Petição Inicial - Adelmo Lapa
Petição Inicial - Adelmo Lapa
Petição Inicial - Adelmo Lapa
ADELMO CAVALCANTI LAPA NETO, brasileiro, solteiro, residente e domiciliado à Rua Marquês
de S Vicente 431/708, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, CEP 22451-041, endereço eletrônico:
adelmolapa@hotmail.com, inscrito no CPF sob. o n. 685.630.514-15, com identidade de n.
12.335.029-0, expedida pelo DETRAN RJ, vem, por meio de seus advogados (procuração
anexa), propor a presente
em face de Sul América Cia de Seguro Saúde, situada na Rua dos Pinheiros, 1673, Térreo, 2º e
4º andares, São Paulo, SP, CEP 05.422-012, inscrita no CNPJ sob o n. 01.685.053/0002-37,
pelos fatos e fundamentos a seguir delineados.
I - DOS FATOS
1. O Autor contratou seguro saúde com a Ré, mais especificamente o produto 342 IND
GLOBAL TRAD ADAPTADO, Plano Especial, carteira de beneficiário 342 09001 5230 7192
0014, em dezembro de 2000 (carteira do plano, comprovante de quitação das 3 últimas
mensalidades e contrato anexos).
2. Recentemente, o Autor se viu diante de dores terríveis no quadril, com extrema
dificuldade de se locomover. Em consulta médica seguida de exames específicos, o Autor
foi diagnosticado com osteonecrose da cabeça do fêmur, que demanda artroplastia total
de quadril e enxertia óssea (TUSS 30724058 e 30732026; CID M87.0), conforme laudo
médico anexado aos autos, ambos constantes do rol de procedimentos obrigatórios da
ANS.
3. O médico-cirurgião responsável, Dr Arlindo Ricon de Freitas Junior, CRM 52.52.639-2,
juntamente com o laudo, solicitou a Validação Prévia de Procedimentos, indicando uma
relação de materiais necessários à realização de ambos os procedimentos e justificando
pormenorizadamente a imperativa necessidade dos mesmos (docs. anexos).
6. O Dr. Arlindo Ricon explica, na justificativa do pedido (documento anexo), que este
material é imprescindível para evitar aderências no pós-operatório que levariam que “a
estrutura natural [do quadril], assim como a flexibilidade anterior à lesão, sejam perdidas”
e a uma segunda cirurgia para liberar as aderências.
7. Ou seja, sem os materiais exigidos no procedimento, o risco do Autor – portador do vírus
do HIV e com o sistema imunológico comprometido – de perder e mobilidade do quadril
caso lhe seja negada a utilização do material requerido aumenta exponencialmente.
8. O médico-responsável descreveu com minúcias a necessidade de cada um dos materiais
requisitados mas, ainda assim, a Ré negou o procedimento do enxerto, em comunicado
para o Autor no dia 26 de maio (documento anexo).
9. Nele, consta a autorização para a ARTROPLASTIA QQ TECN OU VERSAO D, mas foi negado
o ENXERTO ÓSSEO.
10. Em telegrama (documento anexo) que chegou às mãos do Autor em 30 de maio, consta a
recusa da Ré para:
a. Genta Foil – GF 1010;
b. GENTA COLL – GC 1520,
c. BonAlive Putty – 16140.
11. Segundo a Ré o motivo seria “pertinência parcial para as solicitações de tratamento
cirúrgico. Avaliação não presencial, baseada em laudo de imagem, menciona
osteonecrose, artropatia degenerativa, favorável ao tratamento de artroplastia. Referente
ao opme genta coll e bonalive, é dispensável, não altera o sucesso do procedimento”.
12. Diante da negativa da Ré, e a urgência da demanda, uma vez que o Autor encontra-se com
muita dor, e extrema dificuldade de caminhar, estando com a sua mobilidade restrita à
sua casa e precisa da cirurgia com urgência, não restou alternativa senão recorrer ao
Poder Judiciário para a tutela de seus direitos.
II - DO DIREITO
a. Autor contratou plano saúde com a Ré em dezembro de 2000, estando adimplente com suas
obrigações contratuais.
b. O médico particular do Autor responsável pela cirurgia indicou a necessidade de artroplastia
e enxerto ósseo, pois o paciente é HIV-positivo.
c. Ambos os procedimentos são autorizados e constam do rol obrigatório da ANS.
d. Os materiais usados em ambos os procedimentos são autorizados pela ANVISA.
d. A Ré autorizou a artroplastia, mas negou o enxerto ósseo.
e. A negativa se deu com base em opinião de médico contratado pela Ré.
O direito à vida implica em direito à vida saudável que, por sua vez, está intrinsecamente
ligada à dignidade da pessoa humana – todos amplamente consagrados e inexoravelmente
arraigados no ordenamento jurídico brasileiro, a começar pela centralidade do tema, inserto
nos direitos e garantias fundamentais da Carta Magna.
O consumidor contrata o plano de saúde, contrato oneroso e comutativo, buscando a proteção
da sua saúde tanto para se precaver em eventos rotineiros como para ser bem atendido em
grandes e graves intervenções médicas, assim como no auxílio para a manutenção de uma vida
saudável – que é, na realidade, a própria causa deste contrato específico e sua função social:
garantir ao contratante atendimento de qualidade em matéria de saúde.
Tabela TISS Procedimentos e Eventos em Saúde elaborada pela ANS (em anexo)
Na própria carta enviada pela Ré ao Autor com a negativa da prestação do serviço pela qual é
remunerada consta o código dos procedimentos nos cadastros da ANS:
Assim como o enxerto ósseo é autorizado pela ANS, os materiais requisitados pelo médico
responsável também têm autorização de uso pela ANVISA (documentos anexos).
Bonalive Putty 16140 – vencimento do registro em 2029.
Essa questão não é nenhuma novidade nos tribunais brasileiros, contando com acórdão do STJ,
da lavra do e. Ministro Carlos Alberto Direito, nos autos do REsp 668.216/SP, com julgamento
em 2007, ou seja, há 15 anos.
PLANO DE SAÚDE. NEGATIVA DEAUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE PROCEDIMENTO
CIRÚRGIO PARA TRATAMENTO DE NEOPLASIA MALIGNA NOS RINS. FALHA NA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO CARACTERIZADA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA
CONDENANDO A RÉ A AUTORIZAR O PROCEDIMENTO E A PAGAR INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS NO VALOR DE R$ 10.000,00. RECURSO DA RÉ. Não obstante seja válida
cláusula contratual que restrinja a cobertura de doenças, não pode a Operadora
de plano de saúde limitar os procedimentos a serem utilizados na manutenção
da saúde do segurado quando a patologia é coberta, sob pena de infringir a própria
finalidade do contrato celebrado entre as partes, que é a saúde e a vida do
beneficiário. Rol da ANS não é taxativo. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.
Recusa que configura falha na prestação do serviço, além de conduta violadora da
boa-fé objetiva, dos direitos da personalidade da Demandante e contrária à própria
natureza do contrato. Dano moral configurado. Valor de R$ 10.000,00 fixado na
sentença que está condizente com os princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade, além de não destoar da jurisprudência desta Corte para casos
semelhantes. Manutenção da sentença. DESPROVIMENTO DO RECURSO.
Este e. Tribunal tem farta jurisprudência na defesa dos vulneráveis, inclusive com verbetes
sumulares que orientam as decisões da Corte, como, por exemplo:
"o plano de saúde pode estabelecer as doenças que terão cobertura, mas não o tipo
de terapêutica indicada por profissional habilitado na busca da cura. Desse modo,
entende-se ser abusiva a cláusula contratual que exclui tratamento, medicamento ou
procedimento imprescindível, prescrito para garantir a saúde ou a vida do beneficiário"
(AgInt no REsp 1.453.763/ES, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em
1º/6/2020, DJe 15/6/2020).
Tanto a Constituição (CF art. 5º, V) como a legislação de Direito Privado infra (CC art. 186 c/c
927, e CDC art. 6º, VI) prevêem a reparação dos danos que recaem sobre a esfera
extrapatrimonial das vítimas.
Dos fatos narrados na inicial se extrai inegável situação que provocou extrema dor psíquica e
física, angústia, insegurança, desespero, sofrimento, desgaste, estresse, e outros tantos
sentimentos que afetam diretamente a saúde e a dignidade do Autor, destaque-se,
sentimentos provocados unilateralmente pela Ré ao negar ao Autor o seu direito à saúde.
Todos esses sentimentos negativos que violam a dignidade do Autor originam o dever de
indenizar a esfera extrapatrimonial do Autor, como também entende, pacificamente, o TJRJ:
O mesmo entendimento foi utilizado no acórdão da 11ª Câmara Cível, com relatoria do
Exmo. Desembargador André Luiz Cidra, recentemente julgado por este E. Tribunal:
Independentemente de qualquer previsão legal, a indenização punitiva do dano
moral é aplicável em nosso ordenamento jurídico, porque retira seu fundamento
diretamente de princípio constitucional. É no princípio da dignidade humana,
estabelecido no art. 1º, inciso III, da Constituição Federal, que ela encontra sua base
lógico jurídica. A aplicação dessa forma especial de sanção constitui, também,
consectário lógico do reconhecimento constitucional dos direitos da personalidade e
do direito à indenização do dano moral, encartados no art. 5º,incisos V e X, CF. Tais
princípios constitucionais, como mandados de otimização que são, ou seja ‘normas
que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível’, ao mesmo tempo
que consagram direitos de natureza fundamental, determinam ao operador jurídico
que empregue todos os meios possíveis para a proteção desses direitos. (TJRJ
0272033-35.2019.8.19.0001, data de julgamento 25.08.2021).
Destarte, a quantificação dos danos morais para casos análogos feita pelo TJRJ tem sido no
valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais), valor que o Autor vem a pleitear perante este MM
Juízo.
O artigo 300 do Código de Processo Civil impõe dois requisitos para a concessão da tutela de
urgência de caráter antecedente: a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo.
O STJ na ementa do REsp 1.712.163, Tema 990 dos Recursos Repetitivos, de relatoria do e.
Min. Moura Ribeiro, em 2018, já determinava a obrigatoriedade de fornecimento de materiais
com uso aprovado pela ANVISA:
Assim sendo, restam cumpridos os requisitos da Lei Processual para a concessão da tutela de
urgência requerida pelo Autor.
IV - DOS PEDIDOS
b. que ao final, a tutela seja confirmada a fim de garantir ao Autor a realização de todos
procedimentos requisitados pelo seu médico, Dr Arlindo Ricón para a artroplastia total do
quadril e enxertia óssea, previstos no rol de procedimentos de cobertura obrigatória da
ANS, bem como de receber os materiais médicos autorizados pela ANVISA para o
tratamento da osteonecrose da cabeça do fêmur direito;
c. a condenação da Ré em danos extrapatrimoniais no importe de R$ 12.000,00 (doze mil
reais).
Termos em que,
Pede deferimento.