Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Aula 26

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 11

Integrais impróprias – Primeira parte

MÓDULO 2 - AULA 26

Aula 26 – Integrais impróprias – Primeira


parte

Objetivo
Conhecer as integrais impróprias.

Introdução

Uma das aplicações da integral definida é atribuir área a figuras de


formas diversas. Mas, para tudo funcionar bem, apelamos para a garantia
dada pelo Teorema Fundamental de Cálculo. Isto é, a região deve ser limitada
por funções contı́nuas, definidas sobre intervalos fechados e limitados.
Nesta aula, você aprenderá que é possı́vel estender essas noções a al-
gumas regiões não-limitadas ou a certos intervalos abertos (sobre os quais
funções contı́nuas podem não ter máximo ou mı́nimo). O conceito ma-
temático adequado para lidar com essas situações é chamado de integral
imprópria. Você verá que a noção de limite desempenha um papel fun-
damental nessa teoria. Começaremos com dois exemplos tı́picos.

Exemplo 26.1
Considere as seguintes “integrais”:
Z ∞ Z 8
1 1
(a) dx (b) √ dx.
1 (1 + x)2 0
3
x

Ambas são exemplos de integrais impróprias. Veja que a integral (a)


não está definida num intervalo fechado e limitado. Isso fica evidente pelo
uso do sı́mbolo ∞ como seu segundo limite de integração. Ou seja, queremos
1
integrar a função f (x) = (1+x) 2 sobre toda a semi-reta [1, ∞).

Quanto à integral do caso (b), apesar de o intervalo de integração ser


1
limitado, a função g(x) = √ 3 x não está definida no extremo esquerdo do

intervalo. Veja os gráficos de f e de g sobre os intervalos de integração.

109 CEDERJ
Integrais impróprias – Primeira parte

y y

1 1
f (x) = (1+x)2
g(x) = √
3x
1
1
2
4
[ ( ]
1 x 8 x

Em ambos os casos estamos lidando com situações não-limitadas. No


caso (a), a não-limitação ocorre na direção do eixo Ox, enquanto no caso (b)
a não-limitação ocorre na direção do eixo Oy.
Z ∞ Z 8
1 1
Para podermos dar sentido aos sı́mbolos 2
dx e √ dx,
1 (1 + x) 0
3
x
recorreremos ao seguinte estratagema: em ambos os casos consideraremos
situações limitadas mas que estão Z t cada vez mais Zpróximas da situação de-
8
1 1
sejada. Ou seja, calcularemos 2
dx e √ dx, onde t > 1 e
1 (1 + x) x
3
r
0 < r < 8, que são áreas bem definidas. Veja as figuras abaixo.

y
y

g
f

1 1
4 2

1 t x r 8 x

Em seguida, estudaremos o comportamento dessas integrais definidas


para valores muito grandes de t e para valores positivos de r cada vez mais
próximos de zero. A maneira adequada de fazer isso é usando o conceito de
limite. Primeiro o cálculo das áreas:
Z t t
1 1 1 1
dx = − = − +
1 (1 + x)
2 1 + x 1+t 2
1
e
Z 8
8
1 3 2/3 3
√ dx = x = 6 − r2/3 .
r
3
x 2 2
r

1
Agora, quando t cresce indefinidamente, − 1+t aproxima-se de 0, e
3 2/3
quando r se aproxima de zero, pela direita, − 2 r também fica próximo

CEDERJ 110
Integrais impróprias – Primeira parte
MÓDULO 2 - AULA 26

de zero. Formalmente,
1 1 1 3 2/3
lim − + = e lim+ 6 − r = 6.
t→+∞ 1+t 2 2 r→0 2
Podemos, então, dizer que
Z ∞
1 1
dx =
1 (1 + x)2 2
e Z 8
1
√ dx = 6.
0
3
x
Vamos formalizar esses conceitos.

Integrais impróprias
Seja f : [a, +∞) −→ R uma função contı́nua. Considere F : [a, +∞) −→
R a função definida por Z t
F (t) = f (x) dx.
a

Assim, para cada valor t ≥ a, F (t) é a integral de f (x) sobre o intervalo


[a, t].
Z t
Se lim F (t) = lim f (x) dx ∈ R, diremos que a integral imprópria
t→+∞ t→+∞
Z +∞
a

f (x) dx converge e colocamos


a
Z +∞ Z t
f (x) dx = lim F (t) = lim f (x) dx.
a t→+∞ t→+∞ a

Analogamente, seja g : (a, b] −→ R uma função contı́nua. Considere


G : (a, b] −→ R a função definida por
Z b
G(t) = g(x) dx.
t

Logo, para cada valor a < t ≤ b, G(t) é a integral de g(x) sobre o


intervalo [t, b].
Z b
Se lim+ G(t) = lim+ g(x) dx ∈ R, diremos que a integral imprópria
t→a t→a t
Z b
g(x) dx converge e colocamos
a
Z b Z b
g(x) dx = lim+ G(t) = lim+ f (x) dx.
a t→a t→a t

Veja mais alguns exemplos.

111 CEDERJ
Integrais impróprias – Primeira parte

Exemplo 26.2
Z ∞
Analise a convergência da integral imprópria e−x cos x dx.
0
Z
Vamos, primeiro, calcular a integral indefinida e−x cos x dx. Para
isso, usamos a técnica de integração por partes, e obtemos
Z
e−x
e−x cos x dx = (sen x − cos x) + C.
2

Agora podemos fazer:


Z
t h e−x i t

lim e−x cos x dx = lim (sen x − cos x) =
t→+∞ 0 t→+∞ 2
0
h e−t 1i 1
= lim (sen t − cos t) + = .
t→+∞ 2 2 2

Como o limite é finito, dizemos que a integral imprópria converge e


colocamos Z ∞
1
e−x cos x dx = .
0 2

Uma condição necessária para a convergência


A convergência da integral imprópria
Z ∞
f (x) dx
a

impõe sobre a função f uma condição muito especial. Este fato pode ser
útil, uma vez que, se uma dada função g não satisfaz tal condição, então
podemos concluir que a integral imprópria
Z ∞
g(x) dx
a

diverge. Ou seja, tal condição sobre f é necessária para a convergência da


integral imprópria.
Aposto que você ficou curioso: que condição é esta? Pois bem, sem
mais delongas, aqui está ela:
Teorema 26.1 Z ∞
Seja f uma função contı́nua, tal que [a, ∞) ⊂ Dom(f ). Se f (x) dx
a
convergir, então
lim f (x) = 0.
x→∞

CEDERJ 112
Integrais impróprias – Primeira parte
MÓDULO 2 - AULA 26

Z ∞
Exatamente! Para a integral imprópria f (x) dx convergir é ne-
a
cessário que a parte positiva do eixo Ox seja uma assı́ntota horizontal da
função f . Veja alguns exemplos de funções que satisfazem esta condição:

1 1 1
f (x) = ; g(x) = ; h(x) = .
x 1 + x2 1 + x ln x

Veja, também, dois gráficos de funções com essa caracterı́stica.

Demonstração do teorema
Usando a linguagem do Teorema Fundamental do Cálculo, podemos
definir F : [a, ∞) −→ lR colocando
Z t
F (t) := f (x) dx, ∀t ∈ [a, ∞).
a

Assim, a convergência da integral imprópria nos dá o seguinte:


Z t Z ∞
lim F (t) = lim f (x) dx = f (x) dx = c,
t→∞ t→∞ a a

para alguma constante c ∈ lR .


Veja o que conseguimos até agora: a parte positiva da reta horizontal
y = c é uma assı́ntota do gráfico de F .
Note que f (x) = F 0 (x), ∀x ∈ [a, ∞), pois F é uma primitiva de f .
Talvez seja necessário um pouco de confiança de sua parte neste ponto,
mas é fato que essas duas últimas observações garantem que

lim f (x) = 0.
x→∞

Ou seja, a derivada de uma função que tem uma assı́ntota horizontal


(quando x → ∞) tem o eixo Ox como assı́ntota horizontal (quando x → ∞).
Uma maneira de ver isto é a seguinte: na medida em que os valores de
x tornam-se muito grandes, o gráfico de F fica mais e mais parecido com a
reta horizontal y = c e, portanto, sua derivada tende a zero. 

113 CEDERJ
Integrais impróprias – Primeira parte

Atenção! A condição lim f (x) = 0 é necessária para a convergência


Z ∞ x→∞ Z ∞
1
da integral imprópria f (x) dx, mas não é suficiente. Por exemplo, dx
a 1 x
1
diverge apesar de lim = 0.
x→∞ x
Veja como usar o teorema no próximo exemplo.

Exemplo 26.3
Z ∞
x2
Determine se a integral dx é convergente.
1 1 + x ln(x)

Solução:

x2 2x 2
lim = lim = lim =∞
x→∞ 1 + x ln(x) x→∞ 1 + ln(x) x→∞ 1/x

Logo, essa integral diverge.

Uma ferramenta para calcular limites


e−t
Para calcular o lim (sen t − cos t) = 0, usamos o seguinte fato:
t→∞ 2
Se f : [a, +∞) −→ R é uma função limitada e se lim g(t) = 0, então
t→+∞

lim f (t) g(t) = 0.


t→+∞

Dizer que f é uma função limitada em [a, +∞) significa dizer que existe
uma constante M > 0, tal que ∀t ∈ [a, +∞), |f (t)| < M .
e−t
Isso ocorre no exemplo mencionado, uma vez que lim = 0 e
t→+∞ 2
∀t ∈ R, | sen t − cos t| < 2. Aqui está o gráfico de f (t) = sen t − cos t.

f (t)
2

f (t) = sen t − cos t


−2

Vamos ao próximo exemplo.

CEDERJ 114
Integrais impróprias – Primeira parte
MÓDULO 2 - AULA 26

Exemplo 26.4
Z 1
1
Analise a convergência da integral imprópria dx.
0 1−x
y
1
Nesse caso, a função g(x) = 1−x não está definida no extremo direito
do intervalo. Assim, devemos adaptar a definição de integral imprópria a
essa situação.
Devemos, então, estudar o limite t 1 x
Z t t
1 g(x) == 1

dx = lim− [− ln |1 − x| ] =
1−x
lim−
t→1 0 1−x t→1 0
 1 
= lim− ln .
t→1 1−t
Mas, quando t → 1− , 1 − t tende a zero, com sinal positivo. Ou seja,
1
1−t
−→ +∞. Como lim ln x = +∞ , temos:
x→+∞
Z 1 Z t
1 1
dx = lim− dx =
0 1−x t→1 0 1−x
 1 
= lim− ln = +∞.
t→1 1−t
Z 1
1
Portanto, a integral imprópria dx diverge.
0 1−x

Problemas em muitos lugares


Há situações nas quais a integral é imprópria por apresentar problemas
em mais do que uma parte de seu domı́nio de integração. Quando isso ocorrer,
usamos as propriedades aditivas das integrais para dividir a integral em somas
de integrais impróprias do tipo simples, tais como as que estudamos até agora.
A integral imprópria original convergirá apenas se cada uma de suas parcelas
convergir. Vamos a um exemplo.

Exemplo 26.5
Z +∞
1
Analise a convergência da integral imprópria 2
dx.
−∞ 4 + x
Note que, nesse exemplo, devemos dividir a integral em dois casos:
Z +∞ Z 0 Z +∞
1 1 1
2
dx = 2
dx + dx.
−∞ 4 + x −∞ 4 + x 0 4 + x2
Note que a escolha do número 0 para dividir o intervalo de integração
foi conveniente mas puramente casual. Na verdade, poderı́amos ter escolhido
qualquer outro número.

115 CEDERJ
Integrais impróprias – Primeira parte

Z
1 1 x
Lembre-se de que 2
dx = arctg + C.
4+x 2 2
Z 0
1
Vamos, então, considerar 2
dx. Para isso, devemos fazer:
−∞ 4 + x

Z 0
1 1 t π
lim dx = lim − arctg = .
t→−∞ t 4 + x2 t→−∞ 2 2 4
Z 0
1 π
Assim, 2
dx = .
−∞ 4 + x 4
Z +∞
1
Agora, vamos considerar dx. Nesse caso, fazemos:
0 4 + x2
Z t
1 1 t π
lim dx = lim arctg = .
t→+∞ 0 4 + x2 t→+∞ 2 2 4
Z +∞
1 π
Novamente, 2
dx = .
0 4+x 4
Z +∞
1
Podemos concluir que a integral imprópria dx converge e
−∞ 4 + x2
Z +∞
1 π π π
dx = + = .
−∞ 4 + x2 4 4 2

1
Note que, devido à simetria da função f (x) = 4+x 2 , em relação à origem,
Z 0 Z +∞
1 1
o resultado 2
dx = dx não chega a surpreender. No
−∞ 4 + x 0 4 + x2
entanto, especialmente nos casos de simetria, é preciso cuidado.

O próximo exemplo ilustrará uma diferença de comportamento interes-


sante.

Exemplo 26.6
Z +∞
1
Analise a convergência da integral imprópria √ ln x dx.
0 x
1
Como o domı́nio de f (x) = √x ln x é a semi-reta aberta (0, +∞), a
integral apresenta problemas nos dois extremos do domı́nio de integração.
Devemos, portanto, dividi-la em dois casos:
Z +∞ Z 1 Z +∞
1 1 1
√ ln x dx = √ ln x dx + √ ln x dx.
0 x 0 x 1 x

Novamente, a escolha do número 1 para dividir o intervalo em dois


subintervalos foi por conveniência.

CEDERJ 116
Integrais impróprias – Primeira parte
MÓDULO 2 - AULA 26

Z
1
Para calcular √ ln x dx usamos a integração por partes, fazendo
x
1
u = ln x e dv = x dx. Assim,

Z
1 √ √
√ ln x dx = 2 x ln x − 4 x + C.
x

Para a primeira parte, temos:


Z 1 Z 1
1 1
√ ln x dx = lim √ ln x dx =
0 x t→0+ t x
√ √
= lim+ (−4 − 2 t ln t − 4 t) =
t→0
= −4.
1Z
1
Portanto, √ ln x = −4 converge.
0 x
Z +∞
1
Agora, √ ln x dx. Veja como as coisas podem mudar:
1 x
Z +∞ Z t
1 1
√ ln x dx = lim √ ln x dx =
1 x t→+∞ 1 x

= lim (2 t (ln t − 2) + 4 =
t→+∞
= +∞.

ComoZ essa segunda integral imprópria diverge, dizemos que a integral



1
imprópria √ ln x dx também diverge.
0 x
Agora, o último exemplo da aula.

Exemplo 26.7
Z ∞ Z ∞
−x2 1√ 2
Sabendo que e dx = π , calcule x2 e−x dx.
0 2 0
Para resolver o problema devemos estabelecer uma relação entre as
duas integrais. Dessa forma, usaremos a integração por partes na integral
Z
2 2 2
e−x dx, colocando u = e−x e dv = dx. Assim, du = −2x e−x dx e v = x.
Portanto,
Z Z
−x2 −x2 2
e dx = x e +2 x2 e−x dx.

Assim,
Z t Z t
−x2 −t2 2
e dx = t e +2 x2 e−x dx.
0 0

117 CEDERJ
Integrais impróprias – Primeira parte

Agora, tomamos o limite:

Z t Z t
−x2 −t2 2
lim e dx = lim t e + 2 lim x2 e−x dx.
t→∞ 0 t→∞ t→∞ 0

Como o limite
2 t
lim t e−t = lim 2 = 0,
t→∞ t→∞ et

segue que
Z t Z t
2 −x2 1 2
lim xe dx = + lim e−x dx.
t→∞ 0 2 t→∞ 0

Logo, temos o resultado esperado:

Z ∞ Z t
2 −x2 2
xe dx = lim x2 e−x dx =
0 t→∞ 0

Z t
1 2
= + lim e−x dx =
2 t→∞ 0

Z ∞ √
1 −x2 π
= e dx = .
2 0 4

Resumo

Você aprendeu que o conceito de integrais definidas pode ser ampliado


de modo a incluir situações extremas. As integrais impróprias são o resultado
da aplicação da teoria de limites à teoria de integrais.
Portanto, os exercı́cios que envolvem integrais impróprias requerem ha-
bilidades na integração e no cálculo de limites. Há duas ferramentas pode-
rosas para o cálculo de limites. Uma delas foi explicada ao longo da aula. A
outra é a chamada Regra de L’Hospital, que você aprendeu no Cálculo I. Essa
√ t
técnica é usada para calcular, por exemplo, lim+ t ln t = 0 e lim t2 = 0.
t→0 t→∞ e

CEDERJ 118
Integrais impróprias – Primeira parte
MÓDULO 2 - AULA 26

Exercı́cios
Analise as seguintes integrais impróprias, indicando quando elas diver-
gem e calculando-as, caso contrário:
Z ∞ Z ∞
1 1
1. dx. 2. dx.
1 x2 2 x2 −1
Z +∞ Z 2
1 1
3. dx. 4. dx.
−∞ 9 + x2 1 1−x
Z 4 Z ∞
1 1
5. dx. 6. √ dx.
1 (x − 2)2/3 1 x
Z ∞ Z 1
1
7. dx. 8. ln x dx.
1 x3 + 4x 0
Z 1 Z ∞
1 1
9. √ dx. 10. √ dx.
0 1 − x2 0 x(x + 4)
Z ∞ Z ∞
1 e1/x
11. 2
dx. 12. dx.
1 x + 2x + 2 1 x2
Z ∞ Z ∞
−ax
13. e dx, a > 0. 14. x e−ax dx, a > 0.
0 0
Z 0 Z 2
x 1 x
15. e sen 2x dx. 16. √ ln dx.
−∞ 0 x 2
Z 1 2 Z
1 1
17. dx. √ 18. 2
dx.
0 1−x 0 (x − 1)
Z ∞ √ Z ∞
2 2π sen x
19. Sabendo que sen x dx = , calcule √ dx.
0 4 0 x
Z ∞ 3 −x
x +e
20. Determine se a integral dx é convergente. (Sugestão:
1 x + x2 + 1
3

estude o limite do integrando, quando x → ∞.)

119 CEDERJ

Você também pode gostar