Portuguà S - Resumo - Ondados Fios de Ouro Reluzente + Quem Ora Soubesse + Um Mover de Olhos. B.. 2
Portuguà S - Resumo - Ondados Fios de Ouro Reluzente + Quem Ora Soubesse + Um Mover de Olhos. B.. 2
Portuguà S - Resumo - Ondados Fios de Ouro Reluzente + Quem Ora Soubesse + Um Mover de Olhos. B.. 2
Texto Poético
Estes três primeiros versos aumentam a beleza
da mulher retratada.
Metafórico, é usada uma linguagem codificada, as “fazeis que sua beleza s’acrecente;” – a utilização
palavras são polissémicas, encontram-se no de “;” mostra que a descrição continuará.
sentido figurado. É feita uma apreciação do
mundo, subjetiva, através de versos sintetizados “olhos, que vos moveis tão docemente,” – “olhos”
que, em poucas palavras têm muita informação. A desempenham a função de vocativo; “moveis tão
interpretação é pessoal desde que bem docemente” é um recurso à sensação visual.
fundamentada.
“em mil divinos raios encendidos,” – destaca o
Petrarquismo brilho dos olhos através da hipérbole, faz analogia
à alma pois também esta era resplandecente.
Movimento literário italiano que aparece no século
XV e se prolonga até ao século XVII, influenciando “se de cá me levais alma e sentidos,” – “cá” é o
toda a poesia europeia. Este movimento procura lado de visão do sujeito poético o que evidencia a
imitar a poesia amorosa de Petrarca, distância existente entre ele e a amada; “alma e
um poeta italiano que representa a transição entre sentidos” é uma antítese, uma vez que a alma se
os trovadores provençais e os poetas do dolce stil refere ao espírito do sujeito lírico e sentidos ao
nuovo e a poesia do Renascimento. corpo; este verso demonstra que mesmo a amada
não lhe estando próxima afetava-o de forma que
Ondados fios d’ouro reluzente sentia o corpo e o espírito anulado, não tinha
qualquer consciência de si.
Ondados fios d’ouro reluzente,
Que agora da mão bela recolhidos, “que fora, se de vós não fôra ausente?” –
Agora sobre as rosas estendidos, interrogação retórica, manifesta um desejo (o
Fazeis que sua graça s’acrecente; sujeito poético pretendia estar na presença da
amada), que faz o sujeito poético indagar-se como
Olhos, que vos moveis tão docemente, reagiria ele se a mulher amada ali estivesse
Em mil divinos raios encendidos, presente pois só de imaginá-la,
Se de cá me levais alma e sentidos, retrato/reconstrução de memória, ele sentia-se
Que fora, se de vós não fora ausente? anulado.
Honesto riso, que entre a mor fineza “Honesto riso, que entre mor fineza / de perlas e
De perlas e corais nace e parece, corais nasce e parece,” – descrição feita era com
Se n'alma em doces ecos não o ouvisse! base em imagens bastante nobre.
S’imaginando só tanta beleza, “se n’alma em doces ecos não o ouvisse!” – evoca
De si, em nova glória, a alma se esquece, sensações auditivas; “ouvisse” encontra-se no
Que será quando a vir? Ah! Quem a visse! pretérito imperfeito do modo conjuntivo,
expressando assim um desejo, uma dúvida,
O tema em análise é a representação da amada, hipótese; o “!” é usado para evidenciar a
presente também na poesia trovadoresca, já expressão de sentimentos.
estudada, o que nos mostra a influência clássica
“S’imaginado só tanta beleza, / de si, em nova
na poesia de Camões.
glória, a alma s’esquece,”
“Ondados fios d’ouro reluzente” – metáfora, o
“que fará quando a vir? Ah! quem a visse!” –
cabelo era comparado a fios de ouro, mostrava a
confirma p desejo de ver a amada; o “visse”
idealização da mulher clássica, uma vez que, os
expressa então um desejo; se a alma e os sentidos
seus cabelos eram loiros e ondulados, como
desaparecem só pela evocação da memória o que
constava no modelo petrarquista.
seria dele na presença dela.
“que agora da mão bela recolhidos” – o “agora”
As características físicas associam-se ás
utilizado é significativo pois indica o presente do
psicológicas.
sujeito poético; a “mão bela” uma vez mais indica
a beleza superior da amada.
Quem ora soubesse Na segunda estrofe, o sujeito lírico afirma a
existência de quem é realmente correspondido,
a este mote: mas mesmo assim há um lado negativo. “Vi terra
Quem ora soubesse florida / de lindos abrolhos / lindos pera os olhos /
onde o Amor nace, duro para a vida;”. “mas a rês, perdida”,
que o semeasse! contradição, “rês” são todos que não possuem
correspondência amorosa.
voltas
Na última estrofe, particularmente nos dois
D’amor e seus danos últimos versos, a anáfora “que” evidencia o facto
me fiz lavrador; do amor ser proporcional ao sofrimento. “perdi;
semeava amor colhi”, ambos no pretérito perfeito. “vão”, inútil.
e colhia enganos; “se”, quando; “Amor nunca vi”, hipérbole,
não vi, em meus anos, generalização causada pela desilusão.
homem que apanhasse
o que semeasse. Um mover d’olhos, brando e
Vi terra florida
piadoso
de lindos abrolhos, Um mover d’olhos, brando e piadoso.
lindos pera os olhos, sem ver de quê; um riso, brando e honesto,
duros para a vida; quási forçado; um doce e humilde gesto,
mas a rês perdida de qualquer alegria duvidoso;
que tal erva pace
em forte hora nace. um despejo quieto e vergonhoso;
um repouso gravíssimo e modesto;
Com quanto perdi,
ua pura bondade, manifesto
trabalhava em vão;
indício da alma, limpo e gracioso;
se semeei grão,
grande dor colhi,
um encolhido ousar; ua brandura;
Amor nunca vi
um medo sem ter culpa; um ar sereno;
que muito durasse,
um, longo e obediente sofrimento;
que não magoasse.
esta foi a celeste fermosura
Ao longo do poema está presente a metáfora
da minha Circe, e o mágico veneno
da agricultura.
que pôde transformar meu pensamento.
“Quem ora soubesse” – “quem”, alguém
indefinido; “ora”, tempo; “soubesse”, pretérito
“Um” é significativo, é singular (sentido gramatical)
imperfeito do conjuntivo, expressa um desejo de
assim como a mulher (sentido de identidade,
querer saber, possibilidade.
única), constrói uma enumeração anafórica em
Na primeira estrofe, o sujeito poético não vê o relação às qualidades físicas e morais da mulher
Amor como algo positivo, metaforicamente não amada, pois são lhe sucedidos adjetivos, neste
colheu aquilo que esperava, ou seja, o amor que particular soneto em certos versos temos a dupla
sentia não lhe foi correspondido. adjetivação, que compõem o retrato psicológico e
físico dela.
“me fiz lavrador” – significa que assim como um
lavrador tem experiência na agricultura, o sujeito “esta” retoma a sequência enumerativa anterior.
poético tem experiência no sofrimento amoroso.
“Circe” é uma designação a priori contraditória,
“não vi, em meus anos” – durante a sua fase com uma vez que a palavra Circe é conotada
experiências amorosas, “vi”, pretérito perfeito. negativamente. Não obstante, o sujeito lírico
pretende destacar que a “celeste fermosura” da
mulher é, para ele, como um veneno mágico,
capaz de o levar à paixão.