Processo Penal Constitucional 5
Processo Penal Constitucional 5
Processo Penal Constitucional 5
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Sumário
Introdução ........................................................................................................ 3
Referencias: .................................................................................................. 28
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NOSSA HISTÓRIA
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Introdução
O exame das garantias constitucionais aplicadas ao processo penal pode ser
empreendido por dois prismas diferentes, embora interligados: o da efetividade das
garantias e o da ponderação entre as garantias, quando houver choque entre elas ou
entre elas e os demais direitos fundamentais. Nos dois aspectos envolvidos, deparar-
se-á com o inevitável tema da efetividade da Constituição de 1988 e suas implicações
em relação à legislação infraconstitucional, à doutrina e à jurisprudência.
Neste sentido, antes da Carta Política de 1988, o direito processual penal era
visto de forma inquisitiva e sem muitas garantias contra os abusos do poder estatal.
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Constatada a necessidade de se garantir uma aplicação do processo penal de
forma mais justa, optou o Legislador Constituinte por incluir certas instituições
jurídicas processuais penais na Carta Maior.
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e no reconhecer, outrossim, que o acusado não é apenas objeto de investigações,
mas também sujeito de direitos, ônus, deveres e obrigações dentro do procedimento
destinado a apurar da procedência ou não da pretensão punitiva do Estado
Portanto, nos moldes atuais, verifica-se uma tarefa mais abrangente que
incumbe ao Direito Processual Penal, não sendo somente a aplicação pura e simples
do Direito Penal.
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conjuntos existentes nas nações e divididos para facilitar as suas funções, como
representantes do Estado. O Direito e o Processo Penal formam o conjunto normativo
sobre as condutas ilícitas, realizando o controle social punitivo legal.
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estudo civil. Em determinado momento, chegou-se a permitir que qualquer um do
povo pudesse acusar. Os tribunais eram compostos por juízes eleitos pelo Senado e
pelos cidadãos. Posteriormente, o tribunal passou a contar com seus membros por
sorteio.
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formadora de convencimento total e não havia condições mínimas de denúncia, tudo
em nome de Deus e da verdade real.
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a organização do Direito, adequando, todas as categorias mencionadas a uma só
teoria geral do processo.
Para um suposto infrator das condutas ilícitas típicas pode o Estado aplicar
uma pena correspondente à gravidade do delito praticado. A pena só pode ser
aplicada ou negada por meio do processo. E só com o Sistema Acusatório que o
Processo é indiscutivelmente confiável e justo e atende aos princípios constitucionais.
Restaram, até hoje, poderes investigatórios para o juiz, pouco compatíveis com
o Sistema Acusatório. O grande exemplo é o do art. 156 do CPP sobre a condução
das provas: “A prova da alegação incumbirá a quem a fizer; mas o juiz poderá, no
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curso da instrução ou antes de proferir a sentença, determinar, de ofício, diligências
para dirimir dúvida sobre ponto relevante.”
Trata-se de norma que cria poderes investigatórios para o juiz, sempre que
tiver uma dúvida relevante. Essas provas, requisitadas pelo juiz, sob pena de
desconhecimento sobre ponto relevante, permite que ele investigue ou ordene quem
o faça. A função anômala que o art. 156 impõe ao juiz pode se caracterizar por dois
motivos, como ensina Geraldo Prado:
Esse artigo deve ser revogado, para que o juiz fique impedido de exercer
função anômala. Defendem-se alguns juízes, dizendo que não podem confiar sempre
plenamente na acusação. Para os juízes que sintam que o membro do Ministério
Público é suspeito ou sem atribuição, deve ser criada norma, possibilitando
comunicação ao conselho do Ministério Público, para este tomar providências, se as
achar necessárias. O que não pode é, por esta justificativa, o juiz investigar ou acusar.
Essa exceção compromete o Sistema Acusatório brasileiro, pois fere sua principal
característica.
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uma responsabilidade por fato próprio (direito penal do fato), opondo-se a um direito
penal do autor fundando no modo de vida ou do caráter(Cf. Maurício Antonio Ribeiro,
Princípios Políticos do Direito Penal, p. 102.).
II– ou cria-se novo agente ou função para o Ministério Público, que teria que
acompanhar as diligências policiais.
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de justa causa. A ausência de dispositivo constitucional desta técnica requintada não
retira o caráter acusatório do recebimento da denúncia.
Os artigos que avaliam dados pessoais do réu e que ainda são plenamente
adotados, na maioria dos casos, sequer são contestados pela doutrina. Poucos se
voltam para essa questão, que foi ponto central do Sistema Inquisitivo, ou seja, o
subjetivismo.
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autores que trataram de garantismo, é em Luigi Ferrajoli que observamos o mais
sólido e completo estudo do tema. Coerente do começo ao fim, o livro Derecho y
Razon, em que nos baseamos para formular esse item, deve ser lido por todos que
se interessem pelo tema; o sóbrio estudo mostra-se por si que não é mero modismo.
Apesar de nos basearmos nesse livro, acrescentamos reflexões, entre as quais se
destacam as concernentes ao momento do garantismo e sua aplicabilidade no Brasil.
I. Nulla poena sine crimine, que traduz o princípio da retribuição pelo delito
praticado;
II. Nullum crimem sine lege, que traduz o princípio da legalidade em sentido
estrito ou em sentido lato;
IV. Nulla necessitas sine iniuria, que traduz o princípio da lesividade do ato e
do princípio da insignificância penal;
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VII. Nulla culpa sine iudicio, traduz o princípio da jurisdição natural e seus
consequentes, como da proibição do tribunal de exceção;
IX. Nulla acusatio sine probatione, que traduz o princípio da prova e todos os
seus consequentes;
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se alcançar o modelo. Muitos dos axiomas puros ou seus desdobramentos
convergem com a tendência penal moderna brasileira, defendida pela vanguarda
jurídica.
Uma Constituição deve regular essa disfunção jurídica, fazendo mais do que
disciplinar os direitos e princípios modernos; deve prever os mecanismos de efetivo
funcionamento das suas práticas e bases – sobretudo de garantias – de forma a
controlar e neutralizar o poder e direito ilegítimos. Também nesse quesito, o
ordenamento jurídico brasileiro está longe de se tornar efetivo.
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O reconhecimento constitucional de novos direitos fundamentais, a
jurisprudência inovadora e a criação de novas garantias legais, principalmente de
normas processuais eficazes servem de base de sustentação para efetivar o
garantismo.
A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO
Na atualidade, as Constituições permitem a “estabilização da variabilidade”1 ,
de forma a garantir a segurança jurídica sem abrir mão dos valores histórico-sociais.
Com efeito, a aplicação efetiva da Constituição afigura- -se, a um só tempo, como o
porto seguro desejado pela segurança jurídica, e como o grito de liberdade contra as
amarras do positivismo. A eficácia das normas constitucionais, ainda que abertas,
apresenta-se como a alternativa adequada às intempéries da pós-modernidade, sem
perder de vista a estrutura formal que deve existir em qualquer Estado de Direito.
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totalidade do ordenamento jurídico.( JULIOS-CAMPUZANO,
Alfonso de. Constitucionalismo em tempos de globalização.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 45.)
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Para ele, as principais condições para a constitucionalização são a rigidez da
Constituição, que deve incorporar os direitos fundamentais; sua garantia jurisdicional
e força vinculante, a aplicação direta das normas constitucionais e a interpretação
constitucionalizante das leis.
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regras de direito processual.” Segundo Nelson Nery Junior, o processo deve ser
analisado à luz das tarefas fundamentais da Constituição – integração, organização
e direção jurídica – e do caráter dirigente e diretamente aplicável dos direitos
fundamentais.
Sob este olhar, surge como preceito fundamental – a embasar todos os demais
princípios e garantias processuais de primeira dimensão – o devido processo legal
(CF, art. 5º, LIV), o qual “É, por assim dizer, o gênero do qual todos os demais
princípios e regras constitucionais são espécies.” Assim, entende-se, com essa
fórmula, o conjunto de garantias constitucionais que, de um lado, asseguram às
partes o exercício de suas faculdades e poderes processuais e, do outro, são
indispensáveis ao correto exercício da jurisdição.
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contato é ainda mais simbiótico. Assim, na persecução penal, deve- -se sempre ter
em conta o telos dos direitos fundamentais, o que Pablo Lucas Verdu chamou de
“sentimento constitucional.” É obrigatória, pois, uma “harmonia conteudística” entre o
Código de Processo Penal e a Lei Fundamental.
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pessoais: prisão e liberdade provisória. 2 ed. Curitiba: Juruá,
2011, p. 35.)
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a limitação destes. Ao revés, ampliá-los importa inviabilizar a
efetividade da coerção. Procura-se, assim, desesperadamente,
um ponto de equilíbrio, pois em um Estado Democrático e de
Direito, como o nosso, os fins nunca justificam os meios,
devendo, portanto, a eficácia da coerção penal ser buscada com
ética e respeito ao conteúdo mínimo dos direitos e garantias
fundamentais.( BEDÊ JÚNIOR, Américo; SENNA, Gustavo.
Princípios do Processo Penal. Entre o garantismo e a
efetividade da sanção. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2009, p. 24.)
Não se trata de tarefa fácil. A integral harmonia entre eficiência penal e direitos
e garantias individuais beira o impossível. Contudo, não se pode afirmar que são
paradigmas incompatíveis. Com efeito, é possível um direito que assegure eficiência
com garantismo.
Neste sentido:
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Neste cenário de preservação incondicional dos direitos fundamentais e
constitucionalização do processo penal, a palavra de ordem é garantismo. Com efeito,
“O garantismo no processo penal representa a efetivação das garantias do devido
processo legal, nos prismas subjetivo e objetivo: como garantias das partes,
essencialmente ao acusado, e como garantias do justo processo.” Não há dúvidas
que “La democracia demanda un sistema penal y un tipo de proceso – o unos tipos
de processo, - que la expresen y correspondan: el garantismo sería su signo
característico.( GARCIA RAMÍREZ, 2004, p. 153)
Assim, todo esforço para “encapsular” esse poder estatal é justo e necessário.
Logo, o Direito Processual Penal tem que assegurar que todos os métodos
estatais usados no processo se encontrem em harmonia com uma forma
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processualmente válida e com respeito pelos direitos fundamentais.61 E, como base
capaz de sustentar este novo modelo, está o sistema acusatório, considerado como
um verdadeiro sistema de democracia processual. Afinal, Mais do que acusatório, o
modelo tem que ser democrático.
A REALIDADE BRASILEIRA
No Brasil, a situação é notoriamente paradoxal. O Código de Processo Penal
brasileiro data de 1941, época do Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945), e traz
consigo uma carga de autoritarismo e inquisitorialidade, eis que baseado no ideário
fascista italiano. A Constituição Federal de 1988, por sua vez, tem em seu bojo uma
redenção dos direitos e garantias individuais, negados durante décadas à população
brasileira. O processo penal brasileiro vive, assim, uma crise de identidade: precisa
seguir o desejado rumo constitucional, garantista e acusatório, utilizando-se de um
instrumento ultrapassado e ideologicamente antagônico, como o é o Código de
Processo Penal.
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explícita, o modelo acusatório. Pode-se, então, afirmar que a
situação brasileira é de marcante contradição. De um lado o
texto constitucional com os valores acima mencionados; por
outro lado o Código de Processo Penal, com seus resquícios
inquisitivos.( CHOUKR, Fauzi Hassan. Processo penal à luz da
constituição. Bauru: EDIPRO, 1999, p. 16.)
Percebe-se, pois, que o atual código continua com os vícios de 60 anos atrás,
maculando em muitos dos seus dispositivos o sistema acusatório, não tutelando
satisfatoriamente direitos e garantias fundamentais do acusado. Não é preciso muito
esforço para se constatar a completa antinomia de tal orientação com o ideário
garantista e democrático da Constituição da República de 1988. Esta – a constituição
cidadã – surgiu após um longo período de ditadura militar e de desprezo pelo
repertório de direitos e garantias fundamentais, e é resultado de uma perspectiva
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democrática e da afirmação dos direitos fundamentais como núcleo de proteção da
dignidade da pessoa.
Conclui-se, pois, que o Código de Processo Penal brasileiro não pode mais ser
interpretado à luz dos princípios de uma ordem jurídica superada. A lei processual
penal brasileira pertence a um período de exceção, no qual as liberdades públicas
eram cerceadas pelo regime então vigente. Se é certo que o atual Código conseguiu
superar o milênio, igualmente correto que sua sobrevida somente é possível com a
harmonização aos ditames constitucionais.
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Projeto de Lei n.º 156, do Senado Federal, atualmente tramitando na Câmara dos
Deputados, tenta, corajosamente, instituindo um novo e progressista estatuto,
adequar o procedimento criminal aos ditames e à essência da lei fundamental da
República.
Conclusão
A Constituição é o instrumento jurídico de que deve se utilizar o processualista
para o completo entendimento do processo e seus princípios. Trata-se da principal
fonte do processo penal. O sentimento constitucional deve impregnar todos os atores,
atos e diligências do processo, devendo os operadores jurídicos buscar sempre o
espírito da Constituição. Os direitos e garantias da lei fundamental são o alicerce na
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busca do equilíbrio entre Estado e indivíduo. A eficácia da persecução penal encontra
limites nos direitos fundamentais do acusado.
O processo penal brasileiro vive uma crise de identidade, pois precisa seguir o
desejado rumo constitucional, mas está estabelecido em um Código ultrapassado e
ideologicamente antagônico aos valores e exigências da lei fundamental. Assim, é
imperioso que a interpretação do processo penal brasileiro seja feita sempre de forma
sistêmica: toda e qualquer norma infraconstitucional deve passar pelo filtro
constitucional. Somente assim será possível vislumbrar um processo penal
democrático, acusatório e garantista.
Referencias:
COUTINHO, Jacinto de Miranda. Lide e Conteúdo do Processo Penal. Paraná,
Editora Juruá, 1998.
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FERRAJOLI, Luigi. Derecho y Razon: Teoria do Garantismo Penal. Madrid,
Editora Trotta, 1997.
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BARROSO, Luis Roberto. Fundamentos teóricos e filosóficos do novo Direito
Constitucional brasileiro (pós- -modernidade, teoria crítica e pós-positivismo). Revista
Diálogo Jurídico, Salvador, Ano I, Vol. 1, n.º 6, set. 2001.
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FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 6. ed. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 9. ed. São Paulo: Saraiva,
2012.
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