Denis Rosenfield (Auth.) - Reflexões Sobre o Direito À Propriedade-Elsevier (2008)
Denis Rosenfield (Auth.) - Reflexões Sobre o Direito À Propriedade-Elsevier (2008)
Denis Rosenfield (Auth.) - Reflexões Sobre o Direito À Propriedade-Elsevier (2008)
SOBRE
O DIREITO
À PROPRIEDADE
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REFLEXÕES
SOBRE
O DIREITO
À PROPRIEDADE
4a Tiragem
© 2008, Elsevier Editora Ltda.
Editoração Eletrônica
SBNIGRI Artes e Textos Ltda.
Copidesque
Vânia Coutinho Santiago
Revisão Gráfica
Isabella Graça Leal
Maria da Glória Silva de Carvalho
Emidia Maria de Brito
Projeto Gráfico
Elsevier Editora Ltda.
Conhecimento sem Fronteiras
ISBN: 978-85-352-2795-6
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Rosenfield, Denis Lerrer
Reflexões sobre o direito à propriedade / Denis Lerrer Rosenfield. – Rio
de Janeiro: Elsevier, 2008. 4a reimpressão.
ISBN 978-85-352-2795-6
07-5111 CDU-347.78
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O Autor
Democracia e democracia
totalitária
1
Hayek, Friedrich A. The Constitution of Liberty. The University of Chicago Press,
1978, p. 2.
1
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2
Entendamos por civilização, aquilo que os gregos chamavam de “politeia”,
conceito que congregava tanto uma constituição propriamente dita quanto os
hábitos e costumes, os valores, que a sustentavam. Cf. Strauss, Leo. Droit naturel
et histoire. Paris, Plon, 1954, pp. 150-3.
2
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3
Kant, I. Fundamentação à metafísica dos costumes. Werke. Tomo VII. Frankfurt am
Main, 1968. Há tradução brasileira pela Editora Abril, Coleção Os Pensadores.
4
Cf. Ian Buruma & Avishai Margalit. Occidentalism. The West in the Eyes of Its
Enemies. London. Penguin Books, 2004. Há uma tradução da Jorge Zahar Editor,
2007, Ocidentalismo. O Ocidente aos olhos de seus inimigos.
3
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5
Rosenfield, Denis L. A democracia ameaçada. O MST, o teológico-político e a liberdade.
Rio de Janeiro: Topbooks, 2006, Capítulo I.
6
Proudhon, Pierre Joseph. Qu’est-ce que la propriété? Paris: Tops / H.Trinquier, 1997,
Capítulo I. Cf. também Proudhon. Política. Seleção de textos feita por Paulo-Edgar
A. Resende e Edson Passei. São Paulo: Ática, 2006.
4
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5
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7
Paine, Thomas. Le sens commun. Common Sense. Paris: Aubier, 1983.
8
Ibid., Apresentação, p. 17. Cf. também a introdução de Maria Tereza Sadek
Ribeiro de Souza à edição brasileira de Thomas Paine. Os direitos do homem. Pe-
trópolis: Vozes, 1989, pp. 12-16.
6
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9
Ibid., p. 55.
10
Cf. Os direitos do homem, p. 29.
11
Sieyès, Emmanuel. Qu’est-ce que le Tiers Etat? Essai sur les privilèges. Paris: PUF,
1982.
7
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12
Ibid., p. 15.
8
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13
Ensaio sobre os privilégios, ibid.
14
Kant. O que é o esclarecimento? In: Textos seletos. Petrópolis: Vozes, 1974, pp. 100-17.
15
Sieyès, op. cit., p. 54.
9
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2. A democracia totalitária
A grande modificação introduzida pelas democracias
totalitárias consistiu precisamente no aprofundamento de
correntes que ao desprezarem o esclarecimento racional o
fizeram apoiadas na grande massa dos cidadãos, naquilo que
poderíamos chamar de uma formação perversa da opinião
pública. Embora eu não fosse anteriormente adepto dessa
denominação, tendo preferido, na esteira de Hannah Arendt,
o termo de totalitarismo, a experiência populista-socialista
da América Latina conduz a uma revalorização desse ter-
mo, elaborado por Talmon, em seu belo livro As origens da
democracia totalitária.16 E não apenas por esses experimentos
de “transição ao socialismo”, característicos dos processos
Reflexões sobre o Direito à Propriedade | Denis Lerrer Rosenfield
16
Talmon, J. L. Les origines de la démocratie totalitaire. Paris, Calman-Lévy, 1966.
17
Hayek, F., op. cit., p. 106.
10
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11
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18
Paine, Os direitos do homem, p. 167.
12
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13
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3. A via ocidental
Há uma grande confusão conceitual relativa ao que
está ocorrendo na América Latina. Artigos se multiplicam no
Financial Times, no Economist, no Monde, no Wall Street Journal
e em outros influentes jornais internacionais sobre o que é
genericamente chamado de “populismo latino-americano”.
Recentemente, George Soros retomou a mesma questão, em
uma entrevista concedida ao jornal Valor Econômico,19 sobre o
populismo de Chávez. Chega mesmo a atribuir parcialmente a
Bush o êxito da experiência chavista, como se essa se medisse
19
Março de 2007.
14
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15
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20
Strauss, Leo. Op. cit., p. 109.
16
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17
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21
Marx, Karl e Friedrich Engels. Manifesto do Partido Comunista. Petrópolis: Vozes,
1990, p. 77.
18
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20
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21
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4. Propriedades
O mundo atual não cessa de nos surpreender. Oposicio-
nistas de esquerda, no governo, se convertem a posições ditas
de direita ou neoliberais. Oposicionistas de direita, de repente,
descobrem os encantos da esquerda no poder. As ideias se em-
baralham e exibem a precariedade dos referenciais tradicionais
22
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23
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23
Nathan, Andrew e Bruce Gilley. China’s New Rulers: The Secret Files. New York
Review of Books, 2003. (Agradeço a Armínio Fraga a indicação desse livro.)
24
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25
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26
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5. A tentação tupiniquim
O imaginário brasileiro é em muito estruturado em fun-
ção de ideias de tipo anticapitalista, com severas restrições ao
livre uso da propriedade privada. A propriedade privada é,
frequentemente, defendida apenas condicionalmente, como se
a sua relativização fosse a condição da justiça social. Constitu-
cionalmente, há o dispositivo da função social da propriedade
que deveria valer tanto para a cidade quanto para o campo.
Em torno dele, terminou se criando uma mentalidade jurídica
27
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24
Cf. Rosenfield, Denis os seguintes artigos publicados nos jornais Estado de S.
Paulo e O Globo: “A função racial da propriedade” e “Quem escreveu?”, ambos
em maio de 2007.
28
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ideias socialistas?
Na situação atual, segundo os índices de produtividade
em vigor, não há mais terras improdutivas no Sul, Sudeste e
Centro-Oeste do país. O que há nas regiões Sudeste e Centro-
-Oeste é toda uma discussão relativa a terras griladas, devolu-
tas, que são, no entanto, produtivas. O problema aqui reside
no pagamento dessas terras e em contenciosos jurídicos sobre a
propriedade efetiva delas. Nada disto deveria ser da alçada do
MST ou de organizações afins, mas dos governos de Estado e
29
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30
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31
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6. A democracia participativa
O uso adjetivo da palavra participação para qualificar
a democracia exibe um emprego ideológico, cujo propósito
consiste em desmerecer, senão em minar, as bases mesmas
da democracia representativa. Dá-se como pressuposto que
a democracia representativa apresenta “falhas”, “defeitos”,
que podem ser corrigidos por sua complementação ou mesmo
substituição pela “democracia participativa”. Uma forma de
democracia seria “imperfeita”, “incompleta”, necessitando
32
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25
Cf. Rosenfield, Denis, A democracia ameaçada, Cap. 1.
33
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34
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35
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26
Ibid., Cap. 1.
27
Ibid., Cap. 1.
36
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38
Capítulo II
Propriedade e privilégio
39
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1
Hayek, op. cit., p. 154.
40
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uma opção feita pela justiça, pelo bem. A lei não teria, portanto,
a acepção originária de algo imposto pela tradição, pelo Esta-
do, pela “civitas”, pela “polis”, mas de algo decorrente de uma
ação livre, que institui regras estimadas pela sociedade como
sendo as melhores e as mais justas. Pode evidentemente ocorrer
que haja uma percepção ou avaliação equivocada, dada pelas
2
Cícero. De Legibus. London, Loeb Classical Library, 1977, V. 17-VI. 19.
3
Ibid., Laws II. V. 11-13.
41
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42
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1. A noção de república
Cícero, por meio do diálogo de seus personagens, estima
CAPÍTULO II Propriedade e privilégio
4
Cícero. De Republica. Londres: Loeb Classical Library, 1977, I. XXV 39- XXVI 41.
43
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5
Ibid., XXXI 47-XXXII, 48.
44
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45
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6
Ibid., III. XXXIII, 45-XXXIV, p. 46.
7
Ibid., III. XXX, 42-XXXII, p. 44.
8
Ibid., III. XXXII, 44-XXXIII, p. 45.
46
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9
Rousseau, Jean-Jacques. “Discours sur l’économie politique”. In Écris politiques.
Paris, Gallimard, 1964, p. 249.
10
Ibid., p. 271.
11
Paine, Direitos humanos, p. 63. “O que é o governo senão a administração dos
negócios de uma nação? Ele não é, e por sua natureza não pode ser, propriedade
de algum homem ou família em particular, mas de toda a comunidade, a cujas
custas ele é sustentado”, p. 120.
47
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48
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12
Sieyès, Ensaio sobre os privilégios, p. 1.
49
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13
North, Douglass C. & Robert Paul Thomas. The Rise of the Western World. A new
economic history. Cambridge: University Press, 1996, p. 122.
14
Sieyès, op. cit., p. 42.
50
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15
Ibid., p. 3.
51
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2. Propriedade e lei
O objeto da lei “consiste, sem dúvida, em impedir que
não seja ferida a liberdade ou a propriedade de qualquer
um”.17 Primeiro, cabe ressaltarmos que a lei, no sentido ver-
dadeiro do termo, reside em proteger a liberdade e a proprie-
dade. Logo, não é qualquer lei nem qualquer Constituição
16
Schlaer, Richard. Private Property. The History of an Idea. New Jersey: Rutgers
University Press, 1951, p. 126.
17
Sieyès, op. cit., p. 2.
52
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53
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18
Ibid., p. 31.
54
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19
Ibid., p. 28.
55
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Estado, eles não têm mais direitos a ser exercidos, mas tão só
obrigações apresentadas como deveres coletivos. A estatização
dos meios de produção, da propriedade privada, visa a alienar
o indivíduo de si mesmo, de forma que ele venha a perder a
propriedade de si. Ele se torna propriedade do Estado. Há,
portanto, um significado propriamente subjetivo da proprie-
dade, uma propriedade inalienável do cidadão: o direito de
querer, a livre escolha.
Daí não se segue, porém, uma sociedade idílica, pois
inocente não é o homem. “Seria bem desconhecer os homens li-
gar o destino das sociedades a esforços de virtude.”20 Palavras
sábias de um homem envolvido na tormenta revolucionária,
ciente de que os vícios estão tão ou mais presentes que as
20
Ibid., p. 86.
56
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21
Kant, I. “Anthropologie in pragmatischer Insicht”. In Schrien zur Anthropologie,
Geschichtsphilosophie, Politik und Pädagogik 2. Frankfurt am Main, 1977.
22
Sieyès, op. cit., p. 88.
57
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58
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23
Douglass North e Robert Thomas, op. cit., p. 1.
59
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24
Ibid., p. 1.
60
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61
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62
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25
Ibid., p. 126.
63
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26
Ibid., p. 148.
27
Paine, Common Sense, p. 102.
64
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28
Ibid., p. 116.
29
Paine, Direitos humanos, p. 159.
65
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4. Propriedade e pessoa
No caso da posse, forma incompleta da propriedade, há
uma apropriação de fato, geralmente reconhecida pela comu-
nidade, que assegura que um bem físico determinado pertença
a uma certa pessoa. A posse tem essa conotação propriamente
física de relação a um determinado bem, enquanto a proprie-
dade tem não apenas o reconhecimento da autoridade pública,
mas vale também para bens incorpóreos e, no sentido clássico,
para toda a pessoa, aí incluindo a sua subjetividade. O proble-
ma, contudo, reside na dissociação entre posse e propriedade,
enquanto fontes concorrentes de disputa por um mesmo bem,
30
Ibid., p. 171.
66
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31
Agradeço ao Dr. João Paulo R. Paschoal esse e outros comentários sobre a
questão da posse e da propriedade.
32
Para uma defesa da propriedade privada e sua compatibilidade com os valores
cristãos, cf. o livro de Adolpho Lindenberg. Os católicos e a economia de mercado.
São Paulo: LTr, 2002, pp. 108-9.
67
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33
Pipes, Richard. Propriedade e liberdade. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 37.
34
Gray, Alexander. The Socialist Tradition. London, Longmans, Green and Co.,
1948, pp. 39-40.
68
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69
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70
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35
Locke, John. Two Treatises of Government. Chicago, New American Library, 1965.
Segundo tratado sobre o governo civil e outros escritos. Petrópolis: Vozes, 1999, § 27. Cf.
também Roberto Fendt. “Sobre a liberdade individual e a propriedade privada”,
a ser publicado pelo IEE, Porto Alegre.
36
Hegel, F. Linhas fundamentais da filosofia do direito. Frankfurt am Main: Suhrkamp
Verlag, 1977, capítulo I.
37
Locke, § 27.
71
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38
Ibid., § 28.
39
Ibid., § 87.
72
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40
Ibid., § 87.
41
Ibid., § 123.
42
Ibid., § 124.
73
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43
Cf. Kantorowicz, Ernst. The King’s Two Bodies. Princeton University Press, 1981,
em sua magnífica reconstrução da teologia política medieval.
74
Capítulo III
República de proprietários
1
Hernando de Soto. O mistério do capital. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2001,
p. 20.
75
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76
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77
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78
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79
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1. República e propriedade
O direito de propriedade é uma representação legal de
bens que podem ser livremente negociados, propiciando, desta
maneira, a sua valorização em capital. O direito de propriedade
Reflexões sobre o Direito à Propriedade | Denis Lerrer Rosenfield
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88
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2
Humboldt, Wilhelm von. Os limites da ação do Estado. Rio de Janeiro: Topbooks,
2004.
89
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3
De Soto, op. cit., p. 55.
90
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4
Ibid., p. 64.
5
Ibid., p. 236.
91
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92
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93
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6
Nogueroles, Nicolás. “Registro, guardião do direito de propriedade”. In Bole-
tim eletrônico, IRIB. BE 2869, ano VII. São Paulo, 13 de março de 2007 e De Soto,
Humberto. “Sistema registral”. In Boletim eletrônico, IRIB. BE 2401, ano VI. São
Paulo, 24 de abril de 2006. Agradeço ao Dr. João Paulo R. Paschoal a indicação
desses dois artigos.
94
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pessoas é inexistente.
De Soto7 utiliza uma expressão muito boa para caracteri-
zar a sua pesquisa e a sua preocupação propriamente política,
a saber, a de como podem as pessoas ter acesso ao direito de
propriedade: qual é o seu direito ao direito de propriedade. É
aqui que se coloca diretamente a questão política, na medida
em que boa parte da população dos países emergentes vive fora
7
De Soto, O mistério do capital, p. 126.
95
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8
Ibid., p. 227.
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98
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100
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9
Nadia Somekh. “Função social da propriedade”. In Estatuto da cidade, coordenado
por Mariana Moreira. São Paulo: Sebrae/Cepam, 2001, p. 86.
10
Antônio Cláudio M. L. Moreira. In Estatuto da cidade, coordenado por Mariana
Moreira. São Paulo: Sebrae/Cepam, 2001, p. 147.
101
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102
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11
Paulo André Jorge Germanos. “Novos papéis do Judiciário e do Ministério
Público no trato das parcerias entre setor público e setor privado”. In Estatuto da
cidade, coordenado por Mariana Moreira. São Paulo: Sebrae/Cepam, 2001, p. 123.
103
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104
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12
Antônio Cláudio M. L. Moreira. In Estatuto da cidade, coordenado por Mariana
Moreira. São Paulo: Sebrae/Cepam, 2001, p. 153.
105
Capítulo IV
Liberdade e igualdade
1
Cícero. República II. I. 2-II. 4 e II. XV. 29-XVII. 31.
2
Cf. Werlang, Sérgio. A descoberta da liberdade. Rio de Janeiro: FGV, 2004,
pp. 84-5.
107
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3
Strauss, Leo, op. cit., p. 35.
108
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4
Hayek, op. cit., p. 41.
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1. Ação e liberdade
A ideia de reconstrução da sociedade segundo um projeto
baseado exclusivamente na razão termina, no momento mesmo
em que se diz livre das concepções religiosas, reintroduzindo
o absoluto na esfera das relações sociais e políticas. É como
se todo pilar social pudesse ser levantado no ar, sem apoio,
desconsiderando o próprio chão das instituições humanas,
resultado de um longo e penoso desenvolvimento. Ora, a
ação verdadeiramente racional seria aquela que reconheceria
a sua própria finitude, a sua imperfeição constitutiva, partindo
necessariamente dos valores, das tradições e das instituições
dadas. O ato livre vive do confronto e da elaboração desses
valores, tradições e instituições, sem o que a sua eficácia se
identificaria à explosão revolucionária do existente, como se o
ser-dado fosse, desde sempre, ser-condenado.
CAPÍTULO IV Liberdade e igualdade
111
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5
Cf. Rosenfield, Denis. Filosofia política e natureza humana. Porto Alegre: L&PM,
1990, pp. 35-48.
112
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6
Hayek, op. cit., p. 29.
113
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115
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116
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117
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9
Locke, op.cit., § 54.
10
Rousseau, Jean-Jacques. “Discours sur l’économie politique”. In Écris politiques.
Paris: Gallimard, 1964, p. 248.
11
Ibid., p. 249.
118
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119
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13
Hayek, op. cit., p. 93. Cf. Héctor Ricardo Leis. “Jekyll ou Hyde? Utopia e
igualdade no pensamento de esquerda”. In Democracia e política. Filosofia política
Série III – no 6. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003, pp. 24-39.
120
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2. Estado de direito
Contratos obrigam as partes, não somente no que diz
respeito a bens físicos, como imóveis e terras, mas também
a bens “metafísicos”, intangíveis, nascidos de operações de
créditos ou de investimentos em geral. Sociedades capitalis-
tas modernas são sociedades que lidam, cada vez mais, com
abstrações reais, com papéis dotados de força obrigatória,
que substituem ou são postos no lugar de coisas físicas. Se
para um pensador do século XVII, como Locke, a propriedade
tinha um significado preciso, relativo à terra principalmente, a
propriedade neste início do século XXI envolve um conjunto
de operações financeiras que põe em cena um conceito muito
mais abrangente de propriedade. É como se o cidadão moder-
no operasse cada vez mais com abstrações que determinam,
porém, concretamente, a sua vida cotidiana. Eis por que, neste
tipo de sociedade, o respeito aos contratos deveria ter, ainda,
maior força coercitiva, fazendo com que o Estado honrasse não
apenas os acordos entre indivíduos privados, mas também os
seus próprios acordos. Uma sociedade e um Estado modernos
não podem operar convenientemente se os seus contratos são
imperfeitamente reconhecidos, seja pela lentidão da Justiça,
seja por uma máquina estatal que não exerce adequadamente
a sua autoridade. Se a propriedade fica sob risco, a própria
liberdade periclita.
CAPÍTULO IV Liberdade e igualdade
121
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122
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14
Ibid., p. 206.
123
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124
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125
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15
Cícero. De Legisbus, Laws III. I. 2-II. 5
126
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16
Ibid.
127
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128
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19
Locke, John. Two Treatises of Government. Chicago: New American Library, 1965.
Segundo Tratado sobre o Governo Civil e outros escritos. Petrópolis: Vozes, 1999. § 3.
Tradução modificada por mim.
20
Ibid., § 3.
21
Ibid., § 4.
129
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22
Ibid., § 14.
23
Ibid., § 4.
130
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24
Ibid., § 22.
131
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25
Ibid., § 57.
26
Ibid., § 57.
132
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27
Ibid., § 50.
133
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28
Paine, op.cit., p. 182.
134
Capítulo V
O Estado burocrático-
distributivo
135
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136
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1. A “realidade” do Estado
Apesar de considerarmos a realidade algo dado, sim-
plesmente familiar, tal como estamos acostumados a lidar
com as coisas de nosso dia a dia, nada é, contudo, tão evi-
dente. A nossa própria percepção da realidade, daquilo que,
na verdade, consideramos “realidade”, já vem conformada
por um conjunto de valores, de ideias, que nos foi inculcado
pela família, pela educação recebida, pela religião, pela es-
cola, pelas vivências sociais, pelas leituras e pelos meios de
comunicação. Até a nossa própria língua materna é tribu-
tária desse processo que se constitui como a forma mesma
de cultura de um Estado determinado. Logo, cabe falar de
recortes do mundo, de retratos que dele fazemos, segundo
esses valores e ideias que configuram a nossa própria per- CAPÍTULO V O Estado burocrático-distributivo
137
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138
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1
A ideia de que a justiça precisava ser não apenas justa, mas também expedita, se
encontra na polis grega. Cf. Jay, Peter. A riqueza do homem. Rio de Janeiro: Record,
2002, p. 69.
2
North, Douglass. Structure and Change in Economic History. New York: W. W.
Norton & Company, Inc., 1981, p. 17.
139
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140
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3
Douglass North e Robert Thomas, The Rise of the Western World, p. 98.
141
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2. Mercantilismo?
De Soto, na esteira de Douglass North e Robert Thomas,
considera que a sociedade peruana, e por extensão outras socie-
dades latino-americanas, corresponderia a um sistema de tipo
mercantilista, e não democrático-capitalista, na medida em que
o mercantilismo pode ser definido “como a oferta e a demanda
por direitos de monopólio mediante leis, regulamentos, sub-
142
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4
De Soto, Hernando. The Other Path. New York, Basic Books, 1989, p. XX.
5
Ibid., p. 209.
143
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6
Ibid., p. 175.
144
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3. Direitos sociais
A questão reside em como se entende a natureza do
Estado e quais direitos e propriedades tem ele a função de
145
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153
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7
Pipes, op. cit., p. 339.
154
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8
Hayek, op. cit., p. 232.
155
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políticas específicas.
O Estado vive às expensas da sociedade, apesar de ter a
pretensão de se apresentar como se dela não dependesse. Ele
ganha tal autonomia não apenas administrativamente, mas
também no nível das ideias, como se fosse um juiz que não
deveria dar conta dos recursos que recebe. Forja-se, inclusi-
ve, um imaginário em que ele é o responsável por tudo que
de bom acontece e, se mais não faz, é porque carece de mais
recursos ou porque interesses escusos impedem que ele siga
adiante. “Embora o governo evite reconhecer os erros que
comete e os males que ocasiona, não deixa de atribuir a si
tudo o que tem aspecto de prosperidade.”10 Eis a artimanha
9
Ibid., p. 259.
10
Paine, Direitos humanos, p. 138.
156
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11
Ibid., p. 136.
157
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158
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160
Capítulo VI
A tradição socialista
1
Rosenfield, Denis. Descartes e as peripécias da razão. São Paulo: Iluminuras, 1996.
161
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2
Gray, Alexander. The Socialist Tradition. London: Longmans, Green and Co.,
1948, p. 75.
162
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circunstâncias sociais.
Se as circunstâncias sociais são as da propriedade pri-
vada, do individualismo e do lucro, o homem daí resultante
será necessariamente “mau”, deformado por suas condições de
vida. A miséria e a degradação humana seriam expressões dessa
maléfica condição social. Se, pelo contrário, as circunstâncias
sociais são outras, se a propriedade privada, raiz de todos os
males, for suprimida, com ela iriam embora o individualismo,
o egoísmo e a falta de solidariedade com o outro. O homem
seria, então, um ser completamente maleável,6 cuja forma po-
deria ser moldada segundo o molde utilizado. E esse molde
5
Ibid., p. 254.
6
Talmon, op. cit., p. 46.
164
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7
Para um Rousseau visto na perspectiva kantiana, cf. Cassirer, E. Le problème Jean-
Jacques Rousseau. Paris: Hachee, 1987. Para um Rousseau visto na perspectiva
da democracia totalitária, cf. Talmon.
8
Rousseau, Jean-Jacques. “Discours sur l’origine et les fondemens de l’inégalité
parmi les hommes”. In Écrits politiques. Paris: Pléiade, 1964.
165
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9
Ibid., p. 131.
166
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10
Ibid., p. 161.
167
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11
Ibid., p. 164.
168
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169
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12
Ibid., p. 85.
13
Ibid., p. 133.
170
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14
Ibid, p. 251.
171
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15
Ibid., p. 254.
16
Cf. Cassirer, op. cit, p. 41.
172
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173
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19
Rousseau, Economia política, p. 258.
174
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20
Ibid., p. 263. Outra formulação: “...o fundamento do pacto social é a proprieda-
de, e sua primeira condição, segundo a qual cada um seja mantido no agradável
gozo do que lhe pertence”, pp. 269-70. Observe-se que o gozo da vida privada
pertence ao próprio direito de propriedade.
175
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2. A propriedade e o roubo
A obra de Proudhon, O que é a propriedade?, é publicada
Reflexões sobre o Direito à Propriedade | Denis Lerrer Rosenfield
21
Ibid., p. 264.
176
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22
Proudhon, citado segundo a tradução espanhola. Buenos Aires: Proyección,
1973, p. 89.
23
Rosenfield, Denis. Do Mal. Porto Alegre: L&PM, 1990 e Retratos do Mal. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.
24
Proudhon, op. cit., p. 19.
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25
Ibid., p. 23.
26
Ibid., pp. 35-6. Ele se refere ao livro de Sieyès, O que é o terceiro estado, como uma
revelação pelo papel que atribuiu ao povo, o de ser tudo numa nação.
27
Proudhon. Textos escolhidos. Seleção e notas de Daniel Guérin. Porto Alegre:
L&PM, 1983, p. 55.
178
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28
Ibid., p. 55.
179
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29
O que é a propriedade?, p. 77.
30
Textos escolhidos, p. 51.
180
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31
Ibid., p. 58.
32
O que é a propriedade?, p. 137.
181
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33
Textos escolhidos, p. 21.
34
O que é a propriedade?, p. 181.
182
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35
Ibid., p. 240.
36
Textos escolhidos, p. 21.
37
Ibid., p. 112.
183
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38
O que é a propriedade?, p. 34.
184
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39
Ibid., p. 86.
185
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40
Textos escolhidos, p. 54.
41
Ibid., p. 54.
186
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42
Marx, Karl. Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. Publicado nos
“Anais Franco-Alemães”. Paris, 1844. Karl Marx/Friedrich Engels. Werke. Dietz
Verlag, Berlin. Band 1. Berlin/DDR. 1976, p. 382.
43
Ibid., p. 382.
187
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44
Ibid., p. 382.
45
Ibid., p. 382.
46
Marx, Karl e Friedrich Engels. Manifesto do Partido Comunista. Petrópolis: Vozes,
1990.
188
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189
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coletiva.
Numa nota de Engels à edição inglesa, de 1888, do Mani-
festo, o sentido específico da propriedade burguesa é precisado.
“Por burguesia, entende-se a classe dos capitalistas modernos,
que são proprietários dos meios de produção social e empregam
trabalho assalariado. Por proletariado, a classe dos trabalhado-
res assalariados modernos, que, não tendo meios de produção
próprios, são obrigados a vender sua força de trabalho para
sobreviver.”48
47
Ibid., p. 67. Nesta página, Marx e Engels listam vários estados (Stände) como
patrícios, guerreiros, plebeus, escravos, senhores feudais, vassalos, mestres,
companheiros, aprendizes, servos, para vir logo a tratá-los como “todas essas
classes (Klassen)”.
48
Ibid., p. 66.
190
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191
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49
Ibid., p. 71.
50
Ibid., p. 80.
192
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51
Prefácio à edição inglesa de 1888. Ibid., p. 50. Cf. também L’origine de la famille,
de la propriété privée et de l’État. Paris, Editions Sociales, 1975, pp. 47, 149, 171.
193
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52
Ibid., p. 80.
194
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53
Ibid., p. 86.
54
Ibid., p. 85.
195
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existenciais do homem.
Ora, se elas são “burguesas”, se elas “velam” a opressão,
a tarefa dos revolucionários consistirá no seu desvelamento,
no mostrar o seu caráter de classe, como missão preliminar de
sua destruição. A partir de tal forma de justificação, a violência
estará, por sua vez, legitimada, pois os revolucionários estarão
convictos de que parir uma sociedade passa pelo banho de san-
gue do existente. Mais concretamente ainda, Marx e Engels vêm
a considerar a liberdade, a cultura e o direito, derivados dessa
concepção da propriedade privada, eminentemente burgueses,
marcados por um caráter de classe, que lhes retira qualquer
forma de validade universal. Logo, o direito seria nada mais
55
Ibid., p. 86.
56
Ibid., p. 76.
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4. Desdobramentos
Onde não há propriedade privada, todo o conjunto de
direitos civis e políticos se encontra igualmente ausente. A
propósito da Rússia, que fará a primeira revolução marxista
no século XX, Richard Pipes assinala que, nesse país, a histó-
ria oferece “um excelente exemplo do papel que a proprie-
dade desempenha no desenvolvimento dos direitos civis e
políticos, demonstrando como a sua ausência torna possível
a manutenção de um governo arbitrário e despótico”.59 Com
efeito, o Czar, enquanto soberano, até o final do século XVII,
possuía a posse da terra, posse que se estendia à nobreza
e aos camponeses, ambos considerados, então, súditos. As
CAPÍTULO VI A tradição socialista
57
Ibid., p. 83.
58
Ibid., p. 68.
59
Pipes, op. cit., p. 195.
197
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60
Marx, Karl e Friedrich Engels, op. cit., p. 44.
198
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61
Pipes, op. cit., p. 252-3.
199
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62
Ibid., p. 263.
63
Ibid., p. 263.
200
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64
Ibid., p. 263.
65
Ibid., p. 264.
201
À guisa de conclusão
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