A Eleição Sociocrática

A sociocracia e a eleição sociocrática
Por Hermanus J Meijerink - IMO-brasil
Introdução
A Sociocracia, ou o modelo sociocrático de gestão participativa foi desenvolvido pelo engenheiro e

empresário holandês Gerard Endenburg. Vendo a situação desastrosa da Europa causada pela 2a Guerra
Mundial, ele atribuiu grande parte da situação ao fato das decisões não terem a qualidade que
deveriam ter. Ele buscou uma estrutura que assegura a tomada de decisões verdadeiramente
participativas. No final dos anos 60 começou a aplicar o modelo na sua própria empresa, que resultou
numa estrutura de co-gestão compreendendo todos os colaboradores.
O modelo se resume em quatro regras básicas: Duas se referem à estruturação em si (a estrutura em
Círculos e a dupla Conexão entre os círculos), a terceira se refere à tomada de decisão em si (o princípio
do Consentimento) e a última descreve o processo de Eleição.
O Consentimento rege a tomada de decisão. Consentimento não significa o mesmo que “consenso”.
Consenso é a expressa concordância, existente quando a decisão confere com o que eu quero.
Consentimento significa que eu posso consentir, que não tenho objeção contra a proposta, embora a
minha decisão pudesse ser outra. Posso dizer que numa decisão por consentimento eu devo estar
disposto a aceitar a segunda melhor decisão, considerando que a melhor decisão sempre é a minha!!
O fundamento da tomada de decisão por consentimento é o argumento. É um processo onde se olha

para os argumentos que baseiam a proposta. Não é a quantidade de votos, nem a posição ou
importância das pessoas que determinam uma decisão, mas a qualidade dos argumentos. Uma objeção
sempre é acompanhada pelos argumentos que a fundamentam. “Não é o argumento do poder, mas o
poder do argumento que leva a uma boa decisão!!”
Finalmente, um processo de decisão por consentimento pressupõe que todos os participantes estejam
voltados para um objetivo comum. A presença de objetivos divergentes (ou particulares) frustra a
tomada de decisão.
O interesse pessoal tem que estar alinhado com o interesse do grupo. Se houver interesses pessoais, a
recomendação é que a pessoa se retire da discussão e da tomada de decisão.
O consentimento é a base para a comunidade chegar a acordos onde se respeita a equivalência entre
as pessoas. A aceitação do outro como equivalente é um exercício importante e facilita chegar a um
consentimento. Isto traz sintonia.
As decisões em grupo definem as balizas dentro das quais queremos funcionar e cada um pode agir.
Estas balizas se expressam no acordo de políticas, dos rumos e objetivos gerais, de um orçamento,
funções, de estrutura. Balizas claras definem o espaço dentro da qual, cada um pode agir
individualmente e ter liberdade de ação.
A Eleição Sociocrática – o procedimento
Numa eleição sociocrática pessoas são eleitas por consentimento e de forma aberta.
O procedimento da eleição é a seguinte:
1. Comunicação da função e do prazo de atuação

O coordenador comunica a função e o prazo de atuação da pessoa a ser eleita. Deve estar
claro o que a função compreende e quais qualidades a função requer.
2. Preenchimento da cédula de votação

Cada participante reflete e faz a sua escolha, preenchendo uma cédula de votação,
identificando quem está escolhendo e a pessoa escolhida: “Eu ....................... elejo
............................”
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3. Compartilhamento das escolhas e respectivos argumentos
As cédulas são recolhidas pelo coordenador e ele pede a cada um expressar os seus
argumentos para a escolha feita. Não há discussão durante a rodada.
4. Confirmação ou mudança de voto

Depois de terem ouvido as escolhas e respectivos argumentos, cada participante reflete
se ele quer manter ou mudar o seu voto. O Coordenador faz em seguida uma nova rodada
para cada um confirmar ou mudar o seu voto, citando os argumentos para a mudança.
5. Proposta do coordenador e rodada de consentimento

Com base nos argumentos o coordenador identifica qual pessoa é a mais indicada para
receber o consentimento. Ele faz a proposta e em seguida a rodada de consentimento.
6. Objeções e nova proposta

Caso um participante tem objeção com base em argumentos, o coordenador pode ver
com o grupo e a pessoa se há meios ou condições para que a pessoa possa consentir e
retirar a objeção. Ou então o coordenador fará nova proposta e rodada, até que se
obtenha consentimento de todos.
No processo de eleição sociocrática deve-se observar os seguintes pontos:

• Não há “candidatos” nem “não-candidatos”. Não há “chapas”, não se faz “lobby” ou campanha
prévia de convencimento.
• Não se pede “quem quer” ou “quem não quer” assumir a função. Nem sempre “quem quer” é
a pessoa mais capacidade para assumir a função.
• É permitido eleger a si próprio, apresentando os argumentos.
• A objeção e os argumentos devem se referir à pessoa proposta (p.ex. impedimentos,
experiências negativas no passado, ...) e não a outro candidato por achar que este seja melhor.
• Na eleição sociocrática a reeleição é sempre possível, porque enquanto existirem argumentos
para manter uma pessoa e não houver objeção, não tem sentido da pessoa ser afastada.
• Durante as rodadas não há discussão sobre o que cada um coloca; no máximo pergunta de
esclarecimento. O objetivo é tornar visível (audível) o que vive no grupo.
• Uma eleição por consentimento prevê um prazo para o eleito. Porém, no momento em que
surgirem razões para retirar o consentimento dado, a pessoa pode convocar uma reunião para
apresentar a sua objeção (com base em argumentos). Se prevalecer a objeção, deverá ser feita
uma nova eleição.
• Se houver dificuldade para se chegar a uma decisão, o coordenador poderá lembrar que o
“problema” é do grupo todo, que a escolha é por tempo determinado, que o consentimento
poderá ser retirado, sugerir uma redução de prazo ou pensar em condições complementares.
Bibliografia
Endenburg G : Sociocracy, the organization of decision making. Eburon, Delft Holanda.

Endenburg G.: Sociocracy as a social Design
Holambra, 2 de março de 2018

Hermanus Meijerink
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1. Comunicação da função e do prazo de atuação

2. Preenchimento da cédula de votação

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4. Confirmação ou mudança de voto

5. Proposta do coordenador e rodada de consentimento

6. Objeções e nova proposta

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