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Verbos Concordância

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http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321.7.7.2.

15-35

A assimetria
entre verbos de
concordância e
verbos simples em LOURENÇO, Guilherme. A assimetria
entre verbos de concordância e
Língua Brasileira de verbos simples em Língua Brasileira
de Sinais. Entrepalavras, Fortaleza,
Sinais v. 7, p. 15-35, ago./dez. 2017.

The asymmetry between Resumo: O presente trabalho objetiva


discutir a assimetria entre verbos simples
agreement verbs and plain (que não apresentam concordância
verbs in Brazilian Sign morfológica) e verbos de concordância 15
em Língua Brasileira de Sinais (Libras). O
Language fato de um verbo apresentar concordância
ou não pode possibilitar, ou restringir,
diferentes possibilidades de ordenamento
dos sinais na sentença. Sentenças
com verbos simples apresentam mais
restrições no ordenamento de seus
Guilherme LOURENÇO (UFMG) constituintes, enquanto verbos com
guilhermelourenco@ufmg.br concordância permitem de maneira
mais livre ordens como SOV e OSV. Além
disso, são identificadas diferenças em
construção com topicalização de objeto
e também na posição da partícula de
negação não na oração. Assim, neste
trabalho, apresento e discuto essas
assimetrias, fornecendo uma explicação
sintática para essas construções, a partir
da perspectiva da Gramática Gerativa
e partindo da proposta de derivação
sintática da concordância em Libras, de
Lourenço (2014).

Palavras-chave: Língua Brasileira de


Sinais. Ordem de palavras. Concordância
verbal.
A assimetria entre verbos de concordância...

v. 7 (2)
15-35
Abstract: This paper aims at discussing the asymmetry between plain verbs (with no
ago/dez
morphological agreement) and agreement verbs in Brazilian Sign Language (Libras). The
2017
presence or absence of morphological agreement interacts with different possibilities,
and restrictions, to order the signs in the clause. Plain verb constructions have a more
restricted word order; on the other hand, agreement verbs allow different orders like
SOV and OVS more freely. Additionally, there are also differences on constructions with
object topicalization; and on the position of the negative particle no in the sentence.
Therefore, in this paper I present and discuss these asymmetries, providing a syntactic
explanation for these constructions, based on a Generative framework and on the
syntactic derivation of agreement in Libras proposed by Lourenço (2014).

Keywords: Brazilian Sign Language. Word order. Verb agreement.

Introdução

Desde os estudos seminais sobre a estrutura


sintática da Língua Brasileira de Sinais (Libras), realizados
nas décadas de 1980 e 1990, constatou-se que, apesar da
existência de uma ordem básica (SVO), a língua apresenta
diferentes possibilidades de ordenação dos sinais/palavras1
(FELIPE, 1993; FERREIRA-BRITO, 1995; QUADROS, 1999; LOURENÇO
& QUADROS, no prelo). Assim, outras ordens foram identificadas na
16 língua, a saber: SOV, OSV e VOS.
Quadros (1999), porém, argumenta que essas diferentes ordens de
palavras não são livres em Libras e que restrições se aplicam dependendo
da natureza do verbo principal da sentença. Assim, o fato de o verbo
apresentar concordância ou não pode possibilitar, ou restringir, diferentes
ordenamentos. Adicionalmente, outras assimetrias são encontradas entre
verbos com concordância e verbos sem concordância em construções de
topicalização do objeto e também em sentenças negativas.
O presente artigo visa, então, apresentar e discutir essas
assimetrias, fornecendo uma explicação sintática para essas construções,
a partir da perspectiva da Gramática Gerativa. A discussão está organizada
em quatro seções. Na Seção 1, uma breve descrição dos verbos com
concordância e dos verbos simples será apresentada. Em seguida, na
Seção 2, serão discutidos alguns dados que mostram as assimetrias entre
esses dois grupos de verbos. Já a Seção 3 destina-se à apresentação de
uma nova explicação para essas assimetrias, tendo como base alguns
trabalhos anteriores (LOURENÇO, 2014; LOURENÇO; DUARTE, 2014). A
Seção 4 conclui o artigo com algumas considerações finais.
1
Zeshan (2002) apresenta uma excelente discussão sobre a equivalência das noções
de ‘palavra’ nas línguas orais e de ‘sinais’ nas línguas sinalizadas. Aqui, ao se fazer
referência às línguas sinalizadas, os dois termos serão tomados como sinônimos.
Guilherme LOURENÇO

Verbos simples e verbos com concordância em Libras

Uma máxima frequentemente associada às línguas de sinais


é a de que essas línguas são sistemas espaço-gestuais (ou espaço-
visuais). Essa afirmativa capta o fato de que essas línguas se estruturam
quadridimensionalmente: além do fluxo temporal de produção dos sinais
(ou seja, a ordem em que os sinais são produzidos), têm-se os eixos
X, Y e Z do espaço de sinalização. Isso quer dizer que, para podermos
produzir ou compreender um enunciado sinalizado, precisamos levar
em consideração não apenas o sinal que está sendo produzido, mas
também em que local do espaço esse sinal está sendo produzido. O
espaço é, assim, explorado nas línguas sinalizadas para expressar
diferentes relações gramaticais. Dentre os diferentes usos do espaço,
destaco aqui o estabelecimento de referentes.
Nas línguas de sinais, cada nominal pode ser associado a uma
localização específica no espaço de sinalização de diferentes maneiras. A
primeira delas é a apontação (pointing), em que o sinalizador aponta para
um local específico no espaço antes ou depois de produzir o nominal. Há
ainda a possibilidade de essa associação se dar por meio da direção do
17
olhar ou ainda ao se realizar o sinal naquele ponto específico. Observe
na imagem a seguir que a sinalizadora aponta para um ponto à sua
direita2 e, em seguida, produz o sinal mulher3. Dessa maneira, ela associa
esse ponto no espaço a esse nominal, de modo que qualquer referência
a esse locus tem-se uma correferenciação/indexação ao nominal mulher.

2
Glosarei qualquer apontamento como IX, fazendo referência ao termo indexical
ISSN 2237-6321

amplamente utilizado na literatura, seguido de um índice subscrito arbitrário para


distinguir diferentes pontos no espaço.
3
Os sinais da Libras serão aqui glosados em Língua Portuguesa e escritos em versalete.
Ilustrações serão fornecidas quando necessário.
A assimetria entre verbos de concordância...

v. 7 (2)
15-35
Figura 1 - ixa mulher4.
ago/dez
2017

É preciso, entretanto, esclarecer que o estabelecimento desses


18
referentes não se dá de maneira aleatória. As línguas de sinais apresentam
uma sistematização em que é considerado: (i) a pessoa do discurso e (ii)
se o referente se encontra presente ou não no momento da enunciação.
A primeira distinção refere-se à pessoa do discurso. A literatura
acerca do assunto assume que a maioria das línguas de sinais faz uma
distinção entre 1ª pessoa e não-1ª pessoa. Assim, ao se fazer referência
à 1ª pessoa, aponta-se diretamente para o peito do sinalizador. Já as
outras pessoas do discurso são associadas a pontos distintos do espaço.
Ao definir o ponto em que será estabelecido o referente, as línguas de
sinais ainda fazem a distinção se esse referente encontra-se presente
no momento da enunciação ou não. Caso o referente esteja presente,
aponta-se diretamente para o local que o referente ocupa no espaço, ou
seja, para a sua posição real. Uma vez que a 2ª pessoa sempre se encontra
presente fisicamente no momento da enunciação (modalidade oral),
esta é sempre referida no espaço imediatamente à frente do falante. O
fato de haver essa regularidade na forma em que se faz referência à 2ª
pessoa levou alguns autores a discutirem se as línguas de sinais fazem
ou não, na verdade, distinção entre 1ª pessoa, 2ª pessoa e 3ª pessoa.
Entretanto, essa posição teórica ainda é bastante debatida na literatura

4
Sinais extraídos do vídeo “História da minha vida”, sinalizado pela Profa. Roberta
Aparecida Rodrigues Pessoa e filmado pelo autor deste artigo.
Guilherme LOURENÇO

(para maiores detalhes, ver BERENZ, 2002). Finalmente, a 3ª pessoa


é marcada ao se fazer referência à localização real do referente (caso
ele esteja presente no momento da enunciação) ou ainda ao se atribuir
um ponto abstrato específico no espaço de sinalização (no caso de um
referente ausente). A Figura 1, a seguir, ilustra a marcação pronominal
de 1ª, 2ª e 3ª pessoa em Libras.

Figura 2 - Forma pronominais de 1ª, 2ª e 3ª pessoa do singular com referente ausente,


respectivamente.

Fonte: Quadros e Karnopp (2004, p. 131).

Meir (2002, p. 419) afirma que

devido à modalidade visual, cada nominal do discurso pode


receber uma localização distinta e, portanto, cada localização
contém informações suficientes para identificar unicamente 19
seu referente (MEIR, 2002, p. 419).

Assim, de forma a distinguir as localizações associadas a cada


nominal, usarei um índice subscrito após cada sintagma nominal,
conforme o exemplo abaixo, em que o nominal maria é realizado em um
ponto a no espaço, e joão é realizado em um ponto b:

(1) mariaa; joãob; etc.

A concordância nas línguas de sinais acontece quando a localização


e/ou a direção do verbo é determinada pela localização espacial dos
argumentos. Em outras palavras, o local em que o verbo é sinalizado é
alterado para que este coincida com a localização dos argumentos que
concordam com o verbo.
Por exemplo, tem-se o sinal de ajudar que é um verbo que
apresenta concordância com o sujeito e o objeto da sentença. Assim, se
temos joão e maria como argumentos do verbo ajudar e joão é associado a
ISSN 2237-6321

um ponto no espaço e maria a um outro ponto, o verbo ajudar irá realizar


uma trajetória de tal forma que o ponto inicial do verbo será o mesmo
ponto em que foi estabelecido o sujeito joão, e o ponto final do verbo
A assimetria entre verbos de concordância...

v. 7 (2)
15-35
ago/dez será o mesmo em que foi estabelecido o objeto maria. Para indicar essa
2017 trajetória do verbo, assinalaremos índices subscritos juntos ao verbo
que coincidem com os índices utilizados em cada nominal que concorda
com o verbo. Dessa forma, o índice utilizado à esquerda do verbo indica
o ponto inicial da trajetória realizada por aquele verbo, e o índice à
direita indica o ponto final dessa mesma trajetória. A transcrição da
sentença discutida anteriormente é dada em (2):

(2) joãoa a
ajudarb mariab

Figura 3 - joãoa a
ajudarb mariab

Fonte: Sinais realizados pelo surdo Ronerson Eduardo da Silva e fotografados pelo
autor deste artigo.
20

Em primeiro lugar, é preciso destacar que os diferentes padrões de


concordância encontrados nas línguas de sinais estão relacionados aos
diferentes tipos de verbos. Assim, é possível dividir os verbos da Libras
em duas grandes classes, conforme sugerem Quadros (1999) e Quadros;
Quer (2008, 2010): os verbos simples e os verbos com concordância5.
Os chamados verbos simples não apresentam nenhuma marca
morfológica de concordância. Alguns exemplos são dados a seguir:

(3) a. maria gostar joão.


‘A Maria gosta do João.’

b. joão dormir c-e-d-o todo^dia.


‘João dorme cedo todos os dias.’

c. ontem eu1 sentir bem não.


‘Ontem eu não me senti bem./Ontem eu não estava me
sentindo bem.’

5
Quadros (1999) e Quadros; Quer (2008, 2010) incluem na classe de verbos com
concordância os verbos com concordância locativa. Porém, neste trabalho não serão
contemplados os verbos com concordância locativa.
Guilherme LOURENÇO

O segundo grupo de verbos, os verbos com concordância, pode ser


divido em três subgrupos: verbos com concordância única, verbos com
concordância dupla regular e verbos com concordância dupla reversa.
Os verbos com concordância única (single agreement) possuem um
slot para concordância, ou seja, apresentam concordância apenas com
um único argumento da sentença. Além disso, esses verbos concordam
sempre com o objeto sintático, conforme os exemplos dados em (4):

(4) a. mariaa abandonarb filhob


‘A Maria abandonou o filho.’

b. você2 acariciarb cachorrob


‘Você acariciou o cachorro.’

c. eu1 consertarb carrob

‘Eu consertei o carro.’

Os verbos com concordância única nos remetem a uma


característica presente em diferentes línguas de sinais: a concordância 21
com o objeto é mais fortemente marcada nessas línguas do que a
concordância com o sujeito. Lillo-Martin e Meier (2011), inclusive,
referem-se a esse fenômeno como a primazia do objeto, especialmente
no que diz respeito à opcionalidade da concordância com o sujeito.
Em outras palavras, o que se observa é que a concordância com o
objeto é sempre obrigatória, enquanto a concordância com o sujeito é
opcional, podendo ser omitida6. Essa primazia do objeto fica clara ao
observamos os verbos com concordância única: uma vez que o verbo
possui apenas um slot de concordância, apenas a concordância com o
objeto será realizada morfologicamente.
Já os verbos com concordância dupla regular são aqueles que
apresentam dois slots para a concordância, ou seja, concordam com dois
argumentos da sentença, em uma configuração SUJVERBOOBJ. Em (5) são
dados alguns exemplos.
6
Em sentenças com verbos de concordância dupla, a concordância com o sujeito é,
geralmente, opcional. Isso independe, inclusive, se o verbo apresenta concordância
regular ou reversa. Os exemplos abaixo ilustram essa opcionalidade:
i. mariaa (a)avisarb joãob ii. mariaa bconvidar(a) joãob
ISSN 2237-6321

Neidle et al. (2000) propõem um afixo de concordância neutro que é realizado nos
casos em que há a omissão da concordância com o sujeito. Nesse sentido, as sentenças
sem concordância com o objeto podem ser rescritas da seguinte forma:
i’. mariaa neuavisarb joãob ii’. mariaa bconvidarneu joãob
A assimetria entre verbos de concordância...

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15-35
ago/dez (5) a. mariaa aavisarb joãob
2017 ‘A Maria avisou o João.’

b. eu1 1dar2 você2 livro7


‘Eu dei o livro para você.’

c. ontem você2 2mostrar1 eu1 livro inglês.


‘Ontem você me mostrou o livro de inglês.’

Finalmente, têm-se os verbos com concordância dupla reversa.


Esse grupo de verbos também possui dois slots para a concordância, porém
essa concordância é invertida. O movimento do verbo vai do locus do
objeto para o locus do sujeito, emergindo o padrão OBJVERBOSUJ. É preciso
apontar que não há nenhuma mudança na ordem da frase. A sentença
continua apresentando a ordem SVO, conforme se pode ver em (6).

(6) a. mariaa bconvidara joãob festa casa possa


‘A Maria convidou o João para uma festa na casa dela.’
22
b. eu1 bpegar1 livrob

‘Eu peguei o livro.’

c. você2 1escolher2 eu1

‘Você me escolheu.’

Esse comportamento dos verbos em diversas línguas de sinais


levanta uma série de questões acerca do funcionamento da concordância
nessas línguas. Em especial, os verbos de concordância reversa têm
ganhado destaque na discussão, uma vez que é preciso explicar o
motivo desse comportamento ‘invertido’ do verbo. Para uma discussão
mais detalhada sobre os verbos reversos na Libras e uma proposta de
derivação sintática para os mesmos, ver Lourenço (2014) e Lourenço e
Duarte (2014).
A distinção entre verbos de concordância e verbos simples não é,
porém, apenas uma diferença em termos de morfologia de concordância.
O fato de o verbo apresentar ou não concordância traz consequências
para a estrutura sintática da sentença, conforme veremos na seção a
seguir.
7
Para uma análise de orações bitransitivas em Libras, ver Lourenço (2016).
Guilherme LOURENÇO

Concordância e a estrutura da sentença: ordem de palavras,


topicalização e negação

A ordem básica da frase em Libras é SVO. Esta é a ordem de


palavras não marcada na língua e é sempre gramatical. Adicionalmente,
a ordem SVO não está associada a nenhum contexto pragmático
específico (QUADROS, 1999; LOURENÇO; QUADROS, no prelo). Alguns
exemplos são fornecidos a seguir:

(7) a. joãoa gostar futebol.


‘João gosta de futebol.’

b. joãoa gostar mariab.

‘João gosta da Maria.’


____do8
c. joãoa aavisarb mariab.
‘João avisou a Maria.’

Além da ordem SVO, Quadros (1999) mostra que as ordens


SOV e OSV também são possíveis em Libras9. Contudo, esses outros
23
ordenamentos apresentam algumas restrições. O que chama a atenção
é que essas restrições estão relacionadas ao fato de o verbo ser simples
ou de concordância.
Vejamos a seguir alguns exemplos de construções com a ordem SOV:

(8) a. joãoa futebol gostar.


‘João gosta de futebol.’

b. *joãoa mariab gostar.


‘João gosta de Maria.’
______do
c. joãoa tvb a
verb.
‘João viu TV.’
_________do
d. joãoa mariab a
avisarb.

‘João avisou a Maria.’

8
Objetos de verbos com concordância são marcados com uma direção do olhar <do>. Essa
direção do olhar é apontada por Bahan (1996) como um marcação não-manual de concordância
em ASL. Quadros (1999) mostra que esse mesmo marcador é encontrado em Libras.
ISSN 2237-6321

9
Arrotéia (2003) mostra que, em contextos de foco contrastivo, a ordem VOS pode
emergir. Porém, em nenhum outro contexto essa ordem foi atestada.

- QUEM COMPRAR CARRO JOÃO OU MARIA?


- COMPRAR CARRO <JOÃO>foco
A assimetria entre verbos de concordância...

v. 7 (2)
15-35
ago/dez Os exemplos em (8) mostram que a ordem SOV nem sempre é
2017 gramatical. Vê-se uma diferença entre sentenças com verbos simples e
sentenças com verbos de concordância. Conforme pode ser visto acima,
quando o verbo não apresenta concordância, a ordem SOV é possível
apenas em construções que apresentam argumentos não-reversíveis
(8a). Quando os argumentos são reversíveis semanticamente10, a
ordem SOV é agramatical (8b). Em contrapartida, essa restrição não é
encontrada quando a sentença apresenta um verbo com concordância,
como pode ser visto (8c) e (8d). Adicionalmente, é preciso observar que
o marcador não-manual (<do> - direção do olhar) se espraia tendo
escopo sobre o objeto e sobre o verbo.
Além da ordem SOV, OSV também é possível na língua, e sua
distribuição também depende da natureza do verbo:

____ls
(9) a’. futebol joãoa gostar.
a’’. *futebol joãoa gostar.
‘De futebol, o João gosta’.
24
___ls
b’. * mariab joãoa gostar.
b’’. *mariab joãoa gostar.
‘Da Maria, o João gosta.’

__ls/do
c’. tvb joãoa aassistirb.
c’’. *tvb joãoa aassistirb.
‘À TV, O João assistiu.’

___ls/do
d’. mariab joãoa a
ajudarb.

d’’. *mariab joãoa aajudarb.


‘À Maria, o João ajudou.’

Conforme é possível observar nos exemplos acima, as construções


OSV apresentam um marcador não-manual obrigatório, a saber: o
10
Os nominais joão e maria são reversíveis, pois ambos possuem os traços semânticos
necessários para serem sujeitos ou objetos da sentença. Em contrapartida, no exemplo
(8a), apenas joão possui os traços semânticos necessários para ser o sujeito do verbo
gostar.
Guilherme LOURENÇO

levantamento das sobrancelhas (___ls). Este tipo de marcador indica


topicalização, de modo que, nos exemplos acima, o objeto da sentença
situa-se em posição de tópico sentencial.
Os exemplos em (9a) e (9b) mostram a mesma restrição
observada na ordem SOV: a natureza semântica dos argumentos pode
restringir a mudança da ordem em contextos com verbos simples. Em
contrapartida, essa restrição não é encontrada em construções com
verbos de concordância (9c e 9d).
Outro ponto importante a ser observado é o fato de que não é o
levantamento de sobrancelha que parece licenciar o objeto em posição
de tópico. O exemplo (9b) possui o levantamento da sobrancelha,
contudo a sentença é agramatical. Assim, esse marcador não-manual
apenas indica que o objeto foi movido para a posição sintática de tópico,
mas não licencia esse movimento. O que torna possível a topicalização
do objeto é justamente a marca não-manual da concordância (<do>
– direção do olhar), observada em (9c). Isto se dá, uma vez que a
<do>, por ser uma marca de concordância com o objeto, é suficiente
para identificar a função sintática, de objeto, daquele constituinte
topicalizado. Vale observar, ainda, que <do> não se espraia para outros 25
domínios da sentença, diferente do que acontece com a ordem SOV.
Isso é um indício de que esse objeto topicalizado se encontra em um
domínio sintático distinto do domínio em que se encontram os demais
elementos, ou ainda que há uma categoria interveniente entre eles.
Isso se dá, uma vez que tópicos se encontram mais altos na estrutura
sintática, situando-se no domínio de CP.
Contudo, é possível tornar o exemplo (9b) gramatical a partir
da introdução de um pronome indexical (ix) na posição original do
argumento interno da sentença, exercendo função de resumptivo. Note
que há uma coindexação entre o pronome ix e o objeto topicalizado,
uma vez que ambos são realizados no mesmo ponto do espaço. Veja o
exemplo a seguir:
___ls
(10) a. * mariab joãob gostar.

___ls
b. mariab joãoa gostar ixb.
ISSN 2237-6321

‘A Maria, o João gosta dela.’


A assimetria entre verbos de concordância...

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ago/dez Outra distinção observada entre verbos com concordância
2017 e verbos simples é quanto à distribuição da partícula de negação na
sentença. Em Libras, a negação é realizada tanto no nível segmental,
por meio do sinal não, quanto no nível suprassegmental, por meio do
marcador não-manual de negação (__neg)11. Segundo Arrotéia (2005),
o sinal não pode ser omitido na sentença, enquanto a marcação não-
manual é obrigatória. Aqui, interessam-nos as construções com o sinal
não realizado.

Em sentenças com verbos simples, o sinal não pode ocorrer apenas


no final da sentença, não podendo ser realizado em posição pré-verbal.
Já quando o verbo apresenta concordância, o sinal não pode ocorrer tanto
em posição final da sentença quanto em posição pré-verbal.
____________neg
(11) a) joãoa amar mariab não.

____________neg
b) *joãoa não amar mariab.

‘João não ama a Maria.’


26
____________neg
(12) a) joãoa a
ajudarb maria não.

___________neg
b) joãoa não aajudarb maria.
‘João não ajuda a Maria.’

Percebe-se, com os dados arrolados acima, que o fato de o verbo


apresentar ou não concordância não é apenas uma questão de ter ou
não morfologia de concordância. A distinção entre verbos simples e
verbos com concordância traz consequências para a estrutura sintática
da frase, de modo a ser possível verificar as assimetrias apresentadas
anteriormente. Nesse sentido, é preciso oferecer uma análise sintática
para a concordância em Libras que possa, além de derivar os diferentes
padrões de concordância, explicar as assimetrias encontradas. A isso se
destina a próxima seção.

11
Arrotéia (2005) mostra haver duas formas de marcação não-manual da negação
em Libras: o movimento de cabeça (headshake) e também uma expressão facial de
negação em que há uma modificação do contorno da boca. Segundo a autora, apenas
esta é obrigatória em Libras.
Guilherme LOURENÇO

Derivando as assimetrias

Para explicar as assimetrias discutidas na seção anterior, tomo


como base a derivação sintática apresentada em Lourenço (2014). Para
o autor, a concordância em Libras é derivada a partir da presença de
sondas-ϕ na estrutura sintática, seguindo o proposto em Chomsky (2000,
2001) e Miyagawa (2010). Essas sondas-ϕ entram em uma relação Agree
com os traços-ϕ de um nominal, engatilhando a concordância observada.
Assim, nas sentenças com verbos de concordância, há duas sondas-ϕ,
uma responsável por cada slot de concordância. A primeira sonda-ϕ é
gerada no núcleo da projeção vP e é responsável pela concordância com
o objeto. Já a outra sonda-ϕ é gerada no núcleo de CP, mas é herdada
por Tº, engatilhando a concordância com o objeto.
Vale ressaltar que a proposta de Lourenço (2014) é a de que,
na Libras, o Parâmetro da Concordância dependente de Caso (BAKER,
2008) é ativado:

(13) Parâmetro da Concordância dependente de Caso: F concorda


com um DP/NP apenas se F valora o traço de Caso desse
27
DP/NP ou vice-versa.

De acordo com esse parâmetro, a sonda-ϕ presente em Tº


somente irá concordar com um DP cujo Caso tenha sido valorado por
Tº. Em outras palavras, a sonda-ϕ de T somente irá concordar com
um DP nominativo. Em contrapartida, a sonda-ϕ de vP somente irá
concordar com um DP que receba Caso acusativo de v12. A derivação é
apresentada a seguir:
ISSN 2237-6321

12
Além dos verbos de concordância discutidos aqui, a Libras possui um grupo de
verbos conhecido como verbos de concordância reversa, cujo padrão de concordância
não é sujeitoVERBOobjeto, mas sim objetoVERBOsujeito. Para uma derivação do padrão reverso
da concordância nesses verbos, ver Lourenço (2014) e Lourenço; Duarte (2014).
A assimetria entre verbos de concordância...

v. 7 (2)
15-35
ago/dez (14)
2017

28 A partir da proposta de Lourenço (2014), é possível explicar as


três assimetrias discutidas anteriormente: a ordem SOV, a topicalização
do objeto (OSV) e a posição da partícula de negação.
Quanto à ordem SOV, Quadros (1999) afirma que essa ordem de
frase pode ser obtida na língua a partir de duas operações sintáticas
distintas: (i) a focalização do verbo e (ii) alçamento de objeto (object shift).
A autora afirma ainda que a primeira operação acontece nas sentenças
com verbos simples, enquanto a segunda é restrita aos contextos em
que o verbo apresenta concordância.
A focalização do verbo em contextos de verbos simples é
facilmente explicada se compararmos com as construções canônicas de
foco na língua, em que ocorre a duplicação do verbo para uma posição
mais alta na estrutura; cópia esta que é pronunciada em posição final
de sentença. Assim, uma sentença SOV com um verbo simples é, na
verdade, uma sentença S(V)OV, em que a cópia mais baixa do verbo é
apagada (QUADROS, 1999; LOURENÇO; QUADROS, no prelo). No exemplo
fornecido abaixo, note que há a possibilidade de serem realizadas as
duas cópias do verbo, assim como de apenas a cópia mais alta, que
ocupa a posição de foco sentencial. Adicionalmente, vale apontar a
presença de um marcador não-manual de foco na língua, um aceno de
cabeça (___ac) que incide sobre esse verbo.
Guilherme LOURENÇO

____ac
(15) joãoa (gostar) futebol gostar.

Já a impossibilidade de se ter esse tipo de construção com


argumentos reversíveis pode ser explicada como uma restrição
semântica. Uma vez que ambos os argumentos possuem os mesmos
traços semânticos e ambos ocupam a posição pré-verbal, não seria
possível identificar as funções sintáticas de cada argumento, já que, na
língua, ambas as ordens SOV e OSV são permitidas.
A outra operação postulada por Quadros (1999) é o alçamento de
objeto, que ocorre apenas em sentenças com verbos de concordância.
Aqui, concordo com a autora no que diz respeito à operação sintática,
mas seguindo a proposta desenvolvida em Lourenço (2014), proponho
uma implementação diferente.
Miyagawa (2010) propõe um tipo de movimento que faz com que
o alvo de uma sonda se mova para junto dessa sonda, de modo a tornar
a relação Agree uma relação local. A esse tipo de movimento, Miyagawa
chama de união sonda-alvo (PGU, do inglês probe-goal union). Assim,
há duas maneiras de se satisfazer a PGU, movendo-se o alvo para a 29
posição de Spec do núcleo onde se situa a sonda (criando uma relação
Spec-núcleo) ou ainda movendo o alvo para a mesma posição da sonda
(movimento de núcleo).
Uma forma de se derivar a ordem SOV em construções com
concordância em Libras é justamente afirmar que o alçamento do
objeto ocorre para satisfazer a PGU. Considerando que o núcleo de vP
possui uma sonda-ϕ que entra em uma relação Agree com o argumento
interno, esse argumento deve se mover para a posição de Spec, vP para
que haja a união sonda-alvo. Isto resulta na ordem SOV13.
O fato de não haver alçamento de objeto em sentenças com verbos
simples pode ser explicado se assumirmos que nessas construções
não há sondas-ϕ responsáveis por engatilhar a concordância. Nesse
sentido, uma vez que não há uma sonda-ϕ em vP, não há PGU e,
consequentemente, a ordem SOV não pode ser derivada (vale lembrar

13
Em sua monografia, Miyagawa (2010) afirma que a PGU seria uma operação obrigatória
em todos os contextos em que há Agree. Contudo, em produções posteriores e também
em comunicação pessoal, o autor tem assumido uma versão menos dura dessa operação.
ISSN 2237-6321

Assim, caso adotemos uma versão rígida da PGU, é possível postularmos que o movimento
do objeto para a posição de Spec,vP sempre ocorre em Libras. Quando o alçamento do objeto
se dá antes de spell-out, tem-se a ordem SOV, enquanto que, quando esse movimento
acontece apenas em forma lógica, a ordem resultante é SVO. Isso pode explicar a livre
distribuição desses ordenamentos em sentenças com verbos de concordância.
A assimetria entre verbos de concordância...

v. 7 (2)
15-35
ago/dez que, conforme exposto anteriormente, a ordem SOV em sentenças com
2017 verbos simples é, na verdade, S(V)OV). Adicionalmente, tem-se que,
conforme já atestado, sentenças com verbos simples apresentam uma
rigidez muito maior na ordem dos sinais (QUADROS, 1999; LOURENÇO,
2014; LOURENÇO; QUADROS, no prelo). Isto pode se dar devido ao fato
de não haver nenhum movimento dos argumentos e nem do verbo para
posições mais altas na sentença, permanecendo todos os elementos in
situ à projeção vP.
Essa rigidez da ordem nos ajuda a explicar também a
assimetria encontrada na ordem OSV. Essa ordem é obtida por meio
da topicalização do objeto, o que é marcado pela marca não manual
de tópico (levantamento de sobrancelhas), conforme visto no exemplo
(9). É sabido que, tradicional e tipologicamente, a concordância está
associada a diferentes ordens de palavras. Assim, em Libras, uma vez
que o verbo apresenta concordância, é possível mover livremente o
objeto para a posição de tópico da sentença. Isso é possível, já que a
concordância presente no verbo é capaz de identificar os argumentos da
sentença. Por outro lado, quando o verbo é simples, há mais restrições
30 que impedem a topicalização do objeto, já que a ordem se torna a
principal forma de se identificar a função sintática de cada constituinte.
Assim, o objeto somente poderá ser topicalizado caso os argumentos da
sentença não sejam reversíveis, assim como acontece com a ordem SOV,
uma vez que as propriedades semânticas de cada argumento, assim
como os princípios de seleção semântica do verbo, são suficientes para
identificar o sujeito e o objeto da oração.
Contudo, a língua possui ainda uma forma de topicalizar o
objeto de um verbo simples: a inserção de um pronome resumptivo na
posição de complemento interno, havendo assim o preenchimento da
posição de objeto, sendo o nominal maria um tópico gerado na base.
Vale lembrar, conforme dito na seção anterior, que há uma coindexação
entre o pronome ix e o objeto topicalizado, uma vez que ambos são
realizados no mesmo ponto do espaço. O exemplo em (10) é repetido a
seguir como (16):

____ls
(16) a. * mariab joãob gostar.

____ls
b. mariab joãoa gostar ixb.

‘A Maria, o João gosta dela.’


Guilherme LOURENÇO

Por fim, passemos para a análise do sinal de negação e a posição


ocupada por ele em Libras. Conforme mostrado na seção anterior, em
sentenças com verbos de concordância, o sinal não pode ocorrer em
posição pré-verbal ou em posição final da sentença. Já em construções
com verbos simples, não pode ocorrer apenas em posição final.
Lourenço (2015), adotando a proposta de Pfau (2015) para a NGT
(Língua de Sinais Holandesa), assume que o sinal não ocupa a posição
de Spec, NegP, enquanto o marcador não-manual (___neg) ocupa a
posição de núcleo dessa projeção. É proposto ainda que, em Spell-out,
há duas possibilidades de linearização da projeção NegP em Libras, a
saber: [Spec + Neg’] ou [Neg’ + Spec].
Em sentenças com verbos de concordância, o sujeito move-se
para Spec,TP para checar o traço de margem dessa projeção (EPP). Ao
mover-se para essa posição, o sujeito passa a estar mais alto na estrutura
sintática do que o sinal não. Quando a estrutura sintática é pronunciada,
as duas possibilidades de externalização de NegP resultam em [não V O]
ou em [V O não], conforme mostra a derivação a seguir:

(17) 31

Já nas sentenças com verbos simples, Lourenço (2015) aventa a


hipótese de que o traço de margem nessas construções não é satisfeito
por meio do movimento do sujeito para Spec,TP, uma vez que não há
concordância por meio de sondas-ϕ. Assim, uma hipótese ainda a ser
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mais bem investigada é a de que o traço de margem de TP seja satisfeito


por meio do movimento de toda a projeção vP, similar ao que é proposto
A assimetria entre verbos de concordância...

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15-35
ago/dez por Richards; Biberauer (2005)14. Nesse caso, com o movimento de
2017 toda a projeção e não apenas de um constituinte, todos os argumentos
passam a ocupar uma posição mais alta que NegP, de modo que o sinal
de não sempre ocupará a posição final da sentença. A estrutura sintática
é fornecida a seguir:
(18)

Uma evidência que aponta para o movimento de vP para a posição


de Spec, TP pode ser observada nos exemplos a seguir:
32
(19) a. ontem ix1 vontade pizza não.
b. ix1 vontade pizza ontem não.
‘Ontem eu não tive vontade [de comer] pizza’.

(20) a. ontem ix1 1ajudara mariaa não


b. *ix1 1ajudara mariaa ontem não.
‘Ontem eu não ajudei a Maria.’

Em (19b), o advérbio de tempo ontem ocorre entre o verbo e o


sinal não. Considerando que ontem é um advérbio de TP e que é possível
termos o advérbio tanto em posição inicial da sentença (19a) ou entre
o predicado e a partícula de negação (19b), é possível postularmos
que ambos ocupam a posição de Spec,TP. O que diferencia essas duas
possibilidades de realização é o fato de advérbios poderem ser inseridos
mais tardiamente na derivação. Assim, quando o advérbio é inserido
antes do movimento de vP para Spec, TP, tem-se a ordem SVOAdvnão,
enquanto que, quando o advérbio é inserido tardiamente, a ordem
resultante é AdvSVOnão.

14
Uma língua em que também há movimento de XP e cujos dados se assemelham
bastante aos dados da Libras é o Tenetehára. Para uma análise dessa língua, ver
Duarte (2015).
Guilherme LOURENÇO

Por outro lado, como demonstra o par de exemplos em (20), a


ordem SVOAdvnão não está disponível para sentenças com verbo de
concordância. Isso se dá, uma vez que, nessas construções, não há
fronteamento de vP para a posição de Spec,TP. O traço de margem de
TP é checado apenas pelo movimento do objeto sintático, já que há uma
relação de concordância entre a sonda-ϕ de T e os traços-ϕ do sujeito,
engatilhando o EPP em sua forma clássica.

Considerações Finais

O presente artigo investigou o comportamento dos verbos de


concordância e dos verbos simples em Libras. Mais especificamente,
foram discutidas as assimetrias apontadas por Quadros (1999) entre
esses dois grupos de verbos. Para isto, assumiu-se a proposta de
Lourenço (2014) para o tratamento da concordância em Libras, em
que a concordância nessa língua é o resultado de relações Agree entre
sondas-ϕ e os traços-ϕ dos nominais presentes na derivação sintática.
Assim, as ordens SOV e OSV foram discutidas como sendo derivadas da
ordem SVO, mas que apresentam restrições se a construção apresentar
33
um verbo simples. Foi abordado também o fato de o sinal de negação
não apresentar distribuição distinta em sentenças cujo verbo apresenta
concordância e em sentenças com verbos simples.
Este trabalho reforça, assim, as discussões sobre a concordância
nas línguas de sinais e sua relação com a estrutura sintática da sentença,
contribuindo para um maior entendimento da Libras e da sintaxe das
línguas de sinais em geral.

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Recebido em: 19 de jan. de 2017.


Aceito em: 9 de jul. de 2017.

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