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Resenha DIPr Unid. 2 - Sarah Casado

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GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Casado, Sarah Faustino1

Resenha “ Refugiados no Brasil: reflexões acerca do processo de integração


local”, de Julia Bertino Moreira

1. Integração de refugiados no Brasil


Como o próprio título do artigo já diz, a discussão principal trazida por Julia
Bertino é sobre como se dá a integração dos refugiados no Brasil, e esta surge
como forma de identificar a existência de fragilidades na estrutura do país, tendo em
vista a condição de vida dos refugiados e os atores envolvidos.
Antes de mais nada, é dada por ela uma definição de refugiado, essencial
para entender as dificuldades que o mesmo passa, que impedem justamente a sua
permanência no país de origem:

“migrantes internacionais forçados, que cruzam as fronteiras nacionais de seus países de


origem em busca de proteção. Eles fogem de situações de violência, como conflitos internos,
internacionais ou regionais, perseguições em decorrência de regimes políticos repressivos,
entre outras violações de direitos humanos” (MOREIRA, 2014, p.85).

Apesar dos refugiados buscarem proteção, nem sempre seus direitos básicos
são garantidos e não ficam livres de problemas ao ir para outro país. Primeiramente,
eles próprios são considerados um problema, por essa visão de que são estranhos e
uma ameaça, e acaba havendo um choque entre as diferenças culturais, étnicas,
religiosas e linguísticas, que é um gancho para adentrar na temática de integração.
A partir do momento em que o indivíduo, que é perseguido no seu Estado,
possui um dos requisitos previstos na Convenção de Genebra de 1951, como
perseguição por raça, religião, nacionalidade, pertencimento a grupo social e opinião
pública, ele é declarado refugiado e é seu direito, naqueles países que

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Disciplina Direito Internacional Privado, professora Tatiana Squeff
internalizaram o tratado. Além desses, a pessoa também é refugiada em casos de
violação de Direitos Humanos, como dito na explicação da autora, porém apenas em
países da OEA, que ratificaram a Declaração de Cartagena, e da OUA, pela
Convenção sobre Refúgio.
Nem sempre os direitos do refugiado são garantidos, como o acesso à
educação, emprego, moradia, entre outros. Ademais, ainda pode sofrer
discriminação e dificuldades para se sentir incluído na comunidade. Já no que tange
os atores envolvidos nesse processo de integração, a autora cita principalmente o
Estado receptor, por meio das políticas governamentais, a ACNUR, e as ONGs.
Na terceira seção do texto, Julia Bertino faz um aprofundamento de como a
temática dos refugiados foi tratada no Brasil ao longo dos anos, sendo que no final
da década de 70 havia parceria entre a ACNUR e instituições como a Cáritas, na
década de 80 surgem mais possibilidades com o processo de redemocratização, e
nos anos 90 tem-se a Lei 9.474/97 com inovações, como a reunião familiar, por
exemplo. Nesta lei, também havia sido adicionada a declaração de um refugiado por
violação dos Direitos Humanos e foi criado o CONARE (Comitê Nacional para os
Refugiados).
Apontando falhas nesta lei brasileira, a autora destaca a integração local
como uma solução durável, porém existem informações apenas de documentação
aparentemente, não dizendo exatamente como o direito à educação, por exemplo,
seria garantido de forma concreta. Por fim, confirma sua tese de que a integração
não é efetiva como se espera, mostrando dados estatísticos que mostram quão
insatisfatórios são os serviços prestados, e não apenas para os refugiados, mas
também para a própria população local, pois existe uma precariedade mais ampla da
estrutura do país.

2. Comentários
Ainda são válidas algumas pontuações considerando que este artigo é de
2014, sendo assim houve algumas mudanças. Primeiramente, a Lei de Migrações
passa a substituir o Estatuto do Estrangeiro em 2017, e não é uma mudança apenas
de nome, pois foram ampliadas as possibilidades dos refugiados, todavia, o termo
“estrangeiro”, até destacado pela autora, possui um sentido ruim para a real
intenção, que seria o acolhimento dessas pessoas de forma receptiva e não como
estranhos que não são bem-vindos.
Segundo, quando o indivíduo é declarado refugiado, outra particularidade
citada pela autora é a sua temporalidade, visto que, assim que cessa o conflito no
país de origem, o Estado acolhedor não tem mais a obrigação e então o indivíduo
voltaria. Juntamente com o fato de o Estado poder usar o acolhimento de refugiados
como forma de deslegitimar o país de origem, pode-se citar o exemplo do presidente
Jair Bolsonaro em relação aos venezuelanos, uma vez que houve uma vinda
massiva, tanto para demonstrar como o país de origem e seu governo é opressor e
violador, porém o Brasil também pode mandá-los de volta quando o conflito houver
terminado. Sendo assim, o processo de integração social, econômico e cultural
acaba se distanciando do ideal de boa relação entre os indivíduos e de garantia dos
direitos dos refugiados, o foco desse texto.

Referências
MOREIRA, Julia Bertino. Refugiados no Brasil: reflexões acerca do processo de
integração local. REMHU - Rev. Interdiscip. Mobil. Hum., Brasília, Ano XXII, n. 43,
p. 85-98, jul./dez. 2014
MENDES, Priscila. R7. ‘Brasil abriga venezuelanos fugindo do socialismo’, diz
Bolsonaro. Disponível em: 'Brasil abriga venezuelanos fugindo do socialismo', diz
Bolsonaro - Notícias - R7 Brasília. Acesso em 02 de junho de 2022.

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