Diabetes Mellitus - Fisiopatologia e Classificação (Capítulo de Livro)
Diabetes Mellitus - Fisiopatologia e Classificação (Capítulo de Livro)
Diabetes Mellitus - Fisiopatologia e Classificação (Capítulo de Livro)
1.1 INTRODUÇÃO
O Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome complexa caracterizada
por hiperglicemia persistente decorrente da deficiência na
produção de insulina, na sua ação — resistência insulínica — ou em
ambos os mecanismos. Além da alteração no metabolismo
glicêmico, também estão comumente presentes distúrbios do
metabolismo dos lipídios — dislipidemia — e das proteínas —
catabolismo muscular. É importante frisar que o diabetes não é
uma única doença, mas sim um grupo heterogêneo de distúrbios
metabólicos que apresenta a hiperglicemia como característica
comum.
Os dois principais tipos de DM são o DM tipo 1, no passado
conhecido como diabetes juvenil ou diabetes insulinodependente,
e o DM tipo 2, no passado conhecido como diabetes do adulto ou
diabetes não insulinodependente.
O diabetes tipo 2 é o mais comum, correspondendo a
aproximadamente 90% dos casos, e está associado, na maioria
dos casos, a outras comorbidades, como hipertensão arterial,
dislipidemia, sobrepeso, obesidade e disfunção endotelial
(síndrome metabólica), acarretando um importante aumento do
risco de eventos cardiovasculares.
A insulina é um hormônio anabólico e, portanto, o diabetes,
caracterizado por menor ação insulinêmica, leva a um estado de
catabolismo, mais ou menos grave, a depender da quantidade de
insulina que ainda é capaz de agir.
1.2 EPIDEMIOLOGIA
Nas últimas décadas, tem ocorrido um notável aumento do
número de casos de DM em todo o mundo. Em 1985, havia 30
milhões de adultos com diabetes no mundo; esse número
aumentou para 120 milhões em 1997, 246 milhões em 2007, e
463 milhões em 2019 — a previsão é de 700 milhões por volta do
ano 2045, segundo a International Diabetes Federation (IDF).
Atualmente, estima-se que 80% das pessoas com a doença
vivam em países de renda baixa ou média, como o Brasil. Ainda
segundo a IDF, aproximadamente 16,8 milhões de brasileiros têm
diabetes, o que corresponde a 10,4% da população adulta no país.
O aumento na prevalência de diabetes está associado ao
aumento do número de casos de diabetes tipo 2, paralelo à
epidemia de obesidade, bem como ao envelhecimento
populacional, ao sedentarismo e à urbanização. Entretanto, além
do aumento do número de casos de diabetes tipo 2, as últimas
décadas têm presenciado um aumento de 3% ao ano no número
de casos de diabetes tipo 1 entre pessoas com menos de 15 anos,
especialmente crianças com menos de 5 anos. No Brasil, a
incidência de DM1 entre a população com menos de 15 anos é
intermediária: em torno de 7,6 casos por 100.000 crianças por
ano, segundo dados publicados na última diretriz da Sociedade
Brasileira de Diabetes (SBD). Isso corresponde a cerca de 88 mil
pacientes com DM1, sendo a terceira maior prevalência de DM1
global, segundo a IDF.
Um problema preocupante com relação ao diabetes tipo 2 é que
30 a 60% dos portadores da doença não sabem do seu
diagnóstico, já que muitas vezes o DM é oligossintomático, ou
mesmo assintomático. Além disso, boa parte dos que sabem ter a
doença não fazem o tratamento correto, por falta de informação
ou de condições sociais ou econômicas que garantam o
acompanhamento médico. Com isso, aumentam
vertiginosamente os riscos de complicações agudas e crônicas
do DM. Por isso, os últimos guidelines frisam cada vez mais a
importância em educação do paciente com DM, assim como
metas atingíveis do tratamento e remédios que caibam no
orçamento, a fim de evitar de forma consistente as complicações
do DM.
O impacto do DM e de suas complicações na saúde pública são
evidentes e incluem:
▶ Internação hospitalar: é a sexta maior causa de internação
hospitalar como diagnóstico primário e está presente em 30 a
50% de outras causas primárias de internação, como cardiopatia
isquêmica, insuficiência cardíaca, colecistopatias, acidente
vascular cerebral e hipertensão arterial;
▶ Síndrome coronariana aguda: entre os internados em unidades
coronarianas, 30% são portadores de DM;
▶ Amputações de membros inferiores: é a principal causa de
amputações não traumáticas de membros inferiores;
▶ Cegueira: é a principal causa de cegueira adquirida em adultos;
▶ Doença renal em estágio terminal: nos países desenvolvidos, é a
principal causa de doença renal em estágio terminal,
respondendo por cerca de 40 a 50% dos casos. No Brasil, a
nefropatia diabética também é a principal doença renal que leva à
terapia dialítica;
▶ Mortalidade: o diabetes é responsável por 14,5% da mortalidade
mundial por todas as causas. A maioria das pessoas com diabetes
morre de doença cardiovascular.
1.3 CLASSIFICAÇÃO
A classificação do DM baseia-se, atualmente, em sua etiologia.
Não é mais recomendado o uso dos termos DM
insulinodependente (IDDM) e DM não insulinodependente
(NIDDM). A SBD, em concordância com a última diretriz da
American Diabetes Association, classifica a doença em quatro
grandes grupos:
▶ DM1:
▷▷ Tipo 1A: autoimune;
▷▷ Tipo 1B: idiopático.
▶ DM2;
▶ DM gestacional (DG);
▶ Outros tipos específicos de DM.
Para entender a fisiopatologia dos diferentes tipos de diabetes, é
importante conhecer algumas células e hormônios envolvidos na
regulação da glicemia. O pâncreas possui um papel central nesses
processos, por ser o local de produção e liberação de alguns
reguladores, como a insulina. A Figura 1.1 mostra a composição de
uma ilhota pancreática, enquanto o Quadro 1.1 correlaciona suas
células com os respectivos hormônios secretados.
Figura 1.1 - Estrutura da ilhota pancreática, responsável pela secreção hormonal
no indivíduo normal
1.3.1.3 Etiologia
#importante
O diagnóstico de DM é feito com
glicemia de jejum maior ou igual a 126
mg/dL, ou HbA1C maior ou igual a 6,5%,
ou TOTG de jejum maior ou igual a 126
mg/dL ou 2 horas após sobrecarga maior
ou igual a 200 mg/dL, ou glicemia
aleatória maior ou igual a 200 mg/dL
associado a sintomas de diabetes.
1.3.2.3 Fisiopatologia
#memorize
Fatores de risco para DMG: BAHIA CASSOU
— Baixa estatura; Aumento de gordura
visceral; História familiar de diabetes; Idade
materna avançada; A1c acima de 5,9% no
primeiro trimestre; Crescimento fetal
excessivo, polidrâmnio, hipertensão ou pré-
eclâmpsia; Antecedentes obstétricos de
abortamentos de repetição, malformações,
morte fetal ou neonatal, macrossomia ou
DMG; Sobrepeso, obesidade e ganho de
peso excessivo na gestação atual;
Síndrome dos Ovários policísticos.
As últimas diretrizes americana e brasileira de diabetes indicam o
rastreio com glicemia de jejum já na primeira consulta de pré-
natal, e caso o resultado não esteja alterado, um segundo rastreio
com TOTG 75 g em de todas as gestantes sem diabetes prévio
entre 24 e 28 semanas de gestação. O diagnóstico de diabetes
gestacional é estabelecido quando há glicemia de jejum acima ou
igual a 92 mg/dL, ou glicemia após uma hora de sobrecarga com
75 g de glicose acima ou igual a 180 mg/dL, ou glicemia após 2
horas de sobrecarga com glicose acima ou igual a 153 mg/dL.
Diferentemente do diagnóstico de diabetes em outras ocasiões,
apenas um valor alterado assegura o diagnóstico de DMG.
#importante
O diagnóstico de DMG é feito com
glicemia de jejum maior ou igual a
92mg/dL, ou TOTG após 1 hora de
sobrecarga acima ou igual a 180 mg/dL
ou após 2 horas de sobrecarga acima ou
igual a 153 mg/dL. Com apenas um valor
alterado já temos o diagnóstico de
diabetes gestacional.