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(FERNANDA PIAZON)
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos, são produtos da imaginação da autora.
1ª Edição – Abril/2019
Agradecimentos
JAQUE, você não sabe, mas a escolha do dia 10/04/2019 para ser o
lançamento deste bebê, foi também uma homenagem a você, pois também é o
seu dia, te desejo o melhor sempre, que papai do céu, continue te abençoando
e te enchendo de forças, para seguir em busca dos seus objetivos.
Agradeço a querida Priscila Tigre, por todo carinho e atenção, por estar
sempre disponível para me ajudar quando precisei, meus sinceros
agradecimentos.
Kananda havia saído de casa após mais uma discussão com sua irmã; após
a morte dos seus pais ela não imaginava que a relação delas poderia ficar pior
do que já era, mas a vida sempre nos surpreende e nem sempre é para o bem.
Eros é delegado. Conhecido por ser linha dura, ele buscava não se envolver
emocionalmente, "ter prazer" era tudo o que importava, até conhecer Kananda
e se render aos encantos dessa mulher que despertou o seu instinto mais
profundo: o de protetor.
Ele jurou protegê-la, ainda que essa proteção custasse sua própria vida.
— Não perca eles de vista! — Grito para Enrico, meu parceiro e também
delegado, que dirige a viatura nesse momento.
Para mim não faz diferença de quem Alana – a criança sequestrada - seja
filha, não me importo com status, o que vale para mim é a vida, e foi por isso
que montei essa operação para resgatá-la com todo o cuidado possível.
Sinalizei a minha equipe para que nada fizessem; os dois filhos da puta
que haviam conseguido fugir do cerco que fizemos no cativeiro estavam fazendo
outra pessoa de refém, e essa “brincadeira de gato e rato” já estava me tirando
a paciência, e definitivamente, isso não era nada bom.
— Nós não tem nada a perder não! — O outro sequestrador gritou, mas
sua voz já demonstrava o quanto estava nervoso.
— Mas com certeza não querem morrer, e não tem para onde fugir,
liberem a moça e eu garanto a segurança de vocês. Se entreguem. — Reafirmei
minha posição enquanto meus homens se moviam estrategicamente para
dominar a situação.
— Mas nós não quer ir parar na gaiola de novo não, tá ligado? — O que
segurava a refém falou, apertando ainda mais o pescoço da moça.
Olhei nos olhos verdes da mulher que era mantida refém e os vi cheio de
lágrimas não derramadas, numa clara demonstração de coragem, ainda que o
medo também fosse visível. Sua respiração estava pesada e transmitia toda
tensão que lhe acometia; se nós, que estávamos acostumados a lidar com essas
merdas o tempo inteiro, ficávamos tensos, imagine ela que era alheia a essa
realidade. Vi sua mão subir lentamente para tentar afrouxar o aperto em seu
pescoço, a arma duramente pressionada em sua têmpora, os olhos suplicantes
que buscavam os meus a todo momento. Algo naquela situação estava mexendo
comigo além do normal, o meu instinto de proteção estava ainda mais evidente,
só não entendia o porquê.
— Chama um advogado pra nós, que nós liberta ela! — Um deles falou.
— Que chama que nada, cê tá louco mano? Não vou libertar porra
nenhuma, nós vai morrer nesse caralho mesmo. — Falou o outro que estava com
a mulher à sua frente.
Vi o exato momento em que uma lágrima deixou os olhos dela. Ela não
desviava o olhar, e vê-la tão vulnerável estava me empurrando para o limite.
Sempre fui um delegado reconhecido por agir com frieza, todas as minhas ações
eram milimetricamente calculadas, por isso consegui destaque mesmo sendo
ainda jovem. Apesar de estar no auge dos meus trinta anos, já tinha
reconhecimento e experiência para lidar com situações como aquela, mas,
naquele momento, havia algo a mais, algo que não conseguia identificar.
— Ela não tem nada a ver com isso, me diga: o que você quer pra liberar
ela? — Perguntei, mantendo a calma em cada palavra. O outro sequestrador já se
movia em nossa direção para se entregar, logo só restaria ele para negociar, mas
infelizmente nessas situações as coisas nunca saem como previsto e o vagabundo
quando percebeu que o comparsa iria se render resolveu agir.
— Dêxa de sê froxo seu boiola, já que vai morrê na mão dos “Herói” eu
mermo te mato! — Gritou e deu um tiro na direção do comparsa, que caiu ferido.
Saquei minha arma e atirei em direção aos pés dele, que revidou enquanto
nos protegíamos atrás da viatura, o que estava caído ao chão atirou em direção
ao bandido, mas infelizmente atingiu a perna da mulher refém que caiu. Um dos
snipers deu um tiro e o que a fazia refém caiu morto, com uma bala na cabeça.
Nessas horas tudo acontece muito rápido, em milésimos de segundo as ações
mudam todo o desfecho da história.
Eu sou apenas um ano mais velha do que ela, tenho vinte e oito anos e ela
vinte e sete. Nossos pais eram donos de uma farmácia, e desde que morreram em
um acidente de carro há um ano, eu assumi a administração. Desde a
adolescência já gostava de acompanhar meus pais, então para mim foi fácil
assumir os negócios da família. Embora a saudade deles estivesse presente a
todo momento, para onde quer que eu olhasse, guardava boas lembranças.
Se Amanda já dava dor de cabeça antes, agora que nossos pais não estão
mais aqui para pegar no seu pé, “a coisa” vai de mal a pior. Ela não quer saber de
trabalhar, quer que eu a sustente - com luxos diga-se de passagem - e acha que a
farmácia nos rende mais do que eu repasso para ela. Embora seja injusto por ela
não me ajudar em nada, divido os lucros igualmente para nós duas, e ainda assim
ela nunca está satisfeita. Foi por causa de dinheiro que tivemos mais uma briga
essa manhã.
Quando senti o impacto da batida frontal em meu carro, não podia sequer
imaginar o que estava acontecendo, ser feita de refém em uma fuga foi a coisa
mais terrível que já passei na minha vida; são minutos que parecem
intermináveis horas, a sensação de impotência, a tentativa desesperada de manter
a calma e o medo latente dentro de mim são sensações que jamais esquecerei.
— Bom dia — ele falou com voz grossa — falo com a senhorita Amanda?
— aguardou a resposta. — Sou o delegado Eros Moraes Neto, estou com sua
irmã, a senhorita Kananda. Ela foi feita de refém por dois bandidos em fuga e foi
baleada na perna, agora está tudo bem, mas estamos aguardando a ambulância
para socorrê-la e ela precisará de acompanhante no hospital. — Fez uma pausa,
parecendo ouvir o que Amanda falava e se afastou um pouco de onde eu estava,
mas mantendo-se próximo o bastante para que eu o visse por perto.
— Tudo bem, assim que eu tiver informações do local para onde ela será
encaminhada eu volto a entrar em contato. — Ouvi ele se aproximar novamente,
concluindo a ligação.
— Você só tem sua irmã para avisar senhorita? Quer que eu informe a
mais alguém? — Perguntou abaixando-se ao meu lado novamente.
— Está sentindo dor? — senti que ele havia se chateado com algo, mas
estava tentando me distrair.
— Um pouco — respondi
— Ela tem plano de saúde, pode levá-la para o Hospital Santo Antônio. —
Informou ao paramédico que já iniciava os procedimentos de remoção comigo.
— Senhorita, mais tarde vou ao hospital, caso você se disponha, para colher o
seu depoimento.
— Tudo bem — Falei, fazendo uma careta logo em seguida quando senti a
minha calça ser rasgada para terem acesso ao local que havia sido baleado.
— Ow amiga, você nem imagina o susto que passei, mas graças a Deus
agora está tudo bem. Pelo que me falaram, correu tudo bem na cirurgia e
retiraram a bala, não ficarei com sequelas, só vou precisar de alguns dias para
me recuperar. — Falei o que tinham me dito.
— Ela veio Nanda, mas pediu que eu ficasse com você porque não se
sentia bem nesse ambiente hospitalar. — Revirou os olhos enquanto falava da
minha irmã. — Disse que ficaria na farmácia, já que eu e você estaríamos aqui.
— Ana, eu não posso contar com ela para nada mesmo — constatei o
óbvio — mas não quero que ela fique sozinha na farmácia, eu estou bem, não
precisa se preocupar. Amanhã quero que você vá para a farmácia, se não aquela
louca vai nos levar a falência.
— Certo amiga, sei que você ficará bem, e estava preocupada com ela
assumindo a farmácia, mas saiba que se precisar de qualquer coisa eu estarei
aqui em dois minutos. — Minha amiga falou.
Eros
— Boa noite. — Falei assim que bati e abri a porta, colocando apenas o
rosto para dentro. — Posso entrar? — Perguntei tentando não transparecer minha
ansiedade.
— Não, vim apenas saber como ela está. O depoimento está agendado
para amanhã e não se preocupe, antes vamos verificar com a equipe médica se
ela está em condições de falar sobre o ocorrido. — Expliquei e me aproximei da
cama.
— Certo amiga, mas não precisa se preocupar, vai ficar tudo bem. —
Kananda respondeu e recebeu um beijo carinhoso em sua testa.
Acenei com a cabeça para Ana, que saiu em seguida, e sentei em uma
poltrona ao lado do leito onde Kananda estava deitada. Comecei a me sentir um
pouco desconfortável com aquela situação: eu havia quebrado todos os
protocolos, passei o dia todo pensando nela, e agora, que deveria estar em casa
descansando para amanhã enfrentar mais um dia cheio de obrigações, estava
aqui, com ela. Não sei explicar, mas de alguma forma sinto-me atraído. Minha
cabeça está trabalhando em alta velocidade, procurando um ponto confortável
para conversarmos, porque sinto uma estranha vontade de ficar fazendo-lhe
companhia.
— Então senhorita Kananda, sua irmã virá dormir com você? — Perguntei
tentando iniciar um diálogo.
— Sim. Ana ficou comigo durante o dia, e eu não poderia pedir para que
ela passasse a noite comigo, ela tem uma filha ainda pequena. Mas não tem
problema, estou bem assistida aqui, as enfermeiras estão sempre por aqui. —
Falou tentando me tranquilizar.
— Parece que sua amiga gosta muito de você. — Constatei e ela sorriu pra
mim, e porra! O sorriso dela me hipnotizava, mesmo sem ser intencional.
— Então são amigas de trabalho? O que você faz? — Perguntei por que
estava realmente interessado em saber um pouco mais sobre ela.
— Não, senhorita. Já falei que não vim para lhe interrogar, então não
vamos falar sobre o ocorrido, mas quero realmente saber um pouco sobre você.
— Falei porque estava curioso para saber um pouco mais sobre Kananda. Ela
abriu a boca em um “O”, surpresa com minha resposta direta.
— Meu Deus, delegado! falei feito louca e não percebi o quanto estava
cansado. Não precisa se incomodar em passar aqui antes de ir para casa, você já
me ajudou demais por hoje. — Kananda falou um pouco envergonhada.
Kananda
— Amanda, não pedi para você vir aqui. Por favor, vá embora — pedi.
— Não pediu, mas a insuportável da Ana não para de encher meu saco,
perguntando se já tinha vindo aqui. — Falou com raiva. — Como se eu me
importasse com você.
— Você acha mesmo que vim aqui por você, “Maria mole”? —
Perguntou retoricamente — Vim aqui somente para você assinar essa
procuração; vou ficar à frente da farmácia enquanto você brinca de ficar doente,
tenho que cuidar dos meus interesses — completou.
— Não vou assinar nada, Amanda. Não ficarei aqui por muito tempo, logo
estarei de volta, e enquanto isso Ana tem procuração e autonomia para resolver o
necessário — falei firme.
— Você vai assinar sim sua songa monga! — Ela havia começado me
chamar assim quando Renata Sorrah fez sucesso na pele da vilã Nazaré Tedesco.
Na época ainda éramos adolescentes, e ela fazia sempre escondido dos nossos
pais, vivia dizendo que ainda iria me empurrar escada abaixo, como a vilã havia
feito. — Nem que eu tenha que arrancar sua mão para você assinar.
Sem que eu esperasse louca partiu para cima de mim, segurando meus
cabelos tentando me intimidar a assinar enquanto seu amigo gargalhava vendo a
situação encostado na porta do quarto.
Era comum nos embolarmos em brigas quando ainda éramos crianças, até
adolescentes, mas desde que nos tornamos adultas nossas discussões não
passaram de agressões verbais. Agora, que eu não podia sequer me defender,
presa a uma cama de hospital, com vários fios que me conectavam a máquinas e
soro, ela tinha total vantagem sobre mim. Eu só podia gritar e esperar que
alguém me socorresse, porém minhas esperanças acabaram quando o tal Diogo
passou a chave na fechadura e nos trancou.
— Você está louca, Amanda? Abra essa porta, eu não vou assinar nada! —
Gritei e ela apertou ainda mais os dedos no meu cabelo.
— Ah, vai sim, irmãzinha. — Apertou minha perna no local onde havia
sido baleada pela manhã.
Ela olhou para ele com raiva: — Essa filha da puta. Sua Maria Mole, eu
vou abrir a porta e você vai dizer que não aconteceu nada, que foi apenas uma
brincadeira entre irmãs, está me ouvindo? Depois quando todo mundo sair você
vai assinar essa merda de procuração. — Completou, me olhando com um ódio
que nunca percebi que ela sentia por mim.
— Não foi nada demais, só uma brincadeira entre irmãs. — Falou e sorriu,
como se não tivesse feito nada demais comigo. — Eu apenas fui olhar o local
ferido e Kananda fez um escândalo, mimada como sempre. — Abanou a mão
com um gesto de desdém, e eu me perguntei quando ela tinha se tornado essa
mulher dissimulada. — A propósito, sou a irmã dela, e você quem é? —
Perguntou e estendeu a mão para o delegado em cumprimento.
— Não será preciso, senhorita, eu vim para dormir com Kananda mesmo,
desci apenas para comprar um lanche. — Mostrou uma sacola de papel nas
mãos. — Pode ir para casa descansar, hoje quem ficará com ela serei eu. — Ele
falou e eu respirei aliviada, sentindo-me momentaneamente segura.
Capítulo 05
Kananda
Embora soubesse que teria que enfrentá-la em outro momento, por hora,
estava agradecida. Imaginava que ele não dormiria aqui comigo, afinal havia
voltado apenas para se despedir, mas o fato de inventar uma desculpa para que
Amanda não ficasse no hospital, já me fazia estar muito agradecida a ele. Eu
estava realmente com medo do que ela poderia fazer, já que aparentemente
estava possessa.
Amanda abriu a boca para retrucar, mas seu amigo lhe deu uma olhada de
soslaio que a fez se calar. Seja lá o que ela estivesse aprontando, com certeza ele
sabia dos seus planos e era seu cumplice.
— Vejo que arrumou alguém para lhe fazer companhia, não é irmãzinha?
— Falou me encarando. — É uma pena, pois tínhamos tanto para conversar essa
noite. — Se abaixou como se fosse me beijar a bochecha e falou para que apenas
eu ouvisse: — Pode esperar que eu volto para conversarmos, sua songa-monga
fingida, você não perde por esperar.
Com um aceno e uma olhada para Eros, que demorou em seu corpo
definido por mais tempo do que deveria, Amanda se retirou do quarto em que eu
estava com seu amigo e toda sua maldade. Eu não sabia o que pensar, não
entendia o porquê dela estar me tratando assim. Tudo bem que nunca fomos
“irmãs melhores amigas”, mas eu nunca desejei mal a ela, nunca sequer
retruquei as maldades que ela fazia comigo quando éramos crianças, e toda essa
raiva que ela alimentava por mim não tinha sequer explicação, pelo menos não
para mim.
Eros
Tamanha foi minha surpresa ao ver uma mulher muito parecida com ela
ao lado do seu leito. A mulher sorriu estranhamente em minha direção e das
enfermeiras que entravam no quarto; Kananda estava com o olhar assustado,
percebi imediatamente que algo não estava certo ali, vasculhei todo ambiente
com os olhos treinados e não encontrei nada, além da mulher havia um homem
sentado em um sofá no canto do quarto.
Havia algo errado ali, uma tensão que eu sentia, mas ainda não podia
explicar, mas que com certeza deixava Kananda desconfortável. Ela havia
confirmado a história da irmã sobre uma possível “brincadeira”, e por ter
gritado após a irmã tentar ver o ferimento, o que para mim estava claro não ser
verdade, até porque quando sofreu o tiro ela se manteve centrada, e nem de
longe foi essa mulher escandalosa que a irmã pintava.
Fiz questão de não cumprimentá-la, olhei em seus olhos apenas para que
pudesse extrair dali qualquer indício do que estava de fato acontecendo. Anos de
experiência na polícia fizeram meus olhos treinados para qualquer circunstância.
Fui direto para Kananda, ela era o meu foco, era com ela que eu me importava.
A irmã tentou me dispensar, mas ela não sabia quem eu era, não fazia
ideia de que enquanto ela tramava em sua mente dispensar a todos e ficar
novamente a sós com Kananda, eu já havia planejado e iria executar a estratégia
de defesa: eu estava um passo à frente e ela não precisava saber disso, pelo
menos não nesse momento.
— Percebi que havia algo errado, afinal, são anos de experiência. — Falei
em um tom divertido para tentar minimizar a tensão dela naquele momento. — E
pode me chamar de Eros mesmo, inclusive quero chamá-la de Nanda, posso? —
Soltei de forma involuntária e ela fez uma cara de espanto.
— Sim, pode, Eros. — Respondeu, e percebi que meu nome saindo dos
seus lábios era sedutor.
— Bom, eu trouxe um lanche para você, tudo bem? Sei que não é certo,
mas eu odeio comida de hospital, então pensei que você poderia comer algo um
pouco mais... Saboroso. — Falei divertido e apontei para o saquinho de papel, no
mesmo momento em que uma enfermeira entrou no quarto. Ela olhou para mim
e em seguida para a enfermeira.
— A senhorita está precisando de algo? — Perguntou a mulher que
acabara de entrar no quarto.
— Então, a opção é sua, Nanda. Da última vez que levei um tiro no braço,
eu praticamente obrigava meus colegas a trazerem comida de verdade para mim.
— Ela arregalou os olhos e dei de ombros. — Eu não me acostumo com essa
comida insossa, mas se você estiver com receio não coma.
— Eros, realmente sou muito grata por tudo, mas não precisa se
preocupar, eu me viro sozinha. Sei que deve estar cansado após o dia inteiro no
trabalho, e tudo o que menos precisa nesse momento é de uma doente em um
leito de hospital para cuidar, pode ir para casa, vou ficar bem. — Afirmou,
mesmo que seu olhar dissesse o contrário.
— Definitivamente, não irei deixá-la sozinha princesa, vou ajudá-la a
comer enquanto conto como fui alvejado no braço, e depois, se você ainda quiser
minha companhia, posso dormir aqui essa noite; só preciso ir ao carro pegar uma
muda de roupa para tomar um banho, como às vezes fico direto na delegacia,
sempre tenho o básico no carro. Então, o que me diz? — Sugeri porque eu
realmente queria ficar aqui com ela.
Capítulo 06
Kananda
— Tem mesmo muita coisa aí. — Constatei. — Acho que vou tentar essa
sopa “deliciosa” e depois vejo se quero mais algo.
— Pode deixar que tomo sozinha, Eros. Fui alvejada apenas na perna,
acho que sou capaz de tomar a sopa sem incomodá-lo. — Falei sorrindo, para
não ser grosseira, mas eu realmente estava envergonhada com tanto cuidado
dispensado a mim. Com exceção meus pais, ninguém nunca havia se preocupado
tanto comigo. — Enquanto isso, você poderia me contar sua aventura policial no
hospital. — Completei sorrindo.
— Não, princesa. Eu conto enquanto lhe dou a sopa, prefiro assim. —
Concluiu não me dando alternativa que não fosse aceitar de bom grado os seus
cuidados.
— Bom, acho que vou no carro buscar uma roupa, vou pedir que uma
enfermeira lhe faça companhia até eu voltar. — Afirmou, sem me dar
oportunidade de contestar.
Eros saiu do banheiro após alguns minutos, e embora eu achasse que era
impossível estar ainda mais lindo, ele estava. Eros vestia uma calça jeans
envelhecida e uma camiseta azul marinho que desenhava cada músculo do seu
corpo. Como antes ele estava com uma camisa social, eu só podia imaginar o
quanto seu corpo era perfeito, mas naquela camisa colada ao seu corpo, minha
imaginação não precisava sequer trabalhar, porque estava tudo ali, desenhado e
definido. Era uma pena não estar ao meu alcance... Senti uma contração em
minhas “partes baixas” e apertei uma coxa contra a outra, tentando minimizar a
reação instantânea. Acho que por estar há muito tempo sem sexo, meu corpo
estava agindo por vontade própria. O cabelo dele estava desalinhado, como se
não o tivesse penteado, e essa aparência descuidada o deixava ainda mais sexy.
Os olhos dele cravaram em mim e um sorriso surgiu em seus lábios, me
enfeitiçando ainda mais.
Acenei com a cabeça para ele: — Sim, e Eros... obrigada por tudo. —
Completei.
— Ah, mas você vai sim, se não vai levar uma surra. — Ameaçou como
sempre fazia.
Desde os nossos seis e sete anos, Amanda e eu não nos dávamos bem. Ela
sempre gostava de me maltratar, eu não entendia o porquê, afinal ela era minha
irmã e eu a amava, mas ela parecia não gostar de mim. A medida que fomos
crescendo, ela começou a me bater e sempre ia chorando para nossos pais,
dizendo que eu havia começado, e mamãe, embora nunca tenha me batido,
acabava por me colocar de castigo, então eu não revidava mais; quando ela me
provocava eu ficava quieta, era melhor assim.
— Mas ela não está e você vai fazer o que eu quiser. — Ela falou e fechou
a porta do quarto, nos trancando ali.
Nunca antes eu havia ficado com medo de Amanda, até aquele dia. Ela
veio em minha direção e puxou meus cabelos com força, nós tínhamos
praticamente a mesma idade então éramos do mesmo tamanho.
— Não, tia Mary, ela queria brincar e eu não, então ela fechou a porta e
começou a cortar o meu cabelo. — Contei entre lágrimas o que havia
acontecido de verdade.
— Vou ligar para a mãe de vocês, porque não posso resolver isso. Venha,
Nanda, vou lhe dar um banho. Sua mãe vai ter que levar você para alguém dar
um jeito nisso. — Apontou para o cabelo no chão. — Vai ter que cortar bem
curtinho, o estrago foi grande. — Mary falou.
— MEU CABELO NÃO, MEU CABELO NÃO! — Gritei com toda a força
que tinha, e senti mãos grandes me sacudindo.
Capítulo 07
Eros
Eu estava exausto e dormi rapidamente após deitar no sofá, que, por sinal,
era bem pequeno para meu tamanho. Mas fora o cansaço, sugeri a Kananda que
fôssemos dormir logo porque, ao voltar para o quarto e vê-la ainda mais linda,
tomada banho e toda cheirosa, meu pau sacolejou dentro das calças; eu não
entendia porque aquela mulher mexia tanto com os meus instintos mais
primitivos.
— Meu cabelo não, meu cabelo não. — Ela chorava enquanto falava.
Eu sabia que não era uma boa ideia dormir com ela na cama do hospital,
primeiro: porque o local não era apropriado, ainda que não fôssemos fazer nada
demais; segundo: porque eu e ela não tínhamos intimidade suficiente para isso,
embora eu sentisse como se nos conhecêssemos há muito tempo, mas eu não
resisti, e, aos poucos, adormeci com ela em meus braços.
Quando o dia estava amanhecendo, acordei ouvindo alguns gemidos
baixinhos de dor. Me ajeitei na cama como pude, tirando-a do meu braço para
que ela não percebesse que eu havia dormido ali, ao seu lado. Coloquei me de pé
ao lado da cama e abaixei junto ao seu ouvido:
— Dormi sim, princesa. Vou chamar uma enfermeira para ver você. —
Falei carinhosamente, tocando os seus cabelos, e ela acenou com a cabeça.
— Nanda, quem vai ficar com você hoje durante o dia? Posso me
comprometer a vir passar a noite, mas preciso trabalhar hoje. — Falei com pesar,
pois não queria ir embora.
— Não se preocupe, eu vou ficar bem. Qualquer coisa eu peço para Ana
vir ficar comigo. — Falou.
— Me passa o telefone dela, vou ligar e ver se ela pode vir antes de eu
sair. — Pedi
— Nem pense nisso, princesa. Não vou conseguir trabalhar sabendo que
está aqui sozinha, principalmente porque você não quis me contar o que
realmente houve com sua irmã ontem, mas vou esperar o seu tempo para ouvir.
— Respondi e aproveitei a oportunidade para deixar claro que queria saber o que
houve.
— Tudo bem. Você pega o meu celular, por favor? Eu ligo para ela. E...
Eros, eu gosto quando me chama de princesa... — Sorriu, abaixando a cabeça
envergonhada.
— Que bom que gosta, porque eu não consigo parar de te chamar assim.
— Sorri satisfeito.
Entreguei o celular nas mãos dela e dei sinal que ia descer para comprar
alguma coisa para comer, saí também para lhe dar privacidade para falar com sua
amiga. Quando retornei para o quarto ela me informou que amiga viria ficar
durante o dia com ela novamente, que eu não me preocupasse. Pedi o telefone
das duas para que pudesse manter contato e saber notícias durante o dia.
Conversamos um pouco, e após eu ter tomado o café que comprei e ela o que a
enfermeira trouxe, sua amiga chegou. Ana nos cumprimentou e eu me despedi,
dando um beijo na testa da Nanda; era um gesto íntimo e carinhoso, mas me
deixava muito feliz. Avisei a elas que o interrogatório estava marcado para hoje
à tarde, mas deixei claro que ela só se dispusesse a responder se estivesse se
sentindo realmente bem.
Fui direto para a delegacia. De certa forma estava mais tranquilo; Ana, a
amiga, me parecia uma pessoa confiável e demonstrava realmente gostar de
Kananda. Salvei o contato das duas no aplicativo de mensagens, e assim que
cheguei à delegacia avistei Enrico estacionando.
— Não, não foi com eles. Vamos na cafeteria da esquina tomar um café, e
eu te falo o que houve. — Chamei meu amigo. Eu não era uma pessoa que me
envolver com facilidade, precisava conversar com alguém sobre o que estava
acontecendo comigo e ele era a pessoa certa.
— Juliana, será que é possível que você fique cada dia mais gostosa? —
Enrico falou com certa intimidade. Nós dois sempre estamos aqui, e tanto eu
quanto ele já ficamos com uma ou outra atendente do local, que, por sinal, só
contrata mulheres lindas.
— Vejo que o assunto é sério, Brow, para você não ter entrado na
provocação da Juliana, vem merda grande por aí. — Constatou meu amigo.
— Abaixa a “bola” Enrico, porque você também fica todo fodido nas
mãos da minha irmãzinha. — Provoquei porque sabia o quanto aquilo mexia
com ele.
— Você é um filho da puta, estraga prazeres, Eros, para que falar naquela
pilantra? Quer acabar com o meu dia é? — Perguntou. — Só de mencionar
aquela mulher fico com vontade de estourar os miolos de alguém. — Falou
irritado.
— Êpa! Mais respeito com a minha irmã — falei para provocar, mas sem
realmente ficar chateado; eu sabia que ele ficava fora de si por causa dela —, a
Lara é um anjo. — Completei sorrindo.
— Ah, tá, vai nessa irmão, cada um se engana como quer. — Falou com
raiva — Mas esquece essa mulher, e me fala da sua nova “paixão”. — Mudou de
assunto rapidamente. O problema entre eles parecia ser mais sério do que eu
pensava, e eu só queria saber quando esses dois iriam colocar um fim nisso. Lara
é advogada criminalista, e cada vez que aparece na nossa delegacia para
acompanhar algum cliente, Enrico enlouquece, principalmente quando nossos
colegas começam a olhá-la com interesse e sugerir que eu a apresente. Meu
amigo é apaixonado por minha irmã, e suspeito que ela também seja por ele, mas
não conseguem se acertar.
— Cara — balancei a cabeça para os lados —, pior que eu não sei o que
fazer, a mulher está realmente mexendo comigo de uma forma estranha, mas eu
não sei como agir. — Afirmei. — E quero te pedir um favor: eu tenho que fazer
o interrogatório dela hoje, mas não acho que seja correto, considerando que
estou um pouco envolvido, você pode fazer isso por mim? — Perguntei.
— Exatamente. Aproveite que vou lhe dar uma amostra grátis dessa outra
belezinha aqui. — Falei sorrindo, enquanto acariciava minha arma na cintura, e
ele gargalhou.
O dia foi corrido, tínhamos muito o que fazer para fechar o caso do
sequestro. Teria uma entrevista no final da manhã, e o interrogatório de Kananda
estava marcado para o meio da tarde; eu iria apenas para acompanhar Enrico, na
verdade nem era necessário, mas eu não perderia a oportunidade de vê-la.
Capítulo 08
Kananda
Depois que Eros foi embora hoje pela manhã, fiquei tentando entender o
que havia acontecido comigo, porque desde ontem estava com o coração
acelerado, e embora eu tenha passado pelo inferno após o sequestro, e
principalmente com a visita assustadora de Amanda, não conseguia tirar o
sorriso do rosto; era uma felicidade que transbordava dos olhos para os lábios.
— Amiga, esse rostinho feliz é por causa de um certo delegado lindo que
acabou de sair? — Ana perguntou sorrindo — Ele dormiu aqui?
— Que bom. Vejo que já conheceu o Enrico, ele é meu amigo e pedi que
conduzisse o seu interrogatório, porque não achei conveniente que eu o fizesse
— informou —, mas fiz questão de vir, para que se sentisse confortável. Acabei
de falar com o médico e ele me informou que a sua recuperação está seguindo o
esperado, e em breve poderá ir para casa. — Completou sorrindo.
— Por nada, e, mais uma vez, quero agradecer por tudo que fizeram por
mim, e a você ainda mais, por ontem à noite. — Disse olhando em seus olhos
— Eros, não é preciso. Você deve estar cansado, não posso deixar que
durma novamente nesse sofá desconfortável — falei tentando dissuadi-lo da
ideia.
— Nada disso, princesa. Antes das 19h estarei aqui. — Piscou, sem me
dar chance de questionar, e olhou para o seu amigo que já estava de pé com um
sorriso zombador no rosto.
— Há, há, há, muito engraçado você. — Eros falou para o amigo e pude
perceber que a relação deles ia muito além do profissional. — Vamos logo. —
falou para Enrico e voltou-se para mim. — Até mais tarde. — Se despediu com
um beijo em minha testa.
— Até mais tarde então. — Afirmei muito satisfeita em saber que o veria
novamente.
Eles saíram e eu fiquei sozinha com Ana novamente. Falamos sobre como
os dois eram lindos; Ana ressaltava a todo o momento o cuidado especial que
Eros dispensava a mim, e eu não podia negar que percebi e que estava gostando
muito disso. Entre mais exames e conversas o tempo se arrastou até chegar o
horário de Eros voltar, e quando ele entrou no quarto meu coração saltou no
peito, e naquele momento, tive certeza de que meu coração deixava de me
pertencer e passava a ser irrevogavelmente dele, daquele homem protetor, que
surgiu em minha vida em um momento de desespero e que rápido demais se
tornou essencial. Ouvi dentro de mim uma vozinha que dizia: É ELE!
Ana se despediu de nós, não sem antes atualizá-lo sobre meu estado.
Diferente de ontem, ele já havia tomado banho, e o seu cheiro natural misturado
com o toque amadeirado do perfume que usava me deixava em êxtase.
— Eros — o chamo. Ele vem até mim e eu estendo a mão para tocar seu
rosto — Eu sinto o mesmo.
Falo isso para que ele saiba que o sentimento é recíproco, e em menos de
um segundo ele se inclina e cola os nossos lábios. Nossos olhos não se fecham, e
eu consigo enxergar carinho e desejo na imensidão azul que são seus olhos. Uma
de suas mãos agarra possessivamente minha nuca, puxando-me ainda mais para
si, enquanto a outra apoia as minhas costas. Com o braço livre - já que o outro
está preso ao soro - seguro seu pescoço e acaricio os seus cabelos, bagunçando-
os ainda mais, enquanto nossas línguas se exploram, nossos gostos se misturam e
nos perdemos no momento, nos perdemos um no outro.
Eros
Eu não resisti. Por mais que tenha tentado controlar os meus desejos até
aqui, ouvir da sua boca que também se sentia atraída por mim levou minha
sanidade pelos ares. Kananda se rendeu ao beijo, às carícias leves, porque usei
todo o meu autocontrole para não fazer como eu gosto, para não puxar seus
cabelos e expor a meu bel-prazer o seu pescoço, para não arrancar suas roupas e
devorá-la, para não sucumbir ao desejo que agora me consome. Descanso a
cabeça em seu pescoço, respiro fundo tentando me controlar; ela continua a
acariciar meus cabelos até que quebro o contato e me afasto um pouco.
Ela me informou que Ana havia oferecido sua casa para que ela passasse
alguns dias enquanto se recuperava, e também por causa do que aconteceu com
sua irmã – ela ainda não tinha se sentido confortável para me contar o que havia
acontecido entre elas naquele dia, e eu, pelo menos por enquanto, respeitaria o
seu silêncio.
Saímos do hospital direto para sua casa, para que ela pudesse pegar o que
fosse precisar. Ela ainda falou que iria pedir um taxi, o que eu, é claro, não
permiti, queria estar com ela o máximo possível.
Felizmente, quando chegamos à sua casa, sua irmã não estava. Elas
moravam em uma casa bem legal em um bairro de classe média. A casa tinha um
ar familiar, a sala ampla decorada com móveis predominantemente brancos e
sofá e poltronas cinza; as cores do ambiente estavam presentes nos objetos de
decoração.
Esses dois últimos dias que passamos juntos nos deram certa intimidade.
As nossas conversas, embora não tenham sido invasivas, nos permitiu conhecer
um pouco mais um do outro. Se eu estou cansado? Com certeza, mas o que eu
mais queria no momento era poder ficar ao seu lado. Dei um beijo demorado em
Kananda para me despedir, tomando sua boca e tudo que ela me oferecia no
momento com desejo desmedido, ainda não nomeei, ou melhor, ainda não
nomeamos o que está acontecendo conosco, mas com toda certeza é algo forte
demais para ser passageiro.
Eros
Cinco dias se passaram desde que Kananda saiu do hospital. Nesse tempo,
passei para vê-la todos os dias à noite, e embora esses encontros fossem mais
rápidos do que eu de fato desejava, nem eu queria exagerar impondo minha
presença, nem ela queria incomodar ainda mais sua amiga, que já estava lhe
recebendo com satisfação, tentando a todo o momento deixá-la o mais
confortável possível.
Além das rápidas visitas, sempre trocávamos mensagens e ligações. Estive
com o celular desligado durante toda à tarde porque estava em uma operação
externa, e agora, ao entrar na minha sala no departamento e ligá-lo, recebo essa
mensagem que me deixa imediatamente em alerta.
Kananda
Por volta das 19h, Eros me manda mensagem falando que está na porta
me aguardando, levanto o mais rápido que consigo, pois minha perna ainda não
está 100%, e caminho ao seu encontro, o coração acelerado como das outras
vezes que o vi.
— Boa noite, princesa. — Fala com a voz rouca enquanto me puxa para
si, dando-me um beijo de tirar o folego.
Com um sorriso bobo nos lábios vou para o quarto, pego minha bolsa,
confiro se os documentos estão dentro dela, calço uma sapatilha e volto em
direção ao homem que tem me feito um bem imenso nos últimos dias.
— Eros, obrigada por tudo que tem feito por mim — falo, porque eu
precisava agradecer. Ele tem sido gentil, presente, carinhoso e preocupado; ele
tem sido muito especial.
— Então esteja pronta que eu passarei para levá-la. — Fala sem me dar
margem para questioná-lo.
— Não, em regra não fico de plantão nos fins de semana, então estarei de
folga. Só estarei no departamento na segunda-feira.
— Estou pensando para onde vai toda essa comida que você ingere. —
Conto rindo ainda mais. — Nunca vi ninguém comer tanto assim.
— Ah, princesa, acho que tem espaço suficiente para ela se distribuir no
meu corpo — fala gracejando e mostrando os músculos definidos dos braços.
— Com certeza, tenho que concordar; tem muito espaço. — Falo sorrindo
— Mas além do meu trabalho que exige muito do meu físico, eu malho
regularmente sim. — Informa.
— Tão linda. — Eros fala enquanto coloca uma mecha de cabelo atrás da
minha orelha, em seguida, me puxa para si e me beija com voracidade. Retribuo
na mesma intensidade, já que o desejo é recíproco.
Não resisto e entrelaço seu pescoço com as mãos, trazendo-o para mim e
beijando-o novamente. Exijo com minha boca que ele sacie minha sede, que se
deixe levar pelas sensações; não quero que ele se controle, quero que ele se
perca. Ele segura meu corpo com possessividade, puxando-me para o seu colo,
abandona minha boca e desce beijando, chupando e mordendo meu pescoço.
Gemo desejosa por mais. Ele retorna para minha boca. Nos beijamos por mais
alguns minutos até que Eros, com um controle que eu não sei de onde veio,
afasta-se novamente com a respiração ainda mais pesada.
— Princesa, não faz isso comigo. Tenho te desejado desde a primeira vez
que te vi, mas te quero 100% recuperada. Eu não sou um homem delicado
quando me deixo sucumbir ao desejo, então prefiro esperar sua recuperação
completa a machucá-la quando a fizer minha. — Ele fala isso olhando nos meus
olhos, enquanto acaricia minha nuca com os dedos, e a sensação que me toma, o
desejo reprimido e a necessidade crua de tê-lo para mim, me faz gemer apenas
com os seus toques ali.
— Eu sei, Ana, e sou grata por tudo o que tem feito por mim, não só aqui,
mas na farmácia também, mas eu preciso voltar e enfrentar Amanda, não posso
fugir dela, afinal ela é minha irmã. Vai ficar tudo bem, eu prometo. — Falo
enquanto seguro sua mão sobre a mesa, demonstrando claramente o quanto estou
agradecida, e ela acena com a cabeça em concordância.
— Tudo bem, amiga, mas saiba que o seu cantinho nessa casa será sempre
garantido. Agora me conta: como foi o jantar ontem com o delegado gostosão?
— Sorri. — Vejo que as coisas estão mais sérias do que você quer demonstrar.
— Nesse momento seu marido entra sorridente no ambiente e a beija
apaixonadamente enquanto fico apenas observando a interação dos dois. Parece
que o sentimento entre eles é intenso e puro, e um dia, quem sabe, terei um
relacionamento desses para mim.
— Amor, estava falando agora com a Nanda que ela não está
incomodando, e ela já quer nos abandonar. — Ana fala para seu marido.
— É verdade, Kananda, você pode ficar pelo tempo que precisar. — Ele
diz solicito.
Conto sobre o nosso jantar na pizzaria, mas claro que omito os beijos
desesperados, os amassos no carro e o desejo que sinto. Minha amiga sorri de
canto, percebendo que estou editando os fatos, ela me conhece demais para saber
que fomos além de um simples jantar. Sei que depois terei que contar para ela,
mas pelo menos agora, na presença do seu marido, ela não me faz nenhuma
pergunta constrangedora como é de costume, e agradeço silenciosamente por
isso.
— Está vendo, amiga? Até o Pedro percebeu como o delegado é ideal pra
você. Não perca tempo, sua boba, agarra logo esse boy e amarra ao pé da sua
cama. — A louca da Ana fala sorrindo e eu meneio com a cabeça, enquanto o
marido dela apenas sorri.
— Até parece que é simples assim. — Falo sorrindo quando meu celular
toca. Atendo rapidamente, pois é o Eros me ligando. Ele informa que já está na
porta me aguardando; com a conversa agradável que estava acontecendo ali na
mesa, nem vi o tempo passar.
Me despeço de Ana, Pedro e da linda da Alice, filha deles, com ela ainda
reiterando a disponibilidade da casa deles caso eu precise. Entro no carro de Eros
que, tão rápido quanto possível, me beija com voracidade.
Eros
A cena que vejo me deixa perplexo, não por eu achar que é uma coisa de
outro mundo - até porque eu já participei de um ménage, já estive com duas
mulheres ao mesmo tempo -, mas não na sala da casa da minha família, não
exposto para quem quisesse ver.
Amanda está no sofá, encaixada sobre o mesmo cara que estava com ela
no hospital, subindo e descendo no seu pau enquanto outro rapaz em pé fode seu
rabo. Ela geme alto, desesperada, demonstrando muito tesão pelos dois, até que
desvia seu olhar para a porta e me vê, então sorri maliciosa.
— Vamos embora. — Digo abrindo a porta do carro para que ela possa
entrar novamente. Em silêncio ela faz o que eu peço, e eu contorno o veículo,
assumindo a direção puto de raiva.
— Eros, o que eu vi... O que você viu, eu não sei o que dizer. — Ela fala
claramente envergonhada pela atitude da irmã.
— Tudo bem, não tem problema. — Falo e aperto sua mão, tentando
confortá-la e controlar minha raiva, para que ela não perceba o quanto estou
puto.
— Vamos dar uma volta e depois você me deixa em casa. — Ela fala com
a cabeça baixa.
— De forma alguma você vai voltar para aquela casa, Kananda. Não há a
menor possibilidade de eu deixar que se exponha àquela situação. — Falo,
porque realmente eu não a deixarei vulnerável dessa forma. Será que a irmã a
viu chegar? Será que propôs que ela se juntasse a eles como fez comigo? Só de
pensar nessa possibilidade quero estourar os miolos de alguém. Aperto o volante
do carro com ódio, mas tentando me controlar para que ela não perceba o quão
afetado estou.
Vejo quando ela abaixa a cabeça e uma lágrima solitária escorre pelo seu
lindo rosto, maculando sua pele, e isso só intensifica o furacão que vem se
formando dentro de mim.
— Eros, eu não sei nem como começar a agradecer tudo o que tem feito
por mim. — Fala com a voz embargada pelo choro.
Estou tenso ao seu lado. Kananda faz uma pausa para respirar e sinto-a se
perder em pensamentos, como se voltasse ao passado.
— Amanda sempre me disse que queria ser filha única, que o amor dos
meus pais deveria ser apenas dela e não dividido como eles diziam que era. Ela,
apesar de ser mais nova, sempre me maltratava, me batia, mas quando ela
começou a crescer, eu comecei a revidar tudo que ela fazia comigo, eu
“devolvia”, e assim nós fomos crescendo e nos distanciando cada vez mais. —
Ela conta com algumas lágrimas escorrendo por seu lindo rosto.
— Quando ainda éramos crianças ela cortou os meus cabelos, foi com isso
que sonhei naquele dia no hospital. — Kananda conta sobre o episódio que a fez
ter pesadelos quando ainda estava internada e eu começo a imaginar que sua
irmã deve ter algum tipo de transtorno de personalidade, e isso me preocupa
ainda mais.
— Não, está tudo bem. — Ela respira fundo e continua: — Eu não atendi
nenhuma das ligações do Marcelo, não precisava ouvir as desculpas que ele iria
inventar para mim. Desfiz todos os preparativos, contei para os meus pais
superficialmente o que havia acontecido e o porquê de ter acabado com o
noivado praticamente às vésperas do casamento. Eu e Amanda não nos falamos
mais desde então, até a morte dos meus pais, quando começamos a falar apenas
o necessário. Na verdade, ela só se dirige a mim quando quer dinheiro, já que eu
continuo administrando a farmácia que herdamos.
Caminho em sua direção, volto a sentar ao seu lado e acaricio seu rosto
lindo: — Tudo bem, não se sinta culpada — falo —, mas, por favor, não volte
para aquela casa — peço. — Amanda pode ser mais perigosa do que você
imagina. — E, sem que eu esteja esperando, ela praticamente pula no meu colo,
me abraçando apertado em busca de consolo e conforto. Eu correspondo com
tudo de mim, deixando-a extravasar em lágrimas sobre o meu peito todo o seu
medo, frustração e insegurança.
Capítulo 12
Kananda
Não sei em que momento eu me joguei nos braços de Eros, mas é onde me
encontro até agora, quando saio do surto de choro em que estava. Ele ainda
mantém os braços protetoramente em volta de mim e acaricia meu cabelo. Aos
poucos levanto a cabeça e encaro seus olhos, que demonstram mais emoções do
que sou capaz de identificar.
— Não por isso, princesa. — Ele fala com um sorriso lindo. — Agora,
vamos conhecer o lugar que você ficará pelo tempo que achar necessário. —
Frisa a última parte para que fique claro para mim a sua disponibilidade em me
ajudar.
— Eros, sei que estou sendo repetitiva, mas não tenho como agradecer.
Prometo que minha estadia será breve, na segunda-feira já começo a procurar
um lugar para mim. — Informo colocando minha mão sobre a sua.
— Você não imagina o quanto eu fico feliz por isso princesa, você
realmente não faz ideia. — Eros fala e me beija, e Deus do céu, eu não quero
mais sair desse quarto, ou melhor, quero agarrá-lo e levá-lo para a cama, mas
Eros não parece o tipo de homem que deixa se dominar, principalmente quando
diz respeito ao sexo, e eu estou louquinha para descobrir porque, se com beijos
ele consegue me conduzir às nuvens, transar com ele deve me levar ao paraíso...
Mas, infelizmente, mais rápido do que eu gostaria, ele desfaz nosso contato.
Eros
Embora o que eu mais queira nesse momento seja aprofundar nosso beijo,
tirar nossas roupas e poder venerar o corpo de Kananda como ela merece, me
obrigo a me afastar: preciso alimentá-la antes de tomá-la para mim. Sei, pelo
andar da carruagem, que será impossível resistir à química que existe entre nós -
não que eu quisesse resistir a ela.
— O seu plano está ótimo para mim. — Kananda fala enquanto lhe
entrego sua xícara de cappuccino. — Só preciso tomar um banho rápido e trocar
de roupa.
Levanto minhas mãos em sinal de rendição: — Ok, não está mais aqui
quem falou — completo sorrindo, e recosto-me no balcão para aguardar que ela
termine a tarefa. Ela lava a louça com tanta concentração, que sou incapaz de
controlar minha excitação ao imaginá-la debruçada sobre esse mesmo balcão
enquanto a penetro por trás com força.
Senti meu rosto pegar fogo quando falei a frase com duplo sentido. Não
foi intencional, mas quando ele me abraçou por trás, pude constatar quão grande
era sua excitação. Tenho certeza que se eu tivesse me deixado levar pelas suas
palavras, tão dúbias quanto as minhas, e pelo seu beijo delicioso em meu
pescoço, teríamos nos rendido ali mesmo. Mas covarde como sou, e ainda
envergonhada pela situação anterior, corri em direção ao quarto e fechei a porta,
deixando ele do lado de fora. Agora estou aqui, excitada como nunca estive
antes, desejosa por ele e sem coragem de trazê-lo aqui para dentro, reivindicá-lo
como meu e obrigá-lo a matar toda essa vontade dentro de mim.
Era isso o que eu queria fazer, mas acabo colocando o chuveiro na opção
gelada e tomando um banho para, pelo menos, tentar aplacar o desejo que estou
sentindo. Resolvo lavar os cabelos, porque a água só no corpo não será capaz de
me acalmar.
Visto uma saia jeans, uma blusa preta de alcinhas um pouco folgada no
corpo e opto por calçar um tênis branco, pego uma bolsa e vou para a sala onde o
encontro me esperando, e quase paraliso quando o vejo: o homem parece ficar
ainda mais lindo a cada vez que o olho! Meu Deus, será possível isso?
— Você está linda, Kananda. — Ele fala enquanto varre meu corpo com
os olhos famintos. — Essa sua saia foi comprada a prestação? Porque acho que
você só recebeu uma parte dela. — Ele diz e eu quase reviro os olhos com a
demonstração de possessividade precoce dele, seria ciúme talvez?
— Na verdade foi sim, inclusive, acho que recebi parcelas demais dela —
respondo olhando o cumprimento da peça. Quando subo os olhos, o vejo abaixar
a cabeça e sorrir, balançando-a de um lado para outro em negação. — Vamos? –
pergunto.
Vamos para um shopping que fica próximo à sua casa. Como já chegamos
por volta das 13h30, sentamos para almoçar em um restaurante japonês que há
no local. Não sei se ele costuma frequentar esse shopping, mas eu já vim
algumas vezes e adoro esse restaurante.
A mulher volta com o cardápio, me entrega e se retira, mas não sem antes
dar uma “conferida” no gostoso sentado à minha frente. Não posso julgá-la,
afinal: quem é capaz de resistir a esse homem? Lindo, gostoso, educado, estiloso
e cheiroso, Eros é a formula perfeita da perdição. Vestindo uma bermuda jeans
clara, uma camiseta azul marinho que se molda ao seu corpo definido,
desenhando cada músculo que possui, e um sapatênis branco... completando o
visual, ele colocou os óculos na gola da camiseta, mas enquanto vínhamos no
carro quase entrei em combustão: os óculos modelo aviador o deixam ainda mais
sexy. Ele é definitivamente um pecado ambulante.
Eros
Essa mulher ainda vai me enlouquecer, tenho certeza disso. Ela é uma
mistura de inocente e atrevida que me deixa sem saber ao certo como agir.
Quando ela saiu do quarto para irmos para o shopping, não sei o que deu em
mim para falar sobre o tamanho da sua saia, só sei que quando admirei todo o
seu corpo não pude deixar de imaginar que todos os homens que estivessem
naquele fodido shopping também a olhariam e desejariam com a mesma
intensidade que eu, mas ela me respondeu à altura, mostrando quão dona de si
ela é. Minha vontade naquele momento era dobrá-la sob mim e tomá-la como
minha, mas tudo tem seu tempo, e aprendi com a minha profissão a ser prudente,
esperar o momento certo de agir, e esse não era o momento... ainda.
Suspendo-a e ela envolve suas pernas na minha cintura. Sua saia facilita o
processo, mas não iria tomá-la ali, pelo menos não dessa vez, não na primeira
vez; Kananda é especial, merece que eu a venere, que eu a faça minha de uma
forma tão intensa que ela será incapaz de esquecer. Entro no meu quarto e a
deposito sobre a cama.
— Sim Eros, é isso que eu quero. Eu te quero como jamais desejei alguém
nessa vida. — Ela reponde, rompendo o último resquício de sanidade que ainda
me prendia.
— Vem, Eros, me dê tudo de si, é isso que eu quero e tenho certeza que
você não vai me machucar. — Ela fala.
Tiro minha arma da cintura e a coloco na gaveta do criado mudo que fica
ao lado da cama. Termino de despi-la hipnotizado por tamanha beleza. Ela é
linda demais, os seios médios, a cintura fina, a pele branquinha sem uma marca
sequer. Sua boceta depilada me convida e eu me ajoelho, me rendo totalmente a
ela; sou seu servo de bom grado. Eu a devoro com uma fome que nunca havia
sentido, passo a língua por toda extensão da sua boceta, de cima a baixo,
enquanto ela geme pedindo por mais. Estendo uma mão até os seus seios
entumecidos enquanto uso a outra para abri-la para mim. Sua boceta escorre de
desejo e eu que não estou muito diferente. Beijo-a inteira, sugo com força,
prendo seu clitóris entre os dentes fazendo uma leve pressão e ela perde o
controle.
Deus do céu, o que foi isso que aconteceu aqui? Nunca tive um orgasmo
tão intenso. Ainda estou tendo espasmos na cama quando vejo Eros se levantar e
começar a tirar sua roupa assim como fez com a minha, e paraliso diante da
visão do seu corpo nu, de pé diante de mim em todo o seu esplendor. Ele se
masturba sem desviar o olhar do meu, abre a gaveta ao lado da cama e pega um
preservativo que logo desenrola por toda sua extensão, o que me faz desejar
chupá-lo. Controlo esse desejo porque preciso dele dentro de mim, preciso senti-
lo me invadir, sei que, assim como foi com o sexo oral que ele me proporcionou
agora, a sensação de tê-lo me preenchendo por completo será única e
indescritível.
— Como nunca estive antes. — Mal respondo e ele vem para cima de
mim, voltando a me beijar com intensidade, deixando-me sentir o meu gosto em
seus lábios, e principalmente, me fazendo sentir o fogo do seu corpo sobre o
meu, o calor que emana dos nossos corpos. Me rendo completamente a ele. Num
breve momento de lucidez, eu percebo que estou perdida, e que na verdade eu
precisava muito disso, de alguém ao meu lado, alguém que me fizesse voltar a
viver, e não apenas existir, como estava acontecendo desde que meus pais
faleceram.
— Eros — grito seu nome quando sinto uma invasão mais bruta. Ele
começa a afastar-se e voltar novamente com força, empurrando o quadril contra
o meu. Um arrepio enlouquecedor sobe por meu corpo que se contorce de prazer.
Quando o ouço gemer rouco no meu ouvido não consigo mais controlar o prazer:
— Eu vou gozar.
— Isso, minha princesa, goza pra mim. — Ele fala empurrando o seu
quadril com ainda mais força de encontro ao meu, e geme rouco no meu ouvido.
— Eros... Ah... Eros — clamo seu nome como uma súplica enquanto o
prazer devastador se aproxima.
O que era pra ser um banho solitário transformou-se em mais uma sessão
de sexo. Eros me tomou de pé, contra a parede, com uma intensidade que eu
julgava não ser possível depois do que havíamos feito a pouco no quarto. Ele
estava superando todas as minhas expectativas, me mostrando que era possível
sim ter tanto fogo, e me fazendo gozar como nunca gozei em toda a minha vida.
Quando acabamos o banho as minhas pernas estavam bambas, ele me envolveu
carinhosamente em uma toalha e me levou no colo até a sua cama, me
depositando ali cuidadosamente. Ele deitou ao meu lado, me envolvendo em
seus braços fortes, e nada nunca me pareceu tão certo quanto estar aqui com ele.
— Obrigada Eros — não resisto. Essa parece ser a única coisa que
consigo falar no estado de torpor e moleza em que meu corpo se encontra.
— Você que é perfeita, princesa. — Eros fala. — Posso afirmar que o que
tivemos foi muito melhor do que eu esperava. — Deposita um beijo na minha
testa e me mantém cativa em seus braços até pegarmos no sono, dormindo
abraçados como um casal apaixonado faria.
Eros
— Bom dia. — Kananda fala, e é tão bom ouvir sua voz rouca pela
manhã...
— Eros... — Ela geme meu nome quando alcanço sua boceta e abocanho
o seu clitóris.
— Kananda, vou a padaria que fica aqui na quadra do prédio, você quer
que eu traga algo para você? — Pergunto após bater na porta do quarto de
hóspedes, para onde ela se dirigiu após o banho para se vestir.
Enquanto caminho para a padaria, penso em como foi bom estar com ela.
É algo que eu nunca senti, uma sensação de pertencimento, e, sinceramente, eu
gosto disso.
Quando chego em casa sinto o cheiro maravilhoso do café que ela fez.
Kananda está terminando de colocar a mesa; está vestindo um short rosa claro
folgado e uma blusa branca colada ao corpo. Seu cabelo está preso em um coque
frouxo. Aproveito para abraçá-la por trás, depositando um beijo em seu pescoço.
— Eros, não te vi entrar. — Ela fala virando-se para mim e enlaçando meu
pescoço.
— Eu sei, Eros, e agradeço muito por isso, mas realmente preciso procurar
algum lugar para mim. Você está sendo ótimo comigo e eu realmente não tenho
sequer como te agradecer, mas amanhã vou conversar com Ana para ela segurar
as pontas mais um pouco na farmácia enquanto ponho minha vida em ordem. —
Ela deixa claro que, embora eu queira ajudá-la, ela precisa tomar um rumo em
sua vida. Por mais que eu queira que ela fique aqui comigo, essa sua atitude me
enche de orgulho, pois mostra que ela é uma mulher audaciosa e independente.
— Tudo bem, se precisar de algo saiba que estou aqui para ajudá-la. —
Reafirmo a minha disponibilidade para ela, e entre uma conversa e outra
terminamos o café.
— Eros, estava aqui pensando que podíamos ficar em casa mesmo hoje, o
que acha? — Sua sugestão é perfeita para mim, pois não quero ter que dividi-la
com ninguém.
— Por mim tudo bem. Podemos pedir o almoço em algum restaurante
enquanto ficamos aqui, fazendo algo mais interessante — falo enquanto beijo
seu pescoço e subo minha mão por suas pernas.
— Claro que sim, princesa, eu falei que podia ficar à vontade. Essa casa é
sua pelo tempo que precisar, pegue, mexa e bagunce o que quiser. — Deposito
mais um beijo em seus lábios.
— A gente faz o que pode. — Ela responde e pisca um olho para mim. —
Agora vamos, porque eu sei que se eu te der corda, nós não vamos sair daqui tão
cedo, e muito menos farei o almoço.
Fomos para o mercado e parecia que Kananda estava bem ambientada ali;
eu servi apenas para empurrar o carrinho. Não tenho o hábito de fazer compras,
ou melhor, não faço nada que se refira às obrigações domésticas. Joana, uma
senhora que foi babá minha e da Lara, se divide entre os nossos apartamentos.
Ela cuida das nossas necessidades até hoje. Como moramos sozinhos e quase
não ficamos em casa, é fácil para ela administrar os dois; ela alterna os dias em
que fica comigo e com Lara, sempre mantém tudo no lugar e deixa comidas
prontas congeladas, embora eu praticamente não faça refeição nenhuma em casa
além do café da manhã.
Eros
— Da próxima vez vê se bate na porta, não quero seus olhos sobre minha
mulher em um momento constrangedor — falo para Enrico sem realmente estar
chateado pela sua invasão inesperada. Para ser sincero, já estou acostumado com
ele sempre por aqui.
— Eh... Oi, tudo bem? — Kananda estende a mão para ele um pouco
constrangida.
— Pode ficar, Nanda. — Quem deu liberdade para esse filho da puta
chamá-la de Nanda? — Não tem problema não, eu vim para chamar o Eros para
tomar um chopp e comer alguma coisa, mas podemos ficar por aqui mesmo. —
O desgraçado fala, deixando claro que não irá embora tão cedo.
— Sim, por favor. — Ela responde e se vira para mim. — Eros, é sério, eu
posso ficar no quarto enquanto você faz companhia ao seu amigo.
— Não precisa, princesa, Enrico é assim mesmo, ele aparece quando quer
ou quando não tem companhia. Tenho certeza de que ele não quer conversar
nada especial comigo, ele só quer companhia mesmo — falo enquanto ouço a
porta da frente sendo aberta novamente — Há, Há, Há... Agora é que a coisa vai
ficar boa.
Kananda
— Há, Há, Há... Agora é que a coisa vai ficar boa. — Eros fala ao meu
ouvido e eu não entendo bem o porquê, até olhar para a porta de entrada da casa
e ver uma linda mulher entrar por ela. Ela é muito bonita, com cabelos pretos
longos, até a altura da cintura, olhos azuis, boca carnuda e um corpo invejável,
bem marcado pela calça jeans escura que veste e a blusa azul clara também
modelada ao seu corpo.
— Oi meu amor. — Eros se levanta para cumprimentá-la e por um
segundo sinto ciúmes da mulher que o abraça com possessividade. Não estou
entendendo nada do que está acontecendo aqui, então, constrangida, mantenho-
me sentada no mesmo lugar.
— Não acredito que até aqui você me persegue, Enrico! — Ela fala
recolhendo a mão que havia estendido para mim e cruzando sobre o seu peito.
— Êpa, vamos parar as farpas vocês dois? Finjam que são educados pelo
menos na frente da visita. — Eros repreende aos dois. — Kananda, essa é minha
irmã. — Agora que sei que é sua irmã, consigo levantar para cumprimentá-la,
não me sinto mais intimidada pela sua presença.
— Lara, Kananda. Meu nome é Lara. Não dê ouvidos ao que esse idiota
fala. — Ela me diz enquanto direciona um olhar enraivecido para Enrico. A
tensão que existe entre eles é tão forte que consigo sentir com facilidade.
— Desculpe, é que Eros não disse o seu nome, só ouvi o nome que ele
falou — justifico minha gafe e ela responde que tudo bem enquanto senta no
sofá.
— É que Enrico tem o dom de ser idiota, Kananda, e faz de tudo para me
irritar. É uma pena que você tenha tido o desprazer de conhecê-lo tão rápido. —
Ela fala revirando os olhos. — Vai lá, Enrico, faça alguma coisa que preste e
pegue uma cerveja para mim também. — Ela pede.
— Não por você, Elvira, mas por sua família que não merece sofrer por
sua imprudência. — Ele retruca.
— Não, eu vim de Uber. Não estava em casa na verdade. — Vejo que sua
intenção era irritá-lo, e acho que ela consegue, pois ele faz uma cara feia e se
levanta indo em direção à cozinha, enquanto ela permanece sentada, mas agora
com um sorriso discreto no rosto.
— Lara, você sabe que ele tem razão. Às vezes você é imprudente. —
Eros repreende a irmã.
— Ah, Eros, pelo amor de Deus não entra na pilha do Enrico. Sei que ele
fica fazendo fofoca de mim para você o tempo inteiro, é pior do que vizinha do
interior, não tem o que fazer e fica cuidando da minha vida. — Ela responde
demonstrando irritação.
— Não é isso, Lara. Ele se preocupa com você, apenas isso. — Eros tenta
apaziguar a situação. — No fim das contas vocês dois são cabeça dura, não
querem enxergar o que está claro diante de vocês. — Eros finaliza a conversa
assim que o amigo retorna com a cerveja dela nas mãos.
Enquanto cortamos alguns frios para servir com a cerveja, coloco algumas
batatas pré-cozidas para fritar na fritadeira elétrica e vou resumindo para Lara o
nosso encontro inesperado. Ela sorri orgulhosa do irmão e de Enrico enquanto
narro a cena do sequestro relâmpago.
— Nossa, que história, hein? — Ela fala. — Fico feliz por vocês. — Ela
fala de forma sincera, mas sinto uma nota triste na sua voz. — Meu irmão
merece demais encontrar uma pessoa que lhe complete, que seja companheira e
que esteja ao seu lado em qualquer circunstância, e a julgar pela cara de bobo
com a qual ele te olha, tenho quase certeza de que você foi a escolhida.
— Nós não nomeamos o que estamos tendo, só sei que desde o dia do
sequestro não conseguimos ficar longe um do outro, sem nos ver um dia sequer.
— Conto para ela enquanto um sorriso bobo brota em meu rosto. — Lara, eu sei
que não temos intimidade e nem te conheço para poder opinar em sua vida, mas
o que existe entre você e o Enrico parece ser sincero e forte. Vocês se provocam
a todo o momento, mas existe um carinho enorme entre vocês, eu posso sentir.
— Falo e ela abaixa a cabeça com um sorriso que eu poderia dizer que é até um
pouco triste. — Quando contei do meu sequestro relâmpago os seus olhos
brilharam de orgulho, e não foi apenas por Eros— constato por fim.
— Ah, Kananda, eu queria muito que as coisas fossem tão simples assim.
— Fala e balança a cabeça em negação, deixando a tristeza transparecer em seu
olhar. — Não vou mentir que o odeio, até porque convivo com ele há muitos
anos. Ele e Eros são amigos desde a faculdade, então ele sempre esteve muito
presente em minha casa, mas já tentamos uma vez e essa “brincadeira” não deu
certo. É melhor nos mantermos afastados, somos tóxicos demais um para o
outro. — Ela fala deixando um pouco de lado a “casca” de durona que faz
questão de manter. Eu concordo com um aceno enquanto termino de dispor as
coisas em uma bandeja, então voltamos para à sala, mas não sem antes falar algo
para ela, algo que meu coração me pediu para dizer:
Na hora que falaram que iriam embora, o caos se instalou entre Lara e
Enrico: ela queria ir de Uber, ele queria levá-la, e assim como Eros, que se
mantinha em silêncio, eu fiz o mesmo, deixando que eles dois decidissem entre
si. Por fim, Enrico conseguiu convencê-la e foram juntos. Fui para a cozinha
levando comigo a bandejas e as garrafas de cerveja para organizar. Eu gosto de
manter as coisas em ordem, não é porque estou na casa dele que seria diferente.
Kananda
— Bom dia princesa. — Fala com a voz ainda rouca de sono, os olhos
entreabertos, e eu percebo que essa seria uma cena que eu adoraria ver todos os
dias da minha vida.
— Bom dia — falo assim que entro no ambiente. Eros vem em minha
direção, vestido lindamente com uma calça social azul marinho, camisa branca e
gravata cinza. Esse homem é lindo demais; eu quase suspiro.
— Nana, essa é a Kananda, ela vai ficar conosco por uns dias. — Fala
carinhoso com a mulher que já havia me dito se chamar Joana.
— Bom dia, nossa como você é linda! — Ela fala e me puxa para um
abraço. Sinto tanto carinho emanando dela que me lembro da minha mãe.
Tomamos café juntos, numa conversa divertida. Ela quer saber mais sobre
mim e Eros tenta conduzir a conversa sem aprofundar no assunto
relacionamento. Quando terminamos, eu pego minha bolsa para ir trabalhar e
resolver as coisas que preciso, e vejo Eros pegar a sua arma “inseparável”, as
chaves do carro e a carteira. Saímos juntos do apartamento, e assim que
entramos no elevador, pego meu telefone para chamar um Uber porque ainda
não pude resolver a situação da batida do meu carro, mas Eros interfere:
Fico feito boba olhando o celular, esperando por uma resposta que não
chega. Lembro que ele falou que estaria em uma operação hoje e que talvez não
pudesse responder as minhas mensagens, só então me dou conta do quão
perigosa é a sua profissão. Só de imaginar que ele pode não voltar para casa no
final do dia me dá um frio na barriga. Tento abstrair esse pensamento e focar no
trabalho, mas volta e meia me pego pensando nele, e me perguntando como, em
tão pouco tempo, ele so tornou tão essencial em minha vida.
Após o almoço, continuo a olhar o celular sem que tenha uma resposta
dele; sei que não posso ficar presa a esse medo de que algo ruim possa lhe
acontecer, mas é inevitável.
Por volta das 15h ouço uma gritaria no balcão da farmácia. Quando saio
da minha sala para ver o que está acontecendo, vejo Amanda e Ana discutindo.
Vou até elas e pergunto calmamente, apesar de mal reconhecer a minha irmã, de
tão transtornada que ela está.
— Não sou donzela e muito menos estou em perigo. Fala logo o que você
quer e vá embora. — Sou direta com ela, até porque estou sem paciência para
lidar com suas loucuras hoje.
— Kananda, você não vai ficar sozinha com ela. — Ana interfere.
— Fica tranquila amiga, vai ficar tudo bem. Eu já imagino o que ela quer,
vou resolver esse problema em um minuto.
Amanda me segue até a sala em silêncio, o que me deixa surpresa, sei que
ela quer mais dinheiro, mas imaginei que não iria perder a oportunidade de me
provocar.
— Você vai voltar para casa quando? — Ela pergunta quando sento na
minha cadeira, ela senta-se à minha frente.
— Não vou voltar mais — respondo seca, sem lhe dar mais detalhes.
— Se você está achando que vai ser como você quer, está muito enganada
sua songa monga. — Ela tenta me provocar, mas hoje não, hoje eu estou
preparada para lidar com ela.
— Ah, vai ser assim sim, sabe por quê? — Pergunto retoricamente e
continuo a despejar sobre ela minha raiva guardada por tantos anos. — Porque
senão eu vendo a farmácia e exijo judicialmente minha parte na casa dos nossos
pais. Quero ver o que você vai fazer quando acabar o dinheiro, porque vai acabar
sim que eu sei, preguiçosa e desregrada como você é vai gastar tudo, e no final
das contas não terá mais como se sustentar sem a burra aqui que trabalha por nós
duas.
— Você não seria capaz de vender a farmácia dos nossos pais. — Diz
alarmada, ainda sem acreditar no que eu falei.
— Então pague pra ver. — Ameaço com toda sinceridade que possuo. Ao
contrário do que ela falou, eu não repasso uma mixaria para ela, e diferente dela
eu consegui juntar algum dinheiro; poderia inclusive comprar a parte dela e
manter a farmácia.
— Isso não vai ficar assim. — Ela levanta exasperada.
— Vai ficar exatamente como eu quiser! Será que não percebeu que eu
perdi o último fio de paciência que ainda tinha com você? — Falo me
levantando e apoiando minhas mãos na mesa da mesma forma que ela estava.
Nossos rostos estão praticamente colados, nossos olhares duelam próximos
demais um do outro; ela exala raiva e fúria, mas e eu não cedo um milímetro
sequer.
— Dia dez estarei aqui para pegar minha parte desse mês. — Ela fala
virando as costas e indo em direção à porta.
— Ah, já ia esquecendo: fala para aquele seu amigo gostoso que o convite
de sábado ainda está de pé. Sabe como é, “né” irmãzinha, você não vai
conseguir dar conta de um homão daquele, assim como não deu conta do seu
noivo; no final, será mais um de presente na minha cama. — Ela fala com um
sorriso cínico no rosto e acho que percebe a raiva que emana de mim, porque
rapidamente me dá as costas e sai, enquanto eu pego o jarro de flores que
enfeitava minha mesa e atiro contra a porta por onde ela acabara de sair.
Ana entra correndo na minha sala, preocupada com o barulho que ouviu, e
a tranquilizo embora eu ainda não esteja tranquila. As palavras de Amanda
ficam rodando em minha cabeça... Não é que eu seja uma mulher insegura, mas
não tem como não ficar com raiva; minha vontade era partir pra cima dela, mas
sei que era isso que ela queria, me fazer perder a razão. Tudo bem que ela
conseguiu me tirar do sério, mas eu não daria esse gostinho a ela. Fico me
perguntando que convite ela fez a Eros... Será que ele presenciou a mesma cena
que eu? Não sei se tenho coragem de perguntar a ele, mas isso está remoendo os
meus pensamentos desde que ela foi embora.
— Claro que pode, é só ficar nua e me deixar saborear todo o seu corpo.
Depois, quando eu estiver todo dentro de você, gemer enquanto goza gritando o
meu nome. — Fala com a voz rouca no meu ouvido, então se afasta como se não
tivesse dito nada demais e eu fico sentindo o meu corpo inteiro pegar fogo.
Eros
— Você sabe que pode contar comigo, não sabe? — Pergunto acariciando
sua mão sobre a mesa. Tento não ser invasivo, mas queria muito que ela me
contasse o que realmente houve entre elas.
— Sei sim. — Ela responde evasiva e se mantém em silêncio. Só me resta
respeitar o seu momento.
— Princesa, como vocês acertaram para sua irmã pegar a parte dela dos
lucros da empresa? — Pergunto enquanto ela apoia suas costas no meu peito e
eu mantenho meu rosto em seus cabelos e pescoço.
— Falei para ela pegar no balcão; eu deixo o envelope pronto e ela recebe
lá. — Responde.
— Claro.
— Você tem razão, eu não havia pensado nisso. — Ela se vira para mim e
deixa um selinho em meus lábios em agradecimento. — Amanhã vou pedir para
Ana ligar para ela informando isso. — Quando ela diz que vai pedir a amiga para
entrar em contato com a irmã, comprova as minhas suspeitas de que a conversa
entre elas não foi tão amistosa quanto quis mostrar, e instintivamente acendo o
alerta em minha mente. — Eros, agendei algumas visitas a apartamentos para
amanhã; espero conseguir logo algum lugar para ficar. — Ela diz isso e eu fico
triste em saber que não vamos mais estar tão próximos quanto estamos agora.
Em contrapartida, fico feliz por ela estar tomando as decisões certas.
— Ah, Eros, você sabe que não é isso, é só que eu não quero incomodar
ainda mais você.
— Eu entendo princesa, de verdade, mas quero que saiba que eu estarei
aqui para você. — Ela concorda com um aceno de cabeça, sonolenta após toda a
“atividade física” que fizemos desde que chegamos em casa.
Deixo-a dormir mais uma noite em meus braços, mas não deixo de pensar
por quanto tempo ainda será possível tê-la assim para mim. Aos pouco o sono
me vence e adormeço
Acordamos no outro dia e fazemos amor mais uma vez; sim, amor, porque
eu já consigo perceber que não o que rola entre nós não é apenas sexo, é algo
mais forte e intenso. Mesmo sendo apenas o segundo dia em que isso acontece,
parece já ser rotineiro: fazemos nossa higiene, tomamos café, deixo-a no
trabalho e sigo para o meu.
Após um dia inteiro sem falar com Kananda por causa da operação, chego
ao final do dia satisfeito, de certa forma, por tudo ter corrido como esperado.
Obtivemos sucesso, fizemos as apreensões devidas. O saldo foi muito
armamento e drogas apreendidas, e 20 bandidos presos; é uma satisfação para
nós quando conseguimos cumprir nosso principal objetivo.
Eros
— Princesa, tenho algo pra te falar... Para falar a verdade, tenho uma
proposta para te fazer — falo abraçando por trás a mulher cheirosa que acaba de
sair do banheiro enrolada em uma toalha. Por alguns minutos perco o foco.
— O que foi princesa? — Pergunto sorrindo porque eu sei que ela está
reclamando do meu afastamento repentino.
— Porque parou? Estava tão bom... — Ela fala com a voz nublada de
desejo.
Quando termino o banho vejo Kananda sentada no sofá da sala com o seu
leitor digital na mão. Concentrada no livro, ela não vê quando me aproximo, e eu
fico alguns instantes apenas bebendo sua beleza, constatando o quanto ela é
linda. Não pela forma como aconteceu, mas tenho que agradecer aos filhos da
puta dos sequestradores por terem ocasionado o nosso encontro.
Quando sento no sofá ela vem manhosa para o meu lado e apoia a cabeça
no meu colo; fico acariciando seus cabelos e depois de algum tempo falo o que
planejei durante o dia:
— Eros, faz tanto tempo que não faço uma viagem a passeio. — Responde
entusiasmada. — Ultimamente só tenho viajado a trabalho; seria maravilhoso!
— Ela fala praticamente pulando em cima de mim e distribuindo beijos por todo
o meu rosto.
— Não é só pela viagem, seu bobo. — Ela fala dando um tapa de leve em
meu peito, mas faz questão de rebolar sobre mim, demonstrando estar tão
excitada quanto eu. — É que você é tão especial, tão cuidadoso comigo, que eu
fico o tempo todo assim. — Completa de forma sugestiva.
Eros me acorda bem cedo, e como estou empolgada com a viagem nem
reclamo, o que é um milagre, diga-se de passagem. Após um banho rápido e
termos tomado apenas um café para não sairmos em jejum, colocamos as malas
no carro e partimos.
— Pois assim que chegarmos você vai me mostrar cada um deles. — Ele
responde sorrindo.
— Pode apostar que sim — o provoco de volta, e pelo seu sorriso sei que
ele é capaz de visualizar as mais diversas promessas.
Temos uma vista maravilhosa do mar, e Eros faz questão de informar que
a praia é privativa. Ainda na área externa, e privativa, como ele frisou mais de
uma vez, vejo uma imensa piscina e uma jacuzzi na lateral. É tudo tão fascinante
que fico boquiaberta.
— Meu Deus, como é lindo tudo aqui! — Falo virando-me de frente para
ele e enlaçando seu pescoço com meus braços.
— Que bom que gostou, princesa. Senti que você estava precisando
relaxar um pouco. — Fala piscando o olho para mim. — Vem, vou pedir um café
da manhã reforçado para nós dois.
Por um momento, devaneio sobre o quanto minha vida mudou nos últimos
dias. Eros, com sua presença marcante, tem conquistado um espaço mais do que
especial em meu coração. Talvez eu esteja sendo precipitada, ou pode até mesmo
ser carência, mas sinto uma necessidade vital de estar com ele; não sei de onde
vem, mas em algum lugar dentro de mim, sinto que sua permanência na minha
vida é certa, sinto que ele estará presente sempre que eu precisa.
Ele não se tornou especial por ter me salvado, ou por estar me abrigando,
mas por tudo o que tem representado para mim. Desde que o conheci não me
senti mais solitária, agora tenho a sensação de pertencer a algo ou a alguém além
de mim mesma. Sentir-se sozinha é uma das piores sensações do mundo.
Sou tirada dos meus devaneios com as mãos de Eros passeando por baixo
da minha blusa e chegando aos meus seios, que ele apalpa com vontade. O
gemido que escapou dos meus lábios foi involuntário. Virei-me de frente para
ele e, olhando em seus olhos, passeio minhas mãos por seus cabelos macios,
então o beijo como se minha vida dependesse desse momento.
Retirei sua camiseta acariciando sua pele em todos os locais que minha
mão conseguia alcançar. Eros me agarrou pela cintura me fazendo sentar sobre
si, largou momentaneamente minha boca e desceu a língua exigente pelo meu
pescoço, mordendo e deixando chupões pelo caminho que com certeza
deixariam marcas.
Após sua declaração, e ainda mais insana de desejo, me permiti ser sua:
sem restrições, sem medos, ansiando por mais doses daquele homem que me
enlouquecia com toques e palavras.
— Vou te fazer gemer e gritar que é minha incontáveis vezes. — Ele fala
enquanto tira minha blusa, em seguida meu shorts, e fica momentaneamente
paralisado com a visão.
Rebolo meu sexo sobre o seu e ele estala um tapa na minha bunda, o que
me faz gemer ainda mais em seus lábios; a leve ardência seguida pela carícia, me
levam a loucura.
— Ahnn... Eros... — gemo quando sinto sua boca exigente sugar meus
mamilos, alternando entre eles e fazendo com que eu aperte ainda mais meu
corpo sobre o seu. Abaixo minha mão entre nós e acaricio seu membro com
firmeza, o que faz ele gemer e movimentar os quadris em minhas mãos.
— O que você quer princesa? — Eros pergunta com a voz cheia de tesão.
Rebolo em seu colo, insinuando o que desejo, e ao notar meu silêncio ele
completa: — Peça Kananda, peça e eu lhe darei o que quiser.
— Vem cá, princesa, eu não quero gozar na tua boca, pelo menos não
agora. — Falou e me puxou para cima alinhando nossos sexos.
— Por favor, Eros... agora... preciso de você — Implorei. Senti quando ele
alinhou nossos sexos, se posicionando em minha entrada, e me olhou com todo
carinho, pedindo silenciosamente permissão para me preencher sem barreiras. O
beijei com sofreguidão, permitindo que ele me tomasse como quisesse.
— Meu Deus, como pode ser ainda mais gostoso? — Foi um misto de
pergunta retórica com incredulidade quando a sensação de plenitude me fez
revirar os olhos diante do prazer que me dominava por completo.
Eros
Limpei sua boceta gostosa com cuidado, e finalizei, para comprovar que
havia executado um “trabalho” perfeito, chupando-a com intensidade. Ela gemeu
e agarrou meus cabelos enquanto eu me mantinha de joelhos à sua frente,
incapaz de me afastar do meu paraíso particular. Após alguns minutos nessa
posição, peguei Kananda novamente nos braços e nos joguei na piscina,
submergindo juntos.
Enquanto secava meu corpo de frente para o espelho pude ver o seu olhar
de cobiça sobre mim e sorri malicioso.
— Vejo que não sou o único “maníaco sexual” aqui nesse quarto —
gracejei e ela me jogou um travesseiro.
— Huumm, então quer dizer que você não se controla ao ver meu corpo
“gostoso”? — Viro de frente para ela e seus olhos não desgrudam do meu pau
duro. — É muito bom saber disso, senhorita.
— Nossa, como ela é mandona — brinco. — É uma pena que suas ordens
não sirvam para o meu pau, que se mantém assim — aponto para ele — mesmo
quando você ordena o contrário — completo sorrindo. Ouvimos uma batida na
porta que imaginamos ser o serviço de quarto, pego uma cueca boxer preta, uma
bermuda e uma camiseta e me dirijo para o banheiro enquanto ela vai abrir a
porta.
— Bom dia, preguiçosa. — Eros fala com a voz rouca de quem acabou de
acordar.
— Na verdade, ver esse mar e esse sol tão lindos ao acordar, me fez ter
vontade de caminhar um pouco. Sem falar que não aproveitamos a praia ainda
— falei fingindo inocência. Ele entendeu a indireta e sorriu, já incorporando o
modo Eros safado de ser.
— Depois fala que eu sou insaciável. — Ele fala já levando minha mão
para a sua ereção, e sou incapaz de distinguir se é ereção matinal ou se ele já está
tão desejoso quanto eu.
— Vou te esperar ansiosa — o beijo com carinho. — Até mais tarde, meu
namorado — completo sorrindo.
— Até mais tarde, minha namorada. — Ele responde com uma voz grave
que me arrepia inteira.
Kananda
Passo na frente de Amanda e abro a porta com a minha chave. Dou espaço
para que ela entre e Amanda segue direto para a cadeira que fica à frente da
minha mesa, sentando-se e cruzando as pernas. Guardo minha bolsa no armário e
sento-me no meu lugar.
— O que é que você acha, Kananda? Você acha que eu viria até aqui para
ouvir você me dizer um monte de desaforos como fez na semana passada? Que
você simplesmente mandou sua amiguinha e garota de recados me dizer que eu
não posso mais pisar aqui; que você vai depositar o valor que você acha que
deve me passar direto na minha conta e vai ficar por isso mesmo? — Ela fala
extremamente irritada, mas eu não respondo a sua provocação. — Porque se
você estava pensando que eu ia deixar por isso mesmo, você está muito
enganada irmãzinha.
— Amanda, entenda de uma vez: você nunca trabalhou, nunca fez nada
nessa sua vida medíocre; eu deveria lhe dar menos do que sempre dei desde que
nossos pais morreram, porque você não faz nada, nada para ajudar. EU NÃO
SOU SUA MÃE! — Grito irritada. — Não tenho obrigação nenhuma de sustentar
você, seus vícios, seus homens, sua vida desregrada.
— Você só pode ser louca — falo ainda mais irritada. — Diga logo o que
quer e vá embora.
— Trouxe um presentinho para você, irmã. Espero que goste. — Ela retira
um envelope da bolsa e o arrasta sobre a mesa em minha direção.
Quando vejo o conteúdo do envelope meu coração falha uma batida, volto
a encará-la e só consigo pensar no quanto ela é ruim, no quanto eu me enganei a
vida inteira com ela.
— Você só pode ser louca, Amanda! De onde saíram essas fotos? Quem
as tirou?
— Posso até ser, queridinha, mas vou te carregar junto comigo para o
hospício. — Amanda declara com toda calma.
Eu estou nas suas mãos: jamais deixaria que essas fotos vazazem, eu não
suportaria.
— Acabar com você! — Ela responde direta. — Mas por enquanto, vou
me contentar em ter você mantendo as despesas da casa, além, é claro, do valor
que já havíamos combinado, e, eventualmente, você paga algumas despesinhas
extras. Viu, não é nada demais, irmãzinha; a sua imagem fingida de boa moça
vale mais que isso, com toda certeza.
Ela não espera uma resposta de mim, porque sabe que eu farei o que
quiser, então se levanta e segue em direção a porta.
— Ah, só mais uma coisa: fique com essas fotos. Toda vez que pensar em
desistir do nosso novo acordo você vai olhar para elas e fazer exatamente como
eu quiser. — Ela vai embora batendo a porta.
Fico paralisada encarando a porta, sem saber ao certo o que fazer ou o que
pensar. Depois de um tempo, que eu não sei ao certo se foi longo ou curto, ouço
batidas na porta, e Ana entra em minha sala.
— Pela cara de felicidade com que Amanda saiu, suspeitei que a sua seria
exatamente o oposto. — Minha amiga, que conhece bem a nossa relação,
constata. — O que ela aprontou dessa vez, Nanda?
— Nanda, infelizmente os seus pais não estão mais entre nós, então eles
não podem sofrer por causa disso, e não se culpe pelas imagens, você não estava
fazendo nada demais, o Marcelo era seu noivo, era normal que vocês tivessem
relações sexuais. — Ela respira fundo e posso sentir a raiva que ela tenta
controlar. — Errado foi o que Amanda fez com você, errado foi ela invadir a sua
privacidade e tirar essas fotos; não coloque sobre os seus ombros um peso que
não é seu.
Sou incapaz de contestar as palavras da minha amiga, até porque ela tem
razão, mas eu não arriscarei que Amanda divulgue as imagens. Vou pensar no
que fazer, mas por hora, irei sucumbir aos seus caprichos.
— Se Eros souber disso... Se ele vir essas imagens... — como num estalo
a imagem dele vem a minha mente e falo para minha amiga. — Nós passamos
um final de semana maravilhoso, Ana, eu nunca estive tão bem desde que os
meus pais morreram. Porque Amanda me odeia tanto? — As lágrimas voltam a
rolar dos meus olhos.
Eros
Paro de frente à farmácia e, diferente dos outros dias, ela não me aguarda
no balcão. Peço para Ana, a sua amiga, que a chame para mim. Depois de alguns
minutos, que mais parecem uma eternidade, ela surge no corredor, e posso notar,
pela sua feição e rosto inchado, que esteve chorando, e muito por sinal. Abraço-
a carinhosamente e ela retribui. Me despeço de Ana e seguimos para o carro.
Kananda se manteve em silêncio durante todo o trajeto para casa e eu fiz questão
de respeitar seu silêncio, ainda que isso me massacrasse por dentro.
— Vou pedir algo para jantar, o que você quer? — Pergunto assim que
entramos em casa.
— Estou sem fome, Eros, e com um pouco de dor de cabeça. Acho que
vou tomar um banho e descansar um pouco. — Ela fala seguindo para o quarto.
— Não foi nada. — Ela responde e sei que está mentindo. — É só uma
dor de cabeça mesmo.
Quando abro a porta vejo que ela já está deitada na cama, debaixo dos
lençóis; sigo até a cama e sento-me ao seu lado.
— Agora vem, vamos para o nosso quarto. Não vou deixar você dormir
sozinha e triste — falo pegando-a no colo, e finalmente vejo o sinal de um
sorriso quando deposito um beijo carinhoso em seus lábios.
Terminamos o jantar e sinto que ela está mais calma, recolho tudo e levo
para a cozinha. Quando volto ela está escovando os dentes para dormir, faço o
mesmo e deitamos na cama de “conchinha”. Ela adormece enquanto eu fico a me
perguntar o que pode ter acontecido para deixá-la assim.
— Princesa, você foi ao hospital tirar os pontos e refazer o curativo da sua
perna que estava marcado para ontem? — Pergunto, pois depois que ela dormiu
notei que ela ainda estava com os pontos.
—- Era para você ter ido ontem — continuo —, mas como não foi, hoje
eu a levarei. — Ela revira os olhos, mas não me importo com isso; vou levá-la de
qualquer forma.
Seguimos para a farmácia com ela ainda calada, com o olhar perdido.
Logo que ela entra, vejo sua amiga chegando; sei que não deveria fazer isso, mas
não consigo controlar:
— Ah, oi Eros. — Ana fala olhando para os lados, procurando pela amiga.
— Aconteceu alguma coisa? Onde está a Nanda? — Sinto um pouco de aflição
em sua voz.
— Não aconteceu nada, ela acabou de entrar... Quer dizer, aconteceu sim.
Eu sei que aconteceu alguma coisa ontem, mas Kananda não quis me contar o
que foi — passo as mãos no cabelo de forma nervosa. — Ana, eu sei que você
gosta muito da Nanda, então, por favor, me ajude a ajudá-la. Quando a busquei
ontem a noite senti que ela não estava bem, mas ela não se abriu comigo. Passou
a noite toda inquieta, se remexendo durante o sono. Por favor, se você sabe o que
aconteceu com ela, me conte — praticamente imploro para sua amiga.
Eros
Ela está envolvida com uma quadrilha que faz tráfico de armas e drogas,
embora nunca tenha sido presa ou investigada por isso. Quando coloquei alguns
homens em sua cola, descobri que, por se tratar de uma pessoa que não
"levantava suspeitas", o amigo dela, o mesmo que estava no hospital no dia em
que ela ameaçou Kananda, começou a usá-la para fazer a entrega de armamentos
e de quantidades maiores de drogas, ou seja: ela está envolvida até o pescoço
com gente da pior espécie.
Kananda não quis me contar o que houve entre ela e a irmã no dia em que
voltamos da viagem, mas sei que foi algo sério e que ainda a deixa muito
nervosa, mas vou respeitar a sua privacidade. Parei de pedir que ela me contasse
que aconteceu, só pedi a Ana que ficasse de olho, que se ela notasse qualquer
movimentação suspeita me avisasse imediatamente. Eu sabia que podia contar
com ela para manter minha mulher segura, e respeitar o espaço de Kananda não
significa ser negligente com sua segurança.
Hoje está fazendo um mês que estamos juntos e vamos sair para
comemorar. A seguradora já enviou o carro reserva para Kananda enquanto o
dela não fica pronto, então não tenho mais levado e buscado ela no trabalho, isso
porque ela não quer, porque seria um prazer poder ficar com ela um pouco mais
todas as manhãs.
Já são quase 18h e estou rodando feito louco pela delegacia procurando
Enrico para saber se ele não quer sair comigo, Kananda e Lara hoje à noite. Elas
duas estão cada dia mais apegadas, e por mais que Lara e Enrico neguem, eu sei
que volta e meia estão se pegando pelos cantos, então não custa nada dar uma
ajudinha.
Como não encontro meu amigo e não quero me atrasar, envio uma
mensagem para Kananda informando que estou saindo da delegacia e indo direto
para o meu apartamento.
Chegando em casa, tomo um banho, visto uma calça jeans escura e uma
camisa social preta dobrada até o antebraço, calço um sapatênis, passo perfume e
subo rapidamente, ansioso para buscar minha princesa para podermos sair. Nós
não decidimos ainda para onde vamos, mas sinceramente, não me importo:
qualquer lugar com ela se torna especial.
Não espero um minuto sequer para beijá-lo como desejei durante todo o
dia, e ele corresponde com a mesma voracidade; o nosso beijo é quase sexo
explícito: nos devoramos com as nossas bocas.
Quando me afasto um pouco, vejo que Eros me olha como se não
estivesse acreditando no que estava vendo. Eu sabia que se queria provocá-lo
pelo menos um pouco teria que me afastar dele por alguns instantes, pois resistir
a ele era uma missão impossível.
O conduzi até o sofá, e depois que ele se acomodou sentei com uma perna
em cada lado do seu quadril, alinhando minha boceta com seu membro que já
estava muito duro. Rebolei sobre ele enquanto continuávamos nos devorando
com a boca e quando Eros, que até então mantinha sua mão acariciando minha
bunda sobre o vestido, tentou invadi-lo, eu o impedi e levantei para buscar vinho
para nós dois.
— Princesa, não faz isso comigo. — Ele pede quando levanto do seu colo.
— Olha só como eu estou? — Fala, apertando o delicioso volume em suas
calças, e em seguida segura minhas pernas, me puxando para ficar entre as suas.
— Nós não fizemos reserva em nenhum restaurante, preciso te comer antes de
sairmos e não podemos demorar. — Ele fala e noto que está torturado com a
dúvida iminente entre sairmos ou ficarmos aqui, aproveitando apenas nossos
corpos.
— Calma, meu amor, temos todo tempo do mundo. Hoje não vamos sair,
eu fiz o jantar para nós dois — aponto para a mesa cuidadosamente posta, e só
agora ele desvia o olhar de mim para observar o restante do ambiente.
— Ah, então vem cá. — Ele me puxa e eu caio sobre ele no sofá. Na
mesma hora Eros desce por meu pescoço, depositando beijos e chupões que me
fazem esquecer momentaneamente o plano inicial.
— Vai amor, mas não demora, não quero ser obrigado a estragar os seus
planos. — Com essa promessa eu praticamente corro para a cozinha para pegar o
vinho.
— Gostosa. — Eros falou me parando de costas para ele, que ainda estava
sentado no sofá, e deixou uma mordida em minha bunda, logo acariciada por sua
língua.
Ainda de pé, Eros pressionou minhas costas para frente, fazendo com que
eu apoiasse as mãos no centro que havia na sala, e ficasse exposta para ele.
Quando fiquei na posição que ele queria, ele arrastou minha calcinha para o lado
e lambeu todo o meu sexo, me surpreendendo ainda mais quando iniciou um
“beijo grego”. Embora ninguém nunca tivesse feito àquilo comigo, eu amei, e
quase gozei enquanto ele penetrava minha boceta com o dedo e lambia o meu
“lugar proibido” com gosto. Acontece que os planos de Eros eram outros:
quando sentiu que eu estava prestes a gozar, ele parou.
Eros me abriu para ele e, com as pernas envoltas em sua cintura, ele
estocou de uma só vez. A invasão repentina me fez revirar os olhos; ele parou
por alguns segundos, mas logo voltou a estocar com força e rapidez. Não
demoramos para gozar porque o tesão estava forte demais para controlar.
— Eu também te amo, meu Eros — confirmei para que ele soubesse que
eu sentia o mesmo.
Depois dessa declaração, Eros beijou cada parte do meu rosto e corpo.
Exaustos e saciados, adormecemos nos braços um do outro, com a certeza
de que o que sentíamos era verdadeiro e recíproco.
Capítulo 23
Kananda
Há cinco meses Eros e eu estamos juntos, e posso afirmar que nunca fui
tão feliz. Ele tem se mostrado um homem maravilhoso, compreensivo e
dedicado; se não fosse pela presença e ameaça constantes da Amanda, poderia
afirmar sem sombra de dúvidas que minha vida estava perfeita.
Continuo morando no mesmo prédio que Eros e ele vive insistindo para
que eu entregue o meu apartamento. Ele argumenta que é um gasto
desnecessário, pois sempre estamos juntos, então por ele eu poderia
tranquilamente me mudar de uma vez. Ainda que isso não faça diferença, já que
desde que começamos a namorar não dormimos uma noite sequer separados, eu
prefiro manter o meu cantinho; prefiro “não colocar a carroça na frente dos
bois”. Ele reclama, mas no fim entende e não fica me pressionando demais.
Hoje à noite nós vamos para uma boate com Lara e Enrico. Nós sempre
fazemos alguns programas juntos, e embora eles dois vivam soltando farpas, eu
sei que, no fundo, o sentimento de carinho e cuidado falam mais forte.
Essa amizade com Lara tem me feito muito bem. Nós estabelecemos uma
conexão muito forte, o tipo de relação que eu gostaria de ter com Amanda.
Minha cunhada é bem “louca”, mas extremamente carinhosa e cuidadosa; temos
abertura para falar sobre tudo, com exceção de Enrico e sentimentos
relacionados a ele.
Embora vez ou outra ela admita que estão passeando na cama um do outro
– eu particularmente acredito que a frequência é maior do que ela conta - ela
afirma veementemente que é apenas tesão, que o sexo com ele é bom e que não
passa disso. Quando tento entrar na área dos sentimentos, ela se fecha como uma
concha ou fica logo de cara feia, e isso aumenta a minha certeza de que eles dois
nutrem sentimentos muito mais fortes do que só tesão.
— Oi amor, estou aqui embaixo, pode descer — ligo para Lara assim que
estaciono na portaria do seu prédio.
Como ela havia dito ao telefone, em cinco minutos eu vejo a morena linda
parar a moto em frente ao meu carro. Ao tirar o capacete, seus cabelos deslizam
sobre os ombros: Lara é definitivamente uma mulher de “parar o trânsito”, mas
para conseguir ficar com ela o homem tem que ser tão ou mais intenso do que
ela, senão será ofuscado por sua imponência.
— Então você estava em audiência? É por isso que "Elvira" está mais para
"Cinderela" hoje? — Brinco com ela usando o apelido dado por Enrico, e que
utilizamos para irritá-la vez ou outra. Hoje ela está vestida com uma calça flare
vermelha social com cintura alta, camisa branca de botões e um scarpin preto -
que ela calçou assim que desceu da moto e tirou a bota que usava para pilotar.
Completando o look, ela carregava uma bolsa Prada.
— Ha, ha, há, cunhadinha, nem vou te responder. — Ela reclama sem
estar realmente chateada. — Mas voltando, olha só o que aconteceu hoje: a
audiência de hoje era de instrução, sobre um homicídio que o meu cliente
supostamente teria cometido. Quando o interrogatório do réu estava sendo
realizado, um escorpião surgiu de dentro do ar condicionado e começou a descer
pela parede. Eu vi, mas fiquei na minha, mas quando a juíza viu, ela deu um
grito que até o réu pulou na cadeira. Pense em uma gritaria! Todo mundo
correndo dentro da sala de audiência para longe do bicho, os policiais segurando
meu cliente que tremia de medo... Aí, vendo aquela palhaçada sem que ninguém
tomasse uma atitude, tirei meu salto 15cm e cravei no meio do corpo do bicho.
Quando virei para voltar ao meu lugar, todos me olhavam como se eu fosse uma
louca; não sei se ficaram com mais medo de mim ou do escorpião depois disso.
— Ela fala sem conseguir parar de rir. — Eles trouxeram um pote de vidro sei lá
de onde e, com o auxílio de uma caneta, retirei o bicho que estava preso no meu
salto e coloquei no pote. O jeito que me olhavam era impagável Nanda, ninguém
encostou mais em mim, como se eu fosse o próprio escorpião. É claro que não
perdi a piada e falei para a juíza que se meu cliente tinha praticamente se urinado
por conta de um “bichinho inofensivo” imagina se teria tido coragem para matar
alguém. — Ela sorri ainda mais.
— Você é louca, Lara. — Comento gargalhando e no trajeto para o
shopping ela me conta mais algumas histórias hilárias que aconteceram com ela.
Eu não sei como ela consegue se meter em tantas loucuras e quase tenho um
ataque de risos.
Passamos em frente a uma loja que ostenta alguns lindos vestidos para a
noite e Lara me puxa para dentro dizendo que vamos escolher os looks de hoje.
Ela realmente se empolga quando vem ao shopping, as incontáveis sacolas em
nossas mãos comprova o quanto somos consumistas, mas atire a primeira pedra
a mulher que não se empolga ao vestir ou calçar algo que fica perfeito em você.
Além disso, não fazemos isso com frequência, então quando temos a
oportunidade aproveitamos ao máximo.
Eu optei por um vestido azul marinho colado até a cintura e com a saia
“estilo boneca”. A frente dele é mais discreta, mas o diferencial estava nas costas
que ostentava um decote totalmente aberto até a cintura. Completei o look com
uma sandália preta de tiras finas.
— Lara, já chega — falo entre risos. — Vamos para casa senão nos
atrasaremos para a noite.
Kananda
— Então quer dizer que enquanto me dá migalhas, você passa dia todo no
shopping se enchendo de roupas e sapatos caros para desfilar com o
namoradinho novo? — Ela pergunta cínica.
— Amanda, você sabe muito bem que você hoje fica com a maior parte
dos lucros da farmácia por causa da chantagem que me fez — respondo com
cuidado.
Nesse último mês, as idas de Amanda à farmácia para pedir mais dinheiro
se intensificaram, o que fez com que Ana chamasse a minha atenção: o lucro da
farmácia não estava mais cobrindo os gastos, então eu havia começado a tirar
das minhas economias. Minha amiga sabia que o meu plano era comprar a parte
de Amanda na farmácia, e ela tinha razão em brigar comigo por estar gastando
minhas economias. Embora eu soubesse que teria que dar um basta nos exageros
de Amanda em algum momento, ainda não sabia como iria fazer.
— Vai Amanda, desconta sua raiva nessa putinha, depois nós pensamos o
que fazer. — Ela se recupera do susto e quando vem em minha direção sou
arremessada no chão pelo homem que me segurava.
Lara tinha razão, o certo a fazer era ligar para Eros. Eu vinha sendo
ameaçada, ou melhor, ameaçada e extorquida há muito tempo. Acrescente
também a agressão. Não bastasse tudo isso, Amanda ainda queria me obrigar a
vender a farmácia e lhe dar além do que lhe era de direito. Por outro lado, a
ameaça clara na voz e na expressão de Amanda me deixava em pânico.
— Vai Nanda, ligue pra ele. — Lara pediu novamente, agora com a voz
controlada, percebendo que naquele momento eu estava passando por um
conflito interno. Mas bastava que eu olhasse para Amanda para que a certeza do
que eu deveria se esvaísse.
— Lara, eu... eu não posso. Por favor, solta ele, deixa eles irem — peço
com os olhos rasos d’água.
— Isso mesmo vadia, decidiu pelo certo. — Ele teve coragem de falar.
A raiva de Lara foi tão grande que ela deu uma coronhada que rompeu o
supercílio dele.
— Vadia... — ele ia completar, mas Lara não deixou.
— Complete a frase e vai sair daqui com uma bala alojada no meio das
suas pernas. — Decretou e ele se calou imediatamente. — Nanda, por favor,
ligue para o meu irmão. Eu não sei o que estava acontecendo aqui, mas não ceda
às ameaças. — Lara falou mais uma vez, e as lágrimas empoçadas nos meus
olhos rolaram pela minha face.
(In)felizmente, Lara fez o que eu pedi, deixando o homem que estava sob
sua guarda levantar aos poucos, mas me puxando para perto de si, garantindo
assim minha proteção. Em nenhum momento ela abaixou a arma, e eu tinha
certeza que não hesitaria em puxar o gatilho.
— Isso não vai ficar assim, sua Puta desgraçada. — O amigo de Amanda
falou limpando o sangue que escorria por seu rosto, mas bastou Lara fazer
menção de ir atrás deles que eles correram feito dois cachorros assustados.
Eu estava perdida.
— Nanda, você está bem? — Não sei quanto tempo faz, se horas, minutos
ou segundos, mas Lara se abaixa ao meu lado, e carinhosamente acaricia meu
rosto. Percebendo o tamanho do meu desespero, ela me puxa em sua direção: —
Vem amor, vamos sentar aqui no carro. — Ela fecha o porta malas que ainda
estava aberto, me coloca dentro do carro e assume o lugar de motorista. — Nós
vamos para minha casa, tudo bem? — Eu só consigo concordar com a cabeça.
No caminho, vejo ela ligar para Eros pelo bluetooth do carro e arregalo
meus olhos em pânico. Percebendo minha aflição, ela aperta minha mão de
forma carinhosa, tentando me acalmar.
— Tudo bem, amor, eu te espero. — Acho que minha voz sai um pouco
embargada, porque ele pergunta logo em seguida:
— Amor, está realmente tudo bem? Sua voz não está normal. — Sua fala
demonstra o quanto é ligado em todos os detalhes. Não é a toa que é considerado
um dos melhores delegados da cidade; ele e Enrico são imbatíveis.
— Sim — forço o máximo que posso para falar naturalmente —, está tudo
bem. Te espero mais tarde. Amo você.
— Eu também te amo. Até mais tarde, princesa. — Ele mal acaba de falar
e Lara encerra a ligação, pois eu havia começo a chorar.
— Eu sei Nanda, mas tente desabafar, vai ser bom pra você. — Ela me
incentiva, e como se uma barragem se rompesse, eu falo tudo o que tem
acontecido entre eu e Amanda. Ela segura minha mãos o tempo inteiro, e nos
seus olhos consigo enxergar labaredas de raiva.
— Nanda, eu sei o quanto foi difícil para você me contar tudo isso.
Confesso que a minha vontade é ir até a sua irmã e enchê-la de porrada, mas
infelizmente eu não posso. — Ela faz uma pausa para respirar e passa as mãos
nervosamente pelos cabelos. — Não sei como você estava aguentando isso tudo
sozinha, meu bem. — Completa carinhosa.
— Conte tudo para o Eros, Nanda. Ele, melhor do que ninguém, pode
ajudar você. — Ela fala o óbvio, que eu evito enxergar.
— Não, isso não. Com que cara eu vou ficar se essas fotos vazarem e ele
vir? — Pergunto chorando.
— Nanda, isso foi há muito tempo, vocês nem se conheciam. Meu irmão
vai entender, eu tenho certeza. Lara fala e eu nego com a cabeça. — Olha só,
agora vamos nos arrumar e ficar lindas para os nossos homens, ou melhor, você
fica linda para o seu homem e eu fico para mim mesma, porque não tenho
homem nenhum. — Ela fala e eu consigo sorrir um pouco. — Vamos aproveitar
a noite o máximo que pudermos, e amanhã você conversa com Eros.
— Se você quiser, eu fico com você quando for falar com ele. — Ela
oferece.
— Por favor, Lara, não faz isso — cubro o rosto com mãos.
Resolvo tomar mais um banho para ver se melhoro essa cara de choro.
Começamos a nos produzir e Lara consegue me distrair com suas loucuras, me
fazendo rir muito. Quando já estamos praticamente prontas, recebo uma
mensagem de Eros informando que está a caminho. Vestimos as roupas
escolhidas à tarde e Lara pega uma long neck para bebermos enquanto
esperamos.
— Lara, obrigada pelo que você fez hoje por mim — agradeço com todo
carinho, pois se não fosse por ela eu não sei o que teria acontecido.
— Eu não sabia que você andava armada. — Foi realmente uma surpresa
vê-la empunhando uma arma com segurança, isso me fez admirá-la ainda mais.
Eu já me acostumei com Eros e a sua, sempre presente, “companhia”, inclusive,
fico até excitada, porque ele fica ainda mais poderoso com uma arma na mão,
mas eu não sabia que Lara também tinha uma arma.
Eros
Chego para busca Kananda e Lara para sairmos, mas antes passo na casa
de Enrico. Sei que o idiota deve estar em cólicas querendo logo ver Lara, mas
não quer dar o “braço a torcer” indo até lá.
— Vamos Enrico. — Chamo após bater na porta. Não demora e ele sai. —
Porque não foi chamar as meninas? — Provoco.
— Preferi esperar você chegar, assim passo menos tempo olhando para a
“cara feia” da sua irmã. — Ele responde enquanto tranca a porta, mas
rapidamente toca a campainha do apartamento em frente ao seu.
— Nossa! Realmente pude ver como você quer “demorar” para vê-la —
gracejo. — Trancou a porta e tocou a campainha numa velocidade que mal fui
capaz de acompanhar.
— Vamos? — Enrico chama e percebo pelo seu tom de voz o quanto está
irritado. — A propósito, você está realmente linda hoje Kananda. — Ele elogia
minha mulher e sei que quis provocar Lara; esses dois não tem jeito.
Kananda
— Leva o carro. — Eros joga a chave do seu Jeep Compass para Enrico.
— Vou com Kananda aqui atrás, preciso matar a saudade da minha mulher.
Lara faz cara feia, mas segue para o banco do passageiro ao lado de
Enrico, e eu e Eros nos acomodamos no banco traseiro. Nós estamos indo a
boate de um amigo deles de faculdade que irá inaugurar hoje. Eros me falou que
embora tenha se formado em direito, o amigo preferiu seguir o ramo do
entretenimento e é hoje o dono de uma das maiores redes de boates no país.
— Você está muito gostosa com essa roupa, meu amor. — Eros fala,
depositando alguns beijos molhados em meu pescoço.
Tento controlar Eros por todo o trajeto; o homem está em brasa. Por mais
que eu tenha tentado segurar sua “mão boba”, ele deu um jeito de suspender a
parte de trás do meu vestido - que para a sorte dele era mais solto a partir da
cintura -, e acariciar o meu sexo, que já estava totalmente molhado por sua
culpa. Foi difícil controlar os gemidos quando seus dedos acariciaram meu
clitóris, mas resisti bravamente à “prova de fogo” tentando puxar assunto com
Enrico e Lara, que evitavam conversar entre si. Quando chegamos à boate, Eros
fez questão de lamber os dedos que me acariciavam, me fazendo ter vontade de
arrastá-lo imediatamente para longe dali.
Entramos na boate por uma porta lateral, graças a Deus sem precisar
enfrentar a fila imensa que se formou à frente da nova boate. Não perdi os
olhares direcionados à nós: olhares de cobiça vindo de mulheres e homens pela
postura imponente de Eros e Enrico; os olhares masculinos destinados a nós
eram mais discretos e controlados, já as mulheres faziam questão de babar
descaradamente nos dois homens que nos acompanhavam.
Quando chegamos na área VIP os homens foram buscar bebidas para nós,
e eu e Lara nos direcionamos para o parapeito. Daqui de cima tínhamos uma
visão maravilhosa do local, que estava lotado. Na cabine - que ficava de frente
para área onde estávamos - o DJ embalava diversos hits que faziam as pessoas
dançarem enlouquecidas; as músicas tocadas eram variadas, iam desde batidas
eletrônicas à músicas nacionais e internacionais conhecidas.
— Acho que minha irmã está tentando matar o meu amigo... — Eros falou
no meu ouvido quando me abraçou por trás, deixando que eu sentisse sua ereção
contra minha bunda. — Você também está querendo me enlouquecer hoje, não é
princesa? — Pergunta mordendo o lóbulo da minha orelha. Eu faço questão de
não lhe responder, apenas esfrego minha bunda ainda mais nele e ele rosna no
meu ouvido.
A área VIP começa a ficar um pouco mais cheia e Lara aproveita para
provocar ainda mais Enrico. Em determinado momento ela me puxa para voltar
a dançar com ela, e eu me solto. Não sei se é por causa das 04 caipiroskas e
algumas Long Necks que já tomei, mas nunca me senti tão empolgada. Enrico e
Eros fazem uma barreira com seus corpos atrás de nós, como se isso fosse capaz
de impedir que outros homens nos olhassem - o que é impossível, tendo em vista
a quantidade de pessoas que estão em volta de nós.
— Kananda, se você rebolar mais uma vez esse rabo gostoso no meu pau,
eu não vou mais conseguir me controlar. — Eros fala em meu ouvido.
— E quem disse que eu quero que você se controle? — Viro de frente para
ele e, envolvida pela música, pela bebida e pelo momento, me permito ousar, e
aperto o seu membro sobre a calça. Eros geme na minha boca e me devora. Não
penso nas consequências, não penso na quantidade de pessoas que tem em volta
de nós, apenas pego sua mão e o arrasto para o fundo da área VIP. O local tem
alguns sofás dispostos, e mal conseguimos nos ver por causa da iluminação
quase inexistente; isso com certeza foi pensado de forma proposital para acolher
casais mais empolgados, tal como nós nesse momento.
— Rebola no meu pau gostosa — ordeno, e como boa menina que é, ela
obedece. Com a mão livre aperto sua bunda gostosa enquanto estoco dois dedos
em sua boceta apertada e pressiono seu clitóris com o polegar.
Sinto sua boceta contrair ainda mais os meus dedos e estoco mais
rapidamente, enquanto chupo seu pescoço e ela geme em meu ouvido, até que
sinto os espasmos do seu orgasmo nos meus dedos. Desacelero os movimentos,
mas continuo acariciando sua boceta gostosa. Quando ela enfim se recupera,
retiro minha mão do meio das suas pernas e chupo os dedos, assim como fiz
quando descemos do carro, para tentar aplacar o desejo que sinto dela.
— Amor, vamos embora — chamo, pois a noite aqui na boate já deu o que
tinha que dar. Eu preciso ir para casa e me afundar em minha mulher
— Fala Pietro. Cara, você arrasou nessa boate, ficou ainda mais incrível
do que as outras. — Elogio porque é a verdade. — Essa é Kananda, minha
namorada. — Apresento-a.
— Amigo, acho que vou contratar sua mulher para gerenciar minhas
boates. — Ele fala e ela sorri um pouco sem graça.
— Que nada, você me deu dicas valiosas de administração; deve ter sido
uma aluna exemplar. — Elogia e ela agradece.
Olho para Enrico e a sua cara de poucos amigos mostra que se pudesse,
sacaria sua arma e daria um tiro em Pietro ali mesmo.
Quando Pietro, finalmente, solta Lara, ele estende a mão para Enrico que a
aperta, imagino que com força excessiva, por causa da “cara” que Pietro faz.
CAPÍTULO BÔNUS
Enrico Chiarelli
Eu vivo na cola de Lara, não dou sossego para ela, mas a peste
provocante, é o próprio diabo de saia. Ela quase sempre acaba cedendo às
minhas investidas, mas insiste em não oficializar o que temos, porque sim: nós
temos alguma coisa. Indefinida, eu sei, mas que existe, existe.
Já tem algum tempo que eu não me importo mais, nem mesmo com as
piadas dos meus amigos. Meu lema atual é: Insistir, persistir e alcançar! Tenho
vivido de momentos com ela, e fico satisfeito com cada um deles porque sei que
eles me levarão a tê-la permanentemente em minha cama, em minha vida.
Mas voltando ao presente: Eros ter me chamado para sair é uma clara
oportunidade de ter mais algum tempo com ela em meus braços, então, enquanto
tomo banho, sei que não vou precisar me masturbar mais uma vez porque hoje
terminarei a noite com a mulher da minha vida em minha cama, tendo meu pau
enterrado em sua boceta quente e gostosa.
Visto uma calça Jeans escura rasgada e coloco uma camisa branca de
botões, dobrando a manga até a altura do cotovelo e deixando as tatuagens que
tenho nos dois braços expostas. Escolhi essa roupa porque sei que ela gosta
quando me visto assim, mais despojado e selvagem. Nem preciso fingir porque
sei que vocês já perceberam que tudo o que faço é pensando nela, por isso me
arrumei para ela sim, me juguem se quiserem.
Durante o trajeto até a boate nós não conversamos muito, mas fiz questão
de, vez ou outra, acariciar meu pau, que está duríssimo com a visão dela sentada
ao meu lado, e noto que ela acompanha cada movimento da minha mão com os
olhos, até peguei ela mordendo os lábios uma das vezes; isso aí, ponto para mim.
Vejo Eros colocar Kananda entre seus braços para poder caminhar pelo
ambiente sem que ninguém encoste nela, e é logico que eu faço o mesmo com
Lara. Nem fodendo que vou deixar esses marmanjos suados encostarem na
minha mulher.
— Sai pra lá, Enrico. — Ela fala quando eu a abraço, tentando tirar
minhas mãos da sua cintura. Eu aperto ainda mais meus braços em volta dela.
— Mas é muita pretensão da sua parte. — Ela responde, mas já não tenta
retirar minhas mãos que a envolvem. — Vai se iludindo que eu terminarei a
noite com você.
— Não é pretensão, amor, é certeza. — Falo sorrindo. — Sei que você não
vai me deixar ficar nesse estado... Estou duro desde que te vi com essa roupa
indecente — provoco roçando minha ereção em sua bunda. — Vou rasgar o
couro desse seu vestidinho com o punhal que está na minha perna e deixar você
nua para mim assim que chegarmos em casa, gostosa. — Dou o tiro de
misericórdia e Lara geme em resposta. Discretamente ela coloca sua mão entre
nós e aperta minha ereção, porque sim, Lara é dessas, e gosta de me provocar
tanto quanto eu a ela.
Chegamos na área VIP, e enquanto vou com Eros pegar algumas bebidas
as duas ficam sozinhas. Quando voltamos elas já estão dançando, e Lara, com
aquele corpo gostoso, a todo momento me provocando. Volta e meia ela resvala
sua mão em meu pau, parece querer confirmar se ele está duro e todas às vezes
constata, porque eu sou incapaz de ficar “mole” quando ela está perto, e
dançando assim fica ainda mais difícil.
— Vou pegar uma bebida. — Lara avisa, e o irmão, que não consegue
desgrudar da mulher, concorda. É lógico que não vou deixá-la ir sozinha, então,
mesmo sem ser convidado, sigo em seu encalço. Ela pede mais uma caipiroska
para ela e outra para Kananda. Enquanto o barman prepara a de Kananda ela
bebe a dela inteira e pede outra em seguida.
— Você não acha que está indo rápido demais, meu bem? — Pergunto não
para repreendê-la, mas porque a quero bem consciente para o que pretendo fazer
mais tarde, porém a peste finge que não me ouve e segue me ignorando.
Eu a segui até o balcão, e embora ela tenha percebido que eu estava no seu
pé, ela sequer trocou uma palavra comigo. Ela faz isso de vez em quando, e eu já
percebi que esses são os momentos em que ela está a um passo de se render,
então luta bravamente para resistir, basta apenas eu investir da forma certa e ela
vai ceder, eu sei que vai. Sento em uma das banquetas do balcão, peço duas
doses de Whisky e viro de uma vez. Peço uma terceira dose para levar comigo
quando sinto alguém apoiar em meu ombro.
— Quer dar uma voltinha? Convide minha mão, porque ela está louquinha
para dar uma voltinha nessa sua cara de puta. — Juliana arregala os olhos, sem
esperar por essa, e eu controlo a vontade de rir. Lara é assim: ela me esnoba o
quanto pode, mas não aguenta ver alguém se aproximar que quer logo marcar
território.
— Eu não sabia que ele estava acompanhado, e pelo visto de uma louca.
— Juliana retruca.
— Que porra Lara, para com isso. Tem um ano que eu vivo feito cachorro
atrás de você, e você só me despreza. Quer saber se eu comi a Juliana? Comi
sim, caralho, satisfeita? — Falo irritado. — Mas eu só fiz essa merda porque
você estava dando sua boceta para o imbecil do Patrício. — Falo tentando
controlar a voz para que ninguém ouça nossa discussão, já que estamos em um
ponto mais afastado no fundo do bar.
— Eu sabia. — Ela fala com raiva. — Você nunca vai mudar Enrico,
NUNCA VAI MUDAR! — Ela fala com lágrimas começando a se formar em seus
lindos olhos, e isso acaba comigo.
Puxo Lara para perto de mim e ela se afasta. Seguro seu rosto com minhas
duas mãos e falo olhando em seus olhos, para que tenha certeza de que falo a
verdade:
— Enrico, você é um ca... — Não deixo que ela termine a frase e faço o
que estou com vontade desde a hora em que a vi: beijo sua boca com ânsia e
tesão. Nossas línguas se exploram, se devoram. Lara é minha, totalmente minha.
Ela pode até resistir, mas sei que vou convencê-la, e esse dia está mais perto de
acontecer do que ela imagina. Já faz um ano que ela terminou com o idiota; faz
um ano que me empenho todo dia para reconquistá-la. Já está mais do que na
hora de usar uma artilharia mais pesada.
Pegamos as bebidas no balcão e seguimos para onde Eros nos espera junto
com Kananda. Lara está menos arredia, acho que as palavras de Juliana seguidas
pelas minhas a fizeram refletir. Preciso bolar um plano para conseguir prendê-la
a mim o quanto antes.
Lara e Kananda voltam a dançar, e percebo que minha Elvira está bebendo
além do limite. Disfarçadamente, começo a lhe oferecer água nos intervalos das
bebidas, e como ela está dançando muito e o local está lotado e quente, ela bebe
sem reclamar.
Quando começa a tocar uma música de Anitta & Kevinho, Lara perde o
restante do controle e dança eroticamente para mim, seguindo o que diz a letra.
Eu não conhecia a música, mas prestei atenção e vi que definia perfeitamente a
minha mulher, ela é, definitivamente, um Terremoto em minha vida:
De repente ela me arrasta em direção aos banheiros, pensei que ela queria
usar o banheiro, mas ela segue em linha reta, e depois de alguns metros ela vê
uma porta fechada. Ela tenta abrir, mas está trancada.
— Lara, é melhor não. — Tento ser racional, mas sem esperar, ela começa
a desabotoar minha calça. — Aqui não, Lara. — Advirto quando ela enfia uma
das mãos dentro da minha cueca e começa a punhetar meu pau, sem vergonha e
sem se preocupar se tem alguém nos vendo. — Mas que porra, mulher, assim
você acaba comigo. — Falo já tirando o canivete do bolso e abrindo a porta do
local com a precisão de um profissional.
— Caralho Lara! Assim você acaba comigo, porra — rosno segurando seu
cabelo no alto da cabeça. Afundo ainda mais o meu pau em sua garganta, até ela
engasgar. Enlouqueço quando a vejo descer a mão e tocar sua boceta procurando
alívio. — Vem aqui, meu amor. — Puxo-a para cima e beijo sua boca. Envolvo
minha cintura com suas pernas e pressiono suas costas contra a parede,
pincelando meu pau na sua boceta ainda coberta.
— Quero te comer agora, Lara — falo sem para de esfregar o meu pau
contra ela.
— Ahnn, Enrico... — Ela geme o meu nome. — Eu sou toda sua, ahnn...
— Geme enlouquecida enquanto a masturbo com meu pau.
— Não aguento mais de tesão, amor — falo puxando sua calcinha para o
lado.
— Que porra de camisinha, Lara, nós nunca usamos isso — falo sem
deixar de esfregar meu pau nela.
— Cacete, que gostoso... — Ela fala enquanto eu uso a mão para estimular
seu grelinho inchado como sei que ela gosta. — Que merda, Enrico, vai porra,
me fode logo, faz o que quiser Enrico.
— Isso, meu amor, é assim que eu gosto — falo enquanto deslizo meu pau
para dentro da sua boceta. Ela geme com o contato. Dou algumas estocadas e
sinto a porra do meu celular tocar, o caralho que vou parar o que estou fazendo
para atender essa merda, mas o infeliz toca insistentemente.
Com certa rispidez viro-a de frente para a parede. Levanto o seu vestido
até a cintura, puxo a sua calcinha, minúscula por sinal, para o lado, ajeito meu
pau na sua entrada e penetro novamente sua boceta. Fazia tempo que não
transava de pé e meu tesão está redobrado. Seguro firme em seus seios e começo
a estocar com força, lambendo seu ouvido e seu pescoço. Seu corpo estava
pressionado contra a parede, batendo de vez em quando, mas eu sei que ela gosta
assim, gosta que eu a foda com força.
— Vai delícia, rebola gostoso no meu pau. — Sinto seu corpo começar a
amolecer.
— Isso, amor, goza pra mim — peço lambendo seu pescoço —, goza pro
teu homem Lara, o único que te faz sentir assim — vou falando e estocando em
sua boceta apertada enquanto ela geme manhosa.
Lara gemia alto, mas eu sabia que, pelo volume da música do lado de fora,
seria impossível alguém ouvi-la. Seguindo as batidas da música eletrônica,
comecei a estocar com ainda mais força, até sentir meu pau inchar dentro dela e
eu me derramar em gozo em sua boceta que ainda piscava. Lara olhou para trás e
me ofereceu sua boca para que eu beijasse; nos beijamos, dessa vez mais
lentamente, acalmando nossas respirações aceleradas.
Devagar fui saindo de dentro dela, ajeitei sua calcinha cobrindo sua boceta
gostosa, arrumei seu vestido e cobri seus seios depois de deixar um beijo
carinhoso em cada um deles.
Ficamos alguns minutos ali, recuperando o fôlego, até que saímos de mãos
dadas. Quando passamos em frente ao banheiro, Lara faz menção de entrar, mas
eu a puxo pela mão:
— Não, gostosa — falo em seu ouvido. — Vai ficar com a minha porra
escorrendo pelas suas pernas até chegarmos em casa — falo e ela sorri safada,
concordando comigo.
— Não Enrico, você já teve o que queria por hoje, pode ir para sua casa.
— Lara fala, mas eu nem pisco: pego ela e jogo sobre os meus ombros, e sigo
para o meu apartamento assim.
— Você pode fazer o que quiser quando estamos fora do quarto, Lara, mas
aqui quem manda sou eu, e você apenas me obedece. Entendeu? — Pergunto e
ela acena com a cabeça mordendo os lábios.
Eros
Quando acordei já passava das duas da tarde. Passei a mão pelos lençóis e
percebi que Kananda não estava mais na cama. Fui ao banheiro, escovei os
dentes e fui para a sala, onde imaginei que ela estivesse.
Deixo-a chorar por alguns minutos, apenas lhe transmitindo o carinho que
sei que ela precisa no momento, mas suspeito que isso tenha algo a ver com sua
irmã. A única coisa que realmente abala Kananda é alguma ameaça da sua irmã;
eu sei por que, desde o dia em que conversei com Ana, todas as vezes que
Amanda aparece na farmácia para procurá-la, Ana me avisa, e eu fico de
sobreaviso, e quando ela chega em casa, está sempre calada e com semblante de
tristeza.
Ana manteve sua palavra de cuidar para que Amanda não se aproximasse
e nem ficasse sozinha com Kananda, mas por mais que eu tenha insistido para
que me contasse, ela era fiel a sua amiga, e eu respeitava e admirava esse gesto
dela.
— Eu não aguento mais te ver desse jeito Kananda — falo olhando dentro
dos seus olhos que não param de brotar lágrimas. — Me dói te ver sofrer dessa
forma sem poder ajudar, porque você não confia em mim o suficiente para
compartilhar seus segredos. — Desabafo, porque é assim que me sinto.
— Não é isso, Eros, é que... É tão difícil... — Ela fala com a voz trêmula.
— Sim, mas o meu medo é que não fique depois que eu te contar. — Ela
fala entre lágrimas.
— Não, Eros! Pelo amor de Deus, eu nunca faria isso com você! —
Responde e senta sobre os joelhos ao meu lado.
— Tudo bem. — Respira fundo. — Eros, por favor, me ouça com carinho
e não me julgue, eu não suportaria. Se você não quiser mais ficar comigo, eu vou
entender, mas me deixa falar tudo de uma só vez, por favor. — Suplica, e a sua
dor é quase palpável.
— Princesa, você está me deixando preocupado, por favor, fala logo o que
houve.
Acaricio seu rosto lindo e ergo sua cabeça para que olhe nos meus olhos;
minha mulher não vai abaixar a cabeça para ninguém, nem para mim.
Meu coração já está acelerado à espera do que virá. Ainda não sei qual foi
a ameaça de Amanda, mas suspeito que seja algo bem grave para que minha
mulher esteja nesse estado de pânico apenas para me contar. O ódio começa a
me consumir de dentro pra fora, mas me controlo porque garanti que estaria aqui
por ela, e assim o farei.
— Eu entendo seu ponto, meu amor — falo carinhoso porque sei que é o
que ela precisa no momento, mas o que eu queria agora era explodir o mundo,
explodir Amanda, na verdade. Há tempos eu tenho estado em sua cola, mas com
essa merda agora, a minha paciência esgotou: só paro quando ela estiver
totalmente fodida, e não é no sentido prazeroso da palavra, isso eu garanto. —
Mas olha só, ceder à chantagem nunca é a solução, é uma bola de neve, entende?
— ela concorda. — Quem chantageia, principalmente por dinheiro, nunca se
satisfaz, vai sempre querer mais, exigir mais, é um poço sem fim.
— Kananda, porque você não me ligou? Uma situação crítica como essa e
você preferiu continuar sendo chantageada a pedir a minha ajuda, princesa? —
Tento suavizar o sermão chamando-a pelo apelido, ao mesmo tempo em que me
sinto magoado por ela achar tão pouco do meu amor.
— Eu sei que não justifica, Eros, mas tente me entender, por favor —
implora. — Eu não sabia o que fazer, estava me sentindo entre a cruz e a espada.
— Ela fala, e eu respiro fundo para não lhe dizer tudo o que sinto vontade, não é
o momento, não agora, quando ela está tão frágil após ter feito essa confissão
que lhe atormentou por tempo demais.
Quando Kananda acorda já passa das 20h; ela estava realmente cansada.
Ela toma um banho e em seguida comemos uma pizza que eu havia pedido.
Depois deitamos em nossa cama, e puxo-a para os meus braços.
— Não, Eros, por favor, não. — Implora. — Se eu fizer isso, Amanda vai
divulgar as fotos.
— Eu garanto que não amor. Eu prometo que vou te livrar de toda essa
merda. — Acaricio seus cabelos e resolvo lhe contar algo que aconteceu e que
ela não sabe. — Amor, vou te contar uma coisa que nunca falei: no dia em que
eu fui ao hospital para visitá-la, que Amanda apareceu e eu dormi com você a
primeira vez, você teve um pesadelo, lembra? — Pergunto.
— Sim, eu lembro. — Ela responde apoiando o queixo nas mãos que
repousam no meu peito, olhando nos meus olhos.
Pela manhã, após o café, conto a primeira (e espero que última) mentira
para Kananda. Não é uma coisa que me agrada, mas eu preciso extravasar minha
raiva contida desde ontem.
— Não, será rápido, mas vou pedir a Lara par vir lhe fazer companhia.
— Não precisa, amor, pode ir, eu estou bem. Vou me ocupar em fazer um
almoço para nós dois, assim o tempo passa mais rápido. — Ela fala e eu
concordo.
— Estou indo amor, qualquer coisa você me liga, ok? — Abraço-a por
trás e cheiro seus cabelos.
— No stand de tiro.
— Que merda, Eros, como ela aguentou isso por tanto tempo? —
Pergunta, mas eu não sei o que responder.
Passamos a manhã atirando e bolando um plano para pegar os dois. Íamos
ficar à espreita para tentar um flagrante com as coisas ilícitas que eles vinham
fazendo. Kananda iria registrar a queixa amanhã e teríamos que ficar atentos a
ela, pois ela estaria em risco iminente.
— Sua irmã, meu amigo, sua irmã ainda acaba comigo — meu amigo diz
e sei que não vou conseguir extrair nada além disso. No que se refere a Lara, ele
tem suas reservas comigo, e eu entendo e respeito, porque amo demais os dois
para me envolver e tomar partido de um só, então é melhor deixar que eles se
resolvam.
— Vai dar tudo certo, Enrico, ela te ama que eu sei — falo para, pelo
menos, confortá-lo. — Acalma seu coração, meu amigo.
Nos despedimos e sigo para casa um pouco mais relaxado, para almoçar
com minha mulher como havia prometido. Graças a Deus Kananda estava
melhor, e após almoçarmos alternamos entre assistir filme e dormir, como em
um típico e calmo domingo.
Mas o que não podíamos imaginar era quão momentânea seria essa
calmaria. Uma tempestade se aproximava de nós, e prometia não deixar pedra
sobre pedra.
Capítulo 28
CAPÍTULO BÔNUS
Desde que sou capaz de lembrar, sempre foram feitas comparações entre
nós, não pelos nossos pais, e sim pelos nossos familiares, mas eu sei, sempre
senti que eles concordavam com tudo o que era dito sobre mim, o que me
deixava irritadíssima. No começo eu até tentei fingir que não me importava, mas
aos poucos o ódio me dominou e eu comecei a descontar nela a raiva que sentia
de todos, e só de imaginar as coisas que já fiz, meus lábios desenham um sorriso
de prazer.
Quando ela finalmente nos “flagrou”, eu perdi mais uma vez, e foi o fim
para mim. Perdi o único homem que amei, perdi a única pessoa que me dedicava
tempo e carinho. Ela o mandou embora e ele foi, sem olhar para trás, sem
misericórdia de quem ficaria. Ele sabia que eu o amava, eu já tinha dito, mas
ainda assim ele sequer pensou em mim, em como eu me sentiria, porque ele
amava Kananda e eu era apenas uma fonte de prazer sujo e inescrupuloso, e nem
mesmo sendo gostosa e sem pudores entre quatro paredes, Marcelo cogitou a
possibilidade de ficar comigo. Talvez essa tenha sido a única chance de salvar
minha alma quebrada, mas ele se foi sem olhar para trás, e eu tive que varrer os
cacos para debaixo do tapete.
Para mim, estar de olhos abertos não significava viver, e sim sobreviver.
— Que merda você fez, Kananda? — Diogo entra em casa, e me tira dos
meus devaneios. Desde que Kananda foi embora de casa, ele passou a morar
comigo, e isso era bom para nós dois.
A songa monga nos bancava sem problemas até semana passada, quando
resolveu se rebelar e, impulsionada por uma coragem que não sei de onde veio,
me enfrentar. De certa forma, isso é até bom para mim, porque vê-la curvada,
implorando misericórdia, me dará ainda mais prazer.
— O Zica me ligou hoje pela manhã pedindo para eu subir o morro que
ele queria falar comigo. Achei que fosse alguma coisa relacionada ao novo
trabalho que ele está arrumando para nós, mas não era. — Ele faz uma pausa,
esperando o efeito da droga atingi-lo. — Depois que eu e você fomos chamados
para “prestar esclarecimentos” ele ficou sabendo e investigou do que se tratava.
O informante dele deu a bula de que o otário não só era delegado, como era o
que estava no pé dele há meses, fazendo operações e apreensões no morro que
estavam dando muitas baixas nos seus lucros.
— Mas nós fomos chamados pelo que aconteceu com Kananda, porque
ele quer se envolver nisso? — Pergunto sem entender a ligação das coisas.
— Acontece que a porra do delegado vai ligar uma coisa a outra Amanda!
Ele é esperto, porra, tanto que nós nem desconfiamos a profissão dele. Fomos
chamados e interrogados por outra pessoa; ele se manteve oculto o tempo
inteiro, e se não fosse o Zica e seus contatos, ainda estaríamos no escuro, merda.
— Ele fala irritado.
— E agora que o Zica falou que se der merda para ele, ele vai “passar”
nós dois. — Fala me encarando.
— Então não se preocupe, meu amor, vamos nos livrar do Zica e da Songa
Monga por tabela; tenho um plano que nos livrará do radar de todos ele e ainda
nos levará à uma temporada no exterior. Vida nova nos espera, bebê — falo com
um sorriso nos lábios, me jogando em cima do único cara que tem sido um
companheiro fiel para mim, que me entende, apoia e segue ao meu lado sem me
julgar.
Duas semanas. Kananda tem duas semanas para, enfim, pagar seus
pecados comigo, pelas minhas mãos.
Capítulo 29
Kananda
Há três semanas contei para Eros tudo o que Amanda vinha fazendo, todas
as ameaças, e enfim tirei um fardo que estava pesando sobre os meus ombros.
Estranhei o fato de ela não ter me procurado, não ter tentado me dissuadir da
ideia de prosseguir com o registro da ocorrência; cogitei a possibilidade de ela
ainda não saber, mas Eros me garantiu que tanto ela quanto o amigo já haviam
sido ouvidos na delegacia.
— Amor, eu já estou indo. Tem certeza que não quer que eu te leve hoje?
— Eros pergunta na porta do banheiro enquanto escovo os dentes.
— Não precisa, amor — termino o que estava fazendo, viro de frente para
ele e ajeito sua gravata. — Eu vou de Uber, não precisa se preocupar. — Meu
carro está na revisão desde ontem, mas não quero atrasá-lo, pois sei que está
trabalhando em um caso importante. Na última semana Eros tem estado focado
nisso, tem trabalhado até mais tarde, então não quero lhe ocupar.
— Tudo bem, princesa — ele fala enlaçando minha cintura com suas
mãos fortes. — Promete que manda mensagem assim que chegar na farmácia?
— Pede. — E, por favor, não saia para almoçar sozinha. — Repete o pedido que
tem feito todos os dias antes de sairmos.
— Eu sei amor, eu sei. — Ele passa as mãos de forma ansiosa pelo cabelo,
mais preocupado que o normal, e eu desconfio que ele esteja escondendo algo de
mim. — Mas não custa nada ficar atenta e prestar atenção a tudo em volta, não
é?
— Venha, vou te acompanhar até a porta. — Sei que se eu não fizer isso
ele vai ficar aqui enrolando, esperando até que eu acabe para poder me levar,
mas se atrasando no processo.
— Olha aqui, sua vagabunda, você vai subir quietinha comigo e com
Diogo, e nós vamos acertar nossas contas. Você não imagina com quem se
meteu, irmãzinha; hoje você vai pagar por todo sofrimento que me causou
durante toda a vida. — O ódio é explícito em cada palavra sua.
Eu controlo as lágrimas, controlo o medo, não quero sucumbir ao
desespero, preciso estar tranquila para encontrar uma saída, eu não posso me
entregar, não posso me render; embora eu não saiba o que fazer no momento, sei
que preciso agir, nem que seja para ganhar tempo. Eros em breve notará minha
falta de notícias, eu só preciso dar a ele o tempo que precisa para me encontrar, e
eu sei que ele me encontrará.
— Tudo bem, Amanda, como você quiser. — Falo mantendo a calma e ela
me olha espantada, acredito que esperava outra reação de minha parte.
— Olha só, Dioguinho, a putinha está corajosa hoje, não derramou uma
lágrima sequer. — Amanda fala com desdém. — Vamos ver até onde vai essa
coragem dela? — Ela completa e o amigo sorri. — Agora fala, sua vadia, o que
você falou para a porra do delegado sobre nós? — Amanda pergunta e eu me
mantenho em silêncio. Ela repete, e mais uma vez eu não respondo, então sinto o
primeiro tapa; o primeiro impacto sobre o meu corpo que seria extremamente
castigado durante as horas que passei sob o domínio desses dois loucos.
Amanda passou algum tempo me batendo sem parar, sendo impedida pelo
seu amigo, que a tirou de cima de mim. Ela estava possuída de ódio por eu não
ter derramado uma lágrima sequer e eu iria permanecer assim, iria resistir o
máximo que pudesse sem lhe dar o prazer que ela queria, sem demonstrar o
medo que sentia, sem me curvar à sua maldade.
Ouço uma batida na porta e eles dois seguem em direção a ela, tento ouvir
a conversa entre eles e um homem que acaba de chegar.
— Guardem direitinho porque ele quer ter um momento com ela. Daqui a
pouco ele vem — avisa —, e ele disse para preparar a cama, porque antes de
falar com sua irmã ele vai te querer, entendeu? — Pergunta, e não acredito no
que acabei de ouvir. Eu sei que Amanda mantém um “relacionamento” com
Diogo, mas não entendo quão doentia é, como ela pode fazer sexo com tantas
pessoas, meu Deus, no que ela se transformou? Não consigo ouvir o que eles
respondem, mas o cara fala novamente: — Ah, e ele mandou avisar que se der
merda para ele, os dois vão cantar pra subir. — Continuo sem ouvir a resposta
deles, ouço apenas a porta se fechar e os dois começarem uma discussão.
— Que porra, Amanda, não aguento mais isso. Eu falei que ia arrumar um
lugar pra levar ela, que você ia ter sua vingança, mas você não quis esperar e se
vendeu por essa merda. — Reclama. — Não aguento você ficar trocando seu
corpo por favores. — Conclui, irritado.
Nesse momento a primeira lágrima rola por minha face. Isso eu não vou
suportar; Deus, por favor, que eles me matem antes de tocar em mim.
— Me solta, por favor. — Imploro pela primeira vez. — Não faz isso
comigo, eu faço o que você quiser, Amanda. — Encaro minha irmã, implorando
que tivesse misericórdia de mim pelo menos uma vez na vida.
— Sua alma Kananda, agora eu quero sua alma. — Ela fala com uma
frieza imensa. Tenho certeza de que quando chegar a hora ela não terá
misericórdia de mim.
— Não adianta, Kananda, ele não virá te salvar, ninguém virá. Apaguei
todos os seus rastros, agora somos apenas eu e você, como eu sempre quis que
fosse. — Ela puxa meus cabelos e me encara. — Eu sofri uma vida inteira por
sua causa, e agora você sofrerá, em minhas mãos, até o seu último suspiro.
Eu não falo nada, não há mais nada para dizer, já entendi que não
adiantará suplicar por minha vida, então entrego minha alma a Deus e peço que
Ele tenha piedade de mim, e me conduza o quanto antes para o Seu lado, porque
o meu corpo já não aguenta mais.
— Diogo, tira a roupa dela. — Amanda ordena e eu temo pelo que ela
fará. — Quero poder ver cada marca que deixarei em seu corpo até que ela solte
seu último suspiro.
Sinto as mãos imundas dele sobre mim. Com os olhos entreabertos vejo
uma faca deslizar por minha roupa, cortando-a e me deixando apenas de calcinha
e sutiã. Ele faz questão de acariciar minhas partes íntimas no processo, e isso faz
com que eu derrame lágrimas que nem sabia que ainda possuía. Fecho os olhos
em súplica, entregando minha vida mais uma vez a Deus, e me preparo para a
dor. E ela vem. Ela vem através de chicotadas com algo que parece uma corda,
que desce sobre minha pele incansavelmente, uma vez depois da outra, até que
eu perca a consciência.
Capítulo 30
Eros
Quando chego na DEPOL Enrico ainda não está. Sigo para minha sala,
pego os documentos do caso no cofre e começo a lê-los com calma, meu amigo
chega pouco tempo depois, e marcamos de sair daqui a duas horas.
Olho para o celular a cada quinze minutos, ansioso por não ter recebido a
mensagem de Kananda informando que chegou na farmácia. Estou inquieto, não
quero parecer paranoico, mas algo me diz que eu devo ligar. Resolvo então saber
de Joana há quanto tempo ela saiu de casa, se é que ela já saiu.
— “Tá” bem, meu filho, vou rezar para que nada de mal tenha
acontecido. — Ela fala porque sabe o que tem acontecido entre Kananda e a
irmã. — Me dê notícias, por favor. — Ela pede preocupada.
Imediatamente começo a ligar para Kananda, mas o celular dela cai direto
na caixa postal três vezes consecutivas. Com o telefone no ouvido vou em
direção à sala de Enrico. Entro sem bater e encontro ele e Lara, brigando como
sempre, mas infelizmente dessa vez não tenho como apaziguar. Eles notam meu
nervosismo e param imediatamente, voltando à atenção para mim.
— Posso falar com a Nanda, por favor — peço tentando não soar tão
preocupado.
— Como assim? Ela não está com você? — Quando ela faz essa pergunta
de forma exasperada, o meu coração para de bater.
— Não Eros, ela não chegou e nem ligou; eu pensei que ela estivesse com
você. Você já ligou para casa? Tem certeza que ela saiu? — O desespero em sua
voz espelha perfeitamente o meu.
— Sim, Ana, acabei de ligar para casa e a Joana me disse que ela saiu há
mais de 40 minutos. — Passo as mãos desesperadamente pelo cabelo e inclino a
cabeça sobre a mesa, sentindo-me incapaz de raciocinar. Notando meu estado,
Enrico toma o telefone das minhas mãos.
— Ana, é o Enrico. Eu não sei direito o que houve, mas vou tentar
descobrir. Por favor, se tiver qualquer notícia me avisa, e eu farei o mesmo com
você. — Meu amigo fala, ouve alguma resposta e desliga.
— Irmão, bebe essa água. — Lara se aproxima com um copo nas mãos, e
eu atendo no piloto automático.
— Brow, o que houve? Fale tudo o que sabe até o momento. — Enrico
ativa o “modo delegado”, tentando tomar o controle da situação e pensar
friamente no que fazer, enquanto Lara tenta insistentemente ligar para a minha
mulher.
Conto para o meu amigo e a minha irmã tudo o que sei até aqui, e no
decorrer do relato, percebo que não posso me deixar levar pela emoção;
Kananda precisa de mim, eu posso sentir, então preciso manter a calma, colocar
a cabeça no lugar e agir com a frieza que o momento exige. É lógico que preciso
do meu amigo, ele será fundamental, mas eu também preciso estar apto para agir.
— Lembrei de uma coisa: ela me falou que iria pedir um Uber. Como cada
usuário possui um cadastro pessoal, podemos tentar acessar o cadastro dela e
descobrir qual o último carro que a conduziu. Se ela usou o veículo que pediu,
nós conseguiremos mais fácil — falo e meu amigo sorri.
— O que houve? Qual o incêndio que iremos apagar dessa vez? — Ele
pergunta em tom de brincadeira, mas ao perceber nossos rostos tensos ele fica
sério. — Que merda aconteceu? — Pergunta, e nós resumimos o que sabemos
até então.
— E o que nós queremos de você meu amigo, é que faça essa merda sem
termos que esperar ordem judicial. Nós garantimos que ninguém ficará sabendo
como a rastreamos, mas é minha mulher porra! Eu preciso trazê-la de volta o
quanto antes. — Garanto a ele que vamos blindá-lo, ademais, ele também me
deve uma, então chegou a hora de cobrar, infelizmente.
— Em vinte, Sérgio, por favor. — Peço e ele acena com a cabeça, saindo
em disparada.
— Calma, irmão, vai ficar tudo bem. — Lara fala, e eu quero muito
acreditar nas palavras dela, mas está difícil.
— Para onde ele a levou, Sérgio? — Faço a pergunta principal, pois é para
lá que eu irei imediatamente.
— Eu vou sem foder mesmo. — Ela retruca, e se não fosse pela tensão do
momento eu seria capaz de rir deles dois.
— Lara, talvez seja melhor você ficar — intercedo pelo meu amigo, mas
também porque não a quero correndo risco. Já basta uma das mulheres da minha
vida em perigo por hoje.
— Já falei que eu vou e pronto. — Ela fala enquanto pega outras duas
Glock’s que Enrico mantém no armário, confere-as e prende no coldre preso em
sua perna. — Se não me levarem com vocês, eu irei atrás com minha moto,
então vocês decidem apenas se vamos juntos ou separados. — Ela diz de modo
firme, e não nos resta outra opção que não a de concordar em levá-la conosco,
porque nós sabemos que ela é capaz de fazer exatamente o que informou.
O Filho da Puta não esperava que fôssemos conseguir chegar nele tão
rapidamente, afinal, nós já havíamos tentado outras vezes e ele havia escapado,
mas não dessa vez, não hoje. Encostamos com cuidado na janela e pudemos
ouvir a conversa entre ele e alguém, provavelmente ao telefone, já que não
conseguimos ouvir as respostas. Eu fiz menção de que quebraria a porta, mas
Enrico fez sinal para que eu aguardasse, então pudemos entender que ele falava
com a irmã dela, porque dizia que tínhamos invadido e que se desse merda para
ele, ela estaria fodida, mas nem seria necessário o aviso, porque ela estaria
fodida de qualquer forma.
Me aproximo dele tomado pelo ódio e desfiro alguns socos em seu rosto
de merda.
— Para onde levaram minha mulher? — Pergunto, e ele sorri.
— Fala, seu merda, onde ela está? — Lara pergunta, abaixando-se ao lado
dele e puxando seu cabelo para trás. Em um movimento rápido, ele pega uma
das armas que ela mantinha no coldre e atira em minha direção. Enrico avança
sobre ele, mas Lara já o mantém sobre seu domínio, e ele apenas o algema.
Olho para minha irmã, que mais parece um leão pronto para devorar a sua
presa.
— Vai falar por bem, ou vai aguentar calado eu cortar todo o seu corpo
com meu punhal primeiro? — Ela pergunta, e vejo o medo brilhar nos olhos
dele.
Um dos homens fica de guarda com ele, que continua a gritar como um
bebê chorão, enquanto Enrico e Lara tentam me convencer a descer o morro e ir
para o hospital, mas nem fodendo que eu iria; eu disse que só sairia desse morro
com minha mulher, e assim será.
Vejo uma movimentação nos fundos da casa e tento correr para lá, mas
por causa da bala alojada na minha perna, eu tenho dificuldade para correr, então
Enrico e Lara vão para os fundos e eu invado o local pela frente.
O local é pequeno e fedido; não tem nem sinal dela na sala. Vejo uma
porta no final do corredor e imagino que ela esteja lá. Sigo o mais rápido que
consigo, e quando entro, não a vejo em lugar nenhum, apenas Amanda está lá,
sentada em uma cadeira, serena, como se não tivesse nada acontecendo à sua
volta, como se o ambiente não estivesse alastrado de sangue por toda parte, o
sangue da minha mulher, eu sabia.
— Ora, ora, o delegado veio salvar a donzela indefesa. — Ela fala com
uma frieza que me surpreende.
— Essa vagabunda sempre tirou tudo de mim, ela sempre teve o que eu
quis, e todos queriam que eu fosse como ela. — Amanda fala respirando forte.
— Mas hoje eu me vinguei, hoje ela teve o que mereceu durante toda a vida. —
Noto suas mãos enfaixadas, e se for o que eu estou pensando, ela não sairá daqui
com vida.
Quero matar essa mulher doente que está sorrindo na minha frente, mas
preciso soltar minha mulher imediatamente; preciso decidir o que é prioridade
para mim, e sem pensar duas vezes, sigo para o local que sustenta a amarração.
Segundos depois eles entram correndo, assim como previ. Lara consegue
dominar Amanda, e liga para o resgate mandar uma ambulância com urgência,
enquanto Enrico corre para me ajudar.
Paro o primeiro carro que vejo no morro, e nele descemos até a entrada,
onde uma viatura nos espera.
Eros
Eu não sabia o que havia acontecido com ela, e talvez fosse realmente
melhor eu não saber, porque a minha vontade era ir até a delegacia para onde
Amanda havia sido levada e estourar os miolos dela, não sem antes fazê-la sofrer
o dobro do que minha mulher havia sofrido em suas mãos.
— Calma, meu amor, vai ficar tudo bem — eu falava para acalmá-la, mas
também queria acreditar nas minhas palavras.
— Eros, você está muito sujo de sangue, e a sua perna, você precisa ver
isso! — Lara lembra que eu havia sido baleado também, mas a adrenalina era tão
forte que eu não sentia nada.
Meu amigo, que havia feito um torniquete com precisão em minha coxa,
parece só agora ter atentado para esse fato.
Com a mesma urgência com que levaram Kananda para dentro da área
restrita, eles me levam, e antes de ver as portas sendo fechada atrás de mim,
consigo ver Enrico abraçando Lara na tentativa de consolá-la, e agradeço a Deus
por tê-los ao meu lado.
— Por favor, doutor, não me apague por muito tempo. Eu preciso saber da
minha mulher, ela vai precisar de mim quando acordar. — Peço e ele confirma
com a cabeça.
Acordo sentindo a boca seca. Tenho dificuldade para abrir os olhos, mas
quando o faço, meu mundo para; vejo o homem que amo deitado em uma cama
ao lado da minha, desacordado, e entro em desespero.
— Ele foi baleado na perna, mas está bem. Fez a cirurgia necessária,
estamos apenas esperando ele acordar da anestesia. — Lara fala, e pela
tranquilidade em sua voz eu acredito em suas palavras. Ela ama o irmão tanto
quanto eu, então ele realmente deve estar bem.
Eu e Eros ainda não cogitamos essa possibilidade, mas fico feliz de pensar
nisso, e por saber que seus pais também querem.
— Oi princesa. — Fala com aquela voz rouca que eu tanto amo, e meus
olhos se enchem de lágrimas.
— Meu amor — falo com dificuldade.
Como pode haver alguém tão maravilhoso assim? Como pude merecer
alguém tão incrível quanto ele? Ele acabou de acordar de uma cirurgia e está
mais preocupado comigo do que consigo mesmo.
— Eu vou ver ela de perto, Enrico, e ninguém vai me impedir. — Ele fala
de forma autoritária.
— Vamos ter que nos organizar para dormirmos com eles, porque se
deixarmos os dois as sós, amanhã, quando chegarmos aqui, Eros vai estar em
cima de Kananda. — Enrico graceja.
Os olhos de Eros suplicam por uma resposta que não consigo dar, então
aceno com a cabeça e ele entende, curva-se com cuidado e beija meus lábios
com carinho.
— Meu filho, leve minha menina para casa. Não a deixe dormir sozinha
hoje, por favor. — Dona Sônia pede para Enrico.
— Deixa de ser bobo, homem — ela responde. — Enrico e Lara são uns
anjos, eles não irão fazer nada que nós dois não faríamos. — Ela provoca meu
sogro, pisca em direção à filha e Enrico, e todos sorriem, menos seu Paulo, é
claro. Aos poucos todos começam a se despedir e ir embora. Nossas camas
postas lado a lado, nos permitem dormir de mãos dadas, buscando o contato que
tanto nos conforta e tranquiliza.
Capítulo 32
Kananda
Hoje faz um mês que eu saí do hospital. Fiquei quinze dias internada
depois da agressão que sofri por parte de Amanda, mas graças a Deus o mais
grave havia sido uma fratura no braço esquerdo, e agora já estou bem melhor.
Por mais que eu insistisse para que ele fosse para casa se recuperar, ele se
recusava. Ele também havia sido baleado, fato que eu soube após acordar e que
fez com que me sentisse extremamente culpada, afinal, ele só estava naquela
situação por minha causa.
Eros está ainda mais protetor do que antes, e isso me irrita na mesma
medida em que me encanta.
Quando voltamos para casa, tivemos nossa primeira discussão séria. Ele
havia mandado devolverem o meu apartamento e transferirem todas as minhas
coisas para o seu. Eu gritei e esperneei, mas de nada adiantou; por Eros, nós
teríamos nos casado no dia seguinte ao que saí do hospital e, inclusive, me fez
essa proposta, já que “casados eu teria que morar com ele sem reclamar”. Essas
foram as palavras que acabaram com a discussão; o homem é intenso demais.
— Amor, nós ficamos vinte e cinco dias sem fazer nada, precisamos tirar
o “atraso” — ele fala, colocando a mão por baixo do meu vestido e acariciando
meu sexo.
— Ah, mas só ficamos todo esse tempo porque você quis. — Respondo
atrevida, mas é a verdade: Eros não queria me tocar, parecia que eu iria quebrar
ao menor sopro.
— Você sabe como eu sou, princesa, não sei brincar devagarzinho, e não
queria te machucar. — Ele fala, chupando o meu pescoço. Eu viro de frente para
ele, enlaçando seu pescoço com os braços.
Não demora muito e gozamos juntos; essa sim foi uma rapidinha, mas
cheia do afeto e amor de sempre. Descruzo minhas pernas da sua cintura e o
beijo com tudo que tenho.
— Lara, eu não sei o que houve entre vocês no passado, mas você não
pode ficar para sempre apegada a isso e abrir mão da sua felicidade. Você só irá
descobrir se pode dar certo quando se permitir tentar. Eu acredito que é melhor
que você erre por ter tentado, do que no futuro se arrependa de algo que deixou
de viver por medo.
Uma vez ouvi uma frase que me marcou, vou te dizer agora e espero que
ela te faça refletir: “A verdade dói, a mentira mata, mas a dúvida tortura”, não se
deixe torturar, amor, viva um dia de cada vez — falo, tentando confortá-la.
— Ela foi transferida para um presídio, Nanda, e não sai de lá tão cedo.
Além de toda a barbaridade que aconteceu com você, descobriram outros crimes
em que ela estava envolvida, inclusive tráfico de drogas e armas, o problema é
que ela está procurando confusão demais com as outras detentas, com aquele
jeito arrogante que ela possui. Vi um pedido que a defesa dela fez de
transferência de unidade, mas o juiz ainda não se pronunciou. — Ela fala e meu
peito se aperta. É lógico que depois de tudo o que ela fez comigo, eu não tenho
mais nenhum sentimento bom por minha irmã, mas me dói saber que meus pais
criaram uma pessoa tão má.
O que ela falou é sério, preciso cumprir a promessa feita a Eros, pois, se
não casarmos em seis meses, ele jurou me jogar sobre os ombros e entrar na
primeira igreja que estiver com as portas abertas e obrigar o padre a realizar a
cerimônia, e eu realmente não duvido disso.
— Estou imaginando eu, você, nossa casa, nossa cama e nosso amor, e um
monte de crianças correndo para todos os lados — ele fala, e eu sorrio.
— Eu me apaixono por você um pouco mais a cada dia, e olha que antes
de dormir sempre penso que é impossível que isso aconteça. — O meu sorriso
aumenta.
Kananda
Continuo elevando meus pensamentos aos meus pais; sei que onde
estiverem eles olham e intercedem por mim, por isso, hoje, meu primeiro
pensamento do dia foi para eles, um agradecimento por tudo o que me ensinaram
a ser. Eu queria muito que meu pai estivesse comigo nesse momento, para me
conduzir ao homem que escolhi para passar o resto dos meus dias, um que me
ama incondicionalmente, tal qual ele amou minha mãe, mas tenho certeza que
ambos ficariam satisfeitos com minha escolha.
No início eu até achei engraçado, mas com o passar dos dias e a pressão
natural do casamento, tudo o que eu mais queria era estar nos braços do meu
amor, para que ele pudesse me tranquilizar e levar toda a minha tensão embora.
Nós não temos muitos convidados, mas as pessoas que nos são caras estão
presentes, e isso é o que importa, então fechamos uma ala inteira do resort para
os nossos convidados passarem o final de semana, mas nós dois e os mais
próximos estamos aqui desde o inicio da semana, para podermos ajustar os
toques finais da cerimônia e da recepção.
— Para falar a verdade, mal preguei o olho — revelo, e ela me olha com
cara feia.
— Nada que uma boa maquiagem não cubra, Larinha. — Retruco, dando-
lhe uma piscadinha, e ela sorri.
— Vou pedir nosso café. — Ela avisa, indo em direção ao telefone para
solicitar o serviço de quarto.
— Peça para três, ou melhor, quatro, vou ligar para meu futuro maridinho
vir tomar café conosco, já que sei que você me manterá afastada dele durante
todo o dia. — Falo, e ela sorri.
— Ok, cunhadinha, vou abrir mão de trinta minutos do seu dia para ele.
— Ela fala sorrindo, e eu sigo para o banheiro após ligar para o meu amor
convidando-o para o café da manhã.
— Calma, maninho, à noite você terá sua esposa todinha para você! —
Ela provoca.
— E eu terei você para mim, Elvira. — Enrico fala abraçando-a por trás.
— O castigo era para eles, não para mim.
— Ah, mas vai sonhando Enrico. — Ela se afasta dele. — E vamos logo
adiantar esse café da manhã. Eros, você tem trinta minutos para sumir desse
quarto junto com esse asno que te acompanha. — Ela fala, e dessa vez somos eu
e Eros que sorrimos.
— Agora trate de controlar essas lágrimas, e vamos logo, senão meu filho
terá um infarto e você ficará viúva antes mesmo de casar — ele fala brincando.
O local, que era naturalmente belo, estava ainda mais perfeito. Os tons da
decoração eram predominantemente claros. Haviam tecidos leves e transparentes
por toda a parte, e flores naturais ornavam o “altar” improvisado, as cadeiras e
todo o ambiente.
Meu amor...
Vou lhe dizer
Quero você
Com a alegria de um pássaro
Em busca de outro verão
Na noite do sertão
Meu coração só quer bater por ti
E eu me coloco em tuas mãos
Para sentir todo o carinho que sonhei
Nós somos rainha e rei”
Seu cabelo está com uma trança solta, decorado com flores que combinam
perfeitamente com o ambiente que ela preparou.
Ela segura a barra do vestido enquanto caminha para mim e percebo que,
assim como eu, ela está descalça. Em seu tornozelo repousa apenas uma delicada
corrente dourada.
Linda demais!
— Eu te amo, meu amor — foi a única coisa que fui capaz de dizer
quando meu pai a entregou para mim.
Infelizmente, fugir de Lara não foi uma tarefa tão simples quanto
pensamos, mas na primeira oportunidade que tive, peguei a minha mulher nos
braços e corri para o local onde a pedi em namoro, e onde a faria minha pela
primeira vez sendo oficialmente minha mulher.
Servi duas taças de champanhe para nós, em seguida, puxei Kananda para
próximo da cama e a virei de costas para mim. Comecei a abrir os botões de seu
vestido, e a cada botão desfeito, eu deixava um beijo na sua pele recém-exposta.
Quando o vestido finalmente caiu em volta dos seus pés, virei-a de frente
para mim, e quase enlouqueci com a cena: ela não usava sutiã, apenas uma
calcinha minúscula e uma liga em uma das pernas. Beijei sua barriga, subindo
até alcançar os seus seios, e chupei cada um deles como um esfomeado, doido
para me saciar.
Sem perder tempo, ainda de joelhos, ela abocanhou meu pau inteiro, me
fazendo gemer alto. Eu não podia mais esperar para estar dentro dela, depois de
uma semana de sofrimento por culpa de Lara, então a coloquei de pé e tirei a
minúscula calcinha que usava. Queria fazê-la sentar em mim imediatamente,
mas preferi jogá-la na cama e sentir o seu gosto viciante que eu tanto amava.
Chupei minha mulher com a ânsia de quem bebe água após horas caminhando
no deserto; fiz com que ela sentasse sobre mim com as pernas abertas, e rocei
meu pau por toda a sua boceta.
— Eros, me chupa.
Ela não precisou repetir; mamei em seus peitos com avidez, mas não
consegui me manter ali por muito tempo, porque minha boca implorava por sua
boceta.
— Amor, eu não aguento mais, me fode, por favor, quero gozar com você
dentro de mim — ela pede, e, como bom marido, eu atendo.
Penetrei Kananda lentamente, centímetro a centímetro, enquanto ela
revirava os olhos, perdida nas sensações tanto quanto eu estava.
Sua boceta me engolia com avidez, e quando vi seu cuzinho todo aberto
em minha direção não resisti, tirei o pau rapidamente da sua boceta, umedeci os
dedos com a sua própria excitação e voltei a colocar o pau no lugar que eu mais
amava no mundo todo. Quando percebi que ela estava perto de gozar, comecei a
acariciar o buraquinho apertado que em breve faria ela me dar, mas por hora, me
contentei em explorá-lo com o dedo. Senti Kananda contrair o local.
Não demorou muito e ela gritou. A sensação de ser penetrada nos dois
lugares simultaneamente, a fez gozar como nunca antes, gritando meu nome
enlouquecidamente.
Quando terminei de jorrar dentro dela, deitei e a puxei para cima de mim,
abraçando-a e acariciando suas costas, enquanto acalmávamos nossas
respirações.
— Hoje eu só posso pedir a Deus que ele me permita caminhar ao teu lado
para sempre. Você é o motivo de todos os meus sorrisos; eu só encontrei a
verdadeira felicidade depois que te conheci. Eu te amo, princesa.
— Eros, você mudou minha vida quando entrou nela, me fez entender o
significado da palavra companheirismo. Deus não poderia ser mais bondoso
comigo, e hoje eu não tenho o que pedir, apenas agradecer — ela faz uma pausa,
e eu limpo as lágrimas que escorrem dos seus olhos. — Eu te amo de um modo
que não tem explicação! Sinto que nada ou ninguém poderá nos separar, porque
o que temos é mais forte do que qualquer coisa. Estaremos juntos para sempre,
tenho certeza disso. — Kananda completa, e eu a carrego em meus braços até a
areia, para o mesmo dossel em que nos amamos naquele dia, para, sob a luz do
luar e das estrelas, amá-la infinitas vezes, como pretendo fazer até o resto dos
meus dias.
EPÍLOGO
Kananda
02 anos depois.
Há dois anos e quatro meses, para ser mais exata, eu e Eros nos casamos,
e eu nunca fui tão feliz em toda a minha vida.
Quando nos casamos, já havíamos nos mudado para a nossa casa nova,
que é imensa, por sinal, porque Eros é exagerado.
Eu não fazia questão de uma casa tão grande, mas não houve como
argumentar, e sinceramente, hoje acho que não tem um lugar melhor para nós;
cada cantinho tem o nosso jeito, a nossa marca.
E hoje estamos aqui, à espera da nossa pequena princesa, com nove meses
de gestação e uma barriga que parece que vai explodir a qualquer momento.
Quando descobri que estava grávida, fiz uma surpresa para ele, pois a
expectativa era grande. A cada mês que a minha menstruação descia, eu sentia
que ele ficava triste, mas eu sabia que no tempo certo, no tempo de Deus,
seríamos abençoados, e fomos, tanto que agora relembro o momento especial
para nós enquanto organizo a bolsa da maternidade, pois a qualquer momento a
nossa pequena Mel poderá vir ao mundo.
Naquele dia, enviei para o trabalho dele uma caixa com um vinho e um
bilhete, dizendo que o estaria esperando em nossa casa com uma surpresa. Eu
tinha certeza que ele estaria imaginando que a surpresa seria sexual, porque
recebi uma mensagem de texto bem sugestiva depois que ele recebeu a caixa.
Era comum trocarmos esse tipo de mensagens, já que vivíamos nos provocando,
e o desejo entre nós continuava tão intenso quanto antes.
Quando ele chegou à noite em casa, eu estava sentada em nosso sofá com
um vestido branco soltinho o esperando. Ele logo veio para cima de mim,
querendo me devorar inteira, e após alguns beijos e algumas carícias leves,
porque se eu o deixasse avançar o “sinal” como queria, eu não daria tão cedo a
notícia que seria tão importante para nós, eu o afastei.
Apontei o objeto para ele, que sorriu de forma bem cafajeste, sem sequer
suspeitar que o conteúdo da caixinha mudaria as nossas vidas para sempre.
A partir de hoje, você vai falar com voz suave, vai fazer carinho, vai ter
ainda mais cuidado.
A partir de hoje, você vai amar como nunca amou antes e também será
ainda mais amado.
Meu Eros, meu amor, meu herói, meu marido, hoje de olhos fechados,
prestei atenção no filme que passava em minha cabeça, lembrei de tudo o que já
passamos juntos e pude sonhar com tudo o que está por vir.
Estou ansiosa pelo nosso futuro a três!
Obrigada por esse presente, que com certeza será o mais importante para
nós!
Saio dos meus devaneios quando sinto suas mãos imensas envolverem
minha barriga com carinho, e sua boca depositar beijos em meu pescoço.
— Vamos deitar, princesa, você não parou o dia inteiro — ele chama,
preocupado como sempre. Se eu fosse fazer as vontades do meu marido, teria
ficado os nove meses deitada em nossa cama.
— Eros, por favor, faz amor comigo — ela pede como uma gatinha
manhosa. Eu a viro de lado, pois essa é a posição que acredito ser mais
confortável para ela e mais segura para o bebê. — Não, amor, não quero assim
— ela fala virando de costas, ficando de quatro e empinando a bunda gostosa,
que está um pouco maior, em minha direção.
— Kananda, não faz isso comigo — peço, porque ela sabe que eu
enlouqueço com ela nessa posição, e eu tenho evitado para ter cuidado com
minhas duas preciosidades.
— Vem amor... — ela chama e eu não resisto. Com todo cuidado, vou
deslizando meu pau por sua boceta inchada, e não consigo conter os gemidos
que escapam. Na verdade, nós não conseguimos, porque Kananda geme tanto
quanto eu, anunciando que não demoraria a gozar, e assim foi: gozamos juntos,
mais rápido do que normalmente acontece. Embora ultimamente eu a tenha
fodido com mais calma, o desejo que sinto por minha mulher é o mesmo.
Saio lentamente de dentro dela, a pego nos braços e levo para o banheiro
para tomarmos banho. Depois de limpos, nos deitamos e adormecemos
rapidamente.
— Calma Eros, respira — ela tenta me acalmar com um sorriso nos lábios.
— Está tudo bem, nossa princesa vai nascer agora. — Ela fala e eu entro em
desespero.
— Não amor, não é culpa de ninguém. Ela decidiu que é hora de vir ao
mundo e pronto; em breve estará em nossos braços.
— Amor, por favor, ligue para o obstetra e avise que estamos indo para o
hospital, pegue a minha mala e a dela que estão ao lado do berço, e a pasta que
está com todos os documentos. — Ela me pede. — Ah, e amor? Coloque uma
roupa — completa sorrindo enquanto vai tomar um banho.
Só me resta obedecer.
Enquanto faço tudo o que ela listou, o sorriso de felicidade não sai do meu
rosto. Além do médico, ligo também para os meus pais, minha irmã, Enrico e
Ana, avisando que nossa princesinha vai nascer, e quando já estou vestido, vejo
Kananda sair do banheiro, já pronta para irmos para o hospital.
— Oi meu amor, sou o seu papai, e estava ansioso pela sua chegada — a
minha nova razão de viver abre os olhinhos, tão azuis quanto os meus, e eu me
perco na sensação que sou incapaz de descrever. Abaixo nossa filha perto do
rosto de Kananda, e ela para de chorar com a proximidade com a mãe. —
Obrigado Nanda, ela é linda, perfeita! — Falo e beijo os lábios da minha mulher.
Fico ao seu lado, com nossa pequena no colo, até o médico terminar o
procedimento.
— Misericórdia — ele fala com espanto. — Se for com sua irmã, não vai
ser uma princesa, e sim uma mini Elvira, e eu estaria ferrado com duas bruxinhas
para dar conta — ele brinca, mas vejo seus olhos brilharem de desejo.
— Vai nessa, amigo, você ia amar ter uma bruxinha só pra você —
completo e ele sorri.
Eros
Dois dias depois de Kananda dar à luz voltamos para casa. O período de
adaptação foi, de certa forma, tranquilo para nós. Mel é uma bebê maravilhosa,
praticamente não chora. Eu tento estar presente em todos os momentos, e nesse
período inicial principalmente, por isso, tirei algumas férias acumuladas que
tinha para estar disponível para as duas mulheres da minha vida.
Agora estou aqui no nosso quarto, com meu maior tesouro deitada sobre
meu peito, dormindo como o anjinho que é, enquanto Kananda e Lara, correm de
um lado para outro pela casa organizando o 1º mesversário da nossa pequena.
Não canso de ficar com ela assim; o seu cheiro me acalma.
— Fala, brow — Enrico entra no quarto sem bater, folgado como sempre,
e vem em direção à Mel.
— Tira as mãos da minha filha — rosno para ele —, ela está dormindo.
— Para de ser pau no cu, Eros, ela esta louca de saudade do dindo — ele
fala sem se importar com meu protesto, e tira minha pequena dos meus braços.
— Oi minha linda, o dindo trouxe um presente pra você — ele fala baixinho com
a pequena, que continua dormindo calmamente. Meu amigo e Lara foram
escolhidos para serem os padrinhos, não poderia ser diferente, e são muito
presentes na vida da nossa pequena. Foram realmente a melhor escolha que
fizemos.
— Olha, amor, o que Enrico trouxe pra Mel, que lindo — Nanda entra no
quarto com um body infantil que imitava uma farda policial. Na parte do
“coldre” tinha uma mamadeira, uma chupeta e uma algema desenhadas, e na
parte de trás tinha escrito “Mantenha distância, meu dindo é delegado”. Enrico
me encarava sorrindo; o filho da puta tinha “dado uma dentro”, eu amei a
roupinha. Só não gostei mais porque a ideia não tinha sido minha.
— Porra, seu filho da puta, que ideia do caralho, achei massa! — Falei
pegando a roupinha minúscula em minhas mãos, e ele mantém a pequena
protegida em seus braços, acariciando os dedinhos. Minha irmã os olha
admirada.
— Fofoqueiro filho da... — Ele começa a falar, mas não termina porque
Lara dá um beliscão em seu braço. — Ai cacete! — Ele reclama e ela faz cara
feia para ele. Minha irmã continua o mantendo preso pelas bolas.
Hoje posso falar com toda certeza que tenho tudo o que mais amo ao
alcance das minhas mãos. Kananda sempre foi a mulher ideal para mim, e a
nossa filha foi o melhor presente que ela poderia ter me dado.
— Sou o homem mais feliz do mundo, amor — falo a abraçando por trás e
cheirando seus cabelos, quando ela deposita nossa pequena no berço. — Quero
que a cada dia nosso amor cresça ainda mais. Você é a mulher da minha vida, e
agora também a mãe da minha filha. Espero que em breve tenhamos outros
bebês para alegrar nossa vida e nossa casa — falo e ela sorri. — Eu te amo,
princesa.
— Eros, você é tão perfeito pra mim, obrigada por ser tudo o que eu
preciso em todos os momentos. Você me completo, é meu melhor amigo, meu
cúmplice, meu confidente. Quando estamos juntos, sinto que estou protegida,
sabe? Você é assim, perfeito para mim — ela fala emocionada enquanto fitamos
nosso pedacinho de céu dormindo tranquilamente. — Eu sinto que se não tivesse
te conhecido, talvez hoje eu não estivesse aqui, e me pergunto como você estaria
hoje sem mim?
— Provavelmente, eu não estaria aqui — respondo com convicção.
FIM
Conheça outra obra da autora:
SINOPSE
Sabe quando tudo parece estar dando errado? Essa era a impressão que Liz tinha
daquele dia terrível, mas o que ela não podia imaginar é que esse dia na verdade
traria uma grata surpresa para o seu futuro.
Lucas, só queria correr para se distrair um pouco, o fardo que ele iria carregar
em breve, seria pesado, ele sabia, mas o faria com prazer, havia se preparado
para isso durante toda a sua vida e estava pronto.
Mal sabiam eles que a vida é feita de encontros e após um dia estressante, um
encontro inesperado fará suas vidas dar um giro de 360º.
A autora:
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