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ÉTICA

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CURSO DE TEOLOGIA

DISCIPLINA: ÉTICA

Rua: Henrique de Melo, nº238.

Nossa Senhora da Penha – Serra Talhada – PE

E-mail: contato@fainte.com.br – Site: www.fainte.com.br


CONCEITO GERAL DE ÉTICA

A Ética é um sistema dos seis ramos tradicionais da filosofia, onde ocupou papel
importante, desde o começo. A ética também faz parte essencial da fé religiosa. Por
essas razões, apresentamos aqui um artigo de considerável volume, cujo intuito é
dar ao estudante uma boa idéia sobre os principais sistemas e idéias envolvidas na
questão.

1 - DISCURÕES PRELIMINARES

1.1. Ética como um sistema de filosofia

A ética é um dos seis sistemas tradicionais da Filosofia.

1.1.1. Ética

A conduta ideal do indivíduo. Disciplina crítico-normativa que se dedica ao estudo


das regras do comportamento humano relativas à práticas de atos identificados com
o bem.

1.1.2. Política

A conduta ideal do estado. Política, em sentido estrito, é a arte de governar a polis,


ou cidade-estado, e deriva do adjetivo politikós, que significa tudo o que se relaciona
à cidade, isto é, tudo o que é urbano, público, civil e social. Em acepção ampla,
política é o estudo do fenômeno do poder, entendido como a capacidade que um
indivíduo ou grupo organizado tem de exercer controle imperativo sobre a população
de um território, mesmo quando é necessário o uso da força.
1.1.3. Lógica

O raciocínio que guia o pensamento. Lógica é a ciência que tem por objeto
determinar, entre as operações intelectuais orientadas para o conhecimento da
verdade, as que são válidas e as que não são. Estuda os processos e as condições
de verdade de todo e qualquer raciocínio. O conhecimento só é científico quando,
além de universal, é metódico e sistemático, ou seja, lógico.

1.1.4. Gnosiologia

A teoria do conhecimento. A palavra gnose (do grego gnosis, "conhecimento")


emprega-se, ao se tratar do movimento filosófico e religioso a que deu nome, para
designar o conhecimento adquirido não por aprendizagem ou observação empírica,
mas por revelação divina. À gnose, privilégio dos iniciados, opõe-se a pistis, ou mera
crença. Os eleitos que recebiam a gnose experimentavam uma iluminação que era
regeneração e divinização, e conheciam simultaneamente sua verdadeira natureza e
origem. Reconheciam-se em Deus, conheciam a Deus e apareciam diante de si
mesmos como emanados de Deus e estranhos ao mundo. Assim, adquiriam a
certeza definitiva de sua salvação para toda a eternidade.

1.1.5. Estética

A teoria das belas-artes. Ciência da criação artística, do belo, ou filosofia da arte, a


estética tem como temas principais a gênese da criação artística e da obra poética, a
análise da linguagem artística, a conceituação dos valores estéticos, as relações
entre forma e conteúdo, a função da arte na vida humana e a influência da técnica
na expressão artística.

1.1.6. Metafísica

Teorias sobre a verdadeira natureza da existência. Metafísica é a divisão da filosofia


que se ocupa de tudo o que transcende o mundo físico ou natural. Desde o próprio
sistema aristotélico, no entanto, o objeto da metafísica revela, pelo menos, duas
vertentes: a que trata do ser em si e suas determinações do ponto de vista formal, e
que recebeu o nome de "ontologia", e a que logo se voltou para "algo" superior e
absoluto caminho da teologia.
Existem filosofias modernas como da ciência, da história, da indústria, do espírito
etc.

1.2. Definição da palavra

No grego, ethos = costume, disposição, hábito. No latim, mos (moris) = vontade,


costume, uso, regra. Ética, parte da filosofia que trata dos costumes do homem.

A finalidade dos códigos morais é reger a conduta dos membros de uma


comunidade, de acordo com princípios de conveniência geral, para garantir a
integridade do grupo e o bem-estar dos indivíduos que o constituem. Assim, o
conceito de pessoa moral se aplica apenas ao sujeito enquanto parte de uma
coletividade.

Ética é a disciplina crítico-normativa que estuda as normas do comportamento


humano, mediante as quais o homem tende a realizar na prática atos identificados
com o bem.

1.2.1. Interiorização do dever

A observação da conduta moral da humanidade ao longo do tempo revela um


processo de progressiva interiorização: existe uma clara evolução, que vai da
aprovação ou reprovação de ações externas e suas conseqüências à aprovação ou
reprovação das intenções que servem de base para essas ações. O que Hans
Reiner designou como "ética da intenção" já se encontra em alguns preceitos do
antigo Egito (cerca de três mil anos antes da era cristã), como, por exemplo, na
máxima "não zombarás dos cegos nem dos anões", e do Antigo Testamento, em
que dois dos dez mandamentos proíbem que se deseje a propriedade ou a mulher
do próximo.

Todas as culturas elaboraram mitos para justificar as condutas morais. Na cultura do


Ocidente, são familiares a figura de Moisés ao receber, no monte Sinai, a tábua dos
dez mandamentos divinos e o mito narrado por Platão no diálogo Protágoras,
segundo o qual Zeus, para compensar as deficiências biológicas dos humanos,
conferiu-lhes senso ético e capacidade de compreender e aplicar o direito e a justiça.
O sacerdote, ao atribuir à moral origem divina, torna-se seu intérprete e guardião. O
vínculo entre moralidade e religião consolidou-se de tal forma que muitos acreditam
que não pode haver moral sem religião. Segundo esse ponto de vista, a ética se
confunde com a teologia moral.

1.3. Ética Pré-socrática

Pré-socráticos são os filósofos anteriores a Sócrates, que viveram na Grécia por


volta do século VI a.C., considerados os criadores da filosofia ocidental. Essa fase,
que corresponde à época de formação da civilização helênica, caracteriza-se pela
preocupação com a natureza e o cosmos. Ela inaugura uma nova mentalidade,
baseada na razão, e não mais no sobrenatural e na tradição mítica.

Pitágoras (580 a.C.-500 a.C) afirma que a verdadeira substância original é a alma
imortal, que preexiste ao corpo e no qual se encarna como em uma prisão, como
castigo pelas culpas da existência anterior. O pitagorismo representa a primeira
tentativa de apreender o conteúdo inteligível das coisas, a essência, prenúncio do
mundo das idéias de Platão.

1.3.1. Píndaro (528-438)

Píndaro é o único poeta lírico grego de cuja obra subsiste uma extensa parcela.
Escreveu hinos, trenos, encômios, ditirambos, odes a Atena e os únicos epinícios
conservados.

Oriundo de uma ilustre família espartana, talvez a dos Égidas, Píndaro nasceu em
Cinoscéfalas, perto de Tebas, Beócia, entre 522 e 518 a.C. Estudou poesia em
Atenas, aprendeu a tocar flauta com Escopélinos e depois foi orientado pelas
poetisas Mirtes e Corina, da Beócia.

Em seu Olímpios, postula o conceito interessante de que este mundo e o vindouro


são, reciprocamente, lugares de recompensa e castigo.

1.3.2. Xenófanis (494)

Aluno de Anaxímenes. Era um reformador que criticou a tudo: o culto dos esportes, a
glorificação da força física, o vestuário das mulheres, as jóias de ostentação, o uso
de perfumes, jantares ricos... às custas dos pobres.
Ensinou o monoteísmo; afirmou que o homem é responsável por seus atos. O
código dele era semelhante aos Dez Mandamentos do Antigo Testamento.

1.3.3. Anaximandro de Mileto

Filósofo grego pré-socrático, Anaximandro de Mileto é considerado o fundador da


astronomia e o primeiro pensador a desenvolver uma cosmologia, ou visão filosófica
sistemática do mundo.

Nascido em Mileto no ano 610 a.C., foi discípulo de Tales, o fundador da "escola de
Mileto". Teria escrito tratados sobre geografia, astronomia e cosmologia, que
perduraram por vários séculos. Racionalista que prezava a simetria, utilizou
proporções geométricas e matemáticas na tentativa de mapear o céu, abrindo o
caminho para astrônomos posteriores.

Ele não era um filósofo ético, mas compreendeu que o processo cósmico é
essencialmente um sistema que incorpora a justiça, a injustiça e a reparação.

1.3.4. Protágoras (480-410)

Coube a um sofista da antiguidade grega, Protágoras, romper o vínculo entre


moralidade e religião. A ele se atribui a frase "O homem é a medida de todas as
coisas, das reais enquanto são e das não reais enquanto não são." Para Protágoras,
os fundamentos de um sistema ético dispensam os deuses e qualquer força
metafísica, estranha ao mundo percebido pelos sentidos. Teria sido outro sofista,
Trasímaco de Calcedônia, o primeiro a entender o egoísmo como base do
comportamento ético.

O maior dos sofistas, os primeiros professores universitários, assim chamados


porque venderam seus conhecimentos de diversas disciplinas. Para ele, cada
homem tem sua própria verdade. Não existem padrões fixos e extra-humanos. Não
existe a verdade. Existem verdades práticas, utilitárias e relativas. Defende que o
único padrão da moralidade é o interesse particular.
1.4. Ética na Filosofia Clássica – (De 470 a 320 a.C.)

A Filosofia da Grécia Antiga teve nos sofistas e em Sócrates seus principais


expoentes. Eles se distinguem pela preocupação metafísica, ou procura do ser, e
pelo interesse político em criar a cidade harmoniosa e justa, que tornasse possível a
formação do homem e da vida de acordo com a sabedoria. Este período
corresponde ao apogeu da democracia e é marcado pela hegemonia política de
Atenas.

Os sofistas, filósofos contemporâneos de Sócrates, acumulam conhecimento


enciclopédico e são educadores pagos pelos alunos. Pretendem substituir a
educação tradicional, destinada a formar guerreiros e atletas, por uma nova
pedagogia, preocupada em formar o cidadão da nova democracia ateniense. Com
eles, a arte da retórica – falar bem e de maneira convincente a respeito de qualquer
assunto – alcança grande desenvolvimento.

1.4.1. Sócrates (470-400)

"Só sei que nada sei". Com essas palavras Sócrates reagiu ao pronunciamento do
oráculo de Delfos, que o apontara como o mais sábio de todos os homens. O
pensador foi o primeiro do grande trio de antigos filósofos gregos, que incluía ainda
Platão e Aristóteles, a estabelecer, na Grécia antiga, os fundamentos filosóficos da
cultura ocidental.

Sócrates nasceu em Atenas por volta do ano 470 a.C. Era filho de uma parteira,
Fenarete, e de Sofronisco, homem bem relacionado nos meios políticos da cidade.
Como não deixou obras escritas, tudo o que se sabe de sua vida e de suas idéias é
o que relatam principalmente autores como Platão e Xenofonte. Segundo os escritos
de Íon de Quios e Aristóxenes, Sócrates teria estudado com Arquelau, discípulo de
Anaxágoras, o primeiro filósofo importante de Atenas. Na juventude, participou de
várias batalhas da guerra do Peloponeso. Casou-se tardiamente com Xantipa e teve
três filhos.

Segundo palavras de Cícero, "Sócrates fez a filosofia descer dos céus à terra".
Antes, os filósofos buscavam obsessivamente uma explicação para o mundo natural,
a physis. Para Sócrates, no entanto, a especulação filosófica devia se voltar para
outro assunto, mais urgente: o homem e tudo o que fosse humano, como a ética e a
política.
Sócrates dizia que a filosofia não era possível enquanto o indivíduo não se voltasse
para si próprio e reconhecesse suas limitações. "Conhece-te a ti mesmo" era seu
lema. Para ele, a melhor maneira de abordar um tema era o diálogo: por meio do
método indutivo que denominou "maiêutica", numa alusão ao ofício de sua mãe, era
possível trazer a verdade à luz.

Desinteressado da física e preocupado apenas com as coisas morais, a antropologia


socrática é a essência capaz de regular a conduta humana e orientá-la no sentido do
bem. A virtude supõe o conhecimento racional do bem, razão pela qual se pode
ensinar. O que há de comum entre todas as virtudes é a sabedoria, que, segundo
Sócrates, é o poder da alma sobre o corpo, a temperança ou o domínio de si
mesmo. Possibilitando o domínio do corpo, a temperança permite que a alma realize
as atividades que lhe são próprias, chegando à ciência do bem. Para fazer o bem
basta, portanto, conhecê-lo. Todos os homens procuram a felicidade, isto é, o bem.
Assim, o vício não passa de ignorância, pois ninguém pode fazer o mal
voluntariamente.

Sócrates, considerado fundador da ética, defendeu uma moralidade autônoma,


independente da religião e exclusivamente fundada na razão, ou no logos. Atribuiu
ao estado um papel fundamental na manutenção dos valores morais, a ponto de
subordinar a ele até mesmo a autoridade do pai e da mãe.

1.4.2. Platão (427 a.C.?-347 a.C.?)

Discípulo de Sócrates, Platão (427 a.C.?-347 a.C.?) afirma que as idéias são o
próprio objeto do conhecimento intelectual, a realidade metafísica. Para melhor
expor sua teoria, utiliza-se de uma alegoria, o mito da caverna, no qual a caverna
simboliza o mundo sensível, a prisão, os juízos de valor, onde só se percebem as
sombras das coisas. O exterior é o mundo das idéias, do conhecimento racional ou
científico. Feito de corpo e alma, o homem pertenceria simultaneamente a esses
dois mundos. A tarefa da Filosofia seria a de libertar o homem da caverna, do mundo
das aparências, para o mundo real, das essências. Platão é considerado o iniciador
do idealismo.

Platão nasceu em Atenas por volta do ano 428 a.C. Parece ter iniciado seus estudos
filosóficos com o sofista Crátilo, discípulo de Heráclito. Aos 18 anos conheceu
Sócrates, que foi seu mestre até ser condenado à morte em 399 a.C. Platão partiu,
então, para Mégara, ao encontro de outro discípulo de Sócrates, Euclides. De volta a
Atenas, iniciou seus ensinamentos filosóficos. A convite de Dionísio o Velho, foi a
Siracusa, no sul da Itália, onde se relacionou com os pitagóricos.

1.4.3. Ética e política

A morte de Sócrates e as experiências políticas na Sicília levaram Platão a verificar


que não é possível ser justo na cidade injusta e que a realização da filosofia implica
não só a educação do homem, mas a reforma da sociedade e do estado. O sentido
da filosofia -- o amor da sabedoria -- é o de conduzir o homem do mundo das
aparências ao mundo da realidade, ou da contemplação das sombras à visão das
idéias, imutáveis e eternas, iluminadas pela idéia suprema do bem. As concepções
éticas e políticas de Platão são um prolongamento natural de sua teoria da alma.
Uma vez que o homem acede às idéias por meio da razão e que as idéias são
presididas pelo bem, o homem sábio será também necessariamente bom. Para isso,
contudo, é preciso que a sociedade reproduza a ordem da alma.

A justiça consiste na relação harmônica entre as partes, sob o cuidado da razão. Por
isso, Platão sugeriu em A república, obra em que expõe suas idéias políticas,
filosóficas, estéticas e jurídicas, um estado composto por três estamentos: (1) os
regentes filósofos, sob o predomínio da alma racional; (2) os guerreiros guardiães,
defensores do estado e cujos valores residem na alma irascível; (3) e a classe
inferior dos produtores, regidos pela alma sensível, controlados mediante a
temperança.

Platão foi um dos filósofos mais influentes de todos os tempos. Seu pensamento
domina a filosofia cristã antiga e medieval. Os ideais estéticos e humanistas do
Renascimento constituíram também uma recuperação do platonismo. Há elementos
platônicos também em pensadores modernos, como Leibniz e Hegel. Platão morreu
em Atenas, em 348 ou 347 a.C.

1.4.4. Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.)

Seguidor de Platão, Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) aperfeiçoa e sistematiza as


descobertas de Platão e Sócrates.
Aristóteles nasceu em Estagira (donde ser dito "o Estagirita"), Macedônia, em 384
a.C. Em Atenas desde 367, foi durante vinte anos discípulo de Platão. Com a morte
do mestre, instalou-se em Asso, na Eólida, e depois em Lesbos, até ser chamado
em 343 à corte de Filipe da Macedônia para encarregar-se da educação de seu filho,
que passaria à história como Alexandre o Grande. Em 333 voltou a Atenas, onde
fundou o Liceu. Durante 13 anos dedicou-se ao ensino e à elaboração da maior
parte de suas obras.

Ética e política. Aristóteles foi o primeiro filósofo a distinguir a ética da política,


centrada a primeira na ação voluntária e moral do indivíduo enquanto tal, e a
segunda, nas vinculações deste com a comunidade. Dotado de lógos, "palavra", isto
é, de comunicação, o homem é um animal político, inclinado a fazer parte de uma
pólis, a "cidade" enquanto sociedade política. A cidade precede assim a família, e
até o indivíduo, porque responde a um impulso natural. Dos círculos em que o
homem se move, a família, a tribo, a pólis, só esta última constitui uma sociedade
perfeita. Daí serem políticas, de certo modo, todas as relações humanas. A pólis é o
fim (télos) e a causa final da associação humana. Uma forma especial de amizade, a
concórdia, constitui seu alicerce.

Os regimes políticos caracterizam-se pela solução que oferecem às relações entre a


parte e o todo na comunidade. Há três formas boas: monarquia, aristocracia e
politéia (um compromisso entre a democracia e a oligarquia, mas que tende à
primeira). À monarquia interessa basicamente a unidade da pólis; à aristocracia, seu
aprimoramento; à democracia, a liberdade. O regime perfeito integrará as vantagens
dessas três formas, rejeitando as deformações de cada uma: tirania, oligarquia e
demagogia. A relação unidade-pluralidade aparece, ainda, sob outro aspecto: o da
lei e da concórdia como processos complementares.

Para Aristóteles, a causa final de todas as ações era a felicidade (eudaimonía). Em


sua ética, os fundamentos da moralidade não se deduzem de um princípio
metafísico, mas daquilo que é mais peculiar ao homem: razão (logos) e atuação
(enérgeia), os dois pontos de apoio da ética aristotélica. Portanto, só será feliz o
homem cujas ações sejam sempre pautadas pela virtude, que pode ser adquirida
pela educação.

A diversidade dos sistemas éticos propostos ao longo dos séculos se compara à


diversidade dos ideais.
1.5. Epicurismo

Os princípios enunciados por Epicuro e praticados pela comunidade epicurista


resumem-se em evitar a dor e procurar os prazeres moderados, para alcançar a
sabedoria e a felicidade. Cultivar a amizade, satisfazer as necessidades imediatas,
manter-se longe da vida pública e rejeitar o medo da morte e dos deuses são
algumas das fórmulas práticas recomendadas por Epicuro para atingir a ataraxia,
estado que consiste em conservar o espírito imperturbável diante das vicissitudes da
vida.

Epicuro nasceu na ilha grega de Samos, no ano 341 a.C., e desde muito jovem
interessou-se pela filosofia. Assistiu às lições do filósofo platônico Pânfilo, em
Samos, e às de Nausífanes, discípulo de Demócrito, em Teos. Aos 18 anos viajou
para Atenas, onde provavelmente ouviu os ensinamentos de Xenócrates, sucessor
de Platão na Academia. Após diversas viagens, ensinou em Mitilene e em Lâmpsaco
e amadureceu suas concepções filosóficas. Em 306 a.C. voltou a Atenas e comprou
uma propriedade que se tornou conhecida como Jardim, onde formou uma
comunidade em que conviveu com amigos e discípulos, entre os quais Metrodoro,
Polieno e a hetaira Temista, até o fim de seus dias.

Segundo Diógenes Laércio, principal fonte de informações sobre Epicuro, o mestre


desenvolveu sua filosofia em mais de 300 volumes, mas esse legado escrito se
perdeu. Epicuro elaborou estudos sobre física, astronomia, meteorologia, psicologia,
teologia e ética, mas do que escreveu só se conhecem três cartas e uma coleção de
sentenças morais e aforismos.

De seus estudos científicos, Epicuro derivou uma filosofia essencialmente moral. À


semelhança de outras correntes filosóficas da época, como o estoicismo e o
ceticismo, suas concepções vieram ao encontro das necessidades espirituais de
seus contemporâneos, preocupados com a desintegração da polis (cidade) grega. O
prazer sensorial converteu-se na única via de acesso à ataraxia. Esse prazer,
porém, não consiste numa busca ativa da sensualidade e do gozo corporal
desenfreado, como interpretaram erroneamente outras escolas filosóficas e também
o cristianismo, mas baseia-se no afastamento das dores físicas e das perturbações
da alma. O maior prazer, segundo Epicuro, é comer quando se tem fome e beber
quando se tem sede. O "tetrafármaco", receita do mestre para a vida tranqüila, tem o
seguinte teor: "O bem é fácil de conseguir, o mal é fácil de suportar, a morte não
deve ser temida, os deuses não são temíveis."
Assim, a ética de Epicuro inaugurou o hedonismo, pelo qual a felicidade encontra-se
no prazer moderado, no equilíbrio racional entre as paixões e sua satisfação.

A ética dos estóicos viu na virtude o único bem da vida e pregou a necessidade de
viver de acordo com ela, o que significa viver conforme a natureza, que se identifica
com razão.
2 - ALTERNATIVAS ÉTICAS

Introdução

“Na Idade Média predomina a ética cristã, impregnada de valores religiosos e


baseada no amor ao próximo, que incorpora as noções gregas de que a felicidade é
um objetivo do homem e a prática do bem, um meio de atingi-la. Para os filósofos
cristãos, a natureza humana tem destino predeterminado e Deus é o princípio da
felicidade e da virtude”.

Os critérios de bem e mal estão vinculados à fé e à esperança de vida após a morte.

2.1. Ética iluminista

Entre a Idade Média e a Moderna, o italiano Nicolau Maquiavel rompe com a moral
cristã, que impõe os valores espirituais como superiores aos políticos. Defende a
adoção de uma moral própria em relação ao Estado. O que importa são os
resultados, e não a ação política em si. Por isso, considera legítimo o uso da
violência contra os que se opõem aos interesses estatais. Maquiavel influencia o
inglês Thomas Hobbes (1588-1679) e o holandês Benedito Spinoza (1632-1677),
pensadores modernos extremamente realistas no que se refere à ética”. (Por:
Algosobre Vestibular).

2.2. Nicolau Maquiavel (traços biográficos)

“Gênio da ciência política, Maquiavel inaugurou a astúcia inescrupulosa como


método de governo, por detectar e sistematizar pioneiramente a amoralidade
peculiar à conquista e ao exercício do poder. Patriota florentino, no exílio de San
Casciano contou, em carta, que de dia fazia excursões no campo e, de noite,
pesquisava, em livros da antiguidade romana, "como se conquista o poder, como se
mantém o poder e como se perde o poder".

O estadista e escritor Nicolau Maquiavel (em italiano, Niccolò Machiavelli) nasceu


em Florença em 3 de maio de 1469. A partir de 1498 serviu como chanceler e, mais
tarde, secretário das Relações Exteriores da República de Florença. Tais cargos,
apesar dos títulos, eram modestos e limitavam-se a funções de redação de
documentos oficiais. Ofereceram-lhe, porém, a oportunidade de vivenciar os
bastidores da atividade política. Ocasionalmente, Maquiavel desempenhou missões
no exterior (França, Suíça, Alemanha) e em 1502-1503 passou cinco meses como
embaixador junto a César Borgia, filho do papa Alexandre VI, cuja política enérgica e
sem escrúpulos o encheu de admiração.

Em 1512, no entanto, quando os Medici derrubaram a república e retomaram o


governo de Florença, Maquiavel foi destituído de seu posto e preso. Exilado na
propriedade de San Casciano, perto de Florença, ali escreveu Il principe (1513-1516;
O príncipe), em que expôs a teoria política que lhe deu fama. Em 1519, anistiado,
voltou a Florença para exercer funções político-militares. Durante o exílio, escreveu
também L'arte della guerra -- em que preconiza a extinção das forças armadas
permanentes, por ameaçarem a república, e a criação de milícias populares -- e os
Discorsi sopra la prima deca di Tito Livio (Comentários sobre os primeiros dez livros
de Tito Lívio), em que analisa as vicissitudes da história romana e compara-as com
as de seu próprio tempo. As duas obras são indispensáveis à correta interpretação
do pensamento que percorre as páginas de Il principe.

Entre 1519 e 1520, Maquiavel escreveu a maior comédia da literatura italiana, La


mandragola (1524; A mandrágora), como "divertimento em tempos tristes". Peça de
alto teor erótico e humor sarcástico, dela se disse que "é a comédia da sociedade de
que Il principe é a tragédia". Em 1520 Maquiavel tornou-se historiador oficial da
república e começou a escrever as Istorie fiorentini (1520-1525; Histórias de
Florença), tratado em estilo clássico, consagrado como primeira obra da
historiografia moderna.

O príncipe. Foi, porém, com o pequeno livro Il principe que Maquiavel revolucionou a
teoria do estado e criou as bases da ciência política. Homem do Renascimento, ao
romper com a moral cristã medieval, estudou com objetividade os meios e fins da
ação política, com base na observação estrita de sua realidade. Elaborou assim uma
teoria política realista e sistemática, em que pela primeira vez se separava a moral
dos indivíduos da moral (ou razão) de estado. Maquiavel foi, desse modo, o primeiro
teórico moderno, o primeiro técnico da política.

Indignado com a decadência política e moral de sua terra, o autor dirige conselhos a
um príncipe imaginário, retrato algo fantasioso de César Borgia, para conquistar o
poder absoluto, acabar com as dissensões internas e expulsar os "bárbaros"
estrangeiros do país. Prosador admirável, de estilo um tanto latinizante e seco,
embora irônico, recomenda todos os meios, inclusive a mentira, a fraude e a
violência. No complexo de sugestões apresentadas ao príncipe originaram-se as
práticas políticas conhecidas como maquiavelismo. É necessário, porém, distinguir
entre essa noção vulgar que se passou a ter de "maquiavelismo" e a teoria de
Maquiavel. Nesta, o que sobressai é o realismo iniludível de quem se pautou pelos
fatos, documentos e experiências, não nas idéias ou ideais filosóficos.

Desde a antiguidade o poder foi freqüentemente tomado, mantido ou perdido


segundo os meios apontados por Maquiavel, mas antes dele ninguém tomou
consciência real e prática das características inerentes ao fenômeno político e suas
manifestações. De seu trabalho se depreende o princípio segundo o qual, em
política, os fins justificam os meios e a ética do estado é a do bem público: em sua
obra, o príncipe tudo pode, e tudo deve fazer, se tiver por meta a felicidade de seu
povo.

Caso aja de outra forma, é derrotado por outro príncipe.

Em 1527, o saque de Roma pelo imperador Carlos V, do Sacro Império Romano-


Germânico, restabeleceu a república em Florença. Maquiavel, visto como favorito
dos Medici, foi excluído de toda atividade política. Pobre, desiludido e amargurado,
morreu na cidade natal em 22 de junho de 1527”. (Encyclopaedia Britannica do
Brasil Publicações Ltda.).

2.3. Historicidade

“Nos séculos XVIII e XIX, o francês Jean-Jacques Rousseau e os alemães Immanuel


Kant e Friedrich Hegel (1770-1831) são os principais filósofos a discutir a ética.
Segundo Rousseau, o homem é bom por natureza e seu espírito pode sofrer
aprimoramento quase ilimitado. Para Kant, ética é a obrigação de agir segundo
regras universais, comuns a todos os seres humanos por ser derivadas da razão. O
fundamento da moral é dado pela própria razão humana: a noção de dever. O
reconhecimento dos outros homens, como fim em si e não como meio para alcançar
algo, é o principal motivador da conduta individual. Hegel divide a ética em subjetiva
ou pessoal e objetiva ou social. A primeira é uma consciência de dever; a segunda,
formada por costumes, leis e normas de uma sociedade. O Estado reúne esses dois
aspectos em uma "totalidade ética". Nietzsche critica a moral tradicional, derivada da
religião judaico-cristã, pelo fato de subjugar os instintos e as paixões à razão. Essa é
a "moral dos escravos", que nega os valores vitais e promove a passividade e o
conformismo, resultando no ressentimento. Em oposição a ela, propõe a
"transvaloração de todos os valores", que funda a "moral dos senhores",
preconizando a capacidade de criação, de invenção, de potência. O ser humano que
assim consegue superar-se é o super-homem, o que transpõe os limites do
humano”. (Por: Algosobre Vestibular).

2.3.1. Rousseau, Jean-Jacques (traços biográficos)

As idéias políticas do filósofo e escritor francês Rousseau, voltadas contra as


injustiças da época, repercutiram nos destinos da revolução francesa de 1789. Sua
negação do racionalismo progressista, no entanto, somada ao intimismo
confessional e à apologia dos instintos e da integração com a natureza, abriu
caminho para a estética do romantismo, o que o situa como pré-romântico na
evolução literária.

Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra, Suíça, em 28 de junho de 1712. Após


a infância em ambiente calvinista, emigrou em 1728 para Turim, Itália, e se
converteu ao catolicismo. Viveu com Madame de Warens em Chambéry, na França,
de 1733 a 1740, período em que se tornou um ávido leitor e começou a escrever.
Em 1742 foi para Paris em busca da fama e da fortuna, mas durante anos não
obteve êxito. Na Academia de Ciências, apresentou um projeto para uma nova
notação musical, o qual foi recusado. De 1743 a 1744 trabalhou como secretário do
embaixador da França em Veneza. De volta a Paris, no começo de 1745, iniciou sua
ligação com Thérèse Levasseur, jovem criada que lhe deu cinco filhos e com a qual
se casou, em 1768, numa cerimônia civil. Rousseau morreu em Ermenonville,
França, em 2 de julho de 1778.

2.4. A Ética de Immanuel Kant (1724-1804) (traços biográficos)

Immanuel Kant nasceu em Königsberg, Prússia, hoje Alemanha, em 22 de abril de


1724. Os pais, de origem humilde, eram adeptos de um segmento da igreja luterana
para a qual a religião deveria manifestar-se na simplicidade e na observância moral.
Kant estudou com ajuda do pastor da igreja. Em 1740 ingressou na Universidade de
Königsberg como estudante de teologia, mas logo mostrou predileção por
matemática e física. Em 1744 publicou o primeiro livro, sobre questões relativas às
forças cinéticas. Durante nove anos trabalhou como preceptor, o que lhe permitiu
entrar em contato com a sociedade de Königsberg e ganhar prestígio intelectual.
Realizou então a mais longa viagem de sua vida, à cidade de Arnsdorf, distante cem
quilômetros de Königsberg. Conseguiu completar os estudos universitários e, em
1755, foi-lhe dado o cargo de Privatdozent (professor particular, não integrado ao
corpo docente) na universidade da cidade natal.

O pensamento de Kant se achava, àquela época, centrado na filosofia racionalista


de Leibniz e na física de Newton. Isso fica evidente no trabalho Allgemeine
Naturgeschichte und Theorie des Himmels (1755; História geral da natureza e teoria
do céu), em que manifestava uma concepção do universo como sistema harmônico
regido por uma ordem matemática. Gradativamente, a influência dos empiristas
ingleses -- sobretudo David Hume, que, nas palavras do próprio Kant, o "despertou
do sono dogmático" -- levou-o a adotar uma postura crítica ante a estreita correlação
entre conhecimento e realidade, asseverada pelo racionalismo. Assim, Der einzige
mögliche Beweisgrund zu einer Demonstration des Daseins Gottes (1763; A única
base possível para a demonstração da existência de Deus) e Traume eines
Geistersehers (1766; Sonhos de um visionário) constituíam dura crítica à metafísica
racionalista e seus argumentos quanto à existência de Deus.

Na Crítica da razão prática, Kant expôs a doutrina ética que lhe serviu de base para
a demonstração de uma ordem transcendente, sem que fosse necessário recorrer à
metafísica especulativa. A ética, para ele, não precisa dos dados da sensibilidade e,
portanto, não pode cair em "ilusões". A consciência moral é um dado tão evidente
quanto a ciência de Newton. É a razão aplicada à ação, à prática humana. Somente
a vontade humana pode ser boa ou má. A moralidade não se confunde com a
legalidade. A vontade é pura, moral, quando suas ações são regidas por imperativos
categóricos e não por imperativos hipotéticos, como a punição da lei. O imperativo
categórico pode ser assim enunciado: "Age de tal modo que o motivo que te levou a
agir possa tornar-se lei universal." As pessoas devem pautar suas ações de acordo
com princípios éticos universalmente aceitos. E a aceitação pelos homens da lei
moral é a prova de que existe uma ordem que transcende o meramente sensível,
cujo único fundamento possível é a existência de Deus. Kant deduz assim a
metafísica não da ciência, mas da ética.

2.5. Hegel, Georg W. Friedrich (traços biográficos)

A contribuição de Hegel, último dos grandes criadores de sistemas filosóficos dos


tempos modernos, representou a culminância do idealismo alemão e lançou as
bases da maior parte das tendências filosóficas e ideológicas posteriores, como o
marxismo, o existencialismo e a fenomenologia.
Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em Stuttgart, em 27 de agosto de 1770 e
recebeu esmerada educação cristã. Em 1788 ingressou na Universidade de
Tübingen a fim de se preparar para receber ordens. Durante dois anos se consagrou
à filosofia. Seu diploma de formatura assinalava que, embora fosse notável sua
dedicação a essa disciplina, o mesmo não ocorria quanto aos estudos teológicos.
Registrava-se também que sua expressão oral era deficiente, problema que o afligiu
ao longo de toda a vida.

2.6. Dialética hegeliana

Hegel foi o maior expoente do "idealismo alemão", que, como decorrência da


filosofia kantiana, e em oposição a ela, começou com Fichte e Schelling. Esses dois
pensadores tinham procurado tratar a realidade como baseada num só princípio,
para superar o dualismo de sujeito e objeto, estabelecido por Kant, segundo o qual
só era possível conhecer a aparência fenomenológica das coisas, não sua essência.

Para Hegel, o fundamento supremo da realidade não podia ser o "absoluto" de


Schelling nem o "eu" de Fichte e sim a "idéia", que se desenvolve numa linha de
estrita necessidade. A dinâmica dessa necessidade não teria sua lógica determinada
pelos princípios de identidade e contradição, mas sim pela "dialética", realizada em
três fases: tese, antítese e síntese. Assim, toda realidade primeiro "se apresenta",
depois se nega a si própria e num terceiro momento supera e elimina essa
contradição.

De acordo com as três fases do processo dialético, que em outras ocasiões Hegel
denominou simplicidade, cisão e reconciliação, a realidade evolui e forma
repetidamente novas contradições que encontram solução. Esta, por sua vez, dá
origem a contradições novas e a novas soluções. Segundo esse esquema, a idéia
lógica, o princípio, converte-se em seu contrário, a natureza, e esta em espírito, que
é a "síntese" de idéia e natureza: a idéia "para si". A cada uma dessas etapas
correspondem, respectivamente, a lógica, a filosofia natural e a filosofia do espírito.
A parte mais complexa do sistema é essa última: o espírito se desdobra em
"subjetivo", "objetivo" e "absoluto".

O espírito subjetivo é o de cada indivíduo, e o espírito objetivo é a manifestação da


idéia na história: sua expressão máxima é constituída pelo estado, que realiza a
razão universal humana, síntese do espírito subjetivo e do objetivo no espírito
absoluto. Este alcança o máximo do conhecimento de si mesmo, de maneira cada
vez mais perfeita, na arte, na religião e na filosofia. Assim, o espírito só chega a se
compreender como tal no homem, já que existe "unidade e identidade da natureza
divina e da natureza humana".
O idealismo hegeliano marcou profundamente a história da filosofia e sua influência
pode ser detectada em escolas muito diferentes umas das outras como o
existencialismo e a fenomenologia. Além disso, o desenvolvimento da dialética
mediante a substituição da idéia pela matéria foi uma tese central no pensamento de
Karl Marx. Não é exagero afirmar, portanto, que a obra de Hegel implantou um
quadro de referências indispensáveis para a compreensão das abordagens
filosóficas posteriores. Hegel morreu em 14 de novembro de 1831, em Berlim, vítima
de uma epidemia de cólera.

Dialética

2.7. Nietzsche, Friedrich (traços biográficos)

Muitas vezes mal interpretado como filósofo, ora em função de seu estilo poético,
ora devido à exploração pelo nazismo de certos aspectos de seu pensamento,
Nietzsche, na verdade, foi um dos críticos mais agudos da religião, da moral e da
tradição filosófica do Ocidente. Nessa condição, influenciou filósofos, teólogos,
psicólogos e escritores do século XX.

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 15 de outubro de 1844 em Röcken, na


Saxônia prussiana. Filho e neto de pastores protestantes, perdeu prematuramente o
pai em 1849 e ficou aos cuidados da mãe, da avó e da irmã mais velha. Em 1858
obteve uma bolsa de estudos para a escola de Pforta e em 1864 ingressou na
Universidade de Bonn, para estudar teologia e filologia. Transferiu-se em 1865 para
a Universidade de Leipzig, por indicação do mestre Friedrich Wilhelm Ritschl, graças
a quem, ainda aos 25 anos, Nietzsche foi contratado pela Universidade de Basiléia
como catedrático de filologia clássica.

O vigoroso espírito crítico de Nietzsche incidiu especialmente sobre a ética cristã:


para esta, o bom é o humilde, pacífico, adaptável; e o mau é o forte, enérgico e
altivo. Para Nietzsche, essa é a moralidade tanto de senhores quanto de escravos.
O valor supremo que deve nortear o critério do que é bom, verdadeiro e belo é a
vontade de potência: é bom o que vem da vontade de potência, é mau o que vem da
fraqueza. O homem aspira à imortalidade, mas esse conceito nada significa, já que a
realidade se repete a si mesma num devir que constitui o eterno retorno. O homem
só se salva com a aceitação da finitude, pois se converte em dono de seu destino,
se liberta do desespero para afirmar-se no gozo e na dor de existir. O futuro da
humanidade depende dos super-homens, capazes de se sobrepor à fraqueza, e não
da integração destes ao rebanho.
Em janeiro de 1889, Nietzsche sofreu um grave colapso nas ruas de Turim e perdeu
definitivamente a razão. Ao ser internado em Basiléia, diagnosticou-se uma
"paralisia progressiva", provavelmente em conseqüência de infecção sifilítica
contraída na juventude. Passou os últimos dez anos de vida na casa da mãe e, com
a morte desta, na da irmã.

2.8. Ética Contemporânea

A valorização da autonomia do sujeito moral leva à busca de valores subjetivos e ao


reconhecimento do valor das paixões, o que acarreta o individualismo exacerbado e
a anarquia dos valores. Resulta ainda na descoberta de várias situações particulares
com suas respectivas morais: dos jovens, de grupos religiosos, de movimentos
ecológicos, de homossexuais, de feministas, e assim por diante.

Essa divisão leva ao relativismo moral, que, sem fundamentos mais profundos e
universais, baseia a ação sobre o interesse imediato. É dentro dessa perspectiva
que o filósofo inglês Bertrand Russell (1872-1970) afirma que a ética é subjetiva, não
contendo afirmações verdadeiras ou falsas. Defende, porém, que o ser humano
deve reprimir certos desejos e reforçar outros se pretende atingir a felicidade ou o
equilíbrio.

Como reação a essas posições, o novo iluminismo, representado por Jürgen


Habermas (1929-), desenvolve a Teoria da Ação Comunicativa, dentro da qual
fundamenta a ética discursiva, baseada em diálogo, por sujeitos capazes de se
posicionar criticamente diante de normas. É pelo uso de argumentos racionais que
um grupo pode chegar ao consenso, à solidariedade e à cooperação.

2.9. O Pragmatismo

"O que é a verdade e como se diferencia do erro?" Essa é a pergunta fundamental


formulada pelo pragmatismo, que se propunha a elaborar uma atitude filosófica
adaptada às sucessivas descobertas científicas surgidas ao longo do século XIX e
às mudanças de uma sociedade em rápida transformação.
O pragmatismo é antes de tudo um método, do qual decorre uma teoria da verdade.
Apesar de constituir um movimento aberto e antidogmático, e ainda que seus
teóricos não tenham elaborado um sistema completo, há traços gerais comuns entre
seus defensores. Para os pragmatistas, a vontade antecipa-se ao pensamento. O
conhecimento é concebido como essencialmente modificador da realidade, portanto,
a construção da verdade deve corresponder à construção da própria realidade.
Conhecimento e ação se convertem em termos equivalentes. O eixo central da teoria
pragmatista é a ênfase na utilidade "prática" da filosofia.

Centrado na análise do significado da experiência, o pragmatismo foi entendido


como uma perspectiva em torno do conceito de verdade que, em seu processo de
expansão, atingiu os setores representados pela ética e a religião. A teoria
pragmática da verdade sustenta que o critério de verdade está nos efeitos e
conseqüências de uma idéia, em sua eficácia, em seu êxito, no que depende,
portanto, da concretização dos resultados que espera obter. Verdadeiro e falso são,
portanto, sinônimos de bom e mau, valores lógicos que têm caráter prático e só na
prática encontram significado.

Três condições básicas para uma afirmação ser considerada verdadeira:

 estar de acordo com a realidade e com os objetos da experiência;

 estar de acordo com aquelas relações de índole puramente mental, que são
verdades absolutas e incondicionais e que se conhecem como definição e
princípios;

 finalmente, estar de acordo com o conjunto de outras verdades já verificadas.

Portanto, é verdade absoluta que um mais um somem dois, que dois mais dois
somem quatro e que o branco se distinga do preto, pois a verdade dessas relações
é óbvia e não necessita de verificação empírica, o que a torna eterna. Para James,
quando uma verdade resiste a essas três condições, sua verificação está cumprida -
- e ela passa do estado de pretensão ao de certeza.
2.10. O Formalismo ético

O sentido comum do termo formalismo -- importância desmedida concedida às


formalidades, ao exterior -- ajusta-se ao sentido filosófico, que consiste em negar a
existência real da matéria e reconhecer-lhe somente a forma.

O termo formalismo é utilizado com sentidos diferentes, segundo o contexto de


aplicação seja a lógica, a filosofia da matemática, a gnosiologia, a ética ou a
estética, mas sempre com a idéia de preponderância da forma sobre a matéria.

Segundo Kant, a ciência da ética deve limitar-se a emitir regras formais, sem matéria
definida. Por "matéria" de um juízo ético Kant entende os bens ou males
determinados, que ele recomenda ou proíbe. Uma "ética material" teria de provar
logicamente a superioridade de certos bens sobre outros, o que para Kant é
impossível. Regra ética formal é a que vale para quaisquer bens indeterminados. O
formalismo ético de Kant foi contestado no século XX por Max Scheler, inspirado em
Husserl.

2.11. Dualismo ético

Dualismo é o sistema filosófico ou doutrina que admite, como explicação primeira do


mundo e da vida, a existência de dois princípios, de duas substâncias ou duas
realidades irredutíveis entre si, inconciliáveis, incapazes de síntese final ou de
recíproca subordinação.

No sentido religioso e ético, são classificadas como dualistas as religiões ou


doutrinas que admitem uma divindade criadora positiva, princípio de todo bem, e
outra, que se lhe opõe, destruidora, negativa, princípio do mal, sempre em luta com
o bem.

Ainda em sentido religioso, e metafísico, é dualista a filosofia pitagórica, com suas


dicotomias entre o perfeito e o imperfeito, o limitado e o ilimitado, o masculino e o
feminino etc., como elementos de explicação da criação do mundo e de seu
movimento.

Do ponto de vista ético, são dualistas as teorias que distinguem como inconciliáveis
o bem e o mal, a liberdade e a necessidade, o dever e a inclinação.
3 - ÉTICAS CRISTÃS

3.1. O que é Ética e o que é Moral?

A distinção entre ética e moral é (basicamente) a diferença entre teoria e prática, ou


pensar e fazer. Devemos observar a regra do ouro em Mateus 7:12 ("Portanto, tudo
o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a
lei e os profetas"). Por que é difícil fazer as coisas certas? É mais fácil fazer o que é
errado? Por quê?

Tendemos a ser corruptos. O pecado é o aniquilamento do bem. O mal não tem


existência independente (por si só ele não existe). Qualquer coisa má (atitude,
comportamento, ação, pensamento etc.) é alguma coisa boa que saiu do controle.
Exemplos: orgulho: amor próprio aumentado desproporcionalmente; ganância:
apreciação por coisas que se tornou idolatria ou egoísmo etc. Toda coisa má é
alguma coisa boa que se corrompeu (se distorceu, saiu do controle).

Todos os seres humanos (sem exceção) foram criados para o bem; pois Deus nos
fez a sua imagem e semelhança; com caráter e conduta semelhantes ao dele
próprio; conferir em Gênesis 1.27,28 e IJo 4.8 ("Aquele que não ama não conhece a
Deus, porque Deus é amor"); mas infelizmente, a corrupção tem sido uma inclinação
para o mal; é a ausência de uma coisa boa e necessária. É a atitude de se afastar
de Deus; é a nossa rebeldia que ocasiona o pecado (Romanos 3.23 "porque todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus").

O Espírito Santo constrói e restabelece o relacionamento com Deus; através do


Evangelho (Boas Novas de Jesus Cristo), Ele estabelece a comunicação com Deus.
Capacita a pessoa a aceitar o amor e perdão de Jesus Cristo; Ele cria e sustenta a
fé.

O cristão é simultaneamente "duas pessoas": a velha e a nova. A primeira com


idéias, valores e padrões distorcidos e suscetíveis (que recebe influência) de
satanás. Já a nova pessoa tem comportamento que são parecidos com os de Jesus
Cristo e suscetíveis a Deus. A nova pessoa tem aversão por coisas que ofendem a
Deus e ferem os outros; opõem-se as influências más!
O que Deus faz por nós (através de Jesus Cristo e do Espírito Santo), nos dá razões
para agirmos de acordo com a Sua vontade; temos o desejo de louvar a Deus e
ajudar os outros. (Marcos 12.30-31 "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu
coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas
forças: este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o
teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que este.").

Em discussões éticas, normas são instrumentos que indicam e medem a correção


moral. "Há vários tipos de normas". O mais específico são as regras; muito práticas
e concretas (ex.: não se embriague). Através das regras vem os princípios: "coma e
beba para a glória de Deus" é uma maneira de expressar o princípio por trás da
regra contra a embriaguez. O supremo propósito da vida é glorificar a Deus!!! Deus
que fez os seres humanos, nos conhece melhor que nós mesmos! Embora escrita
por homens, a Bíblia é a autêntica e autorizada Palavra de Deus; seu propósito
principal é comunicar as boas novas do perdão através do Sangue, Morte e
Ressurreição de Jesus, e dar-nos entendimento da vontade de Deus para as nossas
vidas.

Justificação é o dom do perdão de Deus por amor de Jesus. Santificação é o dom de


Deus na nova personalidade (pessoa), também por amor de Cristo (por ter morrido
em nosso lugar - sacrifício vicário).

O Fruto do Espírito descrito em Gálatas 5.22 é: amor (1Co 13), gozo, paz,
longanimidade (que não se irrita facilmente; suporta as adversidades: situações
contrárias), bondade (indulgência, complacência, benevolência, tolerância),
fidelidade (lealdade, firmeza), mansidão, domínio próprio (sereno, pacífico, calmo,
tem humildade). É agradável render-se à vontade de Deus reconhecida como
superior e melhor que a nossa. (Deus esquadrinha os nossos corações, não é por
força, persuasão, medo etc.)

O desejo de testemunhar nasce diretamente da consideração à Deus. É o anseio de


glorificá-lo e ajudar aos outros a notá-Lo e apreciá-Lo. A preocupação com as
pessoas (com seu bem estar) é a fonte motivadora de testemunho. O amor
manifesta-se no respeito aos outros.

Muitas qualidades surpreendentes caracterizam o amor (conferir 1Co 13, Fp


5.25,28,31,33; etc.). O amor não é só intensificação ou variação do amor por alguém
(apego, inclinação a uma determinada pessoa); pelo contrário, tem elementos
Divinos e transcendentes (superiores, e exteriores). É dom e ação de Deus. Para
enfatizar a singularidade do amor que Deus gera na nova pessoa, o Novo
Testamento no original grego emprega um termo especial: ágape. Outros tipos de
amor (philía e éros) referem-se a outros tipos de amor humano.

Uma das impressionantes qualidades do amor é o desprendimento. O amor ágape é


ativado não (somente) pelo atrativo ou utilidade do outro, mas sim pela sua
necessidade. Mesmo os que são indignos e não merecedores tornam-se alvo. (Uma
vez que não há digno ou merecedor, conferir Ef 2; Jo. 3:16; Rm 3.23, Jo 15.13; Rm
5.8; etc.).

"Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos dar a
vida pelos irmãos" (IJo 3:16). A consideração pelos outros é a base da integridade
Cristã. Amar os outros envolve perdão: "Mas se confessarmos os nossos pecados a
Deus, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça"
(IJo 1.9). De forma ampla, a ética cristã é uma tentativa de entender a vontade de
Deus em assuntos difíceis e confusos que não são discutidos claramente. Isto
requer sabedoria e ela pode ser nossa pelo pedir "Mas se alguém tem falta de
sabedoria, peça a Deus, e Ele dará porque é generoso e dá com bondade a todos".
(Tiago 1.5). Com isto temos a oportunidade de consultar a Deus na sua Palavra e
Oração, somados ao auxílio do Espírito Santo.

Somente através da doação amorosa e vicária de Cristo podemos escapar da


condenação e esperar o perdão (isto só é possível mediante a fé em Jesus Cristo: Ef
2.8). Apenas o que crê é perdoado e salvo. Há pelo menos 3 fases para a resposta a
fé:

1) Descubro que preciso de Cristo e de Sua ajuda (estou consciente que sou
pecador e estou perdido sem Ele);

2) Quero Cristo (desejo e anseio por Ele e seu auxílio);

3) Aceito-O (confio em suas promessas, sei com certeza que possuo Aquele de
quem preciso e quero).

Segurança temos de que nossas falhas não nos condenarão no julgamento final.
Cada erro cometido, cada oportunidade para o bem não aproveitada, cada motivo e
inclinação corruptos são apagados pelo perdão de Deus (perdão, este, que só tem
aqueles que entregaram sua vida para Jesus e reconheceram-no como Único e
Suficiente Salvador, admitindo-o como autor e consumador de suas vidas). A
verdade é que não há nada em nós para termos motivo de nos orgulharmos; a não
ser da experiência da conversão. Se somos justificados é apenas porque
reconhecemos humildemente o pecado e aceitamos o perdão de Deus por amor do
sacrifício remidor de Jesus (morte/ressurreição).

A melhor e mais elevada liberdade é a oportunidade de se submeter à vontade de


Deus (reconhecida como melhor), de encontrar satisfação na obediência a Ele.

Deus é desonrado por aqueles que dizem crer nele quando dão poucas evidências
(provas) na sua conduta; mas Deus é notado e louvado como resultado de nosso
progresso (resultado da nossa Salvação).

O padrão moral é o conjunto de crenças e julgamentos sobre o que é certo e errado


fazer. Princípios são diretrizes mais gerais, regras são mais específicas; a direção à
Deus é a base adequada para a ação. Ele promete graça para cobrir os erros éticos
e morais que inevitavelmente cometemos, embora tentamos evitá-los
conscienciosamente!

3.2. Questões Éticas

3.2.1. Engenharia Genética

A síntese artificial de diversas substâncias orgânicas, como a insulina e a


interferona, só foi possível graças aos progressos da engenharia genética. As
revolucionárias inovações na medicina e na agropecuária, no entanto, acarretam os
riscos inerentes à manipulação da estrutura genética do homem e levantam
questões éticas relacionadas à possibilidade de criar réplicas de seres humanos em
laboratório.

Engenharia genética, também conhecida como bioengenharia, é a especialidade da


biologia a que competem o estudo e a modificação da estrutura dos genes de
diferentes espécies animais e vegetais e a potencial geração de organismos
totalmente novos.
3.2.2. Antecedentes

A partir da década de 1930, quando os americanos George W. Beadle e Edward L.


Tatum demonstraram que os genes regulam a produção das enzimas e proteínas
que intervêm nas reações do organismo humano, progrediu muito o conhecimento
da estrutura genética. Em 1944, Oswald T. Avery descobriu que a cadeia molecular
do ácido desoxirribonucléico (ADN) é o componente cromossômico que transmite a
informação genética. A estrutura dessa molécula, porém, só seria conhecida em
1953, com o modelo molecular estabelecido pelos ingleses Francis H. C. Crick e
Maurice Wilkins e pelo americano James D. Watson. A partir desses conhecimentos,
os franceses François Jacob e Jacques Monod deduziram, em 1961, o processo
pelo qual o ADN rege a síntese de proteínas nas células bacterianas. Esse processo
é o fundamento da disciplina que, cerca de uma década depois, ficaria conhecida
com o nome de engenharia genética.

Em 1972, o americano Paul Berg, da Universidade de Stanford, na Califórnia,


conseguiu ligar duas cadeias de ADN, uma de origem bacteriana e outra de origem
animal. Seis anos depois o suíço Werner Arber e os americanos Daniel Nathans e
Hamilton O. Smith receberam o Prêmio Nobel de fisiologia ou medicina pela
descoberta das enzimas de restrição, substâncias capazes de cindir o ADN de forma
controlada em pontos precisos. Alcançava-se, dessa forma, a possibilidade de
manipular uma determinada mensagem genética expressa em forma de seqüência
de nucleotídeos, fragmentos que compõem o código hereditário.

3.2.3. Técnicas específicas de engenharia genética

Para cortar ou modificar a molécula de ADN, necessita-se de uma enzima específica


que reconheça a mensagem codificada sobre a qual se deseja atuar. Uma vez
fragmentada a cadeia, as unidades resultantes podem unir-se mediante a ação de
outras enzimas, as ligases. Quanto aos genes a serem transplantados, é possível
isolá-los do resto do ADN do organismo de que procedem ou então sintetizá-los a
partir do ácido ribonucléico mensageiro, o ARNm, do qual depende o código
genético, e copiá-los de acordo com a seqüência do ADN.

A introdução dos fragmentos de ADN isolados no interior de uma célula para que ela
reproduza a mensagem genética induzida é feita pelos vetores, geralmente vírus ou
plasmídios, ou ambos combinados. Os plasmídios são seqüências circulares de
ADN, que podem reproduzir-se de forma autônoma e estão contidos no citoplasma
de certas células vegetais e bacterianas: trata-se, portanto, de elementos genéticos
extracromossômicos.

A progressiva aceleração dos processos de indução da modificação genética


permitiu esclarecer a estrutura de seqüências de bases completas de ADN e decifrar
as mensagens genéticas nelas contidas. Além disso, ofereceu um instrumento que
permite assegurar, no nível molecular, que um agregado de fragmentos de ADN está
correto. A clonagem de genes é outra técnica específica, embora não exclusiva do
campo da engenharia genética, já que é também utilizada em microbiologia celular.
Ela consiste na identificação e na cópia de um determinado gene no interior de um
organismo simples empregado como receptor, geralmente uma bactéria ou levedura.

3.2.4. Aplicação

A engenharia genética ofereceu a possibilidade de obter, a partir de processos


biológicos moleculares, produtos orgânicos anteriormente obtidos em quantidades
mínimas de forma natural. Dessa forma se chegou à produção em grande escala de
substâncias como a insulina; os diferentes tipos de interferonas, que inibem o
crescimento de determinadas células anômalas; alguns moduladores da resposta
imunológica do organismo, como a interleucina e as já mencionadas interferonas;
proteínas do sangue, como a albumina e o fator VIII; e ativadores das defesas
orgânicas contra o câncer, como o fator necrosante de tumores.

Outro dos grandes campos de aplicação da engenharia genética é a síntese de


vacinas como a da malária e a da hepatite B. Além disso, essa tecnologia favorece a
obtenção segura de substâncias cuja manipulação envolve alto risco biológico, como
algumas vacinas que se preparam com vírus infecciosos, com o conseqüente risco
de vazamento incontrolado.

Problemas éticos. A par de suas vantagens clínicas, a engenharia genética


apresenta problemas éticos e legais, que resultam da possibilidade de se manipular
a herança genética do homem com fins eugênicos -- de depuração da espécie -- ou
para criar uma espécie nova por meios não naturais. Teme-se que as pesquisas
resultem na obtenção de microrganismos com características antes inexistentes,
como a resistência a antibióticos e a capacidade de produzir toxinas ou doenças.
A primeira clonagem de embriões humanos, realizada em 1993 pelos pesquisadores
Robert Stillman e Jerry Hall, da Universidade George Washington, provocou
protestos no mundo inteiro. As implicações morais e religiosas dessa conquista
científica levaram à necessidade de regulamentar as pesquisas com embriões
humanos, para evitar que as técnicas da engenharia genética sejam usadas, por
exemplo, com o objetivo de alterar permanentemente o fenótipo da espécie ou de
copiar artificialmente indivíduos que apresentem genótipos considerados ótimos para
determinados fins.

A medicina avança com tal velocidade nos dias de hoje que corremos o risco de
esquecer com facilidade que a consolidação da bioética como campo de estudos
específicos é muito recente, principalmente no que se refere ao mundo cristão, à
igreja do Senhor, pois muitas vezes esquecemos que não somos apenas espirituais
mas também de carne, de matéria.

3.3. Ética na Política

Ai daqueles que nos seus leitos imaginam a iniqüidade e maquinam o mal; à luz da
alva o praticam, porque o poder está em sua mão. Cobiçam campos e os arrebatam,
e casas e as tomam; assim fazem violência a um homem e à sua casa, a uma
pessoa e à sua herança. (Mq 2,1-2)

Há um clamor, um sentimento de inconformidade no País, exigindo o fim da


corrupção e da impunidade.

A democracia tem sido fundamental para alimentar um espírito crítico, mas ela
própria ressente-se da corrupção, torna-se frágil com ela, na medida em que
aumenta a distância entre o legal e o legítimo. Exemplo disso são os recursos
protelatórios e os casuísmos que permitem, mesmo sob o manto da lei, a
manutenção de privilégios e ganhos abusivos.

Entre tantas definições dadas à corrupção, a mais explícita é a do suborno, a


prevaricação sobre o bem comum definida como “uma relação social que se
estabelece entre dois agentes – corruptor e corrupto -, para a transferência ilegal de
renda, tirada de fundos públicos para a realização de fins privados.” (Silva,
M.F.Gonçalves, in A Economia Política da Corrupção)
Mas há outras formas mais sutis que aos poucos vão inquietando a sociedade – o
Estado a serviço de interesses privados que somente aplica as sobras em
programas sociais.

Enquanto não se procede a uma grande reforma político-institucional, espera-se


pelo menos que se evidencie nas altas cortes, instâncias governamentais e no
legislativo, a urgente vontade política de dar uma satisfação à população que já
deixou clara sua certeza em pesquisas de opinião que o país está dominado pela
corrupção e pela impunidade.

Em 1999 ocorreu uma grande mobilização popular em torno da campanha contra a


corrupção eleitoral que conseguiu mais de um milhão de assinaturas. E o Projeto de
Lei de Iniciativa Popular sobre o tema, em 1998, resultou na Lei 9840, que teve seu
primeiro teste nas eleições de 2000. Apesar de suas limitações, ficaram evidentes os
avanços obtidos no processo eleitoral, ao menos nos grandes centros, onde os
movimentos sociais e a opinião pública estão mais atentos. “Voto não tem preço,
tem conseqüências”, foi a marca vitoriosa.

Fatos de que todos temos conhecimento pela grande imprensa, vão formando uma
realidade sufocante de nomes e siglas de pessoas e órgãos denunciados. Isso
causa um grande desencanto e alimenta a descrença nas instituições democráticas
quanto à sua capacidade de preservar o estado de direito. É bem verdade que parte
da imprensa, dos parlamentares, dos juízes, do Ministério Público e de instâncias
administrativas, estão tentando cumprir honestamente seu papel, dando prova de
que um novo cenário, um outro país é possível. Muitas investigações estão em
andamento. Mas uma verdadeira nação quer muito mais: quer um choque de ética
que passe a limpo imediatamente o nosso país.

Está em curso um Movimento da Cidadania contra a Corrupção e em Defesa do


Brasil. Existe até uma ONG especializada no tema, a Transparência Brasil, formada
por acadêmicos, cientistas, empresários e lideranças sociais. Há uma urgência ética
no ar.

Lideranças de Igrejas praticantes do Evangelho nos dias de hoje, juntemos nossas


forças à de todos os homens e mulheres de boa vontade que se preocupam com
essa situação intolerável. Inspira-nos o exemplo de Cristo. Queremos um Brasil livre
de corrupção que garanta cidadania plena e alimente em todos o orgulho de ser
brasileiros. (Pr. Joaquim Beato - Presidente-CONIC e Pr. Ervino Schmidt -
Secretário Executivo-CONIC)

3.4. Decálogo evangélico do voto ético

Introdução

Este texto foi preparado visando contribuir para uma maior conscientização no meio
cristão, no sentido de que o voto evangélico não seja manipulado, como tantas
vezes têm acontecido.

Nosso desejo é ver os pastores brasileiros ensinando o povo a pensar e a decidir por
si próprios na questão política, levando em conta propostas sérias que apontem para
o bem comum. Queremos colaborar para que terminem tanto o

"voto de cabresto", os "currais eleitorais", como a velha idéia de que a Igreja deve
eleger pessoas pensando nos seus próprios interesses.

3.4.1. Os "Dez Mandamentos" do voto ético

1) O voto é intransferível e inegociável. Com ele o cristão expressa sua


consciência como cidadão. Por isso, o voto precisa refletir a compreensão
que o cristão tem de seu País, Estado e Município;

2) O cristão não deve violar a sua consciência política. Ele não deve negar sua
maneira de ver a realidade social, mesmo que um líder da igreja tente
conduzir o voto da comunidade numa outra direção;

3) Os pastores e lideres têm a obrigação de orientar aos fieis sobre como votar
com Ética e com discernimento. No entanto, devem evitar transformar o
processo de elucidação política num projeto de manipulação e indução
político-partidário;

4) Os lideres evangélicos devem ser lúcidos e democráticos. Portanto, melhor do


que indicar em quem a comunidade deve votar é organizar debates
multipartidários, nos quais os vários representantes de correntes políticas
possam ser ouvidos sem preconceitos;
5) A diversidade social, econômica e ideológica que caracteriza a igreja
evangélica no Brasil deve levar os pastores a não tentar conduzir processos
político-partidários dentro da igreja, sob pena de que, em assim fazendo, eles
dividam a comunidade em diversos partidos;

6) Nenhum cristão deve se sentir obrigado a votar em um candidato pelo simples


fato de ele se confessar cristão evangélico. Antes disso, os evangélicos
devem discernir se os candidatos ditos cristãos são pessoas lúcidas e
comprometidos com as causas de justiça e da verdade. E mais: é
fundamental que o candidato evangélico queira se eleger para propósitos
maiores do que apenas defender os interesses imediatos de um grupo ou de
uma denominação evangélica. É obvio que a igreja tem interesses que
passam também pela dimensão política. Todavia, é mesquinho e pequeno
demais pretender eleger alguém apenas para defender interesses restritos às
causas temporais da igreja. Um político evangélico tem que ser, sobretudo,
um evangélico na política e não apenas um "despachante" de igrejas.

7) Os fins não justificam os meios. Portanto, o eleitor cristão não deve jamais
aceitar a desculpa de que um político evangélico votou de determinada
maneira, apenas porque obteve a promessa de que, em fazendo assim, ele
conseguira alguns benefícios para a igreja, sejam rádios, concessões de TV,
imóveis, linhas de credito bancário ou outros "trocos", ainda que menores.
Conquanto todos assumamos que nos bastidores da política haja acordos e
composições de interesse, não se pode, entretanto, admitir que tais "acertos"
impliquem a prostituição da consciência de um cristão, mesmo que a
"recompensa" seja, aparentemente, muito boa para a expansão da causa
evangélica. Afinal, Jesus não aceitou ganhar os "reinos deste mundo" por
quaisquer meios. Ele preferiu o caminho da cruz;

8) Os eleitores evangélicos devem votar, para Presidente da República


sobretudo, baseados em programas de governo, e não apenas em função de
"boatos" do tipo:

"O candidato tal é ateu"; ou: "O fulano vai fechar as igrejas"; ou: "O sicrano não vai
dar nada para os evangélicos"; ou ainda: "O beltrano é bom porque dará muito para
os evangélicos". É bom saber que a Constituição do País não dá a quem quer que
seja o poder de limitar a liberdade religiosa de qualquer grupo. Além disso, é valido
observar que aqueles que espalham tais boatos, quase sempre, têm a intenção de
induzir os votos dos eleitores assustados e impressionados, na direção de um
candidato com o qual estejam comprometidos;
9) Sempre que um eleitor evangélico estiver diante de um impasse do tipo: "o
candidato evangélico é ótimo, mas seu partido não é o que eu gosto", é de
bom alvitre que se vote nele desde que ele tenha as qualificações para o
cargo;

10) Nenhum eleitor evangélico deve se sentir culpado por ter opinião política
diferente da de seu pastor ou líder espiritual. O pastor deve ser obedecido em
tudo aquilo que ele ensina sobre a Palavra de Deus, de acordo com ela. No
entanto, no âmbito político, a opinião do pastor deve ser ouvida apenas como
a palavra de um cidadão, e não como uma profecia divina.

3.5. Pena Capital

Muita controvérsia tem surgido em tomo da pena capital. De um lado, tem sido
saudada como sendo divinamente instituída e socialmente necessária. Do outro
lado, tem sido rotulada de bárbara e anti-cristã. É moralmente correto, em qualquer
caso, tirar a vida doutro ser humano por razões sociais? Tirar a vida deve ser usado
como penalidade em alguma ocasião? O que as Escrituras dizem sobre o assunto?

3.5.1. A Base Bíblica para a Pena Capital

Há várias passagens diferentes da Escritura que ensinam que Deus instituiu a pena
capital para certos crimes sociais hediondos. Estas passagens se acham nos dois
Testamentos.

3.5.2. O Antigo Testamento e a Pena Capital

A primeira referência à pena capital acha-se em Gênesis 9:6. Noé e sua família
sobreviveram ao grande dilúvio, que foi precipitado pela maldade e pela violência
daquela civilização antediluviana (cf. Gn 6.11). Quando Noé emergiu da arca, Deus
lhe deu a seguinte injunção: “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem
se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem.” O
assassinato é errado porque é matar Deus em efígie, e quem tirar a vida dos outros
homens deve ter sua vida tirada pelas mãos dos homens. Os antediluvianos tinham
enchido o mundo com violência e derramamento de sangue. Pelo uso da pena
capital os homens deveriam abafar a violência e restaurar a ordem da justiça. Deus
instituiu a ordem e a paz sociais e deu ao governo a autoridade sobre a vida para
garantir à humanidade estes benefícios.

Sob a lei mosaica a pena capital foi continuada e até mesmo expandida. O princípio
básico era “vida por vida, olho por olho, dente por dente” (Êx 21.25). A pena capital
era usada para outros crimes além do assassinato. O adúltero e a adúltera deviam
ser igualmente apedrejados até morrerem. (Lv 20.10). Na realidade, até mesmo um
filho teimoso e rebelde, que recusava a correção, devia ser morto, pelo mesmo
método às mãos dos cidadãos (Dt 21.8ss.). Mediante a direção de Deus, Acã e sua
família foram apedrejados por desobedecerem ao mandamento de Deus no sentido
de não tomar despojos da batalha de Jericó (Js 7.1, 26).

Há indicações de que Deus delegou a autoridade sobre a vida para as nações fora
de Israel no Antigo Testamento. Declara-se que governantes humanos em geral são
estabelecidos por Deus. Tanto Nabucodonosor (Dn 4.17) quanto Ciro (Is 44.28),
receberam autoridade da parte de Deus sobre as vidas humanas. De fato, há
indicações noutras partes do Antigo Testamento, no sentido de que o governo
humano em geral recebe tal autoridade da parte de Deus para resistir ao mal no
mundo, conforme foi declarado em Gn 9.6.

3.5.3. O Novo Testamento e a Pena Capital

O Novo Testamento pressupõe o mesmo conceito básico sobre a pena capital que
aparece no Antigo Testamento. Os governantes são instituídos por Deus; pela
autoridade divina, recebem a espada bem como a coroa (cf. Rm 13.1-2). Paulo
notou sobre o governante “... não é sem motivo que ela traz a espada; pois é
ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal” (v. 4).

Às vezes passa despercebido que Jesus reafirmou o princípio da pena capital no


Seu Sermão da Montanha. “Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas: não
vim para revogar, vim para cumprir.” Continuando, Jesus acrescentou: “Ouvistes que
foi dito aos antigos: ‘Não matarás,’ e: ‘Quem matar estará sujeito a julgamento (pela
pena capital).’ Eu, porém, vos digo que todo aquele que (sem motivo) se irar contra
seu irmão estará sujeito a julgamento” (Mt 5.21, 22). De acordo com Josefo
(Antigüidades IV, 8, 6, e 14), o Sinédrio ou Concílio dos Setenta, tinha o poder para
pronunciar a sentença da morte, e às vezes o exercia, conforme fica manifesto no
caso de Estêvão (At 7.59) e na execução de Tiago (At 12.1,2). Sem dúvida era
assim, pois Jo 18.31 diz que Roma tirara o direito legal dos judeus de aplicarem a
pena capital. Isto não significa, no entanto, que os judeus tinham aberto mão da sua
crença de que Deus lhes dera esta autoridade e, portanto, que poderiam exercê-la
quando pensavam que conseguiriam fazê-lo impunemente.

Dentro da igreja apostólica neotestamentária parecia haver em vigor um tipo de pena


capital. Ananias e Safiras foram condenados à morte pelo apóstolo Pedro por “mentir
ao Espírito Santo” (At 5.3). Embora não haja indicação de que esta aplicação
específica da sentença da morte não é limitada aos apóstolos originais, mesmo
assim é prova clara de que o Deus do Novo Testamento executou uma sentença de
morte em homens culpados através doutros homens.

Noutra passagem, Jesus reconheceu a autoridade dada por Deus sobre a vida
humana que os governantes humanos possuíam. Pilatos disse a Jesus: “Não sabes
que eu tenho autoridade para te soltar, e autoridade para te crucificar?” Jesus
respondeu: “Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada”
(Jo 19.11). A implicação aqui é que Pilatos realmente possuía autoridade
divinamente derivada sobre a vida humana. Aliás, exerceu-a (Jesus foi sentenciado
à morte) e Jesus Se submeteu a ela.

Resumindo: há dados bíblicos amplos, dos dois Testamentos, que mostram que
Deus ordenou, e os homens exerciam a pena capital para delitos específicos. A
pena de morte é instituída por Deus, através dos homens, contra os culpados. Logo,
a pergunta, de uma perspectiva rigorosamente bíblica, não é se a pena capital era e
é autorizada por Deus para os homens, mas quando e porquê. Mas antes da
discussão da aplicação e da base lógica da pena capital, é apropriado dizer uma
palavra sobre algumas objeções à pena de morte.

3.5.4. Algumas objeções à Pena de Morte

Várias objeções à pena de morte têm sido oferecidas por aqueles que se opõem a
ela. Três destas são dignas de comentários, de um ponto de vista bíblico.
3.5.4.1. O Caso de Caim

Às vezes é argumentado que a pena capital não era a intenção de Deus desde o
início, conforme pode ser deduzido da intervenção de Deus para poupar Caim dela.
Quando Caim matou seu irmão, Abel, Deus explicitamente proibiu qualquer pessoa
de matar Caim por sua vez. Disse: “Assim qualquer que matar Caim será vingado
sete vezes” (Gn 4.15).

O que é facilmente olvidado nesta isenção óbvia da pena capital é que a passagem
claramente subentende a validez da pena capital. O caso de Caim era especial.
Quem teria executado a sentença? O irmão dele estava morto. Decerto Deus não
iria chamar o pai para executar seu filho remanescente! Nesta situação o próprio
Deus pessoalmente comutou a sentença da morte.

No entanto, quando Deus suspendeu a pena da morte de Caim, a Bíblia claramente


indica que esta não seria a regra. Vários fatores apoiam esta conclusão.
Primeiramente, o próprio Senhor disse: “A voz do sangue de teu irmão clama da
terra a mim” (Gn 4.10). Clama para quê? Para a justiça, sem dúvida. O princípio
bíblico é que somente outra vida pode satisfazer a justiça de uma vida perdida (cf. Lv
17.11; Hb 9.22). Em segundo lugar, o temor de Caim de que alguém no futuro o
mataria demonstra que a pena capital era sua própria expectativa natural. “Quem
comigo se encontrar me matará,” exclamou. (Gn 4.14). A pessoa naturalmente prevê
a perda da sua própria vida como conseqüência de tirar a vida doutrém. Em terceiro
lugar, a resposta de Deus a Caim subentende a pena capital: “Assim qualquer que
matar a Caim será vingado sete vezes.” Isto, sem dúvida, significa que a pena
capital seria usada contra qualquer pessoa que matasse a Caim. Destarte, de modo
contrário àquilo que talvez pareça na superfície, o caso de Caim é a "exceção" que
comprova a regra. Desde o princípio, era a intenção de Deus de que os crimes
capitais recebessem penas capitais.

3.5.4.2. Jesus e a Mulher Adúltera

Jesus não demonstrou seu desdém para com a pena capital, ao recusar-Se a aplicar
a sentença vétero-testarnentária da morte a uma mulher apanhada em adultério?
Cristo não lhe disse: “Vai e não peques mais” (Jo 8.11)? Moisés ordenou a pena
capital para os adúlteros; Jesus os perdoava. Não é, portanto, mais cristão acabar
com a pena capital e exercer o amor que perdoa?
A primeira coisa a notar ao procurar responder a esta objeção é que a passagem
sendo considerada é textualmente suspeita (Jo 7.53-8.11). É achado em lugares
diferentes nos manuscritos antigos. Certamente interrompe a narrativa aqui (leia Jo
8.12 imediatamente após 7.52). Embora haja evidência textual sólida para
questionar a autoridade desta história, suporemos sua autenticidade para os fins
desta discussão”.

Na realidade, nada há nesta passagem contra a pena capital. Jesus declarou que
nunca quebrou a lei de Moisés (Mt 5.17) e não há prova aqui que o fez. Moisés
ordenara a morte somente se houvesse duas ou três testemunhas oculares (Nm
35.30). Não havia ninguém aqui que alegasse (no fim) ser testemunha ocular, ou
que quisesse levar adiante as acusações. Depois de todos eles terem saído, Jesus
perguntou explicitamente a ela: “Mulher, onde estão aqueles teus acusadores?
ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor” (vv. 10-11). Na base de
“falta de testemunhas,” nenhuma sentença foi exigida. A mulher enfrentou seu
processo corretamente diante do salvador.

3.5.4.3. A Cruz de Cristo e a Graça Perdoadora

Há outro argumento, mais sofisticado, contra, a pena capital que alega que, tendo
em vista a cruz de Cristo e a graça perdoadora agora (nos tempos
neotestamentários) é anti-cristão distribuir a justiça como se Deus não tivesse dado
perdão a todos os homens. Esta objeção sustenta que a pena capital é baseada
num conceito sub-cristão ou pré-cristão da justiça, que é transcendido por uma
moralidade neotestamentária da graça. Deus não deseja castigar os homens, muito
menos com a pena capital; pelo contrário, Deus quer perdoar os homens através de
Cristo. Todos os nossos crimes foram pregados à Sua cruz (Ef 2.15, 16). A lei foi
cumprida por Cristo, no preceito e na penalidade (Mt 5.17; Gl 3.13). Visto que a
justiça de Deus foi satisfeita pelo sacrifício de Cristo, não há necessidade dos
homens pagarem a penalidade pelos seus pecados. Deus oferece o perdão a todos
e por tudo.

Basicamente, esta objeção à pena capital é baseada num entendimento errôneo da


graça. Perdoar um pecado não rescinde automaticamente os resultados daquele
pecado. Um bêbado que confessa seu pecado não tem direito algum de esperar que
Deus tire sua ressaca. Um motorista estouvado que danifica seu próprio corpo não
deve esperar a saúde e integridade física anteriores à trombada, imediatamente ao
confessar. A graça de Deus cuida da penalidade do pecado do homem, mas nem
sempre das conseqüências imediatas. “Não vos enganeis,” escreveu Paulo: “de
Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl
6.7). Isto se aplica ao cristão. Quando os santos de Corinto abusaram da Ceia do
Senhor, Deus os visitou com doenças e até mesmo com a morte (1Co 11.30).

Se o perdão do pecado também significasse a eliminação de todas as suas


conseqüências, decerto os homens pecariam mais a fim de que a graça abundasse.
Faz parte da graça de Deus que Ele nos ensina a não pecarmos mais. Realmente, a
evidência mais clara de que Deus não elimina automaticamente os resultados dos
pecados que Ele perdoa é o fato de que até mesmo os cristãos morrem. A morte
passou a todos os homens, porque todos pecaram (Rm 5.12). E tornar-se um cristão
não cancela esta conseqüência do pecado. Até mesmo os melhores cristãos morrem
como resultado do pecado - pecado perdoado.

Se a cruz não elimina automaticamente as conseqüências imediatas e sociais do


pecado da pessoa, logo, a objeção à pena capital baseada nesta premissa cai por
terra. Na realidade, há uma implicação mais séria a esta objeção inteira que precisa
ser examinada. Há um tipo radical de dispensacionalisnio subentendido no
argumento de que o sistema divino da justiça moral não é o mesmo nos dois
Testamentos. Cristo não aboliu a lei moral do Antigo Testamento. Cada um dos Dez
mandamentos é reafirmado no Novo Testamento. Mesmo debaixo da graça é
errado assassinar, mentir, furtar, adulterar. Quando o Novo Testamento declara que
o cristão “não está debaixo da lei mas, sim, debaixo da graça,” significa que a
codificação e aplicação peculiarmente mosaicas à nação de Israel, dos princípios
morais imutáveis de Deus, foram cumpridas por Cristo. Isto, no entanto, não
significa que as normas éticas incorporadas nos Dez Mandamentos são abolidas
pela, cruz. A mesma lei moral básica da justiça divina de Deus está em vigor tanto
no Antigo quanto no Novo Testamento. Nem Deus, nem a lei moral, que reflete Sua
natureza, mudaram. E, quanto a isto, nem o plano divino da graça mudou-se de um
Testamento para outro. No Antigo Testamento, os homens eram salvos pela graça
mediante a fé exatamente como no Novo Testamento (cf. Rm 4.6-7; Hb 11.6). Paulo
declarou enfaticamente que há um só Evangelho, pronunciando o anátema mesmo a
um anjo que viesse pregar um evangelho diferente (Gl 1.6-9). Mas naquela mesma
Epístola escreveu que este Evangelho fora pregado a Abraão (3.8). Há uma só lei
moral para os dois Testamentos, e há somente um plano de graça salvadora.
Qualquer objeção à pena capital baseada numa mudança dispensacional ou na
justiça de Deus ou na Sua graça está biblicamente numa base muito duvidosa.
3.5.5. A Base Lógica para a Pena Capital

Algumas das objeções sociais à pena capital baseiam-se não tanto no uso quanto
no abuso do poder da pena capital. Mas o fato de que erros serão feitos por seres
humanos falíveis na aplicação deste castigo não é um bom argumento para aboli-lo
completamente. Os médicos cometem erros fatais e assim também os políticos, mas
estes erros não são boas razões por acabar com a prática da medicina ou do
governo. O abuso do casamento mediante um divórcio injustificado não quer dizer
que a instituição do casamento não é divinamente estabelecida. Muitos indivíduos
cometem erros fatais, mas seu julgamento falível não elimina a necessidade dos
homens exercerem bom juízo ao aplicarem a justiça social e moral. Naturalmente, a
pena capital não deve ser executada nalguém que não recebeu um processo jurídico
correto e cuja culpa não esteja além de toda a dúvida razoável. Do outro lado,
aquele cujo crime é tão hediondo, que exige a pena capital, não deve ser poupado
mediante a alegação falaz que é injusta ou contrária à graça. É injusto não distribuir
a justiça quando a injustiça clama por ela.

3.5.6. A administração da justiça é outra questão

O que é de interesse na ética normativa não é a aplicação (ou aplicação errônea) da


justiça, mas, sim, o próprio princípio da justiça, que às vezes exige a pena capital.
Uma das implicações por detrás dalgumas objeções sociais à pena capital é que é
desumano ou injusto castigar os homens desta maneira pelo seu delito. A ação
social para os criminosos não deve ser penal mas, sim, reformadora, argumenta-se.
O conceito do castigo é sub-cristão ou bárbaro. Os homens civilizados devem
procurar reconciliar os homens, mas não destruí-los. Não há lugar para um castigo
tão grosseiro entre homens civilizados, diz-se.

Reconhecendo-se a verdade de que, sempre que possível, os homens devem ser


reformados, há algumas inconsistências estranhas nos argumentos supra contra a
pena capital. Primeiramente, pressupõe-se um tipo bíblico de justiça para dizer que o
conceito bíblico da pena capital é injusto. O padrão da justiça que exige a pena
capital não pode ser usado para negar o que o padrão exige. Segundo, há uma
estranha mudança lógica no chamar a pena capital de desumana. Foi a
desumanidade, na forma do crime, que exigiu as conseqüências capitais. O ato
desumano foi realizado pelo criminoso no ato do assassinato, não contra o criminoso
na pena capital.
O fato da questão é que a própria pena capital pode ser um ato muito humanitário.
Pode ser um tipo de eutanásia, ou seja, um tipo de misericórdia à sociedade para
garantir que este criminoso não repetirá o crime que cometeu. O alívio social em
saber que os homens estão livres dos sanguinários é uma dádiva de misericórdia
para o restante da humanidade. Que tipo de humanitarismo pervertido é este, que
tem mais solicitude com a vida de um único homem culpado, do que com as vidas
de muitos homens inocentes? Em nome da misericórdia para os homens em geral,
poder-se-ia apresentar uma petição forte a favor da pena capital por certos crimes
que têm probabilidade de serem repetidos.

Além disto, pode ser argumentado que a irreformabilidade de certos criminosos é


uma das razões para a pena capital. O Antigo Testamento, por este motivo, exigia a
execução de um filho rebelde e incorrigível (Dt 21.18). Quando se calcula a
enormidade da tristeza e da morte que podem ser trazidas sobre homens inocentes
por um só ser humano incorrigível, talvez haja mais bom-senso na lei de Moisés do
que a justiça social contemporânea indulgente está disposta a reconhecer.

A irreformabilidade, no entanto, não é a única razão para a pena capital. Na


realidade, provavelmente não é a razão básica. A justiça é a razão primária para a
pena capital. A pena capital obviamente não pretende reformar o criminoso; é um
castigo. Naturalmente, um sub-produto da pena capital pode ser dissuadir os outros
de cometerem o mal. Isto, está aberto a dúvidas. Visto que para todos os fins
práticos, um criminoso contemporâneo que está para cometer um assassinato não
tem qualquer razão real para esperar vir a ser punido com a morte é provavelmente
impossível fazer um teste social verdadeiro de se a ameaça real da pena capital
dissuadiria o criminoso. Parece, porém, que a Bíblia subentende que o castigo visa
dissuadir os malfeitores (cf. Rm 13.3). A razão primária para a pena capital, no
entanto, é que a justiça a exige. Uma ordem justa é perturbada pelo assassinato, e
somente a morte do assassino pode restaurar aquela justiça. A restituição não é
possível pelo assassinato, e a reforma pode, na melhor das hipóteses, apenas
garantir que o mesmo ato, pelo mesmo homem, não ocorrerá outra vez. Mas nada
satisfez a justiça no que diz respeito ao primeiro assassinato. Deus pode perdoá-lo,
mas até mesmo Deus não pode justificar o pecado. Na realidade, nada chega a
realmente justificar o pecado. O pecado sempre é injustificável. Não se quer dizer
com isto que não possa ser perdoado. Pode ser perdoado mediante Cristo. Nem se
quer dizer que não há satisfação para a justiça contra a qual se pecou. Há uma só
coisa que satisfaz uma justiça ofendida, e esta é o pagamento da dívida à justiça. E
o pagamento bíblico para o assassinato é a vida da pessoa. A vida pela vida, o
sangue pelo sangue, é a regra. A penalidade por tirar a vida doutro homem é dar
sua própria vida.

A razão porque esta base lógica talvez soe estranha ao ouvido moderno é que o
verdadeiro sentido da justiça foi obscurecido. Quando os homens já não crêem em
Deus nem numa lei moral imutável, segue-se que nenhuma penalidade deve ser
incorrida por transgredir uma lei que não existe. Juntamente com esta distorção
contemporânea da justiça há um conceito anêmico do amor. Um Deus amoroso não
castigaria pessoa alguma, pensa-se de modo vão. Conclui-se daí, que um pai
amoroso não deve disciplinar seu filho. Não admira que os homens não entendem a
necessidade da pena capital; não vêem a necessidade de qualquer tipo de castigo.
Deixam de ver que os pais amorosos castigam seus filhos (Pv 13.24) e que um Deus
amoroso disciplina Seus filhos (Hb 12.5,6). Na realidade, quase o inverso da
mentalidade moderna é o caso. A Bíblia ensina que o castigo apropriado é prova do
amor. O amor está na disciplina. A falta de correção é uma indicação da falta de
verdadeira solicitude para com os teimosos.

Uma consideração final deve ser feita em resposta à alegada desumanidade da


pena capital. A pena capital, contrariamente àquilo que alguns assim-chamados
humanistas nos levariam a crer, realmente subentende mais consideração para com
o indivíduo. O homem individual é a imagem de Deus, e por isso é errado matá-lo
(Gn 9.6). O homem é tão valioso como indivíduo, que qualquer pessoa que interfere
indevidamente com seu direito sagrado de viver deve enfrentar as conseqüências de
perder sua-própria vida. O valor do indivíduo é tão grande que a penalidade máxima
é aplicada àqueles que interferem indevidamente com a vida de, até mesmo, um só
homem.

3.5.7. O hierarquismo e tirar outras vidas

O problema de quando e porque é certo tirar outras vidas não é fácil. A tensão é
resolvível, no entanto, quando é aplicada uma ética hierárquica. Matar é justificável
quando muitas vidas podem ser salvas quando menos são sacrificadas, ou quando
vidas completas são preservadas em preferência às incompletas, ou quando uma
vida real é preferida a uma vida em potencial. Até mesmo o suicídio para salvar mais
vidas é preferível. Os princípios básicos por detrás destas conclusões são:

 As pessoas são mais valiosas do que as coisas;


 muitas vidas são mais valiosas que menos vidas;

 pessoas reais são mais valiosas do que pessoas em potencial;

 pessoas completas são mais valiosas do que pessoas incompletas.

É por causa do valor intrínseco das pessoas que o assassinato é errado. E é porque
o assassinato é um grave delito contra o valor intrínseco da outra pessoa, e da
Pessoa de Deus que o ser humano reflete, que a penalidade é tão grande. O castigo
capital não é impessoal ou anti-humano. É pró-humano. Ao remover o anti-humano,
vindica-se o valor da pessoa individual. A esta altura fica mais simples ver a
aplicabilidade doutro princípio do hierarquismo.

 o que promove o interpessoal é mais valioso do que aquilo que não o promove.

A sentença de morte para quem foi o cérebro por detrás do plano para aniquilar uma
raça é uma maneira eminentemente apropriada de trazer esta carreira
eminentemente anti-pessoal a um fim justo. Castigar o impessoal e o anti-pessoal
não é impessoal em si mesmo. Pelo contrário, é uma vindicação do valor intrínseco
de cada pessoa. Não castigar o anti-pessoal é um ato impessoal. Recusar-se a
intervir com a justiça quando o valor intrínseco de pessoas inocentes é violado é
uma ética altamente impessoal. A pena capital, aplicada com justiça, pode ser uma
expressão de uma ética muito centralizada na pessoa.

Em síntese, a pena capital é requerida nos crimes capitais para proteger o valor
intrínseco do direito de viver da pessoa individual. Além disto, a sentença da morte
pode ser justificada em crimes menos do que capitais, quando as vidas de mais
pessoas inocentes estão em jogo se o homem mau viver. Fora dos crimes capitais
ou atividades que decerto levariam à morte dos homens inocentes, o estado não tem
nenhum direito divino de exercer a pena da morte. É uma responsabilidade séria
para um governo carregar a espada, e deve tomar cuidado para não fazê-lo em vão.

3.5.8. Padrões de Moralidade Sexual

Hb 13.4 “Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém aos
que se dão à prostituição e aos adúlteros Deus os julgará”.
O crente, antes de mais nada, precisa ser moral e sexualmente puro (2Co 11.2; Tt
2.5; 1Pe 3.2). A palavra “puro” (gr. hagnos ou amiantos) significa livre de toda
mácula da lascívia. O termo refere-se a abstenção de todos os atos e pensamentos
que incitam desejos incompatíveis com a virgindade e a castidade ou com os votos
matrimoniais da pessoa. Refere-se, também, ao domínio próprio e a abstenção de
qualquer atividade sexual que contamina a pureza da pessoa diante de Deus. Isso
abrange o controle do corpo “em santificação e honra” (1Ts 4.4) e não em
“concupiscência” (4.5).

Este ensino das Escrituras é tanto para os solteiros, como para os casados. No
tocante ao ensino bíblico sobre a moral sexual, vejamos o seguinte:

(1) A intimidade sexual é limitada ao matrimônio. Somente nesta condição ela é


aceita e abençoada por Deus (ver Gn 2.24; Ct 2.7; 4.12). Mediante o
casamento, marido e mulher tornam-se uma só carne, segundo a vontade de
Deus. Os prazeres físicos e emocionais normais, decorrentes do
relacionamento conjugal fiel, são ordenados por Deus e por Ele honrados.

(2) O adultério, a fornicação, o homossexualismo, os desejos impuros e as


paixões degradantes são pecados graves aos olhos de Deus por serem
transgressões da lei do amor (Êx 20.14) e profanação do relacionamento
conjugal. Tais pecados são severamente condenados nas Escrituras (Pv 5.3)
e colocam o culpado fora do reino de Deus (Rm 1.24-32; 1Co 6.9,10; Gl 5.19-
21).

(3) A imoralidade e a impureza sexual não somente incluem o ato sexual ilícito,
mas também qualquer prática sexual com outra pessoa que não seja seu
cônjuge. Há quem ensine, em nossos dias, que qualquer intimidade sexual
entre jovens e adultos solteiros, tendo eles mútuo “compromisso”, é aceitável,
uma vez que não haja ato sexual completo. Tal ensino peca contra a
santidade de Deus e o padrão bíblico da pureza. Deus proíbe, explicitamente,
“descobrir a nudez” ou “ver a nudez” de qualquer pessoa a não ser entre
marido e mulher legalmente casados (Lv 18.6-30; 20.11, 17, 19-21; ver 18.6).

(4) O crente deve ter autocontrole e abster-se de toda e qualquer prática sexual
antes do casamento. Justificar intimidade premarital em nome de Cristo,
simplesmente com base num “compromisso” real ou imaginário, é transigir
abertamente com os padrões santos de Deus. É igualar-se aos modos
impuros do mundo e querer deste modo justificar a imoralidade. Depois do
casamento, a vida íntima deve limitar-se ao cônjuge. A Bíblia cita a
temperança como um aspecto do fruto do Espírito, no crente, isto é., a
conduta positiva e pura, contrastando com tudo que representa prazer sexual
imoral como libidinagem, fornicação, adultério e impureza. Nossa dedicação à
vontade de Deus, pela fé, abre o caminho para recebermos a bênção do
domínio próprio: “temperança” (Gl 5.22-24).

(5) Termos bíblicos descritivos da imoralidade e que revelam a extensão desse


mal.

(6) Fornicação (gr. porneia). Descreve uma ampla variedade de práticas sexuais,
pré ou extramaritais. Tudo que significa intimidade e carícia fora do
casamento é claramente transgressão dos padrões morais de Deus para seu
povo (Lv 18.6-30; 20.11,12, 17, 19-21; 1Co 6.18; 1Ts 4.3).

(7) A lascívia (gr. aselgeia) denota a ausência de princípios morais,


principalmente o relaxamento pelo domínio próprio que leva à conduta
virtuosa (1Tm 2.9). Isso inclui a inclinação à tolerância quanto a paixões
pecaminosas ou ao seu estímulo, e deste modo a pessoa torna-se partícipe
de uma conduta antibíblica (Gl 5.19; Ef 4.19; 1Pe 2.2,18).

(8) Enganar, isto é, aproveitar-se de uma pessoa, ou explorá-la (gr. pleonekteo,


e.g., 1Ts 4.6), significa privá-la da pureza moral que Deus pretendeu para
essa pessoa, para a satisfação de desejos egoístas. Despertar noutra pessoa
estímulos sexuais que não possam ser correta e legitimamente satisfeitos,
significa explorá-la ou aproveitar-se dela (1Ts 4.6; Ef 4.19).

(9) A lascívia ou cobiça carnal (gr. epithumia) é um desejo carnal imoral que a
pessoa daria vazão se tivesse oportunidade (Ef 4.22; 1Pe 4.3; 2 Pe 2.18; Mt
5.28).

3.5.9. O Cristão e os Jogos de Azar

A fazenda que procede da vaidade diminuirá, mas quem a ajunta pelo trabalho terá
aumento (Pv 13.11). Como a perdiz que ajunta ovos que não choca, assim é aquele
que ajunta riquezas, mas não retamente; no meio de seus dias as deixará e no seu
fim se fará um insensato (Jr 17.11).

Jogar a dinheiro, sorte e azar é igual a IDOLATRIA. Porém, quando se tem que fazer
uma escolha para presentear alguém, o sorteio é a forma mais imparcial existente e
como não se trata de aposta ou prejuízo de muitos em favor de um, torna-se uma
prática perfeitamente ética dentro dos moldes cristãos.
Loterias, jogos de bichos e outros grandes prêmios não têm a aprovação de Deus.
Muitos estarão perdendo para um ganhador. Não poucos, perderão todos os seus
bens e arriscando fortunas. Os que fazem assim, colocam a “fé” e confiança para
solução de seus problemas financeiros, nos jogos e não em Deus.

3.5.10. A Música no culto

“Um cântico haverá entre vós, como na noite em que se celebra uma festa santa; e
alegria de coração, como a daquela que sai tocando pífano, para vir ao monte do
SENHOR, à Rocha de Israel. E o SENHOR fará ouvir a glória da sua voz e fará ver o
abaixamento do seu braço, com indignação de ira, e a labareda do seu fogo
consumidor, e raios, e dilúvio, e pedra de saraiva” (Is 30.29,30).

3.5.10.1. Observamos a partir do texto acima que

A música deve levar a imersão total na glória de Deus, deve servir para elevar nosso
padrão espiritual, para pensarmos nas coisas do céu, para levar-nos para mais junto
de Deus.

Todos devem ser participantes e não meros ouvintes, ou seja, a parte de louvor de
um culto deve ser compartilhada por todos, que cantando juntamente, quer tocando
um instrumento musical, quer glorificando o nome do Senhor.

Não devemos utilizar músicas populares adaptadas. Música sacra não deve ser
substituída por subterfúgios que apenas satisfazem os ouvidos de alguns mas não
preenchem o vazio do interior: por mais bonitas, atraentes ou sucesso que tais
músicas possam ser ou alcançar, jamais servirá para glorificar o Nome de Jesus,
portanto não deve ser utilizada e aceita em nosso meio.

A música no culto deve ser coordenada com outras partes da liturgia, ela deve fazer
parte do culto e não tornar-se o culto, mesmo que tal reunião tenha como finalidade
o louvor, há necessidade da Palavra contida nas Escrituras Sagradas ser lida e
pregada.
A música de fundo deve ser bem dosada e não distrair do momento; deve ser de
acordo com o que está se falando e sempre com a permissão do interlocutor; deve
servir para elevo espiritual e só para esta necessidade.

Os instrumentos não devem ser afinados na hora do culto, os mesmos devem ser
afinados com antecedência devida, para não deixar ociosidade no momento de
devoção a Deus, assim como as alturas musicais devem ser convencionadas nos
ensaios. O louvor deve ser previamente escolhido, as partituras devem estar em
ordem e prontas quando da execução do louvor.

Se errar deve-se procurar corrigir e não dar desculpas esfarrapadas, é melhor


interromper um hino e recomeçá-lo a prosseguí-lo de forma errada causando mal-
estar aos ouvintes.

3.5.11. Ética no cultuar a Deus

No ambiente (templo) de culto. “Guarda o teu pé quando entrares na casa de Deus;


porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não
sabem que faz mal” (Ec 5.1).

Com relação aos Ministros e Cooperadores. “Não toqueis nos meus ungidos e não
maltrateis os meus profetas” (Sl 105.15).

Com relação aos que são escolhidos para servir. “Porém, agora, não subsistirá o
teu reino; já tem buscado o SENHOR para si um homem segundo o seu coração e já
lhe tem ordenado o SENHOR que seja chefe sobre o seu povo, porquanto não
guardaste o que o SENHOR te ordenou “(1Sm 13.14).

Com relação ao relacionamento um com os outros. “Porém o maior dentre vós será
vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se
humilhar será exaltado”. (Mt 23.11,12).


Como portar-se dentro do culto. “Portai-vos de modo que não deis escândalo nem
aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus” (1Co 10.32).

O tempo de cada parte do culto. “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais,
cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem
interpretação. Faça-se tudo para edificação. Porque Deus não é Deus de confusão,
senão de paz, como em todas as igrejas dos santos” (1Co 14.26,33).

3.5.12. Doença e cura

3.5.12.1. Doença

Males que ocorrem no corpo ou no espírito do ser humano, resultantes de três


fatores:

a) Pecado ou desobediência a Deus ou a Sua Palavra;

b) deficiências de nascença ou males hereditários;

c) males que servirão para a glória do nome de Deus e para confirmação de seu
poder.

3.5.12.2. Cura

Ações que resultam no desaparecimento das doenças, que podem ocorrer de duas
formas:

a) Através do uso da fé, da vontade de Deus, da operação dos dons espirituais


dados à Igreja;

b) através da medicina, ciência que tem alcançado extraordinário avanço tanto


na descoberta das causas, como nas formas de tratamento, como nos
medicamentos eficazes para o extermínio dos males.

Não precisamos temer a busca de cuidados médicos, isto não demonstra falta de
confiança em Deus ou de fé. Deus pode curar ou usar os médicos para tal.
Devemos lembrar sempre que os médicos são colaboradores e não salvadores, são
limitados quando o uso da fé é ilimitado. Quando a nossa fé não é suficiente para
sermos curados, devemos buscar os recursos humanos legados por Deus à
humanidade, desde que a nossa confiança em tais recursos não seja maior que a
em Deus.

3.5.13. Suicídio e Eutanásia

3.5.13.1. Suicídio

Para uma sociedade presa quanto a autonomia do indivíduo, fica questionável ao


indivíduo a liberdade relativa das criaturas incluindo a de por fim a ela, porém do
ponto de vista bíblico só o que deu a vida tem poder de tirá-la. “O SENHOR é o que
tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela” (1Sm 2.6). O ato
de reprodução da espécie pode ser promovido por qualquer pessoa, porém a
concepção de uma nova vida só acontece quando a vontade de Deus impera. Daí
há de se concluir que o ser humano não tem poder de dar vida, não tem poder de
não vir à vida, portanto não tem direito de por fim a ela.

3.5.13.2. Eutanásia

Nenhuma das ramificações da argumentação em prol da eutanásia tem fundamento


Cristão. Nosso compromisso mais profundo é de jamais desamparar os que sofrem,
de cuidar sempre, nunca matar “Nem tampouco é servido por mãos de homens,
como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida,
a respiração e todas as coisas”. (At 17.25); Não matarás (Dt 5.17). Por maior que
seja o sofrimento de uma pessoa em virtude a uma doença ou desastre, não temos
nenhum direito de autorizar o fim da existência de outra pessoa, nem manifestarmos
vontade de que assim procedam conosco.

3.5.13.3. Rejeição de tratamento

Algumas pessoas em estado grave de doença não permitem o devido tratamento,


quer por vontade própria, quer por falta de conhecimento devido do seu mal.
Portanto:

a) Devemos dizer a verdade ao paciente em qualquer situação para deixá-lo


consciente de sua realidade de vida ou proximidade de morte;

b) As diretrizes para decisões futuras devem ser estabelecidas anteriormente


dentro de um plano de plena consciência e vontade do Dono da Vida.
3.5.14. Missão suicida e Ato suicida

Missão suicida é todo comportamento que pode resultar em morte, e este é um


comportamento do ponto de vista cristão aceitável quando este resulte em mártir,
isto é, aquele que dá sua vida por uma causa nobre.

Ato suicida são comportamentos que tem grande possibilidade de resultarem morte,
e o seu agente será um suicida, daí ser um comportamento reprovável pelos
cristãos, pois estariam destruindo o seu corpo ou deformando sua pessoa

3.5.15. Doação de Órgãos

Automutilação ou doação? A automutilação é um comportamento anti-ético aos


cristãos, pois não estaríamos preservando o nosso corpo e sim destruindo-o, porém
a doação pode ser considerada uma doação de vida, uma ação de demonstração de
amor ao próximo, de cuidado com a oportunidade de vida a outros, daí ser um
comportamento não só aceitável como um dever do cristão.

Existem razões para não sermos doadores? Não. Algumas pessoas pensam que
doando ou recebendo um órgão estarão dificultando sua identificação como salvo,
estarão mudando sua PESSOA, mas a doação ou recepção pode alterar apenas o
corpo e jamais o interior dele.

Portanto, devemos lutar com todas as armas disponíveis para nos mantermos vivos
ou prolongarmos a vida, este deve ser o lema de todos os cristãos, lembrando que
Jesus virá buscar salvos tanto vivos quanto mortos corporalmente.

3.5.16. Amizades

“Retira o pé da casa do teu próximo, para que se não enfade de ti e te aborreça” (Pv
25.17).

“Em todo tempo ama o amigo e para a hora da angústia nasce o irmão” (Pv 17.17).
a) Aceite os outros como são, cada pessoa possui qualidades e defeitos que
não devem servir de instrumentos de modificações. Os maiores conflitos nas
relações das pessoas são sempre marcadas pela falta de aceitação dos
outros e pela insistência em modificar as pessoas, sua forma de ser, sua
forma de pensar, sua forma de agir. Devemos lembrar que cada indivíduo tem
sua identidade própria e que deve ser respeitada;

b) Tenha algo em comum, mas deixe espaço para diversidades, com elas você
deve ter novas experiências, você estará tendo oportunidades de
crescimento e enriquecimento;

c) Tenha capacidade de ouvir e de falar a verdade, mesmo em circunstâncias


adversas, o amigo espera sua lealdade. Lembre-se sempre que a verdade, o
certo deve permear todas as atitudes dos cristãos;

d) Estar presente em todos os momentos (alegres e tristes), amigos são


insubstituíveis quer por outros, por comportamentos, etc. Há momentos que
são ímpares, acontecem apenas uma vez, são oportunidades únicas de
compartilhar com os amigos, como por exemplo momentos de morte,
acidentes, doenças;

e) Evitar comentários negativos, críticos destrutivos. As críticas são benéficas


quando contribuem para crescimento, elas devem sempre existir, são nos
erros que temos a capacidade de consertos, porém os mesmos devem ser
apontados e não utilizados como instrumentos de destruição, de
desmotivação;

f) Manter limites, não se deve abusar das pessoas importunado-as em nome de


amizade. Há momentos para todas as coisas (Ec 3.1) “Tudo tem o seu tempo
determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”. Visitas tem
hora certa. As pessoas devem sentir-se bem com a nossa presença e nunca
sentir-se aborrecidas quando deparam-se conosco.

3.5.17. Brincadeiras

“Regozijai-vos, sempre, no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos” (Fp 4.4).

“Como o louco que lança de si faíscas, flechas e mortandades, assim é o homem


que engana o seu próximo e diz: Fiz isso por brincadeira” (Pv 26.18,19).
a) Não faça brincadeira que mexam com o caráter ou firam o brio. Exemplo:
Aquele jovem fraco? – Aquela irmã faladeira? – Aquele irmão embrulhão?;

b) Não use palavras ou termos preconceituosos. Exemplo: ... aquele irmão de


cor – a irmã Maria gorda – o irmão Manoel careca – aquele irmão franzino;

c) Não use brincadeiras que destruam ou sujem propriedades ou bens.


Exemplo: num parque público arrancar flores, pisar em gramados, utilizar
locais proibidos;

d) Não brinque com coisas santas. Exemplo: fazer piadas com passagens da
Escritura – remedar manifestações do Espírito Santo – brincar com utensílios
destinados à casa do Senhor;

e) Não brinque com coisas que ressaltem ou imitem deficiências. Exemplo: ...
aquele irmão que puxa da perna – ... aquela irmã manquinha – ... aquele
quase cego;

3.5.18. Casamentos

a) Procure não esquecer convidados – faça lista com bastante critério, se os


convites forem insuficientes à quantidade de convidados, procure uma forma
de não magoar nenhuma pessoa, de forma que ninguém sinta-se
discriminado ou menosprezado.;

b) procure honrar sua Igreja – os casamentos devem ser feitos na Igreja onde os
noivos congregam, isto é, se ambos congregam no mesmo local. Caso haja
impossibilidade de realizar no local mencionado, quer por problemas no
prédio do templo, quer por insuficiência de espaço, deve-se optar por outro
templo fazendo a Igreja local ciente da modificação e dos motivos da mesma;

c) procure honrar seu Pastor – o ministro que deve realizar a cerimônia deve ser
o Pastor local. Caso haja uma preferência por outro Pastor seja qual for as
razões desta preferência, deve o Pastor local ser antecipadamente notificado
e manifestar sua anuência pelo ministro que estará ocupando sua Igreja para
tal ato;

d) selecione a música com antecedência – toda a música utilizada no casamento


deve ser tratada com antecedência com os órgãos que irão executá-las bem
como ter o conhecimento e anuência do Pastor para evitar contratempos ou
desgostos no momento da cerimônia;
e) procure entregar presentes antes da festa – os presentes entregues no
momento da cerimônia ou na festa correm o risco de serem extraviados, os
noivos não darem a atenção devida. Caso não seja possível entregar os
presentes antes da data do casamento, deve-se esperar o retorno dos noivos
da lua de mel e fazer-lhes uma visita e oferecer-lhes sua recordação;

f) agradeça os presentes – os noivos devem manifestar sua gratidão remetendo


um cartão de agradecimento ou na impossibilidade, fazendo o agradecimento
pessoalmente.
4 - ÉTICA PASTORAL

4.1. Qualificações do Pastor

Deus, quando chama o homem para cumprir o seu propósito universal, lhe confere
qualidades de dons e talentos que serão úteis ao seu ministério, a fim de produzir a
unidade, a maturidade e a perfeição da Igreja. O próprio Senhor Jesus Cristo
determina providencialmente lugares de serviço na igreja desses homens ‘dotados’
(At 11.22-26), ou mesmo através do Espírito Santo (At 13.1,2 e 16.6,7).

Tanto os discípulos quanto aqueles que são chamados para o ministério são
exortados a buscar o poder do Espírito Santo (Lc 24.49; At 1.4,5, 8), e os
acompanharão grandes sinais (Mc 16.17,18).

4.2. Vocação Divina

“E ninguém toma para si esta honra, senão o que é chamado por Deus, como Arão”
(Hb 5.4).

“Ser ministro cristão é uma honra que Deus dá a um ser humano e requer, por isto
mesmo, da parte do candidato, VOCAÇÃO e CHAMADA, ambas dependentes de
Deus e manifesta pelo Espírito Santo”.

É necessário ao vocacionado que tenha a disposição de servir, caso contrário lhe


sobrevirá um sentimento de recalque oposto à sua própria ocupação, e, no momento
em que julgar oportuno levantar-se-á contra o seu Senhor, lançando de si o jugo da
servidão, deixando de cumprir com os seus deveres e de ser útil à causa do Mestre.

Os homens que exercem com dignidade o ministério são desprendidos de


sentimentos gananciosos; são sóbrios, temperantes, sinceros, e acerca deles diz
Paulo: “Que os homens nos considerem como ministros de Deus” (1Co 4.1).

O ministro vocacionado pelo Senhor coloca o ministério acima de tudo e cuida ser a
obra mais importante na face da terra (At 13.2; Rm 1.1).
A vocação divina inclui o profundo desejo de obedecer à voz do Bom Pastor na sua
consciência, com a exigência, muitas vezes, de sacrifícios e sofrimentos. O apóstolo
Paulo declara que “se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é
imposta essa obrigação” (1Co 9.16).

4.3. Conduta Pessoal

O maior pastor que a Bíblia nos apresenta é Jesus Cristo. Ele é o modelo por
excelência. E é dele que devemos tirar as características para o perfeito
desempenho ministerial.

4.3.1. Características do Pastor

Ter cuidado de si mesmo e da doutrina (1Tm 4.16), porque assim fazendo, salvará
tanto a si mesmo quanto aos que o ouvem. Se negligenciarmos este princípio,
sofreremos as terríveis conseqüências, “pois a lei da semeadura é inexorável”. Paulo
é explícito em sua exortação: “Se alguém ensina alguma doutrina, e não se
conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que
é segundo a piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e
contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins
suspeitas. Contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade,
cuidando que a piedade seja causa de ganho, aparta-te dos tais” (1Tm 6.3-5). (Cf
2Tm 3.10; 4.2; Tt 1.9).

a) Ser irrepreensíveis, vigilantes, sóbrios, honestos, hospitaleiros, aptos para


ensinar, não cobiçosos, de torpe ganância, não avarento (1Tm 3.2,3);

b) obediente, humilde e sábio, como Epafrodito, companheiro de Paulo (Fp


2.25), homem com três qualidades essenciais para o bom ministro:
fraternidade, espírito de cooperação e de companheirismo;

c) que governe bem a sua própria casa, e tenha os seus filhos em sujeição, com
toda a modéstia (1Tm 3.4);

d) que tenha bom testemunho dos que estão de fora. Onésimo era “um irmão
fiel” (CI 4.9) e Epafras, “grande cooperador de Paulo” de quem diz: “Saúda-
vos Epafras, que é dos vossos,... Pois eu lhe dou testemunho de quem tem
grande zelo por vós, e pelos que estão em Laudicéia, e pelos que estão em
Hierápolis" (Cl 4.12,13). (Cf Cl 1.7; Fl 23; 2Tm 4.12; Tt 3.12; Ef 6.21);
e) ter uma grande capacidade de perdoar. O pastor conhece as fraquezas de
suas ovelhas e sabe perdoá-las (Jo 4 e Jo 8). O perdão não se mede e nem é
barato: custa um preço - custou uma crucificação. “Ao Senhor, nosso Deus,
pertence a misericórdia e o perdão; pois nos rebelamos contra ele” (Dn 9.9).
Há dois tipos de perdão: o vertical (Lc 18.10-12) e o horizontal (Mt 5.44-48;
6.14,15; 1Jo 4.20);

f) ter uma grande capacidade de autodomínio. No exercício do seu ministério,


deve o pastor dominar-se a si mesmo para merecer grande confiança e
ilimitado respeito na comunidade. “Todos podem se apressar em falar, menos
o pastor. Sabe perguntar, sabe identificar o centro de uma questão, sabe
julgar com discernimento”;

g) ter uma grande capacidade de formar obreiros. O evangelista funda igrejas. O


mestre edifica vidas através do ensino. O pastor forma obreiros. Não apenas
isto, mas também isto. Jesus preparou 12, depois preparou mais 70, depois
continuou preparando. Tarefa do pastor. Não a descuidemos. O pastor deve
preparar os seus auxiliares, os seus cooperadores, o seu substituto. O pastor
deve olhar para os jovens com amor e visão espiritual (At 16.3a);

h) ter capacidade para dirigir sabiamente a igreja (1Co 14.40), com equilíbrio,
graça e sabedoria e exercitar o dom recebido de Deus e desenvolvê-lo (Rm
12.6-8).

4.4. Recursos do Pastor

Em avançada idade, Paulo escreve a Timóteo (1Tm 4.13): “Persiste em ler, exortar e
ensinar”.

4.4.1. Persistir em Ler

A expressão correspondente a “persistir em”, no original grego, pode também ser


traduzida por “preocupa-te com”, “aplica-te a”, ou “dedica-te a”.

A Bíblia é o grande recurso do pastor; ela não somente deve estar à sua mão como,
também, em seu coração; deve ter diligência ao estudá-la (2Tm 2.15), trazendo à
memória as coisas estudadas, como para gozar de novo a sua doçura, pois isto
enriquece a compreensão das lições (1Tm 4.13,15).Secundariamente, os livros que
versem sobre a Bíblia ajudarão o pastor a se fundamentar ainda mais em seus
próprios conhecimentos de doutrina cristã, e, através da comparação com outros
sistemas doutrinários, “defender o rebanho das falsas seitas, e convencer os
contradizentes” (Tt 1.9).

4.4.2. Persistir em Exortar

“O verbo exortar, na língua grega, deriva-se do substantivo Paracleto, que é o título


atribuído por Jesus ao Espírito Santo, e significa, principalmente, o Consolador.
Talvez este sentido pareça estranho àqueles que consideram a exortação como
compreensão ou correção com palavras duras. Todavia, nada mais é do que
persuadir com a verdade, avisar quanto ao perigo iminente, e admoestar com a sã
doutrina”.

4.4.3. Aplicar-se ao Ensino

Como se pode ensinar sem que se haja aprendido? (Jo 14.26). O ensino da doutrina
é uma das responsabilidades mais importantes do pastor, “pois ela é o alimento de
que se nutrem as ovelhas” (SI 23.2,5).

Para enfrentar os desafios modernos, o pastor precisa continuar voltado para o


estudo profundo das Escrituras Sagradas, possuir uma cultura adequada para
“entender com simpatia a mentalidade do povo, e apresentar os ensinos da Bíblia
como orientação segura de vida”.

4.5. O pastor e a sua vida particular

4.5.1. A Vida Espiritual

Em sua vida, o pastor precisa conservar-se santificado para o desempenho de seu


papel aqui no mundo. Analisemos duas partes importantes de sua vida:

4.5.2. Santidade

4.5.2.1. Deus é Santo

Quando Deus relacionava a Moisés os animais puros e os imundos, asseverou-lhe:


“Porque eu sou o Senhor vosso Deus; portanto vós vos santificareis, e sereis santos,
porque eu sou santo”. (Lv 11.44; 19.2; 20.7; 1Pe 1.16). Na visão de João no
Apocalipse, “os quatro animais tinham, cada um de per si, seis asas, e ao redor, e
dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia nem de noite,
dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, e que é,
e que há de vir”.(Ap 4.8). Essa é a declaração incessante do céu a Deus, o nosso
Deus.

E porque Ele é Santo, exige de seus seguidores a santidade, como diz o apóstolo
Pedro: “Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em
toda a vossa maneira de viver”.(1Pe 1.15).

4.5.2.2. Somos Templo do Espírito Santo

“O vocábulo grego por detrás desta tradução é ‘naos’ o recinto sagrado, o lugar
santíssimo, em contraste com o ‘hieron’, o restante do templo em seus diversos
compartimentos. Entretanto, essas duas palavras, no original grego, podiam ser
usadas como sinônimos. Por semelhante modo, o crente é o lugar santíssimo onde
habita o Espírito Santo de Deus “. Assim, o pastor deve ser puro e limpo, tanto no
coração quanto no seu comportamento exterior, repugnando tudo o que venha a
contaminar o templo de Deus e macular o que lhe deve ser mantido sagrado, porque
“se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá”.(1Co 3.17).

4.5.2.3. Deus Exige Santidade

Exigiu Deus, no princípio, de Abraão, mesmo com a idade de noventa e nove anos
(Gn 17.1); de Israel, quando fez o povo subir da terra do Egito; foi uma exigência de
Jesus Cristo (Mt 5.48); e o apóstolo Pedro afirmou essa exigência (1Pe 1.15,16).

E, por estar a palavra “santificação” ligada às palavras “pureza”, “sem mancha”,


“irrepreensível”, “sem ruga” é que o pastor precisa de uma santificação geral:

1) Do corpo, da alma e do espírito (1Ts 5.23).

2) Do coração (Mt 5.8; SI 24.4).

3) Do pensamento (Fp 4.8; Cl 3.1,2).

4) Dos lábios (Cl 3.8,9; SI 141.3; Ef 5.4).

5) Dos olhos (1Jo 2.15-17; Mt 5.28).


6) Das mãos (SI 24.4; Hb 12.12; 1Tm 2.8).

7) Dos pés (Ef 6.15; Ec 5. 1).

8) Dos ouvidos (Dt 28.62; Pv 21.13; Is 50.4,5).

9) Outras referências SI 93.5; 2Co 7.1; Ef 1.4; 4.24; 1Ts 3.13; 4.3,4; 1Tm 2.5; Hb
12.14; 2Ts 2.13; 1Pe 1.15.

Para servir no Evangelho com pureza espiritual, como os sacerdotes da antiga


aliança, o pastor não pode apresentar nenhuma deformidade como descrita em
Levítico 21.18-20.

4.5.3. Pecados da Língua

Tiago, irmão de Jesus Cristo, reconhece a verdade de que “todos tropeçamos em


muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito, e poderoso
para também refrear todo o corpo” (Tg 3.2).

Vejamos alguns tropeços que o pastor pode incorrer ao longo de seu ministério,
utilizando-se da língua:

4.5.3.1. Conversação torpe

É da abundância do coração que a boca fala (Lc 6.45; Mt 15.18).

A fala é a faculdade que distingue os homens dos animais; é o sinal de sua


personalidade. O pensamento é impossível sem palavras. “O pensamento antecede
à ação, como o relâmpago antecede ao trovão”.Já dizia Heine, e o caráter de uma
pessoa é revelado pela própria maneira de falar e se expressar. Por isso é que
Paulo, ao usar o termo “... despojai-vos também de tudo:... das palavras torpes da
vossa boca” (Cl 3.8) estava se referindo à linguagem obscena do falar, do “abuso de
boca suja”, pois o termo grego “aischros” significa “feio”, ‘vergonhoso ““, vil ““,
aviltante “, e retém a idéia tanto de profanação como a de obscenidade, juntamente
com a idéia de abuso. Ele ainda condena veementemente essa prática, que é
oposta à santidade cristã, dizendo que, a não ser a que for boa para promover a
edificação, nenhuma palavra deve sair de nossa boca; nem a prostituição
(profanação, aviltamento); impureza ou avareza (mesquinhez, esganação); nem
torpezas (procedimento ignóbil; impudicícia); nem parvoíces (tolices); nem
chocarrices (gracejo atrevido) mas antes ações de graça (Ef 4.29 e 5.3,4). Isto quer
dizer que deve o pastor fazer uso da fala com ações de graças, apropriando-se
dessa faculdade, e bendizer e louvar a Deus, visando o real proveito em suas
conversas com o próximo, beneficiando-o com palavras dignas e edificadoras, em
contraste com a linguagem dos incrédulos.

4.5.3.2. Crítica

“Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes
sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós”
(Mt 7.1,2).

Existe a crítica construtiva e a destrutiva, que esboçam grandes diferenças entre si.
Pastores há que usam a “vara” para ajudar a ovelha, sem machucá-la, sendo isto
prova de cuidado, assim como o pai, que com amor critica seu filho, sem que cesse
sua afeição por ele. Outros, porém, são tão críticos que deixam marcas profundas de
desgosto em suas ovelhas, e os pais em seus filhos, matando a afeição que sentem.

Quando o ministro deixa o espírito de crítica apossar-se de si, é porque se oculta em


seu interior a “podridão dos ossos”, proverbialmente traduzida por “inveja” (Pv
14.30).

4.5.3.3. Cólera/ira/ódio

Quando Paulo diz “Irai-vos e não pequeis” (Ef 4.26), não está nos autorizando a que
nós nos iremos, e também não quis dizer que, se nos irarmos, “de modo algum
cometeremos pecado, contanto que abafemos nossa ira antes do cair da noite”.

A Bíblia está cheia de advertência contra a ira, e muitos pastores têm atribuído o seu
mau gênio aos nervos, transformando com isso uma falta grave em simples
enfermidade.
4.5.3.4. Irreverência ou profanação

Profanação é tudo aquilo que vem desvirtuar as coisas de Deus, isto é, dar má
aplicação às coisas de Deus, tratar com irreverência o que é de Deus, e violar a sua
santidade. quer seja através de palavras, quer seja através de ações.

Malaquias mostra como o altar do Senhor fora profanado, e alguém contribuiu para
isso, dizendo: “Não faz mal” (Ml 1.8). Em Lv 22.20-22, Deus avisa acerca das coisas
sagradas não serem profanadas.

A igreja de nossos dias tem saído da rotina, e alguém vem contribuindo para isso:
são os responsáveis pelo sono do comodismo e da indolência (negligência, apatia.
Certas músicas e modas em todos os sentidos vêm entrando na igreja com a
anuência de líderes que já perderam a autoridade de Deus para impedir tais abusos
entre o povo de Deus, e continuam usando a frase: “Não faz mal.”).

4.5.3.5. Leviandade

O leviano procede sem seriedade, irrefletidamente, com precipitação e com


imprudência.

Paulo traduz nas palavras de Ef 5.4 a conversação torpe, as chocarrices e palavras


vãs como leviandade. O gracejo ou a chocarrice sempre são inconvenientes, pois
consistem numa troça à custa de outrem. Nada disto constrói, mas avilta e desabona
o leviano, que deve repudiar esse procedimento em todas as circunstâncias.

4.5.3.6. Mentira

Jesus caracterizou o Diabo como mentiroso, porque “Quando ele profere a mentira,
fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44). A queda do
homem foi conseqüência de uma mentira bem formulada pela serpente.

Deus ordenou a Moisés e aos filhos de Israel diretamente: “Não mentireis nem
usareis de falsidade cada um com o seu próximo” (Lv 19.11). Paulo, em
Colossenses 3.9, reafirma este ensinamento: “Não mintais uns aos outros...” e, “pelo
que, deixai a mentira, e falai cada um a verdade com o seu próximo” (Ef 4.25).
“O hábito da mentira pode contrair-se aos poucos; no princípio, só se fala de um
aspecto da questão; depois só do aspecto que nos favorece; a seguir, tratamos de
exagerá-lo; e terminamos não sabendo quando estamos ou não falando a verdade”
(Pv 20.17).

A mentira, pois, é um pecado muito sério e reprovada nos Salmos e nos Provérbios;
os profetas e os apóstolos fizeram sérias advertências contra esse pecado (SI 5.6;
Pv 15.5,9; 13.5; 1Jo 2.21, 1Tm 4.2; Ap 21.27).

Quando o ministro se entrega à mentira, é prenúncio de que parte de sua vida já


pertence a Satanás, e torna-se seu aliado, não sendo digno de crédito (Jo 8.44), e
inimigo de Deus, porque Deus é verdade, e n'Ele não há mentira (1Jo 2.21). (v. Ap
22.15).

4.5.3.7. Murmuração

É um outro pecado da língua, e se constitui um hábito que trai uma condição


espiritual. Aos Filipenses, Paulo exortou: “Fazei todas as coisas sem murmurações
nem contendas” (Fp 2.14), e Pedro, em sua primeira epístola, aconselha-nos a
deixar toda a malícia, e todo o engano, e fingimentos, e invejas, e todas as
murmurações (1Pe 2. 1).

Moisés, quando conduziu o povo de Israel através do deserto, sofreu muito por
causa desse problema: “Tenho ouvido as murmurações dos filhos de Israel”, disse o
Senhor (Nm 14.27).

A murmuração é falar mal de alguém ou alguma coisa: são as queixas de pessoas


descontentes, e, portanto, é pecado, e muitos obreiros têm perdido a graça de Deus
porque constantemente ocupam o tempo precioso que dispõem para falar mal dos
ungidos do Senhor (Tg 4.11), às vezes retendo pessoas ao telefone com palestras
infindáveis, escrevendo para outras de muita ocupação, exigindo respostas, “ou
fazendo perguntas indiscretas que forçam confidências”, em vez de se ocuparem em
cuidar do rebanho, como disse o sábio Salomão: “Procura conhecer o estado das
tuas ovelhas; põe o teu coração sobre o gado” (Pv 27.23).
4.5.4. Perigos que Rondam a Vida do Pastor

4.5.4.1. Dinheiro

A Palavra de Deus diz que as riquezas vêm de Deus (1Cr 29.12), e a Ele pertence o
ouro e a prata e tudo quanto existe na terra (Ag 2.8). Se o pastor é o mordomo do
tesouro da casa do Senhor, ele precisa saber manobrar com esses valores e não se
deixar enredar por ele. “O servo do Senhor que lida com finanças deve ser o senhor
do dinheiro, e não escravo dele”.(1Tm 6.9,10).

Mas a tentação do metal precioso tem levado outros a viverem além de seus
recursos materiais e a descuidarem das obrigações financeiras, causando, com isso,
grande prejuízo para sua administração pastoral. “Que o pastor faça um orçamento
de seu salário, aja com prudência e equilibre seus gastos. Não lhe cairia bem ficar
sob suspeita ante o rebanho”.Deve ter boa reputação para com os que estão de fora
e uma vida ilibada.

Paulo, em suas exortações e conselhos a Timóteo, diz: “Mas os que querem ser
ricos caem em tentação e em laço, em muitas concupiscências loucas e nocivas,
que submergem os homens na perdição e ruína. Mas tu, ó homem de Deus, foge
destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a
mansidão” (1Tm 6.9,11).

4.5.4.2.Egoísmo

O egoísmo é uma das doenças ligadas ao ego. É uma inclinação humana que se
tem feito sentir em todas as coisas e que domina o palco das atividades hodiernas.

“Refere-se ao apego excessivo a si mesmo e ao que se faz em detrimento dos


interesses dos outros” e nos incomoda quando a posição que ocupamos é
ameaçada pelo surgimento de alguém que procura ombrear-se conosco.

Se olharmos exclusivamente para o nosso interesse, sem, contudo procurarmos


harmonizá-lo aos dos outros, criaremos por certo um mal-estar geral, um clima de
discórdia e de contenda, e uma completa anarquia.
Talvez alguns, pelos anos de ministério que têm, esqueceram-se de que a
humildade é um qualificativo daquele que conseguiu galgar as escadas do sucesso,
e hoje, infelizmente, estão doentes com enfermidades ligadas ao ego, como:

a) Egocentrismo. É a tendência de fazer de si mesmo o centro da vida;

b) egotismo. É a tendência a monopolizar a atenção para a sua própria


personalidade, desprezando as opiniões alheias. Só ele está certo;

c) egolatria. É a adoração ao próprio eu, o culto do eu. É o clímax de todas as


doenças. É o caso do homem do pecado (2Ts 2.4).

O grande remédio para essas enfermidades é o sangue de Jesus Cristo, e estar


crucificado com Ele, para que Ele viva em nós (GI 2.19,20).

4.5.4.3. Falsidade

“Abomino e aborreço a falsidade; mas amo a tua lei” (Sl 119.163).

Deus exortou o povo de Israel, dizendo: “De palavras de falsidade te afastarás,...”


(Êx 23.7), porque quem usa de falsidade patrocina a injustiça, e nunca será
justificado, porque Deus o considera ímpio. Vez em quando alguém sussurra em
algum ouvido: “Fulano é uma boa pessoa, até gosto dele”. Mas, cuidado, porque ele
é o verdadeiro tipo do hipócrita, já está planejando ir à casa de outro, para aumentar
a corrente de traição contra você.

Não creias que todos quantos te rodeiam e te abraçam sejam amigos leais como se
aparentam. Absalão parecia ser um bom filho pela aparência do seu rosto, mas traiu
seu pai e pagou caro tributo por esse ato de falsidade (2Sm 15-18).

Não te assentes, pastor, à mesa com o homem falso, porque, se ele “maquina o mal
na sua cama” (Si 36.4) e “maquina o mal contra o justo” (SI 37.12), facilmente
“encherá o teu prato com hortaliça, a sobremesa com doces, encherá a tua boca
com saliva de elogios, mas, quando chegares em casa, as tuas orelhas estarão
quentes", porque a língua falsa é forte e rápida como o deslizar de uma cachoeira
para derramar ódio contra o próximo, difamando-o ocultamente.
4.5.4.4. Imoralidade

Deve o pastor resguardar-se de cair na imoralidade, cujas conseqüências são a


vergonha para a sua família e a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo.

O seu “modus vivendi” irá definir o sucesso de seu ministério, e assim como Cristo a
si mesmo se entregou pela Igreja (Ef 5.25), o despenseiro deverá achar-se fiei ao
Senhor e à sua companheira, e com ela conviver em harmonia, providenciando o
seu bem-estar e dignificando-a. A promessa de Deus ao homem que teme ao
Senhor é ser abençoado (Sl 128), pois “comerá do trabalho de suas mãos, feliz será
e lhe irá bem”.

Mas como os demais crentes, o pastor precisa lembrar-se de que tem suas próprias
tentações e não estará livre delas a não ser quando passar para a eternidade salvo.

A mais poderosa arma do inimigo é destruir, escandalizar e envergonhar a


autoridade dos filhos de Deus. E muitos obreiros estão caindo no pecado da
prostituição, seja ela mental (Mt 5.28), carnal (Êx 20.14) ou espiritual (Tg 4.4),
desonrando o nome de Jesus.

4.5.4.5. Inveja

“O coração com saúde é a vida da carne, mas a inveja é a podridão dos ossos” (Pv
14.30).

Em uma alegoria, Edmundo Spencer pinta a figura montada num lobo, na procissão
dos pecados. Masca um sapo do qual escorrem venenosos líquidos pela face
abaixo. Usa desbotado manto cheio de olhos. Enrosca-se-lhe ao peito uma
serpente.

A descrição não é exagerada, quando pensamos na destruidora obra da inveja.


Quantos lares, casamentos e vidas destruídas Dor ela!
A inveja fez com que “o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele”
lançassem os apóstolos na prisão (At 5.17). Também, “os patriarcas, movidos de
inveja, venderam a José para o Egito”. Caim assassinou seu irmão movido de inveja
profunda, descaindo-lhe o semblante (Gn 4.6).

O ministro que deixa aninhar-se no coração a inveja, o ciúme, o ódio, está cavando a
própria sepultura. O sucesso ministerial do colega pode levá-lo ao profundo da
inveja, e está às acirradas críticas destrutivas por sua própria incapacidade de se
igualar ao irmão.

Outros há que ocupam seu ministério em rebuscar pormenores, por inveja, na vida
de colegas com o fim de derrubá-los de seus postos, ou para ocupar o lugar de
algum ou dar a um terceiro de sua proteção.

A inveja é a mãe do diabo, e ninguém está livre de ser ferido por suas terríveis
garras. “A diferença entre ciúme e inveja é que o primeiro nos faz ter medo de perder
aquilo que possuímos, enquanto que a inveja nos provoca tristeza pelo fato de os
outros possuírem aquilo que não temos”.

4.5.4.6. Orgulho

“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (Pv 16.18).

O orgulho pode se manifestar na vida do obreiro de várias formas, e, por ser “uma
condenável exaltação do ego, o qual se delicia com o pensamento de ser superior a
todos os seus semelhantes”, torna-se “abominação ao Senhor” (Pv 16.5).

4.5.5. As formas de orgulho são:

a) O espiritual;

b) o intelectual;

c) o material;

d) o social;
Infeliz é o homem chamado por Deus, vocacionado, à frente de um rebanho, e que
se entrega ao:

4.5.6. Orgulho espiritual

Foi por esse pecado que Lúcifer recebeu a sentença de Deus: “E, contudo levado
serás ao inferno, ao mais profundo abismo” (Is 14.15), e “Todos os que te conhecem
entre os povos estão espantados de ti; em grande espanto te tornaste, e nunca mais
serás para sempre” (Ez 28.19).

A sua soberba, a primeira espiritual do universo, teve início na sua “perfeição em


formosura”, estava “estabelecido” e “Perfeito era nos seus caminhos desde o dia em
que foi criado”, “até que se achou iniqüidade nele” (Ez 28.12-15). Foi o “eu” que o
levou a confiar mais em suas virtudes do que no próprio Criador que o estabeleceu
(1Co 7.20,24), como dizia em seu coração:

a) “eu” subirei ao céu (Is 14.13);

b) exaltarei o “meu” trono (Is 14.13);

c) da congregação “me” assentarei (Is 14.13);

d) “subirei” acima (Is 14.14);

e) e “serei” semelhante ao Altíssimo (Is 14.14).

Nós, como este que se tornou o “Diabo”, quando começamos a nos sentir auto-
suficientes, é hora de acordarmos e nos lembrarmos de que o terreno que estamos
pisando é movediço, e poderá nos tragar.

A sua ambição não lhe levou a ocupar a posição almejada, antes caiu na profundeza
do mundo subterrâneo, foi envergonhado e desonrado em sua morte. E muitos têm
entrado por esse mesmo caminho.
4.5.7. Orgulho intelectual

“Ser sábio aos próprios olhos" (Rm 12.16) é a qualidade de orgulho que se
manifesta em forma de arrogância perante as pessoas menos iletradas e dos
oprimidos. Não foi assim com Jesus Cristo, “que, sendo em forma de Deus. não teve
por usurpação ser igual a Deus” (Fp 2.6). Que sentimento! Antes, “aniquilou-se a si
mesmo, tomando e forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” (v.7)
Aquele que estava com o Arquiteto do universo, quando este era projetado (Pv 8.22-
31), não se jactava de seus feitos na presença dos oprimidos (Mt 8.4), porque a
soberba é inimiga do Evangelho. Sua confiança estava em Deus (Jo 11.41).

O sábio intelectual estriba-se no seu próprio entendimento (Pv 3.5b), e o pastor que
é “sábio aos seus próprios olhos” esquece-se de que sua capacidade de
entendimento e saber vêm de Deus (1Rs 3.12; Tg 1,5).

O apóstolo Paulo é o exemplo de sabedoria, e não se gloriava nela (1Co 1.17-19),


“porque a loucura de Deus mais sábia do que os homens” (v.25). Antes, gloriava-se
n o Senhor (v. 13).

Entretanto, não se ufanou por isso, qualificando-se, antes, a si mesmo, como


“miserável homem que sou” (Rm 7.24).

4.5.8. Orgulho material

A soberba proveniente dos bens materiais pode levar o homem a esquecer-se de


Deus, à ruína e à perdição, como disse Paulo a Timóteo: “Os que querem tornar-se
ricos, caem em tentação e em laço, e em muitos desejos insensatos e nocivos, os
quais arrastam os homens à ruína e à perdição” (1Tm 6.9).

Mas o perigo não está em ser rico neste mundo: Abraão, Jó, Salomão e muitos
outros o foram, mas em colocar o coração na riqueza (Mt 6.21; Lc 12.20).

O verdadeiro sentimento de ser rico é “possuindo tudo, como nada tendo”, “como
pobres, mas enriquecendo a muitos” (2Co 6.10), porque “na soberba trazida por
bens materiais, entroniza-se o ego em vez de Deus. As coisas secundárias são
exaltadas a um lugar de primeira importância, e a vida se desequilibra. Então,
concentra-se naquilo que tem e não naquilo que é, aos olhos de Deus”.
4.5.9. Preguiça

A recomendação do apóstolo Paulo ao jovem Timóteo foi para que ele procurasse
apresentar-se a Deus como “obreiro aprovado” (2Tm 2.15) e aos romanos, que
apresentassem seus corpos “em sacrifício vivo” (Rm 12.1), pois a felicidade do
ministério, em grande parte, é determinada pelo que o pastor faz com o seu corpo e
o seu intelecto.

A preguiça, como um dos pecados capitais, destrói a oportunidade e mata a alma,


pois significa “aversão ao trabalho, indolência, vadiagem, negligência, ociosidade,
descuido”.

A Bíblia nos revela as atividades materiais e espirituais incessantes de homens que


tiveram seus ânimos redobrados (Jr 20.9; Js 1.2,6, 7,9; Hb 11.32-38; Is 40.29-31), e
do próprio Jesus Cristo, ainda que as Escrituras não esclareçam sua atividade
material, é fácil deduzir que, além de sua gloriosa missão tríplice de pregar, curar e
ensinar (Mt 4.23), ele era um homem ocupado no trabalho (Is 53.3; Mt 13.55; Jo
5.17), e, se ele trabalhou, foi para deixar o exemplo e não permitir a indolência no
caminho cristão. “Se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2Ts 3.10).

4.5.10. Conseqüências da preguiça

a) O servo inútil deixou de negociar o talento recebido: “foi e cavou na terra e


escondeu o dinheiro do seu senhor” (Mt 25.18). O seu pecado de nada fazer
custou-lhe a sentença: “Mau e negligente servo... Tirai-lhe, pois o talento...
Lançai o servo inútil nas trevas exteriores” (Mt 25.26a, 28a, 30a);

b) “em verdade vos digo que vos não conheço” (Mt 25.12), foi a sentença para
as cinco virgens loucas que não levaram azeite consigo, descuidaram de se
preparar para esperar o noivo;

c) uma vida fria, sem alegria, sem entusiasmo, especialmente suando se


negligencia a oração (1 Ts17). “Pelo fato de sermos preguiçosos e indolentes,
negligenciamos a oração, e, assim, secam-se os nossos mananciais
espirituais”;

d) o constante “deixar para amanhã” vai acumulando seus afazeres, chegando a


um ponto tal, crítico, incapaz de ser levado adiante. Diz Billy Graham que “a
palavra de ânimo que devíamos levar a um amigo desencorajado, a ação
ajudadora que tornaria mais leve e mais suportável o fardo de alguém, um
pouco de dinheiro colocado amorosamente na mão do necessitado – eis aí
ações negligenciadas que nos trazem remorso e privam outros da ajuda tão
necessitada”.

4.6. Pastor e seus estudos

“Falar é a única habilidade do homem para a comunicação porque as palavras


expressam o pensamento”.O pastor como líder, mais do que ninguém necessita
aprender a se comunicar, não só com os que estão ao seu redor, mas à igreja e às
massas.

O sábio Salomão disse que “as palavras dos sábios são como aguilhões, e como
pregos bem fixados pelos mestres das congregações, que nos foram dados pelo
único Pastor” (Ec 12.12). Ele considerava a sabedoria acima de qualquer outra
coisa, como "pregos bem fixados”.

A ferramenta do pastor é a Bíblia Sagrada, instrumento que precisa ser bem


manuseado. Mas muitos pastores têm fraquejado no ministério da pregação bíblica
por negligenciarem o estudo sistemático da Palavra de Deus, estribando-se na falsa
idéia de que a sua inspiração os levará suficientemente à orientação do rebanho.

Triste engano! As profundas verdades incursas na Bíblia são descobertas e


entendidas quando os nossos conhecimentos abrangem geografia, psicologia,
história, sociologia, outras línguas e mesmo os nossos anseios espirituais. Ademais,
o Espírito Santo de Deus nos “faria lembrar...” princípio que depreende de uma
aprendizagem anterior.

O pastor que tem o seu diploma do seminário certamente está mais bem preparado
para continuar os seus estudos bíblicos e teológicos. Se pensar que não precisa
estudar mais, vai-se esquecendo muito do que já aprendeu, perdendo
gradativamente uma parte do cabedal de sua cultura, enquanto o pastor que não
teve a vantagem de todos estes cursos vai comprando bons livros e estudando
assiduamente, tornando-se finalmente mais eficiente no ministério do que o colega
diplomado.”
4.6.1. Remindo o Tempo

O termo remir significa “pechinchar”, ou “aproveitar as oportunidades”. Isto nos


mostra que o tempo é muito precioso e valioso e que não pode ser desperdiçado
como alguma coisa sem valor. Por ser o tempo irreversível, se o perdermos, o
perdemos.

A indolência espiritual tem caracterizado muitos pastores no cumprimento de seu


ministério, deixando-se levar pela preguiça e sonolência espiritual. Este é o sono de
que fala Paulo aos romanos: “E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de
despertarmos do “sono;...”(Rm 13. 11). Isto nos dá a entender um estado de estupor
ou de indiferença para com as realidades espirituais”, atitudes errôneas essas que
caracterizam até mesmo muitos crentes “. Provérbios já nos adverte: “Um pouco de
sono, adormecendo um pouco, encruzando as mãos outro pouco, para estar
deitado;...” (Pv 24.33).

A Palavra de Deus nos serve de estímulo diariamente, se a conhecermos, porque


aquele que através dela opera faz-se presente sempre, e a expectação “breve” de
sua volta nos leva a um sentimento de permanecer puros (1Jo 3.2,3), de remir o
tempo (Ef 5.16), de instar a tempo e fora de tempo (2Tm 4.2) e olhar para Jesus,
autor e consumador da nossa fé (Hb 12.2).

Sendo, então, viva e eficaz, a Palavra de Deus (Hb 4.12) é nova cada manhã (Lm
3.23). Ela só poderia tornar-se velha se as “experiências espirituais e as
necessidades do gênero humano mudassem tanto, que não mais se encontrassem
refletidas no Livro Sagrado, e nem fossem satisfeitas pelo Evangelho. E esse dia
está a muitas milhas de distância” (H. E. Fosdick).

Se a Bíblia é a nossa ferramenta; se for ela que deve ser bem manejada (2Tm
2.15b; 4.2); devem-se conhecer o tempo (Rm 13.11) e se os nossos tempos estão
nas mãos de Deus (SI 31.15), sentiremos, certamente, a urgência da hora e do
planejamento de nossa vida.
4.6.2. A Biblioteca

É muito natural àquele que se dedica ao ministério ser amante de livros. Aquele que
soube, desde a sua chamada, formar uma. biblioteca, hoje, como a quem cabe a
responsabilidade de dar substância sólida ao rebanho do Senhor, estará em
vantagem infinitamente maior ao que negligenciou, ou voluntariamente ou por falta
de condições, a formação de material de estudo.

A biblioteca é uma bênção na vida do pastor, pois ela reflete a personalidade


daquele que a cria. “Uma biblioteca em desordem e sem uso não tem valor. Uma
biblioteca desorganizada, quanto maior, menos serviço prestará. Deve ser o local de
ordem, pois, ali o pastor e seus familiares e outras pessoas autorizadas passarão
parte do seu tempo em meditação e estudo. Trata-se de uma biblioteca de
predominância evangélica, então é também lugar de meditação e comunhão com
Deus e Sua Palavra, e com os santos de todos os tempos que escreveram as obras
que lá estão”.

Mas uma biblioteca não se compõe unicamente de livros. Os jornais e revistas


evangélicas e seculares, mapas diversos, recortes, artigos religiosos, científicos e
seculares, discursos, filmes, slides, fitas, estudos, sermões, desenhos, etc., também
a enriquecem.

4.7. O pastor e o rebanho

Os pastores orientais andavam sempre armados com um cajado chamado


“Nabbuteh” e com ele defendiam as ovelhas de quaisquer ataques, quer fossem de
animais ferozes ou de salteadores; ou a si próprios (Sl 23.4).

No Antigo Testamento, o cuidar das ovelhas era considerado uma ocupação muito
servil, e, hoje, ser pastor é o ofício do ministério cristão mais conhecido entre nós. O
pastor é o guardador de ovelhas, é o apascentador, o guia, o protetor (Is 40.11).

Quando Jesus, o Sumo Pastor, disse a Pedro: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo
21.17), estava querendo lhe dizer que o Seu rebanho deveria ser doutrinado e
levado ao bom caminho através de um bom “pasto”, isto é, encontrar a erva
verdejante e a água nos tempos de seca.
Em seu ofício pastoral, muitas são as atribuições do pastor, especialmente a de lidar
com almas e, dentre elas, tem que se apresentar como um homem que governa bem
a Igreja de Deus. Aqueles que guardavam o rebanho nos campos, como Amós
(cuidava de gado quando Deus o chamou, Am 7.14,15); como Moisés (era pastor de
ovelhas, Êx 3.1); como Davi (bem jovem, cuidava das ovelhas de seu pai, 1Sm
16.11-13) aprenderam grandes lições de sua vida diária, que lhes serviram para o
desempenho de seus ministérios, quer seja de profeta, rei ou líder.

No estudo deste capítulo, veremos apenas o pastor no desempenho de algumas


funções.

4.7.1. No Púlpito

No passado, quando Deus queria falar ao povo, usava os profetas em algum lugar, e
nem sempre isso era feito dentro do templo. Não havia um púlpito, pois o serviço da
Palavra não era incluído no culto oficial.

Mais tarde, com a Reforma Protestante, encontramos o culto “visivo” ser substituído
pelo “auditivo”, com o desaparecimento dos altares, dando lugar ao púlpito de
sentido atual, no lugar central, onde o pastor cumpre o seu dever com dedicação e
esforço.

É interessante notar que Jesus não teve um púlpito para pregar suas mensagens de
ensino, exortação e salvação. No seu primeiro sermão, na sinagoga de Nazaré,
“segundo o seu costume, levantou-se para ler” (Lc 4.16), e “... assentou-se”, depois
de cerrar o livro (v. 20). Não há menção da existência de um púlpito. O que se lê a
respeito de suas andanças é que usava um barco, assentado; aproveitava o cume
de um monte ou certos pontos estratégicos para atingir o público com sua
mensagem. Seu último púlpito aqui na terra foi a cruz do Calvário.

Mas o certo é que o púlpito não faz o bom pastor, por mais artisticamente
ornamentado que seja. Nem tampouco os majestosos paramentos clássicos ou
mesmo sua arte de retórica. “Há púlpitos que consistem, nada mais, nada menos,
em uma vulgar mesinha de tábuas de pinho, dentro de um pequeno templo,
modesto, oculto numa rua lateral da cidade, onde o pastor em seu traje comum está
pregando com toda a simplicidade e sinceridade, mas com a autoridade divina, o
evangelho da salvação para a remissão dos pecadores, e assim contribuindo para a
edificação do reino de Deus e expansão de sua glória”.

4.7.2. A postura no púlpito

Cada vez que o ministro sobe ao púlpito, os olhares que se lhe voltam passam em
revista, não só as suas palavras, mas a sua voz, e sua expressão, a sua
movimentação, não ficando indiferente todo o seu modo de vestir.

Sendo o pregador o próprio sermão, ele pode tornar ineficiente a mensagem nele
contida, se não observar algumas regras e atitudes próprias que a ética nos ensina
na conduta do mensageiro no púlpito, como:

a) pregar gritando o tempo todo, sem se aperceber que está diante de um


microfone;

b) bater o pé no chão com força repetidamente e dar murros no púlpito com


estardalhaço;

c) gesticular demasiadamente, insinuando às vezes gírias ou imoralidade, e às


vezes pular, sem se dar conta disso; o corpo deve ser naturalmente dosado
por gestos conforme a dinâmica do sermão;

d) falar de olhos fechados ou arregalados, bem como olhar de modo fixo para
cima ou para o piso como se tivesse perdido algo, e com medo de encarar o
auditório. O certo é que os olhos devem acompanhar o que se fala, pois às
vezes falam mais claro que as palavras, e ajudam o pregador a sentir o efeito
da mensagem;

e) molhar o dedo na língua para virar as páginas da Bíblia, ou soprá-las com a


mesma finalidade;

f) coçar-se de modo inconveniente e limpar as narinas, quando no púlpito, ou


mesmo fazer cacoetes ou tiques mímicos;

g) fazer a leitura bíblica que anunciou e não mais voltar a ela;

h) não conversar no púlpito, senão o estritamente necessário, e não despachar o


expediente no horário do culto;
i) o pastor deve chegar cedo à casa do Senhor Deus, porque, assim fazendo,
dará bom exemplo ao rebanho e não contemplará o semblante do povo com
sinais de impaciência e cansaço.

4.7.2.1. A direção do culto

A primeira coisa a ser feita, ao se iniciar o culto a Deus, é uma breve oração, numa
demonstração de que a direção deve ser do Senhor sobre as vidas daqueles que
compareceram à igreja. O cântico de hinos congregacionais antecede a leitura da
Palavra de Deus. Devem ser selecionados e nunca de improvisação, não sendo
aconselhável pedir-se à congregação que escolha os hinos.

Alguns pastores, quando não há convidados para pregar, costumam fazer dessa
leitura inicial da Palavra de Deus o texto de sua mensagem, isto variando de igreja
para igreja.

A Bíblia de púlpito não deveria ser desprezada nesse ato inicial, pois ela “é mais
dona do púlpito do que o próprio pastor; porém há aqueles que já se acostumaram
com as anotações e o manuseio constante de sua Bíblia, que se tornam
inseparáveis dela”. A leitura bíblica deve ser bem inspirada, baseando-se
principalmente nos Salmos ou nos Evangelhos.

Se não há pequena exposição sobre o texto lido, segue-se a oração intercessória,


com assuntos bem definidos, como pela igreja, os problemas de seus membros, pela
direção do culto, pela mensagem, e demais necessidades.

As apresentações dos visitantes, bem como os anúncios é natural que se façam


neste inicio de culto, seguindo-se o levantamento das ofertas e dízimos, enquanto a
congregação canta um hino. É comum em nossas igrejas dar-se a palavra para uma
saudação a um dos visitantes, e o tempo restante ser ocupado com a mensagem da
Palavra de Deus. Essa mensagem não é propriamente sua, mas de Deus. Falará
daquilo que recebeu da parte do Senhor e não externará a sua opinião sobre a
Palavra, mas “demonstrará a verdade certa de um texto certo para uma situação
certa de uma pessoa certa”.
Após o apelo, sem que se oprima o pecador para aceitar a Cristo como Salvador de
sua alma, o pastor impetrará a bênção apostólica para o encerramento do culto.
Convém deixar registrado que muitos companheiros ordenados ao Santo Ministério
desconhecem essa boa praxe de despedir o povo com uma bênção divina.

A bênção que dava o sacerdote, de mãos estendidas, vinha de Deus, e o mesmo se


dá hoje em dia: é o Senhor quem abençoa, quem guarda, quem tem misericórdia e
quem dá paz (Nm 6.24-26). A primeira bênção, araônica, foi ordenada por Deus, no
Antigo Testamento e, a segunda, no Novo Testamento, é usada ao final de alguns
escritos: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do
Espírito Santo seja com todos vós. Amém” (2Co 13.13).

4.7.3. Como Conselheiro

O aconselhamento pastoral está entre as tarefas mais sensíveis do ministro de


Deus. Desenvolve seu trabalho essencialmente com os membros da igreja,
especialmente em se tratando de problemas conjugais. As tensões interpessoais,
aliadas aos problemas sexuais dos jovens e casais da igreja, desemprego, finanças,
pobreza, educação e tantos outros são também parte de sua vida de conselheiro e
que dificilmente lhe será impossível evitar. Indubitavelmente o seu serviço será
ajudar as pessoas a crescerem para realizarem suas possibilidades, levando-as a
“diminuírem as barreiras íntimas que as impedem de se relacionar com os outros”.

A maturidade espiritual do pastor far-lhe-á escutar com grande sensibilidade dos


problemas dos aflitos, porque o seu papel é o de ouvir, orientar, informar e transmitir
ânimo ao aconselhado. Deve dar condições para que a pessoa possa se expressar,
pois, deste modo, perceberá o aconselhado que o ministro está interessado em lhe
ajudar. “Ouvir mais e falar pouco não significa ficar impassível. Deve-se, de vez em
quando, fazer alguma pergunta, ou mesmo oferecer alguma resposta que dê ao
aconselhado a confiança do seu conselheiro, o pastor”.A oração é essencial no
aconselhamento.
4.7.4. Com a Mocidade

A mocidade compõe-se de uma faixa de idade no seio da igreja que deve merecer a
atenção pastoral. Os jovens na igreja local não é nenhum corpo estranho, nem uma
sociedade separada da vida da casa do Senhor.

4.7.5. A mocidade no contexto da igreja

A mocidade é a igreja viva, expressa no corpo de Cristo. O corpo é um, mas tem
muitos membros. Cada membro tem a sua função distinta no corpo, e nem por isso
se separa do corpo. É, portanto, perfeitamente concebível um trabalho de jovens no
seio da igreja, desde que devidamente orientado pelo pastor. Não há nenhuma
justificativa teológica que condene uma organização de mocidade, mas esta
organização terá que obedecer aos princípios administrativos da igreja, sob a
liderança do pastor.

A mocidade é uma força vital, e a Bíblia confirma esse fato nas palavras do apóstolo
João: “Jovens, sois fortes” (1Jo 2.14). Essa força vital deve ser aproveitada e
canalizada para o crescimento da igreja na obra da evangelização. Lembremo-nos
de que, na guerra, são os jovens que vão para o “front” e se expõem aos perigos. Os
mais velhos ficam na retaguarda dirigindo, orientando e treinando os mais jovens.

4.7.5.1. A mocidade no contexto pastoral

E imprescindível que o pastor local tenha um conhecimento mínimo acerca do


jovem, a começar pelo adolescente, a fim de que possa ajudá-lo positivamente. É
nesse período da vida do jovem adolescente que a insegurança, a grande
sensibilidade, o idealismo, e a vontade de vencer o expõem a perigos. À vontade de
ser, de fazer e de vencer colocam-no diante de um mundo complicado, que desafia
sua capacidade de enfrentá-lo. Dada a grande sensibilidade que se desenvolve
dentro dele, sua mente se torna um campo aberto para a experiência espiritual. É o
período ideal para conduzir o jovem ao encontro com Cristo. Os problemas de ordem
moral afetam sua consciência, porque despertam no adolescente suas energias
sexuais. A falta de orientação nessa fase pode ser o caminho aberto para o
aconselhamento pastoral.
4.8. O pastor como administrador

A experiência nos adverte que não basta ao pastor ser um excelente pregador ou
ensinador da Palavra, mas que seja apto para administrar o rebanho do Senhor,
porque aquele que não sabe conduzir convenientemente o seu próprio lar (1Tm
3.4,5), por conseguinte não terá sucesso à frente da família espiritual da igreja.

Administrar não é executar um sem-fim de coisas, não é realizar todas as tarefas,


mas fazer com que todos participem do trabalho. Nosso Senhor Jesus Cristo sempre
se utilizou princípios fundamentais da administração, como podemos observar nos
exemplos vistos nos Evangelhos, quer seja na escolha dos doze apóstolos para o
ajudarem (Mt 10.1-4), ou no envio dos setenta (Lc 10.1), ou mesmo quando
alimentou as cinco mil pessoas (Jo 6.1- 14).

O pastor bem preparado observará algumas regras práticas de administração,


determinando os alvos a serem estabelecidos. Para isso é preciso que planeje,
estipulando os objetivos e as prioridades. O planejamento o levará ao roteiro das
atividades do seu agitado dia. Além disso, deve:

1) Desenvolver suas qualidades de liderança, conhecendo o seu próprio


trabalho e o daqueles que trabalham com ele;

2) tomar decisões rápidas, demonstrando integridade e justiça;

3) demonstrar entusiasmo e perseverança para observar os horários, manter o


orçamento e alcançar outros objetivos;

4) através do planejamento, demonstrar que sabe onde está indo e que


alcançará o alvo;

5) manter uma atitude agradável e deixar que os irmãos participem do


planejamento e da tomada de decisões, envolvendo-os;

6) delegar responsabilidades e dividir a responsabilidade pelos erros. Ao


desenvolver sua equipe, o pastor deve explicar com toda a clareza o trabalho
a ser feito, treinar o pessoal e supervisionar o trabalho. Na delegação, deve
ter consciência de que o irmão pode fazer melhor o trabalho a executar, em
menor tempo, com menos gasto e que se constituirá em seu próprio
desenvolvimento espiritual;
7) fazer uma ação corretiva quando o planejamento se descontrolar,
reconhecendo, porém, as façanhas publicamente dos que trabalham com ele,
criticando-os construtivamente em particular;

8) impor disciplina e ao mesmo tempo mostrar um interesse ativo pelos que o


ajudam a alcançar os objetivos estabelecidos;

9) coordenar as atividades para poder obter bons resultados, deixando que as


pessoas saibam das mudanças ou desenvolvimentos que as afetará, antes
que aconteçam;

10) ser um bom ouvinte, aceitando de bom grado as sugestões para melhorias,
avaliando honestamente cada sugestão;

11) receber as reclamações tratando-as de maneira positiva, verificando se a


reclamação é ou não um sintoma geral;

12) colocar pessoas capazes à sua volta, ajudando-as a evoluir, e nunca se


interpor no caminho daqueles que procuram progredir em sua vida espiritual.

4.9. O Pastor como líder

4.9.1. O que é Liderança?

Segundo os mais renomados dicionários, “Liderança” é a forma de denominação


baseada no prestígio pessoal do líder e aceita pelos liderados. Vem a ser a
ascendência e autoridade de um indivíduo sobre o grupo.

O surgimento de um líder é um fato natural, pois as pessoas têm necessidade de ter


alguém que as represente, e comumente ele é apresentado como aquele que
“conhece o caminho” “mostra o caminho” ou “segue o caminho”.

O líder cristão é aquele que aceita suas responsabilidades, mesmo que signifique
um fardo demasiadamente pesado, mas está disposto a servir à causa, sabendo que
sua autoconfiança se origina de uma fé profunda em Deus, que o chamou para
cumprir seu desígnio em sua igreja aqui na terra.

4.9.2. Conceitos Básicos Sobre a Liderança da Igreja

Desde o princípio, foi impossível a um homem só carregar a carga de todo o


rebanho e alimentá-lo adequadamente (At 6.1), e hoje, muito menos, poderá fazê-lo,
pois ficará altamente “desprotegido quanto aos ataques da soberba, da
inflexibilidade do coração e dos extremismos que perseguem o rebanho”.

O Pr. Renato Cobra, em um de seus trabalhos, descreve alguns conceitos básicos


sobre a liderança da igreja, excluindo as conveniências e tradições religiosas,
atendo-se unicamente à Bíblia Sagrada, nossa única regra de fé.

4.9.3. A Pluralidade da Liderança

a) É ensinada em Êxodo 18.13-26, quando Jetro instruiu seu genro, Moisés;


num dos exemplos mais notáveis do Antigo Testamento. Em At 11.30; 15.4 e
20.17 vemos um ministério colegiado;

b) Sendo a Igreja de Jesus Cristo, Ele exerce, como cabeça, o governo através
de homens que Ele mesmo capacita e que são reconhecidos pela igreja como
líderes espirituais e cheios do Espírito Santo (At 20.28; 1Pe 5.1-4);

c) A pluralidade é irrefutável no Novo Testamento. No Novo Testamento


encontramos vários exemplos de pluralidade na liderança da igreja, pois ela é
o princípio fundamental para sustentar o equilíbrio, a harmonia e o
crescimento da igreja local (At 13.1,2; 14.21,23).

4.9.4. Estilos de Liderança

O termo liderança tornou-se tão desgastado e confuso que vem sendo usado como
qualquer tipo de influência de um indivíduo sobre outro, podendo ir desde a
persuasão lógica até a mais brutal dominação física.

Atualmente, surge uma nova interpretação de liderança. Vários autores procuram


evidenciar o problema através de seus conceitos.

“Talvez, ansiosos por encontrarem uma definição para liderança, os teóricos da


administração tentem visualizá-la em termos de estilo. Ao usarem uma expressão
tão ampla, com certeza buscam descrever a maneira como a pessoa opera, e não o
que ela é”.

Não tem cabimento, então, falar-se de líder “nato” ou “qualidade de líder”, uma vez
que tão-somente a circunstância dirá que membro de grupo, naquela ocasião, é o
mais indicado para assumir a liderança. Estilo, assim, vem a ser o “somatório do tipo
de ação desenvolvida pelo líder no cumprimento de sua liderança, e a maneira como
o percebem os que ele procura liderar, ou os que podem estar observando de fora”.

Dentro da organização, podemos ter os seguintes estilos desenvolvidos pelo líder:

4.9.4.1. Autocrático

Esse estilo desestimula inovações, pois o autocrático vê-se a si próprio como


indispensável e deixa que o grupo vá debilitando através de debates sobre questões
sem importância. Porém, as decisões importantes são tomadas por ele.

4.9.4.2. Burocrático

Esse estilo pressupõe que qualquer dificuldade pode ser afastada quando todos
acatam os regulamentos, e o líder é uma espécie de negociador entre as partes e a
tomada de decisão resulta de um critério parlamentar.

4.9.4.3. Democrático

Nesse tipo de ambiente o líder pede e leva em consideração as opiniões do grupo


antes de tomar decisões; a responsabilidade é compartida pelo grupo. O líder dá
explicações e aceita crítica. Os membros do grupo têm liberdade para o trabalho e
escolha dos subgrupos e coordenadores respectivos.

4.9.4.4. Laissez-faire

Não chega este a se constituir propriamente um estilo, pois a função do líder


restringe-se apenas na tarefa de manutenção. Por exemplo, um pastor estará sujeito
a exercer uma autoridade apenas nominal à medida que a liderança mostrar-se
interessada somente em sua negação, enquanto que os pormenores de que
depende a organização são deixados para outros executarem.
4.9.4.5. Paternalista

Nesse estilo, o líder é cordial e amável. É muito adotado nas igrejas e, por isso
mesmo, produz indivíduos imaturos depois de certo tempo porque desenvolve o
crescimento apenas dos líderes e não dos elementos do grupo.

4.9.4.6. Participativo

Na estrutura participativa há um grau elevado de relações interpessoais saudáveis, e


os membros demonstram grande identificação com o grupo. Há mais amizade, maior
conhecimento dos antecedentes, habilidades e interesses dos demais membros,
motivação mais intensa pelo trabalho e os subgrupos espontâneos são em maior
número. Aqui o problema é a demora da ação em tempos de crise.

4.9.5. Diretrizes Para uma Excelente Liderança

Se o líder não tem confiança em si mesmo, ninguém mais lho dedicará confiança. “A
confiança tem de permear o grupo e tem de partir primeiro dos líderes. Em todas as
fases tem que haver uma segurança bem sólida, uma convicção de competência
baseada na preparação e numa acumulação gradual de experiência e talento”.E se
o líder não se sente pessoalmente capaz de superar um trabalho superior ao seu,
não conseguirá convencer os outros de sua habilidade.

4.9.6. Tratando das causas pessoais

a) O pastor deve ser acessível e estar sempre disponível para atender os


membros da igreja;

b) mesmo que não esteja de acordo com o que ouve, mostre-se simpático com a
pessoa ouvida;

c) não atue de modo precipitado enquanto não estiver de posse de todos os


fatos, para fazer um julgamento correto;

d) deixe transparecer interesse e amor cristão, orando com as pessoas com


quem trabalha;

e) esteja preparado para agir de maneira corajosa;

f) o verdadeiro problema nem sempre está na primeira queixa, sendo prudente


isolar o problema, ao ouvi-lo;
g) peça à pessoa interessada para lhe dizer o que ela pensa que seja a resposta
ou solução do problema;

h) porque o nosso falar deve ser sim, sim; não, não, devemos cumprir com a
nossa palavra na solução de um problema de um membro da igreja.

4.9.7. O preço da liderança

Toda liderança tem o seu preço, pois quanto maior for a conquista, maior será o
preço a pagar.

Vejamos alguns aspectos considerados de custo elevado para os que ostentam uma
liderança, especialmente os que se dispõem ao exercício do ministério:

4.9.7.1. Abuso do poder

Em qualquer organização, inclusive nos grupos cristãos, quando uma pessoa recebe
autoridade, é colocada numa posição legítima para exercer controle e eficiência.
Para muitas pessoas, entretanto, isso é uma exaltação do ego e leva à autocracia.

O pastor, na sua condição de líder, é um condutor de almas, e não “dono” delas.


Herodes, o Grande, subiu ao trono e o conservou por meio de crimes brutais; matou
a esposa e dois filhos para não lhe sucederem. Matou também os meninos de
Belém. Muitos, em posição de mando, estão a tratar as pessoas como objetos que
podem ser manipulados de um para outro lado, a fim de satisfazer seus instintos de
supremacia. Isto é um perigo, e há de se pagar o preço para se evitar cair nessa
insidiosa tentação.

4.9.7.2. Crítica

Se alguém não pode suportar a crítica, ainda está emocionalmente imaturo. Esse
defeito virá à tona mais cedo ou mais tarde, e impedirá o progresso do líder e do
grupo em direção ao alvo comum.

O líder amadurecido é capaz de aceitar a crítica e fazer as necessárias correções.


4.9.7.3. Competição

Há um preço a pagar quando o líder sofre de uma “ansiedade de competição”, que


assume a forma de fracasso ou medo do êxito.

4.9.7.4. Fadiga

O cuidado adequado com a saúde, o descanso e o equilíbrio ajudarão o líder a


manter a sua capacidade de resistência. Deve o líder buscar o equilíbrio a fim de
reduzir o estresse em sua vida, tão prejudicial à continuação de seu desígnio.

4.9.7.5. Identificação

Deve permanecer à frente do grupo e, ao mesmo tempo, caminhar com o povo que
lidera. A linha divisória e tênue. Deve haver alguma distância entre o líder e seus
seguidores. Isso significa que ele deve desejar ser humano, aberto e honesto, e não
ser visto como um autômato, com receio de que o seu verdadeiro ego apareça.

Precisa identificar-se com o povo, gastar tempo em conhecê-lo, compartilhar suas


emoções, vitórias e defeitos.

4.9.7.6. Orgulho e inveja

Estes são irmãos gêmeos. A popularidade pode afetar o desempenho da liderança.


Sentimento de infalibilidade pode corroer sua eficiência. O orgulho se torna egoísmo
quando enaltecemos a nós mesmos. O líder orgulhoso aceita facilmente a
racionalização de que está menos sujeito a cometer erros do que os outros.

4.9.7.7. Rejeição

É preciso ter uma forte personalidade para o líder ser capaz de enfrentar a rejeição.
Sempre há forte possibilidade de alguém ser caluniado por sua fé. Também às
vezes o pastor precisa ser capaz de resistir ao louvor. As pessoas normais e
ajustadas querem ser amadas. Pode tornar-se um caminho difícil para palmilhar se o
pastor sente a indiferença dos membros de sua igreja ou a falta de afeição. Muitas
pessoas rejeitadas só têm o reconhecimento de sua força depois que tenham
deixado o cargo ou morrido (Lc 4.16-29).

4.9.7.8. Solidão

O pastor deve ser capaz de aceitar amizades, mas deve ser suficientemente
amadurecido e ter bastante força interior para estar só, mesmo em face a grande
oposição (Mt 27.46).

4.9.7.9. Tempo para pensar

Muitos estão tão ocupados (Lc 10.41) que não têm tempo para pensar. Um tempo
deve ser dedicado à meditação e ao pensamento criativo.

4.9.7.10. Tomar decisões desagradáveis

O líder cristão muitas vezes tem problemas nessa questão, porque são naturalmente
relutantes em ferir as pessoas.

Todos os líderes devem estar bem dispostos a pagar este preço para o bem da
igreja; mesmo frente ao procedimento de disciplina do membro.

4.9.7.11. Utilização do tempo

Há preço a ser pago no uso de nosso tempo, porque parece que nós, seres
humanos, nascemos com preguiça congênita. Administrar o nosso tempo significa
administrarmo-nos a nós mesmos. Deve incluir um tempo para estar a sós com
Deus, para orar, estudar a Palavra de Deus, examinar-se a si mesmo, tomar
decisões e reanimar-se.

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