KOSELLECK Histria Mestra Da Vida
KOSELLECK Histria Mestra Da Vida
KOSELLECK Histria Mestra Da Vida
PUC RIO
Reitor
Pe. Jesus Hortal Sánchez, S.J.
FUTURO PASSADO
Vice-Reitor
Pe. Iosafá Carlos de Siqueira, S.J. Contribuição à semântica
dos tempos históricos
Vice-Reitor para Assuntos Acadêmicos
Prof. Danilo Marcondes de Souza Filho
EDITORA
pue RIO
CAPÍTULO 2
Sobre a 3.iS~QJuǪ(),E.<!~~;'
na história moderna em movimento
, "Na vida dos mortais há sempre um fato / que é símbolo dos tempos decorrid?s./ Obser-
vando-o, podemos ser profetas, / quase sem erro-do volver das coisas / n;lo ,;aséidas que,
ainda entesouradas, / acham-se nos fracos germes e começos. / Tais coisas o ovo e o fruto
são do tempo." William Shakespcare, Hcnriquc IV, Parte II (Ato li!, cena I) (Tradução de
Carlos Albcrto Nunes, TeMro completo de Shakespeare - DranUls históricos, Rio de Janeiro:
Ediouro, s.d.).
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42 REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO HISTORIA MAGISTRA VITAE
43
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"N()ql:!~,~~.!!:f.~E~_~q~i!~9~nós mesmos nã0-P.2~~!110svivenciar de- s o uso é, portanto, formal; como mais tarde irá afirmar a máxima "tudo
I
J
i:7
vemos.reccrrer.à ..experiência ..de....oJJ.trQ.s': encontramos na Grande enci-
clopédia universal de Zedler, em 1735.2 Assim, a história seria um ç(jdj.:: !/ pode ser comprovado a partir da história"!
Qualquer que seja o ensinamento que subjaz à nossa fórmula, há algo
~i1().c0!1tendo 1!l~ltipl~~.e~p~~i~~~~..s. __
alh.<:~~s,
das quais nos apropriamos que sua utilização indica de modo inegável. S.f1LusºJ~.If1et~..!i_~IP..~._2..~s_~
com um OQk1:i':.9.2~gªgºgi~2i ou, nas palavras de um dos antigos, a his-
tória deixa-nos livres para repetir sucessos do passado, em vez de incor-
rer, no presente, nos erros antigos." Assim, ao longo de cerca de 2 mil
si.bUida.d.Unjn!lliueta d<;:~"ompreens~o pré~dasJ:.~s~~ilidades J:1~1f- .
I~anaS~!!L!!Dl.f.Q.!1tiny'ym histQ,U.f5Lqevaliçl-ªQ.u~r,ªL A história pode
conduzir ao ~lati'yQJ!p-erf.\!iÇ.oa,In~IJ!QJJlQL.ª1
011in~J~f!.~illl_de seus con-
I,l,/i
anos, a história teve o papel de uma escola, na qual se podia aprender a temporâneos e de seus pósteros, mas somente se e enquanto os pressu-j ~</
s~Lsjí.b.i..çu:,pI!!den!~.!>~I!ÜI).E2.!I.(~L.~Xn..g~!l:llg~!>
~r.!2S. . .---~_.-
postos para tal forem basicamente os mesmos.1),tL<2-.~~Sl!loX'y!!!~o em_! ~í/
Que ensinamentos podemos retirar do episódio de Charlottenburg, prego de nossa expressão permanece 52!."!}~<2.jE9J~:jgjmlj.).J:s.ti.<:l!,l~ygL_da
para aplicarmos o topos ao nosso exemplo? Graças à sua arte de argu- <;2!1~!fu;!.çÜls!a
••~~~!$,~h.l!.~a.~~~jas hi~t.?!.0~ ~~.9j!}~~!1!.m~D.t~,L~~-ºr-
/
mentação, Raumer adverte o colega, em um espaço de experiência su-
postamente contínuo, sobre o qual ele mesmo já se posicionara de forma ~Í~~i~º~;~~r!~l~~§.~:;,ad;o:;~I;;;~a,i~~~~:;~i~-!~~õ~~éL*~~,;.~~~~ \ !
irônica. A cena reafirma o papel da história como mestra da vida, com-
provando ao mesmo tempo o quanto esse papel se tornara questionável.
Antes de abordarmos a questão sobre o quanto esse velho topos já se
:=~.l?S~~~~~~~;7;~~~~!r~t:i,~~~~~~l~ \1 \
__ ,,, ~ ..•.....•.~'''''·-.Ji ..·",~" ..••·,-:.:::;~:,~1;~::;'cz~;;;~'~;J,,:'!Z';;:''~,:::4';';':;;';:';;i~'1,~Ii""~;-.;.••:It:i;o:.;r;ii.U~",:."""';,._,~_ •••__ .."._..,~,._.........,.;..,,,,_ r
',." _~.., ,._.~o"J2.~
E, qtlª!ldQ.J11na-l!::~Dg9E,T.5ãO__~2~l~L~.~:~i~L.~E~._c.l.~rl2.~9_1ª.9J.~~~?.,e \
teria diluído na história em movimento que caracteriza a época moder- ~E9.J:?-raZQ.tão-lºJlJw.,,.Q,)J..e,,,Qs··~r!I!.P.!9.~Ag p'ª~,!do E~~tl:}E~Y.ª-ID_.ª
__ ..s_e.LPx.9- rI
na, é preciso lançar um olhar sobre a questão de sua duração. Esta per- y§tosos. A estrutura temporal da história passada .delimi.tt...Y9:...1!.!ll. eSp'açp)
dura quase ilesa até o século XVIII. Falta-nos, ainda hoje, uma descrição
<:?~!nJl~?~~9~~[~@J$ç~;;J:í1::.~~R~E[~.~Ji~~Ç~B"P"Q.?1í.Y~l
de todas as transformações filológicas e semânticas por meio das quais a
expressão "história" [Historie] foi conceitualizada. Da mesma forma, fal-
L
ta-nos também uma história da expressão historia magistra vitae. Ela ori-
entou, ao longo dos séculos, a maneira como os historiadores compre- Cícero, referindo-se a modelos helenísticos.s cunhou o emprego da ex-
enderam o seu objeto, ou até mesmo a sua produção. Embora tenha \ P;~;ão fli:.Eori~ist!E. vitae;...Aexpressão l2.~X!~.nc~2.~.?_~_~~~.~<;>_~~~-
conservado sua forma verbal, o valor semântico de nossa fórmula variou tória; a diferença é que, nesse caso, o orador é capaz de emprestar um
"
consideravelmente ao longo do tempo. Não raro, a própria historiogra- ;~-Údo de imortalidade à história COITIº.i!1gIgª-Q...P_ªJ:ª,,,ª"'yid~~_deJJ.lQ.ç!o
fia desabonou o topos como fórmula cega, cujo alcance limitava-se aos a-t~e~~u vali()§QS()11t_~Ódo de eXl?e~a. Além disso, o uso
prefácios das obras. Dessa maneira, torna-se ainda mais difícil esclarecer da expressão está associado a outras metáforas, que reescrevem as tare-
a diferença que sempre existiu entre o mero emprego do lugar comum e fas da história. Historia vero testis temporum, lux veritatis, vtta memoriae,
seu efeito prático. A despeito desses problemas, a longevidade de nosso nuntia vetustatis, qua voce alia nisi oratoris immortalitati commendatut
topos já é bastante esclarecedora. Ela alude em primeiro lugar à flexibili- [A história é a testemunha dos tempos, a luz da verdade, a vida da me-
dade da formulação, a qual permite, por sua vez, as mais diferentes con- mória, a mensageira da velhice, por cuja voz nada é recomendado senão
clusões sobre seu significado. Vejamos o caso em que dois contemporâ- a imortalidade do orador]." A tarefa principal que Cícero atribui aqui à
neos tomaram as histórias [die Historien] como exemplo: o objetivo de historiografia é especialmente dirigi da à prática, sobre a qual o orador
Montaigne era mais ou menos o oposto daquilo que Bodin pretendia exerce sua influência. Ele sc:..~~EY!.s.\~.bjgQria.f..illJ1Q..~~,ª,º-.g&.í:xí:.m-plºs
demonstrar. J\,um, as bist?rias,,?:~s,t~a,:,ar.!l~s.<:,.~p~!.<:~Q~ g,1Htl-l\ J
..IQ..I!J..l2er - plena exemplorum est historia [a história é cheia de exemplos]" -
..~~~~!L~~~':'.~!~:_.~
CJ.l~~rg~ne~~!iz_a5~'l.;a.()u.~!:g~ __~~~()E~tE~!. r.e_gE~~.g!.rai~,~ l\ a fim de que s~ssível instruir..Jl9r meio dela. Faz isso, sem dúvida,
Para ambos, entretanto, as histórias eram fonte de exemplos para a vida.' 'd;-f~;~-;--~inda mai;~igor;~; do que-~-'f;;'T~~i-dides, ao chamar a aten-
44 REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO HISTORIA MAGISTRA VITAE 45
r 8.e.G.a,uma ve~ que, para ele, também ela era capaz de fornecer exemplos, Todas as ações, passadas e presentes, assemelham-se entre si e sua ciência
é em grande parte dispensável, mas podem tornar-se de grande proveito
1 fossem repulsivos ou dignos de serem imitados.n Muito influentes, arn-
quando esse esqueleto for ~~.?_e.~~oda..Earn~s.ão correspondente, de modo
E bos os clérigos contribuíram para que também o motivo das máximas
que se possa então mostrar à juventude qual foi o impulso para uma tal
J profanas conservasse um lugar, ~a ------_.
!
que subalterno, ao lado da história
__ ._~ .....
- ~-~--_.~ transformação, assim como os meios pelos quais este ou aquele fim foi al-
t.. que erakgj!i'!lada por seu conteúdo religioso. cançado, ou então, os motivos pelos quais ele não teria sido alcançado; des-
r --Ya;;bém .~i!~p.~!iliiil·:tê~-~sõ-d:s~a dupla via, uma.ve,z ~ue tanto os sa maneira, R!.ega-se ~es ao e9t~l\Ünl~IJ1.P_.9.9_gueà memória; a história
n exemplos onundos das hiStOLlas.bloJ1GaSquanto das hlstOL@.~..Q'!gãs são torna-se mais agradável e mais interessante para o discípulo, de forma que
se pode instruí-lo de maneira quase imperceptível tanto na inteligência dos
\, fontes PJlLª. as transformações seculares, poi.s...a.mb_o..5, ªilllliLq~ma-
li ~~iE_a.~._~if.~~Iltes,
l!..l}l~!.em..JI~~.e<;.eitosdiv!llilS..13 A concepção herdada
negócios privados quanto na do Estado, assim como nas artes belli ac pacis
[artes da guerra e da paz]." .
11 da Antigüidade a respeito da uÊI_Idade<!<:...hlst?E!.9gr~Itla permaneceu as-
~ sacia da ~~I~!~!1'<;Ü!.h.ͧ.!2E!~~SÜ~~~,!~~.~~!_<:~g!.tª,..Y-ª...~.9J;H:~-º-horizonle... \ . Esse último testemunho, prestado por um pai preocupado com a edu-
\ t" dasprofecias __ 9.t;"s_~b;,~s~~:U~.!.~!Jla.
Da mesma forma, 9_.e~_quer.rgJil1ç~ªJ ,;;j cação correta de seu filho, é significativo porque nele ~~JS~s:!atiY~'§.JJe-
~,~. das_.c..Q!!L~!.!l_~~_~_Q.(~1iS,ªL~.Q<O_.S~.?3~ºnC!~ti.?;ªs:.º~.LI},~,ÇLVJ!!:eI;?asso
u - até {\ f d~~i~_ª.~.g.~.gDlª,,~R99~sdªr~çiQa ..ç,º!ljl}g<::.ip_~~~
..~~rr:."~_~~::.~:,~.::."~io-
11i.', 11~.~et - 0l,li.:~.~",g~H,~ESLg2.L@:<lj'b.é.:PQ~I~~~1.;:Çj~jlǪ!::$.ç.Ip~~in~,~r.J2.'![a (J ) nal da história.
(J '. 9J1!.t.!clrg.ª-p.ªr.tir.,çlº~.RÂ~ê,4o. M,iigrãdõ~ autopropaganda historiográfica, não se pode subestimar
ç9!::~-()ª,~.§,~.E:::.r~.çüJ.!~!?:t.º.ci<l.~
pro fecias ~J),<.?c,.a_~12,~!.S.~
ª-Y-~lhªJ[Í~t9L~ o caráter instrutivo prático da literatura histórica e política do início da.., .
época moderna.s- OS.MZ9..fj.91;j1l..JjSlic9.~_~~~0,!~m \ ...!
~~...st~4.1;!5_~~~_~.~.~ó-
J: ~~!1~~~·e;~<l·lZ?fa~ç-f~:~!~~uJ~.a~Y~~~t:·~;;g!ã~~:~!~~~~:Ir:~: !\
I antigos, mas também imitá-los,« f~rtalece0J2.~il1,c.ípi?da~istória
,'''' .'.' •.•
como
·•. ·..".A"_ ••.._.rw __ ~''<'
• Freiherrn von Hardenberg era pai do poeta Novalis, [N.R.]
REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO HISTORIA MAGISTRA VITAE 47
\
l,í 1 fiÇlli aQ.EêL~.!~.I~~"ªl!Yªmep~l?_eI~E,e""~.~.t!~~,t.E!~':!í.g.2-.ª-<?.Rir~jtQ_~Qr.r_es- !f'. i I,!le.iQ..d-t~:xer;n.J?l.~.f..s.!9li.Ç~lL9..Q.s..p~i.L~stã2..J2.~riliª-ª§...R_ªr.'LÇ{,~,,,mf.1.os;
Sílsia
"" \ ..t.l.,m.-.. .f.é;.r.t..Q .•tiP-(u;t~..hW:Q[!ª.-ª§.~QçiªSLa .•a.".._.J.!.m.• ,ª_.Qª-tJl-J5~Zª..q.!J,e_.!}.ª-9_~e
R()Etl,i~._ '" ',.. g!~~,Ç~ºtem ql,le.C2!!!~t~~,a.~.~.t!.~. p!.?y:.ias."28 .
J L mo<!illc:a.y,~.dª§~Íl!LǺ!!lQ.A.s.l,lª.R[ºPÜiL~e.tLç~~o progressivo refina- /' "" No en tan to, 2-~~!Lc~mº-º-ª~i.ço dQ,Q.lli.lL~ll_U triª-lJLgkp'~m !Q§, de_~is-
I;:;~~to da política da época espelhava-se no ca~áter reflexivo da literatu- t~_pã().1.~L§~.f1çL~D.!~ ..12.êr.(l_g~s~~':lirg.c~I}.~~I~A?_~"e.,Ye.~~~ge.
..PE2P'~i9."ªJlP_t
ra memorialística e nos relatos das embaixadas. A par disso, a política \ sa fórmula, pois esta tinha suas raízes plantadas no mesmo campo da
permaneceu atada à administração estatal e às estatísticas, isto é, a uma ~~ ~xperiê~ do qual se originaram esses pontos de vista. Mesmo que não
J
história do espaço. Frederico o Grande, em suas memórias [Denkwürdig- ••; . se possa aprender nada a partir da história, r~~~ª,!lº_fjm..~~m.ª ..ç:~X!~~ª~.ci-
keiten], refere-se a uma expressão legada pela tradição quando afirma I' 'qgl!jgª.ª-Pª.1JÜ: ...c!.ª,!~~5.L~ulTI,~n.§.i!2.a_T~nt~bistó:~~o, g~~P~~.e._~?r-
repetidas vezes que a história é a escola dos governantes, desde Tucídi- i
I1aL.'!W!§,iIl1~!ig~!!~~.~_E.?<li~ e.speEt.°~.~~5111el~sqll~...?~,~~~_e.~~:.!:.;_?::d?.~E~~
des até Commynes, Cardeal Retz ou Colbert. Ele acredita ter aprimora- C
falarmos cqm'I?Jlç:!<!Jªrg!,::..mfü.~~~AQi2~·
\ do sua capacidade combinatória graças à contínua comparação entre ca- Os eventos inauditos, por sua vez, são tão pouco eficazes no sentido
~'\, ~os (lPt~d?1·~S.põrfin1';cô-m-õ intuit~d~~;~í~~~~~~:'ii1ãs não-deaêSCürpar, de apagar da face da Terra os eventos que se repetem de forma sempre
sua "política amoral", ele se vale dos inúmeros exemplos por força dos igual, que justamente por isso não podem ser compreendidos como
quais as regras das razões de Estado o teriam guiado em direção a seus inauJitos. «O que desaparece é o determinado, ou a diferença, a qual, seja
atos políticos." como for e qualquer que seja sua origem, constitui-se como mais fixa e
r Sem dúvida, estão mescladas auto-ironia e resignação, quando o ve- menos imutável."30 A vertente cética que se pôde articular também no
lho Frederico afirma que as cenas da história universal se repetem, sen- I1uminismo [Auflclarung], sob os pressupostos da similitude eterna, não
do necessário apenas mudar os nomes.> É possível entrever nesse pro- foi capaz de questionar de fato o nosso topos. Entretanto, o sentido do
topos foi, ao mesmo tempo, esvaziado. Se a velha história [Historie] foi !,
'" vérbio até mesmo a secularização do pensamento imagético; é certo que
\J; a tese da capacidade de repetição e, com isso, do caráter instrutivo da ex- arrancada de sua cátedra, e, certamente, não apenas pelos iluministas, a
~ periência histórica permanece um momento dessa experiência. O prog-
l' nóstico de Frederico sobre a Revolução Francesa é um testemunho dis-
quem tanto aprazia servir-se de seus ensinamentos, ~§.soacontece~lDa e~.-
!~irll:..sI~_urn-mQyi.!p-..~Il!9_,q'1.L().r.gª11i,~9,l:1..A~Jrl.'!!l~ira.novaa
relação gntre cY
I
i .Pª~~~.2.2..~.,fu.!,lli:,2;..
f9Lfi_n.~L~ent.:.«a história eI], si" [die Geschichte selbst] 'i
so,25No espaço delimitado pelos principados europeus, com seus corpos
estatais e ordens esta mentais, o papel magistral da história e.Xa..ª.Q..w~~- ~ ...f.Q!lJg.Ç9.E~i1l?Iirllm.n()Y.Ç? ..~P~S_?_~,~ ...~~E~tj!..~~i
a. A.Doya ..hjs.tQúa
,4 en fe.rT;;tya.ern.S1,",3º
. Jnº-tel1}.12.Q...garautia-e...sintoma_dLÇQIl!i.I)~i_<i!lQe_.ql!~. l.Q~~~i,cht~l a~.9,~.~~!Ilara,Ilª1.Lc!ll:~~"t~H~E~EêL\?!2pJia.pifer.~ntes tem-
.' E.()s_~.E~!.~(),~()~._~~_~~ p~~~ív~i~Af.alt~lnâQ.º-a, !0rl1~rll:.I:!!: ..2J~g.ar
{.._m~mQJ.m!R92.,Eass~E.~$~.fu!.1!E,2:.
r S~~rt9.SlI:l_e._~~~.~_~amb~~opo,si~ã~_à ~á~i.~_a_.~e~~.I1~?~.q~~a
9.11!!2!3..Ee,s_e,~~~~2.~_C?.P..~~~2g.,~I~!~E!~L~?.àg!P",9.,~~SJ.1lE.!.0.
ÉPJ:.es:jsoagora inv~tigar esses-pr.~edjmwtQ.~.$ELP.ont24i,?i.lJ!.~rp.lti- /
[ R,<?,~!,ível_~E!!!2.q~E_~,"E.arti~ªa_~~~~E~a:
..~~Lag~~_9uic~~rdini, 2_9.!!~1- c,()sda t~al]~iºimªçi9~<!~_I}-º~s_o.:jQ]lQ~, . ...
\ i a~~}mCOI)10~=-.~~~~.~Ies - consid(;!rava,g[l!tu~2,~~.~.re~~.iDç~[tb, ',- -.,.~-~,
•.••""";';;#'.~"._,~,,,~,
•.,.,.-,.,~,,
••-,'" '" ',,,.- ~,..,,,.,.;<••,,.•••,,,.<!,,~,,•..•..••',.,,.,.~;,,••.,~
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~ capaz de instruir da mesma forma que uma..his..tQÜ~.•lliütºúe.Lmm-
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tj.J~····
?J?JlJPtªm~nt~, e que por fim foi acelerado conscientemente. .~' :.1 história e moral foram d~s.consideradas, e o uso alemão do termo" Ge-
A história dos conceitos [Begriffsgeschichte], da maneira como vem
, sendo praticada aqui; serve como porta de acesso para capturar esses
processos. Ao fazê-Ia, evidencia-se ~ l11an~iracomo, ap~sar das continui-
I :j:~t~::d;:;:;::~~~o~~:~:=~~~ ...12.!~0!~_~~.~.P.E~l?~i.<?..!i_a.;Çg!.!;
o 9.!lY,~~;s!iU?E2~~_d..2l2.~.!l~l]'~1:,!2~ª'p.;'l!:!iE,9~
1 dades, nosso topos se desfaz em meio a diferentes sentidos que se deslo- .1~~j,!2:!3.10Shis~os, Para ele, segundo escreveu em 1811, "t~_p!..?J?.!:!a
. carn uns aos outros. Sobretudo a partir de então, o topos adquire sua pró- 11istqri.i!.l â~d:..iE1.!iJ. .9.~!.~..f.~~~,.
(.,.), ç.\!1;>_e_-ª_.Ç.ªSk,ll,ip,",ªPLqy~itªr:().l!.~,~?::
• pria história, I,!.ql.,thistória queS!JJ:)J:rai§.g~_.y-~~·dade. ~.~~~'!.Ue.I],Le.g~i.!}-ªn2~ntoS:'35 A história [Geschichte) adquire então uma
Em primeiro lugar, realiza-se no espaço ;:i"~'ITnguaalemã (para co- nova dimensão que e~7,;:p~-ànarratividade dos relatos, ao mesmo tempo
meçarmos com ele), um deslocamento lexical que esvazia o sentido do que se torna impossível capturá-Ia nas afirmações que se fazem sobre ela.
velho topos, ou que, ao menos, acelera o esvaziamento de seu sentido. Se a história [Geschichte) só pode expressar a si mesma, prepara-se então
A palavra estrangeira que o léxico nacional tomou de empréstimo, ru«. o próximo passo, que banalizou totalmente essa fórmula, transforman-
torie", que significava predominantemente o ~~)~_t.?, a n~J:rªti.Y~_9~.ªlg9 do-a ~m invólucro tautológico. "A partir da história [Geschichte) só se
acontecido, designando especialmente as ciências históricas, foi sendo vi- pode aprender a própria história", formulou sarcasticamente Radowitz,
;i~elmentepreterida em favor da palavra "Geschichte', O abandono do empregando a expressão de Hegel contra ele próprio." Essa conseqüên-
termo "Historie" e o subseqüente emprego de "Geschichte" completou-se cia de caráter verbal não foi o único desdobramento que se originou -
Ror volta de 1750 com uma veemência que pode ser estatisticamente não por acaso - a partir da linguagem, Um adversário político de nossa
~9.~~pi2y'~~~'y;--~rGQ~hi~~.t( significou originalmente Q.~~~~~.t~ij~!!.~!II~ \ testemunha atribui à velha fórmula um significado novo e imediato, uti-
_ ..•..__ si~.....•...ou,
em - respectivamente, um~§~rie
_... . ..de.açõesçornetidas
.
\r i'I,
"Geschichte" fortaleceu-se, ao passo que "Historie" foi excluído do uso
g.era.I. E.!1g11Clll.t.._.OO. s.ent.id.o çI_o._~.~2.I].t.
ecirnento IErdgni:lle qJ1..L~·P.I~~~!:lE:
_ç.[º,sorlflllíam.n(),.t~:!E2_~g~~0.ich~e",preparava-se, no âmbito lingüísti-
Isso nos leva a um segundo ponto de vista. Até agora, vimos falando sem I j
distinção da história, de uma "história em si" [Geschichte selbst) no sin-] , li
gular puro e simples, sem um sujeito ou um objeto complementar. Esse \ ~f
IJ!
co, a revolução transcendental, que conduziu à filo;!.9.Q,~.?~_E.~!9ria P.0- emprego peculiar, hoje bastante corrente entre nós, tal~bém surgiu na!
F 2.d~.ª-2.L1~~1!.~!l.0' A compreensão da "Geschichte" como um conjunto de segunda metade do século XVIII. À medida que a expressão" Geschichte" I
.~ ações coincidentes remete a essa revolução. A fórmula de Droysen, se- tomou o lugar de "Historie", 1illnJ:>.éJJLQ.Je.r.rnQ..Q~çl!içb:t..~~22_9.uiri::l .._~.mJ
gundo a qual a história [Geschichte) nada mais é senão o conhecimento outro caráter. A fim de enfatizar o novo significado, falou-se em primei-
de si própria, é o resultado desse desenvolvirnento.s+ A convergência des- ro l;;gai:;'-p-ÇeferenciaImente, da história [Geschichte) em si e para si, da
, se duplo significado alterou por sua vez o significado de uma história história pura e simplesmente - ou seja, da história. "Acima das histórias
\i '.
, como vitae magistra.
está a história", resumiu posteriormente Droysen esse processo.v
-'i< f A história [Geschichte) como acontt~ [Begebenheit) UI1IC() ou Essa concentração lingüística em um único conceito desde cerca de ,
~ A I como ~-rplexo ~~_conteciment;tTÉ;~~ig'71i~~usammenhal1g) ~;eria 1770 não pode ser menosprezada. No 12giggº.~Ql!~,~,U~g1,l.i~o...s_-~.c:.'?!!:!t:.-l "'.
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HISTORIA MAGISTRA VITAE 51
50 REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO
c,Ün~ntQ§,gª,R~Y91l!ç~<?,f~,~!2~~s~,,ª.história tornoll~~~glªprºpܪ,.grrL~J,.l- Jc;l'!'l o que se pode entender como uma conseqüência da querela sobre o
jeüo, ao qual foram designados atr.ilJ,U!()s_(tiyi.D.9§, ..ÇQmQ.::1QQO::!2QQeIQ§f!", !pirronismo.s- * Como disse Chladenius: a história só pode ser reprodu-
"justa', "equârlime" e "sacra" O "trabalho d~h.is!9Ei'(?_,P_ªE~,_uJ>.ª.!:.ill9_L~,L ~zida
i
por meio de "imagens rejuvenescidas't-sPassou-se a exigir da histó-
... ""-''''''''''''''''''''''''
buhr anuncia sua História da época da Revolução Francesa sob esse título ,. se deve fazer em um'!.~ituação determinada (as circunstâncias rnodifi-
,r,~;? porque ,~?enas a Revol~çã~ .teria sido cap.az de atrib.uir "unidade épica \ ,j I carrl'tud;~:remãmi;; dr~nática),,-l!1as Sim as c91}§Ni,lgnçi,ase r<;§M!tadÇls
; - •.... _. .- - ,..
-_ ..•.__ .~.~-- "."" .. ~"""""",,---,-,.-"':""~--"---"--"'----- ...'
~ 1 ao todo .'0 Somente a história compreendida como s.!?.~~!!I.a possibilita a 1\ .~: ~~~~.~R9..~.?".~.4.~s,....!Je.çêíe~,." 'I~<::'!:.()_"l}lyn9g_~m se\:l..temp.Q,gglj.
~~I existência de uma uIlj9.'!Q~~.pka, capaz de trazer à luze·ãô~mesmo tem- ( ) lug-ar,_~~rJ.~,J~E~.çi~,?_~~~p~.~r ad~qua?a!!1ente as .ta_r.ef~sd_elegad~~_E.e-'o
/' f po de (~2E~~~~9~~.s.~~s_!.:e,1~«~e,s ..i?!~.r_I1.~. , f destino."52 Um tal deslocamento
!"-~~- de sentido, capaz de submeter a um
." .
/ Humboldt vai finalmente resolver a disputa centenária entre história conceito único de história [Geschlchte] uE2conJu!:lt;çl...9.!:-.~f~~tos um>:~r-
\ e poética ao deduzir a singularidade da "história acima de tudo" [Ge- sais ~m..§,~!.U;íll:á.teLs.i.ng.ulaL.Uné.d.i.tQ fo.iJ-ªIDQ,~..m_\!mª~çJ.-ªs __preocupacões
, schichte überhaupt] a partir de sua própria estrutura formal. Dando con- .d~;,j~Yero...Ranke.Em 1824 ele escreve sua História dos povos românicos e
, tinuidade ao pensamento de Herder, Humboldt introduziu as categorias germânicos, declarando que ali ele "tratava apenas de histórias [Geschich-
da fQ!"s,a e d~ dir:.~~ionamento, que necessariamente escapam das circuns- ten], e não da história [Geschichte]". Entretanto, o caráter singular e iné-
tâncias que lhe sãõãiltêrTôres. Com isso, Humboldt nega qualquer pres- dito da história permanece, para Ranke, indiscutível. Uma vez que o
suposição ingênua q1lanto.i;lQçarAt~J.model;l.rçl.Q~_~,~e,_~plos do passado, \,,: acontecimento [Geschehen] se mostra çomoçQn~e51iJ:~n.çiª,g-PJ:Qclutº_ dQ
,;1
extraindo a seguinte conclusão geral: "O historiógrafo dig~-~es;;enome '~J1 embate~f!tre .fq!·Çél§.§Ü:lgllJ'!.~~~ e g~J:l~í~~s,~~!iI.~g~~~:~_a..'p_o_~~iºiLi.c!.(}sl.e..d.e
;:
deve representar çacla.~ilJglllaJÍdª(je como .P;l..rt.<,;,.º~.\J.mJ2.~o,
o que sig- ;Pji'~~~ç!~i;~diatª-.Qe."n~99~I?i~~i~t~~i<::?~.Como prosseguiu então Ran-
nifica que ele ~,Y.~_l~ill.Q~.ln
r~[~ªL~m~çad'Ll;!!!l-ª.".Ç.l~§scaspartÇ!.§.,_si!1- ke: "Atribuiu-se à história a tarefa de apontar para o passado, de instruir
glllªTe~.a.p~?Jl_Ei.~J~E!E~da história,">! Com isso, Humboldt ~~;b;-Põr o mundo contemporâneo para proveito da posteridade: o presente tra-
" reelaborar um c!.H~!i9_~aJ;~res~.I.l~~Q.~p'is.a em categoria histórica. balho não aspira a uma tarefa tão elevada, pretendendo apenas mostrar
A idéia do coletivo singul~ possibÚit~{i·o;';'trô·avãílçõ·.·pe,[i.;}rtiuque como as coisas realmente aconteceram."53 Ranke resignava-se cada vez
se atribuísse à história a.9.!!~laforçªqlle re~ideI1º.i~.!_~iºLQ~.~ªdª-ª<;:2!!.:.. mais ao âmbito do passado, tendo abandonado temporariamente essa re-
t~c:i!l1ent().9\leafeta a humanidade, aSLlle!epoder que a tudo reúne e im- signação ao assumir o cargo de redator do Historische-politische Zeit-
pulsiQl1ªPO:~-~~eiô-ae--i:im~prãiJ9;:ocultoou manifesto-um põdeifrente schrift (Jornal histórico e político], quando recorreu ao velho topos da
ao qual o hOl11e~pÔde--llcredit~r-~~~pôn~á~~(õu-mesmo em cujo no- Historia magistra vitae.54 Entretanto, o seu visível fracasso parece ter de-
me pôde acreditar estar agindo. O advento da idéia do c~k!ivo__~~êlar, sabonado o recurso ao velho topos.
manifestação que reúne em si, ao mesmo tempo, caráter histórico e lin- O fato de a perspectiva histórica ter renunciado à aplicação imediata
~ gJi.í~ti.cp,deu-se em uma circunstância temporal q;~p~d~ ;~r -e~;~ida de seus ensinamentos não se deve à natureza dessa perspectiva em si, a
"
..ti como a$I~nd.~ip.~~_~9~~.3lrrg1l1ªli~s,. das §LI?}p'@~~xões,q~~,~,~_,,-<?!.: despeito da tradição desse uso, sobretudo nas historiografias fundadas
J'"
t~'{'ª,lJLSO_Çlªl.J.~_p.QlltJçªmente contra a sociedade estamental: das líberda- no direito natural." Mais do que isso, P.QIt~á~.A~..~~I.~~~5<ãO~~"~0~~~ I
/ d~s fez2~ a~~9_eEdade, -d~~ justiças fez-se"a j~~tiç;:(rosir9g~~~'so~~-P~~- o.sa.contecimentos-quedestr.uír.a.rn.,aBiswrial?] .~'I!a \ 1
..t!gist'-~J_<.?fylto.~:se.
~ <!ª~..1!!l.-!i!-ª_u~y.ºJi!Ç_9~s-itLa
_RéV~lUtión~-Nõ que se refere à Fr~~~ çxper.igD,Çi.iL<ic:!..j~ª-!:áte...!.J::;er:al,
que dividiu também o campo de oposição ! ~.
pode-se acrescentar que o lugar central que o pensamento ocidental atri- dos progressistas. Isso nos leva a um terceiro ponto de vista. Não é por I .
buiu à Grande Revolução, em sua singularidade, transferiu-se para a his- acaso que, nas ~esmas décadas nas ~uais 2...~?~~<:::i,t?"<~?I~!~0~,~ir;g.~!<~E:de I\
tória, no âmbito da língua alemã.
Foi a Revolução Francesa que colocou em evidência o conceito de his- -~~s~~;~~~~~~~~Ê~~~~~:n!:~~e:o.~~;~;~;~e§~i~l.~~~Wf~~i~~:is~~~~' )
tória [Geschichte] da escola alemã. Tanto uma quanto o outro foram res- tóüª§<<;:.2n~!~,0!.~7E~l?2!~ti.fª,~,.,9.!l
...
Rre.§~!l,!,!;',es.
Iselm, em 1764, Herd.er, ""
ponsáveis pela erosão dos modelos do passado, embora aparentemente 1774, e Kõster, em 1775, lançaram as bases de uma "filosofia da história
os estivessem acolhendo. Johannes von Müller, seguindo o caráter prag- para eruditos",57 Ao fazê-lo, imitaram de certa maneira os procedimen-
? mático dos ensinamentos de seus mestres em Gõttingen, escreve em 1796: tos dos autores ocidentais, retomando literalmente ou reformulando, a
"º-~~~Y~~~_~~?-~?_~.~~~.r.!1a.J.1j_§t2.~i(l ....
I'l~.2_~J-ª-nt()jmtr...l!ç,~_s"'§.9J?.L~~.9.~ partir da perspectiva da filologia histórica, os questionamentos propos-
\;
J
.~ -,.
54 REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO HISTORIA MAGISTRA VITAE 55
tos pelos primeiros. Tiveram, entretanto, como perspectiva comum, a lpela h!s~ia (QÍ.s&r~<!~..m-º~9.~_<0_~~~!.!~entª.9, rpEi.tº,.ªnJes..qu~ o
destruição da idéia do caráter modelar dos acontecimentos passados, \h~:9,ill!9.Ji~e.?~~ __ll$ºo"g~§~L~E}.BljO. O subst~a.!?_~~~!ª-L<i_e~~::.ÀI
para perseguir em lugar disso a singularidade dos processos históricos e , lcii~.~~ e.o progrsssn.fcí.a.prím ....sira. cat~gQ..lliLllUlltªl se_Qeixa ma"IJ,L-~! I
a possibilidade de sua progressão. A constituição da história [GeschichteJ, ~J.\.1[e..~t.~!."H.m~5~r..~ •.•~t~1tJug,~~~~l~~ t:ans'!~o~J.nt~.ª. n~tl!l:.~ª--~ t I
no sentido que hoje nos é corrente, teve origem em um mesmo e único {)fI <do ~~Tan_~I1J:..~à história., A filosofia, ~~_!~~ns.P0~.J?~~:!_9J?..:?J~_~.72~~~~..!.~~,lj~_
evento, tanto do ponto de vista histórico quanto lingüístico. O surgi- r ./' !c~~.Pre_c:!:E.~~~.~j,!l,g};~lar;.'ll~{llt..Sgll19,...1!.m
..t~,gg.,~..9' fez~çgnLq.!J,LO
mento da filosofia da história está associado exatamente a esse processo. / !h2.~~o~",.R~rd~~~"ºhrigªj:.Q.riªment~.g.~§~..n~çj.9. ~~.,,ª
.. hi~tórü! .s:t.Q.r..na
Aquele que utiliza a expressão filosofia da história, disse Kõster, tem )f_~.~~~~!.c:.<?_~.E!'!g.'llar_~a~.~':l~<lç~~,,~<.>o&~~!.9~~~,l::5l! .. .:.~<~~~.ca~a.:
que se lembrar de que "não se trata de uma ciência particular, como se rle?C.~I!lJ~I.9_p-ªJtiç.lJlaI,.a.QYi!.lgÇL<!.º.P
..ª§§ª<!.Q,j)o~!:.g.!!EHQ.~S:ê.>
.I.:.e.çe.~.sar.i.aI?ell~~:
..
poderia facilmente acreditar à primeira vista. Pois onde quer que se tra- liCada ensinarnento particular conflui então no evento pedagógíco geral.
te de uma parte da história, ou mesmo de toda uma ciência histórica, llA_p-eJijdia..da".tª,zã.Q...imR~deo.qJ.1e~,º"b.Qm~m,,ªP.L<::Jtgª-4iIeJª.~~lJJ~ ..ª.pªrtir
trata-se de nada mais nada menos do que da própria história em si."58 íl,da história, impelindQ.~.Q_.ªº,~.~.ll,51~.s.til1~L<itfQIEP,ªjI}9.ir.~t(l" Trata-se aqui
~~J ~ A.histódae :ª.JjJQs~fi~ :c:Iª ..h.i.~!9~i.~_~~~_C.~~~~QLÇoºI!l.PJementªre§'ogpe, lída conseqüência progressiva que nos leva de Lessing a Hegel. "O que a
il.1'1 P.~rsu.~ve:,l.lnp'gs.s.l.l)!!ltª.I~Jque.Qa.to defilosQf~r sobr~a~i~~é>r}~..~~n.ha i!expe?iência e a história nos ensinam é que os povos e os governosJ.<lI11-ªi$
1'\ ij 1?J,~çeçlenCI.~;_
E.S$·ª. ..P.::~~~o~!!~.a.:LoU~!~!l11ente
a pique no século XIX. 59-~ 1I aj2.r.el1de.r.a.m..al~artir --ªª-his!?ria,.~s.~i.mÇQm9jª.I11.êli~ ..ªgiI.(lIp.~s~g.t:fl::
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11 ',D id d . I
?~1~l,JgJD.l~~$",,~,l?,2,~~~-W.,Le
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a c~.p.~-~,h1&4:.~ggg.~t!x;?Pt!~~I.i.~U~~J0-
~ •••• ---_ •• _._--
I
Adelung.60
·, riências, mostra-o o ressurgimento da Revolução de 1820 na Espanha.
: . Por trás dessa sep~ração de caráter aparentemente científico e histó-
Logo após a eclosão dos tumultos, Goethe inspirou o Conde Reichhard a
I~
rICO,pre~arada por V.IC~,~culta-se ~ol!}.E.~rt~~ªo9~§.ÇQ.b.eltªd~1!.[I!.t~m-
uma reflexão que punha em evidência as perspectivas temporais: "O se-
I' P-º~-~~~>~11t~~~~Se quisermos dizer dessa maneira, trata-se nhor tem toda razão, prezado amigo, naquilo que diz sobre a experiên-
!~de uma ~R9r~I~~:4b~~ que, a partir de então, se distancia cia. Para os indivíduos ela chega muito tarde, para os governos e povos
!l da =o12&!;U)i!.l)'.!~ ••Até o século XVIII, dO"'9!<:goria'-dQ~~, ela não chega a existir. Isso se dá porque a experiência já vivida manifes-
I,f t~ralo~~~g!:lra.t:.ª_ill....ª
se9.i!.~}l<:.iª
..~.ºJ;JI~~!Su:I9_HYentQs..h.islQ.I;içlli.;..º
.~ ;\
ta-se concentrada em um único foco, ao passo que aquela ainda por se
~1vlm.~-l~das ~!J=,"",~_.~._se.q;~~,nçi,ª."Dª-tur~Li:"",~yr,r2ftnt~~.~._di~~~.!31"S>~ 1 concretizar estende-se ao longo de minutos, horas, dias, anos e séculos.
1 \Kan t, en tr:ta~ to, a.,Q·.r's!f..1,!.,$,'!.L51l!.'!!9..l!~.!:l:!l<g"52Ção
hi§_t<?.ti.~ê.!,J?;~ni.rJi~."dll- Em conseqüência disso, aquilo que é semelhante nunca parece sê-Io,
1
li1~~ ..ª-~!E2,~9.~~!.~~~_fl.:c~.?_.~ce!l:~_~! ..':l~(!.p~,incípi9hereditário como irracio- pois, no primeiro caso, vê-se apenas o todo, e no segundo, apenas partes
~~ -..
nal renuncia à cronolozia
~,,,.,;--.,...o····· tradic'o'l
..·."O.....~,.....
.).I}~
co.. ll!().Jº.c:()I1,~tor
. "'fi--'-"d-'-""""',:;;;,ü::-l';::::::::;:;::'d
ana ItlCo.. e isoladas."64 Pass<!..cLqo~_[l!.~l:lro_.ta.,~isc.2.inci~~m,11.ªQ ..m)~n.'}.~,.E2LCJ.~.:_~_~~~ _., /v
t-~!9!.'!.<rª.2.!.t:91.~gi~~.: .."Como se não fosse a cronologia' quetemquese • .1 '.1_ -
tec.InHHite&--Ide·{;(lr:.r:J.\oWs
.•nao_pü . Mesmo se o fiizessern, exa- ,,,,/\\
dem..,se~l:ep~1!.r. 't'!/,}
.
I orientar pela história, mas sim, ao contrário, a história pela cronolo- tamente como no recrudescimento da Revolução de 1820 na Espanha, a 1'\
\ gia."61 0.....estagelecimentQ.,de um tempo..determiXlªgq exclusivamente história que vem ao nosso encontro escaparia à nossa capacidade de \ \
~" ....,..,-.~.~_._,..-
,....~v-...
".5I'"
I
I
..'
REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO HISTORIA MAGISTRA VITAE 57
\ \ apreensão da e~riência. Uma experiência acabada é tanto completa temer abandonar a busca de algo na história que nos fosse adequado.tv
l" I quãnt~"p'~ss;d~,ao'passoque aquela que se realizará no futuro desfaz-se E logo os revolucionários forneceram, em um Dictionaire, as instruções
,]'" i\.,. em uma infinidade de diferentes extensões temporais. \ segundo as quais não se deveria escrever mais nenhuma história, antes
i , e~ futuro d~ te...!!.!.e2lústór.kQ,~ãQ s~u ~a.d_Q, ...gue torna ~-\ que a Constituição fosse terminada."! A capacidade de realização da Ge- i
.i'
\I melhante o gue e.semelh~te. Com ISSO, Rem~a~d~ indicou, em s~a tem~ \ schichte destronou a velha Historie, "pois, em um Estado como o nosso, I
~;'fporalidade ~a~~~~?n,:.~.?derna, 9:'-l.<:>~~ e
peculiar, ~~~~~~~!?-:c:~su~l __
\
fundado na vitória, não existe passado. [Tal Estado 1 é uma criação na
1"--- in;p revisive]. qual, assim como na criação do mundo, tudo o que existe provém das
~ Isso nos leva a uma outra variante do topos, que se modificou nessa
.
\ mãos do criador e a partir daí, atingindo sua perfeição, passa a fazer par-
mesma direção. Integra a conjuntura da Historia magistra o fato de que ~ te da existência';" São palavras triunfantes de um sátrapa de Napoleão.
o historiador não apenas instrua, mas também P.!:2J!.r,ª_~~nt~nw~ ..~j!1í.~.?s, Com isso, realiza-se a previsão de Kant, que provocativamente pergun-
sendo também obrigado a julgar. A história [Historie] iluminista entre- tara: "Como é possível uma história a priori? Resposta: quando o orácu-
g;-;ü=se'à"ess;t~~aâ'corrídelnàsiâda ênfase, tornando-se, segundo a Enci- lo faz e molda, ele mesmo, as circunstâncias que previamente anuncia."73
clopédia, um "tribunal integre et terrible".65 Quase clandestinamente, a A supremacia da história como Geschichte, que coincide, paradoxal-
historiografia, que - já desde a Antigüidade - proferia juízos, tornou- rneríte, C..9m_.~~.ª.çªpaçiºlI.dede realização, oferece à nossa compreensão
se uma história [Historie] que executava ela mesma os veredictos. A obra dois aspectos do mesmo'f~~6;;:en'ê:;:-S·e o futuro da história moderna
de Raynal, pagando seu tributo a Diderot, dá testemunhos disso. "A his- abre_~~~.p'~~~.?~~~~nhe~~o e,3<>..lJ.l~s.rp.9Jel11p-O, J
t<?rn'?--=-~.j>lanej~~el,
tória do mundo como julgamento do mundo." A fórmula de Schiller, en t~Q..ele J&...I!!.ª,(,!.~('!.U~g~0·1...S.~9,?:
.~..2Y..9J?.1A.!22!.iD.J(QQ)J.z.~,~~~IE.n:?~0
criada em 1784 e que rapidamente se expandiu, é despojada de qualquer ~l~m_çD.~9 .._q~_~,.,n.:.ª_2~
..1?~~<~~ ..~.~P.~E~~~· º._.~~P~~~~9,,~~!!?t~I~rio
selOt.9_~j,~,~2,_.,9,.~~ ~
nuança historiográfica. Tal fórmula almejava uma justiça imanente à his- 9.~_hisJé.>!i..ª..cXC:!§ç~~~~1~E!~J5!-ª..s'yª-ç_ª12Itçi4'lçl~~ç!~_E~alização. Um sus- \
tória, justiça essa da qual fossem banidos todos os atos e fatos humanos. tenta a outra e vice-versa, Ambos compartilham (tukili.~Iç.ã..oA<>..~~-
"Aquilo que se exclui no minuto imediato não pode ser recuperado nem J ç<?.trªc:li.cion~.~<I:~;x:p~~i.~!1.9.a, ..oqualr·até.então,.-pa.r:e.cia.seLçl.e!~EfI1_il1ad..9
em uma eternidade."66 t?partir~2 passado.
A expressão, que veiculava .ª.j9..~j~_~~_~f!!..l~.II!.I2º_.121!Djtivo,
67 de um Um do~ '~esuíi:~dos colaterais dessa revolução histórica foi o fato de
Zeitgeist ao qual era necessário submeter-se, rapidamente se expandiu na que, a partir de então, também a escrita da história tornou-se menos
ljg.rillJJ.r.a.J.Qrn.aJj~tiÇ.ª:. Seu uso fazia continuamente I~br~~ inexorabi- falsificável do que manipulável. Quando a Restauração se instalou, proi-
lidade da eSCQlhil.fr~nt~aquaLa-Re:volu.çãQ)! a histqr'ªRQ!!!!L2 homem. biu, por decreto de 1818, aulas de história sobre o período entre 1789
Entretanto, a determinação resultante da filosofia da história, q~~-Zó~ e 1815.74 Exatamente ao negar a Revolução e suas conseqüências, a Res-
partilha seu sentido com a singularidade temporal.da.histórja, é apenas ta uração pa.Ie.cia_a.~t.mit!!:::.~.a.ç-i.ta.men te aimpj)~~i12ilLda.dLde_r,ep-~.tiJ ...Qs
;S
,I.
um lado do processo que fez cessar as condições de existência da "histeria
magistra vi ta e". De um lado aparentemente oposto veio um ataque não
menos virulento.
Em quarto lugar, o ilurninista conseqüente l!.~2JºI~rªY.~.9.~~!9ue!'.É.l-
{\ <:!.~~~~ção para 0.P?:~.~~9~"O objetivo declarado da Enciclopédia era reela-
~xentj)s.,p.assado_s.~Mas a tentativa de ~~E.",~JlJtj~
meio de uma !!-'m[lc~~~ [Aml1esie] foi em vão.
Sob tudo o que se disse até então, sob a singYl.ªIiZJl..ç_ª9.
[Geschichte], sob seu PrQI::~s.:;_<>-_~_e~mp..C?::,~,i~~.7ão!
I
[Amnestie] por
..Q)iJJbtória
J
sob. sU,ainevitável su-
premacia e sob sua capacidade de produção anuncia-se ~~ ..!~.~~~IQrl12.a-,.
i borar o passado o mais rapidamente possível, de forma que um novo fu- ~ex12eriêºg~ gue d<?~!_!.1_a ~.E~~.~~?~.~:::'~'
•.~... !:.,I;l~~.torie,J?i.~~~ti- ! '\\
turo fosse inaugurado." Antes conhecíamos exeml2.!9s,hoje conhecemos t~!da ~~..~~ objeti':9~<i~,.~t~ªrjm~s!i~~~~!2!.~ ..~9~~E~_.~_.::~~~dad~. Desde \ \
apenas r,?.gras,disse Diderot. "[ulgar o que acontece .~2P!".i',completava então, aJ!~eri~-'P-ar~,ç:c:...~w;t!l~!jus~am~~ ..? CO~~!:lo. Para um bre-..:P
Sieyes, "segundo os critérios daquilõque·J(ié'ºni~.~~,'parec~:m~.2..E!~~:. ve e despretensioso testemunho, chamemos o modesto e bem-avisado
moque,julgaro~~º-I1Ke.ª:a!i"~~~itL4º.(Je$çQn.lKÇiQ.9."69 Não deveríamos Perthes, que escreveu em 1823:
--""""""'Ir--'
58 REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO
1-I1STORIA MAGISTRA VITAE
59
~r~~~;~~~:~i~:~~~:~~::
..P.~1.~
..~19s9Xi.~:
J Ileg_i~~_E~:.~.c:I().~_ .d~):#_!,~!.i~,~_.~i~em-se
aqui os primeiros mes-:
tres da aplicação revolucionária: MaZZll1I,Marx ou Proudhon. 6§_c-ªJ~-1
terminada pelo processo de temporalização da história em sua singu-
,,} gQrias da aceler:.flção e 9.2..l!tardamenlo, evidentes desde a Revolução I
laridade? Quando Niebuhr anuncia, em 1829, suas conferências sobre
os últimos quarenta anos, ele reluta chamá-Ias de "História da Revolu-
ção Francesa", pois, segundo ele, "a revolução é ela própria um produto II
'1. Francesa, modificam, em. ritmo variável, ªUêªS.º ..~.$,.•.!:!.•.1.l.tr.g.J>
J,lllQ, ÇQ!}.fgrJ11~...9-P-ªE!is!2_<2~12ontod!...Yi~~2li!ico. (1q~~i.
ter comum entre o 12rogresso e o historicismo.
.._.a,~.s.ª91Le_fu-
re?i~:~~i~!j-J
\
da época (00')' Não possuímos uma palavra para designar a época em ge- ----- ••• , "._ ••••'''.,..,:..'''A'.'~.''''',, •.>:'"';~"""'''.-.w"", :
"., •• N ••• "." • ..~ •• ··"",,·.''''''''·~,.'''''"'~''''''" •••
i!~.~.~1~],~'·r.~
t...~r.;~~.c.t~;Ii.~·~I.~.J\
\" ~. culo XVIII, ~11.. lJnLf.9~Qf.~j!9j1i$.tqris8.'-x~L!!5iionado
. ~ eSEerêDs.a.78Mas,
I
~~.
I
"
"
' 1 Com os processos de disseminação da técnica e a Revolução Francesa,
! essa antecipação subjetiva de um futuro desejado - e que, por isso, deve
l. ser acelerado - adquiriu, inesperadamente, um rígido teor de realida-
~.:~~..
·.\.:.;.~:.~~1::
...:.e.a.J.r.;.~.!;. j:.~l.~.!o
..
"Geschichte". Q,ças.ºj$.9.1ado"dciXfu:t~ter caráter político-didático.e>
~ Ma~ .' '\
~lliSió!:i~]Ç~s.~bjçhl§JJ
COm~!2!~.!i~~~~~'ZQ19
..Ç~'·ã(i~~í-;·q~~·1·"~"p~~'~n.de.9~e
\
I de. Em 1797, Chateaubriand, então como emigrante, esboça um paralelo maneira compreensiva em um "estado propício à formação" [Zustand \
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60 REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO