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Anotações SOLI DEO GLORIA

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INTRODUÇÃO (Renan)

O ser humano nasce com a eternidade no coração, e todos têm uma sede por
significado e propósito. Independente da crença, sempre as mesmas perguntas ecoam nos
nossos corações. De onde viemos? Qual o sentido da história? Por que existimos? Por que
o universo existe? Qual o sentido da vida? Na biologia nós costumamos brincar dizendo
que o sentido da vida é 5’-3’, mas é óbvio que essa não é a resposta pra essa pergunta que
habita o coração humano, e a bíblia tem uma resposta diferente para isso. O sentido da
vida, do universo e de tudo o que há e existe é somente um: a Glória do Deus vivo. Soli
Deo Gloria, a glória somente a Deus. O quinto pilar da reforma protestante que assim
como os outros quatro não são independentes entre si, mas que sustenta todos eles e
aponta pra conclusão lógica desses outros Solas. Sola Scriptura, Solus Christus, Sola
Gratia e Sola Fide não encontram fim em si mesmos porque não haveria razão deles
existirem e fundamentarem a reforma protestante se não tivessem por objetivo último Soli
Deo Gloria, Somente a Deus a Gloria.

Nós vamos tentar falar desse tema que preenche a eternidade em mais ou menos
1 hora, vai se um desafio, e com certeza absoluta, não vamos conseguir tratar de tudo,
mas desejamos que o pouco que veremos aqui, impacte em muito na nossa vida. Nessa
apresentação nós objetivamos abordar os aspectos históricos, teológicos e práticos do Soli
Deo Gloria, e assim tentamos dividir nossa apresentação nesses três aspectos.
Inicialmente vamos tratar do aspecto Histórico, seguido do aspecto Teológico e por fim,
do aspecto Prático. Vale ressaltar que essa divisão é mais uma forma didática de
organizarmos o conteúdo, pois esses aspectos são praticamente impartíveis. Vocês vão
perceber que muito de cada parte vai acabar por entremear as outras partes.

HISTÓRICO (Iago)
Antes de chegarmos no Soli Deo Gloria propriamente dito, é importante termos
em mente como a igreja se encontrava na época da Reforma e porque foi necessário, que
esses 5 pontos fossem levantados.

O livro de Atos retrata o começo da história da igreja que continua até os dias de
hoje. Lá nós podemos ver como o evangelho se expande para além de Jerusalém. Desde
essa época, a perseguição cruel àqueles que pregavam o evangelho já existia, ainda mais
por parte dos imperadores de Roma que nos primeiros séculos fizeram atrocidades contra
os cristãos. Cristãos eram mortos queimados, crucificados, apedrejados, o coliseu de

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Roma foi usado para que cristãos fossem devorados por feras famintas (leões, lobos...),
e, por consenso de alguns historiadores, o imperador Nero colocou fogo em Roma e
incriminou os cristãos por tal feito, levando a ainda maior perseguição. Por três séculos,
os cristãos foram cruelmente perseguidos e mortos, tendo inclusive que se reunir as
escondidas para cultuar a Deus. Mas quanto mais a igreja era perseguida, mais ela crescia.
Mesmo assim, em meio a tanta carnificina, os cristãos viviam e morriam para a glória de
Deus. Segundo Tertuliano, o sangue dos mártires era a semente da igreja.

Na época da patrística, a glória de Deus também era o centro, e nomes notáveis


falaram sobre a importância da glória de Deus. João Crisóstomo teve como suas últimas
palavras: “Glória seja dada a Deus em tudo!”. Agostinho de Hipona defendeu que se
formos salvos, todo o mérito e glória pertencem a Deus e não a nós mesmos. E Irineu de
Lyon, em Adversus Haeresis, ele diz que a glória de Deus é o homem vivente, se referindo
a sacralidade da vida humana criada por Deus.

Mas no século quarto, após uma suposta visão que o imperador Constantino teria
tido, de uma cruz indicando sua vitória em uma batalha, ele se converte ao cristianismo,
e torna o cristianismo a religião oficial do Império Romano, com o Édito de Milão. Isso
foi bom, pois os cristãos não seriam mais perseguidos, mas, com isso, a porta de entrada
da igreja não era mais a conversão, mas a conveniência. Ser cristão agora era receber o
louvor do Estado, e com isso, todo mundo queria ser cristão. Não pelo novo nascimento,
mas pelo status. E isso trouxe para dentro da igreja heresias e ritos pagãos que
contaminaram o evangelho que até então se mantivera puro. Vale destacar que esses
sincretismos ainda hoje perduram no catolicismo romano, principalmente nas festas dos
santos, que no passado eram cultos a deuses pagãos, e que se tornaram festas praticadas
pela igreja romana, acrescentadas no catolicismo romano como forma de agradar a todos
que estavam entrando para a igreja.

Se a coisa tava ruim, conseguiu piorar. No século VII, o imperador Flávio Focas
declara o bispo de Roma, Gregório I, como o bispo universal da igreja, que é a figura do
papa que temos hoje, e ele rejeita, e ainda afirma que isso não poderia acontecer, pois o
bispo universal de Roma é Cristo, e quem tomar o seu lugar, deve ser considerado o
anticristo. Porém uns anos depois, o imperador Flávio Focas, declara o bispo de Roma,
Bonifácio III, como bispo universal da igreja, e ele aceita o título, começando então a
história do papado na igreja.

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Cada vez mais, heresias iam entrando na igreja. Já que agora, temos a figura do
papa, ele pode determinar novas doutrinas, e com isso o princípio do Sola Scriptura já
não mais servia, e agora a igreja cultuava os mortos, adorava imagens, purgatório,
confessionário, a ideia da missa, a adoração aos santos, transubstanciação, e muitas coisas
estranhas a bíblia passam a ser normais na vida da igreja. A salvação não mais era pela
graça, mas por obras, e com isso, a vida e obra de Cristo são diminuídas. A fé tem seu
sentido alterado, e o pior, a glória não era mais somente a Deus.

No catolicismo romano a ideia de salvação perdeu todo o seu sentido bíblico e por
isso, ninguém poderia se afirmar como um salvo, sendo acusado do pecado da presunção.
No catolicismo romano existe o que se conhece por Dies Irae (dia de ira), onde Deus
derramará ira sobre o mundo, e isso fazia Lutero ter medo de Deus e não alegria, pois ele
via Deus como um inimigo. Mas quando Lutero passou a entender a salvação pela bíblia
e não pela igreja romana, esse dia de ira se tornou o “mais feliz último Dia”, o dia de
Jesus, o seu amigo. O Catecismo de Heidelberg na sua pergunta 52, inclusive, afirma isso.

Pergunta 52: Qual é meu único consolo na vida e na morte?

Resposta: Em toda tristeza e perseguição, ergo minha cabeça e aguardo


como juiz do céu a mesma pessoa que antes se submeteu ao juízo de Deus
por amor a mim, e retirou de mim toda a maldição.

Se para o catolicismo, ninguém morria justo para a salvação, o purgatório é trazido


como uma solução para isso. Inclusive um dos principais pontos que Lutero lutou foi
contra o purgatório. Naquela época se cobrava indulgências em troca de perdão de
pecados. Quanto mais se pagava, mais perdão se obtinha, e menos tempo se passava no
purgatório, que na ideia romana é um local onde, após a morte, as pessoas são purificadas
de seus pecados para poder entrar no céu.

Calvino, nas Institutas da religião cristã, afirma que “o purgatório é uma ficção
mortífera de Satanás, que anula a cruz de cristo, inflige desprezo intolerável sobre a
misericórdia de Deus e transtorna e destrói a fé. Em outras palavras, o purgatório arranca
Cristo de sua glória como Salvador misericordioso e plenamente suficiente, e impede que
tenhamos alegria em confiar nele. Além disso, Calvino afirma que a glória de Deus não
era vista apenas na salvação, mas em toda a criação, que chamava de teatro da glória de
Deus.

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À medida que a igreja ia se corrompendo, ela ia se tornando mais poderosa
economicamente, politicamente e intelectualmente. Basicamente todas as áreas do
conhecimento estavam sob o controle da Igreja Romana, que corruptamente fazia
conhecido ao público somente o que lhe convinha. Em contrapartida, a igreja estava se
tornando menos teológica e menos preocupada a fazer a glória de Deus brilhar. Chegou
ao ponto de se dividir a sociedade entre clericato e laicato. Dessa forma, somente o clero
tinha acesso as Escrituras e o acesso da bíblia aos leigos era proibida, e assim requeriam
para si que fossem glorificados pelo laicato. Vejam como a glória que deveria ser dada
somente a Deus, estava sendo roubada por homens que alegavam ser superiores
espiritualmente por pertencerem a certa casta, e pior, liderados por outro homem que era
usurpador de Cristo, roubando a glória que deveria ser dada somente a Deus.

Mas Deus, por amor ao seu nome, levanta homens que viriam por lutar para que
a glória de Deus fossem novamente a paixão da igreja. Lutero, após entender que a
salvação era somente por fé, conforme o texto de Romanos 1:17, se levanta contra as
injustiças da igreja, fixando as 95 teses na porta da catedral de Wittenberg, deflagrando o
movimento pela reforma.

Ao longo da história da igreja, documentos de fé foram redigidos embasados pelas


escrituras, e eles trazem elucidações importantíssimas acerca de questões teológicas
fundamentais para a igreja e apontando para a importância da glória de Deus.

No Catecismo de Westminster, sua primeira pergunta diz: Qual a finalidade


principal do homem? E a resposta é: A finalidade principal do homem é GLORIFICAR a
Deus e gozá-lo para sempre. Fomos feitos para isso, glorificar a Deus com alegria nele.

A confissão londrina em seu ponto 5 diz: Deus, em seu infinito poder e sabedoria,
dispõe todas as coisas para o fim ao qual foram criadas (...) e, seja o que for que aconteça
aos eleitos, é por Sua determinação, para Sua GLÓRIA e para o bem deles.

No Catecismo de Heidelberg, na sua pergunta 6 diz: Deus criou o homem mau e


perverso? E a resposta é: Não, ao contrário, o criou bom, feito à sua imagem e
semelhança (...) [para que] o amasse de todo coração e com ele vivesse em bem-
aventurança eterna para louva-lo e GLORIFICA-lo.

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A Confissão Helvética, no seu ponto 10, falando da finalidade da nossa eleição,
diz: (...) Ele nos escolheu nele antes da fundação do mundo (...) para o louvor da GLÓRIA
de sua graça.

E, no Catecismo de Genebra, quando se pergunta Qual é o fim principal da vida


humana?, a conclusão para essa pergunta é: porque ele [Deus] nos criou e nos colocou
neste mundo para ser GLORIFICADO em nós. E é fato certo que a nossa vida, de que o
próprio é o começo, deve ser dedicada à sua GLÓRIA.

Enquanto a glória no catolicismo romano é dividida entre pessoas, santos,


relíquias, objetos, e muitas outras coisas, a reforma protestante surge para que a glória
seja dada única e exclusivamente a Deus, novamente.

Após a reforma protestante, apesar de se afirmar que a glória deveria ser dada
somente a Deus, século após século, o ser humano continuava dando glória a qualquer
outra coisa, exceto Deus. Nos nossos tempos, o movimento neopentecostal surge de
dentro do protestantismo, mas com os problemas que a reforma combateu no século XVI.
No neopentecostalismo, que tem como uma das principais doutrinas a teologia da
prosperidade, mais uma vez a glória que deve ser dada só a Deus é dada a homens. De
acordo com essas seitas, Jesus é apenas um meio de se alcançar o sucesso, principalmente
financeiro. A glória não é dada a Deus, mas àquilo que Deus dá e, portanto, a alegria não
está em Deus, mas nas coisas que Deus dá. Além disso, o ser humano busca a própria
glória, exigindo-a de Deus.

Essa linha parece ressurgir nos últimos anos como a teologia do coach, onde
líderes tiram o evangelho do púlpito para colocar palestras de autoajuda, e mostrar que
Deus deve coisas aos homens, e que o centro do coração de Deus é o ser humano e que o
ser humano tem Deus em suas mãos para usá-lo sempre que quiser. Tudo isso aponta para
a glória ao homem e não a Deus. Deus tem virado um coadjuvante cada vez menos
participativo, na verdade um figurante que está ali apenas para compor o cenário, onde o
protagonista é o ser humano, e que a ele está sendo direcionado o louvor.

TEOLÓGICA (Renan)
Em As Crônicas de Nárnia – Príncipe Caspian, do Clive Staples Lewis, quando
Lúcia reencontra Aslam ela fica surpresa de como Aslam estava maior, e ele diz pra ela
que quanto mais ela crescer, maior ele parecerá. Em II Pedro 3:18 diz o seguinte: “antes,
crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja

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dada a glória, assim agora como no dia da eternidade. Amém!”. O que o CS Lewis está
nos mostrando aqui é a medida que nós formos crescendo em Deus, Deus se parecerá
maior pra nós. Creio que todo mundo aqui já teve uma percepção de Deus menor do que
tem hoje, principalmente aqueles que não nasceram no ambiente de igreja. Quando nós
não crescemos em Deus, no conhecimento sobre Deus, nós acabamos tendo uma
percepção de Deus muito pequena, e Deus passa a ser um mero detalhe na nossa vida, e
quando isso acontece, a eternidade que o próprio Deus colocou no nosso coração carece
de preenchimento, e nisso nós acabamos colocando outras coisas pra tentar preencher
esse espaço, e a nossa visão de mundo acaba sendo afetada por isso. Se nós crescemos
em Deus, Deus se parecerá cada vez maior pra nós e a nossa visão de mundo pautada na
existência de um Deus cada vez maior se voltará para uma vida de constante glória a esse
Deus. Conhecer mais a Deus resulta em glória a Deus.

Antes de explorarmos nas escrituras como a glória de Deus é tratada ao longo de


toda a história da redenção, vamos entender o que significa a palavra glória. A definição
de glória pode parecer algo meio abstrato para muitos cristãos, assim como era pra mim.
Se você já esteve em alguma igreja um pouco mais agitada, certamente você já ouviu
algum irmão dizer “Glória a Deus” em voz alta, principalmente quando o pregador falava
uma frase de efeito. Um brado de glória a Deus dita quase que em modo automático, e
que de tanto ser repetida como um mantra, pode ter resultado numa banalização do termo,
transformando-o em algo que é repetido por repetir.

A palavra para “glória” no Antigo Testamento é kabod e tem significado de peso,


de valor intrínseco. O valor de uma moeda, por ela ser feita de metal valioso, ouro ou
prata, era determinado pelo seu peso. Já a palavra grega para glória é doxa, que também
faz referência a valor, mas se referindo ao valor que se dá, no sentido de opinião, de
maneira que se responde ao valor e a dignidade encontrados em Deus. Com isso, John
Piper define glória de Deus como o esplendor visível da perfeição multiforme de Deus.
Deus é perfeito em todos os seus atributos de tal modo que isso resplandece em uma
beleza moral para a qual tudo que existe foi criado para apontar para isso em
reconhecimento e valor da beleza do seu caráter.

Então uma pergunta que pode surgir é a seguinte: Se o propósito da criação é a


glória de Deus, então Deus precisava da criação para que fosse glorificado? De modo
nenhum. A glória já existia entre as três pessoas da Santa Trindade. O Deus uno e trino,
nas pessoas do Pai e do Filho e do Espírito Santo continuamente proclamam a glória da
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divina união, e a igreja ao glorificar a Deus está imitando a trindade. O Espirito Santo
busca a glória do Pai e do Filho, assim como o Pai glorifica o Filho e o Espírito Santo,
estando o Filho também glorificando o Pai e o Espírito Santo. (Citar texto de João 17:5.
Agora, Pai, glorifica-me e leva-me para junto de ti, para a glória que tive a teu lado antes
do princípio do mundo.) Tudo deve retornar em glória para Deus, inclusive o próprio
Deus. Com isso nós podemos pensar: mas Deus é egoísta ao fazer isso. E mais uma vez
nos enganamos. É egoísmo quando nós, seres humanos, criaturas, limitadas e pecadoras
glorificamos a nós mesmos, mas quando se trata de Deus, Deus deve glória somente a si
mesmo, pois não há nada maior no universo do que o próprio Deus, e por isso, se Deus
glorificar outro que não seja ele mesmo, ele estaria sendo idólatra, colocando em coisas
limitadas aquilo que somente o eterno é digno.

Então, Deus criou todas as coisas para que ele seja glorificado, mas isso não é o
mesmo que dizer que Deus criou todas as coisas para que ele fosse feito glorioso. Não
podemos usar a palavra glorificar como sinônimo de embelezar quando nos referirmos a
Deus, porque isso seria o mesmo que tornar algo comum em algo belo, e não podemos
fazer isso com Deus. Não estaremos glorificando a Deus tentando melhorar a sua glória,
mas o glorificaremos mostrando e reconhecendo a sua glória. Devemos engrandecer a
glória de Deus, não no sentido de que ela seja algo pequeno e que será feita grande por
nós, mas de maneira que possamos ver a glória de Deus tal qual ela é. John Piper, no livro
Surpreendido por Deus faz uma comparação muito interessante. Devemos engrandecer a
glória de Deus da mesma forma que um telescópio e não como um microscópio. Um
microscópio, com seu jogo de lentes, faz coisas muito pequenas parecerem maiores aos
nossos olhos, enquanto que os telescópios, com seu jogo de lentes faz coisas
inimaginavelmente grandes parecerem como realmente são diante dos nossos olhos.

Outro termo usado para se referir a glória de Deus na Bíblia é “o nome de Deus”.
Quando a Bíblia fala que Deus faz algo por amor do Seu nome, isso não é uma mera
forma de se referir a Deus, mas isso evidencia o amor que Deus tem em fazer tudo para a
sua glória, para a glória do seu nome, para a glória do seu caráter.

A seguir nós vamos verificar em alguns principais momentos da história da


redenção registrada na Bíblia sobre o propósito de Deus em tudo o que Ele faz. De
Gênesis a Apocalipse, a glória de Deus é emanada por Deus no meio do seu povo, sendo
o motivo do agir de Deus em tudo.

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ANTIGO TESTAMENTO
A Criação
O primeiro capítulo de Gênesis mostra Deus criando todas as coisas, e por último
criando o homem a sua imagem e semelhança. O homem é criado como a criatura mais
importante e a ele é dada a função de subordinar toda a criação. Sendo o homem, portanto,
um reflexo dos atributos de Deus, ao cria-lo para dominar a terra, Deus tem o propósito
de encher a Terra com sua Glória, assim como está em Números 14:21 (Toda a terra se
encherá da glória do Senhor), e sobre o homem Deus diz em Isaías 43:7 que os criou para
a sua glória. Imaginem 7 bilhões de reflexos da imagem de Deus espalhados por toda a
terra, de maneira que não se perca o ponto central da criação: a glória de Deus.

A queda

Para nosso espanto, a queda também aconteceu para a glória de Deus. A queda é
a ocasião em que a vinda do Filho é prometida para a glorificação do Pai na obra da
redenção. Em Gênesis 3:15 Deus manifesta sua glória prometendo a vitória da semente
da mulher sobre a semente da serpente.

A Torre de Babel
Essa história tem por objetivo mostra como o homem caído pensa. Em gênesis
11:4 vemos a real intensão do povo ao construir a Torre (tornemos célebre o nosso nome),
e isso é justamente o contrário do propósito de Deus para o homem. Dessa maneira Deus
frustra esse planejamento humano de glorificar o próprio nome, e os espalha na Terra
confundindo seu idioma.

O chamado de Abraão
A seguir, no capítulo seguinte, em contraste com essa história de Babel, temos o
chamado de Abrão. Em Gênesis 12:1-2 Deus diz a Abrão: Sai da tua terra, da tua
parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande
nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma benção! Aqui, é Deus que
se propõe a tornar o nome de Abrão grande, diferente do que acontece no episódio da
Torre de Babel, onde o próprio homem busca se engrandecer. A diferença é que quando
o homem procura a própria glória, ele dá a si próprio os créditos por tal feito, e não dá
glória a Deus. Mas no caso de Abraão, onde Deus que torna grande o nome de Abraão, a
resposta do homem a isso é a gratidão e a confiança, devolvendo toda a glória a Deus,
que é a quem ela pertence.

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O apóstolo Paulo, na carta aos Romanos 4:20 nos mostra que Abraão não duvidou
da promessa de Deus, mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente
convicto de que era poderoso para cumprir o que havia prometido.

O Êxodo
Quando o povo de Israel esteve no Egito, e foi crescendo demograficamente,
chegou um momento em que eles foram escravizados pelos egípcios. Enquanto passavam
por esse sofrimento, eles clamaram a Deus por misericórdia, e através de Moisés, Deus
se propõe a tirá-los de lá e conduzi-los até a terra prometida de Canaã. Em Ezequiel 20
nós vemos a motivação de Deus para tal feito. No verso 6 diz: Naquele dia, levantei-lhes
a mão e jurei tirá-los da terra do Egito para uma terra que lhes tinha previsto, a qual
mana leite e mel, coroa de todas as terras. No versículo 9, Deus diz: O que fiz, porém,
foi por amor do meu nome, para que não fosse profanado diante das nações no meio das
quais eles estavam, diante das quais eu me dei a conhecer a eles, para os tirar da terra
do Egito.

É bastante claro que a libertação do povo de Israel do Egito não foi motivada
porque Deus achava o povo bonzinho, ou porque eles tinham algum valor, mas
unicamente pela paixão que Deus tem pelo seu próprio nome. Deus tem a intenção de
deixar claro que o seu propósito com Israel era glorificar a si mesmo e criar um povo que
o glorificasse e se alegrasse na sua glória.

A entrega da Lei
No Monte Sinai, Deus entrega a Moisés os dez mandamentos, e logo no início
desses mandamentos, em êxodo 20:3-5, Deus revelando ao povo que eles não podem ter
outros deuses nem dar adoração a imagens, porque toda a adoração é devida única e
exclusivamente a Deus. O seu principal objetivo com a lei é que nós entreguemos a ele a
glória que somente a ele é devida. Deus agiu com graça e poder tirando o povo do Egito,
e a resposta esperada por isso é que o seu povo o ame e se alegre na sua glória, cumprindo
os seus mandamentos. Amar a Deus não é suprir as suas necessidades, mas é se alegrar
nele, reconhecendo seu valor acima de todas as coisas. Quando estamos alegres com a
glória de Deus, descansando nela, todos os outros mandamentos serão cumpridos com
sinceridade.

A peregrinação pelo deserto


No deserto o povo deu motivos suficientes para ser fulminado por Deus. Sua
idolatria, sua rebeldia, suas reclamações eram suficientes para Deus abandoná-los, mas a

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bíblia diz que por amor de seu nome, ele os tratou com bondade. Em Ezequiel 20:21-22
diz o seguinte: Mas também os filhos se rebelaram contra mim e não andaram nos meus
estatutos, nem guardaram os meus juízos [...] Então eu disse que derramaria sobre eles
o meu furor, para cumprir contra eles a minha ira no deserto. Mas detive a mão e o fiz
por amor do meu nome, para que não fosse profanado diante das nações perante as quais
os fiz sair.

A conquista de Canaã
No livro de Josué nós vemos como Deus deu ao povo de Israel a conquista da terra
de Canaã, e no fim de tudo, no fim do livro de Josué podemos ver a razão pela qual Deus
fez o que fez. Em Josué 24:12-14 Deus diz: Enviei vespões adiante de vós, que os
expulsaram da vossa presença, bem como os dois reis dos amorreus, e isso não com a
tua espada, nem com o teu arco. Dei-vos a terra em que não trabalhastes e cidades que
não edificastes, e habitais nelas, comeis das vinhas e dos olivais que não plantastes.
Agora, pois, temei ao Senhor e servi-o com integridade e com fidelidade; deitai fora os
deuses aos quais serviram vossos pais dalém do Eufrates e no Egito e servi ao Senhor.

Deus está sendo glorificado por ter dado a Israel a terra de Canaã, este era o seu
propósito desde o início.

Os primórdios da monarquia
Quando a monarquia começa a se estabelecer, quando o povo pede um rei a Deus,
fato narrado em 1 Samuel 8, mesmo que esse ato tenha tido uma motivação errada, Deus
age com graça. E em 1 Samuel 12:22, é explicado o motivo de Deus ter feito o que fez
(Pois o Senhor, por causa do seu grande nome não desamparará o seu povo, porque
aprouve ao Senhor fazer-vos o seu povo.)

Mesmo o povo sendo pecador, Deus lhes dá um rei segundo o seu coração, um rei
com os mesmos objetivos de Deus. Vemos no Salmo 25:11 Davi dizendo: Por causa do
teu nome, Senhor, perdoa a minha iniquidade, que é grande. E também no Salmo 23:3
dizendo: Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome. Vemos que Davi sabe
a maior paixão de Deus, que é a sua glória, e professa isso em suas orações.

O templo de Deus
Com Salomão, temos a construção do templo de Deus. Em 1 Reis 8:41-45 temos
a oração de Salomão dedicando o templo recém-construído. Ele diz assim: Também, o
estrangeiro, que não for do teu povo de Israel, porém vier de terras remotas, por amor
do teu nome [...] e orar voltado para esta casa, ouve tu nos céus, lugar da tua habitação,
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e faze tudo o que o estrangeiro te pedir, a fim de que todos os povos da terra conheçam
o teu nome, para te temerem como o teu povo de Israel e para saberem que esta casa,
que eu edifiquei, é chamada pelo teu nome.

A intenção que Salomão tinha ao construir o templo era de acordo com a intenção
de Deus, pois vemos claramente que o objetivo era a exaltação do nome de Deus, para
que todas as nações o conhecessem e o temessem.

Exílio e promessa de restauração


O Reino do Norte já tinha sido levado cativo pelos Assírios, e agora o reino do
Sul foi levado pelos Babilônios. Tudo apontava para uma resposta: Deus desistiu do seu
povo, mas a esperança descansa na verdade de Deus sempre fazer tudo para glória do seu
próprio nome, e em Isaías 48:9-11, Deus diz: Por amor do meu nome, retardarei a minha
ira e por causa da minha honra me conterei para contigo, para que te não venha a
exterminar. Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; porque como seria
profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outrem.

Ezequiel que foi profeta durante o exílio babilônico diz o que Deus vai fazer ao
seu povo e também o porquê ele vai fazer. Em Ezequiel 36:22 Deus manda dizer ao povo:
Não é por amor de vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome, que
profanastes entre as nações para onde fostes. [...] as nações saberão que eu sou o Senhor.
No verso 32 continua: Não é por amor de vós, fique bem entendido, que eu faço isto, diz
o Senhor Deus.

Louvado seja o Senhor por ele ser fiel a si próprio, e buscar a sua glória.

Os profetas pós-exílicos
Após o exílio, Zacarias, Ageu e Malaquias continuam profetizando ao povo, e
Deus continua falando através deles, revelando o amor pela sua glória.

Sobre a reconstrução de Jerusalém, Em Zacarias 2:5 temos: Eu mesmo serei, no


meio dela, a sua glória.

E em Ageu 1:8: Subi ao monte, trazei madeira e edificai a casa, dela me agradarei
e serei glorificado, diz o Senhor.

Em Malaquias 2:2, Deus fala aos sacerdotes, por não desejarem glorificar o seu
nome: Se o não ouvirdes e se não propuserdes no vosso coração dar honra ao meu nome,

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diz o Senhor dos Exércitos, enviarei sobre vós a maldição e amaldiçoarei as vossas
bençãos.

A motivação de Deus é sua própria glória e a nossa motivação também deve ser a
glória de Deus.

NOVO TESTAMENTO
No novo testamento encontramos a mesma coisa, a glória de Deus é a razão para
tudo.

Vida e ministério de Jesus


Na vida de Jesus não foi diferente, pois sua motivação é a glória de Deus. Duas
passagens do evangelho segundo João nos mostram isso. Em João 7:18, Jesus falando do
seu ministério diz: Quem fala por si mesmo está procurando a sua própria glória, mas o
que procura a glória de quem o enviou, esse é verdadeiro, e nele não há injustiça. Em
João 17, quando Jesus está orando, já no final de sua vida, no versículo 4 ele diz: Eu te
glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer. Esses versículos
nos mostram que o propósito mais importante de Jesus em seu ministério terreno é
glorificar a Deus.

Morte de Jesus
A morte de Jesus, assim como sua vida, tinha como propósito também glorificar
a Deus. Jesus estava disposto a sofrer a perda de sua glória para reparar o dano causado
pelo pecado à glória e a justiça de Deus. Em João 12:27-28, Jesus, tomado por angústia,
pensa em fugir da morte, mas ele rejeitou esse pensamento pois sabia que era a sua morte
que consumaria sua missão de glorificar o nome de Deus. Jesus disse: Agora está
angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente
com este propósito vim para esta hora. Pai, glorifica o teu nome. Então, veio uma voz do
céu: Eu já o glorifiquei e ainda o glorificarei.

Além disso, é verdade que a morte de Jesus mostra que Deus também nos ama,
mas nós não somos o centro do amor de Deus, mas a sua glória que é a razão pelo qual
Deus faz tudo.

A vida cristã
A vida e a morte de Cristo sendo para a glória de Deus, nos leva inevitavelmente
ao entendimento de que esse também é o propósito de Deus para a igreja. Paulo nos

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mostra isso em 1Corintios 10:31, dizendo: Quer comais, quer bebais ou façais outra coisa
qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.

Deus só não quer que nós o glorifiquemos, como também ele nos capacita. Em
1Pedro 4:11, Pedro nos diz: Se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que,
em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a
glória e o domínio pelos séculos dos séculos, amem!

E no sermão do monte, quando Jesus estava instruindo seus discípulos sobre o


objetivo de suas vidas, ele disse, em Mateus 5:16: Brilhe a vossa luz diante dos homens,
para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.

É lamentável como a nossa natureza pecaminosa ainda nos direciona a agir como
os homens na torre de babel, buscando glória pra si próprio. Fazendo coisas com a
intenção, nem que seja mínima, de que seja reconhecido pelos outros, mas é justamente
o contrário que devemos fazer. Devemos servir o máximo que pudermos, chamando o
mínimo de atenção pra nós. Devemos viver como João Batista disse registrado em João
3:30 é necessário que ele cresça e que eu diminua.

O apóstolo Paulo na sua carta aos Romanos traz uma explicação sobre o porquê
Deus deve ser glorificado. Em Romanos 11 a partir do verso 33, Paulo diz: Ó
profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis
são os seus juízos, e inescrutáveis os seus caminhos! “Quem conheceu a mente do
Senhor? Ou quem foi seu conselheiro?” “Quem primeiro lhe deu, para que ele o
recompense?” Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas, a ele seja a glória para
sempre! Amém! Aqui vemos uma declaração da soberania de Deus. A sabedoria e o
conhecimento de Deus são semelhantes a um poço fundo, que nós olhamos de cima
tentando avistar o seu fim, mas não conseguimos. A diferença é que embora não
consigamos enxergar o fim desse poço, ele existe, mas o fim da sabedoria de Deus não
existe, pois é infinita. Deus é incompreensível por nossa razão limitada, não há como
sondar os seus pensamentos. Deus é maior do que tudo, pois ninguém lhe deu nada, nem
lhe aconselhou sobre qualquer coisa. Deus é o centro de tudo, dele, por ele, e para ele são
todas as coisas, e sendo Deus, perfeito, soberano, todo-poderoso, maior do que tudo que
consigamos imaginar, somente a Ele deve ser dada a glória.

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A segunda vinda e o fim
Até aqui vimos que tudo é pra glória de Deus, e quando digo até aqui, não estou
me referindo apenas ao texto bíblico que analisamos, mas na história como um todo. Até
o dia de hoje, Deus tem agido para o louvor de sua própria glória sendo esse o seu maior
propósito. E no que tange a segunda vinda de Cristo e o fim deste século, a glória de Deus
também está no centro. Paulo afirma em 2 Tessalonicenses 1:9-10: Estes sofrerão
penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder,
quando vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram.
Jesus virá para que todos os que creram e foram salvos o glorifiquem.

E assim, no novo céu e nova terra, a nova Jerusalém, com a igreja glorificada, a
glória de Deus será a principal das coisas por toda a eternidade. Em apocalipse 21:23,
João diz que A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade,
pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada. Nós fomos feitos para a
glória de Deus, e o próprio Jesus confirma isso quando ora ao Pai em João 17:24: Pai, a
minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que
vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo.
Na eternidade, para onde quer que olhemos, veremos a glória de Deus. Então a profecia
de Habacuque 2:14 (Porque a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor,
como as águas cobrem o mar) se cumprirá. A terra será inundada pela glória de Deus
eternamente.

A glória de Deus na nossa salvação


Já vimos que Deus nos salvou para a sua glória. Deus salva e mantem o seu povo
fiel para a sua glória, e a salvação é mais um motivo para nós glorificarmos a Deus. Na
carta de Paulo a Tito 3:5 diz o seguinte: ele nos salvou não porque tivéssemos feito algo
justo, mas por causa de sua misericórdia. Somos salvos da condenação eterna por obra
exclusiva de Deus, e por isso, jamais devemos nos gloriar de termos contribuído ou por
sermos dignos da nossa salvação. Se alguém se acha digno de algo diante de Deus, por
praticar boas obras ou se considerar uma pessoa boa, merecedora de salvação, esta pessoa
está pisando no valor do sacrifício de Cristo, e roubando a glória por uma salvação que
somente Deus é digno de receber. O apóstolo Paulo escrevendo aos efésios, no capítulo
2 verso 8 diz: Vocês são salvos pela graça, por meio da fé. Isso não vem de vocês; é uma
dádiva de Deus. Não é uma recompensa pela prática de boas obras para que ninguém
venha a se orgulhar. Portanto, a glória pela salvação é exclusiva de Deus, e se no nosso

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viver, buscamos receber essa glória, estamos pecando. Jesus, no sermão do monte ensina,
em Mateus 6 a partir do verso 1: Tenham cuidado! Não pratiquem suas boas ações em
público, para serem admirados por outros, pois não receberão a recompensa de seu Pai,
que está no céu. Quando ajudarem alguém necessitado, não façam como os hipócritas
que tocam trombetas nas sinagogas e nas ruas para serem elogiados pelos outros. Eu
lhes digo a verdade: eles não receberão outra recompensa além dessa. Deem sua ajuda
em segredo, e seu Pai, que observa em segredo, os recompensará.

PRÁTICO (Iago e Renan)


Na nossa vida em geral (Iago)
No começo da nossa apresentação, mencionamos como o termo “glória” tem sido
usado cada vez mais em vão, sendo repetido como uma expressão qualquer, carente de
significado no momento de uso. Não é à toa que esse desconhecimento do peso que a
glória de Deus tem é a causa de grandes problemas na vida da igreja.

Como vimos, o ser humano foi feito para a alegria na glória de Deus,
parafraseando o Catecismo de Westminster, e esse é o seu fim supremo. Porém, com a
queda, o ser humano perdeu essa noção de qual era o sentido da sua vida. Vivemos numa
geração marcada pela insatisfação, e isso não parece ser exclusivo dessa geração, mas
isso parecer existir há muito tempo. Pessoas se queixando de insatisfação em tudo na sua
vida, as coisas estão sendo fabricadas cada vez mais descartáveis, sejam objetos, sejam
músicas, sejam filmes, todos respondendo uma demanda de uma geração que usa esses
produtos e logo estão esperando por algo novo, porque não mais se satisfazem com algo
de começaram a viver há poucas semanas. O que motivou o pecado de Adão e Eva foi
insatisfação. Quando eles deram ouvidos a serpente, aquilo colocou em seus corações o
sentimento de insatisfação pela vida que eles tinham, e dessa forma, pecaram querendo
algo novo que o fruto que lhes era proibido comer lhes daria. O pecado deles começou
antes mesmo deles o consumarem comendo do fruto, da mesma forma como Jesus falou,
que se alguém olhar para uma mulher para deseja-la, esse já cometeu adultério no coração.
Adão estava insatisfeito porque estava vivendo de uma maneira que ele não foi feito pra
viver.

Vamos fazer algumas analogias para entender melhor. Imaginem um leão que
vivia livre numa savana e certo dia ele é capturado por caçadores que o colocam para
viver numa jaula. O leão com certeza estará insatisfeito porque ele não foi feito para viver
numa jaula, mas livre na savana. Existe uma espécie de abutre africano chamado Grifo

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de Rüppell que consegue alcançar uma altura de voo de 11,3 km, é a maior altura já
registrada de voo para uma ave. Se cortassem as suas asas e ela tivesse que viver no solo,
com certeza ficaria insatisfeita e triste. Essa mesma lógica se aplica a nós. Nós fomos
criados para a glória de Deus e quando vivemos com qualquer outro propósito se não a
glória de Deus, não tem como ficarmos plenamente satisfeitos. Nós fomos criados para
refletir a glória de Deus na criação, por isso ele nos criou a sua imagem e semelhança.
Deus não precisa que nós vivamos para a glória dele, mas nós é que precisamos. Deus
não fica mais alegre quando eu vivo pra sua glória, mas sou eu que me alegro.

O Salmo 19 diz que os céus proclamam a glória de Deus. Todos as noites quando
a lua e as estrelas estão no céu, ou quando o sol brilha sobre toda a Criação, eles estão
dizendo de uma maneira impronunciável: Glória a Deus! Da mesma forma toda a criação.
Mas nós deveríamos fazer isso de uma forma muito melhor, porque o resto da criação não
foi feito a imagem e semelhança de Deus, como nós fomos. Os seres que tem a imagem
de Deus, se recusaram a glorificar a Deus.

Salomão nos mostra em Eclesiastes 2 como é amarga a vida de quem não vive
para a glória de Deus. Dos versos 4 ao 11 ele diz: Fiz para mim obras magníficas;
edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas.
Fiz para mim hortas e jardins, e plantei neles árvores de toda a espécie de fruto.
Fiz para mim tanques de águas, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as
árvores. Adquiri servos e servas, e tive servos nascidos em casa; também tive grandes
possessões de gados e ovelhas, mais do que todos os que houve antes de mim em
Jerusalém. Amontoei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis e das
províncias; provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens; e de
instrumentos de música de toda a espécie.
E fui engrandecido, e aumentei mais do que todos os que houve antes de mim em
Jerusalém; perseverou também comigo a minha sabedoria.
E tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o meu coração de
alegria alguma; mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e esta foi a
minha porção de todo o meu trabalho.
E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o
trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito,
e que proveito nenhum havia debaixo do sol. Quando vivemos de outra forma se não para
a glória de Deus, o resultado é infelicidade, insatisfação.

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No culto (Iago)
Um dos momentos que foi gravemente afetado pela recusa da glória de Deus da
parte dos homens é o culto público. O culto dos nossos dias tem sido reformulado para
atender as necessidades das pessoas. A ideia de culto como um momento em que eu me
reúno com os outros membros do corpo de Cristo para adoração, tem sido substituída para
um momento em que eu saio de casa para ter meu ego amaciado em templos onde são
cantadas músicas que dizem o quão importante e grande eu sou, ouvir sermões que dizem
que eu sou o centro do coração de Deus, e no final de tudo eu ainda posso dizer se aquele
momento foi bom ou não levando em consideração o quanto as músicas me emocionaram
ou o quanto o sermão acariciou os meus pecados. Nesse caso, a glória que deveria ser
reconhecida a Deus, é dada a homens, não se fazendo mais um culto pra glória de Deus.

Além disso, quando não há um trabalho doutrinário sólido em qualquer que seja a
igreja, de qualquer que seja a denominação, não é difícil o ser humano fazer coisas
buscando sua própria glória. Oficiais que se colocam com arrogância numa posição
superior aos demais irmãos, ou grupos musicais que não exercem sua função com a
intenção de conduzir os cânticos durante o culto, mas de simplesmente se apresentarem
para a igreja, fazendo aquilo para serem vistos, ou até mesmo uma falsa humildade que
leva pessoas a se diminuírem diante dos outros para que os outros vejam como essas
pessoas são humildes. Tudo girando em torno do egoísmo, e a glória de Deus é deixada
de lado para dar lugar a glória de homens, em outras palavras, a idolatria.

Na vida de cristãos notáveis. (Renan)


Uma questão que surge quando o assunto é glorificar a Deus, é que nós só
poderíamos fazer isso nas atividades da igreja. Somente quando eu estou na igreja é que
eu consigo glorificar a Deus, mas Paulo em 1Co 10:31 diz: portanto, quer vocês comam,
quer bebam, quer façam qualquer outra coisa, façam para a glória de Deus. Podemos e
devemos glorificar a Deus em tudo que fizermos. Seja nos cultos, nas demais atividades
da igreja, seja em casa, quando nos deparamos com uma pia cheia de louça pra ser lavada,
ou quando vamos nos matricular em algum curso na universidade, ou quando vamos fazer
qualquer outra coisa, isso deve ser feito para a glória de Deus. Muitos cristãos notáveis
em outras áreas fora da teologia buscavam a glória de Deus em suas respectivas áreas de
atuação. Uma herança da Reforma é que não era preciso sacralizar as coisas para que elas
pudessem ser feitas para a glória de Deus. Johann Sebastian Bach sempre escrevia no
final das suas partituras as letras SDG, sigla para Soli Deo Gloria. Bach escreveu tanto

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músicas para a igreja como para entretenimento, e em ambas, sua dedicação evidenciava
a glória de Deus. Na área da literatura podemos citar William Shakespeare, Edmund
Spenser, John Donne e George Herbert. Muitas universidades como Zurique,
Estrasburgo, Genebra, Edimburgo, Leiden, Utretch, Amsterdã, Oxford, Cambridge e
Heidelberg foram fundadas com a intenção de influir teologia nas outras áreas do
conhecimento acadêmico e proclamar a glória de Deus nisso. Vários nomes importantes
para a ciência eram cristãos. Podemos citar Johannes Kepler, que desenvolveu as leis
concernentes às órbitas dos planetas. Foi ele que descobriu que a órbita não era circular,
como se pensava ser, mas elíptica, e ainda explicou outros fenômenos atrelados a isso,
como a variação de velocidade da Terra em diferentes posições da órbita. Robert Boyle,
que propôs a Lei que dispõe sobre o comportamento de gases em sistemas fechados,
aquela formulinha que vemos no ensino médio (P1.V1=P2.V2). Isaac Newton é mais um
nome que é bastante relevante na ciência e que professava a fé cristã. O próprio Newton
já disse “A gravidade explica os movimentos dos planetas, mas não pode explicar quem
colocou os planetas em movimento. Deus governa todas as coisas e sabe tudo que é ou
que pode ser feito”. Louis Pasteur, outro nome notável para a ciência, trouxe
contribuições importantíssimas para a ciência. O processo que conserva alimentos por
mais tempo recebeu seu nome (pasteurização), ele desenvolveu a primeira vacina
antirrábica, defendeu a teoria da biogênese, e até um instrumento de laboratório recebeu
seu nome (pipeta de Pasteur). Certa vez ele disse: Um pouco de ciência nos afasta de
Deus, muito, nos aproxima.

Na nossa vida (Renan)


Depois de tudo o que nós vimos sobre a glória de Deus e sobre o Soli Deo Glória,
vamos observar, à luz de um trecho da bíblia, como nós podemos viver para a glória de
Deus. Na carta de Paulo aos Filipenses 1:9-11 diz o seguinte: Esta é a minha oração: que
o amor de vocês aumente cada vez mais em conhecimento e em toda a percepção, para
discernirem o que é melhor, a fim de serem puros e irrepreensíveis até o dia de Cristo,
cheios do fruto da justiça, fruto que vem por meio de Jesus Cristo, para glória e louvor
de Deus.

Nós vimos até agora que a razão pela qual nós fomos criados e existimos é para a
glória de Deus, mas como nós fazemos isso? De acordo com o texto que lemos,
glorificamos a Deus com frutos de justiça, frutos estes que vem por meio de Cristo. O
fruto é aquilo que aparece na nossa vida, no nosso comportamento, nas nossas ações. E

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como conseguir esse fruto de justiça? Paulo nos diz como. Precisamos nos manter puros
e irrepreensíveis. E como fazemos isso? Devemos discernir o que é melhor, ou seja, fazer
escolhas corretas. E como fazer isso? Crescendo em conhecimento e discernimento. Mas
conhecimento e discernimento de quê? De que somos cheios de amor. Não
necessariamente amando, mas nos reconhecendo como amados por Cristo em seu
sacrifício. Um raciocínio que podemos fazer é o seguinte. Se eu for fazer compras de
estomago vazio, a minha percepção estará afetada por isso, e eu não vou ter discernimento
para fazer escolhas corretas, porque eu estarei sendo influenciado pela minha fome, e não
vou comprar coisas realmente corretas. Então quando eu não estou me vendo cheio do
amor, minha percepção das coisas é alterada, me levando a fazer escolhas movidas pela
minha carne, e que não vão glorificar a Deus. Mas quando eu vou fazer essas compras de
estômago cheio, eu não vou me deixar ser guiado pelas minhas necessidades físicas, e
vou agir com melhor discernimento, fazer escolhas melhores que gerarão consequências
corretas, vou comprar comida e não besteira. Então, estando cheios do amor de Cristo,
passamos a ter conhecimento e percepção corretos, e isso nos leva a fazer escolhas
melhores, e essas escolham geram frutos de justiça em nossa vida, e assim, glorificamos
a Deus.

CONCLUSÃO (Renan)
Para concluir, apesar da reforma protestante ter ocorrido no século XVI, ela tem
como lema Igreja Reformada, sempre se reformando, e observando o contexto da igreja
nos dias atuais, isso se mostra uma necessidade urgente. A igreja deve voltar para a
escritura, para entender que a salvação é pela graça, mediante a fé, e somente em Cristo,
para nisso e em todas as demais coisas, os homens viverem para aquilo que foram criados:
Soli Deo Gloria!

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