Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva
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ABSTRACT: Aim: to know the interventions performed by the nursing team in two intensive care
units along with patients with psychiatric symptomatology. Method: qualitative and descriptive.
Twenty-eight members of the nursing team participated. The data were obtained through a semi-
structured interview and a non-participant structured observation. The analysis followed the steps
of Content Analysis. Results: three categories emerged; the first one refers to dialogue as an
instrument of care; the second addresses issues related to mechanical / medication containment;
and the last one refers to the family as a therapeutic element in the care of patients with psychiatric
symptoms in an intensive care unit (UTI). Conclusion: ICU patients may present psychiatric
1
Enfermeira. Residente em Alta Complexidade pela Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Santa
Catarina, SC, Brasil. E-mail: nara.reisdorfer@hotmail.com
2
Enfermeira. Doutora em Ciências. Docente da Universidade Federal de Santa Maria- UFSM/Campus Palmeira
das Missões. RS, Brasil. E-mail: leilahildebrandt@yahoo.com.br
3
Enfermeira. Doutora em Gerontologia Biomédica. Docente da Universidade Federal de Santa Maria-
UFSM/Campus Palmeira das Missões. RS. Brasil. E-mail: tambaraleite@yahoo.com.br
4
Enfermeiro. Doutor em Enfermagem, Docente da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM/Campus
Palmeira das Missões. RS, Brasil. E-mail: luiz.anildo@yahoo.com.br
5
Enfermeira. Especialista em Enfermagem em Terapia Intensiva, Emergência e Trauma pelo Hospital Moinhos
de Vento. Mestranda em enfermagem pela UFSM (ppgenf/UFSM). Santa Maria, RS, Brasil. E-mail:
monica.strapazzon@yahoo.com.br
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symptoms due to organic disease or emotional exhaustion due to their presence in such
environment. Thus, the intensive care team must be able to identify and intervene assertively with
the patient, which includes dialogue and medication administration.
Descriptors: Nursing; Critical care; Mental health; Intensive care units
INTRODUÇÃO
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um ambiente destinado à reabilitação de
pacientes em estado grave de saúde e, geralmente, em risco de morte. O cuidado prestado
nesse setor requer profissionais qualificados, utilização de tecnologias e fármacos de ponta.1
Ressalta-se que o cuidado nesse ambiente tem suas particularidades por estar repleto de
tecnologias, com procedimentos invasivos ao paciente, administração de medicações que
requerem atenção especializada, rotinas, normas e regras rígidas, características que a equipe
de enfermagem necessita seguir ao assistir o paciente. Estes fatores, muitas vezes, interferem
no cuidado de pacientes admitidos na UTI.2
Associado aos sintomas físicos que motivaram a internação do paciente em UTI, podem
emergir reações emocionais devido à permanência nessa unidade, o que pode comprometer a
sua recuperação. Nesse espaço, ele pode experimentar sentimentos de medo, ansiedade, raiva,
negação, além de expressarem humor deprimido. Vale destacar que há diversos estereótipos e
mitos sobre esse ambiente que geram uma pluralidade de sentimentos, como angústia,
tristeza, medo, dor e sofrimento, além de sensações ambíguas como segurança e insegurança.3
Nesse espaço, a experiência de procedimentos dolorosos e falta de independência,
usualmente, remetem a um intenso sofrimento físico e psíquico. Tendo em vista que o quadro
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clínico do paciente é crítico, muitas vezes, há alteração em estado de consciência, o que pode
dificultar a verbalização desses sentimentos. Ainda, essas vivências propiciam o aparecimento
de sintomas psiquiátricos, a exemplo de alucinações, delírios e humor deprimido, os quais
podem trazer prejuízos ao quadro clínico do paciente. O estresse emocional agudo prediz altas
taxas de depressão persistente, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático no curso
posterior do tratamento.4
Algumas formas de prevenir o aparecimento de sintomas psiquiátricos envolvem a
identificação e intervenção dos fatores de risco do paciente, se possível, nas condições impostas
pelo ambiente hospitalar. Ainda, o uso criterioso de medicações, em especial sedativos, além da
oferta do apoio e esclarecimento necessários são de fundamental importância na terapêutica do
paciente grave. O enfermeiro intensivista e a equipe de enfermagem são atores importantes nesse
cenário por estar em contato próximo com o paciente e poder avaliar, de forma mais apurada, as
alterações do seu estado clínico e psíquico.5
Destaca-se que sintomas psiquiátricos podem estar associados ou não a transtorno
mental. A enfermidade mental se caracteriza por apresentar perturbação clinicamente
significativa na cognição, afeto e comportamento que produz sofrimento ou incapacidade,
com comprometimento nas atividades sociais, familiares, profissionais ou outras práticas
importantes da vida da pessoa. Além do mais, um transtorno mental conta com uma série de
critérios para que diagnóstico seja confirmado.6
Nesse sentido, a presença de sintomas psiquiátricos pode não se configurar em um
transtorno mental, por ocorrerem de forma pontual e isolada. Todavia, requerem cuidados que
considerem a subjetividade de cada paciente, com vistas ao alívio do sofrimento produzido
pela experiência de ter sintomatologia psiquiátrica.
Vale destacar que o cuidado vai além do manejo técnico, pois há também construtos
relacionais entre as pessoas, nas ações que envolvem o cuidado. A utilização das práticas que
integrem todas as nuanças do cuidado, no espaço da UTI, é essencial na intervenção junto a
pacientes, em especial àqueles com sintomatologia psiquiátrica, pois estas permitem
aproximar-se da pessoa doente, conhecê-la na sua subjetividade e intervir de acordo com suas
demandas, que abarcam aspectos psíquicos e físicos.
Salienta-se que, apesar de a UTI ser um local no qual se concentram grandes recursos
tecnológicos, com vistas a atender as necessidades biológicas dos pacientes, esse ambiente
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também está cercado de dor e sofrimento. Embora os profissionais de enfermagem se apoiam
na tecnicidade do cuidado, necessário para estabilização do caso e manutenção da vida, é
importante atentar para o sofrimento emocional vivenciado pelo paciente.7
Desse modo, o objetivo do estudo foi conhecer as intervenções realizadas pela equipe
de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva, junto a pacientes com sintomatologia
psiquiátrica.
MÉTODO
Estudo qualitativo e descritivo, realizado junto a duas Unidades de Terapia Intensiva
Adulto, uma localizada em hospital da região noroeste e outra da região central do Rio
Grande do Sul. A primeira instituição hospitalar é de médio porte, a UTI possui 10 leitos. A
equipe de enfermagem é composta por 32 profissionais, seis enfermeiros e 26 técnicos de
enfermagem. A segunda instituição é de grande porte, referência regional em alta
complexidade, possui quatro UTI, dentre elas uma UTI adulto, esta conta com nove leitos.
Atuam na unidade 34 profissionais, destes 24 técnicos de enfermagem e 10 enfermeiros. A
escolha dessas duas UTI se deu em função de elas possuírem características de estrutura física
e funcional semelhantes. As normas e rotinas das duas instituições são equivalentes, em
termos de números de profissionais e atividades desenvolvidas.
Constituíram-se em participantes da pesquisa 28 profissionais de enfermagem que atenderam
os critérios de inclusão: ser enfermeiro ou técnico de enfermagem, estar atuando em UTI Adulto há
pelo menos um ano. Excluíram-se os profissionais que se encontravam de férias ou licença
saúde/maternidade. Todos os profissionais foram convidados a participar, tendo em vista que se
trata de uma pesquisa de cunho qualitativo, o número de participantes foi definido pela saturação
dos dados, no momento em que estes começaram a se repetir encerrou-se a coleta.8
Para a coleta dos dados, utilizou-se entrevista individual, semiestruturada, com questões
abertas e fechadas. Os profissionais foram questionados quanto aos cuidados que prestam a
pacientes com sintomatologia psiquiátrica e como é para eles prestar assistência a esses
pacientes. As entrevistas foram gravadas por meio de equipamento de áudio e posteriormente
transcritas e entregues aos profissionais para validação. Para codificar as entrevistas utilizou-se
a letra “E” para profissional enfermeiro e “T” para técnico de enfermagem, seguido do número
da entrevista. Também foi utilizada a observação estruturada não participante, totalizando 20
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horas, cujas informações foram registradas em diário de campo. A coleta ocorreu no mês de
janeiro na primeira instituição e outubro de 2016 na segunda.
A análise dos dados englobou as informações obtidas a partir das entrevistas, em que se
realizou leitura exaustiva desse material, a fim de organizar e interpretar os achados. Para
análise dos dados utilizou-se o método de análise de conteúdo, que se constitui de três fases, a
pré-análise a categorização e interpretação dos dados.9
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal de Santa Maria, conforme Parecer Consubstanciado Nº 1.376.489.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O estudo contou com a participação de 28 profissionais, destes 21 técnicos de
enfermagem e sete enfermeiros. Houve predominância do sexo feminino, sendo 25 mulheres e
três homens. A faixa etária variou de 20 a 57 anos. Quanto ao estado civil, a maioria, 12
declarou-se casado; seguido de nove solteiros; quatro divorciados e três em união estável. A
maioria dos profissionais, 20 professam a religião católica; seguida de quatro evangélica; três
sem religião e um segue a religião luterana.
O tempo de formação variou de um a 34 anos, com média de oito anos e três meses. Os
participantes atuavam nas instituições entre um ano e 22 anos, com média de cinco anos e um
mês. Quanto à formação complementar, 20 entrevistados relataram ter realizado pelo menos um
curso de capacitação, 11 deles em terapia intensiva adulto e dois, além de adulto, neonatal e
pediátrica, quatro em urgência e emergência. Ainda, houve relatos por parte dos entrevistados
de sua participação em curso de qualificação sobre nefrologia, ventilação mecânica, radiologia,
instrumentação cirúrgica, gestão pública e pós-graduação Stricto sensu em nível de mestrado.
As capacitações realizadas não abordavam conteúdos relativos a saúde mental. Um profissional
relatou ter feito uma especialização Lato sensu em saúde mental. Destaca-se que, no hospital de
grande porte, ocorrem capacitações setoriais mensalmente, já os profissionais do hospital de
médio porte buscam cursos de capacitação externos à instituição.
O conteúdo das informações obtidas a partir das falas dos participantes da pesquisa foi
agrupado em três categorias. A primeira refere-se ao diálogo como instrumento de cuidado de
enfermagem junto ao paciente internado em UTI, a segunda aborda questões inerentes a
contenção mecânica/medicamentosa adotada no cuidado ao paciente com sintomas
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psiquiátricos internado em UTI e a última versa sobre a família como elemento terapêutico na
atenção ao paciente com sintomatologia psiquiatria em UTI.
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Quando se pensa em saúde mental, o diálogo e a escuta terapêutica têm importância
ainda maior. Configura-se em um instrumento de minimização da angústia, pela possibilidade
de reprodução de sentimentos, por proporcionar a escuta de si, atrelado ao fato de ser
escutado.15
Por ser uma unidade de cuidados intensivos, em que a assistência tem se pautado no
cuidado biológico, nas intervenções técnicas que exigem qualificação profissional e grande
aparato tecnológico, o diálogo, nem sempre, é utilizado como instrumento terapêutico. No
entanto, a enfermagem precisa garantir um ambiente acolhedor aos pacientes, apesar das
limitações da unidade e, nesse contexto, o diálogo cria alternativas para minimizar os efeitos
negativos da hospitalização nesse setor.16
O diálogo é uma importante ferramenta terapêutica, apresenta-se como alicerce da
relação profissional, paciente e cuidado. Esse possibilita aproximação, esclarecimento de
dúvidas, troca de experiências e formação de vínculo, além disso, pode despertar no paciente
sentimentos de valorização de seu caso, apoio e segurança.
Na UTI, por vezes, alguns pacientes encontram-se desorientados no tempo e espaço
devido as características do ambiente e sua condição clínica. Os profissionais citam o uso da
comunicação, principalmente de forma explicativa e descritiva, com objetivo de manter a
orientação alopsíquica dos pacientes.
Conversar bastante com ele, deixar ele a par, ambientado junto com a
gente, eu dou oportunidades para ele conseguir falar. (E7)
A comunicação terapêutica é uma ferramenta utilizada com intuito de ajudar o outro no
processo de autoconhecimento de suas potencialidades e fragilidades. Ela mostra-se como um dos
principais cuidados prestados a pacientes e familiares no contexto da saúde mental, mesmo que
este seja em uma UTI. Em geral, há obtenção de ganhos terapêuticos consideráveis.17
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Porque você precisa prestar mais atenção no paciente, ele pode se
machucar, tentar levantar, pode cair, você tem que ficar prestando
mais atenção. Eu acho que te exige mais cuidado do que um paciente
que não seja psiquiátrico. (T2)
A gente teve vários casos de pacientes aqui que tentaram suicídio e
não tiveram “sucesso”, a gente tem que ficar de olho para eles não
fazerem nada de errado, cuidar o que você deixa perto deles, não
tirar os olhos deles, não deixar eles sozinhos. (T18)
Essa visão da imprevisibilidade do paciente, associado à impossibilidade de o
profissional estar constantemente ao seu dispor e a probabilidade de atitudes do paciente
prolongarem o processo de reabilitação, leva a equipe, em muitas situações, a optar pela
contenção mecânica e/ou medicamentosa. Citada por quase todos os profissionais, a
contenção mecânica é corriqueira nas unidades, vista por eles como uma das estratégias de
minimização de danos.
Às vezes, a gente tem que conter o paciente no leito para não
arrancar todas as sondas que tem, eles ficam muito agitados, há
necessidade de conter eles no leito até pelo sofrimento deles de estar
repassando sonda, é melhor para eles. (T11)
Muitas vezes a gente tem que conter, porque ficam agitados,
agressivos, daí tem as medicações que tem que fazer conforme o
estado deles. (T19)
A interação profissional paciente pode ficar prejudicada com a adoção de medidas como
a contenção mecânica e química. O diálogo, normalmente, passa a ser inexistente, em caso de
sedação, ou pobre, na contenção mecânica. Os profissionais de enfermagem comumente
entendem que, nesses momentos, não é necessário conversar com o paciente para deixá-lo
tranquilizar-se. Ainda, pode haver sentimento de culpa do profissional e mágoa expressa pelo
paciente por estar restrito ao leito.
Os pacientes que são mais agitados aí a gente tem que conter, aí que
é complicado porque a gente se coloca no lugar. (E4)
Olha vou te dizer nem sempre é fácil, muitas vezes se torna difícil,
além de difícil fica como vou dizer, não é constrangimento, mas pena
deles. (T4)
A restrição física pode ser indicada em alguns casos de confusão mental decorrentes ou
não da hospitalização. A ocorrência de estados confusionais relacionados à internação
merecem olhar mais atento da equipe, no que se refere a prevenção, diagnóstico e
intervenções rápidas evitando necessidade de contenção mecânica. Entende-se que há
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momentos em que a comunicação não é suficiente, sendo necessárias outras estratégias para
restringir as ações de risco do paciente. Episódios de agressividade e agitação intensa,
independente se causados por confusão mental ou não, que apresentam risco de agravos para
paciente ou equipe, podem ser controlados por meios de restrição química ou física.18
A Resolução do Conselho Federal de Enfermagem número 427 de 2012 define que a
contenção mecânica só pode ser empregada sob supervisão direta do enfermeiro e levar em conta
os protocolos da instituição. A resolução ressalta, ainda, que a contenção pode ser utilizada
quando for o único meio possível para prevenção de danos aos pacientes ou aos demais. Essa
prática necessita de reavaliações constantes quanto a sua necessidade, não deve ser utilizada como
forma de disciplinar, punir ou coagir o paciente, tampouco por conveniência da equipe.19
Observou-se preocupação por parte dos profissionais referente ao uso indiscriminado da
restrição física e/ou medicamentosa, ao mesmo tempo percebeu-se o temor da equipe com
possíveis intercorrências como quedas e remoções de acessos e sondas. O medo da
responsabilização da equipe de enfermagem caso o paciente se lesione e a necessidade de realizar
novamente o procedimento, como repassar sondas, são alguns dos motivos elencados pelos
profissionais para uso de contenção. Frequentemente, a tomada de decisão da equipe, referente ao
uso ou não da restrição, é influenciada pelas características pessoais de cada profissional.
Estudo realizado em uma UTI do Rio de Janeiro, referente às causas de retirada não
planejada de sondas nasoenterias, mostrou que o uso da contenção mecânica não possibilitou
a redução das intercorrências. Seguindo o protocolo da instituição com prescrição médica e
mantendo-se uma mobilidade de 10-20 cm dos membros superiores, não impediu a retirada do
dispositivo. Os autores consideram o uso da contenção mecânica, com vistas a não retirada de
sondas, ineficaz.20
Além disso, o uso da restrição física está associado a sensações desagradáveis
vivenciadas pelos pacientes.21 Apesar de os profissionais considerarem um recurso
terapêutico e forma de proteção, os pacientes perceberam as medidas restritivas como
punitivas e antiéticas, por causarem impactos psicológicos negativos e traumatizantes.3
Poucas vezes prescrita ou debatida entre a equipe, a contenção mecânica ocorre sem
avaliação de sua real necessidade, seus efeitos benéficos ou maléficos ao paciente, forma de
execução, inspeção cutânea prévia e por sua permanência por longos períodos de tempo sem
reavaliações.
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A contenção medicamentosa também foi utilizada como um recurso para o controle da
sintomatologia psiquiátrica dos pacientes internados em UTI, em especial àquela relacionada
a alteração de conduta, como a agitação psicomotora.
Só que tem uns que ficam agressivos aí a gente tem que conter e faz
medicamentos para acalmar eles, EV [endovenoso] ou IM
[intramuscular], geralmente é um Haloperidol, Fenergan, Amplictil
[antipsicóticos, anti-histamínico] quando eles são muito agressivos
eles ganham Amplictil [antipsicótico], em soro, no gotejo junto. (T14)
Fármacos como anti-histamínicos, antibióticos, opiáceos, corticosteróides, diuréticos ou
benzodiazepínicos apresentam risco delirogênico, contribuindo para disfunções mentais nesse
ambiente.4 Vale salientar que, em alguns momentos, o uso de medicação pode se constituir em
uma estratégia de cuidados visto que quadros de agitação podem piorar quadros clínicos.
Entretanto, para isso, é necessário atentar para efeitos adversos destes fármacos bem como a
interações medicamentosas, já que, frequentemente, pacientes internados em UTI utilizam
vários tipos de medicamentos.
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o paciente a apresentar tal sintoma e este não ter sido o motivo da internação foram algumas
das razões citadas pelos participantes para esse distanciamento.
A internação em uma unidade crítica pode provocar alterações, não só no paciente, mas
também em sua família. A integridade desta passa a ser ameaçada, ocorre mudança de papeis e
dinâmica familiar, novas necessidade e sentimentos, medo da separação e perda. Cabe à equipe
de enfermagem compreender a singularidade de cada família, identificando suas necessidades e,
por meio dessas, buscar estratégias de enfrentamento e adaptação à condição atual.7,22
A família influencia no bom prognóstico da pessoa internada na UTI, pois, na maioria das
vezes, fornece apoio físico, emocional, social e financeiro a ela. Apresenta-se como uma
continuidade do doente, também necessitando de cuidados. A atenção em ambiente crítico sempre
deve ser alicerçada na tríade paciente-família-profissional, levando em conta que a doença é um
processo coletivo. Portanto, a comunicação representa a base das relações, constituindo-se na
melhor forma de troca, partilha e esclarecimentos entre profissional, paciente e família.14
A ampliação dos horários de visita para a família se constitui em uma estratégia viável e
de grande valia para fortalecer a ambientação dos pacientes.23 Além disso, os familiares são
capazes de identificar mais precocemente alterações de âmbito psicológico de seus entes
queridos. Para tanto, o profissional de enfermagem deve estar próximo ao familiar e
incentivar a expressão de seus sentimentos e percepções.
O suporte psicossocial aos familiares apresenta-se como estratégia fundamental. No
contexto da saúde mental, os familiares nutrem sentimentos e dificuldades que podem os
afetar significativamente, portanto, além de aliados no tratamento do paciente os familiares
também necessitam de cuidados.16,24
CONCLUSÃO
O estudo apontou que o diálogo se constitui em um instrumento que colabora no cuidado
de enfermagem ao paciente internado em UTI, podendo minimizar o sofrimento emocional.
Desse modo, alguns profissionais das equipes estudadas utilizam-se da comunicação no
momento da intervenção junto ao paciente, porém esta ferramenta, por vezes, não é entendida
como cuidado de enfermagem. Entretanto, em algumas situações em que há agitação
psicomotora ou comportamento agressivo, é necessário o uso de fármacos e contenção
mecânica como forma de alívio de sintomas psiquiátricos apresentados por pacientes assistidos
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em UTI. A identificação e minimização dos fatores de risco, intervenção precoce, uso correto de
medicação e a comunicação terapêutica são alguns dos cuidados que podem ser realizados pela
equipe de enfermagem, com intuito de prevenir e tratar sintomas psiquiátricos.
Quando se trata da família, os profissionais de enfermagem reconhecem a sua
importância no cuidado ao paciente internado em UTI, especialmente àquele com sintomas
psiquiátricos. Os participantes da pesquisa sinalizaram o horário restrito de visitas na UTI
como fator negativo que pode influenciar na manifestação de sintomas psiquiátricos.
Entretanto, os profissionais de enfermagem mantiveram certo distanciamento dos familiares
que visitavam os pacientes na UTI.
Como limitação da pesquisa entende-se que o fato de a coleta de dados ter sido realizada
com profissionais de enfermagem de duas Unidades de Terapia Intensiva, impossibilita a
generalização dos resultados. Em vista disso, sugere-se que outros estudos possam ser
desenvolvidos com foco nesta temática, em outros contextos que envolvam cuidados intensivos,
com outras perspectivas metodológicas, dada a relevância do tema para a área da enfermagem.
Como contribuição, os resultados apresentados permitem ampliar discussões sobre a
assistência de enfermagem ao paciente com sintomas psiquiátricos em Unidade de Terapia
Intensiva e ofertar subsídios que possibilitam qualificar o cuidado nesse cenário. Ainda, pode-
se afirmar que discussões sobre esse assunto são relevantes para a produção de conhecimento
na enfermagem e produzir novas práticas assistenciais.
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