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2 - Propaga玢o de Luz

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2

Propagação da Luz

Introdução

O meio físico básico de um sistema de comunicação óptico é a fibra óptica. Como já foi
dito acima, outros meios poderão ser usados, como a atmosfera ou mesmo um líquido. Ele é o
elemento no qual a luz irá propagar transportando o sinal que contém a informação. No caso das
fibras ópticas, a grande vantagem é a sua capacidade de confinar a radiação em uma região do
espaço, impedindo assim que a luz se espalhe pelo espaço afora, desperdiçando energia. Ela é usada
conectando os pontos de partida (transmissor) e chegada (receptor) do sinal durante a transmissão
servindo de elemento de conecção entre eles.

2.1- Onda
Para entendermos a propagação de uma onda precisamos primeiro saber: o que é uma
onda? Uma onda é uma perturbação que propaga em um meio. É como a ola em um campo de
futebol. A princípio estão todos parados. Aí uma linha de pessoas, de alto a baixo na arquibancada,
se levanta de modo que quando se abaixa o pessoal em um dos lados, a princípio sentado, se levanta
também. Repetindo-se este fato, aquela perturbação, pessoas se levantando, avança pela
arquibancada dando a volta por todo o campo. Algo semelhante é uma pedra que cai numa
superfície de um lago que está absolutamente quieta. Ao tocar na água, a pedra provoca um
movimento no líquido, elevando-o e baixando-o, na forma de um círculo que avança pelo lago.
Estes são exemplos de perturbações que podem ser caracterizados como movimentos ondulatórios.
Nos casos apresentados acima temos que as ondas propagam por conta de um meio físico
que sofre perturbação. Entretanto, no caso da luz, as ondas são as ondas eletromagnéticas, as quais
diferem das que acabamos de comentar porque elas não precisam de um meio físico como suporte
para a sua propagação. Isto é assim porque as ondas eletromagnéticas se constituem de um
processo de indução mútua entre os campos elétrico e magnético. Em um dado ponto do espaço, se
o campo elétrico alí presente variar no tempo, ao redor do ponto se cria uma circuitação de campo
magnético (Lei de Ampère-Maxwell). Nos pontos em volta, onde existem campo magnético, como
estes campos são variáveis no tempo, eles induzem uma circuitação de campo elétrico (Lei de
Faraday). Desta forma, a presença de ambos os campos vai se espalhando pelo espaço afora,
fazendo com que haja o processo de propagação.
Tomando o caso de ondas eletromagnético, que é o nosso caso de interesse em óptica,
podemos dizer que os campos que constituem a onda podem ser descritos por expressões como as
que são dadas nas eqs.(2.1-1) e (2.1-2), caso consideremos uma onda plana propagano ao longo da
direção z com velocidade v. Eles são na verdade descritos por uma equação, chamada de equação
de onda, iremos apenas deixar a menção. Como se vê as expressões têm a mesma forma para ambos
os campos.

E=E(z±vt) (2.1-1)
z+vt
B=B(z±vt) (2.1-2)
z-vt
A fig.(2.1-1) mostra um pulso se deslocando nos Fig.(2.1-1) - Propagação de uma perturbação que
dois sentidos do eixo z. Com ela podemos se constitui numa onda.
perceber que o campo numa dada posição z irá
estar presente numa posição (z±vt) depois que se passa um tempo t, no qual ele está viajando com
velocidade v. O sinal (-) refere-se a ondas se propagando no sentido positivo do eixo dos z,
enquanto o sinal (+), à propagação no sentido oposto.
É possível se mostrar que a velocidade de propagação será dada por:

1
v= (2.1-3)
ε oµ o

Em conseqüência, para que E(z±vt) seja solução da equação de ondas, a onda eletromagnética
deverá se propagar com a velocidade dada pela eq.(2.1-24). Este valor será:

4π 1
v=c= = 10 7 • 9 • 10 9 = 3x10 8 m / s (2.1-4)
µ o 4 πε o

Este é o valor experimentalmente verificado da velocidade da luz no vácuo e é normalmente


designado por c. Aqui ele foi obtido, teoricamente, a partir das constantes características das
propriedades elétrica e magnética deste meio.
O argumento das funções, dadas nas eqs.(2.1-1) e (2.1-2), possui uma parte descrevendo a
dependência espacial da onda, e outra a temporal. Consideremos o caso particular das ondas
harmônicas, dadas na forma:

E = E o sen[ k( z ± vt )] = E o sen[( kz ± ωt )] (2.1-5)

B = Bo sen[ k( z ± vt )] = Bo sen[( kz ± ωt )] (2.1-6)

onde definimos:

ω = kv (2.2.3)

sendo ω a freqüência angular da onda e k é chamado de constante de propagação.


Vamos pontuar aqui que uma onda tem três partes importantes, a saber:

a - Intensidade - (Eo)

b - Fase - (kz±ωt)
c - Orientação espacial dos campos (polarização)

2.1-1- Intensidade de uma Onda


A intensidade de uma onda determina a potência que está sendo transportada pela onda. A
densidade de energia associada a um campo elétrico é dada por:

1
uE = εoE2 (2.4-1)
2

enquanto a parte associada ao campo magnético é dada por:

1
uM = B2 (2.4-2)
2µ o

Como E=cB resulta que essas duas densidades são iguais, e a densidade total de energia associada a
uma onda eletromagnética, é:

1 1
u = u E + u M = εo E2 + B2 = ε o E 2 (3-4-3)
2 2µ o

A intensidade de uma onda eletromagnética será pois:

I = ε o cE 2 (2.4-4)

Como E e B são sempre ortogonais entre si, podemos dizer que o vetor ExB tem a direção de
propagação da onda. Sendo ExB=EB=E2/c, o vetor S definido por:

S=c2εo (ExB)=ExH (2.4-5)

Ele é chamado de vetor de Poynting, que tem como módulo S o valor da intensidade da onda
eletromagnética e a direção e o sentido iguais aos da propagação desta onda.

EXEMPLO (2.4-1) - Calcular o valor médio do vetor de Poynting para o caso de uma onda
harmônica, em um determinado ponto fixo do espaço.

Solução:

No caso de uma onda harmônica, se tem:

S = c 2 ε o E o B o sen 2 ( kz ± ωt ) (2.4-6)
Consideremos um ponto fixo do espaço, que definiremos como z=z0, a equação acima nos dá os
valores instantâneos do vetor de Poynting. Entretanto, na prática, são os valores médios os que têm
interesse. O valor médio 〈S〉 de S será calculando usando-se a definição
1 T
< S >= cε o E o2 ∫
T 0
sen 2 (kz o ± ωt )dt

com o que obtemos:

1 ⎡1 T 1 T ⎤ 1
< S >= cε o E o2 ⎢ + ∫ cos[2( kz o ± ωt )]⎥ = cε o E o2 (2.4-7)
T ⎣⎢ 2 0 2 0 ⎦⎥ 2

Afora energia, podemos mostrar que uma onda transporta momento. A Mecânica
Relativística nos informa que a energia de uma partícula é dada por:

ε = p 2 c 2 + m o2 c 4 (2.4-8)

Associando-se uma onda eletromagnética a uma partícula chamada fóton, cuja massa de repouso
(mo) é nula, o momento associado a ela será:

ε
p= (2.4-9)
c

A energia e o momento de um fóton são calculados com as expressões:

ε = hν = hω (2.4-10)

p = hk (2.4-11)

A polarização dos campos está vinculada à orientação do campo elétrico (ou magnético) no
espaço. Esta orientação define o que chamamos de polarização de uma onda e afeta muitos
fenômenos como a reflexão e a refração.

2.2.2 - Fase de Uma Onda


A fase é um elemento fundamental no entendimento de vários fenômenos, como por
exemplo o da interferência de ondas. A fase é o argumento da função que descreve uma onda.
Como já comentamos, a fase de uma onda é composta de dois termos, um espacial e outro temporal.
De fato não é algo simples a visualização conjunta das variações no espaço e no tempo. Desta forma
a maneira mais funcional de analisar a fase é fazê-lo separadamente quanto a um e outro,
respectivamente. Para simplificar mais ainda façamos uso de ondas harmônicas.
Para analisarmos a fase vamos fazer o seguinte: somar 2π ao argumento da função, o que
não altera o valor da intensidade de campo da onda. Ao fazermos este incremento de fase, não
determinamos se a sua origem seria oriunda da parte espacial ou temporal. Logo, a variação de fase
de 2π tanto poderá ser no valor de z, quanto de t. Seja a variação de fase de origem temporal.
Consideremos então que estejamos num dado instante de tempo t. Após um intervalo de tempo T, a
fase, como um todo, foi alterada de 2π, daí podemos escrever:

E = E o sen[kz ± ω( t + T)] = E o sen[kz ± ωt + ωT ] = E o sen[kz ± ωt + 2π]


Neste caso, ωT=2π, ou ω=2π/T, e chegamos a:


ω= = 2πν (2.1-29)
T

Portanto, podemos dizer que o intervalo de tempo T que mantém inalterada uma onda harmônica é
chamado de período da onda. Aqui chamaremos T de período temporal por razões que ficarão
claras adiante. A eq. (2.1-29) define a relação que deve existir entre período, freqüência angular ω e
freqüência ν.
Tomemos agora, a variação de fase igual a 2π como sendo originada na parte espacial da
fase. Desta forma, consideraremos a onda em um dado ponto z e, no mesmo instante, o ponto (z+λ),
tal que este deslocamento espacial gere a variação de fase citada. Daí poderemos escrever:

E = E o sen[k (z + λ) ± ωt ] = E o sen[kz ± ωt + kλ ] = E o sen[kz ± ωt + 2π]

Disto vem, kλ=2π e chegamos a:


k= (2.1-30)
λ

Portanto, chegamos ao seguinte fato, existe um período espacial dado pôr λ, à semelhança de um
período temporal já discutido. A eq. (2.1-30) define a relação entre o módulo do vetor de
propagação e este período espacial, normalmente chamado de comprimento de onda.
Isto evidencia que as partes espacial e temporal de uma onda participam em pé de
igualdade, ou seja, tanto é possível haver alteração de uma onda através do passar do tempo quanto
através da mudança de posição no espaço. A mudança de uma onda no tempo é algo muito comum
em eletrônica, pôr exemplo. Já a mudança de fase no espaço é algo próprio da óptica. Assim sendo,
em eletrônica se faz a modulação de sinal no tempo, enquanto em óptica se pode modular não
apenas no tempo, mas no espaço.
Desta forma, as ondas harmônicas serão descritas pôr funções do tipo:

E = E o sen (kz ± ωt ) (2.1-31)

onde E representa o campo elétrico da onda eletromagnética.


O caso discutido acima é o das ondas planas, para as quais a direção de propagação é única,
estando ao longo do eixo z. No caso geral de três direções, é fácil se induzir que as ondas planas
podem ser descritas por:

( )
E = E o sen k x x + k y y + k z z ± ωt = E o sen (k • r ± ωt ) (2.1-32)

Neste caso, o vetor k= kxi + kyj + kzk, define a direção de propagação e é chamado de vetor de
propagação e o vetor r= xi + yj + z k, é chamado vetor posição. Como se vê acima, no caso de uma
onda eletromagnética propagando no espaço, há três componentes espaciais e uma temporal,
indicando que em óptica se possui quatro canais de modulação em vez de um só, como em
eletrônica. Logo, a onda eletromagnética propagará no meio, com o qual interage, com velocidade:
1
v= (2.6-3)
εµ

Aqui, poderemos definir o conceito de índice de refração absoluto n, através da razão:

c εµ
n= = (2.6-4)
v εoµo

Tomando-se a definição:

ε/εo=εr e µ/µo=µr ,

onde εr e µr são a constante dielétrica relativa e a permeabilidade relativa do meio, respectivamente,


segue que:

n = εrµr (2.6-5)

Em geral, para a maioria das substâncias de interesse em óptica, se tem µr~2. Logo:

n ≈ εr (2.6-6)

2.1-3 - Polarização de uma Onda Eletromagnética


Quando apresentamos a equação de uma onda eletromagnética plana não foi feita nenhuma
suposição quanto a orientação dos campos elétrico e magnético. Para a onda propagando ao longo
de z poderíamos ter suposto que o elétrico estivesse orientado na direção x e o magnético na direção
y. Nenhuma modificação no resultado adviria caso as orientações dos campos fossem trocadas. No
espaço vazio não há uma direção privilegiada, a não ser aquela definida pela direção de propagação
da onda. Assim sendo, podemos utilizar ondas com ambas orientações dos campos, desde que eles
estejam perpendicularmente dispostos entre si e com a direção de propagação, tendo o mesmo
significado físico.
Entretanto, quando uma onda está se propagando em um meio e vai de encontro a uma
superfície de separação entre ele e o outro meio, com características ópticas diversas, a situação é
outra. No caso, no ponto de incidência,
esta interface cria uma distinção entre as
duas possíveis direções de orientação dos
campos. Isto ocorre em face das distintas
condições de continuidade a que eles E B
ficam sujeitos na interface, as quais
dependem da orientação deles em relação
B E
àquela superfície. Isto leva à necessidade
de se definir a orientação dos campos
segundo um sistema de referência, k k
estabelecendo-se assim o conceito de
polarização de uma onda eletromagnética.
Com isto, estamos exigindo um Fig.(2.3-1) - Representação gráfica da orientação de duas
tratamento vetorial para o campo soluções possíveis para a equação de onda.
eletromagnético. Portanto, a equação de onda tem duas soluções possíveis, que diferem por estarem
os campos rotacionados, entre si, de π/2 como indica a fig.(2.3-1).
As duas soluções são linearmente independentes e, como tal, combinações lineares delas
fornecem outras soluções possíveis da equação de onda. Nas soluções básicas, acima comentadas,
os campos oscilam ao longo de uma linha reta e dizemos que a onda é linearmente polarizada.
Vejamos agora, quais novos tipos de soluções podem advir destas combinações lineares.
Tomemos duas soluções linearmente independentes do tipo:

El=Eocos(kz-ωt)i (2.3-1)

E2=Eocos(kz-ωt+δ)j (2.3-2)

A combinação E = aE 1 + bE 2 , levará a:

E = aE o cos(kz - ωt )i + bE o cos(kz - ωt + δ )j

Desta forma

E = Exi + Ey j (2.3-3)

será uma nova solução da equação de onda, onde definimos:

Ey=bE0cos(kz-ωt+δ)

Ex=aE0cos(kz-ωt)

Os valores instantâneos dos componentes do campo elétrico em qualquer ponto do espaço


descrevem uma equação paramétrica da curva plana a qual determina o tipo de polarização de uma
onda eletromagnética. Fixando Ex e Ey em z=0, teremos

Ex=aE0cos(ωt) (3-3-4)

Ey=bE0cos(ωt+δ) (2.2-5)

Portanto em um período de oscilação, a ponta do vetor E


E
descreverá uma trajetória que será descrita pelas
componentes Ex e Ey.
E y

CASO 1 θ

Para δ=±mπ (m=0,1,2..) a eq.(2.3-5) ficará: E x

Ey=±bE0cos(ωt)
Fig.(2.3-3) - Polarização linear.
Ex=aE0cos(ωt)
onde temos o sinal (+) para m=0,2,4,... e (-) para m=1,3,5... Desta maneira, a trajetória será dada
pela equação:
b
Ey = ± Ex (2.3-6)
a

Portanto a ponta do vetor campo elétrico oscila ao logo de uma reta, cuja orientação no espaço é
dada pelo ângulo θ que ele forma com o eixo dos x. Como neste caso tgθ= ±b/a que é uma
constante. A reta formará com o eixo dos x (no qual oscila a componente Ex do campo resultante)
um ângulo θ igual a

⎛b⎞
θ = tg −1 ⎜ ⎟ (2.3-7)
⎝a⎠

Quando b=a a reta estará orientada segundo um ângulo de 45o em relação ao eixo dos x, caso
m=0,2,4,...(2n), e 135o caso m=1,3,5,...(2n+1).

CASO 2
E
Para δ=±mπ/2 (m=1,3,5...) a eq.(2.2-5) ficará:

Ey=±bEosen(ωt) (2.3-8) θ

Ex=aEocos(ωt)

e a trajetória será dada pela equação:


Fig.(2.3-3) – Polarização elíptica.

Ex2 Ey2
+ =1 (2.3-9)
a 2 E o2 b 2 E o2

Sabendo que tgθ= Ey/Ex = (b/a)tg(ωt). Neste caso, a ponta do vetor descreverá uma elipse e o
campo é dito elipticamente polarizado. A excentricidade e da elipse descrita é calculada com a
expressão:

1/ 2
b2 − a 2
e= (2.3-10)
a

A elipse, acima descrita, tem seus eixos (maior e menor)


coincidentes com aqueles do sistema de referência (x,y) θ E
diferente de ωt. Quando a=b, a excentricidade será nula, θ
como se vê na eq.(2.3-10), e a elipse se reduzirá a uma
circunferência. Fazendo-se a=b na eq.(2.3-9), teremos:

Ex2+Ey2=a2E2 (2.3-11)

expressão correspondente a de uma circunferência. Neste


caso, a onda é dita circularmente polarizada. A Fig.(2.3-4) – Polarização circular.
polarização circular é a da luz emitida por gases nos quais
estão ocorrendo transições radiativas entre os níveis de energia.
CASO 3

Para δ≠±mπ/2 e reescrevendo as eqs. (2.3-4) e (2.3-5),


E
temos :

Ey=bE0cos(ωt+δ) θ

Ex=aEocos(ωt)

E a trajetória será dada pela equação abaixo:

2 2 2
⎛ Ex ⎞ ⎛ ExEy ⎞ ⎛ E ⎞ Fig.(2.3-5) – Polarização elíptica.
⎜ ⎟ − 2⎜ ⎟ cos δ + ⎜ y ⎟ = sen 2 δ
⎜ aE ⎟ ⎜ abE ⎟ ⎜ bE ⎟
⎝ o ⎠ ⎝ o ⎠ ⎝ o ⎠

Este é o caso geral da polarização elíptica (Fig.2.3-3), sabendo-se que o seu eixo maior é o que está
inclinado. A luz emitida por leds e lasers de semicondutor tem uma polarização elíptica.

2.2 – Dispersão de uma Onda Eletromagnética na Matéria


Uma característica importante da matéria se refere à sua forma de interação com uma onda
eletromagnética. Tal característica é determinada por vários tipos de processos de interação e neste
texto não temos o objetivo de exaurí-los. Vamos, ao invés disto, considerar um dos casos, de fácil
visualização e que nos trará as informações que precisaremos obter. Uma delas é o efeito de retardo
que a propagação de uma onda eletromagnética tem quando propaga na matéria. Este efeito é
conhecido como a dispersão do meio e é uma das características de importância no tratamento da
propagação da luz em um meio físico que é usado para o transporte de informação, como é o caso
de uma fibra óptica.
Vamos considerar o efeito de polarização eletrônica que ocorre devido à interação de um
campo elétrico com um átomo, iteração esta que causa deformação na nuvem eletrônica atômica. A
fig.(2.2-1) ilustra o que acabamos de mencionar. Vamos analisar isto para um átomo simples como
o de hidrogênio.

E=0 E≠0

- - +
+

Fig.(2.2-1) - Ilustração da deformação produzida em uma nuvem eletrônica devido a ação de um campo elétrico externo.
Consideremos o átomo como sendo uma nuvem eletrônica esférica envolvendo o seu
núcleo. Sob a ação de um campo elétrico externo, ocorre um deslocamento tanto da nuvem
eletrônica quanto do núcleo, separando os centros de cargas positivas e negativas. Assim sendo,
surge um pequeno dipolo elétrico p e uma força restauradora. Esta última, oriunda da atração entre
as cargas, tende a trazer o sistema ao seu estado inicial. Assumiremos que essa força seja do tipo F
= -Kx, como foi visto no ex.(2.1-2), sendo x a distância dos centros de carga positiva (núcleo) e
negativa (elétron).
Se o campo fosse constante, a condição de equilíbrio das forças envolvidas seria:

e
− eE − Kx = 0 ∴ x = − E (2.2-1)
K

A magnitude do momento de dipolo elétrico será:

e2
p = −ex = E (2.2-2)
K

Se fizermos K = mω 2o , onde m é a massa do elétron e ωo uma freqüência natural associada ao


sistema, teremos:

e2
p= E = αeεoE (2.2-3)
mω o2

onde

e2
αe =
mε o ω o2

é a polarizabilidade eletrônica.

________________________________________________________________________________

EXEMPLO(2.2-1) - Estimar o valor da freqüência natural de um átomo de hidrogênio, usando a lei


de Gauss.

Solução

Para resolvermos o problema proposto, vamos considerar o seguinte modelo para o átomo
de hidrogênio. Assumiremos que o
elétron seja representado por uma E=0 E≠0
nuvem de carga, distribuída
uniformemente numa esfera de raio
R, centrada no núcleo em x=0. A
força de atração entre o núcleo e a R x
distribuição eletrônica, mantém a
nuvem eletrônica em sua forma
estável. Com a ação do campo
externo, a nuvem se afastará da
posição de equilíbrio e surgirá uma
força que tenderá a trazê-la à posição Fig.(2.2-2) - Distribuição esquemática das cargas em um átomo
estável anterior. de hidrogênio sem e com a aplicação de campo elétrico externo.
Seja x a distância dos centros de cargas (positiva e negativa), na nova situação de equilíbrio.
Nesta situação, a força do campo será igual à força Coulombiana que tende a trazer as cargas às
suas posições sem a presença do campo elétrico. No nosso modelo, a força de restauração,
conforme a lei de Gauss, será exercida pela fração de carga δq que não envolve o próton, sendo
aquela localizada na esfera de raio x, indicada na Fig.(2.2-2). A fração de carga, fora deste volume,
não produz força sobre o próton porque o campo elétrico, gerado por ela sobre a carga, é nulo.
Então :

⎛4 ⎞
δq = ρ⎜ πx 3 ⎟ (2.2-4)
⎝ 3 ⎠

−e
Como ρ = , vem
4
πR 3
3

⎛ x3 ⎞
δq = −e⎜ ⎟ (2.2-5)
⎜ R3 ⎟
⎝ ⎠

A força Coulombiana Fc, entre a fração de carga negativa e o próton será pois :

− e2 x3 1 ⎡ e2 ⎤
Fc = = −⎢ ⎥x (2.2-6)
4πε o R 3 x 2 ⎢⎣ 4πε o R 3 ⎥⎦

Como se vê, a força tem um sinal negativo por ser de atração, e varia linearmente com a distância
entre os centros de cargas. Logo, ela é do tipo F=-Kx, onde :

e2
K= (2.2-7)
4πε o R 3

Para estimarmos o valor de K, tomemos o valor de R igual ao raio da órbita do estado


fundamental do átomo de hidrogênio, que é aproximadamente igual a 0,5 Å, logo, o valor de K será:

K=
(1,60 ⋅10 −19 )2 ⋅ (9 ⋅109 ) = 1,84 ⋅103 (N / m)
(0,5 ⋅10 −10 )3
Como a força de restauração é do tipo oscilador harmônico (F = -Kx), podemos pensar que
o átomo de hidrogênio é tal que sua nuvem eletrônica poderá oscilar como uma mola. Neste caso, o
átomo terá uma freqüência natural de oscilação dada por ωo = (K/m)1/2. Para os valores de K e da
massa do elétron, vem :

1/ 2
⎡K⎤
ωo = ⎢ ⎥ = 4,49 ⋅ 1016 rad / s
⎣m⎦
Valores experimentais indicam um valor de ωo igual a 2,2.1016 rad/s, mostrando que,
embora nosso modelo seja bastante simples, ele reproduz, razoavelmente bem, o valor experimental
acima mencionado. No espectro óptico, o ωo calculado corresponde a uma freqüência de 7,15.1015
Hz, a qual se situa no intervalo de luz ultravioleta.
Uma grandeza importante que pode ser estimada é a distância entre os centros de carga
quando o átomo está a ação de um campo elétrico. Tomando a condição de equilíbrio do sistema de
cargas do átomo imerso em um campo elétrico E, temos:

− e2
x = −e.E
4πε o R 3

Logo :

⎛ 4πε o R 3 ⎞
x =⎜ ⎟E (2.2-8)
⎜ e ⎟
⎝ ⎠

onde usamos a eq.(l.l-19). O resultado mostra que o deslocamento é proporcional ao campo elétrico
aplicado.
Se a intensidade do campo for igual a 106 V/m, um valor significativamente alto, teremos:

(0,5.10 −10 ) .10 6


3
= 8,68.10 −17 m
x=
(9.10 )(. 1,6.10 )
9 −19

Tal deslocamento é 1,72x106 vezes menor do que o raio do átomo de hidrogênio. Portanto, mesmo
campos intensos como o que consideramos, ainda alteram muito pouco a estrutura atômica.
________________________________________________________________________________

No ex.(2.2-1), foi estimada a freqüência natural ωo de um átomo de hidrogênio e verificou-


se que seu valor corresponde a algo da ordem de 1016 Hz, correspondendo à faixa do ultravioleta.
Consideremos que a quantidade de dipolos pôr unidade de volume seja n. Disto segue que a
magnitude P da polarização total é dada pôr:

P = np

ne 2
P= E = χeεoE (2.2-9)
mω o2

onde χ e = nα e é a susceptibilidade elétrica estática do meio:

χe =
ne 2
mωo2 ε o
(
= 3,19 ⋅ 10 3 ) ωn2 (2.2-10)
o

De acordo com a definição do vetor deslocamento elétrico,

D = εoE + P (2.2-11)
e do vetor polarização elétrica
P = χeεoE (2.2-12)

O vetor deslocamento elétrico pode ser escrito como

D=εE (2.2-13)

onde ε é chamada de constante dielétrica, ou permissividade elétrica. Esta grandeza será dada por:

ε = ε o (1 + χ e ) (2.2-13)

Assim sendo, a permissividade estática, aqui discutida, será:

⎛ n ⎞
D = ⎜⎜1 + 319
, ⋅103 2 ⎟⎟ ε o E (2.2-14)
⎝ ωo ⎠

⎛ n ⎞
ε = ⎜⎜1 + 319
, ⋅103 2 ⎟⎟ ε o (2.2-14)
⎝ ωo ⎠

2.2-2 – Dispersão Dinâmica de um Meio


Para continuarmos a nossa análise sobre a interação de uma onda eletromagnética com um
meio vamos considerar, por simplicidade, que o meio seja um gás de átomos de hidrogênio. Para
estudarmos um caso dinâmico, vamos considerar que o campo elétrico que atua sobre o meio seja
harmônico, do tipo E=Eocosωt. A equação para o movimento da nuvem eletrônica será obtida a
partir da segunda lei de Newton:

ma = FR + FE (2.2-15)

Nela, m é a massa do elétron, a a aceleração (a=d2x/dt2) e os termos da direita determinam a


resultante das forças que atuam sobre a nuvem, a saber: a força causada pelo campo externo (FE=-
eEocosωt) e a força de restauração (FR=-Kx). A eq.(2.2-15) poderá ser escrita na forma:

d2x
m = − Kx − eE o cos ωt (2.2-16)
dt 2

Mais uma vez vamos definir K = mω o2 , sendo ωo a freqüência natural do sistema. Logo, a eq.(2.2-
16) será re-escrita na forma:

d2x eE o
+ ω o2 x = − cos ωt (2.2-17)
2 m
dt
A solução desta equação diferencial é
x = A cos ωt (2.2-18)

Derivando-se a solução apresentada, e substituindo-se o resultado na anterior, pode-se determinar o


valor da constante A. Com isto a solução terá a seguinte forma:

e
x=−
(
m ωo2 − ω2 ) E o cos ωt (2.2-19)

Logo, o movimento da nuvem eletrônica será harmônico e com a mesma freqüência do campo
externo. Com tal movimento, o dipolo elétrico induzido será:

e2 e2
p = −ex =
(
m ω o2 − ω 2 ) E o cos ωt =
( )
m ω o2 − ω 2 ε o
E = αeεoE (2.2-19)

e2
onde: α e = α e (ϖ ) =
( )
m ω o2 − ω 2 ε o

é a polarizabilidade elétrica dinâmica. A susceptibilidade elétrica do sistema, agora dinâmica, será:

ne 2
χe =
( )
m ω o2 − ω 2 ε o
(2.2-20)

A permissividade elétrica dinâmica é obtida como conseqüência imediata da equação anterior,


através da eq. (2.2-13). Ela será:

⎡ ne 2 ⎤ ⎡ 3,19 ⋅ 10 3 n ⎤
ε = ⎢1 +
2
( 2
⎣⎢ m ωo − ω ε o ⎦⎥ )
⎥ ε o = ⎢1 +
⎢⎣
⎥ε o
ωo2 − ω 2 ⎦⎥ ( ) (2.2-21)

Como mostra a fig.(2.2-3), ωo é uma


freqüência de ressonância do átomo de ε(ω)
hidrogênio. O caso foi estudado com uma
aproximação muito simples, pois um átomo
deve ser estudado através da mecânica
quântica e não da mecânica newtoniana ou εo
clássica. Contudo, ele serve como introdução e
apresenta resultados gerais verdadeiros. ε (0)
Vamos então ressaltar aqui um
resultado muito importante. Quando o campo
elétrico atuar sobre o átomo este se polarizará,
tornando-se um dipolo elétrico que oscila com
a mesma freqüência do campo. Desta forma ωο ω
cada átomo funciona como uma antena,
irradiando ondas eletromagnéticas com a Fig.(2.2-3) - Comportamento da constante dielétrlca em
função da freqüência do campo elétrico externo aplicado ao
mesma freqüência do campo que atua sobre átomo de hidrogênio
ele. Assim podemos vislumbrar que a propagação de uma onda eletromagnética na matéria se dá
com o campo elétrico da onda transferindo energia para os átomos. Estes funcionam como antenas
que emitem na mesma freqüência do campo, devolvendo a energia recebida ao campo
eletromagnético. Este processo de receber e re-emitir a onda, faz com que, em média haja uma
velocidade de propagação menor qo que quando não há átomos no meio.
Para complementar a nossa discussão sobre a dispersão dinâmica de um meio. vamos
discutir a polarização de um átomo de hidrogênio, sob a ação de um campo elétrico externo,
levando em consideração os efeitos da emissão de radiação, quando as cargas são aceleradas.
Anteriormente, foi ana1isado o caso de um átomo de hidrogênio sob a ação de um campo elétrico,
não havendo sido considerado nenhum efeito de amortecimento do movimento oscilatório das suas
cargas. Como sabemos, cargas elétricas ao serem aceleradas emitem radiação eletromagnética. No
eletromagnetismo clássico, não há restrições e toda carga acelerada emite radiação. Assim sendo, o
elétron ao sofrer uma ação externa, acelerando-o, emite radiação. Isto causa um efeito de freio na
oscilação. Vamos representar isto, adicionando à eq.(2.2.17) um termo tipo -γ(dx/dt). Na verdade
estamos usando a idéia clássica de amortecimento do movimento de um corpo em um meio viscoso.
A equação do movimento ficará:

d2x dx
m = − Kx − γ − eE o e iϖt (2.2-22)
2 dt
dt

Usando-se mais uma vez a definição K = mω o2 temos,

d2x γ dx eE
+ + ω o2 x = − o e iωt (2.2-23)
2 m dt m
dt

A solução de tal equação é:

⎛e⎞
−⎜ ⎟
x ( t ) = x o e iω t = ⎝m⎠ E o e iωt (2.2-24)
( ) ⎛ γω ⎞
ω o2 − ω 2 + i⎜ ⎟
⎝m⎠

onde a barra sobre as letras, indica que as grandezas são complexas.


A posição da nuvem eletrônica será dada pela parte real da eq. (2.2-24). Esta equação
poderá ser manuseada algebricamente e escrita na forma:

⎛e⎞
−⎜ ⎟
x (t ) =
⎝m⎠ ⎡ 2
⎢ ( )
⎛ γω ⎞⎤
ω o − ω 2 − i ⎜ ⎟ ⎥ E o e i ω t = x o e i ωt e i φ (2.2-25)
( ) ⎝ m ⎠⎦
2
2 ⎛ γω ⎞ ⎣
ω o2 − ω 2 + ⎜ ⎟
⎝m⎠

onde:
⎛ x' ' ⎞
φ = tg −1 ⎜⎜ o ⎟⎟ (2-2-26)
⎝ x'o ⎠

Assim sendo, a nuvem eletrônica se move com a mesma freqüência do campo externo, mas, agora o
seu movimento apresenta uma diferença de fase φ em relação ao campo externo aplicado.
Por outro lado, a amplitude do movimento xo é calculada através da expressão:

x o = x ′o2 + x ′o′ 2 (2.2-27)

onde
⎛e⎞
−⎜ ⎟
x ′o = ⎝m⎠ (ωo2 − ω2 )E o (2.2-28)
( )
2
2 2 ⎛ γω ⎞
ω o2 −ω +⎜ ⎟
⎝m⎠

⎛ e ⎞
⎜ ⎟
⎝m⎠ ⎛ γω ⎞
x ′o′ = ⎜ ⎟E o (2.2-29)
( )
2 2 ⎛ γω ⎞ ⎝
m ⎠ 2
2
ωo − ω +⎜ ⎟
⎝ m ⎠

Usando as eqs.(2.2-28) e (2.2-29) na eq.(2.2-26), obtemos:

⎛ ⎛ γω ⎞ ⎞
⎜ −⎜ ⎟ ⎟
⎝m⎠
φ = tg −1 ⎜⎜ ⎟
⎟ (2-2-30)
2 2
⎜⎜ ω o − ω ⎟⎟
⎝ ⎠

Já dissemos que o movimento da nuvem eletrônica ocorre com uma defasagem φ em relação à
vibração do campo externo e é interessante se observar que γ = 0 leva a φ = 0. Isto indica que o
movimento da nuvem só ocorre em fase com o campo caso não haja o efeito de emissão, que atua
como um freio eletromagnético.
Seguindo os mesmos procedimentos adotados na eq.(2.2-2), podemos calcular a polarização
do meio. O dipolo induzido será dado pôr:

p = −e x

⎛ e2 ⎞ ⎛ e2 ⎞
⎜⎜ ⎟⎟ ⎜⎜ ⎟⎟
p= ⎝m⎠ E o e iω t = ⎝m⎠ E (2-2-31)
⎛ γω ⎞ ⎛ γω ⎞
(ω 2
o −ω 2
) + i⎜ ⎟ (ω 2
o −ω 2
) + i⎜ ⎟
⎝m⎠ ⎝m⎠
Nesta situação o momento de dipolo elétrico é uma grandeza complexa. Em termos práticos
o valor mensurável do momento de dipolo elétrico será dado pela parte real da eq.(2.2-31).
Tomando a densidade volumétrica de momentos de dipolos elétricos como sendo n, obtemos para a
polarização do meio:

⎛ ne 2 ⎞
⎜ ⎟
⎜ m ⎟
⎝ ⎠
P= E o e iωt = Po e iωt e iφ (2.2-32)
(ω o2 −ω 2
) ⎛ γω ⎞
+ i⎜ ⎟
⎝m⎠

onde:
⎛ ne 2 ⎞
⎜⎜ ⎟
m ⎟⎠
P'o = ⎝ ωo2 − ω2 E o ( ) (2.2-33)
⎛ γω ⎞
2

( 2
ωo2 − ω2 + ⎜ ⎟ )
⎝m⎠

⎛ ne 2 ⎞
− ⎜⎜ ⎟⎟
⎝ m ⎠ ⎛ γω ⎞
P' ' o = ⎜ ⎟E o (2.2-34)
⎛ γω ⎞ ⎝ m ⎠
2

(ω 2
o −ω 2 2
) +⎜ ⎟
⎝m⎠

e φ já é conhecido. O valor mensurável da polarização do meio será dado pela sua parte real dada
pela eq.(2.2-33).
A susceptibilidade χ e poderá ser facilmente obtida a partir da substituição da eq.(2.2-34) na
eq. (2.2-13). Ela será dada pela função:

⎞ ⎛ ne 2⎛ ne 2 ⎞
⎟ ⎜ ⎜ ⎟
⎟ ⎜ mε o⎜ mε o ⎟
χe = ⎠ ⎝
= ⎝ ⎠ (
⎡ 2 2
) ⎛ γω ⎞⎤
⎢ ω o − ω − i⎜ m ⎟ ⎥ (2.2-35)
( γω
⎛ ⎞
)
ωo2 − ω 2 + i⎜ ⎟ ω 2 − ω 2 2 + ⎛⎜ γω ⎞⎟
⎝m⎠ o
2
( ) ⎣ ⎝ ⎠⎦
⎝m⎠

Como já fizemos anteriormente, podemos aqui definir a constante dielétrica complexa na forma:

ε = ε'+iε' '

⎡ ⎛ ne 2 ⎞ ⎤ ⎛ ne 2 ⎞
⎢ ⎜ ⎟ ⎥ ⎜ ⎟
⎜ mε o ⎟ ⎜ mε o ⎟

ε = ⎢1 + ⎝ ⎠ ωo2 − ω 2 ( )

⎥ε o − i
⎝ ⎠ ⎛ γω ⎞
⎜ ⎟ (2.2-36)
( ) ( )
2 2 ⎝ m⎠
⎢ 2 ⎛ γω ⎞ ⎥ 2 2 ⎛ γω ⎞
⎢ ωo2 − ω 2 + ⎜ ⎟ ⎥
2
ωo − ω +⎜ ⎟
⎣ ⎝m⎠ ⎦ ⎝m⎠

Como se observa nas expressões obtidas para a constante dielétrica não existe mais aquela
descontinuidade para ω=ωo, verificada no caso sem a irradiação de energia pela nuvem. Facilmente
vemos que o termo de amortecimento é o responsável pôr isto. A razão física para este resultado,
pode ser entendida da seguinte forma: quanto maior for a amplitude das oscilações x(t), em face de
ω → ω o , maiores serão a energia e a aceleração a serem alcançadas pela carga. No caso, é a perda
de energia que a nuvem sofre, em face da irradiação de ondas eletromagnéticas (classicamente), que
impede que o movimento tenha uma amplitude que tenda para infinito quandoω=ωo. A fig.(2.2-4)
ilustra o comportamento das partes real e imaginária da constante dielétrica conforme calculamos
na eq.(2.2-36).

ε,
ε,(0) ε,,

ωο ω
Fig.(2.2-4) - Gráfico das partes real e imaginária da constante dielétrica em unidades arbitrárias.

Como a constante dielétrica obtida é complexa, o índice de refração dela decorrente


também o será, isto é: n = n + iK . A parte real (n) do índice de refração determina a velocidade de
propagação de uma onda, enquanto a parte imaginária (K) a atenuação (ou amplificação) que a onda
experimenta no meio.
Na fig.(2.2-5) é apresentado o índice
de refração do GaAs em função da energia
dos fótons e vários valores de concentração
de dopantes do tipo doador. Observa-se que
próximo ao valor da energia refernte à banda
proibida, o índice de refração apresenta uma
caracterísitica ressonante, como discutimos
anteriormente. Esta característica se torna
mais proeminente à medida em que o
semicondutor tem uma menor concentração
de impurezas (no=5,9x1017 cm-3).
Já que falamos de energia do meio e
do campo, vamos calcular a potência W
envolvida na interação entre eles. Ela será
calculada a partir da expressão: Fig.(2.2-5) – Índice de refração do GaAs.

= E o cos ω [Po (cos(ωt + φ) + i sen (ωt + φ))]


dP d
W=E (2.2-37)
dt dt
A eq.(2.2-37) poderá ser re-escrita na forma:

W = E o Po ω[− sen (ωt + φ) cos ωt + i cos(ωt + φ) cos ωt ] = X + iQ (2.2-38)

A potência complexa nos lembra os resultados obtidos num circuito RC de corrente


alternada, para o qual há uma parte real correspondente à dissipação de energia, e uma imaginária,
correspondendo ao armazenamento de energia elétrica nos elementos capacitivos. Esta potência não
dissipada é chamada de reativa, sendo trocada entre a fonte e os elementos reativos (capacitores).
Dessa forma, podemos entender que a energia transportada pelo campo elétrico da onda
eletromagnética realiza, na sua interação com a matéria do meio, dois tipos de fenômenos.
O primeiro, é o de troca de energia com a matéria, o que leva ao efeito denominado de
dispersão, e está relacionado com a dinâmica de propagação da onda no meio. Podemos mentalizar
que a propagação é provocado pela cessão de energia do campo elétrico para este meio que reemite
tal energia na forma de onda eletromagnética na mesma freqüência. Desta forma se estabelece a
velocidade com que uma onda monocromática se propaga, levando à velocidade de fase. Se
considerarmos que este processo de troca depende da freqüência da onda, ou seja, depende do seu
comprimento de onda, temos a origem do índice de refração depender do comprimento de onda da
radiação. Este processo, sem perda ou ganho de energia pelos dois parceiros, meio e campo
eletromagnético, é denominado de um processo paramétrico.
O efeito da dispersão leva a um retardo na propagação da onda eletromagnética dentro deste
meio. Tal atraso depende da freqüência da onda e termina sendo responsável pelo alargamento de
uma pulso óptico que esteja propagando no meio. A razão está no fato de que um pulso óptico é um
pacote de onda, e este contem uma faixa de freqüências ópticas. Ao propagar, haverá diferença de
velocidades de propagação entre tais freqüências e o pulso se alargará.
O segundo, é o efeito em que há perda de energia, já que o campo eletromagnético entrega
energia ao meio que finda pôr dissipá-la, ou seja entregando ao meio externo (banho térmico)
originando a parte imaginária da constante dielétrica calculada acima. Este efeito é chamado de
absorção, e é um dos que causam a atenuação da onda eletromagnética à medida que ela propaga
num meio. Para finalizar diremos que, em certas condições, como a que ocorre com a inversão de
população em um laser, é possível se provocar um fluxo de energia do meio para o campo
eletromagnético. Isto é o efeito da amplificação óptica

2.3 - Velocidades de Fase e de Grupo


Uma onda harmônica perfeita, sen(kz-ωt) possui uma velocidade de propagação cujo valor
se obtém através da fase, dada pela razão ω/k. Assim a velocidade v=ω/k é chamada de velocidade
de fase. Pela própria definição de uma onda harmônica, podemos induzir que ela é uma abstração
sem realidade física no campo prático. A começar pelo fato de uma onda distribuída infinitamente
ao longo de uma dada direção. Qualquer fonte geradora de luz, na verdade, emite radiação em
pulsos ou trens de ondas. Em determinadas condições, eles podem formar um conjunto de trens com
um comportamento próximo a uma onda harmônica.
Tomando-se em consideração um desses pulsos veremos que ele é uma onda cuja amplitude
não é constante, pelo próprio fato de ter início e fim; tanto no espaço quanto no tempo. O pulso
então está longe de ser uma onda harmônica perfeita. Entretanto, sabemos que ele pode ser descrito
como uma combinação linear de ondas harmônicas, através da conhecida análise de Fourrier.
Assim, estudar uma onda real pode ser estudar um conjunto de ondas harmônicas. Como vimos
anteriormente, a velocidade de uma onda eletromagnética é função do índice de refração, em face
do efeito de dispersão existente nos meios físicos. Vamos analisar o caso simples de uma onda
resultante da combinação de duas ondas harmônicas de freqüências ω e ω', tais que ω=ω'+∆ω.
Sejam as ondas descritas por:

E1 = E o sen(kz − ωt ) e E 2 = E o sen (k ′z − ω′t )

A onda resultante da soma das duas será:

E = E1 + E 2 = E o [sen (kz − ωt ) + sen (k ′z − ω′t )]

⎛ ξ + η⎞ ⎛ ξ − η⎞
Usando-se a relação trigonométrica: sen ξ + sen η = 2 sen ⎜ ⎟ cos⎜ ⎟ , temos:
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠

⎡ (k + k ′)z − (ω + ω′)t ⎤ ⎡ (k − k ′)z − (ω − ω′)t ⎤


E = 2E o sen ⎢ ⎥. cos ⎢ ⎥ (2.3-1)
⎣ 2 ⎦ ⎣ 2 ⎦

Usando as condições ∆k«k e ∆ω«ω, bem como considerando o meio sem singularidades quanto à
dispersão, podemos escrever: k+k'≅2k e ω+ω'≅2ω. A equação (2.3-1) ficará:

⎡ ⎛ ∆kz − ∆ωt ⎞⎤
E = ⎢2E o cos⎜ ⎟⎥ sen (kz − ωt )
⎣ ⎝ 2 ⎠⎦ vg

A fig.(2.3-1) apresenta o gráfico de


uma onda deste tipo. O resultado é
uma onda de amplitude modulada,
dada por :

⎛ ∆kz − ∆ωt ⎞ Fig.(2.3-1) - Onda resultante da soma de duas ondas harmônicas


2E o cos⎜ ⎟
⎝ 2 ⎠ de constantes de propagação e freqüências muito próximas.

A amplitude, por si só, é um movimento ondulatório cuja velocidade de propagação é:

∆ω
vg = (2.3-2)
∆k

Como vemos na fig.(2.3-1), a onda é constituída de uma seqüência de grupos formados pela
modulação da amplitude. Cada grupo desse se desloca com a velocidade dada pela eq.(2.3-2), sendo
por isto chamada de velocidade de grupo (do pacote).
Se considerarmos uma mistura de ondas com diferenças infinitesimais em k e ω:


vg = (2.3-3)
dk

Como kv = ω e v é função da freqüência, devido ao índice de refração do meio, podemos obter


uma relação entre v e vg. Derivando-se a relação kv=ω em relação a k, temos:

dv dω
v+k = = vg
dk dk
e
⎛ dv ⎞ ⎛ dv ⎞⎛ dω ⎞ dv
v g = v + k⎜ ⎟ = v + k⎜ ⎟⎜ ⎟= v+k vg
⎝ ⎠
dk ⎝ dω ⎠⎝ dk ⎠ dω

da qual, simplificando-se, vem:

v v
vg = = (2.3-4)
dv ω dv
1− k 1−
dω v dω

Sendo v = c / n devido ao efeito de dispersão, onde n=n(ω). Temos:

dv c dn v dn
=− =−
dω n 2 dω n dω

Substituindo-se este resultado na eq.(2.3-4), obtemos:

v
vg = (2.3-5)
ω dn
1+
n dω

A eq. (2.3-5) poderá ser reescrita como:

c c
vg = = (2.3-6)
⎛ ω dn ⎞ N(ω)
n ⎜1 + ⎟
⎝ n dω ⎠
onde:

⎛ ω dn ⎞
N(ω) = n⎜1 + ⎟ (2.3-7)
⎝ n dω ⎠
dn
Desta forma a velocidade de 〈0

grupo é calculada de forma
semelhante à de fase, diferenciando-
se por se usar um índice de refração
efetivo N(ω), é chamado de índice de dn
〉0
grupo, ao invés do índice do dω
material n(ω). O índice de refração
efetivo incorpora o índice do meio e
um termo no qual está contida a sua
dn
dependência com a freqüência 〉0

(ω/n)(dn/dω). Ou, em outras
palavras, ele contém a dispersão do
meio. Fig.(2.3-2) – Curva de dispersão
Da eq.(2.3-6) salientamos duas situações. A primeira, quando (dn/dω)>0; a velocidade de grupo é
menor que a de fase e a dispersão do meio é dita NORMAL. A segunda, quando (dn/dω)<0; a
velocidade de grupo é maior que a de fase e a dispersão do meio é ANÔMALA. Neste caso,
dependendo do valor da derivada (dn/dω), vg pode até ser maior que a da luz no meio. Nos casos de
dispersão anômala nos quais vg>c, mesmo a velocidade de grupo perde o sentido físico.

2.4 - Tempo de Atraso em um Meio


Como vimos as velocidades de fase e de grupo dependem do comprimento de onda da
radiação eletromagnética. Desta forma podemos introduzir um conceito muito importante do ponto
de vista prático: o tempo de atraso. Tempo de atraso corresponde ao tempo gasto por um pacote de
onda eletromagnética para percorrer uma dada distância L.
Dessa maneira, para que um modo percorra uma distância L o tempo consumido será dado
por:

L LN
τ= = (2.4-1)
vg c

e com o uso da eq.(2.3-7), teremos:

nL ⎛ ω dn ⎞ nL ⎛ λ dn ⎞
τ= ⎜1 + ⎟= ⎜1 − ⎟ (2.4-2)
c ⎝ n dω ⎠ c ⎝ n dλ ⎠

Em termos práticos, o tratamento da dispersão é feito usando-se a dependência do tempo de atrso


com o comprimento de onda ao invés da freqüência, de modo que a partir daqui, adotaremos o
mesmo procedimento. De posse da eq.(2.4-2) se pode calcular o tempo de atraso por unidade de
comprimento (T), em geral expresso em unidades de ps/km, e que será dado por:

n ⎛ λ dn ⎞
T= ⎜1 − ⎟ (2.4-3)
c ⎝ n dλ ⎠

Desta forma, caso se esteja usando um pulso de luz para a transmissão de informação em um meio
material qualquer, este pulso sofrerá um alargamento no tempo (ou no espaço), advindo da
dependência de τ, ouT, com o comprimento de onda. Por ser limitado em tempo, o pulso de
luz possui intrínsicamente uma faixa de L
t=0 t=
freqüências, ou comprimentos de onda, na vg
sua composição espectral. Desta maneira,
conquanto as diversas freqüências que
compõem o pulso sejam emitidas de um
ponto ao mesmo tempo, à medida que o
pulso propaga as diferentes freqüências ∆t L
irão se separando no espaço, por conta da
dependência da velocidade de grupo de
cada freqüência com a sua freqüência. Esta
dependência, neste caso, ocorre por
intermédio da dependência índice de
refração (ou do índice de grupo) com a
freqüência (ou comprimento de onda). Este Fig. (2.4-1) – Ilustração da propagação de um pulso óptico onde se vê
efeito de atraso se rotula como sendo a sua distribuição espectral. Fica claro o alargamento do pulso e a
dispersão cromática, já que depende do consequente redução de intensidade porque a área do pulso,
comprimento de onda, ou de uma certa representando a energia do pulso permanece constante.
forma da cor da luz. A fig.(2.4-1) ilustra a propagação de um pulso óptico, estando indicada a
distribuição espectral e o alargamento do pulso devido aos retardos que cada freqüência sofre
devido ao efeito da variação do índice de refração com o comprimento de onda (dispersão
cromática).
Sendo um pulso suave, podemos estimar o alargamento do pulso pela separação entre os
pulsos com comprimento de onda central λ e λ +∆λ. Usando-se a eq.(2.4-1) teremos:

∂ ⎛⎜ L ⎞
⎟∆λ = L ∂ ⎛⎜ N ⎞⎟∆λ = ⎛⎜ 1 ∂N ⎞⎟L∆λ
∆τ = (2.4-4)
∂λ ⎜⎝ v g ⎟
⎠ ∂λ ⎝ c ⎠ ⎝ c ∂λ ⎠

de modo que teremos:

∆τ = D λ L∆λ (2.4-5)

onde

1 ∂N
Dλ = (2.4-6)
c ∂λ

é chamado de coeficiente de dispersão, sendo, em geral, expresso em unidades de ps/nm-km. Na


eq.(2.4-6) foi usado o módulo de Dλ para que o alargamento seja obtido como uma grandeza
positiva. O coeficiente de dispersão por sua vez pode ser positivo ou negativo. No primeiro caso se
diz que há uma dispersão normal, enquanto no segundo caso se diz que a dispersão é anômala,
exatamente como se discutiu na seção (2.3).
No caso da dipersão de origem cromática, usando-se a eq.(2.3-7), teremos:

1 ∂ ⎡ ⎛ λ dn ⎞⎤
Dλ = ⎢ n ⎜1 − ⎟
n dλ ⎠⎥⎦
(2.4-7)
c ∂λ ⎣ ⎝

ou

1 ⎡⎛ ∂n ⎞⎛ λ dn ⎞ ∂ 2n ⎤
Dλ = ⎢⎜ ⎟⎜ 1 − ⎟ − λ ⎥ (2.4-8)
c ⎢⎣⎝ ∂λ ⎠⎝ n dλ ⎠ dλ2 ⎥⎦

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