Aula 5 - Direito Civil Parte Geral - Atos Jurídicos Ilícitos
Aula 5 - Direito Civil Parte Geral - Atos Jurídicos Ilícitos
Aula 5 - Direito Civil Parte Geral - Atos Jurídicos Ilícitos
PROPÓSITO
Obter conhecimento sobre o conceito, os elementos e as espécies do ato jurídico ilícito, para a
compreensão das espécies de responsabilidades previstas em nosso ordenamento jurídico e
presentes na prática profissional de diversas
áreas de atuação.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo deste estudo, tenha em mãos um Vade Mecum que contenha
legislação do Código Civil, do Código Penal e do Código de Processo Penal.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Neste conteúdo, estudaremos os atos jurídicos ilícitos, previstos no Título III do Código Civil,
nos artigos 186 a 188. Dessa forma, iniciaremos com as definições gerais do tema e a análise
dos dispositivos aplicáveis e das
críticas em relação aos pressupostos utilizados pelo Código
Civil para conceituação do ato ilícito.
Ou seja, fato jurídico é aquela situação capaz de produzir efeitos (criar, modificar, substituir ou
extinguir situações jurídicas concretas), mas que, embora tenha potencial, tais consequências
não decorrem necessariamente
daí.
A vida humana é constituída por uma sucessão de fatos. Aqueles relevantes o suficiente para
receber tutela jurídica recebem a denominação de “fato jurídico”. Todas as matérias do Direito
tratam de fatos jurídicos. O advogado,
para propor uma ação, deve analisar se o fato trazido é
jurídico, isto é, se é protegido pelo Direito. É como se houvesse o mundo da vida (maior) e o
mundo do direito (menor).
Essas concepções, jurídicas ou da vida, deverão vir caracterizadas pelas regras jurídicas, isto
é, pelos textos de lei e suas posteriores interpretações. Será o veículo normativo que atribuirá
valor jurídico a um fato da vida.
Se um desses elementos que formam o direito não estiver
presente, não existe direito. Se não há fato, ou não há valoração, ou não há norma, não existe
direito. Sem valoração, o fato não é mais jurídico. A norma pode juridicizar
ou desjuridicizar um
fato.
Fato jurídico é, portanto, aquele ao qual o direito atribui consequências jurídicas, em razão de
valorações das relações importantes da sociedade.
Por seu alto grau de reprovabilidade, é uma conduta que a sociedade, em comum acordo, a
partir do intermédio de seus representantes legislativos eleitos, fez constar na lei do país.
Assim, uma vez caracterizado que determinado
ato é ilegal, por uma série de questões, ou
apenas uma, como a pura aceitabilidade social desses atos, certa conduta poderá receber
retaliação estatal.
Dessa forma, uma mesma atitude como, por exemplo, atravessar fora da faixa de segurança
para pedestres, pode ser uma conduta considerada ilícita em um país e em outro não. De
modo que, no território que a considera ilícita
existirão leis declarando a conduta ilegal e,
assessorando essas leis, uma série de outras normas que deverão resguardar a possibilidade
de retaliação aos comportamentos que desrespeitem tal comando legal.
A partir disso, faz-se necessário dividir os fatos em dois:
Fatos lícitos
Fatos ilícitos
Dessa forma, o fato lícito é aquele que afirma positivamente os valores da ordem jurídica.
Ou seja, ele vai ao encontro dos valores do ordenamento jurídico como, por exemplo: a vida, a
liberdade, a igualdade,
a saúde etc.
Ato-fato;
a) Negócio jurídico
Os fatos acontecem no mundo da vida, e isso já ficou claro. O direito valora esses fatos como
positivos ou negativos. Os positivos são os favoráveis aos valores da ordem jurídica (lícitos) e
os negativos são os contrários aos
valores (ilícitos).
EXEMPLO
Um contrato de compra e venda de um veículo, por exemplo, é um fato jurídico lícito, contudo,
a falta do pagamento acertado neste contrato é um fato ilícito, pois viola valores do
ordenamento e obrigações contratuais.
Importante também referir que todo o ato jurídico exige, para sua licitude, a presença de uma
ação humana voluntária e consciente destinada a um resultado. Assim, é a autonomia
privada que rege os interesses
e as vontades da vida em sociedade. Dessas vontades,
ocorrerão fatos jurídicos, atos-fatos jurídicos, negócios jurídicos e atos jurídicos.
Ao passo que o fato ilícito nada mais é do que o fato antijurídico, isto é, aquele acontecimento
cujos potenciais efeitos jurídicos são contrários ao ordenamento jurídico. Admitem duas
classificações maiores sendo:
Fatos ilícitos em sentido estrito
Por estarem definidos como tais no Código Civil, a partir do art. 186.
Já os atos-fatos jurídicos são aqueles que, para existir, necessitam de um ato humano,
voluntário ou não, mas que sua existência cause consequências e reverberações na ótica
jurídica.
ATOS REAIS
ATOS-FATOS INDENIZATIVOS
ATOS-FATOS CADUCIFICANTES
ATOS REAIS
Fatos resultantes que importam para a configuração do fato jurídico, não o ato humano como
elemento volitivo.
ATOS-FATOS INDENIZATIVOS
Atos que, embora lícitos, causam danos involuntários a outras pessoas e resultam em um
dever de indenizar.
ATOS-FATOS CADUCIFICANTES
Atos que são praticados para que determinado direito não decaia ou prescreva. Ele é exercido
no momento, por exemplo, do ingresso de uma ação judicial antes do prazo prescricional, ou o
exercício de direito antes do prazo
decadencial.
(LEI Nº 10.406/2002)
De modo que deverá haver ação humana, ou omissão, negligência e imprudência que resulte
na violação de direito ou dano a outra pessoa.
A ação humana pode ser positiva (ação) ou negativa (omissão). A omissão, no direito civil,
só acarreta ilicitude se a pessoa omissa tiver o dever de agir. Por exemplo, um salva-vidas
é obrigado a salvar alguém
que está se afogando, porém, uma pessoa sem o dever jurídico de
salvar vidas na água não comete omissão ilícita se não tentar salvar a pessoa. No direito penal
é diferente.
Tal ação humana deve ser voluntária/dolosa, ou seja, com a intenção, ou culposa, sem a
intenção de causar dano, o que significa agir com imperícia, imprudência ou negligência.
IMPERÍCIA
Significará no fato de a pessoa que promoveu o ato lesivo não ter o domínio técnico para a
prática do ato.
IMPRUDÊNCIA
Aquele que não observar os cuidados necessários (as regras de cautela) para a prática de um
ato.
NEGLIGÊNCIA
Se dá naquelas situações em que o agente não emprega a atenção necessária para a prática
de determinado ato, como dirigir desatento.
De modo que será não perito aquele que dirige sem a habilitação, e imprudente aquele que
dirige em alta velocidade com água da chuva na pista. Além desses exemplos, são de fácil
percepção as situações envolvendo os médicos,
que podem ocorrer por qualquer uma das
ações culposas descritas acima.
Vejamos os exemplos:
Um médico que deixe um bisturi ou qualquer objeto dentro de alguém após uma cirurgia
age com negligência;
Um anestesista que, sabendo que a dose deve ser X, aplica a dose Y por não ter
cuidado, age por imprudência;
Se o anestesista não soubesse qual deveria ser a dose correta, então ele seria imperito.
Assim, o fato ilícito decorre de uma violação a uma obrigação jurídica preexistente imposta ao
agente. No entanto, o conceito de fato ilícito não está adstrito à antijuridicidade. É preciso que a
conduta ou evento contrário
ao direito possam ser imputados a alguém com capacidade
delitual, isto é, de praticar o ato ilícito (MELLO, 2005). Nesse contexto, antijuridicidade e
imputabilidade perfectibilizam o conceito de ilicitude.
Nesse sentido, a antijuridicidade apresenta-se como dado de natureza objetiva, ou seja, existe
quando o fato ofende direitos alheios de modo contrário ao ordenamento jurídico,
independentemente da presença de culpa.
Para auferir a antijuridicidade, basta questionar: “o que se fez?”, sem levar em consideração as
condições pessoais do ofensor e da constatação de seu erro na conduta (FARIAS;
ROSENVALD; NETTO, 2020).
Contudo, o ato ilícito não se exaure com a antijuridicidade. Para estar caracterizado, o ato
precisa da presença de outro elemento, agora de índole subjetiva: a imputabilidade do agente,
que diz respeito à capacidade de compreensão
do caráter ilícito da conduta que se pratica.
Para fins didáticos, imagine uma menina de 14 anos que obtenha, às escondidas, as chaves do
veículo dos seus pais e provoque um acidente. Fatalmente estará concretizado um fato
antijurídico, porém lícito, eis que ausente
o elemento subjetivo da imputabilidade.
Há ainda a possibilidade de uma pessoa imputável praticar atos desprovida dessa qualidade.
“O que se fez?”
Vimos que devemos questionar: “o que se fez?”, a fim de auferir a antijuridicidade de um fato.
“Quem fez?”
No entanto, para averiguar a existência de fato ilícito, não basta a verificação do elemento
objetivo (a antijuridicidade), é necessário também identificar o elemento subjetivo (a
imputabilidade), o que
se faz realizando a seguinte pergunta: “quem fez?”.
ATO ILÍCITO
No vídeo a seguir, a especialista Cíntia Burille vai falar um pouco mais sobre o conceito do
ilícito dentro da teoria dos fatos jurídicos. Assista:
O DANO
Para além da ação humana, do caráter antijurídico da conduta, há a necessidade da presença
do vetor “dano” para que se possa pensar na necessidade de reparação. Por exemplo, se o
médico fizer tudo errado, mas
não causar nenhum dano ao paciente, não será um fato ilícito.
Dano patrimonial
Dano moral
A consequência do ato ilícito, regra geral, está no caput do art. 927. A resposta civil é a
indenização. Essa responsabilidade civil vista no art. 186 é baseada na culpa, que causa
dano. Ela se chama responsabilidade civil subjetiva,
porque é fundamentada na culpa do
sujeito.
A definição básica dos atos ilícitos é, portanto, relativa aos atos ilícitos lato sensu, que se
subdividem em:
Caracteriza-se pela não exigência de uma relação anterior ao acontecimento do ato entre o
agente e a vítima do dano.
Caracterizado pela violação de um dever que emerge de uma relação jurídica, seja contratual
ou decorrente de outra relação jurídica, que não a contratual, como as protegidas pelo direito
de família, gerando perdas e danos,
uma espécie de dever de indenizar.
Anexamente a essa definição, Pontes de Miranda (1977) traz duas novas formas de atos
ilícitos.
ATENÇÃO
A essa altura, é importante ressaltar que o ato ilícito pode ser civil, penal ou administrativo.
Neste conteúdo, a análise central será sobre o ilícito civil, bem como alguns aspectos do ilícito
penal.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
A RESPONSABILIDADE CIVIL
A responsabilidade civil consiste na obrigação imposta a uma pessoa de ressarcir os danos
injustamente causados a outrem por fato próprio ou por fato de pessoas ou coisas que ela
dependa. No entanto, toda forma de responsabilidade
civil prescinde de um comportamento
danoso que viole um sistema normativo jurídico prévio, ou seja, a responsabilização civil
pressupõe a violação de uma norma preexistente.
A principal consequência da prática de um ato lesivo é a obrigação imposta, ao seu autor, de
reparar o dano, obrigação caracterizada como pessoal, resolvida em perdas e danos.
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E
EXTRACONTRATUAL
Conforme explicado, aquele que viola um sistema normativo jurídico prévio e, com isso, comete
ato lesivo a outrem, fica obrigado a indenizar. Esse dever descumprido pode ser oriundo de um
contrato, ou seja, pode ter como fato
gerador uma relação jurídica obrigacional precedente, ou
então pode ter como fonte uma obrigação imposta pela própria lei ou por preceitos gerais de
Direito.
TEORIA DUALISTA DA RESPONSABILIDADE
RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL OU
AQUILIANA
Por outro lado, não havendo qualquer tipo de relação jurídica contratual entre o transgressor e
a vítima, e se o dever de indenizar surgir a partir da violação de um direito subjetivo da vítima,
estaremos diante da chamada
responsabilidade extracontratual ou aquiliana, cuja previsão
normativa se encontra nos artigos 927 e seguintes do Código Civil.
Atualmente, existe uma verdadeira simbiose entre os dois tipos de responsabilidade, tendo em
vista a aplicação de determinadas regras às duas modalidades.
EXEMPLO
No entanto, em que pese a crítica pelos adeptos da teoria unitária ou monista, para quem não
importa a origem jurídica da responsabilidade civil, uma vez que os seus efeitos são análogos,
a dicotomia ainda faz sentido teórico
e prático.
Para fins didáticos, podemos apontar outras diferenças entre as duas responsabilidades no
quadro a seguir:
transgressor e a vítima.
RESPONSABILIDADE CIVIL E
RESPONSABILIDADE PENAL
Os atos ilícitos, ao contrário do que popularmente se imagina, não são exclusividade do Direito
Penal. Trata-se a ilicitude, basicamente, de uma contrariedade entre a conduta praticada pelo
agente e a norma jurídica, ou seja,
podemos considerá-la um desrespeito ao ordenamento
jurídico, razão pela qual se depreende que atos ilícitos podem ser praticados em qualquer
esfera do Direito.
A título ilustrativo, imagine que uma pessoa provoque a degradação ambiental em determinada
área de terras. Nesse caso, estaremos diante de um ilícito ambiental, passível de reparação
pelo causador do dano. Da mesma forma,
aquele que descumprir deveres jurídicos estatuídos
em leis fiscais estará praticando um ilícito tributário, igualmente passível de responsabilização.
Por outro lado, aquele que, em razão de sua conduta, violar uma lei civil ou um contrato, ou
seja, uma norma jurídica de direito privado, praticará um ilícito civil. Já o ilícito penal ocorrerá
na medida em que a norma jurídica
transgredida pelo agente causador do dano for de direito
penal, eminentemente público. Sendo assim, a ilicitude será civil ou penal única e
exclusivamente em razão da origem da norma transgredida, não havendo diferenciação
substancial entre uma e outra modalidade.
Basicamente, a diferença entre ilícito civil e penal consiste no maior nível de gravidade, de
lesividade e de imoralidade que permeiam o último, provocando a desestruturação e o
enfraquecimento da sociedade como um todo, razão
pela qual merece reprimenda mais
severa.
Entretanto, uma mesma conduta praticada por determinada pessoa poderá infringir tanto
normas jurídicas civis quanto penais, caracterizando, portanto, dupla ilicitude. Imagine que
alguém, ao conduzir um veículo em uma avenida,
de forma imprudente e sob o efeito de álcool,
atropele e mate um pedestre.
Criminal
Civil
Já no âmbito cível, será responsabilizado e obrigado a reparar o dano aos parentes da vítima.
Assim, o agente causador do dano receberá dupla sanção: uma penal, de natureza repressiva,
e outra civil, de natureza reparatória, concretizada por meio de uma indenização.
Ademais, importante destacar que toda prática de um ilícito penal desencadeia, naturalmente,
a sanção penal correspondente à infração, bem como a responsabilização civil, ou seja, a
necessidade de reparação ou compensação patrimonial
pelo dano ocasionado.
Isso ocorre porque o Código Penal traz, como um dos efeitos da condenação, em seu artigo
91, inciso I, a certeza da obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, que deverá ser
pleiteada por meio da chamada ação civil ex delicto.
No mesmo sentido, dispõe o artigo 63 do
Código de Processo Penal que “transitada em julgado a sentença condenatória, poderão
promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu
representante
legal ou seus herdeiros”.
Vejamos um outro quadro comparativo, desta vez entre a responsabilização civil e a
responsabilização penal:
Código de Hamurabi
Seguindo essa construção histórica, o Direito Civil brasileiro, mais especificamente no artigo
186 do Código Civil, adotou como regra a chamada responsabilidade civil subjetiva,
amparada na culpa em sentido
amplo.
Para a teoria clássica da responsabilidade civil, a prova da culpa passa a ser pressuposto
necessário do dano indenizável, incumbindo à vítima o ônus de comprovar que o dano foi
causado ou por negligência, imprudência ou imperícia
(culpa stricto sensu) ou então por dolo
por parte do ofensor. Em não havendo a comprovação da culpa, não há que se falar em
responsabilização civil.
Assim, para que se fale em responsabilização civil subjetiva, é necessário que estejam
presentes seus pressupostos, que são identificados a partir da literalidade do artigo 186 do
Código Civil. São eles:
O DANO
Para melhor compreensão do assunto, imagine a situação exposta anteriormente, acerca das
responsabilidades civil e penal: um motorista, ao conduzir seu veículo automotor por uma
avenida, de forma imprudente e sob o efeito de
bebida alcoólica, atropela e mata um pedestre.
Além da responsabilização penal, ele poderá ser responsabilizado civilmente pelo ato ilícito
praticado. Isso porque, no caso, estão presentes os pressupostos para a responsabilização
civil, uma vez que o agente praticou uma conduta (atropelou alguém) de forma culposa, no
sentido stricto sensu (pois fora imprudente ao dirigir embriagado), sendo que, em razão de tal
conduta, ocorreu um dano à vítima (nexo
causal entre a conduta e o resultado dano).
Ocorre que a evolução da sociedade, ao longo dos tempos, especialmente com a Revolução
Industrial, trouxe inúmeras consequências
jurídicas, entre elas, a maior atuação estatal e o
aumento da preocupação com direitos sociais.
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A teoria clássica da responsabilidade civil, fundada na culpa, passou a não mais atender aos
anseios sociais diante do crescimento populacional e dos novos acontecimentos que surgiam.
Com a finalidade de preencher as lacunas
existentes, passou-se a admitir, em certos casos,
outra modalidade de responsabilização civil, aquela que se dá independentemente de culpa do
agente.
Surge então a responsabilidade civil objetiva, cuja origem se dá no Direito francês. Apesar
de certa resistência, inclusive dentro da própria França, expandiu-se e passou a ser aplicada
em outros países, entre
eles o Brasil.
EXEMPLO
(LEI Nº 10.406/2002)
Sendo assim, a legislação impõe, a certas pessoas, a reparação de um dano causado sem que
se verifique o pressuposto da culpa, bastando-se a presença do dano e do nexo causal.
Em suma, a teoria do risco tem como postulado que todo dano é indenizável e deve ser
reparado por aquele a quem ele se liga por um nexo de causalidade, não sendo relevante a
culpa por parte do responsável.
A teoria do risco, por sua vez, é dividida em diversas modalidades, sendo as mais importantes,
de acordo com Tartuce (2020):
TEORIA DO RISCO-PROVEITO
Adotada nas situações em que o dano é resultado de uma atividade realizada em benefício do
agente, que proporcione lucros a este. Tais situações estão relacionadas às atividades de
consumo, sendo tal modalidade
de responsabilidade civil decorrente do Código de Defesa do
Consumidor (Lei nº 8.078/1990);
O Código Civil traz diversas situações de responsabilidade civil objetiva, consagrando regras
específicas para cada uma delas. Por exemplo, podemos citar as hipóteses previstas no artigo
932 da codificação civil, entre elas:
A responsabilidade dos pais pelos atos praticados pelos filhos menores que estiverem sob sua
autoridade ou companhia.
A responsabilidade dos tutores e curadores pelos atos praticados pelos tutelados e
curatelados.
Outro exemplo diz respeito à responsabilidade, prevista no art. 936 do Código Civil, por danos
causados por animais, recaindo objetivamente sobre o dono. Ainda, por exemplo, a
responsabilidade civil objetiva por danos causados
por ruína de prédio ou construção (art. 937,
CC), a já mencionada responsabilidade por danos oriundos de coisas lançadas de prédios (art.
938, CC) e, por fim, a responsabilidade objetiva nos contratos de transporte (arts.
734 e 750 do
CC).
ATENÇÃO
Em todos esses casos, reitera-se, os agentes serão responsabilizados pelos danos ocorridos
ao ofendido, independentemente de culpa stricto sensu (imprudência, negligência ou imperícia)
ou dolo.
Por outro lado, de acordo com Tartuce (2020), além das situações de responsabilidade
objetiva, previstas na legislação, existem situações não previstas em lei, mas que ensejam a
responsabilização do agente, independentemente
de culpa, abrindo-se espaço para doutrina e
jurisprudência criarem novas hipóteses. Fala-se, então, da chamada cláusula geral de
responsabilidade objetiva, amparada na atividade de risco, possibilitando
ao juiz a análise
diante do caso concreto.
Em suma, no Código Civil, a responsabilidade subjetiva subsiste como regra necessária, sem
prejuízo da adoção da responsabilidade objetiva, em variados dispositivos esparsos.
RESPONSABILIDADES SUBJETIVA E
OBJETIVA
No vídeo a seguir, a especialista Cíntia Burille vai tratar das duas espécies de
responsabilidade, diferenciando-as e trazendo exemplos, além de referências às regras do
Código Civil. Assista:
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
A IMPUTABILIDADE
Imputar significa atribuir responsabilidade àquele que pratique determinado ato considerado
lesivo a outrem. Imputabilidade, portanto, diz respeito à reunião de condições pessoais
necessárias para que o agente seja passível
de responder pelas consequências de uma
conduta por ele praticada, que seja contrária ao dever jurídico, sendo o imputável aquele que
devia e podia ter agido de outra maneira diante da transgressão por ele praticada.
Em segundo lugar, que a conduta praticada tenha sido contrária ao dever jurídico.
A primeira fase é a que diz respeito à imputabilidade.
Dessa forma, será imputável o agente que possua a mente sã, a capacidade de compreender o
caráter de sua conduta transgressora e que possua condições de determinar suas ações de
acordo com essa compreensão.
Por outro lado, importa salientar que atos lesivos praticados por pessoas sem maturidade ou
sanidade mental não implicam, necessariamente, no desamparo à vítima do dano por aquela
ocasionado, pois o Código Civil prevê a responsabilização
por terceiros em variadas hipóteses.
Como exemplo, podemos citar, mais uma vez, a responsabilidade dos pais, que responderão
pelos atos praticados pelos filhos menores; dos tutores e curadores, pelos atos praticados
pelos seus tutelados e curatelados, entre outros.
No que diz respeito à responsabilidade dos incapazes, o Código Civil de 2002 substituiu o
princípio da irresponsabilidade absoluta da pessoa privada de discernimento pelo princípio da
responsabilidade mitigada e subsidiária.
O diploma civil (Lei nº 10.406/2002) prevê, em seu artigo 928, caput, que:
“O INCAPAZ RESPONDE PELOS PREJUÍZOS QUE
CAUSAR, SE AS PESSOAS POR ELE RESPONSÁVEIS
NÃO TIVEREM OBRIGAÇÃO DE FAZÊ-LO OU NÃO
DISPUSEREM DE MEIOS SUFICIENTES.”
Sendo assim, caberá ao curador arcar com a indenização a fim de reparar os danos
provocados a outrem por seu curatelado. Não recairá sobre ele a obrigação apenas se não
possuir patrimônio suficiente para responder pela obrigação,
portanto sua responsabilidade é
objetiva. Se a vítima não conseguir receber do curador a indenização pelo dano causado pelo
curatelado, poderá o juiz condenar o curatelado, caso possua condições financeiras, ao
pagamento
de uma indenização equitativa, razão pela qual a responsabilidade é considerada
subsidiária.
ATENÇÃO
Por outro lado, se o alienado não estiver sob curatela, a reparação pelos danos por ele
causados a outrem deverá ser feita com seus próprios bens, ou seja, resolve-se fora do quadro
da culpa.
RESPONSABILIDADE E MENORES
Já no que diz respeito à responsabilidade por atos praticados por menores, temos que, em
regra, a obrigação de indenizar cabe às pessoas responsáveis pelo menor, nos termos do que
dispõe o artigo 932 do CC:
(LEI Nº 10.406/2002)
Em tais casos não se admite a exoneração dos pais de indenizar, provando que não foram
negligentes na guarda, uma vez que o art. 933 do Código Civil dispõe que a responsabilidade
dessas pessoas é objetiva, ou seja, não há que
se falar em discussão de culpa de sua parte.
No entanto, da mesma forma como ocorre com os curatelados, o menor poderá vir a responder
com os seus próprios bens pelos danos por ele causados a outrem, aplicando-se a previsão do
já analisado art. 928 do Código Civil.
No entanto, caso os pais não possuam recursos financeiros para tanto, o próprio adolescente,
neste caso um relativamente incapaz, poderá ser chamado a responder pelos danos
provocados com seu próprio patrimônio, caso o tenha.
Nesse caso, deverá ser a indenização
equitativa, não sendo possível fixá-la, caso a sua consequência seja a privação de recursos
que promovam a subsistência do menor ou das pessoas que dele dependem.
Importante ressaltar, todavia, que a responsabilidade sobre os atos praticados pelo filho
incapaz recai somente sobre o genitor ao qual o menor estiver sob autoridade e em
companhia. Sendo assim, os pais ou responsáveis que
não exercem de fato autoridade sobre o
menor causador de um dano a terceiro, embora detenham o poder familiar, não exercem a
autoridade direta e, portanto, não respondem por ele.
Desse modo, a mãe que, à época de acidente provocado por seu filho menor de idade, residia
permanentemente em local distinto daquele no qual morava o menor – sobre quem apenas o
pai exercia autoridade de fato – não pode ser
responsabilizada pela reparação civil advinda do
ato ilícito, mesmo considerando que ela não deixou de deter o poder familiar sobre o filho.
"Autoridade" é expressão mais restrita que "poder familiar" e pressupõe uma ordenação, ou
seja, que o pai ou mãe tenha poderes para organizar de forma mais direta e imediata a vida do
filho.
Por outro lado, caso de emancipação voluntária do filho pelos pais, prevista no artigo 5º,
parágrafo único, inciso I, do Código Civil, todos os efeitos naturais do ato são produzidos,
menos o de isentar os pais da responsabilidade
pelos atos ilícitos e danos a terceiros
praticados pelos filhos, havendo, de acordo com a doutrina majoritária, responsabilidade civil
solidária entre ambos.
No entanto, o mesmo não acontece nos casos de emancipação legal, previstos nos demais
incisos do parágrafo único do referido artigo, entre eles o casamento, o exercício de emprego
público efetivo, a colação de grau em ensino
superior e o estabelecimento de economia
própria. Nesses casos, o emancipado responderá sozinho pelos danos por ele causados a
outrem.
AS EXCLUDENTES DE ILICITUDE
Constituídas pelos institutos da legítima defesa, estado de necessidade ou remoção de perigo
iminente, exercício regular de direito e o estrito cumprimento de dever legal;
LEGÍTIMA DEFESA
A legítima defesa está conceituada no artigo 25 do Código Penal, que dispõe que:
(DECRETO-LEI Nº 2.848/1940)
Ou seja, o agente atua defensivamente em face a uma agressão injusta (portanto ilícita), atual
ou iminente.
Segundo Tartuce (2020), a análise da legítima defesa deverá ser feita de acordo com o caso
concreto, não sendo possível ao agente usar de força excessiva, ou seja, além daquela
necessária para afastar o dano ou a iminência
de dano.
A título exemplificativo, o autor refere a seguinte hipótese:
(...) se o proprietário de uma fazenda desfere tiros de arma de fogo diretamente contra
invasores de seu imóvel, não haverá legítima defesa, mas excesso no exercício da defesa
(abuso de direito), estando configurado o seu dever
de indenizar. Nessa situação, não houve
um exercício regular de direito, mas sim um exercício irregular, o que tanto pode gerar abuso
de direito (art. 187, CC) como ato ilícito propriamente dito (art. 186 do CC), o que
depende da
análise do caso concreto. (TARTUCE, 2020, p. 666)
Temos também a chamada legítima defesa putativa, que diz respeito às situações em que o
agente acredita estar em perigo, quando na realidade ele não existe, e age de forma a
defender o seu direito que imagina estar ameaçado.
Exemplificando, imagine que alguém pense que está sendo seguido por um assaltante e, em
razão disso, atropela alguém, mas, na realidade, a pessoa que o estava “seguindo” era um
conhecido que há muito tempo não encontrava. Em
tais situações, o dever de indenizar não é
excluído, uma vez que somente a culpabilidade é excluída, e não a antijuridicidade do ato.
Ainda, importante destacar que, na legítima defesa, se o ato foi praticado contra o próprio
agressor, não pode o agente ser responsabilizado civilmente pelos danos provocados.
Portanto, somente na legítima defesa real e quando
praticada contra o agressor, deixa o ato de
ser considerado ilícito, apesar do dano causado, impedindo a ação de ressarcimento.
Por outro lado, se o agente, por um erro de pontaria, por exemplo, atingir uma terceira pessoa,
ficará obrigado a indenizar os danos a este provocados, uma vez que aquele que provoca dano
injusto a outrem fica obrigado a reparar
o prejuízo. No entanto, em tais casos, restará ao
agente o direito à ação regressiva contra o injusto agressor.
Importante destacar que, conforme dispõe o parágrafo único do artigo 188 do Código Civil, em
tais situações:
(LEI Nº 10.406/2002)
Da mesma forma que na legítima defesa, em havendo excessos na atuação por parte do
agente, poderá restar configurado o abuso de direito ou o ilícito propriamente dito.
Vale ressaltar que, da mesma forma que na legítima defesa, nos termos dos artigos 929 e 930
do Código Civil, atuando em estado de necessidade ou legítima defesa, caso seja atingido
terceiro inocente, o agente deverá responder
pelo ato e indenizar o ofendido, cabendo-lhe em
tais casos o direito ingressar com ação regressiva em face do verdadeiro culpado ou do
agressor.
O estrito cumprimento de um dever legal não está previsto expressamente no Código Civil. No
entanto, pressupõe um agente público e se trata de uma excludente de ilicitude que não
necessariamente significa a exclusão da responsabilidade
civil.
Imagine um oficial de justiça que cumpre mandado de prisão, ou então um policial que, ao
atuar na ocorrência de um roubo, provoca danos a uma pessoa ou ao patrimônio de alguém.
Esta atuação ocorre dentro do cumprimento de suas
funções. Tais danos serão reparados com
fundamento na responsabilidade objetiva do Estado que, para que possa cobrar
regressivamente os valores dispensados do policial que provocou o dano, deverá
necessariamente provar
que este agiu com culpa.
Por fim, ressaltamos a análise das chamadas excludentes de nexo de causalidade, ou seja,
aquelas que excluem a relação de causa e efeito entre a conduta praticada pelo agente e o
dano ocasionado a outrem pela
prática da conduta.
CULPA OU FATO EXCLUSIVOS DA VÍTIMA OU DE
TERCEIRO
A culpa ou fato exclusivos da vítima ou de terceiro, como o próprio nome refere, dá-se quando
o dano sofrido ocorre exclusivamente pela prática de uma conduta equivocada por parte da
vítima ou de terceira pessoa.
Como exemplo, imagine que uma pessoa ligue um aparelho cuja voltagem é de 110V em uma
tomada de 220V. Na hipótese, ocorrendo a queima do eletrônico, não há que se falar em culpa
do vendedor ou do fabricante, conforme disposto
nos artigos 12, § 3º, e 14, § 3º, do Código de
Defesa do Consumidor.
SAIBA MAIS
No entanto, nos casos em que a culpa é de ambos, a chamada culpa concorrente, não
haverá uma excludente, mas sim uma atenuante, minimizando a culpa de um dos envolvidos.
Por fim, o caso fortuito e a força maior são, igualmente, modalidades de exclusão da
culpabilidade da responsabilidade civil. São duas circunstâncias que ocorrem de modo
desassociado de qualquer voluntariedade humana.
Há muita celeuma acerca da questão de existir, ou não, diferença entre os dois institutos.
Contudo, podemos entender que o caso fortuito se dá quando o evento é totalmente
imprevisível, como uma pandemia, por exemplo. Ao passo
que a força maior se dá com
eventos inevitáveis, ainda que previsíveis.
O Código Civil trata do caso fortuito e da força maior em muitos artigos de lei, estando
espraiados pelo texto do código, com a função específica de prever, para cada tipo de
descumprimento, como poderá se imiscuir da responsabilidade
pelo descumprimento.
SAIBA MAIS
Em específico, temos os artigos 393, 399, 575, 583, 667 e 868, todos do Código Civil, como
hipóteses em que há a presença de afastamento da responsabilidade pela presença do caso
fortuito e da força maior, ou quando,
ainda que haja a presença dessas circunstâncias, subsiste
a responsabilização.
De qualquer modo, o caso fortuito e a força maior, a exemplos das outras modalidades de atos
lesivos não considerados ilícitos, em regra, excluem a culpabilidade daquele evento danoso,
fazendo com que não se perfectibilize
a hipótese de ilícitos que deve ser alvo de reparação, por
exemplo.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste conteúdo, foram abordados os tópicos acerca do estudo dos atos jurídicos ilícitos,
previstos no Título III do Código Civil, nos artigos 186 a 188. Começamos apresentando um
início conceitual, desde a formação de um ato
jurídico ilícito, passando por sua aplicabilidade,
com o estudo dos dispositivos aplicáveis e das críticas em relação aos pressupostos utilizados
pelo Código Civil para conceituação do ato ilícito.
Assim, vemos a importância do conhecimento conceitual e prático nestes institutos, que, ainda
que possam, dificilmente serão aplicados diretamente em casos concretos, mas que servem de
base dogmática para o estudo de matérias
como os negócios jurídicos e o direito das
obrigações.
PODCAST
Agora, a especialista Cintia Burille encerra o tema falando sobre os principais tópicos
abordados.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
CAVALIERI FILHO, S. Programa de responsabilidade civil. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2020.
FARIAS, C. C.; ROSENVALD, N.; NETTO, F. P. B. Curso de direito civil: responsabilidade
civil. 7. ed. rev. atual. Salvador: Juspodivm, 2020.
FARIAS, C. C.; ROSENVALD, N.; NETTO, F. P. B. Manual de direito civil: volume único. 2. ed.
rev. atual. e ampl. Salvador: Juspodivm, 2018.
MELLO, M. B. Teoria do fato jurídico: plano da existência. São Paulo: Saraiva, 2005.
PONTES DE MIRANDA, F. C. Tratado de direito privado. 4. ed. 2. tir. São Paulo: RT, 1977,
Tomo I. p. 216-217.
TARTUCE, F. Direito civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 15. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2020.
EXPLORE+
Leia os seguintes livros:
TARTUCE, F. Direito civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 15. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2020.
ROSENVALD, N.; FARIAS, C. C. de. Curso de Direito Civil. Vol. I. Juspodivm, 2021.
CONTEUDISTA
Cíntia Burille
CURRÍCULO LATTES