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Idoso

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A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA NO ACOLHIMENTO A IDOSOS EM

UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA

Adrielle Andrade da Silva 1


Thaylâne Creusa Rogério Silva 2
Letícia Lígia Silva Costa 3
Albertino Antônio dos Santos 4
Suenny Fonsêca de Oliveira 5

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo relatar a experiência de estágio básico em Psicologia desenvolvido
em um Instituto de Longa Permanência para Idosos, localizado na Cidade de Campina Grande/PB.
Trata-se de um estudo qualitativo, do tipo relato de experiência, que no primeiro momento ocorreu a
partir da observação participante para, em seguida, serem elaborada as intervenções a partir das
demandas emergentes. Ocorreram trinta encontros entre novembro de 2017 e março de 2018 com
duração de duas horas. As atividades contaram com a participação de 73 idosos, de ambos os sexos,
residentes da Instituição de Longa Permanência. Os encontros se davam com a promoção de espaço de
fala, sendo no período de tempo de duas horas em que estagiários estavam na instituição realizando
escutas e acolhimento das demandas espontâneas que surgiam na fala dos idosos. De modo geral, a partir
do relato de suas histórias de vida, os idosos abordavam suas questões pessoais frequentemente
envolvendo a relação com a família, as dificuldades enfrentadas diante do processo de envelhecimento
e da institucionalização. Diante do exposto, foi possível perceber a importância do acolhimento no
processo de cuidado da pessoa idosa e o quanto esses momentos de escuta foram capazes de ressignificar
a dor e o sofrimento por elas vividos. A experiência, possibilitou vivências que permitiram reafirmar a
necessidade de promover espaços de fala como estratégia de cuidado focalizados no protagonismo das
pessoas idosas, reiterando ainda o quanto é imprescindível novos modos de cuidar que perpassam o
modelo asilar de cuidado tradicional e biomédico ainda existente em muitos Institutos de Longa
Permanência para Idosos.

Palavras-chave: Institucionalização, Idosos, Acolhimento.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento e seus atravessamentos são fatores que vêm sendo analisados com
maior profundidade no Brasil após modificações nos arranjos sóciodemográficos brasileiros,

1
Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal de Campina Grande - UFCG,
andradeadriellepsi@gmail.com;
2
Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, thay.rogerio@gmail.com;
3
Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, leticialigia@hotmail.com;
4
Ex graduando/estagiario em Psicologia pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG; Graduando em
Agropecuário pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, albertinojs@gmail.com;
5
Professora orientadora: Adjunta da Unidade Acadêmica de Psicologia da Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG), Doutora em Psicologia Social, suennyfonseca@yahoo.com.br
tais como crescimento acelerado da população idosa, diminuição da taxa de fecundidade e
mortalidade, aumento da expectativa de vida (WATANABE, DI GIOVANNI, 2009).
A partir das discussões referentes à população idosa emergiram estratégias e políticas
específicas para os idosos. No Brasil os marcos de regulamentação para com o cuidado dos
idosos são a Constituição Federal de 1988, a Lei 8.842: Política Nacional do Idoso e a Lei
10.741 mais conhecida como Estatuto do Idoso.
Dentre as estratégias encontradas, temos as Instituições de Longa Permanência para
Idosos - ILPIs, que, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA (2005) são
instituições governamentais ou não-governamentais, de caráter residencial, destinadas a
domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte
familiar, em condição de liberdade, dignidade e cidadania.
O processo de envelhecimento traz consigo alterações morfológicas, biológicas,
bioquímica, e psicológicas, influenciando nas significações das experiências do sujeito,
acarretando assim modificações também na forma de lidar consigo, com o outro e com seu
meio. A institucionalização desses sujeitos traz consigo uma nova reestruturação no modo de
viver, fazendo emergir demandas específicas do espaço.
As ações da Psicologia direcionada ao idoso institucionalizado em ILPIs está em
processo de desenvolvimento visto que são poucos trabalhos publicados na área, atualmente
existem o Relatório de Inspeção a ILPIs e o Caderno de Orientação do CRP/SP para atuação de
psicólogas(os) na Assistência Social, o primeiro realiza um recorte nacional do que vem
ocorrendo nas ILPIs e a segunda orientando a atuação do psicólogo junto a pessoa idosa.
Diante desta perspectiva, o presente trabalho objetiva relatar a experiência dos
estagiários de Psicologia nas atividades desenvolvidas em um Instituto de Longa Permanência
para Idosos, localizado na Cidade de Campina Grande/PB, bem como apresentar a importância
do acolhimento como ferramenta terapêutica no processo de cuidado aos idosos
institucionalizados.

METODOLOGIA

O presente artigo trata-se de um estudo qualitativo, descritivo, do tipo relato de


experiência, orientado a partir da observação participante e das demandas emergentes que
orientaram a elaboração das intervenções dos estagiários de Psicologia em um Instituto de
Longa Permanência para Idosos, localizado na Cidade de Campina Grande/PB. O estágio se
deu em trinta encontros entre novembro de 2017 e março de 2018 com duração de duas horas
e realizou acolhimento de demandas de 73 idosos de ambos os sexos.
Esse tipo de estudo segundo Pawlonwski, Andersen, Troelsen e Schipperijn (2016, apud
MÓNICO et al., 2017) configura-se pelo processo no qual o observador participa ativamente
nas atividades de coleta de dados, sendo a ele requerida a capacidade de adaptação a situação.
Nesse sentido, desenvolver um estudo qualitativo, permite que o pesquisador conheça um
pouco da realidade pesquisada, entrando em contato com os envolvidos no contexto, nesse caso
os idosos e profissionais da ILPI.
O Diário de Campo foi utilizado como instrumento de registo das observações e ações
desenvolvidas pelos estagiários. Para Minayo (2014), o diário de campo "nada mais é que um
caderninho de notas, em que o investigador, dia a dia, vai anotando o que observa e que não é
objeto de nenhuma modalidade de entrevista” (p. 95). Constitui-se como uma ferramenta
didático-pedagógica utilizada geralmente em pesquisas qualitativas, em que a partir da
observação o pesquisador também participa de maneira mais direta, externalizando seus
sentimentos e percepções através de suas anotações (FRIZZO, 2010).

DESENVOLVIMENTO

Instituição de Longa Permanência para Idosos

As discussões referentes às necessidades da população idosa promoveram a elaboração


de estratégias e políticas específicas para os idosos. No Brasil os marcos de regulamentação
para com o cuidado dos idosos são a Constituição Federal de 1988, a Lei 8.842/94 Política
Nacional do Idoso e a Lei 10.741/03 que dispõe sobre o Estatuto do Idoso.
A Constituição Federal de 1988 afirma que o cuidado do idoso é responsabilidade da
família, da sociedade e do Estado, os quais devem assegurar sua participação na comunidade,
defender sua dignidade e bem-estar e garantir seu direito à vida. A Política Nacional do Idoso
surge após muitas discussões com os idosos brasileiros, propõe uma visão integrada dessa
população e ocupa uma lacuna legislativa frente às questões do idoso.
O Estatuto do Idoso, por sua vez, veio para alinhar as obrigatoriedades constitucionais
referente à divisão de responsabilidades do cuidado para com o idoso entre a família, o Estado
e a comunidade, para lhes assegurar os direitos básicos civis e sociais. Dentre as estratégias
encontradas, temos as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), que segundo a
Anvisa (2005) são instituições governamentais ou não-governamentais, de caráter residencial,
destinadas a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem
suporte familiar, em condição de liberdade, dignidade e cidadania.
O Relatório de Inspeção a ILPIs publicado pelo Conselho Federal de Psicologia - CFP
(2008) e Christophe (2009) destacam que as ILPIs são frutos dos asilos de idosos, que segundo
Goffman (2001) são tidas como “instituições totais”, por apresentar modelo de residência
coletiva para indivíduos em situação semelhante, manter afastamento do meio social por
considerado período de tempo, possuírem uma vida fechada e administrada formalmente.
Christophe (2009) aponta ainda que é fundamental a participação das associações religiosas,
filantrópicas e de imigrantes nesta atividade de assistência ao idoso. Não entendi

A institucionalização de idosos

Cardozo (2009) afirma que o envelhecimento é dinâmico, que acarreta transformações


biopsicossociais no indivíduo, sendo essas modificações de acordo com o meio social que o
indivíduo vive.
Ribeiro e Schultz (2007) apontam que a assistência das ILPIs frente aos idosos se dá
fora do convívio familiar, trazendo assim isolamento, inatividade física e psicológica, e como
consequência a redução da qualidade de vida.
O meio familiar é o melhor espaço para o cuidado do idoso, como prevê a Constituição
de 1988, que cita que “os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente
em seus lares” (p. 73). Bentes, Pedroso e Maciel (2012), corroboram com esse pressuposto
quando trazem que a família é elo importante no apoio ao idoso.
No entanto, Cardozo (2009) aponta alguns fatores influenciam na decisão dos familiares
institucionalizarem seus idosos, tais como a pobreza, os conflitos intergeracionais, as saídas de
membros para o mercado de trabalho, a dificuldade financeira para pagar a um cuidador e o
surgimento de patologias que gerem certo grau de dependência.
A institucionalização de idosos apontada por Bentes, Pedroso e Maciel (2012)
compreende rotinas rigorosas, prejudicando o pensar, agir e comporta-se devido as não
motivações, sendo o perdão forma de enfrentamento encontrado pelos idosos para lidar com as
dificuldades. Os autores apontam ainda que o espaço das ILPIs seja propício para mágoas e o
perdão traz bem-estar físico e psicológico dos que perdoam (idosos).
Sendo muitas as perdas do idoso, isso “justifica a grande incidência de estados
depressivos, sentimentos de solidão e limitações das possibilidades de uma vida ativa”
(BENTES, PEDROSO, MACIEL, 2012, p. 198). A fala recorrente de “não fazer nada aqui”
como ausência de tempo, espaço e do outro (BENTES, PEDROSO, MACIEL, 2012, p. 200).
O Relatório de Inspeção a ILPIs (2008) faz destaque a percepção de “grande parte deles
está ali tão-somente porque aquele é o lugar onde devem esperar pela morte. Mas um lugar
onde se espera pela morte é, de alguma maneira, um lugar já mortificado, um espaço onde o
tempo não flui, arrasta-se onde a vida não pulsa, se esvai” (p.15).

Atuação do Psicólogo na Instituição de Longa Permanência para Idosos

Corrêa et. al. (2012) afirma que na prática poucas são as Instituições de Longa
Permanência para Idosos que contam com a presença do profissional psicólogo em seu quadro
de funcionários, de maneira que tal situação pode acabar comprometendo a percepção de que
os idosos institucionalizados possam ter do profissional em uma ILPI.

“Dentre os inúmeros aspectos necessários para a manutenção da boa qualidade dos


serviços prestados por essas instituições, é importante ressaltar o papel do profissional
psicólogo. Com a função primordial de possibilitar aos idosos asilados a busca de um
sentido para suas experiências de vida e o enfrentamento da velhice sob a ótica psíquica,
o psicólogo deve promover, nesses locais, atividades em grupo como um recurso
terapêutico intermediando construções de laços sociais e afetivos” (CORRÊA et. al.,
2012, p. 129).

A atuação do psicólogo deve contemplar principalmente três grupos: idosos, família e


funcionários. No grupo de idosos podem ser realizados trabalhos como a aplicação de testes
(cognitivos de memória, atenção, entre outros), brincadeiras em grupo, atendimento
individualizado, escuta individualizada, jogos individuais e em grupos, leitura e elaboração de
mensagens, realização de atividades cognitivas, atividades físicas, passeios, exposição de fotos.
No tocante a família dos idosos, as ações de Psicologia podem abranger o atendimento familiar,
a realização de grupos para familiares, o acompanhamento das visitas, estimular a visita dos
familiares distantes, a realização de festas e eventos para interação social entre os idosos. No
que diz respeito aos funcionários, a Psicologia pode atuar no incentivo a interdisciplinaridade,
oferecer suporte emocional, sensibilizar a diretoria e os funcionários para o cuidado
humanizado e para o incentivo a autonomia dos idosos, trabalhos envolvendo a Psicologia
Organizacional e verificação do ambiente físico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os encontros diários com os idosos residentes da Instituição de Longa Permanência


permitiram uma maior aproximação, facilitando a construção do vínculo terapêutico, essencial
para a prática psicológica. Também foi uma experiência importante para os estagiários de
Psicologia por desmistificar a função desse profissional nesse meio, muitas vezes devido a falta
de psicólogos nessas instituições (CORRÊA et al., 2012).
Promovendo espaço de fala para esses idosos institucionalizados, foi possível que os
estagiários acolhessem as demandas espontâneas que surgiram frente a questões pessoais e
dificuldades enfrentadas diante do processo de envelhecimento e a institucionalização,
garantindo espaço de reflexão sobre suas atuações no meio em que se encontram e em suas
trajetórias de vida.
Lima et. al. (2007) pontua que a “escuta ativa, qualificada e resolutiva”, é um meio de
acolher e orientar as demandas que surgem, o que viabiliza o atendimento e direciona para
devidos encaminhamentos. Esse acolhimento se constitui como facilitador de acesso e
oportunidade de uma assistência resolutiva à população-alvo. Tavares (2002) aponta a escuta
diferenciada como elemento chave do processo terapêutico.
O acolhimento de demanda espontânea foi pensado como forma de fazer os idosos mais
ativos na seleção daquilo que percebem como importantes para ser trabalhado no momento
situacional, retirando do profissional uma atuação “bancária” e introduzindo uma atuação
conjunta e horizontal com os idosos (FREIRE, 2005).
Dentre os idosos residentes pode-se perceber que haviam idosos que viviam a mais de 15
anos na instituição, assim como idosos recém internos, ficando evidente a mudança no que
tange os discursos desses idosos de acordo com o período que se encontram institucionalizados.
O discurso dos que residem a mais tempo na instituição perpassam mais efetivamente as
relações pessoais e o conformismo frente a atual situação, demonstrando as barreiras que
enfrentaram e os fortaleceram para a atualidade frente as questões institucionais. Por outro lado,
estes idosos se mostram fragilizados por não encontrarem respostas significativas a questões
pessoais, principalmente, na relação com os familiares que em geral os visitam cada vez menos
e ficaram paulatinamente mais distantes, alguns em situação de abandono.
Os idosos que residem a menos tempo na instituição, demonstraram maior inconformismo
frente a situação que se encontram, questionando toda a dinâmica institucional e lamentando
todas as dificuldades encontradas para se adaptarem e se relacionarem nesse novo espaço. Por
outro lado, demonstram maior esperança de mudança situacional positiva com vislumbre de
saída da instituição e compreendendo sua internação como transitória por um breve período.
A dor e o sofrimento relatados pelos idosos institucionalizados durante as visitas de
acolhimento contribuíram para ressignificações que criaram novos sentidos e poliram
experiências dando-as novas perspectivas. Com isso pode-se dizer que a atuação profissional
deve-se pautar numa rede de cuidado humanizada e afetiva, que garanta a vinculação dos idosos
e dos profissionais, de modo que a confiança seja estabelecida e o diálogo entre paciente e
cuidador se torne presente e espontâneo, que as falas dos idosos sejam consideradas e
valorizadas, condizentes com a realidade e assim facilite o processo de compreensão e
organização das vivências de forma significativa.
A maior parte dos idosos são institucionalizados por decisão de familiares, mas também
existem aqueles que ali se encontram por decisão judicial devido negligencias e ainda tem
aqueles que optaram por estar na instituição.
O desenvolvimento das atividades junto aos idosos, reforça a importância de se discutir
cada vez mais as formas de cuidado, reforçando o papel imprescindível do idoso
protagonizando sua história, possibilitando que eles falem por e para si, garantindo uma atenção
humanizada e afetiva por parte dos profissionais, fazendo refletir criticamente sua práxis e
permitindo uma atuação multiprofissional para um atenção integrativa. É importante destacar a
necessidade da presença do psicólogo nas Instituições de Longa Permanência, visto que muitas
são as questões dos idosos, dos familiares e da equipe que demandam a atenção individual ou
grupal desta especialidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência do estágio em Psicologia possibilitou vivências que permitiram reafirmar


a necessidade de promover espaços de cuidado focalizados no protagonismo das pessoas idosas,
reiterando ainda o quanto é imprescindível novos modos de cuidar, bem como a importância
do profissional de Psicologia nas ILPS. O acolhimento se fez parte fundamental do processo
terapêutico desenvolvido na ILP, pois permitiu o estabelecimento de vínculo, o espaço para o
compartilhamento de vivências, a troca de saberes horizontal e respeitosa, fortalecimento da
rede de cuidado inclusivo daqueles que possuem limitações físicas e psíquicas e
ressignificações de sofrimento.
A problematização da práxis é essencial para facilitar o desenvolvimento de atividades
promotoras de bem-estar. Para tanto, se faz necessário maiores diálogos e intervenções junto
aos profissionais para articular uma rede de cuidado interdisciplinar e atenção humanizada e
integrativa, que exige um comprometimento ético e político. Refletir a práxis dos profissionais
que integram a equipe de assistência ao idoso institucionalizado e promover espaços de
protagonismo desses sujeitos são partes fundamentais para uma vivência harmoniosa e
significativa, respeitando a singularidade e a história de cada um, o que fortalece a quebra do
cuidado asilar embasado numa perspectiva tradicional e biomédica ainda existente em muitos
Institutos de Longa Permanência para Idosos.

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