Burle Marx
Burle Marx
Burle Marx
BURLE MARX
O GRANDE PAISAGISTA MODERNISTA DO BRASIL
BURLE MARX, O GRANDE PAISAGISTA MODERNISTA DO BRASIL
Nesta resenha, vamos explorar o ambiente no qual Burle Marx cresceu e desenvolveu
sua forma de expressão, as principais influências, os parceiros e as principais obras do artista.
CONTEXTO HISTÓRICO
Segundo MACEDO, o século XX, no pós Primeira Guerra, marca o início do rompimento
ocidental com velhas ordens sociais e formais e nos anos 1930 (talvez de um modo um tanto
tardio), os rompimentos surgem no Brasil, se consolidando na ordem cultural-nacional – na
música, escultura, pintura, arquitetura e na arquitetura paisagística.
Com o uso e abuso das formas geométricas livres, inspiradas nas temáticas da pintura
da época, no qual Burle Marx foi o mestre inspirador nacional – e colorida – com a introdução
do uso intenso de pisos multicores, o modernismo foi se configurando no Brasil.
O Paisagismo Moderno Brasileiro é regido por duas influências nítidas, a primeira – a
obra isolada de Burle Marx e associados, com seu nacionalismo, representações geométricas e
uso da vegetação nativa; a segunda – internacional, diretamente referenciada às obras da
vanguarda paisagística norte-americana da costa Oeste, que sintetizadas pelos diversos
profissionais resultam em obras de caráter extremamente particular, típicas da produção
paisagística nacional da segunda metade do século XX.
A INFÂNCIA NO BRASIL
O principal teórico do modernismo brasileiro foi Lúcio Costa, que em 1930 foi nomeado
diretor da Escola Nacional de Belas Artes do Rio, sendo uma passagem breve, mas
revolucionária, modificando a orientação acadêmica dos cursos, dando a eles uma direção
modernista brasileira, auxiliado por Gregori Warchavchik, um arquiteto russo radicado em São
Paulo e pelo pintor alemão Leo Putz. Burle Marx voltou da Europa e matriculou-se no mesmo
ano com intenção de estudar arquitetura, mas Lucio Costa o convenceu a mudar para as artes
visuais.
É nesse ambiente que conhece Oscar Niemeyer, os irmãos Marcelo e Milton Roberto,
Jorge Machado Moreira e Carlos Leão, e nessa época seus conhecimentos de cultura geral e de
pintura aumentam consideravelmente através da convivência com o professor alemão Leo Putz
(sobrinho de Thomas Mann), convidado da Escola, Roberto terá nele o mestre dos anos inciais,
principalmente nas aulas particulares que tomou nessa ocasião.
Em seguida estudará com o pintor Pedro Correia de Araujo e com o escultor Celso
Antonio, que namorava uma amiga de Roberto. Os encontros em casa de Heloisa Graça Aranha
da Rosa e Silva vão colocar Roberto em contato com Candido Portinari, Aníbal Machado, Santa
Rosa, Geraldo Ferraz, Patrícia Galvão (Pagu), Gilberto Freyre, Murilo Mendes, José Lins do Rego,
Lucio Cardoso, Cornélio Penna, Vinicius de Moraes, Alcides Rocha Miranda e muitos outros
pintores, escritores e arquitetos.
Em 1932 realiza o seu primeiro jardim. Lucio Costa e Gregori Warchavchik faziam o
projeto da residência da família Alfredo Schwartz, em Copacabana, convida Burle Marx para
fazer o desenho do jardim, onde projeta canteiros de Canna indica para o terraço. E um ano
depois, vem o segundo jardim, na residência de Ronan Borges.
Nessa época, Roberto conhece e conversa muito com o seu então professor de história
e filosofia da arte, Mario de Andrade, autor de Macunaíma, e aprende muitíssimo com a leitura
desse romance revolucionário.
Essa época é intensa, na literatura, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado,
Rachel de Queiroz, Érico Verissimo, Lucio Cardoso, Octavio de Faria, Cornélio Penna e José
Geraldo Vieira. Na sociologia e na história, Gilberto Freyre de Casa Grande & Senzala, e o Sergio
Buarque de Holanda de Raízes do Brasil eram os alicerces de uma nova visão da sociedade. A
consciência crítica de Mario de Andrade, o nacionalismo puro de Villa-Lobos, a música de
Mignone, Camargo Guarnieri, Pixinguinha, Noel Rosa, Ari Barroso. A rebeldia lúcida de Vicente
do Rego Monteiro, a poesia de Jorge de Lima, Murilo Mendes e de Carlos Drummond de
Andrade, o direitismo de Alceu Amoroso Lima à frente da Ação Católica, a pintura de Portinari
e o Partido Comunista, a criação do SPHAN sob a batuta de Rodrigo Melo Franco de Andrade, a
presença de Warchavchik e Le Corbusier. Artes plásticas, arquitetura, filosofia, literatura, música
– em todas essas áreas se dão grandes transformações que Roberto, no centro do redemoinho,
vive e assimila.
Em 1934 foi indicado para ser o Diretor de Parques e Jardins em Recife, pois sua mãe
era de Pernambuco. E é lá, à sombra e sol do trópico pernambucano que ampliará seu
conhecimento botânico, através de excursões pelo cerrado, aplicando-o nos primeiros trabalhos
públicos em nosso país onde se dá o rompimento com o jardim de modelo europeu. Data daí
também o início de sua longa experiência como pesquisador, revelador e defensor de nossa
flora. Realizou vários jardins públicos em Pernambuco, mas ao realizar um jardim de canas
indicas vermelhas, Roberto é acusado de comunista e deixa assim o Recife por motivos políticos.
Naqueles anos, estabeleceu uma estreita amizade com o botânico Henrique Lahmeyer
de Mello Barreto (1892-1962), a quem o paisagista acompanhou em expedições de estudo e
coleta em Minas Gerais e por quem foi encorajado a insistir na conjugação de expressão artística
e flora nativa. Burle Marx continuou aprofundando esse interesse ao longo de sua vida,
experimentando muitas plantas e introduzindo várias delas, pela primeira vez, em contextos
urbanos.
PRINCIPAIS OBRAS
Obras primas são as intervenções realizadas nos anos seguintes, ao longo da orla do Rio
de Janeiro: praça Salgado Filho (1947-53), parque do Flamengo (1961-65) e o calçadão de
Copacabana (1970).
Em 1970, foi confiado a Burle Marx e seus colaboradores Haruyoshi Ono e José Tabacow
o projeto do calçamento da Avenida Atlântica, o passeio da orla marítima que atravessa os
bairros cariocas de Copacabana e do Leme. Recorrendo à tradicional técnica portuguesa do
mosaico com pedras brancas, pretas e vermelhas, ele realizou um monumental desenho que
invade todas as calçadas da grande artéria. E, enquanto na faixa junto à praia longas formas de
ritmo sinuoso foram utilizadas com a intenção de evocar o movimento das ondas, as zonas mais
internas foram desenhadas com uma pavimentação de motivos abstratos, feita de figuras
enviesadas e linhas quebradas; toda a extensão foi, ademais, pontilhada com ilhas verdes,
grupos de palmeiras e arvoredos isolados. A faixa da orla marítima foi assim transformada em
um espetáculo vibrante e contínuo, possível de ser desfrutados dos altos hotéis que limitam a
beira mar.
Nos anos 1960 1970, Burle Marx trabalhou
constantemente em projetos para a nova
capital, Brasília. São seus os dois jardins, um
suspenso e outro no térreo do palácio do
Itamaraty (1965), o espaço verde que contorna
o Ministério da Justiça (1970-1971) e os jardins
do Ministério do Exército (1970-71).
Para algumas empresas, projetou também a sede da Petrobrás no Rio de Janeiro (1973),
edifício do Banco Safra em São Paulo (1983-1986).
Possui ainda obras no exterior, como o Parque del Este em Caracas (1951-1961), o
Parque de las Americas em Santiago do Chile (1962) e os pátios internos do edifício da Unesco
em Paris (1963).
CONCLUSÃO
Sua formação artística se iniciou com o ambiente familiar, com a mãe pianista e um pai
que apreciava arte e valorizava os estudos. A temporada para tratamento de sua vista na
Alemanha de 1928 a 1930, que se encontrava em plena ebulição artística e cultural também foi
muito importante na sua formação, onde recebeu influências de vários artistas modernos da
época. Em sua volta ao Brasil em 1930, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes do RJ, onde
entrou em contato com os arquitetos e artistas que estavam introduzindo o modernismo no
Brasil e que respeitavam também o nacionalismo.
Fez inúmeras obras pelo Brasil e pelo mundo, sendo reconhecido e respeitado como o
maior paisagista do Brasil. A obra de Burle Marx foi uma revolução na forma de se fazer
paisagismo, com uso de formas livres, com muita intensidade e contraste de cores e o uso de
espécies da nossa flora brasileira.
Burle Marx tem, no paisagismo, o papel que tiveram Heitor Villa Lobos e Marlos
Nobre na música erudita, Carmem Miranda na música popular, Tarsila do Amaral, Cândido
Portinari e muitos outros na pintura, Lúcio Costa no urbanismo, Oscar Niemeyer e os
irmãos Marcelo, Milton e Maurício Roberto na arquitetura.
ADAMS, William Howard. Roberto Burle Marx: The Unnatural Art of the Garden. Nova Iorque:
The Museum of Modern Art, 1991.
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CASARIN, Rafael Farina. Roberto Burle Marx: relações entre arte e paisagismo. Tese (Mestre
em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2018.
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MACEDO, Silvio Soares. O Paisagismo Moderno Brasileiro: Além de Burle Marx. Paisagens em
Debate, revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 01, outubro 2003.