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Poliartrite Septica em Potros

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XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

POLIARTRITE SÉPTICA EM POTRO: RELATO DE CASO


Pollyanna Cordeiro Souto1, Lidiane Guabiraba e Silva2, Alexandre Cruz Dantas3, Janaina Azevedo
Guimarães3, Vitor Marques de França4, Renata Gomes Revorêdo4, Beatriz Berlinck d’Utra Vaz5

Introdução
A artrite séptica equina (ASE) é uma patologia que acomete os potros bem como equinos adultos, não
tendo predisposição quanto à idade, sexo ou raça (Botejo et al., 2012). É o problema mais grave observado
nas articulações dos equinos (Thomassian, 2005), sendo uma doença progressiva e erosiva das articulações,
que leva o animal a uma claudicação severa e requer um tratamento intenso e prolongado (Stashak, 2006).
Em neonatos, o risco de infecção articular é maior durante os primeiros 30 dias de vida devido a parcial
ou completa falha na transferência passiva de imunoglobulinas (Thomassian, 2005), que pode desencadear
um quadro de onfalite (infecção do umbigo), sendo a poliartrite, a infecção secundária mais frequente (Riet,
2007). As articulações e seus tecidos adjacentes são sítios preferenciais para a instalação de bactérias,
especialmente em potros com menos de seis meses de idade, decorrente do baixo fluxo sanguíneo e da baixa
tensão de oxigênio nos tecidos e ao redor da articulação (Meijer et al., 2000).
Os animais acometidos manifestam claudicação, febre alta, apatia, prostração, edema periarticular, dor nas
articulações e alterações locais como, distensão, alteração na cor da pele da articulação envolvida, bem como
fístulas e feridas secundárias (Thomassian, 2005).
Segundo Morton (2005), caso o animal apresente muita dor, as frequências cardíaca e respiratória podem
estar elevadas e, em potros, diarreia, infecção umbilical, pneumonia, ou doença sistêmica é comumente
presente. Nas articulações, o líquido sinovial está aumentado podendo apresentar-se serohemorrágico,
fibrinoso ou purulento. Há erosão da cartilagem articular, proliferação da membrana sinovial e inflamação
dos tecidos periarticulares, com distensão e engrossamento da cápsula. Os animais que sobrevivem podem
apresentar diversos graus de claudicação, deformação articular e atrofia muscular (Riet, 2007).
O diagnóstico é realizado por meio da análise dos dados epidemiológicos, dos sinais clínicos e lesões de
necropsia (Riet, 2007), como diagnóstico complementar pode-se realizar citologia, esfregaço e cultura do
fluido articular, hemograma e exames radiográficos (Stover, 2006).
O tratamento da artrite séptica tem como objetivo eliminar o microrganismo causador da doença, remover
os produtos deletérios da inflamação sinovial e a fibrina que podem danificar a cartilagem articular (Stashak,
2006). Para evitar lesões crônicas, o tratamento deve ser iniciado o mais cedo possível. Sendo assim, agentes
antimicrobianos,incluindo sulfas, tetraciclinas ou penicilina-estreptomicina, podem ser utilizados (Riet,
2007), tanto por via sistêmica quanto intra-articular. Também pode ser realizada drenagem e lavagem da
articulação (Stover, 2006).
Para potros o prognóstico é inferior à dos adultos, devido a complicações associadas com envolvimento
de múltiplos órgãos e septicemia. Algumas infecções mistas são difíceis de serem eliminadas, e com o tempo,
o osso pode ser penetrado causando uma osteomielite, como pode também desenvolver danos irreversíveis à
cartilagem articular causando, uma osteoartrite (Auer & Stick, 2006).
Devido à importância da enfermidade para a clínica de equinos, este trabalho tem como objetivo relatar
um caso de poliartrite artrite séptica em potro.

Material e métodos
Foi atendido no dia 31/07/2013, no Ambulatório de Grandes Animais da Universidade Federal Rural de
Pernambuco, um equino, macho, com seis meses de idade, pesando 106 kg e sem raça definida (Fig. 1A).
Segundo o proprietário, o animal apresentava aumento das articulações desde um mês de idade que com o
passar do tempo começou a drenar secreção purulenta (Fig. 1B). O proprietário também relatou que o animal
nasceu fraco, não mamou colostro no dia do nascimento e não foi realizada a cura do umbigo, onde o mesmo
1
Primeiro Autor é aluno do Curso de Especialização Latu Sensu Práticas Hospitalares e Laboratoriais em Medicina Veterinária, Ambulatório de Grandes
Animais, Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manuel de Medeiros Gonçalves s/n, Dois Irmãos,
Recife-PE, CEP 52171-900. E-mail: pollyannasouto@hotmail.com
2
Segundo Autor é Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manuel de
Medeiros Gonçalves s/n, Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900.
3
Terceiro Autor é Médico Veterinário do Ambulatório de Grandes Animais, Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de
Pernambuco. Av. Dom Manuel de Medeiros Gonçalves s/n, Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900.
4
Quarto Autor é aluno do curso de Graduação em Medicina Veterinária da UFRPE e estagiário do Ambulatório de Grandes Animais, Departamento de
Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manuel de Medeiros Gonçalves s/n, Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900.
5
Quinto Autor é Professor da Disciplina Clínica Médica de Equinos do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de
Pernambuco. Av. Dom Manuel de Medeiros Gonçalves s/n, Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900.
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

posteriormente apresentou um aumento de volume local sugerindo um quadro de onfalite, que regrediu
espontaneamente. Foi realizado hemograma, dosagem de proteína plasmática total, fibrinogênio plasmático,
análise do líquido sinovial e parasitológico de fezes. O animal foi tratado por 21 dias não sendo observado
melhora, vindo a óbito posteriormente. Foi realizada necropsia e feita coleta de material das articulações para
cultura bacteriológica.

Resultados e Discussão
O caso relatado acima está de acordo com Thomassian (2005) no que diz respeito à faixa etária e ausência
da imunização pela ingestão do colostro, concordando ainda com Riet (2007) quando se refere à alta
frequência de poliartrite secundária a quadros de onfalite.
No exame físico, o animal apresentou os parâmetros vitais dentro da normalidade concordando com
Morton (2005). No exame do sistema locomotor, pôde-se observar a cicatriz de uma fístula na articulação
carpo-rádioulnar direita, uma fístula cicatrizada na articulação do boleto no membro anterior esquerdo
(MAE), claudicação grau cinco com aumento de volume flutuante nas articulações tíbio-társica e társica-
metatársica direita e esquerda respectivamente, com dor a palpação e presença de uma fístula drenando um
pouco secreção purulenta corroborando os achados descritos por Thomassian (2005).
O hemograma e as dosagens de proteína plasmática total e fibrinogênio realizados após dois dias de
internamento revelou um quadro de anemia microcítica, leucocitose por neutrofilia e linfocitose e apresentava
ainda hiperfibrinogenemia. Após 18 dias os exames foram repetidos e não se observou diferença expressiva
em relação ao anterior. A anemia observada pode ser justificada por um quadro de desnutrição crônica, uma
vez que o animal apresentava escore de condição corporal II e recebia uma alimentação deficiente. Segundo
Thrall (2007), os casos de microcitose quase sempre estão relacionados à deficiência de ferro. Além disso, foi
realizada pesquisa de hematozoários, que resultou negativa, e parasitológico de fezes, que revelou uma alta
infestação por Parascaris equorum, no entanto, de acordo com Urquhart et al. (1998) este verme não está
relacionado a quadros anêmicos, o que reforça a suspeita de anemia por desnutrição. Os achados do
leucograma e do fibrinogênio são semelhantes aos descritos por Brown & Bertone (2005) e Stover (2006)
para casos de artrite com maior cronicidade.
Foi realizado uma artrocentese na articulação tíbio-tarsica direita, onde se observou uma quantidade
aumentada do líquido sinovial, porém sem alterações nas características físicas, concordando com Morton
(2005), embora o mesmo relate alteração na coloração do líquido do sinovial, apresentando-se
serohemorrágico, fibrinoso ou purulento. O tratamento foi instituído topicamente, onde se fez uma lavagem
articular com solução de NaCl 0,9% e posterior aplicação de 5 mL de gentamicina diluído em solução de
NaCl 0,9%, além do tratamento sistêmico com 9 mL da associação de penicilina procaina, potássica e sulfato
de estreptomicina, por via intramuscular (IM) durante sete dias corroborando Thomassian (2005), associado a
limpeza das feridas com álcool iodado seguido da aplicação de repelente.
Não foi observado melhora significativa do quadro. O animal permaneceu internado até o dia 21/08/2013
quando veio a óbito. No exame externo pode-se observar nas articulações do carpo, articulação do jarrete
esquerdo e região metatarsiana medial do membro posterior esquerdo a presença de fístula drenando secreção
purulenta. Estas articulações apresentavam leve aumento de volume. Ao corte da pele, foram evidenciados
filamentos amarelados nas regiões periarticulares e em áreas da superfície articular encontraram-se pequenas
erosões avermelhadas cobertas por tecido filamentoso amarelado. Este tecido também foi encontrado em
outras áreas da superfície articular (Fig. 1C/1D). Os achados necroscópicos corroboram os descritos por
Stover (2006) em casos de artrite supurativa.
Por tratar-se de uma enfermidade grave em equinos que pode resultar em inutilidade do cavalo,
claudicação permanente ou até sua morte, e da necessidade de um diagnóstico e intervenção rápida, é
importante conhecer todo o processo da doença para assim adotar as melhores estratégias de prevenção e
tratamento.

Agradecimentos
Agradecemos a todos os profissionais que fazem parte da Clínica de Grandes Animais da Universidade
Federal Rural de Pernambuco e a Professora Beatriz por acompanhar e orientar nos atendimentos aos animais
da Clínica.

Referências
Auer, J. A.; Stick, J. A. Equine Surgery, 3.ed. Editora Saunders, p.1121 a 1129, 2006.

Botejo, C. S.; Lima, J. S.; Souza, A. A. F.; Souza F. S.; Bayeux J. J. Artrite séptica equina em neonato
decorrente de onfaloflebite diagnosticada na cidade de Manaus-AM.
http://jjvet.wordpress.com/2012/04/26/artrite-septica-equina-em-neonato-decorrente-de-onfaloflebite-
diagnosticada-na-cidade-de-manaus-am/ Publicado: 26 de abril de 2012.
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

Meijer, M.; Van Weeren, P.; Pijkenhuizen, A.; Journal American Veterinary Med. Assoc. Clinical
experiences of treating septic arthritis in the equine by repeated joint lavage a series of 39 cases, vol. 47, p.
351 a 365, 2000.

Morton, A. J.; Veterinary Clinic of North America. Diagnosis and Treatment of Septic Arthritis, vol. 21, p.
627 a 649, 2005.

Riet-Correa F. Onfalite e artrite. In: Riet-Correa F.; Schild A.L.; Méndez M.C.; Lemos R.A.A. Doenças de
ruminantes e equinos. São Paulo: Livraria Varela, 2007. 3 ed. Vol. I. cap. 3. Pág. 199-443.

Stashak, T.S. Claudicação em equinos, segundo Adams, 5ª ed, São Paulo, Rocca, 2006, 1093p.

Stover, S. M. Enfermidades dos ossos, das articulações e dos tecidos conjuntivos. In.: Smith, B. P. Medicina
Interna de
Grandes Animais, 3ª ed, São Paulo: Manole, 2006. Pág. 1085-1148.

Thrall, M. A. Classificação e diagnóstico de anemia. In.: Thrall, M. A. Hematologia e Bioquímica Clínica


Veterinária, 1ª Ed, São Paulo: Roca, 2007. Pág. 78-83.

Thomassian, A. Enfermidades dos cavalos. 4ª ed. Editora Varela, São Paulo, 2005. 260p.

Urquhart, G. M.; Armour, J.; Duncan, J. L.; Dunn, A. M.; Jennings, F. W. Parasitologia Veterinária. Rio de
Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1998. 276 p.

Figura 1. Animal com aumento de volume articular e dificuldade de apoio (Fig. A); fístulas na articulação e presença de
secreção purulenta (Fig. B); superfície articular com pequenas erosões avermelhadas cobertas por tecido filamentoso
amarelado (Fig. C); filamentos amarelados nas regiões periarticulares (Fig. D).

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