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EROS

(FERNANDA PIAZON)
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos, são produtos da imaginação da autora.

Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a


reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios -
tangível ou intangível - sem o consentimento da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei n. 9.610/98 e


punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Edição Digital / Criado no Brasil

REVISÃO: Rebecca Pessoa


CAPA: Fernanda Piazon

1ª Edição – Abril/2019
Agradecimentos

"Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que


acredite que ele possa ser realizado."
(Roberto Shinyashiki)

A concretização de mais esse sonho não se deve apenas a mim, autora,


mas antes, a todos aqueles que de forma direta ou indireta se envolveram.

Foi enorme e constante a partilha. Partilharam‐se dúvidas, incertezas,


conquistas e muitas, muitas aprendizagens.

Agradeço a Deus primeiramente, por me dar força, determinação e


sabedoria, e por guiar todos os meus passos, em especial agradeço as duas
pessoas que continuam me incentivando e acreditando que seria possível
quando talvez, até eu mesma tenha sucumbido à dúvida: Jaqueline Kelly e
Matheus Souza, que confiaram em mim, sempre atenciosos e pacientes com as
minhas loucuras, SEM VOCÊS DOIS NÃO TERIA SIDO POSSÍVEL.

JAQUE, você não sabe, mas a escolha do dia 10/04/2019 para ser o
lançamento deste bebê, foi também uma homenagem a você, pois também é o
seu dia, te desejo o melhor sempre, que papai do céu, continue te abençoando
e te enchendo de forças, para seguir em busca dos seus objetivos.

Agradeço também a minha família que sempre embarca e me apoia nas


"minhas loucuras".

Agradeço a querida Priscila Tigre, por todo carinho e atenção, por estar
sempre disponível para me ajudar quando precisei, meus sinceros
agradecimentos.

Agradeço, aos meus parceiros literários que tiveram a oportunidade de ler


antecipadamente e se apaixonar por Eros e Kananda, a vocês minha gratidão
por todo carinho dedicado aos meus livros, obrigada por me ajudarem na
divulgação sem vocês não seria possível que essa história alcançasse meus
amados leitores.
Jaque - @livross_pravida
Becca - @bolsadabecca
Nanda - @literatura.hot.livros
Jeh Cavalcante - @jehcavalcantejcl
Rafael - @rafaserbenabooks
Patrícia - @pati_arteselivros
Jeni - @dreamsmadebyme
Bárbara - @sussurrosdasereia
Elis - @elis_eccher
Bya - @thebook_andthegirl
Carol - @ReinodePapel
Luciana - @WishingaBook
Suellen - @AGeminianaDosLivros
Angélica - @lendoecolorindo
Fernanda - @OnceUponaTimeBook
Anna - @menina.que.amaler
Paloma - @_mais1pagina
Fê - @leiturasdoFê
Eduardo - @euachoparavc
Thaís - @LendoeBebendo
Wilnne - @Literamante
Bel - @ameninaqueliademais
Geovana - @elesrelatam

Por fim e não menos importante, agradeço a vocês leitores que me


dedicaram, tempo e carinho, se disponibilizando a ler Eros e Kananda, espero
sinceramente, superar suas expectativas.

Um grande beijo, cheio de carinho e gratidão.


Fernanda Piazon

REDES SOCIAIS DA AUTORA


@fernanda.piazon
SINOPSE
Ficar na mira de uma arma, nas mãos de um bandido, pode não ser tão ruim
quanto você pensa!

Pelo menos não quando se tem um delegado lindo, protetor, intenso e


apaixonante para te salvar!

Kananda havia saído de casa após mais uma discussão com sua irmã; após
a morte dos seus pais ela não imaginava que a relação delas poderia ficar pior
do que já era, mas a vida sempre nos surpreende e nem sempre é para o bem.

Eros é delegado. Conhecido por ser linha dura, ele buscava não se envolver
emocionalmente, "ter prazer" era tudo o que importava, até conhecer Kananda
e se render aos encantos dessa mulher que despertou o seu instinto mais
profundo: o de protetor.

Ela não sabia, mas iria precisar da sua proteção.

Ele jurou protegê-la, ainda que essa proteção custasse sua própria vida.

Será que Eros conseguirá cumprir sua promessa?


Capítulo 01

Eros Moraes Neto

— Não perca eles de vista! — Grito para Enrico, meu parceiro e também
delegado, que dirige a viatura nesse momento.

O veículo segue em alta velocidade a nossa frente, entrando em becos e


vielas, tentando a todo custo fugir de nós. Há dois dias estamos tentando
identificar o local em que uma criança de quatro anos era mantida refém após ser
sequestrada, e faz exatamente esse tempo que não durmo; a adrenalina corre
forte nas veias, a necessidade de finalizar com êxito a operação que planejei com
muito cuidado, não pela pressão da mídia, mas por princípios e valores que
carrego comigo.

A criança sequestrada é filha de um empresário conhecido no país, então


todo o foco da mídia está voltado para esse caso. Eles nos cobram respostas,
querem notícias, informações confidenciais, furos de reportagem, às vezes mais
prejudicam do que ajudam, mas para muitos isso pouco importa: querem sanar a
sua curiosidade e a dos espectadores.

Para mim não faz diferença de quem Alana – a criança sequestrada - seja
filha, não me importo com status, o que vale para mim é a vida, e foi por isso
que montei essa operação para resgatá-la com todo o cuidado possível.

Minha equipe é preparada, só trabalho com os melhores, aguardamos


apenas um deslize dos sequestradores e finalmente conseguimos chegar ao local,
mas infelizmente, dois dos sequestradores que “guardavam” o cativeiro
conseguiram empreender fuga, e eu queria todos eles presos, não iria perder
nenhum, independente do que custasse.
— Eles vão bater — Enrico falou exaltado quando os sequestradores
entraram na contramão.

— NÃO PERDE, NÃO PERDE! — Gritei de volta, com a arma em punho


para fora do veículo, revidando os tiros que o carona disparava em nossa
direção.

Eles entraram em uma via de grande fluxo de veículos na contramão e não


deu outra: bateram de frente com um carro, causando um grande estrago. Enrico
freou a viatura e com rapidez saímos correndo em direção ao veículo dos
sequestradores, as outras duas viaturas que nos prestavam apoio parando logo
atrás.

Com armas em punho e atenção extrema avançamos. Os sequestradores


desceram do carro e, tão velozes quanto nós, retiraram a motorista do carro que
haviam batido e viraram em nossa direção, fazendo-a de refém.

— Fiquem longe ou vamos estourar os miolos da vagabunda! — Um


deles, que tinha a arma apontada para a cabeça da refém, usando-a como escudo
humano, gritou, nos deixando em alerta.

Sinalizei a minha equipe para que nada fizessem; os dois filhos da puta
que haviam conseguido fugir do cerco que fizemos no cativeiro estavam fazendo
outra pessoa de refém, e essa “brincadeira de gato e rato” já estava me tirando
a paciência, e definitivamente, isso não era nada bom.

Olhei de relance para Enrico, meu parceiro, e silenciosamente ele


entendeu o que eu queria, iríamos cercá-los, e faríamos o possível para que a
mulher que estava em poder dos bandidos saísse sem ferimentos daquela
situação.

— Vocês estão cercados. Coloquem as armas no chão e liberem a refém.


— Falei calmo, tentando convencê-los a acabar com a situação o quanto antes.

— Nós não tem nada a perder não! — O outro sequestrador gritou, mas
sua voz já demonstrava o quanto estava nervoso.

— Mas com certeza não querem morrer, e não tem para onde fugir,
liberem a moça e eu garanto a segurança de vocês. Se entreguem. — Reafirmei
minha posição enquanto meus homens se moviam estrategicamente para
dominar a situação.

— Mas nós não quer ir parar na gaiola de novo não, tá ligado? — O que
segurava a refém falou, apertando ainda mais o pescoço da moça.

Olhei nos olhos verdes da mulher que era mantida refém e os vi cheio de
lágrimas não derramadas, numa clara demonstração de coragem, ainda que o
medo também fosse visível. Sua respiração estava pesada e transmitia toda
tensão que lhe acometia; se nós, que estávamos acostumados a lidar com essas
merdas o tempo inteiro, ficávamos tensos, imagine ela que era alheia a essa
realidade. Vi sua mão subir lentamente para tentar afrouxar o aperto em seu
pescoço, a arma duramente pressionada em sua têmpora, os olhos suplicantes
que buscavam os meus a todo momento. Algo naquela situação estava mexendo
comigo além do normal, o meu instinto de proteção estava ainda mais evidente,
só não entendia o porquê.

— Senhor, já temos dois snipers prontos para atirar. — Ouvi um dos


meus homens falar no meu ponto eletrônico, olhei de relance e fiz sinal com os
dedos para que não se precipitassem, queria que a situação acabasse sem mortes.
A imprensa já se aglomerava no local, e não seria correto atirar sem tentar
resolver; queria negociar com eles sem precisar tomar medidas drásticas.

— Vamos negociar o que vocês querem para libertar a refém? —


Perguntei no intuito de resolver o mais rápido possível esse sequestro.

— Chama um advogado pra nós, que nós liberta ela! — Um deles falou.

— Que chama que nada, cê tá louco mano? Não vou libertar porra
nenhuma, nós vai morrer nesse caralho mesmo. — Falou o outro que estava com
a mulher à sua frente.

— Vocês não vão morrer, eu garanto a segurança de vocês, apenas


entreguem a moça. — Falei mantendo toda calma possível. — O advogado já
está a caminho, vai ficar tudo bem.

Vi o exato momento em que uma lágrima deixou os olhos dela. Ela não
desviava o olhar, e vê-la tão vulnerável estava me empurrando para o limite.
Sempre fui um delegado reconhecido por agir com frieza, todas as minhas ações
eram milimetricamente calculadas, por isso consegui destaque mesmo sendo
ainda jovem. Apesar de estar no auge dos meus trinta anos, já tinha
reconhecimento e experiência para lidar com situações como aquela, mas,
naquele momento, havia algo a mais, algo que não conseguia identificar.

— Já disse que não vou me entregar porra nenhuma. Se esse pau no cu


quiser se entregar, ele que vá, mas se eu morrer, vou levar a vadia aqui comigo.
— Falou sorrindo, o filho da puta que de corajoso não tinha nada, já que fazia
uma mulher de escudo.

— Ela não tem nada a ver com isso, me diga: o que você quer pra liberar
ela? — Perguntei, mantendo a calma em cada palavra. O outro sequestrador já se
movia em nossa direção para se entregar, logo só restaria ele para negociar, mas
infelizmente nessas situações as coisas nunca saem como previsto e o vagabundo
quando percebeu que o comparsa iria se render resolveu agir.

— Dêxa de sê froxo seu boiola, já que vai morrê na mão dos “Herói” eu
mermo te mato! — Gritou e deu um tiro na direção do comparsa, que caiu ferido.

Saquei minha arma e atirei em direção aos pés dele, que revidou enquanto
nos protegíamos atrás da viatura, o que estava caído ao chão atirou em direção
ao bandido, mas infelizmente atingiu a perna da mulher refém que caiu. Um dos
snipers deu um tiro e o que a fazia refém caiu morto, com uma bala na cabeça.
Nessas horas tudo acontece muito rápido, em milésimos de segundo as ações
mudam todo o desfecho da história.

— Uma ambulância, rápido! — Gritei para a minha equipe, enquanto


corria em direção à mulher. O outro sequestrador, baleado pelo comparsa, já
estava sendo algemado por Enrico.
Capítulo 02

Kananda Brito de Albuquerque

Eu só queria chegar ao meu trabalho em paz depois de mais uma


discussão no café da manhã com minha irmã. Desde que nossos pais faleceram,
Amanda e eu não conseguimos manter uma relação saudável; na verdade nunca
tivemos, ela sempre foi rebelde e culpava a mim por suas loucuras.

Eu sou apenas um ano mais velha do que ela, tenho vinte e oito anos e ela
vinte e sete. Nossos pais eram donos de uma farmácia, e desde que morreram em
um acidente de carro há um ano, eu assumi a administração. Desde a
adolescência já gostava de acompanhar meus pais, então para mim foi fácil
assumir os negócios da família. Embora a saudade deles estivesse presente a
todo momento, para onde quer que eu olhasse, guardava boas lembranças.

Se Amanda já dava dor de cabeça antes, agora que nossos pais não estão
mais aqui para pegar no seu pé, “a coisa” vai de mal a pior. Ela não quer saber de
trabalhar, quer que eu a sustente - com luxos diga-se de passagem - e acha que a
farmácia nos rende mais do que eu repasso para ela. Embora seja injusto por ela
não me ajudar em nada, divido os lucros igualmente para nós duas, e ainda assim
ela nunca está satisfeita. Foi por causa de dinheiro que tivemos mais uma briga
essa manhã.

Quando senti o impacto da batida frontal em meu carro, não podia sequer
imaginar o que estava acontecendo, ser feita de refém em uma fuga foi a coisa
mais terrível que já passei na minha vida; são minutos que parecem
intermináveis horas, a sensação de impotência, a tentativa desesperada de manter
a calma e o medo latente dentro de mim são sensações que jamais esquecerei.

A cada vez que o bandido apertava a arma na minha cabeça, eu pensava


que seria o meu último minuto de vida, minha mente trabalhava a todo instante
para manter a calma, mas os meus olhos pareciam querer transbordar. Em meio a
toda tempestade que acontecia a minha volta, consegui encontrar segurança e, de
certa forma, calma, nos olhos do policial que comandava a operação e tentava
me libertar; todas as vezes que nossos olhares se cruzavam, eu conseguia extrair
um pouco de coragem. Eu sabia que ele faria o possível para me libertar e
confiava nisso.

Mas, infelizmente, o bandido estava muito nervoso e a situação que


aparentemente estava controlada, em uma fração de segundos, saiu totalmente
dos “trilhos”: o que me fazia de escudo resolveu atirar no comparsa que queria
se render e, nos segundos que sucederam o primeiro tiro, que para mim
pareceram durar horas, senti um impacto na coxa direita que me levou ao chão; o
bandido que me segurava caiu também, não sabia se tinha sido atingido ou se
ainda queria se esconder atrás de mim até que senti o policial se abaixar próximo
a mim.

— Senhorita, sou o delegado Eros Moraes Neto, você foi atingida na


perna, já chamamos a ambulância, vai ficar tudo bem. Pode me dizer o seu
nome? — perguntou.

— Ka... Kananda. — Respondi, as lágrimas caindo involuntariamente.

— Tem algum familiar para entrarmos em contato? Você será removida e


precisará de acompanhante no hospital. — Informou

— Minha irmã, Amanda, o telefone dela é 96358-5684. — Ainda estava


em choque, mas consegui responder.

— Está com seus documentos? — Os olhos intensos dele me transmitiam


paz, na mesma medida que me perturbavam.

— No carro, na minha bolsa. — Senti sua mão tocar levemente a minha.

— Vou pegar — informou.

— Por favor, não me deixe aqui sozinha. — A adrenalina da situação


estava diminuindo e o pânico, a sensação de que tudo poderia acontecer
novamente, se apossavam de mim.
— Tudo bem. ENRICO — gritou por outro policial que logo se
aproximou — o documento dela está na bolsa, dentro do carro, você pode pegar,
por favor, enquanto eu tento ligar para a irmã dela para acompanhá-la?

Ele pegou o celular e pediu que eu repetisse o número do telefone da


Amanda e ligou para ela.

— Bom dia — ele falou com voz grossa — falo com a senhorita Amanda?
— aguardou a resposta. — Sou o delegado Eros Moraes Neto, estou com sua
irmã, a senhorita Kananda. Ela foi feita de refém por dois bandidos em fuga e foi
baleada na perna, agora está tudo bem, mas estamos aguardando a ambulância
para socorrê-la e ela precisará de acompanhante no hospital. — Fez uma pausa,
parecendo ouvir o que Amanda falava e se afastou um pouco de onde eu estava,
mas mantendo-se próximo o bastante para que eu o visse por perto.

— Tudo bem, assim que eu tiver informações do local para onde ela será
encaminhada eu volto a entrar em contato. — Ouvi ele se aproximar novamente,
concluindo a ligação.

— Você só tem sua irmã para avisar senhorita? Quer que eu informe a
mais alguém? — Perguntou abaixando-se ao meu lado novamente.

— Não, só tenho minha irmã mesmo — respondi e uma lágrima pesada


escorreu pelos meus olhos.

— Está sentindo dor? — senti que ele havia se chateado com algo, mas
estava tentando me distrair.

— Um pouco — respondi

— A ambulância chegou, já irão removê-la — informou.

— Meu plano de saúde está junto com os meus documentos. — Falei


tentando ser racional, mas o medo do que poderia ter acontecido não deixava que
as lágrimas parassem de cair.

— Certo, vou informar aos socorristas. — Fez menção de levantar e eu


segurei a sua mão.

— Obrigada por tudo. — Ele olhou rapidamente para as nossas mãos


unidas e acenou com a cabeça, enquanto um discreto sorriso aparecia nos seus
lábios.

— Ela tem plano de saúde, pode levá-la para o Hospital Santo Antônio. —
Informou ao paramédico que já iniciava os procedimentos de remoção comigo.
— Senhorita, mais tarde vou ao hospital, caso você se disponha, para colher o
seu depoimento.

— Tudo bem — Falei, fazendo uma careta logo em seguida quando senti a
minha calça ser rasgada para terem acesso ao local que havia sido baleado.

As coisas aconteceram em sequência: fui levada pela ambulância para o


hospital e informada que teria que fazer uma cirurgia para retirada da bala;
precisavam que algum familiar meu fosse assinar a autorização, e até o momento
Amanda não havia chegado. Como eu estava consciente, assinei o termo e fui
encaminhada ao centro cirúrgico. Pedi que avisassem a Ana, minha amiga e
gerente da farmácia, pois entendi que mesmo numa situação como esta, Amanda
era incapaz de se preocupar comigo.

Após a cirurgia, que correu com tranquilidade, e de ter aguardado o efeito


da anestesia passar na observação pós-cirúrgica, fui encaminhada para o quarto,
e assim que entrei, a minha amiga correu em minha direção com lágrimas nos
olhos.

— Nanda, o que aconteceu? Quase morri de susto quando me ligaram do


hospital informando que você havia sido baleada e que faria uma cirurgia. —
Ana falou visivelmente preocupada com o ocorrido.

— Ow amiga, você nem imagina o susto que passei, mas graças a Deus
agora está tudo bem. Pelo que me falaram, correu tudo bem na cirurgia e
retiraram a bala, não ficarei com sequelas, só vou precisar de alguns dias para
me recuperar. — Falei o que tinham me dito.

— Que bom minha linda. — Falou enquanto fazia carinho em minha


cabeça.

— E Amanda, não veio aqui? — Perguntei, imaginando que minha irmã


não havia aparecido.

— Ela veio Nanda, mas pediu que eu ficasse com você porque não se
sentia bem nesse ambiente hospitalar. — Revirou os olhos enquanto falava da
minha irmã. — Disse que ficaria na farmácia, já que eu e você estaríamos aqui.

— Ana, eu não posso contar com ela para nada mesmo — constatei o
óbvio — mas não quero que ela fique sozinha na farmácia, eu estou bem, não
precisa se preocupar. Amanhã quero que você vá para a farmácia, se não aquela
louca vai nos levar a falência.

— Certo amiga, sei que você ficará bem, e estava preocupada com ela
assumindo a farmácia, mas saiba que se precisar de qualquer coisa eu estarei
aqui em dois minutos. — Minha amiga falou.

Conversamos por mais algum tempo, e quando ela já começava a se


arrumar para ir embora ouvimos uma batida na porta e, não sei o porquê, mas
fiquei feliz por ver o delegado Moraes Neto novamente. Eu podia estar louca,
mas a sua presença me transmitia segurança, embora eu soubesse que estava ali
apenas para colher o meu depoimento.
Capítulo 03

Eros

O dia passou na velocidade da luz. Após finalizar a ocorrência na rua,


voltei para delegacia. A criança sequestrada estava bem e todos os
sequestradores foram detidos. Havia interrogado todos eles ainda durante a
manhã, com exceção do que havia sido alvejado na rua que seria interrogado
amanhã, caso estivesse melhor.

A todo momento, a imagem da mulher que foi usada como escudo


humano voltava à minha mente; eu estava acostumado a lidar com esse tipo de
situação e nunca nenhuma vítima ficou por tanto tempo em meus pensamentos...
A oitiva dela aconteceria apenas amanhã, mas agora, finalizando o expediente às
19:00hs, eu não conseguia deixar de pensar nela. Talvez seja por causa da
ligação que fiz para a sua irmã; nunca vi ninguém receber a notícia de que um
parente havia sido baleado com tanta frieza, precisei de muito controle para não
mandá-la à merda.

Organizo minha mesa, pego minhas chaves e sigo em direção ao


estacionamento, o que mais quero é chegar em casa e finalmente tentar
descansar após quase três dias sem sequer cochilar, porém, ao entrar no veículo,
decido mudar meu destino: antes de ir para casa irei até o hospital para ver como
ela está. Tive noticias à tarde de que havia feito cirurgia e estaria sendo
encaminhada para o quarto, mas eu queria ter certeza de que realmente estaria
tudo bem com ela.

Chego ao do Hospital por volta das 19:30hs, me identifico para a


recepcionista e, antes que ela me informe qual o apartamento que ela encontra-se
internada, peço para falar com o médico responsável, e a atendente, que
aparentemente está me dispensando mais sorrisos do que o normal, me
acompanha até a sala do plantonista.

— Foi um prazer ajudá-lo, delegado, se precisar de mais alguma coisa é só


me procurar, eu estou a sua disposição. — A recepcionista falou, dando a
entender que tipo de ajuda estaria disponível a me dispensar. Eu estou
acostumado com esse tipo de assédio; além da farda, sei que minha aparência
chama atenção das mulheres.

— Obrigado — respondi sem querer render assunto. Ela bateu na porta do


médico que autorizou minha entrada.

Estendi a mão para cumprimentá-lo. — Boa noite, Doutor, sou o delegado


Eros Moraes Neto e estava na operação em que a paciente Kananda Brito de
Albuquerque infelizmente foi baleada. Vim saber notícias e, se possível, queria
vê-la. — O médico, um senhor de meia idade me cumprimentou e fez sinal para
que eu sentasse.

— Bem delegado, a paciente agora apresenta um quadro clínico estável.


Conseguimos retirar o projétil e já o entregamos para a perícia conforme
solicitado. Kananda reagiu bem a cirurgia e já está no apartamento, fora de risco.
Acredito que esse momento não seja adequado para realizar um interrogatório,
considerando que a paciente apresentou alguns sintomas de pânico durante a
tarde; nada muito intenso, mas a psicóloga registrou no prontuário, então talvez
fosse melhor que aguardasse até amanhã. — O médico explicou

— Na verdade não vim interrogá-la, eu queria saber como ela estava. —


Percebi que o médico me olhou como se não estivesse entendendo. — Fiquei
preocupado porque a irmã dela foi um tanto fria ao receber a notícia de que ela
havia sido baleada, por isso resolvi vir.

— Entendi, delegado. Ela está acompanhada agora, então se ela não se


opuser em vê-lo, por mim tudo bem, mas, por favor, não insista em obter
informações que a deixarão desconfortável ou agitada nesse primeiro momento.
— Concluiu e pegou o interfone, pedindo que alguém me acompanhasse até o
apartamento em que ela estava internada.

Mais uma enfermeira sorridente me conduziu até a porta do quarto em


que ela estava. Ela pretendia bater para me anunciar, mas pedi que deixasse que
eu mesmo fizesse, estava ansioso e isso não era normal para mim. Aquela
preocupação só iria passar depois que colocasse meus olhos sobre ela e
verificasse que realmente estava tudo bem.

— Boa noite. — Falei assim que bati e abri a porta, colocando apenas o
rosto para dentro. — Posso entrar? — Perguntei tentando não transparecer minha
ansiedade.

Ela se ajeitou na cama antes de responder: — Si... sim, pode entrar. —


Havia uma mulher ao seu lado, segurando sua mão.

— Sou o delegado Moraes Neto, responsável pela operação que houve


hoje pela manhã, você é a irmã dela, com quem falei mais cedo? — Perguntei
estendendo a mão para cumprimentar a acompanhante, achando estranho o
cuidado dela com a paciente quando na ligação me pareceu realmente não se
importar.

— Na verdade não. Sou Ana, amiga da Nanda, estou apenas


acompanhando. O senhor veio colher o depoimento dela? Acho que talvez não
seja um bom momento, ela acabou de passar por um procedimento cirúrgico para
retirar a bala que ficou alojada em sua perna. — O instinto de proteção com a
amiga não me passou despercebido, e fiquei agradecido por isso.

— Não, vim apenas saber como ela está. O depoimento está agendado
para amanhã e não se preocupe, antes vamos verificar com a equipe médica se
ela está em condições de falar sobre o ocorrido. — Expliquei e me aproximei da
cama.

— Você está bem, senhorita? — Os olhos profundos dela não deixavam os


meus. Pela manhã, enquanto ela estava sob o domínio dos sequestradores, já
havia percebido o quanto era linda, mas agora, olhando-a de perto e sem a tensão
do momento, fiquei extasiado com a beleza dessa mulher, que mesmo após
passar por uma situação de risco e ser submetida a uma cirurgia, deitada numa
cama de hospital, conseguia me hipnotizar apenas com um olhar.

O cabelo loiro claro e cumprido estava amarrado em um “coque”


bagunçado, e o roupão do hospital não tirava um por cento da sua beleza, sem
maquiagem, sem artifícios; a mulher era perfeita demais, perfeita para mim.

— Você está bem? — Perguntei a Kananda.

— Sim, agora estou! — respondeu. — Achei que você viesse me


interrogar mais cedo!

— Na verdade não, eu vim porque fiquei preocupado com você, e porque


falei que viria. — Deixei claro para ela que estava ali por vontade própria, e não
por obrigação.

— Nanda, eu já vou indo, se precisar de qualquer coisa pode ligar, não


importa a hora, é só me ligar que venho correndo. — Falou a amiga.

— Certo amiga, mas não precisa se preocupar, vai ficar tudo bem. —
Kananda respondeu e recebeu um beijo carinhoso em sua testa.

— Boa noite, delegado, obrigada por ter protegido a minha amiga —


olhou com carinho para Kananda na cama —, ela não admite, mas precisa de
alguém que cuide dela. — Disse por fim.

Acenei com a cabeça para Ana, que saiu em seguida, e sentei em uma
poltrona ao lado do leito onde Kananda estava deitada. Comecei a me sentir um
pouco desconfortável com aquela situação: eu havia quebrado todos os
protocolos, passei o dia todo pensando nela, e agora, que deveria estar em casa
descansando para amanhã enfrentar mais um dia cheio de obrigações, estava
aqui, com ela. Não sei explicar, mas de alguma forma sinto-me atraído. Minha
cabeça está trabalhando em alta velocidade, procurando um ponto confortável
para conversarmos, porque sinto uma estranha vontade de ficar fazendo-lhe
companhia.

— Então senhorita Kananda, sua irmã virá dormir com você? — Perguntei
tentando iniciar um diálogo.

— Na verdade não — falou com pesar —, Amanda e eu não temos uma


relação amigável.

— E você vai dormir sozinha? — Perguntei indignado

— Sim. Ana ficou comigo durante o dia, e eu não poderia pedir para que
ela passasse a noite comigo, ela tem uma filha ainda pequena. Mas não tem
problema, estou bem assistida aqui, as enfermeiras estão sempre por aqui. —
Falou tentando me tranquilizar.

— Parece que sua amiga gosta muito de você. — Constatei e ela sorriu pra
mim, e porra! O sorriso dela me hipnotizava, mesmo sem ser intencional.

— A Ana e eu trabalhamos juntas; ela é uma pessoa muito especial para


mim. — Falou com admiração.

— Então são amigas de trabalho? O que você faz? — Perguntei por que
estava realmente interessado em saber um pouco mais sobre ela.

— Está me interrogando delegado? — Ela perguntou com um sorriso


discreto.

— Não, senhorita. Já falei que não vim para lhe interrogar, então não
vamos falar sobre o ocorrido, mas quero realmente saber um pouco sobre você.
— Falei porque estava curioso para saber um pouco mais sobre Kananda. Ela
abriu a boca em um “O”, surpresa com minha resposta direta.

— Tu... Tudo bem! — Gaguejou. — Eu administro a farmácia dos meus


pais desde que eles faleceram. — Disse em um tom triste. — A Ana é gerente de
lá, e meu braço direito. Quando meus pais ainda estavam vivos eu já gostava de
ir para lá ajudá-los, e ficava sempre com a Ana. Meus pais eram farmacêuticos;
minha mãe gostava mesmo de atender ao público, e meu pai a ajudava e também
era o administrador. Quando eu me formei em administração e assumi essa parte
junto com a Ana, ele focou nos atendimentos junto com minha mãe, era o que
eles dois amavam fazer, e nos auxiliavam quando precisávamos.

— Sinto muito por seus pais — falei com pesar.

— Eles morreram em um acidente de carro há um ano — suspirou —,


ainda não me acostumei com a falta que eles fazem.

— É normal, mas as lembranças boas que guarda deles vão te fortalecer


para seguir em frente. — Falei, sentado onde estava, mas a minha vontade era de
pegá-la no colo e afagar seus cabelos para consolá-la; não gostava de ver tristeza
em seus belos olhos.

Conversamos bastante. Ela me contou um pouco da sua rotina, aparentava


ser extremamente responsável, até rimos um pouco por algumas histórias que ela
contou. Às 20:30hs, uma enfermeira veio vê-la e informou que em breve trariam
sua refeição, e só então percebi que também não havia me alimentado.
— Senhorita Kananda, irei até a cafeteria comer algo. Vim da delegacia
direto para cá e estou começando a ficar com fome. Volto para me despedir antes
de ir embora. — Avisei.

— Meu Deus, delegado! falei feito louca e não percebi o quanto estava
cansado. Não precisa se incomodar em passar aqui antes de ir para casa, você já
me ajudou demais por hoje. — Kananda falou um pouco envergonhada.

— Sem problema, senhorita, vou e volto rapidinho para me despedir antes


de ir embora. — Falei, não considerando o que ela havia dito e já levantando
para sair do quarto.

Fui à cafeteria do hospital, pedi um Hamburger duplo, batatas fritas e


refrigerante, esperei e comi ali mesmo, pois não iria levar aquilo para o quarto
do hospital. Quando estava indo em direção ao caixa, vi alguns sanduíches
naturais e resolvi levar um para ela; não sabia se era o ideal ou se ela tinha
alguma restrição alimentar na dieta hospitalar, mas pensei que ninguém merecia
comer comida de hospital, era horrível. Quando levei um tiro no braço há três
meses em uma operação, eu obrigava os meus colegas a trazerem comida “de
verdade” para mim, então imaginei que ela também não iria querer sofrer
comendo aquela comida insossa.

— Por favor, um sanduíche natural de frango com ricota para viagem. —


Pedi a atendente.

— Aqui senhor, pode pagar no caixa. — Me entregou o lanche em uma


sacolinha. Fui ao caixa, paguei, e me dirigi ao quarto dela. Quando me
aproximei do corredor uma gritaria me chamou atenção, apressei os passos, foi
quando vi que a confusão era no quarto de Kananda, meu coração acelerou
freneticamente e eu corri em direção ao tumulto de enfermeiros, com medo do
que poderia estar acontecendo.
Capítulo 04

Kananda

O delegado Moraes Neto saiu do quarto e eu fiquei paralisada feito boba,


olhando para porta com um sorriso nos lábios que não me abandonava por nada.
Que homem era esse, meu Deus? Durante a manhã, enquanto era mantida como
refém, conseguia encontrar calma apenas ao olhar nos olhos azuis daquele
homem; os olhos dele me transmitiam paz, segurança e tranquilidade, eram tão
límpidos quanto a água do mais belo oceano, embora ali também estivesse
estampado o perigo trazido pelas tempestades. E eu estava perigosamente
atraída.

Quando o vi na porta do quarto do hospital fiquei paralisada. Por um


momento achei que ele teria vindo colher meu depoimento, mas ele fez questão
de deixar claro que não estava ali para isso, e sim por se preocupar comigo. Será
que ele é atencioso assim com todas as pessoas que ele “salva”? Questionei-me
internamente, mas desejando que não, que fosse apenas comigo, queria todo esse
cuidado apenas para mim.

Conversamos sobre diversos assuntos, na verdade, eu falei mais do que


ele. Eros, aparentemente, não gostava muito de falar, mas parecia interessado em
me ouvir. Vi em seus lábios, algumas vezes, um sorriso de canto, daqueles que
encantam qualquer mulher. Eu já tinha um bom tempo sem me relacionar com
ninguém e estava atraída por ele, embora soubesse que não teria quaisquer
chances com um “homão” daqueles.

Estava distraída, perdida em pensamentos, quando o furacão Amanda


entrou no quarto acompanhada de um dos seus “amigos” de farra.

— Olha só, a “Maria Mole” sobreviveu. — Falou com desdém. —


Infelizmente não será dessa vez que terei o prazer de te ver debaixo da terra.

— Amanda, não pedi para você vir aqui. Por favor, vá embora — pedi.

— Não pediu, mas a insuportável da Ana não para de encher meu saco,
perguntando se já tinha vindo aqui. — Falou com raiva. — Como se eu me
importasse com você.

— Ana se preocupa comigo, Amanda, diferente de você que, apesar de ser


minha irmã, não tem um pingo de amor nem por você mesma, imagina por mim.
— Falei, tensa com a situação. — Não se sinta obrigada a estar aqui, pode ir
embora que me viro sozinha. — Ela gargalhou.

— Você acha mesmo que vim aqui por você, “Maria mole”? —
Perguntou retoricamente — Vim aqui somente para você assinar essa
procuração; vou ficar à frente da farmácia enquanto você brinca de ficar doente,
tenho que cuidar dos meus interesses — completou.

— Não vou assinar nada, Amanda. Não ficarei aqui por muito tempo, logo
estarei de volta, e enquanto isso Ana tem procuração e autonomia para resolver o
necessário — falei firme.

— Você vai assinar sim sua songa monga! — Ela havia começado me
chamar assim quando Renata Sorrah fez sucesso na pele da vilã Nazaré Tedesco.
Na época ainda éramos adolescentes, e ela fazia sempre escondido dos nossos
pais, vivia dizendo que ainda iria me empurrar escada abaixo, como a vilã havia
feito. — Nem que eu tenha que arrancar sua mão para você assinar.

Percebi que ela estava querendo aprontar algo na nossa farmácia, e eu


definitivamente não confiava nela para estar à frente da empresa que foi a vida
dos nossos pais, eu administrava a farmácia com todo carinho pelas boas
lembranças deles que haviam ali, principalmente da mamãe que amava o que
fazia.

Sem que eu esperasse louca partiu para cima de mim, segurando meus
cabelos tentando me intimidar a assinar enquanto seu amigo gargalhava vendo a
situação encostado na porta do quarto.

— SOCORRO, SOCORRO! —Gritei para que alguma enfermeira


pudesse ouvir e me socorrer.
— Cala a boca, sua ordinária! — Falou desferindo um tapa forte em meu
rosto. — E tranca essa porta, Diogo, não está vendo que precisamos de
privacidade? Já faz algum tempo que não dou uma lição na santinha do pau-oco;
finalmente chegou o dia... — Completou sorrindo.

Era comum nos embolarmos em brigas quando ainda éramos crianças, até
adolescentes, mas desde que nos tornamos adultas nossas discussões não
passaram de agressões verbais. Agora, que eu não podia sequer me defender,
presa a uma cama de hospital, com vários fios que me conectavam a máquinas e
soro, ela tinha total vantagem sobre mim. Eu só podia gritar e esperar que
alguém me socorresse, porém minhas esperanças acabaram quando o tal Diogo
passou a chave na fechadura e nos trancou.

— Você está louca, Amanda? Abra essa porta, eu não vou assinar nada! —
Gritei e ela apertou ainda mais os dedos no meu cabelo.

— Ah, vai sim, irmãzinha. — Apertou minha perna no local onde havia
sido baleada pela manhã.

— SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA! — Gritei ainda mais alto e ouvi


o barulho de alguém forçando a fechadura.

— Que porra, Amanda, se controle. — Falou o amigo dela em tom de


reprovação. — Daqui a pouco o hospital inteiro estará aqui e nós vamos nos
ferrar.

Ela olhou para ele com raiva: — Essa filha da puta. Sua Maria Mole, eu
vou abrir a porta e você vai dizer que não aconteceu nada, que foi apenas uma
brincadeira entre irmãs, está me ouvindo? Depois quando todo mundo sair você
vai assinar essa merda de procuração. — Completou, me olhando com um ódio
que nunca percebi que ela sentia por mim.

Meus olhos estavam cheios de lágrimas. Não entendia porque Amanda


tinha tanta raiva de mim, nunca fiz nada com ela, e desde pequena sempre que
podia ela me maltratava. Engoli em seco e acenei com a cabeça enquanto o
amigo dela destrancava a porta e se sentava no sofá como se nada tivesse
acontecido.

A porta se abriu de vez e vi o delegado entrar antes mesmo da enfermeira,


rapidamente olhando todos os cantos do quarto e se aproximando de mim.
— O que houve, princesa? — Perguntou ao meu lado, e mesmo com toda
a tensão do momento, não me passou despercebido o fato de ele ter me chamado
de princesa. Também consegui encontrar a calma que os olhos deles me
transmitiam, mas não pude responder a pergunta por que Amanda o fez.

— Não foi nada demais, só uma brincadeira entre irmãs. — Falou e sorriu,
como se não tivesse feito nada demais comigo. — Eu apenas fui olhar o local
ferido e Kananda fez um escândalo, mimada como sempre. — Abanou a mão
com um gesto de desdém, e eu me perguntei quando ela tinha se tornado essa
mulher dissimulada. — A propósito, sou a irmã dela, e você quem é? —
Perguntou e estendeu a mão para o delegado em cumprimento.

— Sou um amigo dela, Eros. — Ele falou friamente a encarando nos


olhos, e não fez questão de retribuir o cumprimento dela, voltando sua atenção
para mim.

— Foi isso mesmo que aconteceu? — Perguntou querendo ouvir de mim,


deixando claro que não havia acreditado nela, olhei para Amanda e a ameaça
clara nos olhos dela me fez acenar em concordância.

— Satisfeito, amigo? — Amanda perguntou a Eros em tom de


provocação. — Enfermeiras, podem voltar aos seus postos, e você, Eros, pode ir
para sua casa que hoje eu vou dormir aqui e cuidar da minha irmãzinha querida.
— Disse cinicamente e o medo me tomou.

— Não será preciso, senhorita, eu vim para dormir com Kananda mesmo,
desci apenas para comprar um lanche. — Mostrou uma sacola de papel nas
mãos. — Pode ir para casa descansar, hoje quem ficará com ela serei eu. — Ele
falou e eu respirei aliviada, sentindo-me momentaneamente segura.
Capítulo 05

Kananda

Embora soubesse que teria que enfrentá-la em outro momento, por hora,
estava agradecida. Imaginava que ele não dormiria aqui comigo, afinal havia
voltado apenas para se despedir, mas o fato de inventar uma desculpa para que
Amanda não ficasse no hospital, já me fazia estar muito agradecida a ele. Eu
estava realmente com medo do que ela poderia fazer, já que aparentemente
estava possessa.

Amanda abriu a boca para retrucar, mas seu amigo lhe deu uma olhada de
soslaio que a fez se calar. Seja lá o que ela estivesse aprontando, com certeza ele
sabia dos seus planos e era seu cumplice.

— Vejo que arrumou alguém para lhe fazer companhia, não é irmãzinha?
— Falou me encarando. — É uma pena, pois tínhamos tanto para conversar essa
noite. — Se abaixou como se fosse me beijar a bochecha e falou para que apenas
eu ouvisse: — Pode esperar que eu volto para conversarmos, sua songa-monga
fingida, você não perde por esperar.

Com um aceno e uma olhada para Eros, que demorou em seu corpo
definido por mais tempo do que deveria, Amanda se retirou do quarto em que eu
estava com seu amigo e toda sua maldade. Eu não sabia o que pensar, não
entendia o porquê dela estar me tratando assim. Tudo bem que nunca fomos
“irmãs melhores amigas”, mas eu nunca desejei mal a ela, nunca sequer
retruquei as maldades que ela fazia comigo quando éramos crianças, e toda essa
raiva que ela alimentava por mim não tinha sequer explicação, pelo menos não
para mim.
Eros

Quando cheguei à porta do quarto em que Kananda estava trancada


gritando por socorro, vi que uma das enfermeiras corria desesperada para pegar a
chave reserva, eu me preparei imediatamente para arrombá-la, o caralho que eu
esperaria até que encontrassem a maldita chave. Só de imaginar que ela estava
em perigo dentro daquele quarto, meu coração acelerou, por mais que eu tivesse
pensado enquanto me alimentava na lanchonete do hospital sobre o quão
estranho era essa situação entre mim e ela, eu não consegui entender ou
encontrar explicação, sentia uma forte ligação entre nós, uma estranha
necessidade de protegê-la, como se ela fosse minha, e mesmo se ela recusasse,
eu a protegeria. Tentei girar a maçaneta antes de arrombar a porta e ela abriu sem
nenhuma dificuldade, olhei os enfermeiros rapidamente e percebi que estavam
espantados, empurrei a porta e entrei com medo do que encontraria.

Tamanha foi minha surpresa ao ver uma mulher muito parecida com ela
ao lado do seu leito. A mulher sorriu estranhamente em minha direção e das
enfermeiras que entravam no quarto; Kananda estava com o olhar assustado,
percebi imediatamente que algo não estava certo ali, vasculhei todo ambiente
com os olhos treinados e não encontrei nada, além da mulher havia um homem
sentado em um sofá no canto do quarto.

Havia algo errado ali, uma tensão que eu sentia, mas ainda não podia
explicar, mas que com certeza deixava Kananda desconfortável. Ela havia
confirmado a história da irmã sobre uma possível “brincadeira”, e por ter
gritado após a irmã tentar ver o ferimento, o que para mim estava claro não ser
verdade, até porque quando sofreu o tiro ela se manteve centrada, e nem de
longe foi essa mulher escandalosa que a irmã pintava.

Fiz questão de não cumprimentá-la, olhei em seus olhos apenas para que
pudesse extrair dali qualquer indício do que estava de fato acontecendo. Anos de
experiência na polícia fizeram meus olhos treinados para qualquer circunstância.
Fui direto para Kananda, ela era o meu foco, era com ela que eu me importava.

A irmã tentou me dispensar, mas ela não sabia quem eu era, não fazia
ideia de que enquanto ela tramava em sua mente dispensar a todos e ficar
novamente a sós com Kananda, eu já havia planejado e iria executar a estratégia
de defesa: eu estava um passo à frente e ela não precisava saber disso, pelo
menos não nesse momento.

Assim que vi Amanda se despedir e ir embora, segurei na mão de


Kananda, e ao olhar para ela vi as lágrimas brotarem involuntariamente e
deslizarem por seu lindo rosto.

— Shiiii... Se acalme, está tudo bem agora. — Falei baixo, controlando a


raiva e acariciando as costas da sua mão, tão pequena e delicada com o meu
polegar.

— Obrigada, Eros — falou —, perdão, delegado Moraes Neto — corrigiu-


se — não sei o que houve com minha irmã, parece que ela enlouqueceu.

— Percebi que havia algo errado, afinal, são anos de experiência. — Falei
em um tom divertido para tentar minimizar a tensão dela naquele momento. — E
pode me chamar de Eros mesmo, inclusive quero chamá-la de Nanda, posso? —
Soltei de forma involuntária e ela fez uma cara de espanto.

— Sim, pode, Eros. — Respondeu, e percebi que meu nome saindo dos
seus lábios era sedutor.

— Então, agora que estamos a sós, quer me contar o que realmente


aconteceu? — Perguntei, porque eu gostaria muito de saber, mas ela voltou a
derramar lágrimas grossas e eu desisti de pressionar para saber nesse momento o
que havia acontecido. — Tudo bem, princesa, quando você se sentir confortável
você me fala. — Ela acenou positivamente com a cabeça, limpando as lágrimas
no seu rosto.

— Eros, obrigada por tudo. — Falou após um tempo em silêncio. — Não


tenho como agradecer tudo o que fez por mim hoje, primeiro por ter me salvado
pela manhã, ter vindo me visitar e também por ter livrado a cinderela das garras
da irmã malvada. — Completou sorrindo discretamente, e o sorriso dela, ainda
que contido, era o mais lindo que já vi.

— Por nada. Agora, deixe-me saber uma coisa: a senhorita já se


alimentou? — Perguntei com o intuito de mudar o rumo da conversa, e também
porque não havia visto ela comer nada.

— Acho que com essa confusão toda as enfermeiras esqueceram de trazer.


Na verdade nem estava lembrando, mas vou pedir agora. — Falou enquanto
apertava o botão acima do leito.

— Bom, eu trouxe um lanche para você, tudo bem? Sei que não é certo,
mas eu odeio comida de hospital, então pensei que você poderia comer algo um
pouco mais... Saboroso. — Falei divertido e apontei para o saquinho de papel, no
mesmo momento em que uma enfermeira entrou no quarto. Ela olhou para mim
e em seguida para a enfermeira.
— A senhorita está precisando de algo? — Perguntou a mulher que
acabara de entrar no quarto.

— É... Sim, acho que esqueceram de trazer minha comida. — Kananda


falou.

— Me desculpe, senhorita, vou verificar com a responsável e pedir que


tragam imediatamente. Com a confusão que houve, nos passou despercebido.
Peço desculpas pelo lapso. — A enfermeira respondeu e Kananda sinalizou que
tudo bem. A mulher saiu do quarto para providenciar, e ela olhou para mim
novamente e riu, um sorriso mais sincero e mais amplo.

— Delega... — pigarreou — quer dizer, Eros, obrigada por isso também,


estou olhando para o saco e com vontade de comer o sanduiche, mas confesso
que estou com medo de comer. Você acha que tem algum problema? —
Perguntou.

— Então, a opção é sua, Nanda. Da última vez que levei um tiro no braço,
eu praticamente obrigava meus colegas a trazerem comida de verdade para mim.
— Ela arregalou os olhos e dei de ombros. — Eu não me acostumo com essa
comida insossa, mas se você estiver com receio não coma.

— Você tomou um tiro? Quando? Como foi? — Perguntou com os olhos


arregalados. Parecia que tinha parado apenas nessa parte do que eu falei. —
Quer dizer, desculpe a curiosidade, deve ser algo do seu trabalho e você não
pode contar, eu entendo. — Falou enquanto ouvimos uma batida na porta.

— Com licença, senhorita, trouxe seu café. Desculpe-nos pela demora. —


A enfermeira falou enquanto apoiava a bandeja numa mesinha ao lado da cama,
e tanto eu quanto Kananda acenamos com a cabeça. — Quer ajuda para se
alimentar? — Perguntou.

— Não, obrigada senhora, eu mesmo irei ajudá-la. — Respondi por ela,


que me olhou e acenou em concordância, autorizando que a mulher se retirasse.

— Eros, realmente sou muito grata por tudo, mas não precisa se
preocupar, eu me viro sozinha. Sei que deve estar cansado após o dia inteiro no
trabalho, e tudo o que menos precisa nesse momento é de uma doente em um
leito de hospital para cuidar, pode ir para casa, vou ficar bem. — Afirmou,
mesmo que seu olhar dissesse o contrário.
— Definitivamente, não irei deixá-la sozinha princesa, vou ajudá-la a
comer enquanto conto como fui alvejado no braço, e depois, se você ainda quiser
minha companhia, posso dormir aqui essa noite; só preciso ir ao carro pegar uma
muda de roupa para tomar um banho, como às vezes fico direto na delegacia,
sempre tenho o básico no carro. Então, o que me diz? — Sugeri porque eu
realmente queria ficar aqui com ela.
Capítulo 06

Kananda

Eu não entendia o porquê daquele homem maravilhoso querer estar ali


comigo. Por um momento não soube o que falar, porque eu também queria que
ele ficasse. Havia algo pairando entre nós, algo forte e intenso, ele estava
recorrentemente me chamado de princesa, era algo que saia naturalmente dos
seus lábios, e a cada vez que eu ouvia, meu coração batia acelerado.

— Certo, então vamos adiantar para você poder descansar doutor


delegado. — Falei sorrindo, incapaz de negar sua ajuda, e ele foi em direção à
mesinha onde a enfermeira havia deixado a comida.

— Vamos ver o que temos aqui. — Suspendeu a tampa de metal da


bandeja. — Uma sopa que aparenta estar deliciosa — falou com uma careta e eu
sorri ainda mais — torradas, biscoitos, um iogurte natural, suco e café. Acho que
você está sendo mais bem tratada do que eu quando precisei me hospedar aqui.
— Falou gracejando. — O que vai querer?

— Tem mesmo muita coisa aí. — Constatei. — Acho que vou tentar essa
sopa “deliciosa” e depois vejo se quero mais algo.

— Vou guardar o suco e o iogurte no frigobar então. — Falou enquanto


pegava os itens, em seguida, com a tigela de sopa nas mãos, veio para meu lado
e eu estendi a mão para que me entregasse.

— Pode deixar que tomo sozinha, Eros. Fui alvejada apenas na perna,
acho que sou capaz de tomar a sopa sem incomodá-lo. — Falei sorrindo, para
não ser grosseira, mas eu realmente estava envergonhada com tanto cuidado
dispensado a mim. Com exceção meus pais, ninguém nunca havia se preocupado
tanto comigo. — Enquanto isso, você poderia me contar sua aventura policial no
hospital. — Completei sorrindo.
— Não, princesa. Eu conto enquanto lhe dou a sopa, prefiro assim. —
Concluiu não me dando alternativa que não fosse aceitar de bom grado os seus
cuidados.

— Tudo bem então, sem problemas. — Dei de ombros.

— Há seis meses, estávamos em uma operação no “Morro do Pipoca”,


havíamos planejado uma invasão porque recebemos uma denúncia anônima de
que os traficantes haviam recebido uma grande quantidade de drogas e armas,
então nos preparamos para uma grande apreensão. — Falou enquanto colocava
uma colher de sopa em minha boca De repente ele paralisou com a colher no ar,
parou de falar, apenas encarava meus lábios, hipnotizado. Comecei a ficar um
pouco constrangida, será que tinha algo sujo nos meus dentes?

— Eros, o que houve? Se não se sentir a vontade, não precisa continuar.


— Afirmei

— É... Não é isso, desculpe. — Respirou pesadamente, passou a mão nos


cabelos e continuou a história. — Conseguimos entrar no morro, e já havíamos
conseguido interceptar os olheiros/radinhos, que são os que informam quando a
polícia ou traficantes rivais chegam ao morro, então “Zica”, o chefe do morro,
não sabia ainda da nossa presença. Conseguimos encontrar o local em que a
droga estava armazenada e apreendemos, mas as armas não estavam lá, então
resolvemos subir ainda mais, porém sabíamos que a partir daí um confronto
poderia acontecer, porque possivelmente já sabiam da nossa presença. — Foi
contando enquanto colocava colheradas em minha boca, e eu ouvia atenta e de
olhos arregalados, então continuou.

— Quando subimos um pouco mais, pois havíamos recebido informações


de onde estariam armazenadas as armas e munições. Houve confronto, e quando
vi o “Zica” correndo para a mata vizinha em fuga, não hesitei em segui-lo, e
embora tenha conseguido prendê-lo, fui baleado no ombro por um de seus
homens que corria em fuga com ele, felizmente o bandido não teve a mesma
sorte que eu e morreu com um só tiro no meio da testa. — Completou.

— Foi você quem atirou? — Perguntei espantada.

— Sim, princesa, esse é meu trabalho. Às vezes conseguimos contornar a


situação e apenas prendê-los, mas em alguns casos é uma escolha: ou nossa vida
ou a deles. — Deu de ombros. — Eu não tinha opção, um tiro apenas para contê-
lo não adiantaria, era ele ou eu, e eu fui treinado para não errar.

— Nossa, deve ser difícil. — Constatei.

— Na verdade não. Faço o que amo; nasci para isso. — Completou


enquanto acabava de me dar a última colher de sopa.

— Quer um pouco do café? — Perguntou

— Sim, por favor. — Respondi, e ele me entregou o líquido quente nas


mãos. — Continue a contar.

— Na verdade, foi basicamente isso. A operação foi bem sucedida,


conseguimos fazer a apreensão das armas e drogas, e ainda conseguimos prender
o chefe do tráfico, infelizmente ele conseguiu fugir quando foi encaminhado
para o hospital, mas em breve pego ele de novo - falou, e pude notar a raiva em
seu olhar - e além dele prendemos mais dez traficantes que atuavam no morro.
Como havia sido baleado, vim direto para o hospital para retirar a bala; fiquei
apenas dois dias internado, e no segundo dia eu sequer conseguia olhar para essa
comida, por isso obrigava meus parceiros a trazerem “comida de verdade” para
mim. — Ele sorriu, e era o sorriso mais lindo que eu já tinha visto.

— Bom, acho que vou no carro buscar uma roupa, vou pedir que uma
enfermeira lhe faça companhia até eu voltar. — Afirmou, sem me dar
oportunidade de contestar.

Após Eros sair do quarto, fiquei pensando no que estava acontecendo


comigo: eu estava tão atraída por ele, era uma coisa inexplicável. Imagino que
eu esteja carente, e a atenção que ele está dispensando a mim está mexendo
bastante comigo. Tenho que controlar meus sentimentos, pois sei que amanhã ele
não estará mais aqui, serei apenas eu novamente, como tem sido desde que meus
pais faleceram.

— Srta. Kananda, está precisando de alguma coisa? — Perguntou a


enfermeira após entrar no quarto e fechar a porta atrás de si.

— Eu queria tomar um banho, se possível. — Falei. — Minha amiga


trouxe alguns itens de higiene pessoal, estão no armário. Se você puder me
ajudar, agradeço.
— Tudo bem. Vou colocar uma cadeira no banheiro, será mais confortável
para a senhorita. — Falou a enfermeira e eu acenei com a cabeça.

Após ter tomado um banho que, diga-se de passagem, estava precisando,


vesti uma camisola branca que Ana havia trazido para mim, penteei meus
cabelos que havia lavado e passei creme hidratante nos braços e barriga. Minha
amiga havia passado na minha casa antes de vir ao hospital, e tinha trazido
algumas coisas que ela sabia que eu gostava. Estava me sentido mais leve. A
enfermeira começou a fazer o curativo na minha perna quando Eros entrou no
quarto.

— Está sentindo dor? — Perguntou preocupado, pois eu havia feito uma


careta.

— Um pouco. — Respondi, e senti quando ele segurou a minha mão, que


eu apertava fechada em punho.

— Pronto, senhorita, precisa de mais alguma coisa? — Perguntou a


enfermeira enquanto cobria minha perna.

— Não, obrigada. — Respondi dando-lhe um sorriso agradecido, e ela se


retirou.

— Posso usar o banheiro? — Eros perguntou.

— Claro, fique a vontade. — Falei e ele foi em direção ao banheiro com


uma pequena mochila nas mãos.

Eros saiu do banheiro após alguns minutos, e embora eu achasse que era
impossível estar ainda mais lindo, ele estava. Eros vestia uma calça jeans
envelhecida e uma camiseta azul marinho que desenhava cada músculo do seu
corpo. Como antes ele estava com uma camisa social, eu só podia imaginar o
quanto seu corpo era perfeito, mas naquela camisa colada ao seu corpo, minha
imaginação não precisava sequer trabalhar, porque estava tudo ali, desenhado e
definido. Era uma pena não estar ao meu alcance... Senti uma contração em
minhas “partes baixas” e apertei uma coxa contra a outra, tentando minimizar a
reação instantânea. Acho que por estar há muito tempo sem sexo, meu corpo
estava agindo por vontade própria. O cabelo dele estava desalinhado, como se
não o tivesse penteado, e essa aparência descuidada o deixava ainda mais sexy.
Os olhos dele cravaram em mim e um sorriso surgiu em seus lábios, me
enfeitiçando ainda mais.

— Então princesa, pronta para dormir? — Perguntou.

— Acho que agora sim. — Respondi, saindo do meu transe momentâneo.

Ele ajeitou o sofá/cama em que iria dormir, com os lençóis que a


enfermeira havia deixado ali. Não deixei de notar que ele colocou a arma
embaixo do travesseiro, escondida, mas ainda assim ao alcance das suas mãos, e
eu me senti estranhamente protegida, não por causa da arma, mas por ele, que
me passava segurança como se nos conhecêssemos há muito tempo, e voltou a
ficar em pé ao meu lado novamente.

— Estarei aqui ao lado, qualquer coisa pode me chamar, tudo bem? —


Perguntou.

Acenei com a cabeça para ele: — Sim, e Eros... obrigada por tudo. —
Completei.

— Não por isso, princesa. — Falou e depositou um beijo carinhoso em


minha testa. O seu toque, embora não tivesse nenhum apelo sexual, queimou a
minha pele, e eu fechei os olhos, me perdendo nas sensações do momento.

Mais rápido do que eu desejava, ele se afastou e foi em direção ao


sofá/cama, tirou os sapatos e deitou de costas com as mãos atrás da cabeça.
Deitada de lado, de frente para o local onde ele estava, fiquei admirando-o até
que meus olhos pesaram e adormeci.

Amanda e eu estávamos em casa com Mary, nossa babá, tínhamos nove e


dez anos respectivamente. Mary estava na cozinha fazendo o almoço, e eu no
meu quarto, brincando no chão com minhas bonecas, quando Amanda entrou.

— Oi lerdinha, vamos brincar? — Perguntou. Ela sempre me chamava de


apelidos que eu não gostava quando nossos pais não estavam por perto.

— Não quero, Amanda, já estou brincando. — Respondi sem encará-la.

— Ah, mas você vai sim, se não vai levar uma surra. — Ameaçou como
sempre fazia.
Desde os nossos seis e sete anos, Amanda e eu não nos dávamos bem. Ela
sempre gostava de me maltratar, eu não entendia o porquê, afinal ela era minha
irmã e eu a amava, mas ela parecia não gostar de mim. A medida que fomos
crescendo, ela começou a me bater e sempre ia chorando para nossos pais,
dizendo que eu havia começado, e mamãe, embora nunca tenha me batido,
acabava por me colocar de castigo, então eu não revidava mais; quando ela me
provocava eu ficava quieta, era melhor assim.

— Você não é a minha mãe. — Respondi.

— Mas ela não está e você vai fazer o que eu quiser. — Ela falou e fechou
a porta do quarto, nos trancando ali.

Nunca antes eu havia ficado com medo de Amanda, até aquele dia. Ela
veio em minha direção e puxou meus cabelos com força, nós tínhamos
praticamente a mesma idade então éramos do mesmo tamanho.

— Pare, Amanda, eu vou contar para a mamãe. — Gritei.

— E ela não vai acreditar, lerdinha, sabe porque? Porque a mamãe e o


papai não amam você, eles só amam a mim, eles só acreditam em mim. Já ouvi
eles falando que você é muito, muito chata, e que não queriam que você fosse
filha deles. — Falou, e eu comecei a chorar.

Naquela idade eu não tinha noção de muitas coisas, e acreditei nas


palavras que ela me disse. Amanda me jogou no chão e subiu em cima de mim,
pegou uma tesoura que estava em seu bolso de trás do short.

— Agora nós vamos brincar de cabeleireiro, e eu vou deixar seu cabelo


bem bonitinho. — Com ela por cima de mim eu não conseguia me defender
direito, enquanto isso, Amanda começou a cortar meu cabelo e mostrar o
resultado da maldade em suas mãos.

Ouvimos passos na escada e Amanda saiu rapidamente de cima de mim e


eu permaneci no chão, em seguida Mary entrou no quarto.

— O que está acontecendo aqui? — Mary perguntou, correndo em minha


direção.

— Estávamos brincando de cabelereiro, tia Mary, e Kananda pediu para


eu cortar o cabelo dela e depois ficou gritando aí. — Amanda falou com falsa
inocência, enquanto eu só chorava abraçada a Mary, que havia sentado ao meu
lado no chão.

— Nanda, foi isso mesmo que aconteceu? — Mary perguntou.

— Não, tia Mary, ela queria brincar e eu não, então ela fechou a porta e
começou a cortar o meu cabelo. — Contei entre lágrimas o que havia
acontecido de verdade.

— É mentira dela! — Amanda gritou

— Vou ligar para a mãe de vocês, porque não posso resolver isso. Venha,
Nanda, vou lhe dar um banho. Sua mãe vai ter que levar você para alguém dar
um jeito nisso. — Apontou para o cabelo no chão. — Vai ter que cortar bem
curtinho, o estrago foi grande. — Mary falou.

Olhei de relance para Amanda que, embora estivesse com os olhos


úmidos de lágrimas fingidas, tinha um sorriso maldoso no rosto.

— MEU CABELO NÃO, MEU CABELO NÃO! — Gritei com toda a força
que tinha, e senti mãos grandes me sacudindo.
Capítulo 07

Eros

Eu estava exausto e dormi rapidamente após deitar no sofá, que, por sinal,
era bem pequeno para meu tamanho. Mas fora o cansaço, sugeri a Kananda que
fôssemos dormir logo porque, ao voltar para o quarto e vê-la ainda mais linda,
tomada banho e toda cheirosa, meu pau sacolejou dentro das calças; eu não
entendia porque aquela mulher mexia tanto com os meus instintos mais
primitivos.

Fiz de tudo para controlar meus impulsos, já que a vontade de me


masturbar enquanto eu tomava banho, imaginando quão perto ela estava, era
imensa! Chegava a ser doentio esse desejo: como eu podia estar excitado apenas
por olhar as suas coxas expostas enquanto a enfermeira refazia o curativo? Eu
não entendia, então preferi sugerir que fôssemos dormir o quanto antes, pois eu
poderia agir por impulso e isso não seria legal. Já havia sido constrangedor o
suficiente, o momento em que fui dar a sopa em sua boca e paralisei imaginando
sua boca aberta à minha mercê em outra circunstância, então o melhor a fazer era
dormir, rápido.

Durante a madrugada ouvi seu choro baixinho, imaginei que estivesse


sentindo dor e levantei, indo em direção a ela, mas ela estava dormindo e tendo
um pesadelo. Acariciei seus cabelos e abaixei próximo ao seu ouvido, chamando
seu nome baixinho para não assustá-la. Estando tão perto, pude sentir o seu
cheiro maravilhoso... Ela soluçou, chorando ainda mais, e eu a balancei com
cuidado, tentando acordá-la enquanto ela falava algo que não fazia nenhum
sentido para mim.

— Meu cabelo não, meu cabelo não. — Ela chorava enquanto falava.

— Calma, princesa, é só um pesadelo. — Tentei acordá-la e ela foi aos


poucos retomando a consciência. Paralisei quando ela me abraçou, chorando
compulsivamente, e eu não pude fazer nada além de abraçá-la com força.
Sentei na pontinha da cama, recostando-me na cabeceira, e a puxei para
mim, mantendo-a presa em meus braços, querendo poder diminuir a agonia que
aparentava estar sentindo naquele momento. Continuei abraçando-a e
acariciando seus cabelos, enquanto ela se mantinha com a cabeça apoiada no
meu peito, tentando conter as lágrimas, e estar com ela assim em meus braços
pareceu tão certo para mim, tão certo para nós... Esperei que ela parasse de
chorar e levantei gentilmente o seu rosto, fazendo-a me olhar nos olhos.

— Está tudo bem agora, foi só um pesadelo, eu estou aqui. — Afirmei, e


ela acenou com a cabeça enquanto eu a abraçava.

Fiquei ao seu lado enquanto se acalmava, e quando fiz menção de voltar


ao sofá ela se agarrou mais firme a mim, e não tive coragem de me afastar.
Sentei na sua cama, apoiei minhas costas no travesseiro e trouxe seu corpo
pequeno para perto do meu, apoiando sua cabeça em meu peito.

Estar com ela em meus braços, ainda que debilitada física e


emocionalmente, me deixou fodidamente feliz. Por causa da minha profissão, o
meu instinto protetor já é naturalmente aflorado, mas com ela, com essa mulher
que no momento descansa serenamente nos meus braços, tudo parece mais
intenso, mais forte. Acaricio os seus cabelos longos e passo a mão
carinhosamente por suas costas, subindo e descendo, com uma promessa
silenciosa de que eu sempre estarei aqui. Depois de um tempo, sinto que ela
adormece nos meus braços, se sentindo segura comigo.

— Princesa, não importa o que aconteceu ou o que aconteça, de hoje em


diante eu sempre estarei perto de você, vou te proteger com a minha vida se for
preciso, tenha certeza disso. — Falo em seu ouvido, mesmo sabendo que ela não
vai escutar por já estar dormindo, mas sinto uma necessidade imensa de externar
o que meu coração insiste em gritar para mim. Não me pergunte o porquê, pois
não saberia explicar, mas essa mulher desperta o que há de mais profundo em
mim.

Eu sabia que não era uma boa ideia dormir com ela na cama do hospital,
primeiro: porque o local não era apropriado, ainda que não fôssemos fazer nada
demais; segundo: porque eu e ela não tínhamos intimidade suficiente para isso,
embora eu sentisse como se nos conhecêssemos há muito tempo, mas eu não
resisti, e, aos poucos, adormeci com ela em meus braços.
Quando o dia estava amanhecendo, acordei ouvindo alguns gemidos
baixinhos de dor. Me ajeitei na cama como pude, tirando-a do meu braço para
que ela não percebesse que eu havia dormido ali, ao seu lado. Coloquei me de pé
ao lado da cama e abaixei junto ao seu ouvido:

— Acorda, princesa, você está com dor? Quer que eu chame a


enfermeira? — Perguntei preocupado, enquanto ela abria lentamente os olhos.

Ela estava um pouco atordoada, aparentemente confusa e sonolenta, mas


logo se situou sobre onde estava.

— Eros, você realmente dormiu aqui comigo? — Perguntou.

— Dormi sim, princesa. Vou chamar uma enfermeira para ver você. —
Falei carinhosamente, tocando os seus cabelos, e ela acenou com a cabeça.

Chamei a enfermeira pelo interfone, e enquanto aguardávamos, peguei


minha mochila para me dirigir ao banheiro e tomar um banho. Eu não queria me
afastar, mas sabia que precisava trabalhar; eu estava fodidamente preocupado
com ela, com quem ficaria com ela.

Quando eu saí do banheiro, a enfermeira estava terminando de verificar a


medicação intravenosa. Ela informou que em breve alguém viria trazer o seu
café da manhã e nos deixou novamente sozinhos no quarto.

— Nanda, quem vai ficar com você hoje durante o dia? Posso me
comprometer a vir passar a noite, mas preciso trabalhar hoje. — Falei com pesar,
pois não queria ir embora.

— Não se preocupe, eu vou ficar bem. Qualquer coisa eu peço para Ana
vir ficar comigo. — Falou.

— Me passa o telefone dela, vou ligar e ver se ela pode vir antes de eu
sair. — Pedi

— Eros, não precisa, pode deixar que eu me viro. — Tentou me


tranquilizar.

— Nem pense nisso, princesa. Não vou conseguir trabalhar sabendo que
está aqui sozinha, principalmente porque você não quis me contar o que
realmente houve com sua irmã ontem, mas vou esperar o seu tempo para ouvir.
— Respondi e aproveitei a oportunidade para deixar claro que queria saber o que
houve.

— Tudo bem. Você pega o meu celular, por favor? Eu ligo para ela. E...
Eros, eu gosto quando me chama de princesa... — Sorriu, abaixando a cabeça
envergonhada.

— Que bom que gosta, porque eu não consigo parar de te chamar assim.
— Sorri satisfeito.

Entreguei o celular nas mãos dela e dei sinal que ia descer para comprar
alguma coisa para comer, saí também para lhe dar privacidade para falar com sua
amiga. Quando retornei para o quarto ela me informou que amiga viria ficar
durante o dia com ela novamente, que eu não me preocupasse. Pedi o telefone
das duas para que pudesse manter contato e saber notícias durante o dia.
Conversamos um pouco, e após eu ter tomado o café que comprei e ela o que a
enfermeira trouxe, sua amiga chegou. Ana nos cumprimentou e eu me despedi,
dando um beijo na testa da Nanda; era um gesto íntimo e carinhoso, mas me
deixava muito feliz. Avisei a elas que o interrogatório estava marcado para hoje
à tarde, mas deixei claro que ela só se dispusesse a responder se estivesse se
sentindo realmente bem.

Fui direto para a delegacia. De certa forma estava mais tranquilo; Ana, a
amiga, me parecia uma pessoa confiável e demonstrava realmente gostar de
Kananda. Salvei o contato das duas no aplicativo de mensagens, e assim que
cheguei à delegacia avistei Enrico estacionando.

— E aí, brother, beleza? Conseguiu descansar? — Perguntou quando parei


ao lado do seu carro.

— Cara — passei a mão na nuca —, para quem dormiu no hospital, até


que estou tranquilo. — Falei sabendo que ele iria querer saber o motivo de eu ter
dormido no hospital.

Enrico foi meu amigo de faculdade, e desde então sempre estivemos


juntos, por determinação, foco e esforço dos dois, conseguimos passar no
concurso para Delegado Federal juntos, e hoje trabalhamos no mesmo
departamento. Eu confiava nele tanto quanto confiava em meus pais e minha
irmã; éramos parceiros no trabalho e na vida. Quando o vi estacionando, fui logo
em sua direção, eu precisava desabafar e ele era um dos meus poucos amigos.

— O que houve, brother? Aconteceu algo com seus pais? — Perguntou


preocupado, e eu sabia que ele queria completar a pergunta, saber se havia
acontecido algo com a minha irmã, especificamente. Eles haviam tido um rápido
envolvimento, algo que nenhum dos dois quis se abrir para me contar, mas eu
sabia que ambos haviam saído machucados.

— Não, não foi com eles. Vamos na cafeteria da esquina tomar um café, e
eu te falo o que houve. — Chamei meu amigo. Eu não era uma pessoa que me
envolver com facilidade, precisava conversar com alguém sobre o que estava
acontecendo comigo e ele era a pessoa certa.

— Claro, vamos lá! — Respondeu.


Eros

— Certo, agora me conta o que aconteceu, estou ficando preocupado. —


Enrico me intimou assim que sentamos.

Passei as mãos no cabelo nervosamente, sem saber por onde começar, ou


melhor: eu não sabia sequer o que iria falar ao meu amigo. Como explicar que eu
estava tão envolvido com Kananda? Alguém que, até anteontem, eu sequer
conhecia. Se isso soava estranho para mim, imagina só o que ele pensaria.

— Bom dia, delegados. — Juliana, a atendente da cafeteria, falou


sorridente para nós dois. — O que vão querer hoje?

— Juliana, será que é possível que você fique cada dia mais gostosa? —
Enrico falou com certa intimidade. Nós dois sempre estamos aqui, e tanto eu
quanto ele já ficamos com uma ou outra atendente do local, que, por sinal, só
contrata mulheres lindas.

— São seus olhos, delegado. — Respondeu sorrindo.

— Acho que é meu pau, na verdade... Dá só uma olhadinha como ele


acordou só de te ver. — Olhou em direção ao seu colo sorrindo maliciosamente,
e eu balancei a cabeça em negação, sorrindo, meu amigo é um cafajeste mesmo.

— Me liga depois e resolvemos esse probleminha aí. — Juliana falou


apontando com o queixo para o “problema” do meu amigo. — E você, delegado
Eros, se estiver com problema também é só avisar que a gente resolve. —
Apontou para Selma, outra atendente, e piscou para mim.

— Traz o de sempre, por favor. — Pedi logo, porque se eu deixasse, não


sairíamos dali tão cedo com eles dois se provocando. Até dois dias atrás eu
também entraria na brincadeira, quem sabe até sairíamos juntos como já
aconteceu outras vezes, mas hoje não. A mulher com quem dormi não me saia da
mente; meu pau sequer respondeu ao rebolado de Juliana, como era de costume.

— Vejo que o assunto é sério, Brow, para você não ter entrado na
provocação da Juliana, vem merda grande por aí. — Constatou meu amigo.

— Sabe aquela situação que tivemos ontem? Do sequestro? — Perguntei


retoricamente. — Lembra da mulher que foi feita de refém na fuga dos
sequestradores?

— Lembro sim, Eros. Hoje será o interrogatório dela.

— Exatamente. Bom, eu dormi com ela no hospital. — Falei de uma vez.


— O QUÊ? — Enrico praticamente gritou. Quando percebeu que outras
pessoas olharam em nossa direção abaixou o tom de voz. — Que merda foi essa,
Eros?

— Pois é, cara, nem eu sei explicar. — Falei, abaixando a cabeça e


sorrindo em negação. — Quando ela estava sendo feita de refém, eu sequer
conseguia desviar os olhos dela, e durante todo o maldito dia eu pensei se ela
estaria bem. Quando saí daqui a noite, revolvi passar no hospital e não consegui
sair de lá. — Fiz uma pausa quando Juliana trouxe nossos cafés e lanches.
Enquanto meu amigo comia eu ia contando tudo o que aconteceu, e em alguns
momentos o filho da puta sorria da minha situação.

— Cara, eu vivi para ver Eros Moraes Neto se apaixonar! — O


desgraçado riu tanto que disse estar com a barriga doendo. — É sério, eu achei
que nunca cairíamos na lábia das mulheres. E agora, como vou fazer indo “para
a guerra” sozinho? — Me provocou ainda sorrindo.

— Abaixa a “bola” Enrico, porque você também fica todo fodido nas
mãos da minha irmãzinha. — Provoquei porque sabia o quanto aquilo mexia
com ele.

— Você é um filho da puta, estraga prazeres, Eros, para que falar naquela
pilantra? Quer acabar com o meu dia é? — Perguntou. — Só de mencionar
aquela mulher fico com vontade de estourar os miolos de alguém. — Falou
irritado.

— Êpa! Mais respeito com a minha irmã — falei para provocar, mas sem
realmente ficar chateado; eu sabia que ele ficava fora de si por causa dela —, a
Lara é um anjo. — Completei sorrindo.

— Ah, tá, vai nessa irmão, cada um se engana como quer. — Falou com
raiva — Mas esquece essa mulher, e me fala da sua nova “paixão”. — Mudou de
assunto rapidamente. O problema entre eles parecia ser mais sério do que eu
pensava, e eu só queria saber quando esses dois iriam colocar um fim nisso. Lara
é advogada criminalista, e cada vez que aparece na nossa delegacia para
acompanhar algum cliente, Enrico enlouquece, principalmente quando nossos
colegas começam a olhá-la com interesse e sugerir que eu a apresente. Meu
amigo é apaixonado por minha irmã, e suspeito que ela também seja por ele, mas
não conseguem se acertar.
— Cara — balancei a cabeça para os lados —, pior que eu não sei o que
fazer, a mulher está realmente mexendo comigo de uma forma estranha, mas eu
não sei como agir. — Afirmei. — E quero te pedir um favor: eu tenho que fazer
o interrogatório dela hoje, mas não acho que seja correto, considerando que
estou um pouco envolvido, você pode fazer isso por mim? — Perguntei.

— Claro que sim. — Respondeu sorrindo enquanto fazia sinal com as


mãos pedindo a conta. — Será um prazer ver aquela belezinha novamente... —
Falou apenas para me provocar: eu sabia que meu amigo jamais me trairia.

— Exatamente. Aproveite que vou lhe dar uma amostra grátis dessa outra
belezinha aqui. — Falei sorrindo, enquanto acariciava minha arma na cintura, e
ele gargalhou.

O dia foi corrido, tínhamos muito o que fazer para fechar o caso do
sequestro. Teria uma entrevista no final da manhã, e o interrogatório de Kananda
estava marcado para o meio da tarde; eu iria apenas para acompanhar Enrico, na
verdade nem era necessário, mas eu não perderia a oportunidade de vê-la.
Capítulo 08

Kananda

Depois que Eros foi embora hoje pela manhã, fiquei tentando entender o
que havia acontecido comigo, porque desde ontem estava com o coração
acelerado, e embora eu tenha passado pelo inferno após o sequestro, e
principalmente com a visita assustadora de Amanda, não conseguia tirar o
sorriso do rosto; era uma felicidade que transbordava dos olhos para os lábios.

— Amiga, esse rostinho feliz é por causa de um certo delegado lindo que
acabou de sair? — Ana perguntou sorrindo — Ele dormiu aqui?

Suspirei encantada, e feliz demais para negar qualquer coisa à minha


única amiga.

— Sim, para as duas perguntas! — Respondi.

— Aaaaaahh! — gritou — Não acredito que você fisgou o delegado


gostosão! — Ana completou sorrindo.

— Shiu! — Coloquei o dedo indicador na boca pedido silêncio, e sorrindo


completei: — Estamos em uma hospital, sua louca, controle-se. E respondendo
sua pergunta, se eu o “fisguei” eu não sei, mas ele me “fisgou”, com toda
certeza. — Respondi genuinamente feliz, mas imediatamente mudei o meu
semblante para contar sobre a visita inesperada da minha irmã. — Amanda
apareceu ontem à noite aqui no hospital, enquanto ele estava jantando, e me
ameaçou. Acredito que ele percebeu que havia alguma coisa estranha entre nós e
resolveu dormir aqui para me fazer companhia, ou me "proteger", não sei ao
certo. — Completei.

— Como assim, aquela louca esteve aqui? — perguntou — Passei na


farmácia antes de vir para o hospital e o pessoal falou que ela “tocou o terror”
ontem, e que antes de sair “limpou” o caixa; a sorte é que eu havia feito sangria
quando saí daqui ontem à noite, então não foi o resultado do dia todo. — Falou
com pesar. — Mas, me conta o que aconteceu.

— Conto sim, mas Ana, não podemos deixá-la sozinha na farmácia,


porque senão ela irá nos levar a falência em poucos dias. — Comentei e passei a
contar a minha amiga tudo o que havia acontecido depois que ela saiu do
hospital. Ana estava horrorizada com a atitude de Amanda e encantada por Eros,
mas quem não ficaria, não é mesmo?

Durante o dia fiz vários exames, Ana me acompanhou o tempo inteiro,


alegando que estava seguindo as instruções do delegado gostosão; rimos muito,
porque minha amiga é uma figura e não perde a oportunidade de fazer piada com
tudo. Após o almoço, pedi para tomar banho, pois sabia que o interrogatório
seria à tarde, e queria estar o mais apresentável possível para vê-lo.

Por volta de 15:00hs, uma enfermeira ligou informando que o Delegado


Enrico Chiarelli havia chegado para colher meu depoimento; confesso que uma
pontada de desapontamento retumbou no meu peito enquanto eu o autorizava
entrar, porque na verdade eu queria ver o meu delegado... Pouco tempo depois,
um homem tão bonito quanto Eros entrou no quarto onde eu estava; eu me
lembrava vagamente dele no dia anterior.

— Boa tarde, senhorita Kananda, sou o delegado Enrico Chiarelli e vim


colher seu depoimento. Você se sente bem para falar? — Perguntou
cordialmente, sustentando um lindo sorriso no rosto. Pelo olhar de Ana, sabia
que ela estava pensando alguma bobagem.

— Obrigada pela preocupação, sim, estou bem para falar, e gostaria de


agradecer por ontem, lembro-me de tê-lo visto no local onde fui feita de refém.
— Agradeci.

— Não por isso, senhorita — respondeu sorrindo — Posso me sentar? —


perguntou.

— Claro, fique a vontade. — Respondi enquanto ele se sentava na cadeira


ao lado da minha cama.

Ouvimos duas batidas na porta e em seguida, o homem que vem mexendo


com meu coração desde ontem entra no ambiente com um sorriso lindo no rosto,
e vem direto para mim, deposita um beijo na minha testa em um gesto de carinho
que não faz questão de esconder, e sorri aquele sorriso que me derrete
completamente, e eu fico em êxtase com sua presença.

— Como está se sentindo? — Eros pergunta.

— Estou bem, acredito que logo terei alta médica — respondo.

— Que bom. Vejo que já conheceu o Enrico, ele é meu amigo e pedi que
conduzisse o seu interrogatório, porque não achei conveniente que eu o fizesse
— informou —, mas fiz questão de vir, para que se sentisse confortável. Acabei
de falar com o médico e ele me informou que a sua recuperação está seguindo o
esperado, e em breve poderá ir para casa. — Completou sorrindo.

— Sim, acredito que amanhã — completei, mas um lampejo de


preocupação passou por minha mente: como eu iria lidar com Amanda sozinha
em casa?

— Então, podemos começar, senhorita Kananda? — O delegado Enrico


falou e eu acenei com a cabeça concordando.

A próxima hora transcorreu com tranquilidade. Enquanto eu prestava


depoimento, Eros se manteve firme ao meu lado, me passando a força necessária
para que eu continuasse contando os momentos de terror que passei nas mãos
dos bandidos. Quando o Delegado Enrico mostrou-se satisfeito com o que eu
havia declarado, finalizando o depoimento, Eros levantou-se do sofá onde estava
sentado ao lado de Ana, e veio em minha direção.

— Estou indo, princesa, obrigado por ter colaborado. — Falou.

— Por nada, e, mais uma vez, quero agradecer por tudo que fizeram por
mim, e a você ainda mais, por ontem à noite. — Disse olhando em seus olhos

— Não por isso, foi realmente um prazer — respondeu, e seu olhar


demonstrava uma intensidade que mexia comigo além do normal. — À noite eu
volto para ficar com você novamente — desviou os olhos para Ana —, você
pode ficar com ela até eu chegar?

— Claro! — Respondeu minha amiga.

— Eros, não é preciso. Você deve estar cansado, não posso deixar que
durma novamente nesse sofá desconfortável — falei tentando dissuadi-lo da
ideia.

— Nada disso, princesa. Antes das 19h estarei aqui. — Piscou, sem me
dar chance de questionar, e olhou para o seu amigo que já estava de pé com um
sorriso zombador no rosto.

— Aproveite, “princesa”, porque é realmente difícil ver o delegado


“Logan” demonstrando qualquer sentimento que não seja raiva. — Enrico falou
sorrindo. — Fiquei até com vontade de gravar a cena para comprovar que ele
pode ter um coração dentro desse peito de aço. — Gracejou

— Há, há, há, muito engraçado você. — Eros falou para o amigo e pude
perceber que a relação deles ia muito além do profissional. — Vamos logo. —
falou para Enrico e voltou-se para mim. — Até mais tarde. — Se despediu com
um beijo em minha testa.

— Até mais tarde então. — Afirmei muito satisfeita em saber que o veria
novamente.

Eles saíram e eu fiquei sozinha com Ana novamente. Falamos sobre como
os dois eram lindos; Ana ressaltava a todo o momento o cuidado especial que
Eros dispensava a mim, e eu não podia negar que percebi e que estava gostando
muito disso. Entre mais exames e conversas o tempo se arrastou até chegar o
horário de Eros voltar, e quando ele entrou no quarto meu coração saltou no
peito, e naquele momento, tive certeza de que meu coração deixava de me
pertencer e passava a ser irrevogavelmente dele, daquele homem protetor, que
surgiu em minha vida em um momento de desespero e que rápido demais se
tornou essencial. Ouvi dentro de mim uma vozinha que dizia: É ELE!

Nossos olhares se cruzaram e foi impossível não sorrir; um sorriso sincero


brotou em nossos lábios, e junto veio a constatação do quanto eu o queria, e eu
poderia apostar todas as minhas fichas que ele me queria tanto quanto eu.

Ana se despediu de nós, não sem antes atualizá-lo sobre meu estado.
Diferente de ontem, ele já havia tomado banho, e o seu cheiro natural misturado
com o toque amadeirado do perfume que usava me deixava em êxtase.

— Enfim sós. — Eros falou gracejando. — Já jantou, princesa? —


Perguntou sentando-se ao meu lado
— Sim, já comi — respondi enquanto me ajeitava melhor na cama. —
Eros, porque o delegado Enrico te chamou de Logan? — Perguntei após
conversarmos por um tempo por que eu estava realmente curiosa.

— Bobagem dele. — Eros sorriu — É um apelido que ele me deu por


causa do Wolverine. Enrico diz que tenho traços da personalidade do
personagem, que pareço um animal enfurecido quando vejo alguém em perigo.
Ele também sabe que embora eu não goste de matar quando estou em ação, não
costumo fugir da obrigação de fazê-lo, pois a minha honra e moral valem mais.
— Ele parece pensar um pouco e completa o raciocínio dizendo algo que eu
jamais imaginei ouvir tão rapidamente. — Mas acredito que Enrico tenha dito
isso por minha relutância em me envolver emocionalmente. Costumo me manter
o mais distante possível das pessoas, o que não consegui fazer com você, porque
desde que meus olhos recaíram sobre você, princesa, não consigo tirá-la da
minha cabeça. — Ele se calou de repente. Eu imagino que ele ia falar mais
alguma coisa, mas refreou seus pensamentos, e me deixou com um sorriso bobo
nos lábios.

— Eros — o chamo. Ele vem até mim e eu estendo a mão para tocar seu
rosto — Eu sinto o mesmo.

Falo isso para que ele saiba que o sentimento é recíproco, e em menos de
um segundo ele se inclina e cola os nossos lábios. Nossos olhos não se fecham, e
eu consigo enxergar carinho e desejo na imensidão azul que são seus olhos. Uma
de suas mãos agarra possessivamente minha nuca, puxando-me ainda mais para
si, enquanto a outra apoia as minhas costas. Com o braço livre - já que o outro
está preso ao soro - seguro seu pescoço e acaricio os seus cabelos, bagunçando-
os ainda mais, enquanto nossas línguas se exploram, nossos gostos se misturam e
nos perdemos no momento, nos perdemos um no outro.

Esse beijo, o nosso primeiro beijo, representava algo inexplicavelmente


mais forte. Sei que parece muito precipitado da minha parte o que vou afirmar
agora, mas o que estou sentindo por este homem que me abraça de forma
protetora e descansa a cabeça na curva do meu pescoço é forte demais, então não
me sinto equivocada em admitir para mim mesma que estou apaixonada. Em
apenas dois dias, Eros me fez sentir o que jamais havia sentido por ninguém em
toda minha vida.
Capítulo 09

Eros

Eu não resisti. Por mais que tenha tentado controlar os meus desejos até
aqui, ouvir da sua boca que também se sentia atraída por mim levou minha
sanidade pelos ares. Kananda se rendeu ao beijo, às carícias leves, porque usei
todo o meu autocontrole para não fazer como eu gosto, para não puxar seus
cabelos e expor a meu bel-prazer o seu pescoço, para não arrancar suas roupas e
devorá-la, para não sucumbir ao desejo que agora me consome. Descanso a
cabeça em seu pescoço, respiro fundo tentando me controlar; ela continua a
acariciar meus cabelos até que quebro o contato e me afasto um pouco.

— Me desculpe por isso. — Peço com a voz rouca

— Não se desculpe, eu queria tanto quanto você — ela responde. — Na


verdade, ainda quero. — Ela sorri maliciosa e eu “prendo” meu instinto que grita
para que eu a agarre e tome tudo de si para mim.

— Vamos com calma, princesa — afirmo —, você está debilitada, não


seria correto eu forçar uma situação. Talvez você esteja apenas abalada pelo que
passou. — Afirmo, porque jamais me aproveitaria da fragilidade emocional dela
para satisfazer os meus desejos.

— Não, Eros, não é isso — fala de forma segura —, eu realmente quis e


quero isso — aponta para nós dois —, mas tudo bem, vou aguardar, e caso você
realmente queira, vou te mostrar que te desejo tanto quanto você disse me
desejar.

Essa mulher vai me enlouquecer, posso pressentir isso. Sento-me ao seu


lado e puxo um assunto qualquer para quebrar o clima de desejo que paira entre
nós; não posso perder o controle, não agora.

Passamos algumas horas entre conversas, carícias controladas e beijos que


explicitavam todo nosso desejo. Em determinado momento ela começou a
demonstrar cansaço e cochilar, então eu a acomodei melhor no leito e me ajeitei
no sofá, ainda que desejasse dormir abraçado à ela, sentindo seu cheiro e
mantendo-a protegida entre meus braços; fiquei um tempo apenas admirando-a,
até que adormeci.

Acordei pela manhã quando a enfermeira entrou para administrar mais


medicações, ajudei ela se sentar na cama e informei que hoje ficaria disponível
para ela, pois estava de folga. Ela, é claro, recusou, alegando que eu precisava
descansar e que ela sairia ainda hoje do hospital.

Fingi que não ouvi todas as reclamações de Kananda e me mantive ao seu


lado até o fim da manhã, quando o médico passou para avaliá-la e finalmente a
liberou para ir para casa. Eu fiquei com sentimentos conflitantes em mim: feliz
por ela estar bem e poder sair desse ambiente hospitalar, e triste, pois sabia que
não teria mais suas noites divididas comigo, pelo menos não tão cedo.

Ela me informou que Ana havia oferecido sua casa para que ela passasse
alguns dias enquanto se recuperava, e também por causa do que aconteceu com
sua irmã – ela ainda não tinha se sentido confortável para me contar o que havia
acontecido entre elas naquele dia, e eu, pelo menos por enquanto, respeitaria o
seu silêncio.

Saímos do hospital direto para sua casa, para que ela pudesse pegar o que
fosse precisar. Ela ainda falou que iria pedir um taxi, o que eu, é claro, não
permiti, queria estar com ela o máximo possível.

Felizmente, quando chegamos à sua casa, sua irmã não estava. Elas
moravam em uma casa bem legal em um bairro de classe média. A casa tinha um
ar familiar, a sala ampla decorada com móveis predominantemente brancos e
sofá e poltronas cinza; as cores do ambiente estavam presentes nos objetos de
decoração.

— Quer que eu te acompanhe até o quarto? — Perguntei tentando não ser


invasivo. Por mim eu a carregaria para todos os lugares, mas mesmo com a
perna machucada e andando com dificuldade, Kananda insistia em arrastar-se
para todos os lados, o que me incomodava pra caralho.

— Não precisa, pode esperar aqui na sala, eu não demoro — Respondeu e


seguiu em direção ao corredor.
— Tudo bem, mas quando terminar de arrumar suas coisas, me chama que
eu irei ajudá-la com as malas. — Falei

Sentei no sofá e aproveitei o tempo para fazer algumas ligações e resolver


algumas pendências do trabalho. Cerca de 30 minutos depois, a teimosa surge no
corredor arrastando uma mala de rodinhas, e imediatamente sigo em sua direção.

— Kananda, eu não pedi que me chamasse para ajudá-la? — Falei um


pouco chateado.

— Eros, eu já estou te incomodando demais — respondeu — estou até


com vergonha.

— Princesa, não precisa ficar envergonhada. Se eu estou te ajudando é


porque eu quero; você não pediu em momento nenhum meu auxilio — afirmei,
pegando a mala de sua mão e estendendo a outra para entrelaçar nossos dedos.
Assim que ela percebeu meu gesto sorriu discretamente e retribuiu o aperto sutil
que eu havia dado.

Coloquei a mala no bagageiro do carro, digitei o endereço que ela me


passou no GPS e seguimos em direção à casa da sua amiga. Chegando lá desci e
a acompanhei até a porta. Eu queria ficar com ela, mas não queria ser
inconveniente já que ela se hospedaria na casa da sua amiga. Depois de levar
seus pertences até o quarto em que ficaria instalada, me despedi.

— Já vou indo, princesa. Prometa que se precisar de qualquer coisa irá me


ligar. — Falei quando chegamos à porta da casa, enquanto acariciava seu rosto
com as costas da mão.

— Prometo. — Respondeu pousando sua mão sobre a minha — Mas


acredito que não precisarei de nada, vou ficar bem. Agora você, senhor
delegado, faça o favor de descansar um pouco — completou sorrindo.

Esses dois últimos dias que passamos juntos nos deram certa intimidade.
As nossas conversas, embora não tenham sido invasivas, nos permitiu conhecer
um pouco mais um do outro. Se eu estou cansado? Com certeza, mas o que eu
mais queria no momento era poder ficar ao seu lado. Dei um beijo demorado em
Kananda para me despedir, tomando sua boca e tudo que ela me oferecia no
momento com desejo desmedido, ainda não nomeei, ou melhor, ainda não
nomeamos o que está acontecendo conosco, mas com toda certeza é algo forte
demais para ser passageiro.
Eros

Cinco dias se passaram desde que Kananda saiu do hospital. Nesse tempo,
passei para vê-la todos os dias à noite, e embora esses encontros fossem mais
rápidos do que eu de fato desejava, nem eu queria exagerar impondo minha
presença, nem ela queria incomodar ainda mais sua amiga, que já estava lhe
recebendo com satisfação, tentando a todo o momento deixá-la o mais
confortável possível.
Além das rápidas visitas, sempre trocávamos mensagens e ligações. Estive
com o celular desligado durante toda à tarde porque estava em uma operação
externa, e agora, ao entrar na minha sala no departamento e ligá-lo, recebo essa
mensagem que me deixa imediatamente em alerta.

Sem demora recebo sua resposta que me tranquiliza um pouco.

Duas horas depois, tendo concluído meu trabalho, sigo para o


estacionamento ansioso para vê-la, mas a cena que presencio no local me deixa
preocupado, tanto com minha irmã quanto com meu amigo.

Vejo de longe Lara encostada na parede enquanto Enrico mantém as duas


mãos fechadas em punho ao lado da sua cabeça, mantendo-a presa enquanto
claramente discutem. Lara está exaltada, posso sentir daqui a tensão; minha irmã
tem temperamento forte e Enrico nem se fala, juntos são como fogo e pólvora, só
espero que nenhum dos dois saia muito “queimado” no processo. Não sei se
devo interferir ou não, mas por precaução e não querendo invadir a privacidade
deles, me mantenho longe, embora atento para intervir caso seja preciso, mas o
que acontece a seguir me surpreende: vejo Enrico abaixar as mãos que
mantinham Lara cativa e virar de costas para ela, afastando-se. Ele passa as
mãos pelo cabelo em um gesto claro de nervoso, conheço bem o meu amigo para
perceber que ele está no limite, mas de repente, ele vira novamente de frente
para ela que já se desencostava da parede e a beija com possessividade. Lara
apoia as mãos em seu peito, como se quisesse afastá-lo, mas esse gesto de
“resistência” não dura mais que alguns segundos, vejo a bolsa dela cair no chão
e ela abraçar seu pescoço, puxando-o pra si. Sorrio para a cena, e sabendo que
não preciso me preocupar, que pelo menos dessa vez eles não irão se matar, sigo
para o carro, ansioso por chegar o quanto antes ao meu destino.
Capítulo 10

Kananda

Nos últimos dias que passei me recuperando do incidente, pude refletir


sobre minha vida. Desde que meus pais faleceram, me afundei em trabalho;
minha rotina era basicamente ir de casa para a farmácia e vice-versa.

Ter a presença constante de Eros foi como um bálsamo. Preocupado e


carinhoso, ele fez com que eu me sentisse importante para alguém, importante
para ele, coisa que já não sentia há muito tempo. Sei que é até depreciativo, mas
ultimamente vinha me sentido dispensável, essa era a palavra que me definia,
mas aos poucos ele tem conseguido mudar essa percepção. Eros é intenso
demais, tudo nesse homem exala poder, determinação, força e domínio; embora
eu perceba que ele tem tentado controlar seus instintos, sei que quando ele de
fato se permitir ser tudo o que ele é, será como um furacão passando na minha
vida, devastando o que tiver pela frente, e eu não me importarei de estar bem no
meio do desastre.

Releio as mensagens que acabamos de trocar e sorrio feliz. Resolvo tomar


um banho, separo um vestido leve, um pouco acima do joelho, coloco-o sobre a
cama e vou para o banheiro. Tomo meu banho e me seco, e quando termino
passo um óleo perfumado por todo o corpo. Não costumo usar muita maquiagem
no dia-a-dia, um lápis nos olhos e um batom já me satisfazem, mas como estou
em casa opto por passar apenas um gloss nos lábios.

Estando pronta para esperar por Eros, recosto-me na cabeceira da cama,


pego o meu Kindle, que tem sido ótimo companheiro nos últimos dias, e retomo
a leitura de onde parei. Essa noite eu quase não dormi, de tão envolvida que
estava com a história de Willian e Belinda. Esse livro, “Meu destino é você”, é o
segundo da série ‘Chances’, da Priscila Tigre, e desde o primeiro não consigo
parar de ler. William é um príncipe e tem me encantado a cada página, estou
louca para descobrir qual o segredo de Linda, então não perco tempo para
continuar desvendando essa história encantadora.

Por volta das 19h, Eros me manda mensagem falando que está na porta
me aguardando, levanto o mais rápido que consigo, pois minha perna ainda não
está 100%, e caminho ao seu encontro, o coração acelerado como das outras
vezes que o vi.

Lindo como sempre, penso enquanto o vejo de braços cruzados recostado


na porta do carro que estacionou na frente da casa de Ana; caminho em sua
direção com um imenso sorriso nos lábios.

— Boa noite, princesa. — Fala com a voz rouca enquanto me puxa para
si, dando-me um beijo de tirar o folego.

— Boa noite, príncipe. — respondo quando ele interrompe o beijo. Eu


nunca o havia chamado assim, e ele sorri divertido levantando uma das
sobrancelhas.

— Acho que estou mais para um ogro — completa sorrindo e eu nego


com a cabeça. — Vamos sair para comer alguma coisa? — convida. — Estou
faminto.

— Vamos sim, espera só eu pegar minha bolsa? É só um minuto. — Falo


e me afasto depois de deixar um selinho em seus lábios.

Com um sorriso bobo nos lábios vou para o quarto, pego minha bolsa,
confiro se os documentos estão dentro dela, calço uma sapatilha e volto em
direção ao homem que tem me feito um bem imenso nos últimos dias.

— O que você gosta de comer? — Eros pergunta quando entramos no


carro.

— Não tenho preferência — sorrio, porque realmente é verdade. Como


qualquer coisa que colocarem à minha frente. Durante a semana tento manter
uma alimentação mais saudável, ingerir menos gorduras, mas não passo vontade
de nada; gosto desde saladas até hambúrgueres de Fast Food. — Sou boa de boca
— completo me referindo à comida, mas o sorriso que vejo nos lábios de Eros
me faz perceber o duplo sentido da frase, e abaixo a cabeça um pouco
envergonhada.
Acredito que ele percebe meu embaraço, pois carinhosamente aperna
minha mão que descansava sobre minha perna.

— Então vamos de pizza? — pergunta.

— Ótimo! Sou apaixonada por massas. — Respondo um pouco mais


confortável.

Chegamos à Felicitá Pizzaria, e Eros, ao descer do carro, entrelaça nossos


dedos. Entramos no ambiente intimista e aconchegante e percebo que ele procura
uma mesa que tenha visão de todo ambiente, acredito que por causa do seu
trabalho ele esteja sempre alerta.

Após sentarmos o garçom nos trás um cardápio, escolhemos os sabores da


pizza e Eros pede um vinho para acompanhar; como ainda estou fazendo uso de
medicações, peço apenas um refrigerante para mim.

— Eros, obrigada por tudo que tem feito por mim — falo, porque eu
precisava agradecer. Ele tem sido gentil, presente, carinhoso e preocupado; ele
tem sido muito especial.

— Por nada, princesa — responde enquanto pega minha mão sobre a


mesa e acaricia com o polegar —, mas me conte: o que você queria falar
comigo?

— Amanhã vou voltar para minha casa — falo. — Eu já estou melhor, e


Amanda não me perturbou esses dias. Além disso, já estou há cinco dias na casa
da Ana, não quero incomodá-la ainda mais. Vou aproveitar o fim de semana para
retornar para casa e voltar a minha rotina.

— Eu entendo o seu ponto, mas Kananda, você quer me contar o que


houve entre vocês no hospital? Sei que não foi o que ela disse, e a sua “crise”
durante a noite só me comprovou o que já havia percebido. — Eros fala e eu
abaixo a cabeça, sem querer falar sobre o assunto, pelo menos não ainda.
Quando ele percebe que eu não vou falar, ele balança a cabeça em negação, olha
para os lados desviando o olhar do meu, demonstrando ter ficado chateado, mas
como tem sido desde que nos conhecemos, ele é compreensivo e respeita meu
silêncio. — Tudo bem, entendo que não queira falar, mas me prometa que se
perceber ou se acontecer qualquer coisa, você vai me ligar?
— Prometo. — Respondo apenas à última pergunta.

— Que horas você pretende ir? — Pergunta.

— Assim que eu acordar amanhã, por volta das 8h.

— Então esteja pronta que eu passarei para levá-la. — Fala sem me dar
margem para questioná-lo.

— Você não vai trabalhar? — Pergunto.

— Não, em regra não fico de plantão nos fins de semana, então estarei de
folga. Só estarei no departamento na segunda-feira.

— Então tudo bem — respondo. — Te espero amanhã para você me levar.

Nossa pizza chega e comemos enquanto conversamos sobre diversos


assuntos. Rimos muito enquanto ele me conta algumas das suas aventuras com
seu amigo Enrico, o delegado que me interrogou no hospital. Acabo de descobrir
que eles são amigos, e não apenas companheiros de trabalho; eles têm histórias
hilárias juntos. Nossa noite transcorre de maneira agradável, há muito tempo não
me divirto como hoje. Eros come fazendo jus ao seu tamanho; ele deve malhar
muito para manter o corpo sarado, porque nunca vi ninguém comer tanto em
minha vida - sorrio com o pensamento.

— O que foi? — Pergunta querendo saber o motivo do meu sorriso.

— Estou pensando para onde vai toda essa comida que você ingere. —
Conto rindo ainda mais. — Nunca vi ninguém comer tanto assim.

— Ah, princesa, acho que tem espaço suficiente para ela se distribuir no
meu corpo — fala gracejando e mostrando os músculos definidos dos braços.

— Com certeza, tenho que concordar; tem muito espaço. — Falo sorrindo

— Mas além do meu trabalho que exige muito do meu físico, eu malho
regularmente sim. — Informa.

— Percebi. — Completo e sorrio, ainda fazendo graça da quantidade que


ele comeu.
Quando olhamos para o relógio nos damos conta de quão rápido o tempo
passou; já passava das 23h e eu o chamei para irmos embora. O ruim de estar
hospedada na casa de alguém é isso: por mais que a pessoa esteja nos deixando o
mais confortável possível, nos preocupamos se estamos incomodando além do
necessário. Eu não queria chegar tarde e atrapalhar a rotina deles.

Após Eros pagar a conta, saímos novamente de mãos dadas e seguimos


em direção à casa da minha amiga. Quando paramos em frente ao portão, solto o
cinto de segurança e viro meu corpo em direção à Eros, que repete os meus
gestos.

— Tão linda. — Eros fala enquanto coloca uma mecha de cabelo atrás da
minha orelha, em seguida, me puxa para si e me beija com voracidade. Retribuo
na mesma intensidade, já que o desejo é recíproco.

Eros interrompe o beijo e cola as nossas testas, respirando pesadamente na


tentativa de controlar o desejo que posso perceber claramente quando olho para
o volume demarcado no seu jeans.

Não resisto e entrelaço seu pescoço com as mãos, trazendo-o para mim e
beijando-o novamente. Exijo com minha boca que ele sacie minha sede, que se
deixe levar pelas sensações; não quero que ele se controle, quero que ele se
perca. Ele segura meu corpo com possessividade, puxando-me para o seu colo,
abandona minha boca e desce beijando, chupando e mordendo meu pescoço.
Gemo desejosa por mais. Ele retorna para minha boca. Nos beijamos por mais
alguns minutos até que Eros, com um controle que eu não sei de onde veio,
afasta-se novamente com a respiração ainda mais pesada.

— Princesa, não faz isso comigo. Tenho te desejado desde a primeira vez
que te vi, mas te quero 100% recuperada. Eu não sou um homem delicado
quando me deixo sucumbir ao desejo, então prefiro esperar sua recuperação
completa a machucá-la quando a fizer minha. — Ele fala isso olhando nos meus
olhos, enquanto acaricia minha nuca com os dedos, e a sensação que me toma, o
desejo reprimido e a necessidade crua de tê-lo para mim, me faz gemer apenas
com os seus toques ali.

— Tu... tudo bem. — Finalmente consigo falar e, contra minha vontade,


fazendo um esforço imenso, saio do seu colo e retomo minha posição inicial no
banco do passageiro. Ele ainda me beija por mais alguns minutos, mas esses são
beijos mais controlados, beijos que fazem promessas para um momento que em
breve acontecerá e que os dois não podem estar mais ansiosos para que cheguem
quanto antes. Eros me acompanha até o portão, nos despedimos e eu agradeço
pela noite maravilhosa ao seu lado. Combinamos o horário que ele virá me
buscar pela manhã e, com um sorriso bobo nos lábios, finalmente entro na casa
de Ana e vou direto para o quarto arrumar meus poucos pertences.
Kananda

Acordo às 6h da manhã. Na verdade, mal consegui dormir, em parte por


não conseguir tirar Eros do meu pensamento, mas também por não saber como
será o retorno da minha convivência com Amanda. Embora eu não tenha
admitido para Eros por não ter me sentido confortável em explicar minha
situação com ela - até porque nem eu entendi direito o que aconteceu entre a
gente -, não consegui deixar de pensar em como será meu retorno para nossa
casa.

Tomo um banho e recolho o restante dos meus itens de higiene pessoal


que ainda estavam fora da mala, visto um short jeans e uma blusa branca básica
e vou para a cozinha para tomar café antes de sair. Encontro minha amiga
sentada à mesa, dou um beijo em sua testa e me sento ao seu lado.

— Nanda, tem certeza que quer ir embora? — Pergunta novamente,


embora eu já tenha explicado a ela meus motivos ontem durante o almoço. —
Você realmente não está incomodando, é um prazer tê-la aqui, amiga. —
Completa.

— Eu sei, Ana, e sou grata por tudo o que tem feito por mim, não só aqui,
mas na farmácia também, mas eu preciso voltar e enfrentar Amanda, não posso
fugir dela, afinal ela é minha irmã. Vai ficar tudo bem, eu prometo. — Falo
enquanto seguro sua mão sobre a mesa, demonstrando claramente o quanto estou
agradecida, e ela acena com a cabeça em concordância.

— Tudo bem, amiga, mas saiba que o seu cantinho nessa casa será sempre
garantido. Agora me conta: como foi o jantar ontem com o delegado gostosão?
— Sorri. — Vejo que as coisas estão mais sérias do que você quer demonstrar.
— Nesse momento seu marido entra sorridente no ambiente e a beija
apaixonadamente enquanto fico apenas observando a interação dos dois. Parece
que o sentimento entre eles é intenso e puro, e um dia, quem sabe, terei um
relacionamento desses para mim.

— Amor, estava falando agora com a Nanda que ela não está
incomodando, e ela já quer nos abandonar. — Ana fala para seu marido.

— É verdade, Kananda, você pode ficar pelo tempo que precisar. — Ele
diz solicito.

— Obrigada aos dois, de verdade, me senti como se estivesse em minha


própria casa esses dias, mas eu realmente preciso voltar para casa. — Informo e
minha amiga volta ao assunto Eros; ela está realmente curiosa.

Conto sobre o nosso jantar na pizzaria, mas claro que omito os beijos
desesperados, os amassos no carro e o desejo que sinto. Minha amiga sorri de
canto, percebendo que estou editando os fatos, ela me conhece demais para saber
que fomos além de um simples jantar. Sei que depois terei que contar para ela,
mas pelo menos agora, na presença do seu marido, ela não me faz nenhuma
pergunta constrangedora como é de costume, e agradeço silenciosamente por
isso.

—- Gostei do delegado, Kananda — o marido de Ana dá sua opinião. —


Nas vezes em que ele esteve aqui me pareceu bem preocupado com você;
aparentemente ele é uma boa pessoa.

— Está vendo, amiga? Até o Pedro percebeu como o delegado é ideal pra
você. Não perca tempo, sua boba, agarra logo esse boy e amarra ao pé da sua
cama. — A louca da Ana fala sorrindo e eu meneio com a cabeça, enquanto o
marido dela apenas sorri.

— Até parece que é simples assim. — Falo sorrindo quando meu celular
toca. Atendo rapidamente, pois é o Eros me ligando. Ele informa que já está na
porta me aguardando; com a conversa agradável que estava acontecendo ali na
mesa, nem vi o tempo passar.

Me despeço de Ana, Pedro e da linda da Alice, filha deles, com ela ainda
reiterando a disponibilidade da casa deles caso eu precise. Entro no carro de Eros
que, tão rápido quanto possível, me beija com voracidade.

— Passei a noite inteira desejando esse beijo. — Fala quando nos


afastamos.

— Eu também — respondo. Não posso mais negar o quanto também o


desejo, e ele sorri de canto para mim

— Você tem algo programado para hoje? — Eros pergunta.

— Por enquanto não. — Abro um sorriso.

— Então vou te propor algo: deixamos suas coisas em casa e saímos.


Confesso que não pensei em nada, mas isso não impede de programarmos
juntos; podemos ir a algum lugar que você queira, ou no cinema, o que você
acha? — Pergunta.

— Eu adoraria! — Respondo, realmente feliz em poder passar mais tempo


com ele. — Só preciso trocar essa roupa antes de sairmos. — Falo e ele
automaticamente desce os olhos para as minhas pernas expostas pelo short jeans
que visto.

— Tudo bem. — Ele fala, e posso perceber a rouquidão presente em sua


voz.

Eros para o carro na frente da minha casa e eu pego a chave na bolsa.


Enquanto ele pega minha mala no bagageiro me adianto para abrir a porta, mas a
cena que vejo na sala me paralisa. Passado o choque inicial, corro de volta para o
carro e recosto-me, estarrecida, com as mãos tremendo na frente da boca. Eros
percebe a situação e vem correndo em minha direção.

— O que houve, Kananda? — Pergunta e eu continuo paralisada, sem


qualquer reação. Ao perceber que não conseguirei falar, Eros segue em direção à
casa, sem sequer imaginar a cena que está prestes a presenciar.
Capítulo 11

Eros

Quinze minutos antes do horário combinado, chego para buscar Kananda


na casa da amiga. Desejo estar com essa mulher numa intensidade que me
assusta, e após beijá-la como desejei durante toda a noite seguimos em direção à
sua casa. Proponho passarmos o dia juntos e ela aceita, e, porra, isso me deixa
imensamente feliz.

Estaciono o carro na porta da sua casa, e enquanto pego sua mala no


bagageiro, vejo Kananda voltar correndo, assustada, e recostar-se no carro com a
mão na boca, em choque. Corro até ela imediatamente.

— O que houve, Kananda? — Pergunto preocupado. Ela não responde,


aparentemente está muito assustada. Imagino que tenha visto algo que a deixou
assim, então sigo em direção à casa que ainda está com a porta aberta.

A cena que vejo me deixa perplexo, não por eu achar que é uma coisa de
outro mundo - até porque eu já participei de um ménage, já estive com duas
mulheres ao mesmo tempo -, mas não na sala da casa da minha família, não
exposto para quem quisesse ver.

Amanda está no sofá, encaixada sobre o mesmo cara que estava com ela
no hospital, subindo e descendo no seu pau enquanto outro rapaz em pé fode seu
rabo. Ela geme alto, desesperada, demonstrando muito tesão pelos dois, até que
desvia seu olhar para a porta e me vê, então sorri maliciosa.

— Quer participar também? Você é o "amigo" da Kananda não é? Ainda


tem espaço para você na minha boca. — Ela faz o convite enquanto recebe um
forte tapa no rosto do cara que fode sua boceta. “Pode vir, aceita o convite. Ela é
PUTA mesmo. Põe pra mamar que ela gosta muito de babar pica dura de
macho", o que comia seu rabo falou e ela gemeu insinuando que gozaria.
Dei as costas batendo com força a porta atrás de mim. Puta.Que.Pariu!
Vou até Kananda imaginando o quanto ela deve ter ficado constrangida com a
cena que presenciou. Para mim isso é normal, em outra circunstância talvez eu
aceitasse o convite, porém, na circunstancia atual, sequer fiquei excitado. Estou
pensando apenas em Kananda, preocupado com ela, pois imagino que ela não
esteja acostumada a esse tipo de coisa.

— Vamos embora. — Digo abrindo a porta do carro para que ela possa
entrar novamente. Em silêncio ela faz o que eu peço, e eu contorno o veículo,
assumindo a direção puto de raiva.

— Eros, o que eu vi... O que você viu, eu não sei o que dizer. — Ela fala
claramente envergonhada pela atitude da irmã.

— Tudo bem, não tem problema. — Falo e aperto sua mão, tentando
confortá-la e controlar minha raiva, para que ela não perceba o quanto estou
puto.

— Vamos dar uma volta e depois você me deixa em casa. — Ela fala com
a cabeça baixa.

— De forma alguma você vai voltar para aquela casa, Kananda. Não há a
menor possibilidade de eu deixar que se exponha àquela situação. — Falo,
porque realmente eu não a deixarei vulnerável dessa forma. Será que a irmã a
viu chegar? Será que propôs que ela se juntasse a eles como fez comigo? Só de
pensar nessa possibilidade quero estourar os miolos de alguém. Aperto o volante
do carro com ódio, mas tentando me controlar para que ela não perceba o quão
afetado estou.

No meu trabalho aprendi a lidar com pessoas detestáveis o tempo inteiro:


ladrões, estupradores, assassinos, dentre outros, que me fizeram treinado para
perceber quando pessoas são ruins, más por essência, e a sua irmã e aquele cara
que estava com ela não me inspiram coisa boa. Posso estar enganado, mas
duvido muito, raramente o meu instinto erra.

— Mas... — ela começa e eu interrompo:

— Você vai para minha casa. Moro sozinho e tenho um quarto de


hóspedes que não uso, e caso você não se sinta confortável com minha presença,
posso ir para a casa da minha irmã, ou do Enrico, passar alguns dias. Com
certeza não seria problema para nenhum deles me receber. — Falo de forma que
ela entenda que não há outra opção, embora eu queira estar próximo a ela para o
caso dela precisar de ajuda. — Você fica lá pelo tempo que achar necessário ou
até que consiga um apartamento ou uma casa para você ficar, mas pelo amor de
Deus, não seja negligente consigo mesma. Embora eu tenha lhe dado espaço
para falar quando você se sentisse à vontade, continuo sem saber o que houve
entre vocês naquele dia do hospital, mas você sabe o que aconteceu de fato,
então não minimize o risco da situação, que eu imagino que seja séria.

Vejo quando ela abaixa a cabeça e uma lágrima solitária escorre pelo seu
lindo rosto, maculando sua pele, e isso só intensifica o furacão que vem se
formando dentro de mim.

— Eu sei. — Ela finalmente fala depois de um tempo em silêncio. — Tem


algo sério acontecendo com Amanda e eu não faço ideia do que possa ser. Ela
nunca foi fácil de lidar, mas nunca foi dessa forma que está, Eros. Desde que os
nossos pais faleceram a nossa relação ficou ainda mais complicada, eu tentei a
todo custo me aproximar, mas ela não me dá espaço. — Respira fundo, acho que
finalmente resolveu desabafar comigo. Enquanto paro no sinal, aperto a sua mão
em sinal de apoio, porque as lágrimas caem involuntárias dos seus olhos.

— Já estamos chegando em casa, princesa, respira um pouco. Quando


chegarmos lá conversamos. — Falo para que ela se acalme, e ela simplesmente
acena com a cabeça, silenciando em seguida.

Quando chegamos ao meu apartamento, pego sua mala e subimos pelo


elevador. Kananda se manteve em silêncio desde aquele momento no carro.
Entramos e minha primeira providência é deixa-la confortável na sala. Sigo com
sua mala em direção ao quarto de hóspedes onde ela ficará esses dias; na volta
passo pela cozinha, pego um copo de água para ela e me sento ao seu lado no
sofá.

— Eros, eu não sei nem como começar a agradecer tudo o que tem feito
por mim. — Fala com a voz embargada pelo choro.

— Não precisa, só fica bem — respondo. — Agora, por favor, me conta o


que há entre vocês.

Vejo Kananda respirar profundamente, e enfim começa a falar comigo


sobre o que está acontecendo entre ela e a irmã.
— Eros... - respira fundo antes de começar a falar - Nada, nenhuma das
suposições que fiz em minha mente, justificam as atitudes de Amanda. Desde
pequenas nós nunca fomos muito amigas, apesar da pouca diferença de idade;
Amanda sempre teve personalidade difícil. Ela fazia algumas pequenas maldades
comigo, e sempre dava um jeito de fazer nossas babás serem demitidas, ela
inventava histórias e, por ser criança, meus pais acreditavam, até que colocaram
uma câmera em casa e descobriram que, na verdade, ela inventava tudo que
contava para eles, inclusive sobre mim.

Estou tenso ao seu lado. Kananda faz uma pausa para respirar e sinto-a se
perder em pensamentos, como se voltasse ao passado.

— Amanda sempre me disse que queria ser filha única, que o amor dos
meus pais deveria ser apenas dela e não dividido como eles diziam que era. Ela,
apesar de ser mais nova, sempre me maltratava, me batia, mas quando ela
começou a crescer, eu comecei a revidar tudo que ela fazia comigo, eu
“devolvia”, e assim nós fomos crescendo e nos distanciando cada vez mais. —
Ela conta com algumas lágrimas escorrendo por seu lindo rosto.

— Quando ainda éramos crianças ela cortou os meus cabelos, foi com isso
que sonhei naquele dia no hospital. — Kananda conta sobre o episódio que a fez
ter pesadelos quando ainda estava internada e eu começo a imaginar que sua
irmã deve ter algum tipo de transtorno de personalidade, e isso me preocupa
ainda mais.

— Na adolescência as brigas foram reduzindo, acredito que pelo fato de


termos nos distanciado nessa fase; nossos ciclos de amizades não eram os
mesmos... — Kananda respira pesadamente antes de continuar. — Nossos pais
sempre nos estimularam a estudar, mas Amanda nunca quis fazer faculdade,
diferente de mim que, com 20 anos, ingressei no curso de Administração.
Durante o curso conheci o Marcelo, que era um colega de turma. Começamos a
namorar, e quando ele começou a frequentar a nossa casa, como meu namorado,
Amanda começou a se reaproximar de mim. Durante um ano nós conseguimos
ter a aproximação que não tivemos durante toda vida e eu agradecia muito ao
Marcelo, porque ele foi o intermediador da nossa reaproximação, e embora nós
tivéssemos nossas diferenças eu a amava porque ela é minha irmã, não tinha
como ser diferente. — Ela ergue o olhar, como se as lembranças fossem
dolorosas demais, e eu continuo no meu papel de ouvinte, porque sei que é o que
ela precisa nesse momento.
— No último ano de faculdade, Marcelo me pediu em casamento, então
ficamos noivos. Eu sempre disse que não seria aquela mulher que ficaria noiva
por anos a fio e ele sabia disso, porque em diversos momentos, entre conversas e
brincadeiras, eu havia falado isso, então tinha certeza de que em breve estaria
casada. Marcelo era bom para mim, compreensivo, nessa época eu já ajudava
meus pais na farmácia e ele entendia minha ausência em alguns momentos.
Estava tudo perfeito, o casamento já começava a ser organizado, Amanda tinha
se tornado presente em minha vida, solícita, sempre disposta a ajudar, inclusive
me auxiliando nos preparativos do casamento. — Ela para e bebe água,
buscando manter a tranquilidade.

— Quando finalmente concluímos o curso, eu comecei a trabalhar na


farmácia em tempo integral. O casamento estava com data marcada, a igreja
reservada, tudo já havia sido encomendado, enfim, minha vida caminhava rumo
ao que sempre quis e eu não podia estar mais feliz, até o dia em que Amanda me
ligou pedindo que eu fosse para casa uma hora mais cedo, pois ela não estava se
sentindo muito bem. Pediu que eu não avisasse aos nossos pais para que eles não
se preocupassem, e eu, boba como sempre, fiz exatamente o que ela pediu. — As
lágrimas deslizam com ainda mais intensidade pelo seu rosto. — Quando
cheguei em casa fui direto para o quarto de Amanda, preocupada com ela, a
encontrei montada sobre o homem que eu ia casar. Marcelo gemia por ela, como
nunca havia feito por mim. Nosso sexo era bom, mas o prazer que ele
demonstrava naquele momento era bem mais intenso do que sempre fora
comigo. Amanda olhou para mim e sorriu, eu não fiz nada, apenas bati a porta e
saí de casa. Não atendi nenhuma das ligações do Marcelo, não fiz o escândalo
que acredito que ela esperava... Se eu fiquei triste? É claro que sim, afinal,
naquele momento eu perdi o homem que, até então, tinha escolhido para ser o
companheiro da minha vida, o homem que seria, no futuro, pai dos meus filhos.
Entrei na primeira igreja que encontrei, embora não tivesse uma rotina assídua
na igreja, sempre fui temente, e naquele momento foi a melhor coisa que fiz,
porque entendi que havia sido um livramento; Deus tinha me livrado da vida de
enganos que passaria ao lado de Marcelo e, contrariando as expectativas, eu
fiquei, na medida do possível, bem. — Completou olhando para mim.

— Quer parar um pouco? — Perguntei percebendo que ela estava abalada


com o recente desabafo.

— Não, está tudo bem. — Ela respira fundo e continua: — Eu não atendi
nenhuma das ligações do Marcelo, não precisava ouvir as desculpas que ele iria
inventar para mim. Desfiz todos os preparativos, contei para os meus pais
superficialmente o que havia acontecido e o porquê de ter acabado com o
noivado praticamente às vésperas do casamento. Eu e Amanda não nos falamos
mais desde então, até a morte dos meus pais, quando começamos a falar apenas
o necessário. Na verdade, ela só se dirige a mim quando quer dinheiro, já que eu
continuo administrando a farmácia que herdamos.

— E o que aconteceu àquele dia no hospital? — Quero entender o que


realmente aconteceu, estou intrigado desde aquele dia com a situação que
presenciei, e quando ela me conta eu fico puto de raiva, levanto nervoso,
passando as mãos pelos cabelos, com as mãos fechadas em punho ao lado do
meu corpo.

— Eros. — Kananda chama e me volto em sua direção. — Eu sei que


deveria ter te contado, até porque você é delegado e ela me ameaçou, mas eu
realmente fiquei com medo, estava vulnerável ali no hospital, e eu não sei do que
Amanda é capaz.

Caminho em sua direção, volto a sentar ao seu lado e acaricio seu rosto
lindo: — Tudo bem, não se sinta culpada — falo —, mas, por favor, não volte
para aquela casa — peço. — Amanda pode ser mais perigosa do que você
imagina. — E, sem que eu esteja esperando, ela praticamente pula no meu colo,
me abraçando apertado em busca de consolo e conforto. Eu correspondo com
tudo de mim, deixando-a extravasar em lágrimas sobre o meu peito todo o seu
medo, frustração e insegurança.
Capítulo 12

Kananda

Não sei em que momento eu me joguei nos braços de Eros, mas é onde me
encontro até agora, quando saio do surto de choro em que estava. Ele ainda
mantém os braços protetoramente em volta de mim e acaricia meu cabelo. Aos
poucos levanto a cabeça e encaro seus olhos, que demonstram mais emoções do
que sou capaz de identificar.

— Acho que já está ficando chato o tanto que eu te agradeço — falo


sorrindo discretamente —, mas é a única coisa que posso fazer.

— Não por isso, princesa. — Ele fala com um sorriso lindo. — Agora,
vamos conhecer o lugar que você ficará pelo tempo que achar necessário. —
Frisa a última parte para que fique claro para mim a sua disponibilidade em me
ajudar.

— Não quero tirar sua privacidade, Eros — falo de coração, pois


realmente não quero incomodar. — Eu posso procurar um lugar temporário até
achar algum definitivo.

— Você não incomodará. — Ele responde levantando-se do sofá e


estendendo a mão para me conduzir ao que imagino ser o quarto de hóspedes.

Estendo minha mão de volta, aceitando a dele, e só agora começo a prestar


atenção em seu apartamento, que é muito lindo por sinal. Marrom e preto são as
cores predominantes no ambiente, e embora a paleta de cores seja escura, não é
um ambiente pesado, existe um equilíbrio, e combina perfeitamente com o dono.
Eros me conduz e vai apresentando os demais espaços: a cozinha americana
possui um balcãozinho encantador com uma interessante roda na base, que
demonstra o cuidado dos decoradores com os mínimos detalhes, todos os
eletrodomésticos são inox, harmonizando perfeitamente com a decoração. Ele
faz questão de apresentar seu quarto, e é tão lindo quanto os demais cômodos.
Os tons de preto ainda predominam nos móveis, na parede atrás da sua cama há
um papel de parede cinza que deixa o ambiente intimista, há também um closet e
um banheiro impecavelmente organizados, assim como o resto da casa, mas o
que me prende nesse ambiente é o cheiro dele: todo o quarto traduz sua
personalidade, mas seu perfume parece impregnado até nas paredes, e eu fico
com vontade de não sair mais daqui, não me afastar desse cheiro que me fascina,
acalma, enlouquece e enfeitiça, me faz até esquecer os problemas que estou
passando.

— Eros, o seu apartamento é lindo! — Sou sincera no elogio.

— Que bom que gostou, espero que se sinta à vontade. — Responde. —


Agora vamos — estende a mão para mim —, venha conhecer o seu quarto. —
Ele frisa o seu e sei que essa é uma tentativa de me fazer sentir acolhida, de fazer
com que eu sinta que pertenço a este lugar. O que ele não sabe é que não precisa
se esforçar para isso, porque eu já me sinto realmente “em casa”.

— Vamos. — Respondo sem questionar e acho que ele se surpreende, pois


esperava que negasse sua ajuda novamente.

O quarto de hóspedes que, inclusive, já está com a minha mala ao lado da


cama é tão lindo quanto o resto do ambiente, mas é o mais diferente de todos.
Aqui predominam os tons claros. O marrom ainda se faz presente, ligando esse
ambiente aos demais, porém em menor quantidade. Ele me conduz ao closet e
também me mostra o banheiro.

— Princesa, fique à vontade para se organizar aqui como preferir,


inclusive, se quiser mudar algo também; mantenho esse quarto para minha irmã
ou Enrico que às vezes dormem por aqui, mas agora ele é seu. — Fala enquanto
carinhosamente acaricia meu rosto, mantendo nossos olhares conectados.

— Eros, sei que estou sendo repetitiva, mas não tenho como agradecer.
Prometo que minha estadia será breve, na segunda-feira já começo a procurar
um lugar para mim. — Informo colocando minha mão sobre a sua.

— Agora, que tal esquecer tudo o que aconteceu e voltar à nossa


programação inicial? — Pergunta com um sorriso matador no rosto.

— Claro! — Respondo. — Embora nós não tenhamos concluído a


programação, apenas combinado de passar o dia juntos. — Coloco o dedo na
boca e olho para o alto como se estivesse pensando. — Nossa "programação" irá
se estender para além desse dia, durará, no mínimo, o restante do final de
semana.

— Você não imagina o quanto eu fico feliz por isso princesa, você
realmente não faz ideia. — Eros fala e me beija, e Deus do céu, eu não quero
mais sair desse quarto, ou melhor, quero agarrá-lo e levá-lo para a cama, mas
Eros não parece o tipo de homem que deixa se dominar, principalmente quando
diz respeito ao sexo, e eu estou louquinha para descobrir porque, se com beijos
ele consegue me conduzir às nuvens, transar com ele deve me levar ao paraíso...
Mas, infelizmente, mais rápido do que eu gostaria, ele desfaz nosso contato.
Eros

Embora o que eu mais queira nesse momento seja aprofundar nosso beijo,
tirar nossas roupas e poder venerar o corpo de Kananda como ela merece, me
obrigo a me afastar: preciso alimentá-la antes de tomá-la para mim. Sei, pelo
andar da carruagem, que será impossível resistir à química que existe entre nós -
não que eu quisesse resistir a ela.

Desde o primeiro momento, me fiz presente porque eu senti uma ligação


intensa entre nós, e o que aconteceu hoje pela manhã junto com a necessidade de
nos aproximarmos, só irá acelerar o processo. Ainda hoje a terei em minha cama,
com toda certeza, e isso não é prepotência minha, é apenas a constatação de um
desejo que é inegavelmente mútuo.

— Então vamos tomar um café enquanto decidimos o que faremos o


restante do final de semana. — Dou a ela a opção de escolha, mas o que eu
realmente quero é ficar trancado nesse apartamento com ela, fodendo como
loucos, até saciar todo o desejo que sinto por essa mulher.

— Vamos. — Ela responde, e percebo sua voz cheia de desejo, refletindo


claramente o meu.

Quando chegamos à cozinha, pego no armário o pote em que guardo as


cápsulas de café para que ela escolha. Ela escolhe um cappuccino e me entrega;
escolho o mesmo e coloco as xícaras e as cápsulas na máquina enquanto sento
em uma banqueta ao seu lado.

— Então, princesa, o que você quer fazer? — Pergunto

— O que você ia sugerir antes de tudo acontecer? — Devolve a pergunta

— Ia convidá-la para irmos ao shopping. Poderíamos almoçar lá, ir ao


cinema; esse era meu plano inicial, mas aceito sugestões — respondo.

— O seu plano está ótimo para mim. — Kananda fala enquanto lhe
entrego sua xícara de cappuccino. — Só preciso tomar um banho rápido e trocar
de roupa.

— Tudo bem, vou fazer o mesmo então.

Quando termina, Kananda segue em direção a pia para lavar as xícaras


que havíamos sujado.

— Êpa, não precisa lavar, princesa.

— Claro que precisa. — Responde sem parar de fazer o que já havia


começado. — Se está achando que vou ficar aqui como uma parasita sem fazer
nada, está muito enganado delegado.

Levanto minhas mãos em sinal de rendição: — Ok, não está mais aqui
quem falou — completo sorrindo, e recosto-me no balcão para aguardar que ela
termine a tarefa. Ela lava a louça com tanta concentração, que sou incapaz de
controlar minha excitação ao imaginá-la debruçada sobre esse mesmo balcão
enquanto a penetro por trás com força.

— Prontinho. — Ela me tira dos meus devaneios. — Vamos para o banho


agora. — Ela fala e logo em seguida ruboriza, percebendo o sentido duplo da
frase. — É... Quer dizer, vamos tomar banho. — Continua se enrolando sozinha
com as palavras. — Ah, Eros, você entendeu! — Tenta contornar enquanto rio
do seu embaraço, então me dá as costas, seguindo em direção ao seu quarto.
Apresso o passo e a abraço por trás, deixando que ela sinta minha ereção.

— Claro, vamos para o banho princesa — sussurro em seu ouvido e


deposito um beijo na curva suave do seu pescoço.
Kananda

Senti meu rosto pegar fogo quando falei a frase com duplo sentido. Não
foi intencional, mas quando ele me abraçou por trás, pude constatar quão grande
era sua excitação. Tenho certeza que se eu tivesse me deixado levar pelas suas
palavras, tão dúbias quanto as minhas, e pelo seu beijo delicioso em meu
pescoço, teríamos nos rendido ali mesmo. Mas covarde como sou, e ainda
envergonhada pela situação anterior, corri em direção ao quarto e fechei a porta,
deixando ele do lado de fora. Agora estou aqui, excitada como nunca estive
antes, desejosa por ele e sem coragem de trazê-lo aqui para dentro, reivindicá-lo
como meu e obrigá-lo a matar toda essa vontade dentro de mim.

Era isso o que eu queria fazer, mas acabo colocando o chuveiro na opção
gelada e tomando um banho para, pelo menos, tentar aplacar o desejo que estou
sentindo. Resolvo lavar os cabelos, porque a água só no corpo não será capaz de
me acalmar.

Visto uma saia jeans, uma blusa preta de alcinhas um pouco folgada no
corpo e opto por calçar um tênis branco, pego uma bolsa e vou para a sala onde o
encontro me esperando, e quase paraliso quando o vejo: o homem parece ficar
ainda mais lindo a cada vez que o olho! Meu Deus, será possível isso?

— Você está linda, Kananda. — Ele fala enquanto varre meu corpo com
os olhos famintos. — Essa sua saia foi comprada a prestação? Porque acho que
você só recebeu uma parte dela. — Ele diz e eu quase reviro os olhos com a
demonstração de possessividade precoce dele, seria ciúme talvez?

— Na verdade foi sim, inclusive, acho que recebi parcelas demais dela —
respondo olhando o cumprimento da peça. Quando subo os olhos, o vejo abaixar
a cabeça e sorrir, balançando-a de um lado para outro em negação. — Vamos? –
pergunto.

— Desculpe. Tudo bem, vamos sim. — Ele fala e se levanta, e vejo


quando ele coloca discretamente sua arma na cintura. Esse gesto me deixa ainda
mais desejosa dele; esse homem ainda vai me enlouquecer de tanto desejo.

Vamos para um shopping que fica próximo à sua casa. Como já chegamos
por volta das 13h30, sentamos para almoçar em um restaurante japonês que há
no local. Não sei se ele costuma frequentar esse shopping, mas eu já vim
algumas vezes e adoro esse restaurante.

— Você vem sempre aqui? – pergunto, e parece aquele tipo de cantada


barata, mas eu realmente quero saber quais as possibilidades de termos estado no
mesmo lugar anteriormente.

— Às vezes. — Ele responde. — Nos fins de semana costumo vir almoçar


aqui. E você, já tinha vindo aqui?
— Sim, eu adoro esse restaurante. — Respondo enquanto uma garçonete
sorridente se aproxima da mesa e se direciona a ele com o cardápio. — Você
poderia, por favor, trazer um cardápio para mim também? — peço educada, mas
a intenção na realidade é me fazer ser notada, porque aparentemente a mulher só
enxergou Eros na mesa.

— Oh, sim, claro... — Ela responde demonstrando um pouco de


constrangimento pela gafe cometida. Aceno com a cabeça e quando olho para
Eros percebo o sorrisinho de canto, mas faço a egípcia, fingindo que nada
aconteceu.

A mulher volta com o cardápio, me entrega e se retira, mas não sem antes
dar uma “conferida” no gostoso sentado à minha frente. Não posso julgá-la,
afinal: quem é capaz de resistir a esse homem? Lindo, gostoso, educado, estiloso
e cheiroso, Eros é a formula perfeita da perdição. Vestindo uma bermuda jeans
clara, uma camiseta azul marinho que se molda ao seu corpo definido,
desenhando cada músculo que possui, e um sapatênis branco... completando o
visual, ele colocou os óculos na gola da camiseta, mas enquanto vínhamos no
carro quase entrei em combustão: os óculos modelo aviador o deixam ainda mais
sexy. Ele é definitivamente um pecado ambulante.

Nosso almoço é servido e aproveitamos para nos conhecermos mais.


Engatamos algumas conversas divertidas que fazem o tempo passar voando sem
que a gente perceba. Quando acabamos, passeamos pelo shopping de mãos
dadas, como se fossemos de fato um casal de namorados, e é impossível não
notar os olhares de desejo que as mulheres direcionam a ele.

Aproveito para comprar algumas coisas que estou precisando. Já faz um


tempo que não saio para “passear” no shopping, sempre que venho é para
almoçar e um tanto quanto corrido, então sair da rotina está sendo maravilhoso
para mim; quase não me lembrei do que havia acontecido pela manhã, ele tem o
dom de me tranquilizar.

Na hora em que nos direcionamos para o cinema e vimos os filmes em


cartaz começou o nosso dilema: eu queria assistir uma comédia romântica e ele
um filme de ação. Ficamos tentando convencer um ao outro sobre qual opção
seria melhor e, por fim, ele resolveu assistir ao que eu queria. No final das contas
não fez diferença qual escolhemos, pois passamos o filme quase todo nos
agarrando como dois adolescentes. Nosso amasso estava tão intenso que um dos
funcionários do cinema direcionou a "lanterninha" para nós em sinal de alerta.
Até tentei controlar Eros, mas como seria possível se eu mesma estava
descontrolada de desejo?

Após o final do filme, nos dirigimos ao estacionamento entre risos e


gargalhadas, conversando sobre parecermos dois adolescentes; não posso negar
que estou encantada por ele, e há muito tempo eu não me sentia dessa forma.

Quando chegamos ao carro, Eros me pressiona na porta e me rouba um


beijo, que começa na boca e desce pelo meu pescoço, me causando arrepios.
Quando estou arfando, me pressionando contra ele, abre um sorrisinho de canto,
que o deixa com uma carinha de safado e abre a porta fazendo um gesto
exagerado, mostrando o perfeito cavalheiro que ele é.

— Sua carruagem está pronta, princesa. — Ele me chama pelo apelido


que já pegou e eu retribuo, pegando as laterais imaginárias da minha saia da
princesa e abaixando-me para cumprimentá-lo. Eros dá a volta e assume seu
lugar ao volante. Estou terminando de prender o cinto de segurança quando ele
me dá um selinho.

— Para casa agora? – pergunto a Eros.

— Com toda certeza. — Ele responde com a voz rouca de desejo,


visivelmente excitado e ansioso para estarmos a sós.
Capítulo 13

Eros

Essa mulher ainda vai me enlouquecer, tenho certeza disso. Ela é uma
mistura de inocente e atrevida que me deixa sem saber ao certo como agir.
Quando ela saiu do quarto para irmos para o shopping, não sei o que deu em
mim para falar sobre o tamanho da sua saia, só sei que quando admirei todo o
seu corpo não pude deixar de imaginar que todos os homens que estivessem
naquele fodido shopping também a olhariam e desejariam com a mesma
intensidade que eu, mas ela me respondeu à altura, mostrando quão dona de si
ela é. Minha vontade naquele momento era dobrá-la sob mim e tomá-la como
minha, mas tudo tem seu tempo, e aprendi com a minha profissão a ser prudente,
esperar o momento certo de agir, e esse não era o momento... ainda.

Não consegui me controlar quando entramos no cinema que, felizmente,


estava praticamente vazio. Na última fila só tínhamos nós dois, e entre beijos e
carícias, aos poucos Kananda foi se rendendo ao desejo, se rendendo a mim. É
lógico que eu não a iria expor, de forma alguma, mas ela se mostrou incapaz de
resistir aos meus toques, as minhas carícias.

Agradeci à “saia parcelada” que ela vestia, que me permitiu acariciá-la


mais intimamente sem mostrar para os outros o quanto eu estava avançando o
sinal. Não conseguimos assistir nenhuma cena da porra do filme; se me
perguntassem agora, eu nem saberia dizer o nome do bendito, tudo o que eu
ouvia eram os seus gemidos contidos e por vezes abafados pela minha boca.
Quando avancei, literalmente, o sinal e coloquei a mão no meio das suas coxas,
Kananda deu um gemido mais alto que nem a minha boca sobre a sua foi capaz
de conter. O “lanterninha” do cinema nos iluminou em alerta, o que nos fez rir
muito, mas não diminuiu em nada o tesão e o desejo que sentíamos.

Em um gesto mais ousado, continuei acariciando a parte interna das suas


coxas e aos poucos fui entrando mais, até tocar sua boceta por cima da calcinha.
Senti Kananda abrir um pouco mais as pernas, dando-me livre acesso, e quase a
arrastei do cinema naquele momento; precisei de muito autocontrole para não
fazer isso. Quando fui tirando a mão, a minha princesa atrevida fechou as pernas,
mantendo-a exatamente aonde estava, mostrando que ela desejava aquilo tanto
quanto eu e me deixando a ponto de explodir dentro da calça. Como seu servo,
estando aqui apenas para satisfazer seus desejos, contornei sua calcinha e fiz um
pouco de pressão com os dedos sobre o seu clitóris inchado de tesão, enquanto
ela apalpava todo o meu abdome e braços, trazendo-me ainda mais para si.
Nossas carícias estavam tão intensas e gostosas que só percebemos que o filme
havia acabado quando alguns apressadinhos começaram a sair da sala.

Agora, a caminho de casa, só consigo pensar que poderia ter escolhido um


lugar mais perto, cujo trajeto não foge tão longo. Olho de lado e vejo-a
mordendo a boca, desejosa, apertando suas pernas uma na outra, buscando um
alívio que não alcançará, não sem mim, não até que eu esteja todo enterrado em
sua boceta.

Estaciono na garagem do prédio e ela, aparentemente tão ansiosa quanto


eu, desce imediatamente, me encontrando na frente do carro. Seguimos para o
elevador de mãos dadas, ansiosos para estarmos logo a sós. Quando vejo que
estamos sozinhos no elevador, pressiono-a contra a parede, em um amasso que
nos tira o fôlego. Não vou avançar o sinal, não aqui, sabendo que as câmeras
podem nos gravar, mas não resisto a beijá-la, e é o que faço com toda voracidade
e desejo que possuo.

A porta do elevador se abre no meu andar e saímos desesperados. Abro a


porta de casa e dou espaço para que ela entre, e quando ela o faz passo
imediatamente para dentro em seu encalço. Vejo sua intenção de ir para o quarto,
mas a puxo de volta, prendendo-a contra a porta. Estou quase explodindo de
desejo, não quero esperar até o quarto para fazer o que tive vontade no cinema.
Beijo-a com desejo, descendo pelo seu pescoço cheiroso até o seu colo. Ela
geme enquanto vou descendo a boca por sua pele e abaixando a alça fina da sua
blusa no processo. Finalmente tenho acesso ao meu mais recente desejo: os seus
seios. Quando finalmente os tenho livres diante de mim, a minha disposição,
perco o último fio de controle que vinha mantendo até aqui. Olho uma última
vez para o seu rosto contorcido de prazer e abocanho seus seios. Não me
contento em chupar apenas um deles junto-os e me delicio voracidade,
alternando entre um e outro, sugando com tudo que posso.
— Eros... — Ela geme meu nome. — Por favor... — Suplica sem
conseguir completar a frase, tomada pelo desejo.

— O que você quer, princesa? — provoco.

— Você, Eros, preciso de você agora.

Suspendo-a e ela envolve suas pernas na minha cintura. Sua saia facilita o
processo, mas não iria tomá-la ali, pelo menos não dessa vez, não na primeira
vez; Kananda é especial, merece que eu a venere, que eu a faça minha de uma
forma tão intensa que ela será incapaz de esquecer. Entro no meu quarto e a
deposito sobre a cama.

— Linda, tão linda, Kananda... — falo enquanto distribuo beijos em seu


rosto e pescoço. — Agora eu vou te fazer minha, e depois disso não haverá mais
volta para nós. Está certa de que é isso que você quer? — pergunto enquanto
começo a retirar sua blusa.

— Sim Eros, é isso que eu quero. Eu te quero como jamais desejei alguém
nessa vida. — Ela reponde, rompendo o último resquício de sanidade que ainda
me prendia.

— Só me fale seu eu for demais pra você, se eu estiver sendo intenso ou


duro demais; eu perco o controle ao seu lado, princesa — suplico porque é a
verdade, meu desejo por ela é tão intenso que tenho medo de não conseguir me
segurar e acabar machucando-a.

— Vem, Eros, me dê tudo de si, é isso que eu quero e tenho certeza que
você não vai me machucar. — Ela fala.

Tiro minha arma da cintura e a coloco na gaveta do criado mudo que fica
ao lado da cama. Termino de despi-la hipnotizado por tamanha beleza. Ela é
linda demais, os seios médios, a cintura fina, a pele branquinha sem uma marca
sequer. Sua boceta depilada me convida e eu me ajoelho, me rendo totalmente a
ela; sou seu servo de bom grado. Eu a devoro com uma fome que nunca havia
sentido, passo a língua por toda extensão da sua boceta, de cima a baixo,
enquanto ela geme pedindo por mais. Estendo uma mão até os seus seios
entumecidos enquanto uso a outra para abri-la para mim. Sua boceta escorre de
desejo e eu que não estou muito diferente. Beijo-a inteira, sugo com força,
prendo seu clitóris entre os dentes fazendo uma leve pressão e ela perde o
controle.

— Eros, eu vou gozar. — Ela avisa, e eu intensifico os movimentos com a


boca. Coloco apenas a ponta do meu dedo em sua entrada apertada e a sinto
contrair; isso me enlouquece. Aos poucos vou invadindo-a com os dedos,
sentido o quão apertada ela é, e decido que é melhor deixá-la gozar antes de
penetrá-la, pois posso machucá-la com meu tamanho. Kananda goza chamando o
meu nome, seu corpo todo tremendo com os espasmos pós-orgasmo. Eu me ergo
satisfeito e começo a me despir para ela.
Kananda

Deus do céu, o que foi isso que aconteceu aqui? Nunca tive um orgasmo
tão intenso. Ainda estou tendo espasmos na cama quando vejo Eros se levantar e
começar a tirar sua roupa assim como fez com a minha, e paraliso diante da
visão do seu corpo nu, de pé diante de mim em todo o seu esplendor. Ele se
masturba sem desviar o olhar do meu, abre a gaveta ao lado da cama e pega um
preservativo que logo desenrola por toda sua extensão, o que me faz desejar
chupá-lo. Controlo esse desejo porque preciso dele dentro de mim, preciso senti-
lo me invadir, sei que, assim como foi com o sexo oral que ele me proporcionou
agora, a sensação de tê-lo me preenchendo por completo será única e
indescritível.

— Está pronta, princesa? — Pergunta com a voz tomada pelo desejo.

— Como nunca estive antes. — Mal respondo e ele vem para cima de
mim, voltando a me beijar com intensidade, deixando-me sentir o meu gosto em
seus lábios, e principalmente, me fazendo sentir o fogo do seu corpo sobre o
meu, o calor que emana dos nossos corpos. Me rendo completamente a ele. Num
breve momento de lucidez, eu percebo que estou perdida, e que na verdade eu
precisava muito disso, de alguém ao meu lado, alguém que me fizesse voltar a
viver, e não apenas existir, como estava acontecendo desde que meus pais
faleceram.

— Eu preciso estar dentro de você, princesa. — Eros fala enquanto beija


meu pescoço descendo em direção aos seios, sua voz rouca. — Eu preciso te
fazer minha, Kananda. — Ele sussurra meu nome e devora a minha boca com
ainda mais intensidade. Eros explora cada parte da minha boca e eu gemo em
resposta as suas investidas. Suas mãos passeiam por minha coxa, apertam minha
bunda com força; talvez fiquem marcas em minha pele, mas a sensação de prazer
é mais forte que a dor e eu quero que ele me marque como sua de todas as
formas possíveis, quero olhar no espelho e enxergar, quem sabe até sentir suas
mãos sobre mim quando elas estiverem longe.

— Kananda... minha princesa... — Ele geme antes de me penetrar.

— Eros — gemo seu nome enquanto o sinto me preencher aos poucos.


Quando ele está todo dentro de mim, ouço seu gemido tão descontrolado quanto
o meu. Ele para por alguns segundos quando atinge o ponto mais profundo
dentro de mim, tanto para que eu me acostume com a invasão quanto para que
ele se acostume, pois suas expressões demonstram o quão devastado de prazer
ele está. Arranho suas costas nuas querendo marcá-lo como meu, física e
emocionalmente, como sei que estou sendo marcada por ele aqui e agora.

— Kananda... — Ele sussurra meu nome jogando a cabeça para trás, e


quando nossos olhos se encontram novamente vejo o prazer que toma seus
olhos. — Você é perfeita para mim. — Fala ofegante, enquanto movimenta o
quadril lentamente para trás e volta a me preencher. — Gostosa demais. — A
cada palavra dita, a cada estocada lenta e profunda, sinto o gozo se formando,
dominando meus sentidos novamente, enlouqueço de prazer, porque ninguém
nunca me fez sentir o que Eros está me fazendo comigo.

— Então aproveita — sussurro enquanto beijo seus lábios, ofegante de


desejo. Rebolo o quadril sentindo seu membro preencher cada parte minha e ele
geme apertando com força minha coxa. Sua mão vai para o meu seio, seus olhos
perdidos de prazer presos aos meus. Sua outra mão agarra minha nuca, puxando
meus cabelos com força, e sinto o exato momento em que ele se deixa dominar
pelo desejo.

— Eros — grito seu nome quando sinto uma invasão mais bruta. Ele
começa a afastar-se e voltar novamente com força, empurrando o quadril contra
o meu. Um arrepio enlouquecedor sobe por meu corpo que se contorce de prazer.
Quando o ouço gemer rouco no meu ouvido não consigo mais controlar o prazer:
— Eu vou gozar.

— Isso, minha princesa, goza pra mim. — Ele fala empurrando o seu
quadril com ainda mais força de encontro ao meu, e geme rouco no meu ouvido.

— Eros... Ah... Eros — clamo seu nome como uma súplica enquanto o
prazer devastador se aproxima.

— Goza, Kananda. Abre os olhos e me deixa te ver gozar. — Não me


resta nada a não ser obedecer ao seu comando. Abro os olhos para que ele
enxergue o meu prazer, um prazer que só ele, apenas ele, foi capaz de me
proporcionar até hoje. Ainda com os espasmos dominando meu corpo, sinto-o
pulsar dentro de mim. Ele geme de forma selvagem, e, sem desviar os olhos dos
meus, arremetendo com mais intensidade, Eros goza, chamando repetidas vezes
pelo meu nome.

Respiramos pesadamente, tentando controlar nossos corações


descompassados. Eros se esforça para recuperar o fôlego, descansa uma parte do
seu peso sobre um braço, tendo o cuidado de não me esmagar, e apoia a testa na
curva do meu pescoço. Após algum tempo assim, ele me beija, não um beijo
voraz como os anteriores, mais como um beijo exploratório, saboreando cada
pedaço que consegue alcançar. Suas mãos sobem por meu corpo, sentindo-o por
completo.
Aos poucos e lentamente Eros sai de dentro de mim. Ele deita de costas na
cama e me puxa para o seu peito e ficamos um tempo assim, apenas em silêncio,
aproveitando nosso momento, ele fazendo carinho nas minhas costas, eu
acariciando seu corpo delicioso.

— Vou tomar um banho — informo enquanto começo a levantar da cama.

— Calma, princesa, eu vou com você. — Eros fala já se levantando.

O que era pra ser um banho solitário transformou-se em mais uma sessão
de sexo. Eros me tomou de pé, contra a parede, com uma intensidade que eu
julgava não ser possível depois do que havíamos feito a pouco no quarto. Ele
estava superando todas as minhas expectativas, me mostrando que era possível
sim ter tanto fogo, e me fazendo gozar como nunca gozei em toda a minha vida.
Quando acabamos o banho as minhas pernas estavam bambas, ele me envolveu
carinhosamente em uma toalha e me levou no colo até a sua cama, me
depositando ali cuidadosamente. Ele deitou ao meu lado, me envolvendo em
seus braços fortes, e nada nunca me pareceu tão certo quanto estar aqui com ele.

— Obrigada Eros — não resisto. Essa parece ser a única coisa que
consigo falar no estado de torpor e moleza em que meu corpo se encontra.

— Não há de que, Kananda. Obrigada por me permitir estar ao seu lado.

— Você é perfeito, Eros — sussurro já vagando para a inconsciência.

— Você que é perfeita, princesa. — Eros fala. — Posso afirmar que o que
tivemos foi muito melhor do que eu esperava. — Deposita um beijo na minha
testa e me mantém cativa em seus braços até pegarmos no sono, dormindo
abraçados como um casal apaixonado faria.

Casal apaixonado? Calma, Kananda. Você está indo rápido demais!


Capítulo 14

Eros

Acordo sentindo a quentura do seu corpo próximo ao meu; me aconchego


mais a ela, puxando-a para mim.

— Bom dia. — Kananda fala, e é tão bom ouvir sua voz rouca pela
manhã...

— Bom dia, princesa — respondo começando a deslizar minha boca por


sua pele gostosa e quente, e ela solta um gemido gostoso que termina de me
acender por completo.

— Eros... — Ela geme meu nome quando alcanço sua boceta e abocanho
o seu clitóris.

— Estou viciado em você, princesa — falo quando paro de chupá-la e


subo por seu corpo, pairando sobre ela e beijando-a com desejo. Eu já não podia
esperar mais, já despertei duro de tesão. Também pudera, estando nus sobre a
mesma cama, fica impossível me controlar.

— Eu preciso de você, princesa — falo quando solto sua boca. Me afasto


apenas o necessário para pegar uma camisinha, vestir o meu pau e penetrá-la
com força.

Kananda fecha os olhos, se entregando ao prazer de me sentir preenchê-la.


Quando ela os abre posso enxergar a luxúria saltando deles. Ela prende os olhos
em mim, tomando-me por completo dentro de si. Aos poucos começo a me
mover enquanto suas pernas se enroscam em minha cintura e suas mãos
exploram o meu corpo.

— Eros... mais forte, por favor. — Kananda pede em um suspiro e eu faço


o que ela pede, aumentando o ritmo das estocadas, sabendo que os nossos
orgasmos não irão demorar. — Ahhh... — Ela geme no meu ouvido, me levando
a loucura. Abocanho seu seio e ela grita de prazer, em êxtase pelo orgasmo
matinal que veio rápido demais, e eu a sigo, precisando de apenas mais algumas
arremetidas para enfim alcançar o meu prazer. Gozo chamando o seu nome.
Quando saio de cima dela e me jogo na cama, ela vem manhosa deitar sobre
mim.

— Essa é uma ótima maneira de me dar bom dia, delegado. — Kananda


fala sem imaginar o quanto eu acho sexy quando ela me chama assim.

— Concordo princesa. Essa definitivamente é a melhor forma.

Fomos para o banheiro fazer nossa higiene matinal. Evitei entrar no


chuveiro com ela, pois sabia que se a tivesse nua ao alcance das minhas mãos
seria impossível controlar o desejo e a tomaria novamente, mas como eu havia
"pegado pesado" com ela ontem e hoje pela manhã, lhe daria um descanso até
mais tarde, quando a teria novamente sob mim.

— Kananda, vou a padaria que fica aqui na quadra do prédio, você quer
que eu traga algo para você? — Pergunto após bater na porta do quarto de
hóspedes, para onde ela se dirigiu após o banho para se vestir.

— NÃO, OBRIGADA. — Ela responde gritando lá de dentro, já que eu


não quis invadir sua privacidade e permaneci na porta.

— Tudo bem, em um instante eu volto.

Enquanto caminho para a padaria, penso em como foi bom estar com ela.
É algo que eu nunca senti, uma sensação de pertencimento, e, sinceramente, eu
gosto disso.

Quando chego em casa sinto o cheiro maravilhoso do café que ela fez.
Kananda está terminando de colocar a mesa; está vestindo um short rosa claro
folgado e uma blusa branca colada ao corpo. Seu cabelo está preso em um coque
frouxo. Aproveito para abraçá-la por trás, depositando um beijo em seu pescoço.

— Eros, não te vi entrar. — Ela fala virando-se para mim e enlaçando meu
pescoço.

— Percebi que estava desatenta, princesa. — Deposito um beijo casto em


seus lábios.

Enquanto ela me serve de café eu começo a passar manteiga no pão para


nós dois, coloco queijo e presunto e ponho diante dela, sentando-me em seguida.

— Nossa, se ficar me mimando desse jeito vou acabar mal acostumada. —


Kananda fala e eu sorrio.

— Por mim pode ficar mal acostumada, faço questão de te mimar


enquanto você deixar. — Falo e ela abaixa os olhos, tímida. — Então, o que quer
fazer hoje?

— Não sei. — Ela fala um pouco pensativa. — Estou preocupada porque


preciso encontrar um lugar para ficar e não sei por onde começar a procurar.

— Isso não é motivo para se preocupar, princesa — falo enquanto acaricio


sua mão sobre a mesa. — Já falei que você pode ficar aqui pelo tempo que for
necessário.

— Eu sei, Eros, e agradeço muito por isso, mas realmente preciso procurar
algum lugar para mim. Você está sendo ótimo comigo e eu realmente não tenho
sequer como te agradecer, mas amanhã vou conversar com Ana para ela segurar
as pontas mais um pouco na farmácia enquanto ponho minha vida em ordem. —
Ela deixa claro que, embora eu queira ajudá-la, ela precisa tomar um rumo em
sua vida. Por mais que eu queira que ela fique aqui comigo, essa sua atitude me
enche de orgulho, pois mostra que ela é uma mulher audaciosa e independente.

— Tudo bem, se precisar de algo saiba que estou aqui para ajudá-la. —
Reafirmo a minha disponibilidade para ela, e entre uma conversa e outra
terminamos o café.

Depois de arrumarmos a cozinha, sentamos no sofá, e aqui estamos desde


então, entre conversas, beijos e carícias. Sinto-me incapaz de ficar longe dessa
mulher; ela me enfeitiça, tudo nela me atrai, sinto um desejo incontrolável por
ela.

— Eros, estava aqui pensando que podíamos ficar em casa mesmo hoje, o
que acha? — Sua sugestão é perfeita para mim, pois não quero ter que dividi-la
com ninguém.
— Por mim tudo bem. Podemos pedir o almoço em algum restaurante
enquanto ficamos aqui, fazendo algo mais interessante — falo enquanto beijo
seu pescoço e subo minha mão por suas pernas.

— Você é insaciável, delegado. — Kananda fala sorrindo. — Nesse ritmo


vou ficar em frangalhos.

— E eu vou adorar tê-la em frangalhos sob o meu corpo, princesa. —


Sussurro em seu ouvido, e em uma manobra rápida demais ela sai de baixo de
mim.

— Nada disso, delegado. Nós vamos para a cozinha preparar nosso


almoço. — Ela fala já de pé, com as mãos na cintura como se falasse com uma
criança. É impossível não sorrir com a cena.

— Tudo bem, tudo bem, eu me rendo princesa, você é quem manda —


falo erguendo as mãos.

— Então vamos. — Ela chama me estendendo a mão. Seguimos de volta


para a cozinha. — Posso mexer nos seus armários? — Kananda pergunta um
pouco receosa.

— Claro que sim, princesa, eu falei que podia ficar à vontade. Essa casa é
sua pelo tempo que precisar, pegue, mexa e bagunce o que quiser. — Deposito
mais um beijo em seus lábios.

Enquanto Kananda segue para os armários, eu sento na bancada e fico a


observá-la. Ela abre e fecha as várias portas, procurando os ingredientes do que
quer que tenha em mente para cozinhar. Eu não me prontifico a ajudá-la porque
estou amando ver a sua bunda arrebitada enquanto ela procura as coisas.

— Eros, acho que vamos precisar ir ao supermercado. Pensei em fazer um


risoto e estão faltando alguns ingredientes. — Kananda fala virando-se para mim
e me pegando no flagra olhando sua bunda. Ela sorri um pouco constrangida.

— Então quer dizer que além de gostosa você é prendada na cozinha? —


pergunto retoricamente e ela dá um tapa de leve no meu peito, já que eu não
resisti a distância e já estou agarrado à sua cintura.

— A gente faz o que pode. — Ela responde e pisca um olho para mim. —
Agora vamos, porque eu sei que se eu te der corda, nós não vamos sair daqui tão
cedo, e muito menos farei o almoço.

Fomos para o mercado e parecia que Kananda estava bem ambientada ali;
eu servi apenas para empurrar o carrinho. Não tenho o hábito de fazer compras,
ou melhor, não faço nada que se refira às obrigações domésticas. Joana, uma
senhora que foi babá minha e da Lara, se divide entre os nossos apartamentos.
Ela cuida das nossas necessidades até hoje. Como moramos sozinhos e quase
não ficamos em casa, é fácil para ela administrar os dois; ela alterna os dias em
que fica comigo e com Lara, sempre mantém tudo no lugar e deixa comidas
prontas congeladas, embora eu praticamente não faça refeição nenhuma em casa
além do café da manhã.

Quando chegamos ao caixa, eu e Kananda temos a nossa primeira


“discussão”, pois ela não permite que eu pague as compras. Eu argumento de
todas as formas, digo que a casa é minha e é minha obrigação mantê-la. Sei que
esse argumento soou um pouco machista, mas foi a única coisa que pude pensar
no momento. Ela contra-argumentou dizendo que estava hospedada lá e que
nada pagaria por isso. Por fim a teimosa acabou pagando as benditas compras e
me deixando um pouco chateado.

Já de volta ao apartamento, assisto enquanto Kananda se movimenta pela


cozinha, mexendo nas panelas e provando os temperos, e foi quase impossível
me controlar. Ela é naturalmente sexy, e todos os movimentos que fazia me
deixavam com mil e uma ideias libertinas. Quando a tortura que foi resistir à
preparação do almoço finalmente acabou, nos sentamos para comer e, mais uma
vez, Kananda me surpreendeu: o risoto estava delicioso.

Quando acabamos de almoçar fomos para o quarto descansar um pouco, e


embora eu estivesse cheio por ter comido demais, não resisti e a fiz minha
novamente, antes de cairmos em um sono preguiçoso. O restante da tarde foi
assim, alternando entre transar e dormir. Há muito tempo não tenho uma
maratona de sexo tão intensa e tão incrível assim.
Capítulo 15

Eros

À noite, após tomarmos banho, sentamos no sofá e procuramos um filme


para assistir, mas antes de decidirmos qualquer coisa, ouço a porta ser aberta e
imediatamente olho para ela; Kananda segue distraída em meus braços, sequer
percebeu o barulho da fechadura. Faço uma nota mental para conversar com ela
sobre o fato dela ser tão distraída quanto ao que acontece ao seu redor. Imagino
quem possa estar entrando na minha casa sem bater, afinal, apenas duas pessoas
possuem o terrível hábito de fazer isso: Lara ou Enrico.

— Me desculpe, brow. — Enrico fala ao perceber que não estou sozinho.


— Eu não sabia que tinha visita.

— Da próxima vez vê se bate na porta, não quero seus olhos sobre minha
mulher em um momento constrangedor — falo para Enrico sem realmente estar
chateado pela sua invasão inesperada. Para ser sincero, já estou acostumado com
ele sempre por aqui.

— Hummmm, sua mulher é? — Enrico provoca, e só então eu percebo o


que falei.

— Eh... Oi, tudo bem? — Kananda estende a mão para ele um pouco
constrangida.

— Sim, minha mulher — reafirmo. Sei que se titubear na resposta o


engraçadinho vai cair matando.

— Prazer, em vê-la novamente. Enrico. — Ele pega a sua mão e beija


apenas para me provocar - Sou o delegado que colheu seu depoimento, mas
agora estou me apresentando informalmente para a mulher do meu amigo. — O
desgraçado fala com prazer, frisando o que eu havia dito.
— É um prazer. — Kananda responde a ele. — Vou deixar vocês a sós,
não quero atrapalhar.

— Pode ficar, Nanda. — Quem deu liberdade para esse filho da puta
chamá-la de Nanda? — Não tem problema não, eu vim para chamar o Eros para
tomar um chopp e comer alguma coisa, mas podemos ficar por aqui mesmo. —
O desgraçado fala, deixando claro que não irá embora tão cedo.

— Mas é folgado mesmo — falo enquanto dou um tapa no seu pé que já


descansava sobre a mesinha de centro da sala.

— Então, qual seria a programação do casal para essa noite? — Enrico


pergunta para me irritar, só pode, e só não respondo “FODER, nós iríamos foder
a noite inteira se você não estivesse aqui atrapalhando” para não deixar
Kananda constrangida, mas o olhar mortal que dou para ele deixa claro o quanto
eu quero matá-lo. — Espero não estar atrapalhando os planos de vocês. —
Cínico. O meu melhor amigo é um Filho da Puta cínico!

— Não se preocupe. — Kananda responde rapidamente, não me dando a


chance de responder grosseiramente a ele. — Não íamos fazer nada demais.

— Imagino. — Ele fala e sorri, enquanto ela ruboriza envergonhada.

— Chega, Enrico, você a está constrangendo de propósito. Deixe de ser


tão filho da puta — resmungo para ele e puxo Kananda para mais perto de mim.
— Já que está aqui mesmo, e como te conheço bem, sei que nem que eu o
coloque para fora você irá, então vá até a geladeira e pegue uma cerveja para a
gente. — Mal termino de falar e ele prontamente se levanta.

— Ainda bem que você me conhece, amigo. — Sorri. — Quer uma


também, Kananda? — Pergunta já indo para a cozinha.

— Sim, por favor. — Ela responde e se vira para mim. — Eros, é sério, eu
posso ficar no quarto enquanto você faz companhia ao seu amigo.

— Não precisa, princesa, Enrico é assim mesmo, ele aparece quando quer
ou quando não tem companhia. Tenho certeza de que ele não quer conversar
nada especial comigo, ele só quer companhia mesmo — falo enquanto ouço a
porta da frente sendo aberta novamente — Há, Há, Há... Agora é que a coisa vai
ficar boa.
Kananda

— Há, Há, Há... Agora é que a coisa vai ficar boa. — Eros fala ao meu
ouvido e eu não entendo bem o porquê, até olhar para a porta de entrada da casa
e ver uma linda mulher entrar por ela. Ela é muito bonita, com cabelos pretos
longos, até a altura da cintura, olhos azuis, boca carnuda e um corpo invejável,
bem marcado pela calça jeans escura que veste e a blusa azul clara também
modelada ao seu corpo.
— Oi meu amor. — Eros se levanta para cumprimentá-la e por um
segundo sinto ciúmes da mulher que o abraça com possessividade. Não estou
entendendo nada do que está acontecendo aqui, então, constrangida, mantenho-
me sentada no mesmo lugar.

— Oi gatão. — Ela fala quando se afastam. — Vejo que tem companhia,


porque não me apresenta a essa bela mulher? — Completa e estende a mão para
me cumprimentar.

— Chegou quem não devia, acabou minha alegria. — Ouço o amigo de


Eros falar quando retorna com as cervejas.

— Não acredito que até aqui você me persegue, Enrico! — Ela fala
recolhendo a mão que havia estendido para mim e cruzando sobre o seu peito.

— Perseguindo? Eu? — Ele retruca. — Eu cheguei aqui primeiro, Elvira.


Você quem me seguiu.

— Êpa, vamos parar as farpas vocês dois? Finjam que são educados pelo
menos na frente da visita. — Eros repreende aos dois. — Kananda, essa é minha
irmã. — Agora que sei que é sua irmã, consigo levantar para cumprimentá-la,
não me sinto mais intimidada pela sua presença.

— É um prazer — falo estendendo a mão. Surpreendentemente ela me


puxa para um abraço.

— O prazer é todo meu. Nossa, você é realmente linda. — Ela elogia.

— Obrigada, Elvi... – começo a agradecer o elogio e ela me corta. Sinto


um pouco de irritação em sua voz, o que me deixa um pouco constrangida.

— Lara, Kananda. Meu nome é Lara. Não dê ouvidos ao que esse idiota
fala. — Ela me diz enquanto direciona um olhar enraivecido para Enrico. A
tensão que existe entre eles é tão forte que consigo sentir com facilidade.

— Desculpe, é que Eros não disse o seu nome, só ouvi o nome que ele
falou — justifico minha gafe e ela responde que tudo bem enquanto senta no
sofá.

— Não tem problema, princesa. — Eros interfere, me deixando


confortável novamente. — É que Enrico chama ela de Elvira por causa daquele
filme “Elvira: a rainha das trevas”, e ela não gosta muito do apelido que ele deu.

— É que Enrico tem o dom de ser idiota, Kananda, e faz de tudo para me
irritar. É uma pena que você tenha tido o desprazer de conhecê-lo tão rápido. —
Ela fala revirando os olhos. — Vai lá, Enrico, faça alguma coisa que preste e
pegue uma cerveja para mim também. — Ela pede.

— Você está de moto, Elvira? — Enrico pergunta antes de se levantar para


pegar a cerveja.

— Porque, chatinho? Está preocupadinho comigo? — Sinto o tom de


ironia na sua pergunta.

— Não por você, Elvira, mas por sua família que não merece sofrer por
sua imprudência. — Ele retruca.

— Não, eu vim de Uber. Não estava em casa na verdade. — Vejo que sua
intenção era irritá-lo, e acho que ela consegue, pois ele faz uma cara feia e se
levanta indo em direção à cozinha, enquanto ela permanece sentada, mas agora
com um sorriso discreto no rosto.

— Lara, você sabe que ele tem razão. Às vezes você é imprudente. —
Eros repreende a irmã.

— Ah, Eros, pelo amor de Deus não entra na pilha do Enrico. Sei que ele
fica fazendo fofoca de mim para você o tempo inteiro, é pior do que vizinha do
interior, não tem o que fazer e fica cuidando da minha vida. — Ela responde
demonstrando irritação.

— Não é isso, Lara. Ele se preocupa com você, apenas isso. — Eros tenta
apaziguar a situação. — No fim das contas vocês dois são cabeça dura, não
querem enxergar o que está claro diante de vocês. — Eros finaliza a conversa
assim que o amigo retorna com a cerveja dela nas mãos.

Ficamos conversando por um tempo, e consegui me sentir à vontade com


eles. Lara e Enrico são engraçados demais, não conseguem ficar por muito
tempo sem se provocar, e até isso é divertido, mas o melhor de tudo foi sentir
como se eu pertencesse àquele lugar; além da Ana não tenho outros amigos, e há
muito tempo não ria tanto.
— Lara, vamos até a cozinha para vermos alguns petiscos para
acompanhar a cerveja? — Chamo já me levantando.

— Vou só para te fazer companhia, Kananda, sou péssima na cozinha. Se


não fosse a Joana eu morreria de fome. — Ela fala sorrindo.

— Isso Kananda, vê se consegue ensinar algo que preste à Elvira. —


Enrico não perde a oportunidade de provocá-la. — Quem sabe assim eu não
consigo “filar” algumas refeições na casa da minha vizinha.

— Vai sonhando, chatinho. — Lara fala enquanto mostra o dedo do meio


para ele.

— Vocês são vizinhos? — Pergunto incrédula. É realmente estranho duas


pessoas que se provocam tanto morarem tão perto.

— Vizinhos de porta, princesa. Moram não só no mesmo prédio, mas de


frente um para o outro. — Eros responde pelos dois. — Foi a forma que acharam
de se encontrarem sem que fique tão explicito. — Provoca.

— CALA A BOCA EROS! — Lara e Enrico respondem em uníssono.

— Está vendo como eles são sintonizados? — Eros completa a


provocação sorrindo. Enrico atira uma almofada no amigo enquanto Lara me
arrasta para a cozinha.

Chegamos à cozinha sorrindo e eu volto à tarefa de me adaptar aqui.


Como é difícil encontrar as coisas em uma casa que não é a nossa! O que facilita
é que tenho carta branca para “fuçar” à vontade.

— Então, Kananda, me conta como conheceu meu irmão. — Lara


pergunta enquanto coloco alguns queijos sobre o balcão.

Enquanto cortamos alguns frios para servir com a cerveja, coloco algumas
batatas pré-cozidas para fritar na fritadeira elétrica e vou resumindo para Lara o
nosso encontro inesperado. Ela sorri orgulhosa do irmão e de Enrico enquanto
narro a cena do sequestro relâmpago.

— Nossa, que história, hein? — Ela fala. — Fico feliz por vocês. — Ela
fala de forma sincera, mas sinto uma nota triste na sua voz. — Meu irmão
merece demais encontrar uma pessoa que lhe complete, que seja companheira e
que esteja ao seu lado em qualquer circunstância, e a julgar pela cara de bobo
com a qual ele te olha, tenho quase certeza de que você foi a escolhida.

— Nós não nomeamos o que estamos tendo, só sei que desde o dia do
sequestro não conseguimos ficar longe um do outro, sem nos ver um dia sequer.
— Conto para ela enquanto um sorriso bobo brota em meu rosto. — Lara, eu sei
que não temos intimidade e nem te conheço para poder opinar em sua vida, mas
o que existe entre você e o Enrico parece ser sincero e forte. Vocês se provocam
a todo o momento, mas existe um carinho enorme entre vocês, eu posso sentir.
— Falo e ela abaixa a cabeça com um sorriso que eu poderia dizer que é até um
pouco triste. — Quando contei do meu sequestro relâmpago os seus olhos
brilharam de orgulho, e não foi apenas por Eros— constato por fim.

— Ah, Kananda, eu queria muito que as coisas fossem tão simples assim.
— Fala e balança a cabeça em negação, deixando a tristeza transparecer em seu
olhar. — Não vou mentir que o odeio, até porque convivo com ele há muitos
anos. Ele e Eros são amigos desde a faculdade, então ele sempre esteve muito
presente em minha casa, mas já tentamos uma vez e essa “brincadeira” não deu
certo. É melhor nos mantermos afastados, somos tóxicos demais um para o
outro. — Ela fala deixando um pouco de lado a “casca” de durona que faz
questão de manter. Eu concordo com um aceno enquanto termino de dispor as
coisas em uma bandeja, então voltamos para à sala, mas não sem antes falar algo
para ela, algo que meu coração me pediu para dizer:

— Lara — faço uma pausa enquanto ela me olha — se me permite te falar


uma coisa, na verdade te dar um conselho: nós não podemos esperar nos
envolver com alguém perfeito, porque a perfeição não existe. O príncipe
encantado com o qual sonhamos, infelizmente é irreal, e não saem dos nossos
sonhos. Todos temos defeitos e qualidades, e acredito que tenhamos que buscar
enxergar mais as qualidades do que exaltar os defeitos. Isso não quer dizer que
devemos fechar os olhos para as falhas, mas, se possível, aprender a lidar com
elas da melhor maneira. O importante é encontrarmos e estarmos com alguém
que nos permita ser o melhor que podemos. — Ela não responde, simplesmente
acena com a cabeça enquanto pega a cerveja e se encaminha para a sala.

Quando chegamos à sala, encontramos os dois lindos homens às


gargalhadas. Apoio a bandeja na mesinha de centro e Lara distribui as cervejas
que trouxe. Retorno para o lado de Eros e vejo de relance quando Enrico puxa a
mão de Lara para que ela se sente ao seu lado. Ela revira os olhos, mas cede.
Acho que a nossa conversa agora a pouco na cozinha a fez refletir. Nós
conversamos, comemos e rimos muito durante toda a noite, mas sinto que Lara
estava um pouco retraída, pensativa talvez. Definitivamente não era a
programação que eu e Eros tínhamos para a nossa noite, mas foi muito legal
poder conhecer algumas pessoas que fazem parte da vida dele, e principalmente
me sentir acolhida por elas.

Na hora que falaram que iriam embora, o caos se instalou entre Lara e
Enrico: ela queria ir de Uber, ele queria levá-la, e assim como Eros, que se
mantinha em silêncio, eu fiz o mesmo, deixando que eles dois decidissem entre
si. Por fim, Enrico conseguiu convencê-la e foram juntos. Fui para a cozinha
levando comigo a bandejas e as garrafas de cerveja para organizar. Eu gosto de
manter as coisas em ordem, não é porque estou na casa dele que seria diferente.

— Deixa isso aí, princesa. — Eros fala rouco em meu ouvido, me


abraçando por trás enquanto lavo os poucos pratos que estavam na pia. —
Vamos para o quarto. — Ele me chama e eu sei bem o que ele quer, porque eu
também quero muito.

— Espera só mais um pouquinho, delegado, não demora e estaremos no


quarto transando feito coelhos. — Falo e imediatamente me arrependo,
envergonhada pelas palavras que usei.

Eros levanta minha cabeça com o dedo indicador, fazendo-me olhar em


seus lindos olhos azuis.

— Ficou envergonhada pelo que falou, princesa? — Pergunta


retoricamente. — Não precisa. Gosto de saber que você me deseja tanto quanto
eu te desejo; vou adorar ouvir você pedir para transarmos feito coelhos a
qualquer hora, do dia, da noite ou da madrugada. — Ele fala e devora minha
boca com desejo. Eu quase abandono tudo para me render a ele, mas consigo
resistir. Ele continua atrás de mim, me abraçando, esfregando sua ereção na
minha bunda, mordendo e beijando meu pescoço, e eu demoro mais do que o
necessário para fazer uma tarefa tão simples.

Assim que termino e me viro de frente para ele, Eros me levanta,


entrelaçando minhas pernas na sua cintura, e sou conduzida à mesa de jantar. Ali
Eros me deposita e me devora como sua principal refeição do dia. Com todo
sentimento que ele desperta em mim eu me entrego a ele, e percebo que não
estou entregando apenas o meu corpo: estou dando a Eros a minha alma, tudo
que há em mim, sem restrições. Após gozarmos ensandecidamente, vamos para
o quarto dele, tomamos banho e nos deitamos para dormir. Me sinto plena e
realizada nos braços desse homem que protetoramente me envolve. Antes de
dormir faço uma prece e agradeço a Deus por tudo o que tem feito por mim, e
agradeço também a oportunidade de ter conhecido esse homem que, com
certeza, veio para permanecer na minha vida.
Capítulo 16

Kananda

Acordar nos braços de Eros é como sentir a calmaria após uma


tempestade. É uma pena não podermos ficar aqui assim, para sempre, em um
lugar onde nada nos atinge, onde nenhuma maldade nos alcança e nenhum
problema nos incomoda, mas, infelizmente, a vida não é tão simples, e me dou
conta de que preciso levantar, sacudir a poeira e ir a luta. Preciso providenciar
um lugar para morar, não quero abusar da boa vontade de Eros, e também
preciso voltar à farmácia. Me permito admirá-lo por um tempo, observar seu
rosto lindo relaxado pelo sono, mas não menos másculo por causa disso, até que
ele começa a despertar.

— Bom dia princesa. — Fala com a voz ainda rouca de sono, os olhos
entreabertos, e eu percebo que essa seria uma cena que eu adoraria ver todos os
dias da minha vida.

— Bom dia delegado — respondo.

— Acordou há muito tempo? — Pergunta já me puxando para si.

— Não muito. Estava aqui pensando na infinidade de coisas que tenho


para resolver hoje.

— Hoje eu tenho uma operação para realizar, então é provável que eu


fique incomunicável uma boa parte do dia, mas se precisar de qualquer coisa
pode deixar uma mensagem, que assim que possível eu respondo. — Ele fala,
solicito como sempre. — Agora vem aqui, quero me perder em você antes de
começar mais um dia.

Aceito prontamente seu convite. É quase impossível estarmos no mesmo


ambiente sem que estejamos grudados; é uma necessidade quase insana que
sentimos um do outro, só que dessa vez sinto algo diferente, uma conexão maior;
é quase como se tivéssemos ultrapassado a parte do transar, do tesão inicial, e
estivéssemos fazendo amor. Nossos olhares conectados, nossos corpos buscando
lentamente um ao outro na mesma sintonia, até gozarmos satisfeitos, perdidos
nesse mar de sentimentos que ainda não somos capazes de nomear.

Depois de um banho gostoso, trocando carícias, me dirijo ao quarto de


hóspedes onde minhas roupas permanecem, embora eu não tenha sequer sentado
na cama já que a de Eros tem sido bem mais convidativa para mim. Termino de
me vestir e saio do quarto; ouço vozes na cozinha e me direciono para lá.

— Bom dia — falo assim que entro no ambiente. Eros vem em minha
direção, vestido lindamente com uma calça social azul marinho, camisa branca e
gravata cinza. Esse homem é lindo demais; eu quase suspiro.

— Nana, essa é a Kananda, ela vai ficar conosco por uns dias. — Fala
carinhoso com a mulher que já havia me dito se chamar Joana.

— Bom dia, nossa como você é linda! — Ela fala e me puxa para um
abraço. Sinto tanto carinho emanando dela que me lembro da minha mãe.

— Obrigada Joana. O Eros já havia me falado de você, espero não


incomodar.

— Que nada menina, fique a vontade. Só de ver a carinha de felicidade


dele quando cheguei, imagino que você o esteja fazendo bem, e só isso me basta.
Tudo o que eu mais quero é ver os meus filhos do coração felizes; vejo que Eros
já está pegando o rumo, agora só falta a Lara enxergar o que insiste em não
querer ver. — Ela fala e eu imagino que esteja se referindo a Enrico, e se for isso
mesmo, eu concordo com Joana.

Tomamos café juntos, numa conversa divertida. Ela quer saber mais sobre
mim e Eros tenta conduzir a conversa sem aprofundar no assunto
relacionamento. Quando terminamos, eu pego minha bolsa para ir trabalhar e
resolver as coisas que preciso, e vejo Eros pegar a sua arma “inseparável”, as
chaves do carro e a carteira. Saímos juntos do apartamento, e assim que
entramos no elevador, pego meu telefone para chamar um Uber porque ainda
não pude resolver a situação da batida do meu carro, mas Eros interfere:

— Não precisa, princesa, eu te deixo na farmácia. — Eu não quero


incomodá-lo ainda mais, mas sei que essa será uma discussão desnecessária,
então aceito de bom grado sua carona.

Eros me deixa em frente à farmácia. Nos despedimos com um beijo


gostoso e, quando ele se afasta, percebo o quanto ele se tornou especial pra mim,
ou melhor, essencial. Entro com um sorriso bobo no rosto, cumprimento a todos
os funcionários e agradeço as mensagens que me enviaram com desejos me
melhoras e energias positivas.

Me afundo em trabalho até que Ana entra na minha sala perguntando


como foi o meu retorno para casa. Conto tudo o que aconteceu e que estou na
casa de Eros. Ela fica indignada por eu não ter voltado para sua casa, mas no fim
entende que eu não queria incomodar.

Quando falamos sobre Eros minha amiga me incentiva a embarcar nessa


aventura. Ana já vivia “azucrinando” meu juízo, dizendo que eu precisava
arrumar alguém para me fazer companhia, que eu estava solitária demais desde a
morte dos meus pais, então resolvo seguir seu conselho. Na verdade, ainda que
ela não houvesse me aconselhado, eu já havia “mergulhado de cabeça” nessa
situação. Quando Ana sai da minha sala resolvo enviar uma mensagem para
Eros.

Fico feito boba olhando o celular, esperando por uma resposta que não
chega. Lembro que ele falou que estaria em uma operação hoje e que talvez não
pudesse responder as minhas mensagens, só então me dou conta do quão
perigosa é a sua profissão. Só de imaginar que ele pode não voltar para casa no
final do dia me dá um frio na barriga. Tento abstrair esse pensamento e focar no
trabalho, mas volta e meia me pego pensando nele, e me perguntando como, em
tão pouco tempo, ele so tornou tão essencial em minha vida.

Após o almoço, continuo a olhar o celular sem que tenha uma resposta
dele; sei que não posso ficar presa a esse medo de que algo ruim possa lhe
acontecer, mas é inevitável.

Por volta das 15h ouço uma gritaria no balcão da farmácia. Quando saio
da minha sala para ver o que está acontecendo, vejo Amanda e Ana discutindo.
Vou até elas e pergunto calmamente, apesar de mal reconhecer a minha irmã, de
tão transtornada que ela está.

— O que você quer, Amanda?

— Ora, ora, a donzela em perigo resolveu voltar ao trabalho. — Fala com


ironia.

— Não sou donzela e muito menos estou em perigo. Fala logo o que você
quer e vá embora. — Sou direta com ela, até porque estou sem paciência para
lidar com suas loucuras hoje.

— Quero falar com você. — Ela diz.

— Vamos à minha sala — chamo.

— Kananda, você não vai ficar sozinha com ela. — Ana interfere.

— Fica tranquila amiga, vai ficar tudo bem. Eu já imagino o que ela quer,
vou resolver esse problema em um minuto.

Amanda me segue até a sala em silêncio, o que me deixa surpresa, sei que
ela quer mais dinheiro, mas imaginei que não iria perder a oportunidade de me
provocar.

— Você vai voltar para casa quando? — Ela pergunta quando sento na
minha cadeira, ela senta-se à minha frente.

— Não vou voltar mais — respondo seca, sem lhe dar mais detalhes.

— E quem vai sustentar a casa? — Ela pergunta. — Se você acha que eu


vou usar essa mixaria que você me dá dizendo que é o lucro daqui, para bancar a
casa, pode esquecer. — Fala, se achando com a razão.

— Amanda, olha só, eu estou cansada das suas infantilidades, cansada do


seu vitimismo e principalmente: cansada de você. — Não dá mais para sustentar
essa situação. — Você nunca quis ajudar em nada aqui, vem apenas para receber
os lucros que eu divido IGUALMENTE entre nós duas, embora eu merecesse
ficar com a maior parte porque EU trabalho aqui e você não. Se não acredita que
divido igualmente, problema seu; pegue as contas e vá conferir e verá que eu
nunca tirei um centavo a mais do que lhe dei. — Despejo minha raiva acumulada
e ela se assusta. Parece que não esperava uma reação como essa vinda de mim,
que sempre fui passiva demais com suas atitudes mesmo quando ela merecia que
eu lhe desse a surra que papai e mamãe não lhe deram. — Você vai sustentar a
casa com a sua parte sim, afinal, quem está saindo em desvantagem sou eu que
terei que pagar aluguel só pra não ter que olhar você e suas imundices todos os
dias. No mais, a partir de hoje, não me dirija mais a palavra, tudo fica como era
antes: eu lhe dou o dinheiro e você me deixa em paz. — Concluo exasperada
enquanto ela permanece estática, os olhos arregalados em minha direção.

— Se você está achando que vai ser como você quer, está muito enganada
sua songa monga. — Ela tenta me provocar, mas hoje não, hoje eu estou
preparada para lidar com ela.

— Ah, vai ser assim sim, sabe por quê? — Pergunto retoricamente e
continuo a despejar sobre ela minha raiva guardada por tantos anos. — Porque
senão eu vendo a farmácia e exijo judicialmente minha parte na casa dos nossos
pais. Quero ver o que você vai fazer quando acabar o dinheiro, porque vai acabar
sim que eu sei, preguiçosa e desregrada como você é vai gastar tudo, e no final
das contas não terá mais como se sustentar sem a burra aqui que trabalha por nós
duas.

— Você não seria capaz de vender a farmácia dos nossos pais. — Diz
alarmada, ainda sem acreditar no que eu falei.

— Então pague pra ver. — Ameaço com toda sinceridade que possuo. Ao
contrário do que ela falou, eu não repasso uma mixaria para ela, e diferente dela
eu consegui juntar algum dinheiro; poderia inclusive comprar a parte dela e
manter a farmácia.
— Isso não vai ficar assim. — Ela levanta exasperada.

— Vai ficar exatamente como eu quiser! Será que não percebeu que eu
perdi o último fio de paciência que ainda tinha com você? — Falo me
levantando e apoiando minhas mãos na mesa da mesma forma que ela estava.
Nossos rostos estão praticamente colados, nossos olhares duelam próximos
demais um do outro; ela exala raiva e fúria, mas e eu não cedo um milímetro
sequer.

— Dia dez estarei aqui para pegar minha parte desse mês. — Ela fala
virando as costas e indo em direção à porta.

— Se estiver pronto, eu deixarei o cheque no balcão. Caso não esteja,


deixarei um recado informando o dia que é para vir pegar. — Resolvo provocar
um pouco, por isso falo com um sorriso no rosto.

— Não me provoca, Kananda. — Ela ameaça, virando-se em minha


direção.

— Não estou te provocando, querida irmã, apenas repassando uma


informação relevante para você. — Amanda me fuzila com os olhos e sai
pisando duro, mas quando toca na maçaneta da porta volta-se para mim e fala a
única coisa que me tira realmente do sério desde que ela chegou aqui:

— Ah, já ia esquecendo: fala para aquele seu amigo gostoso que o convite
de sábado ainda está de pé. Sabe como é, “né” irmãzinha, você não vai
conseguir dar conta de um homão daquele, assim como não deu conta do seu
noivo; no final, será mais um de presente na minha cama. — Ela fala com um
sorriso cínico no rosto e acho que percebe a raiva que emana de mim, porque
rapidamente me dá as costas e sai, enquanto eu pego o jarro de flores que
enfeitava minha mesa e atiro contra a porta por onde ela acabara de sair.

Ana entra correndo na minha sala, preocupada com o barulho que ouviu, e
a tranquilizo embora eu ainda não esteja tranquila. As palavras de Amanda
ficam rodando em minha cabeça... Não é que eu seja uma mulher insegura, mas
não tem como não ficar com raiva; minha vontade era partir pra cima dela, mas
sei que era isso que ela queria, me fazer perder a razão. Tudo bem que ela
conseguiu me tirar do sério, mas eu não daria esse gostinho a ela. Fico me
perguntando que convite ela fez a Eros... Será que ele presenciou a mesma cena
que eu? Não sei se tenho coragem de perguntar a ele, mas isso está remoendo os
meus pensamentos desde que ela foi embora.

Às 17h30 eu vejo o sinal de mensagens apitar no meu celular, e depois


dessa tarde tempestuosa consigo sorrir ao ler a resposta de Eros.

Respondo sua mensagem com um sorriso bobo no rosto, é impressionante


como uma simples mensagem dele foi capaz de me fazer esquecer a raiva que eu
sentia minutos antes.
Durante um tempo de calmaria na farmácia, Ana e eu selecionamos alguns
apartamentos interessantes para eu visitar amanhã. Preciso conseguir um
cantinho para mim o quanto antes, então faço algumas ligações agendando os
horários. Quando me dou conta, faltam poucos minutos para o horário que eu
havia combinado com Eros. Junto minhas coisas e vou para o balcão. Após
algum tempo o vejo entrar lindo e imponente no estabelecimento; todas as
mulheres se viram para olhá-lo, e isso acende uma pontinha de ciúmes em mim,
mas fazer o que se o homem é um pedaço de mau caminho, ainda mais com o
rosto fechado e a cara de malvado como está agora.

— Posso ajudá-lo, senhor? — Pergunto em tom de brincadeira e ele faz


sinal com o indicador para que eu me aproxime, então fala no meu ouvido:

— Claro que pode, é só ficar nua e me deixar saborear todo o seu corpo.
Depois, quando eu estiver todo dentro de você, gemer enquanto goza gritando o
meu nome. — Fala com a voz rouca no meu ouvido, então se afasta como se não
tivesse dito nada demais e eu fico sentindo o meu corpo inteiro pegar fogo.

Passo alguns segundos em silêncio, tentando me recuperar, mas quando


finalmente consigo falar não perco tempo.

— Então podemos ir agora. — Ele sorri diante do meu embaraço, sabendo


que eu não esperava pela sua atitude.
Capítulo 17

Eros

Mal entramos em casa e já estávamos nos devorando. Sabia que Kananda


não esperava a resposta que lhe dei na farmácia, e amei vê-la tão excitada.
Quando entramos no carro eu não toquei mais no assunto; fiz isso de propósito
porque sei que ela esperava que fossemos nos provocar durante o trajeto para
casa, mas respondi as perguntas dela sobre como havia sido meu dia e em alguns
momentos, porque eu também não sou de ferro, passeei minhas mãos por suas
coxas deliciosas, fazendo com que ela as pressionasse uma a outra. A expectativa
lhe deixou ensandecida, porque assim entramos em casa e eu fechei a porta, nem
precisei fazer nada: Kananda partiu para cima de mim com tudo.

Depois de um sexo relaxante e um banho a dois maravilhoso, que nos


revigorou após um dia estressante, nos sentamos à mesa para comer; Nana
deixou o jantar pronto para nós. Sinto que Kananda está um pouco tensa, e como
ela não tomou a iniciativa de falar resolvo perguntar:

— Princesa, aconteceu alguma coisa hoje? Estou te achando tensa.

— Aconteceu sim, a Amanda esteve na farmácia . — Ela responde, e a


simples menção do nome da irmã me deixa furioso.

— Ela fez alguma coisa contra você?

— Não, na verdade ela só queria dinheiro. — Ela tenta minimizar, mas eu


sei que não foi só isso. — Combinei uma data para repassar mensalmente a parte
que lhe cabe nos lucros da empresa e ela foi embora.

— Você sabe que pode contar comigo, não sabe? — Pergunto acariciando
sua mão sobre a mesa. Tento não ser invasivo, mas queria muito que ela me
contasse o que realmente houve entre elas.
— Sei sim. — Ela responde evasiva e se mantém em silêncio. Só me resta
respeitar o seu momento.

Quando acabamos o jantar fomos direto para o sofá da sala, fingimos


assistir TV, mas na verdade ficamos namorando o tempo inteiro. Ela não tocou
mais no assunto da visita da sua irmã, mas tem algo que eu quero sugerir porque
acredito que quanto menos contato elas tiverem, melhor.

— Princesa, como vocês acertaram para sua irmã pegar a parte dela dos
lucros da empresa? — Pergunto enquanto ela apoia suas costas no meu peito e
eu mantenho meu rosto em seus cabelos e pescoço.

— Falei para ela pegar no balcão; eu deixo o envelope pronto e ela recebe
lá. — Responde.

— Me permite uma sugestão? — Pergunto com cuidado, tentando


respeitar suas decisões.

— Claro.

— Combine de depositar na conta dela — falo o que pensei —, acho que é


mais seguro para você comprovar que está realmente repassando os valores para
ela, e também evita encontros indesejáveis.

— Você tem razão, eu não havia pensado nisso. — Ela se vira para mim e
deixa um selinho em meus lábios em agradecimento. — Amanhã vou pedir para
Ana ligar para ela informando isso. — Quando ela diz que vai pedir a amiga para
entrar em contato com a irmã, comprova as minhas suspeitas de que a conversa
entre elas não foi tão amistosa quanto quis mostrar, e instintivamente acendo o
alerta em minha mente. — Eros, agendei algumas visitas a apartamentos para
amanhã; espero conseguir logo algum lugar para ficar. — Ela diz isso e eu fico
triste em saber que não vamos mais estar tão próximos quanto estamos agora.
Em contrapartida, fico feliz por ela estar tomando as decisões certas.

— Porque tanta pressa, princesa? — pergunto em tom de brincadeira. —


Não está sendo bem tratada aqui?

— Ah, Eros, você sabe que não é isso, é só que eu não quero incomodar
ainda mais você.
— Eu entendo princesa, de verdade, mas quero que saiba que eu estarei
aqui para você. — Ela concorda com um aceno de cabeça, sonolenta após toda a
“atividade física” que fizemos desde que chegamos em casa.

Deixo-a dormir mais uma noite em meus braços, mas não deixo de pensar
por quanto tempo ainda será possível tê-la assim para mim. Aos pouco o sono
me vence e adormeço

Acordamos no outro dia e fazemos amor mais uma vez; sim, amor, porque
eu já consigo perceber que não o que rola entre nós não é apenas sexo, é algo
mais forte e intenso. Mesmo sendo apenas o segundo dia em que isso acontece,
parece já ser rotineiro: fazemos nossa higiene, tomamos café, deixo-a no
trabalho e sigo para o meu.

Ontem passamos o dia inteiro organizando uma operação que acontecerá


hoje: vamos invadir um morro para apreender drogas e armas. Após recebermos
algumas denúncias, investigamos e a informação foi confirmada, então
montamos uma operação para apreensão. Infelizmente isso tem se tornado mais
recorrente do que gostaríamos; essas operações são sempre tensas e sempre há o
risco de troca de tiros, e, nessas circunstâncias, encontramo-nos em perigo
iminente, bem como civis que possam estar no local.

Após um dia inteiro sem falar com Kananda por causa da operação, chego
ao final do dia satisfeito, de certa forma, por tudo ter corrido como esperado.
Obtivemos sucesso, fizemos as apreensões devidas. O saldo foi muito
armamento e drogas apreendidas, e 20 bandidos presos; é uma satisfação para
nós quando conseguimos cumprir nosso principal objetivo.

Ligo para Kananda e marco de pegá-la na farmácia. Seguimos para casa,


ansiosos por estarmos novamente juntos. Repito: essa nossa rotina tem se
desenrolado com tranquilidade. A cada dia que passamos juntos percebemos o
quanto combinamos, e a cada dia desenvolvemos mais intimidade.

Após devorarmos um ao outro com intensidade, nos preparamos para


dormir. Ela informa que não gostou dos apartamentos que havia visitado e eu
reitero que ela pode ficar aqui o tempo precisar; na verdade eu realmente quero
que ela fique.

Na quinta feira, Nana, que, diga-se de passagem, está encantada por


Kananda, diz que tem um apartamento disponível aqui no prédio, e elas marcam
para visitá-lo juntas mais tarde. Por causa da mudança de planos repentina, nós
quebramos a rotina de deixá-la na farmácia antes de ir para a DEPOL, mas a
noite tenho a grata surpresa de saber que ela alugou o apartamento que fica um
andar acima do meu; isso me deixa mais tranquilo e satisfeito por saber que ela
estará a apenas um andar de distância, o que tornará o nosso contato mais
frequente.

Na sexta-feira tenho uma ideia e, mesmo sem consultá-la, começo a


colocá-la em prática. Espero sinceramente que Kananda embarque comigo nessa
loucura. Satisfeito, passo para buscá-la na farmácia ao final do dia, e assim que
chegamos em casa, diferente dos outros dias, não devoro seu corpo com ânsia;
decido fazer a proposta que pensei e executei durante o dia sem o seu
conhecimento.
Capítulo 18

Eros

— Princesa, tenho algo pra te falar... Para falar a verdade, tenho uma
proposta para te fazer — falo abraçando por trás a mulher cheirosa que acaba de
sair do banheiro enrolada em uma toalha. Por alguns minutos perco o foco.

Enquanto Kananda foi para o banheiro eu me encarreguei de pedir um


jantar para nós dois, mas vê-la assim, gostosa como naturalmente é, apaga da
minha mente qualquer raciocínio, e tudo o que quero é beijar sua boca e seu
pescoço, onde também dou algumas mordidinhas. O corpo de Kananda responde
prontamente ao meu; basta uma palavra, um toque, uma carícia e ela se derrete
nos meus braços.

Com um solavanco mental, me forço a voltar o foco e me afasto a


contragosto.

— Eros... — Kananda reclama quando me afasto.

— O que foi princesa? — Pergunto sorrindo porque eu sei que ela está
reclamando do meu afastamento repentino.

— Porque parou? Estava tão bom... — Ela fala com a voz nublada de
desejo.

— Está ansiosa minha gostosa? — Volto a me aproximar dela. Coloco a


mão em sua boceta por baixo da toalha e posso sentir o quanto já está molhada
de desejo. Quando pressiono meus dedos no seu clitóris ela geme, e eu quase
cedo.

— Ahnn Eros, por favor... — Implora.


—- Calma princesa, prometo satisfazer todas as suas vontades, só vou
tomar um banho, prometo ser rápido — vou em direção ao banheiro e ainda
posso ouvir Kananda resmungar, insatisfeita por eu tê-la deixado na vontade.
Sorrio porque eu sinto a mesma coisa por ela: um desejo enlouquecedor que me
tira a razão.

Quando termino o banho vejo Kananda sentada no sofá da sala com o seu
leitor digital na mão. Concentrada no livro, ela não vê quando me aproximo, e eu
fico alguns instantes apenas bebendo sua beleza, constatando o quanto ela é
linda. Não pela forma como aconteceu, mas tenho que agradecer aos filhos da
puta dos sequestradores por terem ocasionado o nosso encontro.

Quando sento no sofá ela vem manhosa para o meu lado e apoia a cabeça
no meu colo; fico acariciando seus cabelos e depois de algum tempo falo o que
planejei durante o dia:

— Princesa, estava pensando que poderíamos fazer uma viagem amanhã.


Não é uma viagem longa, mas tem um resort numa cidade aqui perto onde
poderíamos passar o fim de semana e assim nos distrairíamos um pouco. O que
acha?

— Eros, faz tanto tempo que não faço uma viagem a passeio. — Responde
entusiasmada. — Ultimamente só tenho viajado a trabalho; seria maravilhoso!
— Ela fala praticamente pulando em cima de mim e distribuindo beijos por todo
o meu rosto.

— Nossa, quanta empolgação. — Brinco enquanto a mantenho sentada


em meu colo com uma perna de cada lado da minha cintura. Aproveito para
esfregar minha ereção em sua boceta e percebo que ela veste apenas a fina
camisola, sem calcinha. — Se eu soubesse que ficaria assim teria proposto isso
há mais tempo.

— Não é só pela viagem, seu bobo. — Ela fala dando um tapa de leve em
meu peito, mas faz questão de rebolar sobre mim, demonstrando estar tão
excitada quanto eu. — É que você é tão especial, tão cuidadoso comigo, que eu
fico o tempo todo assim. — Completa de forma sugestiva.

Depois dessa declaração começamos a “pegação” no sofá, até que somos


interrompidos pelo interfone que anuncia a chegada do nosso jantar. É com
muita má vontade que saio de cima dela e vou atender a porta.
Durante o jantar, Kananda fica me pressionando para saber onde era o
bendito resort, em qual cidade ficava; queria que lhe contasse todos os detalhes.
Contudo, vendo o quanto ela havia ficado empolgada, resolvi manter o suspense
e não lhe contar maiores detalhes.

Na hora de arrumarmos as malas, parecia uma novela mexicana. Desde


que buscamos o restante das suas coisas na sua casa, Kananda fez questão de
arrumá-las no quarto de hospedes. Por mais que eu tenha insistido que ela
organizasse no meu closet, ela preferiu manter lá, alegando que seria por pouco
tempo e que apenas “bagunçaria” meu espaço.

Não havia necessidade de levarmos muitas coisas, já que seria apenas um


fim de semana e que, em meus planos originais, passaríamos mais tempo nus do
que vestidos. Imagine qual foi minha surpresa ao entrar no quarto e encontrá-la
fazendo duas malas distintas: uma com roupas de frio e outra com roupas mais
leves. Quando questionei, ela apenas respondeu que se eu não queria falar para
onde iríamos ela teria que estar preparada para tudo. Balancei a cabeça sorrindo,
mas como não queria dar muitos detalhes, falei apenas que era um resort
litorâneo, então que ela levasse roupas leves e de banho, o que ocasionou na
exclusão das roupas de frio e na permanência de apenas uma mala.

— Vamos para a cama, princesa — chamo mais uma vez da porta do


quarto, onde ela segue checando se já tem tudo o que precisará dentro da mala.
— Venha, se faltar alguma coisa nós podemos comprar lá.

— Já estou fechando, só um instante, — Ela responde e eu fico


aguardando ela fechar a mala para irmos para o quarto.

Quando chegamos ao quarto, não demoramos para dormir, pois pretendo


sair logo cedo para podermos aproveitarmos ao máximo. Aparentemente ela
estava bem cansada; apesar de agitada e curiosa sobre a viagem, adormeceu com
facilidade nos meus braços, e eu consegui descansar logo em seguida.
Kananda

Eros me acorda bem cedo, e como estou empolgada com a viagem nem
reclamo, o que é um milagre, diga-se de passagem. Após um banho rápido e
termos tomado apenas um café para não sairmos em jejum, colocamos as malas
no carro e partimos.

Depois de duas horas na estrada, ele me fala que já estamos chegando ao


nosso destino. Eu amo praia! Estou louquinha para colocar um biquíni e
aproveitar o sol.

— Enjoou de mim foi delegado? — Pergunto para provocar. — Hoje pela


manhã não quis me devorar como sempre faz ao acordar — completo e o vejo
sorrir malicioso.

— É impossível eu enjoar de você, princesa, é que os meus planos para


você nesse fim de semana são bem... intensos, por isso quis lhe dar um descanso
hoje, para você poder aguentar o que tenho em mente. — Ele fala e pisca para
mim e, meu Deus! Tenho vontade de pular no seu pescoço, fazê-lo encostar o
carro e montar nele agora mesmo, mas para não cometer uma loucura, resolvo
ficar calada, e ele decide me provocar:

— O que foi princesa? Ficou em silêncio de repente... — Ele fala e eu sei


que é única e exclusivamente para me ver no limite.

— Ah, delegado, você não faz ideia de quantos pensamentos pecaminosos


passaram por minha mente.

— Pois assim que chegarmos você vai me mostrar cada um deles. — Ele
responde sorrindo.

— Pode apostar que sim — o provoco de volta, e pelo seu sorriso sei que
ele é capaz de visualizar as mais diversas promessas.

Chegamos ao Resort e desde a entrada fico encantada com o local.


Enquanto Eros faz o check-in, admiro o ambiente do saguão decorado com
móveis modernos e elegantes, e desde a recepção já posso pressentir o quanto
nossa estadia será maravilhosa, em todos os sentidos.

Seguindo em direção ao chalé em que ficaríamos, já que optamos por ir


caminhando e não no transporte que eles oferecem para o traslado interno,
podemos ver uma ampla e convidativa piscina com várias cadeiras de sol
dispostas à sua volta e outras submersas em pontos que julgo ser mais rasos. É
tudo tão lindo que não consigo absorver todos os detalhes. Andamos de mãos
dadas, acompanhados pelo mensageiro do hotel que mais parece um hostess, de
tão falante que é. Enquanto caminhamos ele vai nos mostrando as áreas que
podemos ver e fala sobre as outras alas que não passamos.
Por mais que o trajeto tenha mostrado o quanto esse resort é maravilhoso,
nada me preparou para o que encontrei no Bangalô onde iríamos ficar. Quando
Eros abriu a porta e me deu passagem eu fiquei em êxtase! Nem precisaríamos
sair do quarto para aproveitar ao máximo a estadia, e agora entendi o porquê de
Eros ter “me poupado” hoje pela manhã: prevejo que ficaremos todo o final de
semana trancados aqui, transando como loucos.

O bangalô é construído sobre um espelho d’água. Conseguimos ver o


verde em todos os lados das paredes que são de vidro, nos proporcionando a
visão do ambiente externo. A decoração interna é fascinante: além de uma cama
imensa e confortável - o que eu já esperava encontrar - o Bangalô possui sala de
estar interna com sofás, poltronas e mesas; é realmente encantador.

— Gostou princesa? — Eros pergunta me abraçando por trás, e eu nem sei


o que responder porque eu realmente não esperava por tudo isso. — Vem, vou te
mostrar a área externa. — Ele me conduz para a varanda e, contrariando o que
eu imaginei, fico ainda mais surpresa com o local.

Temos uma vista maravilhosa do mar, e Eros faz questão de informar que
a praia é privativa. Ainda na área externa, e privativa, como ele frisou mais de
uma vez, vejo uma imensa piscina e uma jacuzzi na lateral. É tudo tão fascinante
que fico boquiaberta.

— Meu Deus, como é lindo tudo aqui! — Falo virando-me de frente para
ele e enlaçando seu pescoço com meus braços.

— Que bom que gostou, princesa. Senti que você estava precisando
relaxar um pouco. — Fala piscando o olho para mim. — Vem, vou pedir um café
da manhã reforçado para nós dois.

Depois do café da manhã divino que foi servido na área externa do


bangalô, estamos agora deitados numa rede, nos recuperando da comilança
exagerada. Eu repouso deitada com as costas apoiadas no peito de Eros, que me
mantém cativa entre suas pernas.

Por um momento, devaneio sobre o quanto minha vida mudou nos últimos
dias. Eros, com sua presença marcante, tem conquistado um espaço mais do que
especial em meu coração. Talvez eu esteja sendo precipitada, ou pode até mesmo
ser carência, mas sinto uma necessidade vital de estar com ele; não sei de onde
vem, mas em algum lugar dentro de mim, sinto que sua permanência na minha
vida é certa, sinto que ele estará presente sempre que eu precisa.

Ele não se tornou especial por ter me salvado, ou por estar me abrigando,
mas por tudo o que tem representado para mim. Desde que o conheci não me
senti mais solitária, agora tenho a sensação de pertencer a algo ou a alguém além
de mim mesma. Sentir-se sozinha é uma das piores sensações do mundo.

Sou tirada dos meus devaneios com as mãos de Eros passeando por baixo
da minha blusa e chegando aos meus seios, que ele apalpa com vontade. O
gemido que escapou dos meus lábios foi involuntário. Virei-me de frente para
ele e, olhando em seus olhos, passeio minhas mãos por seus cabelos macios,
então o beijo como se minha vida dependesse desse momento.

Estávamos necessitados um do outro, então o beijo não foi terno ou


carinhoso, foi exigente, intenso, cobrando tudo àquilo que estávamos sentindo.

Retirei sua camiseta acariciando sua pele em todos os locais que minha
mão conseguia alcançar. Eros me agarrou pela cintura me fazendo sentar sobre
si, largou momentaneamente minha boca e desceu a língua exigente pelo meu
pescoço, mordendo e deixando chupões pelo caminho que com certeza
deixariam marcas.

— Princesa, esse fim de semana vou te “marcar” como minha. — Ele


falou com a voz nublada de desejo, e a demonstração de posse só aumentou o
tesão que eu sentia. — Quero que todos saibam que, a partir de hoje, você é
minha mulher. — Eu gemi enquanto ele marcava tanto minha pele quanto minha
alma.

Após sua declaração, e ainda mais insana de desejo, me permiti ser sua:
sem restrições, sem medos, ansiando por mais doses daquele homem que me
enlouquecia com toques e palavras.

— Vou te fazer gemer e gritar que é minha incontáveis vezes. — Ele fala
enquanto tira minha blusa, em seguida meu shorts, e fica momentaneamente
paralisado com a visão.

— Gosta do que vê? — Pergunto maliciosa, rebolando minha intimidade


despida sobre seu membro duro feito pedra ainda preso dentro do short e da
cueca.
— Vou ficar plenamente satisfeito quando não existir um só pedaço do seu
corpo que não esteja marcado por mim.

Com um movimento rápido, Eros retira o short e a cueca juntos, nos


deixando nus e encaixados. Instantaneamente olhei em volta, com medo de
sermos vistos.

— Não precisa se preocupar, princesa, estamos sozinhos e temos todo esse


paraíso ao nosso dispor. Pode ficar tranquila que aqui ninguém vai nos ver. —
Ele me tranquiliza e volta a me beijar intensificando as carícias.

Rebolo meu sexo sobre o seu e ele estala um tapa na minha bunda, o que
me faz gemer ainda mais em seus lábios; a leve ardência seguida pela carícia, me
levam a loucura.

— Ahnn... Eros... — gemo quando sinto sua boca exigente sugar meus
mamilos, alternando entre eles e fazendo com que eu aperte ainda mais meu
corpo sobre o seu. Abaixo minha mão entre nós e acaricio seu membro com
firmeza, o que faz ele gemer e movimentar os quadris em minhas mãos.

— O que você quer princesa? — Eros pergunta com a voz cheia de tesão.
Rebolo em seu colo, insinuando o que desejo, e ao notar meu silêncio ele
completa: — Peça Kananda, peça e eu lhe darei o que quiser.

— Você, Eros. Eu quero você dentro de mim... — pedi, mas se fosse


preciso eu imploraria, porque senti-lo me preencher era tudo o que eu mais
desejava naquele momento, porém outra ideia surgiu em minha mente. — Eu
quero sentir você em minha boca — completei e escorreguei por seu corpo até
estar frente a frente com o meu objeto de desejo.

— Ah, caralho, como é gostosa! — Ele deixou escapar quando envolvi o


seu membro pulsante com meus lábios. Ele mergulhou suas mãos em meus
cabelos, puxando-os como um rabo de cavalo, deixando todo o meu rosto
exposto para que enxergasse tudo o que eu fazia. Tomei o quanto pude em minha
boca, alternando entre lambidas que iam desde a base até a cabeça grossa, e
chupadas mais intensas com o seu membro me preenchendo. Ele era assim,
perfeito, me preenchia de todas as formas.

— Vem cá, princesa, eu não quero gozar na tua boca, pelo menos não
agora. — Falou e me puxou para cima alinhando nossos sexos.
— Por favor, Eros... agora... preciso de você — Implorei. Senti quando ele
alinhou nossos sexos, se posicionando em minha entrada, e me olhou com todo
carinho, pedindo silenciosamente permissão para me preencher sem barreiras. O
beijei com sofreguidão, permitindo que ele me tomasse como quisesse.

— Meu Deus, como pode ser ainda mais gostoso? — Foi um misto de
pergunta retórica com incredulidade quando a sensação de plenitude me fez
revirar os olhos diante do prazer que me dominava por completo.

Embora eu estivesse por cima, Eros dominava totalmente a ação. Ele me


embalava no ritmo que desejava, e eu me permiti aproveitar cada segundo. Os
movimentos iniciais foram cuidadosos, lentos, mas aos poucos Eros foi
aumentando a força e a intensidade com que investia.

— Eros, mais forte, por favor — pedi enquanto o beijava de forma


alucinada, chupando o seu pescoço, deixando minha marca assim como ele havia
feito em mim.

— Minha Kananda. Você. É. Minha. — Pontuou cada palavra com uma


estocada forte e profunda.

— Sua... eu sou completamente sua, Eros — falei inebriada, constatando a


realidade palpável entre nós. Ele se perdeu em minhas palavras, estocando cada
vez mais forte, aumentando consideravelmente o volume dos nossos gemidos.

Nossos olhos não se desgrudaram nem por um segundo, e enquanto


gozamos em perfeita sincronia estabelecemos uma ligação ainda mais profunda.
Naquele momento eu me entreguei por completo e, assim como ele havia
avisado anteriormente, ele me fez irrevogavelmente sua.
Capítulo 19

Eros

Após o sexo maravilhoso na rede, pude constatar que possuir Kananda


sem nenhuma barreira entre nós elevou o nosso envolvimento para níveis
estratosféricos. Eu nunca me senti tão completo com uma mulher, e a sua entrega
plena só fazia com que me envolvesse cada vez mais.

— Vamos tomar um banho de piscina? — Chamei Kananda que estava


quase adormecendo sobre meu peito. Ela acenou com a cabeça positivamente,
então levantei da rede com ela em meus braços e me dirigi ao chuveiro que
ficava próximo a piscina. Coloquei-a no chão com cuidado, fiz questão de lavar
cada pedaço do seu corpo, e ao chegar em seu sexo e sentir meu líquido escorrer
por entre suas pernas, senti minha excitação voltar imediatamente; nem parecia
que havíamos acabado de gozar feito loucos.

Limpei sua boceta gostosa com cuidado, e finalizei, para comprovar que
havia executado um “trabalho” perfeito, chupando-a com intensidade. Ela gemeu
e agarrou meus cabelos enquanto eu me mantinha de joelhos à sua frente,
incapaz de me afastar do meu paraíso particular. Após alguns minutos nessa
posição, peguei Kananda novamente nos braços e nos joguei na piscina,
submergindo juntos.

Colei os nossos corpos e nos encaminhei para a borda mais rasa da


piscina. Com a mesma intensidade de sempre, mas com novos sentimentos
pairando entre nós, nos entregamos mais uma vez, e entre gemidos e sussurros
ouvi da sua boca aquilo que meu peito e mente me alertavam a todo momento:

— Eros... Eu estou apaixonada por você. — Kananda falou em súplica


enquanto chegava ao ápice do prazer.

— Eu também princesa — falei olhando em seus olhos, sem parar um


segundo sequer de estocar fundo em sua boceta gostosa. — Eu também me
apaixonei por você, e suspeito que tenha sido desde o primeiro momento que
nossos olhos se cruzaram — confesso, e com um gemido intenso de prazer ela
nos conduz novamente ao êxtase.

Ficamos ali na piscina, aproveitando por mais algum tempo e digerindo os


sentimentos que foram expostos, mas após duas intensas rodadas de sexo,
percebi que Kananda precisava descansar. Nós dois precisávamos, na verdade,
então fomos para o quarto e adormecemos abraçados, livres de qualquer
preocupação.

Quando acordamos mais tarde, Kananda me forçou fazer um tour pelo


Resort. Ela queria conhecer o lugar, estava encantada com cada detalhe, e eu não
a julgava, pois era realmente muito bonito. Eu ficaria completamente satisfeito
apenas em permanecer no nosso bangalô, porque a única coisa que eu tinha
vontade de explorar era o seu corpo, mas como essa mulher estava aprendendo a
me moldar em suas mãos delicadas, não pude fazer outra coisa além de satisfazer
suas vontades.

Voltamos para o quarto já quase anoitecendo, pedimos o jantar, e fomos


tomar banho enquanto aguardávamos o serviço de quarto. Tivemos um pequeno
embate porque eu queria tomar banho com ela e Kananda não deixou,
informando que se eu não deixasse a sua boceta gostosa “respirar” um pouco ela
voltaria para casa em carne viva, e seríamos impedidos de nos devorar por um
bom tempo. Tudo bem, ela não falou com essas palavras, mas o argumento foi
mais que suficiente para que eu a deixasse tomar banho sozinha.

Para meu desespero, Kananda já saiu do banheiro vestida, não deixando


que eu aproveitasse nenhum pouquinho sequer do seu corpo delicioso. Ela
praticamente me empurrou para o banheiro e, diferente dela, saí do banho
completamente nu, fazendo questão de exibir o meu pau gloriosamente duro e
desejoso dela.

Enquanto secava meu corpo de frente para o espelho pude ver o seu olhar
de cobiça sobre mim e sorri malicioso.

— Vejo que não sou o único “maníaco sexual” aqui nesse quarto —
gracejei e ela me jogou um travesseiro.

— Deixa de ser bobo, Eros. — Falou sorrindo. — Você faz isso de


propósito, não é? — Pergunta retoricamente. — Fica aí desfilando esse corpo
gostoso apenas para que eu não consiga me controlar.

— Huumm, então quer dizer que você não se controla ao ver meu corpo
“gostoso”? — Viro de frente para ela e seus olhos não desgrudam do meu pau
duro. — É muito bom saber disso, senhorita.

— Engraçadinho. — Ela fala após se recuperar. — Vá se vestir que o


nosso jantar já está chegando.

— Nossa, como ela é mandona — brinco. — É uma pena que suas ordens
não sirvam para o meu pau, que se mantém assim — aponto para ele — mesmo
quando você ordena o contrário — completo sorrindo. Ouvimos uma batida na
porta que imaginamos ser o serviço de quarto, pego uma cueca boxer preta, uma
bermuda e uma camiseta e me dirijo para o banheiro enquanto ela vai abrir a
porta.

Kananda pediu que o jantar fosse servido na área externa do bangalô e


realmente foi uma decisão acertada: à noite aquela área era ainda mais bonita. As
luzes da piscina e da área externa combinavam perfeitamente com as tochas de
fogo dispostas pela areia da praia que os funcionários do Resort haviam
acendido um pouco antes.

Pude enxergar à frente do nosso Bangalô, na parte da praia próximo às


tochas, uma estrutura de madeira que se assemelhava com um dossel, que não
havíamos percebido até aquele momento.

Jantamos, conversando e bebendo vinho. Quando acabamos, pegamos


nossas taças e, de mãos dadas, nos encaminhamos para a parte da praia. Ela
também havia notado o quão lindo aquele lugar estava à noite e percebi que,
assim como eu, ela havia ficado com vontade de ir até lá. Ao nos aproximarmos,
vimos que era ainda mais lindo do que imaginávamos.

— Eros, aqui é lindo. Parece um pedaço do paraíso. — Ela suspirou


quando a abracei por trás.

— Realmente, é lindo demais — falei beijando seu pescoço. — O que


acha de ficarmos um pouco aqui? — Ela concordou na mesma hora. — Então
vou pegar um cobertor e já volto. — Falei enquanto ela se sentava na estrutura, e
de perto pudemos ver que era feita de bambu com um colchonete disposto sobre
a base, se assemelhando com uma cama. Na parte de cima e nas laterais haviam
cortinas de um tecido leve e transparente amarradas com fitas.

Peguei uma garrafa de vinho, coloquei em um balde com gelo e levei


junto com um cobertor para o espaço onde Kananda me aguardava. Fiquei
inebriado com a visão da linda mulher que estava deitada recostada nas
almofadas com os olhos fechados, apenas esperando por mim. Nesse momento,
suspeitei pela primeira vez que o que eu estava sentido por ela era mais forte que
paixão.
Kananda

Enquanto Eros foi buscar o cobertor, deitei no colchonete macio e me


recostei nas almofadas. A lua cheia deixava seu rastro sobre o mar, e a cena linda
me fez fechar os olhos e agradecer a Deus pela oportunidade que ele estava me
dando de voltar a viver. Levei meus pensamentos também aos meus pais que, de
onde quer que estivessem, eu tinha certeza que estariam olhando por mim.
Senti o peso de Eros ao meu lado e abri os olhos sorrindo para ele. Além
do cobertor para nos proteger do vento, ele havia trazido a garrafa de vinho, e eu
poderia apostar, sem medo de perder, que nossa noite seria maravilhosa.

— Não me canso de te admirar. — Eros fala acariciando meus cabelos.

— E nem eu a você — retribuo a carícia em seu rosto perfeito.

Ele nos serve de vinho e entre beijos, carícias, sorrisos e conversas


cúmplices, nos amamos mais vezes do que sou capaz de contar.

Esgotados, Eros fechou as cortinas para nos proteger parcialmente do


vento, nos envolveu com o cobertor e, sobre o seu peito, dormi tranquilamente,
acordando apenas quando o sol já raiava no horizonte.

— Bom dia, preguiçosa. — Eros fala com a voz rouca de quem acabou de
acordar.

— Bom dia, príncipe encantado. — Faço alusão ao momento mágico que


vivemos durante a noite.

— Quer ir para o quarto? — Ele pergunta carinhoso.

— Acho que podíamos caminhar um pouco — respondo.

— Nossa, vejo que acordou bem disposta hoje. — Ele retruca.

— Na verdade, ver esse mar e esse sol tão lindos ao acordar, me fez ter
vontade de caminhar um pouco. Sem falar que não aproveitamos a praia ainda
— falei fingindo inocência. Ele entendeu a indireta e sorriu, já incorporando o
modo Eros safado de ser.

— Depois fala que eu sou insaciável. — Ele fala já levando minha mão
para a sua ereção, e sou incapaz de distinguir se é ereção matinal ou se ele já está
tão desejoso quanto eu.

— Vamos, venha — chamo já me sentando e colocando novamente o


vestido que estava usando na noite anterior. Eros veste a boxer e o short apenas.
Caminhamos por algum tempo de mãos dadas, sem precisar conversar, imersos
em pensamentos, sentindo na presença do outro a certeza de que estamos juntos.
Retornamos para o nosso Bangalô ainda caminhando pela praia deserta.
Paramos com os pés na água e Eros quebra o silêncio em que nos
encontrávamos:

— Princesa, há mais ou menos quinze dias nos conhecemos, e desde então


não conseguimos nos desgrudar. Imagino que isso seja tão estranho para você
quanto é para mim. — Ele me vira de frente para ele, prendendo nossos olhares.
Aceno positivamente, concordando com o que ele disse. — Na sexta-feira,
quando pensei em fazermos essa viagem, minha intenção era, é claro, aproveitar
o máximo possível com você, mas também queria oficializar isso que estamos
tendo, então essa viagem foi a forma que encontrei para pedi-la em namoro. —
Ele sorri, demonstrado, por poucos segundos, certa insegurança e medo do que
eu possa responder. — Você quer ser oficialmente minha namorada? Digo
oficialmente porque para mim, embora não tenhamos nomeado isso, é o que
você já é para mim.

— Sim, Eros. É claro que eu quero! — Eu praticamente grito, pulando no


seu pescoço e enchendo-o de beijos.

Ali mesmo tiramos nossas roupas e carinhosamente Eros me levou pra


dentro do mar. A água fria me fez tremer um pouco em seus braços, mas o calor
do seu corpo logo me aqueceu.

Com um beijo romântico, mas tão intenso e profundo quanto os que


estávamos acostumados a dar, Eros me manteve agarrada a si. Entrelacei minhas
pernas na sua cintura e me permitir ser sua mais uma vez.

O domingo passou mais rápido do que gostaríamos e infelizmente amanhã


teremos que voltar para nossas vidas.

Durante a semana vou me mudar para o apartamento novo; isso não


significa que vamos nos afastar, porque a distância que nos separará é de apenas
um andar. Adormeço pensando no quanto foi bom estar aqui com ele e em como
sentirei falta de dormir em seus braços.

Dormi praticamente durante todo o trajeto para casa. Eu estava exausta,


pois Eros havia exigido de mim mais do que imaginei ser possível. Bastava um
toque dele e eu já estava totalmente acesa e implorando por mais.

Como saímos bem cedinho do Resort, agora são 09h00 e já estamos


seguindo em direção aos nossos trabalhos.

— Passo para te buscar mais tarde. — Eros fala ao estacionar na porta da


farmácia.

— Vou te esperar ansiosa — o beijo com carinho. — Até mais tarde, meu
namorado — completo sorrindo.

— Até mais tarde, minha namorada. — Ele responde com uma voz grave
que me arrepia inteira.

Depois de mais alguns beijinhos eu desço do carro sorrindo feito boba;


não imaginava, nem nos meus melhores sonhos, estar tão feliz quanto agora.
Cumprimento os funcionários pelo caminho sem conseguir disfarçar o sorriso e a
alegria que emanam de mim, até que vejo Amanda encostada no balcão com cara
de poucos amigos e é instantâneo: toda alegria que o fim de semana me trouxe
vai por água abaixo.
Capítulo 20

Kananda

— O que você quer? — Pergunto irritada.

— Nossa, irmãzinha, já chega estressada em plena segunda feira? — Fala


de forma irônica, apenas para me irritar. — Nem um gostoso daquele consegue
melhorar esse mau humor, não é? Já vi que é um caso sem solução mesmo.

— O meu mau humor tem nome e sobrenome, e no momento,


infelizmente, está em pé bem na minha frente. — Respondo sua provocação à
altura.

— Culpada. — Responde levantando as mãos. — E acredito que minha


visita lhe deixará com o humor bem pior. — Completa sorrindo e eu reviro os
olhos.

— O que você aprontou dessa vez, Amanda? — Cruzo os braços tentando


me proteger do que quer que venha dela.

— Vamos conversar no seu escritório.

— Pare de joguinhos desnecessários, Amanda, diga logo o que você quer.

— Presta atenção, songa monga: da última vez em que eu estive aqui,


você disse o que bem quis e me enxotou da farmácia como se eu não fosse nada.
— Puxa uma respiração, pois a raiva contida em cada uma das palavras é quase
palpável. — Mas dessa vez será diferente, dessa vez você vai dançar conforme a
minha música. Eu dou as cartas e você vai jogar o meu jogo.

Ela me dá as costas e segue para o escritório batendo os pés; eu resolvo


segui-la para tentar acabar o quanto antes com essa situação ridícula. Faço um
sinal para Ana e ela acena um não para mim com a cabeça, implorando com o
olhar que eu não vá atrás dela. Ana já me falou diversas vezes que tem medo de
Amanda fazer algo grave contra mim, mas eu não acredito nessa hipótese, acho
que no máximo iriamos sair no “tapa”, como quando éramos crianças, mas ela
não seria capaz de nada além disso, tenho certeza.

Passo na frente de Amanda e abro a porta com a minha chave. Dou espaço
para que ela entre e Amanda segue direto para a cadeira que fica à frente da
minha mesa, sentando-se e cruzando as pernas. Guardo minha bolsa no armário e
sento-me no meu lugar.

— Pronto, pode parar a palhaçada e falar logo o que você quer, e eu já


adianto que não farei – falo ríspida.

— O que é que você acha, Kananda? Você acha que eu viria até aqui para
ouvir você me dizer um monte de desaforos como fez na semana passada? Que
você simplesmente mandou sua amiguinha e garota de recados me dizer que eu
não posso mais pisar aqui; que você vai depositar o valor que você acha que
deve me passar direto na minha conta e vai ficar por isso mesmo? — Ela fala
extremamente irritada, mas eu não respondo a sua provocação. — Porque se
você estava pensando que eu ia deixar por isso mesmo, você está muito
enganada irmãzinha.

— Amanda, entenda de uma vez: você nunca trabalhou, nunca fez nada
nessa sua vida medíocre; eu deveria lhe dar menos do que sempre dei desde que
nossos pais morreram, porque você não faz nada, nada para ajudar. EU NÃO
SOU SUA MÃE! — Grito irritada. — Não tenho obrigação nenhuma de sustentar
você, seus vícios, seus homens, sua vida desregrada.

Ela abre um sorriso sarcástico destilando tanto veneno que eu sinto um


calafrio, mas finjo que ela não me assusta.

— Olha só, a songa monga resolveu colocar as garras de fora e mostrar


quem é de verdade... Não irmãzinha, a mim você nunca enganou, então não
precisa ficar ensaiando a coitadinha, mostre quem você é realmente.

— Você só pode ser louca — falo ainda mais irritada. — Diga logo o que
quer e vá embora.

— Trouxe um presentinho para você, irmã. Espero que goste. — Ela retira
um envelope da bolsa e o arrasta sobre a mesa em minha direção.

Quando vejo o conteúdo do envelope meu coração falha uma batida, volto
a encará-la e só consigo pensar no quanto ela é ruim, no quanto eu me enganei a
vida inteira com ela.

— Gostou do presente? — Ela pergunta cínica e eu desvio o olhar


novamente para as imagens que eu tenho em minhas mãos.

Dentro do envelope existem várias fotos íntimas de quando me


relacionava com o Marcelo. Nas fotos nós estamos transando na casa dele, ou no
meu quarto; em algumas eu estou fazendo sexo oral nele. Meu Deus, de onde
isso saiu? Será que foi ele quem tirou? Há quanto tempo Amanda guarda isso?
Eu estou em pânico, não sei o que fazer. Sinto como se o mundo desabasse sobre
minha cabeça e eu não tivesse escapatória. Meu peito aperta cada vez mais.

— Você só pode ser louca, Amanda! De onde saíram essas fotos? Quem
as tirou?

— Ah, a santinha está com medo de ter a intimidade exposta é? — Fala


de forma cínica. — EU TIREI ESSAS FOTOS! Eu sabia que elas seriam úteis
em algum momento. — Ela fala exaltada. — Ter ficado com o seu noivo trouxe
pelo menos isso de bom para mim. Confesso que no início, quando eu o
provocava, quando eu andava de toalha pela casa e fazia questão que ele visse
minha boceta, quando eu o tentei até fazê-lo sucumbir, era apenas para te atingir,
para te machucar. Mas depois eu comecei a me envolver realmente com ele e ele
não queria te largar, então o meu ódio por você foi crescendo ainda mais. —
Consigo ver algumas lágrimas escorrerem por seu rosto; tão bonito, mas tão
cheio de maldade. — Eu não aguentava saber que o homem que eu amava, assim
como nossos pais, amava mais a você do que a mim. Meu ódio por você chegou
ao máximo quando nós estávamos transando e ele chamou por seu nome. Cansei
de ver vocês transando, Kananda, e depois de um tempo quando ele descobriu
que eu os via, ele fazia questão de se exibir para mim; eu me masturbava vendo
vocês transarem porque ele gostava disso, e eu também passei a gostar. Nós
combinávamos perfeitamente na cama, mas ele dizia que eu seria para sempre a
sua amante; que ele nunca deixaria de me comer, mas que você era a única que
ele seria capaz de casar. VOCÊ! SEMPRE VOCÊ, KANANDA. VOCÊ TIROU
TUDO DE MIM, VOCÊ MANTEVE TODOS QUE EU AMAVA AFASTADOS
e agora está aí, soberana, achando que eu vou viver apenas das migalhas que
você acha que mereço. Pois você está muito enganada, irmãzinha. Agora quem
vai dar as cartas sou eu, e parece que o jogo virou, não é mesmo? — Completa
cínica.

— VOCÊ. É. LOUCA. Não tem outra explicação — pontuo cada palavra,


sem acreditar nos absurdos que acabei de ouvir.

— Posso até ser, queridinha, mas vou te carregar junto comigo para o
hospício. — Amanda declara com toda calma.

Eu estou nas suas mãos: jamais deixaria que essas fotos vazazem, eu não
suportaria.

— O que você quer? — Pergunto reunindo o restante das minhas forças.

— Acabar com você! — Ela responde direta. — Mas por enquanto, vou
me contentar em ter você mantendo as despesas da casa, além, é claro, do valor
que já havíamos combinado, e, eventualmente, você paga algumas despesinhas
extras. Viu, não é nada demais, irmãzinha; a sua imagem fingida de boa moça
vale mais que isso, com toda certeza.

Ela não espera uma resposta de mim, porque sabe que eu farei o que
quiser, então se levanta e segue em direção a porta.

— Ah, só mais uma coisa: fique com essas fotos. Toda vez que pensar em
desistir do nosso novo acordo você vai olhar para elas e fazer exatamente como
eu quiser. — Ela vai embora batendo a porta.

Fico paralisada encarando a porta, sem saber ao certo o que fazer ou o que
pensar. Depois de um tempo, que eu não sei ao certo se foi longo ou curto, ouço
batidas na porta, e Ana entra em minha sala.

— Pela cara de felicidade com que Amanda saiu, suspeitei que a sua seria
exatamente o oposto. — Minha amiga, que conhece bem a nossa relação,
constata. — O que ela aprontou dessa vez, Nanda?

Ao ver uma das poucas pessoas em quem posso confiar, de pé na minha


frente, eu desabo em lágrimas. Conto tudo o que aconteceu e Ana me abraça,
oferecendo o conforto que eu precisava no momento. Ela respeita o meu
momento, me permitindo desabafar toda minha raiva, mas quando percebe que
eu estou mais controlada ela fala acariciando meu rosto:

— Nanda, você não pode ceder à chantagem dela.

— Eu não posso, Ana, mas vou! — Falo triste. — Se Amanda divulgar


essas imagens, o que vai ser de mim? Os meus pais... isso acabaria com eles,
Ana.

— Nanda, infelizmente os seus pais não estão mais entre nós, então eles
não podem sofrer por causa disso, e não se culpe pelas imagens, você não estava
fazendo nada demais, o Marcelo era seu noivo, era normal que vocês tivessem
relações sexuais. — Ela respira fundo e posso sentir a raiva que ela tenta
controlar. — Errado foi o que Amanda fez com você, errado foi ela invadir a sua
privacidade e tirar essas fotos; não coloque sobre os seus ombros um peso que
não é seu.

Sou incapaz de contestar as palavras da minha amiga, até porque ela tem
razão, mas eu não arriscarei que Amanda divulgue as imagens. Vou pensar no
que fazer, mas por hora, irei sucumbir aos seus caprichos.

— Se Eros souber disso... Se ele vir essas imagens... — como num estalo
a imagem dele vem a minha mente e falo para minha amiga. — Nós passamos
um final de semana maravilhoso, Ana, eu nunca estive tão bem desde que os
meus pais morreram. Porque Amanda me odeia tanto? — As lágrimas voltam a
rolar dos meus olhos.

— Shiuu... — Minha amiga volta a me abraçar carinhosamente. —


Amiga, se essas fotos vazarem, tenho certeza que ele irá entender. Converse com
ele, Nanda, conte o que aconteceu hoje, ele vai saber como ajudá-la, afinal ele é
delegado, não é?

Eu nego horrorizada: — Não Ana! De forma nenhuma ele pode ficar


sabendo dessas fotos! Ele é delegado, não vai querer se relacionar com alguém
que teve sua vida exposta dessa forma. Eu vou pensar em uma saída, prometo
que vou.

Conversamos mais um pouco e depois tentamos focar no trabalho. Sei que


Ana fez isso para tentar me distrair do problema, mas infelizmente não surtiu
efeito: era impossível esquecer o que aconteceu.
Entre lágrimas e momentos de puro ódio, o dia passou como um borrão;
quando menos esperei, deu o horário que Eros havia combinado de me buscar
para irmos para sua casa, e eu não posso deixar de me questionar até quando
durará minha felicidade ao lado dele, porque sei que Amanda fará de tudo para
acabar comigo.
Capítulo 21

Eros

Passei o dia todo atarefado na delegacia, mas nos poucos momentos de


folga tentei falar com Kananda, sem obter sucesso. Ela respondeu minhas
mensagens de forma evasiva, e eu consegui senti que havia algo errado. Fiz o
impossível para não perder o controle, para não largar tudo e ir até a farmácia
verificar pessoalmente se estava tudo bem com ela. Agora, enquanto dirijo para
finalmente vê-la, a ansiedade parece me corroer por dentro.

Paro de frente à farmácia e, diferente dos outros dias, ela não me aguarda
no balcão. Peço para Ana, a sua amiga, que a chame para mim. Depois de alguns
minutos, que mais parecem uma eternidade, ela surge no corredor, e posso notar,
pela sua feição e rosto inchado, que esteve chorando, e muito por sinal. Abraço-
a carinhosamente e ela retribui. Me despeço de Ana e seguimos para o carro.
Kananda se manteve em silêncio durante todo o trajeto para casa e eu fiz questão
de respeitar seu silêncio, ainda que isso me massacrasse por dentro.

— Vou pedir algo para jantar, o que você quer? — Pergunto assim que
entramos em casa.

— Estou sem fome, Eros, e com um pouco de dor de cabeça. Acho que
vou tomar um banho e descansar um pouco. — Ela fala seguindo para o quarto.

— Princesa, o que aconteceu? — Não consigo mais fingir, não dá.

— Não foi nada. — Ela responde e sei que está mentindo. — É só uma
dor de cabeça mesmo.

— Tudo bem, vou providenciar alguma coisa para jantarmos — falo


desconsiderando o que ela disse. Como ela foi para o quarto de visitas, sigo para
o meu e após um banho vou para a cozinha.
Encontro um pote com um caldo verde que Joana deixou preparado na
geladeira; ela sabe que gosto muito e sempre deixa pronto. Coloco em uma
panela para esquentar e, enquanto isso, arrumo uma bandeja com algumas
torradas e suco de laranja para dois. Sirvo o caldo em duas tigelas e levo tudo
para o meu quarto. Como eu esperava, Kananda não está lá, então deixo a
bandeja no criado mudo e vou buscar minha namorada.

— Posso entrar? — pergunto batendo na porta.

— Pode. — Ela responde.

Quando abro a porta vejo que ela já está deitada na cama, debaixo dos
lençóis; sigo até a cama e sento-me ao seu lado.

— Princesa, já percebi que não quer conversar sobre o que te deixou


assim, mas preciso saber uma coisa: foi algo que eu fiz? — Faço a pergunta que
não sai da minha cabeça.

— Não, Eros. — Ela senta na cama e acaricia o meu rosto me


tranquilizando. — É que... São alguns problemas pessoais, mas vai passar. —
Ela fala.

— Então se são problemas pessoais, me deixa cuidar de você. Se não quer


me contar tudo bem, eu entendo, mas não me afasta de você. E se decidir me
contar, eu estarei aqui para ouvi-la e tentar ajudar, farei tudo o que estiver ao
meu alcance, tudo bem? — Falo e ela concorda com a cabeça.

— Agora vem, vamos para o nosso quarto. Não vou deixar você dormir
sozinha e triste — falo pegando-a no colo, e finalmente vejo o sinal de um
sorriso quando deposito um beijo carinhoso em seus lábios.

Coloco Kananda na cama e entrego sua tigela com o caldo. Sento-me à


sua frente e, entre conversas sobre o fim de semana para tentar distraí-la do
problema, noto que ela consegue comer um pouco e até dar alguns breves
sorrisos.

Terminamos o jantar e sinto que ela está mais calma, recolho tudo e levo
para a cozinha. Quando volto ela está escovando os dentes para dormir, faço o
mesmo e deitamos na cama de “conchinha”. Ela adormece enquanto eu fico a me
perguntar o que pode ter acontecido para deixá-la assim.
— Princesa, você foi ao hospital tirar os pontos e refazer o curativo da sua
perna que estava marcado para ontem? — Pergunto, pois depois que ela dormiu
notei que ela ainda estava com os pontos.

— Esqueci. — Ela responde como se não tivesse problema nenhum em ter


esquecido algo assim.

— Ok, então vou levá-la antes de ir para a delegacia — informo, tentando


controlar o impulso de reclamar com ela por estar sendo tão descuidada consigo
mesma.
— Não precisa, eu irei. — Ela responde.

—- Era para você ter ido ontem — continuo —, mas como não foi, hoje
eu a levarei. — Ela revira os olhos, mas não me importo com isso; vou levá-la de
qualquer forma.

Embora ela tenha tentado argumentar, eu a levo para o hospital. A


enfermeira que tira os pontos informa que não precisa mais manter os curativos,
apenas tomar alguns cuidados com a assepsia do local.

Seguimos para a farmácia com ela ainda calada, com o olhar perdido.
Logo que ela entra, vejo sua amiga chegando; sei que não deveria fazer isso, mas
não consigo controlar:

— Ana, um momento por favor — chamo descendo do carro rapidamente.

— Ah, oi Eros. — Ana fala olhando para os lados, procurando pela amiga.
— Aconteceu alguma coisa? Onde está a Nanda? — Sinto um pouco de aflição
em sua voz.

— Não aconteceu nada, ela acabou de entrar... Quer dizer, aconteceu sim.
Eu sei que aconteceu alguma coisa ontem, mas Kananda não quis me contar o
que foi — passo as mãos no cabelo de forma nervosa. — Ana, eu sei que você
gosta muito da Nanda, então, por favor, me ajude a ajudá-la. Quando a busquei
ontem a noite senti que ela não estava bem, mas ela não se abriu comigo. Passou
a noite toda inquieta, se remexendo durante o sono. Por favor, se você sabe o que
aconteceu com ela, me conte — praticamente imploro para sua amiga.

— Eros... — Ela começa, mas para de repente. — Olha só, realmente


aconteceu algo aqui ontem, mas eu não posso te contar o que foi, é algo pessoal,
não cabe a mim falar. Essa é uma história dela, ela tem que decidir se conta ou
não.

— Que merda - passo nervosamente as mãos no cabelo - eu sei Ana, eu


entendo, mas é que estou preocupado com ela e não sei o que fazer para ajudá-la.
Me perdoe por ter te pressionado, eu realmente não esperava outra atitude sua
que não fosse de lealdade à Nanda. De toda forma, eu te agradeço — falo já me
preparando para ir embora enquanto ela concorda com a cabeça. — Tchau Ana
— me despeço e vou em direção ao carro.
— Eros, espera. — Ouço Ana chamar e paro enquanto ela vem até mim.
— Eu não posso te contar exatamente o que aconteceu, mas posso te dizer que
tem a ver com a Amanda; foi aquela cobra que fez isso com minha amiga, e
Eros, eu não confio nela. Nanda tenta minimizar, mas eu sinto que a qualquer
momento Amanda pode fazer algo sério com minha amiga, e eu não me
perdoaria se não tentasse ajudá-la mesmo que contra sua vontade. — Ana fala de
uma vez, como se desabafasse algo que não consegue mais segurar. — Por favor,
fica atento a Amanda, não deixe que ela faça nada com Nanda. — Ela suplica.

— Não vou deixar, Ana, eu prometo — afirmo. — Ficarei de olho nela. E


Ana, obrigada pela confiança — agradeço com sinceridade e me despeço.

Enquanto dirijo para a delegacia, decido que vou investigar Amanda. Se


ontem eu estava perdido, hoje não estou mais; tenho uma direção, a ponta do fio
do novelo para começar a puxar, e sei que a melhor tática contra os inimigos é
estar um passo à frente deles. Posso não saber o que aconteceu, mas seja o que
for eu estarei preparado para defender Kananda contra qualquer ameaça.
Capítulo 22

Eros

(Quinze dias depois)

Naquele mesmo dia em que deixei Kananda na farmácia e Ana me falou


sobre a visita indesejada da Amanda, conversei com Enrico sobre a situação
entre as irmãs e, assim como eu, ele também achou estranho demais, então,
mesmo sabendo que não era o certo, eu e meu amigo começamos a investigar a
Amanda. Hoje, com o dossiê completo em mãos, só confirmei minhas suspeitas
de que a irmã da minha princesa não é flor que se cheire.

Ela está envolvida com uma quadrilha que faz tráfico de armas e drogas,
embora nunca tenha sido presa ou investigada por isso. Quando coloquei alguns
homens em sua cola, descobri que, por se tratar de uma pessoa que não
"levantava suspeitas", o amigo dela, o mesmo que estava no hospital no dia em
que ela ameaçou Kananda, começou a usá-la para fazer a entrega de armamentos
e de quantidades maiores de drogas, ou seja: ela está envolvida até o pescoço
com gente da pior espécie.

Apesar da cena constrangedora que eu e Kananda presenciamos àquele dia


na casa delas, hoje sou capaz até de agradecer, porque se não fosse por isso ela
ainda estaria morando sob o mesmo teto que a irmã.

Na mesma semana em que voltamos de viagem, Kananda mudou-se para


o apartamento que fica um andar acima do meu, mas isso não nos afastou; não
dormimos sequer uma noite afastados: ou eu durmo no apartamento dela, ou ela
dorme no meu, mas o que importa é que não conseguimos mais ficar longe um
do outro.

Kananda não quis me contar o que houve entre ela e a irmã no dia em que
voltamos da viagem, mas sei que foi algo sério e que ainda a deixa muito
nervosa, mas vou respeitar a sua privacidade. Parei de pedir que ela me contasse
que aconteceu, só pedi a Ana que ficasse de olho, que se ela notasse qualquer
movimentação suspeita me avisasse imediatamente. Eu sabia que podia contar
com ela para manter minha mulher segura, e respeitar o espaço de Kananda não
significa ser negligente com sua segurança.

Hoje está fazendo um mês que estamos juntos e vamos sair para
comemorar. A seguradora já enviou o carro reserva para Kananda enquanto o
dela não fica pronto, então não tenho mais levado e buscado ela no trabalho, isso
porque ela não quer, porque seria um prazer poder ficar com ela um pouco mais
todas as manhãs.

Já são quase 18h e estou rodando feito louco pela delegacia procurando
Enrico para saber se ele não quer sair comigo, Kananda e Lara hoje à noite. Elas
duas estão cada dia mais apegadas, e por mais que Lara e Enrico neguem, eu sei
que volta e meia estão se pegando pelos cantos, então não custa nada dar uma
ajudinha.

Como não encontro meu amigo e não quero me atrasar, envio uma
mensagem para Kananda informando que estou saindo da delegacia e indo direto
para o meu apartamento.

Chegando em casa, tomo um banho, visto uma calça jeans escura e uma
camisa social preta dobrada até o antebraço, calço um sapatênis, passo perfume e
subo rapidamente, ansioso para buscar minha princesa para podermos sair. Nós
não decidimos ainda para onde vamos, mas sinceramente, não me importo:
qualquer lugar com ela se torna especial.

Toco a campainha e aguardo Kananda abrir, e quando ela abre agradeço a


Deus por não ter encontrado Enrico na delegacia. Kananda usava um mini
vestido preto colado ao corpo, com uma meia arrastão que ia até o meio de suas
coxas, finalizando com uma cinta liga, além dos saltos altos, totalmente pronta
para me matar.

— Boa noite, delegado. — Kananda fala de forma provocante, enquanto


apoia uma das mãos no batente da porta, fazendo com que seu vestido, que já
não era longo, subisse ainda mais, me permitindo admirar cada pedaço de sonho
que ela chamava de corpo. Só então desvio os olhos para o seu rosto e fico
hipnotizado pelo seu batom vermelho sangue.
Kananda

— Oi princesa. — Eros responde com a voz rouca de desejo, e eu o puxo


para dentro pela gola da camisa, batendo e trancando a porta em seguida.

Não espero um minuto sequer para beijá-lo como desejei durante todo o
dia, e ele corresponde com a mesma voracidade; o nosso beijo é quase sexo
explícito: nos devoramos com as nossas bocas.
Quando me afasto um pouco, vejo que Eros me olha como se não
estivesse acreditando no que estava vendo. Eu sabia que se queria provocá-lo
pelo menos um pouco teria que me afastar dele por alguns instantes, pois resistir
a ele era uma missão impossível.

O conduzi até o sofá, e depois que ele se acomodou sentei com uma perna
em cada lado do seu quadril, alinhando minha boceta com seu membro que já
estava muito duro. Rebolei sobre ele enquanto continuávamos nos devorando
com a boca e quando Eros, que até então mantinha sua mão acariciando minha
bunda sobre o vestido, tentou invadi-lo, eu o impedi e levantei para buscar vinho
para nós dois.

— Princesa, não faz isso comigo. — Ele pede quando levanto do seu colo.
— Olha só como eu estou? — Fala, apertando o delicioso volume em suas
calças, e em seguida segura minhas pernas, me puxando para ficar entre as suas.
— Nós não fizemos reserva em nenhum restaurante, preciso te comer antes de
sairmos e não podemos demorar. — Ele fala e noto que está torturado com a
dúvida iminente entre sairmos ou ficarmos aqui, aproveitando apenas nossos
corpos.

— Calma, meu amor, temos todo tempo do mundo. Hoje não vamos sair,
eu fiz o jantar para nós dois — aponto para a mesa cuidadosamente posta, e só
agora ele desvia o olhar de mim para observar o restante do ambiente.

— Ah, então vem cá. — Ele me puxa e eu caio sobre ele no sofá. Na
mesma hora Eros desce por meu pescoço, depositando beijos e chupões que me
fazem esquecer momentaneamente o plano inicial.

— Eros... — peço ofegante — Por favor, espera só um pouco — suplico,


mas já não tenho certeza se quero continuar provocando-o ou se quero aproveitar
o que ele está me oferecendo.

Ele se afasta a contragosto e consigo levantar do sofá. Sinto um tapa forte


estalar em minha bunda e em seguida ele fala:

— Vai amor, mas não demora, não quero ser obrigado a estragar os seus
planos. — Com essa promessa eu praticamente corro para a cozinha para pegar o
vinho.

Entrego a taça para Eros, que dá um longo gole na bebida e me puxa


novamente para si. Nossas línguas se permitiram iniciar sua transa particular,
devorando cada pequeno espaço que encontravam.

Perdida de tesão, senti Eros levantar meu vestido e suspendi os braços


ajudando-o na tarefa; por mais que eu quisesse dominar a situação, com Eros era
impossível, ele era intenso demais, para se permitir ser dominado e eu,
sinceramente, adorava.

Quando estava apenas com o conjunto de calcinha, sutiã, ligas, meias e


salto alto, Eros me fez ficar de pé e girar para que ele conferisse todo o
“material” que ele dispunha ali.

— Gostosa. — Eros falou me parando de costas para ele, que ainda estava
sentado no sofá, e deixou uma mordida em minha bunda, logo acariciada por sua
língua.

Ainda de pé, Eros pressionou minhas costas para frente, fazendo com que
eu apoiasse as mãos no centro que havia na sala, e ficasse exposta para ele.
Quando fiquei na posição que ele queria, ele arrastou minha calcinha para o lado
e lambeu todo o meu sexo, me surpreendendo ainda mais quando iniciou um
“beijo grego”. Embora ninguém nunca tivesse feito àquilo comigo, eu amei, e
quase gozei enquanto ele penetrava minha boceta com o dedo e lambia o meu
“lugar proibido” com gosto. Acontece que os planos de Eros eram outros:
quando sentiu que eu estava prestes a gozar, ele parou.

Ele me deitou novamente no sofá, tomou mais um gole do vinho e voltou


a chupar minha boceta com ferocidade e desejo. Não sei em qual momento Eros
rasgou a minha calcinha, só sei que ao me recuperar do primeiro - e intenso -
orgasmo da noite, ela estava jogada em pedaços no chão do meu apartamento.

Eros me beijou com ferocidade, e o sabor do vinho misturado com o meu


me fez enlouquecer ainda mais de desejo. Com uma urgência antes desconhecia,
comecei a desabotoar a sua camisa, já que ele ainda estava vestido e, tão rápido
quanto, retirei sua calça junto com a cueca.

— Está ansiosa, amor? — Eros pergunta me provocando, sabendo que eu


estou enlouquecida de tesão.

—- Demais, meu delegado, sequer consegui seguir o meu plano inicial,


que era jantarmos primeiro para só depois eu jantar você — falo com a voz
cheia de desejo e ele sorri safado.

— Não se preocupe, amor, hoje eu vou te comer antes do jantar, durante o


jantar e depois do jantar. Você será a melhor sobremesa. — Fala e volta a
devorar minha boca sem piedade.

Eros me abriu para ele e, com as pernas envoltas em sua cintura, ele
estocou de uma só vez. A invasão repentina me fez revirar os olhos; ele parou
por alguns segundos, mas logo voltou a estocar com força e rapidez. Não
demoramos para gozar porque o tesão estava forte demais para controlar.

Depois de saciarmos o desejo mais urgente, tomamos um banho rápido e


seguimos para a mesa de jantar usando apenas as toalhas.

— Princesa, senta aqui no meu colo. — Ele pede batendo na perna.


Enquanto eu nos sirvo de lasanha, ele coloca mais vinho nas taças, e incapaz de
negar qualquer coisa a ele, me sento em seu colo, sabendo que comer será uma
tarefa bem difícil.

Como havia prometido, Eros me provocou durante todo o jantar. Na


verdade eu praticamente não comi. Havia feito uma lasanha por saber que ele
adora massas, mas também por ser um prato mais rápido, já que eu não consegui
sair mais cedo da farmácia. Mas comer sentada em seu colo, ouvindo as mais
variadas safadezas que ele gostaria de fazer comigo, tornou impossível me
concentrar em outra coisa que não fosse o seu membro duro “cutucando” minha
bunda.

Quando terminamos o jantar, Eros me pegou no colo e seguiu para o


quarto. Ele me colocou na cama com delicadeza e me amou com carinho e
cuidado, venerando cada pedaço do meu corpo, e quando gozamos juntos, Eros
falou o que eu também já sabia, mas fingia não enxergar:

— Eu amo você Kananda, minha princesa. — Falou sem desviar os olhos


dos meus nem por um segundo.

— Eu também te amo, meu Eros — confirmei para que ele soubesse que
eu sentia o mesmo.

Depois dessa declaração, Eros beijou cada parte do meu rosto e corpo.
Exaustos e saciados, adormecemos nos braços um do outro, com a certeza
de que o que sentíamos era verdadeiro e recíproco.
Capítulo 23

Kananda

(Cinco meses depois)

Há cinco meses Eros e eu estamos juntos, e posso afirmar que nunca fui
tão feliz. Ele tem se mostrado um homem maravilhoso, compreensivo e
dedicado; se não fosse pela presença e ameaça constantes da Amanda, poderia
afirmar sem sombra de dúvidas que minha vida estava perfeita.

Continuo morando no mesmo prédio que Eros e ele vive insistindo para
que eu entregue o meu apartamento. Ele argumenta que é um gasto
desnecessário, pois sempre estamos juntos, então por ele eu poderia
tranquilamente me mudar de uma vez. Ainda que isso não faça diferença, já que
desde que começamos a namorar não dormimos uma noite sequer separados, eu
prefiro manter o meu cantinho; prefiro “não colocar a carroça na frente dos
bois”. Ele reclama, mas no fim entende e não fica me pressionando demais.

Hoje à noite nós vamos para uma boate com Lara e Enrico. Nós sempre
fazemos alguns programas juntos, e embora eles dois vivam soltando farpas, eu
sei que, no fundo, o sentimento de carinho e cuidado falam mais forte.

Estou indo buscar Lara no apartamento dela para irmos ao shopping,


vamos almoçar juntas e comprar algumas coisas que estamos precisando.

Essa amizade com Lara tem me feito muito bem. Nós estabelecemos uma
conexão muito forte, o tipo de relação que eu gostaria de ter com Amanda.
Minha cunhada é bem “louca”, mas extremamente carinhosa e cuidadosa; temos
abertura para falar sobre tudo, com exceção de Enrico e sentimentos
relacionados a ele.

Embora vez ou outra ela admita que estão passeando na cama um do outro
– eu particularmente acredito que a frequência é maior do que ela conta - ela
afirma veementemente que é apenas tesão, que o sexo com ele é bom e que não
passa disso. Quando tento entrar na área dos sentimentos, ela se fecha como uma
concha ou fica logo de cara feia, e isso aumenta a minha certeza de que eles dois
nutrem sentimentos muito mais fortes do que só tesão.

— Oi amor, estou aqui embaixo, pode descer — ligo para Lara assim que
estaciono na portaria do seu prédio.

— “Tô” chegando, Nanda, me aguarda cinco minutos. — Pelo barulho eu


percebo que ela está no trânsito.

— Lara, você atendeu ao telefone enquanto pilota? — Pergunto em tom


de repreensão.

— Tchau cunhadinha, em cinco minutos eu chego aí. — Ela fala,


encerrando o sermão e a ligação, e eu fico feito boba encarando o aparelho em
minhas mãos. Já cansei de falar para ela, e cada vez mais minha teoria se
confirma: Lara é a versão masculina de Eros. Acho que é por isso que
conseguimos estabelecer uma relação tão sólida em tão pouco tempo.

Como ela havia dito ao telefone, em cinco minutos eu vejo a morena linda
parar a moto em frente ao meu carro. Ao tirar o capacete, seus cabelos deslizam
sobre os ombros: Lara é definitivamente uma mulher de “parar o trânsito”, mas
para conseguir ficar com ela o homem tem que ser tão ou mais intenso do que
ela, senão será ofuscado por sua imponência.

Ela caminha em minha direção:

— Vou guardar a moto no estacionamento e já te encontro aqui. — Ela


fala, e sem esperar resposta segue de volta para a moto.

Quando volta pela portaria, depois de guardar a moto, um homem passa


de carro e buzina para ela, chamando-a de gostosa. Na mesma hora Lara levanta
o dedo do meio e grita um sonoro IDIOTA para o cara. É impossível não sorrir
com as atitudes impulsivas da minha cunhada; foi esse jeito espontâneo dela que
me conquistou tanto quanto o irmão.

— Oi Nanda, que saudade! — Ela fala me abraçando depois de entrar no


carro. Embora ostente essa postura de mulher independente, Lara é
extremamente carinhosa.

— Oi amor — retribuo o abraço. — Eu também estava com saudades.

— Então, “partiu” nossa tarde de compras? — Ela pergunta sorrindo.

— Claro que sim — sorrio de volta.

— Nanda, você não sabe o que aconteceu na audiência que eu estava


agora a pouco. — Ela fala e começa a sorrir sem parar.

— Então você estava em audiência? É por isso que "Elvira" está mais para
"Cinderela" hoje? — Brinco com ela usando o apelido dado por Enrico, e que
utilizamos para irritá-la vez ou outra. Hoje ela está vestida com uma calça flare
vermelha social com cintura alta, camisa branca de botões e um scarpin preto -
que ela calçou assim que desceu da moto e tirou a bota que usava para pilotar.
Completando o look, ela carregava uma bolsa Prada.

Linda e perigosa demais.

— Ha, ha, há, cunhadinha, nem vou te responder. — Ela reclama sem
estar realmente chateada. — Mas voltando, olha só o que aconteceu hoje: a
audiência de hoje era de instrução, sobre um homicídio que o meu cliente
supostamente teria cometido. Quando o interrogatório do réu estava sendo
realizado, um escorpião surgiu de dentro do ar condicionado e começou a descer
pela parede. Eu vi, mas fiquei na minha, mas quando a juíza viu, ela deu um
grito que até o réu pulou na cadeira. Pense em uma gritaria! Todo mundo
correndo dentro da sala de audiência para longe do bicho, os policiais segurando
meu cliente que tremia de medo... Aí, vendo aquela palhaçada sem que ninguém
tomasse uma atitude, tirei meu salto 15cm e cravei no meio do corpo do bicho.
Quando virei para voltar ao meu lugar, todos me olhavam como se eu fosse uma
louca; não sei se ficaram com mais medo de mim ou do escorpião depois disso.
— Ela fala sem conseguir parar de rir. — Eles trouxeram um pote de vidro sei lá
de onde e, com o auxílio de uma caneta, retirei o bicho que estava preso no meu
salto e coloquei no pote. O jeito que me olhavam era impagável Nanda, ninguém
encostou mais em mim, como se eu fosse o próprio escorpião. É claro que não
perdi a piada e falei para a juíza que se meu cliente tinha praticamente se urinado
por conta de um “bichinho inofensivo” imagina se teria tido coragem para matar
alguém. — Ela sorri ainda mais.
— Você é louca, Lara. — Comento gargalhando e no trajeto para o
shopping ela me conta mais algumas histórias hilárias que aconteceram com ela.
Eu não sei como ela consegue se meter em tantas loucuras e quase tenho um
ataque de risos.

Comemos entre risos e conversas e depois vamos passear pelo shopping,


entrando nas mais diversas lojas. Compramos lingeries, roupas e sapatos.

Passamos em frente a uma loja que ostenta alguns lindos vestidos para a
noite e Lara me puxa para dentro dizendo que vamos escolher os looks de hoje.
Ela realmente se empolga quando vem ao shopping, as incontáveis sacolas em
nossas mãos comprova o quanto somos consumistas, mas atire a primeira pedra
a mulher que não se empolga ao vestir ou calçar algo que fica perfeito em você.
Além disso, não fazemos isso com frequência, então quando temos a
oportunidade aproveitamos ao máximo.

Após provarmos diversas roupas, eu e Lara finalmente escolhemos as que


iremos usar hoje, e posso apostar que os nossos acompanhantes terão vários
“mini infartos” assim que nos virem.

Lara apostou em um vestido preto de couro, colado ao corpo e com um


decote profundo que ia até o seu umbigo. Para suavizar o look, optou por calçar
uma sandália nude amarrada ao tornozelo.

Eu optei por um vestido azul marinho colado até a cintura e com a saia
“estilo boneca”. A frente dele é mais discreta, mas o diferencial estava nas costas
que ostentava um decote totalmente aberto até a cintura. Completei o look com
uma sandália preta de tiras finas.

— Lara, já chega — falo entre risos. — Vamos para casa senão nos
atrasaremos para a noite.

— Só mais uma lojinha. — Ela fala brincando e eu sorrio enquanto


seguimos em direção ao elevador que nos levará ao estacionamento.

Quando chegamos ao estacionamento eu lembro que não pagamos a taxa


para liberar nossa saída. Lara me entrega suas sacolas e volta para pagar
enquanto eu sigo em direção ao carro.

Enquanto guardo as compras no porta malas, sinto uma mão me puxar


bruscamente, me virando de costas para o carro. Dou de cara com Amanda e
aquele seu amigo, e sinto todos os pelos do meu corpo arrepiarem.
Capítulo 24

Kananda

Um calafrio desce pela minha coluna. Paraliso, completamente sem fala.


Minhas pernas tremem. Olho para todos os lados e não vejo uma pessoa sequer
para me socorrer e isso me apavora.

Enquanto tento controlar o medo, Amanda quebra o silêncio:

— Então quer dizer que enquanto me dá migalhas, você passa dia todo no
shopping se enchendo de roupas e sapatos caros para desfilar com o
namoradinho novo? — Ela pergunta cínica.

— Amanda, você sabe muito bem que você hoje fica com a maior parte
dos lucros da farmácia por causa da chantagem que me fez — respondo com
cuidado.

Desde o dia em que ela esteve na farmácia e me chantageou com as fotos


comprometedoras, eu a vi poucas vezes. Ela sempre ia na farmácia, mas Ana,
ciente de toda situação e com medo das atitudes de Amanda, nos impedia de
ficar a sós. Eu sempre deixava com ela os lucros do mês, e sempre que Amada ia
pedir mais dinheiro, Ana intermediava.

Nesse último mês, as idas de Amanda à farmácia para pedir mais dinheiro
se intensificaram, o que fez com que Ana chamasse a minha atenção: o lucro da
farmácia não estava mais cobrindo os gastos, então eu havia começado a tirar
das minhas economias. Minha amiga sabia que o meu plano era comprar a parte
de Amanda na farmácia, e ela tinha razão em brigar comigo por estar gastando
minhas economias. Embora eu soubesse que teria que dar um basta nos exageros
de Amanda em algum momento, ainda não sabia como iria fazer.

— Até parece. — Ela resmunga. — Eu precisava mesmo te encontrar


sozinha, já que aquele seu “cão de guarda” se acha no direito de impedir as
nossas conversas, irmãzinha.

— Amanda, a farmácia não mais está dando conta de sustentar as suas


despesas “extras”, eu não sei mais o que fazer — falo desesperada.

— Então eu tenho a solução para os nossos problemas, meu bem. — Ela


fala cínica. — Vim te comunicar que você terá que vender a farmácia, pois eu
quero minha “parte” de 70% em dinheiro, para ontem.

Eu não posso acreditar no que acabei de ouvir.

— Você só pode estar de brincadeira! — Praticamente grito.

— Ei, fale baixo. — O amigo de Amanda, que estava em silêncio até o


momento, se manifesta. — Você não vai gostar das consequências se chamar
atenção de alguém aqui. — Ameaça, e eu engulo em seco.

— Amanda, eu estava juntando dinheiro para comprar a sua parte, mas os


seus gastos exagerados têm me feito mexer nas minhas economias; eu não tenho
todo esse dinheiro agora — falo desesperada. — Não posso vender a farmácia,
era o sonho dos nossos pais, por favor, entenda — suplico.

— OS NOSSOS PAIS ESTÃO MORTOS! — Ela grita, e o amigo segura


em seu braço para acalmá-la. — Não quero nem saber o que você vai fazer, só
sei que eu quero o dinheiro!

— VOCÊ NÃO PRESTA! — Grito cheia de ódio, e com uma coragem


que não sei de onde vem, dou um tapa forte no rosto de Amanda. Ela não
esperava pela minha atitude, mas o seu amigo age rápido, me agarrando pelos
cabelos e me imobilizando.

— Vai Amanda, desconta sua raiva nessa putinha, depois nós pensamos o
que fazer. — Ela se recupera do susto e quando vem em minha direção sou
arremessada no chão pelo homem que me segurava.

Não consigo descrever exatamente o que aconteceu, pois foi rápido


demais, só sei que Lara esta mantendo o amigo de Amanda debruçado sobre o
capô do carro, imobilizado e sob a mira de um revólver.
— Nem pense nisso! — Lara grita quando Amanda faz menção de ir para
cima dela para ajudar o amigo, e imediatamente Amanda para. — Kananda, liga
para o Eros. — Ela fala, mas eu ainda estou em choque, paralisada pela situação.
— AGORA! — Lara grita, me fazendo sair do transe momentâneo. Sem pensar
em mais nada, reviro minha bolsa a procura do celular. Quando encontro
Amanda grita comigo:

— Não faça isso, Kananda! — Me olha cheia de ódio. — Manda a sua


amiga soltar o Diogo agora, ou você vai se arrepender. — Ameaça.

Eu estava entre a cruz e a espada.

Lara tinha razão, o certo a fazer era ligar para Eros. Eu vinha sendo
ameaçada, ou melhor, ameaçada e extorquida há muito tempo. Acrescente
também a agressão. Não bastasse tudo isso, Amanda ainda queria me obrigar a
vender a farmácia e lhe dar além do que lhe era de direito. Por outro lado, a
ameaça clara na voz e na expressão de Amanda me deixava em pânico.

Ficamos as três duelando com os olhos enquanto o tal Diogo estava no


mesmo lugar. Cava vez que ele tentava se mexer Lara lhe dava uma coronhada
ou chutes nas pernas, o que o fazia ficar quieto imediatamente.

— Vai Nanda, ligue pra ele. — Lara pediu novamente, agora com a voz
controlada, percebendo que naquele momento eu estava passando por um
conflito interno. Mas bastava que eu olhasse para Amanda para que a certeza do
que eu deveria se esvaísse.

Depois de segundos, que mais pareceram horas, eu finalmente decidi o


que fazer, e, infelizmente, Amanda sairia vitoriosa mais uma vez.

Eu estava sendo o que sempre fui: uma pessoa fraca e miseravelmente


covarde.

— Lara, eu... eu não posso. Por favor, solta ele, deixa eles irem — peço
com os olhos rasos d’água.

— Isso mesmo vadia, decidiu pelo certo. — Ele teve coragem de falar.

A raiva de Lara foi tão grande que ela deu uma coronhada que rompeu o
supercílio dele.
— Vadia... — ele ia completar, mas Lara não deixou.

— Complete a frase e vai sair daqui com uma bala alojada no meio das
suas pernas. — Decretou e ele se calou imediatamente. — Nanda, por favor,
ligue para o meu irmão. Eu não sei o que estava acontecendo aqui, mas não ceda
às ameaças. — Lara falou mais uma vez, e as lágrimas empoçadas nos meus
olhos rolaram pela minha face.

— Não posso Lara... — falo entre soluços. — Me perdoe, mas eu não


posso.

(In)felizmente, Lara fez o que eu pedi, deixando o homem que estava sob
sua guarda levantar aos poucos, mas me puxando para perto de si, garantindo
assim minha proteção. Em nenhum momento ela abaixou a arma, e eu tinha
certeza que não hesitaria em puxar o gatilho.

— Me espere na farmácia, maninha, vamos terminar essa conversa, pode


esperar. — Amanda falou enquanto eles se afastavam.

— Isso não vai ficar assim, sua Puta desgraçada. — O amigo de Amanda
falou limpando o sangue que escorria por seu rosto, mas bastou Lara fazer
menção de ir atrás deles que eles correram feito dois cachorros assustados.

Enquanto Lara se mantinha de pé, com arma em punho, garantindo que


eles realmente haviam ido embora, eu deslizei encostada no carro, e no chão frio
do estacionamento chorei desesperada, sem saber o que fazer da minha vida, sem
saber como sair dessa situação, e por mais que eu tenha pensado, não consegui
vislumbrar nenhuma saída.

Eu estava perdida.

— Nanda, você está bem? — Não sei quanto tempo faz, se horas, minutos
ou segundos, mas Lara se abaixa ao meu lado, e carinhosamente acaricia meu
rosto. Percebendo o tamanho do meu desespero, ela me puxa em sua direção: —
Vem amor, vamos sentar aqui no carro. — Ela fecha o porta malas que ainda
estava aberto, me coloca dentro do carro e assume o lugar de motorista. — Nós
vamos para minha casa, tudo bem? — Eu só consigo concordar com a cabeça.

No caminho, vejo ela ligar para Eros pelo bluetooth do carro e arregalo
meus olhos em pânico. Percebendo minha aflição, ela aperta minha mão de
forma carinhosa, tentando me acalmar.

— Oi maninho — Lara fala quando Eros atende a ligação.

— Oi minha linda, tudo bem? — Ele pergunta e meu coração acelera.

— Olha, eu e Nanda terminamos nossas compras agora e vamos para o


meu apartamento. Você pega ela lá para a gente sair mais tarde, tudo bem? —
Ela fala e eu respiro aliviada.

— Certo Larinha, sem problemas. Cadê a minha princesa? Deixa eu falar


com ela.

— Oi amor — luto comigo mesma para manter a voz normal.

— Oi meu amor. Porque resolveu se arrumar com a Lara? Achei que


íamos aproveitar um pouco antes de sair. — Ele fala malicioso, sem imaginar o
que acabou de acontecer.

— Eros, o telefone está no viva-voz, se controle. — Lara fala ao meu lado.

— Desculpe maninha, eu não sabia. — Ele fala sorrindo. — Amor, te


pego mais tarde então, estou ansioso. — Completa.

— Tudo bem, amor, eu te espero. — Acho que minha voz sai um pouco
embargada, porque ele pergunta logo em seguida:

— Amor, está realmente tudo bem? Sua voz não está normal. — Sua fala
demonstra o quanto é ligado em todos os detalhes. Não é a toa que é considerado
um dos melhores delegados da cidade; ele e Enrico são imbatíveis.

— Sim — forço o máximo que posso para falar naturalmente —, está tudo
bem. Te espero mais tarde. Amo você.

— Eu também te amo. Até mais tarde, princesa. — Ele mal acaba de falar
e Lara encerra a ligação, pois eu havia começo a chorar.

Logo que chegamos ao apartamento de Lara, ela me dá uma toalha e me


manda tomar um banho, e eu realmente precisava disso. Ela se manteve calada
durante todo o caminho, mas sei que estava me dando espaço para poder me
interrogar no momento certo.

Minhas suspeitas se confirmam quando saio do banheiro ainda enrolada


na toalha e ela me chama do sofá.

— Nanda, vem aqui. — Me chama batendo no lugar ao seu lado, e eu faço


como ela pediu. — Meu amor, eu sei que existe alguma coisa muito séria
acontecendo. Se você quiser me contar, eu prometo te ajudar no que eu puder. —
Ela fala segurando minhas duas mãos, transmitindo todo carinho que sente por
mim.

— É... é difícil Lara — as lágrimas voltam a rolar.

— Eu sei Nanda, mas tente desabafar, vai ser bom pra você. — Ela me
incentiva, e como se uma barragem se rompesse, eu falo tudo o que tem
acontecido entre eu e Amanda. Ela segura minha mãos o tempo inteiro, e nos
seus olhos consigo enxergar labaredas de raiva.

Quando finalmente termino o meu desabafo, ela começa:

— Nanda, eu sei o quanto foi difícil para você me contar tudo isso.
Confesso que a minha vontade é ir até a sua irmã e enchê-la de porrada, mas
infelizmente eu não posso. — Ela faz uma pausa para respirar e passa as mãos
nervosamente pelos cabelos. — Não sei como você estava aguentando isso tudo
sozinha, meu bem. — Completa carinhosa.

— Eu não aguento mais, Lara, eu não sei o que fazer. O desespero me


domina.

— Conte tudo para o Eros, Nanda. Ele, melhor do que ninguém, pode
ajudar você. — Ela fala o óbvio, que eu evito enxergar.

— Não, isso não. Com que cara eu vou ficar se essas fotos vazarem e ele
vir? — Pergunto chorando.

— Nanda, isso foi há muito tempo, vocês nem se conheciam. Meu irmão
vai entender, eu tenho certeza. Lara fala e eu nego com a cabeça. — Olha só,
agora vamos nos arrumar e ficar lindas para os nossos homens, ou melhor, você
fica linda para o seu homem e eu fico para mim mesma, porque não tenho
homem nenhum. — Ela fala e eu consigo sorrir um pouco. — Vamos aproveitar
a noite o máximo que pudermos, e amanhã você conversa com Eros.

— Não, Lara, eu não tenho coragem — falo desesperada.

— Se você quiser, eu fico com você quando for falar com ele. — Ela
oferece.

— Eu tenho vergonha, Lara — admito.

— Kananda, é o seguinte: — ela se levanta e coloca as mãos na cintura,


como uma mãe quando quer repreender um filho desobediente. — Vou te dar
três dias para você contar a ele. Se você não contar, eu contarei. — Ela decreta e
eu arregalo os olhos em desespero.

— Por favor, Lara, não faz isso — cubro o rosto com mãos.

— Amor — ela se abaixa na minha frente e tira minhas mãos do meu


rosto para poder olhar nos meus olhos. —, eu não estou fazendo isso para lhe
prejudicar, estou fazendo para lhe ajudar. Amo você como amo meu irmão e o
En... — Ela se cala de repente, ciente do que estava prestes a falar. — Eu não me
perdoaria se alguma coisa acontecesse com você, e eu tivesse como impedir; se
eu estivesse ciente da situação e não tivesse feito nada. Se você não contar, eu
contarei. Não os detalhes do que você me disse, porque isso é uma coisa pessoal,
mas o que eu presenciei. Eros tem que saber o que está acontecendo, tudo bem?
— Ela fala e só me resta concordar, porque realmente é o certo a ser feito. Eu só
não sei ainda quais as consequências que contar tudo para Eros trará.

Ficamos alguns minutos abraçadas, e aos poucos eu me acalmei.

— Agora vamos, precisamos nos arrumar porque hoje a noite promete. —


Ela chama me puxando do sofá.

Resolvo tomar mais um banho para ver se melhoro essa cara de choro.
Começamos a nos produzir e Lara consegue me distrair com suas loucuras, me
fazendo rir muito. Quando já estamos praticamente prontas, recebo uma
mensagem de Eros informando que está a caminho. Vestimos as roupas
escolhidas à tarde e Lara pega uma long neck para bebermos enquanto
esperamos.

— Lara, obrigada pelo que você fez hoje por mim — agradeço com todo
carinho, pois se não fosse por ela eu não sei o que teria acontecido.

— Por nada. — Responde. — Precisando, é só gritar por socorro. — Pisca


para mim.

— Eu não sabia que você andava armada. — Foi realmente uma surpresa
vê-la empunhando uma arma com segurança, isso me fez admirá-la ainda mais.
Eu já me acostumei com Eros e a sua, sempre presente, “companhia”, inclusive,
fico até excitada, porque ele fica ainda mais poderoso com uma arma na mão,
mas eu não sabia que Lara também tinha uma arma.

— Eu tenho posse e porte de arma, mas também, sendo advogada


criminalista, irmã e ex-namorada de delegado, não tinha como ser diferente. —
Ela dá de ombros. — Enrico me ensinou a atirar e Eros sempre fez questão que
eu tivesse aulas de defesa pessoal, então eu acabei pegando gosto pela coisa. —
Ela fala como se fosse uma coisa natural.

Continuamos conversando amenidades por um tempo, até que ouvimos o


som da campainha. Deixamos as garrafas sobre o balcão americano, pegamos
nossas clutchs e seguimos para a porta. Decido que hoje não vou deixar nada me
abalar, não irei pensar na tempestade que se aproxima. Amanhã é outro dia, e
agora que conversei com Lara me sinto mais confiante. Sei que no fim tudo dará
certo, só espero que não demore muito, porque eu não aguento mais viver na
corda bamba.
Capítulo 25

Eros

Chego para busca Kananda e Lara para sairmos, mas antes passo na casa
de Enrico. Sei que o idiota deve estar em cólicas querendo logo ver Lara, mas
não quer dar o “braço a torcer” indo até lá.

— Vamos Enrico. — Chamo após bater na porta. Não demora e ele sai. —
Porque não foi chamar as meninas? — Provoco.

— Preferi esperar você chegar, assim passo menos tempo olhando para a
“cara feia” da sua irmã. — Ele responde enquanto tranca a porta, mas
rapidamente toca a campainha do apartamento em frente ao seu.

— Nossa! Realmente pude ver como você quer “demorar” para vê-la —
gracejo. — Trancou a porta e tocou a campainha numa velocidade que mal fui
capaz de acompanhar.

— Idiota. — Enrico resmunga na hora em que a porta se abre nos


presenteando com a visão das duas mulheres mais lindas que já vi.

— Enrico, se prepare para termos problemas hoje à noite — falo para o


meu amigo. — Meninas, não achei que fosse possível, mas vocês estão ainda
mais lindas do que já são — falo, elogiando minha irmã e minha namorada.
Puxo Kananda para perto de mim depositando um beijo carinhoso em seus lábios
seguido por um cheiro no seu pescoço. — Oi princesa, estava com saudades —
falo no seu ouvido. — Você está muito gostosa — completo e ela sorri
envergonhada por causa de Enrico e Lara que estão perto de nós.

— Obrigada, meu amor. — Kananda agradece enquanto beija os meus


lábios, retribuindo o carinho. — Você também está divino. — Elogia. — Ou
melhor, vocês dois estão muito bonitos, Acho que eu e Lara teremos problemas
em dobro hoje.

— Obrigada pelo elogio, maninho. — Lara agradece. — E cunhadinha, o


problema será apenas seu, já que eu estou “livre, solteira e desimpedida;
não importa o que falem, eu só quero curtir a vida!” — Ela canta a letra de um
funk que eu nunca ouvi, mas sei que foi apenas para provocar Enrico. Acredito
que surtiu efeito, pois o vejo passar as mãos nervosamente pelos cabelos.

— Vamos? — Enrico chama e percebo pelo seu tom de voz o quanto está
irritado. — A propósito, você está realmente linda hoje Kananda. — Ele elogia
minha mulher e sei que quis provocar Lara; esses dois não tem jeito.
Kananda

— Leva o carro. — Eros joga a chave do seu Jeep Compass para Enrico.
— Vou com Kananda aqui atrás, preciso matar a saudade da minha mulher.

Lara faz cara feia, mas segue para o banco do passageiro ao lado de
Enrico, e eu e Eros nos acomodamos no banco traseiro. Nós estamos indo a
boate de um amigo deles de faculdade que irá inaugurar hoje. Eros me falou que
embora tenha se formado em direito, o amigo preferiu seguir o ramo do
entretenimento e é hoje o dono de uma das maiores redes de boates no país.

— Você está muito gostosa com essa roupa, meu amor. — Eros fala,
depositando alguns beijos molhados em meu pescoço.

Tento controlar Eros por todo o trajeto; o homem está em brasa. Por mais
que eu tenha tentado segurar sua “mão boba”, ele deu um jeito de suspender a
parte de trás do meu vestido - que para a sorte dele era mais solto a partir da
cintura -, e acariciar o meu sexo, que já estava totalmente molhado por sua
culpa. Foi difícil controlar os gemidos quando seus dedos acariciaram meu
clitóris, mas resisti bravamente à “prova de fogo” tentando puxar assunto com
Enrico e Lara, que evitavam conversar entre si. Quando chegamos à boate, Eros
fez questão de lamber os dedos que me acariciavam, me fazendo ter vontade de
arrastá-lo imediatamente para longe dali.

Entramos na boate por uma porta lateral, graças a Deus sem precisar
enfrentar a fila imensa que se formou à frente da nova boate. Não perdi os
olhares direcionados à nós: olhares de cobiça vindo de mulheres e homens pela
postura imponente de Eros e Enrico; os olhares masculinos destinados a nós
eram mais discretos e controlados, já as mulheres faziam questão de babar
descaradamente nos dois homens que nos acompanhavam.

Eu me mantive grudada em Eros a todo instante, sem chance de deixá-lo


exposto, e Lara, ao perceber a forma explícita como as mulheres babavam neles,
discretamente aproximou-se de Enrico. Embora diferente de mim e Eros que
andávamos abraçados, se alguém olhasse com um pouco de atenção veria que
eles dois estavam juntos.

Dentro da boate Eros me colocou à sua frente, para poder me abraçar e


facilitar nossa passagem por toda a aglomeração do local. Enrico fez o mesmo
com Lara que, mesmo à contra gosto, permitiu a aproximação para facilitar a
ida até a área VIP onde ficaríamos. Bom, essas foram às palavras dela, embora
eu tenha visto de relance Enrico falando algumas coisas em seu ouvido, e ela
sorrindo satisfeita, sem conseguir fingir que não estava gostando da aproximação
entre eles.

Quando chegamos na área VIP os homens foram buscar bebidas para nós,
e eu e Lara nos direcionamos para o parapeito. Daqui de cima tínhamos uma
visão maravilhosa do local, que estava lotado. Na cabine - que ficava de frente
para área onde estávamos - o DJ embalava diversos hits que faziam as pessoas
dançarem enlouquecidas; as músicas tocadas eram variadas, iam desde batidas
eletrônicas à músicas nacionais e internacionais conhecidas.

Eu e Lara começamos a dançar no ritmo das músicas. Quer dizer, Lara


dançava e eu me balançava tentando imitar seus passos. Essa mulher me
impressionava mais a cada minuto; eram muitas habilidades em uma única
pessoa. Além de aguerrida, independente, determinada, segura, sabia se defender
muito bem e dançava como se fosse profissional. Empolgada com ela, arrisquei
alguns “passos”. Quando nossos maravilhosos acompanhantes voltaram com as
roscas que pedimos e o Whisky para eles, continuamos a dançar empolgadas.

— Acho que minha irmã está tentando matar o meu amigo... — Eros falou
no meu ouvido quando me abraçou por trás, deixando que eu sentisse sua ereção
contra minha bunda. — Você também está querendo me enlouquecer hoje, não é
princesa? — Pergunta mordendo o lóbulo da minha orelha. Eu faço questão de
não lhe responder, apenas esfrego minha bunda ainda mais nele e ele rosna no
meu ouvido.

A área VIP começa a ficar um pouco mais cheia e Lara aproveita para
provocar ainda mais Enrico. Em determinado momento ela me puxa para voltar
a dançar com ela, e eu me solto. Não sei se é por causa das 04 caipiroskas e
algumas Long Necks que já tomei, mas nunca me senti tão empolgada. Enrico e
Eros fazem uma barreira com seus corpos atrás de nós, como se isso fosse capaz
de impedir que outros homens nos olhassem - o que é impossível, tendo em vista
a quantidade de pessoas que estão em volta de nós.

Já passa das três da manhã e Lara continua muito empolgada. Volta e


meia, além da sua bebida ela toma o copo de Enrico e dá algumas goladas no
Whisky dele, ele faz cara feia para ela, mas sabe que isso não a intimida. Se ele
negar, é capaz dela mesma ir ao bar e pegar uma dose inteira para ela. A mulher
já é naturalmente geniosa, bebendo então, não se controla.

Quando começa a tocar a música Terremoto, de Anitta & Kevinho, vejo


Lara perder o controle e provocar descaradamente Enrico ao som das batidas da
música.

Continuo dançando, muito mais contida do que ela, é claro, mas é


impossível não se render a batida da música que nos leva imediatamente aos
vídeos da cantora que é um ícone com suas paradinhas e seu quadril de mola.

— Kananda, se você rebolar mais uma vez esse rabo gostoso no meu pau,
eu não vou mais conseguir me controlar. — Eros fala em meu ouvido.

— E quem disse que eu quero que você se controle? — Viro de frente para
ele e, envolvida pela música, pela bebida e pelo momento, me permito ousar, e
aperto o seu membro sobre a calça. Eros geme na minha boca e me devora. Não
penso nas consequências, não penso na quantidade de pessoas que tem em volta
de nós, apenas pego sua mão e o arrasto para o fundo da área VIP. O local tem
alguns sofás dispostos, e mal conseguimos nos ver por causa da iluminação
quase inexistente; isso com certeza foi pensado de forma proposital para acolher
casais mais empolgados, tal como nós nesse momento.

— Kananda. — Eros adverte quando, após tê-lo sentado, me jogo em seu


colo, não com as pernas abertas em sua cintura como eu queria, mas ainda
consigo sentir sua ereção na minha bunda.

— Eros — respondo rebolando em seu colo. O beijo com intensidade e ele


corresponde com desejo e luxúria a minha investida. Por hora, esqueço todos os
problemas em que estou envolvida e aproveito o momento como se fosse o
último.
Eros

Kananda me beija com voracidade e eu correspondo seu desejo que


espelha perfeitamente o meu. Embora eu tenha percebido em alguns momentos
que ela estava um pouco apreensiva, no decorrer da noite, acredito que por causa
da bebida e de toda empolgação do momento, ela foi se soltando. Agora, sentada
em meu colo, sentido com certeza minha ereção em sua bunda, ela rebola para
me provocar. Olho rapidamente para os lados, tentando visualizar os riscos de
exposição para a minha mulher, e quando constato que há poucas pessoas em
volta, coloco minha mão disfarçadamente embaixo do seu vestido e Kananda
geme em minha boca.

— Já está toda molhadinha, minha gostosa? — Pergunto em seu ouvido e


ela acena em concordância me olhando nos olhos e me beijando em seguida.

Eu devorei sua boca sem conseguir me controlar. Nossas línguas “se


comiam”; eu não conseguia afastar meus dedos da sua boceta pulsante, mas, por
mais que eu quisesse, eu não iria comê-la aqui... Isso não me impedia de lhe dar
um delicioso orgasmo, lhe preparando para o que teríamos quando finalmente
chegássemos em casa.

— Rebola no meu pau gostosa — ordeno, e como boa menina que é, ela
obedece. Com a mão livre aperto sua bunda gostosa enquanto estoco dois dedos
em sua boceta apertada e pressiono seu clitóris com o polegar.

— Eros... por favor. — Implora perdida em desejo.

— Por favor o que, gostosa? — Pergunto. — O que você quer, amor?


Quer gozar é? — Provoco apertando ainda mais seu ponto inchado, e em
resposta a sua boceta aperta meus dedos.

— Sim, quero gozar... Eu preciso gozar. — Kananda implora e eu não


resisto, intensifico as carícias.

Sinto sua boceta contrair ainda mais os meus dedos e estoco mais
rapidamente, enquanto chupo seu pescoço e ela geme em meu ouvido, até que
sinto os espasmos do seu orgasmo nos meus dedos. Desacelero os movimentos,
mas continuo acariciando sua boceta gostosa. Quando ela enfim se recupera,
retiro minha mão do meio das suas pernas e chupo os dedos, assim como fiz
quando descemos do carro, para tentar aplacar o desejo que sinto dela.

— Amor, vamos embora — chamo, pois a noite aqui na boate já deu o que
tinha que dar. Eu preciso ir para casa e me afundar em minha mulher

Kananda levanta e me puxa pelas mãos. Procuramos Lara e Enrico e não


encontramos, então ficamos aguardando por um tempo no local onde eles
estavam. Quando vejo que estão demorando demais tento ligar para o celular da
minha irmã, que cai direto na caixa postal, então ligo para o de Enrico, e após a
terceira ligação consecutiva ele atende.

— Fala brow. — Enrico diz.

— Onde vocês se meteram? — Pergunto pressionando o aparelho no


ouvido por causa do barulho em volta.

— Vim trazer Lara no banheiro, já estamos voltando. — Ele fala e


rapidamente desliga.

Eu e Kananda ficamos abraçados aguardando os dois, e Pietro, dono do


local e meu amigo, vem até nós.

— Grande delegado Eros. — Ele fala e me cumprimenta com dois


tapinhas no ombro.

— Fala Pietro. Cara, você arrasou nessa boate, ficou ainda mais incrível
do que as outras. — Elogio porque é a verdade. — Essa é Kananda, minha
namorada. — Apresento-a.

— Finalmente alguém conseguiu “prender” o delegado mais fugitivo


dessa cidade. Só uma mulher tão linda quanto você para realizar essa proeza. —
Ele fala em tom de brincadeira. — É um prazer conhecê-la, Kananda, sou Pietro.
— Se apresenta estendendo a mão para ela.

— O prazer é meu. — Minha mulher responde, e ele a puxa e deposita um


beijo em cada lado de sua bochecha. Olho-o com cara feia e ele dá de ombros.

— Xii, já vi que temos mais um louco possessivo. Vou me afastar de


vocês, vai que isso pega! — Brinca fazendo referência a Enrico e agora a mim
também. — Por falar nisso, cadê o paspalho? Não quis vir?

— Veio sim — respondo. — Ele foi acompanhar Lara até o banheiro; já


devem estar voltando.

— Eu já ia me retirar, mas vou esperar só pra poder provocar ele um


pouquinho. Você sabe, não posso perder a chance. — Fala sorrindo, e engatamos
numa conversa sobre a nova inauguração e o sucesso que está sendo, e Kananda
aparentemente gosta dele, porque ela interage conosco tranquilamente.

— Amigo, acho que vou contratar sua mulher para gerenciar minhas
boates. — Ele fala e ela sorri um pouco sem graça.

— Que é isso, minha experiência é apenas com administração de


farmácias. — Ela responde encabulada.

— Que nada, você me deu dicas valiosas de administração; deve ter sido
uma aluna exemplar. — Elogia e ela agradece.

Enrico e Lara aparecem, vindo em nossa direção. Quando vê o Pietro,


Enrico fecha a cara; nós três nos damos muito bem, mas quando Lara está por
perto, Pietro gosta de provocar Enrico, então ele sempre fica tenso.

— Oi Enrico. — Pietro cumprimenta sem empolgação. — Oi Larinha. —


Fala todo galante. — Já estava indo embora, mas quando seu irmão me disse que
você estava aqui, resolvi esperar para ver a mulher mais linda que já vi na minha
vida. — Fala puxando-a para um abraço.

Olho para Enrico e a sua cara de poucos amigos mostra que se pudesse,
sacaria sua arma e daria um tiro em Pietro ali mesmo.

Quando Pietro, finalmente, solta Lara, ele estende a mão para Enrico que a
aperta, imagino que com força excessiva, por causa da “cara” que Pietro faz.

— Oi meu amigo. — Enrico fala se aproximando de mim e Pietro, e fala


baixo para que apenas nós dois possamos ouvir: — E “Larinha” é a cabeça do
meu pau, seu viado. — Completa passando a mão na frente da calça, o que faz
com que eu e Pietro comecemos a gargalhar.

Lara e Kananda se empolgam em uma conversa, e nós três também, e


contrariando meus planos, demoramos ainda mais para irmos embora; quando
saímos da boate já são 04h30 da madrugada.

Eu volto dirigindo, pois bebi apenas um copo de Whisky logo que


chegamos na boate. Enrico e Lara vão no banco de trás, e pelo retrovisor posso
ver os olhares cúmplices que trocam.

Deixamos eles dois no prédio e seguimos para casa. Nesse ponto eu já


estava com certa urgência em me afundar em minha mulher, e foi o que fiz
incontáveis vezes assim que entramos em casa, começando na porta e
terminando em nossa cama onde, após tê-la feito gozar três vezes e ter gozado
duas, dormimos exaustos.
Capítulo 26

CAPÍTULO BÔNUS

Enrico Chiarelli

Quando Eros me chamou para irmos à inauguração da nova boate de


Pietro, e principalmente quando disse que Lara iria conosco, eu fiquei
empolgado imediatamente. É claro que eu iria com meu amigo, mas ter Lara
conosco era um bônus que me agradava, e muito, exceto pelo fato de ser uma
boate de Pietro e nosso amigo, aquele filho da puta, tinha prazer em me irritar
sendo galanteador com Lara. Eu sei que ele só fazia aquilo para me provocar e
que nunca ficaria com ela em respeito a nossa amizade, mas isso não diminuía
1% sequer do quanto ele me irritava com essas merdas.

Eu vivo na cola de Lara, não dou sossego para ela, mas a peste
provocante, é o próprio diabo de saia. Ela quase sempre acaba cedendo às
minhas investidas, mas insiste em não oficializar o que temos, porque sim: nós
temos alguma coisa. Indefinida, eu sei, mas que existe, existe.

Já tentei de todas as formas convencê-la de que eu não sou mais aquele


idiota inconsequente que fui um dia. Tudo bem que a minha “inconsequência”
durou por tempo demais, mas não mais. Agora eu vivo definitivamente por ela, e
ela insiste em me maltratar, em me fazer rastejar aos seus pés.

Já tem algum tempo que eu não me importo mais, nem mesmo com as
piadas dos meus amigos. Meu lema atual é: Insistir, persistir e alcançar! Tenho
vivido de momentos com ela, e fico satisfeito com cada um deles porque sei que
eles me levarão a tê-la permanentemente em minha cama, em minha vida.

Mas voltando ao presente: Eros ter me chamado para sair é uma clara
oportunidade de ter mais algum tempo com ela em meus braços, então, enquanto
tomo banho, sei que não vou precisar me masturbar mais uma vez porque hoje
terminarei a noite com a mulher da minha vida em minha cama, tendo meu pau
enterrado em sua boceta quente e gostosa.

Visto uma calça Jeans escura rasgada e coloco uma camisa branca de
botões, dobrando a manga até a altura do cotovelo e deixando as tatuagens que
tenho nos dois braços expostas. Escolhi essa roupa porque sei que ela gosta
quando me visto assim, mais despojado e selvagem. Nem preciso fingir porque
sei que vocês já perceberam que tudo o que faço é pensando nela, por isso me
arrumei para ela sim, me juguem se quiserem.

Quando toco a campainha do apartamento de Lara e a vejo abrir a porta, a


vontade que tenho é coloca-la no ombro, tirar a roupa indecente que ela está
vestindo e trocar por outra, mas sei que não adiantaria, ela me mandaria à merda
- na melhor das hipóteses -, e nós já iríamos começar a brigar de casa, o que não
seria muito bom para meus planos, então prefiro ficar calado. Acontece que a
mulher está gostosa pra caralho! Que porra de decote é esse nos peitos? Só de
pensar em colocar minha boca neles meu pau já se alegra nas calças.

Durante o trajeto até a boate nós não conversamos muito, mas fiz questão
de, vez ou outra, acariciar meu pau, que está duríssimo com a visão dela sentada
ao meu lado, e noto que ela acompanha cada movimento da minha mão com os
olhos, até peguei ela mordendo os lábios uma das vezes; isso aí, ponto para mim.

Quando chegamos à boate, ela tenta se manter afastada de mim, mas


quando passamos pelas pessoas e as mulheres começam a nos dar olhares nada
discretos, Lara faz questão de se aproximar, demarcando seu território, o que me
faz sorrir internamente, porque sei que ela é tanto quanto ou mais possessiva que
eu.

Entramos no ambiente que já está lotado e percebo o quanto meu amigo


conseguiu crescer com suas boates. Fico feliz por Pietro, ele merece esse
sucesso. Ele foi obrigado pelo pai a cursar a faculdade de direito quando essa
claramente não era sua vocação. Ele sempre quis isso, entretenimento, e eu e
Eros sempre o incentivamos. Que bom que ele conseguiu alcançar o que sempre
desejou.

Vejo Eros colocar Kananda entre seus braços para poder caminhar pelo
ambiente sem que ninguém encoste nela, e é logico que eu faço o mesmo com
Lara. Nem fodendo que vou deixar esses marmanjos suados encostarem na
minha mulher.

— Sai pra lá, Enrico. — Ela fala quando eu a abraço, tentando tirar
minhas mãos da sua cintura. Eu aperto ainda mais meus braços em volta dela.

— Fica quieta, Elvira — falo em seu ouvido para provocar. — Nem


fodendo que eu vou deixar esses homens nojentos e suados encostarem no seu
corpo gostoso que eu terminarei a noite passeando minha língua — completo
mordendo o lóbulo da sua orelha.

— Mas é muita pretensão da sua parte. — Ela responde, mas já não tenta
retirar minhas mãos que a envolvem. — Vai se iludindo que eu terminarei a
noite com você.

— Não é pretensão, amor, é certeza. — Falo sorrindo. — Sei que você não
vai me deixar ficar nesse estado... Estou duro desde que te vi com essa roupa
indecente — provoco roçando minha ereção em sua bunda. — Vou rasgar o
couro desse seu vestidinho com o punhal que está na minha perna e deixar você
nua para mim assim que chegarmos em casa, gostosa. — Dou o tiro de
misericórdia e Lara geme em resposta. Discretamente ela coloca sua mão entre
nós e aperta minha ereção, porque sim, Lara é dessas, e gosta de me provocar
tanto quanto eu a ela.

Chegamos na área VIP, e enquanto vou com Eros pegar algumas bebidas
as duas ficam sozinhas. Quando voltamos elas já estão dançando, e Lara, com
aquele corpo gostoso, a todo momento me provocando. Volta e meia ela resvala
sua mão em meu pau, parece querer confirmar se ele está duro e todas às vezes
constata, porque eu sou incapaz de ficar “mole” quando ela está perto, e
dançando assim fica ainda mais difícil.

— Vou pegar uma bebida. — Lara avisa, e o irmão, que não consegue
desgrudar da mulher, concorda. É lógico que não vou deixá-la ir sozinha, então,
mesmo sem ser convidado, sigo em seu encalço. Ela pede mais uma caipiroska
para ela e outra para Kananda. Enquanto o barman prepara a de Kananda ela
bebe a dela inteira e pede outra em seguida.

— Você não acha que está indo rápido demais, meu bem? — Pergunto não
para repreendê-la, mas porque a quero bem consciente para o que pretendo fazer
mais tarde, porém a peste finge que não me ouve e segue me ignorando.
Eu a segui até o balcão, e embora ela tenha percebido que eu estava no seu
pé, ela sequer trocou uma palavra comigo. Ela faz isso de vez em quando, e eu já
percebi que esses são os momentos em que ela está a um passo de se render,
então luta bravamente para resistir, basta apenas eu investir da forma certa e ela
vai ceder, eu sei que vai. Sento em uma das banquetas do balcão, peço duas
doses de Whisky e viro de uma vez. Peço uma terceira dose para levar comigo
quando sinto alguém apoiar em meu ombro.

— Oi delegado, tudo bem? — Quando me viro para ver quem é, dou de


cara com Juliana, a atendente gostosa do café que fica próximo à delegacia, eu
sei o que vocês estão pensando, que eu sou um cafajeste, por me declarar por
Lara e achar outra mulher gostosa, mas eu sou homem porra, e achar ela gostosa
não significa que eu vou comê-la, não fiquem com raiva de mim.

— Oi Juliana, tudo bem — respondo, e ela se precipita em deixar um


beijo demorado em meu rosto.

— Melhor agora que te encontrei. — Ela responde maliciosa e passa as


unhas em meu peito, por cima da camisa. — Vamos dar uma voltinha? —
Convida e meus olhos se arregalam quando vejo Lara dar um tapa forte na mão
de Juliana, fazendo-a tirar imediatamente a mãos de mim.

— Quer dar uma voltinha? Convide minha mão, porque ela está louquinha
para dar uma voltinha nessa sua cara de puta. — Juliana arregala os olhos, sem
esperar por essa, e eu controlo a vontade de rir. Lara é assim: ela me esnoba o
quanto pode, mas não aguenta ver alguém se aproximar que quer logo marcar
território.

— Eu não sabia que ele estava acompanhado, e pelo visto de uma louca.
— Juliana retruca.

— Juliana, respeite minha namorada. — Peço educadamente enquanto


puxo Lara para o meio das minhas pernas, na tentativa de controlar seus
impulsos.

— Louca? Louca? — Lara pergunta retoricamente. — Você vai me ver


louca se ousar encostar essa sua mão suja nele novamente!

— Então aprenda a ficar mais próxima do seu namorado, queridinha,


porque um homão desses dando sopa sozinho em um balcão de bar, atrai não só
a mim, mas a todas as mulheres. É só olhar em volta e ver quantos olhares
desejosos ele está recebendo. Aproveita enquanto ele tá te dando moral, meu
bem, porque até onde eu sei, a “fila” do delegado Enrico anda rapidinho. —
Juliana fala, e eu quase agradeço suas palavras, digo quase, porque eu preciso
me concentrar em conter a fera que está presa entre meus braços até que Juliana
esteja a uma distância segura, para ela, é claro, porque se eu soltar a Lara, sei
que ela vai atrás, tal qual um leão em busca da caça.

— Sua namorada é o caralho, seu imbecil. Você já comeu essa puta,


Enrico? — Lara pergunta soltando faíscas pelos olhos. Vá entender: se eu não a
tivesse defendido, com certeza iria querer me matar, agora porque eu a chamei
de minha namorada, está reclamando.

— Amor, eu só quero você. Minha namorada sim. — Falo sem responder


à sua pergunta, e ela fica enraivecida, porque sabe a resposta, até mesmo pela
intimidade que Juliana demonstrou e por conhecer a minha “fama”.

— Comeu, né, seu desgraçado. — Ela fala e soca meu peito

— Que porra Lara, para com isso. Tem um ano que eu vivo feito cachorro
atrás de você, e você só me despreza. Quer saber se eu comi a Juliana? Comi
sim, caralho, satisfeita? — Falo irritado. — Mas eu só fiz essa merda porque
você estava dando sua boceta para o imbecil do Patrício. — Falo tentando
controlar a voz para que ninguém ouça nossa discussão, já que estamos em um
ponto mais afastado no fundo do bar.

— Eu sabia. — Ela fala com raiva. — Você nunca vai mudar Enrico,
NUNCA VAI MUDAR! — Ela fala com lágrimas começando a se formar em seus
lindos olhos, e isso acaba comigo.

Puxo Lara para perto de mim e ela se afasta. Seguro seu rosto com minhas
duas mãos e falo olhando em seus olhos, para que tenha certeza de que falo a
verdade:

— Lara, EU TE AMO. Eu te amo desde a primeira vez olhei para você,


quando fui fazer um trabalho da faculdade com seu irmão na sua casa. Eu sei que
fui inconsequente, que as minhas atitudes nos afastaram, não nego, e não estou
tentando me eximir da culpa, mas quando você começou a namorar o desgraçado
do Patrício, eu percebi que poderia te perder para sempre, e nunca, está me
ouvindo? Nunca mais meu pau entrou em outra boceta, apenas na sua, quando
você resolveu voltar a si e acabar com o infeliz. Então, por favor, meu amor, não
estrague o nosso futuro pelos erros que cometi no passado. Sei que talvez você
nunca mais volte a confiar em mim plenamente, mas eu prometo que vou viver
cada dia da minha vida para te reconquistar e provar que eu mudei, que eu mudei
por você e pelo nosso amor — completo limpando as lágrimas que escorrem dos
seus olhos.

— Enrico, você é um ca... — Não deixo que ela termine a frase e faço o
que estou com vontade desde a hora em que a vi: beijo sua boca com ânsia e
tesão. Nossas línguas se exploram, se devoram. Lara é minha, totalmente minha.
Ela pode até resistir, mas sei que vou convencê-la, e esse dia está mais perto de
acontecer do que ela imagina. Já faz um ano que ela terminou com o idiota; faz
um ano que me empenho todo dia para reconquistá-la. Já está mais do que na
hora de usar uma artilharia mais pesada.

Ah, meu amor... Muito em breve você será totalmente minha.

— Vem, meu amor, vamos voltar para lá.

Pegamos as bebidas no balcão e seguimos para onde Eros nos espera junto
com Kananda. Lara está menos arredia, acho que as palavras de Juliana seguidas
pelas minhas a fizeram refletir. Preciso bolar um plano para conseguir prendê-la
a mim o quanto antes.

Lara e Kananda voltam a dançar, e percebo que minha Elvira está bebendo
além do limite. Disfarçadamente, começo a lhe oferecer água nos intervalos das
bebidas, e como ela está dançando muito e o local está lotado e quente, ela bebe
sem reclamar.

Vez ou outra ela enlaça meu pescoço e deposita um selinho em meus


lábios, nada muito declarado, mas para mim é um avanço, então me lembro do
mantra para: Insistir, persistir e alcançar!

Quando começa a tocar uma música de Anitta & Kevinho, Lara perde o
restante do controle e dança eroticamente para mim, seguindo o que diz a letra.
Eu não conhecia a música, mas prestei atenção e vi que definia perfeitamente a
minha mulher, ela é, definitivamente, um Terremoto em minha vida:

“Essa mina é sem vergonha, gosta de tocar o terror


Já me deu até insônia, meu sossego acabou
Pesadelo da invejosa, sonho de quem não provou

Quando ela desce, é igual terremoto


Ela senta e não para, ela toca o terror
Quando ela desce, é igual terremoto
Ela senta e não para, toca o terror”

Na batida da música ela rebola, se esfregando descaradamente em mim.


Eu envolvo sua cintura, esfregando-me em sua bunda gostosa, beijando e
chupando o seu pescoço.

“Atrevida, poderosa, gosto de tocar o terror


Pra te ver perdendo a linha, teu sossego acabou
Pesadelo da invejosa, teu desejo eu sei que eu sou

Quando eu desço, é igual terremoto


Rebolo, não paro, toco o terror
Quando eu desço, é igual terremoto
Rebolo, não paro, toco o terror”

Lara faz questão de me olhar nos olhos enquanto canta, me provocando


ainda mais, e ao final da música, que parece ter sido feita para nós dois eu a
beijo.

“E ela entrou na minha mente de um jeito indecente


Não como mais, não durmo mais, eu vou ficar doente
Tá querendo de novo, já caiu no meu jogo
Não pode se queimar, então pra que brincar com fogo?

Mas eu sou artilheiro e eu vou virar o jogo


Eu vou partir pra cima, de virada é mais gostoso
Eu ganho essa parada, pode ficar ligada
Vai ver que eu sou zica, haha, 'cê acredita?
Quando eu desço, é igual terremoto
Rebolo, eu não paro, toco o terror
Quando ela desce, é igual terremoto
Ela senta e não para, ela toca o terror”

Quando a música termina eu e Lara estamos ofegantes dos beijos. Minha


garota não parou um segundo de rebolar contra mim, até quadradinho com a
bunda colada no meu pau a safada fez.

De repente ela me arrasta em direção aos banheiros, pensei que ela queria
usar o banheiro, mas ela segue em linha reta, e depois de alguns metros ela vê
uma porta fechada. Ela tenta abrir, mas está trancada.

— Abre, Enrico. — Ela aponta a porta, sabendo que eu tenho um canivete


que sempre carrego comigo e que tem vários instrumentos “ocultos”.

— Lara, é melhor não. — Tento ser racional, mas sem esperar, ela começa
a desabotoar minha calça. — Aqui não, Lara. — Advirto quando ela enfia uma
das mãos dentro da minha cueca e começa a punhetar meu pau, sem vergonha e
sem se preocupar se tem alguém nos vendo. — Mas que porra, mulher, assim
você acaba comigo. — Falo já tirando o canivete do bolso e abrindo a porta do
local com a precisão de um profissional.

Quando entramos na salinha não perco tempo: puxo o decote do seu


vestido indecente e chupo seus peitos enquanto ela geme enlouquecida. Antes
que eu pudesse raciocinar, Lara já estava ajoelhada na minha frente com os
peitos pra fora e meu pau em sua boca.

— Caralho Lara! Assim você acaba comigo, porra — rosno segurando seu
cabelo no alto da cabeça. Afundo ainda mais o meu pau em sua garganta, até ela
engasgar. Enlouqueço quando a vejo descer a mão e tocar sua boceta procurando
alívio. — Vem aqui, meu amor. — Puxo-a para cima e beijo sua boca. Envolvo
minha cintura com suas pernas e pressiono suas costas contra a parede,
pincelando meu pau na sua boceta ainda coberta.

— Quero te comer agora, Lara — falo sem para de esfregar o meu pau
contra ela.
— Ahnn, Enrico... — Ela geme o meu nome. — Eu sou toda sua, ahnn...
— Geme enlouquecida enquanto a masturbo com meu pau.

— Não aguento mais de tesão, amor — falo puxando sua calcinha para o
lado.

— Camisinha, Enrico. — Ela pede.

— Que porra de camisinha, Lara, nós nunca usamos isso — falo sem
deixar de esfregar meu pau nela.

— Cacete, que gostoso... — Ela fala enquanto eu uso a mão para estimular
seu grelinho inchado como sei que ela gosta. — Que merda, Enrico, vai porra,
me fode logo, faz o que quiser Enrico.

— Isso, meu amor, é assim que eu gosto — falo enquanto deslizo meu pau
para dentro da sua boceta. Ela geme com o contato. Dou algumas estocadas e
sinto a porra do meu celular tocar, o caralho que vou parar o que estou fazendo
para atender essa merda, mas o infeliz toca insistentemente.

— Atende, Enrico. — Lara fala. — Pode ser alguma coisa importante. —


Coloco a mão na porra do bolso sem sair de dentro dela. Quando pego o telefone
vejo que é Eros.

— Fala brow — atendo a ligação.

— Onde vocês se meteram? — Eros pergunta, e eu tenho vontade de


mandar ele ir para a puta que pariu. Onde já se viu querer explicação de onde
estamos quando estou deslizando meu pau para dentro da boceta insaciável da
sua irmã? Pensando bem, acho que ele não ia gostar de saber onde estou no
momento, então resolvo ser rápido em despachá-lo:

— Vim trazer Lara no banheiro, já estamos voltando. — Falo rápido,


enquanto Lara rebola feito uma safada no meu cacete e desligo.

Com certa rispidez viro-a de frente para a parede. Levanto o seu vestido
até a cintura, puxo a sua calcinha, minúscula por sinal, para o lado, ajeito meu
pau na sua entrada e penetro novamente sua boceta. Fazia tempo que não
transava de pé e meu tesão está redobrado. Seguro firme em seus seios e começo
a estocar com força, lambendo seu ouvido e seu pescoço. Seu corpo estava
pressionado contra a parede, batendo de vez em quando, mas eu sei que ela gosta
assim, gosta que eu a foda com força.

— Vai delícia, rebola gostoso no meu pau. — Sinto seu corpo começar a
amolecer.

— Enrico, eu vou gozar... — Anuncia, e logo em seguida sinto seu


orgasmo forte e intenso.

— Isso, amor, goza pra mim — peço lambendo seu pescoço —, goza pro
teu homem Lara, o único que te faz sentir assim — vou falando e estocando em
sua boceta apertada enquanto ela geme manhosa.

Lara gemia alto, mas eu sabia que, pelo volume da música do lado de fora,
seria impossível alguém ouvi-la. Seguindo as batidas da música eletrônica,
comecei a estocar com ainda mais força, até sentir meu pau inchar dentro dela e
eu me derramar em gozo em sua boceta que ainda piscava. Lara olhou para trás e
me ofereceu sua boca para que eu beijasse; nos beijamos, dessa vez mais
lentamente, acalmando nossas respirações aceleradas.

Devagar fui saindo de dentro dela, ajeitei sua calcinha cobrindo sua boceta
gostosa, arrumei seu vestido e cobri seus seios depois de deixar um beijo
carinhoso em cada um deles.

Ficamos alguns minutos ali, recuperando o fôlego, até que saímos de mãos
dadas. Quando passamos em frente ao banheiro, Lara faz menção de entrar, mas
eu a puxo pela mão:

— Não, gostosa — falo em seu ouvido. — Vai ficar com a minha porra
escorrendo pelas suas pernas até chegarmos em casa — falo e ela sorri safada,
concordando comigo.

Encontramos Eros conversando com Pietro que, é claro, fez questão de me


irritar mexendo com Lara, sem saber ele que ela estava marcada por mim, que
sua boceta estava cheia da minha porra. Mesmo sabendo disso eu ainda me irrito
com o palhaço, não tem jeito.

Nos despedimos de Pietro e resolvemos encerrar a noite. Dessa vez é Eros


quem leva o carro, pois tinha bebido apenas uma dose.
Ele nos deixa no nosso prédio. Entramos e subimos para o nosso andar.
Quando o elevador abre as portas, Lara faz menção de ir para o seu apartamento,
então eu a acompanho.

— Não Enrico, você já teve o que queria por hoje, pode ir para sua casa.
— Lara fala, mas eu nem pisco: pego ela e jogo sobre os meus ombros, e sigo
para o meu apartamento assim.

— Para Enrico! Você tá louco? — Ela praticamente grita.

— Cala a boca, Lara, vai acordar os vizinhos — falo e dou um tapa em


sua bunda, advertindo-a. — Mas nem fodendo que eu vou dormir sozinho hoje,
meu amor — falo enquanto desço seu corpo pelo meu após entrarmos em meu
apartamento, e vejo labaredas de desejo voltarem aos seus olhos.

Voltamos a nos beijar apaixonadamente e, assim como eu tinha prometido


no início da noite, tiro o meu punhal militar que estava amarrado na bainha de
perna e rasgo seu vestido de cima a baixo, deixando-a apenas de calcinha para
mim.

— Enrico, eu comprei a porra desse vestido hoje. — Reclama.

— Eu pago, meu amor. Pago quantos vestidos forem necessários, só para


te ver assim, nua para mim — falo cheio de tesão.

— Você é um ogro mesmo. — Ela fala jogando a cabeça para trás


enquanto eu caio de boca em seus peitos novamente.

— Você pode fazer o que quiser quando estamos fora do quarto, Lara, mas
aqui quem manda sou eu, e você apenas me obedece. Entendeu? — Pergunto e
ela acena com a cabeça mordendo os lábios.

Puta que pariu, essa mulher acaba com minha sanidade.

Primeiro fodemos feito loucos, tentando aplacar o tesão desenfreado, só


depois é que fazemos amor suave, com carinho, até estarmos saciados, e
exaustos dormimos nos braços um do outro.

Minha alegria dura apenas enquanto eu durmo, porque quando acordo,


vejo que Lara não está mais comigo; ela não está mais nos meus braços. Fugiu
de mim como sempre faz quando nos rendemos ao desejo.

Afundo minha cabeça no travesseiro e grito de raiva.

Eu preciso dar um jeito nessa situação, EU NÃO AGUENTO MAIS!


Capítulo 27

Eros

Quando acordei já passava das duas da tarde. Passei a mão pelos lençóis e
percebi que Kananda não estava mais na cama. Fui ao banheiro, escovei os
dentes e fui para a sala, onde imaginei que ela estivesse.

Ela ama acordar tarde, principalmente quando passamos às madrugadas


fazendo amor como os dois alucinados que somos, por isso estranho sua falta na
minha cama.

Quando chego na sala, a encontro encolhida sobre o sofá com os braços


cobrindo os olhos. Inicialmente penso que está adormecida, e vou até ela para
levá-la ao nosso quarto, mas quando me aproximo, ouço um fungar baixinho
então percebo que na verdade ela esta chorando.

— O que foi princesa? — Pergunto acariciando seus cabelos e me


abaixando ao seu lado. — Está sentindo alguma dor? Porque não me acordou?

Ela tira o braço que tapava os olhos e me abraça apertado, eu retribuo,


mesmo sem saber o que está havendo.

Deixo-a chorar por alguns minutos, apenas lhe transmitindo o carinho que
sei que ela precisa no momento, mas suspeito que isso tenha algo a ver com sua
irmã. A única coisa que realmente abala Kananda é alguma ameaça da sua irmã;
eu sei por que, desde o dia em que conversei com Ana, todas as vezes que
Amanda aparece na farmácia para procurá-la, Ana me avisa, e eu fico de
sobreaviso, e quando ela chega em casa, está sempre calada e com semblante de
tristeza.

Ana manteve sua palavra de cuidar para que Amanda não se aproximasse
e nem ficasse sozinha com Kananda, mas por mais que eu tenha insistido para
que me contasse, ela era fiel a sua amiga, e eu respeitava e admirava esse gesto
dela.

— Amor, olha só — começo com carinho — eu sei que tem algo te


incomodando. — Respiro fundo, tentando manter a calma para não obrigá-la a
me contar de uma vez o que lhe aflige. — Já te disse inúmeras vezes que você
pode contar comigo, não foi? — pergunto e ela acena com a cabeça.

— Eu não aguento mais te ver desse jeito Kananda — falo olhando dentro
dos seus olhos que não param de brotar lágrimas. — Me dói te ver sofrer dessa
forma sem poder ajudar, porque você não confia em mim o suficiente para
compartilhar seus segredos. — Desabafo, porque é assim que me sinto.

— Não é isso, Eros, é que... É tão difícil... — Ela fala com a voz trêmula.

— Eu estou aqui, não estou? — Pergunto com carinho.

— Sim, mas o meu medo é que não fique depois que eu te contar. — Ela
fala entre lágrimas.

— Amor, olha só, você me traiu? — Pergunto direto.

— Não, Eros! Pelo amor de Deus, eu nunca faria isso com você! —
Responde e senta sobre os joelhos ao meu lado.

— Então está resolvido, princesa — acaricio seu rosto. — A única coisa


que me afastaria de você seria uma traição, mas se não é isso, prometo que vou
tentar te ajudar a resolver.

Ela acena com a cabeça e abaixa os olhos, encarando as próprias mãos


unidas sobre o colo.

— Tudo bem. — Respira fundo. — Eros, por favor, me ouça com carinho
e não me julgue, eu não suportaria. Se você não quiser mais ficar comigo, eu vou
entender, mas me deixa falar tudo de uma só vez, por favor. — Suplica, e a sua
dor é quase palpável.

— Princesa, você está me deixando preocupado, por favor, fala logo o que
houve.

Acaricio seu rosto lindo e ergo sua cabeça para que olhe nos meus olhos;
minha mulher não vai abaixar a cabeça para ninguém, nem para mim.

— Quando eu voltei a trabalhar depois do incidente em que nos


conhecemos, Amanda me procurou na farmácia perguntando sobre quando eu
voltaria para casa e eu falei que não voltaria mais por causa da cena que eu vi
naquele dia. Ela tentou me convencer a voltar, e como eu estava irredutível ela
queria que, além de repassar a parte dela nos lucros da farmácia, eu pagasse as
contas e despesas da casa. Eu me recusei, é claro, e quando você me deu a ideia
de depositar o dinheiro em sua conta para que não tivéssemos mais contato, eu
pedi para Ana fazer isso por mim.

— Amanda deu um show ao telefone dizendo que eu iria ver se no final


das contas eu não acabaria fazendo o que ela queria. Ana me falou o que ela
disse, mas eu não levei em consideração a ameaça, porque não era justo que
fosse sempre como ela queria. — Ela para um pouco para respirar. Pego o copo
com água que estava sobre a mesinha de centro - que imagino que ela estava
bebendo - e entrego a ela, dando-lhe um tempo para pensar.

Meu coração já está acelerado à espera do que virá. Ainda não sei qual foi
a ameaça de Amanda, mas suspeito que seja algo bem grave para que minha
mulher esteja nesse estado de pânico apenas para me contar. O ódio começa a
me consumir de dentro pra fora, mas me controlo porque garanti que estaria aqui
por ela, e assim o farei.

— No dia em que voltamos de viagem, o dia em que começamos a


namorar — ela continua —, Amanda me procurou na farmácia e disse que eu
teria que fazer o que ela mandasse, ou ela divulgaria umas fotos minhas... umas
fotos minhas em momentos íntimos com meu ex-noivo. — Kananda solta de
uma só vez a bomba em meu colo.

— O QUE? — Grito em choque, e ela abaixa a cabeça e chora, ainda mais


envergonhada. Porra, não era minha intensão constrangê-la, imagino o quanto
esteja sendo difícil para ela. — Amor, calma, não é isso, não estou te julgando,
eu estou aqui. — Levanto sua cabeça para que veja em meus olhos que falo a
verdade, que estarei aqui por ela para o que for preciso. — É que isso é tão
louco. Não é que eu nunca tenha visto uma ameaça desse tipo, mas é com você,
entende? — Pergunto sem realmente esperar uma resposta. — Você é minha
mulher, porra, é difícil saber que você está sendo ameaçada todo esse tempo, e
não me pediu ajuda — me esforço para controlar a voz.
— Eu sei, Eros, mas nós tínhamos acabado de começar a namorar, como
eu ia falar para você uma coisa dessas? Com que “cara” eu ia te dizer que a
qualquer momento poderiam vazar fotos minhas em um momento íntimo com
outro homem? — Ela argumenta e eu consigo entender, em parte, o que ela
pensou para justificar que escondesse algo tão sério de mim.

— Eu entendo seu ponto, meu amor — falo carinhoso porque sei que é o
que ela precisa no momento, mas o que eu queria agora era explodir o mundo,
explodir Amanda, na verdade. Há tempos eu tenho estado em sua cola, mas com
essa merda agora, a minha paciência esgotou: só paro quando ela estiver
totalmente fodida, e não é no sentido prazeroso da palavra, isso eu garanto. —
Mas olha só, ceder à chantagem nunca é a solução, é uma bola de neve, entende?
— ela concorda. — Quem chantageia, principalmente por dinheiro, nunca se
satisfaz, vai sempre querer mais, exigir mais, é um poço sem fim.

Kananda volta a chorar copiosamente em meus braços e a única coisa que


posso fazer, pelo menos por hoje, é consolá-la, e é isso o que eu faço.

Quando ela recupera o fôlego e me conta o que aconteceu ontem no


shopping minha raiva ganha dimensões estratosféricas. Uso todo o controle
emocional que a minha profissão exige, deixando o meu lado delegado assumir
agora, porque a minha vontade é pegar a minha arma e ir atrás de Amanda e do
filho da puta que ousou tocar em minha mulher e matar os dois, não sem antes
torturá-los o suficiente para que morram sofrendo o máximo possível.

— Kananda, porque você não me ligou? Uma situação crítica como essa e
você preferiu continuar sendo chantageada a pedir a minha ajuda, princesa? —
Tento suavizar o sermão chamando-a pelo apelido, ao mesmo tempo em que me
sinto magoado por ela achar tão pouco do meu amor.

— Eu sei que não justifica, Eros, mas tente me entender, por favor —
implora. — Eu não sabia o que fazer, estava me sentindo entre a cruz e a espada.
— Ela fala, e eu respiro fundo para não lhe dizer tudo o que sinto vontade, não é
o momento, não agora, quando ela está tão frágil após ter feito essa confissão
que lhe atormentou por tempo demais.

Deixo as lágrimas lavarem sua alma, enquanto agradeço internamente a


Deus e a minha irmã por terem estado com ela ontem. Sabendo o que sei sobre
aqueles dois, tenho certeza que Kananda corria sérios riscos caso estivesse
sozinha ontem.

Depois que ela desabafou toda aquela merda, continuei mantendo-a em


meus braços. Ela chorou tudo que pode até adormecer, cansada por todo o
desgaste emocional, pelas lágrimas e, com certeza, por não ter dormido direito
depois da noite agitada que tivemos.

Eu não consigo sequer fechar os olhos porque a raiva que me domina é


imensa. Fico velando seu sono e aproveito para pegar meu computador e analisar
minunciosamente a ficha dos dois; eles que aguardem, pois em breve os pegarei.

Quando Kananda acorda já passa das 20h; ela estava realmente cansada.
Ela toma um banho e em seguida comemos uma pizza que eu havia pedido.
Depois deitamos em nossa cama, e puxo-a para os meus braços.

— Princesa, na segunda feira você precisa ir à delegacia denunciar sua


irmã e o amigo dela pelos crimes de extorsão, ameaça e lesão corporal, pelo que
aconteceu ontem — falo.

Ela levanta abruptamente do meu colo e volta a chorar.

— Não, Eros, por favor, não. — Implora. — Se eu fizer isso, Amanda vai
divulgar as fotos.

— Ei, calma princesa, não vai acontecer nada disso, eu te prometo —


garanto trazendo-a de volta para os meus braços. — Você não pode continuar
refém deles, amor, e eu vou me assegurar que essas fotos não caiam nas mãos de
ninguém.

— Mas e se eles divulgarem, Eros? — Ela pergunta ainda temerosa e eu


percebo o quanto o psicológico dela está abalado com essa situação. Fico com
uma raiva filha da puta de mim mesmo por ter respeitado demais sua
privacidade, por ter esperado o tempo dela. Se eu tivesse pressionado um pouco
mais, ela já teria me contado e eu teria evitado todo esse sofrimento.

— Eu garanto que não amor. Eu prometo que vou te livrar de toda essa
merda. — Acaricio seus cabelos e resolvo lhe contar algo que aconteceu e que
ela não sabe. — Amor, vou te contar uma coisa que nunca falei: no dia em que
eu fui ao hospital para visitá-la, que Amanda apareceu e eu dormi com você a
primeira vez, você teve um pesadelo, lembra? — Pergunto.
— Sim, eu lembro. — Ela responde apoiando o queixo nas mãos que
repousam no meu peito, olhando nos meus olhos.

— Depois que você dormiu, quando se acalmou do pesadelo, eu não


consegui me afastar de você. Você não sabe, mas aquela foi a primeira noite que
você dormiu em meus braços — relembro —, e naquele dia eu te prometi,
enquanto você dormia, que, daquele momento em diante, eu sempre estaria ao
seu lado, e que se fosse preciso, protegeria a sua vida com a minha. Amor, hoje
tenho certeza de que não falei em vão, e agora, com você acordada olhando em
meus olhos, eu quero te prometer isso novamente para que você entenda: não
importa quanta merda aconteça, eu sempre estarei aqui.

— Eros... — Ela não consegue completar o que ia dizer, porque as


lágrimas voltam a molhar o seu rosto. — Meu amor... — fala quando finalmente
controla as lágrimas. — Que coisa linda. Obrigada por ser tão perfeito e por não
me julgar. Obrigada por ser você, Eros, e principalmente, obrigada por ser meu.

Nos beijamos carinhosamente depois dessa declaração. Nós não fazemos


amor, como é de rotina; não temos clima para isso. Ficamos apenas abraçados na
cama, trocando beijos apaixonados que reafirmam nossos sentimentos e a
cumplicidade que sempre existiria entre nós, e assim adormecemos.
Eros

Pela manhã, após o café, conto a primeira (e espero que última) mentira
para Kananda. Não é uma coisa que me agrada, mas eu preciso extravasar minha
raiva contida desde ontem.

— Amor, preciso dar um pulo na delegacia. Esqueci de trazer uns papéis


de um caso que precisava estudar no fim de semana, tudo bem? — Pergunto,
mas sei que ela acordou bem melhor do que foi dormir, nossa conversa a deixou
mais calma, com certeza.
— Certo amor, vai demorar? — Ela pergunta.

— Não, será rápido, mas vou pedir a Lara par vir lhe fazer companhia.

— Não precisa, amor, pode ir, eu estou bem. Vou me ocupar em fazer um
almoço para nós dois, assim o tempo passa mais rápido. — Ela fala e eu
concordo.

Troco de roupa, pego minha arma e as chaves do carro.

— Estou indo amor, qualquer coisa você me liga, ok? — Abraço-a por
trás e cheiro seus cabelos.

— Certo, meu delegado. — Ela fala provocante; Ela sabe o quanto eu


gosto quando me chama assim. — Te espero para almoçar.

Dou-lhe um beijo de despedida e sigo para o carro. Ainda dentro do


elevador, ligo para Enrico.

— Irmão, preciso de você. — Falo assim que ele atende.

— Onde? — É tudo que pergunta. A nossa relação é assim desde sempre,


não precisamos de maiores explicações. Basta que um precise e o outro se
disponibilizará para ajudar sem questionamento.

— No stand de tiro.

— Em vinte minutos eu chego. — Ele avisa.

— Te espero lá. — Encerro a chamada e sigo para o meu destino. Embora


a minha vontade seja ir para outro lugar, preciso agir com calma, e Enrico com
certeza me ajudará a pensar numa solução.

Cerca de cinquenta minutos depois, termino de contar ao meu amigo toda


a merda que Kananda despejou no meu colo ontem. É claro que contei
despejando toda minha raiva nos bonecos-alvos, imaginando quando teria
Amanda e seu amigo nessa posição.

— Que merda, Eros, como ela aguentou isso por tanto tempo? —
Pergunta, mas eu não sei o que responder.
Passamos a manhã atirando e bolando um plano para pegar os dois. Íamos
ficar à espreita para tentar um flagrante com as coisas ilícitas que eles vinham
fazendo. Kananda iria registrar a queixa amanhã e teríamos que ficar atentos a
ela, pois ela estaria em risco iminente.

— Acho que você também estava precisando extravasar, amigo, parecia


com tanta raiva quanto eu — falo quando já estamos no estacionamento.

— Sua irmã, meu amigo, sua irmã ainda acaba comigo — meu amigo diz
e sei que não vou conseguir extrair nada além disso. No que se refere a Lara, ele
tem suas reservas comigo, e eu entendo e respeito, porque amo demais os dois
para me envolver e tomar partido de um só, então é melhor deixar que eles se
resolvam.

— Vai dar tudo certo, Enrico, ela te ama que eu sei — falo para, pelo
menos, confortá-lo. — Acalma seu coração, meu amigo.

Nos despedimos e sigo para casa um pouco mais relaxado, para almoçar
com minha mulher como havia prometido. Graças a Deus Kananda estava
melhor, e após almoçarmos alternamos entre assistir filme e dormir, como em
um típico e calmo domingo.

Mas o que não podíamos imaginar era quão momentânea seria essa
calmaria. Uma tempestade se aproximava de nós, e prometia não deixar pedra
sobre pedra.
Capítulo 28

CAPÍTULO BÔNUS

Amanda Brito de Albuquerque

Uma semana depois de ter encontrado Kananda no shopping com aquela


mulher, fui chamada para prestar esclarecimentos em uma delegacia; a idiota da
minha irmã teve a audácia de fazer o registro de um B.O. contra mim, contra as
ameaças e extorsão que eu estaria fazendo contra ela. Quer dizer, isso é o que ela
falou, e que não passa de mais uma loucura dela para se vitimizar como sempre
fez, e me pintar como megera para todos.

Agora, deitada no sofá da sala da “nossa” casa, penso em qual será o


próximo passo a dar, mas não antes de relembrar alguns dos motivos pelos quais
eu odeio Kananda Brito de Albuquerque.

Eu sempre quis ser filha única, principalmente quando comecei a ter


realmente noção do que seria ter que passar a vida inteira dividindo tudo, quando
na verdade poderia ser apenas MEU, o amor dos meus pais principalmente.

Embora fossemos irmãs, meus pais sempre a preferiram em detrimento a


mim. Ela era a princesa, e eu a bruxa má.

Desde que sou capaz de lembrar, sempre foram feitas comparações entre
nós, não pelos nossos pais, e sim pelos nossos familiares, mas eu sei, sempre
senti que eles concordavam com tudo o que era dito sobre mim, o que me
deixava irritadíssima. No começo eu até tentei fingir que não me importava, mas
aos poucos o ódio me dominou e eu comecei a descontar nela a raiva que sentia
de todos, e só de imaginar as coisas que já fiz, meus lábios desenham um sorriso
de prazer.

Quando ela começou a namorar com o Marcelo, eu pensei em me


envolver com ele apenas para machucá-la, para ferir Kananda, pois esse era um
prazer oculto que alimentei a cada dia da minha vida, desde que comecei a ter
noção de como as coisas realmente são, sem fantasias, sem contos de fadas,
apenas a realidade nua e crua. Mas eu realmente comecei a me envolver
emocionalmente com ele. Depois da primeira transa, eu queria Marcelo para
mim permanentemente, queria o seu prazer, seus gemidos, seus sussurros, seus
orgasmos; eu queria tudo dele. Acontece que só estava disposto a me dar
migalhas, e, mais uma vez, eu entendi que Kananda sempre teria tudo o que eu
queria, enquanto eu estaria fadada aos restos, às migalhas.

Quando ela finalmente nos “flagrou”, eu perdi mais uma vez, e foi o fim
para mim. Perdi o único homem que amei, perdi a única pessoa que me dedicava
tempo e carinho. Ela o mandou embora e ele foi, sem olhar para trás, sem
misericórdia de quem ficaria. Ele sabia que eu o amava, eu já tinha dito, mas
ainda assim ele sequer pensou em mim, em como eu me sentiria, porque ele
amava Kananda e eu era apenas uma fonte de prazer sujo e inescrupuloso, e nem
mesmo sendo gostosa e sem pudores entre quatro paredes, Marcelo cogitou a
possibilidade de ficar comigo. Talvez essa tenha sido a única chance de salvar
minha alma quebrada, mas ele se foi sem olhar para trás, e eu tive que varrer os
cacos para debaixo do tapete.

Me envolver com Diogo me fez bem, principalmente para o meu ego


ferido. Há dois anos mantemos um “relacionamento” aberto, mas o que me
mantém presa a ele, foi a promessa que ele fez de me ajudar a acabar com
Kananda, e até aqui ele tem cumprido. Tudo o que ele queria em troca era que eu
o ajudasse em alguns negócios, o que não foi difícil, já que me trazia a
adrenalina que meu corpo necessitava para se manter “vivo”.

Para mim, estar de olhos abertos não significava viver, e sim sobreviver.

— Que merda você fez, Kananda? — Diogo entra em casa, e me tira dos
meus devaneios. Desde que Kananda foi embora de casa, ele passou a morar
comigo, e isso era bom para nós dois.

A songa monga nos bancava sem problemas até semana passada, quando
resolveu se rebelar e, impulsionada por uma coragem que não sei de onde veio,
me enfrentar. De certa forma, isso é até bom para mim, porque vê-la curvada,
implorando misericórdia, me dará ainda mais prazer.

— O que aconteceu, Diogo? — Pergunto me sentando no sofá, porque eu


realmente não entendi o motivo dele estar tão estressado. Assisto enquanto ele
senta no chão perto da mesinha de centro, tira o “pacotinho da felicidade” de
dentro do bolso e faz algumas carreiras sequenciais.

— Sua irmã, porra, aquele babaca do namorado dela é delegado, caralho.


— Ele fala enrolando uma cédula de dinheiro e começa a aspirar o pó branco
para dentro do nariz. Depois que ele cheira duas carreiras em sequência, eu pego
a nota e faço o mesmo com as duas carreiras restantes, sem saber o que dizer.

— Como assim delegado? Como você descobriu? — Pergunto.

— O Zica me ligou hoje pela manhã pedindo para eu subir o morro que
ele queria falar comigo. Achei que fosse alguma coisa relacionada ao novo
trabalho que ele está arrumando para nós, mas não era. — Ele faz uma pausa,
esperando o efeito da droga atingi-lo. — Depois que eu e você fomos chamados
para “prestar esclarecimentos” ele ficou sabendo e investigou do que se tratava.
O informante dele deu a bula de que o otário não só era delegado, como era o
que estava no pé dele há meses, fazendo operações e apreensões no morro que
estavam dando muitas baixas nos seus lucros.

— Mas nós fomos chamados pelo que aconteceu com Kananda, porque
ele quer se envolver nisso? — Pergunto sem entender a ligação das coisas.

— Acontece que a porra do delegado vai ligar uma coisa a outra Amanda!
Ele é esperto, porra, tanto que nós nem desconfiamos a profissão dele. Fomos
chamados e interrogados por outra pessoa; ele se manteve oculto o tempo
inteiro, e se não fosse o Zica e seus contatos, ainda estaríamos no escuro, merda.
— Ele fala irritado.

— E agora, o que vamos fazer? — Pergunto, mas minha cabeça já começa


a arquitetar um plano para pegar a idiota.

— E agora que o Zica falou que se der merda para ele, ele vai “passar”
nós dois. — Fala me encarando.

— Então não se preocupe, meu amor, vamos nos livrar do Zica e da Songa
Monga por tabela; tenho um plano que nos livrará do radar de todos ele e ainda
nos levará à uma temporada no exterior. Vida nova nos espera, bebê — falo com
um sorriso nos lábios, me jogando em cima do único cara que tem sido um
companheiro fiel para mim, que me entende, apoia e segue ao meu lado sem me
julgar.

Duas semanas. Kananda tem duas semanas para, enfim, pagar seus
pecados comigo, pelas minhas mãos.
Capítulo 29

Kananda

Há três semanas contei para Eros tudo o que Amanda vinha fazendo, todas
as ameaças, e enfim tirei um fardo que estava pesando sobre os meus ombros.
Estranhei o fato de ela não ter me procurado, não ter tentado me dissuadir da
ideia de prosseguir com o registro da ocorrência; cogitei a possibilidade de ela
ainda não saber, mas Eros me garantiu que tanto ela quanto o amigo já haviam
sido ouvidos na delegacia.

Infelizmente, nas palavras de Eros, não havia sido possível realizar a


prisão dos dois pelos outros crimes que estavam cometendo, por não terem sido
pegos em flagrante. Fiquei preocupada com o que Amanda estaria envolvida,
mas Eros não quis me contar, primeiro porque as investigações estavam sendo
realizadas em sigilo, e segundo para não me preocupar, embora ele tenha
garantido que nada aconteceria comigo.

Desde o dia em que fui à delegacia sinto um aperto no peito, uma


sensação de insegurança; não sei explicar, mas é o que sinto. Não comentei com
Eros, para que ele não fique ainda mais paranoico – ele tem feito com que eu
avise sobre cada passo que dou. Entendo que é o seu instinto protetor, mas não
acredito que seja necessário tanto exagero.

— Amor, eu já estou indo. Tem certeza que não quer que eu te leve hoje?
— Eros pergunta na porta do banheiro enquanto escovo os dentes.

— Não precisa, amor — termino o que estava fazendo, viro de frente para
ele e ajeito sua gravata. — Eu vou de Uber, não precisa se preocupar. — Meu
carro está na revisão desde ontem, mas não quero atrasá-lo, pois sei que está
trabalhando em um caso importante. Na última semana Eros tem estado focado
nisso, tem trabalhado até mais tarde, então não quero lhe ocupar.
— Tudo bem, princesa — ele fala enlaçando minha cintura com suas
mãos fortes. — Promete que manda mensagem assim que chegar na farmácia?
— Pede. — E, por favor, não saia para almoçar sozinha. — Repete o pedido que
tem feito todos os dias antes de sairmos.

— Prometo, amor — falo e dou um beijo em seus lábios —, mas não


precisa se preocupar, ela não fará nada comigo. — Completo para tranquilizá-lo.

— Eu sei amor, eu sei. — Ele passa as mãos de forma ansiosa pelo cabelo,
mais preocupado que o normal, e eu desconfio que ele esteja escondendo algo de
mim. — Mas não custa nada ficar atenta e prestar atenção a tudo em volta, não
é?

— Certo, meu homem preocupado — falo sorrindo —, prometo seguir


todas as instruções do meu delegado favorito. — Falo enquanto cruzo os dedos
sobre os lábios, fazendo um “juramento” infantil. Eros sorri com a cena.

— Linda. — Fala e me beija com carinho.

— Venha, vou te acompanhar até a porta. — Sei que se eu não fizer isso
ele vai ficar aqui enrolando, esperando até que eu acabe para poder me levar,
mas se atrasando no processo.

— Eu te amo, amor. — Eros fala quando eu abro a porta para ele.

— Eu também te amo muito, meu delegado — nos despedimos com um


beijo apaixonado.

Volto para o quarto para terminar de me arrumar, depois sigo para a


cozinha e converso um pouco com Joana antes de sair. Estou programando
algumas coisas para o fim de semana, então deixo com ela uma lista de coisas
que vou precisar, para que ela compre para mim. Pego o meu celular na bolsa
para pedir o carro pelo aplicativo, mas antes vejo uma mensagem de Eros e
sorrio.

Há muito tempo ninguém se preocupa tanto assim comigo, e eu fico


olhando para o celular feito boba, agradecendo a Deus por tê-lo colocado em
minha vida. Meus pensamentos são conduzidos aos meus pais, porque sei que
onde quer que eles estejam, estão olhando por mim, me livrando de todo o mal, e
tenho certeza que Eros é o genro que eles sempre desejaram para suas filhas, um
homem honesto, íntegro, protetor, capaz de tudo para manter protegidos os que
ele ama. Sinceramente não tenho o que pedir ou reclamar, apenas agradecer a
Deus por tudo o que Ele tem feito em minha vida.

Peço o carro pelo aplicativo, me despeço de Joana e desço para aguardar.


Quando o carro chega, confiro a placa e o modelo, só então saio do prédio e
entro no veículo. Antes de conseguir fechar a porta, alguém a segura, e meu
coração para quando percebo que é o amigo de Amanda. Ao mesmo tempo, a
porta do outro lado se abre e ela entra, mantendo-me no meio dos dois, acuada e
sem saber o que fazer.

— Oi maninha, sentiu minha falta? — Ela pergunta e minhas pernas


tremem. O amigo faz questão de me mostrar que está armado; eles agem com
tamanha naturalidade que o motorista sequer percebe o que está acontecendo no
banco traseiro do seu veículo.

— Para onde, senhorita? — O motorista pergunta.

— Para o Morro do Pipoca. — Amanda responde e eu saio da inércia.

— Não, espera! — Peço e ele me encara pelo retrovisor.

— Pode ir, moço — ela interfere novamente. — Não vamos te atrasar,


querida. Assim que resolvermos a pendência, te deixo no trabalho. — Ela
disfarça enquanto sinto a ponta de uma faca pressionar minha coxa. Não falo
nada, não posso falar, apenas fico em silêncio rezando para que Deus me ajude, e
que meus pais intercedam por mim.

30 minutos depois chegamos ao pé do morro, e sinto que nada de bom me


aguarda. Eu não imaginava que Amanda teria coragem de fazer algo mais sério
comigo, mas agora não tenho certeza de mais nada.

Ela me faz pagar a corrida em dinheiro e depois descemos do carro. Ela


puxa a minha bolsa, pega meu celular, abre, retira o chip e o quebra, acabando
com qualquer chance que eu pudesse ter de pedir ajuda.

— Olha aqui, sua vagabunda, você vai subir quietinha comigo e com
Diogo, e nós vamos acertar nossas contas. Você não imagina com quem se
meteu, irmãzinha; hoje você vai pagar por todo sofrimento que me causou
durante toda a vida. — O ódio é explícito em cada palavra sua.
Eu controlo as lágrimas, controlo o medo, não quero sucumbir ao
desespero, preciso estar tranquila para encontrar uma saída, eu não posso me
entregar, não posso me render; embora eu não saiba o que fazer no momento, sei
que preciso agir, nem que seja para ganhar tempo. Eros em breve notará minha
falta de notícias, eu só preciso dar a ele o tempo que precisa para me encontrar, e
eu sei que ele me encontrará.

— Tudo bem, Amanda, como você quiser. — Falo mantendo a calma e ela
me olha espantada, acredito que esperava outra reação de minha parte.

Subimos o morro, e o caminho é mais longo do que imaginei ser. Rezei


durante todo o trajeto, era a única coisa que eu podia fazer naquele momento.

Amanda nos conduziu para um casebre no meio da mata. O lugar era


pequeno, sujo e fedido. Entramos em uma sala pequena, com um sofá todo
rasgado no canto, mas Amanda me conduziu para outro cômodo ainda menor.
Nesse havia um colchão sujo jogado no canto e uma cadeira, onde eles me
amarraram.

— Olha só, Dioguinho, a putinha está corajosa hoje, não derramou uma
lágrima sequer. — Amanda fala com desdém. — Vamos ver até onde vai essa
coragem dela? — Ela completa e o amigo sorri. — Agora fala, sua vadia, o que
você falou para a porra do delegado sobre nós? — Amanda pergunta e eu me
mantenho em silêncio. Ela repete, e mais uma vez eu não respondo, então sinto o
primeiro tapa; o primeiro impacto sobre o meu corpo que seria extremamente
castigado durante as horas que passei sob o domínio desses dois loucos.

Amanda passou algum tempo me batendo sem parar, sendo impedida pelo
seu amigo, que a tirou de cima de mim. Ela estava possuída de ódio por eu não
ter derramado uma lágrima sequer e eu iria permanecer assim, iria resistir o
máximo que pudesse sem lhe dar o prazer que ela queria, sem demonstrar o
medo que sentia, sem me curvar à sua maldade.

— Calma, gostosa. Se continuar assim vai antecipar nossos planos para


ela. Você sabe que o chefe quer lhe fazer uma visita para falar sobre o
namoradinho dela. — Quando ele fala isso o meu coração falha uma batida.
Quem é esse chefe? O que ele sabe sobre Eros? O que ele quer que eu fale? As
perguntas pipocam em minha cabeça - que eu faço questão de manter abaixada
para que ela não veja minhas emoções, minha dor. Meus lábios estão partidos,
posso sentir o gosto de sangue, e minha cabeça dói devido às pancadas, mas eu
preciso ser forte. Já percebi que a única coisa que posso fazer é me manter viva
até que Eros me encontre, porque do jeito que começou não terei chances contra
Amanda.

Ouço uma batida na porta e eles dois seguem em direção a ela, tento ouvir
a conversa entre eles e um homem que acaba de chegar.

— O chefe perguntou se vocês já estão com a encomenda? — O que


chegou pergunta.

— Sim, já está conosco — Diogo responde.

— Guardem direitinho porque ele quer ter um momento com ela. Daqui a
pouco ele vem — avisa —, e ele disse para preparar a cama, porque antes de
falar com sua irmã ele vai te querer, entendeu? — Pergunta, e não acredito no
que acabei de ouvir. Eu sei que Amanda mantém um “relacionamento” com
Diogo, mas não entendo quão doentia é, como ela pode fazer sexo com tantas
pessoas, meu Deus, no que ela se transformou? Não consigo ouvir o que eles
respondem, mas o cara fala novamente: — Ah, e ele mandou avisar que se der
merda para ele, os dois vão cantar pra subir. — Continuo sem ouvir a resposta
deles, ouço apenas a porta se fechar e os dois começarem uma discussão.

— Que porra, Amanda, não aguento mais isso. Eu falei que ia arrumar um
lugar pra levar ela, que você ia ter sua vingança, mas você não quis esperar e se
vendeu por essa merda. — Reclama. — Não aguento você ficar trocando seu
corpo por favores. — Conclui, irritado.

— Para de chilique, Diogo, eu nunca te prometi exclusividade. Esse era o


melhor lugar para trazer a vadia, aqui é mais difícil nos encontrar, e temos a
“proteção” do chefe. — Amanda argumenta e meu estômago embrulha de nojo.

— Ah, então se é assim, vou comer a vadiazinha enquanto você dá sua


boceta para o chefe; vai ver ela é mais gostosa do que você mesmo, por isso que
o noivo dela nunca conseguiu te amar. — Ele fala e ouço o estalar de um tapa
forte. — NUNCA MAIS ME BATA! — Ele grita.

— VOCÊ É UM IDIOTA DIOGO! — Ela se descontrola. — Vai lá, vai


comer a puta. Mas depois que eu a matar, você não terá mais a mim, nunca mais!
— Fala com ódio, e entra no quarto onde estou.
— Pois eu vou mesmo. — Ele fala se aproximando de mim, e passa as
mãos sobre os meus seios, apertando os bicos. — Vou amar chupar esses peitos
gostosos que ela tem.

Nesse momento a primeira lágrima rola por minha face. Isso eu não vou
suportar; Deus, por favor, que eles me matem antes de tocar em mim.

— Me solta, por favor. — Imploro pela primeira vez. — Não faz isso
comigo, eu faço o que você quiser, Amanda. — Encaro minha irmã, implorando
que tivesse misericórdia de mim pelo menos uma vez na vida.

— Olha só, Diogo finalmente fez a vagabunda abrir a boca. — Amanda


fala com ódio na voz. — A santinha fingida está implorando pela sua vida, que
fofinha, fingida e dissimulada como sempre foi. — Ela fala e dá um soco no meu
rosto que me deixa tonta. — Se faz de ingênua e inocente para que todos fiquem
com pena, não é? — Pergunta partindo novamente para cima de mim. Eu não
tenho como me defender; com as mãos amarradas para trás aceito cada golpe
que ela me dá, entre lágrimas e com a certeza de que não suportarei por muito
tempo. — Você tirou tudo de mim, Kananda, desde o amor dos meus pais até o
único homem que amei. Você, sempre você, a perfeitinha, o exemplo a ser
seguido, MAS EU NÃO QUERO SER VOCÊ! EU SEMPRE QUIS TE VER
MORTA! — Ela finalmente grita o que sempre desejou e volta a me espancar, e
eu sei que isso só terá fim quando ela realizar o seu desejo.

Acredito que em algum momento eu desmaiei, já que abro os olhos após


sentir um copo de água gelada em meu rosto. Não sei quando Amanda cansou de
me bater, mas imagino que o estrago seja grande: mal consigo abrir os olhos e
sinto todo o meu corpo doer. Percebo que ainda estou com as mãos amarradas
para trás, mas não me encontro mais sentada na cadeira, e sim jogada no colchão
sujo.

— Se está pensando que está em uma colônia de férias para descansar a


hora que quer, está enganada, irmãzinha. — Amanda fala e noto suas mãos
enfaixadas. — Pode acordar, porque vamos começar a segunda parte da
brincadeira, e essa vai ser bem mais interessante. — Ela sorri com sarcasmo.

— Amanda, por favor, me diga o que você quer? — Peço novamente.

— Sua alma Kananda, agora eu quero sua alma. — Ela fala com uma
frieza imensa. Tenho certeza de que quando chegar a hora ela não terá
misericórdia de mim.

— Eros... — suspiro baixinho.

— Não adianta, Kananda, ele não virá te salvar, ninguém virá. Apaguei
todos os seus rastros, agora somos apenas eu e você, como eu sempre quis que
fosse. — Ela puxa meus cabelos e me encara. — Eu sofri uma vida inteira por
sua causa, e agora você sofrerá, em minhas mãos, até o seu último suspiro.

Eu não falo nada, não há mais nada para dizer, já entendi que não
adiantará suplicar por minha vida, então entrego minha alma a Deus e peço que
Ele tenha piedade de mim, e me conduza o quanto antes para o Seu lado, porque
o meu corpo já não aguenta mais.

— Diogo, tira a roupa dela. — Amanda ordena e eu temo pelo que ela
fará. — Quero poder ver cada marca que deixarei em seu corpo até que ela solte
seu último suspiro.

Sinto as mãos imundas dele sobre mim. Com os olhos entreabertos vejo
uma faca deslizar por minha roupa, cortando-a e me deixando apenas de calcinha
e sutiã. Ele faz questão de acariciar minhas partes íntimas no processo, e isso faz
com que eu derrame lágrimas que nem sabia que ainda possuía. Fecho os olhos
em súplica, entregando minha vida mais uma vez a Deus, e me preparo para a
dor. E ela vem. Ela vem através de chicotadas com algo que parece uma corda,
que desce sobre minha pele incansavelmente, uma vez depois da outra, até que
eu perca a consciência.
Capítulo 30

Eros

Desde que acordei que estou sentindo um aperto estranho no peito.

Enquanto Kananda dormia fiquei admirando-a, pensando sobre o quão


maravilhoso é poder estar com ela assim, nos meus braços. Ela é, com certeza, a
mulher da minha vida; sei que não haverá outra. Há algum tempo venho
pensando nisso, e assim que resolvermos a situação com Amanda, vou pedi-la
em casamento. Não vejo necessidade de postergar algo que é iminente.

Venho trabalhado incansavelmente com Enrico no caso de Amanda, e


percebo que ela está envolvida até o pescoço; é mais sério do que pensei. Mas
espero que em breve tenhamos provas suficientes para colocá-la atrás das grades.

Acordo minha pequena preguiçosa enchendo-a de beijos e carinhos, assim


como todos os dias; se eu não acordá-la ela perde o horário do trabalho. Após
fazermos amor de forma lenta, sigo para o banho deixando a preguiçosa ainda
esparramada na cama.

— Levanta amor — dou vários beijinhos no seu rosto tentando fazê-la


levantar.

— Ah, amor... Aqui está tão quentinho. — Ela fala manhosa.

— Eu sei, princesa, mas você precisa trabalhar — falo carinhoso e a pego


no colo. — Vem, vou te levar até o banheiro. — Deixo-a escorregar por meu
corpo, deliciosamente nua. Dou um beijo calmo em sua boca e me viro para sair
do banheiro. Ela começa a resmungar e eu dou um tapa em sua bunda gostosa
antes de ir para o quarto terminar de me arrumar; sei que se eu ficar aqui, tão
cedo sairemos de casa, e hoje, eu e Enrico iremos fazer algumas diligências
sobre o caso de Amanda; estou ansioso para acabar logo com essa situação que
tem me tirado o sono.
Insisto para levá-la no trabalho, mas ela nega, alegando que irá me atrasar.
Reforço todos os meus pedidos diários de que tenha cuidado e que me avise se
perceber qualquer coisa estranha, e sigo para o trabalho com o coração ainda
inquieto.

Quando chego na DEPOL Enrico ainda não está. Sigo para minha sala,
pego os documentos do caso no cofre e começo a lê-los com calma, meu amigo
chega pouco tempo depois, e marcamos de sair daqui a duas horas.

Olho para o celular a cada quinze minutos, ansioso por não ter recebido a
mensagem de Kananda informando que chegou na farmácia. Estou inquieto, não
quero parecer paranoico, mas algo me diz que eu devo ligar. Resolvo então saber
de Joana há quanto tempo ela saiu de casa, se é que ela já saiu.

— Alô. — Joana atende o telefone de casa.

— Oi Nana, a Nanda ainda está em casa? — Pergunto, e acho que ela


nota a aflição em minha voz, mesmo que eu tente controlar.

— Não menino. Aconteceu alguma coisa? — Pergunta preocupada.

— Há quanto tempo ela saiu Nana? — Pergunto já me levantando da


mesa e recolhendo tudo para guardar.

— Há uns quarenta minutos. — Quando ela responde o meu corpo


enrijece. Eu sei que ela não deixaria de me enviar uma mensagem dizendo que
chegou na farmácia. — O que houve, Eros? — Pergunta mais uma vez.

— Ela não me enviou mensagem avisando que havia chegado no


trabalho, Nana, foi só isso. Fiquei apreensivo, mas não precisa se preocupar.
Vou ligar para lá agora. — Falo tentando acalmar a senhora que aprendeu a
gostar de Kananda tanto quanto de nós.

— “Tá” bem, meu filho, vou rezar para que nada de mal tenha
acontecido. — Ela fala porque sabe o que tem acontecido entre Kananda e a
irmã. — Me dê notícias, por favor. — Ela pede preocupada.

— Certo, Nana, eu te aviso sim. Obrigado — desligo.

Imediatamente começo a ligar para Kananda, mas o celular dela cai direto
na caixa postal três vezes consecutivas. Com o telefone no ouvido vou em
direção à sala de Enrico. Entro sem bater e encontro ele e Lara, brigando como
sempre, mas infelizmente dessa vez não tenho como apaziguar. Eles notam meu
nervosismo e param imediatamente, voltando à atenção para mim.

— Oi Ana, tudo bem? — Pergunto quando a amiga de Kananda atende à


ligação.

— Oi Eros, bom dia. — Ela responde, e pela sua tranquilidade imagino


que Kananda esteja com ela.

— Posso falar com a Nanda, por favor — peço tentando não soar tão
preocupado.

— Como assim? Ela não está com você? — Quando ela faz essa pergunta
de forma exasperada, o meu coração para de bater.

— Ana, ela esteve aí hoje pela manhã? — Pergunto me sentando na


cadeira em frente à mesa de Enrico.

— Não Eros, ela não chegou e nem ligou; eu pensei que ela estivesse com
você. Você já ligou para casa? Tem certeza que ela saiu? — O desespero em sua
voz espelha perfeitamente o meu.

— Sim, Ana, acabei de ligar para casa e a Joana me disse que ela saiu há
mais de 40 minutos. — Passo as mãos desesperadamente pelo cabelo e inclino a
cabeça sobre a mesa, sentindo-me incapaz de raciocinar. Notando meu estado,
Enrico toma o telefone das minhas mãos.

— Ana, é o Enrico. Eu não sei direito o que houve, mas vou tentar
descobrir. Por favor, se tiver qualquer notícia me avisa, e eu farei o mesmo com
você. — Meu amigo fala, ouve alguma resposta e desliga.

— Irmão, bebe essa água. — Lara se aproxima com um copo nas mãos, e
eu atendo no piloto automático.

— Brow, o que houve? Fale tudo o que sabe até o momento. — Enrico
ativa o “modo delegado”, tentando tomar o controle da situação e pensar
friamente no que fazer, enquanto Lara tenta insistentemente ligar para a minha
mulher.
Conto para o meu amigo e a minha irmã tudo o que sei até aqui, e no
decorrer do relato, percebo que não posso me deixar levar pela emoção;
Kananda precisa de mim, eu posso sentir, então preciso manter a calma, colocar
a cabeça no lugar e agir com a frieza que o momento exige. É lógico que preciso
do meu amigo, ele será fundamental, mas eu também preciso estar apto para agir.

— Mathias, pede para o Sérgio, do departamento de crimes virtuais, vir à


minha sala agora, é urgente. — Enrico pede, e desliga em seguida.

Vejo eles andando de um lado para o outro, tentando manter a calma, ou


me transmitir um pouco de calma. Bebo o restante da água e pergunto ao meu
amigo:

— Qual o plano, Enrico?

— Rastrear o celular dela. — Fala. — Sei que existe a possibilidade de


alguém ter tirado o chip, mas podemos descobrir qual foi o último local em que
esteve com sinal. — Responde, e eu me lembro de um detalhe que pode nos
ajudar.

— Lembrei de uma coisa: ela me falou que iria pedir um Uber. Como cada
usuário possui um cadastro pessoal, podemos tentar acessar o cadastro dela e
descobrir qual o último carro que a conduziu. Se ela usou o veículo que pediu,
nós conseguiremos mais fácil — falo e meu amigo sorri.

— Boa, Eros! — Enrico exclama empolgado. — Essa é a maneira mais


fácil de localizarmos o rastro dela, e caso não tenha usado o aplicativo, tentamos
o chip, que dará mais trabalho, mas também nos dará um norte — ele completa.

— Mas precisaríamos de uma ordem judicial para acessar o aplicativo, e


isso demoraria muito. — Lara fala no momento em que Sérgio bate à porta e
entra na sala em que estamos.

— O que houve? Qual o incêndio que iremos apagar dessa vez? — Ele
pergunta em tom de brincadeira, mas ao perceber nossos rostos tensos ele fica
sério. — Que merda aconteceu? — Pergunta, e nós resumimos o que sabemos
até então.

— E o que nós queremos de você meu amigo, é que faça essa merda sem
termos que esperar ordem judicial. Nós garantimos que ninguém ficará sabendo
como a rastreamos, mas é minha mulher porra! Eu preciso trazê-la de volta o
quanto antes. — Garanto a ele que vamos blindá-lo, ademais, ele também me
deve uma, então chegou a hora de cobrar, infelizmente.

— Em trinta minutos vocês terão a informação que precisam. — Ele fala


já se retirando para o seu local de trabalho, pois é lá que ele tem todo os
aparelhos necessários para fazer o que precisa.

— Em vinte, Sérgio, por favor. — Peço e ele acena com a cabeça, saindo
em disparada.

— Enrico, veja quem está no departamento, só quero os melhores e os de


confiança — falo para ele que já tem o telefone ao ouvido, chamando quem ele
acha necessário para o que quer que seja que teremos que resolver.

Passamos os próximos quinze minutos recrutando os vinte homens que


mais confiamos no departamento, inclusive alguns que estavam de folga, mas
que assim que telefonamos se dispuseram imediatamente a nos ajudar.

Dezoito minutos depois, Sérgio volta para a sala de operações - que é


onde nos encontramos no momento -, e pelo semblante, julgo que não nos trás
boas notícias, o que me preocupa ainda mais, pois já faz mais de uma hora e
meia desde que Kananda saiu de casa, e cada minuto pode ser crucial.

— Eros, não tenho boas notícias, infelizmente. Consegui rastrear o


cadastro e cruzar com os dados do motorista que fez a corrida para ela, entrei em
contato com ele e ao informar o seu endereço, que foi de onde ela saiu, ele disse
que teve sim uma passageira com essas características, mas que ela não estava
sozinha, e sim acompanhada de uma mulher que a chamava de irmã e de um
homem que se manteve em silêncio durante todo o caminho. — Ele fala e faz
uma pausa quando eu esmurro a mesa à minha frente, e no mesmo instante Lara
e Enrico estão ao meu lado, tentando me fazer manter a calma.

— Calma, irmão, vai ficar tudo bem. — Lara fala, e eu quero muito
acreditar nas palavras dela, mas está difícil.

— Para onde ele a levou, Sérgio? — Faço a pergunta principal, pois é para
lá que eu irei imediatamente.

— Para o Morro do Pipoca. — Ele fala exatamente o que eu imaginava,


mas temia ouvir. — Ele a deixou no pé do morro junto com os dois, e garante
que os viu subir.

— CARALHOOOO! — Eu grito extravasando minha raiva.

— Peguem tudo o que precisarem, vamos sair em quinze minutos. —


Enrico dá a ordem, e todos se apressam para vestir os coletes a prova de balas e
pegar armas e munições de alto calibre.

— Eu vou com vocês. — Lara fala, conferindo a pistola que carrega na


cintura.

— Mas nem fodendo. — Enrico responde imediatamente.

— Eu vou sem foder mesmo. — Ela retruca, e se não fosse pela tensão do
momento eu seria capaz de rir deles dois.

— Lara, talvez seja melhor você ficar — intercedo pelo meu amigo, mas
também porque não a quero correndo risco. Já basta uma das mulheres da minha
vida em perigo por hoje.

— Já falei que eu vou e pronto. — Ela fala enquanto pega outras duas
Glock’s que Enrico mantém no armário, confere-as e prende no coldre preso em
sua perna. — Se não me levarem com vocês, eu irei atrás com minha moto,
então vocês decidem apenas se vamos juntos ou separados. — Ela diz de modo
firme, e não nos resta outra opção que não a de concordar em levá-la conosco,
porque nós sabemos que ela é capaz de fazer exatamente o que informou.

Colocamos nossos coletes; Enrico ajuda Lara a prender o dela ainda


tentando convencê-la a não ir com a gente na "diligência", sem sucesso. No
tempo estipulado, encontramos toda a equipe selecionada preparada e nos
esperando na porta da DEPOL, então seguimos em comboio para o morro.

Eu posso sair de lá sem vida, mas enquanto eu não encontrar minha


mulher, eu não desço daquele inferno.

Sirenes ligadas, andando em alta velocidade pelas ruas e trinta minutos


depois estamos no pé do morro. Esse trajeto nunca foi tão longo; a tensão dentro
do carro era palpável, mas aproveitamos para fazer contato com alguns
informantes que tínhamos lá dentro.
Graças a Deus, eles nos deram algumas informações importantes; eles
sabiam de uma pessoa que estava sendo mantida em uma das casinhas do alto do
morro, e que Zica - o chefe - estava ciente de tudo. Era hoje ele ia cair nas
minhas mãos, pode apostar, e infelizmente, para ele é claro, não poderia haver
momento pior do que esse.

Já tínhamos armado o esquema, dividimos as equipes e começamos a


invasão. Eu, Enrico, Lara e mais cinco homens fomos direto para a zona de
perigo, pelo alto do morro, porque pelas informações passadas era lá que ela
estaria.

Há alguns meses descobrimos onde ficava o barraco em que o chefe se


escondia, e lá seria nossa primeira parada. Na subida da ladeira que daria no
local, já se iniciou uma troca de tiros, os bandidos podem até ter armamentos
pesados e em grandes quantidades, mas não possuem o conhecimento técnico
necessário para manuseá-las com precisão, e isso nós tínhamos de sobra; dessa
forma era fácil para nós tirarmos o equilíbrio entre a quantidade de pessoas e a
qualidade das pessoas. O nosso grupo podia ser menor, mas estava mais bem
preparado, e com a raiva com que estávamos, abatemos todos que se colocaram
em nosso caminho.

O Filho da Puta não esperava que fôssemos conseguir chegar nele tão
rapidamente, afinal, nós já havíamos tentado outras vezes e ele havia escapado,
mas não dessa vez, não hoje. Encostamos com cuidado na janela e pudemos
ouvir a conversa entre ele e alguém, provavelmente ao telefone, já que não
conseguimos ouvir as respostas. Eu fiz menção de que quebraria a porta, mas
Enrico fez sinal para que eu aguardasse, então pudemos entender que ele falava
com a irmã dela, porque dizia que tínhamos invadido e que se desse merda para
ele, ela estaria fodida, mas nem seria necessário o aviso, porque ela estaria
fodida de qualquer forma.

Estouramos a porta e os dois homens que cuidavam diretamente da


proteção do chefe começam a trocar tiros conosco. Facilmente abatemos os dois,
e só não matamos o desgraçado no processo porque queríamos dele a informação
sobre onde Kananda estava.

Me aproximo dele tomado pelo ódio e desfiro alguns socos em seu rosto
de merda.
— Para onde levaram minha mulher? — Pergunto, e ele sorri.

— Garanta minha liberdade e eu te digo. — Ele ainda tem a audácia de


tentar barganhar, mas com a raiva que estou é impossível. Lara se aproxima dele,
que está ajoelhado no chão, e chuta seu rosto com tanta força que ele tomba para
trás, acredito até que tenha deslocado o maxilar, mas quem se importa?

— Fala, seu merda, onde ela está? — Lara pergunta, abaixando-se ao lado
dele e puxando seu cabelo para trás. Em um movimento rápido, ele pega uma
das armas que ela mantinha no coldre e atira em minha direção. Enrico avança
sobre ele, mas Lara já o mantém sobre seu domínio, e ele apenas o algema.

Minha perna sangra, e percebo que a bala pegou na minha coxa,


concidentemente, no mesmo lugar em que Kananda foi baleada quando nos
conhecemos. Ao ver o sangue que escorre da minha perna, minha irmã se volta
enfurecida na direção do chefe do morro.

— SEU FILHO DA PUTA, VOCÊ ATIROU NO MEU IRMÃO! — Lara


grita com ele, vai até Enrico que se mantém próximo, pega o punhal que ele
carrega e volta na direção do bandido; meu amigo parece hipnotizado por ela. —
Enrico, tenta estancar o ferimento de Eros, e meu irmão, esse filho da puta vai
falar rapidinho onde sua mulher está.

Olho para minha irmã, que mais parece um leão pronto para devorar a sua
presa.

— Vai falar por bem, ou vai aguentar calado eu cortar todo o seu corpo
com meu punhal primeiro? — Ela pergunta, e vejo o medo brilhar nos olhos
dele.

Ele ainda se mantém em silêncio até sentir o primeiro corte profundo em


sua coxa, e soltar um urro de dor, e, como prevíamos, o frouxo solta a
localização de onde Kananda está sendo mantida.

Um dos homens fica de guarda com ele, que continua a gritar como um
bebê chorão, enquanto Enrico e Lara tentam me convencer a descer o morro e ir
para o hospital, mas nem fodendo que eu iria; eu disse que só sairia desse morro
com minha mulher, e assim será.

Quando chegamos ao local, vemos cinco homens armados, mas agora,


além de qualidade, estamos também em maior quantidade, o que facilitou ainda
mais o processo, já que três se renderam para não morrer e dois foram abatidos
na troca de tiros.

Vejo uma movimentação nos fundos da casa e tento correr para lá, mas
por causa da bala alojada na minha perna, eu tenho dificuldade para correr, então
Enrico e Lara vão para os fundos e eu invado o local pela frente.

O local é pequeno e fedido; não tem nem sinal dela na sala. Vejo uma
porta no final do corredor e imagino que ela esteja lá. Sigo o mais rápido que
consigo, e quando entro, não a vejo em lugar nenhum, apenas Amanda está lá,
sentada em uma cadeira, serena, como se não tivesse nada acontecendo à sua
volta, como se o ambiente não estivesse alastrado de sangue por toda parte, o
sangue da minha mulher, eu sabia.

— Cadê a minha mulher? — Pergunto enraivecido.

— Ora, ora, o delegado veio salvar a donzela indefesa. — Ela fala com
uma frieza que me surpreende.

— Não vou perguntar de novo, responde caralho — estou no meio do


quarto e ela sentada no canto. Ela sorri, e eu poderia matá-la agora mesmo, se
sua vida não fosse crucial para eu descobrir onde minha mulher está.

— Essa vagabunda sempre tirou tudo de mim, ela sempre teve o que eu
quis, e todos queriam que eu fosse como ela. — Amanda fala respirando forte.
— Mas hoje eu me vinguei, hoje ela teve o que mereceu durante toda a vida. —
Noto suas mãos enfaixadas, e se for o que eu estou pensando, ela não sairá daqui
com vida.

— Cala a boca, sua vadia, ou eu estouro seus miolos agora mesmo! —


Falo com ódio mortal.

Dou um passo em sua direção e sinto algo pingar em minha cabeça.


Quando olho para cima, vejo a cena que jamais esquecerei em toda a minha
vida: vestida apenas com calcinha e sutiã, toda ensanguentada, muito machucada
e desacordada, minha mulher está pendurada pelas pernas e cintura por uma
corda fixada rente ao telhado.

Quero matar essa mulher doente que está sorrindo na minha frente, mas
preciso soltar minha mulher imediatamente; preciso decidir o que é prioridade
para mim, e sem pensar duas vezes, sigo para o local que sustenta a amarração.

— Enquanto você se diverte tentando soltá-la, eu vou dar uma volta. —


Ela levanta, passando diante de mim e seguindo para a saída, me dando um
tchauzinho quando alcança a porta.

— ENRICO, LARA, AQUI! — Grito pelos dois. Preciso dele para me


ajudar a descer Kananda sem machucá-la, e de Lara para deter a maluca da irmã
dela; ela não pode fugir, não depois de tudo o que fez.

Segundos depois eles entram correndo, assim como previ. Lara consegue
dominar Amanda, e liga para o resgate mandar uma ambulância com urgência,
enquanto Enrico corre para me ajudar.

Quando conseguimos descer Kananda e consigo apará-la junto ao meu


corpo, as lágrimas, antes contidas, escorrem livres pelo meu rosto. Ela está com
os sinais vitais muito fracos, e eu não vou arriscar esperar a ambulância chegar.
Tiro o meu colete a prova de balas e a camisa que visto, e envolvo minha
mulher, protegendo-a de mais olhares. Mesmo com a perna machucada e sob os
protestos de Lara e Enrico, sigo com ela nos braços, mantendo-a próxima a mim.
Enrico tenta pegá-la para me ajudar, mas eu não permito; só aqui, entre os meus
braços, a sinto segura, só assim consigo manter a calma que preciso para salvá-
la.

Paro o primeiro carro que vejo no morro, e nele descemos até a entrada,
onde uma viatura nos espera.

Durante o trajeto até o hospital, a mantenho ainda mais agarrada ao meu


peito, implorando a Deus por sua vida, porque a minha já não faz nenhum
sentido sem ela ao meu lado.
Capítulo 31

Eros

Paramos a viatura na porta do hospital e uma equipe, que já estava


preparada, correu em nossa direção. Eu estava sem camisa, e eles me olharam
como se quisessem me impedir de entrar no local, mas nem fodendo que eu iria
me afastar da minha mulher. Entrei com ela nos braços até que uma maca foi
posta diante de mim; eu não queria soltá-la, mas naquele momento me vi
obrigado a isso, ela precisava de cuidados médicos e isso, infelizmente, eu não
podia fazer.

Kananda estava muito machucada, e quando a levaram para a parte restrita


do hospital, a última coisa que ouvi antes da porta ser fechada, foi a voz do
médico falando que os batimentos cardíacos dela estavam baixos demais.

Eu não sabia o que havia acontecido com ela, e talvez fosse realmente
melhor eu não saber, porque a minha vontade era ir até a delegacia para onde
Amanda havia sido levada e estourar os miolos dela, não sem antes fazê-la sofrer
o dobro do que minha mulher havia sofrido em suas mãos.

Caminho desesperado de um lado para o outro, quando vejo Lara e Enrico


passarem correndo pela porta da sala de espera. Minha irmã me abraça com
força e começa a chorar, ela é uma mulher forte, mas toda emoção que passamos
foi demais para ela.

— Calma, meu amor, vai ficar tudo bem — eu falava para acalmá-la, mas
também queria acreditar nas minhas palavras.

— Toma, brow. — Enrico me entregou uma camisa.

— Eros, você está muito sujo de sangue, e a sua perna, você precisa ver
isso! — Lara lembra que eu havia sido baleado também, mas a adrenalina era tão
forte que eu não sentia nada.

Meu amigo, que havia feito um torniquete com precisão em minha coxa,
parece só agora ter atentado para esse fato.

— QUE CARALHO, EROS! — Enrico grita e pede a alguém para me


atender. — Ele foi baleado na perna. — Ele informa ao médico que se
aproximava de nós, o mesmo que havia atendido Kananda há seis meses.

— UMA MACA, POR FAVOR. — O médico grita. — Você é casca dura


mesmo, delegado. — O médico fala e eu vejo um sorriso em seus lábios.

Com a mesma urgência com que levaram Kananda para dentro da área
restrita, eles me levam, e antes de ver as portas sendo fechada atrás de mim,
consigo ver Enrico abraçando Lara na tentativa de consolá-la, e agradeço a Deus
por tê-los ao meu lado.

— Delegado, vamos fazer uma anestesia para a remoção do projétil. — O


médico informa.

— Por favor, doutor, não me apague por muito tempo. Eu preciso saber da
minha mulher, ela vai precisar de mim quando acordar. — Peço e ele confirma
com a cabeça.

— Não se preocupe, delegado. Quando você acordar, estará no mesmo


quarto que sua mulher. Já conseguimos estabilizá-la, fique tranquilo e foque na
sua recuperação que será mais rápida do que a dela; ela vai precisar de você. —
Ele avisa e eu me deixo ser conduzido para o descanso. Estou mais tranquilo
com a notícia, mas ainda estou preocupado com as sequelas que ela possa ter.
Kananda

Acordo sentindo a boca seca. Tenho dificuldade para abrir os olhos, mas
quando o faço, meu mundo para; vejo o homem que amo deitado em uma cama
ao lado da minha, desacordado, e entro em desespero.

— Calma, Nanda! — Lara fala com carinho, enquanto acaricia meus


cabelos.
— Ele... Eros... — Não consigo falar direito, nem me mexer, tudo em mim
dói.

— Ele foi baleado na perna, mas está bem. Fez a cirurgia necessária,
estamos apenas esperando ele acordar da anestesia. — Lara fala, e pela
tranquilidade em sua voz eu acredito em suas palavras. Ela ama o irmão tanto
quanto eu, então ele realmente deve estar bem.

— Amanda? — Pergunto temerosa.

— Está presa. — Lara responde, o ódio estampando sua face, então


apenas aceno com a cabeça.

— Oi, minha filha. — A mãe de Eros e Lara fala, segurando


carinhosamente minha mão.

Só agora percebo que temos companhia no quarto, e que todos se


aproximam da minha cama. Sinto que voltei a ter uma família, estou rodeada
pelos pais de Eros, que sempre me trataram bem, Lara, Enrico, Joana e Ana,
minha amiga, que seca as lágrimas do rosto.

— Nanda, já chega mulher — Ana fala brincando, e deposita um beijo em


minha testa. — Não aguento mais ter que ficar vindo para o hospital por sua
causa.

— Prome... prometo que é a última vez — sorrio com dificuldade.

— Nada disso! — O pai de Eros interfere. — Quero você aqui em breve,


nos presenteando com um netinho.

Eu e Eros ainda não cogitamos essa possibilidade, mas fico feliz de pensar
nisso, e por saber que seus pais também querem.

— Tudo o que mais quero é te dar um netinho ou uma netinha pai, ou


quem sabe vários. — Ouço a voz do homem que amo, e meu coração bate tão
forte que as máquinas denunciam meu “desespero”.

— Oi princesa. — Fala com aquela voz rouca que eu tanto amo, e meus
olhos se enchem de lágrimas.
— Meu amor — falo com dificuldade.

— Fica quietinha, minha princesa. — Ele fala carinhoso. — Eu vou cuidar


de você.

As lágrimas que eu havia acabado de controlar voltam a cair


copiosamente. Agradeço a Deus por tê-lo em minha vida, por tê-lo mantido em
segurança, por tê-lo trazido até mim.

Como pode haver alguém tão maravilhoso assim? Como pude merecer
alguém tão incrível quanto ele? Ele acabou de acordar de uma cirurgia e está
mais preocupado comigo do que consigo mesmo.

— Obrigada por tudo — falo com a voz baixa, agradecendo a todos. —


Eros, eu te amo tanto.

— Fica quieto, brow. — Ouço Enrico falar, e vejo o homem da minha


vida tentando levantar.

— Eu vou ver ela de perto, Enrico, e ninguém vai me impedir. — Ele fala
de forma autoritária.

— Meu filho, por favor. — Sua mãe implora.

— Juntem... — respiro fundo, tentando reunir forças para falar — nossas


camas. — É difícil pronunciar essas poucas palavras com clareza, mas eles
entendem o meu pedido.

— Vamos ter que nos organizar para dormirmos com eles, porque se
deixarmos os dois as sós, amanhã, quando chegarmos aqui, Eros vai estar em
cima de Kananda. — Enrico graceja.

— Enrico! — Dona Sônia, a mãe de Eros, repreende.

— Desculpa tia, mas é a verdade. — Ele fala sério, e todos gargalham em


volta, já organizando nossas camas para estarem coladas uma à outra.

— Princesa, o que fizeram com você? — Eros pergunta baixinho, e sua


voz denuncia o quanto meu estado deve estar ruim. Meus olhos se enchem de
lágrimas instantaneamente. — Shiii... Não chore, princesa, eu estou aqui, sempre
estarei — ele fala olhando nos meus olhos.

— Obrigada, Eros, obrigada... — agradeço ao homem que se tornou uma


parte da minha vida.

— Só tem uma forma de eu aceitar seus agradecimentos princesa — ele


fala e pausa para tomar fôlego. — Case-se comigo, Kananda. Sei que não é o
momento ideal e nem o pedido que minha princesa merece, falta até o anel para
que eu coloque em seu dedo, caso aceite, mas eu não posso mais esperar, não
quero mais esperar, quero garantir que você esteja ao meu lado para sempre meu
amor.

O pedido e a declaração de Eros me surpreendem, e eu não consigo pensar


em um momento melhor para ouvir isso. Olho em volta e as mulheres têm
lágrimas nos olhos, espelhando minhas emoções. Quero gritar, pular em seus
braços, enchê-lo de beijos e agradecer, mas meu corpo machucado me impede de
fazer qualquer coisa.

Minha garganta tem um bolo, eu não consigo sequer falar. Todos me


olham em expectativa, principalmente o homem que eu amo, e que se tornou a
melhor parte de todos os meus dias.

Os olhos de Eros suplicam por uma resposta que não consigo dar, então
aceno com a cabeça e ele entende, curva-se com cuidado e beija meus lábios
com carinho.

Todos comemoram e em seguida nos parabenizam. Seu Paulo e dona


Sônia informam que vão dormir conosco, e o clima no quarto, embora estejamos
em um hospital, é de completa alegria. Todos estão felizes por nós, mas não mais
do que eu e Eros, com toda certeza.

— Meu filho, leve minha menina para casa. Não a deixe dormir sozinha
hoje, por favor. — Dona Sônia pede para Enrico.

— Sônia! — Seu Paulo repreende.

— Deixa de ser bobo, homem — ela responde. — Enrico e Lara são uns
anjos, eles não irão fazer nada que nós dois não faríamos. — Ela provoca meu
sogro, pisca em direção à filha e Enrico, e todos sorriem, menos seu Paulo, é
claro. Aos poucos todos começam a se despedir e ir embora. Nossas camas
postas lado a lado, nos permitem dormir de mãos dadas, buscando o contato que
tanto nos conforta e tranquiliza.
Capítulo 32

Kananda

Hoje faz um mês que eu saí do hospital. Fiquei quinze dias internada
depois da agressão que sofri por parte de Amanda, mas graças a Deus o mais
grave havia sido uma fratura no braço esquerdo, e agora já estou bem melhor.

Durante os quinze dias em que estive no hospital, Eros esteve comigo.


Mesmo após o médico ter dado sua alta, ele não arredou o pé de lá, então, por
precaução, mantiveram a cama dele, que estava colada à minha desde o primeiro
dia, no apartamento onde eu estava internada.

Por mais que eu insistisse para que ele fosse para casa se recuperar, ele se
recusava. Ele também havia sido baleado, fato que eu soube após acordar e que
fez com que me sentisse extremamente culpada, afinal, ele só estava naquela
situação por minha causa.

Eros está ainda mais protetor do que antes, e isso me irrita na mesma
medida em que me encanta.

Quando voltamos para casa, tivemos nossa primeira discussão séria. Ele
havia mandado devolverem o meu apartamento e transferirem todas as minhas
coisas para o seu. Eu gritei e esperneei, mas de nada adiantou; por Eros, nós
teríamos nos casado no dia seguinte ao que saí do hospital e, inclusive, me fez
essa proposta, já que “casados eu teria que morar com ele sem reclamar”. Essas
foram as palavras que acabaram com a discussão; o homem é intenso demais.

Estamos esperando Enrico e Lara para jantar e assistir um filme aqui em


casa mesmo. Tenho notado que os dois têm andado mais próximos, embora ela
não admita e ele faça questão de dizer a todos que está “domando” sua Elvira.
Como não vamos sair, estou usando um vestido leve cor de rosa, e enquanto
penteio os cabelos Eros me abraça por trás.
— Você está tão gostosa, princesa — ele fala isso de forma provocante,
afastando meu cabelo para o lado para poder beijar o meu pescoço.

— Eros, você não cansa? — Pergunto sorrindo, e ele nega.

— Amor, nós ficamos vinte e cinco dias sem fazer nada, precisamos tirar
o “atraso” — ele fala, colocando a mão por baixo do meu vestido e acariciando
meu sexo.

— Ah, mas só ficamos todo esse tempo porque você quis. — Respondo
atrevida, mas é a verdade: Eros não queria me tocar, parecia que eu iria quebrar
ao menor sopro.

— Você sabe como eu sou, princesa, não sei brincar devagarzinho, e não
queria te machucar. — Ele fala, chupando o meu pescoço. Eu viro de frente para
ele, enlaçando seu pescoço com os braços.

— Me dá essa boceta gostosa, amor? — Eros pede. Me suspende e leva


até a parede próxima a porta do quarto, afastando minha calcinha para o lado e
esfregando o membro duro em mim.

— Não dá tempo, amor, Enrico e Lara já estão chegan... — Não consigo


concluir a frase porque sinto-o me invadir, e gemo apertando as unhas em suas
costas.

— Ah, Nanda... — ele geme. — Como você é gostosa.

— Eu não resisto a você meu amor — falo, enquanto sinto as estocadas


firmes de Eros em mim.

Não demora muito e gozamos juntos; essa sim foi uma rapidinha, mas
cheia do afeto e amor de sempre. Descruzo minhas pernas da sua cintura e o
beijo com tudo que tenho.

— Eu te amo, Nanda — ele fala, olhando nos meus olhos.

— Eu também meu amor... muito — respondo, e vamos tomar outro


banho juntos, afinal estamos ofegantes e suados, como sempre ficamos após
fazermos amor, e assim, definitivamente, não dá para receber visitas.
Kananda

Depois de me arrumar novamente, vou para a cozinha deixar algumas


entradas já preparadas, porque assim posso dar mais atenção aos nossos
convidados. Eu gosto de receber visitas, e mesmo que Enrico e Lara sejam nossa
família e que não precise de muita formalidade com eles, me dá prazer recebê-
los sempre bem.
Lara e Enrico chegam, e dessa vez não fazem questão de esconder que
estão juntos. Enquanto os homens escolhem o filme, sigo com Lara para a
cozinha para buscarmos os petiscos e bebidas.

— Então quer dizer que Elvira resolveu se render aos encantos do


delegado Enrico Chiarelli? — Pergunto para provocar um pouco a minha
cunhada, e ela sorri, mas o sorriso não alcança seus olhos.

— É tão difícil, Nanda — ela fala, desabafando. — Às vezes eu sinto que


estou nadando contra a correnteza, sabe? Mas depois eu me lembro de tudo que
já aconteceu entre a gente e tenho medo de sofrer novamente. — Ela se abre pela
primeira vez comigo, e não sei ao certo o que falar.

— Lara, eu não sei o que houve entre vocês no passado, mas você não
pode ficar para sempre apegada a isso e abrir mão da sua felicidade. Você só irá
descobrir se pode dar certo quando se permitir tentar. Eu acredito que é melhor
que você erre por ter tentado, do que no futuro se arrependa de algo que deixou
de viver por medo.

Uma vez ouvi uma frase que me marcou, vou te dizer agora e espero que
ela te faça refletir: “A verdade dói, a mentira mata, mas a dúvida tortura”, não se
deixe torturar, amor, viva um dia de cada vez — falo, tentando confortá-la.

— Não é só dúvida, Nanda, é medo. Tenho medo de me entregar e voltar a


sofrer, medo de amar e ser abandonada. Acredite em mim cunhada, eu acordo
todos os dias escolhendo não me entregar a ele, não sentir o que eu sinto, mas
meu coração e meu corpo me desobedecem. Parece que ao lado de Enrico eles
têm vontade própria; eu tento resistir, mas é tão difícil. — Ela balança a cabeça
em negação, e para que ela não fique nesse clima pesado durante a noite toda,
adianto para voltarmos para a sala.

— Quando eu te conheci, logo no comecinho, eu te dei um conselho, não


sei se você lembra, mas hoje vou te dar outro: se permita, meu bem, perdoe,
porque perdoar é se permitir viver sem peso na consciência, e você merece
descansar sua cabeça todas às noites; e eu sei que você não tem feito isso há
muito tempo. — Puxo-a para um abraço apertado e então seguimos para a sala.

Eros e Enrico haviam tirado a mesinha de centro e espalhado alguns


colchonetes e almofadas para ficarmos mais à vontade. O filme havia sido
escolhido por eles, “Na Escuridão”. Eu reclamo que da próxima vez nós
escolheremos, mas eu gosto da sinopse desse, e nos acomodamos para assistir.
Assim como dois casais de namorados “normais”, curtimos juntos o nosso
momento; Enrico é carinhoso com ela a todo o momento, e embora ela esteja
“receptiva”, eu sinto que possui ressalvas.

Quando o filme acaba, coloco a lasanha no forno para nós jantarmos.

— Lara, como está o caso de Amanda? — Pergunto, porque minha


cunhada fez questão de fazer parte da assistência de acusação junto ao Ministério
Público.

— Ela foi transferida para um presídio, Nanda, e não sai de lá tão cedo.
Além de toda a barbaridade que aconteceu com você, descobriram outros crimes
em que ela estava envolvida, inclusive tráfico de drogas e armas, o problema é
que ela está procurando confusão demais com as outras detentas, com aquele
jeito arrogante que ela possui. Vi um pedido que a defesa dela fez de
transferência de unidade, mas o juiz ainda não se pronunciou. — Ela fala e meu
peito se aperta. É lógico que depois de tudo o que ela fez comigo, eu não tenho
mais nenhum sentimento bom por minha irmã, mas me dói saber que meus pais
criaram uma pessoa tão má.

— Entendi. — Falo e mudo de assunto rapidamente, pois o que eu passei


nas mãos de Amanda ainda mexem muito comigo e com Eros. — Vamos mesmo
amanhã ver os nossos vestidos para o casamento? — Pergunto, e vejo meu noivo
voltar a sorrir, já que estava de “cara amarrada” desde que toquei no nome de
Amanda.

— Claro que sim! — Ela fala empolgada. — Se dependesse do meu


irmão, vocês já estariam casados, então vamos cumprir nossa promessa: em seis
meses vocês estarão oficialmente amarrados. — Ela fala a última palavra
fazendo um “sinal da cruz” em si mesma, e todos gargalhamos.

O que ela falou é sério, preciso cumprir a promessa feita a Eros, pois, se
não casarmos em seis meses, ele jurou me jogar sobre os ombros e entrar na
primeira igreja que estiver com as portas abertas e obrigar o padre a realizar a
cerimônia, e eu realmente não duvido disso.

Compramos uma casa e estamos aguardando algumas reformas que


resolvemos fazer para que tudo fique com nosso jeitinho - essa parte coube a ele
- e ele resolveu em um tempo menor do que eu imaginei ser possível. Nunca vi
um homem tão ansioso para casar quanto o meu.

Quando Lara e Enrico vão embora, Eros me joga sobre as almofadas no


chão, dizendo que temos que nos despedir de cada canto do apartamento, mais
uma desculpa dele, já que não há uma parede, porta ou janela que não tenhamos
estreado, mas quem sou eu para negar qualquer desejo do meu noivo
apaixonado?

— Amor, você está bem? Está sentindo alguma coisa? — Pergunto


quando já estamos deitados em nossa cama, não é comum que ele durma antes
de mim, por isso me preocupo.

— Estou sim, amor, não é nada — ele me tranquiliza.

— Então por que você está de olhos fechados? — Questiono.

— Estou imaginando eu, você, nossa casa, nossa cama e nosso amor, e um
monte de crianças correndo para todos os lados — ele fala, e eu sorrio.

— Se eu já não fosse apaixonada por você, teria me apaixonado agora —


falo, e ele me cobre com seu corpo.

— Eu me apaixono por você um pouco mais a cada dia, e olha que antes
de dormir sempre penso que é impossível que isso aconteça. — O meu sorriso
aumenta.

Depois de nos amarmos mais uma vez, dormimos abraçados, sonhando


com o nosso futuro, que se aproxima a passos largos, e tenho certeza que ele
trará muitas alegrias para nós dois.
Capítulo 33

Kananda

Hoje é o grande dia, o nosso dia!

Decidimos nos casar no mesmo Resort em que começamos a namorar, e


por isso antecipamos em quinze dias os nossos planos, para que nos casássemos
no mesmo dia em que nos conhecemos. Essa ideia romântica foi de Eros, e eu
confesso que fiquei em êxtase quando ele propôs, então hoje temos que
comemorar em dobro.

Em vários momentos durante os preparativos para o casamento, eu me


senti triste por ser sozinha, por não ter nenhum familiar com quem compartilhar
minhas alegrias, minhas dúvidas e para me auxiliar nas decisões. Lara, Dona
Sônia - que tem sido como uma mãe para mim -, Joana e Ana, têm me ajudado
em tudo, têm estado comigo em todos os momentos, e foi isso que, de certa
forma, me ajudou a seguir em frente.

Continuo elevando meus pensamentos aos meus pais; sei que onde
estiverem eles olham e intercedem por mim, por isso, hoje, meu primeiro
pensamento do dia foi para eles, um agradecimento por tudo o que me ensinaram
a ser. Eu queria muito que meu pai estivesse comigo nesse momento, para me
conduzir ao homem que escolhi para passar o resto dos meus dias, um que me
ama incondicionalmente, tal qual ele amou minha mãe, mas tenho certeza que
ambos ficariam satisfeitos com minha escolha.

— Bom dia, cunhadinha! — Lara grita ao acordar ao meu lado. Há uma


semana ela tem sido meu “cão de guarda”, não deixa que Eros se aproxime mais
intimamente de mim, alegando que nossa lua de mel não terá graça nenhuma se
passarmos a semana inteira namorando feito cachorros no cio.

No início eu até achei engraçado, mas com o passar dos dias e a pressão
natural do casamento, tudo o que eu mais queria era estar nos braços do meu
amor, para que ele pudesse me tranquilizar e levar toda a minha tensão embora.

Nós não temos muitos convidados, mas as pessoas que nos são caras estão
presentes, e isso é o que importa, então fechamos uma ala inteira do resort para
os nossos convidados passarem o final de semana, mas nós dois e os mais
próximos estamos aqui desde o inicio da semana, para podermos ajustar os
toques finais da cerimônia e da recepção.

Eu estou hospedada no mesmo bangalô privativo em que ficamos da outra


vez, porque é aqui que ficaremos depois da cerimônia. Eros ficou no outro
bangalô privativo junto com Enrico, que fez questão de estar em um como o
nosso. Nas palavras dele: “não iria perder a oportunidade de correr e nadar
como veio ao mundo”. Minha cunhadinha querida fez questão de dizer que não
adiantaria nada poder ficar como veio ao mundo sem ninguém para acompanhá-
lo, o que gerou uma tarde de provocações entre os dois, pois ele afirmava que
teria companhia, com toda certeza, e ela? Bem, ela dizia que não, mas suspeito
que ela também estava com muita vontade de desfrutar da liberdade que o lugar
proporcionava.

— Bom dia! — Respondo enquanto sento na cama.

— Dormiu bem? — Lara pergunta.

— Para falar a verdade, mal preguei o olho — revelo, e ela me olha com
cara feia.

— Ótimo, agora vai casar feito um panda! — Ela resmunga, e eu caio na


gargalhada.

— Nada que uma boa maquiagem não cubra, Larinha. — Retruco, dando-
lhe uma piscadinha, e ela sorri.

— Vou pedir nosso café. — Ela avisa, indo em direção ao telefone para
solicitar o serviço de quarto.

— Peça para três, ou melhor, quatro, vou ligar para meu futuro maridinho
vir tomar café conosco, já que sei que você me manterá afastada dele durante
todo o dia. — Falo, e ela sorri.
— Ok, cunhadinha, vou abrir mão de trinta minutos do seu dia para ele.
— Ela fala sorrindo, e eu sigo para o banheiro após ligar para o meu amor
convidando-o para o café da manhã.

Mais rápido do que poderíamos imaginar, Eros e Enrico bateram à nossa


porta. Meu noivo estava nervoso, e, ao me ver, quase me devorou em um beijo
faminto, sendo interrompido por Lara mais rápido do que eu desejava.

— Você me paga, Lara, juro que me paga. — Eros resmungou, e ela e


Enrico sorriram.

— Calma, maninho, à noite você terá sua esposa todinha para você! —
Ela provoca.

— E eu terei você para mim, Elvira. — Enrico fala abraçando-a por trás.
— O castigo era para eles, não para mim.

— Ah, mas vai sonhando Enrico. — Ela se afasta dele. — E vamos logo
adiantar esse café da manhã. Eros, você tem trinta minutos para sumir desse
quarto junto com esse asno que te acompanha. — Ela fala, e dessa vez somos eu
e Eros que sorrimos.

Tomamos nosso café, e quando Eros e Enrico se foram, o nervoso se


apossou de mim.

Durante todo o dia, a equipe contratada para me maquiar, pentear, arrumar


e até mesmo depilar tinha estado comigo, mal tive tempo de respirar. Parece que
Lara ocupou todo o meu dia propositalmente. Vez ou outra, ela saía para garantir
que tudo estivesse como eu planejei. Ela e Ana estiveram comigo durante toda a
preparação, então as duas ficaram responsáveis por garantir que tudo sairia como
o planejado.

Minha sogra e Joana também estiveram comigo, me passando a


tranquilidade que eu necessitava, e imaginava o quanto Eros também deveria
estar nervoso.

Agora, pronta e devidamente vestida para eternizar minha felicidade ao


lado do meu amor, a ansiedade me dominou. Sentia meu corpo inteiro tremer e
minhas mãos suarem. Peguei o buquê e me encaminhei para a porta, quando
abri, meu sogro me esperava diante dela sorrindo.
— Minha filha... — Ele começou a falar e meus olhos se encheram de
lágrimas, porque eu não teria meu pai comigo nesse momento tão importante
para mim. — Sei que não sou seu pai, e não poderia jamais substituir a falta que
ele te fará nesse momento, mas gostaria de me oferecer para conduzi-la até o
altar, se você quiser é claro. Seria uma imensa honra para mim te entregar ao
meu filho.

— Ah meu Deus, seu Paulo! — Levo as mãos até a boca, emocionada. —


Será uma honra para mim, muito obrigada! — Falo, e ele sorri carinhoso me
abraçando.

— Agora trate de controlar essas lágrimas, e vamos logo, senão meu filho
terá um infarto e você ficará viúva antes mesmo de casar — ele fala brincando.

— Deus me livre! — Faço o sinal da cruz. — Então vamos! — Enrosco


meu braço em volta do que ele me oferece, e seguimos até onde o homem da
minha vida me espera.
Eros

Desde o momento em que abri os olhos que eu estou nervoso. Lara


cumpriu o que prometeu e me manteve afastado de Nanda durante todo o dia.
Enrico e meu pai até tentaram me distrair, mas foi uma tarefa impossível, porque
cada pedaço dos meus pensamentos estava com ela, a mulher que escolhi para
ser minha pelos restos dos meus dias.

Meia hora antes do horário marcado para a cerimônia eu já estava pronto,


e mesmo sob os protestos dos dois, fui para o local escolhido tão
cuidadosamente por Nanda para o nosso casamento.

O local, que era naturalmente belo, estava ainda mais perfeito. Os tons da
decoração eram predominantemente claros. Haviam tecidos leves e transparentes
por toda a parte, e flores naturais ornavam o “altar” improvisado, as cadeiras e
todo o ambiente.

Algumas tochas estavam dispostas pela praia, e eu acredito que seriam


acesas quando a noite caísse, já que o horário escolhido por Kananda para a
cerimônia foi às 16h30.

Os convidados começavam a chegar e se acomodar nas cadeiras, e eu,


como estava nervoso, estava inquieto, andando de um lado para o outro.

Como o casamento era na praia, decidi usar um terno branco, e mantive os


pés descalços. Para mim aquilo simbolizava o futuro, onde eu fincaria os meus
pés no chão para garantir que tudo desse certo.

— Ela está vindo. — Minha mãe informa, me chamando para entrarmos


conforme manda o protocolo.

No lugar do tapete, havia muitas pétalas de flores, guiando nosso caminho


até o SIM.

Meu coração bate descompassado no peito, eu não imaginava que iria me


sentir assim, e depois da entrada dos padrinhos, pude ouvir a melodia que ela
havia escolhido para chegar até mim, e meus olhos se enchem de lágrimas já na
parte instrumental da canção, me preparando para a sua chegada, mas quando
ouço a primeira estrofe é impossível me conter, já que nesse exato momento ela
surge em meu campo de visão acompanhada do meu pai.

“Olho para o céu


Tantas estrelas dizendo da imensidão
Do universo em nós
A força desse amor
Nos invadiu...
Com ela veio a paz, toda beleza de sentir
Que para sempre uma estrela vai dizer
Simplesmente amo você...

Meu amor...
Vou lhe dizer
Quero você
Com a alegria de um pássaro
Em busca de outro verão

Na noite do sertão
Meu coração só quer bater por ti
E eu me coloco em tuas mãos
Para sentir todo o carinho que sonhei
Nós somos rainha e rei”

Kananda é naturalmente linda, mas hoje ela está deslumbrante. O sorriso


misturado às lágrimas de felicidade estampam seu rosto.

Seu vestido é leve, com a saia esvoaçante, e bordado em pedraria do busto


à cintura, agarrando-se perfeitamente ao seu corpo que tanto amo e desejo.

Seu cabelo está com uma trança solta, decorado com flores que combinam
perfeitamente com o ambiente que ela preparou.

Ela segura a barra do vestido enquanto caminha para mim e percebo que,
assim como eu, ela está descalça. Em seu tornozelo repousa apenas uma delicada
corrente dourada.

Linda demais!

Perfeitamente minha, penso, e me concentro no seu caminhar e na música


que continua a tocar até ela chegar a mim quando os músicos finalizam a última
parte, na mais perfeita sincronia.

“Na noite do sertão


Meu coração só quer bater por ti
E eu me coloco em tuas mãos
Pra sentir todo o carinho que sonhei
Nós somos rainha e rei

Olho para o céu


Tantas estrelas dizendo da imensidão
Do universo em nós
A força desse amor nos invadiu...
Então...
Veio a certeza de amar você...”

— Eu te amo, meu amor — foi a única coisa que fui capaz de dizer
quando meu pai a entregou para mim.

— Eu também — Kananda respondeu, e nos viramos de frente para o


padre, para que pudesse dar início à cerimônia.

Eu sentia que seríamos eternamente um do outro, que nada, nem ninguém,


seria capaz de nos afastar, que nenhuma dificuldade seria intransponível. Eu a
amava, ela era a minha vida, e as palavras do padre, sobre a construção de uma
vida a dois, sobre a reciprocidade do amor, e do cuidado, só reforçaram em mim
o desejo de amá-la com todas as minhas forças por toda a eternidade.

O SIM foi a melhor palavra que dissemos neste dia, e os olhares de


cumplicidade trocados nesse momento tão único, tão íntimo e tão especial, com
certeza jamais serão esquecidos por nenhum de nós dois.

O beijo que demos naquele momento, carregado de paixão, selou os


nossos votos, os nossos sonhos, nossos sentimento de entrega e nosso amor.

Saímos pelo caminho sob a tradicional chuva de arroz, e após recebermos


os cumprimentos dos convidados, seguimos para o local onde seria realizada a
festa.

Nós dois transbordávamos felicidade e eu, além disso, transbordava de


desejo por ela.
— Eu estou louco para tirar esse seu vestido, princesa — falo em seu
ouvido, e ela sorri.

— Então vamos dar um jeito de fugir, porque eu também estou louquinha


para tirar essa sua roupa e tê-lo sobre mim. — Ela fala e eu a abraço mais forte,
pressionando meu pau, já duro, contra ela.

Infelizmente, fugir de Lara não foi uma tarefa tão simples quanto
pensamos, mas na primeira oportunidade que tive, peguei a minha mulher nos
braços e corri para o local onde a pedi em namoro, e onde a faria minha pela
primeira vez sendo oficialmente minha mulher.

Porra! Kananda era minha mulher, e isso me deixava fodidamente feliz!

Carregando-a no colo, nos conduzi para dentro do quarto que já estava


arrumado para nos receber. Ele estava decorado com velas e pétalas de flores,
mas o nosso desejo era tão urgente que só reparamos nessas coisas depois. Bem
depois, por sinal.

Servi duas taças de champanhe para nós, em seguida, puxei Kananda para
próximo da cama e a virei de costas para mim. Comecei a abrir os botões de seu
vestido, e a cada botão desfeito, eu deixava um beijo na sua pele recém-exposta.

Ela começou a gemer, e eu tive vontade de ir mais rápido, de tirar sua


roupa o quanto antes, mas me obriguei a ter paciência; essa seria nossa primeira
vez como marido e mulher, e eu queria que fosse inesquecível.

Quando o vestido finalmente caiu em volta dos seus pés, virei-a de frente
para mim, e quase enlouqueci com a cena: ela não usava sutiã, apenas uma
calcinha minúscula e uma liga em uma das pernas. Beijei sua barriga, subindo
até alcançar os seus seios, e chupei cada um deles como um esfomeado, doido
para me saciar.

Toquei em sua boceta, apertando seu clitóris, e senti a calcinha umedecer


rapidamente. Ela segurou forte em meus cabelos, puxando-os e sentando-se com
uma perna de cada lado da minha cintura. Calmamente, ela começou a desfazer
os botões da minha camisa enquanto nos beijávamos, sem nos afastar um
segundo sequer. Quando eu já estava sem a camisa, Kananda saiu de cima de
mim, ajoelhou no chão, e começou a desabotoar minha calça. Fiquei em pé
apenas para que ela pudesse tirar a peça junto com a cueca boxer branca, e voltei
a sentar na ponta da cama.

Sem perder tempo, ainda de joelhos, ela abocanhou meu pau inteiro, me
fazendo gemer alto. Eu não podia mais esperar para estar dentro dela, depois de
uma semana de sofrimento por culpa de Lara, então a coloquei de pé e tirei a
minúscula calcinha que usava. Queria fazê-la sentar em mim imediatamente,
mas preferi jogá-la na cama e sentir o seu gosto viciante que eu tanto amava.
Chupei minha mulher com a ânsia de quem bebe água após horas caminhando
no deserto; fiz com que ela sentasse sobre mim com as pernas abertas, e rocei
meu pau por toda a sua boceta.

Quando eu já estava louco para me afundar nela, Kananda se levantou, me


fazendo arregalar os olhos em desespero.

— Está ansioso, delegado? — Ela perguntou provocante, e eu acenei


concordando. Essa mulher tinha poder sobre mim, me fazia de marionete em
suas mãos.

— Volta aqui, amor — pedi.

— Só um minuto, meu marido — ela fala provocante, e segue em direção


a sua mala rebolando a bunda gostosa, vestida apenas com a liga. De repente ela
abaixa, empinando o traseiro em minha direção, e não tenho solução se não
acariciar meu pau, na tentativa de aliviar um pouco a tensão nele. Quando ela
vira de frente para mim, me mostra um par de algemas em suas mãos, e eu me
perco nos diversos pensamentos e formas que eu usarei essas algemas nela.

Avanço sobre ela como um leão faminto, jogando-a sobre a cama, e


rapidamente prendendo suas mãos na cabeceira de madeira entalhada. Diante da
visão de Kananda toda aberta e a minha mercê, eu perco o resto da razão que
ainda tinha.

— Eros, me chupa.

Ela não precisou repetir; mamei em seus peitos com avidez, mas não
consegui me manter ali por muito tempo, porque minha boca implorava por sua
boceta.

— Amor, eu não aguento mais, me fode, por favor, quero gozar com você
dentro de mim — ela pede, e, como bom marido, eu atendo.
Penetrei Kananda lentamente, centímetro a centímetro, enquanto ela
revirava os olhos, perdida nas sensações tanto quanto eu estava.

— Ah... Gostosa... — Gemo rouco em seu ouvido. O que começou


lentamente não demorou a ficar mais intenso, e comecei a investir forte meu pau
em sua boceta quente e molhada.

— Eu vou gozar, amor — ela falou enquanto eu estocava firme, e eu sabia


que eu também não duraria muito tempo, mas ainda não era o momento.

— Ainda não, princesa — ainda investindo sobre ela a beijei, e com


rapidez e precisão soltei as algemas e a virei de bruços. Dei um tapa em sua
bunda gostosa quando a vi empinada para mim, e estoquei de uma só vez em sua
boceta, que deslizava de tanta excitação.

Sua boceta me engolia com avidez, e quando vi seu cuzinho todo aberto
em minha direção não resisti, tirei o pau rapidamente da sua boceta, umedeci os
dedos com a sua própria excitação e voltei a colocar o pau no lugar que eu mais
amava no mundo todo. Quando percebi que ela estava perto de gozar, comecei a
acariciar o buraquinho apertado que em breve faria ela me dar, mas por hora, me
contentei em explorá-lo com o dedo. Senti Kananda contrair o local.

— Só relaxa, meu amor, por que eu preciso preparar esse buraquinho


gostoso para me receber — falei, e fui colocando o dedo aos poucos, sentindo
ela relaxar e o dedo entrar com mais facilidade.

— Eros, eu vou gozar!

Não demorou muito e ela gritou. A sensação de ser penetrada nos dois
lugares simultaneamente, a fez gozar como nunca antes, gritando meu nome
enlouquecidamente.

— Goza, meu amor, goza para o seu marido. — Terminei de falar, e


sentindo sua boceta se contrair em volta do meu pau e o seu cu piscar no meu
dedo, eu me joguei junto com ela.

O êxtase foi intenso.

Quando terminei de jorrar dentro dela, deitei e a puxei para cima de mim,
abraçando-a e acariciando suas costas, enquanto acalmávamos nossas
respirações.

— Amor — comecei a falar após um tempo em silêncio —, posso não


acordar todos os dias dizendo que te amo, mas tenha certeza que acordarei
sentindo isso, e espero que perceba com as minhas atitudes, os meus gestos e a
minha devoção a você — falo olhando em seus olhos. Preferimos não fazer votos
de casamento, porque o mais importante para nós é o que sentimos um pelo
outro, e as nossas ações demonstram claramente isso, mas senti vontade de falar
o quanto ela é importante para mim.

— Hoje eu só posso pedir a Deus que ele me permita caminhar ao teu lado
para sempre. Você é o motivo de todos os meus sorrisos; eu só encontrei a
verdadeira felicidade depois que te conheci. Eu te amo, princesa.

— Eros, você mudou minha vida quando entrou nela, me fez entender o
significado da palavra companheirismo. Deus não poderia ser mais bondoso
comigo, e hoje eu não tenho o que pedir, apenas agradecer — ela faz uma pausa,
e eu limpo as lágrimas que escorrem dos seus olhos. — Eu te amo de um modo
que não tem explicação! Sinto que nada ou ninguém poderá nos separar, porque
o que temos é mais forte do que qualquer coisa. Estaremos juntos para sempre,
tenho certeza disso. — Kananda completa, e eu a carrego em meus braços até a
areia, para o mesmo dossel em que nos amamos naquele dia, para, sob a luz do
luar e das estrelas, amá-la infinitas vezes, como pretendo fazer até o resto dos
meus dias.
EPÍLOGO

Kananda

02 anos depois.

Há dois anos e quatro meses, para ser mais exata, eu e Eros nos casamos,
e eu nunca fui tão feliz em toda a minha vida.

É lógico que nem tudo são flores, temos os nossos momentos de


discussões e desentendimentos, mas nada que dure por muito tempo. Nós não
dormimos brigados nunca. Depois de tudo o que passamos, entendemos que a
vida é um sopro, então o melhor é sempre resolvermos as divergências e
vivermos da melhor maneira possível.

Há um anos recebemos a notícia de que Amanda havia sido morta na


cadeia, e isso me deixou triste. Não é que eu seja boba, ou que eu quisesse uma
reaproximação, jamais. Depois de tudo o que ela me fez, seria impossível o
perdão, mas é que, apesar de tudo, ela era minha única família, e me entristece
saber que fiquei sozinha no mundo. Se não fosse Eros e sua família maravilhosa,
que me acolheram como se fosse parte deles, não sei o que seria de mim.

Três meses atrás, Zica, chefe do tráfico no morro do Pipoca, conseguiu


fugir durante uma transferência entre os presídios, e desde então, Eros e Enrico
estão se empenhando ao máximo para pegá-lo novamente. Soubemos que ele
havia feito algumas declarações quando ainda estava detido, de que se vingaria
dos dois delegados que foram responsáveis por sua prisão, então a nossa
segurança foi reforçada. Eu não acredito que ele se arriscaria novamente, mas
vai saber o que pode se passar em cabeça de bandido.

Quando nos casamos, já havíamos nos mudado para a nossa casa nova,
que é imensa, por sinal, porque Eros é exagerado.

Eu não fazia questão de uma casa tão grande, mas não houve como
argumentar, e sinceramente, hoje acho que não tem um lugar melhor para nós;
cada cantinho tem o nosso jeito, a nossa marca.

Há um ano parei de tomar o anticoncepcional, pois queríamos nosso


primeiro filho. Quer dizer, eu decidi parar há um ano, porque se eu fosse fazer a
vontade de Eros, desde a lua de mel eu já teria parado a medicação, e já estaria
com, no mínimo, dois filhos, um por ano, já que Eros quer quatro filhos, isso
mesmo, ele quer quatro filhos, mas eu o convenci de que dois era um bom
número para nós.

E hoje estamos aqui, à espera da nossa pequena princesa, com nove meses
de gestação e uma barriga que parece que vai explodir a qualquer momento.

Quando descobri que estava grávida, fiz uma surpresa para ele, pois a
expectativa era grande. A cada mês que a minha menstruação descia, eu sentia
que ele ficava triste, mas eu sabia que no tempo certo, no tempo de Deus,
seríamos abençoados, e fomos, tanto que agora relembro o momento especial
para nós enquanto organizo a bolsa da maternidade, pois a qualquer momento a
nossa pequena Mel poderá vir ao mundo.

Naquele dia, enviei para o trabalho dele uma caixa com um vinho e um
bilhete, dizendo que o estaria esperando em nossa casa com uma surpresa. Eu
tinha certeza que ele estaria imaginando que a surpresa seria sexual, porque
recebi uma mensagem de texto bem sugestiva depois que ele recebeu a caixa.
Era comum trocarmos esse tipo de mensagens, já que vivíamos nos provocando,
e o desejo entre nós continuava tão intenso quanto antes.

Quando ele chegou à noite em casa, eu estava sentada em nosso sofá com
um vestido branco soltinho o esperando. Ele logo veio para cima de mim,
querendo me devorar inteira, e após alguns beijos e algumas carícias leves,
porque se eu o deixasse avançar o “sinal” como queria, eu não daria tão cedo a
notícia que seria tão importante para nós, eu o afastei.

— Calma, amor! — falei quando consegui me afastar minimamente dele.

— Não consigo, gostosa. Como vou me segurar com você me deixando na


expectativa durante todo o dia? — Perguntou, voltando a enterrar a cabeça no
meu pescoço e depositar beijos molhados que me enlouqueciam.

— Espera — peço, o afastando novamente, com as mãos em seu peito. —


Nós vamos comemorar sim, mas tudo tem o seu tempo. Vem — falei e o puxei
pela mão, subindo as escadas até o nosso quarto, onde uma pequena caixinha
de madeira repousava sobre cama.

Apontei o objeto para ele, que sorriu de forma bem cafajeste, sem sequer
suspeitar que o conteúdo da caixinha mudaria as nossas vidas para sempre.

Ao abrir o pequeno, e tão importante, conteúdo, Eros sentou-se


abruptamente na cama, passando nervosamente as mãos nos cabelos e olhando
para mim, buscando a confirmação de que ele tinha entendido certo. Eu não
disse nada, apenas acenei com a cabeça, e ele tirou de dentro dela dois pares de
sapatinhos, um rosa e um azul, afinal, eu ainda não sabia se teríamos um
príncipe ou uma princesa.

As lágrimas rolaram involuntárias dos seus olhos, e os meus espelham os


seus, mas me mantive no mesmo lugar enquanto ele encarava admirado os
pequenos objetos em suas mãos, até perceber que havia uma cartinha dobrada
dentro da caixinha, e ao ler o que eu havia escrito, as lágrimas, que ainda
estavam contidas, rolaram como uma correnteza por sua face.

A partir de hoje, você é o meu super-herói, mais forte que o super-homem,


mais ágil que o homem-aranha.

A partir de hoje, você talvez tenha que aprender a brincar de boneca, de


carrinho ou do que a minha imaginação mandar.

A partir de hoje, você vai falar com voz suave, vai fazer carinho, vai ter
ainda mais cuidado.

É papai, a mamãe vai ter que aprender a te dividir comigo.

A partir de hoje, você vai amar como nunca amou antes e também será
ainda mais amado.

A partir de hoje, você é o MEU PAI.

Meu Eros, meu amor, meu herói, meu marido, hoje de olhos fechados,
prestei atenção no filme que passava em minha cabeça, lembrei de tudo o que já
passamos juntos e pude sonhar com tudo o que está por vir.
Estou ansiosa pelo nosso futuro a três!

Eu já te amava imensamente e agora tem um serzinho em mim que com


certeza vai te amar tanto quanto eu.

Você foi, é e sempre será o amor da minha vida!

Obrigada por esse presente, que com certeza será o mais importante para
nós!

Amamos você, papai!

Naquele momento, o homem que eu tanto amava se ajoelhou na minha


frente, levantou o meu vestido e beijou a minha barriga com carinho e cuidado,
transferindo para nosso filho ou filha todo o amor e a admiração, e deixando
que ele soubesse o quanto seria amado por nós.

Saio dos meus devaneios quando sinto suas mãos imensas envolverem
minha barriga com carinho, e sua boca depositar beijos em meu pescoço.

— Vamos deitar, princesa, você não parou o dia inteiro — ele chama,
preocupado como sempre. Se eu fosse fazer as vontades do meu marido, teria
ficado os nove meses deitada em nossa cama.

— Já estou acabando, amor — respondo virando de frente para ele, e


acariciando o rosto lindo do homem que tanto amo. — Só vou terminar de
guardar essas roupinhas na mala; a qualquer momento a Mel pode chegar e
temos que estar preparados — completo sorrindo.

— Tudo bem, vou te ajudar então — ele fala. Terminamos de organizar o


que faltava e saímos do quarto da nossa princesa, admirando o lugar todo
decorado em tons de rosa claro e branco, que em breve receberia o nosso bem
mais precioso.

Fomos para o nosso quarto, e após um banho relaxante, nos deitamos em


nossa cama. Eros sentou-se aos meus pés, para massageá-los como era de
costume à noite, pois eles estavam muito inchados nos últimos dias, mas hoje
eles estavam ainda mais inchados que o normal.
Quando Eros começou a massagear meus pés, todo o meu corpo se
arrepiou, reagindo instantaneamente ao seu toque, ele percebeu e sorriu safado.
Minha gravidez não diminuiu nem um pouco o nosso ritmo sexual, não me
incomodava em ter relações com ele, como eu vejo algumas mulheres
reclamando. No começo Eros tinha medo, dizia que iria me machucar, mas
quando fomos ao obstetra, fiz questão de que ele explicasse ao meu marido que
não havia problema nenhum em mantermos nossa vida sexual tal qual era antes,
que o nosso bebê estava protegido. Daquele dia em diante Eros desencanou, e
aproveitamos cada fase da gestação.

— Tá arrepiadinha, amor? — Ele me provoca, e eu respondo com um


gemido, apertando as coxas para tentar aliviar a pressão gostosa que subia por
meu sexo. — Quer que eu massageie aqui? — Perguntou, subindo por minhas
pernas e coxas, mas, para me provocar mais, não tocava em meu sexo.

— Eros, vem massagear aqui, amor, vem... — Falei entre sussurros, e


coloquei a mão dele para aliviar o ponto do meu corpo que estava mais
necessitado dele nesse momento. Gemi quando senti seus dois dedos passeando
por meu sexo implorando por alívio.
Eros

Essa mulher ainda vai acabar comigo.

Às vésperas de dar a luz a nossa pequena, ela fica me provocando, e como


vou resistir a Kananda no modo gostosa safada? Definitivamente não dá. Ter a
minha mulher rendida sob meus toques me deixa fodidamente excitado. Ela
ficou ainda mais gostosa depois de grávida; os peitos maiores me enlouquecem,
e só de imaginar que terei que ficar em abstinência desse paraíso rosado por um
tempo eu enlouqueço.

Continuei massageando seu clitóris e senti sua excitação escorrer por


meus dedos, e não resisti.

— Abre as pernas, amor, deixa eu te chupar — pedi e ela atendeu,


rapidamente se abrindo para mim. Abocanhei sua boceta, bebendo todo o seu
mel. Kananda já estava no limite, na verdade, ultimamente ela estava mais
sensível, gozando com mais facilidade, e isso me enlouquecia. Não precisei de
muito tempo, quando introduzi o meu dedo em sua bocetinha, prendi o seu
clitóris entre os dentes e o suguei, minha mulher se derreteu em meus lábios,
gemendo alucinada. Devagar, subi em direção à sua boca, deixando beijos por
sua barriga e seios até chegar ao meu destino.

— Eros, por favor, faz amor comigo — ela pede como uma gatinha
manhosa. Eu a viro de lado, pois essa é a posição que acredito ser mais
confortável para ela e mais segura para o bebê. — Não, amor, não quero assim
— ela fala virando de costas, ficando de quatro e empinando a bunda gostosa,
que está um pouco maior, em minha direção.

— Kananda, não faz isso comigo — peço, porque ela sabe que eu
enlouqueço com ela nessa posição, e eu tenho evitado para ter cuidado com
minhas duas preciosidades.

— Vem amor... — ela chama e eu não resisto. Com todo cuidado, vou
deslizando meu pau por sua boceta inchada, e não consigo conter os gemidos
que escapam. Na verdade, nós não conseguimos, porque Kananda geme tanto
quanto eu, anunciando que não demoraria a gozar, e assim foi: gozamos juntos,
mais rápido do que normalmente acontece. Embora ultimamente eu a tenha
fodido com mais calma, o desejo que sinto por minha mulher é o mesmo.

Saio lentamente de dentro dela, a pego nos braços e levo para o banheiro
para tomarmos banho. Depois de limpos, nos deitamos e adormecemos
rapidamente.

— Eros... — ouço uma voz longe me chamar. — Amor, acorda — ouço


novamente, mas eu estava tão cansado que não sabia se era sonho ou real. —
Amor, nossa pequena vai nascer! — Ela fala, e isso basta para eu levantar feito
um louco.

— Como assim? Que dia amor? — Pergunto, de pé ao lado da cama, já


que levantei em um pulo só.

— Calma Eros, respira — ela tenta me acalmar com um sorriso nos lábios.
— Está tudo bem, nossa princesa vai nascer agora. — Ela fala e eu entro em
desespero.

— Como assim agora? Quem disse, Kananda? O que eu preciso fazer?


Vamos! — Eu falo, já tentando pegá-la no colo para sair correndo, e ela gargalha
na minha cara. Isso mesmo, ela está gargalhando do meu desespero. Eu me
pergunto onde está a dor absurda que as mulheres sentem, porque ela não parece
sentir nada.

— Me solta, Eros, eu vou ter um bebê, não quebrei a perna — ela


resmunga e eu a coloco de volta na cama.

— Certo — respiro, tentando controlar meu nervosismo. — Como você


sabe que vai nascer? — Pergunto.

— Porque eu fui ao banheiro agora a pouco, e quando voltei para a cama


senti um líquido escorrer por minhas pernas. Me sequei novamente e ele
continuou a sair, então deduzi que foi a bolsa que rompeu — ela explica
calmamente, se levantando da cama.

— A culpa é minha, eu fui mexer onde não devia. — Passo as mãos


nervosamente pelos cabelos. Eu sabia que a gente não devia ter transado ás
vésperas da nossa princesa nascer.

— Não amor, não é culpa de ninguém. Ela decidiu que é hora de vir ao
mundo e pronto; em breve estará em nossos braços.

Diante dessa declaração eu paraliso, só então me dando conta de que a


espera chegou ao fim, de que ainda hoje eu terei a minha princesa, tão desejada,
tão esperada, tão amada, em meus braços.

— Amor, por favor, ligue para o obstetra e avise que estamos indo para o
hospital, pegue a minha mala e a dela que estão ao lado do berço, e a pasta que
está com todos os documentos. — Ela me pede. — Ah, e amor? Coloque uma
roupa — completa sorrindo enquanto vai tomar um banho.

Só me resta obedecer.

Enquanto faço tudo o que ela listou, o sorriso de felicidade não sai do meu
rosto. Além do médico, ligo também para os meus pais, minha irmã, Enrico e
Ana, avisando que nossa princesinha vai nascer, e quando já estou vestido, vejo
Kananda sair do banheiro, já pronta para irmos para o hospital.

No hospital, o médico já nos esperava, e como Kananda optou por fazer


uma cesariana, eles começaram os preparativos para encaminhá-la para o centro
cirúrgico. Meu coração bate tão forte que parece que não vai resistir.

Antes de sermos conduzidos ao centro cirúrgico, vou até a sala de espera,


onde todos já nos aguardam felizes e tão ansiosos quanto nós, os tranquilizo e
volto para acompanhar minha mulher.

Graças a Deus o procedimento é rápido, e em poucos minutos ouvimos o


chorinho, que arrepiou todos os meus pelos e me fez chorar de felicidade. Uma
enfermeira embrulha nossa pequena em um lençol e me entrega, e eu juro por
Deus que nem nos meus mais utópicos sonhos eu imaginei que a sensação seria
tão perfeita quanto de fato é.

— Olha papai, a sua menininha. — A enfermeira me entrega o


embrulhinho cor de rosa.

— Oi meu amor, sou o seu papai, e estava ansioso pela sua chegada — a
minha nova razão de viver abre os olhinhos, tão azuis quanto os meus, e eu me
perco na sensação que sou incapaz de descrever. Abaixo nossa filha perto do
rosto de Kananda, e ela para de chorar com a proximidade com a mãe. —
Obrigado Nanda, ela é linda, perfeita! — Falo e beijo os lábios da minha mulher.
Fico ao seu lado, com nossa pequena no colo, até o médico terminar o
procedimento.

A enfermeira vem pegar minha pequena e eu a entrego com relutância, a


coloca no meio das pernas de Kananda e informa que vão levá-las para o
apartamento. Eu as sigo, não deixo minha mulher e minha filha se afastarem
nem um minuto, e quando chegamos ao quarto todos nos esperam ansiosos.
Entre lágrimas, abraços, felicitações e agradecimentos, todos pegam a
nossa pequena Mel no colo e cuidam da minha mulher que, graças a Deus, está
bem tranquila e não teve problemas para amamentar. Eu suspeito que o fato de
eu ter mamado durante toda a gestação ajudou nisso.

Quando Kananda termina de amamentar a nossa pequena pela primeira


vez, a enfermeira vem buscá-la para dar banho, e Lara faz questão de
acompanhar. Vejo Enrico olhar para minha irmã com admiração toda vez que ela
tem minha pequena em seus braços, e resolvo provocar um pouco quando Lara
sai para acompanhar Mel no primeiro banho.

— Tira o olho que a filha é minha. Se quer uma, vá fazer — provoco.

— Misericórdia — ele fala com espanto. — Se for com sua irmã, não vai
ser uma princesa, e sim uma mini Elvira, e eu estaria ferrado com duas bruxinhas
para dar conta — ele brinca, mas vejo seus olhos brilharem de desejo.

— Vai nessa, amigo, você ia amar ter uma bruxinha só pra você —
completo e ele sorri.
Eros

Hoje nossa pequena princesa faz um mês de vida.

Dois dias depois de Kananda dar à luz voltamos para casa. O período de
adaptação foi, de certa forma, tranquilo para nós. Mel é uma bebê maravilhosa,
praticamente não chora. Eu tento estar presente em todos os momentos, e nesse
período inicial principalmente, por isso, tirei algumas férias acumuladas que
tinha para estar disponível para as duas mulheres da minha vida.

Agora estou aqui no nosso quarto, com meu maior tesouro deitada sobre
meu peito, dormindo como o anjinho que é, enquanto Kananda e Lara, correm de
um lado para outro pela casa organizando o 1º mesversário da nossa pequena.
Não canso de ficar com ela assim; o seu cheiro me acalma.

— Fala, brow — Enrico entra no quarto sem bater, folgado como sempre,
e vem em direção à Mel.

— Tira as mãos da minha filha — rosno para ele —, ela está dormindo.

— Para de ser pau no cu, Eros, ela esta louca de saudade do dindo — ele
fala sem se importar com meu protesto, e tira minha pequena dos meus braços.
— Oi minha linda, o dindo trouxe um presente pra você — ele fala baixinho com
a pequena, que continua dormindo calmamente. Meu amigo e Lara foram
escolhidos para serem os padrinhos, não poderia ser diferente, e são muito
presentes na vida da nossa pequena. Foram realmente a melhor escolha que
fizemos.

— Deixa só a Lara ou a Kananda ouvir você falando palavrão perto dela


que você vai ver — falo, e ele arregala os olhos.

— Olha, amor, o que Enrico trouxe pra Mel, que lindo — Nanda entra no
quarto com um body infantil que imitava uma farda policial. Na parte do
“coldre” tinha uma mamadeira, uma chupeta e uma algema desenhadas, e na
parte de trás tinha escrito “Mantenha distância, meu dindo é delegado”. Enrico
me encarava sorrindo; o filho da puta tinha “dado uma dentro”, eu amei a
roupinha. Só não gostei mais porque a ideia não tinha sido minha.

— Porra, seu filho da puta, que ideia do caralho, achei massa! — Falei
pegando a roupinha minúscula em minhas mãos, e ele mantém a pequena
protegida em seus braços, acariciando os dedinhos. Minha irmã os olha
admirada.

— Eros, já te falei para não xingar na frente da Mel! — Kananda me


repreende.
— Isso é porque não ouviu o que Enrico falou — solto em minha defesa.

— Fofoqueiro filho da... — Ele começa a falar, mas não termina porque
Lara dá um beliscão em seu braço. — Ai cacete! — Ele reclama e ela faz cara
feia para ele. Minha irmã continua o mantendo preso pelas bolas.

A noite transcorre com tranquilidade e alegria para nós. Cantamos


“parabéns” pela primeira vez para nossa filha vestida de fadinha, combinando
com a festa temática que a mãe preparou.

Hoje posso falar com toda certeza que tenho tudo o que mais amo ao
alcance das minhas mãos. Kananda sempre foi a mulher ideal para mim, e a
nossa filha foi o melhor presente que ela poderia ter me dado.

Se eu já a amava quando nos conhecemos, hoje a amo ainda mais.

Agora estou aqui, parado na porta do quarto da nossa pequena, admirando


minha linda mulher que embala nosso tesouro em seus braços, ninando-a para
dormir. Sabia que ela seria uma mãe maravilhosa, assim como é uma mulher
perfeita para mim.

Agradeço a Deus todos os dias por tê-la conhecido, e por ter me


apaixonado por ela. Agradeço ainda mais por nosso amor ser recíproco, por
vivermos em paz e harmonia. Se alguma coisa nos faltava, agora já não falta
mais, pois ela está em seus braços.

— Sou o homem mais feliz do mundo, amor — falo a abraçando por trás e
cheirando seus cabelos, quando ela deposita nossa pequena no berço. — Quero
que a cada dia nosso amor cresça ainda mais. Você é a mulher da minha vida, e
agora também a mãe da minha filha. Espero que em breve tenhamos outros
bebês para alegrar nossa vida e nossa casa — falo e ela sorri. — Eu te amo,
princesa.

— Eros, você é tão perfeito pra mim, obrigada por ser tudo o que eu
preciso em todos os momentos. Você me completo, é meu melhor amigo, meu
cúmplice, meu confidente. Quando estamos juntos, sinto que estou protegida,
sabe? Você é assim, perfeito para mim — ela fala emocionada enquanto fitamos
nosso pedacinho de céu dormindo tranquilamente. — Eu sinto que se não tivesse
te conhecido, talvez hoje eu não estivesse aqui, e me pergunto como você estaria
hoje sem mim?
— Provavelmente, eu não estaria aqui — respondo com convicção.

— Porque amor? Onde você estaria? — Minha mulher pergunta


preocupada.

— Te procurando, meu amor, procurando a minha felicidade.

FIM


Conheça outra obra da autora:
SINOPSE

Sabe quando tudo parece estar dando errado? Essa era a impressão que Liz tinha
daquele dia terrível, mas o que ela não podia imaginar é que esse dia na verdade
traria uma grata surpresa para o seu futuro.

Lucas, só queria correr para se distrair um pouco, o fardo que ele iria carregar
em breve, seria pesado, ele sabia, mas o faria com prazer, havia se preparado
para isso durante toda a sua vida e estava pronto.

Mal sabiam eles que a vida é feita de encontros e após um dia estressante, um
encontro inesperado fará suas vidas dar um giro de 360º.

Em breve a história de Enrico e Lara estará


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