Acórdão 93 - 2020 - Dona Inês - 2
Acórdão 93 - 2020 - Dona Inês - 2
Acórdão 93 - 2020 - Dona Inês - 2
22/07/2022
Número: 0000156-61.2016.6.15.0014
Classe: RECURSO ELEITORAL
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba
Órgão julgador: GABJ05 - Gabinete Vice Presidência
Última distribuição : 06/12/2021
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 00001566120166150014
Assuntos: Conduta Vedada ao Agente Público, Inelegibilidade - Abuso do Poder Econômico ou
Político, Abuso - De Poder Econômico
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
PMDB - DIRETORIO MUNICIPAL DE DONA INES JOSE ADAILSON DA SILVA FILHO (ADVOGADO)
(RECORRENTE) EDUARDO HENRIQUE FARIAS DA COSTA (ADVOGADO)
JOSE EDISIO SIMOES SOUTO (ADVOGADO)
LUIZ JOSE PAULINO ROCHA (ADVOGADO)
ANTONIO ADRIANO DUARTE BEZERRA (ADVOGADO)
JOSE CLODOALDO MAXIMINO RODRIGUES JOSE ADAILSON DA SILVA FILHO (ADVOGADO)
(RECORRENTE) EDUARDO HENRIQUE FARIAS DA COSTA (ADVOGADO)
JOSE EDISIO SIMOES SOUTO (ADVOGADO)
LUIZ JOSE PAULINO ROCHA (ADVOGADO)
ANTONIO ADRIANO DUARTE BEZERRA (ADVOGADO)
ANTONIO JUSTINO DE ARAUJO NETO (RECORRENTE) TARSO DUARTE DE TASSIS (ADVOGADO)
ANA MARCIA DOS SANTOS MELLO (ADVOGADO)
KENNEDY GUSMAO GAMA DA SILVA (ADVOGADO)
JOAO VICTOR ALMEIDA DE LUCENA (ADVOGADO)
DEMETRIO FERREIRA DA SILVA (RECORRENTE) BAUMANN BARROS GUEDES ALCOFORADO DE
CARVALHO (ADVOGADO)
LAPLACE GUEDES ALCOFORADO LEITE DE CARVALHO
(ADVOGADO)
TARCIANA LUCENA NUNES (RECORRENTE) MARCOS ANTONIO SOUTO MAIOR FILHO (ADVOGADO)
LAISSA CAMILA MELO GUSMAO (ADVOGADO)
COLIGAÇÃO UNIDOS POR UM NOVO CAMINHO JOSE ADAILSON DA SILVA FILHO (ADVOGADO)
(RECORRENTE) EDUARDO HENRIQUE FARIAS DA COSTA (ADVOGADO)
JOSE EDISIO SIMOES SOUTO (ADVOGADO)
ANTONIO ADRIANO DUARTE BEZERRA (ADVOGADO)
JOAO IDALINO DA SILVA (RECORRENTE) JANAINA ROLEMBERG FRAGA (ADVOGADO)
RODRIGO DA SILVA PEDREIRA (ADVOGADO)
GABRIELA ROLLEMBERG DE ALENCAR (ADVOGADO)
MARCOS ANTONIO SOUTO MAIOR FILHO (ADVOGADO)
HILTON SOUTO MAIOR NETO (ADVOGADO)
CALINY MUNIZ DE LIMA SILVA (RECORRENTE) MARTINHO CUNHA MELO FILHO (ADVOGADO)
MARCOS ANTONIO SOUTO MAIOR FILHO (ADVOGADO)
JOSE IGOR DENIZAR COSTA DA SILVA (RECORRENTE) MARTINHO CUNHA MELO FILHO (ADVOGADO)
LAISSA CAMILA MELO GUSMAO (ADVOGADO)
MARCOS ANTONIO SOUTO MAIOR FILHO (ADVOGADO)
SOFIA ULISSES SANTOS (RECORRENTE) JANAINA ROLEMBERG FRAGA (ADVOGADO)
GABRIELA ROLLEMBERG DE ALENCAR (ADVOGADO)
HENRIQUE SOUTO MAIOR MUNIZ DE ALBUQUERQUE
(ADVOGADO)
RODRIGO DA SILVA PEDREIRA (ADVOGADO)
MARCOS ANTONIO SOUTO MAIOR FILHO (ADVOGADO)
DEMETRIO FERREIRA DA SILVA (RECORRIDO) LAPLACE GUEDES ALCOFORADO LEITE DE CARVALHO
(ADVOGADO)
BAUMANN BARROS GUEDES ALCOFORADO DE
CARVALHO (ADVOGADO)
JOSE IGOR DENIZAR COSTA DA SILVA (RECORRIDO) LAISSA CAMILA MELO GUSMAO (ADVOGADO)
MARCOS ANTONIO SOUTO MAIOR FILHO (ADVOGADO)
MARTINHO CUNHA MELO FILHO (ADVOGADO)
ANTONIO JUSTINO DE ARAUJO NETO (RECORRIDO) TARSO DUARTE DE TASSIS (ADVOGADO)
ANA MARCIA DOS SANTOS MELLO (ADVOGADO)
KENNEDY GUSMAO GAMA DA SILVA (ADVOGADO)
JOAO VICTOR ALMEIDA DE LUCENA (ADVOGADO)
SOFIA ULISSES SANTOS (RECORRIDA) JANAINA ROLEMBERG FRAGA (ADVOGADO)
RODRIGO DA SILVA PEDREIRA (ADVOGADO)
GABRIELA ROLLEMBERG DE ALENCAR (ADVOGADO)
MARCOS ANTONIO SOUTO MAIOR FILHO (ADVOGADO)
HENRIQUE SOUTO MAIOR MUNIZ DE ALBUQUERQUE
(ADVOGADO)
CALINY MUNIZ DE LIMA SILVA (RECORRIDA) MARCOS ANTONIO SOUTO MAIOR FILHO (ADVOGADO)
MARTINHO CUNHA MELO FILHO (ADVOGADO)
TARCIANA LUCENA NUNES (RECORRIDA) LAISSA CAMILA MELO GUSMAO (ADVOGADO)
MARCOS ANTONIO SOUTO MAIOR FILHO (ADVOGADO)
PMDB - DIRETORIO MUNICIPAL DE DONA INES ANTONIO ADRIANO DUARTE BEZERRA (ADVOGADO)
(RECORRIDO) JOSE EDISIO SIMOES SOUTO (ADVOGADO)
EDUARDO HENRIQUE FARIAS DA COSTA (ADVOGADO)
JOSE ADAILSON DA SILVA FILHO (ADVOGADO)
JOSE CLODOALDO MAXIMINO RODRIGUES (RECORRIDO) ANTONIO ADRIANO DUARTE BEZERRA (ADVOGADO)
LUIZ JOSE PAULINO ROCHA (ADVOGADO)
JOSE EDISIO SIMOES SOUTO (ADVOGADO)
EDUARDO HENRIQUE FARIAS DA COSTA (ADVOGADO)
JOSE ADAILSON DA SILVA FILHO (ADVOGADO)
COLIGAÇÃO UNIDOS POR UM NOVO CAMINHO EDUARDO HENRIQUE FARIAS DA COSTA (ADVOGADO)
(RECORRIDA) JOSE ADAILSON DA SILVA FILHO (ADVOGADO)
JOSE EDISIO SIMOES SOUTO (ADVOGADO)
ANTONIO ADRIANO DUARTE BEZERRA (ADVOGADO)
JOAO IDALINO DA SILVA (RECORRIDO) RODRIGO DA SILVA PEDREIRA (ADVOGADO)
MARCOS ANTONIO SOUTO MAIOR FILHO (ADVOGADO)
GABRIELA ROLLEMBERG DE ALENCAR (ADVOGADO)
HILTON SOUTO MAIOR NETO (ADVOGADO)
JANAINA ROLEMBERG FRAGA (ADVOGADO)
Procurador Regional Eleitoral PB (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
77697 23/11/2020 10:56 Volume 48 (Fls. 9739 a 9740. 9741 a 9782. 9785 a Outros documentos
97 9838). Certidão de Julgamento. Acórdão 93/2020.
Not
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DA PARAÍBA
Avenida Princesa Isabel, 201 - Bairro Centro - CEP 58013-251 - João Pessoa - PB
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
CERTIDÃO
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
Araújo Neto, o Dr. Manolys Passerat e pelos Investigantes, o Dr. Antônio Adriano Duarte
Bezerra. DEFERIDA EM SESSÃO A ENTREGA DOS AUTOS AO ADVOGADO DR. MARCOS
ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO DE COMUM ACORDO COM O DR. MANOLYS PASSERAT,
ATRAVÉS DO NÚCLEO DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL DO TRE/PB, APÓS A PUBLICAÇÃO
DO ACÓRDÃO, BEM COMO A JUNTADA DOS VOTOS VENCIDOS E DAS NOTAS
TAQUIGRÁFICAS.”
0004055-29.2020.6.15.8000 0703864v3
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9/29/2020 SEI/TRE-PB - 0706828 - Decisão
PROCESSO: 0006199-73.2020.6.15.8000
INTERESSADO: SJI
ACÓRDÃO nº 93/2020
Recorrente: COLIGAÇÃO UNIDOS POR UM NOVO CAMINHO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO (PMDB), DIRETÓRIO
MUNICIPAL DE DONA INÊS/PB, JOSE CLODOALDO MAXIMINO RODRIGUES, ANTONIO JUSTINO DE ARAUJO NETO, JOAO IDALINO DA SILVA,
DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA E TARCIANA LUCENA NUNES
Recorrido: JOAO IDALINO DA SILVA, DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA, JOSÉ IGOR DENIZAR COSTA DA SILVA, ANTONIO JUSTINO DE ARAUJO
NETO, SOFIA ULISSES SANTOS, CALYNY MUNIZ DE LIMA SILVA, TARCIANA LUCENA NUNES, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO
BRASILEIRO, DIRETÓRIO MUNICIPAL DE DONA INÊS/PB, COLIGAÇÃO UNIDOS POR UM NOVO CAMINHO E JOSE CLODOALDO MAXIMINO
RODRIGUES
ADVOGADOS VINCULADOS: Antonio Adriano Duarte Bezerra - OAB: 15161/PB, Eduardo Henrique Farias da Costa - OAB: 12190/PB, Henrique Souto Maior
Muniz de Albuquerque - OAB: 13017/PB, Hilton Souto Maior Neto - OAB: 13533/PB, Jose Edisio Simoes Souto - OAB: 5405/PB, José Adailson da Silva Filho -
OAB: 22043/PB, Laissa C Melo de Oliveira - OAB: 22225/PB, Luiz Jose Paulino Rocha - OAB: 22377/PB, Manolys Marcelino Passerat de Silans - OAB:
11536/PB, Marcos Antonio Souto Maior Filho - OAB: 13338/PB e Martinho Cunha Melo Filho - OAB: 11086/PB.
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9/29/2020 SEI/TRE-PB - 0706828 - Decisão
orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá promover o
acompanhamento de sua execução financeira e administrativa”.
4.1. In casu, restou incontroversa a distribuição gratuita de valores e benefícios, por meio da
Secretaria de Assistência Social e Habitação do município de Dona Inês em 2016, com a
finalidade de custear passagens intermunicipais, despesas com material escolar, exames
oftalmológicos, material de construção, despesas com figurino e costura para quadrilha junina,
aquisição de óculos, pagamento de aluguel, compra de medicamentos, ferramentas agrícolas,
expedição de documentos pessoais, compra de enxoval, dentre outros.
4.2. Programa Social. As Leis Municipais usadas como fundamento para a citada distribuição
não instituíram programa social, configurando-se tais normativos em mero instrumento de
política assistencialista, usadas pelo gestor municipal como um verdadeiro “cheque em branco”
para a distribuição indiscriminada de benesses a seu bel prazer.
4.3. A escorreita interpretação do dispositivo legal interdita que leis assistencialistas editadas
para conferir verniz de legitimidade a certa política pública atuem como excludentes de ilicitude
eleitoral, quando sua implementação albergue finalidades espúrias, tendentes a vilipendiar a
igualdade de chances entre os players.
4.4. Sobre tal questão, inclusive, a jurisprudência do TSE é pacífica no sentido de que "a mera
previsão na lei orçamentária anual dos recursos destinados a esses programas não tem o condão
de legitimar sua criação" (AgR-Al n° 116967/RJ, ReI. Mm. Fátima Nancy Andrighi, DJe de
17.8.2011).
4.5. A ideia de que a precariedade da estrutura administrativa de municípios de pequeno porte
enseja a prática de assistência social sem regramentos exacerbados, apesar de sedutora para
alguns, não deve prevalecer em detrimento do incentivo que deve ser passada ao gestor no
sentido da desnecessidade de adequar a sua gestão a comandos normativos que estão em vigor
desde 2006, ano em que a norma do art. 73, §10 foi inserida na Lei das Eleições, por força da Lei
nº 11.3001.
4.6. Calamidade e Estado de Emergência. No tocante à situação de emergência ou
calamidade pública, os Decretos estaduais e municipais juntados aos autos decorrem do período
de estiagem vivenciado no Município de Dona Inês, que, assim como muitas outras localidades do
Estado da Paraíba, sofreu danos à agricultura e à criação animal, implicando na necessidade de o
Poder Público assistir a população mediante soluções para manutenção do abastecimento de água
e alimentação dos cidadãos.
4.7.Tais decretos, contudo, não poderiam veicular – e efetivamente não veicularam – nenhuma
autorização para distribuição de auxílios dissociados da fome e da sede, tais como viagens,
óculos, eventos culturais, materiais escolares, medicamentos, festejos juninos, reparos em
residência, aluguel e outros. A situação emergencial vivenciada pelo Município, portanto, não
justifica a massiva distribuição de auxílios financeiros realizada no ano de 2016 em Dona Inês/PB.
4.8. Assim, não tendo sido demonstrada a instituição, por lei específica, de um programa social
de distribuição de auxílios financeiros durante o ano de 2016 em Dona Inês/PB, nem estando tal
distribuição justificada pelos decretos emanados pelo governo da Paraíba e pela administração
municipal, NÃO restam configuradas as exceções legais que autorizam a distribuição gratuita de
bens e serviços no ano eleitoral, o que revela a caracterização da conduta vedada prevista no art.
73, §10, da Lei das Eleições.
4.9. Do abuso de poder político com viés econômico. A conduta vedada pelo art. 73, §10,
assim como as demais previstas no art. 73 da Lei nº 9.504/97, pode ser conceituada como uma
espécie do gênero abuso de poder. Sua prática, portanto, possui aptidão para ofender a
normalidade e legitimidade do processo eleitoral em decorrência da quebra da isonomia entre os
players.
4.10. Ao distribuir auxílios financeiros de forma meramente subjetiva, o gestor adquire simpatia
e conquista, não raro, sentimento de gratidão pelo beneficiado e sua família, evidenciando quebra
do equilíbrio dos candidatos na competição legítima pela conquista do voto livre.
4.11. No caso de Dona Inês/PB, tratando-se de um Município com 10.429 habitantes (população
estimada, pelo IBGE, em 2018), com a distribuição de auxílios financeiros para diversas
finalidades, atingindo, diversos beneficiários (162 cento e sessenta e empenhos), além de uma
pequena diferença de votos entre os candidatos, apenas 33 (trinta e três) votos, segundo as
informações constantes do sítio eletrônico do TRE/PB - eleições de 2016, evidenciado o impacto
na normalidade e na legitimidade do pleito.
4.12. Gravidade. Quanto à gravidade da conduta, entendo demasiadamente demonstrada e
suficiente para gerar um desequilíbrio na disputa eleitoral, pois o mal ferimento do princípio
constitucional da impessoalidade, corolário do princípio republicano, restou patente nestes autos,
já que foram diversas as doações efetuadas sem que o gestor apresentasse as devidas
justificativas a amparar a aplicação da excludente de ilicitude. Na verdade, constatou-se grave
lacuna acerca de critérios ou acompanhamento das pessoas beneficiadas com recursos públicos,
dada a ausência do programa exigido em Lei.
4.13. O impacto causado na normalidade e na legitimidade do pleito e a quebra de isonomia
entre os concorrentes pela distribuição de auxílios financeiros para diversas finalidades mostra-se
ainda mais evidente quando se verifica que o Município de Dona Inês possui 10.429 habitantes,
merecendo realce que compareceram 7.262 (sete mil duzentos e setenta e dois) eleitores para o
exercício do voto, portanto, os 103 (cento e três) beneficiários pela irregular política pública
influenciaram diretamente no resultado das eleições de 2016, sobretudo diante da pequena
diferença de votos entre os candidatos, qual seja, apenas 33 (trinta e três) votos.
4.14. Sanções. Conduta vedada pelo art. 73, §10, da Lei nº 9.504/97. Multa e cassação de
registro/diploma e multa dos candidatos beneficiados e multa aos agentes públicos responsáveis
por sua prática. Abuso de poder previsto no art. 22 da LC nº 64/90. Cassação de registro/diploma
dos candidatos beneficiados e declaração de inelegibilidade por 08 (oito) anos, a contar da
eleição, apenas para os responsáveis por sua prática, já que a inelegibilidade, por ostentar
natureza personalíssima, não se aplica ao mero beneficiário dos atos abusivos.
5. No que tange à suposta prática de ilícitos eleitorais mediante oferta de gasolina em troca
de votos, não há nos autos prova de que a distribuição de combustível tenha se dado em troca
de votos, e tampouco da presença dos candidatos durante a distribuição da gasolina. Ademais, o
servidor público que participou de evento político, assim o fez fora do horário do expediente.
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Meros indícios não são capazes de confirmar a prática das condutas ilícitas aduzidas pelos
Investigantes/Recorrentes.
6. Quanto à cessão e utilização de bens, materiais e servidores públicos em benefício de
candidatos e coligação, consistente no uso de compressor de ar do Hospital de Dona Inês para
enchimento de balões em comício de encerramento de campanha, e do uso de veículo da
Secretaria de Saúde, e de servidores públicos em horário de expediente para transportá-lo, a
sentença reconheceu a prática de conduta vedada, A decisão deve ser mantida no ponto, pois há
prova de que o compressor foi transportado em veículo público, por servidores públicos e durante
o horário de expediente, configurando assim, as condutas vedadas previstas nos inciso I e III do
art. 73, da Lei das Eleições.
7. Dispositivo. Recurso dos Investigados desprovidos, para manter a pena pecuniária no mínimo
legal cominada aos responsáveis pelas condutas vedadas previstas nos inciso I e III do art. 73,
da Lei das Eleições e por seus beneficiários. Recurso dos Investigantes parcialmente provido para
reconhecer comprovada a conduta vedada prevista no art. 73, §10, da Lei das Eleições e o abuso
de poder político com viés eleitoreiro, aplicando aos agentes públicos responsáveis pela prática
dos ilícitos sanção pecuniária e declaração de inelegibilidade por 08 (oito) anos a contar da
eleição de 2016, e aos candidatos beneficiados, além da sanção pecuniária no mesmo patamar, a
cassação de seus diplomas de Prefeito e Vice-prefeito de Dona Inês/PB.
8. Consequências do acórdão. Cassados os diplomas do Prefeito e Vice-prefeito eleitos em
2016, e por conseguinte, seus mandatos, com base no entendimento manifestado pelo Tribunal
Superior Eleitoral (ED-REspe nº 139-25/RS) e pelo STF (ADI nº 5525), deve haver a convocação
de novas eleições, após a publicação do acórdão, sendo o prazo fixado através de Resolução a ser
elaborada pela Corregedoria Eleitoral, para os cargos de prefeito e vice-prefeito no Município de
Dona Inês/PB, nos termos do art. 224, §§ 3º e 4º, II, do Código Eleitoral.
9. Quanto ao cumprimento do presente acórdão e a convocação do novo pleito, ressalto a
tese fixada pelo TSE no Respe nº 139-25 (Rel. Min. Henrique Neves Da Silva, PSESS em
28/11/2016), no sentido de que “se o trânsito em julgado não ocorrer antes, e ressalvada a
hipótese de concessão de tutela de urgência, a execução da decisão judicial e a convocação das
novas eleições devem ocorrer, em regra, […] após a análise do feito pelas instâncias ordinárias,
nos casos de cassação do registro, do diploma ou do mandato, em decorrência de ilícitos
eleitorais apurados sob o rito do art. 22 da Lei Complementar 64/90 ou em ação de impugnação
de mandato eletivo”.
RELATOR
______________________________________________________________________________________________________________________________________
RELATÓRIO
Os autos em exame versam sobre dois recursos interpostos pela COLIGAÇÃO “UNIDOS POR UM NOVO CAMINHO”, PARTIDO DO MOVIMENTO
DEMOCRÁTICO BRASILEIRO e JOSÉ CLODOALDO MAXIMINO RODRIGUES (fls. 9593/9610 – Vol.47) e por ANTÔNIO JUSTINO DE ARAÚJO
NETO, JOÃO IDALINO DA SILVA, DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA e TARCIANA LUCENA NUNES DE CARVALHO (fls. 9612/9616 – Vol. 47)
contra a decisão do Juízo da 14ª Zona Eleitoral/Bananeiras/PB, que ao julgar parcialmente procedente a presente Ação de Investigação Judicial Eleitoral manejada
em desfavor de ANTÔNIO JUSTINO DE ARAÚJO NETO, JOÃO IDALINO DA SILVA, DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA, TARCIANA LUCENA
NUNES DE CARVALHO, SOFIA ULISSES SANTOS QUEIROZ, CALINY MUNIZ DE LIMA e JOSÉ IGOR DENIZAR COSTA DA SILVA, condenou
ANTÔNIO JUSTINO DE ARAÚJO NETO, JOÃO IDALINO DA SILVA, DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA e TARCIANA LUCENA NUNES ao
pagamento de multa, no valor de 5.000 (cinco mil) Ufir’s (patamar legal mínimo), nos termos do artigo 73, incisos I e III e §§4° e 10, da Lei n.º 9.504/97, de
forma individualizada (fls. 9570/9590 – Vol.47).
A peça inaugural enfatiza a prática das seguintes condutas, apontadas pelos investigantes como ilegais e consubstanciadoras de abuso de poder politico, econômico,
(art. 22 da LC nº 64/90), captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da Lei nº 9.504/97) e as condutas vedadas previstas no art. 73, incisos, I, III, IV, V e §10 da Lei das
Eleições:
a) contratação indiscriminada de servidores por excepcional interesse público e comissionados, durante o ano de 2016 (abuso de poder político/econômico e conduta
vedada);
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9/29/2020 SEI/TRE-PB - 0706828 - Decisão
b) distribuição gratuita de bens, valores e benefícios para a população do município de Dona Inês/PB (utilização de tratores, escavadeiras, patrol, pás carregadeiras e
caçambas pertencentes ao município de Dona Inês/PB para beneficiar proprietários de áreas rurais em troca de votos e concessão de auxílios financeiros em
desconformidade com a lei eleitoral) (abuso de poder político/econômico e conduta vedada – art. 73, IV e 10 da Lei das Eleições);
c) distribuição de materiais de construção às vésperas do pleito de 2016 (abuso de poder político/econômico e captação ilícita de sufrágio);
d) cessão e utilização de bens, materiais e servidores público em benefício de candidatos e coligação (abuso de poder político/econômico e conduta vedada); e;
e) oferta de combustível (gasolina) em troca de voto e utilização de servidor público (abuso de poder político/econômico, captação ilícita de sufrágio e conduta
vedada).
A alegação dos autores acentua que as práticas apontadas como ilícitas foram orquestradas em prol das candidaturas vitoriosas aos cargos de prefeito, vice-prefeito e
vereador, respectivamente, JOÃO IDALINO DA SILVA (com diferença de apenas 33 (trinta e três) votos em relação ao segundo colocado), DEMÉTRIO
FERREIRA DA SILVA e JOSÉ IGOR DENIZAR COSTA DA SILVA, tendo delas participado ao lado do prefeito, à época, ANTÔNIO JUSTINO DE ARAÚJO
NETO, a Secretária de Saúde, TARCIANA LUCENA NUNES DE CARVALHO, a Secretária de Assistência Social e Habitação, SOFIA ULISSES SANTOS
QUEIROZ e a Secretária Adjunta de Assistência Social e Habitação, CALINY MUNIZ DE LIMA.
Pugnaram ao final pela procedência da ação com a condenação dos investigados às cominações legais, bem como à cassação do registro ou diploma com decretação
de inelegibilidade, pelo prazo de 08 (oito) anos, dos candidatos eleitos, JOÃO IDALINO DA SILVA, DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA e JOSÉ IGOR
DENIZAR COSTA DA SILVA.
Juntaram aos autos a documentação contida nas fls. 51/330, (Vols. 1 e 2), incluindo mídia encartada na contracapa do Vol. 1.
Devidamente notificados, os investigados juntaram defesa (fls.339/361– Vol. 2 e original fls. 4106/4128 – Vol. 21) requerendo, em preliminar, a ilegitimidade ativa
do PMDB e a inépcia da inicial, tendo, no mérito, pugnado pela improcedência da presente AIJE, sob o argumento da inexistência da prática dos atos ilegais
dispostos na inicial, relativos à Administração Municipal de Dona Inês/PB, ou a obtenção de qualquer benefício apontado na pela inaugural, com a juntada de
documentação (fls. 370/4.104 – Vols. 2 a 21).
Após a devida especificação quanto à produção de provas pleiteadas pelas partes investigantes, destacando-se a relação entre elas e o fato referido, (despacho de fl.
4.146 – Vol. 21 e petição de fls. 4.151/4154 – Vol. 21) foi designada e realizada audiência (fls. 4169/4170 – Vol. 21 – com mídia audiovisual na contracapa do Vol.
47), oportunidade na qual foram ouvidos, Severino Teixeira Muniz Júnior, Maria do Rosário de Sousa, Elionardo Luiz da Silva e Graciane Teófilo da Silva
(ouvidos como testemunha) e Edivaldo Paulino da Silva (ouvido como declarante), bem como solicitadas diligências pelas partes e pelo MP e deferidas pela
autoridade judiciária.
Juntada da documentação requerida pelo MP zonal, (documentação de fls. 4.179/9.024 – Vols. 22 a 45) consistente em: cópia do cadastro dos beneficiários do
Programa Bolsa Família (de 2013 a 2016), cópia do cadastro das gestantes (de 2013 a 2016), cópia do cadastro dos beneficiários dos programas instituídos em razão
da estiagem (seca) ocorrida no município de Dona Inês (de 2013 a 2016), cópia da Lei Orgânica daquela municipalidade, cópia das Leis de Diretrizes Orçamentárias
e Orçamentária Anual (de 2013 a 2016), cópia da Lei Municipal que autoriza o poder Executivo a conceder ajudas a pessoas carentes (referentes aos anos de 2013 a
2016) e cópia da documentação relativa à criação, composição e instalação do Conselho Gestor de Assistência Social do Município de Dona Inês/PB, previsto no
inciso IV do artigo 16 da Lei Federal n.º 8.742/1993 (Lei Orgânica da Assistência Social), bem como anexada uma cópia do procedimento especial, em desfavor de
TARCIANA LUCENA NUNES, Secretária Municipal de Saúde, (fls. 9.026/9.032 – Vol. 45), instaurado sob a alegação de aquela investigada teria cedido um
compressor de ar pertencente ao Hospital Municipal de Dona Inês/PB, para encher bolas a serem utilizadas em um evento político-partidário, em prol da candidatura
do investigado JOÃO IDALINO DA SILVA, candidato ao cargo de prefeito.
Em despacho de fl. 9034 (Vol. 45) foi designada a realização de nova audiência, com vistas à oitiva das seguintes testemunhas referidas (fls. 9.052/9.052v com mídia
anexada à fl.9.052): José Elinaldo Rodrigues da Silva, Clóvis Davino de Araújo, Cícero José da Silva (Cícero de Raminho), Pedro Augusto de Araújo, José
Martinho da Cruz (Utinho), José Sérgio de Oliveira (Sérgio), José Augusto de Araújo (Zezinho), Sérgio da Silva Teófilo, Rosinete Pereira da Silva, Viviane
Trajano Bezerra e Micélio Manoel da Silva.
As alegações finais foram apresentadas às fls. 9.053/9.063 (Vol. 45), pelos Investigantes e fls. 9.066/9.086 (Vol. 45), pelos Investigados, tendo o MP zonal requerido
a realização de novas diligências, fls. 9.089/9.098 (Vol. 45), com deferimento pelo Juiz Eleitoral, no despacho de fl.9.098v, ato que gerou o ajuizamento, pelos
Investigados, de pedido de reconsideração (fls. 9.101/9.105 – 9.159/9.161- Vol. 45) ao aceno de que, uma vez encerrada a fase instrutória e por não serem
documentos novos, feriria o contraditório e ampla defesa, embora intimados para falarem da nova documentação juntada, cumulado com pedido de suspensão da
tramitação da presente AIJE até o fim da instrução da AIME nº 296-95/2016, sob o argumento de que ambas as ações tratam dos mesmos fatos.
Na decisão de fl. 9.162 (Vol. 45) foi mantido o deferimento das diligências requeridas pelo MP, sob o fundamento de que a atuação do parquet, no caso em exame, é
na condição de fiscal da ordem jurídica e não de parte, tendo sido assegurado o exercício do contraditório e da ampla defesa, através da intimação das partes para
vista dos autos.
Intimadas para retificação ou ratificação das razões finais, consta às fls. 9.505/9.521 (Vol. 47) por João Idalino da Silva e Demétrio Ferreira da Silva, a juntada, pelos
Investigados, de alegações finais relativas à AIME nº 296-95.2016.6.15.0014 e não ao processo em julgamento, tendo sido anexadas às fls. 9.527/9.569, alegações
finais ofertadas pelo MP, nas quais pugna pela procedência parcial deste feito.
Após a prolação da sentença (fls. 9.570/9.590 – Vol. 47), os Investigantes manejaram recurso (fls.9.593/9.610) pontuando que a prática dos ilícitos eleitorais,
apontados na inicial, foi comprovada durante a instrução do processo, tendo sido demonstrada a gravidade necessária diferença de 33 (trinta e três) votos em relação
ao segundo colocado para o cargo de prefeito) autorizando a imputação, aos investigados, JOÃO IDALINO DA SILVA, DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA e
JOSÉ IGOR DENIZAR COSTA DA SILVA, da pena de cassação de seus diplomas, bem como a decretação de inelegibilidade, por 08 (oito) anos, dos três
candidatos eleitos e a ANTÔNIO JUSTINO DE ARAÚJO NETO, TARCIANA LUCENA NUNES DE CARVALHO, SOFIA ULISSES SANTOS QUEIROZ
e CALINY MUNIZ DE LIMA.
Já os Investigados, ANTÔNIO JUSTINO DE ARAÚJO NETO, JOÃO IDALINO DA SILVA, DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA e TARCIANA LUCENA
NUNES, em suas razões recursais (fls. 9.612/9.616) alegam a inexistência de prova no que se refere à prática da conduta vedada consistente na utilização de cilindro
de ar do Hospital de Dona Inês, com vistas à utilização no enchimento de balões em comício de encerramento dos candidatos JOÃO IDALINO DA SILVA e
DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA, em razão de que o equipamento não era de propriedade daquela edilidade e sim do candidato a Prefeito (João Idalino) e
ainda que não houve utilização de servidores municipais, durante o horário de expediente, em serviços no comitê de campanha dos Investigados.
As partes foram intimadas, mas não apresentaram contrarrazões aos recursos (fl.9618v – Vol. 47).
O processo em comento, inicialmente, foi distribuído ao Juiz Paulo Wanderley Câmara (fl. 9.624) que averbou sua suspeição (fl. 9.625), com posterior redistribuição
a este Relator, que ao receber os autos, determinou a correta numeração das páginas (fl. 9.627) e a remessa ao Procurador Regional Eleitoral, que ofertou parecer
(fls. 9.631/9.713) pelo não conhecimento do apelo manejado pelos Investigados, em face da sua intempestividade, e pelo provimento parcial do recurso dos
Investigantes, uma vez que rechaçou a prática de contratação indiscriminada de servidores por excepcional interesse público e comissionados, durante o ano de
2016, distribuição gratuita de serviços consistente no uso de tratores, escavadeiras, patrol, pás carregadeiras e caçambas pertencentes ao Município de Dona Inês/PB,
distribuição de materiais de construção às vésperas do Pleito de 2016 e oferta de combustível (gasolina) em troca de voto e utilização de servidor público.
Quanto à alegação de cessão e utilização de bens, materiais e servidores público em benefício de candidatos e coligação, a manifestação ministerial ratifica a
sentença guerreada, no sentido da aplicação da multa pelo reconhecimento da prática da conduta vedada estatuída no art. 73, I e III da Lei das Eleições, sem no
entanto, vislumbrar a ocorrência de abuso de poder político e econômico.
Ó
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No que pertine à distribuição gratuita de bens, valores e benefícios para a população da municipalidade em tela, o Órgão ministerial defende a comprovação do fato,
que no seu entendimento, ocorreu em descompasso com a legislação eleitoral e com o intuito de obtenção de votos, reconhecendo, desse modo, a prática da conduta
vedada prevista no art. 73, §10 da Lei das Eleições e a existência de abuso de poder político e econômico, com gravidade suficiente para comprometer o equilíbrio
do pleito, ambos em relação ao ponto já mencionado, bem como aplicando aos recorridos, ANTÔNIO JUSTINO DE ARAÚJO NETO, JOÃO IDALINO DA
SILVA, DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA E SOFIA ULISSES SANTOS QUEIROZ, as penalidades previstas nos §§4º e 5º do art. 73 da Lei nº 9.504/97 e
art. 22, XIV da LC nº 64/90, cassação dos diplomas de JOÃO IDALINO DA SILVA e DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA.
Em face deste Relator encontrar-se no exercício da Presidência desta Corte, no período de 15.08.2019 a 01.09.2019, os autos foram redistribuídos, na forma
regimental, ao Exmo. Des. Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho, tendo retornado à minha relatoria em 03.09.2019.
Após o exame necessário dos autos, determinei sua inclusão em pauta para julgamento.
VOTO
Preliminar de intempestividade do recurso dos Investigados suscitada pela Procuradoria Regional Eleitoral.
O eminente Procurador aventou a preliminar de intempestividade das razões recursais dos Investigados, ao aceno de que a publicação da decisão deu-se em
30.08.2018 e o recurso só foi protocolizado em 04.09.2018, fora do prazo legal de 03 (três) dias.
Quanto à contagem de prazo nesta Justiça especializada, em recente decisão, da lavra do eminente Juiz Arthur Monteiro Lins Fialho, esta Corte, à unanimidade,
entendeu que, à exceção da contagem dos prazos durante o microprocesso eleitoral, esta deve ser pautada em observância ao regramento previsto no Código de
Processo Civil (art. 219), ou seja, somente os dias úteis devem ser computados.
Cito o precedente:
“RECURSO. CONTAGEM DO PRAZO EM DIAS ÚTEIS FORA DO PERÍODO ELEITORAL. ART. 219 DO CPC. PLENA
COMPATIBILIDADE SISTÊMICA. REVISÃO DO ART. 7º DA RESOLUÇÃO Nº 23.478/2016 DO TSE. PRELIMINAR
DE INTEMPESTIVIDADE AFASTADA. MÉRITO. TRANSFERÊNCIA DE DOMICÍLIO ELEITORAL. APRESENTAÇÃO DE
DOCUMENTOS COMPROBATÓRIOS DE VÍNCULOS COM O MUNICÍPIO. PROVIMENTO.” (sem grifo no original)
( ACÓRDÃO Nº 97/2019 - Recurso Eleitoral Nº 73-90.2019.6.15.0062 - Classe 30, em 22.09.2019)
Pois bem, em razão da publicação da sentença, no DJE, ter sido no dia 30.08.2019 (quinta-feira) (fl. 9.591) e levando-se em conta apenas os dias úteis, a expiração
do tríduo legal, ocorreu no dia 04.09.2019, exatamente no dia do manejo do apelo (fls. 9.612/9.616), razão pela rechaço a preliminar arguida e conheço do recurso
interposto pelos investigados, ANTÔNIO JUSTINO DE ARAÚJO NETO, JOÃO IDALINO DA SILVA, DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA e TARCIANA
LUCENA NUNES.
Mérito
As alegações recusais dos Investigados apoiam-se na inexistência de prova da prática da conduta vedada reconhecida na sentença recorrida, consistente na utilização
de cilindro de ar do Hospital de Dona Inês em benefício da campanha dos candidatos vitoriosos no pleito de 2016 em Dona Inês/PB.
Já o recurso dos Investigantes firmou-se na alegação da prática das mesmas condutas descritas na exordial, a saber:
a) contratação indiscriminada de servidores por excepcional interesse público e comissionados, durante o ano de 2016 (abuso de poder político/econômico e conduta
vedada);
b) distribuição gratuita de bens, valores e benefícios para a população do município de Dona Inês/PB (utilização de tratores, escavadeiras, patrol, pás carregadeiras e
caçambas pertencentes ao município de Dona Inês/PB para beneficiar proprietários de áreas rurais em troca de votos e concessão de auxílios financeiros em
desconformidade com a lei eleitoral) (abuso de poder político/econômico e conduta vedada – art. 73, IV e 10 da Lei das Eleições);
c) distribuição de materiais de construção às vésperas do Pleito de 2016 (abuso de poder político/econômico e captação ilícita de sufrágio);
d) cessão e utilização de bens, materiais e servidores público em benefício de candidatos e coligação (abuso de poder político/econômico e conduta vedada) e;
e) oferta de combustível (gasolina) em troca de voto e utilização de servidor público (abuso de poder político/econômico, captação ilícita de sufrágio e conduta
vedada).
Considerando a complexidade da matéria e a pluralidade de fatos devolvidos a esta Corte nos recursos dos Investigados e Investigantes, passo a examinar
cada um deles separadamente para melhor compreensão da fundamentação exposta por este Relator.
1. Contratação indiscriminada de servidores por excepcional interesse público e comissionados, durante o ano de 2016, em troca de votos.
No ponto, os Investigantes afirmam em seu recurso que restou comprovada a prática de abuso de poder político e econômico (art. 22, XIV da LC nº 64/90) e da
conduta vedada prevista no art. 73, V da Lei nº 9.504/97) referente a esse ponto, em benefício dos candidatos, João Idalino da Silva (ao cargo de prefeito) e Demétrio
Ferreira de Lima (ao cargo de vice-prefeito), capitaneados pelo uso da máquina pública (Prefeitura de Dona Inês) administrada por Antônio Justino de Araújo Neto,
com o acervo probatório confirmado através da documentação juntada aos autos e extraída do Sistema SAGRES On LINE do TCE/PB que teria demonstrado o
aumento de contratações de servidores, por excepcional interesse público e comissionados, cujo o acréscimo teria sido de R$ 86.365,42 (oitenta e seis mil, trezentos
e sessenta e cinco reais e quarenta e dois centavos) para R$ 114.215,67 (cento e catorze mil, duzentos e quinze reais e sessenta e sete centavos) entre os meses de
janeiro a agosto de 2016, com a contratação de 05 (cinco) servidores durante o período vedado.
Ressaltaram, por fim, que apesar do aporte de servidores ter sido em pequena escala, a diferença de votos entre o candidato eleito e o segundo colocado foi de apenas
33 (trinta e três) votos, o que em sua ótica, já seria suficiente para caracterizar a gravidade necessária.
Inicialmente, há de se examinar o fato, à luz da vedação imposta no inciso V do art. 73 da Lei das Eleições, in verbis:
Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a
igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:
...
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V – nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa, suprimir ou readaptar vantagens
ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e, ainda, ex officio, remover, transferir ou
exonerar servidor público, na circunscrição do pleito, nos três meses que o antecedem e até a posse dos
eleitos, sob pena de nulidade de pleno direito, ressalvados:
a) a nomeação ou exoneração de cargos em comissão e designação ou dispensa de funções de confiança;”
(sem grifo no original)
De plano, já se identifica, no teor da alínea “a”, do texto legal mencionado que a vedação prevê como exceção à regra do caput do inciso V, a nomeação ou
exoneração de servidores exercentes de cargo em comissão ou a designação ou dispensa de função comissionada, ficando o agente público com a discricionariedade
de agir conforme o que melhor lhe parecer para sua gestão, o que respalda as 05 (cinco) contratações de comissionados (fl.343) mencionadas.
Em outro giro, na documentação lançada aos autos oriunda do Sistema SAGRES do TCE/PB, observa-se que o período concernente aos meses de janeiro a agosto
(período citado na exordial) dos anos de 2015 e 2016, na realidade, ocorreu uma diminuição no número de servidores comissionados, conforme muito bem posto,
tanto na decisão recorrida como na manifestação do ilustre Procurador Regional Eleitoral, vazadas nos seguintes termos:
Trecho da sentença:
“Ademais, no caso concreto, o que se verifica, diversamente do que fora apontado pelos autores, foi um real
decréscimo no número tanto de servidores comissionados quanto de contratados por excepcional interesse
público a partir de janeiro de 2016 em relação ao ano anterior. (…) Percebe-se, também, que em todos os
anos, há sempre um aumento no número de contratados por excepcional interesse público após o mês de
janeiro, sem que isto aponte, ao menos, a priori, para a natureza eleitoreira das contratações”.(fl. 9.578v)
“A partir dos dados acima colacionados, percebe-se que não houve uma significativa variação entre as
nomeações para cargos de confiança e as contratações por excepcional interesse público, no Município de Dona
Inês/PB, no ano de 2016.(…) A título ilustrativo, de janeiro a agosto de 2016 (período abordado na inicial), o
número de comissionados subiu de 49 para 54, enquanto que 16 servidores foram contratados por excepcional
interesse público. No mesmo período, o número de servidores efetivos subiu de 222 para 232. (…) Tais dados
não evidenciam a prática de abuso do poder político e/ou econômico. Outrossim, como destacado pelo
magistrado a quo (fl. 9.578v.), é perceptível, em especial em municípios menores, um aumento nos
contratados por excepcional interesse público após o mês de janeiro”. (fls.9.642 e 9.644)
Traçando um comparativo entre os meses de janeiro a agosto dos anos de 2015 e 2016, no tocante ao montante financeiro utilizado nas nomeações e contratações,
bem como em relação ao número de contratações, por excepcional interesse público, e de cargos comissionados, é possível a extração de fundamentos que
afastam a incidência de qualquer ilícito eleitoral, senão vejamos:
Janeiro - 51 - 49
Fevereiro - 64 - 49
Março - 64 - 49
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Abril - 61 - 49
Maio - 61 - 52
Junho - 61 - 53
Julho - 58 - 53
Agosto - 58 - 54
Janeiro 01 - 00
Fevereiro - 32 - 22
Março - 39 - 22
Abril 38 - 24
Maio - 40 - 23
Junho - 40 - 18
Julho - 41 - 18
Agosto - 42 - 16
Desse modo, em harmonia com a visão do parecer ministerial, destaco que não merece guarida a argumentação dos Investigantes, no tocante ao ponto posto em
apreciação, uma vez que se vislumbra nítida divergência entre a tese sustentada na irresignação e a realidade que permeia os autos, autorizando a constatação de
inexistência da prática da conduta vedada prevista no inciso V do art. 73 da Lei das Eleições, bem como de abuso poder político e econômico, (art. 22, XIV da LC nº
64/90) consistente na alegação de contratações indiscriminadas de servidores, por excepcional interesse público e comissionados, durante o ano de 2016.
2) Distribuição gratuita de serviços – utilização de tratores, escavadeiras, patrol, pás carregadeiras e caçambas pertencentes ao município de Dona Inês/PB
para beneficiar proprietários de áreas rurais em troca de votos e concessão de auxílios financeiros em desconformidade com a lei eleitoral (abuso de poder
político/econômico e conduta vedada – art. 73, IV e §10 da Lei das Eleições).
2.1. Quanto a esse primeiro tópico (utilização de tratores, escavadeiras, patrol, pás carregadeiras e caçambas pertencentes ao município de Dona Inês/PB
para beneficiar proprietários de áreas rurais em troca de votos) sustentam os Investigantes a utilização de maquinário da edilidade (tratores, escavadeiras, patrol,
pás carregadeiras e caçambas) e do PAC, com vistas a beneficiar proprietários de áreas rurais, eleitores dos investigados (JOÃO IDALINO DA SILVA, DEMÉTRIO
FERREIRA DE LIMA e JOSÉ IGOR DENIZAR COSTA DA SILVA).
Enfatizam que contrariamente ao que foi aduzido pelos Investigados, de que só houve utilização de máquinas da municipalidade para construir um campo de futebol,
com a devida autorização de João Paulino de Andrade, para a retirada do aterro, sem ônus para a Prefeitura, tendo juntado, como prova do alegado, apenas um termo
de doação de terra para o gramado do campo de futebol do Sítio Brejinho/Lagoa do Braz, assinado pelo suposto autor da autorização (fl. 4.048), pontuam que
durante o ano de 2016 houve serviços de barreiros, que teriam sido confirmados pelas testemunhas, inclusive alguns sem o cadastramento adequado na Prefeitura de
Dona Inês, no Sítio Lagoa do Braz de João Paulino de Andrade (ex-vereador), Sítio Lagoa do Braz de Clóvis Davino, Assentamento Tanques de Luiz Moreira de
Araújo (Adeval), Sítio Brejinho de Pedro Augusto de Araújo e Sítio Lagoa do Braz de Cícero de Raminho e Raminho Pedra (fl.24).
Imperioso consignar que a documentação juntada aos autos pelos Recorrentes, com a qual pretendem fazer prova do fato apontado (fotografias (fls.277/280)
mostrando apenas maquinário em propriedades, sem a comprovação da data e localidade em que foram produzidas, nem tampouco a identificação de logomarca da
edilidade, apenas com a indicação em uma das fotografias, sem registro do local no qual foi fotografada, uma edificação intitulada “Unidade Básica de Saúde”
(fl.280) não tem o condão de atribuir veracidade à narrativa explicitada pelos autores da demanda.
Depreende-se dos autos que foram executados serviços em barreiros, durante o ano de 2016, em prol dos seguintes moradores de Dona Inês:
Eliomar Fabrício de Araújo - solicitado em 20.02.16 – realizado em 10.08.16 , fl.5275 (Sítio Brejinho);
Maria do Socorro Andrade Silva - solicitado em 26.02.2015 – realizado em 22.07.16, fl.5281 (Sítio Lagoa do Braz);
Luiz Moreira de Araújo - solicitado em 28.07.16 – realizado em 01.09.16, fl. 5278 (Assentamento Tanques);
Ivonete Bento da Silva – solicitado em 08.08.16 – realizado em 18.08.16, fl. 5269 (Sítio Miguel);
Adriano Luiz de Oliveira - solicitado em 08.08.16 – realizado em 16.08.16, fl. 5272 (Sítio Tapuio) e
João Emiliano - solicitado em 15.08.16 – realizado em 15.08.16, fl. 5295 (Sítio Olho D’Água).
Na perspectiva de confrontamento dos dados acima, em relação ao ano de 2015, quanto à execução de serviços dessa natureza pela Prefeitura de Dona Inês, é
extraído do feito em epígrafe (fls. 4.021/4.023) a execução de 34 (trinta e quatro) serviços em barreiros em 2015, ou seja, em 2015 o número foi superior em 28
(vinte e oito) execuções desses serviços, em relação ao ano do pleito, sendo verificado como beneficiário, no ano de 2016, de acordo com a relação enviada ao Juízo
Eleitoral da 14ª zona, apenas o nome de Luiz Moreira de Araújo, fl. 5278 (Assentamento Tanques) daqueles declinados na exordial.
Diante da constatação da execução dos mencionados serviços e com o escopo de examinar os dados colhidos em uma contextualização de natureza eleitoral, os
depoimentos das testemunhas e declarante arrolados pelos Investigantes não os socorrem, tendo em vista não demonstrarem extreme de dúvidas, a finalidade
eleitoral quando da entrega das obras em barreiros, aos eleitores beneficiários, valendo ressaltar, inclusive, o fato de que, em função do período de estiagem, sofrido
por aquela municipalidade, nada havia de anormal na atuação do Poder Público Municipal, nas localidades que careciam de serviços atinentes ao armazenamento de
água.
Maria do Rosário de Sousa (testemunha) - (mídia na contracapa do vol. 47): moradora do Sítio Brejinho, que sabe informar que duas máquinas da
Prefeitura de Dona Inês trabalharam por dois dias consecutivos, na construção de barreiros para armazenamento de água em propriedades privadas,
durante período de estiagem, sendo uma de um morador conhecido por Pedro, servidor público municipal, e nas terras do ex-vereador João Paulino, nos
dias 09 e 10.09.2016. Que ouviu dizer, sem saber identificar os autores dos comentários, que as máquinas só seriam liberadas para a execução do serviço se
o proprietário fosse solicitar ao prefeito, Antônio Justino, se fizesse um cadastro e se aliasse a ele nas eleições. Que seu pai de 79 anos foi conversar com o
então prefeito para pedir o benefício, mas que recebeu como resposta o argumento de que o maquinário estaria quebrado, embora a mesma tenha
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fotografado máquinas da edilidade executando trabalhos de barreiros, não sabendo dizer se o trabalho executado na propriedade do Sr. Pedro e nas demais
foi em troca de votos.
Edivaldo Paulino da Silva (declarante) - (mídia na contracapa do vol. 47), morador do Sítio Lagoa do Braz, afirmou que trabalhou para a coligação dos
Investigantes como militante. Confirmou que viu máquinas da Prefeitura trabalhando nas propriedades rurais do ex-vereador, João Paulino de Andrade,
(limpeza de barreiro), do servidor público municipal, Pedro Augusto (conhecido como Pedro da oficina), do pedreiro Cícero de Raminho e do comerciante,
Clóvis Davino, no período de agosto e setembro de 2016, com vistas à construção de barreiros, durante o período de 3 a 4 horas em cada propriedade. Que
sabia que para ter acesso ao benefício deveria preencher um cadastro, mas que só tem conhecimento que os quatro eleitores, que eram apoiadores políticos
do então Prefeito, Antônio Justino, foram contemplados. Que seu sogro, seu primo e vizinhos que não o apoiavam, apesar de requererem a execução do
trabalho das máquinas da Prefeitura de Dona Inês, não foram atendidos. Que o ano de 2016 foi de estiagem e que antes do período eleitoral viu máquinas
trabalhando em estradas. Não tem elemento concreto para confirmar que os serviços das máquinas da Prefeitura foram feitos em troca de voto. Que os
motoristas das máquinas eram os servidores públicos, Utinho, Sérgio e Zezinho. E que só sabe informar sobre serviços realizados na localidade onde reside
(Sítio Lagoa do Braz).
Por sua vez, contrariando a versão do declarante Edivaldo Paulino da Silva, não se pode extrair do teor do depoimento da testemunha Clóvis Davino de Araújo,
(mídia da fl. 9.052), com convicção, que este era correligionário do prefeito à época, nem tampouco que o serviço foi executado em 2016, uma vez que a testemunha
afirma que embora tenha ido pessoalmente em busca do pleito, não lembra quando se deu a obra de construção do barreiro. Que antes da obtenção do referido
benefício, em período anterior ao ano em tela, já tinha sido beneficiado com o serviço de corte de terra e que havia a necessidade do preenchimento de um cadastro,
a fim de que houvesse a concessão do benefício atinente à utilização das máquinas, sem que tenha havido nenhuma proposta de obtenção de voto em troca do
alcance do seu pleito e, ainda, tendo sido registrado por ele que tinha conhecimento de que João Paulino de Andrade doou areia para a construção de um campo.
Pontue-se que não consta o nome desse eleitor, na relação dos beneficiários do ano de 2016, já mencionada anteriormente.
Corroborando com o depoimento da testemunha acima mencionada, o operador de uma das máquinas citadas (contratado da Prefeitura), José Martinho da Cruz
(conhecido por Utinho - mídia de fl. 9.052), em seu depoimento, asseverou que o serviço, por ele executado, na propriedade do Sr. Clóvis Davino consistiu na
construção de um pequeno barreiro, autorizado pelo Secretário Polaco, após o devido cadastro na Prefeitura de Dona Inês, através da Secretaria de Agricultura, com
um servidor chamado Ailton. Que não fez nenhum serviço na propriedade de Cícero de Raminho porque tinha muita água.
O outro operador de máquinas, José Sérgio de Oliveira, servidor público efetivo da Prefeitura de Dona Inês, afirmou que só operava uma máquina do PAC, tendo
trabalhado até antes do mês de junho, em razão da proibição legal e que executou um serviço consistente na retirada de areia da propriedade do Sr. João Paulino que
doou o mencionado material para a construção de um campo de futebol na comunidade Brejinho, fato que foi devidamente confirmado pelo outro operador de
máquina (patrol), José Augusto de Araújo (conhecido por Zezinho), que além de ter confirmado que as máquinas trabalhavam em todos os anos e não só no ano das
eleições, asseverou também ter realizado o serviço de terraplanagem no referido campo, com o material (areia) doado por João Paulino. Que não trabalhava em
barreiros, mas sabia que as pessoas deveriam fazer um cadastro na Prefeitura para solicitar o benefício.
A testemunha Cícero José da Silva (conhecido como Cícero de Raminho - mídia de fl. 9.052), que teria sido um dos beneficiários dos barreiros, prestou um
depoimento de cujo teor se extrai que detém menos de 4 hectares de terra, na zona rural (Sítio Lagoa do Braz). Que a municipalidade possui um programa social que
tem como escopo auxiliar aos agricultores e que apesar de ter pleiteado a realização de um serviço (limpeza de barragem) em 2015, este não foi obtido em sua
plenitude, em razão do fato de que no momento em as máquinas da Prefeitura foram disponibilizadas (meados de julho/2016), por intermédio do Secretário Polaco, a
quantidade de água já existente impediu a execução integral do trabalho. Que sabe informar que todos os anos o maquinário da edilidade realiza serviço de corte de
terras. Que o citado secretário não tratou de nenhum outro assunto diverso da concessão do benefício.
E, finalmente, a testemunha referida, Pedro Augusto de Araújo, servidor público municipal (auxiliar administrativo), morador do Sítio Brejinho, afirmou que no ano
de 2016 trabalhou como operador de máquinas da Prefeitura de Dona Inês, na limpeza e construção de barreiros. Que possui 1,25 hectares de terra. Não sabe dizer se
para a concessão do benefício era necessário um cadastro, mas como era servidor da Prefeitura, embora sem cadastro, pediu autorização ao Secretário da
Infraestrutura, Carlos Polaco, para executar algumas horas de serviço em sua propriedade (em torno de 4 a 5 horas) com o maquinário da edilidade, no final de
semana, tendo sido atendido.
Observa-se que todos os depoimentos foram uníssonos no tocante à confirmação de que o ano de 2016 foi de estiagem, no município de Dona Inês/PB, tendo sido tal
fato ratificado, em razão da edição de decretos do Governo do Estado (n.ºs 36.253/2015(fl.4.066) e 36.633/2016(fl.4.067), bem como pelo Prefeito da
municipalidade citada (n.ºs 1.276/2015(fls.4.089/4.090), 1.286/2016 (fls. 4.091/4.092) e 1.302/2016 (fls. 4.103/4.104) os quais decretaram Situação de Emergência.
A legitimidade das ações realizadas pelo governo daquela edilidade é amparada pelo fato de que o período no qual foram executados os serviços de barreiros estava
dentro do lapso temporal estipulado nos decretos que tratavam da questão de estiagem, a saber:
-Decretos municipais:
Também como elemento embasador da constatação da ausência de ilicitude da administração municipal com viés eleitoral e com o intuito de salvaguardar as ações
públicas implementadas em Dona Inês, no combate à estiagem, o gestor oficiou o Ministério Público Eleitoral, com vistas à fiscalização na execução dos
“beneficiamentos e melhorias nas vertentes para armazenamento de água para o consumo humano e animal” (Ofício GP/Nº 152/2016 – fl. 4.047 – Vol. 21)
Por todo o exposto, entende este Relator que, quanto ao fato examinado - Distribuição gratuita de serviços – utilização de tratores, escavadeiras, patrol, pás
carregadeiras e caçambas pertencentes ao município de Dona Inês/PB para beneficiar proprietários de áreas rurais em troca de votos – não foi demonstrado nenhum
viés eleitoral (entrega do benefício condicionada a voto no candidato apoiado pelo então Prefeito), não restando configurada a conduta vedada estatuída no art. 73,
IV da Lei das Eleições, nem tampouco o abuso de poder político e a captação ilícita de sufrágios declinados na peça inaugural da presente ação, razão pela qual em
total consonância com a manifestação do Procurador Eleitoral, rechaço esta alegação.
2.2. No que se refere ao segundo fato deste tópico - concessão de auxílios financeiros em desconformidade com a lei eleitoral - é defendido nas razões recursais
dos Investigantes que o então prefeito, Antônio Justino de Araújo Neto, a Secretária de Assistência Social e Habitação, Sofia Ulisses Santos Queiroz e a Secretária
Adjunta de Assistência Social, Caliny Muniz de Lima, praticaram a conduta vedada pelo art. 73, §10, da Lei das Eleições e também abuso de poder, em favor dos
candidatos Investigados João Idalino da Silva, Demétrio Ferreira de Lima e José Igor Denizar Costa da Silva, através da distribuição gratuita de bens e valores,
durante o ano de 2016, sem amparo em programa social ou em estado de calamidade/emergencial, com gravidade suficiente para macular a legitimidade do pleito.
Destacam que a Lei Municipal n.º 336/2001 não institui um programa social específico capaz de identificar as ações de governo no âmbito da assistência social, vez
que seu conteúdo é uma mera cópia da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, sem critérios objetivos definidos previamente para a concessão de benefícios
sociais, e que apenas autoriza o Poder Executivo a realizar despesas com doações às pessoas em situação de vulnerabilidade social.
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Afirmam, ainda, que os decretos de calamidade emitidos pelo Estado e pelo Município não se prestam a justificar a concessão de doações e que vários beneficiários
listados nos empenhos emitidos em decorrência das doações não são pessoas carentes, conforme se extrai dos depoimentos de Edivaldo Paulino da Silva, Severino
Teixeira Muniz Júnior e Sérgio da Silva Teófilo.
Finalizam sustentando que a concessão irregular dos benefícios em município de pequeno porte, aliada à ínfima diferença de votos entre os candidatos, revelam um
quadro abusivo capaz de atrair as sanções de cassação de diplomas dos candidatos beneficiados e multa, além da declaração de inelegibilidade.
Inicialmente, no que se refere à caracterização da conduta vedada pelo art. 73, §10º, da Lei das Eleições, penso ser importante trazer à colação o teor da norma:
Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a
igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais: (…).
§ 10. No ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios
por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de
programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o
Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa.
Ao discorrer sobre tal proibição, José Jairo explica que a norma visa “evitar a manipulação dos eleitores pelo uso de programas oportunistas, que, apenas para
atender circunstâncias políticas do momento, lançam mão do infortúnio alheio como tática deplorável para obtenção de sucesso nas urnas”. (GOMES. José Jairo.
Direito Eleitoral – 12ª Ed. São Paulo: Atlas. 2016. p. 759).
No presente caso, a distribuição de valores/benefícios aos eleitores de Dona Inês/PB é matéria incontroversa, restando perquirir se essa ação amparada com verbas
públicas foi realizada com respaldo em alguma das hipóteses autorizadas pela norma, quais sejam: a) calamidade pública/estado de emergência; b) programas sociais
previstos em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior.
No que se refere à existência de calamidade/estado de emergência apta a autorizar a ação pública, já adianto que, no meu sentir, o permissivo legal não se presta a
liberar a concessão indiscriminada de bens e serviços sem qualquer relação com o acontecimento que motivou o decreto de calamidade.
Abraçando essa mesma trilha, realço a observação enfática contida no julgamento do RE nº 210-96, (mantido pelo TSE, cfe. decisão monocrática no Respe 210/96)
onde o TRE/RN consignou que “mesmo nos casos de calamidade e estado de emergência, ou em face de programas sociais autorizados em lei, a especificidade da
legislação eleitoral ainda exige redobrada atenção à execução financeira e principalmente administrativa daquela distribuição gratuita de bens e serviços,
conforme se pode inferir da parte final do já referenciado §10 do art. 73 da Lei 9.504/97, não sendo permitido ao gestor público, mesmo nesses casos excepcionais,
abusar do permissivo legal, realizando uma distribuição indiscriminada de benefícios [...]”.
Fixada essa premissa inicial, verifico que ao contrário da conclusão a que cheguei ao apreciar o tópico anterior, relativo à construção de barreiros, as doações de bens
e valores combatida pelos Recorrentes não encontra guarida nos decretos juntados aos autos.
Isso porque, a leitura de tais decretos2 demonstra que o Município viveu um período de estiagem que causou danos às plantações e à criação animal, de modo a
restar justificada a assistência dada à população mediante construção de barreiros (enfrentado no tópico anterior), carros pipas e soluções para manutenção da
alimentação cotidiana dos cidadãos.
Outrossim, conforme bem pontuado no parecer ministerial, “os referidos decretos autorizaram a abertura de crédito extraordinário, a convocação de voluntários
para reforçar as ações de resposta ao desastre natural e a dispensa de licitações ou contratos de aquisição de bens e serviços, de prestação de serviços e de obras
relacionadas com a resposta ao desastre.”
Todavia, tais decretos não poderiam veicular – e efetivamente não veicularam – nenhuma autorização para distribuição de bens e valores, não sendo crível
concluir que a escassez de água decorrente da estiagem sirva de justificativa plausível para distribuição de auxílios dissociados da fome e da sede, tais como viagens,
óculos, eventos culturais, materiais escolares, medicamentos, reparos em residência, aluguel e outros, que também foram objeto da distribuição analisada nos autos.
A situação emergencial vivenciada pelo Município, portanto, não pode servir de justificativa à massiva distribuição de auxílios financeiros realizada no ano de 2016
em Dona Inês/PB.
Já no que se refere à existência de programas sociais previstos em lei específica e em execução orçamentária no exercício anterior, registro que o e. Tribunal
Superior Eleitoral já assentou que somente a existência cumulativa de lei de criação do programa social e de previsão orçamentária específica atende à
exigência do art. 73, § 10, da Lei das Eleições.
Cito como exemplo do entendimento sufragado por aquela Corte Superior os julgamentos do AgR-REspe n° 36.026/BA (Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, julgado
em 31/03/2011), RO n° 1496-55/AL (Rel. Min. Arnaldo Versiani, julgado em 13/12/2011), RO nº 1.497/PB (Rel. Min. Eros Grau, julgado em 20/11/2008), e ainda, o
seguinte precedente:
ELEIÇÕES 2008. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL.
ABUSO DE PODER. CONDUTA VEDADA. DISTRIBUIÇÃO DE BENS. PROGRAMA SOCIAL. AUSÊNCIA DE
PREVISÃO LEGAL. PROCEDÊNCIA. MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA.
1. O Tribunal Regional Eleitoral assentou que houve a distribuição, em ano eleitoral, de diversos bens a
eleitores carentes por meio de programa social não instituído por lei específica, caracterizando abuso de poder
político e econômico. Diante das premissas que fundamentam o acórdão, não é possível novo enquadramento
jurídico dos fatos.
2. Segundo a jurisprudência do TSE, somente a existência cumulativa da lei de criação do programa
social e da previsão orçamentária específica atende à exigência do art. 73, § 10, da Lei das Eleições.
Precedentes.
3. Decisão agravada mantida por seus fundamentos. Agravo regimental desprovido.
(Respe nº 172, Acórdão, Relator(a) Min. Gilmar Mendes, DJE de 02/12/2016)
Colhe-se do inteiro teor do citado julgamento (REspe nº 172), as seguintes explicações sobre a matéria:
"Extraio do acórdão regional (fis. 2.739v.-2.741v.): Pois bem, analisando a documentação constante dos
autos, verifico que há a comprovação da assistência prestada a pessoas carentes do município,
através de ajuda financeira para compra de cestas básicas, passagens rodoviárias, confecção de
próteses dentárias, pagamentos de exames médicos, entre outras, demonstradas através de notas
de empenho, recibos e notas fiscais (fls.1.172/1.587, Volumes 6 a 8), além de demonstrativos fiscais
nos quais se afere que as despesas com programas sociais realmente ocorriam desde o ano de
2005. No entanto, não consta dos autos comprovação de legislação autorizadora da instituição de programas
de assistência social no município de Ribeira do Piauí. Assim, em que pese o argumento dos recorridos de que
o fornecimento de cestas básicas e outros bens e serviços a famílias carentes ocorria desde o ano de 2005, ou
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seja, que já era executado em anos anteriores, não se comprovou que o programa social estaria autorizado em
lei. (…)
Desse modo, se não há lei autorizadora do programa, não pode o Prefeito, sob o argumento de que o
programa já era executado há alguns anos, mantê-lo. Se isso fosse possível, o § 10 do art. 73 da Lei
nº 9.504/97 restaria letra morta, pois o mandatário, sem previsão legal expressa, poderia
desvirtuar o sentido do programa social conforme instituído em lei. Se o legislador não fez essa
opção, não pode fazê-la o Chefe do Executivo, que não tem função legislativa; a regra de previsão
legal decorre exatamente da necessidade de impedir a manipulação eleitoreira de programas
sociais pelos detentores do poder. (…)
De fato, o art. 73, § 10, da Lei das Eleições proíbe a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios pela
administração pública no ano das eleições, por ser conduta tendente a afetar a igualdade de oportunidades dos
concorrentes ao pleito. Apenas excepcionalmente a lei eleitoral admite a entrega dos bens, por exemplo, por
meio de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior.
Conquanto os agravantes aleguem ser suficiente a previsão orçamentária dos gastos para o
enquadramento da hipótese na permissão legal, ressalto que a jurisprudência do TSE é pacífica no
sentido de ser necessária a lei específica que institua o programa social, além de sua execução
orçamentária no ano anterior às eleições, porquanto apenas à lei cabe inovar no ordenamento
jurídico (art. 50, inciso II, da CF/1988)."
Pois bem. No presente caso, a lei municipal indicada nas razões recursais (Lei Municipal 336/2001) e a Lei Municipal colacionada pela defesa (Lei Municipal
674/2014), não instituem o programa social de que trata o art. 73, §10, da Lei das Eleições retrotranscrito, mas sim, como bem salientado pelo e. Procurador
Regional Eleitoral em seu parecer, fixam critérios genéricos de autorização ao Chefe do Executivo para a concessão de doações e ajudas a pessoas carentes, com
caráter eminentemente eventual, e que podem ser destinadas à execução de uma ou mais ações específicas, não necessariamente vinculadas à assistência
social.
LEI Nº 336/2001
[…]
Art. 2º – O chefe do Poder Executivo Municipal, fica autorizado a realizar despesas com doações a pessoas comprovadamente carente na forma da Lei e não tenham
meios de suprir suas necessidades, residentes no Município de Dona Inês, nos seguintes casos:
II – Medicamentos, consultas médicas especializadas, exames médicos e laboratoriais, tratamento odontológico, intervenções cirúrgicas, próteses dentárias,
aparelhos de locomoção, aparelhos corretivos, cadeira de rodas e aquisição de óculos;
III – Viagem, estadias e alimentação em casos de deslocamento da zona rural para sede do Município e/ou para outros centros a fim de realizar tratamento de saúde,
quando não disponível tal serviço no âmbito Municipal;
IV – Fardamento e material escolar didático e pedagógico para alunos cuja renda não lhe permita pagar tais despesas sem prejuízo do sustento familiar;
V – Terrenos para construção de habitação popular, desde que precedida a alineação de prévia autorização legislativa, materiais de construção tais como: tijolo,
barro, areia, cimento, cal, tinta, madeira, ferro, carrinhos de mão, portas e janelas, material elétrico e hidro-sanitário, instalação de água e energia em residências
urbanas e rurais, inclusive o pagamento de taxas de energia elétrica, água e esgoto e doação de botijão de gás a pessoas reconhecidamente pobres;
VII – Transporte e material esportivo para agremiações amadoras de esporte, tais como: voleibol, futesal, futebol de campo, handball, etc;
IX – Auxílios para contratação de casamento civil ou religioso, tais como: pagamento de taxas, vestes e transportes de nubentes;
X – Auxílio para obtenção de documentos, tais como: registro de contratação de parceria rural, escrituras de pequenos imóveis urbanos e/ou rurais cuja área de
extensão não ultrapasse um módulo rural e demais despesas cartoriais, desde que não abrangida pela gratuidade de que trata a Lei Federal Nº 9.534/97, carteira de
identificação, CPF e outros da mesma natureza;
XI – Auxílio e passagem para deslocamento para outras cidades com o objetivo de obter trabalho;
XII – Materiais e demais despesas destinadas a obras de interesse comunitário, tais como: poços, açude, barragens, estradas, etc.;
XIII – Despesas com tratores equipados com grades e arados na preparação de terras, para o plantio de pequenos agricultores, sementes, inseticidas, enxadas e outros
insumos agrícolas;
XVI – Aquisição de vacinas destinadas a bovinos, eqüinos, ovinose caprinos de pequenos criadores.
§ 1º – A destinação de recursos, compreenderá o repasse de valores monetários direto para o beneficiário carente, ou, a aquisição de produtos, gêneros, ou serviços
mencionados neste artigo;
§ 2º – Nas doações de que trata o Artigo supracitado o Município exigirá termo de doação, ou declaração dos favorecidos, constando obrigatoriamente: nome,
endereço, número de RG e/ou CPF ou outro documento e data do ano de doação, declarando recebimento da doação; (...)
Art. 3º – As despesas de que trata o Artigo anterior serão pagas diretamente ao fornecedor ou através da Tesouraria da Prefeitura, mediante o cumprimento das
formalidades exigidas no referido Artigo.
Parágrafo Único – Em casos excepcionais poderá a doação ser feita em dinheiro diretamente ao beneficiário, ficando exigidos as formalidades do Art. 2º, § 2º, desta
Lei.
Art. 4º – As despesas correntes desta Lei, correrão por conta de dotações próprias do Orçamento Vigente no respectivo exercício em que ocorrer a despesa. (...)
Art. 5 º– O Chefe do Poder Executivo se necessário, baixará Decreto regulamentando o que consta na presente Lei.
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LEI Nº 674/2014
CAPÍTULO I
SEÇÃO I
[...]
Art. 3º Os benefícios eventuais serão concedidos a quem possua renda familiar per capita igual ou inferior a meio salário mínimo nacional, com observância das
contingências de riscos, perdas e danos. (…)
I –pecúnia;
II – bens de consumo;
I – auxílio natalidade;
Seção II
Do Auxílio Natalidade
Art. 6º O auxílio natalidade será concedido em pecúnia ou em bens de consumo e é constituído de prestação temporária da assistência social destinada a auxiliar nas
despesas decorrentes do nascimento de criança em situação de vulnerabilidade social.(...)
III – esteja em trânsito no Município, seja usuária da assistência social e esteja atendida ou acolhida em unidade de referência do SUAS. (…)
Seção III
Art. 13. O auxílio por morte é constituído de prestação temporária em pecúnia ou em bens de consumo será concedido em parcela única, com o objetivo de reduzir
vulnerabilidades provocadas por morte de membro da família. (...)
Art. 15.O auxílio por morte será concedido nas seguintes hipóteses:
III – falecimento de pessoa que venha a óbito no Município, ainda que a família resida em outra unidade da Federação;
Seção IV
Art. 18.O auxílio em situação de vulnerabilidade temporária é constituído de prestação destinada a auxiliar a família ou o indivíduo, visando minimizar situações de
riscos, perdas e danos e decorrentes de contingências sociais, e deve integrar-se a serviços buscando o fortalecimento dos vínculos familiares e a inserção
comunitária.
Art. 19.O auxílio previsto no art. 18 será concedido na forma de pecúnia ou em bens de consumo, em caráter provisório, sendo seu valor fixado de acordo com o
grau de complexidade da situação de vulnerabilidade e risco pessoal das famílias e indivíduos.
Art. 20.A situação de vulnerabilidade temporária caracteriza-se pelo advento de riscos, perdas e danos à integridade pessoal e familiar, assim entendidos:
I – ausência de documentação;
II – necessidade de mobilidade interurbana para garantia de acesso aos serviços socioassistenciais ou busca de emprego;
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III – necessidade de passagem para outra unidade da Federação,com vistas a garantir a convivência familiar e comunitária e busca de emprego;
IV – ocorrência de violência física ou psicológica no âmbito familiar ou qualquer ofensa à integridade física do indivíduo;
VI – processo de reintegração familiar e comunitária de crianças, adolescentes e famílias que se encontram em cumprimento de medida protetiva;
VIII – ausência ou limitação de autonomia, de capacidade, de condições ou de meios próprios da família para prover as necessidades alimentares de seus membros;
Art. 21. O auxílio será concedido em até seis parcelas por ano, considerado o caráter temporário e eventual do benefício, devendo ser verificada a permanência da
situação de vulnerabilidade.
Parágrafo Único: Na seleção de famílias e indivíduos, para fins de concessão deste auxílio, devem ser observados os seguintes fatores:
I – indícios de violência contra criança, adolescente, pessoa com deficiência, jovem, adulto ou idoso, como trabalho infantil, conflito com a lei, abuso e exploração
sexual, negligência, isolamento, maus-tratos; violência por questões de gênero; e discriminação racial e sexual;
Seção V
Art. 22. O auxílio em situação de emergência, desastre ou calamidade pública é provisão suplementar e provisória de assistência social prestada para suprir a família
e o indivíduo dos meios necessários à sobrevivência, durante as situações emergenciais e calamitosas, com o objetivo de assegurar a dignidade e a reconstrução da
autonomia familiar e pessoal.
Art. 23.As situações de emergência, calamidade pública e desastre caracterizam-se por eventos anormais, decorrentes de seca, baixas ou altas temperaturas,
tempestades, enchentes, inversão térmica, desabamentos, incêndios, epidemias, os quais causem sérios danos à comunidade afetada, inclusive à segurança ou à vida
de seus integrantes, e outras situações imprevistas ou decorrentes de caso fortuito.(...)
CAPÍTULO III
DO BENEFÍCIO EXCEPCIONAL
Art. 26. O auxílio em razão do desabrigo temporário é prestação excepcional no âmbito da assistência social, subsidiária à Política de Habitação, decorrente da
existência de situações de vulnerabilidade temporária ocasionadas pela falta ou pela inadequação da moradia, sendo destinado, exclusivamente, ao pagamento de
aluguel de imóvel residencial.
Art. 27.Para efeito desta Lei, o auxílio em razão do desabrigo temporário é concedido a pessoas ou famílias privadas da respectiva moradia em decorrência de um
dos seguintes adventos:
CAPÍTULO IV
I – órtese, próteses;
II – cadeiras de rodas;
IV –medicamentos;
Art. 36. As despesas decorrentes da execução desta Lei correm à conta de dotações orçamentárias do Fundo de Assistência Social do Município.
Corroborando a generalidade da autorização, extrai-se dos autos que foram realizadas as seguintes doações com base nas citadas leis municipais (fl. 9.600):
1. b. ajudas financeiras para alimentação e passagens para João Pessoa/PB, Natal/RN, Fortaleza/CE, Rio de Janeiro/RJ e São Paulo/SP;
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c. ajudas financeiras para compra de materiais de construção;
No ponto, importa ressaltar, também, que a autorização ao Chefe do Executivo conferida pelas Leis Municipais nº 336/2001 e 674/2014 para a concessão de doações
e ajudas a pessoas carentes podem, nos termos daquelas leis, ser destinadas à execução de uma ou mais ações específicas, não necessariamente vinculadas à
assistência social.
“Tal característica da legislação municipal fora inclusive ressaltada pelos Investigados em sua defesa,
quando da discussão da existência de orçamento próprio para assistência aos munícipes: “As doações são
necessárias para ajudar nas coisas básicas essenciais, que vão de um caixão até uma passagem
para tratamento de saúde”(fl. 342).
No caso dos autos, os empenhos juntados pelos Investigados, de 2016, demostram que as Leis nºs 336/2001
e 674/2014 foram utilizadas para justificar a concessão de ajudas financeiras diversas nas áreas da assistência
social, da saúde e, inclusive, da cultura […].
A alegação dos Investigados no sentido de que “as doações assistências encontra-se presente na Lei
Orçamentaria, sob o subitem nº 08.244.2018.2.029 (manter atividades de assistência a comunidade), do item
nº 3.3.90.48.00 (auxílio financeiro a pessoa física)”(fl. 349) não é suficiente para atestar o caráter de
programa social das referidas leis, haja vista a previsão de distribuição de benefícios por outras
unidades orçamentárias, como o Fundo Municipal de Saúde6, nos termos do art. 34 da Lei Municipal n.º
674/2014 (unidade orçamentária 1515, fl. 8.837).”
Verifica-se, portanto, que a distribuição no município de Dona Inês/PB deu-se de forma genérica, sem amparo em programa social instituído por lei e sem vinculação
a uma unidade orçamentária específica.
No ponto, como magistralmente explanado pelo Des. Joás de Brito Pereira Filho ao proferir seu voto no presente caso:
“[…] no caso sub exame, fácil concluir pela ausência de elementos mínimos, nos normativos do Município de D.
Inês destacados, que demonstrem sequer a intenção de implementar um programa social.
Ao contrário, observa-se que o legislador mirim cuidou apenas de elencar as mais diversas hipóteses de apoio
financeiro ou material, caracterizando-se por ações desprovidas de intuito duradouro ou mesmo da
operacionalização de uma política pública propriamente dita.
Resumindo: uma política assistencialista, configurada numa espécie de “cheque em branco” para que o gestor
distribua benesses como bem lhe convém.
[…]
A transferência de valores ou bens a pessoas de grupos tidos como desprivilegiados, tal como
institucionalizada no município de Dona Inês, é incapaz de representar avanço social ou contribuir para
diminuição da distância social que os separa dos mais favorecidos.
O fato de ter havido despesas no ano anterior sob o mesmo fundamento não tem o condão de esmaecer o
pressuposto legal consistente na existência de programa social efetivamente em execução.”
Assim, não tendo sido demonstrada a instituição, por lei específica, de um programa social de distribuição de auxílios financeiros, nem estando tal distribuição
justificada pelos decretos emanados pelo governo da Paraíba e pela administração municipal, NÃO restam configuradas as exceções legais que autorizam a
distribuição gratuita de bens e serviços no ano eleitoral, o que revela a caracterização da conduta vedada prevista no art. 73, §10, da Lei das Eleições.
Constatada a prática da conduta vedada no âmbito do município de Dona Inês/PB, durante o ano de 2016, concebo relevante registrar que, apesar de não ter
participado do julgamento, não desconheço o precedente firmado por este Tribunal no julgamento do RE nº 26642, proveniente de Tacima/PB (Relatoria do
Juiz Sérgio Murilo Wanderley Queiroga, DJE de 03/09/2018), onde se reconheceu que a ação governamental instituída por lei municipal de assistência social pode,
em pequenas localidades, ostentar o caráter de programa social
Ocorre que, analisando o próprio voto condutor do RE 26642, percebemos que este Regional voltou sua atividade interpretativa, naquele caso concreto, para a
realidade da assistência social nos municípios de pequeno porte, deixando expressamente consignado, contudo, que a “compreensão quanto ao que venha a ser,
ou não, programa social deve ser analisado considerando-se as condições e peculiaridades de cada caso concreto, sobretudo na hipótese de se imputar a alguém
a prática de conduta vedada”.
Inegavelmente, a análise e peculiaridades de cada caso concreto como explicitado no decisum supra é da maior relevância, pois 62% (sessenta e dois por
cento) dos 223 (duzentos e vinte e três) municípios paraibanos são considerados de porte pequeno.
Após tal julgamento, outros se sucederam na apreciação de matérias que guardam possível identificação com o precedente de Tacima, sob entendimento da
relativização do art. 73, §10 da Lei das Eleições, por ser tratar de município de pequeno porte, tendo-se obtido maioria apertada para a manutenção da
referida percepção, ao término de intensos, inteligentes e calorosos debates.
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Portanto, no meu modesto raciocínio, isso ocorre porque, se de um lado, a precariedade da estrutura administrativa local pode fazer o olhar consequencialista deste
Tribunal pender para a proteção da assistência social sem regramentos exacerbados, de outro, incomoda a mensagem que estamos passando para o gestor no sentido
da desnecessidade de adequar a sua gestão a comandos normativos que estão em vigor desde 2006, ano em que a norma do art. 73, §10 foi inserida na Lei das
Eleições, por força da Lei nº 11.3003.
Ou seja, já se passaram aproximadamente 14 anos desde que o dispositivo entrou em vigor, de modo que, ao meu sentir, respeitosamente, também deve este
Tribunal se preocupar, sobretudo em um ano eleitoral como este que vivemos, em incentivar posturas corretas e decentes de qualquer gestor quanto a
observância da lei eleitoral, com a finalidade de obstacular o desequilíbrio do pleito.
Os gestores de municípios de porte pequeno, não estão a acima da LEI, se a moda pega, o inusitado logrará êxito!
Sobre o assunto, me acosto inteiramente aos ensinamentos do Ministro Luiz Fux, quando Sua Excelência proclama Urbi et Orbis que “todo o direito é construído
sobre a premissa implícita de que as pessoas responderão a incentivos. Ora, é indiscutível que o Poder Judiciário, conscientemente ou não, ao solucionar
controvérsias sobre fatos já ocorridos, fixa teses jurídicas que irão balizar condutas futuras. Essas teses passam então a informar a atuação de todo e qualquer
sujeito de direito, que tende a definir suas ações segundo os custos e benefícios por ela gerados (Cf. GICO Jr., Ivo. “Metodologia e Epistemologia da Análise
Econômica do Direito” in Economic Analysis of Law Review, Vol. 1, nº 1, 2010)”.
Ademais, como bem observou o Ministro Gilmar Mendes no julgamento do REspe n.º 15-14/PE, “é patente que a maioria dos governantes desconhecem as
melhores práticas de gestão da coisa pública, mas não podemos ser ingênuos e aceitar, sem senso crítico, que isso seja suficiente para acobertar conveniências e
aspirações políticas contrárias à legislação eleitoral”.
Desse modo, considerando que a aplicação dos precedentes nos moldes do art. 927 do Código de Processo Civil não exige a subserviência do magistrado, mas sim
dialética respeitosa, peço vênia aos nobres colegas que sufragaram, à época, o entendimento adotado no RE nº 26642, proveniente de Tacima/PB, para assentar que o
programa social de que trata o art. 73, § 10, da Lei das Eleições deve ser sim exigido na análise da situação em concreto de Dona Inês/PB e que não tendo sido esse
o caso dos autos, devem incidir as sanções correspondentes, a partir de um juízo de proporcionalidade que realizarei conjuntamente com a aferição da gravidade pelo
apontado abuso de poder.
Imperioso proclamar, que a composição das Cortes Eleitorais renovavam-se de dois em dois anos, portanto, antiestético no campo do direito a perpetuação de um
posicionamento jurisprudencial em desarmonia brandante com o pensamento dos atuais locatários do Colegiado, como na hipótese vertente. O direito não é uma
ciência estática.
Passo, então, a analisar a alegada prática de abuso de poder através da concessão dos benefícios assistenciais no município de Dona Inês/PB durante o ano de 2016.
No ponto, abraço com vigor o posicionamento já manifestado inúmeras vezes pelo Ministério Público Eleitoral no sentido de que a “implementação de políticas
públicas” guarda estreita relação com o sucesso nas disputas eleitorais, sobretudo quando tais políticas públicas são voltadas à distribuição de benefícios
auferíveis a curto prazo pelo eleitor, como é o caso de auxílios financeiros”.
Além disso, antes de enfrentar as particularidades do caso concreto, registro que a conduta vedada pelo art. 73, §10, assim como as demais previstas no art. 73 da
Lei nº 9.504/97, pode ser conceituada como uma espécie do gênero abuso de poder. Sua prática, portanto, possui aptidão para ofender a normalidade e
legitimidade do processo eleitoral em decorrência da quebra da isonomia entre os players.
Prosseguindo, no presente caso, o Procurador Regional Eleitoral realçou que pode-se observar “um total de 127 (cento e vinte e sete) empenhos, com 126 (cento e
vinte e seis) pareceres sociais emitidos, contemplando um total de 103 (cento e três) beneficiários, com predominância da concessão de auxílios para o custeio de
medicamentos, exames, passagens, reparos em residência e aluguéis”.
Além disso, consta em sua manifestação a seguinte exposição sobre o quadro fático delineado nos autos:
Analisando os empenhos, vejo que foram realizadas doações em total descompasso com as leis municipais,
que supostamente autorizariam a distribuição de benesses em Dona Inês/PB, como o “pagamento de ajuda
financeira para fazer face as compras de figurinos e despesa com costura para quadrilha Junina Paraíba
Forrozeira”(empenho de fl. 1.674).
Nesse mesmo sentido, a Administração Pública Municipal financiou, por meio de dotações do Fundo Municipal
de Assistência Social, a realização de uma Festa Junina na Comunidade Sítio do Mulungu, atendendo a pedido
de Elizete Alves de Morais, que afirmou necessitar de auxílio financeiro para os festejos juninos por ser pessoa
pobre (fls. 2.841 e 2.844).
“Compulsando os autos, observa-se que o declarante Edivaldo Paulino da Silva (mídia anexa na contracapa do
volume 47), evidenciando o intuito eleitoral da distribuição de bens, afirmou que uma das beneficiadas pela
entrega de valores não era pessoa carente, destacando, ainda, que outro sequer residia no Município:
(…) Que conheço Ana Juliete, que ela estuda engenharia civil; Que acredito que ela é classe média,
carente ela não é não; Que eu tenho um livre acesso na casa da mãe dela e escutei comentário da mãe dela,
comigo mesmo, que ela teve uma ajuda, não me informou para que era, mas ela teve um ajuda da prefeitura
de Dona Inês, no período eleitoral; Que conheço André Brás da Silva, conhecido como André Negão, que
escutei comentários que ele recebeu ajuda da prefeitura, acho que foi para passagem; Que conheço Jonathan
Magaywer, que segundo a família (um primo) ele recebeu benefício financeiro, que não sei dizer em que
consistiu a ajuda; Que ele reside em São Paulo e a família em Dona Inês;(…)
Acerca da doação ao Sr. Jonathan Magaywer Barbosa de Lima, acima mencionada, verifica-se, conforme
documentação juntada pela própria defesa (fls. 2.728/2.753), que a ficha cadastral da família do beneficiário
data de 20.05.2010, não estando nos autos o requerimento assinado pelo interessado para conseguir os
auxílios assistenciais do Município de Dona Inês/PB.
Com efeito, a concessão de benefício sem requerimento não foi a postura adotada pelo Poder Executivo
Municipal nos demais processos de doação de auxílio financeiro. Veja, inclusive, que tal documento é
obrigatório na concessão dos benefícios criados pelas Leis Municipais n.ºs 336/2001e674/2014, conforme
exigência contida nos Decretos n.ºs 1.013/2009 (f. 926) e1.247/2015 (f. 955).
Desta feita, diante da ausência de requerimento assinado, torna-se crível a alegação do declarante no sentido
de que o beneficiário citado não residia no Município de Dona Inês/PB, fragilizando a tese dos Investigados de
que a distribuição foi realizada com observância da legislação de assistência social do Município. Ainda que
pontual, não se pode negar que se trata de um elemento de corroboração.
De igual maneira, Sérgio da Silva Teófilo (mídia anexa à fl. 9.052) afirmou, em seu depoimento, que recebeu
auxílio financeiro no ano eleitoral sem realizar qualquer cadastro, destacando que nos anos anteriores ao pleito
(2014 e 2015) não recebeu doações da Prefeitura Municipal de Dona Inês/PB:
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(…) Que sou artesão, trabalho com barro; Que faço escultura; Que as vezes participo de feira de exposição,
mas é muito difícil; Que recebi auxílio da prefeitura em 2016; Que toda cidade faz a contrapartida com o
artesão; Que recebi ajuda de questão de alimentos, somente; Que recebi uma quantia em dinheiro, R$400,00
(quatrocentos reais); Que recebi em cheque da prefeitura; Que todo artesão tem a questão da prefeitura
ajudar; Que a doação foi no mês do São João, do ano de 2016; Que esse dinheiro era dado pelo prefeito; Que
não fiz cadastro nenhum;(…) Que não recebi auxílio nos anos, 2014 e 2015, só recebi em 2016.
Concebo presente, aqui, a robustez da prova oral, pois apesar de ter sido aventado o fato de alguns depoentes se partidarizarem aos adversários políticos dos
Investigados, é inegável que a narrativa quanto a distribuição genérica e a inobservância aos critérios estabelecidos nas leis assistenciais revela-se uniforme e em
consonância com a prova documental juntada aos autos.
Por tais motivos, acompanho o e. Procurador Regional Eleitoral no sentido de que a “distribuição de auxílios financeiros com base em legislação ampla e genérica,
desprovida de um programa social devidamente instituído no Município e ainda sem observar, em algumas situações, os critérios fixados em lei, apontam o intuito
eleitoral, afetando a igualdade de chances entre os candidatos e a legitimidade do pleito”, de modo que enxergo configurado, também, o abuso de poder político
com viés econômico previsto no art. 22, caput e XIV, da LC n.º 64/90.
Verifico, também, que as circunstâncias do caso em tela mostram-se suficientemente graves para impactar no resultado da campanha eleitoral de 2016 no
município de Dona Inês/PB, já que devidamente comprovado nos autos a distribuição de valores/bens em flagrante desrespeito ao regramento contido na Lei das
Eleições (art. 73, §10) e nas próprias leis que regem a assistência social daquele município, tudo a denotar o uso da máquina pública para atender vontades
individualizadas dos agentes políticos responsáveis pela conduta irregular e seus beneficiários.
O impacto causado na normalidade e na legitimidade do pleito e a quebra de isonomia entre os concorrentes pela distribuição de auxílios financeiros para diversas
finalidades mostra-se ainda mais evidente quando se verifica que o Município de Dona Inês possui 10.429 habitantes4, merecendo realce que compareceram 7.262
(sete mil duzentos e setenta e dois) eleitores para o exercício do voto, portanto, os 103 (cento e três) beneficiários pela irregular política pública influenciaram
diretamente no resultado das eleições de 2016, sobretudo diante da pequena diferença de votos entre os candidatos, qual seja, apenas 33 (trinta e três) votos.
Fato relevante: sendo a diferença tão somente 33 (trinta e três) votos, bastaria o deslocamento de 17 (dezessete) em favor dos investigantes, para mudar o resultado
das eleições.
Induvidosamente, a legislação assistencialista do Município de Santa Inês possui alcance ilimitado, onde tudo pode, desde a doação e distribuição de farto material
de construção a confecção de roupas juninas em período eleitoral, sem critérios, situação esdruxula que afronta o princípio da isonomia e equidade entre os
candidatos.
Ora, não podemos conceber que uma Lei genérica se constitua em verdadeiro cheque em branco em favor do Chefe do Executivo Municipal, malferindo o artigo 37
da Constituição da República.
Realço, por oportuno, que essa também foi a conclusão a que chegou o Des. Joás de Brito Pereira Filho, quando Sua Excelência verberou, em seu judicioso voto:
“Ressalto que ainda não integrava esta egrégia Corte quando dos julgamentos mencionados e, com as vênias
necessárias, não me convenço de que a Justiça Eleitoral pode minimizar a exigência legal, ou mesmo dar-lhe
interpretação diversa.
As narrativas se repetem demasiadamente como se copiadas fossem de um mesmo receituário padrão,
fazendo transparecer que os gestores municipais dos Municípios interioranos têm adotado uma espécie de
metodologia de gestão em que ações administrativas são rotuladas de políticas públicas que, ao invés de
combater a exclusão social, por meio de programas institucionais organizados e monitorados, promovem
medidas meramente assistencialistas.
Parece bem conveniente conferir a um rol de atos administrativos praticados em ano eleitoral a mesma
aparência de normalidade dos atos ordinários praticados no dia a dia da gestão, sob o pálio do poder
discricionário do Administrador, e sobretudo visando não aparentar que seus efeitos não geram reflexos no
sufrágio e na lisura da conquista do mandato popular.
O aliciamento capaz de desvirtuar a livre convicção do eleitor é aquele que o atinge direta e individualmente.
Ao distribuir auxílios financeiros de forma meramente subjetiva, o gestor adquire simpatia e conquista, não
raro, sentimento de gratidão pelo beneficiado e sua família.
Assim, evidencia-se a quebra do equilíbrio dos candidatos na competição legítima pela conquista do voto livre,
sem qualquer relação com o patrocínio de ações custeadas pelo Erário."
Em sendo assim, no tocante a responsabilidade dos Investigados pela quebra da igualdade formal, adoto parcialmente as razões expostas no parecer ministerial,
usando o método de fundamentação per relationem, admitido pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça5, vazado nos seguintes termos:
“Diante do exposto, analisando a responsabilidade dos Investigados, verifica-se, a partir dos empenhos
juntados (fls. 1.656/3.003), a participação inconteste do então prefeito, o Sr. ANTÔNIO JUSTINO DE ARAÚJO
NETO, que autorizava a distribuição de auxílios financeiros mediante aposição de rubrica nos requerimentos
feitos pelos interessados, procedimento precedido da oferta de parecer social emitido pela Secretaria Municipal
de Assistência Social e Habitação (vide carimbos), pasta titularizada, à época, por SOFIA ULISSES SANTOS
QUEIROZ, conforme narrado na inicial.
Já com relação ao Investigado JOÃO IDALINO DA SILVA, à época vice- prefeito, os depoimentos evidenciam a
atuação do então gestor, o Sr. ANTÔNIO JUSTINO DE ARAÚJO NETO, em benefício direto à sua candidatura ao
cargo de prefeito e de DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA ao cargo de vice, inclusive com os três fazendo visitas
conjuntas aos eleitores.
No que se refere ao Investigado JOSÉ IGOR DENIZAR COSTA DA SILVA, então candidato ao cargo de vereador
nas Eleições 2016 e filho do Investigado JOÃO IDALINO DA SILVA, consta dos autos apenas uma referência a
sua pessoa quando da distribuição de combustíveis (ver ponto 6 deste Parecer).
De igual modo, acerca da participação de CALINY MUNIZ DE LIMA, então Secretária Adjunta de Assistência
Social, verifica-se que não há documento emitido ou assinado no âmbito do seu cargo autorizando a prática
dos atos ora enfrentados. Veja que, apesar de os recorrentes afirmarem que a demandada “posteriormente,
passou a responder pela pasta”(fl. 12), dados constantes do sistema SAGRES, do TCE/PB, dão conta de que no
dia 29.11.2016, bem depois das eleições, o cargo ocupado pela Investigada ainda era o de Secretária Adjunta
de Assistência Social. Assim, devem ser afastadas as sanções quanto aos citados Investigados."
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Nestes termos, restando assentada a prática de abuso de poder político e econômico e da conduta vedada aos agentes públicos prevista no art. 73, §10 da Lei das
Eleições, e constatada a responsabilidade pela prática de cada conduta ilícita, bem como os que dela se beneficiaram eleitoralmente, resta a aplicação das sanções
pertinentes (multa, cassação do diploma aos eleitos e inelegibilidade pelo prazo de oito anos), nos moldes estabelecidos no art. 22, XIV, da LC n.° 64/90, e no art. 73,
§§4º, 5º e 8º, da Lei n.º 9.504/97, que assim estabelecem:
Art. 22 da LC nº 64/90:
XIV – julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação dos eleitos, o Tribunal declarará a
inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, cominando-
lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à
eleição em que se verificou, além da cassação do registro ou diploma do candidato diretamente
beneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos
meios de comunicação, determinando a remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, para instauração de
processo disciplinar, se for o caso, e de ação penal, ordenando quaisquer outras providências que a espécie
comportar;
Art. 73 da Lei nº 9.504/97:
§ 4º. O descumprimento do disposto neste artigo acarretará a suspensão imediata da conduta vedada, quando
for o caso, e sujeitará os responsáveis a multa no valor de cinco a cem mil UFIR.
§ 5º. Nos casos de descumprimento do disposto nos incisos do caput e no § 10, sem prejuízo do disposto no §
4o, o candidato beneficiado, agente público ou não, ficará sujeito à cassação do registro ou do
diploma.
§ 8º. Aplicam-se as sanções do § 4º aos agentes públicos responsáveis pelas condutas vedadas e
aos partidos, coligações e candidatos que delas se beneficiarem.
No ponto, convém realçar que segundo entendimento sedimentado do TSE, a inelegibilidade prevista no art. 22, XIV, da LC nº 64/90 possui natureza personalíssima
e “aplica-se a quem cometeu, participou ou anuiu com o ilícito” (Por exemplo: Recurso Especial Eleitoral nº 135474,Rel. Min. Herman Benjamin, DJE de
04/02/2020). Confira-se:
“A inelegibilidade constitui sanção de natureza personalíssima, de modo que não se aplica ao mero beneficiário
dos atos abusivos, mas apenas a quem tenha contribuído, direta ou indiretamente, para a prática de referidos
atos. No caso, os candidatos recorrentes foram condenados apenas na qualidade de beneficiários da conduta
configuradora de abuso de poder. Não ficou comprovada sua contribuição, direta ou indireta, para a
prática dos atos abusivos, de modo que não há como aplicar-lhes a sanção de inelegibilidade.”
(RESPE nº 42270/MG, Acórdão de 30/05/2019, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, DJE de 27/06/2019).
ELEIÇÕES 2014. RECURSOS ESPECIAIS. RECEBIMENTO. RECURSOS ORDINÁRIOS. FUNGIBILIDADE. AÇÕES
DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. ABUSO DE PODER POLÍTICO. CONFIGURAÇÃO. GOVERNADOR
CANDIDATO A REELEIÇÃO. AUMENTOS SALARIAIS. SERVIDORES PÚBLICOS. VÉSPERA DO PERÍODO
ELEITORAL. DESPROVIMENTO. CANDIDATO A VICE-GOVERNADOR. MERO BENEFICIÁRIO. PARCIAL
PROVIMENTO.
(...)
9. Para a declaração da inelegibilidade prevista no inciso XIV do art. 22 da LC nº 64/90, deve ser
feita distinção entre o autor da conduta abusiva e seu mero beneficiário. Se mero beneficiário da
conduta, sem participação direta ou indireta nos fatos, não incide a sanção de inelegibilidade.
Precedentes.
(RO nº 1840/TO, Acórdão de 06/12/2018, Rel. Min. Tarcísio Vieira De Carvalho Neto, DJE de 20/02/2019)
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9/29/2020 SEI/TRE-PB - 0706828 - Decisão
18. Recurso especial dos recorrentes (prefeito e vice-prefeito eleitos em Elói Mendes/MG) parcialmente provido
apenas para afastar a inelegibilidade do segundo, mantendo-se a cassação dos diplomas e a inelegibilidade do
primeiro.
19. Recurso especial interposto pelo terceiro recorrente desprovido, mantida a sua inelegibilidade.
20. Prejudicado o agravo regimental interposto nos autos da Ação Cautelar nº 0603154-75/MG (PJE).
(RESPE nº 24389/MG, Acórdão de 12/02/2019, Rel. Min. Tarcisio Vieira De Carvalho Neto, DJE de 03/04/2019)
Pois bem. A aplicação das referidas normas ao caso concreto implica na cassação dos diplomas dos candidatos beneficiados pela conduta vedada e pelo abuso de
poder político com viés econômico, JOÃO IDALINO DA SILVA e DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA, nos termos do art. 22, XIV, da LC nº 64/90 e §5º do art. 73
da Lei nº 9.504/97, além da multa pela conduta vedada, conforme preceitua o §8º do mesmo artigo.
Já aos responsáveis pela prática da conduta vedada e do abuso de poder, ANTÔNIO JUSTINO DE ARAÚJO NETO, prefeito à época dos fatos, e SOFIA ULISSES
SANTOS QUEIROZ, que era titular à época, da Secretaria Municipal de Assistência Social e Habitação Secretaria, cabe a aplicação da multa prevista no § 4o do art.
73 da Lei no 9.504/97 e também a declaração de inelegibilidade por 8 (oito) anos a contar da eleição de 2016, nos termos do art. 22, XIV, da LC no 64/90,
considerando que, na qualidade de agentes públicos de maior escalão no âmbito daquele município, possuíam o controle da gestão municipal, sendo diretamente
responsáveis pela distribuição de valores/bens abusiva e em descompasso com seu regramento normativo.
Ressalto, no ponto, que não cabe declarar a inelegibilidade de JOÃO IDALINO DA SILVA e DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA, uma vez que não restou
devidamente comprovado nos autos, em que teria consistido a contribuição pessoal dos referidos Investigados com a distribuição de bens/valores tida por ilícita,
condição elementar para imposição da referida penalidade.
Lado outro, quanto a JOSÉ IGOR DENIZAR COSTA DA SILVA e CALINY MUNIZ DE LIMA, verifico que não restou provada a participação e nem benefício
eleitoreiro auferido pelas condutas abusivas objeto destes autos.
Finalizando, o valor da multa a ser aplicada aos responsáveis (ANTÔNIO JUSTINO DE ARAÚJO NETO e SOFIA ULISSES SANTOS QUEIROZ) e aos
beneficiários pela conduta vedada (JOÃO IDALINO DA SILVA e DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA), considerando a gravidade do impacto no processo
eleitoral, deve ser fixada em R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), nos termos do art. 62, §4º6, da Res. TSE nº 23.457/2015, que dispôs sobre “propaganda eleitoral,
utilização e geração do horário gratuito e condutas ilícitas em campanha eleitoral nas eleições de 2016”.
No ponto, alega-se que nos dias 28/09, 29/09,30/09 e 01/10 do ano de 2016 houve a intensificação de distribuição gratuita de materiais de construção, pelos
Investigados (João Idalino da Silva, Demétrio Ferreira de Lima e Antônio Justino de Araújo Neto) em troca de voto, a exemplo de telhas, tijolos, cimento, caixa de
água, revestimento de PVC, para as comunidades carentes de Dona Inês, com destaque para a Comunidade Cruz da Menina e Sítio Brejinho.
Os Investigantes citam como elementos probatórios as fotografias e depoimentos de moradores dos locais mencionados, especialmente o testemunho de Graciane
Teófilo, com vistas à comprovação de abuso de poder político e econômico, conduta vedada e captação ilícita de sufrágio.
Analiso, inicialmente, os fatos articulados, à luz do art. 41-A e §1º da Lei das Eleições que é vazado nos seguintes termos:
Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio, vedada por esta Lei,
o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem
pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia
da eleição, inclusive, sob pena de multa de mil a cinquenta mil Ufir, e cassação do registro ou do diploma,
observado o procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990 . (Incluído
pela Lei nº 9.840, de 28.9.1999)
§ 1o Para a caracterização da conduta ilícita, é desnecessário o pedido explícito de votos, bastando a evidência
do dolo, consistente no especial fim de agir. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009)(sem grifo no original)
Colho do parecer ministerial, acerca do tema: “Nas palavras de José Jairo Gomes, “a captação ilícita de sufrágio é modalidade de abuso de poder, tomada essa
expressão em sentido genérico”. O bem protegido pela norma é a liberdade do eleitor, significativamente aviltada por quaisquer das práticas descritas pelo artigo
41-A (doação, oferecimento, promessa ou efetiva entrega, ao eleitor, de bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza). Quaisquer dessas práticas tem por
finalidade específica a obtenção de voto, elemento essencial para a tipificação do ilícito. O mesmo autor ainda menciona que a configuração dessa categoria legal
requer a conjugação dos seguintes elementos: A perfeição dessa categoria legal requer: (i) realização de uma das condutas típicas, a saber: doar, oferecer,
prometer ou entregar bem ou vantagem pessoal a eleitor, bem como contra ele praticar violência ou grave ameaça; (ii) fim especial de agir, consistente na obtenção
do voto do eleitor; (iii) ocorrência do fato durante o período eleitoral.”
Observa-se que a configuração da conduta ilícita prevista no dispositivo de lei retromencionado prevê a coexistência de vários elementos, ou seja, o ato de o
candidato doar, oferecer, prometer ou entregar bem ou vantagem pessoal a eleitor, com vistas à obtenção de votos, durante o período eleitoral, valendo registrar que a
ausência de qualquer desses elementos autoriza a improcedência do pedido.
No que tange à aquilatação da prática do abuso de poder político e econômico quanto ao fato em exame é imprescindível que o conjunto probatório demonstre a
finalidade eleitoral, consubstanciada em uma conduta que tenha como alvo um dividendo eleitoral, que pode ser extraído através da análise dos depoimentos
testemunhais e do modus operandi do gestor, na condução da máquina pública. A prova deve ser robusta, não dando azo ao julgador, questionar a sua prática.
Pois bem, a dinâmica presente nos autos, no que ser refere ao conjunto probatório da alegação de distribuição de materiais de construção às vésperas do pleito
consiste na juntada de cópias de fotografias, mídia com fotografias e no teor do depoimento da testemunha Graciane Teófilo da Silva que não socorrem ao intento
dos autores/recorrentes.
O acervo fotográfico (fls.314/318 – cópias de fotografias), bem como a mídia (constante na contracapa do vol.1) que contém apenas as fotografias já
citadas(fls.314/318) não são hábeis a comprovar nenhuma ação ilícita referente à distribuição de material de construção em troca de voto, a exemplo de uma foto de
um caminhão contendo material de construção (fl.318) estacionado na frente de uma residência, sem demonstração de qualquer correlação com o alegado, sem
sequer a identificação dos locais e datas das fotografias, não respaldando a assertiva dos Recorrentes de que teriam sido na comunidade Cruz da Menina e no Sítio
Brejinho e na presença dos Investigados.
Não há como ser atribuída a comprovação do alegado tomando-se como base o testemunho de Graciane Teófilo da Silva, tanto é que foi asseverado por ela que os
Investigados não estavam presentes no momento da apontada distribuição dos materiais de construção (contracapa do Vol. 47 – mídia), isso tudo associado à
negativa das testemunhas, por ela referidas e ouvidas em juízo (fl.9.052).
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Graciane Teófilo da Silva afirmou que reside há 20 anos no Sítio Cruz da Menina, em Dona Inês. Que naquela comunidade todos são da mesma família. Que é
técnica em edificações. Que sua tia Rosinete lhe disse que recebeu com seu filho, Micélio, 1000 tijolos e 10 sacos de cimento para votarem no candidato João
Idalino, bem como sua prima, Viviane recebeu PVC, com o mesmo intuito. Que os tijolos e o cimento já teriam sido utilizados, mas o PVC ainda estaria guardado.
Que o então Prefeito, Antônio Justino e os candidatos a prefeito e a vice, respectivamente, João Idalino e Demétrio fizeram uma visita na casa dos três, no sábado
antes da eleição e que o material foi entregue na segunda, após o pleito. Que Sérgio Teófilo, seu primo, líder comunitário e artesão teria indicado aos investigados os
nomes dos eleitores indecisos e que no dia da visita aos três eleitores citados, ele estava presente, mas afirmou que no dia da entrega dos materiais nenhum dos
investigados estava presente e que não viu os investigados ofertando os materiais em troca de voto. Que sua tia que teria lhe confessado esse fato e a prima Viviane.
Rosinete Pereira da Silva, agricultora e também moradora do Sítio Cruz da Menina, em seu depoimento asseverou que Graciane é sua sobrinha. Que não foi
beneficiada com material de construção e que não construiu nada em 2016. Que conhece os Investigados, Antônio Justino, João Idalino e Demétrio, mas não foi por
eles procurada com o oferecimento de nenhuma vantagem em troca de voto, nem conhece ninguém que tenha sido agraciado. Consignou também que seu filho
Micélio e sua prima Viviane nada receberam e que Sérgio Teófilo não indicava nomes de eleitores para serem visitados pelos Investigados citados.
Micélio Manoel da Silva: Ajudante de pedreiro, filho de Rosinete e morador do Sítio Cruz da Menina registrou que construiu sua casa em 2016 (não se recorda o
mês), mas que ainda não concluiu a obra e que o material comprado (cimento) foi às suas expensas, não tendo recebido nenhum material de construção dos
Investigados em troca de voto, nem tampouco conhece alguém que tenha se beneficiado nesses termos e que não procede a informação de que Sérgio Teófilo
fornecia, aos candidatos mencionados, nomes de eleitores indecisos com o fim de serem abordados com promessas de doação de material de construção em troca de
voto. Que recebeu a visita de Antônio Justino, João Idalino e Demétrio, sem a presença de Sérgio Teófilo, (não lembra em que período) tendo havido na ocasião
pedido de voto, como fizeram os outros candidatos, porém sem vinculação a nenhuma benesse.
Sérgio da Silva Teófilo: Artesão (trabalha com barro e argila em casa), residente no Sítio Cruz da Menina. Afirmou que não recebeu nenhum material de
construção, nem estava construindo nada em 2016, tampouco sabe informar da chegada de material de construção na localidade em que mora. Não sabe relatar
nenhum fato acerca de Rosinete (tia), Viviane(prima), Micélio (primo). Que Graciane é sua prima. Pontuou que recebeu do Prefeito à época, Antônio Justino, em
2016, o valor de R$ 400,00 (em cheque) para ajudá-lo com alimentação próximo ao período de São João, pois iria expor alguns de seus trabalhos artesanais, no
Salão de Artesanato, em Campina Grande. Que não indicava nomes de eleitores para serem visitados pelos Investigados, Antônio Justino e João Idalino.
Viviane Trajano Bezerra: Afirmou que é moradora do Sítio Cruz da Menina, empregada doméstica, trabalha em João Pessoa e vai em sua residência uma vez por
mês. Que Graciane é sua prima. Que nada construiu em 2016. Que no dia que Antônio Justino e João Idalino foram em sua casa, ela estava em Dona Inês e não teve
nenhum contato com eles. Não sabe informar o nome de ninguém que tenha sido beneficiado com material em troca de voto.
Pelo cotejo do acervo fotográfico juntado aos autos e dos depoimentos testemunhais é possível se concluir pela inexistência dos ilícitos eleitorais aventados pelos
recorrentes, conforme restou adequadamente exarado, na decisão de 1º Grau e no parecer ministerial:
“As testemunhas ouvidas não foram capazes de convencer este Magistrado que houve, de forma, segura, a
captação de votos mediante pagamento ou promessa e ainda abuso do poder político, econômico e de
autoridade. Além do mais, há de registrar que todas se mostraram muito interessadas no deslinde político da
questão, o que nos leva a apreciar as informações trazidas aos autos, pelas testemunhas, com cuidado
especial. (…) Destarte, verifico que, no caso dos autos, o acervo probatório é insuficiente, não restando
demonstrado o abuso de poder econômico, político ou de autoridade pelos investigados e a captação ilícita de
sufrágio, essencial para a configuração da conduta vedada pelo art. 41-A da Lei 9.504/97”. (fls.9585 e 9585v).
Trecho do percuciente parecer ministerial (fls.9.691 e 9.692):
“Pela análise dos depoimentos supracitados não há como concluir que houve, por parte dos Investigados, a
efetiva compra de votos por meio da oferta de material de construção. Como destacado, as quatro
testemunhas referidas por Graciane negaram os fatos por ela narrados, o que joga dúvidas sobre a tese trazida
aos autos por meio da presente causa de pedir. (…) Diante da ausência de provas robustas, não há como
sustentar uma condenação por captação ilícita de sufrágio e abuso de poder econômico e político”.
DIREITO ELEITORAL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. ELEIÇÕES 2016. AIJE. ABUSO
DO PODER ECONÔMICO. LITISCONSÓRCIO. TEORIA DA ASSERÇÃO. NULIDADE PROCESSUAL NÃO
VERIFICADA. AUSÊNCIA DE PROVA ROBUSTA. RECURSO PROVIDO.
[...]
11. Diante da gravidade das sanções impostas em AIJE por abuso de poder, exige-se prova robusta
e inconteste para que haja condenação. Precedentes.
(0000501-20.2016.6.13.0002 - RESPE - Recurso Especial Eleitoral nº 50120 - PEDRA BONITA – MG. Acórdão
de 09/05/2019. Relator(a) Min. Admar Gonzaga. Relator(a) designado(a) Min. Luís Roberto Barroso.
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 26/06/2019, Página 25) (sem grifo no original)
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Isso posto, em razão da ausência de demonstração da prática de abuso de poder político/econômico, captação ilícita de sufrágio e conduta vedada, e em consonância
com o entendimento do parquet regional, afasto a incidência do fato aqui analisado.
4) Oferta de combustível (gasolina) em troca de voto e utilização de servidor público em prol de campanha eleitoral
Nas razões recursais dos Investigantes é apontada a prática das condutas vedadas previstas no art. 73, I e III, §5º da Lei das Eleições, captação ilícita de sufrágio (art.
41-A, Lei nº 9.504/97) e abuso de poder político e econômico (art. 22 da LC nº 64/90) consistentes na oferta de gasolina em troca de votos.
Enfatizam que no dia 27.09.2016, data da realização do comício de encerramento dos candidatos, JOÃO IDALINO DA SILVA, DEMÉTRIO FERREIRA DA
SILVA e JOSÉ IGOR DENIZAR COSTA DA SILVA, no local chamado de balneário Parque das Águas, de propriedade da irmã do então Prefeito, Antônio
Justino, onde se realizou a concentração do evento “Caravana 55 ALÔ OITICICA”, o servidor Elinaldo Rodrigues da Silva, em horário de expediente, teria
distribuído/doado litros de gasolina, para motociclistas, originária do Posto de Combustível, da Sra. Maria Silva de Lima, irmã do candidato João Idalino da Silva,
com distribuição de adesivos dos candidatos acima frisados em troca de voto.
Apoiam-se na juntada de fotografias, vídeos e nos depoimentos de Edivaldo Paulino da Silva e Severino Teixeira Muniz Júnior, bem como no fato de que o
servidor Elinaldo Rodrigues da Silv, teria deixado de cumprir o horário de trabalho, no Ginásio Escolar de Dona Inês, por ele informado, em seu
depoimento, (das 07:00 às 13:00h) durante o período eleitoral, para abastecer motocicletas e distribuir adesivos.
Ocorre que na documentação retromencionada não existem elementos que evidenciem a data e o local onde ocorreu a filmagem, não socorrendo os
Recorrentes/Investigantes quanto à tal tese o teor dos depoimentos do declarante, Edivaldo Paulino da Silva e das testemunhas, José Elinaldo Rodrigues da Silva
e Severino Teixeira Muniz, senão vejamos:
Edivaldo Paulino da Silva (mídia na contracapa do vol.47): Morador do Sítio Lagoa do Braz. Disse que ouviu dizer da distribuição de combustível e adesivos
para uma carreata dos Investigados (João Idalino e de seu filho Denizar). Que não sabe informar quantos litros foram distribuídos. Que segundo comentários o posto
de combustível de onde saiu a gasolina era da irmã do candidato eleito a Prefeito, João Idalino e administrado por ele. Que o fato teria sido comprovado em fotos e
vídeos. Que Elinaldo é servidor público municipal (gari), mas que exerce outra função e que teria sido o responsável pela distribuição do combustível. Acha que a
carreata foi em uma terça-feira. Que não sabe informar se houve pedido de voto em troca da doação do combustível.
José Elinaldo Rodrigues da Silva (mídia fl.9.052): Morador de Dona Inês, agente de limpeza, lotado na Secretaria de Obras do Município (efetivo). Consignou que
no dia do penúltimo evento de campanha do candidato João Idalino, soube que estava havendo doação, com vistas ao abastecimento de motos, no local onde
geralmente ocorria a concentração para os eventos políticos dos Investigados, (Pousada de Vilma), irmã do então Prefeito, Antônio Justino e que ela era a autora da
doação e estava naquela ocasião. Dirigiu-se para o local com sua moto para obter o benefício (acondicionado em garrafas pet), pra ele e para um amigo, por volta das
15:30h, durante a semana, sem se recordar em qual dia. Que no momento que lá estava tinha cerca de umas 50 motocicletas. Que trabalha no Ginásio de Dona Inês
(responsável pela abertura e fechamento), das 07:00 às 13:00 h e que esse horário funcionou durante o período da campanha. Informou que o posto de combustível
da cidade pertence à irmã de João Idalino, mas não sabe dizer se o combustível doado para abastecer as motos foi do referido estabelecimento. Que não distribuiu
adesivos e não sabe dizer se o combustível foi doado pela Prefeitura de Dona Inês.
Por sua vez, indagado sobre o fato, a testemunha Severino Teixeira Muniz (mídia na contracapa do vol. 47), asseverou ser militar, residente em Dona Inês, há cerca
de 10 anos e que não tem interesse na causa. Que acompanhou eventos políticos do PMDB (candidato Clodoaldo). Que presenciou uma pick up Strada, no único
posto de combustível da localidade, acondicionando garrafas pet de 2 litros, com combustível. Que por volta das 18:30h, um funcionário da Prefeitura, que não quis
lhe dizer o nome, entregou-lhe um vídeo no qual constava a distribuição de gasolina, que teria ocorrido no Balneário (Pousada Parque das Águas), de propriedade da
família do então Prefeito, Antônio Justino. Que o servidor Elinaldo (conhecido por Galego do celular) estaria fazendo a entrega do combustível e que houve
comentários de pedido de ajuda em prol dos candidatos, João Idalino e Denizar.
Extrai-se dos depoimentos uma nítida atmosfera de preferências políticas, a exemplo do que foi pontuado pela testemunha Severino Teixeira Muniz Júnior, quando
afirma ter acompanhado os eventos do candidato adversário do investigado João Idalino, não havendo de fato nada de consistente em sua fala, bem como no que foi
relatado pelas demais testemunhas, uma vez que se observa um contexto baseado em comentários e em conclusões de cunho subjetivo que não comprovam
efetivamente o alegado, valendo ressaltar que o fato da mudança do horário de expediente do servidor José Elinaldo, no Ginásio da edilidade, durante o período
eleitoral, não nos permite nenhuma conclusão no que tange à finalidade eleitoreira da medida administrativa, inclusive conforme apurado, a presença do citado
servidor no evento de campanha (por volta das 15:30h), ocorreu fora do horário de expediente que era das 07:00 às 13:00h.
Não há elementos robustos que comprovem ter sido o combustível distribuído em troca de voto, embora o acervo documental e testemunhal possa até apontar
indícios de ilicitudes, porém o arcabouço probatório não tem o condão de autorizar a confirmação da prática da conduta aduzida pelos Investigantes, quanto a esse
aspecto.
Sobre a aventada prática das condutas vedadas previstas nos incisos I e III do art. 73 da Lei nº 9.504/97, não há falar na cessão ou uso de bens móveis ou imóveis da
Prefeitura de Dona Inês, em benefício das candidaturas de João Idalino e José Igor Denizar Costa da Silva, nem tampouco foi demonstrada a utilização de José
Elinaldo Rodrigues da Silva, na distribuição de combustível em troca de votos, até mesmo pelo fato de que o evento político reportado nestes autos ocorreu fora do
horário do expediente do servidor, que era das 07:00 às 13:00h, inexistindo evidências de que a alteração de funcionamento do ginásio público tenha se dado apenas
no afã da utilização dos serviços do mencionado funcionário, em prol do candidato João Idalino.
Igualmente não se amolda à realidade dos autos, comprovação de abuso de poder político/econômico, fulcrada nas alegações dos Investigantes da distribuição de
combustível em troca de voto, haja vista que a ação empreendida (doação) não apresentou elementos configuradores de finalidade eleitoreira.
Já a tentativa de enquadramento do fato posto neste tópico, no tipo legal estatuído no art. 41-A da Lei das Eleições, não se sustenta. Primeiro porque não restou
demonstrado que efetivamente a distribuição de combustível tenha se dado em troca de votos, segundo, a presença dos candidatos não foi citada durante a
distribuição da gasolina por nenhuma testemunha e, finalmente, mesmo que se pudesse conjecturar sobre a possibilidade do ilícito ser praticado através de terceiros
com o intuito de beneficiar candidatos, isso tampouco é vislumbrado nos autos, seja na prova documental ou testemunhal, uma vez que os depoimentos só fazem
menção a comentários e suposições, sem prova concreta do cometimento efetivo da conduta não albergada por lei.
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Precedentes, nessa esteira:
Diante da argumentação explicitada, este Relator também afasta a tese abraçada pelos recorrentes/investigantes, no que se refere à alegação de oferta de
combustível, em troca de voto e utilização de servidor público, em consonância com a visão do ilustre Procurador Regional Eleitoral.
5) Da cessão e da utilização de bens, públicos (compressor de ar e carro) e servidores públicos em benefício de candidatos e coligação
No que se refere a esse fato, incio a análise realçando que foi o mesmo objeto de insurgência por parte dos Investigados, que pretendem ver afastada a multa que lhes
foi aplicada pela sentença, e também dos Investigantes, que pretendem ver reconhecida a gravidade exigida para a cassação dos mandatos dos candidatos vitoriosos e
a declaração de inelegibilidade por abuso de poder.
Pois bem. As alegações recusais dos INVESTIGADOS apoiam-se na inexistência de prova no que se refere à prática da conduta vedada consistente na utilização
de cilindro de ar do Hospital de Dona Inês, com vistas à utilização no enchimento de balões, em comício de encerramento dos candidatos, JOÃO IDALINO DA
SILVA e DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA, em razão de que o equipamento não era de propriedade daquela edilidade e ainda que não houve utilização de
servidores municipais, durante o horário de expediente, em serviços, no comitê de campanha dos Investigados citados.
Aclamam que o veículo de uso da Secretaria de Saúde de Dona Inês, (FORD KA, placa OEX 9274), apenas fez o transporte do equipamento para sua devolução ao
proprietário, João Idalino da Silva, que o teria emprestado à municipalidade (Secretaria de Saúde do município), à época, sob o comando de Tarciana Lucena Nunes
de Carvalho, para encher balões que seriam distribuídos às crianças, por ocasião da campanha de multivacinação, juntando cópia de um recibo de um compressor de
ar vertical, usado e na cor branca, no valor de R$ 380,00 (trezentos e oitenta reais) (fl.351), adquirido em 20 de outubro de 2010, na metalúrgica São Pedro, na
cidade de João Pessoa.
Já os INVESTIGANTES, sustentam em suas razões recursais que o transporte de um compressor, no dia 29 de setembro de 2016, pelas 10 h da manhã, do
Hospital Público de Dona Inês ao Comitê da Coligação adversária dos autores, com o intuito de encher balões que seriam usados durante o comício de encerramento,
configurou não apenas condutas vedadas pelos incisos I e III, do art. 73 da Lei das Eleições, mas também abuso de poder político e econômico (art. 22 da LC nº
64/90), tendo sido enfatizado ainda que a mencionada conduta ocorreu durante o horário de expediente dos funcionários públicos, Expedito e Marcos Barbosa, que
teriam utilizado o veículo (FORD KA, placa OEX 9274), pertencente à frota do Fundo Municipal de Saúde da edilidade apontada, com autorização da Secretária
Municipal de Saúde (Tarciana Lucena Nunes) e com o conhecimento do prefeito à época, Antônio Justino, ações que os Investigantes/Recorrentes afirmam que
foram devidamente comprovadas pelo acervo probatório presente no presente feito.
Analisando a decisão de 1º Grau extrai-se o reconhecimento, pelo Magistrado zonal, da prática dos ilícitos dispostos neste tópico, o que culminou com a condenação
à pena individual de multa, no valor de 5.000 (cinco mil) Ufir (§§ 4º e 8º do art. 73 da lei nº 9.504/97) imposta a JOÃO IDALINO DA SILVA, DEMÉTRIO
FERREIRA DA SILVA, ANTÔNIO JUSTINO DE ARAÚJO NETO e TARCIANA LUCENA NUNES, embora entendendo pela ausência de abuso de poder
político e econômico, tendo em vista a não configuração da gravidade, elemento essencial para a conclusão nesse norte.
Para melhor compreensão da matéria, examinarei o fato inicialmente abordando a alegação da utilização de um compressor pertencente ao Hospital de Dona Inês
para encher balões no comitê dos investigados destinados ao comício de encerramento (inciso I do art. 73 da lei acima citada).
Pois bem, sigamos nos assenhorando do teor dos depoimentos testemunhais que trataram desse fato.
O declarante Edivaldo Paulino, afirmou que trabalhou durante o período eleitoral como militante, cidadão e eleitor e tomou uma posição, acompanhando a
coligação adversária dos Investigados. Que estava em um ponto de moto taxi que fica na frente do restaurante Pedra Azul quando viu um veículo Ford Ka, que
trabalha para a Secretaria de Saúde de Dona Inês, dirigido pelo servidor público municipal, Expedido, acompanhado de outro servidor, que acha que é contratado,
Marcos Barbosa, sendo que ambos trabalhavam a serviço do hospital da municipalidade. Observou que retiraram da mala do citado automóvel, um objeto que não
soube dizer, no primeiro momento do que se tratava, mas com a chegada da Promotora ao local foi possível ver que era um compressor. Que ouviu comentários que
o equipamento pertencia ao Hospital de Dona Inês e que viu que estava sendo utilizado para um comício de encerramento, enchendo bolas azuis e amarelas. Que viu
a utilização do compressor porque a porta do comitê, que funcionava em frente ao restaurante Pedra Azul, era de vidro. Que na parte superior do prédio onde era
localizado o comitê residia o candidato eleito, João Idalino e que sabe dizer que tinha comunicação entre a casa e o comitê.
Por sua vez, a testemunha, Severino Teixeira Muniz Júnior, (militar), assegurou que o candidato a prefeito, à época, João Idalino residia na parte superior do prédio
no qual ficava o comitê de campanha, em frente ao restaurante Pedra Azul. Que não presenciou a apreensão do compressor porque estava trabalhando na ocasião,
mas que ficou sabendo por comentários e através da exibição de um vídeo, em que identificou o servidor Expedido retirando da mala de um Ford Ka (veículo que
prestava serviço à Secretaria Municipal de Saúde) um objeto que depois foi apreendido.
Ainda sobre o fato aqui abordado, a testemunha Elionardo Rodrigues da Silva, funcionário público estadual, com funções exercidas em uma escola em Dona Inês,
em seu depoimento, assegurou que viu “com seus próprios olhos”, a apreensão de um compressor dentro do comitê do candidato João Idalino, que estava enchendo
bolas, pois estava tomando café no restaurante Pedra Azul que fica em frente ao citado comitê. Que a visualização foi possível em razão da porta do local ser de
vidro. Que viu quando um Ford Ka preto da Prefeitura daquela edilidade chegou com os servidores Expedido e Marcos e retiraram um equipamento de dentro do
veículo, no horário aproximado das 09:30 h da manhã e que entre 10h e 10:30h a Justiça apreendeu o compressor no comitê e o levou. Que participou de comícios
do PMDB e pediu votos.
Observa-se que os elementos probatórios produzidos nos autos consistem em fotografias, depoimentos testemunhais e no auto de apreensão do compressor de ar.
Já a linha de argumentação da defesa envereda pela inexistência de prova de que veículo da Prefeitura tenha sido usado por servidores, durante horário de
expediente, para prestar serviço no comitê de campanha do candidato João Idalino, nem tampouco que o compressor apreendido pertencia ao Hospital de Dona Inês.
Sustentam que o equipamento que foi utilizado para encher bolas no comitê é de propriedade de João Idalino que o emprestou à Secretaria de Saúde do município, à
época, sob o comando de Tarciana Lucena Nunes de Carvalho, com o fim de serem distribuídas às crianças durante a campanha de multivacinação, tendo sido
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devolvido após o uso, o que para tanto, juntaram cópia de um recibo de um compressor usado, de ar vertical, na cor branca, no valor de R$ 380,00 (fl.351), adquirido
em 20 de outubro de 2010, na metalúrgica São Pedro, na cidade de João Pessoa.
No tocante à robustez do teor dos depoimentos, apesar de se verificar que eram partidários dos adversários políticos dos Investigados é inegável que a narrativa do
fato revela-se uniforme, ou seja, todos relatam de igual modo, a apreensão do compressor que chegou ao comitê dentro de um Ford Ka da Prefeitura de Dona Inês,
dirigido por Expedito que estava acompanhado de Marcos (ambos servidores públicos) e que foi possível verificar que o equipamento estava enchendo bolas por que
a porta do comitê era de vidro.
Quanto à assertiva de que o compressor apreendido era de propriedade de João Idalino e que este o teria emprestado à Secretaria de Saúde, com o fito de encher
bolas para serem entregues às crianças na campanha de vacinação e que o veículo Ford Ka, pertencente à edilidade apenas teria sido utilizado para efetuar a
devolução do equipamento ao seu proprietário, não se sustenta, pelas seguintes razões:
1. Examinando o recibo anexado pela defesa referente ao compressor de propriedade do então candidato, João Idalino (fl. 351), observa-se que se trata de um
compressor de ar vertical, usado, e no valor de R$ 380,00, já o compressor apreendido pela Justiça Eleitoral (fls. 9030, 9499 a 9503) é da marca DALTECH de 30
litros, odonto-médico, com data de fabricação em 04/2010;
2. Em pesquisa realizada na internet, verifica-se que o compressor apreendido é de uso específico em clínicas, consultórios odontológicos e postos de saúde,
conforme informação no próprio site da daltech (www.daltech.com.br › pdf › Daltch_Odontomedicos), assim como, em pesquisa no site
http://equiposerv.com.br/compressor-odontologico-30-litros-daltech constata-se que modelo similar àquele apreendido, na data de hoje, custa R$ 2.200,00;
3. Se no próprio compressor apreendido consta como data de fabricação do equipamento, abril de 2010, e no recibo apresentado pela defesa, referente à compra de
um compressor por João Idalino da Silva consta o valor de R$ 380,00, em data de 20 de outubro de 2010, pergunta-se: se um compressor, cuja fabricação foi em
abril de 2010 e atualmente esse mesmo modelo custa, em média, R$ 2.200,00, como pode ser sustentada a alegação de que o compressor adquirido pelo investigado,
João Idalino, em outubro de 2010, custou a módica quantia de R$ 380,00?
4. Outrossim, constata-se que o compressor apreendido é de uso odonto-médico, não tendo, no recibo apresentado pela defesa, nenhuma referência quanto a esse
ponto.
Pois bem, do que foi exposto é possível a constatação da utilização do compressor de ar, não tendo a defesa logrado êxito na tentativa de comprovar que o recibo
anexado aos autos refere-se ao mesmo compressor apreendido.
O que se pode concluir é que o equipamento utilizado foi aquele apreendido, tendo ficado patente que o mencionado compressor foi transportado em veículo
público, por servidores públicos e durante o horário de expediente, não tendo a defesa se desincumbido em provar o contrário, visto que apenas limitou-se a sustentar
que o transporte do compressor ocorreu fora do período laboral, configurando assim, as condutas vedadas previstas nos inciso I e III do art. 73, da Lei das Eleições.
Partindo-se da premissa que o intuito do legislador, quando estatuiu as condutas vedadas elencadas no artigo de lei mencionado, é o de coibir o uso da máquina
pública de forma ilícita e de evitar o desequilíbrio nos pleitos, o exame daquelas deve ser feito de maneira objetiva, com interpretação restritiva, dispensando para o
seu aperfeiçoamento, a produção do resultado naturalístico e a análise da finalidade eleitoral do ato, sendo suficiente a sua prática.
“… A configuração das condutas vedadas prescritas no art. 73 da Lei nº 9.504/97 se dá com a mera
prática de atos, desde que esses se subsumam as hipóteses ali elencadas ...”
(RESPE nº 695-41/GO, Rel. Min. Gilmar Ferreira Mende, DJE de 26.06.2015)
“… As hipóteses de conduta vedada previstas no art. 73 da Lei nº 9.504/97 têm natureza objetiva.
Verificada a presença dos requisitos necessários à sua caracterização, a norma proibitiva
reconhece-se violada, cabendo ao julgador aplicar as sanções previstas nos §§ 4º e 5º do referido
artigo de forma proporcional. ...”
(Ação Cautelar nº 0000185-10.2015.6.00.0000 – Belterra/PA, julgamento em 07.04.2016, Relator: Ministro
Henrique Neves da Silva)
“EMENTA: RECURSOS ELEITORAIS. (...) UTILIZAÇÃO DE SERVIDORES E VEÍCULO OFICIAL. CONDUTAS
VEDADAS. ART. 73, I E III, DA LEI nº 9.504/1997. PROVAS CONTUNDENTES. GRAVAÇÃO AMBIENTE E
CONFIRMAÇÃO POR TESTEMUNHAS. ABUSO DE PODER ECONÔMICO E POLÍTICO CONFIGURADOS. RECURSOS
CONHECIDOS E NÃO PROVIDOS. SENTENÇA MANTIDA.
[...]
4. Conforme os incisos I e lII, do citado art. 73: configuram condutas vedadas aos agentes públicos ceder ou
usar, em beneficio de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à
administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios,
ressalvada a realização de convenção partidária ou mesmo ceder servidor público ou empregado da
administração direta ou indireta federal, estadual ou municipal do Poder Executivo, ou usar de seus serviços,
para comitês de campanha eleitoral de candidato, partido político ou coligação, durante o horário de
expediente normal, salvo se o servidor ou empregado estiver licenciado”.
(Recurso Eleitoral N° 313-60.2016.6.06.0054 - RELATOR: JUIZ ALCIDES SALDANHA LIMA – Publicado no DJE
em 28.07.2017 – TRE/CE) (sem grifo no original)
“Representação. Conduta Vedada. Art. 73, incisos, I e III, da Lei 9.504/97. Alegação de uso de servidores
públicos municipais em atos de campanha eleitoral e reunião durante o expediente de trabalho; uso de veículo
do município em benefício de campanha eleitoral; veículos dos servidores contendo propaganda eleitoral no
estacionamento da Prefeitura.
[…]
Comprovação do trabalho de servidores que não se encontravam de férias, licenciados ou em gozo de banco
de horas no horário de expediente. Mídia não impugnada.
[…]
O conjunto probatório informa que a máquina administrativa municipal foi utilizada para o fim de beneficiar
Antônio Pinheiro Neto, devendo ser reiterado que o apoio do Prefeito Moacir Martins da Costa Júnior a ele não
era desconhecido do público”.
(REPRESENTAÇÃO Nº 0605661-12.2018.6.13.0000 – RIBEIRÃO DAS NEVES - RELATOR: JUIZ MARCELO
BUENO – Julgado em 11.11.2019 – TRE/MG)
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Desse modo, a utilização do compressor de ar, de propriedade da Secretaria de Saúde de Dona Inês, contraria frontalmente a norma e se amolda em conduta despida
do correto exercício das atribuições públicas (benefício de candidatos) do gestor e da titular da pasta da Saúde daquela edilidade, sendo pertinente a aplicação da
multa aplicada na decisão recorrida.
Por outro lado, conforme as disposições constantes no § 4º do referido normativo, além da aplicação da pena de multa, que é de cinco a cem mil Ufirs e que deve ser
imposta aos “agentes públicos responsáveis pelas condutas vedadas e aos partidos, coligações e candidatos que delas se beneficiarem”, podem ditas condutas, em
determinados casos, gerarem a cassação do registro ou do diploma do candidato beneficiado, agente público ou não (§ 5º).
Posto isso, pontua-se que uma vez configurada a prática das condutas vedadas, imprescindível o exame quanto à gravidade dos atos, a fim de que seja aferida a
existência ou não do abuso de poder político/econômico capaz de autorizar a cassação do registro ou do diploma e ainda a penalidade de inelegibilidade, conforme o
caso, sendo autorizado pela farta doutrina e jurisprudência aplicáveis à espécie, os princípios da proporcionalidade e razoabilidade para a imposição da sanção
adequada.
No caso em disceptação, esta Relatoria não vislumbra a gravidade necessária para aplicação da severa pena de cassação cumulada com inelegibilidade, na mesma
esteira do entendimento do eminente Magistrado sentenciante e do ilustre Procurador Regional Eleitoral.
Indubitavelmente, embora a utilização do compressor de ar, de propriedade da Secretaria de Saúde de Dona Inês, contrarie a norma e se amolde à conduta despida do
correto exercício das atribuições públicas (benefício de candidatos) do gestor e da titular da pasta da Saúde, daquela edilidade, depreende-se da análise que a
utilização do equipamento, ocorrida em apenas uma oportunidade, consistiu no enchimento de balões na sede do comitê eleitoral dos candidatos, João Idalino da
Silva, Demétrio Ferreira da Silva e José Igor Denizar e ainda que a participação de servidores públicos, no horário de expediente (conforme atestado de forma
uníssona pelos depoentes), no transporte do citado equipamento, igualmente aconteceu naquele momento, sem ser demonstrada, durante toda a instrução do feito, a
continuidade delitiva da conduta, não servindo como elemento autorizativo para a aplicação das sanções mais gravosas, apenas o registro de que a diferença de votos
entre os candidatos foi de 33 (trinta e três) votos.
“(…) Para se caracterizar o abuso de poder, impõe-se a comprovação, de forma segura, da gravidade dos fatos
imputados, demonstrada a partir da verificação do alto grau de reprovabilidade da conduta (aspecto
qualitativo) e de sua significativa repercussão a fim de influenciar o equilíbrio na disputa eleitoral (aspecto
quantitativo). A mensura dos reflexos eleitorais da conduta, não obstante deve continuar a ser ponderada pelo
julgar, não constitui mais fator determinante para a ocorrência do abuso de poder, sendo agora revelado,
substancialmente, pelo desvalor do comportamento.”
(AIJE nº 060185189 – Brasília/DF. Rel. Min. Jorge Mussi. DJE de 12.03.2019).
Nesse cerne, igualmente elucidativo o seguinte trecho do parecer ministerial, que, enfrentando a questão asseverou: “Diante desse quadro fático-probatório, embora
caracterizada a prática de conduta vedada, nos termos do art. 73, I e III, da Lei nº. 9.504/97, forçoso reconhecer a ausência de provas qualitativas para atacar a
normalidade e a legitimidade do pleito e, por conseguinte, sustentar a cassação de registro ou de diploma pelo abuso de poder, nos termos do art. 22, XIV, da LC nº
64/90”.
Por fim, mais um precedente nesse mesmo diapasão, oriundo do colendo Tribunal Superior Eleitoral:
“(…) Para se caracterizar o abuso de poder, impõe-se a comprovação, de forma segura, da gravidade dos fatos
imputados, demonstrada a partir da verificação do alto grau de reprovabilidade da conduta (aspecto
qualitativo) e de sua significativa repercussão a fim de influenciar o equilíbrio na disputa eleitoral (aspecto
quantitativo). A mensura dos reflexos eleitorais da conduta, não obstante deve continuar a ser ponderada pelo
julgar, não constitui mais fator determinante para a ocorrência do abuso de poder, sendo agora revelado,
substancialmente, pelo desvalor do comportamento.”
(AIJE nº 060185189 – Brasília/DF. Rel. Min. Jorge Mussi. DJE de 12.03.2019).
DISPOSITIVO
Isso posto, amparando-me nos fundamentos fáticos e jurídicos aqui expostos, voto pelo desprovimento do apelo dos Investigados ANTÔNIO JUSTINO DE
ARAÚJO NETO, TARCIANA LUCENA NUNES DE CARVALHO, JOÃO IDALINO DA SILVA e DEMÉTRIO FERREIRA DA SILVA, para manter, nos termos
deste voto, o entendimento da sentença que, reconhecendo a prática da conduta vedada consistente na utilização de cilindro de ar do Hospital de Dona Inês e de
veículo púbico em benefício de candidaturas sem impingir ao fato a gravidade exigida para configuração do abuso de poder, aplicou-lhes multa no valor mínimo
previsto em lei, afastando, porém, a sanção de cassação de diploma e a declaração de inelegibilidade.
No que se refere ao recurso dos Investigantes, VOTO pelo seu provimento parcial, reformando a sentença para, reconhecendo a prática da conduta vedada
tipificada no art. 73, §10, da Lei n.º 9.504/97 e o abuso de poder político com viés econômico na parte referente à distribuição de bens, valores e benefícios, aplicar,
de modo individualizado, as seguintes sanções:
1. Sr. Antônio Justino de Araújo Neto, então Chefe do Executivo, a pena de multa no valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) e de inelegibilidade, com
fundamento no § 4º do artigo 73 da Lei nº 9.504/97 c/c artigo 22, XIV da Lei Complementar nº 64/90;
2. Sra. Sofia Ulisses Santos Queiroz, então Secretária de Assistência Social e Habitação, a pena de multa no valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) e de
inelegibilidade, com fundamento no § 4º do artigo 73 da Lei nº 9.504/97 c/c artigo 22, XIV da Lei Complementar nº 64/90.
3. Sr. João Idalino da Silva, então Vice-Prefeito e atual Prefeito, as penas de multa no valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) e de cassação do diploma, com
fundamento nos §§ 4º e 5º do artigo 73 da Lei nº 9.504/97
4. Sr. Demétrio Ferreira da Silva, atual Vice-Prefeito, as penas de multa no valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) e de cassação do diploma, com fundamento
nos §§ 4º e 5º do artigo 73 da Lei nº 9.504/97.
Cassados os diplomas do Prefeito e Vice-prefeito eleitos em 2016, e por conseguinte, seus mandatos, com base no entendimento manifestado pelo Tribunal Superior
Eleitoral (ED-REspe nº 139-25/RS) e pelo STF (ADI nº 5525), devendo haver a convocação de novas eleições, após a publicação do acórdão, sendo o prazo fixado
através de Resolução a ser elaborada pela Corregedoria Eleitoral, para os cargos de prefeito e vice-prefeito no Município de Dona Inês/PB, nos termos do art. 224,
§§ 3º e 4º, II, do Código Eleitoral, in verbis:
Art. 224.
§ 3 º A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda
do mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de
novas eleições, independentemente do número de votos anulados. (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) (Vide
ADIN Nº 5.525)
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§ 4 º A eleição a que se refere o § 3 º correrá a expensas da Justiça Eleitoral e será: (Incluído pela Lei nº
13.165, de 2015) (Vide ADIN Nº 5.525)
I - indireta, se a vacância do cargo ocorrer a menos de seis meses do final do mandato; (Incluído pela Lei nº
13.165, de 2015) (Vide ADIN Nº 5.525)
II - direta, nos demais casos. (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) (Vide ADIN Nº 5.525)
Quanto ao cumprimento da decisão judicial e a convocação do novo pleito, ressalto a tese fixada pelo TSE no Recurso Especial Eleitoral nº 139-25 (Relator(a) Min.
Henrique Neves Da Silva, PSESS em 28/11/2016), nos seguintes termos:
[…]
FIXAÇÃO DE TESE. CUMPRIMENTO DA DECISÃO JUDICIAL E CONVOCAÇÃO DE NOVAS ELEIÇÕES.
1. As hipóteses do caput e do § 3º do art. 224 do Código Eleitoral não se confundem nem se anulam. O caput
se aplica quando a soma dos votos nulos dados a candidatos que não obteriam o primeiro lugar ultrapassa
50% dos votos dados a todos os candidatos (registrados ou não); já a regra do § 3º se aplica quando o
candidato mais votado, independentemente do percentual de votos obtidos, tem o seu registro negado ou o
seu diploma ou mandato cassado.
2. A expressão "após o trânsito em julgado", prevista no § 3º do art. 224 do Código Eleitoral, conforme
redação dada pela Lei 13.165/2015, é inconstitucional.
3. Se o trânsito em julgado não ocorrer antes, e ressalvada a hipótese de concessão de tutela de
urgência, a execução da decisão judicial e a convocação das novas eleições devem ocorrer, em
regra:
3.1. após a análise dos feitos pelo Tribunal Superior Eleitoral, no caso dos processos de registro de candidatura
(LC 64/90, arts. 3º e seguintes) em que haja o indeferimento do registro do candidato mais votado (art. 224,
§ 3º) ou dos candidatos cuja soma de votos ultrapasse 50% (art. 224, caput); e
3.2. após a análise do feito pelas instâncias ordinárias, nos casos de cassação do registro, do
diploma ou do mandato, em decorrência de ilícitos eleitorais apurados sob o rito do art. 22 da Lei
Complementar 64/90 ou em ação de impugnação de mandato eletivo.”
Comunique-se o inteiro teor do presente decisum ao Excelentíssimo Senhor Juiz da 14ª Zona Eleitoral, para conhecimento e providências pertinentes.
RELATOR
______________________________________________________________________________________________________________________________________
2 Decretos estaduais: Decreto nº 36.253/2015 (de 15.10.2015 a 12.04.2016) e Decreto nº 36.633/2016 (de 10.04.2016 a 07.10.2016). Decretos municipais: Decreto
n.º 1.276/2015 (de 06.11.2015 a 04.05.2016), Decreto n.º 1.286/2016 (de 05.05.2016 a 01.11.2016) e Decreto n.º 1.302/2016 (de 06.10.2016 a 04.04.2017.
5 Nesse sentido: AgInt nos Edcl no Aresp 1067603/RS, Rel. Min. Og Fernendes, j. em 15/05/2018; REsp 1.206.805/PR, Rel. Min. Raul Araújo, j. em 21/10/2014;
6 Res. TSE nº 223.457/2015, Art. 62, § 4º. O descumprimento do disposto neste artigo acarretará a suspensão imediata da conduta vedada, quando for o caso, e
sujeitará os agentes responsáveis à multa no valor de R$5.320,50 (cinco mil, trezentos e vinte reais e cinquenta centavos) a R$106.410,00 (cento e seis mil,
quatrocentos e dez reais), sem prejuízo de outras sanções de caráter constitucional, administrativo ou disciplinar fixadas pelas demais leis vigentes (Lei nº
9.504/1997, art. 73, § 4º, c.c. o art. 78).
Documento assinado eletronicamente por Des. José Ricardo Porto em 27/04/2020, às 15:47, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
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9/29/2020 SEI/TRE-PB - 0707272 - Decisão
PROCESSO: 0006199-73.2020.6.15.8000
INTERESSADO: @interessados_virgula_espaco@
_____________________________________________________________________________________DECLARAÇÃO
DE VOTO
Em virtude da diversidade de fatos aduzidos na inicial e em razão da aparente complexidade da matéria distribuída nos 48
volumes que constituem o processo, pedi vista dos autos para realizar uma análise mais aprofundada dos argumentos e
das provas apresentadas.
De início, ressalto que me acosto integralmente ao voto do eminente relator, assim como ao entendimento defendido no
parecer ministerial, no que se refere às alegações que tratam: da contratação de servidores por excepcional interesse
público e de comissionados durante o ano de 2016; da utilização de bem pertencente à Prefeitura de Dona Inês em
propriedades rurais; da distribuição de materiais de construção na véspera do pleito; e da distribuição gratuita de
combustível.
Desse modo, esclareço que o objeto do meu pedido de vista ficará limitado à análise das ajudas financeiras supostamente
realizadas com finalidade eleitoreira e à alegada cessão e utilização de bens, materiais e servidores públicos em benefício
da candidatura dos investigados, precisamente o uso de um compressor/cilindro de ar/oxigênio.
Passo a analisar, primeiramente, a conduta referente à suposta concessão de auxílios financeiros em desconformidade
com a legislação eleitoral atribuída aos investigados Antônio Justino de Araújo Neto, então Prefeito de Dona Inês,
Sofia Ulisses Santos Queiroz, à época Secretária de Assistência Social e Habitação, e sua Secretária Adjunta, Caliny
Muniz de Lima, que serviu de fundamento ao voto do ilustre relator para julgar procedente em parte a ação.
Nesse ponto, as partes investigantes sustentam que os três investigados acima nominados praticaram conduta vedada e
abuso de poder em favor das candidaturas de João Idalino da Silva, Demétrio Ferreira de Lima e José Igor Denizar
Costa da Silva, também investigados, consubstanciados na distribuição gratuita de bens e valores durante o ano de 2016,
sem amparo em programa social ou em razão de estado de calamidade ou emergencial, com gravidade suficiente para
macular a legitimidade do pleito, não estando contemplada entre as exceções estabelecidas no art. 73, § 10, da Lei n.º
9.504/97.
Sustentam, ainda, o desvirtuamento da Lei Municipal n.º 336/2001, argumentando que a referida lei não institui programa
social específico capaz de identificar as ações de governo no âmbito da assistência social, bem assim que o seu conteúdo
constitui a reprodução da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS que apenas autoriza o Poder Executivo a realizar
despesas com doações às pessoas em situação de vulnerabilidade social, porém sem critérios objetivos definidos
previamente para a concessão dos benefícios.
No ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores
ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade
pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em
execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá
promover o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa.
Como bem destacado no voto do Relator, questão semelhante já foi apreciada por esta Corte quando do julgamento do
processo n. 266-42, oriundo do município de Tacima, de relatoria do ilustre juiz Sérgio Murilo Wanderley Queiroga.
Transcrevo a ementa desse julgado no que mais importa:
[...]
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Naquela ocasião, sustentei que, apesar de manter restrições quanto a esses ditos programas sociais, não raras vezes
criados por lei genérica que não apresenta critérios bem definidos, nem objeto específico e procedimento próprio,
considero que o contexto político administrativo de grande parte dos municípios paraibanos oferece um certo embaraço à
necessidade de se exigir que os programas sociais assistencialistas estejam previstos em lei de forma perfeitamente
estruturada, apesar de ser esse o cenário ideal.
Sendo assim, tendo em consideração o precedente acima destacado e o entendimento que venho mantendo nos processos
já apreciados, vou seguir na mesma linha de convencimento, até porque, em se tratando de um mesmo pleito, não se
espera que este Tribunal passe agora a adotar um critério de julgamento distinto para casos semelhantes.
Nessa última hipótese, tendo em vista os limites de sua competência, entendo que este Tribunal deve se restringir a
analisar a ocorrência de alguma ação deliberada por parte dos investigados com o fim de interferir na vontade do eleitor,
isto porque, até mesmo um eventual desvirtuamento da lei municipal só importará à configuração do suposto abuso de
poder se demonstrado, nos autos, o seu liame com o pleito.
Nas razões do recurso, os investigantes reafirmaram a alegada ausência de programa instituído por lei para a concessão
dos benefícios (conduta vedada) e o desvirtuamento da Lei Municipal n.º 336/2001 (abuso de poder).
Não foram apresentadas contrarrazões pelos investigados/recorridos. No entanto, em sede de contestação, a defesa
argumentou que as doações questionadas estão amparadas na Lei Municipal n. 336/2001, no Decreto n. 1013/209, na Lei
Municipal n. 674/2014, na Resolução n. 18/2014 e no Decreto n. 1.247/2015, que, no seu dizer, traçam critérios objetivos
para a concessão dos benefícios.
Acrescentou que “a Secretária de Assistência Social e Habitação segue rigorosamente um roteiro legal em processo
administrativo formalizado por REQUERIMENTO do munícipe, análise social, parecer social, e, em seguida segue para
o setor financeiro que empenha a despesa dentro da rubrica correta.”
E por fim, aduziu que o município de Dona Inês teve o estado de calamidade pública decretado nos anos de 2012 a 2016,
que houve vertiginosa diminuição de gasto com doações no decorrer dos exercícios de 2009 até 2016 e que a rubrica
utilizada para as doações assistenciais encontra-se presente na Lei Orçamentária sob o subitem n. 08.244.2018.2.029
(manter atividades de assistência a comunidade), do item 3.3.90.48.00 (auxilio financeiro a pessoa física).
Analisando as alegações e os documentos trazidos aos autos pelas partes, é possível constatar que tanto a Lei Municipal
n. 336/2001 quanto a Lei Municipal n. 674/2014 conferem expressa autorização ao Chefe do Poder Executivo do
município de Dona Inês para realizar dispêndio de recursos com a concessão de auxílio financeiro a pessoas carentes.
Constata-se ainda, conforme consignado na sentença recorrida, “que esse tipo de benefício já vinha sendo disponibilizado
pelo Município de Dona Inês em anos anteriores, conforme se pode aferir da vasta documentação acostada indicando a
execução de tal política assistencial nos anos de 2014 e 2015, havendo, assim, demonstrativo do dispêndio sendo
executado /realizado nos anos de 2014, 2015 e 2016.”
Em vista disso, e tendo em conta o posicionamento defendido nos precedentes da Corte referentes ao mesmo pleito,
entendo configurada a exceção prevista no §10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997, não havendo que se falar em conduta
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vedada, vez que não se trata de programa novo na prática municipal, mas de ação que já vinha sendo executada em anos
anteriores.
Nesse particular, é válido ressaltar que o §10 do artigo 73 da Lei das Eleições faz expressa menção à possibilidade de o
Ministério Público promover o acompanhamento da execução financeira e administrativa dos programas sociais
realizados no ano eleitoral.
Essa atuação prévia e concomitante dos órgãos de fiscalização no acompanhamento da execução financeira e
administrativa dos programas sociais não apenas contribuiria para a construção da responsabilidade do administrador,
como também evitaria o manejo de ações como a presente, de forma que, muito provavelmente, não estaríamos a discutir
sobre o conteúdo de uma lei que vem sendo aplicada há quase 20 anos, considerando que foi editada em 2001, e que, ao
que parece, continuará servindo de fundamento legal para tantas outras administrações que se seguirem.
Por outro lado, ainda que não configurada a prática de conduta vedada, é possível que essa ação estatal, autorizada por
Lei Municipal e com execução orçamentária no exercício anterior, venha a caracterizar ilícito eleitoral, caso se comprove
que a sua execução foi direcionada para auferir benefícios eleitorais.
Essa eventual irregularidade, entretanto, haverá de ser analisada sob o viés do abuso de poder, haja vista que o § 10 do
artigo 73 da lei 9.504/1997 exige, para fins de constatação da exceção nele prevista, tão somente a autorização legislativa
e a execução orçamentária no ano anterior, o que, a meu sentir, restou atendido.
É muito importante ressaltar que a inicial não menciona a doação de benefícios a pessoas não carentes, tampouco se alega
um aumento de gastos em relação aos anos anteriores ou do número de pessoas beneficiadas. A argumentação,
apresentada de forma genérica, é toda no sentido de que os investigados distribuíram bens, valores e serviços de forma
indiscriminada e para fins eleitorais.
Argumenta-se, também, que os empenhos extraídos do SAGRES comprovam que a partir de janeiro de 2016 a Prefeitura
de Dona Inês passou a distribuir gratuitamente bens e valores à população, caracterizando, assim, a compra de votos e o
uso da máquina pública, configurando abuso de poder político com viés econômico.
Para comprovar suas alegações, os autores requereram que fosse requisitado ao TCE/PB cópias dos balancetes
encaminhados pelo município de Dona Inês e todos os empenhos referentes aos meses de janeiro a setembro de 2016,
para análise das doações.
Na fase de diligências, requereram ainda cópia dos cheques e transferências bancárias em favor dos beneficiários (f.
4151).
O art. 22 da Lei Complementar n. 64/1990 estabelece textualmente que qualquer partido político, coligação, candidato ou
Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, “relatando fatos e indicando provas, indícios e
circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico
ou do poder de autoridade”.
O presente caso, no que se refere ao fato ora em apreciação, é mais um exemplo de ações movidas por candidato
derrotado, fundada em alegação genérica, na medida em que se espera que a própria Justiça Eleitoral cuide de realizar
uma verdadeira auditoria nas contas do município, tanto é assim que o pedido de requisição de documento ao TCE foi
formulado para viabilizar uma análise das doações e não para a comprovação dos fatos precisamente apontados. Ora, uma
coisa é comprovar uma irregularidade que se alega; outra é analisar as contas do município em busca de uma eventual
irregularidade que possa servir de fundamento a um pedido de cassação.
Não é demais lembrar que, em processos dessa natureza, a Justiça Eleitoral analisa as provas (apresentadas ou
produzidas) e não as contas do município.
Devo repetir que, na inicial da ação, as partes investigantes sequer alegaram um aumento de despesa com as doações ou
do número de pessoas beneficiadas no ano eleitoral, nem mesmo negaram a condição de vulnerabilidade dos
beneficiários - apesar de estarem todos identificados por nome e CPF -, o que, a princípio e em tese, poderia servir de
indício de uma suposta prática abusiva em benefício de determinada candidatura.
Apenas agora, em grau de recurso, argumentaram que os depoimentos das testemunhas Edivaldo Paulino (que confessou
em juízo ser militante da coligação adversária dos investigados) e Severino Teixeira (que, segundo consignado no voto do
Relator e no parecer ministerial, também é partidário dos adversários dos investigados) comprovam que vários
beneficiários não são pessoas carentes, contudo, o recurso não aponta um nome sequer.
Em contrapartida, o juiz sentenciante ao analisar o total da despesa realizada com as doações nos anos que antecederam
ao da eleição, consignou que “a variação da quantidade de beneficiários únicos por ano e valor pago por ano no
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período de 2014 a 2017 demonstra que no ano eleitoral de 2016 não houve aumento de gasto que pudesse, ainda que na
forma indiciária, caracterizar a prática de abuso de poder político com viés econômico.” (f. 9582).
Afirmou, ainda Sua Excelência, que não se extrai dos autos, “principalmente a partir dos auxílios concedidos, um
aumento expressivo de eleitores beneficiados, o que seria imprescindível para configurar a gravidade inerente ao
comando normativo e, por conseguinte, conferir aptidão para macular a normalidade e a legitimidade do pleito ante o
uso da concessão de auxílio financeiro com desvio de finalidade direcionado à maximização das suas possibilidades de
êxito na disputa eleitoral.” (f. 982 v.)
Tais afirmações não foram contestadas nas razões recursais apresentadas pelas partes investigantes, sendo possível
concluir que, de fato, não houve aumento significativo da despesa com os benefícios assistenciais no ano de 2016, nem
mesmo do número de pessoas assistidas.
Quanto esse fato, saliento que o voto do Relator e o parecer ministerial também não fazem qualquer registro quanto a um
possível incremento do número de doações realizadas ou de valores dispendidos com esse fim.
Mas, ainda que assim não fosse, é certo que esta Corte já decidiu que o simples aumento de despesa com doações
assistenciais, sem contornos de finalidade eleitoreira, por si só, não caracteriza a prática de ato abusivo.
[…]
5. O aumento de gastos com Assistência Social, sem comprovação de fins eleitoreiros, não
caracteriza abuso de poder político com viés econômico, pois o favorecimento eleitoral,
com uso excessivo desses recursos, é requisito indispensável para a caracterização da
mencionada prática abusiva.
[...]
Percebe-se, portanto, que a discussão quanto ao suposto abuso de poder está relacionada às finalidades das doações que
foram descritas nos empenhos extraídos do sistema SAGRES.
Primeiramente, devo esclarecer, na linha do que venho defendendo em meus votos, tanto como Relator quanto na
condição de vogal, que a simples juntada de empenhos extraídos do sistema SAGRES não se mostra suficiente à
comprovação dos fatos, nem tornam suspeitas todas as doações realizadas pelo prefeito no ano de 2016.
Desse modo, ainda que presentes irregularidades no ato de concessão dos benefícios, há de se ter claramente demonstrada
a finalidade de angariar voto, isto porque, como é cediço, as ações eleitorais não constituem espaço adequado para
questionamentos atinentes ao mérito dos atos administrativos propriamente dito, sobretudo quando esses atos estão
fundados em Lei que já vem sendo executada em anos anteriores e, ao que parece, sem qualquer censura, quer por parte
dos órgãos de fiscalização e controle, quer do próprio Poder Judiciário.
Ao reconhecer a prática de abuso de poder, o eminente Relator, citando trecho do parecer ministerial, concluiu que “a
distribuição de auxílios financeiros com base em legislação ampla e genérica, desprovida de um programa social
devidamente instituído no Município e ainda sem observar, em algumas situações, os critérios fixados em lei, apontam o
intuito eleitoral, afetando a igualdade de chances entre os candidatos e a legitimidade do pleito.” - grifei
Analisando o conteúdo da Lei n. 336/2001 que regulamenta a destinação de recursos para atender doações a pessoas
carentes e outras despesas no âmbito do município de Dona Inês, observo que o seu art. 2º permite, entre outras, a
concessão de auxílio para despesas com gêneros alimentícios, medicamentos, consultas médicas especializadas, exames
laboratoriais, auxílio para obtenção de documento, auxílio e passagem para deslocamento para outras cidades com o
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objetivo de obter trabalho, despesa com mudança de residência, fardamento e material escolar, material de construção,
pagamento de aluguel de pessoas carentes, aquisição de óculos, aquisição de aparelho de locomoção, transporte e
material esportivo, despesas com tratores equipados com grades e arados na preparação de terras e outros insumos
agrícolas, auxílio para contratação de casamento civil ou religioso (tais como taxas, vestes e transportes de nubentes), etc.
Já os empenhos apresentados com a inicial (fls. 201/275) apresentam as seguintes finalidades: aquisição de bota
ortopédica, de ferramenta para trabalho na agricultura, de material de construção, de material escolar, despesa com
aluguel, ajuda para financeira para obtenção de 2ª de documento pessoal, compra de passagem para deslocamento para
outras cidades com o objetivo de obter trabalho, aquisição de óculos, consulta médica em outro centro, compra de
medicamento e de defensivos agrícolas, além de ajuda financeira para compra de enxoval, para compra de figurino e
despesa com costura para quadrilha junina do município, para realização de festejo junino em comunidade, para
locomoção em razão de colação de grau e para representação do município em exposição de artesanato e, por fim, uma
doação sem finalidade específica destinada a pessoa carente.
Observa-se, portanto, que dos empenhos anexados aos autos, apenas alguns apresentam uma finalidade de despesa que
não está expressamente relacionada na Lei Municipal n. 336/2001 ou sem finalidade especificada.
Contudo, mesmo no que tange a esses empenhos cujas finalidades descritas, à primeira vista, podem não estar
contempladas no rol de despesas autorizadas pela referida lei (fato que pode vir a ser discutido no campo da improbidade
administrativa e perante o juízo competente), não foi apresentada qualquer prova que indique uma motivação eleitoral
para a sua realização.
Nesse ponto, transcrevo trecho do parecer ministerial onde foram destacadas as possíveis irregularidades:
Com base nos dados da tabela supra, é possível observar um total de 127 (cento e vinte e
sete) empenhos, com 126 (cento e vinte e seis) pareceres sociais emitidos, contemplando
um total de 103 (cento e três) beneficiários, com predominância da concessão de auxílios
para o custeio de medicamentos, exames, passagens, reparos em residência e aluguéis.
Analisando os empenhos, veja que foram realizadas doações em total descompasso com
as leis municipais, que supostamente autorizariam a distribuição de benesses em Dona
Inês/PB, como o “pagamento de ajuda financeira para fazer face as compras de figurinos
e despesa com costura para quadrilha Junina Paraíba Forrozeira” (empenho de fl.
1.674).
Aqui peço vênia a todos os que pensam em sentido contrário para afirmar, como venho repetindo em meus
pronunciamentos, que não é razoável esperar que a Justiça Eleitoral passe a resolver os problemas administrativos dos
municípios brasileiros ou mesmo que avoque para si a função de afastar os maus administradores por atos que não se
mostrem revestidos de caráter eleitoreiro, isto porque o bem jurídico tutelado pela legislação eleitoral está sempre
vinculado à garantia da normalidade e da legitimidade do pleito, da liberdade do voto e da igualdade entre os candidatos
em disputa, o que, no caso dos autos, não vislumbrei atingidos.
Relativamente à alegada pouca diferença de votos entre os candidatos ao pleito majoritário (33 votos), resta dizer que,
embora possa vir a ser considerada para fins de avaliação da gravidade da conduta, não comprova, por si só, uma
eventual prática de ato abusivo que possa servir de fundamento à procedência de uma ação de investigação judicial
eleitoral que visa à cassação de mandatos eletivos.
Ê
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[...]
[...]
[...]
Quanto a esse fato, portanto, divergindo do entendimento do eminente Relator, não entendo configurado o alegado abuso
de poder político com viés econômico, nem mesmo a conduta vedada defendida no recurso dos investigantes.
Relativamente à suposta cessão e utilização de bens, materiais e servidores públicos em benefício das candidaturas dos
investigados, percebe-se que há um recurso manejado pelos investigantes, que pedem que seja reconhecida a gravidade
da conduta para caracterizar o abuso de poder, e outro pelas partes investigadas, objetivando afastar a pena de multa
aplicada na sentença em decorrência da prática da conduta vedada pelo art. 73, I e III da L ei das Eleições.
A tese apresentada pela defesa, no sentido de que não se trata de um cilindro de oxigênio, mas sim de um compressor de
ar velho de propriedade de João Idalino da Silva que o teria emprestado à Secretaria de Saúde para encher balões para
serem usados em campanha de vacinação e de que, portanto, apenas teria recebido o equipamento de volta, não encontrou
amparo em qualquer prova dos autos.
Na verdade, esse argumento apenas reforçou a conclusão da prática do ilícito, na medida em que restou comprovado que
o aparelho que foi apreendido por um oficial de justiça e um oficial de promotoria a serviço da Justiça Eleitoral no
interior do comitê de campanha do então candidato a prefeito não é o mesmo a que se refere o recibo por ele apresentado,
uma vez que se trata de equipamento de uso odonto médico.
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Portanto, sendo certo que o bem foi retirado do Hospital Municipal de Dona Inês e levado por servidores do município, e
considerando, ainda, a sua especificidade (por ser de uso odonto médíco) e o fato de ter sido apreendido e retirado do
interior de um comitê de campanha por oficiais a serviço da Justiça Eleitoral, caberia à defesa comprovar que não se trata
de equipamento pertencente ao Hospital de Dona Inês, e não o contrário.
Não procede, portanto, o argumento de que o aparelho encontrado é de propriedade de um dos investigados, uma vez que
o recibo apresentado, além de não ser suficiente à comprovação da propriedade, não faz qualquer referência no que
concerne à descrição do bem ( f. 9614).
Além disso, conforme destacado no parecer, a propriedade do veículo utilizado não foi contestada pela defesa dos
investigados, posto que apenas se alegou não ter o fato ocorrido no horário do expediente dos servidores (f. 351).
Quanto à participação dos servidores municipais Expedito e Marcos Barbosa, da mesma maneira, ficou claro pela própria
defesa dos investigados que ambos participaram do ato de entrega do equipamento, haja vista que, como já ressaltado,
nas razões recursais, apenas se alega que o fato não se deu no horário de expediente (f. 9613).
Por fim, relativamente ao horário do fato, é suficiente dizer que os investigados não lograram demonstrar que os
servidores não se encontravam no horário de trabalho, até porque ambos estavam utilizando um veículo pertencente ao
município.
Sendo assim, tratando-se de conduta vedada, a constatação da prática ilícita é suficiente para a configuração do ilícito,
restando a análise dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade para definição da pena a ser aplicada.
Nesse particular, acompanho o voto do relator no que tange à ausência de gravidade da conduta, bem assim ao quantum
da multa aplicada (mínimo legal) no que se refere ao prefeito da época, Antônio Justino de Araújo Neto, à Secretária de
Saúde, Tarciana Lucena Nunes de Carvalho e ao então candidato a prefeito João Idalino da Silva, uma vez que esse
último demonstrou ter anuído com a conduta na medida em que não negou o conhecimento do fato, tendo apresentado
uma versão divergente que não encontra respaldo nas provas carreadas aos autos.
No que concerne à extensão da multa aplicada ao candidato a vice-prefeito, Demétrio Ferreira da Silva, na condição de
beneficiário, vou ressalvar o meu entendimento por acreditar que a aplicação da pena de multa, em casos de não reeleição
como o ora analisado, demanda, ainda que em grau mínimo, a prova da adesão do candidato à conduta do agente público,
sob o risco de estarmos adotando, na prática, a responsabilidade objetiva por ato ilícito de terceiro, o que não me parece
compatível com o sistema de proteções individuais insculpido na nossa constituição.
Importante destacar que as restrições contidas neste artigo 73 tutelam o equilíbrio e a igualdade de condições entre os
candidatos em disputa, e, por conseguinte, a própria legitimidade do pleito eleitoral e se destinam aos agentes públicos,
servidores ou não.
A previsão de sanção está contida no § 4º que dispõe sobre a possibilidade de suspensão imediata da conduta e a
aplicação de multa aos agentes responsáveis, in verbis:
No que se refere à responsabilidade do candidato beneficiado, o que se verifica é que a redação do § 5º sofreu duas
alterações até chegar à redação atual.
Pela leitura do aludido parágrafo em sua redação originária abaixo transcrita, constata-se que a lei estabelecia que o
agente público responsável, além do pagamento da multa, ficava sujeito à cassação do registro se candidato fosse.
Entretanto, a redação não se mostrava precisa para alcançar a hipótese de cassação do registro do candidato beneficiado
quando ele não era o agente público autor da conduta vedada.
Com a edição da Lei 9.840 de 1999, o parágrafo quinto passou a dispor que, sem prejuízo da multa já estabelecida no
parágrafo quarto para o agente responsável, o candidato beneficiado, agente público ou não, estava sujeito à cassação do
registro ou do diploma, efeito que permanece na atual redação da lei. Transcrevo as alterações sofridas no referido
dispositivo:
Lei 9.504/1997, Art. 73, § 5º, redação dada pela Lei 9.840/1999:
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Assinado eletronicamente por: ANALIA CASTILHO DA NOBREGA - 23/11/2020 10:56:56 Num. 7769797 - Pág. 32
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§ 5o Nos casos de descumprimento do disposto nos incisos I, II, III, IV e VI do caput, sem
prejuízo do disposto no parágrafo anterior, o candidato beneficiado, agente público ou
não, ficará sujeito à cassação do registro ou do diploma.
Lei 9.504/1997, Art. 73, § 5º, redação dada pela Lei 12.034/2009:
A cassação do registro ou do diploma, portanto, independe de responsabilidade do beneficiado, justamente porque o bem
jurídico tutelado pela norma é a igualdade de oportunidades dos candidatos em disputa e, quando esta igualdade restar
gravemente atingida, haverá ruptura da própria legitimidade do pleito.
Dessa forma, me parece claro que o comando contido no art. 73 da Lei das Eleições, pensado para um cenário de
candidatos à reeleição, em sua redação original, preocupou-se em punir o agente responsável pela conduta vedada tanto
com a aplicação da pena de multa bem assim com a possível perda do seu registro/diploma (conforme o caso),
esclarecendo, posteriormente em uma nova redação, que a cassação do registro/diploma também seria cabível mesmo na
hipótese de o candidato beneficiado não ser o agente público responsável pela conduta.
Percebe-se, assim, que a cassação do registro/diploma, diferentemente da multa, não é pena sancionatória propriamente
dita, na medida em que sua aplicação prescinde da demonstração de responsabilidade do beneficiado, sendo aplicável em
virtude da necessidade de se manter hígido o próprio processo eleitoral.
Nesse particular, não me parece remanescer dúvidas quanto à possibilidade, dada a gravidade das circunstâncias do caso
concreto, de se cassar o registro ou diploma de quem não contribuiu para a prática da conduta irregular.
Aliás, trata-se de situação análoga ao abuso de poder apurado em sede de AIJE, conforme expressa previsão do inciso
XIV do artigo 22 da Lei Complementar 64/1990, que transcrevo abaixo:
XIV – julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação dos eleitos, o
Tribunal declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído
para a prática do ato, cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se
realizarem nos 8 (oito)anos subsequentes à eleição em que se verificou, além da cassação
do registro ou diploma do candidato diretamente beneficiado pela interferência do
poder econômico ou pelo desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos meios de
comunicação, determinando a remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, para
instauração de processo disciplinar, se for o caso, e de ação penal, ordenando quaisquer
outras providências que a espécie comportar. - destaquei
A mim me parece que a controvérsia reside na interpretação a ser conferida ao § 8º do aludido artigo 73 ao dispor que
“Aplicam-se as sanções do § 4º aos agentes públicos responsáveis pelas condutas vedadas e aos partidos, coligações e
candidatos que delas se beneficiarem.”
Em que pese a previsão de pena de multa aos candidatos que se beneficiaram dos efeitos da conduta, não me parece
razoável entender que a responsabilidade de tais candidatos se dá de forma automática, não apenas por se tratar de
aplicação de norma de caráter sancionatório, mas também porque o próprio dispositivo faz remissão a outro que dispõe
expressamente sobre a responsabilidade do agente.
Em outras palavras, ao admitir a possibilidade de condenação à pena de multa aos candidatos beneficiados, o §8º apenas
esclarece que uma penalidade dirigida àquele que ostenta a condição de agente público pode vir a alcançar os candidatos
beneficiados sem, a meu sentir, afastar a necessária comprovação da responsabilidade.
Como se vê, não estou a sustentar eventual inconstitucionalidade do mencionado §8º, mas propondo uma interpretação
restritiva, que se coadune com o princípio da culpabilidade que, repito, me parece inafastável quando estamos tratando de
direito sancionatório, como no presente caso.
De fato, embora não expressamente previsto na Constituição Federal, tratando-se de pessoa física, me parece inegável
que o princípio da culpabilidade se encontra presente no ordenamento jurídico pátrio e alcança todo o direito
sancionatório, inclusive as sanções de caráter administrativo, o que torna indispensável a análise subjetiva da conduta,
com formação de culpa, para eventual condenação. Se assim não fosse, como se falar em pessoalidade (art. 5º, XLV da
CF) ou individualização da pena (art. 5º, XLVI).
Aliás, como não poderia ser diferente, a culpabilidade está presente no direito eleitoral apesar do interesse público aqui
envolvido. Cito o exemplo da sanção de inelegibilidade do artigo 22 da LC 64/1990 que só alcança os autores da conduta
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e não os beneficiários, ainda que estes possa vir a ser cassados e, também, a condenação por captação ilícita de sufrágio
(artigo 41-A da Lei 9.504/1997), cuja multa só alcança o autor da conduta, não obstante o outro componente da chapa
também venha a ser cassado. É uma garantia do cidadão, da qual nenhum ramo do direito pode se afastar.
Pois bem. No presente caso, diferentemente da situação do então candidato a prefeito, que se disse proprietário do
compressor de ar utilizado para encher balões para o seu comitê de campanha, não identifiquei a participação do seu vice
Demétrio Ferreira da Silva na conduta em questão.
No entanto, é dever ressaltar que o entendimento quanto a não incidência de multa em relação ao candidato beneficiário
diante da ausência de comprovação da sua anuência, ou até mesmo do seu conhecimento, foi sustentado por ocasião do
julgamento do RE n. 273-71, de relatoria do ilustre Juiz Arthur Monteiro Lins Fialho, julgado em 19/03/2019, tendo este
julgador ficado vencido de forma isolada.
Desse modo, e nesse ponto, em respeito à decisão do Colegiado, fazendo essa ressalva de entendimento, acompanho o
voto do Relator para negar provimento ao recurso das partes investigadas, mantendo a sentença que condenou
Antônio Justino de Araújo Neto, Tarciana Lucena Nunes de Carvalho, João Idalino da Silva e Demétrio Ferreira
da Silva, ao pagamento de multa no valor de R$ 5.000,00 em razão da prática de conduta vedada prevista no art.
73, I e III, da Lei das Eleições.
Quanto ao recurso das partes investigantes, pelos fundamentos já deduzidos no início desse voto, peço vênia ao
ilustre relator para divergir do seu entendimento e julgá-lo desprovido, mantendo a sentença recorrida em os seus
termos, por não haver concluído pela ocorrência do alegado abuso de poder, nem mesmo da conduta vedada
prevista no art. 73, § 10, da Lei n.º 9.504/97, decorrente de suposta doação de bens e serviços atribuída aos
investigados com fim de obter proveito eleitoral.
É como voto.
Documento assinado eletronicamente por Antônio Carneiro de Paiva Júnior em 27/04/2020, às 20:18, conforme art. 1º, III,
"b", da Lei 11.419/2006.
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Assinado eletronicamente por: ANALIA CASTILHO DA NOBREGA - 23/11/2020 10:56:56 Num. 7769797 - Pág. 34
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Assinado eletronicamente por: ANALIA CASTILHO DA NOBREGA - 23/11/2020 10:56:56 Num. 7769797 - Pág. 36
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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DA PARAÍBA
PRESIDÊNCIA
DIRETORIA GERAL
SECRETARIA JUDICIÁRIA E DA INFORMAÇÃO
COORDENADORIA DE REGISTROS E INFORMAÇÕES PROCESSUAIS
NÚCLEO DE TAQUIGRAFIA
RELATÓRIO
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Silva e Tarciana Lucena Nunes de Carvalho contra a decisão do Juízo da 14ª Zona
Eleitoral/Bananeiras/PB, que ao julgar parcialmente procedente a presente Ação de
Investigação Judicial Eleitoral, manejada em desfavor de Antônio Justino de Araújo Neto,
João Idalino da Silva, Demétrio Ferreira da Silva, Tarciana Lucena Nunes de Carvalho, Sofia
Ulisses Santos Queiroz, Caliny Muniz de Lima e José Igor Denizar Costa da Silva, condenou
Antônio Justino de Araújo Neto, João Idalino da Silva, Demétrio Ferreira da Silva e Tarciana
Lucena Nunes ao pagamento de multa, no valor de 5.000 (cinco mil) Ufir’s, patamar
mínimo, nos termos do artigo 73, incisos I e III e §§4° e 10, da Lei n.º 9.504/97, de forma
individualizada. Ou seja, cada pessoa mencionada irá pagar 5.000 (cinco mil) Ufir’s, que é
o patamar mínimo. Na peça inicial é narrada a prática das seguintes condutas, apontadas
pelos investigantes como ilegais e consubstanciadoras de abuso de poder econômico, (art.
22 da LC nº 64/90), captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da Lei nº 9.504/97) e as
condutas vedadas previstas no art. 73, incisos, I, III, IV, V e §10 da Lei das Eleições: a)
contratação indiscriminada de servidores por excepcional interesse público e
comissionados, durante o ano de 2016 (abuso de poder político/econômico e conduta
vedada); b) distribuição gratuita de bens, valores e benefícios para a população do
município de Dona Inês/PB - utilização de tratores, escavadeiras, patrol, pás carregadeiras
e caçambas pertencentes ao município de Dona Inês para beneficiar proprietários de áreas
rurais em troca de votos e concessão de auxílios financeiros em desconformidade com a
lei eleitoral; abuso de poder político/econômico e conduta vedada – e cito novamente o art.
73, IV e 10 da Lei das Eleições; c) distribuição de materiais de construção às vésperas do
Pleito de 2016 (abuso de poder político/econômico e captação ilícita de sufrágio); d)
cessão e utilização de bens, materiais e servidores público em benefício de candidatos e
coligação (abuso de poder político/econômico e conduta vedada); e e) oferta de
combustível (gasolina) em troca de voto e utilização de servidor público (abuso de poder
político/econômico, captação ilícita de sufrágio e conduta vedada). A alegação das partes
autoras é que as práticas apontadas como ilícitas foram orquestradas em prol das
candidaturas vitoriosas, aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador, respectivamente,
João Idalino da Silva (com diferença de apenas trinta e três votos em relação ao segundo
colocado), Demétrio Ferreira da Silva e José Igor Denizar Costa da Silva, tendo delas
participado ao lado do prefeito, à época, Antônio Justino de Araújo Neto, da Secretária de
Saúde, Tarciana Lucena Nunes de Carvalho, da Secretária de Assistência Social e
Habitação, Sofia Ulisses Santos Queiroz e da Secretária Adjunta de Assistência Social e
Habitação, Caliny Muniz de Lima. Pugnaram ao final pela procedência da ação com a
condenação dos investigados às cominações legais, bem como à cassação do registro ou
diploma com decretação de inelegibilidade, pelo prazo de 08 (oito) anos, dos candidatos
eleitos, João Idalino da Silva, Demétrio Ferreira da Silva e José Igor Denizar Costa da Silva.
Juntaram aos autos a documentação contida nas fls. 51/330, (Vols. 1 e 2), incluindo mídia
encartada na contracapa do Vol. 1. Devidamente notificados, os investigados juntaram
defesa (fls.339/361– Vol. 2 e original fls. 4106/4128 – Vol. 21) requerendo, em preliminar,
a ilegitimidade ativa do PMDB e a inépcia da inicial, tendo, no mérito, pugnado pela
improcedência da presente AIJE, sob o argumento da inexistência da prática dos atos
ilegais dispostos na inicial, relativos à Administração Municipal de Dona Inês/PB ou a
obtenção de qualquer benefício apontado pela inaugural, com a juntada de documentação
(fls. 370 – Vols. 2 a 21). Após a devida especificação quanto à produção de provas
pleiteadas pelas partes investigantes, destacando-se a relação entre elas e o fato referido,
(despacho de fl. 4.146 – Vol. 21 e petição de fls. 4.151/4154 – Vol. 21) foi designada e
realizada audiência (fls. 4169/4170 – Vol. 21 – com mídia audiovisual na contracapa do
Vol. 47), oportunidade na qual foram ouvidos Severino Teixeira Muniz Júnior, Maria do
Rosário de Sousa, Elionaldo Luiz da Silva e Graciane Teófilo da Silva (ouvidos como
testemunha) e Edivaldo Paulino da Silva (ouvido como declarante), bem como solicitadas
diligências pelas partes e pelo MP e deferidas pela autoridade judiciária. Juntada da
documentação requerida pelo MP zonal, (documentação de fls. 4.179/9.024 – Vols. 22 a
45) consistente em: cópia do cadastro dos beneficiários do Programa Bolsa Família (de
2013 a 2016), cópia do cadastro das gestantes (de 2013 a 2016), cópia do cadastro dos
beneficiários dos programas instituídos em razão da estiagem (seca) ocorrida no município
de Dona Inês (de 2013 a 2016), cópia da Lei Orgânica daquela municipalidade, cópia das
Leis de Diretrizes Orçamentárias e Orçamentária Anual (de 2013 a 2016), cópia da Lei
Municipal que autoriza o poder Executivo a conceder ajudas a pessoas carentes
(referentes aos anos de 2013 a 2016) e cópia da documentação relativa à criação,
Notas Taquigráficas 21 (0701450) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 2
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composição e instalação do Conselho Gestor de Assistência Social do Município de Dona
Inês/PB, previsto no inciso IV do artigo 16 da Lei Federal n.º 8.742/1993 (Lei Orgânica da
Assistência Social), bem como anexada uma cópia do procedimento especial, em desfavor
de Tarciana Lucena Nunes, Secretária Municipal de Saúde, instaurado sob a alegação de
aquela investigada teria cedido um compressor de ar pertencente ao Hospital Municipal de
Dona Inês/PB, para encher bolas a serem utilizadas em um evento político-partidário, em
prol da candidatura do investigado João Idalino da Silva, candidato ao cargo de prefeito. Em
despacho de fl. 9034 (Vol. 45) foi designada a realização de nova audiência, com vistas à
oitiva das seguintes testemunhas referidas (fl. 9.052/9.052v com mídia anexada à fl.
9.052): José Elinaldo Rodrigues da Silva, Clóvis Davino de Araújo, Cícero José da Silva
(Cícero de Raminho), Pedro Augusto de Araújo, José Martinho da Cruz (Utinho), José Sérgio
de Oliveira (Sérgio), José Augusto de Araújo (Zezinho), Sérgio da Silva Teófilo, Rosinete
Pereira da Silva, Viviane Trajano Bezerra e Micélio Manoel da Silva. As alegações finais
foram apresentadas às fls. 9.053/9.063, pelos Investigantes e fls. 9.066/9.086, pelos
Investigados, tendo o MP zonal requerido a realização de novas diligências, fls.
9.089/9.098, com deferimento pelo Juiz Eleitoral, no despacho de fl. 9.098v, ato que
gerou o ajuizamento pelos Investigados de pedido de reconsideração (fl. 9.101/9.105 –
9.159/9.161- Vol. 45). Eu vou deixar, com a permissão respeitosa de Vossa Excelência
citar o número das páginas porque se encontra já IPLENO.
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Eu fui informado pela Dra. Silma a respeito exatamente desse pedido, dizendo que
tinha sido para o dia 26, não é...
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COM A PALAVRA A EXMA. SRA. JUÍZA MICHELINI DE OLIVEIRA DANTAS JATOBÁ:
Eu acompanho Dr. Antônio Carneiro no sentido de ponderar, ele pontuou que teria
informado dessa viagem do dia 12 ao dia 17, aí incluiria a sessão passada, que nós
realizamos e adiamos, e a de hoje também. Se não houver nenhuma objeção dos
advogados presentes, Presidente, eu acho que seria prudente nós adiarmos por mais uma
sessão.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Obrigado, Senhor Presidente. Eu confesso que fiquei um pouco perdido no ponto
fundamental de se adiar ou não adiar, porque, até onde eu acompanhei, tem vários
advogados com procuração nos autos.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Senhor Presidente, eu começo dizendo o seguinte: eu acompanho o entendimento
de Vossa Excelência na condição de Relator, que me parece que também Dr. Carneiro não
diverge disso. Então, eu parto dessa premissa. Partindo dessa premissa até então, se
Vossa Excelência adiou para o dia 16, que é hoje, as partes têm conhecimento e estão
representadas aqui, ou seja, há advogado que representa aquele advogado em relação ao
qual poderia haver alguma nulidade. A parte está presente ou não? Os dois eminentes
advogados são de outra parte?
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Apenas um esclarecimento, eminente Dr. Sérgio?
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Aí teríamos sim a surpresa, porque, veja bem, se há uma decisão no processo
adiando, deferindo o pedido do advogado...
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
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Já tem o dia, não é?
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no IPLENO. Todos os eminentes juízes estão lendo pelo IPLENO também o voto. Já está
disponibilizado. Dr. Márcio Maranhão recebeu? Dr. Joás recebeu?
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horário de expediente, em serviços no comitê de campanha dos investigados. As partes
foram intimadas, mas não apresentaram contrarrazões ao recurso. O processo em
comento, inicialmente, foi distribuído ao Juiz Paulo Wanderley Câmara, que averbou sua
suspeição, com posterior redistribuição a este Relator, que ao receber os autos,
determinou a correta numeração das páginas e a remessa ao Procurador Regional
Eleitoral, que ofertou parecer pelo não conhecimento do apelo manejado pelos
investigados, em face da sua intempestividade e pelo provimento parcial do recurso dos
investigantes, uma vez que rechaçou a prática de contratação indiscriminada de
servidores por excepcional interesse público e comissionados, durante o ano de 2016,
distribuição gratuita de serviços consistente no uso de tratores, escavadeiras, patrol, pás
carregadeiras e caçambas pertencentes ao Município de Dona Inês/PB, distribuição de
materiais de construção às vésperas do Pleito de 2016 e oferta de combustível (gasolina)
em troca de voto e utilização de servidor público. Quanto à alegação de cessão e utilização
de bens, materiais e servidores público em benefício de candidatos e coligação, a
manifestação ministerial ratifica a sentença pugnada, no sentido da aplicação da multa
pelo reconhecimento da prática da conduta vedada estatuída no art. 73, I e III da Lei das
Eleições, sem no entanto, vislumbrar a ocorrência de abuso de poder político e econômico.
No que pertine à distribuição gratuita de bens, valores e benefícios para a população da
municipalidade em tela, o Órgão Ministerial defende a comprovação do fato, que no seu
entendimento, ocorreu em descompasso com a legislação eleitoral e com o intuito de
obtenção de votos, reconhecendo, desse modo, a prática da conduta vedada prevista no
art. 73, §10 da Lei das Eleições e a existência de abuso de poder político e econômico,
com gravidade suficiente para comprometer o equilíbrio do pleito, ambos em relação ao
ponto já mencionado, bem como aplicando aos recorridos, Antônio Justino de Araújo Neto,
João Idalino da Silva, Demétrio Ferreira da Silva e Sofia Ulisses Santos Queiroz, as
penalidades previstas nos §§4º e 5º do art. 73 da Lei nº 9.504 e art. 22, XIV da LC nº
64/90, cassação dos diplomas de João Idalino da Silva e Demétrio Ferreira da Silva. Em
face deste Relator encontrar-se no exercício da Presidência desta Corte, no período de
15.08.2019 a 01.09.2019, os autos foram redistribuídos, na forma regimental, ao Des.
Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho, tendo retornado à nossa relatoria em
03.09.2019. Após o exame necessário dos autos, determinei sua inclusão em pauta para
julgamento. Eis o histórico circunstanciado do processo. É o relatório, Senhor Presidente.
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Desembargador José Ricardo, nesse caso a Corte já tem o precedente de que
primeiro é o investigante que fala durante dez minutos?
SUSTENTAÇÃO ORAL
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Tarciana, também. Essa AIJE possui cinco pontos, Excelências, que, individualmente ou em
conjunto, entendemos que foram determinantes nas eleições de 2016 e traremos os
pontos aqui. Digo isto porque, como já foi relatado, a eleição de 2016 foi extremamente
acirrada, foi uma eleição que foi vencida por míseros 33 votos de diferença em um
município com quase nove mil eleitores. Então, qualquer interferência nesse processo
poderia modificar, bastando que apenas 17 desses 33 votos passassem para o outro
candidato, que mudaria completamente o resultado da eleição. Então, vou fazer nossa
explanação e peço para que tenham sempre em mente essa mísera diferença e a
quantidade de abusos que foram cometidos durante essas eleições de 2016. Pois bem,
Excelências. Entre os cinco pontos existentes na presente AIJE e que foram lidos aqui e
relatados pelo Desembargador Presidente, peço para que, para uma melhor explanação,
inverterei os dois primeiro pontos e começarei pelo ponto mais complexo e, talvez, de
maior importância aqui para este Tribunal. Este ponto, em especial, que mais merece
atenção de Vossas Excelências, é onde se concentra a interferência política e econômica
nas eleições municipais de 2016, se trata da distribuição gratuita de bens, valores e
benefícios para os munícipes de Dona Inês, pois configuraram, aí, prática de abuso do
poder político e econômico e conduta vedada pelos então investigados nesta AIJE.
Conforme restou bem fundamentado pela Procuradoria Regional Eleitoral, quando da sua
manifestação, nos presentes autos são incontroversos que houveram 127 doações,
Excelências, 127 doações e 127 empenhos registrados no site do Tribunal de Contas do
Estado da Paraíba, no Sistema SAGRES, onde 103 munícipes foram beneficiados. Estamos
falando de uma eleição que teve 33 votos de diferença e 103 munícipes diferentes foram
beneficiados. Isso sem contar com o caráter multiplicador daquele benefício que,
naturalmente, o beneficiado e seus pares e próximos também seriam abarcados por esse
benefício. As normas anexadas pela defesa dos investigantes, quais sejam, as Leis
336/2001, 674/2014, os Decretos Municipais 1013, 1247 e a Resolução 18/2014 elas
não prevêem especificamente criação e execução de qualquer programa social no
município, tratando-se de normas criadas com o único intuito de distribuir benesses à
população de Dona Inês, justamente, somente, com o critério de quem ocupa o cargo do
executivo municipal para distribuir essas benesses. Com a devida vênia a fundamentação
do douto magistrado de primeiro grau, as leis municipais já citadas, a 336/2001 e a
674/2014, que autorizam a concessão de benefícios e doações a pessoas carentes são os
fatos geradores do desvirtuamento do permissivo legal existente no § 10, do Art. 73 da
Lei das Eleições, pois ela facilitou o clientelismo em detrimento daqueles que realmente
necessitam de doações, promovendo o uso do dinheiro público sem nenhum critério de
justiça, mas sim conforme a vontade do gestor, com a efetivação de doações de forma
indiscriminada, em total desrespeito com o princípio da moralidade administrativa, da
isonomia que deve existir durante o pleito eleitoral. Ora, Excelências, os fatos aqui
narrados são bastante claros e inclusive confessados pelos investigados, eles que, nas
suas defesas, não mencionam qualquer programa social que apresentasse critérios
objetivos para amparar aquelas doações com suposto amparo nas leis municipais. Da
simples leitura das Leis 336 e 674, já se demonstra que os diplomas normativos não
instituem qualquer programa social, mas sim fixam critérios genéricos de autorização ao
chefe do executivo para conceder doações e ajudas a pessoas carentes, sem qualquer
caráter objetivo, de forma eminente eventual e subjetiva. Sobre o tema em análise,
trazemos à apreciação o Decreto Federal 3048/99 que, no seu Artigo 206, §2º, ele define:
A pessoa carente é aquela sem meios para prover sua própria manutenção ou tê-la
provida por sua família, bem como ser destinatária, especificamente, de política nacional
de assistencial social. Assim, deveria a administração pública municipal de Dona Inês, no
ano anterior às eleições, através do Conselho Municipal de Assistência Social, proceder ao
reconhecimento da população carente do seu município, elaborando, assim, um cadastro
para que as doações sejam destinadas às pessoas carentes, através de programas sociais
específicos e criteriosos, fato este que não ocorreu no município de Dona Inês. Ao se
analisar os fatos narrados e provas juntadas pelos investigantes e investigados, chega-se,
sem sombras de dúvidas, a inevitável conclusão de que o Senhor João Idalino, então Vice-
Prefeito, e hoje Prefeito, Senhor Demétrio Ferreira, então Vereador, Presidente da
Câmara, e hoje Vice-Prefeito foram beneficiados pelo então Prefeito, pela Secretária de
Assistência Social, pela Secretária Adjunta de Habitação e Assistência Social, também,
com esses 127 empenhos que beneficiaram, repito, e repetirei ao longo da minha
explanação para que não fujam, por favor, de vossas memórias, 103 munícipes, numa
Notas Taquigráficas 21 (0701450) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 11
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eleição que tivemos 33 votos de diferença. Com efeito, Excelências, conforme se
vislumbra da documentação que instruiu a presente lide, verifica-se uma verdadeira festa
com o dinheiro público, onde os investigados custearam um sem-número de ajudas
financeiras em período vedado pela legislação eleitoral. Observem que em sua defesa os
investigados alegaram que as ajudas financeiras possuem respaldo nas leis, decretos e
resoluções já citados anteriormente, acrescentando que o Município de Dona Inês teve
decretado o estado de calamidade, razões pelas quais entendem serem legais as doações
em dinheiro ofertadas. Entretanto, não indicaram nenhum programa social específico, não
existe no município de Dona Inês um programa social específico, se não a generalidade
daquelas leis, capaz de identificar as ações do governo municipal no âmbito da assistência
social. Não existe, não foi criado e não existia critério algum para a distribuição desses
benefícios. As legislações municipais indicadas pelos investigados não passam de um copia
e cola das LOAS, da Lei Orgânica da Assistência Social. Basicamente isso, copiou, colou e
é basicamente, é a legislação que existe no Município de Dona Inês, sem que hajam
critérios, eles dizem para quem vão oferecer os benefícios, as doações em dinheiro e os
serviços, mas eles não estipulam critérios nessas leis, nessa legislação. Nesse sentido,
Excelências, constata-se que os investigados utilizaram-se de recursos públicos em
benefício de suas campanhas eleitorais, principalmente porque não havia programa social
instituído com base nos preceitos da LOAS, comprovando que as doações foram
inegavelmente realizadas com propósitos eleitoreiros durante o período vedado da Lei das
Eleições. Não há dúvida de que as leis municipais indicadas autorizam o poder executivo
realizar despesas com doações às pessoas em situação de vulnerabilidade social, porém
verifica-se a ilicitude dos fatos das supramencionadas ajudas financeiras não terem sido
amparadas em programas sociais autorizados em lei. Repito: não existia programa social
autorizado em lei, se não uma lei muito genérica, que era utilizada como forma de
justificativa de todas as doações feitas. Vale salientar, Excelências, que o fato das
mencionadas leis não estarem acompanhadas de programas sociais devidamente
instituídos e de acordo com a legislação pertinente, demonstra o não enquadramento da
ressalva prevista no §10º, do Art. 73, da Lei das Eleições, como pretendem fazer crer os
investigados. O que fica claro é que as doações divergem, as doações dos investigados e
ofertadas pelo município de Dona Inês, em período vedado pela legislação eleitoral,
divergem daquelas descritas na exceção do §10º, do Art. 73, da 5.504, pois se não,
vejamos, citarei aqui as doações: doações financeiras, sem finalidade nenhuma, no
empenho não tinha finalidade nenhuma, era só doar dinheiro para fulano de tal; ajuda
financeira para alimentação e passagem para João Pessoa, para Natal, para Fortaleza,
para o Rio de Janeiro e para São Paulo, saindo de Dona Inês para o Rio de Janeiro e São
Paulo, ajuda financeira dada pelo município sem critério algum, sem cadastro algum
desses munícipes; ajuda financeira para compra de material de construção; ajuda
financeira para pagamento de aluguéis, compra de material escolar, ferramentas, ajuda
financeira para comprar ferramenta, o munícipe correligionário do então prefeito e do atual
prefeito, comprar ferramenta, óculos, enxovais… pasmem, Excelências: ajudas financeiras
para pagamentos de costura em quadrilha junina, costura em quadrilha junina, houveram
empenhos feitos para pagamentos de costura em quadrilha junina, para pagamento de
realização de exame, festejos juninos, o município bancou festejos juninos com esse tipo
de ajuda financeira, amparado, dizendo que se tratava de ação social, que se tratava de
um programa de ação social. Notem, Excelências, que as diversas ajudas financeiras
sequer guardam relação com as leis municipais citadas, a 336 e a 674, muito menos com
os preceitos básicos contidos na Lei Orgânica de Assistência Social, o que se enquadra, de
igual forma, como ajudas financeiras de natureza, que se enquadraria, de igual forma,
como natureza assistencial. Como exemplo, voltarei aqui, existem doações sem finalidade
determinada, pagamento de costura de quadrilha junina, pagamento de festejos juninos,
entre outras que sequer, defensivos agrícolas, entre outras que sequer são citadas nas
leis municipais, não são nem amparadas pelas leis municipais e não guardam relação
nenhuma com o espírito da Lei de Assistência Social. Pergunto a Vossas Excelências: qual
caráter assistencial existe em doação sem finalidade determinada? Qual caráter social
para pagamento de costura de quadrilha junina? Qual caráter social para festejos juninos?
E tantas outras que sequer são citadas nas leis supramencionadas. O que se verifica
nesse caso, Excelências, como muito bem enfatizado na manifestação da Procuradoria
Regional Eleitoral, é o desvirtuamento das Leis Municipais 336/2001 e 674/2014, que na
sua concepção teriam sido criadas para concessão de doações e ajuda a pessoas carentes
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do município, no âmbito da assistência social, mas na prática foram utilizadas para
justificar a concessão de ajudas financeiras em diversas áreas da atuação municipal,
saúde, cultura, agricultura e por aí vai. Outro ponto muito bem posto na manifestação da
Procuradoria Regional Eleitoral diz respeito às unidades orçamentárias que sustentaram os
gastos com as doações e que, por si só, não trazem nenhum traço indicativo acerca da
existência de um programa social com critérios objetivos, mas apenas reforça a existência
de uma legislação ampla que serviu de amparo pelos os investigados para distribuição de
suas benesses em diversas áreas do município. Por outra lado, Excelências, valer-se de
decretos de calamidade para fazer distribuição gratuita e indiscriminada de valores sem
que hajam programas sociais com critérios específicos para esse fim, vai de encontro com
o sentido da lei, dando a mesma interpretação expansiva onde tudo se pode, e era assim
que se agia em Dona Inês. A finalidade exposta pelos investigados nos 127 empenhos que
beneficiaram 103 munícipes diferentes, sem critérios objetivos, destoa da exceção da Lei
das Eleições. Destacamos, ainda, que em nenhum momento foram realizadas as tais
ajudas com base legal nos decretos federal e estadual citados, nem tão pouco verifica-se a
natureza e a relação comum entre as doações de valores, bens e serviços tratados, e o
conteúdo dos mencionados decretos. Por oportuno, especificamente quanto às doações
de valores, bens e serviços investigados, ressaltamos que os depoimentos constantes nos
autos, das datas de 15/03/2017 e 20/09/2017, aliados aos documentos já colacionados,
demonstram de modo inegável os fatos descritos na exordial, em especial os
depoimentos de Edvaldo Paulino da Silva e Severino Teixeira, que confirmaram que vários,
Excelências, vários beneficiados daquela lista nos empenhos não são pessoas, sequer,
carentes. Naquele depoimento ele fala: quem recebeu o livro é uma estudante de
engenharia de um curso particular aqui de João Pessoa, foi pago o livro para ela, uma
família abastada e bem conhecida de Dona Inês, entre outros. Além do depoimento do
Senhor Sérgio Teófilo, no dia 20/09/2017, que ele mesmo confessou que recebeu valores
da prefeitura sem sequer ter feito um cadastro de pessoa carente no município. O próprio
Sérgio Teófilo, em depoimento de 20/09/2017, o que denota que os supostos cadastros
juntados pelo investigados em suas defesas foram, na verdade, fabricados pelos mesmos
para dar ar de legalidade às condutas ilícitas praticadas em razão, pela qual, não servem
como provas para a presente ação. Além do mais, não se pode olvidar, que ao se
contemplar uma pessoa, estamos sempre tocando nesse ponto, precisaríamos somente
contemplar 17 votos, nesse nosso caso, para que o resultado das eleições fosse revertido.
Mas basta verificar, aqui, que ao se contemplar uma pessoa com doação em dinheiro,
bem ou serviço, gera, inexoravelmente, tanto para o cidadão contemplado, Excelências,
quanto para a sua parentela e círculo de amizades, simpatia, gratidão, em relação ao
gestor público que indubitavelmente produz dividendos eleitorais para a sua candidatura ou
a por ele apoiada, com efeito multiplicador, o que proporciona em seu favor inegável
vantagem na eleição. Outro ponto de necessária análise por esta Corte é o potencial que
essas ajudas possuem para desequilibrar o pleito eleitoral. Vou explicar: como bem dito, o
pleito foi bastante acirrado com apenas 33 votos de diferença, onde 17 desses poderiam
inverter. No caso em tela são 127 empenhos com 103 pessoas beneficiadas, onde
tivemos apenas 33 votos de diferença. Além dessas ajudas financeiras citadas,
Excelências, neste mesmo tópico, também citamos outro fato que se apura dentro deste
tópico, é a utilização de equipamentos e máquinas da prefeitura de Dona Inês em benefício
de propriedades rurais de correligionários do então prefeito e do candidato, do então
prefeito Antonio Justino e do candidato João Idalino Demétrio, conforme fazem prova as
fotografias e mídia juntadas aos autos. Notem que em suas defesas os investigados
alegam que diante das dificuldades financeiras e problemas orçamentários, advindos da
crise que assola o Brasil no ano de 2016, não realizou qualquer serviço. A defesa deles se
restringe a isso: não realizamos qualquer serviço em 2016 por conta da crise. Ok. Exceto
a construção de um campo de futebol que foi doado pelo Senhor João Paulino, o aterro,
para eles construírem um campo de futebol. Somente. Ocorre que na audiência a verdade
dos autos destoa da defesa apresentada. Todas as testemunhas ouvidas nas audiências
dos dias 15/03 e 20/09 de 2017 confirmaram que foram utilizadas máquinas da
prefeitura e do PAC em propriedades rurais no período vedado pela legislação. A defesa
deles que não foi utilizado de forma alguma, exceto para construir um campo de futebol.
Todas as testemunhas trazidas aos autos, inclusive por eles, investigados, confirmaram
que foram utilizadas, sim. Se depreende do depoimento do Senhor Edvaldo e Maria do
Rosário que as máquinas trabalharam nas propriedades dos apadrinhados políticos dos
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investigados, sendo negado o mesmo benefício às propriedades daqueles que não
votariam com os investigados. Eles fizeram serviços nos seus apadrinhados, mas negaram
os serviços nas propriedades deles. Já na oitiva dos depoimentos dos operadores de
máquinas, daquelas máquinas, gravados durante do dia 20/09/2017, todos confirmaram
a utilização de máquinas em suas terras, inclusive sem a necessidade de fazer cadastro
na prefeitura. Os próprios operadores de máquinas. Está nos autos, Excelências. Estão
nos autos, os prórios operadores de máquinas, nos seus depoimentos, confirmaram que
todos utilizaram aquelas máquinas, inclusive sem fazer cadastro nenhum, como foi citado
anteriormente, o Sérgio Teófilo. Os fatos aqui mencionados também se consubstanciam
em abuso de poder político e conduta vedada, que restou comprovada a potencialidade e
a gravidade da conduta. Sendo assim, a partir de todos os fatos e provas trazidas aos
autos deste processo, não restam dúvidas que as candidaturas dos investigados foram
beneficiadas pelo uso dos recursos públicos pela administração pública municipal em ações
assistencialistas promovidas no ano de 2016, em período eleitoral, realizados em
confronto com a legislação e os princípios eleitorais, configurando, assim, a prática do
abuso de poder político e conduta vedada, ensejadores da cassação dos mandatos
eletivos dos investigados. Um segundo ponto, Excelências, que iremos tratar aqui fala da
contratação indiscriminada dos servidores por excepcional interesse público e dos
comissionados, a partir de janeiro de 2016, razão pela qual pedimos a reforma da
sentença. Ao contrário do que se restou fundamentado e decidido pelo juiz de primeiro
grau, se encontram comprovadas nos autos a prática de abuso de poder político e poder
econômico, bem como de conduta vedada. No ano de 2016 houve um aporte, até de
janeiro para agosto de 2016 eram 86 mil Reais que eram pagos com comissionados e
excepcional interesse, passamos para 114 mil comissionados, 114 mil Reais pagos para
os comissionados e contratados por excepcional interesse, de janeiro a agosto. Houve um
aporte. Em sua defesa…
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO DR. ANTÔNIO ADRIANO DUARTE BEZERRA:
Em sua defesa, os investigados dizem, juntam uma tabela, mostrando que houve
apenas um aporte de cinco comissionados, mas até esses cinco, mesmo não
concordando com a tabela deles, até esses cinco também influenciariam esse pleito, visto
pela diminuta diferença de votos. Excelências, teríamos outros pontos para tratar aqui,
mas o apertado da hora não nos permitirá. Viemos, assim, diante de todos os pontos e já
muito bem relatado, diante de todos os pontos, pedir a procedência da nossa AIJE e a
reforma da decisão nesses pontos mencionados, pedindo pela cassação dos mandatos
dos investigados e realização de novas eleições no Município de Dona Inês. Muito obrigado.
SUSTENTAÇÃO ORAL
Assinado eletronicamente por: ANALIA CASTILHO DA NOBREGA - 23/11/2020 10:56:56 Num. 7769797 - Pág. 56
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
eminente Desembargador Joás, demais membros desta Corte, Dr. Sérgio Murilo, a quem
eu saúdo pelo seu retorno a este Colegiado, eminente Procurador Regional Eleitoral. Ouvi
aqui, não só no relatório do eminente Desembargador Presidente e Relator, como
também na sustentação que me antecedeu, que haveria fatos suscitados na inicial.
Contudo, mesmo com prazo de vinte minutos, com período de vinte minutos, só vi o
advogado defender dois ou três fatos no máximo. O que me faz crer que ele mesmo
entende pela fragilidade das demais acusações que foram feitas, mas que de fato
carecem de comprobação probatória nos autos. E, nesse aspecto, eu também vou me
limitar, eminentes Desembargadores, a defender aquilo que foi trazido pelo meu
respeitoso oponente aqui da tribuna. O primeiro aspecto que eu vou levar em conta é a
alegação de contratações e nomeações indiscriminadas no ano de 2016. É assim que é
posto na inicial, contratações e nomeações indiscriminadas em 2016. Pois bem, durante a
instrução probatória e com os documentos que foram acostados à defesa, ficou
comprovado, eminente Desembargador Joás, que o número de nomeações do exercício
de 2016, ou seja, do ano eleitoral, foi inferior ao número de nomeações de todos os anos
anteriores desde 2013. De igual forma, o número de contratações no ano das eleições,
2016, foi inferior ao número de contratações no ano que antecedeu, 2015. E peço licença
a Vossas Excelências para citar a sentença que esmiuçou bem esse fato, quando ela diz:
Das tabelas transcritas, é possível concluir que o ano eleitoral de 2016 foi o ano em que
houve o menor número de contratações de servidores comissionados, média de 51
contratações, entre os meses de janeiro e agosto, comparando ao mesmo período dos
anos de 2013, média de 56 contratações, e os anos de 2014 e 2015, que registraram
uma média de 59 contratações. Em relação às contratações por excepcional interesse
público, no ano eleitoral de 2016, entre os meses de janeiro e agosto foi registrada uma
média de 18 contratações, havendo um aumento em relação ao mesmo período em
relação aos anos de 2013 e 2014, que registraram uma média de 17 contratações, e
substancial redução, se compararmos com o período de janeiro a agosto de 2015, que
registrou uma média de 34 contratações por excepcional interesse público. Ora, 34
contratações por excepcional interesse público em 2015, ao passo que 18 apenas em
2016. Foi dito aqui da tribuna que a elevação de cinco cargos comissionados seria
suficiente para caracterizar a conduta vedada e o abuso de poder político e econômico.
Ora, o abuso de poder político e econômico, ele deveria ou necessitaria estar demonstrado
com outros elementos nos autos, e não só com o fato de terem sido nomeados,
pasmem, cinco cargos comissionados no ano de 2016, e não há nenhuma prova nesse
sentido. Por outro lado, bem se sabe que não caracteriza conduta vedada a nomeação de
cargos de livre nomeação e exoneração sequer nos três meses que antecedem a eleição.
De fato, é a ressalva prevista na alínea a, inciso V, do art. 73, que permite, até durante o
chamado microprocesso eleitoral a realização de nomeações por parte do gestor. Então, o
que se busca aqui é uma condenação com base em um fato absolutamente atípico, um
fato que sequer a legislação eleitoral caracteriza como conduta ilícita ou como conduta
vedada. Então, passado esse ponto, verificando-se que não houve aumento de
contratações, não houve aumento de nomeações de cargo comissionado em ano eleitoral,
passo a tecer alguns comentários em relação ao outro ponto que eu diria bastante
explorado aqui da tribuna que diz respeito à distribuição de bens, valores e benefícios em
ano eleitoral por parte da edilidade, por parte da prefeitura. E aqui eu escutei, eminentes
julgadores, Dr. Antônio Carneiro, o colega advogado, na sua brilhante sustentação, falar
cinco vezes, cinco vezes que, no ano de 2016, houve 127 benefícios, 127 empenhos com
essa característica de doação de benefícios eventuais, e que isso caracterizaria uma
flagrante abuso de poder econômico. Trago elementos constantes nos autos e que
embasaram a própria sentença. Se no ano de 2016 se alega, eminente Dr. Márcio
Maranhão, que houve 127 benefícios, os documentos constantes nos autos e a própria
sentença reproduz isso com muita clareza, informam que no ano de 2015, 132; em
2016, 127; 2014 foram 289 benefícios; 2017, um ano depois, foram 162 benefícios.
Então, se tomarmos como parâmetro os anos de 2014, 2015 e até o ano posterior,
2017, o ano de 2016 foi aquele onde houve a menor quantidade de empenhos, a título de
concessão de benefícios eventuais. E a insistência, com muita percuciência do eminente
colega, é no sentido de mostrar que no município de Dona Inês não possui uma legislação
que estabelece um programa específico, portanto, não poderia fazer essas doações dos
chamados benefícios eventuais. O município de Dona Inês sim, possui lei, a Lei n.º
336/2001, e a Lei n.º 674, de 2014, que trata justamente dessas doações para pessoas
Notas Taquigráficas 21 (0701450) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 15
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
de vulnerabilidade social. De fato, referida legislação tem por regência, tem por base a
LOAS, e visa atender a população em vulnerabilidade social. E trago aqui da tribuna,
eminentes julgadores, um dos inúmeros precedentes desta Corte no sentido de que não
se faz necessário um programa específico para caracterizar a ressalva prevista no §10º do
art. 73 da Lei n.º 9.504, e o precedente é de relatoria do eminente Juiz Sérgio Murilo
Wanderley, no caso do Município de Tacima, onde constou o seguinte: a Lei n.º 9.504
veda, em seu art. 73, §10, a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte
da administração pública, excepcionando, além dos casos de calamidade pública e de
estado de emergência, as doações realizadas com base em programa social autorizado
em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior. Ausente em nosso
ordenamento jurídico regramento próprio acerca do que precisamente venha a ser
programa social para fins eleitorais, não convém ao julgador interpretar que lei municipal
de pequena edilidade, instituída com a finalidade assistencialista, com execução
orçamentária a pelo menos sete anos do pleito, para socorrer pessoas carentes do
município, não se insere na exceção esculpida no art. 73, §10 da Lei n.º 9.504. Então, não
cabe ao intérprete criar uma restrição que a própria lei não criou, eminente Dr. Arthur
Fialho. Os precedentes deste Tribunal, e este, em particular, do Município de Tacima, foi
confirmado recentemente pelo Colendo TSE são todos no sentido de que não se faz
necessária aquela lei que trata do programa específico, sendo suficientes essas leis de
concessão de benefícios eventuais, como é o caso. E eu direi, eminentes julgadores, que a
lei, o §10 do art. 73, tão conhecido por Vossas Excelências, ele estabelece duas possíveis
ressalvas, e aqui ambas se fazem presentes, porque, como dito, além de existir lei de
regência anterior, além de estar em execução orçamentária anterior, também o município
encontrava-se em estado de emergência decretado pelo Governo do Estado. Então,
comprova-se através de decreto, devidamente colacionado aos autos, que durante todo o
período em que foram feitas essas doações, efetivamente, o município possuía decreto,
não só municipal, declarando estado de emergência por conta da estiagem, como
também decreto estadual nesse mesmo sentido. Ou seja, as duas ressalvas previstas no
§10 do art. 73 da Lei das Eleições se fazem presentes. O município estava em estado de
emergência e, por outro lado, havia execução orçamentária e lei própria tratando
efetivamente desses programas sociais. É por essas razões, eminentes julgadores, e
considerando ainda o que foi dito anteriormente que não houve uma elevação, um
aumento no quantitativo de benefícios em relação aos exercícios anteriores, que se
demonstra que sequer foi praticada a conduta vedada, tampouco foi praticado abuso de
poder econômico. E aí se busca alguma ilicitude nas filigranas, alegando que o processo de
concessão de benefício faltou um detalhe, faltou isso, faltou aquilo e para buscar
transparência, se juntou efetivamente esses empenhos e os comprovantes de despesa de
todos os exercícios, 14, 15, 16, comprovando que sempre foi feito da mesma forma, está
lá com o parecer de assistência social com o respectivo comprovante da despesa, e
qualquer eventual irregularidade de natureza formal nesse processo estaria sujeito à
apreciação de outras searas de nível administrativo, mas não efetivamente da nossa
seara eleitoral. Vejam bem, eminentes julgadores, nós estamos tratando de um caso onde
o prefeito municipal de Dona Inês teve o cuidado, eminente Juiz Márcio Maranhão, de
diminuir o número de contratados no ano eleitoral em relação ao ano anterior. O prefeito
de Dona Inês teve o cuidado de diminuir o quantitativo de comissionados em ano eleitoral
em relação ao ano anterior. O prefeito de Dona Inês diminuiu o quantitativo de concessão
de benefícios eventuais em relação ao ano anterior. E aí se busca uma cassação, citando
algumas filigranas em relação a uma ou outra doação, o que, ao nosso ver, foge,
efetivamente, da jurisdição eleitoral. No tocante ao outro ponto, que é objeto do recurso
dos investigados, diz respeito à suposta utilização de um compressor que pertenceria à
edilidade, ao município, para enchimento de balões durante um evento de campanha. A
multa que foi aplicada na sentença, no patamar mínimo, de acordo com o §4º do art. 73,
diz respeito a essa conduta, ou seja, de que a Prefeitura teria se utilizado de um
compressor para encher balões em algum evento de campanha. Comprova-se
efetivamente nos autos, inclusive com a nota fiscal, de que esse compressor não
pertencia ao município, não era pertencente ao município e sim era de propriedade privada
de um dos co-investigados, o Senhor João Idalino. Caso não seja esse o entendimento
desta Corte, pugna-se para que seja mantida a condenação no patamar mínimo, uma vez
que tal fato não produz qualquer tipo de gravidade, qualquer tipo de potencialidade em
relação ao pleito. Por fim, eminentes julgadores, eu gostaria de citar aqui dois trechos da
Notas Taquigráficas 21 (0701450) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 16
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https://pje.tre-pb.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20112310565527400000007605543
Número do documento: 20112310565527400000007605543
sentença que demonstram bem o propósito desta ação. Disse a sentença: Ao que parece,
os atores do processo eleitoral acreditam que caberia à Justiça Eleitoral se debruçar sobre
os documentos juntados na esperança de que alguma irregularidade brote dos
documentos. Afirmações genéricas e de efeito trazidas na inicial, tais como contrato a
servidores sem critério nenhum, sem que muitos deles sequer trabalham de fato,
caracterizando-se uma verdadeira distribuição de cargos, verdadeira festa de
contratações, de forma indiscriminada em ano eleitoral, com claro viés eleitoral, dentre
outras, não se prestam para comprovar o ilícito eleitoral. Há de se apontar,
especificamente, onde reside a irregularidade capaz de cassar o mandato do candidato e
torná-lo inelegível por oito anos. É por essas razões, diante da absoluta fragilidade do
conjunto probatório e das razões retroempreendidas aqui da tribuna, que se pugna pelo
desprovimento do recurso interposto pela coligação recorrente e pelo provimento do
recurso interposto pelo Senhor Antônio Justino. É o que se requer.
PARECER ORAL
Assinado eletronicamente por: ANALIA CASTILHO DA NOBREGA - 23/11/2020 10:56:56 Num. 7769797 - Pág. 59
https://pje.tre-pb.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20112310565527400000007605543
Número do documento: 20112310565527400000007605543
que foram utilizados pelo Chefe do Executivo, para embasar algumas doações e ajuda a
pessoas carentes com caráter eminentemente eventual. No nosso entender, as referidas
leis municipais para que instituísse, efetivamente, um programa social exigido pela
legislação, teria que ter alguns elementos básicos, como, por exemplo, plano de trabalho,
identificação de objeto a ser executado, metas a serem atingidas, etapas ou fase de
execução, com explicitação das medidas administrativas necessárias para sua
implantação e manutenção, um plano de aplicação de recursos financeiros, cronogramas e
bolso, previsão de início e fim da execução. São algumas características que a gente
entende que deveria ter nessas leis municipais. Não desconhecemos o entendimento
desta Corte Eleitoral, embora dele discordemos de maneira bastante respeitosa, mas esse
caso aqui tem um outro viés que eu chamo a atenção de Vossas Excelências. A própria
Lei Municipal 709/2015, que foi a lei que estabeleceu diretrizes para lei orçamentária do
exercício 2016 do Município de Dona Inês, ela traz um conceito de programa no art.3º
dessa lei municipal. E o que ela define como programa? “Instrumentos através do qual são
definidos os objetivos finais da ação governamental”. Então, em linhas gerais, trouxe uma
conceituação, que talvez a gente não tenha uma conceituação normativa nacional em
relação ao que seja um programa social, mas a própria lei municipal trouxe e nessa
própria lei ela também já está mostrando uma diferenciação entre o que seria um
programa social e o que seria uma assistência a pessoas carentes, ela traz em seu art.
33 o seguinte dispositivo: As dotações destinadas à assistência à população carente serão
consignadas em rubricas apropriadas e beneficiarão, preferencialmente, famílias cuja
renda per capita seja inferior a meio salário mínimo. Portanto, a própria lei de diretrizes
orçamentárias trouxe um balizamento específico no caso aqui em relação ao que seria ou
o que se exigiria de um programa social, que é o que o §10 do art. 73 excepciona como
possibilidade de doação durante o período eleitoral. Então, primeiro ponto a destacar seria
esse. No geral, são as duas leis, como sói acontecer nos diversos municípios paraibanos,
elas trazem previsões bastante genéricas em suas discrições sem apontar aqueles
requisitos mínimos que entendemos importantes e necessários para configuração de um
programa social e, portanto, entendemos que essas leis apenas veiculam autorizações ao
Chefe do Executivo Municipal para concessão de doações e ajuda a pessoas carentes. E
essas autorizações, como nós vamos ver mais a frente, atendem a mais diversa gama de
beneficiários, como já disse aqui da tribuna, sequer pessoas que residiam no município em
questão, pessoas que não atendiam ao critério per capita de renda para poder serem
beneficiários por essas ajudas. Então, de início, a gente fixou essa premissa de que essas
leis não são elementos normativos a apontar a efetiva existência no programa social
naquele município. Por outro lado, também houve o embasamento de alguns gastos com
base nos decretos que declararam a situação emergencial no Município de Dona Inês. De
fato, nós tivemos vários decretos do Estado da Paraíba, algumas portarias emitidas pelo
secretário nacional de proteção e defesa civil, bem como alguns decretos municipais
reconhecendo, de fato, a ocorrência, numa situação de emergência, na localidade por
conta dos efeitos deletérios da seca. Quanto a isso não se discute. Entretanto, os
referidos decretos autorizaram somente a abertura de crédito extraordinário, a
convocação de voluntários para reforçar as ações de resposta ao desgaste natural e a
dispensa de licitações ou contratos de aquisições de bens e, e prestação de serviço de
obras relacionadas com a resposta ao desastre. Então, esses decretos não serviriam, não
poderiam ser utilizados para subsidiar distribuição de valores, vez que não havia uma
correlação entre a situação de emergência, devidamente reconhecida e o fundamento
para fornecimento de eventuais valores. Forte ilícito então, tanto a lei como o decreto não
servem de exceção ou enquadramento a hipótese prevista no §10 do art. 73 para fins de
concessão das ajudas. E como já pontuado, também há uma descrição aqui dos mais
diversos, de todos os empenhos que foram objeto de análise no referido processo, e nós
temos hoje um total de 127 empenhos com 126 pareceres sociais emitidos contemplando
o total de 103 beneficiários com predominância de concessão de auxílios para custeio de
medicamentos, exames, passagens, reparos em residência e aluguéis. Então veja que
esses principais objetos são objetos bastante genéricos de auxílio financeiro, mas sem
qualquer correlação com execução de um programa social efetivamente estabelecido em
relação a isso. A própria dinâmica da eleição, o resultado, essa diferença de 33 votos no
universo de uma população de 10.429habitantes mostra que a quantidade de empenhos
teve uma gravidade, uma influência considerável no resultado final do pleito, portanto,
característica da gravidade que é exigida para configuração do abuso de poder. Então, de
Notas Taquigráficas 21 (0701450) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 18
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
maneira resumida, entendemos que houve efetivamente configurada a conduta vedada e
os mesmos fatos diante da gravidade, configurada a prática do abuso e poder político, o
que justiça, na nossa ótica, a reforma da sentença para, nominar as pessoas para ficar
claro aqui, reforma da sentença para reconhecer a prática do abuso de poder político e
econômico em relação aos recorridos Antônio Justino de Araújo Neto, Sofia Ulisses Santos
Queiroz, João Idalino da Silva e Demétrio Ferreira da Silva, mantendo também,no mais, já
o reconhecimento da prática de conduta vedada que foi um outro item que eu não me
detive aqui porque entendemos que já está devidamente explicitado no parecer escrito.
São essas as razões.
(SESSÃO SUSPENSA)
VOTO
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
Pois não.
ALSM/DOGG/GFM/RMP
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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DA PARAÍBA
PRESIDÊNCIA
DIRETORIA GERAL
SECRETARIA JUDICIÁRIA E DA INFORMAÇÃO
COORDENADORIA DE REGISTROS E INFORMAÇÕES PROCESSUAIS
NÚCLEO DE TAQUIGRAFIA
VOTO VISTA
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ ARTHUR MONTEIRO LINS FIALHO:
De acordo, Sr. Presidente.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
De acordo, sim, Sr. Presidente.
VOTO MÉRITO
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
período vedado. Ressaltaram, por fim, que apesar do aporte de servidores ter sido em
pequena escala, a diferença de votos entre o candidato eleito e o segundo colocado foi de
apenas 33 (trinta e três) votos, o que em sua ótica já seria suficiente para caracterizar a
gravidade necessária. Inicialmente, há de se examinar o fato, à luz da vedação imposta no
inciso V do art. 73 da Lei das Eleições, in verbis. Eu peço permissão a Vossas Excelências
para não ler por ser do conhecimento pleno de Vossas Excelências e se encontrar no voto
que foi encaminhado para os ilustrados membros do TRE. Continuo: De plano, já se
identifica, no teor da alínea “a”, do texto legal mencionado que a vedação prevê como
exceção à regra do caput do inciso V, a nomeação ou exoneração de servidores
exercentes de cargo em comissão ou a designação ou dispensa de função comissionada,
ficando o agente público com a discricionariedade de agir conforme o que melhor lhe
parecer para sua gestão, o que respalda as 05 (cinco) contratações de comissionados.
Cito às fls. 343. Em outro giro, na documentação lançada aos autos oriunda do Sistema
SAGRES do TCE/PB, observa-se que o período concernente aos meses de janeiro a agosto
(período citado na exordial) dos anos de 2015 e 2016, na realidade, ocorreu uma
diminuição no número de servidores comissionados, conforme muito bem posto na
decisão recorrida, bem como na manifestação do ilustrado Procurador Regional Eleitoral,
vazadas nos seguintes termos: Trecho da sentença: “Ademais, no caso concreto, o que
se verifica, diversamente do que fora apontado pelos autores, foi um acréscimo no
número tanto de servidores comissionados quanto de contratados por excepcional
interesse público a partir de janeiro de 2016 em relação ao ano anterior. Percebe-se,
também, que em todos os anos, há sempre um aumento no número de contratados por
excepcional interesse público após o mês de janeiro, sem que isto aponte, ao menos, a
priori, para a natureza eleitoreira das contratações”. Menciono a fl. 9.578v. Fragmento do
parecer ministerial: “A partir dos dados acima colacionados, percebe-se que não houve
uma significativa variação entre as nomeações para cargos de confiança e as
contratações por excepcional interesse público, no Município de Dona Inês/PB, no ano de
2016. A título ilustrativo - continua o ilustre Procurador - de janeiro a agosto de 2016
(período abordado na inicial), o número de comissionados subiu de 49 para 52, enquanto
que 16 servidores foram contratados por excepcional interesse público. No mesmo
período, o número de servidores efetivos subiu de 222 para 232. Tais dados não
evidenciam a prática de abuso do poder político e/ou econômico. Outrossim, como
destacado pelo magistrado a quo, é perceptível, em especial em municípios menores, um
aumento nos contratados por excepcional interesse público após o mês de janeiro”.
Traçando um comparativo entre os meses de janeiro a agosto dos anos de 2015 e 2016,
no tocante ao montante financeiro utilizado nas nomeações e contratações, bem como
em relação ao número de contratações, por excepcional interesse público, e de cargos
comissionados é possível a extração de fundamentos que afastam a incidência de
qualquer ilícito eleitoral, senão vejamos: Montante financeiro (cargos comissionados): Ano
2015 e Ano 2016. Os primeiros números que irei chamar representam 2015, o segundo
2016: Janeiro 2015 - noventa e cinco mil e fração; 2016 - oitenta e seis mil. Eu vou citar o
número principal e deixar as frações de lado, uma vez que, como repetido, o voto está no
poder de Vossas Excelências e esta forma resumida não altera em nenhuma maneira o
nosso entendimento. Fevereiro - cento e dez - e oitenta e cinco; Março 2015 - cento e
treze - Março 2016 - oitenta e nove; Abril 2015 - cento e quatro; Abril 2016 - oitenta e
nove; Maio 2015 - cento e cinco; Maio 2016 - noventa e quatro; Junho 2015 - cento e
quatro; Maio 2016 - noventa e quatro; Junho 2015 - cento e quatro; Junho 2016 - noventa
e quatro; Junho - cento e quatro - 2015; noventa e quatro - 2016; Julho - noventa e nove -
2015; Julho 2016 - noventa e três; Agosto - cento e um - 2015; noventa e sete - Agosto -
2016. Montante financeiro utilizado (contratações por excepcional interesse público). Da
mesma forma, Ano 2015 e ano 2016. Janeiro 2015 – hum mil quinhentos e vinte; 2016 -
zero; Fevereiro - quarenta e três; 2016 - dezoito; Março - quarenta e nove; 2016 - vinte;
Abril - cinquenta e um mil; Abril 2016 - vinte e três; Maio - cinquenta e um - 2015; Maio
2016 - vinte e um; Junho - cinquenta e três - 2015; Junho 2016 - dezoito; Julho 2015 -
cinquenta e três; Julho 2016 - dezessete; Agosto 2015 - cinquenta e cinco; 2016 -
dezesseis mil. Número de nomeações de cargos comissionados - da mesma forma, da
mesma maneira: 2015 e 2016. Janeiro 2015 - 51; Janeiro 2016 - 49; Fevereiro 64 -
2015; 49 - 2016; Março - 64 - 2015; 2016 - 49; Abril - 61 - 2015; 2016 - 49; Maio - 61-
2015; 52 - 2016; Junho - 58 - 2015; 53 - 2016; Agosto 54 - 2015, perdão, agosto 58; 54
- 2016. Número de contratações por excepcional interesse público: Ano 2015 - Ano 2016.
Notas Taquigráficas 22 (0701452) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 24
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Janeiro 2015 - um; 2016 - zero; Fevereiro - 32 - 2015; 22 - 2016; Março - 39 - 2015; 22
- 2016; Abril - 38 - 2015; 24 - 2016; Maio - 40 - 2015; 23 - 2016; Junho - 40 - 2015;
2016 - 18; Julho - 41 - 2015; 18 - 2016; Agosto - 42 - 2015; 16 - 2016. Desse modo, em
harmonia com a visão do parecer ministerial, destaco que não merece guarida a
argumentação dos Investigantes, no tocante ao ponto posto em discussão, uma vez que
se vislumbra nítida divergência entre a tese sustentada na irresignação e a realidade que
permeia os autos, autorizando a constatação de inexistência da prática da conduta
vedada prevista no inciso V do art. 73 da Lei das Eleições, bem como de abuso poder
político e econômico (art. 22, XIV da Lei Complementar nº 64/90), consistente na alegação
de contratações indiscriminadas de servidores, por excepcional interesse público e
comissionados, durante o ano de 2016.O segundo ponto: Distribuição gratuita de serviços
– utilização de tratores, escavadeiras, patrol, pás carregadeiras e caçambas pertencentes
ao município de Dona Inês/PB para beneficiar proprietários de áreas rurais em troca de
votos e concessão de auxílios financeiros em desconformidade com a lei eleitoral; abuso
de poder político/econômico e conduta vedada – art. 73, IV e §10 da Lei das Eleições.2.1.
Quanto a esse primeiro tópico (utilização de tratores, escavadeiras, patrol, pás
carregadeiras e caçambas pertencentes ao município de Dona Inês/PB para beneficiar
proprietários de áreas rurais em troca de votos), sustentam os investigantes a utilização
de maquinário da edilidade – repito novamente (tratores, escavadeiras, patrol, pás
carregadeiras e caçambas) e do PAC – programa de aceleração do crescimento, com
vistas a beneficiar proprietários de áreas rurais, eleitores dos Investigados João Idalino da
Silva, Demétrio Ferreira de Lima e José Igor Denizar Costa da Silva. Enfatizam que
contrariamente ao que foi aduzido pelos Investigados, de que só houve utilização de
máquinas da municipalidade para construir um campo de futebol, com a devida
autorização de João Paulino de Andrade, para a retirada do aterro, sem ônus para a
Prefeitura, tendo juntado, como prova do alegado, apenas um termo de doação de terra
para o gramado do campo de futebol do Sítio Brejinho/Lagoa do Braz, assinado pelo
suposto autor da autorização (fl. 4.048), pontuam que durante o ano de 2016 houve
serviços de barreiros, que teriam sido confirmados pelas testemunhas, inclusive alguns
sem o cadastramento adequado na Prefeitura de Dona Inês, no Sítio Lagoa do Braz de
João Paulino de Andrade (ex-vereador), Sítio Lagoa do Braz de Clóvis Davino,
Assentamento Tanques de Luiz Moreira de Araújo (Adeval), Sítio Brejinho de Pedro Augusto
de Araújo e Sítio Lagoa do Braz de Cícero de Raminho e Raminho Pedra. Imperioso
consignar que a documentação juntada aos autos pelos Recorrentes, com a qual
pretendem fazer prova do fato apontado (fotografias), mostrando apenas maquinário em
propriedades, sem a comprovação da data e localidade em que foram produzidas, nem
tampouco a identificação de logomarca da edilidade, apenas com a indicação em uma das
fotografias, sem registro do local no qual foi fotografada, uma edificação intitulada
“Unidade Básica de Saúde” (fl.280) não tem o condão de atribuir veracidade à narrativa
explicitada pelos autores da demanda. Depreende-se dos autos que foram executados
serviços em barreiros, durante o ano de 2016, em prol dos seguintes moradores de Dona
Inês: Eliomar Fabrício de Araújo; Maria do Socorro Andrade Silva; Luiz Moreira de Araújo;
Ivonete Bento da Silva; Adriano Luiz de Oliveira e João Emiliano. Todos esses nomes
citados, como Vossas Excelências podem verificar e constatar, através do voto
encaminhado, ao lado se encontra a data desses supostos serviços. Na perspectiva de
confrontamento dos dados acima, em relação ao ano de 2015, quanto à execução de
serviços dessa natureza, pela Prefeitura de Dona Inês é extraído do feito em epígrafe (fl.
4.021/4.023), a execução de 34 (trinta e quatro) serviços em barreiros em 20156 ou
seja, em 2015 o número foi superior em 28 (vinte e oito) execuções desses serviços, em
relação ao ano do pleito, sendo verificado como beneficiário, no ano de 2016, de acordo
com a relação enviada ao Juízo Eleitoral da 14ª Zona, apenas o nome de Luiz Moreira de
Araújo, fl. 5278 (Assentamento Tanques) daqueles declinados na exordial. Diante da
constatação da execução dos mencionados serviços e com o escopo de examinar os
dados colhidos em uma contextualização de natureza eleitoral, os depoimentos das
testemunhas e declarante arrolados pelos Investigantes não os socorrem, tendo em vista
não demonstrarem extreme de dúvidas, a finalidade eleitoral quando da entrega das
obras em barreiros, aos eleitores beneficiários, valendo ressaltar, inclusive, o fato de que,
em função do período de estiagem, sofrido por aquela municipalidade, nada havia de
anormal na atuação do Poder Público Municipal, nas localidades que careciam de serviços
atinentes ao armazenamento de água. Vejamos o que afirmaram as testemunhas acerca
Notas Taquigráficas 22 (0701452) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 25
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do fato abordado. São duas testemunhas, eu indago a Vossa Excelência se é necessário a
leitura dos depoimentos das testemunhas. Caso contrário, eu passarei a leitura do voto,
excluindo esses dois depoimentos, que já se encontram no poder de Vossas Excelências.
Des. Joás, Vossa Excelência poderia indagar?
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Eu acho dispensável, Senhor Presidente.
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que o serviço, por ele executado, na propriedade do Sr. Clóvis Davino consistiu na
construção de um pequeno barreiro, autorizado pelo Secretário Polaco, após o devido
cadastro na Prefeitura de Dona Inês, através da Secretaria de Agricultura, com um
servidor chamado Ailton. Que não fez nenhum serviço na propriedade de Cícero de
Raminho porque tinha muita água. O outro operador de máquinas, José Sérgio de Oliveira,
servidor público efetivo da Prefeitura de Dona Inês, afirmou que só operava uma máquina
do PAC, tendo trabalhado até antes do mês de junho, em razão da proibição legal e que
executou um serviço consistente na retirada de areia da propriedade do Sr. João Paulino
que doou o mencionado material para a construção de um campo de futebol na
comunidade Brejinho, fato que foi devidamente confirmado pelo outro operador de
máquina (patrol), José Augusto de Araújo (conhecido por Zezinho), que além de ter
confirmado que as máquinas trabalhavam em todos os anos e não só no ano das eleições,
proclamou também ter realizado o serviço de terraplanagem no referido campo, com o
material (areia) doado por João Paulino. Que não trabalhava em barreiros, mas sabia que
as pessoas deveriam fazer um cadastro na Prefeitura para solicitar o benefício. A
testemunha Cícero José da Silva (conhecido como Cícero de Raminho - mídia fl. 9.052),
que teria sido um dos beneficiários dos barreiros, prestou um depoimento de cujo teor se
extrai que detém menos de 4 hectares de terra, na zona rural (Sítio Lagoa do Braz). Que
a municipalidade possui um programa social que tem como escopo auxiliar aos
agricultores e que apesar de ter pleiteado a realização de um serviço (limpeza de
barragem) em 2015, este não foi obtido em sua plenitude, em razão do fato de que no
momento em as máquinas da Prefeitura foram disponibilizadas (meados de julho/2016),
por intermédio do Secretário Polaco, a quantidade de água já existente impediu a
execução integral do trabalho. Que sabe informar que todos os anos o maquinário da
edilidade realiza serviço de corte de terras. Que o citado secretário não tratou de nenhum
outro assunto diverso da concessão do benefício. E, finalmente, a testemunha referida,
Pedro Augusto de Araújo, servidor público municipal (auxiliar administrativo), morador do
Sítio Brejinho, afirmou que no ano de 2016 trabalhou como operador de máquinas da
Prefeitura de Dona Inês, na limpeza e construção de barreiros. Que possui 1,25 hectares
de terra. Não sabe dizer se para a concessão do benefício era necessário um cadastro,
mas como era servidor da Prefeitura, embora sem cadastro, pediu autorização ao
Secretário da Infraestrutura, Carlos Polaco, para executar algumas horas de serviço em
sua propriedade (em torno de 4 a 5 horas) com o maquinário da edilidade, no final de
semana, tendo sido atendido. Observa-se que todos os depoimentos foram uníssonos no
tocante à confirmação de que o ano de 2016 foi de estiagem, no município de Dona
Inês/PB, tendo sido tal fato ratificado, em razão da edição de decretos do Governo
Estadual (n.ºs 36.253/2015(fl.4.066) e 36.633/2016(fl.4.067), bem como pelo Prefeito
da municipalidade citada (n.ºs 1.276/2015(fl. 4.089/4.090), 1.286/2016 (fl.
4.091/4.092) e 1.302/2016 (fl. 4.103/4.104) os quais decretaram situação de
emergência. Todos esses decretos mencionados, tanto do poder executivo estadual, do
poder executivo municipal, eles estão levando como referência a situação de calamidade
no tocante a estiagem, que foi muito exacerbada na região naquele período. A
legitimidade das ações realizadas pelo governo daquela edilidade é amparada pelo fato de
que o período no qual foram executados os serviços de barreiros estava dentro do lapso
temporal estipulado nos decretos que tratavam da questão de estiagem, a saber:
Decretos do Governador – aí cito os decretos; os decretos do município também já foram
mencionados acima. Também como elemento embasador da constatação da ausência de
ilicitude da administração municipal com viés eleitoral e com o intuito de salvaguardar as
ações públicas implementadas em Dona Inês, no combate à estiagem, o gestor oficiou o
Ministério Público Eleitoral, com vistas à fiscalização na execução dos “beneficiamentos e
melhorias nas vertentes para armazenamento de água para o consumo humano e
animal” (Ofício GP/Nº 152/2016 – fl. 4.047 – Vol. 21). Por todo o exposto, entende este
Relator que, quanto ao fato examinado - Distribuição gratuita de serviços – utilização de
tratores, escavadeiras, patrol, pás carregadeiras e caçambas pertencentes ao município
de Dona Inês/PB para beneficiar proprietários de áreas rurais em troca de votos – não foi
demonstrado nenhum viés eleitoral (entrega do benefício condicionada a voto no candidato
apoiado pelo então Prefeito), não restando configurada a conduta vedada estatuída no tão
mencionado art. 73 da Lei das Eleições, nem tampouco o abuso de poder político e
captação de sufrágio declinadas na peça inaugural da presente ação, razão pela qual, em
total consonância com a manifestação do Procurador Eleitoral, rechaço esta alegação.2.2.
Notas Taquigráficas 22 (0701452) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 27
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No que se refere ao segundo fato deste tópico, concessão de auxílios financeiros em
desconformidade com a lei eleitoral, é defendido nas razões recursais dos investigantes
que o então prefeito, Antônio Justino de Araújo Neto, a Secretária de Assistência Social e
Habitação, Sofia Ulisses Santos Queiroz e a Secretária Adjunta de Assistência Social, Caliny
Muniz de Lima, praticaram a conduta vedada pelo art. 73, §10, da Lei das Eleições e
também abuso de poder, em favor dos candidatos Investigados João Idalino da Silva,
Demétrio Ferreira de Lima e José Igor Denizar Costa da Silva, através da distribuição
gratuita de bens e valores, durante o ano de 2016, sem amparo em programa social ou
em estado de calamidade/emergencial com gravidade suficiente para macular a
legitimidade do pleito. Destacam que a Lei Municipal n.º 336/2001 não institui um
programa social específico capaz de identificar as ações de governo no âmbito da
assistência social, vez que seu conteúdo é uma mera cópia da Lei Orgânica da Assistência
Social – LOAS, sem critérios objetivos definidos previamente para a concessão de
benefícios sociais, que apenas autoriza o Poder Executivo a realizar despesas com
doações às pessoas em situação de absoluta vulnerabilidade social. Afirmam, ainda, que
os decretos de calamidade emitidos pelo Estado e pelo Município não se prestam a
justificar a concessão de doações e que vários beneficiários listados nos empenhos
emitidos em decorrência das doações não são pessoas carentes, conforme se extrai dos
depoimentos de Edivaldo Paulino da Silva, Severino Teixeira Muniz Júnior e Sérgio da Silva
Teófilo. Finalizam sustentando que a concessão irregular dos benefícios em município de
pequeno porte, aliada à ínfima diferença de votos entre os candidatos revelam um quadro
abusivo capaz de atrair as sanções de cassação de diploma dos candidatos beneficiados e
multa, além da declaração de inelegibilidade. Inicialmente, no que se refere à
caracterização da conduta vedada pelo art. 73, §10º, da Lei das Eleições, penso ser
importante trazer à colação o teor da norma – que vou passar, porque o Art. 73, § 10 é
do conhecimento pleno de Vossas Excelências. Ao discorrer sobre tal proibição, José Jairo
explica que a norma visa “evitar a manipulação dos eleitores pelo uso de programas
oportunistas e apenas para atender circunstâncias políticas, no momento lança mão do
infortúnio alheio como prática deplorável para obtenção de sucesso nas urnas (Gomes,
José Jairo, Direito Eleitoral, 12ª edição, São Paulo, Atlas, 2016, página 759). No presente
caso, a distribuição de valores aos eleitores de Dona Inês é matéria incontroversa,
restando perquirir se essa ação amparada com verbas públicas foi realizada com respaldo
em alguma das hipóteses autorizadas pela norma, qual seja, calamidade pública, estado
de emergência, programas sociais previsto em lei e já em execução orçamentária no
exercício anterior. No que se referi a existência de calamidade, estado de emergência
apta a autorizar ação pública, já adianto, no meu sentir, o permissivo legal não se presta a
liberar a concessão indiscriminada de bens e serviços sem qualquer relação com o
acontecimento ou o decreto de calamidade. Eu faço aqui um pequeno parêntese para
destacar e acentuar que esses decretos do estado, como bem expressou o Procurador
Regional Eleitoral, trata da matéria vinculada à calamidade pública, isto é, calamidade
pública em razão da estiagem, na verdade foi exacerbada, fato público e notório em todo
o Brasil, naquela sofrida região do estado. Abraçando essa mesma trilha, realço a
observação enfática contida no julgamento do RE nº 210-96, (mantido pelo TSE, conforme
decisão monocrática no REspe 210/96) onde o TRE/RN consignou que “mesmo nos casos
de calamidade e estado de emergência, ou em face de programas sociais autorizados em
lei, a especificidade da legislação eleitoral ainda exige redobrada atenção à execução
financeira e principalmente administrativa daquela distribuição gratuita de bens e serviços,
conforme se pode inferir da parte final do já referenciado §10 do art. 73 da Lei 9.504/97,
não sendo permitido ao gestor público, mesmo nesses casos excepcionais, abusar do
permissivo legal, realizando uma distribuição indiscriminada de benefícios”. Fixada essa
premissa inicial, verifico que ao contrário da conclusão a que cheguei ao apreciar o tópico
anterior, relativo à construção de barreiros, as doações de bens e valores combatidas
pelos Recorrentes não encontra guarida nos decretos juntados aos autos. Isso porque a
leitura de tais decretos demonstra que o Município viveu um período de estiagem que
causou danos às plantações e à criação animal, de modo a restar justificada a assistência
dada à população mediante construção de barreiros, carros pipas e soluções para
manutenção da alimentação cotidiana dos cidadãos. Outrossim, conforme bem pontuado
no parecer ministerial, “os referidos decretos autorizaram a abertura de crédito
extraordinário, a convocação de voluntários para reforçar as ações de resposta ao
desastre natural e a dispensa de licitações ou contratos de aquisição de bens e serviços,
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de prestação de serviços e de obras relacionadas com a resposta ao desastre.” Todavia,
tais decretos não poderiam veicular – e efetivamente não veicularam – nenhuma
autorização para distribuição de bens e valores, não sendo crível concluir que a escassez
de água decorrente da estiagem sirva de justificativa plausível para distribuição de auxílios
dissociados da fome e da sede, tais como viagens, óculos, eventos culturais, materiais
escolares, medicamentos, reparos em residência, aluguel e outros, que também foram
objeto da distribuição analisada nos autos. A situação emergencial vivenciada pelo
Município, portanto, não pode servir de justificativa à massiva distribuição de auxílios
financeiros realizada no ano de 2016 em Dona Inês. Já no que se refere à existência de
programas sociais previstos em lei específica e em execução orçamentária no exercício
anterior, registro que o egrégio Tribunal Superior Eleitoral já assentou que somente a
existência cumulativa de lei de criação do programa social e de previsão orçamentária
específica atende à exigência do art. 73, § 10, da Lei das Eleições. Cito como exemplo do
entendimento sufragado por aquela Corte Superior e trago julgados desde o ano de 2008,
e cito um do Ministro Gilmar Mendes de 2016: Eleições 2008. Agravo Regimental. Recurso
Especial. Ação de Investigação Judicial Eleitoral. Abuso de poder. Conduta vedada.
Distribuição de bens. Programa social. Ausência de previsão legal. Procedência.
Manutenção da decisão agravada. Continua Sua Excelência, o Ministro: O Tribunal Regional
Eleitoral assentou que houve a distribuição, em ano eleitoral, de diversos bens a eleitores
carentes por meio de programa social não instituído por lei específica, caracterizando
abuso de poder político e econômico. Diante das premissas que fundamentam o acórdão,
não é possível novo enquadramento jurídico dos fatos. E arremata. 2. Segundo a
jurisprudência do TSE, somente a existência cumulativa da lei de criação do programa
social e da previsão orçamentária específica atende à exigência do art. 73, § 10, da Lei
das Eleições. Precedentes. Decisão mantida por seus fundamentos. Agravo regimental
desprovido. (Ministro Gilmar Mendes, decisão de 02/12/2016). Colhe-se do inteiro teor do
citado julgamento (REspe nº 172), as seguintes explicações sobre a matéria – eu irei ler
porque achei relevante o pensamento de Sua Excelência, o Ministro Gilmar Mendes no
REspe já mencionado a respeito da matéria em debate e em disseptação: Extraí do
acórdão regional, folhas: Pois bem, analisando a documentação constante dos autos,
verifico que há a comprovação da assistência prestada a pessoas carentes do município,
através de ajuda financeira para compra de cestas básicas, passagens rodoviárias,
confecção de próteses dentárias, pagamentos de exames médicos, entre outras,
demonstradas através de notas de empenho, recibos e notas fiscais (fls. 1.172/1.587,
Volumes 6 a 8), além de demonstrativos fiscais nos quais se afere que as despesas com
programas sociais realmente ocorriam desde o ano de 2005. No entanto, não consta dos
autos comprovação de legislação autorizadora da instituição de programas de assistência
social no município de Ribeira do Piauí. Assim, em que pese o argumento dos recorridos de
que o fornecimento de cestas básicas e outros bens e serviços a famílias carentes ocorria
desde o ano de 2005, ou seja, que já era executado em anos anteriores, não se
comprovou que o programa social estaria autorizado em lei. E esse ponto que vou pinçar
agora peço, respeitosamente, atenção por Vossas Excelências pela relevância do
pensamento e do posicionamento aqui plasmado. Desse modo, se não há lei autorizadora
do programa, não pode o Prefeito, sob o argumento de que o programa já era executado
há alguns anos, mantê-lo. Se isso fosse possível, o § 10 do art. 73 da Lei nº 9.504/97
restaria letra morta, pois o mandatário, sem previsão legal expressa, poderia desvirtuar o
sentido do programa social conforme instituído em lei. Se o legislador não faz essa opção,
não pode fazê-la o Chefe do Executivo, que não tem função legislativa; a regra de previsão
legal decorre exatamente da necessidade de impedir a manipulação eleitoreira de
programas sociais pelos detentores do poder. De fato, o art. 73, § 10, da Lei das Eleições
proíbe a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios pela administração pública no
ano das eleições, por ser conduta tendente a afetar a igualdade de oportunidades dos
concorrentes ao pleito. Apenas excepcionalmente a lei eleitoral admite a entrega dos
bens, por exemplo, por meio de programas sociais autorizados em lei e já em execução
orçamentária no exercício anterior. Conquanto os agravantes aleguem ser suficiente a
previsão orçamentária dos gastos para o enquadramento da hipótese na permissão legal,
ressalto que a jurisprudência do TSE é pacífica no sentido de ser necessária a lei específica
que institua o programa social, além de sua execução orçamentária no ano anterior às
eleições, porquanto apenas à lei cabe inovar no ordenamento jurídico. Pois bem. No
presente caso, a lei municipal indicada nas razões recursais (Lei Municipal 336/2001) e a
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Lei Municipal colacionada pela defesa (Lei Municipal 674/2014), não instituem o programa
social de que trata o art. 73, §10, da Lei das Eleições retrotranscrito, mas sim, como bem
salientado pelo eminente Procurador Regional Eleitoral, em seu parecer, fixam critérios
genéricos de autorização ao Chefe do Executivo para a concessão de doações e ajudas a
pessoas carentes, com caráter eminentemente eventual, que podem ser destinadas à
execução de uma ou mais ações específicas, não necessariamente vinculadas à
assistência social. E aqui transcrevemos o inteiro teor, Senhor Presidente, Des. Joás de
Brito Pereira, a lei municipal, que na verdade é a celeuma maior deste ponto do voto, que
é a Lei 336/2001, do Município de Dona Inês. Eu indago a Sua Excelência, o eminente
Presidente, a lei está transcrita tanto na nossa manifestação, como no parecer ministerial,
se é necessária a leitura in totum da globalidade deste dispositivo.
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de benefícios por outras unidades orçamentárias, como o Fundo Municipal de Saúde, nos
termos do art. 34 da Lei Municipal n.º 674/2014 (unidade orçamentária – cito as fls. 1515
e 8.837).” Verifica-se, portanto, que a distribuição no município de Dona Inês deu-se de
forma genérica, sem amparo em programa social instituído por lei e sem vinculação a uma
unidade orçamentária. Assim, não tendo sido demonstrada a instituição, por lei específica,
de um programa social de distribuição de auxílios financeiros, nem estando tal distribuição
justificada pelos decretos emanados pelo governo da Paraíba e pela administração
municipal – são aqueles decretos de calamidade pública em relação da estiagem. Não
restam configuradas as exceções legais que autorizam a distribuição gratuita de bens e
serviços no ano eleitoral, o que revela a caracterização da conduta vedada prevista no art.
73, §10, da Lei das Eleições. Constatada a prática da conduta vedada no âmbito do
município de Dona Inês, durante o ano de 2016, penso ser importante registrar que,
apesar de não ter participado do julgamento, não desconheço o precedente firmado por
este Tribunal no julgamento do RE 26642, proveniente de Tacima, da relatoria do Juiz
Sérgio Murilo Wanderley Queiroga que, com muita alegria, com muita satisfação,
participa hoje deste julgamento, em razão das férias do seu ilustre colega, Dr. Rogério
Abreu. É uma alegria de Vossa Excelência esteja, Dr. Sérgio Murilo, participando deste
julgamento, e certamente com a sua inteligência vai nos trazer luzes para melhor
caminharmos o nosso pensamento. Ocorre que, analisando o próprio voto condutor –
estou me referindo ao voto de Tacima. Ocorre que, analisando o próprio voto condutor,
percebemos que este Regional voltou sua atividade interpretativa, naquele caso concreto,
para a realidade da assistência social nos municípios de pequeno porte, deixando
expressamente consignado, contudo, que a “compreensão quanto ao que venha a ser, ou
não, programa social deve ser analisado considerando-se as condições e peculiaridades de
cada caso concreto, sobretudo na hipótese de se imputar a alguém a prática de conduta
vedada”. Inegavelmente, a análise e peculiaridades de cada caso concreto como plasmado
no decisum acima é da maior relevância, pois 62% (sessenta e dois por cento) dos 223
(duzentos e vinte e três) dos municípios paraibanos são considerados de porte médio. O
que pude extrair do voto de Tacima, da relatoria do brilhante Juiz Sérgio Murilo? Sua
Excelência, ao consignar seu raciocínio, seu pensamento naquele caso específico, Sua
Excelência entendeu que naquela situação não estava devidamente caracterizada
qualquer forma de ilícito penal que pudesse acarretar e trazer penas mais severas. Mas
Sua Excelência pontuou que estamos analisando este processo de uma forma concreta,
não estendendo de forma ampla e panorâmica, a exemplo de uma suma para os outros
demais casos. E também, não poderia ser, como Sua Excelência pontuou, e teve a
solidariedade à época do Tribunal Regional Eleitoral com outra composição. E Sua
Excelência, Des. Presidente Joás, Dr. Rodolfo, o Dr. Sérgio Murilo, a quem tenho o maior
respeito e a maior admiração, sou seu aluno, quando Sua Excelência quer exemplificar de
forma ampla e panorâmica determinada situação, diz com muita propriedade: - Ora, eu
não estou aqui usando Água Rabelo, que Água Rabelo aqui é para curar todos os males.
Não, Sua Excelência não usou aqui Água Rabelo, Sua Excelência aqui foi claro e objetivo de
que estava analisando a situação de Tacima no caso concreto, com as peculiaridades
daquela situação. E uma situação que verifiquei, Presidente Joás, em relação a município
de pequeno porte. Nós estamos em um ano eleitoral, nos 223 municípios paraibanos,
62% são considerados de pequeno porte. Então temos que, no período eleitoral, no ano
de eleição, ter muita cautela em relação ao que entendemos de município de pequeno
porte em relação às benesses que ele pode ter em relação à flexibilidade da legislação,
pois exatamente esses municípios de pequeno porte, esses municípios mais carentes,
onde o poder do estado, o poder municipal, ele, através dos seus órgãos, atuam com
mais força, notadamente para atender as pessoas carentes e, de uma forma ou de outra,
ficam vinculas aquele benesse e aquele favor. Após tal julgamento – estou falando de
Tacima. Após tal julgamento, outros se sucederam na apreciação da mesma matéria por
este Regional, tendo-se obtido maioria apertada para a manutenção do referido
entendimento, ao término de intensos, inteligentes e calorosos debates. Portando, no
meu modesto conceber isso ocorre porque, se de um lado, a precariedade da estrutura
administrativa local pode fazer o olhar consequencialista deste Tribunal pender para a
proteção da assistência social, de outro, incomoda a mensagem que estamos passando
para o gestor no sentido da necessidade adequar a sua gestão a comandos normativos
que estão em vigor desde 2006, ano em que a norma do art. 73, §10 foi inserida na Lei
das Eleições, por força da Lei nº 11.300. Ou seja, já se passaram aproximadamente 14
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anos desde que o dispositivo entrou em vigor, de modo que, ao meu sentir,
respeitosamente, também deve este Tribunal se preocupar, sobretudo em um ano
eleitoral como este que vivemos, em incentivar posturas corretas de qualquer gestor
quanto a observância da lei eleitoral, com a finalidade de obstacular o desequilíbrio do
pleito. Sobre o assunto, me acosto inteiramente aos ensinamentos do Ministro Luiz Fux,
quando Sua Excelência proclama urbi et orbis que “todo o direito é construído sobre a
premissa implícita de que as pessoas responderão a incentivos. Ora, é indiscutível que o
Poder Judiciário, consciente ou não, ao solucionar controvérsias sobre fatos já ocorridos,
fixa teses jurídicas que irão balizar condutas futuras. Essas teses passam então a informar
a atuação de todo e qualquer sujeito de direito, que tende a definir suas ações segundo os
custos e benefícios por ela gerados” - a origem e identificação deste pensamento está no
monitor de Vossas Excelências. Ademais, como bem observou o Ministro Gilmar Mendes
no REspe n.º 15-14/PE, “é patente que a maioria dos governantes desconhecem as
melhores práticas de gestão da coisa pública, mas não podemos ser ingênuos e aceitar,
sem senso crítico, que isso seja suficiente para acobertar conveniências e aspirações
políticas contrárias à legislação eleitoral”. Só lembrando, e respeito o óbvio de que nós
estamos em ano eleitoral, 62% dos municípios da Paraíba de 223 são considerados
municípios de pequeno porte. Eu não estou ainda com este dado, porque não me foi
possível em razão do Covid-19, que tem me deixado numa situação de absoluto
constrangimento, os servidores não estão podendo trabalhar para resguardar sua saúde,
isso é uma preocupação muito grande que todos nós temos, mas eu pedi um
levantamento dos últimos três anos, as ações de improbidade administrativa que
tramitaram pelo Tribunal de Justiça para saber quais municípios que são de grande porte,
de médio porte ou de pequeno porte. Eu não tenho, confesso a Vossas Excelências, mas
já tenho a sinalização, mas não tenho esses dados ainda dessa pesquisa que solicitei.
Desse modo, considerando que a aplicação dos precedentes nos moldes do art. 927 do
Código de Processo Civil não exige a subserviência do magistrado, mas sim dialética
respeitosa, peço vênia aos nobres colegas que sufragaram o entendimento adotado no RE
nº 26642, proveniente de Tacima, para assentar que o programa social de que trata o
art. 73, § 10, da Lei das Eleições deve ser sim exigido na análise da situação em concreto.
Lá em Tacima a situação foi examinada de forma concreta, como pasmado no acórdão.
Mas aqui também, em Dona Inês, estamos analisando situação em concreto, com
peculiaridades e características diferentes. Não tendo sido esse o caso dos autos, devem
incidir as sanções correspondentes, a partir de um juízo de proporcionalidade que realizarei
conjuntamente com a aferição da gravidade pelo apontado abuso de poder. Passo, então,
a analisar a alegada prática de abuso de poder através da concessão dos benefícios
assistenciais no município de Dona Inês durante o ano de 2016. No ponto, adiro ao
posicionamento já manifestado inúmeras vezes pelo Ministério Público Eleitoral no sentido
de que a implementação de políticas públicas guarda estreita relação com o sucesso nas
disputas eleitorais, sobretudo quando tais políticas públicas são voltadas à distribuição de
benefícios auferíveis a curto prazo pelo eleitor, como é o caso de auxílios financeiros. Além
disso, antes de enfrentar as particularidades do caso concreto, especifico, registro que a
conduta vedada no art. 10, §10, assim como as demais previstas no art. 73 da Lei das
Eleições, pode ser conceituada como uma espécie do gênero abuso de poder. Sua prática,
portanto, possui aptidão para ofender a normalidade e legitimidade do processo eleitoral
em decorrência da quebra da isonomia entre os players. Prosseguindo, no presente caso,
o Procurador Regional Eleitoral realçou que se pode observar “um total de 127 (cento e
vinte e sete) empenhos, com 126 (cento e vinte e seis) pareceres sociais emitidos,
contemplando um total de 103 (cento e três) beneficiários, com predominância da
concessão de auxílios para o custeio de medicamentos, exames, passagens, reparos em
residência e aluguéis”. Eu acrescento aqui até caixão funerário. Além disso, consta em sua
manifestação a seguinte exposição sobre o quadro fático delineado. O pensamento de
Sua Excelência, o ilustrado Procurador, está absolutamente transcrito no meu voto, em
toda sua plenitude, inclusive jurisprudência uníssona, pacífica, harmônica do Superior
Tribunal, do STJ, Superior Tribunal de Justiça, é no sentido de que, caso o relator concorde
com os termos, os argumentos manifestado no parecer ministerial, poderá absorver in
totum para o seu voto, sem isso implicar qualquer ofensa a dispositivos do Código de
Processo Civil, ou também malferir o princípio da não fundamentação. Eu trouxe o parecer
na íntegra, mas estou também complementando ponto a ponto o meu raciocínio a
respeito do tema em debate e também em disseptação. Des. Joás, eu peço permissão a
Notas Taquigráficas 22 (0701452) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 32
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Vossa Excelência, que o parecer está transcrito. Eu indago a Vossa Excelência se eu
poderia dispensar a leitura, se todos os meus ilustres e eminentes Pares já têm
conhecimento da peça, que estou rotulando de peça jurídica, elaborada pela Procuradoria
Regional Eleitoral?
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igualdade de chances entre os candidatos e a legitimidade do pleito”. Desse modo,
enxergo configurado também o abuso de poder político com viés econômico previsto no
art. 22, caput e XIV, da LC n.º 64/90. Verifico, também, que as circunstâncias do caso em
tela mostram-se suficientemente graves para impactar no transcurso da campanha
eleitoral de 2016 no município de Dona Inês, já que devidamente comprovado nos autos a
distribuição de valores/bens em flagrante desrespeito ao regramento contido na Lei das
Eleições (art. 73, §10) e nas próprias leis que regem a assistência social daquele
município, tudo a denotar o uso da máquina pública para atender vontades individualizadas
dos agentes políticos responsáveis pela conduta irregular e seus beneficiários. O impacto
causado na normalidade e na legitimidade do pleito e a quebra de isonomia entre os
concorrentes pela distribuição de auxílios financeiros para diversas finalidades mostra-se
ainda mais evidente quando se verifica que o Município de Dona Inês possui 10.429
habitantes. Vou repetir, o Município de Dona Inês possui 10.429 habitantes, merecendo
realce que compareceram 7.272 (sete mil duzentos e setenta e dois) eleitores para o
exercício do voto, portanto, os 103 (cento e três) beneficiários pela irregular política
pública, sobretudo diante da pequena diferença de votos entre os candidatos, qual seja,
apenas 33 (trinta e três) votos, influenciaram diretamente no resultado das eleições de
2016. Quanto a responsabilidade dos Investigados, adoto integralmente as razões
expostas no parecer ministerial, usando o método de fundamentação per relationem,
admitido pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, vazado nos seguintes termos.
Senhor Presidente, mais uma vez com muita honra para este modesto Relator, eu trago à
colação parte expressiva, bem escrita e bem delineada do parecer ministerial, que peço
respeitosamente permissão para não ler, se for o caso, uma vez que está em poder de
Vossa Excelência, e o parecer ministerial já se encontra acostado aos autos há bastante
tempo.
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preceitua o §8º do mesmo artigo. Já aos responsáveis pela prática da conduta vedada e do
abuso de poder, Antônio Justino de Araújo Neto, prefeito à época dos fatos, e Sofia Ulisses
Santos, que era titular à época, da Secretaria Municipal de Assistência Social e Habitação
Secretaria, cabe a aplicação da multa prevista no § 4º do art. 73 da Lei nº 9.504/97 e
também a declaração de inelegibilidade por 8 (oito) anos a contar da eleição de 2016, nos
termos do art. 22, XIV, da LC nº 64/90, considerando que, na qualidade de agentes
públicos de maior escalão no âmbito daquele município, possuíam o controle da gestão
municipal, sendo diretamente responsáveis pela distribuição de valores abusiva e em
descompasso com seu regramento normativo. Sobre a declaração de inelegibilidade,
considerando a anuência e até mesmo a contribuição de João Idalino da Silva e Demétrio
Ferreira da Silva com a prática do abuso, conforme assentado pelo ilustrado Procurador,
entendo cabível a referida restrição também pelo prazo de 8 (oito) anos a partir da eleição
de 2016. Finalizando, o valor da multa a ser aplicada aos responsáveis, Antônio Justino de
Araújo Neto e Sofia Ulisses Santos Queiroz; e aos beneficiários pela conduta, João Idalino
da Silva e Demétrio Ferreira da Silva - Antônio Justino de Araújo é o ex-prefeito, e o atual é
João Idalino da Silva, que tem como companheiro de chapa o vice-prefeito atual Demétrio
Ferreira da Silva - , considerando a gravidade do impacto no processo eleitoral, deve ser
fixada em R$ 100.000,00 (cem mil reais), nos termos do art. 62, §4º, da Resolução TSE
nº 23.457/2015, que dispôs sobre propaganda eleitoral, utilização e geração do horário
gratuito e condutas ilícitas em campanha eleitoral nas eleições de 2016. Passamos a
outro tópico: Distribuição de materiais de construção às vésperas do pleito (abuso de
poder político/econômico e captação ilícita de sufrágio). No ponto, alega-se que nos dias
28/09, 29/09, 30/09 e 01/10 do ano de 2016 houve a intensificação de distribuição
gratuita de materiais de construção pelos Investigados (João Idalino da Silva, Demétrio
Ferreira de Lima e Antônio Justino de Araújo Neto) em troca de voto, a exemplo de telhas,
tijolos, cimento, caixa de água, revestimento de PVC, para as comunidades carentes de
Dona Inês, com destaque para a Comunidade Cruz da Menina e Sítio Brejinho. Os
Investigantes citam como elementos probatórios as fotografias e depoimentos de
moradores dos locais mencionados, especialmente o testemunho de Graciane Teófilo,
com vistas à comprovação de abuso de poder político e econômico, conduta vedada e
captação ilícita de sufrágio. Analiso, inicialmente, os fatos articulados, à luz do art. 41-A da
Lei das Eleições. E mais uma vez peço permissão a Vossa Excelência para não ao ler.
Colho do parecer ministerial, acerca do tema: “Nas palavras de José Jairo Gomes, ‘a
captação ilícita de sufrágio é modalidade de abuso de poder, tomada essa expressão em
sentido genérico”. O bem protegido pela norma é a liberdade do eleitor, significativamente
aviltada por quaisquer das práticas descritas pelo artigo 41-A (doação, oferecimento,
promessa ou efetiva entrega, ao eleitor, de bem ou vantagem pessoal de qualquer
natureza). Quaisquer dessas práticas têm por finalidade específica a obtenção de voto,
elemento essencial para a tipificação do ilícito. O mesmo autor ainda menciona que a
configuração dessa categoria legal requer a conjugação dos seguintes elementos: A
perfeição dessa categoria legal requer: realização de uma das condutas típicas, a saber:
doar, oferecer, prometer ou entregar bem ou vantagem pessoal a eleitor, bem como
contra ele praticar violência ou grave ameaça; fim especial de agir, consistente na
obtenção do voto; e ocorrência do fato durante o período eleitoral.” Observa-se que a
configuração da conduta ilícita prevista no dispositivo de lei retromencionado prevê a
coexistência de vários elementos, ou seja, o ato de o candidato doar, oferecer, prometer
ou entregar bem ou vantagem pessoal a eleitor, com vistas à obtenção de votos, durante
o período eleitoral, valendo registrar que a ausência de qualquer desses elementos
autoriza a improcedência do pedido. No que tange à aquilatação da prática do abuso de
poder político e econômico quanto ao fato em exame é imprescindível que o conjunto
probatório demonstre a finalidade eleitoral, consubstanciada em uma conduta que tenha
como alvo um dividendo eleitoral, que pode ser extraído através da análise dos
depoimentos testemunhais e do modus operandi do gestor, na condução da máquina
pública. A prova deve ser robusta, não dando azo ao julgador questionar a sua prática.
Pois bem, a dinâmica presente nos autos, no que ser refere ao conjunto probatório da
alegação de distribuição de materiais de construção às vésperas do pleito consiste na
juntada de cópias de fotografias, mídia com fotografias e no teor do depoimento da
testemunha Graciane Teófilo da Silva que não socorrem ao intento dos
autores/recorrentes. O acervo fotográfico, bem como a mídia que contém apenas as
fotografias já citadas, não são hábeis a comprovar nenhuma ação ilícita referente à
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distribuição de material de construção em troca de voto, a exemplo de uma foto de um
caminhão contendo material de construção estacionado na frente de uma residência, sem
demonstração de qualquer correlação com o alegado, sem sequer a identificação dos
locais e datas das fotografias, não respaldando a assertiva dos Recorrentes de que teriam
sido na comunidade Cruz da Menina e no Sítio Brejinho e na presença dos Investigados.
Não há como ser atribuída a comprovação do alegado tomando-se como base o
testemunho de Graciane Teófilo da Silva, tanto é que foi asseverado por ela que os
Investigados não estavam presentes no momento da apontada distribuição dos materiais
de construção isso tudo associado à negativa das testemunhas, por ela referidas e
ouvidas perante o juiz. Nessa esteira, importante o conhecimento dos seguintes trechos
dos depoimentos que, como na forma anterior, Senhor Presidente, estou pedindo
permissão a Vossa Excelência para não ler esses depoimentos. Estão devidamente...
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Parque das Águas), de propriedade da família do então Prefeito, Antônio Justino. Que o
servidor Elinaldo (conhecido por Galego do celular) estaria fazendo a entrega do
combustível e que houve comentários de pedido de ajuda em prol dos candidatos, João
Idalino e Denizar. Extrai-se dos depoimentos uma nítida atmosfera de preferências
políticas, a exemplo do que foi pontuado pela testemunha Severino Teixeira Muniz Júnior,
quando afirma ter acompanhado os eventos do candidato adversário do investigado João
Idalino, não havendo de fato nada de consistente em sua fala, bem como no que foi
relatado pelas demais testemunhas, uma vez que se observa um contexto baseado em
comentários e em conclusões de cunho subjetivo que não comprovam efetivamente o
alegado, valendo ressaltar que o fato da mudança do horário de expediente do servidor
José Elinaldo, no Ginásio da edilidade, durante o período eleitoral, não nos permite
nenhuma conclusão no que tange à finalidade eleitoreira da medida administrativa,
inclusive conforme apurado, a presença do citado servidor no evento de campanha (por
volta das 15:30h), ocorreu fora do horário de expediente que era das 07:00 às 13:00h.
Não há elementos robustos que comprovem ter sido o combustível distribuído em troca de
voto, embora o acervo documental e testemunhal possa até apontar indícios de ilicitudes,
porém o arcabouço probatório não tem o condão de autorizar a confirmação da prática da
conduta aduzida pelos Investigantes, quanto a esse aspecto. Sobre a aventada prática das
condutas vedadas previstas nos incisos I e III do art. 73 da Lei nº 9.504/97, não há falar na
cessão ou uso de bens móveis ou imóveis da Prefeitura de Dona Inês, em benefício das
candidaturas de João Idalino e José Igor Denizar Costa da Silva, nem tampouco foi
demonstrada a utilização de José Elinaldo Rodrigues da Silva, na distribuição de combustível
em troca de votos, até mesmo pelo fato de que o evento político reportado nestes autos
ocorreu fora do horário do expediente do servidor, que era das 07:00 às 13:00h,
inexistindo evidências de que a alteração de funcionamento do ginásio público tenha se
dado apenas no afã da utilização dos serviços do mencionado funcionário, em prol do
candidato João Idalino. Igualmente não se amolda à realidade dos autos, comprovação de
abuso de poder político/econômico, fulcrada nas alegações dos Investigantes da
distribuição de combustível em troca de voto, haja vista que a ação empreendida (doação)
não apresentou elementos configuradores de finalidade eleitoreira. Sobre o tema, citamos
aqui uma decisão do Tribunal do Rio Grande do Norte, nosso estado vizinho. Já a tentativa
de enquadramento do fato posto neste tópico, no tipo legal estatuído no art. 41-A da Lei
das Eleições, não se sustenta. Primeiro porque não restou demonstrado que efetivamente
a distribuição de combustível tenha se dado em troca de votos, segundo, a presença dos
candidatos não foi citada durante a distribuição da gasolina por nenhuma testemunha e,
finalmente, ainda que a prática do ilícito possa ocorrer através de terceiros, com o intuito
de beneficiar candidatos (§1º do art. 41-A da Lei das Eleições), isso não é vislumbrado nos
autos, nem em prova documental, nem testemunhal, uma vez que os depoimentos só
fazem menção a comentários e suposições, sem provas concretas do cometimento
efetivo da conduta não albergada por lei. Precedentes nessa esteira, jurisprudência a
respeito do posicionamento que nós estamos abraçando. Diante da argumentação
explicitada, este Relator também afasta a tese abraçada pelos recorrentes/investigantes,
no que se refere à alegação de oferta de combustível, em troca de voto e utilização de
servidor, em consonância com a visão do ilustre Procurador Regional Eleitoral. 5. Da
cessão e da utilização de bens, materiais e servidores públicos em benefício de candidatos
e coligação (abuso de poder político/econômico e conduta vedada prevista nos incisos I e III
do art. 73 da Lei nº 9.504/97). No que se refere a esse fato, inicio a análise realçando que
foi o mesmo objeto de insurgência por parte dos Investigados, que pretendem ver
afastada a multa que lhes foi aplicada pela sentença, e também dos Investigantes, que
pretendem ver reconhecida a gravidade exigida para a cassação dos mandatos dos
candidatos vitoriosos e a declaração de inelegibilidade por abuso de poder. Pois bem. As
alegações recursais dos investigados apoiam-se na inexistência de prova no que se refere
à prática da conduta vedada consistente na utilização de cilindro de ar do Hospital de Dona
Inês, com vistas à utilização no enchimento de balões, em comício de encerramento dos
candidatos, João Idalino e Demétrio Ferreira da Silva, os atuais prefeitos, em razão de que
o equipamento não era de propriedade daquela edilidade e ainda que não houve utilização
de servidores municipais, durante o horário de expediente, em serviços, no comitê de
campanha dos investigados citados. Aclamam que o veículo de uso da Secretaria de
Saúde de Dona Inês (FORD KA), apenas fez o transporte do equipamento para sua
devolução ao proprietário, João Idalino da Silva, que o teria emprestado à municipalidade
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(Secretaria de Saúde do município), à época, sob o comando de Tarciana Lucena Nunes
de Carvalho, para encher balões que seriam distribuídos às crianças, por ocasião da
campanha de multivacinação, juntando cópia de um recibo de um compressor de ar
vertical, usado e na cor branca, no valor de R$ 380,00 (trezentos e oitenta reais),
adquirido em 20 de outubro de 2010, na metalúrgica São Pedro, na cidade de João
Pessoa. Já os investigantes, sustentam em suas razões recursais que o transporte de um
compressor, no dia 29 de setembro de 2016, pelas 10h da manhã, do Hospital Público de
Dona Inês ao Comitê da Coligação adversária dos autores, com o intuito de encher balões
que seriam usados durante o comício de encerramento, configurou não apenas condutas
vedadas pelos incisos I e III, do art. 73 da Lei das Eleições, mas também abuso de poder
político e econômico (art. 22 da LC nº 64/90), tendo sido enfatizado ainda que a
mencionada conduta ocorreu durante o horário de expediente dos funcionários públicos,
Expedito e Marcos Barbosa, que teriam utilizado o veículo (FORD KA), pertencente à frota
do Fundo Municipal de Saúde da edilidade apontada, com autorização da Secretária
Municipal de Saúde, Tarciana Lucena Nunes, e com o conhecimento do prefeito à época,
Antônio Justino, ações que os Investigantes/Recorrentes afirmam que foram devidamente
comprovadas pelo acervo probatório presente no presente feito. Analisando a decisão de
1º Grau, extrai-se o reconhecimento pelo Magistrado zonal, da prática dos ilícitos
dispostos neste tópico, o que culminou com a condenação à pena individual de multa, no
valor de 5.000 UFIRs, impostas a João Idalino da Silva, Demétrio Ferreira da Silva, Antônio
Justino de Araújo Neto e Tarciana Lucena Nunes, embora entendendo pela ausência de
abuso de poder político e econômico, tendo em vista a não configuração da gravidade,
elemento essencial para a conclusão nesse norte. Para melhor compreensão da matéria,
examinarei o fato inicialmente abordando a alegação da utilização de um compressor
pertencente ao Hospital de Dona Inês para encher balões no comitê dos investigados
destinados ao comício de encerramento. Pois bem, sigamos nos assenhorando do teor
dos depoimentos testemunhais que trataram desse fato. Está aqui o depoimento do
declarante Edivaldo Paulino, que peço permissão para não ler. E continuo, dizendo: Por sua
vez, a testemunha Severino Teixeira Muniz Júnior, militar, já mencionado acima, assegurou
que o candidato a prefeito, à época, João Idalino residia na parte superior do prédio no qual
ficava o comitê de campanha, em frente ao restaurante Pedra Azul. Que não presenciou a
apreensão do compressor porque estava trabalhando na ocasião, mas que ficou sabendo
por comentários e através da exibição de um vídeo, em que identificou o servidor
Expedido retirando da mala de um Ford KA (veículo que prestava serviço à Secretaria
Municipal de Saúde) um objeto que depois foi apreendido. Ainda sobre o fato aqui
abordado, a testemunha Elionardo Rodrigues da Silva, funcionário público estadual, com
funções exercidas em uma escola em Dona Inês, em seu depoimento, assegurou que viu
“com seus próprios olhos”, a apreensão de um compressor dentro do comitê do
candidato João Idalino, que estava enchendo bolas, pois estava tomando café no
restaurante Pedra Azul, que fica em frente ao citado comitê. Que a visualização foi
possível em razão da porta do local ser de vidro. Que viu quando um Ford KA preto, da
Prefeitura daquela edilidade, chegou com os servidores Expedido e Marcos e retiraram um
equipamento de dentro do veículo, no horário aproximado das 09:30h da manhã e 10h e
10:30h a Justiça apreendeu o compressor no comitê e o levou. Que participou do comício
do PMDB e pediu votos. Observa-se que os elementos probatórios produzidos nos autos
consistem em fotografias, depoimentos testemunhais e no auto de apreensão do
compressor de ar. Já a linha de argumentação da defesa, destaca a alegação de que não
há qualquer prova de que veículo da Prefeitura tenha sido usado por servidores, durante
horário de expediente, para prestar serviço no comitê de campanha do candidato João
Idalino, nem tampouco que o compressor apreendido pertencia ao Hospital de Dona Inês.
Sustentam que o equipamento que foi utilizado para encher bolas no comitê é de
propriedade de João Idalino, que o emprestou à Secretaria de Saúde do município, à época,
sob o comando de Tarciana Lucena Nunes de Carvalho, com o fim de serem distribuídas
às crianças durante a campanha de multivacinação, tendo sido devolvido após o uso, o
que para tanto, juntaram cópia de um recibo de um compressor usado, de ar vertical, na
cor branca, no valor de R$ 380,00, adquirido em 20 de outubro de 2010, na metalúrgica
São Pedro, cidade de João Pessoa. No tocante à robustez do teor dos depoimentos,
apesar de se verificar que eram partidários dos adversários políticos dos Investigados, é
inegável que a narrativa do fato revela-se uniforme, ou seja, todos relatam de igual modo
a apreensão do compressor que chegou ao comitê dentro de um Ford KA da Prefeitura de
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Dona Inês, dirigido por Expedito que estava acompanhado de Marcos, ambos servidores
públicos, e que foi possível verificar que o equipamento estava enchendo bolas por que a
porta do comitê era de vidro. Quanto à assertiva de que o compressor apreendido era de
propriedade de João Idalino e que este o teria emprestado à Secretaria de Saúde, com o
fito de encher bolas para serem entregues às crianças, na campanha de vacinação e que
o veículo Ford KA, pertencente à edilidade, apenas teria sido utilizado para efetuar a
devolução do equipamento ao seu proprietário, não sustenta, pelas seguintes razões - o
item 1 é muito relevante: 1. Examinando o recibo anexado pela defesa referente ao
compressor de propriedade do então candidato, João Idalino, observa-se que se trata de
um compressor de ar vertical, usado, e no valor de R$ 380,00, já o compressor
apreendido pela Justiça Eleitoral é da marca DALTECH de 30 litros, odonto-médico, com
data de fabricação em 04, abril de 2010; 2. Em pesquisa realizada na internet, verifica-se
que o compressor apreendido é de uso específico em clínicas, consultórios odontológicos e
postos de saúde, conforme informação no próprio site da daltech. Assim, como pesquisa
no site, e cito o cite, constata-se que modelo similar àquele apreendido, na data de hoje,
custa R$ 2.200,00. Temos dois compressores, um de R$ 380,00 e um de R$ 2.200,00.
Se no próprio compressor apreendido consta como data de fabricação do equipamento,
abril de 2010... Vou repetir, é relevante: Se no próprio compressor apreendido consta
como data de fabricação do equipamento, abril de 2010 e no recibo apresentado pela
defesa, referente à compra de um compressor por João Idalino da Silva consta o valor de
R$ 380,00, em data de 20 de outubro de 2010, pergunta-se: se um compressor, cuja
fabricação foi em abril de 2010 e atualmente esse mesmo modelo custa, em média, R$
2.200,00, como pode ser sustentada a alegação de que o compressor adquirido pelo
investigado, João Idalino, em outubro de 2010, custou a módica quantia de R$ 380,00?
Outrossim, constata-se que o compressor apreendido é de uso odonto-médico, não tendo,
no recibo apresentado pela defesa, nenhuma referência quanto a esse ponto. Pois bem,
do que foi exposto é possível a constatação da utilização do compressor de ar, não tendo
a defesa logrado êxito na tentativa de comprovar que o recibo anexado aos autos se
refere ao mesmo compressor apreendido. O que se pode concluir é que o equipamento
utilizado foi aquele apreendido, tendo ficado patente que o mencionado compressor foi
transportado em veículo de utilização pública, por servidores públicos e durante o horário
de expediente, não tendo a defesa se desincumbido em provar o contrário, visto que
apenas limitou-se a sustentar que o transporte do compressor ocorreu fora do período
laboral, configurando assim, as condutas vedadas previstas nos inciso I e III do art. 73, da
Lei das Eleições. Partindo-se da premissa que o intuito do legislador, quando estatuiu as
condutas vedadas elencadas no artigo de lei mencionado, é o de coibir o uso da máquina
pública de forma ilícita e de evitar o desequilíbrio nos pleitos, o exame daquelas deve ser
feito de maneira objetiva, com interpretação restritiva, dispensando para o seu
aperfeiçoamento, a produção do resultado naturalístico e a análise da finalidade eleitoral
do ato, sendo suficiente a sua prática. Nesse sentido, precedentes do TSE. Várias
decisões. Desse modo, a utilização do compressor de ar, de propriedade da Secretaria de
Saúde de Dona Inês, contraria frontalmente a norma e se amolda em conduta despida do
correto exercício das atribuições públicas (benefício de candidatos) do gestor e da titular
da pasta da Saúde daquela edilidade, sendo pertinente a aplicação da multa aplicada na
decisão recorrida. Eu estou mantendo a multa no mesmo valor do quantum estabelecido
na sentença do juiz de 1º grau, com a chancela e a solidariedade do órgão ministerial. Por
outro lado, conforme as disposições constantes no § 4º do referido normativo, além da
aplicação de multa, que é de cinco a cem mil Ufirs, e que deve ser imposta aos “agentes
públicos responsáveis pelas condutas vedadas e aos partidos, coligações e candidatos que
delas se beneficiarem”, podem ditas condutas, em determinados casos, gerarem a
cassação do registro ou do diploma do candidato beneficiado, agente público ou não. Posto
isso, pontua-se que uma vez configurada a prática das condutas vedadas, imprescindível o
exame quanto à gravidade dos atos, a fim de que seja aferida a existência ou não do
abuso de poder político/econômico capaz de autorizar a cassação do registro ou do
diploma e ainda a penalidade de inelegibilidade, conforme o caso, sendo autorizado pela
farta doutrina e jurisprudência aplicáveis à espécie, os princípios da proporcionalidade e
razoabilidade para a imposição da sanção. No caso em disceptação, esta Relatoria não
vislumbra a gravidade necessária para aplicação da severa pena de cassação cumulada
com inelegibilidade, na mesma esteira do entendimento do eminente Magistrado
sentenciante e do ilustre Procurador Regional Eleitoral. Indubitavelmente, embora a
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utilização do compressor de ar, de propriedade da Secretaria de Saúde de Dona Inês,
contrarie a norma e se amolde à absoluta despida do correto exercício das atribuições
públicas (benefício de candidatos) do gestor e da titular da pasta da Saúde, daquela
edilidade, depreende-se da análise que a utilização do equipamento, ocorrida em apenas
uma oportunidade, consistiu no enchimento de balões na sede do comitê eleitoral dos
candidatos, João Idalino da Silva, Demétrio Ferreira da Silva e José Igor Denizar, e ainda que
a participação de servidores públicos, no horário de expediente (conforme atestado de
forma uníssona pelos depoentes), no transporte do citado equipamento, igualmente
aconteceu naquele momento, sem ser demonstrada, durante toda a instrução do feito, a
continuidade delitiva da conduta, não servindo como elemento autorizativo para a
aplicação das sanções mais gravosas, apenas o registro de que a diferença de votos entre
os candidatos foi de 33 (trinta e três) votos. Trago decisão do TSE a respeito do tema.
Nesse cerne, igualmente elucidativo o seguinte trecho do parecer ministerial, enfrentando
a questão, asseverou: “Diante desse quadro fático-probatório, embora caracterizada a
prática de conduta vedada, nos termos do art. 73, I e III, da Lei das Eleições, forçoso
reconhecer a ausência de provas qualitativas para atacar a normalidade e a legitimidade
do pleito e, por conseguinte, sustentar a cassação de registro ou de diploma pelo abuso
de poder, nos termos do art. 2 da Lei Complementar nº 64/90”. Citamos um precedente
do Tribunal Superior Eleitoral, na mesma esteira da manifestação e do pensamento
ministerial. Dispositivo. Isso posto, amparando-me nos fundamentos fáticos e jurídicos aqui
expostos, voto pelo desprovimento do apelo interposto por Antônio Justino de Araújo Neto,
Tarciana Lucena Nunes de Carvalho, João Idalino da Silva e Demétrio da Silva, para
manter, nos termos deste voto, o entendimento da sentença que, reconhecendo a prática
da conduta vedada consistente na utilização de cilindro de ar do Hospital de Dona Inês, em
benefício de candidaturas, sem impingir ao fato a gravidade exigida para configuração do
abuso de poder, aplicou-lhes multa no valor mínimo previsto em lei, afastando, porém, a
sanção de cassação de diploma e a declaração de inelegibilidade. O valor da multa é de
cinco mil Reais. No que se refere ao recurso dos Investigantes, voto pelo seu provimento
parcial. Por que provimento parcial? Porque o recurso pedia a pena de inelegibilidade não
só para o prefeito, vice-prefeito, mas também outras pessoas envolvidas. No que se
refere ao recurso dos Investigantes, voto pelo seu provimento parcial, reformando a
sentença para reconhecer a prática da conduta vedada, art. 73, §10, da Lei n.º 9.504/97
e o abuso de poder político com viés econômico na parte referente à distribuição de bens,
valores e benefícios, cassar os diplomas de João Idalino da Silva e Demétrio Ferreira da
Silva, aplicando a estes e a Antônio Justino de Araújo Neto e Sofia Ulisses Santos Queiroz
multa no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), além de declará-los inelegíveis pelo
prazo de 8 (oito) anos a contar das eleições de 2016, tudo em conformidade com os
§§4º, 5º e 8º do art. 73, 9.504/97 c/c art. 22, XIV, da Lei Complementar n.º 64/90, na
forma já assentada neste voto. Cassados os diplomas do Prefeito e Vice-prefeito eleitos
em 2016, e por conseguinte, seus mandatos, com base no entendimento manifestado
pelo Tribunal Superior Eleitoral, devendo haver a convocação de novas eleições, após a
publicação do acórdão, sendo o prazo fixado através de resolução a ser elaborada pela
Corregedoria Regional Eleitoral para os cargos de prefeito e vice-prefeito no Município de
Dona Inês, nos termos do art. 224, §§ 3º e 4º, do Código Eleitoral, in verbis. Neste ponto
aqui gostaria de fazer um pequeno esclarecimento, não estou fixando de logo o prazo
para a realização das eleições e deixando para Sua Excelência, o eminente
Desembargador Vice-Presidente e Corregedor, que na verdade é o responsável pela
condução dessa eleição e, obviamente, pela confecção da resolução. Porque diante deste
quadro que nós estamos vivenciando, em razão do Covid-19, Sua Excelência pode avaliar
o melhor cuidado, notadamente o desenvolver da pandemia que assola e maltrata o nosso
globo. Então eu fiz essa ponderação de deixar a critério de Sua Excelência, Des. Joás, o
prazo para fixar essas eleições após uma avaliação a respeito de todo esse quadro
lamentável que está assolando nosso país e o mundo todo e, Sua Excelência, com a sua
sensibilidade e lucidez irá verificar a pertinência dos prazos, a resolução para a realização
dessas eleições. E cito jurisprudência a respeito deste tema. No final, jurisprudência
explicando: Fixação de tese. Cumprimento da decisão judicial e convocação das eleições. E
digo, ao final, após a minha manifestação: Comunique-se o inteiro teor do presente
decisum ao Excelentíssimo Senhor Juiz da 14ª Zona Eleitoral, para as providências
cabíveis. E também afirmo mais acima que o parágrafo para o cumprimento da nossa
manifestação, com a minuta de voto, que estou encaminhando a Vossas Excelências, é
Notas Taquigráficas 22 (0701452) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 40
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https://pje.tre-pb.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20112310565527400000007605543
Número do documento: 20112310565527400000007605543
após a publicação do acórdão. E pedindo vênias a Vossas Excelências, pois me estendi
muito, que a matéria realmente tem alguns aspectos que mereceram e merecem
estudos, merecem análise. Esta, Senhor Presidente, é a minha manifestação modesta de
voto.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO:
Desembargador Joás, eu peço a palavra, pela ordem, para um esclarecimento
eminentemente de fato, se Vossa Excelência permitir.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO:
Des. José Ricardo...
Assinado eletronicamente por: ANALIA CASTILHO DA NOBREGA - 23/11/2020 10:56:56 Num. 7769797 - Pág. 83
https://pje.tre-pb.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20112310565527400000007605543
Número do documento: 20112310565527400000007605543
pouco, e já estamos 16 e pouco, for necessário encerrar a sessão só com este processo,
tudo muito bem, caso contrário, se o entendimento de Vossa Excelência for outro, e da
Corte, que pudesse conceder uma suspensão de 10 minutos para que possamos
continuar. Eram essas as propostas, Senhor Presidente, que eu teria que fazer…
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO:
Dr. Antônio Carneiro, eu pediria a palavra a Vossa Excelência para um
esclarecimento eminentemente de fato.
GFM/RMP
Assinado eletronicamente por: ANALIA CASTILHO DA NOBREGA - 23/11/2020 10:56:56 Num. 7769797 - Pág. 84
https://pje.tre-pb.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20112310565527400000007605543
Número do documento: 20112310565527400000007605543
ROSANNE MOREIRA PEIXOTO
ANALISTA JUDICIÁRIO - TAQUIGRAFIA
0005922-57.2020.6.15.8000 0701452v4
Assinado eletronicamente por: ANALIA CASTILHO DA NOBREGA - 23/11/2020 10:56:56 Num. 7769797 - Pág. 85
https://pje.tre-pb.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20112310565527400000007605543
Número do documento: 20112310565527400000007605543
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DA PARAÍBA
PRESIDÊNCIA
DIRETORIA GERAL
SECRETARIA JUDICIÁRIA E DA INFORMAÇÃO
COORDENADORIA DE REGISTROS E INFORMAÇÕES PROCESSUAIS
NÚCLEO DE TAQUIGRAFIA
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
para eles. Eu vejo a chegada aqui do Dr. Adriano, mas não vejo os demais. Não sei se foi
repassado para os outros advogados que haviam pedido, essa nova, pronto, parece que o
Dr. Marcos também já está aí.
Assinado eletronicamente por: ANALIA CASTILHO DA NOBREGA - 23/11/2020 10:56:56 Num. 7769797 - Pág. 87
https://pje.tre-pb.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20112310565527400000007605543
Número do documento: 20112310565527400000007605543
Código Eleitoral, pediu vistas o Juiz Antônio Carneiro de Paiva Júnior. Os demais aguardam.
VOTO VISTA
Assinado eletronicamente por: ANALIA CASTILHO DA NOBREGA - 23/11/2020 10:56:56 Num. 7769797 - Pág. 88
https://pje.tre-pb.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20112310565527400000007605543
Número do documento: 20112310565527400000007605543
criados por lei genérica que não apresenta critérios bem definidos, nem objeto específico
e procedimento próprio, considero que o contexto político administrativo de grande parte
dos municípios paraibanos oferece um certo embaraço à necessidade de se exigir que os
programas sociais assistencialistas estejam previstos em lei de forma perfeitamente
estruturada, apesar de ser esse o cenário ideal. Sendo assim, tendo em consideração o
precedente acima destacado e o entendimento que venho mantendo nos processos já
apreciados, vou seguir na mesma linha de convencimento, até porque, em se tratando de
um mesmo pleito, não se espera que este Tribunal passe agora a adotar um critério de
julgamento distinto para casos semelhantes. Feito esse esclarecimento, sigo na análise do
processo. Consoante o relato dos fatos, há duas questões a serem analisadas: 1 - se o
município de Dona Inês possui lei conferindo expressa autorização ao Poder Executivo para
o dispêndio de recursos com a concessão de auxílio financeiro a pessoas carentes e com
execução orçamentária no ano anterior (2015), hipótese que se enquadra na exceção
contida no art. 73, §10, da Lei das Eleições; 2 – se houve desvirtuamento do programa
social legalmente estabelecido com o fim de obtenção de dividendos eleitorais, o que, em
tese, configura a prática de abuso de poder. Nessa última hipótese, tendo em vista os
limites de sua competência, entendo que este Tribunal deve se restringir a analisar a
ocorrência de alguma ação deliberada por parte dos investigados com o fim de interferir
na vontade do eleitor, isto porque, até mesmo um eventual desvirtuamento da lei
municipal só importará à configuração do suposto abuso de poder se demonstrado, nos
autos, o seu liame com o pleito. Nas razões do recurso, os investigantes reafirmaram a
alegada ausência de programa instituído por lei para a concessão dos benefícios (conduta
vedada) e o desvirtuamento da Lei Municipal 336/2001 (abuso de poder). Não foram
apresentadas contrarrazões pelos investigado-recorridos. No entanto, em sede de
contestação, a defesa argumentou que as doações questionadas estão amparadas na Lei
Municipal 336/2001, no Decreto 1013/2009, na Lei Municipal 674/2014, na Resolução
18/2014 e no Decreto 1.247/2015, que, no seu dizer, traçam critérios objetivos para a
concessão dos benefícios. Acrescentou que “a Secretária de Assistência Social e Habitação
segue rigorosamente um roteiro legal em processo administrativo formalizado por
requerimento do munícipe, análise social, parecer social, e, em seguida segue para o setor
financeiro que empenha a despesa dentro da rubrica correta.” E por fim, aduziu que o
município de Dona Inês teve o estado de calamidade pública decretado nos anos de 2012
a 2016, que houve vertiginosa diminuição de gasto com doações no decorrer dos
exercícios de 2009 até 2016 e que a rubrica utilizada para as doações assistenciais
encontram-se presente na Lei Orçamentária sob o subitem n. 08.244.2018.2.029
(manter atividades de assistência a comunidade), do item 3.3.90.48.00 (que quer dizer
auxílio financeiro a pessoa física). Analisando as alegações e os documentos trazidos aos
autos pelas partes, é possível constatar que tanto a Lei Municipal 336/2001 quanto a Lei
Municipal 674/2014 conferem expressa autorização ao Chefe do Poder Executivo do
município de Dona Inês para realizar dispêndio de recursos com a concessão de auxílio
financeiro a pessoas carentes. Constata-se ainda, conforme consignado na sentença
recorrida, “que esse tipo de benefício já vinha sendo disponibilizado pelo Município de Dona
Inês em anos anteriores, conforme se pode aferir da vasta documentação acostada
indicando a execução de tal política assistencial nos anos de 2014 e 2015, havendo,
assim, demonstrativo do dispêndio sendo executado/realizado nos anos de 2014, 2015 e
2016.” Em vista disso, e tendo em conta o posicionamento defendido nos precedentes da
Corte referentes ao mesmo pleito, entendo configurada a exceção prevista no §10 do art.
73 da Lei 9.504/1997, não havendo que se falar em conduta vedada, vez que não se
trata de programa novo na prática municipal, mas de ação que já vinha sendo executada
em anos anteriores. Nesse particular, é válido ressaltar que o §10 do artigo 73 da Lei das
Eleições faz expressa menção à possibilidade de o Ministério Público promover o
acompanhamento da execução financeira e administrativa dos programas sociais
realizados no ano eleitoral. Essa atuação prévia e concomitante dos órgãos de fiscalização
no acompanhamento da execução financeira e administrativa dos programas sociais não
apenas contribuiria para a construção da responsabilidade do administrador, como
também evitaria o manejo de ações como a presente, de forma que, muito
provavelmente, não estaríamos a discutir sobre o conteúdo de uma lei que vem sendo
aplicada há quase 20 anos, considerando que foi editada em 2001, e que, ao que parece,
continuará servindo de fundamento legal para tantas outras administrações que se
seguirem. Por outro lado, ainda que não configurada a prática de conduta vedada, é
Notas Taquigráficas 23 (0701453) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 47
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
possível que essa ação estatal, autorizada por lei municipal e com execução orçamentária
no exercício anterior, venha a caracterizar ilícito eleitoral, caso se comprove que a sua
execução foi direcionada para auferir benefícios eleitorais. Essa eventual irregularidade,
entretanto, haverá de ser analisada sob o viés do abuso de poder, haja vista que o § 10 do
artigo 73 da Lei 9.504/1997 exige, para fins de constatação da exceção nele prevista, tão
somente a autorização legislativa e a execução orçamentária no ano anterior, o que, a
meu sentir, restou atendido. É muito importante ressaltar que a inicial não menciona a
doação de benefícios a pessoas não carentes, tampouco se alega um aumento de gastos
em relação aos anos anteriores ou do número de pessoas beneficiadas. A argumentação,
apresentada de forma genérica, é toda no sentido de que os investigados distribuíram
bens, valores e serviços de forma indiscriminada e para fins eleitorais. Argumenta-se,
também, que os empenhos extraídos do SAGRES comprovam que a partir de janeiro de
2016 a Prefeitura de Dona Inês passou a distribuir gratuitamente bens e valores à
população, caracterizando, assim, a compra de votos e o uso da máquina pública,
configurando abuso de poder político com viés econômico. Para comprovar suas
alegações, os autores requereram que fosse requisitado ao Tribunal de Contas do Estado
da Paraíba cópias dos balancetes encaminhados pelo município de Dona Inês e todos os
empenhos referentes aos meses de janeiro a setembro de 2016, para análise das
doações. Na fase de diligências, requereram ainda cópia dos cheques e transferências
bancárias em favor dos beneficiários (fl. 4151). O art. 22 da Lei Complementar 64/1990
estabelece textualmente que qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério
Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, “relatando fatos e indicando provas,
indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido,
desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade”. Entretanto, na prática,
não é o que acontece. O presente caso, no que se refere ao fato ora em apreciação, é
mais um exemplo de ações movidas por candidato derrotado, fundada em alegação
genérica, na medida em que se espera que a própria Justiça Eleitoral cuide de realizar uma
verdadeira auditoria nas contas do município, tanto é assim que o pedido de requisição de
documento ao TCE foi formulado para viabilizar uma análise das doações e não para a
comprovação dos fatos precisamente apontados. Ora, uma coisa é comprovar uma
irregularidade que se alega; outra é analisar as contas do município em busca de uma
eventual irregularidade que possa servir de fundamento a um pedido de cassação. Não é
demais lembrar que, em processos dessa natureza, a Justiça Eleitoral analisa as provas
(apresentadas ou produzidas) e não as contas do município. Devo repetir que, na inicial da
ação, as partes investigantes sequer alegaram um aumento de despesa com as doações
ou do número de pessoas beneficiadas no ano eleitoral, nem mesmo negaram a condição
de vulnerabilidade dos beneficiários - apesar de estarem todos identificados por nome e
CPF -, o que, a princípio e em tese, poderia servir de indício de uma suposta prática
abusiva em benefício de determinada candidatura. Apenas agora, em grau de recurso,
argumentaram que os depoimentos das testemunhas Edivaldo Paulino (que confessou em
juízo ser militante da coligação adversária dos investigados) e Severino Teixeira (que,
segundo consignado no voto do Relator e no parecer ministerial, também é partidário dos
adversários dos investigados) comprovam que vários beneficiários não são pessoas
carentes, contudo, o recurso não aponta um nome sequer. Em contrapartida, o juiz
sentenciante, ao analisar o total da despesa realizada com as doações nos anos que
antecederam ao da eleição, consignou que “a variação da quantidade de beneficiários
únicos por ano e valor pago por ano no período de 2014 a 2017 demonstra que no ano
eleitoral de 2016 não houve aumento de gasto que pudesse, ainda que de forma
indiciária, caracterizar a prática de abuso de poder político com viés econômico.” Isso foi
consignado na sentença às fl. 9582. Afirmou ainda, Sua Excelência, que não se extrai dos
autos, “principalmente a partir dos auxílios concedidos, um aumento expressivo de
eleitores beneficiados, o que seria imprescindível para configurar a gravidade inerente ao
comando normativo e, por conseguinte, conferir aptidão para macular a normalidade e a
legitimidade do pleito ante o uso da concessão de auxílio financeiro com desvio de
finalidade direcionado à maximização das suas possibilidades de êxito na disputa eleitoral.”
(fl. 982 v.). Tais afirmações não foram contestadas nas razões recursais apresentadas
pelas partes investigantes, sendo possível concluir que, de fato, não houve aumento
significativo da despesa com os benefícios assistenciais no ano de 2016, nem mesmo do
número de pessoas assistidas. Quanto a esse fato, saliento que o voto do Relator e o
parecer ministerial também não fazem qualquer registro quanto a um possível incremento
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
do número de doações realizadas ou de valores despendidos com esse fim. Mas, ainda
que assim não fosse, é certo que esta Corte já decidiu que o simples aumento de despesa
com doações assistenciais, sem contornos de finalidade eleitoreira, por si só, não
caracteriza a prática de ato abusivo. Cito precedente do Juiz Emiliano Zapata nesse
sentido. Aqui um acórdão de Sua Excelência, o Juiz Emiliano Zapata, que na ementa ele
consignou: “O aumento de gastos com Assistência Social, sem comprovação de fins
eleitoreiros, não caracteriza abuso de poder político com viés econômico, pois o
favorecimento eleitoral, com uso excessivo desses recursos, é requisito indispensável para
a caracterização da mencionada prática abusiva.” (É o Recurso Eleitoral 62790, Acórdão
nº. 128 de 04 de abril de 2016, da relatoria do Juiz Emiliano Zapata de Miranda Leitão,
publicado em 07 de abril de 2016). Percebe-se, portanto, que a discussão quanto ao
suposto abuso de poder está relacionada às finalidades das doações que foram descritas
nos empenhos extraídos do Sistema SAGRES. Primeiramente, devo esclarecer, na linha do
que venho defendendo em meus votos, tanto como Relator quanto na condição de vogal,
que a simples juntada de empenhos extraídos do Sistema SAGRES não se mostra
suficiente à comprovação dos fatos, nem tornam suspeitas todas as doações realizadas
pelo prefeito no ano de 2016. Desse modo, ainda que presentes irregularidades no ato de
concessão dos benefícios, há de se ter claramente demonstrada a finalidade de angariar
voto, isto porque, como é cediço, as ações eleitorais não constituem espaço adequado
para questionamentos atinentes ao mérito dos atos administrativos propriamente dito,
sobretudo quando esses atos estão fundados em lei que já vem sendo executada em
anos anteriores e, ao que parece, sem qualquer censura, quer por parte dos órgãos de
fiscalização e controle, quer do próprio Poder Judiciário. Ao reconhecer a prática de abuso
de poder, o eminente Relator, citando trecho do parecer ministerial, concluiu que “a
distribuição de auxílios financeiros com base em legislação ampla e genérica, desprovida
de um programa social devidamente instituído no município e ainda sem observar, em
algumas situações, os critérios fixados em lei, apontam o intuito eleitoral, afetando a
igualdade de chances entre os candidatos e a legitimidade do pleito.” Entretanto, não
cheguei à mesma conclusão de Suas Excelências. Analisando o conteúdo da Lei 336/2001
que regulamenta a destinação de recursos para atender doações a pessoas carentes e
outras despesas no âmbito do município de Dona Inês, observo que o seu art. 2º permite,
entre outras, a concessão de auxílio para despesas com gêneros alimentícios,
medicamentos, consultas médicas especializadas, exames laboratoriais, auxílio para
obtenção de documento, auxílio e passagem para deslocamento para outras cidades com
o objetivo de obter trabalho, despesa com mudança de residência, fardamento e material
escolar, material de construção, pagamento de aluguel de pessoas carentes, aquisição de
óculos, aquisição de aparelho de locomoção, transporte e material esportivo, despesas
com tratores equipados com grades e arados na preparação de terras e outros insumos
agrícolas, auxílio para contratação de casamento civil ou religioso (tais como taxas, vestes
e transportes de nubentes). Já os empenhos apresentados com a inicial (fl. 201/275)
apresentam as seguintes finalidades: aquisição de bota ortopédica, de ferramenta para
trabalho na agricultura, de material de construção, de material escolar, despesa com
aluguel, ajuda financeira para obtenção de 2ª de documento pessoal, compra de
passagem para deslocamento para outras cidades com o objetivo de obter trabalho,
aquisição de óculos, consulta médica em outro centro, compra de medicamento e de
defensivos agrícolas, além de ajuda financeira para compra de enxoval, para compra de
figurino e despesa com costura para quadrilha junina do município, para realização de
festejo junino em comunidade, para locomoção em razão de colação de grau e para
representação do município em exposição de artesanato e, por fim, uma doação sem
finalidade específica destinada a pessoa carente. Observa-se, portanto, que dos empenhos
anexados aos autos, apenas alguns apresentam uma finalidade de despesa que não está
expressamente relacionada na Lei Municipal 336/2001 ou sem finalidade especificada.
Contudo, mesmo no que tange a esses empenhos cujas finalidades descritas, à primeira
vista, podem não estar contempladas no rol de despesas autorizadas pela referida lei (fato
que pode vir a ser discutido no campo da improbidade administrativa e perante o juízo
competente), não foi apresentada qualquer prova que indique uma motivação eleitoral
para a sua realização. Nesse ponto, transcrevo trecho do parecer ministerial onde foram
destacadas as possíveis irregularidades: Com base nos dados da tabela supra, é possível
observar um total de 127 (cento e vinte e sete) empenhos, com 126 (cento e vinte e
seis) pareceres sociais emitidos, contemplando um total de 103 (cento e três)
Notas Taquigráficas 23 (0701453) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 49
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
beneficiários, com predominância da concessão de auxílios para o custeio de
medicamentos, exames, passagens, reparos em residência e aluguéis. Analisando os
empenhos, veja que foram realizadas doações em total descompasso com as leis
municipais, que supostamente autorizariam a distribuição de benesses em Dona Inês/PB,
como o pagamento de ajuda financeira para fazer face às compras de figurinos e despesa
com costura para quadrilha Junina Paraíba Forrozeira (empenho de fl. 1.674). Nesse
mesmo sentido, a Administração Pública Municipal financiou, por meio de dotações do
Fundo Municipal de Assistência Social, a realização de uma Festa Junina na Comunidade
Sítio do Mulungu, atendendo ao pedido de Elizete Alves de Morais, que afirmou necessitar
de auxílio financeiro para os festejos juninos por ser pessoa pobre (fl. 2.841 e 2.844). Aqui
peço vênia a todos os que pensam em sentido contrário para afirmar, como venho
repetindo em meus pronunciamentos, que não é razoável esperar que a Justiça Eleitoral
passe a resolver os problemas administrativos dos municípios brasileiros ou mesmo que
avoque para si a função de afastar os maus administradores por atos que não se
mostrem revestidos de caráter eleitoreiro, isto porque o bem jurídico tutelado pela
legislação eleitoral está sempre vinculado à garantia da normalidade e da legitimidade do
pleito, da liberdade do voto e da igualdade entre os candidatos em disputa, o que, no caso
dos autos, não vislumbrei atingidos. Relativamente à alegada pouca diferença de votos
entre os candidatos ao pleito majoritário (33 votos), resta dizer que, embora possa vir a
ser considerada para fins de avaliação da gravidade da conduta, não comprova, por si só,
uma eventual prática de ato abusivo que possa servir de fundamento à procedência de
uma ação de investigação judicial eleitoral que visa à cassação de mandatos eletivos.
Neste ponto, é firme a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral. Eu peço vênia também
aos eminentes Pares para não ler alguns julgados, aqui, do Tribunal Superior Eleitoral. Aqui,
o que cito é da relatoria do Ministro Jorge Mussi, publicado no Diário de Justiça Eletrônico
em 12 de março de 2019, exatamente nesses termos. Apenas para que não fique sem
ler algo da ementa, na parte que mais interessa, Sua Excelência, o Relator Ministro Mussi,
consignou: A mensuração dos reflexos eleitorais da conduta, não obstante deva continuar
a ser ponderada pelo julgador, não constitui mais fator determinante para a ocorrência do
abuso de poder, sendo agora revelado, substancialmente, pelo desvalor do
comportamento. E continuo no voto: Quanto a esse fato, portanto, divergindo do
entendimento do eminente Relator, não entendo configurado o alegado abuso de poder
político com viés econômico, nem mesmo a conduta vedada defendida no recurso dos
investigantes. Relativamente à suposta cessão e utilização de bens, materiais e servidores
públicos em benefício das candidaturas dos investigados, percebe-se que há um recurso
manejado pelos investigantes, que pedem que seja reconhecida a gravidade da conduta
para caracterizar o abuso de poder, e outro pelas partes investigadas, objetivando afastar
a pena de multa aplicada na sentença em decorrência da prática da conduta vedada pelo
art. 73, I e III da Lei das Eleições. Quanto à ocorrência do fato que ensejou a condenação à
multa, precisamente a cessão/utilização de um compressor/cilindro de ar/oxigênio
pertencente ao Hospital de Dona Inês, para encher balões no comitê de campanha dos
candidatos João Idalino da Silva e Demétrio Ferreira da Silva, tendo sido transportado por
servidores públicos, durante o horário de expediente e em veículo de propriedade pública,
o conjunto probatório, somado às alegações da própria defesa, mostra-se suficiente à
conclusão de que a conduta foi realmente praticada. A tese apresentada pela defesa, no
sentido de que não se trata de um cilindro de oxigênio, mas sim de um compressor de ar
velho de propriedade de João Idalino da Silva, que o teria emprestado à Secretaria de
Saúde para encher balões para serem usados em campanha de vacinação e de que,
portanto, apenas teria recebido o equipamento de volta, não encontrou amparo em
qualquer prova dos autos. Na verdade, esse argumento apenas reforçou a ocorrência do
ilícito, na medida em que restou comprovado que o aparelho que foi apreendido por um
oficial de justiça e um oficial de promotoria, a serviço da Justiça Eleitoral no interior do
comitê de campanha do então candidato a prefeito, não é o mesmo a que se refere o
recibo por ele apresentado, uma vez que se trata de equipamento de uso odonto-médico.
Portanto, sendo certo que o bem foi retirado do Hospital Municipal de Dona Inês e levado
por servidores do município, e considerando, ainda, a sua especificidade (por ser de uso
odonto- médico) e o fato de ter sido apreendido e retirado do interior de um comitê de
campanha por oficiais a serviço da Justiça Eleitoral, caberia à defesa comprovar que não se
trata de equipamento pertencente ao Hospital de Dona Inês, e não o contrário. Não
procede, portanto, o argumento de que o aparelho encontrado é de propriedade de um
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
dos investigados, uma vez que o recibo apresentado, além de não ser suficiente à
comprovação da propriedade, não faz qualquer referência no que concerne à descrição do
bem (fl. 9614). Além disso, conforme destacado no parecer, a propriedade do veículo
utilizado não foi contestada pela defesa dos investigados, posto que apenas se alegou não
ter o fato ocorrido no horário do expediente dos servidores (fl. 351). Quanto à
participação dos servidores municipais Expedito e Marcos Barbosa, da mesma maneira,
ficou claro pela própria defesa dos investigados que ambos participaram do ato de entrega
do equipamento, haja vista que, como já ressaltado, nas razões recursais, apenas se
alega que o fato não se deu no horário de expediente (fl. 9613). Por fim, relativamente ao
horário do fato, é suficiente dizer que os investigados não conseguiram demonstrar que os
servidores não se encontravam no horário de trabalho, até porque ambos estavam
utilizando um veículo pertencente ao município. Sendo assim, tratando-se de conduta
vedada, a constatação da prática ilícita é suficiente para a configuração do ilícito, restando
a análise dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade para definição da pena a ser
aplicada. Nesse particular, acompanho o voto do relator no que tange à ausência de
gravidade da conduta, bem assim ao quantum da multa aplicada (mínimo legal) no que se
refere ao prefeito da época, Antônio Justino de Araújo Neto, à Secretária de Saúde,
Tarciana Lucena Nunes de Carvalho e ao então candidato a prefeito João Idalino da Silva,
uma vez que este último demonstrou ter anuído com a conduta na medida em que não
negou o conhecimento do fato, tendo apresentado uma versão divergente que não
encontra respaldo na prova carreada aos autos. No que concerne à extensão da multa
aplicada ao candidato a vice-prefeito, Demétrio Ferreira da Silva, na condição de
beneficiário, vou ressalvar o meu entendimento por acreditar que a aplicação da pena de
multa, em casos de não reeleição como o ora analisado, demanda, ainda que em grau
mínimo, a prova da adesão do candidato à conduta do agente público, sob o risco de
estarmos adotando, na prática, a responsabilidade objetiva por ato ilícito de terceiro, o que
não me parece compatível com o sistema de proteções individuais insculpido em nossa
constituição. Importante destacar que as restrições contidas neste artigo 73 tutelam o
equilíbrio e a igualdade de condições entre os candidatos em disputa, e, por conseguinte, a
própria legitimidade do pleito eleitoral e se destinam aos agentes públicos, servidores ou
não. A previsão de sanção está contida no § 4º, que dispõe sobre a possibilidade de
suspensão imediata da conduta e a aplicação de multa aos agentes responsáveis. Aqui eu
transcrevo o parágrafo 4º do art. 73. No que se refere à responsabilidade do candidato
beneficiado, o que se verifica é que a redação do § 5º sofreu duas alterações até chegar à
redação atual. Pela leitura do aludido parágrafo em sua redação originária abaixo
transcrita, constata-se que a lei estabelecia que o agente público responsável, além do
pagamento da multa, ficava sujeito à cassação do registro se candidato fosse. Entretanto,
a redação não se mostrava precisa para alcançar a hipótese de cassação do registro do
candidato beneficiado, quando ele não era o agente público autor da conduta vedada. Aqui
eu transcrevo também o parágrafo quinto e acrescento. Com a edição da Lei 9.840 de
1999, o parágrafo quinto passou a dispor que, sem prejuízo da multa já estabelecida no
parágrafo quarto, para o agente responsável, o candidato beneficiado, agente público ou
não, estava sujeito à cassação do registro ou do diploma, efeito que permanece na atual
redação da lei. E aqui eu transcrevo também a redação atual. Em que pese a previsão de
pena de multa aos candidatos que se beneficiaram dos efeitos da conduta, não me parece
razoável entender que a responsabilidade de tais candidatos se dá de forma automática,
não apenas por se tratar de aplicação de norma de caráter sancionatório, mas também
porque o próprio dispositivo faz remissão a outro que dispõe expressamente sobre a
responsabilidade do agente. Em outras palavras, ao admitir a possibilidade de condenação
à pena de multa aos candidatos beneficiados, o §8º apenas esclarece que uma penalidade
dirigida àquele que ostenta a condição de agente público pode vir a alcançar os candidatos
beneficiados sem, a meu sentir, afastar a necessária comprovação da responsabilidade.
Como se vê, não estou a sustentar eventual inconstitucionalidade do mencionado §8º,
mas propondo uma interpretação restritiva, que se coadune com o princípio da
culpabilidade que, repito, me parece inafastável quando estamos tratando de direito
sancionatório, como no presente caso. De fato, embora não expressamente previsto na
Constituição Federal, tratando-se de pessoa física, me parece inegável que o princípio da
culpabilidade se encontra presente no ordenamento jurídico pátrio e alcança todo o direito
sancionatório, inclusive as sanções de caráter administrativo, o que torna indispensável a
análise subjetiva da conduta, com formação de culpa, para eventual condenação. Se
Notas Taquigráficas 23 (0701453) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 51
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https://pje.tre-pb.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20112310565527400000007605543
Número do documento: 20112310565527400000007605543
assim não fosse, não haveria que se falar em pessoalidade do art. 65 da Constituição
Federal ou a individualização da pena. Aliás, como não poderia ser diferente, a
culpabilidade está presente no direito eleitoral, apesar do interesse público aqui envolvido.
Cito o exemplo da sanção de inelegibilidade do artigo 22 da Lei Complementar 64/90, que
só alcança os autores da conduta e não os beneficiários, ainda que estes possam vir a ser
cassados e, também, a condenação por captação ilícita de sufrágio (artigo 41-A da Lei
9.504), cuja multa só alcança o autor da conduta, não obstante o outro componente da
chapa também venha a ser cassado. É uma garantia do cidadão, da qual nenhum ramo
do direito pode se afastar. Por ter mencionado a situação do vice em caso de captação
ilícita de sufrágio, quero destacar que o caso concreto se diferencia de outros julgados por
esta Corte, na medida em que não se trata de responsabilização da figura do candidato a
vice, em decorrência de conduta ilícita praticada pelo titular da chapa, caso em que se
poderia entender por uma culpa in eligendo do vice, mas de responsabilização objetiva por
ato ilícito de terceiro, o que repito, não se coaduna com nosso modelo constitucional. Pois
bem. O presente caso, diferentemente da situação do então candidato a prefeito, que se
disse proprietário do compressor de ar utilizado para encher balões para o seu comitê de
campanha, não identifiquei a participação do seu vice Demétrio Ferreira da Silva na
conduta em questão. No entanto, é dever ressaltar que o entendimento quanto a não
incidência de multa em relação ao candidato beneficiário, diante da ausência de
comprovação da sua anuência, ou até mesmo do seu conhecimento, foi sustentado por
ocasião do julgamento do Recurso 273-71, de relatoria do ilustre Juiz Arthur Monteiro Lins
Fialho, julgado em 19 de março de 2019, tendo este julgador ficado vencido de forma
isolada. A cassação do registro ou do diploma, portanto, independe da responsabilidade do
beneficiado, juntamente porque o bem jurídico tutelado pela norma é a igualdade de
oportunidade dos candidatos em disputa, e quando essa igualdade restar gravemente
atingida haverá a ruptura da própria legitimidade do feito. Desta forma, me parece claro
que o comando contido no art. 73 da Lei das Eleições, pensando para um cenário de
candidatos à reeleição, em sua redação original, preocupou-se em punir o agente
responsável pela conduta vedada, tanto com a aplicação da pena de multa, como assim,
com a possível perda do seu registro e diploma. Vou adiantar: Desse modo, e nesse
ponto, em respeito à decisão do Colegiado, fazendo essa ressalva de entendimento,
acompanho o voto do Relator para negar provimento ao recurso das partes investigadas,
mantendo a sentença que condenou Antônio Justino de Araújo Neto, Tarciana Lucena
Nunes de Carvalho, João Idalino da Silva e Demétrio Ferreira da Silva, ao pagamento de
multa no valor de R$ 5.000,00, em razão da prática de conduta vedada prevista no art.
73, I e III, da Lei das Eleições. Quanto ao recurso das partes investigantes, pelos
fundamentos já deduzidos no início deste voto, peço vênia ao ilustre relator para divergir
do seu entendimento e julgá-lo desprovido, mantendo a sentença recorrida em todos os
seus termos, por não haver concluído pela ocorrência do alegado abuso de poder, nem
mesmo da conduta vedada prevista no art. 73, § 10, da Lei n.º 9.504/97, decorrente de
suposta doação de bens e serviços atribuída aos investigados com fim de obter proveito
eleitoral. É como voto, Senhor Presidente.
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Dos investigantes?
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COM A PALAVRA A EXMA. SRA. SECRETÁRIA GERAL SILMA LEDA SAMPAIO DE
ALBUQUERQUE:
Pois não, Desembargador. Rechaçada a preliminar de intempestividade do recurso
interposto pelos Investigados, arguida pelo Procurador Regional Eleitoral, nos termos do
voto do Relator. Unânime. No mérito, após o voto do relator que desprovia o recurso dos
investigados e provia parcialmente o recurso dos investigantes, para reconhecer a prática
da conduta vedada tipificada no art. 73, §10, da Lei n.º 9.504/97, bem como o abuso de
poder político, com viés econômico, na parte referente à distribuição de bens, valores e
benefícios, cassando os diplomas de João Idalino da Silva e Demétrio Ferreira da Silva,
aplicando a estes e a Antônio Justino de Araújo Neto e Sofia Ulisses Santos Queiroz multa
no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), bem como declarando a inelegibilidade desses
quatro investigados, pelo prazo de 8 (oito) anos, a contar das eleições de 2016, em
conformidade com os §§4º, 5º e 8º do art. 73 da Lei n.º 9.504/97 c/c art. 22, XIV, da Lei
Complementar n.º 64/90, com determinação da convocação de novas eleições para os
cargos de prefeito e vice-prefeito no Município de Dona Inês/PB, nos termos do art. 224, §§
3º e 4º, II, do Código Eleitoral, contra o voto do Juiz Antônio Carneiro de Paiva Júnior, que
desprovia o recurso dos investigantes, acostando-se ao Relator quanto ao desprovimento
do recurso dos investigados, pediu vistas a Juíza Michelini Dantas de Oliveira Jatobá. Os
demais aguardam.
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Sala de Sessões do egrégio Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba, aos 06 dias do
mês de abril de 2020.
ASLM/RMP
0005922-57.2020.6.15.8000 0701453v5
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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DA PARAÍBA
PRESIDÊNCIA
DIRETORIA GERAL
SECRETARIA JUDICIÁRIA E DA INFORMAÇÃO
COORDENADORIA DE REGISTROS E INFORMAÇÕES PROCESSUAIS
NÚCLEO DE TAQUIGRAFIA
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recurso dos investigados e provia parcialmente o recurso dos investigantes para
reconhecer a prática de conduta vedada tipificada no Art. 73, § 10, da Lei 9.504/97, bem
como o abuso de poder político com viés econômico na parte referente à distribuição de
bens, valores e benefícios, cassando os diplomas de João Idalino da Silva e Demétrio
Ferreira da Silva, aplicando a este e a Antônio Justino de Araújo Neto e Sofia Ulisses Santos
Queiroz multa no valor de cem mil Reais, bem como declarando a inelegibilidade desses
quatro investigados pelo prazo de oito anos, a contar das eleições de 2016, em
conformidade com os §§ 4º, 5º e 8º do Art. 73 da Lei 9.504/97, c/c o Art. 22, XIV, da LC
64/90, com determinação da convocação de novas eleições para os cargos de prefeito e
vice-prefeito do município de Dona Inês, nos termos do Art. 224, §§ 3º e 4º, Inciso II, do
Código Eleitoral, contra o voto do Juiz Antônio Carneiro de Paiva Júnior que desprovia o
recurso dos investigantes, acostando-se ao Relator quanto ao desprovimento do recurso
dos investigados, pediu vista a Juíza Michelini de Oliveira Jatobá. Os demais aguardam. Com
a palavra a eminente autora do pedido de vista.
VOTO VISTA
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Concessão de ajudas financeiras no ano eleitoral de 2016. Analiso, em princípio, a suposta
concessão de ajudas financeiras a eleitores do município de Dona Inês no ano eleitoral de
2016 em desconformidade com a legislação eleitoral, atribuída aos investigados Antônio
Justino de Araújo Neto, Sofia Ulisses Santos Queiroz e Calyny Muniz de Lima. Alegam os
investigantes que o investigado Antônio Justino de Araújo Neto, então Prefeito de Dona
Inês, desde o dia 1° de janeiro de 2016, fez uso dos bens, valores e serviços públicos para
fins eleitorais, ensejando nítido privilégio à candidatura de seus aliados políticos, João Idalino
da Silva, Demétrio Ferreira da Silva e José Igor Denizar Costa da Silva, tudo isso com o
auxílio e aval da então Secretária de Assistência Social e Habitação do Município, a Sra.
Sofia Ulisses Santos Queiroz e a Secretária Adjunta de Assistência Social e Habitação do
Município, a Sra. Calyny Muniz de Lima que, posteriormente, passou responder pela pasta.
Argumentam que a conduta revela uma verdadeira festa com o dinheiro público para
custear um sem-número de ajudas financeiras ofertadas pelo Município de Dona Inês, em
ano eleitoral, como, por exemplo: 1º) ajudas financeiras sem finalidade determinada; 2º)
ajudas financeiras para alimentação e passagens para João Pessoa, Natal, Fortaleza, Rio
de Janeiro e São Paulo; 3º) ajudas financeiras para compra de materiais de construção; 4º)
ajudas financeiras para pagamento de aluguéis; 5º) ajudas financeiras para compra de
material escolar; 6º) ajudas financeiras para compra de ferramentas; entre outros que
continuaram a ser pagos nos meses que antecederam as eleições e ainda não constam
no site do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, no Sistema SAGRES. Acrescentam ao
recurso que, “sendo incontroversas as doações apresentadas na inicial, é necessário se
identificar nos autos se existem, ou não, programas sociais autorizados em lei e já em
execução orçamentária no exercício anterior ao ano em que ocorreram as eleições, o que
não restou comprovado nos autos. As normas anexadas pela defesa dos investigados não
preveem especificamente a criação e execução de qualquer programa social, tratando-se
de normas criadas com o intuito de distribuir benesses a aliados políticos de quem ocupa o
executivo municipal”. Destacam o desvirtuamento da Lei Municipal 336/2001, ao
argumento de que a referida lei não institui programa social específico capaz de identificar
as ações de governo municipal no âmbito da assistência social e que a legislação municipal
indicada pelos investigados não passa de um copia e cola da Lei Orgânica da Assistência
Social - LOAS, sem critérios objetivos definidos previamente para a concessão de
benefícios sociais. Alegam, ainda, que “em nenhum momento foram realizadas tais ajudas
financeiras com base legal nos decretos estaduais e federais (de calamidade pública),
nem, tampouco, verifica-se a natureza e a relação comuns entre as doações de valores,
bens e serviços tratados e o conteúdo (razões e finalidades) dos mencionados decretos,
os quais não justificam as referidas ajudas, circunstância que, somada à ausência de
programa social específico no município, revela que as referidas ajudas financeiras não
estariam contempladas entre as exceções previstas no art. 73, § 10, da Lei 9.504,
caracterizando prática de conduta vedada e abuso de poder com gravidade para macular
a legitimidade do pleito. Pois bem, verifico que, desde a sentença, o ponto principal do
debate vem sendo a natureza do programa instituído pela Lei Municipal 336/2001. Passo
a fazer agora algumas análises: 1º. Natureza do programa instituído pela Lei Municipal n°
336/2001. Na sentença recorrida, o Magistrado a quo, na esteira dos precedentes deste
Regional, entendeu que, “no âmbito municipal de pequenas edilidades, haja vista a
simplicidade e, muitas vezes, a precariedade da estrutura administrativa local, a criação de
uma única lei com o objetivo de atender todas as necessidades da população não deixa de
ter, ainda assim, natureza assistencialista e, mais especificamente, de programa social”.
Tal entendimento foi sufragado em caso análogo apreciado por este Regional quando do
julgamento do Recurso Eleitoral n° 266-42, oriundo do município de Tacima, de relatoria
de Sua Excelência, o Juiz Sérgio Murilo Wanderley Queiroga, de cuja ementa destaco o
seguinte trecho: “Ausente em nosso ordenamento jurídico regramento próprio acerca do
que precisamente vem a ser programa social para fins eleitorais, não convém ao julgador
interpretar que lei municipal de pequena edilidade instituída com a finalidade
assistencialista, com execução orçamentária há pelo menos 07 (sete) anos do pleito, para
socorrer pessoas carentes do município, não se insere na exceção insculpida no art. 73, §
10, da Lei 9.504, e, assim, considerar que todas as doações realizadas no ano de 2016
caracterizam prática de conduta vedada”. E prossigo: Ressalte-se que os municípios
ostentam praticamente a mesma população (aproximadamente 10 mil eleitores) e estão
localizados na mesma microrregião. O mesmo entendimento também foi sufragado nos
casos de Juripiranga, com população aproximada também na casa de 10 mil habitantes,
Notas Taquigráficas 24 (0701454) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 58
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também de relatoria de Sua Excelência, o Juiz Sérgio Murilo Wanderley Queiroga, e de
Bananeiras, com população estimada de 20 mil habitantes, de relatoria de Sua Excelência,
o Juiz Rogério Roberto Gonçalves de Abreu. A douta Procuradoria Regional Eleitoral
entendeu que o referido diploma é genérico e, por isso, não institui qualquer programa
social, tratando-se, na verdade, de norma que fixa critério de autorização ao chefe do
executivo para a concessão de doações e ajudas a pessoas carentes nas áreas da
assistência social, da saúde e também outras áreas administrativas, desprovida de
elementos essenciais, como plano de trabalho, etapas de execução e metas a serem
atingidas, entendimento compartilhado por Sua Excelência, o Relator. Entretanto, ressalte-
se que, no presente caso, a Lei Municipal 336 está em vigor desde 2001. Ou seja, no ano
eleitoral de 2016, a referida norma já contava com quinze anos de vigência (o dobro do
tempo apurado no caso paradigmático), não sendo razoável deduzir que a lei municipal
seja fruto de ação oportunista, nem que os atos de concessão nela fundados ostentem
finalidade eleitoral, em razão de suposta afronta ao art. 73, § 10, da 9.504, decorrente da
alegada natureza genérica da norma. Registro, por oportuno, que não localizei nos autos
relato de questionamento do órgão ministerial acerca da higidez do referido programa
assistencial no período de sua execução perante a autoridade competente. Outro registro
digno de nota é o fato de que o candidato a vice-prefeito pela chapa encabeçada pelo
impugnante José Clodoaldo Maximino Rodrigues, o Sr. Elmo José da Silva, ocupava o cargo
de vice-prefeito do município de Dona Inês nos mandatos de 2001-2004 e 2005-2008,
exatamente o período de edição e oito primeiros anos de vigência da norma, não
havendo, nos autos, notícia de que tenha questionado a formalização ou execução do
referido programa. Assim, entendo não ser razoável concluir que a Lei Municipal
336/2001, instituída com finalidade assistencialista pelo município de Dona Inês, com
execução orçamentária em anos anteriores ao pleito, para socorrer pessoas carentes do
município, não se insere na exceção prevista no art. 73, § 10, da 9.504, para, assim,
considerar que todas as doações realizadas no ano de 2016 caracterizam prática de
conduta vedada, como propõem a douta Procuradoria Regional Eleitoral e o eminente
Relator, até porque, como bem pontuou o Juiz Antônio Carneiro, “em se tratando de um
mesmo pleito, não se espera que este Tribunal passe agora a adotar um critério de
julgamento distinto para casos semelhantes”. Com efeito, acompanhando a divergência
integralmente nesse ponto e na esteira da jurisprudência desta Corte, concluo que o
Programa de Assistência a Pessoas Carentes instituído pela Lei Municipal 336/2001 possui
caráter de programa social e já estava em execução orçamentária em anos anteriores ao
pleito, para fins de configuração da exceção prevista no art. 73, § 10, da 9.504. 1.2. Da
Análise qualitativa. Alegam os recorrentes que as concessões de ajudas financeiras no
município de Dona Inês se deram de forma indiscriminada e para fins eleitorais. Com base
nos dados levantados pela douta Procuradoria Regional Eleitoral, “é possível observar um
total de 127 (cento e vinte e sete) empenhos, com 126 (cento e vinte e seis) pareceres
sociais emitidos, contemplando um total de 103 (cento e três) beneficiários, com
predominância da concessão de auxílios para o custeio de medicamentos, exames,
passagens, reparos em residência e aluguéis”. Examinando os empenhos juntados aos
autos, o órgão ministerial detectou duas situações em que foram realizadas doações em
descompasso com as leis municipais: 1. “O pagamento de ajuda financeira para fazer face
as compras de figurinos e despesas com costura para quadrilha Junina Paraíba Forrozeira”;
2. “A realização de uma Festa Junina na Comunidade Sítio do Mulungu, atendendo pedido
de Elizete Alves de Morais, que afirmou necessitar de auxílio financeiro para os festejos
juninos por ser pessoa pobre”. Contudo, como bem pontuou o Juiz Antônio Carneiro,
mesmo nesses casos em que as finalidades dos empenhos, “à primeira vista, podem não
estar contempladas no rol de despesas autorizadas pela referida lei (fato que pode vir a
ser discutido no campo da improbidade administrativa e perante o juízo competente), não
foi apresentada qualquer prova que indique uma motivação eleitoral para sua realização”.
Além disso, mencionou, ainda, o Parquet as declarações de Edivaldo Paulino (que
confessou em Juízo ser militante da coligação adversária dos investigados), segundo o qual
uma das beneficiárias pela entrega de valores não era pessoa carente e outro sequer
residia no município de Dona Inês, bem como o depoimento de Sérgio da Silva Teófilo, que
afirmou ter recebido auxílio financeiro no ano eleitoral sem realizar cadastro. Todavia,
ainda que presentes irregularidades pontuais nos atos de concessão de benefícios,
comungo do entendimento de Sua Excelência, o Juiz Antônio Carneiro, no sentido de que,
para a caracterização do abuso de poder, “há de se ter claramente demonstrada a
Notas Taquigráficas 24 (0701454) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 59
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finalidade de angariar voto, isto porque, como é cediço, as ações eleitorais não constituem
espaço adequado para questionamentos atinentes ao mérito dos atos administrativos
propriamente dito, sobretudo quando esses atos estão fundados em Lei que já vem sendo
executada em anos anteriores”. No entanto, a partir dos empenhos acima mencionados e
dos relatos citados, concluíram a douta Procuradoria Regional Eleitoral e Sua Excelência, o
Relator, que “a distribuição de auxílios financeiros com base em legislação ampla e
genérica, desprovida de um programa social devidamente instituído no Município e ainda
sem observar, em algumas situações, os critérios fixados em lei, apontam o intuito
eleitoral, afetando a igualdade de chances entre os candidatos e a legitimidade do pleito”,
conclusão à qual não me filio, pelas razões já consignadas. Ademais, registro ainda que,
nos autos do Recurso Eleitoral 1-24.2017, o órgão ministerial, manifestando-se sobre os
vícios detectados nos procedimentos de concessão de ajudas financeiras do município de
Bananeiras, anotou que tais vícios, por si, “não se prestariam a comprovar o abuso, haja
vista o caráter formal e o baixo quantitativo, em torno de 10% do total de procedimentos
concessivos de 2016 apresentados em sede defensiva”. Como se verifica, afastando-se o
reconhecimento do liame eleitoral inerente à suposta afronta ao art. 73, § 10, da 9.504,
decorrente da alegada inexistência de programa social instituído pela Lei Municipal
336/2001, nada há nos autos que revele a finalidade eleitoreira arguida na exordial,
tampouco os vícios constatados pelo Parquet nos PAs de concessão denotam o
desvirtuamento do programa assistencial. Assim, entendo que a análise qualitativa das
concessões de ajudas financeiras fundadas na Lei Municipal 336/2001 não revela a prática
de conduta abusiva. 1.3. Da análise quantitativa: Antes de adentrar o aspecto
quantitativo, observo que, no RE 1-24.2017, a douta Procuradoria Regional Eleitoral
concluiu pela caraterização do abuso de poder a partir da conjugação da inobservância do
art. 73, § 10, da 9.504 com o aumento de gastos com ajudas financeiras em ano
eleitoral. Já nos presentes autos, tanto o órgão ministerial quanto Sua Excelência, o
Relator, como bem frisou o Juiz Antônio Carneiro, “não fazem qualquer registro quanto a
um possível incremento de número de doações realizadas ou de valores despendidos para
esse fim”, limitando-se a destacar os números absolutos de empenhos e pessoas
beneficiadas no ano eleitoral, ou seja, 127 empenhos com 103 beneficiados. Ademais,
nem a Procuradoria Regional Eleitoral nem Sua Excelência, o Relator, mencionaram
discrepâncias na execução do programa assistencial entre o ano eleitoral e anos
anteriores, fundamentando-se, em grande parte, no caráter genérico da Lei Municipal
336/2001, característica que a referida norma ostenta desde o seu nascedouro, o que
impõe, para justificar a imposição das graves penalidades de cassação e inelegibilidade por
oito anos, que seja demonstrado em que grau a execução do programa assistencial no
ano de 2016 se afastou dos quantitativos apurados ou dos procedimentos adotados nos
anos anteriores, revelando aptidão para afetar a legitimidade e normalidade do pleito.
Nesse sentido, valho-me, então, da análise feita pelo Juízo a quo na sentença, segundo o
qual “a variação da quantidade de beneficiados únicos por ano e valor pago por ano no
período de 2014 a 2017 demonstra que no ano eleitoral de 2016 não houve aumento de
gasto que pudesse, ainda de forma indiciária, caracterizar a prática de abuso de poder
político com viés econômico”, acrescentando, ainda, que não se extrai dos autos,
“principalmente a partir dos auxílios concedidos, um aumento expressivo de eleitores
beneficiados, o que seria imprescindível para configurar a gravidade inerente ao comando
normativo e, por conseguinte, conferir aptidão para macular a normalidade e a
legitimidade do pleito”. Ora, mesmo que a análise leve em consideração apenas os
números absolutos de 2016, o quantitativo apurado (127 empenhos e 103 beneficiados)
é consideravelmente inferior ao dos municípios de Tacima e Juripiranga, casos em que este
Tribunal não reconheceu a prática de abuso de poder. Por fim, com bem anotou Sua
Excelência, o Juiz Antônio Carneiro, em seu voto-vista, em relação à alegada pequena
diferença de votos entre os candidatos ao pleito majoritário de Dona Inês (33 votos),
embora essa diferença “possa vir a ser considerada para fins de avaliação da gravidade da
conduta, não comprova, por si só, uma eventual prática de ato abusivo que possa servir
de fundamento à procedência de uma ação de investigação judicial eleitoral que visa à
cassação de mandatos eletivos”. A propósito, vale lembrar que “o Tribunal Superior
Eleitoral tem entendimento consolidado no sentido de que, para afastar legalmente
determinado mandato eletivo obtido nas urnas, compete à Justiça Eleitoral, com base na
compreensão da reserva legal proporcional, verificar, com fundamento em provas
robustas e conclusivas admitidas em Direito, a existência de grave ilícito eleitoral,
Notas Taquigráficas 24 (0701454) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 60
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https://pje.tre-pb.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20112310565527400000007605543
Número do documento: 20112310565527400000007605543
suficiente a ensejar as severas e excepcionais sanções de cassação de diploma e de
declaração de inelegibilidade”. Este é um trecho do voto de Sua Excelência, o Ministro
Gilmar Mendes, publicado em 08/05/2017. Assim, não restando provada a prática de
conduta abusiva, nem a conduta vedada defendida pelos investigantes no recurso, a
sentença recorrida não merece reparo, devendo ser mantida nesse ponto. 2. Da
utilização de bens e servidores do município em campanha eleitoral. Na sentença, o
Magistrado a quo condenou os investigados Antônio Justino de Araújo Neto, Tarciana
Lucena Nunes, João Idalino da Silva e Demétrio Ferreira da Silva ao pagamento de multa,
no patamar mínimo de 5.000 (cinco mil) UFIRs, pela prática da conduta vedada prevista
no art. 73, I e III, da 9.504. Ambos os recursos examinados abordam o tema: os
investigantes postulam o reconhecimento da gravidade da conduta para caracterizar o
abuso de poder, enquanto os investigados objetivam afastar a pena de multa aplicada na
origem. Pois bem, acompanhando os votos do eminente Relator e de Sua Excelência, o
Juiz Antônio Carneiro, comungo da conclusão a que chegaram Suas Excelências quanto à
ocorrência do fato que ensejou a condenação à multa (cessão/utilização de um
compressor/cilindro de ar/oxigênio pertencente ao Hospital de Dona Inês para encher
balões no comitê de campanha dos candidatos João Idalino da Silva e Demétrio Ferreira da
Silva), porquanto o conjunto probatório, somado às alegações da própria defesa, mostra-
se suficiente à conclusão de que a conduta foi realmente praticada. Como bem ressaltou o
autor do primeiro voto divergente, “a tese apresentada pela defesa, no sentido de que
não se trata de um cilindro de oxigênio, mas sim de um compressor de ar velho de
propriedade de João Idalino, que o teria emprestado à Secretaria de Saúde para encher
balões para serem usados em campanha de vacinação e de que, portanto, apenas teria
recebido o equipamento de volta, não encontrou amparo em qualquer prova dos autos”.
Quanto ao pedido da parte investigante pelo reconhecimento da gravidade da conduta,
também acompanho os votos de Sua Excelência, o Relator, e de Sua Excelência o Juiz
Antônio Carneiro, no que tange à ausência de gravidade da conduta, bem assim ao
quantum da multa aplicada, pelo mínimo legal, aos investigados Antônio Justino de Araújo
Neto, Tarciana Lucena Nunes, João Idalino da Silva e Demétrio Ferreira da Silva. É bem
verdade que o Juiz Antônio Carneiro ressalvou seu entendimento no tocante à aplicação da
multa ao beneficiário da conduta vedada, Demétrio Ferreira da Silva, candidato a vice-
prefeito de Dona Inês, por entender que a aplicação da pena de multa, em casos de não
reeleição como o ora analisado, demanda, ainda que em grau mínimo, a prova da adesão
do candidato à conduta pública. No entanto, ao final, em respeito à decisão do Colegiado,
referindo-se ao julgamento do RE 273-71, em que ficou vencido de forma isolada,
acompanhou Sua Excelência, o Juiz Antônio Carneiro, o voto do Relator para manter
inalterada, nesse ponto, a sentença. Ante o exposto, Senhor Presidente, egrégia Corte,
pelos fundamentos declinados, em desarmonia com o parecer da douta Procuradoria
Regional Eleitoral, voto, acompanhando as conclusões do Relator e do autor do primeiro
voto divergente, pelo desprovimento do recurso da parte investigada, mantendo a
sentença que condenou Antônio Justino de Araújo Neto, Tarciana Lucena Nunes, João
Idalino da Silva e Demétrio Ferreira da Silva ao pagamento de multa, no importe de 5.000
(cinco mil) UFIRs, pela prática da conduta vedada prevista no art. 73, incisos I e III, da
9.504. No tocante ao recurso da parte investigante, peço vênia a Sua Excelência, o
Relator, para discordar do seu entendimento e negar-lhe provimento, mantendo a
sentença atacada em todos os seus termos, por entender que não restou comprovada a
prática de abuso de poder, nem a conduta vedada prevista no art. 73, § 10, da Lei das
Eleições, decorrente de suposta concessão de ajudas financeiras com a finalidade eleitoral.
É como voto, Senhor Presidente.
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Senhor Presidente, egrégia Corte, ilustre Representante do Ministério Público,
Senhores Advogados, meu cordial boa tarde, eu questiono se me ouvem bem.
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uma lei específica, vá tumultuar ou prejudicar a gestão de qualquer município de pequeno
porte; pelo contrário, eu penso que só vai otimizar a gestão. E aqui eu sigo: Sabe-se que
jurisprudência dessa Corte, no julgamento do RE 26-642, proveniente do município de
Tacima, da Relatoria do excelentíssimo Juiz Sérgio Murilo Wanderley Queiroga, entendeu
que a ação governamental instituída por lei municipal de assistência social de pequenas
localidades possui um caráter de programa social. Assentou ainda naquele caso que não
se deve exigir uma estruturação legal e infralegal que compreenda a definição de planos e
metas a serem atingidas, em determinados intervalos de tempo, com procedimentos
específicos e elaborados por despesas, algo próprio da estrutura administrativa de maior
porte. Assim, vez que este Tribunal, no mencionado caso, centrou-se em elementos
consequencialistas, como aqui foi muito bem dito pelo douto Relator, objetivando
aproximar a interpretação do Direito dos resultados que dele se espera no plano da
realidade social. Aí eu sigo: De fato, a decisão proferida no aludido recurso eleitoral
proveniente do Município de Tacima tomou por base não apenas elementos normativos,
mas também consequências projetadas para o futuro da assistência social em pequenas
localidades. E aqui eu trago para reflexão de Vossas Excelências, eu digo o seguinte:
Entretanto, deve-se ter em mente que quanto mais grave for a violação da norma,
provavelmente mais graves serão os efeitos futuros das decisões que venham reconhecer
tal prática. A prevalecer a lógica consequencialista, portanto, não se reconheceria tais
práticas amplamente violadoras, tendo em vista os feitos do reconhecimento da
ilegalidade. Assim, teríamos como resultado um estímulo à violação da norma,
consagrando benefícios ao torpe em face da expressa previsão legal. Com isso, trilho pelo
mesmo caminho entendido pelo douto Relator, que disse o seguinte: “Se de um lado, a
precariedade da estrutura administrativa local pode fazer o olhar consequencialista desse
Tribunal pender para a proteção da assistência social, de outro, incomoda a mensagem de
que estamos passando para o gestor no sentido de desnecessidade de adequar a sua
gestão aos comandos normativos que estão em vigor desde 2016, ano em que a norma
do art. 73, §10, foi inserida na Lei das Eleições por força da Lei n.º 11.300. Então, eu
achei esse ponto do voto do douto Relator de suma importância. Quer dizer, a norma
existe desde 2006, mas os municípios insistem em não se adequar. E sigo: Pois bem, no
que se refere à existência do programa social, deve-se perquirir se o município de Dona
Inês possui lei específica autorizando sua implementação, com execução orçamentária no
ano anterior para poder se enquadrar na exceção contida no art. 73, §10. Ademais,
conforme destacou o eminente Relator, o Tribunal Superior Eleitoral já assentou que
somente a existência cumulativa da lei de criação do programa social e a previsão
orçamentária específica atende à exigência do art. 73, §10. Então, na minha ótica no
mínimo aqui falta uma lei específica criando o programa social. E sigo: No caso concreto,
constata-se que os investigantes, os investigados alegam que, tanto a Lei Municipal n.º
336/2001, como a Lei n.º 674/2014, conferem autorização ao Chefe do Poder Executivo
Municipal de Dona Inês para realizar dispêndio dos recursos com a concessão de auxílio
financeiro às pessoas carentes. E aqui eu volto ao argumento que eu sempre digo: o fato
dessa lei está em vigor há muitos anos, aqui no caso eu acho que aqui são quinze anos,
não retira nossa competência para analisar ela sob o viés eleitoral, sob o âmbito eleitoral.
A gente está analisando uma conduta vedada. Naquele ano, ele não poderia ter realizado
tais gastos. Por quê? Não tem uma lei específica criando esse programa social, não existe
um programa social específico. Então, na minha ótica, com todas as vênias aos
entendimentos diferentes, eu não vejo aqui como não enquadrar como conduta vedada. E
assim eu digo: Acompanho o eminente Relator por entender que as mesmas, as referidas
leis, não instituem qualquer programa social, mas sim fixam um critério genérico de
autorização ao Chefe do Executivo para concessão de doações e ajuda a pessoas
carentes, e que podem ser destinadas à execução de uma ou mais ações específicas.
Aqui eu trago também, eu chamo atenção às despesas que foram elencadas pelo douto
Relator, em que ele diz o seguinte: existem inúmeras despesas, aqui ele elenca algumas:
ajudas financeiras sem finalidade determinada, passagens para Natal, João Pessoa,
Fortaleza; material de construção, pagamento de aluguel, material escolar, ferramenta,
óculos, enxovais, costura de quadrilhas juninas, exames. Com todas as vênias, eu não
consigo enxergar que tais despesas poderiam se enquadrar num programa de fins sociais
para atender às necessidades específicas no município do porte de Dona Inês, diante da
realidade que sabemos que existe naquele município. Além do mais, a douta Procuradoria
Regional Eleitoral nos trouxe em seu parecer que, no caso dos autos, os empenhos
Notas Taquigráficas 24 (0701454) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 63
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juntados pelos investigados em 2016 demonstram que as Leis n.º 336/2001 e 674/2014,
foram utilizadas para justificar a concessão de ajudas financeiras diversas nas áreas de
assistência social, da saúde, e inclusive, da cultura. A alegação dos investigados no sentido
de que as doações assistenciais encontram-se presentes na lei orçamentária, sob o
subitem, e aqui declino o número, no item também que eu declino o número, não é
suficiente para atestar o caráter de programa social das referidas leis, haja vista a
previsão de distribuição de benefícios para outras unidades orçamentárias, como o Fundo
Municipal de Saúde, nos termos do art. 34 da Lei Municipal n.º 674/2014. Assim, conclui-
se que a distribuição de valores e benefícios no Município de Dona Inês foi realizado com
amparo em lei genérica de assistência social e não com arrimo em programa social
específico. Com isso, com base no que foi dito, bem como em meus posicionamentos aqui
nesta Corte, acompanho o eminente Relator e entendo configurada a prática da conduta
vedada, disposta no art. 73, §10 da Lei das Eleições, uma vez que a conduta em questão
não se enquadra nas permissivas legais que autorizam a referida distribuição no ano
eleitoral. Aqui eu transcrevo também um ponto muito importante sobre a questão da
prática do abuso de poder e faço uso aqui de trecho do parecer ministerial, em que ele diz
o seguinte: “No total de 127 empenhos com 126 pareceres sociais emitidos,
contemplando um total de 113 beneficiários, com predominância na concessão de auxílios
para custeio de medicamentos, exames, passagens, reparos em residências e aluguéis.
Veja bem, até reparo de residência. Analisando os empenhos, vejo que foram realizadas
doações em total descompasso com as leis municipais, que supostamente autorizam a
distribuição de benesses em Dona Inês, como o pagamento de ajuda financeira para fazer
as compras de figurino e despesa com costura para a quadrilha junina Paraíba Forrozeira.
Nesse mesmo sentido, a administração pública municipal financiou, por meio de dotações
do fundo municipal da assistência social, a realização de uma festa junina na comunidade
Sítio de Mulungu, atendendo a pedido da Senhora Elisete Alves de Morais, que afirmou
necessitar de auxílio financeiro para os festejos juninos por ser pessoa pobre. Aqui, eu faço
destaque neste trecho porque, olhe, mesmo que a lei fosse específica para criar um
programa social, no presente caso, está havendo a burla da própria lei municipal, que na
minha ótica é genérica, mas mesmo se ela fosse específica, a própria lei não daria amparo
a essas despesas aqui elencadas, como muito bem posto pelo Ministério Público. Aí eu
sigo: Assim, comungo com a conclusão da douta Procuradoria Regional Eleitoral, adotada
pelo eminente Relator, no sentido de que a distribuição de auxílios financeiros com base
em legislação ampla e genérica, desprovida de um programa social devidamente instituído
no município, e ainda sem observar, em algumas situações, os critérios fixados em lei,
apontam o intuito eleitoral, afetando a igualdade de chances entre os candidatos e a
legitimidade do pleito, caracterizando, portanto, o abuso de poder político com viés
econômico previsto no art. 22, caput, e inciso XVI, XIV, da Lei Complementar n.º 64/90.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO:
Dr. Arthur, Vossa Excelência me permite um esclarecimento de fato?
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO:
É porque Vossa Excelência falou no seu voto que não teria no orçamento e que não
teria a legislação. É só para esclarecer que está no orçamento e no plano plurianual e que
existe a lei tratando sobre o assunto. Porque Vossa Excelência afastou relativamente…
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presentes na Lei orçamentária sob o número tal, tal, tal, como também no item tal, tal,
auxílio financeiro. Esse ponto é inconteste, o que eu estou dizendo é que não tinha uma lei
específica prevendo isso. Peço licença para continuar, só um minuto aqui para localizar o
ponto novamente. Aqui: Por fim, eu trago, apenas para arremate, já que eu já adiantei o
meu posicionamento, quanto à gravidade, eu destaco aqui trecho do voto condutor, em
que ele diz o seguinte: Os dados do município de Dona Inês apontam que o mesmo possui
10.429 habitantes, dos quais 7.272 compareceram ao pleito de 2016, o que fortalece o
entendimento da existência de efetivo impacto da legitimidade e normalidade das eleições,
ao ponto de quebrar a isonomia entre os players pela irregular distribuição de bens e
valores em questão, que seja 103 beneficiários, uma vez que a diferença entre a
candidatura eleita e a candidatura derrotada foi de apenas 33 votos. Então, Senhor
Presidente, com base nessas breves ponderações, eu encaminho o meu voto
acompanhando o douto Relator e é como eu voto, Senhor Presidente.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Senhor Presidente, obrigado pela palavra, egrégia Corte, Doutor Rodolfo, eminentes
Advogados. Senhor Presidente, eu vou buscar ser o mais breve possível, enxugando os
pontos sobre os quais eu vou proferir uma fundamentação analítica. Os pontos que eu
concordo com o eminente Relator e com os votos que se sucederam, de Dr. Carneiro,
Dra. Michelini e Dr. Arthur, que são, digamos, harmônicos com o entendimento
manifestado pelo eminente Relator, e com os quais eu também concordo, eu vou pedir
vênia à Corte para não me estender em relação a eles. Então, eu vou começar pela
exceção. Eu vou dizer que vou pedir vênia ao eminente Relator para divergir do vosso
entendimento no tocante àquele ponto que toda a Corte já sabe qual é o meu
entendimento, haja vista ter citado precedentes da minha relatoria. Então, eu, não é
nenhuma surpresa ao Colegiado, porquanto está aí nos votos apresentados pelo próprio
eminente Relator, por Dr. Carneiro e por Dra. Michelini de maneira expressa, qual é o meu
entendimento a respeito da legislação municipal que autoriza o gestor na distribuição ou,
prefiro até dizer, porque quando se diz distribuição de bens se transmite uma ideia, vamos
dizer assim, de abertura desmedida, a priori, em tese, de bens materiais. Eu prefiro utilizar
o termo de atendimento às necessidades prementes daquela comunidade, e aqui me
refiro porque sempre trago a adjetivação dos municípios pequenos, de pequeno porte, de
pequena monta, que são inúmeros no interior sofrido do nosso Estado. E eu vou
prosseguir no sentido de trazer e repisar elementos técnicos a respeito…
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Sim, é sempre uma honra, Desembargador.
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COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Não, jamais.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Obrigado, Desembargador Relator, e as chegas de Vossa Excelência, como sempre já
disse, são muito bem-vindas, são sempre bem-vindas. Embora não previsto para abordar
esse ponto agora, vou só adiantar que jamais poderia passar desapercebido por mim,
tendo em vista o substancioso voto de Vossa Excelência, esse percentual dos 62% de
municípios pequenos da nossa, do nosso Estado, da nossa Paraíba. Confesso a Vossa
Excelência e adianto que é um dos pontos que eu irei abordar, até para guardar coerência
com o entendimento que foi por mim sustentado desde o tempo do voto do processo de
Riachão. Porque todos falam e reportam-se como se tivesse sido o leading case o caso de
Tacima, mas o caso de Tacima, ele é do final de agosto de 2018. O primeiro caso de
minha relatoria que levei à apreciação da Corte, ele é de 02 de agosto de 2018, que é o
caso de Riachão. Ou seja, ele é anterior ao de Tacima, o de Tacima já foi baseado na tese
consolidada pelo Tribunal por ele. Então, é sempre bem-vindo os esclarecimentos e
registro a todos da Corte, como aos eminentes advogados e ao Dr. Rodolfo, que durante o
meu voto sintam-se inteiramente à vontade para trazer contribuição, porque é esse o
objetivo de um colegiado, observar o fundamento de suas decisões e, sem sombra de
dúvida, às consequências que dela advirão. É por isso que eu inicio o meu voto dizendo
isso, eu vou limitar a minha fundamentação, Senhor Presidente, eminente Relator, Dr.
Rodolfo, eminentes advogados, egrégia Corte, ao ponto de divergência. Ou seja, eu
comungo do entendimento do Relator no que diz respeito a negar provimento ao recurso
dos investigados, e também comungo do entendimento do eminente Relator, e daqueles
que também se seguiram, quanto à manutenção da sentença nos outros termos que não
dizem respeito àquele que o douto Relator está acolhendo, para dar provimento,
reconhecendo a ofensa ao §10 do art. 3º, que vai dizer exatamente respeito à conduta de
distribuição de bens. É nesse ponto que eu vou pedir vênia ao eminente Relator para dele
divergir, sustentando os mesmos fundamentos que sustentei durante o meu biênio titular,
Notas Taquigráficas 24 (0701454) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 66
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divergir, sustentando os mesmos fundamentos que sustentei durante o meu biênio titular,
agora sou apenas um substituto, titular na cadeira de Juiz Federal aí na Corte. E vou
reforçar esses meus argumentos, e digamos assim, com toda a humildade possível,
levantar à Corte problemas que podem surgir ou questões que devem ser pensadas e
refletidas quanto a eventual modificação de um precedente mantido por este Colegiado
em relação ao mesmo pleito de 2016. Foi com muita pertinência que o Dr. Carneiro e Dra.
Michelini enfatizaram e com isso, disso eu não destoo, faz parte da minha, dos meus
apontamentos também, que nós estamos a tratar do mesmo pleito eleitoral de 2016, no
qual, ou em relação ao qual a Corte firmou os precedentes anteriores, pelo menos de
minha relatoria e do período que aí estava, que foi Riachão, que foi o primeiro deles,
Tacima, e salvo engano, Juripiranga. Então, nós demos um destino a partir de uma tese
que fixamos quanto à natureza jurídica das leis municipais que autorizam o atendimento
às necessidades básicas do cidadão pelo Estado, e aqui quando eu me refiro Estado, eu
não estou me referindo à unidade da federação, eu estou dizendo o poder público, e agora
nós estamos nos debruçando sobre um caso análogo relativo à mesma eleição, e essa é a
razão, a bela razão de existir o colegiado, relevantes entendimentos no sentido oposto, ou
digamos, no caminhar de dar sorte diferente a gestores públicos que praticaram condutas
análogas relativas a um mesmo pleito eleitoral. Parece-me que isso é um ponto a ser
analisado pelo colegiado pela força normativa dos seus precedentes. Não precisa aqui a
gente invocar, é do conhecimento, da sapiência de todos os juristas que compõem este
colegiado, a força que o ordenamento jurídico empresta aos precedentes dos colegiados.
A comunidade jurídica, a comunidade política e a comunidade de gestores voltam os olhos
para esta Corte para saber o que pode e o que não pode. A Corte proclamou a essa
comunidade, no ano de 2018, que leis de tal natureza são permitidas e os gestores
podem cumpri-la. Vejam que o que eu enfatizo aqui é: não admito, claro que nem de leve,
a Corte conhece o meu entendimento quanto a isso, o gestor se valer de um engodo legal
para, desvirtuando o sentido da norma, desvirtuando o sentido da lei, promover condutas
eleitoreiras. Aí nem de leve eu compactuo ou entendo legítima ou ilegal tal conduta, tal
postura. Há precedentes meus à saciedade nesse sentido. O que eu entendo é que existe
uma lei que, até que se proclame a sua inconstitucionalidade, ela tem eficácia e ela é
aplicada pelos gestores de maneira inquestionável nos seus três primeiros anos de
mandato. Ela é uma lei, peço vênia para me reportar a condutas que Dr. Arthur
enfatizava, que aí eu fui buscar: reformar a casa, pagar a passagem para tal lugar,
comprar um óculos. Todas essas condutas estão amparadas na lei. Bem ou mal, é uma
conduta que está prevista no normativo municipal. Então, se o agente público age
conforme aquilo que está preceituado em uma norma de sua organização federativa,
estaria ele ao desamparo a sofrer uma penalidade que reputo das mais graves, qual seja,
perder o seu mandato e ter ainda, além disso, a penalidade de inelegibilidade por oito
anos? Ou seja, a gente está diante de um caso em que o gestor veio cumprindo o
normativo daquela sua edilidade. Mas me parece que não se deveria autorizar o
pagamento de aluguel. Bom, mas a lei municipal autoriza o pagamento de aluguel para
pessoas carentes. A lei municipal autoriza o fornecimento de material de construção, a
doação de ataúdes, de caixão, de cadeira de rodas, e tudo isso, egrégia Corte, veja bem,
o tempo que nós estamos passando é bem indicativo disso. Hoje a Nação Brasileira
conhece um pouco o que é a necessidade de um município pequeno que vive em estado
de calamidade pública ou em estado de emergência, em estado de lockdown, porque,
quem se recordar nos períodos de seca e transitar pelas ruas ao meio-dia de uma cidade
interiorana, não há, vamos dizer assim, um pé de cristão na rua porque não tem o que
fazer, não se tem o que plantar, não se tem o que colher, não se tem o que fazer. E vai
se fazer o que para pagar o aluguel? E vai se fazer o que para custear a ida a João Pessoa,
a Campina Grande, a Patos, a Guarabira, para promover o tratamento daquele ente que
precisa do tratamento, porque naquela unidade o posto de saúde não é suficiente para
fazê-lo? Tem que se custear, tem que se valer do Estado. Então, é por isso que, com
todas as vênias, esse debate frutífero vem desde o tempo daquilo que é sustentado pela
Procuradoria Regional Eleitoral, na pessoa de Dr. Victor Veggi, exímio e brilhante jurista,
que é sucedido, com o mesmo brilhantismo, pelo Dr. Rodolfo, e cada qual, digamos assim,
no poço nobre de suas fundamentações. Reconheço aqui a nobreza do voto do Relator,
preocupado com a legitimidade de um pleito que se avizinha e do auto da responsabilidade
que cai e que pesa, não vou nem dizer que pesa, porque é um brilhante jurista e gestor
público, mas a difícil missão de conduzir um pleito eleitoral que se avizinha. Então, volto a
dizer, são todos fundamentos extremamente nobres e dignos de exaltação naquilo que
Notas Taquigráficas 24 (0701454) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 67
Assinado eletronicamente por: ANALIA CASTILHO DA NOBREGA - 23/11/2020 10:56:56 Num. 7769797 - Pág. 109
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
defendem. Mas, aquilo que entendo, e já vou dizer onde encontro respaldo normativo para
apontar por que esta norma de um município não tem caráter social. Ora, onde é que
está dizendo que é um programa social? Qual lei define ou estabelece uma diretriz para
que se tenha um caráter, uma determinada lei tenha o caráter social? Ora, um jurista A, B
ou C pode ter um entendimento, D, E ou F pode ter outro entendimento, um membro do
Ministério Público defender outro entendimento, um julgador defender outro entendimento,
um outro julgador defender um outro entendimento, e aí eu pergunto: não são
entendimentos menos nobres e é em razão dessa multiplicidade de entendimentos que se
gera a importância de se reconhecer o seguinte: qual deles o gestor público vai seguir?
Qual deles? Qual é a lei que diz o que ele pode seguir ou não? Ele vai deixar de seguir essa
lei? Aquela pessoa que morreu no seu município no ano da eleição, ele vai deixar de dar o
ataúde, o caixão, porque no ano de eleição ele vai interpretar com base em que lei, ao
eleitorado dele, ao munícipe dele? Antes de tudo, que não pode dar, que não pode pagar
aquele aluguel porque é ano de eleição e em ano de eleição entende o Ministério Público
Eleitoral que essa lei não é uma lei assistencialista e, portanto, ela não se enquadra no
§10, que diz que: exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou
de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício
anterior. O que é execução orçamentária no exercício anterior? É termos uma lei X, Y, ou
termos uma lei Z, W? Eu gostaria que nós nos focássemos na substância. Ou seja, esse
município, assim como todos, não posso dizer uma ilação, mas me permitam uma ilação,
assim como a maciça maioria dos pequenos municípios da Paraíba, não ter uma lei
específica para uma linha de crédito para doação de equipamento hospitalar; depois uma
lei específica com uma linha de crédito para doação de passagens para tratamento de
saúde; depois outra lei específica, ou seja, quer dizer então que se o município tivesse dez
ou quinze leis específicas com uma dotação orçamentária para cada uma dessas linhas,
teríamos, então, dez programas sociais que poderiam ser levados em conta? Qual é a
alternativa para que a população desses 62% dos municípios não fiquem a mercê das
desolações no quarto ano de mandato? Qual seria, então, a alternativa ao gestor público
que o Tribunal orientaria? Porque as suas decisões têm caráter não normativamente
genérico, mas ela é a ratio decidendi do precedente, ela é todos a esperam, todos a
aguardam. A ratio decidendi dos nossos julgados são avidamente aguardadas pela
comunidade jurídica e pela comunidade política...
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Pois não, eminente Relator, Senhor Presidente.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Jamais, Desembargador.
Assinado eletronicamente por: ANALIA CASTILHO DA NOBREGA - 23/11/2020 10:56:56 Num. 7769797 - Pág. 110
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precisa uma proliferação de leis. Essa mesma lei poderia fazer essa distinção de forma
individual para que não se dê um cheque em branco de que uma legislação única e que
vale para tudo. É como diz Vossa Excelência, Vossa Excelência sabe do carinho e respeito
que tenho por Vossa Excelência, e Vossa Excelência já proclamou aqui neste Tribunal com
muito vigor, com muita inteligência e eloquência de que nós não pudemos trazer a Água
Rabelo, e a Água Rabelo vá curar todos os males. Então, existe sim. Essa legislação
poderia ser, deveria ser uma legislação que englobaria tudo. Não precisa ser uma lei para
confecção e doação de óculos, uma lei para cuidar de cárie dentária, não. Vamos
condensar tudo em uma lei, mas devidamente equacionada, até, inclusive, para que se
possa haver uma contestação, como disse Vossa Excelência, arguição de
inconstitucionalidade e outros procedimentos afins. Agradeço a Vossa Excelência e
prometo que não irei, de forma nenhuma, mais interferir no raciocínio de Vossa
Excelência, porque todos nós aqui somos vinculados e eu gostaria sempre de exaltar,
dizer que estou sempre no auditório das palavra de Vossa Excelência.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Obrigado, Desembargador, e aqui faço minhas as palavras de Dr. Carneiro, quando
ele se reporta, não foi do meu tempo, mas ele louva uma alteração regimental em que o
membro pode se manifestar quantas vezes bem quiser. Eu só fiquei triste porque Vossa
Excelência disse que é a última manifestação sua. Eu espero que não, porque a gente não
pode se privar dessas colocações que Vossa Excelência traz e que nos ajuda ou a lembrar
algum ponto esquecido ou a sempre, potencialmente falando, a possibilidade de corrigir os
rumos daquele voto que estamos a proferir. Então, é sempre muito bem vindo,
Desembargador, as lições de Vossa Excelência. Em relação a isso, talvez seja um dos
pontos de nossa divergência, é porque eu penso que a Lei 336/2001 é clara no seu caput,
quando ela vai dizer que o Chefe do Poder Executivo fica autorizado a realizar despesas
com doações a pessoas comprovadamente carentes, na forma da lei, e que não tenham
meios de suprir suas necessidades. Então, daí me parece ser inegável o caráter de
programa social de um município que tem em torno de dez mil habitantes. Você veja que
o Brasil, com seus duzentos milhões de habitantes, fez uma lei emergencial para dar
dinheiro, nós estamos em um momento de emergência, onde as pessoas não podem sair
às ruas, não é por conta da seca, não é por conta da fome da estiagem ou da sede da
estiagem e, com todas as vênias, não sei se foi esse, acho que não, não foi esse o
entendimento de Dr. Arthur, mas eu penso que os estados de emergência por conta da
seca não se limitam a dar ao pobre sertanejo que está lá sem ter o que comer e o que
trabalhar, água e comida. Ele pode dar o óculos, ele pode dar o tratamento de saúde, ele
pode dar o transporte para levar aquela pessoa de baixa renda a um centro maior para se
tratar. Não é por conta do decreto de calamidade é com base na estiagem que fica
limitada qualquer lei assistencial a uma ajuda de alimento, ou de bebida, ou de água,
porque as pessoas precisam pagar o aluguel. Essa é a nossa realidade. Ou seja, os
R$600,00 que o governo federal está dando não é necessariamente para um tratamento
médico porque a calamidade pública está decretada por força de um problema de
pandemia. Então, ela não está vinculada a uma compra de medicação ou a um
tratamento médico, uma internação hospitalar, EPI’s, por exemplo, equipamento de
proteção individual. Ela pode ser utilizada, e a lei não vincula, ao pagamento de aluguel,
porque a pessoa não pode trabalhar e precisa de seu aluguel. É interessante, a gente
escuta nos meios de comunicação que, por exemplo, o Senado se mobilizou para dar
iniciativa a uma lei que suspendesse o pagamento dos aluguéis por seis meses, ainda
ontem eu via o Ministério da Mulher e das Minorias se dirigir a Amazônia com distribuição
de cestas básicas. Ora, eu volto a dizer, esse estado de calamidade que, infelizmente, nós
estamos a passar por ele a nível mundial e em nível nacional com as peculiaridades de
cada região, nós deste Nordeste sofrido já conhecemos há muito tempo. Há muito tempo.
E desconheço, e aí é apenas um argumento, vamos dizer assim, ad argumentandum,
desconheço qualquer plataforma, por isso que é ad argumentandum, qualquer plataforma
política que tenha como bandeira, Dr. Carneiro, a revogação de diplomas legislativos
nestes termos. Eu acredito que não é bandeira política de nenhum candidato a gestor a
revogação de diplomas normativos que os autorizem a atender, por isso que eu substituo
o termo distribuição de bens por atendimento ao estado de calamidade que
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rotineiramente os nossos municípios enfrentam. Em relação...
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Pois não, Dr. Carneiro.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Obrigado, Dr. Carneiro, e reforço sempre o que digo. Acho que a beleza do Colegiado
está nisso, é a convivência das divergências, porque elas, as divergências, nos ajudam a
evoluir e refletir. Não fossem relevantes os argumentos trazidos pelo eminente Relator e
agora reforçados pelo Dr. Arthur, os subsídios para que a gente pudesse refletir sobre
eles, seja para concordar, seja para continuar discordando, não seria possível. Agradeço a
contribuição de Vossa Excelência e eu volto sempre a dizer, Dr. Carneiro, a lei municipal
concentra em um único diploma normativo inúmeras condutas de assistência social. Ela
estabelece requisitos, ela estabelece as pessoas carentes como os seus destinatários e
ela fala na dotação orçamentária. Quando diz dotação orçamentária em exercício,
execução orçamentária no exercício anterior, então ela vem no primeiro ano de mandato,
no segundo ano de mandato, no terceiro ano de mandato e está no quarto ano de
mandato. Eu quero traçar um paralelo aqui, egrégia Corte, porque nós estamos em um
ano de eleição e nós estamos, portanto, em um ano em que esses 62% de municípios da
Paraíba estão a praticar, volto a dizer, ad argumentandum, eu não tenho dados
estatísticos aqui, além desses 62%, para dizer que cada um deles tem lei de maneira
análoga, mas nós somos pródigos em encontrar processos em que a abordagem foi
exatamente essa. Então, penso que não é leviano nem irresponsável de minha parte
tomar como uma dedução que existem inúmeros municípios do Estado da Paraíba que
estão a aplicar leis de tal natureza e que vão bater às portas do Tribunal, em que em ano
de eleição os gestores públicos estão a aplicar a lei, atendendo aos clamores de sua
comunidade e que, porventura, poderão vir a ser cassados e alijados por oito anos da vida
pública com a pena de inelegibilidade. Por isso que digo que este julgamento de hoje é,
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todo julgamento é importante, sem sombra de dúvida, mas este tem uma envergadura,
uma amplitude de extensão dos seus efeitos parece-me muito maior por estarmos em
ano de eleição e não termos sequer tempo de que a comunidade política e gestora se
adaptar aos termos da nova decisão ou do novo entendimento, e isso é um comando
normativo. Eu já já vou abordar o que nos diz a Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro, a velha e antiga conhecida nossa, do nosso tempo de faculdade, como Lei de
Introdução ao Código Civil. Mas se o entendimento da Corte for o de que essas leis não
podem ser configuradas como leis de programas sociais, o que será, então, dos gestores
que neste ano estão a aplicar normas de tal natureza em suas edilidades a atender pleitos
de sua comunidade nesse sentido. E o caso dos autos ele ainda tem uma peculiaridade
muito maior do que aqueles outros que julgamos lá em Tacima e em Riachão, porque
neste caso a pena está caindo sobre quem não cometeu a conduta. Eu penso que é mais
uma carga argumentativa a se exigir da Corte. Quem cometeu a conduta foi o gestor,
mas ele não é o candidato à reeleição. A pena está refletindo, claro, há previsão normativa
para isso, eu não estou questionando isso, mas o que estou dizendo é que seria
importante que nós déssemos o nexo causal da conduta dele, porque, se não, a
consequência ainda é pior. Ou seja, os gestores, sejam candidatos à reeleição ou não, no
seu último ano de mandato estão normativamente proibidos de adotar condutas com
base em leis municipais desse teor, porque poderá resvalar em quem, e aí vem outra
dúvida que eu tenho, em quem, no candidato apoiado. Então esse apoio vai ser, na
verdade, uma maldição. Vai ser uma maldição. Se não houver apoio e surgir a figura - eu
já estou criando aqui o a figura do apoio travestido, ou seja, o gestor se cala, mas é um
gestor do mesmo partido, então vai-se criar um instituto novo, ou seja, o apoio velado. Ou
seja, aquele gestor que não se candidata, mas tem um candidato do mesmo partido dele.
Ainda que ele fique de braços cruzados, ele vai ter de deixar de atender aos reclames de
sua comunidade? Ou seja, o impacto é muito grande, e aí esse impacto é sentido pelo
menos favorecido. E por que eu digo isso? Não é sem apoio normativo, não é uma ideia de
minha cabeça. A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro diz, no seu art. 22, que
na interpretação de normas sobre gestão pública serão considerados os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo
dos direitos dos administrados. É o art. 22 da Lei de Introdução às Normas de Direito
Brasileiro. É daí que extraio, portanto, não se poder comparar municípios como de
Riachão, como o de Tacima, como o que ora estamos a enfrentar, com a estrutura
administrativa de uma Campina Grande, de uma João Pessoa, de um Estado da Paraíba,
de qualquer outra unidade federativa em termos de Estado, e União nem se falar. Mas,
municípios onde nós sabemos, é a lei que nos manda levar em conta, quando
interpretemos normas sobre gestão pública, que consideremos os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo. Eu acho que
se aplica a perfeição em casos como o que estamos a analisar agora. É óbvio que as
dificuldades sentidas pela Câmara de Vereadores de um município como o de Tacima, o de
Juripiranga, o de Mãe D’Água, então são muito maiores estruturalmente do que aquelas
enfrentadas pelo município de Campina Grande. Por isso me permito aqui uma pequena
digressão, que seria um segundo ponto, mas digamos, não me abala o argumento dos
investigantes quando diz assim: mas esse dinheiro foi usado para comprar um vestido de
chita ou um vestido de quadrilha, porque, quando a gente vai para um município como o
de Campina Grande, vão centenas de milhares de reais para o São João de Campina
Grande em ano de eleição e nunca se viu a invocação, eu não vi, não estou dizendo que
não existe. Eu não posso dizer que não existe porque eu não sou onipotente nem
onisciente. Eu, invocação de que seja inconstitucional a realização de festa junina, seja em
Caruaru, onde já morei como juiz, em Campina Grande, festa de carnaval, aportam
inúmeros, centenas de milhares de recursos públicos para a realização dessas festas. Não
está tendo agora neste ano por conta do desastre, infelizmente, do COVID-19. Mas por
isso que adianto, e aí vai na esteira do que levantou, com muita pertinência, o Dr. Carneiro
e foi acompanhado pela Dra. Michelini: cometeu-se ato de improbidade administrativa, que
se apure nas vias próprias. Eu vou até mais além do que Dr. Carneiro, Dr. Carneiro é um
pouco mais limitado, restrito na permissão do eleitoral invadir essa seara. Eu até permito
um pouco mais, sim. Eu acho que, uma vez, a priori, a saciedade demonstrada já ao
julgador do eleitoral, ele não pode fechar os olhos dele. E relembro à Corte uma questão
interessante: o caso de Tacima, não nos lembramos até então de uma questão
interessante, a Corte deu provimento ao recurso do investigante para reconhecer uma
Notas Taquigráficas 24 (0701454) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 71
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falha na conduta de aplicação da lei assistencialista. A Corte reconheceu que aquela lei é
assistencialista, mas reconheceu por maioria, à época, eu tenho aqui, eu fui consultar, não
é da memória, eu fui consultar isso, ficaram vencidos Dra. Michelini e o Dr. Aécio, porque
ela entendia que nem isso restava configurado, mas a Corte, por maioria neste ponto, deu
parcial provimento para reconhecer que naquele caso de Tacima havia uma zona nebulosa
em relação a algumas doações, reconheceu, portanto, em relação a essa parcela a
conduta vedada e aplicou multa, aplicando, portanto, de maneira proporcional àquele caso.
Em relação a essa parcela de provimento, Dra. Michelini e Dr. Aécio entenderam também
não configurada e davam provimento, e deram provimento apenas no tocante ao inciso V,
que era, salvo engano, a nomeação em cargos temporários, ou alguma coisa nesse
sentido. Mas na linha do que, com brilhantismo, sustentou e votou Dra. Michelini, nesta
tarde de hoje. Mas só rememorando esse ponto: no caso de Tacima, a Corte firmou a
tese que a lei municipal desta mesma natureza ela é possível de ser enquadrada como lei
assistencial, lei de programa social a autorizar a exceção daquele §10, mas que naquele
caso específico havia uma zona nebulosa e que o gestor não se desincumbiu de
determinados elementos. Então, Senhor Presidente, eminente Relator, egrégia Corte, eu
vou pedir vênia para não ler o trecho que está transcrito na sentença, queria até fazer
esse esclarecimento à Corte. No ponto em que a sentença se fundamenta quanto a
natureza assistencial das leis, acredito que por um lapso de Sua Excelência, o eminente
juiz da sentença, esqueceu-se de fazer menção de que se trata de um fundamento nosso,
de um voto nosso colocado, utilizado por ocasião do julgamento do processo de Riachão,
que é o processo, deixe-me dizer o número, o Recurso Eleitoral 26812, concluído o
julgamento em 02 de agosto de 2018 e os trechos da sentença do eminente Juiz da Zona
Eleitoral, transcreve ipsis litteris o nosso entendimento, cuja ementa, no Item 4, diz o
seguinte: A distribuição de ajudas financeiras ou de bens em ano eleitoral, amparada em
lei e em execução em ano anterior, especialmente com prova do estado de emergência
decretado pelo governo estadual, encontra-se na exceção da proibição prevista no retro
mencionado dispositivo legal. Naquele caso, a Corte entendeu por negar provimento ao
recurso, entender que aquela lei era uma lei de programa social e é interessante registrar
que ali nós nos deparamos com mais de 500 empenhos, ali, naquele caso, nós nos
deparamos com 510 empenhos e era doação de óculos, estudo próprio de familiar,
tratamento de saúde, passagem, botijão de gás, gênero alimentício, serviços funerários,
festas de formatura, ou seja, doações análogas, atendimentos análogos àqueles que
estamos analisando hoje, com uma diferença numérica. Ali, naquele caso, a Corte
enfrentou uma análise de 510 empenhos; no caso presente a gente tem uma situação de
cento e alguma coisa. Deixe-me só buscar aqui. Nós temos aqui, egrégia Corte, 162
empenhos. Cada caso é um caso, com as suas peculiaridades e merecedor de atenção
em cada um desses elementos, por isso que volto a dizer: o caso de Tacima teve uma
peculiaridade que mereceu um provimento parcial com a aplicação da sanção de multa. O
caso de Riachão, não. Me parece que no caso de Juripiranga também não e, com todas as
vênias eu estou votando, também, nesse sentido por não enxergar nenhuma
peculiaridade. Nós temos, aqui, uma conduta em que, no primeiro ano de mandato a
gente teve… não, primeiro ano, não, mas 2014, o primeiro ano 2013; em 2014, 289
empenhos, com o valor de R$ 59.128,00. Em 2015, a gente teve 132 empenhos no valor
de R$ 26.700,00. E ano de 2016, que é o ano da eleição, nós tivemos o registro de 162
empenhos, sendo pago o valor de R$ 37.535,00. Então, com todas as vênias, seria
possível enxergar a partir de números de tal natureza o indício ou mais do que meros
indícios, indícios fortes e até indícios comprobatórias de condutas que desbordasse para a
prática da conduta vedada ou abuso de autoridade, ou os dois alternativamente ou
cumulativamente? Penso que sim. Era possível. Pela natureza das doações, pela sua
amplitude, pelo seu desdobramento, pelo seu incremento, não é por si só, o seu
incremento, mas também pelo seu incremento, pela forma como o programa foi
executado de maneira completamente distinta daquelas outras que vinham sendo
executados nos três anos anteriores ao mandato. Tudo isto seria possível. E uma vez
ocorrente, facilmente comprovável pelos investigantes em juízo, mas não é, com todas as
vênias, aquilo que nós temos no caso dos autos. Inclusive, quando a gente vai para o
aspecto numérico, a gente tem um excesso no ano de 2016 para o ano imediatamente
anterior de 2015, de em torno de R$ 11.000,00. Com todas as vênias, volto a dizer,
porque são manifestações pautadas pelo elevado espírito público e pelo, digamos, o
desígnio de manter a lisura nos pleitos eleitorais. É o entendimento do eminente Relator, o
Notas Taquigráficas 24 (0701454) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 72
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entendimento de Dr. Arthur, que o acompanhou, mas com todas as vênias, eu penso, até
no sentido analógico que, digamos, é um tiro de canhão numa conduta que não estaria a
exigir tamanha reprovabilidade. E no meu caso, em relação à conduta, a forma como
comprovada no caso, penso que reprovabilidade alguma. Reprovabilidade alguma.
Diferentemente de como eu votei, e a Corte acompanhou, no caso de Tacima. Então nós
temos aqui: se nós compararmos com o ano de 2014, nós temos menos de 100
empenhos emitidos. E um valor em muito inferior aquele que foi emitido no ano de 2014,
em relação ao próprio ano das eleições. Então, com todas as vênias, o zelo, penso, que
todos nós temos, todos que compomos esta Corte e o Ministério Público, sem sombra de
dúvidas, apenas estamos a divergir na forma como estamos a enxergar a aplicação deste
dispositivo. Então, é possível, em tese, que restasse demonstrada a conduta abusiva?
Sim. Não é o fato, por si só, de existir essa lei que estão chanceladas todas as posturas
dos gestores públicos. E, seria facilmente demonstrável o descumprimento de uma norma
assistencialista como é esta. Então, prosseguindo no meu voto, eu refiro-me aqui ao
primeiro caso, ao lead in case, que foi o de Riachão e, depois, no mesmo mês, ao final, o
caso de Tacima. E, ao que vi das certidões de julgamento, todos eles, no ponto, unânimes,
no que diz respeito... No voto de, no caso de Riachão, os votos de Dra. Michelini e Dr.
Aécio eram mais extensos, eram mais amplos ainda, no sentido de reconhecer, sequer, a
inexistência daquela zona nebulosa da qual falei, mas foram, portanto, à unanimidade
nesse sentido. Então é relevante essa questão dos precedentes formados pela Corte. Para
caminhar rumo a finalização do meu voto, Senhor Presidente, eu ainda trago e extraio da
Lei de Introdução às Normas do Direito Penal Brasileiro, os dispositivos dos artigos 21 e
23, eu li o 22 a justificar, a legitimar uma interpretação que autorize esse entendimento
de compreender que as pequenas edilidades não têm esse arcabouço estrutural para se,
vamos dizer assim, de assessoria legislativa, de dotação orçamentária, mas é preciso
enfatizar: a Lei 336/2001, ela traz requisitos, com todas as vênias, sempre devidas, com
o mais profundo respeito, eu penso que não é uma lei que confere um cheque em branco,
e se o gestor vier a fazer da lei um engodo, uma máscara e um cheque em branco, as
medidas, sem sombra de dúvidas devem ser tomadas, e adotadas, investigadas,
comprovadas e punidas severamente. Não me pareceu ser este o caso dos autos onde a
prova não rumou, sequer, para esse sentido aí. Então, me parece que é possível, sim,
essa interpretação. Não se pode exigir do Estado da Paraíba, uma lei nesse teor, não se
pode exigir do município de João Pessoa, de Campina Grande, leis nesse teor, muito
embora nós, de certa forma, tenhamos. A gente já se deparou no tempo, eu acho que
não existam mais, mas bolsa atleta, a distribuição de uma bolsa, o que é bolsa? É dinheiro
para alguém que é de uma família carente, pratica esporte e isso ajude a custear, é a
doação de dinheiro. E o desvirtuamento de um programa desses é outra seara, é outro
terreno, mas uma lei, por si só, nesses termos, me parece que é uma lei assistencialista,
sim. O Art. 21 ele diz assim, é dirigido a nós, magistrados: A decisão que nas esferas
administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste,
processo - aí pode se incluir o processo eleitoral - ou norma administrativa deverá indicar
de modo expresso suas consequências jurídicas e administrativas. Então eu penso que, ao
menos preliminarmente, eu tentei abordar, aqui, as consequências jurídicas de
entendermos que lei de tal natureza, para os municípios que atendem essas pessoas
carentes, venha a se considerar que tal lei, ela não é uma lei assistencial. Eu não consigo,
com todas as vênias, vislumbrar: Não, mas precisaria de uma lei orçamentária própria.
Mas como? No Município de Mãe D’água, de Tacima, são municípios pequenos, de
estrutura precária. É interessante que as unidades federativas municipais pequenas,
muitas vezes nós dizemos que muitas delas não têm condições, sequer, de existir. Elas se
mantêm com o Fundo de Participação dos Municípios e geram uma despesa com o
pagamento dos seus gestores e da sua Câmara Municipal com o seu número de
assessores parcos. Então, nessa hora nós não podemos exigir que uma Câmara Municipal
dessa envergadura edite várias leis ou tenha uma lei orçamentária para cada um desses
programas. Eu me recordo, quando o Ministério Público Eleitoral levantou, no processo de
Tacima, um precedente do Pará, justificando alguns requisitos para que se pudesse
entender uma lei como assistencial, e seriam, em síntese, três requisitos: que ela
estabelecesse requisitos; que ela fosse destinada a uma população específica; e que ela
tivesse dotação orçamentária própria. Eu penso que a lei, aqui, ela tem esses três
requisitos. Ela é direcionada a uma comunidade, uma população, a um público específico,
o carente; ela tem dotação orçamentária, porque a lei está prevendo, ela tem requisitos; e
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ela está sendo executada desde 2001, não é do ano anterior, não. Ela está sendo
executada lá, ou desde, pelo menos 2002, não sei se ela teve uma vacatio legis maior,
mas pelo menos desde 2002. E o Art. 23 que diz o seguinte: A decisão administrativa,
controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orientação nova, sobre o quê?
Sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo condicionamento
de direito, deverá prever regime de transição quando indispensável para que o novo dever
ou condicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente,
e sem prejuízo aos interesses gerais. Então eu penso que, uma vez a Corte vindo a mudar
o seu entendimento quanto a isso, porque ela sinalizou à comunidade jurídica, política,
administrativa, que tal lei ela tem essa natureza assistencialista e, portanto, pode ser
executada, inclusive no ano da eleição. Cumprida. Não é descumprida. É cumprida. É
observada. Se a Corte, hoje, por ventura vier a sinalizar, na sua ratio descidendi, que não,
seria importante que esse debate viesse também à tona, porquanto eu penso que vai ser
em relação ao pleito de 2018, uma enxurrada de demandas no sentido de que aquilo que
foi feito até agora teria ou não legitimidade, já que feito aos auspícios de um entendimento
até então consolidado em precedentes, à unanimidade desta Corte. Eu vou pedir vênia
para não ler a doutrina que transcrevo no voto, Senhor Presidente, porque ela é muito
clara a dizer das agruras que a reeleição traz. Se de uma lado o gestor ele não pode se
beneficiar, mas indiretamente ele se beneficia, porque ele é gestor, ele faz, ele paga o
salário do cidadão, ele constrói estrada, ele administra, ele gera, então,
inquestionavelmente se ele colhe naturalmente os bônus disso daí, isso é inquestionável,
conforme diz a doutrina, o Professor Rodrigo Lopes Zílio, mas isso foi uma opção do
constituinte. Puni-lo por administrar violaria a própria Constituição que previu e admitiu
numa opção política, a reeleição. E por outro lado, não pode o Judiciário, ao contrário,
desnivelar a balança às avessas, ou seja, impor uma conduta que venha a prejudicar o
gestor. Ou seja, não é que o gestor venha se beneficiar ilegitimamente, é que vai se impor
ao gestor uma conduta que o prejudica. Deliberadamente. Ou seja, impor para ele que não
cumpra a lei do seu município e que ele diga ao seu, que está ali batendo à porta do
Estado, pedindo auxílio, pedindo para que pague o aluguel, pedindo: o senhor não pagou
três anos antes, porque é que esse ano não vai pagar o aluguel, porque é que esse ano
não vai pagar a passagem para eu levar o meu filho para fazer tratamento de autismo lá
em João Pessoa, porque é que não vai pagar o livro para o rapaz terminar a graduação
dele? E impor, impelir, compelir o gestor a essa negativa, existindo uma lei que o ampara,
eu penso que é impor a ele um desnivelamento às avessas da balança. Penso nesse
sentido. Então, com todas as vênias eu finalizo, Senhor Presidente, egrégia Corte, dizendo
que a extensão do meu voto é diretamente proporcional a relevância e importância dos
fundamentos dos quais eu estou divergindo, respeitosamente, se não o fosse não teria
dedicado esse tempo a retrazer determinados pontos ao meu voto. Eu não consigo extrair
a motivação eleitoral da conduta e nós julgamos com os fatos como narrados e provados
dentro do processo, como diz Malatesta, é o que não está nos autos não está no mundo,
e…
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Pois não, Dr. Manolys.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Claro. Sempre bem vindo.
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COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MANOLYS MARCELINO PASSERAT DE SILANS:
Agradecendo a Vossa Excelência e também já pedindo desculpas pela interrupção
do raciocínio, mas Vossa Excelência citou em seu voto que no ano eleitoral, ou seja, no
ano de 2016, ocorreram 162 empenhos. De fato, na sentença consta esse número de
162 empenhos. Contudo, a Procuradoria Regional Eleitoral, ela trouxe um levantamento
citando um por um, cada empenho, isso consta às folhas 9667 até 9670 dos autos,
citando que nesse ano das eleições foram tão somente 127 empenhos que
corresponderiam a 126 pareceres da Assistente Social e 103 benefícios. Me parece que
esse número foi também trazido em outros votos, notadamente no voto do próprio
Relator. Então, apenas para mostrar que nos autos existe essa divergência em relação ao
número de empenhos no ano de 2016, mas a Procuradoria Eleitoral ela traz, sim, um
levantamento firmado citando um por um os empenhos que foram acostados à defesa e
contabilizando 127. Apenas esse esclarecimento.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Pois não, Dr. Manolys. Agradeço, sempre bem vindos. Me parece que nesse caso
vem ao encontro, e não de encontro ao raciocínio por nós desenvolvido. Situação análoga
aconteceu no caso do processo de Riachão, aquele a que me reportei a mais de 500
empenhos. Houve uma pequena discrepância com relação ao que estava sendo alegado e
ao que este Relator, efetivamente, constatou. Por isso que quando falei daquele caso já
registrei o número específico. Era alegação de 528 empenhos e aqueles que localizei,
efetivamente, por que listei um por um no voto, foram 510. Havia, portanto, um
acréscimo de 18, nesse caso de Riachão. Então situação análoga acontece, também, com
o caso presente. E eu só finalizo, Senhor Presidente, trazendo algo que já trouxe, mas foi
muito an passant, o fato de que inquestionavelmente o beneficiado com a conduta sofre
os reflexos daquela conduta, mas para que não haja responsabilidade penal objetiva, o que
viria a ser inconstitucional, é preciso que nós estabelecêssemos, ou estabeleçamos, um
liame entre a conduta que foi do gestor e aquilo que foi repercutido no âmbito do eventual
beneficiado. Porque é importante, nos precedentes que foram trazidos era a conduta de
reeleição. Então isso é ínsito à conduta de um gestor que quer se reeleger, mas aqui, veja,
o gestor não é candidato à reeleição e está tocando a sua administração e essa conduta
está, digamos, superextendida, vamos dizer, numa repercussão mais dimensionada para
atingir o candidato que ele apoia, então ele está, se esse for o entendimento, a ratio da
decisão é de dizer o seguinte: ainda que o gestor não seja candidato, ele também sofrerá
reflexos na sua administração no ano da eleição. E é importante que se estabeleça o que
é que ele pode e o que é que ele não pode, ou pelo menos o que ele não pode. O que ele
pode é um rol muito maior. Mas pelo menos o que é que ele não pode, para ele não
prejudicar uma candidatura alheia. Inclusive sob pena de macular e estimular, até, pseudos
apoios. E aí a gente criaria institutos, como eu já disse anteriormente, muito complexos e
muito complicados para que a gente viesse investigar e averiguar no âmbito do eleitoral.
Então eu finalizo, Senhor Presidente, dizendo que em relação aos outros pontos eu
acompanho o voto do eminente Relator, também com os fundamentos trazidos pelo Dr.
Carneiro, Dra. Michelini, Dr. Arthur, e finalizo dizendo que mantenho a sentença. Eu nego
provimento a ambos os recursos, mantendo a sentença por aqueles fundamentos que ela
traz e pelos fundamentos que expus aqui. Sempre e finalizando fazendo questão de
render vênias ao brilhantismo e a relevância dos fundamentos dos quais eu discordei. É
como eu voto, Senhor Presidente.
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com seu ponto de vista e eu confesso que num dado da discussão entre o Dr. Arthur,
ainda, e o Dr. Sérgio Murilo, ainda me restou uma dúvida. Razão pela qual, para que não
haja esse açodamento nessa decisão, porque nós temos a possibilidade de trazer logo na
próxima sessão, eu gostaria de pedir vistas dos autos, Excelência.
Sala de Sessões do egrégio Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba, aos 13 dias do mês
de abril de 2020.
ASLM/GFM/DOGG/RMP
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0005922-57.2020.6.15.8000 0701454v6
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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DA PARAÍBA
PRESIDÊNCIA
DIRETORIA GERAL
SECRETARIA JUDICIÁRIA E DA INFORMAÇÃO
COORDENADORIA DE REGISTROS E INFORMAÇÕES PROCESSUAIS
NÚCO DE TAQUIGRAFIA
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Zona Eleitoral - Bananeiras); Relator: Exmo. Desembargador José Ricardo Porto; Assunto:
Recurso Eleitoral. Ação de Investigação Judicial Eleitoral. Conduta vedada a agente público.
Captação ilícita de sufrágio. Abuso de poder político/autoridade. Abuso de poder
econômico. Ação de Investigação Judicial Eleitoral parcialmente procedente. Pedido de
reforma da decisão. Recorrente: Coligação Unidos Por Um Novo Caminho; Advogados: Dr.
Eduardo Henrique Farias da Costa e outros; Recorrente: José Clodoaldo Maximino
Rodrigues; Advogados: Dr. Eduardo Henrique Farias da Costa e outros.
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
Relator. Unânime. No mérito, após o voto do Relator que desprovia o recurso dos
investigados e provia parcialmente o recurso dos investigantes para reconhecer a prática
de conduta vedada tipificada no Art. 73, § 10, da Lei nº. 9.504/97, bem como o abuso de
poder político com viés econômico na parte referente à distribuição de bens, valores e
benefícios, cassando os diplomas de João Idalino da Silva e Demétrio Ferreira da Silva,
aplicando a estes e a Antônio Justino de Araújo Neto e Sofia Ulisses Santos Queiroz multa
no valor de cem mil Reais, bem como declarando a inelegibilidade desses quatro
investigados pelo prazo de oito anos, a contar das eleições de 2016, em conformidade
com os §§ 4º, 5º e 8º do Art. 73 da Lei 9.504/97, c/c o Art. 22, XIV, da LC nº. 64/90, com
determinação da convocação de novas eleições para os cargos de prefeito e vice-prefeito
do município de Dona Inês/PB, nos termos do Art. 224, §§3º e 4º, Inciso II, do Código
Eleitoral, acompanhado do Juiz Arthur Monteiro Lins Fialho, contra os votos do Juiz Antônio
Carneiro de Paiva Júnior, da Juíza Michelini de Oliveira Dantas Jatobá e do Juiz Sérgio Murilo
Wanderley Queiroga, que desprovia o recurso dos investigantes, acostando-se ao Relator
quanto ao desprovimento do recurso dos investigados, pediu vista o Juiz Márcio Maranhão
Brasilino da Silva. O Des. Joás de Brito Pereira Filho aguarda.
VOTO VISTA
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divergência quanto ao recurso da parte investigante, fundamentado na inexistência da
prática de abuso de poder e condutas vedadas aos agentes públicos, quanto à concessão
de benefícios sociais às pessoas carentes. Diante da complexidade da matéria tratada no
presente feito, pedi vista dos autos. Este é o breve relatório, Senhor Presidente, e sigo ao
voto: Inicialmente, quanto à alegada cessão e utilização de bens, materiais e servidores
públicos em benefício da candidatura dos investigados, precisamente o uso de um
compressor/cilindro de ar/oxigênio, acompanho o relator em todos os seus termos, razão
pela qual voto pelo desprovimento do apelo dos investigados, para manter o entendimento
da sentença que, reconhecendo a prática da conduta vedada, aplicou-lhes multa no valor
mínimo previsto em lei. Em relação ao recurso dos investigantes, também acompanho o
entendimento do nobre relator, que não reconheceu qualquer ilicitude eleitoral, no tocante
aos seguintes fatos: Contratação de servidores por excepcional interesse público e de
comissionados durante o ano de 2016; Distribuição de materiais de construção na véspera
do pleito e da distribuição gratuita de combustível; Distribuição Gratuita de Serviços,
mediante a utilização de tratores, escavadeiras, patrol, pás, carregadeiras e caçambas
pertencentes ao município de Dona Inês, para beneficiar proprietários de áreas rurais em
troca de votos. Assim, o objeto do meu pedido ficará restrito à análise da concessão de
ajudas financeiras supostamente realizadas com finalidade eleitoreira, durante o ano de
2016, no município de Dona Inês. Os recorrentes sustentam que a distribuição gratuita de
bens e valores durante o ano de 2016, ocorreu sem amparo em programa social regular
e, ainda, que houve desvirtuamento da Lei Municipal n.º 336/2001, diante da inexistência
de critérios objetivos para a concessão dos benefícios. Quanto a esse aspecto, os
recorridos alegam que não havia óbice à continuidade, durante o ano eleitoral, dos
programas sociais instituídos pelas referidas, uma vez que estavam em execução em
exercícios anteriores, com previsão em lei orçamentária, e, ainda, porque o município de
Dona Inês teve decretada situação de emergência, durante o referido ano de 2016.
Analisando atentamente o presente feito, acompanho as conclusões do relator,
observando que houve, efetivamente, a distribuição gratuita de bens, valores e serviços
pela Prefeitura Municipal de Dona Inês sem qualquer critério objetivo para a sua concessão,
diante da inexistência de programa social autorizado por lei e em execução orçamentária
em ano anterior. Com efeito, as Leis nº 336/2001 e 674/2014 demonstram que não
existe qualquer indicativo de especificidade nos mencionados regramentos, no sentido de
validar a concessão de ajuda a pessoas carentes no município. Ademais, não existe
sequer um cadastramento das pessoas consideradas vulneráveis no município de Dona
Inês, bastando um requerimento para beneficiar de maneira pontual qualquer cidadão da
localidade, sem qualquer acompanhamento ou comprovação de efetiva carência. Não se
pode olvidar que no RE 1-24/AIME Bananeiras, ao comparar as ações desenvolvidas
naquele município pela prefeitura municipal, foi apontado que o Programa Bolsa
Universitária era um exemplo bastante coerente de programa social devidamente
regulamentado e com previsão orçamentária específica. Na mencionada AIME, foi
devidamente comprovado que o regramento do Bolsa Universitária instituiu um programa
social regular, com objetivos definidos, valor e forma de desenvolvimento. Consoante se
percebe, é perfeitamente possível, mesmo em pequenos municípios, que o administrador
público cumpra critérios definidos, dentro dos limites estabelecidos em lei e com o devido
acompanhamento social. Já no caso em comento, as doações efetuadas com base em leis
municipais seguem o caminho inverso, visto que possibilita ao administrador municipal um
poder irrestrito na concessão de benefícios sociais, sem qualquer critério objetivo,
tornando o normativo um verdadeiro “cheque em branco” para a concessão de benesses.
Também é certo que as leis em questão autorizam despesas em várias ações da
prefeitura municipal, razão pela qual jamais poderiam ser consideradas leis instituidoras de
programa social específico. Esclarecidos tais pontos, passo a analisar a situação de
emergência no município de Dona Inês. Alegam os recorrentes que o prefeito municipal
decretou o estado de emergência no mencionado município através dos Decretos
Municipais, que estão descritos no meu voto. Consoante enfatizado pelo nobre relator, os
mencionados decretos também não podem servir de fundamento para a distribuição
indiscriminada de bens e valores, que nenhuma relação possuem com os efeitos da seca
enfrentados pela população de baixa renda, a exemplo de doações referentes à realização
de viagens, aquisição de óculos, eventos culturais ou mesmo reparos em residência e
aluguel. Nota-se que o próprio decreto emergencial restringe as hipóteses para a sua
aplicação, nos seguintes termos: “Considerando a urgência da situação vigente ficam
Notas Taquigráficas 26 (0705808) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 81
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dispensados de licitações ou aquisição de bens e serviços necessários as atividades de
respostas ao desastre, de prestação de serviços e de obras relacionadas com a
reabilitação do cenário do desastre, desde que possam ser concluídas no prazo estipulado
em lei”. E foi grifado. Ou seja, a situação emergencial do município de Dona Inês, por si só,
não pode servir de justificativa à distribuição de auxílios financeiros, realizada em ano
eleitoral, observando-se, no caso em comento, um total de 127 (cento e vinte e sete)
empenhos, com 126 (cento e vinte e seis) pareceres sociais emitidos, totalizando 103
(cento e três) beneficiários, sem qualquer critério legal, citando como exemplo até
mesmo o pagamento de ajuda financeira para fazer face à compra de figurinos e despesa
com costura para quadrilha Junina Paraíba Forrozeira. A gestão dos bens e recursos
públicos deve ser dissociada de qualquer conveniência ou aspiração política, razão pela
qual compete à Justiça Eleitoral analisar se a concessão de benefícios sociais foi realizada
de forma objetiva e legal, tudo com o intuito de resguardar a legitimidade do processo
eleitoral. Nesse norte, não tendo sido demonstrada a instituição, por lei específica, de um
programa social de distribuição de auxílios financeiros, nem estando tal distribuição
justificada pelos decretos acima mencionados, conclui-se que restaram devidamente
comprovadas as condutas vedadas aos agentes públicos. O colendo TSE, em diversos
julgados, destaca que, mesmo nos casos de calamidade e estado de emergência, ou em
face de programas sociais autorizados em lei, deve haver especial atenção do gestor no
que tange à execução financeira e administrativa da distribuição gratuita de bens e
serviços, não devendo existir qualquer abuso do permissivo legal, com a distribuição
indiscriminada de benefícios. Assim, demonstrada afronta ao disposto no art. 73, § 10, da
Lei nº 9.504/97, necessário a análise da conduta também sob o prisma do abuso de
poder político/econômico. Nesse ponto, ressalto que o meu entendimento acerca da
caracterização do abuso de poder vem sendo delineado desde o julgamento da AIJE nº
1954-70, conhecida como AIJE da PBPREV, julgada no ano de 2017, onde enfatizei em
meu voto que o abuso de poder resta configurado quando o ato da administração
aparentemente regular e benéfico à população teve como objetivo imediato o
favorecimento de algum candidato. É o que ocorreu no caso sob exame. Valendo ressaltar
que também externei esse mesmo posicionamento recentemente numa AIJE que julgava a
cidade, o gestor da cidade de Bananeiras. Vale destacar que esta Justiça Eleitoral não é
competente para analisar o enquadramento das rubricas orçamentárias no município, até
porque tal debate deve ser realizado na Justiça Comum, em sede de improbidade
administrativa. Aqui, o enfoque somente deve ser relacionado sob o aspecto eleitoral da
conduta. Constata-se nos procedimentos colacionados aos autos vícios na concessão do
auxílio a pessoas carentes, a exemplo da total ausência de acompanhamento das
doações pela Secretaria de Assistência Social. Registre-se, aqui, que não se trata de
adentrar no mérito do ato administrativo, o que não é possível no âmbito da Justiça
Eleitoral, mas, apenas, indicar as falhas na concessão dos benefícios em afronta à própria
legislação que institui o benefício social. Desse modo, para a configuração do abuso, assim
como registrei no meu voto, relativo ao RE 1-24, de Bananeiras, também indago se a
concessão de auxílios a pessoas carentes, referentes à execução das Leis nº 336/2001 e
674/2014, demonstra ou não desvio de finalidade, visando a obtenção de votos e com
gravidade suficiente para lesionar a normalidade das eleições municipais no ano de 2016?
A resposta aqui também é afirmativa. O primeiro aspecto a ser considerado é a nítida
existência de reflexo eleitoreiro, considerando a anormalidade na concessão de auxílios
financeiros, e, ainda, o fato de que os benefícios eram concedidos sem qualquer critério
objetivo. É certo, ainda, que o comportamento dos gestores cria um sentimento de
gratidão entre os eleitores beneficiados, gerando grande desequilíbrio na disputa eleitoral.
Também não se pode deixar de considerar o proveito eleitoral obtido pelo candidato a
prefeito e o impacto gerado em diversas famílias que foram agraciadas com as doações, o
que evidencia o efeito multiplicador da conduta entre os beneficiados. A jurisprudência do
TSE aponta para a configuração do abuso de poder o seguinte, abro aspas sobre o item
quatorze da ementa: “14. O abuso de poder (isto é, econômico, político, de autoridade e
de mídia) reclama, para a sua configuração, uma análise pelo critério qualitativo,
materializado em evidências e indícios concretos de que se procedera ao aviltamento da
vontade livre, autônoma e independente do cidadão-eleitor de escolher seus
representantes. O critério quantitativo (isto é, potencialidade para influenciar diretamente
no resultado das urnas), conquanto possa ser condição suficiente, não perfaz condição
necessária para a caracterização do abuso de poder econômico. O fato de as condutas
Notas Taquigráficas 26 (0705808) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 82
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supostamente abusivas ostentarem potencial para influir no resultado do pleito é
relevante, mas não essencial. Há um elemento substantivo de análise que não pode ser
negligenciado: o grau de comprometimento aos bens jurídicos tutelados pela norma
eleitoral causado por essas ilicitudes, circunstância revelada, in concrecto, pela magnitude
e pela gravidade dos eventos praticados”. Voto da lavra do Ministro Luiz Fux, de
02/05/2017. O abuso de poder político/econômico é patente no caso em comento, diante
do elevado dispêndio de recursos públicos e com nítido desvio de finalidade, no tocante à
concessão de benefícios sociais durante o ano de 2016, em município de pequeno porte.
Ou seja, a conduta dos recorridos comprometeu a paridade de armas, prejudicou a
normalidade e a legitimidade do pleito, atingindo, frontalmente, os bens jurídicos tutelados
pela legislação eleitoral. Por fim, assim como enfatizado no voto do relator, também cito a
pequena diferença entre o primeiro e o segundo colocados no pleito, qual seja, trinta e três
votos. Das Penalidades...
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MARCOS ANTONIO SOUTO MAIOR FILHO:
Eminente Desembargador Márcio, Vossa Excelência me permite um esclarecimento
de fato?
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MARCOS ANTONIO SOUTO MAIOR FILHO:
Vossa Excelência nesse seu voto levou em consideração que não houve aumento da
quantificação, é um questionamento, na verdade, junto com um fato, que não houve
aumento da quantidade de gastos relativamente aos exercícios anteriores e posteriores?
E bem ainda, levou em consideração o caso de Riachão? Só isso, Excelência.
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
e no parecer ministerial: Afirmou que reside há 20 anos no Sítio Cruz da Menina, em Dona
Inês. Que naquela comunidade todos são da mesma família. Que é técnica em edificações.
Chamo atenção para este ponto agora: Que sua tia Rosinete lhe disse que recebeu com
seu filho, Micélio, 1000 tijolos e 10 sacos de cimento para votarem no candidato João
Idalino, bem como sua prima, Viviane, recebeu PVC, com o mesmo intuito. Que os tijolos e
o cimento já teriam sido utilizados, mas o PVC ainda estaria guardado. Que o então
Prefeito Antônio Justino e os candidatos a prefeito e a vice, respectivamente, João Idalino e
Demétrio, fizeram uma visita na casa dos três, no sábado antes da eleição e que o
material foi entregue na segunda, após o pleito. Que Sérgio Teófilo, seu primo, líder
comunitário e artesão teria indicado aos investigados os nomes dos eleitores indecisos e
que no dia da visita aos três eleitores citados, ele estava presente, mas afirmou que no
dia da entrega dos materiais nenhum dos investigados estava presente e que não viu os
investigados ofertando os materiais em troca de voto. Que sua tia que teria lhe
confessado esse fato e a prima Viviane”. Nota-se que a aludida testemunha nada
presenciou acerca dos empenhos e doações efetuadas pela Secretaria de Ação Social,
apenas relatou a suposta visita dos investigados, ou seja, apenas ouviu dizer. Além do
mais o depoimento acima sequer foi corroborado, pelo que cito: Rosinete Pereira da Silva,
agricultora e também moradora do Sítio Cruz da Menina: “Em seu depoimento asseverou
que Graciane é sua sobrinha. Que não foi beneficiada com material de construção e que
não construiu nada em 2016. Que conhece os Investigados Antônio Justino, João Idalino e
Demétrio, mas não foi por eles procurada com o oferecimento de nenhuma vantagem em
troca de voto.” O depoimento de Micélio Manoel da Silva relata uma visita dos
investigados, mas sem qualquer vinculação com a distribuição de benefícios sociais: “ Que
recebeu a visita de Antônio Justino, João Idalino e Demétrio, sem a presença de Sérgio
Teófilo, não lembra em que período, tendo havido na ocasião pedido de voto, como
fizeram os outros candidatos, porém sem vinculação a nenhuma benesse”. Na linha da
remansosa jurisprudência do TSE, a inelegibilidade constitui sanção de natureza
personalíssima, de modo que não se aplica ao mero beneficiário dos atos abusivos, mas
apenas a quem tenha contribuído, direta ou indiretamente, para a prática de referidos
atos. No caso, os candidatos recorrentes foram condenados apenas na qualidade de
beneficiários da conduta configuradora de abuso de poder. Não ficou comprovada sua
contribuição, direta ou indireta, para a prática dos atos abusivos, de modo que não há
como aplicar-lhes a sanção de inelegibilidade”. Este precedente é o REspe 42270, Relator
o Ministro Luís Roberto Barroso, publicado em 27/06/2019. Assim, não há que se falar em
pena de inelegibilidade cominada aos então candidatos a prefeito e vice-prefeito,
porquanto a prova colacionada aos autos não permite concluir
sua participação ou anuência com os fatos ilícitos. No tocante à aplicação da pena de
multa, acompanho o relator, ponderando, entretanto, uma necessária redução em seu
quantum, entendemos pela aplicação do princípio da proporcionalidade e da razoabilidade
para estabelecer a mesma no valor de R$ 60.00,00 (sessenta mil reais), nos termos do
art. 73, §§ 3º e 4º da Lei nº 9.504/97, aos investigados João Idalino da Silva , Demétrio
Ferreira da Silva, Antônio Justino de Araújo Neto e Sofia Ulisses Santos Queiroz, reduzindo
em relação aos candidatos meramente beneficiários, João Idalino e Demétrio, o valor para
R$ 30.00,00 (trinta mil reais), uma vez que estes não contribuíram diretamente para a
prática do ato ilícito. A aplicação do princípio da proporcionalidade e da razoabilidade
quanto à penalidade de multa por condutas vedadas já foi adotada por este egrégio
Tribunal, pelo que cito precedente de relatoria do eminente Des. José Ricardo Porto. No
item 9 da ementa: “Proporcionalidade na aplicação da pena de multa: Conforme
precedentes do Tribunal Superior Eleitoral, a penalidade de multa prevista no art. 73, § 4º
da Lei 9.504/97, deve ser pautada pelo princípio da razoabilidade e da proporcionalidade.
No caso concreto, verifica-se que, aplicando-se o juízo de proporcionalidade, é suficiente
para proteger o bem jurídico tutelado pela norma, a aplicação da multa aos autores das
condutas bem como aos candidatos beneficiados (§§4º e 8º do Art. 73 da Lei 9.504/97)”.
Essa AIJE foi julgada em 30/07/2019 e publicada em 11/09/2020. Por fim, acompanho o
entendimento do relator, razão pela qual voto pelo provimento parcial do recurso dos
investigantes para, reconhecendo a prática da conduta vedada tipificada no art. 73, §10,
da Lei n.º 9.504/97 e o abuso de poder político com viés econômico, na parte referente à
distribuição de bens, valores e benefícios, cassar os diplomas de prefeito e vice-prefeito de
João Idalino da Silva e Demétrio Ferreira da Silva, no município de Dona Inês/PB. É como
voto, Senhor Presidente.
Notas Taquigráficas 26 (0705808) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 84
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
COM A PALAVRA O EXMO. SR. DESEMBARGADOR JOÁS DE BRITO PEREIRA FILHO
(PRESIDENTE EM EXERCÍCIO):
Pois não. Então Vossa Excelência está desprovendo o recurso dos investigados...
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
norma, como há aqui no caso de Dona Inês e de Bananeiras. E agora eu vejo esse novo
entendimento sendo exposto, e o bonito do colegiado é exatamente isso, mas aí eu faço
essa ponderação e peço até licença para dizer, com toda a humildade, por ser o juiz mais
antigo que integra esta Corte, já próximo de me despedir, porque eu não vi no voto de
Sua Excelência, e aqui, Dr. Márcio, não vai nenhuma crítica, em absoluto, Vossa
Excelência conhece já a forma da gente trabalhar, mas eu não vi Vossa Excelência se
referir a essa preocupação com a segurança jurídica das nossas decisões e com o respeito
às decisões do colegiado, do espírito colegiado das decisões. Então nós estamos diante de
uma possibilidade de revisitar e mudar drasticamente o posicionamento do Tribunal. E isso
me preocupa porque é com relação ao mesmo pleito eleitoral, com relação a fatos muito
menos gravosos e, me permita dizer, nós estamos discutindo teses jurídicas. Vossa
Excelência destacou no seu voto, e eu anotei aqui, algumas questões que me deixaram
muito preocupado com relação a essa questão de Dona Inês. Vossa Excelência disse o
seguinte: é preciso ter em vista o enfoque eleitoral da conduta, e me deu a entender, eu
quero que Vossa Excelência me corrija, eu posso estar equivocado, mas houve uma
interpretação, e aí merece todas as nossas vênias e todo o nosso respeito, essa
conclusão na formação do convencimento de Vossa Excelência, de uma forma genérica.
Qual é o fato específico dentro do processo que levou, ou pode nos levar, e eu estou aqui
até para rever o meu entendimento, de que houve por parte desses investigados um
enfoque eleitoral dessa conduta, se não práticas rotineiras de anos e anos de aplicação de
uma lei. O fato em si...
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
COM A PALAVRA O EXMO. SR. DESEMBARGADOR JOÁS DE BRITO PEREIRA FILHO
(PRESIDENTE EM EXERCÍCIO):
Dr. Márcio pretende esclarecer alguma coisa?
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CPC é obediência aos precedentes, manifestar o meu entendimento contra uma Súmula
do Supremo Tribunal Federal. O juiz ele tem que criar. Nós, no campo da ciência do
Direito, criamos teses. E essas teses é que fazem, exatamente, o Direito ter essa beleza,
que eu considero beleza de uma arte. Muito obrigado e prometo, se possível, não voltar
mais e parabenizo, como sempre, a interferência lúcida, brilhante, fulgurante do Dr.
Antônio Carneiro, a quem eu tenho e rendo as maiores homenagens.
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utilizar, ao cúmulo de se utilizar, e aí o Tribunal até agora tem reconhecido essa situação,
inclusive Vossa Excelência, utilizar oxigênio de um Tribunal, oxigênio de um hospital,
perdão, para estar enchendo balão. Tem aqui...
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO:
Desembargador Márcio?
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(PRESIDENTE EM EXERCÍCIO):
Pois não, se for matéria de fato.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA:
Senhor Presidente, se Vossa Excelência me permitir, é só para dois pequenos
esclarecimentos. Só para ser um pouco mais claro no meu voto, Senhor Presidente, em
relação a dois pontos que foram, ao menos indiretamente, a ele referidos. O primeiro
deles é que, na verdade, a gente não se pontua no fato de uma, digamos, precariedade
de assistência jurídica às câmaras de vereadores para entender como legítima uma
legislação que é produzida por um ente da federação. Ou seja, eu não posso como
julgador, penso eu, com todas as vênias, entender que a lei federal, no seu campo de
atuação, ela é superior a uma lei municipal no seu campo de atuação. Então, em que pese
seja uma verdade que as assessorias jurídicas dos municípios interioranos, pequenos, elas,
muitas vezes, são precárias, a situação apresentada não é essa. Ela faz parte daqueles
artigos que li na Lei de Introdução às Normas e Diretrizes do Direito Brasileiro, o art. 21,
22 e 23. É que o julgador deve interpretar voltando os olhos para as precariedades
estruturais com as quais o gestor se depara. E aí é onde eu penso: exigir de um município
de dez mil habitantes que ele tenha tantas linhas legislativas e de atuação como tem um
ente Estado ou como tem o ente União, aí eu penso que é não observar aquilo que a lei
determina ao julgador quando estiver se deparando com uma situação dessa. Tanto que,
aí eu peço vênias ao Tribunal, até o presente momento, com todas as vênias, eu me resto
em dúvida a saber se a lei municipal que estabelece, autoriza o gestor a atender aos
pleitos da população carente, se isso é uma lei de programa social ou não, coisa que o
Tribunal, aí é onde eu volto a dizer, sempre entendeu que era. E aí vem apenas o segundo
ponto de observação para eu encerrar minha manifestação, deixando claro isso, ou seja,
esse ponto em que eu me ancoro, me respaldo, não diz respeito à deficiência de
assessoria jurídica, de jeito nenhum, o ponto não é esse; espero ter sido claro quanto ao
esclarecimento. E aí vem o outro ponto: é preciso que a Corte então dê segurança jurídica
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à comunidade jurídica e à comunidade política de dizer o que é uma lei de programa social.
Porque, quando a gente tem uma lei, o §10 do art. 73, ele proíbe algumas condutas e
excepciona permitindo as condutas proibidas. Então, é muito fácil a interpretação disso.
Se ele proíbe pintar de vermelho, azul e amarelo, mas um pouco à frente, diz: mas se
tiver um decreto de calamidade pública pode, então, é porque pode pintar de vermelho,
azul e amarelo. Então, se ele diz: é vedado distribuir bens, atender, eu prefiro chamar
dessa forma, essa população carente, é proibido no ano de eleição. Porém, se estiver
decretado estado de calamidade e se tiver uma lei, ou, na verdade não é ‘e’, é ‘ou’ se
tiver uma lei de programa social, pode tudo aquilo que a lei está proibindo. E o que é que a
lei proíbe? Distribuir bens, benesses em ano de eleição. Mas se observar isso, pode. Então,
quando é que o gestor pode? Porque, até o presente momento, a Corte sinalizou o que
pode. Tem uma lei, aí eu pergunto: a Corte, é preciso que isso fique claro, a Corte está
declarando a inconstitucionalidade dessa lei municipal? É preciso que isso fique
estabelecido para a parte ter uma noção do que ela, ou seja, a partir de agora o gestor vai
poder cumprir ou não cumprir essa legislação? É só isso, Presidente, não tem, é possível,
sem sombra de dúvidas, conforme a lição do eminente Relator, o Tribunal evoluir no seu
entendimento e proferir ou acolher uma nova tese, mas sempre lembrando as regras
estabelecidas para isso. Ou seja, o TSE, por exemplo, ele é pródigo em sinalizar, quando
ele reformula uma tese, em dizer: isso só vale para as próximas eleições, para que as
partes não sejam pegas de surpresa a partir desse novo entendimento. E isso são pontos
que já levantei quando do meu voto originário. Então, finalizo aqui, Presidente, só para
deixar claro esses dois pontos contidos no meu voto e agradeço a paciência da Corte em
ouvir-me.
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com a legislação eleitoral e distribuição de serviços, consistentes no uso de tratores,
escavadeiras, patrol, pás carregadeiras e caçambas, com o intuito de angariar votos;
distribuição de materiais de construção às vésperas da eleição; cessão e utilização de
bens, materiais e servidores públicos em benefício dos candidatos investigados e de sua
coligação; oferta de gasolina em troca de votos com a utilização de servidor público na
ocasião, residindo em tais pontos a questão controvertida devolvida no recurso eleitoral
dos investigantes. Em seu voto, o Relator desproveu o apelo dos investigados e dando
provimento parcial ao Recurso dos investigantes – isso já está dito por todos, vou pular
essa parte. E continuo, dizendo o seguinte: De início, registro que comungo o mesmo
entendimento de Sua Excelência o Relator em relação às condutas e aos fatos devolvidos
ao exame desta Corte, enumerados nos itens 1 a 5 do voto do Relator – inclusive isso foi
matéria unânime de todo o Tribunal. Todavia, dada a relevância do tema explorado no
item 2.2, exatamente o ponto, o cral da questão, do Voto do Relator e de meu
convencimento pessoal acerca dos elementos caracterizadores do disposto no artigo 73,
§10 da Lei das Eleições, passo a explanar meu voto: Da Distribuição de auxílios financeiros
bens em desconformidade com a legislação eleitoral. De início, registro que os bens
públicos são disponibilizados aos agentes públicos exclusivamente para que possam
exercer suas funções e atuar em benefício do interesse comum. Lamentavelmente, no
Brasil, tem-se a histórica a reiterada prática de utilização do patrimônio público pelos
gestores em benefício próprio e de suas campanhas eleitorais ou dos respectivos
apadrinhados políticos. Assim, objetivando coibir o uso indevido da máquina administrativa,
a Lei das Eleições trouxe expressamente o rol de condutas vedadas aos agentes públicos
durante o ano e o período eleitoral. Cito o dispositivo, que vou deixar de ler, estou
avançando aqui, no que posso. E continuo dizendo: Como é sabido, as condutas vedadas
são consideradas uma espécie do gênero do abuso de autoridade, sendo assim, pode ser
caracterizada de forma objetiva simples (artigos 73 e 74 da Lei n° 9.504/97) - numerus
clausus ou de forma ampla e qualificada (abuso de poder político), ensejando a
inelegibilidade do candidato, quando tal conduta afetar a normalidade da eleição. Destaquei
o § 10 do artigo 73, em razão de ter sido exatamente esse dispositivo invocado pelos
Investigantes como tendo sido afrontado pelo então Prefeito Antônio Justino de Araújo Neto
para obter dividendos políticos em favor das candidaturas de João Idalino da Silva,
Demétrio Ferreira da Silva (candidatos aos cargos majoritários) e José Igor Denizar Costa
da Silva, vereador reeleito, contando com o auxílio e a participação de Sofia Ulisses Santos
Queiroz, Secretária de Assistência Social e Habitação e de Caliny Muniz de Lima, Secretária
Adjunta, que passou a responder pela pasta. Importante ressaltar que o legislador pátrio
estabeleceu exceções à configuração desta hipótese de conduta vedada: casos de
calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei
e já em execução orçamentária no exercício anterior. Dito isso, considerando que não há
controvérsia nos autos acerca dos empenhos referentes às doações patrocinadas pelo
Ente Municipal, os quais foram acostados pelos próprios investigados, impõe-se verificar se
alguma dessas ressalvas legais estão lastreadas nos presentes autos. Farei a análise de
cada uma delas. O §10 do art. 73 estabeleceu a exigência de que os programas sociais,
objeto da distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração
Pública sejam não apenas autorizados em lei, mas estejam em execução orçamentária no
exercício anterior ao pleito. Tal requisito busca evitar o aumento de dispêndios
indevidamente abrigados sob o manto de despesas com assistência social, mas que na
verdade configuram utilização da máquina pública para garantir vantagem indevida a um
dos candidatos ensejando desequilíbrio no pleito. No caso dos autos, pode ser comprovada
a distribuição gratuita de bens, valores e benefícios, por meio da Secretaria de Assistência
Social e Habitação, consistentes em custear, utilizando-se a rubrica 339048, passagens
intermunicipais, despesas com material escolar, exames oftalmológicos, material de
construção, despesas com figurino e costura para quadrilha junina, aquisição de óculos,
pagamento de aluguel, compra de medicamentos, ferramentas agrícolas, expedição de
documentos pessoais, compra de enxoval, dentre outros. Aduzem os investigados que a
concessão dos referidos auxílios financeiros tinha fundamento em normas legais e citam
as Leis Municipais 336 e 674, 336/2001 e 674/2014 - Inclusive a Lei 674 veio ampliar
mais ainda o poder do gestor de fazer o bem entender de doações, ela vem ampliar. Na
verdade, a lei de 2001 é mais tímida; a de 2014 veio dizer: não, agora eu posso tudo - a
Resolução nº 18/2014, os Decretos nºs 1013/2001 e 1247/2015, além dos Decretos
Estaduais e Portarias da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil que reconhecem a
Notas Taquigráficas 26 (0705808) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 92
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situação de emergência no município de Dona Inês. Então, mister se faz a análise dos
diplomas indicados, sendo que, em observância à expressa determinação contida no § 10
da Lei das Eleições, acima transcrito, o exame será feito no teor e disciplinamento
estabelecido nas Leis Municipais nºs 336/2001 e 674/2014. E transcrevo o dispositivo da
lei, bem longo. E passo, continuo dizendo o seguinte: O exame das leis acima transcritas
revela facilmente que não instituem programa social algum. De bom alvitre, esclarecer que
um programa social é uma iniciativa destinada a melhorar as condições de vida de uma
população. Entende-se que um programa deste tipo poderia ser orientado para a toda a
sociedade ou, pelo menos, para um setor importante que tem certas necessidades ainda
por preencher. Destarte, os programas sociais envolvem o levantamento de informações,
mapeamento das dimensões sociais relevantes, o trabalho de servidores capacitados,
plano de trabalho, disponibilização de instrumentos e equipamentos públicos, além da
alocação de recursos orçamentários e cronograma de desembolso para fazer face aos
objetivos planejados. Ademais, para boa execução de um programa de natureza social,
faz-se mister o monitoramento contínuo das ações e resultados alcançados, diagnóstico
das falhas e fragilidades identificadas na execução, com o escopo de subsidiar a
intervenção oportuna e a correção tempestiva para o atingimento de seus resultados e
impactos. Não é demais lembrar que se impõem aos gestores também o controle e a
prestação de contas das ações empreendidas, assim como a transparência em todas as
fases do procedimento. De relevante importância trazer à colação as lições bem
aprofundadas pelo Ministro Luiz Fux acerca do tema. Diz o Ministro Fux: “No que respeita
ao primeiro ponto, rechaço a tese de que a excludente constante do art. 73, § 10, da Lei
das Eleições aplica-se, automaticamente, a toda e qualquer espécie de programa social.
Pelo contrário, consigno que o reconhecimento da causa supressora de ilicitude demanda
a realização de uma análise bidimensional, a envolver um viés formal e outro substantivo
(ou material). Seria um reducionismo, para fins de aplicação da exceção inserta no art.
73, § 10, da Lei das Eleições, consignar que a mera previsão normativa de metas e de
objetivos no Plano Plurianual e na Lei de Diretrizes Orçamentárias, com vistas à satisfação
de direitos prestacionais, bastaria para evidenciar a presença de um programa social
capaz de manter a indigitada política pública no campo da legalidade eleitoral. É preciso,
para além disso, que se proceda a um exame que transcenda o aspecto estritamente
jurídico-formal, de sorte a considerar, igualmente, se houve (ou não) a observância, no
plano fático, das invocadas finalidades a que os programas se destinam. Noutros termos,
o que se afirma é que nem toda política pública com a roupagem de programa social atrai,
somente por isso, a exceção prevista no § 10 do art. 73 da Lei das Eleições, de modo a
afastar a configuração do ilícito de conduta vedada. Na verdade, é necessário que o
magistrado considere a presença de um elemento substantivo. Em termos diretos, é
evidente que o programa social deve ser estipulado e executado com finalidades legítimas
e idôneas e em estrita consonância com o quadro legal de regência. Ausentes esses
apanágios, descabe cogitar da existência de um programa social efetivamente apto a
figurar como excludente de ilicitude, para fins de afastamento das penas afetas à
transgressão constante do art. 73, § 10, da Lei das Eleições. Essa linha de raciocínio
interdita, ilustrativamente, que programas criados supostamente para a consecução de
fins sociais atuem como excludentes de ilicitude eleitoral, quando, a rigor, sua
implementação albergue finalidades espúrias, tendentes a vilipendiar a igualdade de
chances entre os players. Não se trata, em absoluto, de questionar a elaboração de
políticas públicas direcionadas aos desfavorecidos, mas, sim, de evitar desvios de
finalidade identificados em projetos cuja função precípua seja a captação de voto, em troca
do oferecimento de bens, valores ou serviços públicos. Eis, portanto, a conclusão
inescapável: se a roupagem de programas sociais visa apenas a conferir um verniz de
legitimidade a certa política pública, é possível reconhecer a existência dessa forma
particular de abuso de poder, ainda que estejam devidamente autorizados em lei e já em
execução orçamentária no exercício anterior. Isso posto, reitero que as hipóteses
constantes dos arts. 73 a 78 da Lei das Eleições firmam um elo entre o princípio
republicano e um de seus principais corolários, a isonomia nas condições de acesso aos
cargos de representação política. Com esse espírito, cuidam de assegurar o nivelamento
das disputas, mediante o afastamento de privilégios e desigualdades aptos à
descaracterização de sua verdadeira essência. (Recurso Ordinário nº 126462 –
Aracaju/SE, Acórdão de 28 de junho de 2018, Relator Ministro Luiz Fux). Conquanto o
Colegiado do TSE ao examinar o referido RO não tenha adentrado ao mérito do Recurso,
Notas Taquigráficas 26 (0705808) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 93
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dado o reconhecimento da prejudicial de decadência naqueles autos, o magistral estudo
empreendido pelo Ministro Fux muito esclarece acerca do que deve ser entendido como
programa social. Assim, no caso sub exame, fácil concluir pela ausência de elementos
mínimos, nos normativos do Município de Dona Inês destacados, que demonstrem sequer
a intenção de implementar um programa social. Ao contrário, observa-se que o legislador
mirim cuidou apenas de elencar as mais diversas hipóteses de apoio financeiro ou
material, caracterizando-se por ações desprovidas de intuito duradouro ou mesmo da
operacionalização de uma política pública propriamente dita. Resumindo: uma política
assistencialista, configurada numa espécie de cheque em branco. Repito o que já foi dito
anteriormente por vários outros, cheque em branco para que o gestor distribua benesses
como bem lhe convém. Nesse sentido, muito bem pontuou a ilustre Representante do
Ministério Público Eleitoral na 14ª Zona, “tais doações não encontram nenhum amparo na
Lei nº Federal 8.472/93 – Lei Orgânica da Assistência Social, pois destituídas de efeito
mínimo na redução igualitária da pobreza, além de não atenderem aos requisitos de
eficiência do gasto público em assistência social, já que não integram uma real política
assistencial planejada e estruturada para uma duradoura inclusão social de pessoas
carentes.” A transferência de valores ou bens a pessoas de grupos tidos como
desprivilegiados, tal como institucionalizada no município de Dona Inês, é incapaz de
representar avanço social ou contribuir para diminuição da distância social que os separa
dos mais favorecidos. O fato de ter havido despesas no ano anterior sob o mesmo
fundamento não tem o condão de esmaecer o pressuposto legal consistente na existência
de programa social efetivamente em execução. Sobre tal questão, a jurisprudência do TSE
é pacífica no sentido de que "a mera previsão na lei orçamentária anual dos recursos
destinados a esses programas não tem o condão de legitimar sua criação" (AgR-Al n°
116967/RJ, Ministra Relatora Fátima Nancy Andrighi, publicado no DJE de 17 de agosto de
2011). Acerca do tema, trago à colação o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral em
vários julgados – e cito alguns julgados do Tribunal Superior. Vou disponibilizar depois o
meu voto, estou tentando ser mais breve, vou tentar resumir, pulo essa parte dos
acórdãos do TSE. Por importante, transcrevo abaixo trecho do voto de Sua Excelência o
Ministro Gilmar Mendes, que muito bem enfrenta a questão: Extraio do acórdão Regional
(fl. 2.739v.-2.741v.): Pois bem, analisando a documentação constante dos autos, verifico
que há a comprovação da assistência prestada a pessoas carentes do município, através
de ajuda financeira para compra de cestas básicas, passagens rodoviárias, confecção de
próteses dentárias, pagamentos de exames médicos, entre outras, demonstradas
através de notas de empenho, recibos e notas fiscais, além de demonstrativos fiscais nos
quais se afere que as despesas com programas sociais realmente ocorriam desde o ano
de 2005. No entanto, não consta dos autos comprovação de legislação autorizadora da
instituição de programas de assistência social no município de Ribeira do Piauí. Assim, em
que pese o argumento dos recorridos de que o fornecimento de cestas básicas e outros
bens e serviços a famílias carentes ocorria desde o ano de 2005, ou seja, que já era
executado em anos anteriores, não se comprovou que o programa social estaria
autorizado em lei. Desse modo, se não há lei autorizadora do programa, não pode o
prefeito, sob o argumento de que o programa já era executado há alguns anos, mantê-lo.
Se isso fosse possível, o § 10 do art. 73 da Lei nº 9.504/97 restaria letra morta, pois o
mandatário, sem previsão legal expressa, poderia desvirtuar o sentido do programa social
conforme instituído em lei. Se o legislador não fez essa opção, não pode fazê-la o Chefe do
Executivo, que não tem função legislativa; a regra de previsão legal decorre exatamente
da necessidade de impedir a manipulação eleitoreira de programas sociais pelos
detentores do poder. De fato... – continua o ministro. De fato, o art. 73, § 10, da Lei das
Eleições proíbe a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios pela administração
pública no ano das eleições, por ser conduta tendente a afetar a igualdade de
oportunidades dos concorrentes ao pleito. Apenas excepcionalmente a lei eleitoral admite
a entrega dos bens, por exemplo, por meio de programas sociais autorizados em lei e já
em execução orçamentária no exercício anterior. Conquanto os agravantes aleguem ser
suficiente a previsão orçamentária dos gastos para o enquadramento da hipótese na
permissão legal, ressalto que a jurisprudência do TSE é pacífica no sentido de ser
necessária a lei específica que institua o programa social, além de sua execução
orçamentária no ano anterior às eleições, porquanto apenas à lei cabe inovar no
ordenamento jurídico. Já digo eu: Demais disso, consta da sentença o aumento no número
de empenhos, bem como no valor dispendido, sendo considerados especialmente os
Notas Taquigráficas 26 (0705808) SEI 0005922-57.2020.6.15.8000 / pg. 94
Assinado eletronicamente por: ANALIA CASTILHO DA NOBREGA - 23/11/2020 10:56:56 Num. 7769797 - Pág. 136
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exercícios de 2015 – 132 empenhos e 26.705,00; e 2016 – 162 empenhos e 37.535,00
– valor em números. Conquanto os valores e quantitativos de outros anos também sejam
significativos, atenho-me aos efeitos do crescimento do número de beneficiários e verbas
públicas empregadas no ano de eleições municipais. À propósito, veja-se que não cabe o
questionamento acerca da existência de caráter eleitoreiro para afastar a caracterização
da conduta vedada. Tal assertiva encontra respaldo na jurisprudência do Tribunal Superior
Eleitoral que firmou a compreensão de que, “para caracterizar a conduta vedada prevista
no art. 73, § 10, da Lei 9.504, não é necessário demonstrar caráter eleitoreiro ou
promoção pessoal do agente público, bastando a prática do ato ilícito” (AgR-REspe
36.026/BA, Relator Ministro Aldir Passarinho Junior).
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO:
Des. Joás, se Vossa Excelência me permite.
Assinado eletronicamente por: ANALIA CASTILHO DA NOBREGA - 23/11/2020 10:56:56 Num. 7769797 - Pág. 137
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Cumpre-me agora estabelecer um paralelo entre o caso em disceptação com outros
análogos apreciados pelo Pleno deste Tribunal. E faço esse paralelo, cito aqui o caso do
eminente Juiz Sérgio Murilo, a quem rendo todas as minhas homenagens; e, mais
recentemente, o caso de... que vou deixar de transcrever, que todos já falaram nele; o
caso também... estou pulando essa parte, que é a transcrição; o caso também, Recurso
Eleitoral nº., de relatoria do Dr. Rogério, Acórdão do TRE, não vi qual foi o município, deixa
eu ver, no começo: Eleições; Ação de Impugnação de Mandato Eletivo... O caso de
Bananeiras. Também trago transcrição do voto de Bananeiras. Ressalto que ainda - e volto
a dizer o que já disse no início - não integrava esta egrégia Corte quando dos julgamentos
mencionados e, com as vênias necessárias, não me convenço de que a Justiça Eleitoral
pode minimizar a exigência legal, ou mesmo dar-lhe interpretação diversa. No mínimo, no
mínimo, o que se poderia exigir e poderia até afastar essa conduta, seria o caso do gestor
manter as mesmas pessoas que já estavam no plano, se fosse algum plano efetivamente,
mas não, é aleatório, você dar a quem bem você quiser, e o que você quiser. As
narrativas se repetem demasiadamente como se copiadas fossem de um mesmo
receituário padrão, fazendo transparecer que os gestores municipais dos municípios
interioranos têm adotado uma espécie de metodologia de gestão em que ações
administrativas são rotuladas de políticas públicas que, ao invés de combater a exclusão
social, por meio de programas institucionais organizados e monitorados, promovem
medidas meramente assistencialistas. Parece bem conveniente conferir a um rol de atos
administrativos praticados em ano eleitoral a mesma aparência de normalidade dos atos
ordinários praticados no dia a dia da gestão, sob o pálio do poder discricionário do
administrador, e sobretudo visando não aparentar que seus efeitos não geram reflexos no
sufrágio e na lisura da conquista do mandato popular. O aliciamento capaz de desvirtuar a
livre convicção do eleitor é aquele que o atinge direta e individualmente. Ao distribuir
auxílios financeiros de forma meramente subjetiva, o gestor adquire simpatia e conquista,
não raro, sentimento de gratidão pelo beneficiado e sua família. Assim, evidencia-se a
quebra do equilíbrio dos candidatos na competição legítima pela conquista do voto livre,
sem qualquer relação com o patrocínio de ações custeadas pelo Erário. Nessa vertente, o
Relator bem se posicionou, transcrevo voto do eminente Relator, Des. José Ricardo Porto:
“No meu modesto conceber isso ocorre porque, se de um lado, a precariedade da
estrutura administrativa local pode fazer o olhar consequencialista deste Tribunal pender
para a proteção da assistência social, de outro, incomoda a mensagem que estamos
passando para o gestor no sentido da desnecessidade adequar a sua gestão a comandos
normativos que estão em vigor desde 2006, ano em que a norma do art. 73, §10 foi
inserida na Lei das Eleições, por força da Lei nº 11.300. Ou seja, já se passaram
aproximadamente 14 anos desde que o dispositivo entrou em vigor, de modo que, ao
meu sentir, respeitosamente, também deve este Tribunal se preocupar, sobretudo em um
ano eleitoral como este que vivemos, em incentivar posturas corretas de qualquer gestor
quanto a observância da lei eleitoral, com a finalidade de obstacular o desequilíbrio do
pleito”. - Palavras do eminente Relator. E continuo: Com efeito, também vejo a
importância da atuação desta Justiça Especializada no sentido de, ao exigir a comprovação
de programa social, dando efetividade à norma posta, mediante a aplicação das sanções
cabíveis, alertar aos gestores sobre as consequências de tal inobservância. É possível que,
no futuro não muito distante, sejam minimizadas as práticas nefastas que pouco ou nada
contribuem para o real desenvolvimento de políticas públicas voltadas a implementar
melhoria nas condições de vida da população. Não há programa social implementado no
Município de Dona Inês. Repiso que a defesa não se desincumbiu do ônus de demonstrar
sua efetiva existência, conforme expressei no teor deste voto. De acordo com a
documentação carreada aos presentes autos, constata-se que a doação de auxílios
financeiros a pessoas físicas naquela municipalidade é prática contumaz. O argumento de
que as atividades assistenciais corriqueiras nos municípios não caracterizam ilícito eleitoral
é indefensável, na minha visão, pedindo vênia a quem entenda de forma diferente. Não é
porque tal prática se constituiu supostamente um costume no município, que deveria ser
ratificada ou desprezada a vedação legal. Assim, eu acompanho o voto do Relator para
entender configurada a conduta vedada prevista no artigo 73, §10 da Lei nº 9.504/97. E
continuo: Os Impugnantes e o Ministério Público Eleitoral argumentam que, além da
configuração da conduta vedada, também restou comprovado o abuso de poder político
com viés econômico. De fato, como bem destacou o doutro Procurador, tratando-se de
um município com 10.429 habitantes (população estimada, pelo IBGE, em 2018), com a
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
distribuição de auxílios financeiros para diversas finalidades, atingindo, de acordo com a
sentença – isso é o que está na sentença. Talvez Dr. Marcos queira esclarecer este fato
porque o Procurador Eleitoral falou em 132 empenhos e a sentença traz 162 empenhos.
Isso é o dado da sentença. Essa diferença não vai alterar em absolutamente nada o
mérito da questão, é só para ele esclarecer. Eu sei que Vossa Excelência queria a
intervenção naquela oportunidade, mas eu darei oportunidade a Vossa Excelência para
falar. É só esclarecendo essa divergência. Esses 162 empenhos estão na sentença. De
fato, como bem destacou o doutro Procurador, tratando-se de um município com 10.429
habitantes (população estimada, pelo IBGE, em 2018), com a distribuição de auxílios
financeiros para diversas finalidades, atingindo, de acordo com a sentença diversos
beneficiários com os 162 empenhos, além de uma pequena diferença de votos entre os
candidatos, apenas 33 votos, segundo as informações constantes do sítio eletrônico do
TRE/PB - eleições de 2016, evidenciado o impacto na normalidade e na legitimidade do
pleito. Quanto à gravidade da conduta, entendo demasiadamente demonstrada e
suficiente para gerar um desequilíbrio na disputa eleitoral. O mal ferimento do princípio
constitucional da impessoalidade, corolário do princípio republicano, restou patente nestes
autos. Os Investigados Antônio Justino de Araújo Neto e Sofia Ulisses Santos Queiroz
atuaram com desvio de finalidade, objetivando angariar vantagens para os candidatos João
Idalino da Silva e Demétrio Ferreira da Silva sobre os seus concorrentes no pleito de 2016.
No caso específico, foram diversas as doações efetuadas sem que o gestor apresentasse
as devidas justificativas a amparar a aplicação da excludente de ilicitude. Na verdade,
constatou-se grave lacuna acerca de critérios ou acompanhamento das pessoas
beneficiadas com recursos públicos, dada a ausência do programa exigido em lei. Sobre
esse aspecto, asseverou o Relator – também outro trecho importante do voto do Relator
que faço questão de ressaltar: “Verifico, também (palavras do Relator) que as
circunstâncias do caso em tela mostram-se suficientemente graves para impactar no
transcurso da campanha eleitoral de 2016 no município de Dona Inês, já que devidamente
comprovado nos autos a distribuição de valores/bens em flagrante desrespeito ao
regramento contido na Lei das Eleições (art. 73, §10) e nas próprias leis que regem a
assistência social daquele município, tudo a denotar o uso da máquina pública para
atender vontades individualizadas dos agentes políticos responsáveis pela conduta irregular
e seus beneficiários. De fato, trata-se de conduta bastante grave e suficiente, per si para
configurar o abuso de poder político com viés econômico, na medida em que envolve o uso
de recursos públicos para distribuir auxílios, com notório benefício eleitoral para os
candidatos apoiado pelo Chefe do Executivo Municipal. A vedação ao abuso de poder
político e econômico está prevista no art. 22 da Lei Complementar nº. 64 – transcrevo a
lei. No caso dos autos, patente está o abuso de poder político com viés econômico,
porquanto demonstrada a quebra de isonomia entre os correntes, por meio da entrega
indiscriminada e com fim eleitoreiro de benefícios assistenciais, custeado pelos cofres
públicos, a título meramente gratuito, sem amparo em programa social algum, praticada
pelo então Prefeito Antônio Justino de Araújo Neto. Também se verificou o uso
inescrupuloso da estrutura administrativa do Município de Dona Inês com a atuação da
Secretária de Assistência Social e Habitação, Sofia Ulisses Santos Queiroz, para beneficiar
a candidatura do sucessor apoiado pelo então prefeito. Por fim, o assistencialismo
revelado nos empenhos acostados pela própria defesa demonstra a utilização da
fragilidade e pobreza de cidadãos locais, em benefício eleitoral do Sr. João Idalino da Silva
(ex vice-prefeito) e do Sr. Demétrio Ferreira da Silva (candidatos eleitos aos cargos
majoritários), os quais foram beneficiados diretamente com as condutas. Desse modo,
acompanho o voto do Relator para entender configurado o abuso de poder político com
viés econômico, consoante disposto no artigo 22, XIV, da Lei Complementar nº 64/90.
Entrementes, para a aplicação das penalidades previstas na legislação eleitoral,
imprescindível se faz examinar o posicionamento do Tribunal Superior Eleitoral - trago
posicionamento na mesma linha de raciocínio do Dr. Márcio Maranhão, que
“a inelegibilidade constitui sanção de natureza personalíssima, de modo que não se aplica
ao mero beneficiário dos atos abusivos, mas apenas a quem tenha contribuído, direta ou
indiretamente, para a prática de referidos atos. No caso, os candidatos recorrentes foram
condenados apenas na qualidade de beneficiários da conduta configuradora de abuso de
poder. Não ficou comprovada sua contribuição, direta ou indireta, para a prática dos atos
abusivos, de modo que não há como aplicar-lhes a sanção de inelegibilidade.” É a posição
do TSE no Recurso Especial Eleitoral nº 42270, de Dionísio/MG, Relator Ministro Luís
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Roberto Barroso, datado de 27 de junho de 2019). Com efeito, a inelegibilidade cominada
apenas pode ser aplicada aos que efetivamente praticaram os atos abusivos, ainda que de
forma indireta. Neste ponto divirjo de Sua Excelência o Relator, uma vez que não encontrei
nos autos elementos que demonstrassem efetivamente a participação do Sr. João Idalino
da Silva e do Sr. Demétrio Ferreira da Silva na concessão dos auxílios e benefícios
financeiros em Dona Inês, durante o período vedado. Cito decisões do TSE, vou pular essas
decisões para procurar ser mais objetivo. Cito também aquele precedente do Ministro
Herman Benjamin. Digo: Isso posto, considerando que as condutas descritas encontram
vedação no §10 do art. 73 da Lei das Eleições e no artigo 22, XIV da LC nº 64/90, bem
ainda que se revestem de gravidade para desvirtuar a normalidade e legitimidade do
pleito, ante a não comprovação da alegada existência de um programa assistencial
elaborado nos moldes legais, voto pela imposição das seguintes sanções. Eu estou
também divergindo, eminente Relator, no que diz respeito à multa. Essa multa de cem mil
seria a multa máxima e eu também penso como o Dr. Márcio Maranhão, é um município
pequeno, e aí, analisando a questão do princípio da razoabilidade e da proporcionalidade,
eu ia sugerir, como o Dr. Márcio Maranhão sugeriu, a aplicação de uma multa de sessenta
mil para Antônio Justino, que foi o Chefe do Executivo, a pena de multa no valor de
sessenta mil e de inelegibilidade. Para a Dra. Sônia, Sofia Ulisses Santos Queiroz, então
Secretária de Assistência Social, eu proporia os trinta mil que o próprio Márcio Maranhão
propôs, também foi trinta, não foi Dr. Márcio, trinta mil para a Dra. Sofia Ulisses? E a pena
de inelegibilidade também. E ao Senhor João Idalino, nesse caso Vossa Excelência aplicaria
para os beneficiários também trinta mil, não é isso, Dr. Márcio, não é isso, Dr. Márcio?
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mesmo patamar.
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COM A PALAVRA O EXMO. SR. DESEMBARGADOR JOÁS DE BRITO PEREIRA FILHO
(PRESIDENTE EM EXERCÍCIO):
Pois não. Pois não, Dr. Arthur.
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COM A PALAVRA O EXMO. SR. DESEMBARGADOR JOÁS DE BRITO PEREIRA FILHO
(PRESIDENTE EM EXERCÍCIO):
Pois não. Dr. Marcos Souto ainda deseja falar?
COM A PALAVRA O EXMO. SR. DR. ADVOGADO MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO:
Senhor Presidente, aquela matéria que Vossa Excelência, inclusive, já tratou, da
divergência da quantidade de empenhos, apenas queria ter consignado naquele momento
que foram 127 empenhos, ou seja, não houve excesso nisso, nos gastos, nos valores
nem na quantidade de empenhos. Era nessa questão. E, quando concluir, eu queria pedir
a palavra para poder fazer três requerimentos.
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Marcos nesse sentido, que não haveria problema de, havendo essa disponibilização, a
gente ... conjunta para facilitar o trâmite processual.
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO:
Senhor Presidente, eu já combinei com Dr. Manolys. Eu me proponho a receber
estes autos e, junto com ele, organizarmos a questão do escaneamento e tudo que será
preciso. E já faço o requerimento...
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO:
São associados ao meu escritório.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO:
E, falei a Vossa Excelência que teria três requerimentos. Um já foi feito por Dr.
Manolys e deferido por Vossa Excelência. Agradeço desde já ao Desembargador José
Ricardo Porto a lhaneza e cordialidade. Os outros dois requerimentos é para que sejam
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confeccionadas as notas taquigráficas e inseridas nos autos, é o segundo requerimento. E
o terceiro é que, se entenderem os votos vencidos, Dr. Antônio Carneiro, Dra. Michelini e
Dr. Sérgio Murilo, que sejam também juntados aos autos os votos vencidos. É o
requerimento que faço a Vossa Excelência.
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(PRESIDENTE EM EXERCÍCIO):
Pois não. Então, veja essa questão e, se for possível, não há nenhum problema em
deferir o pedido do eminente Advogado. Só se houver impossibilidade por conta dessa
pandemia que nós estamos atravessando. O outro requerimento, Dr. Marcos, foi de?
Desculpe.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO:
Foi o voto vencido de Dra. Michelini...
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sessão. Quer dizer, isso é uma coisa, na minha visão, despicienda. Se não houver prejuízo
de ordem, de ter que se deslocar um servidor para isso, especificamente para isso, eu sou
da linha de que ela é desnecessária. Então, sem que haja prejuízo à saúde de qualquer
servidor, não tem nenhum problema.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO:
Senhor Presidente, se Vossa Excelência me permite, eu tenho uma informação que
posso dar a Vossa Excelência, Desembargador Joás.
COM A PALAVRA O EXMO. SR. ADVOGADO MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO:
É que eu tive contato com o Dr. Genedilson, que é um dos membros da taquigrafia
deste Sodalício e me foi informado que todos os técnicos em taquigrafia estão
acompanhando as sessões e é possível realizar esse apanhado taquigráfico. Era só esse
esclarecimento a Vossa Excelência.
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
eminente Dr. José Ricardo Porto. A questão, Dr. Antônio, da disponibilização do voto, eu
acho que o Dr. Sérgio não vai se opor de forma alguma. Ele deve ter trazido por escrito,
como todos fizeram.
ASLM/GFM/DOGG/RMP
0005922-57.2020.6.15.8000 0705808v6
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Número do documento: 20112310565527400000007605543
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DA PARAÍBA
INFORMAÇÃO Nº 8 - TRE-PB/PTRE/GAB.06
0005922-57.2020.6.15.8000 0706064v2
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https://pje.tre-pb.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20112310565527400000007605543
Número do documento: 20112310565527400000007605543
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DA PARAÍBA
Avenida Princesa Isabel, 201 - Bairro Centro - CEP 58020-911 - João Pessoa - PB
Processo: 0005922-57.2020.6.15.8000
Interessado: SECRETARIA JUDICIÁRIA E DA INFORMAÇÃO, COORDENADORIA DE
REGISTROS E INFORMAÇÕES PROCESSUAIS, NÚCLEO DE TAQUIGRAFIA
Destinatário(s): SEPROM
À SEPROM,
Atenciosamente,
Documento as s inado eletronicamente por ALINE VILAR SILVEIRA ROCHA LOPES em 27/04/2020, às
18:41, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
0005922-57.2020.6.15.8000 0707289v1
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https://pje.tre-pb.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20112310565527400000007605543
Número do documento: 20112310565527400000007605543