )
Embora existam vá rios grupos de J?actérias quimiolitotróficas capazes de realizar a
oxidação do NH4 + no solo ( Norton, 2000a ), as bactérias do gênero Nitrosomonas sã o
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 389
-2e
N02 + 0,5 02 » N03 (F = -17,8 kcal )
com 65 kcal mol 1 para a oxida çã o do NH4+ a N02 , mostra que as bacté rias do gênero
' "
Nitrobacter têm de processar maior quantidade de substrato para sobreviver. Isso explica,
em parte, o fato de a velocidade de oxida çã o do N02 ser maior do que a do NH4 +. Desse
"
modo, o N02 , que é tóxico para a maioria dos organismos do solo, raramente se acumula
"
em solos agr ícolas. Porém, em condições que favorecem a presença de NH3 livre ( pH
elevado, baixa CTC, solos com aduba çã o localizada com ur éia , aquamônia ou am ó nia
anidra ), pode haver ac ú mulo de N02 pois as Nitrobacter sã o sensíveis a NH3 ( Firestone,
’
1982) . Clark et al. (1960) observaram a presença de nitrito em 14 de 41 solos tratados com
400 mg kg 1 de N-uréia e, em sete desses solos, o teor de N-N02 excedeu 100 mg kg 1. Por
" " '
outro lado, Pang et al. (1975) nã o detectaram nitrito em colunas de solo que receberam o
equivalente a 100 kg ha 1 de N-uréia , mas notaram ac ú mulo acentuado de NOz quando
' '
fitotoxidez em plâ ntulas de milho foram atribuídos ao acú mulo de N02 em solo adubado
com uréia ( Court et al., 1964) . No entanto, situa ções que favorecem a forma çã o e
persistência de N02 nã o sã o muito comuns, especialmente em solos á cidos e adubados
’
N 2O
O N20 é normalmente produzido no solo em condições anaer óbias no processo de
desnitrifica çã o; poré m, nesse caso, sua forma çã o pode ocorrer também em condições
aeróbias, durante a nitrifica çã o. A importâ ncia desse processo como mecanismo de
perda de N do solo por volatiliza çã o ainda n ã o está bem estabelecida, mas parece ser o
principal meio pelo qual NzO é produzido em solos aeróbios adubados com fertilizantes
amoniacais ( Bremner, 1997).
FERTILIDADE DO 1 SOLO
390 HEITOR CANTARELLA
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê KIIO 391
matéria orgâ nica (MO). Esta rela çã o, no entanto, variou com o tipo de solo. Por exemplo,
em um Latossolo Vermelho (56 g kg 1 de MO e 470 g kg 1 de argila ) com pH 4,9, a produção
' "
de nitrato foi superior à observada em dois outros Latossolos com teores variá veis de MO
(7 e 40 g kg 1) e de argila ( 220 e 440 g kg 1), respectiVamente, ambos corrigidos com calcá rio
" '
( Silva & Vale, 2000 ). É prov á vel que diferenças na populaçã o de nitrificadores nos
v á rios solos sejam tã o determinantes quanto o efeito dos atributos químicos ou f ísicos
dos solos. Alé m disso, parece haver algum grau de adapta çã o das bactérias a solos
á cidos, alé m do que pode haver microrregiões com condições de pH favorá veis à
nitrifica çã o mesmo em solos á cidos (Schmidt, 1982).
A nitrifica çã o também pode diminuir em solos cultivados com algumas gramíneas
forrageiras. Moore & Waid (1971), citados por Schmidt (1982), relataram decréscimo na
nitrifica çã o em solos tratados com extratos de ra ízes de azevém . Extratos de gramíneas
forrageiras e de outras espécies, incluindo exsudatos concentrados de ra ízes de milho e
tremoço, bem como taninos extraídos de algumas espécies florestais, exibiram capacidade
de inibir temporariamente a nitrificaçã o (Gasser, 1970). Suspeita -se que o mesmo efeito
possa ser causado por braqui á rias, mas o assunto ainda merece ser investigado. Carmo
et al. ( 2005) observaram que os teores de N- NH4+ eram superiores aos de N-NO/ em
pastagens de braquiá ria na Amazônia, mas nã o em solos de floresta . A predominâ ncia
de N-NH4+ em solos sob pastagem ocorreu em v á rios estudos realizados na regiã o e
relatados por Carmo et al . ( 2005), que notaram ainda que o potencial de nitrifica çã o dos
solos de pastagem eram inferiores aos dos solos de floresta .
Desnitrificação
A desnitrifica çã o é definida como um processo respiratório, que acontece na ausência
de Oz, no qual óxidos de N servem como receptores finais de elé trons. Essa definiçã o
substitui a tradicional, que considerava a desnitrificação como a redução microbiana de
N03 OU N02 a formas gasosas de N, pois há v á rios tipos de metabolismo microbiano
" "
que resultam na produçã o de NzO ou N2, inclusive a nitrificaçã o, que ocorre em condições
aeróbias ( Firestone, 1982; Bremner, 1997), já mencionada neste texto.
Existem v á rios mecanismos de reduçã o de nitrato no solo, incluindo: ( a ) a redu çã o
assimilatória, pela qual os microrganismos do solo incorporam o N às suas células ( uma
das formas de imobiliza çã o de N ); (b ) quimodesnitrifica çã o, que produz NO e N 2 em
condições de elevada acidez e nã o depende de anaerobiose; (c) reduçã o dissimilatória
para NH4+, que depende de condições altamente redutoras e alta disponibilidade de C
oxid á vel, e é pouco importante na maioria do solos agrícolas (ocorre em r úmen de
^
bovinos, digestores ativados de biossólidos, etc.); (d ) desnitrifica çã o respirató ria ou
desnitrifica çã o. Detalhes dos v á rios mecanismos de reduçã o de N03 podem ser obtidos
"
FERTILIDADE DO í SOLO
392 HEITOR CANTARELLA
mais de 125 esp é cies de bacté rias capazes de realizar a desnitrifica çã o, incluindo
fototróficas, litotróficas e organotróficas, que utilizam luz, compostos inorgâ nicos e C
orgânico como substrato, respectivamente; o grupo mais importante é o das organotróficas
(Bremner, 1997; Robertson, 2000) .
bolsões de solo saturados com á gua (Figura 3) . No entanto, sabe-se que ocorrem perdas
de N nas formas de N2 e NzO em solos em condições aer óbias, visto que mesmo nesses
solos há sítios anaeróbios. A taxa de difusã o do 02 no ar é cerca de 10.000 vezes superior
à que acontece na á gua . Portanto, a difusã o de 02 em poros do solo ocupados com á gua
é lenta. Sextone et al. (1985) mostraram que o interior de agregados de solo pode apresentar
condições de anaerobiose, enquanto a superf ície desses tem alta concentra ção de 02
Esses autores observaram que a atmosfera na superf ície de um agregado com 12 mm de
diâ metro continha 21 % de 02 e que a toncentra çã o diminuía gradualmente até atingir
0 % de 02 no interior do agregado. Portanto, em um solo não saturado, à medida que
aumenta o volume de poros ocupado com á gua , aumentam os sítios anaeróbios.
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 393
Of
D.
.*
**
— N 2O
-* co 2
Figura 3 . Em solos em condições aer óbias, a desnitrificaçã o ocorre em sí tios anaer óbios no
interior dos agregados do solo. A difusã o do Oz na á gua que preenche os poros ou envolve
os gr â nulos de solo, é 10.000 vezes menor do que no ar . Condições de anaerobiose no
interior dos agregados de solo sã o favorecidas pela lenta difusã o do Oz e pelo consumo de
02 pela respira çã o dos microrganismos e das raízes das plantas. Quanto maior
.
o tamanho
do agregado, maior a chance de haver sítios anaer óbios em seu interior
Fonte: Redesenhado com base em Addiscott (2004 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
394 HEITOR CANTARELLA
pela acidifica çã o do solo ( Firestone, 1982; Bremner, 1997) . Por outro lado, a
disponibilidade de C reduz a rela çã o N20 / N 2 ( Firestone, 1982 ) . De modo geral, a
produ çã o de N 2, o mais reduzido d ós gases gerados na desnitrifica çã o, é favorecida
quando há abund â ncia de substrato (C oxid á vel ) e limitaçã o de receptor de elé trons. Na
maioria das situa ções, as quantidades de N 2 emitidas durante a desnitrificaçã o são muito
superiores à s de N20.
O N20 é está vel na atmosfera , mas instá vel no solo, onde é reduzido a N 2 na
sequê ncia de rea ções de desnitrificaçã o. Portanto, solos inundados ou encharcados,
além de fonte, funcionam também como dreno de NzO, que é altamente solúvel em água
( Grofman, 2000 ) , mas é pouco prov á vel que solos aer óbios possam retirar e reduzir
quantidades apreci á veis de NzO da atmosfera (Freney, 1997) .
As perdas de N -fertilizante por desnitrifica çã o nos sistemas agr ícolas s ã o
extremamente variá veis e suas quantifica ções pouco precisas e exatas. De modo geral,
estima -se que variem de 5 a 30 % do N aplicado como fertilizante. A maior parte das
inferências prov é m de ensaios em que sã o realizados os balanç os do N aplicado e o
contabilizado, no final do ciclo da cultura, nos solos e nas plantas. A diferença, que
inclui boa parte do erro experimental, é atribuída a perdas gasosas, especialmente por
desnitrificaçã o, mas també m por volatiliza ção de NH3. Resultados de inú meros ensaios
de campo utilizando 15 N como tra çador apontam para um déficit de 15 a 30 % ou mais do
N aplicado ( Firestone, 1982; Haysom et al., 1990; Coelho et al., 1991; Chapman et al.,
1994; Trivelin et al ., 2002a; Vitti et al., 2005; Fenilli, 2006 ), do qual parte substancial é
atribuída a perdas por desnitrifica çã o, incluindo a que ocorre em sítios anaer óbios em
solos bem drenados.
Determina çõ es diretas das perdas de N 2 e de N 20 sã o complexas; exigem
confinamento do solo sob câ maras e envolvem a mediçã o de pequenas quantidades de
N2 volatilizado em atmosfera que naturalmente contém 78 % desse gás em sua composiçã o.
Os valores medidos em ensaios envolvendo a avalia çã o direta da desnitrifica ção podem
ser bastante variá veis, mas, geralménte, apontam para n ú meros menores do que os
obtidos por diferença nos estudos onde é feito o balanço de N nos sistemas. Rozas et al.
(2001) contabilizaram perdas de 5,5 e 2,6 % do N aplicado como uréia (doses de 70 e
210 kg ha 1 de N, respectivamente ) em milho em sistema plantio direto . As perdas por
'
desnitrificaçã o medidas por Weier et al . (1998) foram de 9,2 e 2,8 kg ha 1, nas formas de
'
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 395
Bremner (1997) reuniu evidências de que perdas de N20 em solos aer óbios adubados
com fontes de N-amoniacal, incluindo a ureia, sã o provenientes, em parte, do processo
~
de nitrifica çã o, durante a oxida çã o de NH4+ a N02 , e nã o da desnitrifica çã o, pois a
produçã o de N20 é fortemente inibida em solos tratados com inibidores de nitrifica çã o e
adubos amoniacais em condições aeróbias .
As perdas por desnitrifica çã o que ocorrem em solos inundados sã o discutidas na
seçã o relativa a perdas de N.
arroz, uma prá tica adotada em larga escala em algumas regiões da Ásia . A Azolla pode
também ser utilizada na alimentaçã o de peixes, aves e suínos ( Moreira & Siqueira, 2002).
Apesar do potencial para fornecer N em lavouras de arroz, a utiliza çã o de Azolla na
China tem decrescido em fun çã o da disponibilidade de fertilizantes sinté ticos e
redistribuiçã o da for ça de trabalho (Graham, 2000).
FERTILIDADE DO SOLO
396 HEITOR CANTARELLA
A simbiose riz ó bio -leguminosa é o mais importante sistema simbi ó tico entre
microrganismos e plantas gra ças à eficiência do processo de fixa çã o de N2, à amplitude
e distribuiçã o geogr á fica dos hospedeiros e ao impacto económico para a agricultura,
uma vez que permite substancial economia de fertilizantes nitrogenados. A família
Leguminosae abrange quase 20 mil espécies, incluindo espécies arbóreas importantes e
herbá ceas usadas como forrageiras, produtoras de maté rias-primas ou diretamente na
alimenta çã o humana .
A taxa de fixa çã o de N2 varia entre espécies de bacté rias, cultivares de plantas,
intera çã o rizó bio- planta , fertilidade do solo, ano agr ícola, etc. Estimativas de fixa çã o
listadas por Graham ( 2000 ) indicam valores de 100 a 300 kg ha 1 ano 1 de N em
' '
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 397
muitos pa íses, que têm estabelecido legisla çã o para controlar a concentraçã o de NOs
nas á guas superficiais ( Addiscott, 2004; Howarth & Marino, 2006; Howarth et al ., 2006),
implicando que os agricultores devem adequar suas prá ticas de manejo de fertilizantes
nitrogenados para atender a esse padrão (Groffman, 2000; Wortmann, 2006). Em regiões
’
com intenso uso de N e lençol freá tico alto, as medidas de controle de N03 na á gua têm
provocado mudanças de manejo, tais como o controle de aduba ções nitrogenadas e o
renovado interesse por mé todos de análise de solo para prever a disponibilidade de N
(Mulvaney et al., 2001; Martens et al., 2006; Wortmann, 2006).
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê NIIO 399
~
que a presença de altas concentra ções de N03 na dieta humana pudesse estar ligada à
ocorr ê ncia de câ ncer de estô mago, em virtude da produçã o de N02 a partir da reduçã o
”
~
N03 na á gua, implementadas nos EUA e na Cõmunidade Europeia, têm tido um alto
custo e têm sido questionadas. Addiscott ( 2004 ) revisou o assunto e argumenta, com
base na literatura, que as evidências da rela çã o entre N03 e a metaemoglobinemia ou ao
câ ncer do estô mago sã o parcas e inconsistentes . Ao contr á rio, Addiscott ( 2004), um
cientista que trabalhou por mais de três décadas em Rothamsted, Inglaterra, lista estudos
recentes mostrando que o N03 pode ter efeito benéfico para a sa ú de humana por seu
"
bastante controvertido.
Se a liga çã o entre o N03 e danos à sa úde humana pode estar sendo revista com base
"
~
em novas pesquisas, o problema do efeito do N03 sobre a eutrofica çã o de á guas
superficiais permanece em evidência, especialmente em pa íses do hemisf ério norte.
Geralmente, o P é o elemento mais limitante nas á guas para promover o aumento da
atividade biológica em á guas superficiais, lagos e estuá rios, mas o N també m exerce
papel relevante (Keeney, 1982; Howarth & Marino, 2006) . A maior evid ência da relaçã o
do N com a eutrofica çã o vem do fato de o per íodo de aumento explosivo da eutroficação
em á guas costeiras coincidir com o per íodo de maior aumento global na produçã o de N
reativo ( Howarth & Marino, 2006 ).
A eutroficaçã o refere-se à excessiva produção primá ria de algas e plantas aquá ticas
causada pela eleva çã o do suprimento de nutrientes. A maior oferta de nutrientes pode
ter efeitos benéficos em ambientes aquá ticos para o aumento da produtividade de peixes
e outras espécies exploradas economicamente; porém, níveis elevados de eutroficaçã o
estã o associados a efeitos prejudiciais, tais como: altera çã o na distribuiçã o de espécies
nos ambientes aquá ticos, aumento de algas tóxiças e decréscimo da concentra çã o de 02
dissolvido em virtude da decomposiçã o da matéria orgâ ncia produzida ( Lagreid et al.,
1999; Scavia & Bricker, 2006). Regiões de hipoxia (concentração de Oz abaixo de 2 mg L 1) '
têm-se formado no mar na costa americana no Golfo do México, bem como em estuá rios .
FERTILIDADE Dõ SOLO
400 HEITOR CANTARELLA
das á reas agr ícolas, é bastante profundo. O N proveniente da fixa çã o biológica em á reas
cultivadas no Brasil supera muito o proveniente de fertilizantes (Filoso et al., 2006) graças
à grande á rea ocupada com soja , qhe praticamente nã o recebe adubos nitrogenados.
Al é m disso, as avalia çõ es de lixivia çã o de N03 n ã o tê m apontado para perdas
"
substanciais ( discutido em outra parte deste capítulo ), o que faz supor que a lixivia çã o
de N03 nã o seja generalizada . Problemas localizados podem estar ocorrendo em á reas
próximas dos grandes centros urbanos, cultivadas com hortaliças ou com culturas nas
quais altas quantidades de adubos minerais e orgâ nicos sã o utilizadas.
com que o N03 esteja sujeito à lixiyia çã o para as camadas mais profundas, podendo
"
atingir á guas superficiais ou o lençol freá tico. Problemas associados ao excesso de N03 ’
no ambiente têm levado à regulamer íta çã o e ao controle de prá ticas agrícolas nos Estados
Unidos e na Europa , com o estabelecimento de limita ções nas dosagens de adubos
nitrogenados orgâ nicos e minerais ém á reas sensíveis.
A lixivia çã o de N 03 tem estreiía depend ência da quantidade de á gua que percola
"
^
"
no perfil do solo . Estimativas da n ovimenta çã o de NOa t ê m sido apresentadas por
"
alguns autores . Wild (1972 ) observou que a lixivia çã o de NOa atingiu a taxa de
0,5 mm mm 1 de chuva em um Alfissol bem estruturado da Nigéria; para um solo arenoso
'
(Reichardt et al., 1982) a 1,5 mm mm 1 em um solo argiloso do Cerrado (Suhet et al., 1986).
'
Esses valores dã o uma idéia de quantó a chuva ou a irriga ção podem provocar a lixiviaçã o
’
do N03 , porém essa rela çã o entre Çaminhamento do N e quantidade de chuva ou de
á gua que passa pelo perfil do solo nã o é tã o simples, porque a á gua e o soluto nã o se
movem uniformemente por causa da!s interações f ísicas e químicas com o solo e, se o solo
estiver seco, parte da á gua ficar á retira na matriz do solo. Além disso, nã o leva em conta
o intervalo de ocorr ê ncia da chuva pois parte da á gua retorna à atmosfera pela
evapotranspiraçã o. A textura do solo também afeta a lixivia çã o, que é maior em solos
arenosos, que, por apresentarem menor microporosidade, têm movimentação mais rá pida
da á gua no sentido descendente.
O N03 nã o é retido em solos cpm predominâ ncia de cargas eletronegativas, mas
"
muitos solos tropicais tê m horizontes subsuperficiais com cargas positivas, que podem
retardar consideravelmente a lixiviaçã o do nitrato ( Raij & Camargo, 1974).
A maior parte da á gua que perçola nã o flui através dos agregados do solo, mas ao
redor deles; a água no interior dos agregados permanece praticamente imóvel. Assim, a
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 401
á gua ao redor dos agregados tem mobilidade maior do que aquela no interior dos mesmos.
O N03 , e outros solutos se movem por difusão entre o interior dos agregados e a soluçã o
’
com pouca agrega çã o e menor em solos argilosos ou com agregados de maior tamanho -
afeta a taxa de lixivia çã o. Quanto menor a taxa de difusã o e maior o tamanho dos
agregados, menor a lixivia çã o. Isso, por é m, ocorre quando a maior parte do N03 está ou
"
caminhar uma distâ ncia maior do que a altura da coluna de á gua da chuva, mesmo em
solo argiloso, se em alta concentra çã o na soluçã o do solo ( regiã o adubada, por exemplo)
e ocorrer uma chuva de média ou grande intensidade que desce rapidamente por fissuras
ou ao redor dos gr â nulos do solo de modo que impossibilite a difusã o do íon para seu
interior (Figura 4) .
Com o secamento do solo na superf ície ou a absor çã o de á gua pelas plantas, o
potencial de á gua no solo nas camadas superficiais pode tornar-se muito inferior ao do
subsolo de modo que ocorra ascensã o capilar, cujo efeito é o inverso da lixivia çã o. íons
presentes na solu çã o podem ascender no perfil do solo. Esse fenô meno recebe pouca
considera çã o, mas pode contribuir para manter o N disponível pr óximo do sistema
radicular. Poré m, as condições para ascensão capilar nem sempre estã o presentes, visto
Figura 4 . Fluxo de água e de nitrato entre e intra -agregados. O fluxo entre agregados é r á pido
é provoca a lixivia çã o apenas do nitrato em solu çã o na á gua de percola ção. O equilíbrio
entre o nitrato na solu ção que percola entre os agregados e a solução interna dos agregados
se d á por difusã o e é um processo lento.
Fonte : Redesenhado com base em Addiscott (2004 ).
FERTILIDADE DO SOLO
402 HEITOR CANTARELLA
que, além de manter a continuidade da coluna de á gua nos poros, é preciso vencer o
gradiente gravitacional. A altura com que a água se eleva por capilaridade é inversamente
proporcional ao menor diâ metros d ós poros intercomunicantes.
No Brasil, sã o poucos os casos de altas perdas por lixivia çã o relatados na literatura.
O quadro 4 apresenta um resumo dè trabalhos publicados em que a lixivia çã o de NOa
foi medida, com o uso de tra çador i5N. De modo geral, nos experimentos listados, as
quantidades de N lixiviadas foram pequenas. Aparentemente, nã o houve restrição de
á gua, uma vez que as quantidades d è chuva no ciclo das culturas foram suficientes para
provocar movimenta çã o de á gua para os horizontes subsuperficiais.
As maiores quantidades de N lixiviadas aconteceram nos ensaios de Coelho et al.
(1991) e de Camargo (1989 ) e nesses, como nos d.emais, a maior parte do N lixiviado
proveio da mineraliza çã o da MOS e nã o do fertilizante aplicado . As doses de N
relativamente baixas, a textura argilosa da maioria dos locais e o parcelamento da
aduba çã o nitrogenada , no qual a maiòr parte do N é aplicada no período de ativa absorçã o
de N pelas plantas, ajudam a explicar as limitadas perdas de N observadas nos estudos
realizados no Brasil (Quadro 4). A imobiliza çã o pela microbiota do solo de parte do N
também colabora para reduzir a lixivia çã o (Coelho et al., 1991) .
A lixivia ção do N proveniente da MOS ocorre geralmente no início do ciclo da cultura,
quando as plantas tê m poucas ra ízes para absorver o N mineralizado antes do plantio,
à s vezes estimulado pelo preparo mecâ nico do solo, pois a maior parte desses estudos é
feita sob sistema de cultivo convencional.
Quadro 4. Resumo de trabalhos(1) em que a lixiviaçã o de nitrato foi medida em campo, com o
uso de adubos marcados com 15 N
N - lixiviado
Solo Fertilizante Dose de N Cultura Ciclo Precipita çã o Ref ( 2 )
Total N - fertilizante
kg ha - i dia mm kg ha - i
Nitossolo UR 120 Feij ã o 120 661 6, 7 tra ç os 1
Nitossolo SA 100 Feijã o 365 1.382 15 , 0 1,3 2
Nitossolo SA 42 Feijã o 86 423 tra ços tra ços 3
Nitossolo UR 100 Milho 150 620 32, 4 11 , 0 4
LE UR 60 Milho 170 1.100 84, 6 2, 3 5
LVA SA 80 Milho 150 717 9, 2 0, 4 6
LE UR 100 Cana 102 667 87,0 34 , 0 7
LE Aquam ô nia 100 Cana 102 667 29 , 0 7 ,0 7
Neossolo quartzar . UR ( lis í metro ) 90 Cana 330 2.015 4,5 tra ç os 8
Nitossolo UR 125 Milho 128 339 1 ,2 tra ç os 9
Nitossolo UR 250 Milho 128 339 1 ,1 tra ços 9
LVA SA 120 Milho 120 615 15 , 4 0,7 10
Nitossolo SA 280 Caf é 366 1.323 29 , 6 6,5 11
, Com base na seleção inicial feita por Urquiagá & Zapata (2000).
( ) (2)
1: Libardi & Reichardt (1978); 2: Meirelles et
al. (1980); 3: Urquiaga et al. (1986); 4: Ara ú jo (1982); 5: Coelho et al. (1991); 6: Reichard et al. (1979); 7: Camargo
(1989); 8: Oliveira et al . (2002 ); 9: Gava ( 2003); 10: Fernandes et al. ( 2006 ); Fenilli (2006).
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 403
fertilizante. O N que lixiviou era oriundo da mineraliza çã o da MOS e pode ter ocorrido
após a incorpora çã o do calcá rio e antes da semeadura do milho. Nos períodos em que o
solo permaneceu sem cultivo ou com a cultura de cobertura, no outono-inverno, a lixiviação
foi insignificante. No ciclo seguinte do milho, novamente adubado com 120 kg ha 1 de N, "
A lixivia çã o de N03 foi estudada por Prim á vesi et al. (2006) no Brasil em pastagem
"
^
camadas de 0,4 a 0,8 m e de 0,8 a 2,0 m, respectivainente, apenas nas parcelas que receberam
1.000 kg ha 1 de N, uma dose além da necessá ria para a obtençã o da má xima resposta da
"
gramínea . No segundo ano, parcelas tratadas com até 500 kg ha 1 de N tiveram o teor de
'
FERTILIDADE DO SOLO
404 HEITOR CANTARELLA
Em culturas que recebem N acima da dose para má xima resposta , pode haver
ac ú mulo de N inorgâ nico no subsolo. Cantarella et al. (2003b) observaram, no final da
esta çã o das chuvas, a presença de cerca de 80 kg ha 1 de N na camada de 20-60 cm de
'
solo em um pomar de laranja adubado com 180 e 240 kg ha 1 de N. Pelo menos parte
'
desse N pode ser lixiviado para camadas fora do alcance do sistema radicular das
laranjeiras no início da esta çã o das chuvas subsequentes.
Da mesma forma como ocorre nó Brasil, na região tropical da maioria dos países em
desenvolvimento na Ásia ocidental è central, bem como na África, especialmente nos
cultivos de sequeiro, o uso de doses moderadas de N nas adubações nã o tem constituído
risco de poluiçã o de á guas subterr â neas com N03 (Singh et al., 1995) . No entanto, em
'
parte do territó rio asiá tico, a situa çã q é diferente. Em algumas á reas da China, o uso de
altas doses de N pode levar à baixa eficiência de uso dos fertilizantes e, conseqiientemente,
a perdas por lixivia ção (Chen et al., 2004) . Em á reas com sistema de cultivo intensivo de
plantas olerícolas e frutíferas, o teor de N- N03 residual no solo após a colheita atingiu
'
fertilizante pela microbiota do solo, em sistemas com alta atividade microbiana, colaboram
para reter o N na camada superficial. Porém, em anos de muita chuva no início do ciclo
das culturas de verã o, como ocorre cqm relativa frequência, a antecipa çã o da aduba çã o
nitrogenada tem provocado reduções significativas na produtividade do milho (Basso &
Ceretta, 2000; Pottker & Wiethõlter, 2j000; Cantarella et al., 2003a ), indicando que parte
do N aplicado foi lixiviado antes que as plantas tivessem condições de absorvê-lo. O
risco é maior em solos arenosos.
FERTILIDADE DO SOLO
VII - í\IITROG ê 'NIO 405
Volatilização de Am ónia
As emissões atmosf éricas de N na forma de NH3 são estimadas em cerca de 54 Tg ano 1,'
que eles possam ser pouco aproveitados ou carreados para fora do sistema, vindo a
causar poluiçã o, há chances de perdas de N pó r volatiliza çã o de NH3 e lixivia çã o, em
adiçã o à s perdas por desnitrifica çã o, sobre as quais há menor volume de dados. As
perdas de NH3 variam de 4 a 46 % do N das fezès e da urina (Haynes & Williams, 1993)
e sã o maiores para pastos que recebem altas doses de N, que enriquecem os dejetos
( Bussink, 1994) . |
As perdas por volatiliza çã o de amónia em solos dependem do pH. O equilíbrio
entre o íon am ónio ( NH4+ ) e a forma gasosa, amjônia ( NH3), é dado pela expressã o:
NH; ^ NH3 + H +
obtêm-se:
[NH 3]
log
[ NH 4+ ]
= PH - 9,2
apenas 0,01 % para um meio com pH 5,2, aumenta para 1 % a pH 7,2 e para 50 % em
pH 9,2. No solo, o tamponamento do meio e as interações com outros componentes
alteram as condições de equilíbrio de modo que em pH 7 a percentagem de NH3 é
geralmente bem maior do que ocorre em soluçõ puras. es
Em solos alcalinos ou com pH > 7, qualquer fertilizante nitrogenado que contém N
amoniacal está sujeito a perdas de NH3 por volatilizaçã o; todavia, é muito baixa no
Brasil a ocorrência de solos com essas características. Por outro lado, pouca ou nenhuma
perda de NH3 ocorre quando fertilizantes amorjiacais de rea çã o á cida ou neutra, como o
sulfato ou o nitrato de amónio, são aplicados a solos neutros ou ácidos, como demonstram
resultados de vá rios estudos (Terman, 1979; Lara Cabezas et al., 1997b; Cantarella é t al.,
2001a, 2003b; Costa et al., 2003), visto que o amónio permanece na forma iônica e estável.
FERTILIDADE D :O SOLO
406 HEITOR CANTARELLA
No entanto, quando aplicada ao solo, a ureia passa por hidrólise enzimá tica liberando
N amoniacal. Em solos com pH menor do que 6,3 - maioria dos solos brasileiros - a
rea çã o predominante é (Koelliker & Kissel, 1988):
urease
CO( NH2) 2 + 2H + + 2H20 > 2 NH4+ + H2C03
Quadro 5. Perdas anuais de nitrogê nip por volatiliza çã o de am ónia em pomar de laranja
adubado com ur éia ou nitrato de amónio, aplicados na superf ície do solo
NHj volatilizada
Fonte d e N Dose de N
1995/96 1996/97 1998/99
kg ha % d o N aplicado
Uré ia 20 26 17 19
100 31 16 25
260 44 17 33
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 407
solos sob cultivo tradicional . Portanto, solos com restos de culturas ( plantio direto,
á reas manejadas com resíduos de plantas na superf ície dos solos ) tendem a apresentar
maior atividade de urease e maiores perdas de NH3 do que solos descobertos.
A atividade de urease depende da umidade do solo. Em solo seco, a ureia pode
permanecer está vel (Volk, 1966), mas a taxa de hidr ólise aumenta conforme o teor de
á gua do solo se eleva , até que este atinja 20 %; a partir deste ponto, a taxa de hidr ólise é
pouco alterada pelo teor de á gua ( Bremner & Mulvaney, 1978). Portanto, a aplicaçã o de
uréia em solo seco é prefer ível à sua adi çã o em solo ú mido (Terman, 1979; Lara Cabezas
et al., 1992) .
A hidr ólise da uréia aumenta com a eleva çã o da temperatura até 40 °C ( Bremner &
Mulvaney, 1978), mas a hidr ólise e as perdas por volatiliza çã o de NH3 decrescem
rapidamente com o abaixamento da temperatura . Ernst & Massey (1960 ) observaram
que a 8 e a 16 °C as perdas de NH3 foram reduzidas em 71 e 56 %, respectivamente, em
rela çã o às observadas a 32 °C. Com isso, o potencial de volatiliza çã o de NH3 em regiões
tropicais ou nos cultivos de ver ã o é maior do que em regiões de clima temperado ou do
que nas aduba ções feitas no outono-inverno, como ocorre com os cereais de inverno no
Brasil . Por exemplo, Watson et al. (1990 ) concluíram que a uréia tem menor eficiência do
que o nitrocá lcio em pastagens de clima temperado na Europa, especialmente no ver ã o;
as perdas por volatiliza çã o de NH3, em torno de 6 a 12 % relatadas, no entanto, sã o
menores do que as obtidas no Brasil em pasto dê coastcross: 16 a 61 %, dependendo da
dose e época de aplica çã o (Cantarella et al., 2001a,b). As perdas de NH3 medidas durante
o cultivo de trigo no inverno no Brasil, adubado com 60 ou 90 kg ha 1 de N na forma de
'
completamente em dois dias. Com isso, o pico de perdas por volatilizaçã o normalmente
ocorre dois a quatro dias após a aplica çã o da ur éia . Por é m, em solos com altas
quantidades de resíduos de plantas na superf ície, umidade e temperatura adequadas, a
hidr ólise pode ser bastante rá pida . Cantarella et al . (2001a ) observaram em á rea com
pastagem de capim coastcross que o pico de perdas de NH3 ocorreu já no primeiro dia
após a aplica çã o da uréia .
Altas concentra ções de uréia no solo podem saturar os sítios ativos da enzima de
modo a retardar a hidr ólise ( Hargrove, 1988b ) . Solos incubados com 800 mg kg 1 ainda
"
continham pouco menos de 30 % da uréia intacta após tr ês dias, mas, após 14 dias, toda
a uréia havia sido hidrolisada (Broadbent et al., 1958). A hidrólise mais lenta geralmente
contribui para a reduçã o das perdas de NH3 por terem a uréia ou a NH3 produzidas mais
tempo para difundir para o interior do solo e reagir com os col óides do solo. Porém, se a
atividade de urease do solo nã o for limitanté, doses mais elevadas (Quadro 5) ou
aplicações localizadas (faixas estreitas) tendem a resultar em maiores perdas de NH3 do
que a mesma dose aplicada a lanço (Touchton & Hargrove, 1982; Freney et al., 1991;
Cantarella et al., 2003b; Vitti et al., 2005), uma vez que o pH do solo tende a se manter
FERTILIDADE Dó SOLO
408 HEITOR CANTARELLA
mais alto no local onde se concentra o adubo. Freney et al. (1991) observaram perdas de
NH3 de 38 % para a ureia aplicada em faixas e de 23 % para a aduba çã o a lanço. No
Brasil, resultados semelhantes forairi obtidos por Vitti et al . (2005) (Quadro 6).
-
N NH 3 volatilizado Produ çã o d e colmos
Fontes de N
Faixa Á rea total Faixa Á rea total
kg hai - i t ha -1
Sulfato d e am ó nio 2 aA 3a A 73 aA 76 aA
Nitrato de a m ó nio 2 aA 4a A 64 bA 66 abA
Uran 1 3 bA 9 bB 61 bA 64 bA
Ur é ia 32 cA 26 cB 60 bA 57 bA
Médias seguidas por letras iguais: min ú sculas'l na vertical , e maiuscula , na horizontal , respectivamente, n ã o
diferem entre si a 5 % pelo teste Tukey .
Fonte: Vitti et al . ( 2005) .
Formula ções líquidas, tais como ò uran [adubo fluido, mistura de ur éia e nitrato de
am ónio] e solu ções de ur éia podem tjer menores perdas de NH3 quando aplicados em
faixas (Hargrove & Kissel, 1979; Fairlie & Goos, 1986), provavelmente porque a aplicaçã o
da solu çã o em á rea reduzida ( em faixa ) provoca ligeira incorpora çã o do fertilizante ao
solo e, em alguns casos, satura çã o da urease na regiã o de aplica çã o. As diferenças entre
aplica çã o localizada (em faixa ) ou erri á rea total nã o sã o consistentes, visto que alguns
dos fatores que afetam as perdas - satura çã o da enzima ou maior alcalinidade do solo -
agem em sentidos opostos.
Além do pH, outra importante caracter ística do solo que afeta as perdas de NH3 é o
poder tampã o da acidez do solo . A eleva çã o do pH decorrente da hidrólise da ur éia
depende, em parte, do poder tampã o d.o solo. Solos com alto poder tampã o opõem maior
resist ência ao aumento do pH e, correspondentemente, t ê m menores perdas por
volatiliza çã o. A capacidade de troca de cá tions (CTC) e, por extensã o, a textura e o teor
de MOS, influem diretamente no poder tampão dos solos. Vá rios estudos têm demonstrado
que solos com textura arenosa perdem mais NH3 que solos de textura fina ou argilosa
( Fenn & Kissel, 1976; Nelson, 1982) . P ra Gasser (1964), a CTC é o mais importante fator
^
que afeta as perdas por volatiliza çã o dle NH3 em solos. Além do efeito do poder tampã o,
solos com maior CTC apresentam má iores quantidades de sítios de troca para reter o
NF14+ produzido e menos NH3 permanece em soluçã o ( Nelson, 1982) . Ferguson et al.
(1984 ) demonstraram que o poder tampã o da acidez é mais importante que o pH inicial
do solo e a CTC, na determinaçã o das perdas de NH3 por volatilização.
Trabalhos realizados há vá rias d écadas mostram que a maneira mais eficiente de
reduzir ou eliminar as perdas por volá tiliza çã o é a incorporaçã o da uréia ao solo (Ernst
& Massey, 1960; Overrein & Moe, 1967; Espironelo et al., 1987; Trivelin et al., 2002a ) . A
FERTILIDADE DQ SOLO
410 HEITOR CANTARELLA
intera ção do processo de perda com a umidade do solo é também complexa . Por um lado,
a umidade é necessá ria para que haja a hidr ólise da ureia e, nesse sentido, favorece as
perdas (Reynolds & Wolf , 1987). Volk 1966) observou que mais de 80 % da uréia aplicada
no campo, em solo seco, nã o hidrol sou em 14 dias. Mclnnes et al. (1986) também
observaram, em condições de campo, que, à medida que o solo secava, a hidr ólise
diminuía, mas voltava a ocorrer após a aplicação de água; em solo seco, a taxa de hidrólise
da ureia foi praticamente zero. Os resultados foram confirmados por Lara Cabezas et al
(1992) em condições de laborató rio, que observaram perdas de NH3 de menos de 1 % do
N-uréia em um per íodo de 20 dias, qu ando a ureia foi aplicada em solo seco .
Uréia , NH4+ e NH3 podem mover-se no solo por difusã o ou fluxo de massa ( veja
capítulo IV ) . Portanto, a umidade iniçial e a direçã o para a qual a á gua se move no solo
afetam a taxa e a quantidade de NH3 v olatilizada (Reynolds & Wolf , 1987; Kiehl, 1989a;
Rodrigues & Kiehl, 1992 ) .
Se as condições clim á ticas nã o forem favorá veis à evapora çã o, a umidade do solo
pode permitir a difusã o da uréia da superf ície para o interior do solo, reduzindo a
volatiliza çã o de NH3. No entanto, a movimenta çã o de uréia por difusão nã o é grande.
Sadeghi et al. (1989), estudando o coeficiente de difusão de uréia em sete solos, observaram
que a profundidade má xima de movimentaçã o da uréia em 48 h variou de 2,6 a 3,5 cm em
solos com teores de á gua em torno de 20 %. Nesse experimento, a urease foi destruída
antes da aplica çã o do fertilizante, e os solos foram incubados em ambiente fechado.
Kiehl (1989a ), usando amostras de solos umedecidas a 50 % da capacidade de campo e
nas quais a atividade enzim á tica foi mantida , observou, 15 dias após a aplica çã o
superficial de ur éia, a presença de am ónio a 7-8 cm de profundidade em uma Areia
Quartzosa e a 3-4 cm em uma Terra Roxa estruturada . Em condições de campo, o efeito
da urease e da evapora çã o pode reduzir a profundidade até o ponto em que a uréia se
move por difusã o, por ém nã o deve ser descartada a possibilidade de que parte da uréia
aplicada na superf ície seja incorporada , por difusã o, a solos com altos teores de umidade,
com a consequente reduçã o das perdas de NH3.
A evapora çã o da á gua do solo é um componente importante para a manutençã o da
volatiliza çã o. Martin & Chapman (1S 51) concluíram que quantidades apreciá veis de
NH3 sã o perdidas do solo somente quando há perda de á gua. Esta, por sua vez, é
favorecida por altas temperaturas e pelo vento. Overrein & Moe (1967) observaram que a
taxa de volatiliza çã o depende da jvelocidadede troca gasosa ( vento ) . V á rios
pesquisadores notaram que as maiores taxas de perdas ocorrem quapdo a superf ície do
solo está secando ( Bouwmeester et al., 1985; Mclnnes et al., 1986; Hargrove et al., 1987).
Essas observa ções foram confirmadas por Lara Cabezas et al . (1992), os quais concluíram
que a taxa de evapora çã o é mais importante que a condiçã o de umidade inicial do solo
para que ocorram perdas por volatiliza çã o de NEf 3. A importâ ncia da umidade inicial
provavelmente está ligada à dura çã o do processo de secamento.
A rela çã o entre umidade do solo e condições de secamento e evapora çã o sobre as
perdas de NH 3 foram estudadas no trabalho de Reynolds & Wolf (1987) . Eles
demonstraram que o ar desumidificado provoca o rá pido secamento do solo e reduz as
perdas, mas, se o solo tiver um suprimento de á gua que mantenha a evaporaçã o, a
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê MO 411
FERTILIDADE DC SOLO
412 H EITOR CANTARELLA
FERTI L I D A D E DO SOLO
VII - NITROG é NIO 413
1994; Prasertsak et al., 2002) a 90 kg ha 1 de N (Tri velin et al., 2002a ) . Os dados de perdas
'
de Trivelin et al. (2000a ) foram obtidos, indiretamente, com o uso do tra çador 15 N.
Por outro lado, se a concentra çã o de NH3 no ar estiver alta, o ponto de compensaçã o
de NH3 da planta pode ser negativo e'ocorrer absor çã o de NH3 da atmosfera (Farquhar et
al ., 1980 ) . Em condições naturais, o processo de absor çã o foliar de NH3 tem pouca
importâ ncia porque a concentra çã o desse gás na atmosfera é baixa. Poré m, plantas com
dosséis fechados, adubadas com fontes de N sujeitas à volatiliza çã o de NH3, podem
absorver parte do N perdido para o ar. Em flores tas adubadas com 15N-uréia, 8 a 19 % da
NH3 volatilizada foi recapturada por plantas colocadas a 10 e 150 cm acima do nível do
solo ( Nason et al., 1988). Na Austrália, Denmeac et al . (1993) mostraram que plantas de
cana -de-a çúcar com cerca de 70 a 80 cm de altu ra, tamanho suficiente para cobrir boa
parte da superf ície do solo ( índice de á rea foliar de 0 , 7 a 1,5 ) absorveram,
aproximadamente, 20 % da NH3 volatilizada após a aplica çã o de uréia ( Denmead et al.,
FERTILIDADE DO SOLO
414 HEITOR CANTARELLA
1993). Recentemente, no Brasil, um estudo com caf é adensado adubado com uréia marcada
com 15N mostrou que as plantas absorveram 43 % da NH3 volatilizada ( Fenilli, 2006 ). É
prová vel que absorçã o de NH3 da atmosfera em á reas adubadas com uréia seja pouco
expressiva em culturas com pequeno porte, espa çamento largo, dosséis abertos e condições
favor á veis à movimenta çã o do ar, vi$to que a NH3 tende a se dispersar rapidamente na
atmosfera .
presente no meio que é reduzido mais facilmente a N20 ou a N2 (Quadro 7). Após o
desaparecimento do N03 , os receptores de el é trons passam a ser o Mn( IV) e o Fe (III)
'
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 415
Quadro 7. Ordem de utiliza çã o de alguns compostos oxid á veis que servem como receptores
de elé trons em processos respirat órios no solo. Na ausência de 02, sã o utilizados os
compostos em ordem decrescente de Eh
Receptores de el é trons Eh
mV
o2 0,33
NO3 0, 22
'
Mn ( IV ) 0, 20
Fe ( III ) 0,12
so42- -0,15
Figura 5. Reações do nitrogé nio e processos diversos de perdas deste nutriente em sistemas
inundados.
de DAP e ureia + KC1, testados com bons resultados em v á rios países, especialmente na
Ásia, onde o enterrio da uréia supergrâ nulo mostrou-se capaz de reduzir as perdas de N
e de aumentar a absor ção do nutriente e a produçã o de gr ã os de arroz (Fillery & Vlek,
1986; Singh, 2005). Equipamentos rudimentares estã o disponíveis para a incorporaçã o
da uréia supergr â nulo em pequenas propriedades na Ásia.
FERTILIDADE DO SOLO
416 H EITOR CANTARELLA
FERTIUIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê N o 417
Teor de nutriente
Fertilizante Forma d o N
N P 2 O5 K 2O S
Ur é ia am ídica 45- 46
Nitrato d e a m ó nio amoniacal e n í trica 33
Sulfato d e a m ó nio amoniacal 21 23
Nitroc á lcio amoniacal e n í trica 21 a 28
DAP amoniacal 16 -18 -
42 48
MAP amoniacal 11 52
Am ó nia anidra amoniacal 82
Uran ; -
am í dica ( 50 % ) , 28-32
amoniacal ( 25 - » )e
-
n í trica ( 25 % )
Nitrato d e s ó d i o n í trica 16
Nitrato d e c á lcio n í trica 15-16
Nitrato d e pot á ssio n í trico 13 46
Nitrosulfato amoniacal e n í trica 26 15
Nitrofosfatos amoniacal e n í trica o u n í trica 1 3-26 6-34
Além do maior teor de N que outros adubos sólidos, o que barateia o transporte e a
aplica çã o, a ur éia tem baixa corrosividade, alta solubilidade e é prontamente absorvida
pelas plantas via foliar, em taxas 10 a 20 vezes superiores à s do elemento nas formas
iônicas ( IFDC, 1979; Gould et al., 1986).
A principal desvantagem da uréia é a possibilidade de perdas de N por volatilização
de NH3, especialmente quando o fertilizante é aplicado na superf ície do solo, assunto
tratado em outra seçã o. Outros aspectos negativos associados, em algumas situações, ao
uso da uréia sã o a fitoxidez do biureto ( NH2-CO-NH-CO-NH2) - um contaminante - e da
~
NH3 e do N02 , produtos de sua hidrólise e posterior nitrifica çã o parcial.
A presenç a de biureto, formado por decomposiçã o térmica da uréia durante a
fabrica çã o, pode ser prejudicial à s plantas. O biureto é fitotóxico e algumas culturas
apresentam maior sensibilidade à sua presença, como sã o os casos dos citros, caf é,
abacaxi, especialmente quando aplicados via folia r. Uréia com mais que 0,25 % de biureto
nã o deve ser utilizada em aspersões foliares nessas culturas, mas esse fertilizante, com
concentra ções maiores ( 2 a 10 %) de biureto, pode ser aplicado ao solo em culturas já
estabelecidas (Gould et al., 1986). Por outro lado, Smika & Smith (1957) observaram
sensível reduçã o na germina çã o de sementes de trigo em contato com a uréia ( 2,5 % de
biureto) ou plantadas em solo tratado com o produto com 5 % de biureto. Culturas
menos sensíveis toleram concentra ções de biureto até 3 % em uréia aplicada via foliar
(Kilmer & Englestad, 1973) e algumas essências florestais suportam altos teores de biureto
FERTILIDADE DO SOLO
!
418 HEITOR CANTARELLA
e até respondem positivamente à sua aplica çã o (Miller et al., 1988) . O conte údo de
biureto na ur éia produzida atualmente é, de modo geral, menor que 1 %; assim, a
contamina çã o com esse produto nã o é mais considerada um problema .
Em alguns casos, a eficiência da uréia pode ser afetada pela toxidez da amó nia . A
rá pida hidrólise da uréia no solo provoca acentuada eleva çã o do pH e aumento na
concentra çã o de NH3 em torno da regiã o adubada; nessas condições, a pressã o de vapor
de NH3 pode ser suficiente para causar efeitos tóxicos sobre a germinaçã o de sementes e
crescimento de plâ ntulas. O problema geralmente ocorre quando o adubo é aplicado
junto ou muito pr óximo da semente e pode ser contornado, mantendo-se ambos a uma
distâ ncia adequada (Gould at al., 1986 ). O problema pode ser contornado com a separação
da semente e do adubo, com o uso de doses moderadas de N na semeadura ou de inibidores
de urease (Grant & Bailey, 1999; Karamanos et al., 2004).
*
A uréia está sujeita a perdas por lixivia çã o por ser um composto de alta solubilidade
em á gua e n ã o-iônico, portanto, fraca mente adsorvido aos colóides do solo. A retençã o
da uréia no solo decorre da forma çã o de compostos com grupos carboxílicos da MOS e de
complexos com minerais de argila; com baixo valor de pH, a uréia pode ainda ser protonada
e se comportar como cá tion (Gould e t al., 1986 ) . A taxa de lixiviaçã o da ur éia, embora
alta, é pouco inferior à do N03 . Broadbent et al. (1958) observaram que as quantidades de
"
efluente necessá rias para lixiviar comp letamente a uréia em colunas de solo em laboratório
variaram de 0,72 a 0,79 cm de coluna d ? água por cm de solo argiloso e arenoso, respectiva-
mente. Os valores correspondentes para a lixiviaçã o de N03 foram de 0,61 e 0,65 cm cm 1.
’ '
A menos que chova intensamente nos dias subsequentes à aduba ção, a lixiviaçã o de
N na forma de uréia tem importâ ncia relativamente pequena, visto que este fertilizante é
normalmente hidrolisado em pouco 3 dias no solo, produzindo NH/, o qual é retido
pelas cargas negativas dos colóides do solo. Por outro lado, vá rios autores observaram
que o NH4+ proveniente da ur éia tende a ser nitrificado mais rapidamente do que o do
sulfato de amónio em virtude da elevaçã o do pH do meio durante a hidrólise (Gargantini
& Catani, 1957; Pang et al ., 1975, Mclnnes & Fillery, 1989; Silva & Valle, 2000). Assim, o
N da uréia é inicialmente móvel (como uréia ), depois se torna pouco móvel (como NH4+ )
~
e, finalmente, passa a uma forma bastante móvel ( N03 )
O nitrato de am ó nio (33 % de N ) contém metade do N na forma nítrica e metade
amoniacal. É o fertilizante mais empregado em diversos países do norte da Europa e o
segundo no Brasil, mas, como pode ser utilizado como explosivo, há restrições crescentes
no mundo todo ao seu uso. No Brasil, sua produçã o, transporte e estocagem sã o
controlados pelo governo; as restri çõ es sã o ainda maiores nos Estados Unidos da
América, de modo que muitas empresas de fertilizantes nã o mais utilizam esse adubo. É
pouco prová vel que novas f á bricas desse fertilizante sejam constru ídas; assim, a
participa çã o do nitrato de amónio no mercado deve ser decrescente.
Um fertilizante produzido a partir da adiçã o de calcá rio ao nitrato de amónio, o
nitrocá lcio, com 27 % de N, foi popular no Brasil no passado por suas qualidades f ísicas,
mas nã o está mais disponível no mercado brasileiro.
Outro fertilizante nitrogenado importante no mercado brasileiro é o sulfato de
amónio, que contém 21 % de N, mas o maior preço por unidade de N do que a uréia ou o
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê N 419
FERTILIDADE DO SOLO
420 HEITOR CANTARELLA
nitrofosfato. É uma fonte de N vantajosa para uso em solos salinos ou para culturas que
têm grande demanda por Ca, o qual se apresenta em forma altamente sol úvel neste
fertilizante. O principal inconveniente do nitrato de cálcio é sua alta higroscopicidade.
Os nitrofosfatos sã o produzidos pelo tratamento de rochas fosfatadas com á cido
n ítrico, resultando em á cido fosf órico e nitrato de cá lcio. Existem v á rios processos para
a separa çã o desses produtos, originando fertilizantes com diferentes relações N:P2Os (de
0,75:1 a 3:1); o N normalmente está na forma de nitrato de amónio ou nitrato de cálcio, os
quais também podem ser parcialmente separados como subprodutos ((IFDC, 1979 ).
Embora o N esteja em formas sol ú veis, parte do P pode estar na forma de fosfato bicá lcico,
de baixa solubilidade em á gua .
A maior parte dos fertilizantes nitrogenados comumente utilizados na agricultura
(Quadro 9 ) sã o sol ú veis em á gua e tê m o N prontamente dispon ível para os vegetais.
Assim, a eficiência desses compostos como fonte de N tende a ser semelhante. No entanto,
diferenças de comportamento podem ocorrer por causa de mecanismos de perdas,
presença ou intera çã o com outros nutrientes, ou acidificaçã o do solo. Tanto o N03~
quanto o NH4+ sã o absorvidos pelas ra ízes das plantas. O N03 nã o é retido no solo e é
"
mais sujeito a perdas por lixivia çã o. Assim, fertilizantes que contêm esse â nion podem,
teoricamente, ser mais susceptíveis a perdas por lixivia çã o. No entanto, em solos em
condições aeróbias e altas temperaturas - típicas de per íodos em que as culturas sã o
adubadas, o N amoniacal é oxidado a N03 em um intervalo de tempo relativamente
’
curto, de 15 a 30 dias. Desse modo, em curto prazo, mesmo solos adubados com N
amoniacal tendem a ter o N predominantemente na forma de N03 . Portanto, em muitas '
Equivalente de CaCCh
Fertilizante
por kg de N por t do produto
kg
Am ó nia anidra -1 , 80 -1.480
Ur é ia -1, 80 - 790
Sulfato de am ó nio -5 , 35 1.070
MAP - 5 , 00 - 450
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 421
aumentar o rendimento de v á rias culturas (Sipiciklas & Below, 1992; Below, 1995;
Wiesler, 1998), em um sistema denominado "suprimento de amónio refor çado" ou
"nutriçã o mista de N". Below (1995) mostrou aumentos em torno de 10 a 14 % no
rendimento de gr ã os de milho com o sistema de nutriçã o mista em um ensaio com
hidroponia em campo, no qual foi possível controlar o suprimento de NH4+, e Smiciklas
& Below (1992) conseguiram aumentos de 6 a 10 % com alguns híbridos de milho em
condi ções de campo usando adubos com N amoniacal tratado com inibidor de
nitrificaçã o. Em todos os casos, houve aumento do número de grã os por planta decorrente
da menor taxa de aborto dos gr ã os da ponta da espiga ( Below, 2000) . Wiesler (1998)
revisou v á rios textos publicados sobre o assunt o e observou que o efeito da nutriçã o
mista é mais facilmente observado em estudos em condições de hidroponia, mas os
trabalhos feitos em campo produzem resultados mais variá veis, inclusive com casos de
decr éscimos moderados de rendimento de grã os. Uma das razões é a dificuldade de
manter o N-NH4 + no solo por longos per íodos g ra ças à r á pida nitrifica çã o, mesmo em
casos em que inibidores de nitrifica çã o sã o usados ( Wiesler, 1998). Portanto, do ponto
de vista prá tico, é dif ícil obter vantagem do uso de fontes amoniacais com base no conceito
de nutriçã o mista .
O potencial de acidifica çã o do solo pelos fertilizantes nitrogenados amoniacais
(Quadro 9) também pode levar a diferenças de eficiência entre fontes. O risco maior é para
culturas que recebem altas doses de N em adubaçõ 2S localizadas, como é o caso de culturas
perenes. Moraes et al. (1976) observaram que o DH original de um solo cultivado com
caf é abaixou de 6,2 para 4,3 ou 4,4 na camada superficial (0-8 cm) com o uso de 150 kg ha 1 '
FERTILIDADE DO SOLO
422 3 EIT0 R CANTARELLA
o á cido fosf órico ( Bremner & Douglas, 1971; Nommik, 1973), á cido bó rico ( Nommik,
1973) cloreto de am ónio (Watkins et al ., 1972) e nitrato de amónio ( Volk, 1959 ). Sulfato
de cá lcio, sulfato de cobre, á cido metafosf ó rico e S sublimado falharam em reduzir as
perdas por volatiliza çã o com grâ nulos grandes de ureia (Volk, 1959; Nommik, 1973).
Outra alternativa é representada pelos adutos de ur éia ("adducts: addition
products"). Alguns exemplos sã o apresentados abaixo (Mikkelsen & Bock, 1988).
O aduto que tem despertado maior interesse é a uréia fosfato ( UP), produzido pela
combinaçã o de 1 mol de uréia e 1 mo! de H3P04, para formar um cristal com 17,7 % de N
e 19,6 % de P, o qual pode ser manipulado com segurança como um fertilizante sólido.
Ambos, a uréia e o á cido fosf órico, retêm suas composições qu ímicas originais e, quando
o aduto é dissolvido em á gua, dissociam-se prontamente (Mikkelsen & Bock, 1988). A
UP pode ser co-granulada com uréia em diferentes proporções e dar origem à uréia -uréia
fosfato ( UUP) com relações N:P variando de 0,9:1 até 7:1. Outro produto de interesse é a
uréia sulfato, um aduto líquido que nã o apresenta a corrosividade e risco de uso do
á cido sulf ú rico concentrado (Mikkelsen & Bock, 1988) .
As principais vantagens da UP (e dos demais adutos de reaçã o á cida ) sã o a reduçã o
da taxa de hidrólise da uréia resultante talvez da acidez ( Bremner & Douglas, 1971) e a
diminuiçã o das perdas por volatiliza çã o de NH3.
O controle das perdas de NH3 nem sempre é completo por ser a taxa de difusã o da
uréia no solo cerca de 100 a 10.000 vezes maior que a do fosfato, o que pode fazer com que
parte da uréia se difunda para fora da região á cida (Mikkelsen & Bock, 1988). No entanto,
ao redor do fertilizante, a acidez retarda a hidrólise da ur éia e reduz as perdas de NH3.
V á rios trabalhos têm demonstrado, em laborató rio e em campo, os efeitos da UP e
UUP na diminuiçã o das perdas por volatiliza çã o de NH3 e no aumento das produções e
eficiência de uso do N em compara ção com a uréia ( Bremner & Douglas, 1971; Urban et
al., 1987; Bundy & Oberle, 1988; Mikkelsen & Bock, 1988). As perdas de NH3 são reduzidas
pela metade ou menos (Urban et al., 1987; Hargrove, 1988b ) . Os resultados obtidos por
Urban et al. (1987) demonstram que a UUP pode apresentar vantagens em relação a uréia
também em solo coberto com resíduos vegetais, em plantio direto.
solo, de formas sol úveis de N em geral, ou das formas mais susceptíveis a perdas. Uma
das maneiras de aumentar a eficiência de aproveitamento dos fertilizantes nitrogenados
é o uso de fertilizantes de libera çã o lenta ou controlada ou com inibidores para evitar a
r á pida transforma çã o do N contido no fertilizante em formas de N menos está veis em
determinados ambientes . Recentemente ( Hall, 2005), foi adotada pela Associa çã o
Americana de Agentes para o Controle de Nutrientes de Plantas ( AAPFCO, na sigla em
inglês ) uma nomenclatura para definir e classificar os fertilizantes com características
especiais, ou "Fertilizantes com Eficiência Aumer .tada (Enhanced -Efficiency Fertilizers).
Esses sã o formados por: (a ) "Fertilizantes de libera çã o lenta", em rela çã o a uma fonte
sol ú vel de refer ência, e incluem fertilizantes recobertos, encapsulados, insol ú veis em
á gua ou lentamente sol ú veis em á gua; e (b ) "Fertilizantes estabilizados", que contêm
aditivos para aumentar o tempo de disponibilidade no solo, tais como inibidores de
nitrifica çã o, inibidores de urease ou outros aditivos.
Há dois grupos importantes de fertilizantes classificados como de libera çã o lenta
ou controlada . Um deles é formado por compostos de condensa çã o de ureia e ur éia
formaldeídos (de baixa solubilidade e, portanto, de libera çã o lenta do N ); o segundo, de
produtos encapsulados ou recobertos, ou de libera ção controlada. De menor importâ ncia
sã o as uréias supergrâ nulos ( gr â nulos de 1 a 4 g ) e outros produtos (Trenkel, 1997).
Dentre os produtos de condensa çã o de uréia è uréia formaldeídos, ou uréia metileno,
três têm participação importante no mercado: uréia formaldeído ( UF), uréia isobutilaldeído
(IBDU) e uréia crotonaldeído (CDU). A solubilida de desta classe de fertilizantes depende
do tamanho da cadeia e da natureza do composto . Os produtos comerciais consistem de
misturas de polímeros com fra ções sol úveis em água fria, em á gua quente e insolú veis em
á gua . No solo, estes compostos sofrem degrada çã o química e biológica, liberando o N
gradualmente às plantas (Hauck & Koshino, 1971; Allen, 1984) . Essa classe de produtos
representava cerca de 40 % do mercado mundial de produtos de liberaçã o lenta (Trenkel,
1997) mas, atualmente, há uma tend ência clara para o aumento do uso de fertilizantes
recobertos, que já sã o responsá veis por cerca de 70 a 75 % do mercado desse grupo de
fertilizantes (Shaviv, 2005).
A UF, com cerca de 38 % de N, é o composto mais importante entre produtos de
condensa çã o de ur éia e é comercializada por v á rias empresas no mundo. A UF é
produzida pela rea çã o de uréia e formaldeído e lesulta em uma mistura com diferentes
tamanhos de cadeia de polímeros de uréia metileno, dependendo das condições de síntese.
O O
(H2N - C - NH - CH2 - N H - C - NH2) n
FERTILIDADE DO SOLO
424 HEITOR CANTARELLA
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê MIO 425
(1 )
Tenessee Valley Authority, Muscle Shoals, Alabama, EUA ,
FERTILIDADE DQ SOLO
426 MEITOR CANTARELLA
recobrimento varia conforme o fabricante e é possível regular a taxa de libera ção alterando
a espessura e composiçã o do matéria utilizado. Por exemplo, há disponível no mercado
ureias recobertas com resina termoplá stica que liberam 80 % do N de 70 a 400 dias ( 2),
dependendo da propor çã o de acetato de vinil etileno ( com alta permeabilidade à
á gua ) e de polietileno (com baixa permeabilidade à água ), que podem ser recomendadas
para culturas com diferentes exigências e per íodos de absorçã o do nutriente (Trenkel,
1997) .
Apesar do potencial dos fertilizantes de libera çã o lenta para aumentar a eficiência
de aproveitamento de fertilizantes n: trogenados, o uso de tais produtos é limitado pelo
alto custo em compara çã o com o dos fertilizantes tradicionais . A uréia recoberta com S,
provavelmente o produto com menor diferencial de preço, como já foi dito, tem o preço de
N em torno de duas vezes mais caro do que o da uréiá comum; o custo de outros fertilizantes
nitrogenados de libera çã o lenta varia de 2,4 a 10 vezes por unidade de N (Trenkel, 1997;
Shaviv, 2005). Com isso, esses fertilizantes têm sido empregados em nichos de mercado,
tais como: viveiros de mudas, campos de golfe e jardinagem. Estima -se que apenas 8 a
10 % dos adubos de libera çã o lenta sejam utilizados na agricultura na Europa (Lammel,
2005; Shaviv, 2005 ) e, em 2003, correspondiam a apenas 0,25 % do total de N de
fertilizantes químicos comercializados no mundo, ou 1,1 % do total nos Estados Unidos
(Hall, 2005).
Fertilizantes Estabilizados
( 2)
Meister, produzido pela Chisso- Asahi Fert. Co . Ltd . Japã o.
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 427
3- mitiIpirazole 3 MP
Tiosulfato de am ó nio TSA
para uso com fertilizantes nitrogenados amoniacais, tais como: am ónia anidra, uréia ,
sulfato de am ó nio, uran, nitrato de am ó nio e estercos animais. A taxa de aplica çã o é
relativamente baixa e varia de 0,4 a 1,4 kg ha 1 do ingrediente ativo.
'
FERTILIDADE DO SOLO
428 HEITOR CANTARELLA
5 a 25 kg ha 1 ( Di & Cameron, 2004, 2005; Cookson & Cornforth, 2002) e mostraram -se
'
capazes de reduzir as perdas por lixivia çã o de N03 . Embora exigido em doses maiores
"
adsorvido à fra çã o argila do solo ( Barth et al., 2001) e, por apresentar baixa mobilidade
no solo, tende a permanecer na regi ã o de aplica çã o e n ã o está sujeito à lixivia çã o
( Zerulla et al., 2001). Azam et al. ( 20 11) observaram, em condições de laboratório, que,
após dez dias de incuba çã o, 80 % do DMPP permaneceu em um raio de, no m á ximo,
5 mm da zona de aplicação, ao passo que o N amoniacal do fertilizante se difunde mais
rapidamente no solo. A eficiê ncia db DMPP é maior em solos arenosos, mas, se, por
um lado, a adsor çã o do DMPP aos colóides minerais do solo reduz seu efeito em curto
prazo, por outro, pode aumentar seu efeito residual por diminuir a taxa de degradaçã o
microbiana ( Barth et al., 2001).
Vá rios autores têm mostrado que a adiçã o de DCD ou de DMPP a fertilizantes
nitrogenados ou adubos orgâ nicos pe de reduzir substancialmente a emissão de N 20 do
solo (Linzmeier et al., 2001; Zerulla et al., 2001; Macadam et al., 2003; Boeckx et al., 2005).
Weiske et al. (2001) observaram maioi reduçã o na produçã o de N20 com o uso do DMPP
do que com DCD . O efeito do inibidor de nidifica çã o se manifesta tanto por inibir a
oxida çã o da NH4 + a N02 , um processo que gera N20 em condições aeróbias, quanto por
’
sítios anaer óbios em solos bem drenados. No entanto, é pouco prov á vel que a reduçã o
da emissã o de NzO venha a promover o uso de inibidores de nitrifica çã o por parte de
agricultores em decorr ê ncia do custo adicional do fertilizante tratado com esses
produtos .
Alguns produtos naturais têm sido utilizados com o objetivo de retardar a nitrificação
de fertilizantes com N amoniacal . Recentemente, Patra et al. ( 2002) e Kiran & Patra
( 2002 ) observaram que óleo desmentolado de menta ( Mentha spicata ) e óleo de neem
( Azadirachta indica ) adicionados à ur éia provocaram a reduçã o da nitrifica çã o em ensaio
de campo com trigo e com menta japonesa ( Mentha arvensis ) de modo similar ou superior
ao observado com uréia tratada com DCD.
Embora esteja bem documentado na literatura que os inibidores de nitrificaçã o
conseguem manter o N na forma amoniacal por até quatro a seis semanas, reduzindo as
chances de perdas por lixivia çã o, muitos experimentos mostram que nem sempre esse
efeito se. traduz em ganhos de produtividade (Trenkel, 1997; Weiske et al ., 2001; Frye,
2005) . Aumentos de rendimento ocorrem apenas quando as condições ambientais nã o
levam a perdas de N por lixivia çã o ou desnitrifica çã o e a falta desse N resulte em
deficiência nutricional para a cultura . Isso, porém, pode nã o acontecer em condições de
mé dia ou baixa resposta ao nutriente ou em situa ções nas quais as doses aplicadas sã o
maiores do que as necessá rias ( Frye, 2005) .
A ausência de efeitos consistentes sobre a produtividade e o custo dos inibidores
sã o responsá veis pela utiliza çã o relativamente pequena desses produtos.
Há muitos anos, existe o interesse pelo uso de inibidores de urease para reduzir a
taxa ou velocidade de hidr ólise da uréia e, assim, reduzir as perdas de N por volatilização.
Informa ções sobre os primeiros produtos desenvolvidos para esse fim foram revisadas
por Radel et al. (1988) e, mais recentemente, por Watson ( 2000), incluindo a literatura
sobre o NBPT ( tiofosfato de N-n-butiltriamida ou N-n-butiltriamida do ácido tiofosf órico),
aparentemente o mais promissor composto desenvolvido até o momento.
Centenas de compostos, orgâ nicos e inorgâ nicos, têm sido testados como inibidores
de urease. Tabatabai (1977) observou que muitas metais inibiam a atividade da urease,
dentre eles Ag, Hg, Cd, Zn e Sn. Porém, esses produtos sã o relativamente pouco eficientes
e muitos desses metais tê m efeitos nocivos sobre o ambiente, de modo que sua adiçã o aos
fertilizantes dificilmente pode ser justificac .a, exceto os metais que sã o tamb é m
micronutrientes de plantas. O tiosulfato de am ónio també m foi testado como inibidor,
mas, apesar de relativamente barato, apresenta baixa taxa de inibiçã o e exige altas doses
(até 10 % do volume) para funcionar, o que limita seu valor para tal (Goos & Fairlie,
1988) .
Os produtos mais efetivos t ê m sido os an á logos de ur é ia , tais como os
fosforodiamidatos e fosforotriamidatos, que :ê m mostrado forte açã o inibidora em
concentra ções muito baixas; entre os produtos dessa família, os que apresentaram
FERTILIDADE DO SOLO
430 HEITOR CANTARELLA
Depois de aplicado ao solo junto com a uréia, o NBPT inibe a hidrólise da uréia por
um per íodo de três a 14 dias, dependendo das condições de umidade e temperatura do
solo. Testes realizados no Brasil indicam que, para a maioria das situações, o período de
intensa inibiçã o varia de três a sete c ias, após o que o NBPT perde gradativamente o
efeito (Cantarella et al., 2005) . A ocorrência de chuvas suficientes para incorporar a
uréia ao solo em um intervalo de tr ê s a sete dias ap ós a aduba çã o é a condiçã o que
mais favorece a eficiência do NBPT em reduzir as perdas por volatiliza çã o de NH3.
Alternativamente, a incorpora çã o pode ser feita por irriga çã o ou por meio mecâ nico.
Por é m, mesmo na ausência de chuvas, alguma redu çã o na volatiliza çã o tem sido
observada . O período de má xima volatilizaçã o de NH3 após a aplicaçã o da uréia ocorre
em curto espa ço de tempo (dois a três dias, no ver ã o ú mido ) e o pico de volatiliza çã o é
mais intenso do que o que acontece com a uréia tratada com o inibidor . Neste último
caso, a hidr ólise é mais lenta, favorecendo a difusã o do fertilizante para o interior do
solo e as rea ções com o solo da NH:, produzida . Alé m disso, a eleva çã o do pH ao
redor do gr â nulo de fertilizante n ã o é t ã o r á pida por causa da hidr ólise mais lenta .
Poré m, em períodos secos, a ausência de um processo de incorporaçã o do fertilizante ao
solo depois que o efeito inibidor arrefece faz com que diminua a eficiência do NBPT para
controlar as perdas de NH3 e, consequentemente, aumentar o aproveitamento do N
aplicado pelas culturas.
FERTI .I D A D E DO SOLO
VII - NITROG é NIO 431
Diversos estudos têm mostrado que o NBPT permite reduzir as perdas de N por
volatiliza çã o de NH 3, aumentar o rendimento das culturas e reduzir os danos causados
a plâ ntulas pelo excesso de NH3 no sulco de semeadura (Grant & Bailey, 1999; Karamanos
et al., 2004) . O NBPT foi eficiente para aumentar a produção de matéria seca de forrageiras
de clima temperado, aumentar a recuperaçã o de 15 N da ureia pelas plantas e diminuir a
taxa de volatilizaçã o de amónia (Watson et al., 1994b ) mas, naquelas condições climá ticas,
as perdas de N por volatiliza çã o de NH 3 da ureia aplicada sem NBPT foram de 5,5 a
20,8 % do N aplicado. Bayrakli & Gezgin (1996) obtiveram redu çã o de perdas de NH3 de
44,5 % utilizando uréia tratada com NBPT, com consequente aumento na produçã o de
raiz e de a çúcar de beterraba . No Brasil, Cantarella et al. ( 2005) estimaram que a adiçã o
de NBPT à ur éia aplicada na superf ície dos solos, em dez ensaios em condições de
campo, permitiu reduzir as perdas de NH3 entr e 50 e 60 % em rela çã o às perdas da uréia
nã o tratada; poré m, em estudos com cana -de- a çúcar, em que a aduba çã o foi feita no
período seco do ano ( junho a outubro), a reduç ã o da volatiliza çã o de NH3 foi de apenas
30 %.
Outros autores também observaram aumento da eficiência fertilizante, tanto da uréia
como do uran tratados com NBPT (Fox & Piekielek, 1993; Grant et al., 1996), inclusive em
sistemas plantio direto com palha na superf ície (Malhi et al., 2001) . Vá rios estudos
indicam que o uso de uréia tratada com NBPT pode resultar em aumentos no rendimento
de grãos em decorrência da reduçã o de perdas de N por volatilização de NH3. Na rede de
centenas de ensaios realizados nos Estados Unidos, conforme dados tabulados por
Trenkel (1997), o uso de NBPT resultou em aumentos médios no rendimento de grãos de
milho de cerca de 7 a 12 %, quando o inibidor foi aplicado ao uran e à ur é ia ,
respectivamente (Quadro 11).
Os estudos desenvolvidos no Brasil e no exterior mostram que o inibidor de urease
nã o é capaz de controlar completamente as perdas de NH3 que acontecem quando a
uréia é aplicada na superf ície de solos, tendo em vista que sua açã o depende de condições
ambientais e das características f ísico-químicas do solo (Radel et al., 1988; Watson et al.,
1994a; Antisari et al., 1996; Murphy & Ferguson, 1997) . No entanto, o inibidor pode
retardar a hidrólise da uréia e reduzir significativamente as perdas de NH3, dependendo
das condições climá ticas, nem sempre previsíveis.
Quadro 11. Resposta do milho ao inibidor de ure ase NBPT adicionado a ur éia e a uran nos
EUA. Médias de 11 anos de estudo
Produ çã o de graos
Fonte de N N ú mero de ensaios
Com NBPT Sem NBPT Acréscimo pelo uso de NBPT
t ha
FERTILIDADE Do SOLO
432 HE TOR CANTARELLA
É pouco provável que a uréia venha a ser substituída por outro fertilizante em curto
prazo, se é que o será no futuro. Assim, os inibidores de urease, embora venham
apresentando eficiência apenas relativa para reduzir o principal problema associado ao
emprego da ur éia, representam alternativa que nã o pode ser desconsiderada .
fra ções do N orgâ nico do solo por di versos procedimentos químicos ou biológicos
(incuba ções em condições aeróbias ou anaer óbias que resultam na produçã o de N
inorgâ nico por mineralizaçã o do N org â nico ).
O assunto tem sido objeto de extensas e frequentes revisões de literatura (Bremner,
1965; Dahnke & Vasey, 1973; Stanford , 1982; Keeney, 1982; Meisinger, 1984; Bundy &
Meisinger, 1994) que apontam mé todos promissores em determinadas situações, mas
que nã o conseguem ampla aceita çã o e adoçã o em laboratórios de rotina em virtude da
pequena correla çã o com a disponibilidade de N em condi ções de campo.
Os métodos relativos à determinaçã o das formas inorgâ nicas têm seu emprego restrito
em regiões ou per íodos de alta pluviosidad é por causa da mobilidade do NO/ no solo.
As concentra ções de N inorgâ nico podem alterar -se rapidamente com as chuvas,
comprometendo a utilidade do mé todo para prever a disponibilidade de N para as
culturas.
Os mé todos químicos ou biológicos têm o desafio de detectar, em um material
heterogéneo e quimicamente complexc como o solo, fra ções passíveis de mineraliza çã o
em curto prazo. Esses métodos avaliam "índices de disponibilidade de N". O fato de ser
a mineraliza çã o do N orgâ nico do solo realizada por microrganismos, sujeitos à
interferência de fatores climá ticos ( umidade, temperatura ) dif íceis de prever, é um aspecto
complicador para tais mé todos.
Métodos químicos que envolvem o ataque da MOS com ácidos, bases ou agentes
oxidantes fortes e que extraem porções grandes do N orgâ nico do solo há muito são
considerados insatisfatórios (Bremner, 1965; Keeney, 1982). Porém, v á rios mé todos que
envolvem extratores fracos, tais como: solu çõ es de KC1 2 mol L 1 a quente, tampã o
fosfato- borato a pH 11,2 (Gianello & BremnerJ 1986, 1988), e incuba ções em condições
anaer ó bias ( Waring & Bremner , 1964 ) , sã o considerados bons preditores de N
mineralizá vel no solo e continuam a ser apresen :ados em textos sobre mé todos de aná lise
de solo como promissores ( Bundy & Meisinger , 1994) . No Brasil, Cantarella et al. (1994)
obtiveram boas correla ções entre o N extra ído de v á rios solos por diferentes versões do
procedimento com soluçã o de KC1 a quente e o N absorvido por plantas de milho em
estudos em casa de vegeta çã o; poré m, em testes posteriores, em condições de campo, os
mé todos nã o mostraram resultados satisfató rios (dados nã o publicados ) . Mé todos
r á pidos, como os de Gianello & Bremner (1986 ) , tamb é m nã o apresentaram boas
correla ções com o N absorvido por plantas no trabalho de Curtin et al. ( 2006) .
A tend ência é que tais mé todos químicos sejam considerados ú teis para a obtençã o
de um indicador relativo e rá pido da disponibilidade de N entre solos submetidos a
diferentes manejos, mas nã o parecem adequados como preditores da disponibilidade de
N para fins de recomenda çã o de aduba ção, visto que esses índices químicos geralmente
nã o se correlacionam bem com a disponibilidade; medida em condições de campo (Bundy
& Meisinger, 1994) .
Tentativas de encontrar um mé todo de ar .álise de solo para prever a resposta de
culturas a N com base em extra ções de frações o rgâ nicas continuam a ocorrer, a despeito
dos resultados inconclusivos ou pouco alentadores obtidos até o momento e da baixíssima
adoçã o dos mé todos por laboratórios de rotina . São exemplos recentes os procedimentos
desenvolvidos por Mulvaney & Khan ( 2001), Mulvaney et al. (2001, 2006), Martens et al.
(2006), Klapmik & Ketterings (2006) e Maysson et al. ( 2006).
O mé todo de análise de N que mede a çúcar 2S aminados no solo (Mulvaney & Khan,
2001; Khan et al., 2001), conhecido como teste de Illinois, chamou a atençã o recentemente,
porque os autores, com base em in úmeros ensaios de campo, atestaram que o mé todo
permitia separar locais não-responsivos à aplicai; ã o de N. No entanto, resultados recentes
mostraram correla ções muito pobres com a resposta do milho ao N, produção relativa ou
dose econó mica de N em estudo de calibraçã c feito em campo com 43 solos de Iowa
( Barker et al., 2006), regiã o próxima de onde o mé todo foi inicialmente desenvolvido. O
teste de Illinois també m nã o se mostrou adequado no estudo realizado com 33 solos em
Nova Iorque (Klapmik & Ketterings, 2006 ). Todavia, a polêmica parece continuar;
Mulvaney et al. (2005) insistem em afirmar que o teste de Illinois é o mais poderoso
preditor de erro na recomenda çã o de N, segundo estudos realizados em 102 locais
responsivos a N.
Durante muitos anos, poucos laborat ó rios no mundo ofereciam índices de
disponibilidade de N baseados em aná lise de solo . As exceções eram as análises de
nitrato em alguns países da Europa e em regiões semi-á ridas, nos quais o pequeno volume
de chuvas nã o era suficiente para arrastar o N oara fora da zona radicular (Meisinger,
1984). Tais testes sã o recomendados rotineiramente nos EUA em Estados como Montana
e Dakota do Norte. Nesses casos, o N- N03 é medido em amostras coletadas até 0,9 ou
"
1,2 m, para culturas com sistema radicular profundo, tais como: trigo e beterraba
açúcareira, ou até 60 cm, para outras culturas (] ones & Jacobsen, 2005; Gerwing, 2005).
O conteúdo de N-N03 na camada amostrada é expresso em quantidade de N por unidade de
"
FERTILIDADE Dó SOLO
434 HEITOR CANTARELLA
á rea (kg ha 1) e é subtra ído da dose de N recomendada para a cultura, ou seja, todo o N03
" '
no solo é considerado prontamente d isponível, uma vez que perdas por lixivia çã o sã o
pouco prová veis em tais condições clim á ticas. Fatores de correção para o conteúdo de
’
N03 do solo de modo a levar em conta taxas de aproveitamento ou profundidade do solo
podem ser adicionados ao cá lculo da aduba çã o ( Bundy & Meisinger, 1994; Gerwing,
2005; Jones & Jacobsen, 2005).
Recentemente, legisla ções que regulamentam e limitam as concentra ções de N03 "
nas á guas subterrâ neas em v á rios pa íses deram novo impulso às pesquisas para o
estabelecimento de mé todos de aná lise para orientar a aduba çã o nitrogenada . Assim,
~
testes referentes à aná lise de N03 têrr sido adotados nos EUA, mesmo em regiões com
chuvas abundantes na primavera -ver ão. As amostras podem ser coletadas até 60 cm de
profundidade, na primavera , antes da semeadura das culturas anuais, como no
procedimento adotado em Minnesota ( Bundy et al., 1995; Klapmik & Ketterings, 2005) .
Nesse caso, considera-se que o N residual é ú til em solos de textura argilosa ou média e,
principalmente, em anos com chuvas abaixo da m é dia da regiã o no ano anterior e no
per íodo de inverno ( Bundy et al., 1995 ).
Uma variante do mé todo do N03 que tem sido recomendada na região produtora de
milho nos EUA é o teste do N03 pré-cobertura . O teor de N mineral é determinado na
"
na camada de 0-30 cm, tê m sido sugeridos (Magdof et al., 1984; Fox et al., 1989; Sims et
al., 1995). Os resultados de tais testes tê m sido empregados em recomendações de
aduba çã o para o milho em regiões ú midas nos Estados Unidos ( Beegle et al., 1994;
Blackmer et al., 1989, 1997), mas sua adoçã o por parte dos agricultores nã o é extensa .
Aparentemente, o teste é ú til em á reas tratadas com adubos orgâ nicos, que tendem a
apresentar altos teores de N- N03 no solo. Nesses casos, a preocupaçã o maior é evitar a
"
contamina çã o do lençol freá tico com N03 , aspecto que tem recebido atençã o em v á rios
’
pa íses.
Testes de determinação de NO/ err . amostras de solo requerem processamento rá pido
da amostra para evitar altera ções deco rrentes de rea ções de mineralizaçã o e nitrificaçã o
que podem ocorrer em amostras armazenadas por longos períodos. Mattos Jr . et al.
(1995) recomendaram congelar as amostras a -15 °C para preservá -las por longo tempo.
O armazenamento em geladeira a 5 °C provocou altera ções significativas nos teores das
amostras. Na ausência de congelador, a melhor alternativa é secar imediatamente as
amostras ao ar. Esse procedimento é e iciente para preservar o N-NOs (Mattos Jr . et al.,
1995), a espécie química mais importa ate nesse tipo de aná lise.
O uso do teor de MOS ou, indiretamente, do teor de N total do solo para a
recomendaçã o de adubação nitrogenac a pressupõe a libera çã o ou mineralizaçã o de uma
percentagem mais ou menos constant s do N do solo para as culturas. Esse é um fator
limitante para a adoçã o desse procedi ] nento, visto que os fatores climá ticos e o manejo
do solo afetam a mineraliza çã o do N orgâ nico no solo.
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 435
FERTILIDADE DO SOLO
436 HEITOR CANTARELLA
maturidade fisiológica, tem sido proposta para detectar á reas onde o N foi aplicado além
da dose ó tima para atingir o máximo rendimento de grã os (Sims et al., 1995; Varvel et al.,
1997b ) . Esse mé todo, porém, nã o pode ser utilizado para a recomenda çã o de N, mas,
sim, para corrigir procedimentos para a próxima safra .
(3)
N-Sensor. Yara International. Research Center, Hanninjjhof , Alemanha .
FERTILIDADE DO SOLO
438 EITOR CANTARELLA
Quadro 12 . Conte údo de nitrogénio absorvido e removido pela colheita de algumas culturas
de interesse no Brasil
Conte ú d o 0 * d e N
Faixa de N extra í do N removido
Cultura
Removido produtividade pela planta pela colheita
Planta inteira
pela colheita
kg t - i t ha - í kg ha
Arroz 22 12 2- 8 44 -176 24-96
Milho 28 17 3-12 84-336 50-200
Trigo 29 20 2-6 58-174 40-120
Girassol 37 19 1.5 -3,0 56-110 29-57
Amendoim 87 38 1.5-3,0 130- 260 57-114
Feij ã o 86 35 1 , 0 - 4,0 86 -344 35-140
Soja 90 60 2, 0 - 4,0 160 -360 120-240
-
Cana de- a çú car 14 / 09 / 80 - 200 112- 280 72-180
Caf é 34 1- 4 34-136
Banana 21 / 20 -60 42-126
Laranja 24 / 20-60 48-144
Ma çã 0, 7 15-30 10 - 21
Uva It á lia 2, 2 20-35 44 -77
(1 )
Conte ú dos médios, expressos com base na ma ssa do produto colhido. Os valores podem variar de acordo com
o cultivar, manejo, tipo de solo e produ çã o.
Fonte : Raij et al. (1997); IFA (1992 ).
especialmente nas leguminosas. Por outro lado, as frutas podem necessitar de altas
quantidades de N para sustentar o crescimento das plantas, mas exportam relativamente
pouco N com a colheita; o produto colhido, embora volumoso e de grande massa,
geralmente tem baixo teor de proteínas.
As aduba ções nitrogenadas devem levar em conta as necessidades das plantas e,
em especial, as quantidades de N removidas do campo com as colheitas. As leguminosas
são casos especiais pelo fato de a fixa çã o biológica de N 2 fornecer parte do N requerido
pelas plantas ou, no caso da soja cultivada no Brasil, praticamente todo o N (Hungria et
al., 2006) .
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê MO 439
FERTILIDADE DQ SOLO
440 HE: TOR CANTARELLA
que os contê m nã o podem ser formadcis. Assim, plantas insuficientemente supridas com
S nã o conseguem assimilar o N em proteínas e o N se acumula na forma de aminas,
amidas e aminoá cidos sol ú veis ( Epstein & Bloom, 2005), como observaram Vale et al.
(1993) com plantas de milho adubadas com N, mas nã o com S. De modo geral, a rela çã o
entre N e S em plantas varia de 8 a 12 para 1.
A absor çã o de N pode afetar a absor çã o de outros nutrientes també m por efeito da
alteraçã o do pH na regiã o da rizosfera . Quando o N é absorvido na forma de N03 , ocorre
‘
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG é NIO 441
kg ha 1'
%
Milho 36 02 63
Arroz 307 13 44
Trigo 507 117 54
Total de ensaios 850 51
Fonte : Dados compilados por Dobermann ( 2005 ). Eficiê ncia de recupera çã o = N do fertilizante recuperado da
maté ria seca da parte a é rea .
FERTILIDADE DQ SOLO
442 HEITOR CANTARELLA
% do N aplicado
33 27 60 15 55 70 v á rias Compilado por Seo et al . ( 2006 )
44-53 8-18 milho Silva et al. ( 2006 b , c )
16 11 cana Ambrosano et al . ( 2005 )
15-30 60-80 80 -90 milho Ambrosano (1995 )
forma como ocorre com os fertilizantes, a libera çã o desse N para os pr óximos ciclos de
cultura passa a ser lenta . O efeito residual do N das plantas de cobertura (Silva et al.,
2006a ) ou do adubo verde incorporado ao solo (Seo et al., 2006) no segundo ano, medido
pela absor çã o pelo milho cultivado na á rea, foi de apenas 3,5 % do N contido inicialmente
no material .
A recupera çã o em curto prazo do N dos f értil izantes pode ser melhorada pelo uso de
fertilizantes sujeitos a menores perdas ou com libera çã o sincronizada com o
desenvolvimento das culturas. Outras medidas ihcluem melhor manejo como aplica çã o
do fertilizante na é poca em que as plantas possam aproveit á -lo, incorpora çã o de
fertilizantes sujeitos a perdas por volatiliza çã o de NH3, controle de irriga çã o e de plantas
invasoras, dentre outras. Os dados apresentados, por é m, mostram que a MOS e, por
extensã o, a microbiota do solo desempenham papel importante em intermediar os
processos envolvendo o fornecimento de N às plantas. Portanto, especialmente no caso
desse nutriente, o solo n ã o pode e n ã o deve ser considerado apenas por suas
caracter ísticas f ísicas e químicas.
Uma das importantes mudanças nas tabelas de aduba çã o para N no Brasil nos
últimos 10 ou 15 anos foi a adoçã o do ajuste de doses pelo rendimento esperado. Isso
permitiu recomenda ções de aduba çã'o adaptadas aos diferentes ambientes de produçã o
e níveis tecnológicos, abrindo espa ço para a eleva çã o das produtividades. O aumento
nas atividades de pesquisa em fertilidade do solo em todo o País também vem colaborando
para o aperfeiçoamento dos critérios para recomendações e usos de fertilizantes e calcários.
Os quadros 15 e 16 apresentam as recomendações resumidas de N para a cultura do
milho, ilustrando os v á rios critérios adotados. Na recomenda çã o do quadro 15, as doses
de N variam com o patamar de produtividade esperada e com a classe de resposta a N. O
ajuste pela produtividade esperada reflete o fato de que cada tonelada de milho produzido
exportará cerca de 15 a 20 kg de N, alé m do N necessá rio para a parte vegetativa da
planta . A classe de resposta a N é uma representaçã o do histórico da gleba e do ambiente
FERTILIDADE DO SOLO
444 HEITOR CANTARELLA
de produçã o . Em muitas situa ções, bode haver dificuldade para alocar uma classe a
uma situa çã o de manejo. Cabe ao técrico escolher a melhor opçã o, uma vez que as doses
indicadas nas tabelas de recomenda çã o devem ser vistas como orienta çã o, uma vez que
há grande variabilidade nas respostas ao N .
O quadro 16 apresenta apenas parte da tabela publicada por Amado et al. (2002 ),
para uma faixa de rendimento esperado. Essa recomendaçã o é específica para o sistema
plantio direto e leva em conta o teor de MOS e a planta de cobertura, bem como o rendimento
de matéria seca . Há também indica çã o para um crédito de N quando o milho for plantado
após o cultivo de soja .
Nessas, como em qualquer tabela de recomenda çã o, adapta ções a situa ções
específicas podem e devem ser feitas.
A tabela de recomenda çã o de N para caf é (Quadro 17) ilustra o caso de uma cultura
altamente exigente em N e na qual as doses sã o ajustadas pela produtividade esperada
e pelo teor foliar, que integra o estado nutricional da planta, refletindo indiretamente a
disponibilidade de N do solo e o dreno provocado pela produçã o pendente dos frutos.
O quadro 18 apresenta a mais recente recomenda çã o de aduba çã o nitrogenada para
laranja (Quaggio et al ., 2005), reajustada com base em in ú meros trabalhos de campo
realizados nos últimos 15 anos. Os critérios usados incluem a produtividade esperada
e o teor de N foliar. O quadro apresenta o critério adicional da finalidade de uso da fruta
produzida. Mais da metade das frutas produzidas no Brasil são para o mercado de sucos
industrializados, que valorizam sólidos sol úveis e outras propriedades do suco, mas
nã o o tamanho e aspecto externo da fruta . Altas doses de N geralmente resultam em
elevadas produtividades, mas com frutos de tamanho reduzido. Essa é uma característica
que nã o interessa ao produtor que vende sua produçã o para o mercado de frutas frescas.
Classe de resposta a N ( |
]
Rendimento esperado
Alta M é dia Baixa
t ha kg ha 1 de N
'
4-6 60 40 20
6-8 90 60 40
8 -10 120 90 50
10-12 140 110 70
, Probabilidade de resposta a N. As doses sã o em adiçã o às da aduba çã o de semeadura .
( )
Alta: solos corrigidos, cultivo intensivo de gram íneas ou milho cont ínuo; primeiros anos de plantio direto; solos
arenosos sujeitos a altas perdas por lixiviaçã o.
Média: solos á cidos que serã o calcariados antes do cultivo do milho; sucessã o com leguminosas; solos em pousio
por dois anos; uso moderado de adubos orgâ nicos.
Baixa: solos em pousio por longo tempo; cultivo após pastagens (exceto solos arenosos);, cultivo intensivo de
leguminosas ou adubo verde; quantidades elevadas de adubos orgâ nicos.
Fonte: Raij & Cantarella (1997).
FERTILIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê N o 445
cobertura antecedente
< 25 25 a 50 > 50
1
t ha kg ha '
de N
i Leguminosas
< 2 120 90 70
2a 3 100 60 40
> 3 90 50 30
Grani í ncas
< 2 160 100 70
2a 4 160 110 80
> 4 170 130 90
(1 )
Milho em rota çã o anual com soja no ver ã o: reduzir 20 % da ::ecomenda ç ao de N
Fonte : Amado et al. ( 2002 ) .
Teor foliar de N ( g kg 1 )
'
Produtividade esperada (1 )
< 26 26 30- > 30
í 1
t ha kg ha de N
'
0 , 6 -1 , 2 180 120 70
1,2- 1 , 8 210 140 90
1,8 -2 , 4 240 160 110
2, 4 -3, 6 300 200 140
3, 6-4,8 360 250 170
> 4,8 450 300 200
FERTILIDADE DO SOLO
í
:
446 HEITOR CANTARELLA
Quadro 18 . Recomenda çã o de aduba çao nitrogenada para laranjas de acordo com a produçã o
esperada, teor de nitrogénio foliar e finalidade de uso da fruta (1)
t ha kg ha 1 d e N
'
16 - 20 120 70 100 60
21-30 140 9Q 120 80
31-40 200 130 160 100
41-50 220 160 180 120
> 50 240 180
respostas devem -se estabilizar em 30 a 40 anos (Thorburn et al., 2002) . Por outro lado,
Meier et al . (2002) prev êem que ser á possível reduzir a adubaçã o nitrogenada em até
40 kg ha 1 de N em locais há muitos anos com cana sem despalha a fogo. Porém, na
'
Austrália, local onde as pesquisas c: tadas foram realizadas, as doses de N médias são de
160 kg ha 1 ao passo que, no Brasil, sã o de 100 kg ha 1. Teoricamente, faz sentido aumentar
" '
as doses de N em cana com muita palha na superf ície para compensar parte do N gasto
para a decomposiçã o do resíduo com rela çã o C / N em torno de 100; porém o assunto
ainda precisa ser mais bem investigado.
Também no sistema plantio direto, resíduos culturais com elevada relação C / N
podem reduzir substancialmente as quantidades de N disponíveis no solo para a cultura
em sucessã o e, por isso, durante os primeiros quatro a cinco anos de adoção do sistema,
a dose de N deve ser da ordem de 20 a 30 % superior à comumente recomendada para a
cultura (Bayer, 1983; Lopes et al., 2004). Tal prá tica visa suprir adequadamente a cultura
FERtriLIDADE DO SOLO
VII - NITROG ê N 447
com N, sem que a fra çã o imobilizada para decomp osiçã o da cobertura vegetal prejudique
o rendimento da cultura em sucessã o . Alé m diss o, a presença de palha pode aumentar
as chances de perdas de N por lixivia çã o e desnitr ificação em decorrência do aumento de
umidade do solo.
Verifica -se que, ap ós o quarto ano de plantio direto, é iniciado o estabelecimento do
equilíbrio das transforma ções que ocorrem com o N no solo e, após nove a doze anos, há
maior disponibiliza çã o de N, com menor resposta à aduba çã o nitrogenada e, portanto,
com a possibilidade de redu çã o das doses desse nutriente (Sá , 1995) . De fato, após
10 anos de plantio direto, Teixeira et al . (1994) observaram que a magnitude das respostas
à aduba çã o nitrogenada diminuiu, apesar dos alt as rendimentos obtidos. O mesmo tem
sido observado no Estado do Paraná, onde o ac ú mulo de MOS em sistema plantio direto
estabilizado em regiões com condi ções climá ticas favor á veis tem permitido a obtençã o
de altas produtividades de milho com a aplica çã 3 de quantidades relativamente baixas
de N ( Fontoura et al ., 1998). Esses autores verifi:aram que, em Guarapuava (PR ), após
consórcio de nabo forrageiro e ervilhaca como pré-cultura, o milho produziu 11 t ha 1 '
após uma leguminosa, foram observados por Teixeira et al. (1994), Aita et al. (1994), Ros
& Aita (1996) e Amado et al. ( 2000 ), o que permite estimar a contribuiçã o aparente das
leguminosas usadas ( ervilhaca , ervilha forrage ira, tremoço) em 30 a 60 kg ha 1 de N,
'
e 38 kg ha 1 para a ervilhaca cultivada juntamente com a aveia preta . Dados obtidos por
"
Silva et al. (2006b ), utilizando coberturas de crotalá ria e de milheto marcadas com 15N em
plantio direto, permitem inferir que a contribuiçã o do N das culturas de cobertura para o
milho cultivado na sequência variou de 56 a 73 kg ha 1 de N, embora o efeito das culturas
'
FERTILIDADE DO SOLO
448 HEITOR CANTARELLA
além de haver riscos de fitotoxidez, como observou Sá (1995), com a aplicação de 60 kg ha 1'
deN.
Muitos agricultores estã o ante ripando a aduba çã o nitrogenada de cobertura em
grã os, especialmente no milho, para otimizar a utiliza çã o de m á quinas na propriedade.
Esse manejo teve origem nos trabalnos de Sá (1996), que aplicou o adubo nitrogenado
destinado ao milho por ocasiã o da semeadura ou da rolagem da aveia, que antecedia o
milho no sistema de cultivo, e obteve resultados satisfat ó rios. Porém, as á reas onde essas
pesquisas foram feitas estão em plantio direto há muitos anos e, geralmente, apresentam
alta produçã o mesmo nas parcelas sem N, indicando que o solo tem bom estoque do
nutriente sendo reciclado. O princip al argumento para o sucesso desse manejo é que o N
aplicado antecipadamente à cultura de cobertura pode ser imobilizado momentaneamente
pela MO, em especial pelos resíduos com alta rela çã o C / N, e se tornar disponível para a
cultura do milho posteriormente, visto que os fatores que favorecem a mineralizaçã o do
N retido na fra ção orgâ nica - alta tem peratura e umidade - são os mesmos que promovem
o crescimento do milho.
Este procedimento, no entanto, tem seus riscos. Vá rios relatos na literatura mostram
que, em anos com precipitaçã o pluvial alta no início do ciclo do milho, a antecipa çã o do
N pode trazer redu ções de rendimento ( Basso & Ceretta; 2000; Põttker & Wiethõlter,
2000; Bertolini et al., 2001; CantareLa et al., 2003a ) . A antecipaçã o da aplicaçã o do N
pode ser também uma prá tica pouco segura em solos arenosos, mais sujeitos a perdas
por lixivia çã o. Além disso, parece arriscado contar com imobiliza çã o do N na fraçã o
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - F Ó SFORO
1/
Departamento de Solos, Universidade Federal de Viçosa - UFV. Av . PH Rolfs, s / n,
CEP 36570 - 000 Vi ç osa ( MG ) .
rfnovais@ ufv . br; flancernovais@ yahoo.com . br
2/
College of Agriculture and Life Sciences Campus Box 76 - Depart of Soil Science
27695- 7619 - Raileigh, North Carolina - USA .
_
jot smyth @ ncsu . edu
Conte ú do
INTRODU ÇÃ O 472
FORMAS DE FÓSFORO NA RELAÇÃ O SOLO-PLANTA 475
FATORES INTENSIDADE, QUANTIDADE E CAPACIDADE 478
Fator Intensidade 479
Fator Quantidade 480
Fósforo Isotopicamente Trocá vel 480
Valor E 481
Valor L 482
Fator Capacidade 482
ADSORÇÃO DE FÓSFORO NO SOLO 485
Adsorçã o 486
Adsorção por Oxidróxidos de Ferro e de Alumíno 486
Adsorção por Aluminossilicatos 488
Adsorçã o por Maté ria Orgâ nica 488
Precipitação de Fósforo nos Solos 489
Isotermas de Adsorçã o 491
Isoterma de Langmuir 492
Isoterma de Freundlich 493
Ajuste de Isotermas de Adsorçã o 493
Ciné tica de Adsorção de Fósforo no Solo 496
TRANSFORMA ÇÃO DE FÓSFORO L Á BIL EM NÃO-LÁBIL ... 497
Formação do Fósforo Não-Lábil 498
Reversibilidade do Fósforo Não-Lá bil 500
SBCS, Vi çosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V., V.H., BARROS,
N.F., FONTES, RXF., CANTARUTTI, R .B. & NEVES, J .C .L. ).
472 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
INTRODU ÇÃ O
O conceito de rela ção fonte-dreno, largamente utilizado em Fisiologia Vegetal, trouxe
a compreensã o da existência de compartimentos que atuam como fonte de carboidrato
(as folhas, por exemplo) para outros compartimentos que o acumulam ( raízes, frutos em
crescimento, etc.), de forma preferencial.
A planta, como dreno, tem o solo como sua fonte principal de nutrientes minerais.
No caso frequente da deficiê ncia de nutrientes, a produtividade de uma planta é
viabilizada pela fertiliza ção do solo, isto é, pelo aumento da fonte de nutrientes para
satisfazer o dreno-planta. Há, portanto, na manutenção da produtividade de uma cultura
(de seu dreno), necessidade de manuten çã o do suprimento ( de sua fonte) de nutrientes
em quantidades adequadas para a planta . Assim, pode-se utilizar, também em Fertilidade
do Solo, a rela çã o fonte-dreno entre os compartimentos solo e planta.
O solo poderá ser naturalmente fonte de nutrientes, f é rtil, ou tornar -se fonte, com
maior ou menor restrição ( tamponamento ) a essa mudança, por meio da adiçã o de
fertilizantes .
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 473
O solo poder á ser fonte de P quando ainda apresentar caracter ísticas nutricionais
( reservas) favorá veis à planta, mesmo que insatisfató rias. O que se adiciona como
fertilizantes irá somar-se, sem maiores restrições, às reservas já existentes no solo. No
caso do solo-dreno, haver á competiçã o entre a planta (dreno) e o solo pelo P adicionado
como fertilizante. Solo e planta, como drenos, estarão competindo entre si pelo fertilizante
aplicado, e, em muitos dos casos, o dreno-solo é maior que o dreno-planta .
Com o aumento do grau de intemperismo, h á uma mudan ç a gradual de
caracter ísticas de um solo, no sentido de torn á -lo menos eletronegativo e, como
i-
consequência, mais eletropositivo (Quadro 1), com mudanças, direta ou indiretamente,
ligadas a esse perfil de carga . Sua capacidade de troca catiônica (CTCefetiva ) cai, a adsorção
aniônica aumenta, diminui a satura çã o por bases, enquanto aumenta, gradualmente, a
retençã o de â nions, como o fosfato, o sulfato, o molibdato, etc.
Com o intemperismo, os solos passam gradualmente de fonte para dreno de P
(Figura 1). Em condições extremas de intemperismo, como acontece em alguns Latossolos
de cerrado, o solo é um forte dreno de P. Para torná -lo fonte, sã o necessá rias grandes
quantidades de fertilizante fosfatado. Solos como esses podem adsorver mais de 2 mg cm-3
de P (Ker, 1995), valor que equivale a 4.000 kg ha 1 de P (9.200 kg ha 1 de P205), incorporado
' '
fixar 200 vezes mais em formas "nã o- trocá veis", adequadamente denominadas nã o-
lábeis. Como, nesses solos, o já elevado intemperismo continua, o cará ter-dreno-P deverá
também continuar aumentando, com o tempo.
Se se pensar numa floresta tropical, com 54,5 kg ha 1 de P imobilizados em sua '
biomassa, com valores de ciclagem da ordem de 17 kg ha 1 ano 1, via serapilheira e ' '
transprecipitaçã o (Clevelario Jr., 1996), sobre um solo com poder de fixar 4.000 kg ha 1 de '
P, torna -se dif ícil explicar como esse equilíbrio se mantém . A floresta, dreno pequeno,
Carga
Profundidade Argila Silte PH ( HzO ) Ca 2 + C T Cefetiva
Negativa Positiva
cm —g k g’ — cmolc kg-
1
Latossolo
15 - 30 820 90 45
/ 0 , 60 2, 24 0 , 77 1, 55
30 - 45 840 80 4,5 0 , 38 1 , 65 0 , 82 1 , 82
45 -60 920 10 4 ,4 0 , 34 1,56 0 ,43 2,12
Entisol
15 -30 180 600 6 ,1 7 ,56 9 , 36 11, 24 0 , 25
30 - 45 160 560 6,0 7 , 74 9 , 81 12, 59 0 , 24
45 -60 130 530 5 ,8 7, 36 9, 35 11 , 54 0, 28
FERTILIDADE DO SOLO
474 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
contrasta com o solo, dreno muito grande (73,4 vezes maior que o primeiro ). O que se
esperaria é uma perda gradual de P da biomassa para o solo. Nã o deve haver, na verdade,
equilíbrio entre planta, ou entre o P ciciado e os componentes minerais do solo. Se esse
equilíbrio ocorresse, o solo n ã o permitiria a manutençã o do P na biomassa, em
quantidades necessá rias à floresta, na grandeza atual. Assim, esse solo nã o é apenas um
meio f ísico de sustenta çã o da floresta, mas també m um "buraco-negro" para o P que
entrar em contato com sua fase mineral. O que se pode conjecturar é que praticamente
nã o deve haver contato do P ciciado com a fase mineral desses solos. A planta absorveria
diretamente do que mineralizasse do substrato orgâ nico ("litter" ) ou da fase orgâ nica
sem dar chances ao substrato mineral do solo de se envolver nesse equilíbrio. Tudo isto
leva à forte argumenta çã o contra a queima de resíduos da explora çã o agr ícola . Praticar
a queima ou o manejo intensivo do solo, acelerando a mineraliza çã o da manta orgâ nica
( uma fonte de P de libera çã o lenta ) em solos mais intemperizados e, particularmente, nos
mais argilosos, seria favorecer o grande dreno-P do solo. Portanto, quando o solo ainda
é fonte, o que ocorre em condições de menor intemperismo, a queima será menos danosa .
A fra çã o argila , sua qualidade em particular, é a principal caracter ística que define
o solo como fonte ou como dreno de P. Num solo muito intemperizado, dada sua
mineralogia, o aumento de seu teor de argila fará com que haja aumento preferencial de
seu car á ter-dreno, enquanto num pouco intemperizado haver á, como consequência ,
aumento preferencial de seu cará ter fonte. Há, tamb ém no solo menos intemperizado,
aumento do car á ter-dreno (adsor çã o ou fixa çã o do P) com o aumento do teor de argila,
embora de maneira muito menos expressiva que do cará ter fonte. Com o aumento do teor
de argila dos solos mais intemperizados, pouco se ganha como fonte e perde-se muito
como dreno. Isso justifica, como será visto mais tarde, por que os solos de cerrado,
pobres em P e de textura média (de 150 a 350 g kg 1 de argila ) ou mesmo os mais arenosos,
'
têm-se mostrado mais produtivos com culturas anuais do que os argilosos. Dá -se o
contrá rio com os solos menos intemperizados de regiões temperadas, onde as maiores
produtividades sã o conseguidas nos solos mais argilosos.
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 475
FORMAS DE FÓ SFORO NA
RELA ÇÃ O SOLO - PLANTA
(1 )
Veja o conceito de reatividade de fontes de P em "Fontes Minerais de Fósforo".
FERTILIDADE DO SOLO
476 ROBERTO FERREIRA NOVAIS e t al .
FERTILIDADE DO SOLO
r '
FERTILIDADE DO SOLO
478 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
se que, de fato, a fase sólida terá de compatibilizar esses números, como concluiu Tidmore.
O P na soluçã o do solo, ou P-soluçã o, é denominado Fator Intensidade (I) (Figura 2) .
Como se viu pelo trabalho de Tidmore e por uma vasta literatura sobre o assunto,
. atualmente disponível, a planta nã o pode ter apenas no valor de I sua fonte de P. O
~
ressuprimento ou "renova çã o" de I, à medida que^o P^é absorvido, é feito pelo
Fator Quantidade (Q), muito maior que I. Há, portanto, um equilíbrio entre I e Q, de
/
modo que qualquer altera çã o ( retirada ou adiçã o ) em um deles implica alteraçã o no
outro . Essa interdepend ê ncia de I e Q caracteriza o Fator Capacidade ( FCP ) ,
quantitativamente definido pela relaçã o Q / I. Com o aumento de I (adiçã o de fertilizante,
por exemplo), haverá um aumento de Q, mantendo-se a relaçã o Q / I constante, o que a
caracteriza como propriedade intr ínseca de um solo ( Novais, 1977; Ozanne, 1980 ).
(2)
Unidade e forma de P como utilizadas pelo autor.
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 479
Fator Intensidade
Embora o teor total de P dos solos se situe, de modo geral, entre 200 e 3.000 mg kg 1 '
de P, menos de 0,1 % desse total encontra -se na soluçã o do solo. Em solos agr ícolas, os
valores de P em soluçã o estão, com frequência, entre 0,002 e 2 mg L 1 de P (Fardeau, 1996).
'
informa ções, contrá rias ao nível crítico de 0,2 mg L 1, revelam a necessidade de conhecer
mais um fator, quantidade ou capacidade, como sugerido por Rajan (1973), para se
compreender a resposta de plantas à disponibilidade de P no solo. Assim, a concentraçã o
de 0,2 mg L 1 de P, tida como nível cr ítico para solos com baixo fator capacidade (FCP),
'
valor de I, sua reposiçã o pelo fator quantidade (Q) é bastante intensa após a absorção de
P pela planta.
Fixen & Grove (1990) verificaram que o coeficiente de correlação ( r ) entre P na solução
do solo e respostas de plantas, em diversos trabalhos, variou de 0,03 a 0,99. Essa grande
variação no valor de r indica a dificuldade de ter apenas I como índice de disponibilidade
de P para plantas. Os maiores valores de r encontrados por esses autores provavelmente
estã o relacionados com a utiliza ção de apenas um solo, com valores de I distintos (adição
de diferentes doses de P), ou de solos com valores de FCP (Q / I) semelhantes.
FERTILIDADE DO SOLO
480 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
Fator Quantidade
O fator quantidade envolve, para fins prá ticos, a soma da concentra ção do elemento,
teoricamente considerado fator quantidade (Q) mais sua concentra çã o em soluçã o (I) . A
separa çã o das duas formas, para obtençã o do valor de Q, n ã o se justifica, uma vez que a
concentra çã o do P em soluçã o é, de modo geral, extremamente menor que a de Q, nã o
alterando, para a exatid ã o da determina çã o, o valor de Q obtido. Alguns mé todos tê m
sido utilizados para determinar o fator quantidade de P do solo. Eles sã o descritos a
seguir.
Embora o teor de P do solo, obtido pelos extratores do "dispon ível", como Mehlich-
1 ou Resina de Troca Aniô nica , seja considerado medida do P-lá bil, teoricamente, a
medida recomendada é a determina çã o do P isotopicamente trocá vel.
Essa determina çã o fundamenta -se na técnica da diluiçã o isotópica . Pela diluiçã o
isotópica , determina -se a quantidade ou a concentra çã o de um elemento ou composto
nã o marcado por meio da mistura com o elemento ou composto marcado. Quando se
adiciona o isó topo radioativo 32P a um solo, há uma troca entre ele e o 31P adsorvido, na
forma lá bil:
31
P(Q) + 32P(I) <=> 32
P(Q) + 31P(I )
Em condições de equilíbrio:
32
P(Q) / 32P(I) = 31P(Q) / 31P(I) (1)
Portanto:
31
P(Q) = [32P(Q) 31P(I) ] / 32P(I)
<3> Esta situa çã o é semelhante à quela representada pelos componentes da acidez do solo: a acidez ativa
expressa pelo pH (I ) em equilíbrio com acidez potencial ( H + Al ), como uma medida de Q. Um solo
com pH 4,0 e com 30 % de á gua ter á 600.000 L ha 1 retidos de 0- 20 cm de profundidade . Para a
'
serã o necessá rios apenas 3 kg ha 1 de CaC03 (60 molc ha 1 de CaC03). Como se sabe, a correçã o da
' '
acidez de um solo com pH 4,0 ( nã o é de toda a acidez, mas, apenas, para reduzi- la , talvez, a
pH 6,0 ) ir á depender da aplica çã o de algumas toneladas de CaC03 por hectare ( variá vel com o
poder tampã o do solo ou sua rela çã o Q / l - acidez potencial / acidez ativa ), quantidade definida,
essencialmente, pela acidez potencial, e nã o pela ativa .
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 481
todas as bolas na amostra seriam brancas. A medida que o n ú mero de bolas pretas na
caixa aumenta , aparecer ã o, proporcionalmente, mais bolas pretas na amostra e,
consequentemente, menos bolas brancas. Há "diluição" no n úmero de bolas brancas
pela presença de bolas pretas. Colocando n ú meros no problema, tem-se: n ú mero de
bolas brancas adicionadas à caixa = 50 . Na amostragem, 30 bolas foram retiradas, cinco
eram brancas e 25 pretas. Se a amostra for realmente representativa do existente na caixa
( uma mistura homogénea ), haverá na caixa cinco bolas pretas para cada bola branca (25 para
5) . Como foram adicionadas 50 bolas brancas, estima-se que haja 250 bolas pretas na caixa .
Ao utilizar um elemento marcado ( radioativo ) para determinar a quantidade do
elemento está vel, obtém-se, no elemento marcado, as bolas brancas (conhecido) e, no
elemento está vel, as bolas pretas (a ser determinado). A quantidade total do elemento
existente na amostra, soma dos isó topos está vel e instá vel ( n ú mero de bolas pretas e
brancas na amostra ), é determinada pela química quantitativa usual. A identifica ção do
n ú mero de bolas de cada cor é feita, entre os dois isó topos, pela emissã o de radioatividade
pelo isótopo instável (bolas brancas). Assim é que a atividade específica(4) adicionada ao solo
será reduzida ou "diluída" (diluição isotópica ) pela presença do isótopo está vel no solo.
H á, aproximadamente, 50 anos, foram estabelecidos os primeiros mé todos de
determina çã o do P-lá bil do solo, pela diluiçã o isotópica do 32P adicionado, isó topo
instá vel(5) do 31P existente no solo e que se pretende determinar . Foram estabelecidos os
valores E de "Exchangeable" (McAuliffe et al., 1948) e L de Larsen (Larsen, 1952) ou,
també m, de "Labile" (lá bil), segundo Fardeau et al. (1996).
Valor E
O uso de reagentes químicos como extratores de nutrientes "disponíveis" do solo
provoca, normalmente, altera ções químicas intensas nesse solo. Há trabalhos que
mostram que plantas absorvem mais P dos solos após a extra çã o do "P-disponível" pelo
ácido acé tico ou ácido sulf ú rico diluídos do que antes da extração. Há, portanto, profunda
modifica ção nas caracter ísticas do solo causada pelos extratores. A procura de um método
n ã o-destrutivo para a avalia çã o da disponibilidade de nutriente do solo levou
pesquisadores a utilizar mé todos de troca, como a Resina de Troca Aniônica ou a diluição
isotópica .
(4 )
Atividade específica = 32P / quantidade de P na amostra analisada .
<5) A meia - vida ( t ) do 32P é de 14,3 dias . Assim , a cada per íodo de tempo de 14,3 dias, há uma
1/ 2
redu çã o da metade da radioatividade anterior ("deca ída radioativa " ) .
i
FERTILIDADE DO SOLO
482 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
Valor L
Segundo Larsen (1952), o valor L pode ser considerado valor E quando a planta é
utilizada na amostragem da solu çã o do solo, após equilíbrio entre o 32P adicionado e o
*
31
P-l á bil do solo. O procedimento envolve uma mistura uniforme da fonte do 32P com o
volume de solo em que as plantas serã o cultivadas. A planta irá absorver o P da soluçã o,
ou seja , o 32P "dilu ído" e o 31P trocado ( l á bil ). A aná lise da planta permite quantificar o
P total absorvido ("amostra de bolas") e, pela radioatividade emitida, quantifica -se o 32P
absorvido ("bolas brancas"). A quantifica çã o do 31P originalmente presente no solo
("bolas pretas") torna-se f ácil pela diluiçã o da concentração do 32P ocorrida e "amostrada"
pela planta .
Fator Capacidade
O fator capacidade de P (FCP) pode ser entendido como a resistência do solo a
mudanças no fator intensidade (I) quando se põe ou se retira P do solo (Q). O FCP (Q / I )
é definido pelo equilíbrio ou "liga çã o" entre varia çã o de quantidade e varia çã o de
intensidade. Esquematicamente, esses três fatores podem ser representados por um
sistema de vasos comunicantes (Figura 3).
A caixa maior, que comporta Q ou P-lá bil, representa a capacidade má xima de
adsor çã o de P do solo (CMAP). Essa "caixa" é, para dadas condições de solo, uma
t ii -ig
t
1 f
Q Fator 1
Capacidade
Absorção
Adsorção
<J) ( O/ l ) Fixação
Lixiviação
Retrogradação
Figura 3. Representação esquemá tica dos fatores quantidade (Q), intensidade (I) e capacidade
(Q / I) ( <J> representa o diâ metro da tubula ção entre os dois compartimentos - Q e I).
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 483
constante . Latossolo argiloso, por exemplo, apresenta maior CMAP do que Areia
Quartzosa . O tamanho da caixa maior nã o diz a quantidade de Q, mas, sim, a quantidade
má xima de Q que ela pode comportar . Portanto, a quantidade de P na caixa "Q" representa
o fator quantidade de P do solo. Este pode ser aumentado por fertiliza çã o ou diminuído
pela absorçã o pelas plantas, por fixa çã o em formas nã o-lá beis ou mesmo por lixivia çã o
em condições especiais. A pequena caixa à direita (I), bem menor que a primeira (Q), tem,
no seu conteúdo, o fator intensidade. A rela çã o entre os tamanhos das duas caixas é bem
grande, uma vez que, em Latossolos, por exemplo, sã o frequentes valores de CMAP
superiores a 1,0 mg g 1 de P no solo ( Andrade et al., 2002; Rolim Neto et al., 2004), enquanto
'
pertencentes a um mesmo grande grupo, a rela çã o entre os tamanhos das duas caixas
diminui consideravelmente, nã o só pelo menor tamanho da "caixa " de Q, mas também
pelo aumento da "caixa " de I. Para o mesmo valor de Q, deve-se, portanto, encontrar
valores de I bem maiores nos solos arenosos. Como mostra o esquema (Figura 3), as duas
caixas encontram-se no mesmo nível, e, dessa maneira, I ser á igual a zero quando Q for,
também, zero.
O di â metro do tubo que liga as duas caixas representa o fator capacidade. Um
diâ metro maior condicionar á a manutençã o do nível de I mais próximo do nível de
equilíbrio quando P é adicionado ao solo ou dele removido ( mudança r á pida de Q ) .
Menor diâ metro desse tubo ( menor FCP) pode nã o manter o nível de I em equilíbrio com
o nível de Q, em condições de absor çã o intensa de P, por exemplo. Em condições de solos
com pequena CMAP ( solos arenosos, por exemplo ) , é preciso maior valor de I
( concentra çã o ó tima ) para atender à demanda da planta e compensar a menor vaz ã o
entre Q e I . Como consequência pr á tica, há necessidade de 0,2 mg L 1 de P na solu çã o do
'
solo (I), como concentra çã o ó tima, em solos arenosos, e de valores até mesmo menores do
que 0,05 mg L 1, em solos com grande CMAP (grande FCP), como discutido anteriormente.
'
O fator capacidade, ou "poder tampã o", de P pode ser comparado às altera ções da
acidez pela aplica çã o de calcá rio em solos com diferentes valores de poder tampã o da
acidez (Figura 4) . O Solo B é mais tamponado que o solo A, dado que seu valor de pH é
menos alterado pela adiçã o de calcá rio. A tangente P é menor que a tg a. Portanto, há
uma relação inversa entre o poder tampão da acidez do solo e o valor da tangente ( ApH /
Á t ha - de calcá rio ). Matematicamente, o poder tampã o desses solos é definido pelo inverso
1
FERTILIDADE DO SOLO
484 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
Figura 4. Altera çã o do pH de dois solos com diferentes valores de poder tamp ã o da acidez, em
resposta à adiçã o de calcá rio, considerando relacionamento linear entre as duas variá veis.
Nas isotermas, avalia -se a quantidade de P adsorvido ao solo (Q), como consequência
de concentra ções crescentes de P em soluçã o, colocadas em equilíbrio (I, ou C nas
isotermas) com amostras do solo (Figura 6), em condições de temperatura constante,
razã o para denomina çã o da isoterma .
Diversas medidas, ou índices, do FCP, definido pela relação Q / I (Eq.2), sã o obtidas
a partir das isotermas de adsor ção, por ser o FCP controlado pelos processos de adsorçã o /
dessor çã o de P do solo (Holford, 1979; Bonfim et al., 2004).
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 485
Para análises de rotina, agitar a amostra do solo com uma concentra ção de P apenas,
dentre as diversas necessá rias ao estabelecimento das isotermas, pode ser uma solução prática
para a obtençã o de um índice do FCP. Esse índice de adsor ção de uma concentraçã o
ú nica de P foi proposto por Bache & Williams (1971) e tem sido utilizado, com algumas
altera ções, com a denomina çã o de P-Remanescente (PR ), em pesquisas realizadas no
País, com excelentes resultados ( Muniz et al ., 1985,1987; Novais et al., 1993; Andrade et
al., 2002). O PR corresponde a concentra ção da soluçã o de equilíbrio ap ós agita çã o do
solo, por uma hora , com uma concentra çã o de 60 mg L 1 de P, numa soluçã o de
'
CaCl2 0,01 mol L 1 adotada como padr ã o. Enquanto o índice de Bache & Williams (1971)
'
(uma medida do P adsorvido) apresenta correlações positivas com outras medidas do FCP, o
PR (uma medida do que nã o é adsorvido) apresenta correlação negativa com essas medidas.
Compreende-se, també m, a menor ou nula importâ ncia que se tem dado a medidas
de FCP em solos de regiões temperadas e naturalmente mais ricos em P(7) como critério de
interpretaçã o de resultados de análises do "P-disponível", contrariamente ao que acontece
em nosso Pa ís. E importante enfatizar que se está caminhando nessa direçã o, com o
cultivo de nossos solos mais intemperizados e argilosos, à medida que eles se
aproximarem do car á ter-fonte e se distanciarem do forte cará ter -dreno atual.
<7) O laboratório de aná lise e de interpretaçã o de "P-disponível" ( Mehlich-3) de North Carolina ( Raleigh )
- USA n ã o utiliza medida do FCP para interpretar resultados obtidos.
FERTILIDADE DO SOLO
;
*
486 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
Adsorçã o
Adsor çã o é um termo genérico que indica rea ções químicas e mesmo f ísicas que
ocorrem em interfaces (superf ícies de separaçã o de duas fases) . A superf ície (óxidos, por
exemplo ) é chamada adsorvente. A substâ ncia (íons fosfato, no caso ) é chamada
adsorvato. A superf ície é, muitas vezes, porosa, mostra imperfeições ou microporos,
permitindo a difusã o do adsorvato em seu interior, dando continuidade às rea ções . A
esse fenômeno chama -se absor çã o (Sanyal & De Datta, 1991) . É comum na literatura o
termo sor çã o, mais genérico, que engloba os fenômenos de adsor çã o e absor çã o. O P
inicialmente adsorvido à superf ície de agregados de solo difunde-se, com o tempo, para
seu interior ( Nye & Staunton, 1994; Linquist et al., 1997). É um processo lento, que pode
levar anos para atingir o equilíbrio, devendo ser, també m, responsá vel pela diminuiçã o
da disponibilidade de P de um solo recém-fertilizado, com o aumento do tempo de contato
do P com esse solo. Portanto, essa penetra çã o difusiva de P no interior do adsorvente
constitui uma dificuldade a mais para a escolha da terminologia adequada para o
processo. Esse processo, segundo Barrow (1985), seria mais adequadamente denominado
"sorçã o" e "retenção", sendo retençã o a soma de adsorção e penetração (absorção). Por outro
lado, Iyamuremye & Dick (1996) consideram que sor çã o pode incluir reações de adsorçã o
e de precipitação. Esses autores definem perdas de P da solução do solo para a fase sólida por
adsor çã o e por precipita çã o. Alguns trabalhos clássicos utilizam o termo adsor ção
generalizadamente (Parfitt, 1978), ou utilizam sorção e adsorção indistintamente (Sanyal
& De Datta, 1991) . Um complicador, que leva à utiliza çã o desse termo, sã o as isotemas
de adsorção. que, apesar da denominaçã o, medem o "desaparecimento" do P em soluçã o,
com o envolvimento prová vel de todos os processos discutidos.
Neste texto, tem-se utilizado o termo adsorção no sentido amplo. Embora consciente
da inadequabilidade plena do termo, nã o se reconhece ser ele preciso quando esse
"desaparecimento" nã o permite identificar o processo responsá vel por ele. Há um termo
adicional para retençã o de P no solo, fixa çã o, utilizado, mais adequadamente, para
identificar a forma çã o de P nã o-lábil, nã o mais em equilíbrio com o P-soluçã o ( van der
Zee et al., 1987; Hsu, 1989 ).
Este subcapítulo tem como objetivo enfatizar as isotermas de adsor çã o, seus
fundamentos e características principais, como sã o obtidas e utilizadas na prá tica, bem
como discutir o comportamento diferencial de constantes dessas isotermas, em relação a
características de s
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 487
1985; Sanyal & De Datta, 1991; Laboski & Lamb, 2003) . Nessa rea çã o, denominada
quimiossorçã o, há troca de ligantes, como OH e OH2+, da superf ície dos óxidos, por
"
HP042 (Figura 9), esta (bivalente ) preferencialmente adsorvida . Portanto, com o aumento
'
PCZ
Figura 7. Desenvolvimento de carga elé trica na interface de oxidr óxido de Fe, ou de Al, variá vel
de acordo com o pH do meio. A esquerda do ponto de carga zero ( PCZ, ou pH que gera
essa condiçã o de carga ), observa -se adsor çã o de pr ó tons (cargas positivas ), à direita,
dessorçã o de pr ó tons (cargas negativas). Fica claro que o PCZ refere-se à carga líquida, ou
seja, cargas positivas iguais à s negativas.
Fonte : Adaptado de Herbilon (1985).
\ 0 \
O
l \ l \
o OH
1/
Fe
< + H2PO 4
^ o o
1/
Fe
P
OH
OH + OH‘
I
1
\ | \OH
OH
/ /
Figura 8. Adsorção do íon H 2P04 na superf ície de oxidr óxido de Fe, com cargas líquidas zero.
'
FERTILIDADE DO SOLO
488 ROBERTO FERREIRA NOVAIS e t al .
+ 2 OH
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 489
2" o 1
Argila
silicatada
AI
OH;
20H
i AI
OH
OH
1
AI
O
j OH 2
+
OH OH
+ H 2O + H 2O
pH aumenta
( PCZ )
+
Figura 10. Desenvolvimento de carga elé trica em aluminossilicatos. Os grupamentos OH e OH2
podem ser trocados por fosfato, que é adsorvido.
Fonte: Adaptado de Parfitt (1978).
Iyamuemye & Dick (1996), relação C:P menor que 100 leva à mineralização do P orgâ nico;
maior que 300 leva à imobilizaçã o de formas minerais de P pelos microrganismos.
FERTILIDADE DO SOLO
490 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
pelo solo sã o de dif ícil distinçã o e ambos sã o descritos pelo mesmo modelo matemá tico.
E a reaçã o de P às formas iônicas de Al e de Fe em solos ácidos ou a Ca 2+ em solos neutros
ou calcá rios, formando compostos de composiçã o definida e pouco sol úveis ( Hsu, 1965;
Sample et al ., 1980 ) .
A precipita çã o de P em solos torna -se particularmente importante durante a
dissolu çã o de gr â nulos de fertilizantes fosfatados, ultrapassando os produtos da
solubilidade de componentes da reação solo-fertilizante (atividade das espécies fosfatadas
e dos íons metá licos) (Sample et al., 1980 ) . Isotermas de solubilidade de compostos
fosfatados, tomando a fra çã o solubilizada em fun çã o de pH ( condicionante de
solubiliza çã o ), mostram, por exemplo, que fosfatos de Al ( variscita ) e de Fe (estrengita )
sã o mais está veis em meio á cido ( tê m a solubilidade aumentada com o aumento do pH
do meio), ao passo que fosfatos de Ca , pelo contrá rio, sã o menos está veis em meio á cido
(diminuem a solubilidade com o aumento do pH) (Olsen & Khasawneh, 1980) (Figura 11) .
Alumínio em solu çã o (semelhantemente, íons de Fe ) pode causar precipita çã o de
fosfatos adicionados ao solo:
3
Al + + H2P04 + 2HaO > 2H+ + AI(0H)2H2P04
(trocável) (solúvel) (“insolú vel”)
Para evitar essa rea çã o, deve-se "eliminar" ( precipitar ) o Al3+, por calagem anterior
à adiçã o da fonte de P. De toda maneira, a retençã o de P pelo solo mantém-se em valores
estequiom é tricos semelhantes quando se substitui a precipita çã o do P pelo Al3+ do solo
á cido pela sua adsor çã o pelo hidróxido de Al recém-formado pela calagem (Haynes, 1984).
Solos com pH mais elevado, com muito Ca trocá vel, natural ou como consequência
de uma supercalagem, podem ter a precipita çã o de fosfatos adicionados ao solo (Sample
et al., 1980), fenô meno denominado "retrograda çã o" por Malavolta (1967):
Figura 11. Solubilidade para o composto de Fe-P, Al-P e de Ca-P em sistemas sólido-soluçã o.
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 491
Isotermas de Adsorçã o
A adsor çã o má xima de Ca por um solo, por meio de atra çã o eletrostá tica, pode ser
definida pelo valor da capacidade de troca catiônica (CTC) desse solo. A CTC de um solo
pode ser rapidamente determinada por meio da satura çã o desse solo com um cá tion
trocá vel, Ca 2+, por exemplo, lavando-se o excesso em soluçã o, deslocando-o com outro
c á tion ( Ba 2+, por exemplo ) e determinando-se o Ca 2 + deslocado, que, expresso em
mmolc dm 3, corresponde à CTC desse solo.
'
Para â nions, como os fosfatos, considerando a liga çã o por coval ência e sua
estabilidade elevada, o procedimento para avaliar a capacidade m á xima de adsor çã o de
P (CMAP ) de um solo nã o é tã o simples. Ao contr á rio do Ca, a adsor çã o de P pelo solo é
lenta e dependente do tempo de contato, com forma çã o de liga ções adicionais ao longo
do tempo, que se pode estender por meses. Para medir a CMAP de um solo, o que se faz
é adicionar a uma sequência de amostras do solo soluções com concentra ções crescentes
de P, e, após certo per íodo de tempo de agita çã o (18 horas, para Kurtz & Quirk, 1965;
Bache & Williams, 1971; Vasconcellos et al., 1974; 24 horas, para Barrow, 1974; Sibbesen,
1981; Ker, 1995; 6 dias, para Novais & Kamprath, 1979b; Bolland et al., 1996, entre
diversos outros per íodos de tempo de agita çã o encontrados na literatura ), determinam -
se as concentra ções das soluções de equil íbrio (sobrenadante ) para cada amostra
( Figura 12) . A diferença entre a concentra çã o de P adicionada e a em equilíbrio, ou
sobrenadante, refere-se ao P adsorvido pelo solo. Os diversos valores de P sobrenadante
e os respectivos valores de P adsorvido sã o submetidos ao ajuste de isotermas de adsor çã o,
entre estas a de Langmuir, que permite chegar à CMAP, o análogo, ou simé trico, da CTC.
Como observado (Figura 12), aumenta -se a quantidade de P adsorvida, aumentando-se o
tempo de contato do P com o solo, fazendo com que resultados obtidos para um tempo
nã o sejam quantitativamente compar á veis com os obtidos em tempos diferentes.
Figura 12. Varia çã o na curvas de adsor çã o de P com o aumento do tempo de contato do P com
o solo, um Ultisol argiloso .
Fonte: Adaptado de Sample (1972) .
FERTILIDADE DO SOLO
492 ROBERTO FERREIRA NOVAIS e t a l .
Isoterma de Langmuir
x / m = (a b C ) / (1 + a C) (3 )
elemento ao solo, em ( mg L 1) 1 ou L mg 1.
' ' '
Para a estimativa das constantes a e b, a Eq.3 pode ser transformada em sua forma
linear ( Y = b 0 + bxX ) ( Figura 13) :
l / ( x / m ) = l / [ (a b C) / (1 + a C ) ]
l / ( x / m ) = (1 + a C ) / (abC)
C / ( x / m ) = (C + a C 2) / (a b C )
Finalmente,
C / (x / m ) = l / (a b) + ( l / b )C ( 4)
A partir da Eq.4, tem-se:
bj = taga = l / b .\ b = 1/ taga
b0 = interseçã o = 1 / ( a b)
Portanto, o valor da CMAP (b ) é estimado a partir da declividade da reta ajustada
(bj), e a "energia de liga çã o", a, a partir do valor da interseçã o ( b 0) .
Os valores da CMAP e da "energia de liga çã o" de amostras de dez Latossolos de
cerrado apresentaram íntima rela ção com os respectivos teores de argila (Quadro 2).
FERTILIDADE DO SOLO
y
Quadro 2. Equa çã o linear da isoterma de Langmuir, suas constantes e teor de argila de amostras
de dez Latossolos de cerrado
Solo Equa çã o de regress ã o *1* CMAP " Energia de liga çã o " Argila
mSg
-i L mg 1
'
d a g k g-
i
(i)
Y = C / x / m, e m (
1
mg L
_
) / ( m g g 1 ) = g L 1; X = C ( c o n c e n t r a ç ã o d e e q u i l í b r i o ) , e m m g L - i
'
! x / m = k C1 / n (5)
com concentra ções crescentes de P (coluna A - Quadro 3): 0, 10, 20, 40, 60, 80,
110, 140, 170, e 200 mg L 1. A rela çã o solo:soluçã o utilizada foi de 1:10.
'
a partir do decréscimo
_1 do P em soluçã o ( A ) colocado para agitar com o solo, em mg L 1. '
Langmuir
Forma linear
C / x / m = 1,1061 + 0,7662C (R 2 = 0,998***)
Forma hiperbólica
x/m = (0,693 x 1,305C ) / (1 + 0,693C)
x / m = 0,904C / (1 + 0,674C )
CMAP(b ) (9> = 1,305 mg g 1 '
(8)
No trabalho original, utilizou-se volume de solo ( 2,5 cm 3). Para este exemplo, adota-se a unidade em
peso de solo, para densidade do solo igual a 1 g cm 3. '
1/1,1061 = l / a b
a = 1 /1,1061 x 1,305 = 0,693 L mg 1 '
FERTILIDADE DO SOLO
r
Quadro 3. Sequ ê ncia de opera ções necess á rias à prepara çã o dos dados submetidos aos
ajustamentos das isotermas de Langmuir e Freundlich, a partir das concentra ções de P
colocadas para agitar com as amostras de solo ( A ), numa rela çã o solo:soluçã o de 1:10. O
solo utilizado como exemplo foi o SL ( LV-2)
-
A ( P adicionado ) C ( Cone. equil.) A -C -
x/ m ( P adsorvido ) C/x/ m log x/m log C
mg L-1 mg g -1 g L- i
0 0,0000 0, 000 0,0000
10 0 , 0209 9, 979 0, 0998 0 , 2096 -1 , 00091 -1, 67945
20 0, 0508 19 ,949 0 ,1995 0, 2549 - 0, 70008 -1 , 29374
40 0 , 1781 39, 822 0, 3982 0, 4474 - 0 , 39988 -0 , 74923
60 0 , 9767 59 ,023 0 , 5902 1 , 6548 -0, 22898 -0, 01024
80 4, 3199 75 ,680 0 , 7568 5, 7081 - 0,12102 0, 63547
110 9 , 7214 100, 279 1 , 0028 9, 6944 0, 00121 0 , 98773
140 22 , 4130 117 , 587 1 ,1759 19, 0608 0, 07036 1 , 35050
170 44 , 2133 125, 787 1 , 2579 35,1494 0, 09963 1 , 64555
200 70 ,7383 129 , 262 1 , 2926 54 ,7249 0,11147 1 , 84965
Freundlich
Forma linear
log ( x / m ) = -0,3313 + 0,2885 log C
Forma exponencial
x / m = 0,4663C1 / 3,4662
Constante K(10) = 0,4663
Constante n(10 > = 3,4662
Emfcora as constantes k e n da isoterma de Freundlich sejam empíricas, sem
significado f ísico, como o têm as constantes da Langmuir, a correla ção entre k e medidas
relacionadas com o FCP sã o altamente significativas. Por outro lado, a constante n nã o
se apresenfa correlacionada com nenhuma dessas medidas.
Portanto, pode-se ter, na constante k de Freundlich, uma medida de FCP do solo,
dando a essa constante cará ter com maior significado. De modo semelhante, a CMAP de
Langmuir é relacionada com medidas do FCP, ao passo que a "energia de ligaçã o" (a )
pode não ser.
(10)
log k = -0,3313
k = IO 0'3313
'
k = 0,4663
l / n = 0,2885
n = 3,4662
FERTILIDADE DO SOLO
496 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et a l .
de P, na forma de KH2P04, foram agitados por períodos de tempo que variaram de meia a
192 h, determinando-se, depois de cà da per íodo de tempo, o P na soluçã o de equilíbrio
(Gonçalves et al., 1985). Cerca de 75 % do P adicionado foi adsorvido em menos de meia
hora de contato para os solos com maior CMAP e menos de 12 h para aqueles com menor
CMAP, quando se considerou 100 % a adsor çã o obtida com 192 h de equilíbrio (Quadro 4) .
Observou -se que a calagem pr évia dos solos nã o alterou, de maneira consistente, a
velocidade e a magnitude de adsor çã o de P pelos solos.
mg L 1 de P no solo
'
Sem calagem
AQ 10,4 14,4 15,6 17, 2 22,0 28,4 30,4 33,3 34,0
LE-1 44,6 46,9 48,0 49,5 49,4 49,5 49,5 49,4 49,8
LE -2 45,4 47,1 48 ,3 48,6 49 ,4 49 ,7 49,7 49,8 49 ,8
LVm -1 25,6 26,9 32,6 33,3 37,6 42,6 45, 4 45,8 46,0
LVm - 2 24,5 25,5 29,3 31,5 34,7 40, 4 43,1 43,1 43,3
LE -3 38,4 41,7 43,6 45,1 47,8 48,4 48,4 48,6 49,4
LE -4 37,5 41,0 42,2 43,8 46, 7 48,0 48,2 48,2 49, 4
LE-5 40,7 43,4 46,0 46,6 48,5 49,1 49,2 49,3 49,7
LV-1 39,2 42,7 44,9 46,3 47,5 49,0 49,1 49,2 49,6
LVm -3 18,5 19,2 20,8 23,9 26,9 32,4 35,7 40,7 42,0
Média 32,5 34,9 37,1 38,5 41,1 43,7 44,9 45,7 46,3
Com calagem
AQ 12,9 15,9 16,3 19, 2 26,4 29, 2 32,1 35,2 36,0
-
LE 1 42,7 45,1 47,1 47,4 48,9 49, 2 49, 2 49, 4 49,8
-
LE 2 43,1 45,8 47,1 47,9 49,0 49,4 49,6 49,7 49,8
LVm -1 23,9 26,0 30, 2 30,7 35,8 40,9 43,0 44,7 44,7
LVm - 2 22,5 22,5 27,9 27,9 33, 2 38,9 40,6 41,7 42,4
LE-3 37,5 39,4 42,8 44, 2 46,7 48,3 48,5 48,4 49,3
LE-4 34,9 38,1 39,7 41,4 44,9 46, 2 47,0 47,2 49,0
LE-5 38,2 41,5 44,1 45,2 47,8 48,5 48,7 48,9 49,6
LV-1 38,1 41,4 43,4 45,2 47,3 48,2 48,5 48,7 49,4
LVm -3 19,4 20, 2 21,4 24,3 27,1 32,4 36,6 41,4 42,2
Média 31,3 33,6 36,0 37,3 40,7 43,1 44,4 45,5 46,2
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 497
TRANSFORMA ÇÃ O DE F Ó SFORO
L Á BIL EM N Ã O - L Á BIL
há dois extremos de mobilidade no solo: o P muito pouco móvel, "nã o-lixiviá vel" em
condições normais, ao passo que as formas de N, particularmente a nítrica, sã o muito
m ó veis e, por conseguinte, lixivi á veis. Esta é uma primeira aproxima çã o para
compreender a presença de residual para a fertiliza çã o fosfatada e sua "ausência" para
a nitrogenada .
A pequena participa çã o quantitativa de P no sistema solo-planta-atmosfera, ao
contr á rio de N, está , por alguma razã o, ligada a mecanismos restritivos à sua presen ça
em formas menos está veis, como P-soluçã o, condiçã o para perdas. E, à medid que o
sistema se torna mais pobre em P, como nos solos tropicais mais intemperizados, essa
^
restriçã o torna -se maior, como comentado anteriormente. Há uma aparente economia
crescente, imposta por uma pobreza também crescente, fazendo com que as plantas
otimizem sua eficiência pela carência imposta pelo intemperismo, que continua. Assim,
uma planta em condições adequadas de crescimento deve ter uma concentra çã o
aproximada de 2,0 g kg 1 de P (0,2 %) na maté ria seca; para N, esse valor é da ordem de
'
20,0 g kg 1.
'
Boa parte do P adicionado aos solos é retida com uma energia tal que seu equilíbrio
com o P-soluçã o desaparece, deixando, portanto, de ser ú til ao crescimento imediato da
planta . Essa forma de P nã o-lábil deve ser quantificada, compreendida, e idealmente
controlada, para otimizar a fertiliza çã o fosfatada como fator de crescimento de plantas,
particularmente para os solos mais intemperizados ( Figura 14) . Nesse esquema, Q supre
o P nã o-lá bil ( NQ) (sistema passivo), mas nã o o contrá rio. A soluçã o que o esquema
Figura 14. Representaçã o esquemá tica da interdependência das formas de P nã o-lá bil ( NQ),
P-lá bil (Q), P-solução ( I ) è fator capacidade (Q / I ) do solo.
FERTILIDADE DO SOLO
498 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
Quando se aplica uma fonte sol ú vel de P num solo, freq úentemente mais de 90 % do
aplicado é adsorvido na primeira hora de contato com o solo (Gonçalves et al., 1985) .
Essa primeira fase de r á pida adsorção é seguida de uma fase bem lenta, representada
pelos modelos exponenciais (Barrow, 1974). Essa á dsorçã o de P pelo solo apresenta um
componente adicional à simples forma çã o de P-lá bil (Q), que é a forma çã o de P nã o-lá bil
( NQ). O NQ é a quantidade de P fixado(11 ) no solo que nã o se encontra em equilíbrio com
o P em soluçã o, pelo menos em curto prazo. Aparentemente, entre os mecanismos mais
prová veis de forma çã o de P nã o-lá bil, a partir de uma fonte sol úvel aplicada no solo, está
a ocorrência de duas ligações coordenadas com a superf ície adsorvente (Figura 15). Essas
duas liga ções, ao contr á rio de uma ú nica , nã o permitiriam a dessor çã o do P ( Kafkafi et
al., 1967; Parfitt, 1978).
Devine et al. (1968) verificaram que, um ano após a aplicação de superfosfato simples
em quatro solos, 58 % do P aplicado encontrava -se disponível, 38 % depois de dois anos
e 20 % depois de três anos. Em trabalho semelhante, Williams & Reith (1971) encontraram
de 20 a 28 % disponível depois de um ano de contato do P aplicado no solo, e apenas de
2,7 a 4,2 %, depois de 6-8 anos.
Em trabalho mais recente, Gonçalves et al. (1989 ) aplicaram, em amostras de cinco
Latossolos de cerrado, doses crescentes de uma fonte sol úvel de P. Incubadas em épocas
OH 2 OH 2
/ Fe
7
*
\> P O
\ //
° o7 \o
+ OH
OH
/ Fe
7
NOH 2 ^ OH 2
( 11 )
O termo "fixação" é adequadamente utilizado com o sentido de "retenção" do P pelo solo de forma
não-revers ível ou nã o- lábil (van der Zee et al ., 1987; Hsu, 1989 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 499
diferentes (300, 240, 180, 120, 60, 30, 15 e 0 dias ), completaram todos os períodos de
incubação num mesmo dia, quando os solos foram amostrados, o P-extra ível foi avaliado
por diferentes procedimentos e cultivados com sorgo. Apresenta -se o efeito do tempo
sobre a diminuiçã o do P-extra ível e sobre o crescimento das plantas, para um dos solos,
o LV-1, com 55 % de argila e capacidade má xima de adsor çã o (CMAP) de 0,980 mg g 1 de '
P no solo ( Quadro 5) .
Admitindo ser o P extra ído pela resina de troca ani ô nica ( RTA ) uma medida
adequada do P-lá bil, cerca de 79 a 95 % dos 150 mg kg 1 de P aplicados nos diferentes
"
solos estudados transformaram-se em P nã o-l á bil no final de 300 dias. Verificou-se que
o decréscimo do P-extraível foi, com o tempo, significativamente alterado pelo aumento
da CMAP: a conversã o de P-lá bil em nã o-lá bil aumentou . Como estudos de ciné tica de
adsor çã o de P em solos tê m essa primeira fase r á pida definida em horas, sendo
positivamente correlacionada com a CMAP (Gonçalves et al ., 1985) e com a transforma çã o
de P-lá bil em nã o-lábil, com uma primeira fase definida em dias e, igualmente, dependente
da CMAP, pode-se pressupor que a forma çã o de P n ã o-l á bil envolva mecanismos
adicionais à primeira fase de forma çã o do P - l á bil , como num processo de
,
envelhecimento . Nã o seriam, assim, mecanismos paralelos, mas em fase. Há, portanto,
// /
uma primeira fase r á pida , caracterizada por uma atra çã o eletrostá tica ( f ísica ). E, com a
aproxima çã o do P à superf ície adsorvente, há troca de ligantes (OH por H2P04 , por " "
Quadro 5 . Fósforo recuperado pelos extratores Mehlich -1 e Resina , e produ çã o de maté ria
seca da parte a é rea de plantas de sorgo, com diferentes tempos de incuba çã o(1) de doses de
f ósforo aplicadas em um dos solos utilizados ( LV -1)
mg kg-1 Mehlich -1 ( mg kg 1) *
Resina ( mg kg-1 )
0 5, 7 5, 2 4, 2 0,9
50 27,0 5,6 7,5 0,9
150 44,3 21 ,1 18,6 2,9
450 155, 4 54,7 50,1 33,0
Mat é ria seca (g / vaso)
0 0,67 0,63 0,87 0,64
50 1,56 1.02 0,89 0,48
150 9,10 4,59 4,53 1,99
450 13,44 9,59 11,85 8,36
Não são apresentados os resultados correspondentes aos tempos de 60, 120, 180 e 240 dias, constantes do trabalho original.
(1 )
FERTILIDADE DO SOLO
500 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
exemplo ), com a forma çã o de liga ções coordenadas simples, como componente externo
da estrutura do oxidr óxido (Figura 15) . Essa fase, mais rá pida , é seguida de outra, mais
lenta . É prov á vel que a forma çã o de uma liga çã o adicional à primeira (Parfitt, 1978) seja
dependente do tempo . Essa fase mais lenta de adsor ção de P pelo solo é, também, segundo
Barrow (1983, 1985), caracterizada pela penetraçã o (difusã o) do fosfato nas imperfeições
dos cristais ( difusã o em fase sólida , segundo esse autor ) ou entre os microcristais,
tornando-se cada vez menor seu equilíbrio com o P-solu çã o e, por conseguinte, a
disponibilidade para as plantas.
A magnitude e a velocidade do processo de forma çã o de P nã o-lá bil em solos com
grande FCP (Quadro 5) indicam que fazer uma fosfatagem corretiva nessas condições é
questioná vel. Isto porque, para as doses de P normalmente recomendadas para esse fim
( Lopes, 1984) , a transforma çã o do P aplicado em nã o-lá bil, depois de 300 dias de
equilíbrio, é muito grande. Um solo com uma CMAP de 1,0 mg g 1 indica um poder de
'
alterar, em termos econó micos, o " status" de P do solo, como fator de crescimento de
planta . A soluçã o, para solos com esse "perfil-dreno", caracterizados por valores de
CMAP até mais elevados que esse (Ker, 1995 ), ser á minimizar o contato da fonte de P,
particularmente a sol ú vel, com o solo, pela aplica çã o localizada de P ( Leite et al ., 2006 ),
pela granula çã o do fertilizante, pela diminuiçã o do tempo de contato do fertilizante com
o solo, em rela çã o à época de plantio, ou, até mesmo, pelo parcelamento da aplica çã o de
P, como se faz com N. O comportamento do N condiciona esse parcelamento, dadas suas
intensas perdas, como por lixivia çã o e volatiliza çã o, enquanto o P, por "perdas" pela
forma çã o de P nã o-l á bil . Todavia, para o P, " perdas" iniciais fazem com que "perdas"
futuras sejam menores ( residual ), embora de maneira muito lenta para os solos-drenos.
Formas inorgâ nicas de P-Ca, predominantes em solos menos intemperizados e
alcalinos, ou de resíduos de fosfatos naturais nã o solubilizados no solo, constituem,
também, formas nã o-lá beis de P, caracterizadas como fontes de P de baixa efetividade
para a maioria das plantas ( Novais & Kamprath,1978), em particular para as de ciclo
curto. O tempo, aumentando a solubiliza çã o de fosfatos naturais apatíticos, ocasiona,
de maneira mais intensa, a passagem do P solubilizado para formas não-lá beis . Como
resultante, a planta tem menos P-disponível, à medida que aumenta o tempo de contato
desses fosfatos com o solo (Chien, 1977; Novais et al ., 1980; Novelino et al., 1985 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 501
Quadro 6 . Efici ê ncia da Resina de Troca Ani ô nica ( RTA ) para medir o f ó sforo - lá bil e
reversibilidade da forma nã o-l á bil a lá bil, num intervalo de tr ês dias entre sé ries de tr ês
extra ções, num total de 15 extra ções, em amostras de solos que receberam 300 mg kg 1 de '
-
AP l á bil recuperado pela RTA *11 AP n ã o-l á bil < 2 )
Solo
Ia extra çã o Total de extra ções C ( 5) Residual Recuperado pela RTA D ( 8)
mg dm 3 '
o (3)
/o mg dm 3'
% (4 ) % mg dm 3
'
/o (6 )
0
mg dm 3 '
% (7 )
Sem calagem
LE 105,23 35,08 171, 22 57,07 38,54 128,78 42,93 0, 22 0,07 0,001
LV1 88,18 29,39 147,60 49,20 40, 26 152,40 50,80 1,78 0,59 0,012
LV 2 92,01 30.67 172,29 57,43 46,60 127,71 42,57 0,00 0,00 0,000
LV3 78,70 26, 23 129,00 43,00 38,99 171,00 57,00 2,09 0,70 0,016
LV 4 52,81 17,60 117,38 39,13 55,01 182,62 60,87 2,29 0,76 0,020
LV5 47,05 15.68 111,05 37,02 57,63 188,95 62,98 5,44 1,81 0,049
Média 77,33 25,78 141,43 47,14 46,17 158,58 52,86 1,97 1,81 0,016
Com calagem
LE 109,90 36,63 163,62 54,54 32,83 136,38 45,46 4,11 1,37 0,025
i LV1 92,57 30,86 147,80 50,86 37,37 153,00 49.14 2,90 0,96 0,020
LV 2 81,63 27, 21 148,93 51,14 45,19 151,07 48,86 3,50 1 17
/ 0,024
LV3 82,13 27,38 131,56 43,85 37,57 168,44 56.15 1,60 0,53 0, 012
LV4 69,53 23,18 128, 25 42,75 45,79 171,75 57,25 1,49 0,50 0, 012
LV5 47,11 15,70 101,73 33,91 53,69 198,27 66,09 4,16 1,39 0,041
Média 80,48 26,83 136,98 46,18 42,07 163,15 53,83 2,96 0,99 0,022
Diferença entre o P- l á bil recuperado com a aplica çã o de 300 mg dm 3 e o P- l á bil recuperado sem a adiçã o de P.
(1 ) '
Diferen ça entre o P nã o-lá bil recuperado com a aplica çã o de 300 mg dm 3 e o P nã o-lá bil recuperado sem a
(2 ) '
adiçã o de P ( residual ); o nã o-lá bil recuperado pela Resina é o somat ó rio dos valores de P-extra ído toda vez que o
valor encontrado era maior que o obtido na extra çã o anterior. í3> Percentual de P recuperado com a primeira
extra çã o, em rela çã o ao aplicado. (4 ) Percentual de P total recuperado, em rela çã o ao aplicado. <5) Percentual de P
nã o recuperado com a primeira extra çã o. (6) Percentual de P nã o-l á bil residual em rela çã o ao aplicado. (7) Percentual
de P nã o- lá bil recuperado pela Resina , em rela çã o ao aplicado. (8) Rela çã o entre P n ã o-lá bil recuperado pela
Resina e P-lá bil .
Fonte: Campello et al. (1994).
FERTILIDADE DO SOLO
502 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
Fosfatos Naturais
A incorpora çã o de novas á reas à agricultura brasileira, a baixa disponibilidade de
P desses solos, a existência de grandes jazidas de FNs em diversas regiões do Pa ís e as
facilidades atuais de importa çã o de FNs de maior reatividade (12) tê m feito com que a
utiliza çã o desses fosfatos in natura seja um atrativo1131. Essa utilização tem como problema
principal a baixa reatividade, particularmente dos FNs brasileiros, e, como consequência,
a baixa ou lenta libera çã o de P para as plantas, na maioria dos casos. Assim, a utilizaçã o
desses materiais tem ocorrido mais como fosfatagem corretiva , com a aplica çã o de 1 ou
mais t ha 1, sobre toda a á rea e incorporação com arado ou grade. Essa fosfatagem corretiva
'
tem como id éia básica elevar o teor de P-disponível do solo a uma faixa pelo menos
(12 )
Reatividade é uma propriedade intr ínsica ao FN e, por conseguinte, independente de condições
outras, como de solo ou de planta, a que o FN possa ser submetido ( Rajan et al., 1996 ). Independen-
temente dessas condi ções, pode-se dizer que os fosfatos de Gafsa ou de Norte Carolina sã o mais
reativos que os fosfatos de Arax á ou de Patos.
( , 3)
Estima -se que as jazidas de fosfatos naturais no mundo, atualmente conhecidas, deverã o durar por
mais quatro sé culos, aproximadamente, para o padr ã o atual de consumo ( Mengel, 1997) .
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 503
razoá vel . Visa , portanto, corrigir, pelo menos parcialmente, a carência de P de um solo
para que uma aduba çã o de implanta çã o, no sulco ou na cova de plantio, feita com uma
fonte sol úvel, de disponibilidade "imediata ", traga maiores respostas da planta à
fertilizaçã o fosfatada . Todavia, sabe-se que a aplicaçã o apenas de FN de baixa reatividade
nã o é, em muitos casos, adequada , uma vez que a pequena quantidade de P geralmente
liberada, a curto prazo, nã o é satisfatória para o crescimento inicial da planta e, muitas vezes,
também, nã o o é para o crescimento posterior, dada a formaçã o de P não-lábil, com o tempo.
A aduba çã o de implanta çã o ou de "arranque", feita com fonte sol ú vel, é a causa
para a resposta inicial da planta , dado o equilíbrio estabelecido entre o crescimento
r á pido, a maior demanda de P ocorrida nessa fase e uma grande disponibilidade inicial
de P dessa fonte. Todavia , alguns FNs de maior reatividade, como o Gafsa , ARAD e
Norte Carolina , tê m-se mostrado tã o ou mais eficientes para suprir P para plantas de
ciclo curto quanto as formas mais sol ú veis, como os superfosfatos. Pode-se, entã o, ter na
fosfatagem corretiva com FNs de baixa reatividade, dentro de certos limites, uma
preocupa çã o maior com o solo, para que seu teor de P-diponível aumente (com novas
aplica ções) de maneira gradual, com o tempo, o que poderia ser conseguido com uma
fonte de P bem mais barata que as sol úveis. Portanto, a baixa eficiência dos FNs em curto
prazo pode ser compensada pelo baixo custo do material aplicado.
,
( 4)
H á os FNs de origem ígnea e os metam ó rficos, muito pouco reativos, com estrutura cristalina
compacta , sem superf ície adicional interna ( material com pequena superf ície específica ), com pro-
vá vel menor presen ça de minerais acessó rios. Por outro lado, os de origem sedimentar apresentam
estrutura microcristalina pobremente cpnsolidada, com grande superf ície específica . A substituiçã o
isom ó rfica do P 043 por C 032 na apatita ( aumento de moles de C 032- por mol de apatita , por
' ‘
exemplo ) causa decr éscimo no tamanho do cristalito e aumento na superf ície específica ( m2 g 1 ) do '
material. Portanto, o aumento do conte ú do de carbonato na apatita leva a uma reatividade maior
da rocha fosf á tica ( Khasawneh & Doll, 1978; Lehr, 1980; Hammond et al., 1986; Rajan et al ., 1996 ).
Enquanto a relaçã o molar C03/ P04 no FN de Norte Carolina é de 0,26 ( material reativo), no de Patos
de Minas é de 0,02 ( material muito pouco reativo ) (Smyth & Sanchez, 1982 ) . Os FNs de Jacupiranga,
Araxá, Tapira, Catal ã o e Anit á polis sã o de origem ígnea . O FN de Patos é de origem sedimentar
( Bom & Kahn, 1990 ). O termo "fosforita " tem sido també m usado para os FNs de origem sedimentar.
Al é m das formas cá lcicas, os FNs sã o encontrados na forma de compostos de Fe e de Al, como:
A1P04.2 H 20 ( variscita ) e FeP04.2 H 20 ( estrengita ) . Ao contr á rio das apatitas, esses FNs t ê m a
solubilidade aumentada com o aumento do pH do solo (Olsen & Khasawneh, 1980 ).
-
<15) Fluor apatita : 3Ca 3(P04)2.CaF2; hidróxido-apatita: 3Ca 3( P04)2.Ca (0H )2; carbonato-apatita: 3Ca 3( P04 )2.CaC0r
Dissolução da fluor-apatita em meio ácido (Hammond et al., 1986): Ca10(PO4 )6F2 + 12H+ <H> 10Ca 2+ + 6H2P04 + 2F
FERTILIDADE DO SOLO
504 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
O suprimento de pró tons pode, também, ocorrer ao se aplicar o FN em solos mais ácidos.
A literatura é consistente em dizer que uma das condições favoráveis à solubilização de
FNs apatíticos é sua aplicação em solos ácidos (Khasawneh & Doll, 1978; Goedert & Lobato,
1980; Novelino et al., 1985; Hammond et al., 1986; Rajan et al., 1996). Essa acidez necessá ria
à dissoluçã o do FN pode, também, ser suprida pela planta e pelos microrganismos
rizosf éricos (Gillespie & Pope, 1990a,b; Bolan et al., 1997; Vazquez P. et al., 2000; Gull et al.,
2004; Liu et al., 2004). O efeito acidifiçante da rizosfera de algumas plantas é comentado
ao longo deste texto. A acidifica çã o da rizosfera da leguminosa "black locust" ( Robinia
pseudoacacia L.) em amostras de seis solos foi de 1,0 a 1,5 unidade de pH, em rela ção à
massa de solo (Gillespie & Pope, 1990a ) . Esse efeito acidificante da rizosfera aumentou
a recupera çã o estimada de P de três FNs com reatividades distintas, pela planta , nos
I
P- planta
-
Ca planta
Umidade
H
Difus ão
+ 4H 2+
3 Ca Ca-solo
d CTC, lixiviação
2H2PG 4
+ 40H
-
P solo
-
P lábil -
P não lábil
Difus ão
<16) Pode-se, também, produzir á cido fosf órico a partir de apatitas pela adiçã o de maiores quantidades
de H2S04 ( Robinson, 1980) : Ca10(PO4 )6 F2 + 10 H 2S04 + 10 nH20 10 CaS04 nHzO + 6 H3P04 + 2HF.
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 505
e, provavelmente, pela ausência ou baixa presenç a de Al 3+, dada sua parcial ou total
complexa çã o por compostos orgâ nicos, considerando a grande afinidade do meio para
com o Ca (dreno -Ca ) proveniente da rocha, como discutido neste capítulo, e a menor
forma çã o de P nã o-lá bil (fonte-P) .
Dreno-Solo
Com a dissoluçã o do FN no solo (Figura 16 ), há aumento da concentraçã o de Ca e de
P nas vizinhanças das partículas de FN, tendendo a um equilíbrio e restringindo a
dissoluçã o do FN . A retirada ou diminuiçã o desses produtos da dissoluçã o far á com
que o equilíbrio se desloque para a direita, aumentando a taxa de dissolu çã o do FN.
Essa maior dissolu çã o deverá ocorrer, portanto, em condições de maior dreno para o Ca 2+
e para o H2P04 (17) . O solo é um dreno de grandeza variá vel, tanto para Ca 2+ como para
FI2P04 . Para o mesmo tipo de argila, ambos os drenos aumentam com o aumento do teor
‘
de argila . O tipo de argila, definido, por exemplo, por uma condiçã o de maior ou menor
intensidade de intemperismo, far á com que a presença de argila com maior ou menor
atividade defina maior ou menor car á ter-dreno-Ca. A intensificação do dreno-Ca ( maior
CTC ), de modo geral, significa diminuiçã o do dreno-P (adsor çã o de P ) ou do fator
capacidade de P do solo ( FCP). Uma questã o frequente é a importâ ncia de ter maior
dreno-Ca ( maior CTC ) ou maior dreno-P ( maior CMAP) como condiçã o mais favor á vel à
dissoluçã o de FN. O simples fato de ter, no solo, um sistema muito mais tamponado para
P do que para Ca (18) indica que maior dreno-Ca deve ser mais cr ítico que maior dreno-P,
como condiçã o para maior dissoluçã o de FN. Portanto, a dissoluçã o de FN dever á ser
mais intensa em solos com maior CTC e, particularmente, com maiores teores de MO,
como já comentado. Pode-se, ainda, considerar que maior absor ção de Ca pelas plantas,
bem como maior difusã o e lixivia çã o de Ca do que de P, de modo geral, dever á ter efeito
particular sobre a dissoluçã o de FN em solos.
A compara çã o entre pH, dreno -P e dreno-Ca mostrou que o dreno-Ca foi a
condicionante mais importante da dissolu çã o do fosfato de Gafsa em laborató rio
(Robinson & Syers, 1990). Para isso, uma amostra do fosfato de Gafsa, em sacos de
diálise, foi submetida à dissoluçã o, na presença de acidez (pH tamponado), de um gel de
óxido f érrico hidratado, como dreno-P, e, ou, de uma membrana de troca catiônica, como
dreno-Ca, por um período de até 44 dias (Quadro 7). Observou-se, também nesse trabalho,
que a dissolu çã o do Gafsa com 44 dias de equilíbrio com as amostras de solo
correlacionou -se melhor com a concentra çã o de Ca na soluçã o do solo ( r = -0,91) . A
importâ ncia do dreno-Ca para a dissoluçã o de FN é corroborada em outros trabalhos
( Robinson et al ., 1994; Bolan et al., 1997; Corr êa et al., 2005).
(17 )
Para condi ções de pH de solo cultivado, H 2P04 é a forma predominante de P em solu çã o . A
‘
42
participa çã o de HPÓ ( també m absorvida pela planta ) torna -se maior com o aumento do pH do
‘
calcá rio calcítico (Dr. T. Jot Smyth, informa çã o pessoal ). A comparaçã o entre Ca-soluçã o / P-solução
sugere um tampã o, ou fator capacidade, para Ca no solo, nessas condições, 457 vezes menor que para P.
FERTILIDADE DO SOLO
506 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
Dreno-Planta
mg P mg Ca %
6,1 0 0 1/5
4,5 0 0 6,0
6, 2 50 0 3, 2
4 ,5 50 0 9,8
6, 2 0 48 30, 0
4,5 0 48 60, 0
4,5 50 48 95, 0
CaCCh SrC 03
Dose de P
Do D ;2 D3 D2 D3
mg / vaso g / vaso
0 9,6 9,9 8, 2 9, 2 8,5
150 64,0 40,4 16,4 56,7 38,6
300 86,5 65,3 20,6 76,3 55,1
600 111,4 87,2 22,2 105,5 72,7
(J )
Os níveis de calagem ( D2 e D3) representam 32 e 60 mmolc kg 1 dos corretivos no solo.
'
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 507
nã o-rizosf é rico (Marschner, 1991). De modo semelhante, leguminosa -arbó rea inoculada
com rizóbio apresenta forte acidifica çã o da rizosfera (Gillespie & Pope, 1990a ,b ). Esse
efeito acidificante da rizosfera e a grande absor çã o de P e de Ca (Raij & van Diest, 1979 )
pela soja sã o, provavelmente, as razões dos excelentes resultados encontrados por
Goepfert et al. (1976 ), citados por Raij et al. (1981), para fosfatos de baixa reatividade,
como o de Arax á . Portanto, quando se generaliza a nã o-adequabilidade da aplica ção de
FNs de baixa reatividade em solo com pH superior a 5,5, pode-se incorrer num equívoco,
ao desconsiderar o pH da rizosfera (19) da planta cultivada . Assim, um pHH2Q = 6,0 na
massa do solo pode ser reduzido a 4,5 na rizosfera, condiçã o favor á vel à solubilizaçã o
( aproveitamento pela planta e nã o pelo solo ) desses fosfatos.
Embora a dissoluçã o acumulada de um FN aumente com o aumento da dose aplicada
no solo, a taxa de dissolu çã o ( unidade dissolvida / unidade aplicada ) diminui. Dá -se
isso como consequê ncia de limita ções impostas ao sistema pela competiçã o por acidez e
por drenos do solo, para os produtos Ca e P da dissolu çã o do FN (20). Algum aumento da
dissolu çã o, proporcionado pela planta , como dreno para esses elementos, como
consequência da produçã o de mais biomassa, em resposta à maior dose de FN, poder á
acontecer. Todavia, deve-se ter em mente que o dreno-planta, tanto para P como para Ca ,
é muito menor que o dreno-solo (21).
E como aumentar o dreno-solo para um FN em um cultivo? A araçã o e a gradagem
de solos que receberam FN anteriormente devem causar maior dissoluçã o desse material.
Com a mudança das partículas do FN de lugar, aumenta a chance de que elas se localizem
em uma regiã o ainda não enriquecida com Ca e P (Kirk & Nye, 1986) . Com essa mudança
de posição da partícula de FN, tem -se efeito semelhante à renovaçã o dos drenos para Ca
e para P. Esse efeito foi avaliado por Novais et al. (1985). Para isso, foram testadas doses
do fosfato de Araxá, em condições de laborató rio e de casa de vegetaçã o, correspondentes
a 0,0, 1,0 e 3,0 t ha 1, em um Latossolo Vermelho-Escuro, com pHH20 = 4,0, P-Mehlich-1 =
"
profundidade .
FERTILIDADE DO SOLO
508 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
solo, como mostram Khasawneh & Doll (1978). Posteriormente, todos os tratamentos
receberam 4,6 t ha 1 de CaCOs + MgCOs, com PRNT corrigido para 100 %, na rela çã o
'
molar Ca:Mg = 4:1. Os tratamentos receberam, também, aduba çã o básica com macro (-P)
e micronutrientes e cultivou -se sorgo gran ífero . A solubiliza çã o do fosfato de Araxá
aumentou com o n ú mero de revolvimentos, de modo particular com o maior n ú mero de
revolvimentos testado (R5) (Quadro 9 ). Com a maior dose de FN aplicada (3 t ha 1 ), em '
que uma partícula de FN, ao mudar de lugar, encontre uma regiã o nã o enriquecida pelos
produtos da dissoluçã o de outras partículas, confundindo-se o efeito de dose com o de
revolvimento, como indicado pela literatura (Rajan et al., 1996) .
Todavia, os resultados relativos aos maiores valores de solubiliza çã o do Arax á nã o
coincidiram com os maiores valores de crescimento eac ú mulo de P na planta (Quadro 9).
Os tratamentos com o maior número de revolvimentos, que causaram maior solubiliza çã o
do fosfato, provocaram menor crescimento das plantas e menor ac ú mulo de P na sua
parte a é rea. Pode-se concluir que condições favorá veis à maior dissolução do FN podem
levar, também, a uma passagem mais r á pida do P da forma lá bil, proveniente do fosfato,
para a nã o-lá bil, posteriormente. Assim, pode-se pressupor que condições de solo
favor á veis à solubiliza çã o menos intensa sejam mais favor á veis ao dreno plantas,
permitindo aproveitamento mais eficiente dessa fonte de P.
g / vaso mg / vaso
RoAo 2,325 1, 4
Ri Ao 2,550 1,8
R 2A0 2,603 2, 2
R 5A 0 2, 615 1,9
R 0 A1 4,347 4,6
R 1 A1 3, 240 2,7
R 2 A1 3,807 3, 4
R 5 A1 2,923 2, 2
R 0A3 6, 203 6,6
Ri A 3 7, 210 7,9
R2A3 6,740 6,5
R5A 3 4,863 4,0
DMS 0,05 ( 2 ) - Revolvimento / D ò se f ó sforo 1,070 1,4
- Dose / Revolvimento f ó sforo 0,970 1 ,2
{I )
R = revolvimento, tendo como índice o número de revolvimentos durante a incubaçã o; A = fosfato de Araxá ,
tendo como índice a dose de fosfato testada ( t ha 1 ) - (2 ) Diferença mínima siginificativa a 5 %, pelo teste de Tukey .
Fonte: Novais et al . (1985) .
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 509
Tempo de Contato
Importante fator de controle da dissolu çã o de FN, nã o presente explicitamente na
figura 16, é o tempo de contato (equilíbrio ) do FN com o solo.
A literatura mostra, com frequência , que o maior tempo de contato solo-fosfato, que
causa sua maior solubilidade, causa , també m, menor disponibilidade de P para as plantas
( Khasawneh & Doll, 1978; Novais et al., 1980, Novelino et al ., 1985; Rajan et al., 1996), ou
menor concentraçã o de P-l á bil, medida pela Resina de Troca Iô nica (Smyth & Sanchez,
1982) . Pode-se deduzir que, embora haja maior solubiliza çã o do FN com o aumento do
tempo de contato com o solo, os produtos formados ( P nã o-lá bil ) apresentam-se mais
está veis que o original, o FN. Para avaliar esse efeito do tempo de contato sobre a
solubiliza çã o de fosfato de Arax á, Novais et al . (1980) incubaram três doses do fosfato
(0,5, 1,0 e 2,0 vezes a capacidade m á xima de adsor çã o de P do solo - CMAP) com amostras
de dez Latossolos á cidos e pobres em Ca trocá vel, de modo geral, por quatro diferentes
per íodos de tempo de incuba çã o ( 253, 133, 73 e 0 dias ) . As incuba ções foram iniciadas
em datas diferentes, de modo que o plantio, em vaso, foi feito, em todos os tratamentos, no
mesmo dia . Mesmo com doses de P bem elevadas, verificou-se decréscimo acentuado na
eficiência do fosfato de Araxá como fonte desse nutriente para plantas de sorgo, com o
aumento do tempo de incuba çã o (Quadro 10 ) . Os resultados indicaram que, mesmo
havendo rea çã o do fosfato com o solo ao longo do per íodo de incuba çã o, essa rea çã o
i
forma produtos de menor disponibilidade de P para as plantas que o fosfato original .
Deve-se entender que o forte efeito negativo do tempo de incuba çã o sobre a
disponibilidade de P de uma fonte sol úvel, dada a rá pida forma çã o de P nã o-lá bil, é bem
menos intenso, embora existente, para as fontes pouco reativas, como os nossos FNs
apatíticos (Figura 17) . No caso desses fosfatos, a lenta solubiliza çã o ao longo do ciclo da
planta faz com que haja menos P em soluçã o para tomar a rota nã o-lá bil, como acontece
com as fontes sol ú veis.
Resultados semelhantes foram obtidos por Novelino et al. (1985). Amostras de cinco
Latossolos ( valores de pHH2D entre 4,1 e 5,1 e teores de Ca 2+ entre 0,10 e 0,23 cmolc dm 3), '
sem e com calagem ( neste caso, pHH 2G entre 5,3 e 6,0 e Ca 2+ entre 1,75 e 3,30 cmolc dm 3),
'
receberam fosfato de Arax á, numa dose equivalente a 1.000 kg ha 1 de P2Os total, e foram
'
Quadro 10. Valores médios(1) de crescimento e absor çã o de f ósforo pela planta, em resposta à
aplica çã o de doses de fosfato de Arax á e de quatro tempos de incuba çã o do fosfato com
amostras de dez solos
Tempo ( dia )
Vari á vel 0 73 133 253
FERTILIDADE DO SOLO
510 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
incubadas por per íodos de tempo de 0 a 270 dias. A solubiliza çã o da apatita, medida
pelo aumento do Ca trocá vel do solo, fracionamento das formas inorgâ nicas de P e
extratores do "P-disponível" variaram conforme o tempo de incuba çã o. Na presença da
calagem, a solubiliza çã o foi menor que na sua ausê ncia (Quadro 11) .
Figura 17. Efeito do tempo de incuba çã o de fosfatos ( natural ( FN ) e sol ú vel ( FS) ) sobre a
disponibilidade de f ósforo ou sobre o crescimento de planta .
Fonte: Adaptado de Novais et al. (1980); Novelino et al. (1985); Gonçalves et al. (1989).
Solubiliza çã o ( % ) (1 ) 0 13 43 0 2 30
Mat . seca (g / vaso ) 0,90 8 , 12 6,99 6,16 8, 09 6,62 6 ,78
P-absorvido ( mg / vaso) 0,77 4,89 4,06 3,73 5,15 4, 30 4,41
P-Olsen ( mg kg 1 ) '
2 ,1 3,8 7, 6 12
/ 1 ,6 2, 1
P - Bray -1 ( mg kg 1 ) '
Altera çã o do Ca trocá vel do solo ( Khasawneh & Doll, 1978) . (2 ) Os resultados para os extratores serã o discutidos
(1 )
< 22) Uma das maneiras para medir a dissolu çã o de um FN no solo, em diferentes tratamentos, é deter -
minar as altera ções no teor de P-Ca ( Rajan et al ., 1996 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 511
do dreno-P sobre a solubiliza çã o do FN, embora esse dreno deva ter sido, também,
responsá vel pela reduçã o na disponibilidade de P para o sorgo.
Aparentemente, para nossos solos, mesmo para aqueles com menor FCP, o efeito do
tempo sobre FN, favorecendo a planta (P-disponível ), e nã o o solo (fixa çã o de P), parece
nã o ocorrer . Pode-se ainda, dizer que esse efeito de tempo, diminuindo a efetividade de
fontes de P em solos, aumenta com o aumento da reatividade ("solubilidade") do fosfato
e do FCP do solo (e, como tem sido discutido neste capítulo, com algumas condições que
favoreçam a solubiliza çã o do FN ). Assim, quando se comenta a melhoria da eficiência
de FN como fonte de P para as plantas, com o aumento do tempo de contato do fosfato
com o solo, o que se tem, na verdade, é um efeito de tempo, diminuindo essa eficiência de
modo menos pronunciado para o FN do que para as fontes sol ú veis (23) (Sarmento et al .,
2001) .
O efeito da aplica çã o antecipada do fosfato de Araxá e de fosfatos industrializados
de maior solubilidade (superfosfato simples, termofosfatos e um fosfato parcialmente
acidulado com 50 % de á cido sulf ú rico ), em rela çã o à calagem e ao plantio de sorgo, foi
avaliada por Kaminski & Mello (1984). Foram utilizadas amostras de tr ês solos á cidos,
e o calcá rio (carbonatos de Ca e de Mg na rela çã o molar de 4:1) foi aplicado na dose
necessá ria para elevar o pH dos solos a 6,0. Deve-se ressaltar que a dose de P utilizada
(150 mg kg 1 de P2Os total no fosfato) pode ser considerada baixa < 24) para estudos em
'
vasos. A maior eficiência dos fosfatos industrializados ocorreu quando aplicados juntos
(30 dias antes do plantio, anteced ência constante nos demais tratamentos ) e a menor
quando aplicados 90 dias antes do calcá rio, sugerindo a forma çã o mais intensa de P
n ã o-lá bil nessas condições ( Quadro 12) . Para o solo arenoso, nã o houve diferença entre
as é pocas de aplica çã o dos fosfatos, em rela çã o à calagem ( veja tratamentos no rodapé
do quadro 12) . Os resultados que mais chamam a atençã o neste trabalho sã o os relativos
ao fosfato de Araxá . No solo arenoso (Pared ã o Vermelho, com 9 % de argila ), como o
dreno-P predominante é a planta , e nã o o solo, qualquer é poca de aplica çã o do fosfato,
em rela çã o ao plantio, leva a resultados semelhantes ( nã o diferentes entre si ). Por outro
lado, para os solos com maior FCP (o Bom Jesus, com 57 % de argila , e o LE, com 51 % ), a
aplica çã o antecipada do Araxá , em rela çã o ao plantio, leva a menores produtividades
que as da aplica çã o mais pr óxima ao plantio . Esses resultados indicam que o tempo
necessá rio para maior solubiliza çã o é, també m, responsá vel pela forma çã o de produtos
de menor disponibilidade de P para as plantas. É també m curioso observar que com
90 dias de contato do FN com o solo mais á cido ( Bom Jesus), antes da aplica çã o do
calcá rio, obteve-se crescimento da planta menor que o obtido com aplica çã o do fosfato
( 23)
Essa maior tend ê ncia à linearidade, para o FN (e exponencial para a fonte sol ú vel ), é consequ ê ncia
da solubiliza çã o, que continua com o tempo de contato do FN com o solo, como també m a adsorçã o /
fixa çã o, ambos os fen ô menos seguindo modelos exponenciais. Por outro lado, a fonte "imediata -
mente" sol ú vel tem como consequ ê ncia do efeito do tempo apenas o decréscimo exponencial dos
produtos da dissolu çã o ( Figura 17).
( 24)
Doses consideradas como insatisfat órias para o crescimento ideal da planta sã o mais sensí veis a
tratamentos que interferem na efici ê ncia da fonte em suprir P para a planta .
FERTILIDADE DO SOLO
512 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et ai .
Quadro 12. Crescimento do sorgo e f ósforo absorvido pela planta, em vasos, em resposta à
é poca de aplica çã o do fosfato de Arax á (150 mg kg 1 de P2Os total no solo), em rela çã o ao
"
% g / vaso mg / vaso
Bom Jesus 57 4, 5 A 1, 03 c 1, 07 b
D 2, 38 b 2, 03 b
J 5, 32 a 6, 33 a
LE 51 5,1 A 1,43 b . 1 , 29 b
,D 1, 99 b 1, 64 b
J 4, 05 a 3, 73 a
A : fosfato antes (90 dias) do calcá rio; D: fosfato depois (90 dias ) do calcá rio; J: fosfato e calcá rio na mesma época
ll )
(30 dias antes do plantio; este tempo foi també m mantido para a aplica çã o do calcá rio nos outros tratamentos ). Para
o mesmo solo, dentro de cada coluna , as m édias seguidas da mesma letra n ã o diferem entre si, a 5 % .
Fonte: Kaminski & Mello (1984 ) .
90 dias depois do calcá rio. Tal resultado indica que mesmo a acidez essencial à
solubiliza çã o do fosfato, semelhantemente ao efeito do tempo, proporcionou maior
ac ú mulo de formas de P menos disponíveis para a planta que a forma inicial do FN.
Pode-se, també m, conjecturar se, nesses solos com grande FCP, a acidez essencial à
solubiliza çã o do FN teria como resultante pr á tica a perda da efetividade do fosfato como
fonte de P para as plantas. Embora no solo LE a aplicaçã o do FN antes do calcá rio
( tratamento A) nã o diferisse significativamente da sua aplicaçã o depois do calcá rio
( tratamento D), manteve-se a mesma tend ência absoluta de ser o tratamento D melhor
que o A. També m Raij & van Diest (1980) observaram que a aplicaçã o antecipada de FN
de baixa reatividade, como os FNs de Patos e Alvorada, em rela ção à é poca de aplicação
do calcá rio, nã o contribuiu para melhor resposta de plantas de soja em vasos.
Até entã o, os diferentes resultados mostraram que condições favorá veis à dissoluçã o
de FNs pouco reativos nã o levaram, necessariamente, a maior crescimento e absorção de
P pela planta . Observa -se que uma fonte de P ( FN ), em dadas condições de solo e de
planta (e de clima ( 25) ), apresenta uma ciné tica ou taxa (a ) de dissoluçã o (Figura 16). Os
produtos dessa dissolu çã o sã o submetidos a uma ciné tica de aquisiçã o pela planta ( b )
ou pelo solo (c e d ). Imagina-se, inicialmente, que o FN seja um produto muito está vel,
( 25 > Al é m da disponibilidade de á gua , o aumento de temperatura ( condi ções tropicais x condi ções
temperadas ) pode fazer com que a dissoluçã o de P aumente pelo aumento da adsorçã o de P pelo
solo, aumentando o dreno- P para os produtos da dissoluçã o do FN ( Rajan et al., 1996 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 513
pouco reativo. Se a ciné tica b (absorçã o pela planta ) for mais rá pida ( maior demanda de
P / unidade de tempo ) que a ciné tica a (dissoluçã o do FN, em P solubilizado / unidade de
tempo), esse FN nã o irá suprir a planta, no tempo necessá rio, de todo o P requerido para
o seu crescimento. Pode-se, minimizar o problema , aumentando o ciclo da planta, de
modo que o P requerido seja absorvido em um per íodo de tempo maior ( diminui-se a
ciné tica b, tornando-a mais compatível com a ciné tica a ). Outra opçã o seria aumentar a
ciné tica a (solubilizaçã o do FN ), mantendo a mesma planta inicial, de ciclo curto. Para
isso, como já se discutiu, podem-se aumentar a acidez (solo ou rizosfera ), o dreno-P e, ou,
o dreno-Ca ( 26). O aumento da acidez implicará o cultivo de plantas tolerantes à acidez (à
toxidez de elementos, como AI e Mn ), e com baixa exigência de Ca . Eucalipto ( Novais et
al ., 1990 ) e algumas gramíneas forrageiras (Sanchez & Salinas, 1983) adequam -se a esse
perfil. O aumento do dreno-P, utilizando, por exemplo, solos com maior FCP ( mais
intemperizados e argilosos, com grande capacidade má xima de adsor çã o de P - CMAP ),
criar á uma dificuldade adicional para a ciné tica b ( absor çã o ), pela seguinte razã o: a
ciné tica c (adsor çã o / fixa çã o) é, de modo geral, muito mais rá pida que a ciné tica b
( absor çã o). Para condições de solo com baixo teor de P-disponível (solo-dreno-P), viu-se,
anteriormente (Quadros 10 e 11), que a própria apatita de Araxá é uma fonte de P (cinética
a mais satisfatória para a planta ) que o P proveniente da dissoluçã o e retido pelo solo em
formas, predominantemente, nã o-lá beis. Para solos com baixos teores de P-disponível e
altamente tamponados (grande FCP), quando ainda seriam caracterizados como dreno-
P, a planta ser á beneficiada pelo maior suprimento de P, bloqueando-se a ciné tica c
( adsor çã o / fixa çã o). Embora, para isso, se possa pensar em diminuir grandes valores da
CMAP dos solos, por tentativas como calagem ( Haynes, 1984; Lindsay et al., 1989 ) e
adiçã o de MO ( Iyamuremye & Dick, 1996 ) ou de silicato (Smyth & Sanchez, 1980a ), boa
soluçã o pr á tica para contornar a ciné tica c ( dreno-P pelo solo) seria utilizar solos com
menor FCP ou aplicar o fertilizante fosfatado ( FN ou ST ) localizadamente nesses solos
com grande FCP (Corrêa et al ., 2005) .
Em nosso País, a utiliza çã o de solos de texturas médias tem apresentado boa soluçã o
para o problema ( aumenta -se a eficiência do FN de baixa reatividade como fonte de P
para as plantas, e nã o para o solo) (Quadro 13) . Esse comportamento do FN de baixa
reatividade em solos com grande FCP, com uma rela çã o inversa entre dissoluçã o do FN
e disponibilidade do P liberado para a planta ( Quadros 9, 10 e 11) , permite o
desenvolvimento de um modelo nã o utilizado em nossas condições. Se a fonte de P,
mesmo os FNs de baixa reatividade, como nossas apatitas, é melhor supridora de P para
a planta, sem a intermedia çã o do solo, dada a estabilidade dos produtos formados
( P nã o-lábil ), é preciso repensar o modo de aplica çã o (incorpora çã o) dos FNs para
aumentar seu contato com o solo, generalizadamente recomendado. Maior contato das
partículas do FN com o solo poderia ser recomendado para condições de baixo FCP
( 26)
Aumentar os drenos Ca e P, utilizando-se uma planta com maior absor çã o destes nutrientes, pode
ser outra solu çã o, embora o aumento do dreno destes nutrientes, mantendo-se o ciclo da planta
constante, implique, tamb é m, o aumento da ciné tica b . Uma aparente solu çã o para aumentar a
ciné tica a ( dissolu çã o do FN ) sem aumentar a ciné tica b (absor çã o de P ) será utilizar plantas com
maior absorçã o de Ca (aumentar o dreno-Ca ) e com a mesma ou menor absorçã o de P ( manter ou
diminuir dreno-P ) .
FERTILIDADE DO SOLO
514 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
Quadro 13 . Produ çã o de maté ria seca da parte a é rea de mudas de eucalipto, considerando
solos, fontes e doses de f ósforo aplicadas ( teores totais na fonte )
Solo (1 )
Fonte Dose de P
LVm LE AQ
mg dm 3 ’
g / vaso
0 0 , 02 0,04 0, 26
FA 100 7, 23 0,38 8, 27
200 12, 97 0,60 11, 70
400 15, 89 3,52 11, 25
0 0,02 0,04 0, 26
ST 100 15, 98 2,34 15, 21
200 15,65 5, 23 18,87
400 17, 49 12,84 18, 68
(solos arenosos, solos orgâ nicos, solos pouco intemperizados, etc.) (Corrêa et al ., 2005),
uma vez que solubiliza çã o seria sinó nimo de disponibilidade de P para a planta. O
grande contato do FN com o solo, obtido com sua distribuiçã o em toda a á rea e
incorpora çã o no solo, deverá ter como objetivo saturar o elevado poder de adsorçã o
desses solos, favorecendo a planta quanto a futuras aplicações de fontes sol ú veis de P,
apesar das dificuldades relativas à s grandezas de FN necessá rias à obtençã o de alguma
eficiência desse procedimento . Todavia , um tipo de aplica çã o que diminua o contato
com o solo, particularmente com aqueles de maior FCP, mas que mantenha o maior contato
possível com maior volume de ra ízes seria ideal. Seria esta a condiçã o de favorecimento
preferencial do dreno-planta em rela çã o ao dreno-solo (a utiliza çã o de micorrizas é um *i
exemplo desse tipo de favorecimento ) ? Nã o é o que temos feito até agora, uma vez que
ênfase tem sido dada ao maior contato possível com o solo, qualquer que seja ele, mesmo
aqueles com grande FCP ( Lopes et al., 1982; Goedert et al., 1986; Goedert & Lopes, 1987;
Novais et al., 1990).
O volume de tronco de eucalipto ( Eucalyptus camaldulensis ) com nove anos e sete
meses de idade foi maior quando o fosfato de Araxá foi aplicado no sulco de plantio
(174,7 m3 ha 1) do que quando aplicado a lanç o, em faixa de 1,20 m de largura, e
'
incorporado antes do plantio (140,6 m3 ha 1), como média das três doses de P testadas
"
(Paredes F., 1996). Essas doses corresponderam a 100, 200 e 400 kg ha 1 de P2Os total do '
FN. O solo utilizado no experimento tinha pHH2Q = 4,7, 0,1 e 0,8 cmolc dm 3 de Ca 2+ e Al3+, '
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 515
recuperaram 14,46 % do P aplicado, com a aplica ção em faixa a recuperaçã o foi de 6,96 %.
Para a dose de 400 kg ha 1 de P2Os, esses valores foram de 16,58 e 8,01 %, respectivamente.
'
Atualmente, a maioria das florestas brasileiras recebe uma aplica çã o de fosfato natural
no sulco de plantio (sulco de subsolagem ou de ripagem, mais freqiientemente ) numa
dose que varia de 400 kg ha 1, para os FNs reativos, a 600 a 700 kg ha 1, para os de baixa
' '
em que DST é a dose de P (ou de P205) total, na forma de ST, necessá ria à produçã o YeDx
é a dose de P (ou de P2Os) total, na forma da fonte de P testada, necessá ria à mesma
produ çã o Y (Figura 18).
Quando nossas apatitas de baixa reatividade sã o comparadas com FNs de maior
reatividade, como Gafsa, ARAD, Norte Carolina, e com fosfatos industrializados, como
os termofosfatos e os fosfatos sol úveis em água (Quadro 14), observa-se, com frequência,
que a absorçã o de P e o crescimento de planta correlacionam-se com a solubilidade dos
fosfatos em á cido cítrico (Goedert & Lobato, 1980(27); Goedert & Sousa, 1986(28)). Essa
correla çã o justifica a semelhança de comportamento entre os FNs e as fontes sol úveis,
mesmo para culturas anuais, quando a dose aplicada é estabelecida com base no teor de
P2Os sol ú vel em á cido cítrico da fonte ( Urquiaga et al., 1982; Bataglia et al., 1984 ).
( 27 )
Goedert & Lobato (1980 ) conclu í ram que a resposta da soja ao FN de Patos ( 400 kg ha 1 P 2Os "
aplicados na á rea toda e incorporados) decresceu com o aumento das doses de calcá rio aplicadas
em um LE com pHH 2G = 4,2 e 2,0 cmolcdm 3 ( Ca + Mg ) solo. Resultados como este podem gerar
'
especula ções quanto à sua causa . Foi por diminuir a acidez do solo? Por aumentar o teor de Ca
trocá vel em um solo com concentra çã o inicial de Ca satisfat ória ? Por restringir a acidifica çã o da
rizosfera das plantas de soja em ambiente de pH maior ? A mais eficiente utiliza çã o do FN como
fonte de P para planta , em um solo como este ( grande FCP ), depende da a çã o solubilizadora do
solo, formando formas de restrita reversibilidade, ou da a çã o da planta quando ela é o dreno mais
próximo e preferencial para o P liberado do FN?
< 28) Para a rela çã o EA das fontes com solubilidade, Goedert & Sousa (1986 ) encontraram, para um
primeiro cultivo com milho, em casa de vegeta çã o, rela ções significativas para o extra ído com á cido
c í trico ( R 2 = 0,88), citrato neutro de am ónio ( R 2 = 0,90) e P solú vel em á gua ( R2 = 0,90 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
516 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
Figura 18. C á lculo do equivalente-supertriplo ( Eq .ST ) ( Eq.8 ) (Observa -se que o Eq-ST vai
depender da dose ( D ) de P2Os escolhida (ou da produtividade y definida ) .
Quadro 14. Concentra çã o de P205 total e de P2Os sol ú vel (em rela çã o ao P2Os total) em á cido
cí trico a 2 % ( ou 20 g L 1 ) ( A.C., relaçã o fosfato:extrator de 1:100 ), de fontes de f ósforo
'
Fonte Total A.C. Total A .C. Total A .C. Total A . C. Total A .C. Total A .C .
%
i
Fonte ( literatura ) A B C D E F
1}
Produto nã o concentrado. (2) Baixa solubilidade em meio á cido, mas alta solubilidade em solu çã o neutra de
citrato de am ónio.
Fonte: A: Feitosa et al. (1978); B: Alcarde & Ponchio (1980); C: Kochhann et al. (1982); D: Lopes et al. (1982);
E: Goedert & Lobato (1980); F: Saggar et al. (1993).
i
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 517
A baixa reatividade das apatitas brasileiras, ein relaçã o aos FNs de melhor qualidade,
faz com que, comparados a superfosfato triplo, tenham comportamento insatisfatório
como fonte de P para culturas anuais, embora melhor para cultivos de longa dura çã o,
como o capim-andropogon (Quadro 15). Nesse experimento, utilizou-se um LE com pHH2Q
( testemunha ) entre 4,9 e 5,0 e Ca + Mg entre 1,6 e 2,1 cmolc dm 3, e sequência de cultivos
'
trigo, soja (dois anos), arroz, sorgo e capim -andropogon ( tr ês anos) durante oito anos
(Goedert & Lobato, 1984). Os FNs menos reativos, como Patos, Arax á , Abaete e Catalã o,
nã o promoveram aumentos significativos nas concentrações de "P-disponível", pelo Bray-1,
ou de Ca trocá vel, indicando a baixa solubiliza çã o desses FNs durante os oito anos de
dura çã o do experimento. Por outro lado, Goedert (1983) estimou que 20 % do P aplicado
na forma do FN de Patos, Arax á e Catalã o permanecia na forma original depois de seis
anos de contato com o solo ( um LV de cerrado ) . Após o quinto cultivo no campo, os FNs
de baixa reatividade apresentaram um efeito residual similar ao das fontes sol ú veis em
á gua .
í
A diferença de comportamento entre espécies de ciclo curto, ante o suprimento de P
por FNs de baixa reatividade, pode ser expressiva, como comentado ao longo deste
subcapítulo. A EA média, para todas as fontes, foi de 66, 62 e 80 % para milho, trigo e
soja, respectivamente. Considerando apenas os fosfatos Alvorada, Araxá e Patos, esses
valores de EA foram de 65, 56 e 76 %, respectivamente. O efeito acidificante da rizosfera
da soja parece ser a razã o do melhor comportamento dessa espécie.
I
Alguns resultados de pesquisa têm mostrado inefetividade dos FNs de menor
reatividade como fonte de P para plantas . De modo geral, esses resultados extremos
Quadro 15. Eficiê ncia agronómica (EA ) e equivalente superfosfato triplo ( Eq .ST ) de fontes de
f ósforo, durante oito anos de uma sequ ê ncia de cultivos em um LE de cerrado, em
j
condições de campo
EA (1 )
Eq.ST (1 Total
)
Fonte Dose de P total
Culturas anuais Andropogon Total
kg ha -
í
%
í
(1 )
Tomando como base a absorção de P.
Fonte : Goedert & Lobato (1984).
t
FERTILIDADE DO SOLO
518 ROB è RTO FERREIRA NOVAIS et al .
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - Fó SFOR ò 519
18 % P2Os total
16,5 % P 2Os sol ú vel em á cido cítrico a 2 % (ou 20 g L 1)
'
20 % Ca
9 % Mg
Bio-Super
Considera çõ es Finais
O efeito de maior tempo de contato do solo com fontes de P com diferentes reatividades
dever á aumentar a solubilidade acumulada das fontes menos sol ú veis, mas, por outro
lado, diminuir a disponibilidade de P para as plantas. Quanto mais reativo for o fosfato,
mais prejudicial ser á o efeito do tempo de contato com o solo sobre sua disponibilidade
de P para as plantas (Figura 19 ) .
O cultivo de sorgo granífero em um LE, durante sete cultivos sucessivos, fertilizado
com diferentes fontes de P - (FN) e fontes solúveis (FS) -, com a dose de 400 kg ha 1 de P205
"
total, aplicada a lanço e incorporada ao solo, mostrou resultados que justificam a figura 19.
Uma EA (Eq.7) do fosfato de Abaete, correspondente a 45 %, no primeiro ano, aumentou
para 102 %, no sé timo ano . Essa compara çã o, para o fosfato de Patos, foi de 67 e de
124 %, respectivamente. A produçã o total de sorgo durante os sete cultivos, em resposta
à aplica çã o de ST, foi de 19.151 kg ha 1, ao passo que para o de Patos foi de 19.102 kg ha 1
' "
( Vasconcellos et al ., 1986b ) .
A figura 19 mostra que as FSs sã o adequadas ao cultivo de plantas em nossos solos
mais intemperizados (aplica çã o localizada, material granulado, etc.) como sugerem
Goedert et al. (1986). Todavia, essa adequabilidade é restrita a respostas rápidas (cultivos
anuais, produtividades anuais de cultivos perenes como o caf é, etc. ), e nã o à manutençã o
da resposta ao longo dos cultivos ou dos anos ( Yost et al., 1982; Bolland & Gilkes, 1995) .
Para isso, produtos de menor reatividade que as FSs industrializadas e mais reativos que
os FNs de baixa reatividade deverã o, ser utilizados. A correta compatibiliza çã o da FS,
como arranque, e dos FNs, como manuten çã o de crescimento de eucalipto (Quadro 16 )
ou de pastagens ( Lopes et al., 1982 ), tem-se mostrado soluçã o adequada à grande
demanda inicial de P pela planta e à manutençã o de seu crescimento em idade de menor
demanda desse nutriente.
Depois de tudo que se falou neste capítulo, o modelo aproximado para explicar a
efetividade dos FNs como fonte de P para as plantas é o seguinte:
Fia grande diferença entre ser a fonte de acidez solo ou planta ( rizosfera ), no sentido
de direcionar o P da dissoluçã o do FN, de modo preferencial, para o solo, ou para a
planta, respectivamente . A acidifica çã o proporcionada pela raiz, junto às partículas do
FERTILIDADE DO SOLO
520 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
FN, dever á ter, como consequ ência da dissoluçã o do FN, o favorecimento da pr ópria
planta, ao passo que a acidifica çã o do solo, na ausência de raízes, teria o pró prio solo
como dreno ú nico para o P liberado. A planta pode fazer com que o pH da rizosfera seja
inferior ao da massa do solo. Há, portanto, dois compartimentos com valores de pH
distintos - solo nã o-rizosf érico e solo rizosf érico. Como sugerido, cada um desses
compartimentos pode proporcionar acidifica çã o necessá ria à solubiliza çã o do FN,
levando a um "consumo " do P liberado ( adsor çã o / fixa çã o ou absor çã o ) pelo
compartimento que supre a acidez (solo ou planta ). Há, também, dois compartimentos
distintos, que atuam como drenos para o Ca, oriundos da dissolu çã o do FN: o solo (CTC)
Figura 19. Efeito do tempo de contato de fontes de f ósforo sol ú veis em á gua ( FSs ) ou de
fosfatos naturais pouco reativos ( FNs ) com o solo sobre o crescimento de plantas em
cultivos sucessivos ou sobre o crescimento de plantas perenes, com uma ú nica aplica çã o
inicial da fonte de f ósforo.
Quadro 16. Produtividade de maté ria seca de tronco de Eucalyptus granáis com cinco anos de
idade e eficiência de recupera çã o de f ósforo e de cá lcio pelas á rvores, influenciada por
doses de fosfato de Patos e da mistura NPK 10-28-6, em Bom Despacho (MG )
Patos 1
( )
NPK ( 2 ) Tronco P Ca
t ha - í g/ planta t ha -í - 0/
/0
O FN de Patos foi incorporado com grade, em toda a á rea da parcela, 30 dias antes do plantio. (2) NPK aplicado
(1 )
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 521
FERTILIDADE DO SOLO
522 ROBERTO FERREIRA NOVAIS e t al .
Cultivos anuais de solos, por 13 anós, sem a adiçã o de fertilizantes, fizeram com que a
concentra çã o inicial de PQ diminuí sskpara 59 mg kg 1, mesmo que a partir do quarto ano
"
Fosfatases
A compreensã o do modelo de disponibilidade de P para as plantas nã o será completa
se o envolvimento das fosfatases não for discutido (Bieleski, 1973), uma vez que de 30-
70 % do P total do solo encontra -se na forma orgâ nica. Em solos de floresta, esse valor
tende a ser bem maior (Marschner, 1995). Formas de PQ terão de ser transformadas em P;,
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 523
para que se tornem disponíveis para as plantas (Richardson et al., 2000, 2001). A hidrólise,
que proporciona essa clivagem de P ( de formas orgâ nicas, é rea çã o catalisada pelo
envolvimento de enzimas genericamente denominadas fosfatases. Dependendo do pH
do meio, responsá vel pela otimiza çã o da sua atividade, as fosfatases sã o classificadas
em fosfatases á cidas, produzidas por plantas e microrganismos, com pH ó timo na faixa
de 4-6, e fosfatases alcalinas, produzidas por microrganismos( 29).
Tipos de fosfatases sã o identificados de acordo com o composto que essas enzimas
hidrolisam (Figura 20). Já foram identificadas fosfomonoesterases (fitases), fosfodiesterases .
fosfotriesterases . metafosfatases. pirofosfatases. etc . ( Eivazi & Tabatabai, 1977) . A
atividade das fosfatases em solos é avaliada pela quantidade de P, liberado ou pela
quantidade do radical orgâ nico liberado ao incubar solo com P0.
As fosfatases á cidas sã o enzimas adaptativas, influenciadas pela demanda de P
das plantas, com atividade inversamente relacionada com a disponibilidade de P; (Yun
& Kaeppler, 2001; Nanamori et al ., 2004 ) . Essa rela çã o inversa faz com que o PG do solo,
como fonte de P; para a planta , tenha sua import â ncia reduzida nos cultivos com alta
tecnologia , com a utiliza çã o de grandes doses de P sol úvel, como em cerrados, em geral.
Têm sido encontradas correla ções positivas de atividade de fosfatases com C orgâ nico
( Dick et al., 1988), justificando o decr éscimo da atividade enzim á tica com o aumento da
profundidade do perfil do solo ( Crouse, 1996 ) e com a diminuiçã o da popula çã o
microbiana (Tarafdar & Jungk, 1987) ou do teor de Mg do solo, como ativador enzimá tico
(Harrison, 1983) . A atividade das fosfatases é dependente da espécie de planta ( Yadav
& Tarafdar, 2001; Chen et al., 2003; Li et al., 2004).
Biomassa de Microrganismos
O predomínio da mineraliza çã o do P0 sobre a imobiliza çã o de P; do solo, suprindo
de P as plantas, depende da concentra çã o de P do resíduo orgâ nico disponível para a
respira çã o de microrganismos. Em termos gerais, a concentra çã o crítica de 2 g kg 1 de P '
o o
O = P ,
OR + FD + H20 O = P OR, + FD + RjOH
OR 2 OH
O = P ,
OR + FM + H20 O OH ,
+ FM + R OH
OH OH
Figura 20 . Rea ções de hidr ólise enzimá tica de f ósforo de compostos orgâ nicos, catalisadas por
fosfatases (fosfodiesterase = FD e fosfomonoesterase = FM).
(29)
Fungos produzem fosfatases á cidas e alcalinas ( Marschner, 1995 ).
FERTILIDADE DO SOLO
524 ROBERTO FERREIRA NOVAIS e t al .
como média de seis solos cultivados, e de 23 kg ha 1 ano 1 ( valores entre 23 e 40,3), em oito
' '
solos de pastagens, foi obtida por Brookes et al . (1984). Esses autores observaram, ainda,
que cerca de 3 % do P0 total em solos ar á veis, constituía o P-biomassa e de 5 a 24 % em
solos de pastagens. Quando o solo ar á vel foi deixado para florestas, o PQ dobrou em cem
anos e o P-biomassa aumentou onze vezes. Esses resultados indicam que, para pastagens,
o suprimento de P para as plantas pela biomassa de microrganismos pode ser significativo.
Isso explica , em parte, por que o teor de "P-disponível" é maior para o estabelecimento
da pastagem que para a manutençã o de seu crescimento.
Em amostras de 17 solos, a biomassa de microrganismos foi constituída, em média,
de 25 % de bactérias ( valores entre 10 e 40 % ) e 75 % de fungos ( valores entre 60 e 90 % ).
O predomínio de fungos ocorreu em todos os solos ( Anderson & Domsch, 1980). Extensa
literatura, citada por esses autores, mostra o grande predomínio de fungos sobre bactérias,
como constituintes da biomassa de microrganismos dos solos.
V*
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - Fó SFORO 525
FERTILIDADE DO SOLO
526 ROBERTO FERREIRA NOVAIS e t al .
i
EXTRATORES
A avalia çã o do "P-disponível" de um solo tem sido feita com o uso de soluções
extratoras com caracter ísticas constitutivas diversas, quanto à acidez, dilui çã o,
tamponamento, presença de compostos complexantes, f ósforo marcado, etc. e, mais
recentemente, com a Resina de Troca Aniô nica (Quadro 17) . As extra ções do "P-
disponível" fornecem valores que variam entre intensidade (I) e quantidade (Q), às vezes,.
até mesmo parte do P nã o-lá bil ( NQ), dependendo das propriedades do extrator e das u
Rela çã o
Denomina ção Composi çã o Refer ê ncia
solo:extrator
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - Fó SFORO 527
de P-disponível num solo é a quantidade de P que poderá ser absorvida por uma planta.
j
estimasse esse valor seria o ideal, embora fosse uma utopia segundo os conhecimentos
atuais. Ceder sugere uma postura passiva de uma planta diante de um solo, este a ú nica
entidade ativa, "supridora" de P para a planta . Em alguns casos, a planta " toma" P de
um solo aparentemente além do valor (Q + I) que o solo cederia. A acidificação da rizosfera
de uma planta, mais do que de outra, pode fazer com que formas de P ligado a Ca no solo
(P-Ca ), em forma não-lá bil, sejam absorvidas (Hedley et al., 1982). Assim, o P-disponível,
valor absoluto, depender á nã o apenas do solo (o P-soluçã o mais o P-lábil), mas também
da planta (comportamento diferencial em termos de rizosfera ), da fonte de N suprida
para a planta ( NH 4 + acidifica a rizosfera e N 03 a basifica ), da associa çã o com
'
(30)
Coca -Cola foi considerada excelente extrator de "micronutrientes-dispon íveis" do solo, particular -
mente de Mn . Quarenta e nove por cento da varia çã o do Mn acumulado em plantas de trigo, no
campo, foi explicada pelo Mn-Coca -Cola, ao passo que para o DTPA esta explica çã o foi de 39 %. A
extra çã o de Mn do solo com a Coca -Cola foi de 165 % o Mn- DTPA. A correla çã o entre o "Mn-
dispon ível" pelos dois extratores foi de 0,879**, em amostras de 60 solos (Schnug et al ., 1996 ) .
)
FERTILIDADE DO SOLO
528 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
evidente a necessidade de saber qual o extrator utilizado em uma aná lise de solo para
interpretar o valor do "P - dispomvel " encontrado e qual o NC ou "faixas de
disponibilidade" para esse extrator . .Essas informa ções variam conforme o extrator
porque se mede "P-disponível", e nã o P-disponível.
E o P-extra ível . o que seria ? Como a simples presença , ou nã o, de aspas poderia
trazer dificuldades à compreensã o da diferenç a entre o que os extratores (ou m é todos)
obtêm e o que de fato existe, como discutido, alguns autores preferem utilizar P-extraível .
em substituição a "P-disponível". A dificuldade para essa opçã o é que qualquer extrator,
po
independentemente de a concentra ç de P obtida correlacionar-se, ou n ã o, com o
crescimento da ( ou com o P acumulado na ) planta , determina -se um valor, com ou sem
utilidade.
Quando esse nutriente é o ú nico limitante de seu crescimento, os valores de P extraído
por esse novo mé todo poderão ser inferiores, iguais ou superiores aos de outros mé todos,
já consagrados, o que nã o invalida sua efetividade em medir o "P-disponível". Essa fase
po
de correla çã o ( verifica çã o da correla ç entre o m é todo e a planta ) é feita com muitos
solos, em casa de vegetaçã o, procuranqo otimizar todos os demais nutrientes nos solos e
demais condições de crescimento da planta ( pH, á gua, temperatura, etc.). Satisfeita essa
fase de correla çã o, passa -se para uma fase de campo, onde se procura calibrar (calibraçã o)
os resultados de "P-dispon ível" com z . produtividade da cultura e doses de fertilizante
fosfatado, necessá rias ao crescimento ó timo ou econó mico dessa cultura .
Para Mehlich-1, valores subestimados do "P-disponível" tê m sido verificados, com
frequência, em solos argilosos, de modo especial naqueles com pH mais elevado, em
razã o de ser seu poder de extra çã o desgastado pelo pr óprio solo. Nesses solos mais
argilosos, com acidez mais tamponad á, o pH inicial de 1,2 do Mehlich-1 é rapidamente
elevado para valores de pH próximos ao do solo. Igualmente, o S042 do extrator, que "
atua por troca com o fosfato adsorvido, é, também, rapidamente adsorvido pelo solo em
sítios ainda nã o ocupados pelo P, perdendo
o poder de extraçã o. Assim, em solos
argilosos, os valores sã o menores do qpe nos arenosos porque naquele o extrator é bem
mais desgastado que nestes ( Novais & Kamprath, 1979a; Muniz et al., 1987). Por outro ^
lado, para esse mesmo extrator, valores superestimados do "P-disponível" são verificados
em solos com predomínio de P-Ca, dada sua génese ou utiliza çã o pr évia de fosfatos
naturais de baixa reatividade, como as apatitas ( Novelino et al., 1985), como ser á discutido
mais adiante.
O efeito da varia çã o do FCP enhe solos sobre o desgaste de extratores pode ser
observado a partir dos dados de Muqiz et al . (1987) . Nesse trabalho, o NC de P, pelo
extrator Mehlich -1, foi estabelecid <p para cada solo, para o cultivo de soja, em
casa de vegeta çã o. Os valores dos NGs, em mg dm 3 de P no solo, correlacionaram-se
'
(3I , Teor do nutriente no solo por um determinado extrator que indica uma condição ótima, não limitante,
para o crescimento da planta.
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 529
0,01 mol L 1 com as amostras de solo, na rela çã o solo:solu çã o de 1:10, por uma hora .
'
FERTILIDADE DO SOLO
530 ROBERTO FERR ê IRA NOVAIS et al .
P ligado a Al ou "P-Al".
_
P sol úvel em NaOH 0,1 mol L 1: P ligado a Fe ou "P-Fe".
P sol ú vel em H2S04 0,25 mol L 1: P ligado a Ca ou "P-Ca ".
De uma mesma subamostra de solo, o fracionamento das formas inorgâ nicas de P
deve ser efetuado, seguindo a sequência de extra çã o apresentada . Assim, apenas o P-Fe
vai ser extra ído com NaOH 0,1 mol L 1, depois da extra çã o das formas P-H20 e P-Al.
'
Caso contrá rio, de uma extra çã o ú nica com NaOH ser ã o obtidos P-H20, P- Al e P-Fe. Se a
primeira extra çã o for feita com H2S04 0,25 mol L 1, tanto o P-Ca como as outras formas
'
Quadro 18. Distribuiçã o média de f ósforo nas diferentes formas inorgâ nicas, em 20 amostras
de diferentes Latossolos de cerrado
-
P AI P- Fe P -Ca -
P ocluso 01
mg kg 1 de P no solo
'
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 531
(Quadro 19) (33). Observou-se que a forma que mais liberou P foi o P-Al, seguida, à distâ ncia,
de P-Fe e, finalmente, de P-Ca, com uma contribuiçã o m é dia de 3,2 % apenas do P total
absorvido pelas plantas. A contribuiçã o da forma P- H,0, apenas 3,7 %, parece ilógica à
primeira vista . Deve-se lembrar, no entanto, que seu pequeno decréscimo com os cultivos
foi consequência de sua reposiçã o pelas outras formas, à medida que era consumida
pela planta . Na verdade, todo o P absorvido das formas de P-Al, P-Fe e P-Ca passou por
P-H20. Sua contribuição, portanto, nã o deve ser comparada com a contribuição das demais.
O comportamento de extratores ante as formas inorg â nicas de P do solo foi
sumariado, de maneira did á tica, no trabalho de Bahia Filho et al. (1982 ) . Embora tenha
sido utilizado apenas um solo ( um LE de cerrado), as diferentes fontes de P testadas,
desde a mais reativa , o superfosfato triplo, até as menos reativas, os fosfatos de Patos e
de Arax á, e o termofosfato Yoorin, com reatividade intermediá ria , proporcionaram a
presença de diferentes formas inorgâ nicas de P no solo . Essas fontes, em diferentes
doses, foram aplicadas a lan ç o e incorporadas no solo, em condições de campo . Os
diferentes tratamentos foram amostrados sete meses mais tarde e analisados. A aplicação
do superfosfato triplo causou aumentos significativos, de 48,7 %, no P- Al, de 37 %, no P-
Fe, e de 14,3 %, no P-Ca . A aplica çã o dos fosfatos de Araxá e de Patos causou aumentos
significativos apenas no P-Ca e o termofosfato Yoorin apenas no P-Fe. O extrator Mehlich-
1 foi sensível às altera ções das tr ês formas de P-inorgâ nico proporcionadas pelas três
fontes e analisadas em conjunto (Quadro 20), mostrando-se, todavia , mais sensível à s
varia ções do P-Ca proveniente dos fosfatos naturais e, ainda, nã o solubilizados nas
condi ções do solo (34 ). Essa grande efici ê ncia do Mehlich-1 em solubilizar P-Ca
Quadro 19. Contribuiçã o percentual de cada forma de f ósforo inorgâ nico na absor çã o desse
nutriente por plantas de pain ç o, em amostras de cinco solos
Solo P - H 2O P - Al P - Fe P - Ca Total
(33} Q p orgâ nico, forma nã o considerada neste estudo, pode ser importante fonte de P para as plantas,
em muitos solos ( veja Fósforo Orgâ nico no Solo ).
(34 )
Deve-se ter em mente que estudos de correla çã o nã o indicam interdepend ê ncia entre duas variá veis
do tipo causa -efeito, mas, sim, a interdepend ê ncia entre efeitos. Portanto, uma correla çã o significa -
tiva indica que a varia çã o que ocorre em uma caracter ística apresenta certo grau (significâ ncia ) de
semelhan ça (direta ou indireta ) com a varia çã o ocorrida em outra caracter ística . A partir de uma
correla çã o significativa, pode-se apenas sugerir qu é a varia çã o observada em uma caracter ística
seja a raz ã o da varia çã o da outra , nada mais.
FERTILIDADE DO SOLO
532 ROBERTò FERREIRA NOVAIS e t al .
Varia çã o devida a
Fonte de P í1 ) Extrator < 2 >
-
P AI P- Fe P-Ca Total
R2
Ml 0,804** ns ns 0,804**
Superfosfato triplo BI 0,822** ns ns 0,822**
B2 0,922** ns ns 0,922**
Ol 0,586** ns ns 0,586**
Ml ns ns 0 , 922** 0,922**
Fosfato de Patos de Minas BI 0,876** ns ns 0,876**
B2 ns ns 0,936** 0,936**
Ol ns ns ns ns
Ml ns ns ns ns
Termosfosfato- Yoorin BI ns 0,918** ns 0,918**
B2 ns 0,809** ns 0,809**
Ol ns ns ns ns
(1 )
Os resultados referentes ao fosfato de Araxá nã o fjoram apresentados, dadas suas semelhanças com os do fosfato
de Patos de Minas. (2 ) Ml = Mehlich-1; BI = Bray-1; B2 = Bray-2 e Ol = Olsen. (3) Superfosfato triplo, fosfato de
Araxá, fosfato de Patos, termofosfato Yoorin.
ns *
, e ** n ã o-significativo e significativos, a 5 e 1 %, respectivamente.
Fonte: Bahia Filho et al . (1982) . I
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 533
FERTILIDADE DO SOLO
534 ROBERTO FERREIRA NOVAIS e t al .
curto, pode ser de modo que satisfa ça as exigências da planta, como discutido neste
capítulo. Assim, torna-se necessá rio estimar essa contribuiçã o do FN como fonte de P
para uma cultura que extratores tidos como "ideais" nã o detectam. Como já se discutiu
anteriormente, o P obtido por extratores muito sensíveis a P-Ca , como o Mehlich-1, pode
correlacionar-se com a resposta da planta quando o FN é, predominantemente, a principal
fonte de P para as plantas. Por outro lado, deixa de ser um extrator satisfató rio do "P-
disponível", quando P-Al e P-Fe, além da presença de P-Ca, tornam-se fontes importantes
de P para a planta .
Atualmente, têm-se utilizado de maneira cada vez mais intensa FNs mais reativos,
como o Gafsa, dentre outros. Uma medida do "P-disponível" pela RTA nessas condições
poderá acessar valores baixos de P, uma vez que esse mé todo nã o acessa P dos FNs
!
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFORO 535
semelhante pelo Mehlich-1 é bem diferente de outro solo com 2 mg kg 1 de P pela RTA e '
uma pastagem ou de uma floresta de eucalipto ser ã o precá rios, se possível, ao passo que
no segundo caso, o crescimento de ambas as culturas será bem mais satisfató rio, embora,
provavelmente, um pouco lento inicialmente, pó r razões já discutidas.
í
Quadro 22. Correlaçã o linear simples entre o nível cr ítico de " P-disponível", pelos extratores
Mehlich-1, Bray -1 e Resina de Troca Aniônica, e caracter ísticas dos solos relacionadas com
o fator capacidade de P ( FCP )
N í vel Cr í tico
(1 )
FCP
Mchlich -l Biay -1 Resina
=
remanescente = concentração de P em solução de equilíbrio, ém mg L 1, após agitação de 30 mg L 1 de P em CaCl2
' '
0,01 inoIL 1, na rela çã o solo: solu çã o de 1:10, por uma hora, com as amostras de solo.
’
FERTILIDADF O! C 5 OLO
536 ROBERTO FERREIRA NOVAIS et al .
!
]
1978; Novais & kamprath, 1979a; Bahia Filho et al ., 1983; Muniz et al., 1987;
Carvalho et al ., 1995; Bonfim etjal., 2004) (Quadro 22 ) . <
Solos com 1 mg kg 1
'
de "P-disponjível",
proporcionando produtividades relativas
de feijã o inferiores a 10 % ou superiores a 90 % (Figura 21), indicam a dificuldade de não
se incluir uma medida do FCP desses solos para melhor interpretar os resultados
inconsistentes do "P-disponível" entre eles. Semelhantemente, solo com 8 mg kg 1 de '
2 2
Y = 40,049 + 10.395 X R = 0,563**
120 n
100
80
03
>
CB
60 V
0) t
»§ 40 -] •• Alto
Muito alto
=
O
o
3 • Médio
P_ 20 -
Q Baixo
Muito
baixo
0
T T T\
0 2 4 6' 8 10 12 14 16 18 20
‘1
kg ha P205
FERTILIDADE DO SOLO
VIII - FóSFÒ RO 537
120
i
100 - 1
0 ( 108 mg kg )
'
nj
0 +
80 - O
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O 1
% 40 O 0 kg ha' de P205
D
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O
O
CL 20 •90 l^g ha 1
"
de P 2 Os
0 i
0 4 8 12 16 | 20 24
1
“P-disponí vel ” ( mg k g )
LITERATURA CITADA
ALCARDE, J .C. & PONCHIO, C.O . Caracteriza çã o das solubilidades das rochas fosfatadas
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i
FERTILIDADE D íO SOLO
1
'
IX - POTÁSSIO
Paulo Roberto Ernani17, Jaime Ant ônio de Almeidaa / & Fl ávia Cristina dos Santos2/
1/
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC . Caixa Postal 281, CEP 88520-000
Lages (SC ) . Bolsista do CNPq .
prernani @ cav . udesc . br; a 2 jaa @ cav . udesc. br
3/
Embrapa Cerrados, BR 020, Km 18, Rodovia Brasília - Fortaleza .
Caixa Postal 08223, CEP 733,10 - 970 Planaltina ( DF ) .
flavia @ cpac . erhbrapa . br
Conte ú do
FUNÇÕES DO POT ÁSSIO NAS PLANTAS 552
FORMAS DE POTÁSSIO NO SOLO 553
Pot ássio Total 553
Pot á ssio Estrutural 553
Pot ássio Trocá vel 555
Potássio Nã o-Trocá vel 555
Potássio Fixado 555
Potássio Precipitado 556
:
Potássio na Matéria Orgâ nica ,.. 556
SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( edsi NOVAIS, R .F ., ALVAREZ V ., V .H ., BARROS,
N.F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R .B. & NEVES; J .C . L. ).
!.
552 PAULO ROBERTO ERNANI et al .
ativa çã o de v á rios sistemas enzimá ticos, muitos deles participantes dos processos de
fotossíntese e respira çã o. O K atua nã o só na síntese de proteínas, de carboidratos e da
adenosina trifosfato (ATP), mas tambéra na regulaçã o osmó tica, na manutençã o de água
na planta por meio do controle da abertura e fechamento dos estô matos, na resistência
da planta à incid ência de pragas e doenças por meio do efeito na resistência e na
permeabilidade das membranas plasm á ticas. A deficiência de K normalmente reduz o
tamanho dos internódios, a dominâ ncia apical e o crescimento das plantas, retarda a
frutificaçã o e origina frutos de menor tamanho e com menor intensidade de cor . Como o
K é um nutriente móvel no floema, os sintomas de deficiência, normalmente caracterizados
por clorose nas bordas das folhas segu: da de necrose, surgem, inicialmente, nas folhas
mais velhas das plantas .
O K é um dos nutrientes mais abundantes nos solos, podendo atingir concentra ções
de 0,3 a 30 g kg 1 (Sparks, 2000), as quais sã o um pouco menores nas regiões tropicais (0,9
"
A maior parte do K do solo (98 % ) encontra -se na estrutura dos minerais primá rios
e secund á rios (K estrutural ), e só uma pequena fra çã o encontra -se em formas mais
prontamente disponíveis às plantas, seja ligadc às cargas elé tricas negativas (K trocável)
seja na soluçã o do solo ( K solu çã o ) (Sparks, 2000) . A maneira com que o K se liga aos
componentes sólidos do solo, assim como a energia dessas liga ções, d á origem às v á rias
formas de K no solo, as quais ser ã o descritas sucintamente a seguir . Cada uma dessas
formas manté m um equilíbrio específico com a soluçã o do solo, razã o por que afetam a
disponibilidade de K aos vegetais com diferentes magnitudes.
Potássio Total
Potássio Estrutural
FERTILIDADE DO SOLO
554 PAULO ROBERTO ERNANI et al .
Q u a d r o 1. Valores de K - total, n ã o- trocá vdl, trocá vel e na solu çã o, em alguns solos brasileiros
K - total
mg kg 1
'
K n ã o- troc á vel
mg kg 1 '
K tjroc á vel
mg kg 1 '
FERTILIDADE DO SOLO
IX - POTÁ SSIC 555
Potássio Não-Trocável
O K nã o-trocá vel é considerado o teor extraído do solo por uma soluçã o de á cido
nítrico fervente, subtra ída daquela extra ída pe .o acetato de am ó nio ( K- trocá vel ). Ela
inclui, portanto, a parte do K estrutural que se dissolve mais facilmente em meio á cido
em adiçã o ao K fixado nas entrecamadas de ijninerais do tipo 2:1, como a illita e a
vermiculita. Em solos com predomínio de minerais de argila do tipo 1:1, os teores de K
nã o-trocá vel muitas vezes se assemelham aos de K trocá vel ( Ricci et al., 1989; Villa et al .,
2004) . Por outro lado, em solos com predomínio de argilas silicatadas do tipo 2:1, e
mesmo em alguns com minerais do tipo 1:1 , o K nã o - trocá vel é, de modo geral,
consideravelmente maior que o K trocá vel (Quadro 1) . Em muitas situa ções, o K nã o-
trocá vel tem uma contribuiçã o significativa para o fornecimento de K para as plantas,
principalmente quando o trocá vel é baixo (Silva et al., 1995; Nachtigall & Vahl, 1991b ) e
em solos com teores substanciais de minerais do tipo 2:1 (Cox et al., 1999 ).
Potássio Fixado
O K fixado é considerado aquele que se enc ontra neutralizando as cargas negativas
no interior das entrecamadas de alguns minerais do tipo 2:1, como a illita e a vermiculita.
FERTILIDADE Dó SOLO
556 PAULO ROBERTO ERNANI et al.
O mesmo fenô meno ocorre com o NH4 +, pois ele tem raio iônico semelhante ao do K. O K
fixado nã o é prontamente disponível à s plantas . Ele só se torna disponível a partir do
momento em que é substitu ído por outros cá tions na entrecamada , o que ocorre,
principalmente, quando há uma diminuiçã o acentuada na concentra çã o de K na soluçã o
do solo. A fixaçã o de K é muito expressiva em solos de países de regiões temperadas, nos
quais predominam minerais do tipo 2:1. Nos solos brasileiros, a fixação de K normalmente
é inexistente, ou pouco expressiva , em decorrência da pequena presença de minerais 2:1
e da presença de polímeros de Al que impedem a aproximação (colapso) das entrecamadas
desses minerais.
por isso, a quantidade de K nesse meio esgotar-se-ia em poucas horas ou em alguns dias,
caso nã o fosse efetuada a reposiçã o pela fase sólida.
A reposiçã o do K na soluçã o do solo é feita pelas diversas formas de K do solo já
descritas, mas, principalmente, pelo ] <C trocá vel. Além da quantidade, a velocidade da
reposição é também de fundamental i mportâ ncia para a nutriçã o das plantas. Ciotta et
FERTI L I D A D E DO SOLO
IX - POTáSSIO 557
al. ( 2002) encontraram rela çã o linear entre o K trocá vel e o K na soluçã o, em amostras
coletadas em diferentes profundidades de um Latossolo Bruno alumínico de Guarapuava,
PR, cultivado e fertilizado durante 21 anos ( Figura 1).
A concentra çã o de K na solu çã o do solo é de dif ícil determina çã o, dada a
complexidade de extração da solução. Os teores de K fornecidos nos resultados de análises
de solo para fins da avalia çã o da fertilidade incluem o K da soluçã o, em adiçã o ao K
trocá vel e, em algumas situa ções, a uma pequem fra çã o do K de algumas outras formas.
0 ,0 8
y = -6 , 53 * 0 , 010 x
2
R = 0 , 96 #
P < 0 , 01
0 ,0 6
O
£
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o 0 ,0 4
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O
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* 0 ,0 2 é*
0 ,0 0
400 0 ,2 0 0 ,4 0 0 ,6 0 0 ,8 0
-1
K troc á vel cmolc kg
Figura 1. Rela çã o entre os teores de pot á ssio na solu çã o e potá ssio troc á vel em diferentes
profundidades de um Latossolo Bruno alumínico cultivado e fertilizado durante 21 anos.
O K do solo provém do intemperismo de minerais primá rios e secundá rios que contêm
este elemento, principalmente daqueles do grupo das micas, dos feldspatos e dos
feldspatóides. Além desses, o K também faz parte da estrutura de outros minerais menos
comuns, como a jarosita (sulfeto de Fe ) e algumas zeólitas. Nos minerais secund á rios, o
K encontra -se na illita, na vermiculila e nos argilominerais interestratificados. Como os
minerais que contêm K sã o, na maioria, aluminossilicatos, a seguir, ser á feita uma
descrição geral sobre o arranjo estrutural dos principais grupos de silicatos.
O Si está presente nas rochas geralmente em arranjo tetra édrico, rodeado por quatro
í
á tomos de oxigénio ( veja capítulo IV). Conforme a disposiçã o estrutural dos tetraedros,
os silicatos s ã o classificados em nesossilicatos, sorossilicatos, ciclossilicatos,
inosissilicatos, filossilicatos e tectossilicatos. Nos nesossilicatos, os tetraedros de Si
ligam-se entre si por meio de cá tions, a exemplo da forsterita, que é um silicato de Mg, e
da fayalita, que é silicato de Fe. Nos sorossilicatos, os tetraedros se unem dois a dois e
compartilham um á tomo de O. Nos ciclossilicatos, há forma ção de estruturas fechadas,
FERTILIDADE Do SOLO
558 PAULO ROBERTO ERNANI et al.
na forma de anéis, pela combina çã o de três, quatro ou seis tetraedros. Nos inosissilicatos,
os tetraedros de Si se unem formando cadeias longitudinais, simples ou duplas, onde
cada tetraedro compartilha dois O com os tetraedros vizinhos, a exemplo, respectivamente,
dos minerais do grupo dos anfibólios e dos piroxê nios. Nos filossilicatos, os tetraedros
se unem formando cadeias que se estendem em duas direções, onde cada tetraedro
apresenta três O compartilhados, a exemplo das micas. Nos tectossilicatos, todos os O
de cada tetraedro sã o compartilhados com tetraedros vizinhos, formando uma rede
tridimensional que se projeta em todas as direções, cujos exemplos principais sã o os
minerais do grupo do quartzo e dos feldspatos. Os minerais silicatados que contêm K na
estrutura pertencem, principalmente, aos últimos dois grupos, ou seja, aos filossilicatos
e aos tectossilicatos, que podem conter entre 50 e 150 g kg 1 de K .
'
Micas
Os filossilicatos mais importantes como fontes de K pertencem ao grupo das micas.
As micas sã o minerais abundantes em v á rios tipos de rochas, como nas metamó rficas
( xistos, migmatitos e gnaisses), nas magmá ticas intrusivas (granitos e granitóides ) e nas
sedimentares de granula çã o fina (siltitos, argilitos e folhelhos ) . Alé m disso, as micas
ocorrem nos sedimentos derivados destas e de outras rochas (Fanning et al ., 1989 ) .
As micas sã o formadas pelo empdhamento sucessivo de camadas do tipo 2:1, em
que cada camada é composta por duas lâ minas tetraedrais, intercaladas por uma lâ mina
octaedral (Figuras 2 e 3) . Na lâ mina tetraedral ideal, todas as posições centrais do
tetraedro sã o ocupadas pelo Si, enquanto, na lamina octaedral, as cavidades são ocupadas
pelo Al ou pelo Mg. Quando apenas 2 / 3 das posições das cavidades octaedrais sã o
ocupadas, a l â mina é denominada dioctaedral e o cá tion central é, geralmente, o Al.
Quando todas as cavidades dos octaed ros da lâ mina sã o ocupadas, ela é denominada de
trioctaedral e o cá tion central é, geral mente, o Mg. Esta forma de ocupaçã o permite
diferenciar os dois tipos mais comuns c .e micas encontrados em solos: a muscovita ( mica
branca ), que é dioctaedral, da biotita e da flogopita ( micas escuras), que sã o trioctaedrais.
Durante a formaçã o das micas, ent retanto, pode ocorrer a substituição do íon central
do tetraedro e do octaedro por outros íons, num processo chamado de substituiçã o
isomórfica. Na lâ mina tetraedral, o Si4 é geralmente substituído pelo Al3+, gerando um
h
FERTILIDADE DO SOLO
IX POTáSSIO 559
Figura 2. Estrutura idealizada da mica dioctaedral, do tipo muscovita, em vista lateral. Somente
dois dos seis tetraedros que circundam o potá ssio est ã o representados. Observar que os
hidrogé nios das hidroxilas da lâ mina octaedral apontam para o octaedro vago.
Fonte: Adaptado de Fanning et al . (1989).
Figura 3. Estrutura idealizada da mica trioctaedral, do tipo biotita, em vista lateral. Somente
dois dos seis tetraedros que circundam o pot á ssio estã o representados. Observar que os
hidrogénios da hidroxila da lâ mina octaedral apontam diretamente para o potá ssio das
entrecamadas.
Fonte: Adaptado de Fanning et al. (1989).
negativas das camadas, ela adsorve cá tions ná superf ície externa, diferentemente das
micas puras, em que a carga negativa é totalmente balanceada pelo K estrutural. Em
decorrência da menor dimensã o e da maior quantidade de cargas negativas em relação
às micas, a illita é considerada como um mineral secund á rio em vez de primá rio.
. FERTILIDADE Do SOLO
560 PAULO ROBERTO ERNANI et al.
Quadro 2 . Principais caracter ísticas de alguns tipos de micas quanto à carga da camada e os
cá tions presentes nos tetraedros, octaedros e nas entrecamadas
Cá tion
Mineral Carga da c a m a d a ( X ) Â nion
Entrecamada Tetraedro Octaedro
mol e y f . u . t 1 )
Dioctaedrais
Muscovita 1 K SbAl Ah 0 , O (OH ) 2
Glauconita 0,68 KO ,65 Nao, o3 Sb,» ? Alo, i 3 A!o , 63Fe 3 + o, » 2 Fe 2 + o,i 9 Mgo, 36 OIO ( OH ) 2
11 li ta 0,81 Ko 64 Nao,03Cao, 07 S b, 38 Alo,62
/ Ah , 4 Fe3+ o,39 Mgo, 22 OI 0 (OH ) 2
Celadonita 0,99 Ko, 9 7 Cao,o i S Í 3.96 A1O, C) 4 A!o, i 8 Fe 3 +o , 87 Fe 2 + o, 24 Mgo, 7 i OIO ( OH ) 2
Trioctaedrais
Biotita 1 K SbAl ( Mg, Fe 2 + ) 3 OIO ( OH ) 2
Flogopita 1 K SbAl Mg3 OIO (OH ) 2
(1 )
mol de el é trons por f ó rmula unit á ria .
Fonte: Adaptado de Fanning et al . (1989) .
atacam as liga ções que unem o K na estrutura dos minerais, conforme a Eq. 1,
exemplificada para o feldspato ortoclá sio:
KAlSi3Og + H + - » HA1Sí3OS + K + d)
A reaçã o completa de decomposiçã o do felc spato geralmente origina um mineral de
argila ou um óxido de Al, com forma çã o de um a base e do excesso de Si, como pode ser
visto na Eq . 2, que mostra a forma çã o da caulin:Lta a partir de um feldspato:
á gua, o que favorece um fluxo lixiviante intenso , caso haja boa drenagem . Neste caso, há
remoçã o completa da sílica e das bases do perfil, e a altera çã o dos feldspatos origina a
forma çã o de óxidos de Al, do tipo gibsita, ao invés da caulinita ( Melfi & Pedro, 1977) .
Nas condições brasileiras, a altera çã o dos feldspatos potá ssicos geralmente origina a
caulinita e, raramente, a gibsita . Durante este processo, ocorrem perdas substanciais de K
por lixiviação, resultando numa pequena reserva de K nas fra ções mais grosseiras dos solos.
Outro mecanismo importante de libera çã o do K dos minerais primá rios é o da
transforma çã o estrutural das micas, por hidrata çã o. Nesse processo, ocorre perda
gradativa do K estrutural das entrecamadas, culminando com a transforma ção das micas
em minerais secund á rios, como a illita e a vermiculita ( Eq. 3):
+ K + H 20 -
K Mg
MICA ILITA VERMICULITA (3)
- K - HLO K + Mg
FERTILIDADE DO SOLO
562 PAULO ROBERTO ERNANI et al.
FERTILIDADE DO SOLO
IX - POT Á SS 563
ou lixiviado, e o transporte do nutriente até à superf ície das ra ízes. Nos sistemas de
cultivos sem mobiliza çã o do solo, nos quais os fertilizantes nã o sã o incorporados, a
mobilidade vertical no perfil també m exerce alguma influ ê ncia .
As propriedades da planta que influenciam a disponibilidade de K sã o: a morfologia
do sistema radicular, a taxa de demanda de cada espé cie, os par â metros ciné ticos de
absor çã o ( velocidade má xima, Imá x, constante de Michaelis-Menten, Km, e concentra çã o
na solu çã o onde o influxo deixa de existir , Cmín ) ( veja capítulo IV).
A temperatura e a umidade do solo sã o os fatores relacionados com o clima que
também influenciam a disponibilidade de K. A eleva çã o da temperatura ambiente e do
solo aumenta a absor çã o de K pelas plantas porque favorece tanto a difusã o de K no solo
quanto o processo de absorçã o. O aumento do teor de á gua no solo tamb ém favorece a
absor ção de K porque aumenta o transporte de K até às raízes pelos diferentes mecanismos.
A seguir, ser á feita uma breve descriçã o sobre cada um dos fatores de solo e de
planta que influenciam a absor çã o de K pelos vegetais.
A atividade de K, ou de qualquer outro elemento, pode ser calculada por meio da Eq.
4, proposta por Debye-Huckel:
log y = - 0,5091 Z2 ( /p / ( 1 + a B
^
^ )) ( 4)
na qual y é o coeficiente de atividade e Z é a valê ncia do íon cuja atividade ser á calculada;
a e B sã o constantes, cujos valores para K são 3 e 0 ,33, respectivamente; e p é a for ça iônica
da soluçã o do solo. O valor da for ça iônica ( p) pode ser obtido pelo uso da Eq. 5 ou por
meio de uma equa çã o de regressão a partir de dados da condutividade elétrica da solução.
P = y2 na z i ) 2
(5 )
FERTILIDADE DO SOLO
564 PAULO ROBERTO ERNANI et al .
FERTILIDADE DO SOLO
IX - POTÁSS o 565
Como normalmente mais de 90 % das cargas negativas livres em solos com pH maior
que 5,5 sã o ocupadas com Ca e Mg, pode-se assumir que a soma dos valores trocá veis
desses dois cá tions representa a CTCefetiva' ou eja ( X- (Ca + Mg ) % t (1) . Nesse caso, o
^
coeficiente de seletividade pode ser obtido por íneio da Eq. 8:
K8 = [ X-K / t] [(Ca2+ + Mg2T / K + ] (8)
X -K = Kg t QAK ( 10)
K -X / Q A K d Ks t ( 11 )
PTK = K g t ( 12)
verificaram que o PTK foi o segundo fator que mais influenciou a absor çã o de K pelo
milho em solos do Rio Grande do Sul, só superado pela concentra ção de K na solução do
solo.
FERTILIDADE DO SOLO
566 PAULO ROBERTO ERNANI et al.
Fluxo de Massa
Aq / At = Av . Cs (13)
Difusã o
(2)
1.980 f i m 2 s \
FERTILIDADE DO SOLO
IX - POTáSSIO 567
Aq / At = Av Ar D (Cs - Cr ) / L (15)
Nela, Ar é a á rea radicular, Cr e Cs representam, respectivamente, a concentração de
K soluçã o do solo na superf ície das raízes e na primeira distâ ncia ainda nã o afetada por
elas; L representa a distâ ncia entre Cs e Cr; e D e Av têm o mesmo significado da equaçã o
anterior .
A difusã o de K no solo em direçã o à s ra ízes é afetada , portanto, por fatores
relacionados com o solo e com a planta. Dos fatores de solo, destacam-se o conte ú do
volumé trico de á gua , a concentraçã o de K na soluçã o, o PTK e a densidade. O conte údo
de á gua e a densidade determinam a tortuosidade do caminho a ser percorrido. Quanto
maior o teor de á gua, mais curto é o caminho, pois os íons somente se movimentam na
fase líquida. À medida que o teor de á gua diminui, o caminho a ser percorrido passa a
ser mais tortuoso porque as moléculas de água i ã o adsorvidas às partículas sólidas e o
filme de á gua passa a ser cada vez menos espesso. O mesmo efeito é obtido com o
aumento da densidade do solo, até determinado valor, como consequência da aproximação
das partículas sólidas; acima desse valor, o aumento na densidade provoca aumento na
tortuosidade.
A eleva çã o da concentra çã o de K na solu çã o, que ocorre quando fertilizantes
potássicos sã o adicionados ao solo, favorece a difusã o de K porque aumenta o gradiente
de concentra çã o já que a concentraçã o na superf ície das raízes, que varia com as espécies
vegetais, normalmente é mantida bastante baixa . A manutençã o da concentraçã o de K
na soluçã o do solo, assim como a espessura da zona de depleçã o ao redor das ra ízes
(distâ ncia ao redor de cada raiz cuja concentra çã o da soluçã o é influenciada pela raiz ),
é influenciada pelo poder tampã o de K (PTK ).
A contribuiçã o do mecanismo de difusã o foi de 89 % do K absorvido pelo milho,
cultivado em doze solos do Rio Grande do Sul, em casa de vegetação (Vargas et al., 1983);
num Latossolo Vermelho de Sã o Paulo, a cont ribuiçã o da difusão para o algodoeiro
variou de 72 a 96 % da quantidade total de K absorvida (Oliveira et al., 2004).
A contribuiçã o dos mecanismos de fluxo de nassa e difusão para o suprimento de K
às raízes pode ser matematicamente representada pela Eq. 16.
Aq / At = [ Av Ar D (Cs - Ç r ) / L] + [ Av Cs] (16)
Ela mostra que a quantidade de K que chega às raízes é afetada principalmente pelo
teor de água, pela concentração de Kna soluçã o e pelo PTK, assim como pelo volume do
sistema radicular e pela quantidade de á gua transpirada pelas plantas.
Mais informações sobre os mecanismos de transportes de nutrientes na solução do
solo sã o apresentadas no capítulo IV.
FERTILIDADE DC SOLO
568 PAULO ROBERTO ERNANI et al.
. ) / (v Cr + K m ) ] - C m ín
A = [(Cr Imax J ( 17)
' '
Nela, Cr representa a concentra ção de K na zona de depleção, junto à superf ície das
raízes; os demais parâ metros foram definidos anteriormente. Verifica-se, portanto, que a
absor çã o de K pelas plantas depende tanto da chegada do nutriente às raízes como de
sua absorçã o. Esses dois fenômenos podem ser matematicamente representados pela Eq.
18:
FERTILIDADE DO SOLO
IX - POT ÁSS o 569
Quadro 3. Valores dos par â metros ciné ticos da equa çã o de Michaelis-Menten: velocidade
má xima ou influxo má ximo (Im á x), constante de Michaelis-Menten ou constante de afinidade
í
Km
( ) e concentra çã o na soluçã o quando o influxo líquido é zero (Cmín) para potá ssio, de
algumas espécies de plantas com diferentes idades
Im á x (pmol cm 2 h 1 )
' '
\ Km (pmol L - q
Trigo (38 dias ) 13 a 16 Anghinoni et al . (1989 )
Milho ( 22 dias) 8 a 16 Anghinoni et al . (1989 )
Milho ( 20 dias ) 37,4 a 39,1 Horn et al . ( 2006 )
Arroz (51 dias ) 5,5 a 25 Anghinoni et al. (1989 )
Aveia (36 dias ) 12,3 Anghinoni et al . (1989 )
Colza ( 42 dias ) 9,7 Anghinoni et al. (1989 )
Soja ( 20 dias) 18 a 141 Sacramento & Rosolem (1997)
Soja (40 dias ) 30 a 136 Sacramento & Rosolem (1997)
Soja ( 60 dias) 37 a 134 Sacramento & Rosolem (1997)
C m í n (pmol L -1 )
Trigo (38 dias ) 1,5 a 1,8 Anghinoni et al. (1989 )
Milho ( 22 dias) 1, 2 Anghinoni et al. (1989 )
Milho ( 20 dias ) 3,8 a 6,7 Horn et al . ( 2006 )
Arroz (51 dias ) 2,8 Anghinoni et al . (1989 )
Soja ( 20 dias ) 3.7 a 64 Sacramento & Rosolem (1997 )
Soja ( 40 dias ) 1.7 a 102 Sacramento & Rosolem (1997 )
\ Soja ( 60 dias) 1,6 a 36 Sacramento & Rosolem (1997 )
0) pmol g h
FERTILIDADE DO SOLO
570 PAULO ROBERTO ERNANI et al.
determinada a pH 7,0 inferiores a 5,0, entre 5,0 e 15,0 e superiores a 15,0 cmolc dm 3. O
"
tido como satisfatório necessita ser maior que 31 mg kg 1; se a CTC for igual ou superior
a 4,0 cmolc kg 1, entretanto, o K no solo precisa ser maior que 51 mg kg 1. Além disso,
'
Análise de Solo
A aná lise de solo é a t écnica mais utilizada e mais eficiente para avaliar a
disponibilidade de K para os vegetais. Todas as regiões brasileiras praticamente
apresentam curvas de calibra çã o para K para a maioria das espécies de interesse
comercial. Nessa té cnica, os valores de K fornecidos pela aná lise sã o comparados com
os valores de tabelas previamente elaboradas com base na pesquisa científica regional.
De acordo com a classe de fertilidade em que os valores da análise se encontram ( muito
baixo, baixo, médio, alto, etc. ), recomenda -se ou nã o a fertiliza çã o potássica . As tabelas
de aduba çã o indicam valores a serem aplicados, os quais podem ser aumentados ou
diminuídos pelos técnicos, que, para isso, deverã o considerar o nível tecnoló gico do
produtor, a disponibilidade de recursos econó micos, o histó rico da á rea e a perspectiva
de rendimento, dentre outros fatores ou condições.
Para fins da avalia çã o da fertilidade do solo, o K que consta nos resultados das
an á lises é chamado genericamente de ' extra ível', 'disponível ' ou ' troc á vel'. Essa
forma inclui todo o K na solu çã o do solo, o K adsorvido eletrostaticamente às cargas
negativas (K trocável ) e, em algumas situações, uma pequena fra çã o de K nã o-trocá vel.
No Brasil, o K dispon ível é extra ído do solo com uma mistura de á cidos dilu ídos
( Mehlich -1), ou com solu çã o de acetato de amónio 1,0 mol L 1 a pH 7,0, ou, ainda, com
'
Análise Foliar
A aná lise foliar é uma técnica importante para avaliar a disponibilidade de K para
determinadas esp écies vegetais, especialmente as de ciclo perene. Ela ganha em
importâ ncia quando acompanhada de análise de solo e de dados relativos à produtividade
e ao histórico de manejo da á rea produtiva.
O teor de K nas folhas é consequência da disponibilidade do nutriente no solo, das
condições de absor çã o pelas raízes e de sua tre nslocaçã o para a parte a érea, incluindo
frutos ou grã os. Muitas vezes, os nutrientes ex : .stem em teores suficientes no solo, mas,
em decorrência da seca, do excesso de á gua, ou de qualquer impedimento f ísico do solo
ao crescimento das raízes, eles nã o são absorvic .os em quantidades suficientes. Noutras
vezes, mesmo tendo sido absorvidos, eles são translocados preferencialmente para os
frutos ou sementes e permanecem em baixas concentrações nas folhas.
FERTILIDADE Do SOLO
572 PAULO ROBERTO ERNANI et al.
foi sempre inferior a 11 g kg 1 (Quadro 4), o que seria considerado insuficiente pelos
'
padr ões comparativos atuais. Os valores baixos de K nas folhas deveram-se às altas
produtividades de frutos. Como os teores dos nutrientes nas folhas sã o afetados pela
transloca çã o ou nã o deles para os frutos em quantidades significativas, assim como pela
biomassa produzida, à medida que a produtividade de frutos aumenta , percebe-se
diminuiçã o acentuada dos teores de K nas folhas, uma vez que grandes quantidades
migram das folhas para os frutos durante o per íodo de crescimento desses.
Quadro 4 . Teor de potá ssio nas folhas de macieira cultivar Fuji, em cinco safras, como variá vel
da aplica çã o anual de cloreto de po t á ssio ao solo
Safra
K 2O
92/93 93/94 94/95 97/98 98/99 M é dia
kg ha -1 g kg -
0 5,5 4, 7 8, 3 5,2 4,4 5, 6
37 5,9 5, 8 7,8 7, 5 6 ,4 6, 7
75 7,0 6, 0 8, 3 9,0 8,8 7, 8
150 7,0 8, 7 9, 7 10 ,1 11 ,1 9,3
300 7, 9 7, 7 9, 3 11 , 3 12,8 9, 8
Análise de Frutos
A aná lise de frutos ainda é uma tejcnica
pouco utilizada pelos fruticultores. Ela tem
as mesmas potencialidades e limita çõ que análise de folhas, em adição ao problema de
es a
representatividade das amostras. Normalmente, são utilizados poucos frutos por amos- I
tra, que nem sempre refletem a popula çã o do pomar. A época de coleta e o tamanho dos
frutos também têm de ser padronizados. Além disso, existem algumas técnicas que têm
de ser padronizadas entre os laborató rios, para que os resultados oriundos de diferentes
regiões possam ser comparados, tais como: a lavagem dos frutos com á gua destilada
antes da análise, para retirar os resíduos das pulverizações ou de poeira que se depositaram
sobre a casca, a parte do fruto a ser amostrada e o mé todo de mineraliza çã o (Quadro 4) .
FERTI L I D A D E DO SOLO
i
IX - POTáSSIO 573
por qualquer fator, a exemplo de d éficit hídrico, mesmo que o suprimento no solo seja
adequado. Além disso, os sintomas de deficiência nutricional podem ser muitas vezes
confundidos com ataque de pragas, incid ência de doenças, competiçã o com plantas
invasoras, ou causados por d éficit hídrico, ou por algum fator que dificulte ou impeça o
crescimento normal das raízes. Quando a deficiência é pequena, o metabolismo da planta
é prejudicado, mas os sintomas visuais nã o sã o exteriorizados e muitos denominam essa
fase "fome escondida" ou "oculta". Quando os sintomas surgem, a deficiê ncia é de
moderada a severa, havendo, portanto, grande chance de já ter ocorrido comprometimento
parcial do rendimento da cultura .
Os sintomas de deficiência de K variam ent :e espécies de plantas. De maneira geral,
as plantas crescem menos, os internódios ficam menores e as folhas apresentam clorose
nas bordas que evolui para necrose. Como o K é móvel no floema, os sintomas começam
inicialmente nas folhas mais velhas e, dependendo da intensidade da deficiência, podem
migrar para as mais novas. Nas frutíferas, há ainda retardamento no amadurecimento
dos frutos, os quais ficam menores e com menor intensidade de cor.
milho e girassol, ambos cultivados em três Latossolos do Estado do Paraná com alta
fertilidade, porém deficientes em K. No Cerrado, o N.Cr para o milho foi de 47 mg kg 1 '
FERTILIDADE DD SOLO
574 PAULO ROBERTO ERNANI et al.
Quadro 5. Classes de fertilidade para interpreta çã o do potá ssio disponível do solo utilizado
em alguns Estados ou regiões brasileiras
Classe K d i s p o ní v e l
3
mg dm '
Dose
FERTILIDADE DO SOLO
IX - POTá SSIO 575
de K sã o fornecidos pela aná lise de solo, cuja interpreta çã o é feita, usando-se as tabelas
de recomenda çã o de adubaçã o. Quanto menor for o teor de K no solo e mâior a exigência
da espécie, maior ser á a quantidade de K por aplicar. As doses sã o obtidas por meio de
experimentos de calibraçã o e sã o fornecidas na s tabelas de recomenda ção de aduba çã o
de cada Estado ou região brasileira ou nos pacotes tecnológicos que existem para algumas
espécies vegetais (veja capítulo XIII ). Em alguns estados brasileiros, recomenda -se uma
aduba ção potássica corretiva, quando os teores de K no solo são muito baixos ou baixos,
em adiçã o à tradicional aduba çã o de manutençã o. A aduba çã o de correçã o objetiva
elevar o teor de K no solo até valores pr ó ximos do nível crítico, enquanto a aduba ção de
manutenção procura repor as quantidades exportadas do solo pelo produto das colheitas
(Quadro 6) e pelas perdas naturais.
Q u a d r o 6 . Faixas de suficiê ncia de pot á ssio no tecido foliar de algumas espécies vegetais,
valores de K em cada tonelada de gr ãos de diversas espécies vegetais e recomendaçã o
20
média de K 2Õ por tonelada de gr ã os colhida
gkg 1 K kg t° K 2O kg ha 1 t 1'
KzO
Amendoim 17-30 14 20
Arroz irrigado 15-40 3 10
Arroz sequeiro 13-30 3 10
Aveia branca 15-30 5 10
Aveia preta 15-30 5 10
Canola nd 12 15
Centeio 19-23 5 10
Cevada 15-30 6 10
Ervilha nd 12 20
Ervilhaca nd 19 25
Feij ã o 20-25 15 20
Girassol 30-45 6 15
Linho nd 9 15
Milho 17-35, 6 10
Milho pipoca nd 6 10
Nabo forrageiro nd 18 20
Pain ç o nd 4 10
Soja 17-25 20 25
Sorgo 14-25 4 10
Tremo ç o nd 15 25
Trigo 15-30 6 10
Triticale 15-30 6 10
FERTILIDADE DO SOLO
576 PAULO ROBERTO ERNANI et al.
Fertilizantes
Epoca de Aplicação
principalmente quando cultivadas em solos com baixa CTC, a fertiliza çã o potá ssica
também pode ser parcelada em duas ou mais vezes.
Mé todos de Aplicação
contato do nutriente com maior volume de solo, relativamente à adiçã o em linha. Quando
o solo nã o é revolvido, como acontece no sistema semeadura direta, o K é aplicado sobre
a superf ície do solo (a lanço) ou a poucos centímetros de profundidade (em linha ) . Nesses
casos, há maior concentra çã o do nutriente nos locais fertilizados, poré m num menor
volume de solo em rela çã o à aduba çã o a lanço, e o K necessita movimentar -sè
verticalmente no perfil para entrar em contato com as ra ízes.
Como o K tem uma boa mobilidade no solo e se liga aos compostos sólidos
predominantemente por adsor çã o eletrostá tica, o mé todo de adiçã o dos fertilizantes
potássicos (incorporado ou localizado ) normalmente nã o interfere na absorçã o, e isto foi
observado no rendimento de soja (Scherer, 1989a ) e de milho ( Ritchey et al., 1979; Klepker
& Anghinoni, 1996). No entanto, aplicações localizadas de K devem ser evitadas nos
primeiros cultivos em solos que apresentam vai ores muito baixos de K disponível, uma
vez que a ocorrência de déficits hídricos poderá comprometer seu deslocamento no perfil
e, com isso, prejudicar o crescimento e desenvolvimento das plantas . Nessas
circunstâ ncias, seria importante aprofundar ao má ximo a aplicaçã o dos fertilizantes por
ocasiã o da semeadura , principalmente nos dois primeiros anos.
Sanzonowicz & Mielniczuk (1985) adicionaram 300 kg ha 1 de K nas formas de
'
Nos solos com predomínio de minerais d è argila do tipo 1:1, pequena parte do K
aplicado vai para a soluçã o do solo e o restante migra para o complexo de troca sendo
adsorvido às cargas elé tricas negativas. Em alguns de nossos solos onde exista um teor
considerá vel de minerais do tipo 2:1 e concomitantemente valores elevados de pH, pode
haver fixa ção de K nas entrecamadas desses minerais, por ém, como já foi mencionado,
esse fenô meno é pouco expressivo nos solos b rasileiros . A dinâ mica do K adicionado
pelos fertilizantes aos nossos solos é, portanto, bastante simples. A ú nica perda de K a
partir do solo acontece por lixiviaçã o, posterioimente enfocada.
FERTILIDADE Do SOLO
578 PAULO ROBERTO ERNANI et al.
O K compete com v á rios cá tions pelos sítios de absor çã o na membrana plasm á tica,
principalmente com NH/, Ca 2+ e Mg2+. A soma total dos cá tions absorvidos por
determinada espécie vegetal normalm énte permanece relativamente pouco afetada pela
variaçã o na composiçã o do meio na qual ela se desenvolve (Mengel & Kirkby, 1987) .
Sendo assim, a diminuiçã o na disponibilidade de determinado cá tion resulta no aumento
na absor çã o dos demais . Alguns exemplos de efeitos antagó nicos foram observados
entre K e Ca e Mg em milho ( Vilela & B íll, 1999), entre K e Mg em soja (Scherer, 1989b ), e
entre K e Na na cultura do linho (Mo aghan & Hammond, 1996). Fonseca & Meurer
*
Lixiviação
FERTILIDADE DO SOLO
IX - POTáSSIO 579
Figura 4. Pot á ssio lixiviado de um Latossolo ( LAT ) e de um Cambissolo (CAM ), na ausê ncia
(SC ) , e na presen ç a de calagem ( CC ) como variá vel da adiçã o de doses crescentes de
pot á ssio sobre a superf ície.
Fonte: Ernani et al . ( 2003) .
ocorre com o N. Em anos com precipita ção pluvial bem distribuída e em solos com média
a alta CTCefetiva, a lixivia çã o de K normalmente nã o é grande problema.
A lixivia çã o de K aumenta com a adiçã o de outros fertilizantes ao solo, como
consequência do deslocamento do K das cargas negativas pelos cá tions adicionados
(Ernani & Barber, 1993; Mantovani et al., 2004; Ernani et al ., 2004), e diminui com o
aumento do pH (Chaves & Libardi, 1995; Erna ni et al., 2003) pelo aumento das cargas
negativas. Ernani et al. ( 2003) aplicaram 200 mg kg 1 K a dois solos catarinenses e
'
(Figura 4).
A aplicaçã o de gesso agr ícola também tem proporcionado lixivia ção de K em alguns
solos (Ritchey et al., 1980; Ernani et al., 1993). O fenômeno é o mesmo que ocorre com os
demais fertilizantes, ou seja , o K é deslocado cias cargas negativas, nesse caso pelo Ca .
Entretanto, v á rios autores têm mostrado que o K é lixiviado em menor proporçã o que o
Ca e o Mg (Ernani,1986; Farina & Channon, i .988; Ernani et al., 2006). Ernani (1986)
atribui esse fenômeno à adsor çã o preferencial ao K na camada de Stern, a mais próxima
da superf ície carregada negativamente. Em alguns solos com alta CTC, a adiçã o de
gesso agrícola nã o tem causado lixivia çã o de K (Farina et al., 2000), mesmo em doses de
até 10 t ha 1 (Farina & Channon, 1988) ou até 32 t ha 1 ( Ernani, 1986).
' "
FERTILIDADE DO SOLO
580 PAULO ROBERTO ERNANI et al.
90
LA SC
80 - LA CC
CA M SC
CA M CC
70
D)
E
o~ 60
u
C3
>
x 50 •
O
40
30
20
0 50 100 150 200
1
K aplicado , mg kg '
Cloreto de Potássio
O cloreto de potássio ( KC1) é o fertilizante potássico mais utilizado no mundo,
simplesmente por ser o mais barato. Como todos os fertilizantes potássicos têm eficiência
agronó mica semelhante em termos de suprimento de K às plantas, a opçã o de compra
deve recair sobre aquele de menor custo por unidade de K.
O KC1 é obtido a partir de jazidcis naturais e apresenta coloraçã o que varia do
vermelho ao branco, a qual não influencia a qualidade do produto. Como o Brasil dispõe
de pequenas jazidas potássicas, praticamente todo consumo desse nutriente prové m dó
exterior. O KC1 tem 60 % de K20 (50 % de K ) e, aproximadamente, 47 % de Cl.
se aplicar somente uma parte do adubo junto à semeadura. O restante deverá ser aplicado
a lanço, antes da semeadura ou em cobertura .
Havendo umidade no solo, o KC1 dissolve nas primeiras horas após a aplicaçã o.
Parte do K vai para a soluçã o do solo, por é m a maior parte vai para as cargas negativas
do solo, de onde o K desloca outros cá tions para a soluçã o. O Cl vai todo para a soluçã o
do solo e, ao combinar-se com o K, ou com os outros cá tions na soluçã o, pode deslocar-se
verticalmente no perfil. Dependendo da CTC a da quantidade de chuva, parte desses
íons pode ser perdida por lixivia çã o.
O KC1 nã o é recomendado para uso nas culturas do fumo e da batatinha por interferir,
negativamente, na combustã o do cigarro e na produ çã o de amido, respectivamente.
Sulfato de Potássio
Quadro 7. Algumas caracter ísticas f ísicas e qu ímic as dos principais adubos pot á ssicos.
’
% kg kg 8L
Cloreto de pot á ssio 60 0 116 340
Sulfato de pot á ssio 50 0 46 111
Nitrato de pot á ssio 44 -0,26 74 320
Sulfato de pot á ssio e Magn ésio 22 0 43 vari á vel
(1 )
Quilogramas de CaCO? puro, necessá rios para neutralizar o efeito á cido ocasionado pela adiçã o de 1,0 kg de
fertilizante ao solo; os fertilizantes precedidos com valores negativos têm cará ter alcalino, e o valor da tabela
equivale, em kg, ao efeito ocasionado pela adiçã o de 1,0 kg do adubo relativamente ao CaC03 puro. (2) Tend ê ncia
para aumentar a pressã o osmó tica da solu çã o do solo provocada pelo fertilizante relativamente ao NaNOa, ao qual
é atribu ído o valor 100. (3) Valores para temperatura da á gua próxima de 20 graus cent ígrados. A solubilidade
aumenta com o aumento da temperatura .
FERTILIDADE Do SOLO
582 PAULO ROBERTO ERNANI et al .
—
NaN03 + KC1 > KN03 + NaCl ( 20)
Apesar de conter dois nutrientes) esse fertilizante é bem mais caro que a compra
individual d e N e K a partir de outras fontes e, por isso, sua aplica ção ao solo raramente
se justifica , mesmo em atividades agr ícolas com altó retorno do capital investido. É um
fertilizante que apresenta baixa higroscopicidade e, assim como os demais, nã o altera o
pH do solo ao longo dos anos.
O KN 03 tem sido usado em algumas culturas em pulveriza çõ es foliares,
principalmente em razã o de seu baixo índice salino relativamente ao cloreto e ao K 2S04.
Pesquisas recentes mostram, entretanto, que ele é pouco eficiente para esse objetivo por
causa de seu alto ponto de deliquesc:ê ncia (3). Em condi ções de umidades relativas
moderadas, inferiores a 80 %, comuns durante os meses de primavera e verã o no Brasil,
o KN03 é muito pouco absorvido pelas folhas e, portanto, pouco eficiente.
<3) Forma çã o de uma película de solu çã o sobre os cristais de um sal que est á numa atmosfera onde a
pressão de vapor de á gua é maior que a pressã o de vapor da solu çã o aquosa saturada com o sal, na
mesma temperatura .
FERTILIDADE DO SOLO
IX - POTÁ SSI 583
(fezes e urina ) e restos de raçã o. O material vegetal é utilizado para absorver as excreções
e, com isso, manter o ambiente seco e mais higié nico.
A cama de aves apresenta baixa concentra çã o de nutrientes em rela çã o aos
fertilizantes minerais, por ém, além de N, P e K, contém teores consideráveis de Ca, Mg e
de alguns micronutrientes, além da pr ó pria ma té ria orgâ nica . As concentra ções de N,
P2Os e K 20 variam de 1 a 4 %, quando se considera o material seco, dependendo do
n ú mero de lotes de animais que foram produzidos sobre a cama e da quantidade do
material absorvente utilizado. O teor de água noimalmente varia de 20 a 30 % por ocasiã o
da retirada da cama dos galpões, e a densidade de 0,4 a 0,6 kg dm 3. '
Alguns produtores agrícolas ligados à agricultura orgâ nica tentam nã o aplicar fontes
fertilizantes solúveis. Nesse caso, as opções se restringem ao uso de rochas que contenham
K e cinzas.
As rochas utilizadas contêm o K principalmente na forma de micas, felspatos e
feldspatóides, e devem ser moídas antes de serem aplicadas ao solo. A liberaçã o do K
desses materiais é lenta pois eles sã o pouco solú veis e depende, principalmente, da
granulometria do material, do tipo de mineral presente e da acidez do solo. Trabalhos
precisam ser conduzidos para avaliar a capacidade desses materiais em fornecer K para
as plantas.
As cinzas também sã o utilizadas como fonte alternativa de K pelos produtores
dedicados à agricultura orgâ nica . Elas sã o provenientes da queima de madeiras, ou de
materiais celulósicos em geral, e fornecem K completamente sol ú vel, cujo comportamento
no solo é semelhante ao dos fertilizantes minerais.
O manejo da adubaçã o potássica na regiã o dos Cerrados é de grande relev â ncia por
ser essa a região de maior expressão e de maior potencial de expansão na agricultura do País.
O K, embora absorvido em maior quantidade pelas plantas, juntamente com o N,
nã o recebeu a mesma importâ ncia no manejo da adubação nos Cerrados, comparado ao
FERTILIDADE DO SOLO
584 PAULO ROBERTO ERNANI et al.
N, P e mesmo ao Zn . Esse fato, aliado aos seus baixos teores disponíveis originais na
maioria dos solos de Cerrado [85 % dos solos são deficientes em K, com valores mé dios
do disponível de 31 mg dm 3, segundo Lopes (1984) ], causaram balanços negativos no
'
solo, dada sua gradual exaustão, como consequência de seu menor aporte via fertilizantes
em rela çã o ao exportado pelas cultura s. Assim, nos dias atuais, o K assume, de modo
geral, papel da maior relevâ ncia na agricultura dos Cerrados.
Vilela et al . ( 2004) definem teores acima de 31 mg dm 3 como adequados para solos
'
de Cerrado com CTC a pH 7,0 menor que 4 cmolc dm 3 e acima de 51 mg dm 3 para solos
' '
com CTC acima desse valor, para a maioria das culturas anuais. No entanto, é comum
verificar falta de resposta à aduba çã o pot á ssica em solos com m é dia a baixa
disponibilidade desse nutriente, princioalmente no primeiro ano de cultivo. Além disso,
é comum verificar absor çã o de K pelas plantas maiores que a quantidade disponível na
forma trocá vel no solo mais a adicionada via fertilizantes. Explica ções para esse fato
estã o relacionadas com o aproveitamento do K nã o- trocá vel pelas plantas ( Rosolem et
al ., 1993; Pal et al., 1999; Rahmatulla n, 2000; Melo et al., 2004 ) . O K é liberado das
intercamadas dos filossilicatos, tornendo-se disponível às plantas. Esse fenô meno
acontece em baixas concentra ções de K da soluçã o, o que ocorre na regi ã o rizosf érica,
dada a cria çã o de um gradiente de corícentra çã o que causa a libera çã o do K para a fase
sol ú vel e depois trocá vel. Nessa regiã o da interface raiz-solo, há maior concentra çã o de
á cidos orgâ nicos que també m influenciam a libera çã o de formas ná o- trocá veis de K do
solo (Melo et al., 2005) . Outra possibilidade é a troca, na interface solo- raiz, dos íons H+
liberados pela raiz (extrusã o de pró tons com a absor çã o de cá tions) com o K + das
intercamadas dos filossilicatos, em solos mais á cidos, e por Ca 2+ em equilíbrio na solução
de solos mais alcalinos ( Rahmatullah , 2000) . Há evid ências de grande libera çã o de
formas nã o-trocá veis de K da fra çã o aieia fina, de minerais de argila, como a caulinita,
atribuída à ocorrência de camadas residuais de mica preservadas no interior da estrutura
do mineral, mesmo em solos com maior grau de intemperismo (Melo et al., 2001, 2004).
Em solos de Cerrado, mais intemperizados, é menos relevante considerar o poder
tampã o de K (PTK ), pois os minerais de solo predominantes (argilas 1:1 e oxihidróxidos
de Fe e Al ) conferem muito baixo pode r tampã o ao solo, quando comparados ao poder
tampã o de P nessas condições. Por outro lado, a CTCefetiva pode ser, comparativamente,
mais ú til, pois a maior aquisiçã o do K pelas plantas está relacionada, em boa parte, com
seus valores e com os teores de matéria orgâ nica que podem adsorver esse cá tion,
diminuindo sua perda por lixivia çã o.
Em relação à planta, torna-se fundamental a previsã o do potencial de produtividade
da cultura, bem como dos conteúdos de K nas diversas partes das plantas. Trabalho de
Santos (2006), com dados de 137 talhões de lavouras comerciais de soja dos Estados do
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, evic enciou a necessidade de teores foliares de K mais
elevados na planta para maiores produtividades, sendo encontrados teores foliares
maiores em solos mais argilosos ( Figura 6a e 6b ). Isso leva a se concluir que o manejo
desse nutriente em solos mais arenosos nã o está adequado, havendo necessidade de
melhoria, dada a limita çã o de produtividade causada por esse nutriente nessas
condições.
FERTILIDADE DO SOLO
I X - POTÁSS o 585
(a )
« 100
£ = 39 ,31 + 1 ,1195 ** * x
O 2
C/) 85 • R = 0,15
<U
T> 70 •
ro
X3
X5
55
C
a 40 !
o 4
CL 25
6 12 18 24 30
K foliar, : 3 kg
(b)
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18
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*
; *
(0 ,
o 12
y = 18,06 + 0,0067 * * * x
6 2
R = 0,15
0
0 150 300 450 600 750 900
1
Argila , g kg
FERTILIDADE DO SOLO
586 PAULC ROBERTO ERNANI et al.
Lobo J ú nior (4) assegura que a proximidade do adubo e semente causa clorose nos
bordos das folhas primá rias das plantas, em especial do feijoeiro, provocada pela queima
de ra ízes, resultante do seu contato com o KC1 das formula ções NPK. Esta fitotoxidez
geralmente nã o é mais observada nas folhas trifoliolâ das; contudo, o maior dano causado
pelo KC1 ocorre nas ra ízes que sã o queimadas, o que faz com que o tecido morto sirva
como porta de entrada para patógenos de solo como Fusarium solani e Rhizoctonia solani .
Os danos provocados por esses pató genos, junto aos danos da queima, somam perdas
em torno de 20 % na produtividade. Mesmo em á reas com alta densidade de inoculo de
F. solani e R . solani , este problema tem sido minimizado com a utiliza çã o de fosfato
monoamônico ( MAP) no sulco de semeadura e distribuiçã o do K a lanço, antes ou depois
da semeadura, garantindo maiores produtividades .
v
reduçã o de 36,5 % na popula çã o de plantas, causada pelo efeito salino, em relação à á rea
nã o adubada .
Salton et al . ( 2002 ) , trabalhando em bandejas com areia lavada , avaliaram
diretamente as doses de K aplicadas n a linha de semeadura na cultura da soja, usando
a mistura 0-20-20 nas doses de 0, 150, 300, 450, 600 e 750 kg ha 1, o que fornecia,
'
respectivamente, 0, 30, 60, 90, 120 e 150 kg ha 1 de K20. Observaram que, desde a dose de
"
i
(4 )
Informa çã o pessoal, pesquisador da Embrapa Arroz e Feijã o.
FERTILIDADE DO SOLO
IX - POTáSSIO 587
^
flexibilidade na escolha e utilizaçã o de f órmula na semeadura, principalmente quanto
ao manejo do S e, ou, P na linha de semeadura ( Zancanaro et al., 2002).
Resultados preliminares com algodã o no oeste da Bahia em solos arenosos apontam
melhores resultados obtidos com aplica çã o tota l de K a lanço, em pr é-plantio ou até 15
dias ap ós. Em Goiás, com solos argilosos (570 g kg 1 de argila ), verificaram-se també m
'
oeste baiano, evidenciou melhor resposta da soja em produtividade com aplica ções de
60 kg ha 1 de KzO a lanço, no primeiro ano de cultivo (cerca de 50 sc ha 1 de soja ). No segundo
' '
e terceiro cultivo, a melhor resposta foi para o efeito residual de 180 kg ha 1 de KzO apli-
'
também que as má ximas produtividades de soja foram obtidas com teores foliares de K
iguais ou superiores a 13,0 g kg 1. Teor foliar por volta de 15,0 g kg 1 foi obtido apenas
' '
com aplica çã o de 180 kg ha 1 de KzO, a lanço, em comparaçã o com as demais doses apli-
'
cadas da mesma forma (0, 60 e 120 kg ha 1). Isso pode indicar que doses dessa ordem
podem ser necessá rias nesses solos bem arenosos para se obter teor adequado de K nas
plantas. Os melhores resultados em produtividade da soja com aplicaçã o de K a lanço
concordam com os de Rosolem et al. (1984), que a tribuíram o pior resultado da aplicação no
sulco de semeadura ao possível dano causado pela salinidade às sementes, fato este favoreci-
do pelas menores precipitações pluviais ocorridas nos dois primeiros anos do experimento.
Alé m dos benef ícios da potassagem na redução do efeito salino em solos mais
arenosos, pode-se pensar em menor perda por lixiviaçã o pela menor concentraçã o em
á rea total se comparada à elevada concentração no sulco de semeadura.
Sousa et al . (1979 ), em cultivo de milho em Latossolo Vermelho álico argiloso
!
(600 g kg 1 de argila ), não verificaram perdas de K por lixiviaçã o nas doses de 0, 75 e
"
FERTILIDADE DO SOLO
588 PAULO ROBERTO ERNANI et al.
acima desta faixa (Figura 7). Esses valores de doses mais constantes de K 20, cerca de
40 kg ha 1 seriam relativos à manutençã o ou sustentabilidade da produçã o. Todavia,
'
y * = 299 , 25 x -
240 0 ,3303***
2
200 R = 0 , 46
D) 160
4
O CN 120 •
:
*<D
V) t
O 80 *
O
40 - 4
W
*
0
0 150 300 450 600
3
K dispon í vel, mg dm
*
Figura 7. Doses de K20 aplicadas de acordo com os teores de .K disponíveis nos solos em 137
talhões de lavouras comerciais de soja dos Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. í
S
!
Fonte : Santos (2006).
$
FERTILIDADE DO SOLO
I3
X - ENXOFRE
1/
Departamento de Solos, Universidade Federal de Vi çosa - UFV . CEP 36570-000
Vi çosa ( MG ) . Bolsista CNPq .
vhav @ ufv . br; nilfp@ bol.com . br
2/
Embrapa Agropecu á ria Oeste . CEP 79804- 970 Dourados ( MS ) .
roscoe@ cpao . embrapa . br; chkurihara @ uol .com . br
Conte ú do
INTRODUÇÃ O 596
FORMAS DE ENXOFRE NO SISTEMA SOLO- PLANTA 597
Ciclo Biogeoqu ímico do Enxofre 597
Enxofre no Solo 600
FATORES INTENSIDADE, QUANTIDADE E CAPACIDADE TAMPÃ O 605
ADSORÇÃO DE ENXOFRE NO SOLO 606
FORMAS L Á BEIS E N ÃO- L Á BEIS 611
Transformaçã o de Enxofre Lábil em Nã o-Lábil 613
Reversibilidade de Enxofre Não-Lábil 614
ENXOFRE NAS CULTURAS 618
Absor çã o 618
Transloca çã o e Redistribuição 618
Intera ções 619
Exigências e Respostas das Culturas 621
ADUBAÇÃO COM ENXOFRE 624
Disponibilidade de Enxofre 624
Crité rios de Recomendaçã o 625
Aná lise de Solos 625
Diagnose Visual e Foliar 628
Fontes Minerais de Enxofre 632
Enxofre Elementar 632
Gesso Agrícola 632
Sulfato de Amónio 633
Superfosfato Simples 633
Sulfato de Pot ássio 633
Outras Fontes 633
Recomenda çã o de Adubação com Enxofre 634
LITERATURA CITADA 635
SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( eds. NOVAIS, R . F., ALVAREZ V ., V .H ., BARROS,
N.F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R.B. & NEVES, J.C .L. ).
)
596 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.
INTRODUÇÃ O
!
a forma predominante de S-inorgâ nico na maioria dos solos. Além desta, algumas formas
reduzidas podem ser encontradas em solos sob condições anaer óbias.
O íon S042 é a forma na soluçã o do solo absorvida pelas plantas. A disponibilidade
"
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 597
atmosfera oxidou -se e dissolveu -se rapidamente na á gua dos mares, formando á cido
sulf ú rico (Eq. 1) . Em pouco tempo, praticamente todo o S na atmosfera dissolveu-se nos
oceanos (Schlesinger, 1997) .
so2 + y2 o 2 + H2O ^ H2SO4 (1)
O S042 dissolvido na água dos oceanos passou a reagir com cá tions disponíveis em
'
GtO )
Atmosfera 0,0028
Oceanos (á gua ) 1.280.000,0
Rochas sedimentares
Pirita 4.970.000,0 .
Evaporitos 2.470.000,0
Biomassa terrestre 8,5
Maté ria orgâ nica do solo 15,5
Total 8.720.000,0
Gt = 1012 kg.
(1)
FERTILIDADE DO SOLO
598 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.
Acredita -se que a primeira rota metabólica fotossinté tica tenha sido desenvolvida a
partir da rea çã o com formas reduzidas de S ( Eq . 4 ) , realizada por organismos
fotolitotr óficos (1 ), visto que a energia livre de rea çã o é menos positiva do que na rea çã o
com H20 nos organismos fotoaquatr óficos (2) (Schlesinger, 1997) .
—
C02 + 2 H2S + Energia luminosa > CH20 + 2 S2 + '
HzO (4 )
(Eq. 5).
(1 )
Organismos que utilizam um composto inorgâ nico como fonte de elé trons, o C02 como fonte de C e
a luz como fonte de energia . Ex .: bact é rias p ú rpuras metabolizantes do S ( Moreira & Siqueira, 2002 ) .
(2 )
Organismos que utilizam a á gua como fonte de el é trons, o C02 como fonte de C e a luz como fonte
de energia . Ex .: plantas superiores, algas verdes e cianobact é rias ( Moreira & Siqueira , 2002) .
( 3)
Organismos que utilizam um composto inorgâ nico como fonte de elé trons, o C02 como fonte de C e
um composto inorg â nico como fonte de energia . Ex.: bact é rias nitrificadoras ( Moreira & Siqueira,
2002 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 599
pelas chuvas ou por deposiçã o de partículas, sendo o restante (182 Mt ano 1) depositado
'
nos oceanos.
As maiores fontes de S para a atmosfera sã o os sais presentes nos aerossóis marinhos
(53 % do total ), os quais têm uma meia vida (5) na atmosfera bastante curta, retornando
quase que completamente aos oceanos via deposiçã o, reabsor çã o pelos organismos ou
arraste pelas chuvas. Outra fonte marinha importante sã o os gases biogênicos, sobretudo
o dimetil-sulfeto ( DMS -(CH3) 2S-), que també m apresenta uma meia vida reduzida na
atmosfera (cerca de 1 d ).
/
/
(5 )
Atividade
—
' vZ — ( 90 )
Queima
^ \
de ( 4 )
( 8) Combustí veis Gases
( 5
K
)
Transporte para
N Ambientes Terrestres
\ iOOOOOD
(130 )
Rios
Deposição Í Í
Aerosol Gases
Atividade
Vulcânica
Marinho Biogênicos
vj
\
m
{4 )
Mt = 109 kg .
(5)
Tempo necessá rio para serem reduzidos à metade.
FERTILIDADE DO SOLO
600 V í CTOR HUGO ALVAREZ V. et al .
As erup ções vulcâ nicas contribuem com cerca de 3,5 % das emissões atuais,
distribuídas igualmente entre os ambientes terrestres e oceanos. Eventualmente, grandes
erupções provocam eleva ções momentâ neas destas contribui ções, mas que voltam
rapidamente ao equilíbrio anterior.
Nos ambientes terrestres, a emissã o de gases vindos da atividade biológica sã o
dominados por organismos redutores de S em ambientes alagados, os quais liberam H2S.
Outra fonte importante sã o as partículas sólidas em suspensã o ( poeira ), movimentadas
pelos ventos . Grandes quantidades de S sã o colocadas em suspensã o pelos ventos em
regiões á ridas e semi-á ridas, principalmente na forma de gesso. Os maiores fluxos de S
para a atmosfera, no entanto, é consequ ência da atividade humana (33 % ) . O S é um
constituinte importante dos combustíveis f ósseis (carv ã o mineral, petr óleo e gás natural),
al ém de ser liberado em grandes quantidades durante a extraçã o de Cu .
A deposiçã o atmosf érica de S nã o é homogénea . Em decorrência de seu baixo tempo
de resid ência na atmosfera, as deposições de S tendem a ser mais elevadas em á reas
costeiras, em regiões localizadas na direçã o de ventos dominantes vindos de desertos e
próximas a regiões industriais. A atividade industrial coloca grandes quantidades de
S02 no ar, produzindo á cido sulf ú rico e elevando bastante a acidez das chuvas. Em
diversas regi ões densamente povoadas e com elevada atividade industrial, sé rios
problemas têm sido observados com as chamadas chuvas á cidas. Em consequência,
restrições importantes às emissões de S foram adotadas em vá rios pa íses desenvolvidos,
buscando solucionar o problema .
Enxofre no Solo
Embora e quantidade de S nos solos e na biomassa seja insignificante diante dos
grandes reservatórios terrestres (Quadro 1), a vida no planeta e a produçã o de alimentos
dependem da ciclagem deste nutriente no sistema solo-planta. As intera ções e fluxos de
S neste sistema sã o complexos (Figura 2), assim como suas intera ções com os demais
reservatórios.
As principais fontes de S para o solo sã o os minerais primá rios, sobretudo o sulfeto
de Fe e o gesso, a deposiçã o atmosf érica seca ( poeira ) ou ú mida (chuvas), os resíduos
vegetais e animais, e os pesticidas e fertilizantes (Figura 2).
A contribuiçã o do intemperismo de minerais primá rios para o S no solo vai depender
do material de origem e das condições de oxirreduçã o. Em geral, estas contribuições sã o
lentas e dificilmente afetam a disponibilidade de S para as plantas.
A contribuiçã o dos resíduos de vegetais e animais depende do tipo de vegeta çã o e
do manejo aplicado. Geralmente, o teor de S é pr óximo ao de P no tecido de plantas,
variando de 2 a 5 g kg 1 de matéria seca (Stevenson, 1986 ). Cerca de 90 % deste total
"
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 601
Deposição
Atmosférica
H 2S Queima de
i Combustí veis
Fertilizantes „
*
Fó sseis
Res í duos Pesticidas
Org â nicos f
Mihera h -
zaçaeiS | [
Absorção Minerais
Solução do Solo| lntemperismo MO Solo
Oxidação Minerais Primários
Humificação S2 SO42 Adsorção
SuIfetos Argilas
Redução Sulfatos
(Ó xidos e hidr óxidos
ggDessorção de Fe e AI)
Mineralização
Imobilização Matéria Imobilização T
orgânica Lixiviação
do solo
Erosão
dos fluxos, os ventos vindos dos desertos podem conter grandes quantidades de partículas
de solo ricas em gesso. O S na á gua de chuva tem sido objeto de estudo de grande
interesse nas últimas décadas, dada sua capacidade de gerar as chamadas chuvas á cidas,
com grandes preju ízos ambientais. As proximidades de regi õ es industriais ou
densamente povoadas sã o á reas cr íticas. Tisdale et al. (1985) ressaltam que o pH normal
da chuva varia entre 5,7 e 7,0, enquanto, em regiões sob influência antrópica, tais valores
sã o geralmente inferiores a 5,7, podendo alcançar 4,0.
No solo, o S distribui-se em diversos reservatórios, em formas orgâ nicas e inorgâ nicas
( Figura 2) . O fluxo entre esses reservató rios é controlado por rea ções de oxidaçã o e
reduçã o, mediadas quase que completamente pela microbiota (Stevenson, 1986; Moreira
& Siqueira, 2002). As diferentes rea ções e processos dependem de determinados grupos
de microrganismos e condições ambientais específicas (Quadro 2).
As formas orgâ nicas de S predominam em solos minerais bem drenados e sem
restrições hídricas. Nesses solos, a fra çã o orgâ nica representa geralmente mais de 90 %
do S total (Tisdale et al ., 1985; Bissani & Tedesco, 1988; Schoenau & Germida, 1992). As
principais transforma ções do S nestes ambientes sã o: imobiliza çã o, mineraliza ção e
oxida çã o, as quais resultam em perdas ou ganhos de S pelo sistema solo-planta, por
processos de lixivia çã o, volatiliza çã o e absorçã o (Schoenau & Germida, 1992).
As formas orgâ nicas de S podem ser divididas em duas frações mais importantes,
com base em sua susceptibilidade à reduçã o: (1) S reduzido por Hl, e (2) S ligado ao C
!
FERTILIDADE DO SOLO
602 V í CTOR HUGO ALVAREZ V. et al .
Quadro 2 . Principais rea ções de oxida çã o e redu çã o do enxofre no solo, condi ções necessá rias
e principais microrganismos envolvidos
Redu çã o SO 42 *
-> HS- Anaerobiose e Heterotr ó ficos, que reduzem
dissimilat ó ria ( 2 ) disponibilidade de compostos de S, utilizando - os
ou respirat ó ria substrato orgâ nico . N ã o como receptores de el é trons. Ex .
requer luz Disu Ifovi b rio , D is u í fo toma cu lu m
Oxida çã o H 2S - SO 42 '
Interface entre ambientes Quimiolitotr ó ficos, que utilizam
dissimilat ó ria H 2S s° ricos em H 2S e ambientes a oxida çã o do S, como fonte de
aer ó bia S° -> SO 42 - com O2 ( necessita de energia na assimila çã o do CO 2
aerobiose ) ( Eq . 5 ) . Ex . Thiobacillus ,
Thiowicropira , Achromatium ,
Beggiatoa
(S-C) (Stevenson, 1986; Schoenau & Germida, 1992) . A primeira fração, obtida por meio
da redução do S-orgânico a H2S pelo Hl, é composta por S042 -orgânico, em que o S não se '
encontra diretamente ligado ao C . Esta ligaçã o é feita por meio de outros elementos: O
(C-O-SO3), N (C- N-SO3), ou o próprio S (C-S-SO3) (Schoenau & Germida , 1992) . O S042 - "
à matéria orgânica de baixo peso molecular, sendo considerada a forma mais lábil de
S-orgânico (Schoenau & Germida, 1992) . McLaren et al . (1985) encontraram que as formas
mais lábeis de S-orgânico no solo sã o aquelas da forma C-O-S. A mineraliza ção do
S-orgânico é principalmente devida a estas formas que são as mais disponíveis para as
plantas (Ghani et al . , 1991; Zhou et al . , 2005 ) .
Os compostos com ligação S-C representam cerca de 50 % do S-orgânico total do
solo. Estes compostos podem ser divididos em duas frações: (1 ) compostos com ligaçã o
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 603
superiores a 400:1 levam à imobiliza çã o tempor á ria de S042 pela microbiota "
decompositora e valores inferiores a 200:1 promovem a liberação líquida de S042 (Moreira '
nã o só com a profundidade e com o teor de matéria orgâ nica do solo, mas també m com a
alta concentraçã o de S042 na soluçã o do solo ( Maynard et al., 1985; Prietzel, 2001).
"
Entretanto, Speir (1984) nã o observou correlaçã o entre o teor de C-orgâ nico e a atividade
da arilsulfatase e concluiu que cada solo tem caracter ística típica de atividade enzimá tica,
que pode ser influenciada por alguns fatores, tais como: grau de evolução da matéria
orgâ nica ou tipo de vegetaçã o que lhe deu origem.
(6)
Catalisa a desulfuriza çã o destes compostos. Obt é m-se por tratamento de uma liga de Al e Ni em pó
com NaOH .
FERTILIDADE DO SOLO
604 V í CTOR HUGO ALVAREZ V. et a l .
como o dióxido de enxofre (S02), sulfito (S032 ), tiosulfato (S2032 ), enxofre elementar (S°) e
‘
sulfeto (S2 ) ( Bissani & Tedesco, 1988). Em solos bem drenados, praticamente todo o
'
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 605
lixivia çã o. Esta caracter ística do S042 tem representado uma boa alternativa de manejo
'
predominante em solos sob condi ções de alagamento ou em sítios anaer óbios de solos
bem drenados. A maior parte do S2 encontra -se na forma de H2S, um gás altamente
‘
volá til com odor extremamente desagrad á vel, lembrando o cheiro de ovos em processo
de decomposiçã o . O gá s é tã o letal quanto o cianureto ( Holtzclaw et al ., 1991) . Quando
em altas concentra ções, ao ser inalado, paralisa rapidamente os receptores olfativos. Em
poucos segundos, nã o se percebe mais o característico odor desagrad ável, podendo levar
à morte em poucos minutos. O H2S tem, ainda , efeito fitotóxico ( Moreira & Siqueira ,
2002 ). Na presença de Fe, o H2S reage, sendo o S2 ~ precipitado como FeS2 ( Eq. 3) . De
forma inversa, em ambientes oxidantes, o S2 é convertido novamente em SQ42 (Quadro 2 ).
' '
fatores que controlam a concentra çã o deste íon na solu çã o do solo sã o: regime hídrico
( pela oxidaçã o das formas reduzidas de S), atividade microbiana ( mineraliza çã o ou
imobiliza çã o), deposiçã o atmosf érica (absor ção direta de S02 pelas plantas e, ou, oxidaçã o
—
S02 > S042 ), absor çã o pelas plantas e adiçã o de fertilizantes (Ghani et al., 1990) .
"
das formas de S pode ser entendida pelo esquema para P de Gunary & Sutton (1963),
adaptado por Accioly (1985) para o S:
k1 k3
^
* S - solu çã o (pró ximo à superfí cie das micelas do soio )
S nã o-l ábil S - lá bil „
k2 k4
Transporta
ki
S - solu ção * S - vegetal
( pr ó ximo às ra í zes) ke
FERTILIDADE DO SOLO
606 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al .
ressuprimento de I, à medida que o S042 é absorvido pela planta, é feito pelo fator Quantidade
"
(Q), quantitativamente bem maior que I; Q estima a reserva lábil de S042 . Existe, portanto,
"
de grupos -OH; e por compartilhamento de elé trons, ou adsorçã o espec í fica , quando o
S042 forma liga ções covalentes com a superf ície das argilas. O S042 adsorvido
' '
de cá tion acompanhante ( Bissani & Tedesco, 1988). O grau de afinidade dos diferentes
â nions pelas partículas do solo segue a ordem: citrato > fluoreto > fosfato = molibdato
> sulfato ~ acetato > borato > nitrato = cloreto. Portanto, o â nion que mais compete com
o S042 pelos sítios de adsorçã o é o H2P04 , sendo possível o estímulo à lixivia ção de S042
' ‘ "
aduba ções. O H2P04 é retido com maior energia do que o S042 , o que faz com que o
' '
H2P04 seja adsorvido em maior quantidade e com menor reversibilidade quando estes
'
nutrientes são adicionados conjuntamente ao solo (Chao, 1964). Deste modo, entende-se
que, nã o havendo P suficiente para ocupar os sítios de adsorção, grande parte do S é
rapidamente adsorvida no solo (Mattos, 1988).
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 607
O cá tion acompanhante também interfere na adsorçã o de S042 , uma vez que a sua '
matéria orgânica do solo apresenta ponto de carga zero em valores de pH bem abaixo dos
relativos às argilas 1:1 e aos óxidos e hidróxidos de Fe e Al. Por isso, apresenta carga
residual negativa mesmo em valores de pH favor á veis à protona çã o dos grupamentos
-OH das argilas, por reagirem com os mesmos, anulando as cargas positivas. Mesmo em
solos ricos em óxidos e hidróxidos de Fe e Al, esta interferência da matéria orgâ nica fica
clara, havendo menor fixa çã o (7) de S042 nos horizontes superficiais, mais ricos em
'
C-orgâ nico (Mitchell et al., 1992). Pelo que, em dois Latossolos e um Nitossolo de São Paulo,
a adsor çã o de P e de S foi superior em amostras subsuperficiais (Casagrande et al., 2003).
A disponibilidade de S para as plantas está relacionada com v á rios mecanismos do
,
solo dentre os quais se destacam: os processos de adsor çã o / dessor çã o, precipita çã o /
solubiliza ção, imobiliza çã o / mineraliza çã o pela biomassa microbiana e lixiviaçã o. Diante
dos comentá rios feitos anteriormente, é necessário destacar os processos de adsor çã o e
de mineraliza çã o, como também relacionar o papel da matéria orgâ nica nesses processos.
No caso da adsorçã o de S, existe um forte componente eletrostá tico na liga çã o entre
o S042 e a superf ície, com pouca adsor çã o ocorrendo na ausência de cargas positivas
'
(Costa, 1980) . J á para o P, o processo de adsor çã o pode ser explicado por meio do
mecanismo de troca de ligantes ( forte liga çã o covalente ), tendo esta liga çã o forte
Figura 4. Representa çã o esquemá tica da sequê ncia de adsor ção de cá tions e â nions em superf ície
de part ículas de solo, considerando o pH, a adsor çã o eletrost á tica de sulfatos ( reversível)
e adsor çã o específica ( irreversível), com formação de liga ção covalente.
Fonte : Adaptado de Schoenau & Germida (1992).
(7)
Fixa çã o é a adsorçã o temporariamente n ã o-reversível, é a passagem de lá bil para n ã o-l á bil .
FERTILIDADE DO SOLO
608 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.
componente químico, de tal modo que o P pode ser adsorvido em superf ície neutra ou até
mesmo negativa . Essas diferen ças no processo de adsor çã o de H2P04 e de S042 ' '
influenciam o potencial de adsorçã o destes dois â nions, reforçando a ideia de que os solos
têm menor capacidade de adsor çã o para S042 do que para o H2P04 (Marsh et al ., 1987) .
' '
Langmuir para explicar a rela çã o entre o S042 adsorvido e o da soluçã o. Com o uso
'
dessa isoterma, podem -se separar três regiões distintas de adsor çã o de S e calcular a
CMAS para o total ou para qualquer uma das três regiões de adsor çã o, preferindo
considerar como representativa da CMAS a calculada com a segunda regiã o, por ser nela
cumpridos melhor os pressupostos para a utiliza çã o desta isoterma . Além dessa isoterma,
outra muito utilizada nesses estudos é a de Freundlich, a qual, apesar de nã o permitir a
obtençã o da CMAS, possibilita calcular a quantidade de S adsorvido no solo, quando se
conhece a concentra çã o desse nutriente na soluçã o de equilíbrio ( Alvarez V. et al., 2001),
isto també m é possível pela utiliza çã o da isoterma de Langmuir.
Os principais fatores que influenciam o processo de adsor çã o do S042 pelo solo sã o:
'
al., 2003) quanto por aumentar a liberaçã o do adsorvido; ou seja, aumentar sua dessorçã o.
Adicionalmente, ocorre também maior mineralização do S-orgâ nico com a calagem.
Silva et al . (1999 ), avaliando a influê ncia da calagem e de doses de P sobre a
mineraliza çã o de compostos orgâ nicos com S em amostras de sete diferentes solos, em
cinco períodos de incuba ção (14-70 d ), observaram maiores teores de S042 após a calagem
'
nos solos Gleissolo Elá plico ( HGP) e Latossolo Vermelho-Amarelo de Rio de Janeiro
( LV2), podendo significar maior disponibilidade de S para as plantas. Entretanto,
condições que favoreçam maior movimentação de S no perfil aumentam a disponibilidade
desse nutriente em profundidade, podendo resultar em maior perda de S042 por lixiviação.
'
Isso ocorre pelo fato de a calagem favorecer a formação de cargas negativas nas superf ícies
dos óxidos de Fe e Al e nas argilas silicatadas, diminuindo a adsor çã o de S042 na camada
"
ará vel e aumentando a movimentaçã o deste â nion para camadas mais profundas do
solo. Verificou -se, nesses solos, com menores teores de argila e, ou, de S total, que o
processo de mineraliza ção de S nã o se mostrou influenciado pela aplicação de calcário e
de P, apresentando menores quantidades de S mineralizado, ou maior imobilizaçã o
líquida de S042 . No entanto, a maior disponibilidade de P nos sete solos estudados não
'
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 609
resultou em maior conversã o de S-orgâ nico a S042 . Pelo contr á rio, o efeito conjunto da
'
calagem com maiores teores disponíveis de P para o LV2 acarretou maior imobiliza çã o
de S042 , aos 42 dias de incuba çã o.
'
Com rela ção à natureza dos colóides do solo que influenciam a retençã o do S042 , os '
fratura nos mesmos. J á para os óxidos de Fe e Al, essa adsor çã o é devida à forma çã o de
uma película em volta dos minerais da fra çã o argila ( Bohn et al., 1985). De modo geral,
a magnitude de adsor ção de S042 segue a seguinte ordem: óxidos de Al > óxidos de Fe >
'
O S042 é adsorvido ao óxido de Al hidratado por meio de uma ligação de ponte entre
'
esse íon e os dois á tomos de Al, formando um anel de seis membros. Esse mecanismo de
retenção de S042 se deduz das seguintes observa ções experimentais: a carga superficial
'
final tende a ficar próxima de zero; e a rela ção entre o S042 adsorvido, de um lado, e o
"
OFT liberado e a carga neutralizada, do outro lado, é curvilinear. Observa ções que
sugerem as seguintes rea ções:
OH ,-, + O H j-i —
AkDH 2
+ SO/ “
Alxscv + OH 2 (6)
+ soa
2
+ OH (7)
As reações supradescritas levam a superf ície do mineral a ter carga líquida negativa .
Posteriormente, a neutraliza çã o dessa carga negativa ser á, possivelmente, pelo S042-
adsorvido, o qual desloca OFT (ligado a um sítio neutro ou positivo ), ligando-se a outro
Al, proporcionando a forma çã o de anel, favorecendo, assim, o desenvolvimento de formas
nã o-lá beis. Rajan (1978) propôs a seguinte forma çã o anelar:
O H, - OHj -IO
'
OH
(8)
o '2
FERTILIDADE DO SOLO
610 V í CTOR HUGO ALVAREZ V. et al .
V á rios autores têm confirmado que o fenô meno de adsor çã o é influenciado pelo
tempo de contato do S042 da soluçã o com a fase sólida do solo. Estes estudos confirmam
"
a existência de duas etapas na adsor çã o do S042 com a fase sólida, à semelhança do que
'
ocorre com o P. Em uma primeira etapa, o S é rapidamente retido . Com passar do tempo
de contato, uma segunda etapa é desenvolvida mais lentamente e parte do S é
transformada em formas fortemente retidas, constituindo a reserva não-lá bil (Chao et al.,
1962; Barrow, 1967; Hingston et al., 1974; Rajan, 1978; Karltun, 1994 ) .
Para Metson & Blackemore (1978), o efeito da retençã o do S em rela çã o à competição
com o P depende principalmente da quantidade relativa de S042 na soluçã o e da natureza
'
do solo. Esses autores observaram que solos com baixa capacidade de adsor çã o de S042 '
adsorvem muito pouco deste â nion, quando a razã o na solução entre S e P, em massa , era
de 1:1. A situa çã o inversa també m é verdadeira , ou seja, solos com alta capacidade de
adsor çã o de S042 sã o capazes de adsorver grandes quantidades de S042 adicionado,
" "
deste â nion pelo solo e verificaram que a retençã o de S042 das diferentes soluções de sais
"
apresentou a seguinte ordem: CaS04 > K 2S04 > ( NH 4) 2S04 > Na 2S04. J á, em rela çã o à
saturação por cá tions no complexo de troca, foi observado que a retençã o de S042 seguiu
'
a ordem de valência química do cá tion saturante: Al3+ > Ca 2+ > K +. Assim, considerando
a possibilidade de as amostras de solo que foram saturadas com v á rios cá tions exibirem
valores de pH diferentes, associaram os dois efeitos, ou seja, do tipo de cá tion ( tri, bi, e
monovalente ) e do pH. No entanto, o efeito do pH pareceu mais evidente que o efeito do
cá tion no complexo sortivo. A influência desse último foi relacionada com os possíveis
efeitos no potencial zeta dos colóides do solo, na repulsão aniônica. Por serem os colóides
do solo carregados, em geral, negativamente, a distribuição do S042 na dupla camada
"
difusa está associada à repulsã o elé trica . Como esse potencial é reduzido pela presença
de cá tions polivalentes, há grande possibilidades de o íon S042 ser retido.
'
de Al e, ou, de Fe insolúveis, esse processo pode ser uma maneira para explicar as equa ções
teóricas de adsor çã o ( Adams & Rawajfih, 1977).
Contudo, Wearver et al. (1985) observaram que, sob condições naturais, diferentes
mecanismos de adsor ção de S042 ocorrem simultaneamente nos solos, tornando-se dif ícil
'
diferenciar tais processos, como, por exemplo, precipitaçã o e rea ções de superf ícies.
Em adiçã o a todos esses fatores anteriormente mencionados com relação à adsorção
do S042 pela fase mineral do solo, torna -se necessá rio ressaltar o papel importante da
'
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 611
mat éria orgâ nica do solo na disponibilidade de S para as plantas, já que a maior parte do
S ( > 95 %) do solo encontra -se na forma orgâ nica .
A mineraliza çã o e a imobiliza çã o entre formas orgâ nicas e inorgâ nicas de S sã o
processos importantes que podem governar a adsorçã o do S no solo, a lixivia çã o e,
portanto a disponibilidade desse nutriente para as plantas ( Zhao et al., 1996), também é
importante o equilíbrio entre as formas lá beis e n ã o-lá beis, principalmente em solos
tropicais muito intemperizados.
Os efeitos da maté ria orgâ nica na adsor çã o de S042 pelos solos apresentam pontos
'
contraditórios na literatura. Alguns trabalhos destacam que a matéria orgâ nica apresenta
rela çã o direta com a adsor çã o (Chao et al ., 1962; Haque & Walmsley, 1974), enquanto
outros têm evidenciado rela çã o inversa com a adsor çã o de S042 pelos solos (Singh, 1984;
'
Patil et al., 1989 ) . Essa rela çã o negativa entre a maté ria orgâ nica e a adsor çã o de S042 é '
perfeitamente explicável, graças ao cará ter de sua carga de superf ície negativa; entretanto,
deve-se levar em considera çã o sua natureza anf ó tera (carga variá vel), assim, sob certas
condições, pode desenvolver cargas positivas, possibilitando a retençã o de â nions .
Accioly (1985) verificou que o teor de matéria orgâ nica nã o apresentou correla çã o
com a capacidade tampã o do S042 , o que pode indicar menor participa çã o dessa fra çã o
'
do solo na adsorção do S042 . Por outro lado, o baixo grau de associação entre a capacidade
'
tampã o de S042 e o teor de argila evidencia que a qualidade da argila pode ser tã o
'
Pelo indicado até agora, as formas lá beis de S ( Fator Quantidade) no sistema solo
estã o relacionadas com o S042 que é precipitado, imobilizado e, ou, adsorvido, e que
'
estã o em rá pido equilíbrio com o SÒ42 da soluçã o do solo, podendo repor o S à soluçã o
'
durante o ciclo de uma cultura anual (8) . Por outro lado, a forma nã o-lábil relaciona -se
com o S042~ que nã o está em equilíbrio imediato com o S042 da soluçã o do solo. As
'
formas lábeis podem ser transformadas em formas nã o-lá beis, sendo retidas com tal
energia que o equilíbrio com o S-soluçã o desaparece, deixando, portanto, de ser disponível
para as plantas de ciclo curto.
<8) Como as formas sol ú veis, lá beis e nã o-l á beis na natureza constituem um cont ínuo, a conceitua çã o
do que é lá bil necessita da indica çã o do componente tempo.
FERTILIDADE DO SOLO
612 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.
mais rapidamente lá bil), e quanto por extratores que, além desta fra çã o, extraem também
parte do S042 adsorvido. Dessa maneira, quando se utilizam esses extratores, frações do
"
que está adsorvido e fra ções de S de formas orgâ nicas sã o extra ídas, tornando dif ícil
separar o quanto do extra ído seria l á bil, uma vez que existe a possibilidade de extra çã o
de fra ções nã o-lá beis.
A determina çã o do fator quantidade para S (S-lá bil ) tem sido realizada por meio da
aplica çã o do princípio de diluiçã o isotó pica (valores E , L e A ) . A restriçã o ao uso desse
m é todo está relacionada com a possibilidade de ocorrer adsorçã o sem troca e de alguma
troca do S marcado com algum S nã o-l á bil . O emprego da resina trocadora de â nions,
proposto por Amer et al. (1955) para a determina çã o da reserva lá bil de P, é um mé todo
alternativo para determina çã o de formas lá beis de S. Nesse processo, o solo é agitado em
á gua com a resina, e o S é transferido do solo para resina através da á gua: S-solo > —
—
S-soluçã o >S-resina . Para Raij (1981), esse caminho é semelhante ao que ocorre na
absor çã o pelas raízes, quando o P sai da fase sólida do solo para a soluçã o e, desta , para
a raiz.
A utiliza çã o da resina trocadora de â nions baseia -se, portanto, na possibilidade de
extra çã o de formas prontamente sol úveis de S-S042 e as adsorvidas ou precipitadas, mas
'
que podem, para manter o equilíbrio, passar à solu çã o durante o ciclo de uma cultura,
estimando, dessa maneira , o fator quantidade (Q). O uso desse mé todo na extração de S
é pouco citado na literatura e os trabalhos, em sua maioria, restringem-se à determina çã o
do S disponível.
Uchôa et al. (2003) desenvolveram um mé todo para determinaçã o do teor de S lá bil
do solo, utilizando, para isto, membrana de resina de troca aniô nica . Nesse trabalho,
foram realizados tr ês experimentos, sendo: (1) extra çã o com diferentes n úmeros de
membranas de troca aniônica; (2) extra ções sucessivas por 16 h cada, com uma membrana,
e (3) extra çã o com uma membrana por diferentes tempos de agita çã o (1, 2, 4, 8, 16, 24, 36,
48 e 72 h). Esses autores indicaram que a extraçã o contínua com uma membrana de troca
aniônica, por 48 h de agita çã o, é um mé todo viá vel e eficiente, tendo extraído elevada
percentagem ( > 87 %) do S lá bil (SL). Esse S extra ído com agitaçã o, durante 48 h, foi
considerado como S rapidamente lábil (SRL ). A pequena fraçã o restante do SL, extraído
entre 48 h, e o tempo de extra ção má ximo, estimado para SL, de 152 h, foi denominado de
S lentamente lá bil (SLL ) . O enxofre nã o-lá bil (SNL) foi aquele que seria extraído com um
tempo de agita ção superior a 152 h. Nesse trabalho, preferiu-se separar o S rapidamente
lá bil (SRL) do S lentamente lá bil mais o nã o-lá bil (SLL + SNL ), em lugar de definir o
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 613
limite entre S lá bil e S nã o-lá bil. Assim, o SRL é extraído com membrana de troca aniônica
por um tempo de agita çã o de 48 h com posterior dosagem por turbidimetria . Já o S da
reserva SLL + SNL é calculado pela diferença entre o S do solo (S-so) obtido por calcinação
( Bardsley & Lancaster, 1960 descrito por Alvarez V . et al., 2001) e o SRL.
Verificou-se também nesse trabalho que o S042 adsorvido pela caulinita era fracamente retido
'
e, conseqíientemente, liberado mais facilmente para a soluçã o do solo, enquanto o S042 "
(9 > Reten çã o engloba adsor çã o e adsor çã o n ã o - revers í vel (fixa çã o ),mas que passa inicialmente pela
simples adsor çã o.
FERTILIDADE DO SOLO
614 V í CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.
Para S, esse equilíbrio entre o S-lá bil e o S nã o-lá bil é questioná vel com rela çã o ao
seu efeito na disponibilidade do S para as plantas, já que nã o se conhece o grau de
reversibilidade, especialmente dos compostos orgâ nicos, do S nã o-lá bil para o lá bil .
Segundo Accioly (1985) , em grande parte dos solos, este equilíbrio poderia ser
representado pela rela çã o entre as constantes kj / k2 (esquema para P de Gunary & Sutton
(1963), adaptado por Accioly 1985), estando kj relacionada com a mineraliza çã o do
S-orgâ nico e k 2 com a imobiliza çã o desse elemento.
LV- CV, LV -TM e LA -AR e ao outro ( CMAS > 100 mg cm 3 de S) os solos LVA - UB1, '
LVA- UB2, LV-SL, LVA-PR e LVA-PA. Com relação à mineralogia, pode-se também separar
solos de natureza caulin í tica ( RQ-CV, LV-CV, LA-AR, LV-SL e LVA -PR ) e solos
predominantemente mais oxídicos. Dentre os oxídicos, há um mais goethítico (LV-TM) e
quatro mais gibbsíticos (LVA-UB1, LVA-UB2, LV-TM e LVA-PA).
Quadro 3. Capacidade má xima de adsorçã o de sulfato para amostras de dez solos do Estado de
Minas Gerais
Solo
CMAS
RQ-CV (1 > - - -
LVA TM ( 2 ) LV CV 3 ) LA AR 4 LV TM < 5
( ( ) )
-
LVA UB1( 6 ) LVA UB 2 <
7)
-
LV -SL (8 ) LVA PR ( 9 ) -
LVA PA (10 )
mg d m -3 d e S no s o l o
A: Capacidade m á xima de adsorçã o de Sulfato ( Alvarez V . et al., 2001); B: Capacidade m á xima de adsor çã o de
Sulfato nos solos após ataque com H 2Oz 30 volumes ( Alvarez V. et al., 2001). (1 ) Neossolo Quartzarénico: Campina
Verde . (2 ) Latossolo Vermelho-Amarelo: Três Marias . (3) Latossolo Vermelho: Campina Verde. ( 4) Latossolo Amare -
lo: Aracruz. (5) Latossolo Vermelho: Três Marias. <6) Latossolo Vermelho-Amarelo: Uberaba (amostra 1). (7) Latossolo
Vermelho- Amarelo: Uberaba (amostra 2) . <8) Latossolo Vermelho: Sete Lagoas. (9) Latossolo Vermelho: Paracatu.
> Latossolo Vermelho-Amarelo: Patrocínio.
(10
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 615
1985; Nodvin et al., 1986; Courchesne & Hendershot, 1989 ). O aumento da retençã o do
S042 em valores baixos de pH está diretamente relacionado com a protona ção dos óxidos
'
de acordo com a CMAS e dos teores de goethita e gibbsita na fração argila dos solos estudados.
Em solos que apresentaram maiores CMAS e teores mais elevados de goethita e gibbsita,
o S042 estava adsorvido e fixado a essas fra ções, indicando que o S encontrava -se, em
'
parte, na reserva SLL + SNL, não estando disponível para as plantas nem exposto à lixiviação.
O teor de SRL, em funçã o do teor de SLL + SNL, foi obtido por regressã o linear. A
capacidade tampã o de enxofre lá bil (CTSL) foi obtida, em analogia a CT que é -AQ / AI,
pelo inverso do coeficiente angular (1/ bj) das equa ções lineares SRL = f (SLL + SNL ),
ficando igual a ASLL + SNL / ASRL. A CTSL e definida como a resist ência que o
compartimento SRL do solo oferece à saída do S para a reserva do SLL + SNL e representa
quanto de S adicionado passa ao compartimento SLL + SNL para cada unidade de S que
fica no reservatório SRL.
Quadro 4. Teores de enxofre rapidamente l á bil e enxofre lentamente l á bil mais n ã o-l á bil,
considerando a correçã o do pH (sem e com correçã o do pH, antes e depois da incuba ção
com 80 mg dm 3 de S) nos solos estudados
'
Solo
Corre çã o do
pH/ incuba çã o RQ CV LVA TM LV CV
- - - LA AR - LV-TM LVA- UB1 LVA- UB 2 LV-SL -
LVA PR LVA PA-
SRL, mg dm - 3
Sem 71,96 67,31 76, 20 121,08 75,78 60,46 83,09 88,88 74,02 62,16
Com Antes 82,00 79, 22 83,82 144,43 87,68 80,31 105, 25 113,35 99,08 82,66
Com Ap ós 84,55 70,49 84,28 146,02 92,18 79,10 102,11 123, 79 103,19 80,14
SLL + SNL, mg dm -3
i
Sem 32,94 41, 42 54,53 31,07 23,35 116, 29 69,44 104,82 78,96 116,24
Com Antes 20,35 29,51 46,91 7, 72 11, 45 96,44 47,28 80,35 53,90 95,74
Com Após 22,90 38,24 46,45 6,13 6,95 97,65 50, 42 69,81 49,07 98,26
FERTILIDADE DO SOLO
616 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.
A CTSL de cada solo, nos diferentes tempos de incuba çã o, aumentou, à medida que
a resistência da reserva do SRL diminuiu, favorecendo a passagem de parte do S para
SLL + SNL (Quadro 5) . Os valores de CTSL são inversamente proporcionais à resistência
da reserva do SRL à perda de S para SLL + SNL, ou seja, quanto maior a CTSL, menor a
resistência da reserva do SRL e maior a facilidade de passagem de SRL para SLL + SLL.
Mesmo assim, a maior parte do S adicionado ficou na reserva SRL na maioria dos solos,
e, unicamente no solo LVA -PA, ao fim da incuba çã o, a partiçã o foi equitativa .
A reversibilidade do SLL + SNL para SRL, ao longo do período de incuba çã o, foi
observada para alguns solos, como, por exemplo, para RQ-CV, LVA-PA, LVA-UB1 e LV-CV.
No caso do RQ-CV, observou-se que, ao longo de 90 d de incubação, pode ter ocorrido
reversibilidade de S da reserva do SLL + SNL para SRL (Quadro 5), uma vez que houve
aumento crescente na resistência do SRL a partir de 30 d de incuba çã o, o que pode ter
deslocado o sentido da passagem entre as reservas. Já para o LVA-PA, essa possibilidade
de reversibilidade entre as reservas SLL + SNL e SRL foi observada nos 30 d iniciais de
incuba çã o pela diminuiçã o da capacidade tampã o do S lá bil (CTSL), que variou de 0,344
a 0,205 mg dm 3 / mg dm-3, for çando, desse modo, a mudança na intensidade do fluxo .
'
Esses resultados permitem inferir sobre a id éia de continuidade entre esses reservatórios
e de que fatores externos, como aduba çã o e tempo de incubaçã o, podem deslocar o
equilíbrio em favor de um ou outro reservató rio, dependendo das caracter ísticas
intr ínsecas dos solos. No caso, tem-se que as mesmas doses de S dentro dos diferentes
tempos de incuba çã o levaram à reversibilidade do SLL + SNL para o SRL.
O papel da maté ria orgâ nica na forma çã o das reserva SLL + SNL é um tanto
contraditó ria neste trabalho. Dos dez solos estudados, sete apresentaram valores de
CMAS menores após a remoçã o da matéria orgâ nica pelo per óxido de hidrogénio
(Quadro 3), evidenciando o papel ativo da mesma na adsor çã o de S; ou seja, com o maior
teor de maté ria orgâ nica ocorre um incremento no n ú mero de sítios de adsor çã o e de
fixaçã o do SQ42 , favorecendo a formação da reserva SLL + SNL, a exemplo do que ocorreu
'
Quadro 5. Capacidade tamp ã o de enxofre l á bil dos solos em seis tempos de incuba çã o com
diferentes doses de enxofre
Solo \
TI
-
RQ CV LVA-TM LV CV - LA-AR -
LV TM -
LVA UB1 LVA UB 2- -
LV SL - -
LVA PR LVA PA
d mg dm 3 / mg dnv 3
'
1 0,118 0,181 0,150 0,143 0,179 0 ,175 0,051 0,148 0, 208 0,344
8 0,136 0,191 0,199 0,166 0,167 0,142 0,160 0,167 0,215 0, 245
15 0,139 0,148 0, 219 0,053 0,167 0,185 0,147 0,174 0,162 0,211
30 0,152 0,106 0,132 0,077 0,146 0,173 0,175 0,273 0,185 0, 205
60 0,118 0,183 0,141 0,212 0,087 0, 244 0,219 0,264 0, 243 0,597
90 0,098 0,289 0,153 0,148 0,122 0,491 0,298 0,425 0,360 1,082
Fonte: Uchôa (1999 ).
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 617
para LV-TM. Também, no solo LVA- PA, verificou -se que, com a remoçã o da matéria
orgânica, houve aumento de CMAS da ordem de 25 % (Quadro 3) . Esse resultado permitiu
inferir que a maté ria orgâ nica tem efeito ainda mais destacado na estabiliza çã o de
microagregados dos Latossolos e na reduçã o da superf ície de contato do S com os óxidos -
Dessa maneira, com a remoçã o da maté ria orgâ nica pelo per óxido de hidrogénio, pode-
se verificar aumento da superf ície, proporcionado pela desestabiliza çã o dos
microagregados, expondo sítios de cargas mais ativos à adsor çã o de S042 , especialmente '
Quadro 6. Capacidade tampã o do enxofre lá bil obtida pela rela çã o entre o enxofre rapidamente
l á bil e o enxofre lentamente lá bil mais o nã o -l á bil para diferentes doses de enxofre
aplicadas junto com tr ês doses de’ f ósforo
Solo
Dose de P
- - - -
RQ CV LVA TM LV-CV LA- AR LV TM LVA-UBl LVA UB 2 LV SL LVA-PR LVA- PA -
mg dm 3 *
mg dm 3 / mg dnr3
'
0 0,062 0,140 0,065 0,161 0,066 0, 216 0, 223 0,191 0,186 0,570
80 -0,086 0,111 0,050 0,097 0,073 0,215 0, 211 0,174 0,244 0,605
320 -0,133 -0,065 -0,110 -0,118 -0,061 0,086 0,135 0, 069 0,154 0,364
FERTILIDADE DO SOLO
618 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.
O teor de caulinita de todos os solos nã o mostrou correlação com a CTSL, o que pode
indicar que as cargas deste mineral apresentam baixa especificidade na adsorçã o e fixaçã o
do S042 , exercendo pouca influ ência na forma çã o das reservas de SRL e de SLL + SNL .
'
Transloca çã o e Redistribui çã o
O S042 absorvido é translocado pelo xilema em direçã o às folhas. O transporte de
'
S042 pode ocorrer via xilema ou via floema, podendo redistribuir-se entre essas vias
'
( Larsson et al., 1991) . Contudo, a entrada de S042 no floema é restrita, e a sua manutençã o
'
nas folhas velhas, mesmo sob deficiência de S, deve estar relacionada com este fato
(Clarkson et al., 1983) .
O S042 que chega às folhas é reduzido e incorporado a esqueletos carbónicos .
'
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 619
folha é translocado e redistribuído tanto na direçã o acr ópeta quanto a basípeta (Silva et
al., 2003) .
Interações
As intera ções entre nutrientes sã o consideradas importantes para a nutriçã o
adequada das plantas . Todavia , elas precisam ser mais bem entendidas para melhorar
a interpreta çã o de resultados e definir seu efeito na produtividade das culturas. As
interações resultam da influência m ú tua de um elemento sobre a ação de outro, produzindo
efeito positivo ou negativo sobre o crescimento, desenvolvimento e produção, sendo esta
influência dependente de condições de clima, solo, espécie e de cultivares das plantas.
O equilíbrio entre os nutrientes merece atençã o nos programas de adubação, visto
que a utiliza çã o de adubos concentrados com elevados teores de P e, ou, de N podem
provocar a deficiência de S, quando o teor nos solos é baixo, e provocar desbalanceamento
entre â nions (Cravo, 1984).
Alguns trabalhos tê m apresentado intera çã o fortemente positiva entre P e S no
crescimento e produçã o das culturas, tanto no metabolismo vegetal como na aduba çã o
fosfatada na adsor çã o de S042 no solo, o que demonstra a existência de um equilíbrio
'
dinâ mico entre estes â nions (Barrow, 1969; Leite, 1984; Cravo et al., 1985; Bolívar, 1993;
Martins & Kaminski, 1997; Uchôa, 1999 ).
Fornecendo apenas S a um solo com deficiência de P, a resposta das culturas pode
até ser negativa. O excesso de S pode comprometer algumas vias metabólicas na ausência
de P. Na ausência de S, obtêm-se respostas muito baixas ou mesmo nã o há respostas à
adiçã o de P; no entanto, nã o chegam a ser negativas. A adiçã o conjunta de P e de S
apresenta elevada resposta positiva no desenvolvimento e crescimento das culturas. Em
FERTILIDADE DO SOLO
620 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 621
íons S042 e Mo 042 pelos sítios de absor çã o das ra ízes, em virtude de seus tamanhos
" "
as duas últimas.
Os requerimentos de P e de S na maioria das culturas são semelhantes, observando-
se, em v á rias culturas de interesse comercial, ser a demanda por S maior que por P, por
FERTILIDADE DO SOLO
622 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.
exemplo: banana , batatinha, caf é, capra -de-a çúcar, laranja, ma çã , seringueira, tomate,
videira . O caf é e o eucalipto requerem doses maiores de S do que a soja. Portanto, nessas
culturas, a disponibilidade de S devje ser preocupa çã o desde o plantio das lavouras,
dependendo da "riqueza " deste nutriente no solo.
I
e de 97 a 103 mg kg 1 de S.
'
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 623
qualidade em culturas importantes, mesmo que tolerem o Cl , como soja, abacaxi, batata,
'
responsável pelo rá pido ajustamento do plasma celular (Marschner, 1995). Embora tanto
o Cl quanto o S042 sejam íons coloidalmente ativos que regulam o teor de á gua da
" '
absor çã o de á gua ( Zehler et al., 1986). Por outro lado, o S042 favorece, enquanto o Cl
' '
reduz a atividade de enzimas anaer óbias ( carbohidrases), de tal maneira que o SO42- em /
(amido) e outros componentes nitrogenados ( proteínas) ( Zehler et al., 1986; Mengel &
Kirkby, 1987; Lester et al., 2005). No abacaxi, O KC1 é importante do ponto de vista de
assegurar o fornecimento de K, mas a injú ria causada pelo Cl pode causar decréscimo do
tamanho do fruto, dos teores de a çúcares e amido e aumento da acidez ( Malézieux &
Bartholomew, 2003) . Assim, o K 2S04 dever á ser preferido, pois confere frutos de maior
tamanho e de melhor sabor (Teisson, 1979 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
624 .
Ví CTOR HUGO ALVAREZ V et al.
'
e resulta em perturba çã o no funcionamento dos cloroplastos e protoplastos (Zehler et al.,
1986; Marschner, 1995) .
A videira é moderadamente tolerante à salinidade e ao Cl e nã o apresenta, em geral,
"
Disponibilidade de Enxofre
soluçã o do solo e pelo tempo de contato desse íon da soluçã o com a fase sólida do
solo.Também pode ser influenciado pelas características químicas, f ísicas, f ísico-químicas
e mineralógicas dos solos.
Diversos m é todos e extratores têm sido sugeridos para quantificar as formas de S
disponível do solo.
Reisenauer (1975) classificou os exiratores mais utilizados em três grupos, de acordo
com as formas de S removidas, como: (1) os que removem o S na forma de S042 prontamente
"
sol ú vel; (2) os que removem o S042 sol úvel e parte do adsorvido, e (3) os que removem o
"
S042 prontamente sol úvel, o adsorvido e parte do S-orgâ nico. No entanto, a utilizaçã o
"
denominada S de reserva ( Bardsley & Lancaster, 1960). Alvarez V. et al. (1983) verificaram
que o S de reserva de solos do Cerrado forneceu, para a maioria deles, valores mais
elevados que os obtidos pela determina çã o da CMAS, indicando que o S de reserva
caracteriza, ao mesmo tempo, formas íábeis e n ã o-lábeis, estando, possivelmente as não-
lá beis em formas orgâ nicas está veis e, assim, pouco disponíveis para as plantas.
A contribuição dessas formas orgâ nicas para o S disponível às plantas é muito
questionada na literatura. Autores verificaram baixa taxa de mineraliza ção de S-orgâ nico,
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 625
variando de 0,6 a 1,3 % do S total. Por outro lado, N'dayegamiye et al. (1994) encontraram
que o S- total mineraliz ável variou de 9,8 a 115 mg kg 1, correspondendo, em média, a
"
Critérios de Recomendação
Análise de Solos
Diferentes mé todos de extra çã o de S do solo sã o adotados no Brasil, associados a
distintos níveis críticos ou faixas de suficiência, dependendo das formas do elemento
avaliadas, da profundidade de amostragem recomendada e da espécie vegetal e das
características f ísico-qu ímicas dos solos com os quais foi realizado o trabalho de
correlaçã o e calibra çã o dos mé todos de análise do S disponível.
Em algumas regiões do Pa ís, menos providas de uma rede de laboratórios de análise
de solos, muitos agricultores e profissionais da assistência técnica encaminham as
amostras de terra para serem analisadas em outros Estados. Embora possa parecer
evidente que a recomendação adequada de S requeira uma correta interpretação da análise
do solo, tem-se verificado, com frequência desconcertante, equívocos relacionados
principalmente com falta de atençã o quanto à forma de coleta da amostra e com o mé todo
analítico adotado.
Em geral, a quantidade requerida de S pelas plantas aproxima -se da exigência
nutricional em P, podendo até super á -la, em algumas culturas; entretanto, na adubaçã o
com P e com S, para se obter uma adequada disponibilidade dos nutrientes para as
plantas, devem-se aplicar doses maiores de P do que de S, especialmente em solos argilosos,
pois estes tendem a apresentar maior capacidade de adsor ção de P do que de S.
Dada a movimenta çã o do S para as camadas sub-superficiais, a amostragem de
solos, para fins de avalia çã o da disponibilidade de S-S042 , deve ser também feita nas
"
FERTILIDADE DO SOLO
626 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.
Para o Estado de Minas Gerais, tem-se adotado a extra çã o do S sol úvel e de fra ções de S
adsorvido e de formas orgâ nicas, por meio de fosfato monocálcico [Ca (H2P04) 2, 500 mg L
de P] em á cido acé tico ( HOAc 2 mol L 1 ), dada a melhor capacidade preditiva da
"
( turbidez ) é medida em espectr ôfometro UV-Visível. E necessá rio especial cuidado para
que os extratos sejam cristalinos e incolores, raz ã o pela qual se recomenda o uso de
carv ã o ativado e filtragem em papel de filtra çã o lenta tipo Whatman 42 ( Alvarez V .,
1988) .
Em estudo em que foram aplicados até 2.577 kg ha 1 de gesso, em diferentes '
combina ções com doses de calcá rio, adicionados em dois anos, em um Latossolo
Vermelho-Amarelo de Patrocínio, MG, Alvarez V. & Baldotto ( 2003) verificaram que a
taxa de recupera çã o de S em fun çã o das doses adicionadas, usando-se o extrator
Ca ( H2P04) 2, 500 mg L 1 de P, em HOAc 2 mol L 1, foi de 21,8 e 17,5 %, respectivamente,
' "
(1)
Quadro 7. Classes de interpreta çã o da disponibilidade de enxofre no solo de acordo com o
valor de f ósforo remanescente (P- rem )
Classifica çã o
-
P rem
Muito baixo Baixo M é dio * 2 * Bom Muito bom
mg L- í mg dm -3
0 4 < 1, 7 18
/ 2,5 2,6 3,6 3, 7 5, 4 > 5,4
4 10 < 2,4 2,5 3,6 3,7 5, 0 5,1 7,5 > 7,5
10 19 < 3,3 3, 4 5,0 5,1 6,9 7, 0- 10,3 > 10,3
19 30 < 4,6 4 ,7 6 ,9 7 ,0 9,4 9,5 - 14,2 > 14,2
30 44 < 6,4 6,5 9,4 9,5 - 13, 0 13.1 - 19,6 > 19,6
44 60 < 8,9 9 ,0 - 13,0 13,1 - 18,0 18.1 - 27,0 > 27,0
" ' Mé todo Hoeft et al., 1973, descrito por Alvarez V. et al. (2001), [Ca (H P04) , 500 mg L
2 2
1
de P, em HOAc 2 molL 1 ]
' '
tempo de agita çã o 45 min na rela çã o solo extrator 1:2, 5 v :v . (2 ) Os limites superiores desta classe indicam os n íveis
crí ticos de acordo com o valor de P- rem .
Fonte: Alvarez V . et al . (1999b ) .
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 627
NH 4OAC 0,5 mol L 1 em HOAc 0,25 mol L 1 ( Bardsley & Lancaster , 1960 ) ou com
' "
nã o se determina a contribuiçã o doS-orgâ nico. Destaca -se, ainda, que a faixa de teor de
S considerado médio pela CFS-RS / SC (1994), deve alterar-se de 2,0 para 10,0 mg dm 3, no
'
parte do S- orgâ nico . Estes autores ressaltam, no entanto, a necessidade de novos estudos
FERTILIDADE DO SOLO
628 Ví CTOR HUGO ALVAREZ V. et al .
Disponibilidade de S
Extrator
Muito baixa Baixa M é dia Alta Fonte
mg dm 3 "
em HOAc 0, 25 mol L
Ca ( H 2 P04 ) 2 0 ,01 mol L 1
'
< 2,5 2,6 a 5,0 5,1 a 10,0 > 10,0 (i >
1
Ca ( H 2 P04 ) 2 0,01 mol L < 4,0 5,0 a 10,0 > 10 , 0 (3)
(1 )
Vitti (1989 ); Vitti (1989 ) estabelece as faixas de teores para as classes: muito baixa, baixa, médio e adequada .
Ca í res et al. ( 2002) . í3) Raij et al. (1996 ) . (4 ) Rein & Sousa ( 2004) . (5 a 'b'c'd ) Tecnologias... (2004), em que a e b indicam ,
(2 )
para viabilizar a adoçã o deste mé todo em aná lises de rotina, tendo em vista que ele,
quando usado na extra çã o simultâ nea de P, K, Ca, Mg e K, leva à obtençã o de quantidades
aproximadamente 50 % inferiores às extraídas pelo mé todo original da resina .
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 629
FERTILIDADE DO SOLO
630 V í CTOR HUGO ALVAREZ V. et al .
crescimento para a coleta de amostras de uma mesma cultura, com implica ções na
diagnose do estado nutricional . Por outro lado, verifica -se que, para algumas culturas,
h á uma pequena varia çã o na descriçã o da amostragem, associada à mesma faixa de
teores, como no caso do cafeeiro, ou a valores bastante discrepantes, como no caso do
algodoeiro. Assim, fica evidente a necessidade de que a interpretaçã o da aná lise foliar
seja realizada de forma criteriosa, em conson â ncia com o tipo de amostragem efetuado
com os novos estudos para a calibra çã o de faixas de suficiência .
Quadro 9 . Teores foliares de enxofre considerados adequados (faixa de suficiência ) para algumas
culturas e procedimento de amostragem para diagnose do estado nutricional
g kg
8, 0 a
Algod ã o 4,0 a (1) Limbo ida 5 folha a partir do á pice da haste principal , no
florescimento
4, 0 ( 2) Limbo de folhas adjacentes à s " ma çã s", no in í cio do florescimento
a
2, 0 a 3, 0 ( 3) 5 folha completamente aberta , a partir do á pice, no florescimento
Caf é 1,5 a 2, 0 o) 3° par de folhas a partir do á pice dos ramos frut í feros da altura
m é dia da planta , no in í cio do ver ã o
1,5 a 2, 0 (2) 3° e 4° par de folhas a partir da ponta , ramos a meia -altura e
produtivos, no per í odo de primavera - ver ã o
1,5 a 2, 0 ( 3) 3° e 4° par de folhas, a partir do á pice de ramos produtivos, em
altura mediana na planta , no est á dio de chumbinho
Cana -de - a çú car 1,5 a 3, 0 (i ) 2, 0 cm central da folha mais alta , com colarinho vis í vel , exclu í da a
nervura central , durante a fase de maior desenvolvimento vegetativo
1,3 a 2,8 ( 2) Folha + 3, sendo a folha +1 a primeira com I í gula ( regi ã o de
inser çã o da bainha no colmo ) , no ter ç o mediano, exclu í da a
nervura principal , quatro meses ap ó s a brota çã o
2,5 a 3,0 (3 ) Folha + 3, aos quatro a cinco meses de idade
Eucalipto 1,5 a 2,0 (1 ) Folha rec é m - madura , em cada ponto cardeal do ter ç o superior da
copa , no fim do inverno
1,5 a 2, 0 ( 2 ) e (3 ) Folha recé m - madura, em ramos prim á rios, no per íodo ver ã o-outono
a a
Girassol 1,5 a 2, 0 (1 ) 5 e 6 folha abaixo do cap í tulo, no florescimento
5, 0 a 7, 0 ( 2 ) e (3) Folhas do terç o superior, no in ício do florescimento
Continua ...
!.
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 631
Quadro 9. Continua çã o
Gram í neas
g i< g
forrageiras
Andropogon 0 , 8 a 2, 5 a) Brota çã o nova e folhas verdes, coletadas entre novembro a
fevereiro ;
B . brizantha 0 ,8 a 2,5 a) Brota çã o nova e folthas verdes, coletadas entre novembro a fevereiro
Coloniao 1,1 a 1,5 ( 2 ) e (3 ) Folhas rec é m - mad í uras ou toda a parte a é rea , coletadas no per í odo
de primavera - ver ã o
Coast - cross 1, 0 a 3, 0 a) Brota çã o nova e folhas verdes, coletadas entre novembro a fevereiro
Jaragu á 1,3 a 1,8 ( 2 ) e (3 ) Folhas rec é m - maduras ou toda a parte a é rea , coletadas no per í odo
de primavera - ver ã o
Napier 7, 0 ( 2 ) e (3 ) Folhas rec é m - maduras ou toda a parte a é rea , coletadas no per í odo
de primavera - ver ã o
Tifton 1,5 a 3, 0 a) Brota çã o nova e folhas verdes, coletadas entre novembro a fevereiro
Sorgo 1,5 a 3, 0 a) 4 a folha com a bainha vis í vel , a partir do á pice, no est á dio de
flurescimento pleno
0,8 a 1,0 (2) Folha mediana , no in ício do perfilhamento
1,6 a 6, 0 (3) Folha mediana , no emborrachamento
FERTILIDADE DO SOLO
632 V í CTOR HUGO ALVAREZ V. et al.
de dois mols de H+ para cada mol de S° ojcidado, conforme a reação abaixo ( Vale et al., 1995):
S° + COz + 1 / 2 02 + 2 H20 ->[CH20] + S 042
'
+ 2H+ (9 )
De acordo com Vale et al. (1995), a cada 100 kg de S aplicado, usando-se esta fonte,
o potencial teórico de acidifica çã o do sc>lo é equivalente à necessidade de cerca de 625 kg
de CaC03 (ou de calcá rio com PRNT = Í 00 %) para corrigi-la . Horowitz & Meurer (2003)
aplicaram doses crescentes de S elementar até 12 g kg 1, em amostras de um Argissolo
'
Gesso Agrícola
É um subproduto da fabrica çã o de á cido fosf ó rico, utilizado na produção de fosfatos
sol ú veis concentrados. Apresenta teor de á gua -livre entre 15 a 30 % e conté m cerca de
28 % de CaO, 15 % de S, 0,7 % de P2Os e 0,6 % de F. A sua solubilidade em água (2,04 g L 1) '
FERTILIDADE DO SOLO
X - ENXOFRE 633
(10)
Se toda a quantidade de amó nio adicionada sofrer nitrifica çã o, a acidez gerada por
100 kg de N, para ser neutralizada, necessita da aplica çã o de 535 kg de CaC03. Para fins
de compara çã o com o S elementar, considerando ser o sulfato de amó nio constituído de
20 % de N e 24 % de S, tem-se que é preciso aplicar 446 kg de CaC03 para se corrigir a
acidez gerada pela aplica çã o de 417 kg deste adubo (ou 100 kg de S) .
O sulfato de amónio é um subproduto da ind ústria metal ú rgica ou é produzido
diretamente pela rea çã o da amónia com á cido sulf ú rico:
2 NH3 + H 2S04 ^ ( NH4) 2S04 ( 11 )
Superfosfato Simples
E obtido a partir do tratamento da rocha fosfatada apatítica com ácido sulf ú rico
concentrado, sendo constituído de 16 a 22 % de P205 sol ú vel em citrato neutro de amónio
mais o sol ú vel em á gua, 12 % de S e 20 % de CaO. Em essência , trata-se de uma mistura
de fosfato monocálcico com gesso.
Sulfato de Potássio
/
E obtido pela rea çã o do cloreto de potássio com á cido sulf ú rico e contém cerca de
50 % de K20 e 17 % de S. Seu uso tem sido restrito a culturas sensíveis à salinidade, tais
como: abacaxi, feijã o e laranja, em decorrência de seu custo elevado. Também tem sido
usado em alternativa ao cloreto de potássio, em culturas em que o Cl implica problemas
'
FERTILIDADE Dó SOLO
634 V í CTOR Í HUGO ALVAREZ V. et al .
S, para suprir as culturas neste nutriente por v á rios anos. No plantio de culturas perenes,
ou no estabelecimento de pastagens consorciadas, em solos com baixa disponibilidade
do nutriente, sugere - ^e a aplica çã o de, no m ínimo, 50 kg ha 1 de S. '
j
A partir dos resultados de experimentos realizados por Sfredo et al. (2003) em Ponta
Grossa , Londrina ( PR ) . Samba íba (MA ) e Rondonópolis (MT), indicou -se a aduba çã o de
correçã o e manu ten çã o com S, para a cultura da soja , de acordo com a profundidade de
amostragem e a classe textural do solo (Quadro 10) .
An á lise de S no solo (1 )
Faixa para interpreta çã o Solo com > 40 °/o de argila Solo com < 40 % de argila Quantidade
de S por
Profundidade (cm ) aplicar
0 a 20 20 a 40 0 a 20 20 a 40 0 a 20 20 a 40
mg dm 3 kg ha -i
"
Mé todo: extra çã o com Ca ( H2 P04 ) 2 0,01 mol L 1 e determinaçã o por turbidimetria . í2 ) M = manutençã o: 10 kg para
(1 ) '
1/
Centro de Solos e Recursos Ambientais, Instituto Agron ó mico - IAC . CEP 13001- 970
Campinas (SP ) . Bolsista
do CNPq.
cleide@iac.sp.gov; gcgsantos@gmail .com
2/
Departamento de Ciê ncia do Solo, Univetsidade Federal de Lavras - UFLA.
Caixa Postal 37, CEP 37200 -00 Lavras ( MG ) .
ascheidl @ ufla .br
Conte ú do
INTRODU ÇÃ O 646
SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V., V.H., BARROS,
N.F., FONTES, R .L.F. , CANTARUTTI, R . B . & NEVESj J .C .L. ).
646 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
INTRODU ÇÃ O
A agricultura brasileira passa por uma fase em que a produtividade, a eficiência, a
lucratividade e a sustentabilidade dos processos produtivos sã o aspectos da maior
relev â ncia. Nesse contexto, os micrónutrientes, cuja importâ ncia é conhecida há décadas,
apenas mais recentemente passaram a ser utilizados de modo mais rotineiro nas
aduba ções em v á rias regiões e para as mais diversas condições de solo, clima e culturas
no Brasil .
t
I
FERTILIDADE DO SOLO
I
1
XI - MlCRONUTfjlENTES 647
FERTILIDADE do SOLO
648 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
rochas ígneas b á sicas. Nas rochas sedimentares, está em maior concentra çã o nos
folhelhos, indicando que ele está adsprvido à s partículas menores. O Cu ocorre nas
formas cuprosa (Cu + ) e c ú prica (Cu 2+ ) , mas pode també m ocorrer na forma metá lica em
alguns minerais. A forma divalente é â mais importante. Dentre os micronutrientes, o
Cu é o menos mó vel no solo gra ças i à sua forte adsor çã o nos colóides orgâ nicos e
inorgâ nicos do solo . Na maté ria orgâ nica , o Cu é retido principalmente pelos á cidos
h ú micos e f úlvicos, formando complexos está veis. Portanto, os complexos orgâ nicos de
Cu exercem papel importante tanto na mobilidade como na disponibilidade deste para
as plantas.
A concentra çã o total de Zn em sólos varia de 10 a 300 mg kg 1, sendo a média de '
derivados
de rochas ígneas básicas sã o mais ricos
em Zn, e os solos derivados de rochas sçdimentares, arenito, os mais pobres. O principal
mineral de Zn é a esfarelita ( ZnS), mas ele pode ocorrer como carbonato de Zn ( ZnC03) e
em diversos silicatos. No solo, o Zn ocorre como cá tion divalente ( Zn2+ ) e nã o existe na
forma reduzida por causa de sua natureza eletropositiva . O Zn é um dos metais pesados
mais mó veis no solo .
De todos os micronutrientes, o Mo é o menos abundante na crosta terrestre. Ele pode
ser encontrado principalmente nas valê pcias 4 + e 6 +. A valê ncia 4+ corresponde ao mineral
MOS2 (molibdenita ) mais comum, e, ija valência 6 +, os molibdatos. Nas rochas, a sua
concentraçã o varia de 2 a 5 mg kg 1, sendo mais abundante nas rochas ígneas básicas.
'
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 649
tais como NaCl, CaCl2 e MgCl2. O Cl é um dos ú jns mais móveis do solo, sendo facilmente
'
Na solu çã o do solo, varia de menos 0,5 a mais do que 6.000 mg L 1 (Mortvedt, 1999 ).
'
^
sua essencialidade para nã o-leguminosas ( Dix n et al ., 1975; Eskew et al ., 1984; Brown
et al ., 1987) levaram ao reconhecimento do Ni tomo elemento essencial para as plantas
superiores ( Marschner, 1995). Os resultados dos trabalhos de pesquisa levaram ao
reconhecimento da essencialidade do Ni, suas características e concentra çã oes no solo e
nas plantas indicam sua atua çã o como micron ú triente para as plantas.
As concentra ções de Ni nos solos variam de 1 a 200 mg kg 1, com média de 20 mg kg 1
' '
entre 10-100 mg kg 1 (Kabata -Pendias, 2001). De modo geral, não há trabalhos que revelam
"
ç
a deficiência de Ni em plantas. Sua toxidez, pri ipalmente em solos que recebem adições
de lodo de esgoto, é motivo de maior preocupaçã o (Marschner, 1995) .
FERTILIDADE d o SOLO
650 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
podem estar na forma de íons livres ou complexados com ligantes orgâ nicos e inorgâ nicos
(Quadro 1) . De acordo com Lindsay (1972), a maioria dos micronutrientes metá licos nã o
está na forma livre, mas complexada. P ortanto, o conhecimento das formas químicas dos
micronutrientes na solu çã o do solo é mais importante para estimar suas mobilidades e
disponibilidades às plantas do que a determina çã o dos seus teores totais na soluçã o do solo.
Mn Mn 2 + MnSO , MnCO 40 30
Fe Fe 3+, 2+ + "
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 651
orgâ nica ) do solo foi feita por Harter (1991) e por Camargo et al. ( 2001) . A troca iônica
( adsor çã o nã o específica ) e a adsor çã o específica, mecanismos envolvidos na adsor çã o
de micronutrientes na superf ície inorg â nica, sã o descritas por Camargo et al . ( 2001) e
apresentadas no texto a seguir .
TrocaI ônica
De acordo como Camargo et al . ( 2001), o p::incípio da eletroneutralidade exige que
as cargas negativas associadas à s superf ícies s ólidas dos coloídes do solo sejam
compensadas por quantidade equivalente de ca[rgas positivas na forma de pr ótons ou de
espécies catiônicas. Os cá tions que envolvem as partículas de argila estã o em agita çã o
permanente decorrente de sua energia té rmick e tendem a escapar da influ ência das
cargas negativas, que, por sua vez, os atraem para a superf ície. A intera çã o dessas duas
for ças faz com que se forme uma nuvem cati ô mca ao redor da partícula, em vez de uma
monocamada . Esta concepçã o estrutural é chamada de teoria da dupla camada difusa,
que é muito ú til para explicar uma sé rie de fenomenos ocorridos no solo.
Os cá tions da nuvem sã o retidos pela è uperf ície, exclusivamente, por for ças
eletrostá ticas nã o específicas ( pelo que, à s vezes, o processo é chamado de adsor çã o nã o
i
específica ) e por causa de sua agita çã o térmica por sua exposiçã o aos outros cá tions da
soluçã o que nã o estã o sob influ ência do campo elé trico da partícula podem ser trocados
por estes, daí o nome de troca iônica. Este fenômeno tem certas características que merecem
destaque: (a ) é reversível; (b ) é controlado pela difusão iônica; (c ) é estequiomé trico; (d ) e,
na maioria dos casos, há uma seletividade ou preferência de um íon pelo outro, que está
relacionada com o raio iônico hidratado e conji a energia de hidrata çã o dos cá tions de
mesma valência .
A troca iô nica é um mecanismo de pequena influ ência na disponibilidade dos
micronutrientes (Silviera & Sommers, 1977; La tterell et al ., 1978), embora , em algumas
situa ções, ela tenha sido apontada como mecanismo importante para Mn (Muraoka et
al ., 1983b ). |
Diversas solu ções salinas, tamponadas ou nã o a v á rios pH, sã o utilizadas para
extra çã o de metais dos sítios onde ocorre a troca iô nica no solo. Os c á tions mais
comumente empregados nos esquemas de extra çã o por fracionamento sã o o Ca 2 +, Mg2+,
NH4+, usualmente na concentra çã o de 1 mol L 1. íons divalentes geralmente tê m maior
'
outro lado, o Cl é um â nion complexante mais forte que o N03 e, por esta razã o, sais de
’
N03 muitas vezes têm sido preferidos. O aceh to é muito usado com a soluçã o a pH 7,0,
'
mas Lakanen (1962), citado por Shuman (1991), preferiu usá -la a pH 4,65 para estimar o
trocável e o prontamente disponível. Abaixando o pH, sem d úvida, haverá maior liberaçã o
de micronutrientes metá licos; contudo, esses poder ã o vir de outros sítios quando as
argilas sã o hidrolisadas.
Adsorção Espec í fica
Adsor çã o específica é um dos mais importantes mecanismos que controlam a
atividade iô nica na solu çã o do solo . O íon adsorvido é chamado de adsorvato e a
FERTILIDADE DO SOLO
652 CLEIDE APARECIDA DE ABREU e t al .
partícula que expõe a superf ície de adsorçã o de adsorvente. Nesta situa çã o, os íons
perdem sua água de hidrata çã o, parcial ou totalmente, formando um complexo de esfera
interna com a superf ície de óxidos de Fe, Mn, Al, aluminossilicatos nã o-cristalinos e,
mesmo com arestas quebradas de argilominerais, que apresentam tipo similar de sítio de
adsor çã o, ou seja, um OH ou uma molécula de H20 com valê ncia insatisfeita, ligada a
"
um íon metálico da rede cristalina. Este tipo de liga çã o formada , sempre com certo grau
de liga çã o covalente, é altamente depjendente do pH, é seletiva, é pouco reversível e
pouco afetada pela concentra çã o iônica da soluçã o envolvente. Ela pode diminuir,
aumentar , neutralizar ou reverter a carga do í on a ser adsorvido e ocorre
independentemente da carga na superf ície da partícula .
O acú mulo de íons ou moléculas na interface sólido-solução do solo pode ser descrito
por diversos modelos empíricos, como o coeficiente de distribuiçã o e as equa ções de
Freundlich e de Langmuir, que sã o de u so mais frequente em Ciência do Solo ou modelos
qu ímicos da teoria da dupla camada ( Adamson, 1967; Raij, 1986 ), da capacitâ ncia
constante (Stumm et al., 1980), o triplqnar ( Davis et al., 1978) e o tetraplanar ( Barrow,
1989 ). |
Para a determina çã o dos micronutrientes adsorvidos especificamente, pode ser
empregado HOAc 25 mL L 1, utilizado p or McLaren & Crawford (1973) para quantificação
'
A rea çã o de sor çã o entre um me tal e o material orgâ nico resulta numa estreita
associação em nível molecular entre o nletal e um ou mais grupos funcionais no material
h ú mico ou ligante (á tomo, grupo func ional, ou molécula , que está ligado a um á tomo
central de um composto de coordenaçã o ) . A sorçã o inclui metais na nuvem difusa perto
dos grupos funcionais perif é ricos ionizados e metais formando complexos de esfera
externa e interna, evidenciando que a rjatureza da liga çã o numa rea çã o de sorçã o vai de
liga çã o puramente eletrostá tica a fortemente covalente (Camargo et al ., 2001).
A matéria orgâ nica está muito associada a outras fra ções do solo, como óxidos de Fe
(Warren, 1981) e de Mn (Stahl & James, 1991).
estabiliza a matéria orgâ nica, causando a dispersã o dc solo. Conforme Chao (1984), o
pirofosfato nã o dissolve sulfetos nem quantidades significativas de óxido de Fe. Contudo,
a principal cr ítica ao uso desse reagente é que ele solubiliza toda ou parte dos óxidos de
Fe amorfos (Shuman, 1982). Outro reagente bastante usado é o per ó xido de hidrogénio
( H202) que, entretanto, apresenta diversas desvantagens: extrai metais da fra çã o óxido
de Mn; dissolve alguns sulfetos presentes; pode formar oxalatos, que atacam ó xidos de
Fe. É també m comum utilizar quelantes para determinar os metais ligados à matéria
^
orgâ nica . Conforme Grimme & Wiechman (19 9 ), citados por Shuman (1991), a adiçã o
de EDTA ao NaOH causou um aumento na extra çã o de Fe de compostos orgâ nicos sem,
contudo, atacar compostos inorgâ nicos de Fe. Shuman (1983) adicionou DTPA ao NaOCl
para quelatar os metais liberados, mas verificou que o DTPA disssolveu metais da fra çã o
óxido de Fe.
I
^
Micronutrientes Associados aos Ó xidos
Óxidos de Fe e de Mn tê m efeito significalite
nas rea ções dos micronutrientes do
,
solo decorrente principalmente da sua alta
, , afiijiidade
por íons metálicos e de seus altos
teores no solo. Esse aspecto é muito importante para a maioria dos solos brasileiros,
ricos em óxidos de Fe e Mn . Os micronutrientek metá licos estã o associados aos óxidos
por mecanismos de adsor çã o, forma çã o de complexo de superf ície, coprecipitaçã o e na
estrutura do cristal.
Para solubilizar os metais da fra çã o dos óxidos de Mn, é necessá rio ter um reagente
^
que reduza o Mn, mas nã o o Fe. Os reagentes nais utilizados sã o a hidroquinona e a
hidroxilamina . Dion et al. (1947) sugeriram o uso da hidroxilamina por esta solubilizar
mais Mn que a hidroquinona . Chao (1972) verificou que a hidroxilamina 0,1 mol L 1 em
HN03 0,01 mol L 1 a pPí 2 dissolveu 85 % do ó xido de Mn e somente 5 % de óxido de Fe
"
'
0,25 mol L 1 a 50 °C por 30 min com agitaçã o em banho-maria (Chao & Zhou, 1983). Para
a quantifica çã o dos micronutrientes associados aos óxidos cristalinos, o mais conhecido
^
é o dititonito em citrato / tampã o bicarbonato (C D), desenvolvido para remover óxidos
de Fe e Al das argilas minerais em estudos de mineralogia (Mehara & Jackson,1960).
FERTILIDADE D ó SOLO
654 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Fe Fe3 + + 30 H‘
Fe (OH ) 3 ( s ) -39 ,4
Mn Mn 02 (s ) + 2 H + Mn 2 + + V2O 2 + H 20 - 0, 92
Zn Zn 2 + + 2 H -soIo Zn -solo + 2 H + - 6, 0
+
Cu Cu 2 + + 2 H -soIo Cu -solo + 2 H -3, 2
Mo MO 042 + 2 H -solo
‘
M 0 O 4 -S 0 I 0 + 20 H
’
- 20, 5
O Fe pode estar no solo nas formas Fe 2+ (sol ú vel ) e Fe3+ ( baixa solubilidade), sendo 1.
absorvido pelas plantas na forma de Fe2+. Sua solubilidade é largamente controlada
pelos óxidos hidratados. Além da forma Fe3+, outras espécies iônicas predominam na
faixa de pH entre 5 e 9, gra ças à hidrólise de Fe3+. A solubilidade do Fe decresce,
aproximadamente, mil vezes para cada unidade de aumento do pH do solo, na faixa de
pH de 4 a 9. Esse decréscimo de solubilidade é muito maior para o Fe do que para Mn, Cu
ou Zn (Lindsay, 1972).
A solubilidade do Mn, absorvido pela planta na forma de Mn2+, é controlada
principalmente pela dissolu çã o de MnÇ)2 que é a forma normalmente presente em solos
bem arejados. A atividade e, consequentemente, a disponibilidade de Mn na soluçã o do
solo diminui 100 vezes, aproximadamente, para cada aumento de uma unidade no pH
do solo ( Lindsay, 1972.
FERTILIDADE DO SOLO
656 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Eucalyptus camaldulensis . Eles observaram que a adiçã o de calcá rio elevou o pH do solo
próximo à neutralidade, reduzindo o teor de Zn disponível no solo pela soluçã o de
Mehlich-1. Santos et al . (2002), utilizando o ZnS04 e resíduo de siderurgia como fontes
de Zn para o milho cultivado em dois valores de pH (5,0 e 6,0), observaram que houve
uma diminuiçã o da disponibilidade de Zn com o aumento de pH, independentemente
da fonte utilizada . Tal efeito foi atribu ído à diminuiçã o das formas livres de Zn2+ pela
formaçã o de composto do Zn com o O Hf (ZnOH , Zn (OH) 2 ).
"
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRI ENTES 657
A caracter ística mais importante da liga çã o entre a mat é ria org â nica e o
micronutriente metálico é sua constante de estabilidade, K. O valor dessa constante é
uma medida da afinidade do metal pelo agente quelante e indica a solubilidade e a
mobilidade dos micronutrientes metá licos em solos.
Recorda -se aqui a definição de Stevenson & Ardakani (1972). Quando um íon metálico
M reage com uma substâ ncia orgâ nica R para formar um complexo orgâ nico metálico
MRx, a reaçã o de equilíbrio é:
—
M + xR > MRx
em que x é o n ú mero de moles da partícula orgâ nica que se combina com o íon metálico.
A constante de estabilidade do complexo se define como:
K = (MRx) / (M) x
em que M é a concentra çã o em mol L 1 do íon metá lico e R é a concentra çã o da substâ ncia
'
FERTILIDADE DO SOLO
658 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
foram observados por Marzadori et al. (1991) que atribu íram à maté ria orgâ nica
importante papel na disponibilidade de B, por minimizar a lixivia çã o desse elemento e
mantê-lo na forma relativamente disponível .
Reaçõ es de Oxirredução
Rea ções de oxirreduçã o sã o comuns em solos e influenciam a disponibilidade dos
micronutrientes, especialmente as de Fe e de Mn. O potencial de oxirreduçã o é expresso
em termos de pe (-log da atividade do elé tron ), sendo dependente do pH do solo, aera ção
e atividade microbiana . Solos bem drenados e arejados têm potencial de oxirreduçã o
entre 400 e 700 mV, enquanto, em solos inundados, esse potencial cai para valores entre
-250 e -300 mV. De acordo com a sequê ncia termodinâ mica da redução em solos
inundados, apresentada por Fageria (1984) , a reduçã o do Mn4+ para Mn2+ ocorre em
solos com potencial de 401 mV e a a reduçã o de Fe3+ para Fe 2+ se d á em potencial de
-185 mV. Isso explica porque, mesmo em solos nã o inundados, a toxidez de Mn é
frequente. A toxidez de Fe tem sido mais comum em condições muito redutoras, como na
cultura do arroz irrigado ( Barbosa Filho et al., 1983b ), ou em condições especiais, como
em soja cultivada em Latossolos, após per íodos de intensa pluviosidade (Bataglia &
Mascarenhas, 1981). Costa (2004), avaliando o desempenho de duas gramíneas ao estresse
hídrico por alagamento em dois solos Qlei Hú micos, observou que o alagamento promoveu
a eleva çã o dos teores de Fe no solo nas plantas. O ambiente anaeróbio aumenta a
solubilidade do Fe no solo, reduzinda o Fe3+ a Fe2+, aumentando a disponibilidade de
Fe2+, forma absorvida pelas plantas. A mesma tendência foi verificada para o Mn.
Embora o Cu 2+ possa ser reduzido a Cu +, nem esse elemento nem o Zn sã o afetados
diretamente pelas condições de oxirreduçã o ocorridas na maioria dos solos. Em algumas
situa ções de oxirreduçã o, esses elementos sã o afetados indiretamente pelo aumento de
pH. Segundo Alam (1999), o aumento do pH em solos á cidos próximos à neutralidade,
em condições de alagamento, exerceu forte influência na reduçã o da disponibilidade de
Zn e de Cu para a cultura do arroz alagado.
Cobre
- a maior disponibilidade ocorre na faixa de pH 5,0 a 6,5;
- os solos orgânicos são os mais prová veis de apresentarem deficiência de Cu. Embora
os solos orgâ nicos apresentem altos tecres de Cu , este micronutriente forma
complexos está veis com a matéria orgâ nica , fazendo com que somente pequena
fra çã o fique disponível à cultura;
- os solos arenosos, com baixos teores c e mat éria orgâ nica, podem tornar -se
deficientes em Cu em decorr ência de
percjlas
por lixivia çã o;
- em solos argilosos, há menor probabilidade de deficiência desse micronutriente;
- a presença excessiva de íons metálicos, como Fe, Mn e Al, reduz a disponibilidade
de Cu para as plantas. Esse efeito independe do tipo de solo.
Ferro
- a maior disponibilidade ocorre na faixa de pH 4,0 a 6,0;
- a deficiência de Fe, na maioria das vezes, é causada por desequilíbrio em relaçã o a
outros micronutrientes, tais como: Mn, Cu e Mo;
- outros fatores que podem levar à deficiência de Fe sã o o excesso de P no solo e na
planta, pH elevado, baixas temperaturas e altos teores de bicarbonato.
Manganês
- a maior disponibilidade ocorre na faixa d e pH 5,0 a 6,5;
- òs solos orgâ nicos, pela forma çã o de complexos está veis entre matéria orgâ nica e
Mn, tendem a apresentar problemas de deficiência desse micronutriente;
- a umidade do solo também influencia a disponibilidade de Mn. Os sintomas de
deficiência sã o mais severos em solos com alto teor de matéria orgâ nica durante a
estaçã o fria, quando esses estão saturados com água. Os sintomas tendem a
desaparecer, à medida que o solo seca e a temperatura se eleva;
- solos arenosos, com baixa CTC e sujeitls a altos índices pluviais, sao os mais
propensos a apresentar problemas de deficiência desse micronutriente;
- excessos de Ca, Mg e Fe podem causar deficiência de Mn.
Zinco
- a maior disponibilidade ocorre na faixa de pH 5,0 a 6,5;
- alguns solos, quando recebem doses de corretivos para elevar o pH acima de 6,0,
podem desenvolver sérias deficiê ncias de Zn, principalmente quando arenosos;
- o uso de altas doses de fertilizantes fosfatados, em cultivos de vá rias espécies de
plantas, já mostrou os efeitos da intera çã o antagónica entre o Zn e o P que se
complica, ainda mais, em valores de pH próximos à neutralidade;
FERTILIDADE DD SOLO
660 CLEIDE ! APARECIDA DE ABREU et al .
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 661
Pouco citado na literatura, mas de grande importâ ncia, é o histórico de uso ou manejo
de uma á rea ou gleba de uma propriedade. Quanto mais um técnico souber sobre esse
histórico, mais eficiente ser á o diagnóstico dos possíveis problemas nutricionais com
micronutrientes, e mais f ácil ser á a correçã o desSes problemas. Os critérios baseados na
avalia çã o visual dependem apenas do conheciménto do técnico e do suporte de literatura.
Entretanto, têm suas limita ções por depender do aparecimento dos sintomas, fase em
que a produtividade normalmente já está prejudicada . A aná lise química da planta, ou
de suas partes, é outro crité rio diagnóstico, especialmente ú til para plantas perenes.
Outro instrumento diagnóstico de destaque é a aná lise química do solo que apresenta a
grande vantagem sobre os demais por possibilitar o conhecimento pr é vio da
disponibilidade dos micronutrientes onde ser á instalada a cultura .
Extratores de Micronutrientes
j
De maneira geral, podem-se classificar os extratores utilizados na determinação
>
dos micronutrientes disponíveis em seis categorias: á gua ou extrato de pasta de saturação,
soluções salinas, soluções á cidas, soluções complexantes, oxidantes / redutoras e os
combinados - tendo em sua composiçã o dois os mais reagentes representantes das
categorias anteriores. Para facilidade de apresíentaçã o, as soluções combinadas serã o
FERTILIDADE DO SOLO
662 CLEIDEI APARECIDA DE ABREU et al.
descritas neste cap ítulo, baseando-se ino princípio dominante de extra çã o dos metais por
estas soluções. A quantidade de micronutrientes extraída do solo por essas soluções ir á
depender : dcs reagentes utilizados, da concentra çã o dos componentes da solu çã o
extratora, do tempo de extra çã o, da rela çã o solo:soluçã o, da temperatura de extra çã o, do
tempo e tipo de agita çã o, dentre outros. Varia ções nas condições de extra çã o levam a
diferenças nos teores extra ídos de micronutrientes por um mé todo específico.
Agua
O micronutriente extra ído pela á gua d á uma ideia direta da concentra çã o deste na
solu çã o do solo. A sua quantifica çã o é feita após agita çã o da amostra de solo com á gua
destilada ou deionizada . O mé todo da á gua quente, originalmente proposto por Berger
& Truog (1939) para determina çã o dé B disponível,.é o mais usado e é sempre um ponto
de referência obrigató rio para a compara çã o com outros processos de extra çã o de B
^
(Ribeiro & Tucunango Sarabia, 1984; E ataglia & Raij, 1990; Abreu et al., 1994c). A extração
com á gua foi testada para outros mici|onutrientes como Mn e Zn (Valadares & Camargo,
1983; Muraoka et al ., 1983a,b ), mas ós resultados nã o foram animadores, quando se
visou a identificaçã o de solos deficientes. Dada a baixa concentração de Cu, Fe, Mn e Zn
nas extra ções com á gua , problemas análíticos são comumente encontrados e os resultados
bem variá veis, o que faz com que este extrator seja pouco utilizado para diagnosticar
deficiências desses elementos (Mura ó ka et al., 1983a,b; Valadares & Camargo, 1983). A
extra çã o com á gua torna -se mais viá yel para a determina ção dos teores tóxicos desses
elementos, os quais, sendo bem mais elevados, permitem aná lises mais exatas e confiáveis.
^
Abreu et al., 1994a ). Outras soluções, pomo nitrato de NH4+, nitrato de Ca, cloreto de Mg,
+
nitrato de Mg, cloreto de Ca, cloret de K, cloreto de Ba, cloreto de NH4 têm sido
^
empregadas para avaliar a disponibiliqade de micronutrientes em solos, sem, no entanto,
uma justificativa técnica para tal uso. Muitas vezes, utilizam-se tais soluções porque já
são usadas pelos laborató rios na exljraçã o de macronutrientes trocá veis. Paula et al.
(1991) usaram o cloreto de Ca na extra ção de Zn em solos de v á rzea; Gimenez et al.
(1992), o cloreto de Mg para extra çã o do Zn disponível em solos; e Abreu et al. (1994a,b ),
o cloreto de Ca para avaliar a disponibilidade de Mn às plantas.
Reagentes Quelantes j
Os agentes quelantes combinam com o íon-metálico em solução, formando complexos
solúveis, reduzindo sua atividade. Eih consequência, oá íons são dessorvidos do solo ou
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 663
Mais tarde, Norvell (1984) propôs o uso do DTPA + á cido acé tico + hidr óxido de
amónio + cloreto de Ca a pH 5,3 para extra çã o de micronutrientes em solos ácidos. Esse
mé todo nã o tem sido incluído em estudos visando à seleçã o de extratores para avaliar a
disponibilidade de micronutrientes em solos brasileiros. Entretanto, resultados
preliminares, obtidos por Abreu et al. (1998), trqbalhando com 59 amostras de solos do
Estado de Sã o Paulo, mostraram a viabilidade dèsse mé todo em extrair micronutrientes
do solo. Para os teores de Cu, foi obtida correlação de 0,85, quando foram empregados os
mé todos DTPA, pFl 5,3 e DTPA, pH 7,3. Para <Js teores de Mn e Zn, os coeficientes de
correla çã o foram de 0,59 e 0,64, respectivamentç.
Os agentes quelantes mais usados em estudos, visando à seleçã o de mé todos quími-
cos para avaliar a disponibilidade de micronutrientes (Cu, Mn e Zn ) em amostras de
solos brasileiros, sã o o á cido etilenodiaminotetraacé tico ( EDTA ) e o dietilenotriamino-
pentaacé tico (DTPA) (Camargo et al., 1982; Galr ã o & Sousa, 1985; Galrã o, 1988; Paula et
al., 1991; Gimenez et al., 1992; Bataglia & Raij, 1994).
Soluções Ácidas
A extra çã o com soluções á cidas baseia-se na dissoluçã o dos minerais de argilas, o
que dificulta a definiçã o das formas extra ídas. A quantidade de metais solubilizados do
á
solo pelas soluções ácidas irá depender do tipo e á cido, de sua concentração, do tempo
de extra çã o, da relaçã o solo:soluçã o, dentre outros. As soluções concentradas de á cidos
FERTILIDADE Dó SOLO
664 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
fortes tê m sido evitadas porque geralmente extraem metais nã o-lá beis da fase sólida . As
solu ções diluídas de á cidos fortes removem os metais dos sítios de troca e parte daqueles
complexados ou adsorvidos, alé m dos da soluçã o do solo .
As solu ções á cidas mais testadajs para extra çã o de micronutrients sã o a de á cido
clor ídrico e a de Mehlich-1. Por causa das muitas varia ções nos procedimentos originais
desses mé todos, no que se refere à concentra çã o da soluçã o, rela çã o solo:soluçã o, tempo
de agita çã o e outros, os resultados dos trabalhos de extra ção com soluções á cidas podem
nã o ser compar á veis. O m é todo empregando HC1 0,1 mol L 1 foi originalmente "
desenvolvido para extraçã o de Zn de solos ácidos ( Nelson et al., 1959 ), sendo as rela ções
solo:soluçã o mais comuns 1:10 no mé todo original, e a 1:4 sugerida pelo Council on Soil
Plant Test Analysis (1980) . O mé todo Mehlich-1 (HC1 50 mmol L 1 + H2S04 12,5 mmol L 1 )
' "
foi desenvolvido para extra çã o de P ( Mehlich, 1953), sendo o seu uso estendido para os
cá tions trocá veis de solos á cidos, sendo utilizadas duas rela ções solo:soluçã o: 1:4, do
m é todo original, e 1:10, comumente ejmpregada no Brasil (Galrã o & Sousa , 1985).
(
O mé todo de Mehlich-3, apesar de ser uma mistura de á cidos, sais e quelante, ser á
\
25 mmol L 1 e H3P04 (Marinho, 1970; Bartz & Magalhães, 1975; Casagrande, 1978; Barbosa
"
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MlCRONUTRI ENTES
' 665
Bataglia & Raij (1990) testaram os extratores Mehlich-1, HC1, CaCl 2 e á gua quente para
avaliar a disponibilidade de B em 26 amostras de solos do Estado de Sã o Paulo . Eles
concluíram que o Mehlich-1 foi menos eficientê que a á gua quente e o cloreto de Ca .
Mesmo com a inclusã o de outros atributos do solo, como pH, argila , maté ria orgâ nica e
capacidade de troca , o coeficiente de correla çã o com a absor çã o de B pelas plantas de
girassol foi baixo. Além disso, o Mehlich-1 nã o conseguiu discriminar o efeito da adiçã o
de B ao solo, nem o efeito da calagem, de forma similar ao observado para a á gua quente.
í O uso do HC1 mostrou-se inviá vel em vista da çolora çã o dos extratos. Quaggio et al .
( 2003), trabalhando com laranja pê ra em condições de campo, observaram estreita
correla çã o entre o teor de B no solo, extra ído pelo mé todo da á gua quente, e o teor de B
nas folhas ( r = 0,97*). No Rio Grande do Sul, Bartz & Magalhã es (1975), trabalhando
com sete amostras de solos que receberam B, constataram os seguintes valores do
coeficiente de correla çã o, entre teores de B-solp e B-alfafa: 0,83 - á gua quente; 0,87 -
Mehlich-1; 0,89 - H2S04 25 mmol L 1; 0,83 - HC150 mmol L 1. Em solos do Cear á, Silva &
'
Ferreyra (1998) encontraram correla ções altamente significativas entre teores de B-solo,
extraídos por diversos mé todos, e de B-girassol; contudo, a á gua quente foi o melhor
extrator seguido do HC1 e do manitol.
De maneira geral, os extratores á cidos, principalmente o Mehlich -1, t ê m -se
comportado de maneira semelhante à extra çã o com á gua quente naqueles experimentos
que receberam doses crescentes de B. Questiona -se se esses resultados serã o reproduzidos
em solos com baixos teores de B, que representam a faixa de teores de maior preocupaçã o
agronó mica . Para o Mehlich-1, a baixa concentra çã o de B no extrato e a larga relaçã o
solo.solu çã o de 1:10 acarretam problemas analíticos frequentes, sendo os resultados
muito variá veis. A faixa de teores na qual a deficiência de B ocorre indica a necessidade
de determina ção com mé todo de dosagem com menor limite de deteçã o desse elemento
para diagnosticar a disponibilidade do nutriente no solo.
Embora a extra çã o de B pela á gua quente, usando o sistema de refluxo, seja o mais
apropriado para diagnosticar a disponibilidade de B em v á rias partes do mundo,
incluindo o Brasil (Ribeiro & Tucunango Sarabia, 1984; Bataglia & Raij, 1990), o processo
é moroso em condições de rotina, pouco reprodutível e requer condições especiais de
FERTILIDADE DO ; SOLO
666 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
aná lise. Dentre as dificuldades associadas à extra çã o com á gua quente sob sistema de
refluxo podem ser mencionadas as seguintes: (a ) necessidade de vidraria isenta de B, de
dificlildade
dif ícil obtençã o e alto custo; (b ) de analisar um grande n ú mero de amostras
por dia, e (c) dificuldade do controle de temperatura nas etapas de aquecimento e
resfriamento da suspensã o do solo .
Algumas propostas de modifica çã o na etapa de extra çã o de B em solos, usando a
á gua quente sob sistema de refluxo, têm sido sugeridas nos últimos anos para que a essa
an á lise torne-se mais atrativa e aplicá vel em condições de rotina . Ferreira & Cruz (1984)
citados por Cruz & Ferreira (1984), com o objetivo de eliminar a ebuliçã o sob condensador
de refluxo, propuseram o emprego c e agita çã o da suspensã o solo-á gua , por 5 min, em
banho- maria, aproximadamente a 70 °C. Os autores obtiveram correla çã o significativa
entre o mé todo convencional e a técnica modificad.a ( r = 0,75) e entre o B extra ído pelas
plantas e o B extra ído pelo mé todo modificado (r = 0,85). Mahler et al . (1984) substituíram
os vidros por plá sticos e o aquecimento sob refluxo pelo aquecimento de á gua em copos,
encontrando vantagens pelas facil dades de manipula çã o, menor trabalho, baixo
investimento inicial de equipamento e melhor reprodutibilidade dos resultados. Abreu
et al. (1994c ) usaram saquinhos de pl ástico no lugar de vidros e o forno de microondas
caseiro como fonte de aquecimento. A correlaçã o obtida entre B extraído usando o mé todo
convencional (sob refluxo ) e o forno de microondas foi de 0,98. Alé m disso, a extração de
B do solo mostrou -se mais rá pida, com maior precisã o e reprodutibilidade. O coeficiente
de varia çã o foi de 19,2 e 4,2 %, usando o sistema de refluxo e o forno de microondas,
respectivamente. Os altos valores de coeficiente de variaçã o obtidos usando o sistema de
refluxo foram devidos à s dificuldades de identificar, com exatid ão, o início do tempo de
refluxo. Normalmente, a identifica çã o é feita visualmente considerando o movimento de
bolhas em suspensã o. Desde que a extra çã o de B é muito dependente do tempo de
aquecimento (Odom, 1980), tal processo é muito mais sujeito a erros . Por outro lado, a
extra çã o de B usando o forno de microondas caseiro tem as condições de aquecimento
mais controladas, sendo menos alteradas por erros e, consequentemente, mais
reprodut ível. Tal procedimento está em condições de rotina no laborató rio de aná lise de
solo do Instituto Agronómico desde 1994. Muitos outros laboratórios de vá rios Estados
do País e do exterior utilizam este procedimento na rotina .
Zinco
HCl 0,1 mol L-i Mehlich l- Mehlich 3 - DTPA pH 7,3 EDTA Fonte
Outro aspecto diz respeito aos baixos valores de correla çã o, se comparados com
aqueles obtidos em trabalhos de pesquisa que buscam selecionar mé todos para os
macronutrientes. Além disso, nã o há como concluir qual desses extratores seria o melhor,
uma vez que os valores das correla ções estã o muito pr óximos uns dos outros.
i
Latossolo Vermelho-Escuro, pelos extratorse HCl e Mehlich-l . Bataglia & Raij (1994) e
Abreu & Raij (1996), utilizando amostras de solos do Estado de Sã o Paulo, também
observaram que as soluções á cidas não foram capazes de discriminar satisfatoriamente
a influência do pH do solo na disponibilidade de Zn. O mesmo foi verificado por Borges
& Coutinho (2004) e Mantovani et al: (2004), em ensaios com biossólido e vermicomposto de
lixo urbano.
Os resultados indicam que, nessa situação, o mé todo DTPA tem superado as soluções
á cidas. Atribui-se sua superioridade ao poder complexante, o que permite o acú mulo de
Zn na soluçã o extratora, mesmo em condições de baixa atividade do elemento em solução,
em equilíbrio com formas lá beis. Os extratores á cidos nã o têm essa caracter ística,
dissolvendo parte do Zn do solo, independentemente de seu car á ter lá bil. Accioly et al.
( 2004) comentam que o uso de soluções á cidas para avaliar a disponibilidade de Zn em
solos que receberam altas doses de calcá rio pode extrair formas mais estáveis do elemento,
como o Zn ligado a hidróxidos e carbonatos, q úe nã o estariam disponíveis às plantas.
FERTILIDADE DO SOLO
668 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Cobre !
^
autores, o Mehlich-3 foi considerado o xtrator mais eficiente em avaliar a disponibilidade
de Cu, seguido do DTPA . Pires & Matfiazzo (2003) observaram elevados coeficientes de
correlaçã o entre o teor de Cu extra ído do solo pelo DTPA ( r = 0,92), HC1 ( r = 0,95) e
Mehlich-3 ( r = 0,87) e o seu teor em plantas de arroz, comprovando a eficiência destes
extratores na previsã o da disponibilidade desse elemento em solos que receberam resíduos
orgâ nicos. Considerando os valores dos coeficientes muito próximos, Pires & Mattiazzo
(2003) indicam o uso do HC1 em condições de rotina pela facilidade operacional deste
mé todo frente aos outros extratores.
Quadro 4 . Coeficientes de correla ção entre teores de cobre de amostras de solos brasileiros
por diferentes solu ções extratoras e cobre nas plantas
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTR í ENTES 669
Manganês
A an á lise do solo para Mn tem sua complexidade aumentada porque a
disponibilidade desse elemento é grandemente influenciada pelas rea ções de oxirreduçã o
do solo . Apesar de os coeficientes de correla ção entre os teores de Mn-solo e de Mn-
planta serem baixos, os resultados de pesqxkisa sã o animadores, pois mostram a
viabilidade da análise do solo como critério diagnóstico para avaliar a disponibilidade
de Mn para as plantas (Quadro 5) .
As solu ções salinas, tamponadas ou n ã o, t ê m sido eficientes em avaliar a
disponibilidade de Mn para as plantas, de maneira contrá ria ao que ocorre para Cu e Zn.
A eficiência dessas soluções deve-se ao fato de que parte do Mn do solo encontra -se na
forma trocá vel ( Valadares & Camargo 1983), ligada aos sítios de troca de cá tions, por
atraçã o eletrostá tica ou for ças de Coulomb, em equilíbrio direto e rá pido com a soluçã o
do solo, podendo ser trocado com outros cá tions em quantidades estequiomé tricas.
Muraoka et al. (1983b ) encontraram valores de correla çã o entre teores de Mn-solo e Mn-
planta de 0,78 ( NH4OAc), 0,48 (DTPA ) e 0,39 ( EDTA ) . Abreu et al. (1994b ) estabeleceram
a extra çã o com solu çã o de CaCl2 como um dos mé todos que melhor estimaram o Mn,
quando existiram mudanças na disponibilidade desse elemento decorrente da acidez do
solo. Pavan & Miyazawa (1984) verificaram que os teores de Mn extra ídos com NH4OAc
1 mol L 1 pH 7,0 diminuíram consideravelmente com o aumento de pH. Os teores foram
'
FERTILIDADE ob SOLO
670 '
CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTR í ENTES 671
autores, para a soja, foram obtidas correla ções positivas entre teor de Mn do solo e Mn na
planta para todos os mé todos ( Resina r = 0,62*;; DTPA r = 0,58*, Mehlich-1 r = 0,51* e
Mehlich-3 r = 0,54*), com exceçã o do AB-DTPA, concluindo ser a resina tã o eficiente
quanto os outros mé todos para avaliar a disponibilidade de Mn para a soja . Por outro
lado, para o milho, nenhum mé todo foi eficiente em avaliar a disponibilidade de Mn,
mesmo incluindo os teores de matéria orgâ nica e da granulometria nos cálculos dos
modelos preditivos, ou a separa çã o dos solos de acordo com essas caracter ísticas.
Ferro
soluçã o de DTPA 7,3, mé todo oficial no Esta çlo de Sã o Paulo para a extraçã o de Fe
Solu çã o extratora
Fonte
HC1 0,1 mol L 1 -
Mehlich 1 Mehlich 3 - DTPA pH 7,3 Resina
FERTILIDADE DO SOLO
672 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Atente-se que esses baixos valores foram obtidos em amostras de solos com teores
elevados de Fe extraídos pelo DTPA 7,3. Essa situa çã o deverá ser agravada em amostras
de solos com teores baixos em Fe. Dentre os mé todos testados, o DTPA 5,3 foi o que
apresentou a maior correla çã o com 0 DTPA 7,3 ( r = 0,96), e os extratores Mehlich-1
( r = 0,81) e CaCl2 ( r = 0,66 ) apresentaram as mais baixas correla ções. Em solos da
Amaz ô nia, Rodrigues et al . ( 2001) verificaram que as melhores correla ções foram
obtidas entre o teor de Fe na matéria seca do arroz e o teor deste elemento extraído pela
solução de Mehlich-3 ( r = 0,62), seguida pelo DTPA ( r = 0,51) e pelo Mehlich-1 ( r = 0,44).
Esses extratores tamb é m foram eficientes em avaliar a disponibilidade de Fe na
cultura do milho que recebeu aplica çã o de biossólido (Simonete & Kiehl, 2002), sendo os
coeficientes de correla çã o entre teores de Fe-planta e Fe-solo significativos para HC1
( r = 0,78), DTPA pH 7,3 ( r = 0,72) e o Mehlich -3 ( r = 0,68) . Esses resultados diferem
daqueles obtidos por Abreu et al. (2004) que n ã o observaram, em nenhuma situaçã o,
correla çã o significativa entre o teor de Fe solo extra ído pelos mé todos DTPA, AB-DTPA,
Mehlich-1, Mehlich-3 e resina, e o seu teor nas culturas de soja e milho.
Molibd ênio
Embora a aná lise de solo para avaliar o Mo disponível seja pouco praticada no
Brasil, as respostas das culturas à aplicaçã o desse micronutriente são bastante acentuadas.
Dos diferentes tipos de extratores propostos para avaliar a disponibilidade de Mo e
usados com relativo sucesso, estã o o oxalato de amónio, pH 3,3 (Wang et al., 1994), água
quente ( Lowe & Massey, 1965), resina cke troca aniônica (Jarrel & Dawson, 1978) e o AB-
DTPA (Pierzynski & Jacobs, 1986). i
Geralmente, a quantidade de Mo extra ída pelo oxalato de amónio é, muitas vezes,
maior que a extra ída por outros mé todps e com correla ções menores com a absor çã o de
Mo pelas plantas (Lowe & Massey, 1965; Little & Kerridge, 1978; Burmerster et al., 1988).
Por outro lado, correlações positivas entre teores de Mo-solo e Mo nas espécies de Triticum
sp., Gropyron cristhatum e Medicago sativa foram obtidas por Wang et al. (1994) em solos
que receberam Na 2Mo04. A mudança de pH de 3,3 para 6,0 da soluçã o de oxalato de
amónio possibilitou a significâ ncia da cbrrelaçã o ( r = 0,81) entre os teores de Mo-oxalato
de amónio (pH 6,0) e Mo-fumo ( Liu et al., 1996).
A resina de troca iônica tem sido usada com sucesso para extrair Mo (Jarrel & Dawson,
1978; Boon, 1984; Ritchie, 1988). As resinas sã o produtos sinté ticos que apresentam uma
rede tridimensional de cadeias de hidrocarbonetos, que contê m grupamentos
funcionais com cargas elé tricas. A estrutura é porosa e flexível, podendo expandir e
reter solutos em seu interior. A extra çã o é contínua dentro do tempo proposto pelo
método, ocorrendo uma transferência do metal do solo para a resina . Geralmente, emprega-
se a resina tipo AG1-X 4 de troca aniônica saturada com Cl . As boas correla ções
’
FERTILIIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 673
Poucas sã o as experiências brasileiras com aná lise de solo para o Mo. Os estudos
têm enfocado mais o levantamento dos teores totais e extra íveis de Mo, utilizando diversas
soluções químicas (Dantas & Horowitz, 1976; Hoirowitz, 1978; Catani et al., 1970; Bataglia
et al., 1976). Nesses estudos, a absor çã o de Mo pelas plantas não foi correlacionada com
os teores no solo, impedindo uma conclusão quanto à eficiência dos mé todos em avaliar
sua disponibilidade . Para o Estado de Pernambuco, Dantas & Horowitz (1976 )
observaram que o teor de Mo aumentou do horizonte A para o B. As variações foram de
0,35 a 0,80 mg kg 1, para o Latossolo, e de 0;27 a 1,43 mg kg 1, para o Podzólico,
' '
!
pH 3,3.
Apesar do ê xito de alguns trabalhos em quantificar o Mo em solos, há ainda sérias
restrições ao uso dessas soluções extratoras em condições de rotinas dos laboratórios de
aná lise de solo.
FERTILIDADE DO SOLO
674 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Quadro 7. Interpreta çã o dos resultados da an á lise de solo para micronutrientes nos Estados do
Rio Grande do Sul e Santa Catarina
Teor B Cu Zn Mn Fe
Classe Agua quente HC1 0,1 mo í L-i H Cl 0,1 mo í L 1 *
Mehlich -1 Oxalato de am ó nio pH 3,0
mg dm 3 g dm-3
Baixo < 0,1 < 0,2 < 0, 2 < 2,5
M é dio 0,1-0,30 ) 0, 2 -0,4 0,2-0,5 2,5-5,0
Alto > 0,3 > 0, 4 > 0,5 > 5,0 > 5,0 ( 2 )
,Para a cultura da videira , o teor adequado de boro no solo varia de 0,6 a 1,0 mg dm 3. (2 ) O valor 5 g dm 3 pode
( ) ' '
estar relacionado com a toxidez de Fe ("brozeampnto"), ocorrida em alguns cultivares de arroz irrigado .
Fonte: Adaptado de SBCS-CQFS ( 2004).
Quadro 8. Interpretaçã o dos resultados da aná lise de solo para micronutrientes no Estado do
Paraná
Teor
B OTPA -
Mehlich 1
Classe Á gua
quente
HC1
0,05 mol L 1
_ Cu Fe Mn Zn Cu Fe Mn Zn
mg dm 3 *
Baixo < 0,2 < 0,3 < 0,3 < 4,0 < 0,8 < 0,6 < 0,4 < 15,0 < 4,0 < 0,8
Médio 0,3-0,4 0,3- 0,6 0,4-0,9 5,0-8 ,0 0,8-1,0 0, 7-1,5 0,5-1,5 -
16,0 40,0 5,0-8,0 0,9-1,5
Bom 0,5-0,6 1,0- 2,0 -
9,0 3p,0 1,1-5,0 1,6-3,0 1,6-2,0 40,1-60,0 9,0-12,0 1,6-2,0
Alto 0,6-1,5 0,7-1,0 > 3,0 31,0-9 3,0
i 5,1-30,0 3,1-6,0 > 2,0 > 60,1 > 12, 1 > 2,1
Excesso 3,0 6,0 300,0 150,0 30,0 8,0 300,0 150,0 30
Teor B Mehlich-1
Classe BaCh a quente
Cu Zn Mn Fe
mg dm-3
Muito baixo < 05 < 4,0 < 5 < 20
Baixo < 0,3 0J 6-1,5 4,1-6,9 6-11 21-31
Médio 0,4-0,6 1 6-20,0 7,0-40,0 12-130 32-200
Alto > 0,6 > 20,0 > 40 > 130 > 200
Fonte: Adaptado de Dadalto & Fullin (2001).
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 675
Quadro 10 . Interpreta çã o dos resultados da aná lise de solo para micronutrientes no Estado de
Sã o Paulo
B DTPA pH 7, 3
Teor Á gua quente
Cu Zn Mn Fe
mg dm -3
Baixo 0-0,20 0-0,2 0-0,5 0-1 , 2 0 -4
Mé dio 0, 21-0,60 0,3-0,8 0, 6 -1, 2 1,3-5 5-12
Alto > 0,60 > 0,8 > 1, 2 >5 > 12
Quadro 11. Inclusã o ou nã o dos micronutrientes na aduba çã o com base na aná lise de solo e nas
respostas de algumas culturas no Estado de Sã o Paulo
Micronutriente
Cultura
B Cu Zn Mn Fe
Quadro 12. Interpretaçã o dos resultados da an á lise de solo para micronutrientes no Estado de
Minas Gerais
Teor B Mehlich-l
*
Classe Agua quente Cu Zn Mn Fe
mg dm -3
Muito baixo < 0,15 < 0,3 < 0,4 <2 <8
Baixo 0,16-0,35 0,4-0,7 0,5-0,9 3-5 9-18
Médio 0,36-0,60 0, 8 -1, 2 1,0-1, 5 6-8 19-30
Bom 0,61-0,90 1,3-1,8 1,6 -2,2 9-12 31-45
Alto > 0,90 > 1 ,8 > 2,2 > 12 > 45
FERTILIDADE Do SOLO
676 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et ai .
Quadro 13. Interpreta çã o dos resultados da aná lise de solo para micronutrientes em condições
de Cerrados
Teor B Mehlich-1
Classe Á gua quente
Cu Zn Mn
_
mg dm 3
Baixo 0-0, 2 0-0,4 0-1,0 0-1,9 . i
^
A composiçã o dos tecidos vegetai é influenciada pelos seguintes fatores:
- própria planta, como espécie ou cultivar, está dio vegetativo ou idade da planta,
distribuiçã o e funcionamento das raízes, produçã o de frutos;
- ambiente natural ou cultural, como variações climá ticas, suprimento de água, estado
sanitá rio da planta e manejo do solo;
- interações entre elementos minerais, dentre outros.
Considerações insuficientes dos efeitos interativos desses fatores sobre a composição
mineral da planta sã o, provavelmente, a origem de certos fracassos registrados na
utiliza ção da análise foliar em programas de aduba çã o. Em virtude desses fatores
mencionados, a padroniza çã o na amostragem para aná lise foliar deve ser bastante
çã
detalhada (Quadros 14 a 21) . Com rela o à escolha da parte da planta a ser amostrada,
a maioria dos autores cita a folha recentemente madura como a mais indicada; entretanto,
há na literatura recomenda ções específicas a cada cultura .
A determina çã o dos teores adequados dos micronutrientes para as culturas é uma
das fases da diagnose foliar que demanda grande esforço por parte da pesquisa. Contudo,
já existem informações disponíveis sobre teores foliares adequados para algumas culturas
mais importantes no Brasil e que podem ser usadas como um guia bá sico para
interpretaçã o dessa técnica de diagnose (Quadro 22).
No caso de culturas sobre as quais n ã o se estabeleceram ainda bases para
interpreta çã o dos resultados analíticos, é preferível comparar dados de plantas
aparentemente normais com os de plantas que apresentam alguma anomalia .
Cacau Amostrar 25 plantas, 8 semanas após o florescimento principal; coletar a 2a e 3a folha verde, a
partir d o á pice do ramo, d a altura m édia da planta , 4 folhas por á rvore.
Caf é Retirar amostras d e ramos frut í feros no in í cio do ver ã o ( dezembro e janeiro ) , d e talh ões
homogé neos, amostrando 50 plantas, 2 folhas por planta , 3° par a partir do á pice dos ramos, da
altura mé dia da planta, igual a n ú mero d e folhas d e cada um d o s lados das linhas d e cafeeiros.
Plantas an ó malas n ã o devem ser amostradas ou podem ser amostradas à parte .
Ch á Amostrar 25 plantas, de maio a junho, retirando a 2 a folha , a partir d o s ramos n ã o lignificados.
Fumo Amostrar 30 plantas, folha superior totalmente desenvolvida, no florescimento .
Abacate Coletar em fevereiro ou mar ço , folhas recé m -expandidas com idade entre 5 e 7 meses, da altura m é dia
das copas. Amostrar 50 á rvores.
Abacaxi Amostrar, pouco antes da indu çã o floral , uma folha rec é m - madura " D" ( normalmente, a 4 ° folha a
partir do á pice) . Cortar as folhas em peda ç os de 1 cm de largura , eliminando a por çã o basal sem
clorofila . Homogeneizar e separar cerca de 200 g para envio ao laborat ó rio . Amostrar 50 plantas.
Acerola Amostrar , nos quatro lados da planta , folhas jovens totalmente expandidas, de ramos frut í feros.
Amostrar 50 plantas.
Banana Amostrar 5-10 cm do ter ç o m é dio da 3a folha a partir da inflorescê ncia , eliminando-se a nervura central
e metades perif é ricas . Amostrar 30 plantas .
Citros Amostrar a 3a folha a partir do fruto, gerada na primavera , com 6 meses de idade, em ramos com frutos
de 2 a 4 cm de di â metro. Amostrar 100 á rvores ( 4 folhas por á rvore ) para cada talh ã o homogé neo.
Figo Amostrar folha recé m - madura e totalmente expandida, da por çã o mediana do ramo. Amostrar 100
á rvores ( 4 folhas por á rvore ) .
Goiaba Amostrar o 3o par de folhas recém - maduras (com pec íolo ), em pleno florescimento. Amostrar 25 á rvores
( 4 folhas por á rvore ) .
Ma ç a Amostrar folha recé m - madura e totalmente expandida . Amostrar 100 á rvores (4 a 8 folhas por planta )
para talh ã o homogé neo.
Macad â
mia
- Amostrar folha recé m - madura e totalmente expandida , no meio do ú ltimo fluxo de vegeta çã o. Amostrar
100 á rvores ( 4 folhas por planta ) para talh ã o homog é neo .
Mam ã o Amostrar 15 pec íolos de folhas jovens, totalmente expandidas e maduras (17 a 20a folha a partir do
á pice), com uma flor vis í vel na axila .
Manga Amostrar folhas do meio do fluxo de vegeta çã o, de ramos com flores na extremidade. Amostrar 80
á rvores ( 4 folhas por planta ) para talh ã o homogé neo.
Maracujá Amostrar 3a ou 4 a folha a partir do á pice de ramos ã o sombreados; alternativamente, coletar a folha
com bot ã o floral na axila, prestes a se abrir . Amostt r ar 20 folhas no outono .
Pêssego -
Amostrar folha recé m madura e totalmente expandida, no meio do ú ltimo fluxo de vegeta çã o . Amostrar
100 á rvores (4 folhas por planta ) para talh ã o homogé neo .
Uva -
Amostrar folha recé m madura mais nova , contada a partir do á pice dos ramos. Amostrar 100 folhas.
Fonte : Adaptado de Raij et al. (1996), Silva (1999) e Natale et al. (1996) citado por Silva (1999 ).
FERTILIDADE Do SOLO
678 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
a
Abó bora 9 folha a partir da ponta , i\o in ício da frutifica çã o. Amostrar 15 plantas.
Agriã o Folhas compostas do topo da planta. 25 plantas.
Aipo Parte a é rea; 70 dias após o transplante. 20 plantas.
Alcachofra Folha desenvolvida; 180 dias após a brota çã o. 15 plantas
Alface Folha recé m -desenvolvida ; metade a 2 / 3 do ciclo . 15 plantas
Alho Folha recé m -desenvolvida, por çã o n ã o- branca; in ício da bulbifica çã o . 15 plantas.
Aspargo Folha superior, a mais rec é m -desenvolvida . 15 plantas.
Berinjela Pec íolo da folha rec é m -desenvolvida . 15 plantas
Beterraba Folha recé m -desenvolvida. 20 plantas.
Brócolo Folha recé m -desenvolvida, na é poca da forma çã o da cabeça . 15 plantas.
Cebola Folha mais jovem , na metade do ciclo de crescimento. 20 plantas .
Cenoura Folha recé m - madura, na metade a 2a/ 3 do desenvolvimento. 20 plantas.
Chic ó ria Folha mais velha, na forma çã o da 8 folha . 15 plantas.
Couve Folha recé m -desenvolvida. 15 plantas.
Couve -flor Folha recé m -desenvolvida, na é poca da forma çã o da cabeça . 15 plantas.
Ervilha Fol íolo recé m-desenvolvido, no florescimento. 50 fol íolos.
Espinafre Folha rec é m-desenvolvida, 30 a 50 dias. 20 plantas.
a
Feijã o-vagem 4 folha a partir da ponta , do florescimento ao in ício da forma çã o das vagens. 30 plantas.
Jil ó Folha recé m -desenvolvida, no florescimento . 15 plantas .
a
Melancia 5 folha a partir da ponta, excluindo o tufo apical, da metade até 2 / 3 do ciclo. 15 plantas.
a
Mel ã o 5 folha a partir da ponta , excluindo o tufo apical, da metade até 2/ 3 do ciclo. 15 plantas.
a a
Morango 3 ou 4 folha recé m -desenvolvida (sem pec íolo ), no in ício do florescimento. 30 plantas.
Nabo Folha recé m -desenvolvida, no engrossamento das ra ízes. 20 plantas.
a
Pepino 5 folha a partir da ponta, excluindo o tufo apical, in í cio do florescimento.15 plantas.
Pimenta Folha recé m-desenvolvida , do florescimento à metade do final do ciclo. 25 plantas.
Pimentã o Folha recé m -desenvolvida, do florescimento à metade do final do ciclo. 25 plantas.
Quiabo Folha recé m-desenvolvida, no in ício da frutifica çã o (40-50 dias). 25 plantas.
Rabanete Folha recé m-desenvolvida. 30 plantas.
Repolho Folha envoltó ria , 2 a 3 meses. 15 plantas .
Salsa Parte a é rea . 30 plantas
Tomate Folha com pec íolo, por ocasiã o do 1° fruto maduro. 25 plantas
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRI ENTES 679
Batata a
Amostrar 30 plantas, aos 30 dias, retirando a 3 folha a partir do tufo apical .
Batata -doce Amostrar 15 plantas, aos 60 dias do plantio, retirando as folhas mais recentes totalmente ,
desenvolvidas.
Mandioca Amostrar 30 plantas, retirando o limbo ( fol íolo ) das folhas mais jovens totalmente
expandidas, 3-4 meses após o plantio .
Leguminosa forrageira (Soja perene ) Amostrar durante a fase de crescimento ativo (novembro
a fevereiro ).Amostrar a ponta dos ramos desde o á pice até
a
a 3° oii 4 folha desenvolvida .
Leguminosa forrageira (Estilosantes ) Amostrar durante a fase de crescimento ativo (novembro
a fevereiro ) . Ponteiro da planta (cerca de 15 cm ).
Leguminosa forrageira (Leucena ) Amostrar durante a fase de crescimento ativo ( novembro
a fevereiro ) . Ramos novos com diâ metro até 5 mm.
Leguminosa forrageira (Alfafa ) Terçc superior da planta no in ício do florescimento.
‘ Leguminosa forrageira (Guandu ) Amostrar durante a fase de crescimento ativo (novembro
a fevereiro ) .
Gram íneas Forrageiras (Coloniã o, Napier, Coast -cross) Amostrar durante a fase de crescimento ativo (novembro
a fevereiro). Brota çã o nova e folhas verdes.
Gram íneas forrageiras (Tifton, Braquiarão, Andropó- Amostrar durante a fase de crescimento vegetativo (no-
gon, Braquiá ria, Ipean, Australiana, Batatais, Gordura ) vembro a fevereiro) . Brotaçã o nova e folhas verdes.
FERTILIDADE Dò SOLO
680 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Culturas perenes
Abacate 0 ) 50-100 5-15 30-150 30-650 50 -200
Abacaxi 0 ) 30 -40 9-12 10-15 50 -200 100-200
Acerola (6 ) 25-100 5-15 30-50 15-50 50-100
Banana (6 ) 10-25 6-30 20-50 200-2000 80 -360
Caf é 0 ) 40-100 6-50 10-70 50-300 70 -300 0,1-0,5
Cana -de -a çú car (7) 10-30 6-15 10-50 25-250 40-250 0,05-0,20
Citros 0 ) 35-100 5-20 25-200 25-500 50-200 0,1-1,0
Eucalipto (8 ) 30-50 7-10 35-50 400-600 150-200 0,5-1,0
Goiaba (3) 10-16 28-32 202-398 144-162
Mam ã o <5) 20-30 4-10 15-40 20-150 25-100
Manga <5) 50 -100 10-50 20 -40 50 -100 50-200
Maracujá <5> 40-100 10-15 25-60 40 -250 120-200 1, 0 -1, 2
Pinus <8> 12-25 4-7 30-45 250-600 100-200
Pupunha (7 > 12-30 4-10 15-40 30-150 40 -200
Seringueira (7 ) 20-70 10-15 20-40 40-150 50-120
Forrageiras
Andropogon (9) 10 -20 4-12 20-50 40-250 50-250
B . brizantha < 9) 10-25 4-12 20-50 40-250 50 -250
B . decumbens <9 ) 10-25 4-12 20-50 40-250 50 -250
Coast-cross (9 ) 10-25 4-14 30-50 40-200 50-200
Coloni ã o (9> 10-30 4 -14 20-50 40-200 50 -200
Guandu (9) 20-50 6-12 25-50 40 -200 40-200
Leucena (9) 25-50 5-12 20-50 40-150 40-250
Napier (9) 10-25 4-17 20-50 40-200 50-200
Soja perene (9 ) 30-50 5-12 20-50 40-150 40-250
Stylosanthes (9) 25-50 6-12 20-50 40-200 40-250
Tifton (9 ) 25-30 4-20 15-70 20-300 50-200
Fonte: Galrão (2002) citando vá rios autores: (1 ) Ba taglia (1991). (2) Cantarella et al. (1996). í3) Malavolta et al. (1989).
Ambrosano et al. (1996 ). (5) Lorenzi et al. (1996 . (6) Quaggio et al. (1996). (7) Raij et al. (1996). (8) Gonçalves et al.
(4 )
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTR ENTES 681
Falta ou excesso .
I
Les ã o molecular ( inibi çã o ou exalta çã o da atividade
enz í m á tica n ã o forma çã o de metab ó litos ;
*
n ã o -forma çã o excessiva de compostos .
I
Altera çã o subceiular
( parede , membrana , citoplasma e organela ).
I
Modifica çã o celular.
\
Les ã o no tecido.
\
Manifesta çã o visí vel.
Figura 2. Seq úência de eventos que conduzem a anormalidade visível relativa a deficiência ou
excesso de nutrientes em plantas.
Fonte: Adaptado de Malavolta (1980) .
FERTILIDADE DO SOLO
682 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al.
<
uniforme Mo (N,S)
Clorose
*
Internerval ou manchada (Mn) (Mg )
Folha velha ,
totalmente
<
desenvolvida marginal (K ) • 2
o
Necrose c,
< o
Internerval (Mn) (Mg ) o
£
<u
<
Clorose uniforme Fe (S) Q
Folhas novas
broto apical,
á pice Internerval ou manchada Zn ( Mn)
Necrose (Clorose) Cu, B (Ca)
Deforma çõ es — Mo (Zn, J3
<
Folha velha marginal B, Cl (sal)
totalmente Necrose N
desenvolvida (Clorose tempor ária) internerval Mn (B)
(D
'
5
*
£
Folhas novas Clorose uniforme Zn , Cu , Ni
Histórico da Á rea
Finalmente, deve-se destacar a importâ ncia de conhecer o histórico de manejo de
uma á rea ou gleba de uma propriedade. Quanto mais um técnico souber sobre o histórico
de manejo, mais eficiente ser á o diagnóstico do possível problema nutricional e mais
f ácil será a correçã o desse problema . Se uma á rea vem recebendo sistematicamente
pulveriza ções com fungicidas que contenham micronutrientes, é prová vel que estes
produtos sejam também fontes de mic ronutrientes. Por exemplo, o uso de Mancozeb em
plantas frutíferas poderá suprir o Mn e o Zn para as plantas. Da mesma forma, o uso
sistemá tico de fungicidas à base de Cu para combater a ferrugem do cafeeiro pode fornecer
esse micronutriente à lavoura . Por outro lado, o uso contínuo e constante, por vá rios
anos, de fritas com alto teor de Zn, pode levar a teores extremamente altos desse
micronutriente, fazendo com que os solos com altos teores de Cu (acima de 2 mg dm 3) '
FERTI .I D A D E DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 683
Mo, com distribuiçã o a lanç o e repetiçã o a cada quatro ou cinco anos (Comissã o de
Fertilidade do Solo de Goi á s, 1988) . No sulco de plantio, a recomenda çã o é de Vi dessas
doses, repetidas por quatro anos . Volkweiss (1991) cita, como outros exemplos dessa
estratégia , a recomenda çã o de B nas culturas de alfafa no Rio Grande do Sul ( ROLAS,
1981), do algodoeiro em solos arenosos de Sã o Paulo ( Raij et al ., 1985), de Zn na regiã o
dos cerrados e nas pastagens em Sã o Paulo (Werner, 1984 ) .
Em culturas de alto valor, como hortaliças e frutíferas, em que os custos de aduba ção
com micronutrientes sã o insignificantes em rela çã o ao valor da produçã o, muitos
agricultores, ainda hoje, usam a aduba çã o de segurança, que inclui vá rios ou todos os
micronutrientes.
FERTILIDADE DO SOLO
684 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Quadro 23. Recomenda ções de micronutrientes para v á rias culturas nos Estados do Rio Grande
do Sul e Santa Catarina
1 1
Tomateiro ’
30 kg ha de bó rax (3 g m de sulco
'
Juntamente com a aduba çã o de base.
considerando o espa çamento de 1 m entre
sulcos).
Batata 15 a 20 kg ha 1 de bórax.
'
Principalmente em solos arenosos e, ou , com teores de mat é ria orgâ nica menores
1
do que 25 g kg '
.
Abacateiro 20 a 30 kg ha de bó rax Em solos em que a disponibilidade de B for inferior a 0,3 mg dm 3. Incorporar
'
solo, em ambos os lados das linhas, na faixa adubada, usando aplicador de herbicida,
numa dosagem que possibilite o consumo n ã o-superior a 10 kg ha 1 de bórax. A
"
aplica çã o de B també m pode ser feita junto com herbicidas de pós-emergê ncia , desde
que sejam usados produtos compat í veis, principalmente com pH semelhante.
Citros Aduba çã o foliar: ZnS04.7 H20 (300 g), No caso de serem observadas defici ê ncias de Mn , Zn, Mg e B. A é poca mais
MnS04.4 H 20 ( 200 g ), MgS04.7H20 (2 kg ), indicada para a aduba çã o foliar é o perí odo de brotacã o das á rvores . Recomenda -
Bó rax ( Na 2 B4O7.10H 2O) (100 g), ureia se, para o abacateiro, fazer três aplicações nos pomares em crescimento ou
(2 kg ) e espalhante adesivo (50 mL ) em forma ção, sendo a primeira na brota çã o primaveril (setembro), a segunda em
100 L de á gua . novembro / dezembro e a terceira em janeiro / fevereiro; e duas naqueles em
produ çã o: a primeira, no final da queda dos restos florais, podendo ser feita com \
o tratamento fitossanit á rio, se n ã o houver incompatibilidade; e a segunda , no
fluxo vegetativo, em fevereiro / março. Para citros, recomendam-se tr ês aplica ções
nos pomares em crescimento e duas nos pomares em produ çã o: a primeira no
final da queda das pé talas, junto como um tratamento fitossanit á rio (se nã o
houver incompatibilidade) e a segunda , no fluxo vegetativo, que ocorrem em
fevereiro / março.
Macieira Zinco: Até três pulverizações quinzenais Ao aplicar sulfato de Zn com altas temperaturas, adicionar Ca (OH) 2 2 g L 1 para '
(2 kg ), espalhante adesivo (100 mL) em pulveriza ções anuais, uma em setembro e a outra em fevereiro.
100 L de á gua .
Pereira Boro, fazer duas a três pulveriza ções Em cultivares sensíveis à deficiê ncia de B como a Nijisseiki, ou em casos de deficiência <1
quinzenais com bó rax 4 g L 1 ou solubor
'
comprovada pela aná lise foliar. Aplicar o B quando as flores estão no está dio de bal ã o,
2 g L 1, a partir da queda das pétalas .
' se o objetivo for o de favorecer a fecunda ção e a frutifica çã o efetiva .
Pesseguei - Boro: No caso do teor de B no solo ser Na regi ão da Encosta Superior do Nordeste do Rio Grande do Sul, têm sido
ro e menor que 0,1 mg dm 3, pode-se
'
constatadas respostas à aplica çã o de B na instala çã o dos pomares.
Nectarinei- incorporar 10 kg ha’1 de B juntamente com
ra a calagem e a aduba ção de pré- plantio. Se í
o teor estiver entre 0,1 e 0,3 mg dm 3, '
I
aplicar 7,5 kg ha 1 de B.
*
Quivizeiro Somente aplicar nutrientes via foliar se O quivizeiro é muito sens í vel ao excesso de B.
for constatada deficiência visual ou pela
>
aná lise foliar .
Roseira Aplicar B duas vezes por ano na dose de
de corte 0,5 g nr 2 de B. í
Videira í
10 kg ha 1 de B em pr é-plantio..
"
3
FERTILIDADE DO SOLO
:í
XI - MICRONUTRIENTES 685
Quadro 24 . Recomenda ções de micronutrientes para v á rias culturas no Estado de Minas Gerais
Alface, pepino, pi - 1 kg ha 1 de B e 3 kg ha 1 de Zn
' '
Sugere-se acompanhamento criterioso dos teores
ment ã o e tomate em de B e Zn no solo e nas folhas pela aná lise
qu í mica, para prevenir a toxidez dos mesmos.
ambiente protegido
Hortali ças ( geral ) 15 kg de sulfato de zinco, 10 kg de bó rax, 10 kg Em solos que n ã o foram fertilizados nos
de sulfato de cobre, 0,5 kg de molibdato de ú ltimos anos
i
am ó nio por hectare
Pulverizações foliares com 2 kg de sulfato de Para correçã o de carências nutricionais,
zinco, 1 kg de bó rax, 1 kg de sulfato de cobre e especialmente nas culturas mais exigentes
0,25 kg de molibdato de amó nio por hectare
Alho 3 kg ha 1 de B e 3 a 5 kg ha 1 de Zn
' '
Acrescentar à aduba çã o de plantio
Cenoura 1 a 2 kg ha 1 de B e, ou , 2 a 3 kg ha 1 de Zn
' '
Em solos deficientes
Citros 80 g de bó rax por planta (6 anos ou mais) e Zn Pulveriza çã o a alto volume com espalhante
e Mn, via foliar, com solução de no má ximo adesivo, quando as brota ções tiverem 1/ 3 do
15 g L 1 de sais
’
tamanho final. Com altas temperaturas, ao se
-
aplicar o ZnSC> 4.7H 20 devem se adicionar 2 g L 1 "
Continua ...
FERTILIDADE DO SOLO
686 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Quadro 24 . Continua çã o
3, 2 ou 1 kg ha de Cu
*
1
Para solo baixo, m édio ou bom . A pulveriza çã o
com fungicidas c ú pricos fornece cobre satisfa -
toriamente para o cafeeiro
15, 10 ou 5 kg ha -1 de Mn Para solo baixo, m édio ou bom . Via foliar 2 a 4
aplica ções por ano de 5 a 10 g L 1 de sulfato
manganoso.
6, 4 ou 2 kg ha 1 de Zn
*
Para solo baixo, m édio ou bom para solos de
textura arenosa a m édia . Em solos argilosos 2 a
_
4 aplica ções foliares de sulfato de zinco, 5 g L 1,
1
ou 3 g L com a adi çã o de 3 g L de KC1.
'1
efeito residual para, pelo menos, cinco anos. Para aplica çã o no sulco, é recomend ável M
dessas doses repetidas por quatro anos consecutivos. No caso do Mo e Co, recomenda -
se, ainda, o tratamento das sementes com as doses de 12 e 25 g ha 1 de Mo e 1 a 5 g ha 1 de ' "
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 687
Cereais
Arroz de sequeiro 3 kg ha 1 de Zn
'
< 0,6 mg dm -3 de Zn
2 kg ha 1 de Zn
' 0,6 a 1,2 mg dm 3 de Zn
*
Arroz irrigado 5 kg ha de Zn 1
'
< 0, 6 mg dm - de Zn
3
Caf é
Plantio 1 g m 1 de B
'
0 a 0,2 mg dnr 3 de B
0,5 g m 1 de B'
0,21 a 0,60 mg dnr3 de B
1
1 g m de Cu
'
0 a 0,2 mg dnr3 de Cu
2 g m 1 de Mn
'
0 a 1,5 mg dnr 3 de Mn
2 g m 1 de Zn
'
0 a 0,5 mg dnr 3 de Zn
1 g m 1 de Zn 0,6 a 1,2 mg dnv 3 de Zn
'
0 a 0,20 mg dm-3 de B
1 kg ha 1 de B
'
1 kg ha 1 de Zn
'
0,6 a 1,2 mg dm -3 de Zn
Adubaçã o foliar: 6 g L 1 de Aplicar em novembro e fevereiro, caso haja deficiê n -
'
á cido bó rico
Fibrosas
Algod ã o 3 kg ha 1 de Zn
'
< 0,6 mg dm -3 de Zn
< 0,61 mg dm 3 de B
*
0,5 kg ha 1 de B '
0,21 a 0,60 mg dm -3 de B
0,5 a 1 kg ha 1 de B '
Continua ...
FERTILIDADE DO SOLO
688 CLEIDE APARECIDA DE ABREU e t al .
Frut íferas
Goiaba ( plantio ) 3 g / cova de Zn
Mam ã o 1, 1,5 ou 2 kg ha 1 de B '
0 a 0,20 mg dm 3 de B e produtividades esperadas
'
3, 4 ou 5 kg ha de Zn1
'
0 a 0,5 mg dm 3 de Zn e produtividades esperadas
de 25, 25 a 50 e > 50 t ha 1, respectivamente
'
Cobre, Zn e Mn extra ídos pelo DTPA pH 7,3 e para B pela á gua quente.
Fonte : Adaptado de Raij et al . (1996 ).
Hortali ças
Abobrinha ou abó bora de 1 kg ha 1 de B
'
0 a 0, 20 mg dm -3 de B
moita , abó bora rasteira , 4 kg ha -1 de Cu 0 a 0,20 mg dm -3 de Cu
moranga , bucha e pepino 2 kg ha -1 de Cu 0,3 a 1,0 mg dm -3 de Cu
3 kg ha 1 de Zn
*
0 a 0,5 mg dm -3 de Zn
Aipo ou salsã o -
3 kg ha 1 de B 0 a 0, 20 mg dm -3 de B
1,5 kg ha -1 de B 0,21 a 0,60 mg dm -3 de B
3 kg ha 1 de Zn 0 a 0,5 mg dm-3 de Zn
Adubaçã o foliar: Pulverizar uma vez por m ês, durante
0,3 g de á cido bó rico ou 0,5 g L -1 de bó rax o crescimento
(dissolver o bó rax em á gua quente )
Alface, almeirã o, chicorea, -
1 kg ha 1 de B
escarola , r úcula , agriã o
d 'á gua
Alcachofra 2 kg ha 1 de B
*
0 a 0,20 mg dm -3 de B
1 kg ha ° de B 0,21 a 0,60 mg dnr 3 de B
Continua ...
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 689
Quadro 26 . Continua çã o
Hortaliç as
Alho 1
5 kg ha de Zn
'
0 a 0,5 mg dm -3 de Zn
3 kg ha 1 de Zn
'
0,6 a 1, 2 mg dm -3 de Zn
3 kg ha 1 de B
'
Beterraba 2 a 4 kg ha 1 de B '
Maiores doses em solos deficientes
em B ou pobres em maté ria org â nica
3 kg ha 1 de Zn
'
0 a 0,5 mg dm-3 de Zn
1
Aduba çã o foliar: 0,5 g L de molibdato de
'
0,6 a 1,2 mg dm 3 de Zn
*
3 kg ha 1 de Zn
'
3 kg ha 1 de Zn
'
0 a 0,5 mg dm 3 de Zn
'
1
Tomate (estaqueado) 3 kg ha de B
'
0 a 0,20 mg dm 3 de B
1 kg ha 1 de B
'
0,21 a 0,60 mg dm-3 de B
5 kg ha 1 de Zn
' 0 a 0,5 mg dm 3 de Zn
*
3 kg ha 1 de Zn
' 0,6 a 1,2 mg dm 3 de Zn
'
irrigado 1 kg ha 1 de B
'
0,21 a 0,60 mg dm - 3 de B
3 kg ha 1 de Zn
' 0 a 0,6 mg dnr 3 de Zn
Continua ...
£
FERTILIDADE DO SOLO
690 CLEIDE APARECIDA DE ABREU e t al .
Leguminosas e oleaginosas
Feijã o 3 kg ha 1 de Zn
'
< 0,6 mg dirr3 de Zn
1 kg ha 1 de B
'
Girasol 1 kg ha 1 de B
'
0 a 0,20 mg dm -3 de B
0,5 kg ha 1 de B 0, 21 a 0,60 mg dnr3 de B
'
Soja 5 kg ha 1 de Mn
'
at é 1,5 mg dm 3 de Mn
’
5 kg ha 1 de Zn e, ou, 2 kg ha 1 de Cu e, ou ,
'
Solos com defici ê ncia de Zn e, ou, Cu
'
1 kg ha 1 de B
'
e, ou, B
Tratamento de sementes: Solos com impossibilidade de aplicar
50 g ha 1 de molibdato de amó nio misturado
'
calcá rio
à s sementes
Ornamentais e flores
1
Amarilis 1 kg ha de B
'
0 a 0,6 mg dnr 3 de B
6 kg ha 1 de Mn
'
0 a 1, 2 mg dnr 3 de Mn
4 kg ha 1 de Zn
'
0 a 1,2 mg dnr3 de Zn
Glad íolo 2 kg ha 1 de B
'
0 a 0,2 mg dnr3 de B
1
1 kg ha de B
'
0,21 a 0,60 mg dm -3 de B
1
4 kg ha de Zn
'
0 a 0,5 mg dnr3 de Zn
2 kg ha 1 de Zn
'
0,6 a 1, 2 mg dnr 3 de Zn
Glox ínia e Violeta Africana 100 mg de N + 100 mg de K 2O Na irriga çã o, 30 dias após o envasa -
+ 2 mg de B + 1 mg de Zn por litro mento
Ra í zes e tubérculos
1
Batata 2 kg ha de B
'
0 a 0,2 mg dnr 3 de B
1 kg ha 1 de B
'
0 ,21 a 0,60 mg dm 3 de B
*
1
Mandioca 4 kg ha de Zn
'
< 0,6 mg dnr 3 de Zn
2 kg ha 1 de Zn
'
0,6 a 1,2 mg dm 3 de Zn
*
1
Mandioquinha 2 kg ha de B
'
0 a 0,2 mg dnr3 de B
1 kg ha 1 de B
'
0,21 a 0,60 mg dm -3 de B
Cobre, Zn e Mn extra ídos pelo DTPA pH 7,3 e para boro pela á gua quente .
Fonte: Adaptado de Raij et al. (1996).
1
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 691
Florestas
Forrageiras
3 kg ha 1 de Zn
*
0,6 a 1, 2 mg dm -3 de Zn
consorciadas 2 kg ha 1 de Zn
*
0,6 a 1, 2 mg dm -3 de Zn
2 kg ha 1 de Cu
*
0 a 0,2 mg dm 3 de Cu
'
por ano) 3 kg ha 1 de Zn
'
0,6 a 1, 2 mg dm 3 de Zn
3 kg ha -1 de Cu 0 a 0, 2 mg dm 3 de Cu
1 kg ha 1 de Cu 0,3 a 0,8 mg dnr3 de Cu
1,5 kg ha -1 de B 0 a 0, 20 mg dm 3 de B
'
1,0 kg ha 1 de B
'
0,21 a 0,60 mg dm 3 de B
Para leguminosas exclusivas, pastagem consorciada e alfafa , aplicar 50 g ha 1 de Mo, via revestimento de semen-
’
te. Cu , Zn e Mn extra ídos pelo DTPA pH 7,3 e para B pela á gua quente.
Fonte: Adaptado de Raij et al. (1996).
Abacate, abacaxi, Adubaçã o de correçã o (a lanço ): Em solos com teor baixo desses micronutrientes .
acerola, banana,
- -
caf é, cana de a çú car,
_
2 kg ha -1 de B, 2 kg ha 1 de Cu,
*
6 kg ha 1 de Mn, 0,4 kg ha 1 de Mo e
'
gariroba, goiaba ,
graviola, mamã o,
manga, maracujá,
pinus, pupunha ,
seringueira
Abacate, abacaxi, Aduba çã o de plantio (por cova ):
banana, graviola 1 g de B, 0,5 g de Cu, 1 g de Mn, 0,05 g
de Mo e 5 g de Zn.
Continua ...
FERTILIDADE DO SOLO
692 CLEIDE APARECIDA DE ABREU e t a l .
vezes ao ano; Zn: solu çã o 6 a 8 g L 1 de ' hidratada ). Fazer uma pulverização no inverno (agosto)
sulfato de Zn, quatro vezes ao ano. e as demais no per íodo chuvoso (outubro a fevereiro).
4 kg ha 1 de Cu, 2 kg ha 1 de B e 4 kg ha 1
’ ' '
de Mn no sulco de plantio .
Citros Adubaçã o de forma çã o ( por cova ):
1 g de B, 0,5 g de Cu, 1 g de Mn, 0,05 g
de Mo e 5 g de Zn .
Aduba çã o foliar: B: soluçã o 2 g L 1 de '
Caso apareçam sintomas de deficiência de qualquer
á cido bórico; Mn: soluçã o 6 g L 1 de sul - ' um desses nutrientes. Caso se apliquem os três mi -
fato de Mn; Zn: soluçã o 8 g L 1 de sul*
- cronutrientes de uma só vez, adicionar à mistura
fato de Zn quatro vezes ao ano. 5 g L'1 de uréia .
Ervilha Adubaçã o com Mo e Co via semente: 8 a O Mo e o Co, em vez de serem aplicados no solo,
20 g de cloreto de Co ou 10 a 25 g de poderã o ser aplicados na semente durante o proces -
sulfato de Co e 50 a 100 g de molibdato so de inoculaçã o com o rizóbio.
de Co ou 40 a 80 g de molibdato de
Continua ...
í
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 693
Feijão Adubaçã o com Mo e Co via semente: O Mo e o Co, em vez de serem aplicados no solo,
8 a 20 g de cloreto de Co ou 9 a 20 g de poderã o ser aplicados na semente durante o proces-
sulfato de Co e 50 a 80 g de molibdato so de inocula çã o com o rizóbio.
de Co ou 40 a 60 g de molibdato de
amónio, por 80 kg de sementes.
Adubação foliar com Mo: 0,2 g L 1 de '
Mo e 2 g de Zn por 1 m3 de substrato.
Adubaçã o de plantio: 0,5 kg ha 1 de B,
"
0,05 kg ha 1 de Mo e 1 kg ha 1 de Zn no
" '
sulco de plantio.
Girassol Adubação foliar com B: Soluçã o de Caso não tenha sido possível aplicar B via solo.
45 g L 1 % de bó rax ou 29 g L 1 de ácido
' '
Aplicar aos 30 dias após a emergência . A quantidade
bó rico. de solução a ser usada é de 200 L ha 1. Adicionar, no
"
-
do de Ca (cal extinta ou cal hidratada ) .
Adubação foliar com Cu, Mn e Zn: Caso apareçam sintomas de deficiência de qualquer
Cu: solução 5 g L 1 de sulfato de Cu; *
um desses nutrientes. A quantidade a ser usada de
Mn: solução 5 g L 1 de sulfato de Mn; Zn '
cada solução é de 400 L ha 1. Adicionar, em cada so
"
-
solução 6 g L 1 de sulfato de Zn.
"
lução, 1 g L 1 de hidróxido de Ca (cal extinta ou cal
*
hidratada ).
Graviola Adubação de produção ( por cova ): Na projeçã o da copa juntamente com outros adubos
2 g de B, 3 g de Cu, 4 g de Mn c 5 g de no início da produção de frutos.
Zn em cobertura.
Mamao Aduba ção de plantio e formação:
1 g de B, 0,05 g de Co, 0,5 g de Cu, 1 g
de Mn, 0,05 g de Mo e 2 g de Zn por
cova .
Adubaçã o de produçã o:
1 a 2 kg ha 1 de B e 3 a 5 kg ha 1 de Zn.
" "
Continua.. .
f
FERTILIDADE DO SOLO
694 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Quadro 28 . Continua çã o
Milho Aduba çã o com Zn via semente: 1,0 kg Caso n ã o seja poss ível aplicá -lo via solo que é o
de ó xido de zinco por 20 kg de sementes modo recomendado.
umedecidas (15 mL de á gua por kg de
sementes) .
Pastagem consorciada Aduba çã o de forma çã o:
1
1 kg ha 1 de B + 0, 02 kg ha de Co +
' "
2 kg ha de Cu + 0,03 kg ha 1 de Mo +
'1 '
2 kg ha 1 de Zn a lanço.
'
de Zn a lanço.
Pinus Aduba çã o de mudas:
0,5 g de B, 0,5 g de Cu, 1 g de Mn, 0,05 g
de Mo e 2 g de Zn por 1 m3 de solo .
Aduba çã o de plantio: Os adubos podem ser aplicados em filetes cont ínuos
1
1 kg ha 1 de B, 2 kg ha de Cu, 3 kg ha
' ’ 1 '
no sulco de plantio ou em covas.
1
de Mn e 6 kg ha de Zn.
'
1 1
1 kg ha de Mn, 0,04 kg ha de Mo e
' '
1
1 kg ha de Zn no sulco de plantio.
'
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 695
Quadro 29. Recomendações de micronutrientes para v á rias culturas no Estado do Espírito Santo
Abó bora 0,5 a 1 kg de B, 1 a 3 kg de Cu ela Junto com a aduba çao de plantio, se a aná lise do
3 kg de Zn por hectare solo indicar baixos teores
Alho 3 a 5 kg de Zn e 3 kg de B por hectare Junto com a aduba çã o de plantio, se a an á lise do
solo indicar baixos teores
Amendoim Via semente:100 g de molibdato de
amó nio para 100 kg de sementes
Arroz 5 kg de Zn, 1 kg de Cu, 1 kg de B e 1 kg Junto com os demais adubos de plantio, se a an á lise
de Mn por hectare do solo indicar baixos teores
Banana irrigada 8 kg de Zn, 4 kg de Cu, 3 kg de B, 2 kg Uma vez por ano, antes do florescimento, se a aná li -
de Fe e 6 kg de Mn por hectare se do solo indicar baixos teores
Banana nã o 4 g de Zn e 2 g de B, por família Uma vez por ano, antes do florescimento, se a an á li -
irrigada se do solo indicar baixos teores
Batata 2 kg de B e 2 kg de Zn por hectare Junto com a aduba çã o de plantio, se a an á lise do
solo indicar baixos teores
* Batata -doce 1
Junto com a aduba çã o de plantio, se a an á lise do
0,5 a 1,0 kg ha de B
'
6, 4 ou 2 kg de Zn ha 1 '
Aduba çã o foliar: Mn 2 g L \ Zn 2 g L 1,
*
Para corrigir deficiê ncias ou de forma preventiva
Cu 2 g L-\ B 1 g L 1
Caf é conilon 3 g de Zn, 0,6 g de Cu, 0,6 g de B e Se a aná lise do solo indicar baixos teores
Plantio 1, 0 g de Mn por cova
Forma çã o 4 g de Zn, 1,5 g de Cu, 2 g de B, 1,5 g Para o segundo ano, antes do florescimento, se a
de Fe e 3,0 g de Mn por cova, na adu - aná lise do solo indicar baixos teores
ba çã o em cobertura
Produçã o Via solo: 6 a 8 kg de Zn, 2 a 4 kg de Cu, Antes do florescimento, se a aná lise do solo indicar
2 a 3 kg de B, 1 a 2 kg de Fe e 4 a 6 kg baixos teores
de Mn por hectare, na aduba çã o em
cobertura
Aduba ção foliar : Mn 4 g L’1, Zn 3 g L 1, '
Para corrigir deficiê ncias ou de forma preventiva
-
Cu 3 g L \ B 2 g L \ Fe 2 g l/1 e Mo
'
I g L-1
Cana -de-açúcar 5 g de Zn, 2,5 g de Cu e 4 g de Mn por Por metro de sulco, se a aná lise do solo indicar bai -
metro de sulco xos teores
Continua ...
FERTILIDADE DO SOLO
696 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et a l .
Maracujá
Plantio 3 g de Zn, 0,6 g de Cu, 0,6 g de B e 1,0 g de Se a aná lise do solo indicar baixos teores
Mn por cova
Formaçao Via solo: 4 g de Zn, 1,5 g de Cu, 2 g de B, Em dose única, antes do florescimento, se a análise do
1,5 g de Fe e 3 g de Mn por cova solo indicar baixos teores
Produção Adubação foliar: Mn 5 g L 1, Zn 3 g L \ Cu
" ' Para corrigir deficiências ou de forma preventiva
3 g L’1, B 3 g L 1, Fe 2 g U1 e Mo 1 g L 1
' '
Melancia 0,5 a 1 kg de B e 2 a 3 kg de Zn por hectare Junto com a aduba ção de plantio, se a aná lise do solo in-
dicar baixos teores
Milho 5 kg de Zn, 1 kg de Cu, 1,5 kg de B; 1 kg No sulco de plantio, se a análise do solo indicar baixos
de Mn e 0,15 kg de Mo por hectare teores
Continua...
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 697
1 1
Orqu ídeas e 1 g L 1 de Zn, 0,2 g L de B, 0,5 g L de Aplicar 1 g da mistura por litro de á gua, em
' ' '
1
samambaias 1
Cu, 0,5 g L de Mn e 0,05 g L de Mo
' '
pulveriza ções quinzenais, na parte inferior das
folhas
Pastagem
Plantio e 3 a 5 kg de Zn, 0,8 a 1 kg de Cu, 1 a Junto com a aduba çã o fosfatada, se a an á lise do solo
forma çã o 2 kg de B; 2 a 3 kg de Fe e 3 a 4 kg de indicar baixos teores
Mn por hectare
Manuten çã o 4 a 5 kg de Zn, 1 kg de Cu , 1,5 a 2 kg No in ício do per íodo chuvoso, se a an á lise do solo
de B; 2 a 3 kg de Fe e 3 a 5 kg de Mn indicar baixos teores
por hectare
Pastagem irrigada
Plantio e 3 a 5 kg de Zn, 0,8 a 1 kg de Cu , 1 a Junto com a aduba çã o fosfatada , se a an á lise do solo
forma çã o 2 kg de B; 2 a 3 kg de Fe e 3 a 4 kg de indicar baixos teores
Mn por hectare
i
Manuten çã o 6 kg de Zn, 1 kg de Cu, 2 kg de B; 2 a Sob pastejo intensivo, logo após a retirada do gado,
3 kg de Fe e 5 kg de Mn por hectare junto à aduba çã o N -P- K , aplicado a lanço na
superf ície do solo
Pepino 0,5 a 1 kg de B, 1 a 3 kg de Cu ela Junto com a aduba çã o de plantio, se a an á lise do
3 kg de Zn por hectare solo indicar baixos teores
Pimenta -do- reino
Plantio 5 g de Zn, 0,5 g de Cu, 1 g de B, 1,5 g Se a an á lise do solo indicar baixos teores. Aumentar
de Fe e 1,5 g de Mn por cova as quantidades em cerca de 30 % , quando a
aplica çã o for realizada por metro linear de sulco.
Forma çã o 4 g de Zn, 1,5 g de Cu, 2 g de B, 1,5 g Uma vez ao ano, se a aná lise do solo indicar baixos
de Fe e 2,5 g de Mn por cova teores
Produçã o 5 g de Zn, 2,5 g de Cu, 3 g de B, 2 g de Uma vez ao ano, se a an á lise do solo indicar baixos
Fe e 3 g de Mn por cova teores
Pinus
Plantio e 1 kg de B e 1,5 kg de Zn por hectare Por ocasiã o do plantio, na cova ou no sulco, se a
cobertura an á lise do solo indicar baixos teores; a aplica çã o dos
-
adubos em cobertura pode ser feita em meia lua ou
em filetes cont ínuos na projeçã o da copa e, após o
fechamento, em faixas de 30 cm ou mais, entre as
linhas de plantio
Seringueira
Forma çã o e 8 g de Zn, 3 g de Cu, 5 g de B, 3 g de Fe Uma vez por ano, no in ício do per íodo chuvoso, se a
produ çã o e 5 g de Mn por planta aná lise do solo indicar baixos teores
Çoia 4 a 5 kg de Zn, 1 kg de Cu, 2 kg de B, Junto com a aduba çã o de plantio, se a an á lise do
5 kg de Mn e 0,15 kg de Mo por hectare solo indicar baixos teores
FERTILIDADE DO SOLO
698 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Abacate 500 g de uré ia , 500 g de sulfato de Zn, Aplicar, duas vezes ao ano; os pomares tratados com
250 g de sulfato de Mn e 100 g de á cido fungicidas c ú pricos, dispensam, normalmente, fertiliza çã o à
bó rico, em 100 litros de á gua base de Cu
Acerola 4,5 g de Zn e 1,0 g de B por planta No plantio, e, uma vez por ano, na fase de produ çã o
irrigada
Alfafa 30 kg de bó rax e 2 kg de molibdato de No plantio
amó nio por hectare
Alho 15 kg de bó rax e 60 kg de sulfato de Zn No plantio, em á reas com defici ê ncias
por hectare
Banana 15 g de sulfato de Zn por touceira Preferencialmente na mesma é poca da primeira fertiliza çã o
nitrogenada
Banana 4,5 g de Zn e 1, 0 g de B por cova No plantio e depois, por toupeira , e uma vez por ano, na fase
irrigada de produ çã o
Batata -doce 5 a 10 kg de bó rax por hectare Em solos arenosos, misturado aos fertilizantes destinados à
aduba çã o de funda çã o
Brócolis Ácido bó rico 2 g L 1 e molibdato de
*
Em duas aplica ções foliares na sementeira e 15 dias após o
amó nio 2 g L 1
' transplantio
Caf é 600 g de sulfato de Zn e 300 g de ácido Fazer anualmente três pulveriza ções
bó rico dissolvidos em 100 litros de á gua
Cana -de - 2,6 kg de Cu, 4,0 kg de Zn e 5,2 kg de Mn Em solos com < 0,7, < 0,4 e < 0, 6 mg dm -3 de Cu, Zn e Mn,
a çú car por hectare respectivamente
1,3 kg de Cu, 2,0 kg de Zn e 2,6 kg de Mn Em solos com 0, 7 - 1,0, 0,4 - 0,6 e 0,6 - 0, 9 mg dm -3 de Cu, Zn e
por hectare Mn, respectivamente
Citros 250 g de sulfato de Zn e 250 g de sulfato Pulverizar uma a duas vezes durante o ano
de Mn, neutralizados com 250 g de cal,
dilu í dos em 100 litros de á gua
Coco irrigado 4.5 g de Zn, 1,0 g de B, 0,5 g de Cu, 1,5 g de No plantio e, uma vez por ano, na fase de produ çã o
Fe, 1,0 g de Mn e 0,05 g de Mo por planta
Couve-flor Ácido bó rico 2 g L 1 e molibdato de Na
'
Em duas aplica ções foliares na sementeira e 15 dias após, no
2 gL’’ transplantio
Eucalipto 10 kg de sulfato de Zn e Juntamente com os fertilizantes destinados ao plantio
1.5 kg de bó rax por hectare Aos 65 dias após o plantio
Goiaba 4.5 g de Zn e 1,0 g de B por planta No plantio e, depois, uma vez por ano, antes da primeira poda
irrigada de frutifica çã o
Inhame Ácido bó rico 1 g L 1 '
Se necessá rio, fazer três pulveriza ções, a partir de 45 após o
plantio
Leucena 1 kg de molibdato de amónio, 1 kg de No plantio
bó rax e 2 kg de sulfato de Zn por hectare
Mamã o 6.5 g de á cido bó rico, por cova
acompanhada de pulveriza ções foliares
com soluçã o de á cido bó rico a 2,5 g L 1 a
'
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 699
Essa estratégia de aplica çã o vem sendo cada vez mais utilizada , principalmente
nas á reas que têm atingido altos tetos de produtividade e intensifica çã o de problemas de
deficiência de micronutrientes, pelas grandes quantidades exportadas.
A combina çã o ideal para se atingir bases sólidas de diagnose e recomenda çã o de
micronutrientes seria a integra çã o das estratégias de prescriçã o com a de restituiçã o, ou
seja , utilizar dados de experimentos de calibra çã o de mé todos de an á lise dp solos e de
plantas e variação das doses a serem aplicadas de acordo com os tetos de produtividade
e exporta ção para culturas. Esses aspectos devem merecer prioridade de pesquisa futura
sobre o assunto .
Um fator que pode ser considerado limitante na implementa çã o da estratégia de
restituiçã o para micronutrientes é a quase total falta de trabalhos científicos que procuram
estabelecer taxas de eficiência das diversas fontes e modos de aplica çã o para os mais
diferentes tipos de solo, clima e cultura no Brasil . Mesmo podendo estimar possíveis
exporta ções de micronutrientes por unidade de produto (Quadro 31), ainda ficam em
aberto as doses adequadas das diversas fontes para que esses requerimentos sejam
satisfeitos.
Quadro 31. Quantidades de micronutrientes necessá rias para a produ çã o de algumas culturas
Cultura B Cu Zn Mn Fe Mo
g *-i
Abacateiro 6 3 5 2 8 0,19
i
Abacaxizeiro 4 1 5 30 60 0,06
Alface 4 9 10 8
Algodoeiro 118 42 43 92 1209 1,00
Cacaueiro 45 32 108 129 245 0,08
Cafeeiro (coco ) 25 15 40 20 80 0,25
Cana 4 4 9 37 155 0,02
Cebola 5 2 2 8 11
Cenoura 9 1,5 7 13 60
*
Couve-flor 5 0,8 7 12 9
Ervilha 170 44 450 250 250 5,00
Fumo 22 14 249 32,00
Laranjeira 2,2 1, 2 0,9 2,8 6,6 0,008
Macieira 1 1 0,2 0,8 8 0,001
Mandioca 14 2 8 34 67
Pessegueiro 1,5 1 1 1,5 5 0,004
Tomateiro 5 10 25 24 25 0, 012
Videira 4 4 0,6 2 3 0,003
FERTILIDADE DO SOLO
700 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Fontes de Micronutrientes
9
4
Fonte Fó rmula Concentra çã o aproximada Solubilidade em á gua
% gL- i
Boro
Bó rax Na 2B4 C> 7.10 H 2O 11 20
Borato 46 Na 2B407.5H20 14 226
Borato 65 Na 2 B4C>7 20 10 t
Cobre
Sulfato de cobre CuS04.5H 20 25 316
Óxido de cobre CuO 75 Insol ú vel
Ferro
Sulfato ferroso FeS04.7H20 19 156
Sulfato f é rrico Fe2 (S04 )3.9H 20 23 4.400
Mangan ês
Sulfato manganoso MnS04.3H20 26-28 742
Ó xido manganoso MnO 41 -68 Insol ú vel
Molibd ê nio
Molibdato de só dio Na 2 Mo04.2 H 20 39 562
Molibdato de am ó nio ( NH 4 ) 6 Mo7024.4 H 20 54 430
Óxido de molibd ê nio M 0O 3 66 I
Zinco
Sulfato de zinco ZnS04.7H 20 23 965
Óxido de zinco ZnO 78 Insol ú vel 1
Cobalto
Cloreto de cobalto CoCl 2.6 H20 25 760
Nitrato de cobalto Co ( N03)2.6 H 20 20 1.338
Sulfato de cobalto COS04.7H20 22 600
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 701
* As fontes inorgâ nicas (Quadro 32) incluem sais metálicos, como os sulfatos, cloretos
e nitratos, que sã o sol ú veis em á gua , os óxidos e os carbonatos, que sã o insol úveis em
á gua , e os oxissulfatos, que constituem subprodutos industriais com maior ou menor
grau de solubilidade em á gua, dependendo das quantidades de H2S04 utilizadas na
solubiliza çã o dos óxidos. A solubilidade em á gua é fator determinante da eficiência
agronó mica a curto prazo, para aplica ções localizadas em sulco e produtos na forma
granulada . Resultados de pesquisa indicam que cerca de 35 a 50 % do Zn total dos
oxissulfatos na forma granulada deve ser sol úvel em á gua para ter eficiência agronómica
imediata para as culturas (Quadro 35) . Resultados semelhantes devem ser esperados
com oxissulfatos de Mn (Mortvedt, 1992) .
%
Cobre
Quelato sint é tico Na 2CuEDTA 13
Quelato sint é tico NaCuHEDTA 9
Quelato natural Lignossulfonato 5-8
Quelato natural Poliflavon óide 5-7
Ferro
Quelato sint é tico NaFeEDTA 5-14
»
Quelato sint é tico NaFeHEDTA 5-9
Quelato sint é tico NaFeEDDHA 6
Quelato sint é tico NaFeDTPA 10
Quelato natural Lignossulfonato 5-8
Quelato natural Poliflavon óide 9-10
Metoxifenilpropano FeMPP 5
Manganê s
Quelato sint é tico * Na 2 MnEDTA 5-12
Quelato natural Lignossulfonato 5
Quelato natural Poliflavon ó ide 5-7
Zinco
Quelato sint é tico Na 2 ZnEDTA 14
Quelato sint é tico NaZnHEDTA 9
Quelato sint é tico NaZnNTA 13
Quelato natural Lignossulfonato 5-8
Quelato natural Poliflavon ó ide 5-10
FERTILIDADE DO SOLO
702 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Concentra çã o aproximada
Produto
Zn B Cu Fe Mn Mo Co Outros
nutrientes
%
:
*
FTE BR -8 7,0 2,5 1,0 5,0 10,0 0,1
FTE BR -9 6, 0 2,0 0,8 6,0 3,0 0,1
FTE BR -10 7,0 2,5 1, 0 4,0 4,0 0,1 0,1
FTE BR -12 9,0 1 ,8 0,8 3,0 2,0 0,1
BR -12 EXTRA 15,0 2,5 1 ,0 3,0 * 3,0 0 ,1
FTE BR -13 7,0 1,5 2,0 2,0 2,0 0,1
FTE BR -15 8,0 2,8 0,8 0,1
FTE BR-16 3,5 1,5 3,5 0,4 '4
-
FTE BR 24 18,0 3,6 1,6 6,0 4,0 0, 2
Borogran 8,0
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 703
Quadro 35. Produçã o de maté ria seca e absor çã o de zinco pelo milho, considerando teores de
zinco sol ú vel em á gua em fertilizantes comerciais
>
% g / vaso mg / vaso
Testemunha 11 , 8 0,10
< ZnS04 - 1 12 13,1 0,12
ZnS04 - 2 46 26,0 0,20
ZnS04 - 3 81 42,4 0,30
ZnS04 - 4 83 31,8 0,24
ZnS04 ( reagente padr ã o ) 100 31,3 0,26
Oxi -sulfato de Zn - 1 7 17,3 0,14
Oxi -sulfato de Zn - 2 37 22,4 0,18
Oxi -sulfato de Zn - 3 76 24,6 0, 20
Oxi -sulfato de Zn - 4 100 33,3 0,26
V
•
Quelatos Sintéticos
:
FERTILIDADE DO SOLO
704 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Complexos Orgânicos
Os complexos orgâ nicos sã o produzidos pela rea çã o de sais met á licos com
subprodutos orgâ nicos da ind ústria de polpa de madeira e outros. A estrutura química
desses agentes complexantes e o tipo de ligação química dos metais com os componentes
orgâ nicos ainda nã o sã o bem caracterizados porque dependem da natureza dos produtos
orgâ nicos e dos seus processos de fabricaçã o (Mortvedt, 2001).
Alguns complexos orgâ nicos nã o sã o compatíveis com todos os fertilizantes fluidos
e, assim, testes com quantidades pequenas devem ser feitos para avalia çã o de
compatibilidade antes de se proceder à mistura de grandes volumes. Se comparados
com os quelatos sinté ticos, os complexos orgâ nicos sã o mais baratos por unidade de
micronutriente, mas, no geral, sã o menos eficientes e são mais rapidamente decompostos
pelos microrganismos do solo (Mortvedt, 2001).
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 705
outros. Esses aspectos foram amplamente discutidos por Lopes (1991), Volkweiss (1991)
e Lopes & Souza (2001) e os conceitos e princípios apresentados sobre o tema, naquela
época, são aplicá veis até hoje. Dentre os v á rios mé todos de aplicaçã o de micronutrientes,
destacam-se: a aduba çã o via solo, incluindo aduba çã o fluida e fertirrigaçã o; a aduba çã o
foliar; o tratamento de sementes e o tratamento de mudas.
O enfoque a ser dado nesta parte do trabalho é complementar ao j á discutido por
Lopes (1991), Volkweiss (1991) e Lopes & Souza ( 2001), procurando estabelecer bases
sólidas para a tomada de decisã o, tanto quanto possível consubstanciada nos poucos
dados de experimentos realizados no Brasil, onde se estuda o problema de forma
abrangente e sistematizada, incluindo a avalia çã o do efeito residual.
Via Solo
Segundo Volkweiss (1991), com a aplica çã o de micronutrientes via solo, busca -se
aumentar sua concentra çã o na soluçã o, que é de onde as ra ízes os absorvem, e assim,
proporcionar maior eficiência de utiliza çã o pelas plantas. É, portanto, necessá rio que as
fontes de micronutrientes utilizadas se solubilizem no solo no mínimo de tempo
compatível com a absorçã o pelas ra ízes e que sejam aplicadas em posiçã o possível de ser
por elas atingidas, uma vez que os micronutrientes sã o geralmente pouco móveis no solo.
As varia ções das aplica ções de micronutrientes, via solo, sã o as seguintes:
a lanço com incorporação: os adubos com micronutrientes são distribuídos uniformemente
na superf ície do solo, em separado ou por meio de misturas NPK, e, a seguir, incorporados
por meio de prá ticas normais de preparo (ara çã o e gradagem ). É o caso da aplicaçã o de
micronutrientes em á reas de culturas anuais com agricultura convencional, pastagens
em forma çã o, quando do uso de aduba ções corretivas com micronutrientes.
a lanço sem incorporação: os adubos com micronutrientes são distribuídos uniformemente
na superf ície do solo, em separado ou em misturas NPK, mas não sã o incorporados. Este
é o caso de aplica ções em á reas de plantio direto, pastagens formadas, ou mesmo culturas
perenes já formadas.
em linhas: os adubos com micronutrientes são aplicados com semeadeiras-adubadeiras
na linha de semeadura, em separado ou juntamente com as misturas NPK, ao lado e
abaixo das sementes, em geral, junto com a adubaçã o NPK. Esta é a forma mais utilizada
para aplicaçã o de micronutrientes em culturas anuais.
em covas ou valetas de plantio: os micronutrientes sã o incorporados ao solo das covas
ou valetas de plantio, isoladamente ou em misturas NPK, e sã o, normalmente, empregados
para a forma çã o de culturas perenes.
em faixas: os micronutrientes sã o aplicados em faixas superficiais ou com pequena
incorporaçã o por meio de escarifica çã o, ao longo da faixa de maior crescimento de raízes,
em separado ou por meio de misturas NPK, em geral, junto com à adubação NPK . E uma
das formas de aplica çã o mais utilizadas para culturas perenes já formadas.
Nas aplicações no solo, os fertilizantes tanto podem ser distribuídos na forma sólida
da aduba çã o tradicional, como podem ser diluídos em á gua, formando solu ções ou
FERTILIDADE DO SOLO
706 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
- aumento das doses para distribuiçã o a lanço, com ou sem incorpora çã o, para
facilitar a distribuiçã o uniforme, utilizando as vantagens do efeito residual de
alguns micronutrientes ( principalmente aqueles que fornecem Cu e Zn), que pode
atingir cinco ou mais anos, como será apresentado no tópico sobre efeito residual
de micronutrientes;
- mistura de adubos com micronutrientes, em geral granulados, com fertilizantes
simples, mistura de grâ nulos, misturas granuladas ou fertilizantes granulados,
para aplicações a lanço ou em linha, sendo fundamental a uniformidade de
granulometria dos diversos componentes;
- incorporação de adubos com micronutrientes em misturas granuladas e fertilizantes
granulados, de modo que cada gr â nulo carreie o NPK, se for o caso, e os
micronutrientes;
- revestimento de fertilizantes simples, misturas de grâ nulos, misturas granuladas e
fertilizantes granulados com fontes de micronutrientes, de modo que cada grâ nulo
contenha também os micronutrientes.
Em razã o do aumento da intensidade de uso e de interações positivas e negativas
que podem ocorrer durante o processamento e que podem afetar a eficiência agronómica
dos micronutrientes, a seguir, e feita uma abordagem adicional sobre algumas dessas
alternativas, incluindo as vantagens e desvantagens comparativas entre elas.
Misturas de Fontes de Micronutrientes com Mistura de Grânulos NPK
Essa é uma das formas mais utilizadas de aplicação de micronutrientes na agricultura
brasileira. A principal vantagem desse produto é que os adubos com micronutrientes,
em suas diferentes fontes, podem ser misturados com produtos com NPK para obter
f órmulas específicas que irã o atender à s recomenda ções tanto de doses de NPK quanto
de micronutrientes.
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 707
A mistura dos v á rios adubos, nesse caso, deve ser feita tã o próxima ao per íodo de
aplicação quanto possível, e o tempo gasto para o seu preparo deve ser mais longo do que
%
o empregado para misturas com apenas NPK, para garantir uma mistura a mais uniforme
possível.
O principal problema encontrado com a aplica çã o de micronutrientes em misturas
de grâ nulos é que pode ocorrer segregação durante a mistura e, subsequentemente, durante
o manuseio e aplica çã o (Mortvedt, 1991) . V á rios estudos têm demonstrado que a principal
causa da segrega çã o é a diferenç a de tamanho de part ículas, embora a forma dessas e a
densidade também tenham efeito (Silverberg et al., 1972).
A importâ ncia da uniformidade do tamanho dos grâ nulos para evitar a segrega çã o
durante a mistura, o manuseio e a aplica ção foram detalhadamente comentados por Lopes
(1991) . Misturas de grâ nulos, incluindo micronutrientes, permanecer ão bem homogéneas
com materiais de tamanho semelhante que nã o se deteriorem durante o armazenamento
(Mortvedt, 1991) . A maioria dos possíveis problemas de segrega çã o que interferem na
eficiência agronó mica das fontes de micronutrientes resultam do uso de materiais
microcristalinos, ou mesmo granulados, de tamanho nã o-compatível com as fontes NPK.
Outro tipo de problema de aplica çã o de micronutrientes nesses tipos de misturas é
que, mesmo com uniformidade de tamanho de grânulos, a mistura de grânulos que contém
adubos granulados com micronutrientes diminui o n ú mero de locais no solo que recebe
o micronutriente. Por exemplo, o nú mero de locais que recebe os gr â nulos pode ser
menor do que 20 por m2, quando se aplica ZnS04 granulado para adiçã o de 1 kg ha 1 de "
(2 %) de Zn, o nú mero de pontos que receberia os grânulos seria de 350 por m2, na aplicação
da mesma dose. Como o Zn é um micronutriente que se movimenta por difusã o, ou seja,
para distâncias a pouco mais de alguns milímetros do ponto de aplica çã o, depreende-se
que a uniformidade de aplicação e a eficiência de absorção são muito maiores no segundo
caso. Cita -se que aplica ções de bórax ( Na 2B 4O7.10H2O) granulado resultam também em
altas concentrações de B no solo em torno do grâ nulo, o que poderia ser tóxico para as raízes
de plantas pr óximas, no caso de algumas espécies sensíveis (Mortvedt & Osborn, 1965).
Outro aspecto que deve ser levado em consideração para seleção de fontes granuladas
de micronutrientes para uso em misturas de grâ nulos é a solubilidade em água. Segundo
Mortvedt (1991), a disponibilidade de micronutrientes na forma de óxidos insol úveis em
água, para as plantas, diminui com ó aumento de tamanho de partículas, pela diminuiçã o
da superf ície específica . Enquanto ZnO insolú vel e ZnS04 sol ú vel em á gua resultaram
em respostas de produção de milho semelhantes quando aplicados na forma de pó e
misturados ao solo, o ZnO granulado foi completamente ineficiente e o ZnS04 também
granulado foi uma fonte satisfató ria em experimento de casa de vegeta çã o ( Allen &
Terman, 1966). Dados de campo com feijoeiro mostraram que ZnO granulado foi
ineficiente como fonte de Zn (Judy et al., 1964).
Mortvedt (1991) cita uma série de trabalhos que mostram ter sido o MnO granulado
ineficiente para aveia (Mortvedt, 1984), milho ( Miner et al ., 1986) e soja (Mascagni J únior
& Cox, 1985) .
FERTILIDADE DO SOLO
708 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Uma alternativa para aumentar a eficiência dos óxidos granulados é o ataque prévio
com H2S04 para obter os chamados oxissulfatos. A utiliza çã o desses oxissulfatos
granulados em mistura de gr â nulos exigir á uma atençã o especial para o teor de
micronutrientes sol ú veis em á gua nesses subprodutos, para assegurar que quantidades
suficientes de micronutrientes sejam imediatamente disponíveis para as plantas. Segundo
Mortvedt (1992), cerca de 35 a 50 % do Zn total no oxissulfato de Zn granulado devem estar
na forma solúvel para ser imediatamente disponível para as plantas. Resultados semelhantes
devem ser esperados com oxissulfatos de Mn e, possivelmente, com "fritas" aciduladas.
Incorpora çã o em Misturas Granuladas, Fertilizantes Granulados e Fertilizantes
Simples
A incorpora çã o de adubos com micronutrientes em misturas granuladas e
fertilizantes granulados vem ocupando lugar de desTaque na agricultura brasileira. Esse
processo incorpora os micronutrientes uniformemente nos grâ nulos e, com isso, os
principais problemas de micronutrientes granulados misturados em misturas de grâ nulos,
quais sejam, a possibilidade de segrega çã o e a diminui çã o de n ú mero de pontos que iria
receber o micronutriente, sã o eliminados.
Entretanto, a própria natureza do processo de granulação para obtenção de misturas
granuladas e fertilizantes granulados, notadamente neste último pelas condições de alta
temperatura, umidade e aumento das rea ções químicas, pode levar a altera ções das
características e eficiência agronómica das fontes de micronutrientes incorporadas. Este í
aspecto foi amplamente estudado no exterior para diversos produtos, sendo pouquíssimos
aqueles trabalhos desenvolvidos no Brasil . Mortvedt (1991) apresenta ampla revisão de
literatura sobre o assunto (Quadro 36) . :
A aplica çã o localizada (em sulcos) de adubos com Mn com fertilizantes formadores
de á cidos, como o superfosfato simples, é uma prá tica recomendada . O Mn aplicado
permanece disponível para as plantas por um per íodo mais longo na faixa ácida antes
de sofrer oxida çã o para formas nã o-disponíveis (Mortvedt, 1991). Os efeitos da fonte de
P na absor çã o de Mn estã o relacionados com o pH do fertilizante fosfatado. A absor çã o
de Mn pela soja aumentou à medida que o pH do fertilizante aumentou de 1,2 com
Ca (H2P04) 2.Fl20, para 3,7 no MAP, mas diminuiu com o pH do fertilizante atingindo 7,2
no DAP. Nesse estudo, o movimento do Mn no solo para fora da faixa de aplica çã o do
fertilizante também diminuiu com o aumento do pH, nã o sendo detectá vel acima de
pH 5,8 (Miner et al., 1986) .
Efeitos de incorpora ção de adubos com Cu e Fe em fertilizantes NPK têm sido menos
j
estudados. Entretanto, as reações de fertilizantes com Cu devem ser semelhantes às dos
que contêm Zn, e as rea ções dos adubos com Fe devem ser semelhantes às daqueles com j
Mn. Tanto os sais de Fe2+ como os de Mn2+ nã o parecem oxidar rapidamente nos
fertilizantes NPK, sob condi ções usuais de composiçã o, pH e temperatura (Lehr, 1972) . *
Nã o obstante, essa oxida çã o deve ocorrer após a dissoluçã o inicial desses produtos i
i
quando aplicados ao solo.
l
A incorpora ção de fontes de B em fertilizantes NPK é frequentemente praticada . A I
I
disponibilidade do B incorporado h ã o é afetada pelo m é todo de incorpora çã o,
FERTILIDADE DO SOLO
1
I
;
i
i
XI - MICRONUTRIENTES 709
í
ZnEDTA Mistura com H 3PO4 antes da amonia çã o Decomposi çã o á cida do quelato e menor disponibi -
lidade de Zn
ZnEDTA Mistura com H 3PO4 ap ós a amonia çã o N ã o- decomposi çã o á cida do quelato e mai spo -
1 nibilidade de Zn
ZnSCh Uré ia zincada (com 2 a 3 % de Zn) A lanço e incorporada , t ã o eficiente como ZnSQia
lanç o para o trigo
$
I
reagem com os componentes dos fertilizantes NPK para alterar a disponibilidade de Mo
S
para as plantas. Entretanto, a inclusão de Mo em fertilizantes com ( NH4) 2S04 ou outros
i
a sulfatos sol úveis parece diminuir a disponibilidade de Mo. Isto pode ser causado pela
3
natureza ácida desses sulfatos e pelos efeitos antagónicos dos sulfatos na absor çã o de
Mo pelas plantas.
â
J
1
ã
-ã
FERTILIDADE DO SOLO
l
il%
íI
nis
710 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Ellis et al. (1965) relataram que ZnEDTA permaneceu sol ú vel em á gua, quando
aplicado junto com MnS04, como revestimento de fertilizante NPK; mas o Zn foi somente
42 % solúvel em á gua, quando ZnEDTA foi aplicado junto com MnO, como revestimento
do mesmo fertilizante NPK. As produções de ervilha foram também muito menores com
o último produto.
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 711
Quadro 37. Produçã o e teor de zinco em ervilha, considerando fontes de zinco e mé todos de
aplicaçã o com fertilizante NPK
kg ha - mg kg-1
1.230 20
ZnSCh Mistura 1.660 40
ZnSCh Incorporado 1.640 31
ZnSC> 4 Revestido 1.670 34
ZnO Incorporado 1.620 30
ZnO Revestido 1.670 26
DMS (0,05) 170 3
- a solubilidade das fontes de Cu, Fe, Mn e Zn é maior nos líquidos claros na forma
de polifosfatos do que nos ortofosfatos;
FERTILIDADE DO SOLO
712 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
- embora a maioria dos quelatos sintéticos seja compatível com os fertilizantes fluidos,
complexos orgâ nicos de Cu, Fe, Mn e Zn podem não ser compatíveis com todos os
fertilizantes fluidos. Um teste de proveta, em que se observe a forma çã o de
precipitados, deve ser feito, utilizando as proporções desejadas do fertilizante
fluido e das fontes de micronutrientes, antes de se proceder à mistura para aplicação
no campo;
- os fertilizantes em suspensã o podem ser utilizados, se for desejá vel a aplica çã o de
doses maiores de micronutrientes. Nesse caso, as suspensões devem ser preparadas
logo antes da aplica çã o. Fontes na forma de pó ( < 60 mesh ou < 0,25 mm ) sã o
sugeridas para evitar entupimentos e garantir a permanência em suspensã o;
A grande vantagem desse sistema está no fato de ser factível variar as quantidades
de nutrientes a serem aplicadas de acordo com a menor ou maior demanda das culturas
em relaçã o às suas fases de crescimento e de desenvolvimento.
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 713
% g L-1
Bó rax 11 Na 2B4 O7.10 H 2O 0 21
Á cido bó rico 17,5 H3BO3 30 63, 5
Solubor 20 Na 2 Bg0 i 3.4 H 20 30 220
Sulfato de cobre (acidificado ) 25 CuS04.5H 20 0 316
Cloreto c ú prico (acidificado ) CUC12 0 710
Sulfato de ferro (acidificado ) 20 FeS04.7 H 20 156 ,5
Sulfato de manganês ( acidificado) 27 MnSC> 4.4 H 20 0 1.053
Molibdato de am ónio 54 ( NH 4 )6 MO7024.4 H 20 430
Molibdato de só dio 39 Na 2Mo04 6,8
Sulfato de zinco 36 ZnS04.7H 20 20 965
Quelato de zinco 5 -14 DTPA e EDTA Muito sol ú vel
Quelato de manganês 5 -12 DTPA e EDTA Muito sol ú vel
Quelato de ferro 4-14 DTPA , HEDTA e EDDHA Muito sol ú vel
Quelato de cobre 5 -14 DTPA e EDTA Muito sol ú vel
Lignosulfonado de Zn 6 Lignosulfonado Muito sol ú vel
Lignosulfonado de Mn 5-14 Lignosulfonado Muito sol ú vel
Lignosulfonado de ferro 6 Lignosulfonado Muito sol ú vel
Lignosulfonado de cobre 6 Lignosulfonado Muito sol ú vel
Via Foliar
Assim como as raízes, as folhas das plantas têm capacidade de absorver os nutrientes
depositados em solu çã o em sua superf ície. Essa capacidade originou a pr á tica da
aduba çã o foliar, em que soluções de um ou mais nutrientes sã o aspergidas sobre a parte
a érea das plantas, atingindo principalmente as folhas ( Volkweiss, 1991) .
Durante o 2o Simpósio Brasileiro de Adubação Foliar, 1987, foram discutidos tópicos
específicos sobre a aduba çã o foliar, envolvendo respostas, fontes, doses, épocas e modos
de aplica ção para as mais diferentes culturas ( Boaretto & Rosolem, 1989), que sã o válidos
até hoje. Concluiu-se que a adubaçã o foliar com micronutrientes era um recurso efetivo
e económico no controle de deficiência em cafeeiro, citros e outras plantas frutíferas
perenes, podendo ser recomendada em programas de aduba çã o, desde que houvesse
controle das necessidades das plantas e se utilizassem produtos específicos. Para alguns
casos de culturas anuais e hortícolas, a aduba çã o foliar corretiva ou complementar tinha
dado bons resultados, podendo ser incluída nos programas de aduba çã o.
O fato de muitas recomenda ções oficiais de aduba çã o, em vá rios Estados do Brasil
como já discutido, incluírem a adubaçã o foliar para diversas culturas evidencia que, sob
certas condições, essa forma de aplica çã o de micronutrientes é de comprovada eficiência.
Alguns exemplos de sucesso na aplica çã o foliar sã o citados a seguir. Pulveriza ções
da cultura do milho com 0,6 e 1,1 kg ha 1 de MnS04.3H20 diluído em 150 L de água, no
'
está dio de quatro e oito folhas, atingiram, respectivamente, 8,23 e 8,49 t ha 1 de grãos, em '
FERTILIDADE DO SOLO
714 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
comparaçã o com 2,21 t ha 1 da parcela -testemunha (Quadro 39) ( Mascagni J únior & Cox,
"
1984). Da mesma forma , pulverizaçã o com ZnS04.7H20 (23 % de Zn) a 10 g L 1, aplicado "
kg ha -i 4 folhas 8 folhas kg ha -i g
0,0 2.210 89
0,6 1 5.100 143 !
Sulfato de manganês dilu ído em 150 L de água ha 1. Teor de Mn no solo (Mehlich-3) = 2,8 mg dm 3; pH em á gua
(1 ) '
= 6,3.
Fonte: Adaptado de Mascagni J ú nior & Cox (1984 ).
Quadro 40. Rendimento de gr ã os de milho cultivado num Latossolo Vermelho argiloso, fase
cerrado, considerando os mé todos de aplicaçã o de zinco. Dados do três cultivos
Rendimento / Cultivo
Fonte Dose de zinco Mé todo Teor de zinco no solo
1-2 2-* 3-a
kg ha 1 *
mg dm 3 t ha 1
*
(1 )
Sulfato de zinco (23 % de Zn ). *2 ) Óxido de zinco (83 % de Zn): misturado na proporçã o de 1,0 de ZnO por 20 kg
de sementes umedecidas (15 mL de água por kg de sementes). (3) Soluçã o a 10 g L 1 de sulfato de Zn (23 % de Zn) na 3a
'
Médias seguidas com a mesma letra, na coluna, nãò apresentam diferenças significativas pelo teste Tukey a 5 % .
Fonte : Adaptado de Galrã o (1996).
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 715
em que as produções m á ximas de feijã o foram obtidas com doses de 70 a 100 g ha 1 de '
Mo, aplicadas por pulveriza çã o 22 dias após a emergência, sendo as maiores doses de
Mo combinadas com as menores doses de N.
Sfredo et al. (1996) obtiveram aumentos médios de produçã o de soja, variando de 20
a 36 %, em rela çã o ao tratamento apenas com inoculante, pela aplicaçã o de v á rios
produtos comerciais multinutrientes via adubaçã o foliar, em três locais no Estado do
Paraná . Os autores atribuíram esses resultados à presença do Mo nesses produtos. E
interessante notar que a aplica çã o somente de á gua , via foliar, nesses experimentos,
aumentou 19 % na produçã o.
Entretanto, a aduba çã o foliar, de maneira geral, nã o mostrou efeitos significativos
no aumento da produçã o de soja ( Borkert et al., 1979; Rosolem et al., 1981, 1982). Apenas
no caso do Mn, as aplicações foliares foram eficientes, sendo a recomendaçã o oficial
aplicar 480 g ha 1 de Mn (1,5 kg de MnS04.H20) diluído em 200 L de á gua com 1 kg de
'
I
I
FERTILIDADE DO SOLO
1
716 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTR í ENTES 717
Rendimento / Cultivo ** *
Dose Cu M é todo
Io 2o 3o
-t ha 1 '
—
0,0 kg ha 1 de Cu
*
2.32 a 2, 94 c 2,57 b
0, 4 kg ha 1 de Cu
'
Lan ç o,
2,4 kg ha 1 de Cu
'
Lan ço, Io cultivo *1 * . 2,36 a 3, 39 ab 3.13 a
4 ,8 kg ha 1 de Cu Io cultivo *1* 2,30 a 3, 41 ab 3.10 a
*
Lan ç o,
1,2 (3 x 0,4 ) kg ha 1 de Cu
'
Sulco (1 ) 2.33 a 3,43 ab 3.19 a
2,4 (3 x 0,8) kg ha 1 de Cu Sulco (1 ) 2.32 a 3,34 ab 3.20 a
*
Sulfato de cobre pentahidratado. (2 ) Óxido de cobre. Í3) DAE = dias após a emergê ncia das plantas.
(1 )
Médias seguidas da mesma letra, em cada coluna, n ã o foram diferentes entre si, pelo teste Duncan a 5 % .
Fonte: Adaptado de Galr ã o (1999 ).
Efeito Residual
O conhecimento do efeito residual de fertilizantes que contê m micronutrientes é de
fundamental importâ ncia para a definiçã o de doses e intervalo de reaplicaçã o. Esse é
um assunto complexo que envolve nã o apenas as fontes utilizadas, mas também as doses,
1 mé todos de aplica çã o, taxas de exporta çã o pelas culturas, manejo dos restos culturais,
tipos de solo e sistemas de produ çã o (agricultura convencional e plantio direto), dentre
outros. Infelizmente, no Brasil, poucos trabalhos têm sido desenvolvidos no campo por
quatro ou mais anos com vistas em avaliar o efeito residual dos tratamentos. Mar tens &
Westermann (1991) discutiram detalhes dos efeitos residuais de v á rias fontes de
micronutrientes com destaque para os seguintes aspectos:
FERTILIDADE DO SOLO
i
ii
\
\
718 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
- fertilizantes que contê m B apresentam maior efeito residual em solos com altos
teores de silte e argila em compara çã o com solos arenosos . Produtos com menor
solubilidade em á gua (colemanita e ulexita ) também apresentam maior efeito
residual;
- existem evidências de que a reversã o de fontes de Cu para formas não-disponíveis
para as plantas é baixa . Os intervalos para novas aplica ções de Cu podem ser
superiores a cinco anos, dependendo da sensibilidade das culturas e da severidade
da deficiência;
- aplica ções de fontes de Fe ao solo apresentam muito pouco efeito residual, porque
o íon Fe2+ é rapidamente convertido em Fe3+ em solos com boa aera çã o. Aplicações
de doses relativamente elevadas, em sulcos, podem ser eficientes por mais de um
ano em sistemas conservacionistas (cultivo mínimo e plantio direto);
- da mesma forma que para o Fe, as diferentes fontes de Mn apresentam pequeno
efeito residual, mesmo com a aplica çã o de altas doses (até 60 kg ha 1 de Mn na '
"Ò
corrigir as deficiências por vá rios anos por causa da lenta reversã o do Zn para
formas nã o-disponíveis para as plantas;
- um resumo dos principais trabalhos relativos a efeito residual de micronutrientes,
citados por Martens & Werstermann (1991), é apresentado no quadro 42.
Quadro 42. Efeito residual de micronutrientes para diversas situações de fontes, modos de
aplica ção, tipo de solo e cultura
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 719
apenas no primeiro cultivo, foi suficiente para manter boas produções nos seis cultivos
da sequência: arroz, arroz, milho, soja, milho e milho (Galrã o, 1984).
Destacam-se outras evidências do acentuado efeito residual de fertilizantes com Zn
nos solos de cerrado. A dose de 3 kg ha 1 de Zn na forma de ZnS04.7H20, aplicada a
'
lanço apenas no primeiro cultivo, foi suficiente para manter produções próximas ao
má ximo por, pelo menos, quatro colheitas consecutivas em Latossolo Vermelho argiloso
( Ritchey et al., 1986) . Entretanto, em Latossolo Vermelho-Amarelo argiloso, a dose de
1 kg ha 1 de Zn, aplicada a lanço em mistura com o superfosfato simples em pó, no
'
primeiro cultivo, foi suficiente para aumentar o rendimento de grã os, os teores de Zn do
solo e da folha de milho no quarto cultivo (Galrã o, 1995). Mais recentemente, Galrã o
(1996) concluiu que 1,2 kg ha 1 de Zn ( ZnS04.7H20), aplicado a lanço no primeiro cultivo,
'
foi suficiente para propiciar rendimentos má ximos de milho para três cultivos. Todavia,
quando aplicado no sulco de semeadura apenas no primeiro cultivo, ou parceladamente
(0,4 kg ha 1 de Zn por cultivo), o rendimento má ximo de gr ã os foi alcançado apenas a
"
partir do segundo ano. Outro aspecto importante dos trabalhos de Galrã o (1995, 1996)
foi permitir, ainda, estabelecer os níveis críticos de Zn no solo para os extratores á cidos
(HC1, Mehlich-1 e Mehlich-3) e o DTPA, além do nível crítico deste micronutriente na
folha do milho.
FERTILIDADE DO SOLO
1
720 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Cultura B Cu Zn Mn Fe Mo
Abacaxi 10
Algodoeiro 3 3
Alho 7
Amendoim 3
Arroz 2 2 10
Batata 5
Cacaueiro 5 6 3
Cafeeiro 10 8 10 1 5 1
Cana - de -a çú car 2 8 n 4 2
Cebola 4
Citros 6 7 10 10 1
Couve-flor 10 10 •c.
Eucalipto 4 4
Feijoeiro 3 2 3
Girassol 3 2
Gram í neas forrageiras n
Leguminosas forrageiras 3 n
Leucena 1
Macieira 3 3
Mamoeiro 4
Mandioca 7 2
Mangueira 1
Maracujazeiro 2
Melã o 3
Milho 1 7
Pereira 4
Pessegueiro 4
Pinus 4 5
Repolho 7
Seringueira 2 2 6
Soja 3 6 5
Sorgo 7 7
Tomateiro 5 6
Trigo 3 10 8
Videira 4 2
proveniente do oceano, nas regiões pr óximas ao litoral (Orlando Filho et al., 2001).
Entretanto, as palmá ceas, como o coco e o dend ê, sã o especialmente sensíveis às
deficiências de Cl.
í
O requerimento de Cl para o crescimento ó timo das culturas é, em m é dia , de 1,0 a
8,0 kg ha 1 (Srivastava & Gupta, 1996). Admitindo 1,0 mg kg 1 de Cl na matéria seca da
' '
parte a érea como teor crítico, Marschrier (1995) cita 4 a 8 kg ha 1 de Cl como a faixa de
'
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 721
requerimento das culturas. Segundo esses autores, essa exigência é facilmente atendida
pela á gua da chuva . De acordo com a literatura são mais comuns problemas de toxidez
do que de deficiência de Cl . ^
Outro aspecto importante a ser levado em conta, com o objetivo de se fazer reposiçã o
adequada de micronutrientes por meio das aduba ções, é conhecer o ac ú mulo e a
exportaçã o deles pelas culturas. Esse aspecto é ainda mais relevante, quando se pensa
em seguir a estratégia de reposiçã o, descrita anteriormente. Um resumo do ac ú mulo e
exporta çã o de micronutrientes, tomando por base vá rios trabalhos desenvolvidos no
Brasil para culturas de cereais e de batata, é apresentado no quadro 44. Os valores
correspondentes ao acúmulo referem-se à quantidade do nutriente contida na parte aérea
das culturas, incluindo os grã os e os tubé rculos, no caso da batata, enquanto os valores
da exporta çã o representam a quantidade do nutriente contida somente nos grã os e
tubérculos, respectivamente. Tais valores, correspondentes à extra çã o e exportaçã o,
referem-se à média ponderada, ou seja, foi considerado o n ú mero de dados encontrados
em cada referência . Por exemplo, se um autor apresenta em seus dados a média de dois
cultivares, atribui-se peso 2 para estes valores, raz ã o por que algumas m édias
apresentadas podem ser diferentes das obtidas cOm o uso direto dos valores dos quadros.
Em relaçã o às plantas de cobertura, tanto de verã o como de inverno, componentes
essenciais para a sustentabilidade do sistema plantio direto, verifica -se grande varia çã o
Cultura B Cu Zn Mn Fe Mo
g t-i
Feijã o Ac ú mulo 66, 3 19, 9 49, 8 175, 8 431 ,2
Exporta çã o 13, 3 9, 9 31 , 6 17, 7 86, 7 1,69
(1 )
Irrigação constante . (2) Irrigação intermitente .
Fonte : Adaptado de Pauletti ( 2004) , citando vá rios autores .
FERTILIDADE Dò SOLO
722 CLEIDE APARECIDA DE ABREU et al .
Quadro 45. Ac ú mulo de micronutrientes na maté ria seca e rela çã o C / N em espécies de verã o
para cobertura do solo
-
a
g *-i
Mucuna cinza P > 16 28 183 21 ,1
Mucuna preta 0 ) 14 ! 29 174 21,1
Mucuna preta (2> 19 29 145
Mucuna an ã 0 ) 9 85 179 16,4
Crotal á ria juncea 0 ) 14 44 179 18,1
Crotalá ria mucronata P > 13 35 111 15,7
Crotalá ria spectabilis 0 ) 8 ; 23 126 23,4
Crotal á ria breviflora 0 ) 17 31 81 14,5
Crotal á ria grantiana 0 ) 10 28 73 19,2
Guandu 0 ) 7 22 87 21,6
Guandu (2) 27 26 94
Feijã o-de-porco 0 ) 9 62 254 15,7
Feijã o bravo do Ceará 0) 4 14 17 20,6
Feijã o mungo 0 ) 10 78 127 25,1
Caupi 0) 17,3
Lab-lab 0 ) 10 33 143 18,3
Leucena 0) 45 14,8
Amendoim rasteiro 0) 11 49 77
Indigófera 0 ) 13 24 53 18,6
Calopogônio 0 ) 9 15 172 21,6
Kudsu 0 ) 11 27 155 14,7
Soja perene 0 ) 8 32 102 17,3
Centrosema 0 ) 10 32 67 20,3
Crotal á ria striata 0 ) 10 31 584 15,2
Gallo et al. (1974); Kluthcouski (1982) e Chaves j(1989) citados por Calegari (1995). (2) Borkert et al. (2003).
(1)
FERTILIDADE DO SOLO
XI - MICRONUTRIENTES 723
Quadro 46 . Produ çã o de maté ria verde, maté ria seca, ac ú mulo de micronutrientes e relaçã o
C / N em espécies de inverno para cobertura do solo
_
t ha 1 ancr1 g t 1 de mat é ria seca
Chicharo*1 ) 20-40 2-4,5 11 22 52 18,8
Aveia preta *1 ) 15-45 2.5-7 7 11 102 36,3
Aveia preta *2) 4-18 9 21 286
Aveia branca *1 ) 15-35 2.5-4,5 6 9 138 47,6
Azev é m *1 ) 16-30 2-6 9 23 214 44, 2
Centeio *1 ) 12-35 2-4,5 6 15 53 36,5
Girassol *1 ) 20-40 2-4 18 31 96 22, 2
Espérgula *1 ) 15-40 1,5-6 11 44 136 25,1
Ervilhaca peluda *1 ) 14 -35 3-6 9 26 61 18,7
Ervilhaca comum *1 ) 12-35 2-5,5 9 24 87 18,6
Ervilhaca *2) 4-6,5 10 32 69
Serradela *1 ) 20-45 2-6 13 59 97 22,4
/ Nabo forrageiro*1 ) 20-60 2-6 8 49 84 11, 6
Tremoço branco*1 ) 30-40 3-5 12 57 330 14,8
Tremoço amarelo *1 ) 15-28 3-4 14 66 359 14,4
Tremoço azul *1 ) 13-50 3-4 13 24 230 19,4
Tremoço*2) 6-14 21 42
Ervilha forrageira *1) 15-28 3,9-4,5 22 8 102 19,0
Calegari (1990), citado por Derpsch & Calegari (1992). (2 ) Bõrkert et al. ( 2003).
(1 )
Forrageiras Fe Cu Zn B Mn Mo Co
g t1 '
Gram íneas
Coloni ão *1 ) 124 7 21 15 90 0,83 0,06
Elefante*1) 178 10 40 25 179 0,53 0,1
Setaria *1) 99 5 37 18 272 0,28 0,06
Kikuiu *1 ) 106 5 28 23 137 0,83 0,05
Festuca *1 ) 109 4 26 14 228 0,27 0,03
Leguminosas
Trevo*1 ) 303 3 26 38 69 0,22 0,07
Comichã o*1 ) 152 3 33 33 81 1 0,07
Alfafa *2) 205,5 10,3 32,5 35,7 41,0 1,1 0,13
Gallo et al. (1974), citados por Malavolta et al. (1986). (2) Sá ' & Petrere (1991).
(l )
FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES
1/
Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" ESALQ.
Caixa Postal 9, CEP 13418- 900 Piracicaba (SP ) .
jcalcard @ esalq . usp . br
•5
Conte ú do
INTRODUÇÃ O : 738
• í
í
f SBCS, Vi çosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds . NOVAIS, R . F., ALVAREZ V., V.H., BARROS,
N.F., FONTES, R . LF., CANTARUTTI, R . B. & NEVES, J .C.L . ) .
h
l
í
738 JOS é CARLOS ALCARDE
INTRODUÇÃ O
FERTILIDADE DO SOLO
I
XII - FERTILIZANTES 739
Teor de biureto menor que 1,5 % para aplica çã o no solo e menor que 0,3 % para aplicaçã o foliar.
(1 )
FERTILIDADE DO SOLO
740 JOSé CARLOS ALCARDE
% % emole dm 3 *
U - umidade; CO = carbono orgâ nico; N = nitrogénio total; CTC = capacidade de troca de cá tions.
Fonte: Brasil (2007).
—
Fertilizantes Fosfatados
Que têm P como nutriente principal (Quadro 3).
Fosfato natural reativo Beneficiamento de FNs 10 % sol . em á cido c í trico a 2 % (ou 27 % P2Os total
(fosforitas) 20 g L 1 ) , relaçã o (1:100); farelado;
'
30-34 % Ca
( Ca , o ( PO< ) 6 . [ F2; (OH ) 2; CO3] rocha sedimentar
Fosfato decantado Tratamento dei efluentes P2O5 total; = 9 % P2O5 sol ú vel em 14 % P2O5
da produ çã o de H 3 PO4 CNA + H 2O
= 14 % Ca
Termofosfato magnesiano Fusã o FN + compostos P2O5 total; = 14 % sol . 17 % P2Os
magnesianos e sifcicos á cido c í trico a 2 % , relaçã o (1:100) 7 % Mg
18 -20 % Ca
FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 741
Fertilizantes Potássicos
Que têm o K como nutriente principal (Quadro 4).
I
Fertilizantes Cálcicos
Que tê m o Ca como nutriente principal (Quadro 5).
Carbonato de cá lcio (CaCOs) Rocha calcá ria calcí tica Ca total (corretivo da acidez ) 36 % Ca
Óxido de cá lcio (CaO) Calcina çã o de calcita Ca total (corretivo da acidez) 64 % Ca
Hidróxido de cá lcio [Ca (OH) 2] Hidró lise do CaO Ca total (corretivo da acidez ) 48 % Ca
Cloreto de cá lcio Rea çã o de HC1 com CaO Ca sol ú vel em H 20 24 % Ca
(CaCh.2H 20) = 43 Cl
Nitrato de cá lcio [Ca ( N03) 2] Reaçã o de HNO3 com CaQ Ca sol ú vel em H 2O 14 % N
18-19 % Ca
Sulfato de cá lcio (CaS04.2H 20) Subproduto da fabrica çã o de Ca e S totais 17-20 % Ca
H 3PO4 ! 14-17 % S
Fertilizantes Magnesianos
Que têm o Mg como nutriente principal (Quadro 6) .
FERTILIDADE DO SOLO
742 JOS é CARLOS ALCARDE
Fertilizantes Sulfurados
Que contêm o S como nutriente principal (Quadro 7)
Critério Químico
Fertilizantes Minerais
Sã o os fertilizantes constitu ídps de compostos inorgâ nicos , S ã o tamb é m
considerados fertilizantes minerais aqueles constitu ídos de compostos orgâ nicos
(compostos que contêm C ) sintéticos oú artificiais, como a uréia - CO( NH2) 2 e aqueles na
forma de quelatos.
Os fertilizantes minerais se subdiyidem em três classes:
Fertilizantes simples: sã o os fertilizantes constituídos, fundamentalmente, de um
composto químico, contendo um ou maís nutrientes, quer sejam macro ou micronutrientes,
ou ambos. São exemplos: uréia, sulfatjo
de am ónio, superfosfato simples, superfosfato
FERTIIIIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 743
triplo, fosfato monoamônico (MAP ), fosfato diamônico ( DAP), cloreto de K, ácido bórico,
sulfato de Zn e numerosos outros. Existem divê rsos fertilizantes minerais simples para
cada espécie de nutriente. Há mais de uma centena de fertilizantes minerais simples
reconhecidos oficialmente pela legisla çã o brasileira, como aqueles já relacionados (Brasil,
2007) .
Fertilizantes mistos ou misturas de fertilizantes: sã o os fertilizantes resultantes da
mistura de dois ou mais fertilizantes simples.
Fertilizantes Organominerais
Sã o ps fertilizantes resultantes da mistura de fertilizantes orgâ nicos e minerais. O
objetivo dessas misturas é aumentar o teor de nutrientes dos materiais orgâ nicos e
FERTILIDADE DO SOLO
744 JOS é CARLOS ALCARDE
aumentar a eficiência dos fertilizantes minerais. Apesar de sua aplicabilidade ser restrita
a poucas situa ções, porque só se consègue produzir essas misturas com concentra ções
relativamente baixas, tanto do componente orgâ nico como do mineral, o seu uso vem
crescendo (Abreu J ú nior et al., 2005).
Critério Fí sico
Sólidos
Sã o os fertilizantes que se apreseintam no estado sólido e estã o subdivididos em
duas classes:
Pó ou farelado: quando as partículas são na forma de pó ou tem pequenas dimensões.
; +
Líquidos ou Fluidos
São os fertilizantes que se apresentam no estado líquido. Estã o subdivididos em
duas classes:
Soluções: são os fertilizantes líquidos que se apresentam na forma de soluções
verdadeiras, isto é, isentas de material sólido.
Suspensões: são os fertilizantes líqúidos que se apresentam na forma de suspensões,
isto é, uma fase sólida dispersa num mèio líquido.
i
Gasosos
Sã o os fertilizantes que se apresentam no estado gasoso, nas condições normais de
temperatura e pressã o. O único fertilizante que se apresenta nesta forma é a amónia
anidra, pouco usada no Brasil em aplica çã o direta no solo.
FERTILIIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 745
Grande parte dos problemas com a qualidá de dos fertilizantes está relacionada com
suas características f ísicas e ou f ísico-químicas. A preferência pelo consumidor de um
fertilizante em rela çã o a outro de mesma composiçã o decorre, quase sempre, de suas
I
Estado Físico
Granulometria
FERTILIDADE DO SOLO
744 JOS é CARLOS ALCARDE
aumentar a eficiência dos fertilizantes minerais. Apesar de sua aplicabilidade ser restrita
a poucas situa ções, porque só se consegue produzir essas misturas com concentra ções
relativamente baixas, tanto do componente orgâ nico como do mineral, o seu uso vem
crescendo (Abreu J ú nior et al., 2005) .
Critério Físico
Sólidos
Sã o os fertilizantes que se apresentam no estado sólido e estã o subdivididos em
duas classes:
Pó ou farelado: quando as part
ículas são na forma de pó ou tem pequenas dimensões.
*
Lí quidos ou Fluidos j
FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 745
Grande parte dos problemas com a qualidade dos fertilizantes está relacionada com
suas características f ísicas e ou f ísico-químicas. A preferência pelo consumidor de um
fertilizante em rela çã o a outro de mesma composiçã o decorre, quase sempre, de suas
características f ísicas e f ísico-químicas, as quais podem ser diretamente avaliadas pela
observa çã o do produto. Muitos procedimentos de produçã o, incluindo-se v á rios tipos
de tratamento de condicionamento, foram desenvolvidos para melhorar as características
f ísicas e f ísico-químicas.
Ao contrá rio das caracter ísticas químicas, as caracter ísticas f ísicas e f ísico-químicas
dos fertilizantes sã o muito pouco ou quase nada previstas pela legisla çã o oficial.
Estado Físico
Granulometria
FERTILIDADE Dó SOLO
746 Jo
^ É CARLOS ALCARDE
As misturas de grâ nulos apreseritam vantagem sobre as misturas granuladas por
permitirem uma maior flexibilidade no preparo de f ó rmulas, segundo a necessidade do
agricultor . Contudo, conforme será dikcutido a seguir, diversos problemas relacionados
com os atributos dos fertilizantes sã o minimizados pela produçã o de mistura granulada
ou de fertilizante complexo. Em geral, fertilizantes mistos granulados ou complexos,
onde cada grâ nulo contém todos os putrientes garantidos, apresentam granulometria
mais uniforme que as misturas de gr â hulos.
Como consequência da composiçã o granulom é trica desuniforme, os fertilizantes
sólidos podem apresentar o fenô meno da segregação, ou seja, a separaçã o das partículas
componentes de uma mistura de fertilizantes por ordem de tamanho. O fator que mais
favorece esse processo é a desuniformidade de tamanho das partículas. Tome-se, como
exemplo, uma mistura fertilizante N-K 18-00-36, para a qual cada tonelada ser á
constituída por 400 kg de uréia e 600 kg de KC1. As partículas de KC1, normalmente com
formato irregular e de tamanho maior que as partículas esf éricas de uréia, fazem com que
estas tendam a se depositar no fundo de sacas e ca çambas, enquanto que o KC1 fica na
parte superior. Desta forma, durante a adubaçã o, a mistura que está sendo aplicada às
plantas poder á ter composiçã o bem diferente de 18-00-36. Em geral, mas nã o
obrigatoriamente, o problema é mais acentuado em mistura de grânulos que em misturas
granuladas e ocorre durante o processo de produção, transporte, amostragem para análise
e na aplica çã o do fertilizante.
Os mais diferentes tipos de formula ções NPK sob a forma de mistura de grâ nulos
podem apresentar evidências de segrega çã o, quando a eleva çã o do teor de um nutriente
em rela çã o ao teor garantido, ocorre às custas do abaixamento de outro (Quadro 8).
Resultados obtidos em aná lise de rotina para a mistura 18-00-36, empregada na
cultura da cana -de-a çú car na regiã o de Piracicaba, foram discutidos por Rodella &
Alcarde (1994 ). Ao se correlacionarem os resultados das determina ções de N e K 20
obtidos na análise química de diferentes amostras daquela mistura, obteve-se uma reta a
qual evidencia a ocorrência da segregarã o (Figura 1).
Teores garantidos N P 2O 5 K 2O
O/
/0
FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 747
É necessá rio ressaltar que o problema causddo pela segrega ção não é minimizado
’v
pelo fato da queda no teor de um nutriente ser Compensada pelo aumento no teor de
outro. Isso pôde ser avaliado ao se considerar a fertilização da cultura da cana-de-
açúcar no ciclo dè soqueira. Embora a cana normalmente responda à aplicação de N e
K20 neste ciclo, a intensidade de resposta é diferente para cada nutriente, conforme
evidenciado pelos coeficientes da regressã o ajiistada à curva de resposta, obtida em -
experimento de campo (Figura 2): há um evidente efeito negativo da aplicaçã o de K sobre
j
•(
Figura 1. Rela ção entre os teores de N e K20 determinados em diferentes amostras de uma
mesma mistura de grânulos de f órmula 18-0-3ót evidenciando a ocorrência de segrega çã o.
Fonte: Rodella & Alcarde (1994). - •
•/
7 ' . 7:,.
. :‘ > '
•
•
-
•
Figura 2. Produtividade de cana -de-açúcar para uma mesma dose de mistura de grânulos
18-0-36, em consequência do desbalanceamento entre os nutrientes N e K20 provocado
pela segregação.
Fonte: Rodella & Alcarde (1994). I
FERTILIDADE Dó SOLO
748 JOSé CARLOS ALCARDE
mm %
FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 749
Figura 3. Varia çã o nos teores de N, P2Os e K 20 de 1 uma f ó rmula 15-1515, aplicada por uma
adubadora centr ífuga, em funçã o da distâ ncia á partir do centro de aplica çã o.
Fonte : Adaptado de Popp & Ulriceh (1985b ) . j
forma de pó, é adicionada às misturas de gr â nulos (Smith, 1960). Para minimizar este
problema, atualmente o micronutriente está sendo incorporado aos grâ nulos de um dos
fertilizantes simples componente da mistura de gr â nulos ( normalmente nos
superfosfatos).
Apesar de os problemas de segrega çã o ser m maiores nas misturas de grânulos,
^
isso nã o pode ser tomado como regra . O controle de qualidade eficiente das matérias-
primas que entram na composiçã o dessas misturas, permite obter produtos de boa
qualidade no aspecto f ísico (segrega çã o) . Há dois critérios que auxiliam nesse controle
de qualidade, ambos baseados na composiçã o gf anulomé trica das matérias-primas que
devem entrar na mistura:
a ) critério TV A (Hoffmeister, 1973): compara a distribuição granulomé trica das
matérias-primas, tendo por base as seguintes regras:
- geralmente sã o fisicamente compatíveis matérias-primas que não difiram em mais
de 10 % ao longo da distribuiçã o granulomé trica; I
- uma diferença maior na regiã o dos grâ nulos pequenos não afeta tanto a segrega çã o
quanto a mesma diferença na regi ã o dos gr â nulos maiores;
- matérias-primas que difiram em 20 % ou mais em qualquer região tem grande
tendência a segregaçã o.
b) critério CFI (CFI, 1982): é um critério de origem canadense e utiliza as seguintes
propriedades:
- SGN ("Size Guide Number"), nú mero guia qu de referência de tamanho; é o tamanho
m édio das partículas, isto é, o tamanho de partícula que divide o produto em duas
metades iguais: uma cujas partículas sã o menores e outra cujas partículas são
maiores que o referido n ú mero guia . Esse r ú mero é calculado em milímetros, até a
segunda casa decimal e multiplicado por 100. Um produto com SGN = 220
corresponde a 2,20 mm e significa que metade do produto tem partículas menores
e outra metade tem partículas maiores de 2,20 mm .
- UI ("Uniformity Index "), índice de uniformidade do produto: é a rela çã o entre o
tamanho (em mm ) das partículas menores e o tamanho das partículas maiores
expresso em percentagem. Assim, um produto com UI = 100% significa que todas
as partículas têm o mesmo tamanho; UI = 50% significa que as partículas menores
têm metade do tamanho das partículas maiores. Uma alternativa dessa propriedade
é o Va ( varia çã o média do tamanho das part ículas) ( EBA, 1997).
I
Dureza
Fertilizante
Valor m é dio Faixa d è varia çã o
g / gr ã o
Nitrato de am ó nio 1.371 998 -1.568
Fosfato monoam ô nico ( MAP) 3.734 1.505-5.724
Fosfato diam ô nico ( DAP) 2.686 1.616 -5.349
FERTIILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 751
Fluidez
Quanto menor o â ngulo de repouso, maior a| fluidez. Produtos com escoamento livre
apresentam â ngulo de repouso entre 30 e 35 graus. Quanto maior a umidade do produto,
maior o â ngulo de repouso e menor a fluidez ( puz, 1993).
Densidade
^
com densidade 1,27 kg dm 3, e 63 % de superfos ato triplo, com densidade 2,12 kg dmr3,
'
FERTILIDADE DO SOLO
752 JOS é CARLOS ALCARDE
Quadro 11. Efeito da densidade e do tamá nho de partícula sobre a distâ ncia de lançamento por
uma adubadora centr ífuga
Densidade ( kg dm -3 )
Tamanho da part í cula
1,0 1,5 2,0
1 3, 30 4,10 4,80
N úmero de Nutrientes
FERTIIJIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 753
Superfosfato simples -
18 20 - 85 Ca (H 2P04) 2.H 20<1 > CaHP04; fosfato de Fe ( Al ) e Ca
.i
Superfosfato triplo 42-46 - 87 Ca ( H 2 PO4) 2-H 2O0 > CaHP04; fosfato de Fe ( Al ) e Ca
Fosfato monoam ô nico
( MAP)
52-55 - 100 NH4 H 2PC> 4 Fosfato de Fe ( Al ) e Ca
\
Fosfato monocá lcico. (2) Fosfato tricá lcico.
(1 )
FERTILIDADE DO SOLO
754 JOS é CARLOS ALCARDE
Compostos Indesejáveis
Material Ni Cd Cr Pb
f
mg kg-1 —
Rocha fosfatada Catalã o 45 3.7 19 58
Concentrado apatí tico fino Araxá 97 7 44 127
Superfosfato triplo 3 2.6 14 2
Superfosfato simples 44 2.5 26 92
Fosfato monoamô nico (MAP) 24 3.5 17 18
Fosfato diam ô nico ( DAP) 24 2.7 17 1
Termofosfato 271 3 1.070 5
NPK 4-14-8 30 11 19 169
Fonte de micronutrientes: BR5 103 563 30 1.221
Fonte de micronutrientes: Nutricitro 461 35 110 7.494
FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 755
Certos fertilizantes podem afetar a rea çã o dos solos. Como exemplos mais
significativos têm-se os nitrogenados amoniacais que sã o acidificantes e o termofosfato
magnesiano que é alcalinizante (Quadro 14). Os fertilizantes orgâ nicos podem baixar
ou elevar o pH do solo, dependendo da sua natureza.
kg t 1
Amónio anidra 1.480
Sulfato de amónio 1.100
Fosfato diamônico ( DAP) 880
Fosfato monoamônico (MAP) 600
Nitrato de amónio 600
Nitrocá lcio 280
Sulfonitrato de amónio 840
Uréia 840
Salitre do Chile (NaNCb) - 290 ( B )
Salitre potássico (KNOa ) - 260 (B )
Cloreto de potássio 0
Sulfato de potássio 0
Sulfato de potássio e magnésio 0
Superfosfato simples 0
Superfosfato triplo 0
Termofosfato magnesiano - 8 ( B)
Farelo de algod ão 90
Composto de lixo - 70 ( B)
Caule de planta de fumo - 250 (B )
(1 )
kg de CaC03 equivalente, em excesso.
Fonte: Adaptado de Tisdale et al . (1985 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
756 JOS é CARLOS ALCARDE '
Solubilidade
As plantas absorvem nutrientes a partir da soluçã o do solo, um sistema complexo
que envolve um n ú mero amplo de espécies químicas, relacionadas entre si pelos diferentes
sistemas de equilíbrio químico presentes.
Quando se aplica um fertilizante, pretende-se que ele consiga estabelecer uma
concentra çã o adequada de nutrientes na soluçã o do solo. J á nas primeiras observa ções
relacionadas com nutriçã o mineral de plantas, constatou-se que os fertilizantes sol ú veis
em á gua eram mais eficientes que fertilizantes orgâ nicos tradicionais, como estercos, por
exemplo. Mas há que se considerar o outro lado desta questão, ou seja, a f á cil dissolução
deixa os nutrientes sujeitos a perdas, como lixivia çã o ou insolubilização, esta no caso do
P, principalmente.
Para os fertilizantes, usualmente a solubilidade em á gua dos seus nutrientes exprime
disponibilidade à s plantas. Poré m, para o P, que é um elemento bastante estudado sob
esse aspecto, também são empregados outros extratores como a soluçã o neutra de citrato
de am ónio (CNA) e a solução de ácido cítrico para avaliar a sua disponibilidade (veja
capítulo VIII).
Uma quest ã o que tem despertado interesse é a solubilidade das fontes de
micronutrientes nas misturas de fertilizantes ( Vale, 1997, 2001; Bastos, 2004) .
Qualquer fertilizante que libere seus nutrientes no decorrer de um per íodo
relativamente longo pode ser considerado, em princípio, como sendo de liberaçã o lenta
ou libera çã o controlada e, neste aspecto, os fertilizantes nitrogenados foram os mais
estudados. O controle da solubilidade em fertilizantes nitrogenados já foi estudado
considerando-se o uso de materiais pouco sol ú veis, representados principalmente pelo
composto uréia-aldeído; materiais solúveis recobertos, como uréia recoberta por S e por
inibidores de nitrifica çã o (Hignett, 1971) . O baixo custo dos fertilizantes potássicos
desestimula esfor ços de se aumentar sua eficiência de aproveitamento, reduzindo-se a
velocidade de libera çã o de K. Com rela çã o aos fertilizantes fosfatados, a tendência é
justamente oposta, ou seja, pesquisas sã o dirigidas para obtençã o de fontes solúveis,
entretanto, com características que reduzam a rea çã o com o solo, conseguida, em parte,
aumentando-se o tamanho dos grâ nulos das fontes sol úveis.
FERTILIDADE DO SOLO
5
1 i
• I
í
i
XII - FERTILIZANTES 757
Meses
14-14-14 3-4
19-6-10 3-4
J
18-5-9 5-6
15-10 -1 + Ca , Mg, S e micronutrientes 5-6
22-4-8 + Mg, S e micronutrientes 8-9
17-7-12 12-14
Higroscopicidade
É a tend ência que os materiais apresentam em absorver á gua do ar atmosf érico. É
expressa pela propriedade umidade relativa crítica (URc), a qual é definida como a umidade
\
í FERTILIDADE DO SOLO
758 JOS é CARLOS ALCARDE
relativa do ar má xima a que o produto pode ser exposto sem absorver umidade (Figura 5).
Quanto menor a URc, mais higroscópico é o produto. Mé todo para a determinaçã o da
higroscopicidade é descrito por Hoffmeister (1979), e FM (1996). Observa -se nessa figura
que a mistura de dois fertilizantes simples tem sempre URc menor que a de qualquer
componente, ou seja, maior higroscopicidade.
Alta higroscopicidade de uma mistura caracteriza incompatibilidade f ísico-química .
Sã o incompatíveis, por exemplo, uréia e nitrato de amónio (URc = 18,1); cloreto de potássio
e nitrato de cá lcio ( URc = 22,0); que sã o razoavelmente incompatíveis, por exemplo, uréia
e DAP (URc = 62); uréia e cloreto de potássio (URc = 60,3); sulfato de amónio e superfosfatos
( URc = 57,7); uréia e superfosfatos ( URc = 65,1) (Figura 5).
Alcarde et al. (1992) avaliaram a higroscopicidade de diversos fertilizantes simples,
misturas e corretivos comercializados no Brasil.
O grau de higroscopicidade do fertilizante ou a magnitude de sua umidade cr ítica
determina, sobretudo, o tipo de embalagem a ser empregada, ou seja , o quanto se deve
isolar o produto da umidade. Também restringe o grau de manipulaçã o e a possibilidade
de armazenamento em ambiente aberto.
A figura 6 constitui-se na informaçã o prá tica mais ampla sobre incompatibilidades
química (volatiliza çã o de nitrogénio ou insolubilizações de nutrientes) e ou fisico-química
( higroscopicidade ) entre fertilizantes, inclusive considerando também corretivos de
acidez.
Figura 5. Umidade relativa crítica de sais fertilizantes e misturas a 30°C. Os valores são em
percentagem de umidade relativa.
0 ) Valores aproximados .
Fonte : Hoffmeister (1979 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 759
Figura 6. Compatibilidade entre v á rios fertilizantes minerais simples, fertilizantes orgâ nicos
e corretivos de acidez.
Fonte : Lopes (1998 ) .
Empedramento
FERTILIDADE DO SOLO
760 JOS é CARLOS ALCARDE
índice Salino
índice salino é uma propriedade dos fertilizantes que informa sobre sua capacidade
de aumentar a pressão osmótica da soluçã o do solo (Quadro 16). O fenômeno da osmose
é a movimentaçã o de solvente (á gua ) através de membranas semipermeá veis, no sentido
da soluçã o de menor pressã o osmó tica para a de maior pressã o osmó tica. Assim, se a
pressã o osmó tica da soluçã o do solo tornar-se superior à da soluçã o celular das ra ízes,
tem-se o caminhamento da á gua das células para o solo, causando a seca fisiológica . As
plantas, sobretudo as mais novas, sentem os efeitos do aumento da salinidade.
*
Quadro 16. índice salino de diversos fertilizantes, determinado em rela çã o ao nitrato de sódio,
tomado como padr ã o com índice 100
Pela Indústria
O conceito de controle de qualidade industrial atualmente é bastante amplo,
extrapolando os aspectos técnicos e abrangendo aspectos psicoló gicos, sociais,
mercadológicos e até de proteçã o ambiental: é o Controle da Qualidade Total.
É um tipo de controle que está sendo universalizado por meio de normas
internacionais: as normas ISO (International Standardization Organization) que, ao serem
corretamente adotadas, possibilitar ã o que a empresa ostente orgulhosamente os
CERTIFICADOS ISO: ISO 9.001, ISO 9002, ... ISO 14.000. A tendência é a de que empresas
que não possuírem certifica çã o da ISO ficar ã o fora do mercado.
FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 761
No aspecto estritamente técnico, o controle da qualidade pela ind ústria tem por
objetivo compatibilizar a maximiza çã o da produtividade, da produçã o e da qualidade
do produto com a minimiza çã o dos custos de produçã o. Isso é feito por um conjunto
sistemá tico e metódico de procedimentos que permitem conhecer minuciosamente e
administrar todos os fatores envolvidos no processo produtivo.
Esses procedimentos sã o diferentes em funçã o do tipo de ind ústria de fertilizante,
isto é, produtores de maté rias-primas (amónia, rocha fosfatada, á cido sulf ú rico e ácido
fosf órico), produtores de fertilizantes simples ou produtores de misturas ou misturadores.
A Associa çã o Nacional para Difusã o de Adubos ( ANDA ), que congrega a maioria das
ind ústrias de fertilizantes do País, publicou, por intermédio do seu Comité de Qualidade,
Manuais Técnicos de Controle de Qualidade para os diferentes tipos de ind ústrias
( Marzinoto Filho et al., 1988; Cerciello et al., 1991; Alcarde, 1999 ) .
O controle da qualidade nas ind ústrias produtoras de mat é rias-primas e de
fertilizantes simples é bastante mais complexo do que nas ind ústrias misturadoras. No
primeiro caso, o controle deve ser gerenciado por engenheiros químicos ou industriais .
No caso das misturadoras e principalmente nas misturadoras de gr â nulos que
representam a maioria dos produtores de fertilizantes, o controle é bastante mais simples,
podendo facilmente ser exercido por engenheiros-agr ó nomos. Aqui reside o fato do
interesse direto do setor agronó mico pelo controle de qualidade industrial.
FERTILIDADE DO SOLO
762 JOS é CARLOS ALCARDE
Pelo Consumidor
O objetivo desse controle é se proteger. Começa pela escolha de uma empresa
produtora conceituada no mercado, continua por uma negocia çã o sobre exigência de
qualidade e preço e termina pela análise da qualidade do produto recebido.
Para tanto, é fundamental a correta coleta da amostra, de maneira que ela seja
representativa do lote ( Brasil, 2007) . Basicamente separa -se aleatoriamente 10 % dos
.
sacos do lote e retira -se uma pequena quantidade de adubo de cada saco, colocando
todas em um recipiente limpo, homogeneizadas e, do todo, retira -se uma quantidade
aproximada de 250 g que deve ser colocada em saquinho plástico bem fechado. Em
seguida essa amostra deve ser enviada a um laboratório capacitado a executar análise de
fertilizantes, visto que nã o é qualquer laborató rio que tem essa credencial .
Qualquer divergência entre o produto combinado na compra e o produto recebido
deve ter sua solução buscada primeiramente com o fornecedor do produto, procedimento
esse que chega a bom termo na maioria dos casos; caso contr á rio, deve-se apelar para a
fiscaliza çã o.
AMÓ NIA
I
ÁCIDO Ó XIDO DO POT Á SSIO ÁCIDO Á CIDO
NÍ TRICO HIDR Ó XIDO FOSF Ó RICO CLOR Í DRICO
DE CÁ LCIO
NITRATO DE
AM ÓNIO
U S O F I N A L C O M O FERTILIZANTE
FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 763
ROCHA
FOSFATADA
1
FOSF. NAT. SUPERFOSF. Á CIDO NITRO - FOSFATO
PARC. Á CID. SIMPLES FOSFÓ RICO FOSFATOS BIC Á LCICO
FOSFATOS TERMO-
FOSFATO
DE FOSFATOS
NATURAL AMONIO
I
USO FINAL COMO FERTILIZANTE
MISTURA DE FERTILIZANTES
em á gua dever á ser igual ou superior a 24 %. Os teores de N, P2Os e K20 das misturas
NPK sã o expressas em n úmeros inteiros.
*
(2 > Na mesma amostra do fertilizante é feita a extra çã o do P sol ú vel em á gua e, após esta extra çã o, na
amostra residual, é feita uma extra çã o adicional com CNA . Dado o efeito complexante do citrato
com o Ca e a estabilidade deste complexo nas condi çõ es de pH na faixa dia neutralidade, há a
extra çã o de formas adicionais de P nã o-solú veis apenas em á gua, na primeira extra çã o ( veja quadro
7, do capítulo VIII ). Com essas duas extra ções tê m-se o P sol ú vel em á gua, da primeira extra çã o, e
o P sol ú vel em CNA, da segunda, tendo-se també m, pela somat ória , o P sol ú vel em á gua mais o
sol ú vel em CNA ( P sol ú vel em CNA mais á gua ) .
FERTILIDADE DO SOLO
764 JOS é CARLOS ALCARDE
Cálculos de Misturas
100 kg Cloreto de K 60 kg K 20
Z 80 kg K20
Z = 133 kg de cloreto de potá ssio
FERTILIDADE DO SOLO
XII - FERTILIZANTES 765
FERTILIDADE DO SOLO
766 JOS é CARLOS ALCARDE
500 kg 20 kg de N
4-14-8 70 kg de P2Os
40 kg de K 20
Deverão ser acrescentados:
100-20 = 80 kg de N ou
80 x (100 / 45) = 177,8 kg de uréia
100-70 = 30 kg P2Os ou
30 x (100 / 20) = 150 kg d é superf . simples
100-40 = 60 kg de K 20 ou
60 x (100 / 60) = 100 kg de cloreto de K
e, 1.000 - (500 + 177,8 + 150 + 100) = 72,2 kg de enchimento
LITERATURA CITADA
ABREU J Ú NIOR, C.H.; BOARETTO, A. E.; MURAOKA, T. & KIEHL, J.C. Uso agrícola de resíduos
orgâ nicos potencialmente poluentes: Propriedades químicas do solo e produçã o vegetal.
In: TORRADO, P.V.; ALLEONI, L.R.F.; COOPER, M.; SILVA, A.P. & CARDOSO, E.J ., eds.
Tópicos em ciência do solo. Viçosa, MG, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2005.
v .4. p.391-470.
ALCARDE, J.C. Manual de controle de qualidade numa Ind ústria misturadora de fertilizantes.
São Paulo, ANDA, 1999. 47p.
ALCARDE, J.C.; GUIDOLIN, J.A. & LOPES, A.S. Os adubos e a eficiência das aduba ções. Sã o
Paulo, ANDA, 1989a . 35p. ( ANDA, Boletim Técnico, 3)
ALCARDE, J.C.; MALA VOLTA, E.; BORGES, A.L.; MUNIZ, A.S.; VELOSO, C . A .; FABRÍCIO,
A.C. & VIEGAS, I.J.M. Avalia çã o da higroscopicidade de fertilizantes e corretivos. Sei.
Agric., 49:137-147, 1992.
( 3)
Os micronutrientes nas misturas têm suas garantias expressas em teores totais, como manda a lei .
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIA ÇAO DA FERTILIDADE DO
SOLO E RECOMENDA ÇÃ O DE
FERTILIZANTES
Reinaldo Bertola Cantarutti 17, Nairam Fé lix de Barros17, Hermí nia Emilia
Prieto Martinez 27 & Roberto Ferreira Novais17
1/
Departamento de Solos, Universidade Federal de Viçosa - UFV. Av . PF1 Rolfs, s / n,
CEP 36570 - 000 Vi çosa ( MG ) .
cantarutti @ ufv .br; nfbarros@ ufv . br; rfnovais@ ufv . br
27
Departamento de Fitotecnia , Universidade Federal de Vi çosa - UFV .
herminia @ ufv .br
Conte ú do
INTRODU ÇÃ O 770
MÉTODOS BASEADOS NA AN Á LISE QU ÍMICA DO SOLO 772
Seleçã o do Mé todo de Aná lise Qu ímica do Solo - "Correla çã o" 773
Calibração do Mé todo de Aná lise Qu ímica do Solo - "Calibra çã o" 778
Amostragem de Solo 785
Fundamentos da Amostragem 785
Fundamentos da Amostragem de Solo 786
Procedimento da Amostragem do Solo 792
Sistemas de Interpretação de Aná lise de Solo e Fertilizantes 796
Tabelas de Interpretaçã o 797
Tabelas de Recomendações de Fertilizantes 801
Sistema Simplificado de Interpretação *de Aná lise de Solo e Recomendaçã o
de Corretivos e Fertilizantes 805
Sistemas de Recomenda çã o de Fertilizantes com Base em Modelagem 811
Sistemas FERTICALC e NUTRICALC 812
MÉTODOS COM BASE NO ESTADO NUTRICIONAL DAS PLANTAS 817
Diagnose Visual 817
Nitrogénio : 818
Cálcio 818
SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. NOVAIS, R.F., ALVAREZ V ., V .H., BARROS,
N.F ., FONTES, R.LF., CANTARUTTI, R .B . & NEVES, J .C.L . ) .
770 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
Magnésio 820
Enxofre 820
Ferro 820
Manganês 820
Boro 820
Molibdênio 821
Zinco 821
Cloro 821
Diagnóstico com Base na Aná lise de Tecidos 821
Fatores que Influem na Relaçã o entre Teor de Nutrientes e Crescimento ou Produçã o 823
Fatores Pertinentes à Planta 823
Obtenção dos Padrões de Referência ou Normas 824
Escolha do Tecido 825
Amostragem, Preparo das Amostras e Aná lise do Tecidt) Vegetal 826
Coleta das Amostras 826
Preparo e Remessa das Amostras ao Laboratório 826
Interpreta çã o dos Resultados da Aná lise Foliar 829
Nível Crítico e Faixa de Suficiência 830
Fertigramas 834
Desvio do Percentual Ótimo - DOP 835
índices Balanceados de Kenworthy 836
Sistema Integrado de Diagnose e Recomenda çã o - DRIS 837
Potencial de Resposta à Aduba çã o 841
-
Diagnose da Composiçã o Nutricional CND 842
Outras Técnicas de Diagnóstico 844
Determinaçã o de Frações Ativas ou Sol ú veis 844
Mé todos Bioqu ímicos e Enzimá ticos 844
LITERATURA CITADA 845
INTRODUÇÃ O
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 771
(1 )
0 conhecimento envolvido na constru çã o de modelos empíricos deriva de experimentos ou da obser -
vaçã o de fenômenos. Modelos te ó ricos fundamentam -se no conhecimento cient ífico dos princípios,
ou seja, dos mecanismos. Sã o os modelos mecan ísticos .
FERTILIDADE DO SOLO
772 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
planta e do solo, com a resposta da planta. O modelo mais difundido utiliza a análise de
solo como técnica de diagnóstico e fundamenta-se na identifica ção da classe de fertilidade
em que o solo se enquadra e na recomendaçã o com base em tabelas de fertiliza ção. Mais
recentemente, tem sido impulsionado o desenvolvimento de modelos fundamentados no
balanço nutricional, que, em síntese, empregam resultados de aná lise química de solo e
a demanda nutricional da planta para determinada produtividade esperada .
Dependendo do grau de sofistica çã o, tais modelos podem ter maior ou menor cará ter
mecanístico.
Quando a técnica de diagnóstico empregada é a aná lise de planta, o modelo mais
simples fundamenta -se na verificaçã o da suficiência ou nã o dos teores dos nutrientes na
planta, com base nos níveis críticos, já estabelecidos. Desvio Percentual Ó timo ( DPO),
índices Balanceados de Kenworthy e Sistema Integrado de Diagnose e Recomenda çã o
( DRIS) sã o exemplos de modelos empíricos utilizados.
A avalia çã o da fertilidade do solo por meio da aná lise qu ímica de sua amostra
requer não só mé todos rá pidos de análise, que produzam indicadores da disponibilidade
de nutrientes, da salinidade ou da fitotoxidez, mas també m crité rios de interpreta çã o
dos resultados e de recomendação de corretivos e de fertilizantes (Sims, 1999). Além da
rapidez, esse modelo tem a vantagem de predizer a disponibilidade de nutrientes ou o
excesso de elementos tóxicos no solo, antes do cultivo, tendo car á ter preditivo (Tisdale et
al., 1984 ) . i
O mé todo de aná lise química de solo fundamenta -se no uso de extratores químicos.
Extratores sã o soluções ou substâ ncias que removem do solo, por complexação, desorção,
solubiliza ção, troca iônica ou hidr ólise, formas qu ímicas dos nutrientes consideradas
disponíveis para a planta, ou de elementos químicos promotores de salinização do solo
ou de toxidez para as plantas. Uma fra çã o das quantidades extraídas encontra -se na
soluçã o do solo (fra ção ativa ou fator intensidade). A maior fraçã o, no entanto, encontra-
se integrada à fase sólida, em equilíbrio com a fra çã o ativa , responsá vel pela reposiçã o
na soluçã o do solo (fra çã o lá bil ou fator quantidade - veja capítulo IV). O mé todo de
aná lise qu ímica de solo inclui , além do extrator, os demais procedimentos que o
caracterizam, tais como: a relação entre a massa ou volume de solo e o da soluçã o extratora,
a forma e o tempo de agitação - tempo de reação ou de equilíbrio - filtraçã o ou decantação
da suspensão solo-extrator e o mé todo de dosagem analítica do nutriente ou do elemento
químico de interesse.
A construçã o desse modelo de avalia çã o da fertilidade do solo requer duas etapas:
a seleçã o do m é todo de an á lise ( correla çã o ) e a calibra çã o de seus resultados,
estabelecendo-se critérios de diagnóstico e a quantidade (dose) de corretivos ou de
fertilizantes a ser recomendada .
FFRTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 773
2401 (a ) ( b)
ca
c
<a
. ca 180
*
Q *
ca C
O Q
~o u>
_
c ca 120 - 4
*
4
4
í O £
60 - -
t
4 -
t
£
£
O *
O 4 4
0
0 8 16 24 32 40 0 8 16 24 32 40
3
;
Teor no solo , mg dm '
Figura 1. Relaçã o entre o conte údo de nutriente na planta de acordo com o teor do nutriente
i no solo, caracterizando correlação alta ( a ) e baixa ou não-significativa (b).
( 2)
Expressã o muito utilizada para K que, em casos de elevada disponibilidade no solo, a planta pode
absorvê-lo em quantidades superiores à sua demanda metabólica .
(3)
Acontece, por exemplo, quando o ac ú mulo de biomassa em uma planta é superior, relativamente, à
quantidade do nutriente absorvida .
FERTILIDADE DO SOLO
774 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
<4 ) A id éia de dose adequada é subjetiva. Na prá tica, trabalha -se com uma dose elevada, mas que não
seja excessiva para causar toxidez ou desequilíbrio nutricional.
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 775
teor desse nutriente extraído por um mé todo de aná lise ( variável x ) atendem a essas
premissas . A intensidade da correla çã o é expressa pelo coeficiente de correla çã o -
coeficiente de correlaçã o de Pearson ( r):
Sxy
r = 1/2
( Sxx syy )
FERTILIDADE DO SOLO
776 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
(a ) (b)
ss 100 +
<0
- *t
>
(O
<U
80
60 n*
a 40 -
3
D 20 -
o +
0L
0
0 20 40 60 80 100 120 0 20 40 60 80 100 120
K no s o l o , mg dm -3
Figura 2. Rela çã o entre produçã o relativa para a maté ria seca de plantas de eucalipto, crescidas
em vasos, e teores de potá ssio extra ídos por Melhich-1.
Fonte : Adaptado de Prezotti (1985).
da planta. Além disso, esses experimentos devem ser repetidos em v á rios anos, para
aumentar a confiança na aplicabilidade do m é todo. Ressalta-se, no entanto, que
experimentos de campo podem resultar em menores coeficientes de correlaçã o, devidos
às variá veis nã o controladas, como as ambientais. A correlação pode ser melhorada,
utilizando-se a produçã o relativa, em lugar da produção absoluta ou a quantidade do
nutriente absorvido, visto que se elimina ou minimiza a influência de variá veis nã o
controladas. A produçã o relativa aqui é expressa em rela çã o à produçã o má xima
alcançada em cada experimento.
Diante do tempo e recurso demandados com experimentos para estudos de
correla çã o, a avalia çã o preliminar de novos extratores pode fundamentar -se nas
determina ções químicas e sua correla çã o com resultados obtidos com extratores de uso
já consagrado. Resultados de estudos realizados com o extrator Mehlich-1, com o I
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 777
EDDHA ou Mehlich-1 aumentou de 0,45 para 0,75 com a inclusão do pH em uma equaçã o
de regressã o m últipla .
A sensibilidade do mé todo, que demonstra sua capacidade de recuperar o nutriente
diante do aumento de sua disponibilidade, é outra característica importante. O aumento
da disponibilidade é conseguido com a adiçã o de doses do nutriente em questã o. Assim,
utilizam-se, por exemplo, amostras de solos que receberam doses crescentes do nutriente,
tanto de experimentos de campo como de casa de vegetaçã o, aqueles da fase de calibraçã o.
Regressã o estabelecida entre os teores do nutriente extraído pelo mé todo de análise
( variá vel y ) e as doses do nutriente aplicadas ( variá vel x) possibilita estimar a capacidade
de recupera çã o do mé todo. Prezotti (1985), por exemplo, constatou que a capacidade de
recuperaçã o de K pelos extratores Mehlich-1, Bray-1 e NH4OAC decresceu com o teor de
argila dos solos, decorrente da maior capacidade de adsorçã o do K nos solos argilosos.
Os teores de P obtidos com os extratores Mehlich-1, Bray-1 e Resina de Troca Aniônica
correlacionam-se, em geral, significativamente, com indicadores de crescimento da planta
- produçã o de matéria seca e P absorvido (Freire et al., 1979; Muniz et al., 1985; Novais et
al., 1988; Viégas, 1991). A capacidade de extraçã o do Mehlich-1 e do Bray-1, que sã o de
natureza á cida, no entanto, correlaciona -se negativamente com o teor de argila , com a
capacidade má xima de adsorção de P e, positivamente, com o P remanescente ( ver capítulo
VIII ), caracter ísticas estas relacionadas com o fator capacidade de P do solo (Freire et al.,
1979; Muniz et al., 1985; Viégas, 1991). Freire et al. (1979 ) constataram que a capacidade
de recupera çã o de P pelos extratores Mehlich-1 e Bray-2 diminuiu significativamente
( r = - 0,96) com o aumento do teor de argila, para Latossolos com teor de argila de 180 a
748 g kg 1 (Figura 3) . Muniz et al . (1985) verificou que a capacidade de extração do
'
Figura 3. Teores de f ósforo extraídos pelo extrator Mehlich-1 (a ) e Bray -2 ( b ) de acordo com
doses de f ósforo aplicadas em dois Latossolos com diferentes teores de argila.
Fonte: Freire et al . (1979) .
FERTILIDADE DO SOLO
778 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 779
A inexatid ã o do processo gr á fico na definiçã o das duas popula ções pode ser
superada pelo mé todo estatístico iterativo desenvolvido por Cate & Nelson (1971). Para
os cá lculos de acordo com este processo os dados experimentais sã o dispostos em ordem
crescente do teor no nutriente no solo (variá vel x ) extra ído pelo mé todo de análise,
acompanhados das respectivas produções dos tratamentos -Nutr e + Nutr e as produções
relativas (variá vel y) (Quadro 1) . Os dados sã o divididos em duas popula ções (Pop A e
Pop B), de modo que, inicialmente, a Pop A contenha os dois primeiros dados e a Pop B,
os demais. Os n ú meros de dados por populaçã o v ã o-se alterando até que a Pop B
compreenda os dois ú ltimos dados e a Pop A os demais. O mé todo fundamenta -se na
maximiza çã o da soma de quadrados, que reflete o peso da soma de quadrado entre a
diferença da PR média das duas popula ções e PR média geral . Em outras palavras,
define-se quantitativamente o ponto em que ocorre a má xima diferença média entre duas
popula ções. O mé todo pode ser processado por meio do cá lculo do coeficiente de
determina çã o ( R2), indicado por Braga (1972 ):
( l y )2
em que: soma de quadrado total SQ1 = Zy2 - - - —
soma de quadrado da Pop A SQ Pop A = Z y - ~pA
* ^
soma de quadrado da Pop B SQ Pop B = Z y -
^ ^
O nível crítico ser á o teor do nutriente intermediá rio entre o teor da Pop A,
correspondente ao maior valor de R 2 e o teor da Pop B imediatamente subsequente. Para
os dados apresentados no quadro l / que sã o os mesmos que ilustram a figura 1, o nível
cr ítico será de 50 mg dm 3 de K. Apesar de ser o mesmo valor do NC encontrado pelo
'
método grá fico (Figura 2b ), este mé todo é mais exato e possibilita uma interpreta çã o
mais f ácil dos dados.
Definições ainda mais adequadas do NC podem ser obtidas matematicamente por
meio da fun çã o descontínua - Li:iear Respovse Plateau - ou de funções curvilineares
(Figura 4). Por meio dessas, relaciora -se funcionalmente, a produçã o relativa com os
teores extraídos pelo método ae aná lise. A partir destas funções, estima -se o teor do
nutriente no solo que define a produ çã o de m á xima eficiência econ ó mica (80 a 90 % da
produçã o máxima ).
FERTILIDADE DO SOLO
i
Quadro 1. Produ çã o absoluta e relativa de maté ria seca de plantas de eucalipto em vaso com
ou sem a aplica çã o de potá ssio, teor de potássio no solo extraído pelo Mehlich-1 e dados
necessá rios para o cá lculo do nível cr ítico de potá ssio pelo mé todo iterativo, de acordo
com Cate & Nelson (1971)
í
g / vaso % mg dm -3 mg dm 3 *
1, 63 3, 80 43 16
7, 50 10,51 71 27 405,15 1.411 ,60 0, 4502 28
8, 63 10, 22 84 29 902, 54 1.404, 32 0, 3018 30
5, 93 7, 08 84 31 1.132, 88 1.390.31 0, 2364 32
6,10 8 ,47 72 33 1.134 , 46 1.108 32 . 0, 3212 33
8 , 07 12, 35 65 33 1.160,13 400, 77 0,5276 35
8 , 27 9, 71 85 37 1.358,17 305 , 60 0, 4965 42
7 , 17 8 , 73 82 47 1.445,49 70 ,10 0, 5413 50 *4 *
10 ,07 10,55 95 53 1.878,08 50 , 47 0, 4163 71
14, 90 14, 30 104 89 2.601 , 68 30,72 0 , 2033 91
15,97 16,84 95 93
19 ,60 19 , 09 103 119
SQ total = 3.304,15. * > Média entre ú ltimo teor de K na popula çã o A e o primeiro da popula çã o B. Por exemplo,
(1 ) 2
(a ) (b) (c ) 4
°; 100 4
4
4 4
4 4
* v*
CS
80
4 4 4
<y 60
Quadr ática Mitscherlich LRP - Linear Response
£O 40 * 4 4 Plateau
Figura 4. Fun ções matem á ticas aplicadas para relacionar produ çã o relativa com teor do
nutriente extraído do solo por algum mé todo de aná lise, no processo de calibra çã o do
mé todo.
nutriente. Sem esta percepçã o, tais procedimentos são adequados para definir o NC e as I
encontraram, por meio do método gráfico e interativo de Cate & Nelson, valores de NC de ‘
5
FERTILIDADE DO SOLO
;
!
:?
j
í
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 781
100
ò-
.
P
»
n 80
>
t ta 60
7
&o
í
40 Probabilidade
de resposta
econó mica
1.
Q
20
MB B M A MA
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
3
Teor de K no solo, mg dm '
Figura 5 . Crit é rios para diagn óstico da fertilidade do solo, considerando classes de
disponibilidade muito baixa (MB), baixa (B), média (M) alta (A ) e muito alta (MA ), de
acordo com teores de potássio relacionados com a produçã o relativa e tend ência da
probabilidade de resposta económica à adubaçã o.
Fonte: Adaptado de Freitas et al. (1996).
i
O NC pode variar, também, com o mé todo de análise, com a espécie, com a idade da
cultura ( Novais et al., 1986; Santos, 2002) e com a sensibilidade do extrator ao fator
: capacidade do solo ( Novais & Kamprath, 1979; Muniz et al., 1987). As classes de
í
disponibilidade, conseqiientemente, variarã o com esta característica dos solos. Assim, o
íi conceito preferível para NC é o teor do nutriente no solo correspondente à disponibilidade
1s para se obter a produção de má xima eficiência económica, quando os demais nutrientes
] e fatores de produçã o estão próximos do nível adequado ( Alvarez V., 1996).
ít •
Utilizando regressões que descrevem a resposta da produção da cultura - curvas de
respostas (Figura 6a ) e a recuperaçã o do nutriente pelo método de análise (Figura 3), de
acordo com as doses aplicadas do nutriente ao solo, podem-se estabelecer níveis críticos
e classes de disponibilidade variáveis com o fator capacidade do solo (Alvarez V., 1996).
FERTILIDADE DO SOLO
782 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
doses de P necessá rias para atingi-las (650 e 562 kg ha 1 de P205, respectivamente ) . As '
doses que condicionam a máxima produção estão associadas à classe de alta disponibilidade
( Figura 6b ). Do mesmo modo, estimam-se as doses de P necessá rias para alcançar 50, 70
e 80 % das produções má ximas, que sã o os limites das classes de disponibilidade muito
baixa, baixa e m édia (Figura 6b ). Por meio das curvas de recupera çã o para o extrator
Mehlich-1, por exemplo ( Figura 3a ), estimam-se os teores no solo associados com estas
doses de P, isto é, os teores que delimitam as classes de disponibilidade de acordo com o
fator capacidade do solo ( Figura 6b ). Desta forma, para este exemplo, o NC de P pelo
Mehlich-1 é de 14,6 e 5,6 mg dm 3 de P, para os Latossolos de textura arenosa (180 g kg
"
(a )
2.400 -1
1.500
1.800 1.200
Latossolo com
Latossolo com 900 748 g kg'1 de argila
1.200
7
180 g kg‘1 de argila y = 393,8 - 2, 7 P + 0, 0024 P2 + 68 C
(0 600
JZ y = 422, 8 - 3, 0 P + 0, 0033 P2 653, 5 C - 161, 3 C2 Para C = 3, 8 t ha 1 calc á rio
'
a» 600
Para C = 2, 1 t ha 1 calc ário
'
300
.5, 0 0
o
w
o ( b) P d i s p o n í vel , mg d m 3
'
"O
1.4 6,8 14,6 25 0,7 2 ,8 5.6 10
8
V3
2.400
I
1.500
T 100
í (0
® 1.800 i 1.200 !
i 80|
!
I co
i
900 60 «j
1.200 vr 4-
i
B I M
í
l A MA
600
MB B M
40 £o
600 Í" B 300 i
A MA
20 u -o
f
i
0 0 0 o.
0 200 400 600 800 0 200 400 600 800
1
D o s e s d e P2O5 , k g h a '
Figura 6 . Produ çã o de soja de acordo com doses de f ósforo aplicadas a lanço na forma de
superfosfato triplo e com calagem, considerando as exigências da soja, as características
dos solos (a ) e as classes de interpreta çã o da disponibilidade de P (b), para dois Latossolos
com diferentes texturas.
Fonte: Adaptado de Freire et al. (1979).
(5 )
Este modelo linear de regressã o, caracterizado por uma parábola , ( y = P0 + p1 x - P 2x2 ), possibilita
encontrar o valor da variá vel x que define o seu ponto de má ximo, calculando sua primeira derivada
(ôy / ôx = P1 - 2 P2 x) e igualando -a a zero. Com este valor de x, encontra -se, por meio da regressão, o
má ximo valor de y . Outros modelos utilizados para descrever curvas de produções também possi -
bilitam estas estimativas .
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 783
FERTILIDADE DO SOLO
784 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
y = Pox + M - M2-
Estabelece-se, também, a função matemá tica entre o custo da adubação (y), expresso
em valor monetá rio ( R$ ha 1) ou em termos de equivalência do produto, e as doses de
'
y = ax
O valor de a nesta equa çã o corresponde à rela çã o entre o custo do fertilizante e o
custo unitá rio do produto. Esse valor de troca tem a vantagem de ser menos variável do
que o valor em moeda corrente, sobretudo em condições de uma economia instá vel.
Reunindo as duas funções em um mesmo grá fico (Figura 7), identifica -se facilmente
a dose de maior eficiência económica como aquela relacionada com o ponto na curva de
incrementos da produçã o mais distante da linha de rela çã o do custo de produçã o.
Corresponde à maior margem de lucro. Matematicamente, estima -se esta quantidade
igualando-se a primeira derivada da funçã o de incremento da produção ao coeficiente
da funçã o de custo:
5y
= Pi - 2 p2 x = « i
ôx
X ai ~
Pi
2P 2
Figura 7. Curvas hipoté ticas para incremento da produçã o resultante da fertilizaçã o e do custo
do produto expresso em termos de equivalência do produto, de acordo com as doses do
nutriente e indica çã o da dose mais económica . A tangente 2,52 é a rela çã o entre os custos
unit á rios do nutriente e do produto.
2,52 - 15,05
x=
2(-0,014)
= 447,5 « 448 kg ha 1 do nutriente.
'
Amostragem de Solo
Fundamentos da Amostragem
O desenvolvimento das técnicas de amostragem deve-se à impossibilidade ou à
nã o-praticidade de caracterizar as popula ções por meio da caracterização de todos os
seus indivíduos. Se a popula çã o em estudo é constituída de indivíduos id ênticos / os
resultados obtidos a partir da avalia çã o de um deles podem ser extrapolados para os
V
FERTILIDADE DO SOLO
786 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
demais, isto é, caracterizar a populaçã o. Se, por outro lado, existirem pequenas variações
entre os indivíduos, talvez três indivíduos devessem ser avaliados, mas, se houver muita
varia çã o, uma amostra constituída de ma ís que três indivíduos será necessá ria para
melhor caracterizar a popula çã o.
Se todos os indivíduos da popula çã o fossem avaliados, obter -se-iam a mé dia, o
desvio-padr ã o e outras estatísticas exatas ( paramé tricas ) da caracter ística avaliada . Ao
avaliar uma amostra tê m-se, de fato, estimadores das estatísticas param é tricas. A
avalia çã o de todos os indiv íduos da popula çã o também nã o assegura que os resultados
obtidos sejam exatos, porque há erro nas medições das caracter ísticas de cada indivíduo
- por menor que seja, sempre há erro de determinaçã o.
Chega -se, portanto, à conclusã o de que um valor médio ( x) de determinada
característica de uma amostra é resultante da média real ou paramé trica (;u ) mais um erro
( E ), assim:
X = p+ E
Sabe-se que E é constituído de dois tipos de erro: o de amostragem (Eam ), decorrente,
por exemplo, de um n ú mero insuficiente de indivíduos amostrados, mais o erro de
determinação ou analítico (Ean ), que é inerente ao mé todo de mediçã o sendo afetado pelo
equipamento e pelo operador. Assim:
E - Eam + Ean
Em geral, o erro de amostragem é muito maior que o erro analítico. Assim, a exatidã o
na caracterizaçã o de uma populaçã o depende muito mais de cuidados para minimizar o
primeiro erro que o segundo. Isto quer dizer que a partir de uma amostra nã o-
representativa da popula çã o, por maior que seja a acurácia das medições, X nunca
representará p satisfatoriamente.
Sumariando: pode-se dizer que, para uma popula çã o homogénea ( todos os
indivíduos idênticos), a amostra pode ser constituída de um único indivíduo para que se
tenha uma caracterizaçã o da popula çã o, considerando-se um erro de determinação
aceitá vel. Por outro lado, para uma popula ção heterogénea, a amostra deverá ser
constituída de mais de um indiv íduo da popula çã o e deverã o ser acrescentados mais
indivíduos à amostra à medida que se aumenta a heterogeneidade da popula ção.
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 787
Repeti çõ es no campo
Caracter í stica Repeti çõ es no laborat ó rio *1*
LR ( 2 ) LV ( 2 >
PH 07/ 7 4
P 6, 3 101 27
K 19/ 32 29
Al 3+ 3, 9 40 15
Ca 2 + 2, 7 89 29
2+
Mg 3, 7 52 44
MO 1/ 5 14 14
(1 )
Dez repetições de uma amostra de solo em uma mesma série de determina ções realizadas no Laborat ó rio de
Aná lise de Rotina do Departamento de Solos, Universidade Federal de Viçosa . (2 ) An á lises de 49 amostras.
Fonte: Alvarez V. & Carraro (1976 ).
FERTILIDADE DO SOLO
788 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 789
de L é maior para o teor de P ( 65 % ) do que para o pH (1,4 %), indicando que/ para este
nível de probabilidade, o teor de P é determinado com menor exatid ã o.
Terra ç o Encosta
Caracter ística
y s CV L<3> y s CV L < 3)
% %
Há, portanto, uma relaçã o inversa entre L e a exatidão. A Eq. 1 mostra que a amplitude
(L) em que a verdadeira média pode ocorrer aumenta com a variâ ncia ( heterogeneidade )
e a diminuiçã o do n ú mero de indiv íduos (amostras ) da população avaliados. Portanto,
para determinada variância, pode-se aumentar a exatid ã o da medida aumentando o
nú mero de indivíduos amostrados.
Considerando-se o intervalo ( D) como:
D= Ls - y = y - Li
em que Ls = limite superior e Ls = limite inferior do intervalo de confiança, deduz-se a
partir da Eq. (1) que:
D = ta (s2 / n) 1 / 2
i
OU
D2 = ta2 s2 / n
e da í que:
n = ta2 s2 / D. (2)
FERTILIDADE Dò SOLO
790 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
do que resulta:
S = CV. y / 100
Substituindo estes valores de D e s na Eq. 2 tem-se:
2 ( CV2 y 2) / 1002
11 t <x
( y 2 f 2 )/ 1002
n = ( taCV / f ) 2 ( 3)
A partir das Eq. 2 ou 3, pode-se definir o nú mero de amostra (n ) que se deve tomar de
uma populaçã o, para avaliar uma característica de variâ ncia conhecida (s ou CV), de
modo que a média desta característica seja estimada de acordo com um limite ( D ou f )
admissível para os propósitos da avalia çã o (Figura 8) .
Desta forma, se as variâ ncias das características químicas do solo forem previamente
conhecidas (Quadro 3), pode-se definir o n ú mero de amostras para, em futuras
Figura 8 . N ú mero de amostra (n ) de uma popula çã o para estimar a mé dia de acordo com
limite de varia çã o em rela çã o à m é dia ( f ) aceitá vel, para uma caracter ística com
determinada variâ ncia (CV ), considerando o nível de probabilidade ( a). ta é o valor tabelado
da distribuição de t de Student para uma probabilidade a e (n - l ) graus de liberdade.
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 791
amostragens, obter as médias destas características com determinada exatid ão, de acordo
com uma probabilidade de 95 %, por exemplo (Quadro 4 ) . Observa -se que para
características com maior CV ( P e K ), o n ú mero de amostras a serem coletadas para um
limite de varia çã o (f ) de 50 % deverá ser de 32 para P e 11 para K, no solo de terraço, e de
6 e 23, respectivamente, no solo da encosta ( Quadro 4). Para caracterizar o pHH2o ( menor
CV), para o mesmo limite de variaçã o, bastaria uma amostra. Com base nestas constatações
e visando maior praticidade, o n ú mero de amostras será definido pela característica
mais variá vel que, em termos gerais, sã o os teores de P e K disponíveis.
Terra ç o Encosta
f (% )
pHn 2o P K Ca 2 + + Mg2
+
Al 3+ PHH 2O P K Ca 2 + + Mg2 + Al 3
+
n (1 )
20 1 199 68 3 14 1 38 139 19 13
30 1 89 30 2 7 1 17 62 9 6
50 1 32 11 1 3 1 6 23 3 3
100 1 8 3 1 1 1 2 6 1 1
FERTILIDADE DO SOLO
792 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
Figura 9. Divisã o de uma á rea em glebas ou estratos e distribuiçã o dos pontos de coleta das
amostras simples na gleba , em um planejamento de amostragem para avalia çã o da
fertilidade do solo.
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 793
Por mais uniforme que seja a gleba , haverá, sempre, a variabilidade intrínseca ao
solo - meso e microvariações. As características químicas, em especial, como já abordadas,
têm intensa variabilidade a curtas distâ ncias no solo. Para alcançar maior exatid ã o na
avalia çã o da fertilidade mé dia, coleta -se um n ú mero de amostras simples, definido a
priori , como demonstrado anteriormente, de acordo com as características de maior
variabilidade. Este n ú mero varia de 10 a 20 (Sanchez, 1976) ou de 20 a 40 amostras
simples por gleba (Jackson, 1970; Barreto et al., 1974; Alvarez V. & Carraro, 1976). Apesar
desta ampla faixa, é certo que nã o se deve coletar menos que 10 amostras simples por
gleba . Este n ú mero deve aumentar à medida que as condições naturais ou o manejo
imprimam maior variabilidade nas características do solo. Esta variabilidade aumenta
com a intensifica çã o do uso agr ícola decorrente da aplica çã o de corretivos incorporados
ou nã o em definida camada do solo e da aplica çã o localizada de fertilizantes e da
decomposiçã o localizada de resíduos orgâ nicos. Tais efeitos se fazem, ainda, mais
intensos no sistema plantio direto ( veja capítulo XV ), gra ças à nã o-homogeneiza çã o do
solo por meio da ara çã o e gradagem . Da mesma forma, ela é mais intensa em solos
argilosos do que em solos arenosos, e mais em solos aluviais do que em solos das encostas
e do topo da paisagem.
Considerando que se busca estimar a fertilidade média e que esta ser á obtida de
uma amostra composta, todas as amostras simples devem ter o mesmo volume de solo e
coletadas na mesma profundidade. Isto é conseguido pelo uso de trados ou sondas
específicas para amostragem de solo (Figura 10). Maiores cuidados sã o requeridos quando
se utilizam enxada, enxad ã o ou pá .
A profundidade de amostragem deve ser definida de acordo com a cultura que está
sendo ou será cultivada na gleba . Deve-se amostrar a camada de solo que ser á explorada
pelo maior volume do sistema radicular da planta que, usualmente, é associado à
profundidade de preparo do solo, nos sistema de cultivo convencional. Para plantio de
culturas anuais ou de pastagens, amostra -se a camada de 0-20 cm; para pastagens já
estabelecidas, a amostragem pode ser de 0-10 cm e, para culturas perenes (caf é, fruteiras,
essências florestais, etc.), a amostragem deve ser feita por camadas como, por exemplo:
de 0-20, de 20-40 e de 40-60 cm, constituindo amostras compostas por camada .
FERTILIDADE DO SOLO
794 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
Figura 11. Distribuiçã o de amostras simples em uma gleba sob intensa influência de fertiliza çã o
localizada em plantio convencional, sistema piando direto e cultura perene.
linhas de plantio ( Figura 11). Esta estratégia tem sido especialmente recomendada para
glebas com sistema plantio direto ( veja capítulo XV ).
Em glebas com culturas perenes arbó reas, as amostras simples devem ser coletadas
na á rea sob a proje çã o da copa ( Figura 11) , onde, usualmente, sã o aplicados os
fertilizantes e há maior influência da queda dos resíduos vegetais. A amostragem da
faixa entre as linhas de plantio se justifica quando esta for utilizada para cultivos
intercalares e, nesse caso, deve ser tratada como uma gleba específica.
As amostras simples coletadas numa gleba ou em diferentes camadas sã o,
individualmente, agrupadas em uma vasilha limpa, preferencialmente de plástico, para
evitar a contamina çã o com metais. As amostras simples sã o misturadas, muito bem
homogeneizadas, obtendo-se a amostra composta , e da í se recolhe uma por çã o
(subamostra ), com um volume em torno de 300 cm3. Portanto, haver á tantas subamostras
quantas forem as glebas e ou camadas amostradas. Esta amostra poder á ser seca à
sombra e, se peneirada, deve-se ter o cuidado de passar integralmente o volume de solo
da amostra por uma peneira com malha de 2 mm.
Assim sendo, a acurá cia na avalia çã o da fertilidade do solo e, por conseguinte, nas
recomendações de corretivos e fertilizantes advindas do diagnóstico da fertilidade,
depende essencialmente de criteriosa amostragem. Isto quer dizer que, a partir de uma
amostra nã o-representativa de um solo, nunca se ter á uma adequada estimativa da
fertilidade média por mais acurado que seja o mé todo de análise e laboratório.
Concluindo, a acur á cia com que uma amostra composta representa a unidade de
amostragem depende da amplitude de varia çã o da característica em estudo, do nú mero
de amostras simples coletadas e da maneira como estas são distribuídas. O resultado
das análises aproxima -se da característica real do solo quando: (a ) a amostra composta
é representativa do solo da gleba; (b) nenhuma alteração (modificaçã o ou contaminação)
tenha ocorrido na amostra antes da aná lise; (c) as subamostras usadas na análise sejam
representativas das amostras originais; e (d ) a análise seja exata e represente realmente
o desejado.
FERTILIDADE DO SOLO
796 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
FERTILIDADE DO SOLO
r
Quadro 5. Mé todos de aná lises químicas para avalia çã o da fertilidade do solo utilizados pelos
laborató rios integrantes dos programas de controle de qualidade da aná lise química de
solo no Pa ís
Ca 2 + e Mg 2 + Resina
(6)
KC1 1 mol L 1 '
KC1 1 mol L ‘
KC1 1 mol L 1 '
KC1 1 mol L
500 mg L 1 ’
B dispon í vel Á gua quente Á gua quente Á gua quente Agua quente Á gua quente
Maté ria org â nica C oxid á vel por C oxid á vel por C oxid á vel por Maté ria org â nica por C oxid á vel por
l
Cr 2072 dosagem
'
Cr 2 C> 72 dosagem
‘
Cr 2C> 72 dosagem
'
incinera çã o Cr2C>72 dosagem
’
Tabelas de Interpretaçã o
Os critérios de diagnóstico da fertilidade com base na an álise química do solo, assim
como as orienta ções para fertiliza çã o das culturas, sã o organizados em manuais.
FERTILIDADE DO SOLO
798 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
FERTILIDADE DO SOLO
i
Argila ( g kg 1 )
'
mg dm -3
Rio Grande d o Sul e Santa Catarina
> 600 < 2,0 24 -4 , 0 4.1 - 6 , 0 6,1 -12, 0 > 12 , 0
410- 600 < 3,0 3.1 -6, 0 6.1 - 9 ,0 9,1 -18, 0 > 18 , 0
210-400 < 4, 0 4.1 -8 , 0 8 , 0 -12 , 0 12.1- 24, 0 > 24 , 0
< 200 < 7,0 7.1 -14, 0 14, 1 - 21 , 0 21.1-42, 0 > 42, 0
Minas Gerais
\
> 600 < 2, 7 2, 8 - 5 , 4 5, 5 - 8 , 0 8,1 -12, 0 >12,0
350- 600 < 4, 0 4,1 - 8 , 0 8, 1 -12, 0 12,1 -18, 0 > 18 ,0
150- 350 < 6,6 6, 7 -12, 0 12,1 -20, 0 20.1 - 30,0 > 30, 0
< 150 < 10,0 10,1 -20, 0 20 ,1 - 30 , 0 30.1 -45, 0 > 45, 0
Prem ( mg L 1 )'
Quadro 7. Classes de interpreta çã o da disponibilidade de pot á ssio extra ído pelo m é todo
Mehlich-1, conforme a capacidade de troca de cá tions a pH 7,0, de acordo com o Manual
de Aduba ção e de Calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina
Classe de interpreta çã o
Classe de CTC a pH 7,0
»
Muito baixo Baixo M é dio Alto Muito alto
emole dm 3 ’
mg dm
*3
proposta no Boletim Técnico 100 (Raij et al., 1996) nã o considera qualquer característica
relacionada com o fator capacidade para P do solo, mas observa a exigência da cultura
em P. As culturas foram agrupadas em ordem crescente de exigência nutricional em:
florestais, perenes, anuais e hortaliças (Quadro 8).
i
.
FERTILIDADE DO SOLO
í
800 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
Classe de interpretaçã o
Grupo de culturas
Muito baixo Baixo M é dio Alto Muito alto
mg dm 3 '
Na 5a Aproximaçã o (Ribeiro et al., 1999), há, também, diferenciaçã o dos teores extra-
ídos pelo método Mehlich-1 de acordo com a cultura e com o estádio de desenvolvimento
para algumas delas. Para hortaliças ( Fontes, 1999 ), por exemplo, os teores de P e K
disponíveis são quatro e 1,3 vezes maiores, respectivamente, do que aqueles apresenta -
.1
dos no quadro 6. Há critérios específicos para interpretar os teores P para o plantio de i
lavouras de caf é, considerando teores disponíveis três vezes maiores do que aqueles
apresentados no quadro 6 (Guimar ã es et al., 1999 ). No diagnóstico da disponibilidade
do K para a fase de manutençã o da lavoura de caf é, é considerado teor 1,5 maior do que
aqueles considerados para as culturas anuais. Na interpreta çã o dos teores de P e K
(Mehlich-1) e de Ca 2+ e Mg2+ (KC11 mol L 1) para a cultura do eucalipto, consideram-se
'
níveis cr íticos para a fase de produçã o de mudas e para a fase de campo ( manutenção ) e 1
estes variam de acordo com a produtividade ( Barros & Novais, 1999) (Quadro 9).
A falta de um m é todo analí tico indicador da disponibilidade do N é uma
particularidade no atual modelo brasileiro de diagnóstico da fertilidade do solo. Nos
Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, infere-se sobre a disponibilidade do N a
partir dos teores de matéria orgâ nica: Teores inferiores ou iguais a 2,5, de 2,6 a 5,0, e
t
superiores a 5,0 % de matéria orgâ nica indicam baixa, mé dia e alta disponibilidade,
respectivamente (Sociedade..., 2004). De acordo com o Boletim Técnico 100 (Raij et al.,
1996), a disponibilidade de N varia com o manejo do solo e com a cultura anterior,
caracterizando -se solos com baixa , m é dia e alta resposta esperada à aduba çã o
nitrogenada . Segundo esses critérios, a probabilidade de as culturas responderem à
aduba çã o nitrogenada é baixa (alta disponibilidade) em solos sob pousio por mais de
dois anos, ou após pastagem e cultivo intensivo com leguminosas. Esta probabilidade é i
média, quando os solos sã o á cidos, propiciam baixa produtividade, são cultivados
esporadicamente com leguminosa, ou ) ainda , com pousio menor que um ano. Espera-se
alta resposta ( baixa disponibilidade ) nos solos corrigidos, com m é dia a alta I
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 801
Quadro 9. Teores cr íticos de f ósforo e pot á ssio extra ídos pelo mé todo Mehlich-1 e de cá lcio e
magnésio trocá veis extra ídos com KC1 1 mol L 1, para diferentes fases e produtividade de
eucalipto, de acordo com as Recomendações para o Uso de Corretivo e Fertilizantes em
Minas Gerais - 5a aproxima çã o
- 20 30 40 50
3
mg dm '
P Argiloso 60 4,3 4 ,3 4, 4 4 ,5
Arenoso 80 6, 2 6 ,3 6,4 6,5
K 10 45 60 75 90
emole dm 3 '
Ca 2
+
0 , 20 0,45 0, 60 0,470 0,80 .
2+
Mg 0, 05 0,10 0,13 0,16 0,19
O car á ter regional dos Manuais j á citados se expressa nas recomenda ções de
fertilizantes, fundamentadas na experimenta çã o agrícola . Experimentos de resposta
das culturas às doses dos nutrientes sã o fundamentais para dar sustenta çã o à fase da
calibração que resulta na definição das doses a serem recomendadas, embora a experiência
de profissionais que trabalham com as diferentes culturas em cada região seja de grande
L
importâ ncia, sobretudo para aquelas culturas com pouca experimentaçã o.
As recomenda ções de fertilizantes no atual modelo tê m por propósito elevar o teor
do nutriente no solo ao NC relacionado, usualmente, com 80 a 90 % da produção má xima.
Assim, conceitualmente, as recomendações têm o cará ter corretivo, para classes de muito
baixa e de média disponibilidade, de reposiçã o para classes de alta e de muito alta
disponibilidade.
Nesses Manuais, as recomenda ções de fertilizantes para as diferentes culturas sã o
sistematizadas em tabelas de acordo com as classes de disponibilidade dos nutrientes
disponíveis no solo. Recomenda ções de acordo com metas de produtividade, ou
produtividade esperada sã o comuns nos Manuais, o que é coerente, considerando que
maiores produtividades demandam maiores quantidades de nutrientes, enquanto maiores
produções possibilitam maior renda e maior inversã o de capital em fertilizantes. No
entanto, deve-se considerar que a produtividade depende, também, do potencial genético
da planta, das condições climá ticas, do manejo da cultura, do uso ou nã o de irrigação e
de outros fatores. Assim, nã o se deve confundir produtividade esperada com
produtividade desejada (Raij et al., 1996), devendo ser a expectativa de produtividade
baseada nos valores m édios de safras anteriores (Sociedade..., 2004).
FERTILIDADE DG SOLO
I
802 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 803
Quadro 10 . Doses de f ósforo e de pot á ssio, recomendadas para diferentes culturas, de acordo
com a classe de teores de f ósforo e pot ássio e faixas de produtividade, segundo as
t Recomenda ções para o Uso de Corretivo e Fertilizantes em Minas Gerais - 5a Aproxima çã o
( MG ) (1), Recomendações de Aduba çã o e de Calagem para o Estado de Sã o Paulo - Boletim
Técnico 100 (SP ) (2) e Manual de Aduba çã o e de Calagem para os Estados do Rio Grande do
Sul e Santa Catarina ( RS / SC ) (1)
p 2 o5 K 2O
( )
Classe de teores 3
MG SP RS/SC MG SP RS/SC
kg ha -
1
Milho ( 6 -8 t ha 1 ) '
MB 90 105 50 80
B 100 70 85 70 50 60
M 80 50 65 60 50 40
A 50 30 45 40 30 30
* MA < 45 < 30
MB 80 85 80 110
B 120 60 65 120 60 90
M 80 40 45 80 50 70
A 40 20 30 40 30 45
MA < 30 < 45
l Cana (100 -150 t ha 1 )
*
Tomate ( 100 t ha 1 )
'
MB 750 375
B 900 800 600 800 300 300
M 800 500 450 600 200 225
A 600 300 300 400 100 150
MA 400 « 250 200 = 125
Piment ã o ( 30 t ha 1 )
'
MB 240 270
B 300 600 180 240 180 230
M 240 320 140 180 120 190
A 150 160 100 80 60 150
MA 50 = 80 = 80
Teores dispon íveis de P e K obtidos por extra çã o com Melhich-1. (2) Teores de P e K extra ídos por resina mista.
(1 )
(3)
MB, B. M, A e MA correspondem a teor muito baixo, baixo, m édio, alto e muito alto, respectivamente. Para a
5a Aproxima çã o A e MA equivalem a bom e muito bom, respectivamente.
I
FERTILIDADE DO SOLO
804 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
Quadro 11. Doses de nitrogé nio e de f ósforo ( P2Os) e potá ssio (K 20 ), de acordo com a classe de
teores baixos e bons (altos ) de f ósforo e potá ssio dispon íveis no solo, extra ídos pelo
Mehlich-1, para culturas anuais segundo a 5a Aproximaçã o(1)
p20s K 2O
Cultura Produtividade N{ 2 )
Baixo Bom Baixo Bom
t ha
1
kg ha o
'
-
Desvio padrã o (s) 20,2 25,8 18,0 35,7 20,3
0) Recomenda ções para o Uso de Corretivos e Fertilizantes em Minas Gerais - 5a Aproxima çã o ( Ribeiro et al .,
1999 ). < 2 ) A dose recomendada corresponde à quantidade aplicada no plantio mais a aplicada em cobertura . (3) N
n ã o recomendado e n ã o utilizados no cá lculo cfe y e de s. (4 ) Valores ( m édias ) utilizados para o c á lculo das
correla ções apresentadas no quadro 13. i
1
Quadro 12. Doses de nitrogénio, f ósforo (P2Os) e potássio ( K20), recomendadas para culturas
1i anuais, considerando solo com teores baixos e altos de f ósforo e potássio disponíveis,
extra ídos por resina mista ( aniônica e catiônica ) , segundo o Boletim Técnico 100(1 )
?
3
.4
I
P2O 5 K 2O
I N <2
)
J
Cultura Produtividade
:
1 Baixo Alto Baixo Alto
l
I
t h a -1 kg ha
v
Algod ã o 2, 0-2,4 60 100 30 100 35
0<
3)
Amendoim 1.5-3,0 80 20 40 20
! Arroz sequeiro 1.5-2,5 40 60 0 40 0
Arroz irrigado 4,0 -6 , 0 70 70 0 80 0
Cana - d e - a ç ú car ( plantio ) 100-150 75 180 60 150 0
Recomenda ções de Aduba çã o e Calagem para o Estado de Sã o Paulo - Boletim Técnico 100 ( Raij et al., 1996). (2)
(1 )
(6 )
As bases desta seçã o foram apresentadas por Roberto Ferreira Novais & V íctor Hugo Alvarez V .
( 2002), em uma palestra na FertBio 2002, em Santa Maria , RS ( não publicada ) .
1 FERTILIDADE DO SOLO
806 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
Quadro 13. Coeficientes de correla çã o linear simples entre doses de nitrogénio, f ósforo (P
e potá ssio (K20), recomendadas para quatorze culturas anuais(1), considerando solos com
205)
baixo e alto ( bom ) teores de f ósforo e de potá ssio, segundo o Boletim Técnico 100 e a 5a
Aproxima çã o
5 a Aproxima çã o N P 2 O5 K 2O P 2O5 K 2O
,
N *6* 0 ,692** -0,138"* -0,182"* 0, 485 ns 0, 245 1S - 0,337 's
l
-0,316 ns 0,181 ns 0,222 ns
A -0,276 ns
0, 351 ns
-0, 228"* -0*500* -0,094 ns 0, 229
,
B 0 , 406 1 S 0 , 447 ns 0 ,3, 78 "* 0 ,806**
K 2O
A 0, 487* 0,542* 0, 446 "s 0 ,345 ns
(7)
Novais & Alvarez V . (2002 ), em uma palestra na FertBio 2002, em Santa Maria, RS (nã o publicada ).
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçãO DE FERTILIZANTES 807
Baixo 50 90
Baixo
Médio
0- 5
6- 10
0 -10
11 - 20
0-20
21-40
0- 20
21-40
0-30
31-60
Médio
Alto
50
50
60
30 3
Alto > 10 > 20 > 40 > 40 > 60 <1>Á s doses recomendadas para as hortícolas são tr ês vezes
m Valores em parênteses referem-se ao P remanescente em mg L'1 maiores do que para as culturas anuais. ( 2)Recomendaçao de doses
maiores quando produtividades maiores são esperadas. <3)Para solos
obtido pela agita ção de 60 mg L 1 de P em um solução de CaC 10 mmol L'\
^
'
i
Cova ). Mo é exceção - recomendam-se 20 kg ha 1. '
cobertura ou cova).
Caf é Caf é
Fruteiras Fruteiras
Eucalipto Eucalipto
Árvores Árvores
(1)
Dose por planta na forma de 20-5-20 ou 2/3 da dose na
forma de 5-10-30. Dividir a dose recomendada em três
aplicações a serem feitas durante o período chuvoso .
Figura 12. Método simplificado de interpretação das análises de solo e de recomendações de
calcá rio e de fertilizantes para culturas anuais, perenes e hortícolas.
Fonte: Novais & Alvarez (2002). (Palestra não publicada - veja nota de rodapé 6).
FERTILIDADE DO SOLO
808 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
emergência das plantas. Com isso evita -se o comprometimento da germinaçã o das
sementes atribuído à salinidade dos fertilizantes nitrogepados e diminuem-se as perdas
do N por lixivia çã o e, dependendo da fonte de N, por volatiliza ção.
Para P, a interpretação da análise de solos mostra-se dependente do extrator utilizado
(Mehlich-1, ou Resina ). Como o Mehlich-1 sofre desgaste crescente com o aumento do
poder tamp ã o de P do solo, como já comentado, estabeleceram -se tr ês classes de
disponibilidade: baixa, média e alta, como variá veis de uma medida do poder tampão do
solo: teor de argila ou P-remanescente ( Prem ). Como já detalhado no capítulo VIII, esta
última medida é mais conveniente por incluir tartto o teor como a qualidade da fraçã o
argila . Embora apenas tr ês classes de disponibilidade de P no solo sejam utilizadas
nesse modelo simplificado, interpola ções aproximadas para valores intermediá rios de
aná lise e de doses poderã o ser facilmente estabelecidas.
Os teores de argila que separam as tr ês classes texturais (argilosa, média e arenosa )
têm no Prem valores simé tricos. Os solos argilosos, com mais de 35 % de argila (ou
350 g kg 1), apresentam valores de Prem menores que 15 mg L 1, enquanto os solos arenosos
" "
Portanto, é f ácil memorizar que os limites das classes texturais têm em seus recíprocos os
valores de Prem.
Sabendo que, para um solo argiloso (> 35 % de argila ou < 15 mg L 1 de Prem), o teor
"
maior que 10 mg dm3, verifica-se, nesta sequência, uma progressão aritmé tica a partir do
valor de 5 mg dm 3. Esta progressã o se repete tanto nas outras duas classes texturais
"
como dentro de cada uma delas, para baixo, médio e alto teor de P disponível (Figura 12).
Assim, a partir da faixa de 0-5 mg dm 3, todas as demais sã o deduzidas facilmente e,
"
mesmo, memorizadas.
Como o P extra ído pela resina nã o sofre desgaste, suas faixas de disponibilidade
sã o as mesmas daquelas para o Mehlich-1 nos solos arenosos (condiçã o em que há o
mínimo desgaste deste extrator ), isto é: menor que 20, 21-40 e maior que 40 mg dm 3 de P,
"
para baixo, médio e alto teor, respectivamente. Compreende-se, assim, a razã o para
valores maiores de P extra ído pela resina que de P extra ído pelo Mehlich-1 nos solos
argilosos para o mesmo status de disponibilidade de P no solo.
Os teores (baixo, médio e alto) correspondentes às faixas de disponibilidade de K
independem do poder tampã o do solò. Dada a natureza e intensidade da liga çã o iônica
deste cá tion com o solo, a extraçã o de sua forma trocá vel é considerada total, mesmo que
haja desgaste do extrator Mehlich-1. Pelo mesmo motivo, aproximam-se dos téores
extraídos pela resina de troca catiômca. De novo, considerando que valor menor que
30 mg dm 3 de K disponível ( trocá vel) corresponde ao teor baixo, os valores para teor
"
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 809
de K20, respectivamente, havendo para o teor médio e alto um decr éscimo, també m
aritm é tico, deduzem-se facilmente as doses de 60 e 30 kg ha 1, respectivamente, de P2Os e,
"
ou, K 20 ( Figura 12). As doses de K20, embor á sejam, em média, superiores à quelas
indicadas nas tabelas (Quadros 11 e 12), sã o aceitá veis, uma vez que pesquisas têm
indicado problemas crescentes de deficiência de K ao longo dos anos de cultivo (Santos,
2002; Oliveira, 2002; Possamai, 2003).
Este modelo simplificado ( Figura 12 ) inclui, também, a recomenda çã o para as
hortícolas ou olerícolas, assumindo que as dosès para estas culturas (Quadro 14) são,
aproximadamente, tr ês vezes maiores do que aquelas recomendadas para as culturas
anuais (Quadros 11 e 12) . Embora esse fator esteja entre 2,1 para K (baixo teor ) e 2,7 para
P (baixo teor ), utilizou-se o fator três por acreditar que, para a horticultura, esses aumentos
seriam recomendá veis, uma vez que, na prá tica, sintomas visuais de deficiência de K são
mais frequentes do que de P.
Recomenda çã o semelhante foi desenvolvida para culturas perenes ( Figura 12), em
que tanto o calcá rio como os fertilizantes sã o homogeneizados com todo o volume de
solo (substrato) da cova de plantio de uma muda, bem como para o preparo de substrato
para produçã o de mudas (caf é, eucalipto, fruteiras, ornamentais, etc.). Para as culturas
j á discutidas, os fertilizantes, de modo particular as fontes de P, sã o aplicados
localizadamente, favorecendo mais a planta como dreno preferencial que o solo. Isso
nã o se aplica no caso das perenes, em que a aduba çã o de plantio dever á ser constituída
por grandes doses de uma fonte de P na cova, em raz ã o de sua reduzida mobilidade no
solo e do pequeno volume de solo explorado pelo sistema radicular. Fontes de N e K, se
aplicadas em grandes quantidades no plantio, podem causar plasm ólise em virtude da
alta salinidade ( veja capítulo XII ) e favorecer perdas de N e K por lixivia çã o. Assim,
essas fontes devem ser aplicadas mais tarde, em cobertura, pr ó ximo à planta ou,
generalizando, na projeçã o da copa . A exemplo do que se faz no cultivo do cafeeiro,
devem-se usar aplica ções de formula ções ricas em P, ou apenas uma fonte de P, como
superfosfato simples no plantio, e NK ou NPK como 20-0-20 ou 20-5-20 em doses
baixas inicialmente, primeiro ano, que dever ã o ser aumentadas com o crescimento das
á rvores nos anos seguintes, até um valor má ximo, que será repetido, anualmente, quando
a planta estiver em produçã o plena .
Apresenta-se, também, uma simplificaçã o para o modelo geral de recomenda ção de
calagem. A utilizaçã o da f ó rmula fundamentada na satura çã o por bases ( Raij et al.,
1996) é de f ácil memorização, o que não acontece com a f órmula baseada na neutralização
do Al3+ e elevaçã o dos teores de Ca 2 + Mg2+ ( Alvarez V. & Ribeiro, 1999 ). Na estimativa
'
FERTILIDADE DO SOLO
810 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
A dose encontrada se aplica pará solos de texturas médias (Prem de 15 a 35 mg L 1). '
A partir desta dose, acrescentam -se 25 % para os solos argilosos (Prem < 15 mg L 1) e '
Quadro 14 . Doses de nitrogénio, f ósforo (P2Os) e potássio ( K20), recomendadas para culturas
hort ícolas em solos com teores baixos de f ósforo e pot á ssio disponíveis, segundo a 5a
Aproxima çã od )
Cultura N ( 2) P 2 OS( 3 ) K 2 O( 3 )
kg ha - i
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 811
Em raz ã o da complexidade das rela ções solo - planta, de suas influ ê ncias na
disponibilidade dos nutrientes, tê m sido desenvplvidos sistemas de balanço nutricional
para recomendar corretivo e fertilizante. Esses sistemas podem ser mecanísticos (baseados
em processos), empíricos (baseados em constatações experimentais) ou semi-empíricos
( mistos entre mecanísticos e empíricos ) . Esses sistemas sã o chamados de modelos pelo
I
fato de serem compostos de funções matemá ticàs que buscam representar os processos
naturais que determinam a disponibilidade e a absor çã o dos nutrientes.
Nos modelos mecanísticos, busca -se represehtar, matematicamente, os processos de
transferência dos nutrientes entre os compartimentos do solo (fraçã o sólida - orgâ nica e
mineral - e soluçã o do solo), os equilíbrios entre tra ções ou formas químicas em que eles
I
se encontram e suas rela ções com os teores dispbníveis no solo, ou, ainda, os processos
envolvidos na absor çã o pelas ra ízes das plantas. Em virtude da complexidade desses
I
processos, a capacidade preditiva desses modelos nem sempre é muito elevada, ou seja,
matematicamente, nã o se reproduz com acurácia os processos que ocorrem na rizosfera,
por exemplo. Além disso, a quantidade de vaijiá veis requeridas para alimentar esses
^
modelos é grande e detalhada , e nem sempre ã o determinadas rotineiramente. Tais
fatos dificultam ou inviabilizam a utiliza ção prá tica desses modelos para a recomenda ção
de fertilizantes. Vá rios modelos mecamsticos estimam os teores dos nutrientes na solução
do solo ou a absor çã o pela planta, mas sem considerar a demanda nutricional da cultura .
Em geral, consideram a libera çã o do nutriente da fase sólida para a fase líquida
j
( mecanismos de dessor çã o ou de mineraliza çã o) o movimento do nutriente por fluxo de
massa ou difusã o na soluçã o do solo até à superf ície das raízes [modelo de Tinker & Nye
(2000) ] e a absor çã o do nutriente pela raiz [segundo os princípios ciné ticos descritos
pela equação de Michaelis-Menten (Barber, 1995) ]. Dentre os modelos, o UPTAKE (Barber,
1995) e o COMP8 (Smethurst & Comerford, 1993) sã o os mais utilizados para estimar a
disponibilidade e absorçã o de nutrientes pelas plantas.
O modelo UPTAKE foi desenvolvido para descrever os processos envolvidos na
absorçã o de nutrientes pelas plantas, considerançlo o tamanho e o crescimento das raízes,
a cinética de absor çã o do nutriente e o suprimento de nutrientes do solo para a superf ície
das ra ízes. A á rea superficial das raízes é definida a partir do comprimento inicial (L0),
raio m édio ( rQ) e taxa de alongamento ( K ) das ra ízes ( Barber, 1995) . A relaçã o entre o
influxo de nutrientes (absor çã o) e a concentra çã o do nutriente na solução do solo junto à
superf ície da raiz (Clo) é estabelecida a partir de três parâmetros cinéticos: influxo máximo
(Imá x ) sob altos valores de Clo; Clo abaixo da qual o influxo líquido cessa (Cm ín ) e a Clo onde
o influxo líquido corresponde a Vi Imá x (Km ). A taxa de suprimento de nutriente do solo
para a superf ície da raiz é definida por cinco variáveis: a concentração inicial do nutriente
na soluçã o do solo ( CH); o poder tampã o do solo para o nutriente ( b); o coeficiente de
difusã o efetiva do nutriente no solo ( De); o influxo de á gua ( vQ) e a média da metade da
distâ ncia entre raízes adjacentes ( rj.
Mais recentemente, Comerford et al. (2006 ) utilizaram a base do modelo COMP8
(Smethurst & Comerford, 1993) para gerar o modelo Soil Supply and Nutrient Demand
FERTILIDADE Dó SOLO
812 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
á gua no solo, as altera ções na densidade radicular com tempo e profundidade do solo e
associaçã o micorrizica para cada espécie de planta com á rea superficial de raízes variá vel
ao longo do tempo.
O modelo QUEFTS (Janssen et alJ, 2001) foi desenvolvido para avaliar a fertilidade
do solo, sendo fundamentado em considera ções teó ricas e em relações empíricas, obtidas
de experimentos de campo . O model simula o potencial de suprimento de N, P e K a
^
partir de análises químicas do solo, á absor çã o de N, P e K pela cultura com base no
suprimento potencial desses nutrientes pelo solo e a contribuiçã o do fertilizante NPK e
sua rela çã o com a produçã o. Estima a produ çã o a ser obtida na á rea e otimiza a dose do
fertilizante, visando à otimizaçã o nutricional e econó mica .
Uma das vantagens na utiliza ção destes sistemas para cálculo das doses de nutrientes
é a possibilidade de solucionar processos complexos associados aos efeito de m ú ltiplas
características do solo, possibilitando a simula çã o de vá rias situações ou condições de
produçã o, o que é inviá vel com o modjelo expresso nas tabelas de recomenda çã o.
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 813
f ( idade ; material
Produçã o Efici ência f ( idade ; material
gené tico e local ) nutricional gen é tico e local )
4 Sustentabilidade
- Nutrientes dispon í veis
- Profundidade de ra í zes
- Recupera çã o p / extrator
Demanda nutricional
Suprimento via solo
Entradas :
Chuva , res í duos Recupera çã o
e vegetais Balan ç o nutricional Aduba çã o pela planta
+ +
Nã o adubar «
modelo conceituai (Figura 13) apresenta três módulos: o primeiro, que estima a demanda
nutricional; o segundo, que estima o suprimento de nutrientes, e o terceiro, que calcula o
balanço entre a demanda e o suprimento e estima as quantidades de nutrientes e de
fertilizantes e corretivos a serem aplicados para atender à demanda.
\ A estimativa da demanda é feita com base na produção esperada e na eficiência de
utilizaçã o de cada nutriente ( N, P, K, Ca e Mg, etc.) pela cultura . A produção esperada é
definida com base na experiência regional com a cultura ou por meio de modelos de
produçã o. Os sistemas FERTICALC e NUTRICALC utilizam a rela çã o entre peso de
matéria seca e o conteúdo do nutriente comc) um índice de eficiência de utilizaçã o
nutricional. Para isso, é necessá rio calcular a massa seca de cada componente da planta
e seu conteú do de nutrientes e, para tanto, sã o utilizadas, como referência, planta ções
com boa produtividade. Assim, tendo a produÇão esperada e a eficiência de utiliza çã o
dos nutrientes, estimam -se as quantidades dos nutrientes para atender à demanda da
cultura . A esta quantidade, o modelo pode ou nã o agregar uma quantidade adicional,
denominada fator sustentabilidade, que visa deixar maior resíduo de nutrientes no solo
após a colheita .
J
FERTILIDADE DO SOLO
814 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
Quadro 15 . Doses de f ósforo ( P2Os), recomendadas para a cultura da soja, de acordo com o fator
capacidade de f ósforo (P remanescente - Prem ) j do solo e produtividade da soja, estimadas
a partir do FERTICALC-soja, da 5a Aproxima çã o(1) e do Manual de Recomenda ções para o
Rio Grande do Sul e Santa Catarina ( RS / SC ) (2) |
mg L- i kg ha 1 de gr ã os
'
kg ha 1 de P2 O5
'
3 2.500 56 52 46
28 2.500 44 52 52
52 2.500 39 52 57
3 3.000 70 52 46
28 3.000 54 52 52
52 3.000 50 52 57
3 3.500 84 52 46
28 3.500 65 52 52
52 3.500 61 52 57
(1 )
Recomenda ções para o Uso de Corretivos e Fertilizantes em Minas Gerais - 5a Aproxima çã o ( Ribeiro et al.,
1999). (2 ) Sociedade... (2004 ). i
Fonte: Santos ( 2002 ).
e climá ticas da regiã o. O ponto de intercessão projetado nos eixos verticais laterais
indicará a dose de K20 por planta (eixo à esquerda ) e a de CaO por hectare (eixo à
direita ), respectivamente. Deve-se observar que,; dependendo do resultado da aná lise de
solo e produtividade esperada, o uso de fertilizante ou de calcá rio pode nã o ser necessá rio.
Para o caso da conduçã o de uma rébrota, que é a floresta de eucalipto desenvolvida a
partir das cepas de uma floresta anterior, sã o considerados os teores de K + e Ca 2+ do solo
mais os nutrientes reciclados, que voltam ao solo por meio da mineralização dos resíduos
da floresta anterior , recé m-explorada . Tal fato reduz ou elimina a necessidade de
aplica ções de K e Ca . i,
A funcionalidade desse cartã o para solujções simples resulta da intera çã o dos
fundamentos dos dois modelos de recomenda çã o: ãs tabelas de uso consagrado e os
balanços nutricionais, que aparecem como uma alternativa de evolução mais dinâ mica e
promissora.
FERTILIDADE DO SOLO
ri
'
!
\
816 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
UM SISTEMA SlltjlPLES
DE RECOMENDA ÇÃ O
DE CALC Á RIO E FERTILIZANTES NPK
.
R.F NOVAIS, J C. L
PARA EUCALIPTO *
N.F. BARROS & J.L. TEIXEIRA
. . NEVES, "
Aduba çã o de Implanta çã o
Implantanção e Reforma
A p l i c a r c o m o a r r a n q u e 6 , 0 k g d e 6 -3 0 - 6 o u 1 0 , 0 k g d e s u p e r f o s f a t o s i m p l e s ( S S )
p o r m d e c o v a d e p l a n t i o I (a d o s e m i n i m a p o r c o v a o u c o v e t a s l a t e r a i s nã o
|
d e v e s e r i n f e r i o r a 8 0 g d e 6 3 0-6 o u l 3 0 g d e S S ) n o a t o d o p l a n t i o o u a t é l O d i a s
a p ós ( c o v e t a s ) .
A p l i c a r , a d i c i o n a l m e n t e , 3 b O k g h a'1 d e f o s f a t o r e l a t i v o o u 6 0 0 k g h a '1 d e f o s f a t o d e
A r a x á n a l i n h a d e p l a n t i o ( f i l e t e c o n t í n u o ) e m s o l o s c o m P d i s p o n í v e l ( M e h l i c h - 1) ,
n a c a m a d a d e 0 - 2 0 c m , m e n o r q u e:
- 5m g d m 'J
( >35 % de
argila o u Prem < 15mgL
- lOmgdm ' 3
(1 5 a 3 5 % d e j a r g i l a o u P r e m d e 3 5 a 1 5 m g L *)
3 < 1 5 % d e a r g i l a o u P r e m > 3 5 m g L-1 )
-15mgdm '
(
o u e m s o l o s c o m P d i s p o n í v e l p e l a R e s i n a < 1 5 m g d m'3
J
R e b r ot a
'
A q u a n t i d a d e d e K 20 a s e r a p l i c a d a , d e f i n i d a p e l a a n á l i s e d e s o l o
(gr áfico) , dever á s e r a t e n d i d a c o m a u t i l i z aç ã o d e 1 0 5-3 0 - .
A fosfatagem , aplicadaj superficialmente sem incorporar , deverá
a t e n d e r a o s m e s m o s c r i té r i o s a d o t a d o s p a r a a i m p l a n t aç ão.
Adubaçã o de Manutençã o
Linhas : IMA ( m 3 ha *1
ano ' 1 )
B u c a l y p t u s g r a n d i s , B. i t r o p h y l l a e " u r o g r a n d i s"
-
<1 ) NUTREE / Universidade Federal de Vi çosa UFV ( Brasil )
0 0, 1 0, 2 0 ,3 0 , 4 0 , 5 0 , 6 0 , 7 0 , 8 0,9
350 1.050
Implantação e Reforma (m3 ha1 ano;1) -
300
Rebrota (m3 ha 1 ano 1) — * 900
250 750
ra r
«
CL
200 \ 600 ( 640 ) =
Ui
Figura 14. Modelo simplificado de balanço nutricional NUTRICALC para interpretar análise
de solo e recomendar calcá rio e fertilizantes para o cultivo do eucalipto.
FERTIIíIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RE COMENDA ÇÃ O DE FERTILIZANTES 817
Diagnose Visual
A observa çã o de sintomas é uma forma r á pida e pouco dispendiosa de diagnóstico
do estado nutricional, porém sua principal limiiaçã o refere-se ao fato de que, quando há
li
manifestação visível de sintomas de car ência ou e excesso, expressiva parte da produção
das plantas já está comprometida. Outra limitaçã o refere-se ao fato de que, em condições
de campo, comumente têm sido associados mais de um sintoma de carência e, ou, excesso,
refletindo uma situa çã o complexa de limitada fertilidade do solo ou de correções e, ou,
FERTILIDADE DO SOLO
818 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
fertiliza ções inadequadas (Malavolta e|t al., 1997) . Como a á gua é o veículo para transporte
e absorção ou aquisiçã o dos nutrientes, é comum que, em per íodos secos, alguns sintomas
se acentuem (veja capítulo IV) .
A diagnose visual requer uma ariá lise criteriosa dos fatores bió ticos e, ou, abió ticos
que possam alterar o estado nutricional da planta ou induzir padrões de danos similares
à deficiência ou toxidez de nutrientes. Neste sentido, destacam-se a deficiência ou excesso
do suprimento de água , varia ções briuscas de temperatura, textura e compacta çã o do
solo, rea ções entre misturas de produtos fitossanitá rios, toxidez causada por herbicidas,
senescência natural de folhas, ataque de pragas e doen ças, pr á ticas de cultivo
inadequadas, dentre outros fatores , i As desordens nutricionais caracterizam-se por
ocorrer em reboleiras, apresentar simetria e um gradiente de intensidade das folhas velhas
para as jovens em caso de nutrientes ijnó veis no floema, verificando-se o contrá rio para
os imóveis (Lucena, 1997; Malavolta et al ., 1997) .
A diagnose visual, particularmente para plantas de ciclo curto (anuais), é pouco
eficiente para a adoçã o de medidas corretivas; no entanto, pode subsidiar a escolha de
aná lises qu ímicas ou bioqu ímicas q úe permitam a melhor caracteriza çã o do estado
nutricional da cultura .
A seguir, serã o descritos os sintomas de deficiência mais comuns relacionados com
a carência de macro e micronutrientes ( Mengel & Kirkby, 1982; Marschner, 1995; Taiz &
Zeiger, 2004).
Nitrogénio
Sua falta se traduz em plantas peqpenas e de crescimento lento. O sintoma típico da
falta de N é a clorose (amarelecimentcj) generalizada ( uniforme) de folhas. Como é um
elemento que se move no floema , o silntoma aparece primeiro nas folhas mais velhas,
progredindo, com o tempo, para as máis novas ( Figura 15a ).
Fósforo
i
Plantas deficientes apresentam crescimento mais lento e, freqiientemente, coloraçã o
verde escura nas folhas mais velhas. Em muitos casos, o progresso da deficiência leva ao
surgimento de coloraçã o avermelhada eín caules e folhas velhas (Figura 15b). Os sintomas
progridem das folhas mais velhas para as mais novas, porque, assim como o N, o P é um
elemento bastante mó vel no floema . A cor avermelhada é causada pelo acúmulo de
antocianina . !
Potássio
A deficiência de K retarda o cresciinento e aumenta a susceptibilidade ao ataque de
patógenos, havendo retranslocação de K; de folhas velhas e caules para as regiões de cresci-
mento ativo. Os sintomas de carência Çaracterizam-se por clorose e necrose de bordos
foliares (Figura 15c). Murcha e quebra dós caules também caracterizam a deficiência de K.
Cálcio
Seu movimento de ascensã o acompanha o fluxo transpiratório. Por ter funções
estruturais, nã o sai de um local de resid ência para atender à demanda em locais de
crescimento ativo da parte a érea ou da raiz. É considerado um elemento imóvel no
FERTILIDADE DO SOLO
Xlll - AVALIAçã
O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDA çã O Dé FERTILIZANTES 819
FERTILIDADE DO SOLO
820 REINALDO 3ERTOLA CANTARUTTI et al .
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 821
sua capacidade de deslocar outros c á tions metá licos, especialmente Fe, de sítios
fisiologicamente importantes. Assim sendo, clorose que lembra deficiência de Fe pode
ser sintoma de toxidez de Cu (Figura 15m ) .
Molibd ênio
A deficiência caracteriza -se por clorose internerval de folhas jovens (Figura 15n ),
semelhante à deficiência de Mn. As margens das folhas tendem a enrolar-se ou curvar-
se para cima ou para baixo . Nas br ássicas, a lâ mina foliar constitui uma faixa estreita
em torno da nervura principal, conhecida como "Wiptail".
Zinco
A carência do elemento leva a reduções na produ çã o de AIA, responsá vel pela
elonga çã o de ramos, sendo as folhas pequenas e a forma çã o de rosetas sintomas típicos
da carência desse elemento ( Figura 15o) . O florescimento e a frutifica ção podem ser
muito reduzidos em condições de deficiência severa de Zn. A toxidez caracteriza-se por
redução do crescimento de raízes e da expansão foliar, ao que se segue clorose (Figura 15p ).
Cloro
A deficiência de Cl caracteriza -se por murcha, bronzeamento, clorose e necrose,
porém não tem importância económica, pois nunca foi observada em campo. Por outro lado,
a toxidez de Cl pode representar sério problema caracterizado por bronzeamento e necrose
de pontas e margens de folhas velhas, seguidos de amarelecimento e abscisã o prematura.
FERTILIDADE DO S ò LO
822 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
Sintomas Sintomas
de defici ê ncia de toxidez
IV
o
e HO o
<D O
E 5
o/) ~o Regi ões de deficiê ncia
< o
o .
Q Regi ã o de nutri çã o ade juada
O Regi ã o de absorçã o de luxo
Regi ã o de toxidez
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 823
FERTILIDADE DO SOLO
824 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIA çã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 825
Escolha do Tecido
A escolha de um ó rgã o ou tecido como padr ã o deve considerar dois aspectos
principais: (a ) sensibilidade da resposta à s varia ções no estado nutricional da planta
nesse órgã o ou tecido, e (b) estabilidade da composiçã o desse órgã o ou tecido em face de
outros fatores n ã o-nutricionais.
De modo geral, as folhas recé m-maduras sã o consideradas os órgã os da planta que
mais bem refletem seu estado nutricional, ou seja, apresentam maior varia çã o no teor
com a altera çã o do suprimento de nutrientes que outros órgãos. Esse fato se justifica, pois,
além de ser o local da produçã o de carboidratos pela fotossíntese, as folhas desempenham
importantes funções no metabolismo de muitos constituintes e sã o também o principal
local para onde sã o transportados os nutrientes absorvidos pelas raízes ( Bouma, 1983;
Reuter & Robinson, 1988; Walworth & Sumner, 1988; Mills & Jones Jr., 1996 ).
No entanto, algumas vezes, os pecíolos sã o melhores indicadores do estado
nutricional, enquanto a aná lise dos frutos pode ser um indicador mais preciso dos teores
de Ca e B e, portanto, de suas propriedades para armazenamento. Também a análise de
flores tem sido aplicada com sucesso no diagnóstico de desordens nutricionais em
frutíferas cujas folhas se desenvolvem após a floraçã o (Montanes et al., 1997). A avaliaçã o
precoce do estado nutricional por meio da aná lise de flores pode ser de grande valia,
pois possibilita iniciar o ajuste do programa de aduba çã o exatamente no início de
crescimento, antes que ocorram perdas irreversíveis em produtividade e qualidade. Além
disso, sendo as flores órgã os de curta dura çã o, onde nã o ocorrem rea ções metabólicas
tã o complexas quanto nas folhas, estas nã o apresentam diferenças acentuadas entre o
teor total do nutriente e a fra çã o fisiologicamente ativa (Sanz & Montanez, 1995; Sanz &
Machin, 1999). Os resultados obtidos com ma çã, pêssego, ameixa, laranja e caf é parecem
promissores, embora mais pesquisas sejam necessá rias.
A diagnose por meio da aná lise da seiva , extra ída de tecidos condutores, como, por
exemplo, os pecíolos tem crescido. A análise da seiva é uma forma adequada de quantificar
os nutrientes que estão sendo recebidos pela planta no momento da amostragem, podendo
dar uma informa çã o precoce e rá pida sobre o potencial nutritivo do meio, o que permite
ajustes e correções antes que o crescimento e a produ çã o sejam afetados. Esta técnica tem
FERTILIDADE DO SOLO
826 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
sido usada para cultivos de ciclo relativamente curto e em explorações intensivas / como,
por exemplo, no cultivo hidropônico de hortaliças ( Lucena, 1997).
sejam, não corrigem erros de amostragem. Erros pequenos ocorridos ao longo do processo
de amostragem, preparo das amostras e aná lise química somam -se, gerando um erro
final consider á vel ( Bouma, 1983; Reuter & Robinson, 1988; Walworth & Sumner, 1988 ;
Fageria et al., 1991; Mills & Jones Jr ., 1996) .
A parte amostrada deve ser representativa da planta toda, e a escolha, como já
discutido, em geral recai sobre as folhas (Quadro 16). Em virtude da interferência de
fatores diversos sobre a composiçã o das folhas, a amostragem deve ser realizada em
talh ões homogéneos, em é poca apropriada, retirando-se folhas de posições definidas na
planta . Em geral, sã o suficientes 50 a 100 folhas por talhã o. Para espécies herbá ceas, é
comum amostrarem-se as folhas recé m-maduras completamente desenvolvidas; para as
lenhosas, é comum usar folhas do ter ço médio da brota ção do ano, com posiçã o bem
definida em relação aos frutos. A posição de amostragem ideal é aquela em que ocorrem
menores flutua ções nas concentra ções de nutrientes ao longo do ano. Para espécies
perenes, padroniza-se a época de menor flutua çã o estacionai como a mais indicada para
o diagnóstico do estado nutricional (Bouma , 1983; Walworth & Sumner, 1988; Mills &
Jones Jr ., 1996).
Alguns pontos relevantes devem ser mencionados, tendo em vista a necessidade de
padronização dos crité rios de amostragem . Nã o se devem coletar amostras sujas de
terra, tecidos secos, doentes ou atacados por insetos. Deve-se evitar tomar amostras
antes da evapora çã o do orvalho, ou quando, nos dias antecedentes, fez-se uso de
adubaçã o no solo ou foliar ou aplicaram-se defensivos. Coletas após períodos de chuvas
intensas podem gerar concentrações foliares subestimadas para alguns nutrientes, como,
por exemplo, para K, que lixiviam do apoplasto foliar com facilidade (Reuter & Robinson,
1988; Fageria et al., 1991; Mills & Jones Jr., 1996 ).
FERTILIDADE DO SOLO
}
Quantidade/talhâ o
Cultura Parte Amostrada É poca
homogé neo
Continua...
FERTILIDADE DO SOLO
828 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
Quantidade/talhão
Cultura Parte Amostrada É poca
homog é neo
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIA çã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 829
No laborató rio, as folhas dever ã o ser lavadas (imersã o r á pida ) com á gua destilada
e, em seguida, postas a secar sobre papel toalha, sendo posteriormente acondicionadas
em sacos de papel, onde completar ã o a secagem em estufa de circula çã o for çada de ar a
70-75 °C até atingirem peso constante. Secagem a temperaturas superiores a 80 °C
promove decomposiçã o térmica e perda de compostos volá teis. A secagem mata o tecido,
parando a atividade metabólica e permitindo que o material seja armazenado sem sofrer
decomposiçã o, facilita a moagem e a homogeneiza ção do material (Malavolta et al., 1997).
Se estiver contaminado com terra ou poeira, o material vegetal coletado deve ser
imerso em solu çã o de HC10,1 mol L 1 e "Tween" a 0,1 % por 10 min; a seguir, enxaguado
'
com á gua destilada por 20 min, escorrido, colocado a secar sobre papel toalha e,
posteriormente, acondicionado em saco de papel e seco em estufa de circula çã o for çada
de ar ( Lucena, 1997).
Na impossibilidade de encaminhar as amostras frescas ao laboratório, é aconselhá vel
que as folhas sejam lavadas com á gua corrente e enxaguadas com á gua filtrada ou
destilada, acondicionadas em sacos de papel e postas para secar ao sol antes do envio ao
laboratório. Em qualquer caso, as amostras devem ser identificadas com n ú mero, espécie,
localidade, data da coleta , nutrientes por analisar e endereço para resposta .
A amostra utilizada para aná lise de seiva deve representar adequadamente a parcela
cujo estado nutricional se deseja avaliar, sendo necessá ria a tomada de subamostras,
para compor a amostra a ser analisada . Em geral, sã o suficientes 10 mL de seiva, que
I poder ã o ser extraídos de 20 a 30 g de tecido fresco, para plantas herbá ceas e, de 40 a
100 g de tecido fresco, para plantas mais lenhosas. Essas amostras devem ser enviadas
ao laboratório o mais r á pido possível. No laboratório, a mostra é limpa, o tecido condutor
separado, fatiado, imerso em éter etílico e congelado à temperatura de -20 a -30 °C. Após
o congelamento, a amostra pode ser armazenada por tempo indeterminado. A extraçã o
da seiva é realizada no momento da aná lise, após o descongelamento e separação do éter
etílico em funil de decanta çã o (Lucena, 1997).
No laboratório, o material vegetal seco é submetido à moagem em moinhos de facas,
devendo-se preferir os de a ço inox. A seguir, faz-se a mineraliza çã o por via seca em
mufla a 450 °C, ou por meio de digestã o á cida . Os nutrientes sã o dosados nos extratos
obtidos por colorimetria ou espectrofotometria de absor çã o atómica ou ICP. No caso da
aná lise de seiva, a mineraliza çã o pode ser dispensá vel, fazendo-se apenas as diluições
adequadas e dosando-se os nutrientes com eletrodos seletivos, cromatografia iônica,
colorimetria, espectrofotometria de ahsor çã o ató mica ou ICP (Fageria et al., 1991; Mills &
Jones Jr., 1996; Malavolta et al., 1997).
É importante que o laborat ó rio seja confi á vel e disponha de um sistema de
acompanhamento e avalia çã o da qualidade. É de grande interesse que os laboratórios
de determinada regiã o, ou mesmo do País, padronizem os métodos de análises, evitando-
se, assim, varia ções indesejá veis nos resultados.
! FERTILIDADE DO SOLO
830 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
padrões ou normas. Como já foi salientado, o ponto crítico nessa fase é a escolha adequada
das normas. A experi ê ncia do próprio laborató rio com dados de uma regiã o específica
pode ser de grande valia na adoçã o de normas apropriadas.
Os mé todos de interpreta çã o dos resultados podem ser está ticos, quando implicam
uma mera compara çã o entre a concentra çã o de um elemento na amostra em teste e sua
norma , ou dinâ micos, quando usam rela ções entre dois ou mais elementos. O nível
crítico, a faixa de suficiência, fertigramas e o Desvio do Percentual Ótimo ( DOP) sã o
exemplos do primeiro caso, e o Sistema Integrado de Diagnose e Recomenda çã o ( DRIS) e
a Diagnose da Composiçã o Nutricional (CND), do segundo.
FERTILIDADE DO SOLO
!
Quadro 17. Valores de referência para a interpreta çã o dos resultados de análise de tecidos de planta
Cultura N P K Ca Mg S 6 Cu Fe Mn Mo Zn
dag kg - mg kg - i
i
Abacate 1,60-2,00 0,12-0,25 1,50- 2,00 1,50-3,00 0,40- 0,80 0,20-0,30 50-100 5-15 50-200 30-500 30-150
Abacaxi 1,50-1,70 0,80-1,20 2,20-3,00 0,80-1,20 0,30-0,40 0,20-0,30 20-40 5-10 100-200 50-200 5-15
Abóbora
Pecíolo 0,18 0,56 8,26
Limbo foliar 4,02 0,46 2,36 1,36 0,40 0,31
Acerola
Terço mediano dos
ramos 2,84 0,16 1,29 2, 22 0,79 0,15 2 48 158 15
Terço basal dos 2,96 0,18 1,81 2,16 0,66 0,16 2 52 183 16
ramos
Alface 3,80-4,70 0,50-0,75 6,00-7,00 0,65-1,50 0,35-0,40 0,16- 0,25 30-35 5-30 50-200 50-100 50-150
Algod ã o 3,20 0,17 1,50 2,00 0,50 0,40 50 8 70 200 30
Alho
Antes da bulbifica çã o 5,00 0,30 4,00 0,10 0,15 1,5
Durante bulbifica çã o 4,00 0,30 3,00 0,60 0,30 0,7 50 25 200 100 75
Após bulbifica çã o 3,00 0,30 2,00 0,60 0,30 0,3
Amendoim 4,00 0,20 1,50 2,00 0,30 0,25 140-180 110 440 - 0,13-1,39
Arroz
30 dias após a
germina ção 3,00 0,12 2,00 0,60 0,30 30 15 20
Maturidade 2,30-2,60 0,14-0,16 1,20 0,65-0,85 0,40-0,42 0,50-0,70 80 25 260 90 0,3 35
Azá lea 2,30 0,29-0,50 0,8-1,6 0,22-1,60 0,17-0,50 17-100 6-15 50-150 30-300 5-60
Banana 2,60 0,22 2,80 0,60 0,30 0,20 15 8 100 88 20
Nanicã o 3,04 0,23 4,49 0,80 0,41
Batata 4.50-6,00 0,29-0,50 9,3-11,5 0,76-1,00 0,10-0,12 - 25-50 7-20 50-100 30-250 45-250
Buganv ília 2.50-4,50 0,25-0,75 3,00-5,50 1,00-2,00 0,25-0,75 0,20-0,50 25-75 8-50 50-300 50-200 20-200
Cacau 1,90-2,30 0,15-0,18 1,70-2,00 0,90 1,20- 0,40-0,70 0,17-0,-20 30-40 -
10 15 150-200 150-200 0,50-1,00 50-70
Caf é
Geral 2,70-3,20 0,15-0,20 1,90- 2,40 1,00-1,40 0,31-0,360,15-020 59-80 8-16 90-180 120-210 0,15-0,20 8-16
Sul de Minas 2,83-3,20 0,12-0,16 1,97-3,03 0,84-1,32 0,29-0,48 0,13-0,19 39-67 16-24 -
61 120 110-193 - 9-20
Manhuaç u -
2,60 2,96 -
0,15 0,23 2,06-2,78 0,94-1,26 0,31-0,40 0,18-0,24 54-83 14-20 53-107 -
79 155 -
8 16
Viçosa 2,66-3,28 0,15-0,19 2,12-2,87 1,10-1,20 0,36-0,52 0,17-0,21 31 57- 18-38 54-72 116-326 - -
7 13
Patrocí nio -
2,51 2,85 0,10-0,15 2,24-3,10 1,00-1,34 0,36-0,52 0,13-0,18 44-64 34-64 94-159 77-141 13-30
Flores 2,29-2,59 -
0,24-0,26 1,79-2,63 0,12-0,22 0,16 0,20 0,17-0,21 17-23 8-14 59-89 44-100 7-10
Cana -de-açú car 2,00-2,30 0,20-0,25 0,90-1,50 0,95-1,15 0,20-0,45 0,15-0,30 15-50 8-10 100-500 50-250 0,15-0,30 25 50-
Caju
Folhas superiores 2,58 0,20 1,29 0,24’ 0,23 0,11
Folhas inferiores 2, 40 0,16 1,10 0,75 . 0,31 0,14
Cebola 4,00 0,30 4,00 0,40 0,40 0,40 0,70
Cenoura 3,60 0,22 6,34 1,84 0,39 0,38
Citrus 2,30-2,70 0,12-0,16 1,00-1,50 3,50-4,50 0,25-0,40 0,20-0,30 36-100 4-10 50-120 35-50 0,10-1,00 35-50
Laranja
Baianinha 2,21 0,10 1,50 2,51 0,15 0,15 77 14 143 106 115
Natal 2,42 0,10 0,92 3,42 0,19 0,20 23 127 28 79
Pê ra Rio 2,59 0,12 0,98 3,87 0,16 0,23 75 8 69 60 92
Valência 2,27 0,10 0,88 3,59 0,21 0,19 82 13 122 62 100
Tangor
Murcote 2,53 0,10 1,18 3,22 0,15 0, 21 61 7 96 39 31
Coqueiro anã o -
1,80-2,00 0,11-0,12 0,60-0,80 0,15 0,20 0,20-0,25 8 40-45 60
Continua ...
FERTILIDADE DO SOLO
832 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
Q u a d r o 17. Continua çã o
Cultura N P K Ca Mg S B Cu Fe Mn Mo Zn
dag kg mg kgo
Couve-flor 2,50 0,50 2,80 2,00 0,40 0,12 60-80 8-10 120-140 45-70 0,40-0,80 35-50
Cravo 3,20-5,20 0,25-0,80 2,80-6,00 1,00-2,00 0,25-0,70 0,25-0,80 30-100 8-30 50-200 50-200 25-200
Crisântemo 2,25 0,13 2,87 1, 68 0,93 0,13 65
Ervilha 4,50 0,30 2,00 1,50 0,30 0,50 100-110 15-20 100-120 40-50 0,60-1,00 80-200
Eucalipto 1,35-1,80 -
0,09-0,13 0,90-1,30 0,60 1,00 0,35-0,50 0,15-0,20 30-50 7-10 150-200 400-600 0,50-1,00 12-25
Espinafre
Feijão
4,00
3,00-3,50
0,40 6,00 1 001/ 1,00 0,30 30-40 10-15 300 100
0,40-0,70 2,70-3,50 2,50-3,50 0,30-0,60 0,15-0,20 100-150 8-10 300 500
-
-
200-500
200-300
100-120
-
45 55
Figo 2,20-2,40 0,12-0,16 1,20-1,70 2,60-3,40 0,60-0,80 50-80 4-8 80-160 60-100 11-13
Fumo 4,60 0,30 4,80 1,24 0,53 0,23 28 9 140 118 58
Gerânio 2,18 0,37 2,14 1,45 0,53 0,16
Girassol 3,30-3,50 -
0,40-0,70 2,00-2,40 1,70-2,20 0,90 1,10 0,50-0,70 50-70 30-50 150-200 300-600 70-140
Goiaba
3o folha broto 3,11 0,31 3,67 1,36 0,38 0,27 131 128 242
terminal
4o folha broto 2,2-2,6 0,15-0,19 1,7-2,0 1,11-1,50 0,25-0,35 0,30-0,35 20-25 10-40 50-150 180-250 25-35
terminal sem fruto 2,28 0,21 1,33 1,431 0,66 49 24 160 46 27
média das folhas 1-8
Gramíneas
forrageiras 1,50-2,00 0,10-0,15 1,50-2,50 0,30-0,60 0,20-0,50 0,08-0,16 2-8 30-150 30-50
Braquiá ria 1,13-1,50 0,08-0,11 1,43-1,84 0,40-1,02 0,12-0,22 0,11-0,15 15-20 7-10 100-150 80-100 0,50-1,00 20-25
Colonião
Jaraguá 1,80 0,12 1,50
-
0,37
-
1,28-1,47 0,06-0,11 1,08 1,65 0,23 0,46 0,15-0,23 0,13-0,18 20-25
0,20 0,70 25-30
3-5 150-200
10-15 150-200
200-300
150- 200
0,11-0,15
0,50-0,75
25-30
40-50
Napier
Hortência -
3,00-5,50 0,25-0,70 2,20-5,00 0,60 1,00 0,22-0,50 0,20-0,70 20-50 6-50 50-300 50-300 20-200
Leguminosas
Forrageiras 3,50 0,50 5,00 3,70 0,50 0,20 60-70 5-7 150-200 200-250 15-20
Galáctia 3,00 1,50 3,70 2,70 0,50 0,20 40-60 8-10 150-200 100-120 0,50-0,80 30-35
Soja Perene 2,70 0,40 2,70 2,10 0,70 0,10 25-30 8-10 100-150 60-90 0,20-0,40 25-30
Siratro 2,60 0,60 3,50 2,20 0,40 0,40 70-80 4-7 600-700
• 90-120 25-30
Estilosantes
Lírio 3,30-4,80 0,25-0,70 3,30-5,00 0,60-1,50 0,20-0,70 0,25-0,70 20-75 8-50 60-200 35-200 20-200
Maçã 2,50 0,20 1,50 1,20 0,30 0,25 20 10 100-200 75 0,15-0,30 30
Mamão
Limbo 4,5-5,0 0,50-0,70 2,50-3,00 2,00-2,20 1,00 0,40-0,60 15 11 291 70 43
Pec íolo 1,00 0,30 2,50-3,00 1,50 0,40
Mamona 4,00-5,00 0,30-0,40 3,00-4,00 1,50-2,50 0,25-0,35 0,30-0,40 -
Mandioca 5,90-5,80 0,30-0,50 1,30-2,00 0,75-0,85 0,29-0,31 0,26-0,30 30-60 6-10 120-140 50-120 30-60
Limbo 5,33 0,42 1,59 0,58 0,20 0,23 21 13 123 114 58
Pecíolo 2,36 0,29 2,59 1, 00 0,30 0,06 16 13 34 89 43
Manga
Geral 0,40-0,80 0,20-0,30 30 30 70 120 90
Antes da floração 1,20-1,24 0,11 0,74-0,75 2,03-2,05
Plena floração e
formação frutos 1,04-1,17 0,09-0,11 0,53-0,64 2,48^2,75
Maturação frutos -
1,05-1,12 0,09-0,10 0,50 0,56 2,20 2,62 -
Maracujá
Amarelo 3,60-4,60 0,20 0,30- 2,40-3,20 l,70f 2,80 0,21 0,44 39-47 15-16 116-233 433-604 26-49
Roxo 3,60-4,60 0,20-0,30 1,60-3,10 l,90r2,10 0,21 0,44 38 8-9 188-230 449-522 31-42
Melão 3,51 0,39 4,21 3,74 i 1,09 0,19 57 17 516 160 51
Milho 3,00 0,22 2,00 0,45 0,25 0,20 20 9 0,20 20
Continua ...
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 833
Quadro 17 . Continua çã o
Cultura N P K Ca Mg S B Cu Fe Mn Mo Zn
mg kg - i
•i
dag kg
Pepino 4,72 0, 47 3,39 4,66 0,75 0,17 54 0,50 43
Pimenta do reino 1,89 0,12 2,19 1,04 0,3 0,18
Piment ã o 3,20-3,70 0,20-0,22 5,70-5,95 2,95-3,45 0,54-0,60 0,30 -0,45
Pê ra 2,30-2,70 0,14-0,20 1,20 - 2,00 1,40-2,10 0,30-0,50 0,17-0, 26 20 -40 9-20 60 - 200 60-120 30-40
Pêssego 2,60-3,50 0,20-0,30 2,50-3,00 1,50-2,50 0,30 -0,50 0,20 - 0,30 40 -60 100-150 30-40
Pinus 1,30 0,20 1 ,0 0,20 0, 20 60 5 100 200
Pinus caribaea
mudas 1,26 1, 60 0,17 0,17 0,18 97 20 7
Ac ículas
Pupunha 3,50 0, 20 1 , 10 0,40 0,30 0, 20 30 9 126 142 23
Repolho 2,86 0, 41 2,54 0,58 0,17 0,60 15-20 80-100 48 0,12 40
Rosa 3,00 -3,50 0,25 - 0,50 1,50 -3,00 1,00- 2,00 0, 25 -0, 50 0,25-0,70 30 - 60 7-25 60 - 200 30-200 0,10-0,90 18-100
Seringueira
Viveiro
Adulto
3,00-3,35
2,60 -3,50
0,12- 0,18 0,60-0,93
0,16- 0,23 1,00-1,40
0,90-1,00
0,75 -0,85
0,35-0,40
0,17-0, 25
0,14- 0, 24
0,18- 0,26
20-68
20- 70
17-30
10-15
66-85
70 -90
11-35
15-40
1,71
1,5-2,0
34 55-
20 -30
Soja 3,15 -4,70 0, 20 - 0, 40 1,70- 2,75 1,00 -1,30 0,30 -0, 45 0,20 - 0,30 30-50 7-10 45-125 20-85 30-75
Sorgo 2,30- 2,90 0, 45 1,30-3,00 0,20 -0,90 0, 25 -0, 40 0,15- 0,60 10-30 70 -85 35-70 10-25
Tomate
Pec íolo 2 ,60-5,00 0,60 -0 ,80 7 ,00-9 ,00 1,50 -3,000 ,50 -0 ,90 0,45 -0,50 35-50 60-75 95-160 125-140
Limbo foliar 4,00-5,00 0,55-0,70 3,00-6,00 2,3-4,6 0,50- 0,75 - 25-40 260 -360 290-300 35-40
Folha 5,00 0,25 3,60 0,60 0,80 180 280 30-60
Trigo 3,00-3,30 0,20-0,30 2,30 - 2,50 1,40 0,40 0,40 20 9-18 16-28 1-5 20 -40
Violeta 3,00-6,00 0,30-0,70 3,00 -6,50 1,00-2,00 0,25 - 0,50 0,25-0,70 25-75 8-35 50-200 40-200 25-100
Uva 2,50 0,20 1,50 0,40 0, 40 15 40-100 25-40
Itá lia Florescimento 4,39 0,60 2,27 2,56 0,49 0,75 4 4 6 7 5
Itá lia Amolecimento 3,14 0,62 2,24 2,96 0,73 0,42 3 4 7 7 5
(1 )
Nível cr í tico em faixa de suficiê ncia .
nutricional. Compara ções de grande valor também podem ser obtidas de amostras
coletadas em diferentes situações de nível tecnológico adotado, por exemplo, alto, médio
e baixo, estabelecendo-se padr ões para a interpreta çã o dos resultados.
Os resultados indicam que a lavoura representada pela amostra (Quadro 18)
apresenta teor muito alto de N, baixo de P, K, S, Mn e Zn, adequado de Ca, Mg, Fe Cu e B,
M acronutriente
N P K Ca Mg S
d a g k g -i
A mostra 3 , 40 0 , 13 1 , 30 1 ,03 0 ,58 0 , 05
F a i x a C r í t i c a (1 ) 2 , 47 - 3 , 15 0 , 15 - 0 , 19 2 , 13 - 2 , 89 0 , 92 - 1 , 20 0 , 35 - 0 , 56 0 , 16 - 0 , 22
Micronutriente
Mn Fe Cu Zn B
m g k g -1
Amostra 95 65 21 4 41
F a i x a C rít i c a 115 - 286 5 7 - 94 13 - 29 6 -1 2 29 - 5 2
Fonte: (1 )
Martinez et al. (2003a ).
FERTILIDADE DO SOLO
834 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
mas nã o informam quais os nutrientes mais limitantes, tampouco como essas deficiências
e excessos poderã o ser corrigidos. As medidas corretivas deverã o ser tomadas com base
também na aná lise do solo, exigê ncias da cultura e histó rico da á rea .
Fertigramas
Fertigramas nada mais sã o que uma representa çã o grá fica dos NC. Sã o grá ficos
construídos com círculos concêntricos, com tantas divisões radiais quantos forem os
nutrientes. Na intersecçã o entre o círculo mediano e os segmentos radiais, sã o alocados
os valores dos NC determinados previamente para a cultura em quest ã o (Malavolta et
al., 1997).
As concentra ções obtidas das aná lises foliares de determinada lavoura sã o entã o
plotadas no fertigrama no raio correspondente a cada nutriente, e, após a liga çã o dos
pontos origina -se um polígono, a partir do qual se interpreta o estado nutricional da cultura.
Picos a partir do círculo de NC indicam excessos e reentr â ncias significam deficiência .
A utilizaçã o de fertigramas permite a aná lise visual da adequaçã o das concentrações
de cada nutriente em particular e a aná lise do estado nutricional da lavoura como um
todo, tomando-se por base os NC preestabelecidos. A visualiza çã o por meio de diagramas
é ú til principalmente onde ocorrem problemas nutricionais agudos, tanto por deficiências
quanto por excessos. Neste caso, é possível inferir de imediato a respeito da principal ou
principais limita ções nutricionais de determinada lavoura. No demais, apresenta as
mesmas vantagens e limita ções do n ível ou faixas críticas. Como exemplo, a figura 17
apresenta os fertigramas construídos para tr ês lavouras cafeeiras com produtividades
diferentes da região de Viçosa. A relação entre estado nutricional e produtividade é evidente.
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 835
Esse m é todo proposto por Montanes et al. (1993) permite conhecer o percentual de
desvio do teor de um nutriente qualquer em rela çã o à norma, bem como a ordem de
limita çã o nutricional em determinada amostra . É de f á cil aplica çã o e interpreta çã o.
Uma vez obtido o resultado da análise qu ímica das plantas, calcula -se o índice DOP
para cada nutriente analisado de acordo com a seguinte expressã o:
DOP
- [ (C x 100) / Cref ] -100
Quadro 19. Teores de macro e miconutrientes em uma amostra de folhas de cafeeiro da região
de Viçosa, MG , teores dos nutrientes preconizados pela norma para as mesmas condições
da amostragem ( Cref ) e o respectivo desvio percentual ó timo ( DOP )
Macronutriente
N P K Ca Mg S
Mn Fe Cu Zn B
Amostra ( mg kg 1 ) '
95 65 21 4 41
Cref ( mg kg 1 )
'
201 75 21 9 40
DOP -53 -13 0 -55 2, 5
FERTILIDADE DO SOLO
836 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
Em linhas gerais, o diagnóstico pelo DOP é semelhante ao obtido pelo mé todo das
faixas cr íticas. Neste caso, porém, hierarquizam-se as deficiências e os excessos. Vê-se
que o nutriente mais deficiente é o S, seguem-se, em ordem decrescente: Mn, Zn, K e P.
Cálcio, Cu, B e Fe nã o apresentam grandes desvios do padrã o de referência, enquanto Mg
e N apresentam concentra ções 26 e 21 % acima da norma (Quadro 19 ).
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçãO DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 837
Macronutriente
N P K Ca Mg S
Micronutriente
Mn Fe Cu Zn B
X,- ( mg kg 1 ) 95 65 21 4 41
*
X ( mg kg 1 )
*
201 75 21 9 40
CV % 79,43 24, 41 79,9 56,22 37,32
B % 89 90 100 78 102
O mé todo DRIS, preconizado por Beaufils (1973), baseia -se no cálculo de índices
para cada nutriente, considerando sua rela çã o com os demais. Envolve a compara çã o
das rela ções de cada par de nutrientes encontrados em determinado tecido da planta,
com as relações m édias correspondentes à s normas prestabelecidas a partir de uma
>
popula çã o de referência . Essas rela ções experimentam menores varia ções com a idade
da planta, por exemplo, do que os níveis cr íticos ou as faixas de suficiê ncia . Para o
estabelecimento de normas DRIS, é preciso ter grande quantidade de dados (da ordem de
centenas ) de teores de nutrientes e produtividade, tomados ao acaso, recomendando-se
que pelo menos 10 % da população amostrada componha o grupo de alta produtividade.
i
A população dividida em dois grupos, um de alta e outro de baixa produtividade, propicia
uma curva de distribuiçã o normal para os teores dos nutrientes ( Figura 18 ). A
subpopula çã o de alta produtividade é que será usada como referência no estabelecimento
das normas DRIS.
O DRIS permite identificar casos em que desequilíbrios nutricionais limitam a pro-
dutividade, mesmo quando nenhum dos nutrientes avaliados se encontra abaixo de seu
i
FERTILIDADE DO SOLO
838 REINALDO ' BERTOLA CANTARUTTI et al.
M Grupo de \
alta produ çã o
o Separatriz para
o produ çã o
3 Grupo de
O
baixa produ çã o
O
Q_
V
M édia N
Express ã o do nutriente*
NC, além de hierarquizar os nutrientes quanto à ordem de limitação. Uma das desvantagens
do m é todo é a maior dificuldade nos cá lculos dos índices, o que, no entanto, se supera
com o uso de aplicativos computacionais; outra é a depend ência entre os índices, que faz
com que um índice muito elevado influencie negativamente os demais, podendo-se diag-
nosticar deficiência para um nutriente que se encontra em concentra ções adequadas.
Inicialmente, calculam-se as normas, ou seja, a média, o desvio-padrã o e o coeficiente
de varia çã o das rela ções diretas e inversas entre nutrientes, dois a dois, para a populaçã o
de referência (alta produtividade ). Rela çã o direta é aquela em que o nutriente em questão
aparece no numerador ( N / P) e rela çã o inversa é aquela em que o nutriente em questã o
aparece no denominador (P / N) . O n ú mero de rela ções possíveis ( NR ) é obtido pela
seguinte equaçã o:
NR = n ( n - 1)
Z( A / B) + Z( A / C) + ... + Z( A / N ) - Z( B/ A ) - Z( B / C) - ... - Z( B/ N)
índice A =
2 (n - 1)
1
Quadro 21. índices DRIS e índices de balanço nutricional ( IBN ) para algumas lavouras cafeeiras
das regiões de Viçosa e Sã o Sebastiã o do Para íso, MG
sc ha ' 1 Vi ç osa
[
7 50, 67 2 3 0 -1 3 : -9 2 0 6 -2 -5 33
17 16, 00 -5 -6 -1 -5 8- 5 14 1 21 -13 -4 83
41 3 , 29 5 -15 -1 10 -12 1 5 4 -16 17 3 89
FERTILIDADE DO SOLO
840 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al.
89, enquanto suas produtividades médias sã o bem diferentes. Nesse caso, limitações de
outra ordem, como, por exemplo, fisiológicas ( plantas que já perderam os ramos
produtivos ) devem estar associadas à baixa produtividade da lavoura 41.
Considerando as estatísticas pafa as normas, referentes aos teores de N, P e K em
lavouras de caf é em Minas Gerais (Quadro 22), calcularam-se índices DRIS para os teores
destes nutrientes para a lavoura do exemplo (Quadro 18), que apresentam os teores de
3,40, 0,13 e 1,30 dag kg 1 de N, P e K, réspectivamente:
'
a ) Cá lculo das funções das rela çõ! es entre nutrientes, seguindo a f ó rmula de Jones
(1981):
Z ( A / B ) = i [ ( A / B ) - (a / b ) ] . k / s
+ Z( A / B) + Z( A / C) / ... + Z( A / N ) - Z( B / A ) - Z( B / C ) - ... - Z( B/ N )
í ndice A =
2( n - 1)
+ Z ( N / P) + j Z ( N / K ) + Z ( P / N ) - Z ( K / N )
índice N =
2(3 - 1)
A
+ (16,95) - (56,19) - (-12,35) - (-27,87)
índice N = = 28,34
2(3 - 1)
*
+ Z (P/ N ) + Z(P / K ) - Z( N / P) - Z( K / P)
índice P =
2(3 - 1)
+ Z (K / N ) Hí Z(K / P) - Z( N / K ) - Z(P/ K )
í ndice K =
2(3 - 1)
Quadro 22. Média, desvio-padr ã o e coeficiente de varia çã o (CV ) para as rela ções de teores de
nitrogé nio, f ósforo e potá ssio considerados norinas para lavouras de caf é em Minas Gerais
R e l a ç õ e s d a n o r m a 111 Média -
Desvio padrã o CV
%
N/P 18,100 4, 751 26 , 25
N/K 1,154 0 , 260 22 ,53
P/ N 0 , 059 0 , 017 28, 61
P/ K 0 , 067 0, 018 26 , 71
K/ N 0 , 906 0 ,188 20,80
K/P 16 ,113 4 ,849 30 ,10
d)
Rela ções entre concentra ções expressas em dag kg
Fonte: Martinez et al. ( 2004).
A rigor, este diagnostico nã o poderia ser comparado aos anteriores, pois, neste caso,
apenas três nutrientes foram envolvidos mas, tal qual nos demais, o excesso de N e a
deficiência de K são evidentes.
FERTILIDADE Dó SOLO
842 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
em que V; = variaveis multinutrientes para a amostra em teste; V; = mé dia das variá veis
multinutrientes da popula çã o de referêpcia ou norma; e Sj = desvio-padrão das variáveis
multinutrientes da popula çã o de referência .
FERTILIDADE DO SOLO
XIII - AVALIAçã O DA FERTILIDADE DO SOLO E RECOMENDAçã O DE FERTILIZANTES 843
sendo
Vi = ln (X / G)
1
Considerando uma amostra de folhas de sojà com teores de 32,0; 1,2 e 17,5; 7,5; 3,0 e
2,0 g kg 1 de N, P, K, Ca, Mg e S, respectivamerite e 28,3; 3,0; 105,8; 43,1 e 15,4 mg kg 1
' '
normas geradas por Kurihara ( 2004): calcularam -se os índices CND para N, P, K e Zn
como exemplo:
para o cá lculo das variá veis multinutrientes para os exemplos da amostra em teste,
calcularam-se, principalmente, Re G : j
ZXi = 32,0 + 1,2 + ... + 2,0 + 0,0283 + 0,0030 + ... + 0,0154 = 63,395
R = 1.000 - 63.3956 = 936,6044
VN = ln(32,0 / 0,862239)
VN = ín(37,112699) = 3,613959
VP = ln[ ( l,2 / (0,862239) ]
VP = ln(l,391726) = 0,330545
VK = ln[ (17,5 / (0,862239)]
VK = ln(20,296007) = 3,010424
VZn = ln(0,0154 / 0;862239)
VZn = ln (0,017860) = -4,025164
FERTILIDADE DO SOLO
844 REINALDO BERTOLA CANTARUTTI et al .
IVN = (VN VN ) / SN
IvN = (3,6140 - 3,49) ] / 0,19 = 0,652
IvP — ( Vp Vp) / sP
IvP = [0,3305 - 0,90] / 0,24 = - 2,373
!VK = ( VK - VK ) / SK
IvK = [ 3,0104 - 2,87] / 0,26 = 0,540
-
IvZn = [-4,0252 - (-3,39)] / 0,24 = -2,647
Dos quatro nutrientes diagn ò sticados como exemplos, encontram -se em
desequilíbrio, por falta , o Zn e o P, e o N e o K, sem limita ção .
e a aná lise dessa fraçã o sol úvel pode ser um melhor indicador de seu estado nutricional,
bem como da disponibilidade fisiológica destes nutrientes no tecido. Nesses casos, em
geral, os nutrientes são extra ídos de amostras de pecíolos com á cido acé tico diluído ou
á gua, ou mesmo macerando-se o material vegetal em cadinho inox. Tampouco neste
caso existem normas e mé todos universalmente aceitos (Lucena, 1997).
muitas espécies, a atividade da fosf á tase ácida, que catalisa a hidrólise de ésteres de
fosfato, é aumentada pela deficiência de P, podendo ser usada para o diagnóstico do
estado nutricional quanto a: esse elemento. O Zn é componente da anidrase carbónica,
que catalisa a reaçã o C02 + H20 —> H + + HC03\ Em muitas espécies, como, por exemplo,
citrus, existe estreita correla çã o entre atividade da anidrase carbónica e concentraçã o de
Zn. O Cu é componente da oxidase do á cido ascórbico, sendo esta enzima um bom índice
para Cu ativo no tecido. Para o Fe, cuja deficiência é dif ícil de ser diagnosticada com
base na análise dos tecidos, o diagnóstico pode ser feito com base na atividade da
peroxidase ( Bar-Akiva & Sternbaum, 1966; Lucena, 1997; Malavolta et al., 1997).
Uma das vantagens do diagnóstico metabó lico é sua alta sensibilidade, já que pe-
quena variação no conteúdo do nutriente acarreta alta variaçã o no conteúdo do metabólito.
A dificuldade em sua aplicaçã o deve-se ao fato de ser a varia çã o no conteúdo de determi-
nado metabólito ou na atividade de determinada enzima afetada por outros fatores que
nã o o nutriente em estudo, além de nã o existirem normas, nem mé todos universalmente
aceitos ( Bar-Akiva & Sternbaum, 1966; Lucena, 1997; Malavolta et al., 1997).
LITERATURA CITADA
ALVAREZ V., V.H . & LEITE, R. A . Fundamentos estatísticos das f ó rmulas usadas para cá lculo
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V.H.; FONTES, L.E. F. & FONTES, M. P.F., eds. O solo nos grandes domínios morfoclimá ticos
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5a Aproximação. Viçosa, MG, Comissã o de Fertilidade de Solo do Estado de Minas Gerais,
!
1999. p.303-305. ,
FERTILIDADE DO SOLO
!
1/
Departamento de Solos da Universidade Federal de Santa Maria .
CEP 97105-900 Sant á Maria ( RS ) .
carlosceretta @smail . ufsm .br; l'eandro@smail . ufsm . br
2/
SLC Agr ícola Ltda , Rua Bernardo Pires, 128, Bairro Santana,
CEP 98110 -020 Porto ; Alegre ( RS ) .
pavinato@slcagricola . com . br
Conte ú do
INTRODUÇÃ O ; 851
f
MODOS DE APLICA ÇÃO ; 855
LOCALIZA ÇÃ O ; 859
INTRODU ÇÃ O
í
SBCS, Vi çosa , 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( eds. NOVAIS, R . F., ALVAREZ V., V . H., BARROS,
\ t
N. F., FONTES, R . LF., CANTARUTTI, R . B. & NEVES, J . . L . ) .
I;
852 CARLOS ALBERTO CERETTA et al .
^
disponibilidade dos nutrientes está cima do nível crítico, a probabilidade de resposta
5
1
Figura 1. Rela ção entre o rendimento relativo das culturas como variá vel do teor de um nutriente
no solo e as indicações de aduba çã o para cada faixa de teor no solo .
Fonte: extra ído de CQFS-RS / SC (2004), a partir de Gianello & Wiethõlter (2004).
FERTILIDADE Dò SOLO
854 CARLOS ALBERTO CERETTA et al .
Cabe salientar que a lucratividade da atividade agr ícola é uma questã o de balanço
entre receita e despesa, seja qual for o nível tecnológico empregado. Neste sentido, a
análise da prá tica da aduba çã o é considerada como um investimento realizado dentro
do sistema de produ çã o da cultura e como o manejo da aduba çã o afeta a receita obtida.
Como exemplo desta análise, para a cultura do milho (Figura 2), observa-se que, embora
a má xima eficiência técnica da aduba çã o nitrogenada tenha sido obtida com as doses de
243 e 248 kg ha 1, a má xima eficiência econó mica foi obtida com 156 e 159 kg ha 1, nas
' '
Quadro 1. Custos da aduba çã o nitrogenada em cobertura (60 kg ha 1 de N ) para uma lavoura '
de milho, considerando a efici ê rjcia estimada com base em perdas potenciais por
volatiliza çã o, para fontes de N e formas de aplicaçã o
Custos
Fonte de N e modo Efici ê ncia Quantidade
Teor de N
de aplica çã o estimada aplicada Adubo Aplica çã o Total
% kg ha - 1 US$ ha -1
37,52(2 )
Uréia superficial
Uréia incorporada
45
45
60
90
222
148
°’ 25,01
1, 43
3,82
38,95
28,83
Nitrato de am ó nio superficial 33 95 191 34,19 1,43 35,62
Sulfato de am ó nio superficial 21 92 310 49,91 1,43 51,74
Foram considerados: preç os por tonelada em rr íaio de 2002: US$ 169; 161 e 179 para uréia, sulfato e nitrato de
amónio respectivamente
, , sendo os preç os obtidos em Cooperativas do Planalto do RS. Cota çã o em maio de 2002
1US$ = R$ 2 515
, . (1 )
60 kg ha
’ 1
N / 0 45 /
, 0, 60 = 222 kg ha 1 N "eficiente " aplicado . (2 ) A partir da quantidade
'
"eficiente" aplicada .
1.200 •
1.100 •
1.000 •
900 •
800
<0
.C 700
W 600 -
3
500
400
-
—
•
300
200
* Receita bruta 2002/03
Receita bruta 2003/04
Y
Y
-- -
803,61 + l ,505x 0.0031X2
978,70 + 1.884x - 0.0038X2
r2
r3 = 0,81
0,92
Figura 2. Receita bruta e líquida da produçã o de grã os de milho irrigado como variá vel de
doses de nitrogénio, nos anos agrícolas 2002 / 03 e 2003 / 04 em Cruz Alta, RS.
Fonte : adaptado de Girotto et al . (2004) .
FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA Á DUBA çãO 855
MODOS DE APLICA ÇÃ O
(1 > Mesmo o K tem sido aplicado parceladamente para algumas culturas como a soja em solos mais
arenosos ( veja capítulo IX ), como tamb é m ser á discutido mais adiante, neste capítulo.
FERTILIDADE DO | SOLO
856 CARLOS ALBERTO CERETTA et al .
Exemplo disso ocorre na regiã o Sul, onde alguns produtores deixam de aplicar
quantidades parciais ou totais da aduba çã o que seria distribuída na semeadura em
sucessã o. Com isso, o produtor teria maior agilidade na instalaçã o das culturas, melhor
utiliza çã o de maquiná rio e m ã o-de-obra, alé m de menor custo dos fertilizantes e do seu
transporte. Nesses casos, como o P é dm nutriente com forte sor ção pelo solo e não causa
saliniza çã o, o produtor tem dado preferência por utilizar formulações NPK com alta
concentra çã o de P e baixa concentra çã o de K ou até mesmo sem a presença de K, o qual
seria aplicado a lanç o antes ( no que se denomina potassagem , numa analogia à
fosfatagem) ou após a semeadura (em pré-semeadura ou em cobertura, respectivamente ).
Baseados nesses mesmos argumentos, especialmente em á reas de sistema plantio
direto as quais apresentam melhoria ira fertilidade dos solos, passou-se a utilizar, mais
intensamente, a distribui çã o de todos os fertilizantes fosfatados e potá ssicos a lanço em
pré-semeadura . Antes de qualquer coisa, é preciso evitar que as vantagens operacionais
da distribuiçã o dos fertilizantes a lanço motivem técnicos e produtores a utilizar esta
prá tica indevidamente. Considerando ser a difusã o o principal processo de transporte,
principalmente do P às ra ízes, deve-se ter em mente que um dos requisitos básicos para
a prá tica de distribuir a lanço e em superf ície é que o solo apresente teores de P acima do
teor crítico, a partir do qual a recomenda çã o baseia -se, principalmente, na aplicaçã o de
quantidades de nutrientes suficientes para repor a exportação pelas culturas. Isso porque,
nestas condições, a probabilidade de resposta das culturas à aplica çã o de fertilizantes é
baixa ( Heckmann, 2003; CQFS-RS / SC, 2004). Isto justificaria a afirma çã o de que, nestas '
kg ha -1
(2)
Testemunha sem aduba çã o 1.564 b 9.346 a
-
100 % trigo linhaO ) 100 % milho- linha 1.816 a 8.520 a
-
100 % trigo linha + 100 % milho- lan ço 1.879 a 8.502 a
100 % trigo-linha + 100 % milho- linha 1.858 a 8.909 a
100 % trigo-linha + 40 % milho- linha
100 % trigo-lanç o + 100 % milho-lan ç o
-
60 % milho linha 1.879 a
1.823 a
8.939 a
9.126 a
100 % trigo-lanço + 40 % milho-lanço 60 % milho-linha 1.681 ab 8.857 a
100 % trigo-lanç o 100 % milho-lan ço 1.816 a 8.449 a
100 % trigo-lan ço 100 % milho-linha 1.752 ab 9.018 a
5
CV ( % ) 6,94 5,38
Trigo-linha = aduba çã o recomendada para o trigo aplicada na linha de semeadura . Trigo-lan ço = aduba çã o
(1 )
recomendada para o trigo aplicada a lanço na semeadura. Milho-linha = adubaçã o recomendada para o milho aplicada
na linha de semeadura. Milho-lanço = adubação recomendada para o milho aplicada a lanço na semeadura. (2 ) Médias
seguidas de mesma letra, na coluna, nã o diferem pelo teste Duncan a 5 %.
Fonte: Extra ído de Pavinato & Ceretta (2004 ). :
)
•
Entretanto, introduzir esta prá tica, principalmente em solos com teores de P abaixo
do cr ítico, pode ocasionar diminuição na produtividade das culturas, motivo pelo qual a
aplica çã o a lanç o deve ser evitada nessa situa çã o, sendo a aduba ção na linha priorizada.
Esta afirma çã o est á caracterizada por resultados experimentais em que foi demonstrado
que a vantagem da aplica çã o da aduba çã o fosfatada na linha, em relaçã o à aplicação a
lanço, diminui à medida que há maior disponibilidade de P no solo, relacionada com a
quantidade aplicada anteriormente como aduba çã o corretiva (Quadro 3). Isso també m
foi realçado nas conclusões de Broch & Chueiri ( 2005), os quais observaram, no cultivo
da soja em Latossolo Vermelho distrof érrico textura argilosa e sob plantio direto no Mato
Grosso do Sul, que, em solos com boa fertilidade e bom teor de P, a aplicação do fertilizante
para manutençã o poderia ser a lanço em pr é-semeadura , incorporado na linha em pré-
semeadura ou no sulco de semeadura. Contudo, os mesmos autores ressaltaram que, em
solos com média fertilidade e baixo P, deve-se aplicar, pelo menos, 50% do fertilizante de
manutençã o da soja na linha de semeadura .
Nesse mesmo sentido, resultados obtidos pela Funda ção MT no campo experimental
de Sapezal-MT, em solo com 0,6 mg dm 3 de P (Mehlich-1), mostraram claramente que a
'
237 kg ha 1 de P2Os nas três safras, produziu 45,6 sacas ha 1. Outro ponto importante
" "
desse trabalho é o grande efeito residual acumulativo das aplicações de P nos solos
oxídicos do Cerrado (Quadro 4) .
No Boletim de Pesquisa da Soja 2005 (Fundação Mato Grosso, 2005), constam dados
de vá rios experimentos com aplicação de P a lanço e na linha de semeadura. Segundo os
resultados, em solos arenosos e com baixos teores de P, a aplicaçã o na linha de semeadura
Quadro 3. Produtividade de gr ã os de soja no quarto ano consecutivo, como variá vel do histórico
de aduba çã o fosfatada e dos modos de aplica çã o de fertilizante fosfatado em solo argiloso
de Sapezal, MT
kg ha 1 de P2O5
*
Produtividade de soja (sacas ha -1)
FERTILIDADE DO SOLO
858 CARLOS ALBERTO CERETTA et al .
argila ), em Sapezal, MT
Fósforo aplicado a lanço antes da semeadura e incorporado - apenas no primeiro plantio (kg ha-1 P2O5)
kg ha 1 P2O5
*
Produtividade de soja (sacas ha 1 ) *
% sacas ha %
(2 )
0 100 63,6 61 ,0 56 ,9 60 ,5 22,1 57 ,6
25 75 60, 0 61 , 4 56,1 59, 2 20,8 54, 2
50 50 57,4 57, 3 58, 7 57, 8 19, 4 50,5
75 25 51, 3 57,1 56, 0 54,8 16,4 42, 7
100 0 46, 2 55 ,4 49 ,8 50,5 12 ,1 31 ,5
Sem adubo 40 ,3 42 ,9 32,0 38 ,4
( 2)
Produtividade de soja em sacos ha’1 como variá vel da porcentagem da dose de P2Os aplicada a lanço: y = 61,4
- 0,0976 x (R2 = 0,932). (3) Variação em valores absolutos e relativos em relação à testemunha (sem adubo).
Fonte: Funda çã o MT, apresentado por Dalto (s.d .).
FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA ADUBAçã O 859
LOCALIZA ÇÃ O
(2)
Este seria o caso do espa çamento fechado de trigo versus o espa çamento aberto de milho e a tend ência
para se cultivar o milho em espa çamentos bem mais fechados ultimamente.
FERTILIDADE DO SOLO
860 CARLOS ALBERTO CERETTA et al .
FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA ADUBA çãO 861
(1)
Aná lise conjunta dos dados obtidos em 97 / 98, 98 / 99, 99 / 00, 00 / 01 e 01 / 02.
Mé dias seguidas pela mesma letra min ú scula , nas colunas, e maiuscula, nas linhas, nã o diferem entre si pelo teste
Duncan a 5 %. CV = 2,77 %.
Fonte : Dados nã o publicados, obtidos pela SLC Agrícola Ltda .
Além de o solo estar ú mido, outros fatores muito importantes a serem considerados
no momento da aduba ção nitrogenada com uréia aplicada na superf ície sã o as condições
de temperatura, luminosidade, umidade relativa do ar e ocorrência de ventos no per íodo
de 4 a 6 h após a aplica çã o, quando acontece a maior intensidade de hidrólise da uréia e
a transformaçã o química de NH2 para NH3 ( volá til) e NH4+ (está vel novamente). Portanto,
tã o importante quanto observar a condição de umidade do solo no momento da aplicação
é observar a condiçã o clim á tica pré e pós-aplica çã o, sendo preferível aplicar a partir da
metade da tarde com a superf ície do solo seca , ocorrendo a dissoluçã o e rea çã o somente
durante o período da noite, quando a umidade retorna à superf ície do solo, em rela ção à
aplica çã o pela manhã, ocorrendo a rea çã o durante o período quente do dia.
També m é importante considerar que a solubilidade de alguns insumos pode ser
diminuída se a aplica ção for conjunta ou em épocas muito próximas. Este é o caso do uso
de calcá rio e micronutrientes, de modo geral.
i No caso de Ca e Mg, cuja principal fonte é o calcá rio dolomítico, sua aplica çã o, na
maioria dos casos, é condicionada ao manejo da correçã o do solo. De modo geral, a
aplica ção de calcá rio como corretivo da acidez preconiza a aplica çã o deste insumo a
lanço três a seis meses antes da semeadura da cultura, com incorpora çã o na camada
ar á vel do solo para facilitar sua dissolução, o que determina a distribuiçã o de Ca e Mg no
perfil do solo. Entretanto, aplicações de calcá rio em sistemas de cultivo conservacionistas
podem determinar aplicações a lanço e em superf ície, proporcionando gradiente de
concentraçã o de Ca e Mg a partir da superf ície do solo.
O uso de formula ções NPK com produtos com Ca e Mg ou calcá rios com elevado
PRNT pode ocasionar incorpora çã o por aplica ções na linha de semeadura, o que pode
ser importante em solos com baixos teores desses elementos, em á reas novas onde ainda
nã o foi aplicado calcá rio dolomítico ou em á reas onde foram aplicadas quantidades
FERTILIDADE DO SOLO
862 CARLOS ALBERTO CERETTA et al.
FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA ADUBA çãO 863
> Todavia, para os solos com maior poder tamp ã o de P, essa aplica çã o antecipada deste nutriente, em
(3
rela çã o à semeadura, pode implicar significativas perdas de P na forma fixada pelo solo ( P nã o-
lá bil ). O tempo de contato da fonte de P com o solo atua sobre a disponibilidade deste nutriente para
as plantas ( veja o cap í tulo VIII ).
FERTILIDADE DO SOLO
864 CARLOS ALBERTO CERETTA et al.
90
80
70
ir ir ir ir = I r r i g aç ão
60
50
40
l l j I
30
20
10
oU 1 1 l x
E Novembro Dezembro Janeiro Feve reiro
E
o
TO
O
03 ( b ) Ano Agr í cola 1997 /98
Q.
O
o PS SE CO FLO
CL I ] I I
243 mm 152 mm 459 mm
100 -
i
90 >
ir irriga çã o = jr ir
80 - ir
70 -
-
60
50 - Y Y Y Y
40 -
30 -
20 -
10 -
0
Outubro
+
Novembro
i f + t
Dezembro
Tt -
+TTT I 11 , « , n
Janeiro
.
Figura 3. Distribuiçã o das chuvas no per íodo da aplicaçã o do nitrogénio em pr é-semeadura
até o florescimento do milho nos anos agr ícolas 1996 / 97 e 1997 / 98.
Fonte: Basso & Ceretta (2000) .
FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA ADUBAçãO 865
mg kg- de N no solo
1
0 15 30 45 60 75 90
05 -
N (kg ha- )
1
90- 30-00
Wm,
Q]
5 -10
(a ) g 60- 30- 30
TTT I
10-20 rv%vvi 0 30- 30-60
ãàf CS 00- 30-60
g] 00- 00- 00
20-40
E
o
QT
o
o
D
c
3
O
a. 0 -5 MOOH
N (kg ha- )
1
5 -10
r ( b)
[TQ 90- 30-00
g 60- 30- 30
gg 30- 30-60
i
-
10 20
r g 00- 30-60
r
gg 00- 00-00
20-40
V Safra
Dose de K 2O Modo de aplica çã o
92/93 93/94 94/95 95/96 Mé dia
31,4 g kg 1 de argila . Médias seguidas pela mesma letra nã o diferem entre si pelo teste Duncan a 5 %. CV =
'
5,61 %. (2) Cobertura 30 dias após a emergência. (3) Corretivo aplicado em 92 / 93 e adubação anual no sulco de semeadura.
Fonte: Dados nã o publicados, obtidos pela SLC Agr ícola Ltda .
FERTILIDADE DO SOLO
866 CARLOS ALBERTO CERETTA et al.
Uma abordagem dessa situa çã o foi feita por Mascarenhas et al. (1988), os quais
discutiram o problema surgido em lavouras de soja com deficiência de K no Estado de São
Paulo e citam que um dos fatores que estava contribuindo para isso era o uso de calcá rio,
o qual estava causando um desequilíbrio entre os teores de Ca, Mg e K nos solos. Contudo,
deve-se ressaltar que esta situaçã o é menos preocupante atualmente, sendo restrita a solos
mais arenosos e com baixo teor de K, porque a maioria das lavouras é conduzida sob
plantio direto e utilizam f órmulas mais adequadas com K. Além disso, as doses de calcá rio
utilizadas diminuíram com o tempo, dado o efeito residual de aplicações anteriores e da
meta a ser atingida pelos crité rios de satura çã o por bases e pH no plantio direto inferio-
res às do sistema com cultivo convencional, ou seja, com revolvimento do solo. Em determina-
das condições, pode ocorrer efeito contr á rio, baseado no fato de que a calagem aumenta
a CTC do solo e isso favorece a retençã o do K, diminuindo as perdas por lixivia ção.
A lixivia çã o de K tamb ém est á demonstrada nos dados apresentados por Vilela et al.
( 2002), os quais mostram que, em Latossolo Vermelho-Amarelo argiloso da regiã o do
Cerrado, a aplica çã o de maiores doses de K no sulco de semeadura favoreceu sua
lixivia çã o, em rela çã o à aplica çã o a lanço, e isso diminui o efeito residual das adubações
com este nutriente. Esses autores ressaltam que a aplicaçã o de K no sulco de semeadura
promove o incremento na sua concentra çã o em menor á rea de solo, o que favorece as
perdas por lixivia çã o.
Outro fator importante no manejo do K deve ser o de evitar suas perdas por
escoamento superficial. Isso é particularmente importante no plantio direto, porque
quanto mais argiloso o solo maior ser á a concentra çã o dos nutrientes nos primeiros
centímetros do solo, fruto das frequentes aplica ções de K e do nã o-revolvimento do solo
por opera ções de preparo. Outro aspecto particular do K é que, no final do ciclo das
culturas, a maior parte deste elemento absorvido retorna ao solo, proporcionando
aumento nos teores nas camadas superficiais. Entretanto, parte deste K concentrado na
superf ície do solo pode migrar para camadas inferiores, como observado no Sul do
Maranhão, em Tasso Fragoso, em solo de Cerrado com 30 g kg 1 de argila e 0,07 cmolc dm 3
" '
FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA ADUBA çãO 867
Quadro 8. Teores de pot á ssio no solo, ao longo do ciclo da soja sob plantio direto, ap ós
aplica çã o de 140 kg ha -1 de KC1 a lanço em pr é-semeadura , em resposta à precipitaçã o
pluvial em Tasso Fragoso, MA
Precipita çã o
Profundidade
202 mm em 09/11/95 1.005 mm em 09/02/96 1.400 mm em 10/04/96
cm Teor de K (cmolc dm - 3 )
0 -1 0,22 0 ,12 0 , 35
1-3 0 , 21 0 , 08 0 , 19
3 -10 0 , 17 0, 05 0, 05
10 -20 0 , 09 0, 05 0 , 03
M é dia ponderada 20 -40 0, 04 0 , 03
M é dia 0-20 0, 13 0, 09 0, 07
Quadro 9. Teores de pot á ssio no solo, ao longo do ciclo da soja sob plantio direto, após aplica çã o
de 110 kg ha 1 de KC1 a lanço em pr é-semeadura , em resposta à precipita çã o pluvial em
'
Sapezal, MT
;
0 -1 0 ,17 0, 29 0,10 0, 22
1-3 0,17 0,15 0, 12 0,16
3-10 0,17 0, 08 0,17 0, 09
10-20 0, 08 0, 07 0,17 0, 07
20 -40 0, 05 0, 05 0, 06 0, 05
maior exigência desse nutriente neste sistema de cultivo para aumentar a resistência das
plantas ao acamamento. Também no sistema pré-germinado, aplica ções de P e K na
semeadura podem favorecer o crescimento de algas e dificultar o estabelecimento das
plâ ntulas, para os quais a aplicaçã o de fertilizantes fosfatados e potássicos em cobertura
;*
alguns dias após a semeadura pode ser uma estratégia indicada, embora a eficiência
agronómica desta pr á tica ainda nã o esteja consolidada .
No cultivo de milho sob irriga çã o por aspersã o, a aplica çã o de parte do K em
cobertura a em vez de aplicá -lo todo na semeadura também pode ser uma estratégia
viá vel, especialmente em solos com altos teores de K. Isso ocorre por que, em muitos
FERTILIDADE DO SOLO
868 CARLOS ALBERTO CERETTA et al .
casos, é desejá vel elevar a dose de N até pr óximo de 40 kg ha 1 na semeadura, o que leva
'
(4 > Resultados apresentados no quadro 5 indicam sobre os riscos económicos deste procedimento ( veja
capí tulo VIII ) .
FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA ADUBA çãO 869
FERTILIDADE DO SOLO
870 CARLOS ALBERTO CERETTA ét al.
também depende das características dos produtos e a coincid ência com outras pr á ticas
de manejo da lavoura, isso tudo para diminuir os custos de aplicação dos micronutrientes.
Estudos sobre efeitos do modo de aplica çã o de fertilizantes que contê m
micronutrientes ainda sã o muito incipientes no Brasil, especialmente considerando que
o emprego destes nutrientes ainda é bastante questionado, tendo em vista a ausência ou
falta de consistência na resposta das culturas em diversos experimentos (veja capítulo XI).
Entretanto, das culturas de grãos, uma das que apresentam maior probabilidade de resposta
à aplica çã o de micronutrientes via tratamento de sementes ou pulveriza ções foliares é a
soja, dada a importâ ncia do Mo e Co nos processos de fixaçã o biológica do N2, inclusive
com indicaçã o de doses por aplicar, dependendo do modo de aplicação CQFS-RS / SC (2004).
Exemplo da dificuldade em avaliar a eficiência da aplicação de micronutrientes foi a
utiliza çã o via foliar, especialmente de Mo e Co em soja no RS, durante dois anos em
Latossolo Vermelho distrof é rrico típico e sob plantio direto há oito anos, cujos resulta -
dos na produtividade de grã os de soja foram contraditó rios (Ceretta et al., 2005) (Qua -
dro 10) . Contudo, esses autores també m concluíram que, na maioria dos casos, o retorno
econ ó mico da aplica çã o de micronutrientes foi positivo, mas evidenciou a dependência
de altas produtividades e preços favor á veis da soja no momento da comercializaçã o.
US$ ha -i
Ano agr ícola 2001 / 02
Co Mo 0,90 -
7,53 -8, 43
Co Mo + Mo 1,53 14,08 12,55
Co Mo + Mo + Mo 3,67 52,86 49,19
Co Mo + Mo + P30 4,91 14, 73 9,82
Co Mo + B 4,20 0,00 -4, 20
B 3,30 29,46 26,16
Mo 0,63 -2,13 -2,76
Mo + Mo 2,77 -10,97 -13,74
Ano agr ícola 2002 / 03
Co Mo + 2 x Mo 3,80 62,76 58,96
Ço Mo + 2 x Mo + B 5, 20 48,13 42,93
Co Mo + 2 x Mo + Phit. PK 11,34 98,56 87,22
Co Mo + 2 x Mo + Fortifol CaB 3,30 30,99 27,69
Co Mo + 2 x Mo + LBE-PTl 7,99 55,83 47,84
Co Mo + 2 x Mo + P30 4,81 55,25 50,44
Co Mo + 2 x Mo +Stimulate 10,31 30, 22 19,91
(1 )
Foi considerado o preço m édio da saca de soja a US$ 9,82 em junho de 2002 e US$ 11,55 em junho de 2003.
(2 )
Considerando o preço dos produtos comerciais Co Mo Plus 250 = 9,96 e 8,10 US$ L’1; Molibdato de Na = 5,28 e
8,38 US$ kg 1; P30 = 0,94 e 0,50 US$ L 1; Solubor = 1,80 e 1,40 US$ kg 1, para os anos de 2001 / 02 e 2002 / 03,
* ’
respectivamente; Phitosol PK = 3,77 US$ L 1; Fortifol CaB = 1,12 US$ L 1; LBE-PT1 = 41,90 US$ L 1; e Stimulate =
"
21,79 US$ L 1. Inclu ído o custo de aplica çã o de 1,50 e 1,06 US$ ha 1 para cada aplicaçã o aos 60 ou 90 DAE em 2001 /
' "
02 e 2002 / 03, respectivamente. Valores obtidos considerando a conversã o do d ólar sendo equivalente a R$ 2,54 e
3,58 para o mês de novembro dos anos de 2001 e 2002, respectivamente.
Fonte : Extra ído de Ceretta et al. (2005) .
FERTILIDADE DO SOLO
XIV - MANEJO DA ADUBAçãO 871
No Mato Grosso do Sul, em um Latossolo Vermelho distrof érrico sob plantio direto,
constatou -se também aumento da produtividade de soja com aplicaçã o de Mo e Co, na
maioria dos casos, via tratamento de sementes, e esse aumento foi associado ao incremento
no teor de N nas folhas da planta, evidenciando os efeitos desses elementos sobre a
fixaçã o biológica do N 2 ( Broch & Ranno, 2005). A flexibilidade na é poca de aplica çã o de
Mo e Co em soja é respaldada pela mesma eficiência que pode apresentar sua aplica çã o
nas sementes ou via foliar (está dio fenológico V4-V5), conforme observaram Broch &
Ranno ( 2005), determinando que aspectos económicos e operacionais podem ser mais
relevantes na escolha por uma ou outra forma de aplica çã o . Contudo, é relevante
considerar que esses mesmos autores ressaltaram que a utiliza çã o de Mo e Co na soja
proporcionou incrementos na produtividade de grãos com tendência de menores respostas
quando as sementes utilizadas na semeadura continham maiores teores de Mo; assim
sendo, a probabilidade de resposta aos micronutrientes parece ser mais determinante do
que o modo de aplica çã o utilizado.
LITERATURA CITADA
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BASSO, C.J . & CERETTA , C. A . Manejo do nitrogé nio no milho em sucessã o a plantas de
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BROCH, D.L. & CHUEIRI, W .A . Estratégias de aduba çã o na cultura da soja em sistema plantio
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BROCH, D. L. & RANNO, S.K. Efeito da aplica çã o de molibd ênio e cobalto na produtividade da
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CERETTA, C.A . & SILVEIRA, M.J . Nitrogénio para o milho: Épocas e formas de aplica çã o e
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Resumos. Passo Fundo, Pioneer Sementes, 2002. 14 p. CD-ROM
CERETTA, C. A.; BASSO, C.J .; DIEKOW, J .; AITA, C .; PAVINATO, P.S.; VIEIRA, F.C . B. &
VENDRUSCULO, E.R .O. Nitrogeri fertilizer split-application for corn in no- till succession
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CERETTA, C. A.; PAVINATO, A .; PAVINATO, P.S.; MOREIRA, I.C.L.; GIROTTO, E. & TRENTIN
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FANCELLI, A.L. & DOURADO NETO, D. Cultura do milho: Aspectos fisiológicos e manejo da
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FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU
MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO
Ibanor Anghinoni1'
17
Departamento de Solos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Av . Bento
Gon ç alves 7712, CEP 90.540-000 Porto Alegre ( RS) . Bolsista do CNPq .
ibanghi@ ufrgs . br
Conte ú do
INTRODUÇÃ O 874
,* »
SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V ., V.H., BARROS,
N.F., FONTES, R .LF., CANTARUTTI, R.B. & NEVES, J .C.L. ).
874 IBANOR ANGHINONI
AGRADECIMENTOS 919
LITERATURA CITADA .919
INTRODUÇÃ O
A semeadura direta, sem nenhum preparo ou mobiliza çã o do solo, que surgiu como
uma simples técnica de manejo com o objetivo básico de controle da erosã o hídrica do
solo, evoluiu para um sistema complexo e ordenado de produção agrícola, denominado,
no Brasil, de sistema plantio direto. A sua adoçã o nos agroecossistemas tropicais e
subtropicais, em substituição à prá tica de agricultura em terra "nua", tem-se caracterizado
como um investimento na preservação dos recursos naturais e sócio-econômicos (Muzilli,
2000; 2002). Sob a ó tica sisté mica, o plantio direto combina prá ticas biológico-culturais
com prá ticas mecâ nico-químicas, pressupondo alguns requisitos básicos que envolvem
a condiçã o prévia do terreno, o nã o-revolvimento do solo, o uso de rotaçã o de culturas e
a adoção de métodos integrados de controle de plantas invasoras, de pragas e de doenças.
As primeiras tentativas de adoçã o desse sistema no Brasil ocorreram na regiã o Sul,
no início da d écada de 70. Após um per íodo de desenvolvimento pouco expressivo,
decorrente de dificuldades iniciais relacionadas com a pouca eficiência das semeadoras
disponíveis, compactação do solo, controle de plantas invasoras e controle fitossanitá rio,
houve uma grande expansão de á rea a partir do início da década de 90. A á rea, atualmente
cultivada no sistema plantio direto no Brasil, é maior que 25 milhões de hectares
(FEBRAPDP, 2007), ocupando o segundo lugar no mundo, superada apenas pelos Estados
Unidos (EUA).
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 875
A primeira mençã o a respeito do plantio direto surgiu na década de 30, nos EUA, em
decorrência das tempestades de poeira, que levaram Edward H. Faulkner a afirmar que
" ninguém at é hoje ofereceu raz ão cient ífica para arar o solo" ( Baker et al., 1996). O plantio
direto, como forma de manejo do solo, surgiu na década de 40, na Estaçã o Experimental
de Rothamsted, na Inglaterra (Koronka, 1973), ao ser constatado que as plantas podiam
crescer satisfatoriamente sem o preparo do solo, desde que não houvesse competiçã o
com invasoras. Uma das principais razões para arar e gradear o solo era, então, controlar
as plantas invasoras.
O preceito de Faulkner, sobre a inexistência de razões para arar o solo, não tardou a
ter influência nos processos de preparo do solo. Os primeiros estudos em plantio direto,
já na d écada de 50, foram desenvolvidos nos EUA, em decorrência do surgimento dos
herbicidas, que foram desenvolvidos durante e logo após a Segunda Guerra Mundial. A
utilizaçã o do plantio direto por parte dos agricultores daquele País ocorreu na década
de 60, na cultura do milho (Phillips & Young, 1973). Essa forma de manejo do solo
tornou -se viá vel e pr á tica, graças ao desenvolvimento dos herbicidas de contato nã o
residuais, comercializados a partir de 1961 (Koronka, 1973).
O plantio direto é conhecido por vá rias expressões em diversos idiomas. No seu
início, na Inglaterra, foi denominado direct -árilling , també m atualmente conhecido, em
FERTILIDADE DO SOLO
876 IBANOR ANGHINONI
inglês, como direct - seeding , no- tillage , no-till , zero-tillage, sod - planting , sod - seeding , direct -
planting , Chemical ploughing e residue farming ( Baker et al., 1996 ) e, mais recentemente,
também como sustainable farming , por suas caracter ísticas gerais de preserva çã o dos
recursos naturais. Em alemã o, é conhecido como: direktsaat e fesbodenmulkchwirtschaft
(Ehlers & Claupein, 1992 ); em espanhol: cero labranza e siembra directa; e, em português
como: sem preparo , preparo nulo , semeadura direta , plantio direto , plantio direto na palha e
agricultura conservacionista ou sustent ável .
Uma grande mudança ocorreu quando o plantio direto passou de uma simples opção
de controlar a erosã o para um sistema ordenado de prá ticas agr ícolas interligadas e
altamente dependentes entre si: sistema plantio direto. No Brasil, embora tenha havido
alguma discussã o sobre a adequa çã o do termo entre os pesquisadores, foi adotada a
expressã o sistema plantio direto para a sua denomina çã o (Curi et al., 1993). Considerando
que este sistema permite melhorar a capacidade produtiva do solo, evitando a erosã o e
aumentando o teor de matéria orgâ nica, ele també m poderia ser chamado de agricultura
regenerativa , quando forem utilizadas todas as boas pr á ticas que permitem sua
consolida çã o. Instituições internacionais, como o Banco Mundial e a FAO, estã o
assumindo a tecnologia do plantio direto como bandeira da agricultura do III milénio,
elevando-o à categoria de uma verdadeira "Revoluçã o Azul", por causa de suas amplas
e favorá veis implica ções ambientais, produzindo alimentos para a humanidade e
preservando os recursos naturais para futuras gera ções (Bartz, 2001) .
No Brasil, o plantio direto surgiu na regiã o Sul, quase que simultaneamente nos
Estados do Paraná (1972) e do Rio Grande do Sul (1973) . Nessa ocasiã o, enquanto o Sr.
Herbert Arnold Bartz, considerado o pioneiro no Pa ís, já o introduzia em 220 ha de sua
propriedade na regiã o dos Campos Gerais, no Estado do Paraná , o Instituto Agronómico
do Paraná ( IAPAR ) e a Embrapa Trigo ( RS) iniciavam as primeiras pesquisas. Estas
pesquisas foram bastante intensificadas a partir de 1973, com o trabalho de parceria
dessas instituições com a empresa privada inglesa ICI ( Imperial Chemical Industries),
que visava ao controle de plantas invasoras com a combinaçã o de herbicidas residuais e
nã o-residuais e a utiliza çã o da semeadora FNI ( Rotacaster ); em que os elementos
rompedores desta eram constituídos por enxadas rotativas acopladas a um eixo fixo.
Essa semeadora, no entanto, apresentava muitos problemas de semeadura e de
distribuição de adubos. A primeira lavoura comercial no Rio Grande do Sul foi instalada
pelo produtor José Carlos da Veiga Mello, em 1974, na região das Missões (Wiethõlter, 2000).
A adoçã o do sistema plantio direto foi lenta nas d écadas de 1970 e 1980. Os
principais problemas que restringiam o seu avanço eram o desconhecimento do seu
manejo e a resistência , por parte de técnicos e de produtores, às mudanças de conceitos
e de atitudes. Dentre os entraves tecnológicos, destacavam-se a inexistência de máquinas
para semeadura em solo nã o preparado e coberto de palha, a dificuldade de controle das
invasoras, o alto custo dos herbicidas e as incertezas a respeito do manejo da calagem e
da adubação.
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 877
J
Figura 1. Evoluçã o da á rea cultivada no sistema plantio direto em diferentes regiões do Brasil.
Fonte : FEBRAPDP ( 2006 ) .
I
I FERTILIDADE DO SOLO
878 IBANOR ANGHINONI
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 879
FERTILIDADE DO SOLO
880 IBANOR ANGHINONI
AMOSTRAGEM DO SOLO
Quadro 1. Coeficiente de variaçã o de pot á ssio e de f ósforo disponíveis em solos com mais de
cinco anos em diferentes sistemas de cultivo e respectivo n ú mero de subamostras
f = 10 % f = 20 % f = 10 % f = 20 %
Souza Convencional *4 ) 25 38 20 5 55 14
(1992) Plantio direto* 4) 32 35 50 13 45 11
> n = ( ta / rCV / f )2, em que CV é o coeficiente de variação (%), t é o valor da tabela de Student a 5 % de
(1
FERTILIDADE DO SOLO
i
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 881
FERTILIDADE DO SOLO
882 IBANOR ANGHINONI
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 883
Quadro 2. Coeficiente de varia çao e n ú mero de subamostras a serem coletadas por diferentes
equipamentos em lavouras no sistema plantio direto com diferentes modos de aduba çã o
%
Lan ço *2 ) Trado de rosca 47 23
Pá de corte*4 ) 33 11
(1 )
n = ( t a / 2.CV / f ) 2, em
que CV é o coeficiente de varia çã o ( % ), t é o valor da tabela de Student a 5 % de
probabilidade de erro a e f é a varia çã o em torno da m é dia de 20 %. (2) Nove anos. (3) Doze anos. ( 4 ) 5 x 10 cm .
í5) 5 cm x largura da entrelinha .
FERTILIDADE DO SOLO
884 IBANOR ANGHINONI
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 885
Figura 4. Amostragem de solo em lavoura em plantio direto com aduba çã o anterior em linha .
Fonte: CQFS RS / SC ( 2004) .
FERTILIDADE DO SOLO
886 IBANOR AIMGHINONI
ACIDEZ E CALAGEM
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 887
Manejo do solo
Espécie/atividade
*
Convencional Plantio direto
%
Al 3+ 4,0 2,5
Al (OH ) 2+ 1,6 1,6
Al (OH )2+ 42,0 25,0
Al (OH ) 3 1,3 0,7
Al (OH ) 4 + < 0,1 < 0,1
AISO4 + 0,6 0,2
AIH2PO42 + < 0,1 . < 0,1
Al -ligantes orgânicos 49,0 70,0
Atividade de AI (mol L 1) *
1,0 x 10-5 1,0 x 10*
FERTILIDADE DO SOLO
888 IBANOR ANGHINONI
Quadro 4. Alum ínio complexado na solu çã o do solo por á cidos org â nicos de alta massa
molecular ( á cidos f ú lvivos) estimado por diferentes mé todos
Sistema de cultivo
M é todo de separa çã o Solo Tempo de cultivo
Convencional Plantio direto
Ultrafiltragem LVafO ) 14 25 68
LVd 3 ( 2 ) 8 34 61
(1 ) (2 )
Latossolo Vermelho aluminof é rrico t ípico com rota çã o aveia / soja / ervilhaca / milho. Latossolo Vermelho
distr ófico t ípico com rota çã o cevada / soja / ervilhaca / sorgo.
Fonte : Salet (1998) .
_
Quadro 5. Teores de alumínio extra ído com KC1 (1 mol L 1 ) em diferentes solos e sistemas de
manejo do solo
Latossolo Vermelho aluminof érrico - 8 anos Latossolo Vermelho distr ófico - 11 anos
Manejo do solo
pH -á gua AI tr ò c pH - á gua AI troe
emole dm 3 *
cmolc dm-3
Convencional 5,0 0 ,92 5, 0 2,10
Plantio Direto 5,0 0, 44 4 ,9 1,80
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 889
Quadro 6. Saturaçã o por alumínio e f ósforo disponível pela aplica çã o de doses de f ósforo em
um Latossolo Vermelho distr ófico com diferentes condições de acidez e cultivado por
sete anos no sistema plantio direto
pH do solo
kg ha % mg kg -1 % mg kg - % mg kg 1
0 76 28 30 30 0,07 29
40 48 44 26 50 0, 01 48
80 44 54 20 59 0,17 58
i
direto . Essa pr á tica justifica -se pela manuten çã o das caracter ísticas f ísicas,
principalmente a agrega çã o, favor á veis à conserva çã o e à eleva çã o do nível de ordem
(complexidade ) do solo, obtidas ao longo do tempo ( Mielniczuk et al., 2003) .
i -
FERTILIDADE DO SOLO.
890 IBANOR ANGHINONI
150 n
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X
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Passo Fundo Sarandi Passo Fundo Marau
Figura 6. Respostas das culturas à aplica çã o superficial de calcá rio em plantio direto a partir
de lavouras e de campo natural.
Fonte: Põ ttker (2000) .
pelas condições de clima e solo e pelos sistemas de cultivo, que favorecem a ação corretiva
do calcá rio no perfil do solo. A falta ou a pequena resposta das culturas, observadas em
solos sob plantio direto após longo tempo ( até 10 anos ) ao sistema plantio direto,
possibilitam concluir que o efeito residual do calcá rio é maior do que o observado no
sistema convencional.
Efeito em Profundidade
Os efeitos na neutraliza çã o da acidez ( reduçã o da toxidez de Al ) e no deslocamento
de cá tions de cará ter bá sico, no perfil do solo, decorrentes da aplica çã o de calcá rio na
superf ície, sã o detectados na subsuperf ície após períodos relativamente curtos no sistema
plantio direto. Esses efeitos ocorrem predominantemente até à profundidade de 10 cm,
mas também ocorrem na camada de 10-20 cm e na camada de 20-40 cm. A velocidade de
descida em que esses efeitos sã o observados depende da qualidade e dose de calcá rio i
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 891
Satura ç ao
Autor Solo
Dose de Tempo da pH
calc á rio aplica çã o á gua Sat. Al *7 )
bases *6 )
t ha -1 ano cm
Amaral & Anghinoni ( 2001) Franco -argiloso * 1) ( PVD ) *3 ) 4,2 5 5, 0 5 5, 0
Rheinheimer et al . ( 2000a ) Arenoso * ( PVA )
2) 17,0 4 10, 0 10 10, 0
Põ ttker ( 2000 ) Argiloso * ( LVA )
1) 7,0 3 12,5 10 10, 0
Argiloso *1 ) ( LVD ) *5) 10, 7 3 12,5 10 10,0
Petrere & Anghinoni ( 2001) Franco-argiloso * 2 ) ( LVD ) *5) 6, 0 3,5 15,0 15 12,5
Mé dia 9, 0 3, 7 11 , 0 10 9,5
A partir de lavouras no preparo convencional. (2 ) A partir do campo natural . {3) PVD = Argissolo Vermelho
(1 )
distr ófico. (4 ) LVA = Latossolo Vermelho aluminof é rrico. (5) LVD = Latossolo Vermelho distr ófico. (6) Sat. bases =
100 (Ca 2 + + Mg2 + + K + + Na + / CTC PH 7,0) . (7) Sat . Al = 100 ( Al3+ ) / CTCefetiva .
Fonte: Adaptado de Anghinoni & Salet ( 2000) .
d ) produçã o contínua de ácidos orgâ nicos hidrossol ú veis (de baixo peso molecular ),
que complexam os cá tions divalentes (Ca e Mg) na forma neutra (CaL° ou MgL°) ou
negativa (CaL ou MgL ). A altera çã o de carga, mediante a forma çã o de pares
' "
O manejo da calagem em plantio direto ainda carece de muitas informa ções, uma
vez que a matéria orgâ nica, a mineralogia e a textura do solo influenciam sensivelmente
a forma çã o de cargas e o poder tampã o do solo (Sá, 1999 ). Inicialmente, é importante
considerar os aspectos relativos ao hist órico da á rea para melhor compreensã o da
dinâ mica da acidez no sistema .
)
FERTILIDADE DO SOLO
892 IBANOR ANGHINONI
da necessidade de calcá rio calculada pelo mé todo da satura ção por bases para a camada
de 0-20 cm de solo; aplicar, no má ximo, 2,0 t ha 1. No entanto, para qualquer solo, quando
'
forem determinados valores de satura çã o por bases maiores que 50 %, nã o deve ser
aplicado calcá rio na superf ície do solo, pelo risco de indução à deficiência de nutrientes
(ZneMn ).
Para o Estado de Minas Gerais, Lopes et al. (1999) sugerem que, após a instalaçã o do
plantio direto, as doses de calcá rio podem ser diminuídas em um terço, quando a
amostragem for feita na camada de 0-20 cm, e à metade, quando a amostragem for feita
na camada de 0 a 10 cm. Nesses casos, deve-se utilizar calcá rio de granulometria fina
com menores doses anuais ou bienais, em vez das doses usuais a cada quatro ou cinco
anos, como efetuado no sistema convencional .
Nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, a CQFS RS / SC (2004)
apresenta maior detalhamento das recomendações de calagem, com a utilização conjunta
de quatro critérios: pH em á gua < 5,5, satura çã o por bases < 65 %, satura çã o por Al
> 10 % e teor de P ( Mehlich-1) < "Muito alto". No quadro 8, sã o apresentadas as
recomenda ções de calagem para culturas de gr ã os e plantas forrageiras. No sistema
plantio direto consolidado, a amostragem é na camada de 0-10 cm com aplica ção de
calcá rio na superf ície do solo. São utilizados, inicialmente, dois critérios principais em
conjunto: pH em água < 5,5 e saturação por bases < 65 %, e, para as forrageiras nativas,
além desses, sã o utilizados os teores de Ca e Mg trocá veis: < 2,0 e < 0,5 cmolc dm 3, '
respectivamente . Quando um dos critérios (pH em á gua < 5,5 ou satura çã o por bases
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 893
Lobato, 2004).
cm
Implanta çã o a partir de lavoura ou campo 0 a 20 pH < 6,0(2) 1 SMP para Incorporado *4)
natural , quando o í ndice SMP for < 5,0 pH á gua 6,0
Implanta çã o a partir de campo natural, 0 a 20 pH < 5,5 ou 1 SMP para Incorporado *4)
quando o í ndice SMP for de 5,1 a 5,5 V < 65 % 0) pH á gua 5,5 ou Superficial *5)
Implanta çã o a partir de campo natural, 0 a 20 pH < 5,5 ou 1/ 2 SMP para Superficial *5)
quando o í ndice SMP for > 5,5 V < 65 % 0) pHá gua 5,5
(1 )
.Corresponde à quantidade de calcá rio estimada pelo índice SMP, em que 1 SMP é equivalente à dose de calc á rio
para atingir o pH . gua desejado na camada de 0-20 cm . (2) Nã o aplicar calcá rio quando a satura çã o por bases (V ) for
> 80 %. (3) Quando somente um dos critérios fo/ atendido, n ã o aplicar calcá rio se a satura çã o por AI for < 10 % e o
teor de P for < "Muito Alto". ( 4 > A opçã o de incorporar o calcá rio em campo natural deve ser feita com base nos
demais fatores de produ çã o locais. Se optar pela incorpora çã o do calcá rio, aplicar a dose 1 SMP para pHágua 6,0.
(5)
No m á ximo 5 t ha 1 de calc á rio ( PRNT 100 %).
'
FERTILIDADE DO SOLO
894 IBANOR ANGHINONI
O estoque de maté ria orgâ nica do solo no tempo (dC / dt ) é resultante do balanço
entre as adições (A.kJ e as perdas (-k 2.C) (Greenland & Nye, 1959 ), ou seja:
dC / dt = A.kj - k 2.C. (1)
O acúmulo de matéria orgâ nica no solo, verificado no sistema plantio direto, deve-
se à a ção benéfica e simultâ nea nos dois termos da equa çã o 1: maiores taxas de adiçã o,
pela maior produçã o de biomassa vegetal, considerando o uso de plantas de cobertura e
a rota çã o de culturas, e menores taxas de perdas por erosã o e menor decomposiçã o da
matéria orgâ nica e de resíduos, pelo nã o-revolvimento do solo.
Além da quantidade de fitomassa produzida pelas culturas de cobertura, é desejável
que elas tenham a capacidade de incorporar N ao solo, quer pela fixaçã o simbió tica, quer
pela reciclagem do sistema . Essas características, juntamente com a relação C:N, permitem
conhecer a capacidade de cada espécie em manter uma boa cobertura vegetal sobre o solo
e acumular N na palhada. Em vista do elevado teor de N e da baixa rela çã o C:N, as
leguminosas de outono / inverno, cultivadas na regiã o Sul, podem suprir quantidades
apreciá veis desse nutriente às culturas subsequentes, especialmente para as mais
exigentes, como o milho, em solos com baixo teor de matéria orgâ nica. Por outro lado,
dada a sua rá pida decomposiçã o no solo, em rela ção às gramíneas, as leguminosas são
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 895
menos eficientes em cobrir o solo após serem dessecadas ou roçadas . Assim, o tipo ideal
de cobertura de solo é o que apresenta uma taxa de decomposição dos seus resíduos
compatível com a manutençã o do solo protegido contra os agentes erosivos por mais
tempo e com o fornecimento de N sincronizado com a sua demanda pelas culturas
comerciais utilizadas na sucessã o (Oliveira et al., 2002 ).
O sistema radicular das plantas també m é de grande importâ ncia no ac ú mulo de
matéria orgâ nica no solo, por sua a çã o na formaçã o de agregados, aproximando as
partículas de solo, em decorr ência do fluxo de á gua no sistema solo- planta -atmosfera , e
posterior estabiliza çã o dos mesmos pelos exsudados radiculares . Apesar de
potencialmente produzir menor quantidade de fitomassa, a contribuiçã o do sistema
radicular para os estoques de C pode ser superior à da parte a é rea das culturas ( Bayer,
2002; Sá et al., 2004a ) . A matéria orgâ nica adicionada pelo sistema radicular apresenta
maior recalcitr â ncia , pela maior rela çã o lignina:nitrogênio, mitigando també m o efeito
negativo de adensamento ou compacta çã o do solo e contribuindo para o ac ú mulo de C
orgâ nico em profundidade.
O ac ú mulo de maté ria orgâ nica e de nutrientes inicia -se na superf ície e aprofunda -
se no perfil do solo com o tempo de adoção do sistema plantio direto ( Figura 2). A taxa de
ac ú mulo e de descida no perfil do solo é proporcional à quantidade de palhada
adicionada , quando cultivada em plantio direto e é adicionado adubo nitrogenado
( Figura 7) : assim, aveia + vica ( inverno ) / milho + caupi ( verã o ) acumulam mais do que
aveia (inverno) / milho (ver ã o). Os ac ú mulos sã o maiores nos solos com maior resiliência
( Argissolo maior do que em Latossolo). Após 22 anos de plantio direto, houve ac ú mulo
de 15,5 t ha 1 de C e de 1,41 t ha ’de N, em Latossolo do Estado do Paraná (Sá et al .,
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FERTILIDADE DO SOLO
896 IBANOR ANGHINONI
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20 40
Camada do Solo, cm
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 897
a regiã o ou estado: Passo Fundo (RS), 7-10; Cruz Alta ( RS), 8-11; Joaçaba (SC ), 7-11;
Ponta Grossa (PR), 8-11; Campo Mourã o ( PR ), 10-12; Assis (SP), 9-11; Dourados (MS),
9-11; Balsas ( MA ), 9-10; Primavera do Leste (MT), 9-11; Rio Verde (GO), 10-13; e Sinop
( MT), 12-16 t ha 1. Se, de um lado, a produçã o de resíduos aumenta na direçã o Sul -
'
clima temperado ú mido, até 2,89 t ha 1 ano 1, em condições tropicais. Verifica -se que as
"
cm t ha 1 ano 1
FERTILIDADE DO SOLO
898 IBANOR ANGHINONI
experimentos (18 anos) foram magnificadas quando extrapoladas por períodos mais
longos, e (b ) que o modelo permitiu obter estimativas coerentes nos estoques de C,
indicando o seu grande potencial de uso para a estimativa dos efeitos do manejo do solo
e de culturas.
A dinâ mica da matéria orgâ nica no solo com o tempo de adoçã o do sistema plantio
direto, com ênfase no rearranjo das partículas e microagregados em macroagregados em
nova formação estrutural, foi caracterizada por Sá (2004) (Figura 9) . Nesta, nos primeiros
cinco anos de adoção (fase inicial ), apesar de apresentar baixo teor de matéria orgâ nica,
baixo acú mulo de palhada e alta exigência de N (imobilizaçã o » mineraliza ção ), sã o
observados o início do reestabelecimento da biomassa microbiana e o rearranjo da
estrutura. No período de 5-10 anos (fase de transição), inicia-se o acúmulo de palhada
na superf ície e de C e P orgâ nicos no solo, a imobiliza çã o de N aproxima -se da
mineralizaçã o (I > M ) e ocorre o processo de reagregação das partículas de solo. No
período seguinte, de 10-20 anos (fase de consolidaçã o), continua o ac úmulo de palhada
e de matéria orgâ nica do solo, com respectivo aumento da CTC e de retençã o de água,
com a mineraliza çã o de N superando a imobiliza çã o ( I < M ) e elevada ciclagem de
nutrientes. Após 20 anos no sistema (fase de manutençã o), há um elevado acú mulo de
palhada, um fluxo contínuo de C e de N, maior ciclagem de nutrientes, menor exigência
de N e de P e maior retenção de água.
Início de Acúmulo de
acúmulo de MO [ c]
|
íriéntfPl
*
MO
Baixo Acúmulo de rexigencia dmé
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palha Itv - NeP
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palha Aumento da i
' :
S |luxo continue
> exigência N
3 Início de
CTC
£: de C e N J
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Reestabele M4 acúmulo de P Reciclagem de i| I
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I
;imento BM Imob. N = Min nutrientes W
1 acúmulo
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0 -5 5 -10 10 -20 > 20
Figura 9 . Fases de evolução do sistema solo com o tempo de cultivo em plantio direto.
Fonte: Sá (2004) .
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 899
4,9 mg dm 3. O aumento na CTCpH 7,0' após 15 anos de plantio direto em Argissolo Vermelho
'
do RS, foi de 1,26 cmolc dm 3 (12,7 %), na camada de 0-10 cm, e de 1,13 cmolc dm 3 (11,5 %),
' '
~ 80%
ORGANISMOS '
-ÊMSÊ? < : : t1 1e21
Mats
55 srdo
^
AC
u , dependentes dopH .
m
= p»
Interações
i
•t a Proteção física da MOS
Microagregados Macroagregados
Processo de agregação: *
Agentes f ísico-qu í micos e biológicos
3
SA Í DAS:
C02, CH4, água, matéria orgânica, nutrientes, minerais
fr
Figura 10 . Representação esquemá tica do sistema solo, seus subsistemas e interação entre eles .
Fonte: Mielniczuk et al . (2003).
FERTILIDADE DO SOLO
900 IBANOR ANGHINONI
energia solar e C02 atmosf érico e absorvem água e nutrientes do solo para a produçã o do
tecido vegetal, com libera çã o contínua de exsudados durante o seu ciclo. Ao final, os
resíduos das ra ízes e da palhada s ã o decompostos por microrganismos . Na
decomposiçã o, compostos orgânicos sã o produzidos (subprodutos), caracterizando o
processo de transforma çã o de energia e de maté ria de uma forma para outra (fluxo de
compostos orgâ nicos ). Desse modo, os componentes do solo interagem e se auto-
organizam em estados de ordem, seguindo uma hierarquia de complexidade.
Nessa interpretaçã o (Figura 10), o processo de organização é iniciado com a interaçã o
entre a matéria mineral com os produtos orgâ nicos da decomposiçã o vegetal, formando
agregados de tamanho na ordem de nm, e prossegue com nova interaçã o desses agregados
com compostos orgâ nicos, resultando na formação de agregados maiores e de estruturas
mais complexas, que podem atingir um tamanho de 0,25 mm, definidos como
microagregados. Durante o processo, ocorre retençã o de matéria orgâ nica do solo, gra ças
à proteçã o f ísica (incorporada dentro dos microagregados ) e química (interaçã o com
minerais e com cá tions polivalentes). A forma çã o de agregados maiores do que 0,25 mm
( macroagregados ) é resultado da a çã o mec â nica de ra ízes finas e hifas de fungos,
principalmente micorrízicos, formando estruturas maiores (Figura 10), mais complexas
e diversificadas.
O processo de organiza çã o do solo pode, assim, ser resultado do fluxo de energia e
de maté ria que passa por ele. Sendo um sistema aberto ( Addiscot, 1995), no qual o fluxo
de matéria e de energia conduz a diferentes níveis de ordem ( Prigogine, 1996 ), o solo
pode-se organizar em níveis de ordem sucessivamente mais elevados. Nessa situaçã o,
pode chegar à forma çã o de estruturas grandes, complexas e diversificadas
( macroagregados), com alta quantidade de energia e matéria orgâ nica retida na forma de
compostos orgâ nicos (nível de ordem mais elevado).
Nos diferentes estados de organização, surgem propriedades emergentes. Em nível
elevado, caracterizado pela presença de estruturas mais complexas ( macroagregados) e
pela grande quantidade de matéria orgânica retida, as propriedades emergentes destacam-
se por apresentarem: (a ) resistência às erosões (hídrica e eólica ); (b) aumento no estoque
e ciclagem de nutrientes; (c) adsorçã o e complexa çã o de compostos orgâ nicos e
inorgâ nicos; (d ) ativaçã o do crescimento dos organismos do solo; (e) sequestro de C; (f )
aumento na diversidade microbiana, e (g) menor resiliência.
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 901
de solo ( Ceretta & Silveira , 2002 ) . Libera çã o apreci á vel de N, conforme visto
anteriormente, só ocorre após muitos anos sob plantio direto ( Figura 9). O suprimento
de nutrientes pela maté ria orgâ nica e as rela ções fonte-dreno sã o discutidos no
capítulo VI.
Os processos de decomposi çã o dos res íduos vegetais e de mineraliza çã o /
imobiliza çã o de N ocorrem simultaneamente e resultam da a çã o dos microrganismos
heterotr óficos ( quimiorganotr óficos ) . A taxa de mineraliza çã o, conforme visto no
Capítulo VI, depende da qualidade dos resíduos ( relaçã o C:N), da quantidade e atividade
das enzimas produzidas pela biota do solo, do grau de trituraçã o e incorpora çã o dos
resíduos ao solo e do pH, mineralogia e umidade do solo. Como no sistema plantio
direto os resíduos nã o sã o incorporados ao solo, a cobertura morta é formada por
diferentes resíduos vegetais em v á rias fases de decomposiçã o e contém grande quantidade
de N imobilizado, constituindo importante reservató rio desse nutriente para as culturas.
Durante a decomposi çã o dos res í duos, os compostos com N passam por
transforma ções e a disponibilidade de N para as culturas é determinada pelo balanç o
líquido entre os processos de mineraliza çã o, imobiliza çã o, nitrifica çã o, lixivia çã o,
volatiliza çã o e desnitrifica çã o ( veja capítulos VI e VII ). Os efeitos das altas rela ções C:N
tendem a ser mais pronunciadas nos primeiros anos de adoçã o do sistema plantio direto
e serão ainda maiores se o solo for bastante degradado (Sá, 1999 ). Conseqiientemente, a
demanda de N pela biomassa microbiana do solo e pelas culturas é elevada, notadamente
nas fases iniciais de desenvolvimento da cultura . Com o passar do tempo de adoçã o do
sistema, ocorre um aumento no teor de maté ria orgâ nica e na libera çã o de N ( Figura 9 ).
Observa -se, portanto, uma maior resposta de gramíneas ( milho e trigo ) às aplicações de
N no sulco de semeadura, por melhor suprir a carência desse nutriente na fase inicial de
crescimento (Sá, 1999).
Assim, para o estabelecimento de recomendações de aduba çã o nitrogenada (doses e
formas de aplica çã o) no sistema plantio direto, deve-se, inicialmente, estabelecer um
sistema de culturas que adicione altas quantidades de resíduos e seja economicamente
viá vel. Como a composiçã o desses sistemas de culturas varia nas diferentes regiões do
País, pelas diferentes condições de solo e de clima, há necessidade de informações
regionais sobre a contribuiçã o dos sistemas de cultura e sobre as respectivas taxas de
decomposiçã o. Atualmente, essa informa çã o é mais disponível na regiã o Sul do Pa ís
(Quadro 10), com a sucessã o trigo / soja / aveia forrageira (preta ) / soja / aveia forrageira /
milho, e a possibilidade de uso de leguminosas (ervilhaca e tremoço, principalmente) em
j substituiçã o à aveia forrageira ou a utiliza çã o de consórcios dessas leguminosas com
aveia forrageira .
Nos resultados dos trabalhos realizados nos Campos Gerais do Estado do Paraná,
há indicações (Sá, 1999) de que: (a ) a contribuiçã o mé dia da leguminosa da cultura
anterior no rendimento de grãos de milho nos tratamentos sem adição de N foi de 1,0 t ha 1 "
no per íodo de cinco anos; (b ) a utilizaçã o de uma leguminosa, em vez da aveia forrageira,
antecedendo o milho, proporciona reduçã o de 40 a 60 % na dose de N por aplicar; e (c) na
rotaçã o aveia forrageira / milho, há maior eficiência do N aplicado na semeadura do
milho em rela çã o à aplica çã o em cobertura, no est á dio V6.
FERTILIDADE DO SOLO
902 IBANOR ANGHINONI
t ha 1 kg ha - i
Argissolo Vermelho - Amarelo
no ç o -azul / milho 7,38 aO ) 84 a 35
haca comum / milho 6.40 ab 87 a 30
ha forrageira / milho 5,64 ab 55 b 41
io / milho 5.41 ab 52 b 43
a preta / milho 4,30 b 40 b
Argissolo Vermelho
ab + milho 13,68 a ( 2 ) 209 a 26 bc
a + ervilhaca / milho + caupi 8,77 abc 114 bc 30 b
a + ervilhaca / milho 8,64 abc 108 bc 31 b
a / milho 7, 68 bc 61 c 50 a
haca + gorga / milho 5,86 bc 105 bc 20 c
io / milho 3, 4 3 c 47 c 25 bc
(1 ]
Médias seguidas de mesma letra na coluna , nã o diferem entre si pelo teste de Duncan a 5 %. (2 ) Médias seguidas
de mesma letra , na coluna , nã o diferem entre si pelo teste Tukey a 5 %.
Fonte: Elaborada por Oliveira et al. ( 2002) a partir dos dados de diferentes autores.
base nesses e em outros resultados ( Da Ros & Aita, 1996; Bayer & Mielniczuk., 1997b;
Amado & Mielnickzuk, 1999, 2000; Santi et al. 2000; Ceretta et al., 2002; dentre outros)
foram estabelecidas, pela CQFS RS / SC (2004), recomendações de adubação nitrogenada
para as culturas produtoras de grãos, que consideram, além do teor de matéria orgâ nica,
a contribuiçã o da cultura precedente.
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 903
—— N
Antecipado
m
N
Semeadura
m
N
Cobertura
Perí odo de
> imobiliza çã o
de N
Conte údo 1
'
de N03‘
Curva de
crescimento
—
do milho
*
Biomassa +
y microbiana f
^ j
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OH N peia planta
\
FERTILIDADE DO SOLO
904 IBANOR ANGHINONI
Perdas de Nitrogénio
Há uma preocupa çã o, no meio t écnico, pelo potencial de perdas de N, por
volatiliza çã o de am ónia , resultante da aplica çã o superficial de ureia, especialmente no
sistema plantio direto. Trabalhos, como os de Cabezas et al. (1997), apontam perdas
desse nutriente ( medidas em coletores de am ónia ) , em at é 80 % nesse sistema, muito
superior aos 30 % que ocorrem no sistema convencional. No entanto, mesmo perdas
dessa magnitude nã o tê m afetado o rendimento das culturas no sistema plantio direto.
Isto indica que essas perdas estã o sendo superdimensionadas e que os solos têm alta
capacidade de suprimento desse nutriente. Dessa ‘forma, esse dado, por si, nã o deve ser
utilizado como indicativo da eficiência da adubaçã o nitrogenada e do seu consequente
efeito sobre o rendimento das culturas no campo ( Lopes et al., 2004) .
Perdas por volatiliza çã o de amónia , decorrentes da aplicaçã o superficial de uréia ,
sã o favorecidas em solos com pH elevado e baixa CTC e em condições de baixa umidade
e alta temperatura . Assim, as perdas médias de N na cultura do trigo em á rea de resteva
de milho em plantio direto na regiã o do Planalto Riograndense nã o têm sido superiores
a 5 % ( Lopes et al., 2004) . A incorpora çã o da ur éia ao solo, ou sua aplica çã o superficial
em condições favor á veis de solo e de ambiente, resulta em uma reduçã o drástica das
perdas de N, chegando a valores quase nulos.
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 905
Rendimento de grã os
Local e textura Dose de N Antecipado Semeadura Testemunha Autores
do solo ( total e parcelas ) e, ou, ou cobertura
semeadura
kg ha -1 t ha 1
'
FERTILIDADE DO SOLO
906 IBANOR ANGHINONI
Quadro 12. Dose de nitrog é nio a aplicar na cultura de trigo no sistema plantio direto de acordo
com a cultura precedente e o teor de maté ria orgâ nica do solo
Cultura precedente
Teor de maté ria org â nica do solo
Soja Milho
O/
/O kg ha -1 de N
< 2 ,5 80 60
2.6 -3,5 60 40
3.6 -4,5 40 60
4.6 -5,5 40 40
> 5, 5 < 40 < 40
Fonte: Wiethõlter et al . (1999 ) .
Quadro 13. Recomenda ção da aduba ção nitrogenada (base + cobertura ) para a cultura do milho(1),
considerando o teor de matéria orgâ nica e a expectativa de sua produtividade da cultura
antecedente para o RS e SC
Cultura antecedente *2 )
Teor de mat é ria orgâ nica do solo
Leguminosa Consorcia çã o ou pousio Gram í nea
% kg ha -1 de N
< 2,5 70 80 90
2,6-5,0 50 60 70
> 5,0 < 30 < 40 < 50
(1 )
Para expectativa de rendimento maior do que 4 t ha 1, acrescentar, aos valores do quadro, 15 kg ha 1 de N, por
' '
tonelada adicional de gr ã os a serem produzidos. (2 ) As quantidades indicadas sã o para uma estimativa de produ -
çã o de massa seca . Em outros casos, pode-se alterar a dose em até 20 kg ha 1: para mais, se a semeadura do milho
'
for após alto rendimento de gram íneas e para menos, se a semeadura for ap ós leguminosa ou consorcia çã o:
gramínea e consorcia çã o: baixa < 2 t ha 1; média = 2 a 4 t ha 1; alta > 4 t ha 1; leguminosa: baixa < 2 t ha 1; m édia
' '
= 2 a 3 t ha 1; alta > 3 t ha 1.
' *
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 907
RECOMENDA ÇÕ ES DE ADUBA ÇÃ O
COM OUTROS NUTRIENTES
FERTILIDADE DO SOLO
908 IBANOR ANGHINONI
Forma de f ó sforo
Solo/textura Camada Rela çã o Po/ Pt
Total Inorgâ nico Orgâ nico
cm mg kg-1
Sá (1999)
Latossolo Vermelho - 0- 2,5 311 92 219 0, 70
Amarelo distr ó fico argiloso 2,5- 5, 0 251 77 174 0,89
5,0 -10,0 271 84 187 0,89
10,0 - 20 ,0 210 62 148 0, 70
Vione et al . (1996 )
Argissolo Vermelho- 0 - 5, 0 141 77 64 0,45
Amarelo distr ó fico arenoso 5, 0 -10, 0 137 72 65 0,47
10 ,0 -20,0 109 36 73 0,67
20,0 -40, 0 76 9 67 0,88
Vione et al . (1997)
Cambissolo H ú mico 0- 2,5 948 730 218 0, 27
alum í nico argiloso 2.5- 7,5 700 509 191 0 ,32
7.5-12,5 544 368 176 0,32
12,5-17,5 436 264 172 0,39
e a redistribuiçã o das formas orgâ nicas de P, mais m óveis no solo e menos susceptíveis
às reações de adsorção. A descida de P no perfil do solo, com o tempo de cultivo (Figura 2c), i -
tem sido atribuída à decomposiçã o dos resíduos orgâ nicos depositados na superf ície, à
decomposiçã o das raízes no solo e à deposiçã o do adubo a maiores profundidades por
alguns tipos de semeadoras adubadoras. Os á cidos orgânicos diminuem a sorçã o de P
pelo solo, aumentando a sua concentra ção na soluçã o, enquanto os compostos orgâ nicos
de P, por serem mais sol úveis e m óveis no solo, deslocam-se às camadas inferiores do
solo, independentemente do modo de aplica çã o do adubo (Quadro 16) .
Independentemente do tipo de solo, m é todo de preparo, rota çã o de culturas ou da
camada de solo analisada, as formas moderadamente lábeis (extraídas com HC10,1 mol L 1) '
são a maior fonte disponível de P no solo (Selles et al., 1997; Rheinheimer & Anghinoni,
2001; Rheinheimer et al., 2002). Em ambos os compartimentos, inorgâ nico e orgâ nico, há
uma dominância dessas formas, seguidas das formas l á beis (extra ídas com resina e
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 909
Quadro 15. Teores e formas de f ósforo em diferentes solos e manejos no Sul do Brasil
mg kg 1 '
Selles et al . (1997)
Latossolo Vermelho Plantio direto*1 ) 218 171 47 0,22
distr ó f í co argiloso Convencional *1 ) 193 157 36 0,19
(1 )
Passo Fundo sete anos. (2) Santo Angelo - 18 anos. (3)
Passo Fundo - 14 anos. (4 )
Eldorado do Sul - 12 anos.
(5)
Eldorado do Sul - 14 anos.
Profundidade (cm )
Preparo do solo Modo de aduba çã o
0 -5 5 -10 10 -15 15 - 25 25 - 35
S
mg kg
Safra 1989 / 90
Convencional Lan ç o 18 8 5 1 1
Linha 20 16 5 2 1
Plantio direto Lan ç o 17 6 3 1 1
Linha 36 16 4 2 1
M é dia 23 12 4 2 1
Safra 1999 / 00
Convencional Lan ço 20 13 15 5 2
Linha 15 11 8 3 1
Plantio direto Lan ço 18 6 3 1 1
Linha 28 13 11 11 3
Média 20 11 9 5 2
FERTILIDADE DO SOLO
910 IBANOR ANGHINONI
NaHCOj), que aumentam bastante à medida que se adiciona mais P ao solo (Conte et alv
2003). Da mesma forma, em qualquer condiçã o (tipo, preparo e camada de solo e sucessão
de cultura ), dentre as formas inorgâ nicas, o ortofosfato é encontrado em maior quantidade
e, dentre as orgâ nicas, o P diester é o mais importante (Rheinheimer et al., 2002). Além
desses, o P contido na biomassa microbiana , especialmente na camada superficial e
após uma adiçã o recente de P, pode ser uma fonte importante desse nutriente às plantas
( Balota et al., 1998; Carneiro et al ., 1999; Vargas & Scholles, 2000; Conte et al., 2002 ) . O
fluxo anual de P pela biomassa microbiana pode chegar a 22 mg dm 3 ano 1, em solo de ' '
Quadro 17. Coeficientes de correla çã o linear simples ( r ) entre o f ósforo extra ído pelos mé todos
de Mehlich-1 e de resina de troca aniônica ( Resina ) em diferentes camadas de um Latossolo
Vermelho argiloso em plantio direto e determinações em plantas de milho
Mehlich - 1 Resina
Determina çã o
0 - 20 cm 0- 10 cm 0- 20 cm 0-10 cm
Fonte: Sá ( 1999 ) .
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 911
FERTILIDADE DO SOLO
912 IBANOR ANGHINONI
Quadro 18. Rendimentos médios de solos das culturas à aplica çã o de f ósforo em plantio direto
kg ha - 1 t ha 1 kg ha 1 t ha 1
0 7 , 30 6 , 54 11 , 87 0 13, 74
30 8 , 00 7 , 41 12 , 86 20 14 , 45
60 8, 12 7 , 47 13 , 00 40 15 , 16
90 8, 07 7 , 70 12 , 96 80 15 , 87
120 7 , 75 7 , 57 16 , 60 *
(1 )
Rendimento m é dio de milho em três Latossolos argilosos, um Latossolo arenoso, dois Cambissolos arenosos e
um Rubrozé m argiloso do Estado do Paran á . : (2 ) Rendimento m édio de milho em três anos de avalia çã o em
Latossolo Vermelho-Amarelo do Estado do Paraná . (3) Rendimento acumulado de milho, trigo e soja em Latossolo
Vermelho argiloso do Paraná . ( 4 ) Rendimento acumulado de quatro cultivos de soja e um de milho em Latossolo
Vermelho argiloso do Estado do Rio Grande do Sul .
t ha °
Teste F nsO ) ns ns ns ns
Teste F **< 2) **
0 ) Não -sginificativo
( P 0 05) . (2 ) Significativo ( P < 0,01 ) .
/
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 913
Figura 12. Relaçã o entre o teor de carbono orgâ nico total e a capacidade de troca de cá tions
(CTC ) efetiva e a pH 7,0 do solo. Pontos sã o médias de duas doses de nitrogénio e três
repetições. ** significativo a 1 %.
Fonte : Bayer & Mielniczuk (1997a ) .
FERTILIDADE DO SOLO
914 IBANOR ANGHINONI
Gr ã os trigo
800 i 770 T 15
700 - § MS trigo § 80
Gr ã os trigo
608 |
600 - 13
03
c
500 - 483
Gr ã os trigo
t
^ MS trigo 66
MS nabo 264
13
CUD
44
Gr ã os trigo § |
MS trigo
N\\NV\\X\VsVsSN
58 MS nabo
197
IA
. 400 -
03 389 | V V V V V V ' V V V V V Y V )
3
L
xxxx>oooooo<xxxx> 11 x Grãos milho ] 57 >< Grãos milho 57
3
O
^> MS trigo
^^
46
^ Aà AAAA '
IA
g Gr ãos milho < 38 Gr ãos milho 38
300 - \
*
100 - %
%
0
Ú MS aveia
0N
m
^ 2
131
é
MS aveia
180 N
^ ^ 131 MS aveia
0N
^ ^ m^
131 MS aveia
180 N
131
sem com
Cultura intercalar de nabo entre o milho e trigo
Figura 13. Conte údo de K na maté ria seca da aveia, milho, nabo e trigo e exportaçã o pela
colheita de gr ãos do milho e trigo em duas doses de N (0 e 180 kg ha 1).
Fonte: Rossato ( 2004) .
FERTILIDADE DO SOLO
X V - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 915
FERTILIDADE DO SOLO
916 IBANOR ANGHINONI
lanço na superf ície do solo, quando os teores de P e de K estiverem nas faixas "Alta " e
"Muito alta ". No caso do P, as aduba ções anuais de manutenção ou de reposiçã o devem
ser efetuadas, de preferência , com fosfatos sol ú veis. Para a utiliza çã o das demais fontes
de P, é necessá rio considerar outros fatores, como a velocidade de dissoluçã o dos fosfatos
naturais farelados, por exemplo, que é dependente do pH, dos teores de Ca e de P do solo
e da intensidade de seu contato com o solo. Esses fosfatos, mesmo em condições favorá veis
à sua dissolu çã o, apresentam eficiência agronó mica da ordem de 60 a 65 %, no primeiro
cultivo, em compara çã o com o superfosfato triplo (Rein et al., 1994; Kaminski & Peruzzo,
1997; Sousa & Lobato, 2004) . Somente a partir do segundo ou terceiro cultivo, esses
fosfatos atingem eficiência similar a dos fosfatos sol ú veis.
evitar possíveis restrições de produtividade das culturas. Para isso, podem ser utilizados
adubos que contenham esse nutriente em sua formulação, como sulfato de amónio (22-24 %),
superfosfato simples (10-12 % ), sulfato de potássio (15-17 % ) ou gesso agrícola (13 % )
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJ ó EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 917
O aumento do teor de matéria orgâ nica no sistema plantio direto deve reduzir, ao menos
em parte, sua disponibilidade pela forma çã o de complexos organometá licos está veis,
especialmente com o Cu. Da mesma forma, o aumento do teor de P no solo nesse sistema
deve aumentar o antagonismo P x Zn, podendo levar à deficiência desse micronutriente.
Por outro lado, como a dinâ mica da acidez é alterada no sistema plantio direto / com
o pH ideal a ser atingido sendo menor (5,5) do que no convencional (6,0), haver á maior
disponbilidade de Zn, Cu. Fe, Mn e B e menor disponibilidade de Mo na fase consolidada.
No caso de calagem superficial, o pH da camada de 0-5 cm pode atingir valores elevados
( pr ó ximo de 7,0 ), o que vai diminuir , acentuadamente, a disponibilidade desses
micronutrientes (à exceçã o do Mo ) .
A utiliza çã o do sistema plantio direto, com o manejo do solo e sistemas de cultura
recomendados, com a inclusã o de espécies de grande crescimento radicular e produçã o
de biomassa, contribuir á , de forma significativa , para uma grande reciclagem de
i
micronutrientes, suficiente para suprir a demanda das culturas.
As respostas das culturas à adi çã o de micronutrientes no sistema convencional de
cultivo foram caracterizadas no capítulo XI. Sã o dependentes do tipo de solo e ocorrem
predominantemente em solos arenosos e com baixo teor de mat é ria org â nica ,
especialmente nos de Cerrado. Em trabalhos realizados no sistema plantio direto no
Estado do Rio Grande do Sul, nã o foram observadas respostas das principais culturas
de grã os (Quadro 20) à adiçã o de micronutrientes em diferentes solos.
Local/solo Cultura Ano / efeito B <2 > CuO > Mn < 4 > Zn < 5 >
,
'
FERTILIDADE DO SOLO
918 IBANOR ANGHINONI
Recomenda -se diagnosticar , por meio da aná lise do solo e, ou, de tecido vegetal, a
disponibilidade dos micronutrientes no solo. Os teores de deficiê ncia , cr íticos e de
sufici ê ncia sã o estabelecidos nos programas regionais de aduba çã o. A forma de
adubaçã o (solo ou foliar ), a filosofia de aduba çã o (corretiva, de segurança, de manutenção
ou de restituiçã o ), as doses e as fontes, em geral, seguem as recomenda ções regionais
( veja capítulo XI ) .
A Fertilidade do Solo passou a ter destaque no Brasil a partir da d écada de 60, com
os programas de recomenda çã o de aduba çã o e de calagem com base em análises de solo.
Isso ocorreu gra ças à expansã o de á rea cultivada, especialmente com espécies graníferas
em solos á cidos e de baixa fertilidade, proporcionada pela mecaniza çã o agr ícola e pelo
uso de insumos modernos na agricultura .
Tradicionalmente, a fertilidade é definida como a capacidade do solo de fornecer às
plantas nutrientes em quantidade e propor çã o adequadas, bem como de eliminar ou
manter os teores de elementos em níveis nã o-tóxicos à s culturas de interesse. Sua
avalia çã o é feita pela an á lise de alguns atributos qu ímicos. Assim, uma das aplica ções
do seu conhecimento consiste na correçã o do solo e na adubaçã o das culturas, conforme
o rendimento esperado, e na manutençã o dos nutrientes do solo em teores dentro da
faixa de suficiência .
I
FERTILIDADE DO SOLO
XV - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO 919
AGRADECIMENTOS
LITERATURA CITADA
ADDISCOT, T.M. Entropy and sustainability. Eur . J. Soil Sei ., 42:161-168, 1995.
AITA, C.; FRIES, M.R. & GIACOMINI, S.J . Ciclagem de nutrientes no solo com plantas de
cobertura e dejetos de animais. In: REUNIÃ O BRASILEIRA DE CI Ê NCIA DE SOLO E
NUTRIÇÃO DE PLANTAS, 24., Santa Maria, 2000. Anais. Santa Maria, Sociedade Brasileira
de Ciência do Solo / Universidade Federal de Santa Maria, 2000. CD-ROM
FERTILIDADE DO SOLO
XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU
MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS
Maria Betâ nia Galv ã o dos Santos Freire17 & Fernando José Freire17
1/
Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE.
Av . Dom Manuel s / n, CEP 52171-900 Recife ( PE ) .
betania @ depa . ufrpe. br; f .freire@ depa . ufrpe.br;
Conte ú do
INTRODUÇÃO 929
CARACTERIZA ÇÃ O DOS SOLOS AFETADOS POR SAIS 932
RELAÇÕES E EQUILÍ BRIOS DE ÍONS NO SOLO 938
CORREÇÃO DA SALINIDADE E SODICIDADE 939
Gesso 941
Enxofre ou Ácido Sulf ú rico 941
Sulfato Ferroso 1 942
Cloreto de Cálcio ; 942
DISPONIBILIDADE DE FÓSFORO EM SOLOS ALCALINOS 945
IMPORTÂ NCIA DA MATÉ RIA ORG Â NICA EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 946
DISPONIBILIDADE DE NITROG É NIO EM SOLOS SALINOS 947
USO DE CULTURAS TOLERANTES E FITORREMEDIAÇÃO 948
CONSIDERAÇÕES FINAIS 950
LITERATURA CITADA 951
INTRODUÇÃ O
Tratar de aspectos relacionados com a fertilidade de solos afetados por sais é
relativamente delicado, visto que os sais contêm teores elevados da maioria dos elementos
químicos que se encontram em pequenas concentra ções nos solos em geral, chegando a
ser considerados limitantes ao crescimento e desenvolvimento das plantas. Assim,
quando sã o necessá rias aplica ções de nutrientes via fertiliza ção nos solos, de modo
geral, nos salinos e sódicos, é preciso implementar técnicas que possibilitem a remoçã o
de alguns deles para que se mantenha a disponibilidade de forma equilibrada dos nutrientes.
SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. ( eds. NOVAIS, R. F., ALVAREZ V „ V.H ., BARROS,
N.F., FONTES, R. LF., CANTARUTTI, R . B . & NEVES, J .C.L. ).
930 MARIA BETâ NIA GALVãO DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE
Solos de regiões á ridas e semi-á ridas podem apresentar acúmulo de sais prejudicial
ao crescimento das plantas, decorrente de processos naturais de saliniza çã o ou de
contribui çã o humana , pelo manejo inadequado da irriga çã o . Os sais em excesso
prejudicam o crescimento das plantas nã o só pelos efeitos diretos sobre o potencial
osmó tico da soluçã o do solo e pelos íons potencialmente tóxicos presentes em elevadas
concentrações, mas também pela degradação de algumas propriedades f ísicas dos mesmos,
reduzindo a infiltra çã o da á gua, trocas gasosas, crescimento de ra ízes e, com isso,
dificultando o crescimento das plantas.
Tal tema é bastante estudado em v á rias regiões do mundo ( Kelley, 1951; Richards,
1954; Naidu et al., 1995; Chhabra , 1996). No Brasil, apesar de ainda nã o ter despertado
muita atençã o, alguns pesquisadores começam a se aprofundar no assunto, como pode ser
observado em algumas revisões (Magalhães, 1995; Gheyi, 2000; Ribeiro et al., 2003). Entretanto,
muito há por se pesquisar, principalmente no que se refere à fertilidade destes solos.
Inicialmente, é preciso diferenciar os solos afetados por sais dos demais, uma vez
que apresentam propriedades bem peculiares que nã o devem ser confundidas com outros
tipos de solos. Caracterizam -se por apresentar teores elevados de sais sol ú veis e, ou,
sódio trocável capazes de comprometer o crescimento das plantas, alé m de afetar algumas
propriedades f ísicas do solo.
Os processos de acumulaçã o de sais em solos sã o decorrentes da riqueza do material
de origem, além das condições ambientais reinantes, principalmente no que se refere ao
clima e relevo. A saliniza çã o torna -se bastante pronunciada em locais de clima á rido e
semi-á rido, onde a precipita çã o pluvial é reduzida e mal distribu ída e a elevada taxa de
evapotranspiração propiciam um déficit hídrico durante quase todo o ano, não permitindo
a lixivia çã o dos sais do perfil do solo. Problemas de drenagem promovidos pelo relevo
plano ou algum impedimento subsuperficial també m contribuem para acumula çã o de
sais. Desta forma, extensas á reas no Oeste dos Estados Unidos (Richards, 1954), na
Austrália ( Naidu et al., 1995), África, América do Sul e, até mesmo, na Europa (Chhabra,
1996), convivem com o problema.
O Brasil, por ser um pa ís de dimensões continentais, apresenta solos em situações
diversas, desde os submetidos à excessiva lixivia çã o, até solos em que os sais se
concentram em teores prejudiciais ao crescimento das plantas. Neste contexto, destaca-
se o Sertã o Nordestino, abrangendo também outras á reas, como alguns locais na Regiã o
Amazônica e no Norte de Minas Gerais. Entretanto, a maior representatividade dos solos
salinizados brasileiros encontra -se na Regiã o Nordeste, dada sua condição climá tica.
Sousa (1995), estudando materiais aluviais eutróficos do Vale do Pajeú, em Serra
Talhada (PE ), encontrou a predominâ ncia de plagioclásio sódico na mineralogia das
frações areia e silte, em particular na areia fina, indicando ser um problema regional que
pode facilitar a sodificação pelo suprimento de Na ao sistema . Segundo o autor, embora
os teores de Na apresentem-se relativamente baixos, principalmente na superf ície dos
solos, há uma tend ência de ac úmulo de sais resultante da presença de plagioclásio no
material de origem. Este fato só vem concordar com a id éia já exposta, uma vez que os
solos estudados encontram-se numa planície aluvial favorá vel ao sistema de produção
agrícola irrigada em á reas onde há escassez de chuva .
FERTILIDADE DO SOLO
X V I - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 931
Essas á reas correspondem, em sua maioria , a solos de boa fertilidade natural, loca -
lizadas nas proximidades de mananciais de á gua , com facilidade de acesso à irrigaçã o e,
portanto, com boa aptid ã o agrícola , sendo bastante representativas para a economia
regional. Entretanto, tornam -se subutilizadas pelas limita ções ao crescimento vegetal,
pelas elevadas concentra ções salinas na soluçã o do solo e pelas condições f ísicas que
dificultam a movimenta ção de á gua e ar no perfil, sendo excluídas do processo produtivo .
Outra caracter ística de importâ ncia encontrada na g énese de solos no Sertã o
Nordestino é a presença de camadas de impedimento, limitando a drenagem profunda
do perfil dos solos e, portanto, tornando-os propensos à salinizaçã o. Ribeiro et al. (1991)
e Santos et al . (1991), estudando a génese de Argissolos e Latossolos do Sertã o de
Pernambuco, verificaram que os perfis são caracterizados em profundidade pela presença
de fragipans e, ou, horizontes plínticos, maciços e de consistência firme a muito firme.
Citam, tamb é m, que a drenagem profunda dos solos é limitada pelas rochas do
embasamento cristalino, responsá veis pela formaçã o de lençol freá tico temporá rio, onde
a drenagem lateral é lenta ou inexistente.
Os solos estudados por Ribeiro et al. (1991) fazem parte da Depressão Perif érica do
Rio Sã o Francisco, submetidos a um clima semi-á rido, com uma precipitação média anual
de 573 mm, temperatura média anual de 28,1 °C e evapotranspira çã o potencial anual de
1.825 mm, o que representa um déficit hídrico de 1.252 mm. Esses são os solos dominantes
nos grandes projetos de irriga çã o do Estado, como os de Nilo Coelho, Caraíbas e Pontal.
Se nã o forem observadas as condições de manejo adequadas, sã o á reas propensas à
saliniza çã o pela irriga çã o.
Outros solos caracter ísticos da Regiã o Nordeste sã o os Luvissolos e Planossolos
Solódicos; os primeiros ocupam posições de topo e os últimos sã o restritos às partes mais
baixas do relevo ( Luz et al., 1992). A dinâ mica de formaçã o e evoluçã o destes solos é
controlada por ciclos de eros ã o, transporte e ac ú mulo, provocados pelas chuvas
torrenciais da regiã o, estando as principais diferenças entre os solos subordinadas ao
condicionamento de suas posições ao longo do relevo.
Todavia, os solos afetados por sais no Brasil nã o se restringem aos da Regiã o
Nordeste, nas á reas de clima semi-á rido; sendo constatado acú mulo de sais pelo manejo
inadequado de solos em outras regiões do Pa ís. No Estado de Sã o Paulo, verifica -se a
saliniza ção dos solos em ambientes protegidos ("estufas") provavelmente, em razã o do
controle inadequado da lâ mina de irriga çã o, embora a á gua utilizada seja de boa
qualidade. A aplicação de fertilizantes é feita via á gua de irriga çã o, o que a torna salina,
sendo o n ível de salinidade da á gua diretamente proporcional à quantidade de
fertilizantes adicionada ( Blanco & Folegatti, 2001).
Gra ças ao manejo inadequado da irriga çã o e da drenagem, estas á reas afetadas por
sais têm-se expandido e degradado solos anteriormente utilizados na agricultura. As
á reas salinas e sódicas deixarã o de se expandir no Brasil somente quando houver maior
preocupa çã o com os efeitos da irrigaçã o sobre a capacidade produtiva dos solos, com a
adoçã o de pr á ticas de manejo adequadas para evitar a saliniza çã o de locais ainda nã o
atingidos pelo problema, como também com a melhoria das condições dos solos já
afetados.
FERTILIDADE DO SOLO
932 MARIA BETâ NIA GALVã O DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE
Na
PST = xlOO
CTC
cmolc kg 1.
’
'
- Rela ção de adsorçã o de Na do extrato de satura çã o ( RAS) - Na avalia çã o da
sodicidade da soluçã o do solo ou da á gua de irriga çã o, relaciona -se a concentra çã o
de Na com as de Ca e Mg, obtendo-se a rela çã o de adsor çã o de Na ( RAS):
[ Na ]
RAS =
^
[Ca + Mg]
Com base nestes crité rios, podem-se classificar os solos como salinos , quando
apresentam elevadas concentra ções de sais na solu çã o do solo; s á dicos , quando
apresentam o Na trocá vel em concentra ções suficientes para restringir o crescimento de
plantas cultivadas e para promover a dispersã o e a migra ção de colóides ao longo do
perfil, obstruindo poros e dificultando a movimenta çã o de ar e á gua no solo, e salino -
sádicos , quando apresentam os dois fatores citados.
Dentre algumas classifica ções, a mais adotada mundialmente é a de Richards (1954 )
(Quadro 1), que também é utilizada pelo Sistema Brasileiro de Classificaçã o de Solos
( Embrapa, 2006).
Para distinçã o dessas categorias, tomou -se, como base, que a uma condutividade
elétrica do extrato da pasta de saturaçã o do solo (CE) de 4 dS m 1, ocorre 50 % de reduçã o
'
na produçã o da maioria das culturas agr ícolas, sendo este valor crítico proposto para
FERTILIDADE DO SOLO
XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 933
Quadro 1. Sistema de classifica çã o de solos afetados por sais do United States Salinity Laboratory
Staff
dS rrr 1 %
Condutividade el é trica do extrato da pasta de satura çã o do solo; (2 ) Percentagem de sódio trocá vel. (3) Rela çã o de
(i )
adsorçã o de Na .
Fonte : Richards (1954 ) .
distinguir solos salinos de nã o-salinos. Da mesma forma, com uma PST no solo igual ou
superior a 15 %, suas propriedades f ísicas, especialmente a condutividade hidr á ulica,
sã o afetadas, tomando-se este valor como limite para diferenciar solos sódicos dos nã o-
sódicos. Os solos salino-sódicos apresentam, simultaneamente, elevadas concentra ções
de sais sol úveis e de Na trocá vel ( Richards, 1954) .
A classifica çã o americana tem sido utilizada em todo o mundo para definir solos
sódicos; entretanto, esta foi desenvolvida para os solos e para as condições específicas
do oeste dos Estados Unidos (Fireman & Wadleigh, 1951; Richards, 1954) . Recentemente,
alguns trabalhos de pesquisa têm objetivado modificar esses limites. A influência da
textura foi reconhecida por Greene et al. (1978), citados em Naidu et al . (1995), que
propuseram a altera çã o da PST crítica para 10 %, em solos de textura fina, e para 20 %,
em solos de textura grossa . Na Austr á lia, foi adotado o valor de PST > 6 %, no primeiro
metro superficial do perfil do solo, para classificá -lo como sódico, pois esta PST foi
capaz de modificar o comportamento dos solos, aumentando a dispersã o e reduzindo a
condutividade hidrá ulica ( Northcote & Skene, 1972 ) .
A PST de 15 %, estabelecida na Calif órnia como o limite acima do qual a estrutura
do solo é adversamente afetada (Richards, 1954), foi fixada com base na determinaçã o da
condutividade hidr á ulica em meio saturado, medida com o uso de á guas com elevadas
concentra ções de sais (entre 3 e 10 mmolc L 1). O limite da Austrá lia foi estabelecido da
'
mesma forma, entretanto, com á gua de menor concentraçã o eletrolítica (0,7 mmõlc L 1) "
FERTILIDADE DO SOLO
934 MARIA BETâ NIA GALV ã O DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE
FERTILIDADE DO SOLO
XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 935
Quadro 2. Distribuiçã o dos solos normais, salinos, sódicos e salino-sódicos na á rea do Per ímetro
K do Projeto de Irriga çã o de Morada Nova, CE
cm %
FERTILIDADE DO SOLO
936 MARIA BETâ NIA GALVã O D óS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE
Macêdo (1988) cita que v á rios perímetros irrigados da Regiã o Nordeste encontram-
se com grande parte de sua á rea irrigada sob efeito dos sais em excesso. O autor exemplifica
a situa çã o de saliniza çã o em alguns per ímetros: Custódia ( PE ) - 97,3 %; Cera íma ( BA ) -
32,0 %; Sã o Gonçalo (PB) - 52,0 %; Sú mé (PB) - 61,0 % e Cachoeira II ( PB) - 30,0 %.
Para estabelecer o potencial prod;utivo dos solos afetados por sais, é preciso conhecer
a disponibilidade dos elementos essenciais às plantas, assim como outros elementos
ojs
presentes e os possíveis desbalanç entre eles que possam afetar o crescimento e o
desenvolvimento vegetal . Assim, torna -se de fundamental importâ ncia a concentra çã o
eletrolítica da solu çã o do solo, o pH, os teores de cá tions e â nions em soluçã o, como
também a CTC, os cá tions em forma trocá vel e a determina çã o da necessidade de gesso
para correçã o de solos sódicos. Desta forma, podem-se estimar a fertilidade e a capacidade
produtiva desses solos.
Considerando a importâ ncia da concentra çã o de sais nas á guas de irriga çã o, bem
como a rela çã o entre esta e os teores de Na +, Ca 2+, Mg2+ e C1 , Nunes Filho et al. (2000)
‘
estudaram estas variá veis em á guas subterr â neas e superficiais do Sertã o de Pernambuco,
visando obter uma classificaçã o r á pida e de baixo custo por meio da leitura da CE das
á guas em campo (Quadro 3) . Fica evidente a eleva çã o da CE com o aumento nas
concentra ções destes íons das á guas Para as á guas subterrâ neas, as concentra ções de
Na +, Ca 2+, Mg2+ foram quase equivalentes; contudo, para as superficiais, o Na + foi superior
à soma de Ca 2 + e Mg2+, provocando desequilíbrios entre estes cá tions, que podem
desencadear problemas de dispersã o de argila, comprometendo o comportamento f ísico
de solos irrigados com estas á guas. Quanto ao Cl , muitas das á guas analisadas
'
apresentaram teores elevados que pojdem afetar o crescimento vegetal por toxidez.
Maia et al. (1997, 1998), analisando a qualidade da á gua usada para irriga çã o em
duas regiões do Estado do Rio Grande do Norte (Chapada do Apodi e Baixo Assu ),
,
encontraram á guas classificadas desde QS até C 4S4(1) ( Richards, 1954), com grande
variabilidade. Para a regiã o da Chapada do Apodi, as á guas de maiores concentrações
de sais corresponderam à s de lagoa, enquanto, para o Baixo Assu, foram as de a çude.
Para as duas regiões, as á guas de melhor qualidade foram, no geral as de rios e poços
amazonas e tubulares. Isto demonstra, também, a importâ ncia da fonte de fornecimento
de água, bem como do terreno em que ela está localizada, o que pode alterar o fornecimento
de sais às águas e destas aos solos , j
Por outro lado, Audry & Suassurjia
(1990), estudando a qualidade da água usada na
irrigação no Trópico Semi-Á rido, concluem que as águas de lençóis aluviais aproveitadas
através de poços amazonas sã o as mais problemá ticas. Elas apresentam varia ções
sazonais e atingem níveis de salinidade elevados, ultrapassando, freqiientemente,
(1 )
C,S,: á guas classificadas como baixo riSco de saliniza çã o e sodifica çã o; C 4S4: á guas classificadas
como muito alto risco de saliniza çã o e sodifica çã o.
FERTILIDADE DO SOLO
XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 937
Sert ã o de Pernambuco
Equa ç ã o R2
Agua superficial
Na + = - 0, 666 + 5, 072 CE 0, 94
Ca 2 + + Mg 2 + = 0 , 978 + 3, 222 CE 0, 78
Cl - = - 0, 874 + 6 ,890 CE 0 , 94
forneceria ao solo 1.000 kg ha 1 de sais. O efeito residual do uso destas á guas precisa ser
"
FERTILIDADE DO SOLO
938 MARIA BETâ NIA GALVã O DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE
ao longo do perfil, forma çã o de camâ das de impedimento e eleva çã o do lençol freá tico.
Esses autores recomendam que os sojlos
só devem ser utilizados com agricultura após a
implementa çã o de sistema de drenagem e efetiva diminuiçã o dos teores de Na trocá vel
em excesso nos solos.
FERTILIDADE DO SOLO
XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 939
(CEa < 0,75 dS m 1) podem ter concentra ções de bicarbonato pr óximas ou superiores à s
"
de Cl (Silva J ú nior et al., 1999). Para os autores, as relações C1 / HC03~ e Na + / (Ca 2+ + Mg2+ )
" ~
apresentam uma rela çã o direta com o incremento da salinidade das á guas, atribuindo
este fato à elevada solubilidade dos cloretos em rela çã o à solubilidade dos bicarbonatos
de Ca e Mg . O aumento da concentra çã o salina das á guas proporciona eleva çã o nos
teores de NaCl, em detrimento dos teores de bicarbonatos de Ca e Mg, que tendem a
precipitar em virtude da baixa solubilidade.
Monitorando os sais em amostras de á gua de irriga çã o do Projeto Vereda Grande
( Boqueirã o-PB), Macêdo & Menino (1998) destacaram concentra ções mé dias de Na e Cl
de 8,59 e 10,53 mmolc L 1, respectivamente, ejn concentra ções superiores à toxidez
'
específica (> 3 mmolc L 1), o que pode limitar a absorçã o de água pelos vegetais de maneira
"
pJde
crescente, principalmente pelo tipo de sistema irriga çã o utilizado (aspersã o ) e pela
significativa presença de bicarbonato (0,97-3,2 mmolc L 1), que restringe esse tipo de
"
rega em locais de elevada evapora çã o. Os autorjes concluíram que a á gua utilizada para
irriga çã o apresenta risco crescente de saliniza çã o dos solos, alé m da toxidez induzida
pelo Na e Cl .
Somente uma avalia çã o periódica dos teores de elementos em solos e á guas a serem
usadas na irriga çã o, acompanhando as proporções citadas (PST, RAS), pode assegurar o
á
potencial de uso destas á reas sem provocar degr da ção por saliniza çã o e, ou, sodificaçã o.
FERTILIDADE DO SOLO
940 MARIA BETâ NIA GALVã O DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOSé FREIRE
Para manter os níveis de sais sol ú veis do solo em uma faixa tolerá vel, ou mesmo
para retirar seu excesso, é utilizada uma lâ mina adicional de á gua, além do uso consultivo
da cultura, para promover a retirada destes sais do perfil do solo, a chamada lâ mina de
lixivia çã o. Entretanto, para que esta pr á tica obtenha sucesso, faz-se necessá ria a
existência de um sistema de drenagem eficiente, natural ou artificial. Como essa remoção
de sais é efetivada por lixivia çã o, a c . renagem interna do solo torna -se extremamente
importante para a dessaliniza çã o e para o controle da salinidade ( Bernstein, 1974).
No cá lculo da l â mina de irriga çã o sobre uma á rea salina por corrigir , devem ser
observados os teores de sais na á gua de irrigaçã o, os teores tolerados pela cultura e o
consumo de á gua pela planta ( Richards, 1954) .
Para equacionar o problema de S|D1OS salinos, é necessá rio quantificar o volume de
á gua suficiente e o tempo de lixiviaçã o da água no solo. Existem vá rias equações empíricas
e semi-empíricas para determinar a lâ mina de á gua necessá ria à lixiviaçã o dos sais da
zona das raízes. A necessidade de lixivia ção é definida como a fraçã o de água de irrigaçã o
infiltrada que deve lixiviar atrav és da zona das ra ízes para manter a salinidade do solo
em determinado nível. A necessidade de lixivia ção para controle da salinidade, baseada
no modelo de balanço de sais, é dada pela equa çã o de Rhoades ( Bernstein, 1974):
CEai
NL =
5CEes - CEai
em que NL - necessidade de lixivia çã jo ( mm ); CEai - condutividade elé trica da á gua de
irriga çã o( dS m 1); CEes - média da condutividade elé trica do extrato de saturação do solo
"
Quadro 4 . Toler â ncia e potencial de produçã o de culturas sob influ ência da salinidade da á gua
de irriga çã o (CEai ) ou salinidade do extrato de satura çã o do solo (CEes ) (1)
CEes CEai CEes CEai CEes CEai CEes CEai CEes CEai
Algod ã o ( Gossypium hirsutum) 7,7 5,1 9, 6 6,4 13,0 8, 4 17, 0 12,0 27,0 18, 0
Beterrada ( Betn vulgaris ) 7, 0 4,7 8, 7 5,8 11, 0 7,5 15, 0 10,0 24, 0 16, 0
Sorgo ( Sorghum bicolor ) 6,8 4,5 7,4 5,0 8,4 5,6 9,9 6,7 13,0 8, 7
Trigo ( Triticum aestivum ) 6,0 4,0 7,4 4,9 9,5 6 ,3 13,0 8 ,7 20 ,0 13,0
Soja ( Glycine max ) 5, 0 3,3 5,5 3, 7 6,3 4 ,2 7,5 5, 0 10,0 6, 7
Feijã o caupi ( Vigna unguiculatn ) 4,9 3,3 5,7 3,8 7, 0 4, 7 9,1 6,0 13, 0 8,8
Feijã o ( Phascolus vulgaris ) 1,0 0,7 1,5 1 ,0 2,3 1,5 3,6 2,4 6,3 4, 2
Amendoim ( Arachis lu/ pogaea ) 3, 2 2,1 3,5 2,4 4,1 2,7 4,9 3,3 6,6 4 ,4
Arroz ( Oriza sativa ) 3,0 2, 0 3,8 2,6 5,1 3,4 7,2 4,8 11 ,0 7,6
Cana - de-a çú car ( Saccharum officinarum ) 1,7 1 ,1 3,4 2,3 5,9 4, 0 10, 0 6,8 19,0 12,0
Milho ( Zcn tnays ) 1,7 1 ,1 2,5 1 ,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10,0 6,7
Tomate ( Lycopersicou csculcntum ) 2,5 1, 7 3,5 2,3 5,0 3, 4 7,6 5, 0 13,0 8,4
Br ócolis ( Brassica oleracca botrytis ) 2,8 1,9 3,9 2,6 5,5 3,7 8, 2 5,5 14, 0 9,1
Batata ( Solanum tuberosum ) 1,7 1 ,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10,0 6, 7
Alface ( Lactuca sativa ) 1,3 0,9 2,1 1, 4 3, 2 2,1 5,1 3,4 9,0 6, 0
Cebola ( Alliuju cepa ) 1,2 0, 8 1,8 1, 2 2,8 1 ,8 4,3 2,9 7,4 5,0
Cenoura ( Dnucus ca rota ) 1,0 0, 7 1, 7 1 ,1 2,8 1,9 4, 6 3,0 8, 1 5,4
Laranja ( Citrus sinensis ) 1,7 1 ,1 2,3 1 ,6 3,3 2, 2 4 ,8 3, 2 8,0 5,3
Morango ( Fragaria sp. ) 1,0 0,7 1,3 0, 9 1, 8 1 ,2 2,5 1,7 4,0 2,7
(1 )
CEes corresponde à salinidade média da zona radicular, representada pela condutividade elé trica do extrato de
saturação do solo, em dS m 1 a 25 °C; CEai corresponde à condutividade elé trica da á gua de irrigação, em dS m 1 a 25 °C.
' '
(2 )
0 potencial de produ çã o zero, ou CEes m á xima , indica a salinidade teó rica do solo na qual o crescimento da
cultura é interrompido.
Fonte : Retirado de Ayers & Westcot (1985 ) .
para que haja a substituiçã o do Na trocá vel pelo Ca . Caso nã o ocorra a presença deste,
o Na poder á ser substituído por H + ( Kelley, 1951). As principais rea ções químicas dos
solos durante o processo de corre çã o podem ser iresumidas da seguinte maneira :
Gesso
Na
Col óide + CaS04 <=> Col óide Ca + ( Na2S04
Na
FERTILIDADE DO SOLO
942 MARIA BETâNIA GALVãO DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE
Para que o S atue na corre çã o destes solos, é preciso, inicialmente, que haja sua
oxida çã o, realizada por bactérias no solo. Depois, tanto para o S quanto para o á cido
sulf ú rico, é essencial que o solo contenha carbonatos de Ca , que possibilitem a forma çã o
do sulfato de Ca , cá tion necessá rio nja substituiçã o do Na .
Sulfato Ferroso
Cloreto de Cálcio
Na
+ CaCI2 Ca + ( 2NaCI
Na
em que NG - necessidade de gesso (kg ha 1); (PST; - PSTf ) - diferença entre a percentagem
'
Quadro 5 . Efeito do gesso aplicado na superf ície do solo e lixiviado com uma lâ mina de á gua
de 100 mm
% emole drrr3 %
FERTILIDADE DO SOLO
944 MARIA BETâ NIA GALVã O DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE
tratamento com casca de arroz, e de 25 para 17,7 %, no tratamento com gesso. Segundo
esses autores, no cultivo de arroz sob inunda çã o, a salinidade (CEes), a percentagem de
sódio trocá vel ( PST) e o pH do solo tendem a diminuir com o tempo, principalmente na
camada superficial (0-20 cm ), independentemente do emprego dos condicionadores
químicos ou orgâ nicos. Os menores valores de PST no solo foram obtidos com o uso do
gesso, enquanto os menores valores de salinidade (CEes) no solo foram alcançados com
a utiliza çã o da vinha ça .
Por outro lado, Gheyi et al. (1995), trabalhando no Per ímetro Irrigado de Sumé (PB),
també m constataram que solos salinos-sódicos sã o passíveis de recupera çã o apenas
com lixivia çã o, desde que os drenos circunvizinhos sejam aprofundados e mantidos
limpos até à profundidade de 1,5 m .
Trabalhando com a recupera çã o de um Neossolo Fl ú vico ( Aluvial ) sódico com a
adoçã o de um sistema de drenagem subsuperficial, associado a diferentes tratamentos
vegetativo, qu ímico e mecâ nico, Oliveira J ú nior et al . (1998 ) obtiveram melhoria
significativa na drenabilidade do perfil do solo, com redução na PST de 25,8 para 10,0 %.
Os demais tratamentos consistiram da incorporaçã o da maté ria verde de feijã o-de-porco
(vegetativo), da realiza çã o de ara ção, gradagem e subsolagem ( mecâ nico) e da aplica çã o
de gesso como corretivo ( qu ímico). Segundo os autores, o rendimento da cultura do
melã o, instalada após a recupera çãó, mostrou-se tecnicamente viá vel, necessitando,
apenas, de estudos económicos de analise do investimento para verificar a rela ção custo /
benef ício. j
Esta linha de recupera çã o, associando
tratamentos mecâ nicos, químicos e de adiçã o
de materiais orgâ nicos, vem sendo adotada para alguns solos do Nordeste. Holanda et
al . (1998) testaram o tipo de preparo do solo (convencional e convencional com
subsolagem ) e a aplica çã o de condicionadores (gesso, esterco de curral e palha de
carna ú ba ) na recupera çã o de um solo , Aluvial salino -só dico. Tanto a adiçã o de
condicionadores quanto a opera çao de subsolagem promoveram melhorias nas
propriedades do solo, aumentando qs teores de Ca, reduzindo os de Na e, portanto, a
percentagem de Na trocá vel.
Em uma avaliaçã o econó mica da irecuperação de solos salinos, apenas com a adoçã o
de um sistema de drenagem, Valdivieso S. et al. (1988) encontraram um custo de
US$ 1.418,90 por hectare. Aliando a isso os custos com a aplica çã o de condicionadores
qu ímicos, dependendo do potencial de retorno da cultura e do poder aquisitivo do
produtor, este custo pode tornar a corfeçã o inviá vel; a nã o ser que haja incentivos para a
recupera çã o destas á reas, bem como o direcionamento para culturas de maior retorno
económico para o produtor.
Quimicamente, nas amostras de água devem ser determinados: condutividade elé trica
(dS m 1 a 25 °C), sólidos solúveis totais (mg L 1), concentração de cá tions Na, Ca, Mg e K,
' '
e HC 032"
li
( mg 1). Tais análises permitem monitorar a qualidade
'
da á gua para irriga çã o em diferentes é pocas do ano, o que poder á sugerir técnicas
adequadas de manejo, evitando, ou mesmo impedindo, que a água seja um fator agravante
no processo de aceleraçã o da salinid á de / sodicidade dos solos.
FERTILIDADE DO SOL ò
XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 945
Seria, portanto, de grande interesse que uma nova atençã o fosse dispensada à
situa çã o particular de solos e clima , para que fossem usadas té cnicas pr ó prias,
desenvolvidas para eles. Sendo tratados de maneira adequada, estes solos poder ã o
retornar à condiçã o de solos normais, ou mesmo, nã o desenvolver salinidade. Isto
proporcionaria um acréscimo nas á reas produtivas, incorporando solos que, geralmente,
apresentam boa fertilidade natural.
DISPONIBILIDADE DE F Ó SFORO EM
SOLOS ALCALINOS
^
ú mido e sub ú mido, com elevado grau de intemp rismo e grande poder de fixaçã o de P,
outros fatores contribuem para a baixa disponibilidade de P para as plantas. Dentre
estes, o pH e as altas concentra ções de cá lcio qssumem destaque, causando, muitas
vezes, deficiências deste elemento para as plantâs.
ó
Muitos mé todos existem para determinar P disponível em solos, variando em
princípios e detalhes da técnica (Olsen & Somniers, 1982 ). Deve-se ter o cuidado na
seleçã o do melhor método para cada solo em espacial
, de forma a evitar recomenda ções
equivocadas.
As determinações de P disponível apresentam duas fases distintas, primeiro a
extraçã o da fração de P do solo desejada; e depois, a dosagem do P no extrato. O método
mais sensível e mais amplamente usado para determinar a concentraçã o de P é o da
formaçã o do complexo fosfomolíbdico reduzido, de coloração azul, que tem a intensidade
de cor relacionada com a concentraçã o de P e medida por colorimetria (Olsen & Sommers,
1982).
FERTILIDADE DO SOLO
946 MARIA BETâ NIA GALVã O DO s SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE
O m é todo de extra çã o de P indicado para solos com sais é o do NaHCOa 0,5 mol L 1 '
a pH 8,5, desenvolvido para solos calcá rios, alcalinos ou neutros, os quais contê m fosfatos
de Ca. Este extrator reduz a
concentra çã o de Ca em soluçã o pela precipitação de CaCO3
resultando no aumento da concentra çã o de P em soluçã o (Olsen & Sommers, 1982; Tan,
'
1996 ).
Santos & Gheyi (1994) verificaram uma elevaçã o no teor de P em folhas de bananeira
com o uso de á gua salina preparada a partir de bicarbonato de Na e cloretos de Ca , Mg e
Na . Possivelmente, o uso de á guas bicarbonatadas incrementa maior precipita çã o de
carbonatos de Ca, em detrimento ao fosfato de Ca, deixando o P mais disponível para as
plantas .
Pelo que foi discutido, é premenjte a necessidade de mais pesquisas que envolvam
adsor çã o de P, correla çã o e calibra çâ o de extratores, para determinar níveis críticos e
doses recomend á veis para solos afetados por sais, visto que o comportamento deste
elemento sofre influência das condições específicas locais, nã o sendo adequado utilizar
m é todos e crit é rios estabelecidos em outras regi ões do Pa ís, de caracter ísticas
extremamente diferentes.
Diversos tipos de compostos orgâ nicos podem estar presentes e em diferentes teores
em solos afetados por sais, além de apresentar diferentes teores e tipos de sais já discutidos.
Acredita -se que estudos que envolvam a associaçã o de níveis de sodicidade e salinidade
com teores e fontes de matéria orgâ nica poderiam elucidar os questionamentos sobre as
intera ções desses componentes nos solos.
Por outro lado, a salinidade e a sodicidade também interferem na composiçã o
orgâ nica dos solos, em que o Na em solução diminjui
o estado de agregação entre partículas
minerais e orgâ nicas além dos efeitos químicos e f ísicos dos sais sobre os compostos
,
orgâ nicos. Indiretamente, o pH geralmente mais elevado também influi nestas alterações.
Naidu et al. (1995) citam que o aumento da sodicidade chega a mobilizar acima de 40 %
da matéria orgâ nica dos solos, seja como colóides orgâ nicos, seja como complexos argila-
matéria orgâ nica .
A sodicidade também afeta a atividade biológica, com a inibiçã o total da nitrificaçã o
em PST superior a 70 % ( Laura , 1976) . Ainda segundo esse autor, a rela çã o á cidos
h úmicos / á cidos f úlvicos aumenta com a PST, e o C torna -se mais facilmente extraível em
altos valores de PST.
Estudos sobre a natureza das intera ções que ocorrem entre os sais sol ú veis e o Na
trocá vel com os tipos de compostos orgâ nicos precisam ser incentivados e realizados,
com vistas em verificar o potencial de uso de resíduos orgâ nicos em solos afetados por
sais, bem como os efeitos destes sais na composiçã o dos solos, contribuindo para o
entendimento do comportamento f ísico e químico destes solos e para a implementa çã o
de técnicas de manejo com base científica confiá vel.
FERTILIDADE DO SOLO
I
948 MARIA BETâ NIA GALVã O DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE
Solos afetados por sais podem exercer efeito prejudicial sobre as plantas por diversas
formas: a acumula çã o de sais sol ú veis em solos leva à plasmólise das células, inibindo o
crescimento vegetal, visto que a á gua move-se da planta para a solução do solo; a presença
de elevadas quantidades de Na pode promover a dispersã o das partículas do solo que,
sob processos de umedecimento e secagem, chegam a formar crostas imperme á veis na
superf ície, além do decréscimo na porosidade e, conseqiientemente, na aeração do solo;
e sob condições de salinidade elevadla, o pH pode apresentar valores demasiadamente
altos, reduzindo a disponibilidade de muitos micronutrientes, tais como: Fe, Cu, Zn, Mn
e B (Tan, 1993) . Aliado a estes fatores, podem ocorrer també m a toxidez pelo Na sobre o
metabolismo e a nutriçã o das plantas, ou do HC03 , Cl e outros â nions e a deficiência de
' '
( vacuolar e plasm á tica ) e atividades celulares sensíveis à perda de turgor, desidrata ção
ou altas concentra ções de Na + ou Cl . '
O crescimento adequado das pla,ntas em solos afetados por sais depende de alguns
fatores, incluindo a constituiçã o fisiológica da planta, seu está dio de desenvolvimento e
há bito de crescimento do sistema radicular. També m devem ser consideradas as
propriedades dos solos, incluindo a natureza dos vá rios sais, suas quantidades relativas,
a concentraçã o total e a distribuiçã o no solo, além de sua estrutura , drenagem e aeração.
A capacidade de manter a integridade da membrana celular e a seletividade de íons
em condições de salinidade é essencial à manutenção do equilíbrio fisiológico interno
das plantas. Neste contexto, a relaçã o K + / Na + nos tecidos vegetais tem sido considerada
como uma variá vel indicadora de adaptaçã o à salinidade, em que plantas capazes de
mantê-la superior a 1,0 têm sido enquadradas como tolerantes ( Viégas et al., 2001).
FERTILIDADE DO SOLO
XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 949
Um sistema biológico sob estresse salino provavelmente usa mais energia do que se
encontrasse na ausê ncia de estresse . Uma planta , quando exposta a elevadas
concentra ções de sais, consome energia metabólica extra em processos relativos a ajustes
osmó ticos nas células. Sem este ajuste, a planta perde á gua para o solo salino adjacente,
desidrata e morre. O consumo de energia no ajuste osmó tico ao estresse salino reduz a
energia utiliz á vel no crescimento e, assim, influencia a produtividade. Resta definir se
este gasto de energia provoca reduções que impossibilitem o uso agrícola de determinada
cultura, com retorno económico satisfatório.
Testando os efeitos da salinidade no crescimento e no teor de nutrientes em cultivares
de bananeira , Ara ú jo Filho et al . (1995) verificare m que o aumento da salinidade afetou
a altura das plantas, o diâ metro do pseudocaule, a á rea foliar e a matéria seca tanto da
parte a érea quanto das ra ízes das plantas de bananeira . Entretanto, dois cultivares
testados ( Nanica e Nanicã o ) apresentaram -se mais tolerantes que as outras (Pacovã e
Mysore), aos níveis crescentes de sais, confirmando a possibilidade de utiliza çã o de
plantas mais tolerantes em condições de elevada salinidade.
Efetivamente, algumas espécies ou variedades apresentam maior toler â ncia e
capacidade de adapta çã o a estes ambientes, po ssivelmente pelo uso de mecanismos
fisiológicos de adaptaçã o ao longo de sua evoluçã o . Encontram-se referências na literatura
a estudos sobre sorgo (Fernandes et al., 1994), bananeira ( Ara ú jo Filho et al., 1995), milho
( Azevedo Neto & Tabosa, 2000), dentre outras culturas.
A germina çã o é, geralmente, o está dio mais sensível do ciclo de vida da planta ao
estresse salino, levando a crer que o principal efeito salino é osmó tico. Contudo, desde
que alguns sais sã o mais inibidores que outros, os efeitos tóxicos específicos també m
devem estar envolvidos.
Pela necessidade de absor çã o de á gua na fase de germina çã o e fragilidade das
pl â ntulas recém-germinadas, a maioria das culturas sã o mais sensíveis à salinidade
nestas fases iniciais de seu crescimento. Diversos autores tê m demonstrado este fato
claramente (Oliveira Jr. et al., 1998; Nóbrega Neto et al., 1999; Rodrigues et al., 2002) .
Oliveira et al. (1998), estudando os efeitos da salinidade da á gua de irriga çã o sobre
a germina ção de sementes de três cultivares de melão, observaram reduções na germinação
com o aumento da salinidade da á gua de irriga çã o, com diferenças entre as variedades;
muito embora as três variedades estudadas tenham sido consideradas de tolerâ ncia
moderada . Entretanto, o melã o cultivado sob o estresse salino apresenta reduções na
á rea foliar, altura de planta e produçã o de massa seca, acarretando diminuiçã o na
produtividade da cultura ( Alencar et al., 2003).
Em estudo com leucena, Nóbrega Neto et al . (1999 ) verificaram decr éscimo na
velocidade de germina çã o, à medida que aumentaram as concentra ções de sais do
substrato, evidenciando que a adiçã o do NaCl contribui para o retardamento na
emergência das plâ ntulas, o que levou os autores a concluírem ser este um fator
preponderante na velocidade de germinação di espécie ( Nóbrega Neto et al., 1999 ) .
Entretanto, apesar de ocorrer redução na percentagem de germinaçã o, a leucena germinou
em todas as concentra ções de NaCl utilizadas, indicando que a espécie é tolerante na
fase germina tiva .
FERTILIDADE DO SOLO
950 MARIA BETâ NIA GALVã O DOS SANTOS FREIRE & FERNANDO JOS é FREIRE
Esses autores consideram que o po :encial de retirada de sais pela Atriplex pode ser
bastante significativo quando forem utilizadas á guas comuns na regiã o. Entretanto, é
preciso que seja adotado um manejo adequado, com podas frequentes e retirada do
material da á rea para uso na pecu á ria ou concentraçã o por outros meios (queima para
obtençã o de cinzas, á reas de ac ú mulo, etc.), pois, do contr á rio, o sal extraído retornaria
ao solo com a deposiçã o dos resíduos da planta e sua posterior mineraliza çã o.
O potencial de fitorremediação da Atriplex ainda precisa ser confirmado em pesquisas
adicionais. Para isso, devem ser tes adas outras plantas, como a algaroba e a leucena,
com o objetivo de selecionar os cultivares mais adequados para a recupera çã o de
ambientes degradados pela salinidade e sodicidade. Planos de recuperação destas á reas
degradadas poderiam permitir a expansã o de culturas comerciais, inicialmente com
espécies tolerantes mais adaptadas e c apazes de produzir satisfatoriamente sob condições
de estresse salino.
CONSIDERA ÇÕ ES FINAIS
Fica evidente que a fertilidade de solos afetados por sais envolve muito mais a retirada
dos elementos em excesso para corrigir os possíveis desequilíbrios entre cá tions e â nions
do que o fornecimento de nutrientes via fertiliza çã o.
O manejo adequado do sistema solo-á gua - planta é de fundamental importâ ncia
para evitar o desencadeamento dos processos de degradação promovidos pela salinização
e sodificação dos solos . A utiliza çã o de espécies e variedades adaptadas, irrigadas com
á guas de salinidade controlada em termos de teores e tipos de sais, o manejo da irrigaçã o
juntamente com a drenagem, mantendo um balanço adequado de sais no solo, devem ser
monitorados para nã o permitir a expansã o de á reas salinas.
Em solos já salinizados, a sol íçã o seria planejar a recuperaçã o com o uso de
corretivos, espécies fitorremediadoras e lâ minas de lixiviaçã o, acompanhadas por um
sistema de drenagem adequado e pelo monitoramento das propriedades dos solos e da
água usada na irrigação.
O problema da salinizaçã o nã o se restringe a lotes independentes, nem mesmo a
projetos de irriga çã o individuais, já que os sais se movimentam com a á gua do lençol
FERTILIDADE DO SOLO
\ XVI - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM SOLOS AFETADOS POR SAIS 951
i freá tico, atingindo á reas muitas vezes distantes Por isso, a questã o deve ser enfocada
numa escala mais ampla, pois a contamina çã o provocada localmente poderá comprometer
todo o ambiente, mesmo a longas distâ ncias. Adicionalmente, as técnicas de manejo das
á reas salinas devem ser desenvolvidas para a situa çã o específica do local onde ocorre o
problema, o que é condiçã o para o sucesso no controle da salinidade e para a real
expressã o da capacidade produtiva destes solos que, frequentemente, apresentam boa
fertilidade natural.
LITERATURA CITADA
ABOUL ROOS, S.A .; AWADALLA , E. A . & KHALAF, M.A . Use of gypsum and water with high
salt content in reclamation of sodic soil. Z. Pfla nzenernaehr, 6:725-730, 1976.
ALENCAR, R . D.; PORTO FILHO, F.Q.; MEDEIROS, J . F.; HOLANDA, J .S.; PORTO, V.C. N. &
FERREIRA NETO, M. Crescimento de cultivares de melã o amarelo irrigadas com á gua
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ARA ÚJO FILHO, J . B.; GHEYI, H. R . & AZEVEDO, N.C . Toler â ncia da bananeira à salinidade em
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AYERS, R .S. & WESTCOT, D.W. Water quality for agriculture. Roma, Food and Agriculture
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AZEVEDO NETO, A .D. & TABOSA , J .N . Estresse salino em plâ ntulas de milho: Parte I - Aná lise
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BERNSTEIN, L. Crop growth and salinity . In: DRAINAGE for agriculture. Madison, American
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CHHABRA, R . Soil salinity and water quality . Rotterdam, A. A. Balkema, 1996. 283p.
FERTILIDADE DO SOLO
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU
MANEJO EM ÁREAS DEGRADADAS
Luiz Eduardo Dias17, Aví lio Antônio Franco27
& Eduardo Francia Carneiro Campello 27
1/
Universidade Federal de Viçosa - UFV. CEP 36571-000 Viçosa ( MG ) . Bolsista CNPq.
ledias@ ufv .br
2/
Embrapa / Agrobiologia . CEP 23851-970 Seropé dica ( RJ ). Bolsista CNPq .
avilio @cnpab . embrapa .br; campello @ cnpab.embrapa . br
Conte ú do
INTRODUÇÃ O 956
SBCS, Viçosa , 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V., V.H., BARROS,
N.F., FONTES, R .LF ., CANTARUTTI, R . B. & NEVES, J .C .L . ) .
956 Luiz EDUARDO DIAS et al .
INTRODU ÇÃ O
A atividade agropecuá ria coloda -se como a maior fonte de degrada çã o de terras em
todo o planeta ( Eswaran et al., 2001) . A agricultura tradicional, com ê nfase na
monocultura, tem sido um fator de aceleramento desta degradaçã o, geralmente ultimada
pelo superpastejo e uso do fogo . Estimativas de mais de uma d écada consideravam que
15 % do solo mundial encontrava - se degradado ou em processo de degrada çã o, dos
quais 98,8 % estavam relacionados com as atividades de produçã o e extrativismo e 1,2 %
com as atividades de ind ústrias e mineraçã o, sendo estas as responsá veis pela degradaçã o
de maior intensidade ( Oldeman, 1994 ) . Considerando apenas a questã o de erosã o em
terras agr ícolas, estima -se que a cada ano, em todo o planeta, sã o perdidos cerca de 75
bilh ões de toneladas de solo, a um custo de US$ 400 bilhões ou, aproximadamente, de
US$ 70.00 por habitante ( Eswaran et al., 2001).
Processos de degrada çã o atuarr . sobre os diferentes compartimentos de um sistema
ambiental. Dependendo da intensidade e duraçã o do impacto e da resiliência do sistema,
a reabilita çã o ou recupera çã o podir á ocorrer de maneira natural ou necessitar á de
intervençã o antr ópica . A degrada çã o pode ser por perturba çã o do solo, causada por
a ções naturais, como vento, fogo, terremoto, queda de á rvores, enchentes, etc., em que a
resiliência natural do sistema geralmente possibilita sua recupera çã o. Neste caso, espécies
heliófilas de r á pido crescimento, como Cecropia sp., Vismia latif ólia e Trema micrantha ,
dentre muitas outras, estabelecem-se na á rea sem necessidade de adiçã o de nutrientes e,
assim, iniciam o processo de recupera çã o . Por outro lado, a degrada çã o associada com
perda da camada superficial do solo contendo maté ria orgâ nica e nutrientes em maior
quantidade é mais séria, considerando a importâ ncia destes para as características f ísicas
e qu ímicas do solo.
A supressã o da vegeta çã o, seja decorrente do manejo inadequado de pastagens e
terras agrícolas, seja de atividades de elevado impacto, como a retirada de florestas para
fins energéticos ou para a explota çã o de minérios, tem como consequência imediata a
exposiçã o de solo aos raios solares é aos agentes de erosã o. Ciclos de umedecimento e
secagem e o impacto de gotas de chuva promovem a desestruturaçã o do solo, acelerando
a perda de maté ria orgâ nica . No caso de minera ções a cé u aberto, o impacto é mais
intenso, uma vez que o solo superficial é retirado, armazenado e retornado ao local de
origem após a retirada do minério. Estes cená rios mostram-se como padr ões em á reas
degradadas. Desta forma, em difecentes intensidades, o ponto comum é a perda de
matéria orgâ nica, drástica reduçã o da atividade biológica, desestruturação e adensamento
do solo e intensifica çã o de processos erosivos.
A recuperaçã o de á reas degrac adas pode ser conceituada como um conjunto de
a ções que visam proporcionar o restabelecimento de condi çõ es de equil íbrio e
sustentabilidade que existiam antes da degrada çã o (Dias & Griffith, 1998). O car á ter
inter e multidisciplinar das a ções que visam proporcionar esse retorno deve ser tomado,
fundamentalmente, como ponto de p artida do processo. Assim, o envolvimento direto e
indireto de técnicos de diferentes esp ecializa ções permite a abordagem integrada que se
FERTILIDADE DO SOLO
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM Á REAS DEGRADADAS 957
faz necessá ria . Bell (1996) coloca, como primeirc passo de um programa voltado para a
reconstruçã o de um ecossistema , o restabelecimento da vegetaçã o, salientando, ainda,
que a atividade de outras formas de vida ( micro e macro) depende daquele componente.
Neste sentido, em se tratando de revegetaçã o de á reas drasticamente alteradas, correções
e fertiliza ções pr é vias do substrato normalmente se fazem necessá rias.
Neste texto, o termo recuperaçã o é utilizado como uma abordagem padrã o, em que
os processos empregados permitem o uso sustent á vel da á rea , conforme objetivo
previamente determinado. Os termos reabilitação e restauraçã o são comumente utilizados
na literatura e apresentam, do ponto de vista dos autores, significados diferentes. A
reabilita çã o tem como objetivo o retorno da á rea à mesma funçã o ecológica , poré m com
níveis de diversidade biol ógica, entropia e biomassa diferentes dos previamente
existentes . Por outro lado, a restaura çã o pressup õe o retorno da á rea à mesma funçã o
ecológica e com aqueles mesmos n íveis existentes antes da degradaçã o . Entretanto, os
aspectos discutidos ao longo deste capítulo enquadram -se, basicamente, em qualquer
processo, seja ele de recupera çã o, seja de reabilita çã o ou restaura çã o .
Em á reas drasticamente alteradas como de minera çã o, por exemplo, os diferentes
materiais resultantes do processo de expiota çã o de miné rio devem ser considerados, no
contexto de revegeta çã o, como substrato e não so o. Logicamente, o nível de altera çã o do
material remanescente frente ao solo original pode variar de acordo com a intensidade e
com o tempo de dura çã o do impacto e da resiliência do solo. Desta maneira, ao longo
deste capítulo, o termo substrato é utilizado indistintamente para referenciar o material
remanescente de um processo de degradação, que apresenta, normalmente, baixo teor de
matéria orgâ nica, baixa disponibilidade de nutrientes, pouca ou nenhuma estruturaçã o
e atividade biológica . Assim, destacam-se como um dos objetivos da recupera çã o a
transforma çã o de um substrato em solo.
A recupera çã o de um sistema degradado tem como base restabelecer ao substrato
condições para que possa cumprir os serviços c .esempenhados pelo solo em qualquer
sistema natural em equil íbrio . Desta forme , tê m -se servi ç os relacionados com
caracter ísticas f ísicas, químicas, f ísico-químicas e biológicas de solo. Considerando o
foco deste livro, coloca-se como objeto de discussã :> deste capítulo a melhoria da fertilidade
de substratos degradados para que possam suprir a vegeta çã o implantada e,ou,
espontâ nea de nutrientes, permitindo que estas se estabeleçam e o sistema volte a
funcionar de maneira sustentá vel.
FERTILIDADE DC SOLO
958 Luiz EDUARDO DIAS et al .
-
Figura 1. Rejeito de lavagem de bau /dta , em Porto Trombetas PA ( a ) . Vista parcial de um
depósito de rejeito de beneficiamento de min é rio de ferro, em Nova Lima - MG ( b) e de um
depósito de rejeito de beneficiamento de minério de ouro, em Paracatu - MG (e ).
FERTILIDADE DO SOLO
960 Luiz EDUARDO DIAS et al .
& Mohammed, 1991; Dunker et al., 1995), porém apenas a escarificação mostrou-se
insuficiente pã râ garantir o início de regenera çã o natural de cascalheira em Brasília, DF
( Leite et al., 1996) .
A utiliza çã o de espécies arb óreas tolerantes à compacta ção tem sido recomendada
como prá tica para aumentar a porosidade e diminuir a densidade de substratos
remanescentes de extra çã o de carvão na Inglaterra (Haigh, 1992). A utilizaçã o de espécies
tolerantes à compactaçã o mostrou-se alternativa igualmente viável em Porto Trombetas-
PA. Trabalhando com estéril de bauxita (mistura de horizontes BeC com concreções
ferruginosas lateríticas), sem o retorno da camada superficial do solo, Campello et
al. (1997) avaliaram o efeito de três níveis de escarificaçã o (0, 1 e 2 passagens do
escarificador) sobre o crescimento de Acacia holosericea, Albiziaguachapelle, Parkia multijuga
-
e Sesbania marginata . A escarifica çã o reduziu a densidade do solo e aumentou a
profundidade efetiva avaliada por penetrógrafo. Apesar de tais efeitos mostrarem-se
estatisticamente detectá veis no solo , a escarifica çã o nã o apresentou efeito sobre o
estabelecimento e crescimento das plantas. Nesse sentido, a seleçã o de espécies a serem
utilizadas é de grande importâ ncia, pois o comportamento ante a presença de camadas
compactadas varia entre elas.
Ensaios em condi çõ es controladas de casa de vegeta çã o podem indicar o
comportamento das espécies em relaçã o à presença de camadas compactadas. Diferentes
ensaios (Femandez et al., 1994; Nejaim e t al., 1996; Dias et al., 2004a) mostraram que a maior
parte das espécies leguminosas consideradas pioneiras e comumente utilizadas em
programas de recuperação ambiental apresenta boa tolerância à compacta ção (Quadro 1).
Quadro 1. Produção de matéria seca da parte aérea de mudas de diferentes espécies leguminosas
utilizadas em recuperação de áreas degradadas e cultivadas em colunas que continham
solo em densidade equivalente a original (d =1,0 kg dm 3) é compactado (d = 1,3 kg dm 3)
" "
g / coluna
Albizia guachapelle 10,0 a 10.5 a
Albizia fal cataria 1, 2 a 0,85 a
Albizia saman 1,1 a 1, 2 a
Acacia holosericea 14,1 a 10.8 b
Acacia angustissima 1,1 a 1, 2 a
Acacia mangium 13.5 a 14.5 a
Enterolobium contortissiliquum\ . 10,3 a 9.5 a
Enterolobium schomburgkii . 15.3 a 13.2 b
Leucaena leucocephala 11.4 a 7.5 b
Mimosa tenuiflora 14.6 a . ..
/•
10.3 b
Mimosa caesalpinifolia v 12,7 a 9.5 a
Parkia ulei 16.5 a 12.9 b
Senna elata 13.4 a 11.4 a
Senna reticulata 24.5 a 20,8 a
Sesbania virgata 23.6 a . - 22,2 a
Stryphnodendron guianensis • 1/ 5 a 1,1 a
, Valores seguidos de
( )
mesma letra, nas linhas, rtão diferem a 5 % pelo teste Tukey.
Fonte: Femandez et al . (1994); Nejaim et al. (19S 6); Dias et al. (2004a ).
vegetais muito tolerantes à salinidade conseguem sobreviver ( Ayers & Westcot, 1991).
Da mesma forma , o aumento da solubilidade de matais pode provocar toxidez aos vegetais.
No Brasil, os estudos ainda sã o muito incipientes; entretanto, já tem sido constatado
o problema em minas de carvã o do Rio Grande do Sul (Soares, 1995) e Santa Catarina . O
Estado de Minas Gerais apresenta expressivos jazimentos com presença de sulfetos
associados às minerações de Au, Ni, Zn, Pb e de L , constituindo um expressivo potencial
de gera çã o de drenagem á cida (Melo et al., 2006) , Igualmente escassos são os estudos de
seleção de espécies capazes de adaptar-se a este tipo de substrato . Esta busca é importante
FERTILIDADE DO SOLO
962 Luiz EDUARDO DIAS e t al .
Umidade
Rejeito Areia Silte Argila
- 0, 03 MPa - 15 MPa
g kg -1
Ouro 940 40 20 24,1 7,9
Zinco 610 340 50 197,7 17, 9
Bauxita 220 250 530 322,0 262, 0
e, geralmente dif ícil, posto que a adapta çã o a ambientes ácidos e salinos é uma condiçã o
à qual as plantas nã o foram habituadas durante seu processo evolutivo. Podem-se
encontrar solos salinos, mas nã o á cidos, com vegeta çã o adaptada. Por outro lado, a
expectativa é que espécies que desenvolveram mecanismos evolutivos para se adaptar a
solos á cidos nã o toleram salinidade excessiva ( veja capítulo XVI).
Procedimentos específicos à amostragem e caracterizaçã o química de substratos
sulfetados sã o necessá rios para que se possa ter uma correta estimativa do potencial de
acidez a ser gerado e, conseqiientemente, do impacto ambiental. Nesse sentido, tendo em
vista o tamanho da á rea e da textura (capacidade tampão), do teor de S oxid á vel e da
acidez potencial a ser gerada pelo substrato, o governo australiano estabelece níveis de
a çã o para tratamentos diferenciados do problema. Á reas que excedam estes níveis
requerem o preparo de um plano de manejo e autorização especial. Projetos que envolvem
um volume de material superior a 1.0 30 t de substratos sulfetados com teores maiores de
0,3 g kg 1 de S oxid á vel requerem a elabora çã o de projetos detalhados de manejo e
'
FERTILIDADE DO SOLO
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM Á REAS DEGRADADAS 963
Amostra PH Zn Fe Mn Cu S
mg dm -3
Rejeito de bauxita 4, 90 11.40 21,40 5,50 0,20 2,45
Rejeito de ferro 8, 04 267,50 145,90 37,70 9,37 46,50
Rejeito de zinco 7,35 39.40 49,70 150,30 0, 76 131, 60
pH em á gua, rela çã o 1:2,5. Fe, Zn, Mn, Cu - Extrator Mehlictvl . S - Extrator - Ca (H2P04) 2 500 mg L 1 de P em '
HOAc 2 mol L 1.
Quadro 4 . Teores de f ósforo e pot á ssio disponíveis, de cá lcio, magn ésio e alumínio trocá veis e
acidez potencial em amostras de rejeito de beneficiamento de miné rio de alum ínio
(bauxita ), ferro e zinco
mg dnr 3 mg L 1'
emole dm -3 -
Rejeito de bauxita 0,2 8,0 9,61 0 ,1 0,1 0, 0 1, 00
Rejeito de ferro 3,4 0, 0 47,40 0,0 0,0 0,0 0,70
Rejeito de zinco 1,0 62,0 21,65 2,6 1,5 0,0 0,00
P e K - extra ídos por Mehlich-1. Ca 2 +, Mg2+ e Al3+ extra ídos com KC1 1,0 mol L'1. (1 )
Alvarez V . et al. (2000).
FERTILIDADE DQ SOLO
964 Luiz EDUARDO DIAS et al .
FERTILIDADE DO SOLO
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM Á REAS DEGRADADAS 965
de água são deficientes. Nessas situa ções, a utiliza çã o da CSS, proveniente de á reas de
empréstimo, permite melhores condições ao estabelecimento e crescimento de plantas.
Da mesma forma, o desenvolvimento de propá gulos provenientes de fontes externas é
intensamente facilitado por um substrato menos agressivo.
A conserva çã o e a distribuição da CSS sã o etapas críticas que devem ser executadas
de maneira criteriosa para preservar as qualidades do material. De maneira geral,
observa -se que a viabilidade de sementes decresce significativamente de acordo com o
tempo e condições de armazenamento. Pilhas muito alta podem produzir ambientes
anaeróbios em profundidade, aumentando a concentra çã o de amónia, dióxido de carbono,
etileno e metano ( Abdul-Kareem & McRae, 1984), além de promover a reduçã o na
biomassa microbiana (Harris & Birch, 1987).
A despeito das evidentes vantagens da utilizaçã o da CSS, algumas empresas nã o a
utilizam, ou nã o pretendem utilizá-la, por questões económicas, ou por ser o solo original
pouco espesso, sendo armazenado juntamente com o estéril (horizontes inferiores).
Nessas e em outras situa ções em que o volume armazenado de solo superficial é
insuficiente para o recobrímento total da á rea minerada, a utilizaçã o de outros materiais
ou resíduos (sem limita ções f ísicas e químicas ao crescimento de plantas) com a CSS
constitui alternativa a ser considerada. Essa pratica tem sido adotada por minera ções
de carv ã o, U e Au na revegeta çã o de substratos sulfetadòs. Dentre os materiais mais
utilizados, destacam-se argilas, compostos orgâ nicos, lodo de esgoto, cinzas e serragem.
O uso de serapilheira de florestas adjacentes como banco de propá gulos mostrou-se
viável na recuperação de á reas degradadas pela e xtração de bauxita em Poços de Caldas-
MG (Gisler & Meguro, 1993). No entanto, essa té cnica tem sido mais efetiva como fonte
de propágulos e nã o como alternativa de substrato de plantio. Além do mais, esse
procedimento deve ser precedido de uma avaliàção prévia do potencial de resiliência da
á rea de empréstimo, a fim de evitar sua degradai:ao.
Schafer (1979) é Brádshaw (1989) apresentariam diretrizes básicas para a escolha de
materiais a serem utilizados na cobertura de subs xatos minerados. A partir da discussão
das características químicas e f ísicas desejáveis e indesejáveis, os autores estabeleceram
referências para que o material a ser utilizado nã o apresente limitações para o
estabelecimento e crescimento de plantas.
No quadro 5, sã o apresentados os valores de altura e de sobrevivência de diferentes
espécies leguminosas arbóreas e arbustivas plantadas em substrato remanescente de
extração de Au em Paracatu-MG, com e sem a util iza ção da CSS. Em virtude do pequeno
volume da CSS armazenado pela empresa, op :ou-se pela formaçã o de uma mistura
composta por solo armazenado, argila (horizonte B de um Latossolo da região) e resíduo
proveniente do beneficiamento do minério na proporçã o de 2:1:1 (v / v / v ). A aplicação
dessa mistura foi realizada na forma de faixas de 1,0 m de largura por 40-50 cm de
espessura (Figura 2a ). Apesar de as avaliações terem sido realizadas em datas diferentes
(34 meses, para o experimento sem CSS, e 29 meses, para o experimento com CSS),
observou-se que a utiliza çã o deste procedimento promoveu maior crescimento e
sobrevivência das espécies. Da mesma forma, a comparação visual das parcelas sem e
com CSS mostrou que as com CSS apresentavc m significativa presença de plâ ntulas
oriundas de propá gulos existentes no solo previamente armazenado (Figura 2b).
í
FERTILIDADE DO SOLO
966 Luiz EDUARDO DIAS et al .
Quadro 5 . Taxa de sobrevivência e altura de seis espécies 34 meses após o plantio no substrato
Bl (11 sem o uso dc leiras e 29 meses após o plantio no substrato BI com o uso de leiras 1 '
% m % im
M édia 65 2, 24 90 2, 44
c, ) Substrato ( filsto ) remanescente da explota çã o de ouro com cerca de 2,0 g kg de sulfetos met á licos,
1 í?
Leiras
formadas peia mistura composta por solo armazenado, argila (horizonte B de um Latossolo da regi ão] e resí duo
proveniente do bene íicã amentO’ do miné rio na propor çã o de 2: 1 : 1 (v / v / v ).
Fonte : Dias et al. Dados não publicados.
Figura 2 . Mistura de solo e rejeito para a comfetçã o de leiras para o plantio de espécies arbó reas
e arbustivas, considerando a escassez de solo superficial , sobre um substrato sulfetado
remanescente da explota çâ o de ouro ( a ) . Crescimento dc algumas esp écies 2* ) meses após
o plantio ( b ) .
FERTIUOADE DO SOLO
r
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM AREAS DEGRADADAS 967
FERTILIDADE DO SOLO
968 Luiz EDUARDO DIAS et al .
Estudo realizado em Rond ônia, Brasil, mostrou que a floresta natural apresenta
cerca de 200 t ha 1 de C, sendo 75 % destes representados por á rvores vivas, 16 % e 4 %
'
XVII 969
FERTILIDADE DO SOLO
968 Luiz EDUARDO DIAS et al .
Estudo realizado em Rondô nia, Brasil, mostrou que a floresta natural apresenta
cerca de 200 t ha 1 de C, sendo 75 % d 2stes representados por á rvores vivas, 16 % e 4 %
'
FERTILIDADE DO SOLO
- FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM AREAS DEGRADADAS
/
XVII 969
FERTILIDADE DO SOLO
970 Luiz EDUARDO DIAS et al .
FERTILIDADE DO SOLO
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJJO EM Á REAS DEGRADADAS 971
vegetal (Campello, 1998). As espécies arbó reas com ra ízes profundas também reciclam
nutrientes perdidos para as camadas mais profundas do solo ( Nair et al ., 1984, 1999 ).
Essa té cnica baseia -se na elevada capacic .ade de adapta çã o e de produ çã o de
biomassa de algumas leguminosas arb ó reas, aliada ao fato de a associa çã o com
microrganismos potencializar essas qualidades . Na verdade, sua utilizaçã o permite
acelerar o processo de revegetação, criando rá pida cobertura vegetal e, ao mesmo tempo,
condições de solo e microclima favorá veis ao ingresso e estabelecimento de espécies de
está dios sucessionais mais avançados.
Evidentemente, o comportamento de cada espécie depender á das condições de
manejo, substrato e clima locais. Por isso, faz-se necessá rio identificar as espécies
leguminosas com capacidade de nodular, forraar um banco de estirpes de rizóbio,
identificar matrizes para coleta de sementes, selecionar as mais eficientes e avaliar a
dependência micorr ízica das espécies com maior potencial de uso ( Faria et al., 1984,
1987, 1999a, b; Moreira, 1991; Siqueira, 1996; Fa : ia & Melo, 1998; Franco et al., 2000) .
Estimativas do potencial de fixa çã o de N 2 em leguminosas arbó reas tropicais em
condições de campo sã o escassas, poré m podem ser encontrados valores que variam de
70 kg ha 1 ano 1 a até 500 kg ha 1 ano 1, para ieucaena leucocephala ( Vergara, 1982) .
' ' " '
Entretanto, a fixa çã o de N 2 nã o deve ser atribuíc a como ú nica virtude das leguminosas
arbóreas. Aspecto de grande importâ ncia, em se tratando de recupera çã o de substratos
FERTILIDADE DO SOLO
972 Luiz EDUARDO DIAS et al .
degradados, é o potencial de aporte de material orgâ nico ao solo. Espécies como a Mimosa
caesalpinifolia podem produzir cerca de 10 t ha 1 ano 1 de maté ria seca formadora de
' '
serapilheira (Embrapa , 1997) e 4,4 kg / planta de matéria seca de raízes (Andrade & Faria,
1997).
Comparando o potencial das espé cies nã o-leguminosas ( Eucalyptus pellita ) e
leguminosas ( Acacia mangium ) em recuperar um solo degradado pela extra çã o de bauxita
em Porto Trombetas-PA, Dias et al. ( 1994a ) verificaram que, nove anos após o plantio, as
parcelas com A. mangium apresentavam maior produçã o de serapilheira com menor
rela çã o C / N e maiores conte ú dos de P, N, Mg e K e o solo superficial (0-2,5 cm ) maior
concentra çã o de matéria orgâ nica, soma de bases trocá veis e CTC efetiva, confirmando o
maior potencial dessa espécie em re:uperar o solo degradado.
4
FERTILIDADE DO SOLO
/
Tukey 5 %
E . citriodora Cupi ú ba
ie
Figura 5. Produçã o de maté ria seca da parte a érea de espécies da regenera çã o natural em
plantios de leguminosas fixadoras de N2 (acá cia e taxi ), nã o-leguminosas ( E. pellita e E.
citriodora ) e leguminosa nã o-fixadora de N2 ( cupi ú ba ) em Planossolo degradado pela
retirada de horizontes superficiais (á rea de empr éstimo), em Porto Trombetas-PA.
Fonte: Campello (1998).
FERTILIDADE DO SOLO
974 Luiz EDUARDO DIAS et al .
Uma vez que esp écies leguminosas podem proporcionar a melhoria das
características f ísicas, químicas e biológicas de substratos degradados, o uso dessas
pode ser planejado para um processo de revegetaçã o baseado em duas etapas, conforme
proposto por Griffith et al. (1996). Esse processo vem sendo utilizado na revegetaçã o de
tanques de depósito de rejeito de lavagem de bauxita em Porto Trombetas-PA e se inicia
pela hidrossemeadura de espécies leguminosas arbustivas e arbóreas. As sementes sã o
inoculadas com estirpes selecionadas de bactérias fixadoras de N2 atmosf érico e esporos
de fungos micorr ízicos e sã o aplicadas juntamente com fertilizantes com macro e
micronutrientes, com exceçã o de N. E ssa fase inicial permite que o processo de secagem
do rejeito seja acelerado e, ao mesmo tempo, exista significativa incorporaçã o de C e
nutrientes ao sistema . A segunda fase inicia-se quando o rejeito encontra-se consolidado,
permitindo que seja realizado o "enric uecimento" por meio do plantio manual de mudas
de espécies nativas pertencentes a di :erentes está dios do processo sucessional (Dias et
al., 2004b ) .
para elucidar processos do ecossistema, e (e) ser compreensível e ú til para o agricultor
( Doran & Zeiss, 2000) .
Nos sistemas naturais, a qualidade do solo é observada com vistas em obter um
valor básico referencial ou conjunto de valores contra os quais futuras mudanças no
sistema podem ser analisadas e comparadas ( Nu nes, 2003). Nos sistemas agr ícolas, a
qualidade do solo é monitorada para incentivar a produção sem degradar os solos e o
ambiente ( Gregorich, 2002). Na passagem de sis :emas naturais para agrícolas, muitos
atributos do solo, sensíveis a varia ções no uso e manejo e relacionados com as suas
funções básicas, sã o alterados, indigando perdas na sua qualidade ( Doran & Parkin,
1996). O estudo das altera ções ocorridas nos solos cultivados teria resultados mais
consistentes, se se utilizar um solo que não sofreu i jualquer a ção antr ópica e, a partir daí,
submetê-lo às opera ções agrícolas desejadas e, periodicamente, analisar as variáveis
escolhidas. No entanto, podem-se comparar diferentes manejos em uma mesma
propriedade ao longo dos anos, ou entre diferentes propriedades, ou, ainda, comparar
um ecossistema natural com á reas manejadas (Sanchez, 1976). Estudos deste gênero têm
adotado como referências os valores obtidos de variá veis previamente selecionadas em
uma á rea pr óxima onde as caracter ísticas geopedoclimá ticas e de vegeta çã o sã o
semelhantes à quelas que a á rea em estudo apresentava antes da degradação ( Lynch,
2004; Dias, 2002).
FERTILIDADE DO SOLO
976 Luiz EDUARDO DIAS et al .
Siqueira, 2002).
A rela çã o entre o teor de C da biomassa microbiana e o teor de C orgâ nico total,
çhamada de quociente microbiano ( tylV IC), reflete a eficiência da conversão de C da matéria
orgâ nica em C microbiano (Sparling, 1992) e pode indicar situa ções em que a microbiota
esteja enfrentando algum tipo de estresse. Da mesma forma, quando o ambiente mostra-
se mais está vel, os valores de gMIC tendem a crescer ( Powlson et al., 1987).
Condições desfavor á veis à mineraliza çã o de maté ria orgâ nica resultam em
decréscimo na atividade de microrganismos decompositores. Esse decréscimo pode ser
utilizado como um indicador de estresse ambiental. A relação entre a quantidade de C02
produzido por unidade de C da biomassa microbiana e por unidade de tempo é
denominada quociente metabólico ( Anderson & Domsch, 1985). Um baixo quociente
metabólico indica utilizaçã o mais eficiente de energia e ecossistema mais está vel (Insam
& Haselwandted, 1989). Para Anderson & Domsch (1993), a utiliza ção desta relaçã o é
importante para avaliar o efeito das condições de estresse sobre a atividade e conteú do
da biomassa microbiana.
FERTILIDADE DO SOLO
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM Á REAS DEGRADADAS 977
FERTILIDADE DO SOLO
978 Luiz EDUARDO DIAS et al .
C2 2 M 30 M 40
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Figura 7. Atividade das enzimas fosfata >e ácida (a ), P-glicosidase ( b ) e urease ( c ) em amostras
retiradas em diferentes per íodos do ano em solos cultivados com caf é e sob mata
secund á ria, no município de Viçosa-MG. C16: Caf é com 16 anos; C22: Caf é com 22 anos;
M30: Mata com 30 anos e M40: Ma :a com 40 anos.
Fonte: Nunes ( 2003).
FERTILIDADE DO SOLO
r
XVII - FERTILIDADE DO SOLO E SEU MANEJO EM AREAS DEGRADADAS 979
Para situa ções em que o substrato apreserta sulfetos metá licos passíveis de ser
oxidados, gerando acidez e solubiliza çã o de metais, as quantidades aplicadas podem
ser superiores. Em substrato á cido ( pH < 4,0) cc m elevadas concentra ções de Zn e Pb,
foram necessá rias 300 t ha 1 de lodo de esgoto desidratado ( anaerobic sludge cake ) e
"
quantidade superior a 100 t ha 1 de calcá rio para o estabelecimento de vegeta ção (Daniels
"
et al., 1994). Por outro lado, quantidades da ordem de 75-150 t ha 1 do mesmo material
"
FERTILIDADE DO SOLO
980 Luiz EDUARDO DIAS et al .
Para o plantio de espécies arbó reas, a demanda de corretivos de acidez tende a ser
significativamente menor pelo fato de a maioria das espécies pioneiras e de rá pido
crescimento apresentar maior toler â r .cia à acidez. Como pr á tica, a aplica çã o localizada
de calcá rio na cova de plantio tem sido utilizada para melhorar a fertilidade do solo da
cova, criando condições mais favor á veis à disponibilidade de nutrientes. Por outro
lado, a aplica ção de calcá rio em toda a superf ície do terreno poderia criar condições
mais favorá veis ao ingresso de espécies invasoras espontâ neas - o que é desejá vel dentro
de uma perspectiva de recupera çã o a mbiental onde qualquer aporte de C ao substrato é
bem-vindo - proporcionando maior cobertura e proteção do substrato. O uso de plantios
mais adensados (2 x 2 m, por exemplo ), com espa çamentos menores entre plantas, tem
compensado a nã o-aplica ção de calcá rio em toda a superf ície do terreno.
As quantidades e tipos de ferti lizantes a serem utilizados, a fim de garantir o
estabelecimento e crescimento de vegetação em solos degradados, dependem de diferentes
fatores. As quantidades são determinadas de acordo com a fertilidade do substrato e das
exigências nutricionais das espécies a serem utilizadas. O tipo de fertilizante depende,
igualmente, das características f ísico -químicas do substrato remanescente e de outros
fatores, como custo, disponibilidade, forma de aplicação e objetivos do processo de
recuperação ambiental.
A análise de rotina de fertilidade de solo para substratos com fragmentos rochosos
e saprolíticos pode ser utilizada com certas ressalvas dada a possibilidade de sub ou
superestimativa da disponibilidade de nutrientes (Dias, 1998), uma vez que os extratores
químicos foram desenvolvidos a partir de estudos de correla çã o com amostras de
horizontes superficiais de solo.
FERTILIDADE DO SOLO
f
(3)
Apesar de o texto de Neves et al. (1990 ) referir -se espe cificamente a espécies de eucalipto, a experi-
ê ncia dos autores deste capí tulo permite extrapolar este comportamento para grande parte das
espécies arbóreas utilizadas em programas de recupe -a çã o de á reas degradadas.
FERTILIDADE DO SOLO
982 Luiz EDUARDO DIAS et al .
devem ser consideradas como ponto de partida, cabendo à equipe técnica responsá vel o
ajuste das fontes e quantidades de fertilizantes, considerando as caracter ísticas locais,
espécies a serem utilizadas, objetivos do processo de recuperaçã o e disponibilidade de
insumos e recursos.
LITERATURA CITADA
ABDUL-KAREEM, A.W . & McRAE, S.G . The effects on topsoil of long-term storage in stockpiles.
Plant Soil, 76:357-363, 1984.
AHERN C.R .; STONE, Y. & BLUNDEN, b. Acid sulfate assessment guidelines. Acid sulfate soil
management advisory committee. Wollongbar, NSW, 1998. 52p.
ALVAREZ V., V .H.; NOVAIS, R.F.; DIAS , L.E. & OLIVEIRA, J. A. Determina çã o e uso do f ósforo
remanescente. B. Inf . SBCS, 25:27-32 , 2000.
ANDERSON, J.P.E. & DOMSCH, K.H. Ç juantities of plant nutrient in the microbial biomass of
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ANDERSON, J .P.E. & DOMSCH, K .H. The metabolic quotient ( qC02) as a specific activity
parameter to ã ssess the effects of er vironmental conditions, such as pH, on the microbial
biomass of forest soils. Soil Biol. Bi ochem ., 25:393-395, 1993.
1/
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterin á ria , Universidade de Brasília - UnB.
goedert@ unb.br; oliveira @ unb.br
Conte ú do
INTRODU ÇÃ O 992
SBCS, Viçosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. NOVAIS, R .F., ALVAREZ V., V .H ., BARROS,
N.F., FONTES, R .LF., CANTARUTTI, R . B. & NEVES, J . C .L. ).
;
992 WENCESLAU J . GOEDERT & SEBASTI ã O ALBERTO DE OLIVEIRA
INTRODU ÇÃ O
í
Engenharia ,
Perfil Purifica çã o e
minera çã o e
urbaniza çã o do solo ^ suprimento
de água
i
Reciclagem de
subst ância e resí duos
FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABIL DADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 993
A experiência tem evidenciado que o uso intensivo e irracional do solo pode resultar
em diminuiçã o de sua qualidade, com graves consequ ências: social, econó mica e
ambiental. Por isso, é necessá rio concentrar esfor ços na gestão dos recursos do solo,
visando garantir o seu uso racional, com vistas em satisfazer as necessidades atuais e
das futuras gera ções. Para isso, é necessá rio
,
estabelecer
estrat égia de uso do solo que
respeite sua capacidade de oferta de recursos manejando-o de modo a manter ou melhorar
sua qualidade. Somente assim seu uso ser á sustentá vel.
FERTILIDADE DO SOLO
994 WENCESLAU J . GOEDEKT & SEBASTI ã O ALBERTO DE OLIVEIRA
A preocupa çã o com o desenvolvimento sustentá vel tem crescido nos últimos anos e
envolvido grande n ú mero de debates , dentre os quais se pode destacar a ECO 92, no Rio
de Janeiro. Dos compromissos dos países participantes desse evento, situa -se o preparo
de uma proposta de desenvolvimento sustentá vel para cada país. A proposta brasileira
reuniu um conjunto de sete documentos, dos quais dois estã o mais direcionados para a
agricultura: Recursos Naturais ( Bras 1, 2000a ) e Agricultura Sustentá vel ( Brasil, 2000b ) .
Os conceitos apresentados e discutidos a seguir t ê m sua base conceituai nestes
documentos.
Sustentabilidade
O crescimento populacional e a busca de melhoria de vida pressionam a base dos
recursos naturais . Assegurar o acesso e o uso sustentá vel desses recursos para o bem-
estar do homem constitui desafio a s er enfrentado . A reduçã o dos desperdícios e dos
impactos ambientais e o uso racional dos recursos sã o estratégias importantes para
reverter os processos dos mesmos.
Nã o se trata de interromper o crescimento, mas de eleger um caminho que garanta o
desenvolvimento integrado e partic ipativo da sociedade, e que considere a base dos
recursos naturais (á gua, biodiversidade, minerais, etc.) e seus ciclos de produçã o e
regenera çã o . Para tanto, sã o indispensá veis a valorização e o uso racional desses
recursos, antes considerados infinito ; e abundantes e hoje reconhecidos como escassos,
em escala mundial.
Ultimamente, o conceito de sustentabilidade tem sido muito discutido. Essa
discussã o tem ra ízes na ecologia e está associada à capacidade de suprimento,
regeneração e recomposiçã o dos ecost istemas. Existe consenso de que a sustentabilidade
envolve v á rias dimensões, podendo- f e destacar as de cará ter ambiental, socioeconômica
e tecnol ógica . A dimens ã o ambiental refere-se à manutençã o da capacidade de
sustentaçã o dos ecossistemas, impli:ando seu uso de acordo com sua capacidade de
oferta de bens e serviços. A dimensã o socioeconômica baseia-se na melhoria da qualidade
de vida das gera ções, atuais e futuras, e de retornos aos investimentos, enquanto a
dimensã o tecnológica envolve a eficiência do processo produtivo, a eficá cia de seus
produtos e a satisfa çã o dos usu á rios
Deve-se reconhecer que há evic entes dificuldades na determinação do limite de
sustentabilidade de cada recurso, prir cipalmente ao serem consideradas as inter-relações
e as sinergias estabelecidas em suas respectivas cadeias reprodutivas e as pressões
antrópicas a que esses recursos estã o sujeitos.
A capacidade de suporte do solo e da água , quando submetidos ao uso intensivo, e
a quantidade de pressã o que um ambiente pode suportar em bases contínuas sã o, em
geral, perguntas às. quais urge responder, tendo em vista os riscos de degradaçã o. Isso
demonstra o quanto é necessá rio investir na construçã o de refer ências e indicadores de
sustentabilidade, a fim de que se possa , efetivamente, mensurar as condições de
FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 995
Resili ência
Qualidade do Solo
FERTILIDADE DO SOLO
996 WENCESLAU J . GOEDERT & SEBASTIãO ALBERTO DE OLIVEIRA
Uma vez selecionados os atributos que serã o utilizados para avaliar a QS, torna -se
necessá rio definir limites de sustentabilidade, ou seja, qualificar ou calibrar as
informa ções obtidas pelas medições analíticas, no campo e no laborat ório. O limite de
sustentabilidade é o valor numérico usado para cada indicador avaliado, visando separar
a condiçã o sustentá vel da nã o-sustentá vel ("n ível cr ítico"). Dois enfoques tê m sido
propostos para se estabelecerem critérios de referência para determinar tais limites:
condiçã o de solo nativo, especialmente para as propriedades f ísicas, ou condições de
solo que maximizem a produçã o e conservem o ambiente.
Visando facilitar a compara çã o da qualidade de solos nativos ou submetidos a
diferentes usos, podem-se estabelecer índices numéricos de QS (similares aos conhecidos
índices de acidez, de disponibilidade de nutrientes, salinidade, resiliência, erodibilidade,
estabilidade de agregados, etc.) ou adotar a linha de modelagem, gráfica ou matemá tica .
Uma ilustra çã o de modelo grá fico encontra -se na figura 2, na qual a qualidade de
1 um solo utilizado por um longo per íodo sob pastagem plantada foi comparada com a
qualidade do mesmo solo sob Cerrado nativo. Pera compor este modelo, foram avaliados
três atributos de natureza f ísica ( densidade do solo, resistência mecâ nica à penetraçã o e
taxa de infiltra çã o de á gua ), dois de natureza química ( teor de maté ria orgâ nica e
capacidade de troca catiônica ) e dois de natureza biológica (carbono total da biomassa
microbiana e respira çã o basal ).
Neste diagrama , pode-se observar que o u 30 do solo para pastagem redundou na
i diminuiçã o de sua qualidade, particularmente de seus atributos f ísicos. Tal procedimento
facilita a visualiza çã o comparativa da QS em diferentes situa ções de uso e auxilia na
?
definiçã o da estratégia a ser implementada para recompor a qualidade do solo de uma
á rea.
i
j
í
1.
í •
!
!
I
•
í
t
l Figura 2. Diagrama comparativo da qualidade do solo, considerando seus atributos f ísicos,
químicos e biológicos, de uma á rea sob pastagem plantada, tendo como referência uma
j á rea sob Cerrado nativo.
Fonte : Ara ú jo et al. ( 2007).
FERTILIDADE Dó SOLO
998 WENCESLAU J . GOEDERT & SEBASTI ã O ALBERTO DE OLIVEIRA
O tema matéria orgâ nica do solo (MOS) foi abordado no capítulo VI deste livro,
contudo, considera -se importante revisar e ampliar algumas discussões, tendo em vista
a funçã o primordial da MOS na qualidade e no uso sustentá vel do solo.
Nas regiões tropicais de clima ú mido e sub ú mido, predominam os solos em está dio
avançado de intemperiza çã o, que sã o caracterizados por elevada acidez, baixa CTC e
elevada capacidade de sorçã o de â nions, como o fosfato. Nesses solos, a matéria orgâ nica
contribui para aumentar a CTC, reduzir a acidez, por meio de complexação do AI trocável,
e bloquear sítios de sor çã o de fosfato.
Uma característica comum desses solos é a presença de óxidos e hidróxidos de ferro
e alumínio e de argilas 1:1, que lhes confere, juntamente com a maté ria orgâ nica, carga
variá vel, dependente de pH. Em solos com tal característica, a matéria orgâ nica diminui
o PCZ e, como consequência, aumenta a CTC do solo resultante do efeito da calagem
( Zorzo, 1993).
Em solos tropicais, mais de dois terços das cargas negativas são originá rias da
fra ção orgâ nica, como exemplificado com solos do Distrito Federal (Quadro 1). Assim, o
uso sustentável de solos tropicais é exti emamente dependente da manutençã o ou aumento
do teor de MOS, especialmente em so os arenosos.
No sistema de preparo convencional, a MOS pode ser reduzida pelo cultivo do solo
por período relativamente curto, con .o cinco anos (Quadro 2). Tal efeito pode ser mais
drástico em solos mais arenosos, nos quais a MOS se encontra menos protegida. Este
exemplo comprova, ainda, a alta velocidade do processo de decomposiçã o ("queima")
dos compostos orgâ nicos, quando o se lo é mobilizado. Contudo, a recomposição é dif ícil
e demanda muito tempo.
Outro papel importante da MOS na qualidade do solo diz respeito aos seus efeitos
sobre a disponibilidade de P. Os piincipais mecanismos por meio dos quais a MOS
aumenta a disponibilidade de P no solo sã o:
Quadro 1. Capacidade de troca catiônica (CTC ) da ra çã o orgâ nica e mineral de alguns solos
do Distrito Federal, na profundidade de 0-20 cin
emole dm - 3 %
LE argiloso 14 , 0 12 , 7 1, 3 91 9
LE argiloso 9, 2 6,5 2, 7 71 29
LE argiloso 9, 7 8, 5 1, 2 88 12
LE m é dio 5,6 4,9 0, 7 88 12
LV argiloso 12 , 3 11 , 8 0, 5 96 4
LV argiloso 9 ,8 9 ,0 0,8 92 8
PV argiloso 12 , 1 10, 6 1, 5 88 12
PV argiloso 3, 9 2,6 1, 3 67 33
TR 12 , 8 9,8 3, 0 77 23
TR 22 , 4 16 , 5 5,9 74 26
Mé dia 83 17
Quadro 2 . Perdas de maté ria orgâ nica ( MOS ) em solos de Cerrados do Oeste Baiano, com
diferentes teores de argila
g kg- i % g kg 1 % g kg- 1 %
0 14 , 5 0, 0 15 , 4 0, 0 27 , 6 0, 0
1 10 , 9 25 , 1 11 , 9 22 , 7 23 , 8 13 , 8
2 8,2 43 , 4 9, 3 39 , 6 20, 8 24 , 7
3 6, 3 56 , 6 7, 4 52 , 0 18 , 4 33, 3
4 4, 9 66, 2 6, 0 61 , 3 16 , 6 40 , 0
5 3,9 73 , 2 4,9 68 , 1 15 , 1 45 , 3
(I )
Perda relativa , em relação ao ano zero .
Fonte : Silva et al . ( 1994 ) .
poder á ficar adsorvido por forças de cará ter eletrostá tico (adsorçã o f ísica ),
constituindo, assim, uma forma de P lá bil;
'
FERTILIDADE DO SOLO
II :
1000 WENCESLAU J . GOEDERT & SEBASTIã O ALBERTO DE OLIVEIRA
nível cr ítico de P, quando a cultura da soja foi plantada após a pastagem de braquiá ria,
comparada com a soja plantada após uma cultura anual. O aumento no teor de MOS foi
o principal fator responsá vel por tal efeito.
O efeito da MOS sobre a disponit ilidade de P no solo também pode ser demonstrado
com a técnica de simula çã o por meio do DRIS (Sistema Integrado de Diagnose e
Recomenda çã o ) (Quadro 3). A aná lise de um solo teve como resultados 11,9 g kg 1 de '
disponível. Assumindo a não-adiçã o de matéria orgâ nica ao solo (sem adiçã o), o teor de
P desejável no solo, para corrigir sua limitaçã o, seria de 12,0 mg kg 1, ao passo que, quando '
a matéria orgâ nica é adicionada (com adiçã o), o teor de MOS passaria para 21,2 g kg 1 e "
o teor de P desejá vel para corrigir sua limita çã o seria de 7,9 mg kg 1. Ou seja, a elevaçã o '
no teor de MOS de 11,9 para 21,2 g kg 1 resultaria numa redução de 52 % no teor desejá vel de P.
'
3.500 i
re
3.000
D)
</> 2.500 *
o
ire s Y = 3.103 - 9,479 e-°’ 765 P
O) 2.000 -
4>
o R2 = 0,94 ( Anual )
2c 1.500 _
0)
§ 1.000 -
Y = 3.292 - 8,974 e 123P 1l
V v
0
0 2 4 6 8 10
3
P disponí vel, mg dm *
Figura 3. Efeito de dois sistemas de cultive (cultura anual contínua - Anual e rotação de cultura anual
e pastage - Anual / pasto) na disponibilidade de P (Mehlich-1) para a cultura de soja no décimo
terceiro cultivo.
Fonte: Sousa & Lobato (2002) .
FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 1001
Quadro 3. Efeito da maté ria org â nica na disponibilidade de f ósforo no solo simulado por
meio do DRIS
MOS P
Mat é ria orgâ nica
Atual Simulado Atual Simulado
g kg - 1 mg kg 1
Sem adiçã o 11 , 9 11 , 9 5, 7 12 , 0
Com adiçã o 11 , 9 21 , 2 5,7 7,9
A estrat égia de manejo do solo deve, portanto, priorizar pr á ticas que resultem em
maior produçã o de resíduos orgâ nicos e, adicionalmente, que permitam maior tempo de
resid ência das fra ções mais ativas (h ú mus) no solo. Tal estraté gia retarda a libera çã o
dos nutrientes pela mineraliza çã o, mas realça a funçã o da maté ria orgâ nica na melhoria
de atributos f ísicos, qu ímicos e biol ó gicos c . o solo, exercendo seu papel como
condicionador .
As atividades agr ícolas produzem resíduos vegetais e animais que devem ser
aplicados, visando manter ou aumentar o teor de MOS. Adicionalmente, resíduos sólidos
ou líquidos com alta percentagem de mat éria orgâ nica sã o produzidos nos centros
urbanos (lixo, esgoto, restos industriais, etc. ), que, após serem tratados, podem ser
incorporados ao solo .
FERTILIDADE E QUALIDADE DO
SOLO E DO AMBIENTE
Conforme já mencionado, um dos pré-requisitos para que o uso de um solo seja
sustentá vel é o respeito pela capacidade de oferta, inerente e intrínseca a cada solo.
Assim, por exemplo, um solo arenoso tem menor capacidade de exercer certa funçã o,
menor resiliência e maior fragilidade do que um argiloso, razão pela qual requer um
manejo diferenciado .
A rela çã o entre a capacidade de oferta e o nível de manejo constitui a base dos
sistemas de avalia çã o da aptid ã o agrícola das terras. De acordo com Ramalho Filho &
Beek (1995), a capacidade de oferta deve considerar os seguintes fatores de limita ção:
fertilidade, á gua , arejamento, susceptibilidade à erosão e impedimentos à mecaniza ção.
Se o grau de limitaçã o imposto por um desses fatores for muito alto, tal fator passa a
limitar o uso da terra , devendo receber atençã o prioritá ria no manejo do solo.
Em outras palavras, o manejo da fertilidade do solo pode ser de importâ ncia
secund á ria, caso outro fator esteja limitando o crescimento e desenvolvimento das culturas
(Lei do Mínimo). Adicionalmente, fica evidente que o uso racional do solo envolve uma
integra ção entre as diversas prá ticas de manejo do solo e da cultura .
FERTILIDADE DO SOLO
1002 WENCESLAU J . GOEDERT & SEBASTIã O ALBERTO DE OLIVEIRA
FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGRí COLA 1003
incorporados ao solo e nutrientes são, retirados pelas culturas e por perdas diversas.Tudo
isso pode afetar a qualidade do ambiente, em seus principais componentes: solo, ar,
á gua, flora e fauna .
Dois temas merecem destaque neste assunto: eutrofiza çã o da á gua e possível
contamina çã o do solo pelo uso de resíduos urbanos e industriais.
Um dos principais nutrientes que pode causar problemas ambientais é o N,
principalmente por meio da lixivia çã o do íon r itrato para o lençol freá tico e para os
mananciais de á gua . Outro nutriente que tem merecido atençã o crescente é o P,
transportado pelas enxurradas até os cursos ou depósitos de á gua, podendo causar a
eutrofiza çã o deste recurso natural, com consequências nefastas para a vida aqu á tica ,
especialmente a animal (Silva & Prusky, 1997) ( veja capítulo VIII) .
Grande parte dos nutrientes retirados pelas colheitas vai acabar em depósitos de
lixo e esgoto, materiais que apresentam um grande potencial para a melhoria do solo,
visto que contê m nutrientes e alto teor de matér a orgâ nica . Nos últimos anos, esfor ço
tem sido despendido no sentido de avaliar os efeitos, positivos e negativos, do
aproveitamento agr ícola destes resíduos, para reciclagem de nutrientes e, ou, para
melhoria da qualidade do solo. Conforme resumido por Bettiol & Camargo (2000), a
disposiçã o destes materiais é complexa, mas eles têm grande potencial para promover o
aumento da produçã o agrícola e a melhoria de solos e á reas degradadas.
Contudo, a incorpora çã o destes e de outras materiais ao solo pode causar sua
contamina çã o. Uma aprecia ção abrangente do conhecimento atual sobre este tema foi
apresentada por Accioly & Siqueira ( 2000) (Quadro 4).
Alé m dos impactos no funcionamento e na biodiversidade do ecossistema, a
contamina çã o do solo é uma séria amea ç a para a flora , fauna e, em particular, para a
sa ú de p ública ( Figura 4).
A remedia çã o de solos contaminados é complexa , envolvendo um conjunto de
pr á ticas ou processos que visam à atenua çã o ou correçã o do impacto de agentes
contaminantes, para garantir a funcionalidade io ecossistema e evitar a expansão da
contaminaçã o. Nos últimos anos, tem crescido o uso de processos de biorremedia çã o,
utilizando microrganismos, plantas ou enzimas para destoxicar contaminantes no solo
e noutros ambientes.
FERTILIDADE DO SOLO
1004 WENCESLAU J . GOED ERT & SEBASTI ã O ALBERTO DE OLIVEIRA
Alimentos
Homem IliAnimà is
Alimentos Forragens
Contato
Ingest ã o
Piantasl® Ingest ão
Contaminaçã o
i no solo 1
Figura 4. Principais vias de exposiçã o pelas quais contaminantes do solo atingem plantas,
animais e homem .
Fonte: Accioly & Siqueira ( 2000) .
Finalmente, outro tema que tem merecido destaque nos ú ltimos anos diz respeito
aos estoques de C no solo e sua perda p ara a atmosfera. Mielniczuk et al. (2003) apresentam
uma discussã o abrangente sobre o assunto, mostrando sua estreita relaçã o com o manejo
do solo. A estratégia principal é criar condições para a má xima captura de C atmosf érico
por meio da fotossíntese e sua retençã o nas estruturas vegetais, vivas ou mortas. Também
para esta finalidade é importante promover o incremento do teor de matéria orgâ nica e o
aumento do seu tempo de resid ência no solo.
FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABIL: DADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 1005
mas com produçã o total superior à dos demais cená rios. A rela ção entre as saídas e
entradas ( rela çã o B / C ) evidencia que a alterna :iva mais eficiente é aquela que associa
á rea (menor ) com alta tecnologia (maior dose de fertilizante) (intera ção entre fatores terra
e capital). Em adição aos aspectos económicos desta ilustração, cabe ressaltar os aspectos
ambientais, já que o cultivo de uma grande á rea de terra, com baixas dosès de adubaçã o
fosfatada, resultará em baixo grau de cobertura vegetativa e, portanto, em baixa proteção
contra os agentes erosivos e com grandes riscos de degrada çã o.
Outra ilustraçã o, com dados mais atuais ( Figura 5), considera o custo médio de
produ çã o ( custeio ) do ano agr ícola 2001 / 20 C 2 e o valor da soja a R$ 18,00 o saco,
que faz com que a produtividade necessá ria para pagar o custo fixo da cultura seja de
35 sacos ha 1; este é o ponto de nivelamento ( ponto de interceptaçã o das retas ), abaixo
'
do qual a atividade ser á insustentá vel em termos econó micos. Produ ções acima de
FERTILIDADE DO SOLO
1006 WENCESLAU J . GOEDERT & SEBASTIãO ALBERTO DE OLIVEIRA
Quadro 5 . Produ çã o potencial de quatro lavouras de soja, estabelecidas em solo com alta
resposta à aduba çã o fosfatada ( P2Os) mantendo-se constante o produto á rea x quantidade
de fertilizante, utilizando a mesma quantidade total de fertilizante fosfatado
ha kg ha 1 t ha 1 t de gr ã os
(1> Calculada com base nas curvas de repostas potenciais. (2) Baseados em custos fixos (custo total menos o custo do
fosfato) de 700 kg ha 1 de grã os e na condiçã o de : que sejam necessá rios 4 kg de soja para pagar 1 kg de P2Os
'
(3)
Diferença entre a produ çã o total e o custo total expressa em toneladas de grã os. < 4 ) Rela çã o entre a produ çã o total
e o custo total expressa em toneladas de grã os.
Fonte: Goedert et al. (1986).
70
A
r*
J=
o
60
Produ ç ã o e s p e r a d a
A m
—^
o
<0 A Lucro:
* 50
:12
a>
*
o
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T3 Produ çã o ps
> 40 nivelamento
3 Preju ízo
T3
2 30
CL
v-
20
4-
558 630 702 774 846
Figura 5. Retorno econó mico, expresso em sacos ha 1, para diversas produtividades de soja em
solos de Cerrado.
Fonte: Lobato & Sousa (2002).
FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 1007
FERTILIDADE DO SOLO
1008 WENCESLAU J . GOEDBRT & SEBASTIã O ALBERTO DE OLIVEIRA
Em resposta aos desafios, produ :ores rurais e comunidade científica têm buscado
estudar e testar sistemas de manejo que resultem em menos riscos de agressão à qualidade
do solo. Conforme enfatizado por Ehlers (1999), existem perspectivas da implementa ção
de um novo paradigma na agricultura visando à maior sustentabilidade. Neste sentido,
vá rios sistemas alternativos de preparo ou cultivo, tais como plantio direto, agricultura
orgânica, sistema agroflorestal e integra çã o lavoura-pecuá ria, têm-se mostrado com
grande potencial para regiões tropicais e subtropicais. Estes sistemas tê m em comum
duas características que se inserem pe •feitamente no escopo deste capítulo, quais sejam,
requerem um manejo diferenciado d a fertilidade do solo e tê m, como fundamento, a
sustentabilidade da atividade agrícola.
Embora o manejo da fertilidade do solo em sistema plantio direto (SPD) já tenha sido
abordado no capítulo XV, considera-se importante enfatizar a estreita relaçã o entre este
sistema e a sustentabilidade da atividade agr ícola .
O sistema plantio direto ou semeadura na palha pode ser conceituado como um
sistema de cultivo baseado na semeadura em solo não revolvido e protegido por resíduos
vegetais, no qual as sementes ou mudas sã o colocadas em sulcos ou covas.
A introdução do SPD em uma á rea deve ser precedida de um diagnóstico detalhado das
condições desta á rea, visando verificar o atendimento de alguns pré-requisitos indispensáveis
para que o sistema possa ser estebeleci do com sucesso e de forma permanente. Entre tais
pré-requisitos, cabe destacar aqueles lelacionados com o manejo do solo:
a ) O terreno deve estar nivelado, sem ondula ções drásticas que venham a dificultar
as opera ções de plantio, cultivo e colheita ou exigir a mobiliza çã o do solo;
b ) O solo nã o deve apresentar acidez elevada no horizonte superficial (satura çã o
por bases abaixo da desejada ) e estar com bom status nutricional, principalmente em
termos de nutrientes com baixa mobilidade no so LO e que exigiriam uma incorpora çã o no
solo (P, p .ex.);
c) Nã o deve haver compacta çã o do solo, principalmente abaixo da camada ar á vel.
Tal problema deve ser solucionado antes da introdu çã o do SPD, já que exigir á o
revolvimento do solo;
d ) Deve-se promover uma estratégia viá vel de produçã o de palha e manutençã o de
adequada cobertura da superf ície do terreno; e
e ) Planejamento de esquema de rota çã o de culturas, visando maximizar produçã o
de palha, minimizar questões de sanidade vegetei e promover a diversifica ção de safras.
A ausê ncia de mobiliza çã o do solo (ou mesmo de uma pequena mobiliza çã o ),
associada com a manutençã o de cobertura v ígetal na superf ície do terreno, tem
consequências significativas sobre as propriedades f ísicas, qu ímicas e biológicas,
refletindo na qualidade do solo. Trata -se, oortanto, de um sistema de cultivo
conservacionista e que se enquadra dentro dos preceitos de uma agricultura sustentá vel .
A manutençã o da superf ície do terreno cobe rta com palha ou palhada representa a
essência do SPD. Em termos gerais, espera -se que a palha exer ça as seguintes funções:
a ) Reduza as perdas de solo e á gua por eros ã o, mediante a diminuiçã o do impacto
direto das gotas de chuva sobre a superf í cie do solo;
b ) Aumente a taxa de infiltra çã o de á gua no solo, reduzindo o volume de
escorrimento superficial da água (enxurrada );
c) Minimize as variações da temperatura do solo, favorecendo a atividade biológica;
d ) Favoreça a reciclagem lenta e gradue 1 dos nutrientes contidos na palha ,
assegurando alta e permanente atividade biológica;
e) Aumente o teor de matéria orgâ nica no porfil do solo.
A palha exerce tais funções; contudo, grandes varia ções sã o observadas como
resultado de sua qualidade e quantidade. A forma çã o e a manutençã o da cobertura
morta nos tr ópicos têm sido um desafio para o estabelecimento do plantio direto. Altas
temperaturas associadas à adequada umidade promovem a rá pida decomposiçã o dos
resíduos vegetais, principalmente quando sua relação C / N é baixa . Em regiões com
clima mais ameno, como na Regiã o Sul, os res íduos vegetais são decompostos mais
lentamente e podem fornecer boa cobertura do terreno.
A experiência acumulada nos últimos anos tem evidenciado que a introduçã o do
SPD em á reas que atendam a esses pr é-requisitos e que, adicionalmente, venham sendo
bem manejadas, tem sido considerada como uma alternativa de sucesso. Quando
comparado com sistemas convencionais de preparo e cultivo, o SPD tem mostrado avanços
FERTILIDADE DO SOLO
1010 WENCESLAU J . GOE [ > ERT & SEBASTI ã O ALBERTO DE OLIVEIRA
significativos em termos econó micos, sociais e ambientais (Quadro 6) . Contudo, trata -se
de um sistema que conta com pouca experiência acumulada e que tem apresentado
algumas dificuldades ou desafios a serem enfrentados no futuro. No que se refere às
regiões tropicais, as principais dificuldades registradas sã o: o manejo da fertilidade do
solo; a produ çã o de palha suficiente para cobrir o terreno e, talvez, dispensar o
terraceamento da á rea; o desenvolvimento de alternativas de safrinha e, ou, de plantas
de cobertura; e os problemas de segunda gera çã o.
O manejo da fertilidade de um solo, com o mínimo de mobilizaçã o, tem sido desafio
para a pesquisa, conforme já discutido no capítulo XV. Dentre os problemas não previstos
na introduçã o do SPD numa á rea, chamados de segunda gera çã o, cabe destacar a possível
ocorrência de compacta ção superficial resultante da pressã o de má quinas e implementos
agrícolas sobre a superf ície do terreno. Caso seja inviá vel uma solu çã o de natureza
vegetativa , tal situa çã o exigir á mobiliza çã o do solo, cuja prá tica poder á redundar em
outros desafios.
Quadro 6. Síntese dos ganhos do SPD êm compara çã o aos sistemas convencionais de cultivo
Ganho At é %
Agricultura Orgânica
A agricultura orgâ nica (AO) ou a produçã o orgâ nica é um sistema agr ícola que
conta com regulamenta çã o específica, tendo como fundamento a integra çã o de prá ticas
de natureza cultural, biológica e mecâ nica, visando maximizar a ciclagem de nutrientes,
promover o balanço ecológico global e conservar a biodiversidade. Uma abordagem
abrangente sobre este tema pode ser encontrada em Souza & Resende (2003).
As principais metas da AO sã o: manter alta produçã o e qualidade dos produtos e
minimizar riscos para a qualidade ambiental e para a sa úde humana .
Um princípio b á sico da AO é "alimentar o solo para alimentar as plantas",
reconhecendo que a qualidade das plantas está estreitamente relacionada com a qualidade
do solo. Neste sentido, as principais preocupa ções do manejo do solo são:
a ) Buscar e assegurar um equilíbrio na disponibilidade de nutrientes;
b) Promover a mais completa reciclagem de nutrientes dos resíduos vegetais e
animais;
FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 1011
Sistemas Agroflorestais
^
minimiza ção das perdas por percola çã o lixivia çã o.
Segundo Sanchez (1995), quatro aspectos ce racterizam os sistemas agroflorestais:
competitividade, complexidade, lucratividade e sustentabilidade.
Quando plantas crescem próximas de outras, elas interagem de modo positivo
(complementaridade) ou negativo (competição). O crucial é como manejar as interações
por luz, água e nutrientes entre os componentes vivos do sistema, em benef ício do
empreendimento agrícola .
FERTILIDADE DO SOLO
1012 WENCESLAU J . GOEDERT & SEBASTI ã O ALBERTO DE OLIVEIRA
rr : N
I
Competição
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Solo Transferência Solo •
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\ V 'x / X > N
Figura 6 . Aspectos gerais que caracteriz à m o ambiente, acima e abaixo da superf ície do terreno,
num sistema agroflorestal.
Fonte : Young (1997).
Além da complexidade biof ísica , devem ser considerados os aspectos econó micos,
ecológicos e metodológicos. A dimensã o socioeconô mica é complexa em virtude da
variabilidade espacial e temporal, dos fatores de escala, da multiplicidade de produtos e
serviços, etc. Uma agrofloresta exerce duas funções nem sempre compatíveis: a produtiva
e a protetiva . Para a pesquisa , o principal desafio é desenvolver mé todos simples, mas
precisos e reproduzíveis, para avalia r os efeitos deste sistema, principalmente abaixo da
superf ície do terreno (Figura 6).
A sustentabilidade envolve aspectos económicos e ambientais, com uma forte
dimensã o temporal. No que concerne ao ambiente, o SAF tem estreita rela çã o com a
conserva çã o do solo, com o aumento da biodiversidade, com a conservação de C na terra
e com a reciclagem de nutrientes.
Em síntese, apesar dos desafios, a adoçã o dos sistemas agroflorestais encontra -se
em plena expansã o no Brasil, principalmente em á reas onde predomina a agricultura
familiar . Tem-se constituído, ainda, numa importante alternativa para a recomposição
de á reas degradadas, resultantes do uso irracional do solo.
FERtlLIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABILIDADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 1013
FERTILIDADE DO SOLO
1014 WENCESLAU J . GOEDE RT & SEBASTIã O ALBERTO DE OLIVEIRA
o
(0 _
o 4
c
D) k
O kl
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-.
k
2 3 -
2 J
75 76 78 82 86 87 88 89 90 91 92
Ano
Figura 7. Din â mica da maté ria do solo na camada de 0-20 cm de profundidade em dois sistemas
de rotaçã o de culturas em um Latossolo Vermelho-Amarelo textura argilosa .
Fonte : Sousa & Lobato ( 2002) .
CONSIDERA ÇÕ ES FINAIS
FERTILIDADE DO SOLO
XVIII - FERTILIDADE DO SOLO E SUSTENTABIL: DADE DA ATIVIDADE AGR í COLA 1015
LITERATURA CITADA
ARA ÚJO, R .; GOEDERT, W.J . & LACERDA, M .P.C. Qualidade de um solo sob diferentes uso e
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FERTILIDADE DO SOLO
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