Cinthia Costa Mendes Silva
Cinthia Costa Mendes Silva
Cinthia Costa Mendes Silva
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Prof. Dr. Denis Forte (Universidade Presbiteriana MACKENZIE)
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Prof. Dr. Paulo Roberto Alves Pereira (UNIFAE)
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Profa. Dra. Carmen Beatriz Fabriani (UNIFAE)
Agradeço em primeiro lugar ao todo poderoso Deus, criador de todas as coisas, ser inefável
de quem decorre todo amor e sabedoria, por me conceder saúde, inteligência e tudo quanto
necessário para a realização deste trabalho.
Ao meu esposo Marcelo, meu companheiro e incentivador ao longo desta jornada, pelo amor,
carinho e amizade que me inspiram para a vida.
Aos meus pais, Zezé e Miriam, que se alegram em ver meu esforço, pelo apoio e cuidado.
Ao meu irmão Gustavo que está sempre pronto a me ajudar com alegria.
Aos meus sogros Orlando e Ordília, pelo entusiasmo com meus estudos.
Ao meu Orientador, Prof. Dr. Luciel Henrique de Oliveira, pelas preciosas orientações, sem as
quais não seria possível a realização deste trabalho, pela paciência, cuidado com cada detalhe
e confiança na minha capacidade.
Aos professores do Mestrado Unifae, que tanto me ensinaram ao longo desses dois anos de
convivência e aos colegas de classe, que me ajudaram a crescer.
Enfim, obrigada!
Finalmente irmãos, tudo o que é verdadeiro,
Filipenses 4:8
Deus promete guiar-nos
John Stott
Autobiografia da autora
Cinthia Costa Mendes Silva é mineira, nascida em Poços de Caldas, possui graduação em
direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) no período de
2003 a 2007 e especialização em Direito Público com ênfase em magistério superior:
Constitucional, Administrativo e Tributário pela Universidade do Sul de Santa Catarina
(Unisul), no período de 2008 a 2010 e apresenta sua dissertação de mestrado em
Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida em 2014 pela Unifae.
Profissionalmente, advoga desde 2008 nas áreas cível, trabalhista e previdenciária. E em 2013
começou a lecionar a disciplina de Direito Público Aplicado, na Faculdade de Casa Branca –
FACAB, em Casa Branca-SP.
A política nacional de resíduos sólidos, instituída no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei
12.305/10, apresentou novas propostas para melhorar a gestão dos resíduos que tanto agridem
o meio ambiente. Para o poder público, fica a missão de aliar coleta seletiva, manejo
sustentável dos resíduos sólidos, inclusão social dos catadores de materiais recicláveis e
participação social. Essa pesquisa teve como objeto de estudo a adequação do município de
Poços de Caldas, no estado de Minas Gerais em relação à gestão de resíduos, em consonância
com o ordenamento jurídico brasileiro pela Lei 12,305/10. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa, por meio de estudo de caso único, examinado mediante análise de conteúdo, que
visou contribuir para a promoção da participação social exigida na política nacional de
resíduos sólidos. Com o objetivo de verificar a adequação do município à situação descrita,
buscou-se entender como se dá o funcionamento da gestão de resíduos sólidos e verificar a
existência de processos de participação social no município. Traçado o panorama geral, foram
apresentadas ações que podem facilitar a participação social e permitir a gestão dos resíduos
sólidos conforme a determinação legal, aproveitando exemplos de outros municípios que
também enfrentam problemas semelhantes. Verificou-se que em razão da não elaboração de
um diagnóstico preciso quanto à quantidade e especificidade de resíduos, o plano municipal
de gestão integrada de resíduos sólidos está deficiente e, portanto, não é capaz de fornecer um
caminho para a gestão, e tão pouco estimular e aproveitar a participação social.
The Brazilian solid waste policy, established by Law 12.305/10, presented new proposals to
improve waste management that harm so much the environment. For the government, it is the
mission of combining selective collection, sustainable solid waste management, social
inclusion of waste pickers and social participation. This research aims to study the city of
Pocos de Caldas, State of Minas Gerais. It's a qualitative research, using single case study,
examined through content analysis, which aimed to contribute to the promotion of social
participation required in the national solid waste policy. To verify the adequacy of the city to
the situation described, we sought to understand the operation of solid waste management.
The study analyses the existence of processes of social participation in the municipality.
Tracing the general panorama, actions that can facilitate social participation and enable the
management of solid waste as a legal determination were shown taking as example other
municipalities that faced similar problems. The results show that due to the non-preparation of
an accurate diagnosis as to the amount and specificity of waste, the municipal plan of
integrated solid waste management is weak. So is not able to provide a path for the
management, or even exploiting social participation.
Keywords: National Policy on solid waste, solid waste, social participation, public policy,
sustainability.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 16
1.1 Origem da ideia ........................................................................................................ 16
1.2 Apresentação do tema .............................................................................................. 17
1.3 Justificativa ............................................................................................................... 18
1.4 Problema de pesquisa ............................................................................................... 19
1.5 Hipótese ou Pressuposto........................................................................................... 19
1.6 Objetivo Geral .......................................................................................................... 19
1.6.1 Objetivos Específicos ................................................................................................. 20
1.7 Estrutura de apresentação da pesquisa .................................................................. 20
Os resíduos sólidos (RSs) mereceram destaque no ordenamento jurídico brasileiro, tanto que a
lei 12.305/10, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) trouxe uma
proposta para melhorar a gestão dos mesmos.
Para alguns autores, no entanto, não basta a organização e a gestão dos resíduos, mas faz-se
necessário atentar para as alterações ambientais que têm sido ocasionadas, em razão do
descarte inadequado dos mesmos, segundo Gouveia (2012), sendo necessário buscar
estratégias que minimizem esse impacto.
Outro fator é a questão do consumo excessivo, que provoca o aumento do descarte de lixo e
consequente aumento da poluição (GRO, EHRLICH e GOLDEMBERG et. Al., 2012).
Segundo o relatório Brundtland (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, 1988) o consumo implica a extração de vegetais e minerais prejudicando o
meio ambiente, se em larga escala. O mesmo relatório também alerta para a ênfase no enfoque
econômico, em detrimento da observância dos fatores sociais (GRO, EHRLICH e
GOLDEMBERG et. Al., 2012).
Nesse contexto, a Conferência RIO+20, propôs novos moldes para a harmonização dos
fatores sociais, econômicos e ambientais, que é a busca do desenvolvimento sustentável com
a erradicação da pobreza (GOUVEIA, 2012).
Assim, a gestão dos resíduos proposta pela PNRS atribuiu funções a cada um dos entes
federados, de modo que se uniformizem as ações em prol da melhoria da situação atual. Para
tanto, incluiu como requisito dentro da organização da gestão dos resíduos, a participação
social (BRASIL, 2010).
Nessa proposta, os Conselhos Municipais de Meio Ambiente são indicados como peças
importantes para garantir a participação social, requisito da PNRS e indispensável para
16
encontrar as melhores soluções na gestão dos resíduos (NUNES, PHILIPPI e FERNANDES
2012).
Assim, nota-se que o legislador priorizou a participação social para as decisões que envolvem
a gestão de resíduos sólidos.
Ante a realidade apresentada, surgiu a ideia de analisar como a gestão de resíduos sólidos vem
sendo tratada no município de Poços de Caldas-MG. Quais as dificuldades, quais as
organizações envolvidas com as questões relacionadas à participação social necessária para o
cumprimento das exigências da lei que instituiu a PNRS? Desta forma, a autora se preocupou
em analisar se existe e como ocorre a participação social como prevê a Lei 12.305/10. Afinal,
se há previsão legal, a referida participação deve ocorrer tanto na elaboração do Plano
Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos – PMGIRS –, quanto na sua execução.
Pois do contrário, o excesso de resíduos e o gerenciamento inadequado dos mesmos podem
gerar danos ao meio ambiente e afetar a qualidade de vida das pessoas.
Além dos Conselhos Municipais, os fóruns de discussão também são formas de organização
da participação das pessoas. Assim, dentro desta complexa, mas interessante análise, merece
ser estudado o Fórum Lixo e Cidadania do município, que é constituído de voluntários que
almejam a concretização da participação social dentro deste contexto relacionado à gestão dos
RSs.
Ante todo o contexto, nota-se que este é um tema complexo que envolve muitos subtemas.
Portanto, depende da compreensão da realidade local e possíveis formas de articulação que
permitam discussões envolvendo a participação social sobre as questões relacionadas à gestão
dos RSs.
1.3 Justificativa
Na tentativa de resolver os conflitos entre os homens, criou-se o Estado, que passou por
diversas transformações ao longo da história da humanidade. No entanto, para manter as boas
conquistas e melhorar o necessário, as sociedades modernas terão de contar com políticos,
servidores públicos, empresas e principalmente cidadãos que estejam dispostos a participar do
processo político (BRESSER-PEREIRA, 2004).
Segundo Nunes, Philippi e Fernandes (2012), isto se articula perfeitamente com os conceitos
relacionados à democratização e à municipalização da gestão ambiental. Esses conceitos
podem ser observados no contexto da lei 6.938/81 que instituiu a Política Nacional de Meio
Ambiente (BRASIL, 1981) e mais especificamente na lei 12.305/10 que instituiu a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010).
19
ambientais na gestão de resíduos sólidos a partir da análise do caso de um município
brasileiro.
O trabalho foi dividido em cinco capítulos, objetivando uma melhor compreensão do tema. O
primeiro capítulo apresenta o tema e justifica sua relevância, desde já apresentando o
problema de pesquisa, a hipótese ou pressuposto e os objetivos. O segundo capítulo
denominado Referencial Teórico, apresenta a doutrina pesquisada para melhor compreensão
do tema. O terceiro capítulo deixa claro o método utilizado para a obtenção de dados e análise
dos mesmos, o método escolhido foi o estudo de caso examinado mediante análise de
conteúdo. No capítulo 4 realizou-se a análise e discussão do corpus, cujas impressões
permitiram a elaboração das considerações finais.
20
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Quadro 1: Síntese do Referencial Teórico
Com o objetivo de facilitar a análise do referencial teórico, elaborou-se o presente quadro que
engloba os principais assuntos discutidos.
21
2.1 Sustentabilidade
A Terra, em sua longa trajetória, suportou muitas dificuldades, mas sempre superou e aos
poucos regenerou o que havia deteriorado. No entanto, Boff (2012) observa que se alcançou
um nível tão grande de agressão, que tornou difícil a sua recuperação.
A relação do homem com a natureza sempre foi de utilização e extração de recursos. Com a
dominação das técnicas agrícolas, o homem deixou de ser nômade, mas começou a intervir
com mais intensidade na natureza (COSTA, 2011).
Segundo Costa (2011), Marx e Engels já alertavam que o desenvolvimento das técnicas de
trabalho poderia ser nocivo ao meio ambiente. Após a Revolução Industrial a exploração dos
recursos do planeta cresceu muito.
No ano de 1987, o tema sustentabilidade viria a se tornar mais popular, mediante a publicação
de um importante relatório presidido pela então Primeira Ministra da Noruega, uma médica,
que mais tarde se tornou a diretora geral da Organização Mundial de Saúde, Gro Brundtland.
O relatório em questão chama-se Our Common Future (Nosso Futuro Comum). Dentre seus
principais aspectos, destacam-se dois temas: as necessidades das pessoas e as limitações do
ambiente (SANTOS e GONÇALVES-DIAS 2012).
22
a) Social, fundamental por motivos tanto intrínsecos quanto instrumentais
por causa a perspectiva de disrupção social que paira de forma ameaçadora
sobre muitos lugares problemáticos do planeta.
b) Ambiental, com as suas duas dimensões (os sistemas de sustentação da
vida como provedores de recursos e como “recipientes” para disposição de
resíduos);
c) Territorial, relacionado à distribuição espacial dos recursos, das
populações e das atividades;
d) Econômico, sendo a viabilidade econômica a conditio sine qua non para
que as coisas aconteçam;
e) Político, a governança democrática é um valor fundador e um instrumento
necessário para fazer as coisas acontecerem; a liberdade faz toda a diferença
(SACHS, 2009 p.15-16).
No mesmo intuito, muitas conferências foram organizadas. Dentre elas, em 1992, no Rio de
Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, onde
Sachs também foi conselheiro e utilizou conceitos do relatório Our Common Future. Desta
conferência, Eco-92, ou Rio-92, surgiu um importante documento que é a Agenda 21,
segundo a qual, cada país deveria se comprometer a refletir, global e localmente,
principalmente quanto aos temas relacionados à inclusão social, educação e saúde, ética
política e o desenvolvimento sustentável. Discutiu-se na Agenda 21 a questão da redução do
uso de matérias-primas e energia e do desperdício nas fontes geradoras, a questão da
reutilização direta dos produtos e a reciclagem de materiais (MALHEIROS, PHILIPPI,
COUTINHO, 2008).
Nos moldes do modelo econômico atual, o objetivo principal das empresas é a obtenção de
lucro. As empresas nascem, trabalham e existem para a realização deste fim (Coelho, 2004).
Como é possível observar no artigo 966 do Código Civil Brasileiro de 2002, empresário é
definido na lei brasileira como o profissional exercente de uma atividade econômica,
organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços (BRASIL, 2002). Deste modo,
explica Coelho (2004), a atividade empresarial é econômica no sentido de que busca gerar
lucro para quem a explora.
Assim, nesta primeira vertente, iniciou-se uma busca pela harmonização dos interesses das
empresas que visam o lucro e o interesse coletivo. É complexa esta afirmação, pois
aparentemente seria fácil resolvê-la, levando-se em conta que o interesse coletivo é muito
mais valioso do que o interesse individual e, no entanto, não é assim que as coisas funcionam
(Elkington, 2011).
Segundo Elkington (2011), capitalismo e sustentabilidade não compõem uma fácil aliança,
apesar de esta parecer ser a alternativa mais almejada. Nota-se que é difícil obter harmonia em
tal situação. No entanto, não é pela dificuldade que não serão analisados novos caminhos.
Já em uma segunda vertente, há uma necessidade urgente de quebrar o paradigma atual, sendo
necessário para tanto um modelo econômico diferente, se realmente o objetivo for a
sustentabilidade, tendo em vista o quanto que a produção excessiva e o consumo em larga
24
escala podem causar o aumento da destruição ambiental (GRO, EHRLICH, GOLDEMBERG
et. Al., 2012).
Assim, como mencionado, há pelo menos duas opções. A primeira seria adequar os interesses
das empresas às necessidades apontadas pelo caminho da sustentabilidade (Elkington, 2011),
e a segunda, mudar o paradigma atual radicalmente (GRO, EHRLICH, GOLDEMBERG et.
Al., 2012) e (SACHS, 2009).
O caminho das adequações que mantém o modelo capitalista, e que promove algumas ações
em prol do meio ambiente, pode ser uma alternativa de diminuição dos impactos das
empresas sobre o meio ambiente. No entanto, Filho (1993) afirma que, para os países do
Terceiro Mundo, uma mudança brusca com a redução da produção e a redução do consumo
podem ser graves do ponto de vista social, pois as famílias precisam de renda.
Assim, nesse intuito de manter o modelo capitalista, surgiram muitos indicadores para medir o
índice de sustentabilidade das empresas (ISE Bovespa, 2013) e níveis de governança
coorporativa, de maneira a melhorar a imagem das mesmas. Como os Indicadores Ethos de
Responsabilidade Social Empresarial (2012), esta ferramenta tem como objetivo principal
auxiliar as empresas no sentido de “incorporarem em sua gestão os conceitos e compromissos
em favor do desenvolvimento sustentável”.
Nidumolu, Prahalad e Rangaswami (2009) trazem alguns níveis ou estágios que são capazes
de indicar o que as empresas têm feito em prol da sustentabilidade. Funciona mais ou menos
da seguinte forma: cada nível indica que a empresa tem se esforçado para atender às
expectativas deste novo modelo ou nova proposta que é a sustentabilidade no mundo
corporativo.
Segundo dados do ranking do IDH Global (2012), o Brasil está juntamente com a Jamaica na
posição de número 85, o que indica que o índice de desenvolvimento humano está baixo, em
contraste com o PIB ranking mundial (2012), onde o Brasil ficou com a 7ª posição. Este dado
exemplifica bem o posicionamento de Sachs (2009), no sentido de que o estímulo econômico
não traz necessariamente melhora do ponto de vista social.
A grande necessidade é criar nas pessoas a sensação de que este é um dever comum. Se
possível, desde pequenos, ainda nas escolas, essa nova mentalidade precisa fazer parte do
cotidiano das pessoas, que só se interessarão realmente pelas mudanças quando elas lhe
parecerem importantes de alguma forma. Ou seja, quando perceberem que os aspectos
ambientais interferirem em seu cotidiano e na sua qualidade de vida. O desenvolvimento
sustentável, segundo Sachs (2009), é mais profundo, e exige mudanças reais no modelo
econômico atual.
Assim, seria imprescindível que a população fosse convidada para ajudar a tomar decisões,
mediante a participação social nos conselhos ou fóruns, de maneira a contribuir para as
mudanças, conforme sugere a PNRS (BRASIL, 2010).
26
Neste sentido, a sustentabilidade vai muito além destes conceitos que buscam a harmonia
entre capitalismo e sustentabilidade. Para Boff (2012), a sustentabilidade de uma sociedade se
mede por sua capacidade de inclusão e também por garantir-lhes os meios de uma vida
suficiente e decente. Daí a importância das pessoas terem condição de dizer o que precisam e
buscar soluções que atendam a suas necessidades.
Sachs (2009) afirma que os povos só serão considerados desenvolvidos se, diante da
totalidade dos direitos humanos, sociais e coletivos, abrangendo as três gerações de direitos
(igualdade, liberdade e fraternidade), conforme os autores Lenza (2010) e Mendes e Branco
(2013).
Além da preocupação com a economia, o autor Sachs (2009) conceitua a sustentabilidade sob
outras vertentes. Para o autor, existe a dimensão social que tem como objetivo alcançar
homogeneidade, salários justos, emprego e qualidade de vida, além do acesso aos serviços
sociais. Em outra dimensão, há o aspecto cultural, em que predomina a visão de autonomia e
autoconfiança.
Por sua vez, a dimensão ecológica, relativa à preservação natural, é chamada de capital
natural e relativa à limitação do uso dos recursos não renováveis. Ela se encontra na divisão
dos direitos e garantias fundamentais de 3ª geração dentro do direito constitucional brasileiro
(LENZA, 2010).
Assim, a sustentabilidade estaria diretamente ligada a uma sociedade mais igualitária e ética,
de modo que o desenvolvimento econômico não ocorresse a qualquer custo, atingindo
diretamente a coletividade local e causando consequências globais. Desta forma, só há que se
falar em sustentabilidade se harmonizados os fatores econômicos, sociais e ambientais.
27
Sendo, para tanto, necessária uma harmonização entre as decisões políticas e os anseios do
setor privado (GRO, EHRLICH, GOLDEMBERG et. Al., 2012).
No mesmo sentido, os autores Gro, Ehrlich, Goldenberg et. Al. (2012) do texto Blue Planet
trazem seus sonhos ou seus ideais para o desenvolvimento no sentido de existir um mundo
sem pobreza, com boa distribuição de renda e que respeite os direitos humanos. Para tanto,
segundo eles, devem coexistir as dimensões ambientais, sociais e econômicas de
sustentabilidade.
Além disso, para que se torne possível este ideal, as decisões precisam ser urgentemente
redirecionadas nos níveis local, nacional e global. Os interesses particulares precisam ser
colocados em segundo plano, pois a prioridade dever ser o coletivo (GRO, EHRLICH
GOLDEMBERG et. Al., 2012).
Por fim, mais precisamente quanto ao nível local, as pessoas precisam ser ouvidas. Os
marginalizados precisam de uma chance para expor suas opiniões e suas necessidades. Na
verdade, precisam se sentir parte para que tenham expectativa de participar e verem algo de
diferente ocorrer (GRO, EHRLICH , GOLDEMBERG et. Al., 2012).
28
Se as pessoas não se sentem parte das decisões que afetarão suas próprias vidas, ou melhor
dizendo, se não há autonomia para escolhas, pelo contrário, há sempre uma imposição, não há
que se falar em qualidade de vida (GOHN, 2004).
Neste sentido, a produção e a gestão dos resíduos sólidos precisam ser repensadas segundo os
pilares da sustentabilidade, mediante modelos integrados que contem com a participação e
discussão (GALBIATI, 2005).
Para a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2004), os resíduos sólidos são
definidos da seguinte forma:
Segundo o artigo 3º da lei 12.305/10, que materializa a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
tem-se a seguinte definição:
29
propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou
semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgoto
ou em corpos d’água, ou exijam para isso, soluções técnicas ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível
(BRASIL, 2010).
A ABNT publicou outras normas técnicas vigentes no Brasil que tratam dos RSs, tais como as
que podem ser observadas no quadro a seguir:
NBR OBJETO
8.418/1984 Apresentação de aterro de resíduos industriais perigosos. Procedimento.
8.849/1985 Apresentação de projetos de aterros controlados de resíduos sólidos urbanos.
Procedimento.
8.419/1996 Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos.
Procedimento.
8.843/1996 Aeroportos – gerenciamento de resíduos sólidos.
9.690/2007 Mantas de polímeros para impermeabilização.
10.004/2004 Resíduos sólidos- classificação
10.005/2004 Procedimento para obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos.
10.006/2004 Procedimento para obtenção de extrasolubilizado de resíduos sólidos.
10.007/2004 Amostragem de resíduo sólido.
10.157/1987 Aterros de resíduos perigosos – Critérios para projeto, construção e operação.
10.664/1989 Águas – determinação de resíduos (sólidos) – método gravimétrico – método
de ensaio.
11.175/1990 Incineração de resíduos sólidos perigosos – padrões de desempenho.
12.235/1992 Armazenamento de resíduos sólidos perigosos – procedimento.
12.807/1993 Resíduos de serviços de saúde.
12.808/1993 Resíduos de serviços de saúde – terminologia.
12.809/1993 Manuseio de resíduos de serviços de saúde.
12.810/1993 Coleta de resíduos de serviço de saúde.
Fonte: ABNT.
Elaboração: ABNT adaptado de COSTA, 2011.
30
Continuação QUADRO 2: Normas ABNT relacionadas aos resíduos sólidos.
Nota-se que a sustentabilidade também está muito relacionada a como resolver o problema do
consumo de recursos naturais e consequente geração de resíduos de todos os tipos, incluindo
os resíduos sólidos.
31
Para Jacobi e Besen (2011), incluem nessas prioridades a redução de resíduos nas fontes
geradoras e a redução da disposição final no solo, por meio do reaproveitamento, da coleta
seletiva, da reciclagem com a inclusão dos catadores e participação da sociedade, além da
recuperação de energia.
Especificamente quanto aos resíduos sólidos, estes possuem uma classificação própria
segundo o artigo 13 da lei 12.305/10:
I – quanto à origem:
a) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em
residências urbanas;
b) resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de
logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana;
c) resíduos sólidos urbanos: os englobados nas alíneas “a” e “b”;
d) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços: os
gerados nessas atividades, excetuados os referidos nas alíneas “b”, “e”, “g”,
“h” e “j”;
e) resíduos dos serviços públicos de saneamento básico: os geradores nessas
atividades, excetuados os referidos na alínea “c”;
f) resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações
industriais;
g) resíduos de serviços de saúde: os gerados nos serviços de saúde, conforme
definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos do
Sisnama e do SNVS;
h) resíduos de construção civil: os gerados nas construções, reformas,
reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da
preparação e escavação de terrenos para obras civis;
i) resíduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e
silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas
atividades;
j) resíduos de serviços de transportes: os originários de portos, aeroportos,
terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira;
k) resíduos de mineração: os gerados na atividade de pesquisa, extração ou
beneficiamento de minérios (BRASIL, 2010).
Todos estes de tipos de resíduos não podem ficar reunidos em lixões a céu aberto. Nesse
sentido, a lei 12.305/10 traz, em seu artigo 9°, a necessidade da disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos.
32
Para Costa (2011), na Agenda 21 Brasileira consta a necessidade do enfrentamento da questão
do saneamento ambiental que abrange o gerenciamento dos resíduos, assim, mais uma vez
reforçada a necessidade de melhorias e modificações no sistema atual de gestão de resíduos.
Para Jacobi e Besen (2011), a PNRS, além de fortalecer os princípios da gestão integrada e
sustentável de resíduos, propõe incentivos à formação de consórcio público entre os
municípios e cria mecanismos para inserção dos catadores de materiais recicláveis, dando
importância aos demais pilares sustentáveis. Além das preocupações ambientais, estão
presentes também as preocupações sociais, de modo a favorecer a sustentabilidade de maneira
ampla.
O artigo 19 da LPNRS traz alguns requisitos da gestão e do gerenciamento dos RSs, quais
sejam: a) gerenciamento compartilhado; b) inclusão social e econômica dos catadores; c)
coleta e transporte seletivos; d) logística reversa; e) tratamento; f) disposição dos rejeitos
ambientalmente adequada; g) controle social; h) educação ambiental (BRASIL, 2010). O
cumprimento de tais requisitos possibilitariam que o poder público trilhasse um caminho para
a adequada gestão dos RSs. No entanto, vale a pena ressaltar que a destinação dos RSs é
sempre preocupante. Nesse sentido, Santos ensina que:
Diante das dificuldades apresentadas para o gerenciamento dos RSs, muitas outras normas
foram elaboradas, algumas pela ABNT, e precisam ser observadas.
2000 (t/dia) 2008 (t/dia) 2000 (kg/hab. dia) 2008 (kg/hab. dia)
Brasil 149.094,30 183.481,50 1,1 1,1
Municípios pequenos 53.301,40 79.372,20 1 1,2
Municípios médios 47.884,10 62.743,40 1 1,1
Municípios grandes 47.908,80 41.365,90 1,4 1,1
Norte 10.991,40 14.637,30 1,2 1,3
Nordeste 37.507,40 47.203,80 1,1 1,2
Sudeste 74.094,00 68.179,10 1,1 0,9
Sul 18.006,20 37.342,10 0,9 1,6
Centro-Oeste 8.495,30 16.119,20 0,8 1,3
Fonte: DATASUS e IBGE
Elaboração IPEA 2012.
Como é possível observar na tabela 1, trata-se de um problema que precisa ser estudado e
analisado para que seja controlado. A primeira vista percebe-se que reduziu a quantidade de
resíduo gerado por habitante/dia nos grandes municípios, mas na verdade isso pode sinalizar
um problema maior: ou seja, de 2000 para 2008 o volume coletado reduziu, podendo
significar ineficiência no sistema ou mesmo erros nos apontamentos.
De acordo com (SNSA, 2013), a coleta convencional de resíduos alcança 98,4% da população
urbana e o descarte em aterros sanitários chega a 60% do volume coletado. No entanto, do
total de resíduos coletados nos municípios apenas 4,1% são encaminhados para a
compostagem ou reciclagem (NEVES, 2012).
Também segundo Neves (2012), o Plano Nacional de Resíduos Sólidos indica a ação de 400 a
600 mil catadores nas ruas brasileiras. Deste total, cerca de 10% participam de alguma
34
organização coletiva (BRASIL, 2012).
Dentro das organizações dos catadores há uma forte dependência dos poderes públicos, tendo
em vista que os mesmos se encontram inseridos em condições político-econômicas precárias,
com deficiências dentro de sua organização (Neves, 2012).
Tal situação demonstra a necessidade de adequação da gestão dos resíduos sólidos segundo os
moldes da PNRS, com a inclusão e a participação social.
Para os constitucionalistas, como Silva (2003), Lenza (2010), e Mendes e Branco (2013), há
um escalonamento normativo e segundo o qual a Constituição Federal (CF), encontra-se no
topo da pirâmide como fundamento de validação de todo ordenamento jurídico. Segundo
Kelsen (1991):
Tendo como premissa maior a Constituição Federal, para se estudar o meio ambiente, a lei
6.938/1981 lei da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) é considerada como de
proteção ampla, abrangendo os conceitos de meio ambiente natural, artificial e cultural
(COSTA, 2011).
35
O meio ambiente artificial é normatizado pelos artigos 182 e 183 da Carta Magna, que tratam
da política urbana e do desenvolvimento das funções sociais da cidade (LENZA, 2010). Tais
dispositivos são regulamentados pela lei 10.257/2001 – Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001).
Por fim, o meio ambiente cultural é tutelado pelos artigos 215 e 216 da CF que aponta a
história e a cultura de um povo, suas raízes, o patrimônio histórico, artístico e arqueológico
(LENZA, 2010).
O artigo 225 da CF traz a norma mais abrangente envolvendo o meio ambiente, como se pode
observar: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo, e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”
(BRASIL, 1988).
Segundo Costa (2011), desta base constitucional decorre todo o sistema jurídico ambiental
brasileiro. Seguem algumas das principais normas federais referentes ao meio ambiente
natural:
Segundo Costa (2011), a defesa dos direitos coletivos também precisa ser coletiva, para que
seja eficiente. Assim, a ação civil pública regulamentada pelas leis 7.347/1985 e 8.078/1990 é
o principal caminho na esfera civil para a tutela desses direitos (BRASIL, 1985) e (BRASIL,
1990).
A ação civil pública é um instrumento processual adequado para impedir danos ao meio
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico, protegendo os interesses difusos da sociedade. Não se presta a amparar direitos
individuais, ou seja, de uma pessoa só (MEIRELLES, 2004).
37
A legitimação ativa para a ação civil pública (ou seja, quem pode ingressar no judiciário com
uma ação civil pública) abrange o Ministério Público, a Defensoria Pública, os entes
federativos, as pessoas jurídicas da administração direta e associações (COSTA, 2011).
O Ministério Público tem legitimação ampla e ilimitada para a defesa do meio ambiente e,
quando não inicia a ação, obrigatoriamente atua no processo como fiscal da lei (custus legis),
ou seja, ainda que o Ministério Público não seja o autor da ação, por determinação
constitucional ele deverá ser parte (BRASIL, 1988).
Não havendo cumprimento do TAC este deve ser executado para que as normas do poder
legislativo sejam aplicadas ao caso concreto pelo poder judiciário. Assim, fazendo valer o
sistema jurídico brasileiro e garantir que a sociedade não sofra dano (COSTA, 2011).
A lei 12.305/10 que instituiu a PNRS entrou em vigor no ordenamento jurídico brasileiro em
02 de agosto de 2010. Esta lei dispõe sobre princípios, objetivos e instrumentos, além de dar
as diretrizes relacionadas ao gerenciamento de resíduos sólidos de forma sustentável
(COSTA, 2011).
A lei também surge com a finalidade de apresentar normas explicativas que consolidam
conceitos técnicos e multidisciplinares. Assim sendo, torna-se bastante descritivo o seu texto
(COSTA, 2011).
No artigo 3º da LPNRS, é possível observar uma série de definições que o legislador julgou
úteis para que seja possível uma melhor compreensão dos temas delineados. Em especial no
38
inciso VI, encontra-se a definição de controle social como:
Dentre os princípios elencados no artigo 6º da Lei 12.305/10, importa destacar o inciso VI que
valoriza a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, incluindo também o setor
empresarial e outros segmentos da sociedade. Afinal, somente com a colaboração de cada
setor da sociedade é que poderá ser possível chegar ao menor impacto. Mas é justamente essa
a maior dificuldade, criar estratégias para que a participação ocorra (BRASIL, 2010).
Observa-se que, para que se concretize a PNRS, é fundamental que toda a sociedade participe.
Desta forma, é notável que a todo momento os aspectos relacionados à participação social
aparecem com merecido destaque pelos artigos da LPNRS. Tal princípio, qual seja, o da
participação social, pode ser observado no inciso X do artigo 6º da Lei 12.305/10: “o direito
da sociedade à informação e ao controle social” (BRASIL, 2010).
O capítulo II da Lei dedica-se aos planos de resíduos sólidos, dando assim as diretrizes para a
elaboração do plano nacional, os planos estaduais, microrregionais, intermunicipais, e os
planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos. Cada um com suas peculiaridades
e sua importância (BRASIL, 2010).
Quanto aos planos estaduais, este é um dos requisitos para a obtenção de recursos da União.
Para tanto, é de suma importância que os planos estejam prontos o quanto antes, a começar
pelo diagnóstico e os apontamentos de soluções. Além disso, podem existir os planos
microrregionais (BRASIL, 2010).
No artigo 18 têm-se os delineamentos para a elaboração do PMGIRS que é condição para que
os municípios e o Distrito Federal tenham acesso a verbas da União. Nesta etapa também há
na lei o incentivo e insistência no aspecto da participação social (BRASIL, 2010).
A elaboração e fiscalização dos planos de gestão integrada municipais são os mais próximos
da realidade das pessoas, tendo em vista que as pessoas habitam, trabalham, consomem e
vivem nos municípios. Desta forma, o convite à participação social é antes de tudo um direito
de cada cidadão, assegurado pela Constituição Federal em seu artigo 5º. No caso em tela,
deve ser incentivado, direcionado, assessorado e facilitado dentro de cada município
(SANTOS e GONÇALVES-DIAS, 2012).
O referido PMGIRS deverá conter, em seu conteúdo, ao menos o mínimo exigido pela lei. O
ponto de partida é o diagnóstico, que deverá retratar a realidade do município quanto à
situação dos resíduos gerados, sua origem, volume e características, além das possibilidades
mais adequadas para a destinação e deposição final (BRASIL, 2010).
Este deve ser um trabalho minuciosamente elaborado, com investimento de tempo e recursos
financeiros por parte das prefeituras, ouvindo a comunidade, checando informações, com
análises técnicas e uma estrutura devidamente apropriada. Também, deverão ser identificadas
as áreas favoráveis para a disposição final dos rejeitos, observando-se o plano diretor
municipal (BRASIL, 2010).
Nos casos em que for possível, o município deve identificar os geradores dos RSs e a
possibilidade da implantação do sistema de logística reversa, levando-se em conta que o
gerador de resíduos tem responsabilidade sobre o mesmo, em razão da responsabilidade
40
compartilhada (SANTOS e GONÇALVES-DIAS, 2012).
Além disso, deve-se observar a necessidade de adotar estratégias adequadas para a limpeza
urbana e manejo dos RSs. Aqui, aparecem alguns personagens que são destacados pela
referida lei, quais sejam, os catadores de materiais recicláveis. Assim, além da bandeira
ambiental, é imprescindível que se levante uma bandeira de emprego, da geração de renda e
da inclusão social (SANTOS e GONÇALVES-DIAS, 2012).
A lei também traz que para municípios com até 20.000 habitantes o plano poderá ser
simplificado, exceto nos casos que se tratar de cidade turística. Daí decorre que o turismo
pode afetar bastante o impacto causado pelos resíduos sólidos, em razão da quantidade de
resíduos produzidos (BRASIL, 2010).
Importante salientar que a lei dá ênfase quando fala da possibilidade dos municípios se
organizarem de modo a elaborarem planos regionais, neste caso, a referência se dá em torno
da formação de consórcios. Infelizmente, a cultura brasileira aparenta ser bastante
individualista. Neste sentindo, é necessário uma evolução, pois os consórcios aparentam ser
uma solução mais adequada (SANTOS e GONÇALVES-DIAS, 2012).
O manejo dos RSs deve estar inserido em um plano mais amplo, qual seja, o plano de
saneamento básico, tendo em vista que, segundo o artigo 3º da Lei 11.445/07, saneamento
básico é o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de: abastecimento
de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e
41
drenagem e manejo de águas pluviais, devendo, portanto, ter integração entre os responsáveis
por esses serviços (BRASIL, 2007).
Em outro contexto, cabe nova reflexão, a lei 12.305/10 tem como objetivo minimizar as
questões relacionadas aos RSs mediante o aprimoramento das técnicas de gerenciamento dos
mesmos. No entanto, trata-se de uma lei conservadora, pois o paradigma continua o mesmo,
qual seja, o de consumo constante e consequente produção de lixo. Tal situação é questionada
pelo Akatu (2013).
Para os adeptos do consumo consciente (Instituto Akatu, 2013), é importante estar atento ao
fato de que a crescente produção de lixo está relacionada à extração de recursos naturais e
essa situação forma um ciclo que precisa ser evitado. Neste sentido, não basta gerenciar os
resíduos, mas é necessário que haja uma diminuição da geração dos mesmos.
Para Dowbor (2007), o consumo é algo atraente às pessoas e causa sensação de satisfação.
Sabendo disso, as grandes corporações trabalham no sentido de manipular a vontade das
pessoas, impondo-lhes maior necessidade de consumo, tornando essa relação um ciclo em
constante expansão.
Para que a gestão de RSs conte com a participação social, é necessário que as pessoas
compreendam que tais questões vão implicar diretamente a sua qualidade de vida e na
qualidade de vida das gerações futuras.
Pode-se observar o constante conflito entre o individual e o coletivo. No entanto, tal situação
42
tem levado a sociedade a um caminho que parece ser insustentável em longo prazo, de modo
que a qualidade de vida de todos os indivíduos poderá se deteriorar (VLEK, 2003).
Aparentemente vive-se hoje um clima de tensão entre o público e o privado, talvez em razão
de interesses antagônicos. Tal situação de tensão entre interesses individuais e coletivos é bem
representada na expressão dilema dos comuns, segundo Vlek (2003). Este tema ilustra bem o
fato de que em diversas situações, cada ser humano sempre espera que a solução dos
problemas parta do outro.
Muitas vezes ocorre assim, pois os atores individuais estão sempre focados nos seus próprios
benefícios. Assim, nota-se a dificuldade em garantir a convivência de dois princípios
constitucionais que são imprescindíveis, quais sejam: liberdade e igualdade (LENZA, 2010).
Afinal, geralmente, cada qual quer ver sempre seus interesses serem colocados acima de
qualquer outra situação. Entendo que a busca de seus interesses pessoais poderia levar à
qualidade de vida. Neste contexto é importante tentar definir qualidade de vida.
O autor Herculano (2000) traz alguns questionamentos sobre o que seria a qualidade de vida.
A princípio talvez seria discutir as prioridades das pessoas. Mas ainda é muito vago e
subjetivo.
De acordo com Minayo et. Al. (2000), o termo qualidade de vida abrange muitos significados,
que refletem conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e coletividades que a ele se
reportam em variadas épocas, espaços e histórias diferentes, sendo, portanto, uma construção
social com a marca da relatividade cultural. Nesse sentido, é um conceito que pode ser
considerado como uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximada ao grau de
satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética
existencial. Além disso, essa mencionada noção pressupõe a capacidade de efetuar uma
síntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade considera seu padrão de
conforto e bem-estar.
Também de forma ampla, para a Organização Mundial da Saúde (WHO, 1994), qualidade de
vida é a percepção do indivíduo de sua inserção na vida no contexto da cultura e sistemas de
valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e
43
preocupações.
Assim, nota-se que não existe uma definição precisa, algo certo sobre o que venha a ser
qualidade de vida. No entanto, segundo Moreira (2006):
Essa é mesmo uma busca constante das pessoas em vários aspectos, e por isso, mesmo não
havendo uma definição consensual, as pesquisas têm buscado maneiras para medir a
qualidade de vida (CAMPOS e NETO, 2008).
Para mensurar qualidade de vida foram criados muitos instrumentos. Como exemplos desses
indicadores, pode-se utilizar o Índice de Qualidade de Vida, criado pelo jornal A Folha de São
Paulo, e o WHOQOL-100, desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 1994),
entre tantos outros (CAMPOS e NETO, 2008).
Mas de maneira geral, é possível notar que a qualidade de vida é ainda algo muito subjetivo e
depende de cada contexto social no qual as pessoas estão inseridas (GORDIA, QUADROS,
OLIVEIRA e CAMPOS, 2011).
A condição de qualidade de vida está intimamente, mas não integralmente, ligada à área da
saúde. As intervenções nesse campo se dão, numa primeira e importante instância, em
alterações e melhorias do estilo de vida das pessoas, mas percorrem outras áreas fundamentais
(MINAYO et al., 2000).
Observa-se um fenômeno marcante que ocorreu na história que foi a ocorrência do processo
de culpabilização da vítima. Segundo este processo, cada pessoa se torna responsável por
aquilo que não fez em seu próprio benefício. Pois a transmissão de responsabilidade pelas
44
condições de saúde, e de outras áreas das políticas públicas para a ação individual do sujeito,
se faz vantajosa para os órgãos de poder que, além de se omitirem na melhora das condições
de vida, agem de forma economicamente mais interessante em outros setores. Mas esta
postura vem sendo amplamente questionada. (ALMEIDA, GUTIERREZ e MARQUES,
2012).
Aproximando o tema qualidade de vida com os aspectos relacionados aos resíduos sólidos,
tem-se que o lixo coletado é também um serviço básico que tem relação direta com a saúde
pública e o meio ambiente. Afinal, quanto maior a proporção de domicílios atendidos por esse
serviço, menos sujeira é acumulada em áreas residenciais, menor é a possibilidade de
formação de focos de doenças e, como consequência, melhor a qualidade de vida
(ALMEIDA, GUTIERREZ e MARQUES, 2012).
Os conceitos relacionados à qualidade de vida remetem a uma situação na qual cada indivíduo
seja capaz de se posicionar sobre as diversas questões que lhes rodeia.
Assim, muitas dessas decisões, inclusive quanto aos aspectos relacionados à produção e
destinação dos resíduos sólidos deveriam passar pela análise das pessoas. Cada um deveria ter
condição de responder sobre este assunto compreendendo as implicações na sua saúde e os
impactos nas gerações futuras. Este tipo de análise pessoal em qualquer área da vida humana
culmina na autonomia e implica diretamente na oportunidade de participação para tomada de
decisões (TASSARA e ARDANS, 2003).
45
Verificando a história, tem-se que o significado de cultura mais antigo, que corresponde ainda
hoje ao que os gregos chamavam Paideia, e que os latinos indicavam como humanistas: a
educação do homem como tal, isto é, a educação devida àquelas “boas artes”, próprias do
homem e que o diferenciam de todos os outros animais. Nesse sentido, o homem só pode
realizar-se como tal por meio do conhecimento de si mesmo e do seu mundo e, portanto,
mediante a pesquisa da verdade em todos os domínios que lhe interessam. (ALMEIDA,
GUTIERREZ e MARQUES, 2012).
Já não se pode ver com tanta frequência as referências norteadoras das estruturas familiares.
Os padrões, as referências e os chamados guardiões vêm sendo gradativamente substituídos
dentro do modelo atual, por novidades modernas e passageiras (BECK, GIDDENS e LASH,
1997).
Ainda neste sentido, sempre existirão tentativas de exterminar a cultura popular, para
promover, cada vez mais, os valores de consumo, o que leva ao distanciamento cada vez
maior da cultura genuína, e cresce a ânsia por novidades baratas e descartáveis (TASSARA e
ARDANS, 2003).
Assim, sem uma cultura de referência, ou ainda, sem suas raízes bem estruturadas, tem aí
formada uma situação propícia à formação de vulneráveis que não têm capacidade de tomar
decisões (TASSARA e ARDANS, 2003). Portanto, sem autonomia e sem qualidade de vida,
posto que tudo lhes é imposto.
46
argumentação e consequentemente a crítica. Neste contexto, a participação social é o caminho
para a racionalidade (TASSARA e ARDANS, 2003).
Mediante esta análise é possível concluir que onde não há racionalidade, ou seja, onde não há
questionamentos na formação do pensamento, consequentemente não haverá possibilidade de
críticas impedindo que se concretize o interesse pela participação social, afetando diretamente
a questão da qualidade de vida.
Assim, as pessoas precisam ter condições de analisar as situações diversas que envolvem seu
cotidiano, tais como, a gestão dos resíduos sólidos que são produzidos em seus municípios,
para participarem e contribuírem.
2.5.2 Empoderamento
A educação pode ser a solução para muitas dificuldades dentro da realidade do Brasil e do
mundo, posto que ela é capaz de transformar as pessoas e capacitá-las a pensar. No entanto, é
possível observar uma real lacuna na educação formal que vem prejudicando o
posicionamento das pessoas quanto a situações que afetam diretamente o seu cotidiano, tais
como: saúde, a própria educação, transporte, moradia e a gestão de resíduos sólidos.
Assim, surge o questionamento, no sentido de como resolver a referida lacuna deixada pela
educação formal nos dias atuais, já que a educação é uma construção que demanda
investimento de tempo e recursos financeiros.
47
falar em Conselhos Municipais, fóruns de discussão e outros tipos de tentativa de articulação
entre as pessoas e os gestores (GOHN, 2004).
De modo que, cabe a utilização do conceito de empoderamento que, para Gohn (2004), se
refere ao “processo de mobilizações e práticas destinadas a promover e impulsionar grupos e
comunidades, no sentido de seu crescimento, autonomia, melhora gradual e progressiva de
suas vidas (material e como seres humanos, dotados de uma visão crítica da realidade
social)”. Mas que também pode referir-se a:
No contexto da gestão dos RSs, a carência dos catadores de materiais recicláveis quanto à
48
compreensão de sua força de trabalho pode ser observado quando se nota o baixo custo da
força de trabalho dessas pessoas, o que propiciou a manutenção da taxa de lucro do setor, a
competição com os preços de mercado das matérias-primas e, com isso, o crescimento da
reciclagem (NEVES, 2012).
Após uma ascensão de conquistas políticas, não necessariamente exigidas pelo povo, eis o
baque do Golpe Militar que durante duas décadas suprimiu qualquer resquício de participação
das pessoas no direcionamento do Brasil. Dentro do governo militar ditatorial é possível
destacar três fases. A primeira, que vai de 1964 a 1968, corresponde ao governo do general
Castelo Branco e primeiro ano do governo do general Costa e Silva. Esta fase foi marcada
pelo baixo crescimento econômico e tentativa de combate à inflação. A segunda fase vai de
1968 a 1974, com o governo do general Médici, período este marcado por muita repressão
49
política, um período duro para a população, mas com altos índices de crescimento econômico.
A terceira fase começa em 1974, com a posse do general Ernesto Geisel, e termina em 1985,
com a eleição indireta de Tancredo Neves. Mas quem assumiu o governo foi José Sarney, em
razão da enfermidade do presidente eleito. Neste período, a economia sofreu muito com a
crise do petróleo de 1973 (CARVALHO, 2002).
Com a pretensão de resolver as questões que envolvem o cotidiano das pessoas, é necessário
que haja certa estrutura e organização da participação social para construção das respostas aos
muitos problemas sociais. Tal alargamento da democracia expressa na criação de espaços
públicos e de participação da sociedade teve seu principal marco em 1988, com a consagração
do princípio constitucional da participação da sociedade civil (DAGNINO, 2004).
Esse projeto de construção de uma sociedade participativa emerge da luta contra o regime
militar, empreendida por setores da sociedade civil e movimentos sociais. Tal marco permitiu
o restabelecimento da democracia formal com a possibilidade de eleições, formação de novos
partidos políticos etc. Ainda nesse contexto, foram criados os Conselhos, orçamento
participativo e outros mecanismos onde o poder do Estado pudesse ser compartilhado com a
sociedade (DAGNINO, 2004).
Sob outra perspectiva, a influência do neoliberalismo sobre a economia e cultura política dos
países latinos também se instalou no Brasil. Assim, como estratégia do modelo implantado,
perpetua o Estado mínimo que se isenta de seu papel de garantidor de direitos, transferindo
suas responsabilidades para a sociedade civil (DAGNINO, 2004).
Em 1990, assume o governo o presidente Fernando Collor de Mello. O seu principal legado
foi o início da abertura econômica do país e a redução dos impostos de importação, que
forçou a competitividade da produção nacional. No entanto, os resultados não foram tão
satisfatórios para o povo, segundo Carvalho (2002), pois as eleições diretas, aguardadas como
salvação nacional, resultaram na escolha de um presidente despreparado, autoritário,
messiânico e sem apoio político no Congresso Nacional (CARVALHO, 2002).
Diante dessas duas realidades coincidentes no mesmo período, ora pelo princípio
constitucional, ora pelo modelo econômico implantado, a participação social precisaria
50
ocorrer (DAGNINO, 2004).
Neste contexto, segundo Dagnino (2004, p. 97): “a disputa política entre projetos políticos
distintos assume então o caráter de uma disputa de significados para referências
aparentemente comuns: participação, sociedade civil, cidadania, democracia”. Assim, cada
qual segundo seus interesses quer dar seu significado à participação. Talvez todos estejam
com discursos parecidos, mas é necessário analisar o contexto de cada ideal político
envolvido nos discursos (DAGNINO, 2004).
Muitos conceitos mudaram seus significados dentro deste contexto, por exemplo a sociedade
civil é facilmente confundida com ONGs, cidadania passou a significar direito a ter direitos,
resquícios do neoliberalismo. Para superar estas influências, a cidadania deve ser estabelecida
no interior da sociedade, como parâmetro das relações sociais. Deve ser um projeto que trace
um formato mais igualitário, dependendo de um processo de aprendizagem social que implica
a constituição de cidadãos como sujeitos sociais ativos (DAGNINO, 2004).
Dallari (1995) relembra o pensamento de Aristóteles (384 a.C – 322 a.C), o estagirita, que em
seu livro primeiro de Política, proclamava que o homem é por natureza um animal político
(anthropos physei politikon zoon). A participação e a fiscalização nas tomadas de decisão é
um dever de todos, cuja ausência pode ser justificada pela falta de cultura política. O que
reforça o pensamento de Dagnino (2004).
Corroborando com a linha de pensamento, entende-se por participação o ato de fazer parte ou
ser parte de um processo, segundo Silva e Silva (2009). Ainda, segundo Gohn (2004, p. 24):
“Uma sociedade democrática só é possível via o caminho da participação dos indivíduos”.
Assim, para cumprir o artigo 1º da Constituição de 1988 é necessária a participação social
desprovida de outros conceitos, ou seja, livre dos ideais neoliberais, pois dela depende a
51
concretização do Estado democrático de Direito.
Tanto que “o município pode ser considerado como pessoa jurídica de direito público interno
e autônoma nos termos e de acordo com as regras estabelecidas na CF/88” (LENZA, 2010).
Além disso, o art. 34, VII, “c” da Carta Magna, estabelece a intervenção federal no caso de o
Estado não respeitar a autonomia municipal (BRASIL, 1988).
52
Por fim, o princípio da formação do bem comum, que é a finalidade do município cuidar. O
bem comum somente é alcançado a partir da eleição dos bens prioritários, na forma de divisão
escolhida pela própria comunidade, a partir do debate público e da participação política local
(OLIVEIRA, 2005). Assim, parece ser este um meio que realmente legitima a participação
social local, ou seja, dentro dos municípios.
Para Oliveira (2005), os Conselhos Municipais são órgãos colegiados compostos por
membros da Administração Municipal ou compostos por membros da comunidade, com
competências em determinadas matérias para opinar, deliberar ou controlar.
Para se ter uma noção mais ampla, os Conselhos são considerados integrantes da esfera
pública capazes de estimular a democracia e desenvolver a liberdade de expressão
(OLIVEIRA, 2005). Este é um mecanismo que pode e deve ser usado nas questões
relacionadas à sustentabilidade, pois a comunidade precisa entender os benefícios de uma
situação para desejar mudanças, e os Conselhos Municipais podem propiciar discussões que
levem a essas esperadas mudanças. Além disso, a preservação ambiental e mais
especificamente a gestão de resíduos sólidos precisam ser discutidas com a comunidade em
ambientes previamente desenhados para este tipo de reflexão.
53
2.7 Exemplos de boas práticas de participação social na gestão de resíduos sólidos
O modelo econômico atual tem provocado total desequilíbrio entre consumo, quantidades
descartadas e reaproveitadas. Assim, a geração e a má administração dos resíduos têm se
tornado um dos maiores problemas da sociedade moderna (MEIRELES e ALVES, 2011).
Sem consciência e capacidade de articulação para exigirem seus direitos, estes catadores de
materiais recicláveis ficam muito vulneráveis. No entanto, o fortalecimento do
cooperativismo e da autogestão são oportunidades importantes para inserção dessas pessoas
no meio social (MEIRELES e ALVES, 2011).
Esta tarefa não é muito fácil, mas contar com o apoio de cooperativas organizadas pode ser
um passo determinante para a melhoria da situação das pessoas que dependem do lixo para
sua subsistência.
Neste sentido, existem bons exemplos de resgate das pessoas envolvidas com o lixo. Um
54
exemplo é a cidade turística de São João Del Rei que conta com um forte apoio da
Universidade Federal de São João Del Rei, que realiza muitos estudos e desenvolve projetos
mediante voluntários, técnicos, professores e alunos contribuindo para a melhoria da
qualidade do trabalho e da vida dos catadores associados à Associação dos Catadores de
Materiais Recicláveis de São João Del Rei - Ascas - (MEIRELES e ALVES, 2011).
Também dentro deste contexto, nasceu na capital mineira a Associação dos Catadores de
Papel, Papelão e Materiais Recicláveis de Belo Horizonte - Asmare - , que organiza o trabalho
de muitos catadores que anteriormente trabalhavam isoladamente e sofriam por não ter um
local onde armazenar o material coletado, além de serem tratados como marginais (DIAS,
2002).
Em Belo Horizonte, há registros de catadores desde a década de 30. Em uma análise desses
personagens, notou-se que os catadores podiam trabalhar em vazadouros a céu aberto, os
chamados lixões, ou retirando os recicláveis diretamente dos sacos plásticos dispostos para a
coleta convencional de lixo.
Outra característica deste grupo é que a maior parte (83%) possuía moradia, no entanto,
dormiam em casa só nos finais de semana, pois na falta de um local de armazenamento,
precisavam cuidar do material que tinham recolhido. A fim de identificar os envolvidos nesta
realidade, foi realizada uma pesquisa pela equipe de assistentes sociais da Secretaria
Municipal de ação social comunitária em 1989, que detectou que (62%) das pessoas
trabalhavam sozinhas ou com a ajuda de familiares (28%) e apenas um pequeno número
(10%) trabalhava em grupos, com uma jornada de cerca de 12 horas diárias (DIAS, 2002).
Esses catadores sofriam muitos tipos de discriminação, até mesmo os fiscais da prefeitura
realizavam com frequência as operações-limpeza, retirando essas pessoas dos seus locais de
trabalho à força, pois eram caracterizadas como perigosas (DIAS, 2002).
Em 1987, uma pastoral da Arquidiocese de Belo Horizonte começou a ouvir essas pessoas, e
o seu sofrimento. Assim, enxergou a situação de marginalização dos mesmos e
concomitantemente vislumbrou que o trabalho que realizavam poderia ser rentável desde que
se organizassem adequadamente. Então, em 1990 surge a Asmare, que assumiu um papel
55
reivindicatório junto à estrutura administrativa municipal (DIAS, 2002).
Após esse dificultoso início de organização, a Asmare se estruturou em galpões com divisão
de tarefas e uma rotina com horários determinados para a realização das mesmas. A parceria
com o poder público ajudou muito, pois através dela foi possível fornecer aos trabalhadores
uniforme, vale transporte e outro benefícios imprescindíveis à qualidade do trabalho e vida
destas pessoas (DIAS, 2002).
Outro exemplo é o município de Toledo–PR, que passou por algumas mudanças com relação
à gestão dos resíduos sólidos desde 1994, quando um empresa privada construiu um galpão
para recebimento dos resíduos recicláveis, dando oportunidade de trabalho para alguns
coletores de materiais recicláveis. Simultaneamente, a prefeitura iniciou um programa social e
ambiental chamado: câmbio verde, onde as famílias carentes trocavam materiais recicláveis
por alimentos (NEVES, 2012).
56
no município (NEVES, 2012).
Pode ser um início frágil e tímido, mas essa deve ser uma tendência a ser espalhada pelo país,
posto que, as pessoas são mais fortes e poderão ter voz e vez desde que estejam preparadas
para fazer suas reivindicações, tomar decisões e, a partir de então, se enxergarem com
autonomia.
57
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Esta é uma pesquisa social, na vertente qualitativa, que foi realizada através de entrevista
individual de profundidade, norteada por roteiros de entrevista elaborados pela pesquisadora
principal, como indica Bauer e Gaskell (2004).
3.1 Métodos
De acordo com a classificação de Vergara (2005) e Gerhardt e Silveira (2009), quanto aos
fins, trata-se de uma pesquisa aplicada, exploratória e descritiva. Quanto aos meios (método),
trata-se de uma pesquisa de campo, realizada mediante um estudo de caso e pesquisa
participante com observação e entrevistas, com um corte transversal, ou seja, retratando um
dado momento no tempo, qual seja: junho de 2013 a junho de 2014.
A pesquisa aplicada é aquela que visa gerar conhecimentos para uma aplicação prática,
dirigida à resolução de problemas. A pesquisa exploratória tem como objetivo buscar uma
maior familiaridade com o problema, almejando propor soluções. A pesquisa descritiva é
aquela que visa descrever a situação, os fenômenos e os fatos (GERHARDT e SILVEIRA,
2009).
O método utilizado foi o Estudo de Caso, que é adequado quando se pretende compreender,
explorar e descrever um contexto complexo. Para Yin (1994), esse método é adequado quando
o pesquisador pretende responder: como? e por quê? Ou seja, esse método funciona bem
quando o pesquisador quer compreender a dinâmica do fenômeno, programa ou processo que
58
está sendo estudado.
A pesquisa, que utilizou o Método do Estudo de Caso possui ao menos três fases distintas,
segundo Yin (2001):
a- a escolha do referencial teórico sobre o qual se pretende trabalhar; a seleção dos casos
e o desenvolvimento de protocolos para a coleta de dados;
b- a condução do estudo de caso, com a coleta e análise de dados, culminando com o
relatório do caso;
c- a análise dos dados obtidos à luz da teoria selecionada, interpretando os resultados.
Na segunda fase do estudo foram colhidas as evidências que compõem o material sobre o
caso; trata-se do desenvolvimento de entrevistas junto às pessoas relacionadas ao caso, de
observações (direta ou participativa, quando o observador faz parte da realidade sob estudo)
ou mesmo da utilização de artefatos (gravadores, como no presente estudo).
Por fim, a última fase é a análise das informações levantadas com embasamento dado pelo
referencial construído.
Dentro da análise do Fórum lixo e Cidadania e da Cooperativa Ação Reciclar, foi utilizado o
método da pesquisa participante que é um método que visa diminuir a distância entre teoria e
59
prática e sujeito e objeto (SILVA, 1986). Para Thiollent (2009), a pesquisa participante é um
tipo de pesquisa baseado numa metodologia de observação participante. Neste sentido,
Ezpeleta e Rockawell (1986) ensinam que a pesquisa participante está “ligada à antropologia
e à sociologia qualitativa”, permitindo o acúmulo de conhecimentos sobre realidades sociais e
culturais com a finalidade de melhor compreender e assim conseguir descrever uma situação.
Para a observação participante, Gil (2008) ensina que o observador pode, até certo ponto, se
aproximar do grupo e tentar fazer parte dele. Para o autor, trata-se de uma vantagem, pois tal
aproximação facilita o acesso a algumas informações.
3.2 Procedimentos
Como se trata de uma pesquisa qualitativa foram seguidos 6 (seis) passos, segundo Bauer e
Gaskell (2004), quais sejam:
1- Preparação do tópico-guia (roteiro de entrevistas);
2- Seleção do método de entrevista;
3- Seleção dos entrevistados;
4- Realização das entrevistas;
5- Transcrição das entrevistas;
6- Análise do corpus do texto (análise de conteúdo).
A identificação dos sujeitos foi constituída pelas siglas S1, S2 etc. C1, C2 etc. O método de
entrevista utilizado foi o individual de profundidade, conforme Bauer e Gaskell (2004) e
Bardin (1977).
60
O primeiro contato com os sujeitos foi feito através de agendamento por contato telefônico ou
pessoalmente, para marcar a realização da entrevista pela pesquisadora principal. O local de
coleta de dados foi no estabelecimento de trabalho do entrevistado, ou outro local
estabelecido pelas partes.
Para a realização desta etapa, Bardin (1977) ensina que a classificação dos elementos em
categorias impõe a investigação do que cada um deles tem em comum com outros. Neste
sentido, o que vai permitir o seu agrupamento é a parte em comum existente entre eles.
61
variação da ocorrência de um fenômeno social. Assim é possível explicar uma "realidade",
tornada real pelos sujeitos, e não uma verdade absoluta, desprovida de valor.
Segundo dados informados pelo Secretário de Serviços Públicos (S3, 20/março/2014), “hoje
são produzidas 150 toneladas de lixo por dia em Poços de Caldas”, e a coleta seletiva está
presente em apenas 30% da cidade.
Pesquisa 1
Codema
62
O Codema é um Conselho municipal e, portanto, deve atender à finalidade de ser um espaço
destinado à participação social. Para tanto, a lei 7.951 (POÇOS DE CALDAS, 2004) o
regulamenta delimitando a sua atuação e indicando sua composição.
Em 03/09/13 foi realizada a solenidade de posse dos novos membros do Conselho Municipal
de Defesa e Conservação do Meio Ambiente – Codema. A cerimônia de posse aconteceu na
Casa dos Conselhos, no piso superior do Mercado Municipal. A composição dos novos
membros do Codema, ver Anexo II.
Em 1998 foi criado o Fórum Nacional Lixo e Cidadania, que tem como objetivos: a
erradicação do trabalho infanto-juvenil nos lixões, a inclusão social, cidadania, mudança na
destinação final do lixo, o fim dos lixões, promover discussões e apresentação de solução para
os problemas envolvendo os resíduos, entre outras (GALBIATI, 2005).
O Fórum Municipal Lixo e Cidadania de Poços de Caldas é uma instância que agrega
interessados, atuantes e responsáveis pela gestão dos resíduos sólidos no município de Poços
de Caldas–MG. Tem caráter permanente de discussão, proposição, articulação, apoio técnico,
capacitação e sensibilização para a adequada gestão e manejo dos resíduos sólidos no
município, atuando de acordo com as diretrizes dos Fóruns Nacional e Estadual Lixo e
Cidadania, segundo os Arts. 1º e 2º do Regimento Interno do fórum (POÇOS DE CALDAS,
2013).
Para mais detalhes quanto ao Regimento Interno do Fórum Lixo e Cidadania, ver Anexo IV.
Pesquisa 2
A Ação Reciclar está localizada na rua Coronel Virgílio Silva, n° 4.186, Bairro Estância São
José, em Poços de Caldas–MG, telefone (35) 3713-7928. Entre suas principais atividades
destaca-se a coleta, triagem, processamento e comercialização destes materiais.
Desde 2008, esta cooperativa tem uma parceria com a prefeitura de Poços de Caldas–MG.
Nesta parceria, a prefeitura disponibiliza caminhões para recolhimento dos materiais e
atualmente cedeu o barracão onde se realiza a triagem de materiais. Muito embora a Lei
Orgânica municipal 8.316/06 que instituiu a Política Municipal de Resíduos Sólidos seja de
2006.
Pesquisa 3
64
Foi entrevistado o responsável pela empresa terceirizada Embralixo, que faz a coleta de todo o
lixo do município na área urbana e alguns trechos da zona rural.
Além dos serviços já executados anteriormente, hoje a empresa executa outros tipos de
serviços como a coleta e a destinação de resíduos sólidos sépticos, lavagem de feiras livres,
coleta de entulhos e podas etc. em diversos municípios (Embralixo, 2014).
O início das atividades se deu em Bragança Paulista (SP), mas hoje a empresa atende diversas
prefeituras no estado de São Paulo e também em Minas Gerais, como exemplo, é possível
citar que a coleta do município de São João da Boa Vista-SP é realizado pela empresa
(Embralixo, 2014).
Pesquisa 4
Ao longo das entrevistas que foram sendo realizadas, a pesquisadora percebeu que havia uma
tendência à transferência da responsabilidade da gestão dos resíduos sólidos para o
Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae). Assim, utilizando a técnica “bola de
neve”, a pesquisadora decidiu entrevistar também alguém que fosse responsável pelo Dmae, a
fim de verificar se o Departamento estava ciente da possibilidade de transferência da gestão
dos resíduos sólidos para sua responsabilidade, posto que o mesmo ainda não havia se
manifestado sobre o assunto oficialmente.
O Dmae é uma autarquia municipal criada pela Lei municipal n.º 1.220 de 15 de setembro de
1965 e tem como finalidade administrar os serviços de saneamento básico do município.
65
A primeira Estação de Tratamento de água foi construída em 1943, no bairro São Benedito, e
ampliada em 1957, com captação de água na Represa Saturnino de Brito, estando hoje em
fase de ampliação de mais de 70%. Atualmente o Dmae, possui três Estações de Tratamento
de Água em funcionamento, todas dotadas de sistema de fluoretação. As ETAs são: ETA I
(localizada no Bairro São Benedito); ETA III (localizada no Bairro São José); ETA V
(localizada na Rodovia do Contorno) (POÇOS DE CALDAS, 2014).
Segundo Bauer e Gaskell (2004), o número de pessoas entrevistadas não poderia ser muito
grande, pois dificultaria a análise. Afinal, até o tom emocional do entrevistado precisou ser
identificado para garantir um bom resultado do trabalho.
Além disso, foi importante que a pesquisadora pudesse compreender o ambiente em que o
entrevistado está inserido e até mesmo a linguagem local. A atenção precisou ser grande
também, pois algumas vezes o entrevistado não revelou todos os detalhes da situação
mediante a fala (BAUER e GASKELL, 2004).
Observando essas recomendações e cuidados na construção do corpus, ele pôde ser analisado
dentro da proposta de estudo científico. Para a análise, os sujeitos da pesquisa foram
caracterizados através do critério funções.
66
O referido instrumento de análise foi constituído mediante a realização e a transcrição das
entrevistas individuais e de profundidade com os seguintes personagens:
Validação
Para as pesquisas 1 e 2, a “juíza” foi uma pesquisadora da Unicamp que reside em Poços de
Caldas-MG, leciona na Unifal (Universidade Federal de Alfenas), e faz parte do Fórum Lixo e
Cidadania. Além disso, as questões foram sendo conversadas com alguns dos cooperados da
Ação Reciclar.
Na tentativa de evitar o viés, foram entrevistados atores diferentes que darão suas versões
sobre as questões relacionadas à participação social na gestão de resíduos sólidos.
Bauer e Gaskell (2003) explicam que a pesquisa social qualitativa enfrenta grande dificuldade
de legitimação em razão da menor formalidade dos métodos. Mas esse tipo de pesquisa se
torna rico a partir da análise de materiais de diferentes origens, como entrevistas, registros
fotográficos, documentos, entre outros.
Após a coleta dos dados mediante entrevistas, registros fotográficos, visitas à Cooperativa, ao
Fórum Lixo e Cidadania, e aos Departamentos e Secretarias Municipais, a pesquisadora
principal fez a transcrição de todas as informações colhidas mediante as entrevistas, sendo
respeitada a sequência das perguntas, respostas e interpretações. Importante salientar que cada
entrevistado foi representado por um identificador: S1, S2 etc. C1, C2 etc.
A análise dos dados foi realizada pelo método de análise de conteúdo (BARDIN, 1977). Essa
técnica da análise de conteúdo tem ao menos três etapas, quais sejam: pré-análise, exploração
do material e tratamento dos resultados.
A primeira etapa foi a transcrição das entrevistas, definição dos critérios para identificação
dos entrevistados, preparação do material e leitura flutuante, de modo a mergulhar nas
profundezas das ideias refletidas nos comentários de cada entrevistado. A segunda etapa,
68
denominada exploração do material, já adentra na organização da codificação, mediante a
escolha das unidades analisadas, a definição das regras de contagem e classificação e escolha
das categorias. Nesse momento, o corpus da pesquisa foi mais aprofundado, sendo orientado
pelas hipóteses e pelo referencial teórico, surgindo desta análise quadros de referência,
buscando sínteses coincidentes e divergentes de ideias (BARDIN, 1977).
Por fim, no fechamento dos resultados, buscou-se fazer a transição entre a enumeração das
características do texto e a obtenção de sua interpretação, intentou-se fazer conexões com a
realidade chegando à proposta de sugerir situações de transformação, Bardin (1977).
Para a análise foram utilizadas as seguintes categorias, escolhidas e agrupadas de acordo com
a leitura das entrevistas:
CATEGORIA DEFINIÇÃO
5- Plano municipal de gestão integrada Refere-se aos tópicos previstos no Guia para
69
de resíduos sólidos elaboração dos Planos de Gestão de Resíduos
Sólidos (Min. do Meio Ambiente, 2011), tais
como: elaboração do diagnóstico e dos cenários
futuros, definição das diretrizes e estratégias,
definição das metas, programas e recursos
necessários, e processo de implementação das
ações definidas no Plano Municipal de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos.
70
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme Palma et al. (2004), o aterro de Poços de Caldas se situa na porção sul do
município, a aproximadamente 100 metros da rodovia BR 146, que liga a cidade de Poços de
Caldas a Andradas, a cerca de 12 km da área urbana de Poços de Caldas, à margem do
córrego do Retiro dos Moinhos, na bacia do Rio das Antas, conforme a figura 1.
Segundo Palma et al. (2004), a área ocupada pelo aterro é de 33.000 m 2. Mediante consulta à
Secretaria de Serviços Públicos, foi obtida a informação sobre o volume de lixo coletado
diariamente no município. O referido volume varia numa média de 150 toneladas de lixo
71
diárias. No entanto, apenas 30% do volume total passa pelas Cooperativas de Catadores para
seleção do material reciclável e destinação adequada. No entanto, esta é uma estimativa, posto
que o município não tem os dados calculados precisamente. Tanto que, para a empresa
terceirizada que faz a coleta, Embralixo, a média varia em 200 toneladas de lixo diárias, ou
seja, 50 toneladas a mais.
Dentro deste terreno funciona o atual aterro sanitário, que recebe diariamente uma enorme
quantidade materiais que poderiam ser reciclados, segundo o S3-A (27/março/2014), 70% dos
materiais poderiam ser reciclados ou reaproveitados, tais como madeira, plástico, vidro,
72
alumínio e outros, conforme a figura 3.
Além dos materiais que poderiam ser reaproveitados, o local abriga urubus que ficam muito
próximos dos trabalhadores do lixão, conforme figura 4.
73
atrai muitos urubus, conforme figura 4. Além disso, nota-se que os funcionários não utilizam
luvas ou equipamentos de proteção individual (EPIs), conforme a figura 5.
Do outro lado do terreno, a prefeitura está com um projeto supervisionado pelo engenheiro
Carlos Batezini, para a construção do novo espaço destinado ao lixo do município. Trata-se do
Projeto do Aterro Sanitário Controlado, segundo S3 (20/março/2014).
74
sanitário.
Ainda segundo informações obtidas na Secretaria de Serviços Públicos, o novo terreno tem
capacidade para armazenar o lixo do município por mais 17 (dezessete) anos, se a quantidade
de lixo permanecer como é hoje. Assim, é plano da prefeitura estimular a cooperativa Ação
Reciclar e reorganizar outras cooperativas para que ampliem seus trabalhos de modo que seja
depositada uma menor quantidade de lixo no novo aterro (S3, 20/março/2014).
Cooperativa de catadores:
75
Cooperativa Ação Reciclar
Nas visitas foi possível conhecer o local de trabalho dos catadores, onde é feita a separação de
materiais, denominada triagem. Algumas informações foram obtidas com C1 e C2 que são
responsáveis pela diretoria atual.
76
adequada dos materiais recicláveis, por parte dos moradores. No entanto, quando recolhem
uma quantidade maior de material ficam sem local para armazenamento, pois o galpão não é
muito grande, conforme é possível observar na figura 9.
Constatou-se que, embora a Cooperativa tenha recebido ajuda da Prefeitura, que emprestou o
barracão para a realização do trabalho e disponibiliza um caminhão para coletar os materiais,
as condições de trabalho e segurança ainda são muito precárias.
Observou-se que os cooperados não utilizam luvas, alguns trabalham de chinelo ou sem
camisa. Além disso, em algumas das visitas a pesquisadora observou que algumas pessoas
estavam fumando durante a realização das tarefas, o que pode ser muito perigoso, podendo
causar algum tipo de incêndio no local. Além disso, como o galpão é pequeno, alguns
cooperados precisam trabalhar do lado de fora em barracas improvisadas, como pode ser
observado na figura10.
77
FIGURA 10: Área externa do galpão da Cooperativa Ação Reciclar
Fonte: Elaborado pela autora (2013).
Outros problemas são comuns. A Cooperativa já sofreu alguns furtos, onde foram levados
objetos importantes na administração do trabalho, como o computador e a impressora.
Enfim, há muito a ser melhorado em muitos aspectos dentro da Cooperativa que está
diretamente relacionada à questão da gestão dos resíduos sólidos no município.
Embralixo
78
(cinquenta) coletores e os outros 20 (vinte) funcionários, divididos entre outras funções, como
mecânicos. Esses funcionários têm à disposição para a realização dos trabalhos um total de 10
(dez) caminhões, segundo o responsável pela empresa (28/março/2014). Quanto aos
funcionários, o representante da empresa Embralixo, (28/março/2014), afirmou que os
funcionários se machucam muito durante a realização do serviço de coleta, em razão da
grande quantidade de materiais cortantes, seringas e outros que se misturam ao lixo comum.
Relatou inclusive, que há um funcionário da empresa tomando “coquetel”, pois está
contaminado com o vírus HIV durante o trabalho.
Importante salientar que a licitação mediante a qual a empresa começou a trabalhar já expirou
seu prazo em dezembro de 2013 e, assim, o município fez um contrato de urgência com a
empresa, para que os serviços de coleta de lixo não fossem interrompidos enquanto o
município prepara novo processo de licitação, segundo informações da Secretaria de Serviços
Públicos (S3, 20/ março/2014).
O responsável pela empresa afirmou que a Embralixo não vai participar da nova licitação do
município, por motivos relacionados a “desencontros” com a administração pública municipal
(E1, 28/março/2014).
Conselhos Municipais
Atas do Codema
79
(Apêndice IV).
Se fosse imprescindível a análise destes documentos, poderiam ser utilizados outros meios
legais para a obtenção, mas optou-se por realizar o trabalho de outras formas.
A lei 12.305/10 prevê que cada município elabore um PMGIRS, cuja primeira etapa deveria
ser a realização de um diagnóstico envolvendo vários aspectos e contando com a participação
social. Esta primeira etapa deveria ser entregue no ano de 2012 para que os municípios
recebessem verbas federais.
Esta etapa foi prontamente realizada pelo município de Poços de Caldas-MG, no entanto, em
março de 2013 a Secretária Municipal do Meio Ambiente informou à pesquisadora que ainda
não tinha cópia do plano (S1, 03/março/2014). Estas informações foram obtidas na própria
Secretaria. Estranho, pois a mesma já deveria estar se adequando para a etapa seguinte.
A cópia do referido plano só foi obtida em junho de 2013, mediante a ajuda de uma professora
da Unifal, de Poços de Caldas-MG.
A leitura do plano não trouxe muitas expectativas, pois aparentemente não reflete a realidade
do município, tendo em vista que uma empresa foi contratada para elaborá-lo e não
contemplou todos os requisitos da legislação, especialmente no que se refere à participação
social para elaboração do mesmo.
80
Atualmente, a Secretaria de Meio Ambiente fala em revisão do plano e ajuste à realidade
local. Para tanto, foi elaborado um termo de referência em acordo com as secretarias
municipais e o departamento de meio ambiente com diretrizes para a elaboração do novo
PMGIRS (S1, 05/março/2014).
Desde março de 2013, a pesquisadora participa das reuniões do Fórum Lixo e Cidadania no
município de Poços de Caldas-MG, que é um instrumento de participação social para
discussões quanto à gestão de resíduos sólidos e a situação dos catadores de materiais
recicláveis. Este Fórum se reúne, mensalmente, toda 1ª (primeira) quinta-feira de cada mês, na
Casa dos Conselhos, espaço cedido pela Prefeitura, localizado no centro da cidade, em cima
do Mercado Municipal, local aparentemente estratégico para o fim a que se destina. Neste
período, a pesquisadora realizou entrevistas informais com os componentes do Fórum Lixo e
Cidadania.
Muitas pessoas fazem parte deste Fórum, que vem tentando se organizar internamente, ainda
discutindo seu regimento interno, mas contando com pessoas com muita boa vontade em
ajudar.
Infelizmente, o Fórum Lixo e Cidadania, que já é uma estrutura organizada, também não foi
consultado quanto à elaboração do PMGIRS, muito embora tivessem feito solicitações neste
sentido, conforme S5 (31/março/2014) e S6 (17/março de 2014).
81
ele não pôde atender a pesquisadora e indicou para falar em seu nome o engenheiro
responsável (D1, 5/junho/2014). Na entrevista, o engenheiro afirmou que o Dmae não está
preparado para assumir esta atribuição, mas que pretende se adequar para atender a esta
decisão da Prefeitura.
Ainda, segundo D1 (5/junho/2014), o projeto de lei, que passará a gestão de resíduos sólidos
para o Dmae, já está pronto para ser levado em votação na Câmara Municipal, e que, na
opinião dele, só não foi levado ainda por questões políticas, em razão de este ser um ano de
eleições.
Assim, foi possível constatar que é só uma questão de tempo para que a gestão de resíduos
sólidos passe a ser de total responsabilidade do Dmae.
Categorias
Para os catadores de materiais recicláveis, “essa gestão aqui melhorou, mais ainda num tá
boa assim excelente do jeito que é pra ser não” (C1, 24/fevereiro/2014).
O termo “melhora da gestão”, nesse caso, se refere aos benefícios que a Cooperativa de
Materiais Recicláveis vem recebendo da Prefeitura Municipal. Pois, além de pagar o aluguel
do galpão, também disponibiliza caminhão, telefone, energia elétrica, entre outros. No
entanto, eles terão que deixar o local onde funciona a Cooperativa e estão preocupados sobre
o novo local. Por isso, na concepção desse entrevistado a gestão de resíduos não está
“excelente”.
A fala não diz respeito aos mecanismos de gestão de resíduos no sentido amplo. Na verdade, a
82
visão é micro, e praticamente só vislumbra os interesses dos cooperados, melhores condições
de trabalho, benefícios e facilidades.
Em momento nenhum, nessa fala, nota-se que os cooperados da Ação Reciclar desejam
realizar um trabalho que beneficie o meio ambiente, algumas vezes até mencionam que seu
trabalho é importante, mas, faz falta a percepção da realidade ampla que envolve a questão do
lixo: “Acho que é até boa porque aqui tem bastante catador” (C2, 24/fevereiro/2014).
Na expressão “aqui tem bastante catador”, é possível observar novamente que a visão dos
cooperados é voltada para a realidade interna da cooperativa. É importante notar que como
cresceu o número de catadores avulsos, ou seja, aqueles que não estão vinculados à
Cooperativa e estes muitas vezes fazem o mesmo trajeto do caminhão da Cooperativa, só que
um pouco mais cedo, recolhendo o material antecipadamente, por isso está faltando material
para os cooperados trabalharem. Assim, concluem que, se está faltando material, é porque
possivelmente a gestão esteja boa.
Interessante notar que é confortável para os catadores avulsos passarem recolhendo material
nos mesmos locais onde já é costume o caminhão da Ação Reciclar passar, pois normalmente
os moradores deixam estes materiais já separados para o caminhão da cooperativa, o que
facilita o trabalho dos avulsos.
Muitos trabalhadores optam por não participarem das cooperativas, alegando motivos
diversos, tais como, distância, ter que pagar INSS, não gostar de trabalhar com todos os tipos
de materiais, só os mais caros. Em outra fala, observa-se: “não tá boa não, precisando mais
da prefeitura ajudar a gente” (C3, 24 de fevereiro de 2014).
Aqui fica bem claro o posicionamento dos cooperados, “a prefeitura precisa ajudar”. Esse tipo
de apelo é frequente. E demonstra que, para a Cooperativa funcionar, precisa da tutoria da
Prefeitura.
Claro que eles precisam de cursos, a organização jurídica e administrativa de uma cooperativa
é complexa e eles precisam de apoio neste sentido, no entanto, o que aparenta é que se eles
continuarem com esse raciocínio, nunca a ajuda será suficiente, sempre vão precisar de mais e
mais. Assim, o apoio dado pela Prefeitura precisa ser capaz de suprir suas reais necessidades e
83
não apenas amenizar suas necessidades, de modo a nascerem novas continuamente.
É notável também que há falta de entendimento de alguns cooperados quanto ao seu papel
como membro da Cooperativa. Neste caso, parece que ele se vê mais como um empregado do
que como um cooperado. Isto fica claro quando se percebe que eles cobram da administração
pública o atendimento dos seus próprios interesses: melhores condições de trabalho,
benefícios e facilidades, não entendem que isto tem que ser conquistado por eles, com seu
trabalho e autogestão. Falta educação para o cooperativismo.
Além da visão dos cooperados, outros posicionamentos também são apresentados: “nós
estamos neste momento elaborando, em fase de preparação, do plano de saneamento que vai
também contemplar a questão dos resíduos de uma maneira mais complexa e moderna” (S2,
18/março/2014).
Enquanto o Dmae não se posiciona oficialmente, não tem prosseguimento nas adequações
necessárias ao plano de resíduos sólidos. Ainda quanto à gestão, foi comentado: “Olha bem
pobre, embora seja melhor que muitas outras cidades, né” (S5, 31/abril/2014); “então não há
nenhuma sistematização de coleta de dados que permitisse a gente renovar inclusive o plano
de gestão” (S1, 05/março/2014); “Se você não tem esse banco de dados, a gestão não opera”
(S1, 5/março/2014).
“Bem pobre”, como pode ser observado na fala. A começar pela inadequação do PMGIRS
apresentado e sem perspectivas de real melhoria do plano, posto que não há subsídios para
fazer o diagnóstico que é a etapa inicial para elaboração do plano.
Na verdade para que seja realizado o diagnóstico, seria necessário analisar os dados da coleta,
ou seja, seria necessário saber ao certo quanto de lixo é coletado diariamente na área central e
84
nas regiões norte, sul, leste e oeste do município. No entanto, não existem esses dados. A
média de lixo coletado varia de 120 a 200 toneladas por dia (estimativa) (S7, 12/março/2014)
e (E1, 28/março/2014). Sem um diagnóstico preciso é muito difícil elaborar um plano
adequado.
Quanto à gestão de resíduos de Poços de Caldas estar melhor que em outros municípios, esse
também não é um dado baseado em estatística, assim, é só mais uma suposição. No entanto,
ainda que estivesse melhor que algum outro município, o ideal é sempre avançar e ter como
referência a lei.
O fato de haver cidades em situação pior que Poços na gestão dos RSs não melhora nem
justifica a ausência de um plano bem elaborado e implementado que permita a gestão.
“Nunca é fácil, a gestão de resíduos nunca é tão fácil, porque ela é um problema mundial”
(S7, 12/março/2014)
Realmente a gestão de RSs é uma dificuldade. Assim, a preocupação com este assunto merece
destaque dentro da realidade do município, que precisa criar mecanismos para a redução do
lixo. Ocorre entretanto que, por mais este seja um problema mundial, a solução dos problemas
precisa partir da esfera local e esta afirmação não abona nem justifica a ausência de um plano
bem elaborado e implementado na cidade. Neste sentido, as leis do Saneamento Urbano
(BRASIL, 2007) e da PNRS (BRASIL, 2010) precisam caminhar juntas. “É, quando a gente
fala de saneamento, saneamento são quatro tratos né, quatro partes, a água tratada, o
esgotamento sanitário, a drenagem urbana e os resíduos sólidos.” (D1, 05/junho2014).
O que parecia uma tendência até a entrevista com o engenheiro responsável pelo Dmae se
confirmou como uma decisão política. Os RSs serão de responsabilidade do departamento,
segundo o entrevistado que insiste na necessidade de adequação à Lei do Saneamento
(BRASIL, 2007). Para o Dmae:
Conversei várias vezes com o prefeito, que não tem exatamente essa visão de
que é um problema de gestão simplesmente de você alocar recursos e
prioridades, porque se você não colocar um gestor, como a água e esgoto
tem um gestor formal, por exemplo, a secretaria de serviços públicos só faz a
coleta, não tem gestão (D1, 5/junho/2014).
Segundo o engenheiro do Dmae, que já vem analisando alguns pontos relacionados aos RSs,
85
muitas coisas precisam mudar, tanto que, segundo ele, hoje não existe uma gestão
propriamente, mas apenas o recolhimento dos materiais, fato este que precisa ser modificado
gradativamente.
Para o entrevistado, já está pronto o projeto de lei com as diretrizes para transferir para o
Dmae a gestão de RSs do município. Tal projeto só não foi levado à Câmara ainda porque a
prefeitura está esperando o melhor momento político.
Nesta categoria, foram agrupadas falas que demonstram a percepção dos entrevistados quanto
às práticas implementadas e em operação, relacionadas à gestão integrada de resíduos sólidos
no município. Os primeiros entrevistados analisam a situação sob uma ótica reduzida,
basicamente vislumbram ideais de melhoria para a realidade da Cooperativa da qual
participam, demonstrando pouco interesse quanto ao assunto em âmbito municipal e também
com pouca demonstração de compreensão nos aspectos relacionados ao meio ambiente.
Além disso, é possível perceber que em Poços de Caldas, assim como em outros municípios
estudados, as organizações dos catadores possuem forte dependência em relação à prefeitura,
em razão de terem estruturas precárias e seus trabalhadores serem fragilizados e dependentes
(NEVES, 2012).
Em outros municípios é possível observar situação semelhante, tal como em São João Del
Rei. Para este município, um grande progresso quanto à inclusão social dos catadores de
materiais recicláveis e a melhoria no trabalho com materiais se deram com a aproximação da
Universidade Federal de São João Del Rei, que realiza muitos estudos e desenvolve projetos
junto aos cooperados (MEIRELLES e ALVES, 2011).
Os demais entrevistados fornecem uma visão ampliada do município, indicando alguns pontos
básicos que precisam com urgência ser resolvidos, tais como: a falta de um banco de dados
que caracterize os resíduos, a inadequação do PMGIRS e da tendência em alocar a gestão de
RSs para dentro da gestão de saneamento, tendo como responsável o Dmae, tendência esta
que não demorará a ser concretizada.
87
informações permitisse a elaboração de um plano adequado, mas não é o que ocorreu até aqui.
Os próprios entrevistados indicaram o problema da falta de um banco de dados. Assim, diante
da orientação da lei e da constatação dos entrevistados este problema precisa ser sanado
(BRASIL, 2010).
Segundo o representante do Dmae, tão logo deve ser apresentado o projeto de lei à Câmara,
para que se decida sobre a incorporação da atribuição da gestão de resíduos ao Departamento,
e este, por sua vez, já comece a preparar o diagnóstico para a então elaboração adequada do
PMGIRS e iniciar a gestão, tendo em vista o direcionamento da lei de saneamento que
engloba: abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de
resíduos sólidos e drenagem e manejo de águas pluviais, devendo portanto, ter integração
entre os responsáveis por esses serviços (BRASIL, 2007).
Esta categoria engloba a coordenação das práticas relacionadas à gestão dos resíduos sólidos
no município visando a implementação das ações definidas no PMGIRS, tal como previsto na
lei 12.305/10.
Segundo a lei citada, a gestão deve ser realizada de forma integrada e contemplando a
participação social. Seguem as impressões sobre tais aspectos: “o presidente do Codema vai
ser escolhido na primeira reunião entre seus pares. Antes, o diretor do departamento era o
presidente” (S1, 05/março/2014).
O Codema, Conselho Municipal de Defesa e Conservação do Meio Ambiente, teve por muitos
anos, como presidente, a mesma pessoa que ocupava o cargo de diretoria do departamento de
meio ambiente, no entanto, agora não é mais. Para a atual diretora do Departamento de Meio
Ambiente esse foi um ganho, pois desta forma as opiniões não ficam tão engessadas.
No entanto, esta, que parecia ser a instituição adequada para a participação social nas tomadas
de decisões referentes à gestão de resíduos sólidos praticamente, não se envolve, ou
praticamente desconhece o assunto.
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Na verdade, um dos assuntos frequentes nas reuniões do Codema é a tomada de decisão sobre
o afastamento de multas ambientais aplicadas a particulares que apresentam recursos
administrativos.
Afinal, os conselhos de meio ambiente são importantes para garantir a participação social na
gestão de RSs (NUNES, 2012). Tendo em vista que a CF institucionalizou a participação
social através da implementação dos conselhos (KLEBA, 2010).
Outro ponto: “Nós somos um órgão de planejamento, nós não somos um órgão do executivo”
(S1, 05/março/2014).
O PMGIRS está atrasado e, por outro lado, a construção do novo aterro sanitário municipal
está avançando. É interessante notar que se o município precisa de um novo aterro sanitário,
isto deveria fazer parte de um planejamento, não apenas de uma imposição do MP, como é o
caso de Poços de Caldas-MG. Assim, não há o plano, mas as obras avançam, indicando que a
ordem está invertida.
Ainda com relação à gestão, nota-se uma falta de integração entre as secretarias: “Como a
gestão é pensada?... bom, de qualquer forma essa seria uma pergunta interessante para o
secretário de Serviços Públicos” (S1, 05/março/2014); “... e não há essa integração” (S1,
05/março/2014); “... bom, antes de mais nada, a questão da gestão de resíduos é da
Secretaria de Serviços Públicos...” (S2, 18/03/2014).
Tal situação demonstra que não há uma integração dentro dos setores da Prefeitura. Essa falta
de integração é de conhecimento das secretarias e precisa se tornar uma meta. Uma secretaria
não pretende entrar na área da outra, não pretende opinar, dentro de cada departamento ou
secretaria já existe muito trabalho, essa foi a percepção no tom da fala. Mas, esse tipo de
pensamento só prejudica o andamento dos setores, também pode prejudicar a gestão dos RSs.
O plano de gestão deve ser integrado, conforme orientações da lei 12.305/10 e na sequência
sua execução também precisa ser integrada. Mas, o problema da falta de dados também é
muito grave: “Se você não tem esse banco de dados, a gestão não opera” (S1,
05/março/2014).
Não há como administrar sem conhecer detalhadamente a situação. Assim, é difícil a gestão se
concretizar quando não há um diagnóstico bem feito, que traga conhecimento sobre a real
quantidade de lixo gerada, quem são os maiores geradores e outros fatores.
Assim, seria importante que fosse criado um banco de dados como a diretora do departamento
de meio ambiente alertou. Este banco de dados implica criar um sistema de coleta de dados
sistematizados, que permita a elaboração de um histórico sobre a coleta, triagem e destinação
dos resíduos sólidos no município. Isso permitiria melhorar o planejamento, sabendo e
analisando tendências a partir deste histórico, considerando sazonalidades, especificidades
etc. (por exemplo, volume e tipos de resíduos mais comuns de acordo com épocas do ano).
Trata-se de fazer a avaliação e a classificação quantitativa e qualitativa dos resíduos. Isto
poderia ser feito a partir da criação de uma Central de Gerenciamento de Resíduos.
Mas para que a gestão ocorra é preciso integração e tomada de decisão, mas: “Até agora o
Dmae não se movimentou para abrir um conselho junto com a secretaria” (S1,
05/março/2014); “Se o prefeito assim entender e passar todo o saneamento para o
departamento de água e esgoto” (S1, 05/março/2014).
Na verdade, parece que ainda não há uma orientação sobre o que é melhor para o município, o
que se justifica pela frase: “Se o prefeito assim entender”. Enquanto isso, não ocorre a
revisão, nem a modificação do PMGIRS.
Importante salientar que uma decisão como esta pode gerar muitas consequências para o
município, assim, precisa ser tomada de forma técnica e não política. “A nossa parte como
técnica nós fizemos” (S1, 05/março/2014).
Ainda quanto à inclusão do PGIRS no plano de saneamento, é necessário esclarecer que essa
foi uma orientação do departamento de meio ambiente. No entanto, não basta dizer: “nossa
parte como técnica nós fizemos”, pois ainda há muito a ser feito. E essa foi somente a
apresentação de uma possibilidade que não se sabe ainda se será concretizada. Assim, outras
possibilidades poderiam ser levantadas no sentido de resolver a situação da elaboração do
plano e de amenizar as dificuldades de gestão dos resíduos, como por exemplo a criação de
um banco de dados que especifique os RSs, a implantação da coleta seletiva no município
inteiro, uma campanha de conscientização da população quanto à responsabilidade particular
de separar os resíduos, entre outras.
Aqui, o assunto diz respeito às ajudas que a prefeitura disponibiliza para a Cooperativa Ação
Reciclar e outras que estão para se organizar. Na verdade, a crítica é no sentido de que falta
uma ajuda que realmente capacite os cooperados a trabalhar dentro da realidade da
Cooperativa. Por outro lado, outros tipos de ajuda podem estar excedendo às necessidades
desses catadores que não estão aprendendo a sanar suas dificuldades sozinhos.
Assim, seria importante que a Prefeitura revisse sua atuação junto aos catadores, não sendo
esta uma relação de tutor e pupilo, mas de incentivador, ou de suporte mediante cursos,
capacitação, informação e outros. O tipo de relação do município com a Cooperativa poderia
ser pensado diferente e melhorado com o oferecimento de cursos para o cooperativismo,
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noções de saúde no trabalho, conscientização da importância da sua atuação para o meio
ambiente e implicações à qualidade de vida.
A parte hipossuficiente no caso em tela são os catadores, que precisam ser socialmente
incluídos, conforme orientação legal (BRASIL, 2010). Assim é importante atentar para a
seguinte fala: “...no começo a gente falava assim, não vai dar em nada porque é uma máfia”
(S6, 17/março/2014).
Para a entrevistada, a situação parece ser controlada por uma máfia, esta é uma expressão
forte, que demonstra sua indignação quanto à não regularização destas situações que
envolvem a parte social dos catadores de materiais recicláveis.
Tal expressão pode ser justificada pelo baixo custo da força de trabalho dos catadores, que
propiciou a manutenção da taxa de lucro do setor, a competição com os preços de mercado
das matérias-primas e, com isso, o crescimento da reciclagem (NEVES, 2012).
Além disso, a realidade nacional mostra que os catadores participam de um processo muito
lucrativo, no entanto as empresas que fazem o beneficiamento desses materiais é que ficam
com o lucro (MEIRELES e ALVES, 2011).
Quanto à organização da gestão: “Esta gestão a gente sabe que ela é ultrapassada, antiga.
Mas falta colocar melhores, mais numerosos pontos de deposição, um trabalho sabe, mas eu
acredito que essa política é feita com o tempo certo” (S3, 20/março/2014).
Nota-se uma contradição com a fala anterior, tendo em vista que na primeira fala a gestão é
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classificada como ultrapassada, já na segunda, ocorre a afirmação de que a Secretaria já tem
uma linha de trabalho, passando a impressão de que essa linha está adequada e não precisa ser
modificada.
Muitas vezes os recursos são escassos, mas esta não pode ser uma desculpa para a não
realização dos serviços públicos. Faz parte das atividades da administração pública a
administração financeira.
Além disso, não é necessário que a Prefeitura resolva o problema global, mas espera-se que
ela cuide e amenize os problemas locais. “Falta um pouco de organização nos nossos
trabalhos, e o trabalho integrado é uma busca constante nossa” (S7, 12/março/2014).
O trabalho integrado é uma busca constante, no entanto, até o momento não parece estar
sendo uma realidade dentro da dinâmica da administração. O primeiro passo que é perceber a
necessidade da integração dos departamentos e secretarias já foi dado, agora é tomar atitudes
e caminhar nesse rumo.
Nota-se que as dificuldades para a gestão dos resíduos não são fantasiosas, mas reais. E para
que sejam solucionadas, ou amenizadas é necessária uma maior integração dos departamentos
e secretarias da administração entre si e com a população.
Para a construção da solução dos problemas relacionados aos RSs é necessário que a
Secretária de Serviços Públicos, que hoje é responsável pelo serviço no município, pare e
planeje os seus próximos passos, posto que se não há um banco de dados que caracterize o
tipo, o volume e as características dos resíduos é praticamente impossível falar em gestão de
resíduos. Na verdade o que ocorre hoje é a coleta dos resíduos e não sua gestão. Pois, há a
necessidade legal do diagnóstico da situação do município, para que posteriormente seja
possível elaborar o PMGIRS e então iniciar-se a gestão (Brasil, 2010).
Outra postura da administração que precisa ser modificada é com relação ao tratamento para
com a Cooperativa Ação Reciclar. Claro que o município precisa contribuir com estas pessoas
que trabalham para amenizar o impacto do lixo no município, no entanto, esta não pode ser
uma relação paternalista, onde tudo é fornecido sem cobrança de contraprestação. Ao
contrário, é necessário dar condições que capacitem as pessoas a pensarem e encontrarem
soluções para os seus dilemas profissionais e pessoais e assim a cooperativa possa crescer e se
desenvolver e contribuir com a amenização do impacto do lixo no meio ambiente além de
permitir que tais pessoas vivam com dignidade (GALBIATI, 2005).
Importante observar que, para o catador entrevistado, a palavra educação se refere ao material
que a “dona de casa” vai separar e colocar para a Cooperativa. No entanto, “educação” (e/ou
capacitação) pode ser entendida em vários sentidos: educação da população para separação de
resíduos; educação para coleta seletiva (desde a escola fundamental); educação dos catadores
para o funcionamento do cooperativismo e autogestão; educação para a população entender os
catadores como cooperados e/ou agentes de reciclagem, desempenhando um papel importante
para a cidade (e previsto em lei); educação dos agentes públicos para entender a necessidade e
o comprometimento que devem ter em criar canais para permitir a participação social;
educação dos agentes públicos envolvidos para entender a necessidade de integração de atores
e processos, de acordo com as exigências da PNRS, tal como previsto na Lei 12.305/10.
Ainda neste contexto, outra fala:“A falta de material” (C3, 24/ fevereiro/2014).
Mais uma vez, nota-se que para os catadores de materiais recicláveis é muito importante que a
quantidade de material disponível não diminua. Por isso estão sempre preocupados com a
coleta seletiva. A preocupação é para que não falte material e eles não fiquem parados
deixando de obter renda.
Em contraste com esta realidade, o volume de materiais que poderia ser reciclado e continua
indo para o lixão é grande, como pôde ser observado sem muito esforço na visita ao aterro,
feita pela pesquisadora em março de 2014.
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Assim sendo, este é um ponto grave que precisa ser sanado, de modo que haja coleta seletiva
em todo o município e estímulo à cooperação.
Outro ponto complicado para os catadores é lidar com o preconceito, como é possível
observar na seguinte fala: “É esse preconceito mesmo, né... porque as pessoas que entendem
mesmo elas não têm preconceito...” (C2, 24/fevereiro/2014).
Da mesma forma, na zona sul do município, onde está sendo construído um novo galpão para
a organização de mais uma cooperativa de catadores, já há manifestação contrária dos
moradores, que não querem este tipo de atividade perto de suas casas, segundo informações
do departamento de meio ambiente (S1, 05/março/2014).
Com relação à necessidade de separação adequada dos materiais, a empresa que coleta o lixo
também compartilha do pensamento de que precisa melhorar: “Falta uma campanha ampla,
uma campanha educativa para que o pessoal possa não estar pondo seringas, vidros
quebrados, então tem esses acidentes. Temos funcionário que está tomando coquetel, e não é
um só não...” (E1, 28/março/2014).
Sob uma justificativa diferente, a empresa Embralixo também concorda que o Município
precisa de uma campanha educativa que ensine as pessoas a separarem o lixo. Para a empresa,
o grande problema é a preservação da integridade física de seus funcionários. Possivelmente,
a empresa pode pensar que, se os seus funcionários estiverem bem, não terão prejuízo
financeiro. Mas, no caso em tela é necessário pensar na dignidade humana desses
trabalhadores.
Seguem outras dificuldades apontadas: “Faltam recursos tanto técnicos e humanos como
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financeiro” (S4, 25 de março de 2014); “Falta vontade, iniciativa.” (S6, 17 de março de
2014); “É um problema de gestão simplesmente, de você alocar recursos e prioridades” (D1,
05/junho/2014).
Com tanta burocracia no Brasil, realmente os recursos ficam escassos, mas essa não pode
continuar sendo uma desculpa para que as situações não sejam resolvidas. Como declarou o
representante do Dmae, falta gestão.
Mais uma vez fica evidente que o diagnóstico ainda é uma realidade distante:“Não há
nenhuma sistematização de coleta de dados que permita a gente renovar inclusive o plano de
gestão” (S1, 05/março/2014).
Existe a previsão legal para elaboração do diagnóstico, mas ainda não se sabe com certeza a
quantidade de lixo que é produzida no município. Também não se sabe ao certo quanto desse
material é reciclado. A crítica apresentada revela algo muito sério, pois se não se estimou
ainda quanto de lixo o município produz, e a gestão desses materiais pode estar seriamente
comprometida.
Assim, é urgente a necessidade de criar e manter um sistema de coleta de dados, que permita
elaborar um histórico sobre a coleta, triagem e destinação dos resíduos sólidos no município.
É necessário discutir como poderia ser feito, ter um setor responsável, integrando todos os
envolvidos. Ainda não se concretizou esta situação, mas se o Dmae assumir a gestão dos
resíduos sólidos municipais deverá criar este banco de dados, segundo D1 (05/junho/2014).
Não havendo cumprimento do TAC, este pode ser executado de modo que o poder judiciário
possa cumprir, no caso concreto, as normas elaboradas pelo legislativo (COSTA, 2011).
O TAC tem prazo, mas não pode ser cumprido sem responsabilidade, como alertou o
entrevistado: “.... eu pedi ao prefeito que eu precisava de um engenheiro para poder dar
cobertura no trabalho, porque eu não tenho engenharia nenhuma” (S3, 20/março/2013).
Há uma pequena quantidade de materiais sendo reciclada no município. Assim nota-se que
esta não tem sido uma prioridade na vida das pessoas. Para Herculano (2000), a discussão da
qualidade de vida passa pela discussão do que é prioridade para cada pessoa. Ou seja, se as
pessoas não estão fazendo a separação adequada do seu lixo é porque ainda não entenderam
que tal comportamento vai implicar diretamente a sua qualidade de vida.
Para a Organização Mundial de Saúde (WHO, 1994), qualidade de vida está relacionada à
percepção que o indivíduo tem sobre sua vida, cultura e valores, o que implicará nos seus
objetivos e preocupações. Assim, falta educação, no sentido de ensinar as pessoas a
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enxergarem novas perspectivas para sua vida, sendo capazes de se posicionar e mudar suas
atitudes. Falta, portanto, condição para compreender as implicações que os resíduos sólidos
têm na sua saúde e os impactos na geração futura. Este tipo de análise culmina na necessidade
de autonomia e oportunidade de participação social, neste caso, participação na separação dos
materiais (TASSARA E ARDANS, 2003).
Outra dificuldade é com relação à falta de um banco de dados que qualifique e quantifique os
resíduos municipais. E em outro momento foi abordada a falta de técnica na construção do
novo aterro sanitário. Tais falhas, apontadas pelo departamento de meio ambiente e secretaria
de serviços públicos, precisam ser sanadas, para que seja feito o diagnóstico e a gestão tenha
início (BRASIL, 2010).
Para a realização dos objetivos descritos foi estimado o custo de R$ 37.368.568,00 (trinta e
sete milhões trezentos e sessenta e oito mil quinhentos e sessenta e oito reais) a serem gastos
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no período de quatro anos.
4- Participação social
Como é possível observar a participação social precisa ocorrer mais: “Não houve o
chamamento da população na criação do termo de referência” (S1, 05/março2014).
A organização popular, ela é quem faz, ela são as pessoas habituadas a tratar
dessa parte. O que nós desejamos, que é desejo da administração, é que ela
seja realmente ampla e que o resultado dela seja mesmo uma reflexão sobre
toda a questão de saneamento e de resíduos da sociedade de Poços de Caldas
(S2, 18/março/2014).
Nesta fala, surge a indagação: existem pessoas habituadas a tratar da organização popular
dentro da prefeitura? Se existem, quem são?
Na verdade seria como se houvesse um departamento de participação social, só que isso não
ocorre. Ainda que ocorresse, seria infrutífero, pois a participação não é independente dos
setores e secretarias administrativas, mas deveria acontecer em conjunto. Em outro momento,
a mesma entrevistada diz:
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Não existe um setor, dentro da prefeitura, responsável pela mobilização
popular, inclusive são muitos atores. Dependendo do tema, você vai procurar
não só dentro da prefeitura, mas na sociedade, nos grupos organizados, nas
entidades representativas, assim você vai contatar elas para estar trazendo para
essa discussão (S2, 18/março/2014).
Aqui aparece uma contradição com a afirmação anterior, no sentido de que realmente não há
uma setor na prefeitura responsável pela mobilização da população para a participação na
tomada de decisão sobre a gestão de RSs. Agora o desafio é outro: ouvir as entidades já
organizadas. No entanto, um grupo organizado como o Fórum Lixo e Cidadania raramente é
ouvido, por mais que se esforce para isto.
É claro que as opiniões técnicas são importantes, no entanto, as pessoas precisam ser ouvidas,
precisam saber que há um espaço onde não vão perder o tempo de dar sua opinião, pelo
contrário, que sua opinião é valiosa.
Falta esse espaço, falta essa confiança de que serão ouvidas. Normalmente os conselhos são
formados por instituições já formalizadas, tais como, a dos engenheiros, dos comerciários, e
outras, mas falta o espaço de discussão dos bairros, das famílias, daqueles que diretamente
produzem e lidam com o lixo.
Sobre esta falta de um espaço adequado à participação social, é possível observar: “Audiência
pública, aquilo é uma bobagem, aquilo é uma bobeira que não vira nada. Eu até hoje vi
poucas ações através de uma audiência pública” (S4, 25/março/2014).
Essa forma de pensar acaba reduzindo ainda mais as oportunidades que as pessoas têm de
participação. Não é uma crítica construtiva, é uma crítica que desestimula a participação. E as
críticas seguem: “É só uma formalidade. Isso, por que existem critérios legais que exigem
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que seja feita essa audiência pública e então é feito só isso. Audiência é só pra cumprimento
de lei e aquilo ali muita pouca coisa tem pra frente...” (S4, 25/março/2014).
Tal afirmação é muito grave, pois acentua o descrédito na liberdade democrática. Além disso,
para tal linha de pensamento, o cumprimento da lei é uma mera formalidade que não traz
benefícios para a sociedade.
Primeiro, ali a palavra é restrita, só quem pode falar são os legisladores, eles
têm a palavra franqueada. Você, pra fazer qualquer participação, tem que ir
lá e se inscrever. Isso limitado a duas ou três pessoas. Então você tem que
estar atento quando eles abrem ‘vai ser a audiência pública a respeito do
procedimento de abrir uma janela dia tal”. Aí você chega lá, e uhh..., ‘já têm
duas pessoas inscritas aqui, não vai ter mais tempo pra você falar’. As
pessoas têm cinco minutos, três minutos, dois minutos pra falar e as pessoas
não podem discutir. Não pode ser discutido nada, elas vão lá, fazem uma
apresentação, falam alguma coisa e fica por isso mesmo, né?! Às vezes,
quando é requerido, ou o legislativo ou o agente que provocou a audiência
pública que, no caso é sempre o legislativo, aí debate com alguém que é
convidado por eles pra ir lá e participar, mas a pessoa vai pra mesa, ela não
é do público, não é da tribuna, ela não é do povo. Claro que às vezes a
pessoa ela é do povo, lógico, mas à plateia cabe aplaudir ou não, tirar
conclusões, mas que no final vai fazer o quê? (S4, 25/março/2014).
Essa é a demonstração de que o espaço público é camuflado, e na verdade ele não existe. Só
existe mesmo para cumprir a lei, como na fala anterior.
Se o espaço para a participação social resguardado pela CF não traz benefícios concretos à
realidade das pessoas, pois ele não existe efetivamente, mais complicado ainda fica cumprir
uma lei que exige a participação social em um assunto específico, qual seja, RSs.
Sendo assim, é muito importante ampliar o rol de possibilidades para a participação social,
criar verdadeiros canais para facilitar a participação, seja das entidades formalizadas, seja de
qualquer cidadão interessado em contribuir. Por exemplo: criação de ouvidorias, uso das
tecnologias de informação e comunicação (fóruns virtuais, grupos de debate no facebook,
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sites etc.).
Se a audiência pública não estiver mesmo fazendo diferença na realidade local, por qual
motivo estaria sendo lembrada e incentivada? Possivelmente, só para eximir da
responsabilidade daquele que deveria também abrir espaço à participação social.
Eu acho que nós deveríamos ir até eles, não sei, temos que divulgar que nós
estamos fazendo as reuniões em uma região bem central, mas o Fórum é
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muito limitado, só uma vez por mês, num horário pequeno. A gente tem de
criar um outro tipo de acesso né? Pelo site já ajudaria né? Faz tempo que nós
estamos pra ter o nosso site, mas não conseguimos (S5, 31/março/2014).
Uma sugestão barata e com capacidade de ampliação seria criar um perfil do Fórum Lixo e
Cidadania no Facebook. Muitas pessoas poderiam ter acesso aos temas discutidos nas
reuniões e fazer sugestões, questionamentos, e outros.
É Interessante pensar que algo tão próximo do cotidiano das pessoas, e que pode trazer tantos
problemas se não for bem administrado, como os RSs, não são prioridades. Possivelmente, as
pessoas estão correndo tanto, estão tão ocupadas ou tão cansadas que não querem enxergar
como prioridade cuidar do meio ambiente em que vivem. Realmente tem algo estranho. Falta
estímulo para que os cidadãos não se sintam desacreditadas do poder público.
Não há participação das pessoas, nem houve chamamento da empresa terceirizada para
opinar: “Pelo que percebo, eu posso falar da empresa. A empresa nunca foi convidada a
participar, e dos moradores eu também desconheço...” (E1, 28/março/2014).
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Pensar em participação é uma exigência da lei. No entanto, nem a empresa que realiza o
trabalho diário de coleta de lixo foi convidada a levantar seus questionamentos ou fazer
sugestões para a melhoria da gestão dos resíduos. Tampouco, foram ouvidos os moradores, as
donas de casa, ou outras empresas que produzem muito lixo.
Mais uma vez o Fórum Lixo e Cidadania poderia ser um espaço que envolvesse mais pessoas
nas discussões, conforme já mencionado. As redes sociais como o facebook e outros poderiam
ser uma alternativa para aproximar as pessoas, atrair e estimular as discussões sobre RSs e
meio ambiente.
Na visão dos catadores de materiais recicláveis: “as dona de casa não estão sabendo separar
pra gente, manda muito lixo né...” (C3, 24/fevereiro/2014). As donas de casa não são ouvidas
e também não são ensinadas. As pessoas não estão sabendo separar os materiais recicláveis do
lixo comum. Muitos recicláveis vão para o lixão. E muito lixo, tem chegado à Cooperativa
Ação Reciclar.
Se esta é uma constatação, e o lixão, ou melhor, o aterro sanitário já está muito cheio, a saída
seria lançar campanhas na televisão, no rádio, ensinar a separar o lixo, falar da importância
dessa separação, relacionar tais situações às catástrofes ambientais, entre outros.
Mais uma vez o apelo à separação adequada. Sem a separação, não há que se falar em
catadores, em reciclagem, em inclusão social, em diminuição do lixo. Assim, é imprescindível
que as pessoas saibam separar e sejam estimuladas a separar, ou quem sabe, sejam “punidas”
se não separarem.
E o envolvimento deve ser amplo: “Tanto os órgãos públicos quanto as pessoas, as pessoas
que catam lixo na rua, as pessoas que participam da Cooperativa, as pessoas da escola. A
escola é fundamental para ensinar as crianças a separarem o lixo em sua casa...” (S6,
17/março/2014).
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Realmente, todos os setores precisam estar interligados para que se consiga modificar uma
cultura que já está impregnada no dia a dia das pessoas. Para recuperar ou amenizar a situação
atual são necessárias as campanhas constantes. Mas, para garantir um real comprometimento
com o meio ambiente é necessária a educação. Para facilitar a participação e o controle das
pessoas com relação à gestão de resíduos, observou-se que:
Segundo o responsável pelo Dmae, o caminho para a participação poderia se dar mediante a
formação de conselhos que discutissem a prestação do serviço, cobrando soluções, melhoria
da prestação do serviço e exigindo a apresentação de indicadores de melhoria contínua na
gestão dos RSs. Mas, para tanto, é necessário haver um departamento responsável que faça a
gestão, e possa ser cobrado.
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A participação social é uma exigência que a lei federal 12.305/10 impõe sobre os municípios
na elaboração do PMGIRS e na fiscalização das ações de gestão. No entanto, ela não tem
ocorrido da forma devida, como é possível identificar nas respostas dos entrevistados.
Primeiramente, as pessoas não têm sido convidadas a participar dos processos internos dentro
da Prefeitura, tais como a elaboração do primeiro PMGIRS elaborado em 2012, e do termo de
referência elaborado em 2014.
Também, as audiências públicas não estão sendo indicadas como ambientes propícios à
participação, quando deveriam ser. O Codema, que é o conselho de meio ambiente, não tem
contemplado tal discussão em suas reuniões. O Fórum Lixo e Cidadania tem se esforçado,
mas ainda alcança poucas pessoas. E não há a participação das pessoas de maneira adequada
na separação dos materiais recicláveis. Assim, para que este requisito legal seja cumprido,
falta um longo caminho a ser trilhado.
As pessoas têm participado muito pouco, mesmo na separação dos materiais recicláveis que
pode ser realizada dentro de casa. Assim, nota-se que campanhas constantes para a separação
adequada do lixo são imprescindíveis para suprir a falta de educação formal que deixou uma
lacuna quanto a este aspecto. Enquanto ocorrem tais campanhas, as escolas precisam trabalhar
com as crianças para ensinarem sobre a separação dos materiais e a importância dos reflexos
desta atitude no meio ambiente a na qualidade de vida deles e das gerações futuras
(ALMEIDA, GUTIEREZ e MARQUES, 2012).
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Além das campanhas, o município precisa se adequar para que todos os bairros e também o
centro da cidade tenha coletores de materiais recicláveis. Tendo em vista que não adianta as
pessoas aderirem a algum tipo de campanha e começarem a separar devidamente seu lixo se
não houver quem recolha os recicláveis separadamente, do contrário, haverá um desestímulo à
participação. Fato este que hoje é realidade no município, tendo em vista que a Cooperativa
Ação Reciclar atende os bairros da zona leste e alguns outros.
Como ensina Silva e Silva (2009), a participação é o ato de fazer parte ou ser parte de um
processo. Assim as pessoas precisam se sentir parte do projeto de gestão de RSs, entendendo
que tal situação lhes trará implicações diretas.
Nesta categoria é possível perceber a distância dos requisitos da Lei 12.305/10 (BRASIL,
2010) e dos tópicos previstos no Guia para elaboração dos Planos de Gestão de Resíduos
Sólidos (BRASIL, 2011), tais como: elaboração do diagnóstico e dos cenários futuros,
definição das diretrizes e estratégias, definição das metas, programas e recursos necessários e
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processo de implementação das ações definidas no PMGIRS e a realidade atual do município
estudado. Por ser inadequado, o plano do município não saiu do papel, como salienta o
entrevistado: “Na verdade, o plano de gerenciamento de resíduos não saiu do papel e tanto
que entendo hoje que não existe nenhuma gestão, mesmo porque existe a dificuldade de obter
dados até para a operacionalização” (S1, 05/março/2014).
A lei 12.305 é de 2010 e o plano deveria estar pronto em 2012. No entanto, até o momento só
existe a coleta dos resíduos. Esta situação é grave. Pois nesse período muito material
inadequado e que poderia ser reaproveitado foi depositado no aterro. A situação continua sem
direcionamento, tanto que nem o diagnóstico foi elaborado ainda: “Não há nenhuma
sistematização de coleta de dados que permitisse à gente renovar inclusive o plano de
gestão” (S1, 05/março/2014); “Nós tivemos dificuldades aqui de estar revisando o plano de
gestão” (S1, 05/março/2014).
Se para a devida adequação do plano é tão importante que haja a sistematização de dados, é
de se espantar que nada tenha sido feito em relação a isso. Já decorreu um ano e meio do
prazo para a elaboração do plano e ainda não procuraram meios para sanar as dificuldades.
As dificuldades serão cada vez maiores se não forem tomadas medidas para saná-las. Assim,
um primeiro passo seria montar um banco de dados que seja capaz de identificar os tipos de
resíduos coletados em cada região da cidade, separar os resíduos de hotéis, de restaurantes,
empresas, fábricas, entre outros. “Invés da gente fazer uma revisão, nós optamos aí por fazer
um novo termo de referência...” (S1, 05/março/2014).
Como o PMGIRS está inadequado e precisará ser refeito, foi elaborado sob a coordenação do
departamento de meio ambiente um termo de referência que norteará a revisão e elaboração
do novo plano. No entanto, a Secretaria de Serviços Públicos (S3, 02/março/2014), que hoje
cuida dos resíduos sólidos, não conhece este termo de referência, nem o Dmae (D1,
05/junho/2014), que poderá assumir este serviço, não tem conhecimento deste termo,
conforme entrevista com os responsáveis.
O plano não foi revisto ainda, mas pretendem contratar uma nova empresa que fará as
adequações. Para tanto foi elaborado o termo de referência com alguns tópicos que precisam
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estar presentes no plano.
O plano atual será revisto por uma empresa contratada que provavelmente desconhece a
realidade do município e não dispõe de um banco de dados que permita compreender a
realidade municipal. Assim, provavelmente esse novo plano de resíduos ainda conterá muitas
falhas.
Destaca-se o posicionamento contido na seguinte fala: “Eu não vejo dificuldade, inclusive há
uma montagem e uma prioridade, por parte do prefeito, exatamente para que seja um marco
para todas as questões ligadas ao saneamento e aos resíduos.” (S2, 18/março/2014).
A fala não passa muita credibilidade, pois se fosse tão fácil já estaria pronto, e está atrasado.
Além disso, a ligação com o plano de saneamento é uma sugestão que ainda não está
decidida. Portanto, não se sabe se ocorrerá, quanto mais se será um marco, no sentido bom da
palavra. Pois talvez seja até um marco negativo. Mais uma vez se veem respostas evasivas, de
forma genérica, sem comprometimento.
Foi possível observar que o PMGIRS não é assunto comum e agradável na Secretaria de
Serviços Públicos. Parece que o assunto incomoda um pouco, tanto pela fala, quanto pela
expressão do entrevistado que se segue: “É, se você falar que apareceu na íntegra o artigo
tal, não sei, mas a gente sabe que temos que trabalhar em cima dele” (S3, 20/março/2014).
Na verdade, esse plano precisaria estar sendo pensado e repensado diariamente.
110
O que nós fizemos pra poder dar conta disso é assinar o termo de ajuste de
conduta com o promotor, com a promotoria, justamente pra gente ter o
tempo justamente pra atender o plano de resíduos, que inclusive tem questão
que é preciso rever. (S3, 20/março/2014).
Essa situação merece destaque, de modo que o município tem um aterro sanitário que está
muito cheio, segundo informações da Secretaria de Serviços Públicos, e é inclusive perigoso,
segundo o secretário entrevistado. No entanto, a obra do novo terreno destinado ao aterro
sanitário está atrasada. Assim, diante da gravidade do problema, o Ministério Público precisou
intervir e fez com que o município assinasse um termo de ajustamento de conduta TAC,
segundo o qual o prazo final da obra ficou estipulado para 2016.
Pelo que parece, o município está mais preocupado com este problema em razão do TAC, do
que pela exigência legal de gerenciamento dos resíduos.
Para outro entrevistado: “Ele tem que ser refeito, ele tem muita coisa que não é realidade,
mas isso é possível, dá pra fazer” (S5, 31/março/2014). Realmente tem muita coisa para ser
refeita no plano, e dá para fazer. No entanto, se começar da forma errada, é possível que não
acabe bem. Mas felizmente, a reação: “dá pra fazer” indica que alguém tem esperança,
alguém realmente acredita que é possível. Alguém que participa voluntariamente das reuniões
do Fórum Lixo e Cidadania ainda acredita que é possível.
na verdade ele foi feito a partir de outros planos já elaborados, foi um plano
elaborado com a necessidade de se entregar um plano, então ele não é um
111
plano adequado para o município, ele é um ‘ctrl C ctrl V’, então ele não é
um plano adequado, deve ser reestudado, rediscutido, inclusive com a
participação da sociedade (S7, 12/março/2014).
Esta fala está totalmente adequada. No entanto, a realidade da Prefeitura, que fez o termo de
referência visando contratar uma nova empresa para revisar o plano, não parece estar tão
adequada.
Ainda há muito trabalho pela frente para que o município esteja adequado à PNRS. Para que a
gestão funcione, o primeiro passo é a elaboração do PMGIRS, que precisa de um diagnóstico
da realidade local para que atenda às necessidades. Sendo assim, é imprescindível a criação de
um sistema ou banco de dados que dê informações sobre os RSs municipais (BRASIL, 2010).
Sem o diagnóstico não há que se falar em referência para a gestão e o plano de resíduos não
corresponderá à realidade local, o que dificulta as ações de educação ambiental que
promovam a não geração, redução, reutilização e a reciclagem dos resíduos. Ainda, segundo a
lei, outra preocupação na elaboração do plano é a criação de fonte de negócios, emprego e
renda através dos materiais obtidos. (BRASIL, 2010).
Conforme já relatado, em razão da demora na construção do novo aterro sanitário, posto que o
atual já está praticamente sem condições de uso, o Ministério Público interveio, obrigando a
Prefeitura Municipal a assinar um TAC, segundo o qual o novo aterro deve ficar pronto para o
uso até 2016. Importante salientar que nesta situação a atuação do MP foi dentro de um
inquérito civil, no entanto, se os prazos forem descumpridos tanto o Prefeito com o Secretário
de Serviços Públicos podem responder criminalmente (COSTA, 2011). Assim, fica mais fácil
compreender porque a construção do novo aterro está ocorrendo de forma mais rápida.
Importante a atuação da promotoria, posto que agiu em defesa dos anseios da sociedade, que
tem falhado em fiscalizar as ações de gestão dos RSs. Esta falta de participação social é
muitas vezes resultado da falta de autonomia, capacidade de se enxergar inserido em
112
determinada situação que precisa ser sanada (VILARTA e GONÇALVES, 2004).
6- Alianças e parcerias
As parcerias são muito importantes, devem iniciar-se dentro da própria prefeitura:“Nós somos
um órgão do planejamento, não somos órgão executivo da política de resíduos sólidos do
município” (S1, 05/março/2014).
O departamento de meio ambiente tenta se eximir de suas responsabilidades, que são muitas.
Ele tem por finalidade o planejamento dos serviços públicos que interferem nas questões
relacionadas ao meio ambiente. Afinal, antes de qualquer execução, o planejamento é
fundamental. A situação ideal seria mesmo se houvesse integração e divisão de atividades:
Aqui fica clara a intenção de transferir a gestão dos resíduos para o Dmae. No entanto, essa
não é uma situação definida oficialmente. Assim, seria prudente que o departamento de meio
ambiente planejasse outras alternativas até que seja definido se o Dmae assumirá a gestão de
RSs.
113
prevê uma transferência gradual (D1, 05/junho/2014).
Para o engenheiro do Dmae entrevistado, a decisão de passar a gestão dos RSs para o Dmae já
foi tomada. É esse o entendimento da prefeitura e o Dmae já tem ciência de suas novas
obrigações que virão. Segundo o entrevistado, a lei só não foi levada para a Câmara para
votação, pois o prefeito aguarda o melhor momento político.
Se o Dmae já tem consciência sobre suas novas modalidades de trabalho envolvendo os RSs,
seria importante que já começassem a se adequar para a execução dos serviços, envolvendo a
gestão dos resíduos.
Quanto à parceria com as Faculdades com campus no município, tem-se que: “porque a gente
vê algumas iniciativas por aí ... ah, vamos sair e gerar energia, temos ideias, e a gente tem
catadores querendo gerar energia, olha só, isso tudo não é fácil, tem essa cultura tecnicista,
isso aí já é outra visão”. (S1, 05/março/2014).
Alguns cursos das Faculdades de Poços de Caldas têm oferecido ajuda e parcerias no trabalho
das Cooperativas de catadores como, por exemplo, a Universidade Federal de Alfenas
(Unifal). No entanto, geralmente fazem propostas de gerar energia com o material recolhido.
Para a entrevistada essa não é uma boa proposta, pois para gerar energia são lançados no meio
ambiente outros tipos de poluentes. Assim, essa não seria uma proposta adequada e as
Faculdades deveriam pensar em outras formas de ajudar que não agridam o meio ambiente.
Daí a crítica da cultura tecnicista, onde muitas vezes se prioriza a geração da renda, mas
existem outras coisas importantes como o oferecimento de cursos e a preocupação com o
meio ambiente.
Há uma cobrança de fiscalização e de critérios mais rigorosos para com o aterro sanitário, no
entanto, o órgão de planejamento do meio ambiente também poderia opinar, sugerir mudanças
114
e intervir nessa situação. Não precisa esperar cobrança para fazer aquilo que se sabe que deve
ser feito.
Quanto à falta de técnica: “Ele tem que operar dois anos a mesma área, é complicado, não
tem engenheiro, ele tem a dificuldade de compactação” (S1, 05/março/2014).
Quanto à empresa terceirizada: “Hoje nós temos uma empresa contratada através de
licitação, a empresa Embralixo e ela faz a coleta diária na cidade toda” (S3,
20/março/2014).
O contrato com a Embralixo, decorrente da licitação, findou-se no final de 2013. Então foi
celebrado um novo contrato, embasado em serviço de urgência, que está vigorando até hoje.
O município iniciou os procedimentos para uma nova licitação, no entanto, segundo
informantes da Embralixo, a empresa não participará da licitação. “O serviço de coleta hoje
tem gerado algumas reclamações dos moradores” (S3, 20/março/2014).
Ainda quanto à falta de técnica: “Precisava de um engenheiro pra poder acompanhar. Foi
115
feito o pedido ao secretário de obras Carlos Marquesini, que é uma pessoa que tem um
conhecimento muito grande na questão de aterro”. (S3, 20/março/2014).
Com relação à coleta seletiva de materiais recicláveis, o município conta com a parceria da
Cooperativa Ação Reciclar e os catadores avulsos. “Os avulsos, cada um deles pega o seu
saco e coloca nas costas e isso é uma colaboração muito grande para o município, devido ao
saturamento do aterro.” (S3, 20/março/2013).
Como o aterro está em situação complicada, segundo a fala do entrevistado, as atividades dos
catadores são muito úteis, posto que, ainda precisarão utilizar o mesmo espaço por mais dois
anos, então é melhor diminuir a quantidade de lixo que chega ao local.
No entanto, nessa fala não se percebe nenhuma preocupação com o meio ambiente, talvez, se
o novo aterro sanitário já estivesse pronto, os catadores não seriam tão essenciais. Também
não expressou através da fala qualquer tipo de preocupação com a pessoa ou o trabalho dos
catadores.
A prefeitura também tem tentado fazer outras parcerias: “Na nossa administração, a
coordenadora do nosso Procon, eles lançaram o ano passado, em 2013, um projeto para as
crianças, que é um projeto de consumo consciente.” (S7, 12/março/2014).
A Prefeitura está com uma parceria com o Procon na qual estão ocorrendo algumas palestras
nas escolas municipais sobre consumo consciente. Essa é uma boa parceria da Prefeitura, pois
as crianças precisam começar a ouvir desde cedo sobre esses aspectos que vão nortear suas
vidas. No entanto, segundo o prefeito, consumo consciente é diferente de redução do
consumo, afinal o consumo precisa ser estimulado, segundo ele, pois é a alavanca do
capitalismo. Tal conceito é diferente do apresentado pelo Instituto Akatu (AKATU, 2013).
Em resumo desta categoria, tem-se que algumas parcerias são indispensáveis dentro do
modelo que o município vem seguindo para cuidar dos RSs. No entanto, mais uma vez é
possível observar a falta de integração entre os setores da Prefeitura, tais como o
departamento de meio ambiente e a Secretaria de Serviços Públicos que não estão trabalhando
em conjunto na fiscalização da construção no novo aterro sanitário, nem na elaboração do
novo PMGIRS. Havendo a integração, facilitaria a oportunidade de controle social garantindo
116
informações e participação nos processos de formulação, implementação e avaliação das
políticas públicas relacionadas aos resíduos sólidos (BRASIL, 2010).
Outras parcerias como com a Cooperativa Ação Reciclar e a valorização, cadastro e incentivo
aos catadores avulsos são muito importantes, tendo em vista que a sustentabilidade de uma
sociedade se mede por sua capacidade de inclusão social e também de garantir-lhe os meios
de uma vida suficiente e decente (BOFF, 2012).
Para não faltar material para os catadores de recicláveis, o poder público precisa fazer
campanhas estimulando a separação dos mesmos. Outra atitude simples, mas que pode dar
muito resultado é o comprometimento da Prefeitura no sentido de que todos os seus
departamentos e secretarias sejam os primeiros a separarem os materiais recicláveis, dando o
exemplo, como ocorreu no município de Campo Grande-MS, facilitando o trabalho da
Cooperativa COOPERVIDA (GALBIATI, 2005).
Em se tratando de cooperativa, essa é uma parceria que precisa ser bastante valorizada tendo
em vista que sua atuação é benéfica por pelo menos duas vertentes. A primeira, com relação
ao potencial de reciclagem dos materiais que iriam ocupar lugar no aterro e cuja separação e
reciclagem contribuem para a redução da extração de novos materiais. Além desta, há a
questão da inclusão social de pessoas que não enxergaram outra alternativa para obtenção de
seu sustento e encontraram na coleta, na triagem e na venda de materiais uma possibilidade
117
para superar as dificuldades financeiras. A inclusão destas pessoas mediante o trabalho com os
materiais recicláveis é uma forma de garantir a sustentabilidade da sociedade, segundo Boff
(2012).
7- Estrutura e processos
Esta categoria se refere à empresa envolvida na gestão dos resíduos sólidos até junho de
2014, e também à organização interna da empresa, processos e projetos para coleta e descarte
dos RS. Quanto à extensão do trabalho da Embralixo: “Coletamos em toda a cidade e
algumas partes rurais também” (E1, 28/março/2013). A empresa que fazia a coleta de lixo
não terceirizava nenhuma etapa. Fazia sozinha toda a coleta de lixo do município.
Mas, a preocupação do trabalho estava somente na coleta, tanto que não realizavam nenhum
tipo de separação de material: “Não temos nenhuma relação com o pessoal da coleta de lixo
reciclável” (E1, 28/março/2013).
Tudo que era colocado nas ruas, o caminhão recolhia e levava para o aterro. Mesmo que fosse
material reciclável. “Dá pra fazer uma estimativa de 200 mil quilos por dia” (E1,
28/março/2013); “É um valor fixo por caminhão, independente do volume de lixo. Nos finais
de ano dá o triplo desse lixo” (E1, 28/março/2013); “Em parte não é um prejuízo, porque a
gente não ganha por tonelagem (tonelada), mas é um volume, aumenta bem o volume do lixo
e do serviço”... “Aumenta mil e quinhentos ou dois mil quilos por caminhão” (E1,
28/março/2013).
Para a empresa entrevistada, esse volume de lixo implica muitos fatores, tais como a
necessidade de um maior número de funcionários e a necessidade de mais viagens dos
caminhões que faziam a coleta e descarregavam no aterro sanitário.
Algumas informações fornecidas pela empresa coletora poderiam ser utilizadas para iniciar o
diagnóstico, como: “O que mais produz lixo são os hotéis” (E1, 28/março/2013).
O departamento de meio ambiente não tem um banco de dados para consultar sobre quais
áreas produzem mais lixo e quais tipos. Mas a empresa que prestava serviço nesta área,
certamente poderia dar algumas informações pela experiência do trabalho diário.
Se os hotéis produzem muito lixo, deveria haver uma maneira de fiscalizar a separação dos
recicláveis nestes estabelecimentos e em outros que a empresa Embralixo indicasse como
grandes geradores de lixo.
A maior reclamação da empresa foi com relação aos materiais cortantes e perigosos que se
misturam ao lixo, podendo causar acidentes. Para eles, a Prefeitura deveria fazer campanhas
na televisão, no rádio, espalhar cartazes e outras medidas que instruam a população na
separação adequada dos materiais recicláveis, a fim de reduzir o volume de lixo levado para o
aterro. Principalmente orientar as pessoas para que não coloquem materiais cortantes e
infectantes junto com o lixo comum, já que tal atitude pode causar acidentes e danos à saúde
dos coletores.
O volume de materiais recicláveis que vai para o aterro precisa ser reduzido com urgência,
segundo a empresa: “Eu vou fazer uma estimativa, um cálculo por cima: nosso caminhão
poderia levar só vinte por cento do que é coletado para o aterro, se houvesse uma
campanha” (E1, 28/março/2013).
Para a empresa, a maioria, ou seja, 80% (oitenta por cento) dos materiais recolhidos poderiam
ser reciclados ou reaproveitados. Isso é muito grave, pois as cooperativas reclamam de não
terem materiais disponíveis com abundância para o trabalho, e o aterro sanitário está
sobrecarregado. Assim, algo precisa ser feito nesse sentido.
Quanto ao PMGIRS foi dito que: “Não, nós não conhecemos, a empresa nunca foi convidada
a participar” (E1, 28/março/2013). Essa afirmação se refere ao desconhecimento da empresa
quanto aos assuntos que envolvem o PMGIRS. O que demonstra que não se tem tomado os
cuidados necessários para o levantamento de dados para a elaboração de um diagnóstico que
viabilize a elaboração adequada do PMGIRS.
120
Também, segundo o representante da empresa (E1, 28/março/2014), não havia nenhum tipo
de relação com a cooperativa Ação Reciclar, ou com catadores avulsos. Sendo assim, mesmo
que recolhessem materiais que poderiam ser reciclados, destinavam tudo ao lixão.
Segundo informações obtidas na empresa, recolheram 200 mil quilos, ou seja, 200 toneladas
de lixo diariamente e afirmaram que 80% do que levavam para o lixão poderia ser reciclado.
Ainda, segundo a empresa, no final e início do ano, esses números sempre crescem, podendo
chegar até três vezes mais (E1, 28/março/2014).
A PNRS foi instituída para possibilitar a gestão integrada e sustentável dos RSs, mediante
alternativas como: gerenciamento compartilhado, inclusão social e econômica dos catadores,
coleta e transporte seletivos, logística reversa, tratamento, disposição de rejeitos
ambientalmente adequada, controle social, educação ambiental e outros, segundo o artigo 19
da lei 12.305 (BRASIL, 2010). No entanto, a maioria dos materiais recolhidos é destinada ao
aterro, ou lixão melhorado, que não está ambientalmente adequado, segundo o secretário de
Serviços Públicos (S3, 20/março/2014). Desta forma, é possível perceber que os demais
pontos elencados pela lei ainda estão deficientes, precisando de aprimoramento para que a
gestão se concretize segundo a lei.
A gestão integrada pressupõe que os atores envolvidos com os RSs sejam ouvidos e
construam as soluções em conjunto. No caso em questão, a empresa que recolhe o lixo já
identificou, embora sem medir precisamente, que os hotéis produzem muito lixo e separam
muito pouco os recicláveis. Essa informação poderia ser aproveitada para o início da
elaboração do diagnóstico e consequente elaboração do PMGIRS, conforme a lei 12.305
121
(BRASIL, 2014).
A PNRS traz a questão da participação de forma incisiva. A participação precisa ocorrer, esse
é a mensagem da lei (BRASIL, 2010). No entanto, essa participação não significa somente
opinar ou fiscalizar a gestão dos RSs, mas em primeiro lugar, a participação precisa começar
dentro das casas, nas discussões das famílias sobre a separação do seu próprio lixo. É
necessário resgatar na sociedade os padrões, as referências, os chamados guardiões que sejam
capazes de influenciar no auxílio ao meio ambiente (BECK, GIDDENS, LASH, 1997).
Segundo Bosi (1986), a cultura de massa, do descartável tem substituído as tradições, então
por que se importar? Assim sendo, a educação que precisa ser resgatada é a do bem comum,
de pensar no outro. Esse tipo de educação precisa ser estimulado pelo poder público, do
contrário, os coletores vão continuar se cortando e se machucando, os catadores vão continuar
sem material para trabalhar, o lixão vai crescer seu volume, e as pessoas cada vez mais
egoístas, que não se preocupam com as gerações futuras vão continuar degradando o meio
ambiente. É necessário que as pessoas descubram quem é o seu opressor e se organizem para
lutar contra ele (FREIRE, 1987).
O representante da empresa também contou que não conhece o PMGIRS do município e que
a empresa nunca foi questionada sobre necessidades de melhoria na gestão dos resíduos no
município (E1, 28/março/2014). Mais uma vez fica claro que falta integração e disposição
para gerir os RSs.
A questão vai além da falta de recursos, mas adentra numa esfera em que se nota a falta de
uma centralização da gestão que precisa existir para a implementação da PNRS (BRASIL,
2010).
Tal situação precisa ser sanada, tendo em vista que o descumprimento da lei pode implicar em
fiscalização do Ministério Público, cobrança de adequação dos gestores (COSTA 2011), além
de retardar a preservação do meio ambiente (BRASIL, 1988).
8- Pessoas
122
Nesta categoria foram inseridas falas referentes às práticas relacionadas à organização do
trabalho com RSs, à motivação, à capacitação, bem como ao perfil dos trabalhadores sob
diferentes pontos de vista. Segundo o entrevistado:
Eles dizem ‘é uma profissão justa e honrada, vamos deixar isto para nossos
filhos’. Eu fiquei pensando, ninguém quer que seu filho fique no mesmo
patamar que você, todo mundo quer seus filhos em um patamar acima. Acho
justo e honrado, mas também tem que entender que isso é um degrau, uma
transição, eu fico um pouco preocupada com esse tipo de pensamento (S1,
05/março/2014).
A Cooperativa de catadores precisa se organizar melhor e precisa de apoio para que seja
possível trabalhar mais e com menos dificuldades. Também é necessário expandir, crescer,
para que outros tenham oportunidade de chegar, trabalhar e melhorarem suas condições. No
entanto, além da capacitação para o gerenciamento da Cooperativa, os cooperados precisam
se capacitar para terem melhores condições de vida e darem melhores condições e
oportunidades para seus filhos e familiares.
Os cooperados precisam de auxílio para resgatar seus sonhos, seus ideais e influenciar seus
filhos a buscar novos caminhos para suas vidas. Assim, um trabalho nesse sentido é
importante, o resgate da confiança não é tão fácil, mas com estímulo pode ser possível.
O apoio técnico também é essencial:“Aqui em Poços eu acho que a burocracia que se exige
[...] de uma cooperativa é uma coisa que não tem condição, tem que ter o mínimo né?
Imagina lançar aquele rol de burocracia como opera uma cooperativa.” (S1,
05/março/2014).
Para pessoas simples, como os cooperados, com pouco estudo, ou analfabetos, a burocracia e
as complicações do modelo cooperativista podem assustar e até causar desânimo e abandono.
Assim, o trabalho da Prefeitura, das Faculdades e empresas interessadas em ajudar os
catadores precisa ser de instrução técnica, de capacitação e não de simples doação de
equipamentos ou de uniformes. O trabalho precisa ser mais profundo. Estas pessoas precisam
de um acompanhamento, de instrução, de correção e ajustes até que consigam caminhar
123
sozinhas.
No entanto, falta este tipo de acompanhamento, como é possível observar, algumas vezes há
inversão de prioridades:
Pra você ter uma ideia, pra licenciar o distrito industrial foi pedido um
estudo antropológico, ver se tem algum registro, algum caquinho. Puxa,
antropológico? Tudo bem, eu adoro, sou geóloga, entendo perfeitamente
isso, mas e o estudo antropológico da população que depende do lixo, cadê?
Aconteceu? Não. (S1, 05/março/2014).
Essas pessoas que dependem do lixo não estão sendo tratadas com a dignidade que lhes é
assegurada pela CF. As pessoas têm direito ao trabalho, à moradia, à saúde e tantas outras
coisas. No entanto, suas histórias parecem não ter importância, suas famílias também não.
Quanto aos catadores avulsos que frequentavam o lixão à noite para recolher materiais: “Os
124
catadores estavam entrando à noite no aterro e fazendo belíssimas fogueirinhas pra poder
iluminar, né, sem saber o risco que estavam correndo” (S3, 20/março/2014).
Na verdade, segundo esta fala, os catadores que frequentavam o aterro eram inconvenientes e
estavam atrapalhando. O risco de eles se machucarem ou perderem a vida com uma explosão
no local comprometeria a Prefeitura. Por essa razão eles não poderiam continuar ali. A
preocupação não era tanto com as pessoas, mas com as consequências que sua contínua
permanência poderia trazer.
Como estes catadores ficaram sem local para trabalhar, com o fechamento do lixão, a
prefeitura decidiu construir um galpão para organização de uma nova cooperativa. O local
escolhido já está sendo muito questionado :
Está sendo construído um galpão na zona sul da cidade, onde funcionará uma nova
cooperativa de catadores. No entanto, este local é próximo das residências, e há moradores
que não querem, pois estão prevendo que o local atrairá ratos, baratas e outros animais.
Quanto aos catadores avulsos há muito preconceito, como pode ser observado na fala a
seguir:
O catador avulso, por que ele não quer ir para a Cooperativa? Porque ele cata
um saco de latinhas, por exemplo, e vai lá e pega R$10,00, pega R$20,00 vai
125
lá e bebe a pinga dele. Fazer qualquer coisa resolve o problema dele.
Amanhã ele sai de novo e cata um pouquinho, pronto resolveu o problema
dele. Agora, na cooperativa ele vai ter que trabalhar o dia inteiro, vai ter que
esperar o final do mês (S3, 20/março/2014).
Alguns casos isolados podem ocorrer, mas não é correto generalizar. Tendo em vista que
muitas são as dificuldades para o catador avulso participar de uma cooperativa, em alguns
casos a dificuldade pode ser a distância, em outros pode ser a incompreensão sobre a
necessidade de pagar INSS, outros não acham vantajoso coletar todos os tipos de materiais.
Assim, eles precisam ser respeitados e também precisam ser alvo de apoio.
Além da questão particular dos catadores, outros problemas envolvem o manejo dos RSs em
Poços de Caldas: “... a colocação da falta de técnica, talvez seja muito pesado você colocar,
né, mas no final acaba sendo realmente. No final acaba sendo até um problema de gestão
mesmo” (S4, 25/março/2014).
Aqui uma análise sobre os profissionais que trabalham na Prefeitura e cuidam dos RSs. Falta
mão de obra, falta técnica. No entanto, a realização dos serviços públicos é obrigatória, não
pode haver desculpas e esta realização tem que ser bem feita, sob pena de responsabilização
civil e criminal.
Muitos são os atores envolvidos nas questões relacionadas aos RSs. No entanto, as pessoas, as
donas de casa, as empresas, aqueles que separam o lixo dos materiais recicláveis são os
principais facilitadores desse processo de reciclagem. Assim, essa prática precisa ser bem
orientada e incentivada.
Além de separar o lixo, as pessoas precisam entender que é necessário diminuir a produção do
lixo mediante a redução do consumo. Como o consumo é a base do sistema econômico atual,
as novas gerações precisarão encontrar novos modelos de economia e vida. “Agora a gente
tem que dar conta do recado, de não caminhar para uma situação melhor do nosso depósito
de lixo, mas para fazer toda a questão do gerenciamento, da coleta, da coleta seletiva e
principalmente da inclusão dos catadores.” (S7, 12/março/2014).
Não adianta só pensar que logo haverá um novo aterro sanitário, e também não adianta só
pensar na gestão desses materiais. É importante pensar em como reduzir o lixo. “É claro que
a responsabilidade pelo resíduo gerado é de quem gera, então cada morador tem a
responsabilidade pra isso.” (S7, 12/março/2014).
Para exigir essa responsabilização para com o lixo é necessário haver mecanismos de controle
e dar o exemplo. Os resíduos domésticos devem ser tratados de forma diferente dos resíduos
das empresas. Cobrar das empresas é mais fácil, pois a medição é mais simples. Cobrar dos
cidadãos é questão de educação e conscientização que precisa começar, ainda que seja difícil:
Sempre está no plano das pessoas ter boa qualidade de vida. A questão é que muitos ainda não
entenderam a relação entre o consumo em excesso, a produção de lixo, e a degradação do
meio ambiente que afeta diretamente a qualidade de vida. Enquanto essa relação não for
esclarecida às pessoas, fica difícil cobrar mudança de atitude. “Eu acho muito difícil a
redução do consumo, talvez o consumo consciente seja o caminho” (S7, 12/março/2014); “A
127
redução do consumo é um tanto utópica, porque logicamente as pessoas querem ter uma boa
qualidade de vida” (S7, 12/março/2014).
Segundo o Instituto Akatu (2013), não basta gerenciar os RSs, mas é necessário que haja uma
diminuição desses resíduos, tendo em vista que a crescente produção de lixo está relacionada
à extração de recursos naturais.
A qualidade de vida a que o entrevistado se refere está relacionada aos luxos oferecidos pelo
capitalismo e pelo consumo. No entanto, esse pensamento e consequente comportamento
pode comprometer a qualidade de vida futura (SACHS, 2009). Essa reflexão não existe para o
entrevistado.
Assim, esta é uma visão equivocada, pois uma boa qualidade de vida não passa
necessariamente por um estilo de vida consumista. O consumo consciente é também meio de
atingir melhor qualidade de vida.
Para Ladslaw Bowbor (2007), o consumo é algo atraente, assim as grandes corporações
trabalham no sentido de manipular a vontade das pessoas, impondo-lhes necessidade de
consumo.
A gestão precisa ser implementada e o consumo precisa ser repensado de modo a atingir o
equilíbrio ambiental, econômico e social necessário (SACHS, 2009). Este precisa ser um
trabalho contínuo e dedicado à inclusão social:
A função dos catadores é tentar sustentar suas famílias. Quem deve fazer a gestão de resíduos
é o poder público. No entanto, este tipo de pensamento só demonstra que tais pessoas não
tiveram noção completa do todo que as envolve, faltando para tanto empoderamento que lhes
permita ter autonomia e tomar decisões adequadas para melhorarem os processos a sua volta
(GOHN , 2004). “A gente tem inclusão social, aqui tem muita gente que trabalha que é
analfabeta e que não ia conseguir serviço em outro lugar. Vira e mexe tem gente que é
estudante da Apae, chegou época de ter até quatro pessoas da Apae trabalhando aqui.” (C2,
24/março/2014).
Para os cooperados é um orgulho saber que podem ajudar alguém. A fala anterior reflete o
sentimento de solidariedade entre eles. Muitas vezes eles fazem referência ao fato de se
considerarem família. Mas ainda falta, para muitos, a compreensão de segurança e expectativa
de futuro:“Eles não gostam de pagar INSS que é uma coisa necessária e que não é uma
questão de você gostar, e você não tem outra segurança” (C2, 24/março/2014).
Nesta categoria observou-se que a gestão dos resíduos sólidos passa por muitas etapas. No
129
município estudado algumas destas etapas apresentam falhas e, portanto precisam ser
melhoradas.
Para que seja reduzido o volume de lixo que vai para o aterro sanitário, a coleta seletiva é
essencial, mas para isso precisa haver inclusão destas pessoas e boas condições de trabalho,
facilidade ao acesso ao galpão de trabalho, conscientização e adequação do entorno do local
da cooperativa para que os cooperados não tenham problemas com a vizinhança. Além disso,
devem ser oferecidos cursos de capacitação para que os cooperados consigam se estruturar e
gerir a Cooperativa.
A inclusão destes trabalhadores é importante para que sejam capazes de ajudar o sistema de
coleta de lixo e também para que consigam estruturar suas vidas e suas famílias, adquirindo
autonomia para escolherem o destino de seu futuro, posto que seu trabalho é importante e
honrado, mas podem ter a oportunidade de sempre melhorar (GHON, 2004).
Para Vilarta e Gonçalves (2004), é importante que haja melhoria constante no bem-estar e
principalmente com a possibilidade de autonomia dos indivíduos, para que sua qualidade de
vida se modifique.
Com a melhor estruturação dos catadores de materiais recicláveis, eles poderão receber mais
materiais e assim diminuir o volume de lixo que vai para o aterro sanitário. Tal situação reduz
o impacto do lixo no meio ambiente e ameniza a extração de novos materiais (JACOBI e
BESEN, 2011).
O auxílio não pode ser para suprir apenas necessidades imediatas, mas deve ser no sentido de
que eles consigam organizar seu trabalho, suas vidas e suas famílias. Assim sendo, o conceito
130
que precisa aparecer para resolver tal situação é o empoderamento que poderá devolver a
estas pessoas a autonomia para tomar suas decisões e direcionar seu futuro (FREIRE, 1987).
Esta seria uma etapa de transição, que poderia amenizar os impactos ambientais, enquanto as
autoridades internacionais, nacionais e locais decidem sobre uma possível reestruturação do
sistema atual (DOWBOR, 2007).
9- Meio Ambiente
Por fim, nesta categoria foram discutidas as práticas relacionadas à gestão ambiental dos RSs,
descarte ambientalmente correto, reciclagem, reaproveitamento, reuso e redução de resíduos
inservíveis enviados ao aterro sanitário atual. “Quando a gente recicla material no plano da
gestão ambiental, só ambiental, não tô falando das outras partes, você não extrai de novo da
natureza” (S1, 05/março/2014).
Essa é a ideia central da reciclagem. Além desse, existem outros benefícios como a economia
de energia, a inclusão social e outra. A gestão sustentável dos RSs pressupõe uma abordagem
que tenha como referência o princípio dos 3Rs, apresentado na Agenda 21: Redução (do uso
de matérias-primas e energia e do desperdício nas fontes geradoras), Reutilização direta dos
produtos, e Reciclagem de materiais (MALHEIROS, PHILIPPI, COUTINHO, 2008).
Quanto à estrutura técnica do aterro sanitário atual, tem-se que: “A gente está com um
impasse nesta questão do aterro sanitário. Não houve nenhuma, eu disse nenhuma
preocupação com um projeto maior” (S1, 05/março/2014); “Ele tem que operar dois anos a
mesma área. É complicado, não tem um engenheiro, ele tem a dificuldade de compactação, aí
não compacta direito e recebe um material que às vezes não deveria” (S1, 05/março/2014).
131
O departamento de meio ambiente percebe o não planejamento adequado do aterro sanitário
que está em construção. O ministério público está exigindo que o novo aterro sanitário seja
concluído até 2016, mediante um TAC, mas não há uma cobrança do ponto de vista técnico.
Esta situação não é a situação ideal.
Outro fator levantado é com relação à falta de técnica adequada na compactação do lixo
depositado no aterro sanitário atual e também quanto ao tipo inadequado de materiais que são
levados indevidamente para o local, como sofás, equipamentos eletroeletrônicos, madeira e
outros. “A empresa também vai controlar o aterro sanitário que ora ele está controladinho,
igual agora não está chovendo, quando chove ele fica totalmente descontrolado” (S3
20/março/2014).
A Secretaria de Serviços Públicos não tem controle sobre o aterro sanitário utilizado
atualmente. Esse controle, do ponto de vista técnico, só se dará mediante a criação e
implementação de um PMGIRS, pois o controle do aterro vai decorrer da gestão destes
resíduos. Assim, observa-se novamente que falta uma visão sistêmica e integrada.
Importante mencionar que há, segundo a lei nº 11.445/2007, o entendimento de que o Plano
de Saneamento Básico deve abranger os planos de água e esgoto, drenagem urbana e resíduos
sólidos. Assim, no caso de Poços de Caldas-MG, seria mesmo da responsabilidade do Dmae
acrescentar às suas atribuições a gestão dos RSs. Tal decisão precisa ser tomada com urgência,
pois há perigo: “... se explodir aquele troço lá eu não queria estar aqui em Poços não” (S3,
20/março/2014).
Um local onde é depositado lixo armazena gás e é perigoso, como afirma o próprio
entrevistado. Assim, este não é um local onde pessoas e até crianças possam entrar e utilizar
para seu trabalho, como faziam alguns catadores.
132
20/março/2014).
Outra situação que chama a atenção quanto aos aspectos ambientais é a construção de um
galpão, pela Prefeitura, para o funcionamento de mais uma cooperativa de catadores no
município, para acolher os catadores que trabalhavam diretamente no aterro sanitário
coletando ali os materiais. Esta é uma boa iniciativa que favorece a reciclagem, no entanto,
alguns problemas têm sido levantados, tais como:
uma área já havia sido analisada e ela tem uma nascente. Aí, para fazer o
barracão era preciso entrar nos 50 m de proteção, uma proteção que já não
existe. Aí fui discutir com o secretário. Eu disse ‘vamos deixar com no
mínimo 15 m, vamos reflorestar, aí sai na imprensa que a diretora aqui
autorizou a tapar mina e acabar com a nascente (S1, 05/março/2014).
O recuo inadequado é grave do ponto de vista das lei ambientais, mas não tem preocupado a
prefeitura municipal: “Não tem problema nenhum, porque lá realmente tem uma mina
d’água, nós fizemos uma drenagem, uma drenagem fantástica” (S3, 20/março/2014).
Para resolver um problema que é a construção de um barracão para a formação de uma nova
cooperativa de catadores, estão surgindo novos problemas. A preservação de uma mina é um
dever legal que não pode ser infringido.
A lei ambiental exige que sejam respeitados 50 metros para construir perto de uma nascente
de água. Além de não respeitarem a metragem, acham que um dreno vai resolver o problema,
mas, na verdade, a água pode corroer a construção e provocar acidentes futuros. Assim, tal
situação também depende de análise técnica para não causar mais problemas do que
benefícios para o município.
O Conselho de meio ambiente não tem nenhum tipo de envolvimento com os assuntos
relacionados aos resíduos sólidos, embora devesse ser um local de discussão que abrangesse e
encabeçasse esse tema, segundo o atual presidente do Codema.
Esta situação precisava ser diferente, ainda mais em um município privilegiado pela natureza,
como Poços de Caldas: “Eu tenho um sonho, eu não vejo a hora disto acontecer, ainda mais
que aqui têm muitas águas, tem muita mata, tem muito verde. Tinha que ter uma verdadeira
guarda mesmo.” (S5, 31/março/2014).
Ao contrário do sugerido na fala anterior, parece que a quantidade de lixo vai apagando as
belezas naturais. Quanto à quantidade de lixo produzido no município, gerando impacto no
meio ambiente, é possível notar que: “o lixo de Poços chega hoje a 120 toneladas dia” (S7,
12/março/2014); “dá pra fazer uma estimativa de 200 mil kg por dia” (E1, 28/03/2014).
A variação está entre 120 e 200 toneladas de lixo por dia. Este é um grande volume e trata-se
apenas de uma estimativa, uma vez que a cidade não dispõe de um diagnóstico formal, não
faz a avaliação e a classificação quantitativa e qualitativa dos RSs.
Para uma melhor análise e compreensão da situação apresentada, observa-se que uma
estimativa também poderia ser feita levando-se em consideração a média dos estados e a
quantidade de lixo produzido diariamente, conforme apresentado na Tabela 2.
134
Tabela 2: Estimativa da quantidade de lixo.
Minas Gerais São Paulo
Lixo gerado (t/dia): 17.592 56.626
Lixo coletado (t/dia): 16.011 55.967
Destinação final adequada (t/dia): 10.277 42.715
Coleta per capita kg/hab/dia 0,944 1,393
Pode-se fazer uma estimativa para o município de Poços de Caldas de: 1,0 kg/hab./dia.
Considerando que o município tem 161.000 habitantes (IBGE, 2010), teríamos a geração de
cerca de 161 toneladas/dia.
Além desses, existem outros aspectos que precisam de atenção sob o ponto de vista ambiental.
Um deles é o descarte dos materiais que deve obedecer normas técnicas específicas e ser
rigorosamente fiscalizado, no entanto, segundo as falas dos entrevistados, o aterro atual só
está controlado quando não está chovendo. Os catadores avulsos faziam fogueiras no local e
há disposição de sofás e outros materiais indevidos. Também, não houve preocupação com
um projeto mais bem estruturado na construção do novo aterro sanitário. O descarte precisa
melhorar.
135
A produção de resíduos é um problema mundial, que resulta no desperdício de energia e de
materiais. Portanto, precisa crescer a preocupação com a diminuição da geração dos resíduos,
a reutilização e a reciclagem (COSTA, 2011). Para Jacobi e Besen (2011), é importante
reduzir os resíduos nas fontes geradoras, coleta seletiva, reciclagem e recuperação da energia.
Para tanto, a administração pública tem a responsabilidade de gerenciar toda a trajetória dos
resíduos. (JACOBI e BASEN, 2011).
Quanto à quantidade de resíduos que vão para o aterro sanitário, há um consenso entre os
entrevistados de que há possibilidade de reduzir esse volume de lixo, mediante a adequada
separação dos materiais recicláveis. Para isso, é necessário que haja uma vasta campanha por
parte do poder público, conscientizando as pessoas sobre sua obrigação de cuidar e separar o
lixo. Além disso, seria imprescindível que a coleta seletiva fosse disponibilizada em todos os
bairros do município, pois não adianta as pessoas separarem o lixo e o caminhão levar tudo
para o aterro.
No entanto, esse seria apenas um primeiro passo da redução do lixo, posto que há muito mais
a ser feito para alcançar a sustentabilidade. Segundo Sachs (2008), o equilíbrio entre o meio
ambiente, a equidade social e os aspectos econômicos é algo profundo que exige mudanças no
modelo econômico atual, tendo em vista que o aumento do consumo resulta diretamente na
maior produção de resíduos (DOWBOR, 2007).
136
Para facilitar a compreensão das categorias, foram elaborados os quadros a seguir:
137
Continuação QUADRO 4: Aspectos principais de cada categoria
138
Continuação QUADRO 4: Aspectos principais de cada categoria
139
Por fim, para melhor compreensão dos dados, tais categorias podem ser reagrupadas da
seguinte forma:
140
Continuação do QUADRO 5: Jurídico/gestão, social e ambiental
141
l- GHON (2004)-
Autonomia.
142
Categoria Diagnóstico Conexão Teórica Proposta
Ambiental a- Reciclagem. a-JACOBI E BASEN a-Campanha
70% a 80% do (2011) - educativa de
material poderia ser sustentabilidade. conscientização
reciclado. ambiental.
b- BRASIL (2012) –
b-Nascentes. Preservação das b-Preservação.
nascentes segundo o
c-Problemas técnicos Código Flerestal. c-Acompanhamento
para a construção do técnico diário.
novo aterro sanitário. c-BRASIL (2010) –
PMGIRS.
143
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse contexto, em 2010 entrou em vigor no ordenamento jurídico brasileiro a lei 12.305, que
instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos com uma proposta de melhorar a gestão dos
resíduos no âmbito federal, estadual e municipal, mediante a participação social.
Em Poços de Caldas-MG, observou-se que até junho de 2014 ainda faltavam pontos
importantes da lei a serem implementados. O município ainda não havia feito um diagnóstico,
como orienta a lei, para direcionar a elaboração do PMGIRS. Desta forma, o plano se mostrou
inadequado à realidade local e precisará ser revisto. Assim, havia até esta época no município
o serviço de coleta de resíduos, mas faltavam alguns pontos para se afirmar que existia uma
gestão dos RSs.
Segundo a lei, todas as etapas da gestão de RSs, desde a elaboração do plano até a fiscalização
da execução dos serviços, devem contar com a participação social. Historicamente, este não é
um objetivo fácil de ser alcançado, mas é valorizado pela CF e considerado como o caminho
para a construção de uma sociedade democrática (GOHN, 2004).
Quanto ao pressuposto levantado de que o município precisa incentivar e manter contato com
os conselhos municipais e com o Fórum Lixo e Cidadania, para atingir o requisito legal da
participação social, constatou-se que está correto, mas é insuficiente, tendo em vista que
outros pontos precisam ser melhorados. Quanto aos objetivos, foram cumpridos.
Quanto ao Fórum Lixo e Cidadania, este não é um trabalho muito divulgado, e poucos ficam
sabendo das reuniões. Não há convites para a participação das pessoas. Ainda é um trabalho
inicial.
145
Sugerir à Prefeitura que aproveite melhor as sugestões dadas pela coordenadoria do
Fórum, como contribuição para uma gestão integrada e participativa;
5- Oferecer infraestrutura e apoio técnico contínuo às cooperativas de materiais
recicláveis, como: cursos de autogestão, segurança no trabalho, cidadania, meio
ambiente e outros;
6- Promover programas de educação ambiental continuados, situando a população da
realidade municipal e ensinando sobre as vantagens ambientais, econômicas e sociais
da reciclagem, estimulando a todos para que separem adequadamente os materiais
recicláveis;
7- Envolver as escolas de todos os níveis em programas de coleta seletiva e orientação
sobre a redução da produção do lixo;
8- Implantar programas relacionados ao meio ambiente, sustentabilidade e suas
implicações na qualidade de vida, para capacitar professores;
9- Estimular parcerias com as faculdades com campus no município, para que
desenvolvam trabalhos junto às cooperativas de catadores e com a população,
contribuindo para com a gestão dos resíduos sólidos;
10- Orientar a população para a separação do lixo orgânico e criar programas que façam o
aproveitamento desses materiais com a compostagem.
11- Realização do diagnóstico e revisão do PMGIRS.
Alguns ajustes ainda precisam ser feitos. Quanto antes o município definir a responsabilidade
sobre a gestão dos RSs (se haverá a transferência para o Dmae, conforme orientação da Lei de
Saneamento, ou não), tão logo estará mais perto da concretização do diagnóstico dos resíduos
municipais. Assim, poderá revisar o plano de gestão e incluir a participação social, e enfim
trilhará o caminho certo para se adequar à Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Nessa visão otimista, o município contribuirá para com o equilíbrio dos aspectos ambientais,
sociais e econômicos. Dessa maneira, um município mais sustentável será capaz de
proporcionar melhor qualidade de vida para seus moradores, tornando-se um exemplo a ser
seguido.
Cumpre destacar que a elaboração do presente trabalho muito contribuiu para o crescimento
da autora, tendo em vista que a pesquisa de campo é muito rica, detalhada, surpreendente e
diferente das experiências vivenciadas pela pesquisadora anteriormente. Também
proporcionou crescimento pessoal diante da observância de fatos que expressam dificuldades
sociais, econômicas, ambientais e de gestão, envolvendo um contexto só.
147
Quanto às limitações da pesquisa, observa-se que, por tratar-se de um estudo de caso, não
permitirá, com facilidade, generalizações; mas troca de experiências são sempre férteis. O
caso do município de Poços de Caldas foi abordado quanto aos diversos atores envolvidos na
questão dos resíduos sólidos, e as conclusões restringem-se a este município. O método do
estudo de caso é sujeito a análises intuitivas e incontroláveis. Apesar disso, permite uma
compreensão profunda das inter-relações do problema estudado.
Um ponto essencial para a gestão de RSs que precisa ser superado é a questão da
quantificação e qualificação dos resíduos. Assim, seria muito valioso se novos estudos sobre
este tema fossem levantados em pesquisas quantitativas que tivessem como objetivo auxiliar
na elaboração de um banco de dados dos RSs no município.
Outro ponto intrigante, que não pôde ser solucionado com este trabalho, é a situação da falta
de integração das Secretarias e Departamentos da Prefeitura municipal, cuja deficiência está
refletindo diretamente na gestão de resíduos sólidos e, consequentemente, impactando o meio
ambiente. Assim, seria importante o desenvolvimento de um trabalho com a Prefeitura
municipal, mediante uma pesquisa que indique as falhas e possíveis sugestões de melhoria
para a integração e bom funcionamento.
Enfim, ainda há muito trabalho para se alcançar os parâmetros legais, mas o caminho pode
ficar mais curto a cada passo dado. Portanto, é hora de avançar.
148
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149
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cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX
do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990,
que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Disponível em:
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______. Lei 11.284 de 2 de março de 2006. Dispõe sobre a gestão de florestas públicas para
a produção sustentável; institui, na estrutura do Ministério do Meio Ambiente, o Serviço
Florestal Brasileiro - SFB; cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal - FNDF;
altera as Leis nos 10.683, de 28 de maio de 2003, 5.868, de 12 de dezembro de 1972, 9.605, de
12 de fevereiro de 1998, 4.771, de 15 de setembro de 1965, 6.938, de 31 de agosto de 1981, e
150
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de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de
14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras
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YIN, R. K. Case Study Research: Design and Methods. 2nd ed. Thousand Oaks, CA: SAGE
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157
APÊNDICE E ANEXOS
158
Apêndice II: Roteiro de entrevista a ser utilizado com os catadores de materiais recicláveis.
159
Apêndice III: Roteiro de entrevista a ser utilizado com a empresa terceirizada
1. Segundo o contrato com a prefeitura, como deve ser sua atuação? Coleta em toda a
cidade? Quantos veículos? Quantos funcionários? Terceiriza alguma etapa?
2. Tem alguma relação com as cooperativas de catadores?
3. Qual a média do volume coletado por dia?
4. Qual a destinação do material coletado?
5. De que forma ocorre a gestão de resíduos em Poços de Caldas-MG? Pode
comparar com algum outro município?
6. Quais as maiores dificuldades para a gestão de resíduos sólidos no município?
7. Conhece o plano municipal de gestão de resíduos sólidos? O que precisa ser
melhorado?
8. O que pode ser feito para ver contemplada a participação social prevista na Lei
12.305/10 nas questões que envolvem a gestão de resíduos?
9. Você conhece algum modelo que possa trazer bons exemplos a serem utilizados na
gestão de resíduos em Poços de Caldas-MG? Qual?
160
Apêndice IV: Roteiro de entrevista a ser utilizado com a diretoria do Dmae.
161
Apêndice V: Solicitação das atas do CODEMA ao Departamento municipal de meio
ambiente.
162
Anexo I: Resposta do Departamento municipal de meio ambiente à solicitação das atas do
CODEMA.
163
Anexo II: Artigo 4º da Lei municipal 7951/04 que trata da criação do CODEMA.
164
Anexo III: Nova composição do CODEMA para 2013/2014.
Composição do CODEMA
165
Representantes do Setor de Mineração:
Hamilton Wuo – Titular;
Luiz Renato Musa Machado – Suplente.
Representantes das Entidades Civis criadas com a finalidade de defesa do meio ambiente:
Carmen Greice Renda – Titular;
Carmem Lúcia Junqueira Arantes – Suplente.
166
Anexo IV: Regimento interno do Fórum Lixo e Cidadania
167
III- Atuar junto ao Conselho Municipal de Meio Ambiente e ao Conselho Municipal
de Saneamento, enquanto órgão consultivo, no que tange às questões que
envolvem a gestão e manejo dos resíduos sólidos;
IV- Propor atividades que visem incentivar o comprometimento da sociedade na
discussão, elaboração e desenvolvimento da política pública de resíduos sólidos;
V- Propor melhoria e adequação das normas de acondicionamento, coleta, tratamento,
transporte e destinação final do resíduo sólido no município;
VI- Participar da elaboração e desenvolvimento dos Planos Municipais que se referem
às questões relativas aos resíduos sólidos, bem como do monitoramento dos
resultados alcançados;
VII- Estimular a formulação e o desenvolvimento de estratégias, ações, planos e
projetos locais relativos à gestão de resíduos no município;
VIII- Reivindicar e acompanhar o apoio da PMPC e da Câmara Municipal de
Vereadores às organizações de catadores de materiais recicláveis e demais
trabalhadores envolvidos com material reciclável na cidade, valorização e
reconhecendo a importância desse trabalhador como agentes ambientais na gestão
municipal dos resíduos sólidos;
IX- Identificar e articular a constituição de parcerias de maneira a fomentar e auxiliar a
implantação de programas e projetos que visem a melhoria da gestão e manejo dos
resíduos sólidos no município;
X- Manter articulação e participação do Fórum Estadual Lixo & Cidadania, de forma
autônoma e independente;
XI- Todos os eventos realizados no âmbito do município, relativos às questões dos
resíduos sólidos, deverão ser oportunizadas à participação do FML na sua
realização e, preferencialmente na sua organização.
CAPÍTULO IV - DIRETRIZES
168
VIII- Estimular as atividades de educação socioambiental, tendo como premissa o
consumo consciente, o combate ao desperdício, o incentivo à redução, reutilização e
reciclagem dos resíduos;
IX- Buscar financiamento por meio de captação de recursos junto à iniciativa privada e
o poder público; (desenvolver propostas para a captação de recursos objetivando o
financiamento das atividades do Fórum e de demais projetos envolvendo resíduos
sólidos no município).
X- Todos os documentos, publicações e manifestações divulgados pelo Fórum deverão
preceder de deliberação da Plenária.
CAPÍTULO V - FUNCIONAMENTO
Art. 7º O Fórum Lixo & Cidadania de Poços de Caldas terá como estrutura geral: A Plenária,
uma Coordenação Geral, 2 Coordenadores Setoriais e os Grupos de Trabalho. Estes
serão eleitos pelo período de dois anos, podendo ser reeleitos só uma vez.
Art. 8 Plenária
Corresponde aos participantes das reuniões ordinárias e extraordinárias. É o
órgão máximo do Fórum que delibera sobre as principais questões; Elege as
Coordenações do Fórum; Zela pelo Regimento Interno e pelas atividades definidas:
define as pautas das reuniões.
169
IV- Encaminhar aos membros do Fórum a Pauta da Reunião, os convites e as
comunicações;
V- Providenciar os serviços de arquivo, estatística e documentação;
VI- Controlar a lista de presença das reuniões;
VII- Manter atualizada a lista de contato dos membros (endereço, telefone e e-mail).
170
Parágrafo Único – Transcorrido este prazo e não havendo qualquer manifestação, a
mesma será considerada aprovada pela maioria, será impressa e arquivada em livro próprio.
Havendo manifestação(ões), esta(s) deverá(ao) ser avaliada(s) por todos os participantes, que
deverão manifestar-se favorável ou contrariamente à solicitação. A manifestação da maioria
ou a sua falta será acatada e registrada na Ata pelo Coordenador Operacional.
Art. 18º O Fórum e as entidades participantes são instituídos por meio de Portaria
expedida pelo Poder Público Municipal.
Art. 19º Cada representação que compõe o Fórum terá direito a um voto. Os nomes
dos integrantes (titular e suplente) deverão ser formalmente indicados pelas entidades à
coordenação geral.
Parágrafo único – Na falta ou impossibilidade de atuação do Coordenador Geral, os
Coordenadores Setoriais assumem a Coordenação dos trabalhos ou poderão ser indicados
facilitadores, por deliberação da maioria presente em Reunião Ordinária ou Extraordinária.
Art. 20º Disposições omissas ou conflitantes deste Regimento deverão ser objeto de
avaliação e deliberação em Reunião dos integrantes do Fórum.
Art. 21º Este Regimento Interno foi aprovado em Reunião Ordinária realizada no dia
03/10/2013 e só poderá ser alterado com a aprovação de, no mínimo, dois terços dos
integrantes do Fórum.
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FOTOS
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FIGURA 13: Bancada de trabalho da Cooperativa Ação Reciclar
Fonte: Elaborado pela autora (2014).
173
FIGURA 15: Galpão da Cooperativa Ação Reciclar em pleno funcionamento
Fonte: Elaborado pela autora (2014).
174
FIGURA 17: Área externa da Cooperativa Ação Reciclar
Fonte: Elaborado pela autora (2014).
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