CN4
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Na natureza existe uma constante interação entre os seres vivos e os fatores abióticos e os seres vivos entre si, estas
interações designam-se relações abióticas. Existem dois tipos de interações entre os seres vivos:
Intraespecíficas – ocorrem entre seres vivo da mesma espécie;
Interespecíficas – ocorrem entre seres vivos de espécies diferentes.
As relações intraespecíficas estabelecidas entre seres vivos da mesma espécie podem ser de benefício ou de prejuízo
para os organismos envolvidos:
Cooperação (+/+) – existe benefício para todos os indivíduos associados. Este tipo de relação estabelece-se
quando seres de uma mesma população se organizam em:
Sociedades – grupos de indivíduos organizados hierarquicamente, nos quais ocorre divisão de
tarefas (Ex. formigas, abelhas);
Colónias – associação de indivíduos da mesma espécie nos quais existe um grau elevado de
dependência entre si, num agrupamento não hierarquizado (Ex. pinguim-rei).
Competição (-/-) – estabelece-se concorrência entre indivíduos da mesma espécie, numa dada área
geográfica, existindo prejuízo para todos os envolvidos. Esta pode ser por diversos motivos, tais como a
disputa pelos recursos (água, alimento, território) ou pela fêmea (Ex. ursos-pardos). Apesar de menos
evidente, também existe competição intraespecífica entre as plantas (Ex. tábua-larga, que rivalizam por
águas pouco profundas).
Predação (+/-) – é uma relação em que um ser vivo mata outro organismo para dele se alimentar.
Canibalismo é uma forma de predação intraespecífica, na qual um indivíduo mata outro da mesma espécie e
alimenta-se deste (Ex. aranha viúva negra, inseto louva-a-deus). O canibalismo também serve para
estabelecer uma posição hierárquica, regular o número de indivíduos de uma população, eliminar órfãos ou
crias, entre outras.
Nas relações interespecíficas, também pode ocorrer:
Competição (-/-) – ocorre entre organismos de diferentes espécies que competem pelos mesmos recursos
(água, território, alimento). Neste caso, ambos saem prejudicados, pois têm que dividir o recurso entre si
(Ex. leão e hiena). Alguns seres vivos têm características que lhes facilitam a caça ou a sobrevivência, Assim,
alguns predadores apresentam garras desenvolvidas, mandíbulas fortes, dentes aguçados e bicos fortes e
encurvados (Ex. águia-careca, leopardo-das-neves). As presas podem apresentar cascos duros, visão
periférica, grande velocidade e espinhos (Ex. ouriço-cacheiro). Alguns animais têm a capacidade de
camuflagem, adquirindo aspetos semelhantes ao da natureza que os envolve, passando despercebidos (Ex.
inseto-pau). O mimetismo é semelhante à camuflagem, mas neste caso assemelham-se a seres vivos e não
ao meio envolvente (Ex. cobra-coral).
Comensalismo (+/0) – nesta relação, uma das espécies beneficia da interação, o comensal, e a outra não é
prejudicada, nem beneficiada (Ex. rémora e tubarão).
Mutualismo (+/+) – é uma relação biótica individual ou populacional benéfica para todos os envolvidos,
permitindo aumentar o crescimento e a sobrevivência de todos. O mutualismo pode ser:
Mutualismo obrigatório – interação permanente e obrigatória entre os intervenientes da relação
(Ex. líquenes – as algas obtêm proteção e água dos fungos e estes aproveitam a capacidade
fotossintética das algas para obterem compostos orgânicos);
Mutualismo facultativo – interação não obrigatória, que acontece no caso da polinização e
dispersão das sementes, que alguns animais ingerem e transportam no sistema digestivo sendo
depositadas aquando a defeção (Ex. pica-bois-de-bico-vermelho);
Parasitismo (+/-) – relação entre dois organismos que vivem juntos em que um, o parasita, vive à custa do
outro, o hospedeiro. O parasita é beneficiado, enquanto o hospedeiro é prejudicado, normalmente os
parasitas atuam sem matar o hospedeiro. Os parasitas podem ser:
Ectoparasitas – vivem no exterior do corpo do hospedeiro (Ex. pulgas);
Endoparasitas – vivem no interior do corpo do hospedeiro (Ex. ténias).
No quadro seguinte sintetizam-se diversas interações estabelecidas entre seres vivos de espécies diferentes.
Os ecossistemas são sistemas abertos que trocam energia e matéria com o meio exterior. O funcionamento
harmonioso de um ecossistema só ocorre se este se encontrar em equilíbrio dinâmico. O aumento do efetivo
populacional – número de indivíduos de uma população num determinado local, num dado período de tempo – é
condicionado pela natalidade e imigração, já a sua diminuição é provocada pela mortalidade e emigração. O
equilíbrio da população depende das relações que se estabelecem entre os seus indivíduos, do espaço ao seu dispor,
da quantidade de alimento e da ação dos predadores.
A competição e a predação são relações importantes para o equilíbrio dinâmico dos ecossistemas. Os predadores ao
caçarem os animais mais fracos ou doentes, estão a contribuir para o fortalecimento da população de presas. A
população torna-se ainda mais forte e são estes que se reproduzem, ao passo que ao eliminar os doentes, evitam
que as doenças se propaguem.
Para a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas, é indispensável que as relações bióticas se mantenham dentro
de certos limites. A diminuição súbita de presas desencadeia a diminuição do número de predadores, o que mostra a
importância da existência de um equilíbrio dinâmico nos seres vivos envolvidos neste tipo de relações bióticas.
Quando isso não acontece, corre-se o risco de se extinguirem certas populações, que se forem endémicas – espécies
cuja distribuição se restringe a uma área específica - podem contribuir para a extinção dessas espécies.
A introdução de espécies típicas de outras regiões, num dado ecossistema onde não encontram predadores, pode
levar ao seu desenvolvimento e evolução nesse ecossistema, em prejuízo de outras espécies.
Os seres vivos necessitam de matéria e energia para as suas atividades vitais, crescimento e renovação de tecidos.
Assim, as relações alimentares entre os seres vivos e o meio ambiente desempenham um papel importante no
equilíbrio de um ecossistema. De acordo com o processo de obtenção de matéria os seres vivos podem ser
classificados em:
Seres autotróficos – seres vivos que produzem glícidos que depois utilizam no seu próprio metabolismo.
Seres heterotróficos – seres vivos que obtêm o seu alimento a partir de outros organismos.
As plantas e as algas são seres autotróficos, que produzem compostos orgânicos através da realização da
fotossíntese. Neste processo ocorre a transformação da energia luminosa do Sol em energia química. A maioria
destes seres usam a energia luminosa para produzir compostos orgânicos como a glicose usando o dióxido de
carbono e água, ocorrendo a libertação de oxigénio. Os organismos autotróficos servem de alimento a numerosos
seres vivos, que deles obtêm nutrientes e energia, os heterotróficos. Nos ecossistemas existem seres heterotróficos
que decompõem a matéria orgânica – moléculas complexas e diversificadas como os prótidos, os glícidos e os
lípidos, que constituem os seres vivos – em matéria inorgânica – moléculas simples que existem na natureza, como
água ou sais minerais -, são os chamados decompositores (por exemplo, bactérias e fungos).
A sequência de organismos em que um ser vivo serve de alimento a outro denomina-se cadeia alimentar. Numa
cadeia alimentar, cada ser vivo ocupa um determinado lugar, que representa um nível trófico:
O primeiro nível trófico é ocupado pelos seres autotróficos ou designados produtores, que usam a energia
luminosa para transformar matéria inorgânica em matéria orgânica.
Os restantes níveis tróficos são ocupados por seres vivos que se alimentam de outros, são os chamados
consumidores. O segundo nível trófico é, normalmente, ocupado por herbívoros – consumidores de
primeira ordem, o terceiro nível trófico é ocupado pelos carnívoros – consumidores de segunda ordem, e
assim sucessivamente.
Partes de seres vivos, como folhas, cadáveres dos organismos, assim como as suas excreções, sofrem a ação dos
decompositores, que, ao transformarem a matéria orgânica em inorgânica a repõem nos ecossistemas.
A energia contida na matéria orgânica tem como fonte primária o Sol e é transferida entre os seres vivos quando se
estabelecem relações alimentares entre eles. As cadeias alimentares dependem da entrada contínua de energia
solar nos ecossistemas. Esta energia é armazenada sob a forma de compostos orgânicos pelos produtores, como
resultado da fotossíntese.
A energia contida nos compostos orgânicos dos produtores é utilizada na construção de novos tecidos e na
respiração celular. Estes compostos orgânicos e a energia neles contida são transferidos para consumidores de 1ª
ordem, destes para os de 2ª ordem, e assim sucessivamente. No entanto, na passagem de um nível trófico para o
seguinte, parte dessa energia não é absorvida, sendo perdida, por exemplo, sob a forma de fezes, urina e da calor.
Da energia aproveitada, uma parte destina-se à respiração, outra à reprodução, outra à produção de novos tecidos e
a todas as outras atividades dos seres vivos. Devido a estas perdas de energia, cerca de 90% das cadeias alimentares
não apresentam muitos níveis tróficos, sob pena de, a partir de um determinado nível, não haver energia suficiente
para o nível trófico seguinte. As relações energéticas estabelecidas entre os seres vivos e o ambiente constituem um
fluxo unidirecional, dado que todos os seres vivos perdem continuamente energia que não retoma ao ecossistema.
As transferências de energia e de matéria, numa teia alimentar, podem ser representadas utilizando diagramas
designados pirâmides ecológicas.
Na Natureza, as relações alimentares entre os seres vivos, na maioria das vezes, não são tão simples como as
representadas nas cadeias alimentares. A maior parte dos seres vivos vive integrada em comunidades. Numa
comunidade existe um conjunto de cadeias alimentares que se cruzam, dado que muitos animais têm uma
alimentação variada, constituindo uma rede alimentar ou teia alimentar. As teias alimentares nos ecossistemas
aquáticos, tais como os oceanos e os rios, têm como base alimentar o plâncton, seres vivos, geralmente,
microscópicos fonte de alimento para muitos consumidores. Nos ecossistemas terrestres são as plantas,
maioritariamente, as responsáveis pela captação de energia luminosa e pela sua transformação em matéria
orgânica, que vai depois ser transferida ao longo das cadeias alimentares.
A evolução das sociedades modernas conduz ao aumento da produção de poluentes que contaminam os
ecossistemas, tornando inviável a sobrevivência de algumas espécies. Por outro lado, as necessidades tecnológicas e
alimentares conduzem diretamente à exploração dos recursos naturais, o que provoca a alteração e/ou destruição
de habitats e o desequilíbrio dos ecossistemas. Os principais impactes da ação humana que contribuem para a
alteração da dinâmica das teias alimentares são a pesca e a agricultura intensiva, a exploração mineira, a
desflorestação e os incêndios florestais, a poluição do ar, dos solos e da água e a construção de barragens e outras
infraestruturas. Estas ações levam à destruição e fragmentação de habitats, com a consequente perda de
biodiversidade, bem como à alteração da dinâmica dos ecossistemas.
No sentido de minimizar os impactes da ação humana na dinâmica dos ecossistemas têm vindo a ser tomadas
medidas que passam pela criação de áreas protegidas e centros de reprodução e de bancos de sementes, entre
outras.
Para além destas medidas, os cidadãos e as instituições têm vindo a acautelar situações de desequilíbrio dos
ecossistemas através de numerosas ações individuais e coletivas responsáveis, que visam a preservação do meio
ambiente.