Carolina Dalcomuni - Máfia Vermelha 02 - Dominic
Carolina Dalcomuni - Máfia Vermelha 02 - Dominic
Carolina Dalcomuni - Máfia Vermelha 02 - Dominic
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Epílogo
Agradecimento
Yous - JIN
“ Todas as noites eu te vejo no meu coração
Toda vez que eu vejo, eu acabo chorando
Quando eu te chamo no escuro”
Sinopse
Férias são sinônimo de relaxamento e descanso, certo? Não quando
se é um Petrov!
Quando Dominic Petrov decidiu tirar férias e aproveitar a vida no Rio
de Janeiro, ele não esperava conhecer uma mulher que fosse balançar o seu
mundo. Sete dias foi o que eles combinaram, sem amarras e sem ligações.
Mas o que o bad boy da família Petrov não esperava era cair de amor por
Duda, menos ainda que ela fosse resistir aos seus encantos e desaparecer sem
dizer adeus.
Eduarda é um oficial do BOPE, que se deixou levar por um estranho
sexy. O combinado foram sete dias, mas as consequências desse tempo juntos
permaneceram, não que ela vá reclamar, sua filha é a melhor coisa que lhe
aconteceu.
O problema de tudo isso é, como manter uma criança segura quando
um traficante perigoso está te perseguindo? A resposta é simples, fuja para
outro país, seja discreta, e acima de tudo, não esbarre sem querer no pai de
sua filha.
Prólogo
Dominic
Passado
***
Rio de Janeiro
Sempre que preciso de um bom tempo venho para o Brasil, esse lugar
é um paraíso na Terra, praias bonitas, mulheres lindas usando pequenos
biquínis. Tudo o que um homem precisa, uma bela praia com belas mulheres
desfilando, claro que as últimas têm toda a minha atenção.
Estou em um quiosque na praia de Copacabana, usando short e sem
camisa, exibindo as minhas tatuagens, enquanto tomo uma água de coco e
reparo na mulher loira com roupas de ginástica que corre em direção ao
quiosque, quando chega, sorri e conversa com o atendente, que
imediatamente entrega-lhe uma água de coco.
— Muito movimento? — Pergunta ela.
— Mais ou menos, as pessoas não costumam começar segunda-feira
correndo. — Responde.
Presto atenção na conversa de ambos, agradecido pela primeira vez,
por meu pai ter obrigado meus irmãos e eu a estudar outras línguas.
— Devem estar com a ressaca do fim de semana. — Bufa.
— Ninguém é tão dedicado como você. — O homem ri.
— Meu trabalho exige, não é fácil uma mulher chegar aonde cheguei.
— Diz. — O BOPE não é um lugar fácil para mulheres.
Não faço ideia do que seja um BOPE, mas sou grato a ele por a
obrigar a se manter em forma, essa mulher é uma deusa.
— Os turistas não estão animados. — Diz, e sei que estão se
referindo a mim.
— Pelo sotaque é russo, acredita que ele pode ser algo? Olhe as
tatuagens e cabelo.
A mulher ri.
— Tatuagens são comuns, não se deve julgar alguém por isso.
— Não tenho culpa se ele manda essa vibração perigosa.
— É um ponto discutível, às vezes só estão tendo um mau dia ou a
frieza é comum em seu país.
Quero rir do jeito dela, o homem está certo, normalmente as pessoas
tendem a sentir quando estão diante de algum perigo, o problema é que
algumas delas preferem mentir para si mesmas e pensar que é loucura,
quando, na verdade, deveriam estar correndo por suas vidas.
— Fiquei sabendo que o traficante fugiu para outra comunidade. —
O homem muda de assunto. — Os moradores em não estão cooperando?
— Não, todos tem medo, não julgo, essa cara parece fumaça.
— Deve tomar cuidado, não vai querer estar em sua mira. — Avisa o
homem, com um aceno de cabeça ela se afasta e senta em uma mesa. Sem
resistir a tentação me levanto e vou até sua mesa.
— Quer companhia? — Pergunto.
Ela ri sem humor.
— Se eu quisesse, teria me sentado com você. — Rebate. — Típico
de vocês, só porque veem uma mulher brasileira logo pensam que somos
fáceis e dormimos com qualquer um. Deixa-me te dizer uma coisa, idiota,
não é assim que as coisas funcionam!
Essa foi a primeira vez que fui descartado, de onde venho, as
mulheres tendem a fazer fila para sair comigo, é o que acontece quando se é
um Petrov, as pessoas rastejam aos seus pés para arrancar que o máximo que
podem, como sanguessugas.
— Eu só queria alguém para me fazer companhia. — Me defendo.
Ela me estuda por um momento.
— Ok, pode se sentar, mas se bancar o engraçadinho e ficar dando
em cima de mim, eu te mato.
— Qual é o problema com as mulheres brasileiras?
— Nosso problema são idiotas que nos olham como se fossemos
objetos. — Diz. — Somos criadas para nos defender, e não esperar o príncipe
encantado para fazer o trabalho.
Sempre que ela abre a boca, me sinto mais atraído por ela.
— Se me permitir, posso mostrar que sou um cavalheiro. — Brinco,
percebendo que ela gosta de um bom jogo.
Sorte dela, eu também gosto.
— Duvido disso, mas estou considerando sua oferta.
— Sendo assim, posso me comportar muito bem. — Flerto.
Ela ri.
— Gosto dos mal comportados.
Seguro meu coração.
— Assim você me confunde.
— Não deve conviver com mulheres. — Rebate. — E não me refiro
as que você come por ai.
— Está enganada, tenho duas irmãs que são um terror, uma delas é
minha gêmea.
— Ela deve ser bonita.
— Sim. — Dou de ombros. — Você tem irmãos?
— Dois mais velhos, um é médico e outro militar.
— E os passos de qual deles você seguiu?
Estou curioso a seu respeito, é a primeira que uma mulher prende
minha atenção como ela está fazendo.
— Os do militar, faço parte do BOPE. — Explica.
— Não faço ideia do que seja.
Seu celular toca.
— Tenho que ir. — Diz, já se levantando.
Seguro seu braço.
— Me passe seu número, vamos nos encontrar hoje.
— Me passe o endereço de onde está hospedado, estarei lá hoje as
20:00. — Sem perder tempo, faço o que ela me pede, passando as
informações do lugar onde estou ficando.
Depois que ela se afasta, fico na praia por mais um tempo. Essa
mulher é um perigo para a sanidade de qualquer homem. Caminho para até o
hotel, quando estou no meu quarto minha irmã me liga.
— Baixinha. — Provoco.
— Quando volta para a cidade?
— Talvez semana que vem.
— Estou pensando em viajar para Nova York, qualquer coisa a gente
se encontra lá.
— Tudo bem.
Não tenho planos para ir para Nova York, não gosto de grandes
multidões e pessoas estressadas com o trabalho, e aquela cidade infernal,
grita estresse. Passo o resto do dia aproveitando as comodidades do hotel, não
quero arriscar sair e perder a loira gata da praia.
Quando a hora finalmente chega, o interfone do meu quarto toca e
eles avisam que tem uma pessoa me esperando. Assim como combinado, a
loira da praia aparece na porta do meu quarto, usando um vestido leve e
vermelho, cabelos soltos, ela está linda.
— Demorou. — Diz, passando por mim.
— Desculpe, peguei no sono e quase não escuto o interfone. —
Admito.
— Sorte sua que não fui embora. — Responde.
Ela espera pacientemente enquanto pego as minhas coisas, então
estende o braço e saímos juntos do quarto.
— Tem algum lugar em mente? Não conheço muito bem a cidade.
— Sei um ou dois lugares que podemos ir, tenho certeza que vai
gostar. — Entramos em um carro na entrada do hotel.
O primeiro lugar que vamos é um restaurante, onde jantamos e
jogamos conversa fora, é divertido, e me pego imaginando um futuro com
ela. Pela primeira vez estou aproveitando o momento, sem transformar tudo
em sexo.
— Está cansado?
— Não. — Aceito o desafio em seus olhos.
Saindo do restaurante entramos no carro e vamos até uma rua vazia,
onde tem uma porta de ferro.
— O que estamos fazendo aqui?
— Você vai ver. — Pisca, entrando pela porta caminhamos por um
corredor apertado, chegando até um salão escuro, com luzes coloridas
agitando em volta, música alta e uma multidão dançando. — Vamos dançar.
— Murmura no meu ouvido.
A deixo me guiar para a pista de dança, gostando de como ela
movimenta seu corpo contra o meu. Não sei o que há com essa mulher, mas
algo nela mexe comigo, e eu desejo que isso seja mais que apenas diversão.
— Só porque estamos dançando assim, não significa que dormirei
com você. — Seguro seu corpo contra o meu, conforme dançamos colados,
tenho certeza que ela sente meu pau duro pressionando minhas calças.
— Não gosto de jogos. — Aviso. — Disse que está de folga essa
semana, passe esse tempo comigo. — Peço, é só uma questão de tempo até
ela ceder.
— E o que eu ganho com isso? — Me puxa para um corredor mais
isolado.
— Minha companhia, e uma semana de sexo. Quando essa semana
terminar, duvido que vá me esquecer.
Sorrindo, se aproxima mais de mim e me beija.
— Espero não me arrepender disso.
Se eu soubesse que essa semana seria tudo o que teríamos, teria
aproveitado muito mais, pois quando nosso tempo acaba, o que me resta é
uma foto no meu celular e a certeza de que ela foi feita para mim.
Capítulo 1
Duda
Desde pequena sempre quis policial, prender bandidos, acabar com o
crime e tornar o mundo um lugar melhor. Mas conforme fui crescendo,
percebi que existe muito mal no mundo, e que mesmo aqueles que deviam
nos proteger, estão dispostos a fechar os olhos com a quantia certa.
Foi esse sentimento que me fez entrar no BOPE, passar por toda a
humilhação e os testes, lutar contra o preconceito e as dificuldades que as
mulheres passam nessa profissão. Sem contar o julgamento e o tom de
deboche com o qual me tratam ao saber meu cargo, desmerecendo meu
trabalho duro e dizendo que estou no meu posto por dormir por aí.
Mas, por mais que eu ame meu trabalho, tive que deixar tudo para
trás. Ao ter algo importante a qual proteger e lutar, nada de mais importa,
você está disposta a tudo.
Minha filha é a melhor coisa que já me aconteceu, e me odeio sempre
que penso que um dos maiores traficantes do Rio de Janeiro, está atrás de
nós, e disposto a tudo para nos matar. Foi dessa forma que peguei minha
filha, e fugi do país. Estamos na Rússia há três semanas, vivendo
discretamente e tendo um pouco de normalidade, mês sempre alerta.
É difícil não viver com o medo, sempre olhando por cima do ombro,
temendo pela vida da minha filha.
— Quando vou para a escola, mamãe? — Charlie é uma criança
curiosa, inteligente de mais para sua idade.
Estamos no mercado próximo do nosso apartamento.
— Já falamos sobre isso. — Ela sabe que não pode ir para a escola,
pelo menos não até tudo ser resolvido.
— Mas mamãe...
— Sem mais. — Me viro.
Afasto-me para longe do freezer de congelados e vou pegar algumas
bolachas que Charlie adora. Devia saber que minha pequena encrenca não me
seguiria, quando me viro e não a vejo, começo a ficar desesperada.
Por sorte, logo a encontro, ela começa a correr na minha direção
quando um homem, que não consigo ver o rosto aparece em sua frente,
fazendo com que ela caia no chão. O estranho se abaixa e conversa com ela, a
ajudando a levantar. Fico parada onde estou, observando.
Começo a me desesperar, buscando minha arma na parte de trás das
calças, mas imediatamente paro. Quando o homem se vira, tomo um susto,
fico sem acreditar no que estou vendo.
— Eduarda? — Pergunta, surpreso.
— Dominic?
Esse homem mexeu com a minha vida em uma semana, não só como
o melhor amante que já tive, mas o mais atencioso e sarcástico que conheci.
Passamos uma semana juntos, deixei meu lado romântico aflorar, só para ter
meu coração quebrado. Atender seu telefone foi meu pior erro, a mulher do
outro lado da linha foi a garantia que tive de que confiar nos outros é sempre
um problema.
— Quanto tempo. — Forço um sorriso, tentando desviar sua atenção
da nossa filha.
— Muito tempo. — Olha para Charlie. — Está casada?
— Não, sou mãe solteira. — Dou de ombros.
— Meu pai foi uma aventura. — Charlie oferece, sem saber o que
isso realmente significa.
— Você tem muitas aventuras. — Me encara com raiva, então franze
a testa e olha para Charlie, por mais tempo do que deveria. — Ela é...
— Nem pense nisso, ela é minha filha! Você não é nada dela.
Reconheço o medo, ele é sempre um velho amigo, mas dessa vez é
diferente.
— Tudo o que preciso é um exame de DNA. — Continua.
— Não vamos falar sobre isso aqui. — Peço. — Não é o lugar;
Ele concorda.
— Onde podemos conversar?
— No meu apartamento as 20:30. — Pego a mão da Charlie e a levo
comigo para o caixa.
Ela está relutante em ir, e conforme nos afastamos, ela acena para
Dominic. Estou com raiva, ódio do destino por jogar assim com a minha
vida. Não quero me lembrar do nosso tempo junto, muito menos das noites
que chorei tentando esquecê-lo, provando-me que eu era forte e não precisava
me prender a ninguém.
— Aonde pensa que vai? Não me deu seu endereço. — Vem atrás de
mim.
— Me empresta uma caneta? — Pergunto para a jovem do caixa, que
está encarando Dominic.
Anoto meu endereço em um dos folhetos de promoção do mercado e
entrego-lhe.
— Vou te acompanhar, só para ter certeza que não está me
enganando.
— Pensa que sou esse tipo de pessoa?
— Tenho certeza que é.
Não discuto, pego minha filha e começo a caminhar, Dominic carrega
as sacolas. Felizmente, nosso apartamento é perto, quando paramos em frente
ao prédio, Charlie sobe na frente e abre a porta, enquanto fico para lidar com
Dominic.
— Bom que não mentiu. — Sua voz sai ameaçadora. — Vou estar de
volta a noite.
Ele entra em um carro preto, que nos seguiu o caminho todo. Assisto
o carro se afastar e subo rápido para o apartamento, começando a arrumar as
nossas coisas, não podemos mais ficar aqui. Qualquer pessoa que me
reconheça oferece perigo para minha filha. Dominic pode me odiar o quanto
quiser, mas não vou permitir que nada aconteça com ela.
— Aonde vamos, mamãe?
— Passar o fim de semana fora, não queria ir para o povoado? —
Charlie é obcecada com o frio e com pequenos povoados perto da cidade.
— Oba. — Corre animada.
— Recolha suas coisas, rápido. — Peço.
— Aquele homem vai conosco?
Seu olhar curioso não é uma surpresa, Charlie sempre foi curiosa e
agitada, pronta para se aventurar e me causar cabelos brancos.
— Não.
— Gosto dele. — Declara. — Quando vou conhecer meu pai? Ele
tem esses desenhos legais no corpo?
Como mãe solteira tento ser tudo o que posso para ela, mas existem
coisas que não posso prover. Uma delas é a presença de seu pai, a qual no
pouco tempo que passamos com ele, posso dizer com toda certeza que ambos
são parecidos. Charlie é corajosa, mesmo quando se machuca ela não chora,
muito pelo contrário, ela corre animada para contar sobre sua nova aventura.
Imagino que essa alma animada e aventureira seja algo herdado do Dominic,
e é essa mesma característica destemida que me impede de brigar com ela.
Charlie é a melhor parte de mim e dele, e nunca quero que nada a
impeça de conseguir o que quer, jamais vou permitir que alguém mate sua
alma aventureira ou tente controlar seu espirito livre.
— Em breve, anjo. — Essa é minha resposta padrão.
Pego nossas malas e apago as luzes da casa, me lembrando de
desligar o gás no caminho. Desço um lance de escadas até chegar na entrada,
infelizmente, Dominic antecipou meu plano.
— Me baseando em seu antigo comportamento, achei melhor voltar e
esperar aqui. — Diz. — Sabe o que é engraçado? Há um tempo pensei ter te
visto nessa região.
— Eu te disse que ela não é sua filha, não temos porque conversar. —
Percebo que mentir quando se está com raiva é mais fácil.
— Olhe bem nos meus olhos e negue que ela é minha filha. —
Dominic me segura contra a parede. Mesmo que queira negar e desaparecer
com Charlie, não posso fazer isso com a minha filha. — Ela é minha! Agora
preciso saber por que está tentando fugir, agindo como uma criminosa? Sei
que não sou aquele que colocou esse olhar aterrorizado em seu rosto.
— Não posso falar. — Murmuro. — Me deixe ir, quando voltar te
contarei tudo.
— Tudo bem, pode ir. — Me solta e eu me afasto. — Mas eu vou
junto, não pode me impedir de passar um tempo com a minha filha. — Ele
toma a chave do carro da minha mão. — Vamos no meu carro, é mais
confortável. — Pegando as malas, ele abre o porta malas de um carro preto
de luxo.
— Sabemos que isso não vai funcionar. — Digo, assistindo-o abrir a
porta do carro e Charlie entrar animada. — Não sou o tipo de mulher que
pode salvar.
— E quem disse que quero ser seu herói? Quero estar com a minha
filha. — Sua voz é mais baixa.
— Apenas te avisando. — Respondo, dando a volta e entrando no
carro.
Sou grata quando ele entra no carro e dirige em silêncio, passo as
coordenadas da pequena cidade para onde planejamos viajar.
Dominic olha para o banco de trás, onde Charlie está catando
brincando com seu ursinho e olhando pela janela.
— De quem está fugindo?
— Não estou fugindo de ninguém. — Minto.
Se fosse me confessar, pagaria penitencia por mentir até o fim do
século.
— Não sou cego, vi como estava apavorada quando entrou no
mercado.
— Eu não...
Charlie decide intervir, infelizmente contra mim.
— Mamãe está correndo do homem mau, ele quer nos machucar.
— Quem é ele? — Dominic me encara, posso ver sua mandíbula se
contrair de raiva.
— Ninguém da sua conta. — Me viro para a janela.
— Quando alguém quer machucar minha filha e a mãe dela, é da
minha conta. — Sua voz sai alta e irritada.
Aparentemente, ele esqueceu que nossa filha está sentada no banco
de trás.
— Você é meu papai?
Capítulo 2
Dominic
Não sei como responder a essa pergunta.
Quero dizer que sim, mas estou com medo. Medo de ser rejeitado, de
não ser o melhor pai para essa garotinha. Tudo o que tenho para comparar é o
meu pai, e ele nem mesmo foi um bom, meu irmão é o que tenho mais perto
que tenho de uma imagem paterna.
Olho pelo espelho retrovisor, seus grandes olhos azuis me encaram
cheios de esperança.
— Você quer que eu seja seu pai? — Pergunto.
— Sim, você é legal e tem esses desenhos legais nos braços.
Sinto uma pontada no meu peito, não consigo nem mesmo verbalizar
o quanto estou feliz com sua resposta.
— Eu sou seu pai. — Confirmo, tentando conter a emoção na minha
voz.
Ia as levar para fora da cidade, para o vilarejo que Eduarda me
indiciou, mas os melhores ficam em regiões afastadas da cidade.
— O vai fazer nesse lugar? — Pergunto.
— Vi em um documentário que em alguns deles a temperatura é
muito baixa, e fica muito frio. — É fofo como ela gesticula com a mão.
Charlie puxou Duda, seu sorriso é lindo e ela tem covinhas que
aparecem quando ela sorri. Deus, mal descobri que tenho uma filha, e já
preciso me preparar para os garotos, e eles vão aparecer.
— Não é muito nova para assistir a documentários?
Ela ri e nega.
— Eles também têm documentários sobre animais e insetos, as
lacraias me dão medo. — Se encolhe com nojo.
— Por quê?
Encara-me como se eu fosse um maluco por não saber a razão das
lacraias darem medo nela.
— Sabia que ela come insetos maiores que elas e de dentro para fora?
Tudo o que fica é a casca.
Posso ver a razão dela ter medo.
Escuto Charlie falar sobre insetos, é uma sensação estranha descobrir
que se tem uma filha. Minha garota é inteligente, olho para Eduarda e sei
exatamente de quem ela puxou isso, quando percebe que estou encarando, se
vira para mim e sorri.
— Olha mamãe, um castelo. — Charlie grita quando paramos em
frente aos portões da minha casa.
Eduarda que estrava quieta até pouco tempo, parece nervosa, e se
mexe desconfortável no banco ao meu lado.
— O que está fazendo? — Sua voz está tomada pela raiva.
— Não se preocupe, estamos na minha casa e estarão seguras aqui.
— Explico. — Depois vamos viajar.
— Esse não foi nosso acordo. — Rebate. — Não quero estar em uma
casa cheia dos seus familiares, pessoas que não conheço.
Não me irrito com seu comentário, Eduarda está apavorada, e levar
para um lugar desconhecido onde ela não tem controle de nada. No seu lugar
estaria agindo da mesma forma, ela deve saber que não sou o inimigo aqui,
estou ao seu lado e vou proteger ambas.
— Graças a você eu não conheço minha filha. — Paro o carro e
espero que os seguranças abram os portões. — A essa altura da vida, deve
saber que nem sempre temos aquilo que desejamos.
Os seguranças escondem bem sua curiosidade com a mulher e a
criança no meu carro, acredito que nenhum deles está preparado para essa
visão.
— Você é um príncipe? — Charlie sussurra alto, do meu lado do
banco.
Ela é muito fofa.
— Não, mas tenho um amigo chamado Czar que tem um pé na
realeza.
— Czar como Nicolau? — Pergunta, me surpreendendo.
— Sim.
— Pensei que todos foram mortos.
— E foram, pelo menos é o que todos acreditam. — Explico. —
Czar, meu amigo é um parente distante deles.
— Legal. — Charlie murmura.
Pergunto-me porque seu nome é Charlie? Não conheço nenhum
Charlie vindo do Brasil, na verdade, acredito que nem exista esse nome por
lá. Mas sempre posso contar com a Eduarda para por um nome de menino na
minha filha.
— Por que a chamou Charlie?
Ela dá de ombros.
— Vi em uma lista de nomes, achei bonito e coloquei nela. — Me
encara. — Seu nome completo é Charlie Olivia Emerson.
Essa é outra mudança que teremos que fazer, ela é uma Petrov, e
como tal precisa carregar nosso nome.
— Olivia? Não é um nome muito antigo?
— Minha bisavó se chamava Olivia. — Explica. — Não a conheci,
mas minha mãe sempre me contou como ela ótima e um anjo.
Ao contrário de muitas pessoas que passam por esses portões e se
deslumbram com a visão da enorme mansão, que como Charlie mesma disse,
parece um castelo, Eduarda não está impressionada, sendo sincero, ela está
entediada.
— Não gostou? — Pergunto, me sentindo um pouco inseguro.
— Prefiro o vilarejo que prometi a minha filha que a levaria.
Será que tudo entre nós será dessa forma? Sempre brigando e não
conseguindo chegar a um consenso do que fazer ou não.
— Só preciso pegar algumas coisas, e prometo que levarei vocês a
um lugar muito melhor. — Paro com o carro na garagem ao lado de casa, dou
a volta e pego Charlie no banco de trás.
Eduarda me encara irritada.
— Se vai pegar algumas coisas, não há necessidade de nós
descermos.
— Quero que conheça minha família. — Com Charlie no colo, dou a
volta e a arranco de dentro do carro.
— Me solta seu idiota. — Tenta lutar contra o meu parto em seu
braço. — O que te dá o direito de agir assim?
— Você é aquela que agiu como uma vadia e me tirou o direito de
conhecer minha filha, durante anos. — Rosno. — Sou o pai dela, vocês estão
no meu país, se quiser a guarda dela, tudo o que preciso fazer é ligar para o
tribunal. — Movimento a cabeça em direção a casa. — Pensa que isso é tudo
o que tenho? Sou herdeiro de uma das famílias mais importantes do país.
Sei que devo me controlar e não xingar na frente da Charlie, mas ela
está distraída olhando em volta por cima do meu ombro, que nem mesmo
percebe que sua mãe e eu estamos tendo uma discussão. E em minha defesa,
foi Eduarda quem começou essa merda.
— É assim que quer começar as coisas? — Finalmente solto seu
braço, ela aproveita e coloca as mãos no quadril.
— Quem começou isso foi você.
A porta se abre e Dimitri aparece, ele parece irritado com nosso
show.
— O que está acontecendo aqui? — Olha para Duda e Charlie nos
meus braços. — Quem são elas?
Ao som irritado da voz de Dimitri, Allyssa e Zack aparecem ao seu
lado. Vendo que a irritação do meu irmão só vai colocar mais lenha na
fogueira, Ally coloca a mão em seu braço, tentando acalmá-lo.
Eduarda se recompõem, endireita suas costas e vem para o meu lado,
sua mão nas costas da nossa filha, de uma forma protetora. Ambos
permanecemos em silêncio, tentando descobrir uma forma de explicar as
coisas, mas Charlie é aquela que coloca tudo em ordem.
— Ela é meu pai. — Ela luta para se soltar e eu a solto.
— Pai? — Dimitri franze a testa, e me encara em descrença.
— Sim, longa história. — Dou de ombros, optando por não fazer
nenhum alarde. — Vamos viajar.
— Não acredito que tenha sido uma boa ideia vir aqui. — Eduarda
Sussurra.
— Claro que foi! — Ignoro seu nervosismo. — Ela é minha filha,
como disse, longa história, mas não quero dar um show para nossos
empregados. — Aceno na direção do pessoal da jardinagem.
Levo Eduarda e Charlie para dentro de casa, Zack corre para
conversar com sua prima, a convidando para conhecer seu quarto de
brinquedos.
— Eduarda? — Allyssa a chama. — Que tal tomarmos algo?
Antes de aceitar Eduarda me encara, se olhares pudessem matar, eu
estaria morto nesse exato momento. Vai ser divertido tentar domá-la, mostrar
que não sou um monstro e que nossa química do passado ainda está vida.
— Claro.
Dimitri espera ambas se afastarem, então me dá um, tapa na cabeça.
— Meu escritório, agora!
O “escritório” do meu irmão era antigamente o escritório do nosso
pai, e foi o palco de várias discussões acaloradas e palavras ditas com a
intenção de machucar. Desde que éramos crianças, a intenção do nosso pai
era nos prepara para o futuro, a vida na família. Observo meu irmão se sentar
atrás da mesa, da mesma forma que nosso pai fez tantas vezes, mas ao
contrário do velho, meu irmão não é um filho da puta.
— O que foi?
Meu irmão cruza as mãos sob a mesa.
— Essa mulher e essa menina, elas são algum tipo de brincadeira?
Dou risada sem humor.
— Engraçado isso vindo de você, considerando que fiquei na minha e
respeitei sua decisão quando sequestrou Allyssa, e quando me contou ter um
filho. — Lembro.
— Dominic!
Ouço o aviso em seu tom de voz.
Que se foda!
— Eduarda e eu nos conhecemos no Rio de Janeiro, tivemos um
caso. — Dou risada. — Vocês têm algo em comum, os dois gostam de fugir
na manhã seguinte. — Ignoro a careta que ela faz. — Depois disso nunca
mais a vi, até que nos encontramos no mercado.
Dimitri não precisa saber de todos os detalhes sórdidos, não costumo
me meter no seu negócio, a não ser que ele me peça, e espero que ele estenda
a mesma gentileza.
— O que ela está fazendo aqui, na Rússia?
Entendo a curiosidade do meu irmão, as pessoas não sonham em
morar na Rússia, Europa e os Estados Unidos, são as opções mais desejadas.
— Fugindo de alguém.
— Quem ela é para fugir de alguém?
— Policial no Brasil, se meteu aonde não devia.
— E pediu para se esconder aqui?
— Não, ela tentou fugir de mim, também. — Revelo, sem conseguir
segurar o sorriso idiota no meu rosto.
— Quem te garante que essa menina é sua?
A vontade de dar um soco na cara do bastardo do meu irmão é
enorme, mas me controlo. Uma luta com ele não vai me ajudar nessa
situação, ele está sendo racional, mesmo que seja um babaca.
— A mesma pessoa que garantiu que Zack é seu. — Não controlo a
ironia no meu tom de voz.
— Não compare as nossas situações.
— Não? — Arqueio a sobrancelha. — Deixe- me ver se entendi, caso
do passado? Confere. Mulher aparece com filho? Confere outra vez.
Nenhuma das duas queria saber da gente? Opa! Mais um confere.
— Aonde quer chegar com tudo isso?
— Faça com que ela se case comigo. — Peço.
— Não posso fazer isso por você. — Cruza os braços.
— Claro que pode! Você é a porra do Capo. — Lembro.
— Dominic, eu quero mais...
— Por favor. — Não sou o tipo de pessoa que implora, não fui criado
para isso, se quero uma coisa, eu a pego. Mas se para ter minha mulher e filha
na minha vida eu precisar fazer isso, é o que irei fazer!
— Quer conquistar a Eduarda?
— Tudo o quero é ter minha filha por perto sem ficar apavorado com
a possibilidade de elas fugirem. — Não estou pronto para revirar o velho baú
de sentimentos, e felizmente meu irmão percebe isso.
— Tudo bem. — Acena. — Diga-lhe que se não se casarem, ela não
sairá daqui levando a menina.
Com isso dito, ele se levanta e caminha até a porta.
— Algo mais?
— Só estou fazendo porque já estive no seu lugar, não quero que
passe por tudo o que passei. — Diz. — Alguns homens vão ficar de olho
nelas, se ela tentar fugir com a menina, irei separá-las. — Abrindo a porta, ele
se vira mais uma vez. — Não fale a respeito disso com Allyssa, ela me mata
se descobrir, ou pior, entra em uma de suas greves malucas.
Não consigo conter o riso. Quem diria que Dimitri Petrov seria
domado por uma mulher?
— Boceta chicoteada. — Finjo um espirro.
— Continue rindo, não se esqueça que a minha mulher dorme na
nossa cama, e o meu filho está correndo por aí. — Sai.
— Jamais vou cometer os mesmos erros que você, mano. — Grito,
me levanto e vou procurar a Eduarda e a Allyssa. — Está na hora de contar
que teremos mais uma senhora Petrov na família.
Na cozinha, Allyssa e Eduarda estão sentadas conversando, ambas se
dando bem.
— Podemos conversar? — Pergunto, ,Allyssa se levanta.
— Vou dar uma olhada nas crianças, e com criança, me refiro ao seu
irmão. — Ri, dando um beijo no meu rosto. — Vá com calma, ela está com
medo.
Quando Allyssa sai, me sento no lugar onde ela estava.
— Gostou da Ally?
— Ela é legal. — Me estuda. — Algo que queira me dizer?
Decido que o bom humor é a saída perfeita.
— Meus parabéns, você vai ser a nova senhora Petrov, vamos nos
casar em dois dias, só então partiremos para o vilarejo.
Capítulo 3
Eduarda
Quero dar um soco na cara do Dominic, quem ele pensa ser para me
ameaçar dessa forma? Como a mulher esperta que sou, decido que o melhor a
fazer é descontar minha raiva em seu saco, é por isso que o chuto com força.
— Sua maluca. — Grita, caindo de joelhos e segurando suas joias de
família.
— Eu sou a maluca? — Pergunto com raiva. — Você é o maluco!
Pensa mesmo que vou me casar com você? Arrogante do jeito que é? Charlie
é minha filha, criei a menina sozinha e nunca precisei de você. — Lembro. —
Se quer ser parte da vida dela, tudo bem, mas é apenas da dela. Do contrário,
iremos embora.
Sua expressão diz tudo. Dominic pensou que eu seria tola e que cairia
em suas ameaças, infelizmente para ele, as mulheres de onde venho, as
mulheres não se curvam a exigências toscas. É bom que ele saiba que quem
está no comando aqui, sou eu!
— Não pode fazer isso. — Bate o pé, como uma criança mimada
contrariada.
Meu irmão mais velho é desse mesmo jeito, arrogante e pensa que vai
conseguir tudo o quer.
— Posso, e quem vai se arrepender é você. — Declaro, satisfeita. —
Se quer alguém que te obedeça, compre um cão.
— Não se atreva!
Passo por ele sorrindo.
— Apenas me observe, vai desejar nunca ter me encontrado.
Allyssa me deu algumas dicas de como lidar com um homem Petrov,
ela me contou como foi sequestrada e arrastada para cá, contra sua vontade.
Ela também me contou que ama seu marido, e que lentamente tudo foi se
encaixando.
A diferença entre nós é que eles se amam, ao contrário de Dominic e
eu.
Encontro com ela na sala de brinquedos.
— Pelo visto a conversa não foi boa. — Diz, assistindo seu filho e
Charlie brincando. — Sua filha se parece muito com Dom, uma mistura de
vocês dois.
— A conversa poderia ser melhor, se o seu cunhado não estivesse
querendo me obrigar a casar com ele. — Conto, observando Charlie e Izack.
É fofo ver os dois brincando, minha filha sentia falta de ter outras
crianças por perto.
— Dimitri tem algo com isso? — Se vira para me encarar. — O que
você disso?
— Respondendo a primeira pergunta, não tenho ideia. — Admito. —
E quanto a minha reação, dei um chute no saco dele. — Allyssa ri. — Ele
ameaçou tirar Charlie de mim.
Ainda estou tentando não me irritar com quão baixo ele foi, ameaçar
tirar minha filha? Foi ridículo.
Allyssa fica séria, por um segundo fico preocupada com a expressão
em seu rosto.
— Aquele safado, filho de uma anta. — Começa a andar em direção
a porta. — Não posso acreditar nisso, como ele pode? Fique tranquila, vou
falar com Dimitri e ver se ele coloca algum juízo na cabeça do Dominic.
Como a mulher sábia que sou, sigo Allyssa, surpresa por ela sair da
casa e caminha na direção de um carro preto, um homem corre para abrir a
porta para ela.
— Dimitri tem uma reunião na empresa. — Diz.
— E minha filha? — Pergunto, não gostando da ideia de deixar
Charlie para trás.
Allyssa revira os olhos e acena para eu entrar no carro logo.
— Estamos indo atrás do meu marido, não para a China. — Declara
impaciente. — Charlie está segura aqui.
Confiando nela, fico mais tranquila, considerando a quantidade de
carros e pessoas em volta, Charlie está segura. Durante o caminho, conto para
ela sobre minha vida no Brasil e como as coisas por lá.
— Você é algum tipo de super mulher? — Fala, sem acreditar que eu
era das operações especiais.
Dou de ombros.
— Me sinto poderosa com uma arma nas mãos. — Admito. —
Embora o trabalho seja estressante.
Não lhe conto a razão que me fez fugir do Brasil e me afastar de
minha família. Quando penso em tudo o que aconteceu, não posso deixar de
me arrepender de ter entrado para a polícia, sonhado com um país mais
seguro. Tem coisas que são impossíveis.
O carro para em frente a um prédio alto e moderno, só pela fachada
percebe-se que os Petrov são uma família muito poderosa. Entrar em uma
briga pela custódia de Charlie contra eles seria uma batalha perdida. Além de
dinheiro e influência, eles podem proteger minha filha, ao contrário de mim,
que a coloquei em risco.
— Não fique nervosa. — Allyssa me tranquiliza. — Falarei com
Dimitri, vou convencê-lo a mudar de ideia.
É difícil a acreditar que um membro da família iria interceder por
mim, minha melhor chance contra eles é fugir e me esconder.
— Espero que sim, do contrário irei matar Dominic. — Respondo
séria, Allyssa ignora meu tom de voz e dá risada.
Já matei antes, não excitaria em fazer isso novamente pela minha
filha.
— Não vamos chegar a esse ponto.
O motorista desce do carro e abre a porta, saímos e caminhamos para
dentro do prédio. Muitas pessoas param para olhar Allyssa, ela é como uma
celebridade por aqui, muitos saem do seu caminho, alguns param para
conversar e puxar saco. O show só termina quando entramos no elevador e
ela insere uma chave que nos leva direto para o último andar.
— Seu marido não vai ficar irritado?
Acenando com a mão, nega.
— Sou uma mulher grávida, ele vive a minha disposição. — Pisca.
Sei ao que se refere, quando estava grávida, uma coisa difícil de lidar
é todo o tesão que vem com a gestação.
— Entendo, mas aqui é o... — Não termino minha frase, as postas se
abrem e um grupo de homens nos encara.
— Senhoras. — Dimitri cumprimenta, disfarçando a surpresa. —
Está tudo bem?
— Tudo certo. — Se vira para os homens. — Se importam de nos dar
licença?
Os homens encaram Dimitri, esperando por sua resposta.
— Ouviram minha mulher, saiam daqui.
Sua ordem coloca os homens praticamente correndo para entrar no
elevador. Depois que todos saem, Allyssa caminha para a sala de Dimitri, eu
a sigo de perto, sem saber o que fazer. Assisto enquanto a mulher dá a volta
na mesa e se senta na cadeira de seu marido.
— O que faz aqui e sem segurança? — Cruza os braços e a encara.
— O motorista está no carro. — Dá de ombros. — Vim para falar
sobre o seu irmão.
— Sei qual é o plano, ele me pediu permissão. — Responde.
— Não posso acreditar que permitiu que ele a ameaçasse usando a
filha. — Ela bate na mesa irritada.
— Dominic quer conhecer a filha, passar um tempo com a menina, ao
contrário da nossa história, foi ela quem fugiu. — Aponta o dedo na minha
direção com desprezo.
— Ela deve ter os seus motivos. — Allyssa me defende. — Não é
nossa história para se meter.
Recuso-me a ficar em silêncio, saindo como a vilã da história quando
o verdadeiro bastardo em tudo isso foi Dominic. Eles pensam o quê? Que nós
fodemos em um dia e na manhã seguinte acordei sabendo estar grávida?
Acreditam que fugi de propósito para esconder a minha filha?
— Dominic estava vendo outra mulher. — Murmuro, ambos me
encaram. — Eu ia dizer estar apaixonada, na manhã seguinte uma mulher
ligou no seu telefone, atendi sem querer pensando ser o meu.
Dimitri me encara m silêncio por um momento.
— Estranho, as únicas mulheres que tem seu número fazem parte da
nossa família. — Explica. — Nossas irmãs, Abby e Willow, e minha esposa
Allyssa.
Nunca senti que cometi um erro, até esse momento. Será que cometi
um erro com Dominic?
— De qualquer forma, isso não importa. — Mesmo que tenha
cometido um erro, não posso mudar o passado.
A porta do escritório se abrindo nos interrompe, assisto Dominic
entrar no escritório com uma raiva mal contida, o pior é que o bastardo tem
um sorriso no rosto.
— Eu sabia que tentaria convencer Allyssa a intervir com Dimitri. —
Diz, agarrando meu braço. — Você é manipuladora.
Ignoro suas acusações, e encaro seu irmão mais velho.
— Não vou me casar com essa anta, nem amarrada. — Estou
determinada. — Mal nos conhecemos.
Dimitri deu a volta na mesa e está sentado com Allyssa em seu colo,
nos encarando e ponderando, divertido com essa situação constrangedora.
— Está fugindo de alguém, certo? — Aceno, confirmando. — Se eu
te disser que podemos te proteger, isso é claro se aceitar ficar na nossa casa e
permitir que meu irmão conheça a filha?
Puxo meu braço, me livrando do aperto do Dominic.
— Isso é maluquice! Não quero nem mesmo estar perto dele, nós mal
nos conhecemos. Sem contar que Charlie quer viajar, não ficar presa na sua
casa.
— Tudo bem, vou pedir para um amigo meu lidar com essa situação.
— Que situação? — Peço, nervosa com o tom de ameaça em sua voz.
— Um advogado, não pode negar os direitos que meu irmão tem. —
Sorri sem humor. — Por mais idiota que ele seja, nada te dá o direito de agir
como bem entender.
— Não estou negando-lhe o direito de conhecer a Charlie, apenas não
vejo razão em nos casarmos. — Explico.
Dimitri Petrov é bom em controlar suas emoções.
— Querem saber? Vocês vão nessa maldita viagem, e não vai para
nenhum lugar perto. — Manda. — Ficarão uma semana lá, e não se
entenderem, ficarão mais tempo, e pelo frio nessa região, sugiro que façam as
pazes de uma vez.
Seu tom de voz não abre espaço para discussão, sei quando preciso
me calar e recuar e esse é um desses momentos. Dominic, que conhece seu
irmão melhor, acorda para a vida e tenta negociar.
— Charlie não vai aguentar tanto frio, ela...
— Cale-se. — Dimitri interrompe o irmão, com gesto de mão. — Sou
o chefe aqui, eu mando e você obedece. Se eu quiser que vá se foder, você
vai e faz.
Em uma mudança de comportamento impressionante, Dominic
aceita.
— Quando?
— Hoje mesmo, vou pedir para alguém deixa-los próximo do lugar.
— Nós dois? — Estou incrédula que esse estranho está tentando
mandar em mim.
— Fique tranquila, irei cuidar da Charlie, ela vai estar segura
conosco. — Me garante.
— Isso é ridículo! Não vou.
— Vão sim. — Pulo no lugar com seu tom de voz. — E só voltarão
quando tiverem se entendido, ou que um esteja no hospital. Agora, saiam da
minha sala.
Dominic segura meu braço e me arrasta para fora da sala, sem parar
até que estamos no elevador, onde me solto e vou para o canto mais distante e
evito olhar em sua direção. Como acabei nessa situação? Essa família só tem
loucos, e de alguma forma acabei em presa em suas loucuras.
Quando paramos na garagem subterrânea finalmente explodo.
— Você é um idiota!
— Você é aquela que nos meteu nessa furada, se tivesse dito sim em
vez de correr para ele, estaríamos em casa planejando um casamento. —
Rebate. — Em vez disso, estamos indo para o fim do mundo em um frio do
caralho.
Ignoro tudo o que ele disse.
— Não. — Aponta para o carro preto com um homem parado ao
lado, a porta dos fundos está aberta. — Tudo já está em ordem.
— Quero me despedir da minha filha.
— Dimitri não é um idiota e nem eu, sabemos o que quer fazer. —
Caminhamos para o carro e entramos. — Vamos pegar essa merda de avião, e
lá você liga para ela.
— Te odeio.
— Não pense que te amo. — Avisa.
Por algum motivo seu comentário mexe comigo, fazendo meu peito
doer. Dominic me odiar é tão ruim? Lutei para acabar com o amor que sentia
por ele, e agora que ele está na minha vida novamente, estou lutando com
tudo o que tenho.
Vamos em silêncio o resto do caminho, quando chegamos na pista
saio do carro e entro no avião. Já estive em alguns aviões antes, mas esse
além de ser enorme é muito luxuoso.
— Caso queira se deitar, tem um quarto nos fundos. — Avisa.
Aceno, e me sento, prendo o sinto e permaneço em silêncio enquanto
levantamos voo. Depois do aviso de que podemos andar pela cabine, solto o
sinto e vou para o quarto, que sem dúvida, é tão luxuoso quanto o resto. Tiro
meus sapatos e me deito, mesmo sem sono, qualquer coisa é melhor que
aturar o olhar irritado de Dominic.
Não fico sozinha por muito tempo, logo a porta se abre e Dominic
entra, tira a roupa e se deita ao meu lado na cama.
— O que diabos está fazendo? — Pergunto.
— Estou cansado. — Responde e se vira.
Bom para ele!
Não consigo relaxar sabendo que ele está nu deitado ao meu lado.
Capítulo 4
Dominic
Eduarda está enganada se pensa que irei facilitar sua vida, é sua culpa
estarmos nesse avião indo para um lugar mais frio ainda. Em baixo das
cobertas, fico em silêncio, sei que ela está acordada, posso sentir sua tensão e
de um jeito maluco, isso me excita.
— Pode ao menos colocar suas roupas?
— Não, estou bem assim.
— Acontece que eu não estou!
Dou risada.
— Isso tudo é medo de não resistir? Fique sabendo que vamos ficar
no mesmo quarto seja lá onde estamos indo, e não vou dormir no chão. —
Aviso.
— Ridículo.
— Gostosa. — Rebato no mesmo tom. — Mas, por mais gostosa que
seja, não vou te tocar a não ser que implore.
Assunto encerrado, cubro minha cabeça e durmo. Quando acordo,
Eduarda está enrolada no meu corpo, tentando se aquecer. Essa cena me faz
imaginar como seria nossa vida juntos se as coisas não tivessem ficado
confusas. Como não posso mudar o passado, vou me empenhar em tornar
nosso futuro junto, uma realidade.
Infelizmente, Eduarda acorda antes que minha imaginação possa
correr solta.
— O que diabos está fazendo? Será que pode não me agarrar
enquanto durmo? — Salta para longe e se levanta.
— Quem tentou me agarrar foi você. — Sorrio satisfeito com seu
rosto corado. — Caso não tenha percebido, nem me movi.
— Mentiroso. — Bate os pés.
— Você tenta me desvirtuar, e coloca a culpa em mim?
— Essa barraca aí, deixa vem claro quem ia desvirtuar quem. —
Entra no banheiro.
Salto da cama e a sigo.
— Isso é divertido.
Se vira para me encarar.
— Será que pode não me seguir?
— Estamos presos em um avião que só tem um banheiro, também
quero me cuidar. — Sinalizo para o meu pau duro.
— Patético.
— E você é um tesão. — Rebato, ligando o chuveiro e entrando na
água ainda fria.
Notando seu interesse mal disfarçado, acaricio meu pau, gemendo
com o pensamento dela de joelhos me chupando.
— Desprezível.
— Está gostando da vista, aposto que sua buceta está molhadinha
pronta para ser fodida.
— Nos seus sonhos.
— Seu que essa boceta gostosa está doida para ter alguma ação. —
Ignoro seu comentário.
Eduarda é como um gato, ela arranha sempre que pode, e não
diferente, eu devia saber que meu comentário desencadearia uma reação.
— Não pense que seu pau pequeno faz algo por mim.
Qualquer homem no meu lugar ficaria irritado e se encolheria diante
de seu comentário, mas a questão é, meus 22 centímetros dão muita
confiança.
— Me lembro de quando estivemos juntos, como quicava no meu pau
e pedia por mais dizendo o quão gostoso era sentir meu pau enorme dentro de
você. — Lembro.
Saindo irritada do banheiro e batendo a porta, termino o meu
negócio, me limpo e saio do banheiro. Quando saio do quarto, me sento ao
seu lado e logo o piloto avisa que estamos prestes a pousar. A viagem foi um
pouco longa, e quando desço do avião, sinto a súbita vontade de matar
Dimitri.
— Seu irmão é um idiota. — Eduarda diz furiosa ao meu lado.
— Sei disso a vida toda, é melhor aceitar de uma vez. — Rebato.
Dimitri sabe melhor do que ninguém que odeio frio, e me mandar
para esse lugar em que a temperatura em um dia normal é cinquenta graus
negativos, é maldade pura. Como ele ousa fazer isso com seu irmão mais
novo?
— Não tenho que aceitar nada! — Cruza os braços. — Não
estaríamos nessa situação se não fosse por sua causa. Então deixa de ser um
idiota, caso contrário vai lamentar com razão.
Eduarda se afasta de mim. Saindo do avião tem um carro nos
esperando, devido ao mau tempo, tivemos que parar em um ponto mais
distante do nosso destino e teremos que dirigir até lá.
— Seu irmão me pediu para avisar que “se você sair da rota
determinada, sua vida vai se tornar um inferno”. — Ele faz as aspas com a
mão.
— Agradeço o empenho em me transmitir o recado. — Digo em um
tom irônico e me afasto.
Eduarda como a teimosa que é, esta tremendo de frio. É claro que a
mulher prefere congelar sua bunda magra, em vez de vestir as roupas que
meu irmão enviou para ela. O que passa em sua cabeça? Ser estupida a ponto
de pensar que vai passar por esse frio com uma blusa fina?
Pego um casaco de pele do banco de trás do carro e entro para ela.
— Aqui.
— Eu... Não... Preciso. — Seus lábios, assim como seu corpo está
tremendo de frio.
— Não seja idiota. — Entrego o casaco. — Vista logo isso ou vai
congelar. — Contra a vontade, ela veste o casaco. — Viu só, não doeu.
Revirando os olhos, coloca o cinto de segurança.
— Estamos muito longe? — Ela faz um biquinho, alongando a
palavra “longe”, o que a deixa com uma expressão fofa. Esse seu jeito me
lembra dos nossos velhos tempos, a saudade é como um soco no estômago.
— Um pouco, passaremos a noite em uma pousada no caminho.
Concorda e olha pela janela.
— Por que tem que ser tão frio?
— Não faço ideia. — Respondo, sem ter certeza se está falando
comigo ou não. — Vindo do Rio de Janeiro, deve estar acostumada ao outro
extremo.
— É como se o inferno tivesse congelado, o outro extremo do lugar.
Concordo.
— Dimitri está determinado em nos ensinar uma lição. — Comento,
decidindo mudando de assunto. — Me fale sobre você.
— Por que quer saber a meu respeito?
A resposta certa seria, porque te acho fascinante, mas em vez disso
digo:
— Meu irmão quer que te conheça, não vamos voltar enquanto não
nos empenharmos nisso.
— Ele é um filho da puta. — Quero rir da quantidade de vezes que
ela já disse isso.
— Já falou isso algumas vezes. — Faço uma curva na estrada.
— A próxima vez que o ver, vou dar um chute nele.
Dou risada.
— Vai comprar uma briga com Allyssa, ela quer mais filhos e precisa
das partes masculinas do meu irmão funcionando.
— Aposto que sim. — Ri. — O que quer saber?
— Namorado?
— Charlie consome muito tempo, ninguém entende o quão
importante ela é e como seu bem-estar vai sempre vir em primeiro lugar. —
Responde. — Fugir também consome parte da minha energia, então sua
resposta é não.
— Estou aqui, pode contar comigo. — Viro e olho para ela, suas
mãos cruzadas em seu colo. — Podemos ser uma família.
Preciso que entenda que posso ser o homem ao seu lado, ser aquele
que vai cuidar dela e varrer todas suas preocupações. Tudo o que preciso é de
uma chance.
— Você não é muito discreto. — Bufa divertida.
— Estou apenas dizendo que nos demos bem no passado, não há
razão para lutar tanto agora.
— Dominic, nós mudamos e somos pessoas diferentes. — Se mexe
nervosa no acento. — Não sou mais aquela mulher que sonhava em
conquistar o mundo, sou uma mãe e meu foco é proteger minha filha.
— Entendo.
Isso vai levar tempo, e não gosto disso.
— Não, não entende. — Rebate. — Você gosta de brincar com as
pessoas. Ser um pai não é como uma aventura de uma semana que pode se
divertir e uma semana depois seguir em frente, como fez comigo.
Não entendo onde ela quer chegar com isso, e fico com raiva.
Eduarda foi aquela que fugiu, nem mesmo se despediu e agora me trata como
um vilão.
— Foi você que fugiu.
Minha resposta a irrita.
— Não acha ridículo jogar a culpa em mim? Pensou o quê? Que seu
próximo caso chegaria e eu estaria implorando para que não me largasse?
Que porra é essa?
— Do que está falando?
— A garota na balada, aquela que deu seu número e combinou de
passar uma semana com ela?
— Eu não... — uma lembrança daquela noite vem a minha cabeça. —
Aquela mulher pediu meu telefone emprestado, não passei meu número, ela
deve ter me enganado e chamado seu próprio número.
— E como explica o negócio de uma semana?
— Nós falamos sobre isso em algum momento e ela escutou. —
Duda me olha horrorizada.
— Além de idiota, fui taxada de puta. — Zomba.
— Claro que...
— Dominic, cale-se. — Me interrompe. — É o melhor que pode
fazer.
Vejo que ela está determinada em me ignorar.
— Me ignorar não vai nos ajudar nessa situação.
— Mas vai impedir que eu te mate.
— Por que tem que ser assim?
— Fui estúpida uma vez ao me apaixonar por alguém que me fez
parecer uma puta.
— Está apaixonada por mim?
— Estava, não vou cometer o mesmo erro. — Dá de ombros. — Por
que parece noite aqui?
— O sol aparece apenas algumas horas nessa região.
— Ótimo, nem sol temos para diminuir esse frio.
— Posso te aquecer.
— Prefiro morrer congelada do que estar perto de você. —
Resmunga.
— Talvez seja uma boa ideia, assim fico com Charlie.
— Se pensa que vou facilitar as coisas está enganado. — Diz
determinada. — Talvez eu te mate, soube que nessa região os corpos são
queimados porque o gelo não deixa que se decomponham.
— É uma boa coisa, você sempre deixa um rastro de morte em seu
caminho.
— Sou uma lutadora. — Dá de ombros.
Decidido a não entrar em mais uma discussão com ela, prefiro ficar
em silêncio e evitar uma provável dor de cabeça no futuro. Nem sempre se
pode ganhar e Duda é pior que uma parede nesses momentos.
— Não dá para discutir com você, sempre com um argumento. —
Finalmente falo.
— Está apenas com raiva por não conseguir me vencer.
— Em breve não precisaremos discutir, daremos outra utilidade para
sua boca. — Pisco a provocando. — De preferência com ela em volta do meu
pau.
— Talvez possa dar uma utilidade para minhas mãos e o arranque
fora. — Olha em volta, não há nenhum lugar por perto. — Aonde vamos
comer? Estou morrendo de fome.
— Tem uma garrafa térmica no banco de trás, nela há um caldo e
temos também salgadinhos. — Aponto para o banco atrás de mim. — Não há
nenhum restaurante por aqui.
— Não?
— Você colocaria um restaurante na beira de uma estrada congelada,
aonde sabe que ninguém passará? — Dou um olhar incrédulo para ela.
— Tem razão. — Ri, percebendo seu erro. Se inclinando ela pega a
garrafa térmica e derrama um pouco do caldo na tampa. — Quer?
— Agora não.
Acena e volta sua atenção para a janela, enquanto toma o caldo
calmamente. Não estou pronto para o silêncio que toma conta do carro, ainda
tenho perguntas não respondidas que em algum momento terão de vir a tona.
— Por que não me confrontou?
— O quê?
— Quando a garota ligou, por que não me perguntou na mesma hora
em vez de fugir?
Eduarda sempre foi tão direta e comunicativa, ela nunca escondeu o
que queria de mim e como queria. Nunca se importou se estava me
agradando ou não, por isso que quando sumiu pensei ter se cansado de mim,
não pensei que fugiu por desconfiar da minha lealdade.
— Eu... Não sei.
— Penso que sei o que aconteceu. — Luto para esconder meu sorriso.
— Sabe? — Me encara confusa, esperando pela resposta.
— Sei, mas não acredito que esteja pronta para saber. — Mantenho
minha atenção na estrada. — Por enquanto, preciso apenas dê uma
oportunidade, quero provar que sou um, cara bom. — Desvio o olhar por um
momento. — Sinto que me deve isso.
— Vou pensar.
Sua resposta me deixa aliviado.
Eduarda pode não saber, mas quando fugiu em vez de me confrontar,
ela não estava irritada, e sim correndo para longe do que sentia por mim. Ela
se apaixonou por mim, e correu com medo.
Capítulo 5
Eduarda
Estar perto do Dominic está mexendo com a minha cabeça, devo
estar louca em ao menos cogitar a possibilidade de dar-lhe outra chance. Sem
contar que ele disse ter entendido a razão da minha fuga, me assusta a
conclusão que possa ter chegado.
Procuro um CD no (porta) luvas e encontro um do The Weekend, um
dos meus músicos favoritos.
— De quem é esse carro? — Pergunto satisfeita com o bom gosto
musical do dono.
— Não sei, é alugado. — Dá de ombros.
— Devia ter um CD aqui?
— Pedi para colocarem, Charlie me deu algumas dicas. — Responde,
me pegando de surpresa.
Quando ele teve tempo para conversar com ela?
— Quando conversaram?
— Assim que me recuperei do chute que me deu, sabia que posso ter
problemas para ter filhos no futuro, graças a seu chute?
— Deixe de ser um idiota.
— Estou falando sério.
Dominic entra com o carro em uma estradinha que leva até uma
casinha de madeira com o aspecto de abandonada.
— Que lugar é esse? — Avaliando o lugar tenho a sensação de que
estamos em um filme de terror. — Se alguém tentar nos matar nesse lugar,
vou sair correndo e te deixar para trás. — Aviso.
Dominic desce do carro e dá a volta até o meu lado, me recuso a sair
daqui. Se algum assassino ou monstro sair desse lugar, estou pronta para
fugir e deixá-lo na mão. Quando ele abre a porta, tento lutar e segurá-la, mas
Dominic é mais forte.
— Eduarda Emerson, com medo de assassinos? — Provoca, me
puxando para fora.
Agarro-me a ele.
— Já assistiu filmes de terror? Sabe a diferença entre o meu país e o
seu? Não temos filmes de terror nacionais bons, nem casos de fantasmas. —
Respondo.
— E quanto aos filmes orientais?
Penso por um momento e dou de ombros.
— São mais nojentos do que assustadores, embora eu tenha chorado
com o final de Trem para Busan. — Penso em outros filmes que amo. —
Sempre me envolvo emocionalmente nos filmes orientais.
— Por quê? — Me olha como se eu fosse maluca.
— Eles são gatos.
Paramos em frente a porta e ele me coloca atrás dele, me dando um
beijo na boca, é tão rápido que não tenho tempo para reagir e protestar.
— Apenas no caso de ter um assassino atrás da porta. — Pisca de um
jeito safado.
— Muito engraçado. — Faço uma careta, quando abre a porta fico
em silêncio.
Ao contrário da atmosfera do lado de fora, dentro, o chalé é lindo,
com móveis em tons amadeirados, uma lareira enorme de pedras que fica ao
lado de uma recepção aconchegante. É o cenário perfeito para um filme de
fantasia, ao contrário do lado de fora.
— Gostou? — Dominic sussurra.
— É lindo.
— Sabia que gostaria daqui.
Aproximamo-nos da recepção, uma senhora idosa que parece a
mamãe Noel com seus cabelos grisalhos, óculos redondos de lente grossa, e
um suéter grosso, está sentada lendo um livro. Provavelmente fingindo que
não nos viu, dando-nos privacidade.
— Olá bem-vindo a pousada Café Cuba, sou Julia e vou atendê-los
no que precisarem. — Diz com a voz baixa.
O nome que dei para ela combina mais com sua imagem do que
“Julia”.
Sorrio-lhe, mas é Dominic quem toma a frente.
— Obrigado, nós queremos um quarto.
Quero protestar, mas considerando a nossa situação e o medo de ter
pega por bandidos ou dos meus perseguidores nos encontrarem aqui, é
melhor estar perto de Dominic. Isso, e também quero saber até que ponto ele
pretende ir.
— Lugar estranho para um casal passa a lua de mel. — Comenta a
senhora.
— Nossa filha insistiu devermos conhecer esse lugar. — Diz ele, e a
mulher procura em volta por uma criança. — Infelizmente ela não pode vir.
— Crianças. — Forço um sorriso.
Dominic está tramando algo, pelo jeito que está sorrindo, mas não
vou fazer nenhum comentário, como disse, estou interessada em saber aonde
ele quer chegar com toda essa palhaçada. Como dizem no Brasil, “dar corda
para se enforcar”, e quando ele estiver pronto, chutarei o banco e assistirei à
cena dando uma risada maligna.
— Aposto que estão com fome e frio. — Dá a volta no balcão. —
Vou trazer para vocês um Russki Chai. — Não leva muito tempo e ela volta
com dois copos, viro o copo de uma vez, precisando me aquecer, meu nariz
está congelado.
— Vai com calma, isso é Vodka. — Dominic me encara, depois que
já bebi tudo.
— Pensei que fosse chá, ela disse ser. — Me defendo.
— É assim que chamamos a vodka aqui, sorte sua que temos as
melhores. — Se gaba, estufando o peito orgulhoso.
— Ótimo, ignoro. — Nem um pouco feliz
— Deve ensinar a sua esposa mais sobre nosso país. — A senhora o
repreende.
— Pode deixar. — Pisca, fazendo a velha corar!
Que tipo de idiota faz uma senhora doce corar?
Velha safada!
— Aqui está a chave do quarto, a lareira já está acesa. — Avisa. —
Albert meu filho, irá levar algo para comer.
Sigo Dominic para o quarto que fica no andar de cima. O filho da
puta está rindo do nome do garoto, e não tenho certeza do motivo. Quando
entramos no quarto, fico mais tranquila e meu corpo imediatamente relaxa.
Todo o lugar parece ser digno de um filme de conto de fadas.
— É lindo.
— Sim, mas não se anime, amanhã iremos prosseguir com nossa
viagem.
— Aonde vamos?
— Uma vila chamada Oymya Kon.
Os russos adoram dar significado para as coisas.
— Significa o quê? — Pergunto, entrando no banheiro pequeno e
charmoso.
— “Água que não congela”.
Dou risada.
— Que tipo de água não congela nesse lugar?
Dominic ri da minha resposta.
— Eles têm esse nome devido às fontes de água quente subterrâneas,
isso impede o congelamento do rio da região. — Explica.
— Deve ser lindo.
— Deite-se. — Manda, mexendo no fogo da lareira.
— O quê? — Me assusto com sua ordem.
— Não vou te foder, nem se me pedir. — Responde. — Você precisa
se aquecer, seus sapatos não são feitos para esse frio e suas roupas são finas.
Vou pegar roupas adequadas na mala.
Fico surpresa com seu cuidado. Nunca vi esse lado do Dominic,
mesmo no nosso tempo junto as coisas foram intensas, divertidas, e ele me
respeitava, mas demonstrações de cuidado como essa não fizeram parte do
acordo.
— Obrigado.
Quando ele sai do quarto, tiro a roupa e tomo um banho. O frio me
deu preguiça, mas detesto a ideia de me deitar e dormir suja. Entro em baixo
da água e molho minha cabeça, lavo meu corpo devagar, de costas para a
porta.
— Colocou silicone na bunda? Ela está maior, mais gostosa. — A
pergunta dirigida a mim me dá um susto e me faz pular. Pego a toalha e me
enrolo.
— Não sabe bater?
— A porta estava aberta, pensei ser seu jeito sutil de me convidar
para tomar banho. — Seu sorriso safado só serve para me irritar.
Tento passar por ele indo para o quarto, mas Dominic se aproveita e
arranca a toalha do meu corpo, me deixando nua e colada a ele.
— A gravidez te fez bem. — Olha para baixo entre nós, seus olhos
demorando em meus seios.
Empurro ele com força.
— Pode parar de ser um idiota e me devolver a toalha?
Sorri de um jeito safado.
— Não, gosto de te ver nua. — Pisca e se joga na cama. — Na
verdade, vou aproveitar o show. — Coloca os braços atrás da cabeça e me
observa.
Uma batida na porta do quarto me faz saltar, sou a pessoa mais
próxima da porta e vejo isso como uma oportunidade de provocar Dominic.
Ele percebe o que estou pensando e me encara com medo que eu atenda a
porta.
Se esse filho da puta quer jogar, vamos fazer isso.
Ando até a porta e abro, me deparando com um jovem de uns 19 anos
com um corpo atlético que me encara de bora aberta. Mal tenho tempo para
dizer oi, Dominic pula na minha frente e me empurra fora de vista.
— O que você quer?
— A... minha... mãe... — Balança a cabeça tentando organizar seus
pensamentos, só então continua. — Ela mandou comida.
— Obrigado. — Dominic pega a bandeja e bate a porta na cara do
garoto.
Pensei que levaria minha atitude na brincadeira, mas sua expressão
de raiva diz outra coisa.
— Que porra você tem na cabeça? — Coloca a bandeja na cômoda e
me encara, com a mão no quadril.
Dou uma risada zombeteira.
— A próxima vez que roubar minha toalha, sairei pelada por aí. —
Aviso.
— Não faria isso.
— Quer apostar?
— Sei que não vai fazer.
— Como pode ter tanta certeza?
— É difícil sair por aí se estiver presa na cama. — Dominic me pega
de surpresa, ele me joga na cama e sobe em cima de mim, prendendo meus
braços.
— De onde tirou uma algema? — Pergunto, tentando me libertar.
— Quando soube que viajaria com você. — Ri me observando. —
Essa foi uma das poucas coisas que não tentamos no nosso tempo junto.
— Eu te odeio.
— Vamos ver quanto tempo esse ódio vai durar. — Dominic se
afasta e para em pé em frente a cama. — Você é uma coisinha tentadora.
— E você é ridículo, estou com fome, precisa me soltar. — Luto com
mais força.
— Eu vou te alimentar. — Pegando a bandeja, sobe na cama e coloca
do meu lado.
— Acredito que vou matá-lo até o fim dessa viagem.
— Amor, não prometa coisas que não pode cumprir. — Me provoca.
— A não ser é claro, que sejam promessas safadas. — Derramando algo em
cima de uma fruta, fazendo com que uma gota caia entre os meus seios.
Não posso controlar o arrepio que percorre meu corpo, quando
Dominic se inclina e limpa com a língua.
— Ahh. — Gemo, sem querer.
— Tudo o que precisa fazer é pedir.
— Nem morta.
Dominic se diverte me torturando, sempre que vai me alimentar com
algo ele “acidentalmente” derruba algo em cima de mim e limpa com sua
boca. Em uma das vezes, sugou meu mamilo entre os dentes. Estive prestes a
jogar tudo para o alto e ceder, mas isso facilitaria as coisas, e se Dominic
quer algo comigo, vai ter que correr atrás.
Depois que termina com seu show, Dominic me cobre e vai tomar
banho, voltando pouco tempo depois nu e se deita ao meu lado. Enquanto
andava, percebi duas coisas nele que não notei antes.
— Apreciando a vista?
— Quando furou seus mamilos e seu pau? — Pergunto.
— Pouco tempo depois que me deixou, você disse gostar de caras
que tinham piercing no pau. — Dá de ombros. — Pensei que seria uma forma
de me lembrar de você.
— Ao menos alguém ficou com uma lembrança boa. — Lembro da
raiva que senti com a ligação da puta.
Capítulo 6
Dominic
Não vou correr o risco estando ao lado da Eduarda, que tipo de
mulher maluca atente a porta nua? Ainda mais com seu homem há poucos
metros dela, tendo que aturar um adolescente de merda admirando o que é
dele.
Não tenho vergonha de admitir que a intenção ao torturá-la era fazer
com que implorasse para me ter dentro dela, mas no fim das contas, o único
que se torturou fui eu. Depois de uma breve conversa, ela se arrumou na
cama e dormiu, virada para o outro lado. Espero alguns minutos e a puxo
para os meus braços.
— Dominic? — Acordo com Eduarda chamando meu nome. —
Acorda.
— O que foi? — Pergunto sonolento.
— Tem alguém aqui, eu ouvi tiros. — Vejo que está desesperada.
— Vou ver. — Digo já me levantando.
— Me solte. — Pede.
— Só vou ali...
— Não me deixe vulnerável.
Observando o medo em seus olhos, pego a chave da algema e a solto.
Nós nos vestimos rapidamente. Abro minha mala e pego uma arma, Eduarda
vem ao meu lado e estende a mão esperando que entregue uma para ela.
— Não vou atirar em você, minha filha está com seu irmão e não sei
voltar para Moscou.
De um jeito engraçado, sua resposta me faz entregar a arma em sua
mão. Saímos do quarto e posso notar uma movimentação estranha, tem
alguns homens conversando no andar de baixo, e todos falam russo, em
algum momento escuto meu nome.
— Quem são esses homens? — Eduarda sussurra atrás de mim,
apontando a arma para a escada.
— Não sei, mas estão atrás de mim.
— Por quê?
— Poder. — Resumo.
— Temos que sair daqui.
Por mais tentador que seja, não posso sair daqui desse jeito, antes
preciso descobrir quem está por trás disso e ensinar uma lição.
— Não vou deixar que desça e morra, somos uma maldita equipe. —
Diz irritada. — Saímos daqui juntos, ou morremos e deixamos nossa filha
sozinha.
A conheço bem, e sei que não está de brincadeira.
— Tudo bem, vamos embora.
Escuto passos se aproximando da escada, Eduarda e eu ficamos
tensos.
— Temos que ir agora.
Enquanto nos preparamos para sair, escuto a voz da velha senhora,
ela está dando instruções para eles, a velha está do lado deles.
— Eles estão no segundo quarto, o chefe quer ambos vivos. — Diz.
— Se ele resistir, mate a mulher, mas não toque no Petrov.
— Filha da puta. — Duda Sussurra.
— Vamos. — Pego seu braço e a puxo.
Abro a porta de um quarto qualquer, caminho até a janela e abro,
posso ver nosso carro daqui.
— O que está fazendo?
— Vamos sair por aqui. — Aponto o óbvio.
— Nós iremos nos machucar. — Responde.
— Se cair vai ser em um monte de neve, é melhor que tomar um tiro.
— Tem razão. — Escutamos passos perto da porta, Eduarda se
apressa e passa pela janela, fico surpreso quando aterrissa em pé. — Vamos
de uma vez. — Sussurra fazendo sinal com as mãos.
Sigo seu exemplo e pulo, no chão corremos para o carro estacionado
nos fundos da casa. O frio nos castiga, sinto minha pele pinicar e Eduarda
está tremendo sua pele está pálida e seu nariz tem um tom avermelhado. Para
nossa sorte, os idiotas não pensaram em foder com o carro para impedir algo
assim.
Dirijo com os faróis desligados para não atrair sua atenção.
— Da próxima vez que seu irmão tiver uma ideia idiota como essa,
ele deve ao menos garantir que ninguém está tentando sequestrar alguém de
sua família. — Eduarda nem mesmo toma uma respiração enquanto reclama.
— Aquela mulher falou em um chefe, tem alguma ideia de quem te
quer vivo?
Me sinto ofendido com como sua pergunta soa.
— Para começar, meu pai, irmão, irmãs... — Eduarda me dá um, tapa
no braço.
— Estou querendo dizer o que querem com você?
— Pensa que eu queria ficar lá porquê? — A encaro.
— Se tivesse ficado teriam te torturado.
Pensando no histórico da minha família e em como lidamos com as
pessoas, Eduarda está certa. Meu destino teria sido um pouco pior do que a
morte, isso é claro, se essas pessoas têm alguma experiência como nós.
Tenho muitas coisas para explicar para Eduarda, principalmente no
que se refere a minha família e os nossos negócios. Mas os faróis atrás de
nós, chamam minha atenção esse carro estava na garagem perto do nosso.
— Mantenha a velocidade.
— O que acha que vou fazer? — Encaro a mulher teimosa ao meu
lado. — Espera que eu pare o carro e diga “Ei! Pessoal, querem uma carona
ou talvez matar minha namorada e eu?
— Não sou sua namorada. — Responde, abrindo o vidro do carro.
— O que está fazendo? Feche a janela. — Mando.
— Confie em mim.
— Vai acabar levando um tiro.
— Se esqueceu com o que eu trabalhava? Sei lidar com pessoas
tentando me matar. — Eduarda se pendura pela janela.
— Eu te proíbo. — Digo, irritado por estar preso dirigindo.
— Sorte a minha que meu pai está no Brasil.
A próxima coisa que sei é que vários tiros são disparados, observo
pelo retrovisor que há um homem pendurado na janela, imitando a postura da
dela, o mesmo tem uma arma apontada na nossa direção.
— Péssimo dia para me irritar. — Eduarda diz, puxando o gatilho.
O homem fica pendurado, ela atira mais uma vez fazendo o motorista
perder o controle e bater o carro em um barranco. Eduarda entra e se senta,
com um sorriso satisfeito no rosto.
— Irresponsável.
— Mal-agradecido! Acabei de salvar nossa pele, nunca me senti tão
bem. — A satisfação e alegria vinda dela aplaca minha fúria.
— Não fala mais isso. — Peço.
— Disse que somos uma equipe, se eu estivesse dirigindo teria feito a
mesma coisa. — Diz. — Seus problemas são meus problemas.
Quero rir de sua resposta. Recentemente estava tentando me matar e
quase me deixou impotente, e agora diz que somos uma equipe.
As mulheres são doidas!
— Durma um pouco, daqui a um tempo vou programar o GPS e
deixar que dirija.
— Vamos parar?
— Não, tenho que voltar para a cidade e resolver essa merda com
Dimitri.
— Ok, me chame quando estiver cansado.
Dirijo bastante tempo, até uma pequena cidade próxima de onde
desembarcamos. Sei que a pessoa que está atrás de mim, irá nos seguir e a
primeira coisa que preciso me livrar é do carro.
Quando estamos em um lugar seguro, acordo Eduarda.
— Por que paramos?
— Precisamos abandonar o carro.
— Não me sinto muito animada em andar nesse frio e no meio da
noite.
— Estamos em uma cidade, vamos conseguir outro carro e um lugar
para dormir.
— Não sei se podemos confiar em alguém.
Claro que não vamos dormir em qualquer lugar, não posso arriscar
que alguém tente machucá-la.
— Vamos dormir na casa de um conhecido. — Explico.
Recolho nossas malas e fecho o carro, começo a caminhar, sabendo
que Eduarda vai me seguir.
— Ele mora perto?
— Do outro lado da cidade.
Ela geme.
— Me diga que vamos pegar um táxi.
— Se encontrar um, a essa hora, sim.
— Que tenha um táxi. — Murmura, tropeçando pela milésima vez na
neve.
Para nossa sorte, dez quadras depois um táxi para e passo o endereço
do meu amigo. O taxista parece conhecê-lo.
— Amigos do João?
— Sim. — Confirmo. — Viemos de carona para a cidade e vamos
fazer uma surpresa.
O assunto morre na medida que o homem percebe que estamos
cansados, não muito tempo depois estamos parando em frente a uma mansão
luxuosa. Pago o motorista e ignoro as perguntas da Eduarda, aperto a
campainha e um homem negro e baixinho atende a porta.
— Dominic, há quanto tempo. — Me cumprimenta, parando quando
percebe Eduarda ao meu lado. — Quem é essa Deusa?
— Minha noiva, Eduarda.
— Se deu bem. — Pisca para mim. — Entrem, está um frio
desgraçado.
— Essa é sua melhor opção? Um anão obeso? — Duda murmura no
meu ouvido.
Dou de ombros.
O que posso fazer?
— É o que temos para hoje.
Ela não tem ideia de que João é, na verdade um assassino de aluguel,
um dos melhores e mais caros que já conheci.
Quem suspeitaria de um anão?
Capítulo 7
Eduarda
Ainda não consigo acreditar que esse anão é a única pessoa que
Dominic conseguiu pensar para nos ajudar nesse momento. Quando ele me
disse ter um amigo, pensei em um cara enorme e mal-encarado que assustaria
as pessoas e serviria de escudo humano, um tipo de Hulk.
— O que estão fazendo na cidade? — Pergunta, entregando uma
xícara para cada um de nós.
— Tem algo alcoólico? — Aponto para a xícara em minhas mãos.
O homem ri.
— Fique tranquila, também sou brasileiro, é apenas café. — Me
assegura.
Tudo bem, eu fui uma babaca com esse cara que parece ser gentil.
Isso me incomoda mais, se alguém vir atrás de nós aqui, ele vai se machucar
por culpa do Dominic.
— Sabe de alguém que quer minha cabeça ou provocar meu irmão?
— Não faço ideia, todos que conheço temem sua família. — Se senta
na nossa frente. — Embora, sei que os japoneses estão expandindo o negócio
e sua família pode atrapalhar.
— O que a Yakuza está planejando?
— Eles lidam com prostitutas, drogas e tráfico de mulheres, alguns
desses negócios são da sua família. — Responde. — Dimitri precisa estar
alerta.
— Falarei com ele.
— Enquanto conversa com ele, quero falar com minha filha.
— Nossa. — Dominic me corrige.
— Que seja!
Olho para o relógio, Charlie deve estar dormindo uma hora dessa, e
eu estou exausta de fugir esta noite.
— Pode usar meu escritório para falar com seu irmão.
Ambos se levantam, Dominic segue João pelo corredor, fazendo um
sinal para eu levantar e segui-lo, mas Dom nega.
— Melhor mantê-la fora disso.
João ri e bate no ombro dele.
— Ela vai querer saber no que está pisando.
Dominic bufa irritado.
— Vocês só me trazem problemas.
No escritório, Dominic liga para o irmão, mas não conseguem se
falar. E conforme o tempo passa e ele insiste na ligação, João aproveita o
momento para nos contar sobre sua relação com a Yakuza.
— Devem falar com Kazuo Taoka, o homem não é conhecido como
um Urso assassino, sem um bom motivo. — Continua. — Ele é mortal!
Tomou um tiro no pescoço uma vez, e saiu vivo. Não posso dizer o mesmo
de quem atirou nele.
Encolho-me com o pensamento.
Quanto mais tempo passo com Dominic, mais claro nossa situação
fica e a quão complicada e perigosa é sua vida.
— A Yakuza não é uma máfia “boa”? Vi nos filmes e...
Dominic ri e João bufa.
— Hollywood tem esse hábito de romantizar algumas coisas.
João, ao contrário de Dom, decide ser mais explicativo.
— A máfia japonesa é uma das mais perigosas e rígidas do mundo.
— Diz. — Junte a inteligência e independência, e coloque isso em pessoas
leais e violentas. Como isso te parece?
— Péssimo.
— Eficiente, na verdade. — Continua. — Antes da Segunda Guerra
Mundial eles já empregavam cerca de cem mil homens, depois disso o
número cresceu e acabou se tornando equivalente à metade da força policial
do país. Pelo que sei, hoje em dia são quase trezentos mil.
Admito ser um número assustador vindo do mundo criminoso.
— Achei que fosse apenas histórias...
— Trezentos mil homens são uma pequena cidade. — João me
interrompe.
— Lealdade e divisão de poder, os Kobun são leais. — Acrescenta
Dominic.
— E se não forem leais? — Peço.
— São punidos, pode ser uma surra, perda de um membro ou até
mesmo a morte. — Dominic enumera nas mãos.
Dominic é muito familiarizado com tudo isso, levando as minhas
suspeitas a outro nível.
— Seu irmão faz isso? — O encaro, esperando resposta.
— Manter o controle da família exige algumas medidas de segurança,
se alguém sair da linha, sim, Dimitri o pune.
— E quais são os negócios de sua família?
— Temos uma parte legal das coisas, e a ilegal. — Dá de ombros. —
Na parte ilícita, drogas, armas, e alguns crimes comuns como extorsão.
— Acha isso simples?
João ri.
— Ele cresceu na segunda família mais poderosa do mundo,
perdendo apenas para os japoneses. — Explica. — É a vida dele. Tão comum
quanto ir a praia deve ser para você.
— Se é assim, porque os japoneses não tentam tomar o poder de
vocês?
— Cada um, lida com um tipo de negócio, eles estão na pornografia.
— Dominic responde. — Isso inclui a infantil, e mais o contrabando de
armas, extorsão, chantagem. Os Sakaiya cuidam disso.
Se um traficante qualquer foi capaz de me fazer correr do meu país, o
que a Máfia japonesa pode fazer? Sai da frigideira direto para o fogo, e ainda
trouxe minha filha para essa bagunça.
Me levando e ando pelo escritório, preciso colocar minha cabeça em
ordem, bolar um plano antes de pensar em me livrar do Dominic.
— Disse que estão em todos os lugares.
— Sim, de forma específica no Havaí, Nova Yorl, Nevada e
Califórnia.
— Mais alguma outra máfia japonesa que deva saber?
— Existia, mas Yoshio Kodama uniu e se tornou Oyabun maior.
— A polícia japonesa não está atrás deles? — Tento não me sentir
uma idiota maior lançando todas essas perguntas.
— Não sei, mas o povo os considera como Robin Hood locais. —
Dominic não parece irritado por responder minhas perguntas. — Em 2011
após o tsunami que devastou o Japão a Máfia ajudou os desabrigados, enviou
mantimentos para a população.
— Se eles se ajudam tanto, por que estariam atrás de você? Qual a
necessidade de correr o risco em uma guerra se podem apenas conversar?
Você nem é lá grande coisa.
João ri do meu comentário.
— Gosto dela. — Aponta na minha direção. — Seu namorado é um
tipo de príncipe no nosso mundo.
Simplesmente perfeito!
Tanto homem para abrir as pernas, e eu faço isso justamente com um
mafioso. Que, assim como eu, está com assassinos o perseguindo. Essa
situação toda fica cada vez pior, Charlie deve ter algum Karma com os pais
que tem.
Estou gritando comigo mesma por ser tão estúpida.
— Chega da aula educativa, está na hora das crianças irem para
cama. — João interrompe minha discussão mental. — Descansem, vou falar
com alguns contatos e ver se descubro algo útil.
O seguimos para o segundo andar da casa, e por um momento me
distraio com a elegância de tudo aqui. O quarto que vamos ficar tem portas
duplas madeira, e quando abrimos, nos deparamos com uma cama enorme de
frente para uma lareira acesa.
— Uma das empregadas cuidou de tudo enquanto nós conversávamos
no escritório. — Explica.
— Tem mais alguém na casa? — Meu nível de desconfiança anda tão
alto que a ideia de não ter percebido ninguém me deixa mais alerta.
— Sim, minha esposa e meu filho, eles estão dormindo. — Sorri me
tranquilizando. — Fique calma, não sou um traidor. Dominic sabe em quem
pode confiar.
— Obrigado. — Agradeço, não apenas por nos acolher.
— Disponha. — Fechando a porta atrás de si, me deixa sozinha com
Dom, que a tranca.
Admito que estou irritada, por isso evito conversar com Dominic.
Depois tudo o que aconteceu conosco, não posso acreditar que escondeu
coisas tão importantes de mim, coisas que afetam a vida e segurança da nossa
filha.
— Por favor, não me olha assim. — Pede. — Não comece uma briga.
Bufo indignada.
— Não comece? — Repito a última parte. — Você é um idiota! Está
em uma situação pior que a minha, e ainda tem a coragem de ameaçar tirar
minha filha?
Tudo o que ele fez nos últimos dias foi me ameaçar, tentar roubar
minha filha e manipular as situações a seu favor. Quando, na verdade, foi ele
quem nos colocou em uma enrascada.
— Fique tranquila, vou resolver isso. — Responde.
— Em que sua situação difere da minha? Nossa filha corre mais
perigo com você do que...
Sua risada me interrompe.
— Mais perigo comigo? — Zomba. — Minha casa é mais segura que
o cofre de um banco, andamos em carros blindados, e o simples nome da
minha família conseguiria impedir qualquer um, ao contrário de você.
Esqueceu de estar morando em um apartamento pequeno e apavorada?
Nossas situações não são parecidas. — Se acalma. — Já disse que irei
resolver tudo.
— Não consigo ficar calma, toda essa situação é de mais. — Ofego,
lutando para respirar. — Estamos lidando com prostituição, se esses caras
colocam as mãos na nossa filha... ela é apenas uma criança.
Minhas emoções estão por todos os lugares, estou tendo um ataque de
pânico. Por mais que tente me acalmar, não consigo. A dor no meu peito me
impede de respirar, minhas mãos estão tremendo descontroladamente. Sento-
me na cama, lutando para conseguir respirar e me acalmar.
Dominic se ajoelha na minha frente, segurando a minha mão. Se eu
não estivesse tão focada em não morrer, teria achado fofa como sua voz fica
mais suave, como se estivesse conversando com uma criança.
— Tem ataques de pânico com frequência?
Nego com a cabeça.
— Desde quando?
Sei que preciso ser honesta com ele, mas não gosto de me lembrar
dos piores momentos da minha vida. O dia que fui sequestrada e levada ao
inferno, o nojo que sinto com as lembranças.
— Fui... — Fecho os olhos, tomando uma respiração profunda. —
Eu fui sequestrada na saída do mercado.
Acena e se levanta, sentando ao meu lado na cama e me abraçando
com força. Estar em seus braços me ajuda a recuperar o controle, me perco
aos poucos na sensação de seu corpo junto ao meu, seu cheiro.
— Melhor? — Pede, quando me afasto.
— Como conseguiu me acalmar tão rápido?
— Sabe quando os bois vão para o abate? O caminho até o caminhão
é apertado, isso o ajuda a se acalmar. — Explica olhando para as mãos. — A
compressão ajuda a diminuir o ritmo cardíaco, assim ele relaxa.
— Usou uma técnica aplicada em vacas em mim? — Seguro o riso.
— Sim? — Sua resposta é insegura.
Dou risada e isso alivia a tensão no quarto.
— Vai me contar o que houve durante seu sequestro?
— Um dia, talvez.
Preciso de tempo para colocar minha cabeça em ordem. Alguns
traumas são como fantasmas, por mais que nos aceite que estarão sempre lá e
aprenda a conviver, as vezes a realidade se torna difícil, é difícil estar
confortável para assumir sua existência para outras pessoas. Quem vê de fora
pode pensar ser fácil.
— Tudo bem, estou aqui para você sempre que precisar. — Diz se
levantando. — Já que não quer se divertir comigo, vou tomar banho.
Capítulo 8
Dominic
Confesso que não tranquei a porta do banheiro na esperança de que
ela me seguiria, mas minhas expectativas estavam baixas. Eduarda estava
irritada, ela jamais retrocederia numa decisão depois da nossa pequena briga.
A porta do banheiro se abre, e em seguida ela entra no chuveiro
comigo. Como o típico emocionado, meu pau ficou duro com a visão de seu
corpo, e minha cabeça estava girando animada.
— Isso é uma surpresa. — Finalmente consigo dizer.
— Cheguei a conclusão de que vou me divertir enquanto fujo da
morte com você. — Sorri. — Mas se não quer...
— Não saia! — Protesto, quando começa a abrir a porta do boxe.
Ela está se divertindo com minha reação.
— Está desesperado?
— Não me teste. — Puxo-a contra mim.
— Eu quero você. — Passa a mão no meu pescoço, e chupa a ponta
da minha orelha. — Mais especificamente dentro de mim.
— Sabe que não tem volta, sem me afastar depois. — Aviso.
Eduarda ignora meu aviso.
— A única coisa que sei é que quero que me foda. — Passa as pernas
em volta do meu quadril, seguro sua bunda e a firmo. — Com força.
A solto e me afasto, em seguida a prendo contra a parede fria, ela
arqueia as costas e me beija. Outra vez me afasto, seguro seus braços e a viro
de frente para a parede fria, suas mãos presas no topo de sua cabeça.
— Por que está fazendo isso? — Murmura ofegante.
Eduarda está gostando disso, apenas não está pronta para admitir.
— Apenas tornando as coisas mais interessantes. — Dou um, tapa em
sua bunda, o som ecoa no banheiro.
— Aí, Dom. — Protesta.
— Não reclame ou vai ganhar mais alguns. — Dou outro, tapa como
um aviso. — Sei que gosta disso, era quando gozava com mais força. Se
esqueceu? — Passo a língua em seu pescoço.
— Sabe o que eu gosto mais? — Luta para se soltar e se virar de
frente, segurando meu pau e acariciando.
— O quê? — Seguro meus gemidos, quando ela acaricia a ponta.
— Dele dentro de mim me fazendo gozar.
— Gosto de sua boca suja. — Dou um beijo nela, mordendo seu
lábio.
— Já eu prefiro a sua fechada.
Dou risada e desligo o chuveiro, não há motivo para se limpar agora,
quando vamos ficar mais sujos. Não vou foder Eduarda após tanto tempo, em
um banheiro, vamos foder em uma cama, do jeito apropriado.
Ela ri quando a pego em meus braços e levo para o quarto,
colocando-a deitada no meio da cama. Seus olhos correm meu corpo, da
mesma maneira que faço com o dela, apreciando cada centímetro de suas
curvas.
— Vai me olhar por muito tempo? — Morde o canto do lábio
inferior.
Sempre que está excitada ela o morde e dá um sorriso de canto, em
seguida passa a língua pelos lábios, como se não pudesse esperar para o que
está por vir. Foi uma das coisas que amei sempre nela, Eduarda não esconde
seus desejos, ela sempre deixa claro o que quer.
— Temos a noite toda. — Respondo, sabendo que falta pouco tempo
para amanhecer.
— Vai me torturar?
Ergo sua perna, massageando seus pés, dando beijo e sugando a pele
em cima, trilhando o caminho entre suas pernas. Eduarda as abre, me dando a
visão de sua buceta encharcada.
— Talvez.
Chegando em sua buceta, passo a língua de baixo para cima, fazendo
com que gema e suas mãos agarrem o lençol.
— Preciso de você.
— Se lembra de como era me ter chupando sua boceta?
— Não. — Sua resposta é rápida, sei que está mentindo.
— Mentirosa. Aposto que se masturbou pensando em mim. —
Acaricio seu clitóris.
Às vezes é necessário saber quando ir com força e rápido e quando
tocar de forma delicada, nesse momento, a delicadeza e suavidade são mais
torturantes.
— E você? Se masturbou pensando em mim e em todas às vezes que
gritei seu nome? — Eduarda está jogando comigo.
— Não sabe o quanto sonhei em gozar nessa sua boquinha safada,
ainda me lembro de como engolia cada gota e ainda pedia por mais.
Eduarda não responde, então decido que ela precisa de mais um
pouco de tortura. Inclino-me e passo a língua em sua buceta, sugo seu
clitóris. Sei que ama isso, ela sempre me pedia mais e gozava mais forte.
— Isso... Deus, isso é tão bom. — Geme, segurando o lençol com
mais força. — Desse jeito vou gozar.
Afasto-me, não é o momento para gozar ainda. Quanto mais a
provoco, mais intenso seu orgasmo será.
— Por que parou?
— Ainda temos muito para conversar. — Sorrio para ela. — Sente-se
na cama e abra a boca.
Ela se anima com a ideia.
— Gostei da ideia.
No momento a ficar em pé, Eduarda toma meu pau em sua boca. A
ideia do piercing a deixou ainda mais animada em me foder. Sua língua
brinca com o piercing na ponta, me fazendo gemer e segurar seu cabelo.
— Esse piercing é um tesão. — Diz, enquanto me masturba.
— Se não tivesse fugido naquele dia...
— Vamos nos concentrar no momento. — Me interrompe, em
seguida volta a chupar meu pau.
Por um momento penso que vou perder a cabeça, esqueço tudo o que
estava prestes a dizer. Quando sinto que estou prestes a gozar, me afasto, não
quero desperdiçar na sua boca, quero gozar em sua boceta. Rápido, na cama e
entro nela, sua perna apoiada nos meus ombros.
— Tinha me esquecido de como você é grande. — Geme.
— Gatinha, você sabe o que dizer para agradar um homem. —
Provoco, soltando sua perna e me movendo para tomar seu seio na minha
boca.
Segurando seus seios juntos, passo a língua em seus mamilos.
Nossa ligação é grande, a ponto de a foder diversas vezes e em
posições diferentes, ainda assim, após ter gozado mais vezes do que pensei
ser possível, meu pau insiste em permanecer duro.
— Mais rápido, Dom. — Pede, prestes a ter outro orgasmo.
— Sua boceta é tão gostosa.
— Preciso gozar.
— Goza. — Mando. — Goza em volta do meu pau.
Eduarda goza, e após meter mais algumas vezes, gozo. Caio em cima
dela, exausto e ofegante. Se eu tiver que morrer nesse momento, morrerei
feliz.
— Por que fez aquilo comigo? — Interrompe o silêncio.
— O quê?
— Me senti como se fosse uma prostituta quando falou com aquela
mulher.
— Não lembro o que aconteceu naquela noite, lembro que nós dois
bebemos. — Penso naquela noite. — Mas de uma coisa tenho certeza, jamais
faria isso com você.
— Tudo bem, só não leve isso a sério. — Acena entre nós. — Preciso
de um tempo para entender essa coisa entre nós.
Quero rir e socar algo, ao mesmo tempo.
— Acabamos de foder, estou sujo, suado e com muito frio. —
Aponto entre nós. — E ainda assim estou aqui, discutindo sobre nossa vida.
Não consigo ser indeciso e nem sei lidar com isso. Sabe o quê? Se decida de
uma vez, não brinque comigo dessa forma. — Me afasto, saindo da cama. —
Até se decidir, não vamos foder.
Bato a porta atrás de mim.
Estou cansado disso!
Eduarda nunca me deu o benefício da dúvida, ela sempre me julgou e
condenou sem nem mesmo falar comigo. Na sua visão, sou o vilão, o cara
mal. Preciso me lembrar do que aconteceu na noite que ela tanto fala.
Olho meu reflexo no espelho, eu pareço uma merda. Estou suado e
cansado, mesmo assim entro no chuveiro e tomo meu banho tranquilo,
demorando um tempo.
Minha cabeça ficada no passado, até que em um dado momento, tudo
faz um clique e as lembras voltam com tudo. A vadia em questão não estava
sozinha, ela estava acompanhada de um homem, ele disse trabalhar com
Eduarda.
É isso!
Desligo o chuveiro e vou para o quarto, Eduarda está enrolada na
cama, o mais longe possível do meu lado.
— Quer saber o que aconteceu naquela noite? — Pergunto a
assustando. — Isso te deixará feliz?
— Não disse que não lembrava? — Desdenha.
— O nome Caio é familiar?
— Conheço muitos. — Diz tensa.
— Ele trabalhou com você. — Eduarda fica pálida. — O que foi?
— Caio nunca trabalhou comigo, ele é um ex, que estava trabalhando
com o traficante que quer me matar.
Isso explica as coisas.
— Ele estava com a mulher, não falei que você era uma prostituta. —
Me sento nos pés da cama. — Disse ter te conhecido e estava apaixonado por
você e que te pediria em casamento.
Existem coisas que nunca lhe contei e nem a ninguém, como o nível
que me apaixonei por Eduarda e o quanto estava com medo de perdê-la.
— Foi por isso que bebeu demais?
— Bebi apenas um refrigerante. — Explico. — Devem ter me
dopado.
Posso ver a confusão estampada em seu rosto, e tenho as minhas
próprias dúvidas quando aos acontecimentos e as razões.