Módulo 3 Interferência
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Módulo 3 Interferência
INTERFERÊNCIA DE MICRO-ONDAS
OBJETIVOS
Estudar a interferência e determinar o comprimento de onda de micro-ondas.
PARTE TEÓRICA
Ondas eletromagnéticas
A interação eletromagnética pode ser descrita a partir de dois campos vetoriais, o
campo elétrico E e o campo indução magnética B, de modo que uma carga elétrica na
presença destes campos sofre a ação de uma força 𝑭 = 𝑞(𝑬 + 𝒗 x 𝑩) chamada de Força
de Lorentz. As fontes primárias dos campos E e B são as cargas e as correntes elétricas,
respectivamente; conhecendo-se as cargas, suas posições e velocidades, os campos E e
B podem ser determinados. Inversamente, conhecendo-se esses vetores dos campos em
todo o espaço, as fontes e suas localizações podem ser determinadas.
A teoria do eletromagnetismo foi condensada em quatro equações, chamadas de
equações de Maxwell, em homenagem a J. C. Maxwell (1831 - 1879), físico inglês que as
formulou. Essas equações constituem a estrutura básica da teoria das interações
eletromagnéticas. A síntese expressa nas equações de Maxwell é uma das maiores
realizações da Física; uma das consequências dessas equações é a previsão teórica da
existência de ondas eletromagnéticas. Maxwell mostrou, analisando essas equações, que
os campos E e B propagam-se no vácuo, com a velocidade da luz e, baseando-se nesse
fato e nos experimentos que indicavam ser a luz um fenômeno ondulatório, propôs que a
luz era uma onda eletromagnética (Fig. 1).
Analisando as posições dos nós e ventres desse padrão estacionário, Hertz pode
determinar o comprimento de onda da perturbação e, como a frequência do oscilador
elétrico era conhecida, pode realizar a primeira determinação experimental da velocidade
de propagação da onda eletromagnética.
Uma onda que varia como um cosseno ou como um seno é dita harmônica. A
solução pode ser uma função de um dos tipos citados, devendo-se ainda levar em conta
que os campos elétrico e indução magnética são vetores e devem satisfazer as equações
de Maxwell. Para satisfazer esses requisitos, a perturbação deve ser transversal, ou seja,
os campos devem oscilar perpendicularmente à direção de propagação e devem ser
mutuamente perpendiculares, de modo que o produto vetorial E x B indique a direção e o
sentido de propagação. Uma solução possível é
𝑬(𝑥, 𝑡 ) = 𝐸𝑜 cos(𝐾𝑥 − 𝑤𝑡 + 𝜙) 𝒋̂ 1.1
̂
𝑩(𝑥, 𝑡 ) = 𝐵𝑜 cos(𝐾𝑥 − 𝑤𝑡 + 𝜙) 𝒌 1.2
onde 𝐸𝑜 e 𝐵𝑜 = 𝐸𝑜 /𝑐 são as amplitudes dos campos, 𝐾 = 2𝜋/𝜆 (𝜆 é o comprimento de
onda ou período espacial), 𝑤 = 2𝜋/𝑇 (T é o período temporal), 𝜙 é uma constante de fase
̂ são os versores (vetores unitários) nas direções
(também chamada de fase inicial), 𝒋̂ e 𝒌
𝑦 e 𝑧, respectivamente. A constante K é também o módulo do vetor de onda K, um vetor
que indica a direção e sentido de propagação da onda (eixo 𝑥 nesse exemplo) e não deve
̂ . A figura (Fig. 4) mostra a orientação dos três vetores para
ser confundido com o versor 𝒌
esse exemplo.
y
K
x
A solução proposta representa uma onda plana harmônica (os campos não
dependem de 𝑦 e de 𝑧, ou seja, em todos os pontos de um plano 𝑥 = constante o
argumento da função cosseno é o mesmo) propagando-se na direção positiva do eixo 𝑥
com o campo elétrico oscilando na direção 𝒋̂, e o campo indução magnética oscilando na
̂ . A perturbação é transversal, com os campos oscilando perpendicularmente à
direção 𝒌
direção de propagação i. A direção de oscilação do campo elétrico é chamada direção de
polarização da onda. Nesse caso, diz-se que a onda é linearmente polarizada na direção 𝒋.
Uma onda eletromagnética é, como vimos, a propagação de dois campos vetoriais,
o elétrico e a indução magnética. No que se segue, expressaremos a onda eletromagnética
plana somente pelo seu campo elétrico desde que, sabendo-se este, o campo indução
magnética é também conhecido. A equação (1.2) retrata que o campo indução magnética
da onda é perpendicular ao campo elétrico, oscilando com a mesma frequência e mesma
constante de fase.
De modo geral, uma onda eletromagnética plana e harmônica, que se propaga ao
longo da direção do vetor de onda K, pode ser representada por
𝑬(𝑟, 𝑡 ) = 𝑬𝑜 𝑐𝑜𝑠(𝑲. 𝒓 − 𝑤𝑡 + 𝜙) 1.3
onde 𝒓 é o vetor posição que localiza um ponto do espaço, e 𝑬𝑜 é o vetor amplitude do
campo elétrico.
Uma outra forma possível para a onda eletromagnética é a onda esférica harmônica.
Enquanto na onda plana a amplitude do campo é constante, na onda esférica a amplitude
do campo diminui à medida que a onda se afasta da fonte pontual que a criou. Mais
precisamente, a amplitude da onda diminui com o inverso da distância 𝑟 do ponto à fonte
pontual. Em outras palavras, a amplitude da onda é uma função da posição do ponto onde
medimos o campo elétrico. Para pontos distantes da fonte essa onda é quase uma onda
plana e pode ser representada aproximadamente por:
𝑬(𝒓, 𝑡) = 𝑬𝑜 (𝑟) 𝑐𝑜𝑠(𝑲. 𝒓 − 𝑤𝑡 + 𝜙), 1.4
A superposição de duas ondas é uma onda. Vejamos o que ocorre quando duas
ondas de mesma frequência (e comprimento de onda) são superpostas (Fig. 5)
Utilizando a identidade
cos(a + b) + cos(a − b) = 2 cos(a) cos(b),
fazendo a = K1.r − wt + 𝜙1 e b = K2.r − wt + 𝜙2, tem-se:
I12(r) = CE10(r).E20(r)[< cos((K1 + K2).r – 2wt + 𝜙1 + 𝜙2) > + < cos((K1 − K2).r + 𝜙1 − 𝜙2) >].
A primeira média é nula se a soma 𝜙1 + 𝜙2 não variar no tempo. Portanto, para que
o termo de interferência seja diferente de zero é necessário que as seguintes condições
sejam satisfeitas:
• Os campos E10(r) e E20(r) não podem ser perpendiculares entre si;
• A segunda média temporal deve ser diferente de zero. Isso significa que as
constantes de fase 𝜙1 e 𝜙2 devem guardar entre si certa regularidade. A condição
mais simples é aquela para qual a diferença 𝜙1 − 𝜙2 não depende do tempo. Nesse
caso, a média temporal não depende do tempo e as duas ondas são ditas coerentes.
A situação inversa é considerar que as duas constantes de fase não guardam
qualquer regularidade entre si e as duas ondas são ditas completamente
incoerentes, e assim o termo de interferência varia aleatoriamente no tempo.
Resta discutir como produzir, em situações práticas, ondas coerentes de modo que
a interferência entre elas possa ser observada. Discutiremos adiante algumas situações.
A dupla fenda de Young
K1 l1
l2 Ponto central
d
K1 do anteparo
D
Anteparo distante
Uma onda plana incide perpendicularmente ao plano de fendas finas. Cada fenda,
considerando o princípio de Huygens, atua como fonte emissora de ondas secundárias. Em
um ponto 𝑃 de um anteparo, distante e paralelo ao plano das fendas, queremos determinar
como é a superposição das ondas emitidas por essas duas fendas. Sendo a distância do
anteparo às fendas muito maior do que a separação entre as fendas, 𝐷 >> 𝑑, as trajetórias
percorridas pelas ondas, das fendas ao ponto P, são essencialmente paralelas, porém, com
comprimentos ligeiramente diferentes. Estritamente falando, as trajetórias só seriam
paralelas se o anteparo se localizasse no infinito; contudo, a condição D >> d é equivalente
a fazer o ângulo 𝛼 ≈ 0.
As duas ondas que escrevemos inicialmente, equações (1.5) e (1.6), podem ser
consideradas provenientes das duas fendas e escritas como:
2𝜋
𝐾1 . 𝑟 = 𝐾𝑙1 e 𝐾2 . 𝑟 = 𝐾𝑙2 , com 𝐾 = .
𝜆
𝜆
𝑙2 − 𝑙1 = 𝑑 𝑠𝑒𝑛(𝜃) = (2𝑛 + 1) 2 , 𝑛 = 0, ±1, ±2.. 1.10
Ondas estacionárias
Uma outra situação, na qual há interferência de duas ondas, ocorre quando uma
onda (por exemplo, a onda dada pela equação (1.1)) atinge perpendicularmente um
anteparo e é refletida. Na região compreendida entre a fonte e o refletor haverá duas ondas,
uma caminhando da fonte para o refletor e outra movendo-se do refletor para a fonte. A
superposição das duas ondas produzirá uma onda estacionária que é caracterizada por ter
nós e ventres localizados em pontos fixos do espaço (Fig. 8). O campo elétrico de uma
onda estacionária pode ser escrito como
𝑬 = 2𝑬𝟎 𝑠𝑒𝑛 (𝐾𝑥)𝑠𝑒𝑛 (𝑤𝑡). 1.11
Refletor metálico
A distância entre nós (ou ventres) consecutivos é dada pela distância entre os zeros
(ou máximos) da função sen(Kx) e vale meio comprimento de onda. Esses nós podem ser
detectados movimentando-se um detector ao longo da linha que une a fonte ao anteparo
refletor fixo. Por outro lado, movimentando-se o anteparo ao longo da mesma linha, um
ciclo é completado a cada meio comprimento de onda percorrido pelo anteparo.
Interferência por filmes finos
Em muitas situações do dia a dia pode-se verificar a interferência por filmes finos. As
cores na bolha de sabão e nas películas de óleo sobre a água são causadas por
interferência da luz refletida nas interfaces do filme ou película. A onda incidente na película
semitransparente, veja a figura (Fig. 9) é refletida nas duas interfaces e duas ondas
retornarão. A diferença de caminhos óticos percorridos e as características das reflexões
nas duas interfaces modificarão a fase relativa entre as duas ondas. Por exemplo, se uma
onda percorre um trajeto de exatamente um comprimento de onda dentro do filme, sua fase
é modificada de 2𝜋 radianos. Novamente ocorrerão casos de interferência construtiva e
destrutiva conforme seja a espessura da película. A situação é periódica de modo que, para
cada comprimento de onda percorrido dentro do material, uma mesma situação se repete
(por exemplo, os máximos se repetem a cada 2𝜋 radianos).
Observador
Interferômetro de Michelson-Morley
Espelho
Espelho
semirefletor
Detetor
Onda
plana
Fonte
O espelho de Lloyd
Considere o dispositivo representado na figura (Fig. 11). Uma onda esférica (por
exemplo, a onda representada pela equação (1.4)) incide obliquamente sobre o espelho
horizontal e frontalmente a um anteparo perpendicular ao espelho.
Anteparo
Fonte
Espelho metálico
A onda refletida pelo espelho horizontal também alcança o anteparo interferindo com
a onda direta. A onda refletida percorre um caminho maior que a onda direta chegando ao
anteparo defasada (atrasada) com relação àquela. A diferença de caminhos óticos, e a
inversão de fase que ocorre na reflexão, levarão à variação na fase relativa entre as duas
ondas e, novamente, poderão ocasionar uma condição de interferência construtiva ou
destrutiva. A condição de interferência destrutiva ocorrerá quando a diferença de caminhos
for igual a um número inteiro de comprimentos de onda.
A corneta receptora contém uma antena (um fio condutor metálico de comprimento
igual à metade do comprimento de onda da micro-onda) na qual o campo elétrico da onda
gera uma corrente senoidal que é retificada e medida por um micro amperímetro de escala
apropriada. A densidade de corrente no fio da antena é proporcional ao campo elétrico da
onda, 𝐽 = 𝜎𝐸. A corrente é proporcional à densidade de corrente 𝐽 na direção da antena,
ou seja, à componente do campo elétrico da onda nessa direção. Assim, ao medirmos a
corrente estamos também medindo a componente do campo elétrico da onda na direção
da antena.
PARTE EXPERIMENTAL
A ponta de prova receptora não deve, em hipótese alguma, ser ligada a uma fonte
de tensão - só deverá ser ligada a um micro amperímetro; deve-se ter cuidado para que o
valor medido não exceda a escala desse medidor. Se necessário, deve-se trocar o resistor
de proteção por outro de maior valor; ao modificar a posição relativa entre a corneta
receptora e a corneta emissora deve-se ficar atento à indicação do medidor na corneta
receptora. Não deixar o ponteiro ultrapassar o fundo de escala; reduzir a sensibilidade ou
ganho nos dois botões de controle sobre a corneta receptora.
I - Ondas estacionárias
Refletor
E 65 cm metálico
Ponta de prova
Vista lateral
Figura 13: Arranjo para a medida da onda estacionaria.
A corneta emissora deve estar ligada na fonte de tensão. Liga-se a ponta de prova
ao micro amperímetro, observando a polaridade, e a coloca entre o anteparo e a corneta
emissora (aproximadamente à meia distância entre eles), de modo que o elemento receptor
esteja próximo ao eixo da corneta. Usa-se a régua como guia e desliza-se lentamente a
ponta de prova ao longo da régua; o ponteiro do medidor deve oscilar entre um valor
máximo e um valor mínimo. Toma-se uma referência qualquer na base da ponta de prova
e mede-se as posições referentes aos mínimos de corrente no micro amperímetro. Deve-
se fazer, pelo menos, 10 medidas, tomando o cuidado para não deslocar a régua durante
o movimento e não deixar a mão fazer sombra e influenciar a medida.
Deve-se estimar uma margem de erro para a medida que não precisa ser
necessariamente a menor divisão da régua, mas levar em conta a dificuldade para a
localização do ponto de mínimo.
Refletor
metálico
E R
65 cm
Refletor metálico
E
40 cm
d
R
Placa semirefletora
Figura 15: Interferência por filme fino.
IV - Interferômetro de Michelson-Morley
Monta-se os equipamentos conforme o diagrama da figura (Fig. 16).
Refletores metálicos
30 cm
R
20 cm 30 cm
Placa
semirefletor 20 cm
Utiliza-se três placas metálicas de mesma altura (duas com largura de 14cm e uma
com largura de 4cm) para montar o dispositivo de dupla fenda como mostra a figura (Fig.
17); a placa mais estreita deve ser colocada em cima do centro do medidor de ângulos
(transferidor). A corneta receptora deve ser conectada ao centro do medidor de ângulos,
utilizando a haste metálica, de modo que a essa corneta possa realizar um arco de círculo;
a haste manterá o raio constante e servirá também como uma referência para a leitura dos
ângulos. Ajusta-se a largura das fendas em aproximadamente 2,0 cm para que se possa
detectar um sinal de intensidade razoável quando as cornetas estiverem alinhadas.
Placas
metálicas
30 cm
E
Haste
1.a) Determine, a partir das medidas dos itens I a IV tabelados abaixo, o comprimento de
onda médio da micro-onda para cada método de medida observando que, no espelho de
Lloyd, os centros eficazes de transmissão e recepção da micro-onda se encontram
deslocados de 5 cm no interior da corneta, medidos a partir da boca, ou seja, a distância
de centro a centro vale 75 cm.
1.b) Calcule o desvio absoluto dos comprimentos de onda para cada método de medida (I
a IV) e expresse o comprimento de onda e seu desvio corretamente (apenas um algarismo
significativo no desvio). Para todas as medidas foi usada uma régua milimetrada.
I - Ondas Estacionárias
Pts Minimo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
X(cm) 2,4 4,2 5,6 7,0 8,5 10,1 12,6 13,4 14,9 16,8
II - Espelho de Lloyd
Pts Minimo 1 2 3 4
X(cm) 12,3 16,4 19,5 22,1
IV - Interferômetro de Michelson
Pts Minimo 1 2 3 4 5
X(cm) 11,5 13,2 14,8 16,3 18,0